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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: TRABALHANDO AS DIFICULDADES
DE ESCRITA DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL II A PARTIR
DO GÊNERO CONTO DE FADAS (TRADICIONAL E RENOVADO)
Professora: Adriana de Fátima Durau Orientadora: Profª. Dra. Luciana Pereira da Silva
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados do Projeto de Intervenção Pedagógica desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), do Estado do Paraná. O projeto cujo título é “Aquisição da linguagem: trabalhando as dificuldades de escrita dos alunos do Ensino Fundamental II, a partir do gênero conto de fadas (tradicional e renovado)”, foi desenvolvido com os alunos do 6º ano, Ensino Fundamental II, do Colégio Estadual João Ferreira Küster, no Bairro Jardim Social, em Campo Largo -PR. O objetivo da aplicação foi trabalhar as dificuldades de escrita dos alunos, de modo que se tornem capazes de produzir textos coesos e coerentes. Observou-se a necessidade de que para o aluno produzir texto deve-se ter claras as condições de produção, difundidas na obra de Geraldi(1984), bem como conhecer as características específicas do gênero textual a ser produzido. Desse modo, tem-se que o uso da língua portuguesa deve servir à integração do aluno ao objeto de ensino, por meio da escrita e da leitura; por isso, as práticas de escrita devem ser apresentadas por meio de propostas instigantes e motivadoras. Além disso, a produção textual e a reescritura de textos devem estar incluídas no planejamento do professor, a fim de um desenvolvimento que reflita na integração e socialização dos alunos no mundo, tornando-os indivíduos críticos e participativos. Enfim, tem-se a intenção de comprovar que a escrita, atividade considerada penosa pelos educandos, pode ser menos árdua, e por que não, uma atividade prazerosa. Sabendo-se que esse prazer só será possível quando o educando sentir a necessidade de produzir texto, a segurança advinda da convicção do saber fazê-lo e, acima de tudo, encontrar sentido no seu texto e uma razão para fazê-lo.
Palavras-chave: Sequência Didática; Produção escrita; Conto de fadas; Língua Portuguesa.
1 INTRODUÇÃO O referido artigo tem como objetivo apresentar os resultados do Projeto de
Intervenção Pedagógica desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), do Estado do Paraná.
O projeto, cujo título é “Aquisição da linguagem: trabalhando as dificuldades
de escrita dos alunos do Ensino Fundamental II a partir do gênero conto de fadas
(tradicional e renovado)”, apresentou várias etapas, culminando com a produção
deste artigo científico.
Considera-se que a Língua Portuguesa, enquanto disciplina, desempenha um
papel fundamental na formação do indivíduo como agente da sociedade. Por isso, o
estudante ou profissional, independentemente da área, precisa conhecer bem as
normas da língua escrita para que assim possa elaborar textos coerentes e bem
estruturados, capazes de transmitir de forma clara suas ideias, ponto de vista ou
intenção.
Observa-se que a cada ano que passa o nível dos alunos que ingressam no
6º ano, Ensino Fundamental II, apresenta maior defasagem quanto ao quesito
produção escrita formal. Para tanto, é extremamente necessária uma reforma na
metodologia de ensino da Língua Portuguesa, pois muitas vezes o educador, por
despreparo ou por falta de orientação pedagógica, faz uso excessivo de gramática
normativa e/ou conceitual, limitando-se a corrigir erros de ortografia, deixando de
lado o uso reflexivo da língua.
Nessa perspectiva, Antunes (2007) argumenta que um dos maiores
equívocos está em se acreditar que conhecendo a gramática o discente terá a
oportunidade de garantir o domínio da leitura e, consequentemente, da produção
escrita com sucesso.
Tendo como objetivo diagnosticar as principais dificuldades de escrita dos
alunos do 6º ano, Ensino Fundamental II, no 2º semestre de 2013, foi aplicada uma
proposta de produção textual, tendo como motivação uma História em Quadrinhos, a
qual revelou a necessidade de desenvolver nos alunos as habilidades de leitura e
escrita, a partir do desenvolvimento de atividades metodológicas com objetivos pré-
definidos e que sejam bem delineadas, contínuas e motivadoras.
Tal proposta serviu como uma sondagem do conhecimento prévio dos alunos
a respeito do gênero textual conto de fadas. Esse diagnóstico norteou a produção da
Unidade Didática "Trabalhando as dificuldades de escrita dos alunos do 6º ano a
partir do gênero Conto de fadas (tradicional e renovado)", produzida para ser
desenvolvida com os alunos na "Implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola".
Nessa produção, a ideia foi justamente trabalhar as dificuldades de escrita
com os alunos do 6º ano, utilizando uma sequência didática composta por módulos
ligados ao gênero conto de fadas, criando situações de ensino-aprendizagem nas
quais os alunos foram envolvidos em prática de linguagem sócio-historicamente
construídas, recebendo condições de reconstruí-las em novas situações
comunicativas.
Uma “Sequência Didática” é um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual (oral ou escrito) e tem a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação. O trabalho será realizado
sobre gêneros que o aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente; sobre aqueles dificilmente acessíveis, espontaneamente, para a maioria dos alunos; e sobre gêneros públicos e não privados (DOLZ, NOVERRAZ, SCHNEUWLY, 2004, p. 97)
Confirmando a importância dessa colocação, Possenti (1996), acrescenta que
o domínio de uma língua é o resultado da aplicação de práticas significativas,
efetivas e contextualizadas.
