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0 SERVIÇO SOCIAL _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ MABILE CAETANO CAZELA RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006: SEUS REBATIMENTOS NOS ESPAÇOS SÓCIO- OCUPACIONAIS CORRESPONDENTES AOS CAMPOS DE ESTÁGIO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ UNIOESTE, CAMPUS DE TOLEDO _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ TOLEDO-PR 2012

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SERVIÇO SOCIAL

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

MABILE CAETANO CAZELA

RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006: SEUS REBATIMENTOS NOS ESPAÇOS SÓCIO-

OCUPACIONAIS CORRESPONDENTES AOS CAMPOS DE ESTÁGIO DO CURSO

DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

– UNIOESTE, CAMPUS DE TOLEDO

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

TOLEDO-PR

2012

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MABILE CAETANO CAZELA

RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006: SEUS REBATIMENTOS NOS ESPAÇOS SÓCIO-

OCUPACIONAIS CORRESPONDENTES AOS CAMPOS DE ESTÁGIO DO CURSO

DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

– UNIOESTE, CAMPUS DE TOLEDO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao

Curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção

do grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Dra. Esther Luiza de Souza

Lemos

TOLEDO-PR

2012

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MABILE CAETANO CAZELA

RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006: SEUS REBATIMENTOS NOS ESPAÇOS SÓCIO-

OCUPACIONAIS CORRESPONDENTES AOS CAMPOS DE ESTÁGIO DO CURSO

DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

– UNIOESTE, CAMPUS DE TOLEDO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao

Curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção

do grau de Bacharel em Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profa. Dra. Esther Luiza de Souza Lemos

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

________________________________________

Profa. Ms. Cristiane Carla Konno

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

________________________________________

Profa. Ms. Ineiva Terezinha Kreutz Louzada

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 22 de novembro de 2012.

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3

DEDICATÓRIA

A todas e todos Assistentes Sociais

comprometidos/as com o projeto ético-político

profissional que, cotidianamente, lutam pela

garantia dos direitos dos seres humanos

usuários de seus serviços e que seguem firme

na utopia de um novo projeto societário.

À Michella, em forma de incentivo à vida

acadêmica, pois conhecimento é liberdade!

Ao eterno Manoel Caetano (in memorian),

sempre ao meu lado!

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AGRADECIMENTOS

Aos amores da minha vida: Bruno, Luiz Roberto e Maria Sueli, que de tudo fizeram para que

eu chegasse até aqui e que me fizeram crer que este é apenas o começo!

Aos professores e professoras do curso de Serviço Social da Unioeste;

Ao professor Alfredo Batista, por me “apresentar” o elemento fundante do ser social;

À professora Amália Paschoal por sua experiência e amor ao Serviço Social;

Cleonilda Dallago, por sua dedicação no inicio desta pesquisa;

India Nara Smaha, sua determinação, garra e posicionamento ético que me são exemplo

cotidianamente;

Em especial à Esther Luiza de Souza Lemos, por sua doçura de pessoa e comprometimento

ético-político com o Serviço Social. É e permanecerá sendo meu exemplo!

À banca examinadora;

Às Assistentes Sociais sujeitos desta pesquisa, sem vocês este trabalho não existiria;

A Equipe do Programa Pró-Egresso de Toledo-PR;

A Equipe do Departamento de Gestão do SUAS da SMAS de Toledo-PR;

Às minhas tias, de sangue e não: Marcinha e Magda, que estiveram presentes mesmo à

distância;

Ana Maria – Secretaria Acadêmica, que exercendo seu trabalho de forma ética e responsável

me auxiliou no processo “conturbado” da minha matrícula nesta Universidade;

Ao Douglas e à Amanda, irmão e irmã, que a vida me trouxe sem necessidade de laços

consanguíneos;

Às guerreiras e fieis amigas (de hoje e para sempre) para as quais não encontro palavras para

descrever o que significaram neste período da minha vida: Andressa; Franciele; Ivonete;

Jéssica Linda; Marina; Sandra e Rô; Thaís. Eu amo vocês!

À minha família (universitária): Alemoa e Patilene, que mesmo diante de tantas dificuldades,

fomos amigas e irmãs, fizemo-nos família neste período tão tenso e tão maravilhoso de nossas

vidas. Obrigada por tudo!

Agradeço a Deus, por último, não por ser menos importante, ao contrário: por ser a base e

engendrar tudo isso descrito e agradecido acima! Meu maior agradecimento!

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A utopia está no horizonte

“A utopia está lá no horizonte.

Me aproximo dois passos,

ela se afasta dois passos.

Caminho dez passos

e o horizonte corre dez passos.

Por mais que eu caminhe,

jamais alcançarei.

Para que serve a utopia?

Serve para isso:

para que eu não deixe de caminhar.”

Eduardo Galeano

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CAZELA, Mabile Caetano. Resolução CFESS n. 493/2006: seus rebatimentos nos espaços

sócio-ocupacionais correspondentes aos campos de estágio do curso de Serviço Social da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, campus de Toledo. Trabalho de

Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas.

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo, 2012.

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema central o debate sobre as

condições éticas e técnicas do exercício profissional do/a assistente social. O problema de

investigação nasceu da relação direta com o cotidiano do campo de estágio em Serviço Social,

expressando-se na seguinte indagação: quais os rebatimentos da Resolução CFESS n.

493/2006 nos espaços sócio-ocupacionais correspondentes aos campos de estágio do curso de

Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de

Toledo-PR? O objetivo geral que é: identificar os rebatimentos (impactos) da Resolução

CFESS n. 493/2006 nestes espaços sócio-ocupacionais com vistas à qualidade dos serviços

prestados aos usuários. Para responder a este objetivo geral foram elencados os seguintes

objetivos específicos: a) contextualizar o processo sócio-histórico à construção e efetivação da

Resolução CFESS n. 493/2006 pela categoria profissional dos/as Assistentes Sociais; b)

compreender a forma de apropriação dos sujeitos entrevistados da pesquisa no que tange à

Resolução CFESS n. 493/2006; c) investigar como as condições físicas e técnicas influenciam

(ou não) nas condições éticas do exercício profissional dos/as Assistentes Sociais supervisores

de campo no espaço sócio-ocupacional de intervenção sobre o qual atuam. O tipo de pesquisa

realizada foi exploratória baseada em entrevistas semi-estruturadas e análise documental das

normatizações do exercício profissional. Num universo de 42 campos de estágio, através de

amostra intencional, foram entrevistadas três assistentes sociais. Foram elencadas três

categorias analíticas, as quais referenciam uma síntese primária dos conteúdos que os sujeitos

expuseram durante o procedimento da entrevista na pesquisa de campo. São elas: condições

de trabalho e infraestrutura dos serviços; sigilo profissional; resolução CFESS n. 493/2006 e

conjunto CFESS/CRESS.

Palavras chave: Trabalho; Serviço Social; Condições Éticas e Técnicas do Exercício

Profissional; Conjunto CFESS/CRESS

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LISTA DE SIGLAS

ABESS Associação de Escolas de Serviço Social

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CENEAS Comissão Executiva Nacional de Entidades de Assistência Social

CFAS Conselho Federal de Assistentes Sociais

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

COFI Comissão de Orientação e Fiscalização

CRAS Conselho Regional de Assistentes Sociais

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

PNF/1997 Política Nacional de Fiscalização de 1997

PNF/2007 Política Nacional de Fiscalização de 2007

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................ 03

LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................... 05

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 09

1 A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA VIDA SOCIAL E O TRABALHO DO/A

ASSISTENTE SOCIAL ........................................................................................................ 11

1.1 O FUNDAMENTO ONTOLÓGICO DO SER SOCIAL ................................................. 11

1.2 TRABALHO E QUESTÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA ...................... 18

1.3 SERVIÇO SOCIAL E A DIVISÃO SÓCIO-TÉCNICA DO TRABALHO ..................... 24

2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL ........................ 30

2.1 O PROCESSO DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO ....................................... 32

2.2 A RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006: QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS À

POPULAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO ENFRENTAMENTO DAS CONDIÇÕES DE

TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL ......................................................................... 42

3 AS CONDIÇÕES ÉTICAS E TÉCNICAS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL

E AS PERCEPÇÕES DOS/AS ASSISTENTES SOCIAIS DA REGIÃO OESTE DO

PARANÁ ................................................................................................................................ 45

3.1 CONDIÇÕES DE TRABALHO E INFRAESTRUTURA DOS SERVIÇOS .................. 47

3.2 SIGILO PROFISSIONAL ................................................................................................. 54

3.3 RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006 E O CONJUNTO CFESS/CRESS .......................... 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 62

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 65

APÊNDICES .......................................................................................................................... 69

ANEXOS ................................................................................................................................ 77

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INTRODUÇÃO

Todo e qualquer questionamento feito por um sujeito social advém de uma dúvida,

dificuldade, indignação ou admiração sobre o processo dinâmico que se apresenta à realidade

social, o que pode engendrar “[...] motivações teóricas, éticas e políticas, dirigidas à crítica e a

uma prática social voltada à transformação [daquela] realidade.” (BARROCO, 2010, p. 15).

Assim, também, este trabalho é fruto de uma admiração ou inquietude a partir dos

estudos ao longo do curso de Serviço Social, especificamente sobre disciplinas de Ética

Profissional e Pesquisa em Serviço Social I e II, Práxis I e Estágio em Serviço Social I e II.

Outro fator que instigou o interesse pelo tema foi a relação direta/cotidiana com o

campo de estágio em Serviço Social. Isso porque inserida no processo de formação

profissional e de contato com o espaço sócio-ocupacional de intervenção do/a Assistente

Social1, frente às condições de trabalho deste/a profissional inserido/a na divisão social e

técnica do trabalho, é que esta pesquisadora se propôs a estudar as condições éticas e técnicas

do exercício profissional do/a Assistente Social, que se materializa sob a Resolução CFESS n.

493/20062, possuindo esta como temática norteadora e direcionando sua problemática à

seguinte indagação: quais os rebatimentos da Resolução CFESS n. 493/2006 nos espaços

sócio-ocupacionais correspondentes aos campos de estágio do curso de Serviço Social da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Toledo-PR?. É

importante ressaltar que durante o processo de aproximação com o objeto de estudo, com as

leituras, assim como com a realização das entrevistas com os sujeitos da pesquisa, foi possível

sintetizar o problema da pesquisa da seguinte forma: como as condições de trabalhos dos/as

Assistentes Sociais impactam (ou não) na qualidade do atendimento dos/as usuários/as dos

serviços sociais?

Tais questões contribuem à compreensão do significado social da profissão, o que

implica a elaboração do objetivo geral que é: identificar os rebatimentos (impactos) da

Resolução CFESS n. 493/2006 nos espaços sócio-ocupacionais correspondente aos campos de

estágio do curso de Serviço Social da Unioeste, campus de Toledo-PR com vistas à qualidade

dos serviços prestados aos usuários. Assim para responder a este objetivo geral foram

1 Cabe ressaltar neste contexto que outro fator que instigou o estudo, foram as discussões e eventos realizados

em forma de Encontros, Semanas Acadêmicas, Simpósios de Formação Profissional, entre outros, podendo

ressaltar o IV Simpósio Regional de Formação Profissional e, concomitantemente, a Semana Acadêmica de

Serviço Social, ocorrido em 2011 na UNIOESTE, que trouxe a temática “Serviço Social: Formação Profissional

e Ensino Superior”, assim como, mais recentemente, o V Congresso Paranaense de Assistentes Sociais – CPAS,

realizado em Foz do Iguaçu-PR, em outubro deste ano, com a tema “O trabalho do Assistentes Social:

conquistas, consolidar e resistir na luta por direitos. 2 Dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do/a Assistente Social. (CFESS, 2006a)

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elencados os seguintes objetivos específicos: a) contextualizar o processo sócio-histórico à

construção e efetivação da Resolução CFESS n. 493/2006 pela categoria profissional dos/as

Assistentes Sociais; b) compreender a forma de apropriação dos sujeitos entrevistados da

pesquisa no que tange à Resolução CFESS n. 493/2006; c) investigar como as condições

físicas e técnicas influenciam (ou não) nas condições éticas do exercício profissional dos/as

Assistentes Sociais supervisores de campo no espaço sócio-ocupacional de intervenção sobre

o qual atuam.

A dinâmica deste trabalho engendra um diálogo dialético entre o contexto sócio-

histórico da profissão, as legislações pertinentes e os rebatimentos da Resolução, expressando

a indissociabilidade entre teoria e prática, pois “[...] a atitude investigativa e a pesquisa [são]

parte constitutiva do exercício do assistente social [...]”. (GUERRA, 2009, p. 703).

Nesse sentido, no primeiro capítulo será realizado um contexto e conceituação sobre a

centralidade do trabalho na vida social e sobre o trabalho do/a Assistente Social. Para tanto,

inicia-se com os fundamentos ontológicos do ser social, analisando-se a categoria trabalho e

“questão social” na sociedade capitalista; caminhando para o contexto do Serviço Social

inserido na divisão sócio-técnica do trabalho, enfatizando o momento do seu surgimento

enquanto profissão.

O segundo capítulo tratará sobre o processo de institucionalização do Serviço Social

no Brasil – que ocorre mediante o surgimento das instituições assistenciais – junto ao qual se

dá a profissionalização desta profissão. Logo, direcionando a discussão ao processo de

regulamentação desta profissão, serão apresentadas, a partir do contexto social, histórico,

político e ideológico, as leis, códigos de ética e outras normativas, entre as quais se ressalta a

Resolução CFESS n. 493/2006, enfatizando o processo de formulação e estrutura desta, assim

como seu direcionamento que se refere à qualidade dos serviços prestados à população

usuária dos serviços e o enfrentamento das condições de trabalho do/a Assistente Social.

No terceiro capítulo, após a apresentação da metodologia, será feita a análise das

entrevistas realizadas, a partir das categorias analíticas evidenciadas na pesquisa: condições

de trabalho e infraestrutura; sigilo profissional; resolução CFESS n. 493/2006 e o conjunto

CFESS/CRESS. Nestes, será apresentada a concepção dos sujeitos sobre cada um,

correlacionando e analisando-as junto às legislações em cheque e à concepção de alguns

autores que discutem sobre a temática.

Por fim, e tão importante quanto os outros elementos expostos no trabalho, estão as

considerações finais, que sintetizam os resultados deste trabalho e expressam a importância da

realização deste estudo para a “vida acadêmica” e, por conseguinte, à “vida profissional”

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1 A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA VIDA SOCIAL E O TRABALHO DO/A

ASSISTENTE SOCIAL

A centralidade do trabalho na vida social se explica mediante a afirmação de que ele é

elemento fundante à criação e desenvolvimento do homem, isto é, do ser social, isso porque é

mediante o trabalho que o homem se torna ser humano. É no e pelo trabalho que o homem

desenvolve suas faculdades mentais, visto que durante sua relação transformadora com a

natureza para garantir sua subsistência e reprodução, ou seja, ao modificar os meios naturais

para se manter vivo, modifica-se a si mesmo. Além disso, este homem não vive de forma

isolada, logo, em seu viver em grupo, é que o toda e qualquer produção só pode ser

compreendida enquanto social. Desta forma, o trabalho é a base fundante do modo de ser

dos homens e da sociedade de forma geral3.

Nesse sentido, é que será realizado uma exposição em torno desta categoria,

conceituando sua especificidade enquanto atividade fundante e humanizadora, ou seja,

constitutiva do homem4, enquanto fundamento ontológico do ser social.

Ainda, no que tange o Modo de Produção Capitalista, o trabalho configura-se de forma

totalmente reversa, uma vez que ele não tem o objetivo de humanizar os homens,

apresentando características peculiares.

Logo, o trabalho do/a Assistente Social não está alheio a isto. O surgimento do Serviço

Social, e posteriormente sua institucionalização enquanto profissão inserida na divisão social

e técnica do trabalho, faz recair sobre a profissão todos as implicações do mundo do trabalho.

Assim, sobre este horizonte – do trabalho enquanto fundante do ser social; das

peculiaridades do trabalho na sociedade capitalista, assim como seus rebatimentos (questão

social) e; do Serviço Social enquanto profissão – que se expandirá o estudo nos itens a seguir.

1.1 O FUNDAMENTO ONTOLÓGICO DO SER SOCIAL

Parte-se da premissa de que o trabalho existe “[...] numa forma em que pertence

exclusivamente ao homem.” (Marx apud ANTUNES, 2004, p. 35), em outras palavras, ele é

uma atividade única e essencialmente humana.

3 Para Netto e Braz (2008), o trabalho, além de ser elemento primordial para a compreensão da atividade

econômica, diz respeito ao “próprio modo de ser dos homens e da sociedade” (p. 29). Logo, a compreensão por

sociedade significa justamente os “[...] modos de existir e do ser social; é na sociedade e nos membros que a

compõe que o ser social existe [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 37). 4 Ao longo deste Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, será utilizado o termo homem/homens referindo-se

sempre à espécie humana – ser humano genérico, ou seja, necessariamente homens e mulheres;

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12

Como todo e qualquer animal, o homem precisa satisfazer materialmente suas

necessidades5 para garantir sua existência. Logo, é mediante uma interação com a natureza

6,

que estes homens transformam matéria-prima (natural) em produtos que respondam às suas

necessidades. É este processo de transformação da natureza exercida por meio da atividade

humana que terá nome de trabalho. Condizente a isso, tem-se então que:

[...] as condições materiais de existência e reprodução da sociedade – vale

dizer a satisfação material das necessidades de homens e mulheres que

constituem a sociedade – obtém-se numa interação com a natureza: a

sociedade através dos seus membros (homens e mulheres), transforma

matérias naturais em produtos que atendam às suas necessidades. Essa

transformação é realizada através da atividade a que denominamos trabalho.

(NETTO; BRAZ, 2008, p. 30 grifo dos autores).

É importante ressaltar a especificidade da atividade humana transformadora para sua

subsistência, uma vez que animais de outras espécies também precisam satisfazer sua

necessidade por meio de uma atividade. Tal especificidade está expressa no fato de que a

atividade humana transformadora a fim de satisfazer uma necessidade não se limita à

atividade meramente instintiva como a de outros animais, as quais, segundo Netto e Braz

(2008), ocorrem sob formas fixas em geral, sendo basicamente invariáveis. Assim, a atividade

humana, como já denominada trabalho, se difere fundamentalmente da atividade de outras

espécies de animais, haja vista que durante um extenso período de tempo o trabalho

estruturou-se e desenvolveu-se, rompendo com as formas naturais fixas e instintivas7.

Sobre afirmação feita acima, é possível elencar, ainda de acordo com Netto e Braz

(2008), três características que demonstram esta especificidade do trabalho. A primeira se

refere ao fato de a atividade do trabalho não se realizar sob uma atuação direta com a matéria-

prima, é necessário que entre o homem e a matéria-prima haja instrumentos8 para a realização

5 Comer, beber, proteger-se para descansar (habitar).

6 “Por natureza entendemos o conjunto de seres que conhecemos no nosso universo, seres que precederam o

surgimento dos primeiros grupos humanos e continuaram a existir e a se desenvolver depois desse surgimento.

Ela se compõe de seres que podem ser agrupados em dois grandes níveis: aqueles que não dispõem da

propriedade de se reproduzir (a natureza inorgânica) e aqueles que possuem essa propriedade, os seres vivos,

vegetais e animais (a natureza orgânica).” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 35, grifo dos autores). 7 “Na medida em que se foi estruturando e desenvolvendo ao longo de um larguíssimo decurso temporal, o

trabalho rompeu com o padrão natural daquelas atividades [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 30, grifo dos

autores). 8 De acordo com Marx apud Antunes (2004), o processo de trabalho é composto por três elementos: matéria-

prima, instrumentos e trabalho humano. Assim, só é possível que ele ocorra, fundamentalmente, se estes três

elementos estiverem presentes ao mesmo tempo no processo, uma vez que a matéria-prima, encontrada na

natureza, só se transforma em produto mediante o trabalho humano, interpostos pelos instrumentos. Em suma,

trabalho humano é elemento fundamental, isso porque é o único capaz de realizar esta transformação, pois o

homem usa de sua teleologia, bem como utiliza dos meios de trabalho - instrumentos - para criar um produto. É,

pois, este processo o fundante e essencial para que haja processo de produção, assim como é o que garante a

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da atividade do trabalho, ou seja, não é uma relação imediata ou direta; a segunda salienta que

o trabalho apenas emerge sob uma condição de atividade instintiva – por determinação

genética, biológica, funcional –, mas não se limita a tal, se desprendendo gradativa e

progressivamente, exigindo cada vez mais habilidades e conhecimento que se acumulam e se

transmitem por meio do aprendizado; a terceira característica, direciona-se ao vasto e

ilimitado conjunto de necessidades a que o trabalho se destina a sanar para garantir a

subsistência do homem e, com uma gama de necessidades a serem atendidas, isso porque “[...]

as formas desse atendimento variam muitíssimo e, sobretudo implicam o desenvolvimento,

quase sem limite de novas necessidades.” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 30, grifos dos autores).

Essas peculiaridades apontadas denotam uma nova forma de atividade, inerente a uma

espécie animal, distante de qualquer forma limitada ao fator biológico, instintivo, podendo ser

realizada única e essencialmente por tal espécie, esta que, por esta condição, ”[...] diferencia-

se e distancia-se da natureza.” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 31, grifos dos autores).

