revista construir nordeste ed 73

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arquitetura | tecnologia | negócios | índices | preços de insumos ano XV | nº 73 | julho 2014 | www.construirnordeste.com.br R$ 15,00 | € 5,00 RCN Editores Associados CIDADE PARA O CIDADÃO Projeto Novo Recife, na capital pernambucana, traz à tona uma questão que afeta as principais capitais do Brasil: o crescimento desordenado sem planejamento urbanístico, resultado da omissão do poder público. ENTREVISTA Elton de Souza Góes é o primeiro nordestino a assumir a presidência do IBI ARQUITETURA Identidade cultural e geográfica foram as inspirações para o projeto do novo Centro de Convenções na Paraíba VIDA SUSTENTÁVEL O projeto arquitetônico ambientalmente sustentável já é realidade? 15 anos

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Page 1: Revista Construir Nordeste Ed 73

arquitetura | tecnologia | negócios | índices | preços de insumos

ano XV | nº 73 | julho 2014 | www.construirnordeste.com.br

R$ 1

5,00

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RCN

Edito

res

Asso

ciad

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CIDADE PARA O CIDADÃO Projeto Novo Recife, na capital pernambucana, traz à tona uma questão que afeta as principais capitais do Brasil: o crescimento desordenado sem planejamento urbanístico, resultado da omissão do poder público.

ENTREVISTAElton de Souza Góes é o primeiro nordestino a assumir a presidência do IBI

ARQUITETURAIdentidade cultural e geográfica foram as inspirações para o projeto do novo Centro de Convenções na Paraíba

VIDA SUSTENTÁVELO projeto arquitetônico ambientalmente sustentável já é realidade?

15 anos

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JANEIRO 2014 3

Page 3: Revista Construir Nordeste Ed 73

JANEIRO 2014 3

Uns desejam inovação e tecnologia; outros, tradição e qualidade.Quem quer tudo merece um Conic.

Pioneira nas diversas frentes em que atua, há mais

de 60 anos a Conic é uma construtora engajada

no desenvolvimento sustentável das nossas cidades

com obras residenciais, comerciais e industriais.

Nosso objetivo é adotar iniciativas que gerem

tendência e tragam benefícios não só aos nossos

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Fale com a Conic: (81) 2119.6666 • construtoraconic.com.br

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JANEIRO 2014 7

19

5216 PALAVRA

Contradições nas metrópoles | Luiz Augusto Pereira de Almeida

19 ENTREVISTA Impermeabilizar é preciso | Elton de Souza

22 PAINEL CONSTRUIR

28 À PRIMEIRA VISTA 32 VITRINE ESTILO

34 ESPAÇO ABERTO | PEC - Segurança e saúde ocupacional como elementos intrínsecos da sustentabilidade - Resíduos de construção civil como agregado graúdo reciclado para produção de concreto

40 ARQUITETURA  Atraindo novos olhares

46 TECNOLOGIA - Eleve-se - Da madeira ao alumínio - Opinião: Elka Porciúncula

52 CAPA Cidade pra quem?

79 SOCIAL Casa da Criança beneficia mais um projeto no Ceará

80 O desenvolvimento sustentável e a redução do risco de desastres

85 NEGÓCIOS - Mercado imobiliário: Renato Teixeira - O caminho para a autossuficiência - Perfil empresarial: Lucian Fragoso - Opinião: Tania Bacelar de Araújo | Mônica Mercês CoLUNAS

14 SHARE 26 CONTEÚDO DIGITAL | Giovanni Sugamosto96 CONSTRUIR DIREITO | Rafael Accioly

40

88

46

80

65 CONSTRUIR VIDA

SUSTENTÁVEL

SUmÁRIo

Page 7: Revista Construir Nordeste Ed 73

JANEIRO 2014 7

CURTACURTA ASSISTAASSISTA INFORME-SEINFORME-SEwww.viapol.com.brSP (11) 2107-3400BA (71) 3507-9900

Impermeabilização, proteção e reforço das estruturas de concreto de estádios e arenas esportivas de um dos maiores eventos do mundo. Tivemos o orgulho de colaborar com estas obras e agora temos orgulho de fazer parte da torcida que mais cresce no mercado brasileiro.

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amar

ketin

g

Page 8: Revista Construir Nordeste Ed 73

caro leitor

JULHO 20148 JULHO 2014 9

ObjEtOs ARquItEtônICOs DEvEm DIAlOgAR COm A CIDADE

Nossa matéria de capa mostra uma questão recorrente nas nossas

cidades: as ponderações para um plano urbanístico ideal. O cenário é

Recife, e o foco, o projeto para o Cais José Estelita. Mostramos os vários prismas, e,

numa detalhada apuração da história do Recife, vem a constatação de que a raiz

do que se vê hoje nasceu da falta de planejamento urbano, culminando no des-

ordenamento da cidade. Acreditamos que o saldo desse debate será positivo, as

cidades e seus cidadãos — todos nós — ganharão.

O Caderno Vida Sustentável traz a entrevista com o arquiteto e urbanista César Barros.

Ele diz que os objetos arquitetônicos devem dialogar com a cidade e a intervenção e

gerar um espa¬ço urbano sedutor, priorizando o conforto para o cidadão.

A partir desta edição, você vai conhecer a equipe que faz a Revista Construir Nor-

deste. É o novo espaço A Cara da Construir NE, para apresentar a você, nosso leitor,

essa turma tão dedicada e competente. É uma satisfação enorme promover esse

“encontro”. Sei que você vai gostar.

Por falar em satisfação, preciso destacar o espaço Casa da Criança, que está nas

nossas páginas desde nossa edição de pré-estreia (número zero), contando o que

fez e faz como órgão com reconhecimento Federal, qualificada como Organização

da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), e que defende os direitos das cri-

anças e dos adolescentes em todo o território nacional. Não é maravilhoso?

O tema do Espaço Aberto (página 34) é a segurança e a saúde ocupacional como

elemento intrínseco da sustentabilidade. O artigo apresenta um resumo do

preâmbulo conceitual que tem norteado os estudos e motivado alunos de gradu-

ação e mestrado da UPE. Imperdível!

Aproveite a leitura! Até o próximo número!

Page 9: Revista Construir Nordeste Ed 73

JULHO 2014 JULHO 2014 9

Trevo DrywallPerfeito paratodos osambientes!

Orgulho de ser Brasileiro

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Page 10: Revista Construir Nordeste Ed 73

ExpEDIENTERCN Editores Associados

Diretora | Elaine Lyra

PublIshER | Elaine [email protected]

EDItORA EXECutIvA | Renata [email protected]

EDItOR DE ARtE | Michael [email protected]

REPORtAgEmElane Gomes | Henrique Gonçalves | Inah Moraes | Isabela Morais

Luiz Priori Jr | Pablo Braz | Patrick Selvatti

FOtOgRAFIA Antonio David | Albérico Pontes | Elena BurnFrancisco França

Roberto Guedes | Leo Caldas | Lorena Maniçoba | Mateus Sá | Mariana Chama Marcelo Donadussi | Paulo Trigo | Luiz Priori Jr | Willians Valente

COlunIstAs Elka Porciúncula | Luiz Augusto Pereira de Almeida | Mônica Mercês

Paulo Silva Sobrinho | Renato Leal | Rafael Accioly Terry D. Bennett | Tania Bacelar de Araújo

REvIsÃO DE tEXtOClaudia Oliveira

COnsElhO EDItORIAlÂngelo Just, Adriana Cavendish, Alexana Vilar, Bruno Ferraz, Carlos Valle,

Celeste Leão, Clélio Morais, Daniela Albuquerque, Eduardo Moraes, Elka Porciúncula, Francisco Carlos da Silveira, Gustavo Farache, Inez Luz Gomes, Joaquim Correia,

José Antônio de Lucas Simon, José G. Larocerie, Luiz Otavio Cavalcanti, Luiz Priori Junior, Mário Disnard, Mônica Mercês, Néio Arcanjo, Otto Benar Farias, Renato Leal,

Risale Neves, Rúbia Valéria Sousa, Sandra Miranda, Serapião Bispo

COnsElhO tÉCnICOProfessores:

Alberto Casado, Alexandre Gusmão, Arnaldo Cardim de Carvalho Filho, Béda Barkokébas, Cezar Augusto Cerqueira, Eder Carlos Guedes dos Santos,

Eliana Cristina Monteiro, Emília Kohlman, Fátima Maria Miranda Brayner, Kalinny Patrícia Vaz Lafayette, Simone Rosa da Silva, Stela Fucale Sukar, Yêda Povoas

gEREntE DE OPERAçõEs E mERCADO | Tatiana Feijó [email protected] | +55 81 9284.4883

mARKEtIng | Emelly Linhares [email protected] | +55 81 9958.5761

REPREsEntAntEs PARA PublICIDADE

CEARá ns&A | Aldamir Amaral+55 85 3264.0576 | [email protected]

sÃO PAulO, PARAná, RIO DE jAnEIRO, sAntA CAtARInA E RIO gRAnDE DO sul | Vando Barbosa

+55 11 975798834 | +55 11 [email protected]

André Maia | 21 [email protected]

AdministrAtivo-FinAnceiro | Caetano Pisani [email protected]

AssInAtuRAs E DIstRIbuIçÃO | Tatiana Feijó

[email protected]

nÚClEO On lInE | Pablo [email protected]

Portal Construir nE | www.construirnordeste.com.brFacebook: Construir Nordeste

[email protected]

EnDEREçO E tElEFOnEsRua José Paraíso, 210 2º andar – Boa Viagem

Recife – PE – Cep: 51030-390 | +55 81 3038 1045 / 3038 1046

AgENDA6ª EXPOGESSO – EXPOSIÇÃO E FEIRA INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA DE GESSODATA: 30.07 A 02.08LOCAL: TRINDADE/PE

CONCRETE SHOW SOUTH AMERICADATA: 27 A 29.08.14LOCAL: SÃO PAULO/SPCONCRETESHOW.COM.BR

GREENBUILDING BRASIL – 5ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL E EXPODATA: 26 A 28.08LOCAL: SÃO PAULO/SPEXPOGBCBRASIL.ORG.BR

EXPO ARQUITETURA SUSTENTÁVELDATA: 26 A 28.08.14LOCAL: SÃO PAULO/SPEXPOARQUITETURASUSTENTAVEL.COM.BR

4º FÓRUM DE ENGENHARIA DO RECIFEDATA: 22 E 23.08LOCAL: RECIFE/[email protected]

EXPOELEVADORDATA: 12 E 13.08LOCAL: SÃO PAULO/SPEXPOELEVADOR.COM.BR

CONGRESSO HABITARDATA: 11 A 13.08LOCAL: SÃO PAULO/SPCONGRESSOHABITAR.COM.BR

COMPLAN 2014 – SEMINÁRIO DE COMUNIDADES PLANEJADASDATA: 11 A 13.09LOCAL: SÃO PAULO/SPADIT.COM.BR/COMPLAN

FELOC RENTALDATA: 23 A 24 DE JULHOSÃO PAULO/SPwww.FELOCRENTAL.COM.BR

30

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26

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12

11

23

11

Na matéria do 16º Fórum Construir Nordeste (págs. 32/33), citamos a Embraco como Empresa Brasileira de Compressores. Na verdade, é apenas Embraco, construtora do Rio Grande do Norte. Na reportagem sobre Drywall, na página 32, esclarecemos que consumo do sistema no Brasil em 2004 foi de 13 milhões/m² e, em 2012, de 44 milhões/m² - e não 6mil/m² e 20mil m², respectivamente. Também incluímos a Trevo Drywall como uma das fabricantes no Brasil.

ERRAmOs

Page 11: Revista Construir Nordeste Ed 73

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Page 12: Revista Construir Nordeste Ed 73

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81 3038.1045 | 3074.4220

A CARA DA CoNSTRUIR NoRDESTE

fALE CoNoSCo

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Page 14: Revista Construir Nordeste Ed 73

ADIt InvEstA Revista Construir Nordeste foi até Brasília (DF) conferir a 9ª edição do Adit Invest, evento que reuniu grandes players dos setor imobiliário e turístico. Durante 2 dias, eles tiveram oportunidade de compreender quais são os instrumentos de captação de recursos que o mercado disponibiliza para o financiamento e o desenvolvimento de empreendimentos e identificar possíveis parceiros e investidores. Além da matéria nesta edição (pág. 64), você pode acompanhar a cobertura completa no nosso portal.

nOvIDADECom a ideia de agilizar pesquisas e informações, a partir desta edição, a seção Insumos ganha espaço no portal da RCN e deixa de fazer parte das páginas impressas da Revista Construir Nordeste. No novo ambiente, é possível checar os preços unitários de insumos para construção civil | construirnordeste.com.br/insumos

PROmOçÃO CultuRAlQuem comanda a Vitrine Estilo da Edição 73 é o arquiteto Antonio Caramelo, que recentemente lançou o livro Caramelo - Rompendo Paradigmas Culturais para co-memorar os seus 40 anos de carreira. E, para celebrarmos juntos a data, a Revista Construir Nordeste e a Caramelo Associados fazem uma promoção cultural na Fan Page da RCN. Fique de olho! Você pode ganhar uma edição do livro. A publicação traz 13 projetos do baiano, premiados nacionalmente e internacionalmente. Com 172 páginas, a edição traz fotos, perspectivas, informações e plantas de cada obra.

PIntOR DE PAREDEUma ferramenta que pode ajudar arquitetos e designers de in-teriores. Com o objetivo de ajudar os consumidores a visualiza-rem as cores com mais confiança nos ambientes, a Coral lança o Coral Visualizer. É um aplicativo de realidade aumentada que permite pintar paredes virtualmente e verificar o resultado em tempo real, conforme se movimentam pelo cômodo. Para isso, a ferramenta usa um detector que define bordas, superfícies e alte-rações no contorno, permitindo que usuários selecionem a área de uma imagem que será pintada I coral.com.br/coralvisualizer

POntEA cidade nordestina que estampa a capa da nossa Fan Page no facebook é Teresina. Mesmo não dispondo de praias em sua geografia, a beleza da ca-pital do Piauí é exaltada pelos Rios Par-naíba e Poti, que se abraçam e formam um encontro das águas. Nomeada de Cidade Verde pelo poeta Coelho Neto, Teresina é sombreada por figueiras, oi-tizeiros, mangueiras e acácias. A foto mostra a Ponte Estaiada Mestre João Isidoro França, um dos marcos arquite-tônicos da capital, inaugurada em 2010.

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JULHO 201414

Page 15: Revista Construir Nordeste Ed 73

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Vigas Soldadas VS, CVS e CSPerfis U simples / enrijecidosChapa lambril para portõesChapa expandidaTelha galvalume e pré-pintada, ondulada trapézio 25 e 40Chapas cortadas conforme projeto: oxicorte e plasma de alta definiçãoChapa oxicortada até 250mm de espessura

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JULHO 2014

Page 16: Revista Construir Nordeste Ed 73

palavra

JULHO 201416 JULHO 2014 17

*Luiz Augusto Pereira de Almeida

COntRADIçõEs nAs mEtRóPOlEs

Há uma contradição cotidiana dos brasilei-

ros que habitam São Paulo, Rio de Janeiro

e outras grandes cidades: todos reclamam dos

problemas de trânsito, da mobilidade e das gran-

des filas para tudo, mas poucos estão dispostos a

abdicar do acesso à cultura, ao lazer, ao ensino, à

gastronomia, à assistência médica, a salários mais

elevados e à infraestrutura e facilidades presen-

tes nas metrópoles. Essa relação de amor e ódio é

o sintoma psicossocial do equivocado modelo de

desenvolvimento urbano do País. Este, obviamen-

te, decorre da concentração da atividade econô-

mica, provocada por uma serie de fatores os quais

não cabe aqui analisar. Estabeleceu-se um círculo

vicioso: quanto mais gente, maior a demanda de

tudo o que os indivíduos precisam e apreciam;

quanto mais se atende a essa procura, a cidade

torna-se mais atraente, oferta mais empregos

e atrai número cada vez maior de moradores. A

metrópole se retroalimenta.

Como romper esse paradigma histórico do

desenvolvimento urbano brasileiro? A resposta

é teoricamente simples, mas muito complexa em

termos práticos: realizando-se um processo eficaz

de descentralização. Há bons exemplos de cida-

des bem-sucedidas quanto à qualidade de vida

e oferta de serviços, lazer, cultura, saúde e edu-

cação. Santos, Campinas, Ribeirão Preto, São José

do Rio Preto, Sorocaba, Bauru, Presidente Pruden-

te, Joinville, Blumenau, Niterói, Caxias, Campina

Grande e Londrina, entre outras, são municípios

que, ao longo dos anos, fomentaram sua econo-

mia, criaram oferta adequada de infraestrutura,

tiveram crescimento demográfico e atenuaram o

êxodo de sua população.

Entretanto, num Brasil com 200 milhões de

habitantes, essas cidades médias e grandes são

insuficientes para atender, em volume, aos cres-

centes anseios de estudo, trabalho e inserção cos-

mopolita dos jovens. Assim, as promessas contidas

nos ideários das metrópoles são sedutoras, irresis-

tíveis! Por isso, São Paulo e a maioria das capitais

continuam crescendo desproporcionalmente.

Mudanças eficazes nesse modelo de desen-

volvimento urbano extrapolam a capacidade

dos municípios. É necessário um plano nacional,

com a participação dos governos estaduais, para

a multiplicação de microrregiões de fomento

econômico. A alternativa unilateral de concessão

de incentivos fiscais por parte das prefeituras para

atrair investimentos e empresas, que apresentou

alguns exemplos de sucesso, parece ter atingido

um ponto de saturação, pois todos buscam esse

mesmo caminho.

A última grande Pesquisa de Informações Bási-

cas Municipais (Munic 2009), do IBGE, mostra que

3.134 municípios adotam mecanismos de incen-

tivos à implantação de empreendimentos em seu

território. Também nisso há uma concentração,

pois 59,5% das ofertas referem-se às regiões Sul e

Sudeste e predominam nas cidades com mais de

500 mil habitantes (destas, 92,5% concedem al-

gum tipo de estímulo).

Considerando assim todas essas questões e o

baixo ritmo de negócios que a política fiscal tem

fomentado ultimamente, ponderamos que o me-

lhor incentivo que os municípios podem oferecer

para atrair investimentos não são os de ordem

tributária, mas, sim, de qualidade em sua infraes-

trutura e serviços. Itens como saneamento básico,

segurança, hospitais, portos, aeroportos, logísti-

ca e escolas parecem ser elementos muito mais

importantes para potenciais investidores do que

simples descontos no ISS. Não é por acaso que as

grandes metrópoles e cidades mais desenvolvi-

das, que detêm melhores equipamentos urbanos,

continuem a capturar a maior parte do capital e

os interesses das pessoas.

Uma política nacional de desenvolvimento

urbano, com foco na melhoria e ampliação da in-

fraestrutura dos municípios, poderia potencializar

vocações econômicas regionais e contribuir para

desafogar os grandes centros. Está mais do que na

hora de estendermos além dos grandes centros

urbanos as opções de moradia, trabalho e lazer

para nossa população.

*Luiz Augusto Pereira de Almeida é diretor da Fiabci/Brasil e diretor de Marketing da Sobloco Construtora

Como RomPER EssE PaRadigma históRiCo do dEsEnVoLVimEnto uRBano BRasiLEiRo?

a REsPosta é tEoRiCamEntE simPLEs, mas muito ComPLEXa Em tERmos PRátiCos:

realizando-se um PRoCEsso EfiCaz dE dEsCEntRaLização.

Page 17: Revista Construir Nordeste Ed 73

JULHO 2014 JULHO 2014 17

Page 18: Revista Construir Nordeste Ed 73
Page 19: Revista Construir Nordeste Ed 73

entrevista

Elton de souza

ImPERmEAbIlIzAR É PRECIsOpor Pablo Brazfoto dodô Villar

ENGENHEIRO CIVIL E MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO, ELTON DE SOUZA GÓES é O PRIMEIRO NORDESTINO A ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DO INSTITUTO BRASILEIRO DE IMPERMEABILIZAÇÃO (IBI). EMPENHANDO EM FORTALECER ATIVAMENTE A IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL, ELTON ENFRENTA HÁ MAIS DE 11 ANOS OS DESAFIOS PARA AMPLIAR OS CURSOS DE CAPACITAÇÃO E INTERAGIR COM OS OUTROS ORGANISMOS LIGADOS ÀS ÁREAS DE ENGENHARIA E ARQUITETURA EM TODO O BRASIL. COMO COORDENADOR DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DA BAHIA, GÓES TAMBéM BUSCA AUMENTAR A COOPERAÇÃO DO CORPO ACADÊMICO COM O OBJETIVO DE APERFEIÇOAR PESQUISAS E ELABORAR PRODUTOS CADA VEZ MAIS EFICIENTES. EM BATE PAPO COM O REPÓRTER PABLO BRAZ, ELTON CONVERSOU SOBRE OS AVANÇOS DO SETOR.

Page 20: Revista Construir Nordeste Ed 73

entrevista

JULHO 201420 JULHO 2014 21

Qual a importância da impermeabili-zação para o setor da construção civil? Trata-se de uma atividade muito relevante da engenharia, haja vista que a sua maior incumbência é aumentar a vida útil das edificações, na medida em que protege as estruturas. A vantagem é, sobretudo, o caráter preservacionista, além de que o seu uso prévio reduz consideravelmente os custos de manutenção das construções. A impermeabilização deve ser realizada sempre que houver contato da estrutu-ra com a terra ou a água nos três estados físicos da natureza: líquido, gasoso e sóli-do. Temos como exemplos lajes de play-ground, piscinas, reservatórios e jardineiras, além de outros ambientes.

Como se encontra o panorama atual do mercado da impermeabilização no Brasil? O mercado da engenharia do Brasil em si passa por um momento de ajuste, seja por dificuldades de financiamento, bem como a constatação de que em alguns centros existem um estoque elevado de imóveis prontos. Contudo, é incontestável que, do ponto de vista macro, temos uma deman-da reprimida muito maior do que a oferta, seja em infraestrutura, como portos, aero-portos, rodovias, como em imóveis para to-das as faixas de consumo. Logo, o mercado da engenharia no País e todas as suas ativi-dades têm um futuro promissor, de franca expansão. Particularizando-se o segmento de impermeabilização, considero que te-remos um crescimento ainda maior, pois a nova norma de desempenho NBR 15.575, que entrou em vigor no fim do ano pas-sado, é muito mais exigente quanto à per-formance da estrutura, sendo o seu prazo mínimo de 50 anos. Além da boa qualida-de do concreto e dos serviços executados durante a estrutura, é a impermeabilização que tem um papel fundamental para esse êxito. De sorte, tanto por exigência como por um maior compromisso e melhor formação dos engenheiros, teremos um expressivo crescimento nessa atividade.Toda a cadeia tem dedicado muito mais importância para a atividade de imperme-abilização. Os avanços do Código do Con-sumidor, bem como a maior facilidade de acesso às informações, têm levado a uma

maior consciência de todos. Quanto mais consciente, mais exigente e mais valoriza-da a atividade. Portanto, sejam os empre-endedores, fabricantes, projetistas, especia-listas, as empresas de aplicação, todos em suma estão imbuídos de evitar problemas e passivos pecuniários ou passivos morais com os clientes finais e com a sociedade em si. Tem-se investido muito em avanços tecnológicos nas indústrias e nas obras. A evidente carência de mão de obra impul-siona diversos cursos de capacitação, além de que a nova norma de desempenho força também a um maior controle e, por conseguinte, uma melhor qualidade do produto final.

E quanto ao uso da impermeabiliza-ção para as obras de grande porte, como obras públicas e patrimônios históricos? Algumas obras públicas ainda têm rele-gado impermeabilização ao segundo pla-no, e este é indubitavelmente um papel fundamental do IBI como formador de opinião, além da sua isenção comercial, no sentido de melhor conscientizar nossos gestores públicos. Capitais como São Pau-lo, Rio de Janeiro e Recife estão precisando realizar intervenções com certa frequência para a conservação das obras de arte. Nos-sos patrimônios históricos têm sido vítimas tanto da ausência de intervenção como de intervenções malfeitas que descaracteri-zam o valor cultural do bem. Contudo, nós temos ampliado a utilização de produtos impermeabilizantes nas construções de uma maneira geral.

Como você avalia o custo para se impermeabilizar uma obra? A imper-meabilização é viável do ponto de vista econômico?A impermeabilização é atividade primária na engenharia, de sorte, que, para os profis-sionais e empresas responsáveis, não há de se pensar em ausência de impermeabiliza-ção. Ratifico que a preservação das estrutu-ras com o consequente aumento de vida útil decorre de uma boa impermeabiliza-ção. Descarta-se, assim, a questão opcional. Quanto ao custo, é variável em função da tipologia da edificação e da necessidade e especificidade da impermeabilização, em

geral variando de 1,0 a 3,5% do custo total da construção. Contudo, a ausência desta, além de gerar um risco à construção e des-conforto e insalubridade ao usuário, fará com que após alguns anos se tenha custos elevadíssimos de recuperação da estrutura para devolver integridade à mesma.

Você é o primeiro representante do Nordeste a ocupar a presidência do IBI. Qual a importância dessa repre-sentatividade para a Região e como você tem encarado o seu novo cargo? Como o IBI tem representatividade nacio-nal e todos os seus membros são legiti-mamente constituídos, independente da unidade federativa, podem participar da eleição para a presidência e o conselho qualquer representante dos estados brasi-leiros. Temos certeza que esta eleição é um indutor no sentido de ampliar a participa-ção de todas as regiões no instituto, bem como a capilaridade do mesmo fora do território nacional. É importante ressaltar que a bandeira do IBI é única e em favor das boas práticas da engenharia de imperme-abilização. Nos últimos 6 anos, venho parti-cipando constantemente das atividades do IBI e fui bem recebido, e recebemos bem a todos, independente do estado de origem. É um desafio enorme, pois precisamos fortalecer a nossa atividade, termos uma maior sinergia com outros institutos, órgão públicos, universidades, conselhos regio-nais, além de interiorizar as nossas ações.

Qual é então o papel do IBI dentro do segmento da impermeabilização no País?Tem um papel fundamental, pois o IBI tem se comportado como o fórum legítimo que abriga toda a cadeia do nosso segmen-to: fabricantes, distribuidores, aplicadores, projetistas, especificadores, profissionais autônomos, em face de agregar todos os envolvidos. Indubitavelmente, somos a vanguarda dos avanços do nosso segmen-to.Dentre os principais eventos promovi-dos pelo IBI, destacamos os Simpósios Brasi-leiros de Impermeabilização. Nos simpósios, temos relevantes trabalhos elaborados por profissionais de todo o Brasil, que, além da premiação financeira, prestam um valioso serviço ao segmento indicando tendências

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JULHO 2014 JULHO 2014 21

e soluções, passando a ter merecido desta-que. Existem também feiras técnicas espe-cíficas, como a Tecobi Expo, em que os fabri-cantes divulgam o nosso segmento pelo País a fora. Podemos destacar no Nordeste a exitosa Ficons, que se realiza com amplo sucesso no Recife (PE).

O que tem sido feito quanto à norma-tização do uso da impermeabilização junto à Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas (ABNT) e ao Inmetro? Existem inúmeras normas vinculadas à impermeabilização estabelecendo parâ-metros para a fabricação, execução e sele-ção dos produtos, como a NBR 9574/2009 (Execução de Impermeabilização); a NBR 9575/2010 (Elaboração de Projetos de Impermeabilização); e a NBR 9952/2007 (Mantas Asfálticas com Armadura para Impermeabilização). Destaco que a sede da IBI é também sede das reuniões do Comitê Brasileiro de Isolação Térmica e Im-permeabilização (CB-22) desde 1994. Esse comitê tem papel essencial no setor na medida em que ele o legitima. Ainda que comumente a participação nas reuniões se dê em grupos menores, a sociedade pode participar a qualquer tempo, e toda norma passa por consulta pública nacional como etapa final da sua regulamentação. Por exemplo, recentemente fez-se a norma para o uso de polímeros acrílicos para im-permeabilização dosada em obra. E, sem-pre que for necessário, realiza-se a revisão das normas vigentes.

Quais são os grandes avanços em termos de tecnologia e estudos dos materiais apresentados hoje para o setor da impermeabilização?As questões ambientais têm sido um norte a fim de evoluirmos para produtos ecologi-camente corretos, minorando os impactos desde a sua produção até a sua destinação. Os produtos de base solvente têm sido usa-dos de forma mais restrita e têm-se crescido consideravelmente linhas asfálticas, emul-sões, resinas e aditivos, sempre com a pre-missa de serem menos impactantes.

Os produtos impermeabilizantes, via de regra, são adequados a determinado fim ou inadequados. Portanto, quando se caracterizam vantagens em um sistema

impermeabilizante, pontuam-se os com-portamentos vantajosos deste quando da destinação correta. Exemplo: Os produtos de base asfáltica possuem majoritariamen-te boa flexibilidade, aceitando deforma-ções maiores da estrutura. Quando adicio-namos polímeros, ampliamos este ganho, como o caso do SBS-Estireno-Butadieno--Estireno. A incorporação do mesmo na massa asfáltica gera uma memória elástica, permitindo movimentos de contração e di-latação da estrutura. Contudo, isso acarreta um incremento no custo final do produto. Os produtos de base solvente, dada as necessidades de adequação dos empre-endimentos a redução de impactos am-bientais, têm paulatinamente reduzido a sua presença. É inegável, portanto, que em algumas situações, sobretudo os primers asfálticos que dão celeridade e qualidade, faz-se necessário cuidado na contratação de mão de obra qualificada e na sua fisca-lização. Outro ponto é que os aditivos têm também ampliado bastante o seu uso. Ve-rifica-se que as indústrias desse segmento têm investido maciçamente em pesquisa com adequação contínua das normas nacionais, o que tem gerado ganhos de desempenho e garantia de qualidade aos concretos e retorno econômico às concre-teiras e, por conseguinte, a toda cadeia.

Existe algum tipo de ação ou programa que acompanha a pesquisa, análise e o desenvolvimento de produtos do setor?Esta será uma das metas a serem implanta-das no IBI, pois precisamos, sim, de um pro-grama setorial para o desenvolvimento de pesquisas para novos produtos e sistemas. São inegáveis os esforços que os fabrican-tes do setor têm feito para desenvolver pro-dutos atuais. Contudo, a sinergia envolven-do os demais players facilitará e encurtará o caminho para bons resultados.

Como se pode então promover essa sinergia? É necessário o envolvimento amplo de toda a cadeia, cabendo aí os construto-res e suas representações e sindicatos, os conselhos de engenharia e arquitetura, as universidades, os fabricantes do setor, as empresas de aplicação, a dos produ-tos impermeabilizantes e os projetistas.

Teremos no 14° Simpósio Brasileiro de Im-permeabilização um momento singular para construção e aperfeiçoamento do conhecimento especializado. Precisamos enquanto instituto estimular a todos es-tes grupos para que acompanhem e pro-movam este saber. É necessário estímulo, que é a palavra-chave. O construtor, que é a ponta antes do usuário final, necessita informar quais as dificuldades recorrentes e criar estas demandas. Contudo, se bus-carmos a sinergia, estaremos envolvidos, e todos acabam ganhando.

Existe algum estigma que pre-cisa ser quebrado em torno da impermeabilização?Sim. O principal deles é entender a imper-meabilização como atividade fundamen-tal, com a mesma importância que se dá ao uso do concreto ou aço, deixando de ser uma opção do construtor, e sim uma ação primária. Outra questão a ser abordada é que, dada a sua importância, o engenhei-ro deve valorizar a contratação de profis-sionais habilitados para a elaboração dos projetos, da execução e fiscalização dos serviços, bem como fugir dos tais produ-tos milagrosos, os quais não existem. Todo produto tem sua limitação física, portanto há de se fazer adequação do seu uso.

Existem ainda desafios a serem vencidos na melhoria da pro-dução, aplicação e mercado da impermeabilização? Um dos grandes desafios é aumentar a oferta de mão de obra qualificada do se-tor, porque, com o boom do mercado imo-biliário a partir de 2008, essa deficiência ficou mais latente. Dentre os novos proje-tos, iremos implantar, por meio do IBI, cur-sos de formação e capacitação nos mais diferentes estados do Brasil. Precisamos também fortalecer a conscientização da importância da impermeabilização, para que os construtores e empreendedores passem a adotar projetos de impermeabi-lização e contratem empresas realmente qualificadas. Entendo ser necessária uma maior cooperação com as instituições de ensino superior nas áreas de arquitetura e engenharia para termos profissionais com mais conhecimento especializado.

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nOvA mARCAHá de mais 20 anos atuando na construção civil brasileira, a Tecomat lança a sua nova marca e passa a se chamar Tecomat Engenharia, para marcar o seu crescimento e a ampliação dos seus serviços. A marca vem acompanhada de um novo slogan: Saber e Saber Fazer, que resume a cultura corporativa da empresa, a qual presta serviços de engenharia voltados para consultoria técnica e controle tecnológico de materiais da construção civil, com atuação no Brasil e no exterior, em países como Angola, México, Colômbia e Venezuela. Um dos nichos de mercado em que a empresa tem investido é o de análise de desempenho dos imóveis, devido às novas diretrizes trazidas pela NBR 15575, tendo inclusive inaugurado recentemente um laboratório de esquadrias.

suPERAçÃO E EmPREEnDEDORIsmOA história de sucesso de Delino Souza, que saiu da cidade de Jericó, na Paraíba, tentou a vida em São Paulo e fundou no Recife a Tintas Iquine, pode ser vista agora no livro Delino Souza: A trajetória do nordestino que criou a maior indústria de tintas 100% brasileira. A publicação é de autoria do jornalista Jaques Cerqueira. Segundo o autor, quem começou a escrever a biografia foi o jornalista Mário Melo, mas depois ele retomou a ideia a convite de Luiz Montenegro, da MMS Comunicação. Bastante lisonjeado com o resultado, Delino afirma: “Para ser um grande empreendedor, você tem que acreditar, trabalhar e não desistir. Precisa saber pisar nas pedras que aparecerem no meio do caminho e aproveitar as oportunidades que surgirem”.

PARA FICAR AtEntOO Mobilize Brasil, movimento em prol da mobilidade urbana sustentável, deu início a campanha Sinalize, que busca sensibilizar a população e o Governo para a necessidade urgente de melhorar a sinalização das vias no País. “Pedestres e ciclistas são orientados apenas nas áreas de conflito com o tráfego de carros. Não há tótens com mapas que indiquem os principais pontos de referência para serem alcançados a pé ou de bike”, explica Marcos de Sousa, editor do Portal Mobilize Brasil. A principal ação da campanha é a realização de levantamento sobre a qualidade da sinalização urbana nas cidades, através de uma ferramenta disponível no portal de avaliação baseada em leis, manuais e práticas de sinalização de vias no Brasil e no mundo.

mAIs umA Portobello Shop, maior rede franqueada de revestimentos cerâmicos, recebeu da Associação Brasileira de Franchising (ABF), pelo nono ano consecutivo, o Selo de Excelência em Franchising (SEF), na categoria Master — destinada a marcas com mais de 10 anos e mais de 60 franqueados. O SEF é concedido para as franqueadoras que obtêm um bom desempenho no relacionamento com a rede, sob o ponto de vista do franqueado. A conquista é resultado de uma pesquisa aplicada por uma consultoria isenta na base de franqueados das marcas e mede o nível de satisfação deles com a franqueadora. Para 2014, a Portobello Shop tem programada a abertura de 23 novas lojas em diversos Estados, que contribuirão para um crescimento acima da média, atingindo marca histórica de número de franquias.

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REgIOnAlIzAnDOCom mais de 90 franqueados e há 2 anos no Brasil, a Jan-Pro, rede americana especializada em limpeza comercial e única franquia de serviço de limpeza a receber o Selo de Excelência 2014, da Associação Brasileira de Franchising (ABF), inaugura seu escritório regional no Recife, em Pernambuco, que será o décimo no País. “Estamos expandindo rapidamente no Nordeste e sentimos a necessidade de outro ponto de apoio na Região, além do nosso escritório regional de Salvador, em operação há mais de 1 ano”, explica Renato Ticoulat Neto, diretor nacional de novos negócios da rede.

75 AnOsA Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) comemorou seus 75 anos de atividade, em uma cerimônia na Casa da Indústria, em Pernambuco. “Somos hoje o resultado de empresários que já tinham a nítida visão de que o pensamento coletivo deveria prevalecer, mudando o perfil produtivo do nosso Estado e do nosso País”, disse Jorge Côrte Real, presidente da Fiepe. No evento, o empresário Hugo Gonçalves de Souza, diretor da Tambaú Indústria Alimentícia, foi agraciado com a Medalha do Mérito Industrial. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, também foi congratulado com a honraria, mas foi representado no evento pelo chanceler da Ordem do Mérito Indústria da CNI, Paulo Afonso Ferreira.

DEsEnhO uRbAnOProfissionais e alunos do mestrado em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da escola de arquitetura Architectural Association School of Architecture (AA), em Londres, na Inglaterra, se encontraram durante o IV Workshop Internacional de Desenho Urbano, que aconteceu no Recife, em Pernambuco. Na pauta, o estudo de soluções de mobilidade e habitação social para a avenida Norte Miguel Arraes, localizada na Região Metropolitana do Recife. Muitos dos arquitetos presentes já tinham participado de projetos de mobilidade que deram certo em cidades do Brasil e de outros países, como o argentino Jorge Mario Jauregui, referência mundial em urbanização de periferias, que mostrou o trabalho desenvolvido para várias favelas-bairros do Rio de Janeiro, como o Vidigal e a Rocinha.

tOP sOCIAmbIEntAlA Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil em Pernambuco (ADVB-PE) realizou a 7ª edição do Top Socioambiental e de RH de 2014, que premiou 13 projetos entre 29 inscritos nas categorias Meio Ambiente, Sociocultural e Recursos Humanos. Entre os vencedores, estão Camará Shopping Center, Castro Projetos e Consultoria, Condomínio Shopping Center Difusora, Consórcio Ipojuca Interligações, Galvão Engenharia e Suape – Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros. Autoridades, personalidades e líderes empresariais marcaram presença no evento, que aconteceu no JCPM Trade Center, no Recife.

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EngEnhARIA DO FutuRO: PAssAnDO O bAstÃO PARA A gERAçÃO Y

Um dos maiores desafios enfrentados pela civilização moderna é a acelerada urbani-

zação do Planeta.Dentro de 35 anos, a população mundial deve

passar dos nove bilhões de pessoas. A infraestru-

tura existente não é capaz de lidar com o rápido

crescimento das cidades nem mesmo atender às

necessidades de forma sustentável e resiliente.

Para responder a esse desafio, a criação de uma

nova infraestrutura deve ser definida, levando-se

em conta um ciclo de vida de longo prazo e a si-

nergia com a urbanização já existente. Essa sincro-

nia vai nos ajudar a criar cidades sustentáveis nos

próximos anos. Mas quem vai fazer isso e como?

A resposta está na geração Y, ou seja, jovens

nascidos entre o final da década de 1980 e me-

ados dos anos 1990. São pessoas que cresceram

acostumadas com uma realidade virtual e com

ambientes em 3D. Essa geração, imersa em apli-

cativos móveis e cloud computing, é sem dúvida a

mais conectada que já vimos.

Para entender como essa nova geração vai

mudar a forma de projetar, precisamos pensar

primeiro sobre como eles irão usar sua influência

social e abordagem baseada em nuvem para pro-

jetos e engenharia.

Os membros dessa geração são diferentes;

eles assimilam tudo e simultaneamente organi-

zam a vida de forma diferente, olhando para uma

perspectiva de grupo. Sendo a primeira verda-

deira geração conectada globalmente, eles têm

amigos e colegas em todo o mundo e podem dis-

cutir e colaborar em tempo real sobre problemas

comuns em suas cidades.

Essa colaboração requer as seguintes caracte-

rísticas: desenvoltura em mídias sociais, confiança

e respeito mútuos, indefinição de papéis entre as

funções de planejamento, projeto e construção -

todos trabalham juntos —; compartilhamento de

riscos e recompensas — e sobretudo de informa-

ções —; capacidade para executar várias tarefas

ao mesmo tempo.

É fácil notar a diferença entre esse novo

modelo e a engenharia tradicional, com seus

fluxos de trabalho segmentados e responsabi-

lidades definidas.

O principal desafio seria evitar que esta nova

geração trabalhe em engenharia forçada a usar

velhos processos, ferramentas e abordagens ou

que busque outras profissões para estender a sua

criatividade, o que seria uma perda para o futuro

da engenharia e construção.

Os projetos de infraestrutura do futuro são

desafiadores e complexos e ultrapassarão os limi-

tes do design e da construção. Esta nova geração

acredita que o design não linear é normal e sua

complexidade é esperada, uma vez que adoram

desafios. Esses jovens acreditam que tudo deve

ser modelado em 3D inteligente, que lhes permi-

te se analisar tempo e custo em 4D e 5D e, final-

mente, validar o projeto em 6D no que se refere

ao impacto na sustentabilidade, já que são uma

geração que se autodescreve como verde.

Para esta nova geração, design e construção de-

vem ser nada menos que um esporte de equipe,

baseado em nuvem com capacidade móvel e so-

cial para interagir, se necessário, com quem, onde e

quando for necessário. Para eles, Building Informa-

tion Modeling (BIM) é a única maneira de projetar

o nosso futuro, resultando em melhores decisões

e em melhores resultados de esforço colaborativo.

Durante suas vidas, eles irão projetar e viver

em uma cidade neutra de carbono, substituir

seus carros por elétricos ou híbridos ou simples-

mente optar por não utilizar carros, ter um núme-

ro único para comunicação, viver onde quiserem

e trabalhar em outra localidade se desejarem, o

que pode ser feito virtualmente.

Esta próxima geração de designers irá adotar

essas novas atitudes, perspectivas e ferramentas

para transformar os processos de infraestrutura,

planejamento, projeto e construção e estabelecer

as bases para a mudança que os capacite a enfren-

tar os desafios da urbanização desenfreada. Sua vi-

são para o futuro é que infraestrutura sustentável

e cidades inteligentes são a mesma coisa.

terry D. bennett*

* Terry D. Bennett, LS LPF MRICS LEED® AP, é gerente sênior de indústria, engenharia civil e construção da Autodesk. Ele tem feito parcerias com empresas e cidades para resolver desafios urbanos durante os últimos 30 anos

os PRojEtos dE infRaEstRutuRa do futuRo são dEsafiadoREs E ComPLEXos E

uLtRaPassaRão os Limi tEs do desigN E

da ConstRução.

CONTEÚDO DIGITAL

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02 PuRA DElICADEzAApós uma viagem a Buenos Aires, onde percebeu que designers faziam o papel de criadores, produtores e comerciantes, Nicole Tomazi deixou de lado a carreira de arquiteta e conseguiu concretizar um sonho: a autoprodução, com um trabalho mais artesanal e social. Considerada um talento no atual cenário nacional de designers, Nicole traz novos ares ao mercado moveleiro — e tudo em parceria com um grupo de mulheres da periferia de Porto Alegre. nicoletomazi.com I 51 3019.2039.

01 bRAsIlIDADE Inspirado nos traços e na postura do tamanduá bandeira — símbolo brasileiro, — o banco desenhado por Sergio Fahrer acentua os ângulos presentes no animal. A técnica de curvar a madeira está presente no objeto, que utiliza o mesmo molde para inverter os sentidos e estruturar a peça. Da nova coleção da Brentowood | brentwood.com.br I 11 3646.4400.

Como surgiu a proposta de trabalhar com pessoas em vulnerabilidade?Foi da vontade de trabalhar com resíduos. Muitos artesãos não se interessam por essa matéria-prima. Eu chamo de produção social e não costumo falar em sustentabilidade, pois no fundo somos insustentáveis. Mas a ideia é tentar reduzir o impacto no planeta e também diminuir o abismo social. Eu faço somente os protótipos para viabilizar as técnicas. É um trabalho de formiguinha, mas bem gratificante.

E suas inspirações?!São as minhas curiosidades, vêm da minha vida, do meu cotidiano. Eu não tenho um único tema de inspiração, é o cotidiano.

A poltrona Balacobaco possui a possibilidade de variação das cores para o assento de crochê, em estrutura de aço inox desmontável, dando mais dinamismo e acessibilidade.

A Cadeira Vó Judith exemplifica bem o trabalho voltado para o desenvolvimento social e a diminuição de resíduos. O revestimento é feito à mão, na técnica do crochê, com resíduos da indústria têxtil.

À PRIMEIRA VISTA

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04 bOlA DEntROO livro Arenas do Brasil – Arquiteturas e Engenharias nos Estádios Brasileiros para a Copa de 2014 reúne todas as informações da modernização e construção dos 12 estádios para o Mundial de 2014, desde a concepção dos projetos. São 292 páginas de textos, memoriais, descritivos e imagens além de entrevistas com os responsáveis pelas obras e uma seção dedicada à história dos equipamentos esportivos. A publicação é da editora Mandarim | mandarim.com.br I 11 3362.2585

06 É um luXO sóDesenhado pelo arquiteto Décio de Lima Beck, a ideia para o cobogó Luna veio de uma pesquisa dos efeitos gerados quando acontece a superposição da forma côncava e convexa do mesmo objetivo. Devido a essa aplicação de formas, é possível fazer diferentes paginações dos elementos vazios. Na foto, ambiente assinado por Léo Shetman para a Casa Cor/SP. Da Solarim para a Refinare. Além de elegante e funcional, possibilita um melhor aproveitamento da luz e da ventilação. refinare.com.br I 81 3031.6763 | 3033.1875.

03 IlumInAçÃO DIFusAEm busca de uma expressão autônoma e formas orgânicas inspiradas na natureza, a Krisalide Redondo é uma luminária realizada em madeira maple europeu, e sua sobreposição produz sombras e transparências, conferindo um efeito autêntico e singular. A peça, da La Lampe, foi desenvolvida pelos designers Andrea Cerretelli e Fabiana de Andrade | lalampe.com.br I 11 3069.3949

05 ECOnOmIA E EstIlOA Lorenzetti inova ao trazer as duchas LorenAir, que possuem sistema de funcionamento semelhante ao arejador, utilizado em torneiras e misturadores para uniformizar o jato de água e contribuir para a redução do consumo. Um exemplo dessa linha é a Ducha LorenAir de teto 5011 C16, que tem design moderno e crivo articulável, proporcionando maior flexibilidade e direcionamento do jato e bico de borracha. O modelo é indicado para locais como casas térreas, sobrados e apartamentos de coberturas que possuem pouca pressão de água.

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VITRINE EsTIlo

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01 PIOnEIRIsmOO mixed-use Salvador Prime tem a sua fachada revestida em alumínio composto, o que lhe rendeu em 2011 o título de Maior Fachada em Alumínio Composto da América Latina. A integração de serviços, lazer, moradia e trabalho em um mesmo local se complementa e minimiza as dificuldades de mobilidade.

04 AutOmAçÃOO edifício Mansão Luciano Barreto Júnior tem como diferencial a automação predial, que integra sistemas de segurança, entretenimento, iluminação e climatização, controlados via celular e pocket PC. Foram implantados sensores de movimento, inundação, gás e botão de emergência.

03 sustEntAbIlIDADEA sede da Caramelo foi construída de acordo com quesitos sustentáveis. Entre os recursos apresentados, destaca-se a estrutura metálica no sistema steel-deck, uma pele de vidro autolimpante, iluminação em LED, instalação de placas voltaicas para captação de energia solar, material cerâmico reciclável, piso elevado, captação e reutilização de água pluvial.

02 tECnOlOgIACom tratamento estético singular, a tecnologia é uma forte característica do Orizon View Houses. O empreendimento conta com sensores de presença, e os apartamentos possuem sistema de automação instalado, iluminação antimofo e germicida, além de sistema antiembaçante nos banheiros e infraestrutura para sistema de aspiração central de pó e ácaros.

InOvAçÃO quE nÃO PARA

“Não sei se projeto quando respiro ou se respiro quando projeto.” é esse o sentimento de Antonio Caramelo quando as ideias tomam forma e saem do papel para o concreto. Nascido na Bahia, o arquiteto busca em suas criações aliar beleza e criatividade, através de um portfólio variado, que vai desde escritórios corporativos e residências até propostas de urbanização integrada de bairros, hotéis e restaurantes. Dono de um olhar crítico e inovador, o baiano já foi indicado como um dos 100 arquitetos do ano pelo Korean Institute of Architects, tendo lançado recentemente o livro A Caramelo - Rompendo Paradigmas Culturais para comemorar seus 40 anos de carreira. Aqui, você pode conferir quatro projetos do estilo Caramelo de ser.

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o Programa de Pós-graduação em engenharia Civil da Escola Politécnica da universidade de Pernambuco (uPE), através do

grupo de pesquisa desenvolvimento seguro e sustentável, vem estudando estratégias e ações que possam incorporar os

conceitos de segurança e saúde do Trabalho no cenário da sustentabilidade das construções. alguns estudos internacionais,

realizados nos últimos anos nos eua, têm analisado os impactos negativos e positivos que as edificações consideradas verdes

podem ter na segurança e saúde do trabalhador na construção. Este artigo apresenta um resumo que tem norteado pesquisas

e motivado alunos de graduação e mestrado da uPE a se dedicarem ao tema. uma apresentação detalhada do assunto está

disponível no livro segurança do Trabalho no Contexto da Construção sustentável: Uma Visão geral, de Kohlman Rabbani, jalali,

arezes, Barkokébas junior e Rabbani (2013).

PALAVRAS-CHAVEConstrução Civil; Segurança e Saúde do Trabalho; Sustentabilidade nas Construções; Sustentabilidade Social.

sEguRAnçA E sAÚDE OCuPACIOnAl COmO ElEmEntOs IntRÍnsECOs DA sustEntAbIlIDADE

*Soheil Rahnemay RabbaniProfessor Titular Aposentado, Universidade Federal da Paraíba, Brasile-mail: [email protected]

*Frederico José Barros SantosMestrando, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brasile-mail: [email protected]

*Emilia Rahnemay Kohman RabbaniProfessora Associada, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brasile-mail: [email protected]

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espaço aberto

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INTROduçãO

Nos últimos anos, a ideia da sustentabilidade vem se populari-zando como algo que é imprescindível para preservação da vida no planeta. De acordo com o conceito de sustentabilidade pro-posto pelo relatório Bruntland (WCED, 1987), o desenvolvimento sustentável é aquele através do qual as necessidades do presente são satisfeitas sem, no entanto, comprometer as capacidades das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades.

Independente da área onde o termo sustentabilidade tem sido utilizado observa-se que as três dimensões básicas do de-senvolvimento sustentável são constantemente abordadas: eco-nômica, dirigida a capacidade de geração de renda para a popu-lação; sociocultural, relacionada com a preservação da cultura e da qualidade de vida, de acordo com as especificidades de cada região; e ambiental, relacionada com a utilização racional dos re-cursos naturais, a partir de uma visão holística da capacidade de regeneração dos ecossistemas.

No entanto, na prática, as ações consideradas sustentáveis tem dado uma ênfase maior à dimensão ambiental da sustentabilida-de, necessitando incorporar de forma mais enfática aos aspectos sociais, os relacionados à segurança e saúde do trabalhador prin-cipalmente no setor da Construção Civil.

MOTIVAçãO

Os investimentos e crescimento do setor da construção civil no Brasil têm sido destacados no mundo como fatores importantes para o crescimento econômico nacional tornando-o cada vez mais evidente no contexto econômico mundial, que vem sofrendo, na grande maioria, os efeitos da crise econômica dos últimos anos.

O setor tem tido crescimento recorde, refletidos no aumento do PIB da construção e expansão do mercado imobiliário, impul-sionados pela contratação resultante do Programa “Minha Casa Minha Vida” e investimentos em infraestrutura do Governo Fede-ral (BRASIL, 2012). Estes investimentos vêm ao encontro de uma necessidade antiga da população brasileira, muito embora, este rápido crescimento tenha sido acompanhado por um relativo au-mento no número de acidentes de trabalho no setor da constru-ção, que já eram elevados quando comparados com vários outros países desenvolvidos e em desenvolvimento (KOHLMAN RABBA-NI, et al., 2013). O tema deste artigo foi motivado pelo desejo de entender a relevância de se investir na segurança do trabalhador neste importante setor econômico e visualizar novas oportuni-dades disponíveis que contribuam para consolidar a cultura de segurança na construção, apoiando-se no tema que vem sendo objeto de interesse de muitos investidores e pesquisadores na atualidade - a sustentabilidade na construção.

dESENVOLVIMENTO SuSTENTáVEL

A concepção de desenvolvimento sustentável atualmente adotada começa a se formar e difundir junto com o questio-namento do estilo de desenvolvimento adotado, quando se

constata que este estilo de desenvolvimento é ecologicamente predatório na utilização dos recursos naturais, socialmente per-verso com geração de pobreza e extrema desigualdade social, politicamente injusto pela concentração e abuso de poder, cul-turalmente alienado em relação aos seus próprios valores e eti-camente censurável no respeito aos direitos humanos e aos das demais espécies (CATALISA, 2010).

Segundo Gonçalves Filho (2010) “um sistema de produção, qualquer que seja ele, não é sustentável nas dimensões social, econômica e ambiental quando o ambiente onde os trabalha-dores exercem suas atividades não é seguro e saudável, cause mortes, mutilações e doenças da força de trabalho. Não é susten-tável socialmente, porque atinge a vida da família do trabalhador vitimado, pela sua morte ou pela sua mutilação. Não é sustentá-vel economicamente, pois impacta principalmente a Previdência Social [o que atinge a sociedade como um todo], que tem que arcar com os custos dos benefícios para os acidentados ou para sua família em caso de morte”.

Ainda com base no conceito do desenvolvimento sustentável Fernandez-Sánchez e Rodríguez-López (2010) apresentam um esquema resumo com a estrutura geral da sustentabilidade que incorpora seus principais elementos e está reproduzida na Figura 1 e onde fica evidente a necessidade da inclusão da segurança do trabalhador na dimensão social da sustentabilidade.

Segurança e Saúde do Trabalho como parte da Dimensão So-cial da Sustentabilidade

Apesar do tema da SST ser transversal as principais dimensões da sustentabilidade pode-se verificar sua ligação direta a dimen-são social, que tem sido muitas vezes preterida pelas questões ambientais relacionadas ao tema.

O conceito social de sustentabilidade tem evoluído com o tempo e tem se baseado muitas vezes na ética profissional e na responsabilidade corporativa. A Sustentabilidade Social se refere a um conjunto de ações que visam melhorar a qualidade de vida da população. Estas ações devem diminuir as desigualdades so-ciais, ampliar os direitos e garantir acesso aos serviços (educação e saúde principalmente) que visam possibilitar as pessoas aces-so pleno à cidadania. Entretanto, é frágil estabelecer que uma construção será socialmente sustentável, analisando-se apenas a questão dos moradores nas circunvizinhanças da obra. De forma alguma pode-se esquecer os trabalhadores que frequentam o ambiente construtivo durante toda a vida útil da construção. (Ko-hlman Rabbani et al., 2013)

O processo iniciado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, (que ficou conhecida por Rio 92), onde se aprovaram uma série de documentos importan-tes, dentre os quais a Agenda 21, recentemente revista na con-ferência Rio +20 (como foi conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento sustentável realizada no Rio em junho de 2012), reforça que antes de se reduzir a questão am-biental a argumentos técnicos, deve-se consolidar alianças entre os diversos grupos sociais responsáveis pela catalisação das

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transformações necessárias para atingir um desenvolvimento sustentável que consiga reduzir a pobreza, avançar a igualda-de social e garantir a proteção ambiental.

Neste contexto, a pergunta que se faz é se as construções consideradas sustentáveis são também mais seguras para seus trabalhadores, contemplando assim a dimensão social da sustentabilidade?

Estudo recente realizado nos EUA (DEWLANEY et al., 2012), a partir de entrevistas, contatou que edifícios certificados LEED apresentavam uma taxa de lesões graves maior do que edifícios tradicionais não certificados no sistema LEED. Mos-trando que há aspectos distintos relacionados a elementos do projeto, materiais e métodos de construção utilizados para obter a certificação LEED, que têm impactos negativos sobre a segurança do trabalhador. Os resultados indicam que elementos do projeto implantados para atingir 12 dos 49 créditos LEED aumentaram a frequência de lesões ou exposição a riscos de acidentes. Os autores afirmam que os impactos mais significativos evidenciados foram o aumento de 36% em lacerações, distensões e entorses na atividade de reciclagem de materiais de construção, um aumento de 24% em queda de menor nível durante o trabalho por causa da instalação no telhado de painéis fotovoltaicos de energias

renováveis; um aumento de 19% na fadiga ocular na instala-ção de membranas reflexivas no telhado, e um aumento de 14% na exposição a substâncias nocivas ao instalar tecnolo-gias inovadoras de águas residuais.

Resultados do estudo de Fortunato III, et al. (2012) corro-boram os dados acima mostrando que: trabalhadores de uma amostra de construções LEED analisada nos EUA estavam ex-postos a trabalho em altura, com corrente elétrica, próximos a solos instáveis e perto de equipamentos pesados por pe-ríodos de tempo maiores que os de projetos tradicionais; e que os trabalhadores estavam expostos a novas atividades de alto risco como construção de telhados verdes, instalação de átrios e de painéis fotovoltaicos (ver fotos 1 e 2).

Percebe-se pelos estudos internacionais que alguns cre-ditos obtidos por construções consideradas sustentáveis podem afetar negativamente a SST na construção, sugere-se que sejam analisados os reais riscos associados aos elemen-tos e/ou às práticas de construção consideradas sustentáveis aqui no Brasil e que sejam incorporados aos sistemas de certificação (e.g. LEED e AQUA) indicadores próprios de SST ou aliados aos indicadores ambientais já existentes para ga-rantir que construções consideradas sustentáveis sejam tam-bém mais seguras para o trabalhador do setor.

Fachada do Centro de Recreação da Universidade, que obteve certificado LEED para novas construções.

Processo construtivo da Universidade do Colorado (EUA), que buscava atender os resquisitos de sustentabilidade.

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espaço aberto

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JULHO 2014

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de trabalhabilidade — em que a relação

água-cimento (a/c) foi mantida entre as

substituições do mesmo traço. O traço

apresentado possui uma relação a/c de

0,6 e foi submetido a três substituições

de agregado graúdo; o de referência (0%),

50% e 100% de substituição de agregado

graúdo natural por reciclado. Foram ana-

lisadas as características dos concretos

produzidos em seu estado fresco (traba-

lhabilidade) e endurecido (resistência à

compressão axial e resistência à tração

por compressão diametral). De posse dos

resultados finais adquiridos, verificou-se

crescimento das resistências, em todas

as famílias, desde 3 até 120 dias de ida-

de (Tabela 1). Não foi verificada influên-

cia significativa entre as substituições do

agregado, indicando a eficiência desse

reciclado para um uso semelhante ao

convencional. Os valores de resistência

à tração por compressão diametral em

relação aos valores de resistência à com-

pressão simples atingiram uma média

de 10%, conforme esperado. Assim, foi

possível relacionar as propriedades do

concreto e a influência da substituição,

mantendo um reduzido número de vari-

áveis de dosagem.

REsÍDuOs DE COnstRuçÃO CIvIl COmO AgREgADO gRAÚDO RECIClADO PARA PRODuçÃO DE COnCREtO Nathalie Lundgren de Queiroga Cavalcanti* e Stela Fucale Sukar *

O grande volume de Resíduos de

Construção Civil (RCC) gerado pe-

las atividades construtivas no Recife-PE

tem provocado preocupação ambiental,

social e econômica, devido a exploração

de recursos naturais, descartes clandesti-

nos, proliferação de vetores de doenças e

pelo gasto com transporte e deposição

dos mesmos em aterros legalizados. Da-

dos precisos sobre geração e destinação

adequada ainda são temas de pesquisas

em desenvolvimento, e, em conjunto, a

valorização da reciclagem surge também

como uma potencial saída para amenizar

a ação nociva dos resíduos no ambiente

urbano, gerando ainda novos produtos

comercializáveis. A fim de identificar al-

ternativas para o uso de resíduos da cons-

trução, foi desenvolvida uma pesquisa ex-

perimental de mestrado com o objetivo

principal de apresentar os resultados de

uma investigação laboratorial em concre-

tos confeccionados a partir de agregado

graúdo reciclado de RCC. Foi verificada

a influência do uso desse material no

comportamento físico e mecânico do

concreto. Para tanto, foi realizada coleta

de resíduos em uma usina de beneficia-

mento de RCC, localizada no munícipio

de Camaragibe-PE, utilizando-se especifi-

camente a parcela cinza de brita 19 mm,

com predominância de concreto. Ensaios

de caracterização foram realizados nos

agregados natural e reciclado, dentre

eles: análise de composição gravimétrica,

granulometria, massa específica e unitá-

ria, teor de material pulverulento, teor de

absorção e abrasão, buscando-se conhecer

e comparar as propriedades físicas desses

materiais. Os resultados sobre o agregado

graúdo reciclado demostraram um teor de

material pulverulento de 0,62%, pratica-

mente o dobro do natural, que apresen-

tou um teor de 0,36%. Trata-se, contudo,

de um valor satisfatório, pois está dentro

dos limites estabelecidos pela NBR 7211

(2005). Comportamento semelhante

também foi observado nos ensaios de

absorção de água e abrasão Los Angeles,

em que os valores atingidos pelo agre-

gado graúdo reciclado foram superiores

ao natural, porém todos respeitando os

limites das respectivas normas. Para a

produção dos concretos (convencional e

reciclado), inicialmente fixou-se o teor de

argamassa (α) em 0,5, e a relação água-

-materiais secos (A%), no valor de 10%

— para estimar-se um valor semelhante

*Profª. Stela Fucale Sukar Engenharia Civil, Mestre e Doutora em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco

* Nathalie Lundgren de Queiroga CavalcantiArquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura de Pernambuco, Mestranda em Engenharia Civil na Universidade de Pernambuco

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espaço pec

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arquitetura

JULHO 201440

fotos: antonio david, albérico Pontes, francisco frança e Roberto guedespor Elane gomes

AtRAInDO nOvOs OlhAREsAssumindo a sua herança geográfica e cultural, o projeto do Centro de Convenções da Paraíba foi pensado para estimular o turismo, receber grandes eventos e movimentar a economia

Situado às margens da Rodovia Mi-nistro Abelardo Jurema, no litoral sul

do Estado, o Centro de Convenções Po-eta Ronaldo Cunha Lima, em João Pes-soa, é um mix de arquitetura moderna e natureza. O projeto arquitetônico, ur-banístico e paisagístico elaborados e os complementares básicos coordenados pela arquiteta mineira Isabel Caminha, mantêm o meio ambiente como pano de fundo, tirando proveito das belezas naturais da capital paraibana.

O Complexo Arquitetônico, que tem área total construída de 48.676 m², com-preende prédios com formas contem-porâneas e curvas arrojadas. Os espa-ços são divididos entre o centro de congressos, salão para feiras e expo-sições, teatro, heliponto, restaurante panorâmico, mirante, estacionamen-tos, e as passarelas e um relógio de sol — mais uma ideia que revela a sua localização, já que a capital é o ponto mais oriental das Américas.

Antes mesmo de mergulhar nos de-senhos do Centro de Convenções, Isa-bel Caminha conta que foi fornecido, pelo Governo do Estado, um programa das necessidades básicas do projeto, no qual constava o que deveria ser re-alizado na construção, sempre respei-tando os aspectos regionais. “Fizemos um estudo minucioso. Além da expe-riência de nossa equipe, pesquisamos bastante sobre o tema — inclusive, ten-do como referência projetos nacionais

Com um terreno de 34,2 hectares, o Complexo Arquitetônico possui 48.676 m2.

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e internacionais.” Ela acrescenta que, quando se lançou a obra, o primeiro passo foi ir até a Paraíba conhecer o Estado, para extrair a essência da cul-tura, do povo, da terra — e a visita deu certo! “Foi amor à primeira vista. Fiquei apaixonada pela cidade e pelos parai-banos. No dia em que fui conhecer o terreno, vislumbrei um mirante, como se ali já existisse, no prolongamento do eixo da avenida que leva ao mar”, comenta a arquiteta.

Na concepção do projeto, um gran-de desafio foi a preservação e incorpo-ração do corredor ecológico. “A nossa proposta foi que essa extensão fosse transferida para o fundo do empreen-dimento, de forma a não ser interrom-pida pelos acessos ao Centro de Con-venções e abraçasse, em forma de um C, as construções com uma barreira de árvores com 100 m de largura. Nossa intenção foi relocar o espaço para que os animais que por ali transitassem ficassem protegidos, longe do asfal-to. O corredor interliga dois parques ecológicos: Rios Aratu e Jacarapé”, diz Caminha, ressaltando que atendeu aos critérios presentes no Relatório Am-biental Preliminar, que faz referência ao tipo de impacto que o empreendimen-to trará para a fauna e flora.

Bastou uma olhada rápida no privi-legiado cenário, entre mata nativa e o mar, para Isabel traçar a torre do miran-te e o restaurante. Sim, ainda no local. “O bloco da Torre do Mirante criei em con-traste com a forma arredondada dos demais blocos, um volume na forma de um triângulo equilátero para abrigar o restaurante, e a torre em forma de pirâ-mide invertida. Para dar leveza ao vo-lume do restaurante, a sete metros de altura do piso, criei seis vigas em curva por baixo e seis por cima das lajes como se fossem dedos, partindo dos vértices do triângulo, em conjunto com nosso calculista Newton Brant”.

A mobilidade dentro e fora do com-plexo arquitetônico também foi um tópico importante no planejamento. Na planta, consta um corredor para pe-destres com acesso direto para a Ro-dovia, facilitando a ida para as paradas

de ônibus. Os estacionamentos contam com vagas para 2.020 carros (incluindo as de portadores de necessidades espe-ciais), 22 ônibus, 47 motos, 5 caminhões, além de pontos para táxi. Os blocos do Congresso, da Feira e do Teatro pos-suem área de carga e descarga, para facilitar o processo de distribuição de mercadorias durante os eventos.

Isabel Caminha explica que o terre-no de 34,2 hectares foi moldado para ajudar nos acessos, com entradas, re-tornos e rotas alternativas. Com ocu-pação inteligente, o empreendimento está situado no Polo Turístico Cabo Branco. Ou seja, oferece o zoneamen-to para inserir a infrestrutura de ho-telaria e comércio necessárias para o desenvolvimento da região.

ESpAçoS Em DETALhES

Cada ambiente do Complexo Arquitetônico foi planejado minu-ciosamente, buscando valorizar as

características naturais do local, como o vento e a iluminação. No Centro de Congressos, por exemplo, a estrutura recebeu pilares e vigas e foi modula-da e lançada em 15 pórticos externos com modulação de 12 m. O espaço também recebeu um arco inspirado no casco de uma tartaruga. João Pessoa é conhecida por proteger o período de desova de tartarugas marinhas.

O Centro de Congressos é extenso e possui três pavimentos. O primeiro tem uma área de 11.087,98 m², com foyer; ball-room com divisórias mó-veis acústicas, podendo funcionar em um único ambiente para auditó-rio com capacidade de 2.340 pesso-as ou subdivido em até oito espaços com acessos independentes; salas multiúso e de apoio; e ainda três con-juntos para sanitários públicos, re-prografia; sala para médico; cozinha e refeitório; sanitários para funcio-nários fixos e temporários; acessos sociais, de serviço e administrativos.

Feira (esquerda), Centro de Congressos (meio), restaurante e Torre do Mirante (direita).

Integrar à natureza foi um dos principais pontos do projeto.

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JULHO 2014 JULHO 2014

arquitetura

JULHO 201442

O segundo pavimento tem uma área de 1.379,28 m², e por lá estão dis-tribuídas as salas de administração do Centro de Convenções e de eventos, dependências para decorador e áre-as técnicas. Já o terceiro pavimento tem de 1.174,72 m², contando com áreas técnicas para climatização e subestação.

Com 11.763,04 m², o teatro foi ou-tra etapa bem esboçada. Com 3.042 lugares, ainda está em construção (previsão para finalização em novem-bro deste ano) e terá seis níveis. O lo-cal contará com elevadores, sistemas de movimentação do cenário, piso re-movível na parte frontal do palco para o fosso da orquestra, área para curso de teatro com sala de administração e secretaria, salas e instalações sanitá-rias, mezanino, copa, varanda, depósi-to e camarins. O teatro foi projetado com formas arredondadas, composto por quatro volumes: hall de entrada, foyer, plateia e palco.

O condicionamento acústico tam-bém foi previsto. Para isso, foi con-tratado um especialista para fazer a especificação dos materiais, com o objetivo de garantir o funcionamento adequado dos ambientes. “Destaco a importância da inserção do estudo acústico nas etapas mais precoces da arquitetura. Se não, poderíamos

ter dificuldade no tratamento dos ambientes. Os resultados já compro-vados no restaurante no Centro de Congressos e na Feira de Exposições foram ótimos”, fala a arquiteta.

Um dos destaques da obra é o Mi-rante. De encher os olhos, o prédio está a 55 m de altura, possui piso, pa-redes e teto na cor preta. O intuito é impedir o reflexo desses elementos e das pessoas nas esquadrias, permi-tindo uma ampla visão do exterior. “Com as três faces do triângulo envi-draçadas, temos visão a 360° de todo o lugar. Como a região é muito plana, temos do mirante uma vista deslum-brante do mar”, relata Isabel.

Um pRojETo AmbIENTALmENTE CoRRETo

Em todas as etapas do projeto do Centro de Convenções Poeta Ronaldo Cunha Lima, privilegiou-se o que era considerado ambientalmente correto. Não só pela localização da obra, mas também pela cidade, conhecida como capital verde. De acordo com arquiteta Isabel Caminha, as árvores utilizadas no paisagismo do estacionamento são da Mata Atlântica. Os exemplares escolhidos foram da vegetação mais regional, como Murici, Mulungu, Imbi-riba e Ipê. A ideia é que cada fileira de vagas para os veículos tenha árvores

com floração diferenciada, o que fa-cilitará no momento de localizar os carros, sendo a referência o tipo de árvore da alameda.

Outro ponto relevante do projeto foi a criação de um Relógio de Sol. “Acordei, um dia, já em fase adianta-da do projeto, com a visão do relógio. Ele não fazia parte do programa de necessidades. Pensei: João Pessoa é o local em que o ‘sol nasce primeiro’. Nada melhor para registrar isso que um ponteiro (gnomo), que utiliza a luz do sol para marcar as horas. Exis-tem pessoas que viajam o mundo vi-sitando relógios de sol, e queria que a capital da Paraíba entrasse nesse roteiro”, afirma Isabel.

Já o espaço da Feira foi posiciona-do na direção do vento dominante norte/sul em sua maior dimensão. Ao longo das fachadas, foram colocadas venezianas a 50 cm do piso para pro-piciar a entrada do ar por baixo, em-purrando o ar quente para cima.

O empreendimento também conta com espelhos-d’água junto à Feira e ao Centro de Congresso, estes também têm a função de amortecimento da va-zão das chuvas, atenuando o impacto nas bacias dos rios próximos. Os lagos existentes na obra foram projetados para armazenarem 30 cm de profundi-dade a mais durante as chuvas.

Visão frontal do Centro de Congressos no dia da inauguração.

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Perspectiva geral do projeto.

JULHO 2014 JULHO 2014 43JULHO 2014

TECNoLogIA

Toda a obra também recebeu to-ques de tecnologia. Os sistemas de ar condicionado central, por exem-plo: em cada bloco, foram instalados individualmente, para personalizar e garantir a eficiência energética. Os telhados da Feira, do Centro de Con-gressos e do Teatro foram projetados em telhas termoacústicas, as conhe-cidas telhas sanduíche, com a função de diminuir o calor interno dos am-bientes e minimizar a saída do som para o exterior e o barulho das chu-vas no telhado.

Isabel Cristina Soares Caminha é casada com o engenheiro Carlos Almeida Cunha Filgueiras, que também participou do projeto do Centro de Convenções de João Pessoa. Isabel é formada em Ar-quitetura pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem especialização em Urbanismo. Sócia-diretora da empresa A&A Arte Arquitetura Isabel Caminha Ltda. É professora no Instituto de Arte e Projeto, no curso de Design de Interiores. Também é diretora do Instituto de Arquitetos do Brasil em Minas Gerais. Ela conta que, ao cursar o 1º grau no colégio vinculado à Universidade Federal, foram aplicados testes vocacionais durante 4 anos. Ao final, o resultado dela foi: Arquitetura ou Belas Artes. Desde adolescente, interessava-se pela História da Arquitetura e observava construções. Quando criança, montava bloquinhos. “Construindo os meus sonhos de ser arquiteta”, lembra feliz.

No que diz respeito aos tipos de reves-timento, a Torre do Mirante foi projetada em forma de pirâmide invertida, sendo executada com estrutura metálica com fechamento em chapas de alumínio tipo ‘alucobond’ na cor branca, o que deu um acabamento mais uniforme à superfície, maior agilidade e um menor custo à obra.

A concepção de todo o projeto bá-sico foi mantida do começo ao fim das obras, pelo menos nas etapas já con-cluídas e inauguradas pelo Governo do Estado. “O conjunto corresponde ao que idealizei, à medida que tudo ia sendo

levantado, ia sendo testado, com chuva, ventos muito fortes e as altas tempera-turas do Sol. Tudo foi adaptado durante o processo. E é muito satisfatório ver o que tínhamos imaginado no papel estar funcionando na prática”, finaliza Isabel, referindo-se a alguns detalhes que foram ajustados às necessidades da obra.

SERVIço:A&A Arte Arquitetura Isabel Caminha R. Levindo Lopes, 333, cj. 210. Funcionários Belo Horizonte (MG) | 31. 3281.0730 [email protected]

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arquitetura

JULHO 201444 JULHO 2014

1. PRAÇA DO RELÓGIO DE SOL2. TORRE DO MIRANTE3. CENTRO DE CONGRESSOS: 13.642 m2

3A. CARGA E DESCARGA DO CENTRO DE CONGRESSOS04. TEATRO -> NÃO ESTÁ CONSTRUÍDO4A. CARGA E DESCARGA DO TEATRO -> NÃO ESTÁ CONSTRUÍDO05. FEIRA DE EXPOSIÇÕES E EVENTOS: 19.346 m2

5A. CARGA E DESCARGA DA FEIRA DE EXPOSIÇÕES6. PASSARELAS COBERTAS7. GUARITA DE ENTRADA8. GUARITA DE SAÍDA9. GUARITA DE SERVIÇO/ COMPARTIMENTO DE LIXO E GÁS10. GUARITA DE PEDESTRES, PRÓXIMA À RODOVIA11. PONTO DE ÔNIBUS, NA RODOVIA12. ESTACIONAMENTO PARA 2.001 CARROS | VAGAS PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS13. ESTACIONAMENTO PARA 22 ÔNIBUS14. PONTO DE TÁXI

15. HELIPONTO: 900 m2 -> NÃO ESTÁ CONSTRUÍDO16. RESERVA PARA AMPLIAÇÃO DO ESTACIONAMENTO17. JARDINS18. ÁREA VERDE DE PRESERVAÇÃO (MATA EXISTENTE), COM 100 m DE LARGURA PARA CONTINUIDADE DO CINTURÃO VERDE DO PÓLO TURÍSTICO CABO BRANCO19. LAGOS/ESPELHOS-D’ÁGUA: 18.000 m2

o Conjunto CoRREsPondE ao quE idEaLizEi, à mEdida

quE tudo ia sEndo LEVantado, ia sEndo tEstado, Com ChuVa,

VEntos muito foRtEs E as aLtas tEmPERatuRas do soL. tudo foi adaPtado

duRantE o PRoCEsso.

CENTRo DE CoNgRESSoS

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TEATRo

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46 JULHO 2014 47JULHO 2014

Tecnologia

por Pablo Braz

eleve-se Além da valorização estética, a modernização dos elevadores é hoje uma necessidade para garantir economia, alta performance, conforto e segurança aos usuários

Considerados um dos transportes mais seguros do mundo, os eleva-

dores são peças essenciais na tendência crescente da verticalização dos prédios, desenvolvendo um papel crucial na ur-banização das cidades e principalmente na projeção de edifícios cada vez mais altos. Com o tempo, porém, a perfor-mance e a segurança desses equipa-mentos ficam comprometidas, visto que no Brasil a maioria dos elevadores tem mais de 2 décadas de uso, encontrando--se ultrapassados tecnologicamente e oferecendo riscos aos usuários. Paradas bruscas, desnivelamento da cabina com o piso do andar, alto consumo de ener-gia e gastos excessivos com manuten-ção e troca de peça são alguns sinais de que é hora de rever o equipamento.

Para garantir não só um bom fun-cionamento e confiabilidade, mas tam-bém conforto, economia e a valorização do patrimônio, a modernização desse transporte, ou seja, a atualização tec-nológica nos principais circuitos do elevador, torna-se imprescindível para mantê-lo em atividade durante um

bom tempo. Segundo Paulo Manfroi, vice-presidente de Modernização da ThyssenKrupp Elevadores, um dos com-ponentes mais importantes da moder-nização é a instalação dos quadros de comando microprocessados com inver-sores de frequência em substituição aos antigos comandos eletromecânicos a relé. “Essa mudança permitiu um melhor desempenho do elevador, deslocamen-tos mais suaves nas viagens, precisão no nivelamento, além de ocupar menos espaço na casa de máquinas e uma re-dução no consumo de energia”, explica.

Nesse cenário de tecnologias avan-çadas, um dos destaques é o sistema de gerenciamento de tráfego. De acordo com Rodrigo Lameiras, gerente regio-nal Nordeste da Atlas Schindler, esse sistema possibilita o direcionamento personalizado dos usuários, evitando as indesejáveis filas no saguão do prédio. “Através de um programa lógico que racionaliza o fluxo de pessoas, o sistema indica o andar desejado, analisando a demanda em tempo real e encaminhan-do o passageiro para o elevador que irá

levá-lo ao seu andar de destino da for-ma mais rápida, sendo possível agrupar no mesmo elevador quem vai para an-dares iguais ou próximos”, ressalta. La-meiras diz que, além do gerenciamento do tráfego, existe também a possibili-dade de um amplo controle de acesso com diferentes níveis de personalização e comunicação com o usuário. “Através de terminais, com tela tipo touch, o siste-ma reconhece as necessidades individu-ais e oferece a melhor alternativa, como instruções multilíngue aos passageiros e total integração com o sistema de au-tomação do condomínio”, detalha.

Além disso, existe também o sistema inteligente de biometria digital para re-conhecimento de usuários, geralmente indicado para elevadores residenciais e que é um aliado em termos de seguran-ça para o condomínio. “Essa tecnologia opera através da análise da impressão digital dos passageiros, permitindo o acesso apenas aos andares autorizados”, esclarece. “Além do ingresso por meio das digitais, a restrição ao uso do eleva-dor pode ser feita com senhas secretas

A atualização tecnológica dos elevadores permite deslocamentos mais suaves e precisão no nivelamento, além de menos espaço na casa de máquinas e uma redução no consumo de energia

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JULHO 2014 47JULHO 2014

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Guttemberg diz que o custo emprega-do inicialmente consegue ser reverti-do em lucro em um pequeno espaço de tempo, decorrente da considerável economia de energia elétrica em rela-ção aos equipamentos substituídos. “A modernização é proporcional ao nível de conhecimento do cliente, e a simples substituição das botoeiras de cabina e pavimento só agrega estética. A base para a redução de consumo de energia só é possível com a substituição do qua-dro de comando. Pensando na seguran-ça, no conforto e na performance eleva-dos, isso acaba se tornando um grande investimento”, esclarece Dantas.

O Gen2 Switch é um elevador residencial que elimina a necessidade de energia elétrica trifásica, pode ser operado a energia solar e utiliza tecnologia a bateria para continuar em operação quando a energia elétrica acaba. O elevador opera com energia monofásica, sendo adequado para retrofits ou em edifícios novos onde o elevador é a única instalação de energia trifásica.

para chamadas de cada andar, que são previamente cadastradas pelos usuá-rios”, complementa Rodrigo.

Paulo Manfroi lembra que diversos itens de segurança podem ainda ser ins-talados durante a modernização, como cortina de proteção para portas de fei-xes infravermelhos que interrompe o fe-chamento quando uma pessoa ou obje-to estiver passando; dispositivo pesador de carga que bloqueia o atendimento de chamadas quando o peso da cabina atinge 80% de sua carga nominal; e ilu-minação de emergência e central de in-terfone para facilitar a comunicação en-tre quem está no elevador e na portaria. Em relação ao sistema de abertura das portas, os microssensores em pontos localizados podem ser substituídos por uma régua eletrônica que cobre toda a extensão da porta, dando mais seguran-ça aos usuários.

Uma grande novidade também é a utilização de elevadores sem casa de máquinas em modernizações. Para Fernando Peiter, diretor de vendas e marketing da Elevadores Otis, esse modelo possibilita um maior aproveita-mento da caixa de corrida, otimizando o espaço com melhor eficiência energéti-ca. Além disso, esses elevadores podem utilizar um sistema de cintas de aço re-vestidas com poliuretano para tracionar a cabina, tecnologia essa patenteada pela Otis. “Tanto as cintas quanto a má-quina sem engrenagem com rolamen-tos selados não necessitam de lubrifica-ção, isentando o uso de óleo. As cintas de poliuretano são até 20% mais leves e duram até três vezes mais que o cabo de aço convencional. São mais silenciosas e flexíveis, além de eliminar o efeito de atrito entre os metais, produzidos pelos cabos de aço tradicionais contra as po-lias”, explica Fernando.

Outra tecnologia inovadora usada hoje na renovação de elevadores é o sistema de regeneração de energia. O mecanismo funciona com drives rege-nerativos, que, combinados com uma máquina sem engrenagem, possibili-tam que a energia desperdiçada em sistemas tradicionais em forma de calor possa realimentar a rede elétrica interna

do edifício, em que pode ser reutiliza-da por outros elevadores, para a ilumi-nação elétrica, para o ar condicionado, para os computadores e até por outros equipamentos que estiverem conecta-dos à mesma rede elétrica do edifício. “O que antes era desperdício torna-se geração de energia. Esse pacote tecno-lógico pode trazer redução de consumo de energia de até 75%, se comparado a equipamentos convencionais, maior durabilidade do equipamento, além de um transporte mais suave e silencioso”, pontua Peiter.

No entanto, a modernização dos elevadores vai além das alterações es-truturais e técnicas. A cabina é o cartão de visita do equipamento, e a atualiza-ção estética da mesma torna o elevador mais atraente e harmonioso para os usuários, agregando significativamente valor ao empreendimento. De acordo com Aristóteles Leite, gerente comercial da Hyundai Elevadores Wollk, a revitali-zação da cabina pode valorizar os pré-dios em cerca de 30%. O gerente asse-gura que o mercado dispõe de diversas opções para a renovação estética, tais como: revestimento em aço inox ou em fórmica da cabina, rodapé em aço inox, subteto, piso em granito ou em chapa metálica, painéis laminados, espelho de cabina, corrimão tubular em aço inox e até o uso de lâmpadas LED, que redu-zem em até 30% o consumo energético em comparação com as fluorescentes. “Em relação ao critério da acessibilida-de, há a possibilidade de trocar o painel de comando e as botoeiras por modelos atuais com código em braile e sistema de voz, que indica o andar em que o ele-vador se encontra”, completa Leite.

Porém, mesmo que a moderniza-ção técnica e visual dos elevadores re-presente um avanço e principalmente uma necessidade para a valorização e conservação do patrimônio, há ainda o desafio do custo com a renovação. Se-gundo Guttemberg Dantas, diretor ope-racional da Hyundai Elevadores Wollk, esse custo é muito variável, pois depen-de do número de parada, capacidade da cabina e velocidade do equipamen-to existente no empreendimento. Mas

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48 JULHO 2014 49JULHO 2014

Tecnologia

por Pablo Braz

DA mADEIRA AO AlumÍnIO Nas últimas décadas, o sistema de formas para a construção civil foi se aperfeiçoando e hoje o mercado conta com tecnologias mais produtivas, resistentes e sustentáveis

Conceituadas como estruturas provisórias destinadas a moldar

e sustentar as pressões laterais do concreto, o sistema de formas para a construção civil tem vivido trans-formações significativas ao longo das últimas décadas. Desde a fabri-cação de painéis utilizando chapas de madeira compensada na década de 1940, a evolução dessa tecnologia no país foi bastante impactada com o aparecimento dos sistemas tubula-res no início de década 1970. Com o surgimento das formas metálicas, que começaram a ganhar mais destaque a partir dos anos 1980, a indústria da construção foi se diversificando, e, para garantir a produtividade, quali-dade e especificidade de cada proje-to, há hoje diversas opções de siste-mas, entre os quais o uso de materiais como aço, alumínio, plástico e até papelão, em que a escolha e a técnica adequadas são imprescindíveis para o sucesso do empreendimento.

Segundo Paulo Lago, diretor comer-cial regional da SH, o sistema de formas é essencialmente necessário à etapa estrutural de qualquer tipo de edifica-ção, pois é responsável por garantir a geometria desejada, o posicionamen-to das peças, manter as características do concreto ainda em estado mole, permitir a obtenção de superfícies es-pecíficas e proteger o concreto novo contra impactos e variações bruscas de temperatura, possibilitando assim a es-tanqueidade do concreto até ele estar totalmente solidificado. “O uso adequa-do desse sistema evita patologias como deformações, vazamento de finos, de-salinhamento, trincas e fissuras resul-tantes de concretagem rápida demais e até mesmo um colapso de estruturas por erros de dimensionamento de es-coramentos, de qualidade do concreto ou da armação”, pontua.

De acordo com o engenheiro João Neves, Gerente Nacional de Locação para Construção Civil da Mecan, para

evitar essas complicações estrutu-rais e obter os resultados desejados, é fundamental que o uso do sistema de formas seja compatível com o tipo de obra. João fala que, mesmo com uma variedade de produtos presente no mercado, não se pode generalizar as soluções, e sim personalizá-las de acor-do com as necessidades de cada pro-jeto. “O ideal é que a escolha seja feita através de critérios como acabamento, prazo de execução, interferências pre-sentes na estrutura, reaproveitamento, leveza, facilidade de montagem e des-montagem, flexibilidade geométrica, adaptabilidade, resistência mecânica e segurança do sistema e de seus compo-nentes”, explica.

Entre as opções, estão as formas de madeira, que, mesmo sendo as mais antigas no cenário da construção, são também as mais utilizadas no País. Para Neves, cerca de 55% do mercado ainda aplica esse tipo de material, pois ele confere ao sistema baixo custo,

Forma para paredes circulares na construção de uma estação de tratamento de água, em Aracaju, SE. foto: sh

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JULHO 2014 49JULHO 2014

A utilização da tecnologia Mesa Deslizante na construção do Shopping Boulevar, na Bahia. foto: sh

adaptabilidade, facilidade no manuseio e leveza. Porém, o engenheiro alerta que as desvantagens do uso da madei-ra são inúmeras, como pouca durabili-dade, baixa produtividade na monta-gem e desmontagem, pouca resistência nas ligações e emendas, grandes defor-mações quando submetidas a variadas e bruscas mudanças de temperatura e umidade e geração de resíduos, carac-terística essa que produz impactos am-bientais consideráveis quando o mate-rial não é certificado.

Uma alternativa para reduzir o uso da madeira nas obras e garantir um pro-jeto mais sustentável e produtivo, tem sido as formas metálicas, que são usadas quando há necessidade de muitas repe-tições na obra, mas que acabam tendo um custo mais alto se comparadas com as de madeira. O arquiteto João Dal-berto Ziani, gestor de negócios da BKS no Nordeste, diz que as formas de aço, mesmo sendo pesadas, apresentam alto módulo de elasticidade, permitindo uso de menor número de ancoragens e me-nores deformações. “A combinação de quadros de aço com face frontal sintéti-ca resulta em bom acabamento de con-creto, sem perdas, com menor uso de acessórios e um mínimo índice de mão de obra e peso de painéis suportáveis. A movimentação com grua propicia a utilização de painéis de grandes dimen-sões e assim um incremento de produti-vidade”, completa o arquiteto.

Mais leve e resistente, porém com um custo bem mais elevado que o aço,

o alumínio surge também como uma alternativa eficiente e que não gera resíduos, por ser 100% reciclável. Ziani ressalta que as formas de alumínio têm como característica o baixo peso, apro-priada para movimentação manual, além de baixo módulo de elasticidade, o que obriga o uso de maior número de tirantes e acessórios, com reflexo em maior índice de mão de obra.

O diretor de negócios da SH, Marce-lo Milech, esclarece que, além do aço e do alumínio, há as formas de papelão, usadas em pilares circulares. Práticas e leves, as peças já vêm prontas e garan-tem um bom acabamento, no entanto são descartáveis, produzem resíduos e têm baixa capacidade de carga. Além disso, Milech cita as formas de plástico, bastante aplicadas em obras com lajes nervuradas e que apresentam leveza nos elementos e custo diminuto, mas em contrapartida revelam uma peque-na resistência, pouca capacidade de carga requerendo reforços em aço e produtividade reduzida.

Marcelo ressalta também a existên-cia de sistemas que funcionam com-pletos e permitem a montagem e o deslocamento rápido entre uma con-cretagem e outra. Um exemplo é a Mesa Deslizante, equipamento ideal para a execução de grandes lajes, principal-mente protendida, em curtos espaços de tempo. “Se trata de uma forma de laje que se apoia nos pilares já concretados, onde o escoramento convencional é mínimo ou em alguns casos nem se faz

necessário qualquer escoramento adi-cional. As mesas podem ser movimen-tadas horizontalmente, puxando em cima de rolamentos, ou verticalmente, com auxílio de grua, e não precisam ser desmontadas para a movimentação, dando maior velocidade na execução da obra”, detalha. Outro sistema desta-cado por Milech é a Mesa Voadora, in-dicada para obras com ciclos rápidos de concretagem e com repetição fre-quente de geometria. Compostas por perfis de alumínio, cabeçais e escoras, esses elementos são ligados com para-fusos, criando conjuntos rígidos, sendo movimentadas horizontalmente, com a ajuda do carro de içamento hidráulico manual, ou verticalmente, com grafo içado por grua ou guindaste.

O engenheiro João Neves admite a importância dessa diversificação no processo evolutivo da construção civil em relação às formas e fala que, hoje em dia, há uma presença progressiva-mente maior nas obras dessa tecnolo-gia. Pequenas e médias construtoras que nunca trabalharam com esse sis-tema e até investidores o procuram para viabilizar seus projetos. Mas Neves reforça: “Por mais que esse cenário te-nha melhorado nos últimos tempos, o tema formas e escoramentos por vezes é tratado com descuido, e nem sempre há a valorização ou o reconhecimento por facilitar o processo de construção. Para mim, o maior desafio é sensibilizar constantemente o construtor da real importância desses sistemas”.

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JULHO 201450

TECNOLOGIA OPINIÃO

tECnOlOgIA nO tRAnsPORtE vERtICAl

A tendência mundial no setor da construção

civil são empreendimentos com maior altu-

ra. Os edifícios de mais de seis pavimentos eram

uma raridade até o século 19, quando o desenvol-

vimento de elevadores de passageiros juntamen-

te com os avanços em materiais e técnicas de

construção possibilitou a construção de empre-

endimentos mais altos. Naquela época seria im-

possível escalar o número de escadas necessário

para chegar ao topo de algumas edificações, tor-

nando os andares mais altos menos valorizados.

A crescente população urbana deixa o emba-

te para o automóvel e o elevador, com os carros

fazendo o possível para as pessoas se espalha-

rem horizontalmente, incentivando a expansão

da ocupação para o subúrbio. Já os elevadores,

incentivam um adensamento ocupacional com

maior eficiência do uso do lote, e o uso misto (re-

sidencial e comercial) da edificação. Nessa discur-

são, chegamos ao nosso limite da engenharia e

da sustentabilidade ambiental.

Com o avanço da engenharia e a construção

de torres cada vez mais altas, os elevadores são

obrigados a ter maior capacidade de pessoas e

serem mais eficientes. Algumas empresas já têm

desenvolvido elevadores capazes de transportar

até 80 pessoas de uma só vez e chegam a atingir

a velocidade de 60 km/h (1.000 m por minuto).

As solicitações do transporte vertical em

construções com até mais de 600 m (Shangai

Torre – 632 m de altura em construção na China)

vêm exigindo o emprego de tecnologias ino-

vadoras no transporte vertical e soluções para,

dentre outros pontos, regenerar energia elétrica

e reduzir o consumo de energia, frenagem, redu-

ção da vibração dos trilhos de guia e vento em

ultra- alta velocidade, isolamento acústico, resis-

tência ao calor, resistência à abrasão e impactos,

estabilidade, segurança, controle da pressão do

ar evitando alterações na pressão atmosférica, fa-

zendo uso de tecnologias de redução dos efeitos

adversos das variações bruscas como pressão e

atenuação de vibrações e ruídos fornecem aos

passageiros um deslocamento confortável.

Para essa nova demanda de velocidade, a

nova geração de elevadores serão capazes de su-

bir desde o piso térreo até ao último andar de um

edifício de até 95 andares em pouco menos de 60

segundos, mesmo considerando à necessidade

de utilização de ciclos de aceleração e abranda-

mento (Guangzhou CTF Finance Center - 440 m

de altura em construção na China).

Outra solução que esta aparecendo no mer-

cado da construção civil são os elevadores de

dois andares com velocidade de deslocamento

de mais de 10 m/s, vencendo alturas de até 660

m (Kingdom Tower em construção em Jeddah,

na Arábia Saudita).Os elevadores de dois pisos

demonstram tecnologia inovadora e sustentável,

fornecendo transporte agradável, seguro e eficaz.

Esses elevadores, cada um composto por duas

cabines conectadas, se movem simultaneamente

no mesmo eixo e podem atingir uma velocidade

de até 36km/h. A solução economiza espaço, du-

plica a capacidade de transporte, reduz o tempo

de espera dos passageiros e economiza energia.

Com a alta velocidade desenvolvida e a varia-

ção de pressão brusca do deslocamento vertical

por essas alternativas, o grande desafio será im-

pedir que os passageiros de elevadores sintam

dores ou incômodos.

Os novos elevadores estão projetados pare

atender à demanda de pessoas que irão circular

pelo edifício equipados com sistemas de anteci-

pação e distribuição de chamada e destino, siste-

mas regenerativos de energia que filtra a energia

produzida pelo elevador em movimentação e a

devolve à rede do próprio empreendimento para

a utilização diversa, iluminação em LED (etc), sen-

do ecoeficientes.

Por fim, vale lembrar que para longas distan-

cias do carro teremos o skydrive, os elevadores de

veículos que os levam até o pavimento do pro-

prietário, atendendo assim a demanda do consu-

midor mais exigente.

Elka Porciúncula *

*Elka Porciúncula é arquiteta, assessora técnica da Ademi PE e sócia-diretora da Paralelas Projetos

Com o aVanço da EngEnhaRia E a ConstRução dE

toRREs Cada VEz mais aLtas, os ELEVadoREs são oBRigados a tER maioR CaPaCidadE dE

PEssoas E sEREm mais EfiCiEntEs.

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a falta de planejamento urbano combinada à omissão do poder público torna Recife símbolo de um problema que afeta as principais capitais brasileiras: o crescimento desordenado das metrópoles do Brasil. não é à toa que a capital pernambucana tem o pior trânsito do País, segundo pesquisa divulgada recentemente pela empresa de tráfego tomtom. os recorrentes problemas de urbanização acabaram direcionados para mais um empreendimento imobiliário. o projeto Novo Recife, no Cais josé Estelita, região central da cidade, gerou um debate mais amplo sobre a relevância de uma legislação atualizada e a importância de ouvir os principais setores da sociedade antes de decidir os rumos do desenvolvimento urbano. fato é que o País passa por um momento de transição, de carência pública e senso coletivo. a forma de construir e comercializar imóveis também mudou — e muito tem para mudar. o formato não está definido. no final das contas, o que se espera é que todos saiam ganhando, uma equação nem sempre fácil de solucionar.

por henrique gonçalves e inah de moraesfoto por Lorena maniçoba

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Localizado em uma parte estratégi-ca, o Cais José Estelita é uma área

com mais de 100 mil metros quadrados que abriga um pátio ferroviário, um tre-cho ativo da Transnordestina e uma sé-rie de armazéns de açúcar. Abandonada há anos pelo poder público, a área da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi a leilão em 2008, quando acabou ar-rematada pelo Consórcio Novo Recife, formado pelas construtoras Moura Du-beux, Queiroz Galvão, Ara Empreendi-mentos e GL Empreendimentos.

O grupo pagou R$ 55 milhões pelo terreno, o preço mínimo estipulado pela União, e pretende construir 12 torres no local, sendo sete residenciais, duas comerciais, dois flats e um hotel. O plano é que os edifícios tenham aproxi-madamente 40 andares, além de esta-cionamentos com cerca de 5.000 vagas. Tudo foi orçado em R$ 800 milhões, e o preço inicial dos apartamentos pode variar de R$ 400 mil a R$ 1 milhão. Em contrapartida, está previsto um investi-mento de R$ 63 milhões em benefícios públicos: parque, biblioteca, ciclovia,

seis quadras poliesportivas, estaciona-mento, academia, novos acessos viários e ainda a restauração da matriz de São José e a recuperação de 12 galpões para a criação de um centro cultural, que serão doados para o município. (Veja as perspectivas e entenda melhor o projeto no final da reportagem).

A ideia, no entanto, não agradou parte da sociedade recifense. Estudan-tes, professores da Universidade Fede-ral de Pernambuco (UFPE), arquitetos, militantes de movimentos sociais e moradores do bairro criaram o movi-mento Ocupe Estelita, no qual reivindi-cam participação nas discussões sobre o projeto e melhor aproveitamento do espaço. Por outro lado, um segmento da população considera o Novo Recife uma oportunidade para um reordena-mento urbanístico e desenvolvimento econômico da cidade.

“Recife inteira está passando por um processo de higienização, destrui-ção do seu patrimônio histórico, natu-ral e paisagístico. Isso vai entristecendo e revoltando a população”, diz a advo-gada Liana Cirne Lins, integrante do grupo Ocupe Estelita.

Eduardo Moura, representante do Consórcio Novo Recife, acredita que o projeto proporcionará uma real integra-ção entre o trecho do bairro de São José e a orla, além de levar uma série de bene-fícios com obras de uso público. “O mais importante é levar pessoas para residi-rem no Centro, onde existe carência de ofertas residenciais. Tudo isso irá refletir positivamente na dinâmica econômica do bairro de São José e seus arredores”.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o Novo Recife tem pro-blemas por não cumprir procedimen-tos básicos para um empreendimento desse porte: não há um estudo de im-pacto de vizinhança nem de impacto ambiental. Segundo o MPF, o grupo de construtoras não submeteu o projeto aos órgãos competentes, como o pró-prio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Depar-tamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O Consórcio nega os problemas apresentados pelo órgão na Justiça. “Todos os procedimentos foram cum-pridos. O projeto foi submetido à aná-lise de diversos órgãos: municipal, es-tadual e federal. Não existe qualquer ilegalidade na aprovação, o que pode ser comprovado nos resultados. Os es-tudos de impacto foram apresentados”, garante Eduardo Moura. Ele acrescen-ta que as consultas ao Dnit e à ANTT, como recomendado na aprovação pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) e solicitadas pela Supe-rintendência Regional do Iphan, serão necessárias na ocasião da emissão dos Alvarás de Construção, procedimentos, ainda, em curso. (O estudo de impac-to e as plantas detalhadas do projeto foram enviados à equipe da Revista e estão disponibilizados no portal cons-truirnordeste.com.br.)

A urbanista e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Vitória Ré-gia de Lima Andrade, defende que a si-tuação chegou nesse ponto por omissão

Vista para os galpões do Cais José Estelita. foto: diREitos uRBanos

nós tEmos uma CidadE quE CREsCEu dE foRma

dEsoRganizada, dEVido a Essa hERança dE um

PRoCEsso oCuPaCionaL quE sE dEu dE foRma

intEnsa E aCELERada, E não EstaVa PREPaRada PaRa isso. (thiago PEREiRa).

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da prefeitura e do governo do Estado. “A gente acredita que o imbróglio foi causado por falta de clareza e postura do poder público em não cumprir a le-gislação urbanística para a área. Havia a previsão de um plano urbanístico para a região, o que é fundamental para uma metrópole, um plano específico para aquela área, mas que nunca foi transfor-mado em lei, apesar da aprovação dos projetos. Daí a origem dos problemas. A partir do momento em que a prefeitura não regulou nem deu condições urba-nísticas, o Consórcio Novo Recife fez isso”.

oNDE NASCE o CAoS URbANo

Os problemas de desenvolvimento urbano não são recentes no Recife. A raiz do que hoje culmina em uma insa-tisfação popular vem, provavelmente, de um crescimento descontrolado que aconteceu na capital pernambucana entre 1920 e 1945. É o que mostra um estudo do Programa de Pós-graduação em História (PPGH) da Universidade Fe-deral de Pernambuco, feito no ano pas-sado. A pesquisa conclui que, já naquela época, a falta de planejamento urbano levou à “periferização” das habitações tidas como populares e, consequente-mente, ao desordenamento da cidade.

O autor do estudo, Thiago Pereira Francisco, procurou entender como os mocambos (casas populares que ocu-pavam a região central da capital na-quela época) foram marginalizados. Ele descobriu que, no período analisado, Recife passava por um processo de mo-dernização, e as tais residências repre-sentavam um problema estético para o governo. Com isso, os mais atingidos foram exatamente os pobres.

“Nós temos uma cidade que cresceu de forma desorganizada, devido a essa herança de um processo ocupacional que se deu de forma intensa e acelera-da, e não estava preparada para isso. As habitações populares refletiam a con-dição de vida da população. O gover-no não dava atenção a isso e, por não ter uma tradição de se preocupar com a urbanização com o planejamento da cidade, deixou um legado negativo

para o Recife. Ainda hoje, as moradias dos trabalhadores mais pobres são pre-cárias, e ações de resolução para esses problemas são pouco priorizadas por parte do governo”, resume Thiago.

E esses problemas se refletem até hoje no desenvolvimento urbano da capital pernambucana. Para se ter uma ideia, há aproximadamente 4 anos, arquitetos holandeses vêm cola-borando com profissionais brasileiros para identificar os problemas locais e propor soluções urbanísticas. Quando desembarcaram por aqui, há 2 anos, os holandeses compararam a situação do Recife à crise urbana vivida por eles no pós-guerra, em 1945, quando cidades inteiras da Europa foram des-truídas em função dos conflitos da Se-gunda Guerra Mundial.

Naquela época, a Holanda chegou a tomar o caminho de ações imediatis-tas, mas mudou o rumo do desenvol-vimento urbano após pressão popular. Isso porque a capital Amsterdã, que também foi construída sobre águas de rios, chegou a secar alguns canais com a intenção de transformar esses espaços em ruas para carros. O gover-no holandês só não conseguiu levar a proposta adiante por conta das críticas da sociedade, que já pedia a valoriza-ção do espaço público.

Na ocasião, os arquitetos holande-ses ainda sugeriram quatro alternativas que deram certo na capital do país e que poderiam ser aplicadas no Recife. Não por coincidência, uma das suges-tões foi justamente “planejamento com participação social”, centro da questão no Cais José Estelita. Os outros conse-lhos foram “nova relação com as águas”, “mobilidade baseada no transporte público e limpo” e “valorização do patri-mônio histórico e cultural”.

“As pessoas da cidade podem ser convidadas a planejá-la. Estudantes, fi-lósofos, urbanistas, donas de casa, sem--tetos, empresários, gestores públicos e tantos outros atores sociais podem dar sua sugestão. Uma forma de fazer isso é disponibilizar uma maquete do bairro numa área pública, como uma igreja ou um shopping, e permitir que as pessoas interfiram indicando os elementos que elas gostariam de colocar, melhorar ou retirar. Isso está sendo feito em Amster-dã, onde a população está sendo con-vocada para pensar junto aos órgãos de planejamento. Foram promovidas 96 noites de debates para discutir a cidade em conjunto. Com esse forma-to, abre-se um canal diferente com a sociedade”, explicou Eric van der Kooij, então chefe do Departamento de Pla-nejamento Físico de Amsterdã.

foto: diREitos uRBanosIntegrantes do Ocupe Estelita no início do movimento.

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IDEIAS E pLANo INTEgRADo

Se há saídas para o impasse do Cais José Estelita, o que fazer, de fato, com uma área tão extensa no coração do Re-cife? Desde que o assunto ganhou reper-cussão, várias propostas foram debatidas tanto entre os próprios integrantes do movimento Ocupe Estelita como em en-contros promovidos pela Universidade Federal de Pernambuco ou por órgãos do setor de arquitetura e urbanismo. Os envolvidos garantem que, apesar de não aprovarem o projeto Novo Recife, não de-fendem que o cais continue do jeito que está, abandonado e sem uso.

A discussão em torno de um projeto que seja benéfico para toda a população do Recife fez um grupo de arquitetos criar um Tumblr (espécie de site temático em que os usuários podem publicar fotos, textos e ví-deos relativos àquele assunto) para agrupar todas as propostas. Com o nome de Pense Recife, a página reúne projetos de arquite-tura, como um que sugere transformar as dezenas de galpões existentes no cais em salas de recreação, lazer e cultura, além de complexos esportivos, salas de cinema, tea-tro, restaurante e áreas de exposição.

“Sem radicalismo”, o grupo diz que ain-da não sabe qual a melhor solução para o Cais José Estelita, mas que a proposta

atual está longe da ideal. “O principal con-ceito desse projeto é mostrar que há vá-rias soluções possíveis que conjuguem os interesses financeiros e imobiliários sem prejuízo aos interesses urbanos, e, para isso acontecer, é fundamental que as par-tes tenham o desejo de fazer dar certo. A conta do empreendedor precisa fechar, mas não necessariamente ele precisa su-gar o máximo do potencial construtivo de um terreno para isso acontecer. É pre-ciso também que ele consiga entender a importância das suas ações no cená-rio da cidade e a consequência daquele empreendimento para o seu entorno. Um plano diretor consciente, proposto pelo governo enquanto representante da população, deveria ser o grande ar-ticulador dessa relação público-privada, regendo o crescimento da cidade de forma ordenada, respeitando a escala da rua, a história do local e a paisagem urbana. Não há vilões nem heróis. A ini-ciativa privada é necessária, mas o inte-resse público tem de prevalecer”, conta Manoela Pires, membro da equipe.

Os arquitetos propõem que sejam construídos edifícios residenciais e co-merciais, além de um hotel e equipamen-tos públicos (Outras informações e entre-vista com o grupo, no portal da Construir Nordeste). Mas, diferentemente do

conceito do Novo Recife, os prédios não seriam muito altos e ficaram suspensos para que a área sob os andares pudesse ser aproveitada pelos pedestres. “Edifícios residenciais e corporativos implantados de modo elevado, livrando o passeio para os pedestres, com comércio no térreo, promovendo uso misto. A volumetria cria um jogo de luz, sombras e visadas com um bloco de forte identidade estética”.

INTERESSE púbLICo x pRIVADo

É possível conciliar os interesses públi-cos e privados para alcançar algo interes-sante para ambos? Na opinião da urbanista Raquel Rolnik, quando há um conflito como esse, é papel do Estado “garantir que a cida-de não seja totalmente mercantilizada”.

“Queremos discutir como vai ser nossa cidade, queremos que exista uma parte do território que não seja única e exclusivamente desenvolvida com base no critério do uso mais lucrativo, mais rentável. Há outros valores de uso que estão sendo colocados sobre a mesa, ou seja, a apropriação dos espaços pú-blicos, o convívio, a produção artística e cultural, a habitação social, coisas que têm pouca importância econômica e que podem não ser totalmente mer-cantilizadas, mas que têm uma enorme relevância para a cidade. Então, a afir-mação desses valores muda totalmente a forma como a política urbana deve e pode ser definida”, argumenta.

Raquel alerta que deixar o desen-volvimento urbano ser decidido ape-nas pela iniciativa privada é um mode-lo “velho”. “O movimento Ocupe Estelita importante apenas para o Recife, é im-portante para o Brasil. A resistência e o questionamento sobre quem e como decide o que vai acontecer na cidade é um questionamento absolutamente necessário num contexto em que a política urbana há décadas é conduzi-da única e exclusivamente na direção do mercado imobiliário, com todo o poder que esse ator tem nos proces-sos decisórios, dentro da estrutura do Estado e no controle sobre a informa-ção nos meios de comunicação, e por aí vai. Esse é o novo no processo”.Perspectiva do Grupo #penserecife.

JULHO 201456 JULHO 2014 57

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Carlos Leite: especialista em desenvolvimento urbano sustentável, é arqui-teto e urbanista com mestrado e doutorado pela FAU/USP e pós-doutorado pela Universidade Politécnica da Califórnia. É professor na Universidade Pres-biteriana Mackenzie e professor visitante em diversas instituições internacio-nais. Também é diretor de Stuchi & Leite Projetos e Consultoria em Desenvol-vimento Urbano e autor do livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes.

Já o professor Ruskin Marinho de Frei-tas fala que apenas um projeto não vai resolver o problema da metrópole. Na questão da moradia popular e da integra-ção de diferentes classes sociais em um mesmo espaço, ele sugere que o poder público incentive a ocupação de imóveis ociosos que já existem no centro históri-co, poupando a construção de novos pré-dios e, consequentemente, de uma estru-tura de água, esgoto e energia elétrica.

“Tem todo um bairro [na região] com muitas construções abandonadas. É possível trazer incentivos para que mais pessoas morem no centro, incentivando reformas. Então, seria preciso de linhas de financiamento, de ajuda, como a diminui-ção do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Ao lado desse terreno, há muitos imóveis nessas condições. Isso ajudaria a resolver o problema de mobilidade. Pelo lado da sustentabilidade, quanto menos eu construo, melhor”, afirma.

A presidente do IAB de Pernambuco concorda que deve prevalecer o interesse da população, mas defende que, mesmo quando há reivindicações da sociedade em jogo, é possível envolver o mercado imobiliário de uma maneira rentável e sem que os valores coletivos sejam deixados para trás. “Se existe uma unanimidade, é o que deve ser feito com o Estelita. A questão é a prefeitura assumir o papel e fazer valer o interesse de todos. Esse projeto refeito vai ser um grande negócio. O empreendedor precisa se modernizar. O que está se dis-cutindo é o coletivo. A gente quer mais, a gente quer a cidade”, opina Vitória Régia. Segundo ela, a discussão em torno de um novo projeto para o Cais José Estelita é uma oportunidade para as construtoras de Pernambuco darem o exemplo do que deve ser uma forma moderna de partici-par do desenvolvimento urbano de uma metrópole. É uma chance para o Recife dar exemplo para outros estados brasileiros que sofrem com o mesmo problema. “O empresário nordestino pode apresentar uma nova maneira de fazer negócio. A so-ciedade conclama o empreendedor de um Estado que está sempre na vanguarda a inovar no desenvolvimento urbanístico. É uma oportunidade para novos negócios antenados com o século 21”, conclui.

quaL é a imPoRtânCia do PodER PúBLiCo E da soCiEdadE PaRa a REgEnERação uRBana sustEntáVEL?

São necessários serviços de governo mais inteligentes, ágeis, transparentes e efi-cientes, através de compartilhamento de informações. Mas cada vez mais se busca ir além dos governos e construir novas instâncias de governança junto à sociedade ci-vil organizada. Na essência, uma cidade sustentável e inteligente pressupõe sempre cidadãos partícipes. É a chamada cidade para as pessoas — e não para os carros, não para os condomínios fechados e distantes. É preciso observar que a gestão local dos prefeitos nunca foi tão importante — e a crescente importância das cidades susten-táveis só vem corroborar a cobrança sobre maior competência e menor corrupção de nossos políticos, que devem, no ideal, ser grandes Gestores de Cidades, como em Bogotá, Barcelona, Copenhague e Nova York.

Como o sEtoR imoBiLiáRio PodE EstimuLaR a PRomoção da sustEntaBi-LidadE uRBana, ContRiBuindo Com o dEsEnVoLVimEnto sustEntáVEL?

Quanto ao mercado imobiliário, está evidente que o setor precisa aproveitar a opor-tunidade do boom atual e alavancar uma reinvenção de seus modelos de incor-poração. A sociedade anseia pelo resgate de modelos imobiliários que construam cidades com urbanidade, menos estanques, com a desejável sociodiversidade ter-ritorial e menor setorização e deslocamentos, ou seja, núcleos urbanos compactos e multifuncionais. A relação entre o setor e o ambiente urbano é estreita. Ela é con-dicionada por elementos tão diversos quanto à legislação urbana, contexto econô-mico e segurança pública, por exemplo. Isso aponta a complexidade do caminho para alcançar a sustentabilidade urbana e de como o setor da construção deve agir para apoiá-lo. É preciso que, ao construírem o espaço urbano, os empreendedores tenham uma ampla visão da relação entre seus projetos e a cidade, as condições existentes para integrar aspectos de sustentabilidade em seus empreendimentos.

PoR quE REinVEntaR as áREas mEtRoPoLitanas dEtERioRadas?! E Como?

Ou seja, em princípio — e sem entrar no mérito dos projetos em curso no Recife —, pode-se colocar que a reinvenção de áreas centrais e/ou portuárias, atualmente su-butilizadas, é bem-vinda e faz parte do modelo de desenvolvimento urbano susten-tável atual: construir novas centralidades multifuncionais e com densidade qualifi-cada, que propicie menos e menores deslocamentos e incorpore multimodalidade, é a tendência para reativarmos nossas cidades. O grande desafio sempre é fazê-lo de modo que o projeto urbano seja aderente aos princípios do Novo Urbanismo, à estratégia geral do Plano Diretor da Cidade, e não atenda apenas aos interesses mercedológicos dos incorporadores e propicie uma centralidade plural, qualificada para o conjunto da sociedade urbana. Particularmente, eu tenho levantado sempre a necessidade no Brasil de construirmos Agências de Desenvolvimento Urbano es-pecíficas para fazer a gestão desses territórios em transformação. O Porto Maravilha, no Rio, montou a sua de modo ainda incipiente, mas com grande potencial para se replicar nas grandes cidades brasileiras. Ou seja, é fundamental que tenhamos a construção da Inteligência Territorial.

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PARA BONS PENSADORES,

ORTTON, 45 ANOS, MÚSICO E COMPOSITOR

Acho que as possibilidades de espaços desativados dentro de centros urbanos de cidades

como Recife têm que ter um significado mais humano. Habitar esses espaços com uma forma

de arquitetura utilitária, e não meramente figurativa. O bacana seria um complexo habitacio-

nal (democrático) com uma infraestrutura voltada para educação, esporte e cultura — e que

nesse lugar tivesse escola, supermercado, farmácia, padaria, teatro, praças e que as pessoas

que trabalham no comarcão, nos centros, pudessem viver e dar vida própria ao lugar.

ROBERTO MONTEZuMA, 54 ANOS, PRESIdENTE dO CAu/PE

Destacamos a idoneidade, a competência e a ética dos arquitetos envolvidos no projeto

Novo Recife, cujo acordo segue parâmetros autorizados pelo poder público. No entanto,

há de se ressaltar que esta é uma legislação vencida, que não está voltada para os padrões

urbanísticos contemporâneos. O Cais José Estelita é uma área estratégica, bem situada entre

o Centro e as Zonas Norte e Sul do Recife. O CAU/PE defende urgentemente o desenvol-

vimento de um planejamento urbano para a área. Este é um momento histórico, no qual

temos uma enorme oportunidade para estabelecer um debate mais amplo, fértil e construti-

vo sobre o futuro de não apenas um bairro, mas do Recife como um todo, numa perspectiva

a longo prazo. Precisamos de soluções além do modelo de urbanização exaurido que temos,

que não atende às necessidades e os anseios da população e da cidade.

ANdRE CALLOu, 44 ANOS, PRESIdENTE dA AdEMI/PE

Considerando que o projeto foi aprovado atendendo às legislações correspondentes, é

complicado para o setor imobiliário ficar sujeito ao cancelamento ou a qualquer outra ação

que prejudique o desenvolvimento do empreendimento. Isso gera insegurança jurídica para

todo o segmento de construção imobiliária. O Novo Recife será um projeto que gerará muitos

empregos e renda para Pernambuco, sendo, inclusive, aprovado pela maioria da população.

duCA LAPENdA, 49 ANOS, CHEF dE COZINHA

Sou a favor do projeto no Cais José Estelita e vislumbro o aproveitamento daquela área há

muitos anos. Porém, os aspectos legais de ocupação do solo urbano devem ser respeitados.

Gostaria muito de uma ocupação que contemplasse o desenvolvimento, sem prejudicar o

bem comum. Acredito no respeito à propriedade privada e sou contra a ocupação de uma

propriedade com dono legítimo . A discussão tem que ser em alto nível e sem violência.

Quero um Recife melhor para todos!

PAuLO CuNHA, 57 ANOS, PROFESSOR dA uNIVERSIdAdE FEdERAL dE PERNAMBuCO

A questão do Cais José Estelita provocou no Recife o surgimento de um outro modelo de

vida urbana. Para os construtores, torna-se crucial imaginar que os projetos que segregam

os espaços e as circulações de pessoas serão cada vez menos tolerados. Ou seja: a indústria

da construção civil vai ter de buscar outras formas de interferir no espaço urbano. O que já

é comum nas cidades europeias se tornou um valor no Recife: a importância da mobilidade,

do uso misto do espaço, com comércios, moradias (de diversos padrões), lazer e cultura, da

garantia que a paisagem é um valor a ser tornado público, e não privado.

JULHO 201458 JULHO 2014 59

Page 59: Revista Construir Nordeste Ed 73

RAÍSSA MACIEL GAdELHA, 23 ANOS, ESTudANTE dE dIREITO (uFPE)

Infelizmente, muitas pessoas ainda pensam que construir um parque é sinônimo de resolver

o impasse do Estelita. O que eu quero é a revitalização da área — e revitalização nos remete,

ou deveria nos remeter, à vida. E não é com a mera construção de um espaço público ou de

12 torres + píer + ciclofaixa com movimentação aos domingos e feriados que vamos dar vida

àquela área. Mas, sim, com comércio, lazer e serviços e, por que não, moradia também? Enfim,

acho que todas as ideias, diante da imensidão e do potencial daquele terreno — e dirigida

apenas para um setor da sociedade —, são restritas.

HÉLIO GuRGEL, 65 ANOS, PRESIdENTE dA ASSOCIAçãO

BRASILEIRA dE ENTIdAdES dO MEIO AMBIENTE

Recentes manifestações de participação da coletividade em projetos de interesse público

vêm sendo percebidas, que devem se limitar ao que a lei assegura de direitos e deveres.

Ao poder público, cabe a presença na execução obrigatória das atribuições que lhes

são conferidas: ao Executivo, o desenvolvimento de projetos que se impõem a partir de

procedimentos coordenados; ao Judiciário, garantia do cumprimento legal; e ao Legislativo,

a proposição das normas que presidem o processo. Se em algum momento a legislação

se torna anacrônica e a norma ultrapassada, carente de ajustes — estas podem e devem

ser reformuladas, através dos meio competentes, ou seja, dos legítimos representantes

do povo. E, no desenvolvimento dessas regras, é enriquecedora a contribuição popular

democrática — trazendo novas ideias, interpretações, contribuições, para o que conta com

a ação do Ministério Público, exatamente para assegurar a fiscalização do cumprimento

legal. Dessa forma pode-se caminhar para resultados positivos — que sejam oportunos e

pertinentes ou sobretudo amadurecidos — com foco rumo a um movimento de Ocupe

Recife, uma nova atitude para fazer desta cidade cada vez mais um lugar melhor de se viver.

EduARdO AMORIM, 36 ANOS, JORNALISTA, CORRESPONdENTE

dO PORTAL TERRA E CRIAdOR dO BLOG MÍdIA CAPOEIRA

O movimento #OcupeEstelita tem uma importância enorme por ter alertado a sociedade,

que está cobrando o cumprimento da legislação urbanística e a presença de órgãos como

os ministérios públicos nessa discussão. Chegamos ao ponto, no Recife, em que não dá mais

para continuarem surgindo projetos que prejudicam a mobilidade e diminuindo as chances

de construção de habitação popular sem contrapartidas de porte semelhantes aos proble-

mas criados pelos empreendimentos.

SERAPIãO BISPO, 53 ANOS, COORdENAdOR dO

MOVIMENTO VIdA SuSTENTáVEL

O projeto Novo Recife traz, para uma área “morta” hoje na cidade, vida! E vida

em toda abrangência da palavra, racionalizando uma infraestrutura existente

não utilizada, agregando um grande desenvolvimento urbanístico para a região

com o projeto de mitigação proposto. O MVS está atento para que as iniciativas

tenham apelo para o que preconiza a construção sustentável.

ALGUMAS PALAVRAS BASTAM.

JULHO 2014 JULHO 2014 59

Page 60: Revista Construir Nordeste Ed 73

O SISTEMA VIÁRIO DA ÁREA NO ENTORNO DO FORTE DAS CINCO PONTAS COM A RETIRADA DO VIADUTO DAS CINCO PONTAS E A CONSTRUÇÃO,

NO LOCAL DE UM TúNEL E O PROLONGAMENTO DA AV. CAIS JOSÉ ESTELITA. O FORTE PASSARIA A SE INTEGRAR, NOVAMENTE, À BACIA DO PINA,

POIS DEIXARIA DE TER O VIADUTO COMO UMA PAREDE, SEPARANDO O FORTE DO CAIS. ALÉM DISSO, TODO O ENTORNO DO FORTE SERIA UNIDO

AO PARQUE QUE SERÁ CONSTRUíDO PELO NOVO RECIFE.

EXEMPLO DE UM EMPRESARIAL E UM HOTEL QUE SERIAM CONSTRUíDOS PRÓXIMOS A ARMAZÉNS QUE SERÃO PRESERVADOS E REFORMADOS.

UMA PASSARELA SERÁ ERGUIDA NA ÁREA PARA GARANTIR O ACESSO DA POPULAÇÃO QUE ESTIVER NOS EDIFíCIOS AO CALÇADÃO NA MARGEM DO

CAIS. UM PíER PODERÁ SER CONSTRUíDO NO LOCAL PARA A ATRACAÇÃO DE BARCOS.

SERÃO CONSTRUíDAS SEIS QUADRAS POLIESPORTIVAS EQUIPADAS COM ALAMBRADOS E ILUMINAÇÃO NA EXTENSÃO INFERIOR DO VIADUTO CAPITÃO

TEMUDO, QUE RECEBERÁ TAMBéM PAISAGISMO E MOBILIÁRIO URBANO E UM ESTACIONAMENTO, ALéM DE UM PARQUE DE 90 MIL METROS QUADRADOS.

NOVAS AVENIDAS SERÃO CONSTRUíDAS DENTRO DO TERRENO DO PROJETO. O SISTEMA VIÁRIO ATUAL VAI DAR LUGAR A UM PARQUE NA BEIRA DO

CAIS. OS JARDINS DOS PRÉDIOS SERÃO ABERTOS E INTEGRADOS AO CAIS. OS EDIFíCIOS NÃO TERÃO MUROS, PERMITINDO INTEGRAÇÃO TOTAL DO

EMPREENDIMENTO.

O #PENSERECIFE HOJE É: ANTONIO NETO, BRUNO CALAZANS, FOX FIGUEIREDO, ISIS FIGUEIRôA, MANOELA PIRES, MELINA MOTTA, PEDRO JESSEN, RAISSA MATTOSO, RENATA PARAíSO, THIAGO VALENÇA, TIBéRIO VALENÇA. PARA SABER MAIS SOBRE AS IDEIAS DO GRUPO, ACESSE O PORTAL DA CONSTRUIR NORDESTE.

2

JULHO 201460 JULHO 2014 61

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Page 61: Revista Construir Nordeste Ed 73

A ESCALA HUMANA (THE HUMAN SCALE)

DINAMARCA/2012

ANDREAS DALSGAARD

CIDADES PARA PESSOAS

JAN GEHL

EDITORA PERSPECTIVA, 2013

UMA CIDADE PARA AS PESSOAS. PARECE MUITO ÓBVIO À PRIMEIRA VISTA. AINDA, SE QUISERMOS FAZER ISSO, TEREMOS DE FAZER ALGO MUITO DIFERENTE DO QUE TEMOS FEITO EM TODAS AS CIDADES, DE TODO O MUNDO, PARTICULARMENTE DURANTE OS úLTIMOS 80 ANOS. (ENRIQUE PENÃLOSA, EX-PREFEITO DE BOGOTÁ).

PARA SABER MAIS...

CIDADES SUSTENTÁVEIS, CIDADES INTELIGENTES

CARLOS LEITE

EDITORA BOOKMAN, 2012

PROJETOS DE EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS

MARIAN KEELER/BILL BURKE

EDITORA BOOKMAN, 2010

JULHO 2014 JULHO 2014 61

Page 62: Revista Construir Nordeste Ed 73

50% se considerarmos fachadas e coberturas.Estes dois resultados anteriormente citados junto com a alta produtividade de montagem e redução de atividades de obras (tijolo, reboco, massa fina, pintura e ou revesti-mentos nobres), demonstram claramente que os produtos Isoeste, beneficiam aos investidores, gerenciadores e con-strutores, reduzindo o custo final do empreendimento e o tempo de obra, fazendo que o retorno do capital investido chegue mais rápido para todos.

“Estamos neste nicho de mercado há aproximada-mente 06 anos e temos com certeza no nosso port-fólio mais de 27 empreendimentos prontos em mais de 06 Estados do País”.

- Bandeira -

Associado a tudo citado acima, as grandes dimensões dos painéis Wall Pur, a sua textura e cor, e a sua modulação possibilitam aos arquitetos criarem formas modernas com uma estética muito interessante.

Os painéis e telhas Isoeste, garantem uma obra até seis vezes mais rápida que uma obra convencional, segura con-tra o fogo, sem desperdício de tempo e de materiais e um canteiro de obras limpo, resultando numa construção total-mente sustentável.

O desempenho dos produtos Isoeste em termos de qual-idade, eficiência, durabilidade e manutenção, garantiram a continuidade da parceria com o Grupo JCPM na con-strução do segundo shopping da rede RioMar.

Segundo Francisco Bacelar, diretor da divisão imobiliária do Grupo JCPM, trabalhar com a Isoeste e com construtivos isotérmicos tem sido uma experiência muito produtiva. Pro-va disso é que entre a construção dos shoppings RioMar de Fortaleza e Recife, aumentou o uso e as aplicações dos materiais Isoeste.

“Entre as vantagens em trabalhar com o material for-necido pela Isoeste está a facilidade de adaptação às nossas demandas. Nos dois projetos do grupo, tanto RioMar Recife quanto RioMar Fortaleza, a empresa foi e tem sido capaz de nos atender de forma personaliza-da, adaptando-se à nossa demanda. Outro ponto que destaco é a pontualidade. É um fornecedor extrema-mente comprometido com o prazo. Algo importante

A Isoeste Construtivos Isotérmicos está presente na obra do shopping RioMar Fortaleza, do Grupo JCPM, após par-ticipação de grande sucesso em outro empreendimento do grupo, o RioMar Recife. Na cobertura de todo o empreen-dimento e do cinema foi utilizada a Isotelha Trapezoidal, devido a sua grande capacidade de isolamento térmico. Em toda a extensão foi utilizada aproximadamente 20.000 metros do produto que, além destes locais, cobriu também, pontos de ônibus, passarelas e guaritas.Para um melhor isolamento térmico também do cinema, do Espaço Games e do teatro foram utilizados também

os painéis de fachada Wall PUR, com aproximadamente 17.000 metros de produto instalado. Além de proporciona-rem, uma obra de montagem muito mais rápida, limpa, re-sistente ao fogo, e sustentável, a utilização dos construtivos isotérmicos possibilitou um melhor planejamento do siste-ma de climatização do empreendimento, pois possibilitará na ocasião de seu funcionamento grande economia de en-ergia, já que a utilização dos painéis e telhas térmicas reduz a demanda de equipamentos de climatização.

quando se trata de uma obra com período de entrega definido”.

- Bacelar-

Com relação ao uso de construtivos isotérmicos nos empreendimentos JCPM, e na construção civil em geral, Bacelar destaca: “A vantagem desse tipo de material é por conta da praticidade envolvida. É um produto industrializa-do e que, além de ter a vantagem do prazo, não tem desper-dício, outro fator que valorizamos na nossa obra”.

Segundo o Diretor de Desenvolvimento e Relações com o Mercado da Isoeste, o engenheiro Sérgio Bandeira de Mattos, nos últimos dois anos a empresa aumentou sua participação no segmento de shoppings centers em torno de 25% a 30% pois os projetistas de ar condicionado, os calculistas, os arquitetos, os gerenciadores, os investidores e as construtoras já testaram e reconheceram as vantagens da utilização dos painéis Wall Pur nas edificações voltadas para este tipo de empreendimento.

Estes benefícios começam na redução dos pesos das obras, beneficiando um alivio significativo nas cargas das fundações. Favorecem também os projetistas do ar condi-cionado, pois existe uma redução muito grande no calor penetrante das fachadas, chegando a reduções de 40% a

Francisco BacelarDiretor da Divisão Imobiliária do Grupo JCPM

Sérgio Bandeira de MattosDiretor de Desenvolvimento e Relações com o Mercado da Isoeste

INFORME TÉCNICO

Ranking 2013 das 500Grandes da ConstruçãoRevista O Empreiteiro

Empresalíder dosegmento

informe_tecnico_410x275mm.indd 3 26/05/14 19:14

Page 63: Revista Construir Nordeste Ed 73

50% se considerarmos fachadas e coberturas.Estes dois resultados anteriormente citados junto com a alta produtividade de montagem e redução de atividades de obras (tijolo, reboco, massa fina, pintura e ou revesti-mentos nobres), demonstram claramente que os produtos Isoeste, beneficiam aos investidores, gerenciadores e con-strutores, reduzindo o custo final do empreendimento e o tempo de obra, fazendo que o retorno do capital investido chegue mais rápido para todos.

“Estamos neste nicho de mercado há aproximada-mente 06 anos e temos com certeza no nosso port-fólio mais de 27 empreendimentos prontos em mais de 06 Estados do País”.

- Bandeira -

Associado a tudo citado acima, as grandes dimensões dos painéis Wall Pur, a sua textura e cor, e a sua modulação possibilitam aos arquitetos criarem formas modernas com uma estética muito interessante.

Os painéis e telhas Isoeste, garantem uma obra até seis vezes mais rápida que uma obra convencional, segura con-tra o fogo, sem desperdício de tempo e de materiais e um canteiro de obras limpo, resultando numa construção total-mente sustentável.

O desempenho dos produtos Isoeste em termos de qual-idade, eficiência, durabilidade e manutenção, garantiram a continuidade da parceria com o Grupo JCPM na con-strução do segundo shopping da rede RioMar.

Segundo Francisco Bacelar, diretor da divisão imobiliária do Grupo JCPM, trabalhar com a Isoeste e com construtivos isotérmicos tem sido uma experiência muito produtiva. Pro-va disso é que entre a construção dos shoppings RioMar de Fortaleza e Recife, aumentou o uso e as aplicações dos materiais Isoeste.

“Entre as vantagens em trabalhar com o material for-necido pela Isoeste está a facilidade de adaptação às nossas demandas. Nos dois projetos do grupo, tanto RioMar Recife quanto RioMar Fortaleza, a empresa foi e tem sido capaz de nos atender de forma personaliza-da, adaptando-se à nossa demanda. Outro ponto que destaco é a pontualidade. É um fornecedor extrema-mente comprometido com o prazo. Algo importante

A Isoeste Construtivos Isotérmicos está presente na obra do shopping RioMar Fortaleza, do Grupo JCPM, após par-ticipação de grande sucesso em outro empreendimento do grupo, o RioMar Recife. Na cobertura de todo o empreen-dimento e do cinema foi utilizada a Isotelha Trapezoidal, devido a sua grande capacidade de isolamento térmico. Em toda a extensão foi utilizada aproximadamente 20.000 metros do produto que, além destes locais, cobriu também, pontos de ônibus, passarelas e guaritas.Para um melhor isolamento térmico também do cinema, do Espaço Games e do teatro foram utilizados também

os painéis de fachada Wall PUR, com aproximadamente 17.000 metros de produto instalado. Além de proporciona-rem, uma obra de montagem muito mais rápida, limpa, re-sistente ao fogo, e sustentável, a utilização dos construtivos isotérmicos possibilitou um melhor planejamento do siste-ma de climatização do empreendimento, pois possibilitará na ocasião de seu funcionamento grande economia de en-ergia, já que a utilização dos painéis e telhas térmicas reduz a demanda de equipamentos de climatização.

quando se trata de uma obra com período de entrega definido”.

- Bacelar-

Com relação ao uso de construtivos isotérmicos nos empreendimentos JCPM, e na construção civil em geral, Bacelar destaca: “A vantagem desse tipo de material é por conta da praticidade envolvida. É um produto industrializa-do e que, além de ter a vantagem do prazo, não tem desper-dício, outro fator que valorizamos na nossa obra”.

Segundo o Diretor de Desenvolvimento e Relações com o Mercado da Isoeste, o engenheiro Sérgio Bandeira de Mattos, nos últimos dois anos a empresa aumentou sua participação no segmento de shoppings centers em torno de 25% a 30% pois os projetistas de ar condicionado, os calculistas, os arquitetos, os gerenciadores, os investidores e as construtoras já testaram e reconheceram as vantagens da utilização dos painéis Wall Pur nas edificações voltadas para este tipo de empreendimento.

Estes benefícios começam na redução dos pesos das obras, beneficiando um alivio significativo nas cargas das fundações. Favorecem também os projetistas do ar condi-cionado, pois existe uma redução muito grande no calor penetrante das fachadas, chegando a reduções de 40% a

Francisco BacelarDiretor da Divisão Imobiliária do Grupo JCPM

Sérgio Bandeira de MattosDiretor de Desenvolvimento e Relações com o Mercado da Isoeste

INFORME TÉCNICO

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Empresalíder dosegmento

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Page 64: Revista Construir Nordeste Ed 73

foto

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mERCADO hOtElEIRO E shOPPIngs Em FOCO nO ADIT InvesTDurante dois dias, evento reuniu mais de 40 especialistas nacionais e internacionais dos setores imobiliário e turístico

Os riscos que o setor hoteleiro no Brasil vivencia por conta dos investimentos

com pouco retorno pela Copa do Mundo e a crise dos shoppings centers foram alguns dos temas tratados com destaque na 9ª edição do ADIT Invest, que reuniu incor-poradoras, construtoras e loteadoras. Há quase 10 anos, o encontro conecta o setor financeiro ao mercado imobiliário, contan-do também com a presença das principais redes hoteleiras, de fundos de investimen-tos, securitizadoras e bancos. Mais de 250 pessoas estiveram presentes nos 2 dias de evento no Centro de Eventos e Conven-ções Brasil 21, em Brasília.

Com a superoferta de hotéis em algumas cidades em cima da expectativa do Mundial da Fifa, a projeção é de um ano mais compli-cado, em 2015, para o setor hoteleiro. “Capi-tais como Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus e Brasília, por exemplo, aumentaram con-sideravelmente o número de leitos para o grande evento, sem ter o retorno esperado”, lembra Gilberto Martins, do grupo Neoturis, um dos painelistas convidados.

Outro desafio que a hotelaria brasi-leira tem encontrado refere-se a grande oferta de pacotes para destinos interna-cionais com preços bem mais atrativos ao turista. Quem tem sofrido bastante com esta realidade é o ramo de resorts, em especial no Nordeste, que não conse-gue competir de igual para igual com os empreendimentos do Caribe. “A questão

entendemos que precisamos adaptar os nossos produtos para conseguir disputar esse mercado de igual para igual. Assim, o efeito da ameaça pode ser positivo”, avalia Gilberto Martins, da Neoturis | CBRE.

Mas nem só de perspectivas nega-tivas vive a hotelaria brasileira. Dados mostram que a demanda por hotéis cres-ce duas ou três vezes em relação ao PIB. O fenômeno se manifesta também nas companhias aéreas: de 2001 para cá, o crescimento é observado pelo aumento da demanda doméstica. A realidade de-senha um novo cenário que vem sendo muito observado no momento, que é o do empreendimento multiúso. “O mix de hotel, mall e business center conectado ao aeroporto é uma tendência. Os pro-blemas de trânsito também são facilita-dores desse tipo de empreendimento, o que barateia o processo na medida em que eles podem ser feitos longe dos grandes centros”, define Gilberto Martins.

Segundo o painelista Lucas Izoton, da Viverbem, ficou clara a confiança de que o segmento de hotelaria deverá crescer, mas frisou que o resultado da Copa do Mundo poderá ter tanto repercussões positivas quanto negativas. “Durante o evento, os vi-sitantes vão se encantar com o Brasil e, no final, tudo vai dar certo”, observou.

Felipe Cavalcante, Presidente da ADIT Brasil, considera que o mercado imo-biliário está sempre se renovando e a entidade tem conseguido captar o seu curso, adaptando-se às novas realidades, inclusive nos segmentos turístico e ho-teleiro. Para ele, o grande mérito da ADIT Brasil é se manter atualizada com o que está acontecendo no Brasil e no mundo. “Apesar de sermos uma entidade, nosso foco é aplicar e gerar business para o setor e, para isso, precisamos acompanhar as tendências e fazer ajustes para atender às necessidades dos nossos associados”.

O evento que aconteceu em Brasília, trouxe como um dos pontos de discussão a crise dos shopping centers .

do câmbio pesa bastante para que os preços deles sejam bem mais competi-tivos. Mas não dá para comparar com o Caribe. Por aqui, se for praticada a oferta de lá, vai faltar fôlego para fechar a conta no fim do mês”, lamenta Roberto Rocha, da GJP Hotéis e Resorts. “Infelizmente, existem poucas linhas de financiamen-to que propiciem desenvolvimentos de projetos que permitam aos hotéis uma promoção melhor dos serviços”, alega o executivo Guilherme Cesari, da franquia Marriot International & Ritz-Carlton.

Segundo pesquisa da Mapie Especialis-tas Estratégicos em Serviços, os consumi-dores reclamam que os hotéis brasileiros poderiam ser melhores ou mais baratos são caros para o que oferecem e não têm personalidade inovadora. “Existem algu-mas alternativas viáveis para que o ne-gócio sobreviva, como estruturar e con-solidar seus recursos e suas capacidades internos. Importante também é manter o seu produto competitivo”, observa Caroli-na Sass de Haro, sócia-diretora da Mapie.

Outro modelo em ascensão e que acen-de o sinal de alerta entre donos de hotéis é o AIRNB, que consiste no aluguel de apar-tamentos e casas próprias ocupadas para hospedagens. O sistema já funciona em 192 países como modelo de negócios, visto pela rede hoteleira tradicional como con-corrência desleal. “É um modelo inadmissí-vel, até porque não paga impostos. Mas nós

Por Patrick selvatti

Page 65: Revista Construir Nordeste Ed 73

TENDÊNCIASrenato leal coloca em pauta os desafios do setor da construção civil em um novo ambiente econômico e social

RESILIÊNCIA URBANAo engenheiro civil Paulo silva sobrinho ressalta a eficiência e sustentabilidade da galvanização a fogo

ano iV | nº 22 | julho 2014

ENTREVISTAo arquiteto César Barros fala sobre gestão participativa e urbanização consciente na construção de uma cidade mais saudável

EquiLÍBRio Com mEio amBiEntEarquitetura sustentável é fruto do conhecimento da realidade regional e do

compromisso com conceitos de uma relação equilibrada com o meio ambiente

Page 66: Revista Construir Nordeste Ed 73

67 EU DIGO | Paulo Silva Sobrinho 68 TENDÊNCIAS | Renato Leal 72 CONSUMO CONSCIENTE

19 ENTREVISTA | César Barros

74 CAPA | Sustentável além da certificação

O Movimento Vida Sustentável (MVS) vem colocando o tema Sustentabilidade na Construção Civil na ordem do dia, entre em-presários, profissionais, professores, estudantes e sociedade. Busca contribuir com a modernização do setor, divulgando os princípios da construção sustentável, com foco nas pesquisas; na divulgação de produtos e iniciativas eficientes; na multipli-cação de conhecimento com a promoção de debates e capaci-tação, com ênfase na geração de energia, no reúso da água, nas drenagens e na gestão dos resíduos.

AgENDA mVS - AgoSTo

8H30 - 8H50 ABERTURA | PALESTRANTE SERAPIÃO BISPO

8H50 - 9H30 PROJETO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NA NORMA DE DESEMPENHO ABNT NBR 15.575 | RICARDO LUCENA

9H30 - 9H50 DEBATE

9H50 - 10H30 SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO | RODRIGO MACHADO TAVARES

10H30 - 11H00 DEBATE

11H00 - 11H10 ENCERRAMENTO | RENILDO GUEDES

SEDE DO SINDUSCON PERUA MARQUES AMORIM, 136BOA VISTA - RECIFE/PE

74 69

72

SUmÁRIo

Page 67: Revista Construir Nordeste Ed 73

A gAlvAnIzAçÃO A FOgO nA COnstRuçÃO sustEntávElPaulo silva sobrinho*

Entre os processos de proteção contra cor-

rosão de peças de aço e de ferro fundido,

a Galvanização a Fogo é o mais eficiente e tem

como base os fundamentos da sustentabilidade,

ou seja, dentro do aspecto social a criação de um

ambiente saudável e não tóxico, além de propor-

cionar a segurança às obras. Do ponto de vista

ambiental, a proteção do meio natural, a minimi-

zação do consumo dos recursos naturais e a ma-

ximização da reutilização de recursos renováveis

e recicláveis, e, no aspecto econômico, a redução

dos custos de manutenção através da maior vida

útil dos produtos.

Para atender aos parâmetros econômicos de

um desenvolvimento sustentável, o Custo do Ci-

clo de Vida (LCC – Life Cycle Cost) deve ser consi-

derado, visto que a Galvanização a Fogo propor-

ciona um desempenho livre de manutenções por

75 anos ou mais na maior parte dos ambientes,

o seu Custo do Ciclo de Vida é quase sempre o

mesmo que seu custo inicial. Dois métodos para

medir sustentabilidade bastante conhecidos e

aceitos são a combinação do Inventário do Ciclo

de Vida (LCI – Life Cycle Inventory)/Avaliação do

Ciclo de Vida (LCA -Life Cycle Assessment) e a Li-

derança em Energia e Design Ambiental do Con-

selho Americano de Construção Verde (LEED®

- Leadership in Energy and Environmental Design).

O LCI e a LCA trabalham em conjunto para quan-

tificar fluxos de materiais, fluxos de energia e im-

pactos ambientais de um determinado produto.

No processo de Galvanização a Fogo, a peça

é totalmente imersa no banho de zinco fundido

entre 450 e 460 °C, que se liga metalurgicamen-

te com o aço base, e toda a superfície da peça

que permitir acesso será protegida, inibindo a

corrosão. É um procedimento bastante utilizado

e difundido na Europa e América do Norte, onde

a galvanização é realizada em vergalhões para

fabricação das armaduras metálicas de constru-

ções com concreto, perfis estruturais e de telha-

dos, perfis de aço em substituição aos dormentes

de madeira para ferrovias, estruturas de torres de

eletrificação e comunicação, postes (de ilumina-

ção/sinalização), pórticos de rodovias, defensas

metálicas, estruturas de aeroportos (terminais de

passageiros, cargas, hangares de manutenção), *Eng° Paulo Silva Sobrinho, coordenador Técnico do Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ)

guarda-corpos, tubulações, eletrocalhas, fixado-

res (parafusos, porcas, arruelas, estojos), cordoa-

lhas (inclusive para pontes estaiadas) e outros.

VERgALhão gALVANIzADo A fogo:

Por mais de 50 anos, os revestimentos de zin-

co obtidos através da Galvanização a Fogo têm

sido usados ao redor do mundo para proteger os

vergalhões da corrosão, de modo econômico e

eficaz, a exemplo da Ilha de Bermudas.O concreto

é um material constituído de pequenos poros e

capilares, através dos quais os elementos corro-

sivos como água, íons cloreto, oxigênio, dióxido

de carbono e outros gases se infiltram na matriz

de concreto, eventualmente atingindo os verga-

lhões. Para cada mistura de concreto, em alguns

níveis críticos de elementos corrosivos, o aço des-

passiva-se, e a corrosão se inicia.

Uma linha de defesa importante é proteger o

próprio vergalhão pela Galvanização a Fogo. Os

revestimentos obtidos através de Galvanização a

Fogo formam uma barreira constituída de cama-

das intermediárias de ferro-zinco e zinco metáli-

co ao redor do aço, que isola a superfície do aço

do concreto ao redor. Os vergalhões galvanizados

oferecem muitas vantagens sobre os vergalhões

convencionais sem proteção, incluindo:

Os revestimentos de zinco proporcionam uma

proteção de sacrifício ao aço, o que significa que,

se ocorrer alguma imperfeição ou rachadura no

revestimento expondo o aço, a corrosão se con-

centrará preferencialmente na camada de zinco

circundante, proporcionando assim uma prote-

ção eletroquímica ao aço exposto.

Fontes: Instituto de Metais não Ferrosos (ICZ);

International Zinc Association (IZA) e American

Galvanizers Association (AGA).

eu digo

67|3

...a gaLVanização a fogo PRoPoR Ciona

um dEsEmPEnho LiVRE dE manutEnçõEs

PoR 75 anos ou mais na maioR

PaRtE dos amBiEntEs.

Page 68: Revista Construir Nordeste Ed 73

* Renato Leal estrutura negócios, atuando no Brasil e em Portugal

Renato leal *

O ano que se aproxima de forma acelerada vai

se apresentar, indubitavelmente, num novo

ambiente econômico e social, que as empresas do

nosso setor terão que considerar, qualquer que

seja o candidato vitorioso nas eleições presiden-

ciais. Entre muitos pontos a evidenciar neste novo

momento do nosso país, arrolo abaixo uns poucos,

mas de suma importância. São eles, a desacelera-

ção da economia; uma troca da causa inflacionária,

agora com uma presença do componente custos;

perda de poder de compra da população; redução

da capacidade de endividamento das famílias; au-

mento na taxa de juros... As consequências disso

vão além: descontentamento social; instabilidade

política, paralisações sistêmicas; boicote nas ati-

vidades relacionadas às funções públicas; fuga

de capitais, uma mudança nos preço relativos da

economia e algumas crises setoriais. O PIB vai se

manter fraquinho, muito aquém das necessida-

des sociais do nosso país. Desemprego crescente

deve ser previsto. As obras da Copa, em regime

de contratação acelerada para entrega parcial,

vão acabar. Estas últimas consequências serão

diferentes dependendo do Presidente eleito, e da

nova distribuição de forças do Congresso Nacio-

nal. Nesse campo, as expectativas e os humores

dos empresários e investidores serão cruciais.

E vou parar por aqui.Tudo ocorrerá em função

do ajuste no câmbio, nos juros, nas tarifas e nos

gastos. E o investimento vai minguar.

Nesse cenário, o que o nosso setor deve fazer?

Abaixo, algumas sugestões que me vieram à ca-

beça, mas que não esgotam as possibilidades.

1. Diferenciar os seus produtos — nos novos pro-

jetos e naqueles em que ainda são possíveis me-

xer — adicionando valor e difenciando-o no mer-

cado. Paralelamente, aumentar os investimentos

em marketing. Nessas condições de mercado,

quem faz isso à frente dos seus concorrentes

sabe que o efeito negativo será sempre menor.

Quem sai à frente ganha mais ou perde menos.

2. Buscar novos nichos, o que pressupõe inves-

timentos em inteligência de mercado — infor-

mações que permitam identificar, por exemplo,

demanda futura e oferta prevista de produtos

no mercado — e que levam algum tempo para

maturar. Desses estudos, surgem oportunidades

específicas que podem ser a ponte para superar

estes 2 ou 3 anos de um amornar do mercado.

Exemplos: built to suit; apartamentos com servi-

ços acoplados, de pequena dimensão e acaba-

mento diferenciado; aplicação de conceitos de

sustentabilidade. Parece-me que os segmentos

de escritório e flats já deram a sua conta e vão

andar devagarinho por uns anos. Nos setores li-

gados à construção pesada, haverá uma desace-

leração pelo esgotamento dos recursos públicos

e pela finalização das obras da Copa do Mundo.

3. Rever preços, desovando estoques com menor

rentabilidade, sem deixar que as suas empresas

entrem em ciclos de tesouraria negativa, que

tanto impacto causa na sua gestão e no seu valor.

É tempo de decisões rápidas e corajosas.

4. Adiar projetos, ganhando tempo para agre-

gar valor a eles, sob a forma da diferenciação, já

comentada acima, e mesmo de alteração na sua

concepção arquitetônica, na tecnologia constru-

tiva e nos materiais empregados. Uma capitaliza-

ção, ou reestruturação de passivo, também será

bem-vinda. Ou então readequar-se a outros mer-

cados. É tempo de inovar nesses campos.

5. Há sempre a alternativa de se deslocar para

áreas com maior desenvolvimento ou, pelo me-

nos, com menores reduções de atividade.

Há sempre muitos outros caminhos, e parte

do nosso setor saberá indentificá-los. Mas tenho

a sensação de que dificilmente fugirão a estes

acima descritos. O caminho será sempre conse-

quência de ações integradas de marketing, pro-

dução — maior industrialização da atividade — e

técnicas construtivas.

Os que passarem ao largo poderão vir a ter

problemas no curto prazo e inviabilidade no lon-

go prazo. É tempo de inovar.

o Caminho sERá sEmPRE

ConsEquênCia dE açõEs intEgRadas

dE maRKEting, PRodução — maioR industRiaLização

da atiVidadE — E téCniCas

ConstRutiVas.

Os tEmPOs quE vIRÃO

TENDÊNCIAS

68|4

Page 69: Revista Construir Nordeste Ed 73

César Barros

POR umA ARquItEtuRA nÃO sOlICItADA

entrevista

por Pablo Brazfoto Leo Caldas

ESPECIALISTA EM DESENVOLVIMENTO URBANO E EM GESTÃO DE PROJETOS, CéSAR BARROS é UM DOS ARQUITETOS QUE ENXERGAM ALéM DO TRAÇO. SENSíVEL E COM UM OLHAR CRíTICO, ELE DEFENDE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA PROJETOS ARQUITETôNICOS, MODELAGENS URBANAS, PLANOS DE MOBILIDADE E POLíTICAS PÚBLICAS PARA OS CENTROS URBANOS. EX-PRESIDENTE DA EMPRESA DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE (URB), O ARQUITETO JÁ CONCEBEU PROGRAMAS COMO O “RECIFE SEM PALAFITAS” E CAPIBARIBE MELHOR, E RECENTEMENTE LANÇOU O LIVRO DIGITAL, RECIFE ENXERIDO, NO QUAL APRESENTA PROPOSTAS PARA TORNAR A CAPITAL PERNAMBUCANA MAIS INCLUSIVA. EM ENTREVISTA PARA CONSTRUIR NORDESTE, CÉSAR FALA SOBRE MOBILIDADE, GESTÃO PARTICIPATIVA, URBANIZAÇÃO CONSCIENTE E DESAFIOS PARA UMA METRÓPOLE MAIS SAUDÁVEL.

Page 70: Revista Construir Nordeste Ed 73

entrevista

Como surgiu a ideia de lançar o livro

Recife enxerido?

O livro surgiu a partir da discussão de

ideias com amigos, profissionais, parentes e

outros atores, ao longo dos últimos 10 anos,

sobre temas como mobilidade, meio am-

biente, patrimônio histórico, arborização

de ruas, estratégias para ciclovias e parques

e urbanização de favelas. Mais de 60% por

cento da população mundial vive hoje nas

cidades, com perspectivas de que esse nú-

mero chegue aos oitenta, em pouco mais

de trinta anos. Estamos caminhando para

um mundo inteiramente urbano, que exigi-

rá mudanças nos comportamentos de ha-

bitantes e gestores em relação às cidades,

em um novo contexto tecnológico e social.

A obra contribui, então, para proporcionar

uma visão diferenciada sobre os problemas

urbanos desse novo contexto, trazendo a

cidade do Recife como exemplo. Ao mes-

mo tempo, pretende reverberar seu conte-

údo com toda a sociedade, possibilitando a

sua apropriação pelo cidadão comum, em

busca de um pacto legítimo para constru-

ção de uma cidade com maior qualidade. O

livro, inclusive, defende o movimento cha-

mado de Arquitetura não Solicitada.

O que seria o movimento Arquitetura não Solicitada?

Esse movimento, que nasceu na Ho-

landa, busca explorar um papel mais ativo

dos arquitetos na sociedade, que devem

ir além dos trabalhos encomendados. Es-

ses profissionais se assumem como atores

que querem discutir a cidade, e tem inte-

resse pela mesma, pensando em temas

específicos e estabelecendo propostas.

Trata-se de uma arquitetura não passiva,

com uma metodologia criativa ligada às

novas tecnologias de modelagem, com

autonomia profissional independente de

requerimentos, projetando novas visões

para administrar os desafios das cidades

contemporâneas. Por sinal, o livro ia ser

chamado anteriormente de Recife não So-

licitado, baseado nesse movimento.

É preciso ressaltar que a intervenção

do arquiteto no território urbano tem que

estar em harmonia com a natureza, com

uma contribuição social, de maneira que

o seu trabalho enriqueça o território. O

que se observa muitas vezes são objetos

em um ambiente urbano: os mananciais, os

cursos de água e os movimentos naturais

de deslocamento. Uma cidade como Recife,

por exemplo, é fruto de um rio serpentean-

do, e seu tecido urbano, de alguns canais

que naturalmente juntavam água por ques-

tão topográfica, além dos caminhos de des-

locamento dos engenhos para atividades

mais importantes. Quando se reconhece

esse território e trabalha para que ele seja

o menos impactado possível, tudo muda.

Se um rio existe há 200 anos, não adianta

se retificar o rio e mudar o seu formato só

por capricho. Deixá-lo no seu formato na-

tural seria a forma mais correta. Passamos a

vida retificando e envelopando canal, mas a

água vai procurar sempre um lugar para es-

coar. Se eu aterro uma área aqui, irá alagar

em outro canto. É preciso mudar a atitude,

mantendo os mananciais, incrementando a

arborização e construindo integralmente.

Vamos pensar no ser humano e esquecer

a máquina, o edifício, o objeto construído.

É necessário mudar os pré-requisitos para

se construir uma cidade, gerando produtos

que a sociedade possa usufruir. E o mais

importante é a participação da sociedade.

Não há uma pre-disposição para o diálogo

entre arquitetos, empreendedores, enge-

nheiros, gestores e sociedade, para colocar

a discussão de maneira coletiva. Há tam-

bém um desencontro entre tempos técni-

cos, financeiros e políticos que precisa ser

reorganizado.

Como assim um desencontro entre tem-

pos técnicos, financeiros e políticos?

O que acontece é que se tem o proje-

to, tem a vontade política, mas não tem o

dinheiro para executar. Em outra ocasião

se tem vontade política, tem dinheiro, mas

não tem o projeto. Ou então tem projeto,

dinheiro, mas não tem vontade política. E

nessa conjuntura a política é sempre um

condicionante muito forte na execução

das ações, tendo pouca relação com um

plano maior de cidade. Não há o plano di-

retor da cidade, e sim o plano diretor do

prefeito. E os prefeitos não têm culpa dis-

so. Eu sou inclusive a favor de eleger dois

atores: um prefeito e um gerente de cida-

des. O prefeito faria as articulações políti-

cas, relacionando-se com outros gestores

para discutir as questões metropolitanas.

arquitetônicos que não dialogam com a

cidade, sendo apenas ícones isolados, ge-

rando um espaço urbano sem poder de

sedução e sem conforto para o cidadão.

E parte da culpa reside na universidade.

A geração anterior não foi preparada aca-

demicamente para pensar a cidade em

toda a sua diversidade. A cidade é uma

coisa que eles não dominam. Os estudan-

tes de hoje, especialmente dos últimos 5

anos, é que estão começando a refletir de

maneira mais ampla, considerando o en-

torno de onde vivem.

Qual a grande contribuição do livro para

qualquer metrópole brasileira que vive

hoje os mesmos problemas estruturais,

sociais, políticos? Essas propostas rom-

pem a barreira geográfica?

O livro está tratando do território da ci-

dade como um todo, inclusive em um am-

biente metropolitano de forma integrada.

Assim é que se tem que pensar a cidade. O

livro trabalha então com temáticas, e não

com áreas isoladas, justamente para ter um

caráter mais universal. Se fizéssemos uma

intervenção na rua X, espaço Y, iríamos ficar

limitados a dar proposta para aquela área.

No momento em que se trabalha com te-

máticas, apresentando diretrizes e padrões,

as possibilidades são mais amplas, aumen-

tando a chance de serem replicadas. O livro

trabalha sobre padrões de vias, formas de

intervir na questão dos mananciais, a forma

de encarar a questão do patrimônio cultu-

ral. Então se você pegar as diretrizes do Re-

cife Enxerido, elas podem ser aplicadas em

Petrolina (PE), São Paulo (SP), Souza (PB), por

exemplo. Inclusive já existe muito material

coletado sobre a cidade de São Paulo, e em

breve a ideia é que seja lançado também o

São Paulo Enxerido. As cidades, consideran-

do as suas peculiaridades, passam por desa-

fios que muitas vezes são compartilhados.

E quais são os maiores desafios para

tornar uma cidade mais saudável e

sustentável?

O que mais impede é a maneira de se

perceber a cidade. Hoje, se alargam vias, es-

treitam calçadas e derrubam árvores, quan-

do se poderia fazer o contrário. É apenas

uma mudança de comportamento. Nesse

contexto, existem condicionantes básicos

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Page 71: Revista Construir Nordeste Ed 73

O gerente de cidades teria metas e obriga-

ções diárias com a cidade, como um síndi-

co, resolvendo a parte operacional. Dessa

forma, a cidade seria encarada na sua di-

versidade: política e técnica, com atuação

também de economistas, antropólogos,

jornalistas, cientistas, arqueólogos, além

de arquitetos, urbanistas e engenheiros.

Como você encara então os planos ur-

banísticos das metrópoles brasileiras?

Os gestores geralmente encomen-

dam planos urbanísticos diretores sem

ter uma noção abrangente das cidades.

O erro é imaginar que um político vai

resolver o problema urbano. Aí vem os

técnicos contratados, que fazem pla-

nos sem conversar com a população.

Quando conversam, trazem diálogos

ultrapassados. Muitos desses planos

diretores se superpõem à lei do uso

do solo, a de edificações, a de poluição

visual, entre outras. O ideal seria esque-

cer tudo o que foi discutido de 5 anos

para trás. As cidades eram diferentes, o

mundo era diferente. Toda a discussão

da cidade hoje está se voltando para

a questão da mobilidade, do adensa-

mento territorial, do abastecimento de

agua, da limpeza urbana. Esses pontos

foram sempre vistos de forma quantita-

tiva. Deu errado. Temos que discutir em

cima de outros parâmetros.

Por exemplo, a arborização. Você

poderia arborizar uma cidade toda em

2 anos. Por que não fazem? É simples.

Você poderia ter a cidade toda “ciclável”,

adaptada através de ciclovia. A sinaliza-

ção vertical e horizontal está dentro do

orçamento de todas as prefeituras, por

menor que sejam. A sociedade precisa

sair do life in box, da caixa que é sua casa

para a caixa que é seu carro. Da caixa do

carro para deixar seus filhos na escola.

Depois outra caixa que é o shopping, o

escritório. Aí, quando você sai dessas cai-

xas e desce do seu prédio, você vê uma

calçada esburacada, sem arborização,

com água poluída correndo na sarjeta.

Porque como a cidade não é sedutora

nem confortável, você se tranca no seu

carro que é a melhor opção, pois tem

ar-condicionado, som ambiente e se

protege da chuva. Então, quando você

se debruça sobre uma cidade como São

Paulo você percebe que passa 2 ho-

ras para deslocar em uma distância de

menos de 20 km. A cidade não tem um

desenho pensado integralmente. É mui-

to simples resolver a cidade a partir do

momento que você a encara sob uma

gestão participativa.

Qual é a importância de uma gestão

participativa nesse cenário?

A gestão participativa tem uma im-

portância enorme. É necessário convidar

a população para fazer o diagnóstico

juntos. O que custa então a população

começar a fazer foto, opinar e depois

reunir com as informações dos especia-

listas? Aí você pensa: a população não

entende nada. Quem disse que não

entende? Pode não entender tecnica-

mente, mas é a população quem vive no

local. Quando se traz a população para

discutir isso, está se construindo uma ci-

dade em cima das diferenças. Para mim,

a cidade inclusiva tem que ser resolvida

em um único plano, tudo se relacionan-

do. Sem viaduto, sem passarela. Mas nós

tivemos uma cidade que foi planejada

desde a década de 1920 até hoje para

o carro. Então, alargamos vias, coloca-

mos viadutos, ignoramos o pedestre e

o colocamos para atravessar a passarela.

Quando a cidade tem esse planejamen-

to participativo de verdade, com envol-

vimento da sociedade, ela é legítima.

Portanto, a relação de não perten-

cimento do povo é oriunda da sua não

participação no processo de consolida-

ção da sua cidade, além de se relacionar

também com a falta de conhecimento,

da história do lugar onde se está inseri-

do. O cidadão mora ali há 10 anos, mas

não sabe a historia que a rua dele tem

e não conhece as ruas próximas de sua

casa. A ideia é resgatar elementos his-

tóricos que um dia existiram, com esca-

vação arqueológica, museu a céu aber-

to, colocar placas incrustadas no chão,

contando um pouco daquele lugar. Fal-

ta essa sensação de pertencimento. As

pessoas trabalham, estudam, cruzam a

cidade, movimentam-se pelas calçadas,

mas nem percebem a cidade, é como se

estivessem todos no modo automático.

Não se pode negar que a mobilidade

é uma das grandes questões que pre-

ocupam os governos, a população e

os especialistas. Para você, qual é o

grande nó quando se fala em mobili-

dade urbana?

A mobilidade é oriunda de duas coi-

sas: a falta de planejamento territorial e a

incompetência na gestão do transporte

e trânsito. A questão é democratizar as

vias, trazendo acessibilidade para todos.

Vias características para carro, bicicleta,

moto, patins, pedestre, dando oportuni-

dade do cidadão se deslocar da forma

que lhe for conveniente. A gestão do

transporte está equivocada, não há um

gerenciamento inteligente e equilibra-

do. Por exemplo, os binários foram cria-

dos para gerar mais vagas paradas, com

carros dormindo em plena luz do dia. Via

não é para ter carro parado, via é para cir-

cular. Isso acaba transformando a cidade

toda em um grande estacionamento. E,

quando perguntam o que é transpor-

te público de qualidade, o povo pensa:

é ônibus com ar-condicionado e veloz.

Transporte com qualidade é na verdade

conforto e previsibilidade. Não se precisa

andar velozmente. O ideal é esperar no

máximo 10 minutos para pegar o ônibus

e que todos os passageiros viajem senta-

dos. Ou então saber a hora que o coletivo

vai chegar. Isso é simples demais. Basta só

o monitoramento dos ônibus com GPS.

Porém, no contexto da mobilidade, exis-

tem também os modismos, como as ciclo-

faixas móveis que são colocadas aos do-

mingos no Recife, que pouco significa em

termos de política urbana. Outro modismo

falho é o bike share, tecnologia a curto pra-

zo, que por vezes é traiçoeira. Por exemplo,

você chega em uma estação, a bicicleta está

lá, mas o aplicativo diz que não tem bicicle-

ta nenhuma. Ou então as vagas estão todas

lotadas, e você não tem onde colocar a bike.

Eu sugiro uma infraestrutura permanente e

adequada ao ciclista, permitindo passeios

públicos confortáveis e democráticos. E ain-

da tem aquele paradigma: não se anda de

bicicleta porque não tem ciclovia ou não

se tem ciclovia porque não tem ninguém

andando de bicicleta? O certo é que infra-

estrutura gera demanda. Faça ciclovias, e as

pessoas começarão a andar mais.

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Page 72: Revista Construir Nordeste Ed 73

03 lInhAs ORgÂnICAsCriada em 2003, quando o agrônomo Cristiano do Valle foi viver na Amazônia e visualizou o potencial da natureza, a Tora Brasil é hoje uma das empresas líderes na produção de móveis de madeira maciça. A empresa, que tem certificação Forest Stewardship Council (FSC), destacada-se pela exclusividade e pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável, que está presente em toda a cadeia de produção — desde a retirada da matéria-prima da Floresta Amazônica — até a fabricação dos produtos e os estudos para o meio ambiente. As peças ecofriendly são assinadas pelo próprio Cristiano. Na foto, ele e o sócio, Pedro Costa | torabrasil.com.br I 11 3819.8001

01 PARA A CAbECEIRANa sua quarta edição, o livro Ecohouse continua sendo referência e fonte de inspiração para engenheiros, arquitetos e construtores, apresentando soluções para uma arquitetura mais sustentável. Com 15 capítulos e 488 páginas, o lançamento traz novidades em materiais e tecnologias de baixo impacto, além de incluir um capítulo sobre o uso da biomassa como fonte energética e estudos de caso. Da editora Bookman | grupoa.com.br I 0800 703 3444

02 tRAmA hARmOnIOsAA peça em formato de bola é do neozelandês David Trubridge, que recentemente foi escolhido como Designer Revelação na feira Ligth+Building, em Frankfurt, na Alemanha. A luminária é de bambu com possibilidade de escolha da cor e, devido ao seu design, cria um efeito de sombras e luz, transformando o ambiente em um espaço mais intimista. Com exclusividade para a Della’s. A loja, em João Pessoa (PB), tem o conceito de unir arte e iluminação, com palestras, oficinas e eventos culturais | facebook.com/dellasiluminao I 83 3244.4985

A mesa de jantar Manauara da Tora Brasil, produzida em pequiá, sustentada por pés de aço corten, abusa do luxo na fusão de uma natureza quase bruta e um quê industrial. O design é de Cristiano Valle. Dimensões: 220x197x7 cm.

Banco Apenunga feito de madeira pequiá e pés de acrílico. 390x70x45 cm.

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CONSUMO CONSCIENTE

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07 RAÍzEs bRAsIlEIRAsIndicada para revestimentos de paredes internos e móveis, a placa de mosaico Manauara é produzida artesanalmente com baixo impacto ambiental. A matéria-prima da peça, uma criação da Colormix, tem sua origem na Floresta Amazônica e é coletada por famílias extrativistas de baixa renda que coletam o ouriço da Castanha do Pará, em um método socialmente justo e ecologicamente correto. | colormix.com.br I 11 3763.2410

04 PREsEnçA COnFIRmADAUnindo design e tecnologia, a torneira Touch Still, da Deca, garante economia de água através de um sensor luminoso. Seu acionamento se dá por meio de um leve toque, que após 8 segundos é interrompido por um temporizador ou por um segundo toque. O sensor luminoso tem baixo consumo de energia, contribuindo ainda para mais para atitudes sustentáveis | deca.com.br | 11 3088.2744

05 nbRA Aubicon vem com uma proposta de atender à norma de desempenho NBR 15.575 e lança a Manta Acústica Sound Soft Laje Zero, feita a partir de grânulos de pneus usados descartados (borracha SBR). Com o produto, as obras estarão em conformidade com a nova norma sem a necessidade de um contrapiso, podendo se enquadrar a elas no nível mínimo sem alterar o projeto. Medidas: 0,5 m de largura e 10 m a 20m de comprimento, com espessuras de 2,3 mm e 5 mm | aubicon.com.br | 11 2348 5555

06 mAIs DO quE vERDEUm telhado com cisterna para captação e reúso de água da chuva. A novidade é da Ecotelhado, empresa especializada em infraestrutura verde. A água pode ser tratada internamente por meio de um sistema biofílico e armazenada na cisterna. As vantagens não param por aí: a cobertura também pode ser integrada a placas fotovoltaicas para a capacitação de energia solar | ecotelhado.com I 51 3242.8215

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sustEntávEl AlÉm DA CERtIFICAçÃOEm expansão no Brasil, o mercado de etiquetagem de construções e materiais sustentáveis tem ganhado cada vez mais espaço e importância no setor da construção. mas será possível fazer uma arquitetura sustentável somente com selos e certificações como Procel Edifica, Leed, Aqua e Breeam? essas ferramentas podem, de fato, auxiliar os profissionais, mas muitas vezes não passam de jogadas de marketing. Para os especialistas, a questão é clara: os selos e as certificações ainda não são 100% eficientes e não devem ser tomados como fator único e decisivo na projeção de uma obra sustentável.

por isabela moraisfotos por Elena Burn, mateus sá e Paulo trigo

Page 75: Revista Construir Nordeste Ed 73

Conforme revela Paulo Trigo Ferrei-ra, arquiteto especialista em meio

ambiente e desenvolvimento sustentá-vel, quando o projetista se apoia exclu-sivamente sobre as novas tecnologias, esquece-se da essência da arquitetura sustentável. “As inovações muitas vezes vêm para compensar um mau plano arquitetônico”, comenta. Para Paulo, é obrigação do arquiteto estudar de-talhadamente a área de intervenção. Fatores como clima, insolação, vento, topografia, cultura e técnicas construti-vas disponíveis pela mão de obra local devem nortear o projeto.

“A ideia de uma arquitetura inter-nacional, de um estilo predominante, é extremamente questionável, pois não considera este fator primordial da ar-quitetura: de que cada caso é um caso e deve ser tratado com a devida exclu-sividade”, garante o arquiteto. Carla Ma-theus, arquiteta e urbanista da Intentio 8 Arquitetura Sustentável, complemen-ta: “O que difere de um projeto conven-cional é que o ambiente guia o concei-to, e não vice-versa”.

Um dos primeiros pontos que deve receber atenção durante a formulação de um esboço é a questão da insolação, destaca Paulo. “Onde instalar a janela? Os motivos para colocá-la em deter-minado lugar devem ser orientados por questões funcionais, não estéticas”, afirma. Quando a estética se sobrepõe à funcionalidade, é preciso apelar para al-ternativas que consomem muita ener-gia, como, por exemplo, a utilização de ar-condicionado. Carla também lembra: “O desenho deve ser feito de forma a utilizar métodos passivos tanto para iluminação como para resfriamento e aquecimento dos ambientes”.

“Ao importarmos da Europa e dos demais países desenvolvidos a estéti-ca dos edifícios envidraçados, estamos criando um grande problema de con-forto ambiental no Brasil. Então, como medida paliativa, são especificados vidros especiais (Low-E) e sistemas de condicionamento de ar mais eficientes para compensar esse efeito de ganho térmico, quando, na verdade, a solução deveria vir um passo antes: considerar

os materiais adequados ao clima”, avalia o arquiteto. Essas ferramentas, ao serem vendidas como sustentáveis, criam um grande erro de conceito.

Os brises, que tiveram seu uso no auge na década de 1960, são propos-tas arquitetônicas sustentáveis muito interessantes para a circulação de ar e iluminação natural dos ambientes, indica o arquiteto. Para o sistema hi-dráulico, o mais indicado é um sistema de captação da água da chuva, para reúso no vaso sanitário e para serviços de limpeza geral. “Atualmente, colocar uma cisterna que armazene a água do telhado é uma medida muito mais ba-rata que antigamente”, avalia. Já Carla lembra que é possível incluir inúmeros dispositivos economizadores de água, como torneiras e duchas com arejado-res e descargas com duplo acionamen-to, que hoje são facilmente encontra-dos no mercado.

Além da sustentabilidade do próprio edifício, o projeto também deve prever um processo de construção que respei-te o meio ambiente. E, para isso, é essen-cial o conhecimento da realidade local. “Cada planta tem que ser feita tendo como principio básico a sua localiza-ção”, comenta a arquiteta. Paulo desta-ca a importância de conhecer a proce-dência dos insumos e sua durabilidade. “Além de se certificar de que a madeira é de reflorestamento, por exemplo, o arquiteto precisa estar atento à dura-bilidade do material. Se ele dura mais, é mais sustentável. É muito comum se focar apenas na procedência e esque-cer que a durabilidade também é uma concepção muito importante”, destaca.

Para se economizar matéria-prima, Carla aconselha o reaproveitamento de sobras de demolição na construção. “Outra solução que tem sido cada vez mais utilizada é o tijolo modular solo--cimento. É um tijolo sem queima, até por isso é chamado de tijolo ecológico. Além disso, ele tem buracos por onde passam os tubos de hidráulica e os conduítes para elétrica, evitando assim a quebra das paredes e o acumulo de entulho”, orienta. A decisão de escolha do produto e do método construtivo é

fundamental para uma obra sustentá-vel, racional e economicamente viável. “Através de um bom projeto e uma boa execução, um edifício pode utili-zar muito menos recursos naturais du-rante sua construção e durante o seu uso ao comprar e utilizar o material de forma consciente.”

O transporte dos insumos até o can-teiro de obras também deve ser previs-to. De acordo com os arquitetos, prezar por tecnologias locais diminui o custo energético e financeiro da obra. Paulo afirma: “Se limitar a uma distância de até 300 km faz com que o transporte ainda valha a pena”. E arremata: “Acredi-to que a arquitetura sustentável esteja muito mais ligada aos saberes tradi-cionais abandonados pelos arquitetos contemporâneos do que pelo uso ex-cessivo de alta tecnologia em edifícios”.

ao imPoRtaRmos da EuRoPa E dos dEmais

PaÍsEs dEsEnVoLVidos a EstétiCa dos EdifÍCios

EnVidRaçados, Estamos CRiando um gRandE

PRoBLEma dE ConfoRto amBiEntaL no BRasiL,

PauLo tRigo.

O arquiteto Paulo Trigo, especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

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Page 76: Revista Construir Nordeste Ed 73

No Recife, a residência do arquiteto Bruno Lima ocupa um lote remanescen-te de um parcelamento de um engenho, em pleno centro da cidade. A planta, as-sinada por seu escritório O Norte, foi pla-nejada de modo a manter a sensação de se estar em uma mata — e, de tão bem executado, o local até parece mais uma casa na árvore. A opção pela interven-ção mínima na vegetação fez com que as árvores originais do terreno — uma fruta-pão, um jamelão e um abacateiro — fossem preservadas integralmente.

Por se localizar em uma região cen-tral e valorizada da cidade, o método construtivo foi determinado pela pos-sibilidade de transformação futura do

terreno em empreendimento imobi-liário. Chico Rocha, um dos sócios do escritório O Norte, ao lado de Bruno e de Lula Marcondes, conta que o siste-ma composto de peças pré-fabricadas descarta a demolição e torna possível a desmontagem e remontagem da re-sidência em outro local. “A moradia é, antes de tudo, um modelo de habitação para a cidade, pensada com o objetivo de ser replicada tanto em bairros mais periféricos quanto centrais”, diz.

A planta apresenta duas salas, três banheiros, cozinha, área de serviço e três quartos, organizados em três cor-pos diferentes. O primeiro é feito em alvenaria e concreto e agrupa as áreas

molhadas, como banheiros, cozinha e área de serviço. O segundo, suspenso e em estruturas pré-moldadas de madei-ra de alta durabilidade, abriga as áreas “fechadas” da construção: quartos e sa-las de estar e jantar. A terceira e última parte abriga o banheiro do segundo pavimento e a caixa-d’água superior. Sua estrutura é feita em concreto, e o fechamento foi executado com placas recicladas. Esse corpo se conecta ao se-gundo, de madeira, através de uma pas-sarela suspensa a seis metros do solo, no nível da copa das árvores.

A articulação entre o térreo e o pri-meiro pavimento é realizada pelo único elemento fechado do projeto, o hall de acesso e a escada. Essa “caixa” de madeira utiliza um sistema construtivo de tramas horizontais e verticais, comum tanto em construções mais rudimentares de taipa quanto em empreendimentos metálicos em steel frame. No sistema hidráulico, adotou-se a captação de água pluvial. “A água da chuva é recolhida por uma cister-na e canalizada para um reservatório que a distribui para o uso como água sanitária e de limpeza externa”, explica o arquiteto.

Nos quartos do pavimento superior, o tradicional madeirite utilizado para a vedação foi substituído por placas feitas a partir de uma tecnologia reciclada de embalagens de pasta de dente cober-tas por massa. “Trata-se de um material resistente, de fácil manuseabilidade, que se presta muito bem para a divisão dos espaços. O sistema é leve, o que faz com que a estrutura não fique sobrecarrega-da. O material reciclado é mais econômi-co e traz em si uma lógica que não a do descarte”, avalia. Além disso, a residência é “porosa”. Para poupar energia, foram utilizadas alternativas que permitem a circulação do ar e a entrada da lumino-sidade natural, como cobogós e brises de madeira. Para melhorar ainda mais a passagem do ar, o desenho faz com que as paredes sejam defasadas.

Para Chico, as alternativas emprega-das para a captação da água, a vedação e o próprio sistema construtivo desmon-tável “são as grandes virtudes da casa”. Mas, além da edificação em si, o projeto também previu soluções sustentáveis

Os brises de madeira nos cômodos permitem a circulação do ar e a entrada da luminosidade natural.

Suspensa a seis metros do solo, essa passarela conecta os quartos e salas de estar e jantar ao banheiro do segundo pavimento.

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para todo o processo de execução da obra. Nenhum elemento precisou ser fabricado sob encomenda especial, e toda a casa foi construída com materiais locais. “O tamanho das peças foi pen-sado de modo a não requerer grandes formas de deslocamento”, acrescenta o arquiteto. Isso possibilitou a economia de energia com transporte durante todo o processo. Ademais, a própria natureza do material impossibilitou a geração de resíduos. A construção da residência du-rou cerca de 3 meses. Nas mesmas pro-porções, um edifício em alvenaria tradi-cional levaria 8 meses.

Fundado pelos amigos Bruno, Chico e Lula, em 1998, o escritório O Norte vai além da arquitetura. Unindo artes visuais, design, urbanismo e cultura, O Norte abre suas dependências para grupos e institui-ções, como a Associação do Povo Xukuru do Ororubá, o Maracatu de Baque Solto Leão Africano, a Associação Capoeira An-gola Navio Negreiro, entre outros.

Com perfil inovador, o escritório cresceu rápido e, em 16 anos, já alcan-çou grandes feitos. Em 2004, foi con-sultor para a criação da sede da ONG Habitat For Humanity, no Recife, por meio de um projeto de microcrédito para famílias de baixa renda. No mesmo ano, ganhou o Prêmio Jovens Arquitetos pelo IAB-São Paulo e Museu da Casa Brasileira. Dois anos depois, foi selecio-nado para participar da V Bienal de Ar-quitetura Ibérica-Americana, no Uruguai. Em 2010, foi escolhido pela Revista AU – Arquitetura e Urbanismo como um dos 25 escritórios de arquitetura mais pro-missores do Brasil para os próximos 25 anos, sendo o único representante das regiões Norte e Nordeste.

SERVIço

Bruno Lima, Chico Rocha e Lula Marcondes

O Norte - Oficina de Criação

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Carla Matheus

Intentio 8 Arquitetura Sustentável

i8bioarquitetura.eco.br

Paulo Trigo

TETO Arquitetura Sustentável

teto2r.com

A casa utililiza telhas termocústicas. O primeiro corpo, feito de alvenaria e concreto, agrupa banheiros, cozinha e área de serviço. O segundo é suspenso em estruturas pré-moldadas de madeira.

Acreditando em uma arquitetura mais criativa e sustentável, os amigos Bruno, Chico e Lula fundaram O Norte, escolhido como um dos 25 escritórios de arquitetura mais promissores do país.

Para mais fotos e informações sobre o projeto do escritório O Norte, acesse construirnordeste.com.br

77|13

Page 78: Revista Construir Nordeste Ed 73

A segunda edição da TeCobI Expo — único evento 100% focado no

mercado de telhados, coberturas e im-permeabilização — mais uma vez se des-tacou pela qualificação do público, perfil observado pela empresas expositoras.

Durante 3 dias do evento, a TeCobI Expo recebeu profissionais de alto nível de es-pecialização, entre visitantes e congressis-tas, que puderam conhecer as principais novidades dos fabricantes, como novas tecnologias para sistemas de telhado verde, soluções para coberturas que prio-rizem a iluminação natural, coberturas e engradamentos metálicos, telhado bran-co, telhados em cerâmica, sistemas de im-permeabilização, entre outros.

A principal característica da TeCobI, que é colocar frente a frente quem vende e quem compra, foi destaque nesta edição, especialmente pelas empresas que parti-ciparam pela primeira vez no evento. “Nos surpreendemos com a clareza dos clientes que vieram. Sabiam o que queriam”, diz An-dré Carvalho, gerente de desenvolvimen-to de negócios da Polysistem.

A Barrobello, uma das maiores fabrican-tes de telhas em cerâmica do Brasil, foi outra estreante nesta edição da TeCobI Expo. “Foi fundamental para as nossas estratégias de cada vez mais difundir a marca pelo Brasil. Com os negócios que fizemos, cobrimos

Durante três dias, a feira reuniu cerca de 3.200 profissionais altamente qualificados e com a mesma proposta: gerar negócios.

foto

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Rion

A partir da próxima edição, prevista para junho de 2015, o evento passa a chamar-se Roofing Expo Brazil.

todo o nosso investimento”, afirma Leandro Stabili, gerente de vendas da companhia.

A Kofar, empresa que atua no segmen-to de construção civil, especialmente na fabricação de coberturas metálicas, lajes metálicas e perfis de aço, também marcou presença. De acordo com Vanderlei Dias, gerente comercial da empresa, a participa-ção na próxima edição é garantida. “A maio-ria absoluta das pessoas que estiveram em nosso estande sabiam o que queriam. O público da feira é bem direcionado”, conta.

NA PRáTICAA segunda edição da TeCobI Expo,

pensando no aprimoramento da mão de obra para o desenvolvimento da cons-trução civil no Brasil, realizou um extenso programa de treinamentos certificados para profissionais do ramo da carpintaria, organizado pela Eternit, empresa líder no segmento de coberturas e uma das expo-sitoras desta edição. O programa, que fez parte da TeCobI Summit, teve como foco o desenvolvimento de técnicas de carpin-taria metálica e telhadista. Os participan-tes tiveram a oportunidade de conferir, em aulas teóricas e práticas, como execu-tar cálculos, medidas, recortes e instalar as estruturas metálicas, bem como as telhas, de forma segura e prática durante a exe-cução do projeto.

PROGRAMA dE CONFERêNCIASO evento também contou com a Te-

CobI Summit, programa de conferências realizado em paralelo à exposição, com workshops e seminários, que recebeu al-guns dos maiores experts do mercado de telhado, coberturas e impermeabilização. Na ocasião, os participantes puderam promover networking e trocar experiên-cias sobre os assuntos referentes às suas áreas de atuação.

Um dos principais destaques desta edição foi a primeira edição do Fórum La-tino-Americano de Infraestrutura Verde Ur-bana, iniciativa da Associação Tecnologia Verde Brasil (ATVerdeBrasil). O tema que norteou os debates foi Telhados Verdes: A Revolução Sustentável das Cidades Come-ça por Eles. O fórum contou com a parti-cipação de autoridades, professores, ar-quitetos, diretores de grandes empresas e entidades do Brasil e da América Latina.

Outros destaques da TeCobI Summit foram os seminários, painéis e as pales-tras, como Os Caminhos e As Possibilidades de Especificação de Soluções em Alumínio para Coberturas, Novas Tecnologias para Coberturas com Geometrias Comple-xas e ainda outros temas com foco em impermeabilização.

PRóxIMA EdIçãOComo estratégia para ampliar o seu al-

cance internacional, a Clarion-Quartier — empresa responsável pela organização da TecoBI Expo — já anunciou que, a par-tir de 2015, o evento passará a se chamar Roofing Expo Brazil. “O objetivo é atrair mais empresas e visitantes internacionais e aumentar a gama de equipamentos e tecnologias inovadoras”, explica Fernan-do Merida, diretor da feira. Ele acrescenta que o evento não fugirá às suas principais características, que é de ser o único even-to 100% focado neste segmento.

PÚblICO EsPECIAlIzADO É DEstAquE nA TeCOBI 2014

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O Centro de Aperfeiçoamento Visual Ver Esperança Renascer (Caviver),

comandado pela médica Islane Verçosa, no Ceará, foi selecionado pelo Projeto Casa da Criança pela relevância do tra-balho voluntário desenvolvido desde 1991, ajudando milhares de jovens du-rante todo o período. A parceria vai re-sultar na construção de uma nova sede para a Organização Não Governamen-tal, gerando espaços bem planejados — desde ambientes para atendimentos ambulatoriais e cirúrgicos até recreação, permitindo um acolhimento mais orga-nizado e humanizado.

O objetivo do Caviver é o diagnósti-co prematuro, tratamento e a reabilita-ção de crianças socialmente desfavore-cidas no Ceará, evitando o alastramento da cegueira, além de contribuir para a redução da pobreza. O trabalho da ONG é realizado com a colaboração da Organização Mundial de Saúde, da Agência Internacional de Prevenção da Cegueira, do Instituto de Visão e

Desenvolvimento e da ONG alemã Cris-toffel Blindness Mission.

Em Fortaleza, o Projeto Casa da Criança acontece através da Franquia Social do Ceará formada por: André Verçosa, Augusto Souza, Isabel Figuei-redo, João Mendonça e Paulo Pepino. O envolvimento dessa mobilização já conta com mais de 70 profissionais das áreas de arquitetura, ambientação e design, além de 40 empresas locais, com a doação de produtos necessários para a construção e ambientação. To-das essas ações são somadas ao apoio de grandes empresas socialmente res-ponsáveis que cedem materiais a todas as iniciativas do Casa da Criança no Brasil. São as Patrocinadoras Nacionais, como a Araforros, Amanco, Cerâmica Eliane, Esmaltec, Celite, Fabrimar, Flo-rense, Siemens e Sicmol.

Há ainda a significativa ajuda das lojas Pizza Hut do Ceará e da Paraíba, nas quais os clientes podem participar doando R$ 1,00 ao Casa da Criança — e

a Pizza Hut ainda adiciona 20%, a cada colaboração. A empresa é Parceira Más-ter por investir nas ações desenvolvidas pelo Projeto, doando recursos financei-ros necessários ao gerenciamento do trabalho e à aplicabilidade de novas tec-nologias sociais em todo o País, como o Q’Alegria e Programa Cia dos Anjos.

o pRojETo

O Casa da Criança é uma organização com reconhecimento Federal, qualifi-cada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que defende os direitos das crianças e dos adolescentes em território nacional através de ações que vão desde refor-mas e construções a ações de interesse nacional que primam pela qualidade do atendimento. Também trabalha para a influência nas políticas públicas, cobran-do junto aos governos suas responsabi-lidades para com a infância e na melho-ria do atendimento ao câncer infantil.

Desta vez, Projeto firma parceria e entra na luta para combater a cegueira

foto: Casa da CRiançaPerspectiva da fachada do Caviver, que terá uma área de 425,40m2. A unidade deve atender 150 jovens de 0 a 15 anos por mês.

SoCIAL

CAsA DA CRIAnÇA bEnEFICIA mAIs um PROjEtO nO CEARá

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No mês de maio, realizou-se, na cida-de de Guayaquil, Equador, a Plata-

forma Regional para a Redução do Risco de Desastres das Américas (PR-14). O evento foi coordenado pela The United Nations Office for Disaster Risk Reduc-tion (UNISDR) com o objetivo de reunir os principais especialistas sobre o tema, nas Américas e no Caribe, e unir esforços no âmbito internacional, nacional e re-gional, através da troca de informações e experiências, fomentando, assim, o conhecimento sobre um assunto crucial para o desenvolvimento sustentável.

Para que se tenha uma ideia da rele-vância do tema para o Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE), 40,9% dos muni-cípios brasileiros sofreram, pelo menos, um desastre “natural” entre os anos de 2008 e 2012. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil ocupa o terceiro lugar no mundo em número de mortes por desastres “naturais”, o que evidencia uma grande fragilidade nos mecanismos de gestão de riscos de de-sastres no País e o descaso na preserva-ção do meio ambiente e no desenvolvi-mento sustentável.

Vale salientar que o conceito de de-sastres naturais deriva da concepção de que essas catástrofes resultariam unicamente de eventos climáticos ex-tremos. Entretanto, hoje se tem a cons-ciência de que o grau de risco desses eventos é, na maioria das vezes, amplia-do (exponencialmente) pela ação do homem sobre o meio ambiente. Forja-dos na concepção de desastres naturais esses eventos são, na verdade, muitas vezes, catástrofes construídas.

Dados do United Nations Develo-pment Programme (UNDP), apontam que, nos últimos 20 anos, foram de-vastadores os impactos dos desastres sobre a humanidade, afetando 4,4 bi-lhões de pessoas, com 1,3 milhões de mortes e uma perda econômica de dois trilhões de dólares. O impacto não registrado nas famílias de baixa renda e nas empresas informais pode aumen-tar essas perdas totais em 50%, elevan-do esse montante para três trilhões de dólares, pondo em risco o desenvolvi-mento sustentável em todos os seus as-pectos: social, econômico e ambiental. No aspecto social, os desastres expõem as desigualdades e mantêm os pobres

mais pobres. Em termos comparativos, os países em desenvolvimento, embora apresentem apenas 33% dos desastres, contabilizam 81% das mortes.

A escolha do Equador como anfi-trião da PR-14 não foi aleatória, uma vez que esse pequeno País da Amé-rica do Sul apresenta características ambientais e geográficas marcantes. Situado entre a Floresta Amazônica e o oceano Pacífico, o Equador é cortado pela cordilheira dos Andes, o que possi-bilita, num percurso de apenas 200 km (distância menor que a do Recife a Ma-ceió), atingir-se uma altitude de 3.500 metros acima do nível do mar. Além disso, foi nas ilhas equatorianas de Ga-lápagos que o cientista inglês Charles Darwin inspirou-se para formular a sua famosa teoria da seleção natural que explica a evolução das espécies.

Para um país tão pequeno e sujeito aos mais diversos tipos de desastres naturais, terremotos, erupções vulcâ-nicas, enchentes, tsunamis, desliza-mentos de terra, entre outros, a saída está sendo formular políticas públicas relacionadas à redução do risco de desastres. Uma das mais interessantes

Vistas da cidade de Guayaquil, Equador.

O DEsEnvOlvImEntO sustEntávEl E A REDuçÃO DO RIsCO DE DEsAstREstexto e fotos por Luiz Priori jr.

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é a incorporação de critérios técnicos para a redução de risco de desastres ao ciclo de vida dos projetos de infra-estrutura urbana, que inclui as etapas de projeto, construção, operação e manutenção, de modo a reduzir a vul-nerabilidade física.

No caso do Brasil, segundo o Per-fil dos Municípios Brasileiros (Munic 2013), lançado recentemente pelo IBGE, os três tipos de desastres mais frequentes nas cidades são as inun-dações bruscas (como as que devas-taram o litoral sul de Pernambuco e o norte de Alagoas em 2010), seguido das enchentes graduais, como as que assolam o Recife e outras cidades de-vido a fortes precipitações pluviomé-tricas localizadas, e os deslizamentos de encostas — exemplo do que ocorre na região serrana do Rio de janeiro —, sendo esses os desastres que causam mais mortes por soterramento.

A urbanização acelerada é uma tendência importante na ocupação humana. Esse processo de urbaniza-ção rápida e não planejada, segun-do relatório de 2012 do Painel Inter-governamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), tende a agravar a vulnerabilidade a desastres. As altas concentrações populacionais nas ci-dades aumentam a vulnerabilidade urbana pela exposição de um maior número de pessoas aos riscos de de-sastres, aliada ao fraco desenvolvi-mento da infraestrutura urbana.

O efeito das alterações climáticas pode aumentar a vulnerabilidade das populações urbanas até provo-car uma série de catástrofes naturais. Nas cidades brasileiras, os fenômenos hidrológicos extremos, como o au-mento das chuvas fortes, geram duas situações de risco graves: enchentes e deslizamentos de terra. Os impactos desses fenômenos nos sistemas de infraestrutura urbana podem deixar seus habitantes vulneráveis a uma sé-rie de desastres, que convergem para três eixos: danos aos assentamentos urbanos, falhas nos sistemas de sane-amento e fornecimento de eletricida-de e na mobilidade urbana.

Vistas do Serro Santa Ana (Guayaquil).

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Conforme a Agência Estadual de Pla-nejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem), a cidade do Recife possui uma população em torno de 1.530.272 (um milhão, quinhentos e trin-ta mil, duzentos e setenta e dois) habi-tantes, distribuída numa área de mais de 218 km². De acordo com o censo 2010, a cidade concentrava mais de 470 mil domicílios particulares, muitos sob for-te vulnerabilidade, principalmente nas áreas de morro. A área territorial da ci-dade está distribuída da seguinte forma: 67,43% são áreas de morros; 23,26%, áre-as de planícies; 9,31%, áreas aquáticas; e 5,58% são zonas especiais de preserva-ção ambiental, sendo que 35% das famí-lias do Recife moram em áreas de morro.

As vulnerabilidades na infraestrutu-ra do Recife corroboram com o aumen-to do risco de desastres urbanos na cidade e concentram-se nos seguintes sistemas: energia (má conservação dos postes e fiações aéreas que geram peri-gos de choques), saneamento (proble-mas na rede de drenagem urbana, na rede de distribuição de água e coleta de esgoto, com pontos de vazamento e esgoto a céu aberto), resíduos (coleta irregular e/ou deficiente, com pontos de concentração de lixo nas calçadas), transporte (dificuldade de mobilida-de de veículos e pedestres, transpor-te público ineficiente, manutenção

inadequada das calçadas ou ausência delas). No aspecto do uso e da ocupa-ção do solo, verificam-se construções ir-regulares e ocupação de áreas de risco.

A cidade de Guayaquil é a maior concentração urbana do Equador, com uma população em torno de 2,3 milhões de habitantes. Nela, pode-se observar exemplo prático de melhoria na infraestrutura, integração urbana e redução de risco de desastres em área de morro da cidade, o Serro Santa Ana, que, através da reurbanização, foi inte-grado ao bairro histórico de Las Peñas e transformado em um dos principais pontos turísticos da cidade, graças a uma ação conjunta da gestão munici-pal e da comunidade. Impossível não ir a Guayaquil sem subir os 444 degraus do Serro Santa Ana para admirar a vista panorâmica da cidade e na descida pa-rar em um dos inúmeros bares e restau-rantes que contornam as famosas esca-darias, para reabastecer as energias.

Esse exemplo de desenvolvimento urbano sustentável poderia ser aplicado aqui, na cidade do Recife, mais precisa-mente no Morro da Conceição, local em-blemático para a cidade por ser ponto de peregrinação religiosa e guardar a imagem de Nossa Senhora da Concei-ção. Santa de grande devoção popular, atrai centenas de visitantes ao bairro nos dias que antecedem a festa da padroeira.

O lugar, porém, permanece no ostracis-mo durante o restante do ano. Carente de infraestrutura adequada, o local apre-senta áreas de risco de desastres e, não tendo outros atrativos, recebe apenas os moradores da região.

Concluindo: é primordial a promoção de políticas de planejamento e gestão do uso do solo, voltadas para a redução do risco de desastres, uma vez que as cidades crescem e se expandem para áreas marginais, como planícies de inun-dação e encostas íngremes.

Também, a consideração do grau de suscetibilidade e exposição à ocorrência de cheias, deslizamentos de encostas e outros eventos climáticos extremos e perigosos nos projetos urbanísticos para as novas áreas de desenvolvimen-to das cidades; a adoção de sistemas de transporte eficientes para viabilizar a expansão urbana para locais disponíveis em novas áreas mais distantes do centro, reduzindo os incentivos para o desen-volvimento em locais mais vulneráveis; o impedimento à construção de assenta-mentos em áreas de alto risco, que pode salvar vidas e evitar a destruição; a refor-ma de edifícios já existentes; a adoção de padrões de projeto mais robustos para as novas construções e melhorias na infraestrutura contribuem para redu-zir o risco de desastres urbanos e promo-vem o desenvolvimento sustentável.

Vistas do Morro da Conceição (Recife).

Page 83: Revista Construir Nordeste Ed 73

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PERSPECTIVAS DO MERCADO IMOBILIÁRIO DO NORDESTE POR REnAtO tEIXEIRA

Como você avalia o panorama do mercado imobiliário na Região Nordeste?

O mercado imobiliário do Nordeste vem se acomodando num processo de redução de preços de imóveis, segundo os últimos levantamentos. Essa queda de preços se deve ao alto número de lançamentos dos anos anteriores, especialmente em Aracaju, Maceió, São Luis e Salvador. As ofertas nos preços dos lançamentos e o aumento da procura por imóveis usados incentivam o consumo e reduzem a quantidade de imóveis desocupados nas capitais do Nordeste. Com as obras de infraestrutura realizadas para a Copa do Mundo, várias áreas foram valorizadas, trazendo boas perspectivas ao mercado imobiliário nos próximos anos.

A disseminação do crédito imobiliário pelo País influenciou de alguma forma o cenário nordestino?

Com certeza, a viabilização de crédito imobiliário com taxas de juros menores e maiores prazos para pagamentos incentivam o acesso à aquisição da casa própria, sobretudo na baixa renda, com o programa Minha Casa Minha Vida. Há um grande potencial a ser explorado pelo mercado, já que a tomada de créditos imobiliários no Brasil representa apenas 7% do PIB, enquanto por exemplo, no Chile, é de 20%. Temos ainda muito o que crescer com um déficit de mais de 6 milhões de moradias. Portanto, o mercado imobiliário é um investimento seguro, e a tendência é continuar evoluindo.

Qual o impacto de programas habitacionais como Minha Casa, Minha Vida no mercado imobiliário do Nordeste?

A implementação de investimentos de grande porte, como o programa Minha Casa Minha Vida, criado para subsidiar a aqui-sição da casa própria para atender usuários de baixa renda, atende ao déficit habitacional das classes D e E, que não tinham como comprar um imóvel antes.

O que você destacaria de relevante entre os estados nordestinos quanto à oferta e procura do mercado imobiliário?

Por seu potencial turístico e econômico e de desenvolvimento social, o Nordeste é uma das regiões do Brasil que mais recebe investimentos nacionais e internacionais na área imobiliária. O setor de construção civil apresenta crescimento e absorve mão de obra. O Nordeste também tem atraído investidores estrangeiros pela proximidade com os Estados Unidos e a Europa, por possuir um ótimo clima e por suas belas paisagens naturais.

Quais são os grandes desafios enfrentados no mercado imobiliário da Região?

Nada indica que a Região vai entrar em recessão. A Consultoria Tendências afirma que o crescimento médio até 2018 deverá ser de 3,3% ao ano, acima do projetado para o País (2,5% anuais). Cada vez mais, para continuar a se desenvolver, a Região vai ter de buscar saídas para contornar os entraves sociais, mão de obra e infraestrutura.

*Renato Teixeira é presidente da RE/MAX no Brasil. A empresa é uma franquia imobiliária internacional, presente em 90 países.

JULHO 2014 85

NEGÓCIOS MERCADO IMOBILIÁRIO

Page 86: Revista Construir Nordeste Ed 73

NEGÓCIOS PERFIL EMPRESARIAL

AGOSTO26-28, 2014EXPO CENTER NORTESÃO PAULOEXPOSIÇÃO > 11h - 20hCONFERÊNCIA > 9h - 18h

A Expo Arquitetura Sustentável apresentará novos conceitos e soluções de sustentabilidade para eficiência na construção de casas, escritórios e indústrias.

Único evento do mercado que reúne todos os modelos de normas e certificações.

E ainda: Conferência Internacional de Construção e Arquitetura com 3 dias de palestras e debates, além de visitas técnicas a empreendimentos sustentáveis.

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Proibida entrada de menores de 16 anos, mesmo que acompanhados. Evento exclusivo e gratuito para profissionais do setor que fizerem o seu pré-credenciamento por meio do site ou apresentarem o convite do evento no local. Caso contrário, será cobrada a entrada no valor de R$ 55,00 no balcão de atendimento.

A SUSTENTABILIDADE AO ALCANCE DE TODOS.

VISITA TÉCNICA > 29 de agosto, 8h às 13h

Organização e PromoçãoCertificações ParceiroApoio de mídia Revista Oficial

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Page 87: Revista Construir Nordeste Ed 73

NEGÓCIOS MERCADO IMOBILIÁRIO

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NEGÓCIOS

JULHO 201488 JULHO 2014 89

O CAmInhO PARA A AutOssuFICIênCIAInstalação de novas fábricas de cimento no Nordeste promete equilibrar capacidade produtiva e demanda da região

A produção e o consumo de cimen-to na Região Nordeste andam em

descompasso. Dados do Sindicato Na-cional da Indústria do Cimento (SNIC) apontam que, no último ano, as empre-sas da Região foram responsáveis pela fabricação de 14,5 milhões de tonela-das do produto, fazendo do Nordeste o segundo maior produtor regional do Brasil, perdendo apenas para o Sudeste. Apesar disso, a capacidade produtiva nordestina não deu conta de sua pró-pria demanda: no mesmo ano, a indús-tria da construção consumiu 15,3 mi-lhões de toneladas da mercadoria, uma diferença de 800 mil toneladas.

De acordo com o relatório anual do SNIC, o boom da construção civil nor-destina vem causando um aumento acima da média nacional no consumo do produto nos últimos 5 anos. Só em 2012, a procura por cimento na Região aumentou 11%, quase o dobro do cres-cimento no Sul e Norte, que apresen-taram taxa de 6%. Segundo Francisco Silveira, consultor de planejamento es-tratégico da Brennand Cimentos, para

Nordeste, e diversas unidades fabris estão ou em processo construtivo ou de am-pliação. No segundo semestre deste ano, o Grupo Elizabeth inaugura em Alhandra, litoral sul da Paraíba, sua primeira fábrica de cimento. Rodrigo Lyra, superinten-dente comercial da Elizabeth Cimentos, afirma que a fábrica terá capacidade produtiva inicial de 1,2 milhões de tone-ladas anuais. Ainda no Estado, entram em operação nos próximos anos a segunda unidade produtiva da InterCement, em Conde, e a primeira da Brennand Cimen-tos, no município de Pitimbu.

Ao todo, os investimentos da indústria cimenteira no estado chegam a R$ 2,3 bi-lhões. Quando todas as plantas previstas estiverem em funcionamento, a Paraíba contará com um grande polo cimenteiro em seu litoral sul, com um total de cinco fábricas de grande porte. Estimativas do governo indicam que o Estado deverá quadruplicar sua produção até o final deste ano e se consolidar como segundo maior produtor de cimento do País, com uma produção de cerca de 10 milhões de toneladas por ano.

recuperar a diferença, o mercado tem optado pela compra do produto em outras regiões do País e, em menor es-cala por importações do exterior.

O cenário atual permanece o mes-mo, conforme mostram as pesquisas preliminares referentes a 2014 e por isso “a produção deste ano, continua menor que a demanda”, avalia Silveira. Em janeiro deste ano produziu-se 1,2, mas se consumiu 1,4 milhões de tone-ladas no Nordeste. Apesar do déficit, os especialistas alertam que não há moti-vos para temer um movimento de im-portação generalizada do produto, já que a expansão da indústria cimenteira na região deverá garantir a autossufici-ência da mesma nos próximos anos.

INVESTImENTo pESADo

Se por um lado o crescimento acima da média do setor construtivo aumen-tou a diferença entre a oferta e a procura, por outro, criou um clima favorável para o investimento de diversos grupos ci-menteiros nacionais e internacionais no

Com o boom da construção civil no NE, aumentou o consumo de cimento. As indústrias correm contra o tempo para aumentar a capacidade de produção.

Por isabela morais

foto: shuttERstoCK.Com/ ViKoL

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JULHO 2014 JULHO 2014 89

foto: ViViX

*Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento.

A primeira fábrica de cimentos do Grupo Elizabeth, na Paraíba, terá capacidade produtiva inicial de 1.200.000/ano.

Os grupos Cimento Apodi e Cimento Mizu recentemente expandiram as suas capacidades produtivas com a constru-ção de novas fábricas em Quixeré (CE) e Baraúna (RN), respectivamente. Con-forme explica Sérgio Fabiano, diretor comercial da Apodi, a nova unidade já está em operação. “O mercado ainda não reagiu como esperávamos, mas, mesmo assim, nossa possibilidade de produção aumentou em mais de 120%”, garante. A nova unidade deverá acrescentar mais 1 milhão de toneladas anuais à produção estadual, o que representa 56% de todo o volume produzido no Ceará no ano pas-sado. No Rio Grande do Norte, a Mizu ele-vou sua produção de 1,2 para 2,4 milhões de toneladas anuais em 2013. Até 2015, com a ampliação da planta, a empresa pretende passar a produzir 3,6 milhões de toneladas anuais, o que elevaria em

133% a capacidade produtiva do estado com relação aos números de 2013.

Em Alagoas, a fábrica da Cimento Zumbi, no município de Marechal Deo-doro, realiza os preparativos finais antes de entrar em pleno funcionamento. A estimativa da empresa é atingir uma produção de 350 mil toneladas anuais. Outros empreendimentos preveem a inauguração de unidades fabris da SRM Cimentos em Currais Novos (RN), da ASA Cimento no Complexo Industrial Portuário de Suape (PE) e da Cimento Búfalo em Surubim (PE).

Atualmente, a Região Nordeste já conta com um grande potencial instalado, com pelo menos uma fábrica de cimento em cada estado. De acordo com o SNIC, são duas unidades no Maranhão (municípios de Codó e São Luís), uma no Piauí (Fron-teiras), quatro no Ceará (Sobral, Caucaia,

Barbalha e Dionísio Torrer), duas no Rio Grande do Norte (Mossoró e Baraúna), duas na Paraíba (João Pessoa e Caaporã), três em Pernambuco (Goiana, Cabo de Santo Agostinho e Paulista), uma em Ala-goas (São Miguel dos Campos), três em Sergipe (Laranjeiras, Nossa Senhora do So-corro e Pacatuba) e três na Bahia (Campo Formoso, Brumado e Candeias).

Mesmo que muitas indústrias ainda não estejam em operação, a expansão do setor cimenteiro já tem aquecido o mercado regional. De janeiro a maio des-te ano, o Nordeste apresentou um cres-cimento de 7,8% da sua capacidade de produção em relação ao mesmo período do ano anterior. Para Silveira, as perspecti-vas são positivas. Com a capacidade atual somada às novas fábricas, ele diz “O Nor-deste deverá garantir a autossuficiência em poucos anos.”

Região Nordeste Produção Consumo

Maranhão 72.151 131.032

Piauí 51.229 131.032

Ceará 154.516 194.313

Rio Grande do Norte 143.872 95.915

Paraíba 214.272 120.774

Pernambuco 108.865 273.839

Alagoas 68.452 79.628

Sergipe 289.157 55.907

Bahia 117.679 361.021

pRoDUção E CoNSUmo ApARENTE DE CImENTo Em 2014*

“o mERCado ainda não REagiu Como EsPERáVamos,

mas, mEsmo assim, nossa PossiBiLidadE dE

PRodução aumEntou em mais de 120%.”

séRgio faBiano, diREtoR ComERCiaL da aPodi.

foto: ELisaBEth

Page 90: Revista Construir Nordeste Ed 73

COM MAIS DE 60 ANOS DE ATUAÇÃO, A CONSTRUTORA CONIC é UMA DAS MAIS ANTIGAS DE PERNAMBUCO. DESDE DE QUE FOI FUNDADA PELO ENGENHEIRO JúLIO MARANHÃO FILHO, A EMPRESA TEM INVESTIDO EM ESTRATÉGIAS E AÇÕES QUE A TORNARAM DESTAQUE NO CENÁRIO IMOBILIÁRIO REGIONAL E NACIONAL. TRAZENDO UM PORTFÓLIO AMPLO E DIVERSIFICADO, QUE VAI DE OBRAS RESIDENCIAIS A CONSTRUÇÃO DE FÁBRICAS E HOTÉIS, A CONIC TEM AMPLA EXPERIÊNCIA COM REGIME DE CONDOMíNIO FECHADO, MAS SEM ABRIR MÃO DA INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA, IMPLANTANDO EM 2012 O SISTEMA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. A EMPRESA CONSTRUIU O PRIMEIRO EMPREENDIMENTO COM CERTIFICAÇÃO LEED DO RECIFE, APOSTOU EM TECNOLOGIA PIONEIRA NA CONSTRUÇÃO DO GRAND TOwER SHOPPING E VEM DESBRAVANDO NOVAS POSSIBILIDADES NO ESTADO, A EXEMPLO DO TERRA BRASILIS CARUARU, O MAIOR PRéDIO RESIDENCIAL DO INTERIOR DO NORTE/NORDESTE BRASILEIRO. ENTRANDO NA EMPRESA COMO ENGENHEIRO CIVIL TRAINEE EM 1999, luCIAn FRAgOsO, ATUAL CEO (CHIEF EXECUTIVE OFFICER), É O RESPONSÁVEL POR GERENCIAR ESSAS MUDANÇA. NUM BATE-PAPO COM A CONSTRUIR NORDESTE.

JULHO 201490 JULHO 2014 91

NEGÓCIOS PERFIL EMPRESARIAL

ExpERIÊNCIA Com REgImE DE CoNDomíNIo fEChADo

Mais de 100 empreendimentos entregues e com clientes satisfeitos. No regime de condomínio fechado, o cliente paga o seu empreendi-mento durante a sua execução, ou seja, apesar de mensalmente ele pagar parcelas um pouco maiores, assim que termina o empreendi-mento o débito está quitado. Já na incorporação imobiliária, você consegue pagar parcelas menores porque o banco financia, mas muitas vezes leva de 10a 30 anos para quitar a dívida. O regime de condomínio fechado permite que a empresa construtora consiga formar um grupo e apresentar imóveis com grande qualidade de especificação e também com um preço mais barato, com uma economia que varia entre 30% e 40% se comparada com a da incorporação. Outra vantagem desse tipo é que a obra é feita com gestão compartilhada: os con-dôminos participam de todo o processo de planejamento, execução e conclusão, desde a assinatura dos cheques até a definição do tipo de elevador, por exemplo. Isso dá uma garantia de que eles estão acompanhando todo o desenrolar da construção.

Não AbRE mão DA INCoRpoRAção ImobILIÁRIA

Através da incorporação imobiliária, queremos atingir o público de pessoas que tem vontade de morar em um empreendimento de qualidade e que não podem adquiri-lo no regime de condomínio fechado, pois o fluxo de caixa muitas vezes não comporta. Lançamos, nesse sentido, por exemplo, o Complexo Rmpresarial e Residencial Boa Vista, no centro do Recife, com apartamentos de um quarto, com 40 m², e com dois quartos, com 55 m². Esse projeto se voltou para pessoas que queriam ter sua primeira moradia, utilizar o polo médico ou as universidades próximas. A resposta foi extremamente satisfatória. Apostamos em um prédio compacto e esteticamente bonito, que em cerca de 60 dias vendeu aproximadamente 90% das unidades. A decisão do nosso conselho é que se intensifique também esse modelo de negócio para que se possa atender tanto o público da incorporação como do condomínio fechado.

SUSTENTAbILIDADE é pRImoRDIAL pARA CRESCER

No quesito da sustentabilidade, atuamos na área imobiliária e também na prestação de serviços. Um exemplo é a nova sede do Opera-dor Nacional do Sistema Elétrico (ONS), localizado na Rua da Aurora, no Recife. É um empreendimento com alta tecnologia, em que se controla o consumo e a distribuição elétrica de todo o Brasil. São cinco centros desses no País, sendo este o primeiro empreendimento Green Building com certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) do Recife. A partir desse projeto, começamos a intensificar o conceito de sustentabilidade na empresa, replicando para os canteiros de obras práticas sustentáveis como economia e reúso de água, coleta de materiais tóxicos e utilização de madeira apenas certificada para evitar desmatamento ilegal. O sítio Donino e o Reserva do Poço, localizados no Poço da Panela, foram construídos com apenas sete pavimentos de altura, sendo utilizado apenas 40% da área para a construção, com os outros 60% inteiramente de área verde para uso dos próprios condôminos. Buscamos também a me-lhoria dos processos para fazer com que a espessura dos revestimentos sejam a menor possível, conforme norma, pra que não se tenha desperdício de material. Os próprios canteiros hoje já são projetados com telhas translúcidas para evitar alto consumo de energia e com um sistema interno que reaproveita água de torneira para dar descarga no banheiro. Os equipamentos são totalmente controlados para fazer o descarte adequado de óleo ou de graxa, com coletores especiais para que não seja despejado na terra.

Page 91: Revista Construir Nordeste Ed 73

JULHO 2014 JULHO 2014 91

NEGÓCIOS MERCADO IMOBILIÁRIO

INVESTImENTo Em TECNoLogIA INoVADoRA

Estamos construindo o empresarial com a maior lâmina do Nordeste, ou seja, a maior área por pavimento, que é de 1.200 m². É o Grand Tower Shopping, onde será utilizado um sistema de ar condicionado idêntico ao usado no ONS, que faz com que a produção do ar frio seja através da água gelada, e não diretamente pela energia, em que os usuários pagarão menos por isso, além de vidros com capacida-de de absorção maior de raios ultravioleta. O uso de estacas mistas, de concreto pré-moldado com ponta metálica, foi a grande solução da empresa para resolver a formação geológica atípica do solo em questão, que era misto e de má qualidade, mas com uma camada rígida no meio. As estacas diminuíram os custos e otimizaram o uso dos materiais, sem atrasar a obra. Essa novidade implantada no pro-cesso de fundação é um marco, permitindo que ocorra o monitoramento das estacas depois da obra concluída. A Conic pode acionar periodicamente sensores colocados na execução da obra de fundação, que calculam alterações nessas estacas para possíveis ações preventivas. Por sinal, essa instalação da mensuração dessas estacas é pioneira no Brasil.

goVERNANçA CoRpoRATIVA

Uma das grandes decisões foi a implantação da governança corporativa, ou seja, deixou-se de ter aquele viés de empresa familiar, em que se faz todos os processos de acordo com a vontade do mandatário. Hoje a Conic tem um conselho de administração e uma diretoria executiva instituída. As coisas acontecem por geração de resultados, por melhor controle, por satisfação dos nossos clientes e colabora-dores, em que as pessoas estão crescendo na organização por meritocracia. Nesse processo de implantação da governança corporativa, nos baseamos no modelo do Instituto Brasileiro de Gestão Corporativa (IBGC) e estamos introduzindo as melhores práticas dessa gover-nança na Conic. Por exemplo, os conselheiros não atuam na parte executiva da empresa. A execução é feita hoje por pessoas totalmente separadas do Conselho, trabalhando metas e com remuneração variável. Todo o recebimento e toda adespesa são acompanhados por esse grupo executivo.

DESbRAVAR NoVoS LoCAIS E mERCADoS

Além de fortalecer ainda mais a atuação na Região Metropolitana do Recife, a Conic está se expandindo para o interior pernambucano, expansão que se iniciou em 2013. O Agreste, principalmente Caruaru, é uma região que está crescendo bastante. Fizemos pesquisas na área e constatamos que há uma procura por empreendimentos classe A. Pensando nisso, criamos o Terra Brasilis Caruaru, primeiro empreendimento da empresa na cidade e considerado o maior prédio residencial do interior do Norte/Nordeste brasileiro. Com uma área de 324 m²,os apartamentos têm quatro suítes, uma das quais master, com closet e dois banheiros, sala para três ambientes, três varandas com uma delas gourmet integrada ao estar íntimo e à cozinha, copa, gabinete com acesso independente do apartamento, dois quartos de serviços, depósito e despensa. Cada unidade dispõe de cinco vagas de garagem. E não para por aí: o projeto tem piscina com raia e prainha, sala de fitness, lava a jato, brinquedoteca, salão de festa, minicampo de futebol, sala de jogos, pista de skate, quadra de tênis, quadra poliesportiva, bicicletário com capacidade para 40 bicicletas e pista de patinação. Foi um sucesso absoluto. Outra cidade interiorana comtemplada foi Petrolina, que recebeu o Edifício Beira Rio Smart Life, na Beira Rio, também o primeiro empreendimento da Conic na cidade. A empresa pretende sedimentar a sua atuação nessas regiões, fortalecendo e dinamizando a praça de Caruaru e de Petrolina, expandindo-se cada vez mais para fora da capital pernambucana. Estamos também adentrando o litoral sul pernambucano, mais especificamente na Praia dos Carneiros, eleita a segunda mais bela praia do Brasil segundo pesquisa do site de viagens TripAdvisor. Levamos para lá o Eco Resort Carneiros, um projeto que tem diversas opções de planta para apartamentos e bangalôs, dando ênfase à preservação da natureza local e investindo no paisagismo. Outra meta também é entrar no mercado de João Pessoa (PB). Já estamos prospectando terreno lá para em breve lançar nossos empreendimentos.

poRTfóLIo AmpLo E DIVERSIfICADo

Temos também um portfólio diversificado desenvolvendo projetos na área de engenharia de negócios, empreendimentos residenciais, obras industriais e comerciais, desde galpões para operações logísticas, fábricas, centros empresariais a construção de hotéis. A empresa também executa serviços de engenharia para empresas e clientes privados. Nesse momento, estamos concluindo o projeto de amplia-ção do Enotel, que fica em Porto de Galinhas. Já prestamos serviço para a petroquímica Suape; construímos a fábrica da Tigre em Escada (PE); e fizemos o maior call center da América Latina, a Contax, um empreendimento de 42 mil metros quadrados. A Conic também pres-tou serviço para órgãos públicos como Ministério do Exército e executou obras de Oscar Niemeyer.

uma das grandes decisões foi a imPlantação da governança corPorativa, ou seja, deixou-se de ter aquele Viés dE EmPREsa famiLiaR, Em quE sE faz todos os PRoCEssos dE aCoRdo Com a VontadE do mandatáRio.

Page 92: Revista Construir Nordeste Ed 73

tania bacelar de Araújo*

PE: taxas de crescimento mensal do emprego formal na construção civil em 2014

Pernambuco: número índice da evolução do PIb real e do vAb real da indústria da construção civil (1995-2010)

A COnstRuçÃO E A tRAjEtóRIA RECEntE DA ECOnOmIA EstADuAl

A economia de Pernambuco experimentou

recuperação importante a partir de me-

ados da década passada, superando fase de

grandes dificuldades que marcaram as décadas

finais do século 20 no Estado. O dinamismo do

consumo das famílias ao lado da implantação

de importante bloco de investimentos são os

responsáveis pela recente fase de prosperidade

vivenciada pelo Estado.

Novos empreendimentos produtivos e obras

importantes de infraestrutura se dirigiram para este

Estado, e sua implantação mobilizou sua compe-

tente indústria da construção civil, que se ampliou

e se firmou como um dos setores líderes do cres-

cimento estadual. Segundo dados das Contas Na-

cionais, do IBGE, entre 2005 e 2010 essa atividade

se expandiu no Estado a uma taxa média de 11,8%

ao ano, mais que o dobro da média nacional (5,6%).

Como boa absorvedora de mão de obra, a

atividade se destacou como criadora de postos

de trabalho formal, passando de 50.626 empre-

gados, em 2006, para 158.124, em 2012. Com isso,

passa de 4,4% para 9,3% seu peso no total dos

empregos formais do Estado neste mesmo perí-

odo, segundo dados da RAIS/MTE.

Os impactos da desaceleração da economia

brasileira e pernambucana nos anos recentes,

no entanto, não pouparam a construção civil.

Desde 2010, o Brasil vem apresentando gran-

de dificuldade para manter o dinamismo de

sua economia, e Pernambuco, embora resista

e mantenha taxas de crescimento superiores

à média nacional, não consegue ficar imune à

nova conjuntura. Mesmo a dinâmica constru-

ção civil vem sendo afetada, como mostra o

nítido declínio das taxas de criação de empre-

go formal, nos meses iniciais de 2014, revelado

pelo gráfico abaixo.

Como visto, não se restringe à desativa-

ção gradual do canteiro de obras da Refinaria

Abreu e Lima o impacto negativo observado

no mercado de trabalho desta atividade eco-

nômica: todos os segmentos da construção

civil apresentam em maior ou menor grau a

mesma tendência declinante no primeiro qua-

drimestre de 2014.

Na bonança ou na dificuldade, a construção

civil é um bom sinalizador do comportamento

da economia estadual. Esperemos, assim, por

melhores tempos!

* Tania Bacelar de Araújo é sócia da CEPLAN Consultoria

na Bonança ou na difiCuLdadE, a ConstRução CiViL

é um Bom sinaLizadoR do ComPoRtamEnto

da EConomia EstaduaL.

Fonte: RAis/TeM elaboração CePLAN

JULHO 201492

NEGÓCIOS OPINIÃO

Page 93: Revista Construir Nordeste Ed 73

JULHO 2014 93

NEGÓCIOS OPINIÃO

Nos dois últimos artigos, as ideias foram sobre

aquisição de áreas, lançamento e vendas de

empreendimentos imobiliários, como parte dos

aprendizados obtidos pós-boom no Brasil. Agora,

o assunto, pensando nas grandes etapas do negó-

cio imobiliário, é a produção da obra, etapa crucial

para o alcance do que inicialmente foi planejado.

A abordagem que faço é sobre a gestão da

produção, pois enxergo um canteiro de obras

como uma empresa, num conceito ampliado.

Como tal, requer projetos, orçamentos, suprimen-

tos/estoque de materiais, tecnologias, segurança,

qualidade e gente. Tudo isso conduzido por pro-

cessos de gestão que devem ser organizados e

controlados. Sem isso, há um risco elevadíssimo

de ser perder prazos e qualidade e, consequente-

mente, as margens esperadas para o negócio. Em

muitos canteiros, são dezenas, centenas e até mi-

lhares de pessoas trabalhando diretamente e in-

diretamente, direcionadas a um mesmo objetivo.

A experiência recente mostra que muito mais de

que uma boa técnica, é necessária uma boa gestão

e atenção aos movimentos do mercado, pois, dife-

rentemente do que se pensa, há influência direta

dentro da obra. O grande aquecimento do setor,

nos últimos anos, causou problemas na cadeia pro-

dutiva da obra. Houve estrangulamentos no forne-

cimento dos projetos com boa parte dos escritórios

de arquitetura com dificuldades de atender às de-

mandas; problemas na compra de materiais com

entregas atrasadas por parte dos fornecedores;

muita dificuldade na disponibilidade e qualidade

da mão de obra, além de estouros nos orçamentos

em relação aos valores projetados.

Muitas empresas de capital aberto reconhe-

ceram, ao longo da produção da primeira remes-

sa dos empreendimentos do período do boom,

que cometeram equívocos em suas projeções

— equívocos esses que custaram caro e derru-

baram margens de vários negócios. Lembro de

uma delas ter afirmado que os estouros em seus

orçamentos, por exemplo, causariam impactos

nas margens da empresa durante os 18 meses se-

guintes após a revisão dos números. Outra divul-

gou que a terceirização do processo construtivo

culminou na perda do controle sobre os custos e

a qualidade da obra. Resultado: desfez a parceria,

pois o terceirizado não tinha condições de arcar

com o estouro no orçamento nem com a quali-

dade necessária. Além disso, o grande ingresso

de trabalhadores nas obras, se por um lado foi

benéfico para a empregabilidade do setor e da

economia como um todo, foi, e ainda é, difícil em

muitos canteiros, no quesito qualidade final. O

retrabalho é sinônimo de perda e tem impacto

direto numa variável muito sensível: o tempo. E

a não terminalidade no período projetado afeta

fortemente todo o cronograma físico e financeiro

do negócio, configurando-se numa grande ame-

aça, que, em várias situações, é ignorada. Sincera-

mente, confesso: não entendo isso!

Por outro lado, há que se validar também todo

o aprendizado positivo, com adições de novas

tecnologias e ganhos de produtividade, além dos

desafios de se organizar canteiros com milha-

res de unidades, fruto dos projetos voltados ao

segmento econômico. Na outra ponta, projetos

de alto padrão e arrojo arquitetônico também

trouxeram uma nova e bela composição à paisa-

gem das cidades brasileiras, sem contar as gran-

des áreas de lazer, que levaram para dentro das

residências verdadeiros clubes, desafiando, mais

uma vez, a gestão da obra em harmonizar edifi-

cações vocacionadas à unidade habitacional com

as direcionadas ao lazer.

Entre o início e o término da obra, meses se

passam, anos. Planejamento, foco, disciplina, con-

trole e gestão são palavras muito usadas, mas não

podem ser vistas como desgastadas, sob pena de

não se obter os resultados planejados — nem

para os empreendedores nem para os clientes.

A próxima e última lição será sobre a entrega

dos imóveis aos clientes e o momento do repasse

aos bancos. Até lá!

*Mônica Mercês é economista, assessora de Plane-jamento e Inteligência de Mercado da Diretoria da Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário (QGDI)

mônica mercês*

lições pós-boom imobiliário iii

a EXPERiênCia RECEntE mostRa quE

muito mais dE quE uma Boa téCniCa,

é nECEssáRia uma Boa gEstão E atEnção aos moVimEntos

do mERCado...

Page 94: Revista Construir Nordeste Ed 73
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Page 96: Revista Construir Nordeste Ed 73

InsCRIçÃO nO CADAstRO AmbIEntAl RuRAl DEvE sER REquERIDA AtÉ 2015

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi instituído

pelo atual Código Florestal (Lei nº. 12.651, de

25 de maio de 2012) e tem por objetivo integrar as

informações ambientais das propriedades e pos-

ses rurais, criando uma base de dados para con-

trole, monitoramento, planejamento ambiental e

econômico e combate ao desmatamento, sendo

tal cadastro obrigatório para todos os imóveis

rurais do País, que atualmente representam um

montante de 5,6 milhões.

Com efeito, em que pese tal instituto ter sido criado há mais de 2 (dois) anos, sua efi-cácia ficou limitada em razão da ausência de norma regulamentadora de sua aplicabilidade.

No último dia 05 de maio, entretanto, foi publicado o Decreto nº. 8.235, que trata do Pro-grama de Regularização Ambiental (PRA) e es-tabelece regras para inscrição no CAR. De forma complementar às normas trazidas pelo decre-to acima citado, a Ministra do Meio Ambiente, após oitiva dos Ministros da Agricultura, Pecu-ária e Abastacimento e do Desenvolvimento Agrário, publicou, em 06 de maio de 2013, a Instrução Normativa nº. 2/MMA, estabelecendo novas regras sobre o CAR, bem como a respeito do funcionamento do Sistema de Cadastro Am-biental Rural (Sicar), instrumento utilizado para a inscrição do imóvel rural no CAR.

A partir da edição de tais normas, iniciou--se a fluência do prazo de 1 (um) ano previsto no art. 29, § 3º do Código Florestal, para que os proprietários ou posseiros de imóveis rurais requeiram a sua inscrição no CAR.

As referidas normas, recentemente publica-das, trazem também regras para a regularização de passivos ambientais relacionados a Áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reserva Le-gal (RL) e de Uso Restrito (UR) dos imóveis rurais, oportunidade em que poderão os proprietários ou possuidores proceder à regularização ambien-tal mediante adesão aos Programas de Regulari-zação Ambiental (PRA), implantados pelos Esta-dos e pelo Distrito Federal, mediante a celebração de termo de compromisso com o referido ente, sendo certo que tais termos de compromisso de-verão ser únicos para cada imóvel rural.

No termo, deverão estar previstos, além dos dados básicos do imóvel, informações sobre a localização das APPs, Reserva Legal ou área de uso restrito, objeto do acordo, além da descri-minação da proposta do proprietário ou pos-suidor, visando a recomposição, recuperação, regeneração ou compensação das áreas acima referidas, seus prazos e multas aplicáveis pelo descumprimento.

O art. 9º do decreto estabelece, ainda, que, en-quanto estiver sendo cumprido o termo de com-promisso, ficará suspensa a aplicação de sanções administrativas associadas aos fatos que deram origem à causa da celebração do referido acordo.

Além disso, após o cumprimento das obri-gações do termo de compromisso pelo pro-prietário ou possuidor e a inserção de tais informações pelo órgão competente no Sicar, as eventuais multas e sanções serão conver-tidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais consolida-das, conforme definido no PRA.

Destaca-se, ainda, que a inscrição no CAR, além de possibilitar a adesão ao PRA, conforme já citado, traz outras prerrogativas ao proprietá-rio ou possuidor de imóvel rural, como a obten-ção de crédito agrícola, que, a partir de 2017, fi-cará restrito aos proprietários de imóveis rurais com inscrição no CAR (art. 78-A do Código Flo-restal), e o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reser-va Legal (art. 15, III do Código Florestal).

O Cadastro poderá ser feito através do portal criado com esta exclusiva finalidade (www.car.gov.br). No entanto, recomenda-se que as inscrições e suas eventuais retificações sejamassessoradas por profissional com pro-fundo conhecimento das normas que regula-mentam o tema.

Rafael Accioly*

* Rafael Accioly é sócio da área de Direito Imobiliário do escritório Queiroz Cavalcanti

o CaR tEm PoR oBjEtiVo intEgRaR as

infoRmaçõEs amBiEntais das PRoPRiEdadEs E Pos sEs RuRais, CRiando uma

BasE dE dados...

construir direito

JULHO 201496 JULHO 2014 AT

Page 97: Revista Construir Nordeste Ed 73

Em 1969, nasceu a Serviços de Constru-

ção (Servicon). Fundada a partir do de-

partamento responsável pelo fornecimento

de andaimes suspensos para aplicação de ar-

gamassas e rebocos da Quartzolit, a nova em-

presa logo se expandiu e foi buscar, no mer-

cado alemão, novas tecnologias para oferecer

aos construtores brasileiros. Uma das novida-

des foi a inserção das formas metálicas para

lajes nos canteiros de obra, em substituição

aos tradicionais sistemas em madeira, mar-

cando o início da industrialização da constru-

ção civil no Brasil. Em 1976, a Servicon fechou

parceria com a Hünnebeck, líder no mercado

mundial de formas metálicas e treliças para

concretagem, à época, subsidiária do con-

glomerado Thyssen. Desde então, a empresa

Hünnebeck, posteriormente SH, apresenta ao

mercado brasileiro soluções em engenharia,

baseadas na tecnologia alemã adaptada aos

moldes da construção nacional.

A Sh hojE

Atualmente, a SH comemora 45 anos

como líder no fornecimento de formas, an-

daimes e escoramentos. A empresa dispo-

nibiliza sistemas para locação e venda por

meio de unidades instaladas estrategica-

mente em 11 estados do Brasil (São Paulo,

Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito

Federal, Pernambuco, Pará, Rio Grande do

Sul, Paraná, Espírito Santo e Bahia) e está

presente em mais 1.200 obras, como me-

trôs, barragens, aeroportos, viadutos, usinas

hidrelétricas, complexos industriais e comer-

ciais, além de edifícios residenciais e habita-

ções de interesse popular.

Em 2013, o faturamento da SH atingiu R$

245 milhões. A unidade fabril da empresa, a

SH Indústria, produziu mais de 80 mil m2, o

dobro do volume produzido no ano ante-

rior, e os investimentos giraram em torno

dos R$33 milhões. “No momento, o merca-

do de infraestrutura é o carro-chefe da em-

presa para a continuidade do crescimento,

que em 2013 foi de 20%, e este ano a previ-

são é que chegue aos 30%”, explica o diretor

regional da SH, Paulo Lago. Também estão

no foco da empresa o mercado de habita-

ções de interesse social, movimentado por

programas governamentais como o Minha

Casa Minha Vida, e a construção de grandes

complexos comerciais, como shopping cen-

ters, em várias regiões do País.

INoVAR pARA CRESCER

Nos últimos anos, a SH desenvolveu

e fabricou equipamentos de ponta, ade-

quados para atender a diversos nichos

da construção, em especial a chamada

construção pesada. “O plano é continuar

investindo em inovação, qualificando nos-

sos colaboradores para o atendimento de

médio e longo prazo”, conta o diretor re-

gional da SH, Fabrício Fiorini. Em destaque,

está o sistema Lumiform SH®, baseado em

formas de alumínio para paredes de con-

creto; a Mesa Deslizante SH®, ideal para a

execução de grandes lajes, principalmente

protendidas, em curtos prazos de tempo; e

o Multiform SH®, sistema próprio para pa-

redes, pilares, geometrias especiais, como

pontes e viadutos; e estruturas complexas,

como túneis e vãos maiores.

Empreendedorismo e inovação marcam a história da empresash: 45 AnOs

Fabrício Fiorini: o plano é continuar investindo em inovação, qualificando os nossos colaboradores.

Obra do Shopping Vila Velha (ES), na qual foi utilizado o sistema Mesa Deslizante da SH.

Paulo Lago, diretor regional da SH.

foto: sh

Page 98: Revista Construir Nordeste Ed 73

oNDE ENCoNTRAR

A

ALNOR

Produtos/Serviços: Fios e Cabos

Site: www.alnor.ind.br

E-mail: [email protected]

Telefone: +55 (81) 2103-6161

APODI

Produtos/Serviços: Cimentos

Site: www.cimento.com.br

Telefone: 0800 7057575

B BKS

Produtos/Serviços: Fôrmas e Equipamentos

Site: www.bks.ind.br

Telefone: +55 (51) 3587-3266

C CEDISA

Produtos/Serviços: Aços

Site: www.cedisa.com.br

Telefone: +55 (27) 2123-3231

Page 99: Revista Construir Nordeste Ed 73
Page 100: Revista Construir Nordeste Ed 73

TODA OBRA COMEÇA COM A ESCOLHA

DE UM CIMENTO FIRME