pablo stolze - apostila de direito civil (parte geral - 2008)

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    No devemos pedir a Deus fardos mais leves, mas ombros

    mais fortes(Santo Agostinho).

    PERSONALIDADE JURDICA

    Conceito: Lembra-nos Clvis Bevilqua que a personalidadepara o direito no apenas um processo de atividade

    psquica, mas sim uma criao social moldada pela ordem

    jurdica. Para o direito, a personalidade a aptido

    genrica para se titularizar direitos e contrair obrigaes

    na ordem jurdica, ou seja, a qualidade para ser sujeito

    de direito.

    Em que momento a pessoa fsica adquire personalidade

    jurdica? Em uma interpretao literal, luz do art. 2 do

    CC (1 parte), a personalidade civil adquirida a partirdo nascimento com vida (resposta ideal para uma prova

    objetiva).

    Art. 2o A personalidade civil da pessoa comea do nascimentocom vida; mas a lei pe a salvo, desde a concepo, osdireitos do nascituro.

    OBS: Nascer com vida significa o funcionamento do aparelho

    cardiorrespiratrio do recm-nascido (ver resoluo n

    1/88, do CNS).

    OBS: Diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, o direito

    brasileiro, luz do princpio da dignidade humana, no

    exige do recm-nascido forma humana nem tempo mnimo de

    sobrevida.

    Teorias explicativas do nascituro: Em princpio, so trs

    teorias explicativas do nascituro.(a segunda parte do

    citado artigo, ao se referir ao nacituro-aquele que ainda,

    embora concebido, no nasceu-reconhece em seu favordireitos. Ora , se o nacituro dotado d edireitos)

    1. Teoria natalista (majoritria a exemplo de VicenteRo, Slvio Rodrigues e Eduardo Espnola): Para esta

    primeira teoria o nascituro apenas um ente concebido

    ainda no nascido, desprovido de personalidade. Vale

    dizer, o nascituro no pessoa, gozando apenas mera

    expectativa de direitos.

    2. Teoria da personalidade formal/condicional (Mariahelena Diniz, Serpa Lopes): Para esta segunda teoria,

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    o nascituro, ao ser concebido, teria uma simples

    personalidade formal, permitindo-lhe gozar de direitos

    personalssimos. No entanto, s viria a adquirir

    direitos patrimoniais sob a condio de nascer com

    vida.

    3. Teoria concepcionista (Pablo Stolze, Teixeira de

    Freitas, Clvis Bevilqua, Silmara Chinelato): Essa

    terceira teoria a mais defendida pela corrente

    moderna. O nascituro seria considerado pessoa para

    efeitos patrimoniais ou extra-patrimoniais desde a

    concepo.

    OBS: Com base na teoria concepcionista, inmeros direitos

    podem ser reconhecidos ao nascituro, inclusive o direito

    aos alimentos (de carter patrimonial), alm do sagradodireito vida (personalssimo). Lamentavelmente, a maioria

    da jurisprudncia brasileira ainda no adota esta teoria,

    no reconhecendo ao nascituro direito aos alimentos, dentre

    outros. Mas, j h algumas decises judiciais que

    homenageiam a teoria concepcionista.

    Tambm com base na teoria concepcionista, vale lembrar

    que o STJ j admitiu inclusive, no RESP 399028/SP, dano

    moral ao nascituro.

    OBS:No podemos confundir nascituro, embrio e natimorto.Nascituro o ente concebido no ventre materno. O nascituro

    um embrio com vida intra-uterina, ou seja, o embrio

    produzido em laboratrio no nascituro, mas mero embrio.

    J o natimorto o nascido morto. O enunciado n 1 da 1

    jornada de Direito Civil afirma que o natimorto goza detutela jurdica no que tange ao nome, imagem e

    sepultura(memria).

    Qual das trs teorias adotada pelo CCB? Aparentemente,seguindo a linha de Clvis Bevilqua, o codificador, ao

    afirmar que a personalidade da pessoa comea do nascimento

    com vida, pretendeu abraar a teoria natalista, mas em

    inmeros pontos do prprio cdigo sofre inequvoca

    influncia da teoria concepcionista.

    CAPACIDADE CIVIL

    Conceito: Fundamentalmente, no direito, a capacidade se

    desdobra em capacidade de direito e capacidade de fato. Acapacidade de direito, segundo Orlando Gomes, confunde-se

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    com o prprio conceito de personalidade, ou seja, a

    capacidade jurdica genericamente reconhecida a qualquer

    pessoa. Ao lado dela, temos a capacidade de fato, que a

    capacidade aptido- de, pessoalmente, exercer os atos da

    vida civil ( a chamada capacidade de exerccio). A soma da

    capacidade de direito com a capacidade de fato gera a

    chamada capacidade civil plena (que em geral adquirida

    aos 18 anos).(ausente a capacidade de fato haver

    incapacidade absoluta ou relativa).

    OBS:No podemos confundir capacidade com legitimidade. A

    falta de legitimidade significa que, mesmo sendo capaz, a

    pessoa est impedida por lei de praticar determinado ato

    (exemplo: os irmos no podem se casar, mesmo que capazes).

    Legitimidade= pertinncia subjetiva para pratica dedeterminado ato, ou seja, mesmo capaz, uma pessoa pode

    estar impedida de praticar determinado ato. Neste caso,

    falta-lhe legitimidade( Calmom de Passos).

    Todo mundo tem capacidade de direito. A falta da capacidade

    de fato gera a incapacidade civil, que pode ser absoluta ou

    relativa.

    Art. 3o So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente

    os atos da vida civil:

    I - os menores de dezesseis anos (menores impberes);

    II - os que, por enfermidade ou deficincia mental, notiverem o necessrio discernimento para a prtica dessesatos;

    III - os que, mesmo por causa transitria, no puderemexprimir sua vontade.

    Art. 4o So incapazes, relativamente a certos atos, ou maneira de os exercer:

    I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos(menores pberes);

    II - os brios habituais, os viciados em txicos, e os que,por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido;

    III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

    IV - os prdigos.

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    Pargrafo nico. A capacidade dos ndios ser regulada porlegislao especial.

    Consideraes importantes acerca das incapacidades(absoluta e relativa):

    O absolutamente incapaz dever ser interditado

    (procedimento judicial) e dever-se- nomear-lhe um curador.

    OBS: O ato praticado por uma pessoa portadora de

    enfermidade ou deficincia mental e desprovida de

    discernimento ainda no interditada pode ser invalidado?

    Com base na doutrina italiana, Orlando Gomes afirma que o

    ato praticado pelo incapaz ainda no interditado pode ser

    invalidado, desde que concorram trs requisitos:

    1. A incapacidade de discernimento;

    2. O prejuzo ao incapaz;

    3. A m-f da outra parte (que pode ser presumida das

    circunstncias do negcio).

    O art. 503 do cdigo da Frana, na mesma linha, admite que

    os atos anteriores interdio possam ser invalidados se a

    incapacidade j existia.

    OBS: bom lembrar que, uma vez declarada a incapacidade

    por sentena, o interditado no poder praticar atos

    jurdicos sem o seu curador,mesmo em momentos de lucidez.

    OBS: Onde est o surdo-mudo que no tenha habilidade para

    manifestar sua vontade? O NCC no trouxe inciso especfico

    para o surdo-mudo incapaz de manifestar vontade, mas ele

    pode estar subsumido implicitamente na previso do inciso

    III do art. 3.

    OBS: A senilidade (idade avanada) no causa de

    incapacidade absoluta no direito brasileiro!

    OBS: Os absolutamente incapazes so representados, ao passo

    que os relativamente incapazes so assistidos.

    OBS: Lembra-nos Alvino Lima que a teoria da actio libera

    in causa, adotada em pases como a Blgica, a Alemanha e a

    Sua, tambm pode ser aplicada ao Direito Civil, demaneira que a pessoa que voluntariamente se intoxica no

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    est isenta de responsabilidade civil sob a alegao de

    incapacidade.

    OBS: A prodigalidade um conceito tcnico. Prdiga a

    pessoa que desordenadamente dilapida seu patrimnio,

    podendo reduzir-se misria. O sistema jurdico brasileiropermite a interdio do prdigo, de maneira que seu curador

    ir assisti-lo em atos de natureza / repercusso

    patrimonial (art. 1782).

    Justifica a interdio do prdigo, alm do interesse

    pblico, a teoria do estatuto jurdico do patrimnio

    mnimo, desenvolvida pelo professor Luiz Edson Fachin. Para

    essa doutrina, em uma perspectiva civil-constitucional, e

    em respeito ao princpio da dignidade humana, as normas em

    vigor devem resguardar um mnimo de patrimnio para quecada pessoa tenha vida digna.

    OBS: O prdigo, para casar, precisa da manifestao do seu

    curador? O curador do prdigo deve se manifestar quanto ao

    regime de bens adotado, pois h efeitos patrimoniais. Mas,

    no deve se manifestar sobre a questo meramente afetiva.

    O NCC no regula a capacidade do ndio. Esta regulada

    pela Lei 6.001/73 (Estatuto do ndio).

    Art. 8 So nulos os atos praticados entre o ndio nointegrado e qualquer pessoa estranha comunidade indgenaquando no tenha havido assistncia do rgo tutelarcompetente.

    Pargrafo nico. No se aplica a regra deste artigo no casoem que o ndio revele conscincia e conhecimento do atopraticado, desde que no lhe seja prejudicial, e da extensodos seus efeitos.

    OBS: No campo da proteo do incapaz, aplicvel o

    benefcio de restituio (restitutio in integrum)? Trata-

    se, segundo Clvis Bevilqua, do benefcio reconhecido ao

    incapaz para permitir que ele possa anular qualquer ato que

    lhe seja prejudicial. Esse benefcio continua proibido em

    respeito boa-f e segurana dos negcios. Mas, caso

    exista conflito de interesses entre o representante e o

    incapaz, pode-se invocar o art. 119 do CCB.

    Art. 119. anulvel o negcio concludo pelo representanteem conflito de interesses com o representado, se tal fato

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    era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou.

    Pargrafo nico. de cento e oitenta dias, a contar daconcluso do negcio ou da cessao da incapacidade, o prazode decadncia para pleitear-se a anulao prevista neste

    artigo.

    EMANCIPAO

    a cessao da incapacidade do menor antes do momento

    oportuno. Permite a antecipao da capacidade plena. Ter

    repercusses civis, ou seja, no pode responder penalmente

    e administrativamente. O emancipado tambm no pode tirar

    carteira de habilitao.

