fichamento - a democracia nas urnas

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Fichamento A Democracia nas urnas Antonio Lavareda (1991) CAPTULO I PRINCIPAIS TESES SOBRE O SISTEMA PARTIDRIO ELEITORAL DE 1945-1964 E AS QUESTES NO RESPONDIDAS Lavareda inicia o texto dizendo que escasso o nmero de estudos recentes voltados para esse sistema partidrio-eleitoral brasileiro, ao qual parcela significativa das anlises confere, em razo de uma suposta ausncia de substncia e enraizamento social, uma posio de destaque na demonologia da ruptura institucional de 1964. (p.20) Por isso, segundo o autor, pretende-se que este trabalho apresente ao menos um diagnstico abrangente e razoavelmente preciso acerca da dinmica competitiva registrada entre os partidos da aludida poca, capaz de explicitar o estado do sistema quando foi atingido pelo golpe militar. (p.20) cr-se ser possvel e necessrio distinguir a competio propriamente eleitoral, avaliada por meio da votao dos competidores (sistema partidrio-eleitoral), daquelas relaes que se estabelecem entre os partidos no espao parlamentar (sistema partidrio-parlamentar). Este trabalho s se adstringe primeira esfera. (p.21) 1 Principais teses os trabalhos (em sua maioria) dedicados anlise da competio eleitoral no Brasil aps a Segunda Guerra Mundial evitaram maior rigor terico. Vrios dos conceitos de que lanaram mo no foram acompanhados por definies operacionais mais precisas, o que ensejou, entre outras coisas, que algumas discusses se desviassem at aspectos simplesmente nominalistas. Esse talvez seja o principal motivo pelo qual no encontramos na literatura em questo nenhuma pintura adequada do estado do conhecimento nesse terreno. (p.22) no se objetiva proceder a uma avaliao detalhada de tais trabalhos isoladamente, mas tosomente organizar o leque das pesquisas realizadas com as concluses atingidas, identificandose, dessa forma, ambigidades, lacunas e questes que ainda aguardam respostas. (p.22) 1.1 O enfoque parcelar somente as eleies legislativas federais e estaduais tiveram seus resultados trabalhados a tal rigor. As evidncias que teriam corroborado as diferentes hipteses foram colhidas, na esmagadora maioria dos casos, apenas de eleies disputadas sob a regra de representao proporcional. (p.26) ficaram assim excludas de observao detalhada as eleies majoritrias, dentre essas, as eleies presidenciais, as quais, afora a bvia importncia que decorre da massa de poder tradicionalmente concentrada no nvel executivo no Brasil, cumprem, adicionalmente, o especial papel de serem os principais momentos de nacionalizao da poltica, fornecendo singular oportunidade para o exame dos atores partidrios em momentos de presumvel mxima coeso, com plataformas divulgadas simultaneamente em todo o conjunto do pas. (p.26) inconteste que apenas as duas facetas apontadas (pleitos Cmara dos Deputados e s Assemblias estaduais) mereceram detida ateno. Embora relevantes, constituam parte diminuta de um sistema cuja competio desenrolava-se com regularidade em dez diferentes

tipos de escolha eleitoral, sem vinculao obrigatria entre elas, e sendo utilizadas diferentes regras para a traduo dos sufrgios em cargos. (p.26) certamente, um dos principais empecilhos que desestimularam anlises de escopo mais amplo sobre o objeto em questo foi a escassez de informaes disponveis. [...] Por outro lado, deve ser considerada, tambm, a forte influncia exercida sobre os pesquisadores pelos modelos europeus de anlise do fenmeno eleitoral que , por estarem voltados para contextos de governos de gabinete, naturalmente se detm quase que exclusivamente sobre as eleies parlamentares. (pp. 26-7) 1.2 Trs vertentes de anlise As proposies que concernem aos rumos pela disputa partidrio-eleitoral do perodo, podem, grosso modos, ser enquadradas em trs amplas categorias: a. Proposies que enfatizam a suposta desestruturao do sistema partidrio-eleitoral; b. Proposies que caracterizaram o formato da competio, como de bipolarizao ou de partidos dominantes; e c. Proposies que identificaram e ressaltaram uma tendncia, supostamente em marcha desde o incio do perodo, de redefinio ou realinhamento da fora relativa dos competidores. (p.27) no primeiro grupos, esto reunidas teses cujo ponto bsico comum assevera que o sistema partidrio-eleitoral daquela fase caracterizava-se, essencialmente, por atravessar um processo de desinstitucionalizao progressiva. (p.27) o segundo grupo de teses refuta, implicitamente, o argumento da desestruturao, identificando determinados formatos que seriam assumidos pelo sistema. (p.28) o terceiro e ultimo bloco, rene trabalhos cujas formulaes, em alguns casos bastante nuanadas, de maneira geral procuram retrucar explicitamente s teses que argiam um suposta degenerescncia daquele sistema, substituindo pela afirmao da racionalidade do comportamento partidrio-eleitoral do perodo, e sugerindo que a caracterstica basilar da evoluo do objetos em tela seria a ocorrncia de um processo de realinhamento, ou redefinio do suporte eleitoral dos competidores. (pp.28-9) Campello de Souza reexaminaria as evidncias apresentadas por Soares, a partir delas concluindo pela existncia de um duplo processo de realinhamento: mudavam as bases socioeleitorais dos partidos, e alterava-se, em conseqncia, a distribuio dos sufrgios em benefcio do PTB e dos demais partidos reformistas em detrimento dos partidos conservadores (UDN e PSD). (p.29) 1.3 Fatores que afetavam a competio os trabalhos sintetizados podem ser organizados, de maneira simplificada, em dois escaninhos especficos segundo a nfase que fazem recair: a) quer uma perspectiva externalista; e b) que em um enfoque internalista. (p.30)

