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Pós-Graduação em Direito Público Disciplina: Direito Tributário LEITURA OBRIGATÓRIA – AULA 6 ÍNDICE LEITURA OBRIGATÓRIA 1..... P. 02 A 22 LEITURA OBRIGATÓRIA 2..... P. 23 A 29

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Pós-Graduação em Direito Público

Disciplina: Direito Tributário

LEITURA OBRIGATÓRIA – AULA 6

ÍNDICE

LEITURA OBRIGATÓRIA 1..... P. 02 A 22

LEITURA OBRIGATÓRIA 2..... P. 23 A 29

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A REFORMA PROCESSUAL TRIBUTÁRIA E O DEBATE EM TORNO DA NOVA LEI DE EXECUÇÃO FISCAL

1 Introdução e contornos do problema

O estoque da dívida federal, o volume de execuções fiscais, a média de

duração desses processos e as preocupações da Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional suscitaram conjunto de soluções gerenciais e legislati-

vas que apontam para a necessidade da desjudicialização da execução

fiscal.

A melhoria em cadastros e fluxos de informações, o uso da informática

e de processos eletrônicos, bem como a simplificação na forma de qui-

tação de débitos ajuizados, são insuficientes para um enfrentamento

adequado do problema. Os relatórios de gestão da Procuradoria-Geral

da Fazenda Nacional (2008) dão conta de uma dívida de 565 bilhões de

reais que precisa ser cobrada.

O modelo brasileiro de cobrança judicial de créditos tributários, plas-

mado na Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, que dispõe sobre a

cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública e dá outras provi-

dências, esgota-se pela própria seiva. Exige alternativas. O texto vigen-

te substituiu o Decreto-Lei nº 960, de 17 de novembro de 1938,1 que por

sua vez emendou o Decreto nº 10.902, de 29 de maio de 1914,2que ain-

da substancializava excertos do Regulamento nº 737, de 25 de novembro

de 1850. Arqueologia normativa remete o interessado aos títulos IX, X,

XII e XIII, do Livro Primeiro, das Ordenações Filipinas.3

O modelo que se tem é centrado na atuação do Poder Judiciário, para

onde se deslocam quase todas as discussões fiscais, produzindo-se im-

pressionante multiplicação de procedimentos e de medidas, com prejuí-

zos para a Administração e para os Administrados, orçados sobremodo

nos custos que provocam.

O Poder Judiciário pode transformar-se em instância especializada para

cobrança de créditos públicos. Vê-se dividido entre deveres de neutrali-

dade (que a segurança jurídica exige) e de eficiência (anelo do Fisco e

dos contribuintes). O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem lutado in-

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cessantemente pela diminuição do quadro preocupante relativo ao nú-

mero de execuções fiscais que há no Brasil. Há notícia de acordo firma-

do entre o CNJ e procuradorias estaduais e municipais, noticiado no sí-

tio eletrônico do CNJ, em 18 de agosto de 2009. Ao que consta, o acor-

do seria medida relativa a esforços no sentido do cumprimento de meta

estabelecida pelo CNJ, pertinente à necessidade de julgamento, até o

fim de 2009, de todos os processos distribuídos até 2005.

Noticiou-se que no Estado de São Paulo há cerca de um milhão de pro-

cessos de execução fiscal aguardando julgamento. Nos termos do acordo

firmado, Procuradores de 27 estados teriam se comprometido a formali-

zar acordos e conciliações para a diminuição do congestionamento dos

tribunais. Tem-se como premissa a necessidade da diminuição dos cus-

tos com processos de execução fiscal. O modelo atual é inadequado e

precisa de urgente revisão. É o tema do presente artigo.

2 A execução fiscal no direito comparado

Modelos estrangeiros apontam com miríade de alternativas factíveis en-

tre nós. Por exemplo, no direito espanhol a execução fiscal se processa

em âmbito administrativo, cabendo à Administração tributária apreciar,

julgar e executar. O direito espanhol concebe duas fases ao longo das

quais conta com o recebimento dos créditos tributários que detém; pri-

meiramente, uma fase de recolhimento voluntário e, em seguida, uma

fase executiva. Na Espanha, à Administração fiscal a legislação outorga

conjunto amplo de prerrogativas, inclusive autorizando-se o implemento

administrativo de medidas cautelares. A autoridade fiscal espanhola

tem livre acesso a documentos que tenham relação com o objeto da in-

vestigação. No entanto, para se investigar alguns casos, necessita-se de

auto rização judicial em face de proteção constitucional do âmbito ou

da natureza do que pretende investigar.

No México, há previsão legal para que se faça a penhora administrativa

provisória nos bens do devedor. A confecção de penhora exige ata cir-

cunstancializada. O lançamento antecede o procedimento de penhora,

necessariamente. A autoridade fiscal está autorizada a indisponibilizar

administrativamente os bens do devedor. A indisponibilidade pode ser

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decretada, entre outros, com o desaparecimento do devedor, ou com a

recorrente falta de colaboração do devedor mencionado. A irregulari-

dade do contribuinte, em circunstâncias que fogem à execução fiscal

administrativa, também qualifica e justifica a indisponibilidade adminis-

trativa.

No Chile, a execução fiscal conta com duas fases bem distintas, uma

administrativa e uma judicial. É o agente fiscal local quem conduz a

execução fiscal, em seus primeiros passos, ainda em âmbito adminis-

trativo. O agente administrativo pode, na primeira fase, efetivar a pe-

nhora. No segundo passo, judicial, a matéria é de competência de um

advogado público, conhecido como advogado provincial. Compete a

umTesorero General de la Republica a articulação do conjunto de ações

e de diligências administrativas no interesse do fisco. A esta autoridade

a lei confere discricionariedade para não levar adiante a cobrança de

débitos de pequeno valor. Nesta última hipótese, tem-se a suspensão da

exigibilidade do crédito tributário.

No Chile, a execução e consequente penhora são inicialmente conduzi-

das pelo agente fiscal local, que atuará como 'juiz presidente do feito'.

A penhora é ampla. Autoriza-se, inclusive, a penhora do salário do exe-

cutado, com limites, garantindo-se ao devedor o mínimo para sobrevi-

vência. Penhoram-se também créditos que o executado tenha, comuni-

cando-se aos respectivos responsáveis. Na execução fiscal, ainda que

em âmbito administrativo, o agente que conduz o processo pode reque-

rer força policial. Imóvel sob o qual incida execução fiscal pode ser pe-

nhorado ao longo do processo executivo. Pode haver reforço de penho-

ra, ao longo do processo executivo.

A execução fiscal no Peru segue modelo administrativo. O executado

pode invocar o Poder Judiciário uma vez esgotadas as instâncias admi-

nistrativas. A execução é proposta e conduzida por um 'ejecutor admi-

nistrativo', bacharel em Direito que representa e julga pela Fazenda Pú-

blica no modelo peruano. O 'ejecutor administrativo' conta com auxilia-

res, denominados de 'auxiliares coativos'. O procedimento de cobrança

administrativa é instruído por documentos que espelham o débito; não

se tem uma certidão de dívida ativa, a exemplo do que conhecemos no

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modelo brasileiro; por exemplo, uma decisão administrativa determi-

nando o recolhimento de uma exação ou documento dando conta de

descumprimento de parcelamento podem instruir o procedimento.

Na Bolívia a execução fiscal é exclusivamente administrativa, mesmo

quando o fisco execute sentença judicial. A Administração detém com-

petência para apreciar todos os incidentes. O contencioso admi-

nistrativo não afasta do modelo boliviano o princípio da unidade jurisdi-

cional, previsto no texto constitucional. O leilão é feito pela Adminis-

tração e pode ser terceirizado. Há possibilidade de protocolo de embar-

gos de terceiros. Veda-se o concurso do leilão com procedimentos de

liquidação em outros feitos, a exemplo de concordatas. Veda-se que

funcionários da Administração possam arrematar os bens leiloados,

mesmo por interpostas pessoas. Há regras específicas para leilão de

mercadorias apreendidas como consequência do descumprimento da

legislação aduaneira.

Na Argentina, o modelo de execução fiscal conta com etapas admi-

nistrativas e judiciais, com preponderância nos atos da Administração.

Ainda em âmbito judicial tem-se um Tribunal Fiscal, com competência

para apreciar matérias tributárias, em grau de recurso. Ao longo da

execução fiscal, em fase administrativa, agentes fiscais podem penho-

rar, citar, bem como tomar medidas cautelares. A autoridade fiscal po-

de solicitar ordem de busca e apreensão, que deve ser dirigida ao judi-

ciário. A autoridade fiscal tem prerrogativas para suscitar o fechamento

de estabelecimentos, especialmente em face de presunção de que o

devedor não recolha os valores cobrados pelo fisco. É o próprio agente

fiscal quem propõe a execução fiscal, ainda em âmbito administrativo.

O agente fiscal confecciona mandado de intimação para pronto paga-

mento, podendo ainda efetivar penhora imediata nos bens do devedor.

Pode ser feita a penhora de contas bancárias, fundos e valores deposi-

tados em entidades financeiras.

Nos Estados Unidos da América há possibilidade de execução fiscal ad-

ministrativa e judicial; verifica-se, na prática, a utilização de modelos

administrativos. A literatura especializada elogia a cobrança administra-

tiva por conta da celeridade, da agilidade e da eficiência. Concentra-se

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na cobrança de dívidas plausíveis de serem alcançadas, com margem de

discricionariedade, buscando-se equilíbrio entre custo e benefício. A

legislação penal norte-americana fomenta a prática administrativa de

cobrança de créditos fiscais, na medida em que há previsão de duras

penas pelo não recolhimento de tributos.

Vinga nos Estados Unidos o conceito de Voluntary Compliance, isto é, o

recolhimento de tributo é obrigação que qualifica dever fundamental do

cidadão. De tal modo, o ponto de partida da atuação do fisco norte-

americano, especialmente é comprometimento do contribuinte, no sen-

tido da obrigatoriedade do recolhimento de tributos. Raramente o con-

tribuinte discute em juízo o lançamento tributário.

A execução fiscal administrativa norte-americana reporta-se, inicial-

mente, à inscrição do débito (assessment of tax). O agente público em

seguida preenche um documento (form 23-C, assessment certificate),

identificando o contribuinte e a natureza da dívida. Após a identificação

da inscrição em rol de devedores o fisco tem 60 dias para notificar o

contribuinte, para pronto pagamento. Tem em seguida 10 anos para co-

brar o débito, administrativa ou judicialmente.

Na França, a execução fiscal é caracterizada por modelo essencialmente

administrativo. A Administração deve tomar providências que antece-

dem as medidas coercivas, sob pena de invalidá-las. Emite avisos de co-

brança, envia notificações de inscrição, confecciona e encaminha cartas

de lembrança, notifica o contribuinte de que este está em mora, pro-

move aviso dando conta de que a penhora é iminente.

Em Portugal, a execução fiscal é denominada de cobrança coerciva. A

legislação de regência indica competência do representante da Fazenda

Pública para conduzir a execução nos órgãos periféricos e regionais, ou-

torgando-se ao Ministério Público a competência para conduzir a exe

cução fiscal nos tribunais tributários. O redirecionamento do feito é

possível, e denominado de chamamento à execução dos responsáveis

subsidiários.

3 O projeto de lei da nova execução fiscal

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O novo modelo que se pretende aprovar prevê o uso subsidiário do Códi-

go de Processo Civil. Define dívida ativa como qualquer valor atribuído

por lei ou contrato à União, Estados, Distrito Federal, respec tivas au-

tarquias e fundações de direito público, de natureza tributária ou não

tributária, com atualização monetária, juros, juros de mora e encargos.

O termo de inscrição deve indicar nome, CPF, CNPJ, de devedores e

corresponsáveis, domicílio, residência, valor originário individuali zado,

origem, natureza e fundamento legal ou contratual da dívida, atua-

lização monetária, data e número da inscrição e do processo administra-

tivo, do auto de infração e da data da entrega da declaração.

Cancelando, emendando ou substituindo a certidão de dívida ativa a

Fazenda Pública deverá recolher valores de sucumbência, nos termos do

§4º do art. 20 do Código de Processo Civil. Os atos de constrição prepa-

ratória e provisória serão praticados pela Fazenda, cabendo seu contro-

le ao Poder Judiciário.

Para efeitos de investigação patrimonial cogita-se de um Sistema Nacio-

nal de Informações Patrimoniais dos Contribuintes, administrado pelo

Ministério da Fazenda, inclusive fomentado com informações da Secre-

taria da Receita Federal do Brasil e dos órgãos e entidades públicos e

privados que, por obrigação legal, operem cadastros. Os aludidos cadas-

tros seriam também disponibilizados aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Municípios.

Com a inscrição notifica-se o devedor para, em 60 dias, pagar (com os

encargos), parcelar, depositar administrativamente, prestar fiança ban-

cária ou seguro-garantia. Depois de regularmente notificado o devedor

poderá arguir, em 30 dias, fundamentadamente, e sem efeito suspensi-

vo, perante a credora, pagamento, compensação, matérias de ordem

pública e todas as nulidades que julgar ocorrentes.

A constrição preparatória é efetivada com despacho da autori dade ad-

ministrativa. Implica em avaliação dos bens do devedor. Este poderá,

em 15 dias, contados da intimação, impugnar a avaliação dos bens pe-

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rante o órgão de cobrança, indicando o valor que entenda correto, de-

vendo o órgão responder à impugnação, fundamentadamente, no mes-

mo prazo.

O oficial da Fazenda Pública, independentemente de qualquer outra

formalidade, entregará certidão de inteiro teor da constrição ou de

constituição de garantia para o registro no ofício imobiliário, ou nos ca-

dastros públicos ou privados pertinentes. A Fazenda deverá ajuizar a

execução fiscal em 30 dias contados da constrição ou em três dias, se

esta for sobre dinheiro.

A constrição preparatória poderá ser convertida em arresto. A sentença

que rejeitar liminarmente a execução tornará sem efeito a constrição

preparatória ou provisória. O despacho do juiz que deferir a inicial im-

plica em ordem para citação, convolação da constrição preparatória em

penhora ou arresto, intimação do executado, registro da penhora ou

arresto, independentemente do pagamento de custas ou despesas.

Permite-se, em qualquer momento, antes do ajuizamento da execução,

por parte da Fazenda, ou pelo Juiz, após o ajuizamento, a substituição

da garantia por depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garan-

tia. O devedor poderá impugnar judicialmente os atos da Fazenda, em

15 dias. O executado poderá embargar, em 30 dias, sem que se tenha a

suspensão da execução.

4 As críticas ao projeto

Há miríade de críticas ao projeto de lei de nova execução fiscal, de am-

pla divulgação na imprensa. Escolhe-se para comentar, como exemplo,

pela qualidade, profundidade e abrangência, bem como pela notória

especialidade, o entendimento externado pelo Conselho Federal da Or-

dem dos Advogados do Brasil (OAB). São dois relatórios, densos, e muito

bem elaborados.

Em linhas gerais os dois relatórios são muito parecidos: assemelham-se

nos motivos determinantes, na linha de raciocínio, na multiplicação de

adjetivos. Divergem, tão somente, nas conclusões; embora, bem enten-

dido, apenas do ponto de vista formal: no primeiro relatório sugere-se a

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formação de uma comissão para discussão dos projetos de reforma da

lei processual tributária encaminhados pelo Poder Executivo, no último

opina-se pela rejeição absoluta das iniciativas.

Produzido no âmbito do Processo nº 2010.19.000912-03, o primeiro rela-

tório (lido em sessão em Brasília, em 9 de março de 2010) principia por

mencionar (e reproduzir) manifestação que fora encaminhada a deputa-

do federal no documento nominado. O texto reproduzido no corpo do

primeiro relatório, ao que consta, fora preparado pela Comissão Especi-

al de Assuntos Tributários da OAB. Invocou-se que o projeto inverte a

presunção de inocência, consagrada pelo artigo 5º, inciso LVII, da Cons-

tituição Federal criando a necessidade de provar aquilo que a própria

Constituição já presume suficiente, que é a boa fé. Tal imprecação de-

correria de tentativa de alteração no art. 134 do Código Tributário Na-

cional.

Nos termos da referida manifestação a exposição de motivos do projeto

de lei aqui comentado não esconderia a intenção no sentido de se con-

ceber sistema de investigação patrimonial com acesso a dados financei-

ros e patrimoniais dos cidadãos, no qual constrições fossem feitas por

oficiais da Fazenda Pública, que gozariam de prerrogativas exclusivas

dos oficiais de justiça, inclusive com poder de arrombamento (mediante

autorização judicial); tudo submetido a crivo superveniente do Poder

Judiciário. Nos termos da dicção livre por vezes utilizada, o Estado fa-

ria sua justiça com as próprias mãos.

Fez-se menção também a opinião de renomado juspublicista, que teria

afirmado que a função dos Procuradores da Fazenda Nacional tornar-se-

ia incompatível com o exercício da advocacia, porquanto Procuradores

também exerceriam funções de características judiciárias. A penhora

administrativa e suposta apreciação de exceção de pré-executividade

incompatibilizariam o Procurador da Fazenda com o exercício da advo-

cacia.

Sob o título de Análise e Parecer da Comissão Especial do Conselho Fe-

deral da OAB constituída em 02.03.2010 veio a público o segundo rela-

tório. Principia-se com afirmação de que [os projetos] inovam a legisla-

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ção tributária brasileira em diversos aspectos (...). A título de introdu-

zir modificação no sistema de Execução de Dívida Ativa concedem ao

Poder Executivo novos, amplos e inusitados poderes investigativos, fis-

calizatórios e punitivos ao contribuinte, além de atribuir, em várias

circunstâncias, competências do Poder Judiciário ao próprio credor da

ativa, em franca violação aos princípios magnos do Estado de Direito.

Na compreensão do segundo relatório os projetos tramitariam célere e

discretamente no Congresso Nacional. Anotou-se que esta indispensável

discussão que ora se faz, justamente descortina uma intervenção auto-

ritária, e mesmo arbitrária, da administração fiscal na vida privada dos

cidadãos brasileiros sob um viés maniqueísta de que todo contribuinte é

um potencial sonegador e fraudador do fisco. Na mira do bem co-

mum, em seu sentido mais amplo, o relatório se rotula como instrumen-

to da preservação dos direitos e garantias fundamentais do cidadão.

Mais à frente consignou-se que a crítica da OAB seria mais no sentido de

que os projetos descartariam certa presunção de honestidade que ronda

a matéria. Referiu-se também a uma carga tributária esmagadora e a

uma feroz burocracia legal e regulamentar. O projeto, ainda nesse pas-

so, transformaria contribuintes em fiscais ad hoc da Receita. Observou-

se também que administrador de indústria, comércio ou empreendimen-

tos poderá ter patrimônio arrestado se não cumprir diligentemente

obrigações tributárias. E que também o projeto estabeleceria obrigato-

riedade de pagamento de tributos em detrimento de outras despesas.

Retomou-se a ideia de inversão de presunção de inocência, já anunciada

no primeiro relatório. Ainda, o projeto pretenderia a destruição do de-

ver de lealdade e do compromisso do administrador com a empresa.

Na sequência, após reprodução de editorias de jornais de grande circu-

lação, há excertos de fala de um dos advogados consultados, em tom de

alerta. Lê-se que se pretende a introdução da inusitada figura, no sis-

tema tributário pátrio, da sujeição passiva indireta derivada da 'não

delação' ao governo!

Reproduziu-se também conjunto de argumentações de autoria de ilustre

Conselheiro da OAB. Há restrições e senões para com os seguintes pon-

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tos, nomeadamente: a) possibilidade de inclusão, a qualquer tempo, de

corresponsáveis no termo de inscrição em dívida ativa; b) honorários de

sucumbência fixados com base no §4º do art. 20 do Código de Processo

Civil; c) prática de atos de constrição patrimonial por parte da Fazenda

Pública; d) criação de um sistema nacional de informações patrimoniais

dos contribuintes; e) quebra de sigilo bancário sem autorização judicial;

f) ampliação das hipóteses nas quais a cobrança da dívida ativa poderá

ser direcionada aos sócios das pessoas jurídicas; g) imposição de um

conjunto de obstáculos para que o contribuinte possa ter livre acesso ao

Judiciário; h) concepção de atos atentatórios à dignidade da Justiça.

Por fim, no sentir do ilustre Conselheiro, o projeto de lei em comento

só estabelece regras em favor do Fisco (...) nenhuma regra em defesa

dos contribuintes (...) não queremos ser julgados pelo fisco (...) não

queremos que a cobrança da dívida ativa se faça sem a intervenção do

Poder Judiciário (...) muito menos que constrições judiciais ou investi-

gações patrimoniais, com quebra de sigilo bancário, sejam realizadas

sem a intervenção do Poder Judiciário.

Na continuidade, há o registro da opinião do eminente Professor Doutor

que atua na Universidade de São Paulo, para quem, ao que consta, o

Projeto de Lei 5.080/09 deveria ir para a lata do lixo. Segundo aquela

autoridade acadêmica, os artigos 9º, 10, 11, 12, 13, 15, 17, e 25, §2º,

do Projeto de Lei nº 5.080/09 violariam o primado da reserva de jurisdi-

ção. Citou-se, inclusive, excerto de julgado do Ministro Celso de Mello

(produzido no Mandado de Segurança nº 23.452-RJ) a título de ilustração

do postulado da reserva constitucional de jurisdição.

Na conclusão, opinou-se pela rejeição integral dos projetos, bem como

de quaisquer outros a eles apensados, com proposições de semelhante

natureza.

5 Reflexões e contraponto em torno das críticas ao projeto de lei de

execução fiscal

No entender do primeiro relatório apresentado pela OAB, o projeto de

lei inverte a posição de inocência. Ao que consta, a presunção de ino-

12

cência é matéria de direito penal, entranhada na tradição iluminista e

racional ocidental. A presunção de inocência é categoria conceitual que

se qualifica em face de trânsito em julgado de sentença penal condena-

tória. É o que se lê, por exemplo, no inciso LVII, do art. 5º, do texto

constitucional vigente: ninguém será considerado culpado até o trânsito

em julgado de sentença penal condenatória.

Especialmente em âmbito de execução fiscal não se pode definir como

premissa a presunção de inocência. É que o título executivo que apare-

lha a execução é documento que goza de certeza e de liquidez, em re-

lação ao qual há presunção relativa militando em favor do fisco, nos

exatos termos do art 3º da Lei nº 6.830 de 22 de setembro de 1980.

Assim, em execução fiscal não há que se falar em presunção de inocên-

cia, que é matéria de direito penal. O marco conceitual que orienta

qualquer operação de compreensão nesse campo é a presunção relativa

de que o título que fomenta a execução seja líquido e certo.

Com a inscrição em dívida ativa a presunção milita em favor do Fisco.

Não é outra a compreensão do art. 185 do CTN que dispõe que presume-

se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu co-

meço, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por

crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.

A matéria conta com amplo suporte jurisprudencial, a exemplo do deci-

dido pelo STJ no REsp nº 28.142/SP, relatado pelo Ministro Demócrito

Reinaldo, em junho de 1998, quando fixou-se que presume-se fraudu-

lenta a alienação de bens (ou seu começo) por sujeito passivo em débi-

to para com a Fazenda Pública por crédito tributário regularmente ins-

crito como dívida ativa e em fase de execução. A presunção de fraude,

consoante definição legal (art. 185 do CTN) é juris et de jure, inadmi-

tindo prova em contrário.

Afirmou-se que a imputação de responsabilidade subsidiária pelo crédito

tributário a quem dolosamente omita, retarde ou preste falsamente in-

formações requisitadas pela Fazenda Nacional seria medi-

da irrazoável, desproporcional, e que fere o devido processo legal.

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O modelo que se pretende é prática comum em vários países, a exemplo

do que se tem no contexto processual administrativo e tributário norte-

americano. A regra, em princípio, especialmente no modelo norte-

americano, é dirigida a advogados e contadores, de quem se espera po-

sição de lealdade (loyalty) e de confidência (confidentiality) para com

respectivos clientes, pautando-se compromisso com absoluto e exato

cumprimento da legislação.

Por exemplo, nos Estados Unidos o regulamento do imposto de renda

prescreve multa de 250 mil dólares por inveracidade nas informações

prestadas pelo contribuinte ou por quem em seu nome encaminhou-as

ao fisco. Advogados e contadores têm obrigação de advertir clientes dos

riscos e problemas que enfrentam ao tentarem opções tributárias que

caracterizem descumprimento do ordenamento legal fiscal. A legislação

é construída de maneira a vincular o contribuinte a seu representante,

seja advogado ou contador.

O que se pretende é técnica indutora de comportamento. No âmbito

mais sistemático o modelo que se pretende (responsabilização subsidiá-

ria) é inserido num contexto de boa-fé e a prova, na hipótese, é do fis-

co, isto é, de quem alega o fato.

As críticas dão conta também que há interesse do fisco em promover

intensa investigação patrimonial relativa ao patrimônio do contribuinte.

Não há nenhuma novidade na assertiva. A execução fiscal exige que o

Fisco se movimente com agilidade, com segurança, e que diligentemen-

te indique ao Judiciário (no modelo atual) os bens que pretende penho-

rar. Segue-se o rito que decorre do art. 11 da Lei nº 6.830, de 1980, de

modo que ao Fisco compete indicar se o devedor é detentor de dinhei-

ro, de título da dívida pública ou de crédito (desde que tenham cotação

em bolsa), pedras e metais preciosos, imóveis, navios e aeronaves, veí-

culos, móveis ou semoventes, bem como direitos e ações.

E é por intermédio de um intenso movimento de investigação que o Fis-

co pode alcançar tais informações. Oficia-se ao Cartório de Registro de

Imóveis. Oficia-se ao Departamento Nacional de Trânsito. Oficia-se à

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Comissão de Valores Mobiliários. Oficia-se a bancos. É todo um trabalho

de investigação que antecede a penhora ou o arresto, com o qual cola-

bora o Poder Judiciário, e refiro-me também a fórmulas presentes e efi-

cientes, a exemplo do Bacenjud. É o que colhe do decidido no Superior

Tribunal de Justiça no AgR no Ag nº 1040777-BA, relatado pelo Ministro

Mauro Campbell Marques, em 17 de fevereiro de 2009.

Criticou-se também que o modelo prevê constrição sem intervenção do

Poder Judiciário. De fato, o novo modelo de execução fiscal que se pre-

tende implementar prevê ato de constrição preparatória e provisória,

de competência da Fazenda Pública credora, cabendo seu controle ao

Judiciário. Como já observado, precedida de notificação, que dará ao

devedor 60 dias para pagar, parcelar ou garantir o crédito reclamado, a

referida notificação também abrirá prazo de 30 dias para que o notifi-

cado possa invocar pagamento, compensação, matérias de ordem públi-

ca, bem como outras relativas à nulidade da dívida cobrada. E poderá

desconstituir judicialmente a penhora. Além do que, é apenas o juiz

quem poderá autorizar que a constrição preparatória se converta em

penhora definitiva. A Fazenda Pública deverá ajuizar a execução fiscal

em 30 dias, contados da realização da referida constrição preparatória.

O devedor poderá impugnar os atos praticados pela Fazenda Pública.

Não se proibirá, em nenhum momento, a provocação ao Judiciário, por

parte do executado. Aos autores do projeto certamente não escapou a

elementar lição (hoje constitucionalizada) de que a lei não pode excluir

do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça de direito. Feita a penho-

ra (administrativa) a cobrança seguirá para as Varas da Fazenda Pública

que julgarão os embargos e a impugnação destes, feita pelo credor.

A constrição de que se cogita é preparatória. Depende, para se tornar

definitiva, da autorização do Poder Judiciário. Observe-se, ainda, que é

ao próprio Poder Judiciário que o modelo mais atende, num primeiro

momento. É que é meta prioritária do Conselho Nacional de Justiça

(meta 3), tal como definida no 3º Encontro Nacional do Judiciário, ocor-

rido em fevereiro de 2010, do qual participaram dirigentes de todos os

segmentos do Sistema de Justiça Brasileiro, reduzir, em 20%, em 2010,

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o acervo de execuções fiscais, tendo como referência o acervo de 31 de

dezembro de 2009.

A imputação do procedimento de penhora para o Poder Executivo aten-

de concreta e objetivamente à meta 3, na medida em que a não locali-

zação de bens passíveis de penhora desonera o Poder Judiciário, que

presentemente administra imenso passivo de execuções, suspensas por

força do fato de que não se encontraram bens do devedor.

Argumentou-se que o fisco teria poderes de arrombamento. De certa

forma, ainda que sob outro enfoque, o art. 200 do Código Tributário Na-

cional já dispõe que as autoridades administrativas federais poderão

requisitar o auxílio de força pública federal, estadual ou municipal, e

reciprocamente, quando vítimas de embaraço ou desacato no exercício

de suas funções.

Além do que, sempre, segue-se orientação constitucional, legal e juris-

prudencial que informa este problema clássico. Sempre, qualquer mo-

vimentação é precedida de provocação e autorização judicial. Nesse

sentido, lê-se, com todas as letras, no art. 33 do projeto de lei de exe-

cução fiscal que mediante requerimento da Fazenda Pública, instruído

com certidão de que trata o art. 32 [procedimento do devedor a fim de

obstar a penhora ou o desapossamento de bens] o juiz competente para

conhecer da execução autorizará o arrombamento e outras medidas que

se fizerem necessárias para garantir o livre acesso dos oficiais da Fa-

zenda Pública aos bens do devedor, determinando a expedição de man-

dado de arrombamento.

Deverá o fisco respeitar, sempre, o conteúdo do julgado pelo Supremo

Tribunal Federal no HC nº 93.050/RJ, relatado pelo Ministro Celso de

Mello, em julgado de junho de 2008. De igual modo, o decidido pelo Mi-

nistro Sepúlveda Pertence no ARRE nº 331.307-7, junto à 2ª Turma do

Supremo Tribunal Federal, em julgado datado de fevereiro de 2004,

ementa em seguida reproduzida:

Prova: alegação de ilicitude da prova obtida mediante apreensão de do-

cumentos por agentes fiscais, em escritório de empresa - compreendido

16

no alcance da garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio - e

de contaminação das provas daquela derivadas: tese substancialmente

correta, prejudicada no caso, entretanto, pela ausência de demonstra-

ção concreta de que os fiscais não estavam autorizados a entrar ou

permanecer no escritório da empresa, o que não se extrai do acórdão

recorrido. 1. Conforme o art. 5º, XI, da Constituição - afora as exceções

nele taxativamente previstas ("em caso de flagrante delito ou desastre,

ou para prestar socorro") só a "determinação judicial" autoriza, e duran-

te o dia, a entrada de alguém - autoridade ou não - no domicílio de ou-

trem, sem o consentimento do morador. 2. Em consequência, o poder

fis calizador da administração tributária perdeu, em favor do reforço da

garantia constitucional do domicílio, a prerrogativa da auto-

executoriedade, condicionado, pois, o ingresso dos agentes fiscais em

dependência domiciliar do contribuinte, sempre que necessário vencer

a oposição do morador, passou a depender de autorização judicial pré-

via. 3. Mas, é um dado elementar da incidência da garantia constitucio-

nal do domicílio o não consentimento do morador ao questionado in-

gresso de terceiro: malgrado a ausência da autorização judicial, só a

entrada invito domino a ofende.

A presença do Poder Judiciário no controle e monitoramento da execu-

ção fiscal que se pretende aprovar afasta alegações de que o Estado es-

taria fazendo a sua justiça com as próprias mãos. Observou-se ainda

que a responsabilidade pela insuficiência da cobrança seria da própria

Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. A observação apenas sufraga a

prestabilidade e a adequação dos projetos que se tenta aprovar. Insista-

se, o estoque de créditos tributários, o volume de execuções, a média

de duração desses processos e o desperdício de energia burocrática sus-

citam conjunto de soluções gerenciais e legislativas que aponta, entre

outros, para a necessidade de uma nova lei de execução fiscal. Reitere-

se, o sistema atual, fixado em lei de 1980, encontra-se esgotado pela

própria seiva: inoperante, mais preocupado com procedimentos do que

com resultados, lento, é o aliado perfeito do devedor contumaz.

A melhoria em cadastros e fluxos de informações, o uso da informática

e de processos eletrônicos, bem como as simplificações na forma de

quitação de débitos ajuizados, não foram suficientes para enfrenta-

17

mento definitivo do problema. A ineficiência da cobrança decorre do

uso de um modelo cogitado para o ano de 1980, e que reproduzia a con-

cepção de execução e de modelo processual que então se conhecia.

Afirmou-se que os Procuradores da Fazenda seriam excluídos da OAB

porquanto exerceriam funções judiciais, que são incompatíveis com o

exercício da advocacia. Em nenhum momento o Procurador da Fazenda

exercerá funções judiciais. Pelo contrário, é hoje o Judiciário quem

exerce funções executivas. E tanto assim o é, que o Judiciário indica em

suas estatísticas os valores que recolhe, que cobra, nas execuções fis-

cais que administra. A partir da penhora o procedimento segue para o

Poder Judiciário. É lá que se julgam os embargos. É no Judiciário que o

procedimento se desdobra.

O fato de que o Fisco exija informações corretas por parte de quem as

presta é mero reflexo da boa-fé que deve nortear essa complexa rela-

ção. Não deixará de ser leal para com a empresa ou para com o empre-

gador quem paute seu comportamento em torno de valores que sugiram

a adesão incondicional à verdade que informa a vida real.

Insurgiu-se com a possibilidade de inclusão, a qualquer tempo, de ou-

tros responsáveis, no termo de inscrição em dívida ativa. De fato, na

redação do projeto de lei que se pretende adiantar dispõe-se que o

termo de inscrição em dívida ativa poderá, a qualquer tempo, ser adi-

tado para a inclusão de corresponsáveis. Por outro lado, registre-se, o

projeto de lei também dispõe que quando a Fazenda Pública cancelar,

emendar ou substituir a certidão de dívida ativa deverá pagar honorá-

rios de sucumbência (...). Em outras palavras, inadequada a inclusão do

corresponsável responde a Fazenda Pública que se torna devedora de

honorários de sucumbência. Além do que, independentemente de ins-

crição em dívida ativa o Fisco pode executar o sócio, a exemplo do jul-

gado pela 5ª Câm. Civ. do TJRJ, em decisão unânime, ADV nº 8898,

1993, no sentido de que embora os sócios só respondam pelas dívidas

fiscais da sociedade nas hipóteses previstas no CTN, não é exigível a

inclusão de seus nomes na certidão da dívida ativa para que o Fisco,

sendo o caso, possa promover contra eles a execução.

18

E no que toca a hipótese da Fazenda Pública ser condenada a reco lher

honorários, há também críticas, porquanto a fixação far-se-á com base

no §4º do art. 20 do Código de Processo Civil. O executado paga honorá-

rios de acordo com o montante da dívida. A Fazenda Pública pagaria de

acordo com a apreciação equitativa do Juiz. Não há quebra de isono-

mia. A isonomia é conceito relacional. Sugere e decorre de mecanismos

de comparação. E as grandezas são distintas. A regra atende a um re-

clame de proporcionalidade. E é do Judiciário, sem dúvida, o poder pa-

ra fixar valores de honorários. Se verbas honorárias são fixadas em pa-

râmetros liliputianos a questão não se resolve no projeto de lei de exe-

cução fiscal.

Também se registrou queixa no sentido de que não se pode tolerar que

a Fazenda Pública pratique, extrajudicialmente, atos de constrição pa-

trimonial (...) tal proposta contraria a previsão contida no inciso LIV do

art. 5º da CF. Não há constrição de bens, em âmbito administrativo,

sem o sufrágio do Poder Judiciário.

Aventou-se o fim da privacidade por força da criação de um Sistema Na-

cional de Informações Patrimoniais dos Contribuintes. O Sistema Nacio-

nal de Informações Patrimoniais dos Contribuintes que se cogita é mera

reunião de dados esparsos que hoje já se dispõem, e que são de conhe-

cimento público, a exemplo de registros em cartórios de imóveis e em

órgãos do trânsito. O banco de dados será alimentado com informações

da Secretaria da Receita Federal do Brasil e dos órgãos e entidades pú-

blicos e privados que, por obrigação legal, operem cadastros. Os aludi-

dos cadastros seriam também disponibilizados aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios.

Admoestou-se que o projeto viabiliza a quebra de sigilo bancário sem

autorização judicial. Trata-se de mera possibilidade de se considerar

positivo o resultado da investigação patrimonial que indicar existência

de relacionamento do devedor com instituições financeiras (contas ban-

cárias), para fins de penhora de dinheiro e aquela que comprovar que a

empresa está em atividade, para fins de penhora de faturamento. Cui-

da-se de modelo que já existe, embora matizado sob outro conjunto

19

normativo, a exemplo do Bacenjud. Se a Fazenda pode penhorar dinhei-

ro (assim dispõe o inciso I do art. 11 da Lei de Execuções Fiscais) deve

contar com mecanismos para localizar ativos penhoráveis.

As execuções não prosperam porque não há - hoje - um levantamento

prévio da situação patrimonial do devedor. A multiplicação de ofícios

que supervenientemente se dá é exemplo claro da inadequação do mo-

delo atual. E ainda, da constrição a Fazenda tem três dias para judicia-

lizar a questão, aforando a execução. A autoridade supervisora do sis-

tema bancário será informada do ajuizamento da ação, em 10 dias, sob

pena de desconstituição imediata e automática da penhora. E a qual-

quer momento poderá o prejudicado valer-se do Judiciário para obsta-

culizar a pretensão da Fazenda Pública. Como vista anteriormente esse

modelo de penhora é comum em inúmeros outros modelos.

Queixas há ainda à ampliação das hipóteses nas quais a cobrança da dí-

vida ativa poderá ser direcionada aos sócios das pessoas jurídicas. A

medida atende a evolução jurisprudencial, inclusive relativa à doutrina

da desconsideração da pessoa jurídica, mas que se fixa também na per-

cepção de que a execução não possa atingir sócios a não ser nas hipóte-

ses previstas em lei. Constatada a imprestabilidade da norma presente é

que se pretende um novo modelo.

Mantém-se o modelo fiel à tradição brasileira de fixar no Judiciário a

palavra final. De tal modo, em nenhum momento descortina-se no hori-

zonte atos que atentem contra a dignidade da justiça.

Há por fim a premonição de que vários artigos do projeto de lei violari-

am o postulado da reserva de jurisdição. Como demonstrado, a presen-

ça do Judiciário é recorrente em todos os passos dos modelos que se

pretende implementar. É ao próprio Judiciário que o modelo contem-

pla.

Dados do Conselho Nacional de Justiça (que não levam em conta sete

tribunais que não encaminharam dados a tempo) dão conta de que, no

ano de 2009, cerca de 17% dos novos casos que chegaram ao Judi ciário

são de execução fiscal. E que 50% dos casos pendentes, no mesmo ano,

20

também são de execução fiscal. E que apenas 9% dos processos baixados

em 2009 são de execuções de dívidas tributárias.

O assustador fato de que a metade dos feitos pendentes seja de execu-

ções fiscais é exemplo eloquente de que há algo de errado. Em editorial

de circulação nacional denominou-se de delirante conjunto de proje-

tos iniciativa da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional no sentido de

se modernizar o modelo brasileiro de cobrança da dívida ativa. Insista-

se, o sistema atual, fixado em lei de 1980 é inoperante, mais preocupa-

do com procedimentos do que com resultados, lento, é o aliado perfeito

do devedor contumaz.

Qualificou-se a iniciativa como veículo propício à outorga de poderes

absolutistas ao Executivo. Sugeriu-se que se pretende montar um Estado

policialesco para esmagar o contribuinte, que se fará penhora sem au-

torização judicial - sem que o contribuinte possa recorrer ao juiz, que

se engendra o fim do princípio da inocência, que teremos um tribunal

de exceção, que retomaremos o Estado policial dos tempos do AI-5. Fez-

se referência também a ritos administrativos da Receita Federal apli-

cados a quem contesta a cobrança do Leão.

Tudo muito impressionante, e aflitivo, não fosse o fato de que tais pero-

rações não se encontram, da forma como denunciada, nos projetos que

o Congresso começa a debater. E também se não fosse fato notório que

há todo um modelo administrativo para julgamento de disputas entre

contribuintes e fisco, na esfera federal, por meio de órgão de represen-

tação paritária, que os práticos chamam de Conselhos de Contribuintes

do Ministério da Fazenda.

Mais ainda, o que parece se orquestrar é o caminho da tese do mais do

mesmo. Soluções bem comportadas, a exemplo de ampliação da máqui-

na de cobrança e de uma maior dotação orçamentária para os órgãos de

execução do crédito fiscal (entre eles o próprio Judiciário) a par de ine-

xequíveis, mostram-se utópicas e imprestáveis.

É que também dependem de dotações orçamentárias generosas, que por

sua vez dependem da ampliação da carga tributária, no que se refere

21

aos resultados; isto é, vinculam-se, e decorrem, de um imediato au-

mento nos resultados da cobrança. É, no mérito, a tese do mais do

mesmo,na imagem de Joaquim Falcão.4 Deve-se enfrentar o problema

sem meias-palavras, anestesia ou açúcar, na recorrente advertência de

Roberto Mangabeira Unger, que nos critica pela falta de imaginação e

por nossa reverência e prostração para com o passado.

6 Conclusões

Eventualmente aprovado o projeto, contaremos com modelo eficiente

de cobrança de créditos fiscais, a exemplo de países que tratam a ques-

tão com menos retórica e com mais consciência de que direitos não bro-

tam em árvores e que precisam ser pagos com recursos públicos.

Tem-se a impressão de que o projeto assusta na medida em que ajusta a

execução fiscal à velocidade e às técnicas de informática com as quais

convivemos. Não se pode simplesmente defender a tese do mais do

mesmo, isto é, mais investimento no modelo atual, que se mostra ultra-

passado. A necropsia institucional pela qual passamos comprova que o

modelo está falido e que precisa ser alterado.

1 Por exemplo, o art. 59 do referido Decreto-Lei dispunha que a co-

brança judicial da dívida ativa da Fazenda não poderia ser submetida a

juízo arbitral. Esta regra firmava a natureza do modelo, típico do Esta-

do Novo, plasmado pela hipertrofia do Estado. Cf., por todos, SKID-

MORE, Thomas. Politics in Brazil: 1930-1964. New York: Oxford Univer-

sity Press, 1967. p. 21-48.

2 O referido Decreto reorganizava a Procuradoria da República no Dis-

trito Federal. Cuida da execução fiscal (arts. 72 e ss.), que nominava

deexecutivo fiscal. O art. 133 dispunha que os Procuradores da Repúbli-

ca (que então conduziam as execuções fiscais de créditos federais) po-

deriam promover ex officio processos que confirmassem a insolvibilida-

de de dívidas da União, reconhecendo-as como falidas e insolúveis, ou

por se acharem os devedores em estado manifesto de insolvibilidade, ou

por terem falecido sem deixar bens, ou haverem se ausentado para lu-

gares não sabidos.

22

3 Os aludidos títulos dispõem sobre os Juízes dos Feitos da Coroa e da

Fazenda, bem como sobre seus respectivos representantes legais.

4 Cf. FALCÃO, Joaquim. O brasileiro e o judiciário. Revista Conjuntura

Jurídica, v. 63, n. 4, abr. 2009.

Currículo Resumido:

ARNALDO SAMPAIO DE MORAES GODOY

Consultor-Geral da União. Pós-Doutorado pela Boston University. Douto-

rado em Filosofia do Direito e do Estado pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestrado em Filosofia do Direito e do

Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Es-

pecialização em Direito Fiscal Internacional pela Escola de Administra-

ção Fazendária (ESAF).

Como citar este texto:

GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. A reforma processual tributária e o

debate em torno da nova lei de execução fiscal. Revista Fórum de Direi-

to Tributário – RFDT, Belo Horizonte, ano 8, n. 47, p. 105-122, set./out.

2010. Material da 5ª aula da disciplina Direito Tributário, ministrada no

Curso de Pós-Graduação de Direito Público–Anhanguera-Uniderp | Rede

LFG.

23

A LEI DE EXECUÇÃO FISCAL APÓS AS ALTERAÇÕES DO CPC: ASPECTOS DOUTRINÁ-RIOS E JURISPRUDENCIAIS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Como consideração inicial a esse breve trabalho cumpre apresentar os dispositivos, cuja interpretação tem despertado o interesse de grande parte da doutrina.

Assim que a Lei 11.382 foi publicada em 07.12.2006, tendo suas alterações passado a vigorar a partir de 21.01.2007, e sob a ameaça de sua aplicação imediata em face de sua natureza processual, temos observado a formulação de diversas interpretações, sendo que muitas delas, forjadas na correria de gabinetes entulhados de processos,

apresentam-se flagrantemente equivocadas mas dispõem da autoridade conferida às decisões judiciais.

Dentro do enfoque do presente trabalho, não se busca simplesmente a interpretação das inovações trazidas ao processo executivo, mas, sobretudo, não se esquecer da interação que se apresenta quando se trata de execução fiscal afastando a mera re-petição como solução interpretacional.

Essa consideração encontra suporte na própria Lei de Execução Fiscal - Lei 6.830/80 -, ao determinar em seu art. 1.º da LEF1 a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil.

Identifica-se, portanto, com base em referido artigo, que o pressuposto de aplicabili-dade dos dispositivos do Código de Processo Civil, quando estivermos diante de um processo executivo fiscal, está condicionado à inexistência de comando normativo

específico constante da lei especial que rege tal procedimento.

Lembra-nos também, conforme A. Becker, que não se pode ao mesmo tempo respei-tar uma regra jurídica singular e contrariar o sistema em que ela se funda, pois isso

seria admitir regra jurídica com existência independente do sistema jurídico.

Impossível ignorar o conceito de sistema, inerente ao Direito, e que nos remete a uma totalidade jurídica.2

Tal afirmação se torna de suma importância, conforme se verificará no decorrer des-te trabalho, pois diferentes resultados decorrem de diversas formas de interpreta-ção, por meio de distintas identificações de lacunas.

E aqui nos parece pertinente a advertência de Norberto Bobbio quando se manifesta a respeito das lacunas ideológicas:

“Entende-se também por 'lacuna' a falta não já de uma solução, qualquer que seja ela, mas de uma solução satisfatória, ou, em outras palavras, não já a falta de uma

24

norma, mas a falta de uma norma justa, isto é, de uma norma que se desejaria que existisse, mas que não existe. Uma vez que essas lacunas derivam não da considera-

ção do ordenamento jurídico como ele é, mas do ordenamento jurídico como ele deveria ser, foram chamadas de 'ideológicas', para distingui-las daquelas que eventu-almente se encontrassem no ordenamento jurídico como ele é, e que se podem cha-

mar de 'reais'.

(...)

Que existem lacunas ideológicas em cada sistema jurídico é tão óbvio que não preci-samos nem insistir. Nenhum ordenamento jurídico é perfeito, pelo menos nenhum ordenamento jurídico positivo. (...) Ora, com respeito ao Direito positivo, se é óbvio que cada ordenamento tem lacunas ideológicas, é igualmente óbvio que as lacunas

com as quais deve se preocupar aquele que é chamado a aplicar o Direito, não são as ideológicas, mas as reais (...).”3

Resultado da identificação de que, apesar do ordenamento jurídico como um todo, considerado assim, como Direito Natural,4 ser completo, o regramento de tal com-pletude necessariamente terá lacunas.

2. DAS LACUNAS E DOS CRITÉRIOS PARA O PREENCHIMENTO DE ACORDO COM NORBERTO BOBBIO

Primeiramente, antes de adentrarmos de forma objetiva às alterações introduzidas no Código de Processo Civil, importante delinear os tipos de lacuna, os critérios utili-zados para o preenchimento destas e alguns dos critérios utilizados a partir da identi-

ficação de uma antinomia, nos dizeres de Norberto Bobbio (Teoria do ordenamento jurídico, 1989).

A lacuna própria, assim definida por Bobbio (p. 143), “é uma lacuna do sistema ou dentro do sistema”, a lacuna imprópria “deriva da comparação do sistema real com o sistema ideal”, tendo ambas, como característica comum, casos não regulamentados no ordenamento jurídico.

Diferenciam-se, entretanto, através das formas que podem ser eliminadas, pois “a lacuna imprópria somente através da formulação de novas normas e a própria, medi-ante as leis vigentes. As lacunas impróprias são completáveis somente pelo legisla-

dor; as lacunas próprias são completáveis por obra do intérprete” (Bobbio, p. 143).

As lacunas próprias, por sua vez, ainda possuem distinções, a respeito dos motivos pelos quais são provocadas, sejam elas lacunas subjetivas ou objetivas, as subjetivas

“são aquelas que dependem de algum motivo imputável ao legislador” e, objetivas “são aquelas que dependem do desenvolvimento das relações sociais, das novas in-venções, de todas aquelas causas que provocam um envelhecimento dos textos legis-

lativos e que, portanto, independentes da vontade do legislador” (Bobbio, p. 144).

Ainda assim, as lacunas subjetivas, podem ser divididas entre voluntárias e involun-tárias, sendo que as “involuntárias são aquelas que dependem de um descuido do

legislador, que faz parecer regulamentado um caso que não é, ou faz deixar de lado

25

um caso que talvez se considere pouco freqüente. Voluntárias são aquelas que o pró-prio legislador deixa de propósito, quando a matéria é muito complexa e não pode

ser regulada com regras muito miúdas, e é melhor confiá-la, caso por caso, à inter-pretação do juiz” (Bobbio, p. 144).

Nesse sentido, uma vez identificadas as lacunas, nos dizeres de Carnelutti, o orde-namento jurídico poderá ser completado através da heterointegração e auto-integração, nas quais a primeira consiste na integração das normas de diversos orde-namentos e a segunda através do mesmo ordenamento.5

Entretanto, não existem apenas as lacunas próprias e as impróprias, existindo, ainda, normas conflitantes que podem gerar situações antinômicas que devem gerar incom-patibilidade, indecidibilidade e necessidade de decisão e, nestes casos, existem dife-

rentes critérios para solução do conflito, sendo eles o cronológico, em que as normas são sucessivas e, portanto, a mais nova se sobrepõe à mais antiga, o hierárquico, quando em níveis diversos e, portanto, a superior se sobrepõe à inferior e de especia-

lidade em que a norma especial se sobrepõe à geral.6

Nesses casos, a solução de conflitos é clara e não demanda maiores esforços herme-nêuticos. Entretanto, como ocorre no caso sub examine, nos casos em que nenhum

dos três critérios acaba plenamente com o conflito, existem três caminhos que po-dem ser seguidos, sejam eles, eliminar uma regra, eliminar as duas ou conservar as duas.7

Considerando-se as afirmações de Bobbio, e a existência de lacunas no ordenamento jurídico, por primeiro, trazemos algumas das alterações, não todas, introduzidas pela Lei 11.382/2006, onde de forma pragmática assinalamos o resultado interpretativo

por nós alcançado.

3. ALGUMAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS E SEUS REFLEXOS NA SEARA TRIBUTÁRIA

Nesse sentido, o art. 615-A do CPC8 viabilizou ao credor, no momento da distribuição da execução, a possibilidade de obtenção de certidão comprobatória do ajuizamento, para fins de averbação no registro de imóveis, e passou a presumir fraudulenta, nos termos do art. 615-A, § 3.º, do CPC, resultando, portanto, em ineficácia do negócio

jurídico. Nesse aspecto, cremos não ter havido qualquer alteração, uma vez que o art. 185 do CTN9 presume fraudulenta a alienação de bens pelo sujeito passivo em débito com a Fazenda Nacional, não gerando, portanto, tal alteração, reflexos na

seara fiscal.

As alterações introduzidas no art. 649 do CPC10 passaram e prever outras hipóteses de impenhorabilidade absoluta, incluindo aí a quantia depositada em caderneta de

poupança trazendo reflexos diretos na seara tributária, vez que o art. 184 do CTN11 expressamente prevê que os bens e rendas declarados por lei impenhoráveis não res-pondem por débitos tributários.

No que concerne à alteração de prazo para pagamento da dívida ou oferecimento de bens à penhora inserida no art. 652 do CPC12, nosso entendimento é no sentido de

26

que esta modificação não resultou em alterações no processo de execução fiscal, vez que o art. 8.º da LEF13 já previa, expressamente, o prazo de cinco dias.

Quanto ao dispositivo constante do art. 652, § 4.º, do CPC, que determina que a in-timação do executado far-se-á na pessoa do advogado, e, não o tendo, será intimado pessoalmente, entendemos pela inexistência de possibilidade de aplicação da nova

sistemática, uma vez que, objetivando conferir celeridade ao processo executivo fiscal, o art. 8.º da LEF agrega a intimação para a apresentação das garantias ao ato de citação.

A introdução do art. 655-A do CPC14, possibilitando o bloqueio de valores, através da famigerada penhora on-line veio apenas reforçar a possibilidade já prevista no art. 185-A do CTN15, resultado da introdução de LC 118/2005.

O art. 668 do CPC16 inovou o Código de Processo Civil, prevendo a possibilidade de substituição de penhora mediante requerimento do executado. Esta norma, não trou-xe qualquer reflexo para a LEF, uma vez que a substituição é permitida, de acordo

com o art. 15, I, da LEF.17

Quanto à alteração introduzida no art. 738 do CPC,18 dispositivo alterado no sentido de aumentar o prazo para oposição dos embargos, de dez para quinze dias, tal alte-

ração encontra obstáculo na sistemática de aplicação da LEF, uma vez que a própria contagem inicial se dá em momentos diversos, nos termos do art. 16 da LEF19.

Por fim, o art. 745-A do CPC20 trouxe a possibilidade de parcelamento da dívida ci-vil, desde que seja realizado pedido pelo executado. Através de uma interpretação sistemática, observando o art. 155-A,21 introduzido no CTN pela LC 104/2001, onde ocorre a determinação de que o parcelamento da dívida tributária decorre tão-

somente da lei, poderia se concluir que o próprio art. 745-A do CPC se coadunaria com a exigência legal do CTN, no entanto, de se ressaltar que a definição judicial para deferimento e condições do parcelamento colidiria com a competência legislati-

va reservada pelo próprio CTN.

De outro giro, por se tratar de faculdade do executado, e diante das condições me-lhores em que são concedidos os parcelamentos de débitos tributários, quer nos pa-

recer de pouca ou nenhuma aplicabilidade nas execuções fiscais o dispositivo sob comento.

4. A QUESTÃO DA SUSPENSÃO DOS EMBARGOS E ALGUNS ENTENDIMENTOS DOUTRINÁRIOS

A introdução do art. 739-A do CPC22, retirando como regra o efeito suspensivo dos embargos, estando este condicionado a formulação de pedido pela embargante, ape-sar do aparente silêncio da lei especial no que se refere a este aspecto, a análise

demanda um maior cuidado por parte do estudioso de interpretação histórica, que será objeto de desenvolvimento específico no decorrer do artigo, devendo, ainda, ser considerados os dispositivos dos arts. 18 e 19, 24, I e 32, § 2.º, da LEF.

27

Salta-nos, entretanto, aos olhos, a suspensão do processo executivo consubstanciado no pedido do executado.

Neste aspecto existem elementos que merecem análise, sendo um deles a evolução histórica. É cediço que o Código de Processo Civil é Lei Complementar de 1973 e,

portanto, antes da criação da Lei de Execução Fiscal, que é datada de 1980.

A própria lei especial - Lei 6.830/1980 - em seu art. 1.º da LEF, conforme já demons-trado, pautou-se na existência de código genérico no qual poderia ser consubstancia-

do, entretanto, a ausência de manifestação em lei especial, acerca da suspensão concatenada à oposição dos embargos, não necessariamente resulta no entendimento de que a intenção do legislador era no sentido de que a regulamentação fosse feita

exclusivamente pelo CPC, isto porque as sistemáticas envolvidas, e principalmente as formas de constituição dos créditos, são diferentes.

Nesse mesmo sentido, outrora, Hugo de Brito Machado Segundo e Raquel Cavalcanti Ramos Machado, ao analisar o tema descrito, concluíram no seguinte sentido:

“(...) não nos parece correto aplicar subsidiariamente à execução fiscal a regra do art. 739-A do CPC, devendo os embargos do executado ser recebidos sempre no efei-

to suspensivo. Primeiro, porque a realidade em face da qual se aplica a norma oriun-da da reforma do processo executivo, e que inspirou essa reforma, não é a mesma no âmbito da execução fiscal, cujo título não é formado pela vontade do executado.

Segundo porque a sistemática prevista pela Lei 6.830/80 é incompatível com essa modificação como se depreende dos arts. 18, 19, 24, I, e 32, § 2.º, da LEF não se lhe podendo aplicar de forma subsidiária o que lhe é contrário.”23

Tal entendimento decorreu da constatação de que as sistemáticas são diferentes e, portanto, tais situações não poderiam ser tratadas como se iguais fossem.

Igor Mauler Santiago e Frederico Menezes Breyner concluíram no mesmo sentido ao afirmarem que: “pensamos que o art. 739-A do CPC representa um verdadeiro avanço na execução dos títulos extrajudiciais ordinários, formados com a participação do devedor, mas que - exatamente por falta de consentimento do sujeito passivo na

constituição da dívida - não se aplica à execução dos créditos tributários, ainda que escriturados e não pagos ou confessados para fins de parcelamento, ressalvando-se apenas a realização de transação entre o Fisco e o sujeito passivo como tal entendi-

mento o acordo de vontades que extinga a obrigação original (tributária) e a substi-tua por outra (não tributária) livremente formatada pelas partes. Pensamos, mais, que a supressão de efeito suspensivo ordinário dos embargos à execução fiscal seria

inválida ainda que determinada por texto expresso de lei, por contrariar o sistema do CTN e os princípios constitucionais da propriedade privada, do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa”.

5. DA JURISPRUDÊNCIA DOS NOSSOS TRIBUNAIS

Certamente as interpretações até aqui fixadas por nossos tribunais, não devem re-presentar um modelo acabado, mas, o início de um processo interpretativo do qual

28

participam direta e indistintamente todos os operadores do Direito, outrossim são amostras em número reduzido e que não abrangem a totalidade das inovações.

O ponto sobre o qual mais encontramos manifestações de nossos tribunais, é o que trata dos efeitos dos embargos quanto à suspensão do processo executivo, sobre esse tema encontramos, inclusive, as manifestações isoladas do STJ, nos moldes que pas-

samos a transcrever:

“(...) A aplicação subsidiária do art. 739-A do CPC encontra apoio no art. 1.º da Lei 6.830/80, sendo, pois, faceta do devido processo legal (art. 5.º, LV, da CF/1988).

5. A possibilidade (excepcional [fuga à regra do caput]) de atribuição do efeito sus-pensivo aos embargos do devedor reclama, de primeiro, aferição da eventual rele-vância do fundamento, que, se existente, ensejará, em seqüência, exame de possível

iminência de dano só arduamente passível de recomposição (e desde que a execução esteja garantida por penhora). TRF 1ª Região - Agravo Interno Ag 2007.01.00.037635-4/PA.

(...) o art. 1.º da LEF aplicar as normas do CPC subsidiariamente ao processo de exe-cução fiscal.

Assim, se o art. 739-A do CPC foi acrescido ao Código de Processo Civil, por força da Lei 11.382/2006, dispõe que os embargos do executado, em regra, não têm efeito suspensivo, exceto se requerido e houver garantia do juízo. TRF 1ª região - AgIn 2007.01.00.043807-2/MG.

(...) as disposições da Lei 6.830/80 são aplicáveis às execuções fiscais da União, dos Estados e dos Municípios, inclusive autarquias, aplicando-se as normas constantes no Código de Processo Civil tão-somente se nela não existir regramento específico.(...) o

art. 16, § 1.º, exige a garantia da execução para a propositura dos embargos:

'Art. 16. O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:

(...)

§ 1.º Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução.'

Destarte, existente regramento específico acerca da necessidade de penhora para o ajuizamento dos embargos à execução fiscal (art. 16), não é autorizada a aplicação

do CPC - mais especificamente, na hipótese, do art. 736 -, pelos motivos já elenca-dos. D.E. Publicado em 15.07.2008, TRF 4ª AgIn 2008.04.00.017687-3/PR rel. Des. Federal Joel Ilan Paciornik.

Não antevejo a primo oculli, empecilhos à aplicação do aludido dispositivo às execu-ções fiscais, pois que, de acordo com o art. 1.º da LEF, as normas do Código de Pro-cesso Civil aplicam-se subsidiariamente à Lei 6.830/80, quando com estas não coli-

dentes. Nesse ínterim, impende destacar que, na Lei de Execuções Fiscais, não há previsão de que os embargos à execução serão recebidos no efeito suspensivo. Deve-

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ras, tal ilação decorria de aplicação do § 1.º do art. 739 do CPC, o qual foi revogado pela Lei 11.382/2006. Do mesmo modo, restou alterado o art. 791, I, do CPC, que

passou a preceituar:

Art. 791. Suspende-se a execução:

I - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à exe-cução (art. 739-A);

Resta, portanto, permitida a inferência de que os embargos à execução fiscal, rece-bidos já na vigência da Lei 11.382/2006, somente terão o condão de suspender a

execução fiscal se, além de houver garantia do juízo, haja verossimilhança na alega-ção e o prosseguimento da execução, manifestamente, possa causar grave dano de difícil ou incerta reparação, ex vi do art. 739-A, § 1.º, do CPC. TRF 4ª AgIn

2008.04.00.019609-4/PR - rel. Des. Federal Edgard Antônio Lippmann Júnior.

Como se sabe, os embargos à execução fiscal são regulados pelas regras da Lei 6.830/80 (LEF), com aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, no termos do

art. 1.º da LEF.

Desse modo, a aplicação do art. 739-A do CPC ao procedimento de execução fiscal, consoante o acima afirmado, é justificada pelo fato de o CPC se aplicar supletiva-

mente à LEF e esta norma não regulamentar os efeitos dos embargos.

Ressalte-se, ainda, que o legislador buscou dar maior efetividade à execução, priori-zando, nesse caso, o interesse do credor, afastando a possibilidade de prosseguimen-

to apenas quando houver, conjugadamente, (a) requerimento da embargante, (b) relevância dos fundamentos, (c) possibilidade da ocorrência de grave dano de difícil ou incerta reparação e (d) a garantia da execução suficiente. Assim, faltante um de-

les, não há falar em suspensão do feito executivo. TRF 4ª Região AgIn 2008.04.00.018400-6/PR rel. Des. Federal Vilson Darós Publicado em 03.06.2008.”

Em relação ao STJ temos até aqui rápida manifestação do Min. Teori Albino no se-guinte sentido: “Ademais, a própria execução fiscal comporta embargos do devedor com efeito suspensivo, se for o caso (CPC, art. 739-A, § 1.º).” Interessante que em seu voto afirma com convicção “a execução fiscal supõe prévia formação do título

executivo, mediante procedimento administrativo em que se assegura o contraditó-rio, no âmbito do qual se promove a constituição do crédito tributário e a inscrição em dívida ativa”. Nesse ponto, esquece, ao que parece, o posicionamento de sua

própria Corte quanto a execução dos débitos tributários declarados e não pagos24 (1ª T., AgRg na MC 13.249/SP, rel. Min. Teori Albino, DJ 25.10.2007, p. 124).

O que se depreende dos entendimentos transcritos, e que a nosso ver tem afastado a jurisprudência tratada de nossa melhor doutrina, é a ausência de tecnicidade no pre-enchimento das chamadas lacunas, ou uma ampla desconsideração dos comandos normativos constantes da Lei de Execução Fiscal.

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Entretanto, conforme se verificou, neste aspecto e nos demais inerentes às altera-ções introduzidas, os entendimentos exarados pelos tribunais são incipientes, não havendo, portanto, entendimento pacífico acerca do tema abordado, ao menos com a superação das premissas levantadas pela doutrina.

1. Lei 6.830, de 22.09.1980. “Art. 1.º A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autar-quias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil.”

2. FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Conceito de sistema jurídico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976. p. 129.

3. BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília-São Paulo: Polis; UnB, 1989. p. 140.

4. Idem, ibidem.

5. Idem, p. 143.

6. Idem, p. 144.

7. Idem, p. 100.

8. CPC - “Art. 615-A. O exeqüente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto.

§ 1.º O exeqüente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de 10 (dez) dias de sua concretização.

§ 2.º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, será determinado o cancelamento das averbações de que trata este artigo relativas àque-les que não tenham sido penhorados.

§ 3.º Presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação (art. 593).

§ 4.º O exeqüente que promover averbação manifestamente indevida indenizará a parte contrária, nos termos do § 2.º do art. 18 desta Lei, processando-se o incidente

em autos apartados.

§ 5.º Os tribunais poderão expedir instruções sobre o cumprimento deste artigo.”

9. CTN - “Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou ren-das, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.

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Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido re-servados pelo devedor bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida ins-crita.”

10. CPC - “Art. 649 - São absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;

II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do exe-cutado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns corres-

pondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposen-tadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador

autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3.º deste artigo;

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penho-radas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsó-ria em educação, saúde ou assistência social;

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderne-ta de poupança;

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político.”

11. CTN - “Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do crédito tributário a totali-dade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu

espólio ou sua massa falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalie-nabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus ou da

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cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.”

12. CPC - “Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida.”

13. Lei 6.830/90 - “Art. 8.º O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução, observadas as seguintes normas:

I - a citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma;

II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a

entrega da carta à agência postal;

III - se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da carta à agência postal, a citação será feita por oficial de justiça ou por edital;

IV - o edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no órgão oficial, gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta) dias, e conterá, apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos co-

responsáveis, a quantia devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição no Registro da Dívida Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo.

§ 1.º O executado ausente do País será citado por edital, com prazo de 60 (sessenta) dias.

§ 2.º O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.”

14. “Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua

indisponibilidade, até o valor indicado na execução.

§ 1.º As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na execução.

§ 2.º Compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta corren-te referem-se à hipótese do inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou que estão re-vestidas de outra forma de impenhorabilidade.

§ 3.º Na penhora de percentual do faturamento da empresa executada, será nomeado depositário, com a atribuição de submeter à aprovação judicial a forma de efetiva-ção da constrição, bem como de prestar contas mensalmente, entregando ao exe-

qüente as quantias recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida.

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§ 4.º Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, nos termos do que estabelece o caput deste artigo, informações sobre a existência de ativos tão-somente em nome do órgão partidário que tenha contraído a dívida executada ou

que tenha dado causa a violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a responsabilidade pelos atos praticados, de acordo com o disposto no art. 15-A da Lei 9.096/1995.”

15. LC 118, de 09.02.2005 “Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devida-mente citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e

direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao re-gistro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do

mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial.

§ 1.º A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que excederem esse limite.

§ 2.º Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de que trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao juízo a relação discriminada dos bens e di-reitos cuja indisponibilidade houverem promovido.”

16. CPC - “Art. 668. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias após intimado da penhora, requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmen-te que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será menos onerosa para ele devedor (art. 17, IV e VI, e art. 620).”

17. Lei 6.830/80 - “Art. 15. Em qualquer fase do processo, será deferida pelo juiz:

I - ao executado, a substituição da penhora por depósito em dinheiro ou fiança ban-cária; e (...).”

18. “Art. 738. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contados da data da juntada aos autos do mandado de citação.”

19. Lei 6.830/80 - “Art. 16. O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:

I - do depósito;

II - da juntada da prova da fiança bancária;

III - da intimação da penhora.”

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20. CPC - “Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exeqüen-te e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclu-sive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária

e juros de 1% (um por cento) ao mês.

§ 1.º Sendo a proposta deferida pelo juiz, o exeqüente levantará a quantia deposita-da e serão suspensos os atos executivos; caso indeferida, seguir-se-ão os atos execu-

tivos, mantido o depósito.

§ 2.º O não pagamento de qualquer das prestações implicará, de pleno direito, o ven-cimento das subseqüentes e o prosseguimento do processo, com o imediato início dos

atos executivos, imposta ao executado multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações não pagas e vedada a oposição de embargos.”

21. CTN - “Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabele-cidas em lei específica.

§ 1.º Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas.

§ 2.º Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei, relati-vas à moratória.”

22. CPC - “Art. 739-A. Os embargos do executado não terão efeito suspensivo.

§ 1.º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execu-ção manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta repa-

ração, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.

§ 2.º A decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada, cessando as circunstâncias que a motivaram.

§ 3.º Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a par-te do objeto da execução, essa prosseguirá quanto à parte restante.

§ 4.º A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executa-dos não suspenderá a execução contra os que não embargaram, quando o respectivo

fundamento disser respeito exclusivamente ao embargante.

§ 5.º Quando o excesso de execução for fundamento dos embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que entende correto, apresentando memó-

ria do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento.

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§ 6.º A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de penhora e de avaliação dos bens.”

23. SEGUNDO, Hugo de Brito Machado; MACHADO, Raquel Cavalcanti Ramos. A refor-ma do CPC e a suspensão da execução fiscal pela oposição dos Embargos. Revista

Dialética de Direito Tributário 151/66. São Paulo, Dialética, 2008, p. 66.

24. Ver nosso: O débito fiscal declarado e não pago e o procedimento administrativo tributário - A incidência da norma tributária e os atos do homem. Direito processual

tributário - a dinâmica da interpretação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

Currículo Resumido:

ALEXANDRA SANTANA CAMPOS

MBA em Direito Tributário pela FGV. Advogada.

MARCELO CAMPOS

Professor de Direito Processual Tributário na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Presidente do Conselho Diretor da ABDT e Titular da Cadei-

ra n. 1 da Academia Paulista de Letras Jurídicas. Advogado.

Como citar este texto:

CAMPOS, Alexandra Santana. CAMPOS, Marcelo. Publicado na REVISTA TRIBUTÁRIA E

DE FINANÇAS PÚBLICAS - VOL. 82/9 – setembro/outubro/2008. Material da 6ª aula da

disciplina Direito Tributário, ministrada no Curso de Pós-Graduação de Direito Públi-

co–Anhanguera-Uniderp | Rede LFG.