trabalho academico - entomologia

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A IMPORTÂNCIA DA ENTOMOLOGIA FORENSE NO BRASIL Marcelo Palhares Dutra MASP – 1229.260-3 Curso de Aperfeiçoamento Perito Criminal 6 o DEPARTAMENTO DE POLÍCIA CIVIL

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Descreve a entomologia forense, que é o estudo dos animais necrófagos e sua utilização na solução de crimes.

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Page 1: Trabalho Academico - ENTOMOLOGIA

A IMPORTÂNCIA DA ENTOMOLOGIA

FORENSE NO BRASIL

Marcelo Palhares Dutra

MASP – 1229.260-3

Curso de Aperfeiçoamento

Perito Criminal

6o DEPARTAMENTO DE POLÍCIA CIVIL

4ª DELEGACIA REGIONAL DE POLICIA CIVIL - CAMPO BELO - MG

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1. INTRODUÇÃO

Entomologia é uma palavra de origem grega – entomom: inseto, logos:estudo –

que significa a ciência que estuda os insetos e suas relações com o ambiente,

incluindo o homem e outros animais.Envolve estudos como identificação,

morfologia externa, função dos órgãos, ciclo reprodutivo, transmissão de

doenças, ciclo evolutivo.

A Entomologia Forense consiste no estudo de artrópodes - como insetos,

ácaros e outros – na solução de crimes que envolvam o cadáver humano

determinando, além da data da morte, outros fatores, como a remoção do

corpo, uso de entorpecentes, a manipulação de animais ou mesmo do próprio

autor.

Apesar de quase dois séculos, as pesquisas sobre a entomologia forense são

consideradas recentes, com crescente desenvolvimento científico relacionado

este assunto, devido à grande importância deste na elucidação dos fatos. A

primeira aplicação da Etimologia forense registrada ocorreu no século XIII, no

ano 1235, na China e está relatada no livro “The washing away of wrongs”,

escrito por Sung Tz’u. Em um caso de homicídio, em que um lavrador apareceu

degolado por uma foice, os lavradores da região foram obrigados a depositar

suas foices no solo, ao ar livre. Os investigadores observaram moscas que

sobrevoavam em torno de uma foice, atraídas por restos de material orgânico

aderidas a sua lâmina, invisíveis a olho nu. Ao interrogarem o proprietário do

objeto, este confessou a autoria do crime.

No século XIX, no ano 1885, o médico Bergeret D’Arbois utilizou-se da

observação das larvas e ovos de moscas presentes no corpo de uma criança

para estimar a data da morte desta. Ela havia sido encontrada oculta no piso

de um imóvel na França, coberta por uma capa de gesso. Pela estimativa

realizada por D’Arbois, foi provado que o crime havia sido cometido pelos

antigos moradores da residência e não pelos atuais, que haviam mudado há

poucos meses.

No século XVIII, Mégnin realizou um estudo publicado no livro “La Faune dês

Cadavres”, onde dividiu os insetos que colonizavam os cadáveres em oito

grupos distintos. Foi um marco na história da ciência forense, porém pouco

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aproveitado no Brasil, devido a diferença do clima europeu em relação ao

brasileiro. O clima tropical do Brasil acelera o processo de decomposição, além

de diferirem as espécies de ambas as regiões.

Na segunda metade do século XX, Leclerq publicou, em 1969, a obra

“Entomology and Legal Entomology” e posteriormente, em 1986, Smith

publicou o livro ”A Manual of Forensic Entomology”.

No Brasil, os pioneiros nas pesquisas da entomologia foram Roquete-Pinto e

Oscar Freire. Roquete, em 1908, publicou um estudo sobre a fauna cadavérica

no Rio de Janeiro e Oscar, em 1914 e 1923, publicou estudos sobre a fauna

cadavérica no Brasil. Esses autores realizaram o registro de diversos

exemplares da fauna de insetos necrófagos presentes na Mata Atlântica, ainda

bem preservada na época. O Brasil possui um bom número de especialistas na

área do estudo de moscas e besouros – principais no estudo da entomologia –

e outros grupos de animais associados ao processo de decomposição

cadavérica. Os estudos de Oscar Freire serviram de modelo para os estudos

atuais, especialmente a preocupação em trazer soluções às questões médico-

legais, principalmente ao problema da cronotanatognose, a estimativa do

tempo de morte. Outro ponto foi a distinção de técnicas a serem utilizadas no

Brasil e em outros países, devido a diferenças na entomofauna e no clima.