a) Nesse grupo renem-se os trabalhos que atribuem ao processo de desenvolvimento econmico e social vivido pelo pas, com especial destaque para fatores com a urbanizao e a industrializao. (Campello se insere nesse grupo para Lavareda) b) Alinham-se os trabalhos que procuram situar na esfera mais propriamente institucional os elementos de maior status explicativo das tendncias assumidas na competio. (p.30) CAPTULO II UM SISTEMA EM DESESTRUTURAO? a referncia na literatura especializada a situaes classificadas como de desestruturao, ou de desenhalimento, ou ainda desintegrao de um sistema partidrio-eleitoral qualquer designa como tal um processo de debilitamento agudo no suporte eleitoral de todos os atores ou, pelo menos, dos principais componentes do sistema em questo. (p.33) assim, o contexto de desestruturao caracterizado em termos de resultados eleitorais agregados por marcada instabilidade, que afeta ao longo do tempo a fora do conjunto dos contendores. No cerne desse processo situa-se a fluidez do comportamento eleitoral, que acarreta constantes mudanas dos partidos encarregados da administrao nos vrios nveis e enseja contnuas alteraes das coalizes nos sistemas multipartidrios e a conseqente decomposio das maiorias parlamentares. Conjugado, esses elementos podem provocar, como ressaltou Burnham (1975), dramticas alteraes no manejo de questes importantes, terminando por afetar a continuidade na formulao de polticas, ao mesmo tempo em que contribuem para interromper sua execuo. (p.33) difere a desestruturao, em sntese, do realinhamento, por no significar a transferncia da liderana da cena poltica de um partido, ou grupo de partidos, a outro, o qual passaria a ocupar a posio dominante por algum tempo. (p.33) 1 Hipteses e indicadores as teses que afirmaram a ocorrncia de um processo de desestruturao no quadro partidrioeleitoral brasileiro do ps-guerra atriburam ao sistema como suas principais caractersticas: a) a contnua multiplicao do nmero de competidores; b) o aumento dos votos em branco e nulos; e c) uma crescente disperso eleitoral (p.35) Para uma reavaliao dessas teses, so examinados os dados oficiais disponveis, referentes as eleies majoritrias e proporcionais, agregados por unidades da Federao. (p.35) 1.1 Multiplicao de legendas h uma diferena conceitual e substantiva entre o nmero observado de legendas inscritas na disputa de um pleito especfico cada qual podendo abrigar um nico partido ou vrios deles em coalizo e o nmero efetivo de concorrentes na mesma eleio. (pp.35-6) conforme se constata, o nmero de postulantes nos pleitos presidenciais e vice-presidenciais foi estvel, declinando no fim do perodo por seu turno, a quantidade de legendas inscritas no nvel estadual no apresentou grandes modificaes ao longo do tempo. (p.36)

alteraes de monta s ocorreram em trs categorias eleitorais. Multiplicaram concorrentes a cadeiras municipais, em todas as regies. Nas outras duas categorias (eleies senatorias e para cmara dos deputados), contudo foi diferente a trajetria. (p.36) 1.2 Aumento dos votos nulos e brancos? a hiptese de que o crescimento do percentual de votos nulos e em branco expressava uma escalada no protesto popular contra o sistema poltico, em rigor, no pode ser confirmada com o tipo de informao manipulada nos trabalhos do autor citado (Schwartzman). Sendo isso mais um exemplo de tentativa improcedente de sacar inferncias acerca do contedo das opes dos votantes para alm do que permite vislumbrar o mero levantamento dos resultados eleitorais agregados. (p.39) o primeiro pleito em cada nvel registrou um ndice de votos nulos e em branco especialmente em virtude de suas circunstncias especficas: primeira escolha de representao aps um prolongado interregno ditatorial. (p.39) a variao do percentual de votos nulos e em branco tambm est vinculada ao grau de importncia atribudo a cada categoria especfica de escolha pelos eleitores. (p.39) desse modo, o nmeros expostas refutam a hipteses da desestruturao pelo crescimento do contingente de votos nulos e em branco. Uma melhor compreenso desses votos remeteria s anlises de surveys recentes, em que aparecem bastante associados ao processo de urbanizao, no qual se verifica a liberao de grandes parcelas de votantes que, ao deixarem a condio de clientela cativa no quadro rural de origem, vem-se confrontados, recm-chegados cena urbana, com os elevados custos de deciso, especialmente no tocante aos pleitos proporcionais. (p.40) 1.3 Disperso dos sufrgios? a disperso eleitoral traduzida em graus de fracionamento. E a anlise, mais adiante, ser acompanhada pela identificao do nmero de legendas postulantes com real expresso eleitoral, considerado como nmero efetivo de legendas (Ne). (p.41) o primeiro ndice de autoria de Rae e visa estabelecer quo extensiva se encontra dispersa a fora competitiva entre os contendores. A medida inclui a quantidade nominal de legendas registradas, que sozinha no capaz de determinar a extenso da referida disperso, mas representa um fator delimitador dela. (p.41) 1.3.1 Fracionamento nas eleies majoritrias

no conjunto do eleitorado, a disperso do voto nas disputas presidenciais que se acentuara nas eleies de 1950 e 1955, decresceu no ultimo pleito. O ndice elevado obtido na primeira eleio vice-presidencial (1950) seria sensivelmente diminudo nos momentos seguintes. (p.43) em linhas gerais, chama a ateno o fato que o grau atingido pela competio em cada uma das unidades da Federao, na maioria dos casos acompanha as caractersticas do conjunto do pas. Desse modo constata-se que em 17 unidades o pleito de 1945 foi o de menor fracionamento, assim com 14 delas experimentaram seu momento de maior disperso na disputa presidencial de 1955. (p.43) nos pleitos vice-presidenciais tambm no se manteve elevada a disperso dos votos. (p.43)

agregando-se os Estados segundo as regies geogrficas, constata-se, igualmente, razovel similitude no comportamento da competio nas diferentes reas, especialmente nos pleitos de 1950 e 1960. Maiores intervalos se do em 1945 e 1955, refletindo diferenas mais pronunciadas na distribuio de apoio. (p.45) nas eleies estaduais os ndices do primeiro pleito (1947) foram de certa maneira atenuados no segundo momento (1950), mas a partir da preponderou o crescimento dos nveis de fracionamento, principalmente no Sul e Sudeste do pas. (p.47) aproximou-se substancialmente o perfil de fracionamento dos votos nas eleies presidenciais e de governadores no incio da dcada de 60, em todas as regies, configurando possivelmente o incio de um processo de superposio das clivagens nos dois nveis eleitorais, em benefcio da consolidao do sistema. (p.47) 1.3.2 Fracionamento nas eleies proporcionais

da leitura dos dados apresentados, verifica-se que o sistema assumia duas tendncias marcantes, opostas no plano das eleies proporcionais. Na maioria dos Estados, as eleies de nvel nacional (Cmara dos Deputados) iniciaram-se com o maior fracionamento do perodo. O nordeste, enquanto conjunto, apresentava a tendncia mais ntida nessa direo. E na regio norte que a competio manteve-se mais estvel. (p.48) contrastando com o que ocorria nos pleitos federais, as disputas pelas cadeiras municipais das Cmaras Municipais e Assemblias Legislativas tinham competio dilatada a cada pleito. Os mais altos valores de Fe nessa categoria em cada Estado so encontradas sempre nos ltimos pleitos. Quanto s eleies legislativas estaduais, nelas se configura muito bem a escalada do fracionamento, apenas interrompida nas eleies de 1958. (p.50) entre o incio e o final da competio, os valores de fragmentao nas eleies estaduais cresceram expressivamente em todos os Estados, exceo de trs. Enquanto o crescimento foi bem menos significativo ocorrendo declnio do ndice em nada menos de sete nas eleies proporcionais federais. (p.51) 2 Concluses

