municÍpios paulistas e transiÇÃo de governo: a … · prefeito e escolhido nas urnas pelos...

29
Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A PESQUISA E ALGUNS RESULTADOS Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz

Upload: vokiet

Post on 27-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013

MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A PESQUISA E ALGUNS

RESULTADOS Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz

Page 2: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

2

Painel 21/078 Transição de governo: debatendo as possibilidades e os limites a partir de reflexões teóricas e experiências práticas

MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO:

A PESQUISA E ALGUNS RESULTADOS

Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz

RESUMO O texto inicia abordando a importância da transição de governo nos municípios. Apresenta resultados da pesquisa realizada pela Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam nos municípios paulistas, em 2011. O estudo tem como base metodológica questionário encaminhado aos 645 municípios paulistas, por correspondência eletrônica (e-mail). O questionário trata da existência ou não de instrumento de transição e da normatização adotada pelos municípios: lei, decreto, Lei Orgânica Municipal (LOM) e portaria. A pesquisa mostra que, em 2011, 82% dos municípios não possuíam instrumento institucionalizado que garantisse a transição. Apresenta, ainda, a ampliação de instrumentos de transição nos municípios-membros da Associação dos Municípios do Extremo Noroeste do Estado (Amensp) onde, em 2011, apenas um município tinha decreto e hoje mais de 56% criaram um instrumento, após trabalho realizado com o Cepam. Finaliza descrevendo os dados parciais do levantamento iniciado pelo Cepam, em fevereiro de 2013, com os 164 municípios paulistas que participaram das atividades promovidas. No estudo detectou-se que, até 18/3/2013, dos que responderam, 40% modificaram a sua prática criando instrumentos que regulamentam o processo.

Page 3: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

3

INTRODUÇÃO 1

O Brasil tem avançado na democratização do poder e os processos

eleitorais vêm ocorrendo de forma sistemática, nas últimas décadas. Entretanto,

intercorrências têm sido enfrentadas nas transições de governos, como contratos de

prestação de serviço que vencem nos últimos dias do mandato que finaliza; venda

de maquinário para fazer caixa no último semestre; desaparecimento de sistemas de

informação; falta de dados sobre convênios, contratos, pessoal, dívida; e ausência

de agenda de atuação para os primeiros dias, entre outras que poderiam ser

fartamente arroladas.

Essas questões são históricas e permeadas de valores, práticas, ações e

tradições existentes neste momento histórico brasileiro. Ainda são poucos os

municípios que adotam mecanismos para institucionalizar o processo de transição,

além do que é estabelecido no normativo jurídico. Aqui será entendida a

institucionalização como as normas e regras formais, com caráter obrigatório e

impessoal, para regulamentar o processo de transição de forma democrática e

transparente.

A transição de governo institucionalizada e com a transmissão de

informações de gestão é recente, pois foi registrada pela primeira vez no Brasil, em

2002, na passagem de governo entre os Presidentes da República Fernando

Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva (LOBATO, 2002). Entende-se

transição de governo como a passagem ordenada do poder, sem perda do ritmo,

da continuidade e do comando da ação governamental, em que as administrações

que se sucedem demonstram ser capazes de se organizar em relação ao interesse

público.

No âmbito municipal, a transição de governo objetiva propiciar as

condições para que o candidato eleito, mas ainda não empossado no cargo de

prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do

prefeito atual todos os dados e informações necessárias à consecução do seu

programa de governo. O processo tem início assim que é divulgado o resultado da

eleição e se encerra com a posse do eleito.

1 Este trabalho é baseado em outro, elaborado para o Seminário Internacional de Administração

Pública e Governo - Novas Pesquisas da FGV-EAESP, em 2012. Foi ampliado em 2013 pela autora. Também foram utilizadas as publicações do Cepam.

Page 4: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

4

Para a garantia da continuidade dos serviços essenciais aos cidadãos, é

importante que o prefeito eleito e sua equipe sejam municiados com informações

públicas sobre serviços, políticas públicas, programas e projetos, convênios,

orçamento e gestão de pessoas. Todos esses dados são a base para a organização

das estratégias do novo programa de governo. Para tanto, são necessárias ações

administrativas e políticas que garantam a alternância de poder sem prejuízo da

prestação de serviços à população.

Nesse contexto, o Cepam, órgão do governo do estado de São Paulo,

visando contribuir com o aprimoramento dos processos de transição de governo nas

prefeituras, organizou, em 2008, um modelo de lei e decreto para institucionalizar a

transição (CEPAM, 2008). Em 2011, preocupado em conhecer o estágio de

institucionalização da transição de governos nos municípios paulistas e aprimorá-la,

realizou uma pesquisa.

Além da pesquisa, também foi apresentado, em 2012, modelo de lei como

referência e metodologia de organização dos dados, que resultou em planilhas

setoriais para serem utilizadas no diagnóstico das diversas áreas de uma prefeitura.

Todo o material desenvolvido foi implementado e aperfeiçoado nos 16

municípios2 da Associação dos Municípios do Extremo Noroeste do Estado de São

Paulo (Amensp), região onde foi realizado um projeto-piloto. Cada município

nomeou um interlocutor, para proporcionar o melhor funcionamento do projeto e

fazer a interface com o Cepam3. Participaram dos trabalhos os prefeitos, as equipes

técnicas e os gestores das diversas políticas municipais dessas localidades.

