o centro - n.º 13 – 02.11.2006

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DIRECTOR JORGE CASTILHO 150 ANOS DA FERROVIA Selo com foto de Varela Pècurto PÁG. 14 “ESTREPES” Livro de José d’Encarnação será lançado quarta-feira PÁG. 6 ASSINE O “CENTRO” E GANHE OBRA DE ARTE | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) Carlos Carranca José d´Encarnação Paulo Nunes Silva Renato Ávila Varela Pècurto PÁG. 19, 20 e 21 OPINIÃO ANO I N.º 13 (II série) De 2 a 14 de Novembro de 2006 € 1 euro (iva incluído) Assinantes do “Centro” com 10% de desconto na compra de livros PÁG. 2 e 3 PÁGINA 7 PÁGINAS 4 e 5 PÁGINA 3 PÁGINAS 12 e 13 DEBATE NA RTP A miséria de Salazar e de Aristides de Sousa Mendes UM DOS AMBICIOSOS PROJECTOS DO NOVO RESPONSÁVEL PELO TURISMO DO CENTRO Mondego navegável de Coimbra à Figueira da Foz ESTUDANTES DESFILARAM PELAS RUAS DE COIMBRA Muita uva e alguma lata APANHADA NAS REDES DE UM ARRASTÃO Tartaruga gigante trazida para Aveiro

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Versão integral da edição n.º 13 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 02.11.2006. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

150 ANOS DA FERROVIA

Selocomfotode VarelaPècurto

PÁG. 14

“ESTREPES”

Livrode Joséd’Encarnaçãoserá lançadoquarta-feira

PÁG. 6

ASSINE O “CENTRO”E GANHE OBRA DE ARTE

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

nnCarlos CarrancannJosé d´EncarnaçãonnPaulo Nunes SilvannRenato ÁvilannVarela Pècurto

PÁG. 19, 20 e 21

OPINIÃO

ANO I N.º 13 (II série) De 2 a 14 de Novembro de 2006 € 1 euro (iva incluído)

Assinantesdo “Centro”com 10%de descontona comprade livros

PÁG. 2 e 3

PÁGINA 7

PÁGINAS 4 e 5

PÁGINA 3

PÁGINAS 12 e 13

DEBATE NA RTP

A misériade Salazare de Aristidesde SousaMendes

UM DOS AMBICIOSOS PROJECTOS DO NOVORESPONSÁVEL PELO TURISMO DO CENTRO

Mondego navegávelde Coimbraà Figueira da Foz

ESTUDANTES DESFILARAM PELAS RUAS DE COIMBRA

Muita uva e alguma lata

APANHADANAS REDESDE UM ARRASTÃO

TartarugagigantetrazidaparaAveiro

22 DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa -Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Tiragem: 10.000 exemplares

No sentido de proporcionar maisalguns benefícios aos assinantes deste jor-nal, o “Centro” acaba de estabelecer umacordo com a livraria on line “livros-net.com” (ver rodapé na última páginadesta edição).

Para além do desconto de 10%, o assi-nante do “Centro” pode ainda fazer aencomenda dos livros de forma muitocómoda, sem sair de casa, e nada terá apagar de custos de envio dos livros enco-mendados.

Numa altura em que se aproxima oinício de um novo ano lectivo, e em queas famílias gastam, em média, 200 euros

em material escolar por cada filho, estedesconto que proporcionamos aos assi-nantes do “Centro” assume especialsignificado (isto é, só com o que poupapor um filho fica pago o valor anual daassinatura).

Mas este desconto não se cinge aosmanuais escolares. Antes abrange todos oslivros e produtos congéneres que estão àdisposição na livraria on line “livrosnet”.

Aproveite esta oportunidade, se já é as-sinante do “Centro”.

Caso ainda não seja, preencha o boletimque publicamos na página seguinte eenvie-o para a morada que se indica.

Se não quiser ter esse trabalho, bastaráligar para o 239 854 150 para fazer a suaassinatura, ou solicitá-la através do [email protected].

São apenas 20 euros por uma assinatu-ra anual – uma importância que certamen-te recuperará logo na primeira encomendade livros.

E, para além disso, como ao lado seindica, receberá ainda, de forma automáti-ca e completamente gratuita, uma valiosaobra de arte de Zé Penicheiro – trabalhooriginal simbolizando os seis distritos daRegião Centro, especialmente concebidopara este jornal pelo consagrado artista.

Assinantes do “Centro” com 10% de descontona compra de livros

EE DD II TT OO RR II AA LL

A grande pequenez de alguns portugueses

O programa que a RTP agora promove, inti-tulado “Os Grandes Portugueses”, está a pro-vocar natural polémica, atendendo às confusõesque suscita e aos resultados insólitos a quepoderá conduzir. De facto, a “votação” podelevar a um desfecho injusto, incorrecto e atémesmo perigoso em termos intelectuais, sociaise políticos.

Mas tem de reconhecer-se que possui o méri-to de falar de portuguesas e de portugueses deoutras épocas, que se destacaram, ao longo dosséculos, nos mais variados sectores, muitos delesesquecidos, ausentes do ensino nas escolas e dasconversas familiares, pelo que a maioria da popu-lação portuguesa os não conhece.

Sobre o assunto publicamos (nas páginas 4 e5) reportagem desenvolvida de um animadodebate televisivo que a RTP transmitiu em direc-to na passada semana.

Apesar disso, pareceu-me oportuno aqui alu-dir aos dois mais vivos momentos do referidodebate, quando se falou de duas figuras que, ine-quivocamente, e por razões bem diferentes, ocu-pam lugar de destaque na História de Portugal:Aristides de Sousa Mendes e António de OliveiraSalazar.

Foi Fernando Nobre (o Presidente da AMI -Assistência Médica Internacional) que revelouque a sua escolha era o cônsul português que setornou famoso por, num gesto de enorme cora-gem e humanidade, ter salvo muitos milhares dejudeus dos campos de morte nazis (emitindo vis-tos, em representação do governo português,para que eles pudessem fugir, e assim ousandocontrariar as ordens recebidas de Salazar).Elogiando a figura de Aristides de Sousa Mendes,que considerou exemplar, o Presidente da AMIlastimou que, por causa da sua abnegada atitude,o diplomata tivesse sido penalizado pelo governosalazarista, acabando por morrer na miséria.

Perante esta escolha, logo José HermanoSaraiva, outro dos convidados do programa,levantou a voz para dizer que a versão que tinhaera muito diferente. Que Aristides Sousa Mendes

nunca fora demitido, que recebera sempre o ven-cimento a que tinha direito e que, portanto, nãopoderia ter morrido na miséria.

E mais: que não salvara 30 mil judeus, que issonão era verdade.

Segundo a versão de José Hermano Saraiva,os 30 mil judeus vieram para Portugal, de com-boio, “por acordo feito com o governo espa-nhol”!...

Mas a afirmação mais espantosa viria depois.Passo a reproduzir, ipsis verbis, o que disse JoséHermano Saraiva:

“Os vagões vinham selados. Levavam volfrâ-mio e traziam refugiados.Essa campanha foi feitapela Companhia de Caminhos de Ferro da BeiraAlta”.

Ou seja, para José Hermano Saraiva o actode Aristides Sousa Mendes (que lhe valeu a irae as represálias de Salazar) nunca existiu. A“verdade histórica” de José Hermano Saraiva éque, num acordo feito com o governo espa-nhol (que é como quem diz com o generalíssi-mo Franco, assumidamente apoiante deHitler), o governo português trocava volfrâmiopor judeus, que eram conduzidos até Portugalem vagões selados…

Mas as espantosas “revelações” de JoséHermano Saraiva não se ficariam por aqui.

Mais adiante, quando se falava de Salazar, afir-mou que o conhecera pessoalmente, salientando:

“Foi um homem que teve na mão, durante 40anos, a totalidade do poder e morreu na miséria”.

A primeira parte da afirmação, embora pequepor defeito (porque foi durante mais de 40 anos),tem a virtude de confirmar a prepotência do dita-dor aos que sobre isso tivessem dúvidas (princi-palmente aos mais jovens, que não viveram essestempos difíceis). Mas a segunda parte da afirma-ção é, no mínimo espantosa, já que Salazar mor-reu convencido de que ainda era PrimeiroMinistro – e, portanto, com as inerentes mordo-mias. De facto, Salazar caiu de uma cadeira (emAgosto de 1968, no forte do Estoril onde passa-va férias à beira-mar), tendo sofrido lesões cere-brais. Foi operado, mas nunca mais viria a recu-perar, entrando mesmo num estado de debilida-de física e perturbação mental que o inibia degovernar o País. Foi nessa altura que o entãoPresidente da República, Américo Tomás, se viuforçado a nomear Marcelo Caetano comoPrimeiro Ministro. Mas, mesmo incapacitado,Salazar continuava a ser um homem muito temi-do (não fosse ele ainda conseguir o milagre da

recuperação…). Assim, para que Salazar se nãoapercebesse de que já não era quem mandava,continuaram a fazer com ele reuniões de umGoverno fictício, onde compareciam os que ti-nham sido seus ministros. À sua volta teve, até àhora da morte (em Julho de 1970), não só a suafiel governanta, D. Maria, mas os melhores médi-cos do País, e até alguns vindos do estrangeiro.

Portanto (e independentemente de quais-quer posições de cariz ideológico) é ofensivopara os milhares de portugueses que então vi-viam miseravelmente, afirmar que Salazar mor-reu na miséria.

Provavelmente o que José Hermano Saraivaquis dizer é que Salazar não se aproveitou dopoder para enriquecimento pessoal – o que é ver-dade, e constitui um dos aspectos positivos nobalanço global da sua actividade política (onde oque avulta são os condenáveis instrumentos aque recorreu para manter, durante quase meioséculo, uma ditadura férrea, obscurantista, decostas voltadas para a evolução do Mundo civili-zado – “orgulhosamente só”, como ele próprioafirmava).

Mas um historiador tem de ser rigoroso. Nãopode insultar a memória, não pode deturpar si-tuações nem escamotear factos.

Um historiador não ocultaria ter sido, ele pró-prio, José Hermano Saraiva, Ministro daEducação do “Estado Novo”, e de, nessa quali-dade, ter ordenado, em 1969, a repressão aosestudantes de Coimbra apenas porque estes tive-ram a ousadia de pôr em causa o sistema de ensi-no da ditadura.

Ora José Hermano Saraiva não só agora ocul-tou esse facto, como já teve o desplante de, aquihá uns anos, me negar que tivesse havido, na altu-ra, repressão sobre os estudantes de Coimbra!

Mas, pior do que isso, um historiador não teriao desplante de macular a memória de Aristidesde Sousa Mendes, hoje reconhecido em todo oMundo como uma das figuras que mais judeussalvou do holocausto nazi.

E, afinal, de macular também a própriamemória de Salazar, afirmando que o ditadormorreu na miséria (o que, a ter sucedido, signifi-caria que os seus apoiantes, entre os quaisSaraiva, o teriam abandonado mal ele deixou deser poderoso…).

José Hermano Saraiva pode ser um bom con-tador de estórias, um excelente ficcionista. Masnão é um historiador.

Uma conclusão a que qualquer pessoa de

bom senso facilmente chegará quando o ouve arelatar factos alegadamente históricos, ocorridoshá séculos, em versões inéditas, a que mais ne-nhum investigador conseguiu chegar. E comtamanha profusão de pormenores que algunsseriam pouco credíveis até mesmo se ele os tives-se testemunhado…

Ao contrário do que alguns pequenos portu-gueses pensam (e não estou a falar de tamanhos,porque os homens não se medem aos côva-dos…) não basta contar estórias para se ser his-toriador, tal como não chega ter uma amiga cha-mada Sofia para se ser filósofo…

UM EXEMPLO A REGISTAR

A Igreja Católica é a entidade que maiornúmero de jornais regionais possui em Portugal.E seguramente que não é a que mais se ressenteda crise grave que afecta este sector, tão impor-tante para o desenvolvimento das pequenas par-celas que compõem a maior parte do País, masque raramente conseguem ter voz na imprensadita nacional.

Ninguém poderia, pois, criticar a Igreja Ca-tólica se esta quisesse tomar medidas para enfren-tar a crise que afecta os seus jornais, sem se pre-ocupar com as dificuldades com que os outrosjornais se debatem.

Mas sucedeu exactamente o contrário. OSecretariado Diocesano das ComunicaçõesSociais – que imediatamente contou com oapoio do Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto –decidiu trazer a Coimbra uma professora uni-versitária espanhola para um debate sobre ofuturo da Imprensa Regional. E convidoutodos os jornais regionais (todos os seus jorna-listas e colaboradores, todos os estudantes,todos os interessados) a participar nesse deba-te, de molde a que pudessem receber contribu-tos positivos, através do contacto com essaespecialista, para melhor enfrentar o presente eassegurar o futuro.

Um exemplo muito meritório, que importasublinhar.

Especialmente numa altura em que há por aí“meninos” que, bem ao contrário, procuramantes destruir os seus concorrentes, não raro uti-lizando métodos pouco dignos, como forma demelhor reinar.

Uma demonstração de grandeza por parte daIgreja Católica, em contraste com a enormepequenez dos tais “meninos”…

Jorge [email protected]

RREEPPOORRTTAAGGEEMM 33DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Nesta campanha de lançamento do jor-nal “Centro” temos uma aliciante propos-ta para os nossos leitores.

De facto, basta subscreverem uma assi-natura anual, por apenas 20 euros, paraautomaticamente ganharem uma valiosaobra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho daautoria de Zé Penicheiro, expressamenteconcebido para o jornal “Centro”, com ocunho bem característico deste artistaplástico – um dos mais prestigiados pinto-res portugueses, com reconhecimentomesmo a nível internacional, estandorepresentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com oseu traço peculiar e a inconfundível utiliza-ção de uma invulgar paleta de cores, criouuma obra que alia grande qualidade artísti-ca a um profundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar aRegião Centro, concebeu uma flor, com-posta pelos seis distritos que integram estazona do País: Aveiro, Castelo Branco,Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representadopor um elemento (remetendo para respec-tivo património histórico, arquitectónicoou natural).

A flor, assim composta desta forma tãooriginal, está a desabrochar, simbolizandoo crescente desenvolvimento desta RegiãoCentro de Portugal, tão rica de potenciali-dades, de História, de Cultura, de patrimó-

nio arquitectónico, de deslumbrantes pai-sagens (desde as praias magníficas até àsserras verdejantes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de re-ceber já, GRATUITAMENTE, esta mag-nífica obra de arte, que está reproduzida naprimeira página, mas que tem dimensõesbem maiores do que aquelas que ali apre-senta (mais exactamente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que o

manterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

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Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo,acompanhado do valor de 20 euros (depreferência em cheque passado em nomede AUDIMPRENSA), para a seguintemorada:

Jornal “CENTRO”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pedi-do de assinatura através de:

n telefone 239 854 156n fax 239 854 154n ou para o seguinte endereçode e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desde já lheoferecemos, estamos a preparar muitas out-ras regalias para os nossos assinantes, peloque os 20 euros da assinatura serão umexcelente investimento.

O seu apoio é imprescindível para queo “Centro” cresça e se desenvolva, dandovoz a esta Região.

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APANHADA NAS REDES DE UM ARRASTÃO

Tartaruga gigante trazida para AveiroUma tartaruga gigante foi há dias capturada

acidentalmente, pelas redes de um arrastão, aolargo da costa portuguesa.

O mestre da embarcação deu conhecimentodo facto à Capitania do Porto de Aveiro, que deimediato contactou a Sociedade Portuguesa deVida Selvagem (SPVS).

Assim se iniciou uma operação envolvendodiversas entidades, na tentativa de salvar a tar-taruga.

Em conjugação com o ICN (Instituto deConservação da Natureza) e com a Capitania,pediu-se ao Mestre do arrastão que trouxesseo animal para o Porto de Aveiro, ao que esteacedeu.

A tartaruga foi desembarcada em Aveirocerca das 17 horas, onde era aguardada por ele-mentos da SPVS, entre os quais o veterinárioSalvador Mascarenhas (que é também colabora-dor do “Centro”). Na presença do comandanteda Capitania, com o apoio da Polícia Marítima,dos marinheiros e do armador da embarcação,procedeu-se à cuidadosa remoção do animal parauma viatura de transporte – uma carrinha decaixa aberta devidamente preparada com col-chões de água.

Verificou-se então tratar-se de uma “tartarugade couro preto”, com cerca de 2 metros de com-primento e 500 quilos de peso, o que tornou aoperação algo complicada.

Ainda no local a tartaruga foi submetida aobservação veterinária, verificando-se que apre-sentava ferimentos profundos ao nível das barba-

tanas anteriores, vários ferimentos na cabeça e nacarapaça e dificuldades respiratórias.

Segundo nos revelou o veterinário SalvadorMascarenhas, apesar de imediatamente submeti-da a primeiros socorros, nomeadamente hidrata-ção, “o gigante quelónio estava muito debilitadoe o seu único movimento era dos olhos, ao seremtocados. Tinha metido muita água nos pulmõesenquanto esteve presa na rede do arrastão; estavaem apneia (parava de respirar) com dispneias(respiração acelerada, descontrolada) intercaladas,que é típico destes animais quando têm dificulda-des respiratórias”.

A tartaruga foi então transportada para oCentro de Recuperação que a SPVS mantém emQuiaios, onde fora entretanto montada uma pis-cina GRE de tela resistente para acolher o animalferido. O transporte decorreu bem, e à chegada aQuiaios já ali se encontravam elementos dosBombeiros Municipais da Figueira da Foz, cujaajuda tinha sido solicitada para ajudar a colocar atartaruga na piscina.

Infelizmente, porém, todo este esforço nãoconduziu ao desfecho que se desejava, como nosdiz Salvador Mascarenhas:

“Apesar de todas as nossas tentativas pararecuperar a tartaruga de couro, ela não resistiu àsinúmeras lesões que apresentava e ao estadomuito debilitado em que se encontrava. Era umafêmea e estava cheia de ovas.”

Um desgosto para as muitas pessoas envolvi-das nesta operação de salvamento, até porque,como nos refere o veterinário, “já tínhamos cola-

borado com a SPVS na recuperação de uma tar-taruga da mesma espécie, que foi depois liberta-da com sucesso”.

Este especialista descreve depois as caracterís-ticas desta espécie:

“A tartaruga de couro é a maior de todas astartarugas, com comprimento médio em tornode 2 m para 1,5 m de largura e 700 kg de peso,embora já tenha sido encontrado um exemplarcom 900 kg. Tem uma carapaça negra, constituí-da de tecido macio. A carapaça não se liga aoplastrão em ângulo, como nas outras tartarugas,mas sim em uma curva suave, dando ao animaluma aparência semi-cilíndrica. Vive sempre emalto-mar, aproximando-se do litoral apenas paradesova e alimenta-se preferencialmente de alfor-recas”.

“Baleia-piloto”continua a resistir

Entretanto, no mesmo Centro de Recu-peração da SPVS onde aconteceu o desgostocom a tartaruga, continua a morar a esperança narecuperação da “baleia-piloto” bebé que ali seencontra a lutar pela vida desde finais de Agosto.

Como o “Centro”noticiou na anterior edição,trata-se não de uma baleia mas de um golfinhoque atinge grandes proporções, cerca de 7 metrosem adulto, daí esta designação popular.

Apesar de ser um macho chamaram-lhe “Na-zaré”, por causa da zona onde deu à costa, muitodebilitado.

Ao longo deste dois meses tem estado a seracompanhado 24 horas por dia, graças a umaabnegada equipa de voluntários, enquanto oacompanhamento científico está a receber cola-borações de especialistas de diversos pontos doMundo.

Daí que este seja um caso de sobrevivênciaúnico na Europa, até porque o tratamento muitocomplexo tem conseguido vencer as diversascomplicações de saúde enfrentadas pelo bebé,que está a aumentar de peso e de tamanho deforma bem visível.

Entretanto, a SPVS continua a necessitar detodo o tipo de apoios para desenvolver este notá-vel trabalho de recuperação. Quem quiser ajudarpode contactar o telemóvel 913 241 188 ou otelefone 239 945 057.

44 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

OS “GRANDES PORTUGUESES” NUMA VISÃO ACTUAL

A miséria de Aristides de Sousa Mendes e a de SalazarUm dos temas que mais tem agitado o

nosso País nas últimas semanas tem sido oprograma, promovido pela RTP, intitulado“Os Grandes Portugueses”. A polémica,aliás, marcou também a exibição do referidoprograma em diversos outros países (a come-çar pelo Reino Unido, onde ele foi iniciado).

Sobre o formato do programa e outrospormenores com ele relacionados podemos leitores consultar o respectivo sítio naInternet (aliás uma das oportunas suges-tões das “Ideias Digitais” de Inês Amaral,que publicamos na página 23).

O que aqui vamos focar é o debate quea RTP promoveu na passada semana, emdirecto do luxuoso Palácio de Queluz, con-duzido pela regressada Maria Elisa.

