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0 SERVIÇO SOCIAL _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ JESSICA RENATA DE SOUZA A INCIDÊNCIA DAS MULHERES NO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS NA CADEIA PÚBLICA DE TOLEDO-PARANÁ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ TOLEDO-PR 2012

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SERVIÇO SOCIAL

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

JESSICA RENATA DE SOUZA

A INCIDÊNCIA DAS MULHERES NO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS NA

CADEIA PÚBLICA DE TOLEDO-PARANÁ

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

TOLEDO-PR

2012

1

JESSICA RENATA DE SOUZA

A INCIDÊNCIA DAS MULHERES NO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS NA

CADEIA PÚBLICA DE TOLEDO-PARANÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção

do grau de bacharel em Serviço Social

Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia Martins

TOLEDO-PR

2012

2

JESSICA RENATA DE SOUZA

A INCIDÊNCIA DAS MULHERES NO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS NA

CADEIA PÚBLICA DE TOLEDO-PARANÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção

do grau de bacharel em Serviço Social

BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Profa Dra Vera Lúcia Martins

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

____________________________________

Profa Ms India Nara Smaha

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

____________________________________

Profa Dra Eugênia Aparecida Cesconeto

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 27 de novembro de 2012

3

Dedico este trabalho para uma pessoa muito

especial e importante na minha vida, a minha

avó Adélia Maria de Souza (in memoriam),

meu AMOR ETERNO.

4

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é fruto de muitos esforços. Quero agradecer cada um que contribuiu para

este resultado

Em primeiro lugar aqueles que me deram a vida que sempre estiveram ao meu lado,

apoiando e dando seu melhor, MEUS PAIS: Osmar e Natalina. Ao meu irmão Pedro, por

todas as vezes em que me viu estudando e perguntava: “Mana, terminou o TCC?”.

Quero agradecer aquelas que apoiaram, aconselharam, brincaram, choraram,

bagunçaram, “brigaram”, enfim que seguiram até o final ao meu lado. As minhas

companheiras e amigas (nossa panelinha) do Curso de Serviço Social (por ordem de chamada,

risos): Alessandra, Andressa, Ivonete, Mabile, Marina, Patricia, Sandra e Thaís. Ainda

aquelas que participaram nestes quatro anos dessa formação: Fernanda, Carol e Catarina, e

todos o 4º ano.

Um agradecimento muito especial, que aqui não teria espaço para demonstrar o quão

você é importante para mim. Agradeço à minha amiga, supervisora, conselheira ...

LEIDIANE, por fazer despertar em mim a vontade de continuar e jamais desistir, por me

compreender nos momentos difíceis.

As minhas friends forever: Josi e Pri que souberem entender os momentos não pude

estar ao lado delas. Obrigado minha irmã Josi, pelas vezes que me chamou pra sair mas

sempre lembrando: “Leva seu material e estuda lá” ou “Já estudou?”.

À Professora Esther Lemos, por dar a minha primeira oportunidade de conhecer o

exercício profissional e pelo trabalho que realiza com tanto amor.

À equipe do Programa Pró-Egresso, foram 2 anos de muita alegria e aprendizado:

Emerson, Mayara (R$ 1,00 de pão), Ronaldo (meu orgulho de Psicólogo), Felipe, Fran, Januir

(você é muito legal) e Luci (minha Barbie extrovertida).

Agradeço aqueles que também trouxeram inspiração para escrever este trabalho, a

equipe do Projeto Rondon: Tiago (Tii) e Loana (Lo, meu anjo do Rondon) meus amores

eternos, Samuel (meu irmãzinho), Gisele (Gii, minha linda, um doce de pessoa), Poliana

(minha enfermeira inteligente e linda), Edson (nosso Dentista), Manu, professores João e

Anelize, Erosânia, Profa. Marli, Ineiva e India, e todos que de alguma forma contribuíram

para realização desse sonho e momento único que ficará para sempre na minha memória e no

meu coração.

À minha orientadora Vera Lúcia Martins pelos conhecimentos transmitidos.

5

À minha supervisora de estágio e amiga Raquel Cassol da Silva, pelos conhecimentos,

conversas e bons momentos vivenciados.

À professora Índia pelos grandes esforços e dedicação, mostrando o significado dessa

profissão.

À professora Ámalia, por todo carinho e conhecimento.

A todos os professores do Curso de Serviço Social que contribuíram para formação

profissional por meio de seus conhecimentos.

E principalmente as mulheres presas da Cadeia Pública de Toledo/PR que

contribuíram para efetivação deste trabalho. Vocês são exemplos de vida e superação.

Obrigado Deus por mais um sonho realizado!

6

Naquela Sala

Ao Cubo

Gemidos numa noite de domingo madrugada,

lágrimas em gotas em pingos são enxugadas, vozes

soadas com gritos em doses meio falhadas. Abraços

em amigos que trazem uma palavra.

Lembranças já vêm da pequena criança que

(nem tinha maldade na mente)

Dependente da mãe que era crente no pai

(era apenas um garoto inocente)

Lembranças da criança em seu colo balançando,

Quando triste ainda com fome em seu colo só que

chorando. Sua mãe lembra da sua formatura do

prézinho. Um bom menino o aniversario de cinco

aninhos.

E pra comemorar o aniversário tinha uma pá de

criança em volta de um bolo feito de fubá. Com seu

pai desempregado não tinha dinheiro nem pra

mistura. Sua mãe sem poder dar um presente sentia

culpa.

Sabe quanto eu lutei

Pra fazer você feliz

Eu te eduquei não tinha dinheiro

Mas te ensinei

A minha parte eu sei que eu fiz.(bis)

Maiorzinho ele estava, da sua idade o mais ligeiro,

cabulava aula pra empinar pipa o dia inteiro. Era

novo mais se ligava no movimento. De pouco em

pouco lhe falavam que ele tinha mó talento. Um dia

ele viu um maluco com um boot muito louco, pediu

um igual pra mãe e tomou coqui no côco. Não

entendeu porque outro podia ter e ele não estava

cansado daquela miséria, de toda aquela situação.

Com 13 anos de idade recebeu um bom presente

A malandragem de onde morava, ficou contente.

Uma proposta, cem reais pra levar mercadoria, era

fácil é só entregar, e depois só alegria. Chegou esse

garoto em sua casa esse dia, com mistura sacolas de

Danone a reveria. Surpresa, sua mãe quando abriu a

geladeira, deu sermão em seu filho com seu marido

a noite inteira:

"Aonde você arrumou? Que mercado cê roubou?

Nunca te ensinamos isso.

Mãe não roubei, esse dinheiro eu conquistei, ganhei

com o esforço de meu serviço, é isso!

Você nem trabalha menino! Quem te deu serviço

assim tão novo tão cedo?

E mesmo assim isso é estranho pra mim,

Por que é que tem muito dinheiro.

Foi sermão a noite inteira, mas pra ele valeu a pena.

Foi diferente de outros dias, dormiu de barriga

cheia. Acordou cedo e disposto sem medo para o

trabalho, entregaram uma arma na mão desse

frangalho. Disseram que ele teria que cobrar uma

dívida. De um nóia que se pá ele teria que matar.

Gelo, falo, pros malucos "aí num dá". E os malucos

disse "ta na chuva é pra se molhar".

Quer coragem, pó cheira dessa carreira,

Que com isso aqui você vai ter coragem pra matar a

noite inteira. E assim foi se tornando o mais psico

da quebrada. Matava sem dor e sem dó, ossos do

ofício, só pelo pó.

A cocaína lhe fazia mais homem nessa sangria. Um

dia ele matou um homem com quinze tiros e ainda

ria. Sua mãe, sua amiga, de corrida a vida inteira, já

previa e sentia o que no futuro aconteceria.

E certo dia o jovem que era tirado pela maioria, só

por que dizia que era crente e Jesus em sua vida

sentia. Parou esse garoto e disse pra ele mudar de

vida, que aquela era sua chance que Jesus o

ajudaria. Nem deixou o crente terminar, já saiu

socando, dando coronhada na cara e na nuca do

fulano

Gritando, ta tirando, que mudar de vida, ta tirando,

quer que eu volte a passar fome, eu sou malandro.

Ele se achava mais homem que qualquer um, uns

diziam que tinha jurado um tal de Mussum. E na

noite passada sua mãe ouviu uma pá de tiro,

Saiu lá pra fora e viu o tal Mussum matar seu filho.

Saiu correndo e disse:

"Deus, cê sabe que eu fiz de tudo...

Mas ele não me ouviu e preferiu esse outro mundo".

No velório o pai e mãe chorando, poucas palavras,

Conversavam com o corpo do filho morto naquela

sala.

Sabe quanto eu lutei

Pra fazer você feliz

Eu te eduquei não tinha dinheiro

Mas te ensinei

A minha parte eu sei que eu fiz.(bis).

7

SOUZA, Jessica Renata. A incidência das mulheres no crime de tráfico de drogas na

Cadeia Pública de Toledo-PR. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço

Social).Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná –

Campus Toledo-PR 2012.

RESUMO

O campo de estágio acadêmico proporciona ao estudante conhecer a realidade social, mas

também interagir e estabelecer relações sociais. Desta forma, possibilita ao acadêmico de

serviço social desenvolver uma atitude investigativa e, ao mesmo tempo, propositiva.

Portanto, durante a realização do estágio de formação profissional na cadeia pública de

Toledo-Paraná, através do programa pró-egresso, observou-se que 83% da população

feminina encarcerada no ano de 2011, possuíam envolvimento com o crime de tráfico de

drogas. Chama atenção o elevado índice de detenção por tal crime, o que leva ao

questionamento sobre qual tem sido a motivação dessas mulheres para se envolverem com o

tráfico de drogas. Com base nessa realidade e procurando contribuir para a compreensão de

como se apresenta o envolvimento de mulheres com o tráfico de drogas na cidade de Toledo-

PR, colocou-se o seguinte problema a ser investigado: “quais as razões que se constituem em

determinantes para o envolvimento da mulher no tráfico de drogas?”. Para responder ao

problema proposto procurou-se identificar quem são essas mulheres e que relação

estabelecem com a prática do crime de tráfico de drogas, visando também elucidar o seu

entorno social. Para alguns autores a prática desse tipo de crime, entre as mulheres, ultrapassa

o ato infracional, constituindo-se o mesmo numa oportunidade de trabalho e renda. No intuito

de buscar as explicações para o envolvimento de mulheres com o crime de tráfico de drogas

em Toledo cercou-se o presente trabalho, num primeiro momento, de uma pesquisa

bibliográfica buscando uma aproximação com o objeto de estudo. Posteriormente, no segundo

momento da pesquisa, buscou-se cercar o objeto de estudo através da pesquisa empírica onde

as falas e as explicações apresentadas pelos sujeitos da pesquisa foram de fundamental

importância para o alcance do objetivo proposto no presente TCC. Ressalta-se que, para além

do aparente, outros elementos explicativos surgiram no decorrer do processo investigativo,

considerando que o movimento é dialético e o dado não se explica por si mesmo. Como

resultado, identificou-se que a questão econômica constitui-se na principal

motivação/explicação das entrevistadas para seu envolvimento com o crime de tráfico de

drogas, haja vista que no momento de necessidade e da oportunidade de um meio fácil e

rápido de obtenção da mercadoria dinheiro, o tráfico de drogas se apresenta como uma opção

aparentemente vantajosa.

Palavras-chave: Tráfico de drogas, Mulheres e prisão.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1 - Comparativo entre a Lei nº 6.368/76 e Lei nº 11343/06 (algumas

diferenças).................................................................................................................................28

TABELA 1 - Relação da quantidade presas por crime na cadeia pública de Toledo/PR.........40

TABELA 2 - Perfil da amostra da pesquisa – mulheres presas por tráfico de drogas..............40

GRÁFICO 1 - Percentual de mulheres presas – Brasil.............................................................37

GRÁFICO 2 – Percentual de mulheres presas por tipo de crime – Brasil................................38

MAPA 1 - Rotas do tráfico de drogas no Brasil.......................................................................30

9

LISTA DE SIGLAS

EUA – Estados Unidos da América

FMI – Fundo Monetário Internacional

LEP – Lei de Execução Penal

OEA – Organização dos Estados Americanos

ONU – Organização das Nações Unidas

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

10

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................. 07

LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................. 08

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................ 09

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1 A CONFIGURAÇÃO DAS DROGAS NA SOCIEDADE CAPITALISTA A PARTIR

DA DÉCADA DE 1950 ........................................................................................................... 13

1.1 O USO DE DROGAS E O CONTEXTO PROIBICIONISTA ......................................... 13

1.2 O BRASIL NO CONTEXTO DA CIRCULAÇÃO DE DROGAS ................................... 21

2 DROGAS E TRÁFICO ....................................................................................................... 29

2.1 O PESO ECONÔMICO E AS PRINCIPAIS ROTAS DO TRÁFICO DE DROGAS ...... 29

2.2 PERFIL DO TRAFICANTE DE DROGAS ...................................................................... 31

3 AS MULHERES PRESAS E CONDENADAS PELO ENVOLVIMENTO COM O

TRÁFICO DE DROGAS ....................................................................................................... 34

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 34

3.2 REALIDADE BRASILEIRA DAS MULHERES PRESAS POR TRÁFICO DE

DROGAS .................................................................................................................................. 36

3.2.1 Cadeia Pública de Toledo ................................................................................................ 39

3.3 ENTREVISTAS COM AS PRESAS DA CADEIA PÚBLICA DE TOLEDO/PARANÁ

................................................................................................................................................. .40

3.3.1 Profissão e renda familiar das detentas anterior a prisão ................................................. 41

3.3.2 Motivações que explicam envolvimento com o tráfico de drogas .................................. 42

3.3.3 O processo do envolvimento com o tráfico de drogas. ................................................... 43

3.3.4 O tráfico compensa? ........................................................................................................ 45

3.3.5 A relação familiar ............................................................................................................ 46

3.3.6 Oportunidades e alternativas ........................................................................................... 47

3.3.7 O Futuro ........................................................................................................................... 48

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 53

APÊNDICE ............................................................................................................................. 55

ANEXO .................................................................................................................................... 61

11

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é compreender as razões/motivações do envolvimento das

mulheres presas e condenadas pelo tráfico de drogas na Cadeia Pública de Toledo/PR.