O instrumental fornecido aos Executivos municipais (mandato de 2009 a

2012) para organizarem os dados e informações foi concebido para contribuir com o

início da nova gestão (mandato de 2013 a 2016), em respeito aos cidadãos no seu

direito à continuidade da prestação de serviços municipais (CEPAM, 2012, v. 2).

2 A AMESP é composta dos seguintes municípios: Andradina, Bento de Abreu, Castilho, Guaraçaí,

Guararapes, Ilha Solteira, Itapura, Lavínia, Mirandópolis, Murutinga do Sul, Nova Independência, Pereira Barreto, Rubiácea, Sud Mennucci, Suzanápolis e Valparaíso. 3 O interlocutor era responsável por organizar as informações e repassá-las ao prefeito eleito ou

reeleito após as eleições de 2012. Possuía acesso às planilhas setoriais que deveriam ser preenchidas pelo município nas oficinas. Com o conhecimento prévio do conteúdo, era facilitada a escolha dos representantes que participariam de cada oficina. O interlocutor era o responsável por discutir o instrumental, as facilidades e dificuldades para o preenchimento, e apresentar as críticas e sugestões de melhoria.

Page 5: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

5

As planilhas foram disponibilizadas em Excell e PDF para ser adequado à realidade

de cada município.

Após a realização do projeto-piloto, na Amensp, foi organizado um

conjunto de oficinas, videoconferências, seminários e palestras para sensibilizar os

gestores sobre a temática, disseminar os materiais e orientá-los na estruturação de

processos de transição.

Durante o projeto foram elaboradas quatro publicações que estão

disponíveis no site do Cepam. Também foi criado o grupo Transição de Governo na

Célula de Inovação do Município – Rede CIM, uma rede social que trata de assuntos

de interesse municipal, para dar apoio à institucionalização da transição,

disponibilizar materiais, promover discussões e troca de experiências.

O presente texto apresenta a importância da transição, a pesquisa

aplicada, realizada pela Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam, em 2011, que

identificou o grau de institucionalização existente na transição4. Também descreve

os primeiros resultados de um levantamento sobre a institucionalização dos

processos de transição nos municípios que participaram das oficinas e seminários

realizados pelo Cepam sobre esta temática, em 2013. Não serão tratados, aqui, os

aspectos do modelo de lei municipal desenvolvido, bem como do instrumental para

organização de dados5.

IMPORTÂNCIA DA TRANSIÇÃO DE GOVERNO DEMOCRÁTICA

O processo de transição de governo tem início assim que é divulgado o

resultado da eleição e se encerra com a posse do eleito. Ocorre quando um prefeito

é reeleito e quando passa a gestão municipal para outro candidato eleito. Em ambos

os casos, há transição, entretanto, de forma diferenciada. A reeleição é um momento

de recomposição política e rearticulação das linhas de atuação; nesse período, é útil

4 A autora agradece o presidente do Cepam, Lobbe Neto; à equipe formada por Sílvia Maura T.

Seixas, Laís Mourão e Rodrigo Sanchez de Queiroz Camarinha (estagiário); a coordenação de Fernando F. Montoro e José Carlos Macruz; a colaboração de Adriana Romeiro de Almeida Prado, Fábio Salomão, Fátima Fernandes de Araújo, Juçara Terra Rodrigues e Luiz Antônio da Silva; a Associação dos Municípios do Extremo Noroeste de São Paulo (Amensp), em especial, Celso Torquato Junqueira Franco, prefeitos da microrregião, Fernanda Souza e toda equipe técnica dos municípios envolvidos. 5 A importância das informações no processo de transição é tratado no artigo de Sílvia Maura T.

Seixas.

Page 6: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

6

avaliar o atual mandato e planejar o próximo, aprimorando setores que não tiveram

bons resultados no primeiro mandato.

Não ocorre naturalmente e deve ser provocada e instaurada (SOUZA,

44). A gestão que se encerra deve programar e assegurar a passagem, de forma

que os princípios da Administração Pública (legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência) sejam respeitados e garantidos (CEPAM, 2008). Deve

institucionalizar o processo, estabelecendo, por meio de lei específica, as regras de

funcionamento da equipe de transição (número de servidores que vão participar da

consolidação dos dados, estrutura administrativa que dará o suporte às atividades,

prazos a serem observados, infraestrutura fornecida, etc.) (CEPAM, 2012, v.1).

O acesso às informações pode ser garantido com a edição de lei que

disponha sobre o processo de transição. Sabe-se que a sua existência é a base

para regulamentar os trabalhos no período. Os instrumentos escritos, que se

cristalizam em leis, passam a ter um caráter obrigatório e impessoal, e seu não

cumprimento pode acarretar penalidades (LOBATO, 10).

