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KARINA APARECIDA FELICIANO DA SILVA A PRÁTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ E OS PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE DO CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL-CFESS” Toledo 2012

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KARINA APARECIDA FELICIANO DA SILVA

A PRÁTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA ATENÇÃO

PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ E OS

“PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA

DE SAÚDE DO CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL-CFESS”

Toledo

2012

KARINA APARECIDA FELICIANO DA SILVA

A PRÁTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA ATENÇÃO

PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ E OS

“PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA

DE SAÚDE DO CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL-CFESS”

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Serviço Social, Centro de ciências Sociais Aplicada da Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, com requisito parcial à obtenção do grau

do bacharel em serviço Social.

Orientadora: Profa. Ms. Diuslene Rodrigues Fabris

Toledo

2012

2

KARINA APARECIDA FELICIANO DA SILVA

A PRÁTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA ATENÇÃO

PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ E OS

“PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA

DE SAÚDE DO CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL-CFESS”.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Serviço Social, Centro de ciências Sociais Aplicada da Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, com requisito parcial à obtenção do grau

do bacharel em serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Profa. Ms. Diuslene Rodrigues Fabris

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

___________________________________

Profa. Dra. Marli Renate von Borstel Roesler

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

___________________________________

Profa. Dra. Rosana Mirales

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 27, de Novembro de 2012

3

Dedico este trabalho aos meus pais, pois cada

um contribuiu de certa forma, para que eu

pudesse vencer todas as batalhas e acreditar

que poderia ir mais além.

4

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos primeiramente vão ao meu Deus, que me sustentou em todas as

etapas da minha vida e me deu força para continuar.

A minha família, em especial meu pai Sr. José, pessoa a qual amo muito, que

acreditou no meu potencial e fez o possível e impossível para me dar estudo. Obrigado pai,

por investir no meu futuro, com palavras não posso descrever minha eterna gratidão a ti.

Agradeço também a minha madrasta Lurdes, pela sua compreensão e paciência ao

longo dos anos.

A minha mãe dona Matilde (in memorian), por ter me dado à vida e por me ensinar a

valorizá-la, por se orgulhar da sua negona. Mãe eu daria tudo para você estar ao meu lado e

compartilhar comigo esta nova conquista.

As minhas queridas e amadas amigas que conheci ao longo desta trajetória, Marguita,

Veronica (uma grande mãe), Elisangela, Larissa, Camila, Emílio, Sonia, Paty, Adriana.

A toda galera do PETss, aquelas histórias e muitas gargalhadas das nossas longas e

atarefadas tardes, vão ficar para sempre guardas na memória, amo cada um de vocês, e já

sinto saudade disso. E a nossa querida tutora, obrigada profa Marli por dividir sua sabedoria e

dedicação em nos ajudar naquilo que era possível.

Agradeço a minha supervisora, Mary Colpo, que mesmo dentro de suas limitações,

me ensinou como posso ser uma profissional responsável e dedicada. Mary, muito obrigada

pela paciência e compreensão.

Agradeço a todos os professores da UNIOESTE que contribuíram com a minha

formação profissional, em especial a minha supervisora acadêmica pelos dois anos de

trabalho, Rosana Mirales, muito obrigada pela paciência, compreensão e dedicação.

A UNIOESTE e seus funcionários, pela oportunidade de estarmos unidos nesta

trajetória.

Aos meus queridos irmãos da igreja, meu pastor por entender meus afastamentos e

pelas suas orações, a Yara pelo companheirismo e orações, e também ao Ministério de Louvor

Unção e Adoração por compreender meus afastamentos.

A minha querida e amada amiga Luciane Menegon, eu nunca poderei lhe

recompensar por tudo que você fez por mim desde quando nos conhecemos, você sabe que

brigo com você, mas, tu és o meu benhê.. rsrsr, te amo amiga, você é mais que uma irmã, e,

diga-se de passagem, se não fosse à cor eu iria dizer a todos que você era minha irmã sim!!!

5

Ao Everton Fernandes da Silva, meu querido namorado, creio eu, que futuro

esposo... rsrs, pelas suas orações em meu favor, e por estar ao meu lado nas grandes

dificuldades deste ano, pelos conselhos, por me impulsionar a continuar e não desistir dos

meus sonhos e objetivos e pela grande paciência, te Amo muitooo.

Agradeço também a minha querida amiga desde o ensino médio, Mayra Bonetti, que

contribuiu e muito com as digníssimas correções deste trabalho.

E por fim, não poderia de deixar de agradecer a minha querida, admirável e amável,

orientadora, professora Ms. Diuslene Rodrigues Fabris, pela sua compreensão, paciência,

dedicação e sabedoria. Que fique bem claro neste momento que, de tanto eu insistir ela

aceitou me orientar, mas nem esperava ela que eu não tinha nem projeto de pesquisa... rsrsrs,

mas, me incentivou a realizar este estudo, que de cara eu amei e abracei a causa. Obrigada

profa por compreender que em pleno TCC eu precisava ir à Manaus... rsrsrs, realmente vou

ficar te devendo as tintas para seu cabelo.... kkk. Obrigada por ouvir meus desabafos nas

orientações e entender minhas ansiedades.

6

Creia

Na eterna promessa

Deus ainda é o mesmo

O mesmo ainda Ele é

Creia

Suas promessas não falham

Passa tudo na vida,

Mas suas promessas não hão de falhar.

Creia

Deus conhece tua vida

Por que está abatida tua vida?

Se Deus é fiel.

Creia, nem tudo esta perdido

Pra vencer desafios tu não estas só

Tens um Deus

Creia que todo problema

Há um Deus que resolve

Não há barreiras capaz

De tua fé suplantar

Creia e receba a vitória ainda há esperança

Creia nas suas promessas

Deus não falhará.

Creia

Tudo aqui é falível

Mas até o impossível,

Nosso Deus resolve, Ele quer.

Creia

Se tu estas vacilante

Deus esta te olhando e te amando

E fazendo aumentar tua fé

Creia

Deus é mais que este mundo

Tem a chave que abre

O caminho que leva ao céu

(Oséias de Paula)

7

SILVA, Karina Aparecida Feliciano da. A Prática Profissional dos Assistentes Sociais da

Atenção Primária à Saúde do Município de Toledo-Paraná e os “Parâmetros para

Atuação dos Assistentes Sociais na Política de Saúde do Conselho Federal de Serviço

Social - CFESS”. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro

de Ciências Sociais Aplicada. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo-

PR, 2012.

RESUMO

O documento “Parâmetros para Atuação dos Assistentes Sociais na Política de Saúde do

Conselho Federal de Serviço Social – CFESS” tem o objetivo de instrumentalizar a prática

profissional na saúde, para fortalecer o trabalho dos assistentes sociais, na direção dos

Projetos de Reforma Sanitária e Ético-Político Profissional, imprimindo maior qualidade ao

atendimento prestado à população usuária dos serviços em todo o Brasil. A Constituição

Federal de 1988, em seu artigo 196, define a saúde como um direito de todos e dever do

Estado, garantindo o acesso igualitário às ações de promoção, proteção e recuperação. A Lei

Orgânica da Saúde LOS, aprovada em 1990 regulamenta e define o que dispõe a Constituição

no que se refere à saúde como direito fundamental do ser humano, devendo o Estado

promover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. Sendo assim, o presente

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) abordará o tema “O Serviço Social na Política de

Saúde” e tem como objeto de pesquisa discutir a atuação profissional dos assistentes sociais

na atenção primária à saúde do município de Toledo-Paraná, a partir dos “Parâmetros para

Atuação dos Assistentes Sociais na Política de Saúde do Conselho Federal de Serviço Social

(CFESS)”. Como objetivos específicos procura-se fazer um resgate histórico da política de

saúde no Brasil; analisar os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de

Saúde do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS); e fazer a análise dos dados da

pesquisa realizada com os assistentes sociais da atenção primária à saúde do município de

Toledo relacionando com os parâmetros do CFESS. Para uma melhor compreensão do tema

proposto, a pesquisa buscou fundamentar-se nos referenciais teóricos, utilizando-se da

pesquisa bibliográfica, quanto à pesquisa de campo, esta foi realizada com os assistentes

sociais que atuam no município de Toledo na área da saúde em atenção primária e no que

concerne à abordagem da pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitativa. Quanto às

técnicas e coletas de dados para a pesquisa, foi realizado através de questionário e entrevista

parcial semiestruturada. A amostra da pesquisa foi composta por três assistentes sociais que

atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) no município de Toledo-Paraná. A pesquisa foi

desenvolvida a partir de um padrão de conduta ética. Os dados obtidos durante a pesquisa

serão analisados, sendo identificados os pontos que venham a contribuir para melhorar a

atuação interventiva dos profissionais de Serviço Social na saúde do município de Toledo-PR.

Palavras-chave: Saúde, Serviço Social, Parâmetros do CFESS

8

SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABESS Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social

ACS Agentes Comunitários de Saúde

ANAS Associação Nacional dos Assistentes Sociais

APS Atenção Primária a Saúde

APSUS Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde

CAPs Caixa de Aposentadoria e Pensão

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CFAS Conselho Federal de Assistentes Sociais

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CNS Conselho Nacional de Saúde

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

ESF Equipe da Família

IAPs Instituto de Aposentadoria e Pensão

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS Instituto Nacional da Previdência

LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

LOS Lei Orgânica da Saúde

NOBs Normas Operacionais Básicas do Ministério da Saúde

RAS Redes de Atenção a Saúde

SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

9

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................ 07

INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 10

1 CONTEXTO HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL.................... 13

1.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA POLÍTICA DE SAÚDE NO

BRASIL................................................................................................................................ 13

1.1.1 A saúde a partir da década de 1990 e os desafios do Sistema Único de Saúde –

SUS para o século XXI.................................................................................................

19

2 SERVIÇO SOCIAL E A POLÍTICA DE SAÚDE NO

BRASIL...............................................................................................................................

24

2.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA PROFISSÃO NO

BRASIL E A POLÍTICA DE SAÚDE..........................................................................

24

2.1.1 A prática profissional do assistente social e os “Parâmetros para Atuação de

Assistentes Sociais na Política de Saúde”.........................................................................

28

3 ASPECTO METODOLÓGICO DA PESQUISA........................................................ 37

3.1 METODOLOGIA DA PESQUISA............................................................................... 37

3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA................................ 38

3.2.1 Eixo 1 – O atendimento direto aos usuários e as ações dos assistentes sociais

nas Unidades Básicas de Saúde – UBS.............................................................................

39

3.2.2 Eixo 2 – Mobilização, Participação, Controle Social e as ações desenvolvidas

pelos assistentes sociais......................................................................................................

47

3.2.3 Eixo 3- Investigação, Planejamento, Gestão e as ações profissionais dos

assistentes sociais................................................................................................................

50

3.2.4 Eixo 4 – Assessoria, Qualificação, Formação Profissional e as ações

profissionais dos assistentes sociais...................................................................................

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 59

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 62

ÂPENDICES....................................................................................................................... 65

ÂNEXOS............................................................................................................................. 70

10

INTRODUÇÃO

O assistente social, como profissional de Saúde, tem como competências intervir junto

aos fenômenos socioculturais e econômicos, que traduzem a eficácia dos programas de

prestação de serviços, ao nível de promoção, proteção e/ou recuperação da saúde. A prática

profissional dos assistentes sociais vem se desenvolvendo e a cada dia tem se tornado uma

prática necessária para a promoção e atenção à saúde. Sua intervenção tem se ampliado e se

consolidado diante da concepção de que o processo saúde-doença é determinado socialmente

e reforçado pelo conceito de saúde.

A atenção à saúde não está centrada apenas sob o enfoque médico, mas nas diferentes

intervenções cujas práticas enfocam a prevenção. Com isso, a especialização da prática

profissional no trabalho coletivo na saúde evidencia-se em sua atuação, que não se dá apenas

na doença de forma específica, mas no conjunto de variáveis que a determinam. É no

confronto entre o direito do usuário e as normas institucionais que o profissional intervém

para assegurar o cumprimento deste direito que é expressão mínima de outros grandes

embates que o profissional enfrenta na saúde.

As exigências postas na atualidade requerem iniciativas que mobilizam os

profissionais no sentido de buscarem respostas para as demandas que emergem. Desta forma,

a interlocução entre a educação, trabalho e Serviço Social é um caminho a ser fortalecido

através da orientação da educação permanente e do envolvimento dos diferentes sujeitos que

fazem parte deste processo: trabalhadores em geral, assistentes sociais, escolas formadoras,

sociedade civil e usuários.

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Serviço Social tem o intuito de

discutir a Política de Saúde enquanto tema de estudo, se constitui fruto das reflexões,

discussões e interesse pelo assunto no decorrer do curso, visto, também, que a partir desta

experiência surgem vários questionamentos a respeito da política em si. Além da observação

da prática profissional na área da saúde, decorrente do Estágio Supervisionado em Serviço

Social I e II.

A partir deste contexto construíram-se algumas aproximações e questionamentos em

relação à prática profissional dos assistentes sociais na atenção primária à saúde do município

de Toledo, e a principal foi: Os “Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política

de Saúde do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)” tem sido um instrumento para a

prática profissional dos assistentes sociais da atenção primária à saúde do município de

Toledo-Paraná?

11

Este questionamento deriva-se da importância que o documento tem para

instrumentalizar a prática profissional na saúde, para “[...] fortalecer o trabalho dos assistentes

sociais na saúde, na direção dos Projetos de Reforma Sanitária e Ético-Político Profissional,

imprimindo maior qualidade ao atendimento prestado à população usuária dos serviços em

todo o Brasil”. (CFESS, 2010, p.15).

Tem-se por objetivo geral, nesta pesquisa, compreender e analisar como o assistente

social da atenção primária à saúde do município de Toledo está respaldando sua prática

profissional a partir dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde

do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). E os objetivos específicos são: Fazer um

resgate histórico da política de saúde no Brasil a partir da década de 90; analisar os

Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde do Conselho Federal de

Serviço Social (CFESS); fazer a analise dos dados da pesquisa realizada com os assistentes

sociais da atenção primária a saúde do município de Toledo; subsidiar outros trabalhos

voltados à formação e qualificação do Assistente Social.

Sendo assim, para melhor conhecer o tema proposto neste trabalho, buscaram-se

fundamentos nos referenciais teóricos, utilizando-se da pesquisa bibliográfica, bem como a

pesquisa de campo que foi realizada na cidade de Toledo – Paraná, mais especificamente com

os profissionais de Serviço Social que trabalham na atenção primária à saúde no município de

Toledo.

O universo total da pesquisa são 10 Unidades de Saúde do município de Toledo

(CAPs, Secretaria de Saúde, UBS, Mini-Hospital) que têm profissionais assistentes sociais, a

partir deste universo foi selecionada a amostra sobre o seguinte critério: dar prioridade às

Unidades Básicas de Saúde - UBS, resultando em 05 profissionais. Porém, no momento de

coletar os dados um dos profissionais se recusou a dar a entrevista e outro estava afastada da

sua função por motivo de doença, ou seja, a amostra resultou em 03 profissionais. Quanto à

abordagem da pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitativa. As técnicas e coletas de

dados para a pesquisa foram feitas por meio de questionário e entrevista parcial

semiestruturada.

Para melhor compreensão estruturamos o presente trabalho em três capítulos, os dois

primeiros se desdobram em discussões teóricas, o terceiro é a análise e a interpretação dos

dados coletados.

No primeiro capítulo, tem-se como proposta o contexto histórico da política de saúde

no Brasil, estando subdividido em dois subitens: no primeiro abordou-se uma breve

contextualização histórica da política de saúde no Brasil; no segundo buscamos tratar da

12

saúde a partir da década de 1990 e os desafios do Sistema Único de Saúde – SUS para o

século XXI.

O segundo capítulo aborda o Serviço Social e a política de saúde no Brasil e como este

atua na área da saúde. Para tanto este foi dividido em dois subitens. O primeiro subitem trata

do surgimento da profissão no Brasil e a política de saúde; o segundo vem tratar da prática

profissional do assistente social e os “Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na

Política de Saúde”.

Por fim, no terceiro capítulo, é apresentada a pesquisa empírica, estando a mesma

dividida em dois itens: o primeiro item parte da metodologia utilizada para a realização da

pesquisa, descrevendo e apresentando todos os procedimentos utilizados para a realização do

trabalho; no segundo item, tem-se a análise e interpretação dos dados coletados através dos

questionários e entrevista semiestruturada, a fim de alcançar os objetivos propostos neste

trabalho. Para tanto, a análise divide-se em quatro eixos: o primeiro trata do atendimento

direto aos usuários e as ações dos assistentes sociais nas Unidades Básicas de Saúde – UBS; o

segundo vem trazer a mobilização, participação, controle social e as ações desenvolvidas

pelos assistentes sociais; terceiro vem tratar da investigação, planejamento, gestão e as ações

profissionais dos assistentes sociais; e por último aborda a assessoria, qualificação, formação

profissional e as ações profissionais dos assistentes sociais.

Por último, nas considerações finais, tem-se como proposta tecer algumas reflexões

acerca do trabalho realizado no seu conjunto, ou seja, fazer uma relação dos aspectos

empíricos que melhor contribuem para responder o problema, sob a luz dos elementos que

subsidiaram a discussão do trabalho. Desta forma, espera-se que este trabalho contribua com a

prática profissional dos assistentes sociais na atenção primária a saúde no município,

desvendar os possíveis pontos negativos a serem corrigidos, possibilitar que a intervenção

profissional do assistente social tenha maior efetividade perante seus usuários. Explicitar a

importância dos Parâmetros do CFESS como um instrumental técnico-operativo que contribui

na prática profissional na saúde.

