alessandra de souza orlandini -...

73
ALESSANDRA DE SOUZA ORLANDINI CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CAPS I DE ASSIS CHATEAUBRIAND: REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL NA PERSPECTIVA DOS USUÁRIOS Toledo 2016

Upload: haquynh

Post on 17-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

ALESSANDRA DE SOUZA ORLANDINI

CENTRO DE ATENO PSICOSSOCIAL CAPS I DE ASSIS CHATEAUBRIAND:

REABILITAO PSICOSSOCIAL NA PERSPECTIVA DOS USURIOS

Toledo

2016

ALESSANDRA DE SOUZA ORLANDINI

CENTRO DE ATENO PSICOSSOCIAL CAPS I DE ASSIS CHATEAUBRIAND:

REABILITAO PSICOSSOCIAL NA PERSPECTIVA DOS USURIOS

Trabalho de Concluso de Curso, apresentado ao

curso de Servio Social, Centro de Cincias Sociais

Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do

Paran, como requisito parcial obteno do Grau de

Bacharel em Servio Social.

Orientadora: Prof Ms. Ane Brbara Voidelo.

.

Toledo

2016

ALESSANDRA DE SOUZA ORLANDINI

CENTRO DE ATENO PSICOSSOCIAL CAPS I DE ASSIS CHATEAUBRIAND:

REABILITAO PSICOSSOCIAL NA PERSPECTIVA DOS USURIOS

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao

curso de Servio Social, Centro de Cincias Sociais

Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do

Paran, como requisito parcial obteno do grau de

Bacharel em Servio Social.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Prof Ms. Ane Brbara Voidelo

Universidade Estadual do Oeste do Paran Toledo

____________________________________________

Prof Dra. Luciana Vargas Netto Oliveira

Universidade Estadual do Oeste do Paran Toledo

____________________________________________

Prof Dra. Maria Isabel Formoso Cardoso e Silva Batista

Universidade Estadual do Oeste do Paran - Toledo

Toledo, 17 de fevereiro de 2016.

Dedico este trabalho a minha irm gmea, Andressa de

Souza Orlandini, pois foi com ela e ao lado dela que vivi

toda a graduao. Tenho muito orgulho de voc futura

Assistente Social, essa conquista no s minha,

NOSSA.

AGRADECIMENTOS

Agradeo primeiramente a Deus pelo dom da vida, por todas as bnos derramadas

sobre mim, por me fazer acreditar que quando se tem f tudo possvel, e que com o poder da

orao se encontra foras para superar qualquer obstculo que venha a surgir no meio do

caminho. Agradeo pela obra to linda e maravilhosa que realizou em meu interior, me

moldando e sendo motivador e inspirador para meu viver.

A minha irm Andressa de Souza Orlandini, colega de turma e futura colega de

profisso, aquela ao qual dedico todo este trabalho, pois nos conhecemos o suficiente para saber

que queremos sempre estar juntas. Acredito verdadeiramente que coisas boas acontecero em

nossas vidas, e o meu desejo que tenhamos muita perseverana na nossa caminhada para todas

as etapas que iro chegar. E que estaremos uma do lado da outra, torcendo, incentivando, para

que assim partilharemos juntas o sabor de todas as vitrias, pois, no h dvidas do sentimento

que uma tem para com a outra, uma ligao muito forte, de cumplicidade, unio, amizade, e

principalmente de muito amor. Obrigada por tudo, por todos os momentos e por ter a certeza

que sempre estar por perto. Amo muito voc.

Aos meu pais, Aurea e Altair, que apesar da correria do dia-a-dia se fazem presentes,

instruindo para onde seguir, por todos os conselhos, por todo incentivo aos estudos, pela

pacincia, dedicao e amor. Famlia a base, um dos mais importantes tesouros, planos do

amor de Deus. Obrigada por tudo, eu amo muito vocs.

A minha av Amlia, por tudo que fez e faz por mim, pelo seu amor, suas palavras de

conforto ou pelo simples te cuida, obrigada por ser e estar presente em minha vida. Ao meu

av Ataides que sempre busca se fazer presente, seja por suas ligaes ou suas oraes. Aos

avs Izainda e Orlando, que apesar dos quilmetros de distncia, torcem por minha felicidade,

eu amo todos vocs. E tambm, aos demais familiares, tios, tias, primos e primas que torceram

e vivenciaram essa fase da minha vida.

A todos os amigos e suas famlias, os de graduao, em especial as amigas e

companheiras do dia a dia, Celsa Machado, Gisele Pereira, Luana Echhardt e Vanessa Sanches,

vocs fizeram a diferena nesta trajetria, pelos momentos de incentivo, risadas, alegrias,

aprendizado adquirido juntas, e as demais amizades que a vida acadmica proporcionou.

Tambm agradeo aos amigos que a vida me deu, que aqui no caberia citar nomes pois cada

um sabe da sua importncia em minha vida, por todos os momentos vividos, enfim, por estarem

comigo e acreditarem assim como eu acredito no valor que h nas verdadeiras amizades.

A minha Supervisora de Campo do Estgio Supervisionado I e II, Assistente Social do

CAPS I, Ana Rosa Salvalagio, obrigada por fazer parte do meu processo de formao, pela

amizade, ensinamentos, incentivo e sendo a primeira estagiria da instituio, ter a

oportunidade de acompanhar o processo tambm de concretizao deste servio, por

acompanhar as conquistas e desafios para a implantao e habilitao dessa modalidade de

tratamento em meu municpio. Agradeo tambm a Enfermeira Francielly Fernandes, pelos

momentos de aprendizado, e toda equipe do CAPS I de Assis Chateaubriand.

A todos os usurios da Poltica de Sade Mental do CAPS I, principalmente aqueles

que participaram do meu Projeto de Interveno do Estgio II e dos que aceitaram e fizeram

parte desta pesquisa. Agradeo a cada um pela troca de experincias, vocs foram os sujeitos

essenciais para que essa pesquisa se concretizasse.

A minha Supervisora Acadmica do Estgio Supervisionado I, Prof Ms. Sueza Oldoni

e do Estgio II, Prof Dra. Cristiane Sander, por todas as contribuies e acompanhamento. A

minha orientadora de TCC, Prof Ms. Ane Brbara Voidelo, por aceitar o desafio em apreender

junto comigo esta temtica, pela compreenso, pacincia e dedicao em compartilhar seus

conhecimentos para que eu pudesse avanar em meus estudos. Agradeo tambm, as docentes

que aceitaram meu convite em fazer parte da minha banca examinadora, Prof Dra. Luciana e

Prof Dra. Maria Isabel, ambas foram essenciais com suas contribuies para que conclusse

essa fase da minha vida.

Enfim, agradeo todos aqueles que participaram da minha formao como Assistente

Social, hoje mais uma etapa concretizada, para que novos caminhos sejam trilhados e

conquistados.

MUITO OBRIGADA!

No existem criaturas irrecuperveis.

Existem mtodos inadequados.

(Maria Ribeiro da Silva Tavares)

ORLANDINI, Alessandra de Souza. CENTRO DE ATENO PSICOSSOCIAL - CAPS I

DE ASSIS CHATEAUBRIAND: REABILITAO PSICOSSOCIAL NA

PERSPECTIVA DOS USURIOS. Trabalho de Concluso de Curso (Bacharelado em

Servio Social) Centro de Cincias Sociais Aplicadas, Universidade Estadual do Oeste do

Paran, Toledo. 2016. 73 p.

RESUMO

O presente Trabalho de Concluso de Curso (TCC) aborda a temtica Centro de Ateno

Psicossocial - CAPS I de Assis Chateaubriand: reabilitao psicossocial na perspectiva dos

usurios e se prope responder a seguinte problemtica: Qual a percepo dos usurios

sobre o processo de reabilitao psicossocial oferecido pelo CAPS I?. Para o campo da Sade

Mental os CAPS se apresentam na atualidade como uma nova modalidade para o processo de

tratamento, desta forma, esta pesquisa fruto de indagaes que surgiram de observaes no

campo de Estgio Supervisionado em Servio Social I, realizado no CAPS I de Assis

Chateaubriand, procurando compreender essa modalidade de tratamento na perspectiva dos

usurios. Quanto aos objetivos especficos, foram elencados os seguintes: Estudar sobre o

processo de implantao do CAPS I no municpio de Assis Chateaubriand; Apreender como

oferecido o servio de ateno psicossocial que responde a reabilitao dos usurios do CAPS

I e; Analisar a insero social dos usurios de transtorno mental estvel atravs do CAPS I. Ao

referir-se metodologia, os instrumentais escolhidos para a abordagem do objeto de estudo so:

pesquisa bibliogrfica para conceituar a temtica central, pesquisa de campo, usando da tcnica

da entrevista semiestruturada, usando da abordagem qualitativa para anlise dos dados e

pesquisa documental referente aos pronturios dos usurios entrevistados. O universo da

pesquisa composto por dez (10) usurios com transtorno mental estvel, do sexo feminino ou

masculino, maiores de dezoito (18) anos, escolhidos conforme pronturios de atendimentos da

instituio, pela lista de frequncia de oficinas teraputicas, mantendo sua identidade

preservada, em que o pesquisador far uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) para a realizao das entrevistas. Portanto, a pesquisa vem para contribuir para a

instituio no sentido de fornecer subsdios tericos para viabilizar novas propostas

institucionais, projetos e aes que possam atender toda a demanda do muncipio na ateno

psicossocial, possibilitando o aprimoramento do conhecimento sobre o CAPS I, mostrando

assim, para a referida instituio, para a comunidade acadmica e para os muncipes, como os

usurios percebem o processo de reabilitao psicossocial de um servio que recentemente foi

implantado, e como sua implantao, de acordo com a legislao, impactam no processo de

reabilitao psicossocial, incentivando futuras pesquisas na rea e consolidando a compreenso

desta nova modalidade de tratamento em sade mental e promoo da sade.

Palavras chave: Ateno Psicossocial, Insero Social e Reabilitao Psicossocial.