Toda e qualquer comparação feita do trabalho para com aquela atividade instintiva de

satisfazer necessidades de outras espécies animais, apontará diferenças, isto é, especificidades

da atividade realizada pelos homens. Veja-se, por exemplo, que o trabalho ocorre de maneira

mediatizada, uma vez que entre o sujeito que realiza a atividade (homem) e o objeto (matéria

natural) existe, essencialmente, um ou mais meios de trabalho (instrumentos) que estará se

interpondo entre homem e matéria natural para construir algo que lhe seja útil; diferente

daquela atividade instintiva, mencionada acima, que se dá de maneira imediata – do animal

com o meio natural que vive, apenas para responder a uma necessidade de sobrevivência. Isso

se explica pelo fato de que “[...] a natureza não cria instrumentos: estes são produtos, mais ou

menos elaborados, do próprio sujeito que trabalha [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 32, grifo

dos autores).

Assim, a própria elaboração dos instrumentos engendra, de acordo com estes autores,

o problema dos meios (instrumentos), dos fins (finalidades) e das escolhas, significando,

respectivamente: quais instrumentos produzir para mediar a relação com a natureza e se

chegar à finalidade que se quer; o fato de prefigurar a finalidade (teleologia) do que se quer

produzir, antes mesmo de fazê-lo e; escolher entre alternativas concretas, avaliando questões

que se relacionam diretamente à realização/obtenção do produto final, resultado do trabalho.

De forma geral, o trabalho se dá “[...] a partir de um fim proposto pelo sujeito.”, onde

a finalidade é projetada, em primeiro lugar, no plano ideal9 – no pensamento do sujeito: antes

existência humana. 9 Sobre plano ideal ver a obra “Introdução ao estudo do método de Marx” de José Paulo Netto (2011).

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mesmo de realizar concretamente a atividade do trabalho para produzir determinado fim

(produto), o sujeito idealiza o resultado de sua ação (o produto) em seu cérebro. Assim, “[...]

sua atividade parte de uma finalidade que é antecipada idealmente, [...] tem como ponto de

partida uma intencionalidade prévia [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 32). Sobretudo, a

atividade do trabalho só se finda, se concretiza, quando esta projeção ideal se objetiva, ou

seja, quando a matéria natural, por meio da ação humana mediada por instrumentos, é

transformada. Contudo, percebe-se, pois, que o trabalho envolve dois momentos indivisíveis,

onde o primeiro se consolida no campo subjetivo, isso porque, a prefiguração ocorre no

âmbito do sujeito, em seguida num campo objetivo, no qual o resultado do trabalho é

material, concreto, pois transforma a natureza. (NETTO; BRAZ, 2008).

Entretanto, é necessário prefigurar além do fim da atividade do trabalho para o

resultado que se deseja produzir, isto é, prefigurar as condições objetivas para a realização de

qualquer atividade de trabalho e que essas possam ser transmitidas aos outros sujeitos.

Compreende-se que de nada adianta realizar uma prefiguração do que se deseja produzir no

âmbito subjetivo, se, objetivamente, não existem condições para que a mesma possa ser

construída materialmente, assim como se deve poder passar estas experiências de um sujeito

para outro, universalizando o processo do trabalho. Isso significa, gradativamente, o

desprendimento do ato instintivo, indicando a necessidade de comunicação (linguagem) entre

os sujeitos que realizam o trabalho, de modo que estes aprendam a se comunicar para

transmitirem informações que gerem, concomitantemente, aprendizado uns aos outros. Em

consonância com Antunes (2004), a transformação do homem, a relação desta espécie com a

natureza, o viver em grupo, fez surgir o parecer de que um homem precisava dizer algo aos

outros, sendo que este ato possibilitou a estruturação de uma linguagem. Seguindo deste

apontamento, é cabível afirmar que o trabalho, este agir sobre a natureza, o desgaste físico e

psíquico é a base, a categoria primeira da existência humana – ele cria o homem10

–, pois é a

partir dele que o homem desenvolve seu cérebro, evoluindo, segundo este autor, de mono a

homem.

Logo, de todo este processo de constituição de uma linguagem para a comunicação,

emana uma questão fundante para a compreensão do caráter coletivo do trabalho, uma vez

que este não pode, em nenhuma hipótese, ocorrer isoladamente. Esta é a condição primária

que o classificará enquanto uma atividade social. Desta forma,

10

Isso porque “[...] foi através do trabalho [...] que grupos de primatas se transformaram em grupos humanos.”

Assim, [...] o trabalho é fundante do ser social, precisamente porque é de ser social que falamos quando falamos

de humanidade (sociedade). (NETTO; BRAZ, 2008, p. 36, 37, grifos dos autores).

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15

[...] a comunicação é tanto mais necessária se se leva em conta que o

trabalho jamais é um processo capaz de surgir, de se desenvolver ou, ainda,

de se realizar, em qualquer tempo como atividade isolada de um ou outro

membro da espécie humana. O trabalho é sempre uma atividade coletiva.

[...] Esse caráter coletivo da atividade do trabalho é, substancialmente, aquilo

que se denominará de social. (NETTO; BRAZ, 2008, p. 33-34, grifo dos

autores)

Sobretudo, o trabalho não engendra somente transformação sobre a matéria natural,

ele transcende esta condição: ao mesmo tempo em que o sujeito, por meio de sua ação,

transforma a natureza a sua volta para satisfazer suas necessidades, todo esse processo

(teleológico, dos meios e dos fins), faz com que ele modifique a si mesmo.

Tal fato aponta uma transformação mutua, isto é, à medida em que o homem, através

do seu trabalho, transforma a natureza, este mesmo agir sobre ela (o processo de trabalho

como um todo - matéria natural, instrumentos de trabalho, ação humana – trabalho),

concomitantemente o transforma.

Isso significa que o homem produz uma atividade transformadora que produz

resultados sobre dois âmbitos: sobre a matéria natural e sobre si próprio. Além disso, é esta

mesma atividade que o humaniza, ou seja, o trabalho é o que o torna superior às outras

espécies animais, que transforma aquele animal em ser social – que remete à ideia supracitada

do “salto”. Sendo assim, o trabalho não é só uma atividade dos homens em sociedade; é

também o processo histórico de onde emergiu o ser desta espécie: o ser social. É então, o

meio pelo qual a humanidade se fez enquanto tal. (NETTO; BRAZ, 2008)

Desta maneira, a emersão da espécie humana não condiz com uma evolução genética

ou uma transmutação genética, ao contrário, significa uma ruptura sobre aquelas atividades

mecanizadas e fixas realizadas pelos animais, configura-se no desenvolvimento de outro tipo

de ser, distinto de qualquer outro existente até então, conotando, assim, “[...] um modo de ser

radicalmente inédito, [...] dotado de uma complexidade de novo tipo e exponencialmente

maior que a verificável na natureza (orgânica e inorgânica).” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 36,

grifos dos autores).

Neste contexto, é importante destacar que a espécie humana, antes se configurar

enquanto ser social – ser humano, ou seja, antes de fazer surgir o seu ser, era somente um

“salto” da natureza, uma espécie natural distinta de tantas outras, porém dotada de

peculiaridades. Entretanto, durante um longo período de tempo, o trabalho desenvolvido pelos

homens, fez surgir o ser desta espécie, um ser peculiar, que não deixa de ser natural, mas

desenvolve características que o diferem factualmente da natureza.

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16

Sabe-se até aqui que o homem – ser social –, é uma espécie que emerge, assim como

outras, da natureza, porém, sabe-se também que este ser através de seu trabalho se constitui

num novo ser, isto é, humaniza-se. Partindo deste pressuposto, tem-se que à medida que este

ser se desenvolve, ele se afasta cada vez mais das determinações naturais postas sobre ele,

engendrando um ser natural historicamente transformado, cuja própria transformação é

responsável por torna-lo além daquilo que é natural: um ser social.

Tem-se então um processo que demarcado pelo desenvolvimento do homem por meio

do próprio homem – leia-se desenvolvimento do homem por meio do desenvolvimento do seu

trabalho –, que diminui sua naturalidade ao passo que aumenta sua humanização11

, então:

“[...] quanto mais o homem se humaniza, quanto mais se torna ser social, tanto menos o ser

natural é determinante em sua vida.” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 38).

De acordo com os mesmos autores, o homem é a representação sintética de tais

determinações, isso porque realiza atividades teleologicamente orientadas, desenvolve

objetivações material e idealmente, comunica e se expressa por meio de uma linguagem

articulada, trata suas atividades e a si mesmo de forma reflexiva, consciente e autoconsciente,

escolhe entre alternativas concretas, universaliza-se, sociabiliza-se, entre outras

especificidades. Enfatiza-se o fato de o ser social poder optar entre alternativas concretas, haja

vista que daí emana o exercício da liberdade, uma das capacidades específicas deste novo ser,

entre as outras já citadas.

Cabe observar que o trabalho é a objetivação primeira do homem, donde emanam

outras formas de objetivações12

, isto é, questões ligadas ao trabalho. Em consonância com

esta afirmação e parafraseando Professor Alfredo Aparecido Batista, citando Marx, o trabalho

é a categoria fundante do ser social, porém não é a única, tampouco a mais complexa, mas ela

é a base para todas as outras13

. Sobre isso tem-se a categoria práxis, que envolve o trabalho,

porém o ultrapassa de modo que “[...] inclui todas as objetivações humanas.” (NETTO;

BRAZ, 2008, p. 43).

A práxis pode ser expressa sob duas formas segundo estes autores, primeiramente

enquanto trabalho, transformação da natureza, onde o homem é o sujeito e a natureza é o

objeto – assim como já vem sendo traçado – e enquanto educação, política, onde ocorre

influência no comportamento e ação dos homens, aqui os homens são, simultaneamente,

11

O “[...] processo de humanização pode ser compreendido [...] como a diferenciação e a complexificação das

objetivações do ser social.” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 40), ou seja, a humanização se dá à medida que o trabalho

se complexifica, se desprende e diferencia da natureza, embora sempre vinculado à ela. 12

Estas relacionadas ao processo de humanização, conforme conceituado na nota anterior. 13

Fala do Professor Dr. Alfredo Aparecido Batista na palestra do V Congresso Paranaense de Assistentes

Sociais, em Foz do Iguaçu Paraná, vide referências (BATISTA, 2012).

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17

sujeito e objeto, isso porque o homem que pode provocar transformação na ação e no

comportamento de outro homem, também pode ser transformado por outrem (outro homem);

já a segunda forma de práxis se apresenta sob produtos e obras resultantes da práxis e podem

se objetivar material e/ou idealmente. É através destas formas que os homens podem se

projetar e se realizar, constituindo um mundo, o seu mundo: social e humano, permeado por

valores criados por ele mesmo, tornando a espécie humana em gênero humano. Desta forma,

é que se afirma a práxis como constitutiva do gênero humano, assim:

[...] verifica-se, na e pela práxis, como, para além das suas objetivações

primárias, constituídas pelo trabalho, o ser social se projeta e se realiza nas

objetivações materiais e ideais da ciência, filosofia, arte, construindo um

mundo de produtos, obras e valores – um mundo social, humano enfim, em

que a espécie humana se converte inteiramente em gênero humano. [...] ser

da práxis, o homem é produto e criação da sua auto-atividade, ele é o que

(se) fez e (se) faz. (NETTO; BRAZ, 2008, p. 44, grifos dos autores)

Em contrapartida, a práxis não produz apenas resultados humanizadores para este

homem, que o permitem por todo o tempo expressar sua criatividade por meio de suas ações

materiais ou ideais, ela pode também produzir efeito contrário. Em outras palavras, a práxis

em diferentes contextos históricos apresenta-se sob condições distintas, isto é, em algumas

sociedades o produto material e idealmente construídos pelos homens, deixa de se manifestar

enquanto objetivações destes homens, assim a objetivação desta práxis deixa de expressar a

humanidade produzida por aqueles homens. Este processo apresenta, sob o entendimento de

Netto e Braz (2008), uma forma de exteriorização do homem das atividades humanas,

invertendo a relação entre o produtor e o produto, ocorrendo uma coisificação do sujeito e

uma personificação da coisa14

, isto é:

Nessas condições, as objetivações, ao invés de se revelarem aos homens

como a expressão de suas forças sociais vitais, impõem-se a eles como

exteriores e transcendentes. [...] a relação entre criador e criatura, aparece

14

“O conceito marxista do produto alienado do trabalho vem expresso em um dos pontos mais fundamentais

expostos em O Capital, no que êle denomina ‘o fetichismo das mercadorias’. A produção capitalista transforma

as relações entre os indivíduos em qualidades de coisas entre si, e essa transformação constitui a natureza da

mercadoria na produção capitalista.” (FROMM, 1970, p. 55). Em consonância a isto, de acordo com Netto e

Braz (2008), a relação entre os homens passa a ser expressa pela mercadoria, isso porque a troca das mercadorias

não é regulada segundo a vontade consciente dos homens, isto é, eles não tem controle consciente sobre esta

relação, uma vez que esta é regulada pela lei do valor. Desta forma, a mercadoria acaba por se tornar

representante das relações entre os homens, tornando-se protagonista dessas relações, configurando, então, uma

inversão: “[...] a criatura (mercadoria) revela um poder que passa a subordinar o criador (homens). [...] a esse

poder autônomo que as mercadorias parecem ter e efetivamente exercem sobre seus produtores, Marx chamou de

fetichismo da mercadoria.” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 92, grifo dos autores).

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invertida – a criatura passa a dominar o criador [fenômeno histórico da

alientação]. (NETTO; BRAZ, 2008, p. 44, grifos dos autores)

Este processo de efeito contrário da práxis, onde ela desumaniza o homem ao invés de

humaniza-lo progressivamente, bem como o processo de inversão dos papéis entre produtor e

produto expressa, no lugar de um bom-feitor para uma boa-feitura, um mau-feitor para uma

má-feitura, observando a atribuição semântica dos termos prefixados “mau/má” para

expressar o sentido da exterioridade da criatividade deste homem, ou melhor, exterioridade do

trabalho do homem como um todo, retirando dele aquilo que fora feito por ele mesmo,

remetendo àquela produção somente ao fim que esta tem destino.

Esta inversão e transposição apontadas demarcam o fenômeno histórico da alienação,

o qual só pode existir (e só existe) por consequência da instauração do modo de produção

capitalista. Logo, é sobre este contexto, do trabalho na sociedade capitalista, bem como sobre

as peculiaridades que engendram este modo de produção que irá tratar o item a seguir.

1.2 TRABALHO E QUESTÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

O trabalho é fundante do ser social em qualquer modo de produção, isso porque, como

expresso anteriormente, ele cria o ser do homem: o gênero humano. Entretanto, é importante

ressaltar que nas sociedades demarcadas pela propriedade privada e pela divisão social do

trabalho – sociedade capitalista – o trabalho apresenta uma peculiaridade, a negação do ser

social.

De acordo com Mandel (2001), o modo de produção capitalista é fundado sobre a “[...]

apropriação privada dos grandes meios de produção e de subsistência (instrumentos de

trabalho, terra, víveres) pelos capitalistas (ou seja, os proprietários de grandes somas de

dinheiro)” (MANDEL, 2001, p. 9). É importante ressaltar que este último compra a força de

trabalho15

do proletariado, o qual não possui nenhum outro bem a não ser a própria força de

trabalho, sendo obrigado a vendê-la para garantir sua subsistência, haja vista que não pode

15

De acordo com Antunes (2004), o trabalho é um todo (energia física e psíquica), já a força de trabalho é um

fragmento, uma parte deste todo. O trabalho é o desgaste físico e psíquico, porém só se difere da força de

trabalho pelo atributo semântico do termo "força de", pois o trabalho sempre será desgaste físico e psíquico.

Deste modo, conclui-se que ambos possuem o mesmo conteúdo, ambos são correspondentes. Assim, o trabalho é

todo tempo do trabalhador, já a força de trabalho é apenas uma parte deste tempo que o capitalista compra do

trabalhador – este último, que por sua vez, torna-se uma mercadoria como qualquer outra. Nesse sentido, Marx

apud Antunes (2004) afirma que o trabalhador não vende seu trabalho, mas a força de trabalho, logo, quanto

mais o trabalhador trabalha mais pobre ele fica, pois no Modo de Produção Capitalista sua força de trabalho é

apropriada por outrem.

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possuir os meios de produção, pois estes já foram expropriados, apropriados por aqueles,

capitalistas.

Deste modo, na sociedade capitalista, o trabalho ao invés de humanizar o sujeito que o

realiza, acaba por criar um afastamento deste sujeito para com as formas de humanização do

mesmo, aproximando-o das outras espécies animais, realizando um processo que desumaniza

o homem. Isso decorre justamente da forma sob a qual é realizado este trabalho, cuja

objetivação ocorre a partir da necessidade de outrem – do detentor dos meios de produção

fundamentais e da propriedade privada: o capitalista –, afastando o homem da produção direta

dos bens que necessita para manter-se vivo, assim como para humanizar-se.

Tem-se aí, pois, sobre este modo de vida em sociedade, o trabalho alienado, onde o

trabalho fica em subsunção às necessidades do capitalista, preso à produção de bens para

gerar riqueza a outrem, contrariando, então, a perspectiva do trabalho enquanto humanizador,

uma vez que nesta forma de trabalho o homem não exerce de suas faculdades humanas, ou

seja, não faz uso da consciência e, consequentemente, da liberdade, tampouco de sua

criatividade16

e atos teleológicos no momento da produção, realizando somente uma atividade

mecânica, repetitiva. É sobre estes aspectos que Netto e Braz (2008) apontam que “[...] as

objetivações humanas, alienadas, deixam de promover a humanização do homem e passam a

estimular regressões do ser social.” (p. 45).

A alienação, sob o entendimento Netto e Braz, é inerente a sociedades que possuem a

divisão social do trabalho e a propriedade privada dos meios de produção fundamentais, nas

quais o produto é expropriado do trabalhador, isto é, em [...] sociedades nas quais existem

formas determinadas de exploração do homem pelo homem. (NETTO; BRAZ, 2008, p. 45,

grifo dos autores). Logo, para Fromm (1970), referenciado em Marx, alienação denota o não

reconhecimento do homem para consigo mesmo enquanto sujeito ativo, que pode exercer

controle sobre o mundo, onde este último é estranho a ele, ou ainda em suas palavras: “[...]

alienar-se é [...] vivenciar o mundo e a si mesmo passivamente, receptivamente, como o

sujeito separado do objeto.” (p. 50).

Se se pensar no contexto histórico do surgimento deste modo de produção cujo

alicerce é a exploração do homem pelo homem, como já afirmado, é possível dizer, conforme

Mandel (2001), que o mesmo surgira no interior da sociedade feudal e consolidou-se,

demarcado pela Revolução Industrial, nos séculos XVII e XVIII. O mesmo autor salienta o

fato do surgimento da classe fundada no trabalho assalariado, assim como o conhecimento da

16

Remete-se aqui a ideia do “mau-feitor” para a produção da “má-feitura”, mencionados no item 1.1 deste

trabalho.

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chamada “questão social”, cuja gênese se originou sobre este novo modo de produção,

especificamente sobre o antagonismo social criado pelo mesmo: “[...] o do capital e do

trabalho [...]” (MANDEL, 2001, p. 16)

Só é possível compreender o processo histórico para o surgimento e os significados da

chamada “questão social” no decorrer do contexto histórico e social do desenvolvimento da

sociedade capitalista, cuja linearidade é inexistente.

Desta forma, o processo que faz nascer, primariamente, o termo “questão social”

começou a ser utilizado, de acordo com Netto (2001), por volta de 1830 e mais divulgado até

meados de 1850. No entanto, a expressão emerge para contemplar um novo fenômeno, do

período de industrialização do Ocidente Europeu – mais precisamente da Inglaterra, na década

de 80 do século XVIII. Tal fenômeno, denominado pauperismo, refere-se à pauperização em

massa do conjunto dos trabalhadores, mostrando ser a forma mais imediata da instauração do

estágio industrial-concorrencial do capitalismo.

Para alguns observadores lúcidos da época, ou seja, sob a visão dos críticos sociais

portadores de consciência política, conforme esse mesmo autor, era obvio que se tratava de

um fenômeno novo, cuja existência nunca havia sido notada historicamente até ali (século

XVIII). Entretanto, é importante ressaltar que embora este novo fenômeno – o pauperismo –

esteja sendo destacado não significa que a pobreza, a desigualdade e a estratificação das

classes sociais emergiram neste período, ao contrário: estes já possuíam longevidade. Desta

forma: “[...] se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era

radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então se generalizava.” (NETTO, 2001, p. 42).

Este pauperismo, denominado “questão social”, possui suas peculiaridades. Era

inédito, até então, a pobreza aumentar concomitantemente ao aumento da produção de

riquezas: ora, se se aumenta a produção de riqueza, é de se pensar que, ao mesmo tempo, se

reduziria o índice de pobreza. Pois não, muito diferente disto, no interior do modo de

produção capitalista, pautado na exploração da força de trabalho humana e na privação dos

meios de produção e serviços, o objetivo é este mesmo: aumentar o lucro, e para tal é

necessário extrair (explorar) ao máximo força de trabalho dos homens, expropriando este

trabalhador tanto de seu trabalho, quanto do produto que este resulta. Logo, nota-se que,

Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta

em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas. Tanto mais a

sociedade se revelava capaz de progressivamente produzir mais bens e

serviços, tanto mais aumentava o contingente de seus membros que, além de

não ter acesso efetivo a tais bens e serviços, viam-se despossuídos das

condições materiais de vida que dispunham. Se nas formas de sociedade

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precedentes à sociedade burguesa, a pobreza estava ligada a um quadro geral

de escassez (quando em larguíssima medida determinado pelo nível de

desenvolvimento das forças produtivas materiais e sociais), agora ela se

mostrava conectada a um quadro geral tendente a reduzir com força a

situação de escassez. (NETTO, 2001, p. 42, grifo do autor)

Assim, o pauperismo é constituído pelo mesmo produto que deveria sessar com

qualquer manifestação da pobreza, assim como com ele próprio. Vale ressaltar, ainda de

acordo com Netto (2001), que esta indicação de pauperismo pelo termo “questão social” é

resultante dos seus aspectos sócio-políticos, em que os pauperizados não se viam enquanto

vítimas da situação, resultando grande enfrentamento à ordem burguesa nos primeiros 50 anos

do século XIX.

