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SERVIÇO SOCIAL
ALINI CRISTINI PEDRINI
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO
BRASIL: TRAJETÓRIA HISTÓRICA
TOLEDO
2016
ALINI CRISTINI PEDRINI
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO
BRASIL: TRAJETÓRIA HISTÓRICA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao
curso de Serviço Social, Centro de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Ms. Carmen Pardo Salata
TOLEDO
2016
ALINI CRISTINI PEDRINI
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO
BRASIL: TRAJETÓRIA HISTÓRICA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao
curso de Serviço Social, Centro de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Profa. Ms. Carmen Pardo Salata
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
_____________________________________
Profa. Dra. Maria Isabel Formoso Cardoso e Silva Batista
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
_____________________________________
Profa. Ms. Ane Barbara Voidelo
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Toledo, 22 de fevereiro de 2016
Só é possível ensinar uma criança a amar,
amando-a (Johann Goethe)
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus por proporcionar-me tantas vitórias e confiar-me essa
profissão.
Ao meu esposo, Josias, que segurou a barra por esses quatro anos, e principalmente minha
mão nos momentos angustiantes. Eu amo você.
Aos meus familiares, Mãe, Pai e irmãos que me incentivaram e sempre mostraram o
caminho certo. Não me deixando desistir por nada. Muito obrigada, grata por ter vocês!
Às minhas colegas-amigas que se fizeram “presentes” na vida acadêmica e se farão na
vida profissional e cotidiana, com toda certeza. Bruna, Juliana e Thais.
A minha orientadora, professora Carmen Pardo Salata, que esteve frequente nesse
processo, orientando-me, sendo amiga e ensinando com todo seu profissionalismo e atenção.
A Rita- Assistente Social do Fórum (SAI) e minha supervisora, por todo aprendizado que
tive.
E aos professores do curso de Serviço Social da UNIOESTE por todo o conhecimento à
mim repassado.
PEDRINI, Alini Cristini. O Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes no Brasil:
Trajetória Histórica. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro
de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Campus
Toledo, 2016.
RESUMO
Esta pesquisa é resultado das reflexões sobre o acolhimento institucional de crianças e
adolescentes iniciadas durante as atividades de estágio obrigatório I e II, realizado no período de
março 2014 a janeiro de 2016. O tema pesquisado refere-se à trajetória histórica e da legislação
sobre o acolhimento institucional de crianças e adolescentes no Brasil. O problema formulado
constitui-se na seguinte pergunta: qual a trajetória nas dimensões social, cultural, econômica e
jurídica da criança e do adolescente quanto ao acolhimento institucional no Brasil? Os objetivos
estudados neste trabalho são: compreender a construção do direito da criança e do adolescente no
Brasil; esclarecer como era realizado o processo de “acolhimento” em diversos períodos
históricos; conhecer a atuação do profissional Assistente Social na área sociojuridica. Como
ponto de partida para esta pesquisa buscamos bibliografia especifica a partir do século XVI até o
século XXI. Nessa trajetória as reflexões principais são: a Roda dos Expostos como primeiro
mecanismo de acolhimento na situação de abandono de crianças, a concepção de criminalidade
entre os adolescentes no início do Século XX, criação das primeiras instituições estatais de
atenção às crianças e adolescentes em conflito com a lei (Criação do Serviço de Assistência do
Menor – SAM, e para a Criação da Fundação do Bem-Estar do Menor – FUNABEM). Como a
Constituição Federal de 1988 incorpora esse segmento, isto é, a criança e o adolescente que em
1990 tem a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA (Lei 8.069 de 13 de julho
de 1990). E finalmente pela nova Lei da Adoção 12.010/09. Verificou-se ainda, se crianças e
adolescentes conquistam os direitos sociais por essa nova legislação ou se dependerá de uma
conquista como construção social. O estudo também, direciona-se ao acolhimento institucional
como uma demanda para o Serviço Social na área sociojurídica, considerando que desde o século
XVI o Estado já não se responsabilizava pelas questões da infância. O encaminhamento de
crianças e adolescentes abandonados eram realizados para os espaços religiosos, cujo filosofia
eram permeados por valores morais e cristãos, atribuindo á família a razão pela situação de
pobreza. Neste sentido, o serviço social ao longo de sua história é chamado a intervir com
estratégias de controle desejadas pelo Estado para impedir o agravamento dessas situações nos
espaços urbanos passando a intervir frente a essa demanda. A pesquisa, sendo bibliográfica,
baseia-se fundamentalmente na contraposição de ideias dos diversos estudiosos do tema.
Palavras-chave: Acolhimento institucional; Criança e adolescente, Sociojurídico.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7
1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
APÓS O SÉCULO XX ......................................................................................................... 9
1.1 A GARANTIA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA
CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL .................................................................. 9
1.2 O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) .................................................................................................... 12
1.3 A NOVA LEI DA ADOÇÃO .............................................................................................. 18
2 O TRATAMENTO SOCIAL RECEBIDO POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES A
PARTIR DO SÉCULO XVI NO BRASIL ....................................................................... 21
2.1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A RESPEITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ANTERIOR AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........................... 21
2.1.1 A Roda dos Expostos .......................................................................................................... 22
2.1.2 A Criminalidade entre os Adolescentes no Início do Século XX ................................... 24
2.2 O PRIMEIRO JUIZADO DE MENORES E O CÓDIGO DE MENORES ........................ 26
2.2.1 A Criação do Serviço de Assistência do Menor – SAM .................................................. 27
2.2.2 Criação da Fundação do Bem-Estar do Menor – FUNABEM ...................................... 28
2.3 PRIMEIRA CONVENÇÃO INTERNACIONAL DA ONU E OS MOVIMENTOS
INTERNACIONAIS SUBSEQUENTES ............................................................................ 30
3 A PRÁXIS PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SÓCIOJURÍDICO E
SUA HISTÓRIA ................................................................................................................. 33
3.1 A HISTÓRIA DO SÓCIO JURIDICO ................................................................................ 33
3.2 A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SÓCIO JURIDICO ...... 35
3.3 ENCONTROS E PUBLICAÇÕES DO CFESS .................................................................. 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 52
7
INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso tem como tema “Acolhimento institucional de
crianças e adolescentes: trajetória histórica”. O objetivo geral concentra-se em entender em
síntese a problemática histórica e a existência do “acolhimento institucional”. Ao que tange aos
objetivos específicos pretende-se entender a construção do direito da criança e do adolescente no
Brasil; esclarecer como era realizado o processo de “acolhimento” em diversos períodos
históricos e explicitar a atuação do profissional Assistente Social no campo sociojurídico. O
problema da pesquisa está em averiguar qual a trajetória social, cultural, econômica e jurídica da
criança e do adolescente quanto ao acolhimento institucional no Brasil.
O trabalho é resultado da consolidação da formação do serviço Social sendo que o tema
foi escolhido após a realização do estágio I e II no Serviço Auxiliar da Infância (Fórum) da
comarca de Toledo nos anos de 2014 e 2015. O campo de estagio é conveniado a Unioeste desde
2008 e a escolha do tema de pesquisa está diretamente ligado ao acolhimento institucional.
O surgimento do cuidado e atenção às expressões da “questão social” no sóciojurídico é
fruto das modificações transcorridas ao longo dos anos pela sociedade brasileira, passando pela
redemocratização, pela crise econômico-social que aprofundou as desigualdades sociais, pelos
avanços nos direitos proclamados pela Constituição Federal de 1988 e pelas legislações
subsequentes, e depois, contraditoriamente, com a conjuntura política instalada a partir dos anos
1990, com a ofensiva neoliberal em resposta à crise mundial do capital.
Os direitos da criança e adolescentes surgem historicamente a partir das reivindicações
por melhores condições de vida da sociedade, o que será explicitado no I Capitulo.
Nesta pesquisa a estrutura ficou organizada da seguinte maneira:
Capitulo 1: A evolução histórica do direito da criança e do adolescente após a década de
1980, cujos subitens são: 1: A garantia dos direitos da criança e do adolescente na Constituição
Federativa do Brasil; subitem 1.2: O acolhimento institucional no Estatuto da criança e do
adolescente (ECA); 1.3: Nova lei da adoção.
Capitulo 2: O tratamento social no Brasil recebida pela criança e o adolescente, a partir do
Século a partir do Século XVI, cujos subitens são: 2.1: Legislação sobre a criança e o adolescente
na sociedade brasileira antes do ECA; 2.1.1: Roda dos expostos; 2.2: A criminalidade entre os
adolescentes no início do século XX; 2.2.1: O primeiro juizado de menores e o código de
8
menores; 2.2.2: Criação do Serviço de Assistência do Menor – SAM; 2.2.3: Criação da
Fundação do Bem Estar do Menor – FUNABEM; 2.3 Primeira Convenção internacional da ONU
e os movimentos internacionais subsequentes.
Já o Capitulo 3: discorre sobre: Perspectivas de intervenção do Serviço Social no
acolhimento Institucional. Sendo os subitens: 3.1: A História do Sociojuridico; 3.2: A prática
profissional do Assistente Social no Sociojuridico; 3.3: Publicações do CFESS.
Como fundamentação teórica pesquisou-se sobre as instituições de
assistência/acolhimento para a infância e adolescência brasileira no decorrer dos séculos,
iniciando em meados do século XVI quando o tratamento social no Brasil recebido pelas crianças
de vários estratos sociais teve uma variação considerável, por volta do século XVIII surgindo a
Roda dos Expostos, até chegar à atual política de acolhimento institucional o ECA.
Ainda, a legislação pertinente a esta área deu o embasamento jurídico por meio do Código
de menores, da Constituição Federal, Estatuto da criança e do adolescente, e da nova lei da
adoção. Estas legislações legitimaram a criação de instituições como FUNABEM, SAM, casa
abrigos e similares.
Ademais, exploramos a prática profissional do assistente social no sociojuridico, como se
deu a prática interventiva do profissional nesses espaço, e como é realizada ainda hoje as
dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa, ético-politico frente as demandas nesse
campo. Lembrando que será utilizado o termo “campo” sociojuridico, pois, diferentes autores
trazem diversas denominações como “area”, “campo”, “esfera” ou “sistema” sociojurídico.
9
1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
APÓS O SÉCULO XX
Na década de 1980 inicia-se o processo de redemocratização nacional por meio da
população brasileira com movimentos sociais de apoio à Constituinte, que nesse momento estava
em pleno trabalho de formulação da nova Constituição Federal, registrando um importante
período de conquistas de movimentos de lutas sociais pela infância do Brasil como parte
importante das garantias à criança e ao adolescente na Constituição Federal de 1988.
Foi este engajamento social que deu início a contínuas reflexões sobre as necessidades
gerais a respeito da nova forma de organização política nacional, a Democracia.
Nesses movimentos são construídas as reivindicações da sociedade civil, composta por
diferentes organizações. Essas reivindicações dizem respeito também à formulação da nova
política de atenção a criança e ao adolescente, o ECA.
1.1 A GARANTIA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA
CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL
Na década de 80 foram criadas várias organizações para garantir com que os direitos da
criança e do adolescente quanto fossem comtemplados na Constituição Federativa do Brasil. A
cultura institucional vigente no país há muito tempo, começava a ser debatida.
No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, passam a ser perceptíveis as
inquietações em relação à eficácia deste tipo de medida. É indicativo desse novo
momento o grande número de seminários, publicações e discussões em torno de
iniciativas que indicassem novos caminhos (RIZZINI; RIZZINI, 2004, s.p).
Nota-se que até esse momento as crianças não eram vistas como sujeitos participativos e
muito menos sujeitos de direitos.
Neste período, uma das organizações de destaque foi a Pastoral da Criança, fundada em
1983 sob a responsabilidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB que teve um
papel fundamental no desenvolvimento em redes de solidariedade para a criança e para o
adolescente.
10
Hoje em dia essa ONG (organização não governamental) é mantida por meios de recursos
dos Fundos e convênios, depois de ter o plano de trabalho analisado e aprovado pelo
representante legal da Pastoral da Criança.
O ano de 1985 é considerado uma data marcante não só pelo retorno à Democracia mas
relevante também pelo reinício da atenção às políticas sociais em outras bases que não aquelas do
período militar.
Neste ano foi criado o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua - MNMMR1,
entidade sem fins lucrativos, que nasce em São Bernardo do Campo, São Paulo, com o
compromisso de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros, e com especial
atenção aos meninos e meninas de rua. A partir da atuação desse movimento começou-se a
reconhecer crianças e adolescentes como sujeitos participativos, principio que espalhou-se,
mesmo que tardiamente, por outros estados brasileiros.
As crianças e adolescentes do MNMMR deram tom expressivo para o movimento, pois
não eram somente alvos de alcance da política, mas protagonizaram enfrentamentos por direitos.
Esta articulação foi vista na época como “[...] uma forte referência no processo de desconstrução
do paradigma da ‘situação irregular’ [...]” (SILVA, 2005, p. 32). Atualmente o MNMMR
continua existindo com programas coordenados por assistentes social e educadores sociais.
Um ano após o reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos participativos foi
criado a Frente de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. A Frente era uma
articulação entre várias entidades de expressão na área da infância e adolescência.
Ainda em 1986, foi constituída a Comissão Nacional Criança Constituinte com o objetivo
de sensibilizar e mobilizar a opinião pública e os constituintes sobre a realidade da infância no
país.
Esta intensa mobilização conseguiu apresentar uma Emenda Popular à Constituição sobre
os direitos da criança, com mais de um milhão de assinaturas. A Frente Nacional de Defesa dos
Direitos da Criança, formada por entidades como a Pastoral do Menor, MNMMR e Comissão
Nacional Criança na Constituinte, elaborou uma 'Carta Aberta aos Constituintes e à Nação
1 O MNMMR é um instrumento de luta à construção de uma sociedade em que crianças e adolescentes tenham
acesso aos serviços essenciais à vida e sejam respeitados como cidadãos – reconhecidos como sujeitos de direitos –;
uma sociedade democrática em que a população tenha voz e vez, na defesa de seus anseios junto ao poder/governo;
uma sociedade em que o fruto do trabalho seja partilhado com justiça entre os cidadãos; uma sociedade pluralista em
que se respeitem as diferentes formas de pensar e de agir (POSSAMAI, 2010 apud SANTOS, 1994, p. 298-299)
11
Brasileira', que serviu como documento base para a Emenda 'Criança Prioridade Absoluta';
apresentada no ano de 1987 (VAINER; BRUNO, 2010).
A Emenda apresentada reivindicava,
[...] a inserção, na Constituição Brasileira, dos sete direitos capitais da
Declaração Universal dos Direitos da Criança da ONU; menciona a parceria do
Estado com as entidades não-governamentais, incluindo a necessidade de lei
ordinária detalhadora do 'alcance A e das formas de participação das
comunidades locais na gestão, no controle e na avaliação das políticas e
programas de atendimento aos direitos da criança e do adolescente'; e acentua a
preocupação com a defesa dos meninos acusados por infração penal
(TOMMASI, 1997, p. 65).
É notório que havia nesse período a pressão pelo fechamento dos grandes internatos. As
reações vinham de dentro dos próprios internatos, da sociedade civil e também da esfera
governamental.
Após o período de um ano de movimento democrático e de preparação e elaboração da
nova Constituição Federal, a nova legislação foi cercada de grandes expectativas2. Após vinte
anos de ditadura e violação dos direitos humanos, a Carta Política de 1988 consagrou em especial
os direitos individuais, dando atenção especial ao princípio da dignidade da pessoa humana
(Brasil, 1988, art. 1º, III).
Com isso verifica-se que a consolidação da Assembleia Constituinte responsável pela
elaboração da Constituição Federal de 1988 deu-se de forma abrangente, uma vez que as mais
variadas classes sociais e setores produtivos participaram, retomando assim um Democracia não
vivida há muito tempo.
Esse movimento histórico concretizou a nova Carta constitucional demonstrando a
importância que a chamada Constituição Cidadã teve e tem para a retomada das ações e políticas
públicas voltadas à construção do chamado Estado Social, na medida em que promoveu a
ampliação das liberdades civis e dos direitos e garantias fundamentais do cidadão.
2 “O preâmbulo da Constituição de 1988 retrata bem os anseios da sociedade neste período. Afirma ele que [...] nós,
representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do
Brasil.” (VAINER; BRUNO, 2010. p. 188).
12
Foi uma década de calorosa os debates e articulações em todo o país, cujos
frutos se materializariam em importantes avanços, tais como a discussão do tema
da Constituinte e a inclusão do artigo 227, sobre o direito das crianças, na
Constituição Federal de 1988. Mas o maior destaque da época foi, sem dúvida, o
amplo processo de discussão e de redação da lei que viria substituir o Código de
Menores (1927, 1979): a Estatuto da criança e do Adolescente (1990) (RIZZINI;
RIZZINI, 2004, p. 47)
Com todos esses movimentos em defesa dos “marginalizados” ou “carentes”, houve uma
contribuição para o início de um procedimento para melhorias em relação às crianças e
adolescentes, o que será tratado com detalhes no capítulo 2.
A partir desse marco foram elaborados alguns estatutos importantes, como o Estatuto da
Criança e do Adolescente, do Idoso, as leis referentes às pessoas portadoras de deficiências, as
políticas públicas desenvolvidas para tratar das questões de gênero, da população indígena, da
igualdade racial e do meio ambiente.
1.2 O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O surgimento de vários movimentos em defesa da criança, através da crescente atuação
das organizações não-governamentais, contribuiu para o início de um processo de abertura das
instituições para a comunidade. Elas começaram a ter suas estruturas locais utilizadas como
clubes e centros de saúde, resultado da mudança de regime de atendimento às crianças, do
internato para o semi-internato. Propostas que buscavam criar alternativas institucionais em meio
aberto foram incentivadas, visando integrar a criança ao seu meio social.
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado com o objetivo de alcançar
possibilidades para o cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, rompendo assim com
a visão clientelista e repressora vigente em toda a legislação que antecedeu em nosso país.
Segundo Torres (2004, p. 241), o ECA “[...] veio concretizar os novos direitos das crianças e
adolescentes, apresentando um caráter inovador e de ruptura com a tradição nacional [...]”.
O ECA estabeleceu uma diferenciação entre a condição de criança e a condição de
adolescente, apresentando um grande avanço em relação aos códigos anteriores, que faziam
referência apenas ao termo “menor”, ou seja, se referiam de uma única forma a todos os sujeitos
com idade entre 0 e 18 anos. O ECA passou a considerar a “criança”, para efeitos da Lei, as
13
pessoas com até 12 de idade incompletos, e a considerar “adolescentes” as pessoas na faixa etária
entre 12 e 18 anos completos.
O acolhimento institucional, antes conhecidos como orfanatos, eram para serem
desativados após implantação do ECA, porém a nomenclatura ainda é bastante encontrada. Para
Rizzini e Rizzini afirma que ainda “[...] ouve-se falar que diversas instituições mantem o tipo de
atendimento asilar do passado, embora sejam denominados de abrigo [...]” (2004. p. 49).
Após 26 anos, e mesmo requerendo mudanças, o Estatuto da Criança e do Adolescente é
considerado inovador. Ele tem o mérito de compreender a criança e o adolescente como seres
passíveis de proteção integral, por serem indivíduos em desenvolvimento e portanto, com
prioridade absoluta, independente da classe social a que pertençam (SIMÕES, 2009).
Foi a partir do Estatuto que pode se falar em uma nova concepção para a criança e para o
adolescente como sujeitos de direitos.
No Brasil pode-se falar de uma política pública voltada para
infância/adolescência com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de
1990, pois é a partir daí que se instaura e se desdobra o reconhecimento
constitucional de criança/adolescente como sujeitos de direito em situação
peculiar de desenvolvimento e da adoção da proteção integral (CFES, 2008-
2011, p. 148)
Neste mesmo sentido, para Firmo (1999, p. 32),
O Estatuto cria condições legais para que se desencadeie uma verdadeira
revolução, tanto na formulação das políticas públicas para a infância e
juventude, como na estrutura e funcionamento dos organismos que atuam na
área, inaugurando uma nova etapa do Direito brasileiro ao adotar a doutrina da
proteção integral da criança e adolescente.
O Estatuto além de trazer avanços em relação a crianças e ao adolescente, fez com que
outras áreas também atuassem frente a esse novo enfrentamento.
Com o ECA, por exemplo, inicia-se um novo olhar jurídico, político e administrativo para
atender as demandas da população infanto-juvenil no Brasil. Gohn (2000) assegura que a
construção de uma nova concepção de sociedade civil é consequência de muitas lutas sociais realizadas
pelos movimentos e organizações sociais de várias décadas anteriores, que lutaram e reivindicaram
direitos e oportunidades de participação social.
14
Dessa forma foram construídas uma nova concepção e uma visão ampliada entre Estado e
sociedade legitimando a existência
[...] de um espaço ocupado por uma série de instituições situadas entre o
mercado e o Estado, exercendo o papel de mediação entre coletivos de
indivíduos organizados e as instituições do sistema governamental. este espaço é
trabalhado segundo princípios da ética e da solidariedade, enquanto valores
motores de suas ações, resgatando as relações pessoais diretas, e as estruturas
comunitárias da sociedade, dadas pelos grupos de vizinhança, parentesco,
religião, hobbies, lazeres, aspirações culturais, laços étnicos, afetivos, etc. No
Brasil, esse papel passou a ser desempenhado pelas ONGs, que fazem a
mediação entre aqueles coletivos organizados e o sistema de poder
governamental, como também entre grupos privados e instituições
governamentais [...] (GOHN, 2000, p. 301).
Veronese reflete a respeito da elaboração e aplicação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, (1999, p. 100-101) afirmando que,
[...] essa nova postura tem como alicerce a convicção de que a criança e o
adolescente são merecedores de direitos próprios e especiais que, em razão de
sua condição específica de pessoas em desenvolvimento, estão a necessitar de
uma proteção especializada, diferenciada e integral.
A autora sustenta a ideia de que, por serem são sujeitos em desenvolvimento, as crianças e
os adolescentes merecem atenção especial por parte do Estado e da sociedade
Observamos que os estudiosos de forma geral afirmam que a implantação do ECA
contribuiu para mudanças efetivas em realção às instituições sociais de assistência, partindo não
de uma visão assistencialista, mas concebendo-as como espaço de socialização e de
desenvolvimento.
Nessa linha de raciocínio é possível realizar uma reflexão sobre o ECA e verificar que em
seu artigo 4.º, parágrafo único, o ECA estabelece que é garantia de prioridade da criança e do
adolescente o atendimento, execução e formulação de políticas públicas. Isso compreende a
primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; precedência de atendimento
nos serviços públicos ou de relevância pública; preferência na formulação e na execução das
políticas sociais públicas e a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas à
proteção à infância e à juventude.
15
Além disso, o ECA assegura os direitos fundamentais da criança e do adolescente
previstos nos artigos 7º até o artigo 69, como o Direito à Vida e à Saúde; Direito à Liberdade, ao
Respeito e à Dignidade; Direito à Convivência Familiar e Comunitária (não o Direito à Adoção);
Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer e o Direito à Profissionalização e à Proteção
no Trabalho.
No Livro II - parte especial da Lei nº 8.069 consta a política de atendimento para crianças
e adolescentes, que realça as “[...] diversas formas de fazer com que os direitos prescritos pela lei
sejam cumpridos [...]”, (BRASIL, 2010 s.p)
Já no artigo 90 do Estatuto constam várias modalidades de programas de proteção sócio-
educativas, que são de responsabilidade das entidades de atendimento, bem como são de suas
respectivas responsabilidades o planejamento e execução destes programas, sendo:
I- Orientação e apoio sócio-familiar;
II- Apoio sócio-educativo em meio aberto;
III- Colocação familiar;
IV- Acolhimento institucional; (grifo da autora)
V- Prestação de serviços à comunidade;
VI- Liberdade assistida;
VII- Semiliberdade;
VIII- Internação (BRASIL, 2010, p. 44).
Com isso, verifica-se que o acolhimento institucional se classifica como modalidade de
atendimento, se colocando no art. 98 como medida de proteção, nos casos de violação ou ameaça
dos direitos reconhecidos na mesma lei:
I- Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II- Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis;
III- Em razão de sua conduta (BRASIL, 2010, p. 50)
Diante dessas medidas, conforme o parágrafo 1º, do art. 101 o ECA determina que
[...] o acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas
provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para
reintegração familiar, ou, não sendo possível, para colocação em família
substituta, não implicando privação de liberdade (BRASIL, 2010 p. 52).
16
Assim, as entidades governamentais e não governamentais que proporcionam esta
modalidade de atendimento, devem, conforme parágrafo 1º, art. 90, proceder à inscrição de seus
programas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente/CMDCA, seguindo
alguns princípios específicos para o acolhimento institucional (art. 92). São eles:
I- Preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;
II- Integração em família substituta, quando esgotados os recursos de
manutenção na família natural ou extensa;
III- Atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV- Desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
V- Não desmembramento de irmãos;
VI- Evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de
crianças e adolescentes abrigados;
VII- Participação na vida da comunidade local;
VIII- Preparação gradativa para o desligamento;
IX- Participação de pessoas da comunidade no processo educativo (BRASIL,
2010, p. 45-46).
Esses princípios são de total responsabilidade de quem oferta esse tipo de acolhimento. Já
no art. 95, está previsto ao Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar a fiscalização das
entidades de acolhimento institucional.
Caso houver algum que não cumpra a lei posta, as sanções indicadas são:
I- Às entidades governamentais:
a - advertência;
b - afastamento provisório de seus dirigentes;
c - afastamento definitivo de seus dirigentes;
d - fechamento de unidade ou interdição de programa.
II- Às entidades não-governamentais:
a - advertência;
b - suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
c - interdição de unidades ou suspensão de programas;
d - cassação do registro (BRASIL, 2010, p. 49).
Além do ECA, a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004) também é de
suma importância para a conquista de direitos, principalmente de políticas e programas, no
âmbito da infância e da adolescência.
Dando materialidade à condição da assistência social como política pública tem-se no ano
de 1993 a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social LOAS, bases referenciais para a
17
edição da Política Nacional de Assistência Social de 1998 e particularmente, da Política Nacional
de Assistência Social de 2004 na qual se desenham as bases operacionais da construção de um
Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Vale destacar que a LOAS define como objetivos da assistência social, conforme seu art.
2º: Art. 2º A Assistência Social tem, por objetivo:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescente, à velhice.
II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V – a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família (BRASIL, 2003, s.p.)
Além do ECA e da LOAS, a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004) é
relevante para a conquista de direitos, principalmente de políticas e programas no âmbito da
infância e da adolescência, pois tem como desafio a construção e implementação do Sistema
Único de Assistência Social como requisito para dar efetividade à Assistência Social como
Política Pública. Nessa perspectiva, a Política apresentada busca:
[...] incorporar as demandas presentes na sociedade brasileira no que
tange à responsabilidade política, objetivando tornar claras suas diretrizes
na efetivação da assistência social como direito de cidadania e
responsabilidade do Estado (BRASIL, 2004, p. 13)
Nessa perspectiva a nova Política Nacional de Assistência Social tem como foco a
participação e o compromisso do Estado e da sociedade com sua institucionalização, afirmando
caminhos de sua materialização.
Atualmente podemos citar, entre outras, as seguintes normas que focam nas questões das
crianças e adolescentes as orientações técnicas dos Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes (2009); do Plano Nacional de Promoção, da Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006); e as orientações técnicas
sobre o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças e Adolescentes de 6
a 15 anos (prioridade para crianças e adolescentes integrantes do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil) de 2010 e também da nova Lei da adoção que pesquisaremos no item 01.3.
18
Assim, entende-se que o ECA propõe novos paradigmas de atenção à infância e ao
adolescente, tendo como base a garantia de direitos, visando a proteção integral à família, pelo
estado e a sociedade para esta tarefa. Esta mudança destina-se a substituir práticas
assistencialistas que consta com mais detalhes no Capítulo 2.
1.3 A NOVA LEI DA ADOÇÃO
Refletir sobre a Lei n.º 12.010, a nova Lei da Adoção, é de extrema importância para a
reflexão realizada aqui, mesmo não sendo o objeto de estudo que está sendo exposto no presente
trabalho. É importante, não só por ser uma lei recente, mas porque dá base para a
operacionalização do próprio ECA. Esta lei rege o trabalho do Assistente Social que atua no
Serviço Auxiliar da infância de Toledo (SAI), onde a autora deste trabalho realizou o estágio
obrigatório.
A citada Lei aborda as alterações sofridas pelo Instituto da Adoção, sob os auspícios da
Lei n.º 12.010, sancionada em 03 de agosto de 2.009. Tal lei é focada na garantia do direito de
crianças e adolescentes ao convívio familiar em comunidade, regido e estabelecido pela Lei n.º
8.069 de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).
De acordo com Perin (2011), a Lei nº 12.010/09 promoveu várias alterações no Estatuto
da Criança e do Adolescente, algumas de cunho meramente terminológico, outras muito mais
profundas e significativas. Porém, a nova lei não faz menção apenas à adoção, ela procura
aperfeiçoar a sistemática prevista pela Lei 8.069/90 (BRASIL, 1990) evidenciando a garantia do
direito à convivência familiar, em suas mais variadas formas. Efetivando o exercício do direito à
convivência familiar para todas as crianças e adolescentes.
A Nova Lei da adoção, modificou 54 artigos da Lei nº 8.069/90, aperfeiçoando os trâmites
legais da adoção e garantindo uma maior efetividade no direito das crianças e dos adolescentes à
convivência familiar, fortalecendo e preservando desta forma, a família de origem e evitando ou
abreviando ao máximo o abrigamento dos adotados.
Para Rossato (2009), os pontos mais importantes com relação à nova legislação estão na
avaliação periódica da situação de cada criança acolhida em instituição; na criação de cadastros
de crianças aptas à adoção e pretendentes a adotá-las; e no cuidado, agora previsto em lei, com a
manutenção dos laços fraternos e familiares.
19
A Lei 12.010/09, ainda regulamenta o que já acontece na prática, com a priorização, por
parte dos magistrados, da família biológica em caso de adoção. Outro importante avanço é a
reafirmação da necessidade de afinidade da criança com os parentes, elemento fundamental para
garantir, de modo pleno, o direito à convivência familiar.
Ou seja, é prioridade facilitar com que a criança conviva com pessoas de sua família,
sendo que só irá para adoção com outras famílias se não tiver nenhuma possibilidade de ficar
com parentes.
Para Ernst (2011), são manifestas as melhorias que a Lei 12.010/09 representa ao sistema
brasileiro de adoção, visto que abordou questões cruciais para garantir uma vida digna às crianças
e aos adolescentes além de ampliar o número de famílias que tem interesse em adotar.
Entretanto, a Lei é alvo de algumas críticas, principalmente pelos juristas, e por isso,
alguns artigos foram suprimidos por tratarem de questões problemáticas e de difícil solução.
Para os três autores anteriormente citados, a Nova Lei da adoção tem avanços, é relevante,
prioriza a criança, familiares próximos, fazendo com que se opte pela família substituta da
adoção apenas em casos extremos.
Mas para Dias, em trecho de um artigo publicado em 2010, intitulado “Direito das
famílias: um ano sem grandes ganhos”, a nova Lei apresenta pontos retrógrados:
O total descaso do legislador para com a realidade da vida resta escancarada na
chamada Lei da Adoção, a Lei nº12.010, de 3 de agosto de 2009. Apesar do
nome com que ficou conhecida, veio para entravar ainda mais o calvário a que
são submetidas milhares de crianças e adolescentes. Não basta a desdita de não
permanecerem junto a seus pais. Sequer lhes é assegurado o direito de
encontrarem um lar sem amargarem por anos em abrigos e instituições. A
sacralização exacerbada da família natural faz tão moroso o processo de
destituição do poder familiar que as crianças deixam de ser crianças, o que
diminui, em muito, as chances de serem adotadas. Ainda que a Lei traga alguns
avanços, estes são insignificantes em face dos percalços impostos à adoção
nacional e internacional (DIAS, 2010, s.p)
Para Dias, a Nova Lei de Adoção faz com que crianças e adolescentes sejam
encaminhadas para abrigos e instituições e por lá permanecem – “travadas” – por anos, sem que
nada seja feito pelas instituições sociais. O que adianta uma lei em execução, mas que não tenha
mecanismos para ser executada com eficácia sem que retarde ainda mais o processo de adoção?
Questiona.
20
Esta é a nossa interrogação sobre a qual é preciso refletir principalmente no exercício
profissional de Assistentes Sociais.
21
2 O TRATAMENTO SOCIAL RECEBIDO POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES A
PARTIR DO SÉCULO XVI NO BRASIL
A análise da documentação histórica sobre a assistência à infância a partir do século XVI
revela que as crianças nascidas em situação de pobreza e/ou em famílias com dificuldades de
criarem seus filhos tinham um destino quase certo quando buscavam apoio do Estado, ou quando
o Estado mesmo as retirasse: o de serem encaminhadas para instituições como se fossem órfãos,
abandonados ou vistos como “vadios”.
2.1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A RESPEITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ANTERIOR AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Segundo Priore (apud MELLO, 2004) o tratamento social recebido no Brasil pelas
crianças de vários estratos sociais, a partir do século XVI teve uma variação considerável. Entre o
nascimento e os14 anos de idade a nomenclatura foi designada como “puerícia” e a segunda
idade a partir de 14 a 21 anos, como adolescência.
A autora designa três momentos específicos na infância, o que caracteriza fases que
correspondem a períodos distintos. A primeira fase era compreendida até o final da
amamentação, ou seja, findava por volta dos três ou quatro anos. A segunda fase era
compreendida até os sete anos. E a terceira fase as crianças começavam a trabalhar,
desenvolvendo pequenas atividades, ou estudavam a domicílio, com preceptores, na rede pública,
ou ainda, aprendiam algum ofício, tornando-se “aprendizes”.
Neste período do Brasil Colônia a educação variava conforme os estratos sociais aos quais
as crianças pertenciam, isto é, crianças de famílias livres e pobres eram “adestradas” para
assumirem responsabilidades em trabalhos variados (músicos, atores, auxiliares de construtores,
pintores e arquitetos), e aquelas cuja condição social era abastada tinham privilégios de uma
educação particular domiciliar ministrada por preceptoras.
Entretanto crianças cujas mães escravas exerciam serviço doméstico, viviam nas senzalas,
agregadas ou não muito distante da habitação dos donos. Muitas senzalas se localizavam no
porão das moradas sobretudo nas vilas e arraiais. Ainda no século XXI era possível encontrar
quilombolas remanescentes (PRIORE, 2004, p. 128)
22
Reiterando, no Brasil escravo de três séculos (1500 a 1889) os núcleos sociais eram
distintos, os livres e os escravos; os que viviam em ambientes rurais ou urbanos, os ricos e
pobres; os órfãos e abandonados e os que tinham família. Apesar das diferenças, a idade os unia
(104).
Assim,
[...] a formação social da criança já naquela época passou pela violência
explicita ou implícita do que pelo livro, pelo aprendizado e pela educação. Triste
realidade num Brasil, onde a formação moral e intelectual, bem como os códigos
de sociabilidade, raramente aproximam as crianças de conceitos como civilidade
e cidadania (PRIORE, 2004, p. 105).
As crianças daquele período, além de não serem vistas como sujeitos de direitos eram
tratadas era de maneira muito bárbara e violenta. E isso fazia com que a educação fosse passada
para trás.
2.1.1 A Roda dos Expostos
Para iniciar a história das crianças abandonadas a partir do século XVIII é necessário
conhecer a estratégia adotada pela Igreja Católica para acolher recém-nascidos considerados
“bastardos”, isto é, nascidos fora do casamento formal e que estavam comprometendo “a moral”
familiar.
Assim a Roda dos Expostos existiu desde 1780 e servia para amparar crianças rejeitadas
pelas mais variadas razões, ficando abrigadas sob a guarda da Igreja até à idade de entrada no
mundo do trabalho. “Estas instituições atuavam tanto com os doentes quanto com os órfãos e
desprovidos [...]” (LORENZI, 2007, s.p.).
A Roda dos Expostos era um mecanismo construído em madeira em forma de tambor ou
portinhola giratória (FRANCO, 2010), e servia para não expor quem estava entregando a criança,
pois, quando a mesma passava por esse tambor que girava, fazia com que as pessoas envolvidas
não se vissem.
Esse modelo de acolhimento ganhou inúmeros adeptos por toda a Europa, principalmente
por parte da Igreja Católica a partir do século XVI (1501) até meados do século XIX (1850).
23
No Brasil as primeiras Santas Casas de Misericórdias da América Portuguesa que
adotaram a esse modelo foram as de Salvador (1726) e a do Rio de Janeiro (1738) (FERREIRA,
2009).
A propagação das Rodas dos Expostos fez parte das medidas filantrópicas, mas foram
extintas com a criação das instituições sociais e da legislação de proteção às crianças. Após a
independência do Brasil (1822) os governantes adotavam uma política de proteção por meio das
“casas de amparo”, que foram criadas
[...] com o objetivo de salvar a vida de recém-nascidos abandonados, para
encaminhá-los depois para trabalhos produtivos e forçados. Foi uma das
iniciativas sociais de orientar a população pobre no sentido de transformá-la em
classe trabalhadora e afastá-la da perigosa camada envolvida na prostituição e na
vadiagem (LEITE, 1991, p. 99).
Com o fato das crianças ficarem órfãs com pouca idade, as mesmas eram colocadas para
trabalharem e com isso verifica-se o aproveitamento da mão de obra infantil por parte do novo
modo de produção nascente.
Foi observado que as crianças que haviam sido abandonadas tinham vários encaminhamentos,
algumas eram adotadas por famílias de “posses” para serviços do lar, principalmente às crianças negras
que eram denominadas de crianças de “cor”.
Essas crianças tinham significativo papel nas festividades folclóricas brasileiras sendo a maioria
era educada pelo catolicismo “Desde o tempo dos jesuítas se valorizava a participação de crianças em
cerimonias e nas festas religiosas como um meio de atraí-las para essa religião [...]” (PRIORE, 2004, p.
126).
A religião era vista como o melhor caminho que a criança pudesse seguir, pois dessa forma não se
“desviava” para a rua e para “vadiagens”.
Foi a partir do século XIX que a criança e o adolescente tornam-se objetos de estudos e
descobertas das ciências humanas, entretanto, no período de 1789 a 1830, a maioria ainda era considerada
força de trabalho adulto. Realidade muito mais especifica para crianças fluminenses filhos de escravos.
Em pesquisas realizadas pela autora sobre os inventários das áreas rurais fluminense, revelou-se
que o índice de mortalidade entre crianças filhos de escravos era expressivo, sendo que 20% morriam
antes de completar um ano de idade e o restante até os cinco anos.
Outro resultado relevante demonstra que aqueles que escapavam da morte prematura, iam,
aparentemente, perdendo os pais. Assim “[...] antes mesmo de completarem um ano de idade, uma entre
24
cada dez crianças já não possuía nem pai nem mãe anotados nos inventários. Aos cinco anos metade já
parecia ser completamente órfãos 11 anos, oito a cada dez [...]” (PRIORE, 2004, p. 180).
O momento era de formação e amadurecimento do sistema de produção capitalista. O Brasil
estava próximo da Republica (1889) e São Paulo dava um salto populacional de cerca de 30 mil habitantes
em 1870 para 286 mil em 1907. Essa explosão demográfica foi resultado da migração rural para os centros
urbanos maiores em decorrência do crescimento industrial. Ali, desenvolveu-se estabelecimentos têxteis,
alimentícios, serrarias e cerâmicas.
Porém, as condições sociais e habitacionais das cidades industriais, iniciaram uma deterioração
urbana e com isso, as famílias passam a residir em cortiços3 que moradia predominante entre os
trabalhadores da cidade grande que começavam a enfrentar o agravamento das crises sociais, o
que fica detalhado a seguir.
2.1.2 A Criminalidade entre os Adolescentes no Início do Século XX
A partir de 1904 as pesquisas a respeito da criminalidade entre adolescentes apontam que
[...] a natureza dos crimes cometidos por menores4 era muita diversa daqueles
cometidos por adultos, de modo que entre 1904 e 1906, 40% das prisões de
menores foram motivamos por “desordem”, 20% por “vadiagem”, 17% por
“embriaguez” e 16% por furto ou roubo. Se comparado com os índices da
criminalidade adulta teremos: 93,1% dos homicídios foram cometidos por
adultos e 6,9% por menores (SANTOS, 1999, p. 214).
Observa-se que a maior incidência da criminalidade infantil e entre adolescentes recai
sobre a população da cidade onde o termo “banditismo” explicava todas as situações referentes às
desordens sociais de várias naturezas, como pequenos roubos, vadiagem, embriaguez,
mendicância.
A infância e adolescência sempre foi vista como a “semente do futuro”, terminologia
própria da sociedade da época e era alvo de sérias preocupações por parte de autoridades
judiciárias que buscavam por vezes na infância “a origem do problema”.
3 “O cortiço é a habitação mais antiga em São Paulo, ligada aos primórdios da industrialização-urbanização que se
iniciou na última década do século XIX. São imigrantes inicialmente italianos que fazem a cidade crescer e ocupam
os principais postos no nascente parque fabril: salários baixos, frequentemente deteriorados, jornada de trabalho de
doze ou mais horas, trabalho noturno feminino e infantil, também na indústria têxtil, motor da economia por várias
décadas do século XX.” (KOWARICK, 2013, p. 49). 4 Neste trabalho o termo menor será utilizado em itálico, visto que era o nome designado às crianças no período
histórico estudado. Com a promulgação do ECA, passou-se a utilizar os termos criança e adolescente.
25
O código criminal do Império em 1890 em seu artigo 10 afirma que
[...] não se julgarão criminosos [...] os menores de 14 anos’. Porém, estabelecia
que aqueles garotos que, mesmo não atingindo a idade mínima de 14 anos e
tivessem agido de forma consciente, ou seja, tivessem agido com
‘discernimento’, deveriam ser encerrados em uma casa de correção: ( Brasil,
1890. s.p)
No período do Brasil Colônia o Código Criminal do Império de 1830 previa a assistência
do Estado às crianças e adolescentes em conflito com a lei.
Entretanto, existiam poucas Casas de Correção para assistencializá-los, dessa forma “por
não poder cumprir o que ele próprio previa, pois, “[...] na prática, entre nós, por falta de casas de
correção para menores, eram estes lançados na mesma prisão que os adultos em deploráveis
promiscuidades [...]” (JESUS, 2006, p. 35), haviam conflitos gerados entre poder público e
entidades religiosas em cuidar das crianças e adolescentes abandonados, o que fica demonstrado
que já a partir daquele período não havia uma política de proteção para esse segmento.
No Brasil particularmente no município de São Paulo, século XIX, já possuía institutos de
recolhimento para menores, porém eram de caráter privado, fundados geralmente por
congregações religiosas ou por particulares ligados à indústria e ao comércio.
Alguns exemplos são o Lyceo do Sagrado Coração de Jesus, o abrigo de Santa Maria, o
Instituto D. Ana Rosa, e o Instituto D. Escholastica Rosa, da cidade de Santos.
Esses abrigos acolhiam filhos dos operários e comerciantes. Ficava coibido que tivessem
menores incriminados judicialmente. Com isso os menores do Estado (que possuía poucas vagas)
quase nunca iam para esses acolhimentos.
Até 1902 a prisão de menores era feito pela força pública ou pela guarda cívica, garotos
iam presos, e permaneciam uma ou duas noites naquele lugar, junto com os “perigosos
bandidos”, e nenhuma autoridade tomava qualquer providência, nem mesmo registro havia sobre
essas ocorrências.
Candido Motta, um dos juristas que mais propalava a necessidade de um estabelecimento
de recuperação de “menores”, nos traz o seguinte relato
No ano passado, encontramos no calabouço 12 menores ali convivendo com
cento e tantos vagabundos, ébrios e desordeiros. Este ano, visitando a cadeia,
26
notamos ainda grande numero de menores em idênticas circunstancias. O
publico clama contra isso, mas que fazer (MOTTA, 1938, p. 223)
Nesse mesmo ano a Lei nº 844, autorizava o governo a fundar um instituto disciplinar e
uma colônia correcional. Tinha como objetivo a correção e a prisão dos chamados “vadios e
vagabundos”, condenados com base nos artigos 375, 399 e 400 do código Penal. Passariam por
essas correções através de trabalho os criminosos menores de 21, e também maiores de nove e
menores de 14 anos. E nesse lugar ficavam até completarem 21 anos.
Mas essa decisão fez com que pais, tirassem seus filhos das escolas, pois, havia rumores
que a polícia estava nas ruas prendendo qualquer tipo de menor indistintamente e levando presos.
2.2 O PRIMEIRO JUIZADO DE MENORES E O CÓDIGO DE MENORES
Em 1923 foi criado o Juizado de Menores e Mello Mattos foi o primeiro Juiz desse
segmento na América Latina, por meio do Decreto n. 16.273, de 20 de dezembro de 1923. Essa
medida jurídica foi editada para reorganizar a Justiça do Distrito Federal, Rio de Janeiro
(Fachinetto, 2004). Com o objetivo de atender crianças e adolescente que requeriam proteção
formal em Abrigo institucional, as Casas-Lar ou Casas de Passagem não atuavam sobre direitos
da criança e do adolescentes conforme artigo 1º do Código de Menores em 1923, sendo
oficialmente aceito em 1927, “O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que
tiver menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade competente ás medidas de
assistencia e protecção contidas neste código.” (BRASIL, 1927, s.p, grafia original)
Esse código estabelecia algumas normas relacionadas ao pátrio poder, ao trabalho infantil,
à liberdade vigiada, e falava de medidas de assistência e proteção, ainda não consideradas como
direitos e não faziam parte da Constituição Federal vigente.
Também nesta data deu-se a primeira regulamentação sobre o trabalho feminino que
previa a instalação de creches e salas de amamentação durante a jornada das empregadas das
fábricas.
Também nesse período, em 1924, foi criado o Tribunal de Menores cuja estrutura jurídica
serviu de base fundamental para o primeiro Código de Menores.
27
Nesse mesmo ano foi aprovado a Declaração de Genebra5, primeiro documento
internacional sobre os Direitos da Criança. A Declaração reconhece que a criança deve ser
protegida independentemente de qualquer consideração de raça, nacionalidade ou crença, deve
ser auxiliada, respeitando-se a integridade da família e deve ser colocada em condições de se
desenvolver de maneira normal, quer material, quer moral, quer espiritualmente.
Nos termos da Declaração, a criança deve ser alimentada, tratada, auxiliada e reeducada; o
órfão e o abandonado devem ser recolhidos.
Em tempos de infortúnio, a criança deve ser a primeira a receber socorros. A criança deve
ser colocada em condições de, no momento oportuno, ganhar a sua vida, deve ser protegida
contra qualquer exploração e deve ser educada no sentimento de que as suas melhores qualidades
devem ser postas ao serviço do próximo ( Santos. “The Convention on the Rights of the Child
1997)
Esse documento conferia amplos poderes ao Juiz em estabelecer intervenções no âmbito
da família para situações onde crianças eram denominadas e tratadas como vadias e mendigas.
Nesse código dá-se a passagem da tutela da família para o Juiz de Menores.
De acordo com a antropóloga Adriana de Rezende Vianna,
A promulgação do Código de Menores de 1927, pode ser vista como um
momento em que, juridicamente, a menoridade deixa de figurar como uma
condição a ser levada em conta nos diversos tipos de códigos legais para se
tornar um objeto específico de normatização. Ao regular os procedimentos a
serem adotados em casos de infração ou trabalho envolvendo menores, ele
inverteria o objeto principal de regulamentação: não se tratava mais de se
considerar a menoridade do trabalhador ou do infrator, mas sim de avaliar em
que condições poderia se dar a relação do menor com o trabalho e com a
infração. Segundo essa lógica, o crime, o abandono ou o trabalho tornavam-se
condições explicativas ou circunstanciais de uma identificação primeira, a de
menor (VIANNA, 1999, p. 169).
2.2.1 A Criação do Serviço de Assistência do Menor - SAM
5 A Declaração de Genebra foi aprovada pela Assembleia Geral da Associação Médica Mundial em Genebra, 1948,
sofrendo alterações em 1968, 1984, 1994, 2005 e 2006.
28
Após dezesseis anos, em 1942, foi criado o Serviço de Assistência do Menor – SAM,
como política social de proteção à infância. O SAM esteve subordinado ao Ministério da Justiça
cujo modelo de assistência foi instalado no Governo de Getúlio Vargas.
Nesse período, em âmbito internacional, algumas políticas de proteção às populações dos
países que participaram da 2ª Guerra Mundial em 1945, foram formuladas pela Organização das
Nações Unidas – ONU.
Essas políticas foram criadas para atender 50 países com os objetivos de manter a paz e a
segurança internacional, aprofundar a cooperação e o desenvolvimento entre as nações.
Nos anos posteriores, em 1946, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF,
criou seus primeiros programas. Seu objetivo imediato foi o de dar assistência emergencial a
milhões de crianças, no período do pós-guerra principalmente na Europa, Oriente Médio e
China). Os programas da UNICEF só foram implantados no Brasil em 1950, primeiramente na
cidade de João Pessoa, na Paraíba, trazendo para o Nordeste brasileiro os programas de proteção
à saúde da criança e da gestante.
Observa-se um nítido movimento democrático de cidadania, pois, em 1948, foi criada e
reconhecida a Declaração Universal dos Direitos Humanos6
Nove anos após, em 1959, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos da Criança
pela ONU o que aumentou o elenco dos direitos das crianças.
Mas foi somente a partir da década de 1960 que houve uma grande ampliação dos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil brasileira e esse movimento ocorreu em
torno de reivindicações de políticas sociais redistributivas.
Esse movimento teve impacto na organização da própria sociedade, porém não há registro
histórico de movimento organizado especifico pela infância e pela adolescência, mas pelas
condições gerais de trabalho e de vida dessas populações.
2.2.2. Criação da Fundação do Bem-Estar do Menor – FUMABEM
Nessa década, especificamente em 1964, a Lei Federal nº 4.513 de 01/12/1964 do governo
militar criou a Fundação do Bem Estar do Menor – FUNABEM, substituta do SAM e isto se deu
6 Gomes, 2011 ressalta que era instrumento regulatório de abrangência internacional que pretendia evitar o
surgimento de outra guerra das dimensões da II Guerra Mundial.
29
no primeiro governo militar herdando do SAM a mesma forma de trabalho anterior. Isto é, a
internação das crianças e adolescentes de 0 a 18 anos abandonados e crianças e adolescentes
infratores.
Em 1966 a FUNABEM elaborou junto com sua equipe técnica da própria Fundação um
documento que descrevia as Diretrizes e Normas. Nesse documento a Política do Bem-Estar do
Menor, exigia que a sociedade deveria oferecer para o Menor “saúde, amor, e compreensão,
educação, recreação e segurança social”. Este documento foi construído no sentido de procurar
popularizar os chamados “direitos humanos das crianças”, representando, assim, um dispositivo
de poder sobre o controle e assistência da infância.