    Existem trs tipos de emancipao: voluntria, judicial oulegal.

    Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando

    a pessoa fica habilitada prtica de todos os atos da vida

    civil.

    Pargrafo nico. Cessar, para os menores, a incapacidade:

    I - pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do

    outro, mediante instrumento pblico, independentemente de

    homologao judicial, ou por sentena do juiz, ouvido o

    tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

    II - pelo casamento;

    III - pelo exerccio de emprego pblico efetivo;

    IV - pela colao de grau em curso de ensino superior;

    V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela

    existncia de relao de emprego, desde que, em funo

    deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia

    prpria.

    1)Voluntria (art. 5, I, 1 parte, CC) ato concedidopelos pais (ou um deles, na falta do outro), mediante

    instrumento pblico. irrevogvel e independe de

    homologao do juiz. S possvel se o menor tiver,

    pelo menos, 16 anos completos. A doutrina brasileira

    no sentido de que, em respeito vtima, a emancipao

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    realizada pelos pais no os isenta de uma futura

    responsabilidade civil por ato ilcito causado pelo

    filho emancipado os pais permanecem responsveis

    pelos atos que o menor emancipado praticar at os 18

    anos de idade. A responsabilidade solidria. Caio

    Mrio diz que a vontade no pode sobrepor-se lei.

    2) Judicial (art. 5, I, 2 parte, CC) a concedidapor sentena em procedimento de jurisdio voluntria,

    ouvindo-se o tutor, desde que o menor tenha 16 anos

    completos.O juiz ouve a opinio do tutor e concede a

    emancipao em geral, concedida a rfos ou cujos

    pais estejam destitudos do poder familiar. E os pais

    ausentes? Tem que ter pelo menos 16 anos completos. O

    juiz analisa o caso concreto para saber se temcondies de ser emancipado.

    3) Legal (art. 5, II a V, CC) Hipteses mais cobradasem prova! No necessrio sentena, a emancipao

    decorre da lei. Por questo de segurana jurdica pode

    entrar com ao declaratria, inclusive pedindo tutela

    antecipada. Hipteses:

    Casamento pode aos 16 anos de idade. Veja que a lei

    no diz unio estvel. O menor adquire capacidadeplena. A separao e o divrcio, por terem efeitos

    para o futuro, no prejudicam a emancipao decorrente

    do casamento. OBS: o art. 1520 admite o casamento

    abaixo dos 16 anos.

    Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis

    anos podem casar, exigindo-se autorizao de

    ambos os pais, ou de seus representantes

    legais, enquanto no atingida a maioridade

    civil.

    Art. 1.520. Excepcionalmente, ser permitido o

    casamento de quem ainda no alcanou a idade

    nbil (art. 1517), para evitar imposio ou

    cumprimento de pena criminal ou em caso de

    gravidez.

    OBS: Invalidado o casamento, a emancipao mantida? forte a doutrina no Brasil (seguindo a linha de

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    pensamento de que os efeitos da sentena de invalidade

    so retroativos, inclusive para cancelar o registro de

    casamento, restituindo as partes ao estado anterior, a

    emancipao perder efeitos, ressalvada a hiptese do

    casamento putativo (Pontes de Miranda seguido por

    Zeno Veloso, Tartuce). No entanto Orlando Gomes diz

    que a invalidade projeta efeitos para o futuro, de tal

    arte no haveria a desemancipao. Assim, lgico

    concluir que a emancipao perder a eficcia,

    ressalvada a hiptese do casamento putativo.(se for

    favorvel ao cnjuge)

    Exerccio de emprego pblico efetivo (emprego pblico

    ou cargo pblico) No tem idade mnima para o CC,

    entretanto o estatuto do servidor diz que a idade de18 anos. No vale cargo em comisso. A hiptese de

    emancipao legal, por exerccio de emprego ou cargo

    pblico efetivo de difcil ocorrncia, podendo se

    apontar como exemplo a assuno de funo pblica em

    carreira militar h carreiras militares que comeam

    aos 17 anos de idade, incidindo nessa hiptese.

    Colao de grau em curso de ensino superior Cuidado!

    Aprovao no vestibular no emancipa. No importa a

    idade.

    Estabelecimento civil (realiza uma atividade tcnica,

    artstica, intelectual. Ex. dar aulas de violo,

    arteso, prestar servio) ou estabelecimento comercial

    (empresarial. Ex.: compra e revenda de gado, quitanda)

    ou existncia de relao de emprego (Novidade.

    provado com base na CTPS) DESQUE QUE, em funo deles,

    o menor tenha economia prpria desde que ele tiver

    16 anos completos e economia prpria (conceitoaberto/indeterminado que ser analisado pelo juiz

    ver Box abaixo princpio da operabilidade).

    Preenchido no caso concreto no h conceito

    estabelecido. Ex: Se o menor de 17 anos, pobre, que

    trabalha numa loja no shopping, est emancipado por

    fora de lei. Agora, se o mesmo caso, o menor for de

    uma famlia rica, no poder se sustentar com o

    salrio que ganha ento no ser emancipado. Vale

    acrescentar que, luz do princpio da segurana

    jurdica, caso um menor emancipado seja demitido, eleno deve retornar situao de incapacidade.

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    OBS: PRINCPIOS DO CDIGO CIVIL BRASILEIRO:

    1) Princpio da eticidade o cdigo civil se preocupa com

    valores ticos. Ex.: boa-f objetiva.

    2) Princpio da socialidade o CC se preocupa com a funosocial.

    3) Princpio da operabilidade o CC consagrou um sistemaaberto de normas com conceitos indeterminados e clusulas

    gerais a serem construdos ou complementados pelo juiz no

    caso concreto.

    OBS: para concurso de Procurador Federal no RGPS h um

    detalhe estranho O emancipado, nos termos do art. 16, I

    da L. 8213/91, no tem direito ao benefcio previdencirio.

    No podemos olvidar que a emancipao no antecipa a

    imputabilidade penal, que s advm aos 18 anos. Prova:MAS

    O MENOR EMANCIPADO PODER SER PRESO CIVILMENTE!

    (INADIPLNCIA EM ALIMENTOS).

    OBS: Repercusso jurdica da reduo da maioridade civil:

    A doutrina penalista (Marcus Viveiros Dias e Luiz Flvio

    Gomes) sustenta que os benefcios penais em favor do ru

    entre 18 e 21 anos continuam em vigor, luz do princpiode individualizao da pena.

    Os atos processuais praticados por pessoa maior de 18 anos

    no exigem mais assistncia.

    No campo previdencirio, com a reduo da maioridade, o

    enunciado 03 da 1 Jornada de D. Civil e nota 42/03 da Casa

    Civil do governo federal, determinam que os benefcios

    previdencirios devem acompanhar o limite etrio da lei

    previdenciria, e no do Cdigo Civil. Ento ser at os 21anos de idade. No mbito do direito da infncia e da

    juventude prevalece a orientao de que, em havendo

    conflito com o CC prepondera o ECA (STJ). Art. 121, 5,

    ECA(no foi revogado pelo CC).

    No direito de famlia, o STJ j pacificou (ver informativo

    232 STJ e acrdos constantes do material de apoio no

    sentido de que a reduo da maioridade civil no implica

    cancelamento automtico da penso alimentcia. A justia

    brasileira prev que vai at o fim da faculdade). A penso

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    alimentcia deve continuar a ser paga at o trmino da

    faculdade em regra aos 24 anos.

    Prosseguindo o julgamento, a Seo, por maioria, proveu o

    recurso, entendendo que, com a maioridade do filho, a

    penso alimentcia no pode cessar automaticamente. O paiter de fazer o procedimento judicial para exonerar-se ou

    no da obrigao de dar penso ao filho. Explicitou-se que

    completar a maioridade de 18 anos no significa que o

    filho no ir depender do pai.

    OBS: o STJ tem reafirmado o entendimento de que o

    Ministrio Pblico no tem legitimidade para interpor

    recurso da deciso que exonerou o devedor de alimentos porconta da maioridade do credor (RESP 982410 DF 2007).

    OBS: eu me tornei maior de 18 anos no primeiro instante do

    dia do aniversrio (segundo Washington de Barros Monteiro.

    Trata-se de entendimento pacificado).

    Extino da pessoa fsica ou natural / morte presumida /

    morte simultnea (ou comorincia)

    Morte:

    Morte: Tradicionalmente, a extino da pessoa fsica opera-

    se em virtude da parada total do aparelho

    cardiorrespiratrio. No entanto, a comunidade cientfica

    mundial, assim como o Conselho Federal de Medicina tem

    afirmado que o marco mais seguro para se aferir a extino

    da pessoa fsica a morte enceflica, inclusive, para

    efeito de transplante. Isso porque a morte enceflica

    irreversvel. Resoluo 1480/97 Conselho Federal de

    Medicina. OBS.: Em medicina legal, quem estuda a morte a

    tanatologia. OBS.2: A morte deve ser declarada por

    profissional da medicina, admitindo-se, na ausncia deste,

    nos termos da lei 6015/73 (L. de registros pblicos), a

    declarao de bito possa ser feita por duas testemunhas.

    Ento, excepcionalmente, no havendo declarao mdica, ela

    poder ser feita por duas testemunhas.

    Art. 6oA existncia da pessoa natural termina com a morte;

    presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a

    lei autoriza a abertura de sucesso definitiva.

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    Morte presumida: pode se dar em duas situaes: ausncia ou

    nas hipteses do art. 7, CC. Em relao ao instituto da

    ausncia, o professor falou que no vale a pena estudar

    pela doutrina, pois est tudo na lei.

    CAPTULO IIIDA AUSNCIA

    Seo I

    Da Curadoria dos Bens do Ausente

    Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domiclio sem dela

    haver notcia, se no houver deixado representante ou

    procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a

    requerimento de qualquer interessado ou do Ministrio

    Pblico, declarar a ausncia, e nomear-lhe- curador.

    Art. 23. Tambm se declarar a ausncia, e se nomear

    curador, quando o ausente deixar mandatrio que no queira

    ou no possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus

    poderes forem insuficientes.

    Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe- os

    poderes e obrigaes, conforme as circunstncias,

    observando, no que for aplicvel, o disposto a respeito dos

    tutores e curadores.Art. 25. O cnjuge do ausente, sempre que no esteja

    separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos

    antes da declarao da ausncia, ser o seu legtimo

    curador.

