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SERVIÇO SOCIAL
__________________________________________________
ALINE FERNANDA JUNGES
O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE
VIOLAÇÃO DE DIREITOS
________________________________________________________ TOLEDO-PR
2014
ALINE FERNANDA JUNGES
O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE
VIOLAÇÃO DE DIREITOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Serviço Social, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, como requisito
parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Serviço Social.
Orientadora: Profª. Ms. Cristiane Carla Konno
TOLEDO-PR
2014
ALINE FERNANDA JUNGES
O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE
VIOLAÇÃO DE DIREITOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Serviço Social, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, como requisito
parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Serviço Social.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Ms. Cristiane Carla Konno
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Profª. Esp. Bruna Nathaly Silveira
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Profª. Drª. Cleonilda Sabaini Thomazini Dallago
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Toledo, 06 de novembro de 2014.
AGRADECIMENTOS
A Deus que possibilitou que eu chegasse até aqui e concluísse mais esta etapa da minha vida.
Que sempre esteve comigo, mostrando sua presença e me dando forças para continuar diante
de cada obstáculo presente.
À minha amada mãe Nelci, minha inspiração profissional para trilhar este caminho, graças à
qual sou o que sou e tive condições de permanecer estudando durante estes quatro anos
intensos de dedicação e preparação profissional. Este trabalho é também um presente para
você, pois sei que você sempre desejou que eu tivesse a oportunidade de ter a formação
profissional que você teve.
Ao meu amor Jackson, meu anjo, presente de Deus na minha vida, meu companheiro, amigo,
namorado, que soube me compreender nos momentos mais difíceis e intensos de dedicação
para que esta etapa fosse vencida.
À minha amada irmã Juliana, que sempre demonstrou preocupação comigo e com a qual
sempre pude compartilhar preocupações e aflições. Você é um exemplo de pessoa e de
profissional para mim.
À minha querida orientadora de TCC Cristiane, pela atenção e auxílio que me deu para que eu
pudesse desenvolver este estudo, cujos conhecimentos e experiência foram imprescindíveis
neste processo.
Às professoras Cleonilda e Bruna, por terem aceitado participar da banca de apresentação e
defesa deste trabalho.
À professora India Nara, pela preocupação que sempre teve com a minha saúde e pelas dicas
que me deu em relação às dúvidas que tive durante este processo.
Aos sujeitos desta pesquisa, por terem aceitado participar deste estudo.
Ao Hospital Universitário do Oeste do Paraná, pela oportunidade de estágio concedida.
Às minhas supervisoras de campo de estágio Vivian Bertelli e Dalas Cristina Miglioranza pela
oportunidade que me deram de aprender a ser uma assistente social, com as quais aprendi a
ser uma profissional comprometida com os usuários e competente.
Às minhas colegas, amigas e irmãs de faculdade Ivanice, Elizabet, Thais, Aparecida, Alcione,
Solange e outras que me auxiliaram nos momentos que tive problemas de saúde, crise pessoal,
emocional e tantas outras, com as quais pude compartilhar alegrias, aflições e preocupações.
À minha amiga e irmã de Van Marilda, a qual tive o privilégio de conhecer desde o primeiro
ano de faculdade e praticamente a única que restou e continua junto comigo lutanto para
concluir os estudos. Sou grata a você por ter me ouvido tantas vezes, minhas alegrias, aflições
e preocupações.
Aos motoristas de Van Cláudio, Rosaldo e João que contribuiram e me auxiliaram nos
momentos que precisei me locomover.
À Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.
Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.
Bertold Brecht
JUNGES, Aline Fernanda. O exercício profissional do assistente social do Hospital
Universitário do Oeste do Paraná de Cascavel em situações de violação de direitos.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais
Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Toledo - PR, 2014.
RESUMO
O presente trabalho é fruto de um estudo realizado como parte constitutiva da disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (UNIOESTE). Tem como objetivo primário apreender a dimensão técnico -
operativa do exercício profissional do assistente social do Hospital Universitário do Oeste do
Paraná (HUOP) de Cascavel, em situações de violação de direitos dos usuários no primeiro
semestre de 2014. Trata-se de uma investigação cuja metodologia foi composta pelas
modalidades de pesquisa bibliográfica e de campo, para a qual foram selecionadas como
sujeitos três assistentes sociais que trabalham no HUOP, de um universo que contempla
quatro assistentes sociais que trabalham na referida instituição. A aproximação realizada com
a dimensão técnico - operativa do exercício profissional do assistente social do HUOP em
situações de violação de direitos dos usuários no primeiro semestre de 2014, permitiu inferir
que as assistentes sociais que trabalham no HUOP se depararam com variadas formas de
violação de direitos no período analisado, dentre as quais, a falta de leitos ou acomodações
adequadas aos usuários, a não liberação de acompanhantes à gestante em situação de parto, a
falta de informações clínicas por parte da equipe médica ao paciente/familiares, pacientes em
situação de rua com alta hospitalar, acamados e dependentes para todos ou quase todos os
cuidados, em situação de abandono, sem pessoas para acolhê-los ou local para serem
encaminhados, exclusão do mercado de trabalho e negligência e violência contra criança e
adolescente. Constatou-se que na maioria destas situações o Estado foi o agente violador de
direitos dos usuários. Para responder a tais situações, verificou-se que as profissionais
utilizaram instrumentos como a entrevista, a observação e a reunião, técnicas e procedimentos
como o relacionamento e a abordagem e ações como: encaminhamentos, orientações e
mobilização de outros serviços e profissionais no intuito de garantir a efetivação dos direitos
dos usuários. Em conjunto com estes instrumentais também foi possível identificar que as
entrevistadas utilizaram conhecimentos teórico-metodológicos e ético-políticos. Por meio de
todos estes elementos, as assistentes sociais buscaram viabilizar a efetivação dos direitos dos
usuários, visando cumprir o disposto no Projeto Profissional do Serviço Social, que explicita,
como um dos princípios da categoria, a defesa dos direitos.
Palavras-chave: dimensão técnico-operativa; violação de direitos; exercício profissional.
LISTA DE SIGLAS
HUOP
OMS
Hospital Universitário do Oeste do Paraná
Organização Mundial de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UTI
Unidade de Terapia Intensiva
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 "QUESTÃO SOCIAL" E POLÍTICAS SOCIAIS: A POLÍTICA DE SAÚDE NO
BRASIL ................................................................................................................................... 13 1.1 “QUESTÃO SOCIAL” E POLÍTICAS SOCIAIS NO CONTEXTO DA SOCIEDADE
CAPITALISTA ........................................................................................................................ 13
1.2 POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL ............................................................................... 16
2 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ ................................................................... 18 2.1 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO DAS
POLÍTICAS SOCIAIS - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ .......... 18
2.2 HISTÓRICO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ ............... 21
2.3 AS DIMENSÕES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ...... 22
3 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA DEFESA E
GARANTIA DE DIREITOS: DESVELANDO O REAL DA PESQUISA ....................... 28 3.1 A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO ASSISTENTE
SOCIAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL 29
3.2 AS SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS DOS USUÁRIOS ............................ 36
3.3 A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM SITUAÇÕES
DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS ............................................................................................. 43
3.3.1 Os Instrumentos e Técnicas Utilizados na Intervenção Profissional ........................ 43
3.3.2 Protocolos Utilizados em Situações de Violação de Direitos...................................... 49
3.3.3 Desafios e Conquistas da Intervenção Profissional .................................................... 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 61
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64
APÊNDICES ........................................................................................................................... 71
ANEXOS ................................................................................................................................. 92
10
INTRODUÇÃO
O trabalho que se apresenta é fruto de indagações surgidas no decorrer da realização
da disciplina de Estágio Supervisionado em Serviço Social II no Hospital Universitário do
Oeste do Paraná (HUOP). O tema de pesquisa contempla o exercício profissional do
assistente social, delimitando-se como objeto de análise a dimensão técnico - operativa do
exercício profissional do assistente social do HUOP em situações de violação de direitos dos
usuários no primeiro semestre de 2014.
A escolha do objeto elucidado se justifica em função da violação de direitos ser uma
expressão da “questão social”, constituindo-se em objeto de intervenção do assistente social
que responde a estas situações mobilizando instrumentos, técnicas, procedimentos,
capacidades teórico-metodológicas e ético-políticas para garantir a efetivação dos direitos dos
usuários.
Tendo em vista que constantemente os profissionais são desafiados a enfrentar as
variadas formas de violação de direitos, é pertinente analisar de que forma os mesmos
respondem a estas situações, especificamente, em relação aos instrumentos, procedimentos,
técnicas e ações que empregam e desenvolvem, considerando o referencial teórico, os
princípios e valores que orientam a escolha destes instrumentais, bem como a especificidade
de cada um destes elementos.
A fim de responder o objeto de análise proposto, estabeleceu-se como objetivo
primário apreender a dimensão técnico - operativa do exercício profissional do assistente
social do HUOP em situações de violação de direitos dos usuários no primeiro semestre de
2014 e, como objetivos secundários: compreender as dimensões (teórico-metodológica,
técnico-operativa e ético-política) do exercício profissional do assistente social; verificar a
dimensão técnico-operativa do exercício profissional do assistente social na área da saúde,
especificamente no HUOP; identificar junto aos profissionais as situações de violação de
direitos dos usuários no primeiro semestre de 2014 e refletir sobre a dimensão técnico-
operativa do exercício profissional do assistente social no HUOP em situações de violação de
direitos: conquistas e desafios.
Assim, é importante destacar que esta investigação se fundamenta na teoria social
crítica, de abordagem qualitativa e caráter exploratório, cujo objetivo é “[...] desenvolver,
11
esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais
precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.” (GIL, 2008, p.27).
Portanto, para o alcance do estudo, as profissionais assistentes sociais inseridas1 no
espaço ocupacional do Hospital Universitário conformam o universo da pesquisa, totalizando
4 (quatro) assistentes sociais. Os sujeitos da pesquisa2 foram definidos mediante a amostra,
cujos critérios para a escolha dos mesmos foram: ser assistente social, estar trabalhando no
HUOP e estar na ativa no primeiro semestre de 2014, totalizando o número de 3 (três)
Assistentes Sociais.
O trabalho ora apresentado foi construído mediante a utilização da pesquisa
bibliográfica, com a recorrência de consulta a artigos, dissertações, teses e livros e da pesquisa
de campo3, para a qual se fez uso da técnica de entrevistas estruturadas, por meio de
questionário4, com questões abertas pertinentes ao estudo. As respostas foram tabuladas,
interpretadas e analisadas a partir dos seguintes eixos temáticos: a dimensão teórico-
metodológica e ético-política do assistente social no HUOP, as situações de violação de
direitos dos usuários e a dimensão técnico-operativa do assistente social em situações de
violação de direitos, relacionando-os com as informações provenientes da pesquisa
bibliográfica.
Desse modo, este trabalho encontra-se organizado em três capítulos.
No primeiro capítulo, intitulado: "Questão Social" e Políticas Sociais: A Política de
Saúde no Brasil, aborda-se sobre a “questão social” e as políticas sociais no âmbito da
sociedade capitalista, a especificidade da política de saúde no Brasil e a referência desta na
construção do Hospital Universitário do Oeste do Paraná - HUOP.
Denominado de: O Espaço Ocupacional do Serviço Social no Hospital Universitário
do Oeste do Paraná, o segundo capítulo, discute como as políticas sociais são consideradas
historicamente como o espaço ocupacional do assistente social, particularmente, a política
social de saúde desenvolvida no Hospital Universitário do Oeste do Paraná- HUOP.
No terceiro capítulo, identificado como: O Exercício Profissional do Assistente Social
na Defesa e Garantia de Direitos: Desvelando o Real da Pesquisa, expõe-se a análise e
interpretação dos dados da pesquisa, relacionando-os com os conhecimentos obtidos por meio
do estudo bibliográfico.
1 Refere-se aos sujeitos desta pesquisa na forma feminina devido ao fato de todos serem mulheres.
2 O aceite em participar da pesquisa, foi expresso pelos sujeitos mediante o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE A). 3 A autorização concedida pelo Comitê de Ética para a realização desta modalidade de pesquisa encontra-se em
ANEXO A. 4 O questionário e as respostas das profissionais na íntegra encontram-se disponíveis em APÊNDICE B.
12
A área da saúde constitui-se em um dos espaços ocupacionais do Serviço Social, onde
não apenas situações relacionadas à saúde-doença dos pacientes se colocam como objeto do
trabalho profissional do assistente social. Estão inscritas neste espaço ocupacional também,
diversas formas de violação de direitos aos usuários da saúde, que exigem uma intervenção
profissional, mobilizada pelas competências teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-
operativas afim de cessá-las.
Tendo em vista esta realidade, esta pesquisa contribuirá para que os usuários das
políticas de saúde e das demais políticas tenham seus direitos efetivados, uma vez que
possibilitará que a categoria profissional identifique e conheça as potencialidades e
possibilidades de utilização de instrumentos, técnicas, procedimentos e o desenvolvimento de
ações diante das situações de violação de direitos, tendo como fim, a garantia dos mesmos.
13
1 "QUESTÃO SOCIAL" E POLÍTICAS SOCIAIS: A POLÍTICA DE SAÚDE NO
BRASIL
1.1 “QUESTÃO SOCIAL” E POLÍTICAS SOCIAIS NO CONTEXTO DA SOCIEDADE
CAPITALISTA
Para refletir sobre a dimensão técnico - operativa do exercício profissional do
assistente social do HUOP em situações de violação de direitos, é necessário entender como
se dá a relação entre Estado, políticas sociais e “questão social”5 no âmbito da sociedade
capitalista.
Parte-se da premissa que o surgimento da “questão social” está atrelado às relações de
exploração do capital sobre o trabalho, sendo resultante da organização social dos homens no
estabelecimento da produção capitalista. Neste modelo de produção, a burguesia se apropria
da riqueza socialmente produzida pelos trabalhadores, condição que gera a desigualdade
(MONTAÑO, 2012), que se manifesta através da falta ou carência de alimentação, moradia,
saúde, educação, cultura, dentre outras situações que se constituem em expressões da “questão
social”.
Deve-se, portanto, compreender a “questão social” como resultado da ação histórica
dos homens, assim como as políticas sociais, que são criadas enquanto estratégias
governamentais em resposta aos movimentos de pressão da classe trabalhadora6. As políticas
sociais são “[...] formas de enfrentamento – em geral setorizadas e fragmentadas – às
expressões multifacetadas da questão social no capitalismo [...]” (BEHRING; BOSCHETTI,
2006, p.51) que se expressam por meio de relações jurídicas e políticas, tendo a finalidade de
evitar os conflitos sociais e viabilizar direitos.
Para assimilar este processo é fundamental ressaltar o papel do Estado na sociedade
capitalista, entendendo que o mesmo, desde a era das sociedades escravistas da antiguidade,
se coloca em favor das classes dominantes, constituindo-se em instância defensora dos seus
interesses (SOUZA, 2010). A partir do momento que eclodem as lutas dos trabalhadores, no
contexto da acumulação capitalista, o Estado é tensionado pela disputa política das classes, ao
5 Utiliza-se a expressão com aspas devido ao fato da mesma ter sido criada pelo pensamento conservador, o qual
naturaliza as manifestações da “questão social” uma vez que nega que as mesmas sejam resultantes da
exploração presente no modelo de sociedade burguesa (NETTO, 2001). 6 Certamente, as lutas promovidas pelos trabalhadores que se posicionaram contra a exploração capitalista, no
século XIX (VIEIRA, 1992) no contexto europeu, foram decisivas para a criação das políticas sociais, pois a
partir das mesmas houve a explicitação da “questão social” e o reconhecimento deste segmento enquanto classe
política que se coloca como ameaça ao domínio burguês e exige respostas para suas reivindicações.
14
que passa a incorporar as reivindicações operárias sem, contudo, perder a sua essência
burguesa.
De acordo com Netto (2005), é a partir do capitalismo que a “questão social” se coloca
como alvo de intervenção contínua e sistemática por parte do Estado. As necessidades
econômicas do capital, somadas a expansão das lutas do movimento operário e a necessidade
de legitimação do Estado burguês, formam um caldo de circunstâncias que possibilita que a
“questão social” se internalize nas condições gerais da produção capitalista, tornando seu
enfrentamento contínuo indispensável para a acumulação monopólica.
Tais condições, portanto, propiciam que as políticas sociais adquiram um caráter de
obrigatoriedade, uma vez que o novo ordenamento do capital e suas contradições internas
necessitam de uma intervenção não apenas econômica, mas também política e social, que
intervenha sistematicamente sobre a “questão social”.
É na ordem do Estado, então, que o capital encontra os meios que precisa para garantir
sua hegemonia. Para atender a este fim, o Estado é redimensionado pelo capital, passando a
agir além do âmbito da preservação das condições externas da produção capitalista, intervindo
também “[...] na organização e na dinâmica econômicas, desde dentro [...]” (NETTO, 2005,
p.25, grifo do autor) articulando suas funções políticas e econômicas. Assim, direcionando
suas ações num viés contraditório, uma vez que atende aos interesses da classe burguesa e da
classe trabalhadora, o Estado implementa políticas sociais de forma fragmentada e setorizada,
sem atingir a essência e totalidade da “questão social”7.
Behring e Boschetti (2006) destacam que o surgimento das políticas sociais ocorre de
forma heterogênea entre os países, em momentos e condições diferentes, a depender de
fatores que tem a ver com a força da classe trabalhadora de cada nação, com o grau de
desenvolvimento das forças produtivas e com as correlações de força no Estado. Tais
elementos condicionam o perfil e abrangência que as mesmas vão adquirir nos países.
No Brasil8, o incremento da intervenção estatal na “questão social” ocorre a partir dos
anos 1930 (BEHRING; BOSCHETTI, 2006), momento em que a industrialização avançava e
se aprofundava a desigualdade social. Posteriormente, transcorridos alguns anos em que a
7 As manifestações desta “[...] são recortadas como problemáticas particulares (o desemprego, a fome, a
carência habitacional, o acidente de trabalho, a falta de escolas, a incapacidade física etc.) e assim enfrentadas.[...]” (NETTO, 2005, p.32, grifo do autor), sendo seu fundamento real ocultado e o indivíduo
culpabilizado quando não tem acesso a bens e serviços. 8 O Estado foi obrigado a responder à pressão da classe trabalhadora como forma de reduzir os conflitos de
classes e propiciar o desenvolvimento do capitalismo no país.
15
sociedade brasileira vivencia a Ditadura Militar9 e a ulterior e recente abertura democrática,
promulga-se a Constituição Federal de 1988, quando então se reconhece “[...] como direitos
sociais o acesso à saúde, previdência, assistência, educação e moradia (além de segurança,
lazer, trabalho).” (LOBATO, 2009, p.723). Há que se destacar que o reconhecimento legal
destes direitos resulta, dentre outros fatores, das lutas dos movimentos sociais cujo papel foi
determinante para as conquistas obtidas. É, inclusive, no bojo das condições históricas que se
apresentam nesse momento, com a conquista da democracia, que os movimentos sociais
conseguem se ampliar.
É também a partir da Constituição Federal de 1988 que se conquista um sistema de
Seguridade Social, pelo menos legalmente, onde a saúde, a previdência e a assistência social
passam a integrar o tripé da proteção social brasileira.
Todavia, mal haviam sido alcançados estes avanços, instalou-se uma conjuntura
econômica e social que pisoteou quase que instantaneamente os direitos recém conquistados,
a qual, por sinal, objetiva acabar com a condição de direito das políticas sociais (MONTAÑO,
2002). O neoliberalismo10 atingiu diretamente tais políticas, aprofundando a desigualdade
social e gerando novas manifestações da “questão social”.
Apresenta-se, então, um momento direcionado para o corte de gastos públicos na
esfera social, em que se estabelece a minimização do Estado. Nesse novo viés, as políticas
sociais são implementadas sob um cariz focalista e precário (MONTAÑO, 2012), sendo
direcionadas a atender a extrema pobreza em um movimento que retoma a ideia de
solidariedade e filantropia.
Entender a lógica deste processo faz-se necessário para compreender como a política
de saúde vem sendo impactada pela acumulação capitalista. No intuito de dar continuidade a
essa discussão, aborda-se no próximo momento a especificidade deste movimento no âmbito
da saúde.
9 A Ditadura Militar perdurou no Brasil entre os anos 1964 à 1985. Correspondeu a tomada de poder pelos
militares que instauraram a “[...] repressão política, luta armada, violação de direitos e censura.” (ZARIAS,
2004, p.56). As políticas sociais deste período se caracterizavam como estratégias do Estado para legitimar-se
ante as massas. 10
De acordo com Netto (2012) a ideologia neoliberal desqualifica o Estado e se coloca em defesa do “Estado
mínimo” pretendendo fundamentalmente “o Estado máximo para o capital”.
16
1.2 POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL
Para analisar a política de saúde no Brasil retoma-se, brevemente, alguns elementos
que possibilitam apreendê-la de forma mais aprofundada, em função da necessidade de
contextualizar os aspectos que envolvem o objeto deste trabalho.
Desse modo, introduz-se essa reflexão assinalando que a Constituição Federal de 1988
propôs o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRAVO, 2007) cuja organização e efetiva criação
se deu através da criação da Lei nº 8080 de 1990. As mudanças legais em relação a saúde e a
criação e organização do SUS, incorporadas na Constituição Federal de 1988, na Lei nº
8080/90 e nas leis posteriores que tratam da saúde, decorrem, fundamentalmente, de um
processo de lutas sociais movidas por sujeitos que se contraporam a forma como os serviços
de saúde eram disponibilizados à população11.
Assim, o SUS “[...] surgiu como conquista depois de um longo processo de acúmulo e
de lutas [...]” (GOUVEIA; PALMA, 1999, p.139) que traduzem a articulação de vários
segmentos em torno da formulação de uma nova proposta para a saúde, a qual teve início em
meados de 1970, sob liderança do Movimento Sanitário que congregou intelectuais, médicos
e lideranças políticas da saúde que se opuseram a conjuntura (GERSCHMAN, 1995),
construindo uma concepção crítica e mais ampla deste setor.
Vale destacar que a Constituição Federal de 1988 introduziu a concepção de saúde
como direito de todos e dever do Estado, conforme preconiza o artigo 196, que responsabiliza
o Estado a ofertar “[...] políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.” (BRASIL, 2014a, s.p.).
O referido documento também incorporou algumas diretrizes que passaram a nortear a
saúde no país, as quais encontram-se expressas no artigo 198 que dispõe, entre outras coisas,
sobre a descentralização, o atendimento integral e a participação da comunidade. A
descentralização “[...] envolve a transferência de poder decisório, da gestão de prestadores e
de recursos financeiros, antes concentrados na esfera federal para estados e, principalmente,
para os municípios. [...]” (LIMA et al., 2012, p.1904). O atendimento integral diz respeito as
11
Há que se destacar que durante um tempo da história da saúde no país os serviços de saúde prestados
enfatizavam uma medicina de cunho individual e assistencialista, privilegiando a esfera curativa das doenças e
minimizando ações de caráter preventivo e coletivo (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005). Ademais, as
décadas que antecedem a promulgação da Constituição Federal de 1988, transcorrem em meio a um
privilegiamento do setor privado de saúde, cuja expansão “[...] foi amplamente promovida pelo próprio Estado
na década de 1970, no âmbito da Previdência Social [...]” (UGÁ; MARQUES, 2005, p.193) no contexto da
Ditadura Militar.