13

1 CONTEXTO HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

Este primeiro capítulo tem por objetivo contextualizar o surgimento da política de

saúde no Brasil, articulando-a as determinações sócio-históricas com o movimento de

Reforma Sanitária, além de historicizar o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua organização

após a Constituição Federal de 1988, assim como seus desafios para o século XXI. Existiu

neste século uma expectativa de construção de um novo Brasil, mas não houve inovação e o

SUS ficou longe da proposta constitucional, e assim as propostas continuaram com um caráter

focalizado, com a ampliação da privatização e o estimulo ao setor privado.

1.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA POLÍTICA DE SAÚDE NO

BRASIL

Para Behring e Boschetti (2009), não se pode indicar o período que surgiram as

primeiras iniciativas reconhecidas como políticas sociais. Como processo social elas foram

concebidas no momento de ascensão do capitalismo com a Revolução Industrial, a

emergência das lutas de classe e a propagação da intervenção estatal. Ainda para as autoras,

sua origem esta relacionada aos movimentos sociais da classe trabalhadora, situando-se na

passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista, mesmo na fase tardia1 após a

Segunda Guerra Mundial.

Conforme Behring (2006), o surgimento das políticas sociais está intrinsecamente

relacionado à sociedade burguesa, especificamente ao modo de produção capitalista de

produzir e reproduzir-se, principalmente quando há um reconhecimento da expressão

“questão social”2. Desta forma, a política social surge como um elemento mediador para as

1 O capitalismo concorrencial se configura em meados do século XVII. No percurso deste período, o capitalismo

concorrencial vai se consolidar nos países da Europa Ocidental, nos quais erradicará ou subordinará à sua

dinâmica as relações econômicas e sociais pré-capitalistas, e revelará as suas principais características

estruturais. Já na segunda metade do século XIX, na sequência da grande crise de 1873, este quadro se

modificará e confluirá a criação dos modernos monopólios, mas é somente entre fins do século XIX e os primeiros anos do século XX, que o grande capital será conhecido como capital monopolista, por isso a sua fase

tardia. Ver mais em (NETO; BRAZ, 2007) 2 De acordo com Iamanoto; Carvalho (2008, p. 77) “A questão social não é senão as expressões do processo de

formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu

reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida

social da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais

além da caridade e repressão”. Segundo Netto (2001), existem diversas e diferentes compreensões e atribuições

para a expressão "questão social" e, por esse motivo, como o autor, adotaremos as aspas por tratarmos aqui de

apenas uma das formas de defini-lá.

14

reivindicações existentes da classe trabalhadora dentro do desenvolvimento contraditório

entre o capital e trabalho, momento este em que os trabalhadores assumem um papel político

e até revolucionário. A mobilização e a organização da classe trabalhadora foram

determinantes neste período de transição do capitalismo para suas reivindicações na busca de

garantir a emancipação humana, a socialização da riqueza e a instituição de uma sociedade

não capitalista.

Com isso, os surgimentos das políticas sociais ocorreram por etapas e de formas

diferenciadas entre os países, conforme cada movimento e pressão da classe trabalhadora,

além do desenvolvimento das forças produtivas, das correlações e composição da força no

âmbito do Estado, período em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações

sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade.

Sendo assim, as políticas sociais são compreendidas como estratégias de intervenção

do Estado para amenizar as mobilizações e lutas da população, que buscava melhores

condições de vida em sociedade, ou seja, as políticas, naquele momento, eram uma forma de

proteção social em respostas ao enfrentamento das expressões da “questão social” geradas

pelo modo de produção capitalista.

Ao compreender o surgimento das políticas sociais, podemos observar que a política

de saúde no Brasil teve seu início, efetivamente, a partir da década de 1930, momento de

efervescência do processo de industrialização. Segundo Bravo (2006), a conjuntura deste

período possibilitou o surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem às

expressões da “questão social” de forma orgânica e sistemática. Este cenário político emergiu

em decorrência da nova dinâmica da acumulação, que teve como característica a aceleração e

efervescência da urbanização, do crescimento industrial e ampliação da massa trabalhadora,

que se encontrava em precárias condições de sobrevivência.

Neste período, o Brasil era governado pelo presidente Getúlio Vargas, que direcionou

a política no sentido de transformar as relações entre o Estado e a sociedade para a integração

do mercado interno e desenvolvimento da industrialização. Com suas políticas trabalhistas,

Vargas buscava controlar as greves e os movimentos operários, com isso estabeleceu um

sistema de seguro social. Este sistema de seguro social foi implementado através dos

Institutos de Previdência Social para cada categoria de trabalhadores. O modelo getulista de

proteção social se definia em categorias fragmentadas, limitadas e desiguais na execução dos

benefícios, em troca de um controle social das classes trabalhadoras.

Por isso, Bravo (2006) afirma que a política de saúde neste período era de caráter

nacional, organizada em dois seguimentos, o de saúde pública e o de medicina previdenciária.

15

A saúde pública predominou até os anos de 1960 e se centralizou na criação de condições

sanitárias mínimas para a população. Já a medicina previdenciária só irá dominar o de saúde

pública a partir de 1966.

A partir das políticas de Previdência Social, são criadas as Caixas de Aposentadorias e

Pensões (CAPs), organizadas por empresas por meio de contrato compulsório e sobre forma

contributiva, que tinha a função de prestação de benefícios (pensão, aposentadorias e

assistência médica aos seus filiados e dependentes).

Para Cohn (1996), o acesso dos trabalhadores e dependentes da CAPs aumentou com o

passar do tempo e os recursos de atendimento se tornaram insuficientes, fazendo com que o

Estado buscasse na iniciativa privada a compra por serviços de saúde. Este período marcou as

raízes de um início da privatização da assistência médica no Brasil.

Ao longo da década de 1930 as CAPs se multiplicaram rapidamente e durante o

período de 1933 a 1938 elas são unificadas e absorvidas pelos Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAPs). Os institutos passam a ser de caráter nacional e sua direção caberia a um

funcionário executivo, assessorado por um representante de empregadores e empregados, sem

poder deliberativo. O objetivo dos IAPs era estender o número de seus beneficiários com uma

maior categoria de assalariados urbanos como forma de antecipar as reivindicações desta

categoria para não evoluir para uma cobertura mais ampla.

Em 1960, com a crescente insatisfação, intensa mobilização e luta dos trabalhadores,

buscou-se uma nova forma de organização, e com isso, houve a aprovação da Lei Orgânica da

Previdência Social (LOPS) que propunha a uniformização dos benefícios prestados por vários

institutos, colocando em ordem mais de 300 leis e decretos referentes à Previdência Social. A

LOPS incorporou os autônomos à Previdência Social e definiu um período mínimo de

contribuição para aposentadoria3.

A política de saúde na ditadura militar “[...] significou, para a totalidade da sociedade

brasileira, a afirmação de uma tendência de desenvolvimento econômico-social e político que

modelou um país novo” (BRAVO, 1996, p. 93). Entretanto, neste período os problemas

estruturais não foram resolvidos, mas aprofundados, tornando-se complexos e com dimensão

ampla e dramática, em face da “questão social”. Na ditadura, o Estado conservou-se com

caráter de repressão-assistencialista, com política de assistência ampliada, burocratizada e

modernizada pela máquina estatal com o intuito de aumentar o poder de regulação sobre a

sociedade, suavizando, assim, as tensões sociais para conseguir legitimar o regime, bem como

para servir de mecanismo para o capital, visto que este período foi um momento em que os 3 Mulheres com 60 anos e homens com 65 anos. (CONH, 1996)

16

trabalhadores e demais segmentos da sociedade civil foram retirados do cenário político.

Em 1966, foram unificados os institutos de previdência em um único organismo,

criando assim, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), o qual teve sua

administração deixada nas mãos da tecnocracia, onde foram feitos convênios entre o INPS e

as grandes empresas;

[...] ao unificar os antigos IAPs, constitui-se na modernização da máquina

estatal, aumentando o seu poder regulatório sobre a sociedade, além de representar um esforço de desmobilização das forças políticas estimuladas

no período “populista”; trata-se, portanto, de uma reorientação das relações

entre estado e classe trabalhadora (BRAVO, 1996, p. 30).

Para Bravo (1996), com a criação do INPS, aumentou o papel interventivo do Estado

na sociedade e, consequentemente, o aleijamento dos trabalhadores do jogo político,

excluindo-o do papel de gestor, ficando apenas com o financiamento. Os programas de saúde

se desenvolveram privilegiando o setor privado, pois na perspectiva da elite dirigente, os

problemas da saúde deveriam ser resolvidos através de privatizações dos serviços e apenas as

epidemias eram de responsabilidade do Ministério da Saúde e do atendimento médico

individual do setor previdenciário.

No período de 1960 a 1966 o setor da saúde precisava assumir as características

capitalistas, isto incentivou a incorporação das modificações tecnológicas, o que ocasionou a

redução dos gastos com a saúde, dando ênfase apenas a programas setoriais, momento em que

a saúde pública teve um declínio e a medicina previdenciária cresceu. .

Ainda para Bravo (1996), a política social no período de 1974 a 1979, era considerada

de distensão política, a qual tinha por objetivo enfrentar a “questão social” para canalizar as

reivindicações e pressões populares. No entanto, a política de saúde passou por tensões entre a

ampliação dos serviços, a disponibilidade de recursos financeiros, os interesses das conexões

burocráticas entre setores estatais e empresarial médico e a emergência do movimento

sanitário.

A autora diz ainda que, a partir de 1974, reaparecem forças sociais para recuperar

espaços que o golpe de 1964 fechou, pressionando o governo a rever as relações com a

sociedade. Procurando firmar-se frente à população, o governo expandiu suas políticas

sociais, estendendo a assistência médica aos trabalhadores rurais, criando uma superestrutura,

incluindo o Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), que

era a política de saúde vigente.

Neste período, também surgem os movimentos populares, principalmente o

17

sindicalismo dentro dos espaços institucionais, universidades e trabalhadores do próprio

sistema, buscando aliados junto a estes movimentos, formulando e reformulando propostas

alternativas para a reorganização do sistema de saúde. Os movimentos populares

pressionaram o governo no sentido de obter algumas necessidades básicas de sobrevivência

para a população, que foram aprofundadas no novo modelo de produção e o Estado, perdendo

legitimidade do regime, se vê obrigado a criar estratégias para o enfrentamento da “questão

social”, demandando a necessidade de buscar novos mecanismos de articulação e intervenção.

A partir dos anos de 1980, a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que vivenciou

um processo de democratização política e superação do regime ditatorial, experimentou uma

profunda crise econômica. Para Bravo (1996), a saúde, nesta década, contou com a

participação de novos sujeitos sociais, as quais eram os profissionais da saúde representados

por entidades que defendiam melhorias na saúde, o fortalecimento do setor público e o

movimento sanitário.

A crise econômica que ocorreu no Brasil em virtude do neoliberalismo, definida pela

livre iniciativa, pelo fim da estatização, quebra de monopólio, de reservas de mercado e mais

ainda, pela saída de cena do Estado como agente econômico regulador. Deste modo, o Estado

não intervém e nem participa da economia, ou seja, o Estado não investe em atividades

econômicas, diminuindo a arrecadação e os recursos estatais. Diante disso, se propõe a

redução e cortes nos gastos públicos e no campo social, e com isso, a política de saúde passou

por profunda crise, refletida diretamente nos serviços que passaram a limitar-se à perspectiva

curativa.

Segundo Bravo (1996), diante de toda precariedade no sistema de saúde, em 1981

houve uma onda de greves, que envolveu 60 mil médicos na luta pela saúde, que culminou e

ampliou diversos movimentos reivindicatórios por saneamento, água, luz, transporte e postos

de saúde. A classe médica se movimentava para alterações da política de saúde, enfatizando o

setor público e a sua promoção.

A partir de 1983, o Movimento Sanitário ampliou a resposta de reformulação do

Sistema Saúde com a ocupação de espaços nas instituições estatais, com o objetivo de

produzir mudanças nesta política. Este crescimento da proposta e do processo de

reformulação da política de saúde adquiriu sua mais acabada expressão com a VIII

Conferência Nacional de Saúde em 1986, na qual se definiu o projeto da Reforma Sanitária

brasileira, na qual se reuniram inúmeros representantes de vários segmentos interessados na

questão saúde, exceto os representantes da iniciativa privada.

Afirma Bravo (1996), que a principal proposta defendida pelos sanitaristas era a

18

defesa da universalização das políticas sociais, garantia dos direitos sociais, ressaltando a

ampliação da saúde como direito de cidadania, responsabilizando o Estado sobre o sistema de

saúde e o setor privado que seria apenas complementar.

A VII Conferência Nacional de Saúde em 1986 teve como tema central a saúde como

direito à cidadania e a reformulação do Sistema Nacional de Saúde, (descentralização,

universalização e participação) com a redefinição dos papéis da União, Estado e município na

prestação de serviços, e desta forma, o governo assume a bandeira da Reforma Sanitária.

Segundo os autores Bravo e Matos (2001), o movimento da Reforma Sanitária tinha

como objetivo assegurar a atuação do Estado em função da sociedade, pautando-se na

concepção de Estado democrático e de direitos, responsável pelas políticas sociais e pela

saúde. Além de democratizar o acesso aos serviços, difundir uma consciência sanitária e fazer

com que a população entendesse a saúde como direito de todos e dever do Estado, e não como

apenas ausência de doenças, fortalecendo o setor público em oposição ao modelo de

privilegiamento do setor privado.

O movimento sanitário estava articulado a um acúmulo histórico de alguns anos de

lutas e um repertório de propostas convergentes para um projeto alternativo ao modelo

médico-assistencial. Este modelo, além de quadros técnicos políticos inseridos nos ministérios

da Saúde e da previdência e Assistência Social, também atingiu sua maturidade a partir da

década de 1970 a 1980, quando estruturaram nas universidades o movimento sindical e o

movimento popular.

A Reforma Sanitária se propôs então a uma relação diferente do Estado com a

Sociedade, incentivando a presença de novos sujeitos sociais na definição da política setorial,

através de mecanismos como os Conselhos4 e Conferências

5 de Saúde. O texto aprovado na

constituinte atendeu em grande parte os interesses das reivindicações do movimento sanitário,

isto é, no plano legal formalizou o direito universal à saúde6 e a criação de um único sistema,

descentralizado, acessível e democrático, conferindo um novo estatuto à política sanitária que

passou a integrar o tripé da Seguridade Social, juntamente com a Previdência e a Assistência

Social. 4 Conselho de Saúde é um espaço de lutas entre interesses contraditórios pela diversidade de segmentos da sociedade nele representados, [sua] [...] criação é uma exigência legal para o repasse de recursos da esfera

federal para as esferas estaduais e municipais. (CORREIA, 2006, p. 127). 5 As Conferências são espaços de participação e controle social dos segmentos populares na perspectiva de

ampliação e controle social, ampliação da democracia e de construção de uma nova hegemonia. (CORREIA,

2006, p.125) 6 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução de risco e de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 2005, art. 196).

19

Ainda para Bravo (2006), as mudanças das estruturas e das práticas institucionais

foram realizadas de forma que visassem o fortalecimento do setor público e a universalização

do atendimento; da redução do papel do setor privado na prestação de serviços à saúde; da

descentralização política e administrativa do processo decisório da política de saúde a

execução dos serviços ao nível local, que culminou com a criação do Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987, como sendo um passo decisivo para o processo

de descentralização e redefinição de papéis e atribuições entre níveis federal, estadual e

municipal e depois, o SUS em 1988.

No final da década de 1980, existiam ainda dúvidas e incertezas com relação à

implementação do Projeto de Reforma Sanitária, pois a burocratização da Reforma afastou a

população da cena política, despolitizando o processo. Com isso, considerou-se, então, que a

construção democrática era a única via pra conseguir a Reforma Sanitária e a mobilização

política era uma de suas estratégias, sendo o desafio colocado para os setores progressistas da

saúde que deveria ser viabilizado na década de 1990.

1.1.1 A Saúde a partir da década de 1990 e os desafios do Sistema Único de Saúde –

SUS para o século XXI

A política de saúde no Brasil, a partir da década de 1990, passa a ser de ajuste

neoliberal, com ampla abertura externa, valorização da iniciativa privada, redução às margens

de proteção da indústria doméstica e a flexibilização da legislação reguladora do trabalho.

Tais medidas foram determinadas pelo governo federal, que limitava a intervenção e a

capacidade de dar respostas às crescentes demandas sociais, aprofundando, assim, o quadro de

desigualdade social no país, levando, então, a má distribuição dos recursos, não respeitando as

reais necessidades da população brasileira.

Para Bravo e Matos (2001), na década de 1990, ocorreu a substituição das lutas

coletivas efetivadas na década de 1980 por lutas corporativas em defesa de grupos de

interesses particulares e imediatos dos trabalhadores pela efetivação da Reforma Sanitária na

sua totalidade, ampliando os direitos sociais na direção da democracia.

Para viabilizar a democratização na saúde, na direção das conquistas sociais

necessárias, sugere-se o aprofundamento do controle social, visando à construção de uma esfera pública de saúde. Como enfrentamento deste

desafio, cada vez maior frente ao aumento da conservadorização da

sociedade civil e política, propõe o desenvolvimento de análises teóricas sobre a temática, bem como a realização de assessoria aos conselheiros de

20

saúde e entidades que constituem forças potenciais de transformação nessa

nova ordem política brasileira. (BRAVO; MATOS, 2001, p. 212).