Isso ocorre, conforme Netto (2001), devido ao “divisor de águas” que foi a Revolução

de 1848, que fez com que a chamada “questão social” perdesse, pouco a pouco, sua

determinação historicamente construída, configurando a naturalização progressiva da mesma.

A partir de então, o termo “questão social” passa a ser utilizado não mais somente entre os

críticos sociais diversos, mas transcorre, gradativamente, ao vocábulo dos conservadores –

referindo-se aqui às vertentes conservadoras, tanto confessional, quanto laica.

Isto se explica pelo fato de que, para os laicos as formas de manifestação da “questão

social” eram compreendidas enquanto “[...] características inelimináveis de toda e qualquer

ordem social [...]” (NETTO, 2001, p. 44, grifo do autor), às quais só podem ser tomadas

medidas para amenizar, compactar as mesmas, tornando-a objeto de uma intervenção política

restrita; para os conservadores confessionais há o reconhecimento da “questão social”, mas as

providências tomadas a respeito requerem medidas sócio-políticas para, da mesma forma,

reduzir seu agravamento, onde apenas seu excesso iria contra os preceitos religiosos.

Assim, ocorre, sob a perspectiva das duas vertentes do pensamento conservador, a

conversão da “questão social” em objeto de ação moralizadora, cujo enfrentamento engendra

reformas que não desestruturem a ordem social burguesa de acumulação. Nas palavras de

Netto,

[...] a “questão social”, numa operação simultânea à sua naturalização, é

convertida em objeto de ação moralizadora. [...] o enfrentamento das suas

manifestações deve ser em função de um programa de reformas que

preserve, antes de tudo e mais, a propriedade privada dos meios de

produção. [...] o cuidado com as manifestações da “questão social” é

expressamente desvinculado de qualquer medida tendente a problematizar a

ordem econômico-social estabelecida, trata-se de combater as manifestações

da “questão social” sem tocar nos fundamentos da sociedade burguesa. [...]

um reformismo para conservar. (NETTO, 2001 p. 44)

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Para além da consciência política, mediante uma perspectiva de compreensão teórica –

trazida por Marx apud Netto (2001) – foi possível chegar a uma compreensão mais ampla

para o vocábulo (conceito) “questão social”, transcendendo as causalidades apontadas para

este até aquele momento. Assim, o entendimento mais assíduo do processo de produção do

capital tornou-se peça chave, em outras palavras, foi essencial para elucidar que a “questão

social” não se reduz meramente à manifestação direta do denominado pauperismo, ao

contrário, é complexa e inerente ao modo de produção capitalista e, consequentemente ao seu

desenvolvimento17

.

A “questão social” não é breve ou passageira na sociedade burguesa, mas imanente a

ela, apresentando, apenas, diversificadas formas de manifestações a partir dos diferentes

estágios deste modo de produção. Também, não se reduz, mas difere à causalidade da

pauperização, assim como não se identifica com a desigualdade presente nos modos de

produções anteriores ao capitalismo. Ou seja, a exploração e desigualdade tem existência

precedente à sociedade burguesa, já fazia parte do conjunto das relações entre os homens em

outros modos de produção. Porém, há uma peculiaridade sobre ambas no capitalismo.

É de suma importância ressaltar uma questão que se evidencia nos apontamentos feitos

acima: o fato de que a “questão social” é imanente ao capitalismo, isso porque seu surgimento

está diretamente ligado ao processo que consolida tal modo de produção. Desta forma,

compreendendo que a “questão social” é resultante da relação conflituosa entre capital e

trabalho, tangencia-se, a partir daí, outro fator relevante para a discussão em: a exploração.

Se tratando do capitalismo, à primeira vista parece nítido pensar na “questão social”

como resultado do uso da exploração para obtenção da produção de riqueza e apropriação da

mesma por uma minoria, entretanto, mediante uma análise crítica, há que se demarcar a

peculiaridade da exploração neste modo de produção, a qual seja, o fato de que a exploração

no capitalismo não advém do baixo desenvolvimento das forças produtivas18

. Paradoxalmente

a esta afirmação, é impossível negar o alto índice de desenvolvimento dos meios de produção,

tecnológicos que foram gerados por ele19

. Mas, é justamente este alto desenvolvimento das

forças produtivas que deveriam ser condizentes com a redução da exploração do trabalho pelo

capital, porém, frente a este sistema contraditório, conflituoso e permeado por antagonismos,

17

Netto (2001) ressalta que foi em meados de 1848, com os estudos de Marx – mais diretamente, a partir da

publicação do primeiro livro de “O Capital. Critica da economia política” – que foi possível caminhar para

adiante, ou seja, progredir no que se refere ao entendimento e compreensão sobre a chamada “questão social”;

proporcionando, pois, a ampliação da concepção sobre o termo. 18

“Nas sociedades anteriores à ordem burguesa, as desigualdades, as privações etc. decorriam de uma escassez

que o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas não podiam suprimir [...]” (NETTO, 2001, p. 46). 19

Ver Antunes (2000).

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cujo objetivo principal é sempre a produção do excedente, o mesmo fator que produz as

condições para aniquilar a exploração não engendra o fim da produção de riqueza, tampouco

o fim da própria exploração de um (trabalho) pelo outro (capital).

Com efeito, a exploração é gerada por meio do trabalho excedente, isso porque no

capitalismo a jornada de trabalho se configura em duas partes, então:

[numa] o trabalhador produz o valor correspondente àquele que cobre a sua

reprodução – é a esse valor que equivale o salário que recebe; tal jornada

denomina-se tempo de trabalho necessário; [noutra parte], ele produz o

valor excedente (mais-valia) que lhe é extraído pelo capitalista [esta]

denomina-se tempo de trabalho excedente. A relação entre trabalho

necessário e trabalho excedente fornece a magnitude da taxa de mais-valia

[...], decorrentemente, a taxa de exploração do trabalho pelo capital.

(NETTO; BRAZ, 2008, p. 106-107)

Todavia, em consonância com Netto (2001), chegando ao período do pós Segunda

Guerra Mundial (1939 – 1945), sobre um largo processo de reconstrução da estrutura social e

econômica, frente a um considerado crescimento econômico – obviamente desconsiderando

as camadas periféricas –, a construção de um Estado de Bem-Estar Social – Welfare State20

, e

logo mais sua erosão, em meio à globalização do capital e o surgimento do neoliberalismo,

tornou mais visível a despreocupação da ordem societária burguesa para com o social, o que

fez emergir o conceito sobre uma “nova questão social”21

.

Para tanto, seguindo a tese do mesmo autor supramencionado, sustenta-se a tese de

que não há a existência de uma “nova questão social”, afirmando que o fato está em que cada

novo estágio do desenvolvimento do capitalismo, emergem novas formas de expressão da

“questão social”, muito mais complexas que as que o precede, revelando o processo de

intensificação da exploração da força de trabalho humana.

Nesse sentido, é importante apontar, que desde o surgimento da “questão social” e de

seu reconhecimento por distintos segmentos da sociedade dentro do desenvolvimento

histórico-social, há acordado – dentre os críticos, tanto à consciência política, como à teoria –

que ela só pode ser suprimida à medida que o modo de produção capitalista também o for, em

outras palavras: a existência da “[...] “questão social” é constitutiva do desenvolvimento do

20

Conforme Netto e Braz (2008), o incentivo do Estado a dispor dos monopólios, onde tal ente passa a

reconhecer os direitos sociais; reconhecimento este que emana da pressão da classe trabalhadora, engendrando

na consolidação das políticas sociais, ampliando-as e configurando um leque de instituições que deram forma

aos diversos tipos modelos de Estado de Bem-Estar Social, ou seja, Wefare State. 21

De acordo com Netto (2001), alguns intelectuais, já no início dos anos 1970, caracterizassem aquela

manifestação da pobreza enquanto “nova questão social”, sobre a qual o mesmo autor será desfavorável, ou seja,

contrário a tal tese.

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24

capitalismo. Não se suprime a primeira conservando o segundo.” (NETTO, 2001, p. 45).

Desta forma, não há como pensar em findar as manifestações da “questão social” sem sessar

com a propriedade privada dos meios de produção e a exploração da força de trabalho humana

para produzir a riqueza que não é socializada, ou seja, extinguir a sociedade burguesa resulta

em extinguir a “questão social”.

Posto isso, é essencial dizer que é sobre o bojo da “questão social” que se dá a gênese

do Serviço Social, a partir do reconhecimento da primeira é que o segundo se põe, em suas

primeiras formas, enquanto práticas filantrópicas – protoformas –, assim como por uma

necessidade social de uma profissão que pudesse mediar à chamada e então reconhecida,

“questão social”. Assim,

[...] a“questão social” não é senão as expressões do processo de formação e

desenvolvimento da classe operária [proletariado] e de seu ingresso como

classe por parte do empresariado [capitalista] e do Estado. É a manifestação,

no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a

burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da

caridade e da repressão. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 77).

Nesse sentido, dada a importância desta discussão frente à problemática da pesquisa, é

sobre este contexto – do surgimento de um novo tipo de intervenção: a emersão do Serviço

Social –, que se desenvolverá o seguinte título.

1.3 SERVIÇO SOCIAL E A DIVISÃO SÓCIO-TÉCNICA DO TRABALHO

É sabido que o surgimento do Serviço Social enquanto profissão – institucionalizada,

reconhecida, legitimada – está ligado à “questão social”, em um contexto histórico e social do

desenvolvimento do capitalismo. No entanto é necessário anotar, em consonância com o

estudo de Netto (1992) sobre o contexto da emergência desta profissão, que a particularidade

da emersão histórico-social do Serviço Social não está ligada só e diretamente à “questão

social”, tampouco se encerra nela – isso seria superficial. Sua emergência está posta no

tratamento material da “questão social”, mas sobre um momento de sociedade burguesa

consolidada, madura, particularmente, sobre o capitalismo monopolista22

. Em outras palavras:

“[...] as conexões genéticas do Serviço Social profissional não se entretecem com a “questão

social”, mas com suas peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa fundada na

organização monopólica.” (NETTO, 1992, p. 14, grifo do autor).

22

Segundo Netto e Braz (2008) este estágio do capitalismo, denominado, também, como imperialismo, emerge

nos últimos anos do século XIX, donde o capital financeiro é peça chave.

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25

É importante traçar um contexto que explica esta afirmação. Netto (1992) salienta que

a entrada do capitalismo em seu estágio monopolista23

– ou se se quiser imperialista –

representa a maturidade das contradições deste modo de produção, possibilitando maior

âmbito de desenvolvimento e, concomitantemente, tornando maiores e mais complicadas as

formas de intervenção que mantenham sua lógica, onde seu “objetivo primário”24

remete-se

ao aumento dos lucros capitalistas por meio do controle de mercado, configurando, então,

uma solução para o aumento significativo da acumulação de capital. No entanto, esta solução

– a solução monopolista, como referencia-se Netto (1992) –, possui um problemática em si

própria, justamente por configurar novos mecanismos de desenvolvimento, acaba por receber

os rebatimentos próprios da acumulação e da valorização do capital e desta forma precisa

criar, também, novos mecanismos de intervenção para efetivar-se e manter sua dinâmica da

melhor forma, donde tais mecanismos apresentam-se para além do âmbito econômico,

podendo apontar aqui a refuncionalização e o redimensionamento do Estado, veja-se então

que:

[...] a solução monopolista [...] é imanentemente problemática: pelos

próprios mecanismos novos que deflagra, ao cabo de um certo nível de

desenvolvimento, é vítima dos constrangimentos inerentes à acumulação e à

valorização capitalistas. Assim para efetivar-se com chance de êxito, ela

demanda mecanismos de intervenção extra-econômicos. Daí a

refuncionalização e o redimensionamento da instância por excelência do

poder extra-econômico, o Estado. (NETTO, 1992, p. 20)

Desta forma, percebe-se que entrada do capitalismo ao seu estágio monopolista faz

com que ocorra uma mudança no funcionamento e na estrutura do Estado, cujas funções

políticas deste último correlaciona-se diretamente com as funções econômicas do primeiro.

Assim, que, o Estado adquire um papel de administrador do capitalismo, intervindo sobre suas

fases de crise no intuito de mantê-lo “em pé”, sendo assim um Estado que se assemelha a um

instrumento de organização da economia para benefício do capital e o contínuo aumento de

seus lucros. Assim, pode-se dizer que:

[...] o Estado foi capturado pela lógica monopolista – ele é o seu Estado. [ou

seja,] o Estado funcional ao capitalismo monopolista, é no nível das suas

finalidades econômicas, o ‘comitê executivo’ da burguesia monopolista –

23

“[...] a idade do monopólio altera significativamente a dinâmica inteira da sociedade burguesa: ao mesmo

tempo em que potencia as contradições fundamentais do capitalismo [...] no estágio concorrencial e as combina

com novas contradições e antagonismos, deflagra complexos processos que jogam no sentido de contrarrestar a

ponderação dos vetores negativos e críticos que detona.” (NETTO, 1992, p. 16) 24

Termo utilizado por Netto (1992) para dar ênfase a um objetivo do capitalismo monopolista.

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26

opera para propiciar o conjunto de condições necessárias à acumulação e à

valorização do capital monopolista. (NETTO, 1992, p. 22, grifo nosso)

O grifo sobre o conjunto de condições foi feito no sentido de destacar, de acordo com

Netto (1992), um novo elemento qual seja, a preservação e o controle da força de trabalho –

tanto a ocupada como a excedente, ou seja, tanto aquela força de trabalho inserida no mercado

de trabalho, como aquela que é parte integrante do exército industrial de reserva e aguarda

para adentrar à esfera do mercado, isto é, integrar à força de trabalho ocupada – tornam-se

questões primordiais à dinâmica e ordem estatal25

.

Em suma, através de seu funcionamento e contradições, o capitalismo monopolista,

sob o entendimento de Netto (1992) cria condições, onde o Estado – que por ora é de sua

propriedade – constrói sua legitimação por meio do “jogo democrático” que acaba sendo

atravessado pelas demandas das “classes subalternas”, as quais podem imprimir sobre ele seus

interesses imediatos26

.

Frente a todas essas transformações no contexto do capitalismo é que as mazelas da

“questão social” passam a ser “[...] objeto de uma intervenção contínua e sistemática por parte

do Estado.” (NETTO, 1992, p. 26). O fator dinâmico que o capitalismo monopolista

engendra, assim como salientado até aqui, no que se refere à nova ordem econômica, à

solidificação do movimento operário, assim como às necessidades de este Estado burguês se

legitimar é que a “questão social” põe-se firme e internamente na ordem econômico-política,

onde a atenção dada não se direciona somente ao que compõe o exército industrial de reserva,

mas se estende às suas variadas manifestações. Nesse sentido, é por meio da “[...] política

social, [que] o Estado burguês no capitalismo monopolista procura administrar as expressões

da “questão social” de forma a atender às demandas da ordem monopólica conformando [...]

sistemas de consenso variáveis [...]” (NETTO, 1992, p. 27).

Feitas essas argumentações sobre a especificidade e maturidade do capitalismo

monopolista, retorna-se à afirmação inicial, a qual seja, que é sobre este contexto que se dão

as bases para a consolidação do Serviço Social enquanto profissão: tanto mais um lócus no

mercado de trabalho, tanto mais uma necessidade da forma de sociabilidade imanente á ordem

monopólica – implicando em sua inserção na divisão sócio-técnica do trabalho, logo,

desvinculando-a de suas práticas primárias de intervenção – protoformas.

25

Netto (1992) caracteriza esta ação, ou melhor, preocupação do Estado enquanto um elemento novo devido ao

fato de que no estágio anterior do capitalismo (capitalismo concorrencial), a forma de intervenção do Estado se

direcionava às sequelas da exploração da força de trabalho com vistas às lutas das massas de trabalhadores ou

para a necessidade de conservar o conjunto de relações referentes à propriedade privada capitalista. 26

Os conceitos entre aspas são utilizados por Netto (1992) no contexto desta exposição.

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27

Com efeito, é importante dar ênfase – antes de entrar no mérito da divisão sócio-

técnica do trabalho – às facetas que emanam historicamente do surgimento da profissão, haja

vista que, como se sabe, existem duas frentes de análise sobre tal gênese, ou seja, duas

perspectivas teórico-metodológicas de análise que apontam o surgimento, desenvolvimento e

legitimação do Serviço Social enquanto profissão, donde ambas expressam considerações

com distintas concepções sobre tal. Neste ponto de análise que um autor argumenta que:

[...] não é simplesmente uma opinião diferente sobre as “causas” da gênese

da profissão [...] pelo contrário, análises cujos pontos de partida

(perspectivas teórico-metodológicas) distintos conduzem a conclusões

radicalmente diferentes sobre a natureza, a funcionalidade e a legitimidade

do Serviço Social. (MONTAÑO, 2007, p. 43)

Concernente a isso, se pode dizer que uma perspectiva é dotada de uma “visão

endógena”27

, cujo entendimento sobre a gênese do Serviço Social corresponde a uma

evolução da filantropia, como se um processo de amadurecimento das práticas caritativas

fizesse nascer uma profissão; já a outra, compreende sob um patamar exógeno, contrariando a

perspectiva anterior, não no sentido de esquecer suas protoformas, mas de não destinar

estritamente a elas o desenvolvimento da profissão, ou seja, pensa-se a partir de um

entendimento macro, que não se limita à profissão em si, mas ao movimento dialético da

sociedade capitalista, isto é, compreende-se a profissão inscrita sobre o contexto histórico,

social, político e ideológico da sociedade a qual faz a profissão emergir diante de um contexto

de necessidades própria da forma de sociabilidade, regida pelo capital.

Trazendo esta discussão, sob o entendimento de Netto (1992), não é a relação de

continuidade entre as formas filantrópicas e o Serviço Social profissional –, que instaura o

Serviço Social enquanto profissão, isto é, a profissionalização do Serviço Social não se dá

mediante uma evolução das práticas filantrópicas realizadas nas protoformas desta profissão,

embora estas primeiras formas não possam ser deixadas a reboque em toda e qualquer análise

que envolva o surgimento do Serviço Social. Porém, é a relação de ruptura, cuja existência é

concomitante à relação de continuidade, que “[...] se instaura como decisiva na constituição

do Serviço Social enquanto profissão.” (NETTO, 1992, p. 67).

Isso se explica pelo fato de que, gradativamente, o Serviço Social vai se desprendendo

das agências de execução de serviços nas protoformas, e passa a integrar projetos de

intervenção – “[...] quando passam a desempenhar papéis que lhes são alocados por

27

Não cabe aqui aprofundar tal conceito, assim, para estudo mais assíduo, ver a obra “O Serviço Social na

Contemporaneidade: trabalho e formação profissional”, de Marilda V. Iamamoto (2007).

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28

organismos e instâncias alheios às matrizes originais das protoformas do Serviço Social é que

os agentes se profissionalizam.” (NETTO, 1992, p. 68).

Porém, não é digno não anotar que não é o/a profissional nem a profissão que faz

nascer o Serviço Social, mas a necessidade da profissão no interior da ordem monopólica que

traz a emergência de uma profissão e de um/a profissional para mediar as refrações da

“questão social”. Isto é:

[...] na emergência profissional do Serviço Social, não é este que se constitui

para criar um dado espaço na rede sócio-ocupacioanl, mas é a existência

deste espaço que leva à constituição profissional. Donde a relevância da

argumentação [...]: não é a continuidade evolutiva das protoformas do

Serviço Social que esclarece a sua profissionalização, e sim a ruptura com

elas, concretizada com o deslocamento aludido, deslocamento possível (não

necessário) pela instauração, independentemente das protoformas, de um

espaço determinado na divisão social (e técnica) do trabalho. (NETTO,

1992, p. 69, grifo do autor)

Sobretudo, ainda em consonância à compreensão de Netto (1992), é somente sobre

este contexto que se operam as possibilidades e condições histórico-sociais no interior da

divisão sócio-técnica do trabalho de se constituir um lócus no qual haja meios de movimentar

práticas profissionais como as do/a profissional Assistente Social.

Deste modo, há que se afirmar que o Serviço Social enquanto profissão, a partir desta

compreensão, é uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, sendo ela uma

especialização do trabalho coletivo, que emana de uma necessidade social posta pela dinâmica

da ordem monopólica – como já fundamentado –, mais diretamente como de um

reconhecimento, ainda que regulador, por parte do Estado sobre as diversificadas formas de

manifestação da “questão social”, tangenciando uma oposição à afirmação de que o Serviço

Social seja mera e simplesmente uma “tecnificação da filantropia”. (IAMAMOTO, 2007)

Nesse sentido, de acordo com a mesma autora, a compreensão em torno do Serviço

Social enquanto uma profissão – de caráter interventivo no interior da divisão social e técnica

do trabalho –, emana do próprio movimento e das mudanças sócio-históricas que perpassam a

sociedade no âmbito da divisão social e técnica do trabalho, assim como sobre qualquer outra

profissão. Contudo, amadurecimento da categoria profissional e, concomitantemente, no

interior da profissão, não procede de forma isolada, mas, como se vem afirmando, o oposto.