No Brasil, de acordo com os dados do Departamento Penitenciário Nacional

(DEPEN), 60% das mulheres presas em 2011 foram em razão do seu envolvimento com o

crime de tráfico de drogas.

Na Cadeia Pública do município de Toledo a realidade tende a corroborar os dados

do DEPEN. Essa afirmação foi comprovada quando da inserção da pesquisadora - como

estagiária do quarto ano do curso de Serviço Social da Unioeste/Toledo - no campo de estágio

do Programa Pró-Egresso.

Inserida nesse contexto foi possível observar - com base nos dados do mês de agosto

de 2012 do setor de carceragem da polícia civil - que das 26 mulheres encarceradas por

cometimento de algum crime, 19 foram detidas pelo envolvimento no crime de tráfico de

drogas, o que representa 73% da população feminina encarcerada em um só mês na Cadeia

Pública do município de Toledo.

O índice elevado de detenção, como indicado acima, chama a atenção e permite

questionar qual tem sido a motivação dessas mulheres a se envolverem com o tráfico de

drogas. Com base nessa realidade e procurando contribuir para a compreensão de como se

apresenta tal envolvimento estabeleceu-se como problema a ser investigado na presente

pesquisa “Quais as razões que se constituem em determinantes para o envolvimento da

mulher no tráfico de drogas?” Para responder a essa pergunta foi necessário analisar as

razões/motivações explicitadas nas falas das entrevistadas.

Para dar conta do objetivo principal, em um primeiro momento, identificou-se a

incidência de mulheres presas na Cadeia Pública de Toledo/PR envolvidas com o crime de

tráfico de drogas. Em seguida, optou-se por fazer uma análise relacional do perfil das

mulheres presas em virtude do relacionamento com companheiros e família envolvidos no

tráfico de drogas e, por último, fez-se uma análise dos elementos preponderantes para o

envolvimento das mulheres detidas pelo crime de tráfico de drogas.

O trabalho, estruturado em três capítulos, procura mostrar, primeiramente, a

configuração das drogas na sociedade capitalista a partir da década de 1950, destacando o

processo de construção da proibição das drogas nos Estados Unidos e no Brasil. Por segundo,

procurou-se mostrar o peso das drogas na economia e as principais rotas do tráfico de drogas

no Brasil, bem como indicar o chamado “perfil” do traficante de drogas.

12

Constam no terceiro capítulo os procedimentos metodológicos para a realização da

pesquisa, sendo esta constituída de dois movimentos. O primeiro ateve-se à pesquisa

bibliográfica, às leituras e aos fichamentos dos textos, bem como do levantamento

documental que contribuiu para caracterizar e identificar as presas da Cadeia Pública de

Toledo/PR.

O segundo movimento constituiu-se da pesquisa de campo, propriamente dita, tendo

como recurso instrumental a entrevista semi-estruturada e como delimitação do universo da

pesquisa as detentas da Cadeia Pública de Toledo em razão do cometimento do crime de

tráfico de drogas. Desse universo foram estabelecidos os critérios para seleção da amostra da

pesquisa, sendo a mesma constituída pela faixa etária - mulheres com idade entre 18 e 31 anos

- e também pelas mulheres presas não apenas em virtude do tráfico de drogas, mas as presas e

condenadas, ou seja, aquelas que já haviam recebido sua sentença condenatória. Estabelecidos

os critérios da amostra chegou-se ao número de três detentas, as quais constituíram-se a

totalidade dos sujeitos da pesquisa.

Os resultados da pesquisa empírica - sobre as mulheres presas e condenadas pelo

envolvimento com o tráfico de drogas na Cadeia Pública de Toledo - foram estruturados e

apresentados a partir dos dados coletados juntos as três entrevistadas a saber: - O perfil das

entrevistadas; - Profissão e renda familiar das detentas anterior a prisão; - Motivações que

explicam o envolvimento com o tráfico de drogas; - O processo do envolvimento com o

tráfico de drogas; - O tráfico compensa? - O tráfico no interior da relação familiar; -

Oportunidades e alternativas; - O futuro.

Ressalta-se que os dados coletados foram analisados e interpretados à luz do objeto e

dos objetivos traçados para a pesquisa procurando, com esse movimento, trazer elementos

explicativos para se entender a realidade das detentas da Cadeia Pública de Toledo, mais

especificamente aquelas envolvidas com o tráfico de drogas.

13

1 A CONFIGURAÇÃO DAS DROGAS NA SOCIEDADE CAPITALISTA A PARTIR

DA DÉCADA DE 1950

1.1 O USO DE DROGAS E O CONTEXTO PROIBICIONISTA

O problema da droga1 alcança maior relevância a partir de 1950, com o livro “A face

oculta da droga”, de Rosa Del Olmo. A autora retrata o percurso desse problema com

destaque para os anos de 1950 a 1980. Olmo (2009, p. 29) mostra que na década de 1950 o

consumo de drogas não estava elevado, pois se concentrava nos chamados “guetos urbanos” 2.

Naquela década, as principais drogas consumidas eram os opiáceos, no entanto não

havia grande preocupação com esse tipo de droga, pelo fato de que o seu uso estava

circunscrito aos “guetos urbanos”. Todavia, a abordagem do consumo de drogas pela ótica da

saúde, bem como o estereótipo drogas-prostituição-jogos já estava em vigor nesse período

(Olmo, 2009).

Em 1960, quando ocorreram várias revoltas e movimento. A droga era considerada

como criadora de dependência e por isso o discurso foi direcionado para o consumidor,

tratado como doente. Aparecem nesses anos outros tipos de drogas, dentre elas o consumo da

maconha. Nos Estados Unidos no ano de “[...] 1962 foram confiscados 850 quilos de

cannabis na fronteira mexicana, e em 1965 várias toneladas.” Neste mesmo ano a maconha,

oriunda do México e considerada de boa qualidade, ampliaria seu consumo no âmbito juvenil.

(OLMO, 2009, p. 33-34)

Em relação ao discurso da época, observava-se uma dupla construção de sentido no

que diz respeito ao consumo da droga. Trata-se do discurso, conforme a autora, “médico-

jurídico”, que estabelecia a distinção entre o consumidor e o traficante, isto é, “doente e

delinquente”. Assim, a preocupação maior não era com o consumo da droga, mas sim com a

delinquência que se concentrava na juventude, atingindo todas as classes.

Contudo, anteriormente já havia preocupações que se efetivaram na década de

sessenta. Tais preocupações diziam respeito ao combate às drogas, por meio da política

“guerra às drogas”. Para tanto, Zaccone (2008, p.75) afirma que “[...] a existência da guerra é

1 Para Vera Malaguti Batista “O problema da droga está situado no nível econômico e ideológico. Com a

transnacionalização da economia e sua nova divisão do trabalho, materializam-se novas formas de controle

nacional e internacional.” A autora mostra dois lados de uma “visão esquizofrênica” das drogas no chamado

sistema neoliberal. De um lado, estimula-se a produção e circulação desta como algo rentável para o mercado.

Por outro lado, uma visão jurídica e ideológica na qual criminaliza a droga, chamada por ela de mercadoria “tão

cara à nova ordem econômica” (Batista, 2003, p.82). 2 CONFORME Olmo (2009, p.29), os “guetos urbanos” é uma realidade dos Estados Unidos naquele momento e

estão ligados “aos negros e/ou porto-riquenhos”

14

pensada como um retumbante fracasso da política.” A insuficiência da política contemporânea

de “combate” às drogas para extinguir o “narcotráfico” e abolir o consumo de drogas ilícitas

foi somente aparência. Tal combate originou as primeiras “guerras” 3 relacionadas à droga, as

quais consistiam em disputas favoráveis ao livre comércio de tais substâncias.

Em âmbito internacional essa política, comandada pelos Estados Unidos da América

(EUA), estabeleceu-se de forma proibitiva, de acordo com a Convenção de Haia4, no ano de

1912. Porém, conforme Zaccone (2008, p.78), a marca da guerra possui um discurso que

apresenta que “[...] a droga é vista como ‘inimiga” e o traficante – objeto central de interesse

deste discurso – como ‘invasor’, ‘conquistador’ [...].

Como um dos protagonistas do proibicionismo da droga, também considerado por

Zaccone (2008, p. 80) “[...] protagonista do desenvolvimento do capitalismo moderno [...]” os

Estados Unidos, era o país com maior interesse em desacelerar o desenvolvimento dos

ingleses perante a droga, bem como o interesse no comércio. A estratégia, por meio da

convocação da Convenção de Haia, tinha como objetivo afirmar a proibição de algumas

drogas estabelecidas nesse acordo.

Todavia, os ingleses sentindo-se prejudicados,

[...] condicionaram a sua participação na Convenção de Haia à inclusão de

outras substâncias no temário do evento, tais como os derivados do ópio e a

própria cocaína, fazendo com que o ônus econômico da proibição recaísse

também sobre outros países, a exemplo da Alemanha, Holanda e França, que

comercializavam a cocaína através da emergente indústria farmacêutica.

(ZACCONE, 2008, p.80)

Percebe-se até esse momento que a política de proibição já mostrava as condições

socioeconômicas da reação ao uso e ao comércio de determinadas drogas. Nesse momento, a

maconha ainda era a droga predominante. No entanto, a heroína entrou no cenário sendo

considerada droga de “perturbação social” em países como Estados Unidos, pelo seu consumo

3 O autor retrata sobre o ópio, onde os primeiros movimentos ocorreram em 1839 e 1856, e trouxeram uma

marca de uma política que lembrava uma grande lucratividade no comércio legal do ópio. “Os ingleses

realizavam grandes lucros com o fomento da produção de ópio na costa oriental da Índia e, especialmente, com a

exportação do produto para a china, onde cerca de dois milhões de pessoas chegaram a se tornar opiómanas e as

vendas de ópio, promovidas pela East India Company, chegaram a representar a sexta parte do total de rendas da

Índia Britânica” (ZACCONE, 2008, p.77, grifos do autor). 4 “No dia 23 de Janeiro de 1912 em Haia, a Convenção Internacional do Ópio foi assinada por representantes da

China, França, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Irã (então, Pérsia), Portugal, Rússia, Tailândia, Reino Unido e

territórios britânicos (incluindo a Índia). Três anos mais tarde, o acordo entrou em vigor. A convenção consistia

em seis capítulos e 25 artigos. Além da questão do ópio e da morfina, que já estavam sob amplo debate

internacional, a Convenção de Haia também incluiu a discussão sobre duas novas substâncias que tinham

começado a despontar na cena mundial: a cocaína e a heroína.” Disponível em: <

http://www.unodc.org/brazil/pt/pressrelease_20090123.html> Acesso em: 27 set de 2012.

15

entre os jovens de classe média. Com isso, classificar a heroína nos Estado Unidos como

“inimigo público” permitia iniciar o discurso político de que a droga ameaçaria a ordem.

Assinala-se que, devido a essa questão, a heroína abriu espaço para um inimigo interno

dentro desse contexto. Dados desse período apontam a heroína como a droga “contra-

revolucionária” dos EUA, enquanto que, na América Latina, a maconha ostentava esse

título.

Com relação aos usuários de drogas os números apontavam que nos Estados Unidos:

[...] em 1970 havia 68 mil 894 viciados registrados, enquanto em 1971 a

cifra aumentou para 492 mil 912 heroinômanos. Evidentemente o consumo

se estendia a todo tipo de droga, não apenas de origem vegetal (heroína ou

maconha), mas também às drogas sintéticas produzidas pelos grandes

laboratórios. (OLMO, 2009, p.42)

Todavia, “[...] com o consumo de heroína se elimina, em matéria de segurança, o

inimigo interno, mas começa a surgir no começo dos anos setenta a discussão sobre o inimigo

externo, referindo-se particularmente ao tráfico” (OLMO, 2009, p.41). O discurso que muda

nesse momento faz com que o estereótipo se altere para o político criminoso ao mesmo tempo

em que se faz sentir a necessidade de não mais silenciar o problema do tráfico de droga.

Alguns países iniciam suas mobilizações com relação à “guerra” contra as drogas, dentre eles

os Estados Unidos da América (EUA).

No início da proibição, as drogas possuiam relevância com relação ao entendimento

de alguns pontos dentro da política internacional de repressão. Dentre esses pontos está a

expressão do estereótipo moral e médico, que apresentava um alvo distinto o qual associava

“[...] substâncias perigosas às classes perigosas [...]” (ZACCONE, 2008, p.81-82). Tal

expressão colocava em dúvida uma parcela da população que, com seus hábitos relacionados

a pobreza, já era habitual ser vigiada e também controlada pelos setores repressivos do

Estado.

