revista panorama - edição 45

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Panorama é uma publicação mensal da Câmara Brasileira do Livro e da Agência de Notícias Brasil Que Lê. Diretor Geral Galeno Amorim Editor-Chefe Luiz Carlos Ramos Diretor de Arte Wagner Luiz Santos Editor de Fotografia Fanca Cortez Redação Alexandre Malvestio, Elisabeth Lorenzoti, Litiane Klein, Marla Cardoso e Ricardo Costa, Jô Ribes Comunicação Revisão Rosália Guedes Diagramação Rogério Lance Pré-Impressão e Impressão Gráfica Posigraf

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Page 1: Revista Panorama - edição 45
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2 Panorama Novembro 2008

As editoras IBEP e Companhia Editora Nacional, com capital 100% brasileiro, formam um dos grupos editoriais mais respeitados do país. Nossa presença se estende por todo o território nacional, com expressivo número de publicações na área da educação. Milhares de estudantes e professores são beneficiados pela qualidade dos livros didáticos e serviços de apoio que oferecemos. Nosso catálogo abrange outros segmentos, como literatura infantil e juvenil, obras

de referência, interesse geral, gastronomia, etc. Todos os lançamentos e ações reafirmam o nosso compromisso com a educação: tornar o brasileiro, seja criança, jovem ou adulto, um leitor.

Aventure-se no mundo do conhecimento.

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Novembro 2008 Panorama 3

As editoras IBEP e Companhia Editora Nacional, com capital 100% brasileiro, formam um dos grupos editoriais mais respeitados do país. Nossa presença se estende por todo o território nacional, com expressivo número de publicações na área da educação. Milhares de estudantes e professores são beneficiados pela qualidade dos livros didáticos e serviços de apoio que oferecemos. Nosso catálogo abrange outros segmentos, como literatura infantil e juvenil, obras

de referência, interesse geral, gastronomia, etc. Todos os lançamentos e ações reafirmam o nosso compromisso com a educação: tornar o brasileiro, seja criança, jovem ou adulto, um leitor.

Aventure-se no mundo do conhecimento.

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4 Panorama Novembro 2008

Sumário

32

Políticas Públicas Trinta e sete mi-lhões de alunos de escolas públicas do país vão receber um kit de livros das mais diversas matérias para usar durante as aulas, em 2009.

24

Boa Idéia A Fundação Dorina Nowill fabrica livros didáticos, paradidáti-cos, best-sellers e literários para alu-nos cegos de todo o País. Além do Braille, a fundação produz obras no formato Livro Digital Acessível.27

Reportagem de capa As mudanças do acordo ortográfico assinado entre os países de língua portuguesa mobli-zam editoras, escritores e a imprensa

9

Entrevista O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab fala sobre as políticas públicas de incentivo à leitura implan-tadas na rede municipal de ensino em parceria com a Câmara Brasileira do Livro.

Capa:Foto:Werner Moser

Arte: Wagner Luiz Santos

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Novembro 2008 Panorama 5

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Comportamento leitor Quem não lê no Brasil? 77 milhões, segundo dados da pesquisa Retratos do Brasil, que a Pa-norama publica mensalmente, enfo-cando os diversos ângulos pesquisa-dos no estudo

45

Rotas Literárias O cenário do Agres-te de Alagoas e Pernambuco, base de inspiração para Graciliano Ramos, mudou apenas nas cidades, que cres-ceram e indicam reflexos de evolução

49

Como me apaixonei pelos livros A ini-ciação do cartunista Maurício de Sou-za no mundo da leitura se deu entre fadas e personagens de Walt Disney até ser “atropelado” pela obra de Monteiro Lobato.

7 Boa Leitura Mensagem da presidente da CBL13 Eventos Notícias de feiras pelo Brasil18 Acontece O que é notícia no mercado de livros20 Socialmente Responsável Imprensa Oficial 21 Ponto de Vista Valter Kuchenbecker22 Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro26 Outras Mídias O livro na TV, no Rádio e na Internet34 Mercado & Tendências O impacto da crise econômica mundial no mercado editorial36 Pelo Mundo Afora Aconteceu em Frankfurt38 Todo Mundo Lê Gustavo Franco, Rafinha Bastos e Lars Grael41 Radiografia Mona Dorf42 Prêmios e Concursos Os premiados do Jabuti44 Livros Sobre Livros Estímulo para o escritor não perder a inspiração50 Cinema e Livros Alice no País das Maravilhas... de Hollywood52 Calendário A agenda dos eventos no Brasil e no mundo54 Empresa Amiga do Livro Suzano investe no poder da leitura55 Vitrine O que há de novo nas prateleiras56 Gente que Lê O jegue e os livros58 Imagem Panorâmica Um momento de ler

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6 Panorama Novembro 2008

Câmara Brasileira do LivroPresidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro,

Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri,Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e

Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro MaceraRua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br

Agência de Notícias Brasil Que LêFundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br

Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.brAv. José Maria de Faria, 470 Tel (11) 8389-0041 CEP 05038 190 São Paulo SP www.brasilquele.com.br

Conselho EditorialBernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Mace-

ra, Rosely Boschini e Valter KuchenbeckerDiretor Geral Galeno Amorim ([email protected]) Editor-Chefe Matide Leone ([email protected])Diretor de Arte Wagner Luiz Santos ([email protected]) Editor de Fotografia Fanca Cortez ([email protected])

Colaboração Especial Tiago Santana, fotografias em Rotas Literárias Redação ([email protected]) Alexandre Malvestio, Talissa Berchieri e Ricardo Costa (especial) Raquel Caetano (especial)

Diagramação Rogério Lance (www.wga.com.br) Produção Gráfica ([email protected])Administração ([email protected]) Alexandre Dias Pré-Impressão e Impressão IBEP - Cia Editora Nacional

CirculaçãoCirculação ([email protected]) Murilo Casagrande Tiragem 20.000 exemplares Circulação Nacional Door To Door (www.d2d.com.br)

PublicidadeDepartamento Comercial ([email protected]) Murilo Casagrande

Tel: (11) 8389 0041 e (11) 3069-1300 Anúncios ([email protected])Panorama é uma publicação mensal da Câmara Brasileira do Livro e da Agência de Notícias Brasil Que Lê.

A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados, que expressam a opinião de seus autores. Permitida,desde que citada a fonte, a reprodução total ou parcial dos textos, que são produzidos pela agência de notícias Brasil que Lê.

www.panoramaeditorial.com.br

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Novembro 2008 Panorama 7

Um voo sem circunflexoNada de tão impactante. Trema, acentos e hífens. Mudanças que o mercado e a sociedade vão assimilar lentamente, pois terão quatro anos para adaptação. Mas não se trata, meramente, de igualar a grafia para que todos se entendam perfeitamente, pois não é um trema que estabelece distância entre os povos dos oito países de língua portuguesa. Há muito existe um histórico de frustrações no empenho de Portugal e Brasil para estabelecer regras comuns. Agora deu certo, e as idéias não serão menos criativas sem o acento agudo. O acordo ortográfico é mais do que isso, vai além de tirar o circunflexo do vôo. É uma questão de unificação.A decisão firmada entre o Brasil e os sete países de língua portuguesa se apresenta como um fator importante para facilitar a circulação de livros entre eles. E maior circulação de livros significa um suporte a mais para a diminuição do analfabetismo funcional, entre outros benefícios.Além disso, a idéia de formar um bloco lusófono é importante neste mundo globalizado, pois os países unidos poderão se fortalecer junto a organismos internacionais, como a ONU, por exemplo, e serem mais reconhecidos também pela produção de conhecimento. Quanto às mudanças necessárias a serem feitas pelo mercado editorial, que refletem em todos os setores, principalmente na educação, logo serão assimiladas, e as novas regras, facilmente incorporadas, como já aconteceu em outras alterações na língua portuguesa. Tudo é uma questão de tempo, de ver as mudanças com bons olhos, pois são uma oportunidade de reflexão, de lembrar que existem outros povos falando nosso idioma, e não apenas desenhos retorcidos no mapa-mundi indicando Portugal, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor Leste. É melhor a gente se render às transformações com tranquilidade. Agora, sem trema.

Boa Leitura

Presidente da CBL ([email protected])

Rosely Boschini

Boa Leitura

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8 Panorama Novembro 2008

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Novembro 2008 Panorama 9

Entrevista

Gilberto KassabA prefeitura de São Paulo investe em programas de incentivo à leitura e promoção do livro para crianças e adolescentes do ensino fundamental, e tem a CBL

como parceira

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10 Panorama Novembro 2008

O prefeito de São Paulo Gilber-to Kassab recebeu, no ano passado, o prêmio Amigo do Livro, da CBL, Câ-mara Brasileira do Livro, pela criação dos programas Minha Biblioteca e Ler e Escrever, em parceria com a CBL. O programa Ler e Escrever tem por ob-jetivo melhorar a qualidade da edu-cação, priorizando a aprendizagem da leitura e da escrita e consiste, ain-da, na melhoria do material pedagógi-co utilizado pelos professores da rede. Seguindo o mesmo conceito, o pro-grama Minha Biblioteca, já na segun-da edição, distribuiu 560 mil livros aos alunos da rede pública municipal, de sete a dez anos. As crianças levam os livros para casa e podem compartilhar com a família. “Nunca o poder públi-co havia distribuído obras literárias para seus alunos”, afirma Kassab, lem-brando também o mérito do secretário da Educação Alexandre Schneider nos projetos, também contemplado com o prêmio da CBL.

Por sua formação, Kassab não é um homem das letras. É engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP e eco-nomista, formado na FEA/USP. Mas, tocado pelas Memórias Póstumas de Braz Cubas, desenvolveu grande inte-resse pela leitura, e se mostra indigna-do com a percentagem de analfabetos no Brasil. Os dados alarmantes tam-bém de analfabetos funcionais talvez sejam um impulso a mais para culti-var programas capazes de minimizar o quadro.

Na entrevista a seguir, o prefeito reeleito de São Paulo fala sobre as po-líticas públicas de estímulo à leitura e à valorização do livro, e dos planos na área de educação para a nova gestão, como intensificar a formação e o uso das salas de leitura nas escolas.

Panorama: No ano passado, pro-

vas aplicadas nas escolas municipais apontaram que o desempenho dos alu-nos com relação à leitura não era dos mais animadores, segundo avaliação

Entrevista

se pesadamente neste programa, in-clusive colocando mais um professor na sala de aula para assistir os alunos, e o resultado da última prova já de-monstrou avanços. Em 2006, 70% dos alunos de 3º ano do ciclo I estavam alfabetizados. Em setembro de 2008, chegamos a 90%.

Para os alunos do ciclo II, da quar-ta à oitava série, iniciamos o trabalho com a formação de professores, reali-zando programas voltados para me-lhorar o desempenho dos alunos, so-bretudo a habilidade como leitores, e acompanhamos mais de perto, com su-pervisão e reforço, as 150 escolas com índices mais vulneráveis. Os orienta-dores das salas de leitura estão rece-bendo formação específica sobre como desenvolver o apreço ao conhecimento e à leitura e como potencializar o rico acervo de cada escola, hoje com uma média de 30 mil livros por unidade. E para envolvimento de toda a rede, não apenas dos orientadores das bibliote-cas chamadas salas de leitura, produ-zimos material específico com suges-tões para estimular a leitura e redação em todas as séries..

Estamos trabalhando com indica-dores individuais de avaliação e acom-panhamento para que toda equipe de supervisão possa acompanhar o traba-lho nas escolas e fornecer dados que nos ajudem a criar boas intervenções para qualificar a aprendizagem dos alunos. Os resultados de todas essas medidas serão vistos na próxima Pro-va São Paulo, que será realizada nos dias 10 e 11 de dezembro, mas avalia-ções internas mostram que os alunos estão chegando ao Ciclo II mais bem preparados por conta das ações do Programa Ler e Escrever.

Panorama: O senhor recebeu o prê-mio Amigo do Livro em função de programas como Minha Biblioteca e Ler e Escrever. O que levou a Prefeitu-ra a criar esses programas?

Gilberto Kassab: Um dado alar-mante foi o Indicador de Analfabetis-

“O aluno que não consegue

compreender um texto não consegue

aprender outras matérias. Pois

bem: investiu-se pesadamente neste programa, inclusive colocando mais um professor na sala de aula para assistir os alunos e o resultado da última prova já

demonstrou avanços”

da própria Secretaria da Educação. Que medidas foram implantadas pela administração para melhorar este qua-dro? Como o senhor avalia a situação um ano depois?

Gilberto Kassab: Na verdade, o

resultado da prova realizada em São Paulo é mais otimista do que a per-gunta sugere. Quando iniciamos a

gestão, quatro anos atrás, o então pre-feito José Serra constatou a urgên-cia de investir nos conhecimentos de língua portuguesa, principalmen-te na leitura e compreensão de tex-tos. Com esse objetivo específico, foi criado o programa Ler e Escrever. O aluno que não consegue compreen-der um texto não consegue aprender outras matérias. Pois bem: investiu-

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Novembro 2008 Panorama 11

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mo Funcional, que mostrava índice de 75% de pessoas sem habilidade leitora.

Panorama: Qual a abrangência de-

les e os resultados que se espera?Gilberto Kassab: O Programa Ler

e Escrever começou em 2005 no 1.º e no 4.º anos do Ciclo I. Já foi expandi-do para o 2.º e o 3.º anos. O Minha Bi-blioteca está em sua segunda edição. Em 2008, o programa envolveu núme-ros grandiosos: 63 editoras, 202 títulos e mais de R$ 10 milhões investidos, chegando a 521 mil alunos. Nunca o poder público havia distribuído obras literárias para seus alunos, possibili-tando que eles se apropriassem do li-vro e compartilhassem com suas fa-mílias histórias dos mais diferentes autores. Em 2007, foram entregues mais de meio milhão de livros a alu-nos de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino. Neste ano, com a extensão do programa também para o Ciclo II, foram mais de um milhão de exemplares.

Panorama: Segundo foi noticiado, algumas bibliotecas foram fechadas no seu primeiro governo. As causas que levaram a isso foram, em sua opinião, modificadas ou superadas?

Gilberto Kassab: Nenhuma bi-

blioteca foi fechada no ano passado, apesar do que saiu na imprensa a res-peito. Ao contrário, duas bibliotecas, uma na Vila Mariana e outra na Lapa, foram transformadas em Espaços de Leitura, instalações que, além de bi-blioteca, oferecem um Centro de Me-mória do bairro, o que era uma de-manda da própria comunidade. Além disso, com as bibliotecas dos novos CEUs, o número de bibliotecas públi-cas na cidade, na verdade, aumentou. Esta gestão também inaugurou oito pontos de leitura, três deles em bair-ros carentes como Cidade Tiraden-tes. Sem contar que, antes, só havia um ônibus-biblioteca em péssimo es-tado, e agora temos quatro, mais mo-

“A Bienal do Livro, na minha opinião, é um momento privilegiado para debater o tema da leitura e conhecer

as iniciativas que estão sendo colocadas em prática no segmento. Neste ano, montamos na Bienal dois stands, um da Secretaria de Educação e outro da Secretaria de Cultura,

o que permitiu ao visitante conhecer nossos projetos”

dernos, cobrindo 28 pontos de para-das semanais.

Outra ação de valorização das bi-bliotecas foi a implantação do proje-to Bibliotecas Temáticas. Atualmente, sete bibliotecas públicas contam com núcleos especializados em determi-nados temas, com acervos sobre, por exemplo, contos de fadas e cinema.

Com essa medida, a Prefeitura atraiu um novo público para esses espaços.

Panorama: Que políticas públicas

na sua segunda gestão podem ser im-plantadas para ampliar o acesso do ci-dadão aos livros?

Gilberto Kassab: Nesta segunda gestão, vamos ampliar o projeto de bi-

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12 Panorama Novembro 2008

“Sempre li bastan-te, a ponto de, às vezes, ler dois ou três livros num mesmo mês. Não tenho números exatos, porque essas coisas variam com as atividades mais ou menos intensas que a gente tem ao longo

de um ano. Mas depois que assumi o cargo de prefeito

de São Paulo, o tempo para livros ficou mais curto, porque passei a ler diariamente muitos relatórios e obras técnicas sobre a administra-ção.

Atualmente, estou lendo “Deu no New York Times”, do jornalista Larry Rohter.

Trata-se, na minha opinião, de um mo-mento privilegiado para debater o tema da leitura e conhecer as iniciativas que estão sen-do colocadas em prática no segmento. Neste ano, montamos na Bienal dois stands, um da Secretaria de Educação e outro da Secretaria de Cultura, o que permitiu ao visitante co-nhecer nossos projetos.

Livro de cabeceirabliotecas temáticas, instalando esse serviço em outras unidades já exis-tentes. Vamos também ampliar os pontos de leitura, que são mini-bi-bliotecas, com cerca de quatro mil li-vros, para outros pontos da cidade que necessitem de tais equipamen-tos públicos. Vamos repetir tam-bém a experiência da Feira de Tro-ca de Livros, que aconteceu em 2007 e 2008 em diversos parques da cida-de, e demonstrou que há uma gran-de demanda para este tipo de inte-ração intermediada pela literatura na cidade. A Revista Época São Pau-lo recentemente elegeu a Biblioteca Sérgio Milliet, do Centro Cultural SP, como a melhor biblioteca de São Paulo. Um reconhecimento assim nos faz ver que estamos indo pelo caminho certo.

Também temos a intenção de in-tensificar a formação e o uso das sa-las de leitura nas escolas. Hoje, te-mos 707 salas e espaços de leitura em Escolas Municipais de Educação In-

Entrevista

fantil e Escolas Municipais de Ensi-no Fundamental. Também vamos in-vestir mais nos professores do Ciclo II, para melhorar o desempenho dos alunos.

Panorama: Qual é o papel de even-tos como a Bienal do Livro nas políti-cas municipais de educação e cultura?

Gilberto Kassab: A Bienal do Li-vro cumpre um papel de fundamen-tal importância na cultura da cidade, ao reunir pessoas interessadas em li-teratura, alunos de escolas públicas e particulares, estudantes de nível mé-dio e superior, em torno dos livros.Trata-se, na minha opinião, de um momento privilegiado para debater o tema da leitura e conhecer as inicia-tivas que estão sendo colocadas em prática no segmento. Neste ano, mon-tamos na Bienal dois stands, um da Secretaria de Educação e outro da Se-cretaria de Cultura, o que permitiu ao visitante conhecer nossos projetos. P

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Novembro 2008 Panorama 13

Foto: Rafael Medeiros

Mar de Porto de Galinhas

Eventos

Fliporto, destino a ser descoberto pelas editoras

Porto de Galinhas, novembro de 2008. Cerca de 1.500 Km de São Paulo

“seu” Cabral encontrou um Porto Se-guro para suas naus, após longos dias de travessia do Atlântico – que segun-do conta a história oficial do Brasil, nem se sabia que poderia atravessar. Alguns anos depois, esta praia tão linda que em novembro recebeu uma grande festa de livros e letras, tinha a triste missão de receber nossos ir-mãos africanos, que na vinham como escravos e eram explorados para o então chamado desenvolvimento da

terra brasilis.Mas há quatro anos Porto de Gali-

nhas conta uma história muito diferen-te; uma história de muita festa, alegria, cultura, arte e conhecimento. Mais de cinco séculos depois de ser o destino triste de muitos africanos, a cidade re-aliza a IV Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas e reconhece, com alegria e gratidão, a participação do povo e da cultura africana na formação da cultura e, mais especificamente, da literatura brasileira.

Bem disse o escritor angolano José

POR: RICARDO COSTA, DO PUBLISHNEWS

Eduardo Agualusa em entrevista ao PublishNews, Portal Literal e CBN Rio:

“O que interessa ao mundo, do Brasil, em termos culturais, é o seu lado afri-cano. Essa é a relação da África com o Brasil. E por outro lado, a literatura africana, falando por mim e pelos vá-rios escritores africanos que conheço, como Ondjaki e Mia Couto, tem uma forte influência da literatura brasileira, em especial de Jorge Amado.”

Este ano a Festa em Porto de Ga-linhas, que aconteceu entre os dias 6 e 9 de novembro, foi um encontro

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14 Panorama Novembro 2008

Eventos

Fotos: Rafael Medeiros

Abertura da Fliporto, José Eduardo Agualusa, escritor angolano, Ariano Suassuna e crianças em atividade na Fliportinho

da literatura brasileira com a africana – “Trilhas da Diáspora. Literatura em África e América Latina”. Vários au-tores africanos estiveram na festa e fa-laram de sua relação pessoal e de seus países com o Brasil. Uma relação de mão dupla, que começou com a his-tória triste dos escravos mas passou para uma interação e uma influência mútua muito positiva e proveitosa para ambos os lados. Felizmente a história dá muitas voltas e nos ensina que por piores que estejam as coisas, elas podem ser transformadas em be-las: “Antigo porto de escravos é hoje centro da literatura, que é a alma da liberdade. A luta pela liberdade não tem fronteiras”, afirmou Antônio Campos, curador oficial da Fliporto, na abertura da Festa. E como já foi dito diversas vezes: “A literatura é um exercício de liberdade”.

Há oito anos seguidos Porto de Galinhas vem sendo escolhida como a

praia mais bela do Brasil. “Agora tem a oportunidade de mostrar um turismo que expõe a beleza cultural brasileira”, lembrou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em seu discurso de abertura do evento.

Intercâmbio Literário

A Festa que conta com o apoio do governo do estado e da prefeitura, contou com 70 horas de mesas, deba-tes, rodas e sarais literários, poesias e documentários. Em 2008 a Fliporto recebeu cerca de 17 mil pessoas – um crescimento de 20% em relação ao ano anterior – que visitaram os sete pólos de atividades: Centro de Convenções

do hotel Armação, onde aconteceram os debates, Fliportinho, para público infanto-juvenil, o Espaço Praça das Piscinas Naturais, com uma tribuna livre para recitais de poesia e de diver-sas manifestações culturais populares, a Casa Bohemia Latino-América, o Cir-cuito Gastronômico, a Casa Jornal do Brasil e a Feira de livros.

Mas a agitação da Festa não ficou restrita aos quatro dias e nem à pre-sença física de participantes e visitan-tes. A abertura, que contou com uma apresentação da aula espetáculo de Ariano Suassuna e do grupo Nau, foi transmitida ao vivo pela internet. Tam-bém as palestras foram ao ar pela rede mundial de computadores. Além disso, o 1º Concurso de Poesia pelo Celular recebeu mais de 300 inscrições do Bra-sil e do exterior. E fechando o evento, a publicação do Legado Fliporto, um li-vro que copila os debates e discussões realizadas ao longo dos quatro dias

da Festa Literária. A edição referente ao ano passado está disponível para faculdades e bibliotecas gratuitamen-te. Para solicitar um exemplar do livro Legado da Fliporto 2007, basta ligar no telefone (81) 3267 5787ou mandar um e-mail para: [email protected]; ou ainda solicitar pelo correio, no ende-reço: Rua do Chacon, 335 – Casa For-te – Recife – PE – CEP 52061-400, aos cuidados de Antônio Campos.

É a segunda vez consecutiva que o evento realiza rico intercâmbio lite-rário entre o Brasil e outras culturas. E segundo Antônio Campos essa é a principal contribuição da Festa Literá-ria Internacional de Porto de Galinhas:

“Tornar-se um evento que seja capaz de

criar uma ponte e ampliar a interação entre a produção literária brasileira com a de outros povos e continentes, que contribuíram para nossa formação cultural, com grande participação po-pular.”

Nessa mistura cultural e racial ma-ravilhosa, uma mulher de pele negra e olhos azuis, fortes, mas tristes, se des-tacava na multidão. Como escreveu o jornalista Antônio Gonçalves Filho, de O Estado de São Paulo, “Discreta, tentava circular sem ser notada, mas os jornalistas não lhe davam trégua. Afinal, trata-se da primeira mulher a publicar um romance em Moçambi-que, Paulina Chiziane, nascida há 53 anos em Manjacaze, na província de Gaza, criada no subúrbio de Maputo e com um livro publicado aqui, em 2004, pela Companhia das Letras, Niketche

- Uma História de Poligamia.” O olhar de Paulina aprisionava qualquer um que conversasse com ela e pergun-

tasse sobre sua história e sua terra. O que achou de participar da Fliporto?

“Aprendi que se pode fazer festa com a literatura. Já estive em vários lugares onde se faz conferências, mas uma ex-periência de um lugar onde se fala de cultura de forma alegre e descontraída foi muito bom. Fiquei muito encantada com isso.”

A Festa de 2008 acabou, mas a de 2009 já está andando. A curadoria ge-ral da Fliporto já definiu o tema cen-tral da 5ª edição: Um encontro entre a literatura latino-americana e a Ibérica (Portugal e Espanha). Editores e auto-res também podem se preparar, a Fli-porto cresce a cada ano e quem deixar pra última hora pode ficar de fora.

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Novembro 2008 Panorama 15

Eventos

Evento no Festival Literário Internacional da Floresta

Cem mil livros são distribuídos durante o Flifloresta

POR: RAQUEL CAETANO

gratuitamente livros para a população, num total de 100 mil exemplares, sen-do 25 mil dos quatro títulos seleciona-dos: A caligrafia de Deus, de Márcio Souza; Estatutos do homem, de Thiago de Mello; Sol de feira, de Luiz Bacellar; e Aventuras do Zezé, de Elson Farias.

“Eu nunca havia recebido um livro no meio da rua. Aqui, neste evento, eu re-cebi quatro títulos diferentes”, diz con-tente o analista de sistema Oto Mendes, 46. Os presenteados ainda puderam ter o autógrafo dos autores que estavam presentes ao evento.

Fotos: Heitor Costa

Grandes nomes da literatura inter-nacional, nacional e regional fizeram parte do encerramento do Festival Li-terário Internacional da Floresta (Fli-floresta), no dia 22 de novembro, em Manaus. Entre eles: Pepetela, de An-gola; Miguel Barnet, de Cuba; Fran-cisco Weffort, ex-ministro da Cultura, Luiz Ruffato, Márcio Souza, Thiago de Mello e Milton Hatoum, que co-mandaram as mesas temáticas finais.

O evento, no entanto, contou com a participação de 83 escritores durante os seis dias de programação e distribuiu

Além da distribuição dos livros, o público contou com outros atrativos. Na ornamentação, foram utilizados li-vros gigantes, com quatro metros de al-tura, espalhados no Parque dos Bilha-res, onde aconteceu o encontro literário. Foi também promovido o 1.º encontro literário brasileiro de escritores indí-genas, que debateram sobre a literatu-ra de seus povos, permitindo que, por meio do discurso e dos livros por eles publicados, sua cultura seja difundida entre os brancos.

Para o presidente do Conselho Ges-

Foto: Heitor Costa

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16 Panorama Novembro 2008

EventosEventos

tor do evento, Isaac Maciel, 48, o prin-cipal objetivo foi alcançado: “O nosso propósito era colocar o livro em evidên-cia e, ao mesmo tempo, promover a lei-tura, chamando a atenção da sociedade para a importância que tem a literatura. Os livros chegaram às pessoas mais hu-mildes. Essa ação assegurou o sucesso do Flifloresta, pois os livros chegaram ao povo”, afirma Isaac.

Segundo o professor Tenório Telles, membro do Conselho Gestor, o Fliflo-resta mexeu com a cidade: “Colocando o livro em destaque, tenho certeza de que muitas pessoas terão suas vidas transformadas pela experiência, espe-cialmente porque tiveram a oportu-nidade de participar dos debates, das ações de promoção de leitura e porque tiveram acesso aos livros. Afinal, nin-guém passa impunemente pela leitura de um bom livro”.

A coordenação do Flifloresta afir-ma que vai trabalhar para repetir nas demais edições o sucesso que marcou a primeira edição do Flifloresta neste ano de 2008.

Fotos: Heitor Costa

Crianças em atividades no Flifloresta

Livros gigantes ornamentam o Parque dos Bilhares

Escritores indígenas debatem literatura

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Novembro 2008 Panorama 17

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18 Panorama Novembro 2008

A Universidade Anhembi Morum-bi, de São Paulo, que mantém um cur-so de formação de profissionais para o mercado editorial, realizou, em ou-tubro, a segunda edição do Simpósio de Produção Editorial em Multimeios. Este ano, o evento discutiu o tema Pro-dução Editorial: do Impresso aos Mul-timeios. Além de exposições, palestras e mesas-redondas, que contaram com a participação de especialistas de todo o País, o evento ofereceu um espaço para divulgação e venda de produtos edito-riais, principalmente de pequenas edi-toras, novos autores e grandes idéias.

Multimeios em debate

Pára-choque ou parachoque? Mi-croondas ou micro-ondas? Enjôo ou en-joo? Lingüiça ou linguiça? Tudo indica que as dúvidas quanto à unificação gra-matical da Língua Portuguesa, cuja lei foi assinada pelo presidente Lula no final de setembro, estão despertando cada vez mais o interesse dos leitores no Brasil. E as editoras são um bom ter-mômetro da importância desse assun-to. Para se ter uma idéia, há dois meses seguidos que o livro O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de Maurício Silva, é o campeão de vendas da Contexto.

Como é que se escreve?

Após duas semanas em viagem co-mercial à China, o grupo de trabalho organizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) voltou ao Bra-sil com boas perspectivas de negócios na bagagem. Seis editoras brasileiras – Callis, Unesp, Nobel, Cortez, Yendis e Canção Nova – participaram da missão ao País asiático e tiveram encontros com empresários locais, principalmente na Feira Internacional do Livro de Pequim. O grupo ainda passou pelas cidades de Heibei, Xangai e Hangzou.

Boas perspectivas

Em 2007, o escritor e publicitário Samir Mesquita começou a escrever mi-crocontos durante uma oficina literária. Em uma única semana, já tinha feito 80 deles e logo veio a idéia de transformá-los em um minilivro, guardado em cai-xas de fósforos e batizado de Dois Pali-tos. A obra, que começou a ser vendida pela internet e em livrarias com perfil mais alternativo de São Paulo, já está perto de atingir a marca de cinco mil exemplares. Em novembro, o autor par-ticipou da Feira do Livro da Fundação Tide Setubal, em São Miguel Paulista, na região metropolitana de São Paulo.

Rápido e rasteiro

Terminaram no dia 10 de novembro as inscrições no edital aberto pelo Minis-tério da Cultura para apoiar a instalação de 600 bibliotecas comunitárias no País. Instituições ou pessoas físicas que já re-alizam projetos de leitura há pelo me-nos um ano, além dos municípios con-siderados prioritários pelos programas Território da Cidadania e Mais Cultura, terão preferência na seleção. O anúncio do edital pôs fim a uma espera de um ano desde que o MinC anunciou o pro-grama Mais Cultura, que prevê, entre outras metas para a área, a criação de 4 mil pontos de leitura.

600 bibliotecas comunitárias

Acontece

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Novembro 2008 Panorama 19

O Itaú Cultural está realizando um mapeamento internacional da literatura brasileira. As primeiras conclusões do projeto, batizado de Conexões, mos-tram que a quantidade de traduções de literatura brasileira, principalmente de autores contemporâneos, vem aumen-tando no mundo. O trabalho, inédito, está ouvindo pesquisadores, tradutores e estudiosos de diversos países. O resul-tado completo será apresentado para a comunidade acadêmica norte-america-na em agosto de 2009, em um congresso internacional em Chicago.

Mapa da literatura brasileira

No início de novembro, o Ministério do Desenvolvimento Agrário realizou um encontro de agentes de leitura do Programa Arca das Letras no Espírito Santo. Além de reunir agentes de diver-sos municípios do estado para a troca de experiências de incentivo à leitura, o evento analisou o papel das bibliotecas rurais para o desenvolvimento comu-nitário e educacional das comunidades atendidas pelo programa. Durante o encontro, mais cinco bibliotecas rurais foram entregues. As 132 unidades exis-tentes no estado já atendem mais de 9,5 mil famílias em 36 municípios.

Encontro de agentes no ES

O programa São Paulo: Um Estado de Leitores, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, aproveitou as comemorações do Dia Estadual da Lei-tura, celebrado pela primeira vez este ano, no dia 12 de outubro, para lançar um novo projeto: o PraLer – Prazeres da Leitura. A iniciativa é voltada a ações de divulgação do livro e da leitu-ra e pretende eliminar barreiras sociais e geográficas entre pólos de cultura e a população. Para isso, vai espalhar ati-vidades literárias por todo o estado, fo-mentando o interesse pela leitura entre crianças e jovens.

Prazeres paulistas

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20 Panorama Novembro 2008

Fotos: Divulgação

Hubert Alquéres

Socialmente Responsável

Livros para multiplicar idéiasImprensa Oficial, editora do governo paulista, mantém selo para lançar

publicações em conjunto com ONGs de todo o Brasil

Psique e Negritude - Os Efeitos Psicosso-ciais do Racismo, o último lançamento da Imprenssa Oficial

O presidente da Imprensa Oficial explica que uma parte da tiragem fica com a própria ONG, que se encarrega da distribuição, e a outra com a edito-ra, que distribui as obras para públicos específicos. De acordo com Hubert, o selo tem a meta de lançar até 30 títulos por ano, mas só não o vem fazendo por não receber projetos suficientes para isso. “A gente tem procurado divulgar mais vezes a iniciativa com o objetivo de receber mais propostas”, diz.

A obra mais recente, lançada du-rante a Bienal do Livro deste ano, é Psique e Negritude - Os Efeitos Psicos-sociais do Racismo, realizada em par-ceria com o Instituto AMMA Psique e Negritude, de São Paulo. Voltado para educadores, psicólogos, trabalhadores

da área de saúde e militantes do mo-vimento negro, o livro apresentada to-das as etapas dos efeitos psicossociais do racismo.

E além de dar oportunidade para que ONGs divulguem suas experiên-cias, metodologia e resultados, muitos títulos publicados pelo selo já foram, inclusive, premiados. Em 2005, para se ter uma idéia, um dos vencedores do prêmio Jabuti na categoria Educação foi A Violência Silenciosa do Incesto, publicado pelo Imprensa Social em parceria com a Clínica Psicanalítica da Violência. A obra propõe o rompi-mento do silêncio da violência sexual incestuosa.

Hubert diz que a grande surpre-sa no projeto da Imprensa Oficial foi comprovar o envolvimento da popu-lação na busca de soluções para pro-blemas por vezes carentes de políticas públicas. “Há muita gente deixando de apenas receber passivamente as or-denações e decisões do governo para se tornarem eles próprios agentes da mudança”, explica.

De acordo com a Associação Bra-sileira das Organizações não Gover-namentais (Abong), existem cerca de 276 mil ONGs no Brasil. Os dados são de 2004, quando foi divulgado o estudo mais recente sobre o tema no País. Espalhadas por todo o território brasileiro, muitas dessas organizações vêm desempenhando importantes ações que poderiam servir de exemplo para outras iniciativas. Entretanto, na maior parte das vezes, esses trabalhos acabam não sendo conhecidos em ou-tros lugares além dos seus limites de atuação.

Partindo dessa idéia, a Imprensa Oficial, editora do governo paulista ganhadora de inúmeros prêmios e ativa participante de feiras nacionais e internacionais, teve a idéia de criar, em 2004, um selo para publicar livros em conjunto com ONGs de todo o País. Foi naquele ano, durante a 18ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que ela lançou o Imprensa So-cial. O selo dá oportunidade para que organizações não-governamentais di-vulguem suas experiências, metodo-logia e resultados. Os trabalhos que apresentem vínculos políticos ou par-tidários são descartados.

Segundo Hubert Alquéres, presi-dente da editora, o apoio à impressão e divulgação desses trabalhos têm o objetivo de demonstrar que é possível transformar a realidade brasileira com dedicação e criatividade. Ele explica que a intenção é divulgar bons exem-plos que possam ser multiplicados. “São livros de interesse público, com os quais a gente não tem lucro”, diz.

P

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Novembro 2008 Panorama 21

Valter Kuchenbecker

Ponto de Vista

O papel das editoras universitárias continua sendo um papel estratégico. Além de editar o que dificilmente ou-tros editores publicariam, pois trata-se, na maioria das vezes, de assuntos res-tritos, são elas que abrem novos cami-nhos, apresentam outras soluções, pro-movem o desenvolvimento tecnológico e científico.

Outro papel fundamental das edito-ras universitárias é a sua responsabili-dade social. A universidade é respon-sável, além da educação, pela definição de políticas que gerem a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Através das editoras, que se-guem linhas editorias definidas por conselhos qualificados, os livros ofere-cidos ao leitor buscam contemplar es-ses conceitos.

Conscientes desta enorme responsa-bilidade os editores acadêmicos tem-se inserido cada vez mais no mercado edi-torial global buscando ocupar espaços para divulgação e comercialização de seus livros, especialmente através da ABEU – Associação Brasileira das Edi-toras Universitárias que tem sido a fa-cilitadora e promotora de muitos even-tos. Grandes avanços já foram sentidos nos últimos anos, mas tem muito chão pela frente.

As editoras universitárias também exercem papel de destaque na defini-ção de políticas públicas para o livro e

O livro universitário como diferencialValter Kuchenbecker

leitura em curso no país. Trata-se de promover a cultura como um todo, em que os livros acadêmicos atuam como instrumentos fundamentais para efeti-vação de valores, de conceitos e de prá-ticas culturais e científicas. São eles os catalisadores do saber entre a universi-dade e a sociedade.

Vivemos um momento bastante positivo no mercado editorial. Atri-buo isso, em parte, ao entendimento das lideranças do livro de que precisa-mos trabalhar, cada vez mais, de for-ma integrada e unida. Os profissionais do livro das áreas criativas, produtivas e distributivas precisam formar um só bloco em seus pleitos e projetos. Quan-to mais unida for a classe, mais força teremos para transformar a comuni-dade numa sociedade de leitores e co-locar o livro nas principais pautas po-líticas deste país. Não temos tempo a perder. Temos que deixar de concor-rer entre os pares. Nossos concorren-tes são os que trabalham com outros produtos que não seja o livro e que le-vam o nosso público leitor para outros interesses.

Portanto, colegas do mercado edito-rial (editores, livreiros, autores e distri-buidores) sigamos de mãos dadas para promover o que mais queremos e no que mais acreditamos para alcançar-mos o status de país de primeiro mun-do, ou seja, o livro e a leitura.

Foto: Aldrin Bottega

Publicações das editoras universitárias disputam as prateleiras das livrarias como um grande diferencial para o leitor e para os livreiros

Valter KuchenbeckerPresidente da ABEU

Diretor da Editora da [email protected] P

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22 Panorama Novembro 2008

InstituiçõesReconhecimento para professores

O Instituto Pró-Livro é um dos par-ceiros do Ministério da Educação (MEC) na 3ª edição do Prêmio Professores do Brasil. O objetivo da iniciativa é valo-rizar práticas pedagógicas inovadoras, desenvolvidas por professores de esco-las públicas, que tenham contribuído para a melhoria da qualidade da educa-ção. Serão premiados 40 professores de todas as etapas da Educação Básica – In-fantil, Fundamental e Médio. Os vence-dores receberão um prêmio de R$ 5 mil, diploma e troféu. A escola do professor agraciado também será contemplada com R$ 2 mil em equipamentos. A pre-miação acontecerá em dezembro.

Infantis

Leituras natalinas Não há data mais significativa que o Natal para partilhar leituras e propiciar o con-

tato da criança e do jovem com livros de qualidade. Essa é, ao menos, a opinião da Fun-dação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que realizou, em novembro, a ter-ceira edição do projeto Natal com Leituras na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

Além de sessões de leitura, o evento conta com performances de ilustradores e exposições. Pais e professores não ficaram de fora da programação e puderam contar com palestras sobre leitura e literatura. Um espaço para vender livros para presentear no final de ano foi montado no lugar.

Além de ser gratuito, o Natal com Leituras, que tem o apoio do Instituto C&A, dá um livro de presente para cada criança ou jovem participante.

Livrarias

ANL distribui livros para crianças A Associação Nacional de Livrarias (ANL), em parceria com o Instituto Terra,

Trabalho e Cidade (ITTC), arrecadou mais de 5 mil livros para crianças carentes. O trabalho foi desenvolvido com a pastoral carcerária do qual a ONG ITTC também é responsável. As obras foram distribuídas durante as festas em comemoração ao Dia da Criança, no dia 12 de outubro.

O objetivo da ANL, com a ação, é contribuir com o incentivo à leitura entre os pequenos, levando até eles o acesso ao mundo dos livros. As obras foram entregues pelo ITTC às mães que se encontram no Presídio Feminino de Santana, na Penitenci-ária Feminina da Capital e no Centro de Atendimento Hospitalar da Mulher Presa, todos em São Paulo. Os livros foram entregues para as próprias mães presentearem seus filhos no Dia das Crianças.

GráficasDenúncia leva a apreensão de livros na Bahia

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica em São Paulo (Abi-graf São Paulo), Fabio Mortara, prevê um crescimento pelo menos 25% menor em 2009 que neste ano no setor. Se para 2008 a expectativa é crescer 2% graças, princi-palmente, ao bom desempenho da área de livros, jornais e revistas, a previsão de crescimento para 2009 está entre 1% e 1,5% por conta dos reflexos da crise financeira mundial. Apesar de algumas editoras es-tarem postergando lançamentos de livros, a Abigraf acredita que eles serão retoma-dos e, aos poucos, o cenário deve mudar. As exportações da indústria gráfica tam-bém estão sob os impactos da crise.

Um almoço de confraterni-zação marcou as comemorações pelos 21 anos da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL). O evento foi realizado em novembro, no Hotel Feller Avenida Paulista, em São Pau-lo.

A entidade aproveitou a fes-ta para apresentar os dados da 1ª Pesquisa Sobre o Setor Porta a Porta. Os resultados deveriam ter sido divulgados em agosto, durante a Convenção Nacional dos Difusores de Livro, em São Paulo, mas a greve dos Correios impediu o envio dos questioná-rios aos 200 associados e acabou atrasando o cronograma.A ABDL espera um aumento na receita do segmento, que em 2005 movimentou R$ 780 mi-lhões – 15% das vendas diretas

Editores Novo site do Snel no ar

Já está no ar o novo site do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). No ano em que comemora 66 anos de sua fundação, a entidade reformulou totalmente a sua página, adotando um visual mais moderno e um sistema de navegação mais rápido. Editores asso-ciados ao Snel têm acesso, por meio do site, a pesquisas, cadastramento de va-gas de emprego e solicitações de fichas catalográficas, entre outros serviços. A decisão de modificar o antigo site partiu da nova diretoria, presidida por Sônia Machado Jardim. Agora, o Snel se con-centra nos preparativos para a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que acontece em setembro do ano que vem.

do setor livreiro naquele ano, incluindo a internet. A atua-ção dos 30 mil profissionais do ramo tem sido mais intensa nas periferias das grandes cidades e nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde a presença de bi-bliotecas e livrarias é menor.

No almoço foram premiados os vencedores do concurso lite-rário O Amigo do Meu Melhor Amigo, lançado pela ABDL du-rante a última Bienal do Livro de São Paulo, com temática do mercado porta a porta, em duas categorias: 8 a 11 anos e 12 a 14 anos. As vencedoras em cata categoria foram Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissori e Ju-liana Teixeira de Oliveira, res-pectivamente.

Porta a porta

Motivos para comemorar

Cadeia Produtiva

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Distrito Federal Chuva de Poesia vira livro

No dia 19 de junho, para abrir as atividades da 27ª Feira do Livro de Brasília, a Câmara do Livro do Distrito Federal (CLDF) promoveu a Chuva de Poesia, evento que lançou poesias penduradas em balões no céu da capital do País. Ago-ra, a entidade reuniu os versos no livro Chuva de Poesia, lançado pela editora Thessaurus. A obra foi organizada pelo presidente da CLDF, Valter Silva, e traz textos de poetas de Brasília e de outros lugares do Brasil. A publicação, que tem tiragem limitada, é gratuita para os brasilienses que acharam as poesias e estão de posse do cartão lançado nos céus da capital em junho.

Rio Grande do Sul Ciclísmo literário

Em sua 54ª edição, a Feira do Livro de Porto Alegre virou também um lugar de esporte. Isso porque, entre as inúmeras atrações e novidades do evento, a Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL) organizou, em parceria com a Associa-ção Ciclística da Zona Sul (ACZS), o 1° Passeio Ciclístico da feira. Apesar deste ser o primeiro passeio organizado com a ACZS, já houve, há alguns anos, um outro do qual participaram vários escritores. Na ocasião, cada inscrito entre-gou um livro para ser doado a uma biblioteca comunitária. Este ano, a inicia-tiva foi repetida e os livros doados a escolas públicas da cidade. Cerca de 80 pessoas participaram do evento.

Minas Gerais Literatura na capital mineira

Durante sete dias de novembro, o Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, famo-so por receber grandes espetáculos de artistas nacionais e internacionais, abriu espaço para o mundo dos livros. É que o lugar sediou a 9ª edição do Encontro das Literaturas, promovido pelo Clube de Editoras Mineiras em parceria com a Fundação Municipal de Cultura. Este ano, o evento abordou literatura popular, lendas e literatura de cordel. O encontro contou com feira de livros, palestras, bate-papos, exposições, oficinas e apresentações artísticas. As atividades do en-contro, gratuitas, promovem reflexões sobre as obras de diversos autores.

Maranhão Feira capacita educadores

No ano em que se celebra o centenário da Academia Maranhense de Letras, a 2ª edição da Feira do Livro de São Luís, realizada em outubro com o apoio da Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão (Alem), decidiu ampliar a Casa do Professor, espaço dedicado à capacitação de educadores nas áreas do livro e da leitura. Com palestras, mesas redondas, relatos de experiências, rodas de leitura e oficinas, entre outros, o espaço abriu 3,1 mil vagas divididas em 71 atividades. O número é maior que o do ano passado, quando foram realizadas 37 atividades de capacitação, com a participação de 1.255 educadores.

Ceará Debate sobre políticas do livro e leitura

Dirigentes da cadeia do livro no Nordeste aproveitaram a Bienal Internacio-nal do Livro do Ceará, realizada em novembro, em Fortaleza, para organizar um ciclo de debates sobre políticas públicas do livro e da leitura com um foco mais ajustado às questões da região. Quem fez as convocações para a 3ª Con-venção de Editores e Livreiros do Nordeste, dentro da programação paralela da feira, foi o Ministério da Cultura, o Fórum dos Secretários Estaduais de Cultura do Nordeste, a Secretaria de Cultura do Ceará, a Câmara Cearense do Livro e o Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado. O Ceará tem liderado as discussões sobre a necessidade de maior regionalização dessas políticas.

Universitário Mais espaço para editoras universitárias

O presidente da Associação Brasi-leira de Editoras Universitárias (Abeu), Valter Kuchenbecker, esteve na Colôm-bia, em outubro, promovendo livros brasileiros na 14ª Feria Del Libro Paci-fico, em Cali. Kuchenbecker aproveitou para participar de debates em torno de idéias para divulgar melhor a produ-ção dos livros universitários produzi-dos na América Latina e no Caribe. O objetivo é articular um intercâmbio en-tre a Abeu e suas congêneres de outros países da região. Além da ampliação dos espaços das editoras universitárias nas próximas feiras de livro, a entidade debateu a criação de linhas editoriais para aumentar as traduções desses edi-tores.

RegionaisDidáticosDenúncia leva a apreensão de livros na Bahia

Uma denúncia realizada no site da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) levou à apreensão de dois mil livros de Ensino Médio e Fundamental em três sebos e seis co-piadoras de Salvador. A Polícia Civil da cidade realizou duas operações, uma em livrarias e outra em copiadoras. Dos dois mil livros apreendidos, 511 eram de uso exclusivo do professor e o res-tante eram cópias integrais de obras. De acordo com o advogado da Abrelivros, Dalizio Barros, o prejuízo financeiro e intelectual referente aos livros apreen-didos é de R$ 20 milhões de acordo com os direitos autorais previstos no artigo 184 do Código Penal.

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24 Panorama Novembro 2008

UMA LUZ PARA A LEITURACom a produção de obras em Braille e formatos digitais, a Fundação

Dorina Nowill leva o mundo da leitura a deficientes visuais de todo o Brasil

Boa IdéiaFoto: Karlis Smits

Dorina lendo

mal. Rita chega a revisar, em um único dia, cerca de 200 páginas. Ao todo, dez pessoas fazem o mesmo trabalho na instituição criada há 62 anos pela pau-listana Dorina de Gouvêa Nowill e um grupo de amigas.

Ali são fabricados, todos os dias, os livros didáticos, paradidáticos, best-sellers e literários para alunos cegos de todo o País. Além do Braille, a fun-dação produz obras em áudio e livros acadêmicos e de referência, no formato Livro Digital Acessível (Lida), que con-siste em uma ferramenta de leitura di-

deficiente visual, passa os dias lendo, com a ponta dos dedos, livros que serão distribuídos gratuitamente para mais de 1,7 mil bibliotecas, escolas e organi-zações de todo o Brasil. Seu trabalho é revisar as obras produzidas em Braille, na Fundação Dorina Nowill para Ce-gos. “É muito gratificante saber que ou-tras pessoas vão poder ler esses livros que passam pela minha mão”, conta.

Antes de serem impressos, os livros são submetidos a duas revisões, reali-zadas por profissionais cegos, acompa-nhados por voluntários com visão nor-

Desde que foi publicada pela pri-meira vez, em 2005, a história da ado-ção de um cão labrador por um jovem casal nos Estados Unidos conquistou milhares de fãs em todo o mundo. Mas foi no ano passado, em São Paulo, que a saga narrada pelo americano John Gro-gan em Marley & Eu conquistou uma leitora especial. “Curti bastante”, sorri Rita de Cássia Martins de Araújo, de 27 anos. Ela foi uma das responsáveis pelo trabalho que tornou o best-seller acessí-vel a quem não pode enxergar.

Há mais de dois anos, Rita, que é

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Novembro 2008 Panorama 25

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Leitura adulto

Conferência impressão gital em CD-ROM. O sistema permite à pessoa cega ou com visão subnormal acesso a obras destinadas ao estudo e à pesquisa. Esse sistema de leitura tam-bém já está sendo desenvolvido pela instituição no formato Daisy, uma evo-lução do Lida compatível com os pro-tocolos internacionais de acessibilida-de. O novo formato possibilita que um ou mais arquivos de áudio, gravados em voz humana ou sintetizada, sejam reproduzidos por meio de um aplica-tivo específico de leitura instalado no computador ou por equipamentos es-peciais importados, semelhantes a apa-relhos de som com CD.

De acordo com o gerente editorial da Fundação, Roberto Gallo, a Dori-na Nowill é a imprensa Braille com a maior produção da América Latina e uma das maiores do mundo em termos de capacidade produtiva. No final de outubro, cerca de 15 especialistas de outros países participaram de um en-

contro latino-americano de livros digi-tais acessíveis, sediado pela fundação. O objetivo é formar um consórcio com os países da região para a produção de livros digitais no formato Daisy. “É um passo enorme que a fundação está dando na questão do livro digital aces-sível”, afirma o gerente editorial.

Roberto Gallo também chama a aten-ção para o aumento no número de livros adaptados. Em 2005, 127 títulos foram produzidos na Dorina Nowill. Este ano, serão 1065 nos formatos Braille, áudio e digital. “Em três anos, aumentamos oito vezes nossa produção”, diz.

A fundação ainda conta com uma biblioteca circulante com mais de 900 títulos disponíveis nos formatos MP3 e digital. Coisa de quem realmente acre-dita no livro e na leitura como caminho para a inclusão social e trabalha, diaria-mente, para ampliar essa oportunida-de a milhares de deficientes visuais de todo o Brasil. P

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26 Panorama Novembro 2008

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Programa de livros

Outras Mídias

Desde 2003, o universo literário tem destaque na programação da SescTV. Com 88 edições gravadas, o programa O Mundo da Literatura está entre os mais assistidos e comentados da emis-sora educativa, que tem como objetivo formar um acervo audiovisual de cul-tura. Porém, o diretor-executivo do ca-nal, Valter Vicente Sales Filho, diz que a emissora está trabalhando na criação de um programa sobre a língua portu-guesa, cujo principal foco será a criação literária, que deverá substituir O Mun-do da Literatura. Enquanto isso não acontece, o público ainda pode conferir as reapresentações da atração às segun-das, quartas e sextas, às 13h, e também aos sábados, às 14h00 e às14h30.

Bookcrossing tropical

A mensagem na eti-queta já avisa que o livro encontrado não é um presente.

Para prosseguir com a brincadeira, o leitor

assume o compromisso de passá-lo adiante após

a leitura, deixando-o em um local público onde

possa ser encontrado por um novo leitor. Assim, inspirado no projeto americano Bookcrossing - que estimula as pesso-as a abandonarem livros em lugares públicos -, o Livro Livre, lançado durante a Flip deste ano, vem conquistando cada vez mais seguidores no Brasil. Iniciativa de Pedro Markun, idealizador do site de opiniões Jornal de Debates, o projeto parte do mesmo princípio que o original: lugar de livro é nas mãos de quem vai saber aproveitá-lo. Para participar, basta se cadastrar no site li-vrolivre.art.br.

Leitura para quem educa

Entre publicações mensais, edições especiais

e anuários, a editora Segmento, de São Paulo,

publica 17 títulos divididos em diferentes nú-

cleos. Entre tantos temas, uma coisa é certa:

quando o assunto é educação, a questão do livro

e da leitura tem presença garantida nas pautas.

Mais célebre de suas revistas, a Educação, cria-

da em 1997 e direcionada a profissionais da área

educacional de Ensino Básico, nunca deixa de

abordar o tema. Outro bom exemplo é dado

pela revista Língua Portuguesa, que recorre,

quase sempre, às obras de grandes escritores

brasileiros.

O livro em revista

O livro na TV

O Livro na Internet

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Novembro 2008 Panorama 27

Por Matilde LeoneAgência Brasil Que Lê

Editoras, escritores, sistemas de ensino e de comunicação se mobilizam para implantar as

novas regras estabelecidas por lei

Acordo ortográfico: O impacto da mudança

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28 Panorama Novembro 2008

Capa

A jornalista Vera Vieira

O escritor Godofredo de Oliveira Neto

Fotos: Divulgação

A jornalista Vera Vieira vai começar a redação de sua tese de doutorado nos primeiros meses de 2009 sobre o impac-to das tecnologias de informação e co-municação nos processos de educação não formal com mulheres. Um traba-lho de fôlego, que desenvolve na ECA/USP, de São Paulo, com o rigor grama-tical exigido em todos os trabalhos aca-dêmicos. Vera não tem dúvidas: vai es-crever conforme rezam as regras do novo acordo ortográfico, embora os brasileiros tenham prazo até 2012 para se adaptarem. “Gosto muito da língua portuguesa, e sempre fiz questão de co-nhecer todas as regras da ortografia e da gramática”.

Excluir acentos, tremas e outros itens pode parecer sem sentido, à pri-meira vista. Mas, os objetivos das alte-rações vão além de mudar a ortografia de 0,5% da língua portuguesa. Mes-mo com tão poucas alterações, a mão de obra é grande e a discussão entre os acadêmicos não se encerra com a por-taria assinada pelo presidente Lula. “As mudanças são significativas, sim, mais pelo que elas representam de in-tenção (uma resposta ao mundo globa-lizado) do que pela alteração concre-ta”, avalia a professora Maria Helena Moura Neves, doutora em letras Clás-sicas e docente da Unesp Araraquara. Para ela, algumas mudanças são sim-plificadoras. “O documento não vem com a clareza e a completude suficien-

tes para que possamos dizer que já sa-bemos como todas as palavras vão ser escritas”, diz. No entanto, vê como ne-cessária a unificação da língua dos oito países ditos lusófonos. “Dado o fato de que há, no momento, duas ortografias ‘oficiais’ portuguesas: uma no Brasil e outra em Portugal (esta, seguida pelos demais países), isto é uma aberração. Há um histórico de frustrações no em-penho dos dois países para um regra-mento comum da forma de grafar as palavras”.

O escritor Godofredo de Olivei-ra Neto presidente do Conselho Dire-tor do IILP – Instituto Internacional de Língua Portuguesa - e professor de li-teratura brasileira na Universidade Fe-

deral do Rio de Janeiro, acaba de lançar o romance Marcelino, pela editora An-tiga, escrito ainda pelas normas anti-gas ( sem trocadilho), e na próxima edi-ção, ele terá de adaptar o livro às novas regras. O Instituto, com sede em Cabo Verde, é um órgão da comunidade dos países de língua portuguesa, criado com a idéia de incentivar e potenciali-zar as relações entre os oito países com base na língua oficial.

Para Godofredo, num mundo glo-balizado, a idéia de formar um bloco lusófono é importante, pois com a uni-ficação, ele se fortalece junto a órgãos internacionais como a ONU. “Não se trata de um capricho, mas de ganhar status e poder, e até pleitear, ser uma língua oficial da ONU”, acredita. Além disso, o escritor atenta para o fato de que a produção de conhecimento cien-tífico dos países também sai fortalecida por meio da língua.

Outra questão citada por ele é da unificação da língua poder facilitar a circulação de livros nos países lusófo-nos, e isso poderá ser visto como um suporte fundamental para a diminui-ção do analfabetismo funcional. Quanto às mudanças, diz que existem paixões pelo trema, mas lembra que Portugal aboliu o sinal há décadas. “A gente se acostuma, a língua mexe com o emocio-nal das pessoas”, diz.

Na escola

Especialistas na língua de Camões são unânimes em afirmar que não ha-verá problemas de adaptação para as escolas. “Quanto ao trabalho do profes-sor, nada há de muito radical nas mu-danças. Está havendo muito barulho quanto a algumas alterações na acentu-ação, mas estas são bastante restritas e são facilmente assimiláveis”, diz Maria Helena.

Douglas Tufano, de Jundiaí, pro-fessor e autor de livros didáticos e pa-radidáticos na área de Português e Li-teratura, concorda que as mudanças irão afetar um número muito peque-no de palavras. “Além disso, como a

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Novembro 2008 Panorama 29

O escritor Godofredo de Oliveira Neto

José Pereira da Silva, 63 anos, filó-logo e professor de Filologia e Língua Portuguesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, conta que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa tem uma história relativamente longa, des-de que a Academia Brasileira de Letras tentou a Reforma Ortográfica em 1907 e a reforma efetivada em Portugal em 1911.“Na verdade, a reforma de 1907 nunca foi efetivada nem mesmo pela própria ABL”, diz. “Também não hou-ve acordo em 1911 por Portugal igno-rar a existência da língua portuguesa no Brasil. Isso causou certo constran-gimento aos brasileiros, mas motivou a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras a bus-car um acordo para unificação ortográ-fica; o que resultou no acordo celebra-do em 1931”, diz.

Esse acordo de 1931, segundo José Pereira, não teve qualquer va-lor. “As academias continuaram a bus-car uma unidade ortográfica e, em

1943, foram aprovadas as “Instru-ções para a elaboração do Vocabulá-rio Ortográfico da Língua Portuguesa”, que é o que regulou a nossa ortogra-fia até hoje. Em 1945, houve o segun-do acordo ortográfico, assinado pe-los portugueses e pelos brasileiros. Mas foi tamanha a insatisfação entre os brasileiros que o governo resolveu não implantar o acordo. Em 1971, foi publicada uma lei que fazia pequenas simplificações na acentuação gráfi-ca para unificar a ortografia brasileira com a portuguesa. Em 1973, também sem o caráter de “acordo”, os portu-gueses fizeram pequenos reajustes, igualando a acentuação gráfica tam-bém com o mesmo objetivo de unifi-car a ortografia da língua. Os debates continuaram e, em 1986, houve um terceiro acordo ortográfico, muito mais intenso que o atual, mas, devido a for-tes manifestações contrárias, princi-palmente em Portugal, não foi implan-tado. Outras negociações levaram a um novo acordo em 1990, mais tole-rante. Quando aprovado, o acordo foi programado para ser implementado a

Reforma só elimina acentos, não deve provocar dificuldades para a grande maioria das pessoas”, afirma. Diz que, como escritor, a adaptação será fácil e rápida, mas como professor, vai sen-tir falta do trema e do acento nas pala-vras com “éia”, como idéia, platéia etc. “Esses sinais ajudam o aluno a apren-der sozinho a pronúncia das palavras. Agora, ele vai ter de aprender ouvin-do outras pessoas. No caso do trema, devem surgir dúvidas quando se tra-ta de palavras pouco usuais, como exequível, quinquênio, etc”, pondera. Por quê? “Nessas palavras o U é pro-nunciado ou não? A simples presen-ça ou não do trema já dava a respos-ta. O mesmo vai acontecer com o fim do acento no grupo éia. O acento in-dicava a pronúncia aberta. A ausência do acento indicava a pronúncia fecha-da. O acento orientava o leitor a apren-der sozinho a pronúncia correta des-sas palavras.

Ele acha estranho a eliminação do

partir de 1994, mas foram estabeleci-dos alguns entraves burocráticos que acabaram dificultando essa implanta-ção, visto que não foram cumpridos pelos países signatários. Só em 1995 o Congresso Nacional Brasileiro apro-vou esse acordo”, diz.

Com a modificação que estabele-cia a data de entrada em vigor, foi in-cluído também o novo país que se tor-nara independente, Timor Leste, e foi estabelecido que entraria em vigor no primeiro dia do mês seguinte àquele em que pelo menos três dos países da Comunidade dos Países de Lín-gua Portuguesa concluíssem o pro-cesso burocrático para sua aprova-ção, o que ocorreu em dezembro de 2006. Portanto, a partir do primeiro dia de 2007 o Acordo Ortográfico da Lín-gua Portuguesa está em vigor”.

No dia 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras, o Presi-dente Lula assinou o decreto que pro-mulga o Acordo, estabelecendo o seu cronograma de implementação, que irá de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2011.

acento em pára (verbo parar) e não em pôr. “Trata-se de casos idênticos - pára (verbo) / para (preposição) e pôr (ver-bo)/ por (preposição).

De resto, não vê dificuldade, mas identifica um problema na redação do acordo, que classifica como confu-

sa e omissa em alguns pontos, deixan-do margem a interpretações conflitan-tes. “O jeito é esperar a publicação do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Lín-gua Portuguesa), que é de responsabili-dade da Academia Brasileira de Letras. Esse vocabulário mostrará a grafia cor-reta de todas as palavras”, espera. Para ele, o VOLP foi prometido para o co-meço de 2009, quando já deveria estar pronto, para evitar confusões e discus-sões inúteis. Mas, pelo prazo, acredita que o acordo entre em vigor sem a pu-blicação do Vocabulário Oficial.

Revisores e tabelas

Na dianteira, a Editora Contexto lançou este ano o livro Para entender o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, escrito pelo professor Maurício Silva, especialista em orto-grafia, professor de Literatura Brasi-leira e coordenador da pós-graduação na Universidade Nove de Julho, em

Luciana Pinsky, editora da Contexto

História do acordo

Foto: Divulgação

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30 Panorama Novembro 2008

Foto: Pith Raiduck

Capa

No Brasil, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lis-boa, em 16 de dezembro de 1990, com as modificações posteriores, foi transformado em Decreto Nº 6583, assinado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva e por Celso Luiz Nunes Amorim, em 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras. O Decreto foi publicado no Diário Oficial da União, Brasília, em 30 de setembro de 2008, Ano CXLV Nº 189, Seção 1, pág. 1-9. ISSN 1677-7042.

No Anexo I, pág. 2 a 6, consta o Acordo Ortográfico de 1990. No Anexo II, pág. 6 a 9, consta uma Nota Expli-cativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em que aparecem as justificativas e as modificações. Em seguida, vem o Decreto II, Nº 6.584, de 29 de setembro de 2008 que promul-

ga o protocolo modificativo ao Acor-do Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Praia, em 17 de julho de 1998. Depois, o Decreto 6.585 de 29 de setembro de 2008, que dispõe sobre a execução do segundo protocolo modi-ficativo ao Acordo O. LP, assinado em São Tomé, em 25 de julho de 2004. O protocolo foi decidido na V Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em 26 e 27 de julho de 2004.

O Decreto 6.586 de 29 de setem-bro de 2008 dispõe sobre a imple-mentação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

De acordo com os decretos acima, as novas regras do Acordo Ortográfico começam a vigorar a partir de 01 de ja-neiro de 2009. Até 2012, a ortografia an-tiga será permitida em concursos pú-blicos, vestibulares e provas escolares, livros e na imprensa, em geral. A partir de janeiro de 2013, serão corretas ape-nas as novas grafias das palavras. Até o final de 2009, o FNDE (Fundo Nacio-

nal de Desenvolvimento da Educação) – MEC irá substituir os dicionários nas escolas públicas (cerca de 10 milhões de livros – cerca de 90 milhões de re-ais). A partir de 2010, os alunos do En-sino Fundamental básico (de 1ª à 5ª sé-ries) passarão a ter os livros didáticos com a nova ortografia. A partir de 2010, todos os livros didáticos adquiridos pelo governo deverão ter na nova ortografia.

No Brasil, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990 (Decreto Nº 6583 – onde constam as novas bases), com as modificações posteriores, foi transformado em De-creto de Nº 6.586, de 29 de setembro de 2008, o qual dispões sobre a im-plementação do AOLP.

O Acordo Ortográfico deverá ser im-plementado por todos os países da Co-munidade dos Países de Língua Por-tuguesa (CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Por-tugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste.

São Paulo; tem doutorado e pós-dou-torado em Letras Clássicas e Vernácu-las pela Universidade de São Paulo, é pesquisador do Instituto de Pesqui-sas Lingüísticas Sedes Sapientiae para Estudos de Português (PUC-SP) e au-tor de diversos livros e artigos acadê-micos. “O português do Brasil, com suas variantes regionais, é bem mais vocálico do que o de Portugal, mais consonantal. Nós achamos que eles “engolem” letras. Eles acham que nós falamos “descansadinho”. Mas, se não chegarmos a um consenso so-bre a forma de falar, seria possível ao menos um acordo sobre como escre-ver?”, questiona lembrando que esse é o objetivo do novo Acordo.

Para se adaptar às novas regras, a Contexto começou a se preparar des-de que o acordo foi constituído. “Nos-sa revisora estudou profundamente todas as mudanças e criou uma tabela para ser usada por ela, pela produção em geral e pelos demais colaborado-res na área de texto. Os autores tam-bém passaram a receber a tabela junto com o manual modificado. Os fun-cionários da área de produção que li-

dam com texto também estudaram a tabela”, afirma Luciana Pinsky, edito-ra da Contexto. Segundo Luciana, to-dos os livros que iniciaram a produção no fim de 2008 já estão adaptados ao novo acordo. Tudo isso envolve cus-tos, mas a editora pensa na alteração também como uma boa oportunidade editorial. “Fomos a primeira editora a lançar um livro explicando cada mu-dança e como isso altera o cotidiano de quem lida com a escrita”, afirma.

A imprensa e os dicionários

É lendo que se aprende a escrever melhor. Esse conceito é repetido pelos professores do ensino fundamental à universidade. E grande parte da leitu-ra é feita em jornais e revistas. Por isso, a imprensa não deve esperar até 2012 para abandonar o trema e alguns acen-tos.

O jornalista e editor-assistente de trei-namento da Folha de São Paulo Fábio Monteiro Chiossi, 34 anos, explica como o jornal está se preparando para as mu-danças. “A Folha distribuiu para todos os seus jornalistas o livro “Escrevendo pela Nova Ortografia”, publicado pelo Insti-tuto Antônio Houaiss e pela Publifolha. Todos os jornalistas da empresa estão fa-zendo um minicurso de duas horas sobre o que muda com o novo acordo ortográ-fico”. De acordo com Monteiro, a Folha vai aplicar as novas regras a partir de 1º de janeiro de 2009. Para ele, o acordo não causa problemas aos jornalistas, “mas as novas regras só serão aplicadas automa-ticamente com o tempo, pois é preciso praticar para que o novo conhecimento fique bem sedimentado”.

Emerson Santos, diretor da Editora Positivo

Decretos e datas de implantação

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Novembro 2008 Panorama 31

Ana Estela de Sousa Pinto, editora de treinamento do jornal, diz que vai ter um pouco mais de trabalho até decorar as novas regras. “Como em toda mudan-ça, mas isso passa logo e não afeta o prin-cipal da nossa profissão, que é apurar di-reito e escrever um bom texto”, afirma.

Diferente de países como Inglater-ra e França que atualizam as edições de seus dicionários anualmente, o merca-do lexicográfico no Brasil é mais lento para acrescentar novas palavras.

O “Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa” publicou sua última edi-ção em 2006, enquanto a última reedi-ção impressa do “Dicionário Contem-porâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete” aconteceu em 1987.

Emerson Santos, diretor da Positi-vo, afirma que a editora adaptou o mini Aurélio no segundo semestre de 2008, e que todas as novas edições lançadas a partir de agosto de 2008 já estão de acordo com a reforma. O trabalho, se-gundo Emerson, envolveu 20 profissio-nais em todo o processo. Diz que, do ponto de vista editorial, o impacto da reforma ortográfica já se iniciou, pois, com a obrigatoriedade, as editoras tive-ram em torno de três meses para ajus-tar todas as suas publicações inscritas no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). “Além disso, temos a adap-tação da nova ortografia nas turmas de alunos que acabaram de aprender a or-tografia nas regras anteriores. É muito difícil dimensionar o impacto, mas cer-tamente o trabalho está sendo intenso para incorporá-lo em todas as esferas que envolvem a educação”, afirma.

O Acordo e a informática

Aposentada há décadas a máquina de escrever, não deve haver um profis-sional da escrita que não utilize o com-putador, e um dos impactos do acordo ortográfico será sentido na informáti-ca. Como os programas e ferramentas de apoio como vão ficar? Segundo Edu-ardo Campos, gerente geral da Micro-soft, a empresa está fazendo uma revi-são do office 2007 e as futuras versões sairão dentro das novas regras. “Vai ser gratuito para todos os usuários do offi-ce 2007”, diz. “Demanda trabalho con-

siderável e complexo apesar de mexer com apenas 0,5% do léxico. Alterar di-cionários é rápido. Demorados são os testes”, afirma.

O gerente geral da Microsoft, diz que existem terminologistas e tradu-tores nos Estados Unidos trabalhando nas ferramentas de correção ortográfi-ca. “Queremos garantir que tudo este-ja adequado, corrigido e ajustado e que a atualização seja disponibilizada bem antes de 2012”, diz Eduardo. “Essa atu-alização poderá vir dentro de um ser-vice pack, pacote de atualizações, que acontece de tempos em tempos nos produtos, ou, eventualmente, pode até haver uma atualização específica para o Office do Brasil”, afirmou Campos.

Críticas

Discussões sobre a eficácia das mu-danças não vão mudar o que já está es-

tabelecido, mas ainda restam algumas críticas ao acordo, como as do professor Luís Carlos Cagliari, da Unesp de Ara-raquara. Ele afirma que as reformas or-tográficas têm sido feitas sem o conhe-cimento científico do que vem a ser a ortografia. Para ele, unificar a ortogra-fia é um equívoco porque, apesar de se-guir regras de uso, tiradas de uma tra-dição, a ortografia, como a linguagem, em geral, sofre transformações no tem-po e no espaço.

Ele não acredita em mudanças rápi-das. Afirma que, com relação às pessoas cultas, a reforma começa logo, por for-ça social, mas quanto à escola é sempre um problema grande para os professo-res e menor para os alunos. “Eles estão ainda aprendendo e podem aprender qualquer coisa, não precisam modificar nada que sabiam antes, dependendo do grau de escolaridade”.

O filólogo José Pereira da Silva, da Academia Brasileira de Filologia do Rio de Janeiro, acha que ninguém, em lugar algum, está preparado para mu-danças no ensino, pois sempre são um aumento de trabalho para os professo-res, e é algo demorado que acarretará um grande trabalho de reestruturação mental dos próprios docentes, inci-cialmente, e um pequeno, mas tam-bém dificultoso trabalho para os estu-dantes que já começaram a aprender no formato antigo. “Os bons profes-sores estarão preparados antes de te-rem de repassar a seus alunos as in-formações novas”, diz. Mas, considera que as regras que alteram a ortogra-fia da língua portuguesa cabem todas em uma ou duas páginas de qualquer livro. “Um professor que não conse-guir fixar regras simples (que podem ser ensinadas até a um aluno de ensi-no fundamental) em algumas horas, é melhor que deixe o magistério ou vol-te a ensinar no século passado”, ava-lia. Quanto ao povo, Cagliari é mais pessimista ainda: “Muitos continua-rão escrevendo fora de qualquer pa-drão tradicional ou imposto por lei”. Como tudo que é novo provoca polê-micas, com o acordo não é diferente e ainda vai causar muitas discussões, mas o certo é que todos se mobilizam para cumprir a lei.

Eduardo Campos, gente geral da Microsoft

O professor Luís Carlos Cagliari

Fotos: Divulgação

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32 Panorama Novembro 2008

Tribos de leitoresMEC distribui livros elaborados por educadores indígenas nos

cursos de formação de professores; obras valorizam as culturas e ajudam a preservar as línguas

Políticas Públicas

Ministério da Educação produziu para distribuir este ano.

Os livros foram elaborados nos cursos de formação de professores in-dígenas, pelos próprios educadores, para usarem posteriormente em sala de aula. Além das matérias tradicionais, as obras tratam de temas como línguas, ri-tos, lendas e a literatura indígena, além de focar as questões ambientais.

A tiragem dos livros varia entre mil e dez mil exemplares, segundo as ma-trículas registradas pelo censo escolar. A primeira remessa, com 17 títulos, foi entregue entre junho e julho em esco-las públicas de aldeias do Mato Grosso,

Amazonas, Amapá, Pernambuco e Ma-ranhão. O restante, cuja entrega estava prevista para acontecer até o final do ano, continua em fase de produção, de acordo com a coordenadora da Comis-são Nacional de Apoio à Produção de Material Didático Indígena (Capema), Márcia Blanck. Ela diz que as obras se-rão distribuídas até o primeiro semes-tre de 2009.

Para a escolha dos livros, foram en-viados à Secretaria de Educação Conti-nuada, Alfabetização e Diversidade (Se-cad), do MEC, em 2006, 64 projetos. A Capema, que funciona dentro da Secad, foi responsável por selecionar 42 deles.

Os antepassados do povo ticuna, maior nação indígena do Brasil, usa-vam uma planta chamada wotcha para limpar os dentes. Para a função de fio dental, lançavam mão do fio de tucum, produzido a partir das folhas da palmeira de Tucumã.

A história é contada no Livro de Saúde Bucal, criado por professores ticunas, habitantes das aldeias do Alto Solimões, no Amazonas, para ensinar os alunos como e por que cui-dar dos dentes. A obra, que também aborda a importância dos alimentos e da mastigação para a boa saúde, integra uma série de 42 livros que

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Novembro 2008 Panorama 33

Reprodução/ Arte: Pequeno catálogo literário de obras de autores indígenas

Foto: Fanca Cortez

O escritor Daniel Munduruku

Composta por 16 membros, a Capema, criada em 2005, reúne

representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Comissão Nacio-nal de Educação Escolar Indígena e de organizações indígenas. De acordo com a sua coordenadora, os livros dis-tribuídos pelo MEC valorizam a cultu-ra, a identidade e as línguas indígenas, respeitando, sobretudo, as diferenças entre os cerca de 200 povos espalha-dos por todo o território brasileiro. “O Brasil tem 174 mil estudantes indígenas e esses livros são distribuídos desde o Ensino Fundamental até as Licenciaturas. São povos diferentes que falam cerca de 180 línguas e dialetos”, ex-plica Blanck.

A decisão de usar as línguas maternas como fontes de cultura e vínculos com a his-tória e a trajetória dos antepassados é resul-tado de uma série de transformações que vem ocorrendo já há alguns anos dentro das políticas de educação praticadas pelo MEC junto aos povos indí-genas. Isso porque, até os anos 80, a educação nas aldeias acontecia em escolas similares às rurais, que fun-cionavam como uma extensão do mo-delo existente nas cidades. Não existia um material específico para os índios e não era exigido curso superior dos seus professores.

A partir dos anos 90, no entanto, uma série de modificações foi imple-mentada para tentar modificar essa re-alidade. Depois da substituição do mo-nitor indígena por um professor apto à alfabetizar e educar esses povos, criou-se a necessidade de um material que atendesse às suas necessidades. “A Ca-

pema veio estruturar essa demanda”, explica o escritor Daniel Munduruku, autor de mais 30 livros que já vende-ram cerca de um milhão de exemplares, em sua maioria com temáticas voltadas para índios.

Em línguas maternas, português ou bilíngüe, as obras distribuídas ago-ra pelo MEC abordam diferentes te-mas como mitologia, lendas, histórias, meio ambiente, literatura, matemáti-ca, atividade econômica, modelos de construção de casa e calendários, entre outros. Para Munduruku, que em 2006

foi o responsável por entregar o Ma-nifesto do Povo do Livro ao presiden-te Luiz Inácio Lula da Silva, as obras distribuídas pelo governo respeitam a diversidade da população de índios brasileiros. “Cada povo tem uma histó-ria e uma dinâmica social diferenciada. Cabe ao governo possibilitar que cada grupo reforce a sua própria identidade ancestral”, explica.

Muitos conhecimentos que estão nos livros foram recolhidos em trabalhos de pesquisas feitos por professores junto a caciques, pajés e anciãos das aldeias. As

pesquisas resgatam desde o vocabulá-rio até cantigas, lendas e histórias.

Desde o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007, a responsabilidade pela reprodução dos livros para as escolas indígenas passou a ser das se-cretarias estaduais de educação, ape-sar deles continuarem sendo selecio-nados e custeados pelo MEC. Dos 24 estados que têm população indígena, 18 tiveram recursos aprovados nos Planos de Ações Articuladas (PAR) para a reprodução de livros. O re-

passe do ministério para essa finalidade, em 2008, é de R$ 6,3 milhões.

O coordenador da Educação Escolar Indígena da Secad, Gersem dos Santos Luciano Baniwa, acredita que as obras em língua materna ajudam os povos a recuperar a auto-estima. “Elas valo-rizam as culturas e ajudam a dar visibi-lidade à diversidade do País”, explica. Sobre a preservação das línguas, ele diz que isso pode acon-tecer de muitas for-

mas e cita o exemplo do seu povo, o baniua, que habita terras em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Ele conta que para conquistar os ba-niua no começo do século 20, missões evangélicas e protestantes aprende-ram a língua e traduziram a bíblia e os cantos. “Hoje, a língua baniua é uma das mais documentadas em li-vros e dicionários. Junto com as lín-guas tucano e neehngatu, o baniua é língua co-oficial do município de São Gabriel da Cachoeira desde 2006”, afirma Gersem. P

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34 Panorama Novembro 2008

Foto: Divulgação

Com um pé atrásO abalo na economia mundial ainda não causou grandes

problemas no mercado editorial, mas os livreiros estão apreensivos e cautelosos

Mercado & Tendências

Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da Editora Vozes, Petrópo-lis, Rio de Janeiro. A editora já foi infor-mada por dois dos maiores bancos do país que não estão liberando crédito e não possuem linha para oferecer. Cristi-na diz que os demais bancos vivem um dia de cada vez, evitam negociar taxa de juros e não se comprometem em conces-sões de crédito por prazo superior a seis meses. “Em julho, negociamos a impor-tação de um equipamento de R$2,5 mi-lhões, que está previsto para embarcar em dezembro para o Brasil. Certamente a crise também impactará nesta opera-ção, seja pela elevação do euro, seja pela elevação da Libor – London Interbank Offered Rate - (taxa de juros da Euro-pa), seja pela redução do prazo de fi-nanciamento”, diz, apreensiva.

A gerente financeira teme que a que a restrição de crédito possa ir além. “Te-mos clientes, pessoas jurídicas, de por-te pequeno e médio, que normalmente utilizam - ou utilizavam - linhas de des-conto de títulos e capital de giro para movimentar o dia-a-dia de suas empre-sas. Com o aumento das taxas e a es-cassez na oferta dessas linhas, tememos que esses clientes reduzam seu volu-me de compras, ou ainda, se tornem inadimplentes”.

Crise de confiança

Alexandre Martins Fontes, 48 anos, diretor executivo da editora WMF Mar-tins Fontes, São Paulo, acompanha com apreensão a atual crise financeira mun-dial “Ainda não é possível fazer uma leitura precisa de suas conseqüências para o ramo editorial. Nossas vendas nos meses de outubro e novembro en-contram-se nos níveis previstos para esse período” Para a Martins Fontes, a restrição ao crédito afeta o trabalho de exportação. Alexandre afirma que, ao longo dos últimos anos, a empresa não teve dificuldades em receber antecipa-ção das vendas feitas ao exterior, mas na última operação da editora, os ban-cos com os quais trabalha habitualmen-te têm tido dificuldade em aprovar a li-

Márcia Cristina Bastos Garcia, ge-rente financeira da Editora Vozes: a restrição de crédito tem cau-sado impacto nos negócios

A crise que os Estados Unidos atra-vessam começou com inúmeras dívi-das não pagas no mercado imobiliário e desenrolou em uma queda no merca-do de ações, no câmbio e, conseqüen-temente, no crédito, o que passou a ser uma das maiores preocupações de eco-nomistas e empresários. Os efeitos po-dem ser sentidos em todo o mundo, pois o problema afeta todos os setores do mercado, inclusive o editorial.

“A restrição de crédito tem realmen-te causado impacto nos negócios. Ob-servamos nosso custo financeiro subir na casa de 20% além de verificarmos o enxugamento das linhas de crédito. Se até recentemente tínhamos livre trânsi-to no mercado bancário, com opção de escolher a instituição financeira, hoje já sentimos a falta de crédito”, afirma

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nha de crédito para essa modalidade. “Infelizmente, o mercado dos livros no Brasil ainda é muito pequeno e atinge essencialmente uma classe sócio-eco-nômica restrita. Os poucos que com-pram livros no Brasil continuam com-prando mesmo em momentos de crise. Estamos torcendo para que o impacto seja o menor possível para autores, edi-tores e livreiros”, diz.

O economista Reinaldo Cafeo, membro do Conselho Regional de Eco-nomia, analisa o momento que o Brasil atravessa. “Na prática, já observamos uma crise de confiança. O governo brasileiro e sua equipe econômica não transmitiram aos agentes econô-micos a real dimensão da crise internacional, taxando simples-mente como uma “marolinha” o que na prática não se confir-mou. Lembra que duas impor-tantes variáveis que conduziam o consumo das famílias - renda e consumo – e que categorias im-portantes conseguiram, ao longo de 2008, reposição salarial acima da inflação. “Na outra pon-ta, o mercado estava líqui-do, com fi-nanciamen-

tos a perder de vista e, portanto, tirava proveito do aquecimento de deman-da”. Com a crise e o pessimismo dos agentes econômicos, ocorreu uma re-versão do cenário”, afirma. E isso fez com que algumas pessoas, mesmo ainda não sendo afetadas diretamen-te pela crise, passassem a ter um com-portamento mais cauteloso, adiando o consumo de bens que não essenciais. “Outras pessoas já sentiram isso dire-tamente, notadamente em setores que dependem do crédito e do comércio exterior”, diz.

Em relação ao mercado editorial, Cafeo acredita que essa precaução

do brasileiro em com os gas-tos, poderá causar queda nas vendas. “No setor es-pecífico do livro, dado o hábito dos brasileiros de não incorporarem a leitu-ra como rotina, o indica-tivo é que esse segmento poderá encolher. Como o valor médio do livro

não se assemelha a de um eletro-

eletrôni-co, por e x e m -plo, o s e t o r

Alexandre Martins Fontes, diretor executivo da editora WMF Mar-tins Fontes: apreensivo com a crise mundial, mas diz as vendas apre-sentaram-se dentro do previsto

Reinaldo Cafeo, economista do Conselho Regional de Economia, faz uma anali-se do período que o Brasil atravessa

será menos afetado pelo crédito, mas mais afetado pela cautela do consumi-dor”, avalia.

O economista prevê que 2009 será um ano de desaceleração, que atingirá todos os setores, inclusive o mercado editorial. “Mas avalio que será desa-celeração e não recessão (crescimen-to negativo do PIB). Portanto, será o momento das promoções, da criativi-dade, das parcerias entre empresários e funcionários e, fundamentalmen-te, de estratégias para operar em ní-vel de atividade menor, mas sem per-der o horizonte de que mais cedo ou mais tarde a crise passará e quem fez a lição de casa nesse momento, estará mais fortalecido”.

Posição divergente tem o professor doutor em Economia da Universida-de Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Fá-bio Sá Earp. Ele não acredita que a cri-se mundial afete o mercado editorial no Brasil no que se refere ao crédito. “Pelo lado do crédito não irá afetar, pois não existe e nem existirá falta de crédito no Brasil. As editoras praticamente não utilizam crédito em função da alta taxa de juros”. Para ele, poderá ocorrer uma queda nas exportações devido à reces-são internacional, com isso diminuindo a renda da população e com isso a com-pra de livros. P

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36 Panorama Novembro 2008

Pelo mundo afora

AlemanhaFrankfurt e o futuro do livro

Maior acontecimento do mercado editorial no mundo, a Feira do Livro de Frankfurt realizou, em outubro, sua 60ª edição. O evento, promovido pela Associação Alemã de Editores e Livreiros com foco na comercialização de direitos autorais, foi marcado, este ano, por discussões em torno do futu-ro do livro. Em suas prateleiras, quase um terço dos produtos expostos eram digitais.

Durante os cinco dias de feira, os organizadores do evento realizaram uma pesquisa com mais de mil repre-sentantes do mercado editorial de to-dos os continentes. O resultado? Para 40% deles, em dez anos as vendas de conteúdo digital serão maiores que as de livros impressos. Na avaliação de expositores, os dispositivos eletrôni-cos, tais como os leitores de e-book, estão ganhando cada vez mais espaço, mas não deverão substituir por com-pleto os livros em papel. Muitos deles acreditam que esses aparelhos pode-rão ser para os livros digitais o que o iPod representou para o MP3.

Na pesquisa, os editores aponta-ram como principais desafios para a indústria o controle dos direitos auto-

rais (28%), o controle do compartilha-mento dos arquivos (22%) e a criação de um formato unificado, como o mp3 para a música (21%).

Antes mesmo da feira ser aber-ta, já durante a entrevista coletiva de inauguração do evento, o escritor Pau-lo Coelho, que foi homenageado em Frankfurt pela marca de 100 milhões de livros vendidos, contou suas experi-ências na web e falou sobre a revolução digital que atraca no mercado editorial. O brasileiro elogiou as possibilidades que a internet abre à literatura e pe-diu que as editoras não vejam os novos meios como uma ameaça, se mostran-do convencido de que o livro impresso durará pelo menos mais mil anos.

Além da homenagem recebida por Coelho, a feira de Frankfurt ainda teve um outro significado especial para o Brasil. Este ano, o País compareceu ao evento representado por 43 editoras. Dessas, 20 participam do convênio Brazil Rights, firmado entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Os primeiros frutos do acordo podem ser medidos pelo grau de satisfação das empresas

com a qualidade dos serviços e, sobre-tudo, pela geração de negócios que o convênio possibilitou.

Uma pesquisa realizada pela CBL com editores brasileiros em Frankfurt revelou que 93,8% das empresas reu-nidas no estande do Brasil cumpriram seus objetivos. Mais de 92% avaliaram como ótimo e bom o estande brasilei-ro. Dos entrevistados, 64,3% avalia-ram os negócios fechados como ótimo e bom e 28,6% consideraram regular. Sobre negócios prospectados, 87,5% consideraram ótimo e bom e 12,5% como regular.

Foram expostos, no estande brasilei-ro, mais de 1,8 mil títulos e 6,4 mil exem-plares. Embora os livros tenham chega-do apenas no segundo dia de abertura do evento devido a um problema na alfândega de Madri, os expositores dis-seram não ter havido prejuízo nas arti-culações para a venda de direitos.

Realizada desde 1949, a Feira do Li-vro de Frankfurt atrai mais de 7 mil expositores de 100 países a cada ano. Nesta edição, em que foram lançados mais de 122 mil novos títulos, o País homenageado foi a Turquia. O escolhi-do para 2009 é a China.

Foto: Arquivo CBL

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Novembro 2008 Panorama 37

MoçambiqueEscolas rurais recebem doação do Brasil

JordâniaCompromisso real

BolíviaLivros no vale

Além de integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e já ter sido colônia de Portugal, Moçam-bique acaba de ganhar outro ponto em comum com o Brasil: o programa Arca das Letras de bibliotecas rurais.

Graças a uma parceria com a embai-xada brasileira em Moçambique, o Mi-nistério do Desenvolvimento Agrário doou sete acervos do Arca das Letras para Escolas Familiares Rurais (EFR) moçambicanas. Também foi doada uma biblioteca rural completa para o Centro de Estudos Brasileiros em Ma-puto, capital do País.

A iniciativa pretende contribuir para a formação das bibliotecas das EFR moçambicanas e ampliar o acesso a informações relativas ao desenvolvi-mento rural sustentável e à literatura brasileira. As EFRs de Moçambique es-tão atuando na formação de 412 jovens como agentes rurais com habilitação em assuntos relativos à agropecuária. Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural, cada biblioteca é formada, inicialmente, por cerca de 200 livros.

Além de títulos especializados em educação no campo, agroecologia e outros temas agrícolas, a remessa con-tém cartilhas sobre drogas, títulos de autores portugueses e também brasi-leiros, como Manuel Bandeira, Jorge

A questão do livro e da leitura não ficou de fora da primeira visita de um chefe de estado jordaniano ao Brasil. Isso porque em outubro, durante encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o rei Abdullah II Ibn Al-Hussein, o tema foi lembrado nos acordos bilate-rais firmados entre os dois países.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, Lula e o rei Abdullah II assi-naram compromissos em diversas áreas. Os atos incluem um acordo de coope-ração econômica e comercial, que tem

Localizada no oeste da Bolívia, em uma depressão da cordilheira oriental, Cochabamba é a terceira maior cidade do País. Em outubro, durante dez dias, o lugar sediou a segunda edição de sua feira internacional de livros.

Sob o slogan Déjate Llevar, o evento convocou a população da cidade para uma verdadeira maratona de leitura. Mais jovem que as outras feiras interna-cionais de livro bolivianas – os eventos de La Paz e Santa Cruz de la Sierra re-únem quase 80 mil pessoas -, a feira de Cochabamba foi composta, este anos, por 35 expositores nos salões do Club Social.

Já na abertura do evento, o vice-ministro da Cultura da Bolívia, Pablo Groux, falou sobre a importância de Cochabamba se comprometer com ini-ciativas de promoção da leitura. “É importante que este ponto de encontro entre pessoas que se dedicam a escrever e a vender livros se torne cada vez mais acessível aos leitores”, analisou Groux.

Cerca de 50 autores marcaram pre-sença em bates-papo com o público. De acordo com as editoras participantes, os livros mais vendidos foram para o pú-blico infantil. Para Marcelo Paz Soldán, presidente da Câmara Cochabambina do Livro, a maior realização da feira foi colo-car a população da cidade e de toda a re-gião em contato com os escritores e com o universo literário latino-americano.

Amado e Monteiro Lobato, entre ou-tros. A doação também contém livros de pesquisa escolar, sobre saúde, meio ambiente e exemplares sobre arte e cultura brasileiras. Ainda foi enviado um roteiro que orienta a organização da biblioteca.

Esta não é a primeira vez que o pro-grama chega em outros países como forma de cooperação solidária. Em 2005, três bibliotecas foram instaladas em Díli, capital do Timor-Leste, e uma em Cuba, na Biblioteca Pública Ruben Martinez Villena, em Havana.

Desde que foi criado, em 2003, o Arca das Letras já implantou quase 5,7 mil bi-bliotecas rurais em mais de 1,7 mil mu-nicípios brasileiros. Até agora, mais de 1,2 milhão de livros foram distribuídos, beneficiando mais de 625 mil famílias do campo. A administração das biblio-tecas é feita por mais de 11 mil agentes de leitura, que contribuem para melho-rar os índices educacionais de suas co-munidades, além de apoiar o trabalho e valorizar a cultura no meio rural.

Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural, cada biblioteca é formada, inicialmente, por cerca de 200 livros. As comunidades es-colhem os assuntos que formam os acer-vos, o local onde a biblioteca é instalada e indicam os moradores que serão capa-citados como agentes de leitura.

como objetivo expandir e diversificar as relações comerciais e de investimentos entre os dois países. O documento prevê apoio ao desenvolvimento do comércio e dos investimentos, além do estabeleci-mento de empreendimentos conjuntos.

Na área cultural, Brasil e Jordânia se comprometeram a trocar informações e cooperação no ensino da cultura geral dos dois países. Isso deve acontecer, de acordo com o documento, no setor de li-vros e outras publicações. Também está previsto o intercâmbio de profissionais

entre bibliotecas e nos campos da radio-difusão, do cinema e da televisão.

A comitiva real também passou por São Paulo, onde a rainha Rania foi conhecer a Associação Cidade-Escola Aprendiz, no bairro da Vila Madalena. Em um bate-papo que aconteceu na Praça Aprendiz das Letras, a rainha da Jordânia falou sobre a importância dos projetos de educação e leitura desenvol-vidos pela associação. “Aqui há um re-conhecimento da educação como direito humano básico”, disse.

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38 Panorama Novembro 2008

Foto: Fanca Cortez

Lars Grael (velejador)

Rafinha Bastos (jornalista e apresentador do CQC)

Gustavo Franco (economista)

O livro da minha vida

Dica de leitura

O que eu estou lendo

Os Irmãos Karamazov (Fiódor Dostoievski)“Li ainda garoto. Foi quando descobri que o

escritor (Dostoievski, como outros) podia escrever tudo o que lhe passava na cabeça. Nunca me recuperei desta fascinação”

Stupid White Men: Uma Nação de Idiotas (Michael Moore)

“Eu li há mais ou menos três anos e vi ali uma nova maneira de fazer investigação, de fazer jornalismo. Assumi este lado mais investigativo desde então, o que tem me ajudado em meu trabalho”

Rota Boreal: Expedição ao Círculo Polar Ártico (Beto Pandiani e Felipe Whitaker)

“O que o Betão fez e a maneira como encara a sua filosofia de vida, de vela e aventura, é sempre algo muito interessante de acompanhar. Além do mais, o livro traz belas imagens da saga toda e é muito bonito de se ver”

Todo mundo lê

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Novembro 2008 Panorama 39

Janela fechada para o mundo O Brasil soma 77 milhões de não-leitores e a maioria está concentrada no norte e nordeste do país, diz a

pesquisa Retratos da Leitura no Brasil

Fernanda: “Estudar é pra rico”

Fotos: Divulgação

Comportamento Leitor

Em Manaus, capital do Amazonas, a peque-na Fernanda Maia dos Anjos interrompeu os estudos diversas vezes para ajudar na renda familiar. Aos 12 anos, engravidou e deixou os livros para assumir uma família. Hoje, aos 34 anos, com dois fi-lhos, trabalha como doméstica e integra os números gerados pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, enco-mendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope, em 2007. A pesquisa reve-lou um contingente de 77 milhões de não-leitores. Nossa personagem encon-tra-se entre os 27 milhões que cursaram até a 4ª série do Ensino Fundamental, e que não lêem.

Voltar a estudar é uma realidade distante para Fernanda. Ela acredita que essa oportunidade não seja di-reito de todos. “Estudar é coisa para rico”, enfatiza.

Na casa da patroa, folheia o jornal todos os dias, porém, as únicas notícias que despertam seu interesse são os re-sumos das novelas

“As notícias são muito complica-das de entender. Não gosto nem de ler revista, imagine um livro. Não en-tendo nada. Nem sei onde tem biblio-teca aqui”, afirma.

Fatores como baixa renda, escola-rização e questões sociais são elemen-tos que resultam no grande número de brasileiros sem interesse na leitura, que, nem sempre, estão fora da escola. O Programa Internacional de Avalia-ção de Alunos, o PISA, revelou, neste

ano, que os 4,8 mil estudantes brasilei-ros avaliados, pouco compreendem o que estão lendo. Esse fator deixou o Brasil em úl-timo lugar no ranking dos 32 países, além de mostrar que o pro-blema está na falta de habilidades que deve-riam ser formadas no processo educacional. Para superar estas di-ficuldades seria ne-cessário que o poder público investisse na formação e aperfeiçoa-mento dos professores de Língua Portuguesa

e mediadores de leitura para alcançar resultados junto aos alunos.

A compreensão dos textos está diretamente relacionada ao nível de informação, conhecimento e vocabu-lário do leitor.

Membro da Academia Amazonense de Letras e editor, Tenório Telles, 45 anos diz que a compreensão de um texto é re-sultado de uma tessitura de elementos. “Não basta ter o domínio do código de comunicação. É fundamental ter uma prática continuada de contato criativo com tex-tos, fator indispensável para a afirmação de uma vivência leitora, que ajuda na apri-moração do pensamento, do olhar e do sentir do sujeito”. Diz ainda que, associada a essa experiência, somam-se as vivências sociais, afetivas e artísticas. Esse conjunto de conhecimentos existenciais contribuem para o amadure-cimento humano, que serve

Tenório Telles: “ Não basta ter o domínio do código de comunicação”

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40 Panorama Novembro 2008

Comportamento Leitor

graves dificuldades, pois o processo de alfabetização foi deficiente, e aliado a este problema, eles apresentam falta quase absoluta da leitura”.

Ele acredita que a negligência gover-namental em todas as esferas contribui para que não só o nordeste, mas todo país tenha um grande número de não-leitores “Deveria existir investimentos como in-formatização das bibliotecas, mais acer-vos literários, redução dos impostos na produção gráfica e mais patrocínios em eventos literários. No âmbito escolar, o aumento das verbas poderia ser inves-tido na compra de novos equipamentos visando a qualidade de ensino”.

Professor há mais de 10 anos, Au-gusto diz que o investimento na quali-ficação dos profissionais da Educação é praticamente inexistente, e esse fato gera muitas vezes profissionais despre-parados e, como conseqüência, o núme-ro da evasão escolar torna-se freqüente já que não encontram prazer, estímulo e não conseguem aprender. Os que per-manecem, tornam-se desprovidos de uma iniciativa para realizar conexão de idéias, contextualizar os diversos auto-res e criar o pensamento próprio. “Pode-mos ousar levantar diversas hipóteses em relação ao número de não leitores no país, mas a verdade é que o Brasil só vai mudar esse quadro quando houver uma revolução educacional. Quem não estu-da, não lê e não compreende o mundo em que vive”.

Diogo enfrenta estas dificuldades. Dos 4,8 mil alunos avaliados, 16% lêem mui-to devagar, 7% não compreendem o que lêem, 11% não têm paciência para ler e 7% sofrem com a falta de concentração.

Livro como presentePara Taciana Pereira de 29 anos, de

Manaus, Amazonas, assistente social re-cém-formada, o maior índice de não-leito-res registrado pela pesquisa em sua região, deve-se à falta de incentivo à leitura, além de recursos que proporcionem acesso aos livros. “Na minha cidade existem várias bibliotecas, mas quando preciso usá-las estão fechadas ou quando encontro uma em funcionamento, o acervo é pequeno e precário. Para quem já tem dificuldade em apreciar um bom livro, isso gera um enorme desinteresse. Gosto de ler porque tive estímulo desde criança. Comecei a ter contato com os livros porque minha mãe quando ia trabalhar, me deixava na casa de minha avó. Lá, meu tio que era profes-sor, dava a tarefa de ler três matérias de revistas que ele escolhia e escrever uma redação para ele corrigir”, lembra. Ela diz que a família sempre teve o hábito da lei-tura e as crianças eram sempre presentea-das com livros. “Aos quatro anos, aprendi a ler e nunca mais parei, mas infelizmente essa não é a realidade da maioria aqui”. A história de Taciana é o inverso do que acontece com o restante do país, onde o hábito da leitura não é rotina na família. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil detectou que entre os não-leitores 85% nunca foram presenteados com livros na infância e 63% nunca viram os pais lendo.

Em Salvador, região nordeste do Brasil, 2° lugar no ranking de não-lei-tores, o educador Augusto Castro de Azerêdo, formado em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, e pós-graduado em Metodologia do En-sino e Pesquisa pela mesma universida-de, acredita que a família contribui para estimular o hábito da leitura, porém a realidade sócio-econômica de muitos impede que esse exercício seja pratica-do em casa. Mas, o agravante está na educação. Durante as aulas, o professor propõe pesquisas escolares manuscritas e utiliza questões discursivas nas avalia-ções para exercitar a opinião dos alunos, mas os resultados nem sempre são po-sitivos. “Tenho alunos na 8ª série com

de fundamento para a compreensão do mundo e das realidades transfiguradas nos livros. “Esse complexo de relações forja a competência leitora - que na ver-dade é um processo em constante avan-ço. A leitura é também um devir intelec-tual, existencial e criativo”. Avalia.

Apesar de existirem inúmeros fato-res que podem exercer o poder de atra-ção na leitura, como incentivo dos pais, da escola e de amigos, é necessário, an-tes de tudo, ter domínio na decodifica-ção do texto para que a leitura torne-se uma atividade prazerosa e não um sa-crifício. Diogo Lopes, 27 anos, cursando faculdade de Administração em Porto Velho, capital de Rondônia, não encon-tra prazer nos livros. “Dependendo do texto, ler pode tornar-se um pesadelo. Não gosto de livros”.

Ele busca as informações que preci-sa na Internet. A falta de estímulo para leitura, segundo o estudante, vem da escola. “Não gosto de ler desde criança. No colégio, os professores mandavam ler livros para prova, mas sem se preo-cupar em saber se o livro interessava aos alunos. Não ajudavam na compreensão

Taciana: Aprendeu a ler aos 4 anos de idade

Fotos: Divulgação

Augusto, com seus alunos: “ Quem não lê, não compreende o mundo em que vive”

dos textos, que já eram difíceis para a maioria. Simplesmente empurravam os livros sem dar opções de escolha. Isso foi me deixando cada vez mais sem von-tade de ler”.

O despreparo de seus professores no Ensino Fundamental contribuiu para que Diogo, mesmo lendo algo de seu interes-se, fique sonolento e impaciente, efeitos provocados pela falta de ferramentas para compreensão dos textos. A prova aplicada pelo PISA mostra que não só P

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Novembro 2008 Panorama 41

Radiografia

Os livros na vida da jornalista Mona Dorf

HojeO Idiota (Fiódor M. Dostoievski)“Um autor eterno, clássico. Pretendo ler Os Irmãos Karamazov, que acaba de ser traduzido também pelo Paulo Bezerra. Havia lido Crime e Castigo em francês e estou curiosa para voltar a lê-lo mais velha e em português, a tradução direta do russo está muito bem feita.”

20 aos 30 anosGerminal (Emile Zola) “Estava numa fase mais politizada, e apreciei muito o jeito como Zola vai mostrando num crescendo a conscientização dos mineiros de como eram explorados e das terríveis condições de trabalho a que eram submetidos, sua revolta e luta que redundaram em conquistas sociais para todos os trabalhadores”.

Grande Sertões (Guimarães Rosa)“Depois de passar anos na escola mergulhada na literatura francesa, lendo apenas os livros obrigatórios da aula de português senti necessidade de absorver um pouco de brasilidade”.

15 aos 20 Madame Bovary (Gustave Flaubert)“A prosa e o estilo irônico e sarcástico de Flaubert me fascinaram. Não acreditava como alguém pudesse escrever tão bem! Li e reli várias vezes o romance que traduz tão bem, a ambição de Emma e sua busca ingênua pela felicidade no casamento, e depois com seus amantes”.

30 aos 40 anos A família Moskat (Bashevis Singer)“A obra conversa com minha identidade judaica. Para mim, além de ser um dos melhores romances de Singer, foi muito impressionante saber através dele, que a cidade de Varsóvia na Polônia tinha 4, 5 teatros judaicos, diversos clubes, uma vida cultural judaica tão rica e intensa como nenhum outro país jamais teve e que tudo isso desapareceu, depois que a maior comunidade judaica da Europa foi exterminada pelo nazismo”.

11 a 14 anosO Sofrimento do Jovem Werther (J. W. Goethe)“Entrando na adolescência, a identificação com as sensações de estranhamento e depressão do personagem foi imediata!”.

5 a 10 anos Les Misérables (Victor Hugo)“Foi pra mim a grande introdução no prazer de ler boa literatura. As histórias de pecado e redenção de Jean Valjean e de Cosette, e depois de Gavroche durante a Comuna de Paris, me comoveram muito porque eram histórias pessoais de gente comum e do quotidiano da vida na França. Ao mesmo tempo, me ensinaram a história da Revolução Francesa e seus desdobramentos”.

Foto: Divulgação

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42 Panorama Novembro 2008

Prêmios & Concursos

A celebração do livroPela segunda vez, a Sala São Paulo,

na Estação Júlio Prestes, a mais moder-na sala de concertos da capital paulista, trocou os acordes da Orquestra Sinfô-nica do Estado de São Paulo por uma sinfonia de prosas, versos e leitura, no dia 31 de outubro, na festa da 50ª edição do prêmio Jabuti, o mais tradicional do Brasil, que contempla livros publicados em 2007.

Foram premiados os 60 vencedores em 20 categorias, revelados em setem-bro na sede da Câmara Brasileira do Li-vro (CBL), promotora do prêmio. Na ce-rimônia, também foram anunciados os vencedores como melhor livro do ano nas categorias Ficção e Não-ficção.

O Menino que Vendia Palavras (Ob-jetiva), do jornalista Ignácio de Loyola

Mais tradicional prêmio literário do País, Jabuti é

entregue em noite de festa e surpresas

Foto: Divulgação

Brandão, foi o vencedor como livro de ficção do ano. Na trama, o protagonis-ta é um menino com muito orgulho do pai, que conhece as palavras como nin-guém. A obra havia sido premiada com o segundo lugar na categoria infantil.

Surpreso, Loyola iniciou seu discur-so de agradecimento dizendo que “tinha certeza que (o prêmio) era do Cristóvão Tezza”. Autor de O Filho Eterno (Re-cord), o escritor catarinense, cuja obra foi premiada como melhor romance do ano, era tido como favorito para o prê-mio. “Eu levei um susto”, disse Loyola, que, além do troféu, receberá R$ 30 mil. Ele dedicou a conquista a suas antigas professoras de Araraquara (SP), cida-de natal do escritor, com quem ainda mantém contato. “Tenho a felicidade de

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Novembro 2008 Panorama 43

Este sucesso só foi possível graças ao empenho de todos que se dedicaram:

expositores, artistas, palestrantes, organizadores, parceiros e ao

maravilhoso público que visitou e aplaudiu a 1ª Feira Nacional

do Livro de Jaguariúna.

24 mil m² de área total

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Mais de 100 atrações

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Aguardamos vocês em 2009 na

2ª Feira Nacional do Livro de Jaguariúna

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Prêmio FNLIJ

5º Prêmio Barco a Vapor

A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), instituição que promove e recomenda livros que considera de alta qualidade para crianças e jovens, abriu as inscrições para a 35ª seleção anual FNLIJ. As obras podem ser encaminhadas até 31 de dezembro e podem participar qualquer escritor ou editora que tenham títulos publicados em língua portuguesa.http://www.fnlij.org.br/

As inscrições para o maior prêmio existente no País para originais de literatura infantil e juvenil estão abertas de 27/8/2008 a 28/2/2009. As obras devem ser inéditas e se encaixar em uma das quatro séries da coleção Barco a Vapor, das Edições SM: leitor iniciante (6 e 7 anos), leitor em processo (8 e 9 anos), leitor fluente (10 e 11 anos) e leitor crítico (12 e 13 anos).www.edicoessm.com.br

Abertas inscrições para os livros infanto-juvenis

SM anuncia nova edição para originais

conviver com as duas professoras que me ensinaram a ler e escrever no primá-rio”, lembrou.

Já o prêmio de livro do ano de não-ficção foi para 1808, de Laurentino Go-mes (Planeta). O jornalista, cuja obra já havia sido premiada como melhor livro de reportagem, dedicou o prêmio aos professores e pesquisadores que possi-bilitaram sua pesquisa para escrever o livro. “Sempre se disse que o brasileiro lia livro de auto-ajuda e literatura bara-ta e, de repente, ele está lendo um livro de história do Brasil”, afirmou o autor, cuja obra narra a chegada da família real portuguesa ao País.

Pela primeira vez em 50 anos, a ceri-mônia de entrega do Jabuti, que reuniu cerca de 1,2 mil pessoas na Sala São Pau-lo, foi transmitida ao vivo pela internet. O apresentador Cunha Junior, da TV Cultura, foi o mestre de cerimônias do evento, que ainda contou com o ator Antonio Calloni declamando trechos de obras vencedoras de outros anos.

Nesta edição, concorreram 2.141 obras. Os dez finalistas por categoria foram selecionados no mês de agosto e, em setembro, foram escolhidos os três vencedores em cada uma das 20 cate-gorias. O primeiro lugar de cada uma delas recebeu R$ 3 mil e os autores dos melhores livros do ano de Ficção e de Não-Ficção, anunciados na festa de pre-miação, recebem R$ 30 mil cada um. A premiação total foi de R$ 120 mil.

O Jabuti é um dos prêmios mais cobiçados pelos profissionais do livro no País e contempla diversas esferas envolvidas na produção de um livro. Em seu discurso, a presidente da CBL, Rosely Boschini, elogiou os parceiros da entidade na difusão do livro e da leitura pelo País, além de mencionar o orgulho em ter o livro como ofício. “Livro é mo-tivo e fator de progresso e desenvolvi-mento”, disse.

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44 Panorama Novembro 2008

Livros sobre Livros

Título: Oficina de Escritores - Um manual para a arte da ficçãoAutor: Stephen Koch Editora: WMF Martins FontesPáginas: 315 páginasISBN: 8578270088Preço: 39,90Lançamento: Edição - 2008

Por onde começar?

Este não é um manual de escrita de ficção. Antes de mais nada, o autor pro-cura estimular ao máximo o escritor a escrever. Simples assim: escreva. Escre-va já. Não perca a inspiração, depois vi-rão as revisões. De maneira prática e es-timulante, Koch empurra o escritor para a “pena” em qualquer momento.

Logo de início ele avisa que escrever, exceto no jornalismo, é um ofício solitá-rio, a mais solitária das artes. A necessi-dade de amar a solidão é condição fun-damental para a existência do escritor.

O propósito do livro parte de um princípio básico interessante: Ninguém imaginaria um pianista, um pintor, um compositor e outros tantos artistas aprendendo tudo sozinho, como por ma-gia. Por que seria diferente com o escri-tor? Um grande número de pessoas inte-ligentes, infelizmente (como diz o autor em sua introdução), acredita sem nenhu-ma dúvida que “escrever não se aprende na escola”. Por quê? Stephen Koch pro-cura provar o oposto com sua obra.

Na verdade, Koch se propõe a passar aos leitores dicas, princípios e conselhos adquiridos em sua experiência de vinte e um anos – entre 1977 e 1998 – como catedrático do programa de pós-gradu-ação em redação criativa da Columbia University trabalhando com jovens as-pirantes a escritor que tentavam apren-der a misteriosa arte da ficção.

O livro é o resultado do esforço de reunir e integrar aquilo que parece ser um consenso entre os escritores a respei-to das bases de seu ofício. Stephen Koch coloca no papel suas idéias mas não se limita a elas. Apresenta também mui-tas outras opiniões e idéias de vários es-critores consagrados na arte da ficção. Ele acredita que a maioria dos escrito-res adora falar sobre escrever. Então,

POR RICARDO COSTA, DO PUBLISH NEWS

recorre a entrevistas, cartas, conversas, biografias e manifestos onde estes pro-fissionais da escrita discorreram com detalhes a respeito de como escrevem.

Além disso, Koch vai direto à fon-te: os próprios romances e ficções escri-tos por reconhecidos autores, como por exemplo trechos da obra de Shakespe-are. Koch escreve: “Se prestar bastante atenção você aprenderá a ouvir os gran-des romancistas do século XIX refletin-do quase sem cessar sobre o ato de es-crever, sobre como escrever.” Segundo ele, não são poucas as passagens da tra-dição profética da Bíblia que podem ser lidas como uma meditação sobre o dis-curso inspirado, sobre o que ele é como se realiza.

Embora Stephen Koch seja uma re-ferência no tema, em nenhum momento se propõe a ser a resposta definitiva para todas as questões com que o escritor se depara no ato da produção literária. Ele apresenta os princípios, dá conselhos e, acima de tudo, incentiva ao máximo o processo de escrita do seu leitor. Koch procurou apresentar um consenso livre, intuitivo, a respeito dos elementos bási-cos do ofício. Naturalmente, o consenso acaba por incorporar a discordância – e às vezes a máscara. Mas como ele mes-mo declara, “no tocante à maioria das grandes questões, parece haver entre os escritores mais concordância do que até eu mesmo esperava encontrar quando comecei.”

Definitivamente este é um guia para escritores, não para leitores. E a regra máxima é que “não há regras”.

Stephen encerra seu livro com alguns comentários de várias obras clássicas so-bre o “ofício da literatura”, mas não se trata de uma lista de leituras recomen-dadas. Ao escolher os exemplos para co-

mentar, o autor desconsiderou qualquer distinção entre gosto elevado, médio ou inferior, pois acredita que essa classifi-cação não seja cabível na área da leitura. Ele mistura sem a menor cerimônia El-more Leonard com Henry James e J. K. Rowling com Proust, acreditando que o gosto de qualquer leitor livre abrangerá obras de todos os “níveis”.

Oficina de escritores é para ser lido de uma só vez, de capa a capa, mas de-pois merece voltas referenciais. É inspi-rador para quem ainda não começou a escrever e didático para quem já está es-crevendo. Merece um bom lugar na es-tante do escritor.

Livro de Stephen Koch estimula o ofício do escritor

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Page 45: Revista Panorama - edição 45

Novembro 2008 Panorama 45

POR LUIZ CARLOS RAMOS

No Agreste de Alagoas e Pernambuco

Rotas Literárias

A presença de Graciliano

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46 Panorama Novembro 2008

Interior de Alagoas, imagens do livro Chão de Graciliano de Audálio Dantas

Rotas Literárias

de publicação dessas obras em novas e bem-cuidadas edições, vale a pena via-jar até o sertão nordestino por meio das páginas de Panorama.

O guia turístico-literário desse pas-seio é o jornalista e escritor Audálio Dantas (ver box), tão alagoano quanto Graciliano e que mora em São Paulo desde a década de 1950. Por meio desta entrevista, ele mostra o que viu e o que aconselha ver no Agreste. Acostuma-do a jamais ficar restrito aos fatos, mas sim a partir também em busca de ex-plicações por meio do ser humano, Au-dálio viajou várias vezes para Alagoas e Pernambuco para reconstituir os ca-

ros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, si-nhá Vitória com o filho mais novo es-canchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa cor-reia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Quem não se lembra dessa família e da cachorra Baleia? E, claro, também do papagaio, que logo no primeiro ca-pítulo é sacrificado para atenuar a fome da família de retirantes. O vaqueiro precisava chegar – não se sabe onde,

diz a história, desfilando uma série de ilusões e desilusões.

Algum professor de português contribuiu para despertar uma fome saudável, a fome de livros, em crianças e jovens, indicando a leitura de Vidas Secas nas escolas, nas últimas décadas. A arte e a personalidade de Graciliano, autor também de Caetés, São Bernardo, Infância, Insônia, Memórias do Cárcere e outras belas obras, influíram na vida de adultos e colocaram esse escritor na lista dos cinco mais importantes da li-teratura brasileira no século 20.

Na época em que Vidas Secas faz 70 anos e a Editora Record, fecha contra-to com os herdeiros de Graciliano para renovar por mais dez anos os direitos

minhos do jovem Graciliano de um sé-culo atrás. O resultado foi seu livro O Chão de Graciliano – com fotos do ce-arense Tiago Santana, companheiro de peregrinação –, lançado há dois anos.

Como está, agora, aquele cenário? Audálio Dantas explica: “Nas ci-

dades, tudo mudou. Existem carros, lá chega a televisão. As roupas das moças lembram as das artistas da novela das oito. A gente procura o vaqueiro, para tentar identificar o Fabiano de Vidas Secas no meio do sertão, mas é difícil encontrar. Esse vaqueiro migrou para outros ambientes e para outro modo de vida. Está às voltas com outros afa-zeres... Mas as condições precárias de sobrevivência ainda são parecidas com

Setenta anos após o lançamento da obra-prima Vidas Secas, o cená-rio do Agreste de Alagoas e Pernam-buco, base de inspiração para Gra-ciliano Ramos, mudou apenas nas cidades, que cresceram e indicam reflexos de evolução. O sertão con-tinua igual: as marcas da seca e da falta de perspectivas para o homem do campo tornam atuais as cenas narradas por Graciliano, como as da abertura do livro, publicado pela primeira vez em 1938. Graciliano nasceu na alagoana Quebrangulo e foi um dedicado prefeito de Palmei-ra dos Índios, cidade que hoje se or-

gulha disso. Se o progresso chegou por lá, em alguns rincões de caatinga ainda existe desolação semelhante à retratada pelo escritor na primeira página de Vidas Secas, um Nordeste diferente do que se vê nas praias de Maceió, Aracaju, Salvador, Recife, Natal, João Pessoa, Fortaleza:

Na planície avermelhada, os ju-azeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham cami-nhado o dia inteiro, estavam can-sados e famintos. Ordinariamente, andavam pouco, mas, como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazei-

Foto: Tiago Santana

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Novembro 2008 Panorama 47

Interior de Alagoas e Pernambuco, imagens do livro Chão de Graciliano de Audálio Dantas

as dos personagens do livro.”Uma tentativa de resgate das primei-

ras décadas de Graciliano exige uma visita a Quebrangulo, terra natal de autor, assim como a Viçosa e Palmeira dos Índios, em Alagoas, e a Buíque, em Pernambuco, cidades que marcaram a vida e a inspiração do escritor de Vidas Secas até o envolvimento na política em tempos da ditadura Vargas, responsável por um ano de cadeia e pelo inesquecí-vel livro Memórias do Cárcere.

Quebrangulo, de pouco mais de 12 mil habitantes, a 120 quilômetros de Ma-ceió, é conhecida como Cidade da Cultu-ra, por valorizar suas tradições popula-

povoado, que chegou a ter o nome de Vitória, acabou sendo conhecido como Quebrangulo.

A cidade é limpa e saudável, es-palhando-se com casas e igrejas que formam um conjunto arquitetônico estilo barroco, do Brasil Colonial. Seu principal ponto turístico é a casa onde nasceu o filho mais ilustre, Graciliano Ramos, em 27 de outubro de 1892.

“Com apenas 3 anos de idade, Gra-ciliano já começou a viajar pelo Nordes-te. Com o pai, a mãe e duas irmãs, ele seguiu, em carro de boi e em lombo de burro, de Quebrangulo para o vizinho Estado de Pernambuco, onde a família

res; principalmente os folguedos que se mantêm vivos até hoje, como o Bumba-meu-Boi e o maracatu Nêga da Costa.

O povoado primitivo surgiu há quase 300 anos, anteriormente habita-do pelos índios xucurus, que passaram a conviver com os índios cariris – estes, vindos de Pernambuco, de onde saíram por causa da seca de 1740.

A região também teve influência de quilombos. Eles viviam de nozes de palmeiras e, principalmente, da caça de caititus, os porcos-do-mato, que, em manadas, pastavam no local onde hoje é a cidade. O chefe desse quilombo, ex-celente caçador, ganhou o apelido de Quebrangulo, que, na gíria dos negros, significava matador de porcos. Então, o

se estabeleceu em Buíque”, conta Audá-lio Dantas. No mapa, é pequena a dis-tância entre as cidades, hoje unida por 80 quilômetros de rodovias, passando por Garanhuns. Mas, no fim do século 19, superar aqueles caminhos domina-dos pela seca era um enorme desafio.

“Foi ali que o menino Graciliano co-meçou a descobrir o mundo. A viagem durou muitos dias adentro, no sentido das nascentes do Rio Ipanema, que des-ce de Pernambuco e depois corre por terras de Alagoas até se encontrar com o São Francisco. Entre as asperezas da terra e as mãos pesadas do pai e da mãe, ele chegou a uma nova casa.”, relata Au-dálio. Essas e outras asperezas dos pais provocaram traumas num amargurado

Graciliano, mais tarde temas do livro Infância. Na língua tupi, Buíque sig-nifica Lugar de Cobras.

Outra cidade na vida de Graci-liano foi Viçosa, em Alagoas, onde a família passou a morar em 1904.

A cidade está ligada a fatos dos séculos 17 e 18. Após a chegada dos portugueses e dos holandeses, os ín-dios da região foram praticamente dizimados. Os poucos sobreviventes migraram para áreas mais distantes. Com o passar do tempo, as fugas de negros escravos tornaram-se cada vez mais constantes e estes, vindo de várias localidades, buscaram

abrigo nas florestas e serras de difí-cil acesso – uma delas, a Serra Dois Irmãos. A guerra contra o quilombo dos Palmares terminou em 14 de maio de 1697, com a morte de Zumbi dos Palmares. Então, o bandeirante Domingos Jorge Velho recebeu do governo colonial o território de Ata-laia e adjacências, compreendendo a região do atual município de Viçosa. A epopéia de Zumbi inspirou a cria-ção do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, feriado em cente-nas de municípios do País, entre os quais São Paulo.

Audálio Dantas lamenta que na Viçosa de hoje quase não existam vestígios da vida de Graciliano: “A

Fotos: Tiago Santana

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liano Ramos, que reúne objetos e do-cumentos do escritor, além de edições originais e traduções. Aquilo tudo é muito interessante. Vale a pena conhe-cer”, conta o biógrafo Audálio.

Acusado de envolvimento no levan-te comunista de 1935, Graciliano foi pre-so em Maceió, depois transferido para Recife e, em seguida, para o Rio, onde passou um ano em três diferentes presí-dios, até ser libertado. Dessa época, sur-giu o livro Memórias do Cárcere, que seria transformado em filme em 1983.

Vidas Secas, de 1938, traduzido para vá-rios idiomas, chegou às telas antes, em 1963, dez anos após a morte do escritor.

Graciliano Ramos, fumante com-pulsivo, morreu de câncer em 20 de março de 1953, aos 60 anos. Deixou obras que continuam atuais: pelo belo texto, pela reflexão sobre as relações humanas, pelos ideais e não-ideais da política e pelas marcas do sofrimento do homem do sertão nordestino. “Vi-das Secas e os demais livros de Graci-liano são de hoje”, diz Audálio Dantas.

Foto: Tiago Santana

Rotas Literárias

Vaqueiro em Buique, cenário do agreste de Pernambuco, base de inspiração para Graciliano

cidade se esqueceu de que foi ali, entre sobradões imponentes, ainda de pé, que o grande escritor iniciou sua formação.” Já com 12 anos, Graciliano e outros ga-rotos se reuniam na casa do agente de correios Mário Venâncio para conver-sar sobre teatro e poesia. “Graciliano passou a ter um grande interesse pela literatura. Começou a ler tudo o que passava por suas mãos, de jornais ve-lhos a folhinhas e almanaques. Tornou-se redator do improvisado jornal Echo Viçosense, liderado por Venâncio. Da calçada, o menino admirava a bibliote-ca do tabelião Jerônimo Barreto.”

Por alguns meses, Graciliano estu-dou em Maceió e logo voltou a Viçosa. Em 1906, um trauma: o suicídio de Ve-nâncio. E o Echo deixa de circular. A solução do garoto foi colaborar em jor-nais e revistas de Maceió e do Rio.

Ele mudou-se para Palmeira dos Ín-dios, viajou de navio em 1914 para co-nhecer o Rio e, na volta, em 1925, casou com Maria Augusta, com quem teve quatro filhos. Ela morreu apenas cinco anos após o casamento.

Palmeira dos Índios, hoje com 68 mil habitantes, é uma das maiores cidades de Alagoas. Lá, Graciliano assumiu o cargo de prefeito em 1928. Audálio ex-plica: “Em seus relatórios para o gover-nador da época, ele começava a mostrar a verve de grande escritor.” Já naquele tempo, a política tinha complicações: aquilo não era com ele, tão acostumado a seguir a ética. Acabou renunciando à prefeitura em 1932 e andou por Maceió, onde casou de novo, então com Heloí-sa Medeiros, companheira até o fim da vida. De volta a Palmeira dos Índios, lançou seu primeiro livro, Caetés, em 1933, e preparou capítulos do roman-ce São Bernardo, lançado em 1934. “A cidade conserva a Casa Museu Graci-

dente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo de 1975 a 1978. Sua atuação nos episódios em torno do as-sassinato do jornalista Vladimir Her-zog por forças de repressão, em 1975, é apontada como uma das peças-chave para a resistência do País ao avanço da ditadura.

Audálio tem quase 60 anos de car-reira no jornalismo, tendo trabalhado nas revistas O Cruzeiro, Quatro Rodas e Realidade. Em 1958, como repórter do jornal Folha da Manhã, atual Folha de S. Paulo, descobriu na favelada Caro-lina Maria de Jesus, no bairro paulis-tano do Canindé, uma personagem de impacto: nasceu ali o livro Quarto de Despejo. Carolina havia feito um diário sobre sua comunidade. Com a ajuda de Audálio, o relato foi transformado num livro contundente e de sucesso. O dra-ma das moradias precárias, já naquele tempo, 50 anos atrás.

Além de ter escrito O Chão de Gra-ciliano, Audálio lançou vários outros livros e prepara novas obras. Ele é tam-bém diretor-executivo da revista Negó-cios da Comunicação, em São Paulo.

Um alagoano, por um alagoanoAudálio Dantas nasceu na pe-

quena cidade de Tanque d’Arca, em Alagoas, a apenas 30 quilômetros de Quebrangulo, terra de Graciliano Ramos. Ele explica por que – além da paixão pelo jornalismo – teve tanto entusiasmo para ir atrás da origem do grande escritor alagoano: “Mi-nha ligação com Graciliano vem de muito tempo atrás e se tornou mais forte ainda. Na caminhada para desvendar Graciliano, acabei des-cobrindo até coisas a meu respeito. Descobri, por exemplo, que a raiz de minha família, por parte de minha mãe, é a mesma dele! Meu avô Na-poleão Ferreira Ferro era primo de Pedro Ferreira Ferro, avô de Graci-liano. Descobri isso lendo cartas pu-blicadas após a morte de Graciliano. Cartas para parentes e para Heloísa, sua última esposa. Nelas Graciliano falava de pessoas que minha mãe e eu chegamos a conhecer.”

Audálio Dantas, é vice-presiden-te da Associação Brasileira de Im-prensa (ABI) e representante dessa entidade em São Paulo. Foi presi- P

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Novembro 2008 Panorama 49

Como me apaixonei pelos livros

O menino que devorava livrosMaurício de Sousa

Ele é um dos mais famosos cartunis-tas do Brasil e já vendeu mais de um bilhão de gibis no mundo todo. Mas também é um dos escritores brasileiros mais admirados pelos leitores, de acor-do com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. No levantamento, ficou entre os dez mais, à frente de nomes como Mário Quintana, Castro Alves e Luis Fernando Veríssimo.

Maurício de Sousa, mais conheci-do como o criador da Turma da Môni-ca, nascido em Santa Isabel e criado em Mogi das Cruzes, perto de São Paulo, é um leitor compulsivo. E também tem outra compulsão: guardar tudo o que lê para, se for o caso e der tempo, ler de novo. Ele conta, aqui, como começou sua história de amor com os livros:

“Eu lia muito quando criança. Primei-ro, gibis. Depois, livros. Era o tipo de lei-tor que as pessoas chamam de compulsivo. Queria ler sempre. Se pegava um livro inte-ressante, não parava de ler até chegar à úl-tima página. Os gibis, comecei a ler antes mesmo de entrar na escola.

Primeiro minha mãe lia pra mim. De-pois, por falta de tempo, preferiu me ensi-nar a ler, aos pouquinhos, letra por letra, sí-laba por sílaba, palavra por palavra. Assim, em pouco mais de três meses, já podia sole-trar as palavras escritas nos balões das his-tórias em quadrinhos.

E, assim, fui “devorando” história após história, conhecendo os mais variados per-sonagens e me deliciando com as descober-tas que fazia naquela janela aberta para o mundo. Afinal, não havia televisão e o ci-nema não era para toda hora, pelo menos em minha idade, quase 6 anos. E eu morava em Mogi das Cruzes. Mas a curiosidade era maior do que a minha cidade, do que o meu país, do que o meu mundo. Queria mais e mais, pelas páginas dos gibis.

Depois de alguns poucos anos, as his-tórias em quadrinhos já não me bastavam. Acabavam logo. Eu lia rápido demais. E não era toda hora que havia gibis novos. Então, me caiu nas mãos um primeiro livrinho de

Foto/Arte: Divulgação

história, bem infantil. Era a história de uma fadinha, com poucas cores, livro mal im-presso e curto, texto simples. Li num pulo. Mas foi insuficiente. Queria mais.

Foi quando meu pai comprou uma edi-ção colorida, em papel encorpado, textos curtos e grandes ilustrações, de uma histó-ria do Mickey, O Matador de Gigantes, ba-seado num desenho animado de Walt Dis-ney. Muito bem impresso. Adorei!

Lia e relia. Via e revia as lindas ilus-trações. E queria mais. Até que fui “atro-pelado” pela obra de Monteiro Lobato... e entrei no Paraíso. Era outro mundo, outro universo, outro estilo, outra coisa. Li tudo da turma do Sítio do Pica-pau Amarelo e, depois, passei para os livros que ensinavam matemática, gramática, falavam de petró-leo, tudo do Lobato... Até chegar à portento-sa série dos 12 trabalhos de Hércules. Ufa!

Já sabia Lobato de cor e estava na hora de passar para outros autores. A curiosida-de me impelia. A compulsão me empurra-va. Comecei a devorar os livros de aventu-ras, tipo Jack London, com quem fiz belas e inesquecíveis viagens. Igualmente com Ju-lio Verne. Seguindo depois para romances

históricos, biografias, ficção científica, poli-ciais, além de obras de Machado de Assis, Eça de Queirós... e o que viesse mais.

Houve tempo, lá pelos meus 13 ou 14 anos, em que eu lia um livro por dia. Era o melhor “cliente” da biblioteca da escola, do ginásio, do município. Agradeço aos céus por isso, pois as leituras e tudo o que apren-di lendo – informações, estilos – me ajuda-ram em todos os momentos futuros da mi-nha vida. Primeiro quando eu buscava os primeiros empregos e preenchia as primei-ras fichas, o meu português me punha nos primeiros lugares das filas de pretendentes a uma colocação.

Foi assim nos primeiros escritórios em São Paulo e, depois no jornal Folha da Ma-nhã (atual Folha de S. Paulo), onde fui re-pórter. Lá, também comecei a desenhar es-crever quadrinhos, como as histórias do Bidu. Foi quando precisei me comunicar oralmente. Ler e falar se completam. As-sim, posso afirmar que, entre outros fatores, a leitura foi o fator mágico que me permitiu a comunicação fácil em qualquer circuns-tância. A chave, a porta e a entrada estão nos livros.” P

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50 Panorama Novembro 2008

Cinema & Livros

no país das maravilhasDesde 1903, diretores tentam adaptar para o cinema a obra infantil de Lewis Carrol, mas o que surpreende e desperta a curiosidade dos adultos é o mais recente

roteiro hollywoodiano, que começou a ser filmado em setembro, e tem estréia prevista para 2010

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Novembro 2008 Panorama 51

O diretor Tim Burton, responsá-vel por filmes como Edwards Mãos de Tesoura, de 1990, e Sweeney Todd, de 2007, está engajado em uma nova super-produção. Dessa vez, a escolha de Burton foi adaptar para o cinema a complexa obra lite-rária Alice No País das Maravilhas, do escritor Charles Lutwidge Dod-son, mais conhecido pelo pseudô-nimo Lewis Carrol.

Carrol nasceu na Inglaterra, em 1832. Foi matemático, professor da Universidade de Oxford, lógico, fotó-grafo e romancista. “Alice no País das Maravilhas” foi sua primeira obra li-terária, concluída em 1865. O livro, considerado um clássico nonsense, teve a primeira versão leiloada por um milhão de dólares, em 1998, em Nova Iorque, em homenagem aos cem anos da morte do autor. Além disso, o sucesso não se resume à literatura, já que Alice já foi trans-portada para as telas várias vezes. A primeira versão cinematográfica é de 1903, e alguns trechos podem ser conferidos no site Youtube.

Mesmo com tantas adaptações baseadas na obra de Carrol, a mais famosa é a animação da Wall Dis-ney, de 1951. Apesar de ser destina-da ao público infantil, há controvér-sias sobre o verdadeiro público alvo de Alice. Segundo a psicanalista e P

doutora em comunicação Dinara Guimarães, embora Alice No País das Maravilhas tenha sido escrito para crianças, surpreende os adul-tos com a representação do mun-do feito de surpresas e inversões. “Sem dúvida, elas não são histórias apenas para crianças. A história de uma menina que muda de tamanho a cada página trata da instabilidade do sujeito humano. ‘Nunca tenho certeza do que vai acontecer, de um minuto para outro. Entretanto, eu voltaria ao meu tamanho de sem-pre’, afirma a psicanalista citando um trecho do livro.

Por trazer uma trama com tão pouca lógica aos olhos do público mirim, o filme não fez sucesso na época e tornou-se o maior fracasso da Disney até A Bela Adormecida, em 1959, conforme relatam os sites de cinema.

Apesar disso, o mundo fantás-tico e incoerente de Alice fascina os mais peculiares adultos, como o músico Marilyn Mason. O astro do rock tentou fazer uma nova adap-tação através da visão dele sobre a obra de Carrol, mas o projeto não saiu do papel, e quem ficou com os direitos foi mesmo Burton.

Em entrevista ao jornal ameri-cano Los Angeles Times, o diretor de A Noiva Cadáver declara que a

obra de Carrol é um projeto curioso. “A história é obviamente um clássi-co, com imagens icônicas, idéias e pensamentos. Mas de todas as ver-sões para o cinema eu nunca vi uma que tenha realmente me impactado. São apenas uma série de aconteci-mentos malucos. Todo personagem é estranho e ela (Alice) meio que vaga como observadora por esses encontros", afirma.

O diretor vai usar no longa a mesma tecnologia 3D vista em A Lenda de Beowulf, de Robert Ze-meckis. No elenco, é claro, Johnny Depp, interpretando o chapeleiro maluco e marcando seu sétimo tra-balho com o diretor, e a australiana Mia Wasikowska, na pele da gracio-sa Alice.

As filmagens tiveram início em setembro, com roteiro de Linda Wo-olverton, a mesma de A Bela e a Fera e O Rei Leão. A estréia do lon-ga está prevista para 2010, tempo suficiente para todos lerem a obra de Carrol e esperar a adaptação de Burton no cinema, já que um diretor com extensa lista de filmes excêntri-cos, e que tem em mãos uma obra como Alice, faz com que até os in-telectuais aumentem suas apostas. “Espero que Burton traga a versão da Alice que estilhaça o bom senso dos adultos, afirma Dinara.

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52 Panorama Novembro 2008

Feira do Livro de Curitiba4 a 16 de novembro Praça General Osório Curitiba (PR)(47) 3422-1133 [email protected]

IV Fórum de Editoração 22 de Novembro Museu de Arte de São Paulo, MASP, das 8h30 às [email protected]

Festival Literário Internacional da Floresta17 a 22 de Novembro Manaus (Am)http://www.flifloresta.com.br/

8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará13 a 21 de novembro Centro de Convenções de Fortaleza Fortaleza (CE)[email protected] ou www.rpsfeiras.com.br

Calendário No Brasil

Feira Internacional do Livro de Santiago 31 de outubro a 16 de novembro Santiago, Chilewww.camaradellibro.cl/filsa/

Miami Book Fair 9 a 16 de novembro Miami, Estados Unidoshttp://www.miamibookfair.com/

Feira do Livro de Oslo21 a 23 de novembro Lillestrom-Oslo, Noruegamesse.no/en/ntf/Projects/Bok/Besokende

Feira Internacional do Livro de Guadalajara29 de novembro a 7 de dezembro Guadalajara, Méxicowww.fil.com.mx

28ª Feira do Livro Ricardo Palma30 de novembro a 12 de dezembro Lima, Peruwww.cpl.org.pe

Congresso Internacional sobre Promoção da Leitura22 e 23 de janeiro Lisboa, Portugal

Bologna Children´s Book Fair23 a 26 de março 2009 - Bolonha, Itália. http://www.bookfair.bolognafiere.it/index.asp?m=52&l=2&ma=3

Feira do Livro de Istambul01 a 11 de novembro Istambul, Turquiawww.tuyap.com.tr/en

Calendário No Mundo

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Novembro 2008 Panorama 53

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54 Panorama Novembro 2008

De olho no amanhãDa criação de bibliotecas à proposição de leis, o Instituto Ecofuturo,

criado pela Suzano, investe no poder transformador da leitura

Em 1999, às vésperas de completar 75 anos no setor de papel e celulose, o grupo Suzano decidiu criar uma orga-nização não governamental para de-senvolver, em parceria com outras ins-tituições, projetos na área de educação ambiental. Para isso, a empresa lançou o Instituto Ecofuturo. A idéia era tratar o acesso ao conhecimento como ação transformadora e implementar projetos baseados em modelos replicáveis.

Desde o início, quando pensou em realizar trabalhos na área de edu-cação, a questão da leitura sempre apareceu em grande dimensão nos projetos da ONG. Tanto que o tema se transformou em uma das vertentes do Ecofuturo e ganhou um programa cujo objetivo é formar uma sociedade leitora: o Ler é Preciso.

De acordo com a diretora de Edu-cação e Cultura do instituto, Christine Fontelles, só até o ano passado o Eco-futuro investiu mais de R$ 4 milhões nessas iniciativas de fomento ao livro e à leitura. Com diversas ações como a criação de bibliotecas comunitárias, concursos de redação e capacitação

Artur dos Santos e Samuel Carvalho. Biblioteca “Ler é Preciso”

distrito de Itabatã, Mucuri/BA.

empresa amiga do livro

de multiplicadores da leitura, a ONG ainda foi a autora da iniciativa que ofi-cializou, a partir deste ano, o dia 12 de outubro como Dia da Leitura no estado de São Paulo.

A proposta pela instituição da data, que teve o apoio do deputado José Au-gusto (PSDB), foi encaminhada à Se-cretaria de Cultura do Estado em 2006. A idéia propunha a sensibilização de pais e educadores para a importância de oferecer leitura às crianças já nos primeiros anos, além de alertar para a urgência em se criar e renovar biblio-tecas públicas e comunitárias. Agora, a mesma lei já tramita no Senado Federal por iniciativa do senador Cristovam Buarque (PDT).

No Dia da Leitura, o instituto con-vidou pessoas de todas as regiões do País para ler para as crianças. A ini-ciativa, batizada como Brincar de Ler, buscou incentivar nos pequenos o há-bito da leitura. “Um hábito cultural como a leitura se desenvolve por con-vívio e por contato, nasce da experi-mentação”, argumenta Fontelles. Para conseguir difundir a idéia, o Ecofutu-

ro compôs uma rede de ações integra-das com a mídia, escolas, bibliotecas públicas e comunitárias, agentes e or-ganizações que já realizavam ações de promoção de leitura.

Já o projeto que abre bibliotecas co-munitárias pelo País afora inaugurou, em setembro, a 75ª unidade, em Estrela do Sul, no Triângulo Mineiro, onde, até o ano 2000, a maioria da população fre-qüentava a escola por aproximadamen-te cinco anos. Naquele ano, a taxa de analfabetismo na cidade era de 17,2%.

Segundo a diretora de educação do instituto, até o final do ano haverá 80 unidades em sete estados do País. Hoje, essas bibliotecas, abertas em sua maioria em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), aten-dem a cerca de 70 mil usuários por mês. A cada nova unidade aberta no País, o Ecofuturo realiza cursos de auxiliar de biblioteca e promotores de leitura. “É necessário disponibilizar livros de qua-lidade como ferramentas para o desen-volvimento da leitura, tão importante para a emancipação pessoal e da socie-dade”, diz Fontelles.

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Novembro 2008 Panorama 55

A Promessa da Política

Hannah Arendt. Trad., Pedro Jorgensen JuniorEditora Difel, 288 pg,. R$ 39,00

Improvisando Soluções

Roberto MuggiatiEditora Best Seller, 304 pg., R$ 24,90

O autor apresenta pequenas biografias das estrelas

jazzísticas, recheadas de curiosos e impressionan-

tes exemplos de como as soluções podem ser

encontradas. Nesta obra, você descobrirá o que

Louis Armstrong, Billie Holiday, Hermeto

Pascoal, Sonny Rollins, João Gilberto, entre outros,

têm a ensinar sobre superação.

Juventudes SP – Panoramas e iniciativas com foco na

juventude de São Paulo

CenpecEditora Peirópolis, 128 pg., R$ 25,00

O livro mostra o que tem sido feito pelos jovens e, conseqüentemente,

o que eles têm feito em suas cidades. Este título

chega para inspirar novas ações e provo-

car uma reflexão sobre o que já existe.

Radical Chic

Miguel PaivaCia Editora Nacional, 111 pág., R$ 62,00

Ela é sexy, alegre, crítica, despachada, tem um pouco

de cada mulher. A coleção Radical Chic é composta

por três livros: Sexo à deriva, Corpo de Delito e

Mulheres que pensam. As obras trazem as tirinhas desta grande síntese da

alma feminina.

Arendt resgata Sócrates e Platão até Marx, até o famigerado

século XX, num percurso desde os ideais mais altos da

história da humanidade até às realizações rastejantes de

nossos pseudo-represen-tantes.

André Iki SiqueiraCia Editora Nacional, 552 pág, R$ 69, 00

João SaldanhaO livro reconstitui os 73

anos de vida de Saldanha, o mais consagrado co-

mentarista esportivo do país, sua personalidade e carreira. O jornalismo,

as aventuras, a paixão pelo Botafogo, as

brigas, os debates, as frases antológicas e

seu amor pela vida e pelo povo brasileiro estão

nas páginas deste livro.

Walter Lisboa, Ronaldo Barboni e Joni Marcos. Editora Ulbra, 112 pg., R$ 48,00

Paleontologia – répteis e dinossauros do Triássico

Gaúcho

A obra consiste em uma iniciativa única, que vem

preencher uma importan-te lacuna. E, o que é mais importante - é resultado do trabalho de profissio-

nais que aqui vivem e trabalham.

Vitrine

Dicionário Escolas da Língua Portuguesa – Academia

Brasileira de Letras

Organização: Evanildo C. BecharaCia Editora Nacional, 1.312 pág., R$ 32,90

Filhos do Céu

Novíssima Gramática da Língua Portuguesa

Fran Zabaleta e Luis AstorgaEditora Record, 616 pg., R$ 59,00

Osmar de OliveiraCia Editora Nacional, 112 pág., R$23,90

Causos do Dr. Osmar

Michel Cassé e Edgar MorinEditora Bertrand, 128 pg., R$ 24,00

Domingos Paschoal CegallaCia Editora Nacional, 696 pág., R$ 79,90

A Cia Editora Nacional lança o primeiro dicionário com a assinatura da Academia Brasileira de Letras, insti-tuição responsável pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa. São mais de 33.000 verbetes,

complementos e um estudo sobre o verbo

em português, com remissão para os verbetes e um suplemento

explicativo do Acordo Ortográfico.

Filhos do céu trata de um diálogo aberto entre a

ciência e a filosofia. O livro é constituído de cinco

partes. “A revelação do vazio”, “Abordagens do invisível”, e “O universo como história”. As duas

últimas partes deste “banquete” – como

Cassé define o livro – são “A flecha do tempo”

e “Rumo ao antropo-cosmo”.

A obra é um excelente instrumento, principal-mente para estudantes

do Ensino Médio e, ainda, para aqueles que

precisam esclarecer dúvidas a respeito da

língua portuguesa. Em versão não-

consumível, fornece inúmeros exercícios de fixação

de conteúdos gramaticais e também pro-vas dos principais concursos e exames

vestibulares, em todos os capítulos.

Na primavera de 1536, uma noite de tormenta traz dois

náufragos à praia que banha os pés da perdida abadia

de Santa Maria de Oia. romance narra o caminho de Baltasar e Jean, mario-

netes involuntárias dos poderosos, através de uma Europa arrasada

por guerras religiosas.

Nos seus quase quarenta anos dedicados ao futebol e à medicina esportiva, Osmar de Oliveira cole-

cionou histórias hilariantes, com o atrativo extra de serem todas verídicas e protagonizadas, muitas vezes, por figuras cultu-adas pelos “doentes da

bola”. Reuniu aqui as melhores, e você, leitor,

mesmo que não seja um aficionado dos

esportes, certamente irá morrer de rir ao lê-las.

Miguel PaivaCia Editora Nacional, 127 pág., R$ 62,00

Gatão de Meia-IdadeDepois de mais de 10 anos, 5 mil tiras, um casamento, uma filha pré- adolescen-te, várias namoradas, al-gumas brochadas, tantas

risadas, outras tantas ressacas, algumas triste-

zas e muitas alegrias, eis a coletânea das histórias

do Gatão de Meia-Idade publicadas na imprensa.

A Cruz de Cinza

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56 Panorama Novembro 2008

O jegue e os livrosNem adianta perguntar por Manoel

Ribeiro Filho por lá. Dificilmente algum morador de Auzilândia conseguirá res-ponder – muito embora ele seja nascido e criado no povoado e, de uns tempos para cá, tenha se tornado o mais famoso entre os 4 mil moradores do lugar. Mas não há no vilarejo inteiro, em pleno cor-redor de Carajás, no interior do Mara-nhão, quem não conheça o Barraca.

O apelido é auto-explicativo - e foi conquistado, digamos, a duras penas, e por mérito próprio. Barraca vivia se me-tendo em encrencas. Estava envolvido com drogas e fugia como um diabo da cruz dos sermões e conselhos dos pais e dos professores. A verdade é que não se esperava mais lá muita coisa para o futuro do moleque indisciplinado e de notas baixas.

Mas não é que um dia a vida do Barraca mudou?! De cabeça pra baixo. Ou de pernas para o alto! E tudo por causa de um jegue, esse animal quase sagrado na vida do sertão. O milagre foi o seguinte: certo dia uma professora escalou o menino para ser o condutor de um dos animais que saem carrega-dos de livros no lombo para convidar a população a ler mais.

Trata-se de um projeto – que, mais tarde, receberia diversos prêmios – criado pela prefeitura de Alto Alegre do Pindaré para percorrer ruas e praças de vilarejos com nomes como Mineiri-nho, Três Bocas, Timbira do Bogeá ou Nova Olinda atrás de gente interessa-da em livros. O festivo arrastão, com o jumento à frente, sai com toda pompa à cata dos leitores. Os livros são espa-lhados no chão, em cima de um lençol, para quem quiser pegar.

Como muitos ali são analfabetos, sempre há uma alma caridosa pronta para ler em voz alta. Foi justamente aí que a vida do Barraca começou a se transformar.

— É muito legal ler para os ou-

tros – logo descobriria o motorista da biblio-jegue. — Passei a ser reconheci-do pelos meninos nas ruas e até a ser chamado de tio...

Pronto. Virou um contador de his-tórias, essa figura mítica que vai, aos poucos, se multiplicando pelo Brasil – sabidamente um país de forte tradição oral. O menino – justo ele, que nunca fora afeito ao quadro-negro e aos ca-dernos – gostou tanto da história que resolveu virar professor de jovens e adultos. Quer iniciar mais gente como ele próprio no mundo mágico das pa-lavras.

***O jegue carregado com um jacá co-

lorido cheio de livros no lombo sai uma ou duas vezes por mês por pequenos lugares onde inexiste o acesso aos li-vros. Supre, assim, a falta de bibliote-cas em certas localidades. A mecânica é simples: os livros são os da escola e os condutores são os próprios alunos, que, geralmente, tem tempo de sobra para tal. E público é o que não falta: como livro é coisa rara por lá, muitos que já eram alfabetizados acabaram por desaprender a arte de ler e escrever por pura falta de prática.

Uma professora percebeu e deu a idéia, que logo pegou.

Nesses dias, a vida nos povoados vira um rebuliço só. Desde então, a re-provação e a evasão escolar caíram e o rendimento e o IDH (Índice de Desen-volvimento Humano) subiram.

Alguns futuros leitores são fisgados na hora. Como aconteceu com o lavra-dor Nilo Mendes, de 72 anos:

— Meu sonho era saber ler e escre-ver para subir na vida e ser alguém na sociedade – diz, emocionado.

Além de tudo, o projeto é baratís-simo: os jegues são emprestados pelos moradores e o combustível... – bem, este é extraordinariamente abundante por aquelas terras de meu Deus.

Galeno Amorim

Gente que lê

www.blogdogaleno.com.br

Foto: Divulgação

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Foto: Henrique Ravasi Biblioteca Altino Arantes, Ribeirão Preto, SP

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