É necessário, ainda, organizar as informações necessárias a serem

passadas ao novo gestor para permitir a continuidade dos serviços públicos. As

planilhas desenvolvidas (CEPAM, 2012, v.2) permitem que os municípios organizem

os principais dados de todas as áreas de governo (obras, licitações, recursos

humanos, saúde, educação, etc.), no foco de interesse do prefeito eleito ou reeleito.

Os dados proporcionam a elaboração de um breve diagnóstico setorial.

Essas informações podem orientar as decisões iniciais, sem comprometer

a continuidade de serviços essenciais à população.

Nesse contexto, as gestões devem avançar na profissionalização e no

compromisso com a continuidade dos serviços. Compreender que o cidadão e seu

bem-estar é o objetivo básico da gestão do estado, aqui representado pelo

município. Assim, é importante oferecer um modelo de projeto de lei para a transição

e orientar os Executivos municipais sobre a forma de organizar as informações

relevantes destinadas às decisões das novas administrações.

Ressalta-se que ter as informações organizadas significa efetivar a

transição de governo de maneira pacífica, com respeito aos resultados que

emergiram das urnas, e garantir a continuidade dos serviços municipais prestados à

sociedade local. Para tal, é razoável que o prefeito em exercício, no decorrer do

Page 7: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

7

último ano de seu mandato, constitua um grupo de trabalho, composto por agentes

públicos do quadro da prefeitura, que terá a incumbência de sistematizar as

informações a serem colocadas à disposição da equipe do prefeito eleito (CEPAM,

2012, v. 1).

O Executivo municipal deve garantir ao seu sucessor o conhecimento da

realidade administrativa, com informações e dados relativos às finanças locais;

estrutura administrativa; relação de ocupantes de cargos, empregos e funções

públicas; políticas públicas; aos programas e projetos; ao gerenciamento de

pessoas, de convênios, situação dos próprios municipais e dos estoques; contratos;

providências a serem tomadas nos primeiros dias da nova gestão, dentre outros

temas relevantes.

Para o bom andamento do processo, deve ser criada uma equipe de

transição de governo com natureza bipartite. Uma parte é composta por membros

indicados pelo prefeito eleito e a outra, pelo mandatário em exercício, que terão

acesso às informações.

Na análise da bibliografia estudada pelo Cepam, há referência sobre a

importância de uma coordenação dessa equipe. O Cepam sugere que seja

coordenada por pessoa indicada pelo eleito. Como é um espaço de interlocução

entre as duas equipes, poderá contar com a contribuição de outros servidores. O

processo sugerido pode ser visto como um instrumento para orientar o planejamento

das ações do próximo mandato, a base para o programa de governo e para o Plano

Plurianual (PPA).

Os resultados da pesquisa realizada entre outubro a dezembro de 2011

são apresentados a seguir.

A PESQUISA NOS MUNICÍPIOS PAULISTAS

A pesquisa sobre a institucionalização da transição de governo foi

apresentada em seminário, no Cepam, em 30 de novembro de 2011. Este estudo é

uma pesquisa aplicada com o intuito de subsidiar a ação da equipe técnica do

Cepam na promoção de processos de transição democráticos e responsáveis.

Page 8: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

8

Tem como base metodológica questionário encaminhado aos 645

municípios paulistas, por correspondência eletrônica (e-mail). O questionário trata da

existência ou não de instrumento de transição e da normatização adotada pelos

municípios: lei, decreto, Lei Orgânica Municipal (LOM) e portaria.

As informações contidas nos questionários respondidos pelos governos

locais foram complementadas por meio de consulta telefônica e feita a análise dos

instrumentos (lei, decreto, LOM e portaria) com relação à data de promulgação;

existência de comissão de transição, seu papel e atribuições, composição e

coordenação; entre outros aspectos. Para enriquecer a análise, foram feitas

entrevistas presenciais e por telefone com alguns prefeitos, equipes e vereadores.

O processo de transição foi considerado institucionalizado quando

registrada a existência de um instrumento (lei, decreto, LOM ou portaria) que o

discipline.

A pesquisa foi respondida por 319 municípios paulistas (49% dos 645 do

estado) e abrangeu as diversas faixas populacionais (Gráfico 1).

Gráfico 1: Porcentual de municípios participantes da pesquisa

Fonte: Cepam, 2011

49%

51%

Levantamento de Dados

Municípios que responderam

Municípios que não responderam

Page 9: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

9

Todos os municípios com população acima de 110 mil habitantes

responderam à pesquisa (Gráfico 2). A participação das localidades com até 40 mil

habitantes foi menor, entretanto, não foi possível inferir se as localidades que não

responderam não dispõem de instrumentos de transição (REDE CIM, 2012).

Gráfico 2: Participação na pesquisa, por faixa populacional (em %)

Fonte: Cepam, 2011

Todas as regiões do estado de São Paulo (Mapa 1) foram abrangidas e

encontrados variados instrumentos para regulamentar a transição.

37% 34%

85%

100% 100% 100%

63% 66%

15%

0% 0% 0%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0 a 15.000 15.001 a 40.000

40.001 a 110.000

110.001 a 290.000

290.001 a 630.000

mais de 630.000

Municípios que responderam Municípios que não responderam

Page 10: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

10

Mapa 1: Municípios participantes da pesquisa discriminados por instrumento de transição

Fonte: Cepam, 2011

A maioria dos municípios (82%) que responderam ao questionário não

possui instrumento que especifique as regras e os procedimentos da transição. Por

outro lado, observou-se que 59 (18%) componentes do estudo possuem algum

arranjo jurídico para regulamentá-la (Gráfico 3).