No ano de 1962, o presidente Kenedy dos (EUA) realizou as primeiras iniciativas

quanto ao problema da droga, convocou uma conferência para discutir a ilegalidade da droga,

que resultou no “Comitê Assessor do Presidente sobre Estupefacientes e Uso indevido de

Drogas”.

Neste sentido,

[...]em 1970, é lançada uma campanha antidrogas com conteúdo semelhantes

em vários países de América latina, propaganda que vinha dos Estados

16

Unidos através de suas embaixadas, provavelmente com a finalidade – tal

como assinalaram vários autores – de incorporar os países da America Latina

no processo antidrogas de uma maneira simbólica. (OLMO, 2009, p.37)

Concomitantemente no decorrer dos anos setenta a cocaína aparece com um aumento

no consumo e maior disponibilidade. Sua produção se originava na Bolívia em 1972, época

em que o presidente Banzer assumiu o poder. O ano de 1976 foi marcado pela “epidemia”

dessa droga, em razão da sua alta produção e circulação no mercado. Entre 1977 e 1981, por

exemplo, a produção de cocaína na Bolívia aumentou 75% (OLMO, 2009, p.48).

Os responsáveis pelo discurso e divulgação do consumo de cocaína, eram os meios

de comunicação, que instigavam o seu uso, ao indicar os valores de pessoas influentes da

época. Essas pessoas eram frequentes consumidores, “[...] como, por exemplo, as estrelas do

rock, do cinema ou esportistas famosos”. (Olmo, 2009, p.49)

O estereótipo criado nesse momento era o cultural que, diferente de outros tempos,

não se mostrava negativo para o consumo das drogas. A cocaína, por exemplo, era vista como

“como símbolo de êxito”, pois quem a consumia estava no auge. No mesmo instante, destaca

Olmo (2009), aparecia fortemente a indústria de “parafernália”, divulgando em vários meios

de comunicação formas, estratégias, objetos e meios que facilitavam o seu consumo

aumentando, consequentemente, a demanda e os interesses do mercado.

Olmo (2009, p.51) ao se referir à difusão da cocaína nos Estados Unidos, aponta três

fases claramente demarcadas pelo acesso e consumo da droga. A autora indica que a primeira

delas pode ser compreendida entre os anos de 1970 a 1979, nos quais a cocaína não era vista

como um problema, mas como uma “droga social e recreacional”, cujo consumo acontecia

nas chamadas “reuniões sociais”. O período de 1978 a 1982 marca a segunda fase que,

conforme Olmo (2009, apud SIEGEL), relaciona-se à mudança da imagem dos padrões de

consumo, passando a ser consumida com maior frequência, porém misturada com outras

substâncias. A terceira fase, demarcada entre os anos de 1982 a 1984 o consumo da cocaína já

pode ser observada em “[...] todos os grupos sócio-econômicos”

As fases acima mostram que ao tempo que a mudança no padrão de consumo da

cocaína nos Estados Unidos se modificava, o discurso proibicionista também extrapolava o

mercado interno estadunidense. Para tanto, no final dos anos de 1970 o discurso antidrogas

ultrapassa as fronteiras dos Estados Unidos alcançando não apenas a cocaína, mas também a

coca, não obstante suas diferenças - uma é do centro e a outra de países periféricos.

Em 1980 a preocupação principal, apesar de evidentes mudanças no discurso, era

ainda a cocaína, embora a maconha também não tenha sido esquecida. Com relação ao

17

consumidor, no que tange ao estereótipo criado, esse deixou de ser visto como um “doente”,

passando a ser tratado como “cliente e consumidor de substâncias ilícitas”. Como citado

anteriormente, a preocupação maior era com a cocaína, esta procedente do exterior com seus

aspectos econômicos e políticos em relação ao tráfico, considerada centro das atenções neste

período (Olmo, 2009, p.55).

Paralelamente ao alargamento do consumo de drogas, o aspecto econômico da

circulação da maconha e da cocaína também passa a ser objeto de preocupação das

autoridades norte-americanas em face do “[...] impacto desorganizador dos cocadoláres nas

nações produtoras e consumidoras, que produz um nível de corrupção, violência e

desmoralização que prejudica a todos” (OLMO, 2009, p.56-57), situação essa que leva a

alterações no discurso das autoridades estadunidenses. O discurso jurídico se altera mais uma

vez.

Surge assim, para sua legitimação, o discurso jurídico transnacional. As

drogas produzidas no exterior não deviam chegar aos Estados Unidos, nem

tampouco sair do país de acordo com a política econômica protecionista da

nova Administração. [...] Não se deve esquecer que um quilo de cocaína tem

o mesmo valor no mercado do que uma tonelada de maconha. Já o

contrabando de heroína não é um problema prioritário, apesar de seu

aumento – 7% de 1979 a 1980 – ter se mantido estável desde então. (OLMO,

2009, p.58)

Com relação à maconha, embora não fosse a preocupação central daquele momento,

sua produção e qualidade cresciam em diversos países. No ano de 1982, nos Estados Unidos,

sua produção alcançava a lucrativa faixa de “10 bilhões de dólares”, além de seu cultivo ter se

estendido para 11 estados norte-americanos.

A década de 1980 marca também o ponto de partida das tratativas em relação ao

“problema da droga”. Data de 1980 o Tratado de Extradição entre os Estados Unidos e a

Colômbia, cuja finalidade era

[...] julgar dentro dos Estados Unidos os traficantes colombianos que

atentavam contra economia norte-americana. Era evidentemente outra

medida dirigida contra a cocaína, já que a Colômbia se convertera no

principal centro de processamento, mas ao mesmo tempo preparava terreno

para o futuro discurso. Discurso que no início da década responsabilizaria

os imigrantes ilegais pelo aspecto econômico das drogas. (OLMO, 2009,

p.59)

As mudanças nas características do discurso dão lugar à criação, por motivos

visivelmente econômicos, mas também políticos, ao estereótipo “criminoso latino

18

americano”. Olmo (2009, p.60) destaca que este estereótipo não foi utilizado somente pelo

discurso jurídico, mas também pelos meios de comunicação, através de programas televisivos

como “Miami Vice”, por exemplo. Esse tipo de exposição contribuiu para relacionar e

identificar os traficantes de cocaína como sendo, na maioria das vezes, latino-americanos, e

mais especificamente colombianos. O uso de tal subterfúgio mascara o modelo transnacional

da droga que, evidentemente, não se utiliza apenas de traficantes colombianos, mas também

da

[...] participação dos cubanos exilados em Miami na distribuição; a

intervenção neo-nazista na Bolívia que facilitou sua industrialização, assim

como a colaboração de uma série de membros das Forças Armadas do

Continente, e os numerosos pilotos norte-americanos detidos aos buscarem a

cocaína em países produtores. (OLMO, 2009, p.60)

No contexto de um modelo proibicionista e da identificação dos responsáveis (latino-

americanos) pela circulação de drogas nos Estados Unidos data o início a “guerra contra as

drogas” no governo de Ronald Reagan, direcionada, sobretudo, contra a cocaína.

Internamente, ao tempo que se evidenciava que a droga não era problema somente

dos Estados Unidos, mas também de todos os outros países, Reagan recorre a uma política

doméstica além de táticas de combate ao uso de drogas, entre as quais a criação de programas

televisivos para adultos com temas relacionados aos usuários de drogas, até o

desenvolvimento de materiais de apoio como revistas infantis com intuito de sensibilizar as

crianças apresentando o lado ruim da droga, “[...] traficantes e consumidores como inimigos,

e as drogas como perigosas e causadoras de morte” (OLMO, 2009, p.63).

Rodrigues (2004, p. 94) em sua análise sobre o movimento da legislação antidrogas,

identifica a contribuição dada a esse processo por alguns países latino-americanos, entre os

quais o México, Argentina, Colômbia e Brasil. Para Rodrigues (2004) esses países se

destacam no desenvolvimento de ordenamento jurídicos relativos à proibição assumidos no

cenário do tráfico de drogas a partir dos anos 1970.

Aponta o autor que o México, considerado como importante produtor de maconha, é

também a via de escoamento da cocaína andina para o mercado norte-americano, sendo palco

de organizações dos narcotraficantes, bem como, na luta contra o tráfico de drogas, trampolim

para as ações dos Estados Unidos, além do apoio clandestino aos chamados “Contras

nicaraguenses” nos anos de 1980 (RODRIGUES, 2004, p.94).

A Argentina utilizará consultores militares para realizar serviço dos Contras e da

chamada narcoditadura da Bolívia, momento em que García Meza governava o país em 1980.

19

A Colômbia, segundo Rodrigues (2004, p.94), nos anos oitenta será o centro do narcotráfico,

ambiente em que aumentam as organizações responsáveis pela economia do tráfico de drogas,

sendo, portanto, alvo dos norte-americanos na guerra contra as drogas. Entre esses espaços,

uma das estratégias de combate às drogas foi a intervenção social, por meio da

“medicalização”, na qual mostrava suas origens na Europa ocidental e central, em países

como Alemanha, França e Inglaterra, que desenvolviam, do século XVII ao XIX, suas

legislações, especificando-as sobre a saúde populacional e o controle sanitário.

No plano externo, no EUA, a exigência na aplicação da lei será intensificada com a

política de combate às drogas – Guerra às Drogas. No ano de 1984, novas estratégias feitas

pelos governos surgem para reforçar a ilegalidade da droga, por exemplo, o “Grupo de

Trabalho ad hoc sobre drogas”, pertencente À Organização dos Estados Americanos (OEA).

Já em 1986, esse grupo de trabalho convoca uma reunião em âmbito continental, na cidade do

Rio de Janeiro chamada Conferência Especial Interamericana sobre Narcotráfico.

Nesse sentido, foram desenvolvidas várias operações por parte dos Estados com

objetivo de impedir a entrada das drogas no país. No Brasil a “Operação Pássaro” foi

desencadeada, pois a região amazônica era propícia para abrigar os laboratórios de refinação

da cocaína dos traficantes. Contudo, apesar de todos esses esforços, o consumo e o tráfico

cresceram, de que é exemplar o gasto econômico dos Estados Unidos - 60 bilhões de dólares

no ano de 1982, sendo que em 1980 o valor gasto foi de 47 milhões, ou seja, aumento de 30%

nos gastos -, investimento esse que cresceu consideravelmente no final da década de oitenta:

Em outubro de 1986 o Senado norte-americano aprovou uma nova lei contra

as drogas e autorizou 3 bilhões e 900 milhões de dólares para o ano fiscal de

1987, que triplicava o orçamento destinado à campanha contra as drogas em

1981.(OLMO, 2009, p.67)

Concomitante à política interna e externa dos Estados Unidos, na política de “guerra

às drogas”, data também a busca pelos responsáveis pela produção e circulação das drogas,

recaindo sobre a oferta, isto é, sobre os produtores e circuladores de drogas – tráfico - e não

sobre a demanda – consumo -, a responsabilidade “[...] com que o discurso se torna parcial

com relação ao inimigo externo, o único culpado” (OLMO, 2009, p.64).

Identificado os responsáveis, a intervenção se torna legítima “[...] diplomática,

financeira e até militar [...]”,. Dá-se como exemplo a “Operação Blast furnace” realizada na

Bolívia no ano de 1986, que também precisou combater com novas drogas, como o crack,

mais baratas e viciantes.

20

Nesse contexto,

[...] surge um novo discurso em relação às drogas, mais complexo, mas

mais coerente com os fins perseguidos: o discurso político-jurídico

transnacional”, corresponde ao surgimento do modelo geopolítico e

portanto à incorporação dos postulados da Doutrina da Segurança Nacional

ao tema das drogas. (OLMO, 2009, p.69)

Este discurso, segundo a autora (OLMO, 2009), resgatará a terminologia da palavra

“narcotics”, utilizada para referir-se à associação dos opiáceos e da cocaína, com objetivo de

legitimar e reforçar a imagem designada de “inimigo externo” e não mais apenas a droga. O

novo discurso pelo seu conteúdo geopolítico, diferente dos anteriores, não estabelece a

distinção entre doente e consumidor, delinquente e traficante, mas sim entre os países,

definindo-os como vítimas e vitimizadores.

Cuba e Nicarágua foram os primeiros países tidos, num primeiro momento, como

“problemáticos”, pois eram considerados como cúmplices no tráfico de drogas e

fomentadores do chamado narcotráfico em países da América Latina - “narcoguerrilha”

(OLMO, 2009, p. 69-70). Ressalta-se ainda, com relação a esse discurso, os movimentos

colombianos “M-19 e as FARC”, sendo o estereótipo estabelecido como criminoso no

contexto latino-americano.

Demarca-se também que o discurso antidrogas e o estereótipo do traficante latino-

americano (de modo geral) e o colombiano (em particular), na década de 1980, não se fixa

apenas nos Estados Unidos. Sua abrangência é continental e a preocupação naquele momento,

com base na produção e no consumo da droga era o narcotráfico (OLMO, 2009, p. 55/75).

A década de oitenta é significativa não apenas porque marca o início de um discurso

e de uma prática proibicionista com relação às drogas, mas também porque em nome de uma

proteção e de uma política interna e externa os Estados Unidos desencadearam um

enfrentamento às drogas, e aos países produtores, sem antecedentes na história da América

Latina (OLMO, 2009, p. 55/75).

Diante do exposto, a década de 1980 tem como característica, no enfrentamento às

drogas, o “discurso político-jurídico transnacional”, e os estereótipos criados para

responsabilizar os centros produtores de drogas em defesa de uma possível ameaça externa

aos cidadãos estadunidenses justificando, com tal discurso, ofensivas militares, invasões e a

imposição de uma política em relação às drogas, aos usuários e aos traficantes (OLMO, 2009,

p. 55/75).