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29

Assim, de acordo com Santos (2010), são esses os pressupostos para se pensar nas

condições de trabalho28

de Assistentes Sociais – estes enquanto trabalhadores assalariados, ou

nos termos de Antunes (2003), enquanto classe-que-vive-o-trabalho –, assim como a

possibilidade de objetivação do projeto ético-político desta categoria profissional no

capitalismo contemporâneo29

.

Logo, é sobre esta premissa que se dará ênfase ao processo de institucionalização do

Serviço Social, no que tange à sua regulamentação, normatização, assim como o contexto

sobre o qual emergiram estes fatores no decorrer histórico, político e social.

28

Tendo como pressuposto de que no Brasil, de acordo com Raichelis (2011), esta não é uma questão nova, mas

tem sua existência demarcada desde os primeiros passos da sociedade capitalista-industrial, sendo que as

diferentes formas de precarização do trabalho e do emprego surgem na atualidade – a partir dos anos 1990, com

a contrarreforma do Estado e consolidação das políticas neoliberais – somente sob novas configurações. 29

Isso porque, as condições de trabalho destes/as profissionais, assim como de outras categorias, são imanentes

às “[...] condições atuais do capitalismo contemporâneo [as quais] promovem expressivas mudanças nas formas

de organização e gestão do trabalho, decorrendo daí a existência de amplos contingentes de trabalhadores

flexibilizados, informalizados, precarizados, pauperizados, desprotegidos de direitos e desprovidos de

organização coletiva.” (ANTUNES, 2005 apud RAICHELIS, 2011, p. 430, grifo da autora)

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30

2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

Reconhecendo o contexto sócio-histórico sobre o qual emergiu o Serviço Social

enquanto profissão inserida na divisão sócio-técnica do trabalho – como já fundamentado

anteriormente –, agora tangenciando a peculiaridade da institucionalização desta profissão no

Brasil, aponta-se que a materialização desta ocorre simultaneamente ao processo de

surgimento das instituições assistenciais30

- por volta dos anos de 1920. Posteriormente, tais

instituições31

foram responsáveis por demarcar concretamente a entrada dos/as profissionais

Assistentes Sociais no mercado de trabalho e, de acordo com Iamamoto (2008), é somente

neste momento que a profissão pode romper com a conjuntura de sua origem no “bloco

católico”32

.

Isso se explica diante da especificidade das atividades desenvolvidas no âmbito dessas

instituições, fazendo com que as práticas deste/a profissional, gradativamente, se desvinculem

das protoformas do Serviço Social, circunscrevendo-se, assim, numa esfera de intervenção

nas relações sociais de produção no sentido de “amenizar” os efeitos do modo de produção

capitalista, donde o maior interessado é o capital e o Estado manipulado por ele.33

.

Sobre este contexto, reitera-se que:

[...] só é possível pensar a profissão e seus agentes concretos – sua

ação na reprodução das relações sociais de produção – englobados no

âmbito das relações institucionais. O Assistente Social aparecerá

como uma categoria de assalariados – quadros médios cuja principal

instância mandatária será, direta ou indiretamente, o Estado.

(IAMAMOTO, 2008, p. 309)

Para tanto, pode-se afirmar que o Serviço Social dá início a uma superação de

atividades direcionadas à ajuda e até mesmo da mera prestação dos serviços sociais. Ele

30

De acordo com Iamamoto (2008), e assim como já exposto no capítulo anterior, o Estado vai, cada vez mais,

respondendo às demandas da classe trabalhadora, para manter a reprodução da força de trabalho. É neste

contexto que as instituições assistenciais possuem papel importantíssimo, isso porque elas tendem a desenvolver

funções políticas, econômicas e ideológicas imanentes à preservação da dominação de uma classe sobre outra.

Tais instituições “[...] atuam no sentido de recuperar e falsificar o conteúdo mais profundo da luta do

proletariado por melhores condições de existência. [...] aparecem claramente como agência política de contenção

e controle das lutas sociais (e das sequelas derivadas do crescimento da miséria relativa da população) [...]”

(IAMAMOTO, 2008, p. 306 – 307). Sobre as demais funções dessas instituições, ver Iamamoto (2008), vide

referências. 31

Instituições estas que podem ser pertencentes ao Estado, a autarquias (do governo vigente) e a entidades

privadas. 32

Sobre o conceito “bloco católico”, Iamamoto (2008) se refere às primeiras formas do Serviço Social dos

grupos pioneiros, para estudo mais assíduo, ver Iamamoto (2008). 33

Pensa-se aqui no Estado da forma como fora contextualizado no capítulo anterior, de acordo com Netto

(1992), um Estado capturado pela ordem monopólica.

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31

transcende estas instâncias para vincular-se, ou melhor, direcionar-se a uma prática então

institucionalizada, pautada num projeto mais amplo34

, com o objetivo de auxiliar e subsidiar a

reprodução da força de trabalho. É nesse sentido que, mais ainda, aquelas técnicas embasadas

nas protoformas do Serviço Social transfiguram-se, assim como se refere Iamamoto (2008),

em procedimentos administrativos e práticas e processos mais burocratizados, cuja realização

se dará por meio do trabalho realizado por este/a novo/a agente que obedece às instituições a

que está vinculado: o/a profissional Assistente Social – agora, reconhecido enquanto

trabalhador assalariado. (IAMAMOTO, 2008)

Entretanto, é importante ressaltar, ainda sob a interpretação desta autora, que embora o

surgimento dessas instituições assistenciais demarque o início de uma ruptura do Serviço

Social com suas protoformas, quando elas surgem a profissão – enquanto inserida na divisão

social e técnica do trabalho – está passando por um momento ainda rudimentar, tanto no que

tange às práticas profissionais, quanto ao ensino desta prática. Isso significa que “[...] o

processo de institucionalização do Serviço Social será também o processo de

profissionalização dos Assistentes Sociais formados nas Escolas especializadas.”

(IAMAMOTO, 2008, p. 309).

Nesse sentido, as primeiras Escolas de Serviço Social emergem por volta da segunda

metade dos anos 193035

em diante, sendo estas os únicos meios para adquirir formação para a

profissão de Serviço Social, porém, ainda obstante do caráter de universidade. Vale ressaltar

que elas surgem, de acordo com Boschetti (2009), num contexto da sociedade urbano-

industrial, da instituição do Estado nacional e de ampliação dos movimentos grevistas contra

as formas de exploração do trabalho e na defesa dos direitos sociais. Somente na década de 50

o ensino em Serviço Social passa a ser regulamentado, mediante a homologação da Lei n.

1889 de 13 de junho de 195336

, sendo direcionado a ele, conforme o artigo 2º desta Lei, uma

formação de nível superior.

34

Este projeto mais amplo refere-se a um projeto do Serviço Social institucionalizado que se vincula às

estratégias de hegemonia do Estado - reforçando a ideia de que este ente assume cada vez mais um controle. 35

Conforme o estudo de Iamamoto (2008), em 1936 é fundada em São Paulo, pelo Centro de Estudos e Ações

Sociais – CEAS, a primeira escola de Serviço Social, a qual não pode ser considerada como gerada pelo grupo

do Movimento Católico Laico; já em 1937, no Rio de Janeiro, nasce o Instituto de Educação Familiar e Social –

composto das Escolas de Serviço Social (Instituto Social) e Educação Familiar, fruto do Grupo de Ação Social –

GAS, em 1938 a Escola Técnica de Serviço Social, gerado pelo Juízo de Menores e em 1940 o curso de

Preparação em Trabalho Social na Escola de Enfermagem Ana Nery. Ainda, já no ano de 1944 é fundada a

Escola de Serviço Social para homens do Instituto Social. 36

Lei que dispõe sobre os objetivos do ensino do Serviço Social e ainda s prerrogativas dos portadores de

diplomas de Assistentes Sociais e Agentes Sociais. Esta lei não vai somente regular a forma do ensino do

Serviço Social, como também irá dispor de regulamentar aqueles/as profissionais que realizam atividades

direcionadas à esta prática profissional, muitos deles formados pelas Escolas de Serviço Social, outros por

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32

A partir de então, para exercer atividades relacionadas às do Serviço Social era

necessário cursar no mínimo três séries em nível superior. Esta lei ainda vai regular a questão

da especialização, sobre a qual só será permitida a emissão de certificado para tal modalidade

se houver a apresentação do certificado de conclusão de curso de nível superior em Serviço

Social, assim como consta em seu artigo 4º, parágrafo único. A mesma lei também vai

regulamentar que somente profissionais formados mediante ensino superior poderão exercer a

atividade da docência (Artigo 5º), mas há a ressalva aos docentes que já lecionam a mais de

três anos, assegurando-lhes o direito de permanecer na docência (Artigo 5º, parágrafo único).

Estes apontamentos – o processo de institucionalização e, simultaneamente, o de

profissionalização – demarcam o caráter de desenvolvimento progressivo da profissão nesta

época, no que tange às práticas profissionais, assim como o ensino desta prática, buscando dar

legitimidade, traçar normatizações e parâmetros para o exercício deste/a profissional.

Com efeito, este processo de regulamentação não cessa aqui, ao contrário, ele apenas

tem início nesta década, estendendo-se até a contemporaneidade, isso porque à medida que a

categoria profissional se especializa progressivamente, as discussões vão incorporando uma

direção que cada vez mais se aproxima ao Projeto Ético-Político Profissional do Serviço

Social, que se constrói coletiva e cotidianamente a partir das ações dos Assistentes Sociais. É

sobre este âmbito que será feita a discussão e contexto do item a seguir.

2.1 O PROCESSO DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO

As práticas referentes à profissão de Serviço Social já existiam antes mesmo de haver

uma legislação que a regulasse, ainda que de forma embrionária, assim como apontado

anteriormente. Entretanto, já havia sido formulado um Código de Ética Profissional que

norteava as atividades dos Assistentes Sociais frente às suas demandas de trabalho. Assim, o

primeiro Código de Ética Profissional do/a Assistente Social, formulado pela Associação

Brasileira de Assistentes Sociais – ABAS, foi aprovado em assembleia geral desta associação

no dia 29 de setembro de 1947 (CFESS, 2012b)37

.

No que tange à regulamentação do Serviço Social, sabe-se que este acaba de

completar, no presente ano, 55 anos de profissão regulamentada. De acordo com o Conselho

37

Cabe ressaltar neste contexto que a dimensão ética da profissão, de acordo com Barroco (2003), apoiava-se

nas Escolas de Serviço Social, mais especificamente sobre as disciplinas de Filosofia e Ética, as quais buscavam

sustentação teórica nos princípios no positivismo, na filosofia tomista, enfim, no conservadorismo. Assim, a

ética era compreendida enquanto “[...] ciência dos princípios e das normas que se devem seguir para fazer o bem

e evitar o mal [...]” (ABAS, 1948, p. 40 apud BARROCO, 2003, p. 96).

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33

Federal de Serviço Social (CFESS, 2012a), o Serviço Social foi uma das primeiras profissões

da área social a ser regulamentada por lei, a qual é referente à segunda metade dos anos 50 –

Lei n. 3.252 de 27 de agosto de 1957. Porém, sua regulamentação ocorreu somente quase

cinco anos depois de sua formulação, por meio do Decreto n. 994 de 15 de maio de 1962.

Tal instrumento legal não se restringe à regulamentação da profissão, mas é

responsável também pela criação do conselho profissional no âmbito do Serviço Social, nesta

época denominados Conselho Federal de Assistentes Sociais – CFAS e Conselho Regional de

Assistentes Sociais – CRAS, assim como disposto no artigo 6º. (BRASIL, 1962), sendo estas

entidades fiscalizadoras do exercício profissional do/a Assistente Social. Com efeito, as

atribuições destas entidades fiscalizadoras distinguem-se decorrente à abrangência territorial

de ambas, visto que uma (CFAS) possui caráter mais amplo de atuação abrangendo nível

nacional, assim como orientando e norteando as de nível regional, estas (CRAS) que tem por

característica atender às especificidades de cada região aonde se encontram alocadas. Assim,

tem-se o quadro expositivo de suas respectivas atribuições, conforme o Decreto n. 994/1962:

Quadro I ATRIBUIÇÕES

CFAS CRAS

Art. 9º - O C. F. A. S., com sede no Distrito

Federal, terá as seguintes atribuições:

I. Orientar, disciplinar, e fiscalizar o exercício da

profissão de Assistente Social;

II - Conhecer das dúvidas suscitadas pelo CRAS

e dirimí-las;

III - Examinar e aprovar os regimentos internos

dos C. R. A. S., assegurando sua uniformidade na

medida em que desta depender a necessária

unidade de ação;

IV - Elaborar e aprovar o Código de Ética

Profissional dos Assistentes Sociais;

V - Funcionar como tribunal superior de Ética

Profissional;

VI - Julgar, em última instância, os recursos

contra as sanções impostas pelos C. R. A. S.;

VII - Estabelecer o sistema de registro dos

profissionais habilitados de acôrdo com o art. 2º

da Lei nº 3.252 de 27 de agôsto de 1957;

VIII - Servir de órgão técnico-consultivo do

Govêrno, em matéria de Serviço Social;

IX - Organizar seu regimento interno, dentro de

120 dias, após a sua instalação.

Art. 12 - São atribuições do Conselhos Regionais

de Assistentes Sociais:

I - Organizar e manter o registro profissional dos

Assistentes Sociais;

II - Expedir os títulos dos Agentes Sociais,

referidos no item III do art. 4º dêste

Regulamento, observado o § 2º do mesmo artigo;

III - Fixar as anuidades que devem ser pagas

pelos Assistentes Sociais;

IV - Expedir Carteiras Profissionais de

Assistentes Sociais, fixando a respectivas taxas;

V-Fiscalizar e disciplinar o exercício da profissão

de Assistente Social na respectiva região;

VI - Zelar pela observância do Código de Ética

Profissional aprovado pelo C. F. A. S.,

funcionando como tribunais regionais de Ética

Profissional, segundo normas expedidas por

aquêle Conselho;

VII - Impor as sanções prescritas no Código de

Ética Profissional;

VIII - Elaborar o respectivo regimento interno e

submetê-lo à aprovação do C. R. A. S., dentro de

120 dias da data de sua instalação.

Fonte: Brasil (1962)

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34

De modo geral, quando os conselhos profissionais foram instituídos no Brasil, eles se

caracterizavam enquanto entidades autoritárias, não tinham por princípio aproximar a

categoria profissional e, menos ainda, configuravam-se em espaços coletivos para

discussões38

. Seu caráter fiscalizador direcionava-se meramente à realização da inscrição

dos/as profissionais neste ente, logo, sua preocupação estava em exigir tal inscrição e recebê-

la devidamente. Nesse sentido, no âmbito do Serviço Social, ou seja, do CFAS e do CRAS,

não foi diferente (CFESS, 2012a).

Outra característica do CFAS/CRAS está em sua concepção conservadora no que se

refere às primeiras décadas de sua instituição, isso porque se se pensar na perspectiva

existente na profissão tem-se, neste período, um direcionamento pautado em princípios e “[...]

pressupostos a-críticos e despolitizados face às relações econômico-sociais.” (CFESS, 2012a,

s.p.). Neste contexto Bravo (2009) reitera que até os anos 1960, o Serviço Social possuía uma

direção social mais preocupada com a manutenção do status quo, ou seja, com a ordem

societária e, em contrapartida, possuía preocupação reduzida no que tange à direção social da

profissão. É importante ressaltar que esta preocupação com a “manutenção da ordem social” é

resultado de uma categoria profissional que compreendia tal ordem “[...] como um dado

factual ineliminável.” (NETTO, 2005, p. 6)39

.

Há um consenso no que se refere à mudança de posicionamento da categoria da

segunda metade dos anos 1960, quando tem início o Movimento de Reconceituação40

. De

acordo com Netto (2005), na passagem para a década de 1970, ficou visível a crítica assídua

ao dito Serviço Social tradicional41

por parte dos Assistentes Sociais; a categoria profissional

dá início a um questionamento de sua prática profissional, até porque o “[...] quadro

conjuntural balizado por 1968 constituía, em si mesmo, um cenário adequado para fomentar a

contestação de práticas profissionais como as do Serviço Social ‘tradicional’.” (NETTO,

38

“A história dos Conselhos pode ser remontada a partir do final de 50, quando o Estado regulamenta profissões

e ofícios ditos liberais, no contexto da expansão do padrão de regulação da cidadania erguido desde o primeiro

Governo Vargas. Este padrão preconizava uma entidade corporativa, com função controladora e burocrática.”

(CFESS, 1999, p. 21) 39

Netto, (2005), evidencia, sobre este contexto, a prática empiricista, funcionalista, burocratizada, baseada na

ordem burguesa de sociedade, cujo objetivo era lidar com questões relacionadas a indivíduos e grupos como

forma de enfrentamento das expressões da “questão social”, como se a ordem capitalista fosse um pressuposto de

impossível superação. 40

Se tratando do Movimento de Reconceituação na América Latina, o mesmo perpassou por basicamente uma

década (1965-1975), tendo consequências para os anos posteriores. Embora o movimento não possa ser

compreendido de maneira fragmentada, devido ao seu caráter amplo, porém, dando ênfase para o âmbito

brasileiro, “onde rebate já com a vigência da ditadura implantada em 1964, a renovação [...] traduziu-se

especialmente como modernização profissional.” (Netto, 1991, p. 151-164 apud Netto, 2005, p. 11). 41

“Por Serviço Social tradicional deve entender-se a prática empiricista, reiterativa, paliativa e burocratizada que

os agentes realizavam efetivamente na América Latina.” (NETTO, 1981, p. 60). Sobre a relação entre “Serviço

Social tradicional” e “Serviço Social clássico”, consultar tal trabalho científico integralmente, vide referência.

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35

1981, p. 8). Em consonância Bravo (2009) reitera que tal questionamento não ocorre de forma

focalizada, restringindo-se ao locus do Serviço Social, tampouco ao âmbito nacional, mas,

com base em questões postas em cheque pelas ciências sociais e humanas e por movimentos e

acontecimentos econômico-sociais, políticos e culturais latino-americanos que refletiram

sobre a profissão. O CFESS (2012a) vai remeter o início da mudança de posicionamento da

categoria profissional ao Movimento de Reconceituação.

Embora haja tal consenso sobre o início da mudança na perspectiva da profissão, esta

ainda até a década de 1980 esteve impregnada de preceitos e princípios ancorados nos

pressupostos neotomistas e positivistas42

. Assim, em 1965 é realizada uma reformulação do

Código de Ética Profissional, este que é aprovado pelo CFAS, sendo, de acordo com Barroco

(2003), assim como com base no Decreto 994/1962, o primeiro código de caráter legal. O

Código sofre novas modificações no ano de 1975, porém sem alterações no que se refere à sua

perspectiva teórica, isto é, “[...] permanecendo com a mesma orientação filosófica e

metodológica.” (BARROCO, 2003, p. 96).

Neste contexto dos anos de 1970, esse processo de modificação, de romper com o

tradicionalismo do Serviço Social, paralelo ao Movimento de Reconceituação (movimento de

renovação) é, segundo Netto (2005), congelado por mais de dez anos, isso porque “[...] foi

produto da brutal repressão [...] sobre o pensamento crítico latino-americano – cárcere à

tortura, a clandestinidade, o exílio e alguns engrossaram a lista dos ‘desaparecidos’ nas

ditaduras.” (NETTO, 2005, p. 10).

O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – CBAS, realizado na cidade de São

Paulo em setembro de 1979 (BOSCHETTI, 2009; BRAVO, 2009; CFESS, 2012a), foi de

onde emanou a nova roupagem do Serviço Social brasileiro, ficando conhecido como

“Congresso da Virada”. Sobre esta afirmação, Boschetti (2009) considera – entre vários

outros momentos e conquistas sócio-históricos que geraram resultados qualitativos para a

trajetória do Serviço Social – que este Congresso demarcou forte impacto no que tange à

ruptura com o conservadorismo na profissão.

O Congresso da Virada engendrou diversas polêmicas, entre elas destacam-se:

O caráter antidemocrático da organização que não desencadeou nenhum

processo de discussão com a categoria. A requisição à participação dos

estudantes de Serviço Social, limitada apenas a dois estudantes por unidade

de ensino. Os homenageados do Congresso que constavam de dirigentes da

ditadura militar [...]. O conteúdo relativo à temática central que enfatizava

42

Conforme Barroco (2003) os Códigos de Ética de 1947 (como já exposto) até o Código de 1975 são

fundamentados por estas perspectivas teóricas. Retoma-se a mesma conceituação referenciada na nota 33.

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36

políticas setoriais, sem nenhuma análise global e totalizante das políticas

sociais. (BRAVO, 2009, p. 688).

Diante dessas polêmicas foi realizado, segundo a mesma autora, um movimento de

alteração, resultado de uma movimentação feita pelos integrantes da Comissão Executiva

Nacional de Entidades de Assistência Social – Ceneas, pelos docentes da Associação

Brasileira de Escolas de Serviço Social – ABESS43

e atrelados à insatisfação manifestada por

participantes. Com isso, no segundo dia do congresso, a Ceneas convocou uma assembleia,

aonde foram feitas alterações sobre o prosseguimento do evento, as quais se ativeram a

modificar os homenageados – “[...] que passaram a ser ‘os trabalhadores que lutaram e

morreram pelas liberdades democráticas’.” (BRAVO, 2009, p. 689). Também foram alteradas

as programações e conteúdos dos painéis e mesas redondas, retomada a questão em torno das

políticas setoriais – afirmando que deveriam ser compreendidas em sua totalidade; outra

modificação relevante na programação foi a incluir a discussão que se refere às condições de

trabalho e salário dos/as Assistentes Sociais, por serem trabalhadores assalariados.