    1o Em falta do cnjuge, a curadoria dos bens do ausente

    incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, no

    havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.

    2o Entre os descendentes, os mais prximos precedem os maisremotos.

    3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a

    escolha do curador.

    Seo II

    Da Sucesso Provisria

    Art. 26. Decorrido um ano da arrecadao dos bens do

    ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em

    se passando trs anos, podero os interessados requerer que

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    se declare a ausncia e se abra provisoriamente a sucesso.

    Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente

    se consideram interessados:

    I - o cnjuge no separado judicialmente;

    II - os herdeiros presumidos, legtimos ou testamentrios;

    III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito

    dependente de sua morte;

    IV - os credores de obrigaes vencidas e no pagas.

    Art. 28. A sentena que determinar a abertura da sucesso

    provisria s produzir efeito cento e oitenta dias depois

    de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado,proceder-se- abertura do testamento, se houver, e ao

    inventrio e partilha dos bens, como se o ausente fosse

    falecido.

    1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e no havendo

    interessados na sucesso provisria, cumpre ao Ministrio

    Pblico requer-la ao juzo competente.

    2o No comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o

    inventrio at trinta dias depois de passar em julgado a

    sentena que mandar abrir a sucesso provisria, proceder-

    se- arrecadao dos bens do ausente pela forma

    estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.

    Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar

    conveniente, ordenar a converso dos bens mveis, sujeitos

    a deteriorao ou a extravio, em imveis ou em ttulos

    garantidos pela Unio.

    Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do

    ausente, daro garantias da restituio deles, mediantepenhores ou hipotecas equivalentes aos quinhes respectivos.

    1o Aquele que tiver direito posse provisria, mas no

    puder prestar a garantia exigida neste artigo, ser

    excludo, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a

    administrao do curador, ou de outro herdeiro designado

    pelo juiz, e que preste essa garantia.

    2o Os ascendentes, os descendentes e o cnjuge, uma vez

    provada a sua qualidade de herdeiros, podero,independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do

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    ausente.

    Art. 31. Os imveis do ausente s se podero alienar, no

    sendo por desapropriao, ou hipotecar, quando o ordene o

    juiz, para lhes evitar a runa.

    Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisrios

    ficaro representando ativa e passivamente o ausente, de

    modo que contra eles correro as aes pendentes e as que de

    futuro quele forem movidas.

    Art. 33. O descendente, ascendente ou cnjuge que for

    sucessor provisrio do ausente, far seus todos os frutos e

    rendimentos dos bens que a este couberem; os outros

    sucessores, porm, devero capitalizar metade desses frutos

    e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo como representante do Ministrio Pblico, e prestar anualmente

    contas ao juiz competente.

    Pargrafo nico. Se o ausente aparecer, e ficar provado que

    a ausncia foi voluntria e injustificada, perder ele, em

    favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.

    Art. 34. O excludo, segundo o art. 30, da posse provisria

    poder, justificando falta de meios, requerer lhe seja

    entregue metade dos rendimentos do quinho que lhe tocaria.Art. 35. Se durante a posse provisria se provar a poca

    exata do falecimento do ausente, considerar-se-, nessa

    data, aberta a sucesso em favor dos herdeiros, que o eram

    quele tempo.

    Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a

    existncia, depois de estabelecida a posse provisria,

    cessaro para logo as vantagens dos sucessores nela

    imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas

    assecuratrias precisas, at a entrega dos bens a seu dono.

    Seo III

    Da Sucesso Definitiva

    Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentena

    que concede a abertura da sucesso provisria, podero os

    interessados requerer a sucesso definitiva e o levantamento

    das caues prestadas.

    Art. 38. Pode-se requerer a sucesso definitiva, tambm,provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que

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    de cinco datam as ltimas notcias dele.

    Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes

    abertura da sucesso definitiva, ou algum de seus

    descendentes ou ascendentes, aquele ou estes havero s os

    bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogadosem seu lugar, ou o preo que os herdeiros e demais

    interessados houverem recebido pelos bens alienados depois

    daquele tempo.

    Pargrafo nico. Se, nos dez anos a que se refere este

    artigo, o ausente no regressar, e nenhum interessado

    promover a sucesso definitiva, os bens arrecadados passaro

    ao domnio do Municpio ou do Distrito Federal, se

    localizados nas respectivas circunscries, incorporando-se

    ao domnio da Unio, quando situados em territrio federal.

    Art. 7oPode ser declarada a morte presumida, sem decretao

    de ausncia:(aqui no h ausncia, mas sim fundados indcio

    que a morte ocorreu, por isso a sentena registrada no

    livro de bito normal)

    I - se for extremamente provvel a morte de quem estava em

    perigo de vida;

    II - se algum, desaparecido em campanha ou feitoprisioneiro, no for encontrado at dois anos aps o trmino

    da guerra.

    Pargrafo nico. A declarao da morte presumida, nesses

    casos, somente poder ser requerida depois de esgotadas as

    buscas e averiguaes, devendo a sentena fixar a data

    provvel do falecimento.

    Ausncia: um procedimento. Foi tratada pelo legisladorcomo situao de morte presumida, a partir do momento em

    que aberta a sucesso definitiva dos bens do ausente (ver

    apostila no material de apoio). O sujeito desaparece do

    domiclio sem deixar paradeiro, sem deixar procurador.

    registrada em livro prprio (e no no registro de bito). A

    ausncia tem duas fases:

    1) Provisria provisoriamente transmitida ao

    herdeiro;

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    2) Permanente abre-se a sucesso definitiva dos bens do

    ausente.

    Pela lei brasileira (art. 6, CC) no momento em que se abre

    a sucesso definitiva do ausente, ele considerado

    presumidamente morto.

    OBS: Na forma do 1, art. 1.571, CC, aberta a sucesso

    definitiva e considerado morto o ausente, resulta rompido o

    vnculo matrimonial (viva presumida ou vivo presumido).

    OBS: Mesmo a ausncia sendo uma morte presumida, o registro

    da ausncia feito no livro de ausentes, no no de bito.

    Existem hipteses de morte presumida que no se confundem

    com a ausncia e esto prevista no art. 7, CC.

    Depois de cessada as buscas, o juiz comea o procedimento

    de justificao. Esse procedimento ocorre nas hipteses do

    art. 7. O juiz declara o bito e fixa a data do

    falecimento. Esta sentena no de ausncia; de

    declarao de bito.

    O juiz competente deve ser Estadual, pois se refere ao

    status da pessoa.

    Art. 7o PODE SER DECLARADA A MORTE PRESUMIDA, SEMDECRETAO DE AUSNCIA:

    I - se for extremamente provvel a morte de quem

    estava em perigo de vida;

    II - se algum, desaparecido em campanha ou feito

    prisioneiro, no for encontrado at 2 anos aps o trmino

    da guerra.

    Pargrafo nico. A declarao da morte presumida, nesses

    casos, somente poder ser requerida depois de esgotadas as

    buscas e averiguaes, devendo a sentena fixar a data

    provvel do falecimento.

    PROVA: ESSA SENTENA REGISTRADA NO LIVRO DE BITO, pois

    no ausncia.

    Comorincia:

    Art. 8o Se dois ou mais indivduos falecerem na mesma

    ocasio, no se podendo averiguar se algum dos comorientes

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    precedeu aos outros, PRESUMIR-SE-O SIMULTANEAMENTE

    MORTOS.

    uma situao de morte simultnea. Traduz a situao em

    que duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasio, sem que

    se possa indicar a ordem cronolgica das mortes. Art. 8,CC.

    O art. 8, CC, na mesma linha dos cdigos do Chile e da

    Argentina, consagra a regra segundo a qual no se podendo

    averiguar a ordem cronolgica das mortes, os comorientes

    presumem-se mortos ao mesmo tempo, de maneira que um

    comoriente no herda do outro, abrindo-se cadeias

    sucessrias autnomas e distintas. Na prtica significa

    dizer que se os comorientes morreram ao mesmo tempoabrem-

    se cadeias sucessrias distintas, um no herda do outro. A

    sua parte vai para seus herdeiros, no para o cnjuge.

    Caso: Joo casado com Maria sob o regime de comunho

    parcial de bens e sofreram acidente de carro em que ambos

    os corpos foram carbonizados, no se podendo dizer quem

    morreu primeiro. Nesse caso, aplica-se o art. 8.

    OBS: em tese, os comorientes podem estar em locais

    distintos. Mas de difcil ocorrncia.

    PESSOA JURDICA

    chamada de ente de existncia ideal por alguns. Nasce

    para o direito sob a influncia da sociologia, pois nasceu

    como decorrncia do fato associativo.

    Conceito: ente que recebeu da lei personalidade para fazer

    o que compatvel com a funo de pessoa jurdica. Grupo

    humano personificado pelo direito, visando atingir

    finalidades comuns. A Pessoa jurdica um sujeito dedireito (Kelsen pessoa jurdica centro de imputao).

    Requisitos para constituio de pessoa jurdica:

    a) Vontade;

    b) Ato constitutivo documento escrito (contrato social,

    estatuto...);

    c) Registro: sociedade de advogados OAB; sociedade

    empresria junta comercial; sociedade simples,

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    fundao e associao cartrio de registro de pessoa

    jurdica;

    d) Objeto lcito: requisito de validade.

    Classificao quanto atuao:

    a) Pessoas jurdicas de direito pblico:

    Externo (Organizaes internacionais, Pases)

    Interno (Entes polticos, Autarquias, fundaes

    pblicas, Agncias reguladoras, Associaes pblicas

    associaes formadas por entes polticos para a gesto

    associada de servios pblicos. Ela faz a gesto de

    servio e no a execuo dele).

    b) Pessoas jurdicas de direito privado:

    Sociedades pessoas jurdicas com objetivo de lucro.

    Entram as sociedades criadas pelo Estado (sociedade de

    economia mista e empresas pblicas) e as no criadas

    pelo Estado.

    Associaes constitudas de pessoas que se renem

    para realizao de fins no econmicos.

    Fundaes

    Partidos polticos

    Organizaes religiosas autnomas. A lei no diz

    como ser regida a situao delas.

    Consrcios pblicos de direito privado so pessoas

    jurdicas formadas pela reunio de entes polticos

    para a gesto de servios que possa ser realizada porpessoas de direito privado.