21

Em que pese os malefícios das drogas, isto é, as consequencias, é preciso ter claro

que a repressão pura e simples não tem resolvido o uso e o abuso de drogas e sequer sua

produção e circulação. Nesse sentido, é preciso considerar o entrelaçamento dos aspectos

econômicos, políticos, sociais e até culturais na busca por uma política mais justa e mais

consequente (OLMO, 2009, p. 55/75).

1.2 O BRASIL NO CONTEXTO DA CIRCULAÇÃO DE DROGAS

O estudo de Rodrigues (2004, p. 94), destaca o processo da droga no Brasil. O autor

justifica o estudo do contexto brasileiro pela preocupação em analisar sob quais fundamentos

foram articulados o proibicionismo às drogas e o papel do estado, no momento em que

estabelece o combate ao tráfico e consumo de drogas como estratégia de gestão e controle

social. Como resultado, essa preocupação com as drogas se materializa em lei em 1851, com

o regulamento imperial que instituía a polícia sanitária e regulamentação da venda de

medicamentos. Nesse momento, as drogas estupefacientes e tóxicas eram entendidas como

veneno, independente da mudança de comportamento que o seu uso pudesse provocar no

indivíduo. Todavia, não será discorrido especificamente sobre leis anteriores a década de

1960.

Algumas notas relacionadas às imposições internacionais (Convenção de Haia de

1912) sobre o controle da droga indicava o lançamento de pequenas campanhas de uso ilegal,

associando-a a degradação física e moral do indivíduo. No Brasil, outras campanhas de

combate as drogas se iniciaram com a promulgação do “decreto-lei nº 159 em 1967”, que

tratava dos entorpecentes que causam dependência. Observa-se, na América Latina, no início

da década de setenta o peso do “discurso jurídico”, bem como o trato da maconha como a

“erva maldita”.

Apesar de já ser dar atenção à coca nos países produtores, o principal no

discurso era a maconha – a erva maldita como a qualificavam os meios de

comunicação – considerada a responsável pela criminalidade e a violência,

mas ao mesmo tempo pela “síndrome amotivacional”; tudo dependia na

América Latina de quem a consumia. Se eram habitantes de favelas,

seguramente havia cometido um delito, porque a maconha os tornava

agressivos. Se era “meninos de bem”, a droga os tornava apáticos. (OLMO,

2009, p.47)

22

Conforme Rodrigues (2004), as drogas eram determinadas nas normas como ameaça

à saúde coletiva e individual, argumento esse utilizado em todas as legislações posteriores.

[...] o Código Penal de 1890, primeiro da República, considerava crime

contra a saúde pública “expor à venda, ou ministrar, substâncias venenosas,

sem legítima autorização e sem as formalidades previstas nos regulamentos

sanitários” (ibidem, p.25) – crime que não recebia ainda tratamento severo,

já que a pena estipulada não era de reclusão ou de cassação de licença

profissional, mas multa entre 200 e 500 mil réis. (RODRIGUES, 2004,

p.127)

Nesse sentido, o Estado passa a intervir legalmente no comércio das drogas ilegais,

não pela via da proibição, mas pela via da ilegalidade, ou seja, “[...] a fabricação, a indicação,

a aquisição e o uso desses ‘venenos’ sem a expressa chancela estatal” (RODRIGUES, 2004,

p.127). A intervenção sanitária legal atribui totalmente ao Estado à autoridade de fiscalização

na relação médico-paciente, punindo os respectivos abusos.

A economia brasileira no início do século XX era impulsionada pela produção do

café, sobretudo no estado de São Paulo. Considerado um pólo de desenvolvimento dinâmico,

do qual extraía-se a cafeína tida como uma poderosa substância estimulante. As demais

drogas, chamadas de “venenos elegantes” (éter, lança perfume, ópio e cocaína), no início da

década de 1910, eram consumidas por ricos oligarcas; por médicos, dentistas, farmacêuticos,

pertencentes aos círculos influentes da intelectualidade da época, e também por pessoas não

tão influentes como, por exemplo, as prostitutas (RODRIGUES, 2004, p. 128).

De acordo com Rodrigues (2004, p.128), as regras do controle sanitário aparecem

nesse momento político-social, em que o Estado coloca-se à frente na constituição da

sociedade disciplinada, ocorrendo nas primeiras décadas do século XX o procedimento de

institucionalização do saber médico. A efetivação acontece com a promulgação dos códigos

sanitários, em que o Estado “torna-se receptáculo legítimo do saber médico – científico”,

sendo assim o único ente permitido a regulamentar o comércio de drogas e as políticas

públicas de saúde.

As legislações sanitárias, ao definirem as drogas como “venenos”, cumpriam o papel

normativo de dotar a base estatal legítima e os instrumentos necessários para a aplicação do

controle sobre uso de drogas (lúdico ou desejos), afirma Rodrigues (2004, p.129). Todavia,

apesar da instituição desses meios básicos, a rede de utilização de drogas controladas no

Brasil se limitava, no fim da Primeira Guerra Mundial, de acordo com Rodrigues (2004,

p.129) “[...] aos prostíbulos finos e às fumeries sofisticadas, ficando, portanto, circunscritos a

23

uma faixa muito restrita e rica da população”. Neste sentido, as drogas eram consumidas

conforme um ritual que continha seringas esmaltadas em prata e ouro, além de estojos de

couro e outros objetos relacionados.

Rodrigues (2004, p.130) aponta outro aspecto contraditório do contexto proibitivo.

Mostra que apesar da proibição da venda livre de drogas, na área de saúde, o receituário

médico, constituía-se como meio fácil para aquisição da droga almejada, já o tráfico também

incide na saúde, pois restringe aos profissionais dessa área que adulteravam receitas e

desviavam medicamentos.

[...] os médicos mantinham o monopólio para lidar com as drogas

controladas, e o Estado conquistava dois grandes campos para a intervenção

social: um sobre o mercado legal, uma vez que a norma regula as substâncias

permitidas e a própria atividade médica em si; outro sobre o mercado ilegal,

que era instaurado pela lei. (RODRIGUES, 2004, p.131).

A proibição da venda livre apresentava um espaço de ilegalidade altamente fértil

para a atuação do Estado, uma vez que o chamado consumo lúdico, que deveria ser

fiscalizado, continuava como prática habitual. Percebia-se, nesse âmbito, que os editoriais

procuravam investir na discussão sobre o controle das drogas em termos “científicos” e

sanitários (RODRIGUES, 2004, p. 131-132), ao mesmo tempo as consideráveis reportagens

registravam os acontecimentos policiais que envolviam o uso ilegal das drogas controladas.

Neste momento, o consumo em si da droga não era criminalizado, e sim a venda para

fins não terapêuticos. O que se retrata, em termo de notícias, são os suicídios decorrentes do

uso de drogas controladas, abrindo espaço para o registro de ocorrências policiais, realizadas

em alguns momentos pela polícia sanitária e polícia de costumes. De acordo com Rodrigues

(2004, p.134), no final dos anos de 1910, o que tange o consumo de substâncias psicoativas,

esse estava aparecendo em outros espaços sociais, fato que redirecionava as notícias dos

editoriais. Ao mesmo tempo observava-se a imposição de medidas repressivas e profiláticas

adotadas com urgência para evitar que os vícios se disseminassem para outras classes. Assim,

no início da década de 1920, o estado localizava um espaço propício para apoiar as

normativas contra as drogas, sendo que no ano de 1921

[...] é promulgada pelo Congresso Nacional, em 14 de julho de 1921, a Lei

Federal n. 4.294. que estabelecia medidas penais mais rígidas para os

vendedores ilegais, fortalecia a polícia sanitária nas suas prerrogativas e

reafirmava a restrição do uso legal de substâncias psicoativas (classificadas

pelo nome genérico de “entorpecentes”) para fins terapêuticos.

(RODRIGUES, 2004, p.135)

24

Nesse sentido, a lei busca investir na prisão para o condenado pelo tráfico de

entorpecentes, distinguindo as substâncias consideradas tóxicas comuns, das drogas

psicoativas. Essa alteração da terminologia apontava maior objetividade, isto é, quanto à

criminalização do vendedor ilegal essa não se reproduz sobre o consumidor, e, conforme a lei

de 1921, o usuário é considerado vítima de seu vício. Contudo, ainda que a lei apresentasse os

“entorpecentes” (opiáceos) -, depressores do sistema nervoso central, a cocaína era tida como

um excitante poderoso (RODRIGUES, 2004, p.136).

O tráfico de drogas, ou seja, o comércio ilegal significa, na lei criminal, coloca uma

parte da população à margem da cidade. Desse modo, a tática política e as medidas de

controle social e combate ao tráfico, antes ineficazes, tornam-se eficientes no momento em

que o movimento se junta com os setores mais conservadores da sociedade e o corpo jurídico

nacional, reforçando as leis práticas de proibição das drogas, anteriormente desvinculadas do

Estado. As iniciativas do Estado, no Brasil, continuam em relação à política proibicionista

provocando seu crescimento por meio do “Decreto-Lei n. 790, de 28 de abril de 1936, que

criava a Comissão Permanente de Fiscalização de Entorpecentes” (RODRIGUES, 2004,

p.139), a qual tinha como função concentrar o conhecimento estatístico sob a circulação,

produção e o comércio legal das drogas controladas.

Em 1938, as leis anteriormente citadas são sintetizadas pelo “Decreto-Lei n. 891.

Imposto pelo Poder Executivo em 25 de novembro de 1938” (RODRIGUES, 2004, p.141), o

qual institui um novo regime proibicionista. Este regime foi fundamental para o esboço das

transfigurações jurídicas sobre drogas no país, além de lançar novos padrões que fortalecem a

estratégia repressiva do Estado em relação aos temas pautados como a produção, tráfico e

consumo de drogas controladas. Isso acontecia ao mesmo tempo em que o país passava por

um momento político específico (governo de Getúlio Vargas), com regime de tendências

autoritárias, o que contribuía para o fortalecimento das legislações contra as drogas e a

imposição de medidas de controle social.

A imposição dessa lei expressava também a função de adaptar o “[...] ordenamento

interno às disposições internacionais em vigor, das quais o Brasil era parte contratante”

(RODRIGUES, 2004, p.141). No decorrer do texto da lei, apropria-se do comércio ilegal das

drogas antevistas, expondo a proibição ao cultivo de plantas precursoras (para produção das

drogas) e todo o processo de circulação, incluindo a importação, exportação, armazenagem e

posse, referente à matéria-prima, além dos produtos finais sem a liberação do Departamento

Nacional de Saúde.

25

No ano de 1941, o presidente Vargas apresenta o “Decreto-Lei n. 3114, de 13 de

março”, que delibera a composição e funções específicas da Comissão – na qual se torna um

importante indício de fato internacional do problema do controle das drogas com o objetivo

do combate ativo ao consumo e comércio ilícitos de drogas. Sendo por um lado, influente dos

convênios multilaterais de regras internas e, por outro, na aceitação do problema do tráfico de

drogas como ordenamento internacional (RODRIGUES, 2004, p.146). Essa lei reafirma o

Decreto de 1938 onde

[...] cristalizam-se duas formas de raciocínio legal que, por sua vez, resultam

em duas economias das penas: a primeira dessas relações fixa o usuário

(toxicômano) como doente, que, portanto, necessita de reabilitação por meio

de internação em clínica médico-psiquiátrica; a segunda delimita o

traficante como criminoso, o qual, por isso, deve ser submetido à

reabilitação social através do encarceramento. (RODRIGUES, 2004, p.147)

Após as alterações, a lei de 1938 apresenta fundamentos de um ordenamento

repressivo contemporâneo, que se junta às deliberações internacionais, fundantes do controle

ampliado do Estado acerca da sociedade e da imposição de uma conduta individual, utilizada

como estratégia de controle social sintético nas leis antidrogas a partir deste momento

(RODRIGUES, 2004, p. 149). Outra modificação, diz respeito à nomenclatura na qual

Rodrigues (2004, p.150) mostra que “[...] ‘entorpecente’ ou ‘estupefaciente’, cabe para as

drogas depressoras do sistema nervoso central, como o ópio e a morfina, contudo, são mal

empregadas na classificação de substâncias euforizantes, como a cocaína e as anfetaminas”.

A pequena diferença entre traficante e toxicômano, afirmada na lei de 1938, foi

substituída pela pena de prisão para cada um deles, sem nenhuma possibilidade de mudança

de condenação se em algum momento for diagnosticado a dependência química e psicológica

(RODRIGUES, 2004, p.152). Essa lei de 1971 coloca o fim ao nivelamento penal de

dependente e traficante retomando ao fundamento de dosimetria penal consolidado em 1938,

que partia da quantidade de drogas encontrada com o sujeito. Em relação à posse, a

deliberação da lei de 1938 não classifica como crime o consumo, mas a retenção de

substâncias psicoativa para comércio.

O crime de tráfico de drogas, tipificados de maneira semelhante às leis

anteriores, é considerado expressamente uma “infração contra a segurança

nacional, a ordem política ou social e a economia popular”, sendo, portanto,

subversivo e desestabilizador da normalidade social, política e

comportamental em tempos onde vigia a Lei de Segurança Nacional

(outorgada pelo governo Costa e Silva em 1969). (RODRIGUES, 2004,

p.154-155)

26

No ano de 1974, de acordo com Rodrigues (2004), institui-se por meio da Câmara de

Deputados, a Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de investigar as motivações

do uso e do tráfico das drogas consideradas alucinógenas. A reformulação da lei de 1971

ocorre em 1976, com a promulgação de outra lei que motivou o controle e a repressão ao

consumo indevido e tráfico ilícito de drogas, até a modificação em 2002. Esta lei de 1976 era

conhecida como Lei de Tóxicos, na qual objetiva reunir em um mesmo documento todas as

disposições vinculadas à repressão, ao tráfico e à prevenção do uso de drogas.