Nesse longo debate, que se prolongoupor três horas, vários convidados emQueluz, outros na Universidade do Minho(em Braga) e na Universidade de Évora.

A escritora Lídia Jorge sublinhou que setratava de um programa de entretenimento,“um serão de tv e pouco mais”.

O jornalista Mário BettencourtResendes entendeu que “alimenta a nossaauto-estima colectiva lembrarmos grandesportugueses”.

O humorista Ricardo Araújo Pereira(“Gato Fedorento”), estranhou que mais de50 % das pessoas sugeridas sejam do séc.XX, “que não nos correu lá muito bem. Oséc. XVI, por exemplo, correu melhor”.

Outra escritora, Isabel Alçada, lembrouque normalmente as pessoas só assumemos valores da sua época, através do talentode alguém que realizou determinado feito.

Luís Reis Torgal, historiador e professorda Faculdade de Letras da Universidade deCoimbra, defendeu que a História “é maisuma interrogação do que uma solução”,acrescentando ter grande dificuldade emaceitar este programa televisivo, que dá daHistória uma ideia de competição.

Já o ensaísta Eduardo Lourenço consi-derou que se tratava de “um exercício ido-látrico”, e mesmo “um jogo de sociedade”.

Joana Amaral Dias disse entender que,neste programa, interessa mais o processodo que o resultado final.

Pedro Pinto (jornalista na CNN), afir-mou não fazer sentido comparar Luís Figoao Infante D. Henrique. E criticou o factode em Portugal “se falar muito de futebol,de política e pouco mais”. Disse que algunspodem ser agora grandes desportistas, semque tal signifique que são grandes portu-gueses.

DE ZÉ TANGANHOA ARISTIDES SOUSA MENDES

José Hermano Saraiva considerou que“o programa é extremamente sério”, e que“é um termómetro à cultura do povo por-tuguês”. Aproveitou para evocar “ZéTanganho, que ganhou a Volta a Portugal acavalo”, e lembrou Santo António.

Fernando Nobre, o Presidente da AMI(Assistência Médica Internacional), lem-brou que “a época que vivemos é muitoinquietante, senão mesmo angustiante”. Eacrescentou que depois de ter percorrido oMundo, de ter estado em 140 países, sente“orgulho de ser português”. E justificou:“Somos um dos povos que mais influen-ciou a História da Humanidade”.

Fernando Nobre revelou depois que asua escolha ia para Aristides de SousaMendes, o diplomata que salvou milharesde judeus e que morreu na miséria, que tevede queimar os móveis da casa para se aque-cer no Inverno, que se manteve coerenteaté ao fim da vida. Defendeu que a casa emCabanas de Viriato, que pertenceu ao côn-sul que ousou desobedecer a Salazar (e quepor isso foi severamente penalizado) deve-ria ser transformada em Museu da Me-mória, do Entendimento, do Ecumenismo.

José Hermano Saraiva imediatamentediscordou, exaltado:

“Não compreendo essa história de quei-mar os móveis! Venceu os seus vencimen-tos de letra A até ao fim da vida. Nunca foidemitido. Eu conheço outra história total-mente oposta. Ninguém salvou 30 miljudeus, Isso não é verdade!”.

Luís Reis Torgal imediatamente atalhou,dizendo:

“A História é procura de documentos.Toda esta reflexão que é feita pelo dr. JoséHermano Saraiva nunca a encontrei emqualquer documento”.

Mas José Hermano Saraiva faria depoisuma afirmação ainda mais espantosa, natentativa de retirar mérito ao gesto abnega-do de Aristides de Sousa Mendes:

“Os 30 mil refugiados vieram paraPortugal por acordo feito com o governoespanhol. Os vagões vinham selados, leva-vam volfrâmio e traziam refugiados. Essacampanha foi feita pela Companhia dosCaminhos de Ferro da Beira Alta”!

A POLÉMICA Á VOLTADA FIGURA DE SALAZAR

Mas a mais acesa controvérsia do pro-grama foi a que se gerou a propósito dainclusão de Salazar na lista das sugestõesapresentada pela RTP (inclusão feita muitodepois de divulgada a lista inicial).

Lídia Jorge admitiu que Salazar teve“uma importância enorme” em determina-do período da nossa História, mas dando a

entender que tal não era sinónimo de umpapel positivo.

Já Isabel Alçada foi muito mais contun-dente, lembrando que antes do 25 de Abril“tinha vergonha de viver neste País”, ondehavia censura e repressão.

Lídia Jorge voltou a referir que este inte-resse por Salazar poderá estar relacionadocom “uma faixa de saudosos do tempo emque Portugal era grande”, ao mesmo tempoque há muitos jovens que mitificam essaépoca porque a não viveram, não sentiramos seus efeitos negativos.

Joana Amaral Dias sustentou: “É bomque o Salazar apareça!”, acrescentando servantajoso para que se recordem os temposde repressão, de falta de liberdade.

Mário Bettencourt Resendes aproveitoupara comentar que “este programa eraimpensável no tempo de Salazar, ou entãoéramos presos à porta”.

Reis Torgal referiu que não falta histori-ografia sobre o chamado Estado Novo,mas que o interesse por Salazar não signifi-ca apoio ao salazarismo. E salientou que, aocontrário do que sucede noutros paísescom movimentos neo-nazis, não se podefalar de um neo-salazarismo em Portugal.

Já Fernando Nobre não partilhou essaopinião, alertando para que “o salazarismopode voltar, mesmo que sob outra forma”.E sublinhou ser indispensável contar aosmais novos o que acontecia nessa época.Confessou que só viera para Portugal

depois do 25 de Abril de 1974 por ter medode ser preso, pois mesmo estudando numaUniversidade estrangeira sabia que até entreos seus colegas portugueses havia os cha-mados “bufos” (informadores a quem aPIDE, a polícia política salazarista, pagavapara que denunciassem tudo e todos que secriticassem a ditadura de Salazar). O médi-co lembrou também que um do seus doen-tes estivera no Tarrafal, uma zona prisionalem Cabo Verde para onde eram deportadosos presos políticos, alguns dos quais aímorreram, pois era um campo de tortura.E o Presidente da AMI fez um veementeapelo: “Não vamos permitir que branquei-em a História!”.

SARAIVA DEFENDE SALAZARE DIZ QUE ELE MORREUNA MISÉRIA

Visivelmente irritado, José HermanoSaraiva disse não poder ficar calado peran-te o que estava a ouvir. E afirmou:

“Quando o Dr. Salazar foi para o podereu tinha 10 anos, quando ele morreu eutinha 50, Conheci-o pessoalmente. Foi umhomem que teve na mão, durante 40 anos,a totalidade do poder e morreu na miséria”.

E continuou:“Salazar foi o homem que fez de

Portugal um País plenamente independen-te”.

Olhando para o tecto do luxuoso salão

Aristides de Sousa Mendes

Reis Torgal

DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006 RREEPPOORRTTAAGGEEMM 55

a Mendes e a de Salazardo Palácio de Queluz, Saraiva comentou:“Estamos numa sala que ele mandou res-taurar”.

E José Hermano Saraiva rematou:“Salazar foi o homem de maior nível

moral que até hoje encontrei!”.Perante todos estes elogios ao ditador, a

própria Maria Elisa não se conteve, e per-guntou a José Hermano Saraiva:

“Este programa seria possível no tempode Salazar?”.

Resposta de José Hermano Saraiva:“Não. Os factos dos anos 30 não eram

possíveis em 2006. Salazar era um homemdo seu tempo”.

Fernando Nobre reagiu, dizendo serimportante que se fale do salazarismo, quese digam as verdades.

Ricardo Araújo Pereira aproveitou paramais uma nota de humor, dizendo ser suaconvicção de que um homem comoSalazar, que nunca se sujeitou a eleições,gostasse de se ver agora a ser votado nesteprograma…

Joana Amaral Dias, muito contundente,sublinhou “o estado miserável em Salazardeixou este País”. E acrescentou: “Foi umdos piores portugueses que Portugal teve.Se ficar bem colocado tem de se reflectir”.

Maria Elisa ouviu então alguns dosjovens estudantes presentes na audiência.Joana Viana, de 19 anos, estudante de jor-nalismo, disse que aquilo que a escola lhenão ensinara sobre o salazarismo o apren-dera ela em casa, desde miúda, através dosrelatos do que sofrera seu tio, SérgioVilarigues, por ter ousado lutar pela liber-dade e contra o salazarismo.

A HISTÓRIA DE PORTUGALE A ESTÓRIA DE SARAIVA

Luís Reis Torgal voltou a usar da palavrapara dizer que este programa da RTP é umabrincadeira, que pode ser útil, mas tambémum pouco perigosa.

E acrescentou:“A História é uma ciência muito comple-

xa. Por isso não gosto de ouvir, às vezes, odr. José Hermano Saraiva, porque ele contaa estória – com”e”, como agora se diz –simplificando a História. E todo o processo

de simplificação nunca nos conduz à objec-tividade da História”.

E continuou:“O dr. Hermano Saraiva é um modelo

de registo de comunicação. Agora nãovamos confundir o dr. Hermano Saraivacom um historiador, com a História propri-amente dita. às vezes é perigoso utilizarestórias como ele utiliza.

Voltando à questão de Salazar: se o his-toriador objectivamente analisar a realidade

do Estado Novo, tem de salientar o que éindesmentível: que houve um regime decensura, de polícia política, de falta de liber-dade, de guerra colonial”.

Sem conseguir disfarçar grande nervo-sismo, José Hermano Saraiva pediu a pala-vra para se dirigir a Reis Torgal:

“Queria dizer o seguinte: estamos intei-ramente de acordo. O sr diz que não con-funde a História com José HermanoSaraiva, mas eu também não confundo aHistória com o Prof. Reis Torgal”.

Ricardo Araújo Pereira lançou mais umapiada, para amenizar o ambiente tenso,dizendo estar em desacordo com o Prof.Fernando Rosas, que dias antes escreveraque aquele programa era uma fantochada.“Ora fantochadas são os programas que eufaço, pelo que não gostei da comparação”.

Eduardo Lourenço ainda voltou a Sa-lazar, dizendo:

“Não devemos fazer em 10 minutos oque ele fez durante 40 anos, que era julgar-nos a nós de forma bastante severa”.

Maria Elisa disponibilizou-se paramoderar um debate sobre Salazar e o sala-zarismo, se a RTP entender promovê-lo.

Em suma, foram três horas de diálogomuito vivo, que tiveram o mérito de alertar paraos riscos de um programa deste tipo ser malcompreendido, embora ele possa ter a virtudede trazer ao debate factos e figuras da nossaHistória que, de outra forma, continuariam aser ignorados pela maioria dos portugueses.

De Churchilla Brell

Este programa tem um formatocriado em Inglaterra, onde foi exi-bido pela primeira vez, pela BBC,em 2002. O escolhido pelos britâ-nicos viria a ser Winston Churchill,Primeiro Ministro que teve acçãodecisiva na vitória dos Aliados naII Guerra Mundial.

O programa foi depois adopta-do em diversos outros países.

Em França, a escolha recaiu so-bre outro protagonista da II Guer-ra Mundial, resistente à ocupaçãoalemã, e que posteriormente viria aser Presidente da República por vá-rios anos: Charles De Gaulle.

Na Alemanha, apesar de Hitlerter obtido número significativo devotos, ficou muito distante do ven-cedor, o antigo chanceler KonradAdenauer.

Na África do Sul, a votaçãodos telespectadores teve o desfe-cho que se esperava: o eleito foiNelson Mandela, líder da lutacontra o “appartheid”, que porisso esteve preso mais de duas dé-cadas, e que viria a ser Presidenteda República quando foi criadonaquele país um regime democrá-tico que pôs termo às prepotên-cias da minoria branca racista.

Já na Bélgica, curiosamente, ovencedor foi Jacques Brell, com-positor e cantor prematuramentefalecido que levou palavras deinconformismo a todo o Mundo,onde hoje as suas canções conti-nuam a ser apreciadas por gentede todas as idades.

TENDÊNCIASDOS VOTOS

A votação para escolher os 100mais, dos quais dera depois eleitoo “maior” entre “Os Grandes Por-tugueses” terminou anteontem(terça-feira).

No dia do programa a que es-tamos a referir-nos – e segundodados revelados por Maria Elisa –as tendências de voto eram asseguintes:

69% votaram em portuguesesque já morreram, 86% em homens(logo, 31 % em mortos e 14% emmulheres).

Os mais votados eram, nessaaltura, políticos (33%), vultos dacultura (32%) e figuras do des-porto (10%).

Dos votantes, 69% eram homense a maioria dos votantes tinham ida-des compreendidas entre os 21 e os30 anos.

António de Oliveira Salazar (retratado pelo pintor Henrique Medina)

Eduardo Lourenço

66 CCOOIIMMBBRRAA DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

ORQUESTRA CLÁSSICA DO CENTRO NA IGREJA DE SANTA JUSTA

Concerto de homenagema Agostinho Almeida Santos

Realizou-se na passada semana mais um“Concerto Prestígio”, no âmbito da iniciativaconjunta da Câmara Municipal de Coimbra e daOrquestra Clássica do Centro para distinguirpersonalidades ou instituições de grande mérito.

Desta feita o homenageado foi AgostinhoAlmeida Santos, Professor Catedrático daFaculdade de Medicina da Universidade deCoimbra e Director dos HUC (Hospitais daUniversidade de Coimbra).

O local do concerto foi a Igreja de SantaJusta, onde compareceram largas dezenas depessoas para ouvir a Orquestra dirigida peloMaestro Virgílio Caseiro e, simultaneamente, seassociarem à homenagem prestada a AgostinhoAlmeida Santos.

Antes do concerto propriamente dito foi exi-bido um filme produzido pela Directora daOrquestra Clássica do Centro, Emília Martins,com depoimentos de destacadas personalidadesfazendo rasgados elogios ao homenageado,quer enquanto cidadão exemplar, quer comomédico dedicado, professor competente einvestigador pioneiro, com uma carreira bri-lhante que ultrapassou as fronteiras de Portugalpara se impor internacionalmente.

Entre os diversos depoimentos, destaquepara os do antigo Presidente da RepúblicaRamalho Eanes (que apontou o Prof. AlmeidaSantos como um homem de muitas e raras qua-

lidades), o de António Almeida Santos, antigoPresidente da Assembleia da República (queesclareceu não ter ligação familiar ao homena-geado, apesar da coincidência de nomes, massentir por ele enorme admiração), de LinharesFurtado, de Carlos Encarnação, Presidente daCâmara Municipal de Coimbra, e de tantos ou-tros. Enternecedores foram também as palavrasde Teresa Almeida Santos (a mais velha das qua-tro filhas do homenageado, e sua continuadoraem termos profissionais) e de alguns dos seusnetos.

Antes do concerto usaram ainda da palavraMário Nunes, vereador da Cultura da CâmaraMunicipal, que começou por agradecer aoBispo de Coimbra, D. Albino Cleto, a aberturapara ceder o espaço das igrejas para este tipo deiniciativas culturais; e que depois aludiu aos pre-dicados do homenageado.

O elogio de Agostinho Almeida Santos este-ve a cargo de Fernando Regateiro, também eleProfessor da Faculdade de Medicina e actualPresidente da Administração Regional de Saúdedo Centro, que focou as diversas facetas quetornam Agostinho Almeida Santos uma figuraímpar.

A actuação da Orquestra Clássica do Cen-tro atingiu elevado nível, bem de acordo coma homenagem que o concerto pretendeuprestar.

Vai ser lançado em Coimbra, na próximaquarta-feira, mais um trabalho de José d’ Encar-nação, Professor Catedrático da Universidadede Coimbra, especialista em Pré-História e Ar-queologia.

Mas para além de prestigiado docente einvestigador universitário (doutor “honoriscausa” pela Universidade francesa de Poitiers),José d’Encarnação é também um cronista exí-mio e um crítico de requintado humor.

Isso mesmo se verifica nos pequenoscomentários que vem publicando no jornal“Centro” (e antes no “Jornal de Coimbra”, aolongo de vários anos), com o eloquente título“Pois…”.

Ora alguns desses deliciosos comentáriosforam agora reunidos em mais um número deuma original colecção de “livros de cordel”, sobo título de “Estrepes”.

O lançamento do livrinho será feito, como

acima se refere, na próxima quarta-feira, dia 8,pelas 18,30 horas, no mini-auditório e galeria dearte da “Invesvita”, no Largo dos Olivais(mesmo em frente à Igreja dos Olivais).

Uma oportunidade para que muitos dos fiéisleitores dos “Pois…” possam conhecer pessoal-mente o autor desses comentários e com ele dia-logar.

A apresentação será feita por Jorge Castilho,Director do “Centro”.

“ESTREPES” É LANÇADO EM COIMBRA NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA

Textos de José d’Encarnaçãoem “livro de cordel”

EENNTTRREEVVIISSTTAA 77DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Tornar o Rio Mondego navegável,pelo menos desde Coimbraaté à Figueira da Foz, é um dosambiciosos projectos do novoresponsável pelo Turismoda Região Centro. Em entrevistaque concedeu ao nosso jornal,Pedro Machado afirma serpossível transformar este sonhoem realidade, com o incrementoque tal poderá ter para o turismo,à semelhança do que sucedeuno Rio Douro. E entende queo empreendimento, emboraousado, quase se poderáauto-financiar, atravésda comercialização da areiaproveniente do desassoreamentodo rio.

Jorge Castilho

Empossado há apenas dois meses comoPresidente da Região de Turismo doCentro (RTC), Pedro Machado tem já umasérie de medidas programadas e diversosprojectos inovadores.

Para além de Presidente da RTC, PedroMachado é também o responsável Associa-ção de Turismo Centro de Portugal (ATCP)e pela Agência Regional para a PromoçãoTurística do Centro de Portugal. Três enti-dades distintas, com objectivos diversos,mas confluindo para o mesmo propósito:desenvolver o Turismo nesta vasta Região.

Na RTC (que engloba 24 municípios), afunção é “salvaguardar a promoção daRegião Centro no mercado interno, nome-adamente através de uma ligação estreitacom hotéis, restaurantes e agências de via-gens.

Quanto à ATCP, que abrange 6 distritos,não tem funções executivas, mas antes sepreocupa em “desenvolver projectos depromoção interna, reforçando a marca‘Centro de Portugal’, congregando organis-mos públicos e privados”.

Já a Agência Regional, que tem sede emViseu, “será o instrumento mais forte depromoção no mercado externo, associan-do cinco Regiões de Turismo (Centro,Serra da Estrela, Dão-Lafões, Luz-Aveiroe NorturTejo) e um conjunto de largasdezenas de associados privados” – entreos quais se contam, por exemplo, o Casinoda Figueira da Foz e a Fundação BissayaBarreto.

Pedro Machado salienta a importânciadesta Agência, “para disciplinar a participa-ção portuguesa no mercado externo, paraganhar uma marca única, criando o concei-to de PORTUGAL”. E explicita: “Isto é, a

representação, no mercado externo, de umamarca nacional e regional, mas sem havercolisões”.

O segundo eixo da sua estratégia, segun-do nos revela, é reunir com parceiros públi-cos e privados – Instituto do Turismo de

Portugal, CCDRC (Comissão de Coorde-nação e Desenvolvimento Regional doCentro), Câmaras Municipais – de molde aanalisar “os instrumentos comunitários quesejam reprodutivos e reprodutores”.

Pedro Machado diz-nos ser essencialnão haver sobreposições no que concerneao aproveitamento do novo QuadroComunitário

NECESSÁRIO MUDAR MAPADAS REGIÕES DE TURISMO

Sublinha que o modelo de turismo dehoje “é diferente do que era há dois anos, o

paradigma modificou-se, quer em relaçãoàs exigências quer aos desafios que se colo-cam ao sector”.

E acrescenta:“Tem de se mudar o mapa das Regiões

de Turismo, algumas das quais com gran-des diferenças geográficas, enquanto hámunicípios que não integram nenhumadelas. O Turismo tem de reorganizar-se,coexistindo Regiões grande com pequenas,criando instrumentos inter-municipais,aglutinando concelhos por marcas e produ-tos”.

Dá o exemplo do Algarve, que é pensa-do como um todo (sol, mar e golfe), dizen-do que a Região Centro está demasiadoretalhada, impondo-se, por isso, reorgani-zá-la.

CARTA GASTRONÓMICAEM ELABORAÇÃO

Quanto aos projectos em marcha, PedroMachado refere-nos alguns: a “Carta Gas-tronómica do Centro”, elaborada pelaRTC, que pretende ser um documento deconsulta fácil, que refere onde se podecomer e o quê, onde ficar, que produtos sepodem adquirir. Prevê-se que esteja con-cluída no final do 1º semestre do próximoano.

Incrementar as Rotas (de Wellington, deInês de Castro, da linha dos castelos dedefesa do Mondego, entre outras) é outrodos projectos.