LISTA DE SIGLAS

ARA Associao de Recuperao de Alcolatras Annimos

CAPS Centro de Ateno Psicossocial

CAPS ad Centro de Ateno Psicossocial lcool e Drogas

CAPS I Centro de Ateno Psicossocial I

CAPS i Centro de Ateno Psicossocial Infanto-Juvenil

CAPS II Centro de Ateno Psicossocial II

CAPS III Centro de Ateno Psicossocial III

CF Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988

CIASP Centro de Integrao de Assistncia em Sade Pblica

CIB Comisso Intergestores Bipartite

CID Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas

Relacionados Sade

EACS Estratgia de Agentes Comunitrios de Sade

ESF Estratgia Sade da Famlia

GM Gabinete do Ministro

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

MS Ministrio da Sade

NA Narcticos Annimos

NOAS Norma Operacional de Assistncia Sade

PR Paran

SAS Secretaria de Ateno Sade

SUS Sistema nico de Sade

TCC Trabalho de Concluso de Curso

UBS Unidades Bsicas de Sade

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran

https://pt.wikipedia.org/wiki/CIDhttps://pt.wikipedia.org/wiki/CID

SUMRIO

INTRODUO...................................................................................................................... 10

1 SADE MENTAL: CONTEXTO HISTRICO E LEGISLATIVO NO BRASIL....... 13

1.1 REFORMA PSIQUITRICA NO BRASIL....................................................................... 13

1.2 POLTICA NACIONAL DE SADE MENTAL............................................................... 16

1.3 IMPLANTAO DO CAPS NO BRASIL: PORTARIAS E RESOLUES.................. 19

2 CENTRO DE ATENO PSICOSSOCIAL CAPS I DO MUNICPIO DE ASSIS

CHATEAUBRIAND PR..................................................................................................... 24

2.1 CARACTERIZAO DO MUNICPIO E CONTEXTO PARA IMPLANTAO........ 24

2.2 O SERVIO DE ATENO PSICOSSOCIAL OFERTADO NO CAPS I..................... 29

2.2.1 Operacionalizao dos servios no CAPS I de Assis

Chateaubriand........................................................................................................................ 31

2.3 CONTEXTO DE INSERO SOCIAL E REABILITAO PSICOSSOCIAL............. 35

3 PERSPECTIVA DOS USURIOS DE SADE MENTAL DO CAPS I DE ASSIS

CHATEAUBRIAND.............................................................................................................. 39

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ADOTADOS NA PESQUISA..................... 39

3.2 APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS QUALITATIVOS DA PESQUISA....... 42

CONSIDERAES FINAIS................................................................................................. 55

REFERNCIAS..................................................................................................................... 58

APNDICES........................................................................................................................... 63

APNDICE A Roteiro para Entrevista com os Usurios do CAPS I..................................... 64

APNDICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).................................. 65

APNDICE C Foto CAPS I de Assis Chateaubriand........................................................... 67

ANEXOS................................................................................................................................. 68

ANEXO A Parecer Consubstanciado do CEP....................................................................... 69

ANEXO B Deliberao para Implantao do CAPS I em Assis Chateaubriand................... 71

ANEXO C Termo de Cincia do Responsvel pelo Campo de Estudo.................................. 72

10

INTRODUO

A presente pesquisa tem como tema central a reabilitao psicossocial na perspectiva

dos usurios que fazem uso da rede de ateno psicossocial do municpio de Assis

Chateaubriand, no mbito dos servios substitutivos de ateno sade mental no Brasil,

denominados Centro de Ateno Psicossocial (CAPS).

Subsidiada pela Portaria n 336 de 19 de fevereiro de 2002, que estabelece os Centros

de Ateno Psicossocial como servios que podero constituir-se em modalidades e definidos

por ordem crescente de complexidade e populao, esse estudo busca conhecer a qualidade dos

servios e do tratamento dos seus usurios, como forma de recuperao da sade, insero

social e o atendimento prestado na questo da intersetorialidade, entre os servios e demais

polticas que envolvem este trabalho.

De acordo com Kinoshita (1996) apud Bisneto (2013) pensar reabilitao psicossocial

consiste em restabelecer o poder contratual dos indivduos para que busquem o

desenvolvimento de sua autonomia, isto , com o processo de desinstitucionalizao dos

hospitais psiquitricos, os usurios de sade mental passaram a ter a oportunidade de reconstruir

suas vidas em comunidade, recuperando hbitos perdidos em consequncia do isolamento

social (BISNETO, p. 45, 2013).

O interesse pela temtica ocorreu atravs do Estgio Supervisionado em Servio Social

I, fruto de observaes que ocorreram no campo de estgio realizado a partir de Abril de 2014,

e que proporcionou a oportunidade de acompanhar o processo de implantao e fases de

estruturao do CAPS I no municpio de Assis Chateaubriand, recursos que envolvem o

processo de infraestrutura: fsicos, oramentrios e humanos, desta forma, o interesse buscar

obter a compreenso dos usurios sobre a forma de reabilitao psicossocial, levando-se em

conta um servio que segue as normas de implantao dos CAPS em territrio brasileiro, e que

no ano de 2015 encontra-se em processo de habilitao, j que so eles que fazem uso dos

servios que a instituio oferece e tambm puderam acompanhar o processo de estruturao,

observando como se sentem com o tratamento de reabilitao que oferecido, e ainda, como

vem ocorrendo a reabilitao psicossocial e insero social dos usurios da Poltica de Sade

Mental pelo trabalho que ali realizado.

Neste entendimento, analisar como a ateno psicossocial mantida atravs de uma

equipe multiprofissional promove a reabilitao psicossocial, seja no acompanhamento

individual ou coletivo. Compreendendo que a sade um direito de todos, e os Centros de

Ateno Psicossocial segundo Pitta (1994), possui um significado no Brasil aps 1986, com

11

intermedirias estruturas teraputicas entre a vida comunitria e a hospitalizao integral, que

so responsveis por zelar de indivduos com problemas psiquitricos graves, aqueles que

saram de internaes, sendo acompanhados em suas dificuldades, ligados ao sistema pblico

de cuidados.

importante levantar que a Constituio Federal de 1988 no Art. 196, enfatiza-se a

sade como um direito que de todos os cidados e possui o Estado o dever de garantir

mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros

agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e

recuperao. (BRASIL, Constituio da Repblica Federativa, 1988).

A problemtica proposta a ser analisada neste trabalho Qual a percepo dos

usurios sobre o processo de reabilitao psicossocial oferecido pelo CAPS I?, referindo-se

como citado anteriormente, aos usurios do CAPS I do municpio de Assis Chateaubriand. No

intuito de dar conta do objeto, foram elencados ainda, como objetivos especficos, estudar sobre

o processo de implantao do CAPS I no municpio de Assis Chateaubriand, apreender como

oferecido o servio de ateno psicossocial que responde a reabilitao dos usurios do CAPS

I e analisar a insero social dos usurios de transtorno mental estvel atravs do CAPS I.

Referindo-se metodologia, os instrumentais escolhidos para a abordagem do objeto

de estudo so: pesquisa bibliogrfica para conceituar a temtica central, para isto, foi utilizado

os seguintes autores, Amarante (2007), Anjos (2013), Bisneto (2013), Bisneto (2007), Bisneto

(2009), Bas e Sousa (2011), Duarte (2010), Foucault (1999), Garcia (2014), Leme (2013),

Lussi; Pereira; Junior (2006), Machado (2013), Minayo (2010), Moutinho (2013), Neves; et al.

(2012), Nicacio (2013), Pitta (1996), Pitta (1994), Rosa (2003), Rosa (2008), Salvalagio (2014),

Salvalagio e Fernandes (2014), Salvalagio e Fernandes (2013), Scarcelli (2011), Tundis e Costa

(1987), Vasconcelos (2009), Yasui (2010), alm de contedos do Ministrio da Sade, IBGE,

CFESS, Constituio Federal de 1988 e algumas legislaes. Quanto a monografias disponveis

na biblioteca da Universidade que abordassem o objetivo desta pesquisa no foi encontrada,

havendo escassez na produo em sade mental.

Em seguida, realizou-se a pesquisa de campo, usando da tcnica da entrevista

semiestruturada, realizada com 10 usurios da instituio que se encontram com quadro estvel

de tratamento, usando da abordagem qualitativa para anlise dos dados e pesquisa documental

por base dos pronturios dos envolvidos na pesquisa, deliberao e portarias para implantao

do CAPS I no municpio, bem como, as polticas referentes a sade mental.

Com a pretenso de atingir os objetivos propostos na pesquisa, o presente trabalho est

estruturado em trs captulos, o primeiro captulo comtemplar a Reforma Psiquitrica no

12

Brasil, analisando est trajetria de maneira breve quanto ao processo de desinstitucionalizao

dos hospitais psiquitricos, para que se busque compreender a Poltica Nacional de Sade

Mental que visa garantir aos usurios desta poltica a proteo e seus direitos para os que

possuem os transtornos mentais e tambm, como ocorreu a implantao dos CAPS no Brasil e

a legislao que ampara este servio.

O segundo captulo apresentar a caracterizao do municpio de Assis Chateaubriand,

Paran, e qual foi o contexto para consolidar a implantao do Centro de Ateno Psicossocial

I (CAPS I). Em seguida a anlise do servio de ateno psicossocial ofertado nesta instituio

de Sade Mental para que assim, o mbito da insero social e da reabilitao psicossocial que

faz parte de um conjunto de aes envolvendo usurios, profissionais e sociedade em geral, seja

concretizado ao tratar dos objetivos propostos nesta pesquisa.

Neste entendimento, o terceiro e ltimo captulo vem com o propsito de apresentar

os dados coletados nas entrevistas realizadas com usurios do CAPS I, usando da abordagem

qualitativa para anlise dos mesmos. Para que, com isso pudessem responder nas perspectivas

deles se possuam o conhecimento da implantao deste servio no municpio e o que os levou

a usar, como avaliam a ateno psicossocial oferecida. E, quando se fala de tratamento, se ao

procur-lo o CAPS I foi importante para este processo, se a reabilitao psicossocial foi

efetivada de acordo com os projetos e as aes que esto sendo desenvolvidas. Analisar ainda,

qual a importncia do apoio familiar para o processo do cuidado de usurios que sofrem com

algum tipo de transtorno mental grave e persistente, bem como, de transtornos que decorrem

do uso de lcool e outras drogas, e consequentemente, buscar a compreenso que estes sujeitos

da pesquisa possuem do CAPS I quanto promoo da insero social na comunidade em que

vivem, por meio do envolvimento com a equipe multiprofissional e com as demais atividades

desenvolvidas neste modelo substitutivo dos antigos hospitais psiquitricos.