ficou evidenciada a improcedncia dos diagnsticos de desestruturao, assentados na anlise, quer do nmero de clivagens nominais traduzidas na quantidade de legendas inscritas oficialmente nas disputas, quer da evoluo do percentual de votos em branco e nulos. Em conseqncia, assumiu importncia central para verificao da hiptese de desestruturao o exame do comportamento do ndice de fracionamento verificado nas vrias eleies. (p.51) a evoluo dos valores assumidos pela medida utilizada obedeceu a duas tendncias opostas retrao e expanso da distribuio do apoio -, notando-se, mas raramente, a estabilidade e a oscilao aleatria. (p.51) definitivamente, a abordagem combinada das diferentes trajetrias, seguidas pela evoluo do fracionamento da competio nas diversas categorias eleitorais, comprova a improcedncia das teses de desestruturao do sistema partidrio eleitoral estudado. Essas, ao que parece, teriam decorrido da interpretao errnea dos sinais emitidos na marcha irregular de expanso da competio, no bojo do processo de nacionalizao do sistema. (p.52)

CAPTULO III A POLARIZAO NAS DISPUTAS MAJORITRIAS as teses reexaminadas aqui receberam a seguinte formulao: a) O sistema possua (em termos de regio) um partido dominante, substitudo a cada ciclo de realinhamento secular; b) Havia uma clara tendncia bipolarizao do sistema; c) Havia uma tendncia oposicionista nas disputas majoritrias. (p.53) 1 Indicadores a investigao das hipteses relativas ao formato (partido dominante versus bipolarizao) exige que o foco da pesquisa seja dirigido para as disputas majoritrias. (p.54) a questo do formato diz respeito, naturalmente, observao do nmero de foras eleitorais reais. Ou seja, do nmero de atores com efetivo poder de competio, medido pelo seu desempenho nas urnas, que no coincide freqentemente com o nmero de postulantes oficialmente registrados. (p.54) 3 Partido dominante, bipolarizao ou multipolarizao?

os quadros mencionados inserem os Estados, a cada eleio, em quatro possveis categorias assumidas pelas respectivas disputas: no-competitivo, ou seja, partido dominante; bipolar; multipolar com aproximadamente trs foras; e multipolar com aproximadamente quatro foras. (p.56) desde os instantes iniciais da disputa eleitoral, aquele sistema partidrio caracterizava-se pela existncia de alguma competio no pano estadual, fossem eleies nacionais, fossem para os governos das unidades federativas. (p.59) as eleies para governadores estaduais, por sua vez, tambm eram francamente competitivas. A disputa acerba pelo Executivo local era um trao comum a todo o pas, suspensa apenas em trs oportunidades. (RJ 1947, PB 1955 e CE 1962). (p.59) de modo que no possvel localizarem-se posies dominantes estveis nos vrios Estados, em socorro a hiptese, que supe que eles seriam ocupados por diferentes legendas, uma vez cumprido o ciclo de realinhamento secular. (p.59) conclui-se, por outro lado, que a hiptese de bipolarizao das eleies majoritrias do sistema de 1945-1964 exige uma formulao muito mais cautelosa que as que tm assumido na literatura. Realmente, na disputa inicial da Presidncia, os Estados estiveram fortemente bipolarizados em quase sua totalidade. (p.59) porm, j no pleito subseqente, com os trs principais partidos apresentando candidatos prprios, ocorreria uma queda no nmero de Estados com aquela configurao inicial. (p.59) entretanto, o que tambm parecia uma tendncia permanente multipolarizaao, viu-se freado e em certa medida at revertido em 1960, no ltimo pleito presidencial. (p.60)

na verdade, ocorreu um processo de concentrao em torno do limite das categorias bi e multipolar, com todos os Estados se situando entre valores de fracionamento prprios a competies perfeitas de dois ou trs plos (p.60) tambm merece ser sublinhado que, uma vez considerado o pas em sua totalidade, a competio presidencial foi, sem interrupo, multipolar desde 1950. (p.60) 4 Concluses

as informaes analisadas neste captulo refutam terminantemente a proposio da existncia, poca, de partidos dominantes, que implicariam perodo de efetiva no-competio nos Estados. Isso no ocorreu, a no ser episodicamente, nem em termos de disputas presidenciais, nem em disputas locais aos governos estaduais. (p.61) quanto a hiptese da bipolarizao (com ou sem movimentos pendulares), a pesquisa apresenta respostas distintas nos dois nveis. Na eleio presidencial, de fato, a disputa iniciou-se com o formato bipolar, caminhou de um modo acentuado para a multipolarizao nos dois pleitos seguintes, para, no ltimo pleito, readquirir na maioria dos Estados a configurao bipolar. (p.61) j na escolha de governadores, a distribuio do apoio manter-se-ia preponderantemente bipolar, com pequena variao do nmero de Estados que escapavam a essa classificao. (p.61) reportando-se s duas categorias, igualmente incorreto falar-se em tendncia, o que equivale dizer: movimento recorrente em uma direo. (p.61) CAPTULO IV ASCENSO, DECLNIO E ESTABILIDADE DOS COMPETIDORES resta discutir um ltimo conjunto de anlises que se situam em oposio quelas que haviam argido a desestruturao do referido sistema, diagnosticando, ao invs da disperso do apoio eleitoral um processo de inverso da fora relativa de competidores especficos, processo que chegaria ser explicitamente designado como um fenmeno de realinhamento (Campello de Souza). (p.63) 1 Tipos de realinhamento o tema produzido nos ltimos 35 anos oferece, no mnimo, como saldo terico, uma taxonomia simples que distingue, em princpio, os processos de: a) realinhamento crticos; e b) realinhamentos seculares. (p.64) 1.1 Realinhamentos crticos Key (1955) cunhou o termo para designar os pleitos que substancialmente alterava a diviso, antes normal, do voto partidrio norte-americano. Conforme assinalou, no bastaria ocorrer uma alterao significativa na fora relativa dos integrantes de um sistema partidrio. Tais eleies deveriam, tambm, caracterizar-se como momentos de inusual elevao dos nveis de envolvimento e participao do eleitorado. E como caracterstica central, indicou o critrio da durabilidade do novo alinhamento, de modo que configurasse a formao de novos e estveis agrupamentos eleitorais. (pp.64-5)