Mas a aposta de maior impacto será, semdúvida, a de tornar o Mondego navegável,pelo menos desde Coimbra até à Figueirada Foz, proporcionando cruzeiros, práticade diversos desportos, centros de lazer.

E Pedro Machado conclui, resumindoassim o seu plano de actividades:

“Uma nova dinâmica e uma nova imagemà volta do Turismo do Centro e Portugal”.

UM DOS AMBICIOSOS PROJECTOS DO NOVO RESPONSÁVEL PELO TURISMO DO CENTRO

Mondego navegável de Coimbraà Figueira da Foz

88 HHIISSTTÓÓRRIIAA DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

A importância histórica do antigo Liceu Central de José Falcão (1)

Foi há 170 anos que o primeiro liceu deCoimbra foi criado pelo Decreto de 17 deNovembro de 1836. Este liceu era um dos18 então criados mas foi o primeiro a serinstalado. Por Portaria de 17 de Setembrode 1839, confirmava-se a sua instalação pro-visória nos antigos gerais do Colégio dasArtes, situados no primeiro pavimentodeste edifício e constituía uma secção daUniversidade. Esta singularidade distinguiao Liceu Nacional de Coimbra dos demaisliceus, porque o reitor da Universidade foitambém reitor do Liceu até 1880, ano emque se tornou autónomo administrativa-mente. Os seus professores incorporavam-se no «grande Estabelecimento Universitá-rio» visto que o corpo docente do LiceuNacional de Coimbra era constituído à par-tida por alguns professores do extintoColégio das Artes e por professores univer-sitários, gozando das honras e prerrogativasdos Lentes, conforme a Portaria de 10 deOutubro de 1840, que reproduzia em partelegislação anterior. Esta equiparação permi-tia-lhes ter assento na Sala dos Capelos como corpo docente de todas as faculdades,revestindo-se das insígnias doutorais. Eramesmo habitual os professores das cadeirasde História e de Oratória do Liceu pronun-ciarem, em anos alternados naquela sala, oelogio do monarca numa oração latina nodia do seu aniversário, em presença de todoo corpo docente das diversas faculdades.Neste e noutros actos solenes ocupavam oseu devido lugar na referida sala e participa-vam com outras forças vivas da cidade nasfelicitações de Coimbra, quando o rei erarecebido nos seus Paços do Concelho.

A exiguidade do espaço que lhe fora des-tinado no antigo Colégio das Artes e atransferência de doentes do Hospital daUniversidade para o mesmo edifício moti-vou os responsáveis pelo Liceu a procurarinstalações alternativas, mas foi difícilencontrar em Coimbra um edifício desocu-pado onde esta instituição de ensino sepudesse instalar com a dignidade necessária.

Em 1863, o Conselho Escolar daFaculdade de Medicina aprovou o projectode reconstrução do Hospital, pelo que seprevia a quase total ocupação do edifíciodo Colégio das Artes. Tornava-se urgente amudança de instalações do Liceu. O edifí-cio do Colégio de S. Bento poderia ser umaalternativa mas estava arrendado a longoprazo, funcionando aí o colégio particularde S. Bento. Mas, inesperadamente, oarrendamento cessou por acordo com oinquilino e o edifício foi desocupado em1869. Tornou-se, assim, possível a instala-ção do Liceu naquele edifício. Procedeu-seentão a obras de adaptação para responderao movimento escolar, ao serviço de exa-mes e à manutenção da polícia, indispensá-vel neste estabelecimento de ensino.

Em Junho de 1870 começou a mudança

dos serviços do Liceu para o edifício doColégio de São Bento, indo ocupar o espa-ço do referido colégio particular deHumanidades, que, entretanto, se extingui-ra. Desde o início desse mês começaram alia fazer-se exames de instrução primária quehabilitavam a matrícula no Liceu, cujo júriera constituído por professores do seucorpo docente. No ano lectivo de 1870--1871, o Liceu Nacional de Coimbra ini-ciou ali as suas aulas.

Desde a sua mudança nos finais do anolectivo de 1870 para o edifício do Colégiode S. Bento que o Liceu Nacional deCoimbra ia caminhando a passos largospara a sua autonomia. Em 17 de Novembrode 1880 foi dada «plena e inteira posse» aoreitor do Liceu, Luís da Costa Almeida,nomeado por Decreto de 12 de Novembrodesse mesmo ano, ficando revestido de todaa autoridade deveres e obrigações. O LiceuNacional de Coimbra passava a emancipar--se da Reitoria da Universidade.

Professores e alunos usaram até estadata o mesmo traje académico dos profes-sores e alunos da Universidade mas, porconselho escolar de 8 de Novembro de1880, dia solene da abertura das aulas doLiceu, decidiu-se que tanto os professorescomo os alunos deste estabelecimento deensino podiam usar indiferentemente bati-na ou vestuário à paisana.

O mobiliário do Liceu também testemu-nha esta forte ligação entre o Liceu e aUniversidade. Em 1897, ainda havia no edi-fício do Colégio de S. Bento as antigas cáte-dras que entretanto iam sendo retiradas.Em 4 de Novembro desse mesmo ano,alguns professores pediam que fossemcolocadas nas salas as que tinham sido des-locadas para darem lugar aos estrados altos.

A partir de 4 de Novembro de 1880, o

Liceu Nacional de Coimbra passou a denomi-nar-se Liceu Nacional Central. Na qualidadede Liceu de primeira categoria, o Liceu deCoimbra teve sempre um elenco disciplinaradequado a essa classificação e até se diferen-ciava dos demais liceus da sua classe pelo factode logo no seu início as cadeiras do Liceucujas matérias se lessem na Universidadeserem substituídas pelas cadeiras análogas quenela se regiam, podendo os alunos matricular--se e aprender na Universidade as doutrinasdessas cadeiras, tendo neste caso o estatuto deestudantes obrigados.

A cadeira de Moral Universal foi substituí-da pelas cadeiras de Ideologia, GramáticaGeral e Lógica e pela de Direito Natural daUniversidade. A cadeira de Aritmética, Álge-bra, Geometria, Trigonometria e Desenhofoi suprida pela primeira cadeira daFaculdade de Matemática; a de Princípios deFísica, Química e de Mecânica aplicados àsArtes e Ofícios e a de Princípios de HistóriaNatural dos Três Reinos da Natureza foramsubstituídas pelas correspondentes daFaculdade de Filosofia. Para além destas,regiam-se ainda as cadeiras de GramáticaPortuguesa e Latina, Geografia, Cronologiae História, Oratória, Poética e LiteraturaClássica, Língua Francesa e Inglesa, LínguaGrega e Língua Hebraica, seguindo a tradi-ção herdada dos «estudos menores» quefaziam parte do plano de estudos do Colégiodas Artes. A cadeira de Língua Alemã come-çou a professar-se no ano de 1840.

Este currículo era constituído por disci-plinas independentes umas das outras semestrutura lógica, quer em relação aos conte-údos, quer em relação aos níveis etários aque eram destinados. A sua distribuiçãohorária, os programas, os métodos, a disci-plina escolar e as condições de admissãoeram aspectos especiais geridos segundo o

próprio regimento do Liceu visto que oDecreto que criava os liceus dava o primei-ro passo para a descentralização pedagógi-ca do ensino secundário.

Com a reforma de 20 de Setembro de1844, de Costa Cabral, o elenco disciplinardo Liceu Nacional de Coimbra estava emconformidade com os outros liceus.Algumas das cadeiras ministradas na Uni-versidade passaram a ser professadas noLiceu como foi o caso de Filosofia Ra-cional e Moral e Princípios de DireitoNatural, mas a cadeira de Aritmética eGeometria com aplicação às Artes e Pri-meiras Noções de Álgebra, que não existiano Liceu, era suprida, segundo este decreto,pela sua congénere da Faculdade deMatemática. De resto mantinham-se todasas cadeiras instituídas pela reforma dePassos Manuel e acrescentava-se mais tardea cadeira extracurricular de Música, intro-duzida no ano lectivo de 1850-1851.

O currículo, segundo a reforma de CostaCabral, já se apresentava estruturado confor-me as horas de duração das aulas e segundo operíodo do dia em que eram ministradas.Todas tinham a duração de 2 horas. As aulasiniciavam-se às 8 horas da manhã e termina-vam no máximo às 17 horas. Respeitava-se ointervalo do almoço entre as 12 e as 15 horas.A uniformização do currículo foi-se proces-sando a muito custo. A estrutura curricular doLiceu de Coimbra foi sofrendo alterações deacordo com a sucessão de reformas. Em1895, segundo a reforma de Jaime Moniz, ocurrículo do curso geral do Liceu compreen-dia os cinco primeiros anos e era constituídopelas disciplinas de Língua e LiteraturaPortuguesa, Língua Latina, Língua Francesa,Língua Inglesa, Língua Alemã, Geografia,História, Matemática, Física, Química eHistória Natural e a disciplina de Desenho. O

Um intervalo de aulas no antigo Liceu José Falcão instalado no edifício dos Padres Bentos

Maria Juditede C. RibeiroSeabra(2)

HHIISSTTÓÓRRIIAA 99DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

o Liceu Central de José Falcão (1)

curso complementar constava do sexto e séti-mo anos e tinha um elenco disciplinar consti-tuído pelas disciplinas de Língua e LiteraturaPortuguesa, Língua Latina, Língua Alemã,Geografia, História, Matemática, Física,Química e História Natural, e Filosofia.

A inovação desta reforma traduzia-se nadistribuição orgânica das disciplinas, decor-rente da implementação do regime de clas-ses, em que cada uma delas contribuía com asua especificidade, articulando-se umas comas outras para proporcionar um conjuntoglobal de saberes, de modo a formar simulta-neamente um todo uno e complementar queproporcionava o desenvolvimento das facul-dades mentais e, consequentemente, a for-mação integral do educando. Conciliava-seassim, a diversidade disciplinar com a unida-de pedagógica em que as actividades eram“solidárias”. Atendiam-se os direitos daidade, as fases e capacidade psíquica do edu-cando, fraccionando o estudo anual pelas dis-ciplinas convenientes, e procurava-se concili-ar os estudos humanísticos indispensáveispara a sua formação moral e intelectual coma componente científica e utilitária, no senti-do de alcançar o fim supremo da educação: aformação integral do homem.

Este sistema de ensino liceal teve umaaceitação generalizada pelas expectativas demudança que criou mas, apesar disso, foialvo de críticas por parte de algumas corren-tes de opinião. O curso complementar únicocom destaque para as habilitações literáriasem detrimento das técnicas, ao contrário doque se passava na Europa, foi muito critica-do. Depois de uma sondagem de opiniãoencomendada pelo Governo, determinou-seproduzir um novo plano de estudos quevinha facilitar mais a vida aos professores eaos alunos. A reforma de 1905, da autoria deEduardo Coelho, revogou o sistema anteriordo curso complementar único substituindo--o pelo curso de Letras ou Humanidades epelo curso de Ciências. O plano de estudosresultante desta reforma foi aceite na suageneralidade, mantendo-se até aos nossosdias com muitas semelhanças.

O Liceu de Coimbra teve um papel muitoimportante na formação de professores.Nele se faziam exames de habilitação para oprofessorado e se nomeavam júris para osconcursos dos candidatos ao magistério deinstrução primária e secundária. Na viragemdo século XIX para o século XX, continuoua ter uma função de formação e selecção deprofessores. Nele faziam a prática pedagógi-ca os alunos do 4.º ano do Curso deHabilitação para o Magistério Secundário emais tarde da Escola Normal Superior.Alguns dos seus professores eram metodólo-gos e nessas funções exerciam nesta Escola adocência. Dada a sua vocação de instituiçãoformadora, os responsáveis pela sua direcçãoconsideravam que este Liceu devia ser umaescola modelo, onde os futuros professorespudessem ter todos os elementos necessáriosà sua completa formação profissional, daíque se travasse uma luta persistente para queas condições materiais fossem proporcionaisao valor dos seus professores e se não deslus-trasse a tradição do ensino secundário emCoimbra que já vinha do Real Colégio dasArtes, dirigido por André de Gouveia aquem Montaigne chamava le plus grand princi-pal de France. Neste sentido o reitor DiasPereira, eleito em 1919, que foi também um

dos metodólogos deste Liceu, encetou umaluta notável no sentido de melhorar as insta-lações e prover o Liceu com o materialnecessário à sua dignificação e consequente-mente do seu ensino. A sua experiência polí-tica como parlamentar e pedagógica comometodólogo granjeou-lhe conhecimentosque pôs ao serviço da instituição que dirigia.Mobilizou a sociedade coimbrã em defesadas causas que defendia e projectou o LiceuCentral de Coimbra (designação que passoua ter desde o ano de 1895) para um lugarcimeiro entre os liceus portugueses, tanto noque diz respeito às instalações de apoio peda-gógico como à dinâmica científico-pedagógi-ca que imprimiu a este estabelecimento deensino. Mas o seu desempenho como diri-gente do Liceu terminou passados sete anoscom a mudança de regime, por força da legis-lação em vigor que determinava que se pro-cedesse à eleição de um novo titular. A vota-ção dos professores em lista tríplice, comodeterminavam as disposições regulamenta-res, deu a vitória a Dias Pereira com largamargem de votos relativamente aos profes-sores que tinham ficado em segundo e tercei-ro lugar. Apreciado e estimado pelos seuscolegas, estes realçavam a sua acção comodirigente do Liceu. António Tomé, o segun-do professor mais votado, referia o desempe-nho deste reitor nestes termos: «teve umrelêvo tão extraordinário, que conseguiutransformar completamente o velho Liceude José Falcão». Sílvio Pélico, referindo-se à

luta que o mesmo reitor travou no dia-a-diapara desenvolver o Liceu material e pedago-gicamente, invocou «a profunda e benéficatransformação» verificada durante o seumandato. Mas, apesar do voto de agradeci-mento e louvor por parte dos professores doLiceu a Dias Pereira e das promessas destepara tudo fazer pelo ensino e pelo liceu«quanto em suas forças caiba», o mesmocomunicava em sessão do conselho escolarde 3 de Julho de 1926, que não continuariano exercício do cargo em virtude de uma

nota enviada ao Liceu pedindo cabimento dedespesa para a nomeação do cargo de reitordo professor José Custódio de Morais (o ter-ceiro professor mais votado pelo conselhoescolar). Sinais dos tempos! Na sua despedi-da como reitor, Dias Pereira invocou a unida-de moral que o Liceu constituiu durante ossete anos do seu mandato e o facto de tersido eleito em 1919 por treze votos e sairdepois de ter sido eleito por unanimidade.

O Liceu Central de Coimbra, que desde1914 elegeu para seu patrono o matemáticouniversitário e republicano José Falcão, pas-sou a designar-se desde então por LiceuCentral de José Falcão. Este foi o únicoLiceu existente em Coimbra até à criação doLiceu Feminino Infanta D. Maria, criado em1918. Até esta data, o liceu masculino pro-porcionou o acesso à frequência femininadesde as últimas décadas do século XIX.Tímida de início, a frequência da mulherneste Liceu começou a ser mais notóriadepois da implantação da República. Oaumento da população escolar femininalevou as entidades governamentais a criaruma secção feminina no Liceu Central deJosé Falcão, sediada na Avenida Sá daBandeira, que viria dar origem ao LiceuFeminino Infanta D. Maria.

A atracção da população rural pelos gran-des centros urbanos em busca de condiçõesde vida mais favoráveis conduziu a umamobilidade geográfica que veio provocar umdesequilíbrio numérico dos efectivos escola-

res do liceu masculino, o Liceu Central deJosé Falcão. Face a esta evolução demográfi-ca nos grandes centros escolares comoLisboa, Porto e Coimbra, o Governo decre-tou em 21 de Setembro de 1928 medidas nosentido de obviar a aglomeração escolar nes-tes centros. As lotações para os diferentesliceus do país seriam fixadas, reorganizar-se-iam os respectivos quadros, medidas que pro-vocaram algumas dificuldades. No Liceu deCoimbra as dificuldades eram somente relati-vas ao espaço que não comportava tão eleva-

da população escolar. A limitação imposta donúmero de estudantes tornou necessária a cri-ação de um novo liceu. Assim nasceu o LiceuJúlio Henriques, criado por Decreto de 21 deSetembro de 1928, que se instalou numa dasalas do edifício de S. Bento até à construçãode um novo edifício. Construídas as novasinstalações para o funcionamento do LiceuNormal Júlio Henriques, na Avenida AfonsoHenriques, os problemas de espaço com queo Liceu Central de José Falcão se debatia fica-riam resolvidos, o que não aconteceu pelofacto de as divisões ocupadas por aquele liceudeverem ser restituídas à Faculdade deCiências, uma velha questão que tanta tintafez correr na imprensa local. Entretanto, pelanova reforma do ensino liceal foram fundi-dos os liceus Júlio Henriques e o Liceu deJosé Falcão num só com a designação deLiceu D. João III, sendo seu reitor Alberto Sáde Oliveira. Instalava-se definitivamente noedifício destinado ao Liceu Normal JúlioHenriques, na Avenida Afonso Henriques,em 1936, ficando no edifício de S. Bento umasecção deste Liceu.

A construção feita pela Junta dasConstruções para o Ensino Técnico e Se-cundário foi projectada em 1930 peloArquitecto Carlos Chambers Ramos e suaequipa, tendo em conta as condições exigi-das de orientação e iluminação e a sua situ-ação relativamente a desníveis, drenagens,facilidade de esgotos das águas pluviais eoutros factores essenciais ao bom aprovei-tamento do terreno, sem prejuízo das con-dições pedagógicas e higiénicas a que deviaobedecer um edifício desta natureza.

O edifício compunha-se de dois corpos:um destinado aos serviços administrativos,às salas de aula, aos laboratórios, gabinetese restantes serviços. O outro à instalação dacantina, médico escolar, balneários e educa-ção física. Do lado nascente ficavam insta-lados os campos de jogos e a esplanada daginástica. Entre os dois corpos havia umedifício destinado primitivamente à resi-dência do reitor e onde deviam ficar insta-lados os serviços da Mocidade Portuguesa,Associação Escolar e outros.

O corpo principal do edifício tinha trêspavimentos. No primeiro instalaram-se osserviços administrativos; no segundo e ter-ceiro as salas de aula e os laboratórios. A alapoente do segundo pavimento foi atribuídaao primeiro ciclo; a ala nascente ao segun-do ciclo e parte do terceiro pavimento des-tinava-se ao terceiro ciclo.

Num momento em que a ideologia polí-tica estadonovista ainda se não tinha afir-mado e se preocupava em desenvolver oritmo das construções escolares, as condi-ções políticas foram favoráveis à constru-ção deste edifício segundo linhas arquitec-tónicas que nada tinham a ver com a filoso-fia do poder político vigente.

A Escola Secundária José Falcão, suce-dânea deste Liceu, comemorou durante es-te ano lectivo, para além da criação do pri-meiro Liceu de Coimbra, os 70 anos da ins-talação do Liceu neste edifício.

(1) Este artigo insere-se no âmbito da nossa investigaçãopara a dissertação de doutoramento sob o título OsLiceus na Sociedade Coimbrã, apresentada à Uni-versidade de Lisboa em 1999 e em preparação parapróxima publicação.

(2) Doutorada em História e Filosofia da Educação. Pro-fessora da ESEC.

O edifício construído há exactamente 70 anos, onde funcionou o Liceu D. João IIIque a partir de 1974 recuperou o nome de José Falcão

1100 OOPPIINNIIÃÃOO DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

SOCIEDADES DIFERENTESPara perceber uma sociedade, talvez

mais importante do que saber como é quenela se vive é saber como é que nela semorre e se tratam os mortos.

O antropólogo L.-V. Thomas, especialis-ta nestas questões, apresentou esquemati-camente as diferenças entre a civilizaçãonegro-africana tradicional e a civilizaçãoocidental no que se refere à morte.

Essa diferença assenta no tipo de socie-dade ou civilização. Enquanto na sociedadenegro-africana predominam a acumulaçãodos homens, uma economia de subsistênciacom o primado do valor de uso, a riquezade sinais e símbolos, a preocupação com asrelações pessoais, o espírito comunitário, opapel do mito e do tempo repetitivo, nasociedade ocidental o que predomina é aacumulação dos bens, a riqueza em objectose técnicas, uma economia com o primadodo valor de troca e da sociedade de consu-mo, a tanatocracia burocrática ou tecnocrá-tica, a exaltação do individualismo, o papelda ciência, da técnica, do tempo explosivo.