Além disso, cada bioma e fauna possui suas características regionais, fazendo-

se necessário o estudo das entofaunas regionais, principalmente de dípteros e

besouros e seus padrões de sucessão em cadáveres.

O estudo taxonômico dos insetos necrófagos é essencial para a Entomologia

Forense, porém são necessárias outras informações ecológicas e biológicas,

especialmente sobre o ciclo de vida desses.

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2. JUSTIFICATIVA

A Entomologia Forense em muitos casos é fundamental para a elucidação dos

fatos. Porém, ainda é muito pouco utilizada pelos órgãos de investigação no

Brasil para a elucidação de fatos. Isso se deve talvez pelo baixo número de

pesquisas, estudos e experimentos sobre o assunto.

A Entomologia Forense é conhecida por ser capaz de determinar o tempo

decorrido entre a morte e o encontro do cadáver. Porém, como será mostrado

neste trabalho, a partir dela podem ser determinadas diversas informações

sobre o fato, como o local onde este se deu, muito importante quando o autor

move o cadáver na tentativa de confundir a investigação, se houve a utilização

de substâncias tóxicas como venenos ou entorpecentes, além de permitir a

obtenção de material orgânico preservado do cadáver.

Ainda vale frisar que é muito importante o estudo da Entomologia no Brasil.

Não apenas no Brasil, mas em todas as suas regiões, já que se trata de um

país com grande extensão territorial composto por diversos relevos, climas,

fauna e vegetações. As espécies de animais necrófagos que agem no cadáver

variam de espécies e possuem diferentes tempos de desenvolvimento,

dependentes das características da região. Desta forma, os estudos europeus

e americanos não podem ser utilizados satisfatoriamente nos casos brasileiros.

Há assim uma necessidade de incentivos à pesquisa e técnicas de campo para

o desenvolvimento da Entomologia Forense, para que esta se torne cotidiana

na elucidação dos fatos e cumprimento da Justiça.

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3. OBJETIVOS

5.1 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo geral esclarecer como a ciência

emprega o comportamento dos insetos em cadáveres e sua importância para

auxiliar em investigações criminais.

5.2 Objetivos específicos

O presente trabalho tem como objetivo específico mostrar as principais

técnicas adotadas no estudo da Entomologia Forense e a necessidade de

incentivo e investimentos no estudo dessa matéria no Brasil, uma vez que a

grande maioria da literatura sobre o assunto foi escrita na Europa e EUA e o

clima e fauna destas regiões são incompatíveis com os encontrados na maior

parte do território brasileiro.

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4. METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão bibliográfica a procura de estudos sobre a

Entomologia, principalmente ligada a área forense. A partir destes, foram

destacadas as partes relevantes e confeccionado o atual trabalho, com a

importância da entomologia na área de investigação policial e a exposição de

técnicas a serem seguidas para a obtenção e análise das informações obtidas

a partir dela.

A pesquisa de literatura científica que abordava o tema foi realizada por meio

do site www.scholar.google.com, uma ferramenta disponibilizada pelo

GOOGLE que permite a pesquisa de artigos científicos. Também foram

realizadas pesquisas na biblioteca da Escola de Direito da UFMG na procura

de publicações.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Principais utilizações da Entomologia Forense

O estudo dos insetos auxilia nas investigações, identificando o cadáver, a

causa da morte, o lugar onde ocorreu e o intervalo pós-morte (IPM). Além

disso, pode auxiliar também na elucidação de maus tratos e tráfico de

entorpecentes. Para a estimativa do intervalo pós-morte é necessária a

observação das espécies necrófagas que utilizam a matéria orgânica em

decomposição para alimentação e ovoposição. Cada fase de putrefação atrai

um determinado grupo de insetos.