    Teorias explicativas da pessoa jurdica (Prova

    dissertativa):

    1) Teoria negativista negava a pessoa jurdica comosujeito de direito, negava a sua existncia. Ihering,

    Brinz, Bekker, Planiol, Duguit, etc. Primeiro

    argumento: A pessoa jurdica apenas um patrimnio

    afetado a uma finalidade. Segundo argumento: a pessoajurdica apenas um patrimnio coletivo, um

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    condomnio. ltimo argumento e mais utilizado: pessoa

    jurdica um grupo de pessoas fsicas reunidas.

    Teoria que no vingou;

    2) Teoria afirmativista reconhece a existncia da

    pessoa jurdica. Possui trs correntes (o que tm decomum aceitar a pessoa jurdica):

    Teoria da fico Savigny. A pessoa jurdica no

    teria existncia social, de maneira que seria um

    produto da tcnica jurdica a pessoa jurdica seria

    uma abstrao, sem realidade social. Essa teoria tem

    proximidade com a teoria institucionalista (D.

    Constitucional). A pessoa jurdica tem existncia

    meramente ideal (abstrata). Ela existe, mas umacriao do direito. No tem atuao na realidade

    Esse argumento considerado pelos defensores das

    prximas teorias como sendo a falha do pensamento de

    Savigny.

    Teoria da realidade objetiva ou organicista Augusto

    comte, Clvis Bevilqua, Cunha Gonalves, etc.

    Influenciado pelo organicismo sociolgico,

    contrariamente, afirmavam a PJ teria existncia social

    consistindo em um organismo vivo na sociedade. Apessoa jurdica teria uma atuao social real, ou

    seja, defendia-se que a pessoa jurdica seria uma

    clula ou um organismo social vivo na sociedade.

    Teoria da realidade tcnica Ferrara; Sabilles etc.

    Equilibra as duas teorias anteriores. Observa o que

    cada uma das anteriores tem de melhor. Afirma que a

    pessoa jurdica, embora personificada pelo direito,

    tem atuao social. Reconhece a atuao social da

    pessoa jurdica, admitindo ainda que a sua

    personalidade fruto da tcnica jurdica. a que

    melhor explica a pessoa jurdica e o CC brasileiro, no

    art. 45, adotou essa tcnica.(MAIS EQUILIBRADA,

    RECONHECE QUE A PJ PERSONIFICADA PELO DIREITO E AO

    MESMO TEMPO NO NEGA QUE A PJ TEM ATUAO SOCIAL)

    Art. 45. Comea a existncia legal das pessoas jurdicas

    de direito privado com a inscrio do ato constitutivo norespectivo registro, precedida, quando necessrio, de

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    autorizao ou aprovao do Poder Executivo, averbando-se

    no registro todas as alteraes por que passar o ato

    constitutivo.

    Pargrafo nico. Decai em trs anos o direito de anular a

    constituio das pessoas jurdicas de direito privado, pordefeito do ato respectivo, contado o prazo da publicao

    de sua inscrio no registro.

    Aquisio da personalidade jurdica da pessoa jurdica:

    Art. 45, CC comea com o registro. O registro dapessoa

    jurdica ato constitutivo (no declaratrio) da

    personalidade jurdica. J o registro da pessoa fsica

    declaratrio.

    Caio Mrio: por isso que as sociedades sem registro no

    tm personalidade jurdica. Para algumas pessoas jurdicas,

    alm do registro, exige-se autorizao especial do poder

    executivo para existirem (ex: bancos). A falta dessa

    autorizao gera a inexistncia da pessoa jurdica.

    OBS: A falta do registro pblico do ato constitutivo

    caracteriza o ente como sociedade

    despersonificada/irregular/de fato. Considerando-se que o

    registro da pessoa jurdica constitutivo da suapersonalidade, as entidades desprovidas de registro so

    consideradas irregulares, tratando-as o CC, a partir do

    art. 986, como sociedade despersonificada (eram chamadas

    no cdigo antigo de sociedade de fato ou irregulares). Nos

    termos do art. 990 do CC, estas sociedades

    despersonificadas permitem que seus scios ou

    administradores possam ser pessoalmente responsveis pelos

    dbitos sociais RESPONDEM OS SCIOS ILIMITADAMENTE eis

    os perigos da sociedade despersonificada. Vale lembrar, nos

    termos do art. 12 do CPC, que tambm no so pessoasjurdicas, mas apenas entes despersonificados, com

    capacidade processual, o condomnio, o esplio, a massa

    falida e a herana jacente.

    Ex: Uma sociedade, desprovida de registro, funcionou por

    oito anos. A partir da, os scios registraram-na. Os

    efeitos do registro de uma pessoa jurdica so sempre para

    o futuro, ou seja, ex nunc. No se pode retroagir,

    legitimar o passado.

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    Art. 12. Sero representados em juzo, ativa e

    passivamente:

    I - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os

    Territrios, por seus procuradores;

    II - o Municpio,por seu Prefeito ou procurador;

    III - a massa falida, pelo sndico;

    IV - a herana jacente ou vacante, por seu curador;

    V - o esplio, pelo inventariante;

    VI - as pessoas jurdicas, por quem os respectivos

    estatutos designarem, ou, no os designando, por seus

    diretores;

    VII - as sociedades sem personalidade jurdica, pela

    pessoa a quem couber a administrao dos seus bens;

    VIII - a pessoa jurdica estrangeira, pelo gerente,

    representante ou administrador de sua filial, agncia ou

    sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, pargrafo

    nico);

    IX - o condomnio, pelo administrador ou pelo sndico.

    Ato constitutivo de uma pessoa jurdica pode ser ou

    contrato social ou estatuto.

    O registro do ato constitutivo da pessoa jurdica, em

    geral, realizado (feito) na junta comercial ou no

    cartrio de registro de pessoa jurdica (CRPJ).

    Em algumas situaes a pessoa jurdica tem que ser

    autorizada pelo poder executivo. Ex: Banco.

    OBS: O que so os grupos despersonificados ou grupos depersonificao anmala? Art. 12, CPC. No so pessoas

    jurdicas, mas tm capacidade processual. Ex: Sociedade

    irregular, massa falida, esplio, condomnio, etc.

    OBS: Questo de prova Pessoa jurdica pode sofrer dano

    moral? Sim, pacfico. Todavia, o examinador queria saber

    os argumentos contrrios a essa tese. Vejamos as correntes:

    1) Pessoa jurdica pode sofrer dano moral (majoritria):

    smula 227 do STJ e art. 52 do CC. A pessoa jurdicatem honra objetiva, logo, pode sofrer dano moral.

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    2) Arruda Alvim e Enunciado 286 da quarta jornada de

    direito civil.

    Portanto, a corrente predominante, baseada na Smula 227

    STJe no art. 52, CC, admite a possibilidade de a pessoa

    jurdica sofrer dano moral. Tem honra objetiva imagem.No tem honra subjetiva. A corrente minoritria (Arruda

    Alvim) baseada no Enunciado 286 da 4 Jornada de direito

    Civil no aceita a responsabilidade por dano moral. O

    argumento utilizado que se a pessoa jurdica for

    denegrida perante a sociedade, por exemplo, s se

    prejudicar financeiramente (aspecto patrimonial). E dano

    moral = leso a direito da personalidade.

    Quais so as espcies de pessoa jurdica de direito

    privado? As contidas no art. 44, CC (rol no exaustivo):

    1) As associaes;

    2) As sociedades;

    3) As fundaes;

    4) As organizaes religiosas. Ex: Centro Esprita,

    igreja evanglica etc.

    5) Os partidos polticos.

    Os dois ltimos so espcies de associaes, por isso, no

    cdigo antigo no estavam especificados. Foram

    acrescentados no art. 44, do NCC, pois visava a permitir em

    seguida a alterao do art. 2031, NCC, para excluir essas

    entidades da obrigao de se adaptarem ao NCC.

    Se as trs primeiras no se adaptarem ao novo cdigo as

    conseqncias sero as seguintes:

    a) So proibidas de participarem de licitaes;

    b) So proibidas de obterem linha de crdito;

    c) Tornam-se sociedades irregulares (sem personalidade

    jurdica. Os scios passam a ter responsabilidade

    pessoal).

    Associaes

    Conceito: As associaes so pessoas jurdicas de direito

    privado formadas pela unio de indivduos com o propsito

    de realizarem fins no econmicos.

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    Art. 53. Constituem-se as associaes pela unio de pessoasque se organizem para fins no econmicos.

    Pargrafo nico. No h, entre os associados, direitos eobrigaes recprocos.

    Ex: um clube recreativo (iate clube).

    OBS: Sindicado tem natureza de associao. Parte da

    doutrina (Pablo Stolze) defende que no cabe mandado de

    segurana contra ato de dirigente de sindicato.

    OBS: Uma associao pode gerar receita, mas essa receita

    revestida nela mesma (a finalidade da associao ideal, e

    no lucrativa).

    O ato constitutivo de uma associao o seu estatuto.

    Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associaesconter:

    I - a denominao, os fins e a sede da associao;

    II - os requisitos para a admisso, demisso e excluso dosassociados;

    III - os direitos e deveres dos associados;

    IV - as fontes de recursos para sua manuteno;

    V o modo de constituio e de funcionamento dos rgosdeliberativos;

    VI - as condies para a alterao das disposiesestatutrias e para a dissoluo.

    VII a forma de gesto administrativa e de aprovao das

    respectivas contas.

    O rgo mximo de uma associao no o diretor-

    presidente. a Assemblia Geral. A competncia / as

    atribuies da Assemblia Geral de associados encontra-se

    no art. 59 do CC:

    Art. 59. Compete privativamente assemblia geral:

    I destituir os administradores;

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    II alterar o estatuto.

    Pargrafo nico. Para as deliberaes a que se referem osincisos I e II deste artigo exigido deliberao da

    assemblia especialmente convocada para esse fim, cujoquorum ser o estabelecido no estatuto, bem como oscritrios de eleio dos administradores.

    OBS: Vale lembrar que possvel a existncia de categorias

    diferenciadas de associados, mas dentro de cada categoria

    os associados no podem ser discriminados entre si (art. 55

    CC).

    Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o

    estatuto poder instituir categorias com vantagensespeciais.

    OBS: Qual o destino do patrimnio de uma associao

    extinta? Nos termos do art. 61 CC, regra geral, dissolvida

    a associao do seu patrimnio, ser atribudo a entidades

    de fins no econmicos designadas no estatuto, ou, omisso

    este, ser atribudo a instituio municipal, estadual ou

    federal de fins iguais ou semelhantes.