Segundo Bravo e Matos (2000), neste contexto de transformação, de enxugamento e

minimização do Estado, consideraram-se dois projetos societários antagônicos: o projeto de

reforma sanitária, construído na década de 1980 e posteriormente inscrito na Constituição

Brasileira, e o projeto de saúde articulada ao mercado ou privatista ou hegemônico na metade

da década de 1990.

A partir de 1990, inicia-se uma intensa discussão sobre o SUS e com isso surge a

edição da Lei Orgânica da Saúde (LOS) n.º 8080/90, de 19 de setembro, tratando do processo

de descentralização, das competências das diferentes esferas de governo e da organização

do sistema, e a lei nº 8.142/90, de 28 dezembro, versando sobre a participação da comunidade

e os mecanismos de transferência de recursos financeiros às demais instâncias de gerência,

estabelecendo a previsão de remessas regulares e automáticas do governo federal com a

finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população, tornando

obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro

sob qualquer pretexto.

O SUS é destinado a todos os cidadãos e é financiado com recursos arrecadados

através de impostos e contribuições sociais pagos pela população e distribuídos pelas três

esferas do governo. Tem como meta tornar-se um importante mecanismo de promoção da

equidade no atendimento das necessidades de saúde da população, ofertando serviços com

qualidade adequada às necessidades, independente do poder aquisitivo do cidadão. O SUS se

propõe a promover a saúde, priorizando as ações preventivas, democratizando as informações

relevantes para que a população conheça seus direitos e os riscos à sua saúde7.

Para a execução da Política de Saúde o sistema é organizado em três modalidades:

Atenção Primária, Secundária e Terciária. Estas modalidades devem estar vinculadas a um

território sanitário, sendo preferencialmente, responsabilidade dos municípios a Atenção

Primária, contudo o Sistema SUS está organizado a partir dos conceitos de gestão

compartilhada entre as três esferas de governo. (MINAS GERAIS, 2009)

7 O controle da ocorrência de doenças, seu aumento e propagação são realizados pela Vigilância Epidemiológica

que são algumas das responsabilidades de atenção do SUS, assim como a qualidade dos remédios, de exames,

alimentos, higiene e adequação de instalações que atendem ao público, onde atua a Vigilância Sanitária. COHN

(1996).

21

A Atenção Primária a Saúde8 estabelece todas as ações de promoção, prevenção e

proteção à saúde. A Atenção Secundária é prestada por meio de uma rede de unidades

especializadas básicas como: pediatria, clínica médica e obstetrícia, além dos serviços de

urgência e emergência, ambulatórios e hospitais, para pacientes internados, treinamento,

avaliação e acompanhamento da Equipe da Família (ESF). A Atenção Terciária é a atenção da

saúde em terceiro nível, integrada pelos serviços ambulatoriais e hospitalares especializados

de alta complexidade. (MINAS GERAIS, 2009)

As Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Postos de Saúde funcionam para triagem,

encaminhamentos para especialidades e fornecimento de medicação básica. Os profissionais

devem ser capazes de resolver problemas de saúde mais comum e de dominar novos saberes

que promovam a saúde e previnam doenças.

Baseado nos preceitos institucionais, o SUS está estruturado a partir de um conjunto

de princípios9 que tem como objetivo organizá-lo de forma a dar qualidade ao mesmo,

promovendo ainda a redefinição dos papéis institucionais das unidades polít icas, como a

União, o Estado, os municípios e territórios na prestação dos serviços de saúde; e efetivo

financiamento do Estado.

A descentralização, o aprofundamento e a redefinição das atribuições dos vários níveis

de governo se dão com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde. A este processo

dá-se o nome de municipalização, ao qual cabe, portanto, a maior responsabilidade na

implementação das ações de saúde diretamente voltadas para os seus cidadãos. São a LOS e a

Norma Operacional Básica do Ministério da Saúde (NOBs)10

que definem precisamente o que

é obrigação de cada esfera de governo.

8 Fazem parte da APS, o Programa de Saúde da Família (PSF), Vigilância Epidemiológica, Vigilância Sanitária,

Vigilância Ambiental, Saúde do Trabalhador, Assistência Farmacêutica e Controle de Endemias. (MINAS

GERAIS, 2009) 9 O princípio da universalidade consistiu em garantir que todos tenham acesso aos serviços de saúde em todos os

níveis de assistência, independente de cor, raça, religião, local de moradia e situação de emprego ou renda. O da

integralidade de assistência é entendido como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços de saúde

que devem ser combinadas e voltadas para a prevenção, à cura individual e coletiva, exigida para cada caso em

todos os níveis de complexidade do sistema. O princípio de equidade é para garantir que todo cidadão seja igual

perante o SUS e que será atendido conforme as suas necessidades. Os serviços de saúde devem considerar que, em cada população existem grupos que vivem de forma diferente, ou seja, cada grupo, classe social ou região

tem seus problemas específicos, tem diferenças no modo de viver, de adoecer e de ter oportunidades de satisfazer

suas necessidades de vida. Quanto ao princípio de descentralização entende-se, como uma redistribuição das

responsabilidades às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da idéia de que quanto

mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. (BRASIL,1988, grifo nosso) 10 Nos anos de 1991, 1993, 1996 e 2001 foram editadas pelo Ministério da Saúde as chamadas Normas

Operacionais Básicas (NOB), que definem as condições necessárias às habilidades dos municípios aos diferentes

estágios de gestão descentralizada, aos quais se subordinam as formas de repasse financeiro do nível federal para

os municípios.

22

Desta forma a descentralização da saúde passa a consolidar a implantação do SUS, os

municípios passam a responsabilizar-se pelas funções de coordenação e gestão da política em

seu território, sendo obrigados a gerir uma rede de serviços heterogênea e não integrada

institucionalmente. Na medida em que o processo de gestão descentralizada do sistema

amadurece, evidencia-se um conjunto de problemas e obstáculos em relação a aspectos

críticos para a consolidação do SUS.

[...] os problemas relativos à estruturação e funcionamento do SUS são

muitos e variados: a descentralização ocorre de modo limitado e limitante; o financiamento continua pendente em termos quantitativos (o montante de

recursos disponíveis) e qualitativos (estabilidade e tipo de fontes de

recursos); o controle social busca abrir caminhos em meios a uma sociedade

desestimulada para as ações de cidadania e a um Estado desacostumado a ter seus atos controlados pela sociedade, portanto a um Estado infenso ao

controle público. (ELIAS, 1996, p. 67).

Já o setor privado participa do SUS de forma complementar, por meio de contratos e

convênios de prestação de serviço ao Estado quando as unidades públicas de assistência à

saúde não são suficientes para garantir o atendimento a toda à população de uma determinada

região.

Neste contexto, Bravo (2001) afirma que as reformas para o campo da saúde na ótica

neoliberal têm um caráter focalista para atender a população vulnerável através do pacto

básico para a saúde, ampliando a privatização, estimulando o seguro privado,

descentralizando serviços em âmbito local eliminando a vinculação de fonte com relação ao

financiamento.

Diante do projeto neoliberal, o fundamento central do SUS, pautado no princípio da

universalização de direitos, provoca tensões em confronto com o projeto de saúde voltado ao

mercado. A concepção coletiva do projeto universalista dá espaço à concepção individualista

e fragmentada da realidade. Como estratégia, propõe parcerias com a sociedade,

responsabilizando-a para assumir os custos da crise, como também a refilantropização.

Para Bravo (2001), consequentemente, existe uma dura luta a travar contra os

interesses individuais, econômicos e capitalistas, que rebateram os interesses coletivos e

sociais. O SUS só será um eficaz sistema de saúde público nacional se houver a participação

social junto a um governo participativo com políticas sociais, e, indispensavelmente, o

controle social. Desta forma, observou-se que todas as conquistas adquiridas através do

Movimento de Reforma Sanitária e garantidas constitucionalmente na década de 80, foram

23

desmanteladas na década de 90, em prol do projeto neoliberal que visa um Estado mínimo

para o social.

Segundo as autoras Nogueira e Mioto (2008), têm sido muitos os avanços do SUS,

como a conquista ao direito legal de acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde

em todos os níveis de complexidades. Mas persistem problemas a serem enfrentados para

consolidá-lo, como um sistema público universal que possa prestar serviços de qualidade a

toda a população brasileira. Esses problemas são agrupados em torno de desafios a superar

como a universalização, o financiamento e controle social.

Segundo os parâmetros do CFESS (2010) no século XXI, com a entrada do governo

Luís Inácio Lula da Silva, houve uma expectativa de construção de um novo Brasil, com a

redução das desigualdades sociais por meio de uma política econômica com redistribuição de

renda e geração de empregos, pois se esperava que as políticas sociais adquirissem caráter

universalista. Já na saúde a pretensão era o retorno do Projeto da Reforma Sanitária, porém

esta expectativa não se concretizou e a política de saúde permaneceu focalizada e sem

financiamento efetivo.

O SUS, neste novo século, não conseguiu inovar e está longe do SUS proposto pela

carta constitucional, pois existe uma distância entre a proposta do movimento sanitário e a

prática do sistema público de saúde. O SUS se consolidou como espaço aos usuários que não

tinham acesso aos serviços privados de saúde, ou seja, a proposta de um sistema público

universal não se concretizou, apesar de alguns avanços, como o acesso de camadas da

população que antes não tinham direito a saúde, visto que este atendimento estava ligado à

previdência ou ao setor privado. Com a criação do SUS incidiu a ampliação para o

atendimento de imunização e vigilância epidemiológica e sanitária aos progressos na alta

complexidade, como transplantes e tratamentos de doenças de alto risco.

Neste contexto, no século XXI, consequentemente, a tarefa do Estado consistiu em

garantir um mínimo aos que não podem pagar, ficando para o setor privado o atendimento aos

que têm acesso ao mercado. Assim sendo, as principais propostas foram de caráter focalizado

para atender às populações vulneráveis por meio do pacote básico para a saúde, a ampliação

da privatização, o estímulo ao seguro privado, descentralização dos serviços em nível local e

eliminação da vinculação de fonte ao financiamento.

24

2 SERVIÇO SOCIAL E A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

Este capítulo vem tratar brevemente do surgimento do Serviço Social, da sua inserção

na saúde e como se dá atuação profissional a partir do documento intitulado “Parâmetros para

atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde”. Este documento tem a finalidade de

referenciar, responder e dar orientações à intervenção dos profissionais na área da saúde e as

respostas a serem dadas pelos assistentes sociais às demandas identificadas no cotidiano de

trabalho.

2.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA PROFISSÃO NO BRASIL

E A POLÍTICA DE SAÚDE

Para Iamamoto e Carvalho (2008), o surgimento do Serviço Social como profissão,

está atrelado à ideologia dominante e à doutrina social da Igreja Católica como resposta ao

acirramento das contradições capitalista em sua fase monopolista para o controle da classe

trabalhadora e a legitimação dos setores dominantes e do Estado. Segundo Silva (1995), este

surgimento não deve ser entendido como uma cronologia de fatos, mas sim de num contexto

histórico da sociedade, ou seja, deve estar ligado ao processo econômico, político, social da

população e das próprias ciências sociais.

A emergência e institucionalização da profissão no Brasil se iniciam nos anos 1920 e

1930, sobre influência da Igreja Católica. A partir disso, a ação profissional passou a ser

pautada na doutrina social da Igreja, na perspectiva do enfrentamento e regulação da “questão

social”. Esta perspectiva de enfrentamento e regulação da “questão social” se deu pelo

desenvolvimento acirrado da industrialização e a crescente urbanização, que ocasionaram as

mobilizações populares, que reivindicavam a melhoria e qualidade de vida, visto que a classe

trabalhadora passava por diversas dificuldades para se adequar ao modo de produção

capitalista.

Conforme Silva (1995), no decorrer das décadas de 1950 e 1960 o assistente social foi

preparado como mão de obra para colocar em prática os programas sociais com grande

importância na realização do modelo desenvolvimentista assumido pelo país. Em meados de

1960, na América Latina nota-se a ineficácia da proposta desenvolvimentista e nasce, então, a

proposta de transformação da sociedade, onde se questiona a metodologia, os objetivos e os

conteúdos necessários para a formação profissional.

Diante do clima repressivo e autoritário, fruto das mudanças políticas de 1960, os

25

assistentes sociais refugiam-se, cada vez mais, em uma discussão dos elementos que

supostamente conferem um perfil peculiar à profissão: objeto, objetivos, métodos e

procedimentos de intervenção, enfatizando a metodologia profissional.

Surge assim, o movimento de reconceituação para a construção de uma teoria e de

uma prática voltada para o compromisso com a realidade latino-americana de ação

profissional, posição ideológica engajada na luta da classe oprimida e explorada. As

conquistas do movimento de reconceituação foram a interação profissional continental que

respondessem às problemáticas comuns da América Latina sem ligações confessionais ou

imperialistas, críticas ao modelo tradicional e inauguração do pluralismo profissional.

Segundo Iamamoto (2004) o profissional do Serviço Social busca no final da década

de 1970 e início da década de 1980, novas práticas para atender camadas populares. Iniciam-

se novas discussões em relação à formação profissional, currículo e a questão metodológica.

Com a Constituição Federal de 1988, inicia-se um novo tempo em que a sociedade civil

avança em busca da legitimação dos seus direitos e o assistente social deixa de ser um agente

da caridade e caminha em direção à execução das políticas públicas, atuando no

desenvolvimento de práticas auxiliares como pesquisa e aconselhamentos, esclarecendo aos

seus usuários os seus direitos e deveres.

No que se refere à saúde, Bravo e Matos (2006) afirmam que desde a década de 1930,

a profissão já estava inserida neste contexto. Com a ampliação dos profissionais na saúde, em

1948 se tem um novo conceito saúde, enfocados nos aspectos biopsicossociais, que

determinou a requisição de outros profissionais para atuar nesta área, entre eles estava o

assistente social.

Consolidou-se, para o assistente social, uma tarefa educativa com intervenção

normativa no modo de vida da “clientela”, com relação aos hábitos de higiene e saúde, e ele

atuou nos programas prioritários estabelecidos pelas normatizações da política de saúde. Com

isso, os assistentes sociais passam a atuar nos hospitais, colocando-se entre a instituição e a

população, a fim de viabilizar o acesso dos usuários aos serviços e benefícios, ou seja, os

profissionais utilizaram-se das ações de plantão, triagem ou seleção, encaminhamento,

concessão de benefícios e orientações previdenciárias.

Segundo Bravo e Matos (2006) a partir de 1950, com a proposta racionalizadora na

saúde, principalmente nos Estados Unidos, com a medicina integral, preventiva e os

desdobramentos em 1960 com a medicina comunitária, estas propostas não causaram

nenhuma repercussão no trabalho dos assistentes sociais na saúde no Brasil. Neste período os

assistentes sociais mantiveram suas ações nos hospitais, ambulatórios e nos centros de

26

saúde11

.

A profissão, até os anos de 1960, não foi polêmica, mesmo assim, alguns profissionais

questionavam o rumo do Serviço Social, mas não tiveram condições de modificá-lo. Porém, é

neste mesmo período que esta situação começou a se alterar, pois começou-se a questionar o

conservadorismo da profissão e estas discussões não ocorreram de forma isolada e sim com o

respaldo da interlocução com as ciências sociais e humanas. Este processo foi fracassado pelo

golpe militar de 1964, onde ocorreu à neutralização dos protagonistas sociopolíticos

comprometidos com a democratização da sociedade e do Estado, e com isso, o Serviço Social

sofreu profundas transformações na sua atuação profissional da saúde.

Os autores continuam ressaltando que a modernização conservadora implantada no

país exigiu a renovação do Serviço Social, em virtude das novas estratégias do grande capital

e do Estado em controlar e reprimir a classe trabalhadora, como também para atender novas

ações que reprimiram a racionalidade burocrática.

Neste momento o Serviço Social na saúde vai receber as influências da modernização

que se instalou no âmbito das políticas sociais, sedimentando sua ação na prática curativa e na

assistência médica previdenciária, período em que este segmento foi o maior empregador da

profissão.

Na distensão política entre 1974 a 1979, o rumo da profissão não se alterou, apesar do

processo organizativo da categoria, do aparecimento de outras direções para a profissão, do

aprofundamento teórico dos docentes e movimento mais geral da sociedade e a orientação

profissional continuou pautada na vertente de modernização.

Para Bravo e Matos (2006) o início da década de 1980, no Brasil, foi um período de

grande mobilização política, como também de aprofundamento do colapso econômico que se

evidenciou na ditadura militar. Nesta conjuntura, há um movimento significativo na saúde

coletiva, que também ocorre no Serviço Social, de ampliação do debate teórico e a

incorporação de algumas temáticas como o Estado e as políticas sociais fundamentadas no

marxismo.

O Serviço Social neste período estava norteado pelas influências da crise do Estado

brasileiro, da falência da atenção à saúde e do movimento de ruptura com a política de saúde

vigente e construção de uma reforma sanitária brasileira, ou seja, marcava o processo de

revisão interna e de negação do Serviço Social tradicional, o que ocasionava uma intensa

11 Os serviços continuaram os básicos de higiene, pré-natal, infantil, pré-escolar, tuberculose, verminose,

laboratórios e as atividades que tinham como proposta fundamental introjetar na população educação sanitária

por intermédio de educadores de higiene, professores instruídos em assuntos sanitários nas grandes cidades. Ver

BRAVO; MATOS (2006).