Muito relevante foi a deliberação após a realização do congresso, que determinou que

a organização e direção do próximo congresso ficaria sob responsabilidade da Ceneas,

devendo envolver, de forma ampla, a participação da categoria profissional (BRAVO, 2009).

Da forma como Bravo (2009) contextualiza, a entrada à década de 1980 demarca um

grande processo de democratização das organizações fiscalizadoras do exercício

profissional44

, isto é, do CFAS e dos CRAS. A partir daí, com nova diretoria eleita em 1983, o

CFAS direciona seu compromisso às classes populares (trabalhadora), logo, suas metas para a

democratização para a própria entidade, propondo a elaboração de um novo Código de Ética e

a revisão do projeto de regulamentação da profissão. Inicia-se, pois, um “[...] processo de

renovação [...] de seus instrumentos normativos [...].” (CFESS, 2012a, s.p.), impresso na nova

direção política através da democratização das relações entre Conselhos Federal e Regionais,

43

“A ABESS foi criada em 1946, então denominada Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social, uma

década após a instalação do primeiro curso de Serviço Social no Brasil, a Escola de Serviço Social da PUC-SP.”

[Após o Congresso da Virada (1979), a entidade assume a função de] coordenar e articular o projeto de formação

profissional, transformando-se em Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social. [...] Um novo momento

marcante na história da ABESS ocorreu na segunda metade da década de 1990, com a mudança do seu nome

para Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) [...].” (ABEPSS, 2012, s.p.). 44

De acordo com CFESS (2012a), este processo não é descolado do movimento disseminado na sociedade, a

qual também passava por um momento de forte redemocratização, para isso basta se pensar no processo de

reformulação da Carta Constitucional do país, no movimento sindical, entre tantos outros movimentos da década

de 1980 em solo brasileiro. Neste contexto é que Bravo (2009) salienta o profundo debate em torno das Políticas

Sociais e a importância da participação e contribuição dos Assistentes Sociais no processo de formulação delas

no Brasil. Além disso, a mesma autora resgata também o contributo dado pelos Assistentes Sociais no processo

de construção da Constituição Federal, principalmente nas discussões referenciadas à Seguridade Social, assim

como sobre a formulação da própria Política de Assistência Social e posteriormente sua lei orgânica.

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37

assim como destes com os movimentos sociais e as diversas entidades da categoria

profissional.

Sendo assim, ainda em 1983, já se iniciou um processo de debates conduzidos pelo

conselho tendo em vista a reformulação do Código de Ética de 1975. Este processo teve como

resultado a formulação do Código de 1986 cuja base teórica nega aquela base filosófica

tradicional (neotomista, funcionalista) e supera a perspectiva a-histórica e a-crítica que até

então era o alicerce da ética profissional no âmbito do Serviço Social. Contudo, há o

reconhecimento de “[...] um novo papel profissional competente teórica, técnica e

politicamente.” (CFESS, 2012a, s.p.). Este Código é considerado o primeiro de vertente

crítica inscrito na história da profissão, tanto porque “[...] ao enfocar a profissão e sua

intervenção na realidade brasileira, prioriza os aspectos político-ideológicos ao defender a

prática do Serviço Social comprometida com as classes trabalhadoras.” (BRAVO, 1996 apud

BRAVO, 2009, p. 693), como pelo fato de que a direção assumida, ainda que possuísse

algumas lacunas, estava atrelada à superação daquelas práticas e métodos conservadores.

No que se refere à revisão da legislação de regulamentação, houve o encaminhamento

para a discussão do anteprojeto45

para uma nova lei, o qual foi aprovado pela categoria no

XIV Encontro Nacional CFAS/CRAS em abril de 1985 (BRAVO, 2009). Em 1986 fora

encaminhado o projeto de lei (PL 7669), porém arquivado, retornando ao debate nos

encontros do conjunto CFAS/CRAS. Houve, assim, um longo processo legislativo, porém o

conselho profissional não se estagnou, mantendo-se a frente das discussões e acompanhando

os fóruns até a aprovação da lei em 1993 – Lei n. 8.662 de 7 de junho de 199346

. Cabe

ressaltar que é a partir desta lei que ocorre a mudança da denominação dos conselhos

profissionais do Serviço Social, assim o CFAS passa a ser chamado de Conselho Federal de

Serviço Social – CFESS e o CRAS, Conselho Regional de Serviço Social – CRESS, assim

como disposto no artigo 6º desta lei (BRASIL, 1993), tendo em vista a clareza sobre o caráter

dos conselhos profissionais, que não orientam o/a profissional no sentido estrito, pensando

somente neste, mas transcendem esta orientação, direcionando sua fiscalização, normatização

45

De acordo com CFESS (2012a), o primeiro anteprojeto para uma nova lei foi discutido no IV Encontro

Nacional CFAS/CRAS, no ano de 1971. 46

Já era notória a necessidade de revisão da Lei de Regulamentação em vigor desde 1957, tanto que no I

Encontro Nacional CFAS/CRAS em 1966 fora colocada em pauta a discussão em torno da normatização do

exercício profissional, o que deu visibilidade à insuficiência da lei vigente com vistas às atribuições profissionais

(CFESS, 2012a).

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38

e orientação ao exercício profissional com vistas à qualidade dos serviços prestados por este/a

profissional aos usuários47

.

Neste contexto, mediante o processo de democratização dos conselhos, assim como

por meio da revisão da lei de regulamentação da profissão, as atribuições dos conselhos

(Federal e Regionais), receberam algumas alterações que contemplam seu novo caráter, assim

como segue no quadro:

Quadro II ATRIBUIÇÕES

CFESS CRESS

Art. 8º Compete ao Conselho Federal de Serviço

Social (CFESS), na qualidade de órgão

normativo de grau superior, o exercício das

seguintes atribuições:

I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e

defender o exercício da profissão de Assistente

Social, em conjunto com o CRESS;

II - assessorar os CRESS sempre que se fizer

necessário;

III - aprovar os Regimentos Internos dos CRESS

no fórum máximo de deliberação do conjunto

CFESS/CRESS;

IV - aprovar o Código de Ética Profissional dos

Assistentes Sociais juntamente com os CRESS,

no fórum máximo de deliberação do conjunto

CFESS/CRESS;

V - funcionar como Tribunal Superior de Ética

Profissional;

VI - julgar, em última instância, os recursos

contra as sanções impostas pelos CRESS;

VII - estabelecer os sistemas de registro dos

profissionais habilitados;

VIII - prestar assessoria técnico-consultiva aos

organismos públicos ou privados, em matéria de

Serviço Social;

IX - (Vetado).

Art. 10. Compete aos CRESS, em suas

respectivas áreas de jurisdição, na qualidade de

órgão executivo e de primeira instância, o

exercício das seguintes atribuições:

I - organizar e manter o registro profissional dos

Assistentes Sociais e o cadastro das instituições e

obras sociais públicas e privadas, ou de fins

filantrópicos;

II - fiscalizar e disciplinar o exercício da profissão

de Assistente Social na respectiva região;

III - expedir carteiras profissionais de Assistentes

Sociais, fixando a respectiva taxa;

IV - zelar pela observância do Código de Ética

Profissional, funcionando como Tribunais

Regionais de Ética Profissional;

V - aplicar as sanções previstas no Código de

Ética Profissional;

VI - fixar, em assembléia da categoria, as

anuidades que devem ser pagas pelos

Assistentes Sociais;

VII - elaborar o respectivo Regimento Interno e

submetê-lo a exame e aprovação do

fórum máximo de deliberação do conjunto

CFESS/CRESS.

Fonte: Brasil (1993)

A década de 1990, mesmo em meio ao projeto neoliberal48

consolidado no Brasil,

frente à redução dos direitos sociais e a grande preocupação com a defesa do mercado de

47

“Deve assegurar probidade, uniformidade de qualidade dos serviços profissionais prestados à população,

salvaguardando interesses dessa e não dos/as profissionais tomados isoladamente, para tanto, lançando mão de

recursos e estratégias [...].” (CFESS, 1999, p. 35). 48

“O projeto neoliberal é expressão da reestruturação política e ideológica conservadora do capital ocorrida nos

países centrais, a partir dos anos 1970, tendo impacto no Brasil primordialmente na década de 1990.” (BRAVO,

2009, p. 695).

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39

trabalho, no que se refere à profissão de Serviço Social os avanços continuaram sendo visíveis

tanto em debates da categoria profissional como em âmbito acadêmico, ou seja: “Mesmo [em]

conjuntura adversa, as entidades da categoria [...] articuladas a diversos docentes vinculados à

academia continuam o aprofundamento da teoria crítico-dialética que fundamenta o projeto

profissional, [desde o] processo de reconceituação.” (BRAVO, 2009, p. 695).

Nesse sentido ocorre a revisão do Código de Ética Profissional do/a Assistente Social

de 1986, culminando na formulação de um novo código no ano de 1993, que se concretizou

por meio de diversos encontros que vinham sendo realizados pelo CFAS, isso porque a gestão

deste período (1990-93)49

colocou em cheque a questão da ética e pode contar com a

participação de outras entidades da categoria, assim como daquelas relacionadas à formação50

.

Este novo Código “[...] não abre mão dos princípios e objetivos constantes no código de 1986,

mas avança nos fundamentos teórico-metodológicos e éticos [...].” (BRAVO, 2009, p. 696).

Neste sentido é que para Santos (2010) este código, aprovado em 199351

, é resultado de um

amadurecimento profissional, no que se refere às reflexões iniciadas desde 1986, sendo ambos

fruto de uma construção em conjunto pelos Assistentes Sociais

Vale enfatizar que essa nova legislação trouxe mais segurança para a objetivação da

fiscalização profissional, isso porque ela amplia os parâmetros para tal uma vez que define

mais especificamente as competências e atribuições privativas deste/a profissional, que estão

contidas, respectivamente, artigos 4º e 5º da Lei n. 8.662/1993 (CFESS, 2012a); já sobre o

novo Código, é possível atribuir a ele o mérito de avançar no que tange a sua

operacionalização, isto é, sua materialidade no cotidiano profissional (BRAVO, 2009).

Todo este processo de regulamentação, da instituição de novos instrumentos legais

com função de nortear, normatizar, fiscalizar e orientar o exercício profissional diante da

demanda de trabalho do/a Assistente Social engendra a criação de uma Política Nacional de

Fiscalização – PNF. A primeira PNF foi formulada no fim dos anos de 1990, denominada

Política Nacional de Fiscalização do Conjunto CFESS-CRESS – Resolução CFESS n. 382/99,

que dispõe sobre as normas gerais para o exercício da Fiscalização Profissional e institui a

49

“MEMBROS EFETIVOS: Presidente: Marlise Vinagre Silva – RJ; Vice-Presidente: Umbelina Maria Urias

Novais – PE; 1ª Secretária: Laura R. M. F. Lemos Duarte – DF; 2ª Secretária: Eda G. de Barros Lima – DF; 1ª

Tesoureiro: Carlos Magno Nunes – RS; 2º Tesoureira: Valéria M. de Massarani – GO; CONSELHO FISCAL:

Maria Isabel Nobre Fernandes – SP; Clarissa Andrade Carvalho – SE; Maria Lúcia da Fonseca – RN;

SUPLENTES: Maria Inês Bertão – SP; Dilséa Adeodata Bonetti – SP; Maria Carmelita Yazbek – SP; Maria da

Graça Soares Prola – AM; Lina Sandra Ferreira de Lemos – MG; Célia Maria Campos – SC; Eliana de Oliveira

– GO.” (CFESS, 2012c, s.p.). 50

Os CRESS, a ABESS, entre outras (BRAVO, 2012) 51

Resolução CFESS n. 273 de 13 março de 1993, institui o Código de Ética Profissional do/a Assistente Social e

dá outras providências.

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40

PNF52

, fora aprovada em 1997 (CFESS, 1997) no XXVI Encontro Nacional CFESS/CRESS,

na cidade de Belém – PA. Seu documento contém uma estrutura formada por um breve

histórico de consolidação da trajetória da Fiscalização Profissional para o conjunto

CFESS/CRESS, seguida do texto da PNF, esta que é dividida em cinco itens53

e quatro

subitens54

, assim como notas, referências históricas, documentais e bibliográficas55

.

Quase nove anos depois, no XXXV Encontro Nacional do Conjunto CFESS/CRESS

no ano de 2006 em Vitória-ES é realizada a revisão e atualização da PNF56

, normatizada no

ano seguinte através da Resolução CFESS n. 512 de 29 de setembro de 200757

. Esta possui

em sua estrutura quatro itens, os quais estão distribuídos entre Apresentação, Eixos, Diretrizes

e Objetivos.

Vale salientar que a PNF/2007 tem o princípio de defender, valorizar e fortalecer o

Serviço Social, para que os/as profissionais Assistentes Sociais alocados em diversificados

espaços sócio-ocupacionais de intervenção estejam, cada vez mais, realizando suas

intervenções de acordo com a direção ético-política defendida pela categoria profissional e

diretamente fiscalizada pelos Conselhos (Federal e Regionais). Desta forma, nos termos da

PNF ela possui a “[...] perspectiva de defesa, valorização e fortalecimento da profissão. [...] a

importância do investimento continuado em ações públicas que provoquem impactos

políticos-pedagógicos significativo no exercício profissional, na direção do enraizamento do

projeto ético-político profissional” (CFESS, 2007a, s.p.).

Ainda, nos termos da PNF e de acordo com Santos (2010), tal política possui três

dimensões: a dimensão afirmativa dos princípios e compromissos conquistados na trajetória

do Serviço Social; dimensão político-pedagógica e; dimensão normativo-disciplinadora58

. No

52

Nesta primeira versão da PNF, a mesma já trazia os pressupostos sobre a fiscalização ser papel dos Conselhos

Regionais e que para isso foram criados, como “[...] exigência constitucional, quanto ao estatuto das profissões

liberais e condição de sua existência legal, traduzida em lei específica [Lei n. 8.662/1993] e parametrada nos

princípios e valores do Código de Ética Profissional de (1993).” (CFESS, 1999, p. 35) 53

Pressupostos político-operacionais; Objetivos; Diretrizes; Estratégias e; Metas (CFESS, 1999). 54

Estratégias Político-operacionais e Curto Prazo; Estratégias Político-operacionais de Médio Prazo; Estratégias

Político-operacionais de Longo Prazo e; Estratégias Jurídico-administrativas (CFESS, 1999). 55

Para aprofundar estudo sobre o processo de construção e aprovação da PNF/1997, assim como para

compreensão em torno da perspectiva de fiscalização do conjunto CFESS/CRESS, ver Relatório de Deliberações

do XXVI Encontro Nacional do Conjunto CFESS/CRESS. Devido à dificuldade de encontra-lo na internet,

entrar em contato com o CFESS para solicitar cópia, assim fora feito para utilizá-lo, com finalidade de estudos,

para esta pesquisa. 56

A proposta de revisão da PNF encontra-se registrada no Relatório de Atividades do conjunto CFESS/CRESS

de 2005 (CFESS, 2005). 57

“[...] os delegados do 35º Encontro Nacional CFESS/CRESS (2006) [...], deliberaram pela sistematização de

contribuições dos CRESS e do CFESS para a revisão da PNF, que foi remetida para a Plenária Nacional

CFESS/CRESS, de caráter deliberativo, realizada em Brasília – DF, nos dias 21 e 22 de abril de 2007.” (CFESS,

2006b, s.p.). 58

Elas estão diretamente articuladas e são responsáveis por nortear os Conselhos Regionais na execução da PNF.

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41

que se refere à primeira dimensão, tem-se a “[...] concretização das estratégias para o

fortalecimento do projeto ético-político [...] lutas por condições dignas de trabalho e dos

serviços prestados.”; a segunda se direciona à “[...] orientação e politização dos Assistentes

Sociais, usuários, instituições e sociedade em geral”; já a terceira referencia- se para as “[...]

bases e parâmetros reguladores do exercício profissional, aplicando penalidades previstas no

Código de Ética Profissional, em situações que indiquem violação da legislação [...].”

(CFESS, 2007a, s.p.). Sobretudo, as dimensões mencionadas apresentam eminentemente um:

[...] amadurecimento teórico-ético-político e normativo do conjunto CFESS-

Cress que aprimorou os instrumentos para a fiscalização do exercício

profissional, superando concepções e práticas de fiscalização fundadas em

valores corporativos e voltadas para o desenvolvimento de ações de controle

meramente burocrático e punitivo sobre os profissionais. (SANTOS, 2004, p.

700)

Nesse sentido é que apresentam-se os eixos da PNF, que assim seguem:

I Potencialização da ação fiscalizadora para valorizar a profissão; II

Capacitação técnica e política dos agentes fiscais e demais membros do

COFIS – Comissão de Orientação e Fiscalização59

– para o exercício da

orientação e fiscalização; III programática entre CRESS/CFESS, ABEPSS,

ENESSO, Unidades de Ensino e representação local de estudantes; IV

Inserção do conjunto CFESS/CRESS nas lutas em defesa da ampliação e

garantia de direitos das políticas sociais e da democracia na direção de uma

sociedade igualitária. (CFESS, 2007a, s.p.)

Frente a isso, pode-se afirmar, de acordo com CFESS (2004), a PNF possui um papel

estratégico e por isso sempre será o horizonte para as ações a serem pautadas e desenvolvidas

pelo conjunto CFESS/CRESS.

Com efeito, a fiscalização do exercício profissional, da forma como veio se

configurando ao longo do processo histórico e evolutivo da profissão, significa uma decisão

coletiva, pautada numa organização estratégica, democrática e que reforce o caráter e a

relevância pública do Serviço Social na sociedade, assim como de maneira que garanta o

respeito do Código de Ética Profissional. Sobre esta perspectiva, são criados outros

instrumentos jurídico-normativos para amparar tal fiscalização, entre eles estão as resoluções,

as quais são construídas por meio dos debates da categoria profissional, a fim de concretizar

59

A COFI possui um Conselheiro coordenador, agentes fiscais concursados, Assistentes Sociais inscritos no

CRESS (3 membros). Esta comissão assegura a execução da Política Nacional de Fiscalização – PNF, realiza

debates com os/as profissionais, atua, ainda, sobre violações das legislações, fortalece articulação entre a

Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS e o Executiva Nacional dos Estudantes

de Serviço Social – ENESSO, orienta os Assistentes Sociais em relação às suas atividades. (CFESS, 2007a).

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as prerrogativas do Projeto Ético Político do Serviço Social e da nova perspectiva

entendimento sobre a fiscalização do exercício profissional, sempre com vistas à qualidade

da execução dos serviços prestados aos usuários.

Contudo, para garantir que as condições de trabalho60

possibilitem um fazer ético do

exercício profissional, é criada em 2006 – quase quinze anos depois da formulação do Código

de Ética vigente – a Resolução CFESS n. 493/2006, sobre a qual será tratada a seguir.

2.2 A RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006: QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS À

POPULAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO ENFRENTAMENTO DAS CONDIÇÕES DE

TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL

A Resolução CFESS n. 493 de 21 de agosto de 2006, que dispõe sobre as condições

éticas e técnicas de trabalho do/a profissional assistente social, foi criada a partir da

necessidade de se “[...] instituir condições e parâmetros normativos, claros e objetivos, [que

garantam] que o exercício profissional do/a assistente social possa ser executado de forma

qualificada ética e tecnicamente.” (CFESS, 2006a, s.p.). Esta necessidade se dá devido ao fato

de não existir, anterior a esta resolução, nenhuma norma que estabelecesse parâmetros, “[...]

principalmente das condições técnicas e físicas do exercício profissional do/a assistente social

[...]” (CFESS, 2006a, s.p). Tal necessidade também está expressa e se confirma nos relatórios

de atividades e nos relatórios dos Encontros Nacionais do conjunto CFESS/CRESS61

, aonde

constam a proposição, a formulação e a aprovação desta resolução.

Neste contexto, é importante destacar os relatórios anuais de atividades do conjunto do

ano de 2004, que menciona enquanto atividade realizada a “Regulamentação sobre as

condições éticas e técnicas do exercício profissional dos assistentes sociais, com aprovação de

minuta de Resolução pelo colegiado do Cfess.” (CFESS, 2004, p. 10); o relatório anual de

atividades de 2006, que traz um item, também sobre as atividades realizadas, a respeito da

elaboração e aprovação da Resolução CFESS n. 493/2006, reiterando que no processo de

formulação, isto é, produção dela houve a participação significativa dos CRESS, o que

possibilitou apreender “[...] o importante efeito da aplicabilidade da resolução nos espaços

sócio-ocupacionais, especialmente por iniciativa dos próprios profissionais, que a tem

utilizado no difícil nas instituições.” (CFESS, 2006b, p.12). Ainda, os relatório dos Encontros

60

Ver notas 26 e 27. 61

Os relatórios de atividades anuais de 2001 a 2007 trazem sempre atividades programadas e realizadas, até

mesmo os debates, em torno das condições de trabalho de modo geral. Assim também, nos anos referidos, os

relatórios dos Encontros Nacionais, estes que tem um caráter maior no campo do debate e das deliberações. Vale

ressaltar que os relatórios possuem data de seu exercício, no entanto são realizados no ano seguinte (Ex. o

relatório de atividades de 2006 é confeccionado no início do ano de 2007).

