direito civil - resumo parte geral

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Professor Rui Carlos Duarte Bacciotti DIREITO CIVIL CONCEITO DE DIREITO CIVIL O Direito Civil é ramo do direito privado. É o direito dos particulares. É o conjunto de princípios e normas concernentes às atividades dos particulares, desde que não façam parte da relação jurídica estabelecida pela norma jurídica, a figura do empresário ou do empregado. A esse propósito, observa Maria Helena Diniz: “o direito civil disciplina direitos e deveres de todas as pessoas enquanto pessoas e não na condição especial de comerciante ou empregado”. DIVISÃO DO CÓDIGO CIVIL O Direito Civil, ramo do direito privado, está representado pelo Código Civil, promulgado em 1.916. O Código Civil possui duas grandes divisões: Parte Geral e Parte Especial, cada uma dessas partes também se encontra subdividida, consoante se pode observar no quadro que segue: a) Pessoa física 1) Os sujeitos do Direito

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Resumo da parte geral de Direito civil

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Page 1: DIREITO CIVIL - Resumo Parte Geral

Professor Rui Carlos Duarte Bacciotti

DIREITO CIVIL

CONCEITO DE DIREITO CIVIL

O Direito Civil é ramo do direito privado. É o direito dos particulares. É o conjunto de princípios e normas concernentes às atividades dos particulares, desde que não façam parte da relação jurídica estabelecida pela norma jurídica, a figura do empresário ou do empregado. A esse propósito, observa Maria Helena Diniz: “o direito civil disciplina direitos e deveres de todas as pessoas enquanto pessoas e não na condição especial de comerciante ou empregado”.

DIVISÃO DO CÓDIGO CIVIL

O Direito Civil, ramo do direito privado, está representado pelo Código Civil, promulgado em 1.916.

O Código Civil possui duas grandes divisões: Parte Geral e Parte Especial, cada uma dessas partes também se encontra subdividida, consoante se pode observar no quadro que segue:

a) Pessoa física

1) Os sujeitos do

Direito

b) Pessoa jurídica

I) Parte Geral

2) Objeto do Direito (bens jurídicos)

3) Fatos Jurídicos

Código Civil

1) Direito de Família

Page 2: DIREITO CIVIL - Resumo Parte Geral

2) Direito das Coisas

II) Parte Especial

3) Direito das Obrigações

4) Direito das Sucessões

Temos, aí, o conteúdo do Direito Civil que trata das pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos, principalmente dos atos jurídicos; na parte especial, regula tudo sobre o direito de família, com normas referentes ao casamento, ao parentesco e ‘a proteção de menores e incapazes; tudo sobre o direito das coisas alheias; tudo sobre o direito das obrigações, disciplinando principalmente os direitos das sucessões, tratando de normas referentes à transferência de vens por força de herança e sobre o inventário e partilha.

BREVE HISTÓRICO DO CÓDIGO CIVIL

Até a independência, vigorava no Brasil o Direito português, ou seja, as leis portuguesas.

Com a nossa independência em 1.822, ficamos sem leis e, como um país não pode funcionar sem elas, a Lei de 30 de outubro de 1823 estabeleceu que se continuasse a aplicar a legislação portuguesa até a organização dos Códigos.

O primeiro código foi a Constituição do Império de 1.814; depois foi aprovado ou aceito. No início de 1.899, na virada do século, o governo contratou Clóvis Beviláqua, o apontado na época como um dos maiores juristas brasileiro, para elaborar o projeto do Código Civil.

No mesmo ano, Clóvis Beviláqua apresentava ao governo o seu projeto que, em 1916, foi transformado em lei e vigora até hoje.

Embora elaborado no século passado, o atual Código Civil é considerado pela crítica em geral como um monumento jurídico dos mais notáveis, atendendo perfeitamente à atual organização social.

Iniciaremos nossos estudos pela pessoa física, analisando em seguida as pessoas jurídicas, os bens jurídicos, os fatos jurídicos, seguindo, portanto, o roteiro do Código.

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OS SUJEITOS DE DIREITO

Quando uma pessoa natural passa a gozar de direitos e se submete a todas as obrigações previstas em lei, adquire a capacidade jurídica. Esta é sinônimo de personalidade civil e surge no momento do nascimento com vida. Um ser em formação no ventre da mulher, não tem personalidade civil, não é portador da capacidade jurídica, ou seja, não é pessoa e, não é sujeito de direitos e obrigações na ordem civil.

Não somente a pessoa humana tem direitos e obrigações. Há outras pessoas, denominadas por lei de pessoas jurídicas, que embora não sejam seres humanos, são também sujeitos de direitos e obrigações.

Dois são, portanto, os sujeitos de direito e obrigações: a pessoa natural ou física e a pessoa jurídica. São duas pessoas distintas. O artigo 20 do Código Civil mostra bem essa distinção: “As pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros”. É a mesma situação entre o pai e o filho. São duas pessoas distintas, cada uma com seu nome e patrimônio próprios. Se o filho, por exemplo, é o devedor, não pode o seu credor desejar receber do pai, porque o que responde pela dívida do devedor são seus bens. Os bens do pai pertencem a ele; não ao filho. Se cada pessoa tem patrimônio próprio, ipso facto, o patrimônio da pessoa jurídica não pertence aos sócios que a compõem.

DA PESSOA FÍSICA

CONCEITO DE PESSOA NATURAL

Pessoa natural é o ser humano dotado de personalidade civil, ou seja, é aquele que tem aptidão reconhecida pela ordem jurídica, de exercer direitos e contrair obrigações. É o que determina o artigo 2º do Código Civil : “Todo homem é capaz de direitos e obrigações, na ordem civil”. Esse é o ponto que merece ser destacado: ser sujeito de direito, de ter personalidade civil, é atributo absolutamente necessário para que cada qual possa movimentar a máquina judiciária em defesa de seu direito subjetivo, valendo-se da norma jurídica, quando necessário. Os escravos, por exemplo, apesar de serem pessoas naturais, não possuíam esse direito (direito subjetivo), porque não eram considerados como tal, o que significava que eram tratados como res (coisa). Como atualmente não existem escravos, qualquer indivíduo, independente de sexo, idade, raça ou nacionalidade, tem a faculdade de exigir determinado comportamento, ação ou omissão, quer de uma só pessoa, quer da sociedade.

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Nos dias de hoje, pode-se afirmar que todo homem é sujeito de direitos e obrigações. Ou seja, basta Ter nascido com vida para ser titular de direitos: direito à vida, à herança, à propriedade etc.

INÍCIO DA EXISTÊNCIA DA PERSONALIDADE CIVIL

A pessoa física, como sujeito de direitos e obrigações, é representada pelo ser humano e sua existência começa a partir do seu nascimento com vida. O artigo 4º do Código Civil é expresso nesse sentido: “A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

Por nascituro se entende o feto já concebido e que se encontra no ventre materno, Enquanto o feto não se separar do corpo materno não se pode saber se nasceu ou não com vida. Como ainda não nasceu com vida, não é sujeito de direito: existe apenas uma expectativa de ser sujeito de direito, sendo, portanto, um sujeito de direito em potencial. Só receberá ou transmitirá direitos se nascer com vida, mas enquanto isso não acontecer, terá a proteção do Direito.

Para melhor esclarecimento, suponhamos o falecimento de um milionário, casado recentemente pelo regime da separação de bens, deixando pais vivos e viúva grávida.

Se o nascituro nascer morto, não adquire personalidade civil e, portanto, não recebe nem transmite a herança do seu falecido pai que ficará com os avós paternos, visto que a ordem da vocação sucessória é a seguinte:

1) Em primeiro lugar herdam os descendentes do falecido;

2) Não existindo descendentes, os sucessores serão os ascendentes;

3) Não possuindo descendentes nem ascendentes, quem herda é o cônjuge sobrevivente, não separado judicialmente;

4) Na falta dos supracitados, herdam em seguida os colaterais até o 4º grau (2º grau são os irmãos; 3º grau são tios e sobrinhos; 4º grau são os primos);

5) Inexistindo os descendentes, os ascendentes, o cônjuge e os colaterais, o Poder Público é quem recolhe a herança.

Se nascer vivo, receberá a herança, mas se por acaso vier a falecer no segundo subseqüente,

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a herança ficará com a sua mãe.

Esse é o principal motivo pelo qual o Direito dá proteção ao nascituro na esperança do nascimento com vida. Não basta o nascimento. È preciso que a criança nasça com vida para adquirir personalidade civil.

Legislação há, como a espanhola, que exige, além do nascimento com vida, que também sobreviva 24 horas para ser sujeito de direitos e obrigações. A mexicana considera o surgimento da capacidade civil por ocasião da concepção.

Poderá haver dúvida quanto ao recém-nascido Ter, ou não, vivido por um instante. Para tirar essa dúvida o juiz nomeia um perito e as partes interessados, seus assistentes técnicos, para procederem à docimasia respiratória, que consiste em colocar os pulmões do falecido num recipiente com água à temperatura de 15º-20º C. Se os pulmões flutuarem é porque respirou e nasceu com vida; do contrário., é a prova de que nasceu sem vida.

CAPACIDADE JURÍDICA E CAPACIDADE DE EXERCÍCIO.

A capacidade jurídica ou capacidade de direito é a aptidão que a pessoa tem de gozar e exercer direitos. O homem tem essa capacidade, desde o nascimento com vida, quando, então adquire a personalidade civil. Assim sendo, todos os homens são portadores dela, pouco importando a idade, o estado de saúde, o sexo ou a nacionalidade. O louco, por exemplo, é portador dessa capacidade jurídica, mas como não tem condições de discernimento, não tem a faculdade de praticar pessoalmente os atos jurídicos; falta-lhe a capacidade de exercício, também chamada capacidade de agir ou de fato, que é aquela aptidão de exercer os direitos e assumir obrigações na ordem civil por si. Portando, essa aptidão de exercer direitos e assumir obrigações na ordem civil por si ou pessoalmente, sem estar acompanhado por seu representante legal, é o que chamamos de capacidade de exercício ou de fato. É considerada incapaz a pessoa que, naturalmente portadora da capacidade de direito, não tem a capacidade de exercício ou de agir. Um demente interditado tem capacidade jurídica, porque nasceu com vida, mas falta-lhe a capacidade de direito, não tem a capacidade de exercício ou de agir. Um demente interditado tem capacidade jurídica, porque nasceu com vida, mas falta-lhe capacidade de exercício. Já uma pessoa maior de 21 anos, por exemplo, desde que não seja um doente mental, é uma pessoa que tem capacidade jurídica e capacidade de exercício. Aliás, a capacidade de exercício a pessoa adquire ao completar 21 anos ou a emancipar-se, como veremos mais adiante.

OS INCAPAZES

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O incapaz é o sujeito portador de alguma deficiência natural, a tal ponto, que o impede de agir, por si mesmo, na atividade civil. É aquele que não pode exercer pessoalmente, sozinho, os atos da vida jurídica ou só pode fazê-los com a assistência de outrem. Por isso, há dois tipos de incapazes: os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes.

Os absolutamente Incapazes

O direito afasta da atividade jurídica a pessoa considerada absolutamente incapaz, colocando em seu lugar alguém que a represente, que seja o seu representante legal e que em seu nome exerça todos os atos da vida civil a que tem direito. O seu representante legal é o pai ou a mãe, desde que estejam no exercício do pátrio poder. Se o for incapaz for menor órgão, seu representante legal será o tutor, se o incapaz for maior de idade, o seu representante legal será o curador.

Aquele que é absolutamente incapaz não pode, portanto, comparecer pessoalmente para praticar os atos da vida civil e mercantil. Se o fizer, tal ato será nulo, ou seja, é como se não existisse.

Quais são os absolutamente incapazes e como reconhecê-los

Diz o artigo 5º do Código Civil : “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

q Os menores de 16 anos.

q Os loucos de todo o gênero.

q Os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade.

q Os ausentes, declarados tais por ato do juiz”.

O ausente só será incapaz quando declarado como tal pelo juiz.

Os menores de 16 anos

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O legislador entende que as pessoas com menos de 16 anos de idade não possuem desenvolvimento mental suficiente para atual por si próprias, no mundo do direito civil e comercial. Elas têm direitos, porém, não poderão exercê-los pessoalmente, devendo ser representadas pelo pai, mãe ou tutor. Por exemplo, se o menor tiver que outorgar procuração ad judicia a um advogado, poderá fazê-lo por seu representante legal, o qual assinará a procuração em nome de seu representado.

Loucos de todo gênero

O Tribunal decidiu certa vez o seguinte; “sem que previamente tenha sido interditado ninguém pode ser considerado incapaz” (in RT 447/63). É, pois, importante saber se juridicamente uma pessoa é ou não louca. Se, por exemplo, alguém compra uma casa de um doente mental interditado, mesmo este comparecendo pessoalmente e assinando a escritura pública, o ato praticado será nulo. Embora sejam passados 19 anos desse ato, no momento em que alguém levar o fato ao conhecimento do juiz, este declarará a nulidade da venda e, concomitantemente, a nulidade das demais vendas, se houver, para que o imóvel retorne à posse do interditado.

Afinal, como reconhecê-lo na vida prática?

Para a caracterização de uma pessoa portadora de deficiência mental ou de anomalia psíquica, é preciso a declaração judicial de sua incapacidade, mediante a propositura da ação de interdição.

O processo de interdição do louco, em síntese, tem início por intermédio de um requerimento dirigido ao juiz, feito pelo pai, pela mãe, pelo cônjuge, por algum parente próximo ou ainda, pelo Ministério Público.

Interessante notar que qualquer ação apresentada ao juiz, passará, antes, pelo Cartório do Distribuidor do Fórum. Assim, se alguém desejar saber se existe alguma ação de interdição, basta pedir uma certidão ao distribuidor forense que este acusará ou não a sua existência.

Retornando ao processo de interdição, o interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o examinará, interrogando-o minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que lhe parecer necessário, para ajuizar seu estado mental. Haverá, então, uma inspeção judicial, que é uma verificação pessoal do magistrado, sem intermediário, sobre a pessoa do interditando, para avaliar seu estado mental, como elemento de convicção.

Após o interrogatório, o juiz nomeará um perito para proceder ao exame do interditando. Obviamente, o perito será um médico, de preferência especialista em psiquiatria.

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Apresentado o laudo, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, para ouvir testemunhas e esclarecimentos do perito, após o que sentencia, decretando ou não a interdição.

Caso o juiz conclua pela interdição, a sua sentença “será inscrita no Registro de Pessoas Naturais e publicada pela imprensa local e pelo órgão oficial por três vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição e os limites da curatela” CPC, art. 1.184). Portanto, na sentença que decreta a interdição, o juiz nomeará um curador ao interdito que será, então, o seu representante legal.

E os atos praticados pelo incapaz antes da interdição, serão válidos? Por exemplo, se no dia 10 do mês tal foi distribuído pedido de interdição e a venda de uma casa, pelo interditando, ocorreu antes do referido dia 10, o ato jurídico praticado, pessoalmente, pelo amental é válido, porque o Cartório Distribuidor do Fórum não comunicou à sociedade a existência do pedido de interdição, sobre o possível estado de perturbação mental do vendedor, Se o ato de venda, realizado pessoalmente pelo interditando, aconteceu após o dia 10, data em que o distribuidor forense leva ao conhecimento do comprador a possível anomalia psíquica do vendedor, o negócio jurídico praticado antes da sentença é apenas anulável, ou seja, é válido no momento, mas pode ser anulado por uma ação judicial,. A propósito, veja o que já decidiu o Tribunal: “não se pode exigir de terceiros o entendimento e a desconfiança de possível incapacidade do contratante. A interdição só produz efeitos após seus acolhimento por sentença e à lei importa mais proteger terceiro de boa-fé do que interesse de incapaz.

Os negócios praticados por amental não interditado – concluiu o Tribunal – são válidos (in RT 618/188).

No entanto, após a sentença de interdição, todos os atos praticados pelo interdito serão considerados nulos.

Concluindo, para reconhecer o interditado, basta examinarmos as certidões fornecidas pelo Cartório do Distribuidor do Fórum e pelo oficial do Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais. Se constar a existência da ação de interdição ou a sentença do juiz interditando a pessoa pesquisada, tem-se aí o referido reconhecimento.

Eliminada a causa, logicamente desaparecem seus efeitos, ou seja, cessando o motivo que determinou a interdição, esta será levantada por sentença do juiz (CPC, art. 1.186).

O pedido de levantamento será feito no mesmo juízo que promoveu a ação de interdição e poderá ser pedido pelo próprio interditado, pelo curador ou por quem pediu a interdição.

A petição, requerendo o levantamento, será apensada aos autos da interdição. O juiz, então, nomeia perito para proceder ao novo exame de sanidade do interditado e, após a apresentação do laudo, designará audiências de instrução e julgamento.

Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição, seguindo-se a averbação

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no Registro de Pessoas Naturais, exatamente como aconteceu por ocasião da sentença de interdição, onde esta também foi inscrita no Registro Civil de Pessoas Naturais.

Surdos-mudos que não puderem exprimir a sua vontade

É preciso que a pessoa seja surda-muda e não tenha possibilidade de externar a sua vontade para ser considerada absolutamente incapaz.

O reconhecimento do surdo-mudo que não consegue exprimir a sua vontade se dá através das certidões do distribuidor forense ou do Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, exatamente como acontece em relação ao louco; isto se houver o processo de interdição. Inexistindo, o surdo-mudo, juridicamente, não é incapaz: “Obedecerá às disposições dos artigos antecedentes, - determina o artigo 1.185 do CPC – no que for aplicável, a interdição do pródigo, a do surdo-mudo sem educação que o habilite a enunciar precisamente a sua vontade e a dos viciados pelo uso de substâncias entorpecentes quando acometidos de perturbações mentias”. Vale dizer, aplicam-se, tanto quanto possível, as disposições gerais sobre o procedimento da interdição. Interessante represar a transcrição da ementa do acórdão acima transcrito: “sem que, previamente tenha sido interditado ninguém pode ser considerado incapaz” (in RT447/3).

Os Toxicômanos

Por toxicômano (do grego toxikon=tóxico ou veneno, e mania=hábito) entende-se a pessoa viciada em tóxico (cocaína, ópio, morfina, álcool, éter etc.).

O tóxico, por ser venenoso, provoca o enfraquecimento do organismo e, como conseqüência, produz certa deficiência ou depressão mental que pode levar a loucura. Afetando a mente, há uma diminuição na capacidade de discernir, podendo os interessados em sua pessoa e bens pedir a sua interdição.

Perante o processo de interdição, os peritos, apreciando a natureza da fixando a graduação para a debilidade mental. Se limitada, haverá interdição semelhante à dos relativamente incapazes; se plena, como a dos absolutamente incapazes (ver Decreto-lei n.º 891, de 1.938).

Como acontece em relação à interdição dos loucos, a sentença que decretar a interdição será registrada no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais.

Obtendo o interditado a cura, poderá requerer ao juiz o levantamento da interdição.

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Quais são os relativamente incapazes e como reconhecê-los

Dispõe o artigo 6. Do Código Civil : “São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147,I), ou à maneira de os exercer:

q Os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos.

q Os pródigos.

q Os silvícolas.

Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos aos regime tutelar, estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará à medida que se forem adaptando à civilização do país”.

Vejamos cada um deles.

Os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos.

Os relativamente incapazes, como é a situação dos maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos, podem praticar pessoalmente ato jurídico, porém, sempre assistidos por seus representantes legais, ao contrário dos menores de 16 anos, absolutamente incapazes que estão proibidos de comparecer pessoalmente para praticar atos da vida civil.

Poderá acontecer que o menor, ao atingir a idade de 16 anos, continue a ser portador de loucura e, para evitar o seu comparecimento pessoal na prática, de ato jurídico, cabe a sua interdição, pois a cautela de incapaz é cabível em qualquer idade (in RT590/83).

Sendo o maior de 16 e menor de 21 anos relativamente incapaz, se praticar o ato jurídico sem assistência de seu representante legal, o ato é anulável. Ato anulável é aquele válido no momento da prática, mas que pode vir a ser anulado através de uma ação judicial.

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Somente duas pessoas poderão requerer a anulabilidade do ato perante o juiz; o próprio incapaz quando alcançar a sua capacidade de exercício ou o seu representante legal, desde que o faça dentro do prazo prescricional. Esse prazo varia dependendo de cada ato, mas nunca passa de 4 anos. Caso os interessados deixem de requerer ao juiz a nulidade do ato anulável, este torna-se definitivamente válido. Dá-se aí o que se chama de ratificação tácita. Há, ainda, a ratificação expressa, aquela em que as partes, dentro do prazo prescricional, assinam uma declaração sanando o ato anulável.

Tratando-se de ato anulável por Ter5 sido praticado por um menor relativamente incapaz, sem assistência de seu representante legal, não pode aquele valer-se de sua menoridade, quando alcançar a capacidade, para furtar-se à obrigação que contraiu:

q se por ocasião em que praticou o ato, interrogado pela outra parte, oculta dolosamente a sua idade ou, se, no ato de se obrigar, espontaneamente, ele se declara maior. O art. 155 do Código Civil é claro.

“O menor, entre 16 e 21 anos, não pode, para se eximir de uma obrigação, invocar a sua idade, se dolosamente a ocultou, inquirido pela outra parte, ou se no ato de se obrigar, espontaneamente se declarou maior”.

q Se a importância recebida pela incapaz se reverteu de fato em proveito dele. É o que determina o art. 157 do Código Civil , in verbis:

“Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga”.

Vale dizer, o relativamente incapaz não terá que restituir o que tiver recebido, desde que a outra parte não consiga provar que o pagamento feito reverteu em proveito dele (incapaz).

Os pródigos

Encontra-se entre os relativamente incapazes, o pródigo e, para que ele seja juridicamente reconhecido como incapaz, é preciso que seja interditado, tornando-se incapaz para praticar

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certos atos, como o de emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado. Os artigos 1.185 do CPC é expresso da necessidade de interdição: “Obedecerá às disposições dos artigos antecedentes, no que for aplicável, a interdição do pródigo, a do surdo-mudo sem educação que o habilite a enunciar precisamente a sua vontade e a dos viciados pelo uso de substâncias entorpecentes quando acometidos de perturbações mentais”.

Pródigo é o indivíduo que gasta desordenadamente seus bens, que dissipa imoderadamente o que é seu, ameaçando a estabilidade de seu patrimônio. Como muito bem lembra o Prof. Silvio de Salvo Venosa, “a prodigalidade não deixa de ser uma espécie de desvio mental, geralmente ligado à prática de jogo ou a outro vícios”.

Uma conclusão: tirando a idade, todos os incapazes apontados pela lei são doentes mentais.

A prodigalidade é decretada no interesse do próprio pródigo e também no de sua família, tanto assim que ela somente será decretada se ele tiver cônjuge, ascendente ou descendentes legítimos. “O pródigo só incorrerá em interdição, - diz o art. 460 do Código Civil – havendo cônjuge, ou tendo ascendentes ou descendentes legítimos que a promovam”. Ipso facto, desaparecendo essas pessoas, a prodigalidade poderá ser levantada.

O pródigo, declarado como tal, terá a sentença inscrita no Registro Civil de Pessoas Naturais, no Cartório da cidade onde nasceu, para reconhecimento de terceiros.

Os silvícolas

Os silvícolas são os habitantes da selva. Enquanto não forem absorvidos pela civilização são considerados relativamente incapazes e submetidos a uma legislação especial (Parágrafo único do art. 6º do Código Civil).

O legislador criou, então, um sistema de proteção, destacando a criação da Fundação Nacional do Índio –FUNAI, órgão federal que exerce os poderes de representação e assistência aos interesses dos índios (Lei n.º 5.371, de 1.967).

PROTEÇÃO QUE O DIREITO CONCEDE AOS INCAPAZES

O incapaz é um protegido da lei e da sociedade, Para tanto, a própria lei coloca alguém para dirigir e defender a sua pessoa e os seus bens. Esse alguém pode ser seu pai, sua mãe, ou

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ambos, quando ele for menor e, quando for maior, o curador. Se o menor for órgão, o tutor será a pessoa que o protegerá. Tanto o tutor como o curador são nomeados pelo juiz.

Em verdade, há dois institutos protetores do incapaz: o da representação e o da assistência. Através desses institutos tem-se o suprimento das suas incapacidades e, assim, os negócios jurídicos funcionam regularmente. Caso o absolutamente incapaz, venha a exercer, pessoalmente, os direitos que adquiriu no instante em que nasceu e não por meio da pessoa designada por lei, por, si, sem assistência do seu representante legal, o ato será anulável. Portanto, as pessoas serão representadas, se absolutamente incapazes, e assistidas, se relativamente incapazes.

CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE

Cessa a incapacidade: pela maioridade e pela emancipação.

q Pela maioridade. A maioridade para o exercício da vida civil e comercial começa quando uma pessoa completa 21 anos. A partir de então, ela passa a ser maior e capaz, podendo praticar todos os aos da vida civil sem qualquer assistência, ou seja, torna-se apta a exercer pessoalmente todos os seus direitos e assumir obrigações, sem necessidade de ser assistida por seu pai, por sua mãe ou por seu tutor.

q Pela emancipação: Normalmente, uma pessoa adquire a capacidade de exercício quando atinge 21 anos e isto acontece automaticamente, desde que não seja um doente mental. “aos vinte e um anos completos acaba a menoridade, ficando habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil”, diz o art. 9º do Código Civil . Entretanto, por uma exceção, ao atingir 18, 19 ou 20 anos, pode conseguir essa capacidade através da emancipação.

Emancipação, na conceituação de Clóvis Beviláqua , é a aquisição da capacidade de exercício antes da idade legal. Ou seja, a pessoa adquire capacidade para exercer pessoalmente direitos e assumir obrigações sem Ter completado a maioridade. Portanto, o emancipado não é maior e sim, capaz.

Uma vez emancipado, jamais retornará à incapacidade, exceto se se tornar um doente

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mental.

CASOS DE EMANCIPAÇÃO

Antes do 21º ano, o indivíduo só pode adquirir a capacidade pela emancipação. Esta é a aquisição da capacidade de exercício antes da idade legal. Eis o que diz o parágrafo 1º do art. 9º do Código Civil, in verbis:

I – “Por concessão do pai, ou, se for morto, da mãe. E por sentença do juiz, ouvindo o tutor, se o menor tiver dezoito anos cumpridos.

II – Pelo casamento.

III – Pelo exercício de emprego público efetivo.

IV – Pela colação de grau científico em curso de ensino superior.

V – Pelo estabelecimento civil ou comercial, com economia própria”.

Emancipação por concessão do pai, ou da mãe

“Cessará, - diz o art. 9º, § 1167 do Código Civil – para os menores, a incapacidade: i – Por concessão do pai, ou se for morto, da mãe, ... se o menor tiver dezoito anos cumpridos”.

Portanto, a emancipação por vontade do pai ou da mãe depende sempre de o menor ter completado 18 anos de idade. O menor não tem o direito de exigir a sua emancipação, muito menos de pedi-la judicialmente, pois trata-se de uma concessão que só os pais podem permitir, lembrando que a emancipação há de ser concedida sempre no interesse do menor.

Embora o Código diga que a mãe só poderá conceder a emancipação do filho se o marido estiver morto, tem-se que o art. 89 da Lei dos Registros Públicos, que surgiu bem depois do Código Civil, é expresso ao dizer que cabe “as pais” a concessão da emancipação, alterando o referido art. 9º. Entretanto, o art. 380 do Código Civil é claro no sentido de que o pátrio poder é exercido pelo marido “com a colaboração da mulher”, cabendo ao pai, portanto, o direito de emancipar o filho, podendo a mãe insurgir-se contra a atitude do marido recorrendo ao juiz para dirimir a questão.

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O pai, para obter a emancipação do filho, tem dois caminhos: a) irá ao Cartório de Notas e solicitará a lavratura de uma escritura pública de emancipação e, após, registrá-la-á no Cartório do Primeiro Ofício; b) poderá providenciar uma escritura por instrumento particular, reconhecendo as firmas e registrando-a no referido Cartório.

Emancipação por sentença do juiz

A concessão pelo pai, ou pela mãe, não leva à intervenção do juiz. Somente a emancipação do menor sob tutela (órfão) é que requer petição ao juiz e sentença dele. Este ouvirá o tutor e o próprio menor e, se se convencer da oportunidade da medida, poderá concedê-la. Entretanto, o pedido não significa que, será sempre procedente, pois, se se convencer de que o menor não possui, ainda, maturidade para reger sua pessoa e seus bens, poderá denegar o pedido.

Para o menor ou se tutor requerer a medida ao juiz deve o menor Ter a idade de 18 anos, pelo menos. Nesse sentido, a lei é expressa: “Por concessão do pai, ou, se for morto, da mãe, por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezoito anos cumpridos” (Código Civil art. 9º, I).

Emancipação pelo casamento

O casamento, automaticamente, emancipa os cônjuges. Se antes do casamento os nubentes eram menores, com o casamento eles passam a ser capazes e de maneira irreversível. Vale dizer, caso os cônjuges venham a separar-se judicialmente ou venham a divorciar-se, ou ocorra a morte de um deles, não haverá a revogação da emancipação.

A lei fixa a idade nupcial de 16 anos para a mulher e 18 anos para o homem. Contudo, quando tenha havido união sexual e a mulher menor de 16 anos engravida-se, cabe o pedido de suprimento de idade ao juiz. Estando os interessados de acordo, o juiz autorizará o casamento, e a mulher, então, com menos de 16 anos, passa a ser capaz.

Emancipação pelo exercício de emprego público e efetivo

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Todo menor que passar a exercer emprego público efetivo obtém a emancipação. Não a simples nomeação ou o exercício interino. Aqui, como no caso anterior, a emancipação dar-se-á tacitamente, automaticamente, pelo simples fato de ocorrer a nomeação para emprego público e entrar no exercício do cargo.

Emancipação pela colação de grau em curso superior

A emancipação pela colação de grau em curso superior dificilmente ocorrerá na época atual, porque normalmente uma pessoa conclui o curso superior com mais de 21 anos. Mas, se isso acontecer, o indivíduo estará, automaticamente, emancipado.

Emancipação pelo estabelecimento civil ou comercial com economia própria

O menor de 18 anos, que não atingiu a idade de 21 anos, não pode ser empresário. Entretanto, diz a lei que, estabelecendo-se com economia própria, montando uma loja, por exemplo, o menor de 18, 19 ou 20 anos, automaticamente, se emancipa, ou seja, passa a ser empresário individual.

Qual é a prova da emancipação, caso o menor deixe de exercer sua atividade, visto que a emancipação é irrevogável?

È diferente dos casos anteriores cuja certidão do exercício do cargo público efetivo ou de casamento é prova bastante da emancipação.

O único caminho que tem o menor é fazer prova perante o juiz, de que se estabeleceu com economia própria.

Feito isso, o juiz sentencia, sendo esta a prova.

MODELO DE PETIÇÃO DE EMANCIPAÇÃO OUTORGADA PELO PAI OU PELA MÃE.

Por este instrumento particular e na melhor forma de direito, fulano (qualificação e endereço), aqui chamado outorgante, de acordo com o artigo 9º, parágrafo primeiro, número um do Código Civil , EMANCIPA, como de fato emancipado está seu filho,

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sicrano (qualificação e endereço), por achá-lo apto para exercer e praticar todos os atos e direitos da vida civil, notadamente os de reger sua pessoa e administrar seus bens, na mesma igualdade que os maiores de21 anos, aqui chamado outorgado, nascido aos ... de mil novecentos e ..., no subsistirão da ..., deste município e comarca da Capital do Estado de São Paulo, em cujo Cartório foi registrado sob número ..., às folhas..., do Livro..., conforme prova a certidão de nascimento fornecida pelo respectivo oficial e que acompanha a presente para registro. Pôr outro lado, o outorgado sicrano declara aceitar a emancipação que lhe é concedida pôr seu pai indo a presente assinada pelo outorgante, pelo outorgado e pelas testemunhas abaixo assinadas, que são:....(nome, qualificação e endereço das testemunhas).

Data e assinatura (as firmas dever ser reconhecidas).

MODELO DE PETIÇÃO DE EMANCIPAÇÃO AO JUIZ DE DIREITO

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito

(deixar espaço de 9 linhas)

Fulano de tal (qualificação e endereço, filho de ..., e de ..., ambos falecidos (docs. Anexos), tendo completado 18 anos de idade, conforme comprova a inclusa certidão, requer a V. Excia. A realização de uma justificação judicial, em dia e hora designados, citando-se o seu tutor conforme determina o artigo 1.112 do Código de Processo Civil, bem como o órgão do Ministério Público, para o compadecimento à audiência na qual o Suplicante quer provar que tem capacidade para reger sua pessoa e para administrar seus bens.

Requer ainda que, julgada procedente a presente justificação, seja o Suplicante emancipado para todos os fins de direito.

Pede deferimento

(data e assinatura do próprio menor) – Apresentar, abaixo o rol de testemunhas.

FIM DA PERSONALIDADE

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A existência do homem termina com a sua morte, que se prova com a certidão de óbito, ocasionando a cessação imediata de todos os seus direitos e obrigações. Cessa portanto, a personalidade jurídica da pessoa natural, deixando de ser sujeito de direito e obrigações.

3 anos atrás