27

disputa pela nova direção a ser dada para a profissão. Visto que o processo de renovação do

Serviço Social estava articulado às questões colocadas pela realidade da época, mas foi um

movimento interno de revisão, não foi realizada uma aproximação com outros debates que

buscavam a construção de práticas democráticas, como o Movimento de Reforma Sanitária.

Entretanto, para Bravo e Matos (2006) é importante identificar como se deu a relação

do Serviço Social com o Movimento de Reforma Sanitária, na década de 1980, pois foi

essencial para o amadurecimento da profissão que marcou o início da tendência hegemônica

na academia e nas entidades representativas da categoria com intenção de ruptura e a

interlocução real com a tradição marxista. Este marco rebate na atuação da profissão na área

da saúde, pois sinalizou a mudança de posições quanto às discussões e postura crítica dos

trabalhadores da saúde apresentados nos Congressos Brasileiros de Saúde Coletiva; a

proposta de intervenção posta pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social

(ABESS); na Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS) e Conselho Federal de

Assistentes Sociais (CFAS) para o Serviço Social do INAMPS; e a articulação da CFAS com

outros conselhos federais da área de saúde12

.

Os avanços conquistados pela profissão no exercício profissional são considerados

insuficientes, “[...] pois o Serviço social na área da saúde chega à década de 90 ainda com

uma incipiente alteração da prática institucional; continua enquanto categoria desarticulada do

Movimento de Reforma Sanitária [...]” (BRAVO; MATOS, 2006, p. 205).

Para analisar o Serviço Social no início da década de 1990, faz-se necessário

compreender o projeto político econômico neoliberal consolidado no Brasil, visto que este

projeto confronta-se com o projeto profissional hegemônico no Serviço Social, que foi tecido

com o da Reforma Sanitária desde a década de 1980. A partir desta realidade político-

conjuntural as proposições referentes à política de saúde e o Projeto de Reforma Sanitária

passa a ser questionado. Deste modo, a saúde articulou-se com o mercado ou a rede privatista

e o da Reforma, pautou-se na política de ajuste, com o objetivo de conter os gastos com a

racionalização da oferta e a descentralização e isenção da responsabilidade do poder central.

Já explicitado no capítulo anterior, que “ao Estado neste período cabe garantir um mínimo aos

que não podem pagar ficando para o setor privado o atendimento aos cidadãos

consumidores”. (BRAVO; MATOS, 2006, p. 206). Destacando-se como característica o

12 Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS), entidade atualmente desativada, que congregava os

Sindicatos de Assistentes Sociais do país. Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS), denominado desde

1993 como Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social

(ABESS), designada desde 1997 como Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

(ABEPSS). Ver em BRAVO; MATOS (2006).

28

caráter focalizado para atender as populações em condições de vulnerabilidade, a

desconcentração dos serviços e o questionamento da universalidade do acesso.

A partir deste contexto, nos anos de 1990, os projetos políticos em disputa na saúde

eram o privatista e o projeto da Reforma Sanitária. Para o Serviço Social estes projetos se

requisitarão de diferentes formas; o projeto privatista requisitou ao assistente social, entre

outras demandas, a seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial com os

aconselhamentos, ação fiscalizadora dos usuários dos planos de saúde, assistencialismo

através do favor e predomínio de práticas individuais. Mas para o projeto de Reforma

Sanitária, o assistente social foi chamado para atender as demandas quanto à busca de

democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde, atendimento humanizado,

estratégias de interação da instituição de saúde com a realidade, interdisciplinaridade, ênfase

nas abordagens grupais, acesso democrático às informações e estímulo à participação cidadã.

Conforme o documento do CFESS (2010), o Serviço Social não passa ao largo desta

tensão, pois, ao mesmo tempo em que a década de 1990 foi marcada pela hegemonia da

tendência à intenção de ruptura, quando o Serviço Social atinge sua maioridade intelectual,

nesta década, identifica-se também a ofensiva conservadora a esta tendência, pois os

questionamentos à tendência e à intenção de ruptura afirma que o marxismo não apresentou

resposta aos desafios postos na profissão. Estas críticas se apresentam quando se tem

equívocos da tradição marxista, quando a realidade tratar-se-ia de possíveis lacunas dessa

tradição no âmbito do Serviço Social. (NETTO, 1996 apud CFESS, 2010)

2.1.1 A Prática Profissional do Assistente Social e os “Parâmetros para Atuação de

Assistentes Sociais na Política de Saúde”

Até o final do século XX, o discurso predominante no Serviço Social se caracterizava

pela prática profissional para definir um conjunto de instrumentos e técnicas que

caracterizavam a intervenção profissional. No debate contemporâneo, esta discussão estava

associada ao processo de trabalho, conceito este baseado nos pressupostos marxistas e que

não pode ser reduzido à compreensão nas formas de intervenção profissional.

O fazer profissional do Assistente Social foi, historicamente, permeado por dicotomias

entre o saber e o fazer. Na definição de suas prioridades ou na sua operacionalização,

coexistem posturas diferentes, levando os profissionais a práticas diferenciadas. O saber

transmitido na formação profissional integra um conjunto de conhecimentos, valores, modelos

e símbolos que se acumulam no próprio fazer e que se traduzem naquilo que se conhece como

29

prática.

Para Iamamoto (2000), a compreensão, ao se pensar a prática profissional, já está

relacionada à prática social, ou seja, existe a tendência de conectá-la diretamente à prática da

sociedade; outros qualificam a prática do Serviço Social de “práxis social”, ao considerar o

conjunto da sociedade em movimento e em contradições. Para a autora, o processo de

trabalho gera um valor de uso a partir do modo e produção capitalista.

O documento intitulado como “Parâmetros para a atuação de Assistentes Sociais na

Saúde” é fruto do Grupo de Trabalho “Serviço Social na Saúde”, instituído pelo Conselho

Federal de Serviço Social (CFESS) em 26 de março de 200813

. Sua finalidade era referenciar

a intervenção dos profissionais na área da saúde, e visou responder, uma demanda da

categoria em torno de orientações gerais sobre prática profissional e as respostas a serem

dadas pelos assistentes sociais às demandas identificadas no cotidiano no campo da saúde,

como também, àquelas requisitadas pelos usuários dos serviços e empregadores desses

profissionais.

Segundo CFESS (2010), o parâmetro foi construído entre junho de 2008 e março de

2009, a partir de discussões realizadas em quatro reuniões de trabalho, que foram realizadas

na sede do CFESS, em Brasília. Inicialmente nestas reuniões ficaram definidas a estrutura do

documento e a metodologia para coleta de informações acerca das atribuições e competências

profissionais sistematizadas pelo CRESS. As reuniões que sucederam aprofundaram os

conteúdos das atribuições e competências profissionais no campo da saúde, resultando na

versão preliminar deste documento. Esta versão foi apresentada aos CRESS e discutida com a

categoria entre abril e maio de 2009, em atividades organizadas pelos CRESS, por serviços e

universidades, sob a forma de oficinas, reuniões ampliadas e seminários. As discussões dos

“Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde” foram realizadas em todas as

capitais brasileiras e nas cidades do interior do país, distribuídas por regiões14

.

Para a elaboração deste documento, foram consultadas diferentes publicações e

documentações do CFESS e dos diversos Conselhos Regionais que abordavam as atribuições

e competências profissionais. Foram também, consultados os documentos publicados por

diversas secretarias municipais e estaduais e pelo Ministério de Saúde, que se amparam na

13 É publicada a portaria CFESS n. 10, composto por um representante do Conselho Regional de Serviço Social

(CRESS) de cada região do país e cinco conselheiros do CFESS. Devido a alterações na composição do GT, é

publicada a Portaria CFESS n. 2, de 26 de janeiro de 2009. Esse grupo de Trabalho contou com a assessoria

técnica da professora Dra. Maria Inês Souza Bravo. Ver em CFESS (2010). 14 Na Região Norte foram realizadas 7 debates, que envolveram 1800 participantes; na Região Nordeste foram

realizados 16 debates, que envolveram 970 participantes; na Região Centro-Oeste foram realizados 3 debates que

envolveram 200 participantes; na Região Sul foram realizados 4 debates, que envolveram 200 participantes; e na

Região Sudeste foram realizados 22 debates, que envolveram 1630 participantes. (CFESS, 2010, p. 13).

30

Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 218, de 6 de março de 1997, que

reconhece a categoria de assistentes sociais como profissionais de saúde, além da Resolução

CFESS nº 383, de 29 de março de 1999, que caracteriza o assistente social como profissional

de saúde.

A redação final do documento foi advinda dos elementos contidos em síntese e em

comentários dos debates realizados acerca da versão preliminar do documento e

encaminhados pelos CRESS15

ao CFESS, pois com todos os relatórios, reuniões e grupos de

trabalhos, que culminaram na versão final do Parâmetro, ele foi construído democraticamente

junto à categoria profissional no Brasil.

O Parâmetro está estruturado em quatro itens, o primeiro, intitulado “Saúde, Reforma

Sanitária, Sistema Único de Saúde e desafios atuais”, o segundo, aborda “Serviço Social e

Saúde”, o terceiro aborda “Atuação do Assistente Social na Saúde” e por fim o quarto aponta

para “Algumas Reflexões”. O Parâmetro não é um referencial quantitativo para atuação

profissional na saúde, e sim um conteúdo articulado com as demandas profissionais, para

intervenção profissional e as demais políticas públicas, pois, o que se espera com a discussão

dos parâmetros é “[...] fortalecer o trabalho dos assistentes sociais na saúde, na direção dos

Projetos de Reforma Sanitária e Ético-Político Profissional, imprimindo maior qualidade ao

atendimento prestado à população usuária dos serviços de saúde em todo o Brasil” (CFESS,

2010, p. 15).

Conforme o documento do CFESS (2010), a seguir será trabalhado cada item sendo o

primeiro a “Saúde, Reforma Sanitária, Sistema Único de Saúde e Desafios Atuais”, que traz a

compreensão de Seguridade Social, que representa um dos maiores avanços da Constituição

de 1988 no que se refere à proteção social e ao atendimento às históricas reivindicações da

classe trabalhadora. A Seguridade Social é composta pelo tripé Saúde, Assistência e

Previdência Social, pois este tripé representou a afirmação e extensão de direitos sociais em

consonância com as transformações sociopolíticas que se processaram.

O conceito de Seguridade Social sustenta um modelo que abarca todos os direitos

previstos no artigo 6º da Constituição Federal, como a educação, saúde, trabalho, moradia,

lazer, segurança, previdência e assistência social, pois é um modelo de ampla proteção para

atender a necessidades gerais dos cidadãos brasileiros.

A Seguridade Social a partir do projeto ético-político do Serviço Social é concebida

15

[...] Os CRESS que encaminharam os relatórios ao CFESS foram: CRESS/AM, Seccional/AC, CRESS/TO,

CRESS/AL, CRESS/PI, CRESS/BA, CRESS/RN Seccional Mossoró, CRESS/MS, CRESS/GO, CRESS/RJ,

CRESS/SP, CRESS/MG, CRESS/ES, CRESS/RS. (CFESS, 2010, p.14)

31

como “[...] parte de uma agenda estratégica da luta democrática e popular no Brasil, visando à

construção de uma sociedade justa e igualitária [...]” (CFESS, 2000 apud CFESS 2010, p.18).

A seguridade não é vista como um fim, mas como uma passagem a um padrão de civilidade,

que começa pela garantia de direitos no modo de produção capitalista, mas que não se esgota

nele.

Conforme já foi tratado no primeiro e segundo capítulo, o documento do CFESS

(2010) se remete também ao contexto histórico da década de 1980, momento em que a classe

trabalhadora não conseguiu interferir na ordem econômica, mesmo após ganhos significativos

no âmbito social e político, pois no final desta década as conquistas foram no campo político e

não no econômico. Já tratado anteriormente, nesta década a saúde foi a área que mais obteve

avanços, como exemplo tem-se o SUS que é integrante da Seguridade Social e uma das

proposições do Projeto de Reforma Sanitária, e regulamentado em 1990 pela LOS.

Na década de 1990, com a afirmação do projeto neoliberal, surge a defesa do processo

de privatização e a constituição do cidadão consumidor, a saúde passa a ser mercantilizada e o

atendimento através do Estado é básico, uma vez que esse atendimento não é de interesse do

setor privado. A política de saúde encontra cada vez mais dificuldades para efetivar-se, e no

século XXI criaram-se expectativas para a redução de desigualdades, isso não se concretizou

e a saúde permaneceu focalizada, com fortalecimento dos projetos voltados para o mercado,

com a consolidação do SUS para os pobres e a segmentação do sistema.

Conforme CFESS (2010) nesta conjuntura, de nova configuração da política de saúde

o trabalho do assistente social enfrenta modificações nas condições de trabalho, na formação

profissional, nas influências teóricas, na ampliação da demanda e na relação com os demais

profissionais e movimentos sociais. Desta maneira, amplia-se o trabalho precarizado e os

profissionais são chamados para amenizar a situação de pobreza absoluta a que a classe

trabalhadora é submetida. A partir disso, as entidades do Serviço Social têm o desafio de se

articular com os demais profissionais de saúde e movimentos sociais em defesa da Reforma

Sanitária, construídos em meados dos anos de 1970, e com pressuposto de transformações

estruturais nas políticas sociais e na saúde, em particular. Deste modo, sua concretização

somente acontece por meio de um amplo movimento de massas que discutia a cultura política

gestada pelo grande capital e que lutava pelo alargamento da democracia nas esferas da

economia, da política e da cultura.

O segundo item tratado pelos parâmetros do CFESS (2010) é o “Serviço Social e

Saúde”, e para fazer esta análise o documento também se refere à década de 1980, que já foi

tratada anteriormente. Esta década foi marcada pelo início do amadurecimento da tendência

32

hegemônica na academia e nas entidades representativas da categoria, a intenção de ruptura e

interlocução com a tradição marxista.

Na década de 1990, os avanços obtidos pela prática dos assistentes sociais não são

considerados suficientes, visto que, este período foi marcado pela implantação do projeto

neoliberal, onde os dois projetos em disputa, privatista e da reforma sanitária, passam a exigir

diferentes requisições do Serviço Social. Com todo este movimento do Serviço Social na

saúde, gradativamente surge o discurso da necessidade da criação de entidades ou da

realização de fóruns de capacitação e debates dedicados à importância da produção do

conhecimento nesta área de atuação.

A partir destas discussões, o documento do CFESS (2010) apresenta algumas

reflexões, onde o problema não está no fato dos profissionais de Serviço Social buscarem

aprofundamentos na área da saúde, mas sim, o que se torna importante destacar, que devido

aos méritos de sua competência, o profissional passa a desempenhar outras atividades como:

direção de unidades de saúde, controle dos dados epidemiológicos, entre outros, o que não o

identifica mais como um assistente social. Desta maneira, o profissional incorpora, por vezes

impensadamente, uma concepção de que fazer Serviço Social é exercer um conjunto de ações

que de acordo com a história lhe é dirigido na divisão do trabalho coletivo na saúde.

Outra questão que se colocou é a tentativa de obscurecer a função social da profissão

na divisão social e técnica do trabalho. Este problema menciona-se quando o profissional, no

seu cotidiano de trabalho, se distancia do objetivo da profissão, que na área da saúde passa

pela compreensão dos determinantes sociais, econômicos e culturais que interferem no

processo saúde-doença e na busca de estratégias político-institucionais para o enfrentamento

dessas questões, uma vez que o exercício profissional dos assistentes sociais não deve

desconsiderar as dimensões subjetivas vividas pelos usuários, pois as dimensões subjetivas

devem ser analisadas à luz das condições de vida e trabalho, ou seja, a partir dos

determinantes sociais do processo saúde-doença.

Conforme os Parâmetros do CFESS (2010), na saúde o grande foco continua sendo a

implementação do projeto de Reforma Sanitária, construído na década de 1970, uma vez que

este projeto tem relação direta com o projeto profissional dos assistentes sociais. A

dificuldade para a categoria profissional é consolidar efetivamente este projeto na sua prática

diária. Desta forma, compreende-se então que ao Serviço Social cabe uma atuação articulada

com outros segmentos que defendem o aprofundamento do SUS, como estabelecer táticas que

busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que concretizem o direito social

à saúde, orientado pelo projeto ético político profissional, e, necessariamente, articulado com

33

o da reforma sanitária, pois

Considera-se que o Código de Ética da profissão apresenta ferramentas

imprescindíveis para o trabalho dos assistentes sociais na saúde em todas as suas dimensões: na prestação de serviços diretos à população, no

planejamento, na assessoria, na gestão e na mobilização e participação

social. (CFESS, 2010, p. 30)

O Parâmetro do CFESS (2010) considera que para pensar e realizar uma atuação

competente e crítica do Serviço Social na área da saúde é necessário:

[...] estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de

usuários que lutam pela real efetivação do SUS; conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes sociais que

interferem no processo saúde-doença; facilitar o acesso de todo e qualquer

usuário aos serviços de saúde da instituição e da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa não submeter à

operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos

que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido

no projeto de Reforma Sanitária; buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da atenção em saúde; estimular a

intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a articulação

entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais; tentar construir e/ou

efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços nas

unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas; elaborar e participar de projetos de educação

permanente, buscar assessoria técnica e sistematizar o trabalho

desenvolvido, bem como realizar investigações sobre temáticas relacionadas

à saúde; efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo

de democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação

da população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos conquistados. (CFESS, 2010, p. 31-

32)

O documento do CFESS (2010) aborda que não existe uma fórmula pronta na

construção de um projeto democrático e a sua defesa não deve ser peculiar apenas de uma

categoria profissional. Não se pode ficar constrangido frente às limitações que se apresentam

na atualidade e nem desconsiderar que há um conjunto de atividades e alternativas a serem

desenvolvidas pelos profissionais de Serviço Social. Estes profissionais precisam desafiar e

enfrentar a defesa da democracia, das políticas públicas e consubstanciar um trabalho no

cotidiano e na articulação com outros sujeitos neoliberais para a saúde e para as políticas

sociais, já que estes denigrem direitos e conquistas da população defendida pelo projeto ético-

político profissional.