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que se destacam, o do 36º Encontro, em 2007, salienta, no item referente à Fiscalização, a

questão da avaliação do processo de implementação desta resolução, incorporando outras

estratégias com relação à defesa das condições “[...] condignas de trabalho dos assistentes

sociais, com sistematização e socialização dos procedimentos adotados pelas COFIs frente às

infrações.” (CFESS, 2007b, p. 12).

No que tange à estrutura da Resolução CFESS n. 493/2006, ela dispõe de 13 artigos,

os quais tratam, em síntese, sobre as condições obrigatórias do local de trabalho do/a

Assistente Social no que se refere às condições físicas, técnicas e éticas; trata também sobre o

caráter fiscalizador dos conselhos62

, a forma como é feita a visita de fiscalização, assim como

o registro e as medidas cabíveis para objetivar as condições no local que não as possui; a

forma como o/a Assistente Social deve proceder em caso de irregularidade das condições

estabelecidas nesta Resolução em seu espaço sócio-ocupacional de intervenção, haja vista que

este/a profissional não pode se omitir frente a qualquer irregularidade ou descumprimento nos

termos desta norma.

Vale ressaltar que, a Resolução traz, primordialmente, sobre a obrigatoriedade da

existência de um espaço físico para a realização e execução de qualquer intervenção

profissional, isto é, atendimento ao usuário do serviço Social, nas condições que ela

estabelece ao longo de seus artigos63

.

Outro destaque sobre a Resolução está em estabelecer a normatização de como deve

ser o local de atendimento, referindo-se às características físicas, tanto no que tange ao espaço

suficiente para atendimentos (individuais ou coletivos, de acordo com o tipo de serviço

ofertado naquele espaço), quanto o que deve conter e garantir neste espaço, estabelecendo

alguns critérios a serem seguidos, entre os quais, iluminação adequada, recursos que garantam

a privacidade do usuário durante o processo de intervenção, ventilação adequada, espaço para

arquivar material técnico de cunho reservado; estabelece ainda, que o

atendimento/intervenção realizado pelo/a Assistente Social, para garantir o sigilo, precisa ser

feito com portas fechadas; assim, regula também, o manuseio e arquivamento do material

técnico, isso porque, sendo ele de caráter reservado é necessário que tenha acesso restrito, ou

seja, somente aos Assistentes Sociais, entretanto, pode ser arquivado em espaço físico distinto

do local de atendimento desde que respeite a restrição do acesso64

.

Nesse sentido é que Santos (2010) caracteriza esta resolução enquanto uma estratégia

62

Artigo 6º (CFESS, 2006a). 63

Artigo 1º (CFESS, 2006a). 64

Artigo 2º, 3º, 4º e 5º (CFESS, 2006a).

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de orientação e defesa das condições de trabalho do/a assistente social, isso porque, de acordo

com a mesma autora, é possível afirmar que os Assistentes Sociais enfrentam na maioria dos

espaços sócio-ocupacionais de intervenção profissional situações que tendem a precarizar o

trabalho, devido ao fato da própria precarização do trabalho na sociedade capitalista65

, como

já exposto nos itens subsequentes66

.

Frente ao exposto, pode-se indagar de qual a forma as condições de trabalho dos

Assistentes Sociais chegam ao conjunto CFESS/CRESS. Sobre isso, tem-se como resposta, a

resolução ora apresentada, mais especificamente em seus artigos 7º e 8º (CFESS, 2006a)67

,

lembrando aqui da PNF, que possibilita apreender um leque de questões relacionadas às

condições de trabalho desse/a profissional nos distintos espaços sócio-ocupacionais

(SANTOS, 2010). Outra forma é através dos próprios/as profissionais, quando os mesmos –

conhecendo a direção ético-política e diretamente os instrumentos normativos da profissão –

comunicam o conjunto CFESS/CRESS e socializam seu universo de demandas e exigências

oriundas do cotidiano profissional em seu lócus de atuação profissional (SANTOS, 2010).

Sobretudo, o caráter da Resolução CFESS n. 493/2006, para além de orientar como

devem ser/estar as condições de trabalho no espaço sócio-ocupacional aonde o/a Assistente

Social atua, nhoque tange às condições físicas para garantir o fazer técnico e eticamente

qualificado, ela se direciona, majoritariamente, a estabelecer tais condições visando a

qualidade dos serviços prestados aos usuários, isto é, de forma que a intervenção profissional

possa ser física, técnica e eticamente qualificada para melhor atender às necessidades dos

usuários dos serviços sociais, assim como orientado desde a PNF/199968

.

Mediante o entendimento e a compreensão expostos e contextualizados até aqui, é que

se dará corpo à exposição e análise do conteúdo e das informações coletados no processo

empírico desta pesquisa, como seguem os próximos itens.

65

Assim também, Bravo (2009) salienta que a Resolução 493/2006 configura-se como uma medida para

enfrentar a situação de precarização das condições de trabalho dos Assistentes Sociais. 66

Ver itens 1.2 e 1.3 e notas 26 e 27 deste trabalho. 67

De acordo com o disposto na resolução (CFESS, 2006a), tais artigos se referem ao compromisso do/a

Assistente Social em comunicar a entidade/instituição perante qualquer irregularidade e/ou inadequação – com

relação às condições éticas e técnicas do exercício profissional, como trata a Resolução CFESS n. 493/2006 – no

espaço sócio-ocupacional aonde realiza seu exercício profissional, logo, se isso for insuficiente, há o

compromisso em informar o conjunto CFESS/CRESS sobre tais condições, o que em casos de omissão deste/a

profissional podem acarretar sanções a ele. Ainda, há a responsabilidade do próprio conjunto CFESS/CRESS em

realizar, periodicamente e/ou via denúncias ou solicitações, visitas cunho fiscalizador para averiguar qualquer

tipo de inadequação da entidade/instituição – tendo como premissa a garantia da qualidade dos serviços

prestados aos usuários –, logo, em casos de inadequações os agentes fiscais lavrarão o termo de

fiscalização/visita (termo condizente ao artigo 17º da PNF/2007) e o/a profissional precisará retornar com

resposta sobre a previsão de adequação daquele espaço. 68

Ver nota 42.

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3 AS CONDIÇÕES ÉTICAS E TÉCNICAS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL E AS

PERCEPÇÕES DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA REGIÃO OESTE DO PARANÁ

Condizente aos objetivos da pesquisa, visando à materialização deles em forma de

resposta ao tema-problema proposto e sabendo que “[...] o objeto das ciências sociais é

essencialmente qualitativo.” (MINAYO, 1994, p.21) é que a pesquisa foi realizada mediante

abordagem qualitativa, escolha que não exclui a coleta de dados quantitativos, resultado de

uma primeira análise do real para sobre eles fomentar uma análise buscando fundamentação

teórica até chegar ao porque dos dados e traduzi-los novamente à teoria.

Destaca-se ainda, que nesta abordagem qualitativa tem-se como fundamento a teoria

social de Marx. Não apenas descrevendo-se o objeto que se pretende investigar, mas

analisando-p e compreendendo o porquê, o que é aparente; quais suas determinações sociais,

políticas e ideológicas. De acordo com Gadotti (1983) tal método considera a ação recíproca e

busca examinar o objeto em sua totalidade concreta, considerando suas particularidades.

Assim, a pesquisa exploratória foi o ponto de partida, pois ela possibilita “[...] uma

visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo [...]” (GIL, 1999, p.43). Esta fase

da pesquisa abrangeu os delineamentos de pesquisa bibliográfica e de campo. A primeira

engendra conhecimento de categorias e conceitos referentes ao objeto de estudo. Para

Severino (2007) tal delineamento de pesquisa embasa-se em pesquisas realizadas, utilizando

seu conteúdo (dados, categorias) que pode ser fonte de aproximação, assim como de novas

pesquisas; a segunda abrange “desde levantamentos [...] mais descritivos, até estudos mais

analíticos” (SEVERINO, 2007, p. 123). Sua finalidade está em possibilitar uma aproximação

com as múltiplas determinações do objeto: sua totalidade, singularidade e particularidades.

Nesta etapa foi utilizado o instrumental formulário de entrevista semi-estruturada (Apêndice

A), o qual, para Minayo (1994), contempla perguntas fechadas e abertas, visando extrair do

entrevistado o porquê de suas respostas com intuito de ampliar a análise sobre o conteúdo

proposto aos sujeitos sem que estes fiquem restritos a respostas dadas pelo pesquisador.

Logo, o universo da pesquisa são os campos de estágio do curso de Serviço Social

vinculados à Unioeste, campus de Toledo-PR69

de 2007-2011, totalizando 42 campos. O

período escolhido se deve ao fato de corresponder ao ano posterior à homologação da

Resolução CFESS n.493/2006 e um ano subsequente ao presente ano.

69

Tais campos de estágio não abrangem somente o município aonde tem sede o curso de Serviço Social, mas

algumas cidades desta região (Região Oeste do Paraná), as quais possuem campos de estágio vinculados a este

curso. Sendo assim, os sujeitos da pesquisa (Assistentes Sociais) poderão estar inseridos em espaços sócio-

ocupacionais de intervenção profissional dos municípios de Assis Chateaubriand-PR, Cascavel-PR, Marechal

Cândido Rondon-PR, Toledo-PR.

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No que tange à amostra, ela foi elencada mediante levantamento documental de

Dossiês de estágio arquivados na Coordenação de Estágio do curso da universidade em

questão, autorizado através do Termo de Compromisso para Dados e Arquivos (Apêndice B)

e Termo de Ciência do Responsável pelo campo de estudo (Anexo B), tendo como critérios

para sua seleção, num primeiro momento: a) campos de estágio permanentes de 2007 a 2011;

b) campos que possuem o mesmo/a profissional Assistente Social no período referenciado.

Sobre este recorte, seriam elencados os sujeitos da pesquisa, com os quais seria realizada a

entrevista da forma supramencionada. Porém, durante o processo de levantamento

documental para selecionar estes sujeitos, a partir dos critérios citados, foi percebido a

ausência de número significativo de sujeitos, o que poderia engendrar insuficiência na análise.

Desta forma, a opção foi selecionar uma amostra intencional – ainda, quando possível,

considerando a permanência do profissional nos campos. Diante deste critério, definiu-se

como sujeitos da pesquisa cinco Assistentes Sociais.

Foram feitos contatos telefônicos para agendar data e local para entrevista com os/as

profissionais Assistentes Sociais, sujeitos da pesquisa. Dos cinco selecionados para a amostra,

um não aceitou o convite, justificando não possuir tempo hábil para a realização da entrevista,

devido às atividades no seu espaço de trabalho, os outros quatro sujeitos aceitaram o convite..

No decorrer do processo ocorreram alguns imprevistos, os quais, destes quatro, dois tiveram

problemas com as datas e horários agendados, sendo necessário reagendá-las. Depois de

várias tentativas de agenda, foi possível realizar as entrevistas com a participação de três

assistentes sociais.

Sobre a realização das entrevistas com os três sujeitos, anota-se que todas foram

gravadas, transcritas e, posteriormente, devolvidas a eles para que pudessem ter ciência do

conteúdo e autorizarem seu uso na pesquisa. No momento anterior à entrevista foi entregue,

explicado e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C).

Sobretudo, como pressuposto ético, o Código de Ética Profissional do/ Assistente

Social foi respeitado em todas as entrevistas, compreendendo que seus princípios

fundamentais devem ser seguidos tanto no que tange o fazer profissional, assim como no

comprometimento ético na realização de toda e qualquer pesquisa bem como na divulgação de

seus resultados. Desta forma, os sujeitos da pesquisa serão identificados pelas iniciais da

categoria profissional, isto é, Assistente Social = AS, onde serão distinguidos por meio de

números de 1 a 3, aleatoriamente. Então, os sujeitos desta pesquisa serão: AS1, AS2 e AS370

.

70

Perfil dos sujeitos da pesquisa como Apêndice D.

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No que se refere à metodologia de análise de dados, foi feita coleta de dados e do

acúmulo de informações sobre a realidade que se pretende investigar – por meio das

entrevistas supramencionadas –, sendo, em seguida, realizado o tratamento destes dados, ou

como se refere Gil (1996), a análise e interpretação dos mesmos.

A análise não se limitou à descrição dos dados, foi realizada sua interpretação

correlacionando-a ao referencial teórico. Para tanto, foram definidas categorias analíticas as

quais, conforme Minayo (1994), são compreendidas na sua característica de absorver as

relações sociais essenciais para o conhecimento do objeto de forma geral, podendo apresentar

vários níveis de “[...] abstração, generalização e de aproximação [...]” (p. 94).

Para dar conta de apreender o problema, quais são os rebatimentos da Resolução

CFESS n. 493/2006, nos espaços sócio-ocupacionais dos campos de estágio de Serviço

Social da Unioeste de Toledo-PR, foram elencados três categorias, as quais referenciam uma

síntese primária dos conteúdos que os sujeitos expuseram durante o procedimento da

entrevista na pesquisa de campo. São eles: condições de trabalho e infraestrutura dos serviços;

sigilo profissional; resolução CFESS n. 493/2006 e conjunto CFESS/CRESS. Assim, seguem

as análises.

3.1 CONDIÇÕES DE TRABALHO E INFRAESTRUTURA DOS SERVIÇOS

Para se falar em condições de trabalho, primeiramente, é necessário remeter à análise

da totalidade, isto é, sobre quais condições de trabalho está se falando? Nesse sentido, as

condições de trabalho aqui, remetem às condições de trabalho na sociedade capitalista, tendo

como particularidade o trabalho assalariado, na singularidade do trabalho (intervenção

profissional) do/a Assistente Social nos espaços sócio-ocupacionais dos campos de estágio de

Serviço Social da Unioeste de Toledo-PR. Desta forma interessa saber ainda que campos são

esses, sendo assim, tem-se três campos de atuação distintos, são eles: Política de Assistência

Social, no âmbito da Proteção Social Básica (AS1); Política de Saúde (AS2) e Sistema

Judiciário (AS3).

Nesse sentido, foi possível perceber por meio da análise das falas dos sujeitos que os

espaços-sócio ocupacionais nos dias de hoje possuem melhores condições de trabalho – não

todas, pois os sujeitos ainda levantam questões sobre o que pode ser melhorado, como será

exposto mais adiante –, porém, nem sempre fora assim. A AS2, por exemplo, denota em sua

fala a dificuldade e o enfrentamento realizado no seu espaço sócio-ocupacional de intervenção

para que fosse possível chegar às condições de trabalho atuais – no que tange a condições

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necessárias para o atendimento interventivo do usuário –, visto que o histórico da instituição a

qual é vinculada aponta características de condições precárias para a realização do trabalho

deste/a profissional. Sendo assim, em suas palavras:

A primeira sala não tinha ventilação nenhuma, um excesso de calor; a

segunda tinha ventilação, mas também mudaram na época; e a última, não

tinha iluminação, não tinha ventilação e era muito pequena. Aí para fazer o

atendimento fechava a porta senão as pessoas ficavam escutando e era bem

ruim. Foi aí que o CRESS veio, foi o limite mesmo. [...] Assim, aqui [...] nós

tivemos uma situação bem peculiar, porque desde quando entramos [equipe

do Serviço Social] nós já passamos por vários lugares e todos eles foram

muito ruins. No início [...] nossa sala era atrás da recepção, uma sala muito

ruim, muito quente. Primeiro porque era uma sala muito pequena, e

também, na época quem atendia era o/a Assistente Social e um auxiliar,

denominado “Auxiliar de Serviço Social”(este cargo que nem existe mais).

Aí, [...] logo fizemos uma solicitação interna, um documento para a direção

do Hospital e aí mudamos para outra sala, que era ruim também. E nós

sempre neste embate... aí o “fim” foi quando nós mudamos aqui para o lado

do Pronto Socorro, quando estava reformando tudo. Esta sala era mais ou

menos deste tamanho [tamanho da sala atual] e tinha mais um pedacinho

[outro pequeno espaço]... aí foi a “gota d’água”! Nós acionamos, por meio

de uma documentação, a fiscalização do CRESS. (AS2, grifo nosso).

O relato acima expressa descaso dos empregadores em garantir condições mínimas de

infraestrutura para o trabalho profissional. Estas condições objetivas rebatem diretamente na

atenção e qualidade do trabalho junto à população. Tem-se aí, como já exposto nos itens

subsequentes, que as condições de trabalho dos/as profissionais Assistentes Sociais sofrem os

rebatimentos das condições próprias do capitalismo contemporâneo, estas que engendram

mudanças significativas nos determinados espaços de trabalhos, isto é:

“[...] condições atuais do capitalismo contemporâneo [as quais] promovem

expressivas mudanças nas formas de organização e gestão do trabalho,

decorrendo daí a existência de amplos contingentes de trabalhadores

flexibilizados, informalizados, precarizados, pauperizados, desprotegidos de

direitos e desprovidos de organização coletiva.” (ANTUNES, 2005 apud

RAICHELIS, 2011, p. 430, grifo da autora)

Nesse contexto, “mediado pela lógica do mercado, o exercício profissional sofre um

redimensionamento pelas alterações ocorridas na esfera dos serviços e nas demandas.”

(GUERRA, 2007, p. 7), alterando, simultaneamente, as condições e relações de trabalho do/a

Assistente Social.

Sob essas mesmas condições, a AS1, referindo-se à questão da ventilação, ao contrário

da AS2, disse que como aquele é um espaço novo, no sentido de sua estrutura, a iluminação e

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ventilação são/estão adequadas. Entretanto, a mesma ressalta uma questão problemática

daquela instituição, que embora já tenha sido solicitado ainda não houve resposta e não há

previsão para tal. Assim, ela expressa:

[...] aqui é novo, né?... E nós já levamos ao conhecimento da direção de que

o espaço não é adequado, que nós precisamos ficar revezando sala com o(a)

psicólogo(a), o (a) qual também não tem sala. Mas, assim, não houve

nenhuma ação com relação a isso... Ah, tem uma coisa que nós já pedimos

e ainda não fomos contempladas, que é com relação ao acesso aos

cadastros dos usuários, pois nós temos eles arquivados num espaço aonde

todos tem acesso, não é num local privativo do profissional assistente

social, né... Mas assim, isso nós temos procurado, já solicitamos à

Secretaria Municipal de Assistência Social, mas até então não tivemos

respostas... e precisa ser num local onde somente o profissional tenha

acesso.(AS1)

Sobre o mesmo contexto, a AS3, assim como o AS2, deu destaque à infraestrutura de

seu espaço sócio-ocupacional, referindo-se às salas de atendimento,

[...] conseguimos esta sala aqui. Que foi tirada de um cartório, aí

conseguimos essa sala. Foi o Juiz [da Vara concernente]que solicitou...

quando ele se tornou diretor do Fórum, ele exigiu a sala. Mas assim, não

tem aonde ampliar, nem tem como cobrar uma coisa agora, pedir pra

reformar agora, sendo que já está prevista uma nova estrutura para o

Fórum [...] porque aqui vai ser demolido né?![...] Só que aqui tem este

problema da falta de espaço, mas com a previsão da nova construção do

Fórum, em dois anos, vai ser diferente, né?! [...] assim, não tem como

pedir, sabendo que já vão construir outro. E não é só aqui, né?!... é tudo.

Mas nós atendemos com qualidade né, dentro da limitação do espaço, até

que seja construído o novo espaço (AS3, grifo nosso)

Sobretudo, com relação a estas transformações e, principalmente, frente à tendência de

precarização das condições de trabalho71

e com relação às falas das entrevistadas de modo

geral, é preciso remeter, aqui, os instrumentos normativos, como já exposto72

, que

asseguraram as condições de trabalho do/a Assistente Social, sobre os quais este profissional

pode se embasar para reivindicar um direito enquanto trabalhador. Concernente a isto tem-se

o Código de Ética Profissional que normatiza em seu artigo 7º, alínea a sobre o direito de o/a

Assistente Social - dispor de “[...] condições de trabalho condignas, seja em entidade pública

ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;[...]” (CFESS, 1993, p.

31).

71

Sobre a tendência da precarização do trabalho, frente à precarização do trabalho na sociedade capitalista, foi

citado Santos (2010), conforme exposto no item 2.2 72

Sobre a criação dos instrumentos normativos refentes à profissão, conferir item 2.1 e 2.2.

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Neste contexto – contemplando às falas das duas entrevistadas em questão –, porém

mais especificamente, chama-se à atenção ao artigo 2º da Resolução CFESS n. 493/2006, que

norteia as normas sobre o local de atendimento, este que deve conter espaço suficiente, e,

conforme suas alíneas, devem conter as determinadas características físicas:

“[...] a- iluminação adequada ao trabalho diurno e noturno, conforme a

organização institucional; b- recursos que garantam a privacidade do usuário

naquilo que for revelado durante o processo de intervenção profissional; c-

ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas

fechadas; d- espaço adequado para colocação de arquivos para a adequada

guarda de material técnico de caráter reservado.” (CFESS, 2006a, s.p.)