Por fim, constam as consideraes finais, as referncias, os apndices e anexos deste

TCC, que uma exigncia parcial para a obteno do grau de Bacharelado em Servio Social

da Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE). A pesquisa, por si, alm de ser

inovadora para o municpio, comunidade acadmica e usurios, em se tratando do CAPS I em

seu processo de habilitao no ano de 2015, ser de grande relevncia social, pois discutir essa

nova modalidade de tratamento em sade mental na perspectiva dos usurios buscando

subsidiar teoricamente a promoo da sade e da reabilitao psicossocial.

13

1 SADE MENTAL: CONTEXTO HISTRICO E LEGISLATIVO NO

BRASIL

Considerando o objetivo central de compreender a percepo dos usurios sobre o

processo de reabilitao psicossocial oferecido pelo Centro de Ateno Psicossocial (CAPS I)

de Assis Chateaubriand, com relao sade mental, busca-se assim os fundamentos tericos

que esto relacionados ao objeto de estudo.

Desta forma, este primeiro captulo contempla brevemente a trajetria da Reforma

Psiquitrica no Brasil, entendendo o processo de desinstitucionalizao dos hospitais

psiquitricos; a Poltica Nacional de Sade Mental que garante a proteo e os direitos das

pessoas com transtornos mentais; alm da histria de implantao dos CAPS no Brasil por meio

de suas Portarias e Resolues compreendendo quais as legislaes que amparam a efetivao

deste servio em prol dos usurios desta poltica.

1.1 REFORMA PSIQUITRICA NO BRASIL

A Reforma Psiquitrica no Brasil em seu processo pode ser considerada

contempornea no que diz respeito ao surgimento do movimento sanitrio, este que ocorreu nos

anos de 1970, em que favorecia a transformao dos modelos de ateno e gesto nas prticas

de sade, defesa da sade coletiva, equidade na oferta dos servios, e protagonismo dos

trabalhadores e usurios dos servios de sade nos processos de gesto e produo de

tecnologias de cuidado. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2005, p. 6).

Assim, mesmo sendo contemporneo este processo no contexto brasileiro se constitui

por uma histria prpria, inserida na esfera que se supere a violncia asilar. O movimento

sanitrio se fundou no fim dos anos de 1970, isto

Na crise do modelo de assistncia centrado no hospital psiquitrico, por um

lado, e na ecloso, por outro, dos esforos dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquitricos, o processo da Reforma Psiquitrica

brasileira maior do que a sano de novas leis e normas e maior do que o

conjunto de mudanas nas polticas governamentais e nos servios de sade. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2005, p. 6).

Segundo Rosa (2003) os hospcios surgem, como resposta a ser dada para compreender

a loucura e os loucos, sendo estes locais para os quais os chamados loucos eram levados, pois

os mesmos eram ameaas para a ordem pblica e a paz social, desta forma precisavam ficar

distantes do convvio das pessoas nas cidades. Assim, os manicmios conforme Scarcelli

14

(2011) so compreendidos como uma marca das relaes de violncia, isolamento,

discriminao social, formas estas de diversos mecanismos de excluso e opresso dessa

estrutura social. As pessoas que possuam transtornos mentais eram privadas de seus convvios

familiares e da comunidade, sendo submetidos a terapias violentas, desumanas, com elevadas

dosagens de medicamentos, colocados em camisas-de-fora, eletrochoque, dentre outras. A

Reforma Psiquitrica no entanto considerada,

Processo poltico e social complexo, composto de atores, instituies e foras

de diferentes origens, e que incide em territrios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos servios de

sade, nos conselhos profissionais, nas associaes de pessoas com

transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos

territrios do imaginrio social e da opinio pblica. Compreendida como um conjunto de transformaes de prticas, saberes, valores culturais e sociais,

no cotidiano da vida das instituies, dos servios e das relaes interpessoais

que o processo da Reforma Psiquitrica avana, marcado por impasses, tenses, conflitos e desafios. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2005, p. 6).

Compreender a sade mental requer refletir suas necessidades de se fazer crescer e de

analisar suas complexidades, fazendo exigir uma constante atualizao e diversificao das

formas de mobilizao e articulao poltica, de gesto, e de construo de estratgias

inovadoras de cuidado. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2011, p. 9). Assim, para analisar a

sade mental no contexto brasileiro, no que se refere a Reforma Psiquitrica, norteada pela

desinstitucionalizao1 a mesma deve ser apreciada como uma maneira de se questionar de

forma permanente os saberes e prticas cristalizadas, histricas e institudas, por meio das

quais, no cotidiano do cuidado com esses usurios, abordamos a questo da loucura2, da

subjetividade e da cidadania (DUARTE, 2010, p. 187).

E na tentativa de colaborar a Reforma Psiquitrica brasileira indica a presena de um

novo olhar no campo da sade mental, buscando refletir conceitos que sejam novos e

1 Art. 11 1 O componente Estratgias de Desinstitucionalizao constitudo por iniciativas que visam a garantir

s pessoas com transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, lcool e outras drogas, em

situao de internao de longa permanncia, o cuidado integral por meio de estratgias substitutivas, na perspectiva da garantia de direitos com a promoo de autonomia e o exerccio de cidadania, buscando sua

progressiva incluso social. (BRASIL. Portaria n 3.088, de 23 de dezembro de 2011). 2 Ela considerada no ciclo indefinido que a liga razo; elas se afirmam e se negam uma outra. A loucura no

tem mais uma existncia absoluta na noite do mundo: existe apenas relativamente razo, que as perde uma pela

a outra enquanto as salva uma com a outra. A loucura torna-se uma das prprias formas da razo. Aquela integra-

se nesta, constituindo seja uma de suas foras secretas, seja um dos momentos de sua manifestao, seja uma forma

paradoxal na qual pode tomar conscincia de si mesma. De todos os modos, a loucura s tem sentido e valor no

prprio campo da razo. (FOUCAULT, 1999, p. 33).

15

orientadores aos dispositivos tcnico-assistenciais que so propostos no lugar da antiga ordem

manicomial,

Percebe a loucura como uma questo da existncia, o que passa a valorizar a

dimenso do sujeito enquanto cidado, sua subjetividade, e sua singularidade

de portador de sofrimento os usurios dos servios de sade mental. (DUARTE, 2010, p. 138).

Isto , de acordo com Rotelli et al (2001) apud Machado (2013), visar a

desinstitucionalizao da Reforma Psiquitrica consistir em um processo de transformao

social, no que diz respeito ao entendimento e prticas excludentes da loucura na sociedade. A

desinstitucionalizao em sua perspectiva envolve,

Lutar por mudana na correlao de poder nas relaes familiares, nos mbitos sociais, nos lugares de trabalho, nos servios sanitrios e nas instituies de

controle social. Nesse sentido, a reforma psiquitrica tem como eixo central

as relaes sociais voltadas para aes de ruptura do preconceito e dos mecanismos de excluso, tendo como horizonte a concretude da reproduo

social do usurio com liberdade e o reconhecimento dos seus direitos civis,

polticos e sociais. (ROTELLI et al., 2001 apud MACHADO, 2013, p. 141).

A loucura e o louco segundo Minayo (2000) apud Lobosque e Silva (2013), em sua

interpretao ao referir-se a suas culturas e definies de forma sociocomportamentais se

apresentam de forma intrnseca como elementos. Ou seja, fazem parte tambm da perplexidade

reflexiva da sociedade, para definir o que normal, o que anormal, mas, sobretudo das

dificuldades que encontra para lidar com o diferente e as diferenas. (MINAYO, 2000 apud

LOBOSQUE; SILVA, 2013, p. 144).

A Reforma Psiquitrica em sua trajetria com a Reforma Sanitria3 caminharam

juntas, pois de acordo com Lobosque e Silva (2013) compartilharam momentos de agitao

poltica e de produo terica, que fizeram dar origem ao modelo de assistncia pblica em

sade quanto ao se tratar de sade mental. Pensar a transformao desses dois movimentos, em

relao a trajetria prpria da Reforma Psiquitrica em que a mesma opta em uma sociedade

3 Esse movimento resultou no que chamamos de Reforma Sanitria Brasileira. Consta de avanos democrticos

na rea da Sade expressos na Constituio Brasileira de 1988 que postulou a criao do Sistema nico de Sade.

Este determina a universalidade da assistncia sade como direito do cidado e dever do Estado, alm da

descentralizao da organizao do sistema de sade, como repasse para os municpios das aes e servios

locais. (BISNETO, 2007, p. 38).

16

que no possua manicmios, a proposta era fazer com que os portadores de transtorno mental

pudessem ser tratados fora de manicmios, com o reconhecimento de cidado com liberdade,

respeitando seus direitos, tornando desse movimento um desafio posto pela Reforma

Psiquitrica Brasileira.

Desta forma faz-se necessrio analisar o contexto que engloba a Poltica Nacional de

Sade Mental, compreendendo que a sade um direito de todos e dever do Estado, ou seja,

uma poltica que visa garantir os direitos das pessoas portadoras de transtorno mental.

1.2 POLTICA NACIONAL DE SADE MENTAL

A relao atual em que se discute a questo da sade mental e as suas prticas

teraputicas que esto direcionadas para o campo da loucura leva reflexo que segundo Tundis

e Costa (1987, p. 12) ao abordar a atualidade brasileira, a mesma excludente, rgida e

hierrquica, os grupos sociais desprovidos de poder e significao, mas possuidores de

identidade, permanecem alvos preferenciais dos aparatos de controle, rotulao e recluso.

Assim, importante ressaltar que segundo a Constituio Federal de 1988 no Art. 196,

A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas

sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua

promoo, proteo e recuperao. (BRASIL, Constituio da Repblica

Federativa, 1988).

Uma das principais estratgias no Brasil para se implementar a poltica de sade

mental passa pela regulamentao do sistema, por meio do arcabouo normativo dentro do

Sistema nico de Sade (SUS)4. De acordo com a Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990 em

seu Art. 2 o ser humano possui como direito fundamental a sade, sendo de responsabilidade

do Estado suprir condies que sejam para o pleno exerccio consideradas indispensveis.

1 O dever do Estado de garantir a sade consiste na formulao e execuo

de polticas econmicas e sociais que visem reduo de riscos de doenas e de outros agravos e no estabelecimento de condies que assegurem acesso

universal e igualitrio s aes e aos servios para a sua promoo, proteo

e recuperao. 2 O dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das empresas e

da sociedade. (BRASIL, Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990).