Gráfico 3: Participantes da pesquisa com instrumento de transição de governo (em %)

Fonte: Cepam, 2011

18%

82%

Possuem instrumento

Não Possuem Instrumento

Page 11: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

11

Observa-se que há instrumento de transição em todas as faixas

populacionais (Tabela 1). O maior percentual de municípios com algum tipo de

instrumento situa-se nas faixas de pequeno e de médio porte. O fato de os de menor

e de médio porte constituírem 76% dos municípios paulistas, justifica que o

percentual maior dos que detêm algum instrumento de transição esteja nessa faixa.

Infere-se, ainda, que 63% dos municípios com população até 15 mil habitantes e

64% dos municípios de 15.001 a 40 mil habitantes não responderam à pesquisa,

portanto, trabalhou-se com um universo menor dos considerados de pequeno e

médio portes.

Tabela 1: Municípios do Estado de São Paulo participantes da pesquisa com instrumento de

transição, por faixa populacional

Faixa

populacional

Municípios do estado

de São Paulo

Municípios que

participaram da

pesquisa

Municípios que possuem

instrumento

Quantidade % Quantidade %(a)

Quantidade %(b)

até 15.000 350 54 131 37 13 10

15.001 a

40.000 140 22 47 34 15 32

40.001 a

110.000 92 14 78 85 13 17

110.001 a

290.000 41 6 41 100 12 29

290.001 a

630.000 16 3 16 100 4 25

mais de

630.000 6 1 6 100 2 33

TOTAL 645 100 319 49 59 18

(a) Quantidade de municípios que participaram da pesquisa/Quantidade em cada faixa populacional.

(b) Quantidade de municípios que possuem instrumento/Quantidade que participou da pesquisa em

cada faixa populacional. Fonte: Cepam, 2011

Page 12: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

12

Dos municípios que possuem instrumento, a LOM é o mais frequente. O

segundo mais citado é a lei específica (27%). Decretos e portarias mostraram-se

menos frequentes, institucionalizando transição específica de determinado mandato

(Gráfico 4).

Gráfico 4: Tipos de instrumento de formalização do processo de transição de governo (em %)

Fonte: Cepam, 2011

Na Tabela 2, observa-se que a LOM é o instrumento mais comum nas

diversas faixas. Exceções são os municípios com população de 40.001 a 110 mil e

os acima de 630 mil habitantes, nos quais prevalece lei específica.

Na maioria dos municípios que possuem LOM, a previsão legal resume-se

apenas à entrega de relatório da gestão à equipe do candidato eleito, com

informações já previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal.

58%27%

12%

3%

LEI ORGÂNICA

LEI

DECRETO

PORTARIA

Page 13: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

13

Tabela 2: Quantidade e porcentual de municípios, por tipo de instrumento que institucionaliza a

transição de governo, e porte populacional

Faixa

populacional

Instrumento

Lei Decreto Lei orgânica Portaria Total

Qtd. % Qtd. % Qtd. % Qtd. %

até 15.000 1 8 0 0 12 92 0 0 13

15.001 a 40.000 3 20 3 20 7 47 2 13 15

40.001 a 110.000 7 54 1 8 5 38 0 0 13

110.001 a

290.000 2 17 3 25 7 58 0 0

12

290.001 a

630.000 1 25 0 0 3 75 0 0

4

mais de 630.000 2 100 0 0 0 0 0 0 2

TOTAL 16 27 7 12 34 58 2 3 59

Fonte: Cepam, 2011

Quanto à data em que o instrumento foi estabelecido (Gráfico 5), observa-

se que a maioria das LOMs foi promulgada na década de 1990. Nas entrevistas,

identificou-se que algumas Câmaras Municipais realizaram emendas à LOM após a

promulgação, devido a processos complicados de transição. Quanto às leis e

decretos, a edição concentrou-se entre os anos de 2005 e 2008.

Page 14: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

14

Gráfico 5: Data de promulgação dos instrumentos de transição de governo

Fonte: Cepam, 2011

Na composição das equipes de transição, foi identificada concentração de

equipes mistas, isto é, formadas por representantes do candidato eleito e do prefeito

em exercício. Os membros são, principalmente, representantes das áreas

financeira/contábil e da chefia de gabinete. Há pouca presença de outras secretarias

ou departamentos das áreas-fim (educação, saúde, assistência social, obras, etc.).

Em um único caso constatou-se a presença da área de educação, área responsável

por, no mínimo, 25% do orçamento municipal. Observou-se ainda que alguns

instrumentos de transição não tratam da composição da equipe e, em outros,

participam apenas representantes do candidato eleito.

A maioria dos instrumentos analisados não estabelece a obrigatoriedade

da atual gestão fornecer infraestrutura (local e apoio técnico) à equipe de transição.

Identificou-se pequena incidência de localidades que disponibilizam dotação

orçamentária para o processo.