a continuidade das investigaes sobre alteraes no sistema partidrio norte-americano, como o emprego, inclusive, de anlises estatsticas mais sofisticadas, conduziria constatao de que mais adequado que ressaltar pontos singulares como momentos exatos em que se processa a modificao de alinhamentos preexistentes seria identificar determinados ciclos de eleies, dentro dos quais se operam esses reajustamentos, ou seja, perodos de realinhamento crticos. Na verdade, um processo que se estende por uma curta seqncia de pleitos, em vez de fenmeno adstrito a um evento singular. (p.65) 1.2 Realinhamento seculares tais transformaes podem decorrer, tambm, de um processo bem mais discreto de acmulo de modificaes de longo prazo, em que uma extensa seqncia de pleitos gradativamente corporifica o deslocamento de lealdades, fortalecendo um partido ou grupo de partidos em detrimento de outros. (p.66) realinhamentos seculares processam-se em velocidade lenta, com ritmo irregular e esto relativamente isentos da influncia de fatores peculiares, presentes em uma nica eleio. Expressam, portanto, tendncias de razes mais estruturais. (p.66) vale observar que tem predominado nos estudos comparados de sistemas partidrios das naes ocidentais mais desenvolvidas a noo de que eles foram caracterizados por uma certa estabilidade, ou seja, a distribuio das foras relativas dos competidores manteve-se mais ou menos congelada (Lipset e Rokkan, 1967), acompanhando a cristalizao das lealdades do eleitorado, pelo menos entre algum ponto da dcada de 20 at o incio da dcada de 70, quando os sistemas voltaram apresentar uma dinmica que chamou a ateno dos analistas. (p.67) 1.3 Outros processos 1.3.1 Eleies mantenedoras

tais pleitos so aqueles em que o padro de vnculos partidrios prevalecente no perodo anterior persiste e a influncia primria nas foras que governam o voto (Campbell et alli, 1960). Corresponde, tais pleitos aos momentos de predomnio do voto normal, conceito desenvolvido por Converse (1966) para designar a opo original do eleitor, inalterada pela ao das foras de curto prazo. (p.67-8) o conceito de eleies mantenedoras pode ocultar em alguma medida a percepo, j em si difcil, dos realinhamentos seculares. (p.68) 1.3.2 Eleies desviantes e contradesviantes

o termo desviantes, tambm criado pela equipe do SRC Michigan, utilizado para classificar eleies nas quais as lealdades partidrias no chegam a ser praticamente modificadas, mas fatores imediatos ligados a personalidade dos candidatos, ocorrncia de eventos traumatizantes etc. intervm em cena, temporariamente, para derrotar o partido que desfruta as preferncias de longo prazo da maioria do eleitorado. (p.68) removida essas circunstncias passageiras, tem-se retorno ao alinhamento anterior, por meio de eleies assumem um carter corretivo, no sentido de que reconstroem as relaes de foras dos perodos precedentes. Sendo apenas um contraponto s eleies desviantes, esses pleitos so designados como eleies restauradoras ou contradesviantes(Kleppner, 1981). (p.68)

3 A evoluo da fora dos competidores nos pleitos nacionais: eleies presidenciais e vice-presidenciais o exame da capacidade competitiva das diversas legendas do perodo estudado tem-se detido, essencialmente, no conjunto da sua representao na Cmara dos Deputados e Assemblia Legislativa, inferindo-se, a partir da variao nas votaes e na composio partidria das bancadas, a ascenso de alguns partidos em detrimento de outros. Entretanto, as prprias caractersticas do sistema poltico inaugurado em 1945 exigem que se procure traar o perfil evolutivo das legendas tambm no terreno das eleies que s desenvolveram sob a regra majoritria, especialmente daquelas que tinham como circunscrio a totalidade do eleitorado nacional. (pp.70-1) 3.1 Eleies presidenciais s possvel analisarem-se longitudinalmente as disputas presidenciais que tiveram lugar entre 1945 e 1960 uma vez que se utilize como eixo o acompanhamento do suporte eleitoral obtido pelas candidaturas nucleadas pelo PSD, de um lado e UDN, de outro. Ao mesmo tempo, deve ser examinado o perfil do que aqui denominado como terceira fora. (p.71) em 1945, beneficiado pela mquina estatal e apoiado por um elenco de partidos menores, elem da adeso do PTB, j prximo ao pleito, o PSD com o marechal Eurico Dutra foi vitorioso sobre a UDN. (p.71) na eleio de 1950 seria alterada, drasticamente a distribuio do suporte eleitoral desenhada na primeira disputa. A candidatura de Vargas pelo PTB, em aliana com o PSP, e contando com adeptos em, literalmente, todos os redutos partidrios, impactava no sistema recm-esboado, ganhando o pleito em 14 Estados. Foi a nica oportunidade em que os trabalhistas disputaram a Presidncia com candidato prprio. (p.71) nas eleies de 1955, seriam atingidos os mais elevados ndices de fracionamento de todo o perodo. (p.74) o ltimo pleito presidencial (1960) daquela fase democrtica apresentou o menor nmero de candidaturas. PSD e PTB reiteraram a aliana que se sagrara vitoriosa cinco anos antes. (p.75) 3.2 Eleies vice-presidenciais as eleies para vice-presidncia da repblica, por se resumirem a trs episdios, a principio desestimulam manuseio de dados semelhantes ao realizado no terreno das disputas presidenciais. No entanto, as teses que mencionam como caracterstica central e generalizada do sistema partidrio daquele perodo o declnio dos partidos conservadores (a includos o PSD, a UDN e o PR), em contrapartida ao crescimento das organizaes progressistas (sobressaindo nesse campo o PTB), tem, exatamente nessa curta srie de disputas, uma boa fonte de verificao no plano majoritrio, justificando a anlise dos pouco dados concernentes referida categoria de pleitos. (p.77) 4 Os pleitos nos Estados: a situao dos partidos ao final da democracia do ps-gerra Para facilitar a anlise, foram tomadas como unidades geogrficas de distribuio do apoio s legendas as cinco regies em que se divide o pas. (p.80)