Retomando a fala da AS2, agora dando ênfase aos grifos, estes que foram intencionais,

visto que a própria profissional levantou, a título de análise, que a intervenção do Conselho

foi essencial para a mudança ocorrida naquele espaço. Pensa-se, pois, nas atribuições do

CRESS73

, assim como na própria PNF/2007. Assim, como exposto em sua fala:

[...] veio uma fiscal, viu nossas condições, encaminhou uma documentação

para o diretor [do Hospital] na época, e aí o que aconteceu?... como

estavam sendo feitas algumas reformas, já tinha essa previsão aqui da

reforma [...] nessa unidade aqui [referindo-se à estrutura física aonde está

alocado hoje o departamento de Serviço Social], então nós solicitamos e aí

foi previsto esse espaço para nós. Então assim, a princípio tínhamos essas

duas salas [referindo-se às atuais salas do Serviço Social] e agora nós

temos três [ou seja] tem uma recepção, e essas duas salas que são

interligadas [com uma porta interligando-as]. [...] eu acho que a própria

fiscalização, e acredito que o fiscal baseado, também, num instrumento

legal conseguiu efetivar um direito do profissional, né?! [...] tenho minhas

dúvidas que se nós não tivéssemos aquela fiscalização do CRESS, se nós

teríamos a sala que temos hoje! Lógico que na época, eles disseram que já

estavam prevendo a construção, então, meio que coincidiu... Mas o que eu

percebo, é que não tem essa preocupação, pois é uma demanda sempre

nossa, em relação a ter a sala de atendimento, essas que nós conseguimos e

mesmo estas que nós já solicitamos, eles não nos ofereceram... partiu do

Setor aqui.... Eu acho que eles não tem esta clareza da Resolução, nem

mesmo da necessidade deste tipo de atendimento. (AS2, grifo nosso)

Sobretudo, destaca-se (grifos) o próprio conhecimento das atribuições do Conselho

Regional – remete-se aqui ao artigo 6º da Resolução CFESS 493/200674

– por parte dos/as

Assistentes Sociais que estiveram envolvidas na formulação do documento de solicitação de

73

Ver quadro II. 74

“Art. 6º- É de atribuição dos Conselhos Regionais de Serviço Social, através de seus Conselheiros e/ou

agentes fiscais, orientar e fiscalizar as condições éticas e técnicas estabelecidas nesta Resolução, bem como em

outros instrumentos normativos expedidos pelo CFESS, em relação aos assistentes sociais e pessoas jurídicas

que prestam serviços sociais.” (CFESS, 2006a, s.p.)

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intervenção deste Conselho. Ainda, outra questão que vale ser salientada é o fato de como

ocorreu o procedimento de solicitação, haja vista que em sua fala, a AS2 aponta que fora

realizada, primeiramente, um pedido à direção do hospital, sobre o qual não se teve retorno;

daí, então comunicar ao CRESS. Com efeito, da forma como consta no artigo 7º da Resolução

n. 493/2006:

Art. 7º - O assistente social deve informar por escrito à entidade, instituição

ou órgão que trabalha ou presta serviços, sob qualquer modalidade, acerca

das inadequações constatadas por este, quanto às condições éticas, físicas e

técnicas do exercício profissional, sugerindo alternativas para melhoria dos

serviços prestados. Parágrafo Primeiro - Esgotados os recursos especificados

no “caput” do presente artigo e deixando a entidade, instituição ou órgão de

tomar qualquer providência ou as medidas necessárias para sanar as

inadequações, o assistente social deverá informar ao CRESS do âmbito de

sua jurisdição, por escrito, para intervir na situação. (CFESS, 2006a, s.p.)

Com efeito, a omissão desses/as profissionais engendraria autuação aos mesmos/as, no

entanto é muito rico poder encontrar esta consciência do papel dos Conselhos, assim como do

próprio compromisso com o projeto ético-político profissional, sendo nítido diretamente na

fala da AS2, que embora tenha relatado não conhecer a Resolução detalhadamente, no sentido

de nunca tê-la estudado, demonstrou (junto de sua equipe) ter amplo entendimento sobre o

enfrentamento profissional frente aos parâmetros institucionais (Iamamoto, 2008).

Assim, sobre os grifos feitos na fala da AS1, pode-se relacionar diretamente ao artigo

2º do Código de Ética (CFESS, 1993) que constitui os direitos dos/as Assistentes Sociais, que

em sua alínea d normatiza enquanto direito deste/a profissional a inviolabilidade do local de

trabalho e dos arquivos e documentos que necessitam resguardo de sigilo profissional

(CFESS, 1993) e ainda, o artigo 4º e 5º da Resolução que institui que o material técnico de

uso dos/as Assistentes Sociais deve ter acesso restrito a este/a profissional, e só pode ser

mantido em outro espaço físico se esta restrição estiver garantida (CFESS, 2006a).

Direcionando a análise à fala da AS3, atentando-se ao grifo feito sobre ela, é possível

identificar a relativa autonomia (Iamamoto, 2008) da profissional, isso porque mesmo

reconhecendo a impossibilidade de solicitar o aumento das salas de atendimento neste

momento, compreende a necessidade de ampliação daquele espaço para melhor atender os

usuários.

Contudo, quando foi questionado quanto à infraestrutura dos locais, teve-se como

respostas, algumas concepções diferentes entre as três Assistentes Sociais, onde uma delas

(AS2) reforça a questão que diz respeito à solicitar, quando preciso, a intervenção do CRESS,

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referindo-se à questão de adequação como uma responsabilidade do profissional, isto é, do

setor de Serviço Social – além de responsabilidade da própria instituição, pediram à direção

da instituição e suscitaram a possibilidade de “acionar” o CRESS novamente. A AS1 relatou

que aquilo que precisa sofrer adequação naquela instituição, está para além do espaço e

condições de trabalho somente do/a Assistente Social, mas diz respeito à adequação da

instituição em si, pois ela precisa ser ampliada como um todo, haja vista o tipo de serviço que

atende – e assim como realçado em sua fala, foi comunicado à direção sobre a inadequação

daquele local para o tipo de serviço ofertado; e a AS3 se direciona as adequações que

precisam ser feitas engendra uma questão que a própria instituição está resolvendo, reiterando

que, assim como a AS1, não é uma necessidade só do/a Assistente Social. Assim, da forma

como expuseram em suas falas:

Eu acredito que não se enquadra nesta pesquisa, pois nós nos referimos bem

mais num espaço de adequação da [instituição], que tenha um espaço mais

amplo, ou seja, se refere mais à adequação da instituição em si, não é uma

questão específica do profissional assistente social. (AS1)

[...] nós solicitamos mais salas para a direção [...] Então, tem já este

encaminhamento... de repente nós discutimos sobre isso de que “ah, vamos

tentar até pelo próprio CRESS, vamos fazer um segundo movimento”, né?!

para garantir essa privacidade no atendimento dentro do Hospital, pois hoje

[...] temos que criar um meio... Nós comentamos um dia numa reunião, mas

ainda não demos nenhum encaminhamento [...],estamos esperando o

documento que encaminhamos para a Direção... vai que dê certo. (AS2)

[...] não tem aonde ampliar, nem tem como cobrar uma coisa, pedir para

reformar agora sendo que já está prevista uma nova estrutura para o Fórum

(AS3)

No que se refere à construção de melhorias, as três entrevistadas levantaram questões

relativas ao espaço físico, assim houve questões apontadas mais diretamente, relativas aos

materiais de trabalho e espaço físico. Desta forma, é importante traçar tais apontamentos:

[...] a questão do ar condicionado [...], mas, também, não é tanto assim. Na

verdade, o que ainda estamos discutindo é que cada sala ficou para duas

Assistentes Sociais, uma de manhã e uma a tarde, só que assim, quando

coincide de nós estarmos no mesmo turno, ficamos meio que disputando

espaço. E acho que ainda falta uma sala para cada Assistente Social [...]

algo que percebemos necessidade... ou então uma mesa, pelo menos, para

cada uma, pois a Assistentes Social que divide a sala comigo, que vem de

manhã, quando ela supervisiona estágio ela vem a tarde também, mas se as

duas precisam fazer um relatório, só tem um computador... lógico que nós

podemos ir ali na recepção, mas aí o recepcionista precisa sair, assim, acho

que precisaríamos, necessariamente, de uma sala para cada uma. [...] O que

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pode ser melhorado é a questão da construção, abertura de um espaço

dentro do Hospital. [...] mas já melhorou porque está mais dividido e todas

salas tem armário com chave, que sempre teve...(AS2)

[...] ampliar o espaço, melhorar né?!... mais mesa, mais cadeira, mais

computador [...].(AS3)

Em síntese, estas são as condições físicas e estruturais que estão presentes no cotidiano

dos espaços sócio-ocupacionais correspondentes aos campos de estágio do curso de Serviço

Social75

da Unioeste, campus Toledo-PR que tiveram seus/suas profissionais entrevistados/as,

estes/as que demonstraram ao longo de suas falas, como se dá o enfrentamento, a luta e o

processo para construção de melhorias em tais espaços; assim como demonstram como tais

profissionais, por vezes, tem suas “mãos atadas” frente algumas situações e relações

institucionais, porém não deixando isso influenciar no atendimento ao/a usuário/a, embora

reconheçam a necessidade de melhorias para garantir de fato a qualidade nos serviços

prestados aos/as usuários/as.

Contudo, frente a essas características dos distintos espaços e profissionais, é

importante assinalar, de acordo com Santos (2010), que apresenta em parte de seu estudo

algumas das questões que objetivam as condições e relações de trabalho do/a Assistente

Social, uma questão primordial, entre outras, que sintetiza as falas das profissionais

Assistentes Sociais sujeitos desta pesquisa. Deste modo,

Verifica‑se perda crescente de condições de infraestrutura para a realização

do trabalho, que seguindo variações e particularidades nos diferentes espaços

sócio‑ocupacionais revelam falta de equipamentos de toda ordem, de

material de informática; [...] falta de material de consumo e ênfase em

espaços inadequados para o atendimento profissional, visto que possuem

escassa iluminação, ventilação e segurança. Há indicações, também,

referentes à falta de arquivos disponíveis para guarda de material técnico de

caráter reservado, de uso e acesso restrito por assistentes sociais e ausência

de espaço físico com possibilidades para reuniões e estudos, de caráter

individual e em equipe. (SANTOS, 2010, p. 701)

Dada a importância destes apontamentos e a partir de sua conexão com as falas dos

sujeitos desta pesquisa, tem-se o próximo item, dando sequencia ao processo de análise para

responder aos objetivos da pesquisa.

75

Lembrando que tais campos de estágio não abrangem somente o município aonde tem sede o curso de Serviço

Social, mas algumas cidades desta região (Região Oeste do Paraná), as quais possuem campos de estágio

vinculados a este curso. Sendo assim, os sujeitos da pesquisa (Assistentes Sociais) poderão estar inseridos em

espaços sócio-ocupacionais de intervenção profissional dos municípios de Assis Chateaubriand-PR, Cascavel-

PR, Marechal Cândido Rondon-PR, Toledo-PR, assim como exposto, também na nota 75.

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54

3.2 SIGILO PROFISSIONAL

Para introduzir a questão do sigilo profissional é necessário e primordial salientar que

os parâmetros normativos sobre ele estão presentes no Código de Ética Profissional do/a

Assistente Social76

e na Resolução CFESS n. 493/200677

. No que tange à resolução, ela

remete-se à questão do sigilo relacionando-o ao atendimento, este que deve ser, então, de

portas fechadas (CFESS, 2006a). Mas se se levar em conta o que o Código orienta, o sigilo

profissional transcende o atendimento de portas fechadas, referindo-se, de forma mais ampla,

ao cuidado que o/a Assistente Social deve ter em guardar as informações expostas pelos

usuários no momento da intervenção profissional de forma que ninguém – salvo o/a

Assistente Social e em casos de atendimento multiprofissional – tenha acesso ao material de

arquivamento destas informações; ainda, se refere à resguardar segredo a toda e qualquer

informação da condição do/a usuário/a quando solicitado por este, não podendo revelá-lo em

qualquer hipótese – salvo em casos de fatores delituosos –, é utilizado para proteger o/a

usuário/a dos serviços no que for necessário (CFESS, 1993). Portanto, serão estes

instrumentos normativos utilizados como base à análise.

Nesse sentido, foi perceptível no conteúdo da fala das entrevistadas AS1 e AS3 que o

sigilo – com relação ao espaço fechado78

, para atendimento com portas fechadas – foi algo

que sempre existiu nos respectivos espaços sócio-ocupacionais aos quais estas profissionais

estão vinculadas, assim como exposto em suas falas:

[...] à questão do espaço físico, que nós tenhamos um espaço e o usuário

tenha garantia de privacidade nas informações, nas orientações que ele

venha [na instituição] buscar. Sempre foi assim, desde que nós iniciamos

aqui. Isso porque existem as salas para atendimentos de sigilo. (AS1)

Já tem as salas com o sigilo que é necessário [...] nós já temos duas salas:

esta aqui, que é uma, sala mais fechada [local aonde foi realizada a

entrevista], mais para atendimento e outra [...] aonde ficam todos [se

referindo à equipe do setor]. Acredito que em outros espaços deve ser mais

complicado esta questão do sigilo, isso porque já trabalhei em outros

lugares que apresentavam essa dificuldade em manter o sigilo devido às

divisórias com forro aberto ao invés de paredes. Mas aqui já é diferente, né,

aqui já tem um sigilo maior, apesar da falta de espaço que nós temos, mas

temos sala fechada, que a gente pode atender o usuário sem ninguém estar

ouvindo, de uma forma mais sigilosa, até pelas situações que se colocam

76

Nos artigos 2º (alínea d), 5º (alínea f), 15, 16, 17, 18, 19 e 20. (CFESS, 1993). 77

Em seu artigo 3º. (CFESS, 2006a). 78

Com relação à análise realizada no item subsequente – do eixo das Condições de Trabalho – é notório que este

espaço que elas se referem como sendo fechado e garantidor do sigilo, é um espaço reduzido quanto ao seu

tamanho.

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aqui. Então assim, desde que eu cheguei aqui [...] já era assim. (AS3)

Destaca-se sobre a fala de ambas entrevistadas o conhecimento sobre a garantia do

sigilo durante a realização dos atendimentos, isso porque elas destacam – para além do trecho

citado – esta questão do espaço, com relação ao isolamento acústico das salas, as portas

fechadas, entre outras coisas. É possível perceber, também, que para elas tal fato configura a

garantia do sigilo profissional com relação à intervenção do/a profissional com seus/as

usuários/as, de acordo com cada especificidade e demanda destes sujeitos.

No entanto, como contraponto, destaca-se a fala da entrevistada AS2, que enfatiza o

processo de adequação da instituição – lembrando que, como apresentado no item anterior, a

instituição que esta profissional é vinculada passou por adequação no que diz respeito à

infraestrutura, entre outras coisas – da instituição com relação às condições para garantir o

sigilo durante o atendimento ao/a usuário/a fora gradativo79

. Desta forma, a AS2 contextualiza

este processo:

[...] nas três salas que nós passamos não tinha espaço para atendimento

individual, e ainda dividíamos o espaço com outros profissionais e com

nossa auxiliar. Então, não garantia o sigilo ou a privacidade. [...] porque

apesar de o Serviço Social estar presente aqui há 20 anos, antes não tinha

esta característica de garantir este atendimento com privacidade, dessa

questão ética do espaço do profissional [...] E se precisássemos alguém

teria que sair da sala... dizíamos: “olha, preciso fazer um atendimento,

precisa sair”... é lógico que nós sempre tivemos esta postura né... se

precisasse fazer atendimento na sala mesmo, pedia licença pro colega para

fazer o atendimento. Porém, quando já sabíamos que seria um atendimento

mais delicado, que envolveria situações muito específicas, nós já

avisávamos antes. Mas, acontecia, às vezes, do usuário vir pedir algo que

não sabíamos e ter outros profissionais ali...(o que era possível de ser

antecipado, nós avisávamos os colegas, o que não era, acabava sendo

falado ali, no momento) Na verdade é meio contraditório, né... porque todo

atendimento precisa ser individual. [...] então, nas outras salas nós não

tínhamos este atendimento individual. (AS2, grifo nosso)

Percebe-se que durante o próprio processo de realização da entrevista, a profissional

realiza uma reflexão, conforme o grifo feito, onde ela faz o relato da realidade, explica-o

somado às condições daquele período, aponta as estratégias utilizadas perante a falta de

condições adequadas e, por conseguinte, conclui que, mesmo mediante às estratégias

utilizadas, há naquela prática uma lacuna com relação à garantia do sigilo.

79

Outro motivo, somado à infraestrutura como exposto antes pela profissional, para o CRESS intervir sobre o

setor de Serviço Social daquela instituição, tendo como base o instrumento normativo que é a Resolução CFESS

493/2006, assim como todos os fatores relacionados ao sigilo profissional orientados pelo Código de Ética

Profissional do/a Assistente Social de 1993.

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56

Com efeito, a AS2 não se limita à crítica da precariedade perpassada naquele espaço,

complementando sua fala referindo-se às melhorias conquistadas após o grande

enfrentamento realizado naquela instituição, isso porque o processo de adequação pelo qual

passou é mudou as características e condições de atendimento. Desta forma, sobre as

mudanças, ela argumenta:

Agora, está melhor [...] no setor nós conseguimos fazer este atendimento

individual, privativo, garantindo a questão ética [...] temos uma recepção

[...] é interessante porque é feita uma “triagem”, é essa palavra mesmo, ou

seja, o recepcionista faz a primeira escuta, porque [...] se for algo mais

administrativo, uma informação que não necessite de avaliação [...] ou de

um atendimento específico do Assistente Social, né... Porque ainda existem

algumas coisas mais burocráticas no setor e isso ele pode resolver, não

precisa, necessariamente, encaminhar para um atendimento de intervenção

profissional do Assistente Social [...] Melhorou, inclusive, ele

[recepcionista] tem a sala separada. Esta sala aqui é só entre nós

profissionais mesmo, e ainda entre nós tem a porta, né... que nós fechamos...

Por isso, eu acho que agora está melhor.(AS2)

Nesse sentido é que a adequação física realizada é considerada um avanço no que se

refere à qualidade do atendimento ao/a usuário/a, uma vez que este engendra a possibilidade

de garantir o sigilo no processo interventivo, assim como um avanço quanto à

desburocratização do processo de intervenção, isto é, um processo menos burocrático que

possibilita ao/a Assistente Social um atendimento mais direcionado àquilo que ao/a usuário/a

vai buscar naquele espaço com relação ao Serviço Social, ainda, a questão do tempo de espera

dos demais usuários/as que pode ser reduzido. Com efeito, é possível relacionar esta questão

ao artigo 5º, alínea g do Código de Ética vigente, que estabelece a contribuição dos

Assistentes Sociais para “[...] a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação

com os/as usuários/as, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;” (CFESS,

1993, s.p.).

Entretanto, a mesma profissional, ressaltou uma problemática ainda não solucionada

naquela instituição, mesmo após a realização das adequações.

[...] outra questão [...] é do atendimento na ala. [...] Quando o paciente não

consegue se deslocar do leito o profissional tem que pensar numa forma

para garantir a privacidade, procurar uma sala disponível... mas o que nós

temos hoje na ala além dos quartos é a copa dos funcionários. [...] não é o

espaço adequado, [...] então, na ala é preciso ter uma estratégia. Aí, quando

não tem jeito mesmo, eu particularmente, adio aquele atendimento, ou peço

para as pessoas que se puderem sair da sala, né... dar uma circuladinha

pela ala e... aí é um atendimento mais breve, né... delicado. (AS2)

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57

É possível relacionar o fato mencionado pela entrevistada AS2 com as condições de

trabalho, assim como expostas no item anterior, isso porque devido à falta de uma sala

próxima às “alas” para o atendimento interventivo aos/as usuários/as dos serviços – por ser

uma instituição que atende à Política de Saúde e dispõe de leitos para os pacientes –, é

necessário que as profissionais encontrem condições – ainda que não sejam as adequadas para

o tipo de atendimento – para atendê-los de forma a garantir o sigilo das informações. É diante

disso que a mesma profissional expõe em sua fala algo sobre o que remete à pensar sobre a

relação condições de trabalho X sigilo profissional. Segue, em suas palavras:

[...] mesmo que não haja condições ideais, tem que pensar, dentro daquele

espaço, como que você pode garantir... hoje nós temos esta condição aqui,

mas eu vejo que nós também procuramos estratégias, né... No sentido de não

é porque não tem espaço específico que o profissional vai atender o usuário

na frente dos outros; não tem o lugar para atender, mas não é por isso que

não vai encontrar uma forma de garantir a privacidade do atendimento

daquele usuário, até por ser um desrespeito com ele, né... é preciso ter um

cuidado no atendimento. Se não tem essa sala, e agora, eu vou atender

como?... se tem mais de um profissional, pedir pro colega sair ou se dá pra

deslocar este usuário para outro espaço. Mas o profissional também precisa

lutar pelo espaço. [...] não é só o espaço físico que garante as condições

para o atendimento a o usuário, mas ainda assim ele é primordial. Uma

articulação entre a ética do profissional com o espaço físico.(AS2)

Concernente às estratégias necessárias na ausência das condições de trabalho

essenciais, a AS1 também destacou uma situação do seu espaço sócio-ocupacional de

intervenção, porém com relação ao arquivamento do material de uso restrito, para manter o

sigilo das informações, mesmo quando arquivadas, assim como exposto por ela:

[...] o que acontece hoje?... temos uma ficha cadastral, onde é relatado

todos os atendimentos, de cada usuário separadamente, aí quando tem

algumas informações sigilosas, temos uma pasta, que é utilizada para

relatar as informações sigilosas; aí no cadastro consta que existem

informações complementares nesta pasta [que fica guardada uma gaveta

separadamente, mas que também não possui chave]. Esta é uma forma de

outros funcionários não terem acesso. (AS1)

Enfatizando o grifo sobre a fala da AS1, é perceptível que, embora não possua – até o

momento, pois como citado no item subsequente, já foi solicitado armário para arquivo à

Secretaria responsável – os meios necessários para arquivamento do material, tem-se a

preocupação com a restrição de acesso a este material técnico de cunho sigiloso, deflagrando

seu compromisso ético com relação ao sigilo e à privacidade no atendimento ao/a usuário/a

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dos serviços. Porém, há que se anotar que este não é um meio garantido de segurança e

restrição ao acesso do material técnico de cunho sigiloso, e que, embora esta seja a estratégia

encontrada, a falta de armário para arquivo deste material, em alguma eventualidade, pode

gerar a quebra do sigilo das informações daqueles/as usuários/as.