5.2 Local e data do fato

O estágio de desenvolvimento das larvas é um indicador do intervalo post

mortem, uma vez que as moscas chegam quase imediatamente após a morte.

É possível determinar onde ocorreu o fato. Basta ter um bando de dados com

as informações das espécies endêmicas de cada área, sejam urbanas ou

rurais. Assim, se alguém foi morto numa área e o cadáver levado para outra

região, numa tentativa de ocultação do local onde ocorreu o crime, as espécies

de moscas encontradas nos dirão.

5.3 Definição das espécies e o tempo de chegada

Como o comportamento dos insetos necrófagos varia entre as regiões, devido

a diferenças climáticas e da entomofauna, é exigido que se faça experimentos

utilizando um modelo animal, geralmente o porco, por sua semelhança com o

corpo humano. Desta forma, é possível identificar as várias espécies presentes

na região em questão e definir o período de decomposição que atrai cada uma

delas. Obtém-se assim as espécies presentes e o momento da chegada de

cada uma.

5.4 Métodos e Técnicas de coleta

A entomologia forense, como qualquer outra técnica de investigação pericial,

recorre aos vestígios encontrados no local onde foi encontrado o cadáver. “Os

vestígios constituem-se, pois em qualquer marca, objeto ou sinal sensível que

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possa ter relação com o fato investigado. A existência dos vestígios pressupõe

a existência de um agente provocador e suporte adequado para sua

ocorrência” [6]. Desta forma, além da correta análise destes, é necessária um

eficiente isolamento do local e a utilização de técnicas específicas para a coleta

dos vestígios. Caso contrário, haverá uma enorme imprecisão na determinação

dos elementos essenciais à investigação, como por exemplo, o tempo de

morte. O local deve ser idôneo, ou seja, devidamente isolado e preservado,

sem alterações, tal como foi deixado após a consumação do fato. As alterações

realizadas pelo autor de forma proposital, com o objetivo de prejudicar as

investigações não retira a qualidade de idoneidade do local.

Utiliza-se geralmente a cronotanatogenese para determinar o intervalo pós

morte. Este método depende de fatores extrínsecos e intrínsecos, tornando a

estimativa mais difícil, uma vez que a aparência do cadáver pode variar,

induzindo o perito ao erro. Lee Goff, por meio de pesquisas de

entomotoxicologia, comprovou que cadáveres com os mesmos intervalos de

pós-morte, colocados em ambientes diferentes, apresentavam diferentes

feições. Desta forma, a estimativa do tempo da morte desses seria bem

diferente, não fossem as técnicas de entomologia.

Devem ser observadas as técnicas a serem executadas para que não haja erro

no procedimento, com a correta preservação do local e coleta dos insetos e

demais dados necessários a análise.

Primeiramente, ao se chegar ao local do crime, deve-se realizar uma inspeção

visual e identificar os vestígios desses insetos. Em seguida, uma descrição e,

se possível, imagens fotográficas de tudo o que foi encontrado, como o tipo de

inseto, a fase do ciclo de desenvolvimento, o local do corpo onde houve a

ovoposição, o dia, a hora, o clima, o local – urbano ou rural, coberto ou

descoberto, área de sol ou sombra – e o tipo de vegetação presente. Diversos

fatores influenciam no processo de decomposição. Desta forma, é necessário

também registrar a temperatura do ambiente, do cadáver, do solo e da massa

de larvas.

Para a coleta das moscas, é utilizada uma rede entomológica comum,

popularmente conhecida como puçá. As moscas devem ser anestesiadas antes

de serem retiradas das redes. Utiliza-se acetato de etila ou éter como

anestésicos. As larvas e demais formas imaturas normalmente encontram-se

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nos orifícios naturais do corpo, bordas de feridas e lugares abrigados, como

nas axilas, cabelos e atrás da orelha. Com a utilização de uma pinça, a coleta

deve ser realizada com cuidado, evitando lesões e demais fatores que alterem

os vestígios. A coleta deve ser dos diversos locais do corpo e dos diversos

tamanhos presentes. Será dada preferência aos espécimes mais velhos para o

cálculo do IPM. Amostras do solo também devem ser coletadas embaixo do

cadáver e num raio de 5m. O solo deve revirado, devido a capacidade de

dispersão das larvas. As cores dos pupários devem ser registradas. Os

pupários vazios também devem ser coletados, pois indicam a emergência

recente de adultos.

5.5 Acondicionamento e Transporte

Depois de realizada a coleta, o material deverá ser enviado ao laboratório, para

as devidas análises. Os adultos devem ser conservados em álcool 70%, as

pupas em frascos com vermiculita, os ovos em placa petri com papel filtro

úmido e as larvas em frascos com vermiculita e carne moída (50% vivas) e as

demais devem ser mortas em água quente (70oC) e conservadas em álcool.

Todos os recipientes devem ser etiquetados, indicando o local do crime, o dia,

a hora e o número da ocorrência.

5.6 Procedimentos executados no laboratório

No laboratório, é realizado o exame de constatação do estágio e

desenvolvimento dos insetos pela verificação da forma das larvas, suas

características e sua identificação por especialistas ou por chaves específicas.

Também é realizada a pesquisa das amostras de solo, que é distribuído em um

recipiente e examinado, a procura de insetos. Utiliza-se também um funil

Bersele para o aquecimento do material que obriga a fuga dos insetos que

caem numa vasilha de álcool localizado abaixo do funil. Outro procedimento se

baseia na preparação das larvas para a criação, onde as larvas que acabaram

de eclodir são transferidas para outro recipiente, podendo ser potes plásticos,

contendo uma fonte de alimentos, podendo ser constituída de água, ágar em

pó, leite integral, levedo de cerveja e caseína, em quantias já determinadas ou

simplesmente carne moída. As larvas são colocadas no interior de um

recipiente contendo serragem umedecida no fundo e um tecido todo vazado

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recobrindo a superfície. Depois, depositados em um terceiro recipiente

contendo água com sabão para evitar a entrada de formigas. O

desenvolvimento dessas larvas deve ser monitorado continuamente a fim de se

observar se está havendo desidratação, se a quantia de alimento está sendo

proporcional à quantidade de larvas, se há pupários e se as condições

climáticas estão equivalentes à do local da morte, para a obtenção de um IPM

mais aproximado. Por fim, os insetos adultos são colocados em gaiolas de

criação, para permitir o inflar das asas, o endurecimento da cutícula, até que as

estruturas taxonômicas estejam visíveis. Já os insetos adultos coletados no

local da morte, são mortos através de congelamento ou de acetato de etila e

depois de analisados no microscópio, montados com alfinetes em forma de

insetário. A partir de então são construídas tabelas contendo o tempo utilizado

em todas as fases de desenvolvimento, a temperatura de criação, a

temperatura da cena da morte em que foi encontrado o cadáver até a

emergência dos insetos. Esses valores são empregados para avaliar a

temperatura em que as espécies estavam sujeitas, quando encontradas nos

corpos, podendo também determinar o tempo em que o cadáver permaneceu

exposto à atividade dos insetos, determinando o IPM.

5.7 Identificação

Primeiramente deve ser realizada a identificação das espécies entomológicas

presentes, seguido pela identificação da idade. Esta é calculada por meio do

comprimento larval, considerando o encurtamento sofrido pelo imaturo ao se

aproximar da pupa. Para isso é necessária a utilização de modelos

matemáticos, para diminuir o erro da idade larval. O entomologista deve

proceder à identificação por meio de comparação com outros insetos ou com o

auxílio de ilustrações. Identificação esta, que nem sempre se torna tão fácil,

pois as larvas coletadas ainda nos corpos nem sempre estão bem conservadas

e vivas, o que dificulta na hora da identificação. Para resolver este problema,

foram desenvolvidas chaves por estudiosos do assunto para todos os estágios

imaturos.

Grupos distintos de insetos se sucedem no cadáver durante sua

decomposição. No início desta, os tecidos corporais se tornam ácidos,

dificultando a alimentação por parte dos insetos, que passam a utilizá-los

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quando estes esses estão no estado alcalino. Nem todos os insetos que

colonizam os cadáveres se alimentam de tecidos decompostos, portanto

podem ser classificados em necrófagos (aqueles que se alimentam de tecidos

de corpos em decomposição, como por exemplo, alguns Dípteros, oleópteros e

Lepidópteros; os insetos omnívoros, que se alimentam dos corpos e da fauna

associada, como alguns Himenopteros e alguns Coleopteros).

Há também aqueles parasitas e predadores, que se aproveitam dos

colonizadores principais do cadáver e que se alimentam de insetos imaturos

necrófagos. Entre estes se destacam alguns Coleopteros, ácaros e

Dermápteros. Há também os animais acidentais, que se localizam no cadáver

pois o local onde este se encontra faz parte de seu habitat natural.

Easton e Smith realizaram uma experiência para a comparação de sucessão

da fauna necrófaga. Foram utilizadas três diferentes situações: exposição ao

ar, à água e enterrado. Foi verificado que a quantidade de espécies

apresentava uma maior relação com o tipo de ambiente do que com os

estágios de decomposição do cadáver.

5.8 Análise Molecular

O estudo morfológico da fauna necrófaga juntamente com a análise dos

estudos do processo de decomposição e ciclo de vida de insetos, são

essenciais para a exatidão das estimativas do intervalo pós-morte. Uma

identificação exata é muito importante para a eficácia de análises nas perícias

médico-legais, pois uma inadequada identificação pode prejudicar uma

investigação, induzindo a justiça ao erro. Entretanto nem sempre é possível

realizar a correta identificação, como por exemplo, quando os insetos se

encontram na fase imatura ou quando apresentam características morfológicas

muito parecidas. Nesse caso além de um especialista bem treinado são

necessárias outras formas de identificação para a obtenção de um melhor

resultado, como a análise molecular.

A análise molecular das espécies pode ser realizada de duas maneiras: por

análise de restrição ou por comparação com seqüências de genes já

disponíveis em um banco de dados como o GenBank (banco de dados onde se

encontram depositadas as seqüências gênicas de diversos organismos), visto

que a segunda maneira é mais eficaz, porém necessita de mais trabalho e

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custos. A análise molecular de insetos tem contribuído muito para a

entomologia, não somente nos casos de difícil identificação, mas também na

inovação do conhecimento. Esta análise se tornou possível devido à evolução

das técnicas, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e por uma melhor

compreensão de muitos grupos de genes, como por exemplo, o DNA

mitocondrial e ribossomal. Os benefícios que a PCR proporciona à entomologia

não se restringem a exatidão da identificação do animal. A partir de somente

fragmentos do corpo do inseto como exúvias, é possível a realização da

identificação do inseto, além da vantagem de que com uma quantidade mínima

de DNA, podem ser obtidas muitas informações importantes sobre a espécie. A

técnica de PCR pode ser combinada a outras técnicas, como ao PCR-RFLP

(polimorfismo por comprimento do fragmento de restrição). Esta combinação é

utilizada para detecção de polimorfismo entre indivíduos, baseada nas

diferenças de tamanho dos fragmentos de restrição do DNA. Esta técnica

permite uma execução mais rápida e fácil e ainda proporciona a redução de

custos.

5.9 Padrão de sucessão de insetos em cadáveres

Mégnin, em 1984, partir da observação do padrão de sucessão de insetos em

cadáveres, verificou quais eram as famílias de insetos, as espécies, a fase de

decomposição em que se encontrava o corpo e por fim o tempo referente à

decomposição. A partir desta pesquisa os pesquisadores do assunto dividiram

a sucessão em estágios, destacando a fauna, as fases e o tempo de

decomposição, variando em relação ao número.

5.9.1. Exposição ao ar

Bornemissza reconheceu cinco estágios diferentes de decomposição:

1. A fase inicial, entre o primeiro e segundo dia;

2. A fase de putrefação, do segundo ao décimo dia;

3. A fase de putrefação negra, do décimo segundo ao vigésimo dia;

4. A fase de fermentação butírica, do vigésimo ao quadragésimo dia;

5. A fase seca, do quadragésimo dia em diante.

Foi então estabelecido o tempo de surgimento de cada uma das diferentes

espécies no cadáver, de acordo com o estágio de decomposição, constatando

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que as espécies pioneiras desapareceram antes das últimas chegarem ao

processo, além de afirmar que a fauna original do solo desaparece quase

totalmente quando os insetos necrófagos estão em atividade. Desta forma, na

prática, essa averiguação pode ser empregada para localizar onde o corpo

estava antes de ser removido.

5.9.2. Enterrado

Somente em alguns casos são encontrados insetos em corpos enterrados, pois

a postura de ovos é feita somente antes de o corpo ser enterrado. Porém, há

exceções. Insetos podem penetrar o solo conseguindo alcançar o cadáver

(insetos, como os membros da família Phoridae, conseguem atingir cinqüenta

centímetros de profundidade em quatro dias) e moscas Muscina spp, atraídas

pelo odor do cadáver, depositam seus ovos na superfície do solo e suas larvas

seguem em direção à carcaça.

5.9.3. Exposição a água

O único estudo realizado até hoje sobre a sucessão de insetos submersos, foi

desenvolvido em 1989 por Haskell e seus colaboradores, que pesquisaram a

possibilidade de espécies como dípteros Chironomidae, capazes de colonizar

corpos submersos, para estimar o tempo de submersão. A estimativa do

intervalo de submersão foi realizada através da análise de alguns

comportamentos como do ciclo de vida e da construção de estruturas no

substrato. Em se tratando de estudos em ambientes aquáticos, alguns

problemas surgem devido ao fato de não haver insetos puramente sarcófagos

que sejam comparáveis aos terrestres. Existem somente insetos sarcófagos

facultativos, ou seja, não existe uma fauna especial de interesse forense em

ambiente aquático.

5.10 Armazenamento e preservação do material no sistema digestivo da Chrysomia albiceps

A mosca Chrysomia albiceps, conhecida popularmente por varejeira, é um dos

insetos atraídos por material em decomposição. Ela possui um sistema

digestório compartimentalizado e no primeiro compartimento os tecidos

ingeridos não sofrem influência de enzimas digestivas, permanecendo

preservados. Este material será exclusivamente do cadáver e pode ser

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coletado para análise. Pode ser utilizado para identificação do cadáver, por

meio do exame de DNA. Esses animais costumam se alojar e depositar seus

ovos nos orifícios naturais do corpo, como o ânus e a vagina. Assim, podem

ser essenciais para solucionar um crime de estupro seguido de morte, pois se

houver sêmen nessas regiões, este estará armazenado e preservado na

primeira seção digestiva.

5.11 Relação com a toxicologia

A entomologia forense também pode auxiliar na análise relacionada à

toxicologia. A entomotoxicologia estuda a aplicação dos insetos necrófagos na

análise toxicológica a fim de identificar drogas, toxinas e entorpecentes

presentes em um tecido e também o efeito causado por estas substâncias no

desenvolvimento dos artrópodes, aumentando a precisão na estimativa de

morte. O aumento de mortes relacionadas à overdose, principalmente de

heroína e cocaína, ou ainda mortes ligadas ao consumo acidental ou proposital

de venenos ou substâncias tóxicas, justifica o grande interesse por esse novo

ramo da medicina forense. A utilização dos insetos, mesmo que o cadáver se

encontre em estado de decomposição ou inexistam elementos necessários

para a realização do exame, é possível, pois os mesmos mantêm uma relação

direta com o cadáver ou com a carcaça, impossibilitando uma contaminação,

estabelecendo um resultado mais preciso. Desta forma, as larvas encontradas

no cadáver decomposto, podem ser de grande importância não apenas para

estimar o IPM, mas também para identificar os tipos de substâncias presentes.

Para uma análise toxicológica é mais vantajoso utilizar as larvas do que tecidos

de um cadáver, pois assim como dípteros e coleópteros utilizam os tecidos

humanos intoxicados, como alimento inserindo em seu metabolismo drogas e

toxinas, além de ser de fácil coleta as larvas ainda possuem menos

contaminantes. Mesmo com a aplicação eficaz dos insetos em exames

toxicológicos, se faz necessário determinar o efeito das substâncias no

desenvolvimento dos mesmos. Os dípteros da família Calliphoridae e

Sarcophagidae, popularmente conhecidos como varejeiras são freqüentemente

envolvidos, na estimativa do intervalo pós-morte, pelo fato de serem velozes e

os primeiros a chegarem na carcaça. Desse modo cada vez mais os insetos

apresentam o melhor recurso para as diversas análises concernentes à

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investigações médico-criminais, e podem ser utilizados em vários casos, a

saber, se as amostras não estiverem mais disponíveis devido à decomposição

ou esqueletização; casos em que a família não permita a retirada de sangue

por princípios religiosos ou ainda em virtude do tempo para disponibilização

das amostras, o material pode se decompor.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Entomologia Forense apesar de ser uma nova ciência, com seus primórdios

no século XIII, possui grande importância no auxilio a área criminal, por meio

do estudo do desenvolvimento de certos artrópodes (principalmente insetos)

que colonizam cadáveres, especialmente dípteros, que podem fornecer

informações importantes para determinação, por exemplo, do intervalo post

mortem, que em muitos casos é fundamental para a elucidação dos fatos.

No Brasil, só atualmente a entomologia forense está começando a ser

valorizada, consolidando-se graças a pesquisas desenvolvidas, embora essa

técnica possua grande importância para investigações médico-legais e policiais

nos EUA. Essa evolução é muito importante, pois os trabalhos realizados

nesses países não podem ser aproveitados em sua complementaridade no

Brasil, uma vez que as condições climáticas influenciam à fauna necrófaga

local, sendo que variam de acordo com a localização geográfica.

Apesar da aplicação da Entomologia Forense ainda não ser efetivamente

utilizada pelas autoridades policiais em todo o Brasil, ela vem crescendo,

devido a sua eficácia, tanto na investigação de mortes violentas, como

homicídio ou suicídio e mortes ocasionadas pela ingestão de drogas e/ou

outras substâncias tóxicas. Há ainda a possibilidade de se averiguar evidências

do cadáver através de análises no organismo do animal, como a presença de

entorpecentes. A importância destes estudos é clara, mostrando que é um

grande campo a ser pesquisado e desenvolvido, uma vez que há poucos

trabalhos publicados neste âmbito. O estudo da Entomologia Forense é uma

importante ferramenta nas investigações médico-criminais e sua consolidação

no Brasil ainda depende de um ponto importante: a interação dos trabalhos e

pesquisas dos acadêmicos com a realidade da demanda da polícia judiciária.

Page 17: Trabalho Academico - ENTOMOLOGIA

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7. REFERENCIAL

[1] MIRANDA, Guilherme Henrique Braga. Coleta de Amostras de

Insetos Para Fins Forenses. Brasília/DF, 2006.

[2] HOMERO, Vilma. Sherlocks da natureza: insetos ajudam a

desvendar crimes. Rio de Janeiro/RJ, 2010.

[3] PUJOL-LUZ, José Roberto, ARANTES, Luciano Chaves,

CONSTANTINO, Reginaldo. Cem anos da Entomologia Forense no

Brasil (1908-2008). Brasilia/DF, 2008.

[4] Fischer, M. Taxonomische Untersuchungen an neotropischen

Alysiini, besonders solchen aus dem British Museum. Londres,

1975.

[5] SANTOS, Daiane Simões; PIVATO, Leandro Silva. Entomologia

Forense: Insetos Associados à Investigações Médicocriminais.

UNINGÁ REVIEW, 2010, no04, p. 75-85

[6] APOSTILA, Crimes Contra a Vida, Acadepol – Polícia Civil de Minas

Gerais.

[7] CRUZ, Morais Tadeu, VASCONCELOS, Simão Dias,

ENTOMOFAUNA DE SOLO ASSOCIADA À DECOMPOSIÇÃO

DE CARCAÇA DE SUÍNO EM UM FRAGMENTO DE MATA

ATLÂNTICA DE PERNAMBUCO, Porto Alegre/RS, dez. 2006.

[8] FRASSON, L. P., ROSSI, J. L., LEITE, F. L. G., A história da

Entomologia Forense e sua importância na elucidação de

questões judiciais.ESFA, 2006.