difcil traar o perfil evolutivo do desempenho eleitoral das organizaes partidrias brasileiras da poca, visto que as alianas engendradas nas diversas disputas variavam no apenas no tempo, mas tambm dentro de cada municpio e de cada Estado nas diversas categorias de eleies. A ausncia de regularidade era, de fato, o principal problema que as coalizes representavam para a sedimentao dos vnculos entre os partidos e a sociedade. (p.80) No tocante s disputas pelos governos estaduais, foram considerados como conquistando governos os partidos vencedores que registraram candidatos isoladamente, ou o que fizeram em coligao, dado que, na maioria dos casos, aps 1950, esse ltimo foi o padro predominante nessa categoria de disputas, diferentemente das eleies para prefeitos dos municpios, o que acarretou, nessas ltimas, o privilegiamento das situaes de vitria de partidos isolados. (p.81) Quanto as eleies proporcionais, os partidos foram examinados segundo o nmero de parlamentares neles constantes logo aps a posse. (p.81) 4.1 A medio Optou-se pela medio da evoluo da fora dos partidos brasileiros no perodo examinado. (p.82) entre 1945 e 1962, os partidos foram classificados segundo a fora que ostentavam no ltimo momento, confrontada com a mdia do seu desempenho anterior. (p.82) a fora dos diversos partidos foi observada, inicialmente, por meio de seus agregados regionais, para se ter, ao cabo, uma melhor viso do seu desempenho no conjunto do pas. (p.83) 4.2 A fora dos partidos na regio norte as disputas majoritrias de mbito estadual nesta regio, no incio da dcada de 60, apresentavam basicamente apenas dois competidores PTB e PSD com vitrias regulares, secundados por partidos que nesse terreno apenas despontavam naquele momento. E o PTB claramente liderava a competio. (p.83) o PTB era o principal partido em termos de nmero de deputados federais e vereadores, enquanto o PSD mantinha-se estvel quanto ao nmero de deputados estaduais e, mesmo declinando bastante, ainda detinha o maior contingente de prefeitos eleitos em toda a regio. A UDN ostentava um desempenho congruente nas vrias categorias: declinava de forma acentuada sua capacidade de eleger representante em todas elas. (p.85) 4.3 A fora dos partidos na regio centro-oeste no nvel da competio pelos executivos estaduais. PSD e UDN ainda eram absolutos ao final, cada qual elegendo isoladamente o governante de um dos dois Estados da regio. (p.85) em nenhuma outra rea do pas, o desempenho pessedista nas demais categorias seria to marcado pela capacidade de recuperao. Aps uma queda abrupta no nmero de cadeiras s Cmara dos Deputados e Assemblias Legislativas que atingiu seu ponto extremo em 1954, o partido se recomps no pleito seguinte. (p.87)

a trajetria da UDN foi inversa. Seu pice nas duas categorias ocorrera em 1954, aps o que viria o declnio, mais acentuado no caso das bancadas Cmara e um pouco menor no tocante ao numero de deputados estaduais. (p.87) 4.4 A fora dos partidos na regio nordeste Ao contrrio do limitado nmero de partidos que integravam efetivamente os sistemas regionais norte e do centro-oeste, era um quadro partidrio bem mais complexo, mais pluralizado o que emerge nos dados referentes ao nordeste. (p.87) nas disputas pelos governos estaduais, o PSD perdera a posio privilegiada que ocupava em 1947 e 1950 (sete de nove governadores). Ainda assim, nas ltimas disputas os pessedistas repetiram o desempenho do perodo 1954-1955 (quatro governadores). A UDN, por sua vez, realizava naquele momento final sua melhor performance na categoria, vitoriosa em nada menos de dois teros das unidades da regio. Quanto ao terceiro colocado, PTB, que se valia exclusivamente das coligaes para alcanar os governos estaduais nordestinos, seu melhor desempenho nesses termos fora em 1954-1955 (quatro estados) (p.88) 4.5 A fora dos partidos na regio sul a principal diferena entre a regio sul e as outras regies examinadas at este momento a insero do PT nas tendncias de estabilidade (assemblia legislativa e cmaras municipais) e declnio (senado) e o seu desaparecimento no que concerne a executivos estaduais. Esses registros, todavia contrastam com a tendncia de crescimento acentuado observada no desempenho petebista nas eleies para cmara dos deputados e para prefeito. (p.91) dignos de nota, tambm, eram os resultados da UDN e do PDC sulista. A UDN que na regio, de maneira geral, ocupara sempre uma terceira colocao, que at declinara perigosamente em 1958, via sua fora recuperar-se, aproximando-se dos melhores desempenhos anteriores. Quanto ao PDC, cumpria uma trajetria ascensional de forma parecida ao desempenho do PTB em outras regies. (p.93) 4.6 A fora dos partidos na regio sudeste a primeira impresso despertada no exame dos dados o elevado fracionamento das foras integrantes do sistema partidrio no sudeste, regio de desenvolvimento econmico mais acentuado e de maior complexidade social que concentrava a maior fatia do eleitorado brasileiro. (p.93) entre os maiores partidos, o PSD segue sua trajetria padro, pelo que pde ser visto at aqui: decresce mais ou menos acentuadamente, ainda assim mantendo a condio de primeira fora em algumas poucas categorias graas sua capilaridade municipal. (p.93) a exceo da bancada senatorial (provavelmente negociada na composio das chapas dos governos estaduais), a UDN no evidencia declnio em nenhum nvel. Ao contrrio, aumenta sua rede de apoio local, multiplicando o nmero de vereadores abrigados na legenda. (pp.93-4) o PTB nessa rea, onde a exemplo do sul j nascera com peso razovel, caracterizava-se por um desempenho bastante estvel, com crescimento discreto no nvel da representao Cmara dos Deputados, passando a dividir com a bancada pessedista a condio de primeira fora. (p.94)