Desta forma, de acordo com o autor a palavra “combate” foi substituída pelas

palavras “prevenção” e “repressão”, considerando essas como principais preocupações da

nova regra. Outra alteração da terminologia na lei acrescentou os adjetivos: “ilícito” e

“indevido”, para identificar o tráfico e o consumo ilegal.

Mais do que mero preciosismo, essas qualificações adequavam a

nomenclatura legal brasileira à praticada internacionalmente, segundo

determinação da Convenção Única da ONU: distinguiam-se o tráfico e o uso

ilegais, para fins terapêuticos e estritamente controlados pelos Estados, dos

ilegais (todo aquele não médico). (RODRIGUES, 2004. p.157)

Para a lei, a ameaça ativa da rede ilegal da produção do tráfico e consumo da droga é

uma ameaça para o bem estar do individuo e da sociedade. Portanto, conforme Rodrigues

(2004), as “[...] ações de fabricar, produzir, remeter, adquirir, transportar, semear, preparar,

guardar, configura crime, de perigo abstrato” [...], isto é, as consequências são para

coletividade e para a própria pessoa que consome as drogas. Com efeito, afirmam-se na lei

três categorias que são “o doente, o criminoso e o usuário ocasional” (RODRIGUES, 2004,

p.159). A lei de 1976, implica nas práticas ilegais, no que se refere às drogas, a existência de

cinco sujeitos do qual destaca “a) o criminoso, traficante ilegal ou aquele que pratica qualquer

uma das ações previstas no artigo n, 12 da lei (reclusão pelo sistema carcerário)

(RODRIGUES, 2004, p.160).

O movimento brasileiro, portanto, impulsionado pela política de combate às drogas,

na qual a descriminalização do usuário ocorre via jurisprudencial cria uma preocupação com

relação à repressão, no qual é organizado um documento que se materializa em Decreto-lei.

[...] foi editado o Decreto-lei 385/68 que alterava a redação do Código Penal,

estabelecendo a mesma sanção para traficante e usuário, com a seguinte

redação para o parágrafo único do art. 281: “Nas mesmas penas incorre

27

quem ilegalmente: III – traz consigo, para uso próprio, substância

entorpecente ou que determine dependência física e psíquica”. (ZACCONE,

2008, p.91)

O idealizador do projeto da Lei de Tóxico, Mena Barreto, no ano de 1976 já afirmava

em seu discurso o modelo médico-jurídico, o qual reforçava a idéia da distinção, quando

exigia “[...] tratamento penal severo para traficantes e ‘equilibradas condenações’ para

usuários” (ZACCONE, 2008, p.91). Ainda em 1976, no discurso da proibição, outra droga

aparece como destaque - a cocaína -, apontada como droga em alta no que tange ao consumo

e disponibilidade em países como EUA superando, por sua vez, a heroína.

De acordo com Rodrigues (2004), ao mesmo tempo em que ocorre a aprovação da

Lei de Tóxicos de 1976, ocorre também a celebração de outros acordos, com países vizinhos,

chamados pelo autor de bilaterais que objetivavam a cooperação no que se refere ao combate

ao tráfico e à troca de informações sobre os sujeitos traficantes. Estes acordos foram

designados “[...] Convênios de Assistência Recíproca para a Repressão do Tráfico Ilícito de

Drogas que Produzem Dependência, os textos, sem exceção, são idênticos nos seus termos”

(RODRIGUES, 2004, p.166) qual seja, eram pactos legais que fortaleciam e reforçavam a

obrigação dos países inseridos, em dirigirem seu combate reservados ao uso e ao tráfico de

drogas, aperfeiçoando os instrumentos do poder estatal de repressão.

A referida Lei de Tóxicos, do ano de 1976 – que permaneceu em vigência até 2002 -,

efetiva a sofisticação da capacidade do Estado de intervenção na sociedade perante a

repressão às drogas, momento em que o regime militar inicia a chamada “distensão

democrática”, apresentada pelo governo do presidente Ernesto Geisel.

Contudo, as normas expressas na lei passavam por momentos de reformas que

seguiam o progresso das discussões em nível internacional e caminhavam na direção do

fortalecimento penal do tráfico e da repressão ao uso ilegal das substâncias psicoativas.

Ressalta Rodrigues (2004, p.161-162) que não é possível “[...] traçar uma linha de causalidade

direta entre um determinado regime político e a repressão às drogas, mas sim um incremento

dos instrumentos legais de controle de substâncias psicoativas que mantêm seu ritmo

independentemente dos rumos políticos específicos.” Rodrigues (2004) reforça ainda que tais

legislações, sobre a droga, devem ser compreendidas apenas como meios impulsionadores de

aparelhos de controle essencialmente úteis para a sustentação da ordem, e procuram agir por

meio de vigília estável nas relações entre a sociedade e o universo das drogas ilegais

consumidas.

28

A legislação de 1976, substituída pela materialização da Lei 11343/065, deriva da

ideologia de distinção e diferencia, ainda a conduta dos traficantes e dos usuários, cuja

interpretação, dessa diferenciação, resulta na forma de aplicar a pena, ou seja, para o

traficante o crime de reclusão torna-se inafiançável; para o usuário a detenção é passível de

fiança. As alterações podem ser acompanhadas pelo quadro abaixo.

FONTE: FILHO (2011)

As modificações apresentadas acima, segundo Filho (2011, p.03) ressaltam que a

nova lei de drogas trouxe o “[...] aumento da pena mínima para o tráfico, extinção da

agravante de associação eventual, extinção da prisão para o usuário, previsão de diminuição

de pena para o traficante eventual”.

5Esta lei “Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para

prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas

para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.”

29

2 DROGAS E TRÁFICO

2.1 O PESO ECONÔMICO E AS PRINCIPAIS ROTAS DO TRÁFICO DE DROGAS

Estima-se, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que o crime organizado

movimenta, por ano, cerca de 750 bilhões de dólares, “[...] sendo que 500 bilhões de dólares

são gerados pelo ‘narcotráfico’” (ZACCONE, 2008, p.11). No comando desse negócio, no

aspecto político e legal, o “narcotraficante” é identificado segundo o estereótipo estabelecido

pelo discurso oficial - e exposto pela mídia -, um protótipo no qual o traficante é tratado como

um criminoso organizado, que se utiliza da violência, do poder e da riqueza adquiridos por

meio da circulação ilegal das drogas reconhecidas na legislação brasileira. Nesse sentido, a

política de repressão ao comércio de drogas ilícitas está direcionada a combater ao chamado

“inimigo” da sociedade, o qual comparando no final dos anos 1990 no estado do Rio de

Janeiro representava 60% da população presa (ZACCONE, 2008, P.11).

Segundo Maierovitch (2009), o mercado das drogas ilegais no ano de 2009 chamou a

atenção do autor, pois movimentou no “sistema bancário-financeiro internacional”,

aproximadamente 300 bilhões de dólares no ano. Uma das organizações criminosas

responsáveis por este negócio é a máfia balcânica, também chamada de máfia sérvio-

montenegrina. Esta organização é responsável “[...] pelo envio e armazenamento da cocaína

andina na Europa [...]” (MAIEROVITCH, 2009, p. 71).

A diferença dessa máfia no tocante às organizações espanholas, por exemplo, é que a

balcânica assumia sozinha os valores (dinheiro) e o transporte da cocaína obtida na América

Latina. Além disso, tal organização criminosa “[...] dominou o mercado europeu por não

trabalhar mais sob encomenda [...]” (MAIEROVITCH, 2009, 71). Outra diferença refere-se

ao valor da venda da cocaína, na qual a máfia balcânica repassa a 35 mil euros o quilo

enquanto que a concorrência (os espanhóis) vendem por 40 mil euros, bem como a forma de

entrega da mercadoria: a balcânica entrega sem espera e retirando-a do estoque; quanto à

espanhola, o valor da mercadoria deve ser pago antecipadamente, possuindo ainda prazo para

a entrega da mercadoria droga.

O mapa abaixo apresenta a rota do tráfico de drogas no Brasil, identificando os

países de fronteira e estados brasileiro que fazem parte da produção e circulação. Ainda,

conforme o mapa os estados do norte como Amazônia e Rondônia são as maiores porta de

entrada pelo fato da quase inexistência e/ou dificuldade de fiscalização. É destacado o estado

do Pernambuco, na região nordeste, que por sua área semi-árido é propenso para o cultivo da

30

maconha, que por sua vez circula pelo Brasil como é, sem alterações, utilizada para consumo

interno.

Fonte: Disponível em: <www.pessoas.hsw.uol.com.br/trafico-de-drogas4.html>. Acesso em

06 out 2012.

Observa-se conforme Oliveira (2008, p.41), que o país tem a característica de

exportar as drogas “[...] devido ao seu posicionamento geográfico, ante aos demais países da

América Latina, à sua extensão territorial [...]” dificultando dessa forma o controle por parte

do Estado, mas facilitando assim o despacho de drogas para os outros países.

31

2.2 PERFIL DO TRAFICANTE DE DROGAS

Os autores que tratam da questão das drogas apresentam várias características sobre

o “perfil”6 do traficante. Zaccone (2008), por exemplo, referindo-se aos autuados e detidos

pelo crime de tráfico de drogas informa que são

[...] homens e mulheres extremamente pobres, com baixa escolaridade e, na

grande maioria dos casos, detidos com drogas sem portar nenhuma arma.

Desprovidos do apoio de qualquer “organização”, surgem, rotineiramente,

nos distritos policiais, os “narcotraficantes”, que superlotam os presídios e

casas de detenção. (ZACCONE, 2008, p.11-12)

Conhecidos também como “varejistas”, “esticas”, “mulas”, “aviões” das drogas

ilícitas, são alvos fáceis da repressão da polícia, pois são os responsáveis pela venda da droga

no varejo e não apresentam nenhuma resistência no momento da prisão. Nesse sentido, é

possível afirmar que, primeiramente, o Estado define em lei quais as condutas serão

consideradas como crime e, em seguida, seleciona as pessoas que responderão por tal fato.

Na edição de nº 698 da Revista Época, mostra outro “perfil” de traficantes. O tema

da capa “Os novos donos do tráfico”, apresenta “Quem são os homens que, fora ou dentro da

cadeia, controlam o crescente comércio de drogas no Brasil – e imprimem gestão empresarial

a seus negócios ilícitos”. Nessa reportagem os autores Corrêa e Souza (2011, p.46) mostram

que, diferentes dos traficantes de anos anteriores, como por exemplo Fernandinho Beira-Mar,

os atuais continuam violentos, no sentido de que quando “[...] julgam necessário, mandam

matar.” Porém agem de modo considerado mais discreto e não integram facções criminosas,

ao mesmo tempo que não mantêm “exércitos” que portam armas e desafiam a polícia.

Zaconne (2008) aponta ainda outra característica relacionada à figura do

“traficante”7 identificando-a como “discriminação seletiva” em face da incapacidade do

sujeito, na condição acima, de favorecer-se da corrupção e da prevaricação.

Talvez esse fator seja o que melhor explica o fato da captura dos chamados

“chefões” do tráfico nas favelas ser tão comemorado pelo poder. “Quanto

6 Este termo é utilizado por alguns autores, como citamos por exemplo Zaccone(2008), de acordo com suas

experiências e contato direto com os envolvidos no crime de tráfico de drogas. 7 Resumidamente, considera-se traficante o “[...] autor de uma conduta “equiparada” a crime hediondo, com

garantias individuais restringidas, através da proibição da liberdade provisória, anistia, graça e indulto.” Por fim,

a maioria dos detidos por tráfico de drogas é constituído pelos chamados “aviões”, “esticas”, “mulas”,

“sacoleiros”, na qual no momento da apreensão possuem uma “carga” (autor) de tal substância ilegal, por meio

do qual tendem a obter lucros considerados insignificantes em relação ao negócio total. (ZACCONE, 2008)

32

vale uma abeca” é um jargão utilizado como freqüência nos meios policiais e

fazem referência ao valor a ser pago por um gerente ou “dono” do comércio

de drogas nas comunidades pobres quando preso. (ZACCONE, 2008, p.21)

Por fim, a maioria dos detidos por tráfico de drogas é constituída pelos chamados

“aviões”, “esticas”, “mulas”, “sacoleiros”, os quais, no momento da apreensão, possuem uma

“carga” (autor) de tal substância ilegal, por meio do qual tendem a obter lucros considerados

insignificantes no que concerne ao negócio total (ZACCONE, 2008).

Esses homens e mulheres, ou como se afirma no jargão utilizado, os “varejistas”,

“esticas”, “mulas”, “aviões” das drogas ilícitas, aparecem no cenário brasileiro nos anos de

1980, momento em que se sedimenta a política de “guerra às drogas”. Em realidade trata-se

de um “bandido” de 3ª classe, não precisando portar nenhuma arma, nem mesmo integrar

alguma organização criminosa, basta apenas possuir crédito com os fornecedores.

Além disso, os “esticas” são desprovidos do capital necessário para se tornarem

acionistas dos negócios ilícitos, transformando-se em revendedores comissionados das

drogas, oferecendo como seu único bem de valor, a própria liberdade de ir e vir.