17
ações que visam evitar o atendimento fragmentado, constituindo-se não somente em serviços
de ordem curativa, mas também procedimentos a fim de prevenir doenças. A participação da
comunidade, por sua vez, é a possibilidade que a população tem de participar das discussões
sobre a saúde, através dos instrumentos de controle social, as Conferências e os Conselhos de
Saúde.
A Lei nº 8080/90 estabelece as ações e serviços de saúde que constituem o SUS e
reafirma os princípios e diretrizes que sustentam o mesmo. Há que se ressaltar que a referida
lei amplia em seu artigo 3º a concepção de saúde, estabelecendo como determinantes e
condicionantes da mesma a “[...] alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso
aos bens e serviços essenciais.” (BRASIL, 2014b, s.p.).
Salienta-se que a aprovação da Lei nº 8080/90 ocorreu com alguns vetos do presidente
Fernando Collor de Melo que fez objeções em relação aos artigos que tratavam da
participação da comunidade na gestão do SUS e das transferências intergovernamentais de
recursos financeiros. De acordo com Feghali (2006), a imposição destes vetos reavivou o
Movimento Sanitário que havia se enfraquecido, e que diante disso, retomou o processo de
lutas pressionando o poder legislativo para um posicionamento, o que depois viria a culminar
na criação da Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos
financeiros na área da saúde.
Assim como as demais políticas sociais, a política de saúde12 também foi e continua
sendo afetada pelo neoliberalismo que tem fortalecido o projeto de saúde voltado para o
mercado ao passo que tem enfraquecido o projeto da reforma sanitária direcionado para a
defesa da saúde pública (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010).
Em meio a estes obstáculos, o SUS vem sendo operacionalizado de forma
regionalizada13 e descentralizada, cujas ações e procedimentos encontram-se organizados em
níveis de complexidade, especificamente em dois blocos: o conjunto de serviços que integram
12
Embora se tenha registrado avanços, especialmente em relação à criação do SUS e o princípio da
universalidade do acesso e a participação da sociedade nos processos de controle social da saúde, convive-se
desde o momento da criação deste sistema com obstáculos que dificultam a operacionalização dos direitos
conquistados, os quais foram ainda mais agravados pelo abatimento do Movimento Sanitário e pelos impactos
causados pelo neoliberalismo que se intensificaram a partir da década de 1990. 13
A “[...] regionalização na saúde é um processo político, condicionado pelas relações estabelecidas entre
diferentes atores sociais (governos, organizações, cidadãos) no espaço geográfico. [...]” (LIMA et al., 2012,
p.1904).
18
à atenção básica14 e as ações de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar
(BRASIL, 2007a).
A atenção básica tem como instituições de referência as unidades básicas de saúde,
constituindo-se em porta de entrada preferencial do sistema de saúde que contempla o
primeiro nível da atenção à saúde no SUS, âmbito no qual se utilizam “[...] procedimentos
mais simples e baratos, capazes de atender a maior parte dos problemas comuns de saúde da
comunidade [...]” (BRASIL, 2007a, p.16).
No que tange a média complexidade, tem-se que esta modalidade de atendimento
envolve tecnologia diferenciada de apoio diagnóstico e terapêutico e profissionais
especializados com o fim de atender os principais agravos em saúde da população. Os
serviços de alta complexidade, por sua vez, são procedimentos de alto custo e alta tecnologia,
organizados em redes, que visam propiciar a população o acesso aos serviços qualificados.
Embora disponha desta organização e esteja consolidado nacionalmente, o SUS
enfrenta desafios constantes, sendo um deles no âmbito da própria organização da rede de
atendimento desta política, como apontam Souza e Costa (2010), que, além deste desafio,
afirmam haver outros, dentre os quais, a fragmentação das políticas e programas de saúde e as
dificuldades no acesso às ações e serviços de saúde. Sendo assim, nota-se que ainda existem
muitos obstáculos que dificultam, quando não impossibilitam, a efetivação do direito à saúde
dos sujeitos.
2 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ
2.1 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO DAS
POLÍTICAS SOCIAIS - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ
É no estágio monopolista do capital que emergem as condições históricas que vão
possibilitar que se alicerce um espaço, dentro da divisão social e técnica do trabalho, que
possibilite a profissionalização do Serviço Social15 (NETTO, 2005). Este processo tem sua
14
A atenção básica recebe algumas vezes a denominação de atenção primária, todavia, ressalta-se que durante o
processo de implementação do SUS a atenção primária recebeu a designação de atenção básica à saúde. “[...] Os
defensores do uso do termo atenção básica argumentam que, em português, básico tem o sentido de essencial,
primordial, fundamental, distinto de primário, que pode significar primitivo, simples, fácil, rude.”
(GIOVANELLA; MENDONÇA, 2012, p.499). 15
Historicamente, a gênese do Serviço Social no Brasil está atrelada ao surgimento da “questão social” e às
iniciativas da Igreja Católica e de grupos da classe dominante que intervinham na mesma e desenvolviam ações
filantrópicas junto às famílias da classe trabalhadora. Na visão de Iamamoto e Carvalho (1998), a implantação do
Serviço Social “[...] não se baseará, no entanto, em medidas coercitivas emanadas do Estado. Surge da iniciativa
19
consolidação propiciada no contexto em que as condições históricas e sociais demandam uma
intervenção diferenciada por parte do capital e do Estado na sociedade, onde se inicia a
imbricação das funções econômicas e políticas do Estado.
Segundo Iamamoto e Carvalho (1998, p.79) “o Serviço Social no Brasil afirma-se
como profissão, estreitamente integrado ao setor público em especial, diante da progressiva
ampliação do controle e do âmbito da ação do Estado junto à sociedade civil”. A partir do
momento que o Estado começa a intervir de forma contínua e sistemática na “questão social”,
cria um amplo mercado de trabalho para os assistentes sociais que então são chamados a
trabalhar nas políticas sociais e são cada vez mais absorvidos por ele.
É neste momento que ocorre um deslocamento da profissão que passa a ser requisitada
para contribuir no processo de reprodução social, em uma perspectiva de atividade
profissional. Além de se estabelecer como parte integrante do aparato estatal, o Serviço Social
também se consolida como integrante das empresas privadas e se vincula à prestação de
serviços sociais à população (IAMAMOTO; CARVALHO, 1998), locais e serviços que
integram os espaços ocupacionais destes profissionais.
Foi, portanto, para suprir a necessidade do capital de intervir de forma politizada no
sentido de administrar a “questão social” que o Serviço Social foi requisitado pelo Estado
para exercer a profissão nas políticas sociais.
De acordo com Bravo e Matos (2004), nas primeiras décadas da profissionalização do
Serviço Social no país já se amplia a ação dos assistentes sociais na Saúde, vindo a se tornar o
setor que mais absorveu estes trabalhadores. Este campo torna-se ainda mais amplo em
decorrência da criação do “novo” conceito de Saúde, elaborado pela Organização Mundial de
Saúde (OMS)16 em 1948 e também pela consolidação da Política Nacional de Saúde.
Dispondo de formação universitária especializada que os habilitam e legitimam para
exercer a profissão e desenvolvê-la no contexto da divisão social e técnica do trabalho, os
assistentes sociais adentram nas instituições empregadoras e passam a fazer parte de um
coletivo de trabalhadores, implementando ações onde os resultados equivalem ao trabalho
combinado que se diferencia a depender do espaço ocupacional onde estão inscritos.
Ressalta-se que tais espaços dispõe de elementos concomitantemente “[...]
reprodutores e superadores da ordem, abrangendo tanto os espaços ocupacionais resultantes
particular de grupos e frações de classe, que se manifestavam, principalmente, por intermédio da Igreja
Católica.” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1998, p. 127). 16
De acordo com Bravo e Matos (2004, p.28) “Este conceito surge de organismos internacionais, vinculado ao
agravamento das condições de saúde da população, principalmente dos países periféricos, e teve diversos
desdobramentos. Um deles foi a ênfase no trabalho em equipe multidisciplinar [...]”.
20
da ação do empresariado e de segmentos específicos da sociedade civil, quanto os derivados
da implementação das políticas sociais de Estado” (IAMAMOTO, 2009a, p. 344). Esses
campos são constantemente tensionados pelas forças em disputa, mobilizando um conjunto de
fatores que vão influenciar diretamente o exercício profissional dos assistentes sociais,
favorecendo ou obstaculizando a superação da ordem capitalista. Uma vez que se criam estes
locais os assistentes sociais adquirem, assim como os outros trabalhadores, a condição de
assalariados, que vendem sua força de trabalho especializada para os empregadores em troca
de salário.
Para Iamamoto (2009a) há uma tensão entre o projeto profissional do assistente social
e a condição de trabalhador assalariado uma vez que a liberdade do profissional em definir
suas ações fica submetida à vontade dos empregadores, o que acaba gerando uma relativa
autonomia daquele em implementar suas atividades.
Com a apresentação destes elementos, pretende-se assinalar que os serviços de saúde
tornaram-se espaços ocupacionais de exercício da profissão dos assistentes sociais, sendo que
estes profissionais passaram a ser reconhecidos, através da Resolução Nº 218/1997 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), como uma das categorias de profissionais de saúde de
nível superior.
Assim, um dos espaços que emerge para os assistentes sociais exercerem a profissão é
o HUOP17 onde os mesmos desenvolvem ações interventivas junto aos pacientes e suas
famílias. Neste local as assistentes sociais vêm se inserindo em diversas ações e projetos,
sendo que na atualidade participam dos projetos Alta Programada, Pós-UTI Neonatal, Pós
UTI Adulto, obesidade e coordenam o projeto de orientações, discussões e atividades de lazer
com mulheres acompanhantes de recém-nascidos internados no HUOP.
Ademais, verifica-se que o Serviço Social do HUOP também encontra-se inserido em
algumas comissões, quais sejam: Comissão de Humanização, Comissão de Mortalidade
Materna e Neonatal, Comissão Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) e Comissão
inter setorial com serviços que envolvem o atendimento aos adolescentes.
17
Desde quando se encontrava sob a denominação de Hospital Regional de Cascavel, esta instituição já contava
com o setor de Serviço Social, quando então dispunha de uma Assistente Social que era apoiada por uma auxiliar
de Serviço Social. Neste período, a profissional foi deslocada ao setor de Recursos Humanos, onde desenvolveu
um trabalho voltado para os funcionários e seus familiares. Assim, não desenvolveu nenhum plano, programa ou
projeto na área social devido a demanda hospitalar da época ter sido muito expressiva. Em 1994, outra assistente
social assumiu o setor, implantando projetos de Trabalho Voluntário e Hospital-Dia, bem como efetuando
registro de todos os atendimentos prestados pelo setor (MELO; ROSSI; SILVA, 1996). Atualmente, o setor
conta com quatro profissionais concursadas como assistentes sociais.
21
2.2 HISTÓRICO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ
Para fundamentar a reflexão que se segue utiliza-se como referência as informações
contidas no Plano Diretor do Hospital Universitário do Oeste do Paraná referente ao período
2013/2017.
Com base nestes dados, salienta-se que o Hospital Universitário do Oeste do Paraná
(HUOP) originou-se da transformação do antigo Hospital Regional de Cascavel, processo
validado pela Lei nº 13.029, de 27 de dezembro de 2000. A partir de então foi integrado à
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) passando a ser também administrado
por esta (UNIOESTE, 2013).
Sob a designação de Hospital Universitário do Oeste do Paraná, iniciou suas
atividades a partir de 07 de março de 2001, direcionando-as para o âmbito da assistência e
ensino. Nesta lógica, tendo em vista que uma de suas finalidades é a dimensão do ensino, o
HUOP se constitui em um importante campo prático para os cursos de Medicina,
Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia e Farmácia, visto que propicia o exercício da
residência e atividades de graduação para os mesmos.
O HUOP encontra-se integralmente vinculado ao Sistema Único de Saúde, prestando
atendimento de média e alta complexidade para a população que reside nos municípios que
fazem parte da 10ª Regional de Saúde do Paraná, quais sejam: Anahy, Boa Vista da
Aparecida, Braganey, Cafelândia, Campo Bonito, Capitão Leônidas Marques, Cascavel,
Catanduvas, Céu Azul, Corbélia, Diamante do Sul, Espigão Alto do Iguaçu, Formosa do
Oeste, Guaraniaçu, Ibema, Iguatu, Iracema do Oeste, Jesuítas, Lindoeste, Nova Aurora,
Quedas do Iguaçu, Santa Lúcia, Santa Tereza do Oeste, Três Barras do Paraná e Vera Cruz do
Oeste. Entretanto, por dispor de alguns serviços de alta complexidade que são referências na
região, eventualmente atende também pessoas que residem em outras regionais.
No que diz respeito a estrutura física, o HUOP dispõe de um amplo espaço e diversos
equipamentos, sendo os mesmos Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto, UTI Pediátrica,
UTI Neonatal, Unidade de Cuidados Intermediários (UCI), Pronto Socorro, Setor de
Diagnóstico por Imagem (hemodinâmica, tomografia computadorizada, mamografia,
ecografia, endoscopia e eletrocardiograma), Serviço de Radiologia, Banco de Leite Humano,
Centro de Atenção e Pesquisa em Anomalia Craniofacial (CEAPAC), alas de internamento,
ambulatórios de especialidades, Centro Cirúrgico e Centro Obstétrico.
22
2.3 AS DIMENSÕES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
O exercício profissional do assistente social se sustenta na articulação entre as
dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa que dialeticamente
integram uma unidade de elementos diversos e ao mesmo tempo complementares que dão
materialidade a tal exercício.
Nesta lógica, o exercício profissional deve ser apreendido enquanto um processo que
reflete a indisossiabilidade entre teoria e prática, que por sua vez, implica a atividade fundada
na relação recíproca entre ação e reflexão, denominada práxis. A práxis é uma atividade
teórico-prática que “[...] pressupõe um processo de reflexão/ação e, sobretudo, atividade
humana que ultrapasse a consciência comum, da prática utilitária, espontaneísta para buscar
compreender e construir o mediato.” (LACERDA, 2014, p.43). Enquanto práxis, o exercício
profissional do assistente social se direciona para a transformação, objetivando mudar a
realidade e a consciência dos sujeitos.
É assim, então, que a discussão sobre as peculiaridades das dimensões enunciadas
requer o destaque da relação entre teoria e prática, entendendo que a unidade entre as
dimensões do exercício profissional se estrutura nesta vinculação.
A dimensão teórico-metodológica do exercício profissional do assistente social diz
respeito ao modo como o profissional lê e interpreta (NOGUEIRA, 2005) a realidade na qual
intervém. Tal dimensão reflete a postura teórico-metodológica adotada pelos profissionais,
que utilizam a fundamentação teórica e o método de determinada teoria para desvendar o real
e intervir nele.
Ressalta-se que a dimensão teórico-metodológica tem a funcionalidade de capacitar os
profissionais para operarem “[...] a passagem das características singulares de uma situação
que se manifesta no cotidiano profissional do assistente social para uma interpretação à luz da
universalidade da teoria e o retorno a elas.” (GUERRA, Y., 2012, p.54).
A dimensão ético-política, por sua vez, refere-se aos princípios e valores que orientam
o exercício profissional do assistente social, bem como ao caráter político da profissão. Pode-
se entender a ética profissional como dimensão resultante de diversas determinações que
envolvem o conhecimento obtido através da base filosófica incorporada pela profissão, as
visões de mundo que advém da moral e da educação primária e outras instâncias educativas
como movimentos sociais, religião e partidos políticos (BARROCO, 2005).
Tal dimensão abrange o Projeto Ético-Político da categoria profissional, que num
movimento coletivo elegeu os valores que delineiam a identidade da profissão e a legitimam
23
socialmente, tratando-se, desse modo, de um processo que envolve “a coesão dos agentes
profissionais, em torno de valores e finalidades comuns [...]” (BARROCO, 2005, p.66).
De acordo com a mesma autora, a ética profissional do assistente social se consolida
no contexto das demandas e respostas éticas construídas, sendo assim, uma dimensão
construída a partir de demandas postas historicamente à profissão (BARROCO, 2005).
A dimensão referida também contempla o perfil político da profissão que é polarizada
pela relação contraditória entre as classes sociais. De acordo com Iamamoto (2000) o cerne da
dimensão política do Serviço Social encontra-se na relação deste com o poder de classe, sendo
que sua emergência e desenvolvimento estão atrelados as relações de poder na sociedade.
É no bojo destas relações que se dá o enfrentamento cotidiano dos assistentes sociais
às diversas formas e manifestações de poder, os quais constroem a partir deste movimento a
direção social do exercício, comprometendo-se coletivamente com um projeto societário18 que
visa a emancipação19 da classe trabalhadora.
Vê-se, portanto, tal comprometimento expresso no Projeto Ético-Político do Serviço
Social que
tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético-central a
liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre
alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a
emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. [...] (NETTO, 1999,
p.104-105, grifo do autor).
No que diz respeito as particularidades da dimensão técnico-operativa, objeto de
análise deste trabalho, parte-se do entendimento que o instrumental técnico-operativo se
refere, dentre outras coisas, a
articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexão entre um
elemento ontológico do processo de trabalho (os instrumentos de trabalho) e
o seu desdobramento - qualitativamente diferenciado – ocorrido ao longo do
desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas). (TRINDADE, 1999
apud COSTA , F.S.M, 2008, p.58).
18
“Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, transformadores ou conservadores. Entre os
transformadores, há várias posições que têm a ver com as formas (as estratégias) de transformação social. [...] ”
(TEIXEIRA; BRAZ, 2009, p.189). 19
A conquista dos direitos é reconhecida por Marx como um passo importante, porém, este pensador assinala
que esta forma de emancipação não constitui o fim almejado, que é a emancipação humana. Ele argumenta que
“a emancipação política representa um enorme progresso. Porém, não constitui a forma final de emancipação
humana, mas é a forma final de emancipação dentro da ordem mundana até agora existente.” (MARX, 1996, p.
23–24).
24
Sendo assim, verifica-se que os instrumentos são os meios que possibilitam a
operacionalização das ações ao passo que as técnicas se referem às habilidades no uso dos
instrumentos, sendo utilizadas para definir procedimentos e processos.
A dimensão técnico-operativa do exercício profissional do assistente social não se
limita somente as técnicas e aos instrumentos utilizados para a intervenção profissional, mas,
contempla também outros elementos relacionados com a competência profissional, uma vez
que a realização da dimensão em questão depende também da capacidade dos profissionais
agirem, selecionarem e aplicarem (COSTA, F.S.M, 2008), a qual é ancorada nos
conhecimentos teóricos, valores éticos e outras variáveis.
Desse modo, reforça-se que a dimensão técnico-operativa aciona um conjunto amplo
de elementos que compreende desde as dimensões teórico-metodológica e ético-política até as
condições objetivas de trabalho e as condições subjetivas dos profissionais, devendo também
ser levado em conta as demandas apresentadas pelos usuários. Se efetiva em meio as práticas
humanas que se direcionam para a transformação de outras atitudes humanas (TRINDADE,
2001).
Argumenta-se que a dimensão técnica-operativa é constituída pelas
[...] estratégias e táticas definidas para orientar a ação profissional, os
instrumentos, técnicas e habilidades utilizadas pelo profissional, o
conhecimento procedimental necessário para a manipulação dos diferentes
recursos técnico-operacionais, bem como a orientação teórico-metodológica
e ético-política dos agentes profissionais. (SANTOS; SOUZA FILHO;
BACKX, 2012, p. 21).
Convém assinalar que o Serviço Social não criou um arsenal exclusivo de
instrumentos, o que fez e faz os profissionais desta área se apropriarem de um instrumental
elaborado por diferentes áreas da ciência, dentre as quais: a psicologia, a sociologia, o direito
e a antropologia (COSTA, F.S.M, 2008). A instrumentalidade utilizada pelo Serviço Social é
atravessada pelas determinações da realidade social, o que a coloca, assim, em um processo
constante de aprimoramento pelos profissionais, visto que a realidade não é estática.
É importante saber que a dimensão técnico-operativa carrega uma intencionalidade20,
visto que resulta de uma escolha dos profissionais em empregar determinados instrumentais
para objetivarem suas ações, as quais se investem em benefício de valores e projetos
20
Quando não acompanhados por uma intencionalidade que prime pela liberdade e justiça social dos sujeitos, os
instrumentos podem destituir ou negar o acesso aos direitos dos indivíduos, contribuindo para a reprodução da
desigualdade social.
25
societários e são executadas com vistas a atingir certos fins. Daí então é possível destacar que
não existe neutralidade na efetivação desta dimensão, já que há “ um conteúdo e uma direção
social próprios ao uso das técnicas, que impossibilita qualquer consideração sobre uma
possível neutralidade técnica.” (TRINDADE, 2001, p.6).
Portanto, pode-se afirmar que a dimensão referida também reflete o perfil político da
profissão, pois, ao optar por determinados instrumentos e técnicas o profissional está
direcionando sua intervenção a favor da emancipação dos sujeitos ou a favor da manutenção
da ordem vigente, ou seja, está se lançando em direção a um determinado projeto societário,
situando-se no movimento contraditório da sociedade. Os elementos que integram a dimensão
técnico-operativa possibilitam materializar e objetivar projetos no contexto das relações
sociais (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012).
É assim, então, que as respostas instrumentais dos assistentes sociais “[...] apoiam-se
em um projeto de sociedade, em um conjunto de proposições teóricas, em valores e princípios
éticos e dão uma determinada direção estratégica à intervenção profissional.” (GUERRA, Y.,
2012, p.43).
Além dos elementos citados, há que se especificar, ainda, outros componentes da
dimensão técnico-operativa. Desse modo, seguindo Santos, Souza Filho e Backx (2012)
assinala-se que a mesma é composta também pelas ações profissionais, pelos procedimentos,
instrumentos e técnicas desenvolvidas pelos profissionais. As ações profissionais,
consideradas com um maior grau de abrangência, expressam o fazer profissional e se
constituem em: encaminhar, orientar, avaliar, planejar, informar21, realizar pareceres sobre a
matéria de Serviço Social, dentre outras atribuições e competências previstas na legislação
profissional22.
Por meio do encaminhamento, o assistente social coloca o usuário na rede de serviços.
O profissional executa essa ação quando o usuário necessita de um atendimento inexistente na
estrutura do serviço na qual está inserido (JESUS; ROSA; PRAZERES, 2004).