34

O terceiro item tratado pelo parâmetro do CFESS (2010) é o foco desta pesquisa, que

aborda a “Atuação do Assistente Social na Saúde”. Esse item tem a finalidade de distinguir as

atribuições gerais do assistente social e, ressaltar as ações do profissional na saúde. As

competências e atribuições dos profissionais de Serviço Social, sejam as realizadas na saúde

ou em outros espaços sócio-ocupacionais, são orientadas e norteadas por direitos e deveres

que constam no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão.

O assistente social é um profissional que tem perfil para atuar nas diferentes políticas

sociais a partir das leis que regulamentam a profissão, o mesmo deve afastar-se das

abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, que reforçam as práticas conservadoras

e abordam as situações sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos

individualmente. Ao reconhecer a “questão social” como objeto de intervenção profissional, a

atuação profissional demanda em uma perspectiva totalizante, baseada em determinantes

sociais, econômicos e culturais das desigualdades sociais. A intervenção orientada nesta

perspectiva teórico-política pressupõe uma

[...] leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições

materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas

de luta e organização dos trabalhadores em defesa de seu direitos;

formulação e construção coletiva, em conjunto com os trabalhadores, de

estratégias políticas e técnicas para modificação da realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos

financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e à

ampliação dos direitos. (CFESS, 2010, p.35)

As competências e atribuições dos assistentes sociais, com base nas leis de

regulamentação da profissão, requisitam dos profissionais capacidades fundamentais à

concepção do contexto sócio-histórico em que se situa a intervenção. Estas competências

admitem ao profissional realizar uma análise crítica da realidade para estruturar seu trabalho e

estabelecer as competências e atribuições específicas necessárias ao enfrentamento das

situações e demandas sociais que se apresentam no cotidiano profissional.

O documento do CFESS (2010), os parâmetros para a atuação profissional na saúde,

aponta que é necessário caracterizar o entendimento de ação profissional que se estrutura no

conhecimento da realidade dos sujeitos para os quais são destinadas na definição dos

objetivos, na escolha de abordagens e dos instrumentos apropriados às abordagens definidas.

A ação profissional está pautada nos fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos

construídos pela profissão em determinados momentos históricos e os procedimentos técnico-

35

operativo.

Como já foi referenciado pelo documento acima, o projeto ético-político da profissão

pauta-se na perspectiva da totalidade social e tem na “questão social” a base fundamental.

Desta forma, para a atuação na saúde alguns conceitos são fundamentais para o assistente

social como a concepção de saúde, a intersetorialidade, a interdisciplinaridade e a participação

sociais, já ressaltados anteriormente. O conceito de saúde, segundo relatado na Constituição

Federal de 1988, aponta que a saúde é direito de todos e dever do Estado garantir, mediante as

políticas sociais, o acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção à saúde.

Com o estudo dos parâmetros do CFESS (2010), observaram-se alguns desafios já

postos na atualidade para a profissão. E para Bravo e Matos (2006), os apontamentos

levantados para o Serviço Social na área da saúde estão relacionados ao exercício

profissional, não se reduziram a ações exclusivas sobre as questões subjetivas vivenciadas

pelos usuários e nem pela defesa de uma suposta particularidade entre o trabalho

desenvolvido pelos assistentes sociais nas diferentes especialidades da medicina, mas sim de

um profissional capacitado para formular sua prática voltada para lutar por um SUS com

visão generalista e não fragmentada.

Segundo o documento do CFESS (2010), o que se quer com a intervenção do

assistente social na saúde deve ter como parâmetro uma formação continuada para dar conta

das exigências posta na sociedade, além da fundamental investigação criativa e incessante da

inclusão dos conhecimentos e das novas exigências à profissão, articulados aos princípios dos

projetos da Reforma Sanitária e ético-político do Serviço Social, uma vez que o objetivo

central é dar respostas com qualidade e qualificadas para as reais necessidades apresentadas

pelos usuários.

Pois, cabe à prática profissional articular o aprofundamento do SUS, formular

estratégias para reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito

social à saúde, ou seja, o trabalho do assistente social na saúde requer que o mesmo esteja

articulado com o projeto ético político da profissão e o projeto de Reforma Sanitária,

considerando o Código de Ética Profissional, pois apresenta ferramentas que dão suporte para

a atuação profissional na saúde.

Desta forma, o próximo capítulo abordará a metodologia utilizada no desenvolvimento

da pesquisa, como também apresentará a continuação dos parâmetros do CFESS (2010)

dimensionando os dados a partir dos quatros grandes eixos: 1- atendimento direto aos

usuários; 2- mobilização, participação e controle social; 3- investigação, planejamento e

gestão; 4- assessoria, qualificação e formação profissional. A partir dos estudos já expostos

36

anteriormente, serão explicitados os resultados da pesquisa e as principais ações

desenvolvidas pelo assistente social dentro destes quatro eixos, destacando que esses eixos

não podem ser analisados de forma segmentada, mas articulado numa concepção de

totalidade.

37

3 ASPECTO METODOLÓGICO DA PESQUISA

Este capítulo trata da metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa, dando

ênfase à atuação profissional dos assistentes sociais da saúde na atenção primária à saúde do

município de Toledo-Paraná, a partir dos “Parâmetros para Atuação dos Assistentes Sociais

na Política de Saúde do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)” com o objetivo de

desvendar se este documento tem sido um instrumento para a prática profissional dos

assistentes sociais neste município.

3.1 METODOLOGIA DA PESQUISA

A investigação à qual nos propomos foi realizada na cidade de Toledo–Paraná, mais

especificamente com os profissionais de Serviço Social que trabalham na Atenção Primária à

Saúde no município de Toledo. A realização desta pesquisa parte da discussão que surgiu a

partir das proximidades e interesses pelo tema no decorrer do curso, visto também a

observação da prática profissional na área da saúde. A partir desta experiência surgem vários

questionamentos a respeito da política em si e da atuação profissional com base nos

parâmetros do CFESS para atuação do assistente social.

Conforme Minayo (2010, p.14), “[...] a metodologia inclui simultaneamente a teoria

da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as

técnicas) e a criatividade do pesquisador [...]”.

Desta forma, os procedimentos metodológicos adotados para a realização de uma

pesquisa indicam, sistemática e detalhadamente, a maneira como o pesquisador procede na

execução de sua investigação sobre o tema e problema proposto, sempre em consonância com

o aporte teórico adequado para a apreensão, compreensão e análise de seu objeto de pesquisa.

Considerando, portanto, o objeto de estudo, a problemática apresentada e a visão de

totalidade necessária para a apreensão, compreensão e análise do objeto, a pesquisa será do

tipo bibliográfica, exploratória e pesquisa de campo, tendo em vista que “são desenvolvidas

com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado

fato.” (GIL, 1999, p.43).

A pesquisa de campo foi realizada com os assistentes sociais que atuam no município

de Toledo na área da saúde em Atenção Primária. Para Severino (2007, p. 123), o objeto é

abordado em seu ambiente próprio, ou seja, onde se realizará a coleta de dados.

38

Às técnicas e coletas de dados para a pesquisa foi realizada através de questionário e

entrevista parcial semiestruturada. O questionário é pertinente ao objeto de estudo desta

pesquisa, claramente formulado, de modo a ser bem compreendido pelos sujeitos. Conforme

Severino (2007, p.125) o questionário é um conjunto de questões, sistematicamente

articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos

pesquisados, para conhecer a opinião dos mesmos sobre um assunto determinado.

As questões foram abertas e fechadas evitando provocar dúvidas e ambiguidades às

respostas, conforme (apêndice A). A entrevista foi realizada juntamente com o questionário,

que a partir da oitava questão foi realizadas em forma de entrevista e gravada, uma vez que o

sujeito elaborou as respostas com suas próprias palavras, a partir da sua experiência

profissional.

O universo total da pesquisa foram 10 Unidades de Saúde que tem profissionais

assistentes sociais no município de Toledo, a partir deste universo, visto que tem diversos

espaços de saúde com profissional, a amostra foi estratificada sobre o seguinte critério, dar

prioridade as Unidades Básica de Saúde - UBS, resultando em 05 profissionais. Sendo assim,

conforme Marconi e Lakatos (1999, p. 43) a amostra é uma porção ou parcela, selecionada do

universo é subconjunto do universo. Porém, no momento de coletar os dados um dos

profissionais se recusou a dar a entrevista e outro estava afastada da sua função por motivo de

doença, ou seja, a amostra resultou em 03 profissionais.

A abordagem aos sujeitos foi realizada após o esclarecimento do objetivo da pesquisa,

sendo alcançada a concordância por escrito dos sujeitos, deixando livre a escolha de participar

ou não da mesma. Também foi explicado que será mantido resguardado o anonimato dos

mesmos, conforme o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo A) e/ou Termo de

Compromisso para uso de Dados (anexo B) apresentado no projeto de pesquisa e aprovado no

dia 30/07/2012, pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) UNIOESTE, campus Cascavel –

Paraná. Ficando esclarecido, também, que as falas apresentadas serão identificadas por nome

de flor. Quanto à abordagem da pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitativa.

3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

Após a coleta dos dados, das respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa e das falas

transcritas tem-se a necessidade fazer a sistematização das informações e para isso será

utilizado à análise temática. À análise temática “[...] consiste em descobrir os núcleos de

39

sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma

coisa para o objetivo analítico visado [...]” (MINAYO, 1998, p. 209).

Esta análise desdobra-se em três etapas: a pré-análise; exploração do material e

tratamento dos resultados obtidos e interpretação. A segunda etapa, sobre a exploração do

material, que consiste na operação de codificação, se realiza na transformação dos dados

brutos visando a alcançar o núcleo de compreensão do texto. Na última etapa, trata do

tratamento dos resultados obtidos e interpretação, é quando o resultado bruto é submetido a

operações estatísticas, simples percentagens ou complexa análise fatorial, que permitem

colocar em relevo as informações obtidas. Segundo Minayo (1998), a análise temática é

formal e mantém sua crença na regularidade. Como técnica, ela transpira as raízes positivistas

da análise de conteúdo tradicional.

Desta forma para se realizar as análises e as interpretações das falas da pesquisa de

campo, estas serão apresentadas por quatro eixos que se relacionam com o objeto da pesquisa.

E estes eixos estão articulados com os Parâmetros do CFESS (2010), para atuação

profissional na saúde.

3.2.1 Eixo 1 – O atendimento direto aos usuários e as ações dos assistentes sociais nas

Unidades Básicas de Saúde - UBS

O presente eixo pretende abordar as ações desenvolvidas pelos assistentes sociais com

relação ao atendimento direto aos usuários.

Conforme CFESS (2010) as atuações que predominam no atendimento direto aos

usuários são as socioassistenciais, as de articulação interdisciplinar e as ações socioeducativas,

ou seja, estas ações não acontecem isoladamente, associam o processo coletivo do trabalho em

saúde, sendo complementares e indissociáveis.

Para a realização destas ações é indispensável e essencial à investigação, considerada

paralela ao trabalho profissional, “[...] o planejamento; a mobilização e a participação social

dos usuários para a garantia do direito à saúde, bem como a assessoria para a melhoria da

qualidade dos serviços prestados e a supervisão direta aos estudantes de Serviço Social”.

(CFESS, 2010, p. 42).

Ao questionarmos os profissionais assistentes sociais sobre as principais ações

desenvolvidas na unidade de saúde com relação ao atendimento direto, obtivemos as respostas

a seguir:

40

Tem a demanda espontânea e a demanda de busca ativa [...]. Eles procuram para acolhimento [...], orientação [...], onde buscam serviço, às vezes até

para serem somente ouvidos, para reclamar, para que a gente interceda por

eles, para acessar o serviço mais rápido, muitas vezes pra gente intervir na questão negociações entre a família, relação com idosos, especificamente

nos cuidados, como esses pacientes acamados, então tanto a demanda

espontânea que vem para a unidade quanto a demanda que a gente tem que

fazer busca, são estes casos assim, além da busca, de ir lá fazer a visita domiciliar, é também estar buscando o contato com a rede de serviço [...]

(ORQUÍDEA).

São muitos atendimentos, tanto no tratamento como na área da saúde básica, quanto ao acesso nas especialidades de médias e altas

complexidades [...]. Em torno de 10 atendimentos ao dia. Os usuários

procuram mais o Serviço Social para atendimento na área da saúde mesmo,

são poucos os casos esporádicos pedindo cesta básica [..]. (LÍRIO).

Paciente consulta com o clínico geral, o clínico geral encaminha para um

especialista e dai vem, nós somos aqui eu, mais um estagiário administrativo, aquilo que compete ao Serviço Social, por exemplo, assim,

um problema particular, eles encaminham direto a mim, mas senão, é um

trabalho de agendamento [...] vai para a central que é o consórcio, daí retornam e nós entramos em contato via telefone ou por email para o

paciente, além disso, tem as visitas domiciliares, por exemplo, que nós

trabalhamos paralelo aos agentes de saúde. O Serviço Social também faz a

entrega de fraldas, as gestantes quando ganham neném e não tem leite nós encaminhamos para o leite NAN, e o ACS, ele faz a visita e daí,

constantemente, eles chegam e falam: ‘olha lá tem uma família passando

fome, o homem bate na mulher, a pessoa é cega’, isso tudo o Serviço Social encaminha. (JASMIM).

Pode-se perceber através das falas das assistentes sociais que o atendimento direto aos

usuários acontece na maioria das vezes quando o próprio usuário as procura, nota-se, também,

que estes atendimentos acontecem de forma esporádica e não seguem um protocolo. Ainda

sobre as falas, observa-se que as ações dos profissionais visam dar atendimento imediato e

emergencial aos usuários.

Os parâmetros do CFESS (2010) dizem que estas ações de atendimento direto são

apresentadas como a maior demanda do Serviço Social, e por isso as ações devem atravessar o

caráter emergencial e burocrático, e seguir uma direção sócia educativa por meio das

reflexões. Estas reflexões devem estar relacionadas às condições sócio-históricas dos usuários.

Ao questionar as assistentes sociais quanto as ações socioassistenciais realizadas nas

unidades de saúde, estas responderam que:

41

Basicamente seria [...] através das redes de serviços mesmo, porque

assistência é com os CRAS, agora tem algumas questões de próteses e

órtese, que a própria Secretaria da Saúde encaminha. Mediante uma solicitação médica, ele tem o direito de ir lá à Secretaria de Saúde, eles vão

encaminhar através do pedido, do programa de órteses e próteses, e vai

receber uma cadeira só que dentro de um prazo de um mês de um mês e

meio, mas ele precisa pra hoje, mas não é assim que funciona, tem todo um processo que uma clínica que fornece os produtos para prefeitura, tem uma

cota de recursos por mês, uma programação, e até, às vezes, a gente já

chegou a fazer coisas aqui de muitas vezes tirar do bolso, dinheiro, juntar fazer vaquinha para comprar comida para uma questão que era

desesperadora, até usando a colaboração dos próprios funcionários.

(ORQUÍDEA).

São encaminhados para a rede. (LÍRIO)

São mais encaminhamentos e mais orientações. As principais ações mais

procuradas aqui são as da especialidade e o da saúde mental para psiquiatria, fonoaudiologia, psicologia, nós encaminhamos, eu é que faço o

agendamento e retorno para as pessoas quando está liberada a consulta. (JASMIM).

A partir destas falas observou-se que as ações socioassistenciais são mais de caráter

informativo e de encaminhamento, uma vez que, o município oferece, hoje, quatro Centros de

Referências de Assistência Social (CRAS), que atendem todas as ações socioassistenciais e

por isso esta demanda é pouco presente nas UBS.

Ainda observa-se que os profissionais têm dificuldades em esclarecer suas atribuições

e competências para constituir prioridades nas ações, conforme a demanda dos usuários, visto

que os mesmos continuam tendo como prioridade de atendimento as orientações, informações

e/ou intervenções como forma de garantir os direitos dos usuários. Pode-se dizer também que

as orientações acontecem de forma direta ou de grupo: direta quando o usuário se dirige ao

assistente social e em grupo quando o mesmo participa de reuniões programadas pela UBS.

Para o CFESS (2010) a avaliação socioeconômica dos usuários deve ser um meio de

permitir a mobilização dos mesmos para a garantia de direitos e não como uma ferramenta que

impeça o ingresso aos serviços, pois através deste estudo deve-se evitar que ele funcione como

um critério de legibilidade, seletividade estrutural, mesmo que seja um limite institucional. As

visitas domiciliares também são instrumentos importantes a serem utilizados pelos

profissionais, pois possibilitam uma compreensão melhor da vida dos usuários, como a

situação de moradia, residência, bairro e as relações familiares e comunitárias.