Em seu campo de atuação
[...] a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor assume, no entanto, como seu
campo de trabalho, aquelas faixas populacionais que não são atingidas pelos
esforços correntes de criação de condições de bem-estar, ou porque não se conta
com recursos que permitam cobrir de necessidades de todas as camadas
populacionais; ou porque, por carências de ordem sócio-econômico-cultural,
muitos grupos populacionais não tem possibilidades de se beneficiar das
condições porventura postas à sua disposição, ou de criar as condições de seu
cargo. O Campo de trabalho da Fundação se define, assim, como a faixa
populacional, cuja parcela de indivíduos de menor idade, está sujeita a um
processo de marginalização, entendendo-se por marginalização do menor, o seu
afastamento progressivo, de um processo normal de desenvolvimento e
promoção humana, até a condição de abandono, exploração ou conduta anti-
social (BRASIL, 1966, p. 15)
A FUNABEM como instituição criada pelo Estado portava todas as características do
regime militar. O discurso militar quanto aos objetivos da FUNABEM, foi de que o compromisso
dessa instituição tenha sido necessário a partir da realidade social daquele momento econômico
brasileiro. Nesse período houve o entendimento da necessidade de se engendrar a doutrina do
bem-estar que atrelava a política social às questões econômicas.
Conforme indica Behring e Boschetti, as políticas sociais construídas no “Brasil Militar”
emergem das preocupações políticas e econômicas, pautadas no caráter assistencialista e
tecnocrático, na lógica de uma “inovação conservadora” (BEHRING, 2010).
A Política Nacional do Bem-Estar do Menor foi quem instituiu a FUNABEM e as suas
respectivas unidades estaduais denominadas de FEBEM - Fundação Estadual do Bem Estar do
Menor, criada em 1967 pela Lei 1.534.
30
A formatação das FEBEMs emerge de um cenário político marcado pelo atrelamento do
Brasil ao contexto internacional, pautado na lógica do Estado-provedor, responsável pela
condução da vida de crianças e adolescentes e de suas famílias.
Foi neste sentido que os idealizadores do projeto FUNABEM buscaram legitimar o
discurso do “problema do menor” sendo consequência do “crescimento econômico” que ao nosso
entender nada mais é que uma das expressões da “Questão Social”7.
Isto é, o Estado culpabilizava o problema do menor como consequência do crescimento
econômico, porém vai muito além do problema econômico. O problema estava sendo causado
pela própria maneira em que o Estado agia frente a essas expressões da “questão social”.
O Brasil vivenciava um período de Ditadura, e a FUNABEM nesse contexto executava
ações aos “menores infratores e carentes” que era pautada pela Política Nacional do Bem Estar do
Menor (PNBEM). “Existia uma intencionalidade por parte dos militares: a de retroalimentação da
violência. Neste ponto, a Febem foi muito bem-sucedida, porque criminalizava as crianças órfãs
ao mesmo tempo em que alimentava a violência e aumentava o poder dos militares [...]” (SILVA,
2004, pg)
Essa referência de ser “bem-sucedida” está de acordo com os objetivos militares e por
essa razão o tratamento era desumano aos adolescentes. Essa percepção só pode ser
compreendida após o retorno à democracia e com a garantia da liberdade de expressão.
2.3 PRIMEIRA CONVENÇÃO INTERNACIONAL DA ONU E OS MOVIMENTOS
INTERNACIONAIS SUBSEQUENTES
Em 1965 a ONU inicia a construção da Política Internacional sobre a eliminação de todas
as Formas de Discriminação Racial (CERD – ONU, resolução AG nº 2.106-A, de 21/12/1965.
Ratificada pelo Brasil em 27/03/1968. Promulgada pelo Decreto nº 65.810, de 08/12/1969).
7 Segundo Netto (2006b, p. 151) “Na agenda contemporânea do Serviço Social brasileiro, a ‘questão social’ é ponto
saliente, incontornável e praticamente consensual”. Porém, “a expressão ‘questão social’ não é semanticamente
unívoca; ao contrário, registram-se em torno dela compreensões diferenciadas e atribuições de sentido muito
diversas”. O autor utiliza a expressão entre aspas e enfatiza a importância de contextualizá-la historicamente
indicando que a questão social é a razão de ser do Serviço Social, e “até a sua resolução com a supressão da ordem
do capital, ainda está aberto um longo caminho para esta profissão”. Ainda, Segundo Netto (2001, p, 42), a expressão
“questão social”, surge como denominação do fenômeno do pauperismo da população trabalhadora na Europa
Ocidental que vivia os impactos da Revolução Industrial que teve início na Inglaterra por volta do século XVIII.
Netto afirma, que pela primeira vez na história registrada, a medida que aumentava a capacidade social de produzir
riquezas, crescia a pobreza, tornando-se claro para os observadores da época, independente de sua posição ídeo -
política, que tratava-se de um novo fenômeno.
31
Os Estados Partes8 comprometem-se a tomar medidas imediatas e
eficazes, sobretudo no campo do ensino, educação, cultura e informação,
para lutar contra preconceitos que conduzam à discriminação racial e para
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre nações e grupos
raciais e étnicos, bem como para promover os objetivos e princípios da
Carta das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, da Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial e da presente Convenção (CEDIM,
s.p)
Essa política criada em 1965 pela ONU só foi aceita e executada no Brasil no ano de 1969
devido diretriz do Governos militar em não seguir propostas democráticas de outros países.
Essa posição esta explicada por OLIVEIRA, 2011, p. 6. Em seu entendimento, as lutas
pela democracia eram realizadas através de movimento sociais populares e organizados pela
sociedade civil que mantinha apoio de legislativos da época.
Nesse período ocorriam investimentos em área privada com recursos públicos,
valorizando setores da sociedade que investiam nas indústrias e sua infraestrutura.
As mobilizações da sociedade foram fundamentais na estruturação de comitês para
formulação e disseminação de propostas de bases democráticas. [...] “foram decisivas a
mobilização social e a eleição de uma minoria atuante de parlamentares constituintes com origem
nos movimentos sindical e popular, bem como em outras organizações da sociedade civil, com
vínculos com suas bases e comprometidos com as propostas democráticas” (OLIVEIRA, 2011, p.
6.).
Em 1978 deu-se o início das ideias a respeito dos Direitos da Criança o que originou a
primeira Convenção Internacional no Governo da Polônia, evento que se apresentou como mais
forte que uma declaração, cujos princípios os povos devem guiar-se9.
E em 1979 ocorreu a Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação contra as mulheres – Committee on the elimination of discrimination against
8 Estados Parte significa os Estados que tenham consentido em ficar obrigados pela Convenção das Nações unidas
em relação aos quais a Convenção esteja em vigor http://www.meioambienteecidadania.com.br/2010/07/qual-o-
significado-do-termo-estados.html. 9 A convenção vai mais além, ela estabelece normas, isto é, deveres e obrigações aos países que a ela formalizem sua
adesão. Ela confere a esses direitos a força de lei internacional, não sendo, no entanto, soberana aos direitos
nacionais. (http://www.promenino.org.br/direitosdainfancia/historico)
32
women (CEDAW, 1979) o que abriu espaço para a política social de proteção à família a criança
e ao adolescente.
No mesmo ano, foi instituído o “Ano Internacional da Criança” definido pela ONU,
inclusive com a aprovação do Segundo Código de Menores. Foi revogado o Código de Menores
Mello Mattos e substituído pelo Código de Menores de 1979.
Essa reforma teve como objetivo romper com o que a sociedade compreendia como
“infância perigosa”, agora sendo chamada de “menores em situação irregular”. Mas, mesmo
assim, continuava tendo uma prática assistencialista junto “ao menor”10
Apesar da substituição manteve a mesma forma da execução dessa política como de:
arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto à população infanto-juvenil.
Para Rizzini (2007) a política de atendimento à infância e ao adolescente em situação de
abandono vem sofrendo diversas transformações no Brasil ao longo do tempo. A implantação da
política de atendimento mudou gradualmente passando do domínio da Igreja para entidades
filantrópicas até se tornar responsabilidade do Estado.
10
O termo Menor é abandonado definitivamente quando se obteve a revisão imediata do código de Menores, pois,
estava carregado de preconceitos e interdições (PRIORI, 2004)
33
3 A PRÁXIS PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SÓCIO JURÍDICO E SUA
HISTÓRIA
A “área”, “campo”, “esfera” ou “sistema” sociojurídico apresenta-se, atualmente, como
uma perspectiva singular para a atuação profissional, que percebe o direito como um complexo
carregado de contradições. O profissional o assistente social no sociojurídico se depara com
diversas situações de violações de diretos, com vínculos sociais e familiares rompidos ou
fragilizados. Por isso, é necessário que o profissional trabalhe com consonância com a defesa e a
garantia de direitos, efetivando no cotidiano profissional a dimensão investigativa crítica no
processo de conhecimento da demanda a ser atendida, e através da dimensão teórico-
metodológica permite-se que o profissional tenha uma reflexão crítica da realidade social que vai
embasar o exercício profissional, na medida em que possibilita uma visão da totalidade do seu
objeto de intervenção, suas relações, contradições e constantes mudanças.
3.1 A HISTÓRIA DO SÓCIO JURÍDICO
O campo sociojurídico é composto por um conjunto de instituições que fazem parte do
Sistema Judiciário, Sistema Penitenciário, Órgãos de Segurança, Unidades de Proteção e de
Direitos Humanos, dentre outras.
Alguns autores da área de Serviço Social dão sua contribuição sobre a origem não só do
termo, mas, do campo de trabalho sociojurídico para o Serviço Social.
Para e Trindade (2011) são instituições em que o Serviço Social atua mesclando as ações
de cunho social com os procedimentos de natureza jurídica. Assim, o campo sociojurídico
caracteriza-se como um espaço em que se desenvolvem ações que se aplicam, sobretudo, às
medidas decorrentes de mecanismos legais, civil e penal,
Conforme Sousa et al. (2014), a inserção do Serviço Social no Judiciário é próxima à
origem da profissão no Brasil. O Serviço Social a partir da década de 1990 tem uma direção
voltada para a proposição e o desenvolvimento de ações que pudessem assegurar alguma
proteção social, ainda com uma visão de justiça social direcionada pela doutrina social da Igreja
Católica, que naquele momento iluminava a formação moral e ética na formação das/os
assistentes sociais.
34
E no exercício dessa função profissional, assistentes sociais tinham motivações que
provocaram a inserção dos mesmos em ações de comissariado de menores, de fiscalização do
trabalho infantil, entre outras frentes que se relacionavam intrinsecamente com o universo
jurídico, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo (SOUSA et al., 2014)
Posteriormente, diante do agravamento dos problemas relacionados à “infância pobre”, à
“infância delinquente”, à “infância abandonada”, a ação profissional passa a basear-se no
controle social de comportamentos considerados "desviantes" do padrão dominante burguês.
O Estado não se responsabilizava frente às questões da infância. Os espaços de
acolhimento das crianças abandonadas e órfãs eram de responsabilidade religiosa, precedidos por
valores morais e cristãos, atribuindo à família a razão pela situação econômica de pobreza.
Neste sentido, o Serviço Social é chamado a intervir com estratégias de controle
desejadas pelo Estado para impedir o agravamento dessas situações nos espaços urbanos.
O primeiro Código de Menores do Brasil foi implantado em 1927, conhecido como
Código Mello Mattos, em homenagem a José Cândido Albuquerque de Mello Mattos, o primeiro
Juiz de Menores da América Latina, que redigiu o Código, sendo então a primeira legislação
voltada à assistência e proteção dos “menores” no Brasil e na América Latina, segundo Bidarra e
Oliveira (2007).
Como foi tratado anteriormente o termo “menor” era classificado para uma parte da
população, tendo como critério, determinada faixa etária e designado às crianças oriundas de
famílias pobres. Somente eram “menores” aqueles que se encontravam “em situação irregular”,
ou seja, os “menores abandonados” ou os ditos “deliquentes”.
Em sua análise sobre o código de menores Santos e Veronese (2007, p. 28) afirmam que
esta legislação possuia um caráter de penalização e não de proteção, com ações voltadas à
infância das classes subalternas. Nessa perspectiva a condição de pobreza era sinônimo de
criminalidade, sendo que naquele periodo a infancia pobre era caracterizada como abandonada e
delinquente, passando a ser criminalizada.
Por 52 anos o Código de Menores deu a direção para o trato com a infância brasileira. Ela
só seria revogada em 1979, por meio de novas discussões e mobilizações pelas recentes
necessidades sociais.
Essas necessidades estão relacionadas às garantias de efetivação mecanismos e dos
direitos sociais firmados na Convenção Internacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes
35
em 1989 como resultado de um processo histórico que culminou com a lei 8069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Para Sousa et al. (2014) essa nova realidade provocou uma ampla expansão das frentes de
atuação dos profissionais assistentes sociais, consolidando o Serviço Social de forma mais
sistemática nas práticas desenvolvidas nas instituições que estabeleciam relação direta com o
universo sócio jurídico.
3.2. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SÓCIOJURÍDICO
Os assistentes sociais, por meio da prestação de serviços sócio-assistenciais nas
organizações públicas e privadas, interferem nas relações sociais cotidianas no atendimento às
mais variadas expressões da questão social vivida pelos indivíduos sociais no trabalho, na
família, na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência social pública, entre outros.
O surgimento do cuidado e atenção às expressões da questão social no sociojurídico é
resultado das modificações transcorridas ao longo dos anos pela sociedade brasileira, passando
pela redemocratização, pelas várias crises econômico-sociais que aprofundaram as desigualdades
sociais.
Também é considerado pelos avanços nos direitos11
proclamados pela Constituição
Federal de 1988 e pelas legislações subsequentes, e depois, contraditoriamente, com a conjuntura
política instalada a partir dos anos 1990, com a ofensiva neoliberal em resposta à crise mundial
do capital.
Dessa forma observou-se que diante da nova realidade houve novas requisições para os
devidos ajustes impostos às políticas sociais no Estado capitalista.
Esses ajustes ocorreram por intermédio da política neoliberal mundial, exigindo da
profissão Serviço Social a redefinição de estratégias e procedimentos para adequar-se a essas
novas situações na prática profissional. Com essa nova conjuntura têm demandado ao assistente
social uma visão crítica da realidade.
Mas vale ressaltar que tudo isso aconteceu após o Movimento de Reconceituação do
Serviço Social nos anos 1960 e 1970 que proporcionou um aprofundamento teórico-
11
Os direitos surgem historicamente a partir das reivindicações por melhores condições de vida da sociedade, ou
seja, dependendo do momento histórico, determinado pelas condições políticas, econômicas e culturais, estes são
efetivados ou não (SOARES; TRINDADE, 2011).
36
metodológico, principalmente com a tradição marxista, o que possibilitou romper com o caráter
meramente executivo da profissão, conquistando novas funções e atribuições no mercado de
trabalho, e, sobretudo, permitindo que o profissional tenha um embasamento crítico para decifrar
as demandas postas na realidade social, de acordo com Sousa (2008).
Na origem do Serviço Social como profissão inscrita na divisão do trabalho, considerava-se
apenas como uma profissão cuja dimensão técnica garantia eficácia e competências profissionais. Assim
era concebida como uma forma de apresentar resultados imediatos de sua ação que lhe garantiam
legitimidade e reconhecimento da sociedade. Mas, o Movimento de Reconceituação buscou superar essa
visão unilateral, sendo que
[...] no universo das diversas correntes que atuaram nesse movimento, a
principal motivação era dar ao Serviço Social um estatuto científico. E mais
propriamente, no âmbito da corrente que Netto (2004) denominou de “Intenção
de Ruptura” (que para ele significa o rompimento com as visões conservadoras
da profissão), foi levantada a necessidade de que a profissão se debruçasse sobre
a produção de um conhecimento crítico da realidade social, para que o próprio
Serviço Social pudesse construir os objetivos e reconstruir objetos de sua
intervenção, bem como responder às demandas sociais colocadas pelo mercado
de trabalho e pela realidade (SOUSA, 2008, p. 121).
Com isso, assistentes sociais são chamados para intervir além das fronteiras do
imediatismo, com funções repetitivas e burocráticas.
Fez-se necessário compreender as mudanças sociais em movimento, para identificar
novas possibilidades de intervenção profissional, e atender as novas demandas postas, expressas
pelas manifestações da questão social.
O Serviço Social brasileiro, nas últimas décadas, redimensionou-se e renovou-se
no âmbito da sua interpretação teórico-metodológica no campo dos valores, da
ética e da política. Realizou um forte embate com o tradicionalismo profissional
e seu lastro conservador e buscou adequar criticamente a profissão às exigências
do seu tempo, qualificando-a academicamente. E o Serviço Social fez um radical
giro na sua dimensão ética e no debate nesse plano: constituiu democraticamente
a sua base normativa, expressa na Lei de Regulamentação da Profissão, que
estabelece as competências e as atribuições profissionais, e no Código de Ética
do Assistente Social, de 1993 (IAMAMOTO, 2004, p. 24-25).
A partir daí, a prática profissional de assistentes sociais no sociojurudico implicou as três
dimensões do serviço social: teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.
37
Segundo Battini (2004) a dimensão teórico-metodológica é substanciada por uma teoria
social de leitura e explicação da realidade, que substanciam a ação, em uma unidade teoria-
prática.
A dimensão ético-política considera ontologicamente a prática social com suas
determinações sócio-históricas e esta dimensão impulsiona ações profissionais em defesa de
valores éticos universais.
E a dimensão técnico-operativa que é constituída pelas teorias metodológicas,
instrumentos e técnicas para realizar a ação. Essas dimensões representam as competências
essenciais para responder as demandas postas pela contradição capital x trabalho, expressa pelas
manifestações da “questão social”. O profissional comprometido com esses princípios tem uma
apreensão crítica e é qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural
com a qual trabalha.
Outros estudiosos, como Vásquez (1997), Iamammoto, (2004), Mioto; Nogueira, (2006),
Souza (2008), Yazbek (2009), refletiram sobre as dimensões teórico-metodologico, técnico-
operativa, ético-política e observam que é necessário preservar o intenso rigor teórico e
metodológico, que permita aos assistentes sociais enxergarem a dinâmica da sociedade para além
dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades
de construção de novas possibilidades profissionais (SOUSA, 2008, p. 122).
Assim, na medida em que o profissional assistente social atua diretamente no cotidiano
das classes e grupos sociais subalternos, ele tem a possibilidade de produzir um conhecimento
sobre essa mesma realidade, sendo, portanto, o seu principal instrumento de trabalho, pois lhe
permite ter a real dimensão das diversas possibilidades de intervenção profissional.
A partir deste conhecimento é que o profissional vai planejar sua ação, visando a mudança
dessa mesma realidade, utilizando-se de instrumentos e técnicas que viabilizam a sua intervenção
social.
A reprodução das relações sociais na sociedade capitalista, é sob a perspectiva teoria
social crítica, compreendida como a reprodução de uma totalidade concreta da realidade social. E
nesta realidade o seu movimento com todas as suas contradições. Assim, “[...] é a reprodução de
um modo de vida que envolve o cotidiano da vida social: um modo de viver e de trabalhar
socialmente determinado [...]” (IAMAMOTO, 2004, p. 9).
38
Sobre este aspecto Yazbek (2009) analisa que as relações sociais são sempre mediatizadas
por diversas situações que revelam e também ocultam as relações sociais imediatas.
Diante destes desafios, é preciso que o profissional disponha de clareza teórica para
apreender o ser social a partir de mediações, tendo como ponto de partido os fatos, dados e
indicadores como sinais, mas não como últimos fundamentos do horizonte analítico.
Isso requer um posicionamento diferenciado na concretização da ação profissional, ou
seja, um patamar inovador no uso dos aspectos teórico-metodológicos. A partir disso, pode-se ter
um conhecimento que não é manipulador e que aprende dialeticamente a realidade em seu
movimento contraditório, em que se engendram, como totalidade, as relações sociais que
configuram a sociedade capitalista.
Os fundamentos teórico-metodológicos do serviço social no sóciojurídico, por sua vez
podem ser explicados, a partir do olhar dos métodos, técnicas e instrumentos utilizados na ação
profissional, no qual, com um posicionamento direcionado ao projeto ético-político, diante das
manifestações e expressões da “questão social”, tem-se uma abordagem crítico-dialética, para
compreender e decifrar a realidade social e definir qual a melhor maneira de intervir, através da
práxis profissional.
As dimensões que compreendem o método, as técnicas e os instrumentos são
compreendias e explicitadas por Mioto e Nogueira (2006, p. 9) da seguinte forma:
Como um conjunto de procedimentos, atos, atividades pertinentes a uma
determinada profissão e realizadas por sujeitos/profissionais de forma
responsável, consciente. Contém tanto a dimensão operativa quanto uma
dimensão ética, e expressa no momento em que se realiza o processo de
apropriação que os profissionais fazem dos fundamentos teórico-metodológico e
ético-político da profissão em determinado momento histórico.
Sendo assim, o Assistente Social não é um profissional “neutro”, sua práxis se realiza no
marco das relações de poder e forças sociais determinantes na sociedade capitalista –
contraditórias.
De acordo com Vásquez (1997), práxis é a atividade prática material, adequada a
finalidades, que transforma o mundo – natural e humano. Fora dela, fica a atividade teórica que
não se materializa, na medida em que é atividade pura. Porém, por outro lado, não há práxis
como atividade exclusivamente material, sem a produção de finalidades e conhecimentos que
39
caracteriza a atividade teórica. Ou seja, a atividade teórica integra a práxis material,
transformadora e ajustada a objetivos.
Portanto, vemos que não existe ação profissional sem a práxis profissional, isto é sem
embasamento de um corpo teórico. A dimensão teórico-metodológica vai além de um esquema
de procedimentos, métodos e técnicas, uma vez que diz respeito ao modo de ler, de interpretar a
realidade social e de se relacionar com o ser social. Iamamoto (1994, p. 174) reafirma essa
posição: “É uma relação entre o sujeito cognoscente – que busca compreender e desvendar essa
sociedade – e o objeto investigado”
Também, nesse sentido a ABESS faz a seguinte consideração:
[...] a capacitação teórico-metodológica é que permite uma apreensão do
processo social como totalidade, reproduzindo o movimento do real em suas
manifestações universais, particulares e singulares em seus componentes de
objetividade e subjetividade, em suas dimensões econômicas, políticas, éticas,
ideológicas e culturais, fundamentado em categorias que emanam da adoção de
uma teoria social crítica (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 152).
A ação profissional do assistente social no “campo” sociojurídico se caracteriza por uma
prática de operacionalização de direitos, contribuindo para o acesso aos mesmos e à justiça em
meio as contradições que permeiam a realidade social e que também se expressam no espaço
sócio-ocupacional, como demandas aos profissionais.
De acordo com Fávero (2012), no campo sociojurídico tem-se a possibilidade de reflexão
e a análise da realidade social, da efetivação das leis e de direitos na sociedade, possibilitando
desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia da ordem
jurídica em nossa sociedade.
A apropriação da teoria social crítica no sociojurídico é pensada dentro de mecanismos
que defendem a justiça e os direitos enquanto meios estratégicos que possibilitam e implicam a
justiça social, a equidade, a socialização da riqueza socialmente produzida, a universalidade do
acesso a bens e serviços, entre outros.
A partir desta dimensão teórico-metodológica crítica, mesmo nos limites da atuação
cotidiana, pode-se dar o desvelamento e a interpretação crítica da demanda trazida e/ou vivida
pelos indivíduos sociais (seja na abordagem individual ou coletiva) atendidos pelo assistente
social no sociojurídico. Para a autora,
40
Estabelecer o exercício profissional cotidiano com essa perspectiva exige o
entendimento de que os processos de trabalho dos quais o assistente social
participa têm como objeto as expressões da questão social e que essas
expressões expõem violações de direitos, geralmente provocadas por situações
estruturais e conjunturais — entendimento que pressupõe a análise crítica das
dimensões que constituem esse processo de trabalho (FÁVERO, 2012, s.p.).
O assistente social no sociojurídico se depara com diversas situações de violações de
diretos, com vínculos sociais e familiares rompidos ou fragilizados. Por isso, é necessário que o
profissional trabalhe em consonância da defesa e da garantia de direitos sociais, efetivando no
cotidiano profissional a dimensão investigativa crítica no processo de conhecimento da demanda
a ser atendida.
Dessa forma o profissional se prepara com qualificação com base na teoria social crítica,
possibilitando a criação de um espaço de informação, de diálogo e de escuta desses sujeitos. Cria-
se assim o estímulo à reflexão crítica a respeito dos problemas e dilemas que vivenciam e ao
atuarem em conjunto com esses sujeitos estabelecem caminhos para o acesso aos direitos sociais.
Isso exige do assistente social domínio dos meios de trabalho, dos recursos materiais e
dos recursos teóricos-metodológicos, para conhecer a realidade social, seus movimentos, as
correlações de forças e as suas possibilidades, tendo clareza da finalidade do trabalho a ser
realizado.
A/o assistente social, no “campo” sociojurídico, dispõe de autonomia profissional como
uma das prerrogativas garantidas nas leis que subsidiam o exercício profissional, apesar da lógica
extremamente hierárquica que perpassa a estrutura organizacional das instituições sociojurídicas.
Sendo assim, a autonomia é garantida legalmente com base no Código de Ética e na lei
de regulamentação da profissão, o que fundamenta a competência teórico-metodológica, ético-
política e técnico-operativa do assistente social.
O trabalho profissional é mediado pelo desafio cotidiano de concretizar os direitos em
uma sociedade que os retira constantemente. O projeto ético-político do Serviço Social tem como
um dos seus princípios a luta pela consolidação e ampliação dos direitos sociais.
Na análise de Souza (2014) o fazer profissional, no sociojurídico refere-se à direção ético-
política do trabalho do serviço social, como:
41
I. Aassegurar direitos;
II. Fortalecer a rede;
III. Articulação do projeto ético-político do serviço social no cotidiano da
instituição, buscando um significado mais abrangente para o fazer profissional;
IV. Assegurar serviços de qualidade aos/às cidadãos/ãs que demandam o acesso
à justiça, primando pela defesa e proteção dos seus direitos. (SOUZA, 2014, s.p)
Netto, (1999) afirma que o projeto Ético-político do Serviço Social assumiu essa
nomenclatura somente na década passada, construída com base na defesa da universalidade do
acesso a bens e serviços, dos direitos sociais e humanos, das políticas sociais e da democracia, em
virtude por um lado da ampliação das funções democráticas do Estado e por outro da pressão de
elementos progressistas, emancipatórios (NETTO, 1999).
Considerando as dimensões política e ética do exercício profissional, ambas articuladas,
elas buscam a ampliação e consolidação da cidadania como condição para a garantia dos direitos
civis, políticos e sociais da classe trabalhadora, respeitando o princípio democrático da
socialização e da participação política e social da riqueza socialmente produzida.
O processo de trabalho se dá, portanto, subsidiado pela teoria social crítica, no tocante às
atribuições competentes do assistente social, através de dilemas peculiares a cada um dos espaços
sócio ocupacionais; entre eles: atendimento direto à população para fins de orientações,
mediações de relações, encaminhamentos, entre outras, que ganham materialidade com o
conjunto de instrumentos e técnicas que compõe a dimensão técnico-operativa.
Especificamente no exercício profissional de assistentes sociais no Poder Judiciário,
[...] o serviço social é chamado a posicionar-se sobre a ‘verdade’ em processos
envolvendo a vida de frações da população que recorrem à Justiça ou por ela são
acionadas. A falta de uma visão critica e de totalidade da realidade social que
cerca as pessoas, famílias e grupos que tomam parte em litígios faz com que o/a
profissional deposite nestas visões culpabilizadoras, criminalizantes, arrancando-
os do contexto social, podendo reiterar práticas violadoras de direitos. Por outro
lado, o/a profissional pode contribuir para levar aos processos judiciais
percepções que desvelem as expressões da questão social, entendendo os
sujeitos envolvidos como credores de direitos e favorecendo que, por meio da
justiça, acessem estes (SOUSA et al., 2014, p. 94).
No Ministério Público como um campo de atuação dos assistentes sociais há atribuições
específicas que se voltam ao direito individual e ao direito coletivo, vinculados a duas frentes de
intervenção: primeiro, a fiscalização de entidades de atendimento; e segundo, a avaliação de
42
políticas públicas, com a análise de planos, programas, orçamentos públicos e pesquisas quanto a
direitos negligenciados pelo poder público.
Também existem atividades profissionais relacionadas ao fortalecimento do controle
social e à assessoria da instituição na relação com os movimentos sociais.
Sousa et al., (2014, p. 95) afirma que o judiciário apresenta muitos desafios para o exercício
da profissão Serviço Social e a necessidade de contratações por meio de concurso público é um deles.
Além disso, instituições como o Ministério Público, hoje com forte atuação no âmbito
extrajudicial, efetuam negociações que não perpassam o Poder Judiciário, interferindo e
intervindo diretamente nas políticas públicas.
O autor reafirma que é patente e importante a interface que existe entre as demandas que
são requeridas ao sistema de justiça e as políticas públicas no campo da proteção social. Este
campo é amplo e envolve às áreas da saúde, educação, habitação, trabalho e renda. Nessas áreas
se materializam direitos, portanto, são indissociáveis as interrelações entre as instituições do
sociojurídico e as do sistema de proteção social (SOUSA et al., 2014, p. 99).
Tais experiências se efetivam por meio de práticas que transitam da arbitrariedade à
mediação de interesses por meio de projetos que resultam em novos consensos e pactos, os quais
podem ser mais ou menos favoráveis aos interesses dos segmentos populares, a depender da
correlação de forças.
Outra análise da autora, refere-se ás imbricações entre o universo jurídico e as relações
sociais, com base na compreensão da “questão social” e suas expressões no cotidiano das famílias
e da vida social.
A prática profissional da/o assistente social no sociojurídico requer mediações entre as
situações concretas requeridas no cotidiano profissional e a realidade social mais ampla, o que
demanda ações articuladas, planejadas e corresponsabilizadas com os gestores das políticas
públicas e com outros profissionais, a fim de romper com a reprodução das desigualdades.
Nesse contexto, impõem-se desafios como a problematização da lógica da
judicialização das expressões da questão social e da criminalização da pobreza; a
superação da aparência dos fenômenos, como meros problemas jurídicos,
incorporando à sua resolutividade o caráter político e social na dimensão da
atuação profissional; a distinção entre os instrumentos do fazer profissional,
daqueles voltados para a ‘aferição de verdades jurídicas’, assumindo o estudo
social como próprio da intervenção do serviço social, capaz de iluminar as
determinações que constituem a totalidade da realidade, suas contradições e
diferentes dimensões (SOUSA et al., 2014, p. 99).
43
Fávero (1999) demonstra também que existem práticas punitivas com raízes moralizantes
e disciplinadoras, e que fazem parte das requisições que as instituições sociojurídicas exigem,
cotidianamente, dos assistentes sociais, cuja prática do exercício profissional s está diretamente
envolvida com os trâmites da aplicação da lei, da justiça de menores. Esta ação encontra-se
envolvida em ações de julgamento e exercício do poder, ambos vinculados. Sendo assim, “[...] o
serviço social opera o poder legal – que aplica a norma – e profissional – pelo seu saber teórico-
prático –, nas relações cotidianas, em ações micro e penetradas por micro-poderes [...]”
(FÁVERO, 1999, p. 21).
Nesse contexto, é necessário romper com quaisquer ambições messiânicas ou
voluntaristas, visto que a profissão em seu início se baseava nos fundamentos religiosos apenas.
Com o amadurecimento da profissão o profissional assistente social, dentro de sua
relativa autonomia, tem margem para articulações e posicionamentos pautadas em três
dimensões. No seu saber teórico-metodológico, nos seus compromissos éticos-políticos e em suas
habilidades técnico-operativas, em confronto às relações hierarquizadas e autoritárias
características desses espaços.
Também na área especifica de Serviço Social, Iamamoto (1994) reflete sobre a ação
profissional qualificada dos assistentes sociais afirmando que a profissão estabelece trincheiras de
resistência ao projeto dominante.
Assim, a partir da compreensão crítica da realidade, com base na dimensão teórico-
metodológica a mesma articula-se aos movimentos sociais, instituições e outras categorias
profissionais que defendem os direitos. Os assistentes sociais podem se articular em torno de
projetos emancipatórios, em meio à estrutura legal e aos diversos mecanismos coercitivos do
Estado.
O “campo” sociojurídico é composto por um conjunto de instituições sociais que se
constituem a partir de demandas e relações sociais concretas, que estão imersos no conjunto de
interesses políticos e de ideologias que atravessam a sociabilidade burguesa, articulando-se,
necessariamente, com as políticas sociais. Neste contexto, estão propensos a mudanças
provenientes do conjunto de práticas e reivindicações produzidas pelos sujeitos coletivos, que
realizam os movimentos da realidade, e pelas mudanças a partir da demanda advinda das
manifestações da questão social.
44
Desta maneira, a dimensão teórico-metodológica nesta área permite uma reflexão crítica
da realidade que vai embasar o exercício profissional, na medida em que possibilita uma visão da
totalidade do seu objeto de intervenção. Essa perspectiva teórica possibilita uma atribuição e
competência ao assistente social, que não se resume apenas em ser uma profissão interventiva,
pelo contrário, contribui para a produção científica e intelectual acerca do exercício profissional,
da realidade a ela relacionada, do seu objeto de intervenção, ou seja, de toda a compreensão do
serviço social.
A atuação do Assistente social no campo sócio jurídico é de enfrentamento nas expressões
da “questão social”, com a finalidade de conhecer com profundidade, e de forma crítica, as
demandas postas a este “campo”, a fim de garantir a efetivação dos direitos.
Na dimensão técnico-operativa do sociojurídico, o trabalho do assistente social se realiza
por meio de vários instrumentais: estudos, laudos e pareceres sociais, entrevistas, reuniões,
palestras, bem como, avaliação, acompanhamento, aconselhamento e orientação baseada na
prevenção das diversas situações atendidas, como meio de analisar a realidade social.
Sarmento (2012) analisa a importância da dimensão técnica-operativa do trabalho
realizado por assistentes sociais no sociojuridico. Essa contribuição está presente na obra escrita
por Santos, Backx e Guerra cujo título é “A dimensão técnico-operativa no serviço social:
desafios contemporâneos”.
Nessa análise o autor aponta que o primeiro instrumental identificado no “campo”
sociojurídico é a observação, que possibilita aos assistentes sociais fazerem uma primeira leitura
da realidade do sujeito. Essa capacidade de observação produz conhecimento acerca do objeto de
investigação, bem como o momento de observação revela o que não foi dito, as expressões dos
sujeitos, as pausas, as aspirações. Neste sentido, “[...] a observação pode ser entendida como um
instrumento importante no levantamento de dados qualitativos [...]” (SARMENTO, 2012, p.
115).
Outro fator relevante para a ação profissional é a entrevista, pois permite o
estabelecimento de um diálogo que vai se realizando à medida em que vamos
desvelando o real, o concreto e ampliando a consciência crítica ou reduzindo a
alienação dos entrevistados e do próprio assistente social. A entrevista preconiza
uma comunicação entre o entrevistador e o sujeito entrevistado, bem como
exprime dessa relação entender as diversas contradições postas pelo sujeito [...]
(SARMENTO, 2012, p. 115).
45
Outro instrumental é a realização de visita domiciliar que objetiva conhecer as condições
em que vivem os sujeitos para ser possível apreender os vários aspectos do cotidiano das relações
desses sujeitos, em que geralmente são pouco ou nada percebidos aos assistentes sociais. A visita
domiciliar possibilita uma maior aproximação à realidade social desse sujeito
Uma das técnicas usadas no sociojurídico pelas equipes interdisciplinares é a reunião em
grupo, proporcionando a interação de um grupo de pessoas. De acordo com Sarmento (2012) as
reuniões são espaços coletivos, é o estabelecimento de uma dinâmica na qual emergem as forças
vivas dos indivíduos em grupos e têm como objetivo estabelecer alguma espécie de reflexão
sobre determinado tema e/ou a tomada de decisão sobre algum assunto.
A comunicação escrita possibilita que outros agentes tenham acesso ao trabalho que foi
desenvolvido pelo profissional Assistente Social. A utilização dos instrumentos de trabalho por
escrito também possui uma fundamental importância: é aqui que se torna possível ao Assistente
Social sistematizar a prática. Todo processo de registro e avaliação de qualquer ação é um
conhecimento teórico-prático que se produz, e que não se perde, garantindo visibilidade e
importância à atividade desenvolvida. E mais, sistematizar a prática e arquivá-la torna possível a
análise sobre ela, é dar uma história ao Serviço Social, uma história ao(s) usuário(s) atendido(s).
Uma história da inserção profissional do Assistente Social dentro da instituição é essencial para
qualquer proposta de construção de um conhecimento sobre a realidade social.
Sobre a redação das Atas de reunião, “[...] são o registro de todo o processo de uma
reunião, das discussões realizadas, das opiniões emitidas, e, sobretudo, da decisão tomada – e da
forma como o grupo chegou a ela (por votação, por consenso, ou outra forma) [...]” (SOUSA,
2008, p. 129).
Já, o diário de campo são anotações livres do profissional, em que ele sistematiza suas
atividades e suas reflexões sobre o seu cotidiano profissional, suas intervenções acerca da leitura
da realidade social.
Outro instrumental relevante na prática profissional do assistente social é o Relatório de
Entrevistas, pois possibilita compor, se necessário, o estudo social de um determinado caso. Tem
por finalidade recompor as ideias principais do caso para que não caia no esquecimento do
profissional. Ainda, também é o relato dos dados coletados e das intervenções realizadas pelo
Assistente Social.
46
Em sua contribuição para a formação de assistentes sociais, Miotto, contribui com o texto
Perícia Social: proposta de um percurso operativo (2001), e com o texto: Sistematização,
Planejamento e Avaliação das ações profissionais no campo da saúde. (2006). Ele traz
instrumentais usados pelo Assistente social em diversas áreas, dentre elas a área sociojurídica.
O Estudo Social é o instrumento utilizado para conhecer e analisar a situação vivida por
determinados sujeitos ou grupo de sujeitos sociais, sobre a qual assistentes sociais são requeridos
a coletar e dar sua opinião técnica. Na verdade, ele consiste numa utilização articulada de vários
outros instrumentos que nos permitem a abordagem dos sujeitos envolvidos na situação.
O estudo social é, historicamente, uma das maiores demandas de atribuição ao/à assistente
social no sociojurídico. É um documento na qual o/a assistente social apresenta uma determinada
situação social, em vista da garantia de direitos dos sujeitos envolvidos, até a compreensão mais
ampla.
Deste modo, a partir do estudo social, tem-se a elaboração de outros instrumentais. Para
sua realização o/a assistente social se utiliza do estudo social, que fornece os subsídios
necessários para a elaboração do parecer social e do laudo social, sobre uma determinada
realidade. Esses procedimentos fazem parte desse processo de conhecimento da situação social
do indivíduo e denomina-se Perícia Social.
Esses conjuntos de instrumentais e técnicas dão materialidade a dimensão técnico-
operativa do profissional da assistente social na área sóciojurídica. Contudo, não se pode pensar
em um instrumental de trabalho como se ele pudesse ser mais importante do que os objetivos do
profissional, pois o instrumental é o resultado da compreensão da realidade social, para que haja
uma intervenção adequada, com responsabilidade e competência profissional.
Já o Projeto Ético-Político do Serviço Social, que assume essa nomenclatura somente na
década passada, se constrói com base na defesa da universalidade do acesso a bens e serviços,
dos direitos sociais e humanos, das políticas sociais e da democracia, em virtude por um lado da
ampliação das funções democráticas do Estado e por outro da pressão de elementos progressistas,
emancipatórios.
O projeto Ético-Político considera a dimensão política articulada à dimensão ética do
exercício profissional, uma vez que se posiciona a favor da equidade e da justiça social na
perspectiva da universalização do acesso aos bens e serviços; da ampliação e consolidação da
cidadania como condição para a garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes
47
trabalhadoras e do princípio democrático da socialização da participação política e social da
riqueza socialmente produzida.
Nesta conjunção de fatores o dilema posto dá-se no distanciamento entre “projeções” e
“realidade” entre “teoria” e “prática”, e para sua separação duas questões devem ser
consideradas: primeiro, um campo de mediação que transita da análise profissional ao exercício
efetivo, considerando, ainda, a diversidade de espaços ocupacionais; e em segundo lugar, a
compreensão das relações sociais e suas contradições sem uma leitura unilateral.
3.3. ENCONTROS E PUBLICAÇÕES DO CFESS
Os estudiosos apontam que o Serviço Social teve sua inserção no âmbito jurídico, em
meados dos anos de 1940, no Poder Judiciário de São Paulo, na Vara de Menores12
. Ao longo dos
anos, o assistente social passou a ser requisitado cada vez mais em outras instâncias do Judiciário
Segundo Bernardi (2010), coordenadora da cartilha, cada caso é um caso, “o abrigo é um
programa que faz parte de uma rede de atendimento, visando atingir o máximo de eficácia
utilizando os diversos serviços nela contido”.
Para se trabalhar nessa área é necessário conhecer alguns conceitos de diversos autores,
pois o campo sociojuridico é recente na história do serviço social brasileiro.
A aprovação da Lei de Execuções Penais (LEP) em 1984, também provocou o serviço
social a desenvolver produções sobre a inserção profissional no âmbito do sistema penitenciário.
Isso, porque a nova lei, em muitos aspectos, descaracterizou elementos que haviam se
consolidado na trajetória do exercício profissional nessas instituições. Práticas que, mesmo
historicamente desenvolvidas na perspectiva de reforçar as dimensões disciplinadoras e
moralizantes, ganharam novos contornos com as prerrogativas presentes na LEP (GUINDANI,
2001).
Segundo Borgianni (2004), a primeira publicação sobre esse campo surgiu a partir de uma
iniciativa da Editora Cortez com a revista Serviço Social & Sociedade nº 67, de 2001, que trazi
artigos que versavam sobre a inserção profissional no Poder Judiciário e o sistema penitenciário.
Tratava-se de fazer referência direta a esses espaços e da intervenção dos assistentes sociais com
12
Em 1940, essa era a nomenclatura utilizada para a definição da Vara de Crianças e Adolescentes. Após a
promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente a partir da década de 1990, passou a denominar-se Vara da
Infância e Juventude.
48
o universo do jurídico, dos direitos, dos direitos humanos, direitos reclamáveis, acesso a direitos
via Judiciário e Penitenciário (BORGIANNI, 2004, p. 44-45)
A partir desse ano, várias iniciativas foram realizadas para se aproximar e conhecer
melhor a atuação de assistentes sociais nessas instituições. A deliberação do 32º Encontro
Nacional13
CFESS-CRESS, realizado em 2003 em Salvador (BA), por exemplo, foi um marco.
O objetivo era realizar o 1º Encontro Nacional de Serviço Social na área sociojurídica,
precedido de Encontros Regionais/Estaduais, no 33º Encontro Nacional CFESS-CRESS (2004),
considerando a necessidade de ampliar, articular e aprofundar este debate. (CFESS, 2003, p. 19).
Em 2004, em Curitiba (PR), foi realizado o 1º Seminário Nacional do Serviço Social no
Campo sociojurídico. A recomendação do CFESS - CRESS era que fossem articuladas reflexões
sobre os elementos que caracterizassem o exercício profissional de assistentes sociais nesse
campo.
Em 2014, na publicação do CFESS sobre atuação de assistentes sociais no sociojurídico
apresentava subsídios para reflexão.
Quanto à nomenclatura, alguns termos são discutidos pelos autores, entre eles, Iamamoto
(2004) que adota “esfera” e “sistema” sociojurídico. Sobre a dúvida de ser considerado “campo”
ou “área”, alguns optam tanto um termo quanto outro, pois não se defini uma referencia
padronizada.
Embora o debate sobre o sociojurídico se instale com maior preponderância somente nos
últimos anos no seio da categoria, a relação entre a sociabilidade capitalista e a impositividade do
Estado é historicamente constatada. Chega-se mesmo a apresentar uma participação determinante
nos processos de judicialização das diversas dimensões da sociabilidade e, fundamentalmente,
nos espaços onde se efetiva o exercício profissional.
Mas foi a partir da Constituição Federal de 1988, e especialmente a partir dos anos 2000,
que descortinam-se outros espaços para o Serviço Social, em instituições que assumem novas
funções na defesa de direitos difusos e coletivos e/ou individuais, como o Ministério Público e a
Defensoria Pública.
13
Conforme resolução nº 469/2005 - Estatuto do CFESS/CRESS, em seu artigo 3º - O Fórum máximo de
deliberação da profissão é o Encontro Nacional CFESS/CRESS, que será convocado anualmente, na forma
estabelecida pelo presente Estatuto (CFESS, 2005).
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa de tipo bibliográfico buscou responder ao problema: qual a trajetória
nas dimensões social, cultural, econômica e jurídica da criança e do adolescente quanto ao
acolhimento institucional no Brasil? A primeira aproximação desta pesquisa evidenciou-se pelo
acolhimento institucional da criança e do adolescente por meio dos estudos sobre o papel das
instituições sociais, religiosas e do Estado e posteriormente como demanda para a profissão
Serviço Social sob a perspectiva histórica.
Assim, a denominação do tema foi: acolhimento institucional de crianças e adolescentes
no Brasil: trajetória histórica. A escolha do período histórico foi priorizada a partir do século XX
e década de 1980 apontada como a mais importante pelos resultados do movimento da sociedade
brasileira para a construção do ECA e do avanço do Serviço Social na “área” sociojurídica.
Este termo “sociojurídico" varia em seu tratamento como “área”, “campo”, “esfera” ou
“sistema” e apresenta-se atualmente, como uma perspectiva singular para a atuação profissional,
que percebe o direito como um complexo carregado de contradições da realidade social no
processo histórico. E neste trabalho o tratamento também varia conforme a bibliografia
referenciada pelos autores, em razão da profissão não ter entrado em consenso desde as primeiras
reflexões em 2004 (CFESS, 2004).
O 1º Seminário Nacional do Serviço Social no Campo Sociojurídico, realizado em
Curitiba em 2004 entre outras discussões, foi a recomendação de que os Conselhos regionais de
Serviço Social - CRESS de todo país formassem comissões de assistentes sociais para iniciar
debates e sistematização sobre esses termos. Atualmente, em 2016 os termos ainda constituem
uma polêmica que ainda não se esgotou entre os autores, e é possível identificar outras tentativas
de definição, com menor repercussão no debate da categoria, como “esfera” sóciojurídica.
(IAMAMOTO, 2004) ou “sistema” sociojurídico. Contudo, hoje o debate teórico centra-se na
tentativa de definir se é ‘área’ ou ‘campo ’sociojurídico quase que exclusivamente.
Certamente contribui para qualificar as reflexões e as práticas desenvolvidas por
assistentes sociais e também psicólogos no universo profissional. O profissional assistente social
no sóciojurídico se depara com diversas situações de violações de diretos, com vínculos sociais e
familiares rompidos ou fragilizados.
50
Por isso, é necessário que assistentes sociais trabalhem em consonância com a defesa e a
garantia de direitos, efetivando no cotidiano profissional a dimensão investigativa crítica no
processo de conhecimento da demanda a ser atendida. E, através da dimensão teórico-
metodológica permite-se que o profissional tenha uma reflexão crítica da realidade social que vai
embasar o exercício profissional, na medida em que possibilita uma visão da totalidade do seu
objeto de intervenção, suas relações, contradições e constantes mudanças.
Reconhece-se que para atingir os objetivos deste tema, foi necessário conhecer não só as
legislações criadas, como instituições jurídicas de proteção às crianças e adolescentes a partir do
século XX. Ainda, quais as atribuições da profissão Serviço Social em parceria com a infância e
juventude no poder judiciário.
As práticas de décadas anteriores nos mostraram como era realizado o processo de
cuidados com crianças e adolescentes “rejeitadas” pela família e por uma parcela da sociedade,
por vezes ficando a mercê da igreja católica afim de acolher recém-nascidos considerados
“bastardos”, isto é, nascidos fora do casamento formal e que estava comprometendo “a moral”
familiar.
Também, crianças e adolescentes oriundas de famílias em situação de pobreza eram tidas
como marginalizadas pelo simples fato de pertencerem a esse estrato social, e ao fazer desordem
nas ruas, em muitos casos eram retiradas de suas famílias, e sem ter um encaminhamento
adequado.
Estes eram enviadas para casa de recuperação, dando como exemplo instituições sociais
como a FUNABEM, conforme estudo no subítem 2.2.3. E deveria trazer como benefício da
instituição, direito saúde, amor, compreensão, educação, recreação e segurança social para as
crianças e adolescentes. Portanto como era período de regime-militar isso se refletia também no
tratamento de crianças institucionalizadas.
Somente a partir da década de 1970 com a evolução dos Movimentos Sociais e a caminho
da democratização pelas reivindicações da sociedade, vários movimentos em defesa da criança e
do adolescente deram início à construção dos direitos sociais garantidos pela Constituição de
1988, O Estatuto da Criança - ECA e a nova lei da adoção trouxeram muitos avanços em relação
ao tratamento dado a essa parcela da sociedade. Todavia, ainda é necessário colocar em prática
muitas dessas legislações ou ainda buscar melhorias e agilidade nos processos que muitas vezes
realizavam encaminhamentos inadequados para as crianças e adolescentes.
51
É notório que ainda nos dias atuais as práticas demonstram uma forma antiga de pensar as
famílias pobres, como famílias “desestruturadas”, fazendo com que a institucionalização seja por
períodos prologados. Isto é, a grande problemática do acolhimento institucional é a morosidade
encontrada no processo de destinação das crianças e adolescentes, sendo evidente que ainda não
são consideradas como sujeitos de direitos.
Assim, a compreensão do abandono e falta de apoio do Estado e das políticas sociais para
com as famílias, tornam-se essenciais para o entendimento de que não são as famílias que causam
exclusivamente o abandono das crianças e adolescentes. Mas, estas são muitas vezes esquecidas
pelo Estado e são colocadas à margem das políticas sociais.
Como o campo sociojurídico é um espaço onde assistentes sociais atuam, esta pesquisa é
socialmente relevante e contribui com a construção já produzidas recentemente.
Foi com base nos objetivos propostos que buscou-se a bibliografia específica da área do
acolhimento institucional, ora pesquisada por assistentes sociais, ora por juristas ou legislação
propriamente dita.
Os objetivos foram alcançados, pois conheceu-se, a construção do direito da criança e do
adolescente no Brasil, como era realizado o processo de “acolhimento” em diversos períodos
históricos e como a atuação do profissional Assistente Social ampliou-se a partir do ECA na área
sociojuridica.
Nesta pesquisa procurou-se sistematizar conhecimentos, a partir de uma investigação
bibliográfica intensa acerca do “acolhimento institucional” de crianças e adolescentes,
procurando ampliar os conhecimentos já publicados.
Portanto, pretende-se enviar um DVD contendo este TCC para o SAI (Fórum), ainda dar
continuidade desse estudo em cursos de outros níveis (Especialização, Mestrado) por considerar
particularmente importante para a profissão Serviço Social, principalmente na área ou campo
sociojurídico.
52
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