Nesta visão, compreende-se que o signi-ficado do Homem também será distinto.Se, na sociedade negro-africana, o Homemse encontra no centro, sendo altamentesocializado, e os velhos são valorizados, atéporque representam a tradição e a sabedo-ria, na sociedade ocidental, o Homem apa-rece sobretudo como produto, mercadoria,inserido no círculo da produção-consumo,altamente individualizado e alienado, e osvelhos são desvalorizados e abandonados.

u PPaaddrree AAnnsseellmmoo BBoorrggeessDN 29/10/06

A TERRA MOVE-SEChuvas torrenciais, estradas alagadas,

casas a ruir, trememos não ainda pelo quejá acontece mas pelo que, suspeitamos, vaivir. Traquilizam-nos os homens das meteo-rologias que andam sempre no melhor dosmundos: “É da época...” Mas nós ouvimo--los como os passageiros do Titanic, des-confiados, ouviam a orquestra de violinos.

Há muitos, muitos anos, Galileu Galileitinha fisgada a mania de que a Terra giravaà volta do Sol. A Santa Inquisição, apontan-do-lhe a fogueira, quis que ele abjurasseessa ideia absurda. E ele abjurou, para sal-var a pele. Mas tendo-o feito, murmurou:“Eppur si muove” – e, no entanto, [a Terra]move-se... Tempos passaram e até a Igrejadeu razão a Galileu, ou melhor, à Terra.Depois, desleixámo-nos. E a Terra move--se, para nos acordar.

u FFeerrrreeiirraa FFeerrnnaannddeessCM 26/10/06

O REPETENTEAo fazer as malas para Bruxelas, Durão

Barroso escolheu Santana Lopes. Creioque, numa futura prestação de contas, ele odesmentirá, alegando que a sua sucessão foimodelarmente institucional. Mas terá deesperar – um esperar de espera e de espe-rança – que a memória colectiva faça asmalas também. Porque, certo que estava doseu poder de ainda primeiro-ministro, ele

bem sabia que dos seus fiéis não adviriamentraves e que a escolha de Santana com-praria o entusiasmo dos seus adversáriosno partido. E, para as ambições que entãoguardava para um futuro incerto, tambémSantana se afigurava a melhor escolha, por-que não lhe ensombrava os amanhãs.

Este, porém, em quatro escassos meses,excedeu as piores expectativas. Não merefiro já aos contributos que deu para oanedotário do pós-25 de Abril, mas sim aovertiginoso carnaval de improvisos, levian-dades, demagogias, vitimizações obsessivas,faltas de sentido de Estado, descoordena-ções, mancebias entre Estado e partido,contradições e “trapalhadas” (tantas e tais,que esta palavra instalou-se e desperta tãopavlovianamente os receios populares quejá não é fácil fazer oposição sem ela). Sóque o povo não gostou do populismo e elefoi fragorosamente derrotado nas urnas.

u NNuunnoo BBrreeddeerrooddee SSaannttoossDN 29/10/06

DESASTROSASCONTRADIÇÕES

Na mesma semana, toma-se conheci-mento que o Governo concede à Banca umperdão fiscal por cobranças não efectuadas,que os Partidos Políticos com assento naAR não cumpriram com a lei quanto àscontas das campanhas eleitorais, que oaumento da electricidade anda envolvidoem “trapalhadas”, que as SCUT da faixalitoral norte também vão perder o seu esta-do de graça, que os benefícios dos cidadã-os com deficiência foram alterados. Ecomo se tudo isto não bastasse para des-mantelar um capital de resguardo doGoverno na exigência dos “sacrifíciospátrios”, as explicações que, publicamente,são aduzidas para estas situações são desas-trosas.

É admissível fazer crer ao grande públi-co que a Banca, um dos sectores de activi-dades mais profissionalizados deste país,desconhecia obrigações fiscais a que estavasujeita? E desde quando, e para quem, éque o desconhecimento da Lei dispensa ocumprimento da mesma? Colhe, porventu-ra, como explicação razoável que os parti-dos que fizeram e aprovaram a Lei não tin-ham consciência e discernimento das impli-cações mais minuciosas e de difícil aplica-ção? A bandeira eleitoral das SCUT excluíao Norte do país?

A notícia destes factos já de si tem efei-tos negativos. As explicações dadas à opini-ão pública revestiram para além de aspectoscaricatos, um resultado deveras pernicioso.

A transparência é uma exigência dademocracia. Mas essa transparência nãoacaba nas leis que a prometem. Comprova--se, sobretudo, nos actos.

A transparência é condição para o fun-cionamento de uma democracia mediática.Não se trata de esconder os factos. É pre-ciso é explicá-los de outra maneira.Convincentemente. Sem espalhar a descon-fiança que cai sobre tudo e todos.

u PPaaqquueettee ddee OOlliivveeiirraaJN 26/10/06

JOGO PERIGOSOO Governo, no espaço de uma semana,

cometeu dois erros graves e potencialmen-te comprometedores da boa estratégia quedesenhou para controlar o défice e moder-nizar Portugal. Um refere-se à taxa de cincoeuros de internamento hospitalar e o outroao aumento de 16% das tarifas de electrici-dade. Em boa hora, em relação ao aumen-to brutal da electricidade, o Governo corri-giu a decisão (passou de 16% para 6%) eatenuou os efeitos desastrados do anúnciodessa medida. Quanto à taxa de interna-mento hospitalar, não há notícias demudança e parece ser um facto consumado.Aparentemente, mas só aparentemente, são

duas decisões de menor importância. Pas-sariam mais ou menos despercebidas numaconjuntura económica favorável. Mas, nomomento em que se anunciam com oOrçamento de Estado medidas mais drásti-cas e se pede/exige ao povo mais sacrifí-cios, é uma insensatez agravar as dificulda-des que se sentem em todo o lado em áreasde uma enorme delicadeza, como é, porexemplo o internamento hospitalar.

u EEmmííddiioo RRaannggeellCM 21/10/06

O BANQUEIRO DOS POBRESMuhammad Yunus, conhecido como o

“banqueiro dos pobres”, sempre disse quenunca deu, dá ou dará esmola a qualquerpedinte que lhe estenda a mão. Mas fundouum sistema de luta contra a pobreza, deredução das desigualdades e de desenvolvi-mento social, seguindo o princípio orientalde que “mais vale dar a cana que o peixe” ea lógica de que “quem mais precisa de capi-tal para mudar a sua vida são os maispobres”.

Yunus e o Banco Grameen contribuírampara uma mudança favorável na vida demilhões de pessoas em todo o mundo.Conseguiram focar a sociedade no direitoque cada indivíduo – independentementedo sexo, da cultura e do estrato social – temde viver uma vida decente, pelo seu próprioesforço.

u LLuuííss PPoorrtteellaaJN 25/10/06

EM NOME DOS RICOSAbro o jornal e dou de caras com uma

estranha notícia. Normalmente Portugal ésempre apontado como pobrezinho, maisou menos terceiro mundo, coisa que, paralá de Badajoz , ninguém conhece.

Mas desta vez Portugal aparecia mencio-nado, em meia dúzia de linhas, ao lado-ima-gine-se!-dos Estados Unidos. Tudo porque,garantia a notícia, um estudo afirmava quea Avenida da Liberdade, em Lisboa, estavano ranking das cidades com o comérciomais caro do mundo, ao lado de lugaresmíticos como, por exemplo, a 5ª Avenidaem Nova Iorque.

Bem, ao lado, ao lado, exactamente aolado não era, mas pelo menos estava namesma lista, num honrosíssimo 35º lugar.

E na verdade basta percorrer a Avenidada Liberdade (ou muito simplesmente “AAvenida”, como diz qualquer alfacinha quese preze) para o nosso nariz bater no vidrodas montras de lojas com os nomes maissonantes da moda. Claro que a grande maio-ria limita-se mesmo só a bater com o narizno vidro, pois o que se encontra para ládele está tão longe das nossas pobres bol-sas como a lua ou marte.Aqui há dias lem-bro-me de ter parado diante da Vuitton, aolado de um casal que fazia contas e mais

contas para chegar à conclusão de que nemo ordenado mínimo chegaria para comprarum cinto em exposição…Mas pronto, agente olha para aquilo e, por momentos,tem-se quase a impressão de que Portugal éum país-e não, como diria o Eça, apenas“um sítio”.

u AAlliiccee VViieeiirraaJN 29/10/06

O PGR NÃO MANDA NADAO PGR não manda nada ou manda

muito pouco. Não há democracia que valhapara justificar esta insensatez.

O chumbo do nome de Gomes Diaspara vice-procurador-geral pelo ConselhoSuperior do Ministério Público, propostopelo procurador-geral da República, PintoMonteiro, vem demonstrar que, em ques-tões essenciais, o PGR tem um mero podersimbólico. Esta embaraçosa situação, derevés e de fragilidade, em que o CSMPcolocou publicamente Pinto Monteiro,espelha uma triste realidade: o PGR nãomanda nada ou manda muito pouco.

Os poderes invisíveis, que são exercidoscom a cumplicidade daqueles que estãointeressados em enfraquecer o seu poder,colocando-lhe minas e armadilhas no cami-nho, já deram internamente um sinal depoder e de força. E aqui não há democraciaque valha para justificar esta insensatez dosmembros do CSMP. Trata-se de um cargoda inteira confiança pessoal do PGR, que évital para o bom exercício das suas funções.A lei que confere esta competência aosmembros do CSMP está errada. Imagine-seuma lei que impusesse ao primeiro-minis-tro os nomes dos seus ministros e do seugabinete!

O actual PGR merecia um voto de con-fiança dos membros do CSMP. Os motivosinvocados para vetarem o nome de GomesDias (desconhecimento da actual realidadedos tribunais, posições políticas conserva-doras e passagem pela direcção da PolíciaJudiciária) são medíocres, mesquinhos enada credíveis. O ‘homem’ que nos cerca,aos milhares, que prospera e se reproduzno silêncio e nas sombras, é o medíocre.

Pinto Monteiro só tem uma forma decombater este homem e esta mentalidade: éexercer de facto os seus poderes, comodisse no discurso de posse, insistindo naescolha de Gomes Dias. Se recuar dará pro-vas de fraqueza, agrava a desconfiança gera-da sobre si e ficará para sempre nas mãos doSindicato dos Magistrados do MinistérioPúblico que, face aos rumores públicos,influenciou e condicionou a votação secre-ta. O Ministério Público não perdoa o factode o novo PGR vir de fora desta corpora-ção. Só o pior cego é que não vê.

u RRuuii RRaannggeellCM 22/10/06

itaçõesUm dos temas mais em foco nos últimos dias foram as inundações. Na imagem vê-seo resultado da chuva em Torre de Vilela (Coimbra)

Paulo Novais (Lusa)

OOPPIINNIIÃÃOO 1111DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

ENTRE RÚSSIA E CHINAQuando recentemente se discutiu no

Parlamento Europeu a viabilidade de umfuturo alargamento da União Europeia àTurquia, não foram poucos os que recorda-ram quanto a Europa está culturalmentebastante mais próxima em relação à Rússiado que à Turquia, na filosofia, na teoria polí-tica, na literatura ou na música; mesmo nomomento em que o turco Orhan Pamuk égalardoado com o Nobel da Literatura, qual-quer cidadão europeu conhece melhor aobra de quatro ou cinco nomes grandes daliteratura russa do que a do recém-galardoa-do. As tradições comuns judaico-cristãs vol-taram ao de cima com tanta rapidez que aRússia passou subitamente a ser vista peloseuropeus como um país amigo e alinhado,com mais ou menos detalhe, pelos mesmosprincípios, objectivos e práticas. Sinal de umtempo como o actual, marcado pela violên-cia total, sem interlocutores claros, sem pre-visibilidade e sem hipótese de diálogo, tor-nando-nos quase confortável a tensão entreos dois grandes blocos tradicionais da “guer-ra fria” e os seus mecanismos e comporta-mentos expectáveis de mútua dissuasão.

Economicamente, a globalização trouxetambém ameaças inusitadas. A tradicionaldominação mundial partilhada, em termosprodutivos e comerciais, pelos EstadosUnidos, Japão e Europa, viu-se subitamenteabalada pela entrada em cena de novos blocosde dimensão e comportamento imprevisíveis,representando a China a ameaça mais forte. Oseu gigantismo demográfico, geográfico epolítico, a opacidade do seu mercado e regrasinternas, a cumplicidade e falta de clarezaentre as actividades empresariais e o Estado, oincumprimento de regras mínimas sociais,ambientais e de respeito pela propriedadeintelectual, a sua agressividade estratégica napenetração dos mercados externos, tudo istose combinou para que as atenções da Europase voltassem para esse grande gigante doExtremo Oriente que, com a entrada naOrganização Mundial do Comércio em 2004,passou a poder penetrar livremente os merca-dos mundial e europeu e a configurar um picoadicional de preocupação.

u EElliissaa FFeerrrreeiirraaJN 29/10/06

O NOSSO LUGAR NO MUNDOO título no The New York Times dizia:

“Língua negligenciada é finalmente coloca-da num pedestal.” Por baixo, o texto infor-mava da existência de um idioma que maisde 230 milhões de pessoas têm como lín-gua-mãe; uma língua mais falada do que “ofrancês, o alemão, o italiano ou o japonês”,mas em relação à qual o mundo tende afazer “vista grossa” (tradução livre de over-looked: aportuguesemos!).

“Língua negligenciada?” 230 milhões depessoas? Alguém adivinha? Sim, pois: oportuguês.

O jornal referia ainda a relação estranha-mente difícil entre Portugal e o Brasil, lem-brava alguns esforços da Comunidade dePaíses de Língua Portuguesa e destacava aentrada, recente e significativa, de Timor--Leste para essa comunidade de Estadosque têm a língua de Camões, Vieira, Pessoa,Rosa e Drummond como língua oficial.Tudo isto, a pretexto da abertura do Museuda Língua Portuguesa em São Paulo – aoque parece, o museu mais visitado do Brasilpor estes dias.

u JJaacciinnttoo LLuuccaass PPiirreessDN 26/OUT/06

REFERENDOSou dos que pensam que mais do que a

opinião pessoal expressa há oito anos peloentão primeiro-ministro António Guterres,o que pesou decisivamente no resultado doreferendo foi o tipo de campanha que ocampo do “sim” levou a cabo. Os erros

dessa campanha devem ser cuidadosamen-te levados em linha de conta para que nãose repitam desta feita.

Desde logo a constatação de facto deque estamos perante uma proposta mode-rada, cuja defesa não pode ser feita combase em argumentos absolutos. Estandoem presença de dois direitos fundamentais(um o direito da mulher a decidir da procria-ção, outro o direito à vida do feto), a con-cordância prática destes direitos naquilo emque eles possam colidir tem que ser encon-trada numa base razoável, em linha com oque são as soluções definidas na generalida-de dos ordenamentos do nosso espaçopolítico- -cultural e nunca com base na afir-mação de um direito absoluto à disposiçãodo corpo que acabaria por justificar nãoapenas soluções equilibradas como a pro-posta mas antes soluções extremas.Soluções essas que não só não encontramacolhimento na generalidade das legis-lações vigentes como se traduziriam nosacrifício absoluto de um direito perante ooutro fora do nosso quadro constitucional.

u AAnnttóónniioo VViittoorriinnooDN 26/OUT/06

AS CONTASDA DEMOCRACIA

O financiamento da política em geral, edos partidos em particular, constitui umdos aspectos mais tristes da democracia.

No princípio, se bem se lembram, haviamilitância. A contestação, tal como a festa,fazia-se na rua e era feita pelos cidadãos,então mobilizados e mobilizáveis por cau-sas, pessoas e siglas, julgo que por estaordem. Era o tempo dos desfiles multitudi-nários, dos grandes comícios, das campa-nhas através do Portugal profundo, das ses-sões de esclarecimento nos cineteatros daprovíncia. Era o tempo dos cânticos, dasbandeiras e das palavras de ordem que secantavam, se agitavam e se gritavam numageneralizada percepção da importância his-tórica de cada acto, de cada dia.

A televisão era a preto e branco, osdebates duravam horas, ninguém exigia queum conceito, uma teoria, um pensamentofosse debitado em 55 segundos, os pivotsdavam tempo, talvez porque, também eles,achavam que se estava a fazer História.

Não sei ao certo quando tudo se transfor-mou. Quando a militância se foi diluindonuma razoável dúvida sobre a utilidade dascoisas, se entrou numa espécie de gestão polí-tica corrente, se proclamou a agonia das ideo-logias. E, sobretudo, quando os partidos per-deram o poder de convocatória e puseramem causa a sua própria função representativa.

u MMaarriiaa JJoosséé NNoogguueeiirraa PPiinnttooDN 26/OUT/06

A FORÇA HABITUALDO DESTINO

De repente cá estamos o próximo con-gresso do Partido Socialista corresponderáà canonização de José Sócrates no governo.Não vale a pena erguer a voz com escânda-lo e escarninho. Episódios semelhantesocorreram na história recente, com Cavacoe com Guterres - e significam antes de maisa genuína alegria pela manutenção dopoder. Quando se chega a uma circunstân-cia destas, há quem compreenda que a na-tureza dos ciclos políticos tem qualquercoisa de repetitivo e de trágico; repetitivoporque os factos não podem negar-se, trági-co porque não dependem da vontade dosactores mas sobretudo das circunstâncias.

Tirando Manuel Alegre, que cada veztem menos a ver com este PS desde queafrontou as indicações do partido para aspresidenciais, ninguém está em condiçõesde pôr em causa o abençoado ganha-pãodo poder. Mesmo com Manuel Alegre,estamos para ver. Mas é nestas alturas quese observa sempre o mesmo fenómenoquanto mais o partido se aproxima do go-

verno, venerando-o e aproveitando a onda,mais o governo se afasta do partido, queconstitui quase um empecilho com as suasexigências, as suas discussões e as suastendências. Foi assim com Cavaco, cansadode um PSD enredado na malha dos seusbaronatos; foi assim com Guterres, cansa-do das disputas por cargos e do “pântano”que ele reconhecia melhor em sua própriacasa. Com Sócrates e com este congressoque se aproxima, disciplinado antecipada-mente pela eleição pacífica do líder, ainda écedo para baronatos e para pântanos. Mas,salvo erro, estamos a meio do ciclo; e, naverdade, Sócrates tem uma vantagem sobreGuterres – não só não precisou da rábulado “no jobs for the boys” (escolheu quem quis,porque tinha o mandato, a maioria e o par-tido penhorado) como teve a sorte de selivrar da tralha soarista sem ter de seesforçar ou de sofrer o desgaste. Aliás,Sócrates não desceu um único pontodepois da derrota de Soares nas presidenciais.Pelo contrário, a sua influência cresceu.

u FFrraanncciissccoo JJoosséé VViieeggaassJN 30/10/06

ÍMPARO texto de José António Saraiva, na últi-

ma edição do jornal Sol, representa eximia-mente o perfil do neomachismo. O directorda publicação pretende, supostamente,demonstrar que esse ismo é do passado eque a paridade ganha terreno. Mas acaba porsimbolizar a voz dos que, perante o discursoestafado, anacrónico e prepotente da superi-oridade dos homens, dão lustre às suaspalavras, para que tudo continue na mesma.

JAS disserta sobre “as profissões que tro-caram de sexo” – as engenharias – como se asprofissões fossem sexuadas, e sobre a“invasão das universidades por raparigas”,como se as “raparigas” tomassem de assaltoaquilo que é, por direito, dos “rapazes”.Escusado será dizer que não lhe ocorre reflec-

tir sobre homens baby-sitters ou acerca da“invasão” da cozinha pelos senhores. E que aparidade só existirá se for de dois sentidos.

Dando exemplos de casais onde ambosos elementos têm projecção, JAS explicaque, hoje em dia, “as mulheres de homenspúblicos” têm “uma existência autónoma”- descobriu a pólvora! - que lhes permite“fazer afirmações que não são necessaria-mente concordantes com as dos maridosou namorados”. Ó audácia! Qual arrojo!

JAS afirma mesmo que em nenhum doscasos citados as mulheres se “assumempublicamente como as ‘senhoras de’”.Contudo, o autor - ainda que atire com aeventualidade de os homens se tornarem“apêndices dispensáveis” (!), assume-o porelas. As referências de JAS às “senhoras”são, de facto, enquanto “mulheres” ou“namoradas” de. Eles nunca são os home-ns de “mulheres públicas”, evidentemente.

u JJooaannaa AAmmaarraall DDiiaassDN 30/10/06

A CRISE DO SUCESSOComeça a nascer na sociedade portugue-

sa uma contestação forte e perigosa ao 25de Abril.

Ela pode ser descrita mais ou menos daseguinte forma: “A geração que fez a rev-olução governou-se com ela; conquistoudireitos, arranjou posições seguras, empre-gos bem remunerados, apoios do Estado.Agora quem sofre são os seus filhos, nacasa dos 20 ou 30 anos, que, mesmo comcursos superiores, não conseguem carreiraestável e andam no desemprego, a reciboverde ou trabalho temporário.”

Primeiro temos de verificar se a crítica sebaseia em factos reais. A resposta é clara-mente negativa. A geração anterior, quandoera jovem, sofreu muito mais que esta. Não éjusto acusar assim quem tanto fez pelo País.

u JJooããoo CCééssaarr ddaass NNeevveessDN 30/10/06

1122 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Decorreu anteontem (terça-feira), em Coimbra, o tradicio-nal cortejo da “Latada”.