Ao questionar os profissionais se a sua prática está articulada aos movimentos dos

trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS, obtivemos as seguintes

42

respostas:

[...] hoje com a entrada de muitos profissionais novos na área da saúde, eu

vejo uma dicotomia: os profissionais antigos realmente estavam

comprometidos, sabiam que realmente o SUS é uma política de direito

universal e eu já me deparei com trabalhadores recém-contratados que eles entendem que o SUS é uma política para pobre [...] mas eu penso que isso é

um processo de formação na academia onde faltou orientação, faltou

informação, [...] A gente como profissional de Serviço Social, e eu tenho batido bastante nessa tecla, principalmente, com os agentes de saúde e

também com os profissionais novos, a gente tem que entender que é uma

política universal, ela não é igual a assistência social que tem critérios de

renda, nós não podemos estabelecer critérios de renda para atender a população na área da saúde, [...] com os funcionários da unidade é trabalho

de formiguinha, a gente tem que estar sempre falando ‘é um direito, se

acontecer isso, orienta a ir a tal lugar, vocês não tem direito de barrar atendimento lá na frente’ [..] O difícil é incorporar [...], a interpretação que

é equivocada, estou na política pública e não na privada. (ORQUÍDEA)

Com relação aos usuários, através das conferências e de conselhos sim,

porque é o único que a gente tem a participação com eles através da efetivação do SUS através dos conselhos. Já com os movimentos não tem

nenhum que eu poderia estar inserida, não estou e não participo, mas

através do conselho de saúde, participo estou atuante e o que eu posso fazer para estar universalizando, e efetivando os princípios do SUS para a

melhoria e o acesso da população, a gente esta mudando sim, para a

melhoria. (LÍRIO)

Olha é assim, a gente não deixa de colocar aquilo que o paciente, que a

população tem os direitos, o que seria o ideal né, nós não deixamos de fazer

nosso trabalho profissional com a população de orientação, ‘faça isso, vai

que é um direito’, mas também, não é ainda deixa a desejar. (JASMIM)

Segundo as falas dos entrevistados, observa-se que os profissionais tem conhecimento

de que o SUS é um direito garantido juridicamente, mas veem a dificuldade de conscientizar a

equipe de saúde sobre este direito. Observa-se, também, que há uma resistência quanto à

participação em movimentos que envolvam toda a comunidade para a garantia de direitos.

Os parâmetros do CFESS (2010) expõem que: estes instrumentais devem promover a

prática profissional, e fazer com que a partir do conhecimento da realidade do usuário, se

tenha informações para o alargamento dos direitos sociais. Estes instrumentos não podem ser

utilizados como meio de constatação de dados já fornecidos pelos usuários, e deve-se superar

qualquer perspectiva de fiscalização dos modos de vida da população, que envolvam, ainda,

sua cultura e rotinas.

43

Para relacionar a prática realizada pelos profissionais, o documento do CFESS (2010),

descreve que nas atividades socioassistenciais, as fundamentais ações a serem desenvolvidas

pelo assistente social são: democratizar as informações por meio de orientações; construir

perfil socioeconômico dos usuários; enfatizar os determinantes sociais na saúde dos usuários;

facilitar e possibilitar o acesso dos usuários aos serviços; conhecer a realidade do usuário por

meio da realização de visitas domiciliares; conhecer e mobilizar a rede de serviços; fortalecer

os vínculos familiares; organizar, normatizar e sistematizar o cotidiano do trabalho

profissional; formular estratégias de intervenção profissional e subsidiar a equipe de saúde

quanto às informações sociais dos usuários; elaborar estudos socioeconômicos dos usuários e

da sua família; buscar garantir o direito do usuário ao acesso aos serviços e emitir

manifestações técnicas em matéria de Serviço Social, em pareceres em conjunto ou

individuais.

Quanto às “ações de articulação com a equipe de saúde”, o documento do CFESS

(2010), discute que a atuação em equipe demanda dos assistentes sociais a observância dos

seus princípios ético-políticos, apontados nos diversos documentos legais da profissão. A

equipe de saúde e os empregadores, frente às condições de trabalho e a falta de conhecimento

das competências dos profissionais, têm, de acordo com a história requisitada aos assistentes

sociais, diversas ações que não são pertinentes aos mesmos, como:

Marcação de consultas e exames, bem como solicitação de autorização para

tais procedimentos aos setores competentes; solicitação e regulação de ambulância para remoção e alta; identificação de vagas em outras unidades

nas situações de necessidade de transferência hospitalar; pesagem e medição

de crianças e gestantes; convocação do responsável para informar sobre alta e óbito; comunicação de óbito; emissão de declaração de comparecimento na

unidade quando o atendimento for realizado por quaisquer outros

profissionais que não o Assistente Social; montagem de processo e preenchimento de formulários para viabilização de Tratamento Fora de

Domicilio (TFD), medicação de alto custo e fornecimento de equipamentos

(órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção) bem como a dispensação

destes. (CFESS, 2010, p. 46-47).

Ao questionar os profissionais sobre suas articulações e ações em conjunto com a

equipe de saúde as respostas obtidas foram as seguintes:

[...] com os funcionários até tem reuniões mensais, para discutir os projetos, mas com a população só a nível de cartazes, informativos, mas com reuniões

específicas mesmo não. Participação direta não. Nas associações de

moradores sim, quando a gente fazia trabalho educativo, o trabalho

44

educativo tinha esse foco também de dizer o que tinha na unidade, o que

estava acontecendo, o que estava faltando e como eles estavam vendo isso, e

que assim, não dependia só da população da gente estar buscando, existe a possibilidade sim, é a gente tem (N) associações de moradores e que não

está existindo agora no momento é questão de tempo para gente poder ‘tá

fazendo este trabalho fora, e também agora esse momento de política, não é

momento interessante para fazer isso, a gente pode ser usado [...], mas é possível fazer sim. (ORQUÍDEA)

Programa saúde da família, da suplementação alimentar da criança, e

ninguém atua sozinho, sempre em conjunto, para dar os encaminhamentos.

Pois sem o atendimento desses profissionais o usuário não acessa o benefício. (LÍRIO)

Então, eu trabalho com os ACS, com encontro e reuniões, eu vou fazer visita

eu dou retorno para eles, as reuniões mensais são para colocar as

dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, e quem participa destas reuniões é a assistente social e as enfermeiras. (JASMIM)

[...] cada um fica no seu mundinho, [...] só vem quando precisa de algum

atendimento, e assim, a correria dentro da unidade é muito grande, todo mundo faz sua tarefa, seu trabalho, não tem muito tempo para ficar

chamando a comunidade a estar discutindo o que dá pra ser feito [...].

(LÍRIO)

Identifica-se, nestas falas, que as atividades e articulações desenvolvidas pelos

assistentes sociais com a equipe estão interligadas com ações de programas padronizados pela

Secretaria de Saúde do município. Pode-se observar que falta a articulação dos profissionais

com a equipe para discutir a qualidade de atendimento ao usuário.

Conforme destaca CFESS (2010), as ações de articulação dos assistentes sociais na

equipe de saúde devem ser para: elucidar as atribuições e competências para os demais

profissionais da equipe; preparar propostas de trabalho que delimitem as ações de cada

profissional; estabelecer e implementar, propostas de treinamento e capacitação técnicos

administrativos; estimular e participar de discussões do modelo assistencial e da preparação de

normas, rotinas e da oferta de atendimentos da unidade juntamente com os outros

profissionais; garantir a inserção do Serviço Social em todos os serviços prestados pela

unidade de saúde; identificar e trabalhar os determinantes sociais da situação apresentada

pelos usuários e garantir a participação dos mesmos no processo de reabilitação.

Ainda sobre as ações que cabem ao Serviço Social CFESS (2010) junto às equipes de

saúde: esclarecer a respeito de benefícios e direitos, participar de ações socioeducativas nos

diversos programas e clínica; projetar, executar e avaliar com a equipe ações que assegurem a

45

saúde enquanto direito; avaliar as questões sociofamiliares que envolvam o usuário ou a

família; participar do projeto de humanização da unidade na sua concepção ampliada, sendo

paralela a todo atendimento da unidade e não restrito à entrada, tendo como referência o

projeto de Reforma Sanitária; realizar notificações junto com a equipe multiprofissional,

frente às situações de denúncia de violação de direitos, e verificar as providências cabíveis,

considerando a autonomia e o parecer social do assistente social.

Quando se questionou se o Serviço Social dentro da instituição tenta construir ou

efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços na unidade que garantam

a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas, as

respostas foram as seguintes:

Sim, é pouca participação, já aconteceu que sim, [...] toda sexta feira aqui é

fechada a unidade de saúde, ai [...] tinha a equipe que até chamou os próprios presidentes das associações de moradores para participar das

reuniões da unidade. Houve sim essa interação entre unidade e comunidade

que chamou os presidentes das associações, e agora com relação a minha pessoa, mas eu também já fiz isso assim, de se reunir com o pessoal das

escolas, e da pastoral, uma que nos fizemos a reunião, mas é pouco, é pouco

a contribuição da comunidade [...](LÍRIO)

Sim, é diariamente, o que nós mais procuramos fazer é essa articulação [...] entre a população, o espaço de participação por grupos, de diabete,

hipertensão, gestantes, é uma participação limitada, não sei se é por causa

do horário, o horário é às 9 horas da manhã, o que a gente sabe que no CRAS a participação é bem maior. Nas reuniões e nas decisões a ser tomada

a população traz muito poucas sugestões, pois tem pouca participação da

comunidade. (JASMIM)

De acordo com a fala dos profissionais observa-se que as ações acontecem com pouca

participação da comunidade, pois não há uma troca entre ambos, é o profissional que não

mobiliza e não articula a participação popular e é a população que está desmotivada a

participar dos projetos e programas oferecidos pelas UBS.

Segundo os parâmetros do CFESS (2010) as “ações socioeducativas” consistem em

orientação reflexivas e socialização de informações realizadas por meio de abordagens

individuais, grupais ou coletivas ao usuário, família e população de determinada área

programática. Estas ações devem compor-se como eixo central da atuação profissional do

assistente social, denominada também como educação em saúde, pois sua abordagem

compreende diferentes segmentos, como informação e debate sobre rotinas e funcionamento

das unidades de saúde, que tem o objetivo de democratizar e atingir as alterações necessárias;

46

a análise dos determinantes sociais das situações posta pelos usuários; democratização dos

estudos realizados pela equipe e a análise de política de saúde e dos mecanismos de

participação popular.

Ao questionar os assistentes sociais sobre as ações socioeducativas desenvolvidas, os

mesmo responderam que:

Existe no momento, só que mais no período da tarde, com a enfermagem e os

agentes de saúde, porque não estou conseguindo disponibilidade agora a nível de tempo, porque tive que acabar assumindo parte do PAD, porque

estes pacientes do PAD eles recebem fraldas e daí a gente tem o controle, e

cada vez que vem a gente faz entrevista, para ver como esta à situação, para gente ver e ir sondando como está a relação e vendo no que pode ajudar, a

entrega da fralda acaba sendo um instrumento de ver se a necessidade da

médica voltar na semana seguinte para fazer visita novamente, não é só eu que agendo isso, os agentes de saúde também, se eu não estou outro

funcionário vai atender, o agente de saúde pode atender, ou administrativo

da sala, a gente procura sincronizar, não agarrar a coisa como sendo só da

gente. Na questão educativa entra também a questão do controle social, os conselhos eles desenvolvem ações socioeducativas, então nessas ações

vinculadas ao conselho eu participo sempre [...]. (ORQUÍDEA)

Sim, com o dentista, o programa bolsa família, e o mão amiga, o programa bolsa família, abordam os mais variados assuntos educativos. (LÍRIO)

Com as gestantes, porque agora, com os CRAS, eles fazem um trabalho mais

amplo e muito relevante, nós fazemos mais quando é sobre a área de saúde,

e com as gestantes, e quando tem um grupo de alcoolismo, nós organizamos

e fazemos a conscientização. (JASMIM).

Através destas respostas é possível compreender que as ações dos profissionais nas

atividades socioeducativas são limitadas por diversos fatores como: o horário para a realização

dos mesmos, visto que, os profissionais trabalham seis horas e a procura da manhã é

diferenciada do período da tarde. Outra dificuldade levantada é o próprio desinteresse dos

usuários em participar de reuniões que visa somente o trabalho socioeducativo, ou seja, que

não lhe agrega benefícios materiais.

O que deve ficar claro para os profissionais que as ações socioeducativas ou educação

em saúde não devem somente prover informações ou esclarecimentos que levam à simples

adesão dos usuários, que reforça a perspectiva de subalternização e do controle dos mesmos.

A intencionalidade desta atividade deve estar pautada na dimensão da libertação na construção

de uma nova cultura e enfatizar a participação dos usuários no conhecimento crítico da sua

realidade e potencializar os sujeitos para a construção de estratégias coletivas.

47

Nesta perspectiva, destacam-se as seguintes atividades para o assistente social no

desenvolvimento das ações socioeducativas como: sensibilizar os usuários acerca dos direitos

sociais, princípios e diretrizes do SUS, rotinas institucionais, promoção da saúde e prevenção

de doenças por meio de grupos socioeducativos; democratizar as informações da rede de

atendimento e direitos sociais por meio de ações de mobilização na comunidade; realizar

debates e oficinas na área geográfica de abrangência da instituição; realizar atividades

socioeducativas nas campanhas preventivas; democratizar as rotinas e funcionamento da

unidade por meio de ações coletivas e orientação; assim como socializar informações e

potencializar as ações socioeducativas desenvolvendo atividades nas salas de espera; preparar

e divulgar materiais socioeducativos como folhetos, cartilhas, vídeos, cartazes e outros que

promovam o conhecimento e o acesso dos usuários aos serviços oferecidos pelas unidades de

saúde e aos direitos sociais em geral; mobilizar e estimular os usuários e suas famílias para

participar no controle democrático dos serviços prestados; realizar atividades em grupos com

os usuários e suas famílias, abordando temas de seu interesse. Deste modo, com a leitura das

falas, o que fica claro é que na área da saúde deve-se compreender os aspectos sociais,

econômicos e culturais que sempre interferem no processo saúde/doença e cabe ao Serviço

Social buscar ações estratégicas para superar as necessidades, reforçando o direito à saúde.

Ficou claro, também, que o trabalho do assistente social em equipe precisa ser refletido e as

atribuições do profissional precisam ficar especificadas e divulgadas para os diversos

profissionais.

Visto que o assistente social, ao participar de trabalho em equipe na saúde, dispõe de

ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do usuário e uma

competência também distinta para o encaminhamento das ações o que o diferencia dos demais

profissionais da equipe. Por isso, o Serviço Social tem tido, muitas vezes, dificuldade de

dialogar com a equipe de saúde para esclarecer suas atribuições e competências face à

dinâmica de trabalho imposta nas unidades de saúde.

3.2.2 Eixo 2 – Mobilização, Participação, Controle Social e as ações desenvolvidas pelos

assistentes sociais

Este eixo tem por objetivo descobrir o envolvimento dos assistentes sociais na

mobilização, participação e controle social e quais as ações desenvolvidas pelos profissionais.

O documento do CFESS (2010) diz que a “Mobilização, Participação e Controle

48

Social”, é o conjunto de ações voltadas para a mobilização e participação social de usuários,

familiares, trabalhadores de saúde e movimentos sociais em espaços democráticos de controle

social, como conselhos, conferências, fóruns de saúde e outras políticas públicas, para lutar

em defesa da garantia do direito à saúde. As atividades realizadas nestes espaços democráticos

de controle social têm a finalidade de fornecer, na organização popular e dos usuários

enquanto sujeitos políticos, a possibilidade de inscrever suas reivindicações na agenda pública

da saúde.

Ao questionar os assistentes sociais sobre quais ações os mesmo desenvolvem na

participação, mobilização e controle social, as respostas obtidas foram as seguintes:

Mobilizações são poucas, é no controle social só em nível de conselho e

conferência. (LÍRIO)

Isso é mais na participação de conselhos, mas eu participo com o sindicato

dos assistentes sociais, e dos funcionários em geral. (JASMIM)

Conforme indica o CFESS (2010), observa-se, pelas as falas, que em relação à

mobilização, participação e controle social, há uma dificuldade dos assistentes sociais se

articularem neste espaço, visto que, estas ações abrangem mobilizações em defesa da saúde

nas áreas em que a instituição está limitada e articulada com movimentos sociais.

Ainda o documento indica que um aspecto importante na mobilização e participação

social refere-se à articulação com os movimentos sociais, de maneira a fortalecer os fóruns e

os conselhos assim como para estabelecer relações com determinadas demandas institucionais,

bem como para discutir a política de saúde e delinear alternativas para a garantia dos direitos

sociais.

Para Vasconcelos (2003), o controle social é um espaço de ocupação de participação

social, objetivando o conhecimento, vigilância, comando e fiscalização dos recursos, espaços

e serviços públicos por parte da sociedade organizada. Quanto à participação social, pode ter

um papel determinante na análise e definição das demandas de saúde, causando impacto

modernizante e democratizante, ao negar e restringir a cultura patrimonialista.

A partir das falas apresentadas constata-se que existe uma lacuna na criação de espaço

que estabeleça a comunicação entre os usuários e a instituição, uma solução seria a criação de

uma ouvidoria, pois a ouvidoria no SUS é um caminho de articulação entre o cidadão e a

gestão pública de saúde, que tem o objetivo de aperfeiçoar a qualidade dos serviços prestados.

Os Parâmetros do CFESS (2010) indicam que a prática profissional deve estar voltada

49

para estimular a participação dos usuários e familiares para a luta por melhores condições de

vida, de trabalho e de acesso aos serviços de saúde; mobilizar e habilitar usuários, familiares,

trabalhadores de saúde e movimentos sociais para a edificação e participação em fóruns,

conselhos e conferências de saúde e de outras políticas públicas; colaborar para viabilizar a

participação de usuários e familiares no processo de elaboração, planejamento e avaliação nas

unidades de saúde e na política local, regional, municipal, estadual e nacional de saúde;

articular permanentemente com as entidades das diversas categorias profissionais a fim de

fortalecer a participação social dos trabalhadores de saúde nas unidades e demais espaços

coletivos.