Além de encaminhar, o assistente social também orienta os usuários quanto aos seus
direitos e aos serviços prestados pela rede de serviços, pois, de acordo com Trindade (2012),
frequentemente as demandas apresentadas pelos usuários ao Serviço Social não podem ser
21
De acordo com Santos, Souza Filho e Backx (2012) a questão da informação foi discutida pelos participantes
do Simpósio “A Dimensão Técnico-operativa no Serviço Social: Desafios Contemporâneos na Formação
Profissional do Assistente Social Frente aos Novos Padrões de Proteção Social” não havendo consenso entre os
mesmos em considerá-la um instrumento, mas sim, apresentou-se a idéia de “[...] entendê-la como componente
da ação profissional.” (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012, p.26). 22
Segundo Trindade (2012) as ações só podem ser consideradas profissionais quando combinadas com os
conteúdos com os quais atuam os assistentes sociais, associados às políticas sociais, aos sujeitos sociais, aos
direitos sociais, aos benefícios e serviços sociais e aos movimentos sociais.
26
atendidas no âmbito da instituição, o que faz com que estes profissionais recorram ao cadastro
de recursos sociais aos quais são referência para orientar e encaminhar os usuários a outros
serviços e instituições.
Outra ação desenvolvida pelos profissionais, que integra o instrumental técnico do
Serviço Social é a avaliação. Ao desenvolver suas ações e utilizar os instrumentais no
cotidiano de trabalho, os assistentes sociais estão constantemente efetivando avaliações. É
uma ação que envolve, portanto, diferentes situações e sujeitos, sendo que na atualidade os
assistentes sociais têm sido frequentemente chamados para avaliar políticas e programas
sociais. Segundo Silva, M. O. S. (2000) este processo envolve os sujeitos que encomendam a
avaliação, os que financiam, os responsáveis pela execução, os respondentes da avaliação e os
destinatários ou usuários do programa.
Quanto ao planejamento, ressalta-se que em meio aos diversificados espaços sócio
ocupacionais que vêm ocupando, os assistentes sociais estão cada vez mais sendo requisitados
para planejar programas e financiamentos. É assim, então, que a profissão tem sido chamada a
agir não só na relação direta com os usuários, mas também na gestão e coordenação de
programas e projetos. Porém, não só nestas situações o planejamento se faz presente no
cotidiano dos assistentes sociais. Mesmo no contato direto com os usuários, estes
profissionais devem constantemente planejar suas ações, a fim de ter claro e sistematizado os
objetivos e metas que pretendem alcançar.
Um documento que materializa parte desse processo é o plano de ação ou de
intervenção, o qual “[...] deve partir, necessariamente, de uma leitura, uma caracterização da
situação atual, evidenciando os pontos críticos sobre os quais a ação profissional deve
incindir. [...]”(MIOTO; NOGUEIRA, 2007, p.292).
A informação23, também entendida como uma ação profissional, diz respeito a
linguagem verbal, não verbal e escrita, onde se efetiva a socialização dos conhecimentos.
Há também o parecer social, que integra o estudo social, cuja realização se constitui
em outra ação exercida pelos assistentes sociais. O parecer social é realizado com base nos
dados coletados no estudo sobre o qual o profissional, utilizando-se de um referencial teórico
23
A utilização deste termo tem como base as definições apontadas no Simpósio “A Dimensão Técnico-operativa
no Serviço Social: Desafios Contemporâneos na Formação Profissional do Assistente Social Frente aos Novos
Padrões de Proteção Social”, apresentadas no artigo de Santos, Souza Filho e Backx, segundo os quais “[...] O
uso do termo informação foi justificado tendo em vista a dificuldade em precisar o momento no qual se utiliza a
comunicação e a linguagem, optando assim por defini-la como informação que tradicionalmente era tratada
como documentação. Defende-se que a ideia de informação é mais abrangente que a de documentação, pois não
se trata somente de documentar e registrar.[...]” (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012, p.26, grifo dos
autores).
27
e princípios éticos-políticos emite sua opinião técnica, expondo as possíveis soluções para o
conflito que demandou tal estudo.
O estudo social tem a utilidade de direcionar os assistentes sociais em suas decisões e
encaminhamentos, propiciando aos profissionais conhecerem a realidade e intervirem nela,
considerando a necessidade de manter sigilo face as informações obtidas.
Os procedimentos interventivos, por sua vez, são considerados “[...] elementos
intermediários entre as ações e os instrumentos” (TRINDADE, 2012, p.70). Dentre os
procedimentos mais utilizados está a abordagem24, que possibilita ao assistente social
estabelecer uma via de comunicação com os usuários, através da qual o profissional pode
obter conhecimentos necessários à ação profissional.
Os instrumentos são as ferramentas empregadas pelos assistentes sociais para
desenvolver as ações, destacam-se alguns, a saber: a observação, a entrevista, a visita
domiciliar e a reunião. A observação é um instrumento que implica reflexões acerca da
realidade a qual se está inserido. É compreendida como “[...] um instrumento importante no
levantamento de dados qualitativos e que possibilita a participação conjunta dos usuários e do
assistente social.” (SARMENTO, 2012, p.115).
A entrevista, por sua vez, é um instrumento que se estabelece entre sujeitos que
ocupam papéis diferentes, quando se percebe a necessidade de compreender um pouco mais
sobre o usuário, na tentativa de se compreender suas queixas, questionamentos e
manifestações.
Outro instrumento que usualmente tem grande empregabilidade pelos assistentes
sociais é a visita domiciliar, que pode ser apreendida como um recurso que oferece outras
possibilidades de conhecimento da realidade ao profissional, através do qual este pode
conhecer o usuário e suas dificuldades bem como sua realidade com vistas a garantir seus
direitos (SARMENTO, 2012).
No conjunto de instrumentos utilizados pelos assistentes sociais também se encontra a
reunião, que possibilita socializar “interesses que estão em jogo, as relações entre os seus
membros, sendo empregado para dar visibilidade e para trabalhar com estas relações de
poder, bem como com a socialização de determinadas informações.” (SANTOS; SOUZA
FILHO; BACKX, 2012, p.25).
24
De acordo com Santos, Souza Filho e Backx (2012) a questão da abordagem foi polemizada no Simpósio “A
Dimensão Técnico-operativa no Serviço Social: Desafios Contemporâneos na Formação Profissional do
Assistente Social Frente aos Novos Padrões de Proteção Social”, pois segundo os autores não houve consenso
em considerá-la um instrumento, ela tendeu a ser entendida como um componente que faz parte dos
procedimentos.
28
Assim, é por meio do uso dos instrumentos, técnicas, procedimentos e ações, aliados
aos conhecimentos teóricos e ao comprometimento com valores coerentes com o projeto
societário em favor da emancipação da classe trabalhadora, que os assistentes sociais intervém
nas diversas expressões da “questão social” visando cessar as situações de violação de direitos
com as quais se deparam cotidianamente nos seus espaços de trabalho.
3 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA DEFESA E
GARANTIA DE DIREITOS: DESVELANDO O REAL DA PESQUISA
Os direitos constituem-se em uma construção histórica e social dos homens, que
resultam das lutas empreendidas por estes (BOBBIO, 1992) e expressam suas conquistas. É
no meio social, então, que os homens criam vários tipos de direitos e com eles desenvolve-se
a cidadania25. Ao referir-se aos direitos humanos Marx (2010, p.47) especifica que os mesmos
“[...] são em parte direitos políticos, direitos que são exercidos somente em comunhão com
outros. O seu conteúdo é constituído pela participação na comunidade, mais precisamente na
comunidade política, no sistema estatal.”
Então, os direitos só adquirem sentido quando inseridos na vida em sociedade, na
relação que se estabelece entre os sujeitos e entre estes e o Estado. Encontram-se em
permanente processo de mudanças, sendo que sua consolidação se dá em meio às situações
de transformação social e política, onde tais avanços se conectam também com os pontos
definidos nacionalmente ou por acordos internacionais (BAPTISTA, 2012).
O desenvolvimento da sociedade, suas contradições e reivindicações fez surgir a
necessidade histórica de criar direitos, sendo alguns direcionados para determinados
segmentos sociais, processo o qual Bobbio (1992, p. 62) denominou de especificação, que
consiste “[...] na passagem gradual, porém cada vez mais acentuada, para uma ulterior
determinação dos sujeitos titulares de direitos.” É possível notar que tal especificação
contemplou diferentes segmentos da sociedade tido como vulneráveis, considerando as
relações de gênero, a diferença entre estado normal e excepcional e também às várias fases da
vida.
25
A cidadania inclui várias dimensões, sendo que “[...] algumas podem estar presentes sem as outras. Uma
cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no
Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em
cada país e em cada momento histórico.” (CARVALHO, 2002, p.9).
29
Esse processo culminou, então, na criação de várias leis e estatutos de proteção que
especificam ao passo que protegem legalmente os direitos de vários segmentos sociais
levando em conta as variáveis apontadas.
Todavia, a conquista e o reconhecimento no plano legal dos direitos, não tem
garantido que os mesmos sejam efetivados na prática. Na verdade, vive-se num contexto
contraditório onde “[...] a sociedade capitalista que defende a universalização dos direitos aos
homens „livres e iguais‟ é a mesma que inviabiliza sua efetivação para todos [...]”
(VINAGRE; PEREIRA, 2007, p.51) o que acaba refletindo nos diversos espaços ocupacionais
que os assistentes sociais estão inseridos, onde constantemente se apresentam como demanda
para estes profissionais a não efetivação destes direitos, ou seja, as situações de violação de
direitos.
3.1 A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO ASSISTENTE
SOCIAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL
Considerando a relevância e contribuição do referencial teórico-metodológico para a
escolha de instrumentos, técnicas e procedimentos, buscou-se descobrir junto às profissionais
entrevistadas, à importância da dimensão teórico - metodológica para o exercício profissional.
A que se identificou, todas as profissionais pesquisadas consideram esta dimensão importante
na medida em que a mesma subsidia o exercício profissional:
Para atuação se faz necessário junção, encontro ou seja, a articulação entre
teoria e prática, pois uma prática profissional sem embasamento teórico não
acrescenta nenhuma mudança ou até mesmo pode trazer prejuízo para o
usuário. [...] Acredito que a dimensão teórica-metodológica oferece
proporciona a qualidade dos atendimentos/orientações encaminhamentos,
ou seja um exercício profissional qualificado, não apenas operacional mas
com fundamentação teórica. (A1)
Entendo que a dimensão teórico-metodológica é de fundamental
importância para o exercício da profissão [...] daí a importância da
dimensão teórico-metodológica que possibilite uma análise mais ampla das
situações que se apresentam (superando o senso comum), as razões para a
ocorrência destas situações e o entendimento dos diferentes aspectos sociais
relacionados a elas e que interferem no processo saúde-doença (família,
situação trabalhista, acesso a benefícios e direitos sociais, dentre outros),
para, a partir disso, elencar as possibilidades de intervenção e
encaminhamentos numa perspectiva transformadora. (A2)
É essencial e se torna necessária a partir do momento em que a demanda se
apresenta ao profissional e requer deste uma intervenção competente e
segura, o que exige do Assistente Social, conhecimento da realidade onde
atua fundamentada nos seus referenciais teóricos, além de capacitação
30
permanente em que permeiam os diversos saberes para acompanhar o
movimento e a evolução da sociedade. É fundamental uma postura
investigativa para podermos vislumbrar a necessidade do outro, respeitando
suas particularidades e levando em consideração suas especificidades [...] (
A3)
Nota-se que as profissionais A1 e A2 relacionam a dimensão teórico-metodológica
com os conceitos de mudança e transformação, sendo possível inferir que essas profissionais
tem ciência da contribuição da teoria no processo de transformação social. O entendimento
das profissionais é coerente com a idéia apresentada por Santos (2010) segundo a qual “[...] a
atividade teórica proporciona um conhecimento indispensável para transformar a realidade ou
traçar finalidades que antecipem, na ideia, sua transformação. [...]” (SANTOS, 2010, p.33).
Neste sentido, também se observa que a profissional A2 menciona em sua resposta a
palavra “possibilidades” à qual relaciona com a análise propriciada pela dimensão teórico-
metodológica. Através da dimensão teórico-metodológica, o profissional tem a oportunidade
de realizar a análise da realidade, para, a partir deste movimento, elencar as possibilidades de
ação, como assinalado pela assistente social. É assim então que a teoria constitui o âmbito da
possibilidade, se relacionando com a prática que, por sua vez, representa a esfera da
efetividade (SANTOS, 2010).
A teoria possibilita ao profissional conhecer as múltiplas determinações do objeto, o
que é fundamental para que o assistente social realize uma intervenção competente. Para
desenvolver ações que se distanciem de uma lógica conservadora e a-crítica, os profissionais
devem se apropriar de um referencial teórico-metodológico que possibilite a reconstrução
permanente do movimento da realidade, que vise um exercício crítico, reflexivo, político e
consciente que só pode ser realizado na articulação entre teoria e prática (VASCONCELOS,
2007).
Torna-se clara, então, a necessidade do assistente social se apropriar de referenciais
teóricos que conduzam seu exercício em consonância com os princípios do projeto ético-
político da categoria.
Além de reconhecer a importância da dimensão teórico-metodológica a profissional
A3 também explicita a necessidade de “[...] capacitação permanente em que permeiam os
diversos saberes para acompanhar o movimento e a evolução da sociedade. [...]” o que de
fato é imprescindível para o exercício profissional, visto que a realidade não é estática e exige
do profissional um constante esforço de aperfeiçoamento e atualização. A profissional
31
também menciona a importância da postura investigativa26 neste processo, o que também é
relevante para o exercício profissional do assistente social, visto que muitas vezes a realidade
se apresenta de forma aparente, requisitando aproximações a fim de desocultar o real para
intervir na essência das situações. A atitude investigativa é “[...] a permanente busca do novo
pela reconstrução de categorias teórico-metodológicas de leitura e intervenção na realidade
social. [...]” (FRAGA, 2010, p.52).
Quando questionadas sobre quais referências teóricas utilizam para exercer a
profissão, nehuma profissional citou nome de autores. Todas as assistentes sociais declararam
que utilizam referências da linha crítica, sendo que as profissionais A1 e A2 explicitaram que
recorrem a conteúdos da formação acadêmica, como se nota em suas falas: “as referências
teóricas utilizadas partem da formação acadêmica do Serviço Social, da linha crítica ao
sistema capitalista e das relações sociais estabelecidas na sociedade [...]” (A1) e “quanto as
referências teóricas para o exercício da profissão, procura-se atuar na defesa e garantia dos
direitos sociais dos usuários, numa perspectiva crítica, tendo como base os referenciais
teóricos da formação acadêmica [...]” (A2).
No que tange o referencial crítico, apontado pelas profissionais, é importante que se
diga que o mesmo advém da teoria social crítica de Marx27 que é “[...] base teórico-
metodológica fundante do pensamento crítico e contestador do Serviço Social [...]”
(FRANÇA, 2013, p.154). Houve, no interior da profissão, o Movimento de Reconceituação28
do Serviço Social, cuja finalidade era romper com o referencial conservador e incorporar o
método crítico e investigativo, na perspectiva de compreensão da realidade social e
questionamento da ordem dominante.
Deste movimento, abordou-se coletivamente, entre outras vertentes, a de defesa da
teoria crítica, denominada de “Intenção de Ruptura” que possibilitou que a categoria se
posicionasse politicamente e questionasse seu exercício, vindo a se aproximar dos
movimentos sociais, compartilhando e defendendo os interesses da classe trabalhadora.
26
De acordo com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (1996, p.67) “[...] A postura
investigativa é um suposto para a sistematização teórica e prática do exercício profissional, assim como para a
definição de estratégias e o instrumental técnico que potencializam as formas de enfrentamento da desigualdade
social [...]”. 27
A teoria social crítica é “[...] estruturalmente comprometida com a superação da ordem burguesa [...]”
(SILVA, J. F. S., 2007, p.295). Refere-se a teoria marxista, propagada por Marx, à qual a categoria de assistentes
sociais se filiou historicamente, em sua maioria. É, sem dúvida, uma teoria que possibilita aos profissionais
analisar as relações sociais em sua totalidade, constituindo-se na teoria mais apropriada para embasar as ações
dos assistentes sociais que almejam contribuir para o processo de transformação social e emancipação da classe
trabalhadora. 28
“O movimento de reconceituação, tal como se expressou em sua tônica dominante na América Latina,
representou um marco decisivo no desencadeamento do processo de revisão crítica do Serviço Social no
continente.” (IAMAMOTO,1998, p.205, grifo da autora).
32
Embasados então pelos fundamentos teórico críticos, que se espraiaram para o interior
da categoria, os assistentes sociais passaram a lutar por valores em prol da justiça e igualdade
social, que foram incorporados ao seu Código de Ética profissional e também passaram a
compor e direcionar a legislação profissional e as diretrizes curriculares da formação neste
âmbito.
As profissionais A1 e A2 também manifestaram utilizar como referências teóricas:
[...] conhecimentos construídos na política pública de saúde, legislações de
saúde, ou outras leis de garantia de direitos sociais (idoso, criança
adolescente, direito usuário do SUS entre outra) e também das produções
teóricas sobre a determinação social do processo saúde-doença. (A1)
[...] os princípios do nosso Código de Ética, Declaração dos Direitos
Humanos e legislações pertinentes (Estatuto da Criança e do Adolescente,
Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, entre outras), as quais preconizam o
atendimento integral ao ser humano/usuário. (A2)
Neste momento, apenas a profissional A1 afirma que utiliza conhecimentos
específicos do âmbito da política de saúde. Ela e a profissional A2 manifestam que se
apropriam de leis de garantia de direitos como referências teóricas. A profissional A2 citou
que utiliza os princípios do Código de Ética do Assistente Social como referências teóricas.
De acordo com Teixeira e Braz (2009) as leis e o Código de Ética profissional
integram a dimensão jurídico-política da profissão, que é um dos componentes que
materializa, em conjunto com a produção de conhecimentos no interior do Serviço Social e
com as instâncias político-organizativas da profissão, os elementos constitutivos do projeto
ético-político da mesma.
Com base na diferenciação estebelecida pelos autores entre os componentes
explicitados, é possível inferir que as leis, as regulamentações e o Código de Ética, por se
tratarem de normas, princípios e valores, constituem a dimensão ético-política da profissão,
não se caracterizando como referências teóricas, mas estando relacionados à estas, pois junto
com elas materializa os elementos constitutivos do projeto ético-político. Outros autores,
como Iamamoto (1998), afirmam que o Código de Ética aponta um rumo ético-político, um
horizonte para o exercício profissional.
Nota-se que ao apontar os referenciais teóricos que utilizam para exercer a profissão
todas as profissionais citaram além destes referenciais, elementos constitutivos da dimensão
33
ético-política, o que possibilita inferir que as profissionais articulam os elementos das
dimensões teórico-metodológica e ético-política no seu exercício profissional.
Reconhecendo a importância de se pensar as dimensões do exercício profissional
como uma unidade, Santos (2010) também adverte a necessidade de pensá-las em suas
particularidades, tendo em vista que a unidade não pode ser reduzida à identidade. Isto
significa compreender a relação entre teoria, fins, meios e prática, como unidade de elementos
diversos, que envolve dimensões distintas ao mesmo tempo que complementares. Implica
reconhecer a teoria enquanto possibilidade, a dimensão ético-política enquanto definição dos
fins orientada por princípios e valores e a competência técnico-operativa como busca dos
meios para realizar as ações.
Ao serem indagadas sobre a importância da dimensão ético-política para o exercício
profissional, obteve-se como respostas que:
A sua importância está relacionada à posição que a categoria assumiu a
favor da construção de uma sociedade mais justa para todos para
emancipação humana, baseado em valores éticos que possam nortear a
prática do assistente social, e seu posicionamento em defesa da classe
trabalhadora e do processo democrático em todas as instâncias/instituições
sociais. (A1)
A importância da dimensão ético-política para o exercício profissional está
relacionada a liberdade concebida como possibilidade de escolha,
evidenciando o compromisso do profissional com a autonomia,
emancipação e defesa dos direitos humanos. Esta dimensão vincula o
profissional a valores éticos (e não morais) e na defesa de um projeto
societário democrático, livre da dominação e exploração da classe
trabalhadora, etnia e gênero. (A2)
É o próprio reconhecimento da profissão que se faz presente nas diferentes
áreas de atuação com a proposta de luta pelo interesse dos usuários,
conquistando espaços que partilham os mesmos ideais de igualdade e
justiça, onde o mínimo necessário não é suficiente o bastante para o
exercício satisfatório da cidadania. Requer unicidade enquanto categoria e
batalha diária na busca de respostas para as diversas lacunas que se
apresentam na cotidianidade da população menos favorecida. (A3)
Verifica-se que a importância que as entrevistadas vêm na dimensão ético-política se
relaciona com o comprometimento, luta e defesa dos direitos e interesses dos usuários. Ao
explicitarem a importância desta dimensão, todas as profissionais citaram princípios do
Código de Ética29 do assistente social, o que evidencia que as mesmas vêm tais princípios
29
“A ética também se objetiva através de um Código de Ética: conjunto de valores e princípios, normas
morais, direitos, deveres e sanções, orientador do comportamento individual dos profissionais, dirigido à
34
como referência desta dimensão. De acordo com Brites e Sales (2007), o Código de Ética é
um parâmetro jurídico apoiado por referências teórico-críticas, filosóficas e políticas que
norteia o exercício profissional como um recurso fundamental, pois os valores que estão
contidos nele são históricos e criados com base nas necessidades, experiências culturais dos
sujeitos e interesses.
O Código de Ética Profissional expressa, então, o comprometimento político dos
assistentes sociais com a emancipação dos indivíduos. Ele é um importante guia para os
profissionais, no sentido da sua ação política, na medida que norteia o exercício destes em
direção à emancipação, liberdade e autonomia dos sujeitos. O exercício profissional
comprometido com a transformação requer não apenas a apropriação de referenciais teóricos
críticos, mas, a articulação destes com os princípios do documento aludido.
Quando a assistente social A2 afirma que a dimensão ético-política “[...] vincula o
profissional a valores éticos (e não morais) [...]” é possível inferir que a mesma quis dizer
que a dimensão em questão não se vincula a moral conservadora30 e/ou moral liberal31. Os
profissionais que defendem os princípios do projeto ético-político da profissão, tendem a se
distanciar, negar e lutar contra os princípios e valores atrelados à moral conservadora e
liberal. No entanto, mesmo que lutem contra as mesmas, eles se vinculam e lutam por um
outro tipo de moral, que prima por outros valores onde se busca fundamentalmente garantir a
liberdade de escolha dos indivíduos, a qual é cerceada pela moral conservadora e liberal. Ao
aderir e construir valores com os quais se identificam, os profissionais constroem também
uma moral profissional, a qual se constitui na relação entre a ação profissional
do indivíduo singular, os sujeitos envolvidos e o produto da intervenção profissional, tendo
como direcionadores das ações os valores e princípios defendidos pela categoria profissional
(BARROCO, 2009) que revelam sua identidade32.
Mesmo diante das adversidades que se apresentam no cotidiano, em que a ação do
assistente social é tensionada pelas forças em disputa, o profissional deve reafirmar
constantemente o projeto ético-político, lutando pela efetivação de uma moral diferente. Para
regulamentação de suas relações éticas com a instituição de trabalho, com outros profissionais, com os usuários e
com as entidades da categoria profissional.” (BARROCO, 2009, p.176, grifo da autora). 30
“[...] a moral conservadora se opõe tanto ao liberalismo como ao socialismo; ao defender a hierarquia, a ordem
e a tradição, ela propõe uma reforme social do capitalismo de modo a moralizar os costumes. Campo propício à
reprodução do moralismo e do preconceito, apoia-se na negação da razão crítica [...]” (BARROCO, 2007, p.31). 31
A moral liberal “[...] reforça o individualismo nas relações sociais e a coisificação das necessidades humanas.
[...]” (COSTA, F.S.M., 2008, p.55). 32
A moral encontra-se, então, imbricada com a ética profissional, uma vez que esta se objetiva como ação
moral. Estas categorias se vinculam ao modo de ser da profissão, uma vez que os assistentes sociais elegeram
coletivamente ações e comportamentos que conferem uma identidade à profissão, que determinam as atitudes e
deveres a serem seguidos pelos profissionais no exercício da mesma.
35
que se consolidem os valores desejados é fundamental que se tenha uma base social de
sustentação33, onde os profissionais mantenham uma articulação com partidos, sindicatos e
entidades de classe dos trabalhadores (BARROCO, 2011), tendo em vista que se trata de uma
luta conjunta entre os profissionais e estes segmentos, sendo que o avanço político do projeto
profissional está condicionado ao avanço dessas forças sociais mais amplas. A ação política
dos assistentes sociais requer elementos que direcionem o exercício dos profissionais neste
sentido.
Partindo desta premissa, outro questionamento feito às profissionais do HUOP referiu-
se às referências ético-políticas que as mesmas utilizam para exercer a profissão. As
entrevistadas foram unânimes em citar o Código de Ética Profissional como referência ético-
política para seu exercício. Além disso, a profissional A1 mencionou que utiliza também
referências ético-políticas construídas na área da saúde e legislações do SUS. As assistentes
sociais A2 e A3 mencionaram que utilizam a Lei que Regulamenta a Profissão, a Lei
Orgânica da Saúde – Sistema Único de Saúde (Leis 8.080/1990) e a Constituição Federal.
Além destas, a profissional A2 declarou também a Lei 8.142/1990 e autores que tratam da
saúde pública a exemplo de Maria Inês de Souza Bravo. A profissional A3 citou também
autores que materializam o exercício profissional e a Lei Orgânica da Assistência Social.
Considera-se fundamental a necessidade de conhecerem outras leis e normatizações para
encaminhar e informar os usuários quanto ao acesso à outros serviços, benefícios e direitos
que não só os relacionados à política onde estão inseridos. Nota-se, também, que duas
entrevistadas apontam como referências ético-políticas autores que abordam a relação do
Serviço Social com a saúde (A2) e o exercício profissional (A3). Entretanto, tendo em vista
que se tratam de conhecimentos produzidos na área, observa-se que na verdade estes
referenciais constituem o acervo teórico-metodológico da profissão. Quanto as Leis e o
Código de Ética, novamente mencionados pelas profissionais, reafirma-se que os mesmos
integram o âmbito jurídico-político34 da profissão que faz parte da dimensão ético-política.
33
Para estabelecer uma articulação com partidos, sindicatos e entidades de classe dos trabalhadores é
fundamental que haja em primeiro lugar o fortalecimento e maior articulação e organização na própria base de de
sustentação política dos assistentes sociais que envolve as instâncias político-organizativas da profissão
compostas por entidades como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Executiva Nacional de
Estudantes de Serviço Social (ENESSO) e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
(ABEPSS). 34
Segundo Teixeira e Braz (2009) a dimensão jurídico-política da profissão é composta por dois âmbitos
distintos, a saber: o aparato jurídico-político profissional que são os componentes construídos e legitimados pela
própria categoria a exemplo do Código de Ética Profissional e da Lei que Regulamenta a Profissão e o aparato
jurídico-político mais abrangente que contempla as leis que provém da parte que trata da Ordem Social na
Constituição Federal de 1988, a exemplo da Lei Orgânica da Saúde, da Lei Orgânica da Assistência Social e do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
36
Para exercer a profissão de forma comprometida, visando a transformação em
benefício dos usuários, o assistente social precisa se apropriar de um conjunto amplo de
referências teórico-metodológicas e ético-políticas que subsidiam seu exercício profissional,
como foi apontado pelas profissionais em questão. Em conjunto com estas, é imprescindível
também o emprego e utilização de instrumentos, técnicas e procedimentos que caracterizam a
dimensão técnico-operativa da profissão e possibilitam materializar os fins almejados pelos
profissionais.
A dimensão técnico-operativa será analisada, então, na especificidade do objeto de
estudo deste trabalho, ou seja, em situações de violação de direitos, que se dará em momento
posterior a explicitação e análise das características das violações presenciadas pelas
assistentes sociais do HUOP no primeiro semestre de 2014.
3.2 AS SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS DOS USUÁRIOS
Considerando que as expressões da “questão social” “[...] se efetivam, sobretudo,
como violação dos direitos [...]” (BEHRING; SANTOS, 2009, p.276), sendo estas situações
parte do objeto de estudo deste trabalho, questionou-se as profissionais do HUOP, quais
foram as violações mais recorrentes no cotidiano do exercício profissional no decorrer do
primeiro semestre de 2014. Nas respostas, é possível identificar algum tipo de violação de
direitos cometida pelo próprio Estado, seja por este não ter viabilizado determinados serviços
aos usuários, seja através de práticas, omissões ou negligências dos seus agentes que
inviabilizaram a efetivação dos direitos da população atendida no período.
Neste sentido, as profissionais A1 e A2 declararam explicitamente que houve violação
de direitos dos usuários na própria instituição e causada pelo próprio HUOP, como se observa
nas suas respostas:
[...] há também a violação de direitos na própria instituição como falta de
leitos ou acomodações adequadas aos usuários atendidos, a não liberação
de acompanhantes à gestante em situação de parto [...] (A1)
[...] Dificuldade para conseguir ou falta de informações clínicas por parte
da equipe médica ao paciente/familiares e, dificuldade para garantir o
direito ao paciente/usuário de atestados e laudos médicos para encaminhar
questões trabalhistas devido a resistência de médicos. Ambos caracterizam-
se violação de direitos pela instituição [...] Não liberação de acompanhante
para a gestante em trabalho de parto e durante o parto, embora exista Lei
Federal (11.108/2005) que o garanta, caracterizando-se numa violação de
direito por parte da instituição [...] (A2)
37
Observa-se que estas situações de violação de direitos se caracterizam como violência
institucional, que é a violência exercida por ação ou omissão nos e pelos serviços públicos. É
o tipo de violência que contempla a falta de acesso, abrange a má qualidade dos serviços e
envolve também abusos cometidos em função das relações de poder desiguais entre os
usuários e profissionais dentro das instituições (BRASIL, 2001).
Todas as profissionais explicitaram que houve a falta de leitos/vagas para
internamento dos usuários durante o período investigado. Segundo Farias et al. (2011) essa
situação expressa uma das consequências das dificuldades enfrentadas pelo SUS em
decorrência do desafio da sua implementação. Um dos entraves – senão o maior deles - que
dificulta a implementação do SUS e impede a satisfação de todas as necessidades dos sujeitos
no âmbito da saúde, é a consolidação do projeto de saúde voltado ao mercado que encontra
força para se expandir em decorrência da política de ajuste do Estado, onde este tem
direcionado suas ações para a contenção de gastos sociais, garantindo o mínimo necessário à
população e a demanda para os serviços privados, quando esta tem condições de adquirir estes
serviços35.
A falta de leitos públicos para internamento dos usuários é uma das consequências e
expressões deste processo que não apenas revela a perversidade da lógica em questão, mas
também contraria o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, que especifica que a saúde é
direito de todos e dever do Estado, o qual deve implantar políticas sociais e econômicas com
vistas a reduzir o risco de doenças e outros agravos e deve promover o acesso igualitário e
universal às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL,
2014a).
A não liberação de acompanhantes à gestante em situação de parto, apontada pelas
profissionais A1 e A2, contraria o disposto na Lei Federal Nº 11.108/2005 que garante às
parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-
parto imediato, no âmbito do SUS. Além de se caracterizar como violência institucional,
advinda do próprio Estado, tendo em vista que foi cometida por seus agentes que não
liberaram acompanhantes para as gestantes, identifica-se também nestas situações a violência
de gênero, pois, conforme afirmam Aguiar e D‟Oliveira (2011), a violência institucional nas
maternidades públicas do Brasil é acompanhada também por uma violência de gênero, uma
35
Segundo Bravo (2007, p.100) “a Reforma do Estado ou Contra-Reforma é outra estratégia e parte do suposto
de que o Estado desviou-se de suas funções básicas ao ampliar sua presença no setor produtivo, colocando em
cheque o modelo econômico vigente. [...] O Estado deve deixar de ser o responsável direto pelo
desenvolvimento econômico e social para se tornar o promotor e regulador, transferindo para o setor privado as
atividades que antes eram suas. [...]”.
38
vez que as diferenças - ser mulher, pobre e de baixa escolaridade – são transformadas em
desigualdades, onde muitas vezes a paciente é tratada como um objeto de intervenção
profissional e não como sujeito de suas próprias decisões.
É o que se constata também em relação a falta de informações aos usuários e seus
familiares, expressa pelas profissionais A2 e A3. A falta de informações clínicas aos pacientes
por parte da equipe responsável, caracteriza-se como violação de direito, visto que contraria o
disposto na Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, que preconiza que é direito de todos os
cidadãos ter informações sobre o seu estado de saúde, as quais devem ser extensivas aos seus
familiares e/ou acompanhantes, e devem ser disponibilizadas de forma clara, objetiva,
respeitosa, compreensível conforme à condição cultural dos usuários, respeitados os limites
éticos por parte da equipe de saúde (BRASIL, 2007b).
Foram igualmente identificadas pelas profissionais, algumas situações que não
chegaram a ser violações de direitos, mas que evidenciam as dificuldades enfrentadas pelas
assistentes sociais para garantir os direitos dos usuários. É o caso da dificuldade relatada pela
assistente social A2 em relação a obtenção de atestados e laudos médicos para encaminhar
questões trabalhistas dos pacientes, situação que segundo a profissional se deve a resistência
dos médicos. Novamente, verifica-se que o próprio Estado, representado por seus agentes
(médicos), dificultou a garantia de um direito que ele mesmo estabeleceu na Carta dos
Direitos dos Usuários da Saúde, que afirma que o respeito à cidadania no sistema de saúde
deve observar alguns direitos, sendo um deles o recebimento de laudo médico, quando
solicitado pelo paciente.
Na identificação das violações, foi mencionada por todas a situação dos
pacientes/pessoas em situação de rua. Todavia, apenas a profissional A2 especificou que tipo
de situação envolveu este segmento, as demais profissionais (A1 e A3) não detalharam estas
situações. Segundo a profissional A2 a violação de direitos das pessoas em situação de rua,
envolveu a
[...] Alta hospitalar de pacientes, que vivem em situação de rua, vítimas de
violências, principalmente de trânsito e física, como por exemplo,
atropelamentos e agressões, que em decorrência destas violências se tornam
pessoas acamadas e dependentes para todos ou quase todos os cuidados, em
situação de abandono (sem pessoa para acolhê-los e nem local para serem
encaminhados). Estes pacientes não raras vezes permanecem trinta a
quarenta dias ocupando um leito hospitalar enquanto aguardam serem
encaminhados, geralmente via promotoria pública, por ausência de políticas
públicas para este segmento da população;
39
De acordo com este retorno há o reconhecimento da ausência de políticas públicas
para atender este segmento da população, que permanece longos períodos no hospital
aguardando encaminhamento, geralmente via promotoria pública, para outros espaços a fim
de receber os cuidados pós alta hospitalar. É possível observar que ante à situação há violação
de direitos destas pessoas em dois âmbitos, em relação à violência física que sofreram,
levando-os à internação e deixando-os na condição de acamados e em relação ao próprio
descaso do Estado, que apenas providencia um lugar para estas pessoas ficarem e serem
cuidadas quando pressionado pela promotoria pública, como mencionado.
A Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua expressa,
como uma das ações estratégicas no âmbito da saúde, apoio às iniciativas intersetoriais que
possibilitem instituir e manter casas de apoio para pessoas em situação de rua, em caso de alta
hospitalar, para assegurar a continuidade do tratamento (BRASIL, 2008). Todavia, é possível
notar que ainda não há uma preocupação efetiva por parte do Estado, pelo menos no
município de Cascavel, em providenciar os locais referidos e equipes para os cuidados deste
segmento, o que demonstra que o próprio Estado viola o direito destas pessoas36. O próprio
Manual sobre o Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua, elaborado pelo
Ministério da Saúde, explicita, como uma das barreiras para a assistência a esta população, a
criação de “locais adequados para reestabelecimento após alta hospitalar em quantidade
suficiente.” (BRASIL, 2012, p.40).
Além de excluir pessoas, quando estas não trazem vantagens para a acumulação, o
capital também tem buscado novas formas de valorizar-se, o que o tem feito buscar e recrutar
força de trabalho de outros países para ocupar os postos de trabalho que muitos brasileiros não
querem ocupar. Esta situação tem refletido diretamente nos espaços ocupacionais dos
assistentes sociais, visto que tem apresentado uma nova demanda para estes profissionais e os
desafiado a buscar novas estratégias de ação com vistas a garantir os direitos destes usuários.
Assim como muitos brasileiros têm tido seus direitos violados pelo Estado, os estrangeiros
também têm vivenciado esta realidade no Brasil.
Exemplo disso é o que as profissionais A2 e A3 relataram, como situação de violação
de direitos observada no período, referente a falta de políticas sociais para atendimento dos
estrangeiros, principalmente dos haitianos que têm migrado para a região de abrangência do
hospital. Ambas assistentes sociais demonstraram a dificuldade de atendimento devido a
diferença de idioma:
36
Expresso no artigo 196 da Constituição Federal de 1988 referente as ações e serviços para recuperação da
saúde.
40
[...] Uma questão latente e preocupante é a dificuldade na comunicação
devido ao idioma o que dificulta, quando não inviabiliza, a realização da
anamnese, condutas, orientações e encaminhamentos, podendo ocasionar
problemas ainda mais graves em decorrência; [...] (A2)
[...] Estrangeiros (principalmente haitianos) com a falta de interprete e uma
política adequada ao atendimento destes, pela sua peculiaridade. [...] (A3)
Verifica-se que há uma dificuldade, principalmente exposta pela assistente social A2,
em relação à comunicação com os mesmos, visto que a maioria destes não fala ou não entende
a língua portuguesa e as profissionais não compreendem sua língua. Esta situação expicita
uma violação de direitos em relação às condições que são repassadas as informações para
estes usuários, que contraria o disposto na Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, segundo
a qual todos os cidadãos têm o direito de ter “informações sobre o seu estado de saúde,
extensivas aos seus familiares e/ou acompanhantes, de maneira clara, objetiva, respeitosa,
compreensível e adaptada à condição cultural, respeitados os limites éticos por parte da
equipe de saúde [...]” (BRASIL, 2007b, p.3) evidenciando que o Estado não ofereceu para
estes usuários informações claras, compreensíveis e adaptadas à sua condição cultural, uma
vez que houve a dificuldade de transmitir as informações devido às diferenças de língua37.
Tal situação, compromete a qualidade dos atendimentos prestados a estes usuários ao
mesmo tempo que revela um risco para a saúde e condição social dos mesmos, tendo em vista
que algumas informações importantes ou encaminhamentos sobre sua saúde, podem não ser
compreendidos claramente por eles e também as informações que os mesmos oferecem
podem não ser compreendidas pelas equipes de saúde.
Além do exposto, foram ainda identificadas outras situações de violação de direitos no
período, apontadas pela profissional A1:
A exclusão do mercado de trabalho, no qual a grande maioria dos usuários
e ou familiares se encontram, o que por si só já os colocam em situação de
vulnerabilidade social, identifica-se também a negligência contra e
violência contra criança e adolescente, por parte da família mas também de
muitos serviços e órgãos de proteção.
37
O município de Cascavel e outros de abrangência do HUOP têm acolhido estrangeiros vindo de países como o
Haiti em busca de inserção no mercado de trabalho brasileiro. De acordo com Assad (2012, s.p.) “[...] A
estabilização da economia brasileira, oportunidades de vida existentes aqui e a maior visibilidade no cenário
externo têm sido apontados como as principais causas para o aumento do fluxo de estrangeiros para o país. [...]”.
41
A exclusão do mercado de trabalho fere o artigo 6º da Constituição Federal de 1988
que expressa que o trabalho é um direito social. O desemprego é uma expressão da “questão
social” decorrente do desenvolvimento capitalista. Na medida em que se desenvolvem as
forças produtivas uma parcela da população é excluída do mercado de trabalho e,
consequentemente, não consegue vender sua força de trabalho nem ter acesso a bens e
serviços (MONTAÑO, 2012), tornando-se a população sobrante do sistema, o exército
industrial de reserva. Desse modo, esta situação incide diretamente sobre as condições de vida
levando ao empobrecimento da população.
A negligência e a violência contra crianças e adolescentes por parte das famílias, dos
serviços e órgãos de proteção, também apontados pela assistente social A1, se caracterizam
como violações de direitos porque contradizem os princípios 4º e 5º contidos no Estatudo da
Criança e do Adolescente que delega à família, à comunidade, à sociedade em geral e ao
poder público defender e assegurar a efetivação dos direitos destes segmentos e afirma que os
mesmos não serão objeto de qualquer forma de negligência e violência sob pena de punição
em lei.
Tal situação explicita duas formas de violência contra crianças e adolescentes, a
violência doméstica e a violência institucional. A primeira porque se caracteriza como ato
e/ou omissão praticada contra crianças e adolescentes no âmbito familiar, que pode ser
cometida por pais, parentes ou responsáveis. De acordo com Guerra, V. N. A. (2005) a
violência doméstica é
[...] todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra
crianças e adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou
psicológico à vítima implica de um lado, uma transgressão do poder/dever
de proteção do adulto, e de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma
negação ao direito que as crianças e os adolescentes tem de ser tratados
como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
(GUERRA, V. N. A., 2005, p. 32).
Por outro lado, pela profissional ter mencionado que houve também negligência e/ou
violência contra criança e adolescente, por parte dos serviços e órgãos de proteção, observa-se
que ocorreu a violência institucional, já que houve ação e/ou omissão exercida pelos próprios
serviços públicos. Nota-se que a violação de direitos não acontece somente no âmbito
familiar, mas também é realizada pelos próprios órgãos que deveriam fiscalizar estas
ocorrências e proteger as crianças e os adolescentes.
42
Também chama a atenção a condição apresentada pela profissional A2 que afirma que
durante o período houve a “[...] falta ou dificuldade para conseguir transporte para mães
(sem condições financeiras) de bebês com internamentos em UTIs[...]” e também “[...] falta
de casa de apoio ou local adequado no HU para acomodar estas mães durante a internação
dos filhos[...]”.
Verifica-se através da situação exposta, que o próprio Estado dificultou o processo de
amamentação de algumas crianças e a permanência destas mães junto à seus filhos no
período, demonstrando que houve a violação de direitos destas crianças uma vez que não
ofereceu condições adequadas para a amamentação e criação de vínculo entre as mães e seus
filhos.
Apontada pela assistente social A3, está a dificuldade em conseguir acompanhantes
para permanecer com os idosos, dependentes e/ou acamados durante o período de internação
hospitalar. Sabe-se que o idoso tem o direito de ter acompanhante durante o período de
internação e observação, conforme estabelecido no artigo 16 do Estatuto do Idoso (BRASIL,
2014c) que contempla seus direitos, entretanto, garantir a efetivação deste direito a população
em questão foi um dos desafios enfrentados pelo Serviço Social do HUOP.
Todas as profissionais manifestaram que houve também violação de direitos em
relação aos pacientes dependentes químicos, apontando a existência de demanda reprimida
também para outras demandas. Conforme A3, houve demanda reprimida para atendimento
psiquiátrico/adulto de pacientes com dependência química e/ou transtorno mental. Em relação
a dependência química dos adolescentes, observa-se que esta situação é adversa ao que
encontra-se estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente que afirma em seu artigo 7º
que estes segmentos têm o direito “[...] a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.” (BRASIL, 2014d, s.p.). Mesmo sendo
atendidos pelo HUOP, os adolescentes tiveram este direito violado, pois chegaram a condição
de dependentes químicos, de onde se pode inferir que houve a omissão de políticas sociais
responsáveis para assegurar os direitos fudamentais da criança e adolescente e de sua família,
uma vez que a dependência química envolve seguranças sociais provenientes de diversas
responsabilidades: família, sociedade e Estado. É possível constatar que, mesmo tendo havido
avanços em relação às ações de saúde, as políticas sociais destinadas a este âmbito ainda estão
focadas para ações curativas, as quais remediam as situações quando estas já estão instaladas.
43
Segundo a entrevistada A3 também houve “demanda reprimida para: exames,
consultas, internações, cirurgias eletivas [...]”, o que se configura como uma violência
institucional, visto que houve a falta de acesso aos serviços.
Constata-se que a maior parte das situações de violação de direitos ocorridas no
primeiro semestre de 2014, apontadas pelas profissionais, resulta da omissão ou descaso do
Estado em relação aos direitos dos usuários. Ao não garantir a efetivação de tais direitos, o
Estado se torna agente violador dos mesmos, sendo então possível inferir que o mesmo foi o
principal violador de direitos dos casos expostos. Nota-se, assim, que o Estado age de maneira
contraditória, pois, ao mesmo tempo que promove os direitos, os viola.
Segundo Grossi e Aguinsky (2013) o enfrentamento de diversas desigualdades sociais
é um desafio constante para o Serviço Social. Essas desigualdades se materializam em
violações de direitos humanos que são atualizadas pelas transformações societárias da
atualidade e acirradas pelo agravamento da “questão social”. É através de um posicionamento
teórico-metodológico crítico, pautado pelos valores contidos no Código de Ética profissional
e através da escolha dos meios para intervenção, que o assistente social pode oferecer
respostas à estas situações, com vistas a cessar as violações de direitos e garantir que os
mesmos sejam efetivados.
Porém, é necessário ter em mente que a efetivação dos direitos, que representa a
emancipação política, constitui um meio e não o fim que almeja a profissão, pois o fim é a
emancipação humana que “[...] surge como uma forma de emancipação mais profunda, onde o
ser humano possa perceber-se enquanto ser genérico no dia-a-dia.” (SCHÜTZ, 1999, p.60).
Para garantir a efetivação dos direitos dos usuários, os assistentes sociais utilizam
instrumentos que, em conjunto com referenciais teórico-metodológicos e princípios ético-
políticos, materializam essas respostas, constituindo-se na dimensão técnico-operativa da
profissão.
3.3 A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM SITUAÇÕES
DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS
3.3.1 Os Instrumentos e Técnicas Utilizados na Intervenção Profissional
Tendo em vista que a dimensão técnico-operativa é o objeto de estudo deste trabalho,
elaborou-se algumas questões para as assistentes sociais do HUOP com o intuito de analisar
44
como se realizou esta dimensão do exercício das mesmas em situações de violação de direitos
que ocorreram durante o primeiro semestre de 2014.
É importante retomar que, conforme mencionado, os instrumentos e técnicas utilizados
pelos assistentes sociais não integram um repertório pronto, nem funcionam como receita de
bolo trazendo em si uma dinâmica de aplicação que se seguida à risca possibilitará o alcance
dos fins planejados. Não funcionam desta forma porque sua execução depende, dentre outros
fatores, da subjetividade e objetividade que são elementos que tem um grande peso neste
processo (TRINDADE, 2001).
Neste sentido, uma das questões feitas à profissionais referiu-se a quais instrumentos e
técnicas as mesmas utilizam em seu exercício profissional. De forma direta e indireta, todas
assistentes sociais citaram entre os instrumentos e técnicas que utilizam a entrevista:
No HUOP realizamos muitos atendimentos individuais, desta forma
utilizamos da entrevista como principal técnica [...] (A1)
Entrevista, muito utilizada nos atendimentos (geralmente individuais, porém
muitas vezes entre membros da mesma família ou ciclo de relações do
usuário, conforme possibilidade e/ou necessidade) realizados pelo SS no
Hospital. [...] (A2)
Cadastro, onde há a primeira aproximação com o usuário, que permite
avaliar a situação daquele contexto com a entrevista socioeconômica, em
que são observadas as particularidades e identificadas às necessidades do
sujeito. [...] (A3)
A profissional A1 afirma que a entrevista é uma técnica38, entretanto, Santos, Souza
Filho e Backx (2012) e Sarmento (2012) informam que a mesma é um instrumento. A
entrevista é “[...] o estabelecimento de um diálogo que vai se realizando à medida em que
vamos desvendando o real, o concreto e ampliando a consciência crítica ou reduzindo a
alienação dos entrevistados e do próprio assistente social.” (SARMENTO, 2012, p.116).
Constitui-se em um instrumento que possibilita mobilizar ações e procedimentos, abrindo
caminho para o assistente social desenvolver sua intervenção.
As assistentes sociais afirmaram que utilizam o cadastro de atendimento, todavia, as
profissionais A1 e A3 explicitaram fazer uso do mesmo no momento em que realizam
atendimento (A1) ou com a entrevista (A3). De acordo com Trindade (2012) é comum o
assistente social fazer registro, durante a entrevista, em formulário específico, de informações
como nome, sexo, data de nascimento, documentos, escolaridade e profissão.
38
As técnicas são, segundo Trindade (2012, p.71) “[...] maneiras diferenciadas de utilizar os instrumentos. [...]”.
45
O preenchimento deste documento39 é importante porque possibilita ao profissional
levantar um grande número de informações do usuário, as quais podem contribuir para
identificar possíveis situações de violação de direitos ou necessidades dos sujeitos, mantendo–
as registradas. Considerando que os usuários podem voltar a ser atendidos pela instituição em
momentos futuros, este cadastro pode ser muito útil ao profissional não só quando coleta estas
informações, mas também em atendimentos futuros.
Constantemente, em seus espaços ocupacionais, os assistentes sociais também
realizam reuniões40, que podem contemplar fins e sujeitos diferentes. As assistentes sociais A1
e A2 declararam que utilizam da reunião no seu exercício profissional com familiares e com
outros profissionais, sendo que a profissional A1 disse que faz reuniões para discutir casos e a
A2 em situações de conflito. A assistente social A2 declarou ainda que faz reuniões “[...]
entre a rede de serviços e reuniões das Comissões, cujas quais o SS tem participação. [...]”.
Quanto aos objetivos destas, a profissional A2 apontou que “[...] dizem respeito a discussões
pontuais, objetivando estabelecimento de protocolos de atendimento e/ou consensos e tomada
de decisões.”
A reunião é um instrumento importante ao profissional quando este quer compartilhar
situações com outros profissionais e buscar encontrar respostas coletivas ou tomar decisões
em conjunto sobre as situações. Quando realizadas com as famílias, as reuniões também
podem ser muito úteis, visto que possibilitam aos profissionais encontrar recursos, soluções e
idéias junto à estas e compartilhar e/ou aliar-se às mesmas para resolver as situações,
incorporando-as neste processo como sujeitos participantes de tomada de decisões.
Entre os instrumentos que utilizam no seu exercício, foi citada a observação41, sendo
esta utilizada juntamente com a entrevista, para a compreensão da realidade dos usuários. A
observação mobiliza um conjunto de reflexões sobre a realidade em que os sujeitos estão
inseridos, sendo um instrumento comumente empregado pelo assistente social no
desenvolvimento de ações e na utilização de outros instrumentos, como destaca a assistente
social A2 que assinala que a observação é um instrumento que “[...] acompanha os demais,
39
Segundo Costa, M. D. H (2007, p.320) “no atendimento hospitalar, por exemplo, a obtenção dos dados, por
meio de entrevistas, preenchimento de ficha social ou questionário, é a primeira etapa do processo de
atendimento e acompanhamento realizado pelo assistente social, integrando, pois, um conjunto de procedimentos
e nomas relativos ao internamento dos pacientes. [...]”. 40
A reunião é um instrumento de trabalho do assistente social que envolve a dinamicidade do grupo no qual
emergem as relações de poder entre os seus membros, as decisões, as contradições, a democracia, o
autoritarismo, autonomia, dependência, liberdade para tomar as decisões e direção coletiva (SARMENTO,
2012). 41
De acordo com Sarmento (2012, p.115) a observação “[...] requer do profissional clareza (acerca dos
elementos teóricos com que está operando seu conhecimento) e segurança (quanto aos objetivos pretendidos)
[...]”.
46
uma vez que ela é „quase como que inerente‟, pois faz parte em todos os atendimentos
realizados e nos ajuda a perceber a realidade [...]”.
A realidade é constituída pelas diversas manifestações da “questão social” que
incidem sobre as condições de vida da população, o que requer a recorrência de método de
análise desta mesma realidade como estrutural, para apreender as particularidades das
situações que se colocam como demandas para a intervenção profissional. É neste movimento
que situa-se como parte da análise, a observação de múltiplas relações: sociais, culturais,
econômicas, políticas, dentre outras. Ao entrevistar o usuário, o profissional atento vai além
da coleta de informações verbais, ditas pelo sujeito, ele também observa o comportamento e
expressões deste no momento em que conversa com ele, buscando captar outros elementos
presentes na vida e no contexto social dos mesmos. As profissionais A2 e A3 apontam a
observação como um dos instrumentos que utilizam no exercício profissional. Para as mesmas
este instrumento possibilita:
[...] perceber a realidade, o dito e o que fica nas entrelinhas, levando o
profissional a uma reflexão muito mais rica e consequentemente a uma
intervenção com mais qualidade. (A2)
[...] perceber criticamente e tomar conhecimento de dada realidade,
enxergando o indivíduo como reflexo de múltiplas determinações. (A3)
Vê-se que as respostas associam a observação com a ideia de reflexão (A2), percepção
crítica da situação e múltiplas determinações (A3), revelando que recorrem aos referenciais
teóricos críticos, uma vez que estes possibilitam a utilização dos instrumentos, aliada e
direcionada pela atitude reflexiva e crítica. O emprego deste instrumento sob orientação dos
referenciais citados e valores direcionados para a emancipação dos sujeitos, auxilia o
assistente social a se aproximar do real a fim de conhecê-lo em sua essência, ultrapassando o
âmbito do aparente.
Em relação a visita domiciliar e a visita institucional, foi possível constatar que apenas
duas profissionais (A2 e A3) fazem uso destes instrumentos no seu exercício profissional. A
entrevistada A2 observou que utiliza poucas vezes estes instrumentos. A assistente social A3
afirmou que a visita domiciliar e institucional permite “[...] enxergar in loco a estrutura
organizacional e a domiciliar que possibilita a visão real do sujeito em seu meio e com seus
circundantes.” Nota-se que a idéia apresentada por esta é compatível com o entendimento de
Catusso, Souza e Ferrari (2013) segundo os quais a visita domiciliar e institucional deve
auxiliar e dar condições de compreender a situação posta de maneira mais precisa, pois se
47
consegue efetivar a verificação a partir do lócus. Considera-se como parte de análise das
condições de vida, materializadas pelas necessidades dos usuários, situar o meio em que
vivem, seu espaço social, constituído por relações sociais de enfrentamentos, conquistas,
desafios e conflitos, e portanto, também de autonomia dos sujeitos e violação de seus direitos.
Conforme relato, A2 utiliza-se da orientação e informação, como práticas muito
utilizadas no cotidiano de trabalho no HUOP:
[...] constantemente procuradas por usuários/pacientes, contatadas por
familiares de pacientes via telefone, assim como é solicitado o [...]
atendimento pela própria equipe (enfermeiros, médicos e outros) para
auxiliar no sentido de orientações/informações acerca de diversas questões
(como por exemplo normas/rotinas do HU; encaminhamentos de
transferência de pacientes, estadia para acompanhantes de pacientes etc.),
que envolvem a saúde do usuário.
Várias modalidades de orientação e informação são prestadas pelas profissionais, seja
para os usuários, familiares ou quando solicitado pela equipe que trabalha no HUOP. Prestar
informação é um elemento fundamental do exercício profissional do assistente social, pois
possibilita não só a mera transmissão de informações, mas acima de tudo, transmitir
conteúdos crítico-reflexivos com as demais informações (SARMENTO, 2012). Reforça-se a
importância do profissional estar ancorado em referenciais teóricos críticos, comprometidos
com a emancipação dos sujeitos e com os valores que direcionam as ações neste sentido, para,
a partir destes pilares, potencializar as informações veiculadas a conhecimentos sobre novas
formas de pensar e agir aos usuários.
Identificou-se a realização de encaminhamentos nas respostas de A2 e A3. A2
mencionou que realiza “[...] encaminhamento para rede de serviços, realizado geralmente
pós-alta ou quando há previsão de alta hospitalar para viabilizar o acompanhamento,
continuidade no tratamento, monitoramento de situações que se julgar importante.” O
entendimento da finalidade do encaminhamento, exposto pela profissional condiz com a ideia
apresentada por Trindade (2012, p.80), segundo a qual, o encaminhamento “[...] compõem a
ação de articulação interinstitucional para fins de acesso a serviços na perspectiva da garantia
de direitos.”
Para encaminhar o usuário para outros serviços é importante que o profissional tenha
conhecimento de todos os direitos do mesmo, dos serviços e benefícios sociais existentes,
bem como a disponibilidade e a finalidade dos mesmos.
48
Em alguns espaços ocupacionais como os hospitais, os assistentes sociais trabalham
sob a forma de escala, sendo que alguns profissionais trabalham em turnos diversificados.
Devido a esta rotatividade, é comum os profissionais destes locais adotarem o livro de
ocorrências ou de registros, a fim de manter os atendimentos registrados aos demais
assistentes sociais que trabalham no setor, informados acerca das ocorrências e pendências a
serem resolvidas42. Duas assistentes sociais do HUOP (A2 e A3) afirmaram que utilizam esse
recurso que é classificado por Trindade (2012) como parte da documentação técnica do
Serviço Social. A entrevistada A3 relatou que o livro de registro de atividades “[...] possibilita
a continuidade do serviço realizado em equipe.”
Cabe ao assistente social definir a forma e o conteúdo que dará a estes registros, sendo
imprescindível que o mesmo utilize referenciais críticos e os princípios do Código de Ética
para nortear a escolha das informações mais relevantes a serem compartilhadas com a equipe,
que facilitem a compreensão da situações em seus múltiplos determinantes e evitem a
fragmentação ou descontinuidade do atendimento.
Além destes elementos, também se constatou que duas profissionais (A2 e A3)
utilizam o plano de trabalho/intervenção. De acordo com Mioto e Nogueira (2007, p.287)
“[...] planejar a ação profissional garante a possibilidade de um repensar contínuo sobre a
eficiência, efetividade e eficácia do trabalho desenvolvido [...]”. O exercício profissional do
assistente social não pode se reduzir a ações dispersas e mecânicas, mas, deve ter um
propósito claro e uma organização que facilite o alcance dos fins desejados, o que demonstra
a importância do profissional elaborar um plano de intervenção, que sistematize suas ações e
norteie seu exercício, tendo em vista que planejar as ações diz respeito a um processo
contínuo, que deve ser constantemente revisto pelo profissional uma vez que a realidade está
em constante transformação.
As entrevistadas A2 e A3 mencionaram também fazer uso do acompanhamento, o
qual, segundo a assistente social A2 é “[...] realizado geralmente durante a internação do
paciente, quando detectado a necessidade.” De acordo com Mioto (2009) o
acompanhamento, em conjunto com a orientação, constituem ações de natureza
socioeducativa que interferem diretamente na vida dos indivíduos, grupos e famílias.
42
De acordo com Costa, M. D. H. (2007, p.336) “Tanto em hospitais quanto em unidades básicas de saúde, o
principal instrumento de registro das atividades são os livros de ocorrências. Ao analisarmos as anotações feitas
nos livros de ocorrências, das unidades pesquisadas em todos os níveis de complexidade, constatamos que em
geral as anotações são feitas de forma sumária e com o objetivo de repassar informações/recados, pendências
para o outro profissional.”
49
Da mesma forma que se objetivou descobrir os instrumentos e técnicas utilizados pelas
entrevistadas, esta pesquisa também visou apurar qual a importância que as profissionais vêm
na dimensão técnico-operativa para o exercício profissional.
Ao falar da importância desta dimensão, a profissional A1 atrelou-a ao objetivo
pretendido na ação do Serviço Social, o que remete a articulação desta dimensão com a
dimensão ético-política, que envolve a capacidade humana de estabelecer fins para as ações.
Quando se tem um objetivo, tem-se um propósito que se pretende alcançar, um fim. É através
dos meios que se realiza a passagem dos fins ideais para os fins reais. Assim, “[...] a
teleologia43 necessita da definição dos fins - o que implica uma dimensão ético-política – e da
escolha dos meios – o que implica, também, uma dimensão técnico-operativa [...]” (SANTOS,
2010, p.56). Ademais, deve igualmente ser considerada a dimensão teórica neste processo,
uma vez que ela influencia a escolha dos fins e a escolha dos instrumentos para a objetivação
humana. Daí então a impossibilidade de considerar a dimensão técnico-operativa apartada das
demais.
Embora os referenciais críticos e os valores em favor da classe trabalhadora sejam
fundamentais e favoreçam a operacionalização das ações dos assistentes sociais no sentido de
luta pelos direitos dos usuários, muitas vezes se apresentam desafios e obstáculos externos
que dificultam as ações dos profissionais nesta direção.
3.3.2 Protocolos Utilizados em Situações de Violação de Direitos
Em relação aos procedimentos/protocolos exigidos e adotados no percurso de
atendimento as situações de violação de direitos dos usuários, observou-se que a maioria das
respostas das profissionais contém elementos que se caracterizam como ações profissionais e
outros que são procedimentos44.
Em se tratando de situações que envolvem a violência, apenas as profissionais A1 e
A2 manifestaram os procedimentos/protocolos exigidos e adotados. A entrevistada A1
informou que todas as situações de violência são notificadas através de um formulário próprio
da vigilância epidemiológica. De acordo com a mesma, a partir da notificação realiza-se o
“[...] acolhimento, atendimentos necessários durante o internamento, contatos com serviços
43
“[...] o exercício profissional do assistente social requer que se apreenda da forma mais rica de determinações
possível a realidade (causalidade) e, diante disso, sejam pensadas as estratégias de intervenção (pôr teleológico)
para a satisfação de necessidades.” (LACERDA, 2014, p. 30). 44
De acordo com Trindade (2012) os procedimentos constituem-se na mobilização de um conjunto de atitudes e
exercício de habilidades.
50
especializados e os encaminhamentos necessários após a alta para continuidade dos
atendimentos, ou acolhimento conforme a situação.”
Já a assistente social A2 afirmou que diante de pacientes internados por agressão,
violência doméstica ou suspeita de e/ou abuso, preenche um cadastro sócio-econômico a fim
de conhecer o histórico e a situação sócio-familiar do paciente e posteriormente, conforme
avaliação, declarou que aborda o paciente em separado de seus familiares. A entrevistada
também informou que em casos que o paciente é adulto, ela o orienta “[...] quanto aos
recursos existentes na comunidade: Delegacia da Mulher e Abrigo de Mulheres no caso de
violência contra a mulher; Delegacia para registro de boletim de ocorrência no caso de
homens.” Ainda de acordo com a profissional, conforme a avaliação, é solicitado também o
atendimento psicológico. Quando se trata de crianças, a assistente social declarou que aciona
o setor de psicologia para abordagem conjunta, aciona o Conselho Tutelar e/ou Vara da
Infância e Juventude e Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS
I)45 para acompanhamento. Relatou também que aguarda o parecer dos órgãos de proteção
citados para liberação da criança.
Observa-se na fala da profissional A1 as ações de notificar, encaminhar, atender,
contatar e informar. Quando a profissional contata os demais serviços está ao mesmo tempo
informando-os e comunicando-os acerca das situações de violência. É possível notar que a
mesma desenvolve o seguinte procedimento: recebe os usuários, no momento em que realiza
o acolhimento. Nota-se que a profissional A2 adota como procedimentos o preenchimento de
cadastro sócio-econômico e a abordagem46 individual ao mesmo tempo em que realiza as
seguintes ações: avaliar, orientar e acionar outros serviços e profissionais. Ambas as
entrevistadas envolvem outros profissionais e serviços especializados para atender estas
situações e proteger os segmentos envolvidos. Sendo assim, reafirma-se a importância do
assistente social conhecer todos os serviços disponíveis na rede e responsáveis em atender
situações de violência, para poder encaminhar para os mesmos, acioná-los e informá-los sobre
situações desta natureza a fim de cessá-las.
45
Centro de Referência Especializado de Assistência Social que atende crianças, adolescentes e suas famílias,
residentes em Cascavel, que vivenciam situações de violação de direitos. 46
Ainda está em processo de amadurecimento entre os profissionais da categoria a definição do que seja a
abordagem. Segundo Santos, Souza Filho e Backx (2012, p.25), a abordagem tende a “[...] ser entendida como
um componente do trabalho do profissional, que faz parte dos procedimentos, mas não se caracterizando como
um instrumento específico.”
51
Vê-se pela fala da entrevistada A1 que existem protocolos específicos de registro de
situações como a violência, que é notificada através de um formulário próprio da vigilância
epidemiológica47.
Para as situações que envolvem pacientes em situação de rua com alta hospitalar a
assistente social A2 relatou que realiza preenchimento do cadastro socioeconômico (com os
dados possíveis) para obter informações sobre a realidade e histórico do paciente. Informou
também que tenta localizar familiares, conhecidos ou pessoas de referência que possam
acolher e prestar assistência necessária. Quando isso não é possível, a profissional declarou
que aciona o CREAS III48, através da ficha intersetorial de referência e contra referência,
solicitando providências.
Já a profissional A3 mencionou que os protocolos e procedimentos exigidos e
adotados para atender situações de violação de direitos que envolvem pacientes em situação
de rua são os seguintes: “Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico do
paciente; Acionar o CREAS III ou serviços a ele vinculados; Para encaminhamento para
albergue ou casa de passagem, acionar Plantão Social.” A entrevistada A1 não informou os
procedimentos e protocolos exigidos e adotados utilizados nestas situações.
Nota-se que as assistentes sociais A2 e A3 realizam alguns procedimentos e ações em
comum, como o preenchimento de cadastro socioeconômico e o acionamento do CREAS III.
De acordo com Trindade (2012) os cadastros de usuários integram a documentação
burocrático-administrativa utilizada pelo Serviço Social. A partir do cadastro socio-
econômico é possível o profissional levantar diversas informações sobre o usuários, as quais
são imprescindíveis para direcionar as ações, procedimentos e instrumentos a serem
empregados pelo assistente social e explicitar as demandas, necessidades e possíveis
violações de direitos dos sujeitos.
Verifica-se que diante de situações de violação de direitos que envolvem os pacientes
em situação de rua os procedimentos, protocolos e ações adotados pelas profissionais
envolvem também o acionamento de outros órgãos, caracterizando um trabalho articulado
com outras instituições. É possível notar que a assistente social A2 utiliza procedimentos de
modo a esgotar as possibilidades de localizar familiares e conhecidos dos usuários em
questão, para só em último caso contatar os serviços responsáveis.
47
Encontra-se em ANEXO B um modelo deste documento. 48
Centro de Referência Especializado de Assistência Social que atende adultos residentes em Cascavel que
vivenciam situações de violação de direitos.
52
Quando se trata de demanda reprimida, somente a entrevistada A2 informou que
procedimento/protocolo adota. Segundo a mesma, os usuários que a procuram são orientados
“[...] sobre forma legal de conseguir o atendimento necessário e de direito, inclusive a buscar
via Promotoria Pública caso necessário.” A orientação é uma ação que constitui uma das
competências do assistente social expressa na Lei que Regulamenta a profissão que afirma
que este profissional tem a competência de “orientar indivíduos e grupos de diferentes
segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no
atendimento e na defesa de seus direitos;” (BRASIL,1993, s.p.). Aqui, novamente se vê que a
dimensão técnico-operativa deve estar articulada com os conhecimentos teóricos críticos e
princípios do Código de Ética que primam pela luta e garantia de direitos dos usuários, pois,
somente tais referenciais potencializam os instrumentos e ações e fornecem ao profissional a
visão da necessidade de prestar informações e orientações amplas para os usuários e, ao
mesmo tempo, transmitir conteúdos crítico-reflexivos que os faça conhecer e lutar por seus
direitos, como se observa na atitude da profissional.
No que tange a falta de informações clínicas e atestados/laudos médicos, igualmente,
apenas a entrevistada A2 manifestou que procedimentos/protocolos adota. A mesma informou
que diante destas situações orienta e viabiliza “[...] o contato do usuário com médico
assistente para obter as informações clínicas e documentação/atestados e laudos e, caso
encontrado muita resistência/dificuldade, encaminhar para ouvidoria.” É possível notar que a
profissional explicita ações que desenvolve diante de tais violações de direitos dos usuários.
Observa-se que as ações que a assistente social realiza constituem-se em mediações entre os
pacientes e os médicos, e quando isto é inviabilizado, a profissional recorre a instância
responsável em registrar e solucionar as reivindicações dos usuários.
Também foi assinalado pelas profissionais A2 e A3, procedimentos e protocolos em
relação aos pacientes que não recebem visitas:
Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do
paciente. Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em
contato com a família solicitando que ela compareça ao hospital para
atendimento no Serviço Social. Caso não se consiga contato com familiar,
contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-la. No atendimento
presencial (ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da
família ao paciente. Explicitar a importância da família no
acompanhamento do paciente e nos cuidados pós-alta hospitalar. Caso se
perceba abandono do paciente, acionar o CREAS III (Centro de Referência
Especializado em Assistência Social que atende população adulta com
direitos violados). (A2)
53
Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do
paciente. Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em
contato com a família solicitando que ela compareça ao hospital para
atendimento no Serviço Social. Caso não se consiga contato com familiar,
contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-los. No atendimento
(ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da família ao
paciente. Explicitar a importância da família no acompanhamento do
paciente e nos cuidados pós-alta. Caso se perceba abandono do paciente,
acionar o Plantão Social, Centro POP, que ficam vinculados ao CREAS III.
(A3)
Num primeiro momento, as situações em que os pacientes não recebem visitas
aparentemente podem não se configurar como violação de direito. Porém, é possível verificar
que quando uma situação destas se apresenta, as profissionais desenvolvem ações e
procedimentos para averiguar porque estes pacientes não recebem visitas, a fim de descobrir
informações pertinentes aos mesmos e, logo, viabilizar este direito.
Observa-se que o preenchimento do cadastro socioeconômico precede às demais ações
e procedimentos adotados pelas profissionais, possibilitando abrir caminho para as
profissionais visualizarem os procedimentos e ações necessárias a serem efetivadas em cada
situação. Se constatado o abandono do paciente, que se caracteriza como violação de direito,
realizam ações no sentido de acionar os serviços responsáveis e especializados em atender os
segmentos em questão. Em casos em que os pacientes tornam-se acamados e se constata a
negação de cuidados por parte da família, acionam o CREAS III para avaliação e conduta em
relação a estas situações. Em relação aos pacientes que necessitam de acompanhante e a
família se nega a acompanhar, a entrevistada A3 informou que solicita o comparecimento dos
familiares para atendimento no Serviço Social e quando os mesmos se recusam a comparecer,
aciona o CREAS III ou município de origem do paciente. Quando há a supeita dos pacientes
estarem em situação de rua, A2 e A3, informaram que acionam o Centro POP (serviço
municipal que atende a essa demanda) para verificar a possível identificação destes sujeitos.
As assistentes sociais A2 e A3 informaram os procedimentos/ protocolos que adotam
em relação as situações de violação de direitos que envolvem pacientes estrangeiros, haitianos
e/ou provenientes de outros estados. A profissional A3 relatou que preenche cadastro
socioeconômico, entra em contato com cidade de procedência (quando se trata de outros
estados) a fim de informá-los da situação, e quando necessário, entra em contato com o
CREAS III. A assistente social A2 explicitou que quando há a dificuldade de comunicação
muito grande com os estrangeiros, principalmente os haitianos, devido ao idioma, aciona o
“[...] tradutor voluntário, através de contato telefônico (que informalmente se dispõe a nos
auxiliar, desde que não em horário de trabalho).” A profissional disse que aproveita este
54
momento para “[...] coletar dados necessários (antes incompletos) e se possível, com intuito
de obter melhor entendimento, realizar as orientações e encaminhamentos pertinentes.”
Nota-se que há um esforço da profissional A2 em possibilitar que os estrangeiros
compreendam as informações e que ela também os compreenda, pois a informação clara e
adaptada à sua condição cultural é direito destes usuários, cuja efetivação, diante da
dificuldade apresentada, tende a não acontecer. Para evitar que isso ocorra, a assistente social
A2 aciona o tradutor a fim de facilitar o diálogo e entendimento das informações. Ao mesmo
tempo, realiza outras ações que consistem em coletar os dados, orientar e encaminhar
conforme as necessidades detectadas.
Diante das situações que envolvem a falta ou dificuldade de transporte para as mães
acompanharem os filhos recém-nascidos internados em UTIs, obteve-se apenas a resposta da
entrevistada A2, que relatou que realiza os seguintes procedimentos/protocolos e ações:
Orientar a mãe/responsável e fazer encaminhamento (formal) para UBS de
origem, solicitando o transporte; caso encontrado dificuldade (o que sempre
acontece quando o paciente é de Cascavel), solicitar intervenção do
Conselho Tutelar via Ficha Intersetorial de Referência e Contra Referência. [...] Quando o paciente é de Cascavel: geralmente a mãe vem para o
hospital acompanhar o filho internado de dia e volta para casa à noite para
dormir. (...)Quando o paciente é de outro município: entra-se em contato
com Secretaria de Saúde de origem, solicitando o transporte diário da
mãe/responsável ou o custeio de local particular para o pernoite, sendo o
acompanhamento realizado ao paciente durante o dia; em alguns casos
(conforme avaliação e aceitação da usuária) as mães são encaminhadas a
uma casa de apoio oferecida e mantida por pessoas ligadas a igreja (sem
participação por parte do poder público).
A profissional desenvolve diferentes ações diante das situações desta natureza, como
orientar, solicitar e encaminhar. Vê-se também que a mesma desenvolve ações de caráter
emergencial assistencial, que são caracterizadas por Costa, M. D. H. (2007) como ações que
visam agilizar a obtenção de certos benefícios como internamentos, transporte, abrigo entre
outros.
Apenas a assistente social A2 expôs os procedimentos/protocolos adotados nas
situações que dizem respeito a não liberação de acompanhante para a gestante em trabalho de
parto e durante o parto. Em situações desta natureza a profissional informou que estabelece
[...] contato com equipe do Centro Obstétrico (CO) para informar e solicitar
a liberação de acompanhante e/ou orientar a paciente e familiares a
solicitá-lo junto a equipe no CO, argumentando tratar-se de um direito
garantido em Lei Federal; Diante da negativa (que sempre acontece) sob o
55
argumento da falta de espaço ou espaço inadequado, orientar a acionar a
ouvidoria ou Ministério Público.
Como forma de garantir esse direito, a entrevistada desenvolve ações junto a equipe no
sentido de informá-los e solicitar a liberação e também desenvolve ações com as pacientes e
familiares no sentido de orientá-los a solicitar a efetivação deste direito que é garantido em
Lei e, não sendo possível, orienta os mesmos a acionar a ouvidoria ou Ministério Público.
Em relação a identificação dos instrumentos e técnicas ante às situações de violação de
direitos dos usuários, se obteve como respostas:
Entrevista, acolhimento, relatório social, preenchimento cadastro do
Serviço Social, encaminhamento através da ficha intersetorial de referência
e contra referência, e contatos forma direta (telefone) com outros
profissionais e serviços. (A1)
Quando possível o contato e diálogo com o paciente/usuário: Acolhimento,
entrevista com coleta de dados possíveis através do Cadastro do SSocial,
informações e orientações pertinentes, além de encaminhamentos e
solicitações de providências a serviços e órgãos (de proteção) competentes,
conforme legislação (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Maria da
Penha, Estatuto do Idoso, etc.); Quando inviabilizado o contato e o diálogo
com o paciente/usuário: o atendimento mencionado é realizado ao seu
responsável ou a situação encaminhada aos serviços e órgãos competentes
para providências. (A2)
Notificação, instrução, orientação às pessoas envolvidas e órgãos
competentes, com encaminhamentos e solicitação de providências
adequadas conforme preconiza a legislação vigente. (A3)
Como instrumento49 mencionado foi a entrevista, citado pelas profissionais A1 e A2.
As assistentes sociais também declararam utilizar alguns procedimentos/técnicas como
acolhimento, preenchimento do cadastro social/coleta de dados. Da mesma forma, também se
identifica algumas ações profissionais como o encaminhamento, mencionado por todas as
entrevistadas, informações (documentação relatório social), orientações, notificação e
instrução.
As entrevistadas A2 e A3 explicitaram pautar-se na legislação para desenvolver as
ações referentes às situações de violação de direitos, o que evidencia a dimensão ético-política
das profissionais, que vêm e têm a legislação como referência para utilizar os instrumentos e
49
Embora as profissionais não tenham citado neste momento, declararam em outro momento que utilizam
também reuniões, estas, no atendimento às situações que envolvem os adolescentes dependentes químicos (A2 e
A3). A menção a este instrumento pode ser visualizada nas respostas das profissionais, referente a questão 7
(sete), que está na íntegra disponível no APÊNDICE B.
56
técnicas e realizar os procedimentos e ações diante das situações de violação de direitos dos
usuários.
É possível observar que há a socialização de informações/conhecimentos sobre tais
situações por parte das três entrevistadas. A profissional A1 por ter informado que faz
relatório social destas situações e contatos com outros serviços e as demais assistentes sociais
(A2 e A3) por terem declarado que solicitam providências aos órgãos e serviços competentes
para atendimento destas situações, possibilita inferir que para solicitar tais providências, as
profissionais têm que socializar tais situações com outros profissionais e serviços.
Em relação a elaboração do relatório social, mencionada pela assistente social A1,
componente da ação profissional, deve-se assinalar que é extremamente relevante o assistente
social desenvolver um relatório com bons argumentos e informações claras e essenciais para a
compreensão da situação em questão. Como afirmam Lisboa e Pinheiro (2005, p.206) “[...]
muitos dados resultantes de um estudo minucioso e bem fundamentado são essenciais para
posteriores encaminhamentos. [...]”. Vê-se, então, a responsabilidade do assistente social para
com as vidas dos sujeitos que tem seus direitos violados, uma vez que este profissional é um
dos responsáveis em comunicar os órgãos competentes a respeito destas situações.
Nas situações de violência que atingem os mais variados segmentos
[...] a responsabilidade pela notificação é função de toda a equipe. O
assistente social deve colaborar nessa ação, mas não é atribuição privativa do
mesmo. Cabe ao profissional de Serviço Social fazer uma abordagem
socioeducativa com a família, socializar as informações em relação aos
recursos sociais existentes e viabilizar os encaminhamentos necessários.
(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p.51).
Neste sentido, observa-se que as profissionais entrevistadas efetivam estas ações e
procedimentos em situações de violação de direitos dos usuários. Embora as profissionais não
tenham declarado que realizam abordagens nestas situações, é possível inferir, da resposta de
todas as entrevistadas, que este é outro procedimento adotado pelas mesmas em situações de
violação de direito. Isso porque, ao estabelecer contato com o usuários, seja para entrevistá-
los ou orientá-los, realiza concomitante a abordagem, pois se aproxima dos mesmos com
algum objetivo, seja para informações ou para orientá-los.
57
3.3.3 Desafios e Conquistas da Intervenção Profissional
Indagou-se às entrevistadas acerca dos desafios que as mesmas encontram para
operacionalizar suas ações diante das situações de violação de direitos dos usuários, ao que as
mesmas responderam:
Primeiro é garantir que o atendimento de sua necessidade seja atendida,
mas o desafio é que muitas vezes o acesso a bens e serviços não estão
disponíveis na rede de atendimento do SUS ou de assistência social, ou na
própria instituição o que limita os encaminhamentos ou a sua solução de
forma imediata, muitas situações se faz necessário a intervenção de
instâncias jurídicas e/ou órgãos de proteção como conselhos tutelares e
ministério público, promotorias. (A1)
Falta de políticas sociais e interesse do Poder Público para providenciar
local adequado para o acolhimento, assistência e reabilitação às pessoas em
situação de rua, quando se encontram em situações como as descritas
acima, ou seja, dependentes para os cuidados, vítimas de violências; Falta
de Políticas Públicas para abarcar o contingente de estrangeiros no país de
forma a prestar-lhes a assistência necessária; Necessidade de maior
investimento como um todo (em todas as esferas de Governo) para a saúde;
também maior investimento e comprometimento de profissionais (em todas
as categorias) na educação e prevenção de doenças, agravos e violências;
otimização dos leitos hospitalares e serviços de saúde; diminuição da
burocracia na rede, enfim, mais comprometimento e menos mercantilização
da vida e saúde do ser humano – usuário dos serviços; Falta de
estabelecimento de protocolo pela Direção do HU a ser cumprido pelos
profissionais médicos (preceptores, residentes, acadêmicos de medicina) no
fornecimento de informações clínicas ao paciente e familiares, bem como no
fornecimento de atestados e laudos, estes pela ortopedia; Necessidade da
garantia do direito à mãe/pais ou responsáveis de acompanhar o recém-
nascido internado em UTIs e deste de ser acompanhado, através da
viabilização do transporte público aos responsáveis (que dele necessitem).
Ressalta-se nesta questão que diversas tentativas já foram por nós do SS
encaminhadas a Secretaria Municipal de Saúde de Cascavel, ao Conselho
Tutelar e inclusive foi dado conhecimento à Promotoria da Vara da Infância
e Juventude de Cascavel, porém, salvo pequeno avanço por curto prazo de
tempo, ainda não se conseguiu resolutividade no assunto; Necessidade de
espaço/local adequado no HU para garantir, à mãe (devido ao aleitamento
materno ou mesmo o acompanhamento em tempo integral) a sua
permanência junto ao filho recém-nascido internado em UTI, se assim ela o
desejar; Falta de salas de atendimento internas ao Hospital para o serviço
social e a criação do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) para
atender e encaminhar para os devidos setores a demanda externa, demanda
esta ainda atendida e orientada majoritariamente pelo SS devido a sua
localização externa; Falta de apoio/comprometimento dos gestores na busca
de alternativas ou nos encaminhamentos das situações descritas. (A2)
Falta de políticas públicas para estrangeiros domiciliados no país. Falta de
uma casa de apoio ou inexistência de um local estruturado para acolher
pessoas, desprovidas de recursos e de moradia, até o seu completo
58
restabelecimento. Perda dos laços familiares e fragilidade na distribuição
de papéis. Falta do Serviço de Atenção ao Usuário (SAU). Fragmentação no
atendimento ao paciente, onde ele não é visto/tratado na sua integralidade.
Subordinação a um sistema o qual não prevê/oportuniza o manifesto dos
envolvidos para a estruturação organizacional. (A3)
É possível observar que as três profissionais citaram desafios no âmbito do próprio
Estado, seja pela indisponibilidade de bens e serviços na rede, seja pela falta de políticas
sociais para atendimento da população ou pela própria falta de condições físicas para
poderem realizar os atendimentos50.
Os desafios apresentados pelas profissionais permitem constatar que a mesma
sociedade que “[...] fornece as bases históricas para o desenvolvimento de demandas
vinculadas à liberdade (direitos, garantias sociais e individuais, autonomia, autogestão),
simultaneamente bloqueia e impede sua realização [...]” (IAMAMOTO, 2009b, p.34) a
começar pelo próprio Estado, que não oferece condições para que os assistentes sociais
possam operacionalizar suas ações diante das situações de violação de direitos.
Tendo em vista que os assistentes sociais constituem uma categoria que está
majoritariamente em constante luta por melhores condições de trabalho, pela garantia e
ampliação de direitos e avanços para os usuários, pretendeu-se descobrir também quais
conquistas as profissionais do HUOP alcançaram em relação à operacionalização de suas
ações diante das situações de violação de direitos dos usuários. A este respeito, as mesmas
responderam que:
As conquistas são acumuladas pelo trabalho da equipe de A.S do setor,
outros profissionais do hospital equipe multidisciplinar ou mesmo através
da rede de proteção tanto assistência ou da saúde dos outros órgãos que
compõe a rede. Mas acredito que em muitos casos o serviço social identifica
a situação, a qual se desencadeia no processo de atendimento da violação
de direitos, e acaba sendo uma conquista ou objetivo alcançado. (A1)
Nos últimos dois anos o SS tem participado da capacitação junto aos novos
residentes de medicina, oportunidade que tem sido aproveitada para, entre
outras questões, esclarecer sobre: nossas funções, bem como as que não nos
competem, conforme legislação pertinente (principalmente Lei que
regulamenta a profissão e código de ética do Assistente Social); dificuldades
50
Verifica-se que as próprias profissionais estão tendo direitos violados, já que, conforme apontado pela
assistente social A2, há a falta de salas de atendimento internas ao hospital para o serviço social. É uma violação
de direito das profissionais pois esta condição contraria o disposto no artigo 7º do Código de Ética do Assistente
Social, em que encontra-se expresso que é direito deste “dispor de condições de trabalho condignas, seja em
entidade pública ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;” (CONSELHO
FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p.31).
59
encontradas em relação ao direito dos usuários – pacientes e/ou familiares,
em conseguir informações clínicas, atestados e laudos, sendo estes direitos
legais dos usuários e dever legal do médico assistente; De tanto persistir
nas solicitações (verbais e documentadas) junto às Direções do HU e, com a
abertura de vagas para Residência médica em ortopedia a partir do segundo
trimestre deste ano de 2014, os atestados e laudos, antes geralmente não
fornecidos em tempo hábil, agora estão sendo fornecidos aos usuários por
estes médicos Residentes; Igualmente de tanto persistir nas solicitações
(verbais e documentadas) junto às Direções do HU, conseguimos provocar
uma reunião entre gestores municipais e do HU em conjunto com o S S,
para elaboração de protocolo de atendimento aos pacientes em situação de
rua, com alta hospitalar (conquista ainda em andamento);O trabalho em
rede tem apresentado perspectivas de melhoras ultimamente, principalmente
a partir da criação do instrumental “Ficha Intersetorial de Referência e
Contra Referência” pela Rede Intersetorial de Atenção e Proteção Social
municipal de Cascavel, embora ainda se perceba (enquanto SS do HU) que
basicamente estamos apenas fazendo as referências, sendo praticamente
nula as contra referências;Também tem sido implantado em nível Federal –
Ministério da Saúde, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) com a Ficha de Notificação/ Investigação Individual de Violências
Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências, principalmente contra crianças e
adolescentes, mulher e pessoa idosa. Com isso, mesmo que com deficiências
principalmente pelo atraso no encaminhamento destes dados para o SS,
estamos conseguindo intervir em mais situações que antes não nos
chegavam. Assim como é lógico, estes dados estão sendo encaminhados
para a finalidade para a qual foram criados a nível Federal, entre elas
estatísticas; Atuação no projeto multiprofissional denominado “Alta
Programada” que tem como objetivo preparar os cuidadores de pacientes
portadores de afecções crônicas incapacitantes (acamados) durante o
período de internação hospitalar, desde sua admissão na unidade até a alta,
para o desempenho dos cuidados domiciliares. O serviço social atua na
triagem do cuidador, além de realizar orientações e esclarecimentos acerca
do referido projeto e encaminhamentos à rede de serviços, conforme
demanda/avaliação social, pertinentes à sua profissão. (A2)
Participação na capacitação para novos residentes onde o serviço social
expõe suas atribuições dentro do hospital. Fomento a reuniões com gestores
municipais para elaboração de protocolo de atendimento adequado a
pacientes em situação de rua.Trabalho em rede avançando, com a criação
municipal da ficha de referência contra referência para notificações e
encaminhamentos.Maior visibilidade da atuação do Serviço Social com a
implantação do Prontuário Eletrônico de Paciente (PEP). Distribuição nas
diferentes alas de memorando com a descrição das situações em que o
Serviço Social deve ser acionado. (em anexo). Acredito, numa maior
credibilidade, com a permanência de uma equipe coesa, atuante e
comprometida com os mesmos ideais de luta permanente contra tudo oque
não compete mais a um Serviço Social contemporâneo. (A3)
Observa-se várias conquistas no que tange a operacionalização das ações das
profissionais diante das situações de violação de direitos dos usuários. Através da fala da
profissional A1, se verifica que estas conquistas foram obtidas não só no âmbito da equipe do
serviço social, mas também em conjunto com outros profissionais da instituição e rede de
60
serviços. Ademais, a profissional considera como conquista a própria identificação que o
serviço social faz das situações de violação de direitos durante os atendimentos dos usuários.
A profissional A2 explicita em sua fala conquistas alcançadas em decorrência da
persistência da equipe em relação a algumas situações, o que demonstra que o exercício das
profissionais é permeado por lutas e enfrentamento na instituição.
A operacionalização dos princípios inscritos no Código de Ética que norteiam o
exercício, é uma tarefa árdua, uma vez que este se dá em meio a tensões e jogo de forças que
envolvem as instituições em que as profissionais atuam e os demais profissionais inseridos
nestas, para além da análise que situa o trabalho profissional na órbita da sociedade
capitalista, o que aprofunda e complexifica as expressões da “questão social”.
Porém, é esta mesma análise que admite e assume as lutas sociais, ao mesmo tempo,
como inerente ao próprio capitalismo e como possibilidade de ruptura com o mesmo, na
potencialização dos processos de autonomia dos sujeitos e na garantia e defesa intransigentes
dos direitos sociais como meio para se alcançar a emancipação dos sujeitos51.
Para tanto, se faz imprescindível a articulação entre as dimensões do exercício
profissional com o suporte de referenciais críticos e valores emancipatórios, pois através
destes, o profissional tem a perspectiva de intervenção, calcada na luta social como um
processo contínuo, cujas respostas profissionais situam-se no tempo presente, exigindo a
utilização de instrumentos, técnicas e procedimentos que contribuam para incentivar e
mobilizar os “[...] usuários na luta pelos seus direitos – individuais e coletivos – conquistados
e a serem ampliados, em todas as áreas; diferente do simples acesso a um recurso.”
(VASCONCELOS, 2007, p.269, grifo da autora).
Todas as entrevistadas declararam conquistas em relação a rede de serviços. As
profissionais A2 e A3 afirmaram que as melhorias se deram em função da criação da ficha
intersetorial de referência e contra referência pela rede intersetorial de atenção e proteção
social municipal de Cascavel, todavia, a profissional A2 observou, que ainda não está sendo
muito realizada a contra referência em resposta as referências que elas efetivam.
51
Se por um lado continua sendo necessária a defesa dos direitos humanos, por outro também é preciso atentar-
se para o fato de que quando se defende os direitos humanos no capitalismo, também se corre o risco de manter
e/ou reafirmar o que torna necessária a defesa dos mesmos, que é a falta de condições mínimas de existência dos
sujeitos (BATISTA, 2013). Por isso, é importante os profissionais terem clareza deste paradoxo para não
incorrerem em um exercício que reafirme as contradições capitalistas e que ao mesmo tempo não transforme a
realidade social.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como proposta de pesquisa apreender como se realiza a dimensão
técnico - operativa do exercício profissional do assistente social do Hospital Universitário do
Oeste do Paraná de Cascavel em situações de violação de direitos dos usuários no primeiro
semestre de 2014.
Para tanto, realizou-se abordagens teóricas e bibliográficas referentes a “questão
social” e a relação com a política social de saúde e esta como espaço socio ocupacional do
assistente social. No caso específico deste estudo, sendo este espaço ocupacional o Hospital
Universitário do Oeste do Paraná – HUOP. Em seguida, abordou-se sobre o Serviço Social e
o exercício profissional do assistente social constituído pelas dimensões teórico-
metodológica, ético-política e técnico-operativa, sobretudo, em situações de violação de
direitos.
Ao efetivar a análise da dimensão teórico-metodológica e ético-política do assistente
social no HUOP, foi possível notar que as profissionais entrevistadas se apropriam de um
conjunto amplo de referências ético-políticas, dentre estas, o Código de Ética profissional,
legislações do SUS, a Lei que Regulamenta a Profissão, a Lei Orgânica da Saúde - Lei
8.080/1990, a Constituição Federal e a Lei 8.142/1990. Como referencial teórico-
metodológico constatou-se que as profissionais se apropriam de conteúdos da formação
acadêmica, da teoria social crítica e de autores que tratam da saúde pública a exemplo de
Maria Inês de Souza Bravo. Identificou-se que em algumas falas das entrevistadas as
dimensões não estão separadas. Ao mesmo tempo que isto demonstra o caráter indissolúvel
destas dimensões, explicitando a totalidade das mesmas no exercício profissional, também
evidencia uma certa dificuldade das profissionais em distinguir os elementos constitutivos de
cada dimensão. Todavia, como se analisa o exercício profissional sob as perspectiva de
totalidade, entende-se que esta dificuldade não se constitui em impeditivo para a execução
competente de tal exercício.
Em relação as violações de direitos dos usuários, constatou-se que diversas situações
desta natureza ocorreram durante o primeiro semestre de 2014, tais como: falta de leitos ou
acomodações adequadas aos usuários, não liberação de acompanhantes à gestante em situação
de parto, falta de informações clínicas por parte da equipe médica ao paciente/familiares,
pacientes em situação de rua com alta hospitalar, acamados e dependentes para todos ou quase
todos os cuidados, em situação de abandono, sem pessoas para acolhê-los ou de local para
serem encaminhados, exclusão do mercado de trabalho, negligência e violência contra criança
62
e adolescente, falta de informações claras para os usuários de origem estrangeira acerca de sua
condição de saúde, falta de transporte para mães (sem condições financeiras) de bebês com
internamentos nas UTIs, dependência química de adolescentes e demanda reprimida para
exames, consultas, internações e cirurgias eletivas.
Especificamente, no que tange a dimensão técnico-operativa do assistente social em
situações de violação de direitos, averiguou-se que para responder estas situações as
profissionais do HUOP desenvolvem diversas ações como: orientar, encaminhar, notificar,
informar e emitir/realizar relatório social acerca destas situações. Como instrumentos,
constatou-se o emprego da entrevista, da observação e da reunião diante destas ocorrências.
Neste sentido, se confirmou com esta pesquisa que as profissionais entrevistadas
desenvolvem ações com a finalidade de mobilizar e comunicar os serviços e autoridades
responsáveis pela resolubilidade das situações de violação de direitos, afirmando a
necessidade de articulação com os organismos de defesa de direitos, tais como: Ouvidoria,
Delegacias, Conselho Tutelar, Promotoria e Ministério Público.
Ademais, também se confirmou que a dimensão técnico-operativa do exercício
profissional das assistentes sociais da instituição referida se realiza através da elaboração de
relatórios, notificações, referência e contra-referência e do emprego de entrevistas. No
entanto, foi possível verificar também o desenvolvimento de outras ações, instrumento e
procedimentos realizados pelas assistentes sociais entrevistadas.
Constatou-se, ainda, o comprometimento das profissionais com os ideais do projeto
ético-político da categoria, sendo o mesmo expresso em suas falas, uma vez que as mesmas se
referiram em vários momentos a elementos presentes no Código de Ética do assistente social
ao mesmo tempo que expuseram a dimensão ético-política do seu exercício, sobretudo nas
situações de violação de direitos. Neste sentido, as assistentes sociais explicitaram os
seguintes elementos: defesa dos direitos, construção de uma sociedade mais justa,
emancipação, liberdade, compromisso do profissional com a autonomia, defesa de um projeto
societário democrático, conquista de espaços que partilham os mesmos ideais de igualdade e
justiça e exercício satisfatório da cidadania, assinalando a conexão com a dimensão ético-
política da profissão.
No tocante ao objeto ora em estudo, todas as violações de direitos apontadas nesta
pesquisa têm relação direta com o que foi estabelecido historicamente como direito legal. A
maior constatação destas situações foi a violência de ordem institucional, cometida pelo
próprio Estado.
63
Em relação à operacionalização das ações diante das situações de violação de direitos,
verificou-se que as assistentes sociais do HUOP obtiveram conquistas, resultantes de lutas e
enfrentamentos cotidianos, sendo estas expressas através do trabalho da equipe do hospital,
entre as assistentes sociais, destas com outros profissionais da instituição e entre a própria
rede de serviços.
Entretanto, foi possível notar que ainda persistem desafios, sendo grande parte destes
no âmbito do próprio Estado, seja pela indisponibilidade de bens e serviços na rede, seja pela
falta de políticas sociais para atendimento da população ou pela própria falta de condições
físicas para as próprias profissionais poderem realizar os atendimentos.
Muitas foram as situações de violação de direitos que se apresentaram às assistentes
sociais do HUOP durante o primeiro semestre de 2014. É no contexto das lutas sociais, em
meio às contradições que permeiam a sociedade capitalista que os assistentes sociais devem
mobilizar meios, instrumentos, técnicas, procedimentos e realizar ações para responder estas
situações, a fim de garantir a efetivação dos direitos dos usuários, pautados em referenciais
críticos e em valores condizentes com a emancipação da classe trabalhadora.
É no cotidiano que o assistente social utiliza os instrumentos, técnicas e procedimentos
com a finalidade de assegurar a defesa dos direitos dos usuários, conforme expresso no
Código de Ética da profissão, na defesa intransigente dos direitos humanos e na ampliação e
consolidação da cidadania, tendo em vista à garantia dos direitos das classes trabalhadoras.
Ao mesmo tempo que se apresenta como um dos princípios éticos do Serviço Social, a
defesa dos direitos também se coloca como um desafio para os profissionais, já que a mesma
sociedade que os estabelece, impede sua realização, o que exige dos assistentes sociais não só
a superação de um pensamento fatalista acerca da defesa dos direitos como também o
aprimoramento constante do acervo operativo com o suporte das dimensões teórico-
metodológica e ético-política a fim de garantir a efetivação destes.
64
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74
APÊNDICE B – Questionário e Respostas
QUESTIONÁRIO
Título do Projeto: O exercício profissional do assistente social do Hospital Universitário do
Oeste do Paraná de Cascavel: a dimensão técnico-operativa em situações de violação de
direitos.
Pesquisadora Responsável: Prof. Ms. Cristiane Carla Konno
Pesquisadora Colaboradora: Aline Fernanda Junges
1) Em sua opinião, qual a importância da dimensão teórico-metodológica para o exercício
profissional? Quais referências teóricas utiliza para exercer a profissão?
2) Qual a importância da dimensão ético-política para o exercício profissional? Quais
referências ético-políticas utiliza para exercer a profissão?
3) Quais instrumentos e técnicas você utiliza no seu exercício profissional? Qual a
importância da dimensão técnico-operativa para o exercício profissional?
4) Quais situações de violação de direitos dos usuários têm sido mais frequentes no cotidiano
profissional do seu exercício profissional no decorrer do primeiro semestre de 2014?
5) Quais desafios encontra para operacionalizar suas ações diante das situações de violação de
direitos dos usuários?
6) Quais conquistas alcançou em relação à operacionalização de suas ações diante das
situações de violação de direitos dos usuários?
7) Neste percurso de atendimento as situações de violação de direitos dos usuários quais os
procedimentos/protocolos exigidos e adotados?
8) Quais instrumentos e técnicas utiliza em situações de violação de direitos dos usuários?
75
RESPOSTAS DAS PROFISSIONAIS
QUESTÃO 1
PROFISSIONAL A1
1) Para atuação se faz necessário junção, encontro ou seja, a articulação entre teoria e prática,
pois uma prática profissional sem embasamento teórico não acrescenta nenhuma mudança ou
até mesmo pode trazer prejuízo para o usuário. Lembrando que quando estamos realizando
um atendimento temos uma responsabilidade técnica e ética com o usuário. Acredito que a
dimensão teórica-metodológica oferece proporciona a qualidade dos atendimentos/orientações
encaminhamentos, ou seja um exercício profissional qualificado, não apenas operacional mas
com fundamentação teórica. As referências teóricas utilizadas partem da formação acadêmica
do serviço social, da linha crítica ao sistema capitalista e das relações sociais estabelecidas na
sociedade, e também de conhecimentos construídos na política pública de saúde, legislações
de saúde, ou outras leis de garantia de direitos sociais (idoso, criança adolescente, direito
usuário do SUS entre outra) e também das produções teóricas sobre a determinação social do
processo saúde-doença.
PROFISSIONAL A2
1) Entendo que a dimensão teórico-metodológica é de fundamental importância para o
exercício da profissão, uma vez que um dos diferenciais desta profissão em relação às demais
é a sua intervenção nas expressões da questão social que no caso do Serviço Social (SS) no
Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), interferem nas questões de saúde, dentre
elas a desregulamentação das relações trabalhistas, o que se reflete na dificuldade de
encaminhamento dos pacientes para benefícios e proteção pós-alta e em internamentos
ocasionados por acidentes de trabalho; a pobreza expressa na falta de condições de famílias
para cuidar de entes acamados, pacientes sem endereço fixo, condições de moradia e
alimentação precárias que ocasionam problemas de saúde, entre outros. Percebe-se também
enquanto expressão da questão social a violência, tanto física quanto psicológica, tratando-se
com situações de pacientes internados vítimas de violência seja por agressões, abusos e
também por negligência. A dependência química também se configura como expressão da
questão social, verificada não somente na Ala Psiquiátrica do HU, mas como motivo de
outros internamentos (acidentes de trânsito ocasionados por uso abusivo de bebidas alcoólicas
por exemplo). A falta de vínculos familiares ou a fragilidade destes laços também se constitui
enquanto uma manifestação da questão social, verificado em situações de pacientes internados
como desconhecidos, abandonados por suas famílias. Enfim, muitas expressões da questão
social podem ser verificadas no Hospital, pois apesar de o objetivo ser o tratamento para o
reestabelecimento da saúde, as pessoas trazem consigo suas realidades que interferem nesse
processo de recuperação. Neste sentido e daí a importância da dimensão teórico-metodológica
que possibilite uma análise mais ampla das situações que se apresentam (superando o senso
comum), as razões para a ocorrência destas situações e o entendimento dos diferentes
aspectos sociais relacionados a elas e que interferem no processo saúde-doença (família,
situação trabalhista, acesso a benefícios e direitos sociais, dentre outros), para, a partir disso,
elencar as possibilidades de intervenção e encaminhamentos numa perspectiva
76
transformadora. Quanto as referências teóricas para o exercício da profissão, procura-se atuar
na defesa e garantia dos direitos sociais dos usuários, numa perspectiva crítica, tendo como
base os referenciais teóricos da formação acadêmica, os princípios do nosso Código de Ética,
Declaração dos Direitos Humanos e legislações pertinentes (Estatuto da Criança e do
Adolescente, Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, entre outras), as quais preconizam o
atendimento integral ao ser humano/usuário.
PROFISSIONAL A3
1) É essencial e se torna necessária a partir do momento em que a demanda se apresenta ao
profissional e requer deste uma intervenção competente e segura, o que exige do Assistente
Social, conhecimento da realidade onde atua fundamentada nos seus referenciais teóricos,
além de capacitação permanente em que permeiam os diversos saberes para acompanhar o
movimento e a evolução da sociedade. É fundamental uma postura investigativa para
podermos vislumbrar a necessidade do outro, respeitando suas particularidades e levando em
consideração suas especificidades por meio da escuta qualificada, a partir de um diagnóstico
no intuito de elaborar uma operação de atuação que seja objetiva, clara e resolutiva, fugindo
do senso comum. Em relação às referências teóricas fundamentais para o exercício da
profissão, faz-se necessário uma atuação profissional pautada na recusa ao autoritarismo e
arbitrariedade, entendendo o movimento crítico dialético como pilar para uma atuação
condizente com os princípios preconizados pelo código de ética profissional. Tendo a
liberdade como valor central, o que significa a livre escolha entre alternativas concretas,
reforçando seu compromisso com a emancipação e autonomia dos indivíduos sociais. A
compreensão da realidade em uma conjuntura de exploração e alienação de uma classe sobre
outra.
QUESTÃO 2
PROFISSIONAL A1
2) A sua importância está relacionada à posição que a categoria assumiu a favor da construção
de uma sociedade mais justa para todos para emancipação humana, baseado em valores éticos
que possam nortear a prática do assistente social, e seu posicionamento em defesa da classe
trabalhadora e do processo democrático em todas as instâncias/instituições sociais. O
principal é o projeto ético-político do Serviço Social, expresso no código de ética, mas na área
da saúde há também várias referências que remetem e defendem uma nova forma de relações
entre as pessoas, baseados em processos democráticos as próprias legislações SUS, saúde
coletiva, que garantem o direito à saúde, mas também identifica-se que a saúde ou a condição
de saúde da população ou grupo está relacionada diretamente à sua condição social.
PROFISSIONAL A2
2) A importância da dimensão ético- política para o exercício profissional está relacionada a
liberdade concebida como possibilidade de escolha, evidenciando o compromisso do
profissional com a autonomia, emancipação e defesa dos direitos humanos. Esta dimensão
vincula o profissional a valores éticos (e não morais) e na defesa de um projeto societário
77
democrático, livre da dominação e exploração da classe trabalhadora, etnia e gênero. As
principais referências ético-políticas utilizadas para nortear o exercício profissional são: o
Código de Ética do Assistente Social, a Lei que Regulamenta a Profissão, a Lei Orgânica da
Saúde – Sistema Único de Saúde (Leis 8.080/1990 e 8.142/1990), Constituição Federal e
autores que trazem a trajetória e as lutas pela saúde pública como direito de todos, como por
exemplo, Maria Inês de Souza Bravo.
PROFISSIONAL A3
2) É o próprio reconhecimento da profissão que se faz presente nas diferentes áreas de atuação
com a proposta de luta pelo interesse dos usuários, conquistando espaços que partilham os
mesmos ideais de igualdade e justiça, onde o mínimo necessário não é suficiente o bastante
para o exercício satisfatório da cidadania. Requer unicidade enquanto categoria e batalha
diária na busca de respostas para as diversas lacunas que se apresentam na cotidianidade da
população menos favorecida. Para uma boa atuação é indispensável à leitura dos autores que
materializam o exercício profissional, além da legislação, a exemplo: Código de Ética
Profissional, Lei de Regulamentação da Profissão, Lei Orgânica da Assistência Social, Lei
8080 (Sistema Único de Saúde), Constituição Federal.
QUESTÃO 3
PROFISSIONAL A1
3) No HUOP realizamos muitos atendimentos individuais, desta forma utilizamos da
entrevista como principal técnica, e também preenchimento de um questionário que norteia o
atendimento que é o cadastro de atendimento do SSo, que busca identificar dados da situação
socioeconômica constituição familiar, situação de trabalho, acesso a bens e serviços sociais,
condições moradia/saneamento básico, entre outras. E também reunião entre profissionais e
familiares ou entre os profissionais para discutir casos. Sua importância está relacionada com
o objetivo que se pretende com o atendimento do serviço social, não a somente a técnica, mas
o que esse encontro pode relevar, para o melhor ou mais adequado, encaminhamento da
situação em que o usuário ou familiar se encontra.
PROFISSIONAL A2
3) Instrumentos e técnicas
Cadastro de Atendimentos do Serviço Social – HUOP (fotocópia em anexo), produzido pelo
próprio SS, para obter dados de identificação; constituição familiar; escolarização; trabalho;
renda; acesso a benefícios sociais; condições de moradia, entre outros. Enfim, através deste
consegue-se realizar uma avaliação da situação socioeconômica, do todo que envolve o
usuário/paciente identificando as necessidades e encaminhamentos necessários.
Entrevista, muito utilizada nos atendimentos (geralmente individuais, porém muitas vezes
entre membros da mesma família ou ciclo de relações do usuário, conforme possibilidade e/ou
necessidade) realizados pelo SS no Hospital. Ela possibilita a obtenção de dados, a definição
dos procedimentos metodológicos bem como colabora na realização do diagnóstico social.
78
Observação, instrumental que acompanha os demais, uma vez que ela é “quase como que
inerente”, pois faz parte em todos os atendimentos realizados e nos ajuda a perceber a
realidade, o dito e o que fica nas entrelinhas, levando o profissional a uma reflexão muito
mais rica e consequentemente a uma intervenção com mais qualidade.
Orientação e informação, muito utilizadas no nosso cotidiano de trabalho no HUOP, pois
somos constantemente procuradas por usuários/pacientes, contatadas por familiares de
pacientes via telefone, assim como é solicitado o nosso atendimento pela própria equipe
(enfermeiros, médicos e outros) para auxiliar no sentido de orientações/informações acerca de
diversas questões (como por exemplo normas/rotinas do HU; encaminhamentos de
transferência de pacientes, estadia para acompanhantes de pacientes etc.), que envolvem a
saúde do usuário.
Livro de registros de atendimentos diários onde são anotados demandas/atendimentos
realizados diariamente, dados que se julgam importantes (as vezes telefones de referência,
endereços de pessoas próximas do usuário etc), questões pendentes, de modo que a equipe
possa dar continuidade ao trabalho (lembrando que trabalhamos em equipe e por plantão –
manhã/tarde).
Reuniões de equipe do SS; interdisciplinares para atendimentos de situações/pacientes
específicos; em conjunto com familiares de pacientes, geralmente em situações de conflito;
entre a rede de serviços e reuniões das Comissões, cujas quais o SS tem participação. Os
objetivos dizem respeito a discussões pontuais, objetivando estabelecimento de protocolos de
atendimento e/ou consensos e tomada de decisões.
Visita domiciliar esporadicamente, em situações muito peculiares, quando detectada a
necessidade pelo assistente social, pois geralmente encaminham-se as situações para
visita/acompanhamento via serviços da rede (CRAS e UBS de origem do paciente/usuário).
Visita institucional raramente, para conhecer o trabalho desenvolvido na instituição e
mobilizar a rede de serviços no processo de viabilização dos direitos sociais.
Acompanhamento realizado geralmente durante a internação do paciente, quando detectado a
necessidade.
Encaminhamento para rede de serviços, realizado geralmente pós-alta ou quando há previsão
de alta hospitalar para viabilizar o acompanhamento, continuidade no tratamento,
monitoramento de situações que se julgar importante. Este é muito utilizado.
Plano de intervenção do serviço social no HUOP, o qual possibilita a organização, a
realização de um trabalho integrado e o planejamento das ações aos profissionais, além de
situar a prática profissional na instituição.
Entende-se que a importância da dimensão técnico-operativa para o exercício profissional está
relacionada a possibilidade de conhecer e apropriar-se do conjunto de instrumentais e
técnicas para o atendimento da população usuária de forma a garantir melhor atendimento e
qualidade no serviço prestado.
79
PROFISSIONAL A3
3) Cadastro, onde há a primeira aproximação com o usuário, que permite avaliar a situação
daquele contexto com a entrevista socioeconômica, em que são observadas as particularidades
e identificadas às necessidades do sujeito.
- Observação, de forma a perceber criticamente e tomar conhecimento de dada realidade,
enxergando o indivíduo como reflexo de múltiplas determinações.
- Acompanhamento, quando detectada na entrevista social, a necessidade de apoio e de
encaminhamentos para potencializar os envolvidos na situação declarada.
- Mapeamento das alas de referência, no caso, Pronto Socorro, manhã e F2 (clínica médica e
cirúrgica), que possibilita visualizar o fluxo do atendimento, bem como a necessidade de nos
mantermos alerta aos acontecimentos diários, para facilitar a intervenção.
- Livro de registro das atividades, que possibilita a continuidade do serviço realizado em
equipe.
- Visita domiciliar e institucional esta que permite enxergar in loco a estrutura organizacional
e a domiciliar que possibilita a visão real do sujeito em seu meio e com seus circundantes.
- Plano de trabalho do setor de serviço social no Hospital Universitário do Oeste do Paraná.
Sua importância está na possibilidade de realizar um trabalho continuo, integrado e visível aos
envolvidos no processo de trabalho, e que oportunize a cada profissional sistematizar o
desenvolvimento diário de seus compromissos, elegendo prioridades e encontrando caminhos
dentro desses critérios, entre outros viáveis e que são adotados como base para atender as
diferentes demandas que se apresentam no cotidiano profissional enquanto trabalhador,
oferecendo um serviço de qualidade.
QUESTÃO 4
PROFISSIONAL A1
4) A exclusão do mercado de trabalho, no qual a grande maioria dos usuários e ou familiares
se encontram, o que por si só já os colocam em situação de vulnerabilidade social, identifica-
se também a negligência contra e violência contra criança e adolescente, por parte da família
mas também de muitos serviços e órgãos de proteção. Pessoas em situação de rua,
dependência química. Mas há também a violação de direitos na própria instituição como falta
de leitos ou acomodações adequadas aos usuários atendidos, a não liberação de
acompanhantes à gestante em situação de parto, foram os que mais se destacam no período
solicitado.
PROFISSIONAL A2
4) Alta hospitalar de pacientes, que vivem em situação de rua, vítimas de violências,
principalmente de trânsito e física, como por exemplo, atropelamentos e agressões, que em
decorrência destas violências se tornam pessoas acamadas e dependentes para todos ou quase
80
todos os cuidados, em situação de abandono (sem pessoa para acolhê-los e nem local para
serem encaminhados). Estes pacientes não raras vezes permanecem trinta a quarenta dias
ocupando um leito hospitalar enquanto aguardam serem encaminhados, geralmente via
promotoria pública, por ausência de políticas públicas para este segmento da população;
- Atendimento a pacientes e familiares estrangeiros, principalmente haitianos. Tem-se
percebido uma grande migração destes estrangeiros para a nossa região de abrangência (os
quais vem de seus países de origem geralmente em busca de trabalho e o conseguem como
mão de obra barata, principalmente nos frigoríficos desta região) e consequentemente muitos
atendimentos de saúde, principalmente em obstetrícia (nascimentos de crianças), entretanto
sem políticas sociais para esse acréscimo na demanda. Uma questão latente e preocupante é a
dificuldade na comunicação devido ao idioma o que dificulta, quando não inviabiliza, a
realização da anamnese, condutas, orientações e encaminhamentos, podendo ocasionar
problemas ainda mais graves em decorrência;
- Demanda reprimida pela falta de vagas para internamentos e atendimentos médico
ambulatoriais. Diariamente atendemos pessoas, alguns já pacientes ambulatoriais, outros de
demanda externa, ou seja, que ainda não estão sendo atendidas no HU, que procuram pelo
serviço social, muitos deles implorando por atendimento;
- Dificuldade para conseguir ou falta de informações clínicas por parte da equipe médica ao
paciente/familiares e, dificuldade para garantir o direito ao paciente/usuário de atestados e
laudos médicos para encaminhar questões trabalhistas devido a resistência de médicos.
Ambos caracterizam-se violação de direitos pela instituição;
- Falta ou dificuldade para conseguir transporte para mães (sem condições financeiras) de
bebês com internamentos em UTIs, para viabilizar lhes o direito de acompanhar e inclusive
amamentar os filhos durante a internação e falta de casa de apoio ou local adequado no HU
para acomodar estas mães durante a internação dos filhos;
- Atendimento a pacientes com dependência química, principalmente adolescentes;
- Não liberação de acompanhante para a gestante em trabalho de parto e durante o parto,
embora exista Lei Federal (11.108/2005) que o garanta, caracterizando-se numa violação de
direito por parte da instituição – HU;
- Internamento de pacientes:
* desconhecidos (sem documentos, muitos vítimas de agressões, atropelamentos);
* que não recebem visitas (porque são sozinhos ou abandonados pela família/amigos);
* vítimas de agressão, violência doméstica ou suspeita de violência e/ou abuso que em
decorrência de doenças ou acidentes tornam-se acamados.
PROFISSIONAL A3
81
4) Demanda reprimida para: exames, consultas, internações, cirurgias eletivas, atendimento
psiquiátrico/adulto (pacientes com dependência química e/ou transtorno mental).
- Dificuldade de familiar/pessoa disponível para um acompanhamento ideal ao tratamento do
paciente dependente ou acamado e/ou idoso.
- Estrangeiros (principalmente haitianos) com a falta de interprete e uma política adequada ao
atendimento destes, pela sua peculiaridade.
- Falta de informações clínicas por parte da equipe responsável.
- Pessoa em Situação de Rua.
QUESTÃO 5
PROFISSIONAL A1
5) Primeiro é garantir que o atendimento de sua necessidade seja atendida, mas o desafio é
que muitas vezes o acesso a bens e serviços não estão disponíveis na rede de atendimento do
SUS ou de assistência social, ou na própria instituição o que limita os encaminhamentos ou a
sua solução de forma imediata, muitas situações se faz necessário a intervenção de instâncias
jurídicas e/ou órgãos de proteção como conselhos tutelares e ministério público, promotorias.
PROFISSIONAL A2
5) Falta de políticas sociais e interesse do Poder Público para providenciar local adequado
para o acolhimento, assistência e reabilitação às pessoas em situação de rua, quando se
encontram em situações como as descritas acima, ou seja, dependentes para os cuidados,
vítimas de violências;
- Falta de Políticas Públicas para abarcar o contingente de estrangeiros no país de forma a
prestar-lhes a assistência necessária;
- Necessidade de maior investimento como um todo (em todas as esferas de Governo) para a
saúde; também maior investimento e comprometimento de profissionais (em todas as
categorias) na educação e prevenção de doenças, agravos e violências; otimização dos leitos
hospitalares e serviços de saúde; diminuição da burocracia na rede, enfim, mais
comprometimento e menos mercantilização da vida e saúde do ser humano – usuário dos
serviços;
- Falta de estabelecimento de protocolo pela Direção do HU a ser cumprido pelos
profissionais médicos (preceptores, residentes, acadêmicos de medicina) no fornecimento de
informações clínicas ao paciente e familiares, bem como no fornecimento de atestados e
laudos, estes pela ortopedia;
- Necessidade da garantia do direito à mãe/pais ou responsáveis de acompanhar o recém-
nascido internado em UTIs e deste de ser acompanhado, através da viabilização do transporte
público aos responsáveis (que dele necessitem). Ressalta-se nesta questão que diversas
tentativas já foram por nós do SS encaminhadas a Secretaria Municipal de Saúde de Cascavel,
82
ao Conselho Tutelar e inclusive foi dado conhecimento à Promotoria da Vara da Infância e
Juventude de Cascavel, porém, salvo pequeno avanço por curto prazo de tempo, ainda não se
conseguiu resolutividade no assunto;
- Necessidade de espaço/local adequado no HU para garantir, à mãe (devido ao aleitamento
materno ou mesmo o acompanhamento em tempo integral) a sua permanência junto ao filho
recém-nascido internado em UTI, se assim ela o desejar;
- Falta de salas de atendimento internas ao Hospital para o serviço social e a criação do
Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) para atender e encaminhar para os devidos setores
a demanda externa, demanda esta ainda atendida e orientada majoritariamente pelo SS devido
a sua localização externa;
- Falta de apoio/comprometimento dos gestores na busca de alternativas ou nos
encaminhamentos das situações descritas.
PROFISSIONAL A3
5) Falta de políticas públicas para estrangeiros domiciliados no país. Falta de uma casa de
apoio ou inexistência de um local estruturado para acolher pessoas, desprovidas de recursos e
de moradia, até o seu completo restabelecimento.Perda dos laços familiares e fragilidade na
distribuição de papéis. Falta do Serviço de Atenção ao Usuário (SAU).Fragmentação no
atendimento ao paciente, onde ele não é visto/tratado na sua integralidade. Subordinação a um
sistema o qual não prevê/oportuniza o manifesto dos envolvidos para a estruturação
organizacional.
QUESTÃO 6
PROFISSIONAL A1
6) As conquistas são acumuladas pelo trabalho da equipe de A.S do setor, outros profissionais
do hospital equipe multidisciplinar ou mesmo através da rede de proteção tanto assistência ou
da saúde dos outros órgãos que compõe a rede. Mas acredito que em muitos casos o serviço
social identifica a situação, a qual se desencadeia no processo atendimento da violação de
direitos, e acaba sendo uma conquista ou objetivo alcançado.
PROFISSIONAL A2
6) Nos últimos dois anos o SS tem participado da capacitação junto aos novos Residentes de
medicina, oportunidade que tem sido aproveitada para, entre outras questões, esclarecer sobre:
nossas funções, bem como as que não nos competem, conforme legislação pertinente
(principalmente Lei que regulamenta a profissão e código de ética do Assistente Social);
dificuldades encontradas em relação ao direito dos usuários – pacientes e/ou familiares, em
conseguir informações clínicas, atestados e laudos, sendo estes direitos legais dos usuários e
dever legal do médico assistente; De tanto persistir nas solicitações (verbais e documentadas)
junto às Direções do HU e, com a abertura de vagas para Residência médica em ortopedia a
partir do segundo trimestre deste ano de 2014, os atestados e laudos, antes geralmente não
83
fornecidos em tempo hábil, agora estão sendo fornecidos aos usuários por estes médicos
Residentes; Igualmente de tanto persistir nas solicitações (verbais e documentadas) junto às
Direções do HU, conseguimos provocar uma reunião entre gestores municipais e do HU em
conjunto com o S S, para elaboração de protocolo de atendimento aos pacientes em situação
de rua, com alta hospitalar (conquista ainda em andamento); O trabalho em rede tem
apresentado perspectivas de melhoras ultimamente, principalmente a partir da criação do
instrumental “Ficha Intersetorial de Referência e Contra Referência” pela Rede Intersetorial
de Atenção e Proteção Social municipal de Cascavel, embora ainda se perceba (enquanto SS
do HU) que basicamente estamos apenas fazendo as referências, sendo praticamente nula as
contra referências; Também tem sido implantado em nível Federal – Ministério da Saúde, o
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) com a Ficha de Notificação/
Investigação Individual de Violências Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências,
principalmente contra crianças e adolescentes, mulher e pessoa idosa. Com isso, mesmo que
com deficiências principalmente pelo atraso no encaminhamento destes dados para o SS,
estamos conseguindo intervir em mais situações que antes não nos chegavam. Assim como é
lógico, estes dados estão sendo encaminhados para a finalidade para a qual foram criados a
nível Federal, entre elas estatísticas; Atuação no projeto multiprofissional denominado “Alta
Programada” que tem como objetivo preparar os cuidadores de pacientes portadores de
afecções crônicas incapacitantes (acamados) durante o período de internação hospitalar, desde
sua admissão na unidade até a alta, para o desempenho dos cuidados domiciliares. O serviço
social atua na triagem do cuidador, além de realizar orientações e esclarecimentos acerca do
referido projeto e encaminhamentos à rede de serviços, conforme demanda/avaliação social,
pertinentes à sua profissão.
PROFISSIONAL A3
6) Participação na capacitação para novos residentes onde o serviço social expõe suas
atribuições dentro do hospital.
• Fomento a reuniões com gestores municipais para elaboração de protocolo de atendimento
adequado a pacientes em situação de rua.
• Trabalho em rede avançando, com a criação municipal da ficha de referência contra
referência para notificações e encaminhamentos.
• Maior visibilidade da atuação do Serviço Social com a implantação do Prontuário Eletrônico
de Paciente (PEP).
• Distribuição nas diferentes alas de memorando com a descrição das situações em que o
Serviço Social deve ser acionado.
• Acredito, numa maior credibilidade, com a permanência de uma equipe coesa, atuante e
comprometida com os mesmos ideais de luta permanente contra tudo oque não compete mais
a um Serviço Social contemporâneo.
QUESTÃO 7
84
PROFISSIONAL A1
7) As situações de violência todas são notificadas através de formulário próprio da vigilância
epidemiológica. A partir dessa notificação, o segmento envolvido é realizado acolhimento,
atendimentos necessários durante o internamento, contatos com serviços especializados e os
encaminhamentos necessários após a alta para continuidade dos atendimentos, ou acolhimento
conforme a situação.
PROFISSIONAL A2
7) Pacientes que vivem em situação de rua com alta hospitalar:
Preenchimento do cadastro socioeconômico (com os dados possíveis) para conhecimento da
realidade e histórico do paciente;
Tentar localizar familiares/conhecidos/pessoas de referência que possam acolher e prestar
assistência necessária. Caso isso não seja possível, acionar o CREAS III, via Ficha
Intersetorial de Referência e Contra Referência, solicitando providências;
Após passados alguns dias e na ausência de resposta (o que geralmente acontece),
encaminhamento de memorando para a Direção do HU, solicitando o encaminhamento da
situação ao Ministério Público para providências.
Pacientes estrangeiros, principalmente haitianos:
Preenchimento do cadastro socioeconômico (com os dados possíveis) para conhecimento da
realidade, histórico, origem e demanda do paciente;
Quando dificuldade de comunicação muito grande devido ao idioma, acionar tradutor
voluntário, através de contato telefônico (que informalmente se dispõe a nos auxiliar, desde
que não em horário de trabalho). Aproveitar este momento para coletar dados necessários
(antes incompletos) e se possível, com intuito de obter melhor entendimento, realizar as
orientações e encaminhamentos pertinentes.
Demanda reprimida:
Orientar os que nos procuram sobre forma legal de conseguir o atendimento necessário e de
direito, inclusive a buscar via Promotoria Pública caso necessário.
Falta de informações clínicas e atestados/laudos médicos:
Orientar e viabilizar o contato do usuário com médico assistente para obter as informações
clínicas e documentação/atestados e laudos e, caso encontrado muita resistência/dificuldade,
encaminhar para ouvidoria.
Falta/dificuldade de transporte para mães acompanhar os filhos recém-nascidos
internados em UTIs:
85
Orientar a mãe/responsável e fazer encaminhamento (formal) para UBS de origem,
solicitando o transporte; caso encontrado dificuldade (o que sempre acontece quando o
paciente é de Cascavel), solicitar intervenção do Conselho Tutelar via Ficha Intersetorial de
Referência e Contra Referência.
Falta de casa de apoio ou local adequado para acomodar estas mães:
Quando o paciente é de cascavel: geralmente a mãe vem para o hospital acompanhar o filho
internado de dia e volta para casa à noite para dormir. Em situações de exceção (quando há
indicação clínica de acompanhamento em tempo integral, improvisa-se local/acomodação
para a mãe na sala de descanso junto a UCI);
Quando o paciente é de outro município: entra-se em contato com Secretaria de Saúde de
origem, solicitando o transporte diário da mãe/responsável ou o custeio de local particular
para o pernoite, sendo o acompanhamento realizado ao paciente durante o dia; em alguns
casos (conforme avaliação e aceitação da usuária) as mães são encaminhadas a uma casa de
apoio oferecida e mantida por pessoas ligadas a igreja (sem participação por parte do poder
público).
Não liberação de acompanhante para a gestante em trabalho de parto e durante o parto:
Estabelecer contato com equipe do Centro Obstétrico (CO) para informar e solicitar a
liberação de acompanhante e/ou orientar a paciente e familiares a solicitá-lo junto a equipe no
CO, argumentando tratar-se de um direito garantido em Lei Federal;
Diante da negativa (que sempre acontece) sob o argumento da falta de espaço ou espaço
inadequado, orientar a acionar a ouvidoria ou Ministério Público.
Pacientes desconhecidos:
Procurar junto aos pertences possíveis formas de identificação (documentos, números de
telefone, celular).
Se encontrados documentos, entrar em contato com Assessoria de Imprensa da UNIOESTE
para divulgar nos meios de comunicação a solicitação do comparecimento da família ao
HUOP.
Caso o paciente não possua nenhuma identificação, repassar para Assessoria de Imprensa
características do(a) paciente para veicular nos meios de comunicação
Caso se suspeite de o paciente estar em situação de rua, acionar o Centro POP (serviço
municipal que atende a essa demanda) para verificar possível identificação;
Quando (ou se) a família chegar ao HUOP, encaminhá-la ao setor onde o(a) paciente estiver
para identificação – reconhecimento e solicitar documentos do paciente para regularizar a
situação junto ao internamento/prontuário.
Após a identificação, realizar cadastro socioeconômico para verificar situação do paciente e
dar os encaminhamentos pertinentes.
86
Pacientes que não recebem visitas:
Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do paciente.
Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em contato com a família
solicitando que ela compareça ao hospital para atendimento no Serviço Social. Caso não se
consiga contato com familiar, contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-la.
No atendimento presencial (ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da
família ao paciente. Explicitar a importância da família no acompanhamento do paciente e nos
cuidados pós-alta hospitalar.
Caso se perceba abandono do paciente, acionar o CREAS III (Centro de Referência
Especializado em Assistência Social que atende população adulta com direitos violados).
Internados por agressão, violência doméstica ou suspeita de e/ou abuso:
Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico e situação sócio-familiar do
paciente;
Conforme avaliação, abordar o(a) paciente em separado de seus familiares
Se paciente adulto orientar quanto aos recursos existentes na comunidade: Delegacia da
Mulher e Abrigo de Mulheres no caso de violência contra a mulher; Delegacia para registro
de boletim de ocorrência no caso de homens.
Conforme avaliação, solicitar atendimento psicológico;
Se paciente for criança, acionar o setor de Psicologia para abordagem conjunta –
avaliar/discutir conduta com psicologia. Acionar Conselho Tutelar (e/ou Vara da Infância e
Juventude) e CREAS I (Centro de Referência Especializado em Assistência Social que atende
crianças e adolescentes com direitos violados), para acompanhamento. Aguardar parecer dos
órgãos de proteção citados para liberação da criança.
Pacientes que em decorrência de doenças ou acidentes tornam-se acamados (preparo da
família para alta):
Preencher cadastro socioeconômico com familiares para conhecer histórico do paciente e
família. Verificar rede de apoio familiar e social
Verificar necessidades do paciente no pós-alta: cama hospitalar, colchão, cadeira de rodas,
cadeira de banho, oxigênio. Averiguar serviço de referência de reabilitação;
Triar familiares de referência. Realizar orientações acerca da capacitação de cuidador para os
cuidados ao paciente pós-alta hospitalar. Solicitar que o mesmo acompanhe o paciente durante
a internação para viabilizar a capacitação de cuidados.
87
Conforme avaliação contato com serviços de referência (da rede) para acompanhamento. Ver
se enquadra nos critérios do PAID ou sendo de outro município, contato com serviços de
referência.
Se houver negação de cuidados por parte da família, ou se percebido dificuldade, acionar o
CREAS III , para avaliação e conduta.
Adolescentes com dependência química (atendimento na psiquiatria)
Admissão
• Atendimento à família e adolescente em conjunto com Psiquiatria e Enfermagem.
Preenchimento do cadastro socioeconômico de serviço social da psiquiatria.
• Atendimento à família pelo Serviço Social após o internamento do adolescente: orientar e
solicitar comparecimento da família nas visitas e grupos de famílias às quartas-feiras. Quando
o familiar é de outro município, fazer ofício à secretaria de saúde solicitando transporte para o
comparecimento do familiar nesses dias.
• No atendimento à família, buscar conhecer a visão desta sobre o uso de drogas do
adolescente e fatores de risco que precisem ser trabalhados durante o internamento.
Tratamento
• Realizar ao menos um atendimento individual por adolescente durante o internamento,
buscando verificar fatores de risco e proteção e realizando orientações quanto ao pós-alta.
• Contatar os familiares previamente ao dia de visitas para garantir sua vinda e repassar
necessidade de materiais de higiene pessoal;
• Realizar orientações a familiares durante as reuniões semanais das famílias de pacientes
internados na psiquiatria.
• Nos casos em que a família não esteja comparecendo, entrar em contato com a mesma a fim
de verificar motivo e caso não compareça, acionar Conselho Tutelar para verificação da
situação.
• Participar das reuniões semanais da equipe da psiquiatria para discussão dos casos dos
adolescentes e demais assuntos pertinentes.
• Realizar reuniões com a rede de serviços que atende o adolescente para o planejamento do
pós-alta, seja de forma presencial, seja por meio de teleconferência ou outro meio de
comunicação.
Alta
• Conversar com o paciente e familiar sobre as estratégias para prevenção da recaída e
cuidados pós-alta. Em seguida, realizar orientação conjunta ao paciente e familiar
(continuação do tratamento, encaminhamento para programas sócioeducativos da rede).
88
• Repassar ao serviço de origem relatório social sobre o adolescente. No caso dos
adolescentes de Cascavel, encaminhar ficha de atendimento intersetorial ao CAPS ad e
demais serviços que estejam acompanhando o adolescente.
PROFISSIONAL A3
7) Pacientes que não recebem visitas:
• Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do paciente.
• Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em contato com a família
solicitando que ela compareça ao hospital para atendimento no Serviço Social. Caso não se
consiga contato com familiar, contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-los.
• No atendimento (ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da família ao
paciente. Explicitar a importância da família no acompanhamento do paciente e nos cuidados
pós-alta.
• Caso se perceba abandono do paciente, acionar o Plantão Social, Centro POP, que ficam
vinculados ao CREAS III
Localização de familiares para pacientes que necessitam de acompanhante:
• Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do paciente
• Entrar em contato com a família solicitando acompanhante para o paciente
• Caso a família se negue a vir como acompanhante, solicitar que venham para atendimento
no Serviço Social. Persistindo a negativa, acionar o CREAS III ou município de origem.
• No atendimento, explicar o motivo da solicitação, a importância do acompanhamento e
verificar como paciente será cuidado no pós-alta.
• Na alta, contatar UBS de referência para acompanhamento.
• Caso o paciente esteja incomunicável, entrar em contato com UBS ou serviço de saúde de
origem para localizar familiares.
Pacientes em situação de rua:
• Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico do paciente
• Acionar o CREAS III ou serviços a ele vinculados;
• Para encaminhamento para albergue ou casa de passagem, acionar Plantão Social.
Pacientes provenientes de outros estados e países:
• Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico e origem do paciente
89
• Entrar em contato com cidade de origem (no caso de outros estados) para melhor
conhecimento da situação e providências pertinentes
• Se necessário, contatar o CREAS III.
Pacientes que em decorrência de doenças ou acidentes tornam-se acamados (preparo da
família para alta):
• Preencher cadastro socioeconômico com familiares para conhecer histórico do paciente e
família. Verificar rede de apoio familiar e social
• Verificar necessidades do paciente no pós-alta: cama hospitalar, colchão, cadeira de rodas,
cadeira de banho, oxigênio. Averiguar serviço de referência de reabilitação;
• Averiguar familiares de referência. Realizar reunião com os familiares para orientações e
responsabilidades com o paciente. Solicitar que os mesmos estejam acompanhando o paciente
para treinamento de cuidados.
• Contato com serviços de referência para acompanhamento. Ver se enquadra nos critérios do
PAID ou sendo de outro município, contato com serviços de referência.
• Acionar o CREAS III em caso de negação de cuidados.
Pacientes desconhecidos:
• Procurar junto aos pertences possíveis formas de identificação (documentos, números de
telefone, celular).
• Caso se achem documentos, entrar em contato com Assessoria de Imprensa da UNIOESTE
para divulgar nos meios de comunicação a solicitação do comparecimento da família ao
HUOP.
• Caso o paciente não possua nenhuma identificação, repassar para Assessoria de Imprensa
características do paciente para veicular nos meios de comunicação.
• Caso se suspeite de o paciente estar em situação de rua, acionar o CREAS pop para verificar
possível identificação;
• Assim que a família chegar ao HUOP, encaminhá-la ao setor onde o(a) paciente estiver para
identificação (conforme disponibilidade do setor- falar com enfermeira responsável pelo
setor). Solicitar à família documentos do paciente para anexar cópia ao prontuário
• Após a identificação, realizar cadastro socioeconômico para verificar situação do paciente.
Adolescentes com dependência química (atendimento na psiquiatria)
Admissão
• Atendimento à família e adolescente em conjunto com Psiquiatria e Enfermagem.
Preenchimento do cadastro socioeconômico de serviço social da psiquiatria.
90
• Atendimento à família pelo Serviço Social após o internamento do adolescente: orientar e
solicitar comparecimento da família nas visitas e grupos de famílias às quartas-feiras. Quando
o familiar é de outro município, fazer ofício à secretaria de saúde solicitando transporte para o
comparecimento do familiar nesses dias.
• No atendimento à família, buscar conhecer a visão desta sobre o uso de drogas do
adolescente e fatores de risco que precisem ser trabalhados durante o internamento.
Tratamento
• Realizar ao menos um atendimento individual por adolescente durante o internamento,
buscando verificar fatores de risco e proteção e realizando orientações quanto ao pós-alta.
• Contatar os familiares previamente ao dia de visitas para garantir sua vinda e repassar
necessidade de materiais de higiene pessoal;
• Realizar orientações a familiares durante as reuniões semanais das famílias de pacientes
internados na psiquiatria.
• Nos casos em que a família não esteja comparecendo, entrar em contato com a mesma a fim
de verificar motivo e caso não compareça, acionar Conselho Tutelar para verificação da
situação.
• Participar das reuniões semanais da equipe da psiquiatria para discussão dos casos dos
adolescentes e demais assuntos pertinentes.
• Realizar reuniões com a rede de serviços que atende o adolescente para o planejamento do
pós-alta, seja de forma presencial, seja por meio de teleconferência ou outro meio de
comunicação.
Alta
• Conversar com o paciente e familiar sobre as estratégias para prevenção da recaída e
cuidados pós-alta. Em seguida, realizar orientação conjunta ao paciente e familiar
(continuação do tratamento, encaminhamento para programas sócioeducativos da rede).
• Repassar ao serviço de origem relatório social sobre o adolescente. No caso dos
adolescentes de Cascavel, encaminhar ficha de atendimento intersetorial ao CAPS ad e
demais serviços que estejam acompanhando o adolescente.
QUESTÃO 8
PROFISSIONAL A1
8) Entrevista, acolhimento, relatório social, preenchimento cadastro do SSocial,
encaminhamento através da ficha intersetorial de referência e contra referência, e contatos
forma direta (telefone) com outros profissionais e serviços.
PROFISSIONAL A2
91
8) Quando possível o contato e diálogo com o paciente/usuário: Acolhimento, entrevista com
coleta de dados possíveis através do Cadastro do SSocial, informações e orientações
pertinentes, além de encaminhamentos e solicitações de providências a serviços e órgãos (de
proteção) competentes, conforme legislação (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
Maria da Penha, Estatuto do Idoso, etc.); Quando inviabilizado o contato e o diálogo com o
paciente/usuário: o atendimento mencionado é realizado ao seu responsável ou a situação
encaminhada aos serviços e órgãos competentes para providências.
PROFISSIONAL A3
8) Notificação, instrução, orientação às pessoas envolvidas e órgãos competentes, com
encaminhamentos e solicitação de providências adequadas conforme preconiza a legislação
vigente.