revista nordeste - edição 95

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Articulista expõe suspeitas contra ex-presidente País é líder em descoberta de petróleo Quilombolas lutam por reconhecimento ESCLARECIMENTO PRÉ-SAL RESISTÊNCIA Dilma se apresenta na preferência Aécio tenta virar o jogo O VOTO QUE DECIDIRÁ AS ELEIÇÕES

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O voto que decidirá as eleições.

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Page 1: Revista NORDESTE - Edição 95

Articulista expõe suspeitas contra ex-presidente

País é líder em descoberta de petróleo

Quilombolas lutampor reconhecimento

ESCLARECIMENTO pRé-SAL RESISTêNCIA

Dilma se apresenta na preferênciaAécio tenta virar o jogo

O VOTOQUE DECIDIRÁAS ELEIÇÕES

Page 2: Revista NORDESTE - Edição 95

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Page 3: Revista NORDESTE - Edição 95

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Page 4: Revista NORDESTE - Edição 95

A história revisitada do NordesteRegião sofreu com falta de visibilidade durante décadas, voltando a ter destaque nacional com Lula e Dilma

Nordeste pode decidir eleiçãoCandidatos do PT e PSDB entram na reta final em busca dos votos dos nordestinos

ECONOMIA

CAPA

POLÍTICAENTREVISTA

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ÍNDICE

GERAL

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Novos planos para o Nordeste O governador eleito no primeiro turno no Piauí, Wellington Dias (PT), diz que vai trabalhar para o desenvolvimento regional em conjunto com os nove estados

Confiança em baixaPesquisa aponta que jovens demonstram desconfiança com os políticos e os partidos

Futuro promissor Brasil é um dos líderes em descobertas de petróleo e apresenta potencial para ser um dos maiores produtores do mundo

Crescendo mais que o país Consumo das famílias nordestinas representa 20% das despesas do Brasil, ao contrário da desaceleração econômica do restante do país

Polo Cabo Branco: 32 anos no papelProjeto turístico da Costa do Sol começa a dar primeiros passos agora

Logística emperradaAcessos ao Aeroporto Internacional do Rio Grande do Norte têm vias comprometidas e atrasos em obras

Mudanças na internet móvelOperadoras anunciam alterações na cobrança de tarifas

Resistência quilombola Comunidades vêm ganhado reconhecimento, mas moradores e antropólogos afirmam que ainda há muito a ser feito

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EDUCAÇÃO

SAÚDE

MEIO AMBIENTE

TECNOLOGIA

CULTURA

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Gênios indomáveisAutodidatismo é mais comum do que se pensa e a inteligência pode ser desenvolvida em diversas áreas

Energia que vem do mar Pesquisas mostram que energia gerada a partir das ondas do mar é uma fonte energética limpa e uma solução viável

Geração TecnológicaJovens estão enxergando a tecnologia além do entretenimento e adotando-a como trabalho

Para ouvir e sentirIzza Simões fala do novo trabalho “Que rumo tomar” e da carreira

Centenário de CarlitosO Vagabundo virou personagem célebre no cinema mudo e se imortalizou

Verticalização verdeNo Brasil, Construção Civil procura opções sustentáveis em obras

Cartas e E-mails

Delfim Neto

Plugado | Walter Santos

Ipojuca Pontes

Digestivo | Flávia Lopes

Pelo Mundo | Rivânia Queiroz

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COLUNAS

Conexão América 50

Inovação em altaCresce investimento em tecnologia e pesquisa nas universidades do Nordeste

Mais médicos e mais saúdePrograma levanta críticas e elogios no país

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As eleições presidenciais deste ano ficarão marcadas na história da demo-cracia brasileira. Uma reviravolta se seguiu à outra e estremeceu as certezas dos pragmáticos. Quando tudo parecia se encaminhar para uma nova disputa entre PT e PSDB, a morte de Eduardo Campos abalou o cenário eleitoral e co-locou Marina Silva, nova candidata do PSB, em segundo lugar nas pesquisas. Seu bom desempenho, no entanto, não durou até o dia 5 de outubro. Logo, Marina, que sempre fora a terceira via, retornou à sua posição original e a polarização que se estende por duas décadas entre PT e PSDB tornou-se de novo o cerne da corrida presidencial.

O Nordeste, enquanto segundo maior colégio eleitoral do país, sempre teve importância nessa disputa, todavia, agora que está cada vez mais acirrada, torna latente a necessidade de atrair o maior número de votos dos mais de 20 milhões de eleitores. Dilma e o PT têm histori-camente na região um reduto relevante. Tanto é que a presidente recebeu 50% dos votos da região e venceu em todos os estados nordestinos no primeiro turno, exceto em Pernambuco, onde a herdeira do ex-governador Eduardo Campos, Marina Silva, ficou à frente dos demais. Apesar da expressiva vantagem regional de Dilma, os petistas não se deixaram acomodar e fizeram questão de evitar uma eventual fuga dos importantes votos nordestinos. Definido o segundo turno, os primeiros destinos da campanha ver-melha foram cinco estados da região: Piauí, Sergipe, Bahia, Alagoas e Paraí-ba. Fidelizar esse eleitorado tornou-se palavra de ordem no PT que, ao obter resultados decepcionantes no Sudeste, depende ainda mais do Nordeste para alcançar a reeleição.

Do outro lado do eixo, a campanha

tucana partiu em direção ao Nordeste com o intuito de conquistar mais do que os 15% dos votos que conseguiu na primeira etapa. Aécio Neves foi o único a apresentar, ainda no primeiro turno, um programa específico para a região, denominado “Nordeste Forte”. Mas, a efetiva inserção dos tucanos nos nove estados só aconteceu na reta final da campanha, quando o primeiro estado vi-sitado foi o território livre da hegemonia petista: Pernambuco. Lá, Aécio recebeu o apoio da família Campos e fez seu ato de campanha justamente na cidade de Sirinhaém, município brasileiro que mais deu votos à Marina Silva.

A estratégia do tucano, então, tor-nou-se clara: utilizar-se do legado do líder político pernambucano, morto em uma tragédia aérea, prometendo ser o governante que Campos seria para o Nordeste; interromper os rumores de que o governo tucano acabaria com os pro-gramas sociais, que são hoje os grandes cabos eleitorais do PT e, a partir disso, afirmar-se como capaz de governar para os pobres, desvinculando-se da imagem tucana atrelada à elite e colocando--se como aquele que, após décadas de segregação, acabará com a desigualdade social brasileira e com a disparidade entre Norte e Sul.

Evidentemente, a missão de Aécio Neves na região é mais árdua que a de Dilma Rousseff. No entanto, ambos não podem, neste momento, se dar ao luxo de cochilar. As campanhas dos candidatos estimam que estas eleições poderão ser decididas com menos de um milhão de votos. Portanto, cada território conquistado é fundamental para a con-secução dos seus objetivos eleitorais. A imprevisibilidade torna a disputa ainda mais interessante e, somente no dia 26 de outubro, será possível cantar vitória.

Rivânia Queirozeditora-chefe da Revista [email protected]

EDITORIAL

No foco da disputa imprevisívelDiretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa SantosDiretor Comercial Pablo Forlan SantosDiretor de Marketing Vinícius Paiva C. SantosLogística Yvana Lemos

COMERCIALGerente Comercial Marcos PauloAtendimento Comercial Jone Falcão

REPRESENTANTESPernambucoGil Sabino [email protected] - Fone: (81) 9739-6489

REDAÇÃOEditora Rivânia QueirozSubeditora Fávia Lopes

Repórteres Grazielle Uchôa e Isadora LiraEditoria de Arte e Tratamento de imagem Danielle Trinta e Felipe HeadleyCapaDanielle TrintaProjeto Visual Néctar Comunicação

ATENDIMENTO/ FINANCEIROSupervisora e Contas a Pagar Kelly Magna PimentaContas a Receber Milton CarvalhoContabilidade Big Consultoria

ASSINATURAS(83) 3041-3777Segunda a sexta, das 8 às 18 horaswww.revistanordeste.com.br/assinatura

CARTAS PARA REDAÇÃ[email protected]

PARA ANUNCIARLigue: (83) [email protected]

SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PBCep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777ImpressãoGráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200CirculaçãoDPA Consultores Editorias [email protected] - Fone: (11) 3935 5524Distribuição FC Comercial

A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-MECNPJ: 19.658.268/0001-43

Ano 9 | Número 95 | Outubro | 2014

NORDESTErevistanordeste.com.br

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Retomamos o contato com a revista para nos inteirar dos basti-

dores da campanha política no Nordeste. Ficamos satisfeitos pela pluralidade e abrangência de todos os estados”

Nós, que vivemos nas pontes aé-reas, sempre que nos deparamos

com produções intelectuais e mercadoló-gicas, como a Revista NORDESTE, nos animamos com a crença de que nem tudo está perdido. A reportagem sobre custo e causas do financiamento de campanha é um atestado do que dizemos”

Começamos a ver (a Revista NORDESTE) a partir de João

Pessoa e Campina Grande onde re-sidem meus familiares, mas ela tem base e estrutura de revista grande para o Sudeste e todas as regiões”

Os temas conjunturais que a Revista tem abordado merecem

consideração especial, sobretudo os que tratam de questões estruturantes”

Chegou a hora de articularmos com os demais governadores e empresá-

rios da região a necessidade imperiosa de fazer a NORDESTE crescer em amplitu-de de circulação e na plataforma digital porque ela dispõe do melhor conteúdo sobre os Estados entre todas as demais publicações”

CARTAS E E-MAILS“Queremos parabenizar a Revista NORDESTE e renovar o interesse em ter espaço para veiculação de assuntos de nosso Consulado sempre trazendo novidades. Estamos muito satisfeitos”

REVISTA NORDESTE N.º 94

NORDESTE On-lineFacebook Revista NordesteTwitter @RevistaNordesteE-mail [email protected] www.revistanordeste.com.br

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: [email protected]. Agradecemos a sua participação.

Retomar o contato com a NOR-DESTE é sinônimo de muito

apreço e necessidade de mercado. A Bahia precisa estar sempre nessa publicação”

André Curvello Publicitário

Salvador - BA

Richard ReiterCônsul Geral dos Estados Unidos no Nordeste

Wellington Dias Governador eleito do Piauí

Neucy Campos EmpresárioRecife - PE

Saber que vocês chegaram onde chegaram com garra, deter-

minação e conteúdo é façanha para poucos. Há necessidade de produto assim, por isso lembro dos primeiros passos com satisfação”

Tânia Paranhos Consultora

Rio de Janeiro - RJ

Renata Gadelha Figurinista

Rio de Janeiro - RJ

Carlos Pedrosa Professor

Boa vista – RO

Luiz Carlos Silva Costa Publicitário

Ministério da Integração- Brasília - DF

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Entrevista

Novos planos para o Nordeste

leito governador do Piauí no primeiro turno das elei-ções com mais de 63%

dos votos válidos, Wellington Dias (PT) havia se licenciado do Senado para disputar esta eleição. Ele che-ga ao terceiro mandato depois de ter governado o estado de 2003 a 2010. À Revista NORDESTE, Dias falou que há um grupo de trabalho colhendo informações para dar início à transição no governo e pro-meteu que logo que assuma o cargo tomará medidas emergenciais para minimizar os impactos do que chamou de “desmantelo” estadual. Ele pretende influir em projetos de desenvolvimento do Nordeste

E

Wellington Dias

Por Walter [email protected]

Revista NORDESTE: Qual a priori-dade logo que assuma o Governo do Piauí, no dia 1º de janeiro e quais os critérios para a formação da nova equipe de trabalho? W. Dias: Há um grupo de trabalho que atuou na elaboração do meu programa de governo e que já está trabalhando na atualização dos dados, especialmente a partir de informações do Governo Federal e setores privados. Após a eleição, vou acelerarar esse trabalho e tra-tar da equipe de governo. Antes, porém, a minha prioridade e a do time que represento no Piauí é completar a vitória da presidenta Dilma. Ela enfrentou uma cam-panha muito desleal, especial-mente por importantes setores da imprensa, e colheu no primeiro

Page 9: Revista NORDESTE - Edição 95

Fotos: André Corrêa

Vivemos uma situação delicada.

Foi assim que recebi o estado em 2003

e parece que vai ser pior agora. Mas

estou pronto, graças a Deus mais maduro

e preparado para reorganizar nosso

Piauí”

turno uma grande vitória, com mais de 8 milhões de votos, numa conjuntura adversa de preconcei-tos, calúnias e um movimento de verdadeiro ódio contra o Partido dos Trabalhadores, sem falar em todo tipo de baixaria pelas redes sociais. Um exemplo do que falo é a declaração do ex-presidente Fer-nando Henrique Cardoso contra o Nordeste. Ele teve uma visão mí-ope e preconceituosa contra uma população que esteve ao lado dele e que ele jogou na lata do lixo. Ele revela a grande diferença entre o projeto de um Brasil para todos, que começou com o presidente Lula e prossegue com a presidenta Dilma, e um projeto pessoal que quer um Brasil para poucos.

NORDESTE: Qual a projeção que o senhor faz sobre a herança que encontrará do governo estadual? W. Dias: Espero que o atual gover-no possa encerrar o mandato ga-rantindo o equilíbrio financeiro do estado, cumprindo todas as metas fiscais, salários e com os fornecedo-res em dia e as obras normalizadas. Mas o que tenho de informação é que a folha de pagamento, que deixei em março de 2010 com 43% da Receita Corrente Líquida, quando o limite prudencial é de 46%, agora, segundo o Tribunal de Contas do Estado, já ultrapas-sou 54%. Ou seja, uma completa irresponsabilidade fiscal. As obras estão praticamente paralisadas, os fornecedores em atraso e, desde o ano passado, há atrasos também no pagamento de servidores con-tratados, no repasse para saúde, convênios com prefeituras e outros parceiros. Há ilegalidades em atos de gestão, como licitação e super-faturamento, obras executadas fora do estabelecido em projetos. Vivemos uma situação delicada. Foi assim que recebi o estado em 2003 e parece que vai ser pior agora. Mas estou pronto, graças a Deus mais maduro e preparado para reorganizar nosso Piauí e tocar o que mais me entusiasma: acelerar

o desenvolvimento econômico e social.

NORDESTE: O senhor poderia nos dizer quais as primeiras medidas de impacto que projeta para esse novo mandato?W. Dias: Não acredito em projeto ou medida isolada e mágica. Quan-do fui governador em 2003, assumi o mandato quando o nosso estado era o mais atrasado do Brasil. Ao sair, deixei o estado com IDH aci-ma do Maranhão e Alagoas. Traba-lhamos 92 metas para alcançar 12 ou mais anos de escolaridade. Ou seja, ao completar 25 anos esta ge-ração terá mais 12 anos de estudo, com uma profissão, dominando o universo digital, com um idioma, além da língua portuguesa, noções de empreendedorismo e conhe-cimento profundo sobre o Piauí. A educação é nossa prioridade e o alicerce do desenvolvimento do nosso estado. O estado deve completar um conjunto de obras, equipamentos e serviços com pro-fissionais qualificados e garantir qualidade de vida a todos, seja no campo ou na cidade. Queremos que o estado atinja uma expec-tativa de vida acima de 75 anos, até 2025. Outras ações para áreas como habitação, saneamento,

saúde, esporte, sistema de coleta de lixo e tratamento com recicla-gem... Isso tudo deve ser garantido para o desenvolvimento social do Piauí.

NORDESTE: Na área do desenvol-vimento econômico, quais são as prioridades?W. Dias: Planejamos um con-

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Terei que tratar a reorganização do estado como se fosse um SOS. Ou seja, como uma urgência e emergência, pois ‘desmantelaram’ o estado do Piauí”

junto de obras e equipamentos estruturantes para o desenvolvi-mento econômico do nosso estado, como ferrovias, hidrovias, porto e marinas, além de aeroportos, rodovias, pontes, barragens, ve-locidade na comunicação, Wifi, 3G, 4G, carga elétrica e energia de qualidade, com geração eólica, hidrelétrica, solar e biomassa. Que-remos ser autossuficientes. Com o setor privado, podemos investir em

gás, petróleo, minérios, irrigação, grãos, frutas, valorização de produ-tos regionais, como carnaúba, cajá, caju e babaçu. Os investimentos também vão fortalecer as áreas de serviços, comércio e turismo. Nós tínhamos em 2002 um PIB de R$ 7 bilhões e a previsão era de que chagássemos, em 2015, a mais de R$ 30 bilhões. Mas agora, até 2025, vamos atingir mais de R$ 75 bilhões, para uma população de menos de 3,5 milhões de habi-tantes e uma renda per capita na média do Brasil. Quando assumi o governo tínhamos um IDH 0,4, o que representa baixo desenvolvi-mento. Trabalhamos juntos com o presidente Lula, e prosseguimos com a presidenta Dilma, e conse-guimos chegar na casa de 0,7, o que representa desenvolvimento médio. Queremos ultrapassar 0,8 e assumir uma posição de região muito desenvolvida.

NORDESTE: E o que pretende fazer para conseguir isto?W. Dias: Terei que tratar a reorga-nização do estado como SOS, ou seja, uma urgência e emergência, pois “desmantelaram” o estado do Piauí. Na área da segurança

pública, vou ter que decretar es-tado de emergência e calamidade, pois triplicou a criminalidade em relação a quando fui governador. Na parte de saúde, que está um caos, farei a mesma coisa. Terei que tomar medidas para resolver urgente o abastecimento de água no campo e em várias cidades, por falta de manutenção e novos investimentos.

NORDESTE: Como o senhor preten-de inserir o seu estado no contexto regional, numa perspectiva de melhorar o relacionamento e bus-cando resolver as desigualdades das regiões?W. Dias: O Brasil é um continente. Tem medidas que podemos resol-ver em nível local. A falta de água para uma comunidade ou cidade, é um exemplo. Na segurança, saúde, economia e algumas outras áreas, vamos integrar ações com estados, municípios e Governo Federal, bem como com o setor privado. Defendo um novo pacto federativo para a segurança, que integre, de verdade, todos os recursos huma-nos e materiais, sob o comando central. A presidenta Dilma tem razão, o bom êxito da Copa do Mundo deve ser o parâmetro. Temos que somar polícias Militar, Civil, Rodoviária, Forças Armadas e o sistema penitenciário numa mesma direção. Não há organiza-ção criminosa que não possamos vencer. Quero trabalhar estratégias comuns para desenvolver a eco-nomia do Nordeste. O Piauí não é uma ilha, deve estar integrado com esta locomotiva chamada Brasil. Vamos retomar o projeto de turis-mo integrado: Rota das Emoções. Ela deve se transformar numa das mais belas rotas do Brasil, que inclui os Lençóis Maranhences, o Delta do Parnaíba e praias como Jeriquaquara. O Projeto Serras Nordeste, que passa pelo Piauí, Ce-ará, Pernambuco e Bahia, também. Defendo, inclusive, acrescentar a região das nascentes do Parnaíba, com Tocantins e Maranhão.

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Quero trabalhar estratégias comuns

para desenvolver a economia do

Nordeste. O Piauí não é uma ilha e

deve estar integrado com esta locomotiva

chamada Brasil”

Fotos: André Corrêa

NORDESTE: Quais as grandes obras e ações que o senhor preten-de articular com estados vizinhos para resolver o problema do esco-amento da produção local?W. Dias: O principal projeto neste sentido é o que o presidente Lula deu início: a Ferrovia Trans-nordestina. Além disso, temos a integração das bacias, o projeto das energias renováveis, as eólicas, hidrelétricas, usinas solar e de bio-massa. Rodovias como as BRs 407, 330 e 222, e pontes ligando o nosso estado ao Maranhão, além de aces-sos com CE, PE, BA e Tocantins. Quero concluir a primeira rodovia que nos levará ao nosso vizinho To-cantins, na belíssima chapada das Mangabeiras, e ligando à região. Quero completar o Gasoduto Nor-deste; fazer acontecer esta nova riqueza de gás e petróleo da bacia do Rio Parnaíba e São Francisco, de petróleo em mar entre o Piauí, Maranhão e Ceará. Vou propor a reativação do Fórum dos Governa-dores do Nordeste para somarmos forças e integrarmos com outras forças do parlamento, setor empre-sarial e dos trabalhadores.

NORDESTE: A partir da influência que o senhor tem junto ao PT, em um novo governo Dilma o Piauí terá recursos assegurados para o seu desenvolvimento, como aconteceu no governo Lula anos atrás?W. Dias: Ouvi de um trabalhador rural de São José do Peixe que an-tes do Lula e da Dilma sua família e outras passavam fome. Ele disse que ambos os ensinaram a pescar e que hoje eles têm profissão, renda, terra, casa com água e energia, es-tradas, equipamentos e assistência técnica. Mas se não fosse o Bolsa Família, que permitiu complemen-tar alimentação para essa família, ela e muitas outras continuavam na miséria ou morrendo de fome. Talvez quem nasceu e se criou tendo tudo do bom e do melhor não entenda a profundidade de um depoimento deste. Lula e Dilma

mudaram a vida de muita gente. O projeto que me elegeu pela terceira vez para governar o Piauí é o mes-mo projeto da presidenta Dilma. Eu quero trabalhar por um Piauí para todos. Ela trabalha um Brasil para todos. Tenho compromisso para acelerar o desenvolvimento social e econômico do Piauí e com ela vamos trabalhar numa veloci-dade infinitamente maior.

NORDESTE: Para finalizar a en-trevista, gostaria que o senhor dissesse sua posição em relação às reformas Política e Tributária?W. Dias: Defendo as duas re-formas. O texto base está no Congresso Nacional. Creio que a Reforma Política precisa de um plebiscito. O povo deve opinar sobre os principais pontos e o Con-gresso Nacional soberanamente se posicionar.

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[email protected] Santos

Quem vive entre Salvador e Itapa-rica, buscando encurtar a distância entre as duas belas bases geográficas da Bahia, não deixa de imaginar o iní-cio e concretização de um dos grandes sonhos soteropolitanos: ver as duas cidades ligadas por uma ponte que permitirá o fluxo de veículos e passa-geiros, de forma rápida, tal qual repre-senta a famosa ponte Rio – Niterói.