Os “esticas”, “mulas”, “aviões” ocupam a ponta no comércio de drogas proibidas,

mas ficam com uma quantia mínima dos lucros adquiridos, quantia essa que em nenhum

momento os levará a possuir uma participação efetiva nas empresas que atuam no mercado

das drogas ilícitas.

Neste sentido, Zaccone enfatiza que

A escolha em relação às pessoas que são atingidas pela prática da conduta

descrita como tráfico de substâncias entorpecentes é algo irrefutável. Um

simples olhar pelos milhares de presos condenados por esse crime revela

que, apesar de participarem do comércio ilegal de substância entorpecente,

não passam daquilo que o criminólogo norueguês Nils Christie denominou

de “acionistas do nada”. (ZACCONE, 2008, p.23)

A estratégia do atual modelo repressivo realiza a função de intervenção no mercado,

ou seja, os varejistas são removidos da competitividade do comércio proibido, aumentando a

corrupção e consequentemente concentrando os lucros dos negócios ilícitos para aqueles

responsáveis pela lavagem do dinheiro adquirido por meio do comércio das drogas ilegais

(ZACCONE, 2008, p. 25).

Zaccone (2008) também enfatiza que é a partir dos anos de 1980 que o termo

“traficante” atribuído e utilizado para identificar os sujeitos (“varejistas”, “esticas”, “mulas”,

“aviões”) que vivem do comércio ilegal de drogas. Tal denominação ganha uma característica

33

estigmatizante, o que serve para diminuir a capacidade de compreensão/percepção do

indivíduo como pessoa/humano.

Condizente a essa compreensão, o autor afirma, ao utilizar uma comparação, que

“[...] nos anos 1970 o ‘comunista’ era o responsável por ‘degustar criancinhas’ em nosso país,

hoje o ‘traficante’ é responsável até por estimular o surgimento de favelas”. (ZACCONE,

2008, p.58). Nesse sentido identificar aquele (a) que comercializa drogas ilícitas como

traficante serve para expressar uma relação “direta” entre o sujeito que vende droga e o

estereótipo do criminoso – um verdadeiro espaço livre para as ações da polícia repressora.

Segundo Zaccone (2008), entre os que cometem ações qualificadas como crime,

somente os mais vulneráveis estarão expostos à observação e detenção, recaindo sobre os

mesmos, toda “[...] carga agressiva da sociedade [...]”, o que contribui para reduzir as tensões

sociais, ao tempo que servem também de “bodes expiatórios” da sociedade - por meio do

encarceramento ou do extermínio (ZACCONE, 2008, p. 60).

34

3 AS MULHERES PRESAS E CONDENADAS PELO ENVOLVIMENTO COM O

TRÁFICO DE DROGAS

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A definição do objeto de estudo, qual seja, as motivações do envolvimento das

mulheres no crime de tráfico de drogas do presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é

resultado de um processo de aproximação sucessiva à realidade das mulheres encarceradas na

Cadeia Pública de Toledo/PR, em virtude do envolvimento da pesquisadora com o campo de

estágio do Programa Pró-egresso.

A compreensão e a interpretação da realidade torna-se possível se a ela for aplicado o

processo investigativo conhecido como pesquisa. A pesquisa, constituindo-se em um

momento de investigação e descoberta da realidade é conforme Netto (2009, p. 707) “[...] um

processo sistemático de ações, visando investigar, interpretar, desvelar um objeto que pode ser

um processo social, histórico, um acervo teórico e documental”.

Portanto, se a pesquisa é “um processo sistemático de ações” isso significa que

procedimentos são adotados para a sua realização, constituindo-se os mesmos no que Minayo

(1994) chama de metodologia, querendo com o termo expressar “[...] o caminho e o

instrumental próprios de abordagem da realidade” (MINAYO, 1994, p.22), com o objetivo de

alcançar o fim proposto, qual seja, a apreensão da realidade.

A presente pesquisa procurou responder a seguinte questão: “Quais as razões que se

constituem em determinantes para o envolvimento da mulher no tráfico de drogas?” de forma

qualitativa, buscando conhecer as relações sociais e econômicas dos sujeitos envolvidos no

crime de tráfico de drogas na Cadeia Pública de Toledo.

Colocada a questão norteadora da pesquisa, a mesma foi dividida em dois momentos.

Primeiramente realizou-se uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos, teses e dissertações,

procurando fundamentar a questão das drogas, sobretudo a partir dos últimos anos do século

passado.

Num segundo momento, procurando responder aos objetivos colocados para o TCC

foi realizada a pesquisa de campo na Cadeia Pública do Município de Toledo/PR. O universo

delimitado foi composto por mulheres presas pelo crime de tráfico de drogas, no período de

março a setembro de 2012, cujo levantamento indicou 19 mulheres.

Em razão da limitação do tempo para a realização da pesquisa, com a totalidade do

universo, optou-se pela delimitação de uma amostra, entendendo conforme Minayo (1994,

35

p.102) que uma amostra ideal “[...] é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas múltiplas

dimensões”.

Cabe registrar que para a definição da amostra os seguintes critérios foram

estabelecidos: 1) mulheres condenadas, ou seja, que possuem sentença determinando o tempo

da pena; 2) idade entre 18 e 31 anos.

A pesquisa partiu de dados quantitativos e qualitativos. Quantitativamente, a partir

do acesso ao documento listagem de pessoas por cela, emitido em 05/09/2012, autorizado por

meio do Termo de Ciência do responsável pelo campo de estudo (ANEXO B). Apurou-se o

número de mulheres presas e condenadas pelo crime de tráfico de drogas, cuja identificação

no TCC foi feita através de uma tabela, possibilitando assim atender ao primeiro objetivo do

trabalho, qual seja, identificar a incidência de mulheres presas e envolvidas com o crime de

tráfico de drogas.

A realidade que cerca os sujeitos, delimitados do universo da pesquisa, foi

fundamental para identificar e fazer uma análise relacional do perfil das mulheres presas em

virtude do relacionamento com companheiros e familiares envolvidos no tráfico de drogas

(segundo objetivo colocado na pesquisa de campo), bem como para analisar os elementos

preponderantes para o envolvimento das mulheres detidas pelo crime de tráfico de drogas

(terceiro objetivo).

Concordando com Minayo (2004), a pesquisa de campo foi de fato uma “pesquisa

estratégica” porque orientou-se

[...] para problemas que surgem na sociedade, ainda que não preveja soluções

práticas para esses problemas. Ela tem a finalidade de lançar luz sobre

determinados aspectos da realidade. Seus instrumentos são os da pesquisa básica

tantos em termos teóricos como metodológicos, mas sua finalidade é a ação.

(MINAYO, 1994, p. 26).

Para dar continuidade a este processo da pesquisa, nos referimos ainda a Minayo

(1994, p.107) que traz os componentes do trabalho de campo, sendo um deles a entrevista

que, no presente caso, trata-se da entrevista semi-estruturada8.

Os dados quantificados das entrevistas, isto é, as respostas/informações fornecidas

pelos sujeitos da pesquisa – que correspondem às perguntas fechadas conforme formulário de

entrevista (APÊNDICE B) - foram quantificados em uma tabela, que permitiu identificar e

8 Minayo (1994, p.108) esclarece a entrevista semi-estrurada: “[...] combina perguntas fechadas (ou estruturadas)

e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições

prefixadas pelo pesquisador”.

36

fazer uma análise relacional do perfil das mulheres presas em virtude do relacionamento com

companheiros e família envolvidos no tráfico de drogas - segundo objetivo do presente TCC.

A entrevista com os sujeitos foi gravada, de acordo com a autorização dos mesmos,

realizada por meio da leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APÊNDICE A). As gravações foram transcritas e as perguntas abertas foram referência para

que atender ao principal objetivo da pesquisa: analisar os elementos preponderantes para o

envolvimento das mulheres detidas pelo crime de tráfico de drogas. Os sujeitos da pesquisa

foram identificados pela codificação: Sujeito A, B e C para com isso garantir seu anonimato.

3.2 REALIDADE BRASILEIRA DAS MULHERES PRESAS POR TRÁFICO DE

DROGAS

Segundo a Lei de Execução Penal de 1984, no título sobre estabelecimentos penais,

no capítulo VII sobre a Cadeia Pública “Art. 102 - A Cadeia Pública destina-se ao

recolhimento de presos provisórios.” Portanto, “Art. 103 - Cada comarca terá, pelo menos,

uma Cadeia Pública a fim de resguardar o interesse da administração da justiça criminal e a

permanência do preso em local próximo ao seu meio social e familiar.”

A exclusão do convívio social, pelo encarceramento, é para alguns autores a punição

para aqueles que cometeram algum tipo de crime. É na Lei Nº 8072 de 25 de Julho de 19909

que aparece a pena para tráfico de drogas considerado um crime hediondo, cuja pena deve ser

cumprida em regime fechado, ou seja, encarceramento.

Foucault (apud Biella, 2007) ao tratar do papel das prisões afirma que:

A prisão [...] foi desde o início uma detenção legal encarregada de um

suplemento corretivo, ou ainda uma empresa de modificação dos indivíduos

que a privação de liberdade permite fazer funcionar no sistema legal. Em

suma, o encarceramento penal, desde o início do século XIX, recobriu ao

mesmo tempo a privação de liberdade e a transformação técnica dos

indivíduos. (FOUCAULT apud BIELLA, 2007, p. 28)

Apesar da análise crítica de Focault, acerca das prisões e encarceramentos, o senso

comum tende – principalmente os que já foram direta ou indiretamente atingidos pela

violência – a reforçar um comportamento carregado de valores morais – “bandido bom é

bandido morto” ou ainda “bandido tem que morrer” -. Batista (1990, p.158), contudo, chama a

9 A LEI Nº 8.072, de 25 de Julho de 1990 “Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso

XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências”. Além da pena do cumprimento do regime

fechado o art. 2º em seus incisos tratará de outras penas como a progressão de regime, prisão temporária e

outros.

37

atenção para a importância da defesa dos direitos humanos, ressaltando que os sujeitos que

praticam crimes devem ser julgados e responder aos processos legais, porém não espancados,

torturados, tendo suas famílias humilhadas e constrangidas.

Mello (2008), por sua vez, destaca que o crescimento da violência gera também o

aumento da população carcerária e que nos últimos anos, o volume de mulheres com relação

aos homens cresceu significativamente. O gráfico abaixo mostra a realidade, por estado, das

mulheres presas no Brasil. O Paraná é o terceiro maior estado com mulheres presas,

correspondendo a 7% da população de mulheres encarceradas.

Gráfico 1 – Percentual de Mulheres Presas

Fonte: Cartilha DEPEN (2011)

Os motivos do envolvimento com o tráfico de drogas das mulheres diferem dos

homens, autoras como Biella (2007), Mello (2008) e Moura (2005), afirmam que a prática do

tráfico de drogas vai além do ato infracional, constitui uma oportunidade de trabalho e renda

para a sua própria subsistência, bem como de sua família. No gráfico apresentado abaixo,

podemos afirmar que as mulheres presas no Brasil, em sua maioria, o são pelo envolvimento

com o tráfico de drogas.

38

Gráfico 2 – Percentual de mulheres presas por tipo de crime - BRASIL

Fonte: Cartilha DEPEN (2011)

Para Biella (2007), o “ônus das políticas de prevenção e de repressão”, é maior para

as mulheres presas por tráfico de drogas quando comparado ao envolvimento dos homens em

razão da sua condição de vulnerabilidade econômica, como afirma:

Observando os contextos nacionais e internacionais, os quantitativos de homens e

mulheres presos por tráfico mostram que as mulheres estão carregando o maior

ônus das políticas de prevenção e de repressão, porque – não maioria dos casos - se

encontram em condições sócio-econômicas de vulnerabilidade e acabam se

envolvendo em atividades criminosas do tráfico de drogas. (BIELLA, 2007, p.31).

Nessa perspectiva Moura (2005) afirma que as mulheres presas pelo tráfico de

drogas geralmente não procuraram o crime, ao contrário, é o crime que chega às suas vidas.

Essa situação pode ser interpretada no contexto do que fala Zaccone (2008), ou seja, não raro

o flagrante do tráfico de drogas - momento em que ocorre a apreensão da droga - geralmente

acontece na esfera da circulação, isto é, quando do repasse da droga, situação esta em que o

indivíduo está desprovido de arma. Afirma ainda o autor que “para ser ‘sacoleiro’ de droga

39

não é preciso portar nenhuma arma e sequer integrar alguma dita organização criminosa,

bastando para tanto ter crédito junto aos “fornecedores”.

A respeito da criminalização das drogas ilegais e do encarceramento, no

Brasil, afirma Biella (2007):

[...] o tráfico de algumas drogas entorpecentes (maconha – canabis sativa, cocaína,

crack, heroína, ácido lisérgico, etc) são criminalizados no Brasil; que, justamente

por isto, existem pessoas encarceradas, e que principalmente para gestores em

saúde e em segurança pública, o uso e o tráfico representam atualmente sérios

problemas sociais (aumento da criminalidade, inchaço das prisões, etc). (BIELLA,

2007, p.14)

Nesse contexto é que se insere a criminalização das drogas, ditas ilegais, bem como

daqueles que as “traficam” cabendo, portanto, entender essa realidade no município de

Toledo/PR.

3.2.1 Cadeia Pública de Toledo

Não existe uma referência histórica oficial da implantação da Cadeia Pública de

Toledo. Assim, tomamos como referência placas de inauguração e a entrevista.