importante ressaltar que a tendncia ao fracionamento se apresentava especialmente nas Assemblias Legislativa, conforme assinalado anteriormente. Nelas, em seu conjunto, no ultimo pleito, nem um dos cinco maiores partidos da regio (UDN, PTB, PSD, PSP, PR) sequer repetia seus melhores ndices anteriores. (p.94) 4.7 A fora nacional dos partidos vrios partidos apresentavam dinmica diferenciadas, por vezes literalmente opostas, ao longo das distintas categorias. Isso ocorreu mais freqentemente com os partidos de fora relativa inferior, mas no apenas com eles. Mesmo ente os grandes partidos registraram-se, em maior ou menor grau, incongruncias no desempenho atravs dos diversos pleitos. (p.97) assistia-se ao declnio do PSD, nico entre os trs maiores partidos cujo desempenho no fim do perodo no registrava crescimento em nenhum tipo de pleito embora ainda fosse a maior fora partidria do pas no que concerne bancada do Senado (28,7%), no conjunto das Assemblias Legislativas (25,2%), no conjunto das Cmaras Municipais (30,4) e prefeituras (30,8%). (p.97) o desempenho da UDN exemplifica melhor as diferenas entre as vrias categorias dos resultados nas ltimas eleies. O partido ultrapassado pelo PTB, declinou para a terceira posio nas duas casas do Congresso Nacional; apesar do segundo lugar, manteve praticamente as votaes relativas anteriores para a vice-presidncia; e tambm apresentou marcante estabilidade no tocante a segunda posio ocupada em termos de cadeiras nas assemblias legislativas (19,6%), prefeituras (21,7%) e cmaras municipais (23,8%). (p.98) quanto aos trabalhistas, seu partido (PTB) j era a primeira fora em termos de eleies vicepresidenciais, e a segunda na bancada do Senado (26,6%) e na Cmara dos Deputados (28,3%), onde a razo do crescimento vertiginoso no Norte e Nordeste em 1962, praticamente empatara com o PSD. E aparecia em terceiro lugar entre os governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores. (p.98) o PDC alm do PTB era o nico partido que crescia velozmente e de forma coerente. (p.99) em direo oposta caminhava o PSP. Salvo o caso das assemblias legislativa, em que se mantinha estvel, e na disputa pelas prefeituras, onde conseguiu algum crescimento, o partido declinou em todas as demais categorias. (p.99) o PR praticamente desaparecia do cenrio federal, reduzido a nfimas propores no Congresso. (p.99) oscilando tambm entre o declnio, a estabilidade e o crescimento, situavam-se os demais partidos: PL, PST, PTN,PRP e PSB. No geral, o comportamento predominante entre esses era a tendncia de ocupar maiores espaos de representao valendo-se das coligaes. (p.100) 5 Concluses

Que se pode deduzir do emaranhando de nmeros e caractersticas, s vezes conflitantes, identificado ao longo deste captulo? em primeiro lugar, deve-se reiterar o reconhecimento da extrema dificuldade de se detectar realinhamentos, conforme o enunciado que o conceito assume na literatura especializada (voltada basicamente para sistemas bipartidrios consolidados), em quadros pluripartidrios

com reduzido nmero de episdios eleitorais como o estudado. Isso exclui de sada a hiptese assentada na identificao de um realinhamento secular. (p.100) no se pode falar de realinhamento, o que exigiria dispor de dados de eleies subseqentes que confirmassem ou no aquela nova correlao de foras [...] essas classificaes no tm, nesse caso, nenhuma utilidade, salvo para confundir o entendimento do processo. (p.101) VAI CONTRA O QUE FALA MARIA DO CARMO CAMPELLO DE SOUZA. com relao s demais categorias de pleitos, algumas principais constataes, que demonstram a no-ocorrncia de mudanas criticas, e, sim, de um processo de estruturao com a nacionalizao do sistema partidrio, devem ser feitas.(p.101) evidente o declnio do PSD no perodo. Esse declnio se dava de maneira irregular nas diversas categorias eleitorais [...] por outro lado, independente da classificao ideolgica que se faa da UDN (conservadora ou no), o certo que no tem respaldo nos dados a suposio de que acompanhava o PSD no processo de declnio (Campello de Souza). Na verdade, era marcante a estabilidade do desempenho udenista. (p.101) no se verifica no nvel de eleies majoritrias nacionais indcios que apontassem o crescimento eleitoral constante do PTB, em oposio ao declnio udenista. (p.102) o declnio do PSD e do PR na maior parte das categorias e a ascenso do PTB, PDC e outros partidos menores, alm de no caracterizarem um processo simtrico, por decorrerem em grande medida da extenso espacial da competio, da nacionalizao da poltica com a pluralizao das alternativas, principalmente nas regies perifricas, no devem ser catalogados com realinhamentos, no sentido fixado na literatura especializada. (p.103) mais adequado v-los, simplesmente, como roteiro da implantao nacional de um nascente sistema pluripartidrio, que, sob uma perspectiva regional, apenas no sudeste j se configurara razoavelmente desde os primeiros pleitos (p.103) CAPTULO V HIPTESE ALTERNATIVA: UM SISTEMA EM CONSOLIDAO aps o reexame e refutao das teses clssicas sobre o objeto em tela, com base nos dados analisados ao longo deste trabalho, chega o momento de se contemplar um hipteses aqui chamada alternativa, de que o sistema em questo, ao contrrio de se encontrar experimentando o estertor da desinstitucionalizao, estaria em processo de implantao e consolidao, isto , cumprindo de modo cada vez mais efetivo o primeiro papel bsico de qualquer sistema partidrio democrtico, que o de imprimir organizao e regularidade a parcelas significativas das escolhas eleitorais. Em outras palavras, estruturas e canalizar a maior parte da participao poltico-eleitoral. (p.105) esse processo de consolidao, contudo, no pode ser imaginado como algo homogneo, comum a todos os planos e nveis de disputa. (p.105) essa hiptese, em claro antagonismo aos argumentos da desestruturao, tambm no se confunde com outras teses que os refutaram, a exemplo das teses de realinhamento (Campello), de baixa fragmentao, partido dominante, ou ainda, de bipolarizao. (p.1056)

Obs.: a hiptese aqui verificada pretende responder questo exposta por Campello de Souza (1976;168), que concluiu seu trabalho afirmando que face aos conhecimentos de que dispomos at o momento, a hiptese do realinhamento e fortalecimento do sistema no perodo estudado merece pelo menos o mesmo crdito da tese oposta, a da inviabilidade congnita. (nota de rodap n2) a verificao da hiptese da consolidao de um sistema partidrio, cuja configurao se processava em um contexto federativo marcado por um profundas diferenas socioeconmicas entre suas unidades componentes que, ao lado dos aspectos sociolgicos, institucionalmente se materializava atravs de diversas categorias de eleies que envolviam diferentes circunscries, obedecendo a princpios eleitorais majoritrios e proporcionais que tinham ampla repercusso sobre a lgica de comportamento dos atores, para ser encaminhada de forma compreensiva requer o exame de trs aspectos. (p.106) 1. A forma pela qual interagiam a dinmica eleitoral e o processo de desenvolvimento que ento ganhava corpo no pas; 2. O grau de sedimentao e recorrncia das caractersticas de cada categoria no decorrer do tempo, ao longo dos Estados; 3. E por fim, tambm se faz necessrio inquirir sobre a existncia ou no de uma articulao objetiva entre as caractersticas apresentadas pelas diferentes categorias de pleitos. (p.106) 1 Desenvolvimento socioeconmico e disputas eleitorais: a etiologia da competio parte importante das limitaes identificadas nos referidos trabalhos decorre do fato de no se terem preocupado em verificar com alguma preciso em que grau interagiam a evoluo da competio partidria e o processo socioeconmico que atravessava o Brasil naquele perodo. (p.107) na verdade, quase todos os autores, e principalmente aqueles que exploraram uma perspectiva externalista (entre eles Campello de Souza), destacaram, de forma genrica, o acelerado processo de urbanizao e de industrializao vivido no pas no ps-guerra como principais motores da trajetria cumprida no quadro partidrio. (p.107) 1.1 A mudana social os partidos brasileiros da fase analisada desenvolveram-se em um cenrio caracterizado em larga medida pela grande simplicidade da estrutura de clivagens efetivamente politizadas, se comparada, por exemplo, s que tiveram lugar na Europa. At mesmo as clivagens que tm lugar nas linhas divisrias entre as classes sociais estiveram longe de se constiturem em dimenso de peso sobre a qual se estruturasse o conflito poltico. (p.107) em menos de vinte anos, saltava de 31,23% para 44,67% o porcentual da populao brasileira residindo em centros urbanos. Tinha incio, ento, o processo de inchao das capitais. (p.108) essa segunda grande fase de urbanizao do pas, cujo marco remonta ao incio da dcada de 30, distinguia-se da primeira, ocorrida na ltima etapa do Imprio (1860), por estar fortemente associada industrializao e terceirizao da economia, que, junto com a evoluo da renda per capita, alteravam bastante o desenho do tecido social no interior de cada Estado. (p.108)