4 Dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da sade, a organizao e o funcionamento

dos servios correspondentes e d outras providncias. (BRASIL, Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990).

http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.080-1990?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.080-1990?OpenDocument

17

No Brasil a Reforma Psiquitrica aconteceu atravs das lutas sociais, surgindo assim

o Movimento de Luta Antimanicomial5 que vem para implementar uma nova estratgia de

trabalho, na qual com o surgimento da Lei n 10.216 de 6 de abril de 2001, Lei Paulo

Delgado6 que dispe sobre a proteo e os direitos das pessoas com transtornos mentais e

redireciona a assistncia em servios de bases comunitrias. Nesse intuito, o Ministrio da

Sade busca organizar o cuidado em sade mental atravs dos Centros de Ateno Psicossocial

I (CAPS I), estes devem funcionar como servios ambulatoriais especializados, integrados aos

demais servios do sistema. (BRASIL, 2004).

Com a Reforma Psiquitrica, a mudana que trata do atendimento pblico em Sade

Mental ampla, pois garante com que a populao tenha acesso aos servios e possuam o

respeito a seus direitos e liberdade. Ou seja, amparada pela Lei n 10.216 de 6 de abril de 2001,

que dispe sobre a proteo e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e

redireciona o modelo assistencial em sade mental, como nos mostra o Art. 1,

Os direitos e a proteo das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, so assegurados sem qualquer forma de discriminao quanto

raa, cor, sexo, orientao sexual, religio, opo poltica, nacionalidade,

idade, famlia, recursos econmicos e ao grau de gravidade ou tempo de

evoluo de seu transtorno, ou qualquer outra. (BRASIL, Lei n 10.216 de 6 de abril de 2001).

A mesma Lei, ao tratar dos atendimentos em sade mental no seu Art. 2, garante s

pessoas e seus familiares ou respectivamente seus responsveis que estaro cientes quais so os

direitos nela previstos, ou seja,

Pargrafo nico. So direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de sade, consentneo s suas

necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua sade, visando alcanar sua recuperao pela insero na

famlia, no trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e explorao;

5 O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental.

Dentro desta luta est o combate ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de

pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doena mental. O Movimento da Luta

Antimanicomial faz lembrar que como todo cidado estas pessoas tm o direito fundamental liberdade, o direito

a viver em sociedade, alm do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mo de

seu lugar de cidados. 6 Projeto de Lei do Deputado Paulo Gabriel Godinho Delgado, poltico brasileiro. A Lei n 10.216 de 6 de abril de

2001, tambm conhecida como Lei Paulo Delgado e como Lei da Reforma Psiquitrica instituiu um novo modelo

de tratamento aos transtornos mentais no Brasil.

18

IV - ter garantia de sigilo nas informaes prestadas;

V - ter direito presena mdica, em qualquer tempo, para esclarecer a

necessidade ou no de sua hospitalizao involuntria; VI - ter livre acesso aos meios de comunicao disponveis;

VII - receber o maior nmero de informaes a respeito de sua doena e de

seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente teraputico pelos meios menos invasivos possveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em servios comunitrios de sade mental.

(BRASIL, Lei n 10.216 de 6 de abril de 2001).

A Reforma Psiquitrica com a promulgao da Lei n 10.216 de 6 de abril de 2001

estabelece como base, quais so os direitos das pessoas que esto em sofrimento psquico, de

acordo com Neves et al (2012, p. 256) passam a ser mais respeitados, agora protegidas por

Lei, e passaram a ter um tratamento mais humanizado, assegurado e protegido contra qualquer

forma de excluso e maus tratos, isto , a lgica manicomial passa de forma gradual a se

desconstruir. Assim, o servio que de base comunitria se prevalece tornando o modelo de

ateno em sade mental um dispositivo, no caso os Centro de Ateno Psicossocial (CAPS) o

mais novo, atuante e efetivo como forma de tratamento.

Ainda de acordo com Neves et al (2012) o tratamento nesses servios tiveram grandes

avanos aps a interveno nessas instituies, de forma substitutiva um servio que busca no

s promover a desinstitucionalizao da loucura mas, fazer do isolamento e da excluso algo a

ser combatido, frente aos usurios que vivem em sociedade.

No mbito Estadual a Lei n 11.189 de 9 de novembro de 1995, dispe sobre as

condies para internaes em hospitais psiquitricos e estabelecimentos similares de cuidados

com transtornos mentais, nos diz no Art. 2:

O novo modelo de ateno em sade mental consistir na gradativa

substituio do sistema hospitalocntrico de cuidados s pessoas que padecem de sofrimento psquico por uma rede integrada de variados servios

assistenciais de ateno sanitria e social, tais como ambulatrios,

emergncias psiquitricas em hospitais gerais, leitos ou unidades de internao psiquitrica em hospitais gerais, hospitais-dia, hospitais-noite,

centros de convivncia, centros comunitrios, centros de ateno psicossocial,

centros residenciais de cuidados intensivos, lares abrigados, penses pblicas

comunitrias, oficinas de atividades construtivas e similares. (PARAN, Lei Estadual n 11.189 de 9 de novembro de 1995).

Ainda de acordo com a legislao Estadual em seu Art. 7, a ateno sade mental

em seu novo modelo traz consigo em sua forma de operacionalizao tcnico-administrativa a

questo de abrangncia conforme a Lei Federal, sendo respeitadas todas as definies

19

constitucionais no que se refere as competncias, os nveis estadual e municipais, devendo

atender as peculiaridades regionais e locais, observando o carter do Sistema nico de Sade.

(PARAN, Lei Estadual n 11.189 de 9 de novembro de 1995).

Enfatiza-se que em seu Art. 9 que a implantao e manuteno de uma rede seja de

atendimento integral em sade mental se determinar de forma descentralizada7 e

municipalizada, observadas as particularidades socioculturais locais e regionais, garantida a

gesto social destes meios. (PARAN, Lei Estadual n 11.189 de 9 de novembro de 1995).

Ou seja, em seu Pargrafo nico, devero ser providenciadas pelas prefeituras municipais em

conjunto com representantes do Ministrio Pblico local, que haja formao dos conselhos

comunitrios de ateno para com aqueles que esto em sofrimento psquico se padecendo e

que, como funo de mbito principal o de assistir, o de prover auxiliar e dar as orientaes as

famlias, buscando permitir aos que sofrem internados a integrao social e familiar.

Contudo a partir da relevncia da legislao de sade mental, como parmetros

norteadores para a efetivao dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, a

implantao dos CAPS no Brasil no entanto, so apresentados como servios substitutivos dos

hospitais psiquitricos tornando a sua contextualizao de suma importncia para a

compreenso a partir de suas Portarias e Resolues.

1.3 IMPLANTAO DO CAPS NO BRASIL: PORTARIAS E RESOLUES

Os CAPS so os novos dispositivos de ateno em sade mental no pas, que se

apresentam como novas possiblidades de tratamento, isto , por meio de vrios servios que se

tornassem formas substitutivas dos atendimentos realizados nas grandes instituies asilares

que acabavam por excluir os portadores de transtornos mentais do seu convvio social.

Segundo Pitta (1994), Os Centros de Ateno Psicossocial buscam aproximar dos

espaos comuns que as pessoas costumam viver, como casa, escola, trabalho para que assim

no existam dificuldades quando ao retorno do convvio domstico e trabalhista. Deve-se com

isso preservar sempre a caracterstica do no permanente, sem deixar, contudo, de acolher de

forma intensa as pessoas que por ali necessitam passar.

As estruturas flexveis dos Centros de Ateno Psicossocial semelhana do

que acontece com as casas nas vilas, nas entidades, parecem mais adequadas

7 Art. 17. direo estadual do Sistema nico de Sade (SUS) compete: I - promover a descentralizao para os

Municpios dos servios e das aes de sade; II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do

Sistema nico de Sade (SUS); III - prestar apoio tcnico e financeiro aos Municpios e executar supletivamente

aes e servios de sade. (BRASIL, Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990).

http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.080-1990?OpenDocument

20

que os grandes espaos arquitetnicos dos hospitais psiquitricos para o

desenvolvimento de atividades reabilitadoras. Embora no se possa

generalizar que todo hospital psiquitrico seja ruim, no Brasil e em muitos pases, a maioria o , e a chances de estabelecer todos os jogos e negociaes

que faam os homens se tornarem homens nas suas singularidades e no nos

esteretipos facilmente agrupveis: doidos, enfermeiros, mdicos, terapeutas,

paranides, etc., se tornam mais possveis em estruturas menores, onde a tarefa indiciria e delicada de produzir no seu cotidiano mecanismos que

faam de um homem um homem, tem espao, tempo e condies materiais e

subjetivas de acontecer. (PITTA, 1994, p. 649).

Ainda de acordo com Pitta (1994), enfrentar de forma institucional este cenrio que

desenvolva estruturas que culturalmente sensveis so capazes de apoiar as pessoas de modo

subjetivo que se encontram esfaceladas, e que atravs dos programas de reabilitao

psicossocial possam se desenvolver e a buscar a reconstruo de si. No caso do Brasil so os

Espaos de Ateno Psicossocial (Centros, Ncleos) aqueles que desenvolvem programas que

so flexveis e assim, mais efetivos do que a reabilitao psicossocial poderia ser caracterizada.

Muitos Centros de Ateno Psicossocial foram criados atravs da Portaria de n

336/20028 sendo considerado um dispositivo estratgico para mudana no cuidado em sade

mental, tornando-se intermedirio entre o servio ambulatorial e o hospitalar, e nunca

substitutivo internao hospitalar. Sua funo tende a ser a de prestar atendimento clnico em

regime de ateno diria, promovendo a insero social das pessoas atravs de aes

intersetoriais, e dar suporte ateno na sade mental da rede bsica.

So por definio servios de sade municipais, abertos, comunitrios, que

oferecem atendimento dirio s pessoas com transtornos mentais severos e

persistentes, realizando o acompanhamento clnico e a reinsero social destas pessoas atravs do acesso ao trabalho, lazer, exerccios dos direitos civis e

fortalecimento dos laos familiares. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2005,

p.27).

