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SERVIO SOCIAL
________________________________________________________
ANDRIA REGINA LOPES DE SOUSA
CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS DO MUNICPIO
DE ASSIS CHATEAUBRIAND - PR: PROJETOS EMBALANDO O BERO E
NS E NOSSOS FILHOS A VISO DOS USURIOS
TOLEDO
2014
http://www.unioeste.br/
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ANDRIA REGINA LOPES DE SOUSA
CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS DO MUNICPIO
DE ASSIS CHATEAUBRIAND - PR: PROJETOS EMBALANDO O BERO E
NS E NOSSOS FILHOS A VISO DOS USURIOS
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao
Curso de Servio Social, Centro de Cincias
Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do
Oeste do Paran UNIOESTE, como requisito
parcial obteno do grau de Bacharel em Servio
Social.
Orientadora: Profa. Ms. India Nara Smaha
TOLEDO
2014
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ANDRIA REGINA LOPES DE SOUSA
CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS DO MUNICPIO
DE ASSIS CHATEAUBRIAND - PR: PROJETOS EMBALANDO O BERO E
NS E NOSSOS FILHOS A VISO DOS USURIOS
Trabalho de Concluso de Curso apresentado
ao Curso de Servio Social, Centro de
Cincias sociais aplicadas da Universidade
Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE,
como requisito parcial obteno do grau de
Bacharel em Servio Social.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Orientadora Profa. Ms. India Nara Smaha
Universidade Estadual do Oeste do Paran
_________________________________________
Profa. Ms. Ane Brbara Voidelo
Universidade Estadual do Oeste do Paran
________________________________________
Profa. Ms. Cristiane Carla Konno
Universidade Estadual do Oeste do Paran
Toledo, 07 de novembro de 2014.
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Dedico este trabalho minha famlia.
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeo a Deus, pelo dom da vida e por seu infinito amor.
Aos meus pais Joaquim Augustinho de Sousa e Leonice de Ftima Lopes de Sousa,
meus exemplos e minha fortaleza, pelos seus esforos e dedicao, por me incentivarem a
nunca desistir e sim a continuar a lutar sempre. Agradeo a eles de todo meu corao por tudo
o que fizeram e continuam fazendo por mim. As minhas irms e meus familiares que mesmo
com a distancia e dificuldades, sempre me incentivaram a continuar.
Agradeo aos meus avs maternos Sebastiana e Antnio e meus avs paternos
Mariana e Jos Augustinho pelo carinho recebido e pelo grande incentivo.
Ao Diego que alm de namorado, um grande amigo, o qual sempre foi compreensivo
me auxiliando sempre que possvel e me incentivando desde o incio.
As minhas amigas Andria Guimares, Camila Koeche e Alcione Alves, pessoas que
aprendi a amar e a construir laos eternos. Obrigada pelos momentos de estudos, brincadeiras
e cumplicidade. Agradeo pela pacincia, pelo sorriso, pelo abrao, pela mo que sempre
esteve estendida quando necessitei. Esta caminhada no seria a mesma se no fosse vocs
minhas amigas.
Agradeo aos docentes do curso de Servio Social da Unioeste que dividiram
conhecimentos e puderam colaborar para que mais pessoas pudessem olhar o mundo com
outros olhos e lutar para transform-lo em um lugar mais igual para todos. Especialmente as
professoras Ane Brbara e Cristiane por aceitarem a participar da minha banca.
A voc professora India Nara por ter aceitado orientar-me. Obrigada pela pacincia
durante o processo de construo deste trabalho, pela dedicao e me mostrar o percurso para
chegar ao final. Obrigada por partilhar seus conhecimentos, e tenha certeza que o resultado do
que dividiste comigo no est somente nas palavras que compe este trabalho, mas est
registrado na construo terica e postura tica que terei como futura profissional.
Ao meu supervisor de campo Ederson dos Santos Izeli, pela compreenso e pelos ricos
conhecimentos e experincias transmitidas. A assistente social Maria Ap. Tamparowisk e a
psicloga Silvana por me incentivarem acerca da temtica e por me propiciarem as
informaes necessrias para a concluso desta pesquisa.
Agradeo a todas as mulheres do municpio de Assis Chateaubriand, que se depuseram
a participar das entrevistas para a realizao deste trabalho. Enfim, agradeo a todas as
pessoas que passaram em minha vida e deixaram ensinamentos, lembranas e que
contriburam de diferentes maneiras para a realizao deste trabalho e concluso deste curso.
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"Quando a gente muda, o mundo muda com a gente,
e agente muda o mundo com a mudana da mente,
na mudana de atitude no h mau que no se
mude, nem doena sem cura, na mudana de
atitude a gente fica mais seguro, na mudana do
presente a gente molda o futuro..."
(Gabriel o Pensador).
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SOUSA, Andreia Regina Lopes. Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS do
Municpio de Assis Chateaubriand - PR: Projetos Embalando o bero e Ns e nossos
filhos a viso dos usurios. Trabalho de Concluso de Curso (Bacharelado em Servio
Social). Centro de Cincias Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paran
Campus Toledo, 2014.
RESUMO
No atual contexto da Poltica de Assistncia Social brasileira, em seu nvel de Proteo Social
Bsica, tem-se como importante ferramenta o Centro de Referncia de Assistncia Social
(CRAS), que significa um avano para a poltica e o seu reconhecimento enquanto direito.
Contudo, compreende-se que esta unidade estatal assim como a Poltica de Assistncia Social
possuem limites que so estruturais ao modo de produo capitalista. O presente Trabalho de
Concluso de Curso (TCC) tem como temtica a Poltica de Assistncia Social. O interesse
pela temtica surgiu no decorrer do perodo de realizao do Estgio Supervisionado I e II em
Servio Social realizado no CRAS do municpio de Assis Chateaubriand - PR, nos anos de
2013 e 2014. O trabalho tem como problema central a pergunta: Por que algumas mulheres
usurias dos servios do CRAS do municpio de Assis Chateaubriand que frequentaram o
projeto Embalando o bero no frequentam o projeto Ns e nossos filhos?. Diante deste
questionamento delimitou-se como objetivo geral da pesquisa analisar os motivos que
levaram as mulheres que frequentaram o projeto Embalando o bero no perodo de junho de
2012 a junho de 2013 no frequentarem o projeto Ns e nossos filhos, ambos oferecidos
pelo equipamento CRAS. Como objetivos especficos definiu-se: a) apresentar a legislao
que ampara a aplicao da Poltica de Assistncia Social no Brasil; b) sistematizar por meio
dos documentos a implantao do CRAS do municpio de Assis Chateaubriand e c) apresentar
os projetos Embalando o bero e Ns e nossos filhos. Para atingir tais objetivos, a pesquisa
pauta-se na abordagem qualitativa, com carter exploratrio. A construo do referencial
terico d-se a partir do levantamento bibliogrfico e documental com pesquisa de campo.
Para a pesquisa de campo foi utilizada a tcnica da entrevista e como instrumento o
formulrio de entrevista com questes semiestruturadas. O Universo dessa pesquisa
compreende todas as mulheres cadastradas no projeto Embalando o bero no perodo
estabelecido. Os resultados da pesquisa apontam que h evaso no projeto a partir de
justificativas plausveis dos sujeitos tendo em vista a condio de vida dessas famlias, como
trabalho, filhos e demais atividades domsticas. No entanto para alm dessas justificativas,
observou-se que esses sujeitos ainda se encontram em processo de negao da Poltica de
Assistncia Social como um direito, o que tambm justifica a evaso do projeto.
Palavras Chave: Poltica de Assistncia Social, CRAS e Assis Chateaubriand.
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LISTA DE SIGLAS
BE Benefcios Eventuais
BPC Benefcio de Prestao Continuada
CF Constituio Federal
CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social
CMAS Conselho Municipal de Assistncia Social
CRAS Centro de Referncia de Assistncia Social
CIT Comisso Integradora Tripartite
CEAS Conferncia Estadual de Assistncia Social
CEP Comit de tica em Pesquisa
DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmico
FEAS Fundo Estadual de Assistncia Social
IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social
LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social
MDS Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome
NOB Norma Operacional Bsica
NOB/SUAS Norma Operacional Bsica/ Sistema nico de Assistncia Social
NOB/RH/SUAS Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos do Sistema nico de
Assistncia Social
PNAS Poltica Nacional de Assistncia Social
PNAA Programa Nacional de Acesso a Alimentao
PAIF Programa de Ateno Integral a Famlia
PROVOPAR Programa de Voluntariado do Paran
SAS Secretaria de Assistncia Social
SEDS Secretaria de Estado da Famlia e Desenvolvimento Social
TCC Trabalho de Concluso de Curso
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran
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SUMRIO
RESUMO ................................................................................................................................... 6
LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. 7
INTRODUO ........................................................................................................................ 9
1 POLTICAS SOCIAIS: DEBATES E EMBATES PARA IMPLANTAO E
IMPLEMENTAO DA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL ........................... 11
1.1 SERVIO SOCIAL: UMA DAS PROFISSES QUE VISAM RESPONDER AS
DEMANDAS DA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL............................................14
1.2 A POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL PS CONSTITUIO FEDERAL DE
1988.. ................................................................................................................................... 18
1.2.1 A descentralizao da Poltica de Assistncia Social ................................................. 31
2 O MUNICPIO DE ASSIS CHATEAUBRIAND E A POLTICA DE
ASSISTNCIA SOCIAL .................................................................................................... 36
2.1 CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS NO
MUNICPIO DE ASSIS CHATEAUBRIAND: ESPAO EM CONSTRUO ............. 39
2.2 PROJETOS, AES E SERVIOS RELACIONADOS A PROTEO SOCIAL
BSICA NO CRAS DO MUNICPIO .............................................................................. 45
2.2.1 Projetos Embalando o beroe Ns e nossos filhos .............................................. 46
3 DOS PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ANLISE DOS DADOS:
MAIOR APROXIMAO COM O TEMA ..................................................................... 50
3.1 ANLISE DOS DADOS DA PESQUISA: O QUE FALAM OS SUJEITOS .................. 53
3.1.1 Apresentao dos sujeitos da pesquisa ........................................................................ 53
3.2 AS ENTREVISTADAS RESPONDEM SOBRE OS PROJETOS EMBALANDO
O BERO E NS E NOSSOS FILHOS ...................................................................... 56
3.3 POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL NA COMPREENSO DOS USURIOS ...... 58
3.3.1 EIXO 1: A concepo da Poltica de Assistncia Social ............................................. 58
3.3.2 EIXO 2: A representao do Assistente Social no CRAS do municpio de
Assis Chateaubriand...................................................................................................... 63
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................. 66
REFERNCIAS...................................................................................................................... 69
APNDICES ........................................................................................................................... 75
ANEXOS.................................................................................................................................. 82
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INTRODUO
A Poltica de Assistncia Social brasileira tem seu marco na Constituio Federal de
1988 (CF/1988), onde a partir desta obtm pela primeira vez o carter de poltica pblica,
tornando-se um direito no contributivo e dever do Estado garanti-la a quem necessitar. A
partir da CF/1988, a Poltica de Assistncia Social aponta para o distanciamento da lgica do
favor e da caridade geralmente ligada a Igreja e instituies filantrpicas.
A partir desse marco a Poltica de Assistncia Social ganha novos
redimensionamentos, tendo como base a criao da Lei Orgnica de Assistncia Social
(LOAS) em 1993 visando o enfrentamento da pobreza, a universalizao dos direitos sociais,
e estabelecendo uma relao integrada com outras polticas setoriais.
Contudo, embora a Assistncia Social tenha ganhado status de poltica pblica de
direito ao cidado e dever do Estado, o perodo histrico no foi muito favorvel. As dcadas
de 1980 e 1990 so marcadas no Brasil pelo avano do neoliberalismo, modelo este de Estado
que subordinam as Polticas Sociais aos ajustes econmicos, com a proposta de um Estado
mnimo para o social e mximo para o capital, se constituindo um entrave para o
reconhecimento da Poltica de Assistncia Social como direito. Mediante a esse contexto,
somente em 2004 com a constituio da nova Poltica Nacional de Assistncia Social
(PNAS), e o Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) em 2005, que a Assistncia Social
teve possibilidade de ampliao na direo da universalizao dos direitos socioassistenciais.
No atual contexto da Poltica de Assistncia Social brasileira, em seu nvel de Proteo
Social Bsica destinada a populao que vive em vulnerabilidade social, tem-se uma
importante ferramenta para o acesso a essa poltica, sendo este o Centro de Referncia de
Assistncia Social (CRAS), que deve ser localizado em reas de vulnerabilidade social,
possuindo a funo da oferta pblica do trabalho social com famlias e indivduos tendo como
carro chefe para suas aes o Programa de Ateno Integral a Famlia (PAIF).
No municpio de Assis Chateaubriand - PR, o CRAS oferta por meio do PAIF servios
para famlias e indivduos em situao de vulnerabilidade social, buscando realizar o
atendimento integrado famlia no conjunto das necessidades bsicas promovendo o acesso
aos direitos sociais. Destaca-se aqui entre os projetos que so realizados no CRAS do
municpio, os projetos Embalando o bero e Ns e nossos filhos.
Diante disso, a pesquisa tem como temtica a Poltica de Assistncia Social. Para
responder ao problema da pesquisa, qual seja: Por que algumas mulheres usurias dos
servios do CRAS do municpio de Assis Chateaubriand que frequentaram o projeto
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Embalando o bero no frequentam o projeto Ns e nossos filhos? elencou-se como
objetivo geral: analisar os motivos que levaram as mulheres que frequentaram o projeto
Embalando o bero no perodo de junho de 2012 a junho de 2013 no frequentarem o
projeto Ns e nossos filhos, ambos oferecidos pelo CRAS. Para atender a esta meta foi
eleito como objetivos especficos: a) apresentar a legislao que ampara a aplicao da
Poltica de Assistncia Social no Brasil b) sistematizar por meio dos documentos a
implantao do CRAS do municpio de Assis Chateaubriand e; c) apresentar os projetos
Embalando o bero e Ns e nossos filhos. O interesse em realizar tal pesquisa deve-se a
alguns fatores: primeiro, o interesse em estudar a Poltica de Assistncia Social, surgiu da
vivncia desta acadmica ao se inserir no campo de Estgio Supervisionado em Servio
Social I e II, no CRAS do municpio de Assis Chateaubriand durante o perodo de 2013 a
2014; segundo, por estar envolvida no projeto Ns e nossos filhos oferecido pelo CRAS do
municpio e terceiro por perceber a dificuldade de algumas mulheres que frequentaram o
projeto Embalando o bero, em continuarem frequentando o projeto Ns e nossos filhos
considerando que este uma continuao do primeiro.
Com o intuito de tornar mais clara a apresentao dos contedos deste trabalho, bem
como as formas adotadas para se chegar a sua exposio, apresenta-se a organizao dos
captulos: no primeiro captulo apresenta-se um breve histrico acerca do processo que
originou as Polticas Sociais, com enfoque na Poltica de Assistncia Social ps Constituio
Federal de 1988 considerando o avano dos ideais neoliberais e alguns documentos que a
normatizam a partir da exposio de aspectos centrais de algumas legislaes que amparam a
aplicao da Poltica de Assistncia Social, bem como apontamentos da Poltica de
Assistncia Social no estado do Paran, a partir do contexto de descentralizao. No segundo
captulo buscou-se apresentar o processo de implantao da Poltica de Assistncia Social no
municpio de Assis Chateaubriand - PR, tendo como enfoque principal a institucionalizao
do CRAS. Para isso foi necessrio revisar algumas leis municipais que amparam a construo
da Poltica de Assistncia Social no municpio, alm de Atas do Conselho Municipal de
Assistncia Social (CMAS) no perodo compreendido entre 2006 a 2012.
E no terceiro captulo, busca-se apresentar os procedimentos metodolgicos da
pesquisa e o resultado da pesquisa de campo, as entrevistas sistematizadas, separadas por
eixos para facilitar a compreenso do leitor. Para finalizar o trabalho, apresenta-se as
consideraes finais.
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1 POLTICA SOCIAL: DEBATES E EMBATES PARA IMPLANTAO E
IMPLEMENTAO DA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL
As Polticas Sociais1 foram construdas historicamente, mais precisamente na evoluo
do capitalismo, estando relacionadas ao processo de formao do Estado como tambm das
lutas de classes a partir de um contexto onde a classe trabalhadora comea a reivindicar por
seus direitos e consequentemente por maior interveno estatal. Porm, para entender como as
Polticas Sociais funcionam no Brasil necessrio saber por que ou para que foram criadas.
Assim, cabe contextualizar que o Estado neoliberal, capitalista-burgus e democrtico,
(modelo atual) passou por inmeras mudanas ao longo da histria como transformaes
sociais, econmicas, culturais e polticas. Tem como marco inicial a passagem do feudalismo2
para o capitalismo, pois at ento, quem detinha todo o poder da terra e domnio dos
camponeses eram os senhores feudais.
Com a migrao do homem do campo para as cidades em busca de trabalho tem-se um
aumento considervel da misria, uma vez que esses trabalhadores so obrigados a viver em
condies mnimas de vida, pois com o crescimento das cidades so obrigados a viver em
pequenos cortios que no garantem nenhuma condio digna de vida. Associado a esse fator
tem-se a expanso do comrcio, segundo Netto e Braz, a terra comea a ser objeto de
transio mercantil e a prestao de trabalho comea a ser paga atravs do dinheiro o que
consequentemente possibilita uma maior movimentao do comrcio. no interior dessas
relaes que um grupo social comea a ganhar importncia crescente: o dos
comerciantes/mercadores, representantes do capital mercantil [...] movidos por um nico
objetivo, o lucro [...]. (NETTO; BRAZ, 2010, p.70, grifo dos autores).
A partir dessas relaes, a sociedade divide-se em duas classes antagnicas: de um
lado a burguesia que detm os meios de produo e a acumulao privada do capital e de
outro a classe trabalhadora que vende sua fora de trabalho e explorada. Esses e outros
fatores contriburam para que houvesse o enfraquecimento do modelo feudal, possibilitando a
mudana para o modo de produo capitalista com uma nova forma de poder poltico, voltado
1 [...] Enquanto interveno do Estado burgus no capitalismo monopolista, a poltica social deve constituir-se
necessariamente em polticas sociais: as sequelas da questo social so recortadas como problemticas
particulares (o desemprego, a fome, a carncia habitacional, o acidente de trabalho, a falta de escolas, a
incapacidade fsica etc) e assim enfrentadas [...]. (NETTO, 1992, p.28, grifos do autor). 2 O feudalismo encontrou-se plenamente estruturado na Europa por volta do sculo XI, com suas caractersticas
principais inteiramente definidas: uma classe dos produtores diretos, os servos, que j ento gerava um excedente
agrcola significativo, expropriado pelos senhores feudais, classe parasitria dedicada especialmente caa e a
guerra. Mas, paralelamente, mantinha-se a produo para a troca (isto produo de mercadorias), centrada no
trabalho artesanal [...]. (NETTO; BRAZ, 2010, p.69).
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a atender aos interesses da burguesia e assegurar a manuteno do poder das classes
dominantes sobre a massa dos trabalhadores. (NETTO; BRAZ, 2010).
De acordo com os autores acima, com a evoluo deste novo modelo de sociedade3
que se caracteriza por diversas transformaes, fundando-se na explorao do trabalho, o
Estado guiado pelos interesses da classe dominante, ou seja, a burguesia. Com a
intensificao do capitalismo no Brasil (perodo da Revoluo Industrial em 1930), tem-se um
grande aumento das desigualdades sociais que so resultantes dessa contradio entre capital
e trabalho4, evidenciando-se assim as expresses da questo social5 explicitando a fome, a
falta de moradia, a violncia, o desemprego, entre outras.
Segundo Netto, a questo social6 parte constitutiva do desenvolvimento do
capitalismo, [...] diferentes estgios capitalistas produzem diferentes manifestaes da
questo social [...] sua existncia e suas manifestaes so indissociveis da dinmica
especfica do capital [...]7. (NETTO, 2001, p.45).
Assim, enquanto parte constitutiva das relaes sociais capitalistas, sendo
indissocivel do processo de acumulao e dos rebatimentos desse processo diante a classe
trabalhadora, a questo social apreendida como conjunto das expresses das
desigualdades sociais e para seu enfrentamento requer reivindicao por parte da classe
trabalhadora diante as necessidades postas, como tambm a interveno do Estado.
(IAMAMOTO, 2001). Ainda segundo a autora, a questo social tem seu incio no carter
3 importante ressaltar que, segundo Netto e Braz (2010), o capitalismo ao longo de sua existncia constitudo
pela mobilidade e transformao. Sua evoluo resultado da intercorrncia do desenvolvimento das foras
produtivas, de alteraes na economia, de inovaes tecnolgicas e organizacionais e de mudanas polticas e
culturais que envolvem as classes sociais. Capital relao social, mutvel, transformvel. movimento,
dinamizado pelas suas contradies. 4 Para que os donos dos meios de produo tenham cada vez mais lucro os trabalhadores devem trabalhar
dobrado, com menores salrios e em condies cada vez mais precrias. 5 Antes de 1930, portanto, a questo social no aparecia no discurso dominante seno como fato excepcional e episdico, no porque no existisse j, mas porque no tinha condies de se impor como questo inscrita no
pensamento dominante. (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 59). 6 A expresso questo social permanece entre aspas, pois: [...] uma das resultantes de 1948 foi a passagem,
em nvel histrico-universal, do proletariado da condio de classe em si a classe para si. As vanguardas
trabalhadoras acenderam, no seu processo de luta, a conscincia poltica de que a questo social est
necessariamente colada sociedade burguesa: somente supresso deste conduz supresso daquela. A partir da,
o pensamento revolucionrio passou a identificar, na prpria expresso questo social, uma tergiversao
conservadora, e a s empreg-la indicando este trao mistificador (NETTO, 2001, p. 44-45). Partilhando da
ideia de Netto, utilizada aspas na expresso questo social, para indicar a anlise da questo social na
perspectiva crtica, diferenciando-a do pensamento conservador. 7 Segundo Braz e Netto (2010), o capitalismo passa por diferentes estgios. Apresenta-se como estgio inicial o
capitalismo comercial ou mercantil que comea com a acumulao primitiva e vai at a acumulao de
mercadorias mediante o estabelecimento da manufatura, perodo datado entre o sculo XVI at meados do sculo
XVIII. Na segunda metade do sculo XVIII ingressa-se um novo estgio, o capitalismo concorrencial ou
conhecido tambm como liberal ou clssico que vai at o ltimo tero do sculo XIX, marcado pelas amplas
possibilidades de negcios que se abriam para os pequenos e mdios capitalistas. Entre os fins do sculo XIX e
os primeiros anos do sculo XX, tem-se o grande capital, conhecido como capital monopolista. Com a fuso
dos capitais monopolistas industriais e os bancrios constitui-se o terceiro estgio capitalista, o imperialista.
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coletivo da produo, inseparvel do surgimento do trabalhador livre [...] que depende da
venda de sua fora de trabalho como meio de satisfao de suas necessidades vitais [...].
(IAMAMOTO, 2001, p.17) encontrando-se desta forma intimamente ligada ao avano do
capitalismo o qual possui suas bases na explorao da mo-de-obra visando acumulao do
capital.
Diante desses fatores, surgem vrios movimentos e reivindicaes por parte da classe
explorada, ou seja, a classe trabalhadora, por melhores condies de vida e trabalho. Assim,
com o objetivo de controlar essas reivindicaes, buscando responder as expresses da
questo social, atender os interesses do capitalismo e tambm como estratgia de trazer a
massa para o seu lado, controlando-os e mantendo a ordem, o Estado cria as Polticas Sociais,
fragmentadas e setoriais. (NETTO, 1992).
Partilhando da ideia de Vieira, que expe que a Poltica Social pode ser entendida
como [...] uma maneira de expressar as relaes sociais cujas razes se localizam no mundo
da produo [...] (VIEIRA, 1992, p. 22), refletir sobre Poltica Social significa pensar no
contexto das relaes da sociedade capitalista e na relao contraditria entre capital e
trabalho. Segundo o autor, A poltica social aparece no capitalismo construda a partir das
mobilizaes operrias sucedidas ao longo das primeiras revolues industriais. (VIEIRA,
1992, p.19), ou seja, a Poltica Social no desligada dos reclamos populares, e
consequentemente por interveno do Estado, que por vezes possibilita um reconhecimento
formal de direitos, mas no podendo ser compreendida como uma iniciativa prpria do Estado
e sim por presses advindas da classe trabalhadora.
Destarte, as formataes das Polticas Sociais devem ser pensadas no contexto das
transformaes econmicas, polticas e sociais mediante o desenvolvimento do capitalismo,
em linhas gerais consistem em estratgia governamental se exibindo em formas de relaes
jurdicas e polticas. (VIEIRA, 1992).
Nesta mesma direo, Pastorini elucida que as Polticas Sociais so produto concreto
do desenvolvimento capitalista, de suas contradies, da acumulao crescente do capital e,
portanto, um produto histrico e no natural e linear. Para a autora, [...] as polticas sociais
participam da reproduo da estrutura poltica, econmica e social [...]. (PASTORINI, 1997,
p.90), sendo produto das lutas de classes e da correlao de foras presentes na sociedade
capitalista.
Em sntese, de um lado, as Polticas Sociais surgem a partir das demandas postas pela
classe trabalhadora diante das desigualdades sociais advindas do rebatimento das expresses
da questo social, ou seja, da contradio entre capital e trabalho. De outro, surgem como
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interesse do Estado, a partir de intervenes fragmentadas e necessrias para sua manuteno,
fortalecendo o controle e dominao do capital, mas que ao mesmo tempo levantam questes
de interesse da classe trabalhadora, como o acesso aos direitos sociais.
Assim, antes de se apresentar o processo de construo da Poltica de Assistncia
Social, inserida no contexto das Polticas Sociais, faz-se necessrio uma breve
contextualizao do Servio Social como profisso que surge no movimento de implantao
das Polticas Sociais no Brasil, passando a ser reconhecida como profisso que atua junto s
Polticas Sociais e que se insere em diversos espaos dessas polticas sendo um deles na
Poltica de Assistncia Social. importante lembrar que so nos espaos de insero dos
profissionais, predominantemente no campo das Polticas Sociais, que estes tm a
possibilidade de construo da atuao como profissionais na luta pela consolidao da
cidadania, bem como, o protagonismo da populao usuria dessas polticas, como sujeitos de
direitos.
1.1 SERVIO SOCIAL: UMA DAS PROFISSES QUE VISAM RESPONDER AS
DEMANDAS DA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL
A atuao do profissional assistente social8 inserido tanto no espao pblico estatal ou
privado, na atualidade tem como base o Cdigo de tica Profissional e a Lei que Regulamenta
a profisso9, ambos de 1993, as quais comportam os direitos e deveres dos profissionais,
dando direo tica e legal. Os profissionais trabalham na defesa dos interesses da classe
trabalhadora para o acesso aos direitos e na tentativa de possibilitar a autonomia aos sujeitos
visando uma sociedade justa.
Historicamente o Servio Social brasileiro como profisso resultante das relaes
histricas, sociais, polticas, econmicas e culturais. A emergncia da profisso est ligada ao
desenvolvimento capitalista que marcado por conflitos de classes resultantes da contradio
8 O/a assistente social ou trabalhador/a social atua no mbito das relaes sociais, junto a indivduos, grupos, famlias, comunidade e movimentos sociais, desenvolvendo aes que fortaleam sua autonomia, participao e
exerccio de cidadania, com vistas mudana nas suas condies de vida. Os princpios de defesa dos direitos
humanos e justia social so elementos fundamentais para o trabalho social, com vistas superao da
desigualdade social e de situaes de violncia, opresso, pobreza, fome e desemprego. (BRASIL, 2010). 9 O cdigo de tica aprovado em 1993 pela resoluo do CFESS define os princpios ticos fundamentais da
profisso, tendo como valores a liberdade; a defesa dos direitos humanos; a equidade e a justia social; a
universalizao do acesso a bens e servios relativos as polticas sociais; ampliao da cidadania; garantia dos
direitos civis, polticos e sociais; defesa da democracia; competncia e qualidade dos servios prestados;
aprimoramento intelectual; garantia do pluralismo, uma nova relao com os usurios e articulao com outras
categorias. (BRASIL, 2011). A Lei que Regulamenta a Profisso, tambm aprovada em 1993 pelo CFESS,
dispe sobre o exerccio profissional, suas competncias, suas atribuies privativas e os fruns que visam
defender e disciplinar o exerccio da profisso, o CFESS e o CRESS. (BRASIL, 2011).
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entre capital e trabalho. Assim, compreendendo que a questo social como j foi
apresentada anteriormente, expressa o conjunto de desigualdades da sociedade capitalista
madura, o Servio Social tem nela base para sua formao como profisso. De acordo com
Iamamoto (2001), o Servio Social uma profisso que se desenvolve a partir da contradio
burguesa para intervir na questo social.
A origem da profisso no Brasil est marcada mais precisamente no perodo de 1930,
onde h a intensificao da questo social a partir do processo de industrializao que
marcado pelo crescimento das cidades devido ao xodo rural, ou seja, os trabalhadores rurais
saem do campo para as cidades em busca de trabalho nas indstrias. Diante desse fator, h o
crescimento da classe operria urbana e consequentemente o aumento das expresses da
questo social.
Em meio a este cenrio, o Servio Social [...] surge como parte de um movimento
social mais amplo de bases confessionais, articulado necessidade de formao doutrinria
[...] para uma presena mais ativa da Igreja Catlica [...]. (IAMAMOTO, 2000, p.18, grifo da
autora) na sociedade. A profisso no s se origina no interior do bloco catlico como em um
momento em que a Igreja se mobiliza para recuperar seus interesses e privilgios, buscando
sua reafirmao normativa na sociedade por meio de uma ao missionria e evangelizadora.
Possuindo suas bases na Igreja, configura-se inicialmente um carter missionrio a
atividade profissional, que tem suas aes voltadas justia e a caridade10, sua gnese
atribuda ao misto entre a caridade tradicional e o apostolado social, tornando-se agentes para
a resoluo dos problemas sociais, que no so considerados como desigualdades advindas
da contradio entre capital e trabalho, mas sim como algo natural de cada indivduo.
(IAMAMOTO, 2011).
Neste contexto, a partir das grandes mobilizaes da classe trabalhadora em virtude da
intensificao das expresses da questo social que atravessa toda a sociedade, a Igreja, o
Estado e as classes dominantes so obrigados a se posicionarem. Desse modo, cabe ao Estado
oferecer algumas protees especialmente queles que precisam de amparo, e a Igreja, cabe
tarefa de recristianizao da sociedade, sendo estas aes realizadas pelo Servio Social.
Assim, vinculando-se a essas atividades, [...] o Servio Social surge da iniciativa de grupos e
fraes de classes dominantes, que se expressam a travs da Igreja [...]. (IAMAMOTO,
2000, p.19). No entanto, mediante o crescimento das lutas sociais dos trabalhadores, as aes
10 A origem no seio do bloco catlico e na ao benvola e caridosa de senhoras e moas da sociedade; o
embricamento da teoria e metodologia do Servio Social com a doutrina social da Igreja e com o apostolado
social deixaram marcas profundas na profisso e que ainda se fazem presentes tanto na concepo de
profissionais quanto da sociedade.
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16
de carter assistencial, religioso e filantrpico desenvolvidas pela Igreja se mostram
insuficientes para atender as expresses da questo social.
Diante disso, h a necessidade de uma maior interveno por parte do Estado se vendo
obrigado a incorporar alguns dos interesses da classe trabalhadora, mas buscando controlar
esse movimento e atender os interesses do capitalismo. Para uma maior interveno, vrias
instituies sociais11 so implantadas pelo Estado e que requerem profissionais
especializados12. O Estado necessita de categorias tcnico-profissionais especializadas para
executar as Polticas Sociais, bem como para mediar a relao conflituosa entre capital e
trabalho.
O Servio Social passa a constituir-se numa das engrenagens de execuo das Polticas
Sociais, deixando de ser somente um mecanismo de distribuio de caridade privada das
classes dominantes. No entanto, mantm sua ao educativa e doutrinria de enquadramento,
voltando-se aos segmentos mais carentes da populao, segundo Iamamoto, [...] o servio
social se dedicar aqueles segmentos mais carentes, cujo comportamento se torna mais
desviante em face de um padro definido como normal [...]. (IAMAMOTO; CARVALHO,
2011, p.329, grifos dos autores).
So prticas educativas e organizativas que desconhecem os antagonismos de classe,
so tratamentos de cunho doutrinrio e moralizador, entendendo que os problemas estavam
nos indivduos e no na sociedade. [...] Atuando atravs de entidades filantrpicas privadas e
atravs do Estado, o Servio Social orienta-se para uma individualizao da proteo legal,
entendida como assistncia educativa adaptada aos problemas individuais [...].
(IAMAMOTO, 2000, p.20, grifo da autora). Conforme explicita a autora, A profisso no se
caracteriza apenas como nova forma de exercer a caridade, mas como forma de interveno
ideolgica na vida da classe trabalhadora, com base na atividade assistencial [...].
(IAMAMOTO, 2000, p.20).
De fato, a institucionalizao do Servio Social amplia suas possibilidades de
interveno para alm dos trabalhos de ao social, de seu carter de misso de apostolado
doutrinrio, de recristianizao das massas populares e de aes caridosas, no entanto, h um
11 A primeira grande instituio nacional de assistncia social foi a Legio Brasileira de Assistncia (LBA)
criada em 1942. No mesmo ano criado o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Em 1946
oficializado o Servio Social da Indstria (SESI). Em 1946, surge a primeira grande instituio que atua sobre os
habitantes das grandes favelas, a Fundao Leo XIII. Essas so algumas das primeiras instituies que
requerem o trabalho do servio social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011). 12 A partir da, amplia-se o mercado de trabalho para o Servio Social se institucionalizando e legitimando como
profisso inserida na diviso social e tcnica do trabalho, se tornando uma categoria assalariada. O Estado
necessita de categorias tcnico-profissionais especializadas para executar as Polticas Sociais, bem como para
mediar a relao conflituosa entre capital e trabalho. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011).
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17
longo caminho a ser percorrido para uma desvinculao com essas prticas assistencialistas,
com carter missionrio e moralizador.
Em meio a esse processo, o Servio Social comea a reavaliar o seu fazer profissional,
dando inicio a um processo que percorre por vrios movimentos13 que marcam a histria da
profisso na busca de ruptura com o tradicionalismo, com o conservadorismo, com aes
benemerentes as quais marcam a profisso at os dias de hoje. Compreende-se que todo esse
processo de inteno de ruptura com o Servio Social tradicional, possibilitou imprimir uma
direo ao pensamento e a ao da profisso, com a incorporao de novos princpios tico-
poltico, mas que ainda existem muitos desafios, sendo um deles a viso assistencialista que
se tem da profisso, ainda existem muitas divergncias a respeito do trabalho do assistente
social, sendo muitas vezes vinculado aquele profissional que trabalha com os pobres, ou
aquele que faz caridade e que ajuda os necessitados.
O Servio Social buscou fortalecer seu projeto poltico profissional, o qual visa a
defesa dos direitos sociais, a cidadania, a ampliao da democracia, entre outros. Assim, por
meio de organizaes e debates, a categoria profissional redimensiona sua interveno e seu
projeto materializou-se no Cdigo de tica da Profisso de 1993, na Lei que Regulamenta a
Profisso e nas Diretrizes Curriculares da Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Servio Social (ABEPSS). com esse direcionamento que a profisso ocupa, na atualidade,
diferentes espaos como planejamento, execuo e avaliao das Polticas Sociais. Entre esses
espaos, um espao que teve a incorporao de um grande nmero de profissionais nos
ltimos anos a Poltica de Assistncia Social nas diferentes esferas de governo.
O assistente social pode atuar na Poltica de Assistncia Social como gestor,
coordenador e/ou tcnico, atividades estas que possibilitam o profissional imprimir sua viso
de homem e sociedade e trabalhar na perspectiva do acesso ao direito e no mais na via da
benesse e da caridade. Entendendo que historicamente o Servio Social vem desenvolvendo
suas aes em situaes sociais de restrio e/ou violao de direitos, as Polticas Sociais so
mediaes fundamentais para essa interveno. Para Yazbek, Martinelli e Raichelis (2008),
diante desses fatores, o trabalho do assistente social [...] pode produzir resultados concretos
13Movimentos estes que se concretizam em vrios encontros e documentos formulados pelos profissionais na
tentativa de uma mudana, de romper com a essncia conservadora que se tem a profisso, na busca de uma
emancipao, de um novo referencial terico-metodolgico, tcnico-operativo e tico-poltico. Destacam-se os
congressos de Arax (1967) com o tema teorizao do Servio Social, o de Terespolis (1970) com o tema
metodologia do Servio Social, o de Sumar e Alto da Boa Vista (1978) com o tema cientificidade do Servio
Social e o de Belo Horizonte (1980), a construo de uma alternativa global ao tradicionalismo que foi o ponto
de partida para a inteno de ruptura13. (NETTO, 2009).
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18
nas condies materiais, sociais e culturais da vida de seus usurios, em seu acesso a direitos
e usufruto de polticas sociais [...]. (YAZBEK; MARTINELLI; RAICHELIS, 2008, p.7).
Assim, realizada esta breve contextualizao do surgimento da profisso, que perpassa
por vrios movimentos at se chegar a uma profisso que prima pela garantia dos direitos
distanciando-se de prticas conservadoras e assistencialistas, mas que atualmente ainda
encontram desafios perante esse reconhecimento, considerando sua gnese como tambm o
atual cenrio capitalista globalizado permeado de interesses da hegemonia neoliberal, o
prximo item apresentar o processo de construo da Poltica de Assistncia Social,
considerando esta um espao de atuao do profissional do assistente social.
1.2 A POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL PS CONSTITUIO FEDERAL DE 1988
No contexto das Polticas Sociais, situa-se a Poltica de Assistncia social como uma
das polticas setoriais efetivadas pelo Estado. Assim como as Polticas Sociais, seu
surgimento encontra-se na tenso entre capital e trabalho se constituindo num espao de
correlao de foras antagnicas presentes na sociedade capitalista.
Historicamente, a Assistncia Social no Brasil esteve ligada a noo de proteger e
ajudar os mais pobres atravs de trabalhos filantrpicos, voluntrios e solidrios, com aes
de carter emergencial e pontual. Sua vinculao histrica a essas prticas faz com que
atualmente existam algumas distores, conferindo-lhe um perfil limitado, pois ao longo da
histria tem sido estruturada como uma estratgia do Estado no enfrentamento das expresses
da questo social, construdas sob algumas distores, se evidenciando pelo trabalho
filantrpico e solidrio para com a sociedade, atribuindo a Assistncia Social uma interveno
com carter de ajuda. (YAZBEK, 1996).
Diante dessas caractersticas, a dcada de 1980 foi muito significativa para o campo
das Polticas Sociais no Brasil, em especial para a Assistncia Social. Couto (2006), ressalta
que,
A dcada de 1980 foi protagonista de um debate profundo sobre esta
sociedade. Todo movimento que foi gestado na sociedade brasileira, na sada
da ditadura militar, um movimento de resistncia forma de organizao
do estado brasileiro e da sociedade para dar conta das expresses da questo
social. (COUTO, 2006, p. 6).
um perodo marcado por transformaes no panorama econmico, poltico e social
do pas que resulta na nova Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988
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19
(CF/1988), que significou a conquista de vrios direitos sociais at ento no reconhecidos.
Em seguida, outro divisor de guas foi a eleio por voto direto (1989), possibilidade de os
cidados se manifestarem nos diferentes nveis de governo, aps quase trs dcadas de
interrupo do processo eleitoral democrtico.
Diante desse cenrio, as Polticas Sociais se apresentam como resultado das relaes
entre Estado e Sociedade, tornando-se mecanismo para gerenciar estas relaes. Em meio a
esse contexto de mobilizaes, abre-se um intenso debate sobre a formulao de Polticas
Sociais, dentre elas a Poltica de Assistncia Social. No entanto, este perodo no pas se
destaca pelo avano dos ideais neoliberais, onde a conduo central dessa nova ideologia
um Estado mnimo reduzindo seu papel e suas funes e consequentemente o desmonte dos
direitos sociais. (ALMEIDA, 1999).
Uma das caractersticas do neoliberalismo a retomada do molde da solidariedade
como sinnimo de voluntarismo, com o intuito de repassar a responsabilidade do Estado com
programas sociais para setores privados e para a sociedade, e assim distanciar-se de suas
funes e consequentemente dos gastos pblicos. Esse perodo no Brasil, marcado tambm
pelo processo de reformas estatais14 sendo estas voltadas para o mercado sendo conduzidas
sob a [...] lgica dos representantes da classe dominante, em seus diferentes segmentos, um
projeto que coloca em prtica a vontade do capital [...]. (BATISTA, 1999, p.84).
As Polticas Sociais neste contexto encontram-se limitadas, caracterizadas focalizao
e pela privatizao. Apresenta-se [...] Uma poltica social residual que soluciona apenas o
que no pode ser enfrentado via mercado, da comunidade e da famlia [...]. (BEHRING;
BOSCHETTI, 2009, p.310).
No entanto, mesmo diante a ofensiva neoliberal, possvel identificar algumas
conquistas durante o perodo, lembrando que as mesmas foram obtidas a partir de
organizaes e mobilizaes de expressivos segmentos da sociedade brasileira, que buscavam
por uma Constituinte livre e soberana. Apresenta-se como avanos ps Constituinte, alm do
voto direto e da incorporao dos direitos sociais, inovaes relacionadas participao da
sociedade civil nas decises polticas, sendo possvel construir espaos participativos no que
tange a formulao e gesto das Polticas Sociais.
A Poltica de Assistncia Social ao longo desse perodo se redefine. Tem como marco
a CF/1988, a qual prev a Seguridade Social em seu artigo 194, estabelecendo os direitos para
Sade, Previdncia Social e Assistncia Social onde pela primeira vez ganha condio de
14 Sobre o processo de reformas do Estado, ver Batista, 1999.
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20
direito. Ao adquirir a conotao de direito social, a Poltica de Assistncia Social deve superar
a compreenso de dever moral e de ajuda, prestada tradicionalmente pelas entidades
filantrpicas ou beneficentes, passando a ser entendida como dever legal de garantia de
benefcios e servios sociais. Inicia-se um processo com o intuito de torn-la visvel como
poltica pblica de direito.
Para Silveira e Colin, a Assistncia Social integrante de um sistema de proteo social
[...] est voltada ao provimento de condies que enfrentem um conjunto de desigualdades
de corte scio - econmico e scio - cultural [...]. (SILVEIRA; COLIN, 2006, p.24), se
distanciando da relao de prestao de favores, de prticas assistencialistas, da moralizao e
enquadramento dos sujeitos a ordem da sociedade direcionando-se para uma responsabilidade
estatal.
No entanto, o carter regulador de interveno do Estado nas relaes sociais
direciona as Polticas Sociais a [...] polticas casusticas, inoperantes, fragmentadas,
superpostas, sem regras estveis ou reconhecimento de direitos. (YASBEK, 1996, p.37),
possibilitando o fortalecimento dos interesses da classe dominante. Mesmo que apresentem
uma condio ao acesso ao direito, buscando a minimizao das desigualdades, no se
desvincula dos interesses do Estado, sendo este comit executivo da burguesia.
Contudo, mesmo diante a esses fatores, a Poltica de Assistncia Social ganha
visibilidade. Na CF/1988 em seu artigo 203, definido que a Assistncia Social ser prestada
a quem dela necessitar, sem a relao de contribuio, ou seja, no h necessidade de uma
contribuio prvia para receber os servios e benefcios de tal poltica. Tem por objetivos,
I - a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice;
II - o amparo s crianas e adolescentes carentes; III - a promoo da
integrao ao mercado de trabalho; IV - a habilitao e reabilitao das
pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida
comunitria; V - a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal
pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir
meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia,
conforme dispuser a lei. (BRASIL, 2014, p.34).
Baseada nestes aspectos, a Assistncia Social torna-se direito, distanciando-se da
lgica do favor e da caridade, passando a ser direito do cidado e responsabilidade do
Estado em garanti-la. Entretanto, ainda existem grandes desafios no que diz respeito
garantia dos direitos sociais e real efetivao da Poltica de Assistncia Social.
Vale destacar aqui uma das restries desse direito, a Assistncia Social definida como
poltica no contributiva significa que no h o pagamento de espcie alguma para o acesso a
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21
esse direito e ser prestada a quem dela necessitar, no entanto, quando especificada que ser
prestada aos necessitados, esta se restringe e torna-se seletiva15 pois destinada somente aos
desamparados, aos que dela tiverem necessidade por condies de pobreza ou extrema
pobreza.
Mesmo garantida constitucionalmente, no governo de Fernando Collor de Mello
(1989), a Poltica de Assistncia Social tem um retrocesso, pois o presidente vetou a primeira
verso da Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS), que buscava dar consistncia e
institucionalizar os avanos previstos na Constituio, com a justificativa de reduzir os gastos
com a rea social. O Presidente adia a sanso de um instrumento que poderia efetivar a
aplicao do contedo da CF/1988 no que se referia a Assistncia Social e, em virtude disso, a
LOAS s foi sancionada no governo de Itamar Franco, atravs da Lei n 8.742 de 07 de
dezembro de 1993, aps o impeachment de Collor e intensas mobilizaes sociais.
Assim, a LOAS teve uma forte resistncia da classe dominante e nasce sob a perversa
tendncia da poltica neoliberal, seu processo de construo foi de tenso e embates, o que
acarretou em diversas mudanas do projeto de origem. Para Pereira (1996), [...] a LOAS
um documento que, no obstante o seu carter formal produto de expresses de debates e
embates polticos nem sempre tranquilos e consensuais. (PEREIRA, 1996, p. 102). O
contedo da lei construdo sob uma arena de conflitos de interesses, d-se por um lado a
partir da mobilizao social em busca de garantia de direitos e de outro como estratgia
poltica.
Os caminhos foram construdos lentamente e com muitas lutas para a efetivao da
Assistncia Social como direito. Contudo, mesmo diante de todos esses embates, com a
promulgao da LOAS, que estabelece normas e regulamenta a organizao da Assistncia
Social, tal poltica ganha visibilidade. Em seu artigo 1 fica definido que,
[...] A assistncia social, direito do cidado e dever do Estado, Poltica de
Seguridade Social no contributiva, que prov os mnimos sociais, realizada
atravs de um conjunto integrado de aes de iniciativa pblica e da
15 Considerando que os princpios constitucionais esto cada vez mais sendo desconsiderados, [...] o principio
da seletividade e distributividade o nico que no est sendo derrudo [...] (BOSCHETTI, 2009, p. 332), mas
sim materializado e fixado cada vez mais, pois atravs desses princpios que h maior seleo para quem deve
ou no ser atendido por tal poltica. J o principio da universalidade dos direitos, assim como a uniformidade e
equivalncia esto sendo gradativamente desmantelados, pois a lgica do capital minimizar cada vez mais o
acesso a direitos universais e transform-los em aes focalizadas e privatizadas.
[...] a poltica de assistncia social, por sua vez, no conseguiu superar a histrica focalizao em segmentos
ditos hoje vulnerveis ou nas chamadas situaes de risco. Sua abrangncia restritiva e os benefcios,
servios ou programas no atingem mais do que 25% da populao que teria direito [...]. (BOSCHETTI, 2009,
p.333).
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22
sociedade, para garantir o atendimento s necessidades bsicas. (BRASIL,
2014a, p.5, grifo nosso).
Novamente reafirmada como uma poltica que compe a Seguridade Social do pas,
voltada garantia de mnimos sociais, estando articulada s demais polticas setoriais assim
como tambm prope a participao da populao. Como lei, a LOAS traz novamente a
Assistncia Social como direito no contributivo, e neste sentido estabelece-se uma nova
matriz para a Assistncia Social brasileira, com o compromisso com a defesa dos direitos
sociais e a superao das formas de excluso.
No entanto, ao trazer a proviso dos mnimos sociais, a LOAS apresenta outro ponto
de discusso diante a Assistncia Social no to positivo. Marcelo Garcia argumenta que [...]
necessrio discutir quais so esses mnimos sociais, pois ao longo de sua trajetria, a
assistncia social acabou se preocupando muito mais em criar um cardpio de projetos e
programas do que, de fato, estabelecer os mnimos sociais. (GARCIA, 2011, p.2). Para o
autor, h a necessidade de ser discutido o que se pode estabelecer como mnimos sociais,
levando em considerao que a lei nacional, mas as demandas ou necessidades so regionais
e/ou locais. Considerando o modelo de produo capitalista em que a classe trabalhadora
vende sua fora de trabalho somente para sobreviver, os mnimos sociais devem constituir um
conjunto de seguranas sociais nas reas da educao, sade, trabalho, habitao, cultura,
renda e convivncia, e no somente as necessidades bsicas que muitas vezes se restringem a
alimentao, ainda de forma precria, para a sobrevivncia, o que implica de fato na
completude da Poltica de Assistncia Social como um direito social.
Mesmo diante a questes como estas e construda sobre pilares do neoliberalismo16, a
Assistncia Social passa por um grande processo de construo e de ampliao. No ano de
1997 aprovada a Norma Operacional Bsica (NOB) atravs da Resoluo n 204/1997 do
Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS)17 a partir de discusses realizadas entre os
estados e municpios juntamente com a Secretaria de Assistncia Social. A NOB/1997 foi a
primeira norma aprovada no mbito da Assistncia Social onde apresenta o sistema
16 No Brasil, segundo Soares (2000), as propostas neoliberais se do principalmente pelo agravamento da crise
econmica (dcada de 1980 e 1990) tendo como eixo central combater as inflaes atravs de polticas
econmicas o que consequentemente resulta em uma recesso sem limites diante do setor social. 17 O CNAS uma instncia implementada em 1995 a partir do artigo 33 da LOAS e que substituiu o Conselho
Nacional de Servio Social (CNSS), institui-se como rgo superior de deliberao colegiada, vinculado
estrutura do rgo da Administrao Pblica Federal responsvel pela coordenao da Poltica Nacional de
Assistncia Social. Sua composio apresentada no artigo 17 da LOAS, sendo a mesma paritria entre governo
e sociedade civil e tendo seus membros mandato de dois anos. (BRASIL, 2014b).
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23
descentralizado18 e participativo, no sentido de garantir sua eficcia e eficincia, explanando
uma concepo norteadora da descentralizao da Assistncia Social. (BRASIL, 2005, p.82).
Ainda como tentativa de afirmar a Assistncia Social como poltica de direito, em
1998, por meio da Resoluo n 207, aprovada a Poltica Nacional de Assistncia Social
(PNAS) e a segunda Norma Operacional Bsica da Assistncia Social (NOB/1998),
ampliando a regulao da Poltica Nacional, conceituando e definindo estratgias, princpios e
diretrizes para sua operacionalizao. A NOB/1998 buscou ampliar as atribuies dos
Conselhos de Assistncia Social onde [...] props a criao de espaos de negociao e
pactuao, de carter permanente, para a discusso quanto aos aspectos operacionais da
gesto do sistema descentralizado e participativo da Assistncia Social [...]. (BRASIL, 2005,
p.83). A NOB aparece como instrumento normatizador, que possibilita, por exemplo,
mecanismos e critrios transparentes de transferncias de recursos entre as esferas de governo.
As definies legais atinentes regulamentao da Poltica de Assistncia Social, no
perodo entre 1993 e 1998, esto estabelecidas em trs instrumentos principais, ou seja, a
LOAS; o primeiro texto da Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) de 1998 e as
Normas Operacionais Bsicas NOB/1997 e NOB/1998. Assim, deve-se considerar como um
grande avano esse processo de difuso e construo da Poltica de Assistncia Social, que a
torna direito do cidado e dever do Estado, pois esse movimento acontece em um perodo
mergulhado pelos moldes do Estado neoliberal.
Em 2003 no governo de Lus Incio Lula da Silva (Lula), tem-se uma continuao e
at mesmo aprofundamento diante da Poltica Econmica como tambm da Poltica Social, no
entanto atravs de aes que reafirmam o modelo neoliberal, atendendo aos interesses do
capital financeiro nacional e internacional. Com ateno na rea da Poltica de Assistncia
Social, foi criado o Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS)19 que a
partir da d incio a alguns programas voltados ao setor social como, por exemplo, o
Programa Fome Zero que tem como objetivo fornecer segurana alimentar a todos os
brasileiros, buscando a erradicao da fome no Brasil.
18
Para Yazbek (2004), a descentralizao poltico - administrativa na gesto da assistncia social significa
ampliar os espaos de participao democrtica, contribuindo para a incluso social nas esferas locais, esse
movimento de descentralizao e participao democrtica possibilita o reconhecimento das particularidades e
interesses de cada estado e municpio, mas isso claro que no excluindo as responsabilidades do Estado na
condio geral da poltica. 19 O MDS foi criado em 2004 pelo presidente Lula. Cabe ao MDS coordenar, supervisionar, controlar e avaliar a
execuo dos programas de transferncia de renda assim como promover o desenvolvimento social e combater a
fome. Busca garantir a promoo e incluso social visando a cidadania como tambm garantir a segurana
alimentar e nutricional alm de uma renda mnima e assistncia integral famlia. (BRASIL, 2014c).
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24
Em 2004 criado o Programa Bolsa Famlia (PBF), por meio da Lei n10.836
propondo a unificao das aes de transferncia de renda do Governo Federal, como o
Programa Bolsa Escola, Programa Nacional de Acesso Alimentao (PNAA), Bolsa
Alimentao, Programa Auxlio-Gs e o Cadastramento nico do Governo Federal, destinado
a famlias que se encontram em situao de pobreza e extrema pobreza. (BRASIL, 2014d).
No se pode negar que esses programas voltados para a Assistncia Social dinamizam
tal poltica, mas deve-se lembrar de que no se desvinculam da lgica neoliberal. Diante
disso, os programas de transferncia de renda20, no Brasil, encontram-se ainda embebidos sob
a tica do projeto neoliberal, o que automaticamente faz distanciar-se da perspectiva
universalista da Carta Magna de 1988. O interesse do governo manter o equilbrio
econmico para garantir o pagamento da dvida e conter o agravamento da pobreza. Mesmo
porque o valor que a famlia recebe retorna para o mercado, na mesma lgica das primeiras
indenizaes pecunirias, que eram pagas aos mais pobres na idade antiga na Grcia, para que
estes pudessem assistir a espetculos e frequentarem o comrcio, participarem da vida
comunitria, ou seja, uma lgica antiga de fomentar o mercado, mas que no possibilita a
autonomia/independncia financeira do sujeito em virtude do baixo valor. (GUARINELLO,
2013).
Diante desse processo de construo da Poltica de Assistncia Social, onze anos
depois da promulgao da LOAS, no ano de 2004, aps amplo debate entre os profissionais
da rea assim como entre os estados, conselhos de assistncia social, secretarias de assistncia
social, foi consolidada pelo MDS juntamente com a Secretaria Nacional de Assistncia Social
(SNAS) e o CNAS, a nova Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS/2004) com o
intuito de proporcionar a materialidade das diretrizes da Assistncia Social, como tambm na
perspectiva de implantao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS).
A PNAS [... busca realizar-se] de forma integrada s polticas setoriais, considerando
as desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento [como tambm] ao provimento
de condies para atender contingncias sociais e universalizao dos direitos sociais.
(BRASIL, 2004, p.34). Visa dar maior clareza aos problemas sociais presentes na sociedade
brasileira, assim busca esclarecer as funes da Assistncia Social, sendo elas: a proteo
20 Conforme explicita Silva, Yazbek e Giovani (2004), os programas de transferncia de renda ganham
centralidade no Brasil a partir da dcada de 1990. Passam a integrar o sistema de proteo social na busca do
combate pobreza, [...sendo compreendidos] como aqueles que atribuem uma transferncia monetria a
indivduos ou famlias, de forma compensatria [...]. (SILVA; YASBEK; GIOVANI, 2004, p.19).
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25
social21 hierarquizada entre proteo bsica e especial22, que subdividida em mdia e alta
complexidade, prevendo o ordenamento de programas, projetos, servios e benefcios
socioassistenciais em rede, conforme o nvel de complexidade, bem como a vigilncia social e
a defesa dos direitos socioassistenciais23.
Neste trabalho, a ateno est direcionada para a discusso da proteo social bsica.
Assim, os programas, projetos, servios e benefcios referentes a proteo social bsica
podem ser definidos como aqueles que do ateno famlia como unidade de referncia,
onde os vnculos familiares ainda no foram rompidos. Tem como objetivo o fortalecimento
de vnculos familiares e comunitrios, destinando-se populao que vive em situao de
vulnerabilidade social24 e [...] prev o desenvolvimento de servios, programas e projetos
locais de acolhimento, convivncia e socializao de famlias e de indivduos, conforme
identificao da situao de vulnerabilidade apresentada. (BRASIL, 2004, p, 34). Situao
esta decorrente da estrutura do poder vigente centrada num modelo econmico que gera
riqueza para poucos e misria para muitos, resultando no aumento das desigualdades sociais,
afetando as condies de vida das famlias.
As aes da proteo social bsica sero executadas de forma direta nos Centros de
Referncia da Assistncia Social (CRAS), representando a porta de entrada dos usurios da
21 A proteo social de Assistncia Social se ocupa das vitimizaes, fragilidades, contingncias,
vulnerabilidades e riscos que o cidado, a cidad e suas famlias enfrentam na trajetria de seu ciclo de vida, por
decorrncia de imposies sociais, econmicas, polticas e de ofensas dignidade humana. (BRASIL, 2005,
p.89). 22 De acordo com a NOB/SUAS de 2005, a rede de servios socioassistenciais um conjunto integrado de aes de iniciativa pblica quanto da sociedade, que devem ofertar e operacionalizar benefcios, servios, programas e
projetos, supondo a articulao entre todas unidades de proviso de proteo social, respeitando a hierarquia de
proteo bsica e especial e ainda por nveis de complexidade. (NOB/SUAS, 2005). 22 A proteo social especial tem por objetivos prover atenes socioassistenciais a famlias e indivduos que se
encontram em situao de risco pessoal e social, por ocorrncia de abandono, maus tratos fsicos e/ou psquicos,
abuso sexual, uso de substncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situao de rua, situao
de trabalho infantil, entre outras. (BRASIL, 2004, p.37). Os servios so divididos em Mdia Complexidade,
sendo estes: servio de orientao e apoio sociofamiliar, planto social, abordagem de rua, cuidado no domiclio,
servio de habilitao e reabilitao na comunidade das pessoas com deficincia, medidas socioeducativas em
meio-aberto (Prestao de Servios Comunidade
PSC e Liberdade Assistida LA). Servios de Alta Complexidade: atendimento integral institucional, Casa
Lar, repblica, casa de passagem, albergue, famlia substituta, famlia acolhedora, medidas socioeducativas
restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internao provisria e sentenciada), trabalho protegido.
(BRASIL, 2004, p.38). 23 De acordo com a NOB/SUAS de 2005, a rede de servios socioassistenciais um conjunto integrado de aes
de iniciativa pblica quanto da sociedade, que devem ofertar e operacionalizar benefcios, servios, programas e
projetos, supondo a articulao entre todas unidades de proviso de proteo social, respeitando a hierarquia de
proteo bsica e especial e ainda por nveis de complexidade. (NOB/SUAS, 2005). 24 O termo excluso social uma construo terica que antecedeu a formulao do conceito de vulnerabilidade
social, tendo, num primeiro momento, servido de referncia para a caracterizao de situaes sociais limites, de
pobreza ou marginalidade, e para a consequente formulao de polticas pblicas voltadas para o enfrentamento
de tais questes. (BRASIL, 2007, p. 11). A vulnerabilidade social decorre por motivos de pobreza, fragilizao
de vnculos afetivos, entre outros.
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26
Poltica de Assistncia Social ao acesso aos direitos. Os servios prestados no CRAS assim
como em toda a rede que executa servios da Poltica de Assistncia Social
[...] devem provocar mudanas significativas nas condies de vida dos
sujeitos, com respeito s trajetrias e autonomia, na realidade local que esta
relacionada aos determinantes mais gerais, mas possui peculiaridades e
potencialidades a serem exploradas, impulsionadas e protagonizadas pelos
sujeitos de direitos. (SILVEIRA; COLIN, 2006, p.31).
Compondo ento a proteo social bsica destinada a esta populao, apresentam-se
alguns programas, projetos e benefcios, cabendo destacar aqui o Programa de Ateno
Integral a Famlia (PAIF) alm dos Benefcios Eventuais (BE) e Benefcio de Prestao
Continuada (BPC).
O PAIF o programa de maior abrangncia da proteo social bsica e segundo o
MDS, [...] consiste no trabalho social com famlias, de carter continuado, com a finalidade
de fortalecer a funo protetiva da famlia, prevenir a ruptura de seus vnculos, promover seu
acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida [...].
(BRASIL, 2014c).
Outro benefcio que compe a proteo social bsica o BPC institudo pela CF/1988
em seu artigo 203, onde define como benefcio [...] a garantia de um salrio mnimo mensal
pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover
prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. (BRASIL,
2014, p.33). Para acess-lo no necessrio ter contribudo com a Previdncia Social e um
benefcio individual, no vitalcio e intransfervel. O BPC encontra-se institudo tambm na
LOAS, em seu artigo 20, onde estabelece que [...] O benefcio de prestao continuada a
garantia de um salrio-mnimo mensal pessoa com deficincia e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno nem
de t-la provida por sua famlia[...]. (BRASIL, 2014a). reforado ainda pela Lei n
12.435/2011 e pela Lei n 12.470/2011 que alteram dispositivos da LOAS e pelos Decretos n
6.214/2007 e n 6.564/2008.
Ainda como composio dos benefcios e servios da proteo social bsica tem-se os
Benefcios Eventuais (BE) que so estabelecidos no artigo 22 da LOAS, prestados aos
cidados e s famlias em virtude de nascimento, morte, situaes de vulnerabilidade
temporria e de calamidade pblica. Segundo o MDS possuem carter suplementar e
provisrio, e configuram-se como elementos potencializadores contribuindo com o
fortalecimento de indivduos e familiares. (BRASIL, 2014c).
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27
De um lado h avanos que apontam para o reconhecimento dos direitos,
transformando a Assistncia Social em campo de exerccio de participao poltica, mas por
outro, o Estado envolvido por uma gama de polticas voltadas ao controle da economia coloca
em andamento processos que desmontam e retraem os direitos e investimentos no campo
social. (YASBEK, 2004). No entanto, mesmo diante a tais fatores, a Poltica de Assistncia
Social ganha novos rumos a fim de ser aprimorada.
A partir da Resoluo n 130, de 15 de julho de 2005, o CNAS aprova a Norma
Operacional Bsica da Assistncia Social (NOB/SUAS), instituindo de fato o SUAS25. A
NOB/SUAS 2005 retoma as normas operacionais de 1997 e 1998 e constitui o mais novo
instrumento de regulao dos contedos e definies da PNAS/2004 que paramentaram o
funcionamento do SUAS. (BRASIL, 2005, p.85). A proposta do SUAS apresenta-se como um
avano da Poltica de Assistncia Social, pois busca materializar um modelo de gesto que
possibilita a efetivao dos princpios e diretrizes da poltica conforme definido na LOAS e na
PNAS.
Conforme o texto apresentado na LOAS comentada (2009), o SUAS busca estabelecer
uma rede de proteo e promoo social buscando a transformao efetiva da assistncia em
direito, distanciando-se de aes fragmentadas e assistencialistas que historicamente marcam
a Poltica de Assistncia Social. (BRASIL, 2009). O SUAS26 apresenta novamente,
reforando a PNAS, a proteo social27, dividida por nveis de complexidade, apresentando
seus princpios como: a matricialidade sociofamiliar; territorializao; a proteo pr-ativa;
integrao seguridade social e integrao s polticas sociais e econmicas28.
Para Sposati (2004),
A implantao do SUAS exige unir para garantir, isto , romper com a
fragmentao programtica [...] exige construir referencias sobre a totalidade
de vulnerabilidades e riscos sociais superando a vertente de anlise
segregadora em segmentos sociais sem compromisso com a cobertura
25 Lembrando que foi em 2003 na IV Conferncia Nacional de Assistncia Social realizada pelo CNAS, que
deliberou-se a implantao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS). 26 Para melhor efetivao dos servios referentes a Poltica de Assistncia Social, o SUAS busca organizar de
forma descentralizada e participativa os servios socioassistenciais no Brasil, articulando os trs entes
federativos, ou seja, Unio, estados e municpios. Os eixos estruturantes da NOB/SUAS objetivam selar o pacto
efetuado entre as trs esferas governamentais e os setores de articulao, pactuao e deliberao, na busca da
implementao e consolidao do SUAS no Brasil. (BRASIL, 2005). 27 A proteo social de Assistncia Social consiste no conjunto de aes, cuidados, atenes, benefcios e
auxlios ofertados pelo SUAS para reduo e preveno do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da
vida, dignidade humana e famlia como ncleo bsico de sustentao afetiva, biolgica e relacional.
(BRASIL, 2005, p.90). 28 A descrio de cada princpio encontra-se na NOB/SUAS/2005, no item I.
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28
universal e o alcance da qualidade dos resultados. (SPOSATI, 2004, p.173,
grifo da autora).
Apresenta-se como um instrumento que exige uma ao universalizadora diante os
direitos socioassistenciais distanciado-se de prticas parciais que levam ao desmonte dos
direitos, assim como preza tambm pela qualidade dos servios oferecidos. A autora elucida
que a concretizao do SUAS se d a partir de um modelo que busca a universalizao do
direito a proteo social [...] abandonando ideias tutelares e subalternas, que (sub)identificam
brasileiros como carentes, necessitados, pobres, mendigos, miserveis, discriminando-os e
apartando-os do reconhecimento como ser de direito. (SPOSATI, 2004, p.172, grifo da
autora).
Neste mesmo sentido, Silveira e Colin, elucidam que o SUAS assim como outros
instrumentos jurdico-normativos permite,
[...] impulsionar reordenamentos das redes socioassistenciais para o
atendimento da populao usuria, na direo da superao de aes
segmentadas, fragmentadas, pontuais, sobrepostas e assistencialistas por um
modelo de gesto unificado, continuado e afianador de direitos.
(SILVEIRA; COLIN, 2006, p.20).
Para as autoras, o SUAS esta posicionado na intersetorialidade29 com as demais
Polticas Sociais, ou seja, uma conexo entre as polticas em favor da consolidao dos
direitos sociais, portanto o redimensionamento dessa rede institui um dos caminhos para
superar a fragmentao da gesto da Poltica de Assistncia Social.
Diante desse contexto de reorganizao, criao e execuo de programas, projetos,
servios e benefcios referentes Poltica de Assistncia Social possvel identificar avanos
no que tange o setor social, com Polticas Sociais substanciadas pela justia social, buscando a
equidade e universalidade. No entanto, existem limites, construda nesse movimento de
interesses de classe, pois as aes assistenciais podem significar ou conduzir tanto para a
reafirmao do Estado enquanto status quo, quanto um lugar de reconhecimento e de acesso
aos direitos.
Dando continuidade ao processo de implementao da Poltica de Assistncia Social,
tem-se a necessidade de uma normatizao para os recursos humanos nas instituies que
executam as aes referentes a tal poltica, instalando-se equipes mnimas de trabalho para a
29 Segundo Inojosa (2001), [...] a intersetorialidade costuma ser identificada como uma articulao de saberes e
experincia (no movimento do planejamento, da implementao e da avaliao de polticas), cujo objetivo de tal
articulao alcanar melhores nveis de desenvolvimento social. (INOJOSA, 2001 apud BIDARRA, 2009,
p.484).
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29
execuo dos servios. Para essa normatizao aprovada, a partir da Resoluo n 269/2006,
a Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos do Sistema nico de Assistncia Social
(NOB-RH/SUAS). O tema recursos humanos j aparece na PNAS/2004 no sentido de que a
Poltica de Recursos Humanos constitui eixo estruturante do SUAS, ao lado da
descentralizao, do financiamento e do controle social.
Conforme apresenta a NOB/RH/SUAS, fica definido que a equipe de referencia30 do
CRAS deve se estruturar considerando o total de famlias referenciadas31. Seguindo essas
definies, as equipes de referncia devem ser responsveis pela organizao e oferta de
servios, programas, projetos e benefcios de proteo social bsica e especial, tornando-se
importante para a efetivao da Poltica de Assistncia Social, pois possibilita maior
qualidade ao atendimento de famlias e indivduos viabilizando a garantia de seus direitos.
Posteriormente, aps trs anos da instituio da NOB/RH/SUAS, em 2009, por meio
da Resoluo n109/2009 do CNAS, aprovada a Tipificao Nacional de Servios
Socioassistenciais que os organiza por nveis de complexidade do SUAS. Ficam organizados
como servios da Proteo Social Bsica conforme seu artigo 1 os servios do PAIF; Servio
de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos (SCFV) e Servio de Proteo Social Bsica no
domiclio para pessoas com deficincia e pessoas idosas32. (BRASIL, 2009a). A Tipificao
disponibiliza a descrio dos servios como tambm as aquisies dos usurios33 diante dos
servios oferecidos, alm dos objetivos, ambiente fsico, recursos materiais e materiais
socioeducativos. Desta forma, todo esse processo de definio dos servios que iro compor a
rede de proteo social bsica busca contribuir para a reduo da ocorrncia de situaes de
vulnerabilidade social e dar maior visibilidade aos servios buscando garantir o acesso dos
usurios.
Ainda como processo de construo de uma poltica de direito, em 2011 tem-se a
incorporao da lei do SUAS na LOAS. Essa incorporao se da a partir da Lei
n12.435/2011 que altera a Lei n 8.742/1993. A lei alterada apresenta mudanas em vrios
30O SUAS adota o modelo de equipes de referncia, que so entendidas como um grupo de profissionais com
diferentes conhecimentos, mas que possuem objetivos em comum, estas equipes so responsveis pelos usurios
dos servios de acordo com o tipo de proteo social, ou seja, proteo social bsica ou especial. (BRASIL,
2006). 31 O quadro que demonstra a equipe mnima exigida para trabalhar nos CRAS, encontra-se no item IV da
NOB/SUAS/HR, 2006, p. 19. 32 A descrio dos servios esto na Tipificao Nacional de servios socioassistenciais de 2009, item 3. 33 Segundo a Tipificao, aquisies dos usurios Trata dos compromissos a serem cumpridos pelos gestores
em todos os nveis, para que os servios prestados no mbito do SUAS produzam seguranas sociais aos seus
usurios, conforme suas necessidades e a situao de vulnerabilidade e risco em que se encontram.(BRASIL,
2009a, p.5). Apresenta-se como aquisies dos usurios da proteo social bsica a [...] segurana de acolhida;
segurana de convvio familiar e comunitrio e segurana de desenvolvimento da autonomia. (BRASIL, 2009a,
p.8).
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30
artigos de seu texto com o intuito de reorganiz-la. Dentre as inovaes e alteraes34
introduzidas na lei, apresenta-se, por exemplo, o artigo 20 que trata da concesso do BPC.
No mesmo ano, a Resoluo n 2/2011 da Comisso Intergestores Tripartite (CIT)35
dispe sobre o processo e metodologia da reviso da NOB/SUAS/2005. Considerando que a
Assistncia Social inserida na Seguridade Social e como Poltica Pblica vem passando por
diversas transformaes a partir da CF/1988, a NOB/SUAS/2005 representou um marco
fundamental na estruturao da Poltica Nacional de Assistncia Social.
Em 2012, aprovada pelo CNAS, tem-se a nova NOB/SUAS que expressa os inmeros
avanos conquistados aps a implantao do SUAS, assim como o processo de priorizao
das Polticas Sociais. Apresenta a reafirmao da Assistncia Social no pas e a exigncia de
medidas mais complexas para o enfrentamento de situaes de pobreza e vulnerabilidade
social, integrando a ampliao do acesso aos direitos.
Evidencia-se que a NOB/SUAS/2012 contribui para o avano da Poltica de
Assistncia Social, pois, a criao do Departamento de Vigilncia Socioassistencial permite
avaliar e monitorar a qualidade dos servios oferecidos pelas entidades que prestam servios
referente a Assistncia Social. Em geral, o Departamento de Vigilncia Socioassistencial36
contribui para a Assistncia Social de modo geral, no s para as entidades, pois o
monitoramento uma das prerrogativas do departamento e, para alm de monitorar a
qualidade dos servios, realiza tambm diagnsticos socioterritoriais, lembrando que para isso
necessrio ter um sistema de informao37. (BRASIL, 2012).
Apresentado o processo de construo da Poltica de Assistncia Social no Brasil,
compreende-se que foi e tem sido uma difcil tarefa a sua afirmao como direito, pois o
34 Sobre as mudanas ocorridas foram alterados os artigos 2, 3, 6, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 20, 21, 22, 23, 24, 28
e 36. Dentre as modificaes, referente ao BPC, altera-se o conceito de unidade familiar como tambm a
definio da pessoa portadora de deficincia, antes considerada aquela incapacitada para a vida independente e
para o trabalho e agora aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza fsica, intelectual ou sensorial,
considerando impedimentos de longo prazo o prazo mnimo de dois anos. (BRASIL, 2011). 35 Segundo o MDS, a CIT um espao de articulao e expresso das demandas dos gestores das esferas
federais, estaduais e municipais. Dentre as suas principais funes esto pactuar estratgias para a implantao e
operacionalizao da PNAS; estabelecer acordos sobre a implantao dos servios, programas, projetos e
benefcios, pactuar os procedimentos de transparncia de recursos para cofinanciamento, entre outras. (BRASIL,
2014c). 36 Dentre as contribuies da Vigilncia Socioassistencial est a possibilidade de ampliao do conhecimento das
equipes dos servios socioassistenciais sobre as caractersticas da populao e do territrio de forma a melhor
atender s necessidades e demandas existentes. (BRASIL, 2012). 37 O sistema de informao do SUAS tem como diretrizes I- compartilhamento da informao na esfera
federal, estadual, do Distrito Federal e municipal e entre todos os atores do SUAS - trabalhadores, conselheiros,
usurios e entidades; II - compreenso de que a informao no SUAS no se resume informatizao ou
instalao de aplicativos e ferramentas, mas afirma-se tambm como uma cultura a ser disseminada na gesto e
no controle social; III - disponibilizao da informao de maneira compreensvel populao; IV -
transparncia e acessibilidade; V - construo de aplicativos e subsistemas flexveis que respeitem as
diversidades e particularidades regionais; VI - interconectividade entre os sistemas.(BRASIL, 2012, p. 43-44).
-
31
contexto histrico permeado de contradies, onde h uma persistncia muito grande pela
classe dominante em manter a lgica focalista e fragmentada das Polticas Sociais como um
todo.
[...] na rdua e lenta trajetria ruma sua efetivao como poltica de
direitos, permanece na Assistncia Social brasileira uma imensa fratura entre
o anncio do direito e sua efetiva possibilidade de reverter o carter
cumulativo dos riscos e vulnerabilidades que permeiam a vida de seus
usurios [...]. (YAZBEK, 2004, p.26).
Assim, no se pode desconsiderar o grande processo que a Poltica de Assistncia
Social passa no Brasil, tendo como marco a CF/1988, no entanto, mesmo com todas essas
legislaes que se apresentam a favor de uma poltica de direito, no cotidiano no h esse
reconhecimento. Tem-se ainda desafios diante da articulao de planejamento e execuo da
Poltica de Assistncia Social, assim como das Polticas Sociais como um todo, pois deve-se
considerar um modelo de sociedade voltado a responder as necessidades do capital,
predominando-se a retrao dos direitos sociais, considerando que o grande investimento por
parte do Estado concentra-se nas Polticas Econmicas.
1.2.1 A descentralizao da Poltica de Assistncia Social
Para se fazer uma breve contextualizao da Poltica de Assistncia Social no estado
do Paran, evidenciando a dcada de 1980, faz-se necessrio primeiramente apresentar o
principio da descentralizao, assegurado pela CF/1988, alm das legislaes referentes a tal
poltica. Diante o principio da descentralizao que se estrutura a Poltica de Assistncia
Social nas trs esferas de governo, ou seja, federal, estadual e municipal, contribuindo para o
reconhecimento das particularidades de cada regio do pas.
Dentre os princpios referentes Seguridade Social, promulgados no artigo 194 da
CF/1988, os quais devem orient-la e operacionaliz-la, esto: a universalidade;
uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios; a seletividade e distributividade na
prestao de servios; irredutibilidade; a diversidade das bases de financiamento e o carter
democrtico e descentralizado da administrao. Os presentes princpios propostos em lei
deveriam proporcionar a articulao entre as polticas que a compe, formando uma rede de
proteo ampliada, slida, permitindo [...] a transio de aes fragmentadas, desarticuladas
e pulverizadas para [...] integrao das aes do Estado e da sociedade, assegurando os
-
32
direitos da sade, previdncia e Assistncia Social. (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p.
158).
Contudo, frente a um Estado neoliberal, a descentralizao estabelecida no como
uma forma de compartilhamento de poder entre as esferas pblicas, mas,
[...] como mera transferncia de responsabilidades para entes da federao
ou para instituies privadas e novas modalidades jurdico -institucionais
correlatas, componente fundamental da reforma e das orientaes dos
organismos internacionais para a proteo social [...]. (BEHRING;
BOSCHETTI, 2008, p.156).
distorcendo a essncia do princpio constitucional, como princpio que favorea o
desenvolvimento da Poltica Social e no de transferncia de responsabilidades.
A descentralizao deveria ser um processo de redistribuio de poder que pressupe,
principalmente, o [...] deslocamento dos espaos de planejamento e de tomada de deciso de
uma instncia central para outras, intermedirias e locais, bem como dos recursos (materiais,
humanos e financeiros) [...]. (PEREIRA, 1996, p. 76-78), possibilitando a operacionalizao
da poltica, atendendo a necessidades de cada regio do pas.
Alm da CF/1998, a LOAS ao propor a descentralizao da Poltica de Assistncia
Social, mesmo diante de algumas modificaes verso original (primeira), significou uma
evoluo para o campo da Poltica de Assistncia Social, sendo uma delas a diviso de
responsabilidade entre as trs esferas de governo, onde cada esfera tem a possibilidade de
realizar aes, programas e projetos que vo de encontro com a realidade de cada regio.
Em seus artigos 5 e 6, apresenta objetivos de estruturar a organizao da poltica,
tanto em suas diretrizes quanto na gesto das suas aes. Dispe ainda no artigo 8 que a
Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, fixaro suas respectivas Polticas de
Assistncia Social. (BRASIL, 2014d). Em seu artigo 11, apresenta que as aes das trs
esferas de governo na rea da Poltica de Assistncia Social realizam-se de forma articulada,
cabendo a coordenao e as normas gerais esfera Federal e a coordenao e execuo dos
programas, em suas respectivas esferas, ou seja, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municpios.
Neste mesmo sentido, a PNAS/2004 traz a descentralizao como forma de
transferncia de poder e d