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Formandos de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Revista Afirmativa Plural 45

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Formandos de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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ndice

Joaquim Barbosa.........................................................................50

Ayres Britto..................................................................................51

Hillary Clinton.............................................................................52

Ana Paula dos Santos.................................................................53 Bernice King................................................................................54

Nelson Cosme ............................................................................55

José Eduardo Cardozo...............................................................56

Luiza Bairros................................................................................57

Jackson Schneider.......................................................................58

Luciano Coutinho.......................................................................59

João Carlos Di Gênio.................................................................60

Milton Gonçalves........................................................................61

Sandra de Sá.................................................................................62

Fabio Barbosa..............................................................................63

Robson Caetano..........................................................................64

Paula Lima....................................................................................65

Formatura...................................................................................66

Afi rmativo

Desigualdades sociorraciais - Netinho de Paula.......................78

Para romper o preconceito - Benedita da Silva......................80

Educação

Primeira negra assume reitoria de universidade federal...........82

Opinião

A democratização dos meios de comunicação e o combate ao racismo - Leci Brandão............................................................. 84

Preto e Branco

Emílio Santiago.......................................................................... 86

Entrevista Especial

Ousadia à fl or da pele .................................................................... 6

Cidadania

Pela igualdade racial - Michel Temer ..................................... 10

Igualdade de fato - Marta Suplicy .............................................. 12

Integração exige luta permanente - Geraldo Alckmin ........... 14

Igualdade entre as raças - Marco Aurélio Mendes de Faria Mello............................................................................................ 16

Seguir em frente - José Lima de Andrade Neto..........................18

Uma luta difícil, mas possível - Luz Carlos Trabuco Cappi

...................................................................................................... 20

O não-lugar do negro no mercado de trabalho - Edson Santos............................................................................................22

13 de maio: um dia de refl exão - Paulo Paim.........................24

Ainda a ação afi rmativa - José Sarney......................................26

O princípio da igualdade e a não discriminação - Ives Gandra da Silva Martins...........................................................................28

Transpondo barreiras culturais - Massami Uyeda..................30

Que abolição é esta? - Sônia Guimarães................32

Espera de uma nova abolição - Rosenildo Gomes Ferreira...........................................................................34

Especial

Dez anos de Zumbi o futuro é a nossa estrada ...............36

Pérolas negras - Luiz Inácio Lula da Silva...................... 44

Uma escola da igualdade - Fernando Henrique Cardoso..............................................................................46

Fernando Haddad.............................................................48

Aloizio Mercadante..........................................................49

Afi rmativa Plural é uma publicação da Afrobras – Sociedade Afro Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, Centro de Documenta-ção, através da: Editora Unipalmares Ltda. • CNPJ nº 08.643.988/0001-52 • Com periodicidade bimestral • Ano 9 • Número 45 • Av. Santos Dumont, 843 • Bairro Ponte Pequena • São Paulo-SP – Brasil CEP 01101-080 • Tel. (55 - 11) 3325-1000 • www.afrobras.org.br

CONSELHO EDITORIAL: José Vicente • Francisca Rodrigues • Cristina Jorge • Nanci Valadares de Carvalho • Humberto Adami • Sônia Guimarães.

DIREÇÃO EDITORIAL E EXECUTIVA: Jornalista Francisca Rodrigues (Mtb.14.845 - [email protected]).

FOTOGRAFIAS: J. C. Santos, Millenium Formaturas e Divulgação.

COLABORADORES: Rejane Romano, Eliane Almeida, Daniela Gomes.

PUBLICIDADE: Maximagem Mídia Assessoria em Comunicação Tel. (11) 3325-1000.

CAPA: Foto de J. C. Santos

EDITORAÇÃO: Alvo Propaganda e Marketing (revistas@ alvopm.com.br) • Tel. (11) 4325-0605.

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editorial

A cada 13 de maio inúmeras re-flexões permeiam minha mente, no entanto

aquela que preenche todos os espaços é umquestionamento: Por que ainda é assim?

Passados 125 anos de um período sórdidoque deixou marcas indeléveis nos negros brasilei-

ros continuamos lutando por direitos básicos docidadão. Os números são contraditórios e não con-

dizem com a realidade. Se por um lado somos amaioria de acordo com dados do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE), nos falta espaçonos setores de destaque da sociedade.

anos de abolição os feitos da Zumbiestão cravados na história do Brasil.

Bom saber que esta inquietação que mui-tos de nós negros compartilhamos não foi su-plantada pelo sucesso e o Zumbi+10, vem paraproporcionar ao negro novos espaços, como nosrelatou o reitor da Zumbi.

Dentre os vários artigos publicados nesta ediçãoo ponto de convergência é unânime em salientar quemuito há por ser feito e com a garra e o empenho quemotiva a Faculdade Zumbi dos Palmares que venhammais 10 anos de abolição cotidiana. Algo como 100

Sem exageros, - otimismos ou pessimismo -, nes-tes 125 anos conquistas importantes foram realiza-das, seja na base da conversa ou da briga, propria-mente dita. Mas a gênese do questionamento que meinquieta não foi respondida. Por que ainda é assim?

O grande líder negro Martin Luther King hámuito falava do dia que o homem não seria julga-do simplesmente pela cor de sua pele. Infelizmen-te este dia ainda não chegou em sua totalidade.

O que me acalenta o coração é saber que afim de driblar esta situação iniciativas de pro-

moção da igualdade racial têm se mostradoeficazes. Neste sentido não há como não

falar da Faculdade Zumbi dos Pal-mares. Há de se considerar tam-

bém que no que tange aosavanços destes 125

anos em 10, que tal? Quem sabe assim, nos 135anos de abolição da escravatura não existam maisquestionamentos, e sim apenas o deleite das consta-tações. Que assim seja.

Nesta edição além de contarmos com a opi-nião de pessoas de relevância na sociedade brasi-leira sobre a questão da abolição da escravidão,temos ainda um balanço dos 10 anos da pri-meira faculdade na América Latina com focona inclusão do negro no ensino superior e acobertura da formatura de 250 jovens ne-gros que continuam mudando os rumosda história.

Uma ótima leitura!

Rejane Romano,Editora.

ZumbiZumbiZumbiZumbiZumbi+++++1010101010

ditorial

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Por Rejane Romano

entrevista especial

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O idealizador e criador daFaculdade Zumbi dos Palma-res, Dr. José Vicente, que deboia-fria chegou a criação deum projeto que se de um pri-meiro momento pareceu ousa-do, hoje é reconhecido nacio-nal e internacionalmente.

Membro do Conselho de Desen-volvimento Econômico e Social daPresidência da República (CDES), aconvite do então presidente Luiz Iná-cio Lula da Silva, e do Conselho daCidade, da prefeitura de São Paulo,entre outros. José Vicente é umasumidade quando o assunto é a in-clusão do negro na sociedade. Porisso, para falar sobre os 125 anos deabolição da escravatura e sobre os 10

anos da Faculdade Zumbi dos Pal-mares, os temas que pautam esta edi-ção, a Afirmativa Plural buscou seaprofundar no que pensa e anseia estehomem que guia-se pela ousadia.Uma ousadia que parece estar a florda pele e que tem provocado mudan-ças sociais em tempo algum vistasnestes 125 anos.

Afirmativa – São 125 anos deabolição, mas em sua opinião que aboli-ção é esta?

José Vicente – Estes 125 anossão um marco e um momento em quesintetiza justamente a profunda con-tradição do que foi, o que é e o quetem sido a busca do país pela igual-dade e pela democracia de oportuni-dade para todas as pessoas. Ao mes-

mo tempo demonstra a incapacida-de, a fraqueza e a impotência de fa-zer com que isso se transforme numvalor estruturante do país. Nós esta-mos comemorando 125 anos da abo-lição da escravatura em que nos maisdiferentes ambientes, nas trajetórias,nas dimensões socioeconômicas, cul-turais e políticas ainda estamos numperíodo escravocrata.

Afirmativa – Então para o Sr. nóstivemos mudanças, mas ainda estamosaquém do patamar ideal?

José Vicente – Nós estamos lon-ge do minimamente adequado eexigível num país que está aí próxi-mo de completar 200 anos de inde-pendência, prestes a completar 200anos de república, que a despeito dos

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entrevista especial

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períodos sombrios esta há 30 anosnuma democracia plena. Então quan-do você desvia o olhar para esta tra-jetória e coloca do outro lado quan-to a estrutura e a estatura de um paíseconomicamente conflitado você vaiperceber que existe um profundodesequilíbrio entre o Brasil econômi-co, do consumo e o Brasil dos direi-tos e progressos republicanos.

Afirmativa – A Faculdade Zumbidos Palmares completa dez anos atuandona questão de ações afirmativas, proporcio-nando a mudança de vida dos alunos queforma, em vários setores, inclusive economi-camente, dando poder de compra a estes,através dos estágios e das promoções nasempresas onde trabalham, o que é um fatorpositivo, mas e a questão social como fica?

José Vicente – Podemos anali-sar esta questão sob vários aspectos,mas se tomarmos a dimensão doacesso a uma economia de mercadopodemos dizer que houve progres-sos. É aquilo, os pobres, os negros...antes não tinham poder de compra,não tinham poder de consumo e hojeeles têm.

Afirmativa – O que é uma forma deinclusão?

José Vicente – Sim, é uma for-ma de inclusão, mas que não é es-truturante e não é permanente. Estasempre na dependência dos resulta-dos e dos humores do mercado. OBrasil como todos nós estamos per-cebendo passou por um momentode bom crescimento, mas agora es-tagnou. De modo que fazer a ma-nutenção destes ganhos é impossí-vel. É só ver o que está acontecen-do na Europa e em todos os paísesque a classe média ascendeu e semanteve por muito tempo numacondição satisfatória e quando pa-

rou o crescimento eles voltaram to-dos de onde vieram.

Afirmativa – Esta é uma preocupa-ção sua como reitor de uma instituição foca-da na inclusão do negro na sociedade? Ouseja, num primeiro momento foi cumpridauma etapa de incluir os alunos no mercadode trabalho, de sim, possibilitar a eles po-der de compra, mas agora vem uma outrapreocupação com as ações afirmativas deinclusão na sociedade, não apenas no âm-bito do consumo?

José Vicente – Na verdade o quenós não fizemos ainda e precisamosfazer é concomitantemente ao aces-so ao mercado de bens é promover ainclusão nos direitos civis. Na equa-lização das oportunidades, no aces-so aos postos de decisão e de coman-do, nas áreas que definem os rumosdo país...

Afirmativa – Nós podemos chamarisso de empoderamento negro?

José Vicente – Empoderamentode direitos civis dos negros, porqueestes valores, estas dimensões, sãosempre citadas, mas ainda não es-tão estruturadas em mecanismos ad-ministrativos ou legais. Ficam numadimensão política de momento.Quando temos uma onda políticaque advoga estes valores progredi-mos. Quando esta onda reflui, refluí-mos também. É o que nós vimos,por exemplo, neste caso das cotas(referindo-se as cotas raciais nas uni-versidades), tivemos uma correntemuito forte na perspectiva de criara inclusão via cotas, mas isto che-gou apenas até as salas de aula emesmo agora sofre um processo derecrudescimento no sentido de que“olha as cotas já cumpriram seusobjetivos já podem ser retiradas”.Mas só chegamos na sala de aula,

não chegamos nem no corpo do-cente, sequer na administração deuma universidade, nem no campode pesquisa, sequer na gestão finan-ceira. Então é um equívoco acharque com as cotas o problema dainclusão do negro no ambiente daparticipação política do país está re-solvido. Isto só será possível se ti-vermos mecanismos legais que ga-rantam a inclusão e a permanência.

Afirmativa – O exemplo da Zumbié reverenciado nos mais distintos setores,inclusive em outros países. Mas esta traje-tória ainda tem um percurso bastanteconflitante. Como lidar, como você mesmodisse, com as ondas políticas que hora têmempenho em contribuir plenamente, horadão-se por satisfeitas?

José Vicente – Talvez a Zumbiseja a resultante destas questões quese colocam, deste pessimismo e ce-ticismo e mesmo a consciência deque o problema é de uma complexi-dade e de uma dificuldade tremen-da, porque ao passo que nós somosum sucesso de iniciativa, de prota-gonismo e de pioneirismo, nós tam-bém, mesmo depois de dez anos,vemos que temos dificuldades quenenhuma das instituições públicasou comunitárias possui. Apesar dosholofotes que trazem muitos aquipara reverenciar o nosso trabalho,nunca tivemos uma intervenção fir-me de qualquer destas dimensões doEstado e da sociedade civil no sen-tido de fazer disso uma apropriaçãoe mais que isso, permitir que estemodelo pudesse ser repercutido, re-produzido em outras áreas e locali-dades do Brasil. Dez anos depoiscontinuamos com a Zumbi dos Pal-mares praticamente sozinha.

Afirmativa – Mesmo assim nós po-

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demos dizer que estes foram dez anos deconquistas para a Zumbi. Porque uma fa-culdade com este viés, no país que nós vive-mos e já atraiu a Hillary Clinton ao seucampus, além da visita de muitas universi-dades internacionais, a criação do Obser-vatório da População Negra, vários alunosformados mudando as próprias histórias devida deles e de seus familiares...

José Vicente – Nós não temosdúvidas de que tudo que nós conse-guimos construir e conquistar jun-tos é de um extraordinário valor eque aponta para acreditar que mes-mo que num primeiro momento asdificuldades e os obstáculos pareçamindestrutíveis, se houver crença edisposição é possível realizar mu-danças através do trabalho e da de-terminação. Através da união dementes e corações guiados nesta di-reção e neste objetivo. O que nostraz de otimismo a trajetória daZumbi é de que nós somos os se-nhores da razão e podemos mudá-la de uma lado para o outro de acor-do com a nossa vontade.

Afirmativa – Grandes nomes docenário nacional fazem referência a Zum-bi por ter auxiliado na tomada de deci-sões do país, como por exemplo, no empe-nho pela constitucionalidade das cotas queo Sr. participou como Amicus Curiae edepois um ônibus com alunos da faculda-de foi à Brasília em defesa das cotas nasuniversidades públicas federais. Como oSr. avalia isto?

José Vicente – Modestamenteeu posso dizer que grande parte dastransformações e das mudanças queocorreram em nosso país talvez nãotivessem acontecido se não existis-se a Zumbi dos Palmares. Devido aoseu caráter de desafio na sociedadebrasileira no sentido de dar um pas-

so adiante. Porque antes da Zumbi oque se tinha como senso comum éque era imponderável e inoportunaqualquer ferramenta de ação afirma-tiva, como cotas. Sem ter formado-res de opiniões que fossem a públicofalar sobre este tema. Foi na Zumbique estes formadores de opinião en-contraram espaço, foi através das rea-lizações da Zumbi que obrigou-se aoutros setores da sociedade refleti-rem a respeito. Além disso, é na Zum-bi que pessoas estrategicamente im-portantes na tomada de decisões pu-deram se aproximar mais do tema. Eufalo do presidente Lula que a partirda Zumbi criou a Unilab, eu falo doex-presidente do Supremo TribunalFederal, Ayres Britto, que a partir daZumbi colocou a ação de cotas paraser votada. Todos estes participaramdos eventos da Zumbi, nos usaramcomo fonte de subsídios e referenciaspara reformarem ou adequarem con-ceitos quanto a este tema. Mesmo amídia conseguiu na Zumbi as infor-mações importantes para difundirestes valores e pensamentos.

Afirmativa – Nos conte um poucosobre esta nova ousadia que é o plano demetas Zumbi+10.

José Vicente – Nós vamos tra-balhar para ir além do possível e no-vamente tentar antecipar o futuro efazer com que este futuro que deman-daria mais 30 e 50 anos, aconteça nospróximos 10 anos que virão. Vamostrabalhar muito forte a questão da di-versidade e empenhar nossos esfor-ços para que o negro possa não sóentrar no mercado de trabalho, mastambém nos espaços de participaçãoonde os grandes temas são discuti-dos. Vamos trabalhar para a Zumbise tornar uma Universidade, com

mais cursos, mais pesquisa e pós-gra-duação. Com muita profusão sobreo tema negros, treinando e preparan-do pessoas para isto. Criando o es-paço de produção do nosso pensa-mento. Atuando inclusive no ensinoa distância para ficarmos ainda maisdiversificados. Dentro da pós-gradu-ação vamos investir na produção depesquisa no Observatório da Popu-lação Negra, com o apoio inestimá-vel do CNPq vamos abrir um lequede opções e criaremos um ambientede pesquisa de mercado que será oAfrodata. Com o objetivo de ampli-ar os trabalhos já estamos bem adi-antados no processo de internacio-nalização da Zumbi, se juntando numconsórcio com outras 15 universida-de americanas, permitindo o inter-câmbio com estas que são universi-dades historicamente negras.

Afirmativa – Desta forma as lutasantigas permanecem, mas dão espaço paranovas conquistas?

José Vicente – Nós queremos onegro global, que possa atender asexigências da contemporaneidade,com conhecimento sólido e com di-mensão social ampla. Nós queremoslançar o Museu do Negro e poder terum ambiente de resgate da culturanegra dentro do campus da Zumbi.Investindo num Circuito da SambaRock e numa Liga Municipal de Ca-poeira Universitária, a fim de produ-zir integração e futuramente renda.E ao final a Afroétinica, uma grandefeira de negócios a ser realizada nasemana da consciência negra. Tudoisso para que estes negros comecema se apresentar para o mercado cor-porativo, inclusive aproximando atecnologia deste público.

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A igualdade racial no Brasil é umaluta permanente, dia após dia. E noaniversário de 10 anos da FaculdadeZumbi do Palmares, inaugurada comapenas uma sala e alguns professoresvoluntários, celebramos essa luta.Hoje, são mais de 2 mil alunos que seformam em 5 cursos. No ano passa-do, participei da formatura da primei-ra turma de Direito, uma das cerimô-nias mais vibrantes que presenciei.

É orgulho para todos brasileirosver a Faculdade Zumbi dos Palmarespromover a inclusão no mercado detrabalho e, ao mesmo tempo, dar visi-bilidade à questão racial. Uma univer-sidade com 90% das vagas ocupadaspor afrodescendentes evidencia o su-cesso da política de cotas no Brasil.No ano passado, a presidenta Dilmasancionou a lei que estabelece as co-tas sociais para as universidades fede-rais. Nos próximos quatro anos, che-garemos a 50% das vagas destinadasa alunos do sistema público, incluin-do o quesito racial. É uma medida paraacabarmos com o erro histórico comque convivíamos no Brasil: a de estu-dantes de escolas públicas fora dasuniversidades públicas.

Em 2013, também comemorare-mos os 10 anos de criação da Secre-taria de Políticas de Promoção daIgualdade Racial (Seppir). É, pormeio dela, que o governo federal for-mula, coordena e articula as diretri-zes, políticas públicas, programas eacompanha a implementação de leisque promovem a igualdade racial.

Quando presidente da Câmarados Deputados, coloquei o Estatu-to da Igualdade Racial para aprecia-ção dos parlamentares e votação emplenário. A aprovação da matéria,em 2009, foi fundamental para avan-çarmos na questão racial. Estabele-cemos sanções contra o racismo nainternet, garantimos linhas de cré-ditos para populações quilombolase obrigamos as escolas públicas oensino da História da África e da po-pulação negra no Brasil.

Em minha primeira passagempela Secretaria de Segurança Públi-ca do Estado de São Paulo, no go-verno Franco Montoro, criei a De-legacia de Apuração de Crimes Ra-ciais, a primeira do gênero no Bra-sil. Não se tratava apenas de com-bater as práticas delituosas. Tínha-

mos a necessidade de investigarmosa motivação dos criminosos para,então, criarmos políticas públicaspara evitar tais crimes. É preciso vi-gilância permanente.

As políticas afirmativas mudarama maneira como o brasileiro se reco-nhece. Ao compararmos os CensosDemográficos do IBGE de 2000 como de 2010, vemos o aumento do re-conhecimento da população negra eparda no país, de 44,6% para 50,9%.E não se tratou de aumento popula-cional, mas de identidade reconheci-da: autoestima.

Mas os números do Censo 2010nos mostram que ainda há muito oque ser feito. No ensino superior,entre os brancos, 31% frequentavamfaculdade, enquanto entre os pardosa porcentagem era de apenas 13% edos pretos, 12%. Por isso, apesar detoda comemoração por nossas con-quistas, temos que nos concentrar notrabalho contínuo para que a desi-gualdade racial, simplesmente, nãoexista mais no Brasil.

* Michel Temer é Vice-presidente da Repúblicado Brasil.

pela igualdade

* Por Michel Temer

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Foto:

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ízio

de A

ssis

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Uma das áreas mais nobres deBrasilia, às margens do Lago Paranoá,vai mostrar a história da chegada dosnegros no Brasil, a escravidão e a fan-tástica influência da cultura negra naidentidade nacional. No final do anopassado, firmamos no Ministério daCultura, com o governo do DistritoFederal, termo de doação desse terre-no para a Fundação Cultural Palmares.

Já era para existir um museu nes-se local. Há quase 20 anos recebe-mos no Brasil Nelson Mandela, umhomem que se distingue como sím-bolo de liberdade, justiça e luta pelademocracia. Diante dele, o então go-vernador Cristovão Buarque fez adoação do terreno à Palmares. Só queo projeto ficou estagnado. Soube dis-so pouco depois de assumir o Minis-tério da Cultura, em setembro passa-do. Nao conseguia me conformar.Afinal, se em São Paulo colocamosno principal parque da cidade e noprédio mais bonito o Museu AfroBrasil, que é referência de história,arte e etnologia, dedicado à pesqui-sa, conservação e exposição de obje-tos do universo cultural do negro,Brasília, capital do país, no local maisimportante, também pode mostrar a

contribuição do negro para a identi-dade dos brasileiros.

Houve sensibilidade por parte dogovernador Agnelo Queiroz, queconvidei recentemente para visitarmuseus americanos com significadopara o museu que temos por objeti-vo construir no Brasil.

Agora, finalmente, o Ministérioda Cultura se organiza para formar ocomitê que estudará como contar estasaga e a construção do Brasil. É umaquestão de resgatar a nossa identida-de. Quem somos.

Mas, como começaremos essa his-tória? O que vamos contar? Comocontar? Quais recursos vamos usar?Como vamos atrair as pessoas? Deonde virão os recursos? E qual vai sera sustentabilidade do museu?

A jornada é cheia de indagações.E ir aos Estados Unidos, passar pormuseus como o do Holocausto, oNewseum, o Smithsonian, Museu Na-cional de Arte Africana e etc nos deumuitas ideias e um pressuposto quetem que estar presente: a memória oraldos descendentes de quilombolas.

Precisamos saber o que eles ou-viram de seus pais e avós e registrarsuas tradições. A Palmares já possui

um bom acervo de gravações. Urgecompletar as lacunas.

Processos dolorosos como holo-causto, escravidão e outras formas desubmissão desumanizam, apagam ahistória, varrem a existência das pes-soas. Por isso, ficamos sem saber oque aconteceu com nossos antepas-sados e perdemos o nexo com o quenos é caro e identifica.

Não podemos deixar o passadoenterrado. E não podemos tambémfazer da dor um ato de revolta e queaprofunde ódios. Precisamos compre-ender e, sim, pagar a dívida social quetemos para com os que ficaram mar-ginalizados para que possamos supe-rar a necessidade de cotas. Penso quejá começamos a contar essa história.

Imaginou o Brasil sem samba,maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó,lambada, maxixe e maculelê? Ou sema tradicional feijoada, acarajé, caruru,vatapá e moqueca? Candomblé e ca-poeira? Enfim, nao teria espaço paracitar tudo. Mas esses e muitos outrosexemplos falam muito sobre porquedevemos construir e em área nobre deBrasília o museu da nossa história.

*Marta Suplicy é Ministra da Cultura do Brasil.

*Por Marta Suplicy

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A “Lei Áurea” acabou com o que nunca deveria ter existido. Encerrou um período de quase três sécu-los de inominável violência contra um povo que - com muito suor - construiu os alicerces da economia bra-sileira e - com muito sofri-mento e bravura - escreveu as mais emocionantes pá-ginas da história universal

das lutas pela liberdade.O fi m da escravatura veio com

uma lei que, na verdade, não resultou de qualquer concessão especial da princesa regente, mas, sim, de uma conscientização que - embora muito tardia - envolveu toda a sociedade da época. Lamentavelmente, a integração e a igualdade não acompanharam a abolição e, ainda hoje, têm de ser al-cançadas por uma luta permanente na política, na cultura, nos esportes, nas

artes, na economia; enfi m, em todos os campos de atuação da sociedade.

Nesta luta é vital o fortalecimen-to da identidade negra. E essa força felizmente tem crescido consideravel-mente, graças a um árduo e efi ciente trabalho de mobilização que, cada vez mais, permeia nossas artes e meios de comunicação, exaltando - como sem-pre deveria ter sido exaltada - as nossas sólidas e ricas raízes africanas. A recon-quista do orgulho da raça negra - antes

*Por Geraldo Alckmin

*Geraldo Alckmin é Governador do Estado de São Paulo.integração

exige lutapermanenteapenas visível em penteados e roupas coloridas, músicas e danças alegres - já ganha maiores espaços em nossas estatísticas demográfi cas.

O Governo do Estado de São Paulo tem dado todo apoio a esse trabalho de conscientização e reafi rma-ção dos valores da cultura afrobrasileira. Esse apoio

está estruturado por diversas medi-das, entre as quais destaco os decre-tos que assinei em 2003, instituindo a Política de Ações Afi rmativas para Afro-descendentes, no âmbito da Ad-ministração Pública do Estado e a Comissão de Ações Afi rmativas, que vem fornecendo suporte necessário ao Conselho de Reitores das Univer-sidades Estaduais de São Paulo, nos estudos para a instituição do Pro-

grama Estadual de Inclusão Social e Ação Afi rmativa no Ensino Superior.

Assim, sem alardes, nem dema-gogia, o governo paulista tem traba-lhado efetivamente com a comunida-de negra para eliminar preconceitos e construir caminhos mais amplos para a ascensão social e econômica dos afro-descendentes.

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igualdade

as raças

*Marcos Aurélio Mendes de Faria Mello é Mi-nistro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na Constituição de 1988, adotou-se pela primeira vez um preâmbulo –o que é sintomático, sinalizando umanova direção, uma mudança de pos-tura –, após o que a lei maior é abertacom o artigo que lhe evidencia o al-cance: constam como fundamentosda república brasileira a cidadania ea dignidade da pessoa humana.

Do artigo 3º vem-nos luz suficien-te ao agasalho de uma ação afirmati-va, à percepção de que o único modode se corrigir desigualdades é colo-car o peso da lei, com a imperativi-dade que ela deve ter em um merca-do desequilibrado, a favor daqueleque é discriminado, que é tratado deforma desigual.

Nesse preceito são consideradoscomo objetivos fundamentais denossa Republica: primeiro, construir

– preste-se atenção a esse verbo –uma sociedade livre, justa e solidá-ria; segundo, garantir o desenvolvi-mento nacional – novamente temosaqui o verbo a conduzir não a umaatitude simplesmente estática, masa uma posição ativa: erradicar a po-breza, a marginalização e reduzir asdesigualdades sociais e regionais; e,por último, no que nos interessa,promover o bem de todos, sem pre-conceitos de origem, raça, sexo, cor,idade e quaisquer outras formas dediscriminação. Pode-se afirmar semreceio de equívoco, que se passoude uma igualização estática, mera-mente negativa, no que se proibia adiscriminação, para uma igualizaçãoeficaz, dinâmica, já que os verbos,“construir”, “garantir”, “erradicar”e “promover” implicam, em si, mu-

dança de óptica, ao denotar “ação”.Não basta não discriminar. É preci-so viabilizar – e encontramos naCarta da República, base para fazê-lo – as mesmas oportunidades.

Há de ter-se como página viradao sistema simplesmente principioló-gico. A postura deve ser, acima detudo, afirmativa. E é necessário queseja a posição adotada pelos nossoslegisladores. O fim almejado por es-ses dois artigos da Carta Federal é atransformação social, com o objeti-vo de erradicar a pobreza, que é umadas maneiras de discriminação, visan-do-se, acima de tudo, ao bem de to-dos, e não apenas daqueles nascidosem berço de ouro.

entre*Por Marcos Aurélio Mendes de Faria Mello

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Um momento propício para re-fletir sobre a história dos negros noBrasil e reafirmar nossa disposiçãopara seguir em frente, certos das con-quistas já alcançadas, mas tambémcientes do quanto ainda é precisoavançar. Assim podemos definir os125 anos de abolição da escravatura,celebrados neste ano.

Os africanos trazidos como es-cravos para o Brasil contribuíram, nasmais variadas e duras condições, paraa formação e o desenvolvimento donosso país. Ao longo do período co-lonial e monárquico de nossa histó-ria, ajudaram a erguer a nação para aposição que ocupa atualmente, sen-do as mãos que fizeram o Brasil namineração de ouro, nas lavouras decana-de-açúcar e de café assim comoem inúmeras outras atividades. Esti-ma-se que mais de três milhões emeio de homens e mulheres escravi-zados tenham vindo para o Brasil.Neles está a semente que faz hoje doBrasil um país de maioria negra, con-forme dados do IBGE.

Com a promulgação da Lei Áu-rea, há 125 anos, os africanos escra-vizados conquistaram a liberdade,mas esta não veio acompanhada deiniciativas que contribuíssem efetiva-mente para promover a igualdade.Um caminho que ainda hoje precisaser percorrido para que o fato de sernegro ou negra não represente umadificuldade adicional no momento debuscar a educação formal, de dispu-tar uma vaga no mercado de traba-lho ou de se destacar na carreira.

É certo que o Brasil, em mais deum século, evoluiu em relação a essaquestão. O Estatuto da IgualdadeRacial foi uma conquista recente dasociedade brasileira, trazendo inicia-tivas importantes como a inclusãoobrigatória no currículo escolar dahistória geral da África e da popula-ção negra no Brasil, resgatando a suacontribuição fundamental para o de-senvolvimento econômico, político,social e cultural do país.

No entanto, apesar dos avanços,há ainda uma distância grande a ser

percorrida, uma vez que os negrosformam a parcela da população bra-sileira com as condições mais desfa-voráveis em termos de educação, saú-de e colocação profissional.

Hoje, no entanto, em um cená-rio em que há demanda por mão deobra em todos os setores, inclusiveno segmento de energia, o Brasil temdiante de si uma oportunidade úni-ca de unir justiça histórica com opor-tunidade de inclusão. A educação é asaída e também um desafio a se en-frentar. Educação vista não só comobase para a inserção no mercado detrabalho, mas também para a constru-ção de cidadãos. Cidadãos capazes deperceber que, para além da capacida-de de pensar, o que torna os seres hu-manos singulares e nos diferencia dosoutros seres é a percepção do outro e,por extensão, a busca por justiça, oque inclui como premissa básica a va-lorização das diferenças.

*José Lima de Andrade Neto é Presidente daPetrobrás Distribuidora.

*Por José Lima de Andrade Neto

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No ápice de um movimento queenvolveu toda a sociedade, tendocomo protagonistas literatos, parla-mentares e jornalistas, o Império bra-sileiro aboliu a escravidão pela lei de13 de maio de 1888. À época, o ato foisaudado como o fim de uma injustiçaque já durava mais de três séculos.

Atualmente, aprendemos na es-cola, mesmo que de forma superfi-cial, que a Lei Áurea foi um dos mar-cos civilizatórios mais importantes dofinal do século XIX.

No dia 13 de maio a lei comple-ta 125 anos de existência, o que abrea oportunidade para refletir sobreesse tema. Entre outras razões pelosimples fato de que, passado maisde um século, essa questão continuapresente na memória brasileira e éessencial manter viva a discussãosobre esse importante capítulo dahistória do Brasil.

Os fatos que envolvem a aboli-ção foram importantes para definir anova configuração da economia bra-sileira e sua sociedade.

O mundo acadêmico tem produ-zido estudos e bons trabalhos. Sa-bemos que a luta contra a escravi-dão teve origem na resistência dospróprios escravos e depois se espa-lhou, ganhando o apoio crescente detodos os estratos da população. Oativismo político foi protagonizadopor intelectuais, políticos, formado-res de opinião e militantes humanis-tas. Mas o cidadão comum foi agrande força mobilizadora.

As escolas de primeiro e de se-gundo grau cumprem seu papel deresgate da memória. O que se cons-tata é uma aprendizagem sobre oslongos séculos de escravidão, suasrazões, seu contexto, e as marcas ain-da presentes no país.

Este já é um bom começo parareflexão. Mas é preciso ir além dalistagem de datas, efemérides e no-mes. Seria necessário reforçar já nosprimeiros anos de escola a importân-cia do desenvolvimento de um esfor-ço para que o país adote mais medi-das de integração dos afrodescen-

dentes nas áreas de educação e tra-balho, seja por entidades como aAfrobras, seja pela conscientizaçãocrescente das pessoas, das empresas,dos governos e partidos políticos.

O Brasil foi um dos últimos paí-ses a abolir a escravidão, bem depoisdos movimentos humanistas queocorreram na Europa e que consa-graram um novo padrão para a dig-nidade do homem.

Os marcos legais e ações desti-nadas a combater a desigualdade sãoespantosamente recentes. A LeiAfonso Arinos, que tornou contra-venção penal a discriminação racial,data de 1951. O Estatuto da Igualda-de Racial foi instituído apenas em2010. Foram avanços importantes.

A luta contra a desigualdade in-tensificou-se nas últimas duas déca-das, mas há ainda um longo caminhoa percorrer. O essencial é a plenacompreensão de que ela é difícil ecom obstáculos, mas possível.

* Luiz Carlos Trabuco Cappi é PresidenteExecutivo do Bradesco.

*Por Luiz Carlos Trabuco Cappi

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* Edson Santos é Deputado Federal PT/RJ

Durante o período da escravidão,embora em situação extremamenteadversa, o negro detinha um lugar cen-tral no sistema econômico. Como es-cravo, sustentava a economia primá-ria exportadora de café, ouro, algodãoe cana-de-açúcar. E nas cidades res-pondia pela maior parte dos serviços.Havia ainda os “negros de ganho”,que repassavam parte ou a totalidadeda renda que obtinham com peque-nos serviços aos seus proprietários.Com a Abolição, os negros foram des-locados para um “não-lugar” no mer-cado de trabalho, perpetuados numasituação de exclusão e miséria.

Logo após a Abolição ganhou for-ça a tese do “branqueamento” da po-pulação com o objetivo de corrigir osuposto atraso do país. Uma ideia que,na prática, justificou a importação demão-de-obra, principalmente euro-péia, mesmo com a existência de umimenso contingente populacional quejá estava no Brasil, formado pelos ne-gros recém-libertos. As desigualdadesraciais consolidaram-se, forjando umasociedade segmentada e estratificadaem função da cor do indivíduo.

A primeira ação afirmativa volta-da à ascensão dos negros no mundodo trabalho no Brasil foi posta emprática em 1943, com a criação daConsolidação das Leis do Trabalho.O artigo 354º da CLT, que viria a setornar conhecido como Lei dos DoisTerços ou da nacionalização do tra-balho, abriu um grande número devagas para os trabalhadores negros.

Até os dias de hoje, entre os prin-cipais problemas enfrentados pelapopulação negra estão a discrimina-ção no trabalho e a dificuldade paraobter emprego.

Na base deste problema está a nãorealização de uma reforma agrária quecontemplasse a população negra noperíodo pós-Abolição, e a falta deacesso à educação e à capacitação parao trabalho. Ainda é muito raro, porexemplo, encontrarmos médicos ne-gros ou negros em posição de chefianas empresas. A política de cotas ra-ciais e o ProUni, no entanto, possibi-litaram o ingresso de milhares de jo-vens negros e carentes nas universi-dades públicas. E em breve, esta novageração de profissionais terá a opor-

tunidade de alcançar posições de des-taque no mercado de trabalho.

Um esforço contínuo a estas me-didas é o trabalho de convencimen-to junto à iniciativa privada sobre aimportância da promoção da igual-dade racial no ambiente empresarial.No Brasil temos algumas experiên-cias exitosas de inclusão no setor pri-vado. São iniciativas ainda isoladas epouco numerosas, mas que nos fa-zem refletir sobre novas políticas paraa inclusão e o incremento da mobi-lidade de negros, indígenas, mulhe-res e portadores de necessidades es-peciais no quadro funcional das em-presas. O mercado precisa se prepa-rar para receber os milhares de pro-fissionais negros que começam a seformar graças ao ProUni e às cotas.Juntos governo, sociedade e empre-sariado, temos o dever de formularsoluções anti-discriminatórias queaumentem a representatividade des-tes segmentos no corpo das empre-sas, proporcionando a valorização eo respeito à diversidade.

* Por Edson Santos

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Vivas, multidão reunida, chuva de fl ores sobre parlamentares, co-memoração. Assim foi recebida a notícia de que a escravidão no Brasil havia sido extinta. Eram os idos de 13 de maio de 1888, data em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea e que passou a ser comemorada no Brasil. É fato que os dias que se se-guiram não foram tão felizes quanto o da promulgação da lei. Apesar dis-so, o dia deve ser de resgate. Deve-

mos resgatar o espírito de conquista dos negros e abolicionistas.

De lá para cá avançamos. Fizemos muito, mas ainda há muito por fazer. A comunidade negra vem, aos poucos, ocupando seus espaços. É uma luta dura e constante, mas que rende inú-meros frutos. São diversas as iniciativas - seja do movimento negro, da socie-dade, de organismos sociais e das en-tidades privadas e públicas - políticas, sociais e econômicas nesse sentido.

Um exemplo é a iniciativa da Fa-culdade Zumbi dos Palmares. Insti-tuição voltada aos afro-brasileiros a fi m de possibilitar a essas pessoas o acesso ao ensino superior e, mais, contribuir para elevar a auto-estima desses cidadãos.

Auto-estima, outro fator impor-tante. Nossa mídia tem contribuído para que os negros tenham orgulho de suas origens. São jornalistas, mo-delos, atores, apresentadores, enfi m, um grande leque de profi ssionais, valorizados dia-a-dia. Por meio de-les, nossas crianças passam a gostar mais de si mesmas, a perceber seu valor. Mais que isso, por exemplo, a presença de atores negros em papéis de destaque em novelas e em fi lmes não tem implicações apenas junto aos afro-brasileiros, mas sim na socieda-de como um todo. A sociedade bra-sileira vem passando por mudanças.

É disso que precisamos. Mudan-ças nas formas de pensar e de agir. Item que passa pela maneira como nós, negros, nos vemos; como nos po-sicionamos frente às situações; como buscamos e lutamos por nossa plena cidadania e pela igualdade entre as raças. Há quem diga: “mas os afro--brasileiros ainda ocupam os piores postos de trabalho, ainda lideram as listas de excluídos, ainda são os que possuem os menores índices de esco-larização...”. Infelizmente isso é ver-dade. Mas, felizmente, essa realidade pode e está sendo alterada. Sabemos que o patamar em que estamos não é o ideal, mas certamente estamos cada vez mais próximos desse objeti-vo. Desejamos que o 13 de maio seja um dia marcado por discussões que levem o Brasil a ser um país, de fato, igualitário.

*Por Paulo Paim

*Paulo Paim é Senador PT /RS.

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Em 1999, apresentei o primeiroprojeto de lei que trata da utilizaçãoda política de cotas para garantir oacesso da população afrodescen-dente à universidade e aos empre-gos públicos, passo fundamentalpara começarmos o resgate da dívi-da do Brasil com o seu passado. Areação da mídia e de parte da elite,preconceituosa, continua num de-bate que ignora até mesmo as ex-periências muito bem sucedidas emvárias universidades.

Em 2006, um empresário susten-tou a tese de que toda a violênciasocial no Rio de Janeiro era conse-qüência de se ter acabado a escravi-dão muito cedo e sem a indeniza-ção aos proprietários. É espantosoque uma tese tão absurda ainda pos-sa ser levantada. Quando se lançoua campanha pelo abolicionismo,Nabuco mostrou que àquele tempo,na década de 1870, as pessoas tidascomo escravas estavam sob um es-tatuto de ilegalidade explícita, poisa lei de 7 de novembro de 1831 tor-nava livres todos os escravos chega-dos ao Brasil. Esta ilegalidade explí-cita não dispensava o conhecimen-to de que, desde o descobrimento,nenhuma lei autorizava a escravidãono Brasil. A importância do ato de

13 de maio de 1888 é de ter forma-lizado, de maneira simples, a ilegali-dade a que eram submetidos os a-fricanos e seus descendentes quehaviam construído o Brasil.

Nabuco, em “O Abolicionismo”,respondia diretamente à questão deporque não esperar mais para fazera abolição. “Vinte anos mais de es-cravidão, é a morte do país.” Sobreo efeito na lavoura, demonstrava quea experiência americana provava ocontrário, e é disto mesmo que seconvencerá Antonio Prado ao tomara iniciativa da emancipação entre osgrandes proprietários de São Paulo.

O movimento abolicionista con-seguira convencer todas as camadasda população e, com todas as clas-ses, avançava município a município,quarteirão a quarteirão.

O problema do negro brasileirosempre esteve no sentimento da mi-nha alma. Presidente da República,instituí, no centenário da Abolição,a Fundação Palmares, destinada adar um suporte institucional às rei-vindicações e tomar a iniciativa damobilização da sociedade. Em 1989,sancionei a lei 7.716, que define oscrimes de racismo. O projeto de co-tas que apresentei foi aprovado noSenado Federal e amplamente deba-

tido, e dele partiu a implantação decotas nas universidades federais.

O problema da discriminação ra-cial é histórico e suas raízes estãona escravidão e no preconceito.Acredito ser o Brasil uma democra-cia racial que convive com enormespreconceitos.

E se não temos a segregação ra-cial explícita, existe a discriminaçãoencoberta, mascarada, escondida,até mesmo inconsciente. Se é ver-dade que a exclusão dos negros e dacomunidade negra coincide emgrande parte com a dos pobres, elasnão podem ser confundidas. Os ne-gros, entre os pobres, são os maispobres; entre os que não conseguemo acesso à educação, a maioria; en-tre os doentes, os mais graves.

A luta pela reparação da injusti-ça secular ainda levará muito tempopara se concluir. A ação afirmativaé um passo de um longo caminho.Alcançar a liberdade é alcançar aigualdade, é realizar e viver a pleni-tude da fraternidade. A ascensão so-cial do negro é um dos grandes de-safios deste país. Enquanto o negronão tiver o espaço que merece, oBrasil não será um país justo.

* José Sarney é Ex-presidente da República doBrasil.

* Por José Sarney

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Desde os bancos acadêmicos luto pelo princípio da igualdade, que im-plica a eliminação de toda a espécie de discriminações, de ordem social, reli-giosa ou de qualquer outra natureza.

O dia 13 de Maio deveria ser consi-derado o dia do princípio da igualdade, pois todos nós nascemos iguais, indepen-dentemente da etnia a que pertencemos.

É o que se encontra consagrado na Declaração Universal dos Direitos Hu-manos, cujo artigo VII tem a seguinte dicção: “Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discri-minação que viole a presente Declara-ção e contra qualquer incitamento a tal discriminação”.

Essa norma veicula, nitida-mente, o princípio de direito natural, como acentuou René Cassin, um dos inspiradores do referido texto. Consagra, pois, o princípio daqueles que não cabe ao Estado criar, mas apenas reconhecer. De rigor, há princípios que são inerentes ao ser humano. Não decorrem apenas de sua evolução histórico-axiológica, mas sim da própria natureza huma-na. E, por esta razão, não pode o Es-tado violá-los.

À evidência, a “declaração uni-versal dos direitos humanos” não instituiu nenhum direito. Apenas re-conheceu todos aqueles que, há mi-lênios, grandes fi lósofos e juriscon-sultos (Sócrates, Platão, Aristóteles, Ulpiano e Gaio) já perfi lavam como sendo a essência do direito natural, e que os grandes pensadores conside-ravam a espinha dorsal de qualquer regime jurídico justo (“ut eleganter Cel-sus defi nit: just est ars boni et aequi”).

Ora, na essência dos direitos fun-

damentais, está o direito à igualdade, que os fundadores da pátria americana afi rmaram, em sua declaração de in-dependência (“We hold these truth to be self evident that all men are created equal”), em 1776. Os franceses, fi ze-ram o mesmo, no art. 1º de sua decla-ração de direitos do homem de 1789 (“Les hommes naissent et desseurent libres et egaux en droits”).

No Brasil, a Constituição de 1824, no art. 179, inciso 19, aboliu qualquer forma de tratamento ou penas cruéis;

a Constituição de 1891, no art. 72, § 2º, declarava que “todos são iguais perante a lei”; a de 1934, no artigo 113, inciso I, reproduziu idêntico princípio, o mesmo ocorrendo com os artigos 122, §1º, da Carta Magna de 1937, 141, da Lei Su-prema de 1946, 150, § 1º, da Lei Maior de 1967 e 153, § 1º, da E.C. n. 1/1969.

Por fi m, a Constituição de 1988, em diversos dispositivos, assegura a igualdade, lembrando que o art. 5º re-produz o princípio três vezes, ou seja, duas no “caput” e uma no inciso I, ambos assim redigidos: “Art. 5º To-dos são iguais perante a lei, sem dis-

* Ives Gandra da Silva Martins é advogado, profes-sor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Es-cola Superior de Guerra.

tinção de qualquer natureza, garantin-do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualda-de, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mu-lheres são iguais em direitos e obriga-ções, nos termos desta Constituição; ” (grifos meus), assim como no inciso IV do artigo 3º: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: ...IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais-quer outras formas de discriminação”.

Como se percebe, o princípio de direito material é hoje reconhecido

universalmente, sempre temperado pelo princípio da desigualdade entre os desiguais, para que se obtenha a verdadeira igualdade. Cálicles, no diálogo Górgias de Platão, não o reconhecia. Para ele, a lei, ao dar força ao mais

fraco, contrariaria o direito na-tural pois o forte tinha direito a

sua fortaleza e o fraco a sua fra-queza. Sócrates, entretanto, rebateu

essa argumentação, no referido diálo-go, dizendo que a lei, ao dar força ao mais fraco, fortalece-o perante o mais forte, sem enfraquecer o mais forte, suprimindo as desigualdades e geran-do uma igualdade mais ampla.

O certo é que o princípio, reconhe-cido universalmente em 1948, é inerente ao ser humano e está na própria essência da aventura do homem sobre a terra, não admitindo qualquer espécie de dis-criminação seja de que natureza for, em face de raça, sexo, religião, posição políti-ca ou outra forma de segregação.

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*Por Massami Uyeda

A história mostra que os povos,os países e os continentes vivem emconstante transformação. Antes doséculo XIX, os relatos nos dão con-ta de que as mudanças eram lentase a própria evolução e dissemina-ção do conhecimento era restrita auns poucos.

Conquanto o intercâmbio entreos povos padecesse de lentidão,pela dificuldade dos meios de co-municação, os ideais libertários pro-clamados pelos iluministas atraves-saram os mares e venceram distân-cias continentais.

O Brasil também passou a abri-gar sonhos e esperanças de liber-dade e de democracia, como ocor-reu com a Inconfidência Mineira,e, nessa esteira, a campanha aboli-cionista passou a tomar vulto.

Foi no século XIX que o Brasiltornou-se um país independente,aboliu a escravatura e se tornouuma república.

O século XX, por sua vez, foi aépoca das grandes conquistas cien-tíficas e tecnológicas. O conheci-mento cresceu tanto como nuncadantes, a ponto de não nos impres-sionar mais com tanta tecnologia aonosso dispor. E, embora com duas

guerras mundiais, foi no século vin-te que movimentos sociais ganharammais força para nos fazer ver quetodos têm direitos iguais. As mino-rias se organizaram e passaram a exi-gir o respeito e o direito que lhes édevido. Como exemplo, podemoscitar as conquistas femininas.

Agora no século XXI que já so-mos “on-line” e tudo é divulgado econhecido em tempo real, é difícilconceber como as pessoas viviamantigamente sem o conforto e a co-modidade do fogão a gás, da eletri-cidade, da facilidade do celular e dapraticidade do computador. Todosnos orgulhamos do progresso equeremos estar por dentro de to-das as inovações.

Entretanto, não obstante osavanços científicos e tecnológicos,a realidade, no campo antropológi-co-cultural, é que ainda convivemoscom graves problemas sociais e deintolerância. Temos muito a fazerpara diminuir a desigualdade socialaqui no Brasil e no mundo.

Felizmente, existem pessoas eorganizações que se preocupam emminimizar essas desigualdades.

Nesses 120 anos de Lei Áurea,vários movimentos contribuíram

para as transformações sociais, e en-tre esses, merece destaque o exce-lente e frutífero trabalho realizadopela Afrobras, liderada pelo Dr. JoséVicente, que nos últimos dez anostem conquistado importantes vitó-rias em prol da inserção dos negrosna sociedade brasileira.

A materialização do sonho decolocar em funcionamento umauniversidade voltada para apoiar aparticipação de jovens negros nomercado de trabalho ou como em-preendedores é de ser comemora-da como um dos mais relevantesacontecimentos.

A boa formação educacional é amais importante ferramenta de liber-dade e de ascensão social.

A Afrobras e a UniversidadeZumbi dos Palmares estão fazendoa sua parte e é certo afirmar, tam-bém, que todos podem fazer algoem prol dessa causa nobre.

Um pouco de cada um, no seucírculo de influência, é valiosa con-tribuição para a mudança culturalque nos faz compreender e ver quesomos todos iguais.

* Massami Uyeda é Ministro do SuperiorTribunal de Justiça.

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Se a gente lembrar a novela da Rede Globo de Televisão, “Lado a Lado”, notamos que muitas coisas que aconteceram 12 anos depois da abolição ainda acontecem hoje: as fa-velas ainda existem e pelos mesmos motivos. As pessoas que moram lá ainda são desrespeitadas da mesma forma e a maioria ainda é negra. O número de negros no subemprego, com menor grau de educação, con-sequentemente menor remuneração ainda é muito maior que o número de brancos. O número de negros estu-dando nas universidades ainda é mui-to menor que brancos. Enfi m, a situ-ação ainda está muito longe da ideal.

Mas como diz o título, “Que abolição é esta?”, com o verbo no presente, vamos falar de hoje, e es-perar por um futuro mais igual, de-pois de muita luta pela igualdade de oportunidades, pelas cotas, e do que mais eu tenho orgulho no momento: bolsas de estudos no programa do governo Federal Ciências sem Fron-teira. Essas bolsas dão uma grande oportunidade para todos - das áreas

exatas, científi cas e biológicas - , fa-zerem cursos de especialização em vários países, de escolha do bolsista, e são dezenas de milhares de bolsas.

O candidato para concorrer a essa bolsa tem que ter mais de 600 pontos no ENEM, e a aprovação do curso que está fazendo. Dos candi-datos com mais de 600 pontos no ENEM, 54% são afrodescendentes, e dos que tinham conseguido a bol-sa não ultrapassavam 5%, mesmo porque Portugal está nessa lista, e aí exame de língua não é um pro-blema. Mas, para ir a países que exi-gem a língua inglesa... Quantos dos candidatos negros tinham fl uência na língua? Quantos desse grupo de pessoas puderam fazer cursos de lín-guas, intercâmbio para outros países ou viajaram para o exterior como muitos de seus colegas? Pois bem, depois de muita luta e um clássico: “os estudantes que não têm capa-cidade de aprender inglês, não têm capacidade de obter essa bolsa”, o governo Federal disponibilizou um curso gratuito para todos, que têm

o número de pontos necessário, um curso de inglês gratuito, pela Inter-net, e isso inclui os que ainda não es-tão matriculados nas universidades, basta entrar no site da CAPES, ver as condições, se inscrever, esperar pelo código de admissão e começar a aprender mais uma língua.

Isso é maravilhoso, eu tive a opor-tunidade de estudar no exterior em meu doutorado, e os benefícios que tive e ainda tenho em minha vida são muitos, recomendo a todos para aproveitarem ao máximo tudo o que uma qualifi ca-ção no exterior pode proporcionar.

Essas bolsas também incluem cur-sos de pós-graduação como: mestrado, doutorado e pós-doutorado. E os be-nefícios não são somente para o candi-dato, o Brasil está precisando dessas competências com muita urgência, portanto é uma oportunidade onde todos ganham.

*Sônia Guimarães é professora do Laboratório de Microondas do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e Conselheira da Faculdade Zumbi dos Palmares.

*Por Sônia Guimarães

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O título acima pode, em princí-pio, surpreender alguns leitores maisapressados. Afinal, decorridos 125anos da abolição formal dos afrodes-cendentes no Brasil, o binômio es-cravidão-abolição continua mais atualdo que nunca. E não se trata de ne-nhuma metáfora ou quaisquer outrasfiguras de linguagem. Na verdade, mecausa tristeza imaginar que em um

país como o Brasil, mestiço até osossos, uma parte expressiva de suapopulação ainda tenha sonegado di-reitos básicos relativos à cidadania.Em que pesem favoravelmente algu-mas medidas, como a Lei das CotasRaciais, aprovada a duras penas noCongresso e referendada por una-nimidade pelo Supremo Tribunal Fe-deral (STF), os afrodescendentes,

em geral, ainda não conseguimosimpor nosso protagonismo numé-rico nas esferas de prestígio e depoder. Até mesmo direitos líquidose certos, como a titulação das terrasdos quilombolas, encontram resis-tência de uma minoria da população,incluindo aqueles que deveriam serguardiões da lei e da ordem, comoas Forças Armadas.

espera de uma nova

abolição*Por Rosenildo Gomes Ferreira

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No mais recente período de fé-rias da presidenta Dilma, veio à tonao drama de centenas de brasileirosmoradores da Comunidade Rio dosMacacos, na praia de Aratu (BA),que se encontram em precária situ-ação. Os líderes da comunidade ale-gam que a posse da área sempre foialvo de conflito com a Marinha, queganhou, da prefeitura de Salvador,na década de 1960, a titularidade doterreno. O poder público federal, re-presentado no local por um de seusbraços armados, usa sua força jurídi-co-institucional-militar para acuar osdescendentes dos quilombolas. Im-pedidos de pescar, muitos já foramexpulsos da região por conta da der-rubada de 101 casas, de acordo com

denúncias de integrantes da comuni-dade. Resultado. Essa verdadeira Pal-mares hoje conta apenas com 90 das160 famílias originais.

Ao referendar a legalidade e atémesmo a necessidade da Lei de Co-tas, como frisaram inúmeros de seusministros, o STF mandou um recadoclaro e definitivo à sociedade. Todos,inclusive as Forças Armadas, devemajudar a promover a inserção da co-munidade afrodescendente em todasas esferas do país. Por que, então, noato da regulamentação das cotas, ogoverno federal não incluiu os colé-gios militares?

O Massacre de Porongos, ocorri-do nos estertores da Revolução Far-roupilha, no final do século 19, mos-

tra que as Forças Armadas, assimcomo as demais instâncias do poderpúblico, possui débitos históricos paracom a comunidade negra. Essa contatem de ser paga, de forma democráti-ca e no amparo das leis. Que tal fazer-mos isso usando os recursos huma-nos, intelectuais e técnicos de Mari-nha, Exército e Aeronáutica a serviçodo desenvolvimento socioeconômicodas comunidades quilombolas?

Poderia funcionar como uma res-posta efetiva para tirar da semi-indigên-cia, mesmo aquelas comunidades pa-cificadas em relação à posse da terra.

* Rosenildo Gomes Ferreira é Editor-assistenteda editoria de Negócios, colunista de Sustentabi-lidade da revista IstoÉ DINHEIRO e conse-lheiro da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Grande novata

Com apenas dez nos de existên-cia a Faculdade Zumbi dos Palma-res vem causando uma verdadeira revolução na sociedade brasileira. Diversos setores foram afetados pelo “jeito de ser da Zumbi”.

A inclusão de jovens negros no ensino superior e consequentemente a promoção da igualdade racial têm refl etido em diversos setores da so-ciedade. Auxiliando o Brasil a de fato se tornar uma país plural.

A Afi rmativa Plural fez um le-vantamento dos campos de atuação da Faculdade Zumbi dos Palmares para que você tire suas próprias conclusões.

Educação

O princípio de tudo. A Afrobras (Sociedade Afrobrasileira de Desen-volvimento Sócio Cultural), iniciou suas atividades focada em promover a inclusão através da educação. Desta forma nasceu o Instituto Afrobrasi-leiro de Ensino Superior, mantenedor da Faculdade Zumbi dos Palmares, inaugurada em 20 de novembro de 2003, no dia do herói negro Zumbi dos Palmares.

Com valores acessíveis e pro-fessores qualifi cados a Zumbi pro-piciou que jovens negros tivessem a oportunidade do ensino superior. Uma Ação Afi rmativa inovadora no país que anos depois culminou na discussão sobre cotas raciais na mais alta corte.

Mesmo estando a frente deste processo a Zumbi participou ativa-mente em apoio a constitucionali-dade das cotas raciais nas universi-dades públicas federais, deferida em maio de 2012, em unanimidade pelos

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Assinatura da sansão do Estatuto da Igualdade Racial pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 20 de julho de 2010.

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ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, o projeto educacional da faculdade que cumpre desde a sua criação com o que prevê a Lei 10.639, quanto ao Ensino da História da África, tornou-se referência e hoje multiplica a demais instituições de ensino sobre o protagonismo negro.

Da mesma forma a biblioteca da Zumbi constantemente é acionada por alunos de outras universidades, mestrandos e doutorandos, entre outros. Atualmente são mais de 2 mil alunos formados, destes muitos são os primeiros em suas famílias a conquistar o diploma universitário.

Mercado de TrabalhoDo total de alunos formados

o número expressivo de 90% con-

cluíram a faculdade já ingressos no mercado de trabalho. Isto porque o Programa Especial de Estágios e Trainees em parceria com grandes empresas nacionais e multinacionais vem aumentando a cada dia.

Muitos são os veículos de impren-sa que reportam os cases de sucesso dos alunos da Zumbi.

A ex-aluna Vanessa Santos Antô-nio, foi uma das escolhidas para falar sobre o estágio no banco Bradesco na matéria publicada em maio de 2011, no jornal Folha de S. Paulo, sob o títu-lo: “Empresas ampliam a contratação de trabalhador negro”.

EconomiaAtualmente acompanhamos o

boom da classe C, propiciado durante o governo do ex-presidente Luiz

Inácio Lula da Silva, que deu maior poder aquisitivo às classes menos favorecidas economicamente.

A sua maneira a Faculdade Zumbi dos Palmares também tem contribu-ído neste processo, pois através de sua inclusão acadêmica e no mercado de trabalho, tendo acesso a ganhos maiores os alunos da faculdade têm mudado suas vidas e de seus familiares.

O ex-aluno Marcus Vinícius tam-bém estampou as páginas da Folha de S. Paulo contando como a partir do estágio conseguiu mudar a situação de vida de sua família.

“Minha mãe trocou o carro por um zero neste ano, e sinto que o poder de compra de nossa família melhorou muito nos últimos anos”, disse na matéria publicada em 13 de maio de 2010.

Alunos da Zumbi contratados pelo banco Bradesco por meio do Programa Especial de Estágios e Trainees.

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Apoiadora do Troféu Raça Negra que possibilita a participação dos alunos nas premiações do “Oscar” da comunidade negra, recentemente a Zumbi e o Banco do Brasil assi-

naram convênio de cooperação que disponibilizará ingressos para eventos esportivos e culturais.

“Este é apenas o primeiro passo, o Banco do Brasil tem ainda mais planos de trabalhos a serem realizados junto a Zumbi.

Para nós é uma satisfação”, disse Robson Rocha, vice-presidente do Banco do Brasil na ocasião.

Mostras musicais e teatrais também sempre fi zeram parte do campus da faculdade devido a parceria com o Sesi.

Cultura

Robson Rocha vice presidente do Banco do Brasil e José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, fi rmando parceria cultural para alunos e funcionários da instituição.

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A jornalista Glória Maria na formatura da 2ª turma de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares.

Reconhecimento NacionalDesde a primeira formatura da

Zumbi, em 2008, grandes nomes do cenário político e artístico com-parecem para apoiar a iniciativa da faculdade.

Já estiveram presente nestes even-tos e em alguns casos até mesmo no campus da instituição: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presi-dente Fernando Henrique Cardoso, vice-presidente Michel Temer, minis-

tro da educação Aloizio Mercadante, Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o ator Milton Gonçalves, o cantor Milton Nascimento e a jorna-lista Glória Maria, entre outros.

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Reconhecimento Internacional

Seus feitos cruzaram barreiras e

o reconhecimento internacional fez

com que a Zumbi fosse escolhida

por grandes nomes. Primeiro pela

secretária de Estado norte Americana

Hillary Clinton, em 2010, para um bate papo com os alunos e mais recentemente, em novembro de 2012, pela filha do grande líder negro Martin Luther King, Bernice King, que veio exclusivamente ao Brasil visitar a Zumbi.

Além disso, o intercâmbio com universidades americanas está cada vez mais forte e constantemente a faculdade recebe alunos de graduação, MBA, pós-graduação e doutorado em seu campus.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton no campus da Faculdade Zumbi dos Palmares em 2010.

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Bernice King , filha do líder negro Martin Luther King em visita exclusiva ao campus da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Eu penso que o que vocês estão fazendo aqui, na Zumbi dos Palma-res, é um exemplo extraordinário. Nós não queremos dividir universidade de negro e universidade de branco, nós não queremos cota, 30 para um, 40 para outro. O que nós precisamos é construir um País em que todos, sem distinção de cor e sem distinção de origem social, tenham a mesma opor-tunidade de sentar nos bancos das universidades deste País. Quando isso acontecer, não haverá disputa de cotas.

O que vocês estão fazendo aqui na Zumbi dos Palmares é um exemplo ex-traordinário que nós precisamos refl etir:

onde é que a gente (autoridade) entra, sem atrapalhar o que eles já fi zeram, para ajudá-los a fazer muito mais.

Só o fato de saber que uma grande parte destes alunos está trabalhando nos bancos, a gente tem que acreditar que o Brasil começa a mudar, porque a gente não via um negro num banco há muito tempo, a não ser que fosse para depositar dinheiro para o seu patrão.

Essa é uma coisa que vai ter que mudar. Eu acho que vocês (alunos), no fundo, no fundo, com esta formatura, estão nos dando uma lição de vida e muito mais do que isso, estão dando uma lição de vida aos outros que ainda

não chegaram ao nível que vocês che-garam, de que não vale a pena desistir nunca e vale a pena acreditar.

Eu queria terminar dizendo a to-dos vocês, formandos, que valeu a pena viver até o dia de hoje para as-sistir este acontecimento. Eu acho que não tem, na história da América Lati-na, com exceção de Cuba, não tem no Brasil um momento histórico em que a gente tenha tantas pérolas negras e tantos diamantes negros formados numa mesma noite.

*Por Luiz Inácio Lula da Silva

*Trechos do discurso do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na forma-tura da 1ª Turma do curso de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares, em 2008, SP.

*Por Luiz Inácio Lula da Silva

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*Fernando Henrique Cardoso

*Trechos do discurso do ex-Presidente da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, na formatura da 2ª Turma do curso de Admi-nistração da Faculdade Zumbi dos Palmares, em 2009, SP.

“Vocês formandos hoje vivem em um outro Brasil. Um país que pelo empe-nho da comunidade negra e pela compreensão daqueles que sabem realmente que a democracia tem que es-tar fundada na igualdade. O Brasil mudou, não de todo, mas houve avanços. Hoje nós estamos vendo aqui a formação de jovens que já estão no mercado de traba-lho, atuando em área sensí-vel, que é a fi nanceira. Nós precisamos de ações afi rma-tivas. É indiscutível que nós precisamos ter consciência de que é preciso criar mais condições de igualdade e oportunidades. O grande berço dessa igualdade é a escola. Essa universidade

foi plantada para vice-

jar. O Brasil tem que se mirar no que está sendo feito pela Faculdade Zumbi dos Palmares e reproduzir esse exemplo. Essa é uma escola da igualdade. Essa universidade tem tudo para ser uma escola de todos. Mas só será realmente de todos quando todos tive-rem acesso à escola. A par-tir de hoje, sou um solda-do da Zumbi dos Palmares e lutarei pra que ela tenha seu campus defi nitivo, no clube Tiete, em São Paulo, onde já esta localizada.”

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Ex-presidente da República do Brasil na formatura da 2ª turma de Admnistração da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Cursei Direito, Agronomia e Filosofi a na Universidade de São Paulo. Durante os quinze anos que passei como aluno não tive um único amigo negro em sala de aula. Hoje a cor da universidade vai se alterando à medida que as oportunidades educacionais vão sendo equalizadas. Os privilegiados desta turma que se forma são os brancos, porque diferente de mim, puderam conviver com os negros. Através de iniciativas como esta, vamos ter um Brasil cada vez mais coeso, justo e igual, conscientes que esta igualdade é na diversidade.

“Fernando Haddad,Fernando Haddad,Prefeito de São Paulo. Em ocasião da formatura da 1ª turma de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Já participei de centenas de formaturas, mas hoje tenho a certeza que esta formatura está fazendo história. Estamos formando a nossa primeira turma 143 anos da primeira formatura de uma turma de Direito historicamente negra no exterior. Eu sei que a formatura de hoje estará escrita na história deste país. “Aloizio Mercadante,Aloizio Mercadante,Ministro da Educação e patrono da 1ª turma de Direito da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Parabenizo a iniciativa ousada de José Vicente e todos que contribuíram para a criação da Faculdade Zumbi dos Palmares.“Joaquim Barbosa,Joaquim Barbosa,Presidente do Supremo Tribunal Federal.

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Para o Brasil o trabalho da Faculdade Zumbi dos Palmares é um grande movimento, efi caz em termos de integração dentro do que a Constituição chama de inclusão social para os segmentos minoritários, desfavorecidos.Todos nós somos seres humanos e iguais. É isso que nos identifi ca e eleva. O humanismo é um bem jurídico de maior estatura na sociedade democrática.“Ayres Britto,Ayres Britto,Ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal.

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Hillary Clinton,Hillary Clinton,Secretária de Estado norte-americana, em visita ao campus da Faculdade Zumbi dos Palmares em 03 de março de 2010.

Esta faculdade é jovem e eu desejo a vocês ainda mais sucesso no futuro.“

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Parabenizo a Faculdade Zumbi dos Palmares, em especial o reitor José Vicente, pela coragem de enfrentar essa luta do negro, com a caneta e o caderno nas mãos, através da educação. Somente com muito estudo e conhecimento é possível vencer a luta da desigualdade. Temos que preparar os jovens para o futuro.“Ana Paula dos Santos, Ana Paula dos Santos, Primeira Dama de Angola.

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Claro que todos os sonhos do meu pai ainda não foram alcançados, mas a minha presença aqui hoje signifi ca que estamos no caminho para que isso aconteça. Presenteio o reitor, José Vicente, com o broche que contém o memorial a Martin Luther King e diz ‘Construa um Sonho’. E eu presenteio o reitor com esse broche porque ele tem feito a construção de um sonho aqui na cidade de São Paulo.

“Bernice King, Bernice King, fi lha de Martin Luther King em visita ao campus da Faculdade Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 2012.

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Parabenizo os arquitetos deste belo projeto, que para mim tanto tem a ver com a luta por oportunidades, a luta pela afi rmação, a luta pela excelência e resolver os problemas de inserção e inclusão através do conhecimento. Não é um favor que se faz a estes alunos, mas sim um “Nelson Cosme, Nelson Cosme, Embaixador da República de Angola no Brasil.

reconhecimento devido e que eles conquistam com o saber.

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A Faculdade Zumbi dos Palmares trabalha na perspectiva da inclusão, com uma política de afi rmação e negação ao preconceito, portanto é uma instituição que se liga diretamente à cidadania. Por isso seu projeto está consolidado. Esta instituição é uma realidade na política de combate e enfrentamento ao preconceito. Portanto, neste momento eu sinto muito orgulho de ser brasileiro.

“José Eduardo Cardozo, José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça.

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É uma honra muito grande estar aqui, porque estamos conjuntamente celebrando um ato muito signifi cativo desde que as primeiras escolas de Direito foram formadas. A faculdade é um lugar de produção de pensamentos fundados nas clivagens sociais e raciais no país. Ainda hoje temos que batalhar pela legitimidade das pessoas negras. Nós temos nos últimos anos experimentado avanços importantes nessa área.

“Luiza Bairros, Luiza Bairros, Ministra da Seppir na formatura da 1ª turma de Direito da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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Não tenho dúvida que a Zumbi tem um espaço específi co dentro do espectro educacional do país, principalmente em São Paulo. É uma faculdade que adquiriu por si só um respeito, não só pela causa que abraçou, mas pelo conteúdo que proporciona aos seus alunos.“Jackson Schneider, Jackson Schneider, Vice-presidente de Relações Institucionais da Embraer.

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Toda a forma de discriminação além de injusta é estúpida, no sentido mais elementar para toda a sociedade. Sempre que uma grande população é discriminada, aquele talento e inteligência que deveria estar presente é sub representado em quase todos os campos, é uma perda de talentos que deveria contribuir para o desenvolvimento do País.“Luciano Coutinho, Luciano Coutinho, Presidente do BNDES.

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A Unip foi a primeira faculdade a abraçar o projeto nobre de inclusão de uma população menos favorecida. Um projeto que eu vi passar de sonho à realidade, que é a Faculdade Zumbi dos Palmares.“João Carlos Di Gênio, João Carlos Di Gênio, Reitor da UNIP.

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A Zumbi dos Palmares é um sonho de uma raça, de uma comunidade, que se torna realidade depois de muita luta. Eu, que estou junto desta instituição desde o início, me sinto realizado de ver como ela cresce a cada ano, de como seus alunos se inserem no mercado de trabalho em cargos cada vez melhores, em grandes empresas, entrando pela porta da frente. Só vejo um futuro cada vez mais brilhante para a Zumbi dos Palmares.

“Milton Gonçalves, Milton Gonçalves, ator.

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A Faculdade Zumbi dos Palmares faz a diferença. É muito bacana ver tantos negros mudando de vida. Superando preconceitos.“Sandra de Sá, Sandra de Sá, cantora.

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A Zumbi dos Palmares é resultado do trabalho de José Vicente e sua equipe em favor da diversidade – que abraçamos e acreditamos e, cujos resultados obtidos nos dão força para continuarmos nessa caminhada. Temos certeza de que bastam oportunidades para as pessoas demonstrarem talento e capacidade e são essas oportunidades que a Zumbi dos Palmares oferece aos seus alunos.“Fabio Barbosa,Fabio Barbosa,Presidente Executivo do Grupo Abril.

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A Faculdade Zumbi dos Palmares é uma iniciativa que eu apoio de coração. Ver o nosso povo conquistando novos espaços é incrível.Um exemplo a ser seguido. Seja no esporte, na economia, no direito. Graças a iniciativas como da Faculdade Zumbi dos Palmares chegou a nossa vez! “Robson Caetano, Robson Caetano, atleta.

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A Faculdade Zumbi dos Palmares é uma criação da raça negra e nos deixa feliz por suas realizações e por elevar nossos jovens a uma situação de prestigio social e cultural.“Paula Lima, Paula Lima, cantora.

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A alegria estava presente nos olhos e rostos dos alunos, não é para menos, com 90% dos

formandos ingressos no mercado de trabalho, sendo que da turma de Direito alguns alunos

foram aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mesmo antes da finalização

do curso. De um começo pautado na esperança para a credibilidade e certeza do sucesso.

Neste ano em que a Faculdade Zumbi dos Palmares completa 10 anos, na noite do dia 10 de

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abril, foi dada a largada para as comemorações das festividades, com a colação de grau das

turmas dos cursos de Administração, Direito e Tecnologia em Transporte Terrestre, no Memorial

da América Latina, em São Paulo.

Em uma cerimônia marcada por grandes emoções entre os familiares e amigos, a Zumbi formou

mais 250 alunos. Agora são mais de 2 mil jovens formados até o momento.

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O ministro do STF, Joaquim Barbosa é negro. O presidente do TST, Carlos Alberto Reis de Paula énegro. Mas estes são exceções, advindos de uma época que era ainda mais difícil chegar aondeeles chegaram. As vésperas de completar 10 anos a Zumbi contribui significativamente com ascotas e com a inclusão de muitos alunos no mercado de trabalho. Esperamos que outras empresasem número maior venham celebrar convênios com a Faculdade Zumbi dos Palmares.

Hélio Duarte,Hélio Duarte,Hélio Duarte,Hélio Duarte,Hélio Duarte,Diretor Executivo de Relações Institucionais do HSBC e Paraninfo.

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Temos nesta noite a verdadeira expressão da igualdade. Os senhores são vitoriosos e tenhamcoragem de continuar nesta caminhada. Trocamos as amarras das correntes pelo estudo. Euacredito que vocês formados pela Faculdade Zumbi dos Palmares terão muito sucesso na vida.

Carlos Alberto Reis de Paula,Carlos Alberto Reis de Paula,Carlos Alberto Reis de Paula,Carlos Alberto Reis de Paula,Carlos Alberto Reis de Paula,Presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e Patrono.

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Pela oportunidade única de terem estudado na Faculdade Zumbi dos Palmares vocês adquiriram oconhecimento da sociedade contemporânea que vivemos. Todos aqui contam com o alicerce fortepara serem bem sucedidos.

Milton Matsumoto,Milton Matsumoto,Milton Matsumoto,Milton Matsumoto,Milton Matsumoto,Membro do Conselho Administrativo do Banco Bradesco e Paraninfo.

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Há tempos conheço o Dr. José Vicente que é uma pessoa que faz a diferença. Um desbravadorque criou a Faculdade Zumbi dos Palmares e dá a oportunidade para a conquista de uma carreira eingresso no mercado de trabalho. O que era um sonho há 10 anos, hoje é uma realidade.

Paulo Jabur Maluf,Paulo Jabur Maluf,Paulo Jabur Maluf,Paulo Jabur Maluf,Paulo Jabur Maluf,Vice-presidente da Camisaria Colombo e Paraninfo.

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Sinto-me extremamente honrada por estar nesta celebração. Pois hoje é mais que uma colação.Temos jovens negros aqui que são do Direito, da Administração e da Tecnologia em TransporteTerrestre, esta é a grande vitória. Isso muito me orgulha, pois tenho a honra de ser a segundamulher negra a entrar na Assembleia do Estado de São Paulo.

Leci Brandão,Leci Brandão,Leci Brandão,Leci Brandão,Leci Brandão,Deputada Estadual e Paraninfa.

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Em nenhuma instituição de elite que eu lecionei jamais encontrei alunos com a garra e com aentrega como os da Faculdade Zumbi dos Palmares. Eles são os concretizadores do sonho doreitor quando fundou a faculdade. A Zumbi é a expressão de uma luta coletiva que vemmudando o Brasil.

DrDrDrDrDr. Hédio Silva Jr. Hédio Silva Jr. Hédio Silva Jr. Hédio Silva Jr. Hédio Silva Jr.,.,.,.,.,Representante dos professores e Ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo.

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Hoje é um dia gratificante. Eu jáestou exercendo a advocacia commuitas perspectivas de que maisnegros possam vir a exercer umafunção nos órgãos judiciais, poisainda há muita escassez de negrosnesta área”.

Antonio MarAntonio MarAntonio MarAntonio MarAntonio Marcos Ferrcos Ferrcos Ferrcos Ferrcos Ferreira de Almeidaeira de Almeidaeira de Almeidaeira de Almeidaeira de Almeida,formando em Direito e um dos alunosque conquistou a aprovação no Exameda Ordem dos Advogados do Brasil,antes do término do curso.

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Estou muito feliz e realizada. Sou a primeirapessoa da minha família a me formar. Graçasa Zumbi estou no mercado de trabalho comgrandes chances de crescer ainda mais,pois a faculdade também me proporcionouuma pós-graduação. Meu estágio no bancoestá atrelado a pós através do contrato deparceria firmado com a faculdade.

TTTTTiane Cezárioiane Cezárioiane Cezárioiane Cezárioiane Cezário,formanda em Administração e estagiária dobanco Citibank.

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Agradecemos a todos pelosucesso e pelas perspectivasque temos a partir de agora.

Maurício Nascimento,Maurício Nascimento,Maurício Nascimento,Maurício Nascimento,Maurício Nascimento,orador da turma de TransporteTerrestre.

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O Coral Zumbi dos Palmares marcou presençacom a inesquecível canção “É preciso saber viver”e “Quando Entro Em Tua Presença”, emagradecimento a Deus.

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*Por Netinho de Paula

destaque. Ou seja, raríssimos negros,do ponto de vista quantitativo con-seguem participar destes espaços depoder, que são imprescindíveis parao alargamento da democracia paulis-tana. Visivelmente a população negra,sub-representada nesse setor, nãoconsegue fazer prevalecer suas de-mandas nas políticas públicas.

De forma estrutural, quandocomparamos o perfil étnico-racial dospaulistanos, da presença de brancose negros na cidade e do perfil dasnossas desigualdades sociais, é notó-rio que as oportunidades de acesso –ou “Cartões com Passe” – a deter-minados espaços de cidadania nãosão as mesmas para brancos e negrosainda que não tenhamos nenhumapolítica de segregação formal.

Por isso, reitero meu apreço pelaousadia do prefeito Haddad, em re-conhecer esta demanda histórica dapopulação negra e criar a SecretariaEspecial de Promoção da IgualdadeRacial do Município de São Paulo. Re-vela o seu compromisso com a cida-de e com o seu desenvolvimento.

ção negra paulistana, especialmentea mais pobre, vive, além da desigual-dade simbólica, um tipo de segrega-ção espacial que separa negros ebrancos de diversos espaços sociaissem que exista oficialmente qualquerforma de “Lei de Passe”. Me refiroàs desigualdades sociorraciais com-provadamente existentes na cidade.

Para perceber esta situação, bas-ta um olhar atento sobre as pessoas,considerando seus fenótipos, quan-do observamos os lugares mais po-bres, sobretudo quando notamos osespaços da representação de poder edas elites – intelectual, política e eco-nômica – paulistanas.

Esta percepção sobre as desigual-dades raciais em São Paulo precisa fa-zer parte de um diálogo comprometi-do entre poder público, sociedade ci-vil e organizações sociais. Somente as-sim, é possível agir afirmativamentepara alterar a real face das universida-des da cidade, seja dos alunos, de seusprofessores; e até mesmo das esferasde poder da capital, inclusive no per-fil dos empresários e das grandes em-presas. Não há dúvida, São Paulo éuma cidade segregada na forma darepresentação negra nos espaços de

O Dia 21 de Março, Dia Interna-cional de Luta pela Eliminação daDiscriminação Racial, ficou histori-camente marcado no mundo em fun-ção do “Massacre de Sharpeville”,ocorrido em Joanesburgo, na Áfricado Sul, em 1960, quando ainda noperíodo oficial do Apartheid, 20 milpessoas protestavam contra a “Lei doPasse”- que obrigava a população ne-gra a portar um cartão informandoos locais onde tinham permissão decircular. Mesmo sendo uma manifes-tação pacífica, a polícia abriu fogocontra a população desarmada, tam-bém composta por crianças e mulhe-res. Morreram 69 pessoas e 186 fica-ram feridas. Em memória a este mas-sacre a Organização das Nações Uni-das – ONU, instituiu 21 de março oDia Internacional de Luta Contra aDiscriminação Racial.

O que temos a aprender com estadata? E na cidade de São Paulo osnegros vivem em liberdade e direitosplenos sob os critérios de inclusãosocial e as formas de garantia de ci-dadania? Aqui, do ponto de vista for-mal, não tivemos leis segregacionistasentre brancos e negros, após a aboli-ção. Contudo, é fato que a popula-

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* Netinho de Paula é Secretário de Promoção daIgualdade Racial, da cidade de São Paulo.

sociorraciais

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afirmativo

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. Trin

idade

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Em 21 de março de 1960 eu su-bia as ladeiras do Chapéu Manguei-ra, enfrentando as dificuldades deacesso, caminhos íngremes, vielas es-treitas. Assim como milhares de ne-gros brasileiros eu nunca tinha ouvi-do falar em Apartheid ou nas restri-ções aos negros da África do Sul. Na-quele mesmo dia acontecia em Joa-nesburgo, um protesto contra a Leido Passe – legislação que obrigava apopulação negra a portar um cartãoque continha os locais onde era per-mitida sua circulação. Aqui a violên-cia policial, as remoções forçadas paraáreas distantes e sem infraestrutura,lá a multidão desarmada massacrada.Foram 69 mortos e 186 feridos na-quela tarde de março.

Em memória a este massacre aOrganização das Nações Unidas –ONU – instituiu 21 de março o diaInternacional de Luta contra a Dis-criminação Racial. Lá a segregaçãofoi vencida somente vinte anos de-pois e aqui a segregação por renda eas restrições “invisíveis” seguiram eseguem de várias formas. Não hácomo negar que avançamos muito,que conquistamos muito ao longodesses últimos cinquenta anos quenos separa daquele terrível verão, masquando olho ao meu redor no Con-gresso Nacional, sentada na cadeiradestinada a deputada Federal do Rio

de Janeiro, não encontro muitas fa-ces negras ao meu redor.

Nem sabemos como medir ain-da a cor como componente na parti-cipação política. Recentemente apre-sentei projeto de lei para incluir corno registro dos candidatos, para quemsabe a médio prazo, poder identifi-car quantos afrodescendentes parti-cipam do processo eleitoral. Nós sa-bemos que no final da disputa, pou-cos restam. O financiamento de cam-panha ainda restrito aos que pos-suem doadores de peso e o encareci-mento do processo eleitoral cada vezafasta mais os setores populares doprocesso. O PT conseguiu incorpo-rar cotas nos últimos anos, aumen-tando a participação de negros nasdireções partidárias, mas o caminhoainda é longo até chegarmos ao ní-vel de participação alcançada pelosEstados Unidos. Começamos a ge-rar nomes de destaque na política bra-sileira somente após os anos 80.

Não poderia deixar de lembrarcom emoção da noite de 4 de novem-bro de 2008, ao ver eleito, BarackHussein Obama, 47 anos, o primei-ro negro a governar aquele país, tãomarcado pela segregação e racismo.Os impactos dessa eleição e reelei-ção ainda serão sentidos nos próxi-mos anos e décadas. O resultado daspolíticas afirmativas, lá e aqui come-

çam a interessar a estudiosos e todasas nossas previsões se confirmaram:é ainda, com todas as deficiênciasuma das melhores políticas de cria-ção de uma classe média negra, ca-paz de fazer avançar índices de qua-lidade de vida, educação, saúde econsciência de sua negritude.

A legislação brasileira instituiu osprimeiros conceitos de racismo so-mente em 1951 com a Lei AfonsoArinos (1.390/51) que classificava aprática como contravenção penal.Somente na Constituição Federal de1988, em seu artigo 5.º, XLII, é queclassificou a prática do racismo comocrime inafiançável e imprescritível,sujeitando o delinquente a pena dereclusão. A luta contra a discrimina-ção racial não avança somente emnível legal, mas também cultural.Concordo plenamente com as análi-ses do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento – PNUD –em seu relatório anual, “para conse-guir romper o preconceito racial, omovimento negro brasileiro precisacriar alianças e falar para todo o país,inclusive para os brancos. Essa é aúnica maneira de mudar uma menta-lidade forjada durante quase cincoséculos de discriminação”.

* Benedita da Silva é Deputada Federal PT/RJ.

*Por Benedita da Silva

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A primeira negra a assumir a rei-toria de uma universidade federaltomou posse no dia 1º de abril. Aprofessora Doutora Nilma Lino Go-mes agora é reitora da Universidadeda Integração Internacional daLusofonia Afro-Brasileira – Unilab.

Membro do Conselho Nacionalde Educação (CNE) e docente daUniversidade Federal de Minas Ge-rais, Nilma desbravou fronteiras erealizou o pós-doutorado em Socio-logia pela Universidade de Coimbra,em Portugal.

A ligação com a temática de açõesafirmativas sempre esteve presenteem sua carreira acadêmica, pois já

atuou como coordenadora-geral doPrograma Ações Afirmativas naUFMG e do NERA – Núcleo deEstudos e Pesquisas sobre RelaçõesRaciais e Ações Afirmativas.

Além da experiência na área deEducação e Antropologia, com ên-fase em Antropologia Urbana, atuan-do principalmente em organizaçãoescolar, formação de professorespara a diversidade étnico-racial, mo-vimentos sociais e educação, relaçõesraciais, diversidade cultural e gênero.

Na solenidade de posse presididapelo ministro da Educação, AloizioMercadante, também estiveram pre-sentes a ministra da Igualdade Racial,

Luiza Bairros e o reitor da FaculdadeZumbi dos Palmares, José Vicente.

Na ocasião Mercadante destacouavanços na questão étnico-racial noensino superior. “Em 1997, os negroseram apenas 2% da população uni-versitária. As iniciativas do governoFederal, como a Lei de Cotas, estáajudando a reverter esse quadro dedesigualdades”, afirmou o ministro.

A Unilab funciona no Campusda Liberdade, em Redenção, no Cea-rá, e está sendo instalada no municí-pio de São Francisco do Conde, naBahia.

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Nilma Lino - reitora da Unilab.

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Assumi meu primeiro mandatocomo deputada Estadual por São Pau-lo em 2011. Desde então, faço parteda Comissão de Defesa dos Direitosda Pessoa Humana e da Cidadania.Como membro dessa comissão, tenhotido a oportunidade de acompanharos mais diversos casos de racismo queocorrem em nosso Estado.

As situações relatadas não são, deforma nenhuma, novidades paramim, que sempre cantei em defesade todas as minorias pelos palcos davida. Mas há um determinado tipode denúncia que tem chamado a mi-nha atenção de modo especial: as po-lêmicas nascidas e difundidas nas re-des sociais contra programas humo-rísticos de TV ou profissionais quenela atuam.

Não pretendo aqui discutir sobrea pouca criatividade de quem só sabefazer rir usando estereótipos ou cons-trangendo o outro. Acredito que o

problema é mais complexo e nãopode ser visto de forma pontual.

Como a sociedade brasileira so-fre de um racismo estrutural, a res-posta para a questão deve atingir aestrutura. Ou seja, a mudança dessasituação só vai acontecer quando ti-vermos a democratização da mídia,com controle da sociedade sobre osmeios de comunicação.

Os veículos de comunicação sãoarmas poderosas na construção, re-produção e sedimentação de valoresque tendem a ser interiorizados. Pen-sando nisso, é inevitável questionar-mos: o que a mídia comercial, prin-cipalmente a TV aberta, nos ofere-ce? As TVs são concessões do Esta-do, logo, não podem reproduzir pre-conceitos e discriminação.

A comunicação é um serviço pú-blico, é um patrimônio do povo con-cedido a terceiros. Abrir brechas paradar mais visibilidade às pessoas nos

meios de comunicação é uma neces-sidade para o avanço da democraciaem nosso país.

O povo quer ver sua cara na mídiaem toda a sua diversidade. Somos di-versos em todos os aspectos: classessociais, etnias, nível de instrução, pro-fissões, religião, tipo de atividade, etc..Mas essa diversidade não passa nemperto de ser representada nos meiosde comunicação. Por isso, precisamosde um sistema de comunicação quetenha espaço para a cidadania, para odebate político, para a cultura e, so-bretudo, para um processo de produ-ção de comunicação comprometidocom os valores humanos.

Transformar o modelo de comu-nicação que temos certamente vaitransformar a sociedade. Oxalá detal mudança nasça uma sociedadesem racismo.* Leci Brandão é cantora, compositora eDeputada Estadual pelo PCdoB/SP .

*Por Leci Brandão

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Na manhã do dia 20 de março, a notícia do falecimento do cantor Emílio Santiago, aos 66 anos, deixou o Bra-

sil em luto e entrou para a lista de assuntos mais

comentados do Twitter.Emílio fi cará eternizado na me-

mória de todos por conta dos gran-des hits que sua voz forte marcou na

música brasileira.Difícil imaginá-lo numa profi ssão que não

o envolvesse como cantor, mas Emílio chegou a se formar no curso de direito, tendo inclusive

como foco a carreira diplomática, pois se incomo-dava com o fato de não existirem negros nos qua-dros do Itamaraty.Foi justamente nos bancos acadêmicos que ele e a música se encontraram. Participando pela primeira vez de um festival de música da Faculdade inscrito sem seu conhecimento pelos amigos. Daí em diante passou a ganhar todos os festivais que participava e tornou-se impossível se afastar dos palcos.Dentre grandes momentos da vida de Emílio um deles foi ter sido o ganhador do Troféu Raça Negra, em 2005.

(1946-2013)

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