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NORDESTE RELATÓRIOS ESPECIAIS 6 DE MARÇO DE 2013 Os administradores públicos e da iniciativa privada pregam a necessidade de um programa federal que planeje o desenvolvimento da região como um todo, a fim de evitar retrocesso nos avanços econômicos e sociais já obtidos Como enfrentar as dores do crescimento MINIMORGAN •EECapaRelatorio45.indd 35 27/02/13 20:23

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N O R D E S T E

R E L A T Ó R I O S E S P E C I A I S

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Os administradores públicos e da iniciativa privada pregam a necessidade de um programa federal que planeje o desenvolvimento da região como um todo, a fim de evitar retrocesso nos avanços econômicos e sociais já obtidos

Como enfrentar as dores do crescimento

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N O R D E S T E : Integração

Há muitas maneiras de encarar quais são as me-lhores fórmulas para ga-rantir o crescimento de regiões economicamente desfavorecidas, como é o caso do Nordeste brasilei-

ro. Uma parcela dos entendidos no assun-to defende que elevar o nível de consumo das famílias é a saída mais rápida. Outro grupo sugere que não há meio mais efi-caz e duradouro de assegurar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do que uma pesada carga de investimentos. O fato é que quem sente na pele o que é a realidade nordestina – e mais, quem administra pe-daços dessa região tão cheia de peculiari-dades – não hesita ao afirmar que o cerne da questão está em atacar as desigualda-des sociais antes de qualquer outra coisa. “Precisamos consolidar o conceito de que as desigualdades regionais são um freio ao desenvolvimento do País”, afirmou Edu-ardo Campos, governador de Pernambu-co, durante o seminário “Nordeste – Co-mo enfrentar as dores do crescimento”, da série Diálogos Capitais, promovido por CartaCapital no Recife na segunda-feira 25. “O fim da inflação foi importante pa-

ra ordenar os fundamentos macroeconô-micos do País, mas por si só não nos levou a retomar o crescimento. As áreas econo-micamente mais deprimidas só responde-ram quando a desigualdade começou a ser combatida, dez anos atrás”, acrescentou.

A resposta do Nordeste, no entanto, che-gou com uma velocidade e numa intensi-dade que ainda não foram suficientes para levar a região a superar seu passivo social histórico. Estudos conduzidos pelo Ban-co do Nordeste do Brasil (BNB) indicam que os estados da região precisam crescer bem acima do restante do Brasil, e duran-te muitos anos, para conseguir equiparar a renda dos seus habitantes à média nacio-nal – mais precisamente, seria necessário contar com mais de 40 anos de avanço de 1 ponto porcentual acima da cifra brasilei-ra. Entre 2002 e 2010, um período de ele-vada prosperidade no Nordeste, em que o consumo na região se descolou (para ci-ma) das outras áreas do País, a diferença no crescimento do PIB foi de apenas meio ponto porcentual para a média nacional – um número que ajuda a entender a dimen-são do desafio. E, ainda que tenha supera-do o ritmo de crescimento do País, a par-

ticipação da região na economia brasileira também não aumentou mais do que meio ponto porcentual. Hoje, o PIB nordestino representa em torno de 13,5% da riqueza produzida no Brasil, embora a região abri-gue mais de 28% da população do País.

Uma calorosa onda de investimentos migrou para o Nordeste nos últimos anos – de 2008 para cá, foram anunciados in-vestimentos de pelo menos 282 bilhões de reais nos estados nordestinos, o equi-valente às economias de Bahia, Pernam-buco e Rio Grande do Norte somadas. No entanto, a inexistência de uma estraté-gia nacional que privilegie a região abre a possibilidade de que esse movimento não se sustente no longo prazo. Tânia Bacelar, professora de economia regional da Uni-versidade Federal de Pernambuco (Ufpe) e sócia da consultoria Ceplan, já enxerga “sinais de reconcentração” industrial no Brasil, o que não ajuda em nada o desen-volvimento do Nordeste.

“Não é saudável nos deslumbrarmos com a chegada da Fiat a Pernambuco ou das refinarias da Petrobras ao Ceará e ao Maranhão”, ressaltou Tânia durante o se-minário. Muito mais eficiente seria estabe-lecer recortes regionais nos desenhos das

Políticas para quem precisaO combate às desigualdades sociais entre as regiões brasileiras ainda é a arma mais eficiente para manter a rota do crescimentoPOR MARIANA SEGALA

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R E L A T Ó R I O S E S P E C I A I S C A R T A C A P I T A L

políticas de apoio que têm sido desenvolvi-das para setores como a indústria automo-tiva e a exploração de óleo e gás. “Devemos evitar que a exploração do petróleo da ca-mada do pré-sal, por exemplo, acabe se tor-nando um fator de reconcentração”, con-cordou o governador Eduardo Campos. Para Tânia, o Brasil tem potencial para fa-zer sua indústria renascer, mas isso só é vá-lido se acontecer de forma desconcentrada.

Do ponto de vista dos governantes da região, não há outra saída para esse en-trave a não ser combater as desigualda-des com políticas mais amplas de desen-volvimento regional, que embutam ferra-mentas de financiamento específicas, em vez das ações pontuais mais usualmente aplicadas. “Trata-se de um debate sobre o pacto federativo”, ressaltou Campos, mencionando que a parcela dos tributos federais compartilhados com os estados e municípios – onde se encontram as prin-cipais iniciativas de promoção do desen-volvimento social – caiu de 80% para 36% de 1985 para cá. Na saúde pública, a con-tribuição da União para o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) passou de 75% para 45% em menos de 15 anos. Hoje, os estados bancam 55% dos custos

do sistema. “Somos uma federação e pre-cisamos do esforço de todos os entes fede-rados. O Nordeste contribui com o Bra-sil e, por isso, o Brasil deve contribuir nos proporcionando direitos – e não favores – como o acesso à saúde e à educação.” Para o governador, está claro que não basta fa-zer a população chegar à periferia do mer-cado de consumo, coisa que já aconteceu nos últimos anos. Falta ainda todo o resto.

O risco de não pensar em políticas públi-cas regionais no âmbito do Estado – e não dos governos – é acabar retrocedendo em conquistas que já foram alcançadas e de-morar muito para alcançar as próximas, avaliou Jaques Wagner, governador da Bahia, que também participou do seminá-rio. “Não podemos permitir nenhum pas-so para trás nessa caminhada dos últimos dez anos e, para tanto, também não deve-mos esquecer que o foco no combate sistê-mico da desigualdade regional depende de quem está sentado na cadeira de presiden-te da República”, afirmou. Para Wagner, é fundamental que o conceito da distri-buição de renda e da luta por avanços so-ciais se solidifique e seja tão reverenciado quanto o da estabilização da economia e

do combate à inflação, que se tornaram va-lores da política econômica brasileira du-rante as duas últimas décadas. É isso que levará os avanços sociais ainda pendentes no Nordeste a se tornarem uma prioridade do País. “Quem não comia dez anos atrás e hoje consegue comer está no céu. Mas quem já nasceu nessa situação apresenta outras demandas para nós”, afirmou o go-vernador baiano. Dar comida à população, talvez fosse a solução dos maiores proble-mas sociais brasileiros dez anos atrás. Ho-je, definitivamente, já não é mais. •

Para Campos e Wagner, há um longo caminho a fim de superar o histórico passivo social

Sem deslumbre. Tânia Bacelar já enxerga sinais de uma indesejável reconcentração industrial

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N O R D E S T E : Finanças

O volume de recursos para financiar investimentos na Região Nordeste, que se ampliou enormemen-te na última década, pro-mete crescer ainda mais já neste ano. O avanço de-

ve se dar por obra da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), extinta em 2001 e recriada durante o go-verno Lula. Nos últimos três anos, o orça-mento da instituição para financiamento de grandes projetos na região, por meio do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), variou de 1,5 bilhão até 2 bilhões de reais. Para este ano, no entanto, a dire-toria da autarquia está pleiteando um va-lor cinco vezes maior, de 10 bilhões de re-ais, junto ao governo federal. “Nosso ar-gumento é o volume de projetos que estão chegando à Sudene”, explicou Henrique Aguiar, diretor de gestão de fundos, incen-tivos e atração de investimentos da Sude-ne, que participou do seminário “Nordeste – Como enfrentar as dores do crescimen-to”, no Recife, na segunda-feira 25. Hoje, segundo Aguiar, a Sudene tem na cartei-ra um montante de, aproximadamente, 7 bilhões de reais apenas em projetos já pré--aprovados para receber recursos.

Os investimentos f inanciados pe-lo FDNE – fundo operado pela Sude-ne que tem a origem dos seus recursos fortemente baseada em repasses do Tesouro Nacional – são considerados projetos de impacto. Trata-se de obras do porte da ferrovia Transnordestina ou de fábricas como a que a Fiat está le-vantando em Goiana, no estado de Per-nambuco. “Calculamos que o Nordes-te tenha uma demanda reprimida po-tencial de 18 milhões de automóveis e é por isso que estamos instalando na re-gião uma fábrica que poderá produzir até 250 mil carros por ano”, explicou

Cledorvino Belini, presidente da Fiat no Brasil, durante o seminário.

Em torno da fábrica, considerada a mais moderna do Grupo Fiat no mundo, deve ser erguido um polo automotivo completo, com dois parques de fornecedores, campo de provas e área de desenvolvimento. Só a construção da montadora, que já começou, deve gerar 7 mil empregos. A operação da fábrica quando pronta demandará outras 4,5 mil pessoas – e é por isso que o projeto conseguiu obter recursos da Sudene. “Pro-jetos de impacto causam uma repercussão imediata na economia e, na Sudene, esta-mos nos desafiando a participar cada vez mais deles”, diz Aguiar. “Financiá-los dá uma resposta rápida ao crescimento baixo do PIB, já que o Nordeste é visto como uma máquina que gira mais rapidamente que o Brasil. Por isso, acreditamos que será pos-sível ampliar o nosso orçamento.”

Se conseguir o que está propondo, a Su-dene chegará ao fim deste ano com um or-

O que é que a região temA Sudene possui em carteira 7 bilhões de reais, apenas em projetos já pré-aprovados, e pleiteia um reforço no orçamento para atender à crescente demanda por recursos

Aguiar visa projetos de impacto para a região, como o da Fiat, de Belini

Novas ações. Perez, da Provider, expandiu-se para o Chile e prepara a abertura de capital

çamento de recursos para investimentos de longo prazo que se aproxima do que dis-põe o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), atualmente uma das principais fontes de financiamento para grandes projetos na região. Em 2012, o BNB desembolsou quase 23 bilhões de reais para a economia nordestina, dos quais cerca de 12,5 bilhões foram voltados especificamente para

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financiamentos de longo prazo. Neste ano, a expectativa é de que esse volume alcance 13,8 bilhões de reais. Fora o dinheiro para financiar os projetos, no âmbito da Sudene também é possível obter benefícios fiscais que tornam um investimento no Nordes-te ainda mais atrativo. Quem aterrissa na região pode conseguir até 75% de descon-to no Imposto de Renda por um período de dez anos. Do valor que sobra para pa-gar, mais 30% podem ser usados em pro-jetos de modernização (mais exemplos de

benefícios no quadro abaixo). Os incentivos valem para as áreas consideradas prioritá-rias para o desenvolvimento regional, co-mo infraestrutura, indústria, exploração mineral e agricultura.

Aos incentivos proporcionados pela Su-dene se somam outros tantos oferecidos pelos próprios governos estaduais. Os be-nefícios de estar no Nordeste, no entanto, não se resumem a isso. Um setor que tem ampliado a presença na região é o de con-tact centers, formado por empresas de tec-nologia especializadas no contato entre as companhias e os seus consumidores. No Brasil, o segmento fatura perto de 30 bi-lhões de reais por ano. “Aproximadamen-te, 18% desse mercado está no Nordes-te”, disse João Luiz Dias Perez, presiden-te do Grupo Provider, que atua no ramo. Sua empresa, fundada no Recife ainda na década de 1990, encontra na região a mão de obra mais adequada para trabalhar nos serviços que presta, como o de call center: jovens entre 18 e 25 anos, a maioria mulhe-res, com ensino médio completo e em bus-ca do primeiro emprego. “Os índices de ro-tatividade da mão de obra são muito me-nores aqui no Nordeste. Em geral, chegam a ser 30% mais baixos do que em outras re-giões do Brasil”, afirmou Perez. A empre-sa, que já conseguiu expandir as operações até o Chile, fatura perto de 275 milhões de reais por ano e se prepara para abrir o capi-tal na Bolsa de Valores em dois anos.

A Fiat, por sua vez, está especialmente interessada nos reflexos que o aumento da renda dos nordestinos tem causado no padrão de consumo da região. “O Brasil já é o quarto maior mercado de automóveis do mundo, com vendas que chegaram a 3,6 milhões de unidades no ano passado”, disse Belini, calculando que a demanda nacional pode chegar a 4,5 milhões de unidades em 2015. Uma parte significati-va desse aumento virá do Nordeste, onde a frota cresceu quase 200% nos últimos dez anos. No País, o avanço foi de, aproxi-madamente, 115%. “A Fiat foi a primeira montadora a sair do eixo paulista, abrin-do uma fábrica em Betim, Minas Gerais, ainda na década de 1970. Hoje, somos a que mais cresce no Brasil”, destacou Be-lini. “Produzimos, em solo mineiro, um carro a cada 20 segundos, mas isso já não é suficiente.” Agradam ao executivo as iniciativas de reindustrialização imple-mentadas pelo governo de Pernambuco. O apoio do estado na empreitada, aliás,

impressionou as lideranças da Fiat. Em parceria com o governo estadual, a em-presa enviou dez engenheiros para a Itá-lia, para que se especializem no Politecni-co di Torino, instituto tecnológico na ci-dade de Turim. A recompensa não deve tardar a chegar, e na forma de arrecada-ção de impostos. Ainda nos anos 1990, a fábrica da Fiat, em Betim, chegava a com-prar 80% dos componentes dos automó-veis fora do estado. Hoje, esse índice não passa de 30%. – POR MARIANA SEGALA

• Redução de 75% do Imposto de Renda, por dez anos, para projetos de instalação, ampliação, modernização ou diversificação em setores prioritários para o desenvolvimento regional.

• Redução de 12,5% do Imposto de Renda para qualquer empreendimento econômico, enquadrado em setores prioritários para o desenvolvimento regional, como infraestrutura e indústria.

• Isenção do Imposto de Renda para fabricantes de máquinas, equipamentos, instrumentos e dispositivos baseados em tecnologia digital.

• Reinvestimento de 30% do Imposto de Renda, acrescido de 50% de recursos próprios, para aplicação em projetos de modernização ou complementação de equipamentos.

• Isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), tributo que varia de 10% a 40% sobre o valor do frete, para empreendimentos implantados, modernizados, ampliados ou diversificados no Nordeste, declarados pela Sudene de interesse para o desenvolvimento regional.

• Depreciação acelerada incentivada e desconto do PIS/Pasep e da Cofins para bens adquiridos por empresas de setores prioritários para o desenvolvimento regional, situadas em áreas menos desenvolvidas.

Fonte: Sudene

Os incentivos fiscais a quem vai para o Nordeste

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N O R D E S T E : Infraestrutura

Não dá para o Nordeste avançar de maneira sus-tentada sem dispor de combustível e energia su-ficientes para alimentar os motores do seu cresci-mento. Não por outra ra-

zão os nordestinos vibraram com a es-colha da região pela Petrobras, em mea-dos da década passada, para a instalação de três novas refinarias, depois de a esta-tal ter passado mais de 30 anos sem cons-truir nenhuma no País. A primeira delas – a Refinaria de Abreu e Lima, que está sendo erguida em Ipojuca, Pernambuco – deve ficar pronta no ano que vem, mas

nem de longe vai dar conta de suprir to-da a demanda da região. Com um consu-mo diário de pouco mais de 1 milhão de barris de combustível, o Nordeste ainda manterá um déficit de aproximadamen-te 450 mil barris por dia mesmo depois da inauguração da planta. Por isso, as in-certezas sobre os projetos das refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, causam arrepios nos consumi-dores e nos investidores da região. No úl-timo plano de negócios da empresa, di-vulgado no ano passado, as duas cons-tam como projetos “em avaliação”, com a sua implantação ainda condicionada a uma série de fatores.

“A construção dessas duas refinarias está mantida no planejamento da Petro-bras, elas não foram descartadas”, apres-sou-se a explicar José Carlos Cosenza, diretor de abastecimento da estatal, que participou do seminário “Nordeste – Co-mo enfrentar as dores do crescimento”, promovido por CartaCapital no Recife na segunda-feira 25. “Ambos estão em revisão para que consigamos adequar os projetos de execução a padrões técnicos internacionais, o que deve nos permi-tir reduzir os custos”, destacou. Juntas, as duas refinarias já chegaram a ser or-çadas em quase 60 bilhões de reais, um custo que entrou no radar de Graça Fos-ter depois que ela assumiu a presidência da companhia, no ano passado. O objeti-vo é evitar repetir erros como os come-tidos na construção da própria Abreu e Lima que, além de atrasar, teve o orça-mento recorrentemente ampliado até chegar perto dos atuais 35 bilhões de re-ais – os primeiros cálculos eram de que a obra custaria em torno de 5 bilhões. “A fase em que é possível baixar mais os custos de uma obra é a do planejamen-to da estratégia de construção. Não fi-zemos isso muito bem em Pernambuco, então é hora de compensar nas Premium I e II”, justificou Cosenza.

Combustível para crescerA Petrobras e várias empresas privadas executam projetos para suprir o déficit energético da região

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S Cosenza, da Petrobras, garante que as refinarias Premium sairão do papel

Razões do atraso. O objetivo é não repetir os erros que encareceram a construção da Abreu e Lima

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Até lá, o que resta à Petrobras é manter o formato baseado no abastecimento com petróleo importado. Atualmente, a estatal tem comprado do exterior cerca de 300 mil barris de combustível por dia, o equivalen-te à produção estimada para a Premium I, a refinaria do Ceará. Importar não é neces-sariamente mau negócio, mas abastecer-se com importação amplia a dependência do Brasil com o mercado internacional de pe-tróleo, altamente instável. Depois de efeti-vamente saírem do papel, as duas plantas nordestinas que hoje estão em avaliação – e devem deixar essa condição em meados deste ano – só devem dar a partida na pro-dução entre 2017 e 2018, pelas projeções da empresa. Sem as novas refinarias, a Pe-trobras consegue elevar a sua produção de combustível a uma taxa de aproximada-mente 2% ao ano, ampliando a produtivi-dade das fábricas já existentes. “Mas o con-sumo está crescendo até 3,5% ao ano”, afir-ma Cosenza. “Não podemos esperar suprir o mercado só com o que já temos.”

O Nordeste tem sido alvo de vários outros projetos ligados ao setor energético, mui-to em razão dos recursos de que dispõe no seu território. A MPX, empresa do Gru-po EBX, de Eike Batista, por exemplo, está dando a largada, desde o fim do ano passa-do, em usinas termoelétricas para produzir energia no Maranhão e no Ceará. O proje-to mais importante da empresa, a Usina de Parnaíba, no Maranhão, movida a gás na-tural, promete ter todas as suas turbinas funcionando até o início do ano que vem. “Quando isso acontecer, Parnaíba deverá se consolidar como o maior polo de energia termoelétrica do País”, disse Marcus Te-mke, diretor de operações da MPX, duran-te o seminário no Recife. A intenção do go-verno de poupar as hidrelétricas para que seus reservatórios cheguem a 2014 com níveis razoáveis de água anima a empre-sa, ainda mais quando se considera o pre-ço da geração de energia em usinas como a de Parnaíba – lá, é possível produzir 1 me-gawatt/hora de energia elétrica por até 80 reais, enquanto em uma termoelétrica tra-dicional, movida a óleo, o custo para a ge-ração dessa mesma quantidade de energia chega a 600 reais. “Verticalizamos os pro-cessos, explorando gás em Parnaíba, e es-sa é uma das qualidades mais importantes desse projeto”, explicou Temke.

Alternativas renováveis de geração de energia também têm sido alvo de inves-timentos pesados no Nordeste. Só para a construção de parques eólicos, que pro-duzem energia elétrica a partir da força dos ventos, mais de 16 bilhões de reais estão sendo injetados na região – fora o que já foi gasto com parques que já estão em operação, segundo a Associação Bra-sileira de Energia Eólica (Abeeólica). É o caso da Enel Green Power, empresa do grupo italiano Enel que veio para o Nor-deste para gerar energia eólica em esta-dos como a Bahia. O potencial das fon-tes renováveis de energia na região é tão grande que todos os estados, até os me-nos bem servidos de matérias-primas, estão tentando se beneficiar. Pernambu-co, por exemplo, está fazendo um esfor-ço para se consolidar como um polo de produção de equipamentos destinados aos parques eólicos, como torres e pás.

“Não somos tão bem servidos de jazi-das de vento como a Bahia ou o Rio Gran-de do Norte”, diz Roberto Abreu e Lima,

presidente da Agência de Desenvolvi-mento Econômico de Pernambuco (AD Diper). “Mas temos um bom porto pa-ra receber os insumos e uma localização privilegiada, o que nos permite produ-zir os equipamentos para serem distri-buídos por quase todo o Nordeste.” Atu-almente, três grandes empresas do se-tor já estão instaladas nos arredores do Porto de Suape: a argentina Impsa, fa-bricante de aerogeradores; a espanho-la Gestamp, que produz torres; e a dina-marquesa LM Wind Power, de pás eóli-cas. O estado também está buscando am-pliar o uso das energias renováveis no seu território e, para tanto, criou um pro-grama apelidado de PE Sustentável. Pe-lo projeto, que ainda está em fase de re-gulamentação, empresas que compra-rem no mercado livre energia de fontes limpas produzida no estado terão direi-to a redução na sua carga tributária. Pa-ra os interessados, a AD Diper promete: “Os incentivos devem começar a ser da-dos ainda neste ano”. – POR MARIANA SEGALA

Temke, da MPX, promete para a região o maior polo de energia termoelétrica do País

Alternativa. Lima, da AD Diper: menos impostos a quem usar energia limpa gerada em Pernambuco

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