É o que ficou definido, desde o início deste mês de outubro, quando, enfim, o Conselho Gestor do Progra-ma de Parceria Público Privada (PPP) aprovou as condições para que o Go-verno da Bahia deflagrasse o projeto para a construção do Sistema Viário Oeste, englobando a ponte Salvador

– Ilha de Itaparica.Embora a obra esteja aprovada até

a fase de início, ainda vai demorar alguns meses para acontecer. Isso porque, em dezembro próximo, o go-verno quer ouvir a sociedade, através de Edital de Consulta Pública, até a escolha do grupo responsável pela construção.

Conforme está nos argumentos, a construção de uma ponte ligando esses dois pontos aproxima não ape-nas a capital à ilha, mas abre novas possibilidades para diversas regiões do estado, como o Sul do Recôncavo, Baixo Sul, Oeste da Bahia, além de todo o Litoral Sul e Região Metro-politana.

Bahia: a ponte histórica entre presente e futuro

As eleições na Bahia neste ano de 2014 consolidou para fora do estado um novo marqueteiro político entre os bambas mais conhecidos da propaganda brasileira. Trata-se de Sidônio Palmeira, responsável pelas duas vitórias de Jaques Wagner e, mais recentemente, de Rui Costa, sobre o ex-governador Paulo Souto, apontado-o como vencedor no primeiro turno.

Recatado, Sidônio ganhou também a eleição do Maranhão com o seu sócio Carlos Eduardo (Carlinhos), fazendo o deputado federal Flávio Dino derrotar o Clã Sarney que comandava o estado por mais de 40 anos.

Sidônio entra para o time dos baianos famosos na propaganda, como João San-tana, Nisan Guanaes, Duda Mendonça, Edinho Barbosa, e outros.

Basta indagar, como aconteceu recen-temente com um grupo de profissionais do site “Bahia Notícias” sobre quem é Sidônio Palmeiras. Ele próprio se auto definiu: “Eu sou uma pessoa que trabalha, eu acredito no meu trabalho e confio nele, trabalhei nesses 12 anos, três eleições aqui no governo do estado e ganhei as três. Já tinha feito uma eleição antes, tinha feito a campanha de Lídice da Mata em 1992, que ganhou as eleições pela primeira vez aqui no estado, mas eu não me classifico como nada. Classifico--me como um profissional que trabalha, que gosta do trabalho que faz, que ama a sua profissão e que está cada vez mais estudando, querendo aprender pra fazer um bom trabalho e fazer o trabalho que a gente pensa em fazer. Mas o segredo de tudo isso é saber escolher um candidato”.

Novo gênio da propaganda A síntese sobre o Sidônio

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Mesmo com o governador Geraldo Alckmin insistindo em dizer que tudo está sob controle na Reserva de Cantareira para o abastecimento de água em São Paulo, os indicadores expostos por outros organismos de controle ambiental, em especial a Agência Nacional de Águas, apontam para uma fase de pré-tragédia.

O presidente da ANA, Vicente Andreu Guillo, tem se mostrado pre-ocupado com o uso da segunda cota do volume morto (reserva localizada no fundo das represas) levando-o a admitir que possa haver, em breve, racionamento já existente em algu-mas cidades do estado.

A crise de abastecimento de água no maior estado econômico do país tem servido de tema para o segundo turno das eleições presidenciais. A candidata Dilma Rousseff responsa-biliza o governo tucano e o candidato Aécio Neves pelo mau gerenciamen-to, embora eles rebatam.

A grave falta d´água em São Paulo

Escritório de Transição

Dissidente do PSB

O governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara, deflagrou nos primeiros dias de outubro as primeiras articulações redundando na constituição do grupo que será responsável pela transição de poder entre aliados do PSB.

O escritório de transição reúne estra-tégias para alinhar meios de condução do governo João Lyra, sucessor de Eduardo Campos, visando a nova fase com Paulo Câmara à frente.

O ex-ministro da Ciência e Tec-nologia, Roberto Amaral, insiste em dizer, por onde anda, que o PSB, par-tido ao qual já foi presidente, “jogou no lixo o legado de seus fundadores e renunciou ao seu futuro”, depois que a cúpula resolveu apoiar o candidato Aécio Neves.

Como consequência, ele anunciou seu afastamento do comando do partido.

PB: pedido de intervenção federal

RN: crise entre Alves e o PT

Outubro chegou como mês atribulado com a decisão do presidente do Supre-mo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, de notificar o governador Ricardo Coutinho para se pronunciar a respeito dos termos do pe-dido de intervenção federal (Nº 5212), ajuizado pela Associação Nacional dos Estados e do DF (Anape), por entender que o Governo da Paraíba tem descum-prido decisões da Alta Corte.

“Preliminarmente, solicitem-se in-formações ao estado da Paraíba. Após, abra-se vista dos autos ao Procurador--Geral da República. Publique-se”, diz o texto da notificação expedida no des-pacho do ministro, no dia 7 deste mês.

Lewandowski é o relator do pedido de intervenção federal. De acordo com o artigo 351 do Regimento Interno do STF, a Suprema Corte antes de levar o processo a julgamento em plenário, toma providências adequadas para tentar resolver o problema de forma administrativa e a primeira medida é notificar o réu para se pronunciar.

O segundo turno das eleições no Rio Grande do Norte, entre o presidente da Câmara Federal, Henrique Alves, e o vice-governador Robinson Faria, começou com fortes ataques, através de denúncias das duas coligações.

A crise maior, contudo, se deu depois que o ex-presidente Lula foi ao guia de Robinson Faria informar que ele era o melhor candidato para o estado, gerando um furor do líder pemedebista. Na verda-de, Alves já estava com Aécio e Marina desde o primeiro turno.

No segundo turno, Robinson cresceu na cotação com chances de vitória.

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Nos últimos anos, região passou a ter papel fundamental

na disputa presidencial.

Nesta reta final, enquanto Dilma se

faz presente nos nove estados para

consolidar seu bom desempenho,

Aécio tenta correr atrás de resultados

mais favoráveis à campanha tucana. Eleitores indecisos

e que se abstiveram no primeiro turno

são alvos dos candidatos

NordEstE podE dEcidir

ElEição Por Grazielle Uchô[email protected]

ão é de hoje que os estados nordestinos reiteram a força dos seus mais de 20 milhões de

votos. Tanto PT como PSDB deslocaram suas forças com maior intensidade para a região neste segundo turno. Em seu discurso, o candidato tucano Aécio Neves tem procurado atrair aqueles que buscam um “novo Nordeste”, onde investimentos estruturais e desenvolvi-mento industrial serão pensados para além do Sul e Sudeste. A presidente petista Dilma Rousseff, por sua vez, tem um berço de votos mais significativo na região, cujos números neste segundo turno ainda são bem mais altos do que os de seu concorrente.

Para Leandro Silva, coordenador do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte, a polarização entre PT e PSDB se transformou em um embate de Norte versus Sul. Ele afirma que o Nordeste vai ser essencial nesta reta final de campanha. Apesar disso, acredita que

N quem deverá determinar o presidente eleito do Brasil serão os 20% de votos nulos, brancos e ausentes em todo país.

O pensamento de Leandro Silva está relacionado ao fato de que os postulantes ao Planalto caçam mais de 30 milhões de votos nesta segunda etapa. A estimativa para abstenções este ano entre o primei-ro e o segundo turno aponta crescimento médio de 2,8 pontos percentuais em relação às eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010. No dia 26, a estimativa é de que aos 27,7 milhões que não votaram no primeiro turno (19,39% dos eleito-res), somem-se outros 3,9 milhões, o que elevaria a abstenção para 31,6 milhões (22,2% do universo).

Pesquisa Datafolha divulgada no dia 20 de outubro apontou empate técnico entre os candidatos à Presidência da República. Dilma, no entanto, apare-ceu na frente de Aécio com 52% das intenções de voto, enquanto o tucano pontuou 48%, ao contrário de pesqui-sas anteriores em que Aécio aparecia

liderando por pouco. As campanhas da presidente Dilma Rousseff e do senador Aécio Neves se debruçam em um mapa eleitoral complexo e apostam que, acir-rada como está, a eleição no próximo dia 26 deve se decidir por menos de um milhão de votos. Além de reverter os brancos e nulos, a estratégia regional pode ser decisiva para ambos.

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Foto: Roberto Stuckert Filho | Igo Estrela

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Foto: Mila Cordeiro/AGECOM | Divulgação

Aécio inverte a estratégia do primeiro turno e investe pesado no Nordeste para vencer a disputa contra a adversária petista

Dilma aposta em ações nos nove

estados para conquistar o

eleitorado e garantir sua reeleição

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Enquanto Aécio Neves não conseguiu resultados expressivos e agora procura conquistar um novo eleitorado, a can-didata Dilma confirmou as expectativas de que sairia bem mais à frente na re-gião do que os demais candidatos. Em 2002, quando chegou ao Planalto pela primeira vez, com Lula, apenas 24% dos votos do PT vieram do Nordeste. Desde então, a cada eleição a região ganhou importância para o partido e seu desempenho eleitoral está cada vez mais condicionado aos votos dos nordestinos.

De cada 100 votos dados à atual pre-sidente no primeiro turno das eleições, 38 vieram do Nordeste. Seu melhor desempenho foi no Piauí, onde venceu com 71% dos votos válidos, seguido pelo Ceará, que deu à petista 68% dos sufrágios.

Dilma ganhou em 15 estados, oito de-les no Nordeste. Já Aécio Neves seguiu sentido oposto e ampliou o leque de apoio na região Sul. De cada 100 votos que obteve, 50 vieram do Sudeste. O tucano conseguiu o primeiro lugar em nove estados e no Distrito Federal, e sua maior vitória veio de Santa Catarina,

onde acumulou 53% dos votos. Embora Dilma tenha conseguido

atrair 50% dos eleitores nordestinos no primeiro turno, a campanha petista acredita que para ganhar as eleições pre-sidenciais nesta etapa decisiva precisa ampliar a votação na região, por isso, a meta dos coordenadores de campanha é chegar a 75% dos votos nesta região.

A estratégia ficou evidente quando em três dias a atual presidente per-correu cinco estados: Piauí, Sergipe, Bahia, Alagoas e Paraíba. Na Bahia, por exemplo, onde o PT virou a vota-ção do pleito governamental no último momento com Rui Costa, ela conseguiu impor vantagem de três milhões de votos sobre Aécio.

“Havia um tempo em que o governo achava que o Brasil começava e acabava no Sudeste, que governava para 1/3 da população, e não para 200 milhões. E quando eles dirigiram este país, o salário era pequenininho, e o desemprego era alto”. Foi o que disse a candidata petista em comício na cidade de João Pessoa, no dia 8 de setembro.

A presidente subiu ao palanque com

o governador candidato à reeleição na Paraíba, Ricardo Coutinho, e afirmou ser discrepante o tratamento que o Nordeste recebeu no governo do PT em relação ao governo tucano. “Nós coloca-mos o Norte e o Nordeste no orçamento do país. Colocamos no orçamento os mais frágeis e os mais pobres. No Brasil de hoje, as universidades chegaram e os jovens estão fazendo mestrado e doutorado, alguns no exterior; em 2002, na época do PSDB, 54% da população era classe D e E, as classes mais pobres. Mais da metade do Brasil. Hoje, mais de 70% do país é das classes, A, B e C. A classe média no Brasil cresceu como nunca”, falou.

Em Pernambuco, assim como fize-ram no primeiro turno, Dilma e o ex--presidente Lula preparam agenda para a região. Mesmo com o apoio da família Campos e do PSB local ao candidato tucano, a campanha petista não acredita que Aécio Neves herdará em peso os votos de Marina Silva. O argumento é o de que o PSDB nunca teve bom desempenho em Pernambuco, onde a votação de Aécio foi a mais baixa.

Manutenção da vantagem

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A preocupação dos coordenadores da campanha de Aécio Neves em relação ao Nordeste não é de hoje e muito menos injustificada. Antes mesmo de apresentar um programa de governo para o país, o tucano divulgou o programa “Nordeste forte”, que traz propostas de desenvolvi-mento em vários eixos de atuação. Em re-lação à Dilma, ele apresentou resultados inexpressivos em todos os nove estados e a atual presidente obteve 16,4 milhões de votos na região contra apenas 4,2 milhões do ex-governador mineiro.

Conquistar o Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do país, não é uma mis-são fácil para o PSDB. Na primeira etapa do processo eleitoral, Aécio teve somente 15% dos votos na região. Embora tenha iniciado a campanha com um discurso de prioridade para os estados nordestinos,

expressa pelo plano de governo específico para os nove estados, Aécio se prendeu à retórica durante a campanha do primeiro turno e, na prática, tratou de investir em colégios eleitorais do Sudeste com a in-tenção de ultrapassar a candidata Marina Silva (PSB), que até então aparecia em segundo lugar nas pesquisas, e conquis-tar o passaporte para o segundo turno das eleições. Deu certo. Aécio venceu a eleição em São Paulo e ultrapassou a herdeira política de Eduardo Campos em Minas Gerais, embora não tenha conseguido ficar à frente de Dilma em seu berço eleitoral.

Agora, negligenciar o Nordeste não é uma opção para a campanha tucana, que disputa cada metro quadrado de votos com a candidata petista e quer tirar dela ampla vantagem que conquistou na

região. “Serei lembrado como o melhor presidente para o Nordeste”, afirmou Aécio Neves durante evento de cam-panha em Sirinhaém, Zona da Mata pernambucana, cidade do país que mais votou em Marina Silva (74% dos votos).

De olho nos mais de 2,3 milhões de eleitores que a ambientalista conquis-tou em Pernambuco, o primeiro ato de campanha de Aécio no segundo turno foi no estado, onde recebeu oficialmente o apoio da família do ex--governador e candidato à Presidência, morto em um acidente de avião, Edu-ardo Campos. A visita a Pernambuco aconteceu dois dias depois da viagem de Dilma ao Nordeste, quando visitou cinco estados da região e, em mais de uma oportunidade, acusou os tucanos de esquecerem os nordestinos.

Em busca de mais espaço

Enquanto Dilma tenta fidelizar o eleitorado nordestino, situação oposta, de dificuldade para a petista, se reproduz na região Sudeste, especialmente no maior colégio eleitoral do país, que é São Paulo. No estado, Aécio teve percentual maior que a presidente: 44,22% contra 25,82%. A perda acendeu a luz vermelha da coordenação da campanha.

Para recuperar o eleitorado paulista, o PT deverá explorar a imagem de Lula e levar lideranças do estado aos vários municípios, além de enfatizar as realizações e investimentos do Governo Federal em São Paulo.

Dilma perdeu 4,4 milhões de votos no Sul e Sudeste em comparação com o primeiro turno das eleições de 2010, quando concorreu com o tucano José Serra e com Marina Silva, ainda no PV. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seis estados concentraram 85% dos votos perdidos por Dilma: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, Goiás e Santa Catarina. Em São Paulo, a petista teve um déficit de 2,8 milhões de votos em relação a 2010. No estado, aliás, o PT teve derrotas expressivas. Alexandre Padilha figurou em terceiro lugar na eleição para governador e Eduardo Suplicy não conquistou a reeleição para o Senado.

Calcanhar de Aquiles

Foto: Tasso Marcelo | Divulgação

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Aécio se esforçou para conquistar o apoio da família de Eduardo Campos porque o socialista era um dos nomes mais fortes da política nordestina dos últimos anos. Ao ser respaldado pela viúva Renata Campos e seus filhos, o tucano ganhou o aval que queria para poder apropriar-se do título de político que dará continuidade ao legado do pernambucano.

Para grupos do PT, o apoio da ex--primeira dama de Pernambuco e sua família chega a ser mais importante que o próprio apoio de Marina Silva. A ava-liação é de que os familiares de Eduardo Campos podem garantir vantagem do PSDB em Pernambuco, único estado do Nordeste onde Dilma não venceu no primeiro turno. Marina liderou as eleições no estado com 48,5% dos votos, contra 44,2% de Dilma e 5,9% de Aécio Neves. Neste segundo turno, a tendência é que o PSB trabalhe para transferir os votos da ambientalista no estado para o candidato tucano.

Em nome de Eduardo

Não é novidade que o Bolsa Família é o maior “cabo eleitoral” da presidente Dilma Rousseff. Por isso, Aécio Neves tenta desvincular a marca desse pro-grama social do colo petista, afirmando que o programa é, na verdade, originá-rio dos tempos em que o PSDB ocupava o Palácio do Planalto.

Em mais de uma oportunidade, nas visitas que fez a municípios nordestinos, o tucano assegurou que, se eleito, não vai extinguir o programa e sim melhorá--lo, além de ampliar sua abrangência. Ainda no primeiro turno Aécio pro-meteu reajustar o Bolsa Família para “reduzir a pobreza no Nordeste”. Sua proposta é aumentar em R$15 por mês o benefício básico do programa, que custa hoje R$77 e é carro-chefe da po-lítica de governo da presidente Dilma.

programas sociais permanecem

Foto: Divulgação | George Gianni

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teve a maior votação da primeira etapa, obtendo 23,38% dos votos válidos. Em comício realizado no Busto de Ta-mandaré, em João Pessoa, juntamente com o candidato ao governo do estado, Cássio Cunha Lima, o tucano afirmou: “Foi aqui, nesta Paraíba de tantas lutas, que eu obtive o resultado que me per-mitiu estar aqui novamente para dizer a cada paraibano e a cada nordestino que pouquíssimos dias nos separam da libertação”. Os dois candidatos do PSDB trocaram elogios e pediram vo-tos um para o outro afirmando serem irmãos na política.

Foto: Divulgação

Aécio procura desvincular-se de uma imagem atrelada à governança para as elites e quer afirmar sua capacidade de “governar para os pobres”, reduzindo não só as desigualdades sociais, mas as desigualdades entre as regiões do Norte e Sul. Segundo o tucano, o Norte de Minas Gerais, o Vale do Jequitinhonha e o Vale do Mucuri, regiões mais pobres do estado, receberam três vezes mais recursos per capita que o resto de Minas.

Diante deste argumento, Aécio Neves afirma que será ele quem poderá mitigar as disparidades históricas entre as regiões do país. O candidato tem acusado a campanha petista de instigar as rivalidades entre o Norte e o Sul, estimulando a perspectiva do “nós contra eles”, o que resulta, segundo ele, em “soluções contraproducentes”.

COMBATE À DESIGUALDADE

O nome de Aécio Neves não tem a mesma penetração no Nordeste como tem no Sul e Sudeste do Brasil. Ciente disso, a coordenação da campanha tu-cana busca a aproximação com nomes conhecidos do eleitorado nordestino, atrelando sua candidatura a lideranças políticas regionais, como ACM Neto (DEM-BA), Jarbas Vasconcelos (PMDB--PE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

No último dia 17 de setembro, Aécio esteve em Salvador e nas principais ci-dades paraibanas, a capital João Pessoa e Campina Grande. A Paraíba foi o estado do Nordeste onde o candidato

política local contribui

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Opinião

Antonio Delfim NettoProfessor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda,Agricultura e Planejamento

Despoupança Públicafato mais desagradável desse primeiro turno da campanha eleitoral – tanto para a presi-

dência da República – como nas dispu-tas para a governança estadual e cadei-ras do Legislativo - foi o domínio dos marqueteiros que usaram a publicidade de forma lamentável: as campanhas foram transformadas numa produção de clips que contavam histórias muito duvidosas: os candidatos não se expuse-ram, não apresentaram aos eleitores suas ideias: ao contrário, cuidadosamente as esconderam, de forma que não houve debate, mas um “disse-me-disse” que em nada poderia ajudar no esclarecimento dos cidadãos.

Esse foi o quadro geral do primeiro turno que terminou nas urnas do dia 05 de outubro. No “andar de cima” – ou na principal cobertura, se desejarem – nenhum dos candidatos à chefia do go-verno federal se arriscou a sugerir como vai resolver o problema básico de gestão da economia no Brasil. E isto deveria ser tema principal de qualquer debate, quando os candidatos mostrariam que sabem como aumentar a poupança do governo. É uma das respostas que os eleitores devem exigir de ambos os candidatos: que digam o que farão para aumentar a poupança.

Temo que nos debates deste segundo turno vá continuar a teatralização, sob o domínio dos marqueteiros e nenhum dos candidatos se decida a provocar a dis-cussão desse problema fundamental da economia brasileira. É preciso que eles esclareçam de que forma vão aumentar a poupança pública, pois esta tem sido a tragédia nacional do nosso tempo: os governos “despoupam” e o setor privado poupa; com a murcha do PIB a poupan-ça do setor privado caiu muito enquanto

a “despoupança”do governo continuou acontecendo nas mesmas dimensões de antes, com o Brasil investindo 17% do PIB; e quem investe 17% do PIB só pode, mesmo, colher um crescimento de 2% do PIB. Não adianta tergiversar, prometer reforma tributária e tal e qual, pois não vão fazer mesmo.

Em segundo lugar é preciso dizer como vai pôr em marcha outra vez o setor industrial que vem sendo des-truído pela insistência nas políticas de combate à inflação com o câmbio. São questões que gostaríamos de ver os dois candidatos no debate da TV discutindo pessoalmente agora, frente a frente.

Uma terceira questão que poderia participar dos debates é: porque a eco-nomia brasileira vem mantendo taxas de crescimento tão baixas ao mesmo tempo em que vivemos uma situação em que praticamente não há desemprego? Uma explicação é que nos últimos quatro ou cinco anos absorvemos os trabalhadores com rendimento salarial abaixo de dois Mínimos e reduzimos o desemprego na faixa de salários acima de dois Mínimos; ou seja, absorvemos a mão de obra não qualificada, o que é muito bom, apesar de se tratar de uma mão-de-obra menos produtiva.

Esses fatos colocam uma questão que seria interessante debater, qual seja a do quanto precisamos aumentar o esforço para dar mais educação e pôr mais capital por trabalhador para aumentar a produtividade desse enorme contin-gente que ingressou no mercado de trabalho. É uma excelente oportunidade para se discutir as manifestações deste fenômeno muito mais profundo que é a incapacidade do Brasil de voltar a cres-cer se não modificarmos a sua poupança, no nível macroeconômico.

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É preciso que os candidatos esclareçam de que forma vão aumentar a poupança pública, pois esta tem sido a tragédia nacional do nosso tempo

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Estudo revela que jovens brasileiros estão cada vez mais desconfiados com a política e os partidos

coNfiaNça EM baixa

m junho de 2013, o Brasil vis-lumbrou algo que estava sob as cobertas há muito tempo:

um sentimento latente de insatisfação. Marcado por uma histeria midiática e protestos difusos, junho trouxe às ruas uma boa parcela dos jovens brasileiros. Aparentemente, a insatisfação está atrelada a uma descrença política. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de 2008 a 2012, a taxa de adolescentes que tirou o título de eleitor para votar foi de 43% em relação ao total de jovens dessa idade. Em 2014, o índice caiu para 26%.

Entretanto, cerca de um terço dos 140 milhões brasileiros aptos a votar é com-posto por jovens de 16 a 33 anos, uma parcela expressiva da população. Para buscar entender como está a confiança dessas pessoas no sistema político nacio-nal, o Núcleo de Pesquisa em Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia

E e Política de São Paulo (FESPSP) fez um estudo com 1.130 jovens da capital paulista, com idade entre 15 e 29 anos. O intervalo de confiança da pesquisa é de 95% e o erro amostral é de 3 pontos percentuais para cima e para baixo.

A pesquisa apontou que, apesar de 41% dos jovens terem participado de alguma manifestação em São Paulo, o grau de confiança em instituições, como partidos, sindicatos, associações e a militância em movimentos políticos não ultrapassa 9%. De acordo com o estudo, os partidos e políticos são os que geram mais desconfiança, com 60,8% e 57,79%, respectivamente, de resposta Não Confio.

A estudante Dayane Trindade, de Campina Grande, tem 20 anos e também não confia em políticos. “Mas acredito que o poder de mudança vem do povo, do proletariado, de estudantes, e sindica-tos”, falou. Entretanto, o tecnólogo em

redes de computadores em João Pessoa, Engels Souza, de 27 anos tem outra opinião a respeito. “Confio. Os partidos com seus representantes e sua militân-cia, bem como sindicatos e associações são importantes no progresso do país e deveriam ser mais acreditados, pois tem papel fundamental”, disse. Em relação aos movimentos sociais, apenas 10,35% dos entrevistados disseram não confiar.

Apesar disso, é grande a confiança nas eleições, somando 66,11% dos jovens que participaram. A pesquisa também indicou que os jovens desconfiam mais de telejornais, com 26,58% de respostas “não confio”, contra 15,58% em relação ao jornal impresso. Dayane prefere buscar informações em mídias independentes. “Nenhuma é neutra. Sempre pende para lado que lhe convém. Como militante de alguns movimentos, acredito muito em mídias independentes, feitas do povo para o povo”, disse a estudante.

Política

Dayane Trindade

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e o mapa geopolítico fosse um tabuleiro de jogo de conquistas, o Brasil teria muitos pinos de

demarcação de território. Atualmente o país é um dos líderes mundiais de descobertas de petróleo, apresentando um potencial de volume recuperável de petróleo de 106 bilhões de barris no pré--sal. Além disso, só no mês de agosto, a produção total de petróleo e gás natural atingiu 2,89 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia, sendo 2,326 milhões de barris diários de petróleo e 90,9 milhões de metros cúbicos de gás natural. O volume é o maior já registrado,

Economia

sBrasil tem potencial para ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com as expectativas lançadas com o pré-sal. O país já é um dos líderes em descobertas no setor. A ANP também projeta explorações no Nordeste

Por Flávia Lopes [email protected]

futuro proMissor

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superando o do mês anterior cuja marca foi de 2,267 milhões de barris por dia, de acordo com o Boletim da Produção da ANP.

Segundo o autor do livro “Cartas a um jovem petroleiro”, Jorge Camargo, que atua na indústria do petróleo há 36 anos, 40% das descobertas do produto convencional no planeta nos últimos dez anos foram feitas no Brasil. “O crescimento das reservas poten-ciais brasileiras se deve sem dúvida a essa nova e prolífica província do pré-Sal brasileiro. Apenas 30 a 40% dessa província foi licenciada. Ainda é cedo para se ter uma estimativa do potencial, algo em torno de 50 a 60 bilhões de barris é considerado uma estimativa realista, mas há cenários em que se poderia ultrapassar 100 bilhões”, explica o especialista.

Ele considera extraordinário o po-tencial do pré-sal, que já vem sendo comentado desde quando as primeiras grandes descobertas foram anuncia-das. “Mas com o desenvolvimento das pesquisas o potencial tem superado mesmo as perspectivas iniciais mais otimistas”, completa.

De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), os volumes do produto extraídos do pré-sal já corres-pondem a cerca de 20% da produção nacional. A produção no pré-sal au-

Fotos: Divulgação

mentou 11% em agosto, em relação ao mês anterior, totalizando 533 mil barris diários de petróleo e 18,1 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Esses volumes foram extraídos de 35 poços, localizados nos campos de Baleia Azul, Baleia Franca, Jubarte, Barracuda, Caratinga, Linguado, Lula, Marlim Leste, Pampo, Sapinhoá, Trilha e nas áreas de Iara e Entorno de Iara.

Entre julho e agosto a produção no pré-sal totalizou 647 mil barris de óleo equivalente por dia, sendo 533 mil barris diários de petróleo e 18,1 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Os poços do “pré-sal” são aqueles cuja produção é realizada no horizonte geo-lógico denominado pré-sal, em campos localizados na área definida no inciso IV do caput do art. 2º da Lei nº 12.351, de 2010.

Jorge Camargo acredita que com o pré-sal o Brasil pode aumentar consi-deravelmente a produção de petróleo. “Ele pode permitir ao Brasil duplicar, ou até talvez triplicar, a sua atual produção de cerca de 2,3 mi b/d, nos tornando um importante produtor mundial, mas ainda distantes dos maiores produtores mundiais, como a Arábia Saudita, que produz acima de 10 mi b/d”, completa.

O vice-presidente executivo da Shell, Mark Shuster, afirma que a descoberta do pré-sal pode elevar o Brasil à posição

de maior produtor de petróleo do mundo e redesenhar a geopolítica mundial. Essa avaliação foi feita durante a conferên-cia que fechou o primeiro dia da Rio Oil &Gas, que ocorreu em meados de setembro deste ano. De acordo com Shuster, os 40 bilhões de barris previstos nas reservas do pré-sal têm potencial para lançar o Brasil ao topo da lista de produtores mundiais de petróleo. “A descoberta do pré-sal é, sem dúvida, um fator determinante e que mudou a regra do jogo [...] O governo e a indústria precisam, agora, estar alinhados para garantir um aproveitamento mais eficaz dessa riqueza”, afirmou.

Mark Shuster

Jorge Camargo2000 à 2012 2013 à 2022 2022 à 20300

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PREVISÃO DA PRODUÇÃO DE PETRÓLEO (PETRÓLEO E LGN)

História Produção Petróleo + LGN

Previsão Produção Petróleo + LGN

Previsão Excedente da Cessão Onerosa

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De acordo com a ANP, para garan-tir que as riquezas do pré-sal resultem no máximo de benefício possível para a sociedade brasileira, foi criado um marco regulatório específico para essas áreas. O modelo de contrato adotado é o de partilha da produ-ção, previsto na lei 12.351 de 2010, adequado para áreas com grande potencial e baixo risco exploratório, como as do pré-sal brasileiro.

Na partilha, a União e a empresa contratada para explorar uma área divi-dem o petróleo e o gás natural extraídos daquela área, enquanto nos contratos de concessão as empresas podem dispor de toda a produção. Todos os contra-tos de partilha têm a Petrobras como operadora da área, com participação mínima de 30% no contrato. A mesma lei que introduziu o modelo de partilha para o pré-sal também criou o Fundo Social, criado para ser uma fonte de recursos para o desenvolvimento social e regional, na forma de programas e projetos nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento, segundo a ANP.

Mas, na opinião de Jorge Camargo, o novo modelo regulatório de partilha de produção dificulta e prejudica o de-senvolvimento do potencial do pré-sal. “Nem tanto pela mudança de tipo de

contrato, de concessão para partilha, e sim pela exigência de que a Petrobras seja a única operadora do pré-sal. Por limitar o aporte de investimentos, novas tecnologias e experiências, au-mentar o risco das empresas de bens e serviços – operador único significa cliente único – esse modelo represen-ta, em minha opinião, um grave erro de política industrial que prejudica o desenvolvimento do pré-sal, da indús-tria de petróleo brasileira, o país e até mesmo a Petrobras”, declara.

O assunto foi colocado em pauta durante Rio Oil & Gas 2014. Em de-bate sobre unitização, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), foi posto a complexidade das normas presentes na Resolução 25/2013 da ANP, sobre individualização da produção. Alguns pontos como a definição do operador e a divisão dos direitos e obrigações das partes, além das participações nas jazi-das compartilhadas, foram destacados por Tatiana Zuma, gerente Jurídico de E&P da Petrobras. “A resolução ajudou, mas precisa de melhorias”, opinou a executiva durante apresentação.

Na mesma conferência, Oswaldo Pedrosa, presidente da Pré-Sal Petró-leo (PPSA), disse não ter dúvidas de

partilha de produção

O Nordeste vem ganhando crescente importância no que diz respeito ao setor de Petróleo e Gás. A região tem ajudado o país a se destacar nas descobertas e no setor e, segundo a ANP, vem despertando o interesse da indústria. De acordo com a agência, na 11ª Rodada de Licitações da ANP, realizada em maio do ano passado, de 120 contratos assinados pelas empre-sas vencedoras, 96 referem-se a blocos localizados em bacias sedimentares do Nordeste (Barreirinhas, Ceará, Pará-Ma-ranhão, Pernambuco-Paraíba, Parnaíba, Potiguar, Recôncavo, Sergipe-Alagoas e Tucano). Isso significa investimentos futuros e desenvolvimento para a região.

Entre as empresas que arremataram áreas na rodada estão Petrobras, Petrogal, BP, Total, Chevron, Ecopetrol, Niko Resour-ces, Exxon, Petra, Gran Tierra e Queiroz Galvão, entre outras.

“Durante a 11ª Rodada de Licitações as bacias marítimas nordestinas, também chamadas de bacias da Margem Equato-rial, atraíram os maiores lances e devem receber vultosos investimentos em ex-ploração nos próximos anos. Mas ainda é cedo para estimar o seu real potencial”, ressalta o especialista Jorge Camargo, que destaca as descobertas em águas profun-das de Sergipe como um dos resultados recentes de maior significado na região.

Atualmente, o Rio Grande do Norte é o maior produtor de petróleo na região Nordeste e ocupa a quarta po-sição no ranking de maiores produtores brasileiros. Conhecido pela produção terrestre de petróleo, fechando a pro-dução em 2013 3.469.842 m³ (segundo dados da ANP), o estado faz parte da margem equatorial brasileira, principal aposta das petroleiras que operam no país em termos de áreas fora da região do pré-sal. Esse local tem as mesmas características geológicas da margem equatorial da África, onde foram des-cobertas boas reservas de petróleo leve, o óleo mais caro do mundo.

conquistas no Nordeste

que as unitizações impõem grandes desafios à empresa. “Estamos enfren-tado essas questões com prioridade. A individualização da produção em áreas não contratadas do polígono do pré-sal está hoje no centro das atenções da PPSA. Existem atual-mente cinco casos de unitização em andamento que envolvem a nossa atuação, cujos processos visando ao entendimento entre as partes já estão em curso e vários outros serão iniciados em breve”, afirmou durante a Rio Oil.

Oswaldo Pedrosa

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Quando se fala em tributação no Brasil, o clima fica tenso para os empresários e não é diferente para quem faz par te do setor de petróleo e gás. Durante o segundo dia da Rio Oil & Gas, os integrantes do painel que debateu o tema foram unânimes em afirmar que há dificuldades de se operar no atual ambiente legislativo, o que tem como consequência a perda de interesse dos investidores, redução da eficiência e aumento de custos e riscos. Priorizando mudanças no setor, o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) lançou o documento “Agenda Prioritária da Indústria de Petróleo, Gás e Biocombustíveis 2014-2015, durante a Rio Oil. A agenda prioriza cinco grandes áreas: exploração e produção (E&P); abastecimento e refino; gás natural e GLP; tecnologia; e sustentabilidade.

O documento ascende o debate ao topo das prioridades para o setor petrolífero. Entre as diversas posições do IBP estão o aperfeiçoamento do marco regulatório de óleo e gás no Brasil; a necessidade de haver previsibilidade de leilões de áreas exploratórias; a revisão da política de conteúdo local; a criação de um plano educacional estruturado para a formação de mão de obra qualificada; a paridade dos preços dos combustíveis no Brasil com o mercado internacional, para manter não somente a saúde financeira da Petrobras como as condições para que o etanol e o biodiesel se desenvolvam no mercado brasileiro; mais estímulo à geração termelétrica, com despacho na base, entre outras.

Custos e riscos

!

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geografia econômica do Brasil não é mais a mesma. Os in-dicadores macroeconômicos

de cada região explicam parte dessa mudança. As economias do Norte e Nordeste este ano vão crescer mais do que a média nacional. O PIB (Produto Interno Bruto) nordestino – que é a soma de todos os bens e serviços produzidos na região - deve avançar 2,7% em 2014, enquanto o desempenho esperado para o PIB nacional é de 1,9%.

O tempo em que as praias e paisagens naturais impulsionavam quase sozinhas a economia regional se foi. O crescimento da região vai hoje muito além do turis-mo. O aumento do poder aquisitivo da população e os investimentos públicos e privados em infraestrutura, na indústria e no setor de energia estão impulsionando o crescimento local e explicando por-quê, entre 2003 e 2010, o PIB da região cresceu 37,1% (acima dos 32,2% do Brasil). Com seus mais de 50 milhões de habitantes, se fosse um país, o Nordeste figuraria entre as 10 maiores economias da América Latina, à frente do Equador, Paraguai e Uruguai.

Historicamente marginalizada, a região começa a receber a atenção proporcional ao tamanho de suas potencialidades, tan-to do setor público como do privado. Este

Economia

a

A economia nordestina avança acima da média nacional e o consumo das famílias já representa 20% das despesas do Brasil, indo na contramão da desaceleração econômica no Sul e Sudeste

Por Grazielle Uchô[email protected]

crEscENdo Mais quE o

país

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último, aliás, incrementa o volume de investimentos, tanto pela economia em expansão como pelos incentivos fiscais que encontra ao aterrissar em um dos nove estados. As empresas estão de olho no poder de compra do nordestino, que já alcança R$ 450 bilhões, equivalente à economia de países como a República Checa e o Peru. Em um ciclo virtuoso, o aumento do consumo atraiu a chegada de empreendimentos privados que, por sua vez, foram responsáveis por ampliar o mercado de trabalho e renda.

Estudo feito pela IPC Marketing e publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, este ano, indica que o Nordeste chegou a um número recorde em rela-ção ao consumo, alcançando os 20% do total consumido no Brasil, enquanto o potencial do Sudeste pela primeira vez ficará abaixo dos 50%. Segundo o diretor da IPC Marketing, Marcos Pazzini, foram as políticas governamentais de transfe-rência de renda que fizeram com que parte da população passasse a ter melhor qualidade de vida e, consequentemente, de consumo.

“Anos atrás eu jamais iria imaginar que teria uma casa própria. Comprei meu apartamento através do Minha casa, Minha vida. Só desse jeito foi que con-segui pagar um investimento tão alto”,

diz Maria Auxiliadora (46), secretária em um consultório médico de João Pessoa (PB). Maria conta que hoje tem mais acesso a produtos e serviços mais baratos que um imóvel, o que não tinha antes, confirmando a conclusão da IPC.

De acordo com a pesquisa, 20% da origem da renda familiar nordestina vem do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - boa parte do pagamento é atre-lada ao salário mínimo. O Bolsa Família representa 3% e o restante é dividido entre trabalho (71,9%) e outras fontes (5,4%), como aluguel. Já o destino da renda, segundo Pesquisa de Orçamen-to Familiar (POF) do IBGE, em todo país, vai para habitação, alimentação e transporte. Em Pernambuco, por exem-plo, 71% do orçamento das famílias são destinados a estas despesas.

No Nordeste, onde vive mais de um quarto da população brasileira, a classe média cresceu 20 pontos percentuais na última década e representa hoje mais de 40% dos habitantes. Levantamento da consultoria Plano CDE, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), aponta que são 23,9 milhões de nordestinos na classe C e 23,7 milhões entre a D e E. Ambos representam 45% da população, mesmo com a ligeira diferença.

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O economista Eduardo Bassin acredita que a economia nordestina passa por um processo que estados do Sul e Sudeste experimentaram nos últimos anos: o crescimento do nível de investimentos, expansão significativa do emprego e renda e, consequentemente, a inclusão de um grande número de famílias na classe média, o que favorece o consumo. “Tudo isso confere à região uma perspectiva mais favorável que a média do Brasil, pelo menos no curto prazo. A expertise em turismo também é um fator positivo em virtude do estabelecimento do Brasil na rota internacional de turismo. (...) Sem dúvidas, o Nordeste representa uma alternativa cada vez mais importante a mercados melhor estabelecidos e, por vezes, saturados”, afirma.

O também economista Yuri Amadei argumenta que, com o tempo, a região foi crescendo e o PIB do Nordeste, que era de US$ 8,6 bilhões em 1960, passou para US$ 91,4 bilhões em 1990 e US$ 280 bilhões em 2005, de acordo com o IBGE. Hoje é o terceiro maior PIB do Brasil, perdendo para o Sul e Sudeste.

Yuri cita a Bahia como uma referência econômica do Nordeste, que tem o sexto maior PIB do país. Ele afirma que grandes investimentos foram e ainda serão destinados à região Nordeste, como exemplo, o Polo Petroquímico de Camaçari; a fabricante de bebidas Brasil Kirin, que pretende transformar a Bahia em um grande mercado consumidor de seu refrigerante; e o Grupo Guararapes Confecções, fundado em Pernambuco e sediado no Rio Grande do Norte. Outro nome de peso, a P&G quer transformar o Nordeste na região mais importante para a empresa nos próximos anos. “Portanto, trata-se de uma localidade de grande destaque no âmbito econômico brasileiro, que tem perspectiva de continuar atraindo investimentos privados e, ao contrário de antigamente, ao invés de ter uma população migrando para as outras regiões, ser a maior a que receberá migrantes do país para moradia, turismo, estudos e trabalho”, diz o economista.

EXPANSÃO DA CLASSE MÉDIA

Yuri Amadei Eduardo Bassin

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O contexto nordestino atual vai de encontro ao cenário nacional. Estudo da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento divulgado em setembro revelou que o crescimento do consumo das famílias brasileiras vem sofrendo uma desaceleração. Em 2010, o gasto cresceu 6,9% em relação ao ano ante-rior mas, a partir daí, as médias anuais foram caindo até chegar a 2,6% em 2013. No primeiro semestre deste ano a elevação foi ainda menor, ficando em 2,2% de janeiro a março e, em 1,2%, de abril a junho. A análise da Ceplan considera como causas prováveis a essa regressão o endividamento, a inflação, juros mais altos e crédito mais rígido.

Os incentivos à compra de imóveis resultaram, de acordo com o estudo, em um endividamento imobiliário que atingiu 16% da massa salarial e não dá sinais de retração, enquanto o endivi-damento geral estabilizou-se em 46% e o comprometimento da renda com os encargos da dívida ficou em torno de 21% - percentual considerado baixo em relação a países desenvolvidos.

O economista e professor da Fun-dação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Grandi, afirma que o endividamento das famílias pode ser de fato apontado

como uma das causas, mas Grandi acredita que a inflação é a principal motivação da desaceleração. “A infla-ção que corrói o poder de compra das famílias e o aumento dos juros são o motor principal dessa desaceleração”, ratifica. Para o professor, o que está acontecendo nesse momento da eco-nomia, com o aumento da inflação, é o “efeito renda”. “Quando aumenta o preço de um bem e tudo o mais permanece constante (a renda do consumidor, os preços dos outros bens constantes, etc.), o consumidor perde poder aquisitivo e a demanda pelo produto diminui”, explica.

Paulo Grandi considera que se a situação continuar como está, ou seja, com incertezas no cenário nacional, a tendência é de alta da inflação e o consumo tende a continuar caindo. Porém, ressalta que o desempenho do Nordeste em contraposição a estas incertezas se mantém. O economista da FGV destaca os investimentos in-dustriais privados e públicos, o avanço da fronteira agrícola com lavouras de soja, algodão, tabaco, arroz e milho e os projetos de irrigação como causas positivas para os bons números da economia regional.

desaceleração no país

Enquanto as famílias das demais regiões pisam no freio e sinalizam menor disposição para o consumo em relação ao ano passado, as famílias nordestinas continuam confiantes em 2014. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) cresceu 4,3% no Nordeste, para 135 pontos, o nível mais elevado entre as regiões e o único resultado crescente. A média do país, por sua vez, caiu 7,4% quando se compara junho deste ano com igual mês de 2013.

Embora a região ainda esteja mais longe do pleno emprego que as demais, especialistas apontam a manutenção dos bons resultados na geração de postos de trabalho como um importante fator para este cenário. No primeiro trimestre de 2014, o Nordeste gerou 1,04 milhão de postos de trabalho em relação a igual período de 2013, uma alta de 4,9%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo IBGE. A estatística nordestina é mais uma vez superior à média nacional, que tem crescimento de 2%, com 1,77 milhão de vagas abertas no período.

FAMÍLIAS MANTÊM CONSUMO

“Quando aumenta o preço de um bem e tudo o mais permanece constante, o consumidor perde poder aquisitivo e a demanda pelo produto diminui”

Paulo Grandi

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A taxa de consumo é essencial na economia brasileira e, segundo o eco-nomista Eduardo Bassin, é fundamental para o desenvolvimento. Para ele, uma parcela considerável do crescimento da economia do país nos últimos anos foi proporcionada pelo fortalecimento do mercado consumidor interno, o que im-pulsiona investimentos, gera empregos e aumenta o nível de renda. “Trata-se de um ciclo, que precisa ser monitorado de forma a evitar efeitos negativos para a economia”, diz Bassin.

De acordo com o economista Yuri Amadei, o consumo está atrelado, no âmbito macroeconômico, ao cresci-mento da renda do trabalhador, o nível de emprego e a estabilidade dos preços.

Assim, quanto maior o consumo, tende a ser maior a produção de bens e ser-viços, ocasionando o aumento do PIB. Se a propensão ao consumo é maior do que a capacidade de produção, os preços sobem, gerando inflação. His-toricamente, segundo o economista, a economia brasileira enfrenta o proble-ma da incapacidade de produzir com eficiência para atender à demanda, mas os fatores que ajudaram a piorar o quadro nacional foram juros mais baixos e excesso de crédito, gerando alto endividamento da população com um consumo desenfreado.

Para Yuri Amadei, o cenário da economia brasileira atual mostra que o consumo das famílias diminuiu

consumo e desenvolvimentoporque houve aumento da inflação decorrente do aumento de preços, bem como porque houve uma elevação no desemprego em setores que antes esta-vam aquecidos, como o da construção civil e automotivo. “Com a produção industrial baixa, nível de ociosidade elevado, desemprego e inflação, o po-der de compra foi reduzido”, explica o economista.

No entanto, Yuri acredita que 2015 começará difícil, mas poderá ser um ano de recuperação, caso sejam ado-tadas algumas medidas de redução da carga tributária e estímulos a produção industrial trazendo competitividade aos produtos nacionais, maior oferta e consequente queda de preços.

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Economia

polo cabo braNco: 32 aNos No papEl

residenciais e complexo esportivo, com foco na urbanização de uma área isolada da cidade, formada praticamente por resquícios de Mata Atlântica. O projeto era a esperança para o turismo na cidade e no estado, mas, desde que foi concebido enfrenta a morosidade.

De acordo com Ivan Burity, executivo do Polo Cabo Branco, o projeto foi reto-mado e está dando continuidade à parte legal. “Os empresários partiram para a legalização das etapas burocráticas, entre eles o registro dos lotes em cartórios de imóveis, o que demandou todo um reca-dastramento. Tudo foi georeferenciado. Isso é um alicerce do projeto”, afirmou.

O executivo contou também à redação da Revista NORDESTE que o que cabia ao Governo do Estado, com a parte de infraestrutura prometida (estradas, por exemplo) foi construído. Além disso, a região foi prestigiada com a construção do Centro de Convenções, importante aparelho de atração de eventos turísticos. “O que dá um reforço imenso e uma viabilidade econômica para aquela área. Agora a gente espera a inciativa dos empresários”, completa.

Atualmente, a concretização do pro-jeto ainda é embrionária. Segundo Ruth Avelino, presidente da Empresa Parai-bana de Turismo (PBTur), para o Polo

Complexo turístico já passou por diversos governos e ainda continua emperrado por embargos ambientais, judiciais e entraves burocráticos. Empresários começam a fazer o reconhecimento dos terrenos para a construção dos hotéis

a região litorânea da área sul da cidade de João Pessoa, atrai os olhares e o interesse de turistas

desde que foi descoberta. O contorno de falésias beirando a praia, misturado ao to-que verde das matas é um visão paradisí-aca para quem caminha por ali. Pensando nas potencialidades e prevendo um futu-ro turístico promissor, foi desenvolvido o Plano de Desenvolvimento Turístico da Paraíba, na década de 80, composto ba-sicamente pela criação do Projeto Costa do Sol (conhecido hoje como Polo Cabo Branco), empreendimento que pretendia a construção de 18 hotéis, marinas, zona comercial, áreas de lazer, parques, áreas

Ivan Burity

Centro de Convenções contribui com desenvolvimento da região Costa do Sol

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A região reservada para o desenvolvimento do Polo Cabo Branco é uma área de relevante interesse econômico, privilegiada ecologicamente e com alto valor paisagístico. É formada por uma faixa da orla marítima no litoral sul da cidade de João Pessoa e envolve uma região de Mata Atlântica e ecossistemas com restinga, mangue, laguna, falésias e praias. E, por isso, um dos grandes entraves do projeto turístico foi a questão ambiental.

Para a professora de Políticas Públicas de Turismo, do curso de Turismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Valéria Endres, o projeto inicial do Polo Cabo Branco seguiu a linha de empreitadas turísticas que foram tendências nas décadas de 80 e 90 no Nordeste. “É o que na época chamavam de mega projeto turístico. Hoje esse tipo de modelo não traz tantos benefícios para as comunidades locais, são modelos segregadores. Cria uma estrutura onde o turista não tem muito contato com as comunidades locais”, explica a professora.

Ana Valéria Endres acrescenta também que as cidades que implementaram esse tipo de projeto não tiveram um retorno tão compensador assim. “Hoje, 30 anos depois, nesses projetos implementados naquela época, os prejuízos ambientais e sociais foram maiores que os benefícios econômicos”, afirma.

Ivan Burity ressalta que a localização do Polo Cabo Branco é estratégica. Ele afirma que o planejamento da obra para a região Costa do Sol irá trazer privilégios à cidade de João Pessoa sem causar transtornos com a grande demanda de turistas que o polo pretende atrair. “Crescer no turismo é muito bom, mas, às vezes, por falta de planejamento ele contribui para a perda de qualidade de vida, como sobrecarga no trânsito, na mobilidade. O projeto foi muito bem recebido pela Prefeitura Municipal e essa acolhida é muito importante para a sua efetiva concretização”.

TURISMO DE MASSA

até agora só há comprovação de que 15 empresas de hotéis pagaram seus lotes. A presidente da PBTur explica também que esses hoteleiros tinham até três anos para estar com 50% da obra pronta, mas até hoje não aconteceu por conta das acomodações de governos e dos empre-sários. “Um ficou esperando pelo outro”. Ela conta que ninguém ainda começou a construir mesmo. “Os empresários estão com máquinas e equipamentos fazendo o referenciamento, elaborando um projeto construtivo, para ter os pro-jetos aprovados pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Animais (Ibama) e os órgãos municipais e estaduais”, afirma Ruth.

Enquanto o estado vizinho, Rio Grande do Norte, realizou iniciativa semelhante em sua capital, atraindo turistas e negócios, e gerando receita ao município, concretizado na Via Cos-teira de Natal, João Pessoa permanece estagnada em relação ao turismo. De

acordo com Ruth Avelino, a constru-ção do Polo Cabo Branco irá suprir uma grande necessidade da capital paraibana: a deficiência de hospeda-gem para grande número de turistas. “Temos 11 mil leitos e só na baixa estação a ocupação chega a 70%. Ima-gine quando o Centro de Convenções estiver funcionando completamente? Não adianta promover o turismo, que é o papel da PBTur, se o povo não tem onde se hospedar”, critica.

O Polo Cabo Branco foi pensado e planejado no governo de Tarcísio Bu-rity, com autoria do arquiteto Luciano Agra. O projeto foi inspirado no mo-delo turístico implantado no México, que tem como principal representante o Polo de Cancún. Para elaboração do equipamento, Luciano Agra, Ivan Burity (que hoje comanda a retomada das obras) e diversos empresários da hotelaria paraibana fizeram uma visita oficial ao México, onde buscaram infor-mações e tecnologias para a elaboração e implantação do projeto.

SETOR TURÍSTICO EXCLUSIVO

SETOR RESIDENCIAL

SETOR DE COMÉRCIO E SERVIÇOS

SETOR DE EVENTOS CULTURAIS

SETOR ESPORTIVO

ANIMAÇÃO TURÍSTICA

ÁREAS LIVRES E RECREAÇÃO

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO

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Opinião

Ipojuca PontesEscritor e cineasta

Polícia Federal anda atrás de Lula. Ela quer que o ex-operário (elei-to presidente da República pela aliança firmada entre a esquerda

sindical, ateus da teologia da libertação e os marxistas da USP) preste esclarecimentos sobre a denúncia de R$ 100 mil repassados por Marcos Valério, operador do mensalão, ao Líder Máximo.

O fato é que MV, no depoimento pres-tado na Polícia Federal em 2012, acusou Lula de ter se beneficiado de recursos que escorria do propinoduto mineiro abastecido com dinheiro público. Na mesma data, o operador do mensalão compareceu à Procuradoria Geral da República e acusou o Líder Máximo de intermediar a doação de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para os cofres do PT.

Lula parece ser um caso de reincidência específica. Já se disse que, uma vez aberto o Código Civil, seria factível enquadrar o Líder Máximo, autoproclamado “me-tamorfose ambulante”, criatura capaz de praticar artes de espantar a figura do Demo.

Com efeito, cabe de tudo no nosso códi-go de leis, o mesmo que agrupa as normas e relações jurídicas de ordem privada. Nos seus diversos artigos, discriminam-se os crimes de concussão, peculato, forma-ção de quadrilha, falsidade ideológica, suborno, adultério, nepotismo – o diabo a quatro. Cometendo alguns desses mal-feitos, se o sujeito trastejar, pode mofar no bafo da perpétua.

Falar em nepotismo, circula na Internet uma impressionante denúncia do pastor Silas Malafaia contra o governo do PT, que, segundo ele, pressiona a Receita Fe-deral para autuar a Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo, coordenada pelo pastor, como lesiva ao fisco. Indignado com a perseguição implacável, que diz ser de natureza política e religiosa, Malafaia quer que o governo do PT mande a Re-ceita investigar a súbita riqueza de Lulinha que, de pobre rapaz, passou à condição de bilionário quando Lula se fez presidente.

A propósito, circula também na internet um vídeo mais que oportuno, a ilustrar o

samba de pagode “Malandro Moderno”. Nele, Eike Batista, o criminoso e mecenas dos filmes milionários de Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, troca amabilidades com Dilma e Lula, todos felizes, especialmente Eike, quem sabe por usufruir dos colossais empréstimos do BNDES - e, de quebra, manipular no mercado de capitais a venda de ações de suas empresas fraudulentas, razão pela qual está sendo enquadrado pelo Ministério Público por formação de quadrilha, falsidade ideológica e indução do investidor a erro.

Na minha modesta opinião, Lula há muito tempo deixou de ser “metamorfose ambulante”. No plano psicológico, o perfil do personagem projeta o autista que, cego para a realidade exterior, constrói um mundo autônomo no qual só ele interessa. De fato, o homem merece exame bem mais acurado. Só para ficar num rápido esboço, convém ressaltar que Lula não raciocina, inventa. Não reflete, improvisa. Não es-cuta, introjeta. Não contesta, agride na base do deboche. Não paga, gratifica com concessões, benesses e empregos públicos – no que, aliás, atingiu a excelência.

Para concluir: questionado por uma re-pórter sobre o depoimento a ser prestado na Polícia Federal a respeito das acusações de Marcos Valério, Lula tripudiou:

- Só (vou) se você me convidar. Mais tarde, questionado de novo levou a

coisa para o terreno do deboche: - Quando eu for convidado, meu amor!

Eu não recebi nada. Foi você que me falou e outra moça, hoje à tarde. Eu acho engraçado que é a primeira vez que alguém é convidado pela imprensa.

Lula, quem sabe, teme a convocação da Policia Federal por que tem medo que o interrogatório, vazado na mídia, prejudique a complicada reeleição de Dilma. De fato, há sete meses a PF tenta ouvir o Líder Máximo sobre a denúncia do Valério, inutilmente. Se quisesse, o órgão de repressão do Estado, em vez de convidar, intimaria Lula para ouvi-lo. Mas acredito que a PF desconfia que Dilma Rousseff apenas dispõe do diploma legal de presidenta. De fato, quem manda no país é o Lula, ainda que cada vez mais aloprado.

Lula e a Federal

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O fato é que Marcos Valério, no depoimento prestado na Polícia Federal em 2012, acusou Lula de ter se beneficiado de recursos que escorria do propinoduto mineiro abastecido com dinheiro público

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pacote adicional de 50 MB por R$ 2,99, que possui a duração de uma semana.

A operadora disponibilizará também um pacote com mais dados, ou consumir um plano semanal por R$ 6,90, que per-mite ao usuário realizar ligações e enviar mensagens ilimitadas, além do pacote de dados para acessar a internet. Em relação ao serviço pós-pago, a operadora prevê a mesma velocidade com cobrança adicional, mas sem data prevista ainda.

Outras operadoras já oferecem recon-tratação de franquia de dados, como a Tim e a Oi para os clientes que utilizam o serviço pré-pago. Já nos planos pós--pagos, existem diferenças entre as duas empresas. Os usuários da Tim têm a ve-locidade de conexão reduzida ao término da franquia, mas permite o compartilha-mento entre até quatro aparelhos. Já na Oi, há a opção de reduzir a velocidade ou aumentar o valor da franquia naquele mês, mas avalia a possibilidade de manter apenas o acréscimo no valor da conta como opção.

assar o tempo todo acessando a internet pelo celular pode ficar mais caro. Quem utiliza

internet móvel com frequência está acostumado ao aviso da operadora indi-cando que o usuário já consumiu toda a sua franquia de dados disponíveis e que a partir daquele instante a velocidade da conexão será reduzida. A partir de novembro isso não ocorrerá mais. Quem quiser continuar trafegando na internet terá que contratar um pacote adicional, adquirindo mais megabytes (MB).

A intenção é manter a velocidade de conexão dos usuários, mas com um pagamento extra. A primeira operadora a anunciar a mudança foi a Vivo, maior companhia do setor, com 79 milhões de clientes. Os usuários de planos pré--pagos serão os primeiros a sentir essa alteração em novembro, primeiramen-te no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. Quando um cliente atingir a franquia de dados, a operadora enviará uma mensagem de texto oferecendo um

pOperadoras de telefonia celular anunciam alterações na cobrança de tarifa. Os primeiros estados a passar pelas alterações são Minas Gerais e Rio Grande do Sul

MudaNças Na iNtErNEt MóvEl

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estado do Rio Grande do Norte possui, em São Gonçalo do Amarante, um dos maiores

aeroportos de carga do Brasil, que se emparelha com Garulhos, Viracopos e Confins. O Aeroporto Internacional Go-vernador Aluízio Alves tem um edifício de estocagem e operações de importação e exportação composto de áreas de servi-ços e escritórios, com extensão de 4 mil m² e capacidade de processamento de 10 mil toneladas por ano. Além disso, o ter-minal tem capacidade para 6 milhões de passageiros por ano e terá, ao longo dos 28 anos de concessão, um investimento total de R$ 650 milhões, chegando a uma capacidade de 11 milhões de passageiros por ano, demanda esperada até 2038. É o primeiro no Brasil administrado 100%

pela iniciativa privada, o Consórcio In-framerica, mas ainda assim depende do poder público para seu pleno funciona-mento. Apesar de todo o investimento, o esforço para que ele possa servir como importante instrumento de desenvolvi-mento para a região pode ser em vão, por conta da logística comprometida no entorno.

Um dos entraves do acesso à localidade é a demora na construção de mais de 30 quilômetros de estrada duplicada, ligando o aeroporto a dois acessos. Logo na inauguração do aeroporto, em junho deste ano, o presidente da Inframérica, Alysson Paolinelli, ressaltou a impor-tância de investir na logística da região. “As obras do novo terminal estão sendo entregues, mas é possível ver toda uma

movimentação ao redor do terminal. Isso é positivo, representa expansão. Vamos ter hotel, posto de combustível, espaço para indústrias e logística. Espero, por-tanto, ter muito mais obras aqui ao redor para novos empreendimentos, o que vai trazer desenvolvimento para esta região”, afirmou Paolinelli.

No entanto, só a entrega do acesso ao aeroporto Aluízio Alves está sendo adiada desde abril deste ano. A obra dos acessos foi licitada em 2009, mas só teve início em agosto de 2013. O projeto, orçado em R$ 73 milhões, prevê a cons-trução de 33,7 quilômetros de estrada duplicada, ligando o aeroporto à BR-406 (Ceará-Mirim) pelo acesso Norte e às BRs 304 (Macaíba), que estão paralisadas desde agosto, e BR 226 pelo acesso sul.

o

Usuários do Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, no Rio Grande do Norte, sofrem com dificuldades no acesso ao terminal que promete ser um dos maiores em transporte de cargas

Por Flávia [email protected]

logística EMpErrada

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O enfermeiro Domingos Aguiar, que mora em Parnamirim e frequentemente faz uso das vias próximas ao aeroporto para ir trabalhar, conta que já sofreu acidente no local. “Eu estava indo para o trabalho pela manhã em um trecho que fica após o Parque de Vaquejada São José, em Macaíba/RN na BR 160. Quando adentrei em um declive da pista (que não dá para quem vem no sentido opos-to ver), vinha um carro ultrapassando e assim que pisei no freio bruscamente para evitar a colisão frontal, um Duster bateu na minha traseira fortemente, de tal forma, que só fui controlar o carro 100 ou 200m após o local da colisão”, lembra.

O enfermeiro reclama da grande movi-mentação das vias e afirma que elas ainda não suprem a necessidade da região. “Tem um grande fluxo de caminhões que vão atender às fábricas localizadas em São Gonçalo”, conta.

Hoje, para chegar ao aeroporto pode--se trafegar pelo acesso da Via Norte, ainda incompleto, que liga Natal ao município de Ceará-Mirim. O acesso através da Via Sul, que terá 17 km e passará pelo município de Macaíba, ainda não foi entregue.

De acordo com informações do DER, também publicadas no site No Minuto em setembro, existem pendências do Governo do Estado com o Proinveste. O Banco do Brasil precisa aprovar a prestação de contas. Os recursos dessa fonte representam 12% do total das obras de acesso. A EIT Engenharia, empresa responsável pela obra, não teria enviado toda documentação necessária à Caixa.

Foto: ASGA aérea | Divulgação

fluxo grande

Domingos Aguiar

Avenida próxima ao Aeroporto Aluízio Alves, no Rio Grande do Norte

De acordo com informações do site No Minuto, no acesso Norte, falta a dupli-cação da BR-406 a partir do bairro do Parque dos Coqueiros até Ceará-Mirim, e finalização do aeroporto por esta via. Já no acesso Sul, só foi feita a terraple-nagem. A iluminação e a sinalização dos acessos ficaram por conta da Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, que investiu R$ 1,9 milhão no projeto.

A Revista NORDESTE entrou em contato com a assessoria do Departa-mento de Estradas e Rodagens (DER) do Rio Grande do Norte, que afirmou que o prazo de conclusão realmente ficará para o próximo ano. Mas, durante a inauguração do aeroporto, Demétrio Torres, diretor do DER, declarou que as obras seriam entregues até agosto desse ano.

AEROPORTO

ARREMATADO POR

POSSUI 1 PISTA DE POUSO E DECOLAGEM DE

TEM CAPACIDADE PARA

DE PASSAGEIROS ATÉ 2014

E ATÉ 2038 ATENDERÁ

SÃO GONÇALO

R$170 MILHÕES

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600X

MILHÕES

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urgido como um refúgio para a situação hedionda da es-cravidão, o quilombo foi um

espaço importante na cultura negra nacional, marca de luta e resistência que perdura até hoje. Passados mais de cem anos desde a Lei Áurea, as áreas remanescentes dos quilombos são verdadeiras comunidades que abrigam mais de um milhão de brasileiros, e ape-sar disso, nem todas são reconhecidas pelo Governo. A Fundação Palmares, entidade responsável por essa certifi-cação, anunciou no dia 17 de outubro que mais 27 comunidades receberam a titulação, uma em Minas Gerais, 24 no Maranhão e duas na Bahia (estado com o maior número de reconhecimentos) atingindo a marca de 496, de acordo com o site da Fundação.

Mas, para o baiano Wilson Nunes há muito o que ser feito ainda. Nascido

s

Geral

Símbolo de luta e referência na cultura negra nacional, as comunidades afrodescendentes vêm sendo reconhecidas, mas moradores ainda lutam por direitos

Por Isadora [email protected]

Resistencia quilombola

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assustar e meter medo”, disse.Infelizmente esses relatos não são

raros. A antropóloga Rebeca Ferreira acompanhou alguns casos no interior de São Paulo e contou como ocorrem os abusos e pressões aos quilombolas: “Posso dar o exemplo do Quilombo do Carmo, que fica próximo a São Roque, interior de São Paulo. É uma comuni-dade de 750 pessoas que habitam uma área de apenas 6,6 alqueires (16 hecta-res), o último quinhão que lhes restou do território original, que era de 2175 alqueires (mais de 5000 hectares) até 1932, ou seja, em menos de cem anos foram expropriados 99,72% de suas terras tradicionalmente ocupadas. E ainda recebem pressões”, disse.

As ofensivas não terminaram aí. “Essa perda das terras se deu de forma violenta, com ‘vendas’ - coloco entre aspas porque eles eram obrigados a

numa comunidade quilombola há 50 anos, Wilson se mudou com sua família para Salvador no fluxo do êxodo rural, enquanto ainda tinha cinco meses e desde então vive na capital. Entretanto, a causa quilombola é sua motivação. “A luta por estes povos e comunidades está no meu DNA, não consigo ficar distante”, disse o baiano que fundou em 2007 o Instituto Pau Brasil para auxiliar essas comunidades.

Atualmente, o instituto acompanha quatro processos, um deles é o de Alto do Tororó, localizado na Ilha da Maré (BA), existente há duzentos anos e lar de aproximadamente 400 famílias. Wil-son conta que a comunidade já passou por perseguição e ofensivas de diversas partes, principalmente de fazendeiros e da Marinha. “Não permitiam que os moradores plantassem nem pescassem. Era possível ouvir tiros à noite para

vender por qualquer preço, trocas até por comida, ou mesmo expropriações, quando eram violentamente tirados de suas casas. As casas eram incendiadas, os animais envenenados, as pessoas ameaçadas. Hoje, as pressões tomaram outras formas, ‘mas a cerca continua andando’ – essa expressão é usada pra definir grilagens, ou seja, quando a pes-soa compra X hectares, mas vai fazendo a cerca ‘andar’ e no fim das contas acaba com X + Y hectares na realidade, en-quanto a escritura é de X”, completou.

A situação se repete na comunidade bicentenária Paratibe, em João Pessoa, que abriga em torno de 120 famílias e passa por constantes ameaças. “A co-munidade está cercada por imobiliárias e construtoras. Ela é muito próxima à cidade e isso acaba gerando problemas. Entretanto, Paratibe já está passando por um processo de demarcação com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra)”, afirma Francimar Fernandes da Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendentes (AACADE).

Francisco Carlos, que mora na co-munidade Centro do Expedito (MA) desde que nasceu, também já passou por problemas semelhantes. “Aguentamos absurdos entre 1983 e 1992, quando decidimos enfrentar o fazendeiro da área. Ele começou a colocar o gado para atacar a lavoura, ao que retrucamos ata-cando o gado dele, então, o fazendeiro chamou a polícia, que atirou em algumas pessoas, mas não atingiu ninguém. Pedi-mos auxílio para comunidades próximas e para um padre, que fez contato com a pastoral e outras entidades do movimen-to negro. O jagunço abriu um processo contra a comunidade por formação de quadrilha que perdurou por sete anos, mas fomos absolvidos”, disse.

Comunidade quilombola Paratibe, em João Pessoa, abriga 120 famílias

Foto: Divulgação | Ilustração: Felipe Headley

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Visibilidade socialFrancimar Fernandes explicou como

pesa a incerteza de não ter a demarcação de terras dessas comunidades. “Um dos aspectos é que não tem como construir ações sustentáveis de permanência de jovens sem a delimitação de território. Então esses jovens acabam tendo que sair de suas comunidades, ir para a cidade. Os rapazes vão para a área de construção civil e as meninas saem para trabalhar como empregadas domésticas ou com coletas de laranja. Nem todas as comu-nidades têm posto de saúde, no geral o acesso à saúde acaba sendo precário.”

Rebeca Ferreira ressalta a questão da visibilidade social: “(O reconhecimento) é garantir o mínimo a um povo. Ou seja, a potência da efetividade do direito das comunidades quilombolas vai muito além da questão agrária, de um direito meramente fundiário. É um direito fundamental, baseado sim no acesso a terra, que potencializa, pois sem a terra

sequer existe um grupo, sem a terra tra-dicionalmente ocupada a comunidade tende a dispersar e sumir, sem a terra não há comunidade, sem a terra não existe a identidade do grupo enquanto tal”, falou.

Mas, a questão territorial não é o principal obstáculo. Quem pensa assim é Francimar. “A importância dela na Paraíba é ter a população identificada, coisa que não existia oficialmente”, disse, ressaltando o porquê dessa necessidade. “Ano passado houve uma iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento do Estado, do BNDES e de secretarias municipais para realizar um mutirão do cadastro único das famílias quilombolas. Isso fez diferença na vida dessas pessoas. Algumas nem acessavam o bolsa família, e como os quilombolas e indígenas têm prioridade no programa, elas puderam ser beneficiadas. Acho que esse é o ponto mais importante: a visibilidade e efetivação dos direitos”.

em busca de direitosMotivado pelo desejo de uma socie-

dade mais justa e de melhores condi-ções, Francisco atua na Associação das Comunidades Negras Rurais Qui-lombolas do Maranhão há 10 anos, e, assim como Wilson, nutre um carinho pela sua raiz e não pretende se mudar do Centro do Expedito tão cedo. “Não penso em sair jamais. Foi lá que cons-truí toda a minha história e onde estão meus familiares e amigos. É um lugar que representa pra mim, enquanto negro, não só a resistência da nossa luta, mas um espaço de preservação da nossa história, nossa cultura, um lugar que significa tudo”, declarou.

Embora sua comunidade ainda não tenha sido reconhecida, Francisco acredita que a situação quilombola melhorou a partir de 2003, quando foi

lançado, no dia 20 de novembro, o Decreto nº 4.887, que trata do pro-cedimento para identificação, reco-nhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos e regulamenta o artigo 68, do Ato das Disposições Constitucio-nais Transitórias.

A antropóloga Rebeca Ferreira, também vê o decreto com bons olhos. “O Decreto 4887 é um avanço nos procedimentos de salvaguarda dos direitos desses povos, ainda um tanto quanto invisível. É um passo, mais um dado, entre avanços e retrocessos, para que o direito dos quilombolas seja efetivado. E representa ainda, no ponto de vista jurídico, outro avanço, pois antes do decreto havia o argumento de

que faltava norma para aplicar o artigo 68º. Com o decreto acabou-se esse argumento da regulamentação jurídica. Na minha opinião, o decreto 4887 é um instrumento de cidadania”, disse.

Entretanto, Francisco ainda tem ressalvas. “Para a gente receber o título definitivo é necessário um antropólogo fazer um laudo, o que é um absurdo. A gente está lá há muito tempo, geração após geração, e, ainda assim, precisa que haja um laudo de um antropólogo para validar a comunidade”, avaliou. Ainda assim, Francisco vê que o de-creto facilitou a situação quilombola enquanto uma ferramenta que agiliza o processo de reconhecimento, indispen-sável para que as comunidades possam ser visíveis socialmente e, assim, rece-ber as políticas públicas adequadas.

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Pouco após o decreto, o Governo Federal lançou um programa que reúne uma série de ações pelo reco-nhecimento dessas comunidades. O Programa Brasil Quilombola teve seu início no dia 12 de março de 2004, organizado em quatro eixos para deli-mitar políticas específicas.

Ainda assim, a burocratização per-manece sendo um problema para a antropóloga Rebeca. “O Programa Brasil Quilombola (PBQ) prevê uma série de políticas públicas específicas para comunidades remanescentes de quilombos, no que diz respeito à saúde, educação, e outros. Contudo, é sabido que a maioria das comunidades quilom-bolas não tem acesso a esses programas. Novamente, o gargalo e as limitações do próprio processo de reconhecimen-to. Algumas comunidades não acessam tais políticas públicas por carecerem

dos títulos, outras por carecem da certidão de auto reconheci-mento (que embora o Brasil seja signatário da convenção 169 e da autodeterminação dos povos, exige que tal certidão ‘de qui-lombola’ seja emitida por um ente público, a Fundação Cultural Palmares). Novamen-te, não por falta de recursos, pois os recur-sos do PBQ sobram. Inclusive foi proposta uma auditoria pelo movimento quilom-bola para avaliação do uso dos recursos do PBQ”, declarou.

O PROCESSOSão sete passos para a solicitação de

reconhecimento das comunidades. Enquanto a Fundação Palmares é responsável por emitir uma certificação sobre o autorreconhecimento da comunidade, cabe ao Incra, na esfera federal, a titulação dos territórios quilombolas. Veja abaixo o passo a passo do procedimento.

1. Fase inicial: Abertura de processo no Incra para reconhecimento de territórios quilombolas.

2. Elaboração de RTID: Início do estudo da área, visando a confecção do Relatório Técnico de Identificação Delimitação (RTID)

3. Análise e julgamento de recursos ao RTID: Após a publicação do RTID o processo é aberto para contraditório

4. Portaria de reconhecimento: declara os limites do território5. Decretação/Encaminhamento: Decreto

presidencial que autoriza a desapropriação privada / encaminhamentos a entes públicos que tenham posse

6. Desintrusão: Notificação e retirada dos ocupantes7. Titulação: Emissão de título de propriedade

coletiva para a comunidade.

Foto: Divulgação

brasil quilombola

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Políticas de desenvolvimento da

última década têm corrigido distorções e ajudado a eliminar

as desigualdades regionais. Conheça

mais sobre a economia do

Nordeste ao longo dos anos

a história rEvisitada do NordEstE

Por Walter [email protected]

ão precisa “economizar-se” em Haward, nem mesmo “doutorar-se” em Campinas

para compreender o processo histórico e econômico social que fez do Nordeste a primeira região sede da capital do país (Salvador) a enfrentar mais de séculos de abandono das grandes políticas da coroa, até a era republicana. Fase essa que foi conduzida pelo olhar e postura elitista concentradora, ainda hoje com resquícios vivos de “Casa Grande & Senzala”, do genial Gilberto Freyre. Seria pouco enxergar, na análise crítica de Celso Furtado, que só com redução das desigualdades poderemos ter um Brasil mais igual, cidadão e líder.

Há quem renegue, mas depois que a família real portuguesa decidiu não ficar mais em mares baianos, onde permaneceu por dois meses de soslaio, e partiu para se instalar no Rio de Janeiro - gerando em 1808 o advento da “Abertura dos Portos às Nações

Amigas” para satisfazer a Inglaterra -, o Nordeste entrou num processo de decadência.

O significado da mudança da capital brasileira é tão forte que, enquanto Salvador comandava as ordens da corte, um estado vizinho implantava o primeiro transporte coletivo férreo puxado à tração animal, de origem inglesa, exatamente porque em torno da Grande Recife (PE) instalava-se o ciclo áurea da Cana-de-Açúcar, que celebrou um momento importante da economia do Brasil.

Como era potência econômica, Recife se fez sede deste marco no transporte de massa. Isso não se deu, por exemplo, em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, ou qualquer outra grande metrópole. Nos anos de 1872, a maior cidade da América do Sul e então coração do império, o Rio de Janeiro ainda era pequena para os rumos econômicos que viriam.

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centralização do poderCom a instalação da família real

nesse território geopolítico, grandes obras e instituições, a exemplo do Banco do Brasil e dos Correios, foram atraídas para o Rio de Janeiro. Isto não desmerece nada, mas a miopia da elite centralizada entre o Rio e São Paulo passou a ignorar enormemente o Nordeste brasileiro, onde já havia con-centrado a capital política do país, da mesma forma o Norte e Centro-Oeste, inexistentes para o interesse elitizado.

No início das políticas da industriali-zação brasileira, tomando por base até a influência da fase áurea da Revolução Industrial da Inglaterra, o Governo Federal decidiu centralizar no Sudeste 80% dos investimentos industriais, dos quais 44% ficaram em São Paulo. Daí compreendermos porque durante tanto tempo se convencionou o estado como “Locomotiva do Brasil”.

De lá para cá, ao Nordeste restou desatenções econômicas e sociais per-manentes. A região passou a conviver com migalhas de ações emergenciais diante do secular fenômeno da seca, que dizimou milhares de pessoas ao longo das décadas.

Este quadro de penúria fez do nor-destino um migrante contumaz para construir as ‘selvas de aços’ do Sudeste e do Sul, erguidas pelos “nortistas”, como assim eram chamados os que povoavam as periferias das metrópoles e que saiam da região mais penaliza-da do país - conduzidos aos estados sulistas em “paus de arara” – veículo que têm as mais duras condições de traslado para uma pessoa humana. O Nordeste passou décadas sendo a pá-tria do êxodo rural dos castigados pela seca imortalizada em muitas canções populares famosas.

Foto: Mila Cordeiro/AGECOM | Divulgação

O Nordeste passou décadas sendo a pátria do êxodo rural dos castigados pela seca

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o centro do país

fora do eixo principal

Depois de anos de instabilidade políti-ca até o século XX, movido pela “cultura golpista” implantada nos quartéis e nas armas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, e com o apoio de civis conservadores, o Brasil passou a enfren-tar outro momento delicado: a coragem do presidente Juscelino Kubitscheck de construir Brasília e transferir a sede da capital do país para o centro-oeste, dando-lhe natureza mais central ao poder e decisões de futuro distante do Rio de Janeiro.

Mesmo enfrentado a fúria carioca, através de Carlos Lacerda, Juscelino teve a competência de dar significado ao seu governo, por meio de políticas que chegaram a todas as regiões brasileiras. Não mais somente aos estados do Rio e de São Paulo, onde se concentraram, por décadas, as grandes obras do Brasil.

A concentração de renda e a am-pliação das desigualdades regionais são heranças passadas da cultura da elite míope e das necessidades de alguns brasileiros.

O presidente mineiro teve coragem e enfrentou a imperiosa necessidade de

levar o Brasil a um es-tágio de modernida-de, rasgando estradas na direção do Norte e, entre outros feitos, deflagrando políticas de desenvolvimento regional para enfren-tar as intempéries climáticas e desvan-tagens econômicas.

Ao chamar para perto de si o eco-nomista paraibano Celso Furtado, indicado por outro economista e também paraibano, Juarez Farias, o então presidente passa a abrigar os primeiros planos de desenvolvimento planejados e executados por uma equipe jovem de pensadores, sob a batuta do recém-concluinte em doutorado na França.

Com Celso Furtado, Juscelino implan-tou as primeiras medidas na direção do desenvolvimento regional no Brasil, na perspectiva de reduzir o fosso econômi-co existente entre Rio – São Paulo e o restante do país.

No Nordeste, a implantação da Sude-ne – Superintendência de Desenvolvi-mento do Nordeste foi imprescindível. Além da construção do imponente prédio, o órgão estimulou a capacita-ção de técnicos da própria região e a sedimentação do conhecimento. Enfim, pela primeira vez eram adotadas linhas

de financiamento para atividades eco-nômicas específicas naquela região.

Pela primeira vez, desde que a família real deixou Salvador, o Governo Federal voltou-se para uma política estruturante e de efeitos socioeco-nômicos que abran-geram o Nordeste.

Mas, como conta a história, o Golpe Militar de 1964 interrompeu o ciclo de estruturação sócio–educa-tivo e empresarial por força da nova cultura de domínio estabelecida, na qual as regras atendiam muito mais a esquemas políticos de sustentação, do que propriamente de ampliação do mercado e do desenvolvimento bem estruturado no Nordeste.

Os novos modos permitiram a politização coronelista, ainda hoje vigente em menor escala no Nordes-te. Com isso, vieram os desvios de identidade de projetos e, sobretudo, de recursos públicos que muraram o curso do seu destino, passando para contas bancárias particulares. Este ciclo ensejou interromper as linhas básicas de Celso implantadas por Juscelino.

Juscelino teve a competência de dar significado ao seu governo, por meio de políticas que chegaram a todas as regiões brasileiras

Novos modos permitiram a politização coronelista, ainda hojevigente em menor escala no Nordeste

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Sobre o desenvolvimento do Nordeste, não se pode deixar de levar em conside-ração outras políticas importantes, como também ignorar as qualidades intelectu-ais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele conduziu pactos localizados com lideranças como Antônio Carlos Magalhães (ACM), na Bahia, atraindo empresas como a Ford, e em Pernam-buco, com Jarbas Vasconcelos, que deu início ao Complexo Portuário de Suape.

Porém, o fechamento da Sudene aponta para uma constatação: a de que as políticas de FHC para o Nordeste não tiveram uma perspectiva macro de reincremento do desenvolvimento como

redutor das desigualdades.É a partir do Governo de Lula, em

2003, entretanto, que os nove estados nordestinos passaram a ser incluídos numa nova etapa. Realidade a qual o Governo Federal passou a inclui-los nas prioridades de investimentos nacionais

à imperiosa necessidade de aportar grandes obras e recursos para fomentar a economia, num patamar que, oito anos depois de seus dois mandatos, elevaram a economia e a vida dos cidadãos a um nível nunca alcançado em toda a história da região. Além de estaleiros, portos, siderúrgicas, duplicação de rodovias federais, atração de investimentos antes concentrados no Sudeste, como grandes indústrias, inclusive automobilística, a gestão de Lula passou a tratar de um dos mais graves problemas: a chamada exclu-são social. O governo Lula deu dignidade a milhões de brasileiros incluídos na lista dos miseráveis.

inversão de prioridade

brasil tem novo rumoMais do que incrementar a economia,

Lula apostou na nova fase da educação, tendo como um dos seus executivos à frente de programas sociais a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ela comandou o que se convencionou como as políticas de inclusão social.

Dando apoio ao micro e pequeno negócio, e sem se desleixar das grandes obras advindas dos investimentos na construção civil, as ações do governo têm resolvido problemas sociais gritan-

tes, como o da moradia de milhões de brasileiros.

É na fase de Dilma Rousseff, a partir de 2010, que as obras se ampliam, os investimentos do BNDES, BNB, CEF, BB fazem destes instrumentos de incentivo financeiro o esteio para o Nordeste se manter crescendo, como haverá de assim ser nos próximos anos, regando a iniciati-va privada nos vários níveis, da mais alta estrutura, ao micro e pequeno negócio.

A Transposição do São Francisco como

símbolo de medida ao enfrentamento da seca, cuja obra já permite identificar água jorrando em Floresta (PE), já é realidade e expressa o significado de Dilma na contemporaneidade. A história fala por si só e pelos personagens que fizeram ou fazem a diferença entre o Brasil de perspectiva com o país influenciado pela cultura de “Casa Grande & Senzala”, a odiar o crescimento dos excluídos e dos mais humildes, convivendo lado a lado com todos os brasileiros – irmãos.

Foto: Divulgação

A Transposição do São Francisco já é realidade e expressa o significado de Dilma na contemporaneidade

A gestão de Lula passou a tratar de um dos mais graves problemas: a chamada exclusão social

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GÊNIOSINDOMÁVEIS

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GÊNIOSINDOMÁVEIS

eoria sequencial, matemática do caos e algoritmos avançados são jogados em um quadro em

uma sala de aula cheia de alunos. Mas, é um jovem zelador que sabe a resposta do enigma matemático acima da média. O plot (ideia central) é do roteiro de Gênio Indomável, filme dirigido por Gus Van Sant (Terra Prometida), que movimentou críticos de cinema em 1997, indicado a sete prêmios do Oscar. Mas, histórias parecidas também acon-tecem no dia-a-dia. Quantas pessoas você conhece que aprendeu matemática sozinha, começou a falar espanhol de repente, desmontou e montou um com-putador em duas horas, ou aprendeu a tocar violão do nada? O autodidatismo é mais comum do que se pensa.

O pernambucano Gabriel Uchôa sempre teve afinidade com a matemá-tica, mas suas habilidades ultrapassavam algumas fronteiras. Quando ainda estudava no colegial, ele fazia questão

de adiantar o assunto na área das variáveis. “Quando dava

o intervalo eu ia para a biblioteca estudar o

assunto do ano se-guinte. Adian-

tei um ano da matéria”,

conta ele. Um dos estímu-

los era a conquista, já que buscava impressio-

nar uma colega da turma, mas, é preciso coragem para

se dedicar nos estudos só para chamar a atenção de alguém. Gabriel, hoje advogado, afirma que sempre preferiu estudar só. “Quando eu era mais novo, era voltado a momentos de introspecção para estudar. No tempo do colegial falta-va aula para estudar sozinho. Estudando

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Por Flávia Lopes [email protected]

Muitos são capazes de aprender algo só, seja uma nova língua, ou a resolução de um cálculo difícil. O autodidatismo é mais comum do que se pensa e é incontável o número de pessoas que desenvolveram habilidades sozinhas

Ilustração: Danielle Trinta | Fotos: Acervo pessoal

só, você foca mais. É obrigado a ter uma atenção maior. No tempo da escola dispersava muito”, justifica Gabriel, que além de matemática já aprendeu latim e grego sozinho.

Para a psicóloga e professora de Psi-cologia da Criatividade na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Fátima Baracuhy, o autodidata é toda pessoa que aprende sem necessidade de ter um professor ou ter aula, “quem tem uma curiosidade natural que vai desenvol-vendo estratégias para aprender”.

Ela afirma que qualquer um pode ser autodidata, mas há quem tenha algumas predisposições para certas habilidades para captar as informações que estão dispostas no mundo. “Não quer dizer que seja genético ou hereditário. Você nasce com um cérebro muito disponível, mas tem que ter uma predisposição”, complementa. A especialista explica também que aos seis anos o cérebro já está do tamanho de um adulto, pronto para aprender várias coisas, mas a nossa cultura bloqueia e estabelece o tempo certo para cada etapa de aprendizagem. “O processo de aprendizagem é natural. A gente não consegue entender nem explicar. De um jeito ou de outro, somos todos autodidatas”, conclui.

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Quem é autodidata aprende por si conteúdos que ainda lhe são desconhecidos. Muitos intelectuais, artistas e empresários começaram carreiras bem sucedidas. Um grande exemplo no Brasil foi Millôr Fer-nandes. O desenhista e jornalista iniciou precocemente na revista O Cruzeiro, e teve um significativo trabalho como tradutor, considerado um dos mais importantes para o te-atro brasileiro. Ele aprendeu línguas sozinho e traduziu para o português um total de 74 obras, entre elas obras de Shakespeare.

Quem tem facilidade para compre-ender línguas demonstra maior pro-pensão para a inteligência linguística, ou seja, pessoas que possuem grande aptidão para se expressar tanto oral-mente quanto na forma escrita.

Quem desenvolveu essa habili-dade foi Ana Patrícia Almeida. A pernambucana, de 24 anos, começou a estudar inglês em casa, escutando

Esse método de aprendizagem pode ser estimulado também nas escolas. Quem trabalha com isso é o Kumon, uma instituição de ensino particular de matemática, português, japonês e inglês presente em todo o Brasil. O curso utiliza um material didático que vem sendo aprimorado ao longo de 50 anos, para que alunos estudem de maneira autodidata e adquiram alta habilidade de estudo que favorecerá em diferentes áreas, como cálculo, leitura e conhecimento de outros idiomas (inglês e japonês).

“Os orientadores do método são responsáveis pelo direcionamento dos estudos dos alunos e por darem dicas, quando necessário, visando eficiência na resolução dos exercícios. Desta forma, desenvolvendo nos alunos a prática de estudarem e buscarem as resoluções dos exercícios que lhe são

apresentados e permitindo-os aplica-rem essa postura frente aos desafios, posteriormente, nas diferentes situ-ações cotidianas que exigirão deles soluções e decisões, por si”, explica Mariana Console Silva de Melo, gerente do setor de orientação do Kumon.

Para ela, quanto antes os alunos forem estimulados ao aprendizado, mais rápido os resultados positivos virão. “Quanto mais tempo estudando, mais o aluno pode desenvolver seu raciocínio, senso de organização, au-toconfiança, independência, postura ativa e a capacidade de aprender con-tinuamente. Assim, não atuamos no sentido de substituir o ensino regular das escolas, mas sim para que nossos alunos sejam desenvolvidos para apro-veitarem ao máximo os conteúdos e o estudo na escola”, afirma.

O dom de se expressar

Para motivar o aprendizado

e traduzindo músicas e lendo livros. “Minha mãe não tinha condições de pagar o curso. Sozinha, comecei a aprender inglês com 12 anos, e fui autodidata até entrar no cursinho, onde consegui chegar ao nível pré--intermediário”, conta ela, lembrando que entrou no curso só quando passou na Universidade Federal da Paraíba para Turismo.

Ana Patrícia também procurou outros meios de se expressar, como a fotografia. Quanto à oitava arte ela afirma que o processo de aprendiza-gem foi muito mais autodidata que em relação ao inglês. “Saí mexendo na câmera e descobri como ela funciona-va. Depois que eu passei a gostar fui atrás de livros para aprender a parte mais técnica. Aprendi fotografando e vendo outras pessoas fotografarem, vendo fotografias. Tive aula somente após entrar na universidade. Aprendi mais sozinha do que no curso da uni-versidade que teve pouco enfoque na

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sole

parte técnica”, lembra. O processo todo iniciou no ensino

médio e a primeira câmera foi com-prada apenas com 18 anos. Mas, o olhar fotográfico chegou um pouco antes. “Quando comecei a entender enquadramento, cores e pensar a imagem de forma técnica, em pensar para fazer a fotografia”. Hoje ela já trabalha profissionalmente e continua se aprimorando. “Quem acha que sabe de tudo não sabe de nada. Só sei que nada sei”, pontua.

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Fotos: Acervo pessoal | Ilustrações: Danielle Trinta

Houve um tempo em que a inteli-gência era medida por números em testes de QI que apresentavam a sa-bedoria em uma escala. Quanto mais alto o valor, mais inteligente. Porém, com o tempo, essas avaliações foram caindo em descrédito, já que algumas pessoas que obtinham resultados negativos nos testes apresentavam bons rendimentos em outras áreas, como bom relacionamento e controle emocional. A resposta para isso veio quando psicólogos e pesquisadores desenvolveram a teoria das inteli-gências múltiplas.

De acordo com Howard Gardner, psicólogo cognitivo e educacional dos Estados Unidos e criador dessa teoria, existem ao todo sete tipos de inteligência e todo mundo tem um pouco de cada uma, mas sempre tem alguma que se sobrepõe. Ele as qualificou em Inteligência Linguís-tica, Inteligência Lógica, Inteligên-cia Motora, Inteligência Espacial, Inteligência Musical, Inteligência Interpessoal (liderança prática para comandar as pessoas) e Inteligência Intrapessoal (liderança indireta para influenciar as pessoas).

Inteligência Linguística: Fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro. As pessoas que a possuem têm grande facilidade de se expressar, alto grau de atenção e sensibilidade

Inteligência Lógica: Talento para lidar com números e questões lógicas. Pessoas com esse perfil têm alta capacidade de memória e grande talento para lidar com matemática e lógica em geral. Está fortemente relacionada ao lado direito do cérebro

Inteligência Motora: Talento para a expressão corporal e noção espantosa de espaço, distância e profundidade. É um dos tipos de inteligência diretamente relacionado à coordenação e capacidade motora

Inteligência Espacial: Grande capacidade de abstração 3D e 2D, relacionada também à criatividade. Pessoas com este perfil têm uma enorme facilidade para criar, imaginar e desenhar imagens e de criação para a arte gráfica

Inteligência Musical: Aptidão para a música e capacidade criativa. Pessoas com esse perfil têm uma grande facilidade para escutar músicas ou sons em geral e identificar diferentes padrões e notas musicais. É um tipo de inteligência fortemente relacionada à criatividade

Teoria da multiplicidade

Os tipos de inteligência

Inteligência Interpessoal: Liderança prática para comandar as pessoas. É um tipo de inteligência ligada à capacidade natural de liderança. Pessoas com este perfil de inteligência são extremamente ativas e em geral causam uma grande admiração nas outras pessoas

Inteligência Intrapessoal: Relacionada à liderança indireta para influenciar as pessoas. Quem desenvolve a inteligência interpessoal tem uma enorme facilidade em entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam

Dicas da psicóloga Fátima Baracuhy para estimular o autodidatismo

1. Estabeleça metas claras e alcançáveis

2. Ter prioridades e buscar as informações sobre o tema que quer estudar

3. Sempre fazer uma auto avaliação de si antes de passar para uma próxima etapa

4. Ter consciência de si mesmo, pontos fracos e ponto positivos. Ninguém precisa ser bom todas as horas

5. Administrar o tempo e não ficar obcecado, tem que se desligar por um tempo

6. Uma das estratégias é se auto motivar e se desafiar. Quando você duvida de si começa a acreditar que pode ir mais longe

7. É preciso descansar, dormir.

8. Dispor de aplicativos e materiais de informática de qualidade que ajude em pesquisas

9. Ter uma alimentação equilibrada para melhorar a capacidade de absorção de conhecimento e memória do cérebro

10. Fazer um exercício físico. Caminhar 30 minutos três vezes por semana dobra a capacidade do cérebro, pois o oxigena

11. Bloquear a negatividade. As pessoas que têm tendência a terem depressão podem ser brilhantes, mas não conseguem crescer por que caem na tristeza

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Conexão América

Consulado dos EUA no Recife: Rua Gonçalves Maia, 163, Boa Vista. Recife-PE / CASV: Av. Herculano Bandeira, 949- Pina Recife-PE

Personalidade Turismo

Os fãs de beisebol nos Estados Unidos se preparam pra curtir mais uma World Series, que são as finais do campeonato. Alguns estados do Nordeste brasileiro já têm suas equipes de beisebol, um esporte que tem sido uma par te impor tante da cultura americana desde o primeiro jogo oficial em 1846. E vale a pena conhecer um pouco mais sobre os personagens dessa história. O jogador Babe Ruth tornou-se o primeiro superstar atleta, na década de 1920, com seus homeruns poderosos. Já Jackie Robinson foi um símbolo, em 1947, da integração como o primeiro jogador afro--americano. Durante a 2 ª Guerra Mundial, um campeonato apenas com mulheres foi realizado enquanto os homens estavam fora do país em combate. Nos últimos 30 anos, os jogadores da América do Sul e do Caribe tornaram-se uma parte integrante do beisebol nos EUA, que também tem muitas estrelas da República Dominicana, Cuba e Venezuela.Assistir a um jogo em qualquer um dos 29 estádios profissionais é uma experiência

Vamos jogar beisebol no Nordeste!

Derek Jeter:Depois de 20 anos jogando com os Yankees de Nova York, Derek Jeter vai aposentar-se após a temporada deste ano nos Estados Unidos. Em sua carreira, ele ganhou cinco campeonatos e é consi-derado uns dos melhores jogadoes na história do esporte mexicana.

Plymouth, localizada no estado de Massachussets, é um lugar espe-cial não só para o Turismo, mas para o folclore e a cultura americana. Plymouth, também conhecida como “America’s Hometown”, foi fundada em 1820 pelos peregrinos que desembarcaram do famoso navio Mayflower, começando assim um novo capitulo na história dos Estados Unidos. A cidade foi palco de vários eventos, mas talvez o mais importante de todos, já que foi lá onde aconteceu o primeiro “Thanksgiving”, ou ceia de Ação de Graças. A bela cidade de Ply-mouth continua até hoje bastante procurada pelos turistas durante o feriado de Thanksgiving, que vão assistir ao desfile nas ruas e a reencenação da primeira ceia de Ação de Graças.

No beisebol significa bater a bola fora do estádio. No dia a dia, a expressão é usada quando alguém faz algo muito bem. “A apresentação dele foi incrível! Foi impressionante e ele realmente ‘hit it out of the park’ ”Exemplo: They were so caught up in the negotiation that they lost sight of the big picture. They couldn’t see the forest for the trees.

“Hit it out of the park”

única, pois cada um tem sua característica. Coors Field, em Denver, fica a 1.610 metros acima do nível do mar. O Wrigley Field é conhecido pela dificuldade de fazer jogadas, já que fica em Chicago e é atingido por seus fortes ventos. Cada estádio serve lanches tra-dicionais, como cachorro-quente, amendoim e cerveja gelada. Mas, em San Francisco você

pode experimentar as famosas batatas fritas de alho e, em Tampa, o ‘Ray Burger’ que tem quase 2kg. Estou animado para ver o crescimento do beisebol aqui no Brasil, e sei que os nordestinos vão gostar de aprender mais sobre esse esporte que reúne toda a família em seus jogos.

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lhe ao seu redor. Estamos completamente cercados pelas criações humanas. Não apenas

os sedutores artefatos eletrônicos, mas também todas as outras facilidades que tornam as agruras cotidianas um tanto mais práticas. Pode ser certo dispositivo que esquente a água do chuveiro com menos riscos, ou uma lente de óculos mais resistente, coisas que devem ter levado anos para chegar ao mercado em forma de produto, mas que tinham sido estudadas em algum laboratório ou uni-versidade há anos. É na tecnologia que vemos uma melhora efetiva nas nossas vidas e, antes de serem comercializadas, muitas dessas criações são patenteadas. No Nordeste, percebe-se uma grande expansão de patentes.

Só na Universidade Federal do Ceará (UFC) foram registrados, no último biênio, 26 pedidos de patente, o que representa um aumento de 722% no número de solicitações feitas pela ins-tituição, segundo ranking universitário da Folha de S. Paulo (RUF), divulgado no dia 8 de setembro.

Este é um reflexo do desenvolvimento da região e do aumento da população acadêmica que vem crescendo na última década. De acordo com o censo 2012 do Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-sas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Nordeste conta com 23% dos univer-sitários do país, e as universidades desta região têm buscado incentivar o corpo docente a patentear suas pesquisas.

“No Nordeste isso é, de certa maneira, um assunto novo”, reconhece Aldayr Dantas de Araújo, coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NIT/UFRN). Ele diz que o NIT começou a funcionar em 2007, mas que já conta com quase 100 pedidos de patentes desde então.

Na sua avaliação, os acadêmicos pre-cisam ter consciência da importância de patentear suas pesquisas para assegurar

Educação

Investimento em tecnologia e pesquisa nas universidades nordestinas tem apresentado bons resultados. A Universidade Federal de Pernambuco se destaca por apresentar o maior aumento na solicitação de patentes, mas outras instituições da região também estão com bons índices no quesito inovação

oiNovaçãoEM alta

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Foto: Divulgação

o direito à sua descoberta. “Se isso não for feito outra pessoa vem e pega todos os royalties. Ou seja, se apodera do estudo. Tem um caso interessante de um professor brasileiro que desenvolveu uma pesquisa de uma pessoa que foi mordida por uma cobra jararaca. Ele percebeu que a pressão da vítima caía. Foi aí que criou um remédio para pessoas hipertensas, através do veneno da ser-pente. Ele publicou a pesquisa, mas não a patenteou. Resultado: um laboratório suíço se apropriou dessa descoberta. Acaba sendo uma transferência de ri-quezas de um país pra outro”, lamenta Aldayr Dantas.

E foi na instituição de Aldayr, a UFRN, que o Nordeste recebeu sua primeira carta-patente. Após 10 anos de processo, o projeto de desidratação do gás natural por micro-emulsão recebeu a carta em junho deste ano. Um dos professores envolvidos nessa pesquisa é Afonso Avelino. “A pesquisa foi de-senvolvida em dois anos, entre 2001 e 2003. Mas só demos início ao processo de patente em 2004 e recebemos a carta este ano”, comenta Afonso, ao afirmar que 90% dos estudos feitos na UFRN são voltadas para os problemas da região.

Para o professor, um dos agentes faci-litadores do processo de solicitação de patente foi a criação do NIT, em 2007. Coordenado pelo professor Aldayr, o núcleo serve para agilizar o processo. “Uma preocupação que a gente vem tendo em Natal, mais precisamente desde 2009 e 2010, quando o NIT ficou mais estruturado, é realizar um trabalho de divulgação para ressaltar a importância de proteger o que cria”, observa.

Aldayr já percebeu que o número de solicitações de patente tem crescido nos últimos anos. “Em 2012, a gente (UFRN) tinha 60 pedidos. Em 2013 já eram 75 e hoje já são quase 100, ou seja, vamos ultrapassar os 100 pedidos até o final do ano”, revela.

A universidade nordestina com maior número de solicitações é a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com 117 pedidos. O pró-reitor de pesquisa e pós-graduação Francisco Ramos atribui esse número ao incentivo à divulgação científica. “Estamos indo em cada centro para estimular os professores. É muito importante que essas pesquisas cheguem à sociedade, que haja essa solicitação de patente. O elemento motor da univer-sidade são as pesquisas, é o que move a instituição. E a pesquisa necessita de laboratórios”, diz.

Francisco confere esse salto no de-senvolvimento tecnológico do Nordeste à Lei de Inovação, regulamentada em 2005. Essa lei serviu de estímulo a am-bientes especializados e cooperativos de inovação; à participação de Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) no processo de inovação; à inovação nas empresas; ao inventor independente e, por fim, à criação de fundos de investi-

mentos para a inovação.Para Francisco, outro fator que contri-

buiu para essa melhora foi o Programa de Infraestrutura (Proinfra) da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). “Esse pro-grama é uma verdadeira democratização da pesquisa. Permite que tenhamos laboratórios de qualidade”. Só em 2008, a universidade pernambucana recebeu R$ 9 milhões pelo programa.

“O Nordeste, com o apoio que tem tido nos últimos anos, vem mostrando do que é capaz. Nós temos um corpo qualificado e estamos agora mostrando os resultados”, afirma Francisco.

O pró-reitor conta que com o incenti-vo à produção científica, as universidades do Nordeste estão mudando de perfil, chegando próximo ao ideal desejado pela academia. “Ou seja, estamos, com esse incentivo à tecnologia, rompendo todo um processo histórico. E é do interesse de todos nós que a região mostre seus resultados”, comemora Francisco.

recordista regional

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m uma manhã de quarta-feira no alto sertão paraibano, Ro-sângela saiu de casa para visitar

uma amiga. Enquanto conversavam sobre amenidades, Rosângela começou a sentir uma leve tontura, que aos poucos foi piorando. Preocupadas, as duas se dirigiram a um posto de saúde próximo, pois Rosângela tinha hipertensão e histórico de enfarte na família. Ao chegar ao posto depara-se com a surpresa de não ter um médico para atender a longa fila de pacientes. No fim das contas, Rosângela foi aten-dida por um auxiliar de enfermagem que constatou que sua pressão estava 14.7, deu-lhe um remédio e ela voltou pra casa.

Embora ‘Rosângela’ seja um perso-nagem fictício, histórias parecidas se repetem constantemente nos postos de saúde espalhados pelas cidades, res-ponsáveis por disponibilizar a atenção básica. “A atenção primária tem uma capacidade de resolver de 80 a 90% dos

problemas de saúde de uma população. Hoje, a gente tem uma visão limitada desse setor por causa da estrutura. Um dos grandes problemas do Brasil reside aí: quem é que forma ela? Médicos de final de carreira ou médicos de início de carreira (que não tem uma especia-lização própria)”, questiona Alexandre Melo, médico especializado em aten-dimento familiar e em comunidade.

Levar os médicos para o interior foi uma das alternativas encontradas pelo Governo Federal para garantir saúde aos quatro cantos do país. O sistema responsável por isso é o Programa de Valorização do Profissional da Aten-ção Básica (Provab). Através dele, os profissionais são selecionados e vão trabalhar nas áreas mais carentes. Para incentivar a interiorização da Saúde, em junho do ano passado, a bolsa do médico passou de R$ 8 mil para R$ 10 mil, mas ainda assim, a distribuição permanecia desigual no país, tendo apenas 1,8 médicos para cada mil

EPassado mais

de um ano após implementação, programa Mais

Médicos já rende resultados e funciona

em pelo menos 4 mil municípios

brasileiros

Mais médicos e mais saúde

Saúde

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Fotos: Elza Fiuza /ABr

habitantes, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Para aumentar o atendimento nas regiões carentes, o governo instituiu o programa Mais Médicos, uma medida provisória que tem, por enquanto, mais seis anos em vigor. A ideia era trazer mais dez mil médicos para trabalharem no Brasil e preencherem essa lacuna no atendimento da atenção básica nacional.

“Durante muitos anos, o atendimen-to na atenção básica foi desvirtuado, passou a ser sinônimo de demanda es-pontânea, ou seja, o cidadão só procu-rava o posto de saúde quando adoecia. A atenção básica é muito mais que isso, o médico precisa conhecer a população que está sob sua responsabilidade, seus agravos de saúde, para poder atuar na prevenção e educação em saúde da população. Isso exige tempo, não pode ser feito apenas em um dia da semana, o médico precisará estar todos os dias”, disse Paulo Monteiro, tutor do progra-

ma na Paraíba.Para Paulo, o programa tem cará-

ter emergencial, mas procura atingir outras camadas do problema. “Um projeto com essa abrangência, que não

visa apenas o lado assistencial (a parte mais visível para a sociedade), embora seja uma de suas prioridades, evidente-mente que terá muito obstáculos, mas isso não nos dá o direito de arrefecer os ânimos e aceitar a situação em que vivíamos”, declara.

O médico Alexandre Melo também é favorável ao programa, embora saiba que a classe médica não seja. Ele ressal-ta um dos entraves na implementação do Mais Médicos: “A categoria não conseguiu perceber a importância do programa para a população. Um outro obstáculo é a questão estrutural. Infelizmente, não tem se investido em atenção básica no país, o que seria compreensível. Afinal, qual o estímulo que os gestores tinham para estruturar a unidade? A gente tem essa defici-ência histórica na atenção básica. A maior parte desses médicos chegou em situações precárias e esse é um dos outros pontos do programa: identificar esses problemas estruturais”, falou.

“O atendimento na atenção básica foi

desvirtuado, passou a ser sinônimo de

demanda espontânea, ou

seja, o cidadão só procurava o posto de saúde quando

adoecia”Paulo Monteiro

Alzenir da Silva, que mora no município de Cajazeiras, interior da Paraíba, sentiu a diferença no tratamento que recebeu ao ser consultada por um médico do programa. “Eu me senti acolhida, não foi aquela coisa atropelada, das consultas comuns”, declarou. “A gente tem notado um tratamento diferente na região mesmo”.

Para Paulo, o tratamento mais humanizado faz a diferença. “Nossa maior dificuldade e maior mérito está no resgate dos valores perdidos da atenção primária. Gestores médicos e população se acostumaram à prática de que se o médico atendesse 100 pacientes em um dia e não deixasse nenhum paciente sem ser atendido, tudo estava ótimo na saúde”, disse.

“Hoje, a população de tanto ser mal atendida, não quer mais ser escutada, não procura o médico, lhe basta a receita ou a solicitação do exame. Não acredita nem na avaliação dos resultados de seus exames, tanto que procura outros profissionais para confirmar e com isso torna ainda mais caótico o atendimento no nosso valoroso SUS”, completou.

TRATAMENTO HUMANIzADO

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5028

17413No total , foram selecionados

13.232 médicos em todo o Brasil, destes, 4.124 estão no nordeste, distribuídos em 1.334 municípios. É a segunda região que mais recebeu médicos, atrás apenas do sudeste, que recebeu 4.278 profissionais para atenderem 1.069 municípios. Vieram médicos de várias nacionalidades: portugueses, espanhóis, uruguaios, mas, principalmente cubanos.

Alexandre acredita que a vinda desses profissionais é benéfica para o país. “Hoje os cubanos são 1/3 dos médicos que estão na atenção primá-ria no Brasil. Isso significa um salto na qualidade de atenção. Isso quer dizer que são médicos que trabalham em equipe, que conversam e dialogam com o paciente, são conquistas funda-mentais que ficam para o programa”, falou.

Curiosamente, foi justamente a vinda desses médicos que causou mais questionamento pelo Brasil. Uma grande indagação era em relação à capacidade profissional dos médicos formados em Cuba, um país que pos-sui um sistema de saúde reconhecido como modelo pela Organização das

Nações Unidas (ONU). Tanto que, no dia 28 de janeiro deste ano, o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, visitou a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), em Havana, e fez um pro-nunciamento sobre a Saúde cubana.

“Como secretário-geral das Nações Unidas, viajo para muitos lugares difí-ceis. Lugares desesperados, duramente atingidos por terremotos, furacões e outros desastres naturais. Lugares re-motos de profunda privação. Lugares esquecidos longe do radar de preo-cupações de muitas pessoas. E tantas vezes nessas diferentes comunidades vi a mesma coisa. Médicos de Cuba – ou médicos formados em Cuba ajudando e curando. A ELAM formou dezenas de milhares de estudantes, mas Cuba pode ensinar o mundo inteiro sobre cuidados de saúde”, falou em janeiro, na escola.

“Quero me juntar a tantos outros ao saudar o sistema de saúde de Cuba baseado na atenção primária à saúde que já rendeu resultados excelentes – menor mortalidade infantil, maior ex-pectativa de vida, cobertura universal. Este é um modelo para muitos países em todo o mundo”, completou.

de várias nações

DISTRIBUIçãO DOS PROFISSIONAIS DO

MAIS MÉDICOS POR MUNICÍPIOS

DOS 310 MUNICíPIOS:

NORDESTE 56% DOS MÉDICOS

NORTE14,5% DOS MÉDICOS

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médicos de distintas nacionalidades. Os médicos cubanos, por exemplo, recebem sua ‘bolsa’ por intermédio de instituição cubana, que recebe repas-ses da OPAS/ONU e que por sua vez recebe seus valores dos cofres pátrios. O mesmo não acontece com médicos brasileiros e de outras nacionalidades”, complementou.

Fotos: Rogério Tomaz Jr. | Divulgação

Alguns aspectos do programa ainda apresentam falhas e geram polêmica em torno do Mais Médicos. As lacunas em relação à legislação trabalhista são pontos criticados pela classe médica, que permanece resistente ao programa. Dalman Segundo, médico residente do Hospital Universitário Lauro Wander-ley, em João Pessoa, pontuou algumas questões que a classe indaga.

“O primeiro ponto que somos contra é a não obrigatoriedade da revalidação dos diplomas dos médicos estrangeiros e dos brasileiros formados no exterior. O segundo ponto é o caráter temporário sem direitos trabalhistas básicos como carteira assinada, 13º salário, férias e ou-tras garantias. Por último, a contratação nebulosa dos médicos cubanos”, falou.

Os pontos levantados pela classe médica reverberaram pela sociedade. O advogado trabalhista Ricardo Russo explicou a questão do Revalida (prova feita para validar o diploma de médico no Brasil) e os aspectos legais da con-tratação dos médicos. “Eu tenho uma opinião muito peculiar sobre o Revali-da, creio que seja por uma questão po-

questão trabalhistaA lei que instaurou o programa não

se trata apenas de importar médicos. Ela também prevê outras questões, são elas:

•Diminuir a carência de médicos nas regiões prioritárias para o SUS e reduzir as desigualdades regionais na área da saúde;

•Fortalecer a prestação de serviços na atenção básica em saúde no país;

•Aprimorar a formação médica no país e proporcionar maior experiência no campo de prática durante o processo de formação;

•Ampliar a inserção do médico em formação nas unidades de atendimento do SUS, desenvolvendo seu conhecimento sobre a realidade da saúde da população brasileira;

•Fortalecer a política de educação permanente com a integração ensino-serviço, por meio da atuação das instituições de educação superior na supervisão acadêmica das atividades desenvolvidas pelos médicos;

•Promover a troca de conhecimentos e experiências entre profissionais da saúde brasileiros e médicos formados em instituições estrangeiras;

•Aperfeiçoar médicos nas políticas públicas de saúde do país e na organização e funcionamento do SUS;

•Estimular a realização de pesquisas aplicadas no SUS.

ALÉM DOS MÉDICOS

“Não existem formalidades

idênticas quando comparamos os

médicos de outras

nacionalidades”Gustavo Seferian

“O vínculo é igual a todos

os médicos do programa e que

desrespeita a legislação

trabalhista ”Gustavo Seferian

lítica, emergencial, talvez. Respeitando os locais onde os estudos e as pesquisas medicinais são mais avançadas que no Brasil, a Medicina não é como o Di-reito, onde cada lugar é uma lei, uma forma de se aplicar o Direito. Penso que ela é uma coisa única, por exemplo: um médico que sabe como tratar uma determinada doença, saberá tratar essa determinada doença em qualquer lugar do mundo”, falou.

“Mais uma vez por uma questão políti-ca. Esse é o ponto mais controvertido do programa. E desrespeita regras básicas de cidadania, de igualdade da nossa Constituição Federal e da legislação laboral, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O vínculo é igual a todos os médicos que participam do programa (com a organização de saúde OPAS e OMS) e que desrespeita a legislação trabalhista”, falou.

Porém, o também advogado traba-lhista Gustavo Seferian colocou que os contratados pelo programa não têm vínculo regido pela CLT. “Mas deveria ter”, falou. “Não existem formalida-des idênticas quando comparamos os 55

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ma das tantas teorias sobre a origem da vida é que ela te-nha surgido nas profundezas

do oceano, fazendo dele uma espécie de útero para o planeta, que mantém uma incontável quantidade de tipos de peixes, algas, bactérias e afins - além de tantos outros recursos que tiramos de lá para nossa sobrevivência. Apesar disso, existe um fator em específico que ainda é pouco explorado: a força das ondas para gerar energia.

“Entendo que a vida começou nos oceanos e que toda ela ainda depende da sua saúde”, afirmou o oceanógrafo e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Tarcísio Cordeiro sobre seu fascínio pelo mar. Ele vê na utilização dessa força chamada ondomotriz, uma possibilidade de

Meio Ambiente

Pesquisadores veem na costa brasileira oportunidade de diversificar as fontes energéticas

Por Isadora [email protected]

u limpar a matriz energética brasileira. “A energia de ondas é limpa e pode ter efeitos benéficos colaterais, em termos de proteção costeira. Se a estrutura for bem desenhada, ela vai dar um mínimo de manu-tenção e décadas de operação, isso significa que o investimento vai se pagar como outras modalidades também vão, mas uma vez amortizado o investimento, o lucro é certo por-que não depende de insumos cada vez mais caros e ambientalmente arriscados como o material radioativo e o com-bustível fóssil”. O oceanógrafo afirma que depois de um tempo, a geração de energia fica mais barata em comparação

com uma termoelétrica, pois as ondas são de graça.

Não precisa levar mais do que um “caldo” para saber que

as ondas podem ter uma força imensa. E há muito a ser aproveitado, já que água salgada não falta no planeta. Al-guns países já investem na utilização da força ondomotriz, como Por-

tugal, Noruega, Japão e Reino Unido, sendo o

último responsável por 50% da energia gerada por essa fonte na Europa.

Apesar dos 8000 km de extensão litorânea, apenas os extremos Norte e Sul da costa brasileira são adequados para a criação de usinas de ondas. De

ENErgia quE vEM do Mar

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chama atenção pelos seus dois enor-mes braços mecânicos no píer de Pecém. Na ponta de cada um, há uma boia circular em contato com o mar, que acompanha os movimentos das ondas. É nesse movimento que as bom-bas hidráulicas são acionadas, fazendo com que a água doce contida em um circuito fechado, no qual não há troca de líquido com o ambiente, circule em um ambiente de alta pressão. Se nas usinas hidrelétricas é utilizada a queda d’água, nas de ondamotriz essa queda é concentrada em dispositivos rela-tivamente pequenos, onde a pressão simula cascatas extremas de 200 a 400 metros. A água sob pressão vai para um acumulador com ar comprimido em uma câmara hiperbárica, que é o pulmão do dispositivo.

Foto: Divulgação| Luiz Caseca Santos | Divulgação

acordo com o Instituto de Pesquisa de Energia Sustentável (RISE), poderia ser extraído no Rio Grande do Sul, 25 kW/m de costa, já no Amapá a previsão é de 18 kW/m e no Nordeste 17 kw/m. A única usina existente no Brasil está localizada no Porto do Pecém, no Ce-ará, a Usina das Ondas, desenvolvida através de um projeto do Instituto de Engenharia de pós-graduação e pesqui-sa Coppe, liderado por Segen Estefen, professor do departamento.

A usina foi instalada em 2012, mas atualmente não está em atividade por conta de modificações para melhorar seu desempenho objetivando atingir a fase comercial. Segen acredita que esse é um longo caminho a ser percor-rido. “O desafio é ter conversores mais resistentes à ação do mar e, portanto,

que possam operar continuamente sem interrupções para manutenção. Estima--se que esta energia se torne comercial na metade da próxima década”, afirma o professor.

Segen destaca ainda que a instalação de protótipos exige grandes investimen-tos, o que dificulta a avaliação mais realista desta tecnologia, porém afirma que as águas brasileiras têm grande potencial para esse tipo de energia. “O Brasil, assim como outros países, como Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia e outros, busca dominar esta tecnologia. A experiência brasileira na produção de petróleo no mar pode ser um diferencial importante para liderar-mos estes desenvolvimentos e futuras aplicações”, declarou.

Visualmente, a Usina das Ondas

O consumo crescente de energia é uma das questões que atormenta os engenheiros ambientais. E, por isso, há um consenso em afirmar que todas as possibilidades energéticas devem ser aproveitadas, principalmente de forma regionalizada, talvez intercalan-do as fontes. A aposta para o setor são as novas formas sustentáveis, com pro-dução de energia limpa.

Mas, o engenheiro ambiental Clóvis Neto afirma que cada tipo de usina tem sua ressalva. “A eólica acaba sendo de-sabilitada por causa das aves. Quando se fala na solar se pensa nos painéis em casa, individualmente, mas se fôssemos falar de uma usina, imagina só aqueles painéis gigantes, in-terceptando toda a luz solar que deveria chegar ao solo e não está chegando. Nós devemos investir e aproveitar a energia de cada lugar”, disse.

O professor Tarcísio Cordeiro tam-

bém concorda. “Se eu fosse apostar as minhas fichas, eu diria que a geração limpa precisa ser diversificada para ter chance de funcionar, precisamos colher energia aonde for possível para abas-tecer 7 bilhões de pessoas, inclusive

incentivando a microgeração por parte de empresas e resi-

dências”, afirma acrescen-tando que acredita no potencial tecnológico do Brasil para diver-sificar suas matrizes energéticas.

“O importante é que o país tem competência

suficiente para desenvol-ver tais equipamentos. Existe

a urgência para que isso aconteça, mas o meio político é meio refratário às no-vidades e temem os riscos envolvidos; isso equivale dizer que falta coragem de empreender e criar equipamentos para o mundo do futuro, a mentalidade do ‘sempre foi assim’ acaba prevalecendo”, afirma o oceanógrafo Tarcísio.

Energia mais limpa

Nem só de onda é feita toda a energia aproveitável do mar. Tarcísio aponta com entusiasmo para outra alternativa. “Uma forma perene de geração no mar é a chamada geotérmica, que utiliza camadas superficiais e profundas de águas com temperaturas diferentes, esse potencial térmico pode ser transformado em eletricidade.”

Além desta, existe também a maremotriz, a geração de energia por meio do movimento das marés, que pode ser obtida tanto pela energia cinética das correntes como pela potencial, captada pela diferença de altura entre as marés alta e baixa.

Além das ondas

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Meio Ambiente

Desde 2010, a Construção Civil busca pela certificação sustentável em suas obras. Hoje, o Brasil alcançou a terceira posição no ranking mundial de edificações ecologicamente corretas

Por Isadora [email protected]

vErticaliZação

vErdE

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os filmes de ficção científica feitos nos anos 80 e 90, as cidades comumente eram

representadas com muitos prédios, escuras e sujas, muitas vezes retratando uma derrota humana pelo dualismo tecnologia versus natureza. É possível que esse futuro ainda venha a aconte-cer (nunca se sabe) mas, por enquanto, a preocupação com o desenvolvimento sustentável tem batido à nossa porta com urgência e estimulado a criação de medidas alternativas pela preservação do meio ambiente, como a construção de edifícios sustentáveis.

No Brasil, a procura por esse tipo de construção tem crescido. O arquiteto Marcelo Nudel tem percebido o au-mento desta demanda. “Nos últimos cinco anos, realmente houve um salto expressivo no Brasil na busca por edi-ficações mais sustentáveis e que procu-ram certificações”, falou. Ele apontou ainda que isso é perceptível em dois nichos específicos de mercado: edifícios corporativos especulativos de médio e alto padrão e nos edifícios built to suit, uma espécie de construção sob medida.

Um dos indicadores do crescimento nesse tipo de investimento foi divulga-do em agosto deste ano, em São Paulo. Em uma análise entre 80 países, o Brasil está em terceiro lugar no ranking de construção de prédios com a certifica-ção LEED (Leadership in Energy and Environmental Design – Liderança em Energia e Design em Desenvolvimento, em tradução livre). A lista foi elaborada pela organização não governamental Green Building Council (GBC). Essa certificação é um selo que atesta que determinado edifício atende a uma série de exigências de sustentabilidade. Mas, para o arquiteto Marcelo Nudel,

Foto: Divulgação| Rodrigo Capote

N especialista na certificação LEED, ainda estamos longe do ideal.

“Mesmo ocupando a 3ª posição no ranking do GBC Brasil, a proporção entre esses novos edifícios e o total da indústria da construção civil brasileira é ínfima, o que demonstra que ainda há um enorme caminho a se percorrer. A posição no ranking ainda não reflete os enormes níveis de informalidade (principalmente no setor residencial) e seus impactos ambientais e sociais associados a isso”, disse.

A também arquiteta Luciana Carva-lho disse que o Nordeste tem investido bastante em construções desse tipo. “Podemos citar a Arena Pernambu-co, que recebeu os jogos da Copa do Mundo de 2014 e obteve certificação LEED”, falou. “Temos na região cerca de 50 empreendimentos registrados para a obtenção desse selo. Isso é um fato muito importante porque a região é uma das que mais tem potencial para crescer, em termos de construção civil e até mesmo de consumo energético, tendo em vista que o clima mais quente provoca um aumento no uso de climatização artificial, já que esta-mos também observando aumentos nas temperaturas médias mundiais”, complementou a arquiteta.

O número de edificações poderia ser maior, mas entraves burocráticos dificultam o processo. “Com exceção de alguns itens constantes na nova Norma de Desempenho e leis muni-cipais específicas, não há no Brasil um código de edificações adequadamente rigoroso para questões de sustenta-bilidade como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália”, argumentou Marcelo.

Marcelo Nudel

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construção sustentável em si”, criticou. Existem outras formas de realizar

construções sustentáveis independente de tecnologia, como pontua Marcelo. “Quando se fala em sustentabilida-de no Brasil, logo nos remetemos a tecnologias. No quesito iluminação sustentável, em geral, o LED é a tecnologia sempre lembrada. O cus-to desse sistema vem reduzindo e, portanto, sua aplicação vem sendo ampliada. No entanto, a forma mais sustentável e saudável de iluminação, pouco explorada em projetos no país é a iluminação natural. E para tanto não dependemos de tecnologias, apenas de bons arquitetos. A sus-tentabilidade de edifícios começa na boa arquitetura, as tecnologias são secundárias”, afirmou a professora.

selo é statusEntretanto, essa demanda em busca

de um “selo verde” não está necessa-riamente atrelada a uma preocupação com o meio ambiente, e sim por um “status”, o que inquieta a professora de arquitetura Virgínia Marcelo, que acredita que construção sustentável não precisa estar relacionada a nenhu-ma certificação.

“A minha crítica em relação à cons-trução sustentável é que as pessoas ficam tão preocupadas com a certifi-cação, a propaganda e o marketing (o que acaba encarecendo o empreen-dimento) que acabam esquecendo o próprio projeto. Se você voltasse para a produção bioclimática, isso poderia ser resolvido. Na certificação, existem muitas coisas relacionadas à tecnologia, mas isso não é necessário para uma

Algumas medidas podem ser adota-das para a construção mais sustentável, como explica Luciana. “É importante pensar na relação do edifício com a cidade, permitir que seus usuários se desloquem utilizando meios de trans-porte alternativo, usar materiais que não agridem o entorno tanto estetica-mente quanto termicamente, além de proporcionar espaços de uso comum que incentivem o convívio e permitam a contemplação”, disse.

Outra alternativa, é a construção de prédios de “energia zero”, que atendem as demandas energéticas sem depender do fornecimento externo de energia elétrica. “Os edifícios energia zero ain-

da são poucos no país, temos apenas a Casa Eficiente da EletroSul, XXX, que é um projeto de demonstração, portanto seu uso contínuo é inexis-tente. Contudo, iniciativas como essa são fundamentais para a propagação da essência da arquitetura sustentável e de que ela é viável”, acrescentou Luciana.

Marcelo também aponta para a es-cassez de construções de energia zero no Brasil, embora perceba que seja um assunto que tem sido investigado. “Vejo no Brasil hoje um movimento acadêmico para a pesquisa de edifícios de energia zero, porém ainda longe da aplicação eficaz no mercado”, falou.

Medidas sustentáveis

Luciana Carvalho

Foto: Divulgação| Acervo pessoal

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Cresce número de usuários de smartphones no Brasil, principalmente entre jovens, que estão adotando a tecnologia também como trabalho

Por Isadora [email protected]

geração tecnológica

CRIATIVIDADE

PROGRAMAÇÃO

TECNOLOGIA GAMES

MERCADO

APLICATIVOS

FACEBOOK

DESIGN

SMARTPHONES IPADTABLET

Tecnologia

om os pés no real e as duas mãos na virtualidade, a vida se estende às dimensões de

um smartphone ou tablet. E isso não se restringe às limitações físicas do aparelho, afinal, existe toda uma gama de possibi-lidades de aplicativos a alguns toques de distância. Ao acessar uma “appstore” (loja de aplicativos), milhares de opções surgem e disputam um espacinho na memória do seu celular.

Esse universo tecnológico é construído numa linguagem própria, a programação, que permite a elaboração de todas essas funcionalidades. É o mundo virtual em que vive o jovem Guilherme Menezes (25), que há três anos vem desenvolven-do apps. A programação para ele já é uma espécie de segunda casa. Guilherme, que

c começou a produzir games para disposi-tivos móveis como um hobby, pretende seguir profissionalmente no caminho dos games. Atualmente trabalha no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), um espaço privado de inovação que utiliza engenharia avançada em Tecnologias da Informação e Comunicação.

Sua iniciação nesse mundo tecnológico foi ainda na graduação, quando teve seu primeiro jogo construído. “Fiz um curso na faculdade e aprendi a desenvolver jogos em flash mais por brincadeira mes-mo. Mas, agora estou reunindo um grupo com mais três designers e um músico. A gente começou no tempo disponível em casa, trocando ideias para fazer os jogos”, conta. 62

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Ilustração: Felipe Headley Foto: Arcevo pessoal

As implicações da imersão dos jo-vens na tecnologia são exaustivamente confabuladas. Afinal quanto tempo útil não se gasta no facebook, jogando em rede, ou apenas conversando com amigos na rede. É incontável o número de questionamentos: “deixamos de lado as relações pessoais, diminuindo a distinção entre real e virtual?”, “estamos conectados demais?”, “as pessoas não se olham mais nos olhos sem desviar para uma tela”. Independente de todas essas análises, o aprofundamento no mundo tecnológico e adaptação dessas ferra-mentas tornaram-se algo rotineiro, quase imperceptível de tão comum, ainda mais para as novas gerações.

Assim como Guilherme, muitos ado-lescentes almejam não só vivenciar o Guilherme Menezes

seu lazer com a tecnologia, mas também entrar no mercado. Hoje, os games po-dem ser acessados numa tela de poucos centímetros, o que atrai mais ainda a curiosidade, interesse e buscas por cursos profissionalizantes na área.

Pablo Laranjeira leciona há dois anos em um curso de desenvolvimento de games na escola Gracom, em João Pessoa, e percebe que muitos alunos chegam sem ter a menor noção de mercado ou o quão complexa é essa área: “Na cabeça deles, muitas vezes é só fazer o primeiro game e ficar rico. Por isso, tenho toda uma preocupação de sempre fazer que o aluno, futuro empreendedor, tenha cons-ciência do processo”. Para ele o que mais atrai os alunos são: carreira promissora, tecnologia no auge, indústria movimen-

tando milhões e facilidade no acesso às ferramentas de desenvolvimento.

Victor Elias

Jovens programadoresSem pressa pelo retorno financeiro,

Victor Elias, de 21 anos, já produziu alguns jogos em três anos de estudo e trabalho. Desde que entrou no Institu-to Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 2011, ele desenvolveu programas para a plataforma Android, iOS, Win-dows Phone e um jogo de computador. Nenhum deles com fins comerciais. Um de seus games, o Arqueiro Defensor, é voltado para crianças com dislexia e foi criado em um projeto chamado ITABits, que incentiva a produção de games específicos.

“Tínhamos profissionais especializa-dos e psicólogos que puderam nos au-xiliar no que exatamente seriam esses jogos e o que seria interessante para as crianças. Eles visitaram o ITA algumas vezes para fornecer assistência no de-senvolvimento, na parte das ideias para os jogos, não no desenvolvimento em si”, disse. O jogo pode ser encontrado gratuitamente na app store.

Atualmente, Victor está com o curso trancado e fazendo um estágio na Mi-crosoft. Ele tem mais planos para este ano: pretende fazer estágios no Google

e na Amazon. “Grandes empresas cos-tumam visitar o ITA para recrutar os alunos. A Microsoft foi uma delas. Em 2013 eu me inscrevi e eles marcaram as entrevistas no Chile e pagaram até minha passagem. Foram quatro entre-vistas. Recebi, inclusive, uma oferta. Eu já tinha proposta do Facebook e, por isso, decidi fazer os dois”.

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consumo vorazQual foi a última vez que você saiu

de casa sem smartphone? Quando foi a última vez que você desbloqueou a tela do celular para checar novas mensagens, um whatsapp, ou qualquer outra coisa? Geralmente, tem aquela pessoa que quer tirar uma foto da galera reunida e acaba sendo difícil sair casualmente com os amigos sem perceber a presença dos smartphones e seus aplicativos diversos. A estudante de psicologia Maria Cecília Brandão, 17 anos, conta que tem 60 programas no seu celular e quando perguntada sobre quanto tempo passa neles, mal sabe responder. “Todo o tempo que estou acordada, basicamente. Mas não acesso quando saio com meus amigos, acho isso muito chato”.

Hábito que a avó de Maria Cecília, Lúcia Melo, condena. Talvez fosse de esperar que Lúcia não acessasse inter-net ou utilizasse o celular, mas não. Ela trabalha diariamente em escritório e gosta de se comunicar pelo Facebook. Ela usa o celular também, mas só para aquela função básica, já quase esque-cida: efetuar ligações. Seu problema é com os smartphones, que não entende e não quer entender. “Acho desneces-sário, não participam de uma conversa com adulto, com pessoas idosas. Ficam só no mundinho deles. A internet fechou o ciclo de comunicação com a família. Estão ali presentes nas reuniões familiares, mas não estão”. Maria Cecília Brandão

E essa não é uma característica ex-clusiva de sua neta adolescente, Lúcia reclama disso em adultos também. “Isso cria um abismo entre as gerações. Te-nho um filho de 36 anos que passa o dia todo aqui em casa, mas não conversa comigo, não vive o dia-a-dia, ele fica o dia todo mexendo no celular”.

De acordo com pesquisa divulgada em maio deste ano pela consultoria de mercado Nielsen, o número de usuários brasileiros de smartphones já atingiu a marca de 60 milhões. Bem mais que a população da Espanha, por exemplo. Com esse crescimento exponencial, aumenta a demanda de variedade de aplicativos para incrementar os celu-lares. Fica o desejo que consigamos, quem sabe, mantermos uma conversa olho no olho sem nenhuma fisgada sorrateira para a tela de um aparelho.

Para alimentar essa indústria, o Ministério das Comunicações lançou no começo de agosto um edital de criação de 50 aplicativos e games. Serão investidos em cada projeto R$ 80 mil e R$ 100 mil, respectivamente. Para concorrer, os apps devem ser disponibilizados em língua portuguesa, possuir indicação livre e estar em alguma das seguintes plataformas: Android, Blackberry, iOS, HTML5, Middleware Ginga ou Windows Phone.

O concurso se chama INOVApps e faz parte da Política Nacional para Conteúdos Digitais Criativos. O ministro Paulo Bernardo afirmou no Portal Brasil que o desenvolvimento de jogos e apps não tem acompanhado a demanda do mercado brasileiro – que é o quarto consumidor desse segmento, movimentando R$ 850 milhões por ano. “O principal objetivo do ministério é colocar o país no mapa mundial da produção desse setor”.

O concurso complementa a política de desoneração dos smartphones, contribuindo para o aumento na oferta de apps e jogos nacionais a serem inclusos nos aparelhos. Mas, os aplicativos também poderão ser oferecidos por meio de downloads ou uma guia de instalação no momento da configuração inicial do aparelho. Desde julho, os celulares precisam ter pelo menos 30 apps nacionais, e esse número deve chegar a 50 até o final do ano para atingir a meta prevista pelo governo.

As políticas governamentais de incentivo ao consumo facilitaram o acesso da população, é claro. Enquanto se percebe nas ruas, entre familiares e amigos, a utilização crescente de smartphones, a consultoria IDC, que trabalha com as indústrias de tecnologia da informação, telecomunicações e mercados de consumo em massa de tecnologia, presente em 110 países, constata esse efeito no Brasil em números. Foram 35,6 milhões de smartphones vendidos em 2013, uma alta de 123% em relação a 2012. Isso significa que 68 aparelhos foram adquiridos por minuto.

INCENTIVOAOS GÊNIOS

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currículo invejávelO interesse de Henrique Trianon

pelo mundo tecnológico começou ain-da muito cedo. Em plena adolescência, com apenas 16 anos, iniciou um curso técnico de programação de jogos. Hoje, aos 19, cursa o terceiro período de Ciências da Computação e já tem no currículo dez games para dispositivos móveis (Windows phone e Android), com cinco disponíveis para download.

O destaque nas suas produções é o Cosmo Defender, game de batalha especial lançado em 2012 que foi baixado 11mil e 500 vezes. Por conta do sucesso, Henrique lançou em julho Henrique Trianon

deste ano a segunda versão do jogo e já teve mais de 20 mil downloads.

“De início, desenvolvi para Windows Phone, pois entrei num curso chamado Students To Business da Microsoft. Lá, aprendi a portar os jogos que fazia somente para PC para Windows Phone. Também fiz um jogo que fez bastante sucesso (Cosmo Defender), que ga-nhou um campeonato pernambucano, o que me motivou bastante a continuar desenvolvendo jogos”, disse. Apesar do game ser gratuito, Henrique lucra com publicidade, embora esteja procurando um serviço que seja mais rentável.

Foto: Acervo pessoal

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O sistema online de votação das eleições do segundo mandato dos Colegiados Setoriais das Artes da Bahia está no ar em www.eleicao2014.colegiadossetoriaisbahia.com.br desde o dia 16 de outubro, e seguirá aberto até 4 de novembro. Através dele, 509 eleitores vão eleger os representantes da sociedade civil que comporão os grupos de setores artísticos baianos – Artes Visuais, Circo, Dança, Literatura, Música e Teatro – no biênio de 2015-2016.

A mostra “Ansel Adams, Paisagens de Luz e Som”, apresenta 180 fotografias de um dos fotógrafos norte-americanos mais influentes: Ansel Adams (1902-1984). A exposição será realizada pela primeira vez na América Latina em 2015 e passará temporadas em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Recife. Das 180 obras, 70 são fotos do acervo da Galeria Ansel Adams (EUA), 80 são fotos de acervos particulares e da família e 30 são objetos pessoais do artista, incluindo algumas de suas câmeras fotográficas.

O HQPB é um evento dedicado ao público de João Pessoa e cidades vizinhas, que visa difundir vários elementos e segmentos da cultura pop, como histórias em quadrinhos, cinema, séries de TV, animações, RPG, cultura japonesa, colecionismo de figuras de ação, entre outros do gênero. A feira de cultura acontecerá este ano nos dias 01 e 02 de novembro, no Espaço Cultural José Lins do Rego e contará com diversas atrações, como concurso de cosplay, palestras e oficinas.

Estão abertas para votação os selecionados para concorrerem ao 1º Prêmio FM Cultura de Música, no Piauí. Estão concorrendo músicos de diversos gêneros e em várias categorias (Categoria Regional, Instrumental, Samba, MPB, Reggae, Rock e Pop). Integrarão também a seleção as escolhas para votação pública do Melhor Cantor, Cantora, Compositor e Compositora. A votação, aberta ao público até o dia 12 de dezembro, pode ser realizada através do site www.teresina.pi.gov.br.

Sandálias coloridas abrem caminhos O romance “Sandálias Vermelhas”,

da jornalista Renata Escarião, foi uma das obras contempladas pelo edital do Prêmio Literário José Américo de Almeida 2014 da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). Em entrevista à Revista NORDESTE a paraibana conta mais sobre a sua obra e revela que não esperava a premiação.

O livro, um romance psicológico que relata a história da protagonista Alice, trata de sentimentos e pensamentos que envolvem alegrias e angústias da personagem ao longo das fases da vida. “É um livro sobre amadurecimento. So-bre as reflexões e sentimentos de uma mulher entrando em uma nova fase de sua vida e se redescobrindo sobre a superação de uma grande mágoa e o aprendizado com ela e todo o turbilhão de sentimentos e pensamentos que alguém sensível como ela, Alice, en-frenta para se reconhecer. A história na verdade é o secundário. É um romance psicológico, então o lado subjetivo da personagem é mais importante que

o enredo, ao menos eu considero”, comenta a autora.

A obra é a primeira publicação literária de Renata, que teve que se desdobrar para concluir o romance. “Como é meu primeiro livro e terminei de escrevê-lo em meio há dois empre-gos e duas seleções de doutorado, não esperava pela premiação. O prêmio é a publicação de 500 exemplares do livro o que pra mim é a realização de um sonho né? Como poderia imaginar?”.

O Prêmio Literário José Américo de Almeida também contemplou na categoria Poesia “O peso das gotas”, de Jairo Cézar, e “Da vida em desalinho”, de Aurélio Aquino. A categoria Conto também teve duas indicações: “Poços Ccavados no Ttempo: Memorial de Palavras Não Dditas”, de Sonielson Juvino, e “Mentiras ao Tempo”, de Edih Longo. O prêmio de Crônica ficou com Saulo Mendonça, por “Recados que a--mails.com”. A escritora Piedade Farias ficou com prêmio da categoria Intantil e Infanto-Juvenil pelo texto “Arco-íris

de alfenim” e “Universo Nordestino”, de Paulo Gracino, foi escolhido para Cordel. E na categoria Romance, além de Sandálias Vermelhas, foi contempla-da a obra “A menina dos Sapatos Cor de Abóbora”, de Juliê Caroline.

Renata Escarião, de “Sandálias Vermelhas”

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Flávia [email protected]

Destaque nordestino

Com a intenção de mostrar as peculiaridades do povo do Brasil, o autor Luís Pimentel escreveu o livro “10 brasileiros nota 10” (Editora Moderna). O livro mostra a riqueza do “ser brasileiro” listando dez personalidades que se destacaram nas áreas da literatura (Ariano Suassuna), economia (Celso Furtado) e política (José Alencar), dramaturgia (Fernanda Montenegro), humor (Millôr Fernandes), medicina psiquiátrica (Nise da Silveira) e sanitária (Oswaldo Cruz), música (Noel Rosa), estudos indígenas (Orlando Villa Bôas) e arquitetura (Oscar Niemeyer). Na obra, Pimentel detalha a vida e obra de cada um desses notáveis personagens.

O compositor e poeta baiano José Carlos Capinan foi escolhido pela Universidade Cândido Mendes (RJ) para receber o Prêmio Alceu Amoroso Lima 2014, que destaca personalidades brasileiras com um trabalho reconhecido na área da “Poesia e Liberdade”. Capinan receberá a honraria no começo do mês de dezembro. Criada em 1983, a premiação é dividida em duas categorias: Direitos Humanos (nos anos impares) e Poesia e Liberdade (anos pares). Nesta última área, já foram premiados nomes como Adelia Prado, Ferreira Goulart e João Cabral de Melo Neto

Três meninos pobres, Raphael (Rickson Tevez), Gardo (Eduardo Luis) e Rato (Gabriel Weinstein), vivem no lixão e se envolvem em sérios problemas ao encontrar uma carteira misteriosa durante a catação. “Trash- a esperança vem do lixo” é um filme de suspense e drama britânico e brasileiro, dirigido por Stephen Daldry e escrito por Richard Curtis, baseado em um romance homônimo de 2010 por Andy Mulligan. O longa, estrelado por Rooney Mara, Wagner Moura, Martin Sheen e Selton Mello, é um dos destaques do cinema do último semestre deste ano.

O escritor maranhense Ferreira Gullar, de 84 anos, foi eleito no começo de outubro o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras. O poeta, tradutor, dramaturgo, ensaísta e crítico de arte ocupará a cadeira de número 37, que já pertenceu a Ivan Junqueira, João Cabral de Melo Neto, Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas. Gullar nasceu em São Luís do Maranhão, em 1930 e em 1951, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em jornais e revistas. Vários de seus livros já receberam importantes prêmios de literatura, inclusive seus poemas para crianças. Em 2010, levou o Prêmio Camões, a mais prestigiada premiação literária da língua portuguesa.

O Museu de Arte Contemporânea do Ceará, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, está com a exposição “Mostra Carioca: a impureza como mito”, que reúne cerca de 50 obras de artistas que têm o Rio de Janeiro como inspiração de seus trabalhos, em obras pertencentes às coleções do MAM Rio, incluindo as coleções de Gilberto Chateaubriand e Joaquim Paiva, que estão no Museu carioca em regime de comodato. A exposição segue até 30 de novembro de 2014, com obras de Iole de Freitas, Raymundo Colares, Antonio Manuel, Hélio Oiticica, Ione Saldanha, Lygia Clark, Adriana Varejão, José Damasceno, Gustavo Speridião, Cabelo, Paula Trope e Marcos Cardoso.

A programação cultural do Festival Móbile, que acontece em João Pessoa entre 31 de outubro e 2 de novembro, já foi divulgada. A mostra de filmes acontecerá na Usina Cultural Energisa e as apresentações musicais acontecerão no Conventinho, por trás da Igreja de São Pedro Gonçalves, no Centro Histórico da cidade. O festival direciona sua atenção para a produção de jovens fazedores/realizadores do audiovisual paraibano, como também para vídeos elaborados em novos formatos e/ou utilizando mídias e aplicativos alternativos.

O novo imortal Os brasileiros de Luís

Cidade maravilhosa no CE

Festival Móbile

A esperança vem do lixo67

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Cultura

Por Isadora [email protected]

Com a voz doce acompanhada de uma suave mistura sonora, a paraibana Izza Simões segue sua turnê pelo Nordeste. Ela acaba de lançar o novo trabalho “Que Rumo Tomar”, que tem chamado atenção dos internautas e dos fãs que a seguem nas redes sociais e shows onde se apresenta. A jovem ainda encontra tempo para apostar em outro projeto, o InDa House, em parceria com dois DJs

para ouvir e sentir

ORDESTE: Você poderia nos contar um pouquinho de sua trajetória artística? Como

surgiu esse desejo de mostrar sua voz e compor músicas?Izza Simões: Eu sempre fui muito tímida, tinha vergonha de tocar (instrumento musical) e de cantar. O que eu fazia era arriscar o violão para algumas amigas que cantavam em barzinhos. O violão eu aprendi sozinha. Durante algum tempo eu morei na Inglaterra e lá vi muitos artistas nas ruas mostrando sua arte. Isso foi muito interessante. Eu percebi que as pessoas se sentiam à vontade para se aproximar. De volta à minha terra, eu reproduzi isso e foi bacana, as pessoas passaram a me conhecer... Essa “vulnerabilidade” da rua, exposição, talvez tenha sido

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Foto: Divulgação

importante para causar essa empatia a mim. Foi assim também que eu conheci o integrante da minha banda e minha primeira professora de canto.

NORDESTE: Você era proprietária de um bar em Patos (PB) e participava ativamente da cena cultural de sua terra natal. Isso, de alguma forma, contribuiu para a sua carreira artística? Izza Simões: Acredito que sim! Eu sempre tocava lá e convidava alguns amigos, artistas dos estados vizinhos, tentando movimentar a cena cultural de Patos, o que era difícil, porque tinha estilos musicais bem específicos, como o forró, por exemplo. Mas sinto que dei minha contribuição à cidade.

NORDESTE: Você havia dado uma parada e agora volta à cena com o novo trabalho de sua autoria, o clip Que Rumo Tomar. Como isso vem acontecendo? Está em turnê? Izza Simões: Estou bem focada no meu projeto de músicas autorais e tocando com minha banda em vários lugares. Também estou participando de um projeto chamado InDa House Live, onde eu me apresento com dois DJs.NORDESTE: Quais as expectativas para 2015? Pretende lançar mais algum álbum ou vai explorar um pouco mais o mercado com o clip que acabou de

gravar? Izza Simões: Tenho soltado na internet singles e clipes ao longo do ano. Mas acredito que até fevereiro termino de gravar o resto das músicas que compus e complete um CD, que pretendo lançar no próximo ano.

NORDESTE: Izza, como é o teu processo criativo? Você tem uma rotina?Izza Simões: Na verdade não. De uma hora pra outra aparece uma letra. Pode ser tomando banho, dirigindo. Às vezes é conversando com uma pessoa e uma palavra aparece e desenvolve toda a letra. Quando isso acontece eu paro, pego o violão e vou encaixando a melodia à letra.

NORDESTE: Quais são as suas maiores referências?Izza Simões: Eu diria que é uma coisa meio ‘Ana Carolina’, mas puxada para o baião e o maracatu. Mas me inspiro em Alanis Morissette, Maria Gadu, Beatles e também Lady Gaga, Rihanna, Katy Perry. Não adianta dizer que minhas referências são só MPB, quando a minha geração é a dos Blackstreet Boys. Enfim, pego várias inspirações e faço meu som.

NORDESTE: Como você escolhe as músicas que vai interpretar?Izza Simões: Na verdade é uma coisa de sentir mesmo a energia da música.

Não adianta cantar por cantar. Você tem que entrar naquela história e senti-la. Mas quando eu canto minhas próprias músicas eu sinto que elas deixam de ser minhas porque está todo mundo ouvindo e sentindo. Ela é do mundo. Ultimamente eu tenho dito que as músicas deixam de ser minhas no instante que ela sai da minha boca.

NORDESTE: Então qual é a sua política em relação aos direitos autorais? Izza Simões: Sou super aberta a isso. Se alguém quer gravar uma música minha eu acho massa, afinal quando as músicas saem da minha boca elas não são mais minhas.

NORDESTE: Para você que tem se destacado na rede fazendo shows online, como é esse mercado e qual a principal diferença em relação aos presenciais? Izza Simões: Eu já fiz e agora estou voltando a tocar minhas músicas de forma online. Isso também me deixa em contato direto com o público. E é muito legal, porque você fala com as pessoas de todo o Brasil. Às vezes eu me perguntava se as pessoas estavam ali assistindo ao show por mim, e elas estavam mesmo. Elas pediam músicas autorais. O show online é mais intimista, falo da minha vida. Eu o faço em ‘voz e violão’. As pessoas perguntam coisas do meu dia a dia e é uma energia diferente.

“Se alguém quer gravar uma música minha eu acho massa, a f ina l quando elas saem da minha boca elas não são mais minhas”

“Quando eu canto minhas próprias músicas eu sinto que elas deixam de ser minhas porque está todo mundo ouvindo e sentindo. Ela é do mundo”

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PeloMundo [email protected]ânia Queiroz

Com o mote “A diferença é clara”, o Grupo 3corações estreia a nova campanha institucional do café Santa Clara nas regiões Norte, Nordeste e Distrito Federal. A ideia é consolidar a qualidade do produto nas praças de atuação, fidelizar os consumidores e conquistar novos amantes do produto. As peças e o filme revelam todo o processo de produção, desde o cultivo e a colheita na fazenda, passando pelo processo fabril, até a chegada à casa do consumidor.

A campanha, assinada pela agência Borghi/Lowe, entra no ar em 26 de outubro, com plano de mídia que inclui filmes de 1 minuto e 30 segundos e vinhetas de 3, 5 e 7 segundos, que entrarão no ar nas TVs regionais. Haverá também suporte na mídia online, em canais

Constelação de chefs

3coraçõesfisga amantes

de gastronomia, comportamento e interesse geral, além de redes sociais.

O filme começa em uma fazenda com a imagem dos grãos de café, seguida de trabalhadores na colheita. Na sequência, aparecem funcionários na linha de produção da fábrica, onde o produto é torrado, moído, testado e embalado com a mais alta tecnologia. Ao final,

já na xícara, o café é aprovado por vários perfis de consumidores. O comercial termina com a assinatura: “Santa Clara. A diferença é clara.”

O charmoso balneário de Búzios, no litoral carioca, será palco de festival de alta gastronomia. Como acontece há cinco anos, o Restaurante Chez Grançoise, localizado na praia de Geribá, vai celebrar a gastronomia brasileira com a reunião de chefs premiados pelo Guia Michelin.

‘Les Pantagruels’, inspirado em personagem que adorava comer, criado pelo francês François Rebelaris, terá seis dias de duração, de 21 a 26 de outubro. Os pratos criados por nomes consagrados dos dois lados do Oceano Atlântico terão a missão de juntar o toque e a criatividade francesa, aos ingredientes brasileiros. As receitas serão harmonizadas com uma seleção de vinhos e champagnes especialmente escolhidos para a

ocasião. Entre os talentosos chefs

estarão por aqui Patrick Gauthier, que atende no La Madeleine/França; Marc Meurin, do Chateau de

Beaulieu/França; e Didier Aniès, do Le Cap, St-Jean Cap Ferrat/

Côte DÁzur/ França.

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Grant’s, o renomado e premiado blended whisky escocês, lançou uma nova campanha global intitulada #IOU. O filme, distribuído exclusivamente na plataforma online, mostra um grupo de amigos e como eles se apoiam mutuamente através de uma série de experiências de vida. No fim, uma pergunta instigante é lançada: ‘Se você chegou até aqui na vida sem dever nada a ninguém, até onde você realmente chegou?’. IOU é a abreviação da expressão em inglês “I Owe You”, que significa “Eu te devo uma”. Assim, o conteúdo do curta visa inspirar o agradecimento aos amigos que nos ajudaram a conquistar as grandes coisas na vida. A campanha desafia a noção de sucesso individual e reflete a realidade de que nenhum de nós chegou até aqui por conta própria. #IOU pode ser visto por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=ukIhh-m3yIY.

Frutas napaleta mexicana

“Eu tedevo uma”

Português de respeitoO Tasca da Esquina abriu as por tas

em João Pessoa (PB) colocando a cidade no seleto circuito dos grandes restaurantes de classe internacional. A casa se diferencia já no projeto arrojado, que traz um conceito novo: sofisticação, mas sem ostentação. Os sócios Pedro Graça e Vitor Sobral (um dos mais renomados chefs da Europa) investem na qualidade do serviço e dos produtos utilizados na cozinha, que são traduzidos na elaboração dos pratos que chegam à mesa dos clientes pelas mãos de Sobral, que vem elaborando iguarias que não deixam a desejar a nenhuma casa de Por tugal.

O Tasca da Esquina tem preparado programações especiais, com jantares harmonizados, em parceria com vinícolas como Herdade do Esporão e Quinta do Crasto. Para cada prato criado pelo chef da casa, há uma opção de vinho, fazendo uma combinação perfeita dos sabores e aromas.

Uma das opções apresentadas pelo restaurante é a salada de camarão, pinhões, vinagreta de café e baunilha, acompanhada pelo vinho Crasto Branco 2012. Como prato principal, o bacalhau confitado, açafrão, salada de grão de bico e gengibre, seguido por uma taça do Assobio Tinto 2010. O rabo de boi, carne de sol, cogumelos e tomate, combina

com o Esporão Reserva 2010. Para finalizar, que tal a sobremesa (toucinho do céu de amendoim e gelado de limão) casada com o vinho Quinta das Murças Tawny 10 anos?

Serviço:Restaurante Tasca da Esquina - Av. Pombal, 255, Manaíra | De terça a sábado para almoço e jantar, e aos domingos das 12h30 às 16 horas.Telefones (83) 3023-8080, 9349-6803 e 8837-9874E-mail: [email protected].

Abacaxi, chocolate, morango e limão. As frutas chegam ao mercado paraibano na versão gelada e na paleta. A novidade foi

lançada pela Suqo para deixar o verão ainda mais refrescante. Os sabores de picolés de frutas são baseados nas famosas

paletas mexicanas – picolés maiores, artesanais e naturais, e os consumidores já podem encontrar os

saborosos produtos da marca na capital.Segunda a diretora e responsável

técnica da Suqo, Luciana Medeiros, os picolés, assim como todos os

produtos da marca, possuem um alto teor de concentração da fruta. “Além de contarem com uma textura cremosa, os

picolés de abacaxi, chocolate e morango terão seu tamanho dobrado, pois são semelhantes às paletas mexicanas”,

explicou. Além dos lançamentos, os picolés da Suqo também podem ser encontrados nos sabores cajá,

amendoim, graviola e coco. 71

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a Adolf Hitler (1889-1945).Outro exemplo da sagacidade do

personagem Carlitos, é o filme “Tem-pos Modernos” (1936) em que o “O Vagabundo” (The Tramp) tenta so-breviver em meio ao mundo moderno e industrializado. É considerado uma forte crítica ao capitalismo e ao for-dismo, quando faz menção à linha de produção de máquinas e às péssimas condições de trabalho e maus tratos que os empregados sofriam no período da Revolução Industrial.

Por sua importante contribuição à séti-ma arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, e foi con-decorado, ainda em vida, pelos governos britânico (Cavaleiro do Império Britâ-nico) e francês (Légion d ‘Honneur), pela Universidade de Oxford (Doutor Honoris Causa) e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (Oscar especial pelo conjunto da obra, em 1972).

doce e atrapalhado que interpretou por 22 anos seguidos. “As calças largas; o casaco, apertado; o chapéu, pequeno; os sapatos, enormes”, descreveu o ator em sua biografia, contando que seguia apenas as orientações do diretor de “Corrida de Automóveis para meninos”, que pediu para ele vestir algo engraçado para as filmagens. O curta, de 1914, foi dirigido por Henry Lehrman e produzido por Mack Sennett.

Seu personagem, conhecido como um vagabundo andarilho e pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro, tornou--se célebre também por filmes que fazia críticas sociais com humor. Exemplo disso é o longa “O Grande Ditador” (1940), em que Carlitos, dessa vez como barbeiro, consegue escapar da guerra e tomar o poder só pela seme-lhança que tem com o ditador do seu país. O filme é uma sátira à barbárie nazista, em que Chaplin faz referência

m moço de bigode curto e notório, chapéu-coco e andar esquisito sustentado por uma

bengala atrapalha uma corrida de carros enquanto se mostra para a câmera no ano de 1914, no curta-metragem mudo “Corrida de Automóveis para meninos” (Kid Auto Races at Venice). Foi essa a primeira aparição de Carlitos, o cativan-te personagem que este ano completa 100 anos de existência, interpretado e criado pelo ator britânico Charlie Cha-plin (1889-1997). O primeiro filme foi gravado nos estúdios da Keystone, em Los Angeles, lugar onde o ator iniciou sua carreira no cinema, depois de ter sido descoberto em uma peça de teatro nos Estados Unidos.

Na segunda vez que atuou para a te-lona, Charlie Chaplin só seguia o roteiro do diretor quando interpretava Carlitos, mal sabia ele que estava construindo um dos personagens mais marcantes da cinematografia mundial: o vagabundo

Cultura

Personagem célebre de Charlie Chaplin foi revelado em filme mudo de 1914

uPor Flávia [email protected]

cENtENÁrio dE carlitos

Foto:Divulgação

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RAM331-14 Feicon NE - Anuncio de visitacao 202x266.pdf 1 9/4/14 4:20 PM

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