Antes, e como é uso há mui-tas décadas, pela manhã muitosestudantes foram ao MercadoD. Pedro V roubar os nabos.

O cortejo começou muitomais tarde do que o previsto,cerca das 17 horas, provavel-mente porque muitos dosestudantes estavam ainda a

descansar das várias noitesperdidas nos espectáculos enas confraternizações quefizeram parte da festa.

Certo é que a alegria de mui-tos milhares de estudantes eos trajes multicores enverga-dos pelos caloiros dos várioscursos, contrastaram com ocinzento triste do dia.

A Direcção-Geral da Asso-ciação Académica aproveitou

a oportunidade para distribuircerca de 15 mil panfletos pelosfutricas (não estudantes) queassistiram ao desfile.

O panfleto criticava a situaçãoque se vive no ensino superior,classificada como “preocupan-te”, e incluía caricaturas sobre“O Sonho” de que “Portugal vaiser um país de Ciência eInovação”, enquanto no reversodo panfleto, “A Realidade”, os

CUMPRIU-SE A TRADIÇÃO DA ACADEMIA DE COIMBRA

Cortejo com alguma “lata”

RREEPPOORRTTAAGGEEMM 1133DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

diplomados são encaminhadospara o desemprego.

Nas caricaturas, da autoriade Luís Costa, era feita alusãoao Pólo VII da Universidade(actualmente encontra-se emconstrução o terceiro) e teci-das algumas críticas ao Reitor,a o Processo de Bolonha e aoscortes orçamentais.

“Quisemos passar à popula-ção uma mensagem de preo-

cupação com o actual estadodo Ensino Superior em Portu-gal”, disse aos jornalistas oPresidente da Direcção-Geralda AAC, Fernando Gonçalves.

Para os milhares de estudan-tes que desfilaram até à Baixade Coimbra, o cortejo, pontoalto da “Festa das Latas”, ser-viu para divertimento (não rarocom excessos alcoólicos) epara alguma crítica irreverente.

Envergando os mais diver-sos trajes (alguns muito redu-zidos e simbólicos), os jovensaludiam a temas meritórios,como a defesa da natureza oua crítica ao atraso de um pro-jecto há muito prometido àregião: o metropolitano ligeirode superfície.

Enfim, um cortejo muito ani-mado, com menos latas mascom mais “lata”.

A DE COIMBRA

m alguma “lata” Fotos: Pedro Ramos

1144 CCOOIIMMBBRRAA DE 1 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

EMISSÃO COMEMORATIVA DOS 150 ANOS DOS CAMINHOS DE FERRO

Foto de Varela Pècurto em selo dos CTTQue Varela Pècurto, colaborador do jornal

“Centro”, é um dos mais reputados fotógrafosportugueses, não será novidade, tantos têm sidoos prémios por ele conquistados, mesmo nosmais prestigiados concursos internacionais, aolongo de muitos anos de actividade profissional.

Ao seu valioso curriculum junta-se agora ofacto de uma fotografia de que é autor ter sidoutilizada pelos CTT para um selo da emissãocomemorativa dos 150 anos dos caminhos deferro em Portugal (que se completaram exacta-mente no passado sábado).

Segundo nos revelou Varela Pècurto, a ima-gem utilizada para o selo (que reproduzimos na

primeira página) foi por ele recolhida nos anos70 ou 80, perto do Buçaco. Na foto original,aliás, via-se a serra em fundo, tendo sido apro-veitada para o selo apenas a ampliação do com-boio, no belíssimo enquadramento conseguidopela sensibilidade de Varela Pècurto.

O nosso colaborador contou-nos tambémque, durante muitos anos, um dos seus passa-tempos predilectos era exactamente dar passei-os de comboio aos domingos, sobretudo naRegião Centro, neles recolhendo imagens muitovariadas.

Algumas dessas imagens já antes haviamsido utilizadas pela CP para a ilustração de agen-

das e calendários, para além de ter vendido mui-tas centenas para entusiastas de comboios detodo o País e do estrangeiro. Mas esta é a pri-meira vez que uma foto de Varela Pècurto é uti-lizada como motivo para um selo de correio.

Um testemunho deste artista invulgar quefica para a posteridade, no que constitui umaescolha muito feliz e uma homenagem muitojusta.

Registe-se, como curiosidade, que tambémno último número do “Boletim Salesiano”,agora editado, vem reproduzida uma imagemde Varela Pècurto, feita em Évora, sua terranatal.

CONFERÊNCIA POR PROFESSORADE SALAMANCA

O futuroda ImprensaRegional

“Imprensa Regional: que futuro?” – eiso título da conferência que vai ser proferi-da em Coimbra, na próxima quarta-feira,por Ana Tamarit Rodríguez, professoracatedrática da Universidade Pontifícia deSalamanca.

Trata-se de uma iniciativa do Secreta-riado Diocesano das Comunicações So-ciais, e decorrerá no Instituto Justiça e Paz(Couraça de Lisboa), a partir das 17,30horas. A participação é gratuita, mas onúmero de lugares limitado, pelo que osinteressados deverão fazer a respectivainscrição através do e-mail [email protected].

Como à conferência se seguirá um de-bate, que se deseja alargado e informal,está previsto que o encontro com a espe-cialista espanhola possa prosseguir depoisdo jantar.

Os interessados poderão jantar no pró-prio Instituto (onde as refeições têm preçoacessível).

Entre os temas propostos pela organi-zação contam-se os seguintes: “Imprensade segunda categoria? Condenada nomundo globalizado? ‘Jornalismo de proxi-midade’: um valor? Ajuda no desenvolvi-mento das comunidades?”.

Enfim, uma boa oportunidade para dis-cutir questões essenciais para uma área dacomunicação social cuja importância rara-mente é reconhecida pelos poderes públi-cos e privados.

Na Galeria de Exposições Temporárias doEdifício Chiado foi inaugurada uma exposiçãode pintura de António Ferraz, que pode ser apre-ciada até ao dia 10 de Dezembro.

Sobre o certame, refere o Departamento daCultura da Câmara Municipal de Coimbra:

“António Ferraz é um consagrado valor dasartes plásticas e portador de um apreciável currí-culo na área em referência que, tendo aceite oconvite formulado pelo Município de Coimbra,permite que a sua obra contribua para um enri-quecimento dos visitantes do Museu da Cidade e

para uma afirmação plena da arte como parteintegrante do universo humano. Analisando oseu percurso, já longo e semeado de êxitos, podedizer-se que António Ferraz associou a formaçãorecebida no curso obtido na École NationalSupérieur d`Architecture et d’Artes Visuels, LaCambre, Bruxelas, à aprendizagem provinda deJoão Paisana, Manuel Granjeio Crespo, JoDelahaut e Waldemar da Costa, bem como àequipa que protagonizou com António Paisanae, ainda, ao grupo de iniciadores do CAPC –Círculo de Artes Plásticas de Coimbra”.

SÉTIMA EDIÇÃO AINDA COM MAIOR ÊXITO EM COIMBRA

Mais de 2 mil espectadoresna Festa do Cinema Francês

Mais de 2 mil espectadores assistiram aos 15filmes integrados na 7.ª Festa do CinemaFrancês, que em Coimbra decorreu, duranteseis dias (de 16 a 21 de Outubro) no TeatroAcadémico de Gil Vicente.

Uma autêntica maratona de bom cinema, detodos os géneros e para todas as idades (incluin-do para crianças).

Esta sétima edição registou êxito ainda supe-rior às anteriores. Iniciou-se com o filme “Quim’aime me suive”, que contou com a presençado realizador Benoît Cohen e com a protago-nista do filme, a actriz Eléonore Pourriat.

No final da projecção do filme foi servidoum beberete ao público presente, que assimteve ocasião de dialogar com o realizador e aactriz, sendo muitas as pessoas que lhes fizeramperguntas e com eles quiseram tirar fotografias,ao que eles se prestaram de forma muito sim-ples e simpática, sem quaisquer complexos devedetismo.

O realizador, aliás, fez questão de salientarque iniciara a sua carreira com uma curta-metra-gem que foi exibida no Festival de Cinema daFigueira da Foz.

A semana prosseguiu com a projecção de 2a 3 filmes por dia, sendo de salientar a sessãoespecial para as escolas da região, com um filmede animação que foi presenciado por cerca de600 adolescentes, num ambiente muito especi-al, marcado ainda por um pequeno mas anima-do diálogo do Director da Alliance Française deCoimbra, Alain Didier, que conseguiu pôr estascentenas de adolescentes a falar francês emuníssono.

Promovida há 7 anos consecutivos peloInstituto Franco-Português de Lisboa e pelaAlliance Française de Coimbra, com a colabora-ção de alguns parceiros locais e nacionais, a

Festa do Cinema Francês tornou-se um eventocultural marcante em Coimbra, pelo que osorganizadores começaram já a preparar a ediçãodo próximo ano.

NA GALERIA DO CHIADO

Exposição de pintura de António Ferraz

Uma exposição de pintura da autoria doarquitecto Armando Alves Martins pode servista no “Clube Médico”, instalado na Ordemdos Médicos, em Coimbra (Av. Afonso Hen-

riques, 39). O certame, que estará patente atéao dia 18 do corrente mês de Novembro, fun-ciona das 12 às 23 horas, de segunda-feira asábado.

Exposição de pintura de Armando Alves Martins

Na Casa da Cultura de Coimbra prosseguea iniciativa designada por “Cinemania”, com aexibição gratuita de bons filmes nas tardes desábado (normalmente com início às 15 horas).

O mês de Outubro foi dedicado ao cinemaportuguês.

Em Novembro será a vez de um Ciclo deCinema Italiano, com o seguinte programa:dia 4: “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni; dia11: “Cinema Paraíso” de Giuseppe Tornatore;

dia 18: “Morte em Veneza”, de LuchinoVisconti; dia 25: “Amarcord”, de FedericoFellini.

Para Dezembro está previsto um ciclo inti-tulado “Filmes para Dias de Neve”, com asseguintes obras: dia 2: “O Doutor Jivago”, deDavid Lean; dia 9: “Shine - SimplesmenteGenial”, de Scott Hicks; dia 16: “A Marchados Pinguins”, de Luc Jacquet; dia 30: “AIdade do Gelo”, de Chris Wedge.

VER BONS FILMES SEM PAGAR

“Cinemania” na Casa da Cultura

DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 1 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Manuel Machado ainda procura soluçõesTiago Almeida

Não apenas esta época, mas tambémnos anteriores clubes por onde passou,Manuel Machado deu já a entender quenão é técnico de um só “onze”. O técnicoda Briosa prefere, na leitura que faz dojogo, moldar sempre a sua equipa consoan-te as características do adversário e só coma equipa planeada para conter o futebol domesmo, parte para uma mais à sua ima-gem. Assim tem acontecido na Liga, até ao

momento, com as constantes alterações no“onze”, ora em virtude das lesões e doscastigos que vão surgindo, ora em prol dametodologia já citada. Quanto ao esquematáctico preferencial, o vaivém de opçõesmantém-se. Disputadas oito partidas, qua-tro em Coimbra e outras tantas fora decasa, a Académica continua sem ter umaequipa e um sistema-tipo. A última derro-ta, averbada Sábado, dia 28, em Leiria, veionão só clarificar essa ideia, como até porem causa os automatismos da equipa. É

que em todos os jogos na condição de visi-tante, Machado apostou sempre em trêsmédios de características mais defensivas enuma frente de ataque, ora aberta com elasora disposta em losango. Se no Bonfim, noBessa e em Paços, o empate somado nãofoi um mau resultado para os estudantes, jáao quarto jogo, com essas mesmas caracte-rísticas, a Académica perdeu, frente a umaUnião de Leiria que nem sequer esteve par-ticularmente inspirada. Uma Briosa consis-tente procura-se…

1.ª Jornada: Vitória de Setúbal – 1; Académica – 1 (4x5x1)

O primeiro teste

Pedro Roma

Lino

Brum Pavlovic Alexandre

Medeiros Litos

EstevezHélder Barbosa Miguel Pedro

Nuno Piloto

6.ª Jornada: Paços de Ferreira – 1; Académica – 1 (4x3x1x2)

Empate consentido no final

Pedro Roma

Lino

Brum Pavlovic Alexandre

Kaká Danilo

Miguel Pedro

Gelson Gyano

Sonkaya

8.ª Jornada: União de Leiria – 2; Académica – 0 (4x3x1x2)

Infantil e pouco corajosa

Pedro Roma

Lino

Brum Pavlovic Alexandre

Kaká Danilo

Miguel PedroHélder Barbosa Dame

Nuno Luís

5.ª Jornada: Académica – 1; Nacional – 3 (4x2x3x1)

Segunda expulsão de Litos

Pedro Roma

Lino

Brum

Dame

Pavlovic

Medeiros Litos

Gelson

Filipe Teixeira Miguel Pedro

Sonkaya

7.ª Jornada: Académica – 2; Desp. das Aves – 0 (4x2x3x1)

Vencer sem convencer

Pedro Roma

Vítor Vinha

Brum

Dame

Alexandre

Kaká Danilo

Gyano

Dionattan Miguel Pedro

Nuno Luís

2.ª Jornada: Académica – 1; Naval – 2 (4x2x3x1)

Desastre defensivo

Pedro Roma

Lino

Brum

Filipe Teixeira

Alexandre

Medeiros Danilo

GelsonEstevez Hélder Barbosa

Nuno Piloto

3.ª Jornada: Académica – 1; Belenenses – 1 (4x2x3x1)

Infeliz na hora do remate

Pedro Roma

Lino

Brum

Gelson

Pavlovic

Medeiros Litos

Gyano

Hélder Barbosa Miguel Pedro

Sonkaya

4.ª Jornada: Boavista – 2; Académica – 2 (4x3x3)

Com sabor a derrota

Pedro Roma

Lino

Alexandre Brum Pavlovic

Medeiros Litos

DameFilipe Teixeira Miguel Pedro

Sonkaya

FUTEBOL – ACADÉMICA/OAF

1166 DDEESSPPOORRTTOO DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

A Comissão Disciplinar (CD) da LigaPortuguesa de Futebol Profissional (LPFP)prometeu anteontem (terça-feira), em comu-nicado, sancionar os emissores de declaraçõespúblicas que agridam as relações entre osagentes desportivos.

Lembrando que essas declarações se gene-ralizaram no passado “sem reprovação”, aCD da LPFP apela a todos para que adoptem“condutas respeitadoras dos direitos de per-sonalidade, dos princípios ético-desportivosda lealdade, da verdade e da rectidão”.

A solicitação da Liga surge depois de umasemana preenchida com trocas de palavrasmais acesas entre dirigentes do FC Porto e doBenfica, antes do “clássico” do Dragãoganho pelos portistas (3-2).

“A CD, sem prejuízo da liberdade deexpressão, em particular a que permite alegítima manifestação do direito à crítica noâmbito das competições profissionais, pro-moverá, por sua iniciativa a averiguação eeventual sanção de práticas que traduzamilícito disciplinar”, refere o comunicadodivulgado.

A CD da LPFP recorda ainda um conjun-to de normas estatutárias e regulamentares aque os agentes desportivos estão sujeitos.

“Devem manter conduta conforme aosprincípios desportivos de lealdade, probidade,verdade e rectidão em tudo o que diga respei-to às relações de natureza desportiva, econó-mica e social”.

A Disciplina da Liga lembra também

ser “proibido exprimir publicamente juízosou afirmações lesivos da reputação de pes-soas singulares ou colectivas ou dos órgãosintervenientes nas competições, bemcomo das demais estruturas desportivas,assim como fazer comunicados, concederentrevistas ou fornecer a terceiros notíciasou informações que digam respeito a fac-tos que sejam objecto de investigação emprocesso disciplinar”.

São ainda recordadas as sanções previs-tas para “os clubes que desrespeitarem ouusarem expressões, desenhos, escritos ougestos injuriosos, difamatórios ou grossei-ros” e para as declarações que põem emcausa a “imparcialidade ou competênciatécnica” dos árbitros.

Liga promete castigopara declarações impróprias

JOGOS DA I LIGA DE FUTEBOL

Setúbal - FC Portocomeça mais tarde

O jogo Vitória de Setúbal-FC Porto, que en-cerra a nona jornada da Liga portuguesa defutebol na próxima segunda-feira (dia 6 de No-vembro), foi atrasado 45 minutos e terá início às21:15, a pedido do clube sadino.

A Liga Portuguesa de Futebol Profissional(LPFP) acedeu ao pedido feito pelo Vitória deSetúbal depois da concordância expressa doFC Porto, líder do campeonato.

Assim, o programa da próxima jornada (anona) é o seguinte:

Sexta-feira (03 Nov):Belenenses – União de Leiria, 20:30 (SPORT TV)Sábado (04 Nov):Boavista – Desportivo das Aves, 19:15 (SPORT TV)Domingo (05 Nov):Naval 1º de Maio - Marítimo, 16:00Académica – Estrela da Amadora, 16:00Nacional – Paços de Ferreira, 16:00Benfica - Beira-Mar, 19:45 (SPORTTV)Segunda-feira (06 Nov):Sporting – Sporting de Braga, 19:45 (TVI)Vitória de Setúbal – FC Porto, 21:15 (SPOR TV)

EURO 2004

Responsávelrevela o segredoda segurança

A recusa de adeptos violentos foi a principalrazão do sucesso da segurança no Euro 2004,disse no passado domingo, em Faro o coorde-nador nacional de segurança pública daqueleacontecimento desportivo, superintendenteGuedes da Silva.

Falando durante o segundo dia da I Con-ferência Euro-Atlântica, o membro da PSP sus-tentou que, do ponto de vista da segurança, osucesso do Europeu de futebol ocorreu aindaantes do evento e se deveu à “filtragem deadeptos inconvenientes”, devido à colaboraçãoentre as autoridades portuguesas e de outrospaíses europeus.

“Foi por isso que não fomos invadidos deadeptos indesejáveis, como aconteceu com oEuropeu de 2000, na Bélgica e Holanda”, disse,elogiando o trabalho de coordenação com out-ras polícias, com o envio de delegações aos país-es de origem de adeptos e a existência de ofici-ais de ligação. Devido a esse trabalho conjunto,disse, foi possível “filtrar” o envio de elementospotencialmente perigosos, que classificou como“classe C de adeptos”, o que acabou por facili-tar o trabalho das autoridades portuguesas,nomeadamente da Comissão de Coordenação ePlaneamento, presidida por Guedes da Silva.

Recordou que, na altura da organização doEuro, as várias forças de segurança não tinhamqualquer coordenação, pelo que, a esse nível,“tudo teve que começar do zero”.

“Nem sequer tínhamos um sistema decomunicações uniforme, também aqui estáva-mos, literalmente, a partir do zero”, disse,observando que a comissão a que presidiu “nãofez nada de novo, mas sistematizou o que já eraconhecido”.

Um dos segredos do sucesso foi, disse,“estar preparado para o imprevisto para não terque se improvisar”, o que “só se consegue commuito treino”.

A elevada capacidade de reacção das autori-dades aos conflitos, latentes ou manifestos, aflexibilidade, a mobilidade e a visibilidade “nãoostensiva” das forças policiais também foramfactores apontados como preponderantes paraa não existência de problemas de maior duranteo mês de Junho de 2004.

A Académica de Coimbra venceuno passado domingo (dia 29 deOutubro) pela segunda vez conse-cutiva a Liga Ibérica de Basebol ao

bater (3-2) os Tigres de Loulé, em extra“innings”, vingando a derrota na final do

campeonato nacional, na cidade desportiva deAbrantes.No final dos 9 “innings” regulamentares a final

estava empatada a dois, tendo a Académica aproveitadoa fase de ataque do desempate, no 10.º “inning” da partida,

para apontar o ponto decisivo e que ditou o vencedor da com-petição.

Para o Presidente da Secção de Basebol da Académica, José Dias, estavitória tem um sabor especial, por ser contra o “velho rival”, mas sobre-tudo porque é uma “pequena vingança sobre os Tigres de Loulé, depoisda derrota na final do campeonato nacional”.

O jogo de domingo foi, segundo José Dias, “muito fechado” e seguiu-se a encontros “com duas boas equipas espanholas”, que “obrigaram adosear o esforço e a guardar alguns trunfos para a final”.

A Académica de Coimbra também dominou nos prémios individuais,com o melhor lançador (Edward Tomas Jeffery) e o jogador mais valio-so da Liga Ibérica (Iam Young). Apenas o prémio de melhor batedorescapou aos “estudantes”, tendo sido atribuído a Carlos Millán Bandes,do Halcones de Vigo, clube que conquistou o terceiro lugar na Liga aobater os Toros de Madrid, por expressivos 17-6.