Em Toledo, em 30 de outubro de 1981, foi criada a Cadeia Pública, juntamente com

a Delegacia de Polícia. Passados trinta e um anos de sua criação, sua estrutura atual conta,

segundo Jair Antônio Wesseling10

, com 6 celas no interior do “Cadeião”11

, com capacidade

para 4 presos em cada cela, destinados aos homens, na qual no total nesta parte caberia 24

presos. Porém atualmente está com 93 presos. Existe ainda, 2 celas chamadas de “seguro”12

,

também com capacidade para 4 presos em cada uma delas, todavia está com 14 presos. Por

fim, 1 cela é destinada às mulheres, a qual possui a capacidade para 6 presas, mas até a data

dessa pesquisa a cela possuía 27 presas. Ressalta-se, ainda, que existem 5 presos chamados

de “confiança”13

, que ficam no “pátio”.

10

Jair Antônio Wesseling é investigador de polícia e atualmente é chefe da Carceragem da Cadeia Pública de

Toledo/PR. Entrevista realizada no dia 25 de outubro de 2012. Ao solicitar documentos que explicitassem o

contexto histórico da Cadeia Pública foi repassada a informação de uma possível inexistência destes. 11

Segundo Wesseling esta parte é destinada à ala masculina. 12

Gíria da cadeia, é destinado a abrigar presos com rixa com outros presos, presos com dívidas de drogas,

delatores, casos de estupro e demais crimes que não são bem aceitos no convívio do Cadeião. 13

Os presos de “confiança” realizam trabalhos de manutenção e conservação da estrutura da delegacia.

40

A tabela abaixo representa a quantidade de mulheres presas em Toledo e os crimes

os quais cometeram. Estes dados significam o universo da pesquisa. Diante dos dados

apresentados observa-se que 73% das presas na Cadeia Públicas têm como motivo o

envolvimento com o tráfico de drogas.

Tabela 1 – Relação das presas por crime

DELITO Nº DE PRESAS

Crimes por tráfico de drogas e

agregação ao tráfico de drogas

19

Crimes contra o patrimônio 5

Crimes contra a pessoa 1

Crimes de particular contra a

administração pública

1

TOTAL 26

Fonte: Dados da pesquisa – SOUZA (2012)

3.3 ENTREVISTAS COM AS PRESAS DA CADEIA PÚBLICA DE TOLEDO/PARANÁ

No decorrer deste trabalho discutiu-se sobre os elementos preponderantes que

levaram as mulheres a se envolverem no crime de tráfico de drogas. Para realizar a análise da

questão citada optou-se por entrevistar as mulheres presas e condenadas pelo crime de tráfico

de drogas, com idade entre 18 e 31 anos.

Visando proteger o anonimato das entrevistadas suas falas serão identificas através

das letras A, B e C, cujo perfil é informado na tabela abaixo.

Tabela 2 Perfil das entrevistadas.

Fonte: Dados da Pesquisa – SOUZA (2012)

ENTREVISTADAS IDADE ESCOLARIDADE/SÉRIE ESTADO

CIVIL

FILHOS NÚMERO

DE FILHOS

A 20 Ensino Fundamental

Incompleto – 5ª

Solteira Não 0

B 31 Ensino Médio Incompleto –

Solteira Sim 1

C 23 Ensino Fundamental

Incompleto – 7ª

Separada Sim 1

41

Buscou-se através das falas dos sujeitos compreender e esclarecer o problema:

“Quais as razões que se constituem em determinantes para o envolvimento da mulher no

tráfico de drogas?” deste trabalho. As questões e suas respectivas respostas foram elencadas e

apresentadas nos itens abaixo.

3.3.1 Profissão e renda familiar das detentas anterior a prisão

Eu não tinha nenhuma renda, era o tráfico mesmo, sério mesmo,

tirava em média uns 2.000 limpo por mês, mas nunca aproveitava,

nunca via esses 2.000. (SUJEITO A)

Eu trabalhava numa gráfica [...] fazia de tudo, serviços gerais,

atendia [...] mas o dinheiro não dava, era muito pouco, eu tive que

traficar pra ganhar mais [...] Uns 2.000 reais por mês (SUJEITO B)

[...] trabalhei de babá, faxineira [...] nesses ai eu tirava 150 em um

mês. [...] mas minha opção mesmo foi o tráfico, [...] dependendo se eu

levava a droga pra fora ai eu tirava mil mesmo, se eu levava normal,

dois, três mil, num dia às vezes (SUJEITO C)

Conforme pode ser observado na fala das entrevistadas percebe-se que duas detentas

tinham outro tipo profissão além do tráfico (serviços gerais e babá). A outra afirmou que seu

primeiro e único emprego foi o tráfico.

O sujeito B destaca que ingressou no tráfico a fim de complementar a renda familiar,

pois mesmo possuindo um trabalho formal, com carteira assinada, precisava sustentar sua

casa com filha e a casa de sua mãe. Neste sentido, podemos comparar a renda obtida com o

tráfico, que na maioria dos sujeitos era de aproximadamente R$ 2.000,00, com o atual salário

mínimo que segundo o DECRETO 7.655, DE 23/12/201114

corresponde ao valor de R$

622,00. Para muitos brasileiros esse salário é insuficiente, pois não atende as necessidades

básicas.

14

Este salário mínimo entrou em vigor em 01/01/2012 conforme o Tribunal Regional do Trabalho – 3ª Região

Minas Gerais. Fonte: http://www.trt3.jus.br/informe/calculos/minimo.htm.

42

3.3.2 Motivações que explicam envolvimento com o tráfico de drogas

Em relação às motivações que levaram os sujeitos da pesquisa a se envolverem com

o tráfico, observamos que a condição econômica foi determinante. Porém, cada sujeito possui

um contexto que explica o seu envolvimento com o tráfico.

influência de amigos, foi assim, eu comecei a estudar [...] conheci

uma menina, através dessa amiga fui se envolvendo na casa dela,

tinha 11 anos, era muito entra e sai, [...] ela falava: [o] “que você

vê aqui não pode sair daqui, entendeu?” [...] eu via mexendo com

aquilo, comecei a pedi o que é, e em seguida ela foi me explicando

[...] ela falou: esse aqui é pedra de crack. Foi me explicando, eu via

tudo aquilo, entendia tudo, a droga tava tudo exposta [...] fui vendo

ela ganha dinheiro [...], a minha amiga tinha roupa pra sair, eu não

tinha, tinha dinheiro pra sair e eu não tinha, às vezes quando eu

dormia na casa dela ela saia e eu ficava [...] cuidando dos

irmãozinhos dela porque ela tinha dinheiro e eu não [...] eu queria

andar bem arrumada, bem vestida, sempre fui bem vaidosa,

entendeu! Eu via minhas amigas andando e pensava porque eu não?

Se eu também podia, [...] eu comecei a fica olhando curiosa [...] e a

falar pra ela que eu queria aquilo, ela veio e falou: você quer? E eu

falei eu quero, mas eu não tenho lugar pra fazer isso [...] ela falou,

pode ser aqui mesmo [...] era uma casa, um lote, onde entrava e

saia drogados, viciados. (SUJEITO A)

Por causa do dinheiro, porque eu tinha que sustentar a minha mãe e

a minha casa com a minha filha [...] tinha que sustentar as duas

casas [...] ganhar mais [...] eu precisei de dinheiro, começou a

apertar e eu precisei fazer. Eu tinha amigos que vendiam [...] via

que eles ganhavam dinheiro, esbanjavam dinheiro [...] me interessei

também” . (SUJEITO B)

43

ai meu Deus, é difícil falar essa, o começo de tudo foi, quando um

dia meu irmão pediu pra mim (já tava trabalhando) e ele queria

comer uma banana que vizinha tava comendo, pedi pra ela da uma

pra ele, ela falou que não era pra mim roubar [...] primeira coisa

que eu fiz na minha vida foi roubar [...] onde eu entrei no tráfico,

[...]roubei a banana pro meu irmão comer, eu admito que eu roubei

uma banana mesmo pra ele comer [...]a partir daí, onde surgiu o

tráfico na minha vida [...] até ai eu não tinha conhecimento de

nenhum tipo de roubo, tráfico, matar, [...] pra mim vinha tudo fácil,

tinha quinze anos. (SUJEITO C)

O sujeito A teve uma aproximação com a circulação e comércio das drogas precoce,

ou seja, com a idade de 11 anos. Observava que sua amiga, sempre tinha bens materiais

interessantes, como por exemplo, roupas e participação em festas, situação essa que fazia a

pesquisada sentir-se inferior pelo fato de não possuir as mesmas possibilidades de acesso a

esses bens de consumo. Assim, encontrou no tráfico de drogas um meio para suprir esse

sentimento de “não poder/ter”.

Em relação ao sujeito B, a entrada no crime não foi precoce e se deu pela necessidade

de subsistência da família.

O sujeito C explica que o seu envolvimento com o tráfico de drogas deve-se, em um

primeiro momento, ao fato de ter-se envolvido com pequenos furtos. Nesse sentido é possível

constatar a correspondência da explicação dada por Biella (2007, p. 141-142) ao afirmar que a

inserção de mulheres no tráfico de drogas “[...] não se dá pelo lado mais violento [...]”, mas

sim através, do chamado por ela, ato tradicional do comércio.

3.3.3 O processo do envolvimento com o tráfico de drogas.

Era um movimento, peguei e comecei, lembro que minha amiga me

deu 13 pedras e falou dá 100 pra mim e pega 30 pra você e naquilo

comecei e fui vendo que eu queria mais, queria mais, fui aumentando

a quantidade até a hora que eu fui ver eu tava envolvida até o

pescoço, todo mundo me conhecia já. Era 10 reais cada pedra, 100

era dela e 30 era meu, imagina eu ganhava 30 real, e pra mim já era

44

uma alegria pra quem tava começando era uma coisa boa tá no meio

de tanta gente, todo mundo envolvido, pessoas fortes, pessoas que

outras pessoas tinha medo [...] fui se envolvendo”. (SUJEITO A)

Foi assim, tinha os parceiro né, que anda pá, que fornece, comecei

trabalhando pra aquela “pinha”, depois eu trafiquei sozinha [...]

peguei e fui, de cara limpa, foi com as viagens que eu cresci [...] o

tanto que eu vendia, recebia tanto e fiz o meu próprio negócio [...] a

influência foi eu mesma, porque na verdade não tem ninguém que

coloca você nesse lugar, vai da pessoa, porque se a pessoa fala

“vamos lá comigo traficar” , jamais você vai falar que quer, então

não tem, eu mesma que quis, hoje eu me arrependo, me arrependo

mesmo [...] (SUJEITO C)

Os sujeitos da pesquisa retrataram seu processo de envolvimento, apresentando de que

forma era a sua participação na circulação e comércio da droga. Ressalta-se neste ponto que a

droga para comercialização era obtida por uma pessoa responsável pelo negócio, contudo não

se pode afirmar que se trata de “grandes negócios”, com “grandes lucros”. Antes, trata-se do

que aponta Zaccone (2004), no sentido de que a maioria dos detidos por tráfico de drogas é

constituído pelos chamados “aviões”, “esticas”, “mulas”, “sacoleiros”, constituindo-se em

“presas fáceis” do sistema.

Em contraponto, os grandes traficantes, os proprietários dos negócios,

Preferem atuar como homens de negócios e comandam, foragidos ou dentro

da cadeia, verdadeiras redes empresariais da droga. Eles cruzaram as

fronteiras de nações vizinhas, se instalaram por lá e, com a proteção de

autoridades locais corruptas e diante da leniência do Estado brasileiro,

inundam as cidades do país todos os anos com toneladas de cocaína e pasta-

base de coca [...] De suas bases montadas no Paraguai, na Bolívia, na

Colômbia a até mesmo na Venezuela, terceirizam boa parte dos serviços,

como o refino da coca, a remessa e a distribuição da droga no Brasil. (p.48,

Época)

A respeito do trabalho realizado por mulheres, nos negócios com drogas ilegais,

Moura (2005, p.62), referindo-se ao sociólogo Mingardi, pesquisador da Unesco, afirma que

entre os trabalhos por elas realizados está o contato direto com os compradores, o transporte e,

em alguns casos, o trabalho de misturar a pasta-base com bicarbonato.

45

O sujeito A em sua fala destaca que com o tráfico é possível ter contato com

“pessoas fortes, pessoas que outras pessoas tinha medo”. Sobre isso, Faria (2009, p.16) traz

que “[...] o tráfico de drogas estabelece relações sociais fortemente estruturadas dentro, não só

do grupo de traficantes da mesma facção, mas em toda comunidade a qual pertence o

traficante [...]”. Dando continuidade a exposição da autora, tal comunidade tem um

reconhecimento, no sentido de que o traficante é considerado como poderoso, protetor e

detentor do direito e punir e assim é legitimado e respeitado como aquele que chefia, coloca

regras de convivência entre todos.

3.3.4 O tráfico compensa?

Não compensa porque quando você ta na rua você ta ganhando

dinheiro, festando, bebendo, usando droga com os amigos entendeu?

Pra você tudo é bom, mas depois que você vai presa [...] passa pelo

sofrimento atrás das grades, só Deus sabe o que que é. [...] ganhei

muito dinheiro, [...] 2.000 real bem dize por mês [...] não investi em

nada, não soube investir o dinheiro que eu tive, se você pedir pra mim

‘o que você tem’? [...] hoje não tenho nada, consegui comprar

algumas coisas quando fui morar com o meu ex marido, comprei uns

móveis, mas hoje eu já não tenho mais nada [...] depois que eu vim

pra cá eu vendi tudo porque precisei, mal tinha o dinheiro do

advogado. [...] eu falo pra qualquer um [...] depois de tudo que eu

passei, depois de oito anos traficando, hoje eu sei o crime não

compensa. (SUJEITO A)

Não, não compensa. É um dinheiro que você não faz nada com ele.