A Portaria n 336/GM de 19 de fevereiro de 2002, estabelece em seu Art. 1 que os

Centros de Ateno Psicossocial so servios que podero se constituir em modalidades como:

CAPS I, CAPS II e CAPS III, que so definidos por ordem crescente de complexidade e

8 Portaria n 336 de 19 de fevereiro de 2002, que aps a criao da Lei n 10.216/2001, que dispe sobre a proteo

e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais redirecionando o modelo assistencial em sade mental.

Diminuindo o nmero e o tempo dos internamentos, garantindo qualidade no tratamento, e reinsero social do

paciente a seu meio. Sendo acompanhado em ambiente ambulatorial. Os CAPS foram classificados conforme o

nmero de habitantes e quais os usurios a serem atendidos: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS ad, CAPS i.

21

populao. No caso desta pesquisa tratar do CAPS I que conforme o Art. 4, 4.1 nos traz o

seguinte:

4.1 - CAPS I - Servio de ateno psicossocial com capacidade operacional

para atendimento em muncipios com populao entre 20.000 e 70.000 habitantes, com as seguintes caratersticas:

a responsabilizar-se, sob coordenao do gestor local, pela organizao da

demanda e da rede de cuidados em sade mental no mbito do seu territrio; b possuir capacidade tcnica para desempenhar o papel de regulador da porta

de entrada da rede assistencial no mbito do seu territrio e/ou do mdulo

assistencial, definido na Norma Operacional de Assistncia Sade (NOAS), de acordo com a determinao do gestor local;

c coordenar, por delegao do gestor local, as atividades de superviso de

unidades hospitalares psiquitricas no mbito do seu territrio;

d supervisionar e capacitar as equipes de ateno bsica, servios e programas de sade mental no mbito do seu territrio e/ou do mdulo

assistencial;

e realizar, e manter atualizado, o cadastramento dos pacientes que utilizam medicamentos essenciais para a rea de sade mental regulamentados pela

Portaria/GM/MS n 1077 de 24 de agosto de 1999 e medicamentos

excepcionais, regulamentados pela Portaria/SAS/MS n 341 de 22 de agosto

de 2001, dentro de sua rea assistencial; f funcionar no perodo de 08 s 18 horas, em 02 (dois) turnos, durantes os

cinco dias teis da semana. (BRASIL, Portaria n 336/GM de 19 de fevereiro

de 2002).

O primeiro Centro de Ateno Psicossocial (CAPS) do Brasil de acordo com o

Ministrio da Sade (2004, p. 12) foi inaugurado em maro de 1986, na cidade de So Paulo:

Centro de Ateno Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da

Rua Itapeva. Esse CAPS e tantos outros aps sua criao, possuem seus determinados nomes

e se encontram em diversos lugares, fazendo com que se tornassem parte de um intenso

movimento social, que deu origem de forma inicial com os trabalhadores de sade mental,

buscando melhorar a assistncia no Brasil, denunciando assim a situao precria existentes

nos hospitais psiquitricos, sendo o nico recurso ainda ao qual os usurios portadores de

transtornos mentais eram destinados.

Porm, cada CAPS deve ter um projeto teraputico do servio, levando em

considerao as diferentes contribuies tcnicas dos profissionais da instituio, as iniciativas

de familiares e usurios e o territrio onde se situa, com sua identidade, sua cultura local e

regional. E de acordo com a Portaria n 336/GM de 19 de fevereiro de 2002 em seu Art. 4.1.2

quanto aos Recursos Humanos a equipe tcnica mnima para atuao no CAPS I, para o

atendimento de 20 (vinte) pacientes por turno, tendo como limite mximo 30 (trinta)

pacientes/dia, em regime de atendimento intensivo, ser composta por:

22

a - 01 (um) mdico com formao em sade mental;

b - 01 (um) enfermeiro;

c - 03 (trs) profissionais de nvel superior entre as seguintes categorias profissionais: psiclogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou

outro profissional necessrio ao projeto teraputico.

d - 04 (quatro) profissionais de nvel mdio: tcnico e/ou auxiliar de

enfermagem, tcnico administrativo, tcnico educacional e arteso; (BRASIL, Portaria n 336/GM de 19 de fevereiro de 2002).

O CAPS se apresenta como o principal instrumento de implantao da Poltica

Nacional de Sade Mental ou seja, uma estratgia de transformao da assistncia que possui

na sua organizao uma ampla rede de cuidados em sade mental, no se limitando ou

esgotando na implantao de um servio, pois o CAPS tende a ser um meio, o caminho e no o

fim, isto , a possibilidade do cuidado que no se realiza em apenas um lugar, mas feito em

uma rede de aliana que integra diferentes segmentos sociais, vrios servios, distintos atores e

cuidadores. Sendo assim, compreende-se que o cotidiano de um CAPS de analisar que ao se

buscar o cuidado, seja efetuado o projeto teraputico que leva em considerao a sua

integralidade e sua complexidade, ou seja, projeto que procura contemplar uma diversidade de

estratgias no mbito do cuidado (YASUI, 2010). Assim, entre os dispositivos de ateno

sade mental, os CAPS,

Tm valor estratgico para a Reforma Psiquitrica Brasileira. o surgimento

destes servios que passa a demonstrar a possibilidade de organizao de uma

rede substitutiva ao Hospital Psiquitrico no pas. funo dos CAPS prestar atendimento clnico em regime de ateno diria, evitando assim as

internaes em hospitais psiquitricos; promover a insero social das pessoas

com transtornos mentais atravs de aes intersetoriais; regular a porta de

entrada da rede de assistncia em sade mental na sua rea de atuao e dar suporte ateno sade mental na rede bsica. funo, portanto, e por

excelncia, dos CAPS organizar a rede de ateno s pessoas com transtornos

mentais nos municpios. Os CAPS so os articuladores estratgicos desta rede e da poltica de sade mental num determinado territrio. (BRASIL,

Ministrio da Sade, 2005, p. 27).

Os CAPS so tidos pelo Ministrio da Sade (2004) como servio de sade de mbito

aberto e comunitrio do Sistema nico de Sade (SUS), tornando-se um ambiente de referncia

e de tratamento para aquelas pessoas que sofrem com transtornos mentais e transtornos que

decorrem do uso de lcool e outras drogas, justificando assim a permanncia nesse dispositivo

que de cuidado intensivo, comunitrio e promotor da vida. Os CAPS possuem como objetivos

oferecer atendimento populao de sua rea de abrangncia (BRASIL, Ministrio da Sade,

23

2004, p. 13) ou seja, considerado um servio que em seu atendimento em sade mental passa

a ser atravs de sua criao um servio substitutivo para as internaes nos hospitais

psiquitricos.

Os CAPS so instituies destinadas a acolher os pacientes com transtornos

mentais, estimular sua integrao social e familiar, apoi-los em suas

iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento mdico e psicolgico. Sua caracterstica principal buscar integr-los a um ambiente

social e cultural concreto, designado como seu territrio, o espao da cidade

onde se desenvolve a vida quotidiana de usurios e familiares. Os CAPS

constituem a principal estratgia do processo de reforma psiquitrica (BRASIL, Ministrio da Sade, 2004, p.09).

Compreende-se portanto, como servios que so ofertados no municpio no mbito da

sade, que para o Ministrio da Sade (2005, p. 27) realiza-se o acompanhamento clnico e a

reinsero social destas pessoas atravs do acesso ao trabalho, lazer, exerccio dos direitos civis

e fortalecimento dos laos familiares e comunitrios.

Neste sentido, no prximo captulo abordaremos como o Centro de Ateno

Psicossocial I (CAPS I) do municpio de Assis Chateaubriand est se organizando ao referir-se

sua caracterizao e contexto para a implantao desta instituio, analisando como se

desenvolve o servio de ateno psicossocial em seu contexto de insero social e reabilitao

psicossocial dos usurios do CAPS I, este que busca estabelecer cuidados em sade mental na

perspectiva de atendimento que preza pela permanncia das pessoas na comunidade

favorecendo assim, a formao de vnculos estveis e a garantia de direitos.

24

2 CENTRO DE ATENO PSICOSSOCIAL - CAPS I DO MUNICPIO DE ASSIS

CHATEAUBRIAND PR

Neste segundo captulo sero abordados elementos essenciais que perpassam a

caracterizao do municpio de Assis Chateaubriand Paran, e o contexto pelo qual o

municpio passou para consolidar a implantao do Centro de Ateno Psicossocial (CAPS I),

compreendendo que este um servio considerado substitutivo aos hospitais psiquitricos. A

partir desse estudo, ser analisado o servio de ateno psicossocial ofertado no CAPS I,

levando em considerao o ambiente que os usurios dos servios de Sade Mental esto

inseridos para que assim, alcance um contexto no mbito da insero social e da reabilitao

psicossocial que so partes de um conjunto de aes envolvendo usurios, profissionais e

sociedade em geral.

2.1 CARACTERIZAO DO MUNICPIO E CONTEXTO PARA IMPLANTAO

O municpio de Assis Chateaubriand localiza-se na regio Oeste do Paran. Segundo

dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2010), o municpio possui uma

rea territorial de 969,587 (km) e conta com 33.025 habitantes, com estimativa que em 2015

atinja 34.008 habitantes.

A colonizao do municpio marcada por mudanas de mbito populacional,

econmico, poltico e cultural, e de acordo com Salvalagio e Fernandes (2013), tornando a

regio Vale do Piquiri um marco considerado oficial ao referir-se ao desbravamento em 1958

pela Colonizadora Norte do Paran. A partir de ento no dia 15 de dezembro de 1960 o povoado

que era pequeno e que pertencia ao municpio de Guara comeou a pertencer a Toledo,

denominando-se Distrito de Tupssi9.

Como o distrito se desenvolvia rapidamente, ele teve logo que ser

desmembrado de Toledo. Ele crescia tanto na populao como na agricultura,

o que possibilitou a criao do Municpio de Assis Chateaubriand, elevando sua sede categoria de cidade, atravs da Lei n 5.389, que entrou em vigor

em 20 de agosto de 1966, na poca com cerca de 80 mil habitantes. O nome

da cidade foi escolhido a pedido do Jornalista David Nsser, na ocasio em que o embaixador Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, iria

se submeter difcil interveno cirrgica, mudou assim o nome do municipio

de Tupssi para Assis Chateaubriand, em homenagem ao representante dos

jornalistas brasileiros. (SALVALAGIO; FERNANDES, 2013, p. 5).

