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SERVIÇO SOCIAL __________________________________________________ ALINE FERNANDA JUNGES O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS ________________________________________________________ TOLEDO-PR 2014

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SERVIÇO SOCIAL

__________________________________________________

ALINE FERNANDA JUNGES

O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE

VIOLAÇÃO DE DIREITOS

________________________________________________________ TOLEDO-PR

2014

ALINE FERNANDA JUNGES

O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE

VIOLAÇÃO DE DIREITOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Serviço Social, Centro de

Ciências Sociais Aplicadas da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, como requisito

parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ms. Cristiane Carla Konno

TOLEDO-PR

2014

ALINE FERNANDA JUNGES

O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL EM SITUAÇÕES DE

VIOLAÇÃO DE DIREITOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Serviço Social, Centro de

Ciências Sociais Aplicadas da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, como requisito

parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Ms. Cristiane Carla Konno

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Profª. Esp. Bruna Nathaly Silveira

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Profª. Drª. Cleonilda Sabaini Thomazini Dallago

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 06 de novembro de 2014.

À todos que lutam pela efetivação dos direitos.

AGRADECIMENTOS

A Deus que possibilitou que eu chegasse até aqui e concluísse mais esta etapa da minha vida.

Que sempre esteve comigo, mostrando sua presença e me dando forças para continuar diante

de cada obstáculo presente.

À minha amada mãe Nelci, minha inspiração profissional para trilhar este caminho, graças à

qual sou o que sou e tive condições de permanecer estudando durante estes quatro anos

intensos de dedicação e preparação profissional. Este trabalho é também um presente para

você, pois sei que você sempre desejou que eu tivesse a oportunidade de ter a formação

profissional que você teve.

Ao meu amor Jackson, meu anjo, presente de Deus na minha vida, meu companheiro, amigo,

namorado, que soube me compreender nos momentos mais difíceis e intensos de dedicação

para que esta etapa fosse vencida.

À minha amada irmã Juliana, que sempre demonstrou preocupação comigo e com a qual

sempre pude compartilhar preocupações e aflições. Você é um exemplo de pessoa e de

profissional para mim.

À minha querida orientadora de TCC Cristiane, pela atenção e auxílio que me deu para que eu

pudesse desenvolver este estudo, cujos conhecimentos e experiência foram imprescindíveis

neste processo.

Às professoras Cleonilda e Bruna, por terem aceitado participar da banca de apresentação e

defesa deste trabalho.

À professora India Nara, pela preocupação que sempre teve com a minha saúde e pelas dicas

que me deu em relação às dúvidas que tive durante este processo.

Aos sujeitos desta pesquisa, por terem aceitado participar deste estudo.

Ao Hospital Universitário do Oeste do Paraná, pela oportunidade de estágio concedida.

Às minhas supervisoras de campo de estágio Vivian Bertelli e Dalas Cristina Miglioranza pela

oportunidade que me deram de aprender a ser uma assistente social, com as quais aprendi a

ser uma profissional comprometida com os usuários e competente.

Às minhas colegas, amigas e irmãs de faculdade Ivanice, Elizabet, Thais, Aparecida, Alcione,

Solange e outras que me auxiliaram nos momentos que tive problemas de saúde, crise pessoal,

emocional e tantas outras, com as quais pude compartilhar alegrias, aflições e preocupações.

À minha amiga e irmã de Van Marilda, a qual tive o privilégio de conhecer desde o primeiro

ano de faculdade e praticamente a única que restou e continua junto comigo lutanto para

concluir os estudos. Sou grata a você por ter me ouvido tantas vezes, minhas alegrias, aflições

e preocupações.

Aos motoristas de Van Cláudio, Rosaldo e João que contribuiram e me auxiliaram nos

momentos que precisei me locomover.

À Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.

Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;

Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.

Bertold Brecht

JUNGES, Aline Fernanda. O exercício profissional do assistente social do Hospital

Universitário do Oeste do Paraná de Cascavel em situações de violação de direitos.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais

Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Toledo - PR, 2014.

RESUMO

O presente trabalho é fruto de um estudo realizado como parte constitutiva da disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste

do Paraná (UNIOESTE). Tem como objetivo primário apreender a dimensão técnico -

operativa do exercício profissional do assistente social do Hospital Universitário do Oeste do

Paraná (HUOP) de Cascavel, em situações de violação de direitos dos usuários no primeiro

semestre de 2014. Trata-se de uma investigação cuja metodologia foi composta pelas

modalidades de pesquisa bibliográfica e de campo, para a qual foram selecionadas como

sujeitos três assistentes sociais que trabalham no HUOP, de um universo que contempla

quatro assistentes sociais que trabalham na referida instituição. A aproximação realizada com

a dimensão técnico - operativa do exercício profissional do assistente social do HUOP em

situações de violação de direitos dos usuários no primeiro semestre de 2014, permitiu inferir

que as assistentes sociais que trabalham no HUOP se depararam com variadas formas de

violação de direitos no período analisado, dentre as quais, a falta de leitos ou acomodações

adequadas aos usuários, a não liberação de acompanhantes à gestante em situação de parto, a

falta de informações clínicas por parte da equipe médica ao paciente/familiares, pacientes em

situação de rua com alta hospitalar, acamados e dependentes para todos ou quase todos os

cuidados, em situação de abandono, sem pessoas para acolhê-los ou local para serem

encaminhados, exclusão do mercado de trabalho e negligência e violência contra criança e

adolescente. Constatou-se que na maioria destas situações o Estado foi o agente violador de

direitos dos usuários. Para responder a tais situações, verificou-se que as profissionais

utilizaram instrumentos como a entrevista, a observação e a reunião, técnicas e procedimentos

como o relacionamento e a abordagem e ações como: encaminhamentos, orientações e

mobilização de outros serviços e profissionais no intuito de garantir a efetivação dos direitos

dos usuários. Em conjunto com estes instrumentais também foi possível identificar que as

entrevistadas utilizaram conhecimentos teórico-metodológicos e ético-políticos. Por meio de

todos estes elementos, as assistentes sociais buscaram viabilizar a efetivação dos direitos dos

usuários, visando cumprir o disposto no Projeto Profissional do Serviço Social, que explicita,

como um dos princípios da categoria, a defesa dos direitos.

Palavras-chave: dimensão técnico-operativa; violação de direitos; exercício profissional.

LISTA DE SIGLAS

HUOP

OMS

Hospital Universitário do Oeste do Paraná

Organização Mundial de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

UTI

Unidade de Terapia Intensiva

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1 "QUESTÃO SOCIAL" E POLÍTICAS SOCIAIS: A POLÍTICA DE SAÚDE NO

BRASIL ................................................................................................................................... 13 1.1 “QUESTÃO SOCIAL” E POLÍTICAS SOCIAIS NO CONTEXTO DA SOCIEDADE

CAPITALISTA ........................................................................................................................ 13

1.2 POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL ............................................................................... 16

2 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ ................................................................... 18 2.1 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO DAS

POLÍTICAS SOCIAIS - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ .......... 18

2.2 HISTÓRICO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ ............... 21

2.3 AS DIMENSÕES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ...... 22

3 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA DEFESA E

GARANTIA DE DIREITOS: DESVELANDO O REAL DA PESQUISA ....................... 28 3.1 A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO ASSISTENTE

SOCIAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL 29

3.2 AS SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS DOS USUÁRIOS ............................ 36

3.3 A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM SITUAÇÕES

DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS ............................................................................................. 43

3.3.1 Os Instrumentos e Técnicas Utilizados na Intervenção Profissional ........................ 43

3.3.2 Protocolos Utilizados em Situações de Violação de Direitos...................................... 49

3.3.3 Desafios e Conquistas da Intervenção Profissional .................................................... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 61

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64

APÊNDICES ........................................................................................................................... 71

ANEXOS ................................................................................................................................. 92

10

INTRODUÇÃO

O trabalho que se apresenta é fruto de indagações surgidas no decorrer da realização

da disciplina de Estágio Supervisionado em Serviço Social II no Hospital Universitário do

Oeste do Paraná (HUOP). O tema de pesquisa contempla o exercício profissional do

assistente social, delimitando-se como objeto de análise a dimensão técnico - operativa do

exercício profissional do assistente social do HUOP em situações de violação de direitos dos

usuários no primeiro semestre de 2014.

A escolha do objeto elucidado se justifica em função da violação de direitos ser uma

expressão da “questão social”, constituindo-se em objeto de intervenção do assistente social

que responde a estas situações mobilizando instrumentos, técnicas, procedimentos,

capacidades teórico-metodológicas e ético-políticas para garantir a efetivação dos direitos dos

usuários.

Tendo em vista que constantemente os profissionais são desafiados a enfrentar as

variadas formas de violação de direitos, é pertinente analisar de que forma os mesmos

respondem a estas situações, especificamente, em relação aos instrumentos, procedimentos,

técnicas e ações que empregam e desenvolvem, considerando o referencial teórico, os

princípios e valores que orientam a escolha destes instrumentais, bem como a especificidade

de cada um destes elementos.

A fim de responder o objeto de análise proposto, estabeleceu-se como objetivo

primário apreender a dimensão técnico - operativa do exercício profissional do assistente

social do HUOP em situações de violação de direitos dos usuários no primeiro semestre de

2014 e, como objetivos secundários: compreender as dimensões (teórico-metodológica,

técnico-operativa e ético-política) do exercício profissional do assistente social; verificar a

dimensão técnico-operativa do exercício profissional do assistente social na área da saúde,

especificamente no HUOP; identificar junto aos profissionais as situações de violação de

direitos dos usuários no primeiro semestre de 2014 e refletir sobre a dimensão técnico-

operativa do exercício profissional do assistente social no HUOP em situações de violação de

direitos: conquistas e desafios.

Assim, é importante destacar que esta investigação se fundamenta na teoria social

crítica, de abordagem qualitativa e caráter exploratório, cujo objetivo é “[...] desenvolver,

11

esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais

precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.” (GIL, 2008, p.27).

Portanto, para o alcance do estudo, as profissionais assistentes sociais inseridas1 no

espaço ocupacional do Hospital Universitário conformam o universo da pesquisa, totalizando

4 (quatro) assistentes sociais. Os sujeitos da pesquisa2 foram definidos mediante a amostra,

cujos critérios para a escolha dos mesmos foram: ser assistente social, estar trabalhando no

HUOP e estar na ativa no primeiro semestre de 2014, totalizando o número de 3 (três)

Assistentes Sociais.

O trabalho ora apresentado foi construído mediante a utilização da pesquisa

bibliográfica, com a recorrência de consulta a artigos, dissertações, teses e livros e da pesquisa

de campo3, para a qual se fez uso da técnica de entrevistas estruturadas, por meio de

questionário4, com questões abertas pertinentes ao estudo. As respostas foram tabuladas,

interpretadas e analisadas a partir dos seguintes eixos temáticos: a dimensão teórico-

metodológica e ético-política do assistente social no HUOP, as situações de violação de

direitos dos usuários e a dimensão técnico-operativa do assistente social em situações de

violação de direitos, relacionando-os com as informações provenientes da pesquisa

bibliográfica.

Desse modo, este trabalho encontra-se organizado em três capítulos.

No primeiro capítulo, intitulado: "Questão Social" e Políticas Sociais: A Política de

Saúde no Brasil, aborda-se sobre a “questão social” e as políticas sociais no âmbito da

sociedade capitalista, a especificidade da política de saúde no Brasil e a referência desta na

construção do Hospital Universitário do Oeste do Paraná - HUOP.

Denominado de: O Espaço Ocupacional do Serviço Social no Hospital Universitário

do Oeste do Paraná, o segundo capítulo, discute como as políticas sociais são consideradas

historicamente como o espaço ocupacional do assistente social, particularmente, a política

social de saúde desenvolvida no Hospital Universitário do Oeste do Paraná- HUOP.

No terceiro capítulo, identificado como: O Exercício Profissional do Assistente Social

na Defesa e Garantia de Direitos: Desvelando o Real da Pesquisa, expõe-se a análise e

interpretação dos dados da pesquisa, relacionando-os com os conhecimentos obtidos por meio

do estudo bibliográfico.

1 Refere-se aos sujeitos desta pesquisa na forma feminina devido ao fato de todos serem mulheres.

2 O aceite em participar da pesquisa, foi expresso pelos sujeitos mediante o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (APÊNDICE A). 3 A autorização concedida pelo Comitê de Ética para a realização desta modalidade de pesquisa encontra-se em

ANEXO A. 4 O questionário e as respostas das profissionais na íntegra encontram-se disponíveis em APÊNDICE B.

12

A área da saúde constitui-se em um dos espaços ocupacionais do Serviço Social, onde

não apenas situações relacionadas à saúde-doença dos pacientes se colocam como objeto do

trabalho profissional do assistente social. Estão inscritas neste espaço ocupacional também,

diversas formas de violação de direitos aos usuários da saúde, que exigem uma intervenção

profissional, mobilizada pelas competências teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-

operativas afim de cessá-las.

Tendo em vista esta realidade, esta pesquisa contribuirá para que os usuários das

políticas de saúde e das demais políticas tenham seus direitos efetivados, uma vez que

possibilitará que a categoria profissional identifique e conheça as potencialidades e

possibilidades de utilização de instrumentos, técnicas, procedimentos e o desenvolvimento de

ações diante das situações de violação de direitos, tendo como fim, a garantia dos mesmos.

13

1 "QUESTÃO SOCIAL" E POLÍTICAS SOCIAIS: A POLÍTICA DE SAÚDE NO

BRASIL

1.1 “QUESTÃO SOCIAL” E POLÍTICAS SOCIAIS NO CONTEXTO DA SOCIEDADE

CAPITALISTA

Para refletir sobre a dimensão técnico - operativa do exercício profissional do

assistente social do HUOP em situações de violação de direitos, é necessário entender como

se dá a relação entre Estado, políticas sociais e “questão social”5 no âmbito da sociedade

capitalista.

Parte-se da premissa que o surgimento da “questão social” está atrelado às relações de

exploração do capital sobre o trabalho, sendo resultante da organização social dos homens no

estabelecimento da produção capitalista. Neste modelo de produção, a burguesia se apropria

da riqueza socialmente produzida pelos trabalhadores, condição que gera a desigualdade

(MONTAÑO, 2012), que se manifesta através da falta ou carência de alimentação, moradia,

saúde, educação, cultura, dentre outras situações que se constituem em expressões da “questão

social”.

Deve-se, portanto, compreender a “questão social” como resultado da ação histórica

dos homens, assim como as políticas sociais, que são criadas enquanto estratégias

governamentais em resposta aos movimentos de pressão da classe trabalhadora6. As políticas

sociais são “[...] formas de enfrentamento – em geral setorizadas e fragmentadas – às

expressões multifacetadas da questão social no capitalismo [...]” (BEHRING; BOSCHETTI,

2006, p.51) que se expressam por meio de relações jurídicas e políticas, tendo a finalidade de

evitar os conflitos sociais e viabilizar direitos.

Para assimilar este processo é fundamental ressaltar o papel do Estado na sociedade

capitalista, entendendo que o mesmo, desde a era das sociedades escravistas da antiguidade,

se coloca em favor das classes dominantes, constituindo-se em instância defensora dos seus

interesses (SOUZA, 2010). A partir do momento que eclodem as lutas dos trabalhadores, no

contexto da acumulação capitalista, o Estado é tensionado pela disputa política das classes, ao

5 Utiliza-se a expressão com aspas devido ao fato da mesma ter sido criada pelo pensamento conservador, o qual

naturaliza as manifestações da “questão social” uma vez que nega que as mesmas sejam resultantes da

exploração presente no modelo de sociedade burguesa (NETTO, 2001). 6 Certamente, as lutas promovidas pelos trabalhadores que se posicionaram contra a exploração capitalista, no

século XIX (VIEIRA, 1992) no contexto europeu, foram decisivas para a criação das políticas sociais, pois a

partir das mesmas houve a explicitação da “questão social” e o reconhecimento deste segmento enquanto classe

política que se coloca como ameaça ao domínio burguês e exige respostas para suas reivindicações.

14

que passa a incorporar as reivindicações operárias sem, contudo, perder a sua essência

burguesa.

De acordo com Netto (2005), é a partir do capitalismo que a “questão social” se coloca

como alvo de intervenção contínua e sistemática por parte do Estado. As necessidades

econômicas do capital, somadas a expansão das lutas do movimento operário e a necessidade

de legitimação do Estado burguês, formam um caldo de circunstâncias que possibilita que a

“questão social” se internalize nas condições gerais da produção capitalista, tornando seu

enfrentamento contínuo indispensável para a acumulação monopólica.

Tais condições, portanto, propiciam que as políticas sociais adquiram um caráter de

obrigatoriedade, uma vez que o novo ordenamento do capital e suas contradições internas

necessitam de uma intervenção não apenas econômica, mas também política e social, que

intervenha sistematicamente sobre a “questão social”.

É na ordem do Estado, então, que o capital encontra os meios que precisa para garantir

sua hegemonia. Para atender a este fim, o Estado é redimensionado pelo capital, passando a

agir além do âmbito da preservação das condições externas da produção capitalista, intervindo

também “[...] na organização e na dinâmica econômicas, desde dentro [...]” (NETTO, 2005,

p.25, grifo do autor) articulando suas funções políticas e econômicas. Assim, direcionando

suas ações num viés contraditório, uma vez que atende aos interesses da classe burguesa e da

classe trabalhadora, o Estado implementa políticas sociais de forma fragmentada e setorizada,

sem atingir a essência e totalidade da “questão social”7.

Behring e Boschetti (2006) destacam que o surgimento das políticas sociais ocorre de

forma heterogênea entre os países, em momentos e condições diferentes, a depender de

fatores que tem a ver com a força da classe trabalhadora de cada nação, com o grau de

desenvolvimento das forças produtivas e com as correlações de força no Estado. Tais

elementos condicionam o perfil e abrangência que as mesmas vão adquirir nos países.

No Brasil8, o incremento da intervenção estatal na “questão social” ocorre a partir dos

anos 1930 (BEHRING; BOSCHETTI, 2006), momento em que a industrialização avançava e

se aprofundava a desigualdade social. Posteriormente, transcorridos alguns anos em que a

7 As manifestações desta “[...] são recortadas como problemáticas particulares (o desemprego, a fome, a

carência habitacional, o acidente de trabalho, a falta de escolas, a incapacidade física etc.) e assim enfrentadas.[...]” (NETTO, 2005, p.32, grifo do autor), sendo seu fundamento real ocultado e o indivíduo

culpabilizado quando não tem acesso a bens e serviços. 8 O Estado foi obrigado a responder à pressão da classe trabalhadora como forma de reduzir os conflitos de

classes e propiciar o desenvolvimento do capitalismo no país.

15

sociedade brasileira vivencia a Ditadura Militar9 e a ulterior e recente abertura democrática,

promulga-se a Constituição Federal de 1988, quando então se reconhece “[...] como direitos

sociais o acesso à saúde, previdência, assistência, educação e moradia (além de segurança,

lazer, trabalho).” (LOBATO, 2009, p.723). Há que se destacar que o reconhecimento legal

destes direitos resulta, dentre outros fatores, das lutas dos movimentos sociais cujo papel foi

determinante para as conquistas obtidas. É, inclusive, no bojo das condições históricas que se

apresentam nesse momento, com a conquista da democracia, que os movimentos sociais

conseguem se ampliar.

É também a partir da Constituição Federal de 1988 que se conquista um sistema de

Seguridade Social, pelo menos legalmente, onde a saúde, a previdência e a assistência social

passam a integrar o tripé da proteção social brasileira.

Todavia, mal haviam sido alcançados estes avanços, instalou-se uma conjuntura

econômica e social que pisoteou quase que instantaneamente os direitos recém conquistados,

a qual, por sinal, objetiva acabar com a condição de direito das políticas sociais (MONTAÑO,

2002). O neoliberalismo10 atingiu diretamente tais políticas, aprofundando a desigualdade

social e gerando novas manifestações da “questão social”.

Apresenta-se, então, um momento direcionado para o corte de gastos públicos na

esfera social, em que se estabelece a minimização do Estado. Nesse novo viés, as políticas

sociais são implementadas sob um cariz focalista e precário (MONTAÑO, 2012), sendo

direcionadas a atender a extrema pobreza em um movimento que retoma a ideia de

solidariedade e filantropia.

Entender a lógica deste processo faz-se necessário para compreender como a política

de saúde vem sendo impactada pela acumulação capitalista. No intuito de dar continuidade a

essa discussão, aborda-se no próximo momento a especificidade deste movimento no âmbito

da saúde.

9 A Ditadura Militar perdurou no Brasil entre os anos 1964 à 1985. Correspondeu a tomada de poder pelos

militares que instauraram a “[...] repressão política, luta armada, violação de direitos e censura.” (ZARIAS,

2004, p.56). As políticas sociais deste período se caracterizavam como estratégias do Estado para legitimar-se

ante as massas. 10

De acordo com Netto (2012) a ideologia neoliberal desqualifica o Estado e se coloca em defesa do “Estado

mínimo” pretendendo fundamentalmente “o Estado máximo para o capital”.

16

1.2 POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

Para analisar a política de saúde no Brasil retoma-se, brevemente, alguns elementos

que possibilitam apreendê-la de forma mais aprofundada, em função da necessidade de

contextualizar os aspectos que envolvem o objeto deste trabalho.

Desse modo, introduz-se essa reflexão assinalando que a Constituição Federal de 1988

propôs o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRAVO, 2007) cuja organização e efetiva criação

se deu através da criação da Lei nº 8080 de 1990. As mudanças legais em relação a saúde e a

criação e organização do SUS, incorporadas na Constituição Federal de 1988, na Lei nº

8080/90 e nas leis posteriores que tratam da saúde, decorrem, fundamentalmente, de um

processo de lutas sociais movidas por sujeitos que se contraporam a forma como os serviços

de saúde eram disponibilizados à população11.

Assim, o SUS “[...] surgiu como conquista depois de um longo processo de acúmulo e

de lutas [...]” (GOUVEIA; PALMA, 1999, p.139) que traduzem a articulação de vários

segmentos em torno da formulação de uma nova proposta para a saúde, a qual teve início em

meados de 1970, sob liderança do Movimento Sanitário que congregou intelectuais, médicos

e lideranças políticas da saúde que se opuseram a conjuntura (GERSCHMAN, 1995),

construindo uma concepção crítica e mais ampla deste setor.

Vale destacar que a Constituição Federal de 1988 introduziu a concepção de saúde

como direito de todos e dever do Estado, conforme preconiza o artigo 196, que responsabiliza

o Estado a ofertar “[...] políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença

e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação.” (BRASIL, 2014a, s.p.).

O referido documento também incorporou algumas diretrizes que passaram a nortear a

saúde no país, as quais encontram-se expressas no artigo 198 que dispõe, entre outras coisas,

sobre a descentralização, o atendimento integral e a participação da comunidade. A

descentralização “[...] envolve a transferência de poder decisório, da gestão de prestadores e

de recursos financeiros, antes concentrados na esfera federal para estados e, principalmente,

para os municípios. [...]” (LIMA et al., 2012, p.1904). O atendimento integral diz respeito as

11

Há que se destacar que durante um tempo da história da saúde no país os serviços de saúde prestados

enfatizavam uma medicina de cunho individual e assistencialista, privilegiando a esfera curativa das doenças e

minimizando ações de caráter preventivo e coletivo (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005). Ademais, as

décadas que antecedem a promulgação da Constituição Federal de 1988, transcorrem em meio a um

privilegiamento do setor privado de saúde, cuja expansão “[...] foi amplamente promovida pelo próprio Estado

na década de 1970, no âmbito da Previdência Social [...]” (UGÁ; MARQUES, 2005, p.193) no contexto da

Ditadura Militar.

