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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RECEITAS TRIBUTÁRIAS PRÓPRIAS E O DESEVOLVIMETO DE JOÃO PESSOA-PB Thiago da Silva Lins Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida Professor do Departamento de Economia - UFPB RESUMO Este trabalho enfoca a questão das receitas tributárias próprias, e a relação com a melhoria de aspectos socioeconômicos do município de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, nos anos de 2000 e 2009. Dessa forma, o presente artigo tem por objetivo geral analisar e evidenciar a evolução e a composição dessas receitas, arrecadadas pela prefeitura, verificando como essas fontes de recursos impactaram no desenvolvimento municipal, mensurado por meio do indicador IFDM. Para a execução e construção desta pesquisa utilizam-se, como fundamentos teóricos, observações e conceitos contidos nas Finanças Públicas, na Contabilidade aplicada ao setor público, na Constituição Federal de 1988, no Código Tributário Nacional e nas demais legislações vigentes da referida temática. Os procedimentos metodológicos utilizados são concentrados nas análises dos dados disponibilizados pela STN (principalmente), TCE-PB, PMJP, IBGE e FIRJAN. Analisando isoladamente, os resultados obtidos apontam para uma relação diretamente proporcional entre as receitas e o indicador de desenvolvimento do município. Contudo, quando analisado em conjunto, ou seja, quando comparado com as outras capitais da região nordeste do Brasil, percebe-se que essa relação não é direta, sendo em alguns momentos inversa. Essa informação nos traz a ideia de que é preciso administrar com responsabilidade os recursos que a sociedade contribui, pois estes devem retornar a grande massa, por meio de serviços públicos que possam garantir uma melhor qualidade de vida a todos. Palavras-chave: receitas tributárias, desenvolvimento, administração municipal. 1 – ITRODUÇÃO Os municípios brasileiros, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que promoveu a descentralização da gestão pública, ganharam autonomia administrativa e por consequência uma série de novas atribuições e deveres para com os seus cidadãos. A partir desse momento, principalmente para as cidades de médio e grande porte, há

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MU�ICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

RECEITAS TRIBUTÁRIAS PRÓPRIAS E O DESE�VOLVIME�TO DE JOÃO PESSOA-PB

Thiago da Silva Lins Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB

Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida

Professor do Departamento de Economia - UFPB

RESUMO

Este trabalho enfoca a questão das receitas tributárias próprias, e a relação com a melhoria de aspectos socioeconômicos do município de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, nos anos de 2000 e 2009. Dessa forma, o presente artigo tem por objetivo geral analisar e evidenciar a evolução e a composição dessas receitas, arrecadadas pela prefeitura, verificando como essas fontes de recursos impactaram no desenvolvimento municipal, mensurado por meio do indicador IFDM. Para a execução e construção desta pesquisa utilizam-se, como fundamentos teóricos, observações e conceitos contidos nas Finanças Públicas, na Contabilidade aplicada ao setor público, na Constituição Federal de 1988, no Código Tributário Nacional e nas demais legislações vigentes da referida temática. Os procedimentos metodológicos utilizados são concentrados nas análises dos dados disponibilizados pela STN (principalmente), TCE-PB, PMJP, IBGE e FIRJAN. Analisando isoladamente, os resultados obtidos apontam para uma relação diretamente proporcional entre as receitas e o indicador de desenvolvimento do município. Contudo, quando analisado em conjunto, ou seja, quando comparado com as outras capitais da região nordeste do Brasil, percebe-se que essa relação não é direta, sendo em alguns momentos inversa. Essa informação nos traz a ideia de que é preciso administrar com responsabilidade os recursos que a sociedade contribui, pois estes devem retornar a grande massa, por meio de serviços públicos que possam garantir uma melhor qualidade de vida a todos. Palavras-chave: receitas tributárias, desenvolvimento, administração municipal. 1 – I�TRODUÇÃO

Os municípios brasileiros, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988

(CF/88), que promoveu a descentralização da gestão pública, ganharam autonomia

administrativa e por consequência uma série de novas atribuições e deveres para com os seus

cidadãos. A partir desse momento, principalmente para as cidades de médio e grande porte, há

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uma atenção toda especial no tocante à obtenção de receitas para o custeio das mais diversas

atividades. Nesse cenário, o Estado, considerando o âmbito municipal, exerce o papel de

promotor de políticas públicas que impulsionem o desenvolvimento local, em particular,

daquelas regiões menos favorecidas.

O texto constitucional, mediante disposições e regras nele contido, estabeleceu que a

União e os estados têm o dever de efetuarem as chamadas “Transferências Governamentais”

para os municípios. No entanto, percebe-se que, paralelo as essas questões, as próprias

cidades devem manter e gerir suas próprias receitas, sejam elas patrimoniais, de contribuições,

industriais ou oriundas de tributos. Essa última, denominada “Receita Tributária” provém de

impostos, taxas e contribuições de melhoria, e sempre foi uma das principais fontes de

recursos financeiros para a administração municipal. E é no sentido de explanar e explicar

esse grupo de receita que esse trabalho foi desenvolvido. Todos os cidadãos, de uma forma ou

de outra, colaboram para a arrecadação de tributos em seu município, sendo eles, portanto, os

principais agentes contribuintes, e merecedores dos serviços e ações desenvolvidas pelo poder

público municipal. Nesse contexto, o tema proposto por este estudo tem por foco central a

análise da evolução e composição das receitas tributárias e o desenvolvimento municipal de

João Pessoa, capital do estado da Paraíba, se baseando nos dados dos anos de 2000 e 2009.

Diante da perspectiva apresentada, o problema a ser investigado nessa pesquisa é:

Como a evolução e a composição das receitas tributárias do município de João Pessoa-PB

afetaram o desenvolvimento socioeconômico dessa localidade no período referido

anteriormente?

As receitas públicas tributárias municipais são originárias do “bolso” de todos os

cidadãos residentes e domiciliados em uma determinada cidade. Por meio do pagamento de

tributos, a população, de forma direta ou indireta, contribui de maneira fundamental para a

formação dos principais grupos de receita e, por conseguinte para a arrecadação dos recursos

que a prefeitura municipal utiliza para manter a estrutura administrativa; para a execução de

obras diversas; para a implantação de políticas públicas de emprego, educação e saúde, entre

outras atividades. Tais questões precisam ser largamente conhecidas e discutidas para o

aprimoramento das ações de responsabilidade do poder público municipal, e para alertar o

grande público sobre a necessidade de fiscalizar e controlar a correta utilização do dinheiro

público arrecadado nos municípios.

Neste panorama, a escolha dessa temática justifica-se pela imperiosa necessidade de

analisar, evidenciar e mensurar, de forma mais clara, as receitas tributárias auferidas pela

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Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), traçando uma possível relação entre a

arrecadação de tributos e o desenvolvimento socioeconômico municipal.

1.2 Definição dos objetivos

O presente trabalho tem por objetivo geral analisar a evolução e a composição das

receitas tributárias próprias auferidas pela PMJP, verificando como essas fontes de recursos

impactaram no desenvolvimento socioeconômico desse município entre os anos de 2000 a

2009.

No tocante aos objetivos específicos, este estudo pretende:

• Apresentar à sociedade os montantes das receitas públicas municipais, nos anos

em análise;

• Evidenciar como são constituídos os recursos necessários, advindos dos tributos,

para o financiamento das ações do poder público municipal;

• Verificar se a variação das receitas tributárias interfere no desenvolvimento

municipal; e

• Estabelecer comparações entre o referido município com as demais capitais da

região nordeste.

2 – FU�DAME�TAÇÃO TEÓRICA

Nesta seção, apresentam-se as principais referências teóricas que sustentam esse

trabalho, sendo dividida em três subseções: As funções do Estado e o desenvolvimento no

âmbito municipal; Receitas públicas; e Base tributária e a gestão municipal.

2.1 As funções do Estado e o desenvolvimento no âmbito municipal

O Estado, segundo Coelho (2009), “caracteriza-se como uma organização que exerce

o poder supremo sobre o conjunto de indivíduos que ocupam um determinado território,

investido de legitimidade”. Ao longo da história do sistema capitalista, o mundo se viu

dividido entre uma maior intervenção estatal nas relações econômicas e sociais e entre um

maior poder ao mercado na condução autônoma dos problemas econômicos. Conquanto, sabe-

se que o Estado é o promotor natural de políticas e ações que podem intervir de forma

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significativa na melhoria das condições de vida da população e na busca efetiva da justiça

social, que sempre foi muito pleiteada.

Conforme Giambiagi e Além (2008) e Bezerra Filho (2006), a ação do Estado como

governo abrange três funções econômicas, que são as seguintes: função alocativa,

promovendo alocação dos recursos públicos; função distributiva, promovendo ajustamentos

na distribuição de renda, intervindo nos aspectos sociais e econômicos que afeta

negativamente a repartição da riqueza de uma sociedade; e a função estabilizadora, onde

objetiva manter a estabilidade econômica através de quatro objetivos: manutenção do nível de

emprego, estabilidade do nível dos preços, equilíbrio no balanço de pagamentos, e elevação

da taxa de crescimento. As funções econômicas do Estado (alocativa, distributiva e

estabilizadora), segundo Rezende (2006) evoluíram com o aumento das atribuições

governamentais, se consolidando como as principais atividades que o poder público deve

desenvolver para a correta intervenção na economia.

O poder público municipal exerce as funções do Estado na circunscrição local,

atuando e promovendo serviços públicos de variadas áreas para a população em geral. O

município é a menor unidade administrativa e a que tem a maior proximidade com os

cidadãos. Desta feita, o desenvolvimento local é, em sua maioria, gerado e alavancado por

políticas executadas pelas prefeituras municipais. O desenvolvimento local, conforme

Malmegrin (2010) e Buarque (1999), pode ser definido como um processo interno

evidenciado em pequenas unidades territoriais e em agrupamentos humanos capazes de

promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. O

desenvolvimento local é o mais próximo e o mais perceptível para a população. Buarque

(1999) ainda enfoca que o desenvolvimento municipal é um caso particular de

desenvolvimento local, com uma amplitude espacial delimitada pelo corte político-

administrativo do município.

No tocante à mensuração do desenvolvimento municipal, a Federação das Indústrias

do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) elabora o Índice FIRJAN de Desenvolvimento

Municipal que verifica o desenvolvimento de todos os municípios brasileiros, considerando

três importantes áreas: emprego e renda, educação e saúde. A composição das variáveis desse

indicador se dá em conformidade com o Quadro 01:

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Quadro 01: Variáveis componentes do IFDM

Emprego e Renda Educação Saúde

Variáveis utilizadas:

• Geração de emprego formal

• Estoque de emprego formal

• Salários médios do emprego

formal

Variáveis utilizadas:

• Taxa de matrícula na educação

infantil

• Taxa de abandono

• Taxa de distorção idade-série

• Percentual de docentes com

ensino superior

• Média de horas aula-diárias

• Resultado do IDEB

Variáveis utilizadas:

• Número de consultas pré-natal

• Óbitos por causas mal

definidas

• Óbitos infantis por causas

evitáveis

Fonte: FIRJAN (2011)

De acordo com a FIRJAN (2011) o IFDM varia de 0 a 1, ou seja, quanto mais próximo

de 1, melhor o índice de determinado município.

2.2 Receitas públicas

Os entes federativos, para executar as ações ou os programas de governo, necessitam

de recursos financeiros. Estes recursos, chamados de receitas, são auferidos de diferentes

formas, entre elas por meio da arrecadação de tributos. Nesse contexto, se faz necessário

entender que as receitas públicas são todos os ingressos de recursos financeiros, obtidos pelo

Estado, para o financiamento de suas ações.

Silva (2004) define as receitas públicas como um conjunto de recursos que o Estado

dispõe ou rendas que lhe são entregues pela contribuição da coletividade para fazer face as

suas necessidades. Segundo Silva (2004) é com estes recursos que o Estado vai realizar as

ações de manutenção de sua organização, de custeio de seus serviços, das iniciativas de

fomento e desenvolvimento econômico e social, entre outras. Já Machado Jr. e Reis (1996)

define receitas públicas como um conjunto de recursos financeiros obtidos de fontes próprias

e permanentes, que integram o patrimônio na qualidade de elemento novo, que produzem-lhe

acréscimos financeiros, sem contudo gerar obrigações, reservas ou reivindicações de terceiros.

Por sua vez, Bezerra Filho (2006) nos relata que os recursos auferidos necessários à

efetivação dos programas de governo estabelecidos na Lei Orçamentária Anual (LOA) são

denominados de receita orçamentária ou receita pública. As receitas públicas ou

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orçamentárias se subdividem, conforme as categorias econômicas dispostas na Lei 4.320/64,

em dois grandes grupos, os quais são denominados de receitas correntes, e receitas de capital.

Consoante as disposições contidas no Manual da Receita Nacional, publicado pela

Secretaria do Tesouro Nacional em 2008, as receitas correntes são classificadas em:

originárias – em que são resultantes da venda de produtos ou serviços colocados à disposição

dos usuários ou da cessão remunerada de bens e valores; e derivadas – que são obtidas pelo

estado em função de sua autoridade coercitiva, mediante a arrecadação de tributos e multas. Já

as receitas de capital provêm da realização de recursos financeiros por meio de operações de

crédito, de alienações de bens móveis e imóveis, de amortização de empréstimos concedidos e

das transferências de capital.

Conforme, a Lei 4.320/64, as receitas correntes se decompõem em diversas

subcategorias econômicas, as quais se elencam:

• Receita tributária;

• Receita de contribuições;

• Receita patrimonial;

• Receita agropecuária;

• Receita industrial;

• Receita de serviços;

• Transferências correntes; e

• Outras receitas correntes.

Entre as subcategorias acima elencadas, para o nosso estudo, destaca-se a Receita

tributária. Diante das informações evidenciadas, faz-se necessário trazer o conceito de tributo,

disposto no Código Tributário Nacional (CTN), em seu art. 3: “Tributo é toda prestação

pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua

sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente

vinculada.”

O Manual da Receita Nacional (2008) define Receitas Tributárias como os ingressos

provenientes da arrecadação de impostos, taxas e contribuições de melhoria, considerando-a

uma receita privativa das entidades que detém o poder de instituir tributos: União, Estados,

Distrito Federal e Municípios. Rezende (2006) diz que as receitas tributárias incluem as

receitas definidas como tributos pelo CTN, a saber, os impostos, taxas e contribuições de

melhoria. Ainda sobre as receitas tributárias, Silva (2004) expõe que tais receitas são as

resultantes da cobrança de tributos que podem ser definidos como a receita derivada que o

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estado arrecada mediante o emprego de sua soberania, nos termos fixados em lei, sem

contraprestação diretamente equivalente, e cujo produto se destina ao custeio das atividades

gerais ou específicas que lhe são próprias.

2.3 Base tributária e a gestão municipal

Neste cenário, evidencia-se que o poder público municipal poderá, em conformidade

com a CF/88 e com o CTN, instituir os seguintes tributos:

• Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU);

• Imposto sobre a transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de

bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,

exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição (ITBI);

• Imposto sobre serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155,

II, da CF/88, definidos em lei complementar (ISS);

• Taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou

potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao

contribuinte ou postos a sua disposição; e

• Contribuições de melhoria, decorrente de obras públicas.

É importante frisar que as atribuições e competências municipais advieram da atual

Carta Magna, que promoveu a descentralização de responsabilidades e de recursos para os

estados e principalmente para os municípios, restaurando o federalismo no Brasil. Abrantes e

Ferreira (2010) diz que com a CF/88 houve uma grande descentralização das competências do

Estado entre seus entes constitutivos, estabelecendo competências tributárias exclusivas aos

estados e municípios. O fato é que além de receber mais recursos, advindos dos tributos, os

municípios receberam novos e diversos deveres para com os munícipes. Conforme Malmegrin

(2010), o processo de descentralização colocou os governos municipais frente ao desafio de

atender as demandas clamadas pela sociedade.

Com os recursos advindos dos tributos e de outras fontes, tais como as transferências

correntes, os municípios devem desenvolver os serviços públicos de sua competência e

cumprir suas obrigações. Segundo ainda a CF/88, além das atribuições que têm em comum

com os demais entes federativos, é de responsabilidade dos municípios, entre outras questões,

organizar e prestar, de forma direta ou indireta os serviços públicos de interesse local,

incluído o transporte coletivo, que tem caráter essencial; manter, com cooperação técnica e

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financeira com a União e os estados, os programas de educação pré-escolar e de ensino

fundamental e os serviços de atendimento à saúde da população.

3 – PROCEDIME�TOS METODOLÓGICOS

A temática desse artigo é enquadrada ou classificada como uma pesquisa aplicada,

haja vista que se pretende estudar um problema concreto e operacional. Quanto à forma de

abordagem, se fez necessário a utilização de procedimentos quantitativos, pois foi preciso

estabelecer percentuais que pudessem relacionar uma determinada rubrica aos parâmetros

totais, enfocando dessa forma qual o principal tipo de receita tributária; como também

quantificar e mensurar os montantes desse objeto, além de se evidenciar a evolução do

crescimento dos grupos de receita ao longo de um determinado período de tempo, observando

estatisticamente como essa questão afetou o desenvolvimento da referida localidade.

Essa pesquisa, quanto ao objetivo, pode ser classificada como descritiva, pois

pretendeu descrever a realidade da arrecadação das receitas tributárias pela administração

municipal, apresentando a sua evolução e composição, e a sua possível relação com o

desenvolvimento local. Ademais, este estudo se reveste também de um caráter exploratório,

objetivando ampliar e disseminar os conhecimentos acerca da temática em análise.

Com relação aos procedimentos metodológicos de investigação, este estudo adotou as

fontes bibliográficas oriundas das Finanças Públicas e da Contabilidade aplicada ao setor

público, e as fontes documentais produzidas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa

(PMJP); pelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB); pela Secretaria do Tesouro

Nacional (STN), que é o órgão máximo das finanças públicas brasileiras e principal

organizador dos dados contábeis; pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e

pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), responsável pela

construção do Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM); buscando nessas

fontes, relatórios, demonstrações contábeis, pareceres, e qualquer outro documento que

pudesse subsidiar e colaborar com a pesquisa.

No tocante a coleta de dados, foi utilizada a análise de documentos ou pesquisa

documental, haja vista que o artigo científico voltou-se para a investigação e compreensão da

base tributária municipal e de aspectos socioeconômicos locais, considerando o IFDM. Este

trabalho se debruçou sobre os documentos e relatórios diversos, obtidos junto aos sítios dos

referidos órgãos, principalmente da STN. Quanto à análise de dados, afirma-se que, pela

natureza quantitativa do trabalho, foram utilizados métodos estatísticos descritivos e

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inferenciais, verificando e representando, por meio de tabelas e gráficos, comparativos acerca

dos objetivos do trabalho.

4 – APRESE�TAÇÃO E A�ÁLISE DE RESULTADOS

Para uma melhor compreensão dos resultados obtidos, esta seção foi dividida em cinco

subseções, que são as seguintes: Principais características do município de João Pessoa;

Receitas totais de João Pessoa; Evolução e composição das receitas tributárias; Relação entre

as receitas tributárias e o desenvolvimento municipal; e Comparação das receitas e do IFDM

de João Pessoa com outras capitais da Região Nordeste.

4.1 Principais características do município de João Pessoa

A cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba que se situa na região nordeste,

foi fundada em 1585 pelos colonizadores portugueses, sendo considerada uma das mais

antigas do Brasil. Atualmente, a população consiste em 723.515 habitantes (IBGE - CENSO

2010), e se for considerada a região metropolitana esse número sobe para mais de um milhão

de pessoas. No último levantamento do IBGE (2008), o Produto Interno Bruto Per Capita do

município foi de R$ 11.053,84.

O município é considerado de médio porte, com vocação para o setor de serviços,

comércio e turismo, contudo com grandes contrastes socioeconômicos e com deficiências no

campo da educação, saúde e geração de emprego e renda. Conquanto as receitas totais do

município estão crescendo de forma bastante interessante, e espera-se que tais aumentos de

recursos públicos reflitam em ações, por parte do poder público municipal, que objetivem

melhorias gerais para toda a população.

4.2 Receitas totais de João Pessoa

Buscando apresentar os resultados obtidos nas diversas pesquisas, procura-se,

inicialmente, expor, de forma sucinta, os montantes das receitas, consideradas públicas ou

orçamentárias, auferidas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, durante os anos de 2000 e

2009 (período alvo do trabalho). Desta forma, afirma-se que as receitas totais do município

em análise é o resultado da soma das receitas correntes e de capital, incluindo as de caráter

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intra-orçamentário; subtraídas das deduções legais das receitas correntes, conforme exposto,

na tabela abaixo:

Tabela 01: Receitas do município de João Pessoa. (valores em R$)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da STN.

Através da tabela 01, que se baseia em dados da Secretaria do Tesouro Nacional

(STN) do Ministério da Fazenda, é possível verificar os montantes arrecadados para os cofres

públicos do poder executivo do município, nos anos em análise. Como se pode vê, a receita

total no ano de 2000 foi R$ 265.910.949,75. Já no ano de 2009, a totalização das receitas

públicas foi R$ 1.039.137.725,31, demonstrando um relevante acréscimo, se analisado

isoladamente, em nove anos.

Considerando estes aspectos, percebe-se também, um vertiginoso crescimento das

Receitas Correntes, principal categoria da receita e responsável pela maior parte do montante.

Sem considerar as deduções legais das Receitas Correntes, e analisando apenas a arrecadação

bruta, vê-se que em 2000, foram arrecadados R$ 241.740.971,88; e no ano de 2009 esse

número aumentou para R$ 1.046.333.678,80, uma variação positiva de 333%.

Para esse estudo, não serão detalhadas as Receitas Correntes Intra-Orçamentárias, pois

esse grupo é oriundo de despesas incorridas de outros órgãos públicos, e que se constituem

em receita para a PMJP. É interessante observar também, que as Receitas de Capital tiveram

um tímido crescimento, quando comparado de forma direta e simples com as Receitas

Correntes. Neste cenário, é fundamental o detalhamento do mais relevante grupo de receitas,

que são as Correntes.

2000 2009

Discriminação R$ % R$ %

Receitas Correntes 241.740.971,88 90,91 1.046.333.678,80 100,69

Receitas de Capital 24.169.977,87 9,09 32.169.630,80 3,10

Deduções da Receita Corrente 0,00 0,00 (71.212.956,49) -6,85

Receitas Correntes Intra-Orçamentárias 0,00 0,00 31.847.372,20 3,06

Receitas de Capital Intra-Orçamentárias 0,00 0,00 0,00 0,00

Receitas Totais 265.910.949,75 100,00 1.039.137.725,31 100,00

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Tabela 02: Detalhamento das Receitas Correntes. (valores em R$)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da STN.

Verifica-se por meio da Tabela 02, o detalhamento das Receitas Correntes,

arrecadadas nos anos de 2000 e 2009. Observa-se então, os valores auferidos por cada

subcategoria econômica ou por cada grupo de receitas correntes, e percebe-se que as

Transferências Correntes, advindas da União, isto é, do governo federal e do Estado da

Paraíba, é a principal fonte de recursos do município pessoense.

Nos anos investigados, apesar da redução do percentual na composição das receitas

correntes, as transferências sempre estiveram à frente dos demais grupos, inclusive da

subcategoria objeto dessa pesquisa, que são as Receitas Tributárias, tendo em 2000, uma

participação de 80,91% e em 2009 de 69,41%. Conquanto, o objetivo desse trabalho consiste

em estudar e analisar o comportamento das Receitas Tributárias próprias, ou seja, a base

tributária municipal.

Nesse contexto, considerando os dados da tabela 02, vê-se que as Receitas Tributárias

se consolidaram como a segunda maior fonte de recursos da administração municipal. Em

2000, a arrecadação, propriamente tributária, foi de R$ 37.634.457,96, correspondendo a

15,57% da Receitas Correntes daquele ano. Por sua vez, em 2009, arrecadação foi de

192.146.010,33, o equivalente a 18,36% do total das Receitas Correntes.

4.3 Evolução e composição das receitas tributárias

Traçando a evolução das Receitas Tributárias, em percentuais, observa-se que de 2000

a 2009, ou seja, em nove anos, houve um crescimento pujante de 410,56% da arrecadação

tributária de João Pessoa. Apesar de se manter abaixo dos vintes pontos percentuais em

relação as Receitas Correntes totais, as Receitas Tributárias vem evoluindo ano após ano,

2000 2009

Discriminação R$ % R$ %

Receita Tributária 37.634.457,96 15,57 192.146.010,33 18,36

Receita de Contribuições 0,00 0,00 40.389.724,72 3,86

Receita Patrimonial 537.845,02 0,22 14.255.993,36 1,36

Receita Agropecuária 0,00 0,00 0,00 0,00

Receita Industrial 0,00 0,00 0,00 0,00

Receita de Serviços 0,00 0,00 8.381.292,77 0,80

Transferências Correntes 195.597.784,08 80,91 726.307.855,93 69,41

Outras Receitas Correntes 7.970.884,82 3,30 64.852.801,69 6,20

Receitas Correntes Totais 241.740.971,88 100,00 1.046.333.678,80 100,00

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2000 2009

Discriminação R$ % R$ %

IPTU 7.589.472,59 20,17 26.883.947,18 13,99

IRRF s/ rendimentos do trabalho 0,00 0,00 14.290.635,45 7,44

ITBI 3.936.172,43 10,46 35.121.135,93 18,28

ISS 23.222.084,81 61,70 93.203.136,15 48,51

Taxas 2.886.728,13 7,67 22.647.155,62 11,79

Contribuição de Melhoria 0,00 0,00 0,00 0,00

Receitas Tributárias Totais 37.634.457,96 100,00 192.146.010,33 100,00

evidenciando um avultado crescimento na arrecadação dos tributos municipais,

principalmente no tocante ao impostos.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 20090,00

50.000.000,00

100.000.000,00

150.000.000,00

200.000.000,00

250.000.000,00

Anos

Receitas Trib

utárias (em R$)

Gráfico 01: Evolução das Receitas Tributárias

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da STN.

Conforme evidenciado no Gráfico 01, as Receitas Tributárias, arrecadadas pelo

município de João Pessoa, cresceu de forma bastante relevante, aumentado assim os recursos

públicos disponíveis para a consecução dos mais diversos projetos e atividades. Diante desta

exposição, é preciso detalhar como são compostas as receitas tributárias, ou seja, se faz

necessário discriminar melhor esse grupo, para mostrarmos a sociedade como se constitui essa

fundamental fonte de recursos.

Tabela 03: Composição das Receitas Tributárias. (valores em R$)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da STN.

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A Tabela 03, mostra de forma detalhada a composição das Receitas Tributárias,

considerando os anos de 2000 e 2009. São evidenciados todos os impostos, como também as

taxas e contribuições de melhoria. A seguir, será feito uma explanação de cada tipo de tributo,

para uma melhor compreensão e entendimento:

a) Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana – IPTU: É o imposto que se

paga pela propriedade de um bem imóvel, seja casa, apartamento, terreno, entre outros.

Historicamente sempre consistiu como a segunda maior fonte de arrecadação tributária,

contudo no último ano pesquisado, foi superado pelo ITBI. A participação sobre as Receitas

Tributárias no transcorrer do período de estudo diminuiu, pois em 2000, o percentual de

arrecadação do IPTU era de 20,17%, e em 2009 passou a ser 13,99%. Razões diversas

contribuem para a redução dos percentuais na composição, entre estas, aponta-se o

crescimento da arrecadação do ITBI, como também a possível sonegação por parte dos

proprietários dos imóveis.

b) Imposto de renda retido na fonte sobre os rendimentos do trabalho – IRRF: Apesar

de não ser um imposto de competência dos municípios, a Constituição Federal de 1988, em

seu artigo 158, inciso I, diz que pertencem aos municípios o imposto de renda incidente na

fonte sobre os rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas fundações públicas e

autarquias. Desta feita, as arrecadações obtidas do IRRF, usualmente, são classificadas como

Receita Tributária e não como Transferências Correntes. A participação deste, considerando

o período pesquisado, mostrou-se modesta, tendo seu ponto percentual máximo em pouco

mais de 7% no ano de 2009.

c) Imposto sobre a transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens

imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de

garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição – ITBI: Esse é o imposto que

geralmente se paga quando se compra um bem imóvel, o que vem ocorrendo com grande

volume nos últimos anos, em decorrência do aquecimento do mercado imobiliário em todo o

Brasil e principalmente na capital paraibana. A participação desse tributo na composição das

Receitas Tributárias cresceu de forma bastante considerável, pois em 2000 o percentual era de

10,46% e no ano de 2009, foi arrecadado o valor de R$ 35.121.135,93, correspondendo a

18,28%, fazendo com que o ITBI se tornasse o segundo maior imposto em arrecadação.

d) Imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISS: Imposto incidente sobre a

prestação de quaisquer serviços. Todo e qualquer prestador de serviço, seja pessoa jurídica ou

física, tem o dever de recolher esse imposto, quando da execução do serviço. O ISS é

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responsável pela maior parte da arrecadação tributária do município de João Pessoa,

configurando-se no principal tributo, e está ligado diretamente a produção e a circulação

econômica. Ao longo de nove anos, tal imposto se manteve como o principal arrecadador de

tributos. No ano 2000, foram auferidos R$ 23.222.084,81, o que correspondeu a 61,70%. Por

sua vez, os dados referentes a 2009 registraram uma arrecadação de R$ 93.203.136,15, o que

equivale a 48,51% das Receitas Tributárias, sendo constatado que os percentuais, referentes a

composição estudada, foram reduzidos, devendo-se isso ao fato do crescimento das demais

espécies de tributos.

e) Taxas – As taxas, como já constatado, são espécies de tributos distintas e que não se

confundem com os impostos. As taxas são cobradas pelo poder público municipal em razão

da prestação de serviços públicos e do exercício regular, por parte da prefeitura, do poder de

polícia. Nesse contexto, pode-se exemplificar a taxa de coleta de resíduos, que a população

pessoense pagou nos anos analisados, como uma taxa relativa a um serviço prestado; e a taxa

de fiscalização de localização e funcionamento de estabelecimentos em geral, como uma taxa

relativa ao poder de polícia. Considerando os dados obtidos da arrecadação, a título do tributo

taxas, do município de João Pessoa, verifica-se que em 2000, a participação nas Receitas

Tributárias foi de 7,67%, totalizando R$ 2.886.728,13. No ano de 2009 foi registrado um

expressivo crescimento de tal participação, correspondendo em 2009 a 11,79%, que equivale

em reais a R$ 22.647.155,62.

f) Contribuições de Melhoria – É o tributo cobrado em razão de obra pública que

decorra em valorização de determinados imóveis. Tal tributo é bastante impopular e de difícil

aplicação, tanto que no período analisado não foi registrado nenhum valor arrecadado de

Contribuição de Melhoria pela PMJP.

4.4 Relação entre as receitas tributárias e o desenvolvimento municipal

Conforme os resultados obtidos, se percebeu que as Receitas Tributárias arrecadadas

pelo município de João Pessoa, obtiveram um crescimento em torno de 410,56% dentro do

período compreendido entre o ano de 2000 e o ano de 2009. Contudo, cabe a esse artigo

também analisar se essa relevante evolução da arrecadação contribuiu para o desenvolvimento

socioeconômico do referido município.

Em conformidade com a perspectiva evidenciada, foi utilizado, para estas análises, o

IFDM que aufere o desenvolvimento dos municípios, analisando três fatores fundamentais:

emprego e renda, educação e saúde. Neste direcionamento foi construída a Tabela 04, para

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Indicador 2000 2009 Variação (%)IFDM 0,6409 0,7862 22,7

IFDM – Emprego e Renda 0,6348 0,8494 33,8IFDM – Educação 0,5764 0,6865 19,1IFDM – Saúde 0,7117 0,8227 15,6

apresentar de forma simplificada os resultados obtidos com o levantamento do IFDM 2011,

ano-base 2009 (mais atualizado) e ano-base 2000, da cidade de João Pessoa, expondo os

dados consolidados e por área.

Tabela 04: Dados do IFDM de João Pessoa

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do IFDM – FIRJAN.

Consoante a exposição da Tabela 04, pode-se verificar que em todos os fatores, objeto

do IFDM, o município de João Pessoa apresentou melhoras. O IFDM consolidado, isto é, que

agrega as três variáveis, no ano de 2000 foi 0,6409, e no ano de 2009 aumentou para 0,7862,

um crescimento de 22,7%.

Considerando as áreas de forma isolada, percebe-se que a maior variação ou fator que

mais contribuiu para a elevação do IFDM, foi o referente ao emprego e renda, que em 2000

apresentou o índice de 0,6348 e que em 2009 chegou ao patamar de 0,8494, o que

corresponde a um crescimento percentual de 33,8%. Por sua vez, a área de desenvolvimento

educação obteve uma variação de 19,1%, passando de 0,5764 no de 2000 para 0,6865 em

2009. Apesar de apresentar crescimento durante o período pesquisado, essa área ainda é a pior

das três que compõe o indicador. No tocante a área da saúde, que juntamente com a educação,

sempre foram os setores mais deficitários do serviço público brasileiro, paraibano e

pessoense, foi observado que dentre os três fatores, foi o que menos evoluiu nos nove anos de

diferença, uma vez que a variação percentual foi de 15,6%, tendo apresentado 0,7117 em

2000 e 0,8227 em 2009.

No geral, infere-se que, em João Pessoa, ainda falta muito para se chegar mais

próximo de 1, ou seja, no ápice da aferição do IFDM. Entretanto é inegável que avanços estão

ocorrendo e, a priori numa avaliação simplista, é possível relacionar o aumento das receitas

tributárias, mesmo que esta não seja a principal fonte de recursos, a elevação destes índices.

Teoricamente, presume-se que com mais recursos próprios disponíveis, a prefeitura deste

município pode desenvolver mais ações locais com vistas à geração de empregos, a uma

distribuição de renda mais equitativa, a melhorias diversas no campo da saúde, e ao

desenvolvimento de uma educação de maior qualidade.

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4.5 Comparação das receitas e do IFDM de João Pessoa com outras capitais da Região

�ordeste.

Conforme verificado na subseção anterior, o município em estudo conseguiu

importantes evoluções no que tange as receitas tributárias e ao IFDM. Conquanto, para uma

análise mais apurada e adequada, convém ser necessário comparar os resultados obtidos,

enfocando a variações percentuais de crescimento, nos anos de 2000 e 2009, com as demais

capitais dos estados da região nordeste. Para tanto, através da Tabela 05 e do Gráfico 02, são

expostas as variações ocorridas relacionadas às receitas tributárias e ao IFDM consolidado,

das cidades supramencionadas:

Tabela 05: Variações das Receitas Tributárias e do IFDM das capitais nordestinas

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da STN e do IFDM (FIRJAN).

Visualizando a Tabela 05, vê-se que a variação das receitas próprias do município de

João Pessoa foi a maior, entre as capitais nordestinas, seguida de São Luís, capital do estado

do Maranhão, que auferiu uma variação positiva de 395,08%. Entretanto, ressalta-se que

acerca do desenvolvimento municipal, mensurado pelo IFDM, as duas cidades não foram as

melhores. João Pessoa, como falado anteriormente teve um crescimento neste índice em

22,7% e São Luís cresceu 20,7%.

Por sua vez, as cidades de Teresina e Maceió, capitais dos estados do Piauí e Alagoas,

respectivamente, tiveram os maiores crescimentos em relação ao IFDM. O município de

Teresina foi o que mais cresceu no referido indicador tendo uma importante variação de

29,57%; além de obter uma variação positiva, não tão expressiva quanto a de João Pessoa, nas

receitas tributárias no período em análise, auferindo em 2009 um percentual de crescimento

de 250% com relação à arrecadação do ano de 2000. Já Maceió, foi a segunda cidade, que

Município Variação das Receitas Tributárias Variação do IFDM

Aracaju 201,63% 19,55%

Fortaleza 182,06% 22,38%

João Pessoa 410,56% 22,66%

Maceió 252,99% 28,75%

Natal 296,01% 21,76%

Recife 189,25% 19,94%

Salvador 165,75% 26,35%

São Luís 395,08% 20,73%

Teresina 250,37% 29,57%

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mais avançou no IFDM, tendo uma variação de 28,75%. Enquanto isso, as receitas tributárias

dessa cidade cresceram 253%.

150,00% 200,00% 250,00% 300,00% 350,00% 400,00% 450,00%15,00%

17,00%

19,00%

21,00%

23,00%

25,00%

27,00%

29,00%

31,00%

IFDM Regressão linear de IFDM

Variação das receitas tributárias

Variação do

IFDM

Gráfico 02: Relação das variações das Receitas Tributárias e do IFDM

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da STN e do IFDM (FIRJAN)

O gráfico de dispersão acima – que permite verificar o comportamento da relação

entre duas variáveis – evidencia que não se tem uma relação direta entre as variações do

IFDM e das receitas tributárias municipais das capitais nordestinas. Além do mais, a partir da

linha de tendência linear, percebe-se que a relação entre essas duas variáveis é levemente

negativa, indicando que em geral as capitais que apresentaram as maiores taxas de

crescimento de arrecadação de tributos possuem, em média, uma tendência de reduzir o

crescimento do indicador de desenvolvimento (IFDM).

Intuitivamente, conforme as informações apresentadas de João Pessoa e das outras

capitais do nordeste, pode-se inferir que não basta só arrecadar mais tributos, é preciso

gerenciar muito bem o produto dessa arrecadação, tendo por finalidade a correta aplicação dos

recursos públicos, e o atendimento das necessidades coletivas.

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5 – CO�CLUSÕES

Os municípios brasileiros, com a Constituição Federal de 1988, ganharam a

competência para instituir tributos próprios, além de muitas novas atribuições. Neste contexto,

esse artigo procurou evidenciar um estudo sobre as receitas tributárias próprias e a suposta

afinidade com o desenvolvimento do município de João Pessoa.

Foram expostos de forma clara e sucinta os montantes das receitas públicas, da

referida cidade, onde se percebeu um relevante crescimento entre os anos de 2000 e 2009. As

receitas públicas arrecadadas em 2000 foram R$ 266 milhões e em 2009, esse número subiu

para mais de R$ 1.039 bilhões. Esse vertiginoso crescimento foi puxado pela principal

categoria das receitas públicas, que são as receitas correntes, apresentando uma evolução de

333%.

Inserida dentro das receitas correntes, as receitas tributárias foram o foco do presente

artigo. Observou-se que tais receitas constituem a segunda maior fonte de recursos da

Prefeitura Municipal de João Pessoa, correspondendo em 2009 a 18,36% das receitas

correntes, e ficando atrás das transferências correntes, que ainda é muito superior. Contudo, as

receitas tributárias foram devidamente detalhadas e analisadas, sendo possível compreender

uma importante evolução de mais de 410%. Os números reais mostram uma arrecadação de

mais de R$ 37 milhões em 2000, e 192 milhões em 2009.

Foi exposta e detalhada, a composição das receitas tributárias, que conforme visto, são

constituídas de impostos, taxas e contribuições de melhoria. Verificou-se que o Imposto sobre

serviços de qualquer natureza (ISS) é o principal tributo em arrecadação do município

pessoense. No ano de 2000, a participação desse tributo no total da arrecadação era de 61,70%

e em 2009, apesar de decrescer, representou 48,51%. Foi observado também, o relevante

crescimento do Imposto de transmissão de bens inter-vivos (ITBI), que se tornou o segundo

imposto de maior arrecadação, fato esse que pode ser atribuído ao aquecimento do mercado

imobiliário, ocorrido nos últimos anos. No mais, verificou-se um bom crescimento da

arrecadação das taxas, e nenhum valor arrecadado a título de contribuição de melhoria.

No tocante a mensuração do desenvolvimento municipal, foram trazidos os dados do

IFDM de João Pessoa. Tanto no IFDM consolidado, quanto nas áreas específicas de emprego

e renda, saúde e educação, houve crescimento dos indicadores. O IFDM geral, que em 2000

era 0,6409 e em 2009 passou 0,7862, obteve uma variação positiva de 22,7%.

Analisando de maneira simples, percebeu-se uma ligação entre o aumento da

arrecadação tributária, e os avanços do IFDM. Entretanto, ao comparar os dados obtidos do

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município em estudo com as demais capitais da região nordeste, observou-se que as cidades

que tiveram as maiores variações em sua base tributária, não tiveram os resultados mais

satisfatórios no IFDM. Por sua vez, aquelas cidades que tiveram os melhores resultados no

IFDM, obtiveram variações positivas das receitas tributárias menores do que João Pessoa e

São Luís que tiveram as maiores crescimentos das receitas.

Considerando a análise dos resultados, evidencia-se que, mesmo com aumento dos

recursos públicos, e com melhorias no campo do desenvolvimento socioeconômico, a

Prefeitura Municipal de João Pessoa, assim como as de outras capitais, precisa gerir de forma

mais eficiente os importantes recursos tributários que arrecada, buscando assim, atender com

qualidade e prontidão, as principais demandas da população.

Apontam-se como limitações desse trabalho, umas pequenas divergências encontradas

em alguns dados das receitas públicas. No entanto, optou-se por trabalhar com as informações

da STN, pois foi verificado que essa fonte é mais fidedigna e dispõe melhor os dados

referidos.

Por fim, para futuros estudos, sugere-se que as análises acerca do desenvolvimento

socioeconômico, possam ser feitas com mais profundidade, procurando compreender e

explicar melhor, o relacionamento existente entre os recursos públicos auferidos e ações

desenvolvidas pelo poder público para a sociedade.

MI�ICURRÍCULO Thiago da Silva Lins Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal pela UFPB Contador do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA) da UFPB, na cidade de Bananeiras-PB. E-mail: [email protected]

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