Durante a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, houve
envolvimento e participação ativa dos educandos inseridos no processo,
possibilitando, dessa forma que todas as atividades propostas fossem realizadas
com sucesso, contribuindo para o desenvolvimento da capacidade crítica e criativa
dos alunos; além de procurar ampliar o domínio linguístico dos discentes, por meio
de um trabalho com a análise linguística reflexiva, tendo como ponto de partida e de
chegada a produção escrita do aluno.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A reformulação educacional das últimas décadas produziu a necessidade
crescente de se discutir o papel do ensino de Língua Portuguesa, bem como de
seus fundamentos teórico-metodológicos, passando por redefinições bastante
marcantes quanto aos seus objetivos e a sua concepção.
Considera-se que uma das finalidades fundamentais do ensino de língua é a
aprendizagem da língua escrita formal, que visa aprimorar os conhecimentos
discursivos e linguísticos dos educandos, a fim de que eles possam compreender os
discursos que os cercam socialmente e terem capacidade de interagirem com esses
discursos. É o domínio da linguagem escrita que lhes poderá possibilitar o
desenvolvimento ou participação em interações sociais mais complexas, mediadas
por gêneros mais formais e elaborados.
A linguagem nasce de uma necessidade social, que é de organizar a
experiência e o conhecimento humanos acumulados. Resulta de um esforço
histórico coletivo. É nessa perspectiva que o contato dos alunos com a produção de
textos escritos deve ser ampliado e diversificado, em que o professor assume um
papel interlocutivo na construção eficaz da aprendizagem da língua escrita. E os
alunos assumem o papel de autores do que escrevem, interagindo na escrita de
forma real.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (2008,
p.53), é na escola que a maioria dos alunos das escolas públicas têm acesso à
norma culta da língua, ao conhecimento social e historicamente construído. É nesse
mesmo ambiente que possivelmente encontrarão instrumentos que favorecerão a
inserção social e o pleno exercício da cidadania. Esse mesmo documento
acrescenta que é por meio da linguagem que o homem se reconhece humano,
interage e troca experiências, compreende a realidade em que está inserido e
percebe o seu papel como participante da sociedade. Em decorrência disso, a
língua, forma particular de linguagem, torna-se a principal ferramenta para a atuação
do sujeito em sociedade.
Considerando que todo o processo do ensinar Língua Portuguesa resulta na
produção textual, não se deve esquecer que a maneira de propor atividades com a
escrita vai interferir de modo significativo nos resultados alcançados.
Segundo Geraldi (1984), a produção textual na escola foge, na maioria das
vezes, do sentido real de uso da língua. Normalmente os alunos escrevem para o
professor ler e posteriormente corrigir os erros ortográficos, tornando o emprego da
língua artificial.
Nessa mesma linha de pensamento, Antunes (2003) salienta a importância de
o professor desenvolver uma prática de escrita escolar que considere o leitor, que
tenha delimitado um destinatário e finalidade ao escrever. Acrescenta que quem
escreve, escreve para alguém ler, não existe a escrita "para nada", "para nada
dizer".
Para tanto, é dever da escola propiciar situações reais de uso da língua,
levando em consideração que, como na visão baktineana (apud FARACO, 2003), a
língua não se apresenta como pronta e acabada, mas sim, é dinâmica, dialógica,
reflexiva, produtiva e se constitui num processo contínuo de evolução, centrado na
interação social dos locutores.
O fato de a produção estar sendo realizada em sala de aula não a condena a
ficar limitada a este espaço. É importante que o professor amplie o objetivo da tarefa
de escrita e assim conferira-lhe a maior finalidade possível; organizando
apresentações orais, exposições em murais, produção de jornais, a fim de que as
produções dos alunos sejam conhecidas. Atribuindo dessa forma sentido ao que se
escreve.
Na prática da escrita, há três etapas sugeridas por Antunes (2003, p.55):
inicialmente, tanto o professor quanto o aluno devem planejar o que será produzido,
bem como determinar qual gênero será contemplado, ampliar leituras sobre a
temática; a seguir, o educando escreverá sua primeira versão sobre a proposta
apresentada; por fim, o professor deverá mediar junto aos alunos o processo de
reescrita do texto produzido, atentando para a verificação se os objetivos propostos
foram alcançados, rever as normas de sintaxe, como a pontuação, ortografia,
paragrafação, a segmentação e a coerência do texto, entre outros. Levando em
consideração que o educando precisa compreender o funcionamento de um texto
escrito.
O ideal é que se crie, com os alunos, a prática do planejamento, a prática do rascunho, a prática das revisões, de maneira que a primeira versão de seus textos tenha sempre um caráter de produção provisória, e os alunos possam viver, como coisa natural, a experiência de fazer e refazer seus textos, tantas vezes sejam necessárias, assim como fazem aqueles que se preocupam com a qualidade do que escrevem (ANTUNES, 2003, p.65).
Nessa mesma perspectiva, Kato (1986) acrescenta que há muito não se
acredita mais que escrever seja só inspiração, como uma fórmula mágica. Segundo
a autora, até mesmo as produções mais criativas exigem a fase de pré-escritura e
também a pós-escritura.