9 De acordo com Chat (2012) Tupssi em Tupi Guarani, significa Me de Deus.

25

Isto , no decorrer do contexto histrico com o progresso acelerado trouxe para a regio

grandes correntes migratrias que foram atradas pela fertilidade do solo. Assis Chateaubriand

passou a ser no s uma cidade mas, segundo Chat (2012, p. 20) algo diferente que acabava

de nascer, consubstanciando o ideal dos pioneiros, numa prova eloquente de desenvolvimento

em todos os setores, processo que se mantm at hoje, em maior ou menor escala. Foi a rapidez

com que as coisas foram acontecendo que se tornou um dos aspectos considerados curiosos que

caracterizou toda a histria do municpio, vale destacar que o mesmo foi um dos ltimos no

Paran, a ser colonizado.

No municpio de Assis Chateaubriand a implantao do CAPS I vem como proposta

de acordo com Salvalagio e Fernandes (2013) de,

Aprimorar a assistncia prestada as pessoas com transtornos mentais e

transtornos decorrentes do uso de lcool e outras drogas no sentido de organizar a rede de ateno psicossocial, tendo em vista relatos de

experincias de outros municpios que com a implantao deste servio,

baseado nos modelos adotados desde a fundao do primeiro CAPS, houve

uma melhora significativa na perspectiva de vida e incluso social dos pacientes que frequentam esses servios. (SALVALAGIO; FERNANDES,

2013, p.11).

Com a implantao dos CAPS, conforme Salvalagio e Fernandes (2013), torna-se cada

vez mais efetivo os servios de substituio ao modelo hospitalocntrico, como elemento

estratgico para uma poltica que visa diminuir a lacuna assistencial referente aos atendimentos

dos pacientes com transtornos mentais graves e persistentes, e tambm os transtornos

decorrentes do uso de lcool e outras drogas.

Diante do exposto a Secretaria Municipal de Sade de Assis Chateaubriand

vem atravs deste, propor a implantao do CAPS I, tendo em vista que a

populao de nossa cidade enquadra-se nesta modalidade de atendimento de acordo com a portaria 336/02 que regulamenta a populao adscrita sendo a

mesma de 20.000 70.000 habitantes. (SALVALAGIO; FERNANDES,

2013, p.12).

Sendo assim, tomando por base o diagnstico da situao da sade mental, ainda de

acordo com Salvalagio e Fernandes (2013), no municpio de Assis Chateaubriand a implantao

do CAPS I partiu da sugesto da prpria equipe tcnica e gestores da cidade, que perceberam a

necessidade de melhorar a assistncia que prestada para as pessoas que possuem transtornos

26

mentais e transtornos decorrentes do uso de lcool e outras drogas, com direo para a

organizao da rede de ateno psicossocial do municpio.

Segundo o Ministrio da Sade (2005), considera-se relevante uma vinculao com a

rede municipal, entre seus diversos servios ofertados populao a fim de se substituir os

encaminhamentos aos hospitais psiquitricos, pois determinante para se construir uma unio

viva e concreta de referncias que sejam capazes de acolhimento a todas as pessoas em

sofrimento mental.

Portanto, torna-se essencial pensar em uma,

Organizao em rede, e no apenas um servio ou equipamento, capaz de

fazer face complexidade das demandas de incluso de pessoas secularmente estigmatizadas, em um pas de acentuadas desigualdades sociais. a

articulao em rede de diversos equipamentos da cidade, e no apenas de

equipamentos de sade, que pode garantir resolutividade, promoo da autonomia e da cidadania das pessoas com transtornos mentais. Para a

organizao desta rede, a noo de territrio especialmente orientadora. O

territrio a designao no apenas de uma rea geogrfica, mas das pessoas, das instituies, das redes e dos cenrios nos quais se do a vida comunitria.

(BRASIL, Ministrio da Sade, 2005, p. 25 e 26).

Desta forma, quando se trabalha no territrio no quer dizer trabalhar na comunidade,

mas sim, com os componentes, saberes e foras concretas da comunidade que propem

solues, apresentam demandas e que podem construir objetivos comuns. (BRASIL,

Ministrio da Sade, 2005, p. 26). Significa que ao trabalhar num territrio assim se resgata

saberes e potencialidades dos recursos presentes na comunidade, para que de forma coletiva se

construa as solues, a variedade de trocas com as pessoas e os cuidados em sade mental, o

territrio se caracteriza como organizador de toda a rede de ateno sade mental, que acaba

por orientar as atividades de todos os seus equipamentos.

Os Centro de Ateno Psicossocial tem o intuito de serem algo a substituir e no

complementar os hospitais psiquitricos. O propsito dessas instituies acolher e promover

a ateno s pessoas que sofrem com transtornos mentais graves e persistentes e transtornos

decorrentes do uso de lcool e outras drogas, buscando preservar e assim fortalecer os vnculos

sociais existentes entre usurio e territrio, ou seja convida o usurio a ser protagonista de seu

tratamento, produzindo sua autonomia.

Segundo Salvalagio e Fernandes (2014) a ausncia da organizao de servios extra-

hospitalares acarreta s pessoas que possuem algum transtorno mental sua internao sejam por

vrias vezes em Hospitais Psiquitricos, isto , retirando qualquer direito do mesmo de sua

convivncia familiar e tambm comunitria. Assim, a famlia deste usurio fica sem apoio

27

quando o membro de sua famlia est no convvio familiar, e se desespera se o mesmo entrar

em crise e no venha a receber o devido tratamento. Para proporcionar a diminuio das

internaes, os servios substitutivos auxiliam em um tratamento por meios mais humanizados,

atravs de uma equipe multiprofissional e sem ser necessrio o isolamento. Servios estes que

se aliam s famlias afim de auxiliar o cuidado, fazendo com que se amenize a sobrecarga de

quem o cuidador. Portanto o fator preocupante que impulsionou a implantao do CAPS I

no municpio de Assis Chateaubriand, foi a ausncia de servios substitutivos e o grande

nmero de internamentos psiquitricos (SALVALAGIO; FERNANDES, 2014, p. 6).

A Poltica de Sade Mental ao ser referenciada ainda de acordo com Salvalagio e

Fernandes (2014) traz em questo quanto ao municpio a Ateno Primria, sendo porta de

entrada para o sistema de sade. Porm, antes de se implantar o CAPS I as pessoas com

transtorno mental e aqueles que so decorrentes do uso de substncias psicoativas quanto a sua

identificao e atendimentos eram realizados pelas equipes10 das 08 UBS (Unidades Bsicas

de Sade) e das 04 ESF (Estratgia Sade da Famlia) e de 01 EACS (Estratgia de Agentes

Comunitrios de Sade), com suporte de uma Assistente Social e uma Psicloga lotadas na

Secretria Municipal de Sade, que tambm realizavam outras atribuies. (SALVALAGIO;

FERNANDES, 2014, p. 7).

Salienta-se que as aes desenvolvidas referentes aos transtornos mentais graves, eram direcionadas primordialmente para socorrer a pessoa em crise e

principalmente em carter emergencial. A Sade Mental Municipal

encontrava-se sem uma estrutura definida, desencadeando uma

descontinuidade do trabalho, pois no tinha equipe especfica nem servio extra-hospitalar. (SALVALAGIO; FERNANDES, 2014, p. 7).

Desta forma a Secretaria Municipal de Sade do municpio de Assis Chateaubriand,

conforme relata Salvalagio e Fernandes (2014), desenvolvia algumas aes como

encaminhamentos para Comunidades Teraputicas, para os Hospitais Psiquitricos ou

Hospitais que possuem leitos de drogadio. E tambm aes para encaminhar grupos de

mtua-ajuda como Associao de Recuperao de Alcolatras Annimos (ARA), para os

10 Informao verbal: Dados atualizados segundo a Secretaria Municipal de Sade no ano de 2015, Assis

Chateaubriand possui 11 UBS (Centro de Sade Osvaldo Ishida; Centro de Integrao de Assistncia em Sade

Pblica - CIASP; Unidade de Sade da Famlia Maria Efignia Ferracini Campos; Jardim Ara; Jardim Jussara

e Panorama; Distritos: Bragantina, Engenheiro Azauri, Encantado do Oeste, Silveirpolis, Terra Nova, Nice); com

previso de mais 1 UBS no Conjunto Habitacional Cristo Rei. 4 ESF (2 no Centro de Integrao de Assistncia

em Sade Pblica - CIASP; 2 na Unidade de Sade da Famlia Maria Efignia Ferracini Campos); com previso

de mais 2 ESF, uma no Conjunto Habitacional Cristo Rei e uma no Distrito de Bragantina; 1 EACS. Com suporte

de 1 Assistente Social na Ateno Primria (Posto de Sade Central), 1 Assistente Social no CAPS I, 1 Psicloga

compartilhada e 1 Nutricionista.

28

Narcticos Annimos (NA) e Pastoral da Sobriedade. Para mais, continuavam com os devidos

atendimentos incluindo as consultas especializadas, as devidas orientaes, visitas domiciliares,

e por fim, alguns trabalhos educativos que eram desenvolvidos pela equipe da Estratgia Sade

da Famlia (ESF).

Vale ressaltar, que mesmo possuindo certas limitaes, de acordo com Salvalagio e

Fernandes (2014, p. 8) os tcnicos, dentro das possibilidades procuravam dar assistncia ao

paciente e a famlia, mas sem o atendimento necessrio, indicando com isso a suma

importncia de se implantar o CAPS I no municpio, seguindo as normas previstas pela Portaria

n 336/GM de 2002.

Sendo assim, o CAPS I para ocorrer sua implantao passou por algumas propostas

em Conferncias Municipais, buscando compreender juntamente com a rede de atendimento

por meio de uma mobilizao a necessidade da criao deste novo servio. No entanto

Salvalagio e Fernandes (2014) enfatizam que a luta por este equipamento no municpio atravs

da equipe de ateno primria aconteceu aps quase cinco anos de sua solicitao em conjunto

com a rede de atendimento, mas tambm, com alguns tcnicos envolvidos da 20 Regional de

Sade. Ou seja, a proposta foi aderida no ms de janeiro de 2013 pelo Gestor Municipal,

necessitando com isso, da elaborao de um projeto tcnico para o CAPS I de Assis

Chateaubriand, e que durou em torno de trs meses para execuo do processo de implantao

numa parceria com a responsvel pela Sade Mental da 20 Regional de Sade e a atualmente

Assistente Social e Enfermeira do CAPS I, sendo o projeto aprovado pelo Conselho Municipal

de Sade e Comisso Intergestores Bipartite (CIB)11, e de conformidade com a aprovao dos

documentos tcnicos, o Ministrio da Sade noventa dias aps liberou o recurso financeiro de

incentivo para implantar o servio12.