    Art. 61. Dissolvida a associao, o remanescente do seupatrimnio lquido, depois de deduzidas, se for o caso, asquotas ou fraes ideais referidas no pargrafo nico doart. 56, ser destinado entidade de fins no econmicosdesignada no estatuto, ou, omisso este, por deliberao dosassociados, instituio municipal, estadual ou federal, defins idnticos ou semelhantes.

    1o Por clusula do estatuto ou, no seu silncio, pordeliberao dos associados, podem estes, antes da destinao

    do remanescente referida neste artigo, receber emrestituio, atualizado o respectivo valor, as contribuiesque tiverem prestado ao patrimnio da associao.

    2o No existindo no Municpio, no Estado, no DistritoFederal ou no Territrio, em que a associao tiver sede,instituio nas condies indicadas neste artigo, o queremanescer do seu patrimnio se devolver Fazenda doEstado, do Distrito Federal ou da Unio.

    O NCC admite a excluso / a expulso do associado, nostermos do art. 57 CC:

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    Art. 57. A excluso do associado s admissvel havendo

    justa causa (conceito aberto), assim reconhecida em

    procedimento que assegure direito de defesa e de recurso,

    nos termos previstos no estatuto (devido processo legal

    privado eficcia horizontal dos direitos fundamentais).

    OBS:No se aplica o art. 57 a condmino!

    Fundaes (de direito privado):

    As ONGs (chamado terceiro setor) organizam-se no Brasil ou

    como associao ou como fundao.

    As fundaes, assim como as associaes, tm finalidade

    ideal ou no lucrativa (art. 62 CC).

    Art. 62. Para criar uma fundao, o seu instituidor far,por escritura pblica ou testamento, dotao especial debens livres, especificando o fim a que se destina, edeclarando, se quiser, a maneira de administr-la.

    Pargrafo nico. A fundao somente poder constituir-separa fins religiosos, morais, culturais ou de assistncia.

    OBS: Uma fundao, assim como uma associao, pode gerarreceita, mas essa receita revestida nela mesma (a

    finalidade da associao ideal, e no lucrativa).

    Conceito de fundao: A fundao, diferentemente da

    associao, no grupo de pessoas, mas sim um patrimnio

    que se personifica visando a perseguir finalidade ideal.

    O ato constitutivo organizacional da fundao o seuestatuto.

    Pessoas Jurdicas tambm podem constituir fundao (ex:fundao Roberto Marinho; fundao Xuxa Meneguel)!

    Requisitos para a instituio de uma fundao:

    1) A afetao de bens livres do instituidor;

    2) Escritura pblica (tabelionato de notas) ou

    testamento;

    3) A elaborao do estatuto da fundao (pelo prprio

    instituidor ou, fiduciariamente, por terceiro, nos

    termos do art. 65 CC);

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    Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometera aplicao do patrimnio, em tendo cincia doencargo, formularo logo, de acordo com assuas bases (art. 62), o estatuto da fundaoprojetada, submetendo-o, em seguida,

    aprovao da autoridade competente, comrecurso ao juiz.

    Pargrafo nico. Se o estatuto no forelaborado no prazo assinado pelo instituidor,ou, no havendo prazo, em cento e oitentadias, a incumbncia caber ao MinistrioPblico.

    OBS: O MP, supletivamente, poder elaborar o estatuto,

    caso o terceiro no o faa.(que deve ser aprovado peloJuiz)

    4) O estatuto elaborado dever ainda ser aprovado pelo MP

    e em seguida registrado no cartrio de registro de PJ.

    o MP que tem atribuio legal de fiscalizao das

    fundaes no Brasil (art. 66 CC).

    Art. 66. Velar pelas fundaes o Ministrio Pblico doEstado onde situadas.

    1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Territrio,caber o encargo ao Ministrio Pblico Federal. (Vide ADINn 2.794-8)

    2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, cabero encargo, em cada um deles, ao respectivo MinistrioPblico.

    OBS: Se a fundao funcionar no DF, ou em Territrio (no

    existe), caber o encargo aoMPDFT (o p. 1 do art. 66 foideclarado inconstitucional pelo STF ADI 2.794-8 em

    razo da usurpao da atribuio constitucional constante

    no referido dispositivo).

    O art. 67 do CC alterou o qurum de deliberao para

    alterao do estatuto da fundao que, no cdigo anterior,

    era de maioria absoluta.

    Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundao

    mister que a reforma:

    http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=2794&processo=2794http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=2794&processo=2794http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=2794&processo=2794http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=2794&processo=2794
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    OBS: possvel sociedade entre cnjuges?

    Art. 977. Faculta-se aos cnjuges contratar sociedade, entresi ou com terceiros, desde que no tenham casado no regimeda comunho universal de bens, ou no da separaoobrigatria.

    Essa presuno de fraude, na opinio de Pablo Stolze,

    flagrantemente inconstitucional. Mas, a despeito dessa

    opinio do citado doutrinador, o dispositivo est em pleno

    vigor.

    O Departamento Nacional de Registro de Comrcio (DNRC), por

    meio do parecer jurdico 125/2003, firmou o entendimento(correto) de que o art. 977, em respeito ao ato jurdico

    perfeito, no atinge sociedade entre cnjuges anterior ao

    NCC.

    Classificao das sociedades:

    Tradicionalmente, no Brasil, as sociedades eram

    classificadas da seguinte maneira:

    a) Sociedades civis;

    b) Sociedades mercantis (comerciais).

    O ponto comum entre sociedades civis e mercantis era que

    ambas buscavam finalidade econmica.

    As sociedades mercantis praticavam atos de comrcio ( luz

    da doutrina francesa), diferentemente das sociedades civis,

    que no praticavam atos de comrcio.

    A doutrina italiana revolucionou essa matria (a noo de

    comrcio era pouco precisa e foi substituda pela teoria daempresa). No se fala mais em sociedades civis e mercantis

    (o NCC no adotou a teoria dos atos de comrcio). O NCC

    divide as sociedades em:

    a) Sociedades simples;

    b) Sociedades empresrias.

    A chave da diferena entre sociedades simples e empresrias

    est no art. 982 do CC.

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    Art. 982. Salvo as excees expressas, considera-seempresria a sociedade que tem por objeto o exerccio deatividade prpria de empresrio sujeito a registro (art.967); e, simples, as demais.

    Pargrafo nico. Independentemente de seu objeto, considera-se empresria a sociedade por aes; e, simples, acooperativa.

    OBS: Vale observar que a sociedade annima sempre

    empresria e a cooperativa sempre sociedade simples, por

    determinao da lei.

    Uma sociedade empresria quando se observam dois

    requisitos:

    1) Requisito material: toda sociedade empresria realiza

    uma atividade econmica organizada, ou seja, uma

    atividade empresarial, nos termos do art. 966.

    Art. 966. Considera-se empresrio quem exerceprofissionalmente atividade econmicaorganizada para a produo ou a circulao debens ou de servios.

    Pargrafo nico. No se considera empresrio

    quem exerce profisso intelectual, de naturezacientfica, literria ou artstica, ainda como concurso de auxiliares ou colaboradores,salvo se o exerccio da profisso constituirelemento de empresa.

    2) Requisito formal: Registro na Junta Comercial

    (Registro Pblico de Empresa).

    H uma grande semelhana entre os conceitos de sociedade

    empresria e o antigo conceito de sociedade mercantil. Mas

    h diferenas. O conceito de sociedade empresria mais

    abrangente do que o conceito (antigo) de sociedade

    mercantil (conjugao dos dois requisitos).

    A sociedade empresria aquela que conjuga os requisitos

    do art. 982, e alm disso, com a caracterstica da

    impessoalidade, os seus scios atuam precipuamente como

    meros articuladores de fatores de produo (capital,

    trabalho, tecnologia e matria prima), a exemplo de um

    banco ou de uma revendedora de veculos. O seu registro

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    feito na JUNTA COMERCIAL e sujeitam-se legislao

    falimentar. J as sociedades simples tm por principal

    caracterstica a pessoalidade: os seus scios no so meros

    articuladores de fatores de produo, uma vez que prestam e

    supervisionam direta e pessoalmente a atividade

    desenvolvida. Em geral, so sociedades prestadoras de

    servios, a exemplo da sociedade de advogados ou de

    mdicos. O seu registro feito, em geral, no Cartrio de

    Registro de Pessoas Jurdicas (CRPJ).

    OBS: Uma grande banca de advocacia, a depender do caso

    concreto, sob o aspecto material, podem at constituir uma

    sociedade empresria (caracterstica de empresa). Mas, ela

    continua sendo simples, pois o registro continua sendo

    feito no CRPJ e na OAB (e no na J. Comercial).

    Quanto s cooperativas, so tratadas como sociedades

    simples, por fora de lei, predominando o entendimento

    doutrinrio (Julieta Lenz, Paulo Rego) no sentido de que, a

    despeito da Lei 8.934/94, o seu registro, luz do NCC,

    deve ser feito no CRPJ, e no na Junta Comercial (h

    entendimento doutrinrio minoritrio em sentido contrrio,

    no sentido de que a Lei 8.934/94 lei especial esse

    entendimento no deve prevalecer, uma vez que o NCC muito

    claro em relao ao tema).OBS: Magistrado pode ser scio de empresa, s no pode

    administrar.

    Extino da Pessoa Jurdica:

    Para ser liquidada a PJ, o seu passivo deve ser satisfeito,

    especialmente as obrigaes tributrias, para s ento se

    poder cancelar o registro.

    Existem trs formas bsicas de dissoluo da PJ:a) Convencional: aplica-se s sociedades e se opera por

    ato de vontade dos prprios scios, que firmam

    distrato.

    b)Administrativa: aquela que decorre da cassao da

    autorizao de funcionamento, especfica para algumas

    entidades (ex: banco demanda uma autorizao

    especfica do BC).

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    c) Judicial: se d por sentena em procedimento

    falimentar (sociedades empresrias, em regra) ou de

    liquidao (sociedades simples, em regra).

    OBS: Qual a regra que disciplina a dissoluo de uma

    sociedade no sujeita lei de falncia? luz do art.1.218 VII CPC, o procedimento a ser seguido o do CPC

    de 1939.

    Art. 1.218. Continuam em vigor at seremincorporados nas leis especiais osprocedimentos regulados pelo Decreto-lei no

    1.608, de 18 de setembro de 1939,concernentes:

    Vll - dissoluo e liquidao das sociedades(arts. 655 a 674);

    Desconsiderao da Pessoa Jurdica (disregard doctrine):

    A expresso inglesa porque a origem da teoria inglesa

    (Gr-Bretanha). O caso paradigmtico foi o famoso Salomon

    vs. Salomon Co.

    Rubens Requio (grande comercialista) foi quem introduziu

    essa teoria no Brasil.

    Conceito: A doutrina da desconsiderao pretende o

    afastamento temporrio da personalidade jurdica da

    entidade, para permitir que os credores prejudicados possam

    satisfazer os seus direitos no patrimnio pessoal do scio

    ou administrador que cometeu o ato abusivo.

    OBS: importante lembrar que a desconsiderao no se

    confunde com a despersonificao da PJ. A desconsiderao,

    luz do princpio da continuidade da empresa, tende a

    permitir a mantena posterior de suas atividades.

    Diferentemente, a despersonificao aniquila a PJ,

    cancelando o seu registro.

    OBS: O enunciado n 7 da 1 Jornada de Direito Civil

    lembra-nos de que a desconsiderao, por ser medida de

    fora, deve atingir apenas o scio ou administrador que

    cometeu o ato abusivo (ou se beneficiou dele).

    OBS: Qual a diferena entre a Desconsiderao da PJ e a

    Teoria da Ultra Vires Societatis? De origem anglo-saxnica,e regulada no art. 1.015 do CC, esta teoria sustenta ser

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    nulo o ato praticado pelo scio que extrapolou os poderes a

    si concedidos pelo Contrato Social. Esta teoria visa a

    proteger a PJ.

    Art. 1.015. No silncio do contrato, os administradores

    podem praticar todos os atos pertinentes gesto dasociedade; no constituindo objeto social, a onerao ou avenda de bens imveis depende do que a maioria dos sciosdecidir.

    Pargrafo nico. O excesso por parte dos administradoressomente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menosuma das seguintes hipteses:

    I - se a limitao de poderes estiver inscrita ou averbadano registro prprio da sociedade;

    II - provando-se que era conhecida do terceiro;

    III - tratando-se de operao evidentemente estranha aosnegcios da sociedade.

    Desconsiderao da Personalidade Jurdica e Direito

    Positivo:

    O CC/1916 no previa a desconsiderao da personalidade

    jurdica.

    O primeiro diploma legal a tratar do assunto foi o CDC

    (art. 28); depois veio a Lei Anti-Truste; a Legislao

    Ambiental; e, mais recentemente, tambm regulou a

    desconsiderao da personalidade jurdica o CC/2002, em seu

    art. 50:

    Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica,caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso

    patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervir noprocesso, que os efeitos de certas e determinadas relaesde obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dosadministradores ou scios da pessoa jurdica.

    OBS: Lembra-nos Edmar Andrade que, regra geral, a

    desconsiderao matria sob reserva de jurisdio. Mas,

    observa Gustavo Tepedino (em artigo publicado na RTDC) que

    EXCEPCIONALMENTE poder haver desconsiderao

    administrativa da PJ (RESP 15166/BA).

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    Requisitos para a desconsiderao da PJ no CC:

    1) Que tenha havido o descumprimento da obrigao (ou at

    mesmo o que mais grave a insolvncia da PJ);

    2) Abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade oupela confuso patrimonial.

    OBS: Um exemplo tpico de abuso por confuso patrimonial

    opera-se quando uma PJ (controladora) constitui uma nova PJ

    (controlada) para praticar atos por meio desta (essa nova

    PJ assume todo o passivo da PJ controladora).

    OBS: Seguindo a doutrina do prof. Fabio Konder Comparato,

    podemos concluir que o art. 50 do CC concebeu a teoria da

    desconsiderao com carter objetivo, dispensando a prova

    do dolo especfico do scio ou administrador (elemento

    subjetivo). Adotar outro raciocnio significaria aniquilar

    por completo a essncia da teoria da desconsiderao da

    personalidade jurdica!

    OBS: Qual a diferena entre a teoria maior e a teoria

    menor da desconsiderao da personalidade jurdica? Teoria

    maior a adotada pelo CC, exigindo uma gama maior de

    requisitos, uma vez que demanda a prova do abuso do scio

    ou administrador; j a teoria menor, adotada pelo CDC e

    pela Legislao Ambiental, de aplicao mais facilitada,

    pois no exige a demonstrao do abuso (basta que haja o

    descumprimento da obrigao). esse o entendimento da

    doutrina e da jurisprudncia (aplicao farta, por exemplo,

    no STJ).

    OBS: O que desconsiderao inversa? Este tipo de

    desconsiderao, especialmente aplicada no direito de

    famlia, segundo Rolf Madaleno, pretende, inversamente,

    atingir o patrimnio da PJ, visando a alcanar o scio ouadministrador causador do desvio de recursos do seu

    patrimnio pessoal. O enunciado n 283 da Jornada de

    Direito Civil consagrou esta teoria.

    OBS: pacfica a jurisprudncia do STJ no sentido de que a

    desconsiderao da PJ cabvel no curso da execuo (RESP

    920602/DF). evidente que o Juiz precisa abrir o

    contraditrio, respeitando o Devido Processo

    Constitucional.

    DOMICLIO

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    A raiz dessa palavra vem do latim domus (que significa

    casa). A noo de domiclio veio para o direito moderno e

    sua importncia reside no aspecto de SEGURANA JURDICA

    ex: o foro do domiclio do ru fixa a competncia

    territorial do processo.

    Precisamos diferenciar domiclio de residncia e morada:

    a) Morada: o lugar em que a pessoa se fixa

    temporariamente (no direito italiano a morada uma

    espcie de estadia). A morada no desloca o seu

    domiclio!

    b) Residncia: o lugar em que a pessoa fsica

    encontrada com habitualidade (a pessoa pode ter mais

    de uma residncia, inclusive). Ex: uma pessoa que temdomiclio e residncia em Salvador, mas passa todos os

    finais de semana em uma casa de praia (residncia)

    prxima cidade.

    c) Domiclio: para ser domiclio preciso algo mais: o

    domiclio abrange a noo de residncia, porque no

    domiclio tambm h o aspecto da habitualidade. Mas,

    para ser domiclio, alm da habitualidade, preciso

    que haja a inteno de permanncia (alguns autores

    chamam de animus manendi), transformando aquele localem centro da vida jurdica daquela pessoa. Ento,

    domiclio o lugar onde a pessoa fsica fixa

    residncia com nimo definitivo, transformando-o em

    centro de sua vida jurdica (conceito). Vejamos o art.

    70 do CC:

    Art. 70. O domiclio da pessoa natural olugar onde ela estabelece a sua residncia comnimo definitivo (conceito legal de

    domiclio).

    OBS: Pode haver pluralidade de domiclios? Sim, o sistema

    brasileiro, seguindo o direito alemo, admite pluralidade

    de domiclios, nos termos do art. 71 do CC:

    Art. 71. Se, porm, a pessoa natural tiver diversasresidncias, onde, alternadamente, viva, considerar-se-domiclio seu qualquer delas.

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    OBS: O que domiclio profissional? Seguindo a linha do

    art. 83 do Cdigo de Portugal, o art. 72 do CC considera,

    APENAS PARA EFEITOS PROFISSIONAIS, como domiclio o lugar

    onde a atividade desenvolvida.

    Art. 72. tambm domiclio da pessoa natural, quanto srelaes concernentes profisso, o lugar onde esta exercida.

    Pargrafo nico. Se a pessoa exercitar profisso em lugaresdiversos, cada um deles constituir domiclio para asrelaes que lhe corresponderem.

    O CC cuida ainda da mudana de domiclio, no art. 74

    (trata-se de uma norma imperfeita: desprovida de sano):

    Art. 74. Muda-se o domiclio, transferindo a residncia, coma inteno manifesta de o mudar.

    Pargrafo nico. A prova da inteno resultar do quedeclarar a pessoa s municipalidades dos lugares, que deixa,e para onde vai, ou, se tais declaraes no fizer, daprpria mudana, com as circunstncias que a acompanharem(para o campo da pessoa fsica, essa norma desprovida deimportncia prtica).

    O Cdigo traz ainda a noo de domicilio aparente ou

    ocasional (trata-se de uma aplicao da teoria da

    aparncia): para pessoas que no tm domiclio certo, por

    fico legal, considerado o seu domiclio o lugar em que

    for encontrada (ex: ciganos).

    Art. 73. Ter-se- por domiclio da pessoa natural, que notenha residncia habitual, o lugar onde for encontrada.

    No CC, o artigo que cuida do domiclio da PJ o seguinte:

    Art. 75. Quanto s pessoas jurdicas, o domiclio :

    I - da Unio, o Distrito Federal;

    II - dos Estados e Territrios, as respectivas capitais;

    III - do Municpio, o lugar onde funcione a administraomunicipal;

    IV - das demais pessoas jurdicas, o lugar onde funcionarem

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    as respectivas diretorias e administraes, ou onde elegeremdomiclio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

    1o Tendo a pessoa jurdica diversos estabelecimentos em

    lugares diferentes, cada um deles ser considerado domicliopara os atos nele praticados.

    2o Se a administrao, ou diretoria, tiver a sede noestrangeiro, haver-se- por domiclio da pessoa jurdica, notocante s obrigaes contradas por cada uma das suasagncias, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a queela corresponder.

    Classificao do domiclio:

    O domiclio poder ser:

    1) Domiclio voluntrio: o geral / o comum, fixado por

    simples ato de vontade, cuja natureza jurdica de

    ato jurdico em sentido estrito (tambm chamado de ato

    no negocial).

    2) Domiclio especial (ou de eleio): o estipulado porclusula especial de contrato (art. 78 do CC).

    Art. 78. Nos contratos escritos, podero oscontratantes especificar domiclio onde seexercitem e cumpram os direitos e obrigaesdeles resultantes.

    OBS: Nos contratos de adeso, especialmente de

    consumo, a clusula de foro de eleio prejudicial ao

    consumidor ou aderente NULA DE PLENO DIREITO.

    Inclusive, o juiz pode declinar de ofcio de sua

    competncia (mesmo sem haver exceo de incompetnciarelativa), quando verificar o prejuzo ao consumidor

    (RESP 201195/SP). Isso est expresso no art. 112 do

    CPC:

    Art. 112. Argi-se, por meio de exceo, aincompetncia relativa.

    Pargrafo nico. A nulidade da clusula deeleio de foro, em contrato de adeso, podeser declarada de ofcio pelo juiz, que

    declinar de competncia para o juzo dedomiclio do ru (Includo pela Lei n 11.280,

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1
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    de 2006).

    3) Domiclio legal: decorre do prprio ordenamento

    jurdico (arts. 76 e 77).

    Art. 76. Tm domiclio necessrio o incapaz, oservidor pblico, o militar, o martimo e opreso.

    Pargrafo nico. O domiclio do incapaz o doseu representante ou assistente; o do servidorpblico, o lugar em que exercerpermanentemente suas funes; o do militar,onde servir, e, sendo da Marinha ou da

    Aeronutica, a sede do comando a que seencontrar imediatamente subordinado; o domartimo (marinheiro particular), onde o navioestiver matriculado; e o do preso, o lugar emque cumprir a sentena (CUIDADO: a lei nodisse priso provisria ou cautelar).

    Art. 77. O agente diplomtico do Brasil, que,citado no estrangeiro, alegarextraterritorialidade sem designar onde tem,no pas, o seu domiclio, poder ser demandado

    no Distrito Federal ou no ltimo ponto doterritrio brasileiro onde o teve.

    OBS: Servidor pblico de funo temporria ou

    comissionada no tem domiclio legal!

    BEM DE FAMLIA

    A fonte histrica mais significativa do bem de famlia o

    Homestead Act do Direito Texano, do ano de 1839. O

    Homestead Act conferia proteo especial ao bem defamlia.

    No direito brasileiro, temos duas espcies de bens de

    famlia:

    1) Bem de famlia voluntrio (regulado a partir do art.

    1.711 do CC):

    Conceito: o bem de famlia voluntrio o institudo

    por ato de vontade do casal, ou de terceiro, mediante

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1
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    formalizao no registro de imveis, deflagrando dois

    efeitos fundamentais:

    Impenhorabilidade limitada (significa que o

    imvel torna-se isento de dvidas futuras, salvo

    obrigaes tributrias referentes ao bem edespesas condominiais art. 1.715 do CC);

    Inalienabilidade relativa (uma vez institudo bem

    de famlia voluntrio, ele s poder ser alienado

    com a autorizao dos interessados, cabendo ao MP

    intervir quando houver participao de incapaz

    art. 1.717 do CC).

    OBS: Obviamente, s pode instituir bem de famlia

    voluntrio quem for solvente!

    OBS: Para evitar fraudes, o art. 1.711 do CC limitou o

    valor do bem de famlia voluntrio ao teto de 1/3 (um

    tero) do patrimnio lquido dos seus instituidores.

    OBS: O NCC tambm inovou ao admitir, no art. 1.712, a

    possibilidade de afetar rendas ao bem de famlia

    voluntrio, visando proteo legal (desde que se

    comprove que essa renda se destinar mantena do

    imvel crtica de Pablo Stolze: isso d muitamargem a fraudes).

    OBS: O STJ tem admitido, tambm, em situao diversa,

    inclusive para o bem de famlia legal, que a renda

    proveniente de imvel locado seja considerada

    impenhorvel, luz das normas do bem de famlia.

    Vejamos alguns artigos complementares (importantes):

    Art. 1.720 (cuida da administrao do bem de

    famlia voluntrio). Salvo disposio emcontrrio do ato de instituio, aadministrao do bem de famlia compete aambos os cnjuges, resolvendo o juiz em casode divergncia.

    Pargrafo nico. Com o falecimento de ambos oscnjuges, a administrao passar ao filhomais velho, se for maior, e, do contrrio, aseu tutor.

    Art. 1.722 (cuida da extino do bem defamlia voluntrio). Extingue-se, igualmente,

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    o bem de famlia com a morte de ambos oscnjuges e a maioridade dos filhos, desde queno sujeitos a curatela.

    OBS: A verdade que as regras do bem de famlia

    voluntrio no pegaram (na prtica). Por isso, foi

    editada a Lei 8.009/90, que cuida do bem de famlia

    legal. Alis, a Smula 205 do STJ (para desespero dos

    bancos) admite a aplicao retroativa dessa lei a

    penhoras anteriores sua vigncia!

    2) Bem de famlia legal (Lei 8.009/90): o efeito dessalei consagrar a impenhorabilidade legal do bem de

    famlia, independentemente de inscrio voluntria emcartrio. Essa lei, alis, no revogou as regras do

    bem de famlia voluntrio (no impede a existncia

    jurdica do bem de famlia voluntrio).

    OBS: No h limite de valor para o bem de famlia

    legal!

    Art. 1 O imvel residencial prprio do casal,ou da entidade familiar, impenhorvel e noresponder por qualquer tipo de dvida civil,

    comercial, fiscal, previdenciria ou de outranatureza, contrada pelos cnjuges ou pelospais ou filhos que sejam seus proprietrios enele residam, salvo nas hipteses previstasnesta lei.

    Pargrafo nico. A impenhorabilidadecompreende o imvel sobre o qual se assentam aconstruo, as plantaes, as benfeitorias dequalquer natureza e todos os equipamentos,inclusive os de uso profissional, ou mveis

    que guarnecem a casa, desde que quitados (ex(jurisprudncia do STJ): mquina de lavar,mquina de passar, ar condicionado, antenaparablica, televiso, instrumento musicaletc.).

    OBS: A despeito do que dispe o pargrafo nico do

    art. 1 da Lei 8.009/90, o STJ tem admitido o

    desmembramento para efeito de penhora (a exemplo do

    RESP 510643/DF).

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    Esto excludos da proteo do bem de famlia (art. 2

    da Lei 8.009/90):

    Art. 2 Excluem-se da impenhorabilidade osveculos de transporte, obras de arte e

    adornos suntuosos.

    Pargrafo nico. No caso de imvel locado, aimpenhorabilidade aplica-se aos bens mveisquitados que guarneam a residncia e quesejam de propriedade do locatrio, observado odisposto neste artigo.

    Excees proteo do bem de famlia legal (art. 3

    da Lei 8.009/90):

    Art. 3 A impenhorabilidade oponvel emqualquer processo de execuo civil, fiscal,

    previdenciria, trabalhista ou de outranatureza, salvo se movido:

    I - em razo dos crditos de trabalhadores da prpria residncia e das respectivascontribuies previdencirias (a melhorhermenutica deste inciso no sentido de queempregados meramente eventuais no se subsumem

    exceo prevista em lei Min. Luiz Fux STJ);

    II - pelo titular do crdito decorrente dofinanciamento destinado construo ou aquisio do imvel, no limite dos crditos eacrscimos constitudos em funo dorespectivo contrato;

    III -pelo credor de penso alimentcia;

    IV - para cobrana de impostos, predial outerritorial, taxas e contribuies devidas emfuno do imvel familiar (o STF j entendeu,interpretando este inciso, que despesascondominiais tambm vencem a proteo legal do

    bem de famlia RE 439003/SP);

    V - para execuo de hipoteca sobre o imveloferecido como garantia real pelo casal ou

    pela entidade familiar (a mera indicao dobem a penhora, segundo o STJ, no impede a

    futura alegao de bem de famlia AgRg no

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    Resp 813543/DF);

    VI - por ter sido adquirido com produto decrime ou para execuo de sentena penal

    condenatria a ressarcimento, indenizao ouperdimento de bens;

    VII - por obrigao decorrente de fianaconcedida em contrato de locao (o STF j

    pacificou o entendimento de que o fiador emcontrato de locao no goza da proteo do

    bem de famlia, de maneira que a penhora deseu imvel residencial considerada

    constitucional RE 352940-4/SP PabloStolze critica muito este dispositivo,

    alegando que ele inverte a lgica: como pode odevedor principal gozar de proteo do bem defamlia e o fiador no gozar? OBS: valelembrar, nos termos do art. 1.647 do CC, que ocnjuge casado em regime que no seja deseparao de bens, necessita da autorizao dooutro para prestar fiana essa pode ser asalvao do fiador!).

    OBS: Pablo Stolze entende que essas excees aplicam-

    se, tambm, aos bens de famlia voluntrios (pois amaioria das hipteses de ordem pblica).

    OBS: O devedor solteiro goza da proteo do bem de

    famlia? Sim. A base de proteo do bem de famlia no

    a famlia, mas a proteo constitucional da

    dignidade humana, que se traduz no direito moradia

    (o STJ j firmou esse entendimento).

    BENS JURDICOS

    Conceito: bem jurdico toda utilidade fsica ou ideal que

    seja objeto de um direito subjetivo.

    Qual a diferena entre bem e coisa? Orlando Gomes afirma

    que bem gnero e coisa espcie. Maria Helena Diniz e

    Silvio Venosa, contrariamente, afirmam que a noo de coisa

    mais ampla. E Washington de Barros Monteiro, em

    determinado trecho de sua obra curso de direito civil

    afirma poder haver uma sinonmia.

    Pablo Stolze entende que razo assiste a Orlando Gomes,

    seguindo o Direito Alemo, quando afirma que a noo de

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    coisa mais restrita, limitando-se aos objetos corpreos

    ou materiais.

    Bem seria um gnero que se subdivide em bens imateriais e

    bens materiais (= coisa).

    OBS: O que se entende por patrimnio jurdico? Para os

    clssicos, patrimnio era a representao econmica da

    pessoa. Atualmente, afirma-se quanto sua natureza

    jurdica, que patrimnio uma universalidade de direitos e

    obrigaes. Inclusive, na doutrina brasileira o

    entendimento predominante (desde Clvis Bevilaqua) no

    sentido de que cada pessoa possui apenas UM patrimnio.

    Sob o influxo da dignidade da pessoa humana, renomados

    autores (Carlos Bittar, Wilson Melo da Silva, RodolfoPamplona Filho) tm admitido o denominado o patrimnio

    moral (que seria o conjunto de direitos da personalidade).

    Vale lembrar que a teoria do estatuto jurdico do

    patrimnio mnimo (Luiz Edson Fachin) sustenta, em respeito

    ao princpio da dignidade, que cada pessoa deve ter

    resguardado pela lei civil um mnimo de patrimnio.

    Principais classificaes de bens jurdicos:

    1) Imveis por fora de Lei: o art. 80 do CC estabeleceque:

    Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitoslegais:

    I - os direitos reais sobre imveis e as aesque os asseguram;

    II - o direito sucesso aberta.

    OBS: Por conta da natureza imobiliria do direito

    herana, no caso de cesso do direito hereditrio

    exige-se escritura pblica, bem como, forte corrente

    doutrinria (Francisco Cahali) afirma a necessidade de

    autorizao conjugal, nos termos do art. 1.647.