Salienta-se, ainda, que as ações devem estar voltadas para a participação na ouvidoria

da unidade com a preocupação de democratizar as questões evidenciadas pelos usuários por

meio de reuniões com o conselho diretor da unidade bem como os conselhos de saúde, a fim

de coletivizar as questões e colaborar no planejamento da instituição de forma coletiva;

participar dos conselhos de saúde, colaborando para a democratização da saúde enquanto

política pública e para o acesso universal aos serviços de saúde; fornecer a discussão e a

viabilização das deliberações aprovadas nos espaços de controle social e outros espaços

institucionais; estimular a educação permanente dos conselheiros de saúde, visando ao

fortalecimento do controle social, por meio de cursos e debates sobre temáticas de interesses

dos mesmos, na perspectiva crítica; estimular a criação e fortalecer os espaços coletivos de

participação dos usuários nas instituições de saúde por meio da instituição de conselhos

gestores de unidades e outras modalidades de aprofundamento do controle democrático.

Os Parâmetros ainda indicam que a prática deve ser utilizada para impulsionar a

participação dos usuários e movimentos sociais no processo de elaboração, fiscalização e

avaliação do orçamento da saúde nos níveis nacional, estadual e municipal; tomar parte da

organização, coordenação e realização de pré-conferências e conferências de saúde;

democratizar junto aos usuários e demais trabalhadores da saúde os locais, datas e horários das

reuniões dos conselhos de políticas e direitos, por local de moradia dos usuários, bem como

das conferências de saúde, das demais áreas de políticas sociais e conferências de direitos;

socializar as informações com relação à eleição dos diversos segmentos nos conselhos de

políticas e direitos; estimular o protagonismo dos usuários e trabalhadores de saúde nos

diversos movimentos sociais; identificar e articular os interesses do controle social e

movimentos sociais no entorno dos serviços de saúde.

Observamos, com as falas, que as ações de mobilização, participação e controle social,

são as que têm maior grau de dificuldade em ser realizadas, porque a prática profissional deve

50

desempenhar uma função pedagógica no campo das atividades educativas formadoras da

cultura, ou seja, formadoras de um modo de pensar, sentir e agir, entendido ainda como

sociabilidade. Visto que as práticas educativas podem ser desenvolvidas em diferentes espaços

sócio-ocupacionais, “sustentados na tese de que o Serviço Social, como profissão, inscreve-se

na divisão sociotécnica do trabalho como uma atividade de cunho eminentemente educativo”

(ABREU; CARDOSO, 2009, p. 595).

Portanto, ressalta-se que a participação nos conselhos de direitos ou de gestão de

políticas, identifica-se a tendência de implementação do processo de mobilização social e

organização sem um posicionamento crítico dos profissionais sobre as contradições que

conformam os espaços constituídos por representantes da burocracia estatal e de segmentos a

sociedade civil. Por conseguinte, tal atuação aponta para a despolitização e cooptação das

classes subalternas e contribui para a debilitação e inibição das formas de resistência e pressão

em torno de seus interesses imediatos e históricos. Uma vez que, o Código de Ética, no artigo

5º, indica como deveres dos assistentes sociais na relação com os usuários, contribuir para a

viabilização da participação efetiva da população usuária nas decisões institucionais e

democratização das informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional

como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários.

3.2.3 Eixo 3- Investigação, Planejamento, Gestão e a ação profissional dos assistentes

sociais

Este eixo objetiva descobrir as atividades realizadas pelos assistentes sociais referentes

à investigação, planejamento e gestão, e as ações desenvolvidas pelos profissionais.

Conforme o CFESS (2010), esta discussão envolve um conjunto de ações e tem como

expectativa o fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir, em

equipe e intersetorialmente, propostas que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos

usuários e trabalhadores de saúde, na garantia dos direitos sociais. O processo de

descentralização das políticas sociais requisitou dos assistentes sociais a atuação nos níveis de

planejamento, gestão e coordenação de equipes, programas e projetos.

Ao questionar os profissionais sobre sua prática na investigação, planejamento e

gestão, as respostas foram às seguintes:

Serviço Social está imbuído de uma coisa que em outra encarnação eu

deveria ter sido investigadora, porque a gente acaba fuçando tanto a vida

51

alheia, usar um palavreado bem popular, porque pra você entender a

situação de vida das pessoas e usar os instrumentos que se diz de entrevista,

de visita, você acaba fazendo um serviço de investigação mesmo, é claro que individual, dentro de uma questão de ética, de sigilo, levantamento de

documentos, a gente vai pegando tudo que tem e às vezes pega umas pérolas,

fora os documentos que tem que produzir, como relatórios. (ORQUÍDEA)

Isso se faz através da participação de um curso o APSUS, que estamos realizando esta prática que envolve a investigação, planejamento e gestão. É

um curso ofertado pelo Estado e município. (JASMIM)

Pouco só no plano de atuação, pois não se tinha planejamento, mas agora

está exigindo planejar pelo governo de Estado e Federal. (LÍRIO)

A partir das falas percebemos que a atuação deveria estar embasada na efetivação de

estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e as demandas da classe

trabalhadora, além dos estudos sobre o perfil e situação de saúde dos usuários e a coletividade.

Uma vez que, a contribuição do assistente social na gestão e no planejamento busca a

intersetorialidade, na perspectiva de idealizar a saúde no âmbito da Seguridade Social. Outra

questão colocada aos profissionais é a entrada nos processo de auditoria de gestão, a partir do

monitoramento, investigação, regulação e avaliação dos serviços, procurando ir além dos

impasses vividos na política de saúde.

Questionando os profissionais sobre as principais dificuldades enfrentadas no seu dia-

a-dia de trabalho as respostas foram as seguintes:

As dificuldades são muitas [...], porque o trabalho social na saúde [...],

mesmo você fazendo o possível para conseguir concretizar é difícil porque a demanda, [..] é imensa, é imensurável, e a oferta pouca, [...] pouca assim,

no sentido assim que, é muita, muita, muita demanda, hoje é diferente

anteriormente quando eu comecei, a trabalhar na saúde, hoje, por exemplo, aqui no nosso setor é de chegar a passar 160 a 170 pessoas com problema

de saúde, com problemas socioeconômico, com problemas de separação,

com problemas de droga, são inúmeros problemas e é difícil assim para nós

conseguir suprir essa demanda, então torna-se até angustiante [...], a pessoa vem e nem sempre você pode dar uma resposta, nós orientamos, olha se você

fizer isso, mas é difícil para o Serviço Social. Não só para o Serviço Social,

[...] para as outras profissões que fazem parte da equipe na unidade de saúde. E outra coisa a limitação e não é tudo que você teria que falar para o

paciente, por exemplo, [...] porque se prega que o SUS é um direito

universal, mas na verdade esse direito ele não consegue suprir. Os recursos

de trabalho também são limitados. (JASMIM).

A grande demanda que a gente tem e também poucos recursos. Quanto

material de consumo, como recursos humanos também, recursos que eu falo

52

humanos e materiais, seriam aqueles recursos que nos trabalhamos mesmo,

por exemplo, assim, o usuário ele tem, precisa ter acesso a um beneficio e

ele não tem, então é a maior dificuldade que a gente enfrenta aqui [...], eles vêm nos procurar por conta disso e às vezes, nem nós conseguimos também

porque falta também, nesse sentido. (LÍRIO).

Na verdade são questões de toda ordem, questões estruturais, de equipamento, carro para trabalho de visitas domiciliares [...] Então a maior

dificuldade realmente é ter um veículo disponível para o trabalho da

unidade, na verdade comportaria ter um veículo específico pra unidade

mesmo. (ORQUÍDEA)

Com as falas observamos que a grande demanda do Serviço Social nas UBS é um fator

agravante que causa uma deficiência no atendimento, pois a demanda é desproporcional

quando relacionamos a mesma com a falta de investimentos.

Um dos entrevistados ainda diz que a dificuldade de planejar é por causa da gestão:

Isso é um processo de gestão, não há um sentar enquanto equipe da unidade

de saúde com a equipe de gestão lá da Secretaria de Saúde, as coisas caminham separadas, o processo de informação é muito entroncado, é até

ridículo dizer, mas, muitas vezes, a gente fica sabendo das coisas de alguma

mudança através dos próprios pacientes que nos trazem informações porque não existe um processo, por mais que exista um sistema informatizado onde

tem um correio pra encaminhar recados e informes, mas a questão da

centralização das informações é muito truncada é realmente centralizada em nível de Secretaria de Saúde, a gente não sabe o que acontece que projetos

que estão acontecendo. Reuniões técnicas a gente vinha tendo uma vez por

mês que reunia todos os profissionais das unidades de saúde, [...]

enfermeiros e assistentes sociais, especificamente estes dois, mas as reuniões se transformaram apenas e continuam se transformando apenas, por que

não mudou a forma de condução dessas reuniões em que apenas um repasse

de informações não há assim a gente não tem possibilidade de nessas reuniões a gente até levanta questões mais problemáticas, mas não somos

ouvidos não temos respostas se aquilo que a gente está propondo vai ser

pelo menos tentado fazer, [...] é como se a gente realmente fosse uma ilha, todas as unidades de saúde cada uma tem que desenvolver suas ações de

acordo com os recursos que dispõem com a equipe que dispõem, porque o

respaldo da Secretaria de Saúde enquanto gestor, enquanto órgão gestor é

mínimo. (ORQUÍDEA)

De acordo com CFESS (2010) a inserção do Serviço Social considera-se importante

nos espaços de gestão e planejamento e a realização de investigação, tendo como diretriz o

projeto ético-político profissional, nas seguintes ações: elaborar planos e projetos de ação

profissional para o Serviço Social com a participação dos assistentes sociais da equipe;

contribuir na preparação do planejamento estratégico das instituições de saúde, buscando

53

garantir a participação dos usuários e demais trabalhadores da saúde inclusive no que se refere

à deliberação das políticas; participação da gestão das unidades de saúde de forma horizontal,

procurando garantir a inserção dos diversos segmentos na gestão; prepara o perfil e as

demandas da população usuária por meio de documentação técnica e investigativa; identificar

as manifestações da “questão social” que abordam os diversos espaços do Serviço Social por

meio de estudos e sistema de registro; realizar a avaliação do plano de ação por meio da

análise das ações realizadas pelo Serviço Social e pela instituição e os resultados alcançados;

participar nas Comissões e Comitês temáticos existentes nas instituições; realizar estudos e

investigações com relação aos determinantes sociais da saúde; identificar e estabelecer

prioridades entre as demandas e contribuir para a reorganização dos recursos institucionais por

meio da realização de pesquisas sobre a relação entre os recursos institucionais necessários e

disponíveis, perfil dos usuários e demandas.

Destacam-se ainda como ações: participar de estudos relativos ao perfil

epidemiológico e condições sanitárias no nível local, regional e estadual; realizar investigação

de determinados segmentos de usuários, objetivando a definição dos recursos necessários,

identificação e mobilização dos recursos existentes e planejamento de rotinas e ações

necessárias; fortalecer o potencial político dos espaços de controle social por meio de estudos

em relação aos mesmos a fim de subsidiá-los com relação às questões enfrentadas pelos

conselhos na atualidade; participar de averiguações que estabeleçam relações entre as

condições de trabalho e o favorecimento de determinadas patologias, visando oferecer

elementos para a análise da relação saúde e trabalho; realizar estudos da política de saúde

local, regional, estadual e nacional; prover elementos para a reformulação da política de saúde

local, regional, estadual e nacional, a partir das investigações realizadas; criar estratégias e

rotinas de ação, como, por exemplo, fluxogramas e protocolos, que apontem a organização do

trabalho, a democratização do acesso e a garantia dos direitos sociais; unificar-se a equipe de

auditoria, controle e avaliação, visando a melhoria da qualidade dos serviços prestados, tendo

como referência os projetos da Reforma Sanitária e o ético-político profissional; sensibilizar

os gestores da saúde para a relevância do trabalho do assistente social nas ações de

planejamento, gestão e investigação.

Com todas as atribuições apresentadas pelos Parâmetros do CFESS (2010), ressalta-se

que o Serviço Social é uma profissão investigativa e interventiva. Portanto, as análises e

estudos realizados pelos assistentes sociais precisam ser realizados a partir de situações

concretas e possuir uma utilidade social. Para que os estudos e pesquisas destes profissionais

tenham utilidade social, é fundamental, além da clareza do projeto ético-político construído

54

coletivamente pela categoria, o domínio teórico-metodológico e ético-operativo, alicerçados

pelo conjunto de conhecimentos, habilidades, atribuições, competências e compromisso

necessários à realização dos processos de trabalho, em qualquer espaço ou âmbito de atuação

onde o assistente social o realize.

De acordo com Battini (1994), a atitude investigativa torna possível a superação da

visão pragmática na ação profissional, centrada na imediaticidade dos fatos e que privilegia

sequências empíricas. Além disso, no exercício profissional do assistente social, a atitude

investigativa desmistifica o fato de que só fazem ciência ou só agem cientificamente aqueles

que têm o privilégio de construir o saber, ou seja, os assistentes sociais que estão inseridos nas

academias como docentes e pesquisadores, uma vez que tal atitude propicia desvendar, pelas

mediações, a realidade aparente.

As ações profissionais dos assistentes sociais, por serem tecidas no cotidiano, não

podem ser repetitivas, rotineiras e esvaziadas de sentido, ao contrário, é justamente daí que

advém a sua preciosidade, conforme esclarece Martinelli (1994, p. 13): "uma riqueza de vida

que poucas profissões têm, temos uma atividade que se constrói na trama do cotidiano, que se

constrói nas tramas do real".

O assistente social tem uma ação profissional que se tece no dia a dia dos usuários, na

característica de suas vidas, conforme a mesma autora explicita, transita entre demandas,

carências e necessidades que se constituem de ações múltiplas. Sendo assim, esse profissional

é desafiado a superar-se constantemente, reconhecendo a realidade sócio-histórica em que

vive e trabalha, tornando-se protagonista da construção do projeto ético-político da categoria,

que deve assegurar a ampliação da liberdade, ser atuante na consolidação da democracia,

garantindo a todos os sujeitos maior equidade e justiça social, enfrentando as contradições e

desigualdades socialmente produzidas.

3.2.4 Eixo 4 – Assessoria, Qualificação, Formação Profissional e a ação profissional dos

assistentes sociais

Este eixo objetiva conhecer as principais ações desenvolvidas pelos assistentes sociais

na assessoria, qualificação e formação profissional.

Para o CFESS (2010), estas atividades de qualificação e formação profissional visam o

aperfeiçoamento profissional, tendo como objetivo a melhoria da qualidade dos serviços

prestados aos usuários. Pois, abarca a educação constante dos trabalhadores de saúde, da

55

gestão, dos conselheiros de saúde e representantes comunitários, bem como a formação de

estudantes da área da saúde e residentes. As atividades de formação profissional envolvem a

criação de campo de estágio, supervisão de estagiários, bem como a criação e a participação

nos programas de residência multiprofissional ou uniprofissional e a preceptoria de residentes,

a articulação com as unidades de formação acadêmica é fundamental para o desenvolvimento

dessas atividades.

Quando se questionou os profissionais sobre qual o grau de conhecimento dos mesmos

sobre os Parâmetros do CFESS para a atuação profissional na saúde, eles responderam o

seguinte:

Teoricamente sim, tem tudo ali, tem tudo que a gente faz, só o que a gente no momento não está fazendo há um enfoque maior na área preventiva, mas

isso é uma questão de gestão até, porque não é basicamente nessa unidade é

uma coisa que política de prevenção tem que ser política de gestão, então a gente tem que ter o suporte, eu não posso dar uma reunião um grupo de

trabalho de repente vou ser interrompida para atender um caso.

(ORQUÍDEA)

Não, mas a gente tenta da melhor forma possível seguir os parâmetros, mas não 100%, não é como teria que ser [...], a gente faz o possível, mas deixa

muito a desejar ainda. (JASMIM)

[...] sim porque, quando fala das atribuições está relacionado ao Código

Ética Profissional, onde tem que efetivar a garantia dos direitos sociais, pois

é o dever nosso enquanto profissional de estar acessando o usuário a estes direitos e a gente procura garantir no máximo estes direitos. (LÍRIO).

A partir destas falas, observa-se que a prática profissional fica longe de seguir os

Parâmetros designado pelo CFESS (2010), uma vez que este documento tem a finalidade de

referenciar, responder e dar orientações à intervenção dos profissionais na área da saúde e as

respostas a serem dadas pelos assistentes sociais às demandas identificadas no cotidiano de

trabalho.

Observou-se também que, em uma das falas existe uma contradição, uma vez que, o

profissional diz não conhecer os parâmetros, mas logo em seguida afirma que faz o possível

para realizar a prática conforme o documento.

Quando se questionou os profissionais sobre como está articulada a prática profissional

e a participação em assessoria, qualificação e formação profissional, as respostas foram as

seguintes:

56

Embora venha tendo este curso do APSUS16

, ainda deixa a desejar, já foi

bem melhor, mas às vezes eu deixo de ir pela população porque a assistente

social é só uma e se eu sair vai prejudicar o atendimento à população. (JASMIM)

Foi limitado pelo governo, pois os cursos para formação foram limitados,

por este cursos servem para progressão a nível salarial, as exigências aumentaram, pois a intenção era a não progressão do funcionário. (LÍRIO)

Nos últimos anos participei dos oferecidos pela UNIOESTE, da ITAIPU, de

grupo de idosos e os oferecidos pela prefeitura mesmo. (ORQUÍDEA)

Observa-se nas falas que a participação dos profissionais em eventos de formação

profissional é baixíssima, esta pouca participação está relacionada, também, com a não

liberação do trabalho para participar das capacitações.