A partir da liberao dos recursos por parte do Governo Federal com o complemento

do Governo Municipal, no ms de Abril de 2014, o CAPS I de Assis Chateaubriand comeou

suas atividades. As aes vm sendo realizadas numa residncia alugada, contendo com

profissionais de nvel mdio (01 tcnico administrativo, 01 vigia, e 01 zeladora) e superior (01

Assistente Social, 01 Psicloga e 01 Enfermeira). (SALVALAGIO; FERNANDES, 2014, p.

9). A princpio, os profissionais foram transferidos da Secretaria Municipal de Sade para

11 De acordo com a Secretaria da Sade do Estado do Paran, a Comisso Intergestores Bipartite (CIB) caracteriza-

se como uma instncia de negociao e deliberao quanto aos aspectos operacionais do SUS no mbito do Estado,

sendo constituda paritariamente por representantes dos gestores municipais e do gestor Estadual. Possui como

compromisso de avanar numa poltica de sade voltada para a populao, buscando consolidar e fortalecer o

Sistema nico de Sade no Paran. 12 Conforme prev Portaria n 245 de 17/02/2005 que dispe sobre incentivo financeiro para implantao de

Centros de Ateno Psicossocial e d outras providncias.

29

exercer suas funes no CAPS I, complementando a equipe atravs de contratao de um

Mdico, este com especializao em Sade Mental, porm importante ressaltar que o servio

se encontra ainda em processo a devida Habilitao, para que desta forma, possa executar suas

atividades13.

2.2 O SERVIO DE ATENO PSICOSSOCIAL OFERTADO NO CAPS I

Para se compreender o servio de ateno psicossocial ofertado no Centro de Ateno

Psicossocial I, entendemos que segundo Duarte (2010), a ateno psicossocial engloba os

trabalhadores atravs de seus saberes e prticas sejam elas teraputicas, clnicas e sociais que

executam a rede de forma que os equipamentos diversos que se encontram presentes no

ambiente em que situam os usurios dos servios de sade mental, sejam de forma que se

busquem a integralidade do cuidado e das aes institucionais entre os setores, e a qualidade de

vida, durante os atendimentos dos usurios dessa demanda.

As diversas atividades realizadas por este servio como,

Atendimento individual (medicamentoso, psicoterpico, de orientao, entre outros); atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de

suporte social, entre outras); atendimento em oficinas teraputicas executadas

por profissional de nvel superior ou nvel mdio; visitas domiciliares; atendimento famlia; atividades comunitrias enfocando a integrao do

paciente na comunidade e sua insero familiar e social. (SALVALAGIO;

FERNANDES, 2014, p. 9).

Isto significa que cada usurio da instituio, conforme o projeto teraputico, tem a

possibilidade de frequentar o CAPS I o dia todo, apenas um perodo ou somente para buscar

determinado atendimento. Portanto, busca-se a compreenso que cada usurio tem sua

particularidade, analisando tambm os projetos teraputicos desenvolvidos, seu tempo de

durabilidade no servio, as modalidades de atendimento, ou seja, todos esses fatores a equipe

que estabelecer em conjunto atravs do contato com as famlias para que se analise cada

usurio de acordo com sua evoluo no decorrer do tratamento. (SALVALAGIO;

FERNANDES, 2014).

Neste sentido Duarte (2010) afirma que,

A temtica da cidadania, por sua vez, o carro-chefe da Reforma, em que se

evidencia sua dimenso poltica que no se restringe apenas proposta de uma

13 Previstas pela Portaria n 336 de 19/02/2002.

30

reviso das formas de tratamento da loucura, mas busca dar a ela uma outra

resposta social, que supere a tradicional excluso social do louco, traduzida

na aparente estigmatizao e no preconceito social do qual no estamos isentos enquanto sujeitos em relao. (DUARTE, 2010, p. 189).

Contudo, os servios de ateno psicossocial de acordo com o Ministrio da Sade

(2004) em seu processo de construo revela tambm outras realidades, pois os modelos de

pronto atendimento e as teorias tornam-se escassos ao se referir s demandas que diariamente

esto relacionadas com o sofrimento14 e com a singularidade dessa forma de ateno.

O CAPS I em seu projeto, de acordo Salvalagio e Fernandes (2014) estabelece como

estrutura da assistncia em sade mental uma proposta de ateno comprometida de fato com

o desenvolvimento de novas formas de cuidado, para as pessoas com transtorno mental e

transtornos decorrentes do uso de substancias psicoativas e seus familiares. (SALVALAGIO;

FERNANDES, 2014, p. 9 e 10).

preciso criar, observar, escutar, estar atento complexidade da vida das

pessoas, que maior que a doena ou o transtorno. Para tanto, necessrio

que, ao definir atividades, como estratgias teraputicas nos CAPS, se repensem os conceitos, as prticas e as relaes que podem promover sade

entre as pessoas: tcnicos, usurios, familiares e comunidade. (BRASIL,

Ministrio da Sade, 2004, p.17).

A anlise das intervenes, segundo Duarte (2010), referente a esses servios, vem

apresentar certas unidades assistenciais que se organizam conforme esse modelo de ateno

sade mental. Os CAPS fazem parte deste servio e apresentam uma equipe e todo um

funcionamento que se referem estruturao e organizao de seu prprio modelo assistencial,

para que assim, se oriente a gesto de cuidado e das prticas de sade. As temticas ainda so

problematizadas de formas esboadas, que despertam a ateno de uma necessidade cada vez

maior de se aprofundar nos CAPS, com a compreenso de uma ao que envolve a produo

do cuidado, assim chamado de oficinas teraputicas e nas que referem ao trabalho com gerao

de renda e ainda ao cotidiano de suas intervenes, saberes, prticas e polticas com os demais

profissionais, usurios e seus familiares. Portanto, as aes teraputicas acontecem em um

conjunto de atendimentos que se denomina no campo psicossocial.

14 De acordo com a Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados Sade (CID),

os usurios do CAPS I em mbito do sofrimento se enquadram no CID 10 entre a sigla F00-F99, ao qual condiz

com os: Transtornos mentais e comportamentais. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2008).

https://pt.wikipedia.org/wiki/CID

31

Nesse quadro, a temtica da equipe, em suas diversas modalidades, perspectivas e aes, torna-se referncia fundamental na elaborao dos

materiais analticos que vm sendo desdobrados na busca de novos e mltiplos

sentidos e contedos de interveno, presentes na objetivao do trabalho do cuidar em sade mental. O que se leva em conta nesse modelo o

compartilhamento de competncias, de responsabilidades e de atividades com

os demais profissionais, sem privilgios corporativos, mas considerando as

diversidades das formas de cuidar no campo psicossocial. (DUARTE, 2010, p. 190).

Portanto os Centros de Ateno Psicossocial, so tidos como espaos complexos, que

no s se restringem somente a ele a produo de cuidado, mas de forma coletiva, pois as outras

demandas perpassam e integram o campo psicossocial. O modelo psicossocial atual se executa

na elaborao de um novo modelo de referncia teraputica, descrito como usurio-centrado,

uma vez que proposto promover vez e voz ao sujeito em existncia-sofrimento ao se tratar de

suas singularidades, de suas subjetividades e da forma diferente de andar a vida como sendo

portador de direitos e escolhas.

2.2.1 Operacionalizao dos servios no CAPS I de Assis Chateaubriand

Os servios ofertados propostos pelo CAPS I conforme Salvalagio e Fernandes (2013)

so de realizar o atendimento em regime de ateno diria, referente a um trabalho de forma

que acontea em parceria com a ateno primria em sade e com os hospitais que so

credenciados pelo Sistema nico de Sade. Suas atividades so constitudas pela implantao

e consequentemente com o planejamento e execuo de oficinas teraputicas, buscando

promover o atendimento multiprofissional com qualidade seja ele realizado individual ou

coletivamente, desta forma, cita-se:

A proposta interdisciplinar, especialmente na sade mental, reconhece a

necessidade de vrios olhares sobre um mesmo objeto para a construo de

um saber mais completo. Essa interao no significa, contudo, abrir mo da especificidade profissional, mas sim garantir que cada profisso contribua

com o seu saber para a construo de um novo conhecimento a respeito de

determinada realidade. (MOUTINHO, 2013, p. 36).

Sendo assim, Salvalagio e Fernandes (2013) enfatizam que a operacionalizao

acontece por meio de incentivos para o desenvolvimento de capacidades motoras e funcionais,

32

para a execuo das atividades que so cotidianas, atravs por exemplo das oficinas

teraputicas. Com isso, busca-se tambm a reduo dos internamentos de psiquiatria e aqueles

decorrentes do uso de lcool e outras drogas. importante a promoo de aes intersetoriais

que visem estratgias para a melhoria do enfrentamento dos transtornos mentais, atividades

informativas e educativas relacionadas ao sofrimento mental, que v de encontro com a reduo

do preconceito e discriminao que muitas vezes perpassam na sociedade brasileira.

Neste sentido, necessrio acolher as pessoas com transtornos mentais graves e

persistentes bem como pessoas com transtornos decorrentes do uso de lcool e outras drogas

atravs de atendimentos individuais, coletivos e visitas domiciliares, procurando preservar e

fortalecer os laos familiares e sociais. (SALVALAGIO e FERNANDES, 2013, p. 14 e 15).

Oferecendo assim, sustentao para a ateno sade mental na rede bsica de sade, e

consequentemente, dar suporte aos familiares das pessoas que usufruem dos servios da

instituio por meio de reunies e atendimentos individuais que buscam oferecer subsdios s

dificuldades que so encontradas no decorrer do tratamento. Por fim, outro objetivo

fundamental para a efetivao do servio do CAPS I, analisar e avaliar semanalmente as

atividades que so desenvolvidas conforme reunies tcnicas.

O intuito do CAPS I proporcionar o atendimento, prestar orientao em uma equipe

de base tcnica. O acolhimento dos usurios da Poltica de Sade Mental realizado de acordo

a postura tica que demanda de escuta do usurio, com o comprometimento de um retorno que

atenda s necessidades que so apresentadas pelos cidados desta poltica de sade. Isto , os

profissionais que compe a equipe do CAPS I do municpio de Assis Chateaubriand no ano de

2015 so: um mdico especialista em Sade Mental, uma Assistente Social, uma Enfermeira,

uma Pedagoga, uma Tcnica de Enfermagem, uma Profissional de Servios Gerais, um Guarda,

quatro Oficineiros, uma Estagiria de Servio Social, uma Estagiria de Enfermagem.

Desta forma, ao propor uma reflexo sobre o campo da sade mental, Vasconcelos

(2009) apresenta princpios quando diz respeito s diretrizes gerais para a prtica do Servio

Social nesta rea de atuao, ao qual o exerccio da profisso se prope a assumir princpios

bsicos. Alguns desses princpios so:

Universalizao do direitos sociais; Respeito dignidade do cidado, sua

autonomia e ao seu direito a benefcios de qualidade, bem como convivncia

familiar e comunitria; Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminao de qualquer natureza; Universalidade de acesso nos servios de

sade em todos os nveis de assistncia; Preservao da autonomia das pessoas

na defesa de sua integridade fsica e moral; Igualdade da assistncia sade, sem preconceitos ou privilgios de nenhuma espcie; Direito informao s

33

pessoas assistidas sobre sua sade; Divulgao de informao quanto ao

potencial dos servios de sade e sua utilizao pelo usurio.

(VASCONCELOS, 2009, p. 27).

Porm, as diretrizes gerais para a prtica do Servio Social, em relao aos princpios

ticos Vasconcelos (2009) menciona que os profissionais necessitam reafirmar os respectivos

princpios que regulamentam a profisso, na Lei n 8.662 de 7 de junho de 199315 e tambm

com o Cdigo de tica Profissional de 199316, sejam eles:

A defesa intransigente dos direitos humanos, ampliao e consolidao da cidadania na garantia dos direitos civis, sociais e polticos; Opo para um

projeto profissional vinculado ao processo de construo de uma nova ordem

societria, sem dominao, explorao de classes, etnia e gnero; Garantia do

pluralismo e respeito s correntes profissionais democrticas existentes; Articulao com os movimentos de outras categorias profissionais que

partilhem dos princpios deste cdigo; Compromisso com a qualidade dos

servios prestados populao e com o aprimoramento intelectual.

(VASCONCELOS, 2009, p. 28).

Segundo CFESS (2009), deve-se conscientizar que a poltica de sade em sua

configurao possui um impacto quanto ao trabalho do Assistente Social em suas variadas

dimenses, ou seja, quando se trata das condies de trabalho, do processo de formao

profissional, nas influncias tericas, no aumento da demanda e no envolvimento com outros

profissionais e demais movimentos sociais.

Ao referir-se especificamente Poltica de Sade Mental, o Servio Social possui para

seu embasamento as diretrizes da Lei n 10.216/2001 referentes Reforma Psiquitrica e

tambm assumir as propostas de Conferncias Nacionais de Sade Mental17 que foram

aprovadas, sendo elas:

As polticas de sade mental devem ter como pressupostos bsicos a incluso social e a habilitao da sociedade para conviver com a diferena; Garantir a

integrao da poltica de sade mental com outras polticas sociais, como

educao, trabalho, lazer, cultura, esporte, habitao e habilitao

15 Dispe sobre a profisso de Assistente Social e d outras providncias. Art. 1 livre o exerccio da profisso

de Assistente Social em todo o territrio nacional, observadas as condies estabelecidas nesta lei. (BRASIL, Lei n 8.662 de 7 de junho de 1993). 16 Institui o Cdigo de tica Profissional dos Assistentes Sociais e d outras providncias. Aprovado em 15 de

maro de 1993. 17 De forma particular os princpios que foram afirmados pela III Conferncia Nacional de Sade Mental realizada

do dia 11 a 15 de dezembro de 2001 em Braslia. A III Conferncia Nacional de Sade Mental reafirma a sade

como direito do cidado e dever do Estado e a necessidade de garantir, nas trs esferas de governo, que as polticas

de sade mental sigam os princpios do SUS de ateno integral, acesso universal e gratuito, equidade, participao

e controle social; respeitem as diretrizes da Reforma Psiquitrica e das Leis Federal e Estaduais; e priorizem a

construo da rede de ateno integral em sade mental. (BRASIL, Ministrio da Sade, 2002).

34

profissional, visando garantir o exerccio pleno da cidadania; A efetivao da

reforma psiquitrica requer agilidade no processo de superao dos hospitais

psiquitricos e a concomitante criao da rede substitutiva que garanta o cuidado, a incluso social e a emancipao das pessoas portadoras de

sofrimento psquico, atravs de uma rede de servios territorializados e

integrados rede de sade que realiza aes de proteo, promoo,

preveno, assistncia e recuperao em sade mental. (VASCONCELOS, 2009, p. 28).

Neste entendimento Vasconcelos (2009) ressalta ainda caractersticas e objetivos da

prtica do Servio Social no campo da sade mental, no qual os profissionais da categoria

incorporam-se com equipes multiprofissionais da rea da sade mental, que envolvam a rede

de servios, sendo de uma prtica que assuma a defesa de forma fundamental interdisciplinar

ou seja, a co-aprendizagem e compartilhamento de competncias, responsabilidades e

atividades com os demais profissionais, sem privilgios corporativos (VASCONCELOS,

2009, p. 29), no significando no entanto, o desconhecer de suas aptides que so prprios do

Servio Social, e das caractersticas da profisso no mbito de formao e da diviso que

sociotcnica que envolve o trabalho na sociedade contempornea.

No contexto contemporneo de acordo com o CFESS (2011), pode-se averiguar o

crescimento da demanda por atendimentos em mbito da sade mental no mundo por um todo,

pois so diversos os fatores que contribuem para realar as fraturas individuais e psquicas,

como as neuroses, as depresses, as novas formas de ansiedade, as perturbaes do

comportamento ou da alimentao, o alcoolismo, o uso de drogas ilcitas etc. (CFESS, 2011,

p. 1).

Isto , enfatizar os princpios que foram defendidos pela Reforma Psiquitrica condiz

em no s analisar uma nova forma de atendimento para com aquelas pessoas que vivem em

sofrimento mental, mas tambm, em observar o seu reconhecimento como sujeitos de direitos

capazes de serem protagonistas da vida social, tornando-se interligados aos princpios tico-

polticos que encontram-se presentes no Cdigo de tica Profissional do/a Assistente Social

nos dias atuais.

Neste sentido, segundo Salvalagio (2014), o Servio Social ao atender a populao que

possui algum tipo de transtorno mental grave e persistente e transtorno que do uso de lcool e

outras drogas que so decorrentes, e atendidos no CAPS I, realizam um trabalho que

embasado por metodologias e formas diversas que vo sendo apresentadas no processo de atuar

na rea de sade mental, sejam elas:

35

Realizar atendimento psicossocial ao usurio e sua famlia, individualmente e

em grupo, dando principal relevo aos aspectos sociais e culturais; Promover a

reinsero na comunidade, em atividades de lazer e produtivas, bem como o acesso rede de servios; Realizar encaminhamento responsvel para outros

servios de referncia, e trabalhar em conjunto com a rede municipal de

atendimento; Avaliar a insero do usurio no sistema de direitos e seguridade

social; Atuar, como os demais profissionais da equipe de sade mental, como tcnico de referncia de usurios; Realizar como os demais profissionais, o

registro de dados, avaliaes e aes no sistema de informao do servio e

nos pronturios, bem como participar na elaborao de planejamento anual e relatrio anual de gesto de sade mental nvel municipal; Dar suporte ou

acompanhar usurios na utilizao de outros servios de sade e sade mental,

com foco na garantia de direitos; Dar suporte e orientar aos familiares ou

responsvel pelo usurio, no sentido da co-responsabilidade pelo cuidado direto e sociabilidade do usurio, da continuidade do tratamento e da proviso

de medicao; Participar das diversas instncias de controle social no SUS,

como conselhos municipais e espaos coletivos de luta de direitos. (SALVALAGIO, 2014, p. 2).

Portanto, intervir no campo da sade mental um desafio dirio para os profissionais

Assistentes Sociais que atuam nessa profisso, trata-se neste sentido de poder visualizar a

perspectiva da realidade social, tendo embasamento terico de toda legislao social que lhe d

suporte, agindo com intuito de que os sujeitos de direitos e deveres possam desenvolver suas

potencialidades, com o exerccio da cidadania.

2.3 CONTEXTO DE INSERO SOCIAL E REABILITAO PSICOSSOCIAL

Os Centros de Ateno Psicossocial segundo Pitta (1994) buscam aproximar-se dos

espaos comuns que as pessoas costumam viver, como casa, escola, trabalho para que assim

no haja dificuldades referentes ao retorno do convvio domstico e trabalhista. Deve-se com

isso preservar sempre a caracterstica do no permanente, sem deixar, contudo, de acolher de

forma intensa as pessoas que por ali necessitam passar.

As estruturas flexveis dos Centros de Ateno Psicossocial semelhana do

que acontece com as casas nas vilas, nas entidades, parecem mais adequadas

que os grandes espaos arquitetnicos dos hospitais psiquitricos para o

desenvolvimento de atividades reabilitadoras. Embora no se possa generalizar que todo hospital psiquitrico seja ruim, no Brasil e em muitos

pases, a maioria o , e a chances de estabelecer todos os jogos e negociaes

que faam os homens se tornarem homens nas suas singularidades e no nos esteretipos facilmente agrupveis: doidos, enfermeiros, mdicos, terapeutas,

paranides, etc., se tornam mais possveis em estruturas menores, onde a

tarefa indiciria e delicada de produzir no seu cotidiano mecanismos que faam de um homem um homem, tem espao, tempo e condies materiais e

subjetivas de acontecer. (PITTA, 1994, p. 649).

36

A denominao dada aos Centros de Ateno Psicossocial acontece quando o mesmo

destina-se a acolher e tratar pessoas que possuem transtornos mentais graves, que no possuem

possibilidade de executar seus direitos, sejam eles civis, sociais ou polticos, ainda mais no que

diz respeito a uma vida afetiva e de relao que se volta ao desenvolvimento de programas

voltados reabilitao psicossocial, ou seja,

[...] como sendo um processo que determina o aumento da capacidade do

usurio de utilizar oportunidades e recurso, n