Considera-se que parte dos erros cometidos pelos alunos nas produções
escritas constitui uma passagem obrigatória que permite a apropriação das
convenções da escrita. Nesse cenário, o texto passa a constituir unidade de estudo
e de ensino da língua. Ele não é somente ponto de partida para a reflexão sobre a
língua: ele é igualmente ponto de chegada. Geraldi justifica dizendo:
“É porque no texto que a língua – objeto de estudos – se revela em sua totalidade, quer enquanto conjunto de formas e de seu reaparecimento, quer enquanto discurso que remete a uma relação intersubjetiva constituída no próprio processo de enunciação marcada pela temporalidade e sua dimensões” (GERALDI, 1997, p. 135).
O mesmo autor dá a seguinte definição para texto:
uma sequência verbal escrita coerente, formando um todo acabado, definitivo e publicado: onde publicado não quer dizer `lançado por uma editora`, mas simplesmente dado a público, isto é, cumprido sua finalidade de ser lido, o que demanda o outro; a destinação de um texto é sua leitura
pelo outro, imaginário ou real".(GERALDI, 1997, p.100)
A produção textual é uma das atividades que valoriza o papel do sujeito na
sociedade, uma vez que é por meio de enunciados escritos que o indivíduo pode
interagir em seu ambiente social, expor seu posicionamento e agir sobre o mundo.
Para que isso ocorra efetivamente, não pode haver pressa, talvez o aluno não
produza um grande número de textos (o importante não é a quantidade, mas a
qualidade), mas, podendo revisar, alterar, reformular, escolher palavras mais
convenientes, encadeando os vários segmentos e o sentido do texto, sem dúvida
teremos autores escrevendo bem melhor, com mais clareza e precisão, escrevendo,
com mais sentido, textos adequados à situação exigida. Assim, a produção de um
texto é um processo de elaboração que exige racionalidade. É preciso ensinar ao
aluno como escrever, como reformular seu texto, além de propiciar-lhe,
anteriormente, conhecimento sobre o assunto a ser escrito, via leitura e discussões.
Antunes (2003, p.66) argumenta que oportunizando aos alunos produzirem
diferentes tipos de textos a escola terá cumprido seu papel social de intervir mais
positivamente na formação das pessoas para o pleno exercício de sua condição de
cidadãs.
Diversos gêneros textuais podem ser trabalhados em sala de aula com
objetivo de aprimorar a prática da escrita.
Em relação a essas tipologias textuais, as Diretrizes Curriculares fazem
referência a:
[...] convite, bilhete, carta, cartaz, aviso, notícia, editorial, artigo de opinião carta do leitor, relatórios, resultado de consultas bibliográficas, resultados ou pesquisas, resumos, resenhas, solicitações, requerimento, crônica, conto, poema, relatos de experiências, receitas, e- mail, blog, Orkut, etc. (2008, p.33).
Somente com o uso da língua escrita em práticas sociais é que os alunos
poderão chegar ao almejado domínio da escrita, devendo ser avaliados
continuamente ao fazerem uso da língua e reflexão sobre as diferentes
possibilidades do seu uso.
A fim de dar oportunidade de socializar as produções textuais dos alunos, o
professor pode usar algumas estratégias, entre elas: afixar textos de alunos em
murais das escolas, fazer produções (carta de leitor, carta de solicitação, panfletos)
que possam ser encaminhadas a órgãos públicos (para jornais da cidade, câmara de
vereadores, distribuídas na comunidade). Dessa forma, o discente estará
enfatizando o caráter interlocutivo da linguagem, além de tornar os estudantes
sujeitos do fazer linguístico.
É importante também ressaltar que, com base na avaliação e revisão dos
textos dos alunos, é possível selecionar conteúdos a serem abordados em outras
atividades nesse eixo de ensino; bem como sinalizar caminhos na expectativa de
superação das dificuldades encontradas pelos alunos no que se refere ao uso da
língua nas produções escrita dos alunos. Cabe ao professor planejar e desenvolver
atividades que possam possibilitar aos discentes a reflexão sobre seus próprios
textos.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (2008):
O estudo do texto e da sua organização sintático-semântica permite ao professor explorar as categorias gramaticais, conforme cada texto em análise. Mas, nesse estudo, o que vale não é a categoria em si: é a função que ela desempenha para os sentidos do texto. (DCEs 2008, p.80).
O trabalho de análise linguística deve estar voltado para dois aspectos. Um
deles é o de analisar os problemas linguísticos do texto do aluno para melhorá-lo,
através da reescrita ou reestruturação do texto; o outro é o de analisar aspectos
linguísticos de textos já escritos para esclarecer elos necessários para a
compreensão dos mesmos. Quando o professor trabalha um texto em sala poderá
destacar alguns aspectos relevantes para o trabalho com a língua, sem que isso
redunde em um exercício enfadonho de fazer análise sintática de sentenças,
classificando orações e exigindo memorização de nomenclatura gramatical.
Pode-se, por exemplo, propor situações em que os alunos precisem
completar lacunas de um texto em que foram retiradas as conjunções, a seguir
discutir por que usaram um ou outro conectivo, possibilitando-lhes, dessa forma,
conhecer e analisar diferentes recursos coesivos. Já com a concordância, pode-se
propor aos alunos que encontrem inadequações de concordância em um texto que
apresente certos “problemas” e que tentem explicar por que tais usos seriam
inadequados. O professor também poderá destacar a concordância de alguns
trechos e propor aos alunos que façam a passagem do singular para o plural ou
vice-versa.
Realização de atividades como as propostas anteriormente conduzem a um
ensino diversificado, capaz de levar os alunos à reflexão e a desenvolver habilidades
e conhecimentos sobre a língua. E, como afirma Antunes, “mesmo quando se está
fazendo a análise linguística de categorias gramaticais, o objeto de estudo é o texto”.
(ANTUNES, 2003, p. 121)
Deve-se ressaltar que para que haja assimilação das regularidades que
determinam o uso da língua na sua norma culta, o discente precisa ser colocado em
contato com os diversos tipos de gêneros textuais; a fim de que possa perceber que
um texto se faz a partir de elementos como organização, unidade temática, coesão,
coerência, objetividade, entre outros.
2.2. A ESCRITA NAS DIRETRIZES CURRICULARES
Segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa, as condições em
que a produção acontece determinam o texto. Desse modo, salienta-se a
importância de o professor desenvolver uma prática de escrita escolar que considere
o leitor, uma escrita que tenha um destinatário e finalidades, para então se decidir
sobre o que será escrito, tendo em vista que a escrita, na diversidade de seus usos,
desempenha funções comunicativas socialmente características e relevantes.
Estar trabalhando com a escrita efetiva é direcionar o educando de modo que
ele consiga se envolver com os textos que produz, assumindo a autoria do que
escreve. Isso significa ser autor, produzindo com e para o outro.
O aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de diferentes gêneros, por meio das experiências sociais, tanto singular quanto coletivamente vividas. O que se sugere, sobretudo, é a noção de uma escrita como formadora de subjetividades, podendo ter um papel de resistência aos valores prescritos socialmente. A possibilidade da criação, no exercício desta prática, permite ao educando ampliar o próprio conceito de gênero discursivo. É preciso que o aluno se envolva com os textos que produz e assuma a autoria do que escreve, visto que ele é um sujeito que tem o que dizer. Quando escreve, ele diz de si, de sua leitura de mundo (PARANÁ, 2008, p. 56).
Ensinar Língua Portuguesa, nessa perspectiva, implica refletir sobre situações
reais de uso da linguagem, materializada nos diferentes textos que circulam em
nossa sociedade e que constituem, assim, nossas relações discursivas. Nesse
sentido, produzir texto implica considerar o(s) interlocutor(es) real(is) que
interagirá(ao) por meio da linguagem, realizada em enunciados concretos, o que
pressupõe um locutor preocupado com o(s) outro(s), com a temática, com a
organização do discurso e com o gênero selecionado para aquela situação de
interação.
Quanto aos encaminhamentos metodológicos para as produções textuais
considera-se que há a necessidade de preparar os alunos através de leituras para
que possam escrever sobre algo; no que se refere às análises textuais, emergem as
questões relativas à coerência e coesão textuais e à notação gráfica (ortografia, à
paragrafação, à letra inicial maiúscula, à pontuação, à segmentação), além de outros
aspectos que sejam julgados necessários e que impliquem dar sentido à produção
escrita. Por fim, considera-se imprescindível as revisões textuais, a chamada
reescrita de texto, com objetivo de oportunizar aos alunos a experimentação do
processo global da redação cuidada, pensada, a qual supõe cortes e recortes,
supressões, permutas e outros ajustes. Essa última oportuniza a compreensão por
que os ajustes se fizeram necessários, justificando de certa forma que as
reformulações, entre elas as gramaticais, foram feitas com base na estrutura da
língua e nas convenções estabelecidas para o gênero em questão.
Nessa perspectiva, concretiza-se o que afirma Antunes (2003. p.121),
"mesmo quando se está fazendo a análise linguística de categorias gramaticais, o
objeto de estudo é o texto". E, Geraldi (1984) acrescenta que as condições para as
análises linguísticas são criadas no interior das atividades interpretativas, ou seja,
realizadas no processo interativo da linguagem.
3 DA INTERVENÇÃO COMO EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA
A implementação do projeto em questão aconteceu no Colégio Estadual João
Ferreira Küster- Ensino Fundamental e Médio, de Campo Largo, PR- com os alunos
do 6º ano A, período matutino, totalizando 26 alunos, com idade entre 10 a 12 anos,
no 1º semestre de 2014.
As atividades aplicadas objetivaram proporcionar o desenvolvimento da
capacidade crítica e criativa; além de procurar ampliar o domínio linguístico dos
discentes, através de um trabalho com a análise linguística reflexiva, tendo como
ponto de partida e de chegada a produção escrita do aluno. Essas atividades foram
organizadas a partir da inspiração da sequência didática de SCHNEUWLY e DOLZ,
2004, já mencionada na seção 1.
Para o desenvolvimento da sequência didática, alguns contos de fadas
tradicionais foram selecionados (O patinho feio, Cinderela, Branca de Neve, A Bela
Adormecida, João e Maria, Chapeuzinho Vermelho) e também um filme (SHREK 3) ,
para subsidiar o desenvolvimento das atividades.
Neste artigo, serão apresentadas e analisadas as atividades realizadas, bem
como o resultado da aplicação das mesmas.
A princípio o professor expôs aos alunos o trabalho a ser desenvolvido,
explicando o porquê de desenvolver um projeto com conto de fadas, quais eram os
conteúdos a serem trabalhados, quais as atividades planejadas e o que estava
previsto como produto final.
Posteriormente, através de uma conversa informal, foi discutido sobre as
características do gênero a ser trabalhado. Participaram bastante comentando o que
achavam que era um conto de fadas, qual era o conto preferido de cada um,
recapitularam alguns contos. Alguns alunos citaram títulos que não eram contos de
fadas, como “Boitatá”, “Lobisomem”. Citaram características que achavam que
pertenciam ao gênero em questão. A conversa serviu para identificar o que sabiam
sobre o gênero.
Após essa conversa foi realizada a aplicação da primeira produção, que foi a
proposta de escrita de um conto de fadas a partir de uma história em quadrinhos
“Mônica e Cebolinha em: Casamento do século”, na qual foram feita certas
adaptações de modo que, ao ser transformada em texto narrativo, resultasse em um
conto de fadas. Para construção da História em quadrinhos foram selecionadas
algumas revistas da Turma da Mônica (infantil e Jovem); a seguir separadas certas
figuras; por fim montada uma sequência em que a Mônica, após passar por uma
transformação, sendo ajudada por uma fada, acaba se tornando uma princesa e
encanta Cebolinha, que logo fica “caidinho por ela”, ambos começam a namorar e
por fim distribuem os convites de casamento.
A sugestão foi que os alunos alterassem o gênero textual de história em
quadrinhos em conto de fadas escrito. Tal transposição de gênero resultou em um
conto de fadas.
Após análise das produções, concluiu-se que embora o conto de fadas se
trate de um gênero bastante comum, muitos alunos apresentaram conhecimento
insuficiente sobre sua elaboração e organização. A seguir, alguns itens mencionados
e exemplificados:
1º Não apresentaram as personagens no início do texto;
2º Não utilizaram pontuação adequada na construção do discurso direto e indireto;
3º Utilizaram marcas de oralidade em um texto escrito;
4º Falta de coerência textual (enredo não condiz com a história apresentada);
5º Falta de uso de letra maiúsculas nos substantivos próprios;
6. Repetição desnecessária dos pronomes ele e ela;
Após aplicação da proposta da primeira produção, partimos para o
desenvolvimento dos módulos da sequência didática.
No 1º módulo, a 1ª atividade foi estudar sobre a História dos Contos de fadas
1 . Os alunos participaram bastante, fazendo leitura do texto impresso e realizando
questionamentos sobre o assunto.
A seguir foi proposta uma pesquisa sobre os autores de Contos de fadas, os
alunos foram levados ao laboratório de informática para realizar tal pesquisa. A
atividade foi realizada em dupla, com as informações coletadas foi elaborado um
texto informativo que posteriormente foi apresentado à classe. Tiveram um pouca de
dificuldade em mexer nas máquinas, mas com um pouco de paciência e muita
dedicação tudo foi resolvido.
Exemplo: texto informativo produzido por um aluno:
Autores de contos de fadas
Dentre os autores de contos de fads destacam-se: Charles Perralt, os Irmãos Grimme Hans C. Andersen. Charles Perralt nasceu em 16 de maio de 1703. Foi o primeiro a dar acabamento literário ao conto de fadas. Seus principais contos produzidos são: Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, O gato de botas, entre outros. Os irmãos Grimm eram Jacob e Willim, o primeiro nasceu em 4 de janeiro de 1785 e o segundo em 4 de fevereiro de 1786. Foram dois irmãos que se dedicaram a produzir textos infantis, mais especificamente, contos de fadas, entre eles: João e Maria, Barnca de neve, A gata borralheira, entre outros. Hans C. Andersen , apesar de fazer parte de uma família com muitas dificuldades financeiras, aprendeu a ler muito cedo e adorava ouvir histórias. Foi escritor de vários contos de fadas, entre eles: O patinho feio, A princesa e a ervilha, entre outros.
No 2º módulo foi realizada a leitura do conto “O patinho feio”, de Hans C.
Andersen 2; os alunos encontraram um pouco de dificuldade no vocabulário (usaram
o dicionário para auxiliá-los), posteriormente foram realizadas certas reflexões e
questionamentos sobre a história, tais como:
- onde se passa a história;
- quais são as personagens (protagonista e antagonista);
- vilões;
- que recompensa recebe a heroína/ herói no final do conto;
- quais ensinamentos de valores morais são apresentados no conto;
- o que o conto retrata nos dias atuais;
- qual o conceito de feio;
- qual o conceito de diferente;
- por que as pessoas valorizam mais a beleza física que a interior;
1 Contos de fadas, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Contos_de_fadas.
2 disponível em: http://www.contandohistoria.com/o_patinho_feio.htm
- será que existem “patinhos feios” em nossa escola/ sociedade;
- como vocês se sentiriam se estivessem no lugar do patinho feio.
Após essa etapa, para desenvolvimento do 3º módulo foram levados para
sala de aula diversos livros de contos de fadas, os alunos procederam leitura livre de
tais obras. Após a leitura dessas produções, foram estudadas oralmente as
características específicas dos contos: como acontece a apresentação das
personagens; reconhecimento do tempo e do espaço no conto de fadas; análise dos
finais dos contos, entre outras.
A seguir foi proposta uma atividade escrita:
“Alunos, selecionem um conto que leram e encontrem os seguintes elementos que estão presentes nele:”
A - Heroína:
B - Herói:
C - Protagonista/antagonista;
D- Elementos mágicos:
E- Onde e quando se passa o conto:
F- Conflito:
G- Solução do conflito:
H- Desfecho:
No desenvolvimento da atividade escrita para identificar os elementos
presentes nos contos lidos, os alunos apresentaram dificuldade em identificar e
diferenciar conflito/solução do conflito/desfecho. Por isso, a professora fez as
intervenções necessárias para sanar tais dificuldades.
No 4º módulo foram analisadas as características de um conto renovado. A
princípio assistiram Shrek 3, após os alunos foram orientados a produzir um quadro
comparativo, descrevendo as principais diferenças e semelhanças entre os contos
tradicionais e os renovados.
QUADRO COMPARATIVO(itens relacionados pelos alunos em um atividade
coletiva)
CONTO DE FADAS TRADICIONAL CONTO RENOVADO( Shrek)
*Personagens protagonistas normalmente são belas: princesas/ príncipes; *Local em que ocorrem os fatos são castelos, palácios; * Apresenta sempre final feliz; * Presença de elementos mágicos;
*Personagens protagonistas sem beleza física; *Cenas da história se passam em um pântano; *Apesar de tudo o que ocorre a história tem final feliz; * Há presença de elemento mágico: fada madrinha;
Por fim, foi promovida discussão sobre os tópicos ressaltados nos quadros
dos alunos e feita as inferências necessárias.
No 5º módulo foram trabalhados certos aspectos linguísticos que foram
notados como dificuldades dos alunos na produção escrita, a partir do diagnóstico
realizado na turma do 6º ano, em 20133.
1º aspecto: A IMPORTÂNCIA DO TÍTULO: foi enfatizado para os alunos a
importância do título, pois a maioria normalmente esquece de utilizá-lo; além disso
salientado que o título não pode ser qualquer um, ele deve ser bem sugestivo,
mantendo coerência com o texto o qual está entitulando.
Como atividade foram apresentados aos alunos vários trechos de contos de
fadas (levados em um pacotinho trechos recortados), cada aluno pegou um trecho, a
seguir o professor colou no quadro tiras com sugestões de títulos. Cada aluno
escolheu um para usar como título do seu trecho de conto.
Depois que todos escolheram um título, a professora refletiu com os alunos:
Puderam utilizar qualquer título para qualquer trecho?
O que vocês levaram em conta para escolherem o título mais adequado?
O que foi preciso fazer por primeiro antes de pensar em escolher um título?
Após tal reflexão os alunos concluíram que realmente o título é muito
importante em um texto, e que precisa manter coerência com o texto no qual está
entitulando.
2º aspecto: PONTUAÇÃO COMO RECURSO DE COESÃO E COERÊNCIA
TEXTUAL; TRABALHANDO COM DIÁLOGOS; USO DO DISCURSO DIRETO E
INDIRETO; USO DOS DOIS PONTOS E DO TRAVESSÃO NO DISCURSO
DIRETO;
Nesta etapa aprofundou-se a noção de pontuação como efeito de sentido nos
textos narrativos, destacando o discurso direto e indireto em pequenos textos para
demarcar a organização das vozes nos enunciados. A partir da pontuação desses
discursos, recorremos a trechos das produções feitas anteriormente pelos alunos
3 No 2º semestre de 2013 foi aplicada uma proposta de produção textual aos alunos do 6º ano,
a mesma aplicada aos alunos durante a Implementação em 2014, como produção inicial; a fim de que
se pudesse identificar as principais dificuldades de escrita dos alunos. Tal diagnóstico norteou a
organização e a seleção das atividades da Unidade Didática, elaborada pela professora PDE a ser
aplicada na Implementação em 2014.
para analisar como as vozes do narrador e dos personagens foram distribuídas, no
corpo do texto, por meio de parágrafos e travessões e qual seria a distribuição mais
adequada.
Para fixação do conteúdo foi proposta a seguinte atividade:
Alunos, pontuem os trechos abaixo, tanto na forma de discurso direto como indireto, da melhor forma possível, não esqueçam de utilizar os recursos de pontuação estudados anteriormente:
Trecho 1
“Um dia a rainha toda orgulhosa perguntou ao espelho espelho espelho meu quem é a mais linda de todo o país o espelho respondeu Senhora Rainha tu és muito linda mas Branca de Neve é mil vezes mais linda que a senhora...”
Trecho 2 Trecho 3
“Era uma vez um castelo que tinha um poço e a princesa ia para o poço brincar com sua bola de ouro de repente a bola de ouro caiu no poço e a menina começou a chorar neste momento, um sapo apareceu e disse eu pego a bola se você me deixar jantar e dormir com você...”
“Um dia, a mãe da menina preparou algumas broas das quais a avó gostava muito, mas quando acabou de assar os quitutes, estava tão cansada que não tinha mais ânimo para andar pela floresta e levá-las para a velhinha. Então, chamou a filha e disse Chapeuzinho Vermelho, vá levar estas broinhas para a vovó, ela gostará muito. Disseram-me que há alguns dias ela não passa bem e, com certeza, não tem vontade de cozinhar.”
Após realizada a atividade, observou-se que os alunos encontraram um
pouco de dificuldade ao separar as falas das personagens da parte narrativa, mas
feita a correção e as inferências necessárias foi concluída a atividade com êxito.
3º aspecto: A IMPORTÂNCIA DOS PARÁGRAFOS NA CONSTRUÇÃO DA
COERÊNCIA TEXTUAL
Foram levados diversos Contos de fadas (dentro de um saquinho, com os
parágrafos todos desmembrados), os alunos se reuniram em duplas, e foram
orientados a organizar a sequência dos parágrafos e dos fatos da melhor maneira
possível, depois leram para os demais ouvirem. Feita a avaliação com a turma se a
sequência escolhida demonstrava coerência ou não, fizeram as modificações e as
inferências necessárias.
Com essa atividade os alunos concluíram que todo texto precisa ter
sequência lógica associada à coerência textual, e que os parágrafos são usados
exatamente para essa função.
4º aspecto: EVITANDO A REPETIÇÃO DE PALAVRAS NA ESCRITA DOS
CONTOS
A princípio foi explicado aos alunos que há recursos que podem ser utilizados
para evitar a repetição de certas palavras no texto, entre eles: uso de sinônimos, uso
de pronomes, etc.
A seguir os alunos foram orientados a observar os seguintes trechos:
Versão 1
“Ao cair da noite, Cinderela quis ir embora, e o príncipe decidiu acompanhar
Cinderela, mas Cinderela conseguiu escapar tão depressa que ele não pôde seguir
Cinderela.”
“Além disso, as irmãs de Cinderela tudo faziam para magoar Cinderela,
zombavam de Cinderela e jogavam grãos de lentilha e ervilha na cinza para que
Cinderela tivesse de recolhê-los.”
“Cinderela chorou tanto, que as lágrimas que rolavam do rosto de Cinderela
serviram para regar a planta...”
Versão 2
“Ao cair da noite, Cinderela quis ir embora, e o príncipe decidiu acompanhá-
la, mas ela conseguiu escapar tão depressa que ele não pôde segui-la.”
“Além disso, suas irmãs tudo faziam para magoá-la, zombavam dela e
jogavam grãos de lentilha e ervilha na cinza para que a menina tivesse de recolhê-
los.”
“A pobre menina chorou tanto, que as lágrimas que rolavam de seu rosto
serviram para regar a planta...”
Após análise dos trechos, os alunos conseguiram perceber que eliminando as
repetições, fazendo substituições através do uso de pronomes ou substantivos,
deixariam o texto mais conciso. Tal atividade foi muito interessante.
5º aspecto: USO DE MAIÚSCULAS NOS SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS
Os alunos foram informados de que a letra maiúscula é um recurso gráfico
utilizado para dois propósitos: assinalar o início do período (em oposição ao ponto
final, que o encerra) e dar destaque a uma palavra, podendo ser ela um substantivo
próprio.
Também ressaltou-se que chamamos de nomes comuns os nomes de coisas
ou objetos que normalmente são escritos com letras minúsculas. Os nomes comuns
só aparecem escritos com letra maiúscula se estiverem no início de uma frase, pois
toda frase deve começar com letra maiúscula.
Já os nomes de pessoas, países, estados ou cidades, nomes de rios etc., são
caracterizados como nomes próprios (ou substantivos próprios) e por isso são
escritos com letras maiúsculas (independentemente de estarem no início da frase ou
não).
Não existe outra regra para os nomes próprios, eles devem começar,
obrigatoriamente, com letra maiúscula, ou seja, é errado escrevê-los com letra
minúscula.
Encerrou-se o estudo deste aspecto linguístico com a seguinte atividade:
Reescreva os trechos abaixo usando letra maiúscula quando necessário.
Trecho A
“as duas irmãs ficaram espantadas, mas ainda mais espantadas quando cinderela tirou o outro sapatinho de cristal do bolso e calçou no outro pé. nesse momento, surgiu a fada madrinha, que tocou a roupa de cinderela com a varinha mágica. Imediatamente os farrapos se transformaram num vestido ainda mais bonito do que aquele que havia usado antes...”
Trecho B “a princesa rapunzel, muito bela, longas tranças possuía, presa numa alta torre, jogava-as pela janela por onde o príncipe subia”.
Por fim, foi feita a correção da atividade e as considerações necessárias.
6º aspecto: TRABALHANDO OS ADJETIVOS POSITIVOS E NEGATIVOS NA
CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS
Explicou-se aos alunos que para caracterizar uma personagem, o narrador
apresenta-nos alguns traços físicos ou psicológicos. Quanto aos psicológicos, que
fazem parte do lado emocional do personagem, muitas vezes, precisamos identificá-
los, por meio da trama da história, já os físicos são mais fáceis de serem descritos.
Na caracterização das personagens utilizamos palavras classificadas como
ADJETIVOS.
Foram orientados a observar os ADJETIVOS utilizados na caracterização de
Bela Adormecida:
”...enquanto isso, as promessas favoráveis das boas fadas se cumpriam, pois a princesa era LINDA, MODESTA,PRESTATIVA, GENTIL e INTELIGENTE e todos que a viam ficavam encantados.”
Após tal observação, foram propostas as seguintes atividades aos alunos:
1. Leia o trecho abaixo:
O Lobo Mau (Irmãos Grimm)
“A menina ia por uma trilha quando, de repente, apareceu-lhe na frente um lobo
enorme, de pelo escuro e olhos brilhantes. Olhando para aquela linda menina, o lobo
pensou que a carne dela devia ser macia e saborosa. Queria mesmo devorá-la num
bocado só. Mas não teve coragem, temendo os cortadores de lenha que poderiam
ouvir os gritos da vítima. Por isso, decidiu usar de astúcia...”
2. Complete as lacunas do trecho abaixo usando outros adjetivos para caracterizar
os substantivos a que se referem. Depois analise se os significados foram alterados
ou não.
“A menina ia por uma trilha quando, de repente, apareceu-lhe na frente um lobo _________, de pelo __________ e olhos _________. Olhando para aquela _________ menina, o lobo pensou que a carne dela devia ser _________ e __________. Queria mesmo devorá-la num bocado só. Mas não teve coragem, temendo os cortadores de lenha que poderiam ouvir os gritos da vítima. Por isso, decidiu usar de astúcia...”
Após realizada a atividade, os alunos concluíram que o uso do adjetivo faz
diferença no significado do texto e na caracterização que se queira dar às
personagens.
3.1. PRODUÇÃO FINAL
Após a realização de todas as atividades propostas na sequência didática
sobre o gênero Conto de fadas, os alunos foram orientados para desenvolverem a
atividade de produção textual escrita.
As possibilidades de produção de um conto renovado foram diversas, entre
elas: produção de paródia, misturando histórias, modificando o ambiente e/ou as
personagens, entre outras.
Observou-se que as produções feitas pelos alunos foram bem criativas e
inovadoras, além de apresentarem boa estrutura textual, deixando evidente que
eles assimilaram os conteúdos trabalhados, referente às características específicas
de um conto, tanto quanto os aspectos gramaticais trabalhados no desenvolvimento
dos módulos da sequência didática aplicada.
Os alunos aceitaram muito bem a proposta de produção e a realizaram com
êxito, o que deu visibilidade ao conhecimento produzido em sala de aula.
3.2. CONCLUSÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO À COMUNIDADE
ESCOLAR
Para conclusão do trabalho e apresentação da produção final foi elaborado
um painel com colagem dos contos produzidos e ilustrados. Tal material ficou
exposto durante a Semana Cultural da escola, a fim de que toda a comunidade
escolar pudesse conhecê-lo.
A dedicação dos alunos foi de suma importância durante todo o
desenvolvimento do projeto até a produção final.
Com a exposição das produções e apreciações feitas pela comunidade
escolar, foi possível perceber mais uma vez que os contos de fadas, mesmo com
aspecto renovado, cativaram, cativam e sempre envolverão as pessoas que se
transportam para o mundo da fantasia em contato com uma boa história.
Figura 1: Mural com apresentação das produções feitas pelos alunos do 6º A Fonte: a autora
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Participar do PDE- Programa de Desenvolvimento do Estado do Paraná- foi
extremamente importante. Como professora oportunizou-me momentos para
estudos, reflexões e aprofundamento teórico que anteriormente não era possível
devido à falta de tempo.
Hoje em dia considera-se indispensável que todo professor esteja em
constante atualização de seus conhecimentos, pautada num referencial teórico que
auxilie em sua prática diária. Um professor com uma formação contínua não espera
receitas prontas, mas sim, busca novas estratégias com base em suas pesquisas,
podendo desenvolver um trabalho eficiente com seus alunos.
O Projeto, pelos resultados apresentados, mostrou-se viável e aplicável ao 6º
ano do Ensino Fundamental; percebe-se que o objetivo de ampliar o domínio da
escrita dos alunos foi atingido, pois o trabalho com sequência didática permite a
elaboração de contextos de produção de forma precisa, por meio de atividades e
exercícios múltiplos e variados, com a finalidade de oferecer aos alunos noções,
técnicas e instrumentos que desenvolvam suas capacidades de expressão oral e
escrita em diversas situações de comunicação. (DOLZ, 2004)
Ficou evidente que para que os alunos consigam superar as suas dificuldades
relativas à atividade de produção textual, o texto do aluno deve ser visto como um
processo e não somente um produto. Devendo-se, então, planejar não só o
momento da escrita, como também todo o processo de pré-escritura, quanto o
momento relativo à sua organização, assim como os dados relativos à situação de
interlocução nas quais se incluem o texto e seu produtor.
Percebe-se que uma das desmotivações dos alunos frente às produções
textuais é o fato de que não é atribuído um destinatário significativo para aquilo que
se produz, na maioria das vezes o único destinatário é o professor e a única
finalidade de se escrever é a da avaliação dos textos por parte do docente. Em
razão disso, faz-se necessário que o professor amplie o objetivo da tarefa de escrita
e assim confira-lhe a maior finalidade possível, como por exemplo: motivações a
publicações, concursos de redação ou prêmios reconhecidos pela comunidade
escolar.
Após a aplicação desse Projeto, observou-se que a atividade de produção
textual proposta aos alunos não se tornou maçante, pelo contrário, houve discussão
entre eles comentando as ideias, dando e recebendo sugestões. Essa foi uma das
etapas mais gratificantes do trabalho.
Os resultados alcançados foram realmente positivos e ficou evidente que
devemos repensar diariamente nossa prática pedagógica, pois em qualquer
atividade de leitura ou escrita proposta, os alunos devem estar motivados para
realizá-la e ter claro o que devem fazer, sentir que são capazes de executá-las e
achar interessante aquilo que propomos para que façam.
Esperamos que o artigo possa contribuir para que demais educadores
preocupados com a produção escrita dos alunos conscientizem-se da importância
da aplicação de sequências didáticas como essa e com os demais gêneros textuais
que circulam socialmente, a fim de levar a produção textual a ter, em sala de aula, o
destaque e a importância que merece, bem como tornar o trabalho de produção
textual, não um ato mecânico feito por necessidade de nota ou coisa parecida, mas
uma atividade que tenha sentido para o educando.
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FERRIER, Montreal, Quebec. Pequenos Clássicos. Canadá, 2013. Disponível em: www.cirandacultural.com.br.
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GONZATTI, Ivete. Reinventando contos. Disponível em: http://www.webquestbrasil.org/criador/webquest/soporte_tablon_w.php?id_actividad=1108&id_pagina=1. Acesso em: 20/11/2013.
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PORTO, S. Primo Altamirando e elas. 11 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
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SOUZA, Maurício. Turma da Mônica Jovem. Edição comemorativa nº 50: Panini Comics, 2012.
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