outra varivel vital nessa fase do processo de transformao socioeconmica era o nvel de alfabetizao da populao, at porque tinha repercusso direta sobre o tamanho do eleitorado, dada a clusula de excluso dos analfabetos do direito ao sufrgio (p.108-9) na esteira das mudanas sucintamente referidas, expandia-se velozmente o eleitorado. Contudo, o peso relativo do eleitorado de cada Estado no total nacional no sofreu alteraes. (p.109) 1.2 Impacto sobre a composio legitimo supor-se que o desenvolvimento, significando maior complexidade da vida social, ao mesmo tempo em que dissolve laos de dependncia tradicionais, prov o caldo de cultura adequado pluralizao das foras polticas [...] vale ser assinalado, contudo, que a luta poltica se processa nos limites de contextos econmicos e sociais que agem sobre ela como balizadores estruturais, que ora inviabilizam, ora apenas tolhem os graus de liberdade dos atores nela envolvido. (p.109) a primeira e mais genrica constatao a de que o nvel de desenvolvimento alcanado ento em cada rea do pas apenas em poucos casos capaz de explanar parte expressiva da varincia na competio eleitoral do perodo [...] as caractersticas da sociedade, alvo de mudanas que incluam alteraes profundas na distribuio das populaes entre as cidades e o campo, deixaram progressivamente de exercer influncia sobre o formato das disputas presidenciais nos Estados, chegando, no final, a se delinear um quadro de bastante autonomia da distribuio dos votos diante de tais fatores. (p.111) no que concerne s eleies dos governadores, desenvolvia-se um processo diferente do anotado no tocante s eleies majoritrias de escopo nacional. O desenvolvimento dos Estados, que inicialmente pouco tinha ver com o formato das disputas, em situao parecida quela como terminaram no caso das eleies presidenciais, a partir de 1955 passaria a apresentar uma correspondncia mais forte com elas, que elevava no fim do perodo. (p.112) individualmente, a urbanizao, a renda per capita e a alfabetizao, nessa ordem, eram, nos ltimos pleitos (1960/1962), os fatores que mais se associavam ao formato assumido por essas eleies que, de qualquer forma, como todas as demais categorias, no sofriam um impacto muito expressivo do conjunto das caractersticas sociais. (p.112) no terreno dos pleitos proporcionais houve grande semelhana na evoluo da influncia da estrutura social sobre as eleies Cmara dos Deputados e s Assemblias Legislativas. Em ambos os casos, a varincia inicial explanada caiu no segundo momento, recuperando-se levemente no terceiro, para voltar a declinar, ficando nas ltimas eleies bem abaixo dos valores iniciais. (p.112) em seu conjunto, os dados reunidos demonstram que em sua etapa final o formato das competies de escopo estadual caracterizava-se pela maior aderncia realidade socioeconmica, ao passo que as disputas nacionais, a incluindo-se as escolhas locais das bancadas Cmara, com a nacionalizao da poltica no sentido duplo de definio extensiva das correntes de opinio e de implantao nacional das organizaes partidrias assumiam um pouco mais de autonomia em face dos traos estruturais de cada Estado. (p.113) 2 Sedimentao das disputas

como j foi visto no captulo IV, raramente se registrou, no decorrer das eleies disputadas no perodo enfocado, a entrada ou sada de atores partidrios reais, ou seja, daqueles que tinham um peso capaz de influenciar substantivamente o formato assumido pela competio. Em poucas oportunidades desapareceram legendas em um ou outro Estado, e as que emergiram, em sua maioria, no provocaram alteraes significativas na distribuio dos sufrgios. (p.115) Assim que, se forem observadas as correlaes das votaes obtidas nos Estados e territrios apenas pelas candidaturas estruturadas em torno das duas foras mais poderosas PSD e UDN em pares de eleies, evidencia-se uma expressiva continuidade na distribuio do suporte eleitoral dessas foras. (p.116) o pequeno numero de episdios observados na categoria de eleies vice-presidenciais compromete qualquer assertiva que pretenda encarar como tendncia definitiva o seu fracionamento eleitoral nos ltimos momentos. Ainda assim, no ltimo pleito vicepresidencial, a distribuio dos votos ao longo dos Estados esteve mais fortemente associada do que se dera em 1955. (p.117) por fim, na terceira categoria enfocada no plano das disputas majoritrias as eleies de governadores o quadro captado indica que a partir de 1950 estava nitidamente estabilizada a associao positiva entre a distribuio de votos de uma disputa a outra [...] a anlise das eleies travadas no plano proporcional deve merecer para efeito de verificao da hiptese considerada uma ateno especial, visto que elas ocupam papel de destaque em todos os argumentos que apontaram a inviabilidade do sistema. (p.117) o fato de nenhuma categoria eleitoral incluir-se nas tendncias declinante ou errtica, constitui uma evidncia eloqente e, favor da hiptese de consolidao, substancial negao da tese de desinstitucionalizao progressiva do sistema inaugurado em 1945. (p.119) 3 Articulao entre as diversas categorias de pleitos