Outro ponto que merece reflexão é que a maioria dos instrumentos não

estabelece prazo de fornecimento das informações. Sabe-se que esse período é

curto para que os gestores se apropriem de toda informação e permita a tomada de

decisão logo no início do mandato.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Antes de 2001 2001 a 2004 2005 a 2008 depois de 2008

Instrumento de Transição e data de promulgação.

Lei Orgânica

Lei

Decreto

Portaria

Page 15: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

15

Finalizando, esse diagnóstico foi a base para o trabalho do Cepam na

elaboração do projeto de lei, na criação do instrumental de diagnóstico setorial, na

aplicação da metodologia na microrregião da Amensp e na disseminação dos

materiais entre outros municípios.

A seguir, são apresentados os dados preliminares do levantamento em

curso para identificar mudanças na prática dos municípios que participaram de

alguma atividade desenvolvida sobre a transição no Cepam6.

O PROJETO TRANSIÇÃO DE GOVERNO E SEUS RESULTADOS

O Projeto de Transição de Governo nos Municípios Paulistas abrangeu

174 municípios, dos quais 164 no estado de São Paulo (25% dos municípios).

Também participaram representantes de municípios dos estados do Amapá,

Amazonas, Paraná e Rio de Janeiro (Tabela 3 e Mapa 2) que levaram a metodologia

para ser disseminada em suas regiões.

Tabela 3: Número de municípios participantes das atividades desenvolvidas pelo Cepam,

discriminados por estado

Estados Número de municípios

Amapá 2

Amazonas 1

Paraná 3

Rio de Janeiro 4

São Paulo 164

Total 174

Fonte: Cepam, 2013

6 Foram desenvolvidos um seminário, para apresentação da pesquisa; oficinas ou reuniões nos

municípios da Amensp; oficinas no Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema (Civap) e, no Cepam, três videoconferências e diversas palestras.

Page 16: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

16

Neste trabalho, estão incluídos municípios cujos representantes

participaram, no mínimo, de uma atividade desenvolvida pelo Cepam (seminário,

oficina, palestra, etc.) em 2012. Foi registrada a presença de prefeitos em exercício

ou eleitos, vereadores, vice-prefeitos, gestores, servidores, membros da sociedade

civil, entre outros. Aqui não estão contabilizados os municípios que consultaram o

Cepam presencialmente, por telefone, e-mail ou na Rede Cim.

Mapa 2: Municípios participantes do Projeto de Transição de Governo

Fonte: Cepam, 2013

Para identificar os resultados do projeto, a equipe técnica do Cepam

iniciou, em fevereiro de 2013, levantamento para verificar quais municípios paulistas

implantaram o processo de transição, seguindo o modelo proposto pelo Cepam.

A metodologia utilizada para o estudo envolveu o encaminhamento de um

questionário aos 164 municípios paulistas, cujos representantes estiveram presentes

em alguma atividade do Cepam, por correspondência eletrônica (e-mail). As

questões tratavam da criação de algum instrumento (lei, decreto, portaria ou

Page 17: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

17

resolução) para regulamentar a transição, a utilização das planilhas elaboradas pelo

Cepam e outras considerações. Para aqueles que promulgaram algum instrumento,

foi solicitada cópia por e-mail ou telefone.

Observa-se que, em função do início de novo mandato, até o dia 18 de

março de 2013, 45 municípios (27%) responderam ao levantamento (Gráfico 6).

Gráfico 6: Porcentual de municípios que participaram do Projeto de Transição de Governo e

responderam ao levantamento de 2013

Fonte: Cepam, 2013

Dos municípios que responderam ao levantamento, 18 (40% dos

respondentes) institucionalizaram a transição (Gráfico 7).

27%

73%

Levantamento de dados

Municipios que responderam

Municípios que não responderam

Page 18: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

18

Gráfico 7: Porcentual de municípios que participaram do Projeto de Transição de Governo e

institucionalizaram o processo

Fonte: Cepam, 2013

Observa-se que foi ampliada a sua institucionalização, pois, no

levantamento de 2011, apenas 18% tinham instrumento (lei, decreto, etc.) e, em

2013, os dados parciais apontam para 40% (Gráfico 8).

Gráfico 8: Porcentual de municípios com instrumento para regulamentar a transição de governo, em

2011 e 2013

Fonte: Cepam, 2011 e 2013

40%

60%

Existência de Instrumento

Sim

Não

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

2011 2013

Existência de Instrumento (%)

Existência de Instrumento (%)

Page 19: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

19

Ao analisar, em 2013, o instrumento que regulamenta o processo de

transição, 13 municípios utilizam lei (72%), quatro possuem decreto (22%) e um

(6%) faz uso de ordem de serviço (Gráfico 9).

Gráfico 9: Tipos de instrumento de formalização do processo de transição de governo (em %)

Fonte: Cepam, 2013

Esses dados também indicam mudança significativa em relação a 2011,

quando a maioria dos municípios tratava da transição de governo na LOM (Gráfico

10). A regulamentação por meio de lei, em 2013, aponta para a ampliação do

emprego do instrumento divulgado e considerado adequado pelo Cepam. A lei

garante que o processo deve ser contínuo e independente do gestor. Destaca-se

que nenhum município mencionou alteração na LOM, em 2013.