Sobre isso, Santos (2010), chama à atenção para a falta das condições de infra-

estrutura nas instituições, utilizando-se do argumento de que, por vezes (inúmeras), é possível

não haver condições para garantir o sigilo e a privacidade dos/as usuários/as sobre aquilo que

eles expõem durante o processo de intervenção profissional. Logo o sujeito (usuário/a) que

está ali, predominantemente, por já ter tido um direito violado, acaba por sofrer outra violação

durante a intervenção profissional. Isso engendra, conforme a mesma autora, inúmeras

implicações éticas, isso porque a ausência das condições de trabalho pode induzir o/a

profissional Assistente Social ao descumprimento dos instrumentos normativos e orientadores

da profissão, levando-o/a a infringir a questão do sigilo profissional, conforme trata o artigo

3º da Resolução CFESS n. 493/2006, assim como o artigo 2º, alínea d do Código de Ética

Profissional.

Ainda, considerando o fato de que esta discussão é contemporânea, ela está presente

em vários debates, seminários, congressos, entre outros eventos realizados no âmbito do

Serviço Social concernente a estas argumentações. Entre eles vale citar o Seminário de Ética

Profissional80

, no qual a conselheira do CFESS, Ramona Carlos, salienta que a ausência das

condições de trabalho pode levar o/a profissional a cometer erros, em suas palavras: “As

falhas do sistema em que se insere o fazer profissional do/a assistente social, como a falta de

estrutura, a escassez de profissionais, ocasionam problemas como o atendimento precário, de

baixa qualidade.” (CFESS, 2012d). Outro evento, o Congresso Paranaense de Assistentes

Sociais - CPAS81

, onde a professora Doutora Cristina Brites, concernente à discussão em

torno da ética, afirmou que esta não se resume a uma dimensão, mas deve ser um componente

do exercício profissional; lançou um questionamento para reflexão dos participantes, a qual

seja, “Como garantir a ética e agir eticamente numa instituição que possui condições de

trabalho precarizadas?”. Com efeito, ela referia-se à luta para melhores condições de trabalho

para o espaço institucional com vistas à garantia da qualidade no atendimento ao/a usuário/a,

dentre eles, a garantia do sigilo profissional (BRITES, 2012)

80

Este seminário foi realizado em setembro de 2012, tendo como tema central “erro e condições de trabalho”,

promovido pela organização do Conselhos das profissões regulamentadas na área de saúde, conhecido como

“conselhinho”. (CFESS, 2012d). 81

Realizado em outubro de 2012 em Foz do Iguaçu-PR.

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3.3 RESOLUÇÃO CFESS N. 493/2006 E CONJUNTO CFESS/CRESS

Assim como exposto anteriormente, o ano de 2006 demarca a regulamentação das

condições éticas e técnicas do exercício profissional do/a Assistente Social por meio da

Resolução CFESS n. 493/2006, definindo de forma mais específica o que tangencia o Código

de Ética Profissional do/a Assistente Social. Todavia, por detrás da construção e homologação

dessa nova norma, existe um amplo processo de debates e discussões realizadas no entorno

das condições de trabalho dos/as Assistentes Sociais no Brasil, isso porque a forte tendência

da precarização do trabalho na sociedade capitalista madura – como se refere Netto (1992) –

recai sobre o Serviço Social, assim como sobre qualquer outra profissão. Sem desconsiderar a

próprio contexto sócio-histórico da profissionalização/institucionalização desta profissão no

país, cujos traços são de lutas, enfrentamentos e de conflitos no que tange o processo de

formação de sua perspectiva teórico-metodológica, ético-política, técnico-operativa,

direcionada, conforme Silva (2007), ao compromisso com o ser humano genérico.

De modo geral, a Resolução CFESS n. 493/2006 institui de maneira objetiva e nítida

as condições e os parâmetros normativos necessários – principalmente no que se refere às

condições técnicas e físicas – para garantir que o exercício profissional seja realizado de

forma técnica e eticamente qualificada (CFESS, 2006a).

No que tange a forma como as Assistentes Sociais, sujeitos da pesquisa, tomaram

conhecimento sobre a Resolução, foi apreendido por meio da análise das entrevistas, que

todas não sabem, isto é, não possuem apropriação do conteúdo total deste instrumento

normativo, porém, de forma geral, todas a conheciam. Sobre este apontamento, uma das

entrevistadas relatou mais detalhadamente a forma pela qual passou a conhecera a Resolução,

desta forma, ela disse:

Lembro que nós tivemos [recebemos] uma visita [do/a coordenador/a de

estágio em Serviço Social da Unioeste], uma visita dos campos de estágio e

aí ela verificou sobre as condições daqui [se referindo ao ambiente de

trabalho dali, do espaço, das salas, apontando com a mão] para receber os

estagiários. Ela falou que é uma normativa [...],que era algo que estava

relacionada ao CRESS, [...] uma exigência do CRESS, mas acredito que

tenha a ver com esta resolução. Aí, ela falou, assim, um pouco do ambiente,

da questão do próprio arquivo, sobre os cuidados com a documentação.

[mas] nunca estudamos especificamente a Resolução. (AS2, grifo nosso)

Diante da fala da AS2, é perceptível tanto a importância da abertura de campos de

estágio de Serviço Social, quanto à questão da fiscalização, pois embora a visita do/a

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coordenador/a de estágio não configure uma fiscalização do conjunto CFESS/CRESS – esta

que é feita pelos agentes fiscais82

– foi ela que gerou o conhecimento deste instrumento

normativo à Assistente Social em questão, embora haja um artigo específico nesta resolução

que diz respeito à publicização dela por parte do conjunto CFESS/CRESS83

.

Embora a AS2 não tenha mencionado o ano desta visita do/a coordenador/a de estágio,

no que se refere ao grifo feito, ressalta-se a Resolução CFESS n. 533 de 29 de setembro de

2008, que regulamenta a supervisão direta de estágio. No Paraná, cabe às coordenações de

estágio dos cursos emitir parecer quanto às condições éticas e técnicas dos espaços sócio-

ocupacionais para o credenciamento dos campos de estágio84

.

Ainda, cabe mencionar a concepção das profissionais Assistentes Sociais, sujeitos

desta pesquisa. Sobre isso, percebeu-se, entre outros fatores, um “uníssono” em suas falas,

cada qual com sua especificidade e maneira de expressar, assim, da forma como disseram, a

Resolução CFESS n. 493/2006 para elas:

[...] ela estabelece as condições que nós teríamos que ter no nosso espaço

de trabalho. É... o espaço do profissional, com relação ao atendimento ao

usuário, com relação à documentação que é específica do profissional

[Assistente Social], bem como o acompanhamento do Conselho

[CFESS/CRESS] com relação a isso.[...]Essa Resolução... nós temos ela

como referência no que se refere mais à questão de... hoje, eu posso dizer

assim, com relação ao sigilo... à questão ética do trabalho. (AS1)

Como ela trata das condições de trabalho... das condições objetivas [...] eu

acho que garante um pouco a questão da qualidade do atendimento ao

usuário. Também, assim, tanto ao usuário, quanto para o profissional. O

sigilo, a ética, até o respeito no atendimento [...], por exemplo, [...] às vezes

[...] é um atendimento que consideramos simples, que não está relacionado

a um atendimento mais assim, específico... é só uma informação, uma

orientação, mas para o usuário aquilo ali é importante e muitas vezes ele

não quer abrir [falar] com outro profissional na sala ou até com outro

usuário perto. Assim, as vezes é algo simples, mas para ele é importante.

Também, as vezes nós consideramos simples, mas a partir disso também se

revelam outras situações. Então por isso que é importante essa questão de

existir a privacidade mesmo nos atendimentos, é importante! (AS2)

Ah, ela dá um respaldo para os profissionais, [...] poderem estar realizando

um serviço de qualidade, garantindo o sigilo [...] né... então quando a gente

solicita, informa sobre alguma necessidade, tem que ser pautado numa

82

Sobre as atribuições dos agentes fiscais, consultar a PNF/2007, mais especificamente artigo 7º (CFESS,

2007a). 83

“Art. 12- O CFESS e os CRESS deverão se incumbir de dar plena e total publicidade a presente norma, por

todos os meios disponíveis, de forma que ela seja conhecida pelos assistentes sociais bem como pelas

instituições, órgãos ou entidades que prestam serviços sociais.” (CFESS, 2006a, s.p.). 84

Conforme informação da Coordenação de Estágio do Curso de Serviço Social da UNIOESTE – Campus de

Toledo.

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legislação [...] e a resolução é uma coisa concreta e se for possível tem que

mostrar, materialmente, que aquilo é necessário.(AS3)

Nota-se sobre o referido “uníssono”, conforme os realces sobre três falas, é que, de

modo geral, todas elas correlacionaram a Resolução CFESS n. 493/2006 à questão da garantia

do sigilo no atendimento de intervenção profissional do/a Assistente Social ao/a usuário/a dos

serviços, indicando, basicamente, uma centralidade ao sigilo profissional.

Porém, para além da correlação entre as falas, cabe salientar o que a AS2 mencionou

sobre a Resolução, onde referindo-se à abrangência desta normativa, ressaltou que a mesma se

direciona tanto ao/a profissional Assistente Social, quanto ao/a usuário/a. No primeiro caso a

Resolução intervém na garantia de condições de trabalho do/a profissional, para que ele tenha

condições (físicas e técnicas) suficientes para executar suas intervenções e atividades em geral

– retoma-se aqui, o previsto no artigo 2º desta Resolução, que dispõe sobre o local de

atendimento quanto à sua adequação para abordagens coletivas ou individuais. Na segunda

afirmação, com vistas ao/a usuário/a, para que este/a possa ser atendido/a sob condições

adequadas, que engendram qualidade no atendimento.

A seguir serão apresentadas as considerações finais, com base no processo de

investigação realizado, entendendo que o presente trabalho expressa uma primeira

aproximação ao objeto de estudo.

“Em livros de história seremos a memória dos dias

que virão [...]”

Humberto Gessinger

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho de Conclusão de Curso é resultado de um processo de

investigação que significou o primeiro exercício sistemático de pesquisa. Sendo assim,

apreender diante do estudo feito àquilo que fora indagado lá no início deste trabalho, não

parece ser tarefa fácil.

Sinteticamente, a pesquisa iniciou-se com o questionamento da realidade e se

desdobrou em várias partes: a aproximação com o tema por meio das bibliografias

concernentes; a ida à pesquisa de campo, isto é, à realidade concreta daqueles sujeitos e

realizar a escuta de suas experiências. Sobre estas realizar mais “mil indagações” que

poderiam ter composto o formulário pré-estabelecido, aprendendo com isto a fazer perguntas

“fora do roteiro”; realizar a transcrição das falas; analisá-las, apreendê-las e relacioná-las aos

conteúdos estudados. Finalmente, realizar a exposição deste processo – que nunca estará

finalizado em sua totalidade, porque a pesquisa expressa o movimento da realidade.

Pois bem, é necessário, pois, retomar a indagação que norteou esta pesquisa, então:

quais os rebatimentos da Resolução CFESS n. 493/2006 nos espaços sócio-ocupacionais

correspondentes aos campos de estágio do curso de Serviço Social da Universidade Estadual

do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Toledo-PR?. Ou ainda, em outros termos, como

as condições de trabalhos dos/as Assistentes Sociais impactam (ou não) na qualidade do

atendimento dos/as usuários/as dos serviços sociais?

Para responder estas perguntas, inicialmente, foi realizado, no primeiro capítulo deste

trabalho, uma conceituação em torno de algumas categorias essenciais como trabalho, no

sentido de expor sua centralidade na vida social, isso porque compreende-se que este é

elemento fundante do ser social, isto é, ele é responsável pelo modo de ser do ser social, cria e

recria este ser – humaniza-o – à medida em que novas necessidades surgem. Ainda, foi

salientado, quanto à peculiaridade do trabalho na sociedade capitalista que produz efeito

inverso à humanização, tirando do ser social aquilo que lhe é imanente, tornando esta uma

relação alienada. Nesta, a força de trabalho torna-se uma mercadoria especial, que é

submetida a uma relação de troca, impondo uma crescente relação de mercantilização de

todas as dimensões da vida social.

Este contexto foi exposto a fim de, em seguida, apresentar o processo de

institucionalização do Serviço Social, este enquanto profissão, ou se se quiser, uma

especialização do trabalho coletivo, inserido na divisão sócio-técnica do trabalho. Daí

compreender o/a Assistente Social enquanto trabalhador, que vende sua força de trabalho para

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o capital, compreendendo que sobre esta categoria profissional rebate todo o processo de

precarização do “mundo do trabalho”.

Comumente, poderia se dizer que este/a é um/a profissional que trabalha em prol do

capital, porém, enquanto profissão regulamentada e, ao longo de sua história, consolidada e

organizada enquanto categoria profissional amadurece seu projeto profissional e redireciona

seu trabalho (sua luta) às classes trabalhadoras, reconhecendo-se a si mesmo como parte da

classe trabalhadora. Isso é expresso no segundo capítulo, onde é realizada a contextualização

do processo de regulamentação da profissão para se chegar ao objeto de análise: a Resolução

CFESS n. 493/2006.

Assim, o terceiro capítulo foi direcionado à analise das entrevistas, visando a obtenção

das respostas para os objetivos deste trabalho. Foi possível identificar que embora os

profissionais não tivessem conhecimento específico sobre a resolução, todos conheciam e

sabiam, de modo geral do que ela dispõe, assim como deixaram explícito a importância e a

necessidade da existência desta normativa. Isso porque, a resolução tem sido um instrumento

capaz de amparar o/a profissional Assistente Social na adequação das condições de trabalho

dos espaços sócio-ocupacionais de intervenção, quando a instituição empregadora se nega a

isso. Com efeito, tendo as condições necessárias para exercer seu trabalho, o/a profissional

tem possibilidades de melhor atender a população usuária dos serviços.

Foi percebido, através das análises realizadas, que a garantia das condições de trabalho

– físicas e técnicas – do/a Assistente Social rebatem/influenciam na qualidade do exercício

profissional, isto é, na qualidade dos serviços prestados por este/a profissional aos/as

usuários/as dos serviços sociais, de forma que as condições necessárias de trabalho

engendram um agir, não só técnico, mas eticamente qualificado. No entanto, não se pode

esquecer que as condições físicas e técnicas compreendidas isoladamente nada podem garantir

ou influenciar na qualidade do serviço se o/a profissional Assistente Social não tiver a

compreensão do projeto ético-político profissional, que se orienta através de valores

universalizantes, com vistas à liberdade, à igualdade, ao acesso aos direitos sociais, enfim,

todos aqueles princípios fundamentais que constam no Código de Ética vigente.

Um destaque a ser registrado é que a investigação propiciou além da reflexão da

própria pesquisadora, um momento de reflexão para os sujeitos da pesquisa. O contato

realizado in loco e o diálogo com as profissionais, permitiram um resultado que transcendem

o que foi possível expor nestas poucas linhas.

Finalmente, o tema remete diretamente ao trabalho profissional, tendo como objetivo

contribuir para a defesa e qualidade tanto do exercício quanto da formação profissionais.

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Assim conhecer e estudar a Resolução CFESS n. 496/2006, engendra teor qualitativo para

compreender o cotidiano profissional, assim como apreender a importância das condições de

trabalho e levá-las para o futuro campo de intervenção, visando a materialização do projeto

ético-político profissional, sobretudo, reconhecer que esta Resolução é, entre outros, um

instrumento normativo que ampara o/a profissional para garantir as condições mínimas de

trabalho para executar a intervenção no espaço sócio-ocupacional de forma a engendrar maior

qualidade nos serviços prestados como direito dos/as usuários/as.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA ........................................................... 70

APÊNDICE B - TERMO DE COMPROMISSO PARA DADOS E ARQUIVOS ................ 73

APÊNDICE C – TERMO DE CONSCENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............... 74

APÊNDICE D – PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA ................................................. 76

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APÊNDICE A

INSTRUMENTAL DE COLETA DE DADOS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO

PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: Esther Luíza de Souza Lemos

ACADÊMICA: Mabile Caetano Cazela

OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Identificar os rebatimentos da Resolução CFESS n.

493/2006 nos espaços sócio-ocupacionais correspondentes aos campos de estágio do curso de

Serviço Social da Unioeste, campus de Toledo-PR

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Formulário de entrevista semi-estruturada

SUJEITOS DA PESQUISA: Profissionais Assistente Sociais

DATA DA ENTREVISTA: ____/____/2012

N. DA ENTREVISTA: _____________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome:_______________________________________________

Idade: _____ anos

Cidade de domicílio:_________________

Telefone(s):___________ ; _____________

Número de registro no Conselho Regional

de Serviço Social – CRESS: _________

Tempo de atuação

profissional: __________

Ano de conclusão

da graduação:____________

Instituição de Ensino Superior onde

cursou a graduação:___________________

____________________________________

Instituição/entidade onde está

atuando profissionalmente:______________

______________________________________

Tempo de atuação profissional nesta

instituição entidade: __________

- Qual a política da área de intervenção profissional? (condizente ao Campo de Estágio)

___________________________________________________________________________

QUESTÕES

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71

1. O CFESS como órgão normativo de grau superior tem entre suas competências

normatizar o exercício e as atividades da profissão do/a assistente social. O instrumento

para esta normatização são as Resoluções. Qual o seu conhecimento sobre a Resolução

CFESS n. 493/2006, que dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício

profissional?

2. O que significa esta Resolução para o seu cotidiano profissional, tanto na dimensão

técnico-operativa quanto na dimensão ética da sua intervenção profissional?

3. Você precisou realizar alguma ação para efetivação da Resolução CFESS n. 493/2006

nos seu espaço sócio-ocupacional? Se sim, quais?

4. Sobre as características físicas do seu local de trabalho/intervenção, responda:

a. possui iluminação e ventilação adequada para a realização do trabalho?

( ) sim ( ) não ( ) em partes

Como era antes?

Como está?

O que pode ser melhorado?

b. possui recursos para garantir o sigilo no atendimento (individual ou coletivo) ao usuário/ ou

durante outro tipo de intervenção profissional que exija privacidade?

( ) sim ( ) não ( ) em partes

Como era antes?

Como está?

O que pode ser melhorado?

c. possui local específico para arquivamento de materiais técnicos de cunho sigiloso?

( ) sim ( ) não ( ) em partes

Como era antes?

Como está?

O que pode ser melhorado?

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72

5. Qual a relação com o empregador no que diz respeito à efetivação da Resolução

CFESS n. 493/2006?

6. Qual a relação com demais profissionais no seu espaço de trabalho no que diz respeito

à efetivação da Resolução CFESS n. 493/2006?

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73

APÊNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO PARA USO DE DADOS EM ARQUIVO

Título do projeto: Resolução CFESS n. 493/2006: seus rebatimentos nos espaços sócio-

ocupacionais correspondentes aos campos de estágio do curso de Serviço Social da

Universidade Estadual Do Oeste Do Paraná – UNIOESTE, Campus de Toledo/Paraná.

Pesquisadora(s): Profa. Ms. Cleonilda Sabaini Thomazini

Acadêmica Mabile Caetano Cazela

As pesquisadoras do projeto acima identificadas assumem o compromisso de:

1. preservar a privacidade dos sujeitos de pesquisa e dados coletados;

2. preservar as informações que serão utilizadas única e exclusivamente para a execução do

projeto em questão;

3. divulgar as informações somente de forma anônima, não sendo usadas iniciais ou quaisquer

outras indicações que possam identificar o sujeito da pesquisa;

4. respeitar todas as normas da Resolução 196/96 e suas complementares na execução deste

projeto.

Toledo, 01 de Junho de 2012.

_____________________________________________

Profa. Ms. Cleonilda Sabaini Thomazini Dallago

______________________________________

Mabile Caetano Cazela

Acadêmica

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74

APÊNDICE C

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75

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76

APÊNDICE D

DADOS ENTREVISTADOS/AS

AS1 AS2 AS3

IDADE 45 anos 37 anos 43 anos

SEXO Feminino Feminino Feminino

ANO DE CONCLUSÃO DA

GRADUAÇÃO 1995 1997 1990

IES ONDE CURSOU A

GRADUAÇÃO Unioeste - Toledo Unioeste - Toledo Unioeste - Toledo

TEMPO DE ATUAÇÃO

PROFISSIONAL 15 anos 14 anos 19 anos

POLÍTICA DE

INTERVENÇÃO Assistência Social Saúde Sócio-Jurídico

TEMPO DE ATUAÇÃO

NESTA INSTITUIÇÃO 2 anos e 10 meses 11 anos 6 anos

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77

ANEXOS

ANEXO A – PARECER 098/2012 CEP ................................................................................. 78

ANEXO B - TERMO DE COMPROMISSO PARA DADOS E ARQUIVOS ...................... 79

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ANEXO A

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ANEXO B