Você ganha hoje mil, amanhã você gasta mil e 500, dois mil, não

compensa. Você ganha bastante e gasta bastante. Tudo que eu investi

eu perdi, tive que vender de novo pra pagar o advogado, tinha casa,

lote, mas tive que vender pagar contas que ficou pra trás. [...] é uma

coisa que não tem lucro, não tem retorno, Hoje eu me arrependi,

porque se eu tivesse trabalhando no meu serviço só eu não teria vindo

presa. (SUJEITO B)

46

não compensa, perdi a metade da minha vida, metade da minha

adolescência [...] passava madrugadas e madrugadas vendendo

droga, correndo da policia [...] pra mim não teve vida nenhuma. [...]

só que eu dei um futuro melhor pra minha família depois desse tempo.

(SUJEITO C)

Quando perguntadas se o trabalho com o tráfico de drogas compensava as três

entrevistadas foram unânimes ao afirmarem que tráfico de drogas não compensa. Ressaltam

que, mesmo obtendo lucro e tendo uma certa facilidade para obter o que desejam, com a

mesma facilidade perdem tudo, sobretudo ao serem presas quando há gastos com advogado

para realização de defesa no processo.

Destaca-se da fala do sujeito C que, mesmo tendo afirmado que o tráfico de drogas

não compensa, pois perdeu momentos (fases) de sua vida, como a própria adolescência, por

outro lado, foi possível garantir a sua família um “futuro melhor”.

3.3.5 A relação familiar

antes morava eu a minha mãe, meus irmãos, quando comecei se

envolver minha mãe começou ver também e trabalhava, eu nunca

escondi e sempre contei tudo pra dela, ela começou ver, eu saindo

pras festas, e ela ficava em casa. [...] os drogado viciado iam lá em

casa buscar droga, ela começou ver e pega também, sabia onde que

eu guardava e começou a se envolver [...] foi onde toda a minha

família se envolveu nisso. [...] quando eu cai eu fui presa na minha

casa [...] quatro meses a minha irmã [...] depois mais quatro meses a

minha mãe foi presa, quase todo mundo na mesma época (SUJEITO

A)

[...] minha mãe, meu irmão moravam outro lugar, mataram esse meu

irmão que morava com a minha mãe esse fim de semana, agora ficou

mais difícil ainda, ele não tinha envolvimento, mataram ele na

covardia. Minha mãe [...] nunca vai abandonar a gente, só ela, e ela é

daqui, quando eu preciso de alguma coisa é ela que vem trazer, peço

47

pra comprar alguma coisa [...] minha filha vem me visitar. (SUJEITO

B)

Minha mãe [...] Ela não tinha a opção de falar, ela também gostou

então, mas não se envolveu. A minha filha vem me visitar, eu sinto

falta dela. (SUJEITO C)

Nas relações familiares, no caso do primeiro sujeito é retratado que além do seu

próprio envolvimento, a família (mãe, irmão e irmã) também envolveu-se com o tráfico,

encontrando-se também presa. O irmão além do envolvimento com o tráfico, também é

usuário.

Com relação às entrevistadas B e C, um fato que chama atenção é o homicídio dos

respectivos irmãos, todavia elas afirmam não serem decorrentes do envolvimento com as

drogas. Outro aspecto também a ser destacado é acerca do recebimento de visita de familiares

na Cadeia. As entrevistadas que possuem filhas afirmam a importância delas em suas vidas,

uma até chega a ressaltar que, mesmo recebendo visita da filha, sente muita a sua falta.

Souza (2010) ao discorrer sobre a importância da família, ressalta tratar-se de um dos

pilares que ajudam a amenizar a dura realidade, bem como se define no alicerce que dará um

norte para a vivência e as futuras relações dos sujeitos na sociedade.

3.3.6 Oportunidades e alternativas

[...] fiz curso de informática aqui dentro, já é um bom passo, porque

hoje em dia o trabalho la fora exige [...] a gente fez também curso de

Culinária; um monte de curso que vai dar pra aproveitar [...] com

certeza essas atividades vão contribuir bastante (SUJEITO A)

Isso que vai ser difícil, não tem .... tem que esperar (SUJEITO C)

Quando o sujeito A fala a respeito dos cursos realizados durante o período da prisão

está se referindo ao “Projeto Recomeçar”15

(2011). Esse projeto surgiu por iniciativa do setor

de serviço social do Conselho da Comunidade da Comarca de Toledo em parceria com o setor

15

Este Projeto foi escrito pela Assistente Social Leidiane Penso, que atuava no ano de 2011 na Cadeia Pública de

Toledo.

48

de Responsabilidade social da empresa Prati Donaduzzi com o objetivo de atender uma

necessidade urgente da Cadeia Pública de Toledo – a superlotação da ala feminina.

Na tentativa de minimizar esses efeitos o Projeto Recomeçar, que visa realizar

atividades ocupacionais como palestras, oficinas diversas, curso de informática,

profissionalização, orientação sobre como ingressar no mercado de trabalho, atividades

motivacionais, cinema, terapia, para diminuição do tempo ocioso dentro da cela, gerar

remição de pena e também cuidar da saúde das detentas no que tange a orientação para

prevenção de doenças (TOLEDO, Projeto Recomeçar, 2011).

3.3.7 O Futuro

os meus planos para o futuro, sinceramente, é ir embora desse lugar,

se Deus quiser eu to indo, construir a minha família, arrumar um

marido de verdade, ter os meus filhos que sempre foi o meu sonho,

trabalhar. Sinceramente eu não penso mais nesse negócio de traficar,

quero sair daqui quero trabalhar, ser feliz entendeu? Poder

conquistar o que eu quero, com o meu esforço, com o meu suor, poder

chegar em casa e falar hoje eu to cansada, mas graças a Deus to

vencendo (SUJEITO A)

Nunca mais se envolver com isso pra nunca mais precisar voltar pra

esse lugar, pela situação que nós vivemos ali, não tem condições. [...]

ali dentro a gente fica esquecida da cabeça, muita coisa você esquece,

fica meia oca porque é muita conversa, se alguém te maltratar [...]

você tem que ficar quieto, guarda aquilo lá pra você, isso daí

prejudica a sua saúde, quem pensa bem não volta mais. [...] Quero

trabalhar honestamente. (SUJEITO B)

Arrumar um serviço, cuidar da minha filha, reconquistar tudo o que

eu perdi e seguir a minha vida, pra frente aí eu não sei [...] (SUJEITO

C)

Souza (2010), falando a respeito da importância da reinserção social de detentas,

destaca a necessidade do envolvimento/engajamento da sociedade no processo, como afirma:

49

Não se pode querer fechar os olhos para tal situação é necessário que algo

seja feito para diminuir tal estatística. Algumas instituições têm

desenvolvido projetos de intervenção a fim de contribuir de alguma forma

para elucidar este mal. Somente as leis não são suficientes para amenizar tal

problemática, é preciso que a sociedade denuncie o uso e o tráfico. A

sociedade deve estar engajada em desenvolver projetos que retirem essas

mulheres do mundo das drogas e lhes mostrem um novo horizonte.

Durante as falas dos sujeitos da pesquisa, no que tange o seu futuro, percebe-se que

um dos anseios comuns entre as entrevistadas é o de encontrarem um emprego formal como

forma de subsistência. Além de outros planos como a constituição de uma família com filhos.

Ainda afirmam a vontade de sairem o mais rápido possível de lá e encontrarem alternativas

para que não retornem à situação de precariedade de condições estruturais, como a

superlotação.

Quanto ao sujeito C, apesar de afirmar planos para o futuro demonstra uma certa

insegurança, incerteza quanto ao que está por vir.

50

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As legislações sobre a proibição das drogas são historicamente modificadas

conforme o contexto da realidade. Inicialmente em âmbito internacional os consumidores de

drogas eram considerados “doentes” e os responsáveis pela produção e circulação de drogas

eram os “delinquentes”. Os Estados Unidos da América (EUA) foram um dos países a tomar

as primeiras iniciativas de proibição, promovendo ações e discussões sobre a ilegalidade das

drogas, bem como o convencimento da sociedade por meio da difusão do medo e da

insegurança – drogas: “substâncias perigosas”.

O século XX, sobretudo o seu final, é bastante significativo porque marca de forma

clara a pauta de um discurso e de uma prática proibicionistas no tocante às drogas, mas

também porque em nome de uma proteção e de uma política interna e externa os Estados

Unidos desencadearam um enfrentamento às drogas, e aos países produtores, sem

antecedentes na história da América Latina (OLMO, 2009, p. 55/75).

Liderados pelos EUA, os países ocidentais não hesitaram em ratificar tratados E

Convenções proibitivos e condenatórios sobre os diversos tipos de drogas consideradas

“ilegais”, “perigosas” e ameaçadoras à sociedade e aos bons costumes.

Neste contexto, a presente pesquisa buscou compreender os elementos

preponderantes para o envolvimento das mulheres no tráfico de drogas na Cadeia Pública de

Toledo, bem como identificar a incidência dessas mulheres nesse espaço. A pesquisa

documental, através da Listagem de presos por cela, permitiu constatar que 73% das presas

são pelo crime de tráfico de drogas. Este índice, bastante alto na comparação com as mulheres

detidas na Cadeia Pública, foi o elemento central que desencadeou o interesse pela presente

pesquisa.

A análise relacional entre os sujeitos da pesquisa e suas respectivas famílias apontou

que apenas uma das famílias das entrevistadas acabou por se envolver com o mesmo tipo de

crime.

Ressalta-se que, de todas as informações obtidas junto às mulheres presas e

condenadas pelo crime de tráfico de drogas, a explicação presente na fala de todas as

entrevistadas é a questão socioeconômica.

O sujeito A em sua fala, expôs que iniciou cedo no tráfico de drogas, pela vivência

em um local em que ocorria a circulação das drogas e por entender que a amiga tinha tudo o

que queria através daquele comércio. Partiu desse contexto o seu interesse com o negócio,

sendo que neste local teve a oportunidade de conhecer como funcionava o processo da venda.

51

Assim, percebe-se que seu envolvimento com o tráfico foi motivado pelo desejo do consumo,

o que remete diretamente à questão econômica.

O sujeito B possui um contexto diferente, pois ao ter que sustentar a família em duas

casas, e ao mesmo tempo, percebeu que só com o salário do trabalho formal não era possível,

assim, iniciou-se tráfico de drogas como uma forma de obter outra fonte de renda.

Na fala do sujeito C, apresenta-se também o elemento econômico, embora a

explicação dada para o início do seu envolvimento com o tráfico tenha sido através do furto.

Consequentemente envolveu-se na criminalidade e com o comércio de drogas, encontrando

nesse meio uma forma de “dar um futuro melhor” para sua família.

As constatações acima permitem concordar com a afirmação de Cruz Neto (2001),

em que o autor, discorrendo sobre a multiplicidade de motivações, afirma:

adotar uma resposta única e lapidar sobre as motivações que os

levaram a desenvolver e a praticar essa opção constituir-se-ia uma

atitude demasiadamente superficial e injusta, sobretudo diante da

origem notadamente pluricausal do problema” pois, “os depoimentos

evidenciam que as motivações imiscuem-se e interagem (...). O que

eles relatam é a multiplicidade concomitante de várias situações de

vulnerabilidade pessoal e social (GUIMARÃES, 2004 apud CRUZ

NETO et AL. , 2001, p.124/129).

Grande parte dessas mulheres não gostaria de retornar ao crime, mas a falta de

perspectivas com relação ao futuro, oportunidade e políticas públicas voltadas para essa

realidade contribuem para a reincidência.

Observou-se no decorrer do processo investigativo que as expressões da “questão

social” latentes no universo investigado decorrem, em grande medida, da falta de

oportunidade para o trabalho, da falta de acesso à educação, da falta de acesso à alimentação,

ou seja, da falta de acesso às condições mínimas para uma vida digna. Ainda mais, se essa

constatação refere-se ao ambiente externo à Cadeia Pública, dentro dela não é diferente, ao

contrário, não raro as mulheres encarceradas na Cadeia Pública têm seus direitos violados em

razão da precariedade da situação em que se encontram reclusas.

Diante disso, a presença do profissional do Serviço Social no espaço como a Cadeia

Pública é de extrema importância. O assistente social atua nas expressões da “questão social”

por meio da elaboração, execução e avaliação de planos, programas e projetos. Neste sentido,

o Projeto Recomeçar, criado e desenvolvido por uma assistente social, teve como objetivo

52

proporcionar meios para proteger os direitos dessas mulheres de forma a evitar sua

reincidência no crime.

Ressalta-se ainda que para além das condições apresentadas sobre o tema nessa

pesquisa, existem lacunas que merecem atenção e investigação, uma vez que este estudo

configura-se como a primeira aproximação à temática, aspecto esse que torna possível o

surgimento de novas investigações, visando contribuir não só para ampliar a compreensão

dessa realidade, mas, sobretudo, ajudar na proposição e criação de alternativas ao

encarceramento.

53

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55

APÊNDICES

56

APÊNDICE A

57

58

APÊNDICE B

59

60

APÊNDICE C

61

ANEXOS

62

ANEXO A

63

ANEXO B