17

ações que visam evitar o atendimento fragmentado, constituindo-se não somente em serviços

de ordem curativa, mas também procedimentos a fim de prevenir doenças. A participação da

comunidade, por sua vez, é a possibilidade que a população tem de participar das discussões

sobre a saúde, através dos instrumentos de controle social, as Conferências e os Conselhos de

Saúde.

A Lei nº 8080/90 estabelece as ações e serviços de saúde que constituem o SUS e

reafirma os princípios e diretrizes que sustentam o mesmo. Há que se ressaltar que a referida

lei amplia em seu artigo 3º a concepção de saúde, estabelecendo como determinantes e

condicionantes da mesma a “[...] alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio

ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso

aos bens e serviços essenciais.” (BRASIL, 2014b, s.p.).

Salienta-se que a aprovação da Lei nº 8080/90 ocorreu com alguns vetos do presidente

Fernando Collor de Melo que fez objeções em relação aos artigos que tratavam da

participação da comunidade na gestão do SUS e das transferências intergovernamentais de

recursos financeiros. De acordo com Feghali (2006), a imposição destes vetos reavivou o

Movimento Sanitário que havia se enfraquecido, e que diante disso, retomou o processo de

lutas pressionando o poder legislativo para um posicionamento, o que depois viria a culminar

na criação da Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da

comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos

financeiros na área da saúde.

Assim como as demais políticas sociais, a política de saúde12 também foi e continua

sendo afetada pelo neoliberalismo que tem fortalecido o projeto de saúde voltado para o

mercado ao passo que tem enfraquecido o projeto da reforma sanitária direcionado para a

defesa da saúde pública (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010).

Em meio a estes obstáculos, o SUS vem sendo operacionalizado de forma

regionalizada13 e descentralizada, cujas ações e procedimentos encontram-se organizados em

níveis de complexidade, especificamente em dois blocos: o conjunto de serviços que integram

12

Embora se tenha registrado avanços, especialmente em relação à criação do SUS e o princípio da

universalidade do acesso e a participação da sociedade nos processos de controle social da saúde, convive-se

desde o momento da criação deste sistema com obstáculos que dificultam a operacionalização dos direitos

conquistados, os quais foram ainda mais agravados pelo abatimento do Movimento Sanitário e pelos impactos

causados pelo neoliberalismo que se intensificaram a partir da década de 1990. 13

A “[...] regionalização na saúde é um processo político, condicionado pelas relações estabelecidas entre

diferentes atores sociais (governos, organizações, cidadãos) no espaço geográfico. [...]” (LIMA et al., 2012,

p.1904).

18

à atenção básica14 e as ações de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar

(BRASIL, 2007a).

A atenção básica tem como instituições de referência as unidades básicas de saúde,

constituindo-se em porta de entrada preferencial do sistema de saúde que contempla o

primeiro nível da atenção à saúde no SUS, âmbito no qual se utilizam “[...] procedimentos

mais simples e baratos, capazes de atender a maior parte dos problemas comuns de saúde da

comunidade [...]” (BRASIL, 2007a, p.16).

No que tange a média complexidade, tem-se que esta modalidade de atendimento

envolve tecnologia diferenciada de apoio diagnóstico e terapêutico e profissionais

especializados com o fim de atender os principais agravos em saúde da população. Os

serviços de alta complexidade, por sua vez, são procedimentos de alto custo e alta tecnologia,

organizados em redes, que visam propiciar a população o acesso aos serviços qualificados.

Embora disponha desta organização e esteja consolidado nacionalmente, o SUS

enfrenta desafios constantes, sendo um deles no âmbito da própria organização da rede de

atendimento desta política, como apontam Souza e Costa (2010), que, além deste desafio,

afirmam haver outros, dentre os quais, a fragmentação das políticas e programas de saúde e as

dificuldades no acesso às ações e serviços de saúde. Sendo assim, nota-se que ainda existem

muitos obstáculos que dificultam, quando não impossibilitam, a efetivação do direito à saúde

dos sujeitos.

2 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ

2.1 O ESPAÇO OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO DAS

POLÍTICAS SOCIAIS - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ

É no estágio monopolista do capital que emergem as condições históricas que vão

possibilitar que se alicerce um espaço, dentro da divisão social e técnica do trabalho, que

possibilite a profissionalização do Serviço Social15 (NETTO, 2005). Este processo tem sua

14

A atenção básica recebe algumas vezes a denominação de atenção primária, todavia, ressalta-se que durante o

processo de implementação do SUS a atenção primária recebeu a designação de atenção básica à saúde. “[...] Os

defensores do uso do termo atenção básica argumentam que, em português, básico tem o sentido de essencial,

primordial, fundamental, distinto de primário, que pode significar primitivo, simples, fácil, rude.”

(GIOVANELLA; MENDONÇA, 2012, p.499). 15

Historicamente, a gênese do Serviço Social no Brasil está atrelada ao surgimento da “questão social” e às

iniciativas da Igreja Católica e de grupos da classe dominante que intervinham na mesma e desenvolviam ações

filantrópicas junto às famílias da classe trabalhadora. Na visão de Iamamoto e Carvalho (1998), a implantação do

Serviço Social “[...] não se baseará, no entanto, em medidas coercitivas emanadas do Estado. Surge da iniciativa

19

consolidação propiciada no contexto em que as condições históricas e sociais demandam uma

intervenção diferenciada por parte do capital e do Estado na sociedade, onde se inicia a

imbricação das funções econômicas e políticas do Estado.

Segundo Iamamoto e Carvalho (1998, p.79) “o Serviço Social no Brasil afirma-se

como profissão, estreitamente integrado ao setor público em especial, diante da progressiva

ampliação do controle e do âmbito da ação do Estado junto à sociedade civil”. A partir do

momento que o Estado começa a intervir de forma contínua e sistemática na “questão social”,

cria um amplo mercado de trabalho para os assistentes sociais que então são chamados a

trabalhar nas políticas sociais e são cada vez mais absorvidos por ele.

É neste momento que ocorre um deslocamento da profissão que passa a ser requisitada

para contribuir no processo de reprodução social, em uma perspectiva de atividade

profissional. Além de se estabelecer como parte integrante do aparato estatal, o Serviço Social

também se consolida como integrante das empresas privadas e se vincula à prestação de

serviços sociais à população (IAMAMOTO; CARVALHO, 1998), locais e serviços que

integram os espaços ocupacionais destes profissionais.

Foi, portanto, para suprir a necessidade do capital de intervir de forma politizada no

sentido de administrar a “questão social” que o Serviço Social foi requisitado pelo Estado

para exercer a profissão nas políticas sociais.

De acordo com Bravo e Matos (2004), nas primeiras décadas da profissionalização do

Serviço Social no país já se amplia a ação dos assistentes sociais na Saúde, vindo a se tornar o

setor que mais absorveu estes trabalhadores. Este campo torna-se ainda mais amplo em

decorrência da criação do “novo” conceito de Saúde, elaborado pela Organização Mundial de

Saúde (OMS)16 em 1948 e também pela consolidação da Política Nacional de Saúde.

Dispondo de formação universitária especializada que os habilitam e legitimam para

exercer a profissão e desenvolvê-la no contexto da divisão social e técnica do trabalho, os

assistentes sociais adentram nas instituições empregadoras e passam a fazer parte de um

coletivo de trabalhadores, implementando ações onde os resultados equivalem ao trabalho

combinado que se diferencia a depender do espaço ocupacional onde estão inscritos.

Ressalta-se que tais espaços dispõe de elementos concomitantemente “[...]

reprodutores e superadores da ordem, abrangendo tanto os espaços ocupacionais resultantes

particular de grupos e frações de classe, que se manifestavam, principalmente, por intermédio da Igreja

Católica.” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1998, p. 127). 16

De acordo com Bravo e Matos (2004, p.28) “Este conceito surge de organismos internacionais, vinculado ao

agravamento das condições de saúde da população, principalmente dos países periféricos, e teve diversos

desdobramentos. Um deles foi a ênfase no trabalho em equipe multidisciplinar [...]”.

20

da ação do empresariado e de segmentos específicos da sociedade civil, quanto os derivados

da implementação das políticas sociais de Estado” (IAMAMOTO, 2009a, p. 344). Esses

campos são constantemente tensionados pelas forças em disputa, mobilizando um conjunto de

fatores que vão influenciar diretamente o exercício profissional dos assistentes sociais,

favorecendo ou obstaculizando a superação da ordem capitalista. Uma vez que se criam estes

locais os assistentes sociais adquirem, assim como os outros trabalhadores, a condição de

assalariados, que vendem sua força de trabalho especializada para os empregadores em troca

de salário.

Para Iamamoto (2009a) há uma tensão entre o projeto profissional do assistente social

e a condição de trabalhador assalariado uma vez que a liberdade do profissional em definir

suas ações fica submetida à vontade dos empregadores, o que acaba gerando uma relativa

autonomia daquele em implementar suas atividades.

Com a apresentação destes elementos, pretende-se assinalar que os serviços de saúde

tornaram-se espaços ocupacionais de exercício da profissão dos assistentes sociais, sendo que

estes profissionais passaram a ser reconhecidos, através da Resolução Nº 218/1997 do

Conselho Nacional de Saúde (CNS), como uma das categorias de profissionais de saúde de

nível superior.

Assim, um dos espaços que emerge para os assistentes sociais exercerem a profissão é

o HUOP17 onde os mesmos desenvolvem ações interventivas junto aos pacientes e suas

famílias. Neste local as assistentes sociais vêm se inserindo em diversas ações e projetos,

sendo que na atualidade participam dos projetos Alta Programada, Pós-UTI Neonatal, Pós

UTI Adulto, obesidade e coordenam o projeto de orientações, discussões e atividades de lazer

com mulheres acompanhantes de recém-nascidos internados no HUOP.

Ademais, verifica-se que o Serviço Social do HUOP também encontra-se inserido em

algumas comissões, quais sejam: Comissão de Humanização, Comissão de Mortalidade

Materna e Neonatal, Comissão Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) e Comissão

inter setorial com serviços que envolvem o atendimento aos adolescentes.

17

Desde quando se encontrava sob a denominação de Hospital Regional de Cascavel, esta instituição já contava

com o setor de Serviço Social, quando então dispunha de uma Assistente Social que era apoiada por uma auxiliar

de Serviço Social. Neste período, a profissional foi deslocada ao setor de Recursos Humanos, onde desenvolveu

um trabalho voltado para os funcionários e seus familiares. Assim, não desenvolveu nenhum plano, programa ou

projeto na área social devido a demanda hospitalar da época ter sido muito expressiva. Em 1994, outra assistente

social assumiu o setor, implantando projetos de Trabalho Voluntário e Hospital-Dia, bem como efetuando

registro de todos os atendimentos prestados pelo setor (MELO; ROSSI; SILVA, 1996). Atualmente, o setor

conta com quatro profissionais concursadas como assistentes sociais.

21

2.2 HISTÓRICO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ

Para fundamentar a reflexão que se segue utiliza-se como referência as informações

contidas no Plano Diretor do Hospital Universitário do Oeste do Paraná referente ao período

2013/2017.

Com base nestes dados, salienta-se que o Hospital Universitário do Oeste do Paraná

(HUOP) originou-se da transformação do antigo Hospital Regional de Cascavel, processo

validado pela Lei nº 13.029, de 27 de dezembro de 2000. A partir de então foi integrado à

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) passando a ser também administrado

por esta (UNIOESTE, 2013).

Sob a designação de Hospital Universitário do Oeste do Paraná, iniciou suas

atividades a partir de 07 de março de 2001, direcionando-as para o âmbito da assistência e

ensino. Nesta lógica, tendo em vista que uma de suas finalidades é a dimensão do ensino, o

HUOP se constitui em um importante campo prático para os cursos de Medicina,

Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia e Farmácia, visto que propicia o exercício da

residência e atividades de graduação para os mesmos.

O HUOP encontra-se integralmente vinculado ao Sistema Único de Saúde, prestando

atendimento de média e alta complexidade para a população que reside nos municípios que

fazem parte da 10ª Regional de Saúde do Paraná, quais sejam: Anahy, Boa Vista da

Aparecida, Braganey, Cafelândia, Campo Bonito, Capitão Leônidas Marques, Cascavel,

Catanduvas, Céu Azul, Corbélia, Diamante do Sul, Espigão Alto do Iguaçu, Formosa do

Oeste, Guaraniaçu, Ibema, Iguatu, Iracema do Oeste, Jesuítas, Lindoeste, Nova Aurora,

Quedas do Iguaçu, Santa Lúcia, Santa Tereza do Oeste, Três Barras do Paraná e Vera Cruz do

Oeste. Entretanto, por dispor de alguns serviços de alta complexidade que são referências na

região, eventualmente atende também pessoas que residem em outras regionais.

No que diz respeito a estrutura física, o HUOP dispõe de um amplo espaço e diversos

equipamentos, sendo os mesmos Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto, UTI Pediátrica,

UTI Neonatal, Unidade de Cuidados Intermediários (UCI), Pronto Socorro, Setor de

Diagnóstico por Imagem (hemodinâmica, tomografia computadorizada, mamografia,

ecografia, endoscopia e eletrocardiograma), Serviço de Radiologia, Banco de Leite Humano,

Centro de Atenção e Pesquisa em Anomalia Craniofacial (CEAPAC), alas de internamento,

ambulatórios de especialidades, Centro Cirúrgico e Centro Obstétrico.

22

2.3 AS DIMENSÕES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

O exercício profissional do assistente social se sustenta na articulação entre as

dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa que dialeticamente

integram uma unidade de elementos diversos e ao mesmo tempo complementares que dão

materialidade a tal exercício.

Nesta lógica, o exercício profissional deve ser apreendido enquanto um processo que

reflete a indisossiabilidade entre teoria e prática, que por sua vez, implica a atividade fundada

na relação recíproca entre ação e reflexão, denominada práxis. A práxis é uma atividade

teórico-prática que “[...] pressupõe um processo de reflexão/ação e, sobretudo, atividade

humana que ultrapasse a consciência comum, da prática utilitária, espontaneísta para buscar

compreender e construir o mediato.” (LACERDA, 2014, p.43). Enquanto práxis, o exercício

profissional do assistente social se direciona para a transformação, objetivando mudar a

realidade e a consciência dos sujeitos.

É assim, então, que a discussão sobre as peculiaridades das dimensões enunciadas

requer o destaque da relação entre teoria e prática, entendendo que a unidade entre as

dimensões do exercício profissional se estrutura nesta vinculação.

A dimensão teórico-metodológica do exercício profissional do assistente social diz

respeito ao modo como o profissional lê e interpreta (NOGUEIRA, 2005) a realidade na qual

intervém. Tal dimensão reflete a postura teórico-metodológica adotada pelos profissionais,

que utilizam a fundamentação teórica e o método de determinada teoria para desvendar o real

e intervir nele.

Ressalta-se que a dimensão teórico-metodológica tem a funcionalidade de capacitar os

profissionais para operarem “[...] a passagem das características singulares de uma situação

que se manifesta no cotidiano profissional do assistente social para uma interpretação à luz da

universalidade da teoria e o retorno a elas.” (GUERRA, Y., 2012, p.54).

A dimensão ético-política, por sua vez, refere-se aos princípios e valores que orientam

o exercício profissional do assistente social, bem como ao caráter político da profissão. Pode-

se entender a ética profissional como dimensão resultante de diversas determinações que

envolvem o conhecimento obtido através da base filosófica incorporada pela profissão, as

visões de mundo que advém da moral e da educação primária e outras instâncias educativas

como movimentos sociais, religião e partidos políticos (BARROCO, 2005).

Tal dimensão abrange o Projeto Ético-Político da categoria profissional, que num

movimento coletivo elegeu os valores que delineiam a identidade da profissão e a legitimam

23

socialmente, tratando-se, desse modo, de um processo que envolve “a coesão dos agentes

profissionais, em torno de valores e finalidades comuns [...]” (BARROCO, 2005, p.66).

De acordo com a mesma autora, a ética profissional do assistente social se consolida

no contexto das demandas e respostas éticas construídas, sendo assim, uma dimensão

construída a partir de demandas postas historicamente à profissão (BARROCO, 2005).

A dimensão referida também contempla o perfil político da profissão que é polarizada

pela relação contraditória entre as classes sociais. De acordo com Iamamoto (2000) o cerne da

dimensão política do Serviço Social encontra-se na relação deste com o poder de classe, sendo

que sua emergência e desenvolvimento estão atrelados as relações de poder na sociedade.

É no bojo destas relações que se dá o enfrentamento cotidiano dos assistentes sociais

às diversas formas e manifestações de poder, os quais constroem a partir deste movimento a

direção social do exercício, comprometendo-se coletivamente com um projeto societário18 que

visa a emancipação19 da classe trabalhadora.

Vê-se, portanto, tal comprometimento expresso no Projeto Ético-Político do Serviço

Social que

tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético-central a

liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre

alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a

emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. [...] (NETTO, 1999,

p.104-105, grifo do autor).

No que diz respeito as particularidades da dimensão técnico-operativa, objeto de

análise deste trabalho, parte-se do entendimento que o instrumental técnico-operativo se

refere, dentre outras coisas, a

articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexão entre um

elemento ontológico do processo de trabalho (os instrumentos de trabalho) e

o seu desdobramento - qualitativamente diferenciado – ocorrido ao longo do

desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas). (TRINDADE, 1999

apud COSTA , F.S.M, 2008, p.58).

18

“Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, transformadores ou conservadores. Entre os

transformadores, há várias posições que têm a ver com as formas (as estratégias) de transformação social. [...] ”

(TEIXEIRA; BRAZ, 2009, p.189). 19

A conquista dos direitos é reconhecida por Marx como um passo importante, porém, este pensador assinala

que esta forma de emancipação não constitui o fim almejado, que é a emancipação humana. Ele argumenta que

“a emancipação política representa um enorme progresso. Porém, não constitui a forma final de emancipação

humana, mas é a forma final de emancipação dentro da ordem mundana até agora existente.” (MARX, 1996, p.

23–24).

24

Sendo assim, verifica-se que os instrumentos são os meios que possibilitam a

operacionalização das ações ao passo que as técnicas se referem às habilidades no uso dos

instrumentos, sendo utilizadas para definir procedimentos e processos.

A dimensão técnico-operativa do exercício profissional do assistente social não se

limita somente as técnicas e aos instrumentos utilizados para a intervenção profissional, mas,

contempla também outros elementos relacionados com a competência profissional, uma vez

que a realização da dimensão em questão depende também da capacidade dos profissionais

agirem, selecionarem e aplicarem (COSTA, F.S.M, 2008), a qual é ancorada nos

conhecimentos teóricos, valores éticos e outras variáveis.

Desse modo, reforça-se que a dimensão técnico-operativa aciona um conjunto amplo

de elementos que compreende desde as dimensões teórico-metodológica e ético-política até as

condições objetivas de trabalho e as condições subjetivas dos profissionais, devendo também

ser levado em conta as demandas apresentadas pelos usuários. Se efetiva em meio as práticas

humanas que se direcionam para a transformação de outras atitudes humanas (TRINDADE,

2001).

Argumenta-se que a dimensão técnica-operativa é constituída pelas

[...] estratégias e táticas definidas para orientar a ação profissional, os

instrumentos, técnicas e habilidades utilizadas pelo profissional, o

conhecimento procedimental necessário para a manipulação dos diferentes

recursos técnico-operacionais, bem como a orientação teórico-metodológica

e ético-política dos agentes profissionais. (SANTOS; SOUZA FILHO;

BACKX, 2012, p. 21).

Convém assinalar que o Serviço Social não criou um arsenal exclusivo de

instrumentos, o que fez e faz os profissionais desta área se apropriarem de um instrumental

elaborado por diferentes áreas da ciência, dentre as quais: a psicologia, a sociologia, o direito

e a antropologia (COSTA, F.S.M, 2008). A instrumentalidade utilizada pelo Serviço Social é

atravessada pelas determinações da realidade social, o que a coloca, assim, em um processo

constante de aprimoramento pelos profissionais, visto que a realidade não é estática.

É importante saber que a dimensão técnico-operativa carrega uma intencionalidade20,

visto que resulta de uma escolha dos profissionais em empregar determinados instrumentais

para objetivarem suas ações, as quais se investem em benefício de valores e projetos

20

Quando não acompanhados por uma intencionalidade que prime pela liberdade e justiça social dos sujeitos, os

instrumentos podem destituir ou negar o acesso aos direitos dos indivíduos, contribuindo para a reprodução da

desigualdade social.

25

societários e são executadas com vistas a atingir certos fins. Daí então é possível destacar que

não existe neutralidade na efetivação desta dimensão, já que há “ um conteúdo e uma direção

social próprios ao uso das técnicas, que impossibilita qualquer consideração sobre uma

possível neutralidade técnica.” (TRINDADE, 2001, p.6).

Portanto, pode-se afirmar que a dimensão referida também reflete o perfil político da

profissão, pois, ao optar por determinados instrumentos e técnicas o profissional está

direcionando sua intervenção a favor da emancipação dos sujeitos ou a favor da manutenção

da ordem vigente, ou seja, está se lançando em direção a um determinado projeto societário,

situando-se no movimento contraditório da sociedade. Os elementos que integram a dimensão

técnico-operativa possibilitam materializar e objetivar projetos no contexto das relações

sociais (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012).

É assim, então, que as respostas instrumentais dos assistentes sociais “[...] apoiam-se

em um projeto de sociedade, em um conjunto de proposições teóricas, em valores e princípios

éticos e dão uma determinada direção estratégica à intervenção profissional.” (GUERRA, Y.,

2012, p.43).

Além dos elementos citados, há que se especificar, ainda, outros componentes da

dimensão técnico-operativa. Desse modo, seguindo Santos, Souza Filho e Backx (2012)

assinala-se que a mesma é composta também pelas ações profissionais, pelos procedimentos,

instrumentos e técnicas desenvolvidas pelos profissionais. As ações profissionais,

consideradas com um maior grau de abrangência, expressam o fazer profissional e se

constituem em: encaminhar, orientar, avaliar, planejar, informar21, realizar pareceres sobre a

matéria de Serviço Social, dentre outras atribuições e competências previstas na legislação

profissional22.

Por meio do encaminhamento, o assistente social coloca o usuário na rede de serviços.

O profissional executa essa ação quando o usuário necessita de um atendimento inexistente na

estrutura do serviço na qual está inserido (JESUS; ROSA; PRAZERES, 2004).