72%

22%

6%

Tipo de Instrumento

Lei

Decreto

Ordem de Serviço

Page 20: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

20

Gráfico 10: Porcentual de instrumento institucionalizado nos municípios que participaram dos

levantamentos em 2011 e 2013

Fonte: Cepam, 2011 e 2013

Duas peculiaridades ocorreram nesse processo. Em uma localidade, a

transição foi institucionalizada a partir de Indicação do Legislativo mostrando que há

papel importante da instância nesse processo e, em outro, o projeto foi rejeitado pela

Câmara Municipal por isso exige análise para conhecimento das motivações.

Em alguns municípios, ocorreu a organização das informações para a

transição em uma área específica da prefeitura (exemplo: obras ou assistência

social). Apesar de ser um avanço a preocupação do gestor com a sistematização

dos dados em órgão municipal, esses casos não foram contabilizados, pois a ideia é

identificar o processo de transição na prefeitura como um todo.

Em 14 municípios, houve o processo de transição, mas não a sua

institucionalização. Todos utilizaram as planilhas do Cepam para organizar as

informações e as disponibilizaram para as novas equipes. Entretanto, também não

foram contabilizados, apesar de apontar mudança na cultura política existente.

Quanto ao instrumental para diagnóstico setorial, 27 municípios (60% dos

respondentes) utilizaram, total ou parcialmente, as planilhas disponibilizadas

(Gráfico 11).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2011 2013

Tipo de Instrumento

ORDEM DE SERVIÇO

PORTARIA

LEI ORGÂNICA

DECRETO

LEI

Page 21: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

21

Gráfico 11: Porcentual de municípios que utilizaram as planilhas do Cepam

Fonte: Cepam, 2013

Para uma análise mais aprofundada, a seguir, são apresentados os

resultados nos municípios da Amensp, microrregião em que foi aplicado o projeto-

piloto de transição e houve um trabalho mais intenso com os prefeitos e as equipes

gestoras.

RESULTADOS DO PROJETO DE TRANSIÇÃO DE GOVERNO NOS MUNICÍPIOS

DA AMENSP

O projeto-piloto da Transição de Governo foi realizado nos 16 municípios-

membros da microrregião da Amensp. Participaram ativamente do processo 15

localidades (94%) e um município não partilhou da elaboração das planilhas.

Observa-se que, após o trabalho realizado, nove municípios criaram

algum instrumento para regulamentar a transição: oito (50%) promulgaram lei e um

(6%) decreto (Tabela 4). Houve ampliação de 800% na institucionalização da

transição, quando comparada a 2008.

60%

31%

9%

Utilização das planilhas do CEPAM

Sim

Não

Sem Informação

Page 22: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

22

Tabela 4: Municípios da Amesp com instrumento de transição, em 2011 e 2013

Município

2008 2012

Existência de Instrumento

Ano do instrumento

Existência de Instrumento

Ano do instrumento

Andradina Não - Não

Bento de Abreu Não - Não

Rubiácea Não - Não

Castilho Decreto - Decreto 2012

Guaraçaí Não - Lei 2012

Guararapes Não - Não

Ilha Solteira Não - Lei

Itapura Não - Lei 2012

Lavínia Não - Lei 2012

Mirandópolis Não - Lei 2012

Murutinga do Sul Não - Lei 2012

Nova Independência Não - Não

Pereira Barreto Não - Não

Sud Mennucci Não - Lei 2012

Suzanápolis Não - Não

Valparaíso Não - Lei 2012

Total / Variação 1 9 800%

Fonte: Cepam, 2013

As leis criadas seguem o padrão proposto pelo Cepam, com ajustes em

função de cada realidade. Todas as comissões criadas são compostas por

representantes do prefeito em exercício e do eleito. A quantidade de participantes é

especificada em quatro leis, com limite mínimo de até cinco membros e o máximo de

oito. Nas demais leis, a definição do número de membros fica a cargo do prefeito

eleito. Em todas, a coordenação da comissão é indicada pelo prefeito eleito.

As leis elaboradas também disciplinam o funcionamento das comissões.

Todas estabelecem que os pedidos de informação devem ser feitos por escrito e o

prazo para a divulgação varia de quatro a 12 dias. São previstas reuniões, que

devem ser agendadas e registradas em atas, permitindo o encontro com outros

Page 23: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

23

agentes da prefeitura. Avançam, ainda, definindo que deve ser disponibilizada

infraestrutura para o funcionamento das comissões.

Essas leis apontam para uma transição mais democrática e não focada

apenas na entrega de relatórios à nova gestão. São disponibilizados espaços de

diálogos entre as equipes atual e eleita para discutir e aprofundar as informações

fornecidas.

Os 15 municípios da Amensp elaboraram, total ou parcialmente, as

planilhas setoriais propostas para o diagnóstico setorial. O relatório síntese foi feito

por alguns municípios, pois identificaram dificuldade na sua elaboração e análise

dos dados.