no plano das eleies travadas sob a regra majoritria, desponta uma primeira constatao, simples e definitiva: crescia ininterruptamente, em todo o perodo, a associao positiva entre o formato das disputas presidenciais, vice-presidenciais e dos governos estaduais. O coeficiente de correlao verificado nas ltimas eleies foram especialmente elevados entre o pleito presidencial e o vice-presidencial (0,698), e o vice-presidencial em relao aos governos estaduais (0,664). (p.120) De modo geral, cada vez mais estreitava-se o relacionamento entre a distribuio das votaes majoritrias nacionais e locais dentro dos Estados. Embora em velocidade muito mais lenta, tambm as eleies de prefeitos paulatinamente associava-se s disputas majoritrias estaduais. (p.121) deve-se observar a existncia de padres nitidamente diferenciados entre as eleies proporcionais estaduais e as federais. As primeiras, assinalando, no relacionamento entre a distribuio das votaes das legendas e distribuio das cadeiras entre os partidos considerados isoladamente, coeficiente de correlao basicamente estveis e notavelmente expressivos. Ao passo que no caso das eleies federais, apesar de a relao entre essas duas dimenses ter sido em 1945, quando no se verificavam coligaes em pleitos proporcionais, bastante estreitas (0,841), ela declinaria depois, progressivamente at se ver reduzida ao valor de 0,32 no ltimo pleito. (p.124)

pode-se afirmar que, em perspectiva nacional, configurava-se dois distintos subsistemas partidrios, recortados pelos dois diferentes princpios eleitorais que coexistiam na legislao. Um, majoritrio, em franca consolidao. Outro, proporcional, j integrado em graus bastante significativos, embora apresentasse um nico seno o divrcio paulatino no terreno da Cmara dos Deputados entre a dimenso eleitoral e o fracionamento das bancadas , o que, do ponto de vista do eleitorado, certamente redundava na crescente despartidarizao desses pleitos. (p.125) a mais importante constatao (com base nos dados) que o principal nexo entre os dois sistemas se dava nas eleies de governadores. Por meio delas se produziam as nicas correlaes expressivas nos ltimos momentos daquele sistema partidrio-eleitoral, com o formato das eleies Cmara e s Assemblias. Esse relacionamento nos dois casos crescia linearmente no perodo. (p.125) 4 Concluses

constatou-se que os traos estruturais, a partir de meados da dcada de 50, paulatinamente perdiam capacidade explicativa sobre as caractersticas assumidas pela competio eleitoral, com a exceo anotada das eleies de governos estaduais, que se colocavam um pouco mais ao perfil socioeconmico dos Estados. Assim, v-se que no era apenas um partido especfico como o PTB cujo desempenho eleitoral via esgarado seu nexo com o desenvolvimento. Na verdade, praticamente todo o conjunto da competio eleitoral experimentava o mesmo processo. (p.127) o papel da modernizao da sociedade brasileira na transformao do quadro partidrio iniciado em 1945, ressaltado com maior ou menor nfase em todas as anlises, principalmente nas abordagens externalistas, merece aqui uma necessria redefinio. (p.127) inconteste que nos dez primeiros anos daquele sistema as diferenas de graus em que se manifestava o desenvolvimento das unidades federativas produziam um grande impacto na diversificao dos formatos das disputas eleitorais. Quanto maior era o desenvolvimento de um Estado, maior era a probabilidade de se verificar a complexidade do respectivo quadro eleitoral, com superior nmero de foras efetivas em disputa, dando lugar a votaes cada vez mais fracionadas. (pp.127-8) o fenmeno do desenvolvimento, em uma primeira fase, propiciou que se espraiasse por todo o territrio nacional o desenho pluralista do quadro partidrio. Cumprida essa etapa, reflua enquanto fator de determinao, cedendo espao autonomia do sistema, balizada logicamente pelas normas que regulamentavam partidos e pleitos. Na perspectiva da nacionalizao da poltica, a constatao referida confirma a hiptese de consolidao do sistema partidrioeleitoral. (p.128) quando o foco se dirigiu para a interao entre as diversas categorias, emergiu o desenho da rede de processos que tinha lugar em dois cenrios competitivos, compostos segundo duas diferentes regras eleitorais: o plano majoritrio e o plano proporcional. (p.128) no subsistema majoritrio as categorias de disputas comeavam a se integrar, atingindo pela primeira vez um patamar de associao expressivo nos ltimos pleitos (1960 e 1962). A consolidao do processo poltico nacional conduzia celeremente rumo sintonia das clivagens

eleitorais que se produziam no apenas em pleitos nacionais, mas tambm, entre esses e os de governadores no interior de cada Estado. (p.129) no terreno das disputas aos cargos parlamentares subsistema proporcional , desde que as eleies passaram a ter o mesmo calendrio, observava-se uma elevada correlao entre o formato da competio Cmara e s Assemblias, que perdurou at o final. (p.129) entretanto, uma vulnerabilidade importante desse subsistema foi captada ao se examinar o relacionamento entre o formato de competio eleitoral Cmara dos Deputados e o resultante da distribuio dos votos em cadeiras, produzindo o peso relativo das bancadas partidrias. Distanciava-se, perigosamente neste caso, o sistema partidrio-parlamentar do sistema partidrio eleitoral, em grande medida por causa da necessidade de coexistirem duas lgicas especficas no processo de sua elaborao. Referindo-se a disputa majoritria pelos governos estaduais, fazia-se com que os grandes partidos se dispusessem a acolher as pequenas organizaes em legendas eleitorais; e dizendo respeito acomodao dos candidatos e eleitos em siglas escolhidas segundo a tica do poder federal. (p.129) de forma geral, identifica-se o processo de consolidao em todas as categorias examinadas. Obviamente, o ritmo desse processo no era uniforme, podendo-se afirmar, por exemplo, que somente no fim do perodo as eleies majoritrias comeavam a demonstrar nveis significativos de associao entre si. (p.129) Sobre a interao dos dois sistemas a analise mostrou que tal papel era cumprido pelas disputas em torno dos governos estaduais. Era esse pleito que de certa forma estruturava em cada Estado o desenho das demais competies, inclusive as proporcionais. (p.129) a opo institucional pela separao no tempo entre eleies presidenciais e a escolha dos deputados Cmara afastou mais, e definitivamente, as respectivas lgicas eleitorais, colocando a segunda categoria inteiramente sob a influncia da competio pelos executivos estaduais. (p.130) CAPTULO VI O ENRAIZAMENTO SOCIAL DOS PARTIDOS: ATITUDES E PREFERNCIAS DO ELEITORADO ENTRE 1945 E 1964 decidiu-se incorporar na etapa final da anlise empreendida neