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Uma avaliação da qualidade de uso do Moodle na UFMG
por alunos surdos e ouvintes
Letícia Capelão1, Flávio Coutinho
2, Leonardo Freitas
3,
Koji Pereira4, Raquel Prates
2
Faculdade de Letras1, Departamento de Ciência da Computação
2,
Laboratório de Ciência da Computação3, Escola de Belas Artes
4
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte, MG – Brazil
{leticiac, flavio, rprates}@dcc.ufmg.br, [email protected],
Abstract. As virtual learning environments meet a diversity of students, the
communicability is an essential quality to ensure that the educational goals
that underlie their use are achieved. In this article, we evaluate the
communicability of Moodle UFMG from the perspective of deaf and hearing
students, for this we used the Semiotic Inspection Method (SIM) and the
Communicability Evaluation Method (CEM). The results show ruptures in
communication that compromised the use of Moodle's features by deaf and
hearing students.
Resumo. Considerando que os ambientes de apoio ao ensino à distância
atendem a uma diversidade de alunos, a comunicabilidade é uma qualidade de
uso essencial para garantir que os objetivos educacionais que fundamentam o
seu uso sejam atingidos. Neste artigo, avaliamos a comunicabilidade do
sistema Moodle da UFMG a partir da visão de alunos ouvintes e surdos, para
isso recorrendo ao Método de Inspeção Semiótica (MIS) e ao Método de
Avaliação da Comunicabilidade (MAC). Os resultados apresentam rupturas
de comunicação que comprometeram o uso de funcionalidades do Moodle,
tanto por alunos surdos, quanto por ouvintes.
1. Introdução
Soluções novas para processos antigos avançam pela área da educação e apóiam os
processos de ensino e aprendizagem. Provocam redefinições e se reestruturam em novo
espaço sem limites de tempo, distância e lugar: os ambientes virtuais de aprendizagem
(AVAs).
Os AVAs exploram recursos da web e da educação à distância (EAD),
integrando as tecnologias de informação e comunicação à educação através de mídias
variadas (vídeos, imagens, textos, animações) e ferramentas para comunicação e
interação como: chat ou bate-papo, fórum de discussão, envio de tarefas, dentre outros
(LITTO e FORMIGA, 2007). Em termos conceituais, os AVAs consistem em mídias
que utilizam o ciberespaço para veicular conteúdo e permitir interação entre os atores do
processo educativo (MESSA, 2010).
A qualidade de uso mais notável de um sistema interativo (e.g. Moodle) é sua
comunicabilidade, ou seja, o quão eficaz e de maneira eficiente as decisões de projeto,
da interface e a lógica dos projetistas são transmitidas e recebidas pelos usuários.
Conforme ressaltam Barbosa e da Silva (2010), se um usuário não consegue
compreender como o sistema funciona por falta de clareza no significado dos elementos
da interface (baixa comunicabilidade), ele pode interromper o seu uso diante das
barreiras (rupturas de comunicação). O sistema ou alguma de suas funcionalidades se
tornam inacessíveis por problemas de comunicabilidade do projetista para o usuário.
Para avaliação apresentada neste artigo, utilizamos dois métodos baseados na
Teoria da Engenharia Semiótica: o Método de Inspeção Semiótica (MIS) e o Método de
Avaliação de Comunicabilidade (MAC). O MIS e o MAC são métodos baseados na
Engenharia Semiótica, uma teoria proposta para o estudo de Interação Humano-
Computador que considera os sistemas interativos sob a perspectiva da comunicação
entre projetistas e usuários. Estes métodos foram desenvolvidos e aperfeiçoados com o
objetivo de entender a comunicação entre o projetista e o usuário, mediados pelo
sistema, identificar rupturas nesta comunicação e, com isso, possibilitar melhorias nas
interações usuário-sistema.
O objetivo deste artigo foi avaliar a qualidade da comunicabilidade do sistema
Moodle, a partir da visão de alunos surdos e ouvintes. A escolha em incluir na avaliação
de comunicabilidade também a perspectiva de alunos surdos deveu-se ao nosso interesse
em contribuir para a acessibilidade digital de pessoas surdas. Na sociedade inclusiva
(SASSAKI, 1997), a EaD traz novas possibilidades para a inclusão de surdos que
podem compartilhar o mesmo ambiente virtual de aprendizagem com ouvintes.
Entretanto, como o pensamento do surdo organiza-se em função da língua de sinais (que
é a sua primeira língua), mesmo os surdos alfabetizados apresentam dificuldades com a
língua portuguesa (BERNARDINO, 2000; BOTELHO, 2005). Torna-se então
necessária uma atenção especial de forma a possibilitar o acesso aos surdos ao ensino
também através de sistemas de educação à distância. Para que a comunicação entre
professores e alunos surdos e ouvintes nesses ambientes ocorra sem rupturas, é essencial
que seja garantida a comunicação do sistema com seus usuários. As tecnologias, a
educação à distância, juntamente com os estudos de usabilidade, acessibilidade e,
especialmente, neste artigo, comunicabilidade permitem que interfaces de ambientes
virtuais ganhem “conotações especiais para atender as necessidades dos diferentes tipos
de usuários.” (MESSA, 2010).
Na próxima seção, apresentamos alguns conceitos relacionados ao ambiente
Moodle, além de dados e informações sobre o Moodle utilizado na UFMG. Na seção
seguinte, descrevemos a metodologia (preparação, métodos de avaliação e aplicação). A
seguir apresentamos, então, os principais resultados da avaliação, enumerando os
problemas encontrados, sua localização e algumas sugestões de melhorias que podem
ser implementadas na interface. Por fim, o artigo apresenta as conclusões da avaliação
do Moodle de acordo com aplicação do MIS e do MAC.
2. Moodle
No ano de 2010, foram criadas no Moodle da UFMG 10.311 turmas no primeiro
semestre e 10.618 no segundo. Vale ressaltar que para todas as turmas da base de dados
do sistema acadêmico são criadas turmas no sistema Moodle, visando incentivar o uso
desta plataforma.
Dentre estas turmas, 2.097 tiveram atividades e/ou recursos criados, no primeiro
semestre, e 2.380, no segundo semestre. Para essas turmas, o Gráfico 1 mostra a
utilização destas atividades e recursos, nos dois semestres de 2010.
Dentre as atividades e recursos, verificamos que o fórum, recursos e envio de
tarefas foram as mais utilizadas. A taxa de utilização do fórum, nestas turmas, foi de
76% (1.586) no primeiro semestre e de 77% (1.842) no segundo. Para os recursos, a
taxa de utilização foi 56% nos dois semestres e atividade de envio de arquivos, 20% no
primeiro semestre e 22% no segundo. Estes dados sugerem uma tendência de
crescimento na utilização dos recursos disponíveis no Moodle da UFMG.
Gráfico 1. Percentual de turmas que criaram atividades/recursos em 2010
3. Metodologia
Para aplicação do MIS e MAC, inicialmente organizamos uma turma no Moodle,
específica para esta avaliação. O MIS foi aplicado inicialmente e orientou a definição
dos cenários das tarefas e elaboração do material de apoio para o MAC.
3.1. Organização da turma no Moodle para avaliação
Para a inspeção (MIS) e realização dos testes (MAC), criamos e estruturamos uma
turma no ambiente Moodle do portal Minha UFMG. Utilizamos a versão institucional
do Moodle da UFMG, versão 2.0.2, com um tema desenvolvido pela equipe do
Laboratório de Computação Científica da instituição utilizado no portal Minha UFMG.
Criamos uma turma fictícia com informações de um curso real de "Programação
de Computadores" (Figura 1). A página do curso foi estruturada em menus laterais e
tópicos. Optou-se por deixar os menus laterais disponíveis na tela por se tratar de um
design padrão do Moodle, apesar de ser possível explorar o menu “dock” (minimizado
na lateral). No menu da esquerda, permaneceu o bloco de Navegação e Configuração.
No menu da direita, incluímos os seguintes blocos: "Usuários on-line", "Calendário",
"Últimas notícias", "Menu do blog", "Participantes" e "Mensagens". A parte central da
tela foi organizada em quatro tópicos com conteúdos do curso: “Sobre a disciplina”, “É
conversando que a gente se entende”, “Material de apoio geral” e “Semana 1”. A Figura
1 mostra a tela inicial da turma utilizada para a inspeção do MIS e para a execução das
tarefas pelos usuários no papel de alunos no MAC.
Figura 1. Página inicial do curso criado no Moodle para a avaliação
3.2. Métodos de Avaliação
O MIS e MAC são métodos qualitativos e interpretativos que avaliam a mesma
propriedade de qualidade de uso – comunicabilidade.
Por ser um método de inspeção, o MIS envolve apenas a participação de
avaliadores, sem a necessidade de testes com usuários. O avaliador inspeciona a
interface e identifica ambiguidades e inconsistências que se caracterizam como
potenciais rupturas de comunicação que podem dificultar ou, até mesmo, impossibilitar
o usuário de utilizar o sistema.
O MAC é um método que envolve testes com usuários em ambiente controlado
para identificação de rupturas de comunicação na interface de sistemas e, uma posterior
etapa de interpretação, na qual as gravações das interações são etiquetadas e analisadas.
Os usuários, a partir de um perfil pré-definido, são convidados a executar tarefas
contextualizadas em cenários pré-determinadas pelo avaliador, utilizando o sistema a ser
avaliado. Ressalta-se que a avaliação deve ser realizada por usuários que não tenham
experiência de uso anterior do sistema, de forma que as rupturas de comunicação
possam ser identificadas a partir desta experiência inicial de uso.
Tanto o MIS quanto o MAC envolvem várias etapas que não foram aqui
descritas tanto por limitação de espaço, quanto por não ser o foco deste artigo. A
descrição dos métodos e sua aplicação no contexto deste artigo estão descritos,
detalhadamente, em um trabalho apresentado em X IHC e V CLIHC (CAPELAO et al.,
2011).
3.3. Aplicação dos Métodos
Como nossa inspeção do MIS apontou um grande número de potenciais rupturas de
comunicação em todas as tarefas, utilizamos tarefas similares para o MAC.
Selecionamos duas funcionalidades de uso mais frequentes, em turmas no
Moodle da UFMG, devido à importância no desenvolvimento de atividades na EAD:
fórum (criar tópico com mensagem, comentar mensagem do colega), tarefas (envio de
arquivos). O blog (consulta e comentário a uma postagem no blog) também foi incluído
devido aos recursos de interação e comunicação possibilitados. Elaboramos então um
cenário de contexto e três tarefas que exploraram essas funcionalidades avaliadas quanto
à qualidade da comunicabilidade da interface.
O MIS foi aplicado por três avaliadores sob perspectivas de usuário distintas:
visão de professor, visão de aluno surdo e visão de aluno ouvinte. Os problemas
encontrados foram consolidados e divididos em 5 classes apresentadas na seção
Resultados.
No MAC, foram realizadas 6 avaliações com 3 alunos surdos e 3 alunos
ouvintes. A avaliação de comunicabilidade requer um número de participantes pequeno,
visto que se trata de um método qualitativo com ênfase na análise em profundidade
(BARBOSA, 2010). Todos os testes foram realizados em ambiente controlado, no
laboratório do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, durante três
dias consecutivos. Os testes foram realizados em um computador com Windows XP em
inglês, utilizando o navegador Firefox versão 3.x.
Os usuários selecionados haviam concluído o ensino médio ou estavam em fase
inicial do ensino superior e seu contato com o Moodle havia sido muito superficial ou
nenhum. A seleção dos usuários surdos envolveu outros critérios relacionados à
compreensão da língua portuguesa (leitura/escrita) que perpassam por aspectos
relacionados a surdez e a linguagem (BERNARDINO, 2000; CAPELAO et al., 2011):
nível de surdez de severa a profunda, surdez pré-lingual (antes dos dois anos de idade),
uso de Libras como forma de comunicação, alfabetizados na língua portuguesa, início
do aprendizado de Libras até os sete anos de idade. Os alunos surdos participantes
atenderam a estes critérios. Durante a realização dos testes com os alunos surdos, tanto a
comunicação oral quanto o material impresso foi traduzido para Libras por um
intérprete. Vale ressaltar que os aspectos éticos previstos em lei (BRASIL, 1996) foram
considerados e devidamente explicados aos participantes, que registraram o
consentimento por escrito em documento.
4. Resultados
O resultado do MIS contemplou potenciais rupturas de comunicação encontradas para
usuários surdos e ouvintes. Consolidamos e agrupados em 5 classes: 1 - Ausência de
padronização na interface (em janelas, botões, ações do sistema); 2 - Falta de
acessibilidade da documentação (indisponível em língua portuguesa ou Libras), 3 –
Elementos de interface sem relação com nomenclatura padrão (ícones e nomes de
rótulos não representativos); 4 - Ausência de instruções claras ou consistentes; e 5 -
Vocabulário inacessível para usuários surdos.
Durante a realização do MAC, dos dezoito testes realizados (seis usuários x três
tarefas), apenas nove testes foram concluídos com êxito; nove testes foram
interrompidos com a desistência dos usuários; e três foram concluídos parcialmente pela
desistência de alguns dos itens das tarefas.
Um resumo do tempo de conclusão da interação e resultado de cada tarefa pode
ser encontrado na Tabela 1:
Tabela 1. Resumo do tempo de conclusão de cada tarefa
Em grande parte dos testes, os usuários despenderam muito tempo explorando a
interface do Moodle para encontrar o acesso para as páginas onde realizariam as tarefas,
sendo que alguns chegaram a sair do contexto e continuaram explorando. Esse
comportamento foi mais comum entre os usuários surdos.
Uma divergência nas interações de usuários ouvintes e surdos foi na interação
com o envio de imagens e arquivos. O Moodle oferece muitas funcionalidades
relacionadas à incorporação de imagens e arquivos, mas a interface dessas
funcionalidades envolve diversas telas com variadas opções de configuração e diferentes
das telas com as quais os usuários estão habituados com outros sistemas na Internet.
Apesar dos problemas de interação com essa interface terem ocorrido em maior
frequência (porém, não apenas) com os usuários surdos, quaisquer usuários do Moodle
poderiam desfrutar de melhorias na comunicabilidade dessa e de outras interfaces do
sistema.
Segundo a EngSem, a desistência de concluir uma tarefa é uma ruptura completa
e pode levar os usuários a imaginar que as funcionalidades que buscavam não estavam
presentes no sistema, quando de fato estavam. Isso pode ser grave, pois pode levar os
usuários a não utilizarem o sistema por não entenderem a solução do projetista (ruptura
no nível estratégico (BARBOSA e DA SILVA, 2010; DE SOUZA, 2005). O alto
número de rupturas de comunicação completas tanto de usuários surdos, quanto de
ouvintes nos permite considerar que elas se devem a problemas de comunicabilidade
relacionados à interface e não às dificuldades de linguagem dos usuários surdos. Em
geral, a dificuldade de compreensão da língua portuguesa pelos usuários surdos teve
reflexos no tempo de execução da tarefa, já que eles levaram, em média, mais do que o
dobro do tempo dos ouvintes para concluir as tarefas.
As potenciais rupturas encontradas no MIS e as rupturas identificadas no MAC
foram reunidas, contrastadas e estão apresentadas nos quadros ao final do artigo. A
maioria dos problemas afeta tanto alunos ouvintes, quanto alunos surdos. Para cada um
deles, descrevemos o problema, localização na interface, método em que foi
identificado o problema (MIS ou MAC) e propostas de melhoria para solução do
problema.
5. Conclusão
Neste trabalho foi apresentada a avaliação feita do sistema Moodle, na perspectiva de
alunos surdos e ouvintes. Para isso decidimos avaliar a comunicabilidade, por sua
importância na identificação de como o sistema está sendo apresentado ao usuário,
fundamental para o seu uso.
A partir da análise dos resultados foi possível notar a necessidade do usuário ter
experiência de navegação na Internet (identificado no MIS e intensificado no MAC).
Além disso, apesar do projetista emitir a informação de que os usuários podem/devem
explorar o sistema para aprender através de tentativa e erro, o comportamento dos
usuários durante o teste não revelou que essa informação havia sido recebida por eles.
Em mais de uma situação durante as interações, eles tiveram receio em acessar links,
botões ou não perceberam a presença deles.
Portanto, além da realização do MIS ter contribuído para a definição dos
cenários a serem utilizados no MAC, a comparação da metamensagem emitida (MIS)
com a recebida (MAC) forneceu informações importantes para a avaliação da
comunicabilidade do Moodle: potenciais rupturas de comunicação identificadas na
inspeção foram confirmadas no teste e os resultados de outras rupturas encontradas em
cada um se complementaram.
Dentre as possíveis contribuições deste trabalho consideramos: 1) Descrição do
uso do MIS e MAC para avaliação com surdos e ouvintes, auxiliando na pesquisa destes
sistemas em diferentes contextos (considerando acessibilidade) e, também, geração de
descrições sobre o seu uso (para pessoas que estão aprendendo os métodos); 2)
Apresentação de decisões sobre como aplicar estes métodos com pessoas surdas, sendo
útil para quem quer realizar testes com este perfil de usuários; 3) Os problemas
encontrados são relevantes sobre o uso do sistema e serão comunicados aos
responsáveis pela manutenção do sistema, podendo gerar melhorias na sua qualidade
tanto para ouvintes, quanto para surdos; 4) O foco no usuário surdo contribuiu para a
geração de conhecimento sobre as dificuldades destes usuários, assim como a adequação
das tecnologias ao uso por eles. Sendo assim, a descrição dos problemas apresentados
pode evitar que eles ocorram em outros sistemas.
7. Referências
BARBOSA, S. D. J.; DA SILVA, B. S. Interação Humano-Computador. Elsevier
Editora Ltda., 2010.
BERNARDINO, E. L. Absurdo ou lógica? A produção lingüística dos surdos. Belo
Horizonte: Profetizando Vida, 2000.
BOTELHO, P. Linguagem e letramento na educação dos surdos - Ideologias e práticas
pedagógicas. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2005.
BRASIL. Ministério Nacional da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos, 1996.
CAPELÃO, L.; COUTINHO, F.; PEREIRA, K.; PRATES, R. O. Avaliação de
comunicabilidade do Moodle para usuários surdos e ouvintes. In: COMPETIÇÃO
DE AVALIAÇÃO DO IHC & CLIHC, 2011, Porto de Galinhas. (a ser publicado em
outubro de 2011).
DE OLIVEIRA, D. R. R.; SOUZA, G. O.; DIAS, J. S.; MULLER, M. F.; PRATES, R.
O.; BERNARDINO, E. L. Avaliação da acessibilidade do sítio da Receita Federal
para deficientes auditivos. In: COMPETIÇÃO DE AVALIAÇÃO DO IHC, 2010,
Belo Horizonte.
DE SOUZA, C. S. The Semiotic Engineering of Human-Computer Interaction.
Cambridge: The MIT Press, 2005.
LITTO, F. M.; FORMIGA, M. A educação a distância: o estado da arte. São Paulo:
Pearson Education, 2007.
MESSA, W. C. Utilização de Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVAS: A Busca
por uma Aprendizagem Significativa. ABED, v. 9, ano 2010.
MOODLE.org. Download: Language Packs. 2011. Disponível em:
<http://download.moodle.org/langpack/2.0/>. Acesso em: 26 set. 2011.
PALLOF, R. M.; PRATT, K. Construindo comunidades de aprendizagem no
ciberespaço: estratégias eficientes para a sala de aula on-line. Porto Alegre: Artmed,
2002.
PRATES, R. O.; BARBOSA, S. D. J. Introdução à Teoria e Prática da Interação
Humano Computador fundamentada na Engenharia Semiótica. In: XXVII
CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMPUTAÇÃO, 2007, p.
263–326.
PRATES, R. O.; DE SOUZA, C. S.; BARBOSA, S. D. J. Methods and tools: a method
for evaluating the communicability of user interfaces. interactions, ano 2000, n. 7, p.
31–38.
SASSAKI, R. K. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro:
WVA Editora, 1997.
8. Agradecimentos
Agradecemos a todos os participantes dos testes que nos forneceram, através de sua
interação com o Moodle, informações valiosas para a realização deste trabalho; à nossa
amiga Glívia Barbosa que nos acompanhou durante a realização dos testes; ao intérprete
Rafael Silva Guilherme, que viabilizou nossa comunicação com os usuários surdos; ao
professor Márcio Bunte, diretor do Laboratório de Computação Científica, setor
responsável pela infraestrutura da plataforma do Moodle da UFMG. Finalmente, os
autores agradecem à FAPEMIG e CAPES pelo apoio à sua pesquisa.
Quadro 1. Problemas encontrados no uso do fórum do Moodle 2.0.2 da UFMG
F1 – Linguagem inacessível para surdos Local: Tela principal do fórum Métodos: MAC, MIS (Classe 5)
Descrição: dificuldade para compreender o uso do fórum, pois são utilizados termos pouco conhecidos pelos
surdos, como “acrescentar”, “tópico” e “discussão”. Os usuários surdos tiveram dificuldade em compreender
como proceder para criar um novo tópico e postar uma mensagem no fórum. Além disso, a interface não
apresenta acesso a um sistema de ajuda que permita ao usuário se recuperar do problema vivenciado.
Melhorias: Criar um sistema de ajuda para alunos com o
uso de imagens e/ou vídeos de forma a promover mais
acessibilidade e comunicabilidade tanto para surdos,
quanto para ouvintes; Disponibilizar um link para um
dicionário Português-Libras; Alterar os termos para que
fiquem mais acessíveis ao usuário surdo.
F2 – Feedback temporizado com tempo muito curto Local: Comportamento ao clicar em “Criar novo tópico de discussão” Método: MAC
Descrição: Ao criar o tópico, uma mensagem de feedback é exibida durante um curto período de tempo e pode
não ser percebida pelos usuários neste tempo, especialmente, por usuários surdos, que podem precisar de maior
tempo para leitura.
Melhoria: Solicitar que o usuário clique em botão para
prosseguir, em vez de prosseguir automaticamente ou criar
um feedback persistente em uma região da tela.
Quadro 2. Problemas encontrados no uso do blog do Moodle 2.0.2 da UFMG
B1 – Uso de linguagem complexa Local: Links de nova postagem no blog na página inicial do curso. Métodos: MAC, MIS (Classe 5)
Descrição: Tanto a inspeção quanto o teste com usuários revelaram o uso de textos (rótulos e mensagens) que
não representavam bem sua função. Por exemplo, para postar no blog, o aluno deve acessar um dos dois links:
“Acrescentar novo texto” ou “Blog sobre este Turma”, mas nenhum deles representa bem a função da ação
associada. Isso fez com que os usuários surdos e um ouvinte não conseguissem acessar a funcionalidade.
Melhoria: Substituição das expressões utilizadas por
outras que informem sobre a criação de uma nova
postagem no blog.
B2 – Elementos de interface para inserção de imagem de difícil identificação Local: página de postagem do blog. Método: MAC
Descrição: Aluno ouvinte não conseguiu localizar a funcionalidade de incorporação de imagem em postagem
no blog. A barra de ferramentas para edição de texto reúne diversas funcionalidades, que são representadas
apenas por imagens. O excesso de elementos na barra e a escolha de ícones pouco representativos para essas
funcionalidades não permitiram que o usuário localizasse o acesso à função de incorporação de imagem.
Melhoria: Simplificar o menu de edição de texto rico
WYSIWYG (What You See Is What You Get) (Figura ) a
fim de priorizar funções mais importantes, como a
inserção de imagem. Também poderiam ser utilizados
rótulos para os botões, além das imagens.
B3 – Perda de contexto de navegação Local: Na página principal do curso . Método: MAC
Descrição: Ao entrar no blog, o Moodle sai do contexto
do curso em que o usuário estava interagindo (ver Figura
3). Isso dificultou que os usuários (surdos e ouvintes)
retornassem à página inicial do curso após o acesso ao
blog. Figura 3. Navegação estrutural na página da turma
(cima) e após acessar o blog (baixo).
Melhoria: Manter na navegação estrutural (breadcrumb) o
caminho que o usuário utilizou para chegar ao blog,
possibilitando-o voltar ao seu contexto de origem.
Oferecer ao usuário a opção de voltar ao contexto do curso
onde ele estava quando acessou o blog ou redirecioná-lo
automaticamente.
Figura 2. Barra de ferramentas do editor de texto.
Quadro 3. Problemas encontrados no envio de tarefas do Moodle 2.0.2 da UFMG (cont.)
T1 – Dificuldade em encontrar o botão “enviar arquivos” Local: Página de envio de tarefas. Método: MAC
Descrição: Na página da tarefa, usuários tiveram
dificuldades em encontrar o botão “Enviar arquivos”. Na
região superior da página o professor pode cadastrar o
enunciado. Dependendo de seu tamanho, a região inferior
pode ficar visível apenas quando o usuário rolar a página.
Desta forma, o botão “Enviar Arquivos”, que representa a
funcionalidade principal da página, não está devidamente
priorizado na interface – inclusive, está dividindo espaço e
importância com outros elementos de interface menos
importantes: datas, "Esboço do Documento" e "Notas" etc.
A funcionalidade secundária “Notas” (para anotações) foi
indevidamente explorada pelos usuários diante da
dificuldade encontrada para o envio de arquivos (Figura 4).
Melhoria: Rever a hierarquia visual da tela de envio de
arquivos, priorizando o botão de envio de arquivos e
associando “notas” com peso secundário ou unindo esta
ação ao envio de tarefa;
- Utilizar rótulos que expressem melhor as funcionalidades e
sejam de conhecimento do usuário (“Esboço do documento”
se refere a quê? “Notas” = espaço para anotações);
- Incluir sistema de ajuda para uso do envio de tarefas na tela
principal de envio da tarefa.
T2 – Nomenclatura sem contexto Local: Página de envio de tarefas. Métodos: MAC, MIS (Classe 3)
Descrição: A nomenclatura do signo “Esboço do documento” está sem
contexto dentro da tela de entrega de uma tarefa (ver Figura 5). Ele está
localizado acima do botão de envio de arquivos. Não é possível
compreender a que esse elemento de interface se refere, o que provocou
rupturas de comunicação.
Melhoria: Utilizar rótulos para os signos de forma que
expressem melhor as funcionalidades e sejam de
conhecimento do usuário. No caso específico, um nome
mais apropriado seria: lista de arquivos enviados.
Figura 4. Página de envio de tarefa. (a) mostra a área
inicialmente visível da página no navegador (resolução
1440x900) e (b) mostra o botão de envio de arquivos.
Figura 5. Região inferior da página de
envio de tarefa.
Quadro 3. Problemas encontrados no envio de tarefas do Moodle 2.0.2 da UFMG (Conclusão)
T3 - Termos fora de contexto Local: Segundo passo da página de envio de tarefas Método: MAC
Descrição: Ao clicar em “Enviar arquivos”, o usuário é levado para uma nova página que mostra dois botões “Adicionar”
e “Criar diretório” (sem contexto com a ação “Enviar arquivos”) que levaram a rupturas de comunicação, pois alguns
alunos tiveram dificuldades em compreender, nesta tela, o próximo passo a ser executado.
Melhoria: Utilizar termos mais comumente
utilizados e conhecidos pelos alunos (e.g: buscar
arquivos, criar pastas).
T4 – Botão de seleção de arquivo com rótulo variando com a língua do navegador Local: Segundo passo da página de envio de tarefas. Método: MAC
Descrição: Ao clicar em “Enviar arquivos”, a seguir em “Adicionar”, é exibida uma nova tela para seleção de arquivos,
cujo rótulo do botão para envio de arquivos varia em função da língua do navegador. Ou seja, se o navegador estiver em
inglês, o botão será exibido como "choose file" ou "browse". Como é um botão de ação principal, a não compreensão
deste elemento de interface (como ocorreu com um aluno surdo) pode comprometer a comunicação sistema-usuário e
impossibilitar o envio do arquivo.
Melhoria: Representar o controle de envio de
arquivo a partir da língua definida para o Moodle,
de forma a possibilitar uma configuração
associada ao Moodle e não ao navegador (que
pode resultar em falhas na comunicação).
Quadro 4. Problemas encontrados em funcionalidades gerais do Moodle 2.0.2 da UFMG (cont.)
FG1 - Excesso de elementos na interface Local: Página inicial do curso com menus laterais. Método: MAC
Descrição: Dificuldades para localizar o link do fórum, o menu do blog e o link do envio de tarefa
descritos no cenário. Os links do fórum e envio de tarefa estavam presentes na parte central da
página principal do curso e o menu do blog, na parte lateral direita. A presença de muitos
elementos na interface confundiu os alunos dificultando que eles encontrassem os links corretos. O
aluno então ficou interagindo com outros signos fora do contexto (link de outro fórum, link para
outro blog externo).
Melhoria: - Redesenhar a arquitetura da informação explorando uma
interface mais minimalista para a página inicial do curso; - Criar um
menu de acesso ubíquo com links para os principais recursos e atividades
do curso (blog, fórum, tarefas, páginas, arquivos etc.); - Reorganizar a
estrutura do menu lateral de forma hierárquica priorizando o conteúdo do
curso em que o aluno está navegando; - Incluir sistema de ajuda para uso
do fórum na tela principal do fórum; - Agrupar fóruns e permitir a
navegação entre eles; - Identificar as tarefas por status (pendentes,
concluídas, em revisão).
FG2 - Dificuldades para encontrar o botão de ação principal (fórum e tarefa) Local: Página principal do fórum e de envio de tarefas. Método: MAC
Descrição: Na página de fórum e na página de envio de tarefas, alguns alunos tiveram dificuldade
para localizar o botão de ação principal (criar novo tópico, enviar arquivos), pois eles estão
localizados na parte inferior da tela. Além disso, este problema é agravado se o professor cadastra
um enunciado para o fórum ou tarefa que ocupe toda a área visível da página. Neste caso, os botões
das ações principais ou outras funcionalidades ficam visíveis somente quando o aluno faz a
rolagem da tela para baixo (ver Figura 4).
Melhoria: - Alterar o formato da disposição do enunciado do
fórum/tarefa para que o conteúdo específico de cada página e os botões
ou links de ação estejam sempre visíveis (sem que seja necessário rolar a
página para baixo); - Exibir as ações principais (criar novo tópico, enviar
arquivos) em local mais visível para o aluno e em destaque.
FG3 - Ausência de sistema de ajuda para uso Local: Tela principal do fórum, menu do blog e tela do envio de tarefas Métodos: MAC, MIS (Classes 2 e 4)
Descrição: Ausência de sistema de ajuda para auxiliar no uso do fórum, blog e tarefa (envio de
arquivos). A necessidade de um sistema de ajuda foi percebida, especialmente, nos testes, quando
os alunos, diante de dificuldades para realização da tarefa, recorreram ao tutorial para uso do fórum
(disponibilizado pelo professor) e instruções para realização das tarefas (também disponibilizadas
pelo professor).
Melhoria: Criar um sistema de ajuda para uso por alunos, com link de
acesso nas próprias telas, explorando o uso de imagens e/ou vídeos de
forma a promover mais acessibilidade e comunicabilidade tanto para
surdos, quanto para ouvintes.
Quadro 4. Problemas encontrados em funcionalidades gerais do Moodle 2.0.2 da UFMG (Conclusão)
FG4 - Ausência de documentação em língua portuguesa. Local: Páginas de ajuda e documentação no site Moodle.org. Método: MIS (Classe 2)
Descrição: Boa parte da documentação explicativa do Moodle não está disponível em português. Há vídeos
com legenda em inglês, o que caracteriza uma possível ruptura de comunicação para alunos não proficientes
nessa língua. No caso do aluno surdo, que tem como primeira língua Libras e segunda língua a língua
portuguesa, ele poderá ter grandes dificuldades em fazer uso do vídeo como sistema de ajuda.
Melhoria: - Traduzir os textos de ajuda e documentação para
língua portuguesa; – Oferecer uma versão em Libras.
FG5 - Excesso de janelas no envio de arquivos Local: Páginas de postagem no blog e novo tópico no fórum. Método: MAC
Descrição: Para incorporar uma imagem a um
texto, anexar um arquivo ou enviar arquivos, os
usuários precisam interagir com duas a três
janelas modais com muitas opções. Na Figura,
os números indicam os passos necessários para
isso.
Melhoria: - Seguir padrão utilizado em outros softwares: ao
clicar para anexar, abrir diretamente a lista de arquivos locais;
- Disponibilizar uma explicação sobre quais são os passos para
o envio de arquivos (como um wizard);
- Disponibilizar as ações avançadas (seleção de imagem já
enviada, seleção de imagem no Picasa) em segundo nível do
wizard.
FG6 – Saída de contexto no acesso a links para sites externos Local: Links para sites externos no material do curso e em páginas do Moodle Método: MAC
Descrição: Alguns usuários clicaram em links para sites externos presentes no material do curso, mas não
perceberam que haviam saído do contexto do Moodle e continuaram sua interação em outro contexto.
Melhoria: Indicar explicitamente a mudança de contexto
informando ao aluno que vai acessar um link externo ao
Moodle. E então, aguardar a confirmação do usuário.
FG7 – Ausência de agrupamento de postagens de usuários nos blogs Local: Página inicial e menu lateral. Método: MIS (Classe 4)
Descrição: O sistema não faz agrupamento de postagens no blog por turma, sendo necessário que os
usuários deliberadamente associem suas postagens a uma tag (um texto) comum entre todos os alunos da
mesma turma. Dessa forma, os alunos podem ter dificuldade para ler as postagens dos colegas de turma, já
que a única forma de visualizar essas postagens é por meio de uma busca por tags. Ou seja, se o professor
não instruir os alunos sobre a necessidade de utilização de uma tag comum para a turma ou se o aluno não
associar sua postagem a essa tag, tanto o professor quanto outros alunos poderão não encontrar essa
postagem. O sistema não comunica esse fato, cabendo ao professor a responsabilidade de instruir os alunos.
Melhoria: Incluir busca por turma e organização de todas as
postagens de colegas que fazem parte da mesma turma.
Comunicar aos alunos sobre a utilidade e necessidade de
inclusão de tags.
Quadro 5. Problemas não intencionais do Moodle 2.0.2 da UFMG
Problema 1 - Mensagem ilegível ao confirmar a incorporação da imagem no corpo de texto do blog. O texto estava comprimido em uma caixa de diálogo muito pequena que
impedia sua leitura e a caixa de diálogo não tinha título.
Problema 2 - Alguns textos estavam em inglês, ou seja, não estavam na língua configurada para o Moodle - língua portuguesa.
Figura 6. Passos para incorporar uma imagem no corpo
do texto.