    2)Mveis por fora de lei: o art. 83 do CC estabelece

    que:

    Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos

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    legais:

    I - as energias que tenham valor econmico;

    II - os direitos reais sobre objetos mveis e

    as aes correspondentes;

    III - os direitos pessoais de carterpatrimonial e respectivas aes.

    OBS: O smen do boi considerado energia biolgica

    (inciso I).

    3) Bens acessrios: Dividiremos:

    Frutos: os frutos, espcies de bens acessrios,so utilidades renovveis, cuja percepo no

    exaure a coisa principal (ex: laranja, amendoim

    frutos naturais tecido de indstria frutos

    industriais juros, aluguis frutos civis).

    Produtos: diferentemente do fruto, uma

    utilidade que no se renova, esgotando a coisa

    principal (ex: ouro).

    Pertenas: a coisa que serve o bem principal,sem integr-lo (art. 93 do CC). Ex: aparelho de

    ar condicionado, rdio do carro.

    Art. 93. So pertenas os bensque, no constituindo partesintegrantes, se destinam, demodo duradouro, ao uso, aoservio ou ao aformoseamento deoutro.

    Benfeitorias: a benfeitoria toda obra realizada

    pelo homem na estrutura de uma coisa com

    propsito de conserv-la (benfeitoria

    necessria), melhor-la (benfeitoria til) ou

    proporcionar prazer (benfeitoria volupturia).

    OBS: benfeitoria no se confunde com acesso

    (construo). As benfeitorias so reformas em uma

    estrutura que j existe!

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    O que so bens imveis por acesso intelectual? So os bens

    que o proprietrio intencionalmente destina para explorao

    industrial, aformoseamento ou comodidade (art. 43, III do

    CC/1916). Ex: um fazendeiro compra um grande maquinrio

    agrcola para a explorao do imvel. O enunciado n 11 da

    1 Jornada de Direito Civil afirmou que esta classificao

    no existe mais.Mas, esse maquinrio agrcola, ento, o

    que? Pode-se, seguindo a linha do Cdigo Novo, classific-

    lo como pertena.

    Vejamos os dispositivos do CC que tratam dos bens (a

    leitura destes artigos essencial, pois em concursos

    pblicos sempre cai mais a literalidade da lei):

    LIVRO II

    DOS BENS

    TTULO NICODas Diferentes Classes de Bens

    CAPTULO IDos Bens Considerados em Si Mesmos

    Seo IDos Bens Imveis

    Art. 79. So bens imveis o solo e tudo quanto se lheincorporar natural ou artificialmente.

    Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitos legais:

    I - os direitos reais sobre imveis e as aes que osasseguram;

    II - o direito sucesso aberta.

    Art. 81. No perdem o carter de imveis:

    I - as edificaes que, separadas do solo, mas conservando asua unidade, forem removidas para outro local;

    II - os materiais provisoriamente separados de um prdio,para nele se reempregarem.

    Seo IIDos Bens Mveis

    Art. 82. So mveis os bens suscetveis de movimentoprprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da

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    substncia ou da destinao econmico-social.

    Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos legais:

    I - as energias que tenham valor econmico;

    II - os direitos reais sobre objetos mveis e as aescorrespondentes;

    III - os direitos pessoais de carter patrimonial erespectivas aes.

    Art. 84. Os materiais destinados a alguma construo,enquanto no forem empregados, conservam sua qualidade demveis; readquirem essa qualidade os provenientes da

    demolio de algum prdio.

    Seo IIIDos Bens Fungveis e Consumveis

    Art. 85. So fungveis os mveis que podem substituir-se poroutros da mesma espcie, qualidade e quantidade.

    Art. 86. So consumveis os bens mveis cujo uso importadestruio imediata da prpria substncia, sendo tambmconsiderados tais os destinados alienao.

    Seo IVDos Bens Divisveis

    Art. 87. Bens divisveis so os que se podem fracionar semalterao na sua substncia, diminuio considervel devalor, ou prejuzo do uso a que se destinam.

    Art. 88. Os bens naturalmente divisveis podem tornar-seindivisveis por determinao da lei ou por vontade daspartes.

    Seo VDos Bens Singulares e Coletivos

    Art. 89. So singulares os bens que, embora reunidos, seconsideram de per si, independentemente dos demais.

    Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade debens singulares que, pertinentes mesma pessoa, tenhamdestinao unitria.

    Pargrafo nico. Os bens que formam essa universalidade

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    podem ser objeto de relaes jurdicas prprias.

    Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo derelaes jurdicas, de uma pessoa, dotadas de valor

    econmico.

    CAPTULO IIDos Bens Reciprocamente Considerados

    Art. 92. Principal o bem que existe sobre si, abstrata ouconcretamente; acessrio, aquele cuja existncia supe a doprincipal.

    Art. 93. So pertenas os bens que, no constituindo partesintegrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao

    servio ou ao aformoseamento de outro.

    Art. 94. Os negcios jurdicos que dizem respeito ao bemprincipal no abrangem as pertenas, salvo se o contrrioresultar da lei, da manifestao de vontade, ou dascircunstncias do caso.

    Art. 95. Apesar de ainda no separados do bem principal, osfrutos e produtos podem ser objeto de negcio jurdico.

    Art. 96. As benfeitorias podem ser volupturias, teis ou

    necessrias.

    1o So volupturias as de mero deleite ou recreio, que noaumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem maisagradvel ou sejam de elevado valor.

    2o So teis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.

    3o So necessrias as que tm por fim conservar o bem ouevitar que se deteriore.

    Art. 97. No se consideram benfeitorias os melhoramentos ouacrscimos sobrevindos ao bem sem a interveno doproprietrio, possuidor ou detentor.

    CAPTULO IIIDos Bens Pblicos

    Art. 98. So pblicos os bens do domnio nacionalpertencentes s pessoas jurdicas de direito pblicointerno; todos os outros so particulares, seja qual for apessoa a que pertencerem.

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    Art. 99. So bens pblicos:

    I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares,estradas, ruas e praas;

    II - os de uso especial, tais como edifcios ou terrenosdestinados a servio ou estabelecimento da administraofederal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os desuas autarquias;

    III - os dominicais, que constituem o patrimnio das pessoasjurdicas de direito pblico, como objeto de direitopessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

    Pargrafo nico. No dispondo a lei em contrrio,

    consideram-se dominicais os bens pertencentes s pessoasjurdicas de direito pblico a que se tenha dado estruturade direito privado.

    Art. 100. Os bens pblicos de uso comum do povo e os de usoespecial so inalienveis, enquanto conservarem a suaqualificao, na forma que a lei determinar.

    Art. 101. Os bens pblicos dominicais podem ser alienados,observadas as exigncias da lei.

    Art. 102. Os bens pblicos no esto sujeitos a usucapio.

    Art. 103. O uso comum dos bens pblicos pode ser gratuito ouretribudo, conforme for estabelecido legalmente pelaentidade a cuja administrao pertencerem.

    TEORIA DO FATO JURDICO

    Conceito: fato jurdico todo acontecimento natural ou

    humano que deflagra efeitos jurdicos (que tem relevncia

    para o Direito).

    Classificao: Fato jurdico em SENTIDO LATO se divide em:

    1) Fato jurdico em sentido estrito: o acontecimentonatural.

    Ordinrio: quando for um acontecimento comum /

    previsvel (ex: nascimento, morte, chuva).

    Extraordinrio: aquele que no se espera

    imprevisibilidade (ex: uma nevasca em Salvador).

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    Os fatos jurdicos em sentido estrito no podem ser

    estudados sob o prisma da validade (no se fala em

    nulidade ou anulabilidade).

    2)Ato-fato jurdico (teoria desenvolvida por Pontes de

    Miranda).

    3)Aes humanas:

    Lcitas: seguindo a linha de Orlando Gomes e de

    Clvis Bevilaqua, as aes humanas lcitas so o

    que se chama, em sentido amplo, de atos

    jurdicos.

    Ilcitas: atos ilcitos (abuso de direito).

    OBS: os atos ilcitos tanto so uma categoria prpria

    distinta do ato jurdico que so regulados no CC

    em ttulo prprio (a partir do art. 186) mas h

    quem defenda que no assim.

    Seguindo a doutrina dualista, o NCC, diferentemente do

    CC/1916, que era unitarista, subdivide os atos jurdicos

    (em sentido amplo) em atos jurdicos em sentido estrito e

    negcios jurdicos (a mais importante das categorias).

    E qual seria a diferena entre atos jurdicos em sentidoestrito e negcio jurdico? O ato jurdico em sentido

    estrito, tambm chamado de ato no negocial, previsto no

    art. 185, traduz um simples comportamento humano,

    voluntrio e consciente, cujos efeitos esto

    predeterminados na lei (ex: o ato de fixao do domiclio;

    percepo dos frutos de uma rvore; atos de comunicao

    processual como a notificao). J no negcio jurdico h

    uma carga (em maior ou menor grau) de liberdade (autonomia

    privada).

    O que um ato-fato jurdico? Desenvolvido por Pontes de

    Miranda, o ato-fato jurdico consiste em um comportamento

    que, embora derive da atuao humana, desprovido de

    vontade consciente em direo ao resultado que se pretende

    atingir (ex: alienado mental que pega argila, pensando se

    tratar de comida, e produz uma belssima obra de arte;

    criana que encontra tesouro na rua).

    OBS: Qual a natureza jurdica da venda de um doce a uma

    criana de cinco anos de idade? Pode ser entendido como um

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    negcio nulo socialmente aceito (Silvio Venosa). O

    professor Jorge Cesa Ferreira afirma que a venda de um doce

    a uma criana enquadra-se melhor na noo de ato-fato (essa

    linha seguida pelo prof. Pablo Stolze).

    Negcio Jurdico: a categoria mais importante (foidesenvolvida no Direito Alemo).

    Conceito: uma declarao de vontade emitida com base na

    autonomia privada e por meio da qual o agente auto-

    disciplina os efeitos jurdicos que pretende atingir (idia

    de liberdade negocial). Ex: casamento.

    E no contrato de adeso, existe autonomia privada? Georges

    Ripert, em sua obra a regra moral nas obrigaes civis,

    analisa que os contratos de adeso so mais fruto daautoridade privada do que da autonomia privada. Porm,

    existe autonomia, ainda que apenas de assinar ou n