Ao questionar como se dá a correlação de forças no espaço da instituição, as respostas

foram as seguintes:

São aqui, sabe, porque a assistente social tem uma grande demanda, e o

Serviço Social nas decisões ele é livre. [...] Neste momento não existe correlação de forças, pela própria experiência profissional. (JASMIM).

Não é fácil, não, trabalhar na área da saúde, agora melhorou, mas assim, para assistente social conquistar seu espaço na área da saúde tanto no

âmbito de unidade saúde como via Secretaria de Saúde, foi de chorar muitas

vezes, o espaço ali é você conquistar seu espaço com os colegas não foi fácil

não, mas agora eu creio que o Serviço Social conquistou seu espaço com a população junto ao colega de trabalho há respeito, assim, cada um tem seu

espaço, eles nos respeitam, mas é o assistente social através do seu trabalho

[...], não é fácil não, a correlação de força. Antes com aquelas mentes arraigadas, se pensava que as unidades de saúde eram deles, os enfermeiros,

que ele era o poder supremo absoluto, e surgiam os conflitos, mas graças a

Deus com os novos não. Mas tem ainda os que acham que é detentor do poder absoluto de mandar, mas mudou e melhorou muito. (LÍRIO)

Observa-se que há um dualismo nas falas apresentadas, um profissional reconhece a

16 O APSUS é o Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde, do Governo do Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, este é um programa inovador do governo estadual, que instituiu uma nova lógica

para a organização da Atenção Primária à Saúde (APS), estreitando as relações entre o Estado e os Municípios,

fortalecendo as capacidades de assistência e de gestão, com vistas à implantação das Redes de Atenção à Saúde

(RAS) na implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). O APSUS possibilita à população paranaense

atendimento à saúde com qualidade e resolutivo em todas as regiões do Estado, sendo organizada o mais

próximo possível das residências dos cidadãos paranaenses, aumentando as capacidades de respostas às

demandas sociais, sanitárias e assistenciais por parte das equipes de APS. Com eficiência e de forma

humanizada, as equipes de APS devem instituir um novo paradigma assistencial no setor saúde, produzindo uma

mudança em todo o modelo de atenção à saúde no Estado. (PARANÁ, 2012, s.p.)

57

existência das correlações de forças e outro a desconhece na instituição, com isso podemos

dizer que falta uma compreensão maior do profissional, uma vez que, quando se trata de

trabalho em equipe, nos diversos espaços institucionais a correlação de força sempre será

existente, ou seja, a correlação de forças é produto da articulação dos diferentes profissionais

de saúde no trabalho de equipe, ou entre o profissional e a instituição empregadora, seja ela

pública ou privada. O que compete ao assistente social, neste caso, é criar e dinamizar espaços

coletivos que contribuam para desenvolver uma correlação de forças favorável à

universalização e ampliação dos direitos sociais provocando uma interferência nas rotinas

institucionais para facilitar o acesso e qualidade dos serviços prestados.

Segundo o CFESS (2010), as principais atividades desenvolvidas neste eixo são:

fortalecer o domínio democrático por meio da assessoria aos conselhos de saúde, em todos os

níveis; estabelecer estratégias coletivas para a política de saúde da instituição, bem como para

outras esferas por meio da organização e coordenação de seminários e outros eventos; criar

campos de estágio e supervisionar diretamente estagiários de Serviço Social e estabelecer

articulação com as unidades acadêmicas; participar ativamente dos programas de residência,

desenvolvendo ações de preceptoria, coordenação, assessoria ou tutoria, cooperando para

qualificação profissional da equipe de saúde e dos assistentes sociais, especificamente;

participar de cursos, congressos, seminários, encontros de pesquisas, objetivando apresentar

estudos, investigações realizadas e troca de informações entre os diversos trabalhadores da

saúde.

Ainda como atividades: participar e motivar os assistentes sociais e demais

trabalhadores da saúde para a implantação e implementação da NOBRH/SUS nas esferas

municipal, estadual e nacional; qualificar o trabalho do assistente social e dos demais

profissionais da equipe de saúde por meio de assessoria e educação continuada; preparar plano

de educação permanente para os profissionais de Serviço Social, bem como participar, em

unido com os demais trabalhadores da saúde, da proposta de qualificação profissional a ser

promovida pela instituição; criar fóruns de reflexão sobre o trabalho profissional do Serviço

Social, bem como espaços para discutir a ação dos demais profissionais de saúde da unidade e

assessorar entidades e movimentos sociais, na expectativa de fortalecer as lutas em defesa da

saúde pública e de qualidade.

A partir das atribuições profissionais descritas pelos documentos do CFESS (2010),

deve ficar claro para os profissionais que a assessoria vem se desenvolvendo no Serviço

Social como competências profissionais para a gestão das políticas sociais. Várias são as

assessorias prestadas por assistentes sociais aos diferentes sujeitos envolvidos nesta área,

58

como aos gestores públicos, privados e filantrópicos; aos conselhos tutelares, conselhos de

direitos e de políticas; aos profissionais que atuam nos setores públicos e privados aos

movimentos sociais; entre outros. Mas é importante que a categoria profissional tenha clareza

dos objetivos e intenções dessas demandas, pois a assessoria pode ser uma atribuição privativa

do assistente social ou uma competência profissional. (MATOS, 2009).

Portanto, uma preocupação central que deve nortear a formação e a qualificação

profissional dos assistentes sociais da saúde é a educação permanente, pois a capacitação

permanente possibilita ao profissional romper com a prática rotineira, acrítica e burocrática, e

buscar, a partir da investigação da realidade a que estão submetidos os usuários dos serviços

de saúde, a reorganização da sua atuação, tendo em vista as condições de vida dos mesmos e

os referenciais teóricos e políticos hegemônicos na profissão, previstos na sua legislação, e no

projeto de Reforma Sanitária.

De acordo com Koike (2009) manter o processo da formação profissional sob

permanente atualização crítica, torna-se, cada vez mais, necessário nos diferentes campos

profissionais, visto que supõe-se que uma formação profissional influencia um perfil crítico,

fundado em rigorosa capacidade teórica, ético-política e técnico-prática, voltada ao

conhecimento e transformação da realidade.

A autora afirma ainda que, grande desafio é deixar claro para as instituições

empregadoras que a formação permanente dos profissionais contribui com o trabalho do

mesmo, pois eleva o profissional à novas dimensões para desenvolver suas potencialidades e

interlocução com a teoria social crítica; atitude investigativa e prática da pesquisa; estudos

avançados proporcionados pelos diferentes níveis da pós-graduação, produção de

conhecimento; apropriação dos princípios éticos; empenho teórico-prático à aproximação aos

carecimentos das classes trabalhadora; formação qualificada, com direção social e fino

acompanhamento da dinâmica societária; necessidades sociais subjacentes às demandas

profissionais, dos processos formativos e do exercício profissional.

Para Pereira e Ramos (2006), a qualificação não é estática, é processo de construção

individual e coletiva, onde os indivíduos se qualificam ao longo das relações sociais, e, neste

sentido, não pode ser tomada como construção teórica acabada, mas ainda, alerta-nos para o

fato de que os espaços de qualificação profissional em saúde devem ser pensados também nas

suas singularidades.

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) procurou fazer uma análise sucinta da

política de saúde, com ênfase nos principais desafios a serem enfrentados na atualidade. Em

seguida, apresentou alguns embates teórico-metodológicos que ocorrem no Serviço Social

com repercussão na saúde. Mas como conteúdo central, enfatizou os Parâmetros para a

atuação dos assistentes sociais na saúde, desvendando se a prática profissional do assistente

social que atua nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) está articulada com este documento do

CFESS (2010), que tem por objetivo fornecer subsídios para ampliar o debate e possibilitar

uma reflexão dos profissionais face às ações realizadas, bem como fortalecer o projeto ético-

político profissional. Visto que, a atuação profissional na saúde utiliza suas competências e

seus conhecimentos, articulados aos princípios do projeto ético-político da profissão, na

compreensão dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais que interferem no

processo saúde-doença, buscando estratégias para o enfrentamento das mais diversas

demandas existentes na saúde.

Neste trabalho não se pretendeu abordar todas as atribuições e competências do

assistente social levantadas pelos Parâmetros do CFESS, pois se considerou que estas estão

em permanente construção, sendo um desafio aos assistentes sociais que atuam na saúde.

Procurou-se centrar em questões como: atendimento direto aos usuários; mobilização,

participação e controle social; investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e

formação profissional. Porém não desconsideramos outras questões pertinentes e polêmicas

que o documento trata, como, por exemplo, a humanização, o machismo, o sexismo e os

movimentos do LGBT17

e das atividades burocráticas que são transferidas para o assistente

social, visto que, os Parâmetros é um documento abrangente e discute a saúde de forma

ampliada, desde a atenção primária até as práticas nas áreas mais complexas, como a de alta

complexidade.

Como resultado da pesquisa a obtenção foi a seguinte: os profissionais que atuam nas

UBS do município de Toledo, até reconhecem que o CFESS oferece um Parâmetro para

atuação na saúde e que o mesmo apresenta um conjunto de atribuições e competências a

serem realizadas pelos profissionais de Serviço Social na saúde. Porém ficou claro que a

prática profissional está longe de seguir os Parâmetros do CFESS (2010), ou seja, a prática

que os profissionais realizam é anterior à criação do documento, visto que não se tem um

avanço substancial. Observou-se que existe uma dificuldade dos profissionais incorporarem 17 A população de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis. CFESS (2010).

60

os instrumentais apresentados pelo documento do CFESS (2010) no cotidiano e os motivos

são os mais variados como a demanda sufocadora, por não terem um espaço de discussão nas

unidades e nem tempo para refletir a prática profissional.

Outros dados importantes levantados pela pesquisa foram que, os assistentes sociais

das UBS realizam suas ações de forma imediata, emergencial, com caráter burocrático e com

enfoque para a execução terminal da política de saúde. Os profissionais não realizam ações

socioassistencias, eles têm dificuldades em conscientizar a equipe de trabalho que a saúde é

um direito de todos e dever do Estado de garanti-lá ao usuário. Nas atividades e decisões

tomadas inexiste a participação da comunidade e os profissionais não interagem em mobilizar

e articular a participação dos mesmos, visto que, as ações estão limitadas porque existe um

desinteresse dos usuários em participar das reuniões que visam somente o trabalho

socioeducativo, que não agregam benefícios materiais.

Os dados apontam que os profissionais participam pouco de ações que desenvolvem a

mobilização, participação e controle social, visto que, a participação nos conselhos da saúde é

praticamente nula. Além disso, observou-se que a participação em eventos de formação

profissional e capacitação são muito baixas e isso reflete na prática profissional. No momento

da coleta dos dados observou-se que existe a possibilidade dos assistentes sociais realizarem

as atividades e ações que indica os Parâmetros para a atuação profissional na saúde, visto que,

existe autonomia dos mesmos em elaborarem o planejamento das ações para desenvolver nas

UBS. Também destacamos como maior problemática para a atuação do assistente social nas

UBS, a falta de uma Política de Educação Permanente dos profissionais.

A importância da educação permanente no Serviço Social se faz necessária por que

sabemos o quanto o trabalho dos assistentes sociais está sempre sujeito a imprevistos, o que

exige clareza na intencionalidade de suas ações, criatividade e iniciativa para lidar com as

diferentes situações que surgem nas dinâmicas dos serviços e/ou espaços ocupacionais. A

capacitação e a qualificação profissional devem ser discutidas não como um requisito de

empregabilidade, mas como forma de organização coletiva de uma categoria profissional que

tem a intenção de contribuir com a promoção social e defesa dos direitos humanos na

sociedade atual.

De acordo com Paiva (1985) educação permanente é a aprendizagem contínua de um

estilo de vida adequado a uma sociedade que se considera, em permanente transformação e

em constante desenvolvimento, para a melhoria da qualidade de vida da população. Desta

forma, a educação permanente para os assistentes sociais se constituiu numa estratégia de

formação profissional a partir da possibilidade de construir-se e transformar-se no e o mundo

61

do trabalho em um movimento dinâmico mediado por valores éticos e políticos.

Outra dificuldade enfrentada para a realização da pesquisa foi que, no momento da

coleta dos dados, estávamos em período eleitoral e isso fez com que os profissionais tivessem

certa resistência em se posicionar frente às questões apresentadas por medo de serem

supostamente prejudicados posteriormente.

Destacamos também, que o assistente social precisa ter clareza em relação aos

objetivos profissionais e quais suas competências na prática profissional, visto que ele é um

protagonista das transformações necessárias para o enfrentamento da questão social. É

necessário que os profissionais invistam na sua Educação Permanente enquanto estratégias de

modificações das suas ações no espaço de trabalho, para capturem os movimentos da

realidade social através de um processo de conhecimento que o permita compreender o

significado das demandas postas para intervenção profissional, deflagrando, assim, nos

espaços da prática profissional, como processos reflexivos e investigativos, de modo que

propicie a sistematização de informação para serem utilizadas como forma de avaliar as ações

desenvolvidas, para melhorar cada vez mais os serviços prestados à população e qualificando

suas futuras intervenções.

Nesta caminhada de pesquisa, é fundamental destacar a importância da necessidade de

o profissional de Serviço Social planejar suas ações e intervenções baseadas na ética e no

compromisso com o usuário. O assistente social precisa refletir na qualidade dos serviços

prestados à população, principalmente quando mais de um profissional intervém na mesma

situação, para que suas ações não sejam desfocadas de suas atribuições e competências.

Portanto, conclui-se que os assistentes sociais precisam superar as velhas práticas para

consolidar efetivamente o que propõe o projeto ético-político profissional, o Código de Ética

dos assistentes sociais e que tenha os “Parâmetros para Atuação dos Assistentes Sociais na

Política de Saúde do Conselho Federal de Serviço Social - CFESS” seja um instrumental para

planejar, executar e avaliar sua prática profissional diariamente.

62

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65

APÊNDICE

66

APÊNDICE A QUESTIONÁRIO PARA OS ASSISTENTES SOCIAIS DE ATENÇÃO

PRIMÁRIA A SAÚDE NO MUNICIPIO DE TOLEDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE

CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO

PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: Profa. Ms. Diuslene Rodrigues Fabris

ACADÊMICO (A): Karina Aparecida Feliciano da Silva

OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Compreender e analisar como que o assistente social

da atenção primária a saúde do município de Toledo está respaldando sua prática profissional

a partir dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde do Conselho

Federal de Serviço Social (CFESS).

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Questionário e entrevista parcial semi-

estruturada.

PÚBLICO ALVO: Assistentes Sociais da atenção primária a saúde.

INSTITUIÇÃO/LOCAL DA ENTREVISTA: XXXXX

DATA DA ENTREVISTA:

____/_____/2012__

Nº DA ENTREVISTA: ________________

Roteiro de Perguntas:

1. Nome completo?

2. Qual a idade?

3. Estado civil? ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) amasiado(a) ( ) viúvo(a)

( ) Outro. Qual?

4. Qual Unidade de Saúde que trabalha/ qual bairro?

5. Quanto tempo esta nesta instituição?

6. Quanto tempo trabalha na área da saúde?

7. Tem alguma especialização?

( ) NÃO ( ) SIM - Qual (is)?

A) Tem tido oportunidade para sua qualificação profissional?

B) Quem oferece estas capacitações? É possível quantifica- lá durante o ano?

8. Quais as principais dificuldades enfrentadas nos seu dia-a-dia de trabalho?

9. Já ouviu falar dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde?

( ) SIM ( ) NÃO

Se a resposta for sim, responda as questões abaixo:

a) Foi pelos estagiários? ( ) SIM ( ) NÃO

67

b) Eventos? ( ) SIM ( ) NÂO

c) Leituras da área? ( ) SIM ( ) NÃO

10. Os “Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde do Conselho

Federal de Serviço Social (CFESS)” tem sido um instrumento para sua prática

profissional? Se a resposta for não, justifique.

11. A prática profissional do assistente social esta articulada aos movimentos dos trabalhadores e de usuários

que lutam pela real efetivação do SUS?

12. O Serviço Social tenta construir ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços na

unidade que garantam a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas?

13. Participa das Reuniões do Conselho Municipal da Saúde? Como conselheira ou ouvinte? (se a resposta for

negativa) Por quê?

14. Atua em equipe multiprofissional ou multidisciplinar?

a) ( ) SIM ( ) NÃO

b) Qual (is)

c) As competências do Serviço Social são reconhecidas pelo grupo?

d) Como se dá as correlações de forças neste espaço?

15. Como você profissional assistente social na saúde realiza sua ação dentro destes eixos abaixo:

a) No atendimento direto ao usuário.

b) Nas ações socioassistenciais.

c) Nas ações de articulação com a equipe de saúde.

d) Nas ações socioeducativas.

e) Nas mobilizações, participações e controle social.

f) Na investigação, planejamento e gestão.

g) Na assessoria, qualificação e formação profissional.

68

ANEXO A – TERMO DE CIÊNCIA DO RESPONSÁVEL PELO CAMPO DE

ESTUDO

69

70

ANEXOS

71

ANEXO A – TERMO DE CIÊNCIA DO RESPONSÁVEL PELO CAMPO DE ESTUDO

72

ANEXO B – PARECER DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP