pedagogia hospitalar: a educaÇÃo e o lÚdico...

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1 ___________________________________________________________________ Curso de Pedagogia Artigo Original PEDAGOGIA HOSPITALAR: A EDUCAÇÃO E O LÚDICO ASSOCIADOS À SAÚDE HOSPITAL PEDAGOGY: THE EDUCATION AND HEALTH ASSOCIATE LUDIC Daniela Alessandra O. Maciel Gomes 1 , Liliane Correia de Souza Rodrigues 1 , Patrícia Mattão 2 __________________________________________________________________ Resumo A educação e o lúdico associados à saúde permitem que a criança hospitalizada tenha acesso à escolarização e a infância. O presente trabalho tem por objetivo central verificar a importância do lúdico como facilitador da aprendizagem da criança que se encontra hospitalizada e a forma com que esse recurso contribui para amenizar o sofrimento das crianças que diariamente são submetidas a procedimentos médicos. Constatamos a importância da brinquedoteca e da classe hospitalar, pois elas têm como objetivo disponibilizar um atendimento pedagógico, realizado pelo pedagogo, e recuperar a socialização da criança por meio de um processo de inclusão. Palavras-chave: Classe hospitalar; Educação; Lúdico; Pedagogo. Abstract Education and playfulness associated with health allow hospitalized children have access to schooling and childhood.This work has as main objective to verify the importance of playfulness as a facilitator of learning that the child is hospitalized and the way that this feature helps to alleviate the suffering of children who are daily subjected to medical procedures.We note the importance of the hospital playroom and class as they aim to provide an educational service, conducted by the teacher, and recover the socialization of the child through a process of inclusion. Keywords:hospital class, education,Playful, educator. 1 Graduanda do Curso de Pedagogia. 2 Professora especialista do curso de Pedagogia do Icesp/Promove

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___________________________________________________________________

Curso de Pedagogia Artigo Original

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A EDUCAÇÃO E O LÚDICO ASSOCIADOS À

SAÚDE

HOSPITAL PEDAGOGY: THE EDUCATION AND HEALTH ASSOCIATE LUDIC

Daniela Alessandra O. Maciel Gomes1, Liliane Correia de Souza Rodrigues

1, Patrícia Mattão

2

__________________________________________________________________

Resumo

A educação e o lúdico associados à saúde permitem que a criança hospitalizada tenha acesso à escolarização e a infância. O presente

trabalho tem por objetivo central verificar a importância do lúdico como facilitador da aprendizagem da criança que se encontra

hospitalizada e a forma com que esse recurso contribui para amenizar o sofrimento das crianças que diariamente são submetidas a

procedimentos médicos. Constatamos a importância da brinquedoteca e da classe hospitalar, pois elas têm como objetivo disponibilizar

um atendimento pedagógico, realizado pelo pedagogo, e recuperar a socialização da criança por meio de um processo de inclusão.

Palavras-chave: Classe hospitalar; Educação; Lúdico; Pedagogo.

Abstract

Education and playfulness associated with health allow hospitalized children have access to schooling and childhood.This work has as

main objective to verify the importance of playfulness as a facilitator of learning that the child is hospitalized and the way that this feature

helps to alleviate the suffering of children who are daily subjected to medical procedures.We note the importance of the hospital

playroom and class as they aim to provide an educational service, conducted by the teacher, and recover the socialization of the child

through a process of inclusion.

Keywords:hospital class, education,Playful, educator.

1 Graduanda do Curso de Pedagogia.

2Professora especialista do curso de Pedagogia do Icesp/Promove

2

INTRODUÇÃO

Abordaremos a importância do lúdico como

facilitador da aprendizagem da criança que se

encontra hospitalizada e a forma com que esse

recurso contribui para amenizar o sofrimento das

crianças que diariamente são submetidas a

procedimentos médicos, muitas vezes dolorosos.

A humanização hospitalar, que se entende

como atendimento humanizado aos pacientes e

seus acompanhantes, tem sido objeto de

preocupação desde a primeira metade do século

passado. Entretanto, em nosso país, apenas

ganhou a devida atenção e importância,

constituindo-se em política nacional de saúde, na

última década.

As Brinquedotecas Hospitalares surgem

como uma das iniciativas para desenvolver a

humanização no hospital, por meio do

atendimento diferenciado à criança em consulta

ambulatorial ou em internação em decorrência de

acidente ou doença, e ganha status de

obrigatoriedade junto ao setor de pediatria

hospitalar a partir do ano de 2005, por meio da

Lei Federal nº 11.104/2005 que dispõe sobre a

obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas

nas unidades de saúde que ofereçam

atendimento pediátrico em regime de internação.

Quando uma criança ou um adolescente

hospitalizado brinca ou consegue ter momentos

de distração e de divertimento no contexto

hospitalar, mergulham em um universo de

possibilidades, pois nestes espaços eles recriam

e enfrentam situações vividas por eles no seu

cotidiano. É por isso que crianças e adolescentes

precisam usufruir dos benefícios emocionais,

intelectuais e culturais que as atividades lúdicas

proporcionam.

Na revisão de literatura, é possível

encontrar nas produções de Cunha3 (2001),

Friedmann (1992), Fonseca4 (2008), Kishimoto

(1998), diferentes concepções sobre a

importância da brinquedoteca e do brincar para o

desenvolvimento infantil e humano. Através das

3Nylse Helena da Silva Cunha Pedagoga, Presidente da

Associação Brasileira de Brinquedotecas. Membro da

Associação Internacional de Brinquedotecas. Pesquisadora na

Área Infantil.

4Eneida Simões da Fonseca PhD em Desenvolvimento e

Educação de Crianças Hospitalizadas (Inglaterra), Mestre em Educação Especial (Noruega), Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Classe Hospitalar do Hospital Municipal Jesus do Rio de Janeiro.

brincadeiras, crianças e adolescentes exploram,

descobrem, aprendem sobre o mundo à sua volta

e, principalmente que, em uma situação de

internação hospitalar, toda a sua rotina é

modificada.

O trabalho com brinquedoteca no hospital é

atual e necessário para o bem estar de crianças

que estão internadas. A brinquedoteca é um

espaço onde os pacientes aprendem a

compartilhar brinquedos, histórias, emoções,

alegrias e tristezas sob a condição de

hospitalização.

Além da brinquedoteca hospitalar, temos

também no hospital a classe hospitalar. De

acordo com Fonseca (2008) a classe hospitalar é

um espaço que tem como objetivo atender às

necessidades pedagógicas- educacionais

relativas ao desenvolvimento psíquico, físico e

cognitivo do jovem e da criança dada as suas

condições de saúde. A classe hospitalar garante

procedimentos didáticos, recursos humanos,

materiais diferenciados e espaço físico adequado

ao atendimento das necessidades do educando.

Sabemos que a educação é um fenômeno

humano, e, portanto, histórico cultural, político,

filosófico e social que perpassa os limites da

escola.

A classe hospitalar, dentre os seus

objetivos e funções, busca disponibilizar um

atendimento pedagógico e recuperar a

socialização da criança por meio de um processo

de inclusão. Outro fator abordado e que contribui

para o aprendizado da criança no contexto

hospitalar é o pedagogo que tem como objetivo

dentro da classe hospitalar de dar continuidade

ao processo de escolarização da criança

hospitalizada utilizando na sua práxis o lúdico

como recurso facilitador desse processo.

Dentro dessa perspectiva pergunta-se,

como os recursos lúdicos são utilizados no

atendimento pedagógico realizado pelo professor

na classe hospitalar? Recurso esse, de suma

importância utilizado nas brinquedotecas e

classes hospitalares. O lúdico ajuda a criança a

entender o que está ao seu redor, e a construir

aprendizagens necessárias para o seu cotidiano,

como respeitar regras, socializar-se, comunicar-

se, raciocinar buscando soluções para problemas

que lhe são impostos ou encontrados. Auxilia a

criança enquanto internada, facilitando uma

melhor aceitação dos procedimentos médicos.

Focado na premissa de que a atividade

lúdica é inerente à vida humana e que a criança

3

se constrói na ação do brincar, jogar, imaginar,

fantasiar, criar, nas interações com o outro, nos

processos de ensino e aprendizagem, o presente

estudo objetiva contribuir com as discussões

sobre a educação lúdica na classe hospitalar em

vista da crescente expansão desses ambientes

educacionais. A elaboração do objetivo geral que

conduziu esse trabalho consistiu em investigar e

compreender como os recursos lúdicos são

utilizados no atendimento pedagógico realizado

pelo professor no contexto da classe hospitalar.

No intuito de ampliar e complementar os

conhecimentos a serem adquiridos delineamos

três objetivos específicos, Descrever a

importância da brinquedoteca hospitalar como

espaço de reafirmação da infância; Conhecer e

compreender a concepção pedagógica sobre a

importância do lúdico com suas implicações e

contribuições nos processos de desenvolvimento

e recuperação da criança hospitalizada; Identificar

o papel do pedagogo na classe hospitalar.

Este artigo trata de uma pesquisa

exploratória. Onde buscamos esclarecer como se

dá o processo lúdico com crianças hospitalizadas.

O meio utilizado foi a pesquisa

bibliográfica. Foi feito um apanhado geral sobre

os principais trabalhos já realizados, revestidos

de importância, pois nos forneceram dados atuais

relacionado com o tema.

Quanto à abordagem do problema, a

pesquisa foi tratada de forma qualitativa.

REFERENCIAL TEÓRICO

1- LÚDICO: UM OLHAR HISTÓRICO

A palavra ludicidade tem sua origem na

palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo".

Mas este termo não está apenas ligadoà

sua origem, pois dessa forma estaria se referindo

apenas ao jogo, ao brincar, ao movimento

espontâneo. Porém, este conceito evoluiu e

deixou de ser considerado apenas sinônimo de

jogo. Segundo Luckesi (2002), o lúdico é algo

espontâneo e faz parte da atividade humana.

Para esse autor o fenômeno da ludicidade

foca a atividade lúdica como uma experiência

interna do sujeito.

O lúdico ajuda a criança a entender o que

está ao seu redor, e a construir aprendizagens

necessárias para o seu cotidiano, como respeitar

regras, socializar-se, comunicar-se, raciocinar

buscando soluções para problemas que lhe são

impostos ou encontrados. Sendo assim a

brincadeira é um instrumento que a criança

possui para comunicar-se com outras crianças.

Nessa perspectiva, podemos dizer que o

desenvolvimento da criança acontece através do

lúdico, ela precisa brincar para crescer.

O brinquedo, a brincadeira, o jogo, o

brincar são meios pelos quais refletem a

ludicidade e preenchem um lugar importante na

vida da criança e no seu desenvolvimento.

A ludicidade faz parte da história da

humanidade. De acordo com Huizinga5 (2000) na

antiguidade os jogos eram um dos principais

meios por onde aconteciam às interações sociais,

estavam ligados a cultos sagrados, rituais

religiosos e ao teatro que era determinado para a

alta sociedade. Eram caracterizados por

elementos como ordem, tensão, mudança,

movimento, solenidade e entusiasmo.

O autor explica que ao jogar, o indivíduo se

transportava para um mundo diferente do seu dia

a dia.

Kishimoto6 (1994) sustenta que as

primeiras reflexões sobre a importância do

brinquedo e do jogo na educação acontecem em

Roma e na Grécia, contextos em que o lúdico se

fazia presente.Os romanos usavam os jogos para

formar soldados e cidadãos obedientes. Para os

gregos os jogos eram utilizados para promover a

formação estética, espiritual e também a cultura

física.

É importante salientar a importância das

atividades lúdicas desde o princípio da

humanidade, em seus diversos contextos. O

lúdico envolvia os adultos e não apenas as

crianças, sendo utilizado para diversos fins.

Volpato (2002) acredita que assim como o

jogo, o brinquedo, em algumas sociedades,

também possuía uma característica mística e

mágica e a sua produção não era destinada para

a criança, como ocorre atualmente, pois

antigamente, a infância não possuía um lugar

separado do mundo adulto. Não existia

separação entre as atividades lúdicas do adulto e

da criança. Havia uma falta de atenção com a

criança que não recebia afeto e eram poucos os

cuidados com elas, contribuindo para um alto

índice de mortalidade.

5 Johan Huizingafoi professor de História Geral e holandês em

Groningen e em Leiden 6Tysuko Morchida Kishimoto ProfessoraTitular da

Universidade de São Paulo Coordenadora do Laboratório de Brinquedo e Materiais Pedagógicos da USP. Autora de diversas obras sobre jogos, brinquedos e educação infantil.

4

Mesmo na sociedade antiga, em que a

ludicidade não estava vinculada diretamente ao

mundo infantil, Kishimoto (1994), mostra que

alguns filósofos como Platão e Aristóteles,

julgavam que era importante aprender brincando

e acreditavam na introdução do brinquedo e do

jogo na educação como agente que gera prazer e

conhecimentos sociais.

Nos dias atuais, existe no Brasil uma

cultura lúdica que utiliza seus recursos como

elementos que reforçam o desenvolvimento da

linguagem, da imaginação, da criatividade, do

cognitivo, desenvolvem a socialização e a

interação, provocando novas competências,

habilidades e aprendizagens.

2-BRINQUEDOTECA

A brinquedoteca é um espaço criado para

favorecer o brincar. É um local de descobertas,

estimulação e criatividade, objetiva resgatar o

lúdico e a ludicidade infantil. É um espaço que

tem possibilidade e o potencial para desenvolver

características lúdicas.

De acordo com Cunha (1994) a

brinquedoteca é um território onde são

defendidos os direitos da criança à infância, ela

foi criada para as crianças que, em nome do

progresso de nossa civilização, perderam o

espaço e o tempo para brincar.

A criança que vai entrar em uma

brinquedoteca precisa ser tocada pela magia dos

brinquedos, das cores, dos livros de histórias.

Precisa ser um ambiente colorido que estimule o

faz de conta, a dramatização, a construção, a

solução deproblemas, a socialização e a vontade

de inventar.

Santos7 (1997) relata que uma

Brinquedoteca não significa apenas uma sala

com brinquedos, mas em primeiro lugar, uma

mudança de postura frente à educação. É mudar

nossos padrões de conduta em relação a criança;

é abandonar métodos e técnicas tradicionais; é

buscar o novo; é acreditar no lúdico como

estratégia do desenvolvimento infantil.

7Santa Marli Pires dos Santos - Mestre em Educação,

Professora da Universidade Federal de Santa Maria, Diretora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil, do Centro de Educação.Presidente da Associação Gaúcha de Brinquedotecas.

As brinquedotecas brasileiras surgiram na

década de 80, sendo consideradas como espaços

criados com o intuito de proporcionar estímulos

para que a criança possa brincar de forma livre.

De acordo com Cunha (1995), nesses

espaços se encontram brinquedos dos mais

variados, coloridos, novos, usados, de madeira,

plástico, metal, pano, antigos, contemporâneos,

os baratos, os caros. Brinquedos que vão realizar

sonhos, desmistificar fantasias ou simplesmente

estimular a criança a brincar de forma

espontânea. Nesse sentido, as brinquedotecas

são depósitos de objetos que não tem vida em

caixas e estantes, mas quando chegam às mãos

das crianças criam vida.

A partir disso, as funções das

brinquedotecas são caracterizadas como:

Terapêuticas, na qual a recuperação de diversos

distúrbios psicomotores é feita através ou com

ajuda dos brinquedos; Comunitárias, que são

brinquedotecas feitas, organizadas e mantidas

pela comunidade; Sucatoteca, lugar onde os

brinquedos são confeccionados pelos próprios

usuários, no qual os materiais utilizados são

recicláveis; Escolar, são as brinquedotecas das

instituições de ensino; Pedagógica, são os

laboratórios para estudos sobre brinquedo em

universidades que possuem cursos em caráter de

licenciaturas; Itinerantes, são brinquedotecas

móveis, construídas dentro de ônibus ou

caminhões que possibilitam que os brinquedos

vão até as crianças mesmo em lugares distantes

ou de difícil acesso; Hospitalar, são

brinquedotecas instaladas em hospitais.

Hospitais que utilizam o brinquedo e a

brincadeira na recreação hospitalar buscam

momentos descontraídos e agradáveis que

proporcionem a aproximação da criança com a

realidade que existe fora do hospital.

De acordo com Cunha (1995) a

brinquedoteca que é um ambiente de encontro de

pacientes e acompanhantes, auxilia no processo

de sociabilização da criança, pois na presença de

outras, a criança não se sentirá isolada em seu

quarto, mas compartilhará sua passagem no

hospital com outros amigos.

A brinquedoteca tem como objetivo

valorizar as atividades lúdicas e criativas. Ela

também estimula o desenvolvimento global das

crianças, dando condições para que as crianças

brinquem com espontaneidade, despertando o

interesse por uma nova forma de animação

cultural que pode diminuir a distancia entre as

gerações.

5

Para esse autor a brinquedoteca é um

espaço criado para favorecer a brincadeira. É um

espaço aonde as crianças (e os adultos) vão para

brincar livremente, com todo o estímulo a

manifestação de suas potencialidades e

necessidades lúdicas.

De acordo com Cunha (1997), as

brinquedotecas têm entre seus objetivos oferecer

um espaço onde a criança brinque sossegada,

sem cobranças e sem sentir que está

atrapalhando ou perdendo tempo;Estimular o

desenvolvimento e a capacidade de se

concentrar; Favorecer o equilíbrio

emocional;Oportunizará expansão de

potencialidades;Desenvolver a inteligência,

criatividade e sociabilidade;Proporcionar acesso a

um número maior de brinquedos, de experiências

e de descobertas;Incentivar a valorização do

brinquedo como atividade geradora de

desenvolvimento intelectual, emocional e

social;Valorizar os sentimentos afetivos e cultivar

a sensibilidade.

Na atualidade, as atividades lúdicas

envolvem diferentes setores da sociedade como:

grandes empresas, universidades, escolas,

hospitais e presídios que reconhecem o valor da

ludicidade para a melhoria de vida das pessoas.

No âmbito escolar, o brincar é reconhecido como

uma das atividades fundamentais para o

desenvolvimento da identidade e autonomia,

conforme expresso no Referencial Curricular

Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 2000).

Seguindo esta tendência é que surgem as

brinquedotecas hospitalares como uma das

iniciativas para promover a humanização no

hospital, através do atendimento diferenciado à

criança que necessita de internação em

decorrência de acidente ou doença.

2.1-BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

Quando uma criança sofre uma internação

hospitalar, há uma modificação no seu curso de

desenvolvimento e na sua forma de ver o mundo.

A internação promove uma série de alterações na

rotina e na vida da criança e dos seus familiares.

Para assisti-los, faz-se necessária uma atuação

que busque diminuir os efeitos da doença e do

seu tratamento, pois, muitas vezes, eles

acometem às crianças de forma global.

Durante a hospitalização a criança poderá

ser prejudicada nos aspectos biológico,

psicológico e social, devido ao afastamento

familiar, intervenções médicas, interrupção da

escolaridade e, principalmente, aos

comprometimentos oriundos da patologia.

Geralmente, o ambiente hospitalar não atende

sua condição de criança no que diz respeito às

suas necessidades sociais, emocionais intensas e

desorganizadoras impregnam o ambiente,

afetando profundamente o comportamento e a

disposição dos pequenos pacientes (Sigaud8,

1996).

A hospitalização infantil promove um

confronto com a dor, a limitação física e a

passividade, aflorando sentimentos de culpa,

punição e medo da morte. Para dar conta de

elaborar essa experiência, torna-se necessário

que a criança possa dispor de instrumentos de

seu domínio e conhecimento. Nessa perspectiva,

o brincar aparece como uma possibilidade de

expressão de sentimentos, preferências, receios,

hábitos, mediação entre o mundo familiar e

situações novas ou ameaçadoras e elaboração

de experiências desconhecidas ou

desagradáveis.

A promoção de atividades lúdicas no

ambiente hospitalar traz a possibilidade de

atender a criança de forma integral, mesmo

estando ela num espaço limitado, de estar

acometida pelo mal estar do corpo doente e de

ter que enfrentar algumas dificuldades como a

rotina hospitalar, a hegemonia do adulto e da

própria fragilidade infantil decorrente da doença.

Assim, a brinquedoteca é o lugar onde a

criança pode expressar seus sentimentos,

tornando a internação menos dolorosa. Na origem

da sua história, as brinquedotecas brasileiras

diferem-se desses primeiros espaços que se tem

notícia. Em outros países, como por exemplo, nos

Estados Unidos, as brinquedotecas são vistas

como locais de empréstimos de brinquedos.

Para garantir as atividades lúdicas às

crianças hospitalizadas, em 1999 foi criado o

projeto Lei Nº 2.087, transformado posteriormente

na Lei Nº 11.104 de 21 de março de 2005. Esta

lei obriga os hospitais com atendimento pediátrico

de internação, instalarem em suas dependências

uma sala de recreação. Nesse sentido, a

brinquedoteca hospitalar tem por objetivo

amenizar a estadia da criança, possibilitando a

ela, momentos menos traumáticos, mais felizes

durante sua recuperação. Este é o espaço que a

criança possui para brincar de forma livre sem

que o adulto a atrapalhe, na qual predominam a

criatividade e a imaginação (Cunha, 1998).

8 Cecília Helena de Siqueira Sigaud- Professora da Escola de

Enfermagem, Universidade de São Paulo

6

O brincar é algo inerente à criança. O

lúdico vai ter muita importância durante a

internação, para amenizar o sofrimento dela em

ficar longe da escola, dos amigos e da família.

Sobre os benefícios da brinquedoteca

hospitalar, Ortiz (2005) aponta que estes, hoje, se

apresentam como alternativa real de melhora na

qualidade de assistência e de garantia do direito

de brincar. Resultados visíveis em relação à

abordagem do familiar têm sido alcançados,

muitas vezes, até indiretamente, levando a uma

melhor adaptação de toda a família durante o

período de hospitalização e a um menor desgaste

da relação com a criança.

3-PEDAGOGIA HOSPITALAR

No decorrer da história, a Pedagogia

Hospitalar tem apresentado avanços

consideráveis dentro de sua área de atuação. No

decorrer dos anos seu campo de estudo vem

sendo mais debatido e seu conceito está cada

vez mais divulgado, porém, antes dela ser

amplamente expandida, no século XVIII, o

hospital não era visto como um lugar onde os

doentes recebiam tratamento, eram vistos como

pobres moribundos. Assim, o atendimento era

sem fim terapêutico, sendo que as pessoas que

trabalhavam nos hospitais não buscavam

necessariamente a cura dos doentes, mas a

salvação eterna por meio de obras caritativas

(MONTARROYOS apud França, 2011).

Nesse momento, segundo Zardo9 (2007) o

hospital era visto principalmente como uma

instituição de assistência, separação e exclusão

dos pobres. Dessa maneira a função do hospital

era recolher o pobre para livrar a sociedade do

perigo de contágio.

Para essa autora, a humanização do

hospital de modo necessário passa por mudanças

da instituição hospitalar como um todo e pela

própria transformação social. Dessa maneira, os

hospitais infantis passam a se esforçarem para

que sejam realizados trabalhos

inter/multidisciplinares, para que os pacientes

tenham atendimentos de qualidade. Com isso na

segunda metade do século XX, iniciam-se os

trabalhos da pedagogia hospitalar e com ela as

9Sinara Pollom Zardo, Doutora em Educação pela

Universidade de Brasília. Professora Visitante do Departamento de Teoria e Fundamentos da Faculdade de Educação da UnB. Professora pesquisadora do grupo de pesquisa Gerações e Juventude da Faculdade de Educação/UnB.

classes hospitalares vindas de estudos, práticas e

observações realizadas por psicanalistas e

psiquiatras em orfanatos, asilos, creches e

demais instituições de atendimento à infância, em

países como a Inglaterra, os Estados Unidos e o

Canadá.

O atendimento educacional que a classe

hospitalar propõe vem dar novo significado para a

internação, cada vez que se valoriza o potencial

da criança hospitalizada, deixando que ela

participe do mundo que a rodeia e tome posse

dos conhecimentos que fazem parte desse

mundo. Dessa maneira a criança não se sente

privada e diferente por sua condição de doente,

sendo respeitados seus limites clínicos, psíquicos

e emocionais sem que se subestime sua

capacidade de aprender, ensinar e se relacionar.

Na experiência adquirida em sua trajetória,

a Pedagogia, permitiu uma análise, um acervo

teórico-prático de ensino e aprendizagem,

credenciando-a a auxiliar a Pedagogia Hospitalar,

o que deixa claro a necessidade da existência de

um aperfeiçoamento, para que exista o

desenvolvimento de uma prática educativa

competente e comprometida. (MATOS &

MUGGIATTI, 2006)

A hospitalização, de certa forma, ameaça o

ser humano de forma muito profunda e quase

sempre vem acompanhada pelos sentimentos de

medo e angustia. Para crianças e jovens, essa

ameaça é ainda mais dolorosa, pois percebe o

hospital como um ambiente de sofrimento e dor, o

que geralmente é reforçado por procedimentos

invasivos a que quase sempre são submetidos

durante o tratamento.

Dessa maneira se faz necessárias

adaptações do hospital à criança, como o

atendimento pedagógico que procura oferecer a

essas crianças momentos práticos de

envolvimento que, vão permitir que continuem

aprendendo e se desenvolvendo no hospital,

possibilitam amenizar a dor causada tanto pelos

procedimentos médicos, como pela carência

ocasionada pelo fato de estar longe de familiares,

amigos, enfim, de sua rotina diária. Por isso a

prática educativa dentro do hospital é tão

importante para a criança que se encontra

hospitaliza, pois nada impede que ela adquira

novos conhecimentos.

3.1- O PAPEL DO PEDAGOGO HOSPITALAR

O campo de atuação do pedagogo está

crescendo muito, por esse motivo o pedagogo

7

tem que estar bem preparado para atuar não só

na escola, na gestão, supervisão e coordenação,

mas em empresas e hospitais. Segundo Libâneo

(2001), o pedagógico passa toda a sociedade,

ultrapassando o âmbito escolar formal,

estendendo-se pelas esferas mais amplas da

educação informal e não formal. O pedagogo pode atuar em diferentes

âmbitos sociais, pois a educação está presente

em todos os contextos. Portanto é necessário ter

uma prática educativa competente e

comprometida.

Segundo Vasconcelos (2006) as primeiras

intervenções por pedagogos ocorridas em

hospitais iniciaram-se no ano de 1935, nos

arredores de Paris, quando Henri Sellier

inaugurou uma escola para crianças inadaptadas.

Seu trabalho foi expandido por seguidores – na

Alemanha, França, em outros países da Europa e

nos Estados Unidos – que visavam o atendimento

às crianças infectadas pela tuberculose, moléstia

muito comum nessa época que, por ser muito

contagiosa, acabava por afastá-las da escola.

O pedagogo no ambiente hospitalar pode

ter uma função múltipla, ele pode trabalhar nos

recursos humanos, no processo de formação

continuada dos funcionários, na capacitação de

profissionais independente se é da área de

educação ou não.

O papel do pedagogo no contexto

hospitalar é o de estimular a aprendizagem para

tornar o ambiente menos hostil. A criança

continua se desenvolvendo no período em que se

encontra hospitalizada, portanto cabe ao

educador o papel de estimulá-la no processo de

construção do seu conhecimento.

O pedagogo auxilia a criança a ter contato

com o mundo fora do hospital, ajudando na

elevação da autoestima e a entender melhor a

doença e o ambiente no qual está inserida. Com

sua assistência o ambiente de dor é

transformado, mudando o foco da doença e

trazendo uma nova perspectiva de vida para a

criança internada; a figura do professor acalma e

tranquiliza por ser uma pessoa conhecida do

cotidiano escolar. Fonseca (2008) ressalta que o

professor da escola hospitalar vai ser um

mediador das interações da criança com o

ambiente hospitalar.

A pedagogia hospitalar e o pedagogo têm

por objetivo não deixar a criança à margem do

processo educativo durante sua internação, não

se voltando apenas para o currículo escolar, mas

também a criação de condições concretas que

permitam à criança continuar se desenvolvendo

em todos os aspectos.

3.2- OS DIREITOS DAS CRIANÇAS:

PRINCÍPIOS LEGAIS DA PEDAGOGIA

HOSPITALAR

Ao buscar promover a educação para os

educandos impossibilitados de frequentar a

escola regular, encontramos no Brasil a

discussão sobre a educação especial que ganhou

força com a Constituição de 1988, pois nela está

expresso o direito à educação por meio do direito

à aprendizagem e a escolarização, sendo

exercido principalmente por meio do acesso a

escola de educação básica. A Constituição

Federal (BRASIL,1988) estabelece que a

educação é direito de todos e dever do Estado e

da família e visa o pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Porém, muitas circunstâncias podem

interferir na frequência escolar, permanente ou

temporariamente, diante disso é necessário que

essa direito seja garantido em diferentes

situações. A Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) nº 9.394 de dezembro

de 1996 respaldada na Constituição Federal de

1988, garante aos portadores de necessidades

especiais os serviços necessários para a sua

aprendizagem e desenvolvimento, respeitando

suas particularidades e necessidades. Ainda em

seu capitulo V da Educação Especial, a LDB,

dispõe que: Art. 58 – Entende-se por educação especial, para o efeito desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente da rede regular de ensino, para educando portador de necessidade especial. §2º - o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições especificas

dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. (BRASIL, 1996)

No mesmo sentido, a Lei nº 8.069 de julho

de 1990, dispõe sobre a proteção integral à

criança e ao adolescente, com as modificações

introduzidas pela Lei nº 8.242 de outubro de

1991, em seu Capitulo IV Do direito, à cultura, ao

esporte e ao lazer, estabelece que: Art. 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, intelectual, moral,

8

espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1991).

O direito à continuidade de escolarização

às crianças e jovens que estão hospitalizados é

reconhecido através do Estatuto da Criança e do

Adolescente Hospitalizado, por meio da

Resolução nº 41 de outubro de 1995, do

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente, (CONANDA), que estabelece em

seus artigos oitavo e nono, o direito ao aluno de

ser hospitalizado quando necessário sem que

haja diferença de cada indivíduo, além de que

esse tenha conhecimento adequado do seu

diagnóstico e do tratamento sobre sua

enfermidade, respeitando-se sua fase cognitiva,

havendo amparo psicológico quando necessário,

e permitindo-o desfrutar de alguma forma de

recreação, programas de educação para a saúde

e acompanhamento do currículo escolar.

As Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial na Educação Básica de 2001, trata do

atendimento em Classe Hospitalar estabelece

que o atendimento educacional especializado

pode ocorrer fora de espaço escolar, nesses

casos, certificada a frequência do aluno mediante

relatório do professor.

A Lei 2.809 de outubro de 2001 estabelece

o direito da criança e do adolescente ao

atendimento pedagógico e escolar na atenção

hospitalar do DF, em Unidade de Saúde do

Sistema Único de Saúde do Distrito Federal,

SUS/DF, onde é garantido às crianças e

adolescentes hospitalizados em Unidades do DF

o atendimento pedagógico (BRASIL, 2001).

Diante disso, dizemos que o atendimento

às crianças e jovens hospitalizados é um direito

do todos os educandos, garantindo por lei, pelo

tempo que estiverem afastados ou impedidos de

frequentar a escola, seja por dificuldades físicas,

psicológicas ou mentais. Portanto o hospital tem

possibilidades de dar o direito ao atendimento das

necessidades e interesses da criança mesmo

quando ela está com a sua saúde comprometida. Em outras palavras, não seria errôneo considerar o ambiente hospitalar como aquele onde coexistem dor, debilidade orgânica e a necessidade de muito repouso se, neste mesmo ambiente, não coabitassem também vida, movimento e energia. Pelo menos é o que acontece nas interações entre os profissionais da educação e as crianças no dia-a-dia da escola no ambiente hospitalar, desde que nela não se menospreze (...) a dimensão vivencial, e de fato se escute o que o aluno tem a dizer. Assim, a escola hospitalar (...) não é segregativa, mas transparece com o caráter inclusivo, apesar das características do hospital (FONSECA, 2008, p. 15).

Assim, propiciar um aprendizado

significativo para as crianças e jovens

hospitalizados está intimamente ligada a tornar a

difícil experiência causada pela internação em

momentos de aprendizado e autoconhecimento.

De acordo com a resolução CNE/CEB, nº 2 de 11

de setembro de 2001, a Educação Especial

enquadra-se como modalidade de educação

escolar, entendendo-a como processo

educacional definido por uma proposta

pedagógica que assegure recursos e serviços

educacionais especiais de modo a garantir a

educação escolar e promover o desenvolvimento

das potencialidades dos educandos que

apresentam necessidades educacionais

especiais.

Nos dias atuais as políticas educativas

entendem que a Educação Especial engloba

várias necessidades educativas especiais, seu

objetivo principal é promover uma qualidade de

vida melhor àqueles que, necessitam de um

atendimento mais especializado, ou seja,

direciona-se ao atendimento de pessoas que

precisam de métodos, recursos e procedimentos

especiais durante o seu processo de ensino-

aprendizagem.

O MEC em seu documento Classe

Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar:

Estratégias e Orientações (2002) declara que

quando o aluno encontrar-se impossibilitado de ir

a escola, durante o período em que trata da

saúde ou de assistência psicossocial, é

necessário formas alternativas de organização e

oferta de ensino de modo que se cumpra os

direitos à educação e à saúde.

Em 2008 o MEC faz um documento

denominado Política Nacional de Educação

Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

que afirma que o atendimento educacional

especializado tem a função de identificar, elaborar

e organizar recursos pedagógicos e de

acessibilidade que acabem com as barreiras para

a participação dos alunos, considerando as

necessidades específicas de cada um. Assim

podemos dizer que um dos papeis do pedagogo

hospitalar é auxiliar o educando a transpor

barreiras.

Segundo Sartoretto (2011) os direitos das

pessoas com necessidades educacionais

especiais não precisariam estar em leis, pois,

segundo ele, “são direitos originários

fundamentais, que decorrem do simples fato de o

sujeito desses direitos ser pessoa humana”

(SARTORETTO, 2011, p. 2). Porém para que

9

sejam mais explícitos e fiquem mais claras as

responsabilidades de quem deve garantir esses

direitos, se faz necessário que estejam contidos

em textos legais.

Tais direitos foram reconhecidos pela

primeira vez, na Declaração Universal dos

Direitos do Homem, em 1948, onde é declarado

que todas as pessoas nascem livres e iguais em

dignidade e direitos, sem distinção de raça, cor,

sexo, língua, religião, opinião política ou de

qualquer outra natureza. Ou seja, ao afirmar que

todas as pessoas nascem iguais, afirmaram

também que o direito a educação não está

condicionado a nenhum pré-requisito.

(SARTORETTO, 2011)

Mesmo diante de vários documentos que

garantem o acesso do aluno com necessidades

educacionais especiais temporárias em razão de

adoecimento, seja no hospital, seja em domicílio,

e a sua inclusão no processo educativo, fica claro

que a legislação ainda é desconhecida por

grande parte das escolas, dos pais e dos próprios

hospitais.

Estes devem incluir nas suas ações de

humanização, meios de parceria com os sistemas

de educação a fim de disponibilizar em suas

unidades de saúde, o acesso à escola, atendendo

às necessidades físicas, cognitivas e afetivas das

crianças enfermas, garantindo o seu direito ao

acesso e/ou continuidade ao currículo escolar de

acordo com os Parâmetros Curriculares

Nacionais. Se essas ações forem realizadas,

haverá a possibilidade de se evitar a exclusão

escolar e social, ao mesmo tempo em que se

garante a participação destes indivíduos na

sociedade, no exercício pleno da cidadania.

3.3- CLASSE HOSPITALAR E O LÚDICO

No ambiente hospitalar, o ensino e

aprendizagem são realizados na classe

hospitalar. É um local que garante à criança e ao

jovem hospitalizado o direito à educação.

Fonseca (2008) acredita ser um espaço que tem

como objetivo atender às necessidades

pedagógicas-educacionais relativas ao

desenvolvimento psíquico, físico e cognitivo do

jovem e da criança dada as suas condições de

saúde.

A educação em classe hospitalar é um

direito garantido por uma extensa legislação, que

de forma direta ou indireta criam margem para

interpretações que justifiquem essa modalidade

de ensino. Atualmente é reconhecida e orientada

pelo Ministério da Educação (MEC).

Anteriormente à existência da legislação, era um

espaço concreto dentro de alguns hospitais

brasileiros, todavia sem amparo de uma lei.

No cenário das normativas brasileiras, o

Decreto 1044/1969 (BRASIL, 1969), é um dos

primeiros documentos brasileiros que fala acerca

da educação integrada à saúde. Trás em seu

texto a possibilidade do atendimento em classes

especiais aos educandos que, por condições de

saúde, não possam frequentar a escola.

A classe hospitalar vai garantir em seus

procedimentos didáticos, recursos humanos,

materiais diferenciados e espaço físico adequado

ao atendimento das necessidades do educando.

A Política Nacional de Educação Especial a

classe hospitalar (BRASIL, 1994) diz que um

ambiente hospitalar deve possibilitar o

atendimento educacional de crianças e jovens

internados que estejam em tratamento hospitalar.

No contexto do Distrito Federal, foi criada a

Lei nº 2.809/2001, para dispor sobre a garantia do

direito da criança e do adolescente ao

atendimento pedagógico e escolar durante o

período de internação hospitalar. Trata-se de uma

lei distrital que relata a obrigatoriedade da

escolarização no hospital como forma de garantia

dos direitos constitucionais da criança. É uma lei

que em seu texto define a classe hospitalar como

um lugar de promoção da infância, saúde e

educação. Em sua proposta a lei afirma que cabe

ao poder público local promover o atendimento

educacional em instituições hospitalares públicas

conveniadas e particulares contratadas pelo

Sistema Único de Saúde do Distrito Federal -

SUS/DF.

Dentro do convênio da classe hospitalar

existem as atribuições específicas vinculadas ao

atendimento da criança hospitalizada. O objetivo

da classe hospitalar é o de dar continuidade à

escolarização da criança internada. É o direito da

criança está internada e receber o atendimento

educacional, independente da sua situação de

saúde, isso é garantido pelo Estatuto da Criança

e do Adolescente (ECA10

) e pela Lei de Diretrizes

e Base Nacional (LDBEN11

).

10

Resolução nº 41 de outubro de 1995, do Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e do Adolescente, que estabelece em seus artigos oitavo e nono, o direito ao aluno de ser hospitalizado quando necessário sem que haja diferença de

cada indivíduo. 11

Art. 58 §2º - o atendimento educacional será feito em

classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições especificas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. (BRASIL, 1996)

10

Em seu funcionamento a classe hospitalar

pressupõe a criação de hábitos e rotinas

específicas ao cotidiano hospitalar, assim como

ocorre na escola regular. O estabelecimento de

uma rotina facilita o trabalho a ser desenvolvido

na classe quanto ao planejamento do pedagogo.

Fonseca (2008) afirma que, em geral, as

classes hospitalares funcionam no período

vespertino, uma vez que a rotina médico-

hospitalar tende a ser mais intensa no período da

manhã. Portanto, a diferentes acontecimentos da

rotina hospitalar, faz com que as interferências no

atendimento pedagógico façam parte da dinâmica

das atividades.

Como por exemplo, durante a realização de

uma atividade pode surgir à necessidade do

aluno se ausentar para realizar um procedimento

médico, ou receber uma visita. Essa rotina

diferenciada exige que o pedagogo faça um

planejamento, desenvolva, registre e avalie,

assim como no contexto escolar. Porém, o

planejamento e o currículo devem ser

fundamentados em práticas flexibilizadas e

principalmente humanizadas. A prática deve ser

dinamizada e flexível.

A classe hospitalar deve se adequar à

criança, e não a criança a ela. Ou seja, deve estar

disponível a criança quando esta dela precisar.

Essa especificidade da criança hospitalizada

coloca constantemente o pedagogo frente a

desafios distintos. Em situações que exigem que

ele crie estratégias para, por exemplo, incluir uma

criança que chega à classe após iniciada as

atividades, ou precisa sair antes do término das

atividades.

A classe hospitalar, dentre os seus

objetivos e funções, busca disponibilizar um

atendimento pedagógico e recuperar a

socialização da criança por meio de um processo

de inclusão. Isso requer um espaço físico

organizado e adequado às necessidades da

criança.

Aspectos como o tamanho da mobília, a

decoração, os recursos lúdicos, a disposição dos

materiais e a limpeza são elementos que

interferem no desenvolvimentodas atividades, nas

interações entre pares e no funcionamento da

classe.

O objetivo geral do pedagogo dentro da

classe hospitalar é o de dar continuidade ao

processo de escolarização da criança

hospitalizada, porém existem objetivos

específicos intrínseco a esse processo, por

exemplo, crianças em faixa etária escolar fora da

escola, (seis a quatorze anos) que estejam

internadas numa situação ou de vulnerabilidade

social, ou numa desestrutura familiar e que está

fora da escola. O papel do professor da classe

hospitalar é o de encaminhar junto com o serviço

social essa criança, se certificar porque ela está

fora da escola e encaminhá-la para o

procedimento de matrícula.

O professor da classe hospitalar tem vários

objetivos específicos ligados ao objetivo maior

que é o de dar continuidade ao processo de

escolarização. O trabalho realizado por esse

profissional, não se baseia em propiciar

atividades que ocupem o tempo da criança, mas

seu atendimento busca criar condições para dar

continuidade ao seu desenvolvimento, estimular a

sua aprendizagem e propiciar meios que a

ajudem em sua recuperação.

Dentro do hospital ela representa para a

criança uma pessoa confiável, pois faz parte de

seu mundo real e vivido fora do contexto

hospitalar. A presença desse profissional auxilia

de forma efetiva para o desenvolvimento da

criança e ajuda a construir uma nova concepção

de atendimento hospitalar fundamentado na

abordagem humanista. O professor é um

importante elo de interação entre a criança, pais

ou acompanhantes, o hospital, a doença, e o

mundo exterior.

A presença desse profissional proporciona

a criança condições que contribuem para o seu

desenvolvimento e a aprendizagem, auxiliando-a

a ter autonomia para reagir diante da nova

realidade. Na percepção de Rodrigues; Acredita-se que o trabalho do educador da Classe Hospitalar é de um facilitador, ou seja, ele vai mostrar aquele aluno enfermo, que mesmo diante de todas as dificuldades por ele enfrentadas, está tendo a possibilidade de não parar com o seu processo de desenvolvimento. O fato de estar longe da escola e da relação com seus amigos, não priva a criança ou o adolescente de dar continuidade no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento como aluno e como pessoa.Rodrigues (2012, p. 59)

Matos e Mugiatti (2009) afirmam que, por

ser um lugar desafiador, a classe hospitalar

proporciona a oportunidade de um fazer

pedagógico diferenciado do ambiente escolar. O

contexto hospitalar exige do pedagogo um novo

olhar sobre a educação. Ensinar consiste

estimular a criança a reconhecer-se como sujeito

capaz de desenvolver habilidades e construir

conhecimentos, respeitando, sobretudo, sua

rotina, seu estado psicológico, emocional e físico.

Assim, a classe hospitalar é um espaço

desafiador para o pedagogo, precisa-se promover

interações entre a equipe profissional (médicos,

11

enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais

dentre outros), fazer a mediação das interações

da criança com o ambiente hospitalar, favorecer a

construção de conhecimentos de forma

contextualizada a nova rotina da criança e utilizar

variados recursos na promoção dos processos de

ensino e aprendizagem.

É importante salientar que a aprendizagem

da criança torna-se mais fácil e prazerosa por

meio do lúdico.

O lúdico como recurso utilizado no hospital

possibilita a criação de espaços que favorecem a

proteção à infância e a continuidade do

desenvolvimento integral da criança enferma. É

uma alternativa para o professor tornar as

atividades mais dinâmicas dentro da classe

hospitalar e mediar os processos de ensino e

aprendizagem. A cultura lúdica possibilita um

conjunto de procedimentos que beneficiam o

atendimento pedagógico, retomam parte do

cotidiano da criança e impulsionam o seu

processo de cura e recuperação da saúde.

O lúdico no hospital resgata o brincar e o

jogar, atividades essenciais à infância. O brincar

reafirma a condição de criança ao pequeno

paciente, pois permite explorar novos contextos,

expressar comportamentos não demonstrados no

cotidiano hospitalar, interagir com o outro e com

objetos, liberar a criatividade e a imaginação,

fantasiar e superar situações de medo,

ansiedade, dor, e sofrimento.

Conforme Vygotsky (2007), o jogo auxilia

na manifestação da subjetividade da criança e

ajuda a preservar a sua autoestima e

autoconfiança. Para a criança que diariamente é

submetida a intervenções médicas, os momentos

que esses recursos propiciam repercutem de

maneira positiva no seu tratamento e

desenvolvimento. Contudo, a finalidade das

atividades lúdicas não consiste somente em

momentos de recreação e de diversão, que

distanciam a criança do possível sofrimento

gerado pelo evento da hospitalização. A

necessidade lúdica excede as demarcações do

brincar, da diversão e as dimensões educacional

e terapêutica, sendo uma necessidade básica da

personalidade, do corpo e da mente. Segundo

Fortuna (2007): O brincar no hospital não deve servir para distanciá-la da realidade, distraindo-a, tal como uma manobra diversionista, mas deve auxiliá-la a vivê-la: desenvolvendo seu raciocínio, sua capacidade de expressão, melhorando seu ânimo, a criança reúne forças e instrumentos intelectuais para compreender a realidade que vive. Fortuna (2007, p. 38):

A abordagem lúdica permite a vivência

plena da realidade, integra a ação, pensamento e

sentimento, promove o restabelecimento físico,

cognitivo, social e psicomotor da criança

hospitalizada, auxilia seu processo de cura e

permite conexões com vida externa ao hospital

(educação, família, amigos, escola, brinquedos,

brincadeiras, dentre outros).

Para Kramer (2007), a ludicidade faz parte

da vida humana e permite momentos de diversão,

espontaneidade, conhecimento, prazer e

satisfação. Incentivar o desenvolvimento e a

aprendizagem infantil de forma lúdica baseia-se

em respeitar a criança, seus tempos, suas

capacidades, enfermidade e subjetividade.

Favorecer essa prática humaniza a atuação dos

profissionais e os tratamentos médicos e

terapêuticos, desperta a sensorialidade,

motricidade, inteligência infantil, estimula a

construção da identidade e autoestima da

criança, permite espaços para a vivência da

infância, do brincar e do enfrentamento da

doença e a reafirma a identidade do professor

como mediador do lúdico, da educação e da

saúde.

A criança aprende por meio do brincar. Ela

brinca naturalmente e quase tudo se transforma

em objeto do brincar, ou seja, um pedaço de

papel vira um avião, uma caixinha se transforma

em cama, entre tantas outras possibilidades.

De acordo com Cunha (2000) nas décadas

de 1920 e 1930, já havia algumas pesquisas

sobre o brincar, mas foi entre as décadas de 1940

e 1950, com os trabalhos de Piaget, que as

pesquisas sobre a importância das brincadeiras

para as crianças despontaram.

A brincadeira representa um fator de

grande importância para a socialização da

criança, auxiliando-a desenvolver sua

imaginação, interesse e iniciativa, favorecendo

dessa forma a viver socialmente no mundo. A

criança não perde o direito ao brincar por estar

hospitalizada, pelo contrário, a brincadeira vai

amenizar o impacto da internação deixando o

ambiente do hospital mais humanizado.

Independente se a criança está

hospitalizada ou não, é necessário o lúdico. Pois

para aprender tem que brincar. É inato da

criança, ela brinca desde que nasce, cabe ao

professor estimular e canalizar isso por um

processo de aprendizagem.

12

A criança hospitalizada, segundo Viegas12

(2006), fica muito ansiosa, por estar em ambiente

diferente do que ela está acostumada. E, ainda,

as crianças, na maioria das vezes, ficam sem

ninguém da família, o ambiente hospitalar é frio,

as pessoas são geralmente muito técnicas, falam

algumas coisas que nem sempre as crianças

entendem.

Conforme esse mesmo autor, a criança no

contexto hospitalar sente dificuldades de

adaptação, por estar longe da família, e de todos

com quem convive no seu dia a dia, sem os seus

brinquedos ela fica triste, não dorme direito,

torna-se apática, podendo mostrar-se agressiva

pelo estresse que ela sofre.

Nesta perspectiva, o lúdico, as brincadeiras

e os brinquedos vêm para suavizar a dor da

criança e tornar o ambiente hospitalar mais

humano, ajudando-a a superar o momento de

enfermidade, por meio das atividades lúdicas.

Permitindo-lhe usar o seu imaginário e suas

fantasias, minimizando dessa forma a sua dor,

promovendo segurança, distração e confiança.

O lúdico é um instrumento utilizado para

animar a criança a se levantar do leito, a

brinquedoteca e a classe hospitalar lembram um

pouco mais a criança do seu universo infantil,

retirando-a um pouco da realidade em que está

vivendo, de remédio e tratamentos que por sua

vez à amedronta, trazendo estresse e deixando a

criança arredia, principalmente quando é a

primeira internação.

O lúdico independente do contexto é

importante no desenvolvimento da criança. No

ambiente hospitalar o lúdico estimula a criança a

sair do leito, faz com que a criança fique menos

estressada e aceite melhor os procedimentos,

exames e medicações que muitas vezes lhes

causam dor.

Dentro do estresse da situação de

internação o brinquedo ameniza o processo de

adoecimento. A criança que está apática e muito

acamada, quando existe um lugar onde ela possa

brincar, estudar e fazer seu dever, isso faz com

que a autoestima dessa criança melhore e ela

deseje levantar do leito.

O pedagogo precisa ter uma escuta

sensível e um olhar diferente em frente a essa

criança, pois ela trabalha com a questão da dor e

tem momentos que ela precisa ficar mais

quietinha. Terá o momento adequado para levá-la

12

Drauzio Viegas- Médico, Professor titular de Pediatria e

Puericultura da Faculdade de Medicina do ABC/SP.

ao contexto da classe hospitalar ou o material

adequado ao leito, dependendo da situação, pois

tem aquelas que estão em isolamento, nesse

caso é o pedagogo que vai a leito.

Quando a criança brinca ela reage de

maneira mais espontânea, interage melhor, pois o

lúdico é uma linguagem mais comum a ela. No

ambiente hospitalar quando você chega com um

bloquinho de colorir e não com um termômetro,

há um significado diferente, o contexto é

diferente.

Deve-se salientar a importância do brincar

no hospital, visto que o processo pelo qual as

crianças passam no período de internação gera

choque, causando medo e angústia, e os

procedimentos muitas vezes invasivos e

dolorosos desatam uma conduta de instabilidade

e introversão, impedindo assim a realização do

tratamento e a sua recuperação.

Frente esta situação problemática, o

brincar, o jogo, as atividades criativas e até

mesmo o dever que a professora passa, ou seja,

o lúdico é um auxílio essencial para amenizar o

estresse da internação e anular a impessoalidade

e indiferença que habitualmente acomete o

ambiente hospitalar.

Ainda sobre a importância do brincar, de

acordo com Fortuna (2007), além de permitir com

que a criança não interrompa o seu processo de

desenvolvimento cognitivo, tende a contribuir para

que o enfermo enfrente a sua doença ou estado

de enfermidade com outro olhar, o que

automaticamente influencia no seu tratamento.

O lúdico é algo prazeroso que traz alegria e

resgata a condição de ser criança. A criança

mesmo acamada vira outra e em consequência

disso, ela vai sentir-se mais próximo do normal se

afastando da doença.

A criança hospitalizada que tem um

momento na brinquedoteca ou classe hospitalar

aceita melhor a internação, os procedimentos da

enfermagem, esse momento onde o lúdico é

utilizado ajuda a amenizar o processo de

adoecimento.

4 - ANÁLISE DOS DADOS

Nesta seção, será descrita a metodologia

adotada nessa pesquisa.

4.1- PERCURSOS METODOLÓGICOS

O presente artigo está dividido em quatro

títulos e pretende explicitar os procedimentos

13

metodológicos que serviram de base para

compreender como os recursos lúdicos

contribuem para o atendimento pedagógico

realizado pelo professor no hospital.

Trata-se de uma pesquisa exploratória,

quetem como objetivo levar o pesquisador

familiarizar-se com o objeto de estudo. No nosso

artigo buscamos esclarecer como se dá o

processo lúdico com crianças hospitalizadas.

O meio utilizado foi a pesquisa bibliográfica

que é um estudo sistematizado sobre a ludicidade

no contexto hospitalar.

Quanto a abordagem do problema é uma

pesquisa qualitativa, que dá ênfase na

compreensão das intenções do significado dos

atos humanos.

A pesquisa bibliográfica está embasada

nas ideias teóricas de pesquisadores e

educadores como: I) Huizinga ((2000) que relata

a historicidade do jogo, abordando sua

importância no meio social e educacional;

II)Cunha (1998) que aborda os objetivos da

brinquedoteca; III)Kishimoto(1994) que relata a

importância do brincar; IV) Ortiz (2005),

Zardo(2007), Fonseca (2208), Fortuna(2007) e

Vasconcelos(2006)que abordam a tríade

educação, saúde e criança, corroboram sobre a

importância do lúdico na práxis do pedagogo no

contexto hospitalar, como forma de garantir os

direitos inerentes aos menores que se encontram

internados. Os eixos centrais das concepções

analisadas priorizam pelo desenvolvimento das

atividades lúdicas como forma de possibilitar o

acompanhamento educacional e a recuperação

da criança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo buscou através da pesquisa

bibliografia verificar a problemática de como os

recursos lúdicos cooperam para o atendimento

pedagógico executado pelo professor no contexto

da classe hospitalar e da brinquedoteca

hospitalar, buscamos conhecer as implicações e

contribuições da atividade lúdica no atendimento

pedagógico e nos processos de recuperação da

criança hospitalizada.

Ao apresentar essa pesquisa sobre a

importância e contribuições do lúdico na prática

pedagógica procuramos entender as perspectivas

do pedagogo como um sujeito capaz de efetivar

ações para que os processos de educação no

contexto do hospital estimulem a escolarização

da criança enferma, garanta a continuidade de

seu desenvolvimento, promova transformações

sociais e amenize os impactos da hospitalização.

Os conhecimentos construídos na

produção do referencial teórico, por meio da

pesquisa, demonstram que os recursos lúdicos

contribuem para que o atendimento pedagógico

seja humanizado e vá de encontro às

necessidades educacionais da criança enferma.

Verificamos de que forma os recursos lúdicos são

utilizados na prática pedagógica hospitalar.

O hospital é um lugar que tem suas

particularidades e que devido às demandas

sociais precisa criar espaços para as relações

entre saúde e educação. A construção de

espaços lúdicos no ambiente hospitalar contribui

para transformações nos paradigmas que

caracterizam o hospital apenas como local de

tratamento médico-hospitalar voltados para

diagnosticar e intervir em patologias. Mas como

lugar que ocorre interações sociais pode-se

concluir que o lúdico no hospital contribui nos

processos de relações interpessoais, na criação

de espaços de comunicação e desenvolvimento.

Nessa perspectiva, por meio da pesquisa

pode-se conhecer e entender sobre a importância

do lúdico com suas implicações e contribuições

na promoção da assistência integral da criança

hospitalizada, bem como nas aprendizagens e

como auxílio na recuperação da criança.

Portanto entendemos que, o professor da

classe hospitalar atende as crianças com suas

particularidades e esse local é organizado de

forma a respeitar as singularidades e as

necessidades de cada uma, auxiliando-as,

principalmente, em seus processos de

recuperação, desenvolvimento e aprendizagem.

O pedagogo hospitalar dentro da equipe de

multiprofissionais tem a possibilidade de afirmar

seu papel como educador e mediador de

interações, bem como trabalhar com cada aluno

individualmente com seus conteúdos de forma

lúdica e dinâmica.

O lúdico no hospital contribui para o bem

estar da criança, auxilia numa melhor

compreensão de sua hospitalização, favorece

interações, é suporte para que o atendimento do

professor seja de qualidade.

Dessa forma, a Pedagogia Hospitalar vai

além do conceito de escola e de hospital, à

medida que se propõe não somente a oferecer

continuidade da escolarização, mas também

mostra que é possível a integração da criança

hospitalizada, auxiliando não somente na

escolaridade e na hospitalização, mas em todos

14

os aspectos que decorrem do afastamento,

necessário, do seu cotidiano.

A Pedagogia Hospitalar ainda é um campo

pouco estudado, mas ela está em

desenvolvimento e cada vez mais aparece como

objeto de estudo de pesquisas na área de

educação. É importante salientar que a criança

que precisa ficar internada não para de se

desenvolver e nada impede que novos

conhecimentos possam ser adquiridos por ela

nesse novo contexto. Dessa forma é importante a

presença do pedagogo hospitalar, pois seu papel

é proporcionar à criança hospitalizada situações e

espaços variados, onde ela vivenciará

aprendizagens significativas que cooperem para

garantir o processo de desenvolvimento e

aprendizagem e ao mesmo tempo, por meios das

atividades lúdicas realizadas pelo pedagogo,

elaborem maneiras de lidar com os

procedimentos médicos de forma mais tranquila.

A Pedagogia Hospitalar é de suma

importância, mas como observamos é pouco

estudada.

Dessa maneira, se faz necessário elaborar

estudos futuros sobre o tema, que ainda está

carente de prática e, principalmente de teorias.

Ficando evidente a necessidade de aprofundar os

estudos sobre a Pedagogia Hospitalar e a

importância do lúdico como recurso facilitador da

aprendizagem e a forma com que esse recurso

contribui para amenizar o sofrimento das crianças

que diariamente são submetidas a procedimentos

médicos, muitas vezes dolorosos.

3

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