As audiências televisivas e o público nospavilhões, factores que permitirão “atrairmais investidores”, são os desafios prioritá-rios de Paulo Mamede, líder da única listacandidata às eleições à Liga de Clubes deBasquetebol (LCB), que decorrem amanhã(sexta- feira, dia 3).

Membro da actual Comissão Directiva, pre-sidida por José Castel-Branco, Paulo Mamedefrisou à Agência Lusa que, superado o “estadode caos e agonia”, o novo elenco apostará napromoção, para oferecer “ainda mais visibilida-de ao campeonato profissional”.

“Sempre foi premissa desta comissão poten-ciar e promover os aspectos positivos da moda-lidade. Vamos continuar a tentar captar o inte-resse do público, pois a LCB, como todas asligas profissionais, estão permanentemente inte-ressadas em reunir condições para gerar negóci-os”, destacou o candidato.

Pronto para dirigir os destinos da LCB notriénio 2007/2010, Paulo Mamede congratu-la-se por ter pertencido a uma comissão que“dedicou os dois primeiros anos de gestão a

apagar fogos e a pagar dívidas anteriores”.“As dificuldades foram ainda agravadas pelo

facto de o Governo anterior ter acabado comos subsídios de deslocação. Também pagámosos custos da ‘continentalidade’”, ironizou, satis-feito, porém, pelo resultado final do mandatoque agora termina.

Depois dos dois primeiros anos, PauloMamede diz que a LCB “alcançou a estabiliza-ção financeira e recuperou a credibilidade”, duasvitórias que permitirão ao futuro elenco investirem novas formas para conquistar adeptos.

Neste sentido, Paulo Mamede destaca oacordo conseguido com a RTP, que transmitiráesta época um total de 25 jogos, “todos osdomingos e sempre às 17:00, com o intuito defidelizar o público”. A este pacote juntar-se-ãomais 35 jogos transmitidos pelo canal codifica-do SportTV.

“Estamos e continuaremos a criar condiçõespara conseguir mais audiências televisivas. Porconsequência, reforçar a presença de públiconos pavilhões. Só assim conseguiremos atrairmais investidores”, explicou.

Entre outros objectivos do futuro elenco daLCB figura, por exemplo, a revisão dos regula-mentos que definem e regulam a admissão doscandidatos ao campeonato profissional.

Apesar de não querer ainda especificar quegénero de alterações poderão ser operadas nofuturo próximo, Paulo Mamede adiantou queos novos critérios poderão ficar definidos jápara a próxima época desportiva.

O único candidato às eleições de sexta-feirainsistiu em adiar para mais tarde novidadessobre o tema, mas uma das alterações poderáincidir na redução do orçamento mínimo de300.000 para uma verba a rondar os 200.000euros, números já abordados em finais deAgosto, quando a LCB apresentou os moldespara um campeonato que viria a ser redefinidodepois da desistência da Oliveirense.

“Queremos criar condições para alargar onúmero de candidatos ao campeonato já napróxima temporada. Passar a disputar umaprova com dez clubes é aceitável. Chegar aos12 seria muito bom”, reconhece PauloMamede.

Futuro Presidente da Liga aposta na promoçãoBASQUETEBOL

BASEBOL

Académica vence Liga Ibériadesforrando-se

dos Tigres de Loulé

DESABAFO“Não sei se alguém teve oportunidade

de observar a reportagem que acaba depassar na TVI, relativa ao Varzim.

Sob o título “Alunos-jogadores: cada vezmais”, foram apresentados jogadores uni-versitários do Varzim, um deles já a fre-quentar o Mestrado.

Foi referida a aposta na formação dosmais jovens e o prémio associado aos bonsresultados escolares: a possibilidade de trei-narem com os mais velhos.

Fiquei dividido, não sei se core de vergo-nha, se espume de raiva e indignação. En-quanto nos deixamos arrastar para o esgo-to, outros vão paulatinamente fazendoaquilo que sempre foi nosso”.

(Rogério Puga Leal, professor universitá-rio, residente em Lisboa, sócio da Académica)

(publicado no blogue em 30 de Outubro)

TÍTULO DESNECESSÁRIO

O jornal “Record” analisou os campeo-natos de futebol em seis países europeus(Portugal, Espanha, Itália, França, Alema-

nha e Inglaterra) e determinou qual a equi-pa mais indisciplinada.

O título foi atribuído... à Académica.(publicado no blogue em 30 de Outubro)

SÓCRATES SEM GRAÇAEra inevitável.O primeiro sinal foi dado nas eleições

autárquicas do ano passado, com a claraderrota do Partido Socialista.

Vieram depois as eleições presidenciais eo naufrágio de Mário Soares, o candidatooficial dos socialistas.

Seguiram-se as medidas de combate aodéfice, todas elas no mesmo sentido: fazer“apertar o cinto” aos que menos têm.

Surge agora a proposta de Orçamentode Estado para 2007 e vê-se que oGoverno, tão decidido nas palavras, nãotem força para fazer parar a despesa do sec-tor que ele próprio gere. Ou seja: o cidadãoque gaste menos, porque o Estado vai gas-tar ainda mais.

Ao mesmo tempo, sucedem-se as “tra-palhadas” ao melhor estilo do Governoanterior: é o ministro que decreta o fim dacrise, o secretário de Estado que culpa osconsumidores do aumento do preço daelectricidade, as contas erradas no orça-mento do próprio gabinete do primeiro-ministro. Para já não falar da “bronca” comos exames de acesso à Universidade, dosescândalos na instituição militar e das pro-messas não cumpridas (taxas moderadorasna Saúde e portagens nas SCUTs, entreoutras). Um fartote!

Era inevitável: acabou o estado de graçade José Sócrates.

Começou a contagem decrescente.(publicado no blogue em 24 de Outubro)

DIA DIFERENTEHoje era testemunha num julgamento.

Passei o dia no tribunal, das 9 às 17. Tenhode voltar no dia 22.

Como tinha em mãos um trabalhourgente, para entregar ainda hoje ou ama-nhã de manhã, cheguei à Redacção porvolta das 18h30 e... cá estou.

Fui fazendo o que tinha a fazer e, aomesmo tempo, fui acompanhando na tele-visão pequenina, a preto e branco, o BeiraMar-Sporting; uma olhadela agora, outradepois, as repetições dos golos.

O jogo acabou agora mesmo. Resultado:3-3. Emocionante.

E decidi vir aqui ao blog para deixar uma

impressão: dá gosto ver (e ouvir) o futebolna TVI.

(publicado no blogue em 27 de Outubro)

CLÁSSICO

Não estive com grande atenção, mas pa-receu-me que o FC Porto-Benfica, deontem à noite, foi um grande jogo.

Aliás, tanto nestes tempos de “ApitoDourado” como em qualquer outra altura,o 3-2 nas Antas é sempre um bom resulta-do para qualquer equipa.

O que posso garantir é que, na Casa dosFrangos de Oliveira do Hospital, na Catraiade S. Paio, a canja estava uma delícia.

E posso garantir ainda outra coisa: quan-do o Benfica fez o 2-2 o restaurante levan-tou-se, a aplaudir. Todos os outros golospassaram quase despercebidos.

(publicado no blogue em 29 de Outubro)

AS HORAS DO RIVOLI

Um grupo de cidadãos resolveu entrin-cheirar-se, durante alguns dias, dentro doTeatro Rivoli, no Porto.

Hoje, às 6 da manhã, a PSP terminoucom a ocupação, desalojou os manifestan-tes e levou-os para a esquadra. Amanhãcomparecerão em tribunal.

Há pouco, na TSF, um desses cidadãosentrincheirados lamentava o facto da polí-cia ter acabado com o protesto a uma horaem que não havia ninguém para ver.

Tentemos adivinhar qual seria a “melhorhora” para o referido entrincheirado...

Quer-me parecer que haveria duas“horas boas”: as 13h00 e as 20h00. O horá-rio dos telejornais.

(publicado no blogue em 19 de Outubro)

ANEDOTAA minha amiga Fátima acaba de me

enviar uma mensagem, que ela classificacomo “uma das melhores anedotas femi-nistas de sempre”.

Ei-la:Fascinado com as tarefas domésticas, o

meu marido resolveu lavar uma camisola dele.Um bom bocado depois de ter chegado

ao pé da máquina de lavar, gritou-me de lá:- Que programa de lavagem é que devo

usar na máquina?- Isso depende - respondi-lhe. - O que é

que diz na camisola?Ele gritou outra vez, muito feliz com a

resposta:- Mantorras!E ainda falam das loiras...

(publicado no blogue em 30 de Outubro)

ONDE É QUE JÁ VIMOSDISTO?...

(publicado no blogue em 29 de Outubro)

AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO 1177DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006www.apaginadomario.blogspot.com

[email protected]

Mário MartinsCAMPEÃ

IBÉRICA

Depois de ter perdido o campeo-nato nacional, a Académica conseguiueste fim-de-semana o título ibérico.

Parabéns!(publicado no blogue em 30 de Outubro)

Em diade chuva,é útilrecordarcomo seencontrao rio...E, já agora,fazer umapergunta:quem éresponsávelpor umasituaçãodestas?

(publicadono blogueem 25de Outubro)

Esquecimento?

1188 CCUULLTTUURRAA DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

VIAGENS PELO BRASIL DO ANTIGO REITOR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Fernando Rebelo lançalivro de crónicas

As Edições MinervaCoimbra promoveramna passada semana a apresentação do livro“Viagens pelo Brasil. Impressões de umGeógrafo. Memórias de um Reitor”, da autoriade Fernando Rebelo (antigo Reitor daUniversidade de Coimbra, de cuja Faculdade deLetras é professor).

A apresentação esteve a cargo de AntónioBarbosa de Melo, docente da Faculdade deDireito da Universidade de Coimbra.

Como diz no prefácio o Prof. EdivaldoMachado Boaventura, este “é um livro dedemonstrada simpatia pelas coisas brasileiras,escrito pelas ressonâncias da descoberta pes-soal do Brasil com a pena da admiração intelec-tual”, concluindo “os achados do professorRebelo … são tanto geografia como poesia”.

Segundo Barbosa de Melo, “a sensibilidadecultural do autor converteu um livro de viagensnum notável exercício de sentimentos e deexpressões da fraternidade luso-brasileira, quepouco ou nada têm a ver com a tradicionalretórica jogada nos tabuleiros da política ou dadiplomacia”. Trata-se antes de “uma frater-nidade que é laço entre pessoas de carne e osso,que assenta na mútua compreensão humana,que se reforça por uma riquíssima históriacomum, partilhada pelas elites e pelo povo

miúdo dos dois países ao longo de cinco sécu-los, e que se volta hoje para o futuro perscru-tando os caminhos da história universal e dahistória dos povos de língua portuguesa, com aconsciência crescente da importância da nossacultura comum para a humanidade que aí vemchegando, dia após dia”.

Também o título, referiu o professor deDireito, “exprime de modo feliz e rigoroso oconteúdo significativo do livro”. Reúne cróni-cas com as quais o autor foi reconstituindouma viagem cultural através da maior parte dosEstados Federativos do Brasil, desde São Paulo,estados do Nordeste e Norte, Distrito Federale Estados do Centro até ao Sul. “O percursoseguido na obra define o itinerário de umaviagem imaginária, como nos diz o autor,reconstruída a partir de nove viagens reais que,entre 1996 e 2005, em férias ou ao serviço daUniversidade, realizou por todas as terras deque nos fala. É seu desejo confesso «mostrarum Brasil que o encantou e que é pouco con-hecido em Portugal», sem deixar de referir por-menores observados nos 16 estados que foivisitando”.

Barbosa de Melo sublinhou ainda que “otema permanente é o homem brasileiro, que«fala o português com açúcar», que veio das

sete partidas do mundo, ora conversador eaventureiro (José do Dão, em Olinda), ora per-sonalidade das histórias de Portugal e do Brasil(como José Bonifácio de Andrada e Silva), oramotorista e cicerone ou guia (que nos aparecesob vários tipos e em muitas cidades), ora poetae artista (como Vinícius, Jobim, o bar, o cafez-inho e a “garota de Ipanema”), ora cônsul hon-

orário de Portugal (afinal um antigo camaradade armas do autor), ora naturais de Coimbra(como o proprietário de campos de arroz emPelotas ou a empregada de joalharia no Rio deJaneiro), ora guia poliglota (como o da viagempelo rio Amazonas), ora o motorista, ora oeclesiástico ilustre de origem portuguesa (comoo Bispo de Belém do Pará)”.

Barbosa de Melo apresentando o livro de Fernando Rebelo

EDITADO PELA MINERVA

Noémia Novais publicaobra sobre João Chagas

Da autoria de Noémia Malva Novais, acabade ser lançada, pelas Edições MinervaCoimbra,a obra intitulada “João Chagas. A diplomacia ea guerra (1914-1918)”.

Integrado na Colecção Minerva História,dirigida por Luís Reis Torgal, o trabalho (queé a dissertação de mestrado da autora, orien-tada por Amadeu Carvalho Homem), foidistinguido com a 1.ª Menção Especial doPrémio Aristides Sousa Mendes atribuídopela Associação Sindical dos Diplomatas Por-tugueses.

Na sessão de lançamento, que decorreu nalivraria-galeria da MinervaCoimbra (no BairroNorton de Matos) começou por usar da palavrao orientador do trabalho, Carvalho Homem,que enalteceu a qualidade da dissertação. Faloudepois o Director da colecção, Reis Torgal, queigualmente teceu elogios ao livro e manifestou aesperança de que a figura de João Chagas venhaa merecer novos trabalhos de investigação. Aapresentação foi feita por António Reis, profes-sor da Faculdade de Ciências Sociais eHumanas da Universidade Nova de Lisboa,para quem esta é uma obra importante para ahistoriografia e para a cultura portuguesas, portrês razões fundamentais. “Em primeiro lugar,

pela personagem histórica escolhida que aindanão foi até hoje objecto de uma verdadeirainvestigação académica historiográfica”, justifi-cou, adiantando que “este é o primeiro sólidocontributo da historiografia portuguesa con-temporânea para o estudo da personalidade deJoão Chagas”.

Em segundo lugar esta é uma obra impor-

tante pela complexidade da problemáticahistórica abordada. “A participação de Portugalna Grande Guerra suscitou nos últimos quinzeanos, um bom número de interrogações daparte da historiografia contemporânea e, feliz-mente, continua a suscitar”, afirmou aindaAntónio Reis. “É um tema chave, um temagrande, para a nossa historiografia”. Finalmente,

importa salientar “a qualidade e originalidade dotrabalho de investigação realizado pela autora”.

Em “João Chagas. A diplomacia e a guerra(1914-1918)” Noémia Malva Novais aborda aproblemática da participação de Portugal naGuerra que assolou a Europa entre 1914 e1918, bem como na Conferência da Paz que,entre Janeiro e Junho de 1919, decorreu emParis.

A obra apresenta as teses intervencionista eanti-intervencionista que se defrontaram nahora de decidir sobre a ida de Portugal à guerra,clarificando que para os “guerristas” estavamfundamentalmente em causa a sobrevivência daNação, o reforço do prestígio internacional daRepública, a ameaça espanhola e a defesa dopatrimónio colonial português – há muitoameaçado, especialmente pela avidez daInglaterra e da Alemanha. João Chagas assume-se, neste contexto, como um dos defensoresmais radicais da participação portuguesa naPrimeira Guerra Mundial – o seu motor dearranque –, pelo que, no momento da partilhados benefícios entre os participantes no confli-to, sobrevive, através dele, a memória de umPortugal injustiçado, porém, em certa medida,co-responsável por essa injustiça.

Noémia Novais, Luís Reis Torgal, António Reis, Carvalho Homem e Isabel Garcia

EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO 1199DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Reflexões a propósito da TLEBS(Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário)

Decorreu na quinta-feira passada (dia 26 deOutubro), uma Oficina de Gramática sobreTerminologia Linguística para os Ensinos Bá-sico e Secundário (TLEBS), na delegação deCoimbra da Universidade Aberta. O eventoconsistiu em quatro sessões de trabalho, quese prolongaram ao longo de todo o dia, dedi-cadas aos seguintes subdomínios: classes depalavras, sintaxe e semântica frásica. Estas ses-sões foram dirigidas por três docentes daFaculdade de Letras da Universidade deCoimbra (Doutora Ana Cristina Macário Lo-pes, Doutora Isabel Pereira e Doutora CristinaMartins) e por mim, enquanto docente daUniversidade Aberta.

A actualidade do tema abordado e o ele-vado interesse que suscita ficaram ampla-mente demonstrados pela grande participa-ção de professores de Língua Portuguesa.Dadas as limitações do espaço onde decor-reu o evento e tendo em conta razões deordem pedagógica (que aconselham a queestas sessões de trabalho não integrem umnúmero excessivo de participantes), muitasinscrições tiveram de ser recusadas. Talconstatação, aliada ao sentido de serviçopúblico que deve animar os docentes dequalquer nível de ensino, alerta-nos para anecessidade de serem desenvolvidas maisacções deste tipo, que sirvam diversos pro-pósitos. O mais importante desses objecti-vos consiste em explicitar e justificar asprincipais alterações terminológicas e con-

ceptuais propostas no âmbito da TLEBS,aliviando, consequentemente, muitas an-gústias que entretanto se enraizaram namente de inúmeros professores do ensinobásico e secundário, porventura devido aum infundado alarmismo.

É que a TLEBS constitui uma sistemati-zação de conceitos e designações não ape-nas útil mas indispensável aos professoresde Língua Portuguesa. Certamente todosconcordamos que ela poderá ser melhora-da: há conceitos que deverão ser nela inte-grados; há definições que constam na ver-são actual e que deverão ser reformuladas,com o objectivo de introduzir ainda maisrigor, ainda mais coerência interna e menosambiguidade; há velhas designações quepoderão ser mantidas, dado o peso da tra-dição gramatical e lectiva. Colocar a ques-tão desta forma equivale a admitir que setrata de um instrumento de trabalho válidoe credível, mas que deve ser objecto de per-manente reflexão e, eventualmente, dereformulação periódica. É esta a formamais correcta de abordar a sistematizaçãode conteúdos que constitui a TLEBS.

Não é hoje fonte de qualquer polémicaafirmar que as línguas naturais mudam como tempo, que todas as línguas estão emcontínua e perpétua mudança. O mesmo sepassa com a actividade científica, em qual-quer área do conhecimento. Ora, tambémos modelos descritivos das línguas naturaistêm evoluído no sentido de permitiremdescrever e explicar, de forma mais adequa-da e revelando crescente rigor, os fenóme-nos que as caracterizam. Tais fenómenossão tanto mais complexos quanto envol-vem dimensões muito diversificadas daslínguas e do seu uso: desde os sons que sãousados para comunicar até à estruturainterna das palavras; desde os modos como

as palavras se combinam para formar frasescorrectas até aos significados que elas vei-culam (os quais, muitas vezes, nem sãoexplicitados nos enunciados, mas inferíveiscom base no que é discursivamente mani-festado); desde a selecção de palavras e deestruturas sintácticas em função da situaçãoem que os falantes se encontram até aosmecanismos cognitivos que a interpretaçãode uma frase envolve.

A investigação em Linguística conheceuum desenvolvimento exponencial ao longodas últimas décadas do século XX, e temoshoje à nossa disposição um conjuntoimpressionante de conhecimentos acercadas línguas que não tínhamos há trintaanos. Seria sensato manter os programas deLíngua Portuguesa do ensino básico esecundário impermeáveis a esta torrente deconhecimentos renovados?

São múltiplos os exemplos que, demodo sintomático, permitem evidenciar asvantagens de conceitos introduzidos oureformulados na TLEBS. Selecciono ape-nas dois, que foram abordados ao longodas sessões da referida Oficina deGramática, e que povoam o quotidiano dequalquer professor de Língua Portuguesa: osujeito e o predicado.

A definição tradicional mais comum doconstituinte que desempenha a função sin-táctica de sujeito é de natureza nocional: osujeito é o agente da acção referida na frase.Sendo adequada à maior parte das frasesproduzidas em português, não é, todavia,aplicável a todas. Em frases como “a Anaapanhou uma grande chuvada”, o sujeito nãoconstitui o agente da acção, ficando demons-trado, com um exemplo prosaico, que a defi-nição tradicionalmente proposta carece derigor, uma vez que há contra-exemplos queescapam àquela definição. Baseado em crité-

rios de natureza sintáctica (o sujeito é o con-trolador da concordância verbal, sendo sub-stituível, nos casos de sujeito de 3.ª pessoa,pela forma nominativa do pronome pessoal“ele(s)/ela(s)”; etc.), o processo de identifica-ção do constituinte que desempenha estafunção sintáctica é universalmente aplicávelàs frases do português. A concepção propos-ta na TLEBS é, portanto, mais rigorosa emais adequada ao objecto de análise.

Quanto ao predicado, observa-se tradicio-nalmente alguma oscilação na identificaçãodo(s) constituinte(s) que desempenha(m)essa função, aparentemente dependendo doprofessor e da instituição em que obteve asua formação académica, ou mesmo da esco-la em que lecciona: ora se considera que opredicado é composto por todo o grupo ver-bal, ora se considera que o predicado com-porta unicamente a forma verbal (simples oucomposta). A TLEBS introduz mais rigor esimplicidade na análise, ao postular que opredicado é constituído pelo grupo verbal(forma verbal + complementos) e pelos seusmodificadores. Neste caso, a concepção pro-posta na TLEBS permite evitar uma indese-jável ambiguidade.

A sistematização de conteúdos queconstitui a TLEBS é um passo em frenteno caminho certo. Mas é verdade que elaconsiste numa listagem de conceitos elabo-rada por especialistas em língua portuguesae para especialistas em língua portuguesa.Deste modo, perante a TLEBS, comoperante os manuais da sua disciplina ouqualquer outro material de trabalho, os pro-fessores do ensino básico e secundáriodevem manter o seu olhar crítico e o seubom senso, filtrando os conceitos e respec-tivas definições de modo a serem adequadae eficazmente leccionados aos alunos con-cretos com quem trabalham.

Paulo Nunesda Silva

Ministra admite necessidadede melhorar aulas de substituição

A Ministra da Educação, Maria de LurdesRodrigues, admitiu (na passada segunda-feira)que algumas aulas de substituição são encaradascomo “meros espaços para jogos”, mas mos-trou-se indisponível para acabar com estes tem-pos lectivos.

No entanto, a Ministra da Educação, quenesse dia foi vaiada em Vila do Conde por milalunos que contestavam as aulas de substituição,garantiu que vai exigir a sua melhoria qualitativa.

Na avaliação de Maria de Lurdes Rodrigues,o insucesso no Secundário, da ordem dos 50por cento, implica realização de aulas de substi-tuição.

“Mas essas aulas têm de ser qualidade, per-mitindo aos alunos tirar todo o partido delas eassim melhorarem os seus resultados escola-res”, advertiu, prometendo “fazer um trabalho”de afinação desses tempos lectivos com os con-selhos executivos das escolas.

Maria de Lurdes Rodrigues admitiu, do con-tacto com diversos alunos, que em alguns casos,as aulas de substituição seriam encaradas como“meros espaços para jogos ou entretenimento”.

Esta tónica foi também salientada peloscerca de mil alunos que organizaram o protestoà chegada da ministra a Vila do Conde, onde foiratificar as cartas educativas de quatro dezenasde municípios.

Maria de Lurdes Rodrigues recebeu, no final,um delegação dos alunos em protesto.

Cátia de Sousa, aluna da Escola SecundáriaJosé Régio, queixou-se à Lusa que as aulas desubstituição “não têm qualquer utilidade prática,limitando-se a pôr os alunos fechados 90 minu-tos dentro de uma sala”.

Também em declarações à Lusa, DanielSeabra, da Escola Secundária Afonso Sanches,considerou que as aulas de substituição “nãosão a melhor maneira para estimular o alunopara a vida escolar”.

O que é preciso, na sua perspectiva, é “incen-tivar a assiduidade, pontualidade, criatividade eforma de estudar”.

O aluno queixou-se igualmente da alega-da “discriminação” de candidatos ao ensinosuperior, cujas matérias não estão abrangi-dos pela última reforma curricular, uma

questão que a ministra disse estar em vias desolução.

Maria de Lurdes Rodrigues explicou que nopróximo ano lectivo haverá um exame único de

acesso ao ensino superior em cada uma das dis-ciplinas, independentemente das reformas cur-riculares que os abranjam, um total de três.

A Ministra garantiu que nenhum aluno fica-rá prejudicado “porque os exames incidirãoapenas sobre tudo aquilo que é comum nosvários programas, nas várias reformas emcurso”.

“Todos alunos ficam assim com igualdadede oportunidades”, assegurou.

O despacho sobre os exames únicos já foienviado para publicação no Diário da Re-pública.

Nas suas declarações, Maria de LurdesRodrigues desvalorizou os protestos que ultima-mente marcam as suas visitas a diversos pontosdo país, considerando “normal” que as pessoasse manifestem.

“Vivemos num país democrático e é normalque as pessoas manifestem a sua insatisfação”,afirmou, declarando-se disponível para conhe-cer os motivos da insatisfação e se eles “corres-pondem a problemas reais e concretos” para,nesse caso, “procurar a solução”.

Maria de Lurdes Rodrigues

2200 OOPPIINNIIÃÃOO DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

D. Pedro VEntre 1855 e 1856, circularam em Portugal,

selos de D. Pedro V, cabelos lisos – impressão emrelevo.Foram impressos um a um,dispostos irregu-larmente em folhas de vinte e quatro exemplaresnão denteado, utilizando papel liso mas de váriasespessuras – fino, médio e espesso.

O cunho destes selos foi também desenhadopor Francisco Borja Freire, o mesmo autor doscunhos de D. Maria II.

Esta emissão só circulou catorze meses, embo-ra tenham sido feitos vários cunhos para cada selo.

1956 – 1958 – Ao que parece, não para retrataro soberano com cabelos anelados, mas sim, pararectificar o seu penteado, que indevidamente apare-ceu na emissão anterior, com risco posto à direita,foram postos em circulação novos selos, após aaclamação do monarca.

Foram também impressos um a um, e dispos-tos irregularmente em folhas de vinte e quatroexemplares não denteados. Utilizou-se papel liso,fino, médio e espesso com cunhos de burilagemsimples, dupla e quatro cunhos para os selos de 25reis rosa. Foram reimpressos em 1864, 1885 e 1905.

Baseado num texto de Carlos Kullberg “Selos de Portugal vol. 1 (1853/1910)”

D. Pedro V “O Esperançoso”, 30º rei dePortugal, nasceu em Lisboa no real Paço dasNecessidades a 16 de Setembro de 1837, onde tam-bém faleceu a 11 de Novembro de 1861. Era Filhode D. Maria II e de seu marido D. Fernando.Chamava-se D.Pedro de Alcântara Maria FernandoMiguel Rafael Gonzaga Xavier João AntónioLeopoldo Victor Francisco de Assis Júlio Amélio.

Educado primorosamente, assim como os seusirmãos, pelos melhores professores de Lisboa, eprincipalmente por sua mãe, que teve sempre a jus-tíssima reputação de boa educadora, revelou desdemuito novo, as qualidades que o ornavam, a suanotável inteligência, a sua tendência para um perse-verante estudo e as mais nobres e mais elevadasqualidades de espírito e de coração. Foi jurado ereconhecido príncipe real e herdeiro da coroa pelascortes gerais de 26 de Janeiro de 1838.

Após a morte de sua mãe, ficou seu pai comoregente até que D.Pedro atingisse a maioridade parapoder governar os destinos de Portugal. Empre-endeu com seu irmão D. Luís, uma viagem de ins-trução e recreio pela Europa.

A bordo do Mindelo, partiram de Lisboa rumoa Londres, passando pela Bélgica, Holanda, Prússia,Áustria, França e Saxe-Coburgo-Gotha, voltando aLondres, donde regressaram a Lisboa.

Completados os 18 anos a 16 de Setembro,prestou juramento em sessão solene nas cortes.Grandes festas foram realizadas em Lisboa parasolenizar o novo rei que grandes infortúnios come-çaram desde logo a assinalar o seu reinado.

A cólera, a febre-amarela que fizeram várias víti-mas, assolaram a capital. D. Pedro, apesar dos con-selhos dos seus homens mais chegados, não se ini-biu de ir aos hospitais visitar os enfermos e sentar-se mesmo ao pé deles. Foi por isso adorado pelopovo que lhe chamou o rei santo.

Em 1858, casou com a princesa de Hohen-zollern-Sigmaringen, D. Estefânia JosefinaFrederica Guilhermina Antónia, segunda filha dopríncipe soberano do

Hohenzollern-Sigmaringen, Carlos AntónioJoaquim e de sua mulher D. Josefina Frederica. Ocarácter da jovem rainha, estava em harmonia comD. Pedro V.

Passeavam-se pelas serras de braço dado, bemcomo pela cidade o que incutia no povo um sinalde amor no casamento do seu rei e amor no trono.

Em1858, D. Pedro funda em Lisboa os altosestudos literários que não existiam em Portugal, eque depois da morte dele pouco desenvolvimentotiveram. Em 1859, morre sua esposa. Ficou destro-çado. Mas mesmo com tão grande desgosto, escre-veu vários estudos filosóficos, dedica-se à esgrima,música, tocando muito bem piano, bom atirador eexímio desenhador. Fazia caricaturas com grandefacilidade. visitava frequentemente AlexandreHerculano que, a propósito deste, escreveu BolhãoPato: “Foi a primeira vez que vi AlexandreHerculano chorar como uma criança” (MemóriasII) aquando da morte de D. Pedro V.

(Baseado em www.arqnet.pt/dicionario/pedrov.html)

Pão de Açúcar um pouco amargo

Cheio de potencialidades, o imenso paísque é o Brasil prossegue no caminho dofuturo, certo de que tem garantido umlugar ainda mais proeminente do que jáhoje ocupa. Desta terra que tanto suor por-tuguês regou, se diz que está separada dePortugal pelo Atlântico, o tal que já foi cha-mado Mar Português. Puro engano, porquenão separa, antes une. Basta atentar nosempreendimentos e fluxos turísticos portu-gueses, hoje intensos como nunca.

A complexa sociedade brasileira, actual-mente uma mistura de raças das quais ape-nas uma é indígena, debate-se, entre outros,com o problema que é o elevado índice decriminalidade. Apesar disso, a vida nãopára, graças às enormes riquezas naturaisque possui, o que não evita situações desa-gradáveis a muitos dos que o visitam.

Nas grandes cidades – S. Paulo, porexemplo, tem o dobro da população dePortugal – as favelas são viveiros dos quenascem, crescem e vivem à custa dos assal-tos e outros crimes. É a sua profissão.

Andei por terras de Vera Cruz comofotógrafo integrado num grupo de antigosestudantes, passeio organizado pela respec-tiva Associação, então dirigida pelo malo-grado dr. Teixeira Santos.

Graças ao prestígio universitário destegrupo, as visitas foram muitas, dando-nosoportunidade de vermos o que é normalpara qualquer turista e muito mais do que aestes está vedado.

Todos foram avisados de que na ruanada de bom vestuário nem relógios caros,ouro, prata ou jóias. Quanto ao dinheiro,levar pouco no bolso, o chamado “dinhei-ro do ladrão”, porque no caso de assaltonão convém dar uma nega ao assaltante,especialmente se for jovem, porque entãotudo pode acontecer, até a morte.

Mesmo com estas recomendações,alguns foram vítimas, embora com danosligeiros.

– Á entrada de uma penitenciária transfor-mada em mercado de artesanato – cada celauma loja nos pisos mais acessíveis – houvequem ficasse sem um bom relógio ao auxiliara esposa a descer do autocarro, estendendo-lhe a mão esquerda. Roubado de sopetão, res-tou ao lesado um hematoma provocado pelapulseira extensível ao quebrar-se.

– Um outro companheiro teve necessi-dade de comprar um medicamento que

pagou com uma nota de que recebeu trocoem outras notas e moedas que meteu numbolso das calças que lhe chegava ao joelho.Quando se juntou a nós, o dinheiro dotroco tinha sumido.

– Por ser experiente, um dos médicosque tinha família no Brasil guardava odinheiro num bolso feito nas cuecas.Nunca foi roubado, mas cada vez que saíade uma retrete, a que recorria para tirar odinheiro do tal bolso, era alvo das chama-das piadas académicas.

– Também tive a minha aventura desa-gradável quando vi um dos elementos dogrupo entre dois indivíduos, sendo evidentetratar-se de um assalto. Passei por ele e dei-lhe um beliscão que o alertou e fez dar umsalto, pondo-se de imediato no grupo. Um

dos ladrões topou o meu gesto e, apontan-do-me, exclamou: “Este cara avisou!”.

Ante a iminência de ser violentamenteagredido, corri para o grupo e, alertandopara o que se passava, refugiei-me bem nomeio dele. Como dois abutres, os ladrõesnão mais deixaram de nos perseguir.

Junto do teleférico, lá estavam eles àminha espera.

Simulando que não descia, saltei no últi-mo instante, deixando-os na plataforma.

Suspirei de alívio, enquanto admirava apaisagem do lado contrário à que já viradurante a subida.

Foi um desassossego a minha visita aoPão de Açúcar.

Mas valeu a pena, apesar de um poucoamargo.

POIS...

Joséd’Encarnação

A inquilina explicava ao senhorio:

– Sr. Antunes, eu…– Engenheiro, se faz favor!– Ah! Desculpe! Senhor Engenheiro,

eu…

Recordei, quando a Ana Júlia me con-tou desta cena do senhorio com o rei na

barriga, a frase daquele professor de Fi-losofia:

«Somos pobres, mas vivemos como osalemães e os franceses. Somos ignorantese culturalmente miseráveis, mas somosdoutores e engenheiros. Fazemos mal-abarismos e contorcionismos financeiros,mas vamos passar férias a Fortaleza».

Varela Pècurto

OOPPIINNIIÃÃOO 2211DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

PRAÇA DAREPÚBLICA

Carlos Carranca

“SEI IMENSAMENTE NADASOBRE O UNIVERSO…MAS SEI”

Últimolivrode CarlosCouceiro

Para dizer de minha justiça seja o quefor deste conjunto de versos livres direi,como o autor: sei imensamente nada.Arriscando, despudoradamente, citar-me,direi que vivemos num tempo em que osdiscursos soam a oco.

Vivemos num tempo de múltiplaspalavras sem sentido, usadas nos comér-cios diários dos interesses; palavras quese usam e deitam fora; palavras sempeso específico; sem leveza; sem valor.

Ao entrarmos numa obra poética -pelo contrário - penetramos na vida quese afasta da razão sem a dispensar e seaproxima da sensibilidade. A poesia,tenta pela palavra, libertar-nos do ruídoque aprisiona e, em função do outro,libertá-lo, religando-o à palavra perdida.No aperfeiçoamento do Mundo. A pala-vra poética é obra de engenharia: fazerpontes, unir o que está separado, aproxi-mar congregando.

Neste livro encontramos uma perma-nente busca de harmonia onde as ques-tões que têm guiado o Homem nos seuscaminhos, permanecem.

Frágeis, não resistimos ao tempo:“Passo... mas resisto/e embora resistin-do... sempre passo/pois a vida não émais do que isto!”

A dúvida permanece, angustia edeixa-nos sem saber se o Homem mor-reu, ou não, pregado numa cruz; se res-suscitou. Mas a cruz existe!...

O autor fala-nos do tempo com mai-úscula, mas do que nos quer falar é doTemplo. Fala-nos das coisas simples davida: do regador ferrugento/que foi dei-tado fora/e nunca mais foi visto.

E se há justiça no que vejo (interro-gar-se-á o poeta ) porque é que umapequena nuvem / esconde o sol / nasci-do atrás de uma alta montanha...” ? Esabe, também, que a poesia é brasa /queainda arde/sobre fogueira fria ...

O poeta, todos os poetas, são doentesda infância. Procuram-na, reinventam-na, mitificam-na, eternizam-na.Nos versos deste poeta há um jardim decriança a procurar por mim e há, tam-bém, os valores morais que fizeram oOcidente. Mas o que fica é a interroga-ção deixada pela Mãe:

- Carlitos, onde estás? -

O arrocho

O défice. Sempre o défice!E, em nome do défice, aperta-se o cinto.

Puxam-se os colarinhos.Ao contribuinte. Ao cidadão. Ao vivente.Ao contribuinte foi prometido que não

aumentavam os impostos. Entraram pelaporta do cavalo. Sintomáticas alteraçõesnos escalões de IRS, taxas daqui e dali, sub-tracções de benefícios fiscais, novas porta-gens... e a receita contributiva vai aumen-tando. Não pagamos mais impostos Nãosenhor! Apenas umas subtis e autocráticasalterações às regras do jogo!

Não brinquem connosco! Por favor!O cidadão votou em massa por um

futuro melhor. O cidadão jamais deixará deacreditar na estafada teoria dos sacrifíciospara equilibrar as contas do Estado e con-tinuará estoicamente a apertar o cinto. Porportas travessas, aumenta a cobrança nabomba da gasolina, à porta do hospital, norecibo de vencimento...

O cidadão continuará impávido e serenoa acreditar, a pagar e a votar.

É mister que assim seja. A bem da Na-ção.

O vivente permanecerá na corda bambaa adiar sine die essenciais projectos de vidae a fazer prodígios de equilibrismo paracomer três vezes por dia, andar decente-mente vestido e a dormir debaixo de telha.Nos mercados, mercadinhos e mercadõesnão há fiados nem tostões. Os bancoscobram e arrestam sem contemplações.

Na galáxia do poder, o discurso subiu detom. Pretende-se essencialmente saber

quem manda mais. Para arrecadar a massa.Para usufruir da massa.

Por ali, as calças parecem não ter cintonem as camisas colarinhos. Não há arro-cho. Por ali o défice e a crise serão, porven-tura, mera ficção.

Nos esquemas políticos do poder cen-tral e local ninguém mexe. Nem menos umdeputado, um presidente de câmara. Acrónica galeria de assessores. Nem menosum tostão para as máquinas partidárias,para os protocolos. Por ali não se levanta oespectro dos despedimentos.

Foi por isso que aquele “Prós e Contras”sobre a lei das finanças locais nos deixou aamarga sensação de que Portugal mais nãoé do que uma marginal manta de portugale-cos nas mãos duns patuscos e emproadosalcaides onde os cidadãos só servem parabrincar aos votos, bater palmas e... pagar acrise.

Não seria democraticamente útil que porali houvesse também um exemplar arrocho?

Renato Ávila

O LEITOR A ESCREVER

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA DE COIMBRA

A propósito das necessidadesdos taxistas do Estádio

Sr. Presidente, nem todas as manifestações a si,serão de ordem política ou financeira.

Sou apenas movida por assunto da alçada dadignidade humana, cujos requisitos sociais, políticosou económicos têm aqui intervenção.

Acredito que, qualquer Estádio Municipaldeste país, incluindo o da sua cidade, mexeu comalguns milhares de tostões que todos nós “bons por-tugueses” ajudámos a ganhar.

Eis a minha modesta reflexão, surgida apenasde uma atitude cívica atenta:

Será que os “bons portugueses”, concretamenteconimbricenses, opor-se-iam a que se construísse umWC condigno aos Senhores taxistas que por tantosanos sedimentam seus veículos na Praça 25 deAbril, junto ao Estádio Municipal de Coimbra?

Isto evitaria simplesmente, excelentíssimo sen-hor presidente, que estes excelentíssimos senhorestaxistas não fossem humilhantemente conduzidos aurinar em plena via pública, 365 dias /ano.

É de facto uma questão de prioridades, nãoserá?

Permitam-me os leitores manifestar-lhes que,para mim, jamais um saquinho de compras seráprioritário face ao respeito mútuo entre todos nós…

(É que, para quem desconhece, nos meandrosdeste Estádio recém-construído foi construído, hápouco mais de um ano, um dos maiores centroscomerciais deste país.)

JJooaannaa RRooddrriigguueess Estudante comunicação social

O que se aprende no autocarroSou um utente diário dos SMTUC, isto é,

transportes colectivos de Coimbra.Aviso, desde já, que não tenho grandes motivos

para reparos...Um utente dos colectivos goza do privilégio de

estar sempre actualizado, não só sobre o que sepassa em Coimbra, mas também sobre o pulsar dopessoal em relação a quem nos (des)governa.

Provavelmente os jornalistas e os políticos, quetêm um olfacto demasiado apurado e uma carteirademasiado cheia, desconhecem o pulsar do pessoal...

Conto-vos um episódio de hoje.Numa paragem entram duas jovens, 24/25

anos, com as suas pastas universitárias, com umaspecto muito melhor que excelente, com umasroupas de tarar, enfim como diz o pessoal BOASCOMÓ MILHO o que fez com que a maioriados passageiros não as largasse de vista.

As duas ocuparam os lugares destinados a

doentes, deficientes, velhos, etc. e, com os seus sacosde compras, preencheram os lugares destinados aquatro passageiros.

As minorias, que ainda não as tinham debaixode olho, também passaram a fixá-las.

Perfeitamente à vontade, as miúdas traçaram aperna daquela maneira que eu gosto de ver e, entretoques de telemóvel, conversaram de maneira a todoo autocarro ouvir.

Eram as duas estudantes da Universidade deCoimbra, bolseiras do seu país e já cá estão há 5anos.

Pela conversa, nenhuma deve ter passado do 1.ºano.

O país delas paga-lhes a Bolsa com grandeatraso, o que as obriga a fazer uns biscates de vezem quando. Quando estou a dizer ‘biscates’, estoua falar de trabalho em restaurantes, stands, etc.

O país delas também terá um acordo com o sen-

horio da casa que elas habitam, o que não lhes dáproblemas de renda de casa.

Para comer, os Serviços Sociais daUniversidade dão-lhes as senhas necessárias, queelas aproveitam quando não têm melhor opção.

Como são estudantes utilizam os mesmos trans-portes que eu, mas quase de borla.

Mas não é tudo.Como têm feito os tais ‘biscates’, estão desem-

pregadas e recebem o subsídio a que têm direito.Uma delas vinha de uma entrevista para recep-

cionista de um Hotel.Mas ela irá recusar porque só lhe pagam 540

euros e não lhe dão o fim-de-semana.Para isso, prefere receber os 350 euros sem fazer

nada.O que a malta aprende num autocarro...

UUmm lleeiittoorr aassssíídduuoo ddoo ““CCEENNTTRROO””

Na semana passada fui à festa dos 25anos do GNR, no Coliseu do Porto, com-pletamente lotado de fãs, que se mostraramconhecedores das músicas de cor e saltea-do. Estava uma atmosfera verdadeiramentefantástica, criando-se um atractivo adicio-nal ao espectáculo, e que irá, certamente,faltar na actuação do Coliseu dos Recreiosem Lisboa. Começou com uma versão de“Portugal na CEE” pelo Legendary TigerMan, que depois voltou ao palco paraacompanhar a banda em “Hardcore (1.ºescalão). Outra das convidadas foi SóniaTavares dos The Gift, que entoou “Valsados Detectives” e “Asas (Eléctricas). Foiuma festa em que nada faltou desde osparabéns a Reininho e companhia, até umapassadeira à Rolling Stones, não esquecen-do os magníficos ecrãs, que fazem lembrara “Licks Tour”. Foi uma grande festa.Pessoalmente gosto mais destas celebra-ções em recintos mais pequenos, dado ocarácter mais intimista e de maior proximi-dade entre público e artistas.

Outro dos concertos a que assisti, nasemana passada, foi o dos escocesesCamera Obscura, no Teatro Académico deGil Vicente. Conhecia muito pouco da suaobra, excepção feita à primeira música donovo disco (”Let´s Get Out Of ThisCountry”, que tinha comprado uns diasantes no Itunes), “Lloyd, I´m Ready To BeHeartbroken”, que é uma clara homena-gem a Lloyd Cole. Apesar de o som tervindo a melhorar com o decorrer do con-certo e o sotaque escocês da vocalistaTracyanne Campbell, a fazer lembrar AlexFerguson, tornar impossível a percepção demuitas das suas palavras, gostei muita daprestação desta banda, que deambula peloscaminhos do denominado “indie rock”.Fiquei com a ideia de que não esperavamuma recepção tão boa por parte do públiconesta primeira visita a Portugal, mas issonão serviu para os perturbar, foi sim umamotivação extra para a excelente actuaçãoque deram.

Por fim gostava de vos apresentar umanova colectânea de música portuguesa, inti-tulada “Acorda!”. Para muitos de vós, seráapenas mais uma, mas, de facto, não o é, epode mesmo ser a primeira de muitas dogénero, porque é um disco em que as faixasestão em formato “mp3”, reunindo 60bandas da nova cena musical portuguesa,num total de 120 temas e com 8 horas deduração. A selecção das mesmas pertence aHenrique Amaro, destacando-se nomescomo: Old Jerusalem, Linda Martini,Vicious5, Dead Combo, Houdini Blues, 1

Uik Project e os Hiena. Todas as bandasabdicaram dos seus direitos de autor, rever-tendo as receitas da venda deste disco parao Serviço de Pediatria do IPO de Lisboa. Éum autêntico 2 em 1, porque ao mesmotempo que estamos a contribuir para umaboa causa, estamos, também, a comprar umdisco que reúne a nova geração da músicaportuguesa.

PARA SABER MAIS:

- http:// www.gnr-gruponovorock.com/- http:// www.camera-obscura.net/- http:// www.cobradiscos.org/- http:// www.discoacorda.com/ecard/- Camera Obscura – “Let´s Get Out OfThis Country” (Elefant)- Camera Obscura – “UnderachieversPlease Try Harder” (Elefant)- Vários – “Acorda!” (Cobra Discos)

2222 MMÚÚSSIICCAA DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

Distorções

José Miguel [email protected]

ENCONTROS INTERNACIONAISDE JAZZ DE COIMBRA

“Jazzao Centro”começa hoje

Inicia-se hoje (quinta-feira, dia 2 deNovembro) a segunda parte da IV ediçãodo “Jazz ao Centro - Encontros In-ternacionais de Jaz de Coimbra”.

Numa organização do Departamentode Cultura da Câmara Municipal deCoimbra e do JACC (Jazz ao CentroClube), prolonga-se até depois de ama-nhã (sábado), com espectáculos noTAGV (Teatro Académico de GilVicente).

Um concerto por noite foi o modeloadoptado, com uma selecção de músicosde grande qualidade.

Assim, hoje será a vez de um quinteto“que alia competência e irreverência”(como refere a organização). Trata-se deo Bloco de Notas, de Mário Santos.Amanhã (sexta-feira, dia 3), um concertomuito especial, marcado pelo reatar deuma antiga colaboração entre o pianistaalemão Joachim Kühn e o baterista fran-cês Daniel Humair, agora acompanhadospor um original do contrabaixo, BrunoChevillon. Antes, pelas 15h00, e tambémno TAGV, uma sessão com intuitospedagógicos e uma oportunidade para opúblico conhecer as ideias de um grandemúsico português - o “concerto conver-sado” com o pianista João Paulo Estevesda Silva.

A encerrar o evento, no sábado (dia 4)uma estreia absoluta no nosso país: oQuarteto com que o guitarrista húngaroGábor Gadó se tem notabilizado no ladoocidental da Europa.

Referem os organizadores:“Além da aposta fortemente vincada

no jazz europeu, a segunda parte dosEncontros Internacionais de Jazz deCoimbra pretende incentivar a produçãonacional convidando dois grupos portu-gueses. No caso do Quinteto de MárioSantos, a organização foi ainda maislonge, desafiando este músico para a gra-vação ao vivo e posterior edição discográ-fica do concerto. Tal não deixará de moti-var a forte adesão do público, que pode-rá escutar novas composições e comun-gar de um momento histórico.

Para o Salão Brazil, espaço bastanterequisitado na primeira parte da ediçãode 2006 dos Encontros, uma aposta “àmedida”, tendo em conta as motivaçõesque conduzem o projecto “O Lugar daDesordem” de Paulo Curado, aquiacompanhado por Salero na bateria epor Ken Filiano, um contrabaixista bemconhecido do público deste festival.Uma música viva, sustentada na improvi-sação e na empatia criada com a audiên-cia, descontraída por natureza mas nãomenos exigente.

Como tem vindo a acontecer até aqui,os Encontros continuam a trazer a públi-co as mais recentes imagens do acervofotográfico do JACC, através de exposi-ções a realizar durante a iniciativa, noTAGV, Salão Brazil e Livraria XM, com-plementadas com o resultado do progra-ma de voluntariado promovido na pri-meira parte do festival”.

Amanhã (sexta-feira, dia 3) pelas 22 ho-ras, na FNAC Coimbra, Wordsong-Pessoa,ao vivo.

Wordsong é um projecto multimédia emque Pedro d’Orey (Mler If Dada),Alexandre Cortez (Rádio Macau), NunoGrácio, Filipe Valentim (Rádio Macau) ealguns artistas convidados transformam,manipulam, desconstroem e reconstroemem experiências sonoras de formato meló-dico-electrónico a poesia de autores portu-gueses.

Tendo-se iniciado em 2003, com um tra-

balho dedicado ao poeta Al Berto, osWordsong viram-se agora para o universopessoano. Na sua essência, Wordsong-Pessoa é um projecto transdisciplinar quecombina a música e o vídeo em torno daspalavras de Fernando Pessoa. A linguagemmusical inovadora, interpretando as pala-vras do poeta com total liberdade criativa,recriando imagens e manipulando lingua-gens, transpõe para este trabalho uma visãoúnica do imaginário induzido pela poesiade Pessoa.

O resultado final surge na forma de um

Livro, prefaciado por Richard Zenith, comversões originais de alguns textos do poeta,e de um DADV (novo formato de duplaleitura) composto por um DVD com 12videoclips e CD com 16 poemas ... can-ções.

A partir da segunda metade de Outubro,os Wordsong levam o seu novo espectácu-lo Pessoa a várias salas do país. EmCoimbra, são recebidos em exclusivo pelaFnac.

www.myspace.com/wordsongpessoa

AMANHÃ (SEXTA-FEIRA) NA FNAC (COIMBRA)

Wordsong-Pessoa

IINNTTEERRNNEETT 2233DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

«Aqui, além de ver as imagens e ler as receitas, podemouvi-las. Que utilidade tem isso? Coloquem as receitas noseu leitor de MP3 e vão para a cozinha! Podem parar aemissão à vontade ou repetir e não ficam com papel espa-lhado por todo lado», lê-se na primeira página. O Podcomerapresenta receitas culinárias em formato podcast. Esteespaço está nomeado na categoria de melhor blog nos Bestof the Blogs Awards (BOB) 2006 e é uma inovação naInternet portuguesa. Os conteúdos são completos e diver-sificados: de dicas a instrumentos de culinária, pesos emedidas, pirâmide alimentar, sugestões de acompanhamen-tos, temperos e condimentos e um glossário.

As categorias do site são variadas e complementadascom outras áreas. O Podcomer potencia as novas tecnolo-gias e permite a subscrição (através de agregadores) dopodcast e de rss. O acesso a algumas áreas do site implicao registo do utilizador, que depois de validado permite per-sonalizar a página.

Links relacionados: www.thebobs.com – BOB Awards

Podcomerendereço: http://www.podcomer.com/ categoria: culinária

O Portal da Habitação é uma iniciativa do InstitutoNacional da Habitação que permite consultar online alegislação e simular rendas. O portal vai igualmente permi-tir que senhorios e arrendatários solicitem o processo deactualização das rendas, enviando via rede o Modelo ÚnicoSimplificado.

Este espaço vai ainda permitir aos senhorios e inquili-nos pedir avaliações fiscais dos imóveis e requerer a deter-minação do Coeficiente da Conservação. Os proprietáriosvão também ter possibilidade de obter a declaração de ren-dimentos do arrendatário e informar sobre aumentos derenda. Os inquilinos vão poder solicitar subsídio de renda,

obter comprovativos do seu rendimento e denunciar ocontrato de arrendamento. Técnicos e instituições ligadosa estes processos têm uma área reservada, que implica avalidação do registo. Algumas funcionalidades do portalvão ficar disponíveis assim que o diploma seja publicadono Diário da República. Numa primeira fase, o Portal daHabitação será um apoio à implementação do novo regimede arrendamento urbano. Progressivamente serão disponi-bilizados outros serviços.

Portal da Habitaçãoendereço: http://www.portaldahabitacao.pt | categoria:

serviços

O programa da RTP Grandes Portugueses está a origi-nar alguma polémica. O propósito é eleger o maior portu-guês de sempre. Após uma primeira fase de votação vãoser apurados 100 nomes, que serão posteriormente reduzi-dos a dez. A terceira etapa do programa será a eleição donome mais votado pelos telespectadores do programa.

O espaço na Internet dos Grandes Portugueses permiteao utilizador votar, conhecer a filosofia do formato e nave-gar por algumas sugestões apresentadas pela RTP. O progra-ma extravasa o pequeno ecrã e o site permite saber quais sãoas várias etapas, como um road show que vai visitar escolasespalhadas pelo país até Março de 2007. A polémica está lan-çada e este site é também um espaço de debate, que permi-te discutir os Grandes Portugueses – sejam possíveis nomesou até mesmo a filosofia e pertinência do programa.

Grandes Portuguesesendereço: http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/gran-

desportugueses/ | categoria: entretenimento

O projecto Second Life é um mundo virtual, com ambi-entes em 3D onde os utilizadores podem interagir e viverem sociedade. O Second Life foi desenvolvido pelo LindenLab e assume-se como um universo paralelo. Aqui os utili-zadores podem viver vidas paralelas, criar uma segundaidentidade desenhando a sua personalidade e aparência,interagir com outras pessoas, comprar propriedades, esco-lher onde quer viver e trabalhar.

O conceito é semelhante aos jogos SimCity e The Sims,mas extrapola o ambiente virtual e movimenta diariamen-te cerca de 280 mil euros – moeda real. As transacções sãofeitas através de compra e venda de bens e serviços pelosutilizadores do Second Life. A moeda é o dólar Linden quese converte em dólares verdadeiros, e que pode ser com-prada online ou ganha através do salário virtual de cada

membro e/ou venda de bens. Actualmente, este universovirtual é um mundo de negócios. As empresas da vida realcomeçam a entrar também no jogo e até a agência de notí-cias Reuters abriu uma delegação no Second Life. Estemundo conta já com mais de um milhão de “residentes”.

Links relacionados: http://secondlife.reuters.com/ – Reuters Second Life

News Center http://lindenlab.com/ – Linden Lab

Second Lifeendereço: http://secondlife.com/ | categoria: jogos

O Ciberjunta é o primeiro jornal português dedicado àsjuntas de freguesia portuguesas. O site permite ainda àsautarquias ter uma página por 12 euros mensais, com ser-viços gratuitos de assessoria de imprensa e web design.

Este jornal sobre o Poder Local apresenta notícias actu-alizadas, reportagens, breves, links para os endereços elec-trónicos de câmaras municipais e outras instituições e ser-viços nacionais e internacionais, uma revista de imprensasobre a temática, legislação e outros pontos de interesse.

Ciberjuntaendereço: http://www.ciberjunta.com/ | categoria: ser-

viços

O History Matters é uma iniciativa inédita e pretendedocumentar a vida quotidiana dos britânicos no séculoXXI. O projecto está a ser desenvolvido por historiadoresda Grã-Bretanha e tem com ambição ser um documentohistórico e antropológico sobre a forma de vida doHomem inglês do século XXI, potenciando-se como umaherança social e cultural para gerações futuras.

Os organizadores contam com a colaboração de volun-tários e têm registado opiniões de membros de comunida-des diversas. A ideia é colocar os britânicos a relatar as suasexperiências diárias online. David Cannadine, director doInstituto de Pesquisa Histórica da Universidade deLondres, explicou à agência France Press a inovação e aimportância desta ferramenta mas sublinhou que «o mara-vilhoso destes registos é que nós ainda não sabemos o queirá interessar no futuro».

History Mattersendereço: http://www.historymatters.org.uk | catego-

ria: blogs, história

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

PODCOMER

SECOND LIFE

HISTORY MATTERS

GRANDES PORTUGUESES CIBERJUNTA

PORTAL DA HABITAÇÃO

O PREÇO CERTO EM EUROSTrezentos e oito milhões. É este o valor

em euros que RTP e RDP juntas vão custarem 2007. Mais do que custará o funciona-mento da SIC e da TVI juntas. O financia-mento será garantido por uma taxa incluídana factura da electricidade. Isto quer dizerque todos vamos pagar mais pela Televisãoe Rádio públicas.

Estará errado? Para Pinto Balsemão está.A medida “vem contribuir para agravar aconcorrência desleal da RTP”. É bom lem-brar que foi tornado público que o lucro daImpresa pode recuar 47,1%.

O bom senso manda que se diga, “espe-ramos que não seja errado”.

O que é necessário saber é o que se fi-nancia quando se financia a RTP. Financia-

se o Preço Certo em Euros? Três concur-sos diários à semana na RTP1 que limitama diversidade da grelha? As costas voltadasà produção cultural, às artes, ao espectácu-lo, à nossa história, no canal de maior au-diência do serviço público? Telejornais amaior parte das vezes sem novidade nemfrontalidade, submissos ao jornalismo sen-tado e à notícia em segunda mão, à actuali-dade trágica e ao futebol, às agências de co-municação, aos porta-vozes oficiais, aos ga-binetes ministeriais, à conferência de im-prensa e ao pseudo-acontecimento ? O quese financia, afinal, quando se financia aRTP1?

O PÂNICO PERANTEOS AUDÍMETROS

Há uma sensação de que a RTP persistena ideia, errada, de pretender fazer tudo paratodos. Se foi sempre muito difícil consegui--lo, no actual estado da oferta televisiva torna-se uma tarefa que, para além de inútil, é ocontrário de serviço público. Este só podeconstruir-se numa convicção firme de serviro público e não de se servir do público.

A RTP receia o público. Não acreditaque consiga passar uma tarde de domingosem o recurso à futilidade (ainda por cimaem repetição da noite de sábado!). Nãoporque se trata de entretenimento, masporque existe um evidente vazio de ideias(e até emoções) no programa “DançaComigo”. Há apenas “luz, cor, música” e

uma estafada “boa disposição” que é idên-tica à de quem tem casa remediada e sonhacom as fotos do El mueble!

Em horário nobre, ao domingo à noite,regressaram os Gatos Fedorentos que tra-zem para o écran o humor inteligente doquotidiano de uma nova geração. Grandefaçanha a da RTP! É uma espécie de gatoescondido com o rabo de fora. Não vão asaudiências, instáveis como se sabe, alvora-çadas, partir para outras ondas, antes que sefaça tarde (no sentido literal) aplica-se a tác-tica do filme “agarra públicos” e deixa-se

Agustina Bessa Luís à conversa com MariaJoão Seixas para depois da meia-noite.

DOCUMENTÁRIOS PAGOS ...MAS NÃO TRANSMITIDOS

A RTP financia, através do Instituto doCinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM),a realização de inúmeros documentáriosque não chegam a ir para o ar. Os produto-res e realizadores lamentam que os que sãotransmitidos passem em maus horários esem qualquer divulgação.

Em troca dos 15% de financiamento ga-rantidos pela estação pública aos projectos,a RTP torna-se o único canal com direitosde exibição dos filmes durante três anos,mas alguns acabam por nunca chegar aopúblico. A produtora Filmes do Tejo veio apúblico afirmar que «... parece que têm ver-gonha daquilo em que participam. O quefrusta é terem lá filmes que já pagaram epreferirem passar repetições de documen-tários sobre a vida animal».

Contudo, pode haver razões para algumoptimismo com a 2:. O segundo canal asso-ciou-se ao festival de documentáriosDocLisboa e, este ano, pela primeira vez, háum prémio para a secção de competiçãoInvestigações, onde são mostrados filmescom temas ligados à actualidade política esocial. Na semana anterior ao festival, a es-tação transmitiu cinco documentários sobregrandes figuras da cultura portuguesa.Lamenta-se que só se tenha apostado em bi-ografias de personalidades, não se abrindohorizontes a outro tipo de linguagens.

NÃO CANTES POR MIM

Fora do serviço público, quem quiserque os compre. Mesmo assim, há quem de-fenda, justamente, que as empresas priva-das de televisão gerem um bem público (afrequência) que lhe foi atribuído peloEstado e não podem fazer tudo o que bementenderem. O problema está nas limita-ções da Entidade Reguladora, começandologo pelas inúmeras disposições legais que,como quase tudo em Portugal, lhe atrasamas intervenções.

Na TVI está a decorrer um concurso-es-

pectáculo que, segundo aquela estação,junta entretenimento com solidariedade.“Glamour com as nossas celebridades”,acrescentam.

Cada “celebridade” está a “concorrer e adefender um caso de solidariedade. Umcaso de alguém especial, corajoso e empe-nhado, que apesar de todas as dificuldadesnão desiste de lutar”.

Ora na verdade, quem não desiste delutar com todas as armas, mesmo as maisignóbeis, é a TVI. E a luta é a de sempre.Audiências, share, publicidade, dinheiro.

“Canta por mim” é abjecto. Cobarde.Abusivo. Manipulador.

Todos os casos “especiais”, para seremcredores da anunciada solidariedade, têmque mostrar as suas “especificidades” (amaior parte dos casos deficiências físicas)em palco, agradecidos, ao lado das ditas“celebridades”. Um aproveitamento sempudor, qual exposição do “Homem-elefan-te” ou do Gigante moçambicano que se ar-rastava pelas feiras há um bom par de déca-das. A intenção é a mesma: fazer dinheiro.Só que agora a produção televisiva conse-gue transformar em “glamour” a desgraçaalheia.

Eis a televisão como instrumento dealienação em plena laboração!

E não é por causa de se estar a jogarcom as emoções. É verdade que a razão

não basta para resolver os principais pro-blemas da existência. No entanto, seguindoo conselho de Kierkegaard, quando ouvi-mos cantos de sereia e se fica enfeitiçadopor eles, a única forma de quebrar o feitiçoconsiste em cantar aquela música de tráspara a frente. Dar a volta à situação.Raciocinar a partir das emoções. Não can-tem por mim!

2244 TTEELLEEVVIISS ÃÃOO DE 2 A 14 DE NOVEMBRO DE 2006

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]