Os dados mostram que essa microrregião conseguiu porcentual maior de

municípios que institucionalizaram a transição de governo e organizaram os dados.

Os interlocutores de cada município apontaram que o trabalho coletivo

facilitou o andamento do projeto e a comunicação com a mídia regional. Foi criado

um ambiente de confiança entre os municípios e um espaço de qualificação e

valorização da equipe designada pelas prefeituras para o trabalho. Entretanto,

muitos citaram dificuldade em obter algumas informações na prefeitura e como é

importante a organização de um sistema de informação municipal para auxiliar no

processo de transição e no planejamento do município. Também é apontado como

desafio a análise dos dados no momento de elaboração do relatório.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa aponta que o processo é recente; cria um novo arranjo organizacional (comissões ou equipe de transição) e exige o aprimoramento de sua institucionalização nos municípios paulistas. A maioria (82%) dos municípios do Estado, em 2011, não possuía o processo de transição institucionalizado. Sabe-se que apenas a lei não garante o processo, mas é importante que receba atenção especial. Nesse contexto, é adequado que seja incentivada a adoção de modelos mais democráticos, mais cordiais e comprometidos com a coisa pública. A divulgação, pelo Cepam, da importância de elaborar lei sempre teve como objetivo institucionalizar o processo, dado que, com a lei, o processo torna-se obrigatoriamente contínuo, assim como a prática de recolher informações, criar comissões e compor todo o aparato necessário à transição. Isso significa que a vontade política do prefeito manifesta-se na elaboração da lei, e depois resta cumpri-la.

Page 24: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

24

O instrumental desenvolvido pelo Cepam possibilita um diagnóstico dos diversos setores municipais e o preenchimento das planilhas pode auxiliar na análise da situação das ações. Entretanto, é necessário um trabalho mais sistemático de orientação para o seu preenchimento, pois muitos técnicos encontraram dificuldade ao sistematizar a informação e em sua análise. Conforme identificado no levantamento de 2013, os resultados parciais de institucionalização da transição foram maiores em 2013 em relação a 2011, sendo 40% e 18%, respectivamente. Avançou-se na organização das informações que não eram um preocupação. Também, em 2013, a microrregião da Amensp, local em que houve um trabalho sistemático, com sensibilização dos atores políticos (Gráfico 11), também mostra resultados mais efetivos.

Gráfico 11: Porcentual de municípios que institucionalizaram o processo, discriminados por perfil

Fonte: Cepam, 2013

Ao ser analisado o instrumento criado, observa-se também que nos municípios da Amensp, proporcionalmente, foi maior a adoção de lei própria (Gráficos 12 e 13).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Geral Sem AMENSP AMENSP

Existência de Instrumento

Não

Sim

Page 25: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

25

Gráfico 12: Quantidade de municípios que institucionalizaram o processo, discriminados por tipo de

instrumento

Fonte: Cepam, 2013

Gráfico 13: Quantidade de municípios que utilizaram o instrumental de diagnóstico setorial

Fonte: Cepam, 2013

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Geral Sem AMENSP AMENSP

Tipo de Instrumento

Ordem de Serviço

Decreto

Lei

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Geral Sem AMENSP AMENSP

Utilização das planilhas do CEPAM

Sem Informação

Não

Sim

Page 26: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

26

Na região, já existia trabalho de cooperação intermunicipal e a liderança

acreditou ser possível mudar a cultura política para garantir a continuidade dos

serviços à população. Essa conjuntura facilitou a implementação das ações

necessárias. Assim, para a próxima transição de governo, poderiam ser utilizadas

instituições com atuação regionalizada, para apoiar a implementação (consórcios

intermunicipais ou públicos, associações, fórum regionais, etc.).

Todo coletivo de municípios, quer tenha sua união derivada de problemas

comuns; de vocações regionais; por distância dos grandes centros de decisões,

pode transformar esses locais em espaços nos quais as mudanças organizacionais

se realizam pelo apoio mútuo, por lideranças sensíveis e incisivas que não se unem

para repetir o passado, mas para vislumbrar o futuro.

O futuro não pode ser resumido em disputa, que coloque em plano inferior

os anseios do cidadão. As divergências eleitorais devem acabar no dia da eleição,

para que se desenvolva um clima de cordialidade e civilidade na passagem do

governo, visto que os serviços não podem parar devido a desavenças, descuidos e

descomprometimentos.

Quando ocorrem palestras, ou oficinas, incentiva-se a sensibilização dos

participantes que não garantem a implementação do processo de transição. Para

uma mudança prática real, é necessário que vários atores (prefeitos, vereadores,

gestores, técnicos e cidadãos) se insiram nesse debate e compreendam a sua

importância. O fazer é sempre técnico, mas a sensibilização pode incluir a

sociedade civil interessada, outros poderes e organizações enquanto atores sociais

influentes. É importante que cada um compreenda o seu papel, domine os

instrumentais e acredite que é possível mudar a cultura organizacional existente na

administração pública municipal.

Observou-se que o tema ganhou repercussão na mídia e as publicações

do Cepam, disponibilizadas na Internet, foram visualizadas por 26.4437 interessados.

7 Foram 7.098 visualizações do texto Transição de Governo nos Municípios Paulistas – Projeto-Piloto,

publicado em 12/3/2012; 8.057 da Transição de Governo nos Municípios Paulistas – volume 1, publicado em 13/8/2012; 7.995 da Transição de Governo nos Municípios Paulistas – volume 2, publicado em 13/8/2012; e 2.483 da Transição de Contas, publicado em 7/11/2012 (Dados de 19/3/2013).

Page 27: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

27

Também foi ampliado, o alcance do trabalho com a Rede CIM. O grupo

Transição de Governo está com 91 membros. Entretanto, os comentários e

discussões foram visualizados, de 2/5/2013 até 19/3/2013, por 14.804 pessoas.

Apesar da abrangência de acessos, da troca de experiência e da disseminação dos

materiais, observa-se que muitos gestores preferem solucionar suas dúvidas por

telefonema ou em visita ao Cepam e não pela rede social. Esse é um aspecto que

deve ser aprofundado, pois as redes sociais profissionais podem ser um instrumento

mais efetivo de apoio aos agentes e servidores municipais.

O tema deverá ainda alcançar repercussão, em decorrência da recente

promulgação da Lei de Acesso à Informação (Lei federal 12.527/2011) e é

importante que a temática comece a fazer parte da agenda dos municípios. Com a

cobrança da mídia e dos cidadãos, essa poderá ser incluída na agenda

governamental de várias localidades e, dessa forma, a cultura política existente pode

ser democratizada e responsável.

Ressalta-se que, em 473 municípios paulistas (73%) houve mudança na

chefia do Executivo, em 2013. Recomenda-se que o Cepam e os municípios

estabeleçam mecanismos para garantir aos eleitos o conhecimento da realidade da

administração local, de forma padronizada e com a qualidade que possibilitará a

continuidade dos serviços imprescindíveis aos cidadãos, como os de saúde,

educação, assistência social e demais políticas públicas em andamento.

O Cepam iniciou um trabalho, em 2011, com o levantamento dos

municípios acerca do instrumental para institucionalizar o processo de transição. Em

2013, a meta é aprimorar os instrumentais e continuar contribuindo para fortalecer o

espírito democrático, o senso de responsabilidade e o comprometimento dos atores

públicos, provocando mudanças organizacionais; lutando pelos diagnósticos e pelo

planejamento das ações governamentais, com metas e resultados partilhados com

cidadãos que usam e necessitam dessas ações.

Page 28: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

28

REFERÊNCIAS

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Relações Institucionais. Orientações para o gestor municipal: encerramento de mandato. Brasília: SRI, 2012. 31p.

CRUZ, Maria do Carmo Meirelles. T.; MOURÃO, Laís de Almeida; SEIXAS, Silvia Maura Trazzi. Transição de governo em municípios paulistas: um breve panorama. Apresentado no Seminário Internacional de Administração Pública e Governo - Novas Pesquisas da FGV-EAESP, São Paulo, 2013. Mimeografado.

FUNDAÇÃO PREFEITO FARIA LIMA – CEPAM. Transição democrática – Modelo de lei e decreto. São Paulo: Cepam, 2008. 11p

____. Transição de governo nos municípios paulistas. v. 1, São Paulo: Cepam, 2012. 29 p. Disponível em:

<http://www.cepam.sp.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1710>.

Acesso em: 30 jan. 2013

____. Transição de governo nos municípios paulistas. v. 2 – Modelo de Planilhas Setoriais e Relatório. São Paulo: Cepam, 2012. 133p. Disponível em:

<http://www.cepam.sp.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1710>.

Acesso em: 30 jan. 2013

_____. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP. Instituto de Economia. Construindo o diagnóstico municipal: uma metodologia. São Paulo, 2008. 160 p.

_____. Projeto transição de governo nos municípios paulistas. São Paulo, 2011.

_____. Transição de governo nos municípios paulistas – projeto-piloto. São Paulo, 2012.

LOBATO, Ana Lucia Martins. Transição e democracia: institucionalizando a passagem do poder. Brasília: Casa Civil, 2002. 390p.

PEREIRA, Edmo da Cunha. Governar o município – antes e depois da posse. 5. ed. Belo Horizonte: O Lutador, 2004.

REDE CIM – CÉLULA DE INOVAÇÃO AO MUNICÍPIO. Transição de governo. Disponível em: < http://www.redecim.com.br/group/transicao-de-governo>. Acesso em: 30 jan. 2013.

SEIXAS, Sílvia Maura T. A importância das informações no processo de transição. VI CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, Brasília, 2013.

SOUZA, Adilson de. Transição de governo nos municípios: apontamentos teóricos, roteiro de trabalho e orientações práticas para prefeitos e comissões de transição. Belo Horizonte: Bigráfica, 2008.

Page 29: MUNICÍPIOS PAULISTAS E TRANSIÇÃO DE GOVERNO: A … · prefeito e escolhido nas urnas pelos eleitores daquela localidade, possa receber do prefeito atual todos os dados e informações

29

___________________________________________________________________

AUTORIA

Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz – Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal; Doutorado em Administração Pública e Governo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas

Endereço eletrônico: [email protected]; [email protected]