Além de encaminhar, o assistente social também orienta os usuários quanto aos seus

direitos e aos serviços prestados pela rede de serviços, pois, de acordo com Trindade (2012),

frequentemente as demandas apresentadas pelos usuários ao Serviço Social não podem ser

21

De acordo com Santos, Souza Filho e Backx (2012) a questão da informação foi discutida pelos participantes

do Simpósio “A Dimensão Técnico-operativa no Serviço Social: Desafios Contemporâneos na Formação

Profissional do Assistente Social Frente aos Novos Padrões de Proteção Social” não havendo consenso entre os

mesmos em considerá-la um instrumento, mas sim, apresentou-se a idéia de “[...] entendê-la como componente

da ação profissional.” (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012, p.26). 22

Segundo Trindade (2012) as ações só podem ser consideradas profissionais quando combinadas com os

conteúdos com os quais atuam os assistentes sociais, associados às políticas sociais, aos sujeitos sociais, aos

direitos sociais, aos benefícios e serviços sociais e aos movimentos sociais.

26

atendidas no âmbito da instituição, o que faz com que estes profissionais recorram ao cadastro

de recursos sociais aos quais são referência para orientar e encaminhar os usuários a outros

serviços e instituições.

Outra ação desenvolvida pelos profissionais, que integra o instrumental técnico do

Serviço Social é a avaliação. Ao desenvolver suas ações e utilizar os instrumentais no

cotidiano de trabalho, os assistentes sociais estão constantemente efetivando avaliações. É

uma ação que envolve, portanto, diferentes situações e sujeitos, sendo que na atualidade os

assistentes sociais têm sido frequentemente chamados para avaliar políticas e programas

sociais. Segundo Silva, M. O. S. (2000) este processo envolve os sujeitos que encomendam a

avaliação, os que financiam, os responsáveis pela execução, os respondentes da avaliação e os

destinatários ou usuários do programa.

Quanto ao planejamento, ressalta-se que em meio aos diversificados espaços sócio

ocupacionais que vêm ocupando, os assistentes sociais estão cada vez mais sendo requisitados

para planejar programas e financiamentos. É assim, então, que a profissão tem sido chamada a

agir não só na relação direta com os usuários, mas também na gestão e coordenação de

programas e projetos. Porém, não só nestas situações o planejamento se faz presente no

cotidiano dos assistentes sociais. Mesmo no contato direto com os usuários, estes

profissionais devem constantemente planejar suas ações, a fim de ter claro e sistematizado os

objetivos e metas que pretendem alcançar.

Um documento que materializa parte desse processo é o plano de ação ou de

intervenção, o qual “[...] deve partir, necessariamente, de uma leitura, uma caracterização da

situação atual, evidenciando os pontos críticos sobre os quais a ação profissional deve

incindir. [...]”(MIOTO; NOGUEIRA, 2007, p.292).

A informação23, também entendida como uma ação profissional, diz respeito a

linguagem verbal, não verbal e escrita, onde se efetiva a socialização dos conhecimentos.

Há também o parecer social, que integra o estudo social, cuja realização se constitui

em outra ação exercida pelos assistentes sociais. O parecer social é realizado com base nos

dados coletados no estudo sobre o qual o profissional, utilizando-se de um referencial teórico

23

A utilização deste termo tem como base as definições apontadas no Simpósio “A Dimensão Técnico-operativa

no Serviço Social: Desafios Contemporâneos na Formação Profissional do Assistente Social Frente aos Novos

Padrões de Proteção Social”, apresentadas no artigo de Santos, Souza Filho e Backx, segundo os quais “[...] O

uso do termo informação foi justificado tendo em vista a dificuldade em precisar o momento no qual se utiliza a

comunicação e a linguagem, optando assim por defini-la como informação que tradicionalmente era tratada

como documentação. Defende-se que a ideia de informação é mais abrangente que a de documentação, pois não

se trata somente de documentar e registrar.[...]” (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012, p.26, grifo dos

autores).

27

e princípios éticos-políticos emite sua opinião técnica, expondo as possíveis soluções para o

conflito que demandou tal estudo.

O estudo social tem a utilidade de direcionar os assistentes sociais em suas decisões e

encaminhamentos, propiciando aos profissionais conhecerem a realidade e intervirem nela,

considerando a necessidade de manter sigilo face as informações obtidas.

Os procedimentos interventivos, por sua vez, são considerados “[...] elementos

intermediários entre as ações e os instrumentos” (TRINDADE, 2012, p.70). Dentre os

procedimentos mais utilizados está a abordagem24, que possibilita ao assistente social

estabelecer uma via de comunicação com os usuários, através da qual o profissional pode

obter conhecimentos necessários à ação profissional.

Os instrumentos são as ferramentas empregadas pelos assistentes sociais para

desenvolver as ações, destacam-se alguns, a saber: a observação, a entrevista, a visita

domiciliar e a reunião. A observação é um instrumento que implica reflexões acerca da

realidade a qual se está inserido. É compreendida como “[...] um instrumento importante no

levantamento de dados qualitativos e que possibilita a participação conjunta dos usuários e do

assistente social.” (SARMENTO, 2012, p.115).

A entrevista, por sua vez, é um instrumento que se estabelece entre sujeitos que

ocupam papéis diferentes, quando se percebe a necessidade de compreender um pouco mais

sobre o usuário, na tentativa de se compreender suas queixas, questionamentos e

manifestações.

Outro instrumento que usualmente tem grande empregabilidade pelos assistentes

sociais é a visita domiciliar, que pode ser apreendida como um recurso que oferece outras

possibilidades de conhecimento da realidade ao profissional, através do qual este pode

conhecer o usuário e suas dificuldades bem como sua realidade com vistas a garantir seus

direitos (SARMENTO, 2012).

No conjunto de instrumentos utilizados pelos assistentes sociais também se encontra a

reunião, que possibilita socializar “interesses que estão em jogo, as relações entre os seus

membros, sendo empregado para dar visibilidade e para trabalhar com estas relações de

poder, bem como com a socialização de determinadas informações.” (SANTOS; SOUZA

FILHO; BACKX, 2012, p.25).

24

De acordo com Santos, Souza Filho e Backx (2012) a questão da abordagem foi polemizada no Simpósio “A

Dimensão Técnico-operativa no Serviço Social: Desafios Contemporâneos na Formação Profissional do

Assistente Social Frente aos Novos Padrões de Proteção Social”, pois segundo os autores não houve consenso

em considerá-la um instrumento, ela tendeu a ser entendida como um componente que faz parte dos

procedimentos.

28

Assim, é por meio do uso dos instrumentos, técnicas, procedimentos e ações, aliados

aos conhecimentos teóricos e ao comprometimento com valores coerentes com o projeto

societário em favor da emancipação da classe trabalhadora, que os assistentes sociais intervém

nas diversas expressões da “questão social” visando cessar as situações de violação de direitos

com as quais se deparam cotidianamente nos seus espaços de trabalho.

3 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA DEFESA E

GARANTIA DE DIREITOS: DESVELANDO O REAL DA PESQUISA

Os direitos constituem-se em uma construção histórica e social dos homens, que

resultam das lutas empreendidas por estes (BOBBIO, 1992) e expressam suas conquistas. É

no meio social, então, que os homens criam vários tipos de direitos e com eles desenvolve-se

a cidadania25. Ao referir-se aos direitos humanos Marx (2010, p.47) especifica que os mesmos

“[...] são em parte direitos políticos, direitos que são exercidos somente em comunhão com

outros. O seu conteúdo é constituído pela participação na comunidade, mais precisamente na

comunidade política, no sistema estatal.”

Então, os direitos só adquirem sentido quando inseridos na vida em sociedade, na

relação que se estabelece entre os sujeitos e entre estes e o Estado. Encontram-se em

permanente processo de mudanças, sendo que sua consolidação se dá em meio às situações

de transformação social e política, onde tais avanços se conectam também com os pontos

definidos nacionalmente ou por acordos internacionais (BAPTISTA, 2012).

O desenvolvimento da sociedade, suas contradições e reivindicações fez surgir a

necessidade histórica de criar direitos, sendo alguns direcionados para determinados

segmentos sociais, processo o qual Bobbio (1992, p. 62) denominou de especificação, que

consiste “[...] na passagem gradual, porém cada vez mais acentuada, para uma ulterior

determinação dos sujeitos titulares de direitos.” É possível notar que tal especificação

contemplou diferentes segmentos da sociedade tido como vulneráveis, considerando as

relações de gênero, a diferença entre estado normal e excepcional e também às várias fases da

vida.

25

A cidadania inclui várias dimensões, sendo que “[...] algumas podem estar presentes sem as outras. Uma

cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no

Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em

cada país e em cada momento histórico.” (CARVALHO, 2002, p.9).

29

Esse processo culminou, então, na criação de várias leis e estatutos de proteção que

especificam ao passo que protegem legalmente os direitos de vários segmentos sociais

levando em conta as variáveis apontadas.

Todavia, a conquista e o reconhecimento no plano legal dos direitos, não tem

garantido que os mesmos sejam efetivados na prática. Na verdade, vive-se num contexto

contraditório onde “[...] a sociedade capitalista que defende a universalização dos direitos aos

homens „livres e iguais‟ é a mesma que inviabiliza sua efetivação para todos [...]”

(VINAGRE; PEREIRA, 2007, p.51) o que acaba refletindo nos diversos espaços ocupacionais

que os assistentes sociais estão inseridos, onde constantemente se apresentam como demanda

para estes profissionais a não efetivação destes direitos, ou seja, as situações de violação de

direitos.

3.1 A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO ASSISTENTE

SOCIAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ DE CASCAVEL

Considerando a relevância e contribuição do referencial teórico-metodológico para a

escolha de instrumentos, técnicas e procedimentos, buscou-se descobrir junto às profissionais

entrevistadas, à importância da dimensão teórico - metodológica para o exercício profissional.

A que se identificou, todas as profissionais pesquisadas consideram esta dimensão importante

na medida em que a mesma subsidia o exercício profissional:

Para atuação se faz necessário junção, encontro ou seja, a articulação entre

teoria e prática, pois uma prática profissional sem embasamento teórico não

acrescenta nenhuma mudança ou até mesmo pode trazer prejuízo para o

usuário. [...] Acredito que a dimensão teórica-metodológica oferece

proporciona a qualidade dos atendimentos/orientações encaminhamentos,

ou seja um exercício profissional qualificado, não apenas operacional mas

com fundamentação teórica. (A1)

Entendo que a dimensão teórico-metodológica é de fundamental

importância para o exercício da profissão [...] daí a importância da

dimensão teórico-metodológica que possibilite uma análise mais ampla das

situações que se apresentam (superando o senso comum), as razões para a

ocorrência destas situações e o entendimento dos diferentes aspectos sociais

relacionados a elas e que interferem no processo saúde-doença (família,

situação trabalhista, acesso a benefícios e direitos sociais, dentre outros),

para, a partir disso, elencar as possibilidades de intervenção e

encaminhamentos numa perspectiva transformadora. (A2)

É essencial e se torna necessária a partir do momento em que a demanda se

apresenta ao profissional e requer deste uma intervenção competente e

segura, o que exige do Assistente Social, conhecimento da realidade onde

atua fundamentada nos seus referenciais teóricos, além de capacitação

30

permanente em que permeiam os diversos saberes para acompanhar o

movimento e a evolução da sociedade. É fundamental uma postura

investigativa para podermos vislumbrar a necessidade do outro, respeitando

suas particularidades e levando em consideração suas especificidades [...] (

A3)

Nota-se que as profissionais A1 e A2 relacionam a dimensão teórico-metodológica

com os conceitos de mudança e transformação, sendo possível inferir que essas profissionais

tem ciência da contribuição da teoria no processo de transformação social. O entendimento

das profissionais é coerente com a idéia apresentada por Santos (2010) segundo a qual “[...] a

atividade teórica proporciona um conhecimento indispensável para transformar a realidade ou

traçar finalidades que antecipem, na ideia, sua transformação. [...]” (SANTOS, 2010, p.33).

Neste sentido, também se observa que a profissional A2 menciona em sua resposta a

palavra “possibilidades” à qual relaciona com a análise propriciada pela dimensão teórico-

metodológica. Através da dimensão teórico-metodológica, o profissional tem a oportunidade

de realizar a análise da realidade, para, a partir deste movimento, elencar as possibilidades de

ação, como assinalado pela assistente social. É assim então que a teoria constitui o âmbito da

possibilidade, se relacionando com a prática que, por sua vez, representa a esfera da

efetividade (SANTOS, 2010).

A teoria possibilita ao profissional conhecer as múltiplas determinações do objeto, o

que é fundamental para que o assistente social realize uma intervenção competente. Para

desenvolver ações que se distanciem de uma lógica conservadora e a-crítica, os profissionais

devem se apropriar de um referencial teórico-metodológico que possibilite a reconstrução

permanente do movimento da realidade, que vise um exercício crítico, reflexivo, político e

consciente que só pode ser realizado na articulação entre teoria e prática (VASCONCELOS,

2007).

Torna-se clara, então, a necessidade do assistente social se apropriar de referenciais

teóricos que conduzam seu exercício em consonância com os princípios do projeto ético-

político da categoria.

Além de reconhecer a importância da dimensão teórico-metodológica a profissional

A3 também explicita a necessidade de “[...] capacitação permanente em que permeiam os

diversos saberes para acompanhar o movimento e a evolução da sociedade. [...]” o que de

fato é imprescindível para o exercício profissional, visto que a realidade não é estática e exige

do profissional um constante esforço de aperfeiçoamento e atualização. A profissional

31

também menciona a importância da postura investigativa26 neste processo, o que também é

relevante para o exercício profissional do assistente social, visto que muitas vezes a realidade

se apresenta de forma aparente, requisitando aproximações a fim de desocultar o real para

intervir na essência das situações. A atitude investigativa é “[...] a permanente busca do novo

pela reconstrução de categorias teórico-metodológicas de leitura e intervenção na realidade

social. [...]” (FRAGA, 2010, p.52).

Quando questionadas sobre quais referências teóricas utilizam para exercer a

profissão, nehuma profissional citou nome de autores. Todas as assistentes sociais declararam

que utilizam referências da linha crítica, sendo que as profissionais A1 e A2 explicitaram que

recorrem a conteúdos da formação acadêmica, como se nota em suas falas: “as referências

teóricas utilizadas partem da formação acadêmica do Serviço Social, da linha crítica ao

sistema capitalista e das relações sociais estabelecidas na sociedade [...]” (A1) e “quanto as

referências teóricas para o exercício da profissão, procura-se atuar na defesa e garantia dos

direitos sociais dos usuários, numa perspectiva crítica, tendo como base os referenciais

teóricos da formação acadêmica [...]” (A2).

No que tange o referencial crítico, apontado pelas profissionais, é importante que se

diga que o mesmo advém da teoria social crítica de Marx27 que é “[...] base teórico-

metodológica fundante do pensamento crítico e contestador do Serviço Social [...]”

(FRANÇA, 2013, p.154). Houve, no interior da profissão, o Movimento de Reconceituação28

do Serviço Social, cuja finalidade era romper com o referencial conservador e incorporar o

método crítico e investigativo, na perspectiva de compreensão da realidade social e

questionamento da ordem dominante.

Deste movimento, abordou-se coletivamente, entre outras vertentes, a de defesa da

teoria crítica, denominada de “Intenção de Ruptura” que possibilitou que a categoria se

posicionasse politicamente e questionasse seu exercício, vindo a se aproximar dos

movimentos sociais, compartilhando e defendendo os interesses da classe trabalhadora.

26

De acordo com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (1996, p.67) “[...] A postura

investigativa é um suposto para a sistematização teórica e prática do exercício profissional, assim como para a

definição de estratégias e o instrumental técnico que potencializam as formas de enfrentamento da desigualdade

social [...]”. 27

A teoria social crítica é “[...] estruturalmente comprometida com a superação da ordem burguesa [...]”

(SILVA, J. F. S., 2007, p.295). Refere-se a teoria marxista, propagada por Marx, à qual a categoria de assistentes

sociais se filiou historicamente, em sua maioria. É, sem dúvida, uma teoria que possibilita aos profissionais

analisar as relações sociais em sua totalidade, constituindo-se na teoria mais apropriada para embasar as ações

dos assistentes sociais que almejam contribuir para o processo de transformação social e emancipação da classe

trabalhadora. 28

“O movimento de reconceituação, tal como se expressou em sua tônica dominante na América Latina,

representou um marco decisivo no desencadeamento do processo de revisão crítica do Serviço Social no

continente.” (IAMAMOTO,1998, p.205, grifo da autora).

32

Embasados então pelos fundamentos teórico críticos, que se espraiaram para o interior

da categoria, os assistentes sociais passaram a lutar por valores em prol da justiça e igualdade

social, que foram incorporados ao seu Código de Ética profissional e também passaram a

compor e direcionar a legislação profissional e as diretrizes curriculares da formação neste

âmbito.

As profissionais A1 e A2 também manifestaram utilizar como referências teóricas:

[...] conhecimentos construídos na política pública de saúde, legislações de

saúde, ou outras leis de garantia de direitos sociais (idoso, criança

adolescente, direito usuário do SUS entre outra) e também das produções

teóricas sobre a determinação social do processo saúde-doença. (A1)

[...] os princípios do nosso Código de Ética, Declaração dos Direitos

Humanos e legislações pertinentes (Estatuto da Criança e do Adolescente,

Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, entre outras), as quais preconizam o

atendimento integral ao ser humano/usuário. (A2)

Neste momento, apenas a profissional A1 afirma que utiliza conhecimentos

específicos do âmbito da política de saúde. Ela e a profissional A2 manifestam que se

apropriam de leis de garantia de direitos como referências teóricas. A profissional A2 citou

que utiliza os princípios do Código de Ética do Assistente Social como referências teóricas.

De acordo com Teixeira e Braz (2009) as leis e o Código de Ética profissional

integram a dimensão jurídico-política da profissão, que é um dos componentes que

materializa, em conjunto com a produção de conhecimentos no interior do Serviço Social e

com as instâncias político-organizativas da profissão, os elementos constitutivos do projeto

ético-político da mesma.

Com base na diferenciação estebelecida pelos autores entre os componentes

explicitados, é possível inferir que as leis, as regulamentações e o Código de Ética, por se

tratarem de normas, princípios e valores, constituem a dimensão ético-política da profissão,

não se caracterizando como referências teóricas, mas estando relacionados à estas, pois junto

com elas materializa os elementos constitutivos do projeto ético-político. Outros autores,

como Iamamoto (1998), afirmam que o Código de Ética aponta um rumo ético-político, um

horizonte para o exercício profissional.

Nota-se que ao apontar os referenciais teóricos que utilizam para exercer a profissão

todas as profissionais citaram além destes referenciais, elementos constitutivos da dimensão

33

ético-política, o que possibilita inferir que as profissionais articulam os elementos das

dimensões teórico-metodológica e ético-política no seu exercício profissional.

Reconhecendo a importância de se pensar as dimensões do exercício profissional

como uma unidade, Santos (2010) também adverte a necessidade de pensá-las em suas

particularidades, tendo em vista que a unidade não pode ser reduzida à identidade. Isto

significa compreender a relação entre teoria, fins, meios e prática, como unidade de elementos

diversos, que envolve dimensões distintas ao mesmo tempo que complementares. Implica

reconhecer a teoria enquanto possibilidade, a dimensão ético-política enquanto definição dos

fins orientada por princípios e valores e a competência técnico-operativa como busca dos

meios para realizar as ações.

Ao serem indagadas sobre a importância da dimensão ético-política para o exercício

profissional, obteve-se como respostas que:

A sua importância está relacionada à posição que a categoria assumiu a

favor da construção de uma sociedade mais justa para todos para

emancipação humana, baseado em valores éticos que possam nortear a

prática do assistente social, e seu posicionamento em defesa da classe

trabalhadora e do processo democrático em todas as instâncias/instituições

sociais. (A1)

A importância da dimensão ético-política para o exercício profissional está

relacionada a liberdade concebida como possibilidade de escolha,

evidenciando o compromisso do profissional com a autonomia,

emancipação e defesa dos direitos humanos. Esta dimensão vincula o

profissional a valores éticos (e não morais) e na defesa de um projeto

societário democrático, livre da dominação e exploração da classe

trabalhadora, etnia e gênero. (A2)

É o próprio reconhecimento da profissão que se faz presente nas diferentes

áreas de atuação com a proposta de luta pelo interesse dos usuários,

conquistando espaços que partilham os mesmos ideais de igualdade e

justiça, onde o mínimo necessário não é suficiente o bastante para o

exercício satisfatório da cidadania. Requer unicidade enquanto categoria e

batalha diária na busca de respostas para as diversas lacunas que se

apresentam na cotidianidade da população menos favorecida. (A3)

Verifica-se que a importância que as entrevistadas vêm na dimensão ético-política se

relaciona com o comprometimento, luta e defesa dos direitos e interesses dos usuários. Ao

explicitarem a importância desta dimensão, todas as profissionais citaram princípios do

Código de Ética29 do assistente social, o que evidencia que as mesmas vêm tais princípios

29

“A ética também se objetiva através de um Código de Ética: conjunto de valores e princípios, normas

morais, direitos, deveres e sanções, orientador do comportamento individual dos profissionais, dirigido à

34

como referência desta dimensão. De acordo com Brites e Sales (2007), o Código de Ética é

um parâmetro jurídico apoiado por referências teórico-críticas, filosóficas e políticas que

norteia o exercício profissional como um recurso fundamental, pois os valores que estão

contidos nele são históricos e criados com base nas necessidades, experiências culturais dos

sujeitos e interesses.

O Código de Ética Profissional expressa, então, o comprometimento político dos

assistentes sociais com a emancipação dos indivíduos. Ele é um importante guia para os

profissionais, no sentido da sua ação política, na medida que norteia o exercício destes em

direção à emancipação, liberdade e autonomia dos sujeitos. O exercício profissional

comprometido com a transformação requer não apenas a apropriação de referenciais teóricos

críticos, mas, a articulação destes com os princípios do documento aludido.

Quando a assistente social A2 afirma que a dimensão ético-política “[...] vincula o

profissional a valores éticos (e não morais) [...]” é possível inferir que a mesma quis dizer

que a dimensão em questão não se vincula a moral conservadora30 e/ou moral liberal31. Os

profissionais que defendem os princípios do projeto ético-político da profissão, tendem a se

distanciar, negar e lutar contra os princípios e valores atrelados à moral conservadora e

liberal. No entanto, mesmo que lutem contra as mesmas, eles se vinculam e lutam por um

outro tipo de moral, que prima por outros valores onde se busca fundamentalmente garantir a

liberdade de escolha dos indivíduos, a qual é cerceada pela moral conservadora e liberal. Ao

aderir e construir valores com os quais se identificam, os profissionais constroem também

uma moral profissional, a qual se constitui na relação entre a ação profissional

do indivíduo singular, os sujeitos envolvidos e o produto da intervenção profissional, tendo

como direcionadores das ações os valores e princípios defendidos pela categoria profissional

(BARROCO, 2009) que revelam sua identidade32.

Mesmo diante das adversidades que se apresentam no cotidiano, em que a ação do

assistente social é tensionada pelas forças em disputa, o profissional deve reafirmar

constantemente o projeto ético-político, lutando pela efetivação de uma moral diferente. Para

regulamentação de suas relações éticas com a instituição de trabalho, com outros profissionais, com os usuários e

com as entidades da categoria profissional.” (BARROCO, 2009, p.176, grifo da autora). 30

“[...] a moral conservadora se opõe tanto ao liberalismo como ao socialismo; ao defender a hierarquia, a ordem

e a tradição, ela propõe uma reforme social do capitalismo de modo a moralizar os costumes. Campo propício à

reprodução do moralismo e do preconceito, apoia-se na negação da razão crítica [...]” (BARROCO, 2007, p.31). 31

A moral liberal “[...] reforça o individualismo nas relações sociais e a coisificação das necessidades humanas.

[...]” (COSTA, F.S.M., 2008, p.55). 32

A moral encontra-se, então, imbricada com a ética profissional, uma vez que esta se objetiva como ação

moral. Estas categorias se vinculam ao modo de ser da profissão, uma vez que os assistentes sociais elegeram

coletivamente ações e comportamentos que conferem uma identidade à profissão, que determinam as atitudes e

deveres a serem seguidos pelos profissionais no exercício da mesma.

35

que se consolidem os valores desejados é fundamental que se tenha uma base social de

sustentação33, onde os profissionais mantenham uma articulação com partidos, sindicatos e

entidades de classe dos trabalhadores (BARROCO, 2011), tendo em vista que se trata de uma

luta conjunta entre os profissionais e estes segmentos, sendo que o avanço político do projeto

profissional está condicionado ao avanço dessas forças sociais mais amplas. A ação política

dos assistentes sociais requer elementos que direcionem o exercício dos profissionais neste

sentido.

Partindo desta premissa, outro questionamento feito às profissionais do HUOP referiu-

se às referências ético-políticas que as mesmas utilizam para exercer a profissão. As

entrevistadas foram unânimes em citar o Código de Ética Profissional como referência ético-

política para seu exercício. Além disso, a profissional A1 mencionou que utiliza também

referências ético-políticas construídas na área da saúde e legislações do SUS. As assistentes

sociais A2 e A3 mencionaram que utilizam a Lei que Regulamenta a Profissão, a Lei

Orgânica da Saúde – Sistema Único de Saúde (Leis 8.080/1990) e a Constituição Federal.

Além destas, a profissional A2 declarou também a Lei 8.142/1990 e autores que tratam da

saúde pública a exemplo de Maria Inês de Souza Bravo. A profissional A3 citou também

autores que materializam o exercício profissional e a Lei Orgânica da Assistência Social.

Considera-se fundamental a necessidade de conhecerem outras leis e normatizações para

encaminhar e informar os usuários quanto ao acesso à outros serviços, benefícios e direitos

que não só os relacionados à política onde estão inseridos. Nota-se, também, que duas

entrevistadas apontam como referências ético-políticas autores que abordam a relação do

Serviço Social com a saúde (A2) e o exercício profissional (A3). Entretanto, tendo em vista

que se tratam de conhecimentos produzidos na área, observa-se que na verdade estes

referenciais constituem o acervo teórico-metodológico da profissão. Quanto as Leis e o

Código de Ética, novamente mencionados pelas profissionais, reafirma-se que os mesmos

integram o âmbito jurídico-político34 da profissão que faz parte da dimensão ético-política.

33

Para estabelecer uma articulação com partidos, sindicatos e entidades de classe dos trabalhadores é

fundamental que haja em primeiro lugar o fortalecimento e maior articulação e organização na própria base de de

sustentação política dos assistentes sociais que envolve as instâncias político-organizativas da profissão

compostas por entidades como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Executiva Nacional de

Estudantes de Serviço Social (ENESSO) e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

(ABEPSS). 34

Segundo Teixeira e Braz (2009) a dimensão jurídico-política da profissão é composta por dois âmbitos

distintos, a saber: o aparato jurídico-político profissional que são os componentes construídos e legitimados pela

própria categoria a exemplo do Código de Ética Profissional e da Lei que Regulamenta a Profissão e o aparato

jurídico-político mais abrangente que contempla as leis que provém da parte que trata da Ordem Social na

Constituição Federal de 1988, a exemplo da Lei Orgânica da Saúde, da Lei Orgânica da Assistência Social e do

Estatuto da Criança e do Adolescente.

36

Para exercer a profissão de forma comprometida, visando a transformação em

benefício dos usuários, o assistente social precisa se apropriar de um conjunto amplo de

referências teórico-metodológicas e ético-políticas que subsidiam seu exercício profissional,

como foi apontado pelas profissionais em questão. Em conjunto com estas, é imprescindível

também o emprego e utilização de instrumentos, técnicas e procedimentos que caracterizam a

dimensão técnico-operativa da profissão e possibilitam materializar os fins almejados pelos

profissionais.

A dimensão técnico-operativa será analisada, então, na especificidade do objeto de

estudo deste trabalho, ou seja, em situações de violação de direitos, que se dará em momento

posterior a explicitação e análise das características das violações presenciadas pelas

assistentes sociais do HUOP no primeiro semestre de 2014.

3.2 AS SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS DOS USUÁRIOS

Considerando que as expressões da “questão social” “[...] se efetivam, sobretudo,

como violação dos direitos [...]” (BEHRING; SANTOS, 2009, p.276), sendo estas situações

parte do objeto de estudo deste trabalho, questionou-se as profissionais do HUOP, quais

foram as violações mais recorrentes no cotidiano do exercício profissional no decorrer do

primeiro semestre de 2014. Nas respostas, é possível identificar algum tipo de violação de

direitos cometida pelo próprio Estado, seja por este não ter viabilizado determinados serviços

aos usuários, seja através de práticas, omissões ou negligências dos seus agentes que

inviabilizaram a efetivação dos direitos da população atendida no período.

Neste sentido, as profissionais A1 e A2 declararam explicitamente que houve violação

de direitos dos usuários na própria instituição e causada pelo próprio HUOP, como se observa

nas suas respostas:

[...] há também a violação de direitos na própria instituição como falta de

leitos ou acomodações adequadas aos usuários atendidos, a não liberação

de acompanhantes à gestante em situação de parto [...] (A1)

[...] Dificuldade para conseguir ou falta de informações clínicas por parte

da equipe médica ao paciente/familiares e, dificuldade para garantir o

direito ao paciente/usuário de atestados e laudos médicos para encaminhar

questões trabalhistas devido a resistência de médicos. Ambos caracterizam-

se violação de direitos pela instituição [...] Não liberação de acompanhante

para a gestante em trabalho de parto e durante o parto, embora exista Lei

Federal (11.108/2005) que o garanta, caracterizando-se numa violação de

direito por parte da instituição [...] (A2)

37

Observa-se que estas situações de violação de direitos se caracterizam como violência

institucional, que é a violência exercida por ação ou omissão nos e pelos serviços públicos. É

o tipo de violência que contempla a falta de acesso, abrange a má qualidade dos serviços e

envolve também abusos cometidos em função das relações de poder desiguais entre os

usuários e profissionais dentro das instituições (BRASIL, 2001).

Todas as profissionais explicitaram que houve a falta de leitos/vagas para

internamento dos usuários durante o período investigado. Segundo Farias et al. (2011) essa

situação expressa uma das consequências das dificuldades enfrentadas pelo SUS em

decorrência do desafio da sua implementação. Um dos entraves – senão o maior deles - que

dificulta a implementação do SUS e impede a satisfação de todas as necessidades dos sujeitos

no âmbito da saúde, é a consolidação do projeto de saúde voltado ao mercado que encontra

força para se expandir em decorrência da política de ajuste do Estado, onde este tem

direcionado suas ações para a contenção de gastos sociais, garantindo o mínimo necessário à

população e a demanda para os serviços privados, quando esta tem condições de adquirir estes

serviços35.

A falta de leitos públicos para internamento dos usuários é uma das consequências e

expressões deste processo que não apenas revela a perversidade da lógica em questão, mas

também contraria o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, que especifica que a saúde é

direito de todos e dever do Estado, o qual deve implantar políticas sociais e econômicas com

vistas a reduzir o risco de doenças e outros agravos e deve promover o acesso igualitário e

universal às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL,

2014a).

A não liberação de acompanhantes à gestante em situação de parto, apontada pelas

profissionais A1 e A2, contraria o disposto na Lei Federal Nº 11.108/2005 que garante às

parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-

parto imediato, no âmbito do SUS. Além de se caracterizar como violência institucional,

advinda do próprio Estado, tendo em vista que foi cometida por seus agentes que não

liberaram acompanhantes para as gestantes, identifica-se também nestas situações a violência

de gênero, pois, conforme afirmam Aguiar e D‟Oliveira (2011), a violência institucional nas

maternidades públicas do Brasil é acompanhada também por uma violência de gênero, uma

35

Segundo Bravo (2007, p.100) “a Reforma do Estado ou Contra-Reforma é outra estratégia e parte do suposto

de que o Estado desviou-se de suas funções básicas ao ampliar sua presença no setor produtivo, colocando em

cheque o modelo econômico vigente. [...] O Estado deve deixar de ser o responsável direto pelo

desenvolvimento econômico e social para se tornar o promotor e regulador, transferindo para o setor privado as

atividades que antes eram suas. [...]”.

38

vez que as diferenças - ser mulher, pobre e de baixa escolaridade – são transformadas em

desigualdades, onde muitas vezes a paciente é tratada como um objeto de intervenção

profissional e não como sujeito de suas próprias decisões.

É o que se constata também em relação a falta de informações aos usuários e seus

familiares, expressa pelas profissionais A2 e A3. A falta de informações clínicas aos pacientes

por parte da equipe responsável, caracteriza-se como violação de direito, visto que contraria o

disposto na Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, que preconiza que é direito de todos os

cidadãos ter informações sobre o seu estado de saúde, as quais devem ser extensivas aos seus

familiares e/ou acompanhantes, e devem ser disponibilizadas de forma clara, objetiva,

respeitosa, compreensível conforme à condição cultural dos usuários, respeitados os limites

éticos por parte da equipe de saúde (BRASIL, 2007b).

Foram igualmente identificadas pelas profissionais, algumas situações que não

chegaram a ser violações de direitos, mas que evidenciam as dificuldades enfrentadas pelas

assistentes sociais para garantir os direitos dos usuários. É o caso da dificuldade relatada pela

assistente social A2 em relação a obtenção de atestados e laudos médicos para encaminhar

questões trabalhistas dos pacientes, situação que segundo a profissional se deve a resistência

dos médicos. Novamente, verifica-se que o próprio Estado, representado por seus agentes

(médicos), dificultou a garantia de um direito que ele mesmo estabeleceu na Carta dos

Direitos dos Usuários da Saúde, que afirma que o respeito à cidadania no sistema de saúde

deve observar alguns direitos, sendo um deles o recebimento de laudo médico, quando

solicitado pelo paciente.

Na identificação das violações, foi mencionada por todas a situação dos

pacientes/pessoas em situação de rua. Todavia, apenas a profissional A2 especificou que tipo

de situação envolveu este segmento, as demais profissionais (A1 e A3) não detalharam estas

situações. Segundo a profissional A2 a violação de direitos das pessoas em situação de rua,

envolveu a

[...] Alta hospitalar de pacientes, que vivem em situação de rua, vítimas de

violências, principalmente de trânsito e física, como por exemplo,

atropelamentos e agressões, que em decorrência destas violências se tornam

pessoas acamadas e dependentes para todos ou quase todos os cuidados, em

situação de abandono (sem pessoa para acolhê-los e nem local para serem

encaminhados). Estes pacientes não raras vezes permanecem trinta a

quarenta dias ocupando um leito hospitalar enquanto aguardam serem

encaminhados, geralmente via promotoria pública, por ausência de políticas

públicas para este segmento da população;

39

De acordo com este retorno há o reconhecimento da ausência de políticas públicas

para atender este segmento da população, que permanece longos períodos no hospital

aguardando encaminhamento, geralmente via promotoria pública, para outros espaços a fim

de receber os cuidados pós alta hospitalar. É possível observar que ante à situação há violação

de direitos destas pessoas em dois âmbitos, em relação à violência física que sofreram,

levando-os à internação e deixando-os na condição de acamados e em relação ao próprio

descaso do Estado, que apenas providencia um lugar para estas pessoas ficarem e serem

cuidadas quando pressionado pela promotoria pública, como mencionado.

A Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua expressa,

como uma das ações estratégicas no âmbito da saúde, apoio às iniciativas intersetoriais que

possibilitem instituir e manter casas de apoio para pessoas em situação de rua, em caso de alta

hospitalar, para assegurar a continuidade do tratamento (BRASIL, 2008). Todavia, é possível

notar que ainda não há uma preocupação efetiva por parte do Estado, pelo menos no

município de Cascavel, em providenciar os locais referidos e equipes para os cuidados deste

segmento, o que demonstra que o próprio Estado viola o direito destas pessoas36. O próprio

Manual sobre o Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua, elaborado pelo

Ministério da Saúde, explicita, como uma das barreiras para a assistência a esta população, a

criação de “locais adequados para reestabelecimento após alta hospitalar em quantidade

suficiente.” (BRASIL, 2012, p.40).

Além de excluir pessoas, quando estas não trazem vantagens para a acumulação, o

capital também tem buscado novas formas de valorizar-se, o que o tem feito buscar e recrutar

força de trabalho de outros países para ocupar os postos de trabalho que muitos brasileiros não

querem ocupar. Esta situação tem refletido diretamente nos espaços ocupacionais dos

assistentes sociais, visto que tem apresentado uma nova demanda para estes profissionais e os

desafiado a buscar novas estratégias de ação com vistas a garantir os direitos destes usuários.

Assim como muitos brasileiros têm tido seus direitos violados pelo Estado, os estrangeiros

também têm vivenciado esta realidade no Brasil.

Exemplo disso é o que as profissionais A2 e A3 relataram, como situação de violação

de direitos observada no período, referente a falta de políticas sociais para atendimento dos

estrangeiros, principalmente dos haitianos que têm migrado para a região de abrangência do

hospital. Ambas assistentes sociais demonstraram a dificuldade de atendimento devido a

diferença de idioma:

36

Expresso no artigo 196 da Constituição Federal de 1988 referente as ações e serviços para recuperação da

saúde.

40

[...] Uma questão latente e preocupante é a dificuldade na comunicação

devido ao idioma o que dificulta, quando não inviabiliza, a realização da

anamnese, condutas, orientações e encaminhamentos, podendo ocasionar

problemas ainda mais graves em decorrência; [...] (A2)

[...] Estrangeiros (principalmente haitianos) com a falta de interprete e uma

política adequada ao atendimento destes, pela sua peculiaridade. [...] (A3)

Verifica-se que há uma dificuldade, principalmente exposta pela assistente social A2,

em relação à comunicação com os mesmos, visto que a maioria destes não fala ou não entende

a língua portuguesa e as profissionais não compreendem sua língua. Esta situação expicita

uma violação de direitos em relação às condições que são repassadas as informações para

estes usuários, que contraria o disposto na Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, segundo

a qual todos os cidadãos têm o direito de ter “informações sobre o seu estado de saúde,

extensivas aos seus familiares e/ou acompanhantes, de maneira clara, objetiva, respeitosa,

compreensível e adaptada à condição cultural, respeitados os limites éticos por parte da

equipe de saúde [...]” (BRASIL, 2007b, p.3) evidenciando que o Estado não ofereceu para

estes usuários informações claras, compreensíveis e adaptadas à sua condição cultural, uma

vez que houve a dificuldade de transmitir as informações devido às diferenças de língua37.

Tal situação, compromete a qualidade dos atendimentos prestados a estes usuários ao

mesmo tempo que revela um risco para a saúde e condição social dos mesmos, tendo em vista

que algumas informações importantes ou encaminhamentos sobre sua saúde, podem não ser

compreendidos claramente por eles e também as informações que os mesmos oferecem

podem não ser compreendidas pelas equipes de saúde.

Além do exposto, foram ainda identificadas outras situações de violação de direitos no

período, apontadas pela profissional A1:

A exclusão do mercado de trabalho, no qual a grande maioria dos usuários

e ou familiares se encontram, o que por si só já os colocam em situação de

vulnerabilidade social, identifica-se também a negligência contra e

violência contra criança e adolescente, por parte da família mas também de

muitos serviços e órgãos de proteção.

37

O município de Cascavel e outros de abrangência do HUOP têm acolhido estrangeiros vindo de países como o

Haiti em busca de inserção no mercado de trabalho brasileiro. De acordo com Assad (2012, s.p.) “[...] A

estabilização da economia brasileira, oportunidades de vida existentes aqui e a maior visibilidade no cenário

externo têm sido apontados como as principais causas para o aumento do fluxo de estrangeiros para o país. [...]”.

41

A exclusão do mercado de trabalho fere o artigo 6º da Constituição Federal de 1988

que expressa que o trabalho é um direito social. O desemprego é uma expressão da “questão

social” decorrente do desenvolvimento capitalista. Na medida em que se desenvolvem as

forças produtivas uma parcela da população é excluída do mercado de trabalho e,

consequentemente, não consegue vender sua força de trabalho nem ter acesso a bens e

serviços (MONTAÑO, 2012), tornando-se a população sobrante do sistema, o exército

industrial de reserva. Desse modo, esta situação incide diretamente sobre as condições de vida

levando ao empobrecimento da população.

A negligência e a violência contra crianças e adolescentes por parte das famílias, dos

serviços e órgãos de proteção, também apontados pela assistente social A1, se caracterizam

como violações de direitos porque contradizem os princípios 4º e 5º contidos no Estatudo da

Criança e do Adolescente que delega à família, à comunidade, à sociedade em geral e ao

poder público defender e assegurar a efetivação dos direitos destes segmentos e afirma que os

mesmos não serão objeto de qualquer forma de negligência e violência sob pena de punição

em lei.

Tal situação explicita duas formas de violência contra crianças e adolescentes, a

violência doméstica e a violência institucional. A primeira porque se caracteriza como ato

e/ou omissão praticada contra crianças e adolescentes no âmbito familiar, que pode ser

cometida por pais, parentes ou responsáveis. De acordo com Guerra, V. N. A. (2005) a

violência doméstica é

[...] todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra

crianças e adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou

psicológico à vítima implica de um lado, uma transgressão do poder/dever

de proteção do adulto, e de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma

negação ao direito que as crianças e os adolescentes tem de ser tratados

como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.

(GUERRA, V. N. A., 2005, p. 32).

Por outro lado, pela profissional ter mencionado que houve também negligência e/ou

violência contra criança e adolescente, por parte dos serviços e órgãos de proteção, observa-se

que ocorreu a violência institucional, já que houve ação e/ou omissão exercida pelos próprios

serviços públicos. Nota-se que a violação de direitos não acontece somente no âmbito

familiar, mas também é realizada pelos próprios órgãos que deveriam fiscalizar estas

ocorrências e proteger as crianças e os adolescentes.

42

Também chama a atenção a condição apresentada pela profissional A2 que afirma que

durante o período houve a “[...] falta ou dificuldade para conseguir transporte para mães

(sem condições financeiras) de bebês com internamentos em UTIs[...]” e também “[...] falta

de casa de apoio ou local adequado no HU para acomodar estas mães durante a internação

dos filhos[...]”.

Verifica-se através da situação exposta, que o próprio Estado dificultou o processo de

amamentação de algumas crianças e a permanência destas mães junto à seus filhos no

período, demonstrando que houve a violação de direitos destas crianças uma vez que não

ofereceu condições adequadas para a amamentação e criação de vínculo entre as mães e seus

filhos.

Apontada pela assistente social A3, está a dificuldade em conseguir acompanhantes

para permanecer com os idosos, dependentes e/ou acamados durante o período de internação

hospitalar. Sabe-se que o idoso tem o direito de ter acompanhante durante o período de

internação e observação, conforme estabelecido no artigo 16 do Estatuto do Idoso (BRASIL,

2014c) que contempla seus direitos, entretanto, garantir a efetivação deste direito a população

em questão foi um dos desafios enfrentados pelo Serviço Social do HUOP.

Todas as profissionais manifestaram que houve também violação de direitos em

relação aos pacientes dependentes químicos, apontando a existência de demanda reprimida

também para outras demandas. Conforme A3, houve demanda reprimida para atendimento

psiquiátrico/adulto de pacientes com dependência química e/ou transtorno mental. Em relação

a dependência química dos adolescentes, observa-se que esta situação é adversa ao que

encontra-se estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente que afirma em seu artigo 7º

que estes segmentos têm o direito “[...] a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de

políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e

harmonioso, em condições dignas de existência.” (BRASIL, 2014d, s.p.). Mesmo sendo

atendidos pelo HUOP, os adolescentes tiveram este direito violado, pois chegaram a condição

de dependentes químicos, de onde se pode inferir que houve a omissão de políticas sociais

responsáveis para assegurar os direitos fudamentais da criança e adolescente e de sua família,

uma vez que a dependência química envolve seguranças sociais provenientes de diversas

responsabilidades: família, sociedade e Estado. É possível constatar que, mesmo tendo havido

avanços em relação às ações de saúde, as políticas sociais destinadas a este âmbito ainda estão

focadas para ações curativas, as quais remediam as situações quando estas já estão instaladas.

43

Segundo a entrevistada A3 também houve “demanda reprimida para: exames,

consultas, internações, cirurgias eletivas [...]”, o que se configura como uma violência

institucional, visto que houve a falta de acesso aos serviços.

Constata-se que a maior parte das situações de violação de direitos ocorridas no

primeiro semestre de 2014, apontadas pelas profissionais, resulta da omissão ou descaso do

Estado em relação aos direitos dos usuários. Ao não garantir a efetivação de tais direitos, o

Estado se torna agente violador dos mesmos, sendo então possível inferir que o mesmo foi o

principal violador de direitos dos casos expostos. Nota-se, assim, que o Estado age de maneira

contraditória, pois, ao mesmo tempo que promove os direitos, os viola.

Segundo Grossi e Aguinsky (2013) o enfrentamento de diversas desigualdades sociais

é um desafio constante para o Serviço Social. Essas desigualdades se materializam em

violações de direitos humanos que são atualizadas pelas transformações societárias da

atualidade e acirradas pelo agravamento da “questão social”. É através de um posicionamento

teórico-metodológico crítico, pautado pelos valores contidos no Código de Ética profissional

e através da escolha dos meios para intervenção, que o assistente social pode oferecer

respostas à estas situações, com vistas a cessar as violações de direitos e garantir que os

mesmos sejam efetivados.

Porém, é necessário ter em mente que a efetivação dos direitos, que representa a

emancipação política, constitui um meio e não o fim que almeja a profissão, pois o fim é a

emancipação humana que “[...] surge como uma forma de emancipação mais profunda, onde o

ser humano possa perceber-se enquanto ser genérico no dia-a-dia.” (SCHÜTZ, 1999, p.60).

Para garantir a efetivação dos direitos dos usuários, os assistentes sociais utilizam

instrumentos que, em conjunto com referenciais teórico-metodológicos e princípios ético-

políticos, materializam essas respostas, constituindo-se na dimensão técnico-operativa da

profissão.

3.3 A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM SITUAÇÕES

DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS

3.3.1 Os Instrumentos e Técnicas Utilizados na Intervenção Profissional

Tendo em vista que a dimensão técnico-operativa é o objeto de estudo deste trabalho,

elaborou-se algumas questões para as assistentes sociais do HUOP com o intuito de analisar

44

como se realizou esta dimensão do exercício das mesmas em situações de violação de direitos

que ocorreram durante o primeiro semestre de 2014.

É importante retomar que, conforme mencionado, os instrumentos e técnicas utilizados

pelos assistentes sociais não integram um repertório pronto, nem funcionam como receita de

bolo trazendo em si uma dinâmica de aplicação que se seguida à risca possibilitará o alcance

dos fins planejados. Não funcionam desta forma porque sua execução depende, dentre outros

fatores, da subjetividade e objetividade que são elementos que tem um grande peso neste

processo (TRINDADE, 2001).

Neste sentido, uma das questões feitas à profissionais referiu-se a quais instrumentos e

técnicas as mesmas utilizam em seu exercício profissional. De forma direta e indireta, todas

assistentes sociais citaram entre os instrumentos e técnicas que utilizam a entrevista:

No HUOP realizamos muitos atendimentos individuais, desta forma

utilizamos da entrevista como principal técnica [...] (A1)

Entrevista, muito utilizada nos atendimentos (geralmente individuais, porém

muitas vezes entre membros da mesma família ou ciclo de relações do

usuário, conforme possibilidade e/ou necessidade) realizados pelo SS no

Hospital. [...] (A2)

Cadastro, onde há a primeira aproximação com o usuário, que permite

avaliar a situação daquele contexto com a entrevista socioeconômica, em

que são observadas as particularidades e identificadas às necessidades do

sujeito. [...] (A3)

A profissional A1 afirma que a entrevista é uma técnica38, entretanto, Santos, Souza

Filho e Backx (2012) e Sarmento (2012) informam que a mesma é um instrumento. A

entrevista é “[...] o estabelecimento de um diálogo que vai se realizando à medida em que

vamos desvendando o real, o concreto e ampliando a consciência crítica ou reduzindo a

alienação dos entrevistados e do próprio assistente social.” (SARMENTO, 2012, p.116).

Constitui-se em um instrumento que possibilita mobilizar ações e procedimentos, abrindo

caminho para o assistente social desenvolver sua intervenção.

As assistentes sociais afirmaram que utilizam o cadastro de atendimento, todavia, as

profissionais A1 e A3 explicitaram fazer uso do mesmo no momento em que realizam

atendimento (A1) ou com a entrevista (A3). De acordo com Trindade (2012) é comum o

assistente social fazer registro, durante a entrevista, em formulário específico, de informações

como nome, sexo, data de nascimento, documentos, escolaridade e profissão.

38

As técnicas são, segundo Trindade (2012, p.71) “[...] maneiras diferenciadas de utilizar os instrumentos. [...]”.

45

O preenchimento deste documento39 é importante porque possibilita ao profissional

levantar um grande número de informações do usuário, as quais podem contribuir para

identificar possíveis situações de violação de direitos ou necessidades dos sujeitos, mantendo–

as registradas. Considerando que os usuários podem voltar a ser atendidos pela instituição em

momentos futuros, este cadastro pode ser muito útil ao profissional não só quando coleta estas

informações, mas também em atendimentos futuros.

Constantemente, em seus espaços ocupacionais, os assistentes sociais também

realizam reuniões40, que podem contemplar fins e sujeitos diferentes. As assistentes sociais A1

e A2 declararam que utilizam da reunião no seu exercício profissional com familiares e com

outros profissionais, sendo que a profissional A1 disse que faz reuniões para discutir casos e a

A2 em situações de conflito. A assistente social A2 declarou ainda que faz reuniões “[...]

entre a rede de serviços e reuniões das Comissões, cujas quais o SS tem participação. [...]”.

Quanto aos objetivos destas, a profissional A2 apontou que “[...] dizem respeito a discussões

pontuais, objetivando estabelecimento de protocolos de atendimento e/ou consensos e tomada

de decisões.”

A reunião é um instrumento importante ao profissional quando este quer compartilhar

situações com outros profissionais e buscar encontrar respostas coletivas ou tomar decisões

em conjunto sobre as situações. Quando realizadas com as famílias, as reuniões também

podem ser muito úteis, visto que possibilitam aos profissionais encontrar recursos, soluções e

idéias junto à estas e compartilhar e/ou aliar-se às mesmas para resolver as situações,

incorporando-as neste processo como sujeitos participantes de tomada de decisões.

Entre os instrumentos que utilizam no seu exercício, foi citada a observação41, sendo

esta utilizada juntamente com a entrevista, para a compreensão da realidade dos usuários. A

observação mobiliza um conjunto de reflexões sobre a realidade em que os sujeitos estão

inseridos, sendo um instrumento comumente empregado pelo assistente social no

desenvolvimento de ações e na utilização de outros instrumentos, como destaca a assistente

social A2 que assinala que a observação é um instrumento que “[...] acompanha os demais,

39

Segundo Costa, M. D. H (2007, p.320) “no atendimento hospitalar, por exemplo, a obtenção dos dados, por

meio de entrevistas, preenchimento de ficha social ou questionário, é a primeira etapa do processo de

atendimento e acompanhamento realizado pelo assistente social, integrando, pois, um conjunto de procedimentos

e nomas relativos ao internamento dos pacientes. [...]”. 40

A reunião é um instrumento de trabalho do assistente social que envolve a dinamicidade do grupo no qual

emergem as relações de poder entre os seus membros, as decisões, as contradições, a democracia, o

autoritarismo, autonomia, dependência, liberdade para tomar as decisões e direção coletiva (SARMENTO,

2012). 41

De acordo com Sarmento (2012, p.115) a observação “[...] requer do profissional clareza (acerca dos

elementos teóricos com que está operando seu conhecimento) e segurança (quanto aos objetivos pretendidos)

[...]”.

46

uma vez que ela é „quase como que inerente‟, pois faz parte em todos os atendimentos

realizados e nos ajuda a perceber a realidade [...]”.

A realidade é constituída pelas diversas manifestações da “questão social” que

incidem sobre as condições de vida da população, o que requer a recorrência de método de

análise desta mesma realidade como estrutural, para apreender as particularidades das

situações que se colocam como demandas para a intervenção profissional. É neste movimento

que situa-se como parte da análise, a observação de múltiplas relações: sociais, culturais,

econômicas, políticas, dentre outras. Ao entrevistar o usuário, o profissional atento vai além

da coleta de informações verbais, ditas pelo sujeito, ele também observa o comportamento e

expressões deste no momento em que conversa com ele, buscando captar outros elementos

presentes na vida e no contexto social dos mesmos. As profissionais A2 e A3 apontam a

observação como um dos instrumentos que utilizam no exercício profissional. Para as mesmas

este instrumento possibilita:

[...] perceber a realidade, o dito e o que fica nas entrelinhas, levando o

profissional a uma reflexão muito mais rica e consequentemente a uma

intervenção com mais qualidade. (A2)

[...] perceber criticamente e tomar conhecimento de dada realidade,

enxergando o indivíduo como reflexo de múltiplas determinações. (A3)

Vê-se que as respostas associam a observação com a ideia de reflexão (A2), percepção

crítica da situação e múltiplas determinações (A3), revelando que recorrem aos referenciais

teóricos críticos, uma vez que estes possibilitam a utilização dos instrumentos, aliada e

direcionada pela atitude reflexiva e crítica. O emprego deste instrumento sob orientação dos

referenciais citados e valores direcionados para a emancipação dos sujeitos, auxilia o

assistente social a se aproximar do real a fim de conhecê-lo em sua essência, ultrapassando o

âmbito do aparente.

Em relação a visita domiciliar e a visita institucional, foi possível constatar que apenas

duas profissionais (A2 e A3) fazem uso destes instrumentos no seu exercício profissional. A

entrevistada A2 observou que utiliza poucas vezes estes instrumentos. A assistente social A3

afirmou que a visita domiciliar e institucional permite “[...] enxergar in loco a estrutura

organizacional e a domiciliar que possibilita a visão real do sujeito em seu meio e com seus

circundantes.” Nota-se que a idéia apresentada por esta é compatível com o entendimento de

Catusso, Souza e Ferrari (2013) segundo os quais a visita domiciliar e institucional deve

auxiliar e dar condições de compreender a situação posta de maneira mais precisa, pois se

47

consegue efetivar a verificação a partir do lócus. Considera-se como parte de análise das

condições de vida, materializadas pelas necessidades dos usuários, situar o meio em que

vivem, seu espaço social, constituído por relações sociais de enfrentamentos, conquistas,

desafios e conflitos, e portanto, também de autonomia dos sujeitos e violação de seus direitos.

Conforme relato, A2 utiliza-se da orientação e informação, como práticas muito

utilizadas no cotidiano de trabalho no HUOP:

[...] constantemente procuradas por usuários/pacientes, contatadas por

familiares de pacientes via telefone, assim como é solicitado o [...]

atendimento pela própria equipe (enfermeiros, médicos e outros) para

auxiliar no sentido de orientações/informações acerca de diversas questões

(como por exemplo normas/rotinas do HU; encaminhamentos de

transferência de pacientes, estadia para acompanhantes de pacientes etc.),

que envolvem a saúde do usuário.

Várias modalidades de orientação e informação são prestadas pelas profissionais, seja

para os usuários, familiares ou quando solicitado pela equipe que trabalha no HUOP. Prestar

informação é um elemento fundamental do exercício profissional do assistente social, pois

possibilita não só a mera transmissão de informações, mas acima de tudo, transmitir

conteúdos crítico-reflexivos com as demais informações (SARMENTO, 2012). Reforça-se a

importância do profissional estar ancorado em referenciais teóricos críticos, comprometidos

com a emancipação dos sujeitos e com os valores que direcionam as ações neste sentido, para,

a partir destes pilares, potencializar as informações veiculadas a conhecimentos sobre novas

formas de pensar e agir aos usuários.

Identificou-se a realização de encaminhamentos nas respostas de A2 e A3. A2

mencionou que realiza “[...] encaminhamento para rede de serviços, realizado geralmente

pós-alta ou quando há previsão de alta hospitalar para viabilizar o acompanhamento,

continuidade no tratamento, monitoramento de situações que se julgar importante.” O

entendimento da finalidade do encaminhamento, exposto pela profissional condiz com a ideia

apresentada por Trindade (2012, p.80), segundo a qual, o encaminhamento “[...] compõem a

ação de articulação interinstitucional para fins de acesso a serviços na perspectiva da garantia

de direitos.”

Para encaminhar o usuário para outros serviços é importante que o profissional tenha

conhecimento de todos os direitos do mesmo, dos serviços e benefícios sociais existentes,

bem como a disponibilidade e a finalidade dos mesmos.

48

Em alguns espaços ocupacionais como os hospitais, os assistentes sociais trabalham

sob a forma de escala, sendo que alguns profissionais trabalham em turnos diversificados.

Devido a esta rotatividade, é comum os profissionais destes locais adotarem o livro de

ocorrências ou de registros, a fim de manter os atendimentos registrados aos demais

assistentes sociais que trabalham no setor, informados acerca das ocorrências e pendências a

serem resolvidas42. Duas assistentes sociais do HUOP (A2 e A3) afirmaram que utilizam esse

recurso que é classificado por Trindade (2012) como parte da documentação técnica do

Serviço Social. A entrevistada A3 relatou que o livro de registro de atividades “[...] possibilita

a continuidade do serviço realizado em equipe.”

Cabe ao assistente social definir a forma e o conteúdo que dará a estes registros, sendo

imprescindível que o mesmo utilize referenciais críticos e os princípios do Código de Ética

para nortear a escolha das informações mais relevantes a serem compartilhadas com a equipe,

que facilitem a compreensão da situações em seus múltiplos determinantes e evitem a

fragmentação ou descontinuidade do atendimento.

Além destes elementos, também se constatou que duas profissionais (A2 e A3)

utilizam o plano de trabalho/intervenção. De acordo com Mioto e Nogueira (2007, p.287)

“[...] planejar a ação profissional garante a possibilidade de um repensar contínuo sobre a

eficiência, efetividade e eficácia do trabalho desenvolvido [...]”. O exercício profissional do

assistente social não pode se reduzir a ações dispersas e mecânicas, mas, deve ter um

propósito claro e uma organização que facilite o alcance dos fins desejados, o que demonstra

a importância do profissional elaborar um plano de intervenção, que sistematize suas ações e

norteie seu exercício, tendo em vista que planejar as ações diz respeito a um processo

contínuo, que deve ser constantemente revisto pelo profissional uma vez que a realidade está

em constante transformação.

As entrevistadas A2 e A3 mencionaram também fazer uso do acompanhamento, o

qual, segundo a assistente social A2 é “[...] realizado geralmente durante a internação do

paciente, quando detectado a necessidade.” De acordo com Mioto (2009) o

acompanhamento, em conjunto com a orientação, constituem ações de natureza

socioeducativa que interferem diretamente na vida dos indivíduos, grupos e famílias.

42

De acordo com Costa, M. D. H. (2007, p.336) “Tanto em hospitais quanto em unidades básicas de saúde, o

principal instrumento de registro das atividades são os livros de ocorrências. Ao analisarmos as anotações feitas

nos livros de ocorrências, das unidades pesquisadas em todos os níveis de complexidade, constatamos que em

geral as anotações são feitas de forma sumária e com o objetivo de repassar informações/recados, pendências

para o outro profissional.”

49

Da mesma forma que se objetivou descobrir os instrumentos e técnicas utilizados pelas

entrevistadas, esta pesquisa também visou apurar qual a importância que as profissionais vêm

na dimensão técnico-operativa para o exercício profissional.

Ao falar da importância desta dimensão, a profissional A1 atrelou-a ao objetivo

pretendido na ação do Serviço Social, o que remete a articulação desta dimensão com a

dimensão ético-política, que envolve a capacidade humana de estabelecer fins para as ações.

Quando se tem um objetivo, tem-se um propósito que se pretende alcançar, um fim. É através

dos meios que se realiza a passagem dos fins ideais para os fins reais. Assim, “[...] a

teleologia43 necessita da definição dos fins - o que implica uma dimensão ético-política – e da

escolha dos meios – o que implica, também, uma dimensão técnico-operativa [...]” (SANTOS,

2010, p.56). Ademais, deve igualmente ser considerada a dimensão teórica neste processo,

uma vez que ela influencia a escolha dos fins e a escolha dos instrumentos para a objetivação

humana. Daí então a impossibilidade de considerar a dimensão técnico-operativa apartada das

demais.

Embora os referenciais críticos e os valores em favor da classe trabalhadora sejam

fundamentais e favoreçam a operacionalização das ações dos assistentes sociais no sentido de

luta pelos direitos dos usuários, muitas vezes se apresentam desafios e obstáculos externos

que dificultam as ações dos profissionais nesta direção.

3.3.2 Protocolos Utilizados em Situações de Violação de Direitos

Em relação aos procedimentos/protocolos exigidos e adotados no percurso de

atendimento as situações de violação de direitos dos usuários, observou-se que a maioria das

respostas das profissionais contém elementos que se caracterizam como ações profissionais e

outros que são procedimentos44.

Em se tratando de situações que envolvem a violência, apenas as profissionais A1 e

A2 manifestaram os procedimentos/protocolos exigidos e adotados. A entrevistada A1

informou que todas as situações de violência são notificadas através de um formulário próprio

da vigilância epidemiológica. De acordo com a mesma, a partir da notificação realiza-se o

“[...] acolhimento, atendimentos necessários durante o internamento, contatos com serviços

43

“[...] o exercício profissional do assistente social requer que se apreenda da forma mais rica de determinações

possível a realidade (causalidade) e, diante disso, sejam pensadas as estratégias de intervenção (pôr teleológico)

para a satisfação de necessidades.” (LACERDA, 2014, p. 30). 44

De acordo com Trindade (2012) os procedimentos constituem-se na mobilização de um conjunto de atitudes e

exercício de habilidades.

50

especializados e os encaminhamentos necessários após a alta para continuidade dos

atendimentos, ou acolhimento conforme a situação.”

Já a assistente social A2 afirmou que diante de pacientes internados por agressão,

violência doméstica ou suspeita de e/ou abuso, preenche um cadastro sócio-econômico a fim

de conhecer o histórico e a situação sócio-familiar do paciente e posteriormente, conforme

avaliação, declarou que aborda o paciente em separado de seus familiares. A entrevistada

também informou que em casos que o paciente é adulto, ela o orienta “[...] quanto aos

recursos existentes na comunidade: Delegacia da Mulher e Abrigo de Mulheres no caso de

violência contra a mulher; Delegacia para registro de boletim de ocorrência no caso de

homens.” Ainda de acordo com a profissional, conforme a avaliação, é solicitado também o

atendimento psicológico. Quando se trata de crianças, a assistente social declarou que aciona

o setor de psicologia para abordagem conjunta, aciona o Conselho Tutelar e/ou Vara da

Infância e Juventude e Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS

I)45 para acompanhamento. Relatou também que aguarda o parecer dos órgãos de proteção

citados para liberação da criança.

Observa-se na fala da profissional A1 as ações de notificar, encaminhar, atender,

contatar e informar. Quando a profissional contata os demais serviços está ao mesmo tempo

informando-os e comunicando-os acerca das situações de violência. É possível notar que a

mesma desenvolve o seguinte procedimento: recebe os usuários, no momento em que realiza

o acolhimento. Nota-se que a profissional A2 adota como procedimentos o preenchimento de

cadastro sócio-econômico e a abordagem46 individual ao mesmo tempo em que realiza as

seguintes ações: avaliar, orientar e acionar outros serviços e profissionais. Ambas as

entrevistadas envolvem outros profissionais e serviços especializados para atender estas

situações e proteger os segmentos envolvidos. Sendo assim, reafirma-se a importância do

assistente social conhecer todos os serviços disponíveis na rede e responsáveis em atender

situações de violência, para poder encaminhar para os mesmos, acioná-los e informá-los sobre

situações desta natureza a fim de cessá-las.

45

Centro de Referência Especializado de Assistência Social que atende crianças, adolescentes e suas famílias,

residentes em Cascavel, que vivenciam situações de violação de direitos. 46

Ainda está em processo de amadurecimento entre os profissionais da categoria a definição do que seja a

abordagem. Segundo Santos, Souza Filho e Backx (2012, p.25), a abordagem tende a “[...] ser entendida como

um componente do trabalho do profissional, que faz parte dos procedimentos, mas não se caracterizando como

um instrumento específico.”

51

Vê-se pela fala da entrevistada A1 que existem protocolos específicos de registro de

situações como a violência, que é notificada através de um formulário próprio da vigilância

epidemiológica47.

Para as situações que envolvem pacientes em situação de rua com alta hospitalar a

assistente social A2 relatou que realiza preenchimento do cadastro socioeconômico (com os

dados possíveis) para obter informações sobre a realidade e histórico do paciente. Informou

também que tenta localizar familiares, conhecidos ou pessoas de referência que possam

acolher e prestar assistência necessária. Quando isso não é possível, a profissional declarou

que aciona o CREAS III48, através da ficha intersetorial de referência e contra referência,

solicitando providências.

Já a profissional A3 mencionou que os protocolos e procedimentos exigidos e

adotados para atender situações de violação de direitos que envolvem pacientes em situação

de rua são os seguintes: “Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico do

paciente; Acionar o CREAS III ou serviços a ele vinculados; Para encaminhamento para

albergue ou casa de passagem, acionar Plantão Social.” A entrevistada A1 não informou os

procedimentos e protocolos exigidos e adotados utilizados nestas situações.

Nota-se que as assistentes sociais A2 e A3 realizam alguns procedimentos e ações em

comum, como o preenchimento de cadastro socioeconômico e o acionamento do CREAS III.

De acordo com Trindade (2012) os cadastros de usuários integram a documentação

burocrático-administrativa utilizada pelo Serviço Social. A partir do cadastro socio-

econômico é possível o profissional levantar diversas informações sobre o usuários, as quais

são imprescindíveis para direcionar as ações, procedimentos e instrumentos a serem

empregados pelo assistente social e explicitar as demandas, necessidades e possíveis

violações de direitos dos sujeitos.

Verifica-se que diante de situações de violação de direitos que envolvem os pacientes

em situação de rua os procedimentos, protocolos e ações adotados pelas profissionais

envolvem também o acionamento de outros órgãos, caracterizando um trabalho articulado

com outras instituições. É possível notar que a assistente social A2 utiliza procedimentos de

modo a esgotar as possibilidades de localizar familiares e conhecidos dos usuários em

questão, para só em último caso contatar os serviços responsáveis.

47

Encontra-se em ANEXO B um modelo deste documento. 48

Centro de Referência Especializado de Assistência Social que atende adultos residentes em Cascavel que

vivenciam situações de violação de direitos.

52

Quando se trata de demanda reprimida, somente a entrevistada A2 informou que

procedimento/protocolo adota. Segundo a mesma, os usuários que a procuram são orientados

“[...] sobre forma legal de conseguir o atendimento necessário e de direito, inclusive a buscar

via Promotoria Pública caso necessário.” A orientação é uma ação que constitui uma das

competências do assistente social expressa na Lei que Regulamenta a profissão que afirma

que este profissional tem a competência de “orientar indivíduos e grupos de diferentes

segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no

atendimento e na defesa de seus direitos;” (BRASIL,1993, s.p.). Aqui, novamente se vê que a

dimensão técnico-operativa deve estar articulada com os conhecimentos teóricos críticos e

princípios do Código de Ética que primam pela luta e garantia de direitos dos usuários, pois,

somente tais referenciais potencializam os instrumentos e ações e fornecem ao profissional a

visão da necessidade de prestar informações e orientações amplas para os usuários e, ao

mesmo tempo, transmitir conteúdos crítico-reflexivos que os faça conhecer e lutar por seus

direitos, como se observa na atitude da profissional.

No que tange a falta de informações clínicas e atestados/laudos médicos, igualmente,

apenas a entrevistada A2 manifestou que procedimentos/protocolos adota. A mesma informou

que diante destas situações orienta e viabiliza “[...] o contato do usuário com médico

assistente para obter as informações clínicas e documentação/atestados e laudos e, caso

encontrado muita resistência/dificuldade, encaminhar para ouvidoria.” É possível notar que a

profissional explicita ações que desenvolve diante de tais violações de direitos dos usuários.

Observa-se que as ações que a assistente social realiza constituem-se em mediações entre os

pacientes e os médicos, e quando isto é inviabilizado, a profissional recorre a instância

responsável em registrar e solucionar as reivindicações dos usuários.

Também foi assinalado pelas profissionais A2 e A3, procedimentos e protocolos em

relação aos pacientes que não recebem visitas:

Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do

paciente. Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em

contato com a família solicitando que ela compareça ao hospital para

atendimento no Serviço Social. Caso não se consiga contato com familiar,

contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-la. No atendimento

presencial (ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da

família ao paciente. Explicitar a importância da família no

acompanhamento do paciente e nos cuidados pós-alta hospitalar. Caso se

perceba abandono do paciente, acionar o CREAS III (Centro de Referência

Especializado em Assistência Social que atende população adulta com

direitos violados). (A2)

53

Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do

paciente. Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em

contato com a família solicitando que ela compareça ao hospital para

atendimento no Serviço Social. Caso não se consiga contato com familiar,

contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-los. No atendimento

(ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da família ao

paciente. Explicitar a importância da família no acompanhamento do

paciente e nos cuidados pós-alta. Caso se perceba abandono do paciente,

acionar o Plantão Social, Centro POP, que ficam vinculados ao CREAS III.

(A3)

Num primeiro momento, as situações em que os pacientes não recebem visitas

aparentemente podem não se configurar como violação de direito. Porém, é possível verificar

que quando uma situação destas se apresenta, as profissionais desenvolvem ações e

procedimentos para averiguar porque estes pacientes não recebem visitas, a fim de descobrir

informações pertinentes aos mesmos e, logo, viabilizar este direito.

Observa-se que o preenchimento do cadastro socioeconômico precede às demais ações

e procedimentos adotados pelas profissionais, possibilitando abrir caminho para as

profissionais visualizarem os procedimentos e ações necessárias a serem efetivadas em cada

situação. Se constatado o abandono do paciente, que se caracteriza como violação de direito,

realizam ações no sentido de acionar os serviços responsáveis e especializados em atender os

segmentos em questão. Em casos em que os pacientes tornam-se acamados e se constata a

negação de cuidados por parte da família, acionam o CREAS III para avaliação e conduta em

relação a estas situações. Em relação aos pacientes que necessitam de acompanhante e a

família se nega a acompanhar, a entrevistada A3 informou que solicita o comparecimento dos

familiares para atendimento no Serviço Social e quando os mesmos se recusam a comparecer,

aciona o CREAS III ou município de origem do paciente. Quando há a supeita dos pacientes

estarem em situação de rua, A2 e A3, informaram que acionam o Centro POP (serviço

municipal que atende a essa demanda) para verificar a possível identificação destes sujeitos.

As assistentes sociais A2 e A3 informaram os procedimentos/ protocolos que adotam

em relação as situações de violação de direitos que envolvem pacientes estrangeiros, haitianos

e/ou provenientes de outros estados. A profissional A3 relatou que preenche cadastro

socioeconômico, entra em contato com cidade de procedência (quando se trata de outros

estados) a fim de informá-los da situação, e quando necessário, entra em contato com o

CREAS III. A assistente social A2 explicitou que quando há a dificuldade de comunicação

muito grande com os estrangeiros, principalmente os haitianos, devido ao idioma, aciona o

“[...] tradutor voluntário, através de contato telefônico (que informalmente se dispõe a nos

auxiliar, desde que não em horário de trabalho).” A profissional disse que aproveita este

54

momento para “[...] coletar dados necessários (antes incompletos) e se possível, com intuito

de obter melhor entendimento, realizar as orientações e encaminhamentos pertinentes.”

Nota-se que há um esforço da profissional A2 em possibilitar que os estrangeiros

compreendam as informações e que ela também os compreenda, pois a informação clara e

adaptada à sua condição cultural é direito destes usuários, cuja efetivação, diante da

dificuldade apresentada, tende a não acontecer. Para evitar que isso ocorra, a assistente social

A2 aciona o tradutor a fim de facilitar o diálogo e entendimento das informações. Ao mesmo

tempo, realiza outras ações que consistem em coletar os dados, orientar e encaminhar

conforme as necessidades detectadas.

Diante das situações que envolvem a falta ou dificuldade de transporte para as mães

acompanharem os filhos recém-nascidos internados em UTIs, obteve-se apenas a resposta da

entrevistada A2, que relatou que realiza os seguintes procedimentos/protocolos e ações:

Orientar a mãe/responsável e fazer encaminhamento (formal) para UBS de

origem, solicitando o transporte; caso encontrado dificuldade (o que sempre

acontece quando o paciente é de Cascavel), solicitar intervenção do

Conselho Tutelar via Ficha Intersetorial de Referência e Contra Referência. [...] Quando o paciente é de Cascavel: geralmente a mãe vem para o

hospital acompanhar o filho internado de dia e volta para casa à noite para

dormir. (...)Quando o paciente é de outro município: entra-se em contato

com Secretaria de Saúde de origem, solicitando o transporte diário da

mãe/responsável ou o custeio de local particular para o pernoite, sendo o

acompanhamento realizado ao paciente durante o dia; em alguns casos

(conforme avaliação e aceitação da usuária) as mães são encaminhadas a

uma casa de apoio oferecida e mantida por pessoas ligadas a igreja (sem

participação por parte do poder público).

A profissional desenvolve diferentes ações diante das situações desta natureza, como

orientar, solicitar e encaminhar. Vê-se também que a mesma desenvolve ações de caráter

emergencial assistencial, que são caracterizadas por Costa, M. D. H. (2007) como ações que

visam agilizar a obtenção de certos benefícios como internamentos, transporte, abrigo entre

outros.

Apenas a assistente social A2 expôs os procedimentos/protocolos adotados nas

situações que dizem respeito a não liberação de acompanhante para a gestante em trabalho de

parto e durante o parto. Em situações desta natureza a profissional informou que estabelece

[...] contato com equipe do Centro Obstétrico (CO) para informar e solicitar

a liberação de acompanhante e/ou orientar a paciente e familiares a

solicitá-lo junto a equipe no CO, argumentando tratar-se de um direito

garantido em Lei Federal; Diante da negativa (que sempre acontece) sob o

55

argumento da falta de espaço ou espaço inadequado, orientar a acionar a

ouvidoria ou Ministério Público.

Como forma de garantir esse direito, a entrevistada desenvolve ações junto a equipe no

sentido de informá-los e solicitar a liberação e também desenvolve ações com as pacientes e

familiares no sentido de orientá-los a solicitar a efetivação deste direito que é garantido em

Lei e, não sendo possível, orienta os mesmos a acionar a ouvidoria ou Ministério Público.

Em relação a identificação dos instrumentos e técnicas ante às situações de violação de

direitos dos usuários, se obteve como respostas:

Entrevista, acolhimento, relatório social, preenchimento cadastro do

Serviço Social, encaminhamento através da ficha intersetorial de referência

e contra referência, e contatos forma direta (telefone) com outros

profissionais e serviços. (A1)

Quando possível o contato e diálogo com o paciente/usuário: Acolhimento,

entrevista com coleta de dados possíveis através do Cadastro do SSocial,

informações e orientações pertinentes, além de encaminhamentos e

solicitações de providências a serviços e órgãos (de proteção) competentes,

conforme legislação (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Maria da

Penha, Estatuto do Idoso, etc.); Quando inviabilizado o contato e o diálogo

com o paciente/usuário: o atendimento mencionado é realizado ao seu

responsável ou a situação encaminhada aos serviços e órgãos competentes

para providências. (A2)

Notificação, instrução, orientação às pessoas envolvidas e órgãos

competentes, com encaminhamentos e solicitação de providências

adequadas conforme preconiza a legislação vigente. (A3)

Como instrumento49 mencionado foi a entrevista, citado pelas profissionais A1 e A2.

As assistentes sociais também declararam utilizar alguns procedimentos/técnicas como

acolhimento, preenchimento do cadastro social/coleta de dados. Da mesma forma, também se

identifica algumas ações profissionais como o encaminhamento, mencionado por todas as

entrevistadas, informações (documentação relatório social), orientações, notificação e

instrução.

As entrevistadas A2 e A3 explicitaram pautar-se na legislação para desenvolver as

ações referentes às situações de violação de direitos, o que evidencia a dimensão ético-política

das profissionais, que vêm e têm a legislação como referência para utilizar os instrumentos e

49

Embora as profissionais não tenham citado neste momento, declararam em outro momento que utilizam

também reuniões, estas, no atendimento às situações que envolvem os adolescentes dependentes químicos (A2 e

A3). A menção a este instrumento pode ser visualizada nas respostas das profissionais, referente a questão 7

(sete), que está na íntegra disponível no APÊNDICE B.

56

técnicas e realizar os procedimentos e ações diante das situações de violação de direitos dos

usuários.

É possível observar que há a socialização de informações/conhecimentos sobre tais

situações por parte das três entrevistadas. A profissional A1 por ter informado que faz

relatório social destas situações e contatos com outros serviços e as demais assistentes sociais

(A2 e A3) por terem declarado que solicitam providências aos órgãos e serviços competentes

para atendimento destas situações, possibilita inferir que para solicitar tais providências, as

profissionais têm que socializar tais situações com outros profissionais e serviços.

Em relação a elaboração do relatório social, mencionada pela assistente social A1,

componente da ação profissional, deve-se assinalar que é extremamente relevante o assistente

social desenvolver um relatório com bons argumentos e informações claras e essenciais para a

compreensão da situação em questão. Como afirmam Lisboa e Pinheiro (2005, p.206) “[...]

muitos dados resultantes de um estudo minucioso e bem fundamentado são essenciais para

posteriores encaminhamentos. [...]”. Vê-se, então, a responsabilidade do assistente social para

com as vidas dos sujeitos que tem seus direitos violados, uma vez que este profissional é um

dos responsáveis em comunicar os órgãos competentes a respeito destas situações.

Nas situações de violência que atingem os mais variados segmentos

[...] a responsabilidade pela notificação é função de toda a equipe. O

assistente social deve colaborar nessa ação, mas não é atribuição privativa do

mesmo. Cabe ao profissional de Serviço Social fazer uma abordagem

socioeducativa com a família, socializar as informações em relação aos

recursos sociais existentes e viabilizar os encaminhamentos necessários.

(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p.51).

Neste sentido, observa-se que as profissionais entrevistadas efetivam estas ações e

procedimentos em situações de violação de direitos dos usuários. Embora as profissionais não

tenham declarado que realizam abordagens nestas situações, é possível inferir, da resposta de

todas as entrevistadas, que este é outro procedimento adotado pelas mesmas em situações de

violação de direito. Isso porque, ao estabelecer contato com o usuários, seja para entrevistá-

los ou orientá-los, realiza concomitante a abordagem, pois se aproxima dos mesmos com

algum objetivo, seja para informações ou para orientá-los.

57

3.3.3 Desafios e Conquistas da Intervenção Profissional

Indagou-se às entrevistadas acerca dos desafios que as mesmas encontram para

operacionalizar suas ações diante das situações de violação de direitos dos usuários, ao que as

mesmas responderam:

Primeiro é garantir que o atendimento de sua necessidade seja atendida,

mas o desafio é que muitas vezes o acesso a bens e serviços não estão

disponíveis na rede de atendimento do SUS ou de assistência social, ou na

própria instituição o que limita os encaminhamentos ou a sua solução de

forma imediata, muitas situações se faz necessário a intervenção de

instâncias jurídicas e/ou órgãos de proteção como conselhos tutelares e

ministério público, promotorias. (A1)

Falta de políticas sociais e interesse do Poder Público para providenciar

local adequado para o acolhimento, assistência e reabilitação às pessoas em

situação de rua, quando se encontram em situações como as descritas

acima, ou seja, dependentes para os cuidados, vítimas de violências; Falta

de Políticas Públicas para abarcar o contingente de estrangeiros no país de

forma a prestar-lhes a assistência necessária; Necessidade de maior

investimento como um todo (em todas as esferas de Governo) para a saúde;

também maior investimento e comprometimento de profissionais (em todas

as categorias) na educação e prevenção de doenças, agravos e violências;

otimização dos leitos hospitalares e serviços de saúde; diminuição da

burocracia na rede, enfim, mais comprometimento e menos mercantilização

da vida e saúde do ser humano – usuário dos serviços; Falta de

estabelecimento de protocolo pela Direção do HU a ser cumprido pelos

profissionais médicos (preceptores, residentes, acadêmicos de medicina) no

fornecimento de informações clínicas ao paciente e familiares, bem como no

fornecimento de atestados e laudos, estes pela ortopedia; Necessidade da

garantia do direito à mãe/pais ou responsáveis de acompanhar o recém-

nascido internado em UTIs e deste de ser acompanhado, através da

viabilização do transporte público aos responsáveis (que dele necessitem).

Ressalta-se nesta questão que diversas tentativas já foram por nós do SS

encaminhadas a Secretaria Municipal de Saúde de Cascavel, ao Conselho

Tutelar e inclusive foi dado conhecimento à Promotoria da Vara da Infância

e Juventude de Cascavel, porém, salvo pequeno avanço por curto prazo de

tempo, ainda não se conseguiu resolutividade no assunto; Necessidade de

espaço/local adequado no HU para garantir, à mãe (devido ao aleitamento

materno ou mesmo o acompanhamento em tempo integral) a sua

permanência junto ao filho recém-nascido internado em UTI, se assim ela o

desejar; Falta de salas de atendimento internas ao Hospital para o serviço

social e a criação do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) para

atender e encaminhar para os devidos setores a demanda externa, demanda

esta ainda atendida e orientada majoritariamente pelo SS devido a sua

localização externa; Falta de apoio/comprometimento dos gestores na busca

de alternativas ou nos encaminhamentos das situações descritas. (A2)

Falta de políticas públicas para estrangeiros domiciliados no país. Falta de

uma casa de apoio ou inexistência de um local estruturado para acolher

pessoas, desprovidas de recursos e de moradia, até o seu completo

58

restabelecimento. Perda dos laços familiares e fragilidade na distribuição

de papéis. Falta do Serviço de Atenção ao Usuário (SAU). Fragmentação no

atendimento ao paciente, onde ele não é visto/tratado na sua integralidade.

Subordinação a um sistema o qual não prevê/oportuniza o manifesto dos

envolvidos para a estruturação organizacional. (A3)

É possível observar que as três profissionais citaram desafios no âmbito do próprio

Estado, seja pela indisponibilidade de bens e serviços na rede, seja pela falta de políticas

sociais para atendimento da população ou pela própria falta de condições físicas para

poderem realizar os atendimentos50.

Os desafios apresentados pelas profissionais permitem constatar que a mesma

sociedade que “[...] fornece as bases históricas para o desenvolvimento de demandas

vinculadas à liberdade (direitos, garantias sociais e individuais, autonomia, autogestão),

simultaneamente bloqueia e impede sua realização [...]” (IAMAMOTO, 2009b, p.34) a

começar pelo próprio Estado, que não oferece condições para que os assistentes sociais

possam operacionalizar suas ações diante das situações de violação de direitos.

Tendo em vista que os assistentes sociais constituem uma categoria que está

majoritariamente em constante luta por melhores condições de trabalho, pela garantia e

ampliação de direitos e avanços para os usuários, pretendeu-se descobrir também quais

conquistas as profissionais do HUOP alcançaram em relação à operacionalização de suas

ações diante das situações de violação de direitos dos usuários. A este respeito, as mesmas

responderam que:

As conquistas são acumuladas pelo trabalho da equipe de A.S do setor,

outros profissionais do hospital equipe multidisciplinar ou mesmo através

da rede de proteção tanto assistência ou da saúde dos outros órgãos que

compõe a rede. Mas acredito que em muitos casos o serviço social identifica

a situação, a qual se desencadeia no processo de atendimento da violação

de direitos, e acaba sendo uma conquista ou objetivo alcançado. (A1)

Nos últimos dois anos o SS tem participado da capacitação junto aos novos

residentes de medicina, oportunidade que tem sido aproveitada para, entre

outras questões, esclarecer sobre: nossas funções, bem como as que não nos

competem, conforme legislação pertinente (principalmente Lei que

regulamenta a profissão e código de ética do Assistente Social); dificuldades

50

Verifica-se que as próprias profissionais estão tendo direitos violados, já que, conforme apontado pela

assistente social A2, há a falta de salas de atendimento internas ao hospital para o serviço social. É uma violação

de direito das profissionais pois esta condição contraria o disposto no artigo 7º do Código de Ética do Assistente

Social, em que encontra-se expresso que é direito deste “dispor de condições de trabalho condignas, seja em

entidade pública ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;” (CONSELHO

FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p.31).

59

encontradas em relação ao direito dos usuários – pacientes e/ou familiares,

em conseguir informações clínicas, atestados e laudos, sendo estes direitos

legais dos usuários e dever legal do médico assistente; De tanto persistir

nas solicitações (verbais e documentadas) junto às Direções do HU e, com a

abertura de vagas para Residência médica em ortopedia a partir do segundo

trimestre deste ano de 2014, os atestados e laudos, antes geralmente não

fornecidos em tempo hábil, agora estão sendo fornecidos aos usuários por

estes médicos Residentes; Igualmente de tanto persistir nas solicitações

(verbais e documentadas) junto às Direções do HU, conseguimos provocar

uma reunião entre gestores municipais e do HU em conjunto com o S S,

para elaboração de protocolo de atendimento aos pacientes em situação de

rua, com alta hospitalar (conquista ainda em andamento);O trabalho em

rede tem apresentado perspectivas de melhoras ultimamente, principalmente

a partir da criação do instrumental “Ficha Intersetorial de Referência e

Contra Referência” pela Rede Intersetorial de Atenção e Proteção Social

municipal de Cascavel, embora ainda se perceba (enquanto SS do HU) que

basicamente estamos apenas fazendo as referências, sendo praticamente

nula as contra referências;Também tem sido implantado em nível Federal –

Ministério da Saúde, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN) com a Ficha de Notificação/ Investigação Individual de Violências

Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências, principalmente contra crianças e

adolescentes, mulher e pessoa idosa. Com isso, mesmo que com deficiências

principalmente pelo atraso no encaminhamento destes dados para o SS,

estamos conseguindo intervir em mais situações que antes não nos

chegavam. Assim como é lógico, estes dados estão sendo encaminhados

para a finalidade para a qual foram criados a nível Federal, entre elas

estatísticas; Atuação no projeto multiprofissional denominado “Alta

Programada” que tem como objetivo preparar os cuidadores de pacientes

portadores de afecções crônicas incapacitantes (acamados) durante o

período de internação hospitalar, desde sua admissão na unidade até a alta,

para o desempenho dos cuidados domiciliares. O serviço social atua na

triagem do cuidador, além de realizar orientações e esclarecimentos acerca

do referido projeto e encaminhamentos à rede de serviços, conforme

demanda/avaliação social, pertinentes à sua profissão. (A2)

Participação na capacitação para novos residentes onde o serviço social

expõe suas atribuições dentro do hospital. Fomento a reuniões com gestores

municipais para elaboração de protocolo de atendimento adequado a

pacientes em situação de rua.Trabalho em rede avançando, com a criação

municipal da ficha de referência contra referência para notificações e

encaminhamentos.Maior visibilidade da atuação do Serviço Social com a

implantação do Prontuário Eletrônico de Paciente (PEP). Distribuição nas

diferentes alas de memorando com a descrição das situações em que o

Serviço Social deve ser acionado. (em anexo). Acredito, numa maior

credibilidade, com a permanência de uma equipe coesa, atuante e

comprometida com os mesmos ideais de luta permanente contra tudo oque

não compete mais a um Serviço Social contemporâneo. (A3)

Observa-se várias conquistas no que tange a operacionalização das ações das

profissionais diante das situações de violação de direitos dos usuários. Através da fala da

profissional A1, se verifica que estas conquistas foram obtidas não só no âmbito da equipe do

serviço social, mas também em conjunto com outros profissionais da instituição e rede de

60

serviços. Ademais, a profissional considera como conquista a própria identificação que o

serviço social faz das situações de violação de direitos durante os atendimentos dos usuários.

A profissional A2 explicita em sua fala conquistas alcançadas em decorrência da

persistência da equipe em relação a algumas situações, o que demonstra que o exercício das

profissionais é permeado por lutas e enfrentamento na instituição.

A operacionalização dos princípios inscritos no Código de Ética que norteiam o

exercício, é uma tarefa árdua, uma vez que este se dá em meio a tensões e jogo de forças que

envolvem as instituições em que as profissionais atuam e os demais profissionais inseridos

nestas, para além da análise que situa o trabalho profissional na órbita da sociedade

capitalista, o que aprofunda e complexifica as expressões da “questão social”.

Porém, é esta mesma análise que admite e assume as lutas sociais, ao mesmo tempo,

como inerente ao próprio capitalismo e como possibilidade de ruptura com o mesmo, na

potencialização dos processos de autonomia dos sujeitos e na garantia e defesa intransigentes

dos direitos sociais como meio para se alcançar a emancipação dos sujeitos51.

Para tanto, se faz imprescindível a articulação entre as dimensões do exercício

profissional com o suporte de referenciais críticos e valores emancipatórios, pois através

destes, o profissional tem a perspectiva de intervenção, calcada na luta social como um

processo contínuo, cujas respostas profissionais situam-se no tempo presente, exigindo a

utilização de instrumentos, técnicas e procedimentos que contribuam para incentivar e

mobilizar os “[...] usuários na luta pelos seus direitos – individuais e coletivos – conquistados

e a serem ampliados, em todas as áreas; diferente do simples acesso a um recurso.”

(VASCONCELOS, 2007, p.269, grifo da autora).

Todas as entrevistadas declararam conquistas em relação a rede de serviços. As

profissionais A2 e A3 afirmaram que as melhorias se deram em função da criação da ficha

intersetorial de referência e contra referência pela rede intersetorial de atenção e proteção

social municipal de Cascavel, todavia, a profissional A2 observou, que ainda não está sendo

muito realizada a contra referência em resposta as referências que elas efetivam.

51

Se por um lado continua sendo necessária a defesa dos direitos humanos, por outro também é preciso atentar-

se para o fato de que quando se defende os direitos humanos no capitalismo, também se corre o risco de manter

e/ou reafirmar o que torna necessária a defesa dos mesmos, que é a falta de condições mínimas de existência dos

sujeitos (BATISTA, 2013). Por isso, é importante os profissionais terem clareza deste paradoxo para não

incorrerem em um exercício que reafirme as contradições capitalistas e que ao mesmo tempo não transforme a

realidade social.

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como proposta de pesquisa apreender como se realiza a dimensão

técnico - operativa do exercício profissional do assistente social do Hospital Universitário do

Oeste do Paraná de Cascavel em situações de violação de direitos dos usuários no primeiro

semestre de 2014.

Para tanto, realizou-se abordagens teóricas e bibliográficas referentes a “questão

social” e a relação com a política social de saúde e esta como espaço socio ocupacional do

assistente social. No caso específico deste estudo, sendo este espaço ocupacional o Hospital

Universitário do Oeste do Paraná – HUOP. Em seguida, abordou-se sobre o Serviço Social e

o exercício profissional do assistente social constituído pelas dimensões teórico-

metodológica, ético-política e técnico-operativa, sobretudo, em situações de violação de

direitos.

Ao efetivar a análise da dimensão teórico-metodológica e ético-política do assistente

social no HUOP, foi possível notar que as profissionais entrevistadas se apropriam de um

conjunto amplo de referências ético-políticas, dentre estas, o Código de Ética profissional,

legislações do SUS, a Lei que Regulamenta a Profissão, a Lei Orgânica da Saúde - Lei

8.080/1990, a Constituição Federal e a Lei 8.142/1990. Como referencial teórico-

metodológico constatou-se que as profissionais se apropriam de conteúdos da formação

acadêmica, da teoria social crítica e de autores que tratam da saúde pública a exemplo de

Maria Inês de Souza Bravo. Identificou-se que em algumas falas das entrevistadas as

dimensões não estão separadas. Ao mesmo tempo que isto demonstra o caráter indissolúvel

destas dimensões, explicitando a totalidade das mesmas no exercício profissional, também

evidencia uma certa dificuldade das profissionais em distinguir os elementos constitutivos de

cada dimensão. Todavia, como se analisa o exercício profissional sob as perspectiva de

totalidade, entende-se que esta dificuldade não se constitui em impeditivo para a execução

competente de tal exercício.

Em relação as violações de direitos dos usuários, constatou-se que diversas situações

desta natureza ocorreram durante o primeiro semestre de 2014, tais como: falta de leitos ou

acomodações adequadas aos usuários, não liberação de acompanhantes à gestante em situação

de parto, falta de informações clínicas por parte da equipe médica ao paciente/familiares,

pacientes em situação de rua com alta hospitalar, acamados e dependentes para todos ou quase

todos os cuidados, em situação de abandono, sem pessoas para acolhê-los ou de local para

serem encaminhados, exclusão do mercado de trabalho, negligência e violência contra criança

62

e adolescente, falta de informações claras para os usuários de origem estrangeira acerca de sua

condição de saúde, falta de transporte para mães (sem condições financeiras) de bebês com

internamentos nas UTIs, dependência química de adolescentes e demanda reprimida para

exames, consultas, internações e cirurgias eletivas.

Especificamente, no que tange a dimensão técnico-operativa do assistente social em

situações de violação de direitos, averiguou-se que para responder estas situações as

profissionais do HUOP desenvolvem diversas ações como: orientar, encaminhar, notificar,

informar e emitir/realizar relatório social acerca destas situações. Como instrumentos,

constatou-se o emprego da entrevista, da observação e da reunião diante destas ocorrências.

Neste sentido, se confirmou com esta pesquisa que as profissionais entrevistadas

desenvolvem ações com a finalidade de mobilizar e comunicar os serviços e autoridades

responsáveis pela resolubilidade das situações de violação de direitos, afirmando a

necessidade de articulação com os organismos de defesa de direitos, tais como: Ouvidoria,

Delegacias, Conselho Tutelar, Promotoria e Ministério Público.

Ademais, também se confirmou que a dimensão técnico-operativa do exercício

profissional das assistentes sociais da instituição referida se realiza através da elaboração de

relatórios, notificações, referência e contra-referência e do emprego de entrevistas. No

entanto, foi possível verificar também o desenvolvimento de outras ações, instrumento e

procedimentos realizados pelas assistentes sociais entrevistadas.

Constatou-se, ainda, o comprometimento das profissionais com os ideais do projeto

ético-político da categoria, sendo o mesmo expresso em suas falas, uma vez que as mesmas se

referiram em vários momentos a elementos presentes no Código de Ética do assistente social

ao mesmo tempo que expuseram a dimensão ético-política do seu exercício, sobretudo nas

situações de violação de direitos. Neste sentido, as assistentes sociais explicitaram os

seguintes elementos: defesa dos direitos, construção de uma sociedade mais justa,

emancipação, liberdade, compromisso do profissional com a autonomia, defesa de um projeto

societário democrático, conquista de espaços que partilham os mesmos ideais de igualdade e

justiça e exercício satisfatório da cidadania, assinalando a conexão com a dimensão ético-

política da profissão.

No tocante ao objeto ora em estudo, todas as violações de direitos apontadas nesta

pesquisa têm relação direta com o que foi estabelecido historicamente como direito legal. A

maior constatação destas situações foi a violência de ordem institucional, cometida pelo

próprio Estado.

63

Em relação à operacionalização das ações diante das situações de violação de direitos,

verificou-se que as assistentes sociais do HUOP obtiveram conquistas, resultantes de lutas e

enfrentamentos cotidianos, sendo estas expressas através do trabalho da equipe do hospital,

entre as assistentes sociais, destas com outros profissionais da instituição e entre a própria

rede de serviços.

Entretanto, foi possível notar que ainda persistem desafios, sendo grande parte destes

no âmbito do próprio Estado, seja pela indisponibilidade de bens e serviços na rede, seja pela

falta de políticas sociais para atendimento da população ou pela própria falta de condições

físicas para as próprias profissionais poderem realizar os atendimentos.

Muitas foram as situações de violação de direitos que se apresentaram às assistentes

sociais do HUOP durante o primeiro semestre de 2014. É no contexto das lutas sociais, em

meio às contradições que permeiam a sociedade capitalista que os assistentes sociais devem

mobilizar meios, instrumentos, técnicas, procedimentos e realizar ações para responder estas

situações, a fim de garantir a efetivação dos direitos dos usuários, pautados em referenciais

críticos e em valores condizentes com a emancipação da classe trabalhadora.

É no cotidiano que o assistente social utiliza os instrumentos, técnicas e procedimentos

com a finalidade de assegurar a defesa dos direitos dos usuários, conforme expresso no

Código de Ética da profissão, na defesa intransigente dos direitos humanos e na ampliação e

consolidação da cidadania, tendo em vista à garantia dos direitos das classes trabalhadoras.

Ao mesmo tempo que se apresenta como um dos princípios éticos do Serviço Social, a

defesa dos direitos também se coloca como um desafio para os profissionais, já que a mesma

sociedade que os estabelece, impede sua realização, o que exige dos assistentes sociais não só

a superação de um pensamento fatalista acerca da defesa dos direitos como também o

aprimoramento constante do acervo operativo com o suporte das dimensões teórico-

metodológica e ético-política a fim de garantir a efetivação destes.

64

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71

APÊNDICES

72

APÊNDICE A - Termo De Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

73

74

APÊNDICE B – Questionário e Respostas

QUESTIONÁRIO

Título do Projeto: O exercício profissional do assistente social do Hospital Universitário do

Oeste do Paraná de Cascavel: a dimensão técnico-operativa em situações de violação de

direitos.

Pesquisadora Responsável: Prof. Ms. Cristiane Carla Konno

Pesquisadora Colaboradora: Aline Fernanda Junges

1) Em sua opinião, qual a importância da dimensão teórico-metodológica para o exercício

profissional? Quais referências teóricas utiliza para exercer a profissão?

2) Qual a importância da dimensão ético-política para o exercício profissional? Quais

referências ético-políticas utiliza para exercer a profissão?

3) Quais instrumentos e técnicas você utiliza no seu exercício profissional? Qual a

importância da dimensão técnico-operativa para o exercício profissional?

4) Quais situações de violação de direitos dos usuários têm sido mais frequentes no cotidiano

profissional do seu exercício profissional no decorrer do primeiro semestre de 2014?

5) Quais desafios encontra para operacionalizar suas ações diante das situações de violação de

direitos dos usuários?

6) Quais conquistas alcançou em relação à operacionalização de suas ações diante das

situações de violação de direitos dos usuários?

7) Neste percurso de atendimento as situações de violação de direitos dos usuários quais os

procedimentos/protocolos exigidos e adotados?

8) Quais instrumentos e técnicas utiliza em situações de violação de direitos dos usuários?

75

RESPOSTAS DAS PROFISSIONAIS

QUESTÃO 1

PROFISSIONAL A1

1) Para atuação se faz necessário junção, encontro ou seja, a articulação entre teoria e prática,

pois uma prática profissional sem embasamento teórico não acrescenta nenhuma mudança ou

até mesmo pode trazer prejuízo para o usuário. Lembrando que quando estamos realizando

um atendimento temos uma responsabilidade técnica e ética com o usuário. Acredito que a

dimensão teórica-metodológica oferece proporciona a qualidade dos atendimentos/orientações

encaminhamentos, ou seja um exercício profissional qualificado, não apenas operacional mas

com fundamentação teórica. As referências teóricas utilizadas partem da formação acadêmica

do serviço social, da linha crítica ao sistema capitalista e das relações sociais estabelecidas na

sociedade, e também de conhecimentos construídos na política pública de saúde, legislações

de saúde, ou outras leis de garantia de direitos sociais (idoso, criança adolescente, direito

usuário do SUS entre outra) e também das produções teóricas sobre a determinação social do

processo saúde-doença.

PROFISSIONAL A2

1) Entendo que a dimensão teórico-metodológica é de fundamental importância para o

exercício da profissão, uma vez que um dos diferenciais desta profissão em relação às demais

é a sua intervenção nas expressões da questão social que no caso do Serviço Social (SS) no

Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), interferem nas questões de saúde, dentre

elas a desregulamentação das relações trabalhistas, o que se reflete na dificuldade de

encaminhamento dos pacientes para benefícios e proteção pós-alta e em internamentos

ocasionados por acidentes de trabalho; a pobreza expressa na falta de condições de famílias

para cuidar de entes acamados, pacientes sem endereço fixo, condições de moradia e

alimentação precárias que ocasionam problemas de saúde, entre outros. Percebe-se também

enquanto expressão da questão social a violência, tanto física quanto psicológica, tratando-se

com situações de pacientes internados vítimas de violência seja por agressões, abusos e

também por negligência. A dependência química também se configura como expressão da

questão social, verificada não somente na Ala Psiquiátrica do HU, mas como motivo de

outros internamentos (acidentes de trânsito ocasionados por uso abusivo de bebidas alcoólicas

por exemplo). A falta de vínculos familiares ou a fragilidade destes laços também se constitui

enquanto uma manifestação da questão social, verificado em situações de pacientes internados

como desconhecidos, abandonados por suas famílias. Enfim, muitas expressões da questão

social podem ser verificadas no Hospital, pois apesar de o objetivo ser o tratamento para o

reestabelecimento da saúde, as pessoas trazem consigo suas realidades que interferem nesse

processo de recuperação. Neste sentido e daí a importância da dimensão teórico-metodológica

que possibilite uma análise mais ampla das situações que se apresentam (superando o senso

comum), as razões para a ocorrência destas situações e o entendimento dos diferentes

aspectos sociais relacionados a elas e que interferem no processo saúde-doença (família,

situação trabalhista, acesso a benefícios e direitos sociais, dentre outros), para, a partir disso,

elencar as possibilidades de intervenção e encaminhamentos numa perspectiva

76

transformadora. Quanto as referências teóricas para o exercício da profissão, procura-se atuar

na defesa e garantia dos direitos sociais dos usuários, numa perspectiva crítica, tendo como

base os referenciais teóricos da formação acadêmica, os princípios do nosso Código de Ética,

Declaração dos Direitos Humanos e legislações pertinentes (Estatuto da Criança e do

Adolescente, Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, entre outras), as quais preconizam o

atendimento integral ao ser humano/usuário.

PROFISSIONAL A3

1) É essencial e se torna necessária a partir do momento em que a demanda se apresenta ao

profissional e requer deste uma intervenção competente e segura, o que exige do Assistente

Social, conhecimento da realidade onde atua fundamentada nos seus referenciais teóricos,

além de capacitação permanente em que permeiam os diversos saberes para acompanhar o

movimento e a evolução da sociedade. É fundamental uma postura investigativa para

podermos vislumbrar a necessidade do outro, respeitando suas particularidades e levando em

consideração suas especificidades por meio da escuta qualificada, a partir de um diagnóstico

no intuito de elaborar uma operação de atuação que seja objetiva, clara e resolutiva, fugindo

do senso comum. Em relação às referências teóricas fundamentais para o exercício da

profissão, faz-se necessário uma atuação profissional pautada na recusa ao autoritarismo e

arbitrariedade, entendendo o movimento crítico dialético como pilar para uma atuação

condizente com os princípios preconizados pelo código de ética profissional. Tendo a

liberdade como valor central, o que significa a livre escolha entre alternativas concretas,

reforçando seu compromisso com a emancipação e autonomia dos indivíduos sociais. A

compreensão da realidade em uma conjuntura de exploração e alienação de uma classe sobre

outra.

QUESTÃO 2

PROFISSIONAL A1

2) A sua importância está relacionada à posição que a categoria assumiu a favor da construção

de uma sociedade mais justa para todos para emancipação humana, baseado em valores éticos

que possam nortear a prática do assistente social, e seu posicionamento em defesa da classe

trabalhadora e do processo democrático em todas as instâncias/instituições sociais. O

principal é o projeto ético-político do Serviço Social, expresso no código de ética, mas na área

da saúde há também várias referências que remetem e defendem uma nova forma de relações

entre as pessoas, baseados em processos democráticos as próprias legislações SUS, saúde

coletiva, que garantem o direito à saúde, mas também identifica-se que a saúde ou a condição

de saúde da população ou grupo está relacionada diretamente à sua condição social.

PROFISSIONAL A2

2) A importância da dimensão ético- política para o exercício profissional está relacionada a

liberdade concebida como possibilidade de escolha, evidenciando o compromisso do

profissional com a autonomia, emancipação e defesa dos direitos humanos. Esta dimensão

vincula o profissional a valores éticos (e não morais) e na defesa de um projeto societário

77

democrático, livre da dominação e exploração da classe trabalhadora, etnia e gênero. As

principais referências ético-políticas utilizadas para nortear o exercício profissional são: o

Código de Ética do Assistente Social, a Lei que Regulamenta a Profissão, a Lei Orgânica da

Saúde – Sistema Único de Saúde (Leis 8.080/1990 e 8.142/1990), Constituição Federal e

autores que trazem a trajetória e as lutas pela saúde pública como direito de todos, como por

exemplo, Maria Inês de Souza Bravo.

PROFISSIONAL A3

2) É o próprio reconhecimento da profissão que se faz presente nas diferentes áreas de atuação

com a proposta de luta pelo interesse dos usuários, conquistando espaços que partilham os

mesmos ideais de igualdade e justiça, onde o mínimo necessário não é suficiente o bastante

para o exercício satisfatório da cidadania. Requer unicidade enquanto categoria e batalha

diária na busca de respostas para as diversas lacunas que se apresentam na cotidianidade da

população menos favorecida. Para uma boa atuação é indispensável à leitura dos autores que

materializam o exercício profissional, além da legislação, a exemplo: Código de Ética

Profissional, Lei de Regulamentação da Profissão, Lei Orgânica da Assistência Social, Lei

8080 (Sistema Único de Saúde), Constituição Federal.

QUESTÃO 3

PROFISSIONAL A1

3) No HUOP realizamos muitos atendimentos individuais, desta forma utilizamos da

entrevista como principal técnica, e também preenchimento de um questionário que norteia o

atendimento que é o cadastro de atendimento do SSo, que busca identificar dados da situação

socioeconômica constituição familiar, situação de trabalho, acesso a bens e serviços sociais,

condições moradia/saneamento básico, entre outras. E também reunião entre profissionais e

familiares ou entre os profissionais para discutir casos. Sua importância está relacionada com

o objetivo que se pretende com o atendimento do serviço social, não a somente a técnica, mas

o que esse encontro pode relevar, para o melhor ou mais adequado, encaminhamento da

situação em que o usuário ou familiar se encontra.

PROFISSIONAL A2

3) Instrumentos e técnicas

Cadastro de Atendimentos do Serviço Social – HUOP (fotocópia em anexo), produzido pelo

próprio SS, para obter dados de identificação; constituição familiar; escolarização; trabalho;

renda; acesso a benefícios sociais; condições de moradia, entre outros. Enfim, através deste

consegue-se realizar uma avaliação da situação socioeconômica, do todo que envolve o

usuário/paciente identificando as necessidades e encaminhamentos necessários.

Entrevista, muito utilizada nos atendimentos (geralmente individuais, porém muitas vezes

entre membros da mesma família ou ciclo de relações do usuário, conforme possibilidade e/ou

necessidade) realizados pelo SS no Hospital. Ela possibilita a obtenção de dados, a definição

dos procedimentos metodológicos bem como colabora na realização do diagnóstico social.

78

Observação, instrumental que acompanha os demais, uma vez que ela é “quase como que

inerente”, pois faz parte em todos os atendimentos realizados e nos ajuda a perceber a

realidade, o dito e o que fica nas entrelinhas, levando o profissional a uma reflexão muito

mais rica e consequentemente a uma intervenção com mais qualidade.

Orientação e informação, muito utilizadas no nosso cotidiano de trabalho no HUOP, pois

somos constantemente procuradas por usuários/pacientes, contatadas por familiares de

pacientes via telefone, assim como é solicitado o nosso atendimento pela própria equipe

(enfermeiros, médicos e outros) para auxiliar no sentido de orientações/informações acerca de

diversas questões (como por exemplo normas/rotinas do HU; encaminhamentos de

transferência de pacientes, estadia para acompanhantes de pacientes etc.), que envolvem a

saúde do usuário.

Livro de registros de atendimentos diários onde são anotados demandas/atendimentos

realizados diariamente, dados que se julgam importantes (as vezes telefones de referência,

endereços de pessoas próximas do usuário etc), questões pendentes, de modo que a equipe

possa dar continuidade ao trabalho (lembrando que trabalhamos em equipe e por plantão –

manhã/tarde).

Reuniões de equipe do SS; interdisciplinares para atendimentos de situações/pacientes

específicos; em conjunto com familiares de pacientes, geralmente em situações de conflito;

entre a rede de serviços e reuniões das Comissões, cujas quais o SS tem participação. Os

objetivos dizem respeito a discussões pontuais, objetivando estabelecimento de protocolos de

atendimento e/ou consensos e tomada de decisões.

Visita domiciliar esporadicamente, em situações muito peculiares, quando detectada a

necessidade pelo assistente social, pois geralmente encaminham-se as situações para

visita/acompanhamento via serviços da rede (CRAS e UBS de origem do paciente/usuário).

Visita institucional raramente, para conhecer o trabalho desenvolvido na instituição e

mobilizar a rede de serviços no processo de viabilização dos direitos sociais.

Acompanhamento realizado geralmente durante a internação do paciente, quando detectado a

necessidade.

Encaminhamento para rede de serviços, realizado geralmente pós-alta ou quando há previsão

de alta hospitalar para viabilizar o acompanhamento, continuidade no tratamento,

monitoramento de situações que se julgar importante. Este é muito utilizado.

Plano de intervenção do serviço social no HUOP, o qual possibilita a organização, a

realização de um trabalho integrado e o planejamento das ações aos profissionais, além de

situar a prática profissional na instituição.

Entende-se que a importância da dimensão técnico-operativa para o exercício profissional está

relacionada a possibilidade de conhecer e apropriar-se do conjunto de instrumentais e

técnicas para o atendimento da população usuária de forma a garantir melhor atendimento e

qualidade no serviço prestado.

79

PROFISSIONAL A3

3) Cadastro, onde há a primeira aproximação com o usuário, que permite avaliar a situação

daquele contexto com a entrevista socioeconômica, em que são observadas as particularidades

e identificadas às necessidades do sujeito.

- Observação, de forma a perceber criticamente e tomar conhecimento de dada realidade,

enxergando o indivíduo como reflexo de múltiplas determinações.

- Acompanhamento, quando detectada na entrevista social, a necessidade de apoio e de

encaminhamentos para potencializar os envolvidos na situação declarada.

- Mapeamento das alas de referência, no caso, Pronto Socorro, manhã e F2 (clínica médica e

cirúrgica), que possibilita visualizar o fluxo do atendimento, bem como a necessidade de nos

mantermos alerta aos acontecimentos diários, para facilitar a intervenção.

- Livro de registro das atividades, que possibilita a continuidade do serviço realizado em

equipe.

- Visita domiciliar e institucional esta que permite enxergar in loco a estrutura organizacional

e a domiciliar que possibilita a visão real do sujeito em seu meio e com seus circundantes.

- Plano de trabalho do setor de serviço social no Hospital Universitário do Oeste do Paraná.

Sua importância está na possibilidade de realizar um trabalho continuo, integrado e visível aos

envolvidos no processo de trabalho, e que oportunize a cada profissional sistematizar o

desenvolvimento diário de seus compromissos, elegendo prioridades e encontrando caminhos

dentro desses critérios, entre outros viáveis e que são adotados como base para atender as

diferentes demandas que se apresentam no cotidiano profissional enquanto trabalhador,

oferecendo um serviço de qualidade.

QUESTÃO 4

PROFISSIONAL A1

4) A exclusão do mercado de trabalho, no qual a grande maioria dos usuários e ou familiares

se encontram, o que por si só já os colocam em situação de vulnerabilidade social, identifica-

se também a negligência contra e violência contra criança e adolescente, por parte da família

mas também de muitos serviços e órgãos de proteção. Pessoas em situação de rua,

dependência química. Mas há também a violação de direitos na própria instituição como falta

de leitos ou acomodações adequadas aos usuários atendidos, a não liberação de

acompanhantes à gestante em situação de parto, foram os que mais se destacam no período

solicitado.

PROFISSIONAL A2

4) Alta hospitalar de pacientes, que vivem em situação de rua, vítimas de violências,

principalmente de trânsito e física, como por exemplo, atropelamentos e agressões, que em

decorrência destas violências se tornam pessoas acamadas e dependentes para todos ou quase

80

todos os cuidados, em situação de abandono (sem pessoa para acolhê-los e nem local para

serem encaminhados). Estes pacientes não raras vezes permanecem trinta a quarenta dias

ocupando um leito hospitalar enquanto aguardam serem encaminhados, geralmente via

promotoria pública, por ausência de políticas públicas para este segmento da população;

- Atendimento a pacientes e familiares estrangeiros, principalmente haitianos. Tem-se

percebido uma grande migração destes estrangeiros para a nossa região de abrangência (os

quais vem de seus países de origem geralmente em busca de trabalho e o conseguem como

mão de obra barata, principalmente nos frigoríficos desta região) e consequentemente muitos

atendimentos de saúde, principalmente em obstetrícia (nascimentos de crianças), entretanto

sem políticas sociais para esse acréscimo na demanda. Uma questão latente e preocupante é a

dificuldade na comunicação devido ao idioma o que dificulta, quando não inviabiliza, a

realização da anamnese, condutas, orientações e encaminhamentos, podendo ocasionar

problemas ainda mais graves em decorrência;

- Demanda reprimida pela falta de vagas para internamentos e atendimentos médico

ambulatoriais. Diariamente atendemos pessoas, alguns já pacientes ambulatoriais, outros de

demanda externa, ou seja, que ainda não estão sendo atendidas no HU, que procuram pelo

serviço social, muitos deles implorando por atendimento;

- Dificuldade para conseguir ou falta de informações clínicas por parte da equipe médica ao

paciente/familiares e, dificuldade para garantir o direito ao paciente/usuário de atestados e

laudos médicos para encaminhar questões trabalhistas devido a resistência de médicos.

Ambos caracterizam-se violação de direitos pela instituição;

- Falta ou dificuldade para conseguir transporte para mães (sem condições financeiras) de

bebês com internamentos em UTIs, para viabilizar lhes o direito de acompanhar e inclusive

amamentar os filhos durante a internação e falta de casa de apoio ou local adequado no HU

para acomodar estas mães durante a internação dos filhos;

- Atendimento a pacientes com dependência química, principalmente adolescentes;

- Não liberação de acompanhante para a gestante em trabalho de parto e durante o parto,

embora exista Lei Federal (11.108/2005) que o garanta, caracterizando-se numa violação de

direito por parte da instituição – HU;

- Internamento de pacientes:

* desconhecidos (sem documentos, muitos vítimas de agressões, atropelamentos);

* que não recebem visitas (porque são sozinhos ou abandonados pela família/amigos);

* vítimas de agressão, violência doméstica ou suspeita de violência e/ou abuso que em

decorrência de doenças ou acidentes tornam-se acamados.

PROFISSIONAL A3

81

4) Demanda reprimida para: exames, consultas, internações, cirurgias eletivas, atendimento

psiquiátrico/adulto (pacientes com dependência química e/ou transtorno mental).

- Dificuldade de familiar/pessoa disponível para um acompanhamento ideal ao tratamento do

paciente dependente ou acamado e/ou idoso.

- Estrangeiros (principalmente haitianos) com a falta de interprete e uma política adequada ao

atendimento destes, pela sua peculiaridade.

- Falta de informações clínicas por parte da equipe responsável.

- Pessoa em Situação de Rua.

QUESTÃO 5

PROFISSIONAL A1

5) Primeiro é garantir que o atendimento de sua necessidade seja atendida, mas o desafio é

que muitas vezes o acesso a bens e serviços não estão disponíveis na rede de atendimento do

SUS ou de assistência social, ou na própria instituição o que limita os encaminhamentos ou a

sua solução de forma imediata, muitas situações se faz necessário a intervenção de instâncias

jurídicas e/ou órgãos de proteção como conselhos tutelares e ministério público, promotorias.

PROFISSIONAL A2

5) Falta de políticas sociais e interesse do Poder Público para providenciar local adequado

para o acolhimento, assistência e reabilitação às pessoas em situação de rua, quando se

encontram em situações como as descritas acima, ou seja, dependentes para os cuidados,

vítimas de violências;

- Falta de Políticas Públicas para abarcar o contingente de estrangeiros no país de forma a

prestar-lhes a assistência necessária;

- Necessidade de maior investimento como um todo (em todas as esferas de Governo) para a

saúde; também maior investimento e comprometimento de profissionais (em todas as

categorias) na educação e prevenção de doenças, agravos e violências; otimização dos leitos

hospitalares e serviços de saúde; diminuição da burocracia na rede, enfim, mais

comprometimento e menos mercantilização da vida e saúde do ser humano – usuário dos

serviços;

- Falta de estabelecimento de protocolo pela Direção do HU a ser cumprido pelos

profissionais médicos (preceptores, residentes, acadêmicos de medicina) no fornecimento de

informações clínicas ao paciente e familiares, bem como no fornecimento de atestados e

laudos, estes pela ortopedia;

- Necessidade da garantia do direito à mãe/pais ou responsáveis de acompanhar o recém-

nascido internado em UTIs e deste de ser acompanhado, através da viabilização do transporte

público aos responsáveis (que dele necessitem). Ressalta-se nesta questão que diversas

tentativas já foram por nós do SS encaminhadas a Secretaria Municipal de Saúde de Cascavel,

82

ao Conselho Tutelar e inclusive foi dado conhecimento à Promotoria da Vara da Infância e

Juventude de Cascavel, porém, salvo pequeno avanço por curto prazo de tempo, ainda não se

conseguiu resolutividade no assunto;

- Necessidade de espaço/local adequado no HU para garantir, à mãe (devido ao aleitamento

materno ou mesmo o acompanhamento em tempo integral) a sua permanência junto ao filho

recém-nascido internado em UTI, se assim ela o desejar;

- Falta de salas de atendimento internas ao Hospital para o serviço social e a criação do

Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) para atender e encaminhar para os devidos setores

a demanda externa, demanda esta ainda atendida e orientada majoritariamente pelo SS devido

a sua localização externa;

- Falta de apoio/comprometimento dos gestores na busca de alternativas ou nos

encaminhamentos das situações descritas.

PROFISSIONAL A3

5) Falta de políticas públicas para estrangeiros domiciliados no país. Falta de uma casa de

apoio ou inexistência de um local estruturado para acolher pessoas, desprovidas de recursos e

de moradia, até o seu completo restabelecimento.Perda dos laços familiares e fragilidade na

distribuição de papéis. Falta do Serviço de Atenção ao Usuário (SAU).Fragmentação no

atendimento ao paciente, onde ele não é visto/tratado na sua integralidade. Subordinação a um

sistema o qual não prevê/oportuniza o manifesto dos envolvidos para a estruturação

organizacional.

QUESTÃO 6

PROFISSIONAL A1

6) As conquistas são acumuladas pelo trabalho da equipe de A.S do setor, outros profissionais

do hospital equipe multidisciplinar ou mesmo através da rede de proteção tanto assistência ou

da saúde dos outros órgãos que compõe a rede. Mas acredito que em muitos casos o serviço

social identifica a situação, a qual se desencadeia no processo atendimento da violação de

direitos, e acaba sendo uma conquista ou objetivo alcançado.

PROFISSIONAL A2

6) Nos últimos dois anos o SS tem participado da capacitação junto aos novos Residentes de

medicina, oportunidade que tem sido aproveitada para, entre outras questões, esclarecer sobre:

nossas funções, bem como as que não nos competem, conforme legislação pertinente

(principalmente Lei que regulamenta a profissão e código de ética do Assistente Social);

dificuldades encontradas em relação ao direito dos usuários – pacientes e/ou familiares, em

conseguir informações clínicas, atestados e laudos, sendo estes direitos legais dos usuários e

dever legal do médico assistente; De tanto persistir nas solicitações (verbais e documentadas)

junto às Direções do HU e, com a abertura de vagas para Residência médica em ortopedia a

partir do segundo trimestre deste ano de 2014, os atestados e laudos, antes geralmente não

83

fornecidos em tempo hábil, agora estão sendo fornecidos aos usuários por estes médicos

Residentes; Igualmente de tanto persistir nas solicitações (verbais e documentadas) junto às

Direções do HU, conseguimos provocar uma reunião entre gestores municipais e do HU em

conjunto com o S S, para elaboração de protocolo de atendimento aos pacientes em situação

de rua, com alta hospitalar (conquista ainda em andamento); O trabalho em rede tem

apresentado perspectivas de melhoras ultimamente, principalmente a partir da criação do

instrumental “Ficha Intersetorial de Referência e Contra Referência” pela Rede Intersetorial

de Atenção e Proteção Social municipal de Cascavel, embora ainda se perceba (enquanto SS

do HU) que basicamente estamos apenas fazendo as referências, sendo praticamente nula as

contra referências; Também tem sido implantado em nível Federal – Ministério da Saúde, o

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) com a Ficha de Notificação/

Investigação Individual de Violências Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências,

principalmente contra crianças e adolescentes, mulher e pessoa idosa. Com isso, mesmo que

com deficiências principalmente pelo atraso no encaminhamento destes dados para o SS,

estamos conseguindo intervir em mais situações que antes não nos chegavam. Assim como é

lógico, estes dados estão sendo encaminhados para a finalidade para a qual foram criados a

nível Federal, entre elas estatísticas; Atuação no projeto multiprofissional denominado “Alta

Programada” que tem como objetivo preparar os cuidadores de pacientes portadores de

afecções crônicas incapacitantes (acamados) durante o período de internação hospitalar, desde

sua admissão na unidade até a alta, para o desempenho dos cuidados domiciliares. O serviço

social atua na triagem do cuidador, além de realizar orientações e esclarecimentos acerca do

referido projeto e encaminhamentos à rede de serviços, conforme demanda/avaliação social,

pertinentes à sua profissão.

PROFISSIONAL A3

6) Participação na capacitação para novos residentes onde o serviço social expõe suas

atribuições dentro do hospital.

• Fomento a reuniões com gestores municipais para elaboração de protocolo de atendimento

adequado a pacientes em situação de rua.

• Trabalho em rede avançando, com a criação municipal da ficha de referência contra

referência para notificações e encaminhamentos.

• Maior visibilidade da atuação do Serviço Social com a implantação do Prontuário Eletrônico

de Paciente (PEP).

• Distribuição nas diferentes alas de memorando com a descrição das situações em que o

Serviço Social deve ser acionado.

• Acredito, numa maior credibilidade, com a permanência de uma equipe coesa, atuante e

comprometida com os mesmos ideais de luta permanente contra tudo oque não compete mais

a um Serviço Social contemporâneo.

QUESTÃO 7

84

PROFISSIONAL A1

7) As situações de violência todas são notificadas através de formulário próprio da vigilância

epidemiológica. A partir dessa notificação, o segmento envolvido é realizado acolhimento,

atendimentos necessários durante o internamento, contatos com serviços especializados e os

encaminhamentos necessários após a alta para continuidade dos atendimentos, ou acolhimento

conforme a situação.

PROFISSIONAL A2

7) Pacientes que vivem em situação de rua com alta hospitalar:

Preenchimento do cadastro socioeconômico (com os dados possíveis) para conhecimento da

realidade e histórico do paciente;

Tentar localizar familiares/conhecidos/pessoas de referência que possam acolher e prestar

assistência necessária. Caso isso não seja possível, acionar o CREAS III, via Ficha

Intersetorial de Referência e Contra Referência, solicitando providências;

Após passados alguns dias e na ausência de resposta (o que geralmente acontece),

encaminhamento de memorando para a Direção do HU, solicitando o encaminhamento da

situação ao Ministério Público para providências.

Pacientes estrangeiros, principalmente haitianos:

Preenchimento do cadastro socioeconômico (com os dados possíveis) para conhecimento da

realidade, histórico, origem e demanda do paciente;

Quando dificuldade de comunicação muito grande devido ao idioma, acionar tradutor

voluntário, através de contato telefônico (que informalmente se dispõe a nos auxiliar, desde

que não em horário de trabalho). Aproveitar este momento para coletar dados necessários

(antes incompletos) e se possível, com intuito de obter melhor entendimento, realizar as

orientações e encaminhamentos pertinentes.

Demanda reprimida:

Orientar os que nos procuram sobre forma legal de conseguir o atendimento necessário e de

direito, inclusive a buscar via Promotoria Pública caso necessário.

Falta de informações clínicas e atestados/laudos médicos:

Orientar e viabilizar o contato do usuário com médico assistente para obter as informações

clínicas e documentação/atestados e laudos e, caso encontrado muita resistência/dificuldade,

encaminhar para ouvidoria.

Falta/dificuldade de transporte para mães acompanhar os filhos recém-nascidos

internados em UTIs:

85

Orientar a mãe/responsável e fazer encaminhamento (formal) para UBS de origem,

solicitando o transporte; caso encontrado dificuldade (o que sempre acontece quando o

paciente é de Cascavel), solicitar intervenção do Conselho Tutelar via Ficha Intersetorial de

Referência e Contra Referência.

Falta de casa de apoio ou local adequado para acomodar estas mães:

Quando o paciente é de cascavel: geralmente a mãe vem para o hospital acompanhar o filho

internado de dia e volta para casa à noite para dormir. Em situações de exceção (quando há

indicação clínica de acompanhamento em tempo integral, improvisa-se local/acomodação

para a mãe na sala de descanso junto a UCI);

Quando o paciente é de outro município: entra-se em contato com Secretaria de Saúde de

origem, solicitando o transporte diário da mãe/responsável ou o custeio de local particular

para o pernoite, sendo o acompanhamento realizado ao paciente durante o dia; em alguns

casos (conforme avaliação e aceitação da usuária) as mães são encaminhadas a uma casa de

apoio oferecida e mantida por pessoas ligadas a igreja (sem participação por parte do poder

público).

Não liberação de acompanhante para a gestante em trabalho de parto e durante o parto:

Estabelecer contato com equipe do Centro Obstétrico (CO) para informar e solicitar a

liberação de acompanhante e/ou orientar a paciente e familiares a solicitá-lo junto a equipe no

CO, argumentando tratar-se de um direito garantido em Lei Federal;

Diante da negativa (que sempre acontece) sob o argumento da falta de espaço ou espaço

inadequado, orientar a acionar a ouvidoria ou Ministério Público.

Pacientes desconhecidos:

Procurar junto aos pertences possíveis formas de identificação (documentos, números de

telefone, celular).

Se encontrados documentos, entrar em contato com Assessoria de Imprensa da UNIOESTE

para divulgar nos meios de comunicação a solicitação do comparecimento da família ao

HUOP.

Caso o paciente não possua nenhuma identificação, repassar para Assessoria de Imprensa

características do(a) paciente para veicular nos meios de comunicação

Caso se suspeite de o paciente estar em situação de rua, acionar o Centro POP (serviço

municipal que atende a essa demanda) para verificar possível identificação;

Quando (ou se) a família chegar ao HUOP, encaminhá-la ao setor onde o(a) paciente estiver

para identificação – reconhecimento e solicitar documentos do paciente para regularizar a

situação junto ao internamento/prontuário.

Após a identificação, realizar cadastro socioeconômico para verificar situação do paciente e

dar os encaminhamentos pertinentes.

86

Pacientes que não recebem visitas:

Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do paciente.

Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em contato com a família

solicitando que ela compareça ao hospital para atendimento no Serviço Social. Caso não se

consiga contato com familiar, contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-la.

No atendimento presencial (ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da

família ao paciente. Explicitar a importância da família no acompanhamento do paciente e nos

cuidados pós-alta hospitalar.

Caso se perceba abandono do paciente, acionar o CREAS III (Centro de Referência

Especializado em Assistência Social que atende população adulta com direitos violados).

Internados por agressão, violência doméstica ou suspeita de e/ou abuso:

Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico e situação sócio-familiar do

paciente;

Conforme avaliação, abordar o(a) paciente em separado de seus familiares

Se paciente adulto orientar quanto aos recursos existentes na comunidade: Delegacia da

Mulher e Abrigo de Mulheres no caso de violência contra a mulher; Delegacia para registro

de boletim de ocorrência no caso de homens.

Conforme avaliação, solicitar atendimento psicológico;

Se paciente for criança, acionar o setor de Psicologia para abordagem conjunta –

avaliar/discutir conduta com psicologia. Acionar Conselho Tutelar (e/ou Vara da Infância e

Juventude) e CREAS I (Centro de Referência Especializado em Assistência Social que atende

crianças e adolescentes com direitos violados), para acompanhamento. Aguardar parecer dos

órgãos de proteção citados para liberação da criança.

Pacientes que em decorrência de doenças ou acidentes tornam-se acamados (preparo da

família para alta):

Preencher cadastro socioeconômico com familiares para conhecer histórico do paciente e

família. Verificar rede de apoio familiar e social

Verificar necessidades do paciente no pós-alta: cama hospitalar, colchão, cadeira de rodas,

cadeira de banho, oxigênio. Averiguar serviço de referência de reabilitação;

Triar familiares de referência. Realizar orientações acerca da capacitação de cuidador para os

cuidados ao paciente pós-alta hospitalar. Solicitar que o mesmo acompanhe o paciente durante

a internação para viabilizar a capacitação de cuidados.

87

Conforme avaliação contato com serviços de referência (da rede) para acompanhamento. Ver

se enquadra nos critérios do PAID ou sendo de outro município, contato com serviços de

referência.

Se houver negação de cuidados por parte da família, ou se percebido dificuldade, acionar o

CREAS III , para avaliação e conduta.

Adolescentes com dependência química (atendimento na psiquiatria)

Admissão

• Atendimento à família e adolescente em conjunto com Psiquiatria e Enfermagem.

Preenchimento do cadastro socioeconômico de serviço social da psiquiatria.

• Atendimento à família pelo Serviço Social após o internamento do adolescente: orientar e

solicitar comparecimento da família nas visitas e grupos de famílias às quartas-feiras. Quando

o familiar é de outro município, fazer ofício à secretaria de saúde solicitando transporte para o

comparecimento do familiar nesses dias.

• No atendimento à família, buscar conhecer a visão desta sobre o uso de drogas do

adolescente e fatores de risco que precisem ser trabalhados durante o internamento.

Tratamento

• Realizar ao menos um atendimento individual por adolescente durante o internamento,

buscando verificar fatores de risco e proteção e realizando orientações quanto ao pós-alta.

• Contatar os familiares previamente ao dia de visitas para garantir sua vinda e repassar

necessidade de materiais de higiene pessoal;

• Realizar orientações a familiares durante as reuniões semanais das famílias de pacientes

internados na psiquiatria.

• Nos casos em que a família não esteja comparecendo, entrar em contato com a mesma a fim

de verificar motivo e caso não compareça, acionar Conselho Tutelar para verificação da

situação.

• Participar das reuniões semanais da equipe da psiquiatria para discussão dos casos dos

adolescentes e demais assuntos pertinentes.

• Realizar reuniões com a rede de serviços que atende o adolescente para o planejamento do

pós-alta, seja de forma presencial, seja por meio de teleconferência ou outro meio de

comunicação.

Alta

• Conversar com o paciente e familiar sobre as estratégias para prevenção da recaída e

cuidados pós-alta. Em seguida, realizar orientação conjunta ao paciente e familiar

(continuação do tratamento, encaminhamento para programas sócioeducativos da rede).

88

• Repassar ao serviço de origem relatório social sobre o adolescente. No caso dos

adolescentes de Cascavel, encaminhar ficha de atendimento intersetorial ao CAPS ad e

demais serviços que estejam acompanhando o adolescente.

PROFISSIONAL A3

7) Pacientes que não recebem visitas:

• Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do paciente.

• Caso paciente seja do município e/ou da região, tentar entrar em contato com a família

solicitando que ela compareça ao hospital para atendimento no Serviço Social. Caso não se

consiga contato com familiar, contatar Secretaria de Saúde de origem para localizá-los.

• No atendimento (ou por telefone), verificar motivo do não acompanhamento da família ao

paciente. Explicitar a importância da família no acompanhamento do paciente e nos cuidados

pós-alta.

• Caso se perceba abandono do paciente, acionar o Plantão Social, Centro POP, que ficam

vinculados ao CREAS III

Localização de familiares para pacientes que necessitam de acompanhante:

• Preencher cadastro socioeconômico a fim de verificar histórico e origem do paciente

• Entrar em contato com a família solicitando acompanhante para o paciente

• Caso a família se negue a vir como acompanhante, solicitar que venham para atendimento

no Serviço Social. Persistindo a negativa, acionar o CREAS III ou município de origem.

• No atendimento, explicar o motivo da solicitação, a importância do acompanhamento e

verificar como paciente será cuidado no pós-alta.

• Na alta, contatar UBS de referência para acompanhamento.

• Caso o paciente esteja incomunicável, entrar em contato com UBS ou serviço de saúde de

origem para localizar familiares.

Pacientes em situação de rua:

• Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico do paciente

• Acionar o CREAS III ou serviços a ele vinculados;

• Para encaminhamento para albergue ou casa de passagem, acionar Plantão Social.

Pacientes provenientes de outros estados e países:

• Preencher cadastro socioeconômico para conhecer histórico e origem do paciente

89

• Entrar em contato com cidade de origem (no caso de outros estados) para melhor

conhecimento da situação e providências pertinentes

• Se necessário, contatar o CREAS III.

Pacientes que em decorrência de doenças ou acidentes tornam-se acamados (preparo da

família para alta):

• Preencher cadastro socioeconômico com familiares para conhecer histórico do paciente e

família. Verificar rede de apoio familiar e social

• Verificar necessidades do paciente no pós-alta: cama hospitalar, colchão, cadeira de rodas,

cadeira de banho, oxigênio. Averiguar serviço de referência de reabilitação;

• Averiguar familiares de referência. Realizar reunião com os familiares para orientações e

responsabilidades com o paciente. Solicitar que os mesmos estejam acompanhando o paciente

para treinamento de cuidados.

• Contato com serviços de referência para acompanhamento. Ver se enquadra nos critérios do

PAID ou sendo de outro município, contato com serviços de referência.

• Acionar o CREAS III em caso de negação de cuidados.

Pacientes desconhecidos:

• Procurar junto aos pertences possíveis formas de identificação (documentos, números de

telefone, celular).

• Caso se achem documentos, entrar em contato com Assessoria de Imprensa da UNIOESTE

para divulgar nos meios de comunicação a solicitação do comparecimento da família ao

HUOP.

• Caso o paciente não possua nenhuma identificação, repassar para Assessoria de Imprensa

características do paciente para veicular nos meios de comunicação.

• Caso se suspeite de o paciente estar em situação de rua, acionar o CREAS pop para verificar

possível identificação;

• Assim que a família chegar ao HUOP, encaminhá-la ao setor onde o(a) paciente estiver para

identificação (conforme disponibilidade do setor- falar com enfermeira responsável pelo

setor). Solicitar à família documentos do paciente para anexar cópia ao prontuário

• Após a identificação, realizar cadastro socioeconômico para verificar situação do paciente.

Adolescentes com dependência química (atendimento na psiquiatria)

Admissão

• Atendimento à família e adolescente em conjunto com Psiquiatria e Enfermagem.

Preenchimento do cadastro socioeconômico de serviço social da psiquiatria.

90

• Atendimento à família pelo Serviço Social após o internamento do adolescente: orientar e

solicitar comparecimento da família nas visitas e grupos de famílias às quartas-feiras. Quando

o familiar é de outro município, fazer ofício à secretaria de saúde solicitando transporte para o

comparecimento do familiar nesses dias.

• No atendimento à família, buscar conhecer a visão desta sobre o uso de drogas do

adolescente e fatores de risco que precisem ser trabalhados durante o internamento.

Tratamento

• Realizar ao menos um atendimento individual por adolescente durante o internamento,

buscando verificar fatores de risco e proteção e realizando orientações quanto ao pós-alta.

• Contatar os familiares previamente ao dia de visitas para garantir sua vinda e repassar

necessidade de materiais de higiene pessoal;

• Realizar orientações a familiares durante as reuniões semanais das famílias de pacientes

internados na psiquiatria.

• Nos casos em que a família não esteja comparecendo, entrar em contato com a mesma a fim

de verificar motivo e caso não compareça, acionar Conselho Tutelar para verificação da

situação.

• Participar das reuniões semanais da equipe da psiquiatria para discussão dos casos dos

adolescentes e demais assuntos pertinentes.

• Realizar reuniões com a rede de serviços que atende o adolescente para o planejamento do

pós-alta, seja de forma presencial, seja por meio de teleconferência ou outro meio de

comunicação.

Alta

• Conversar com o paciente e familiar sobre as estratégias para prevenção da recaída e

cuidados pós-alta. Em seguida, realizar orientação conjunta ao paciente e familiar

(continuação do tratamento, encaminhamento para programas sócioeducativos da rede).

• Repassar ao serviço de origem relatório social sobre o adolescente. No caso dos

adolescentes de Cascavel, encaminhar ficha de atendimento intersetorial ao CAPS ad e

demais serviços que estejam acompanhando o adolescente.

QUESTÃO 8

PROFISSIONAL A1

8) Entrevista, acolhimento, relatório social, preenchimento cadastro do SSocial,

encaminhamento através da ficha intersetorial de referência e contra referência, e contatos

forma direta (telefone) com outros profissionais e serviços.

PROFISSIONAL A2

91

8) Quando possível o contato e diálogo com o paciente/usuário: Acolhimento, entrevista com

coleta de dados possíveis através do Cadastro do SSocial, informações e orientações

pertinentes, além de encaminhamentos e solicitações de providências a serviços e órgãos (de

proteção) competentes, conforme legislação (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei

Maria da Penha, Estatuto do Idoso, etc.); Quando inviabilizado o contato e o diálogo com o

paciente/usuário: o atendimento mencionado é realizado ao seu responsável ou a situação

encaminhada aos serviços e órgãos competentes para providências.

PROFISSIONAL A3

8) Notificação, instrução, orientação às pessoas envolvidas e órgãos competentes, com

encaminhamentos e solicitação de providências adequadas conforme preconiza a legislação

vigente.

92

ANEXOS

93

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa

94

95

ANEXO B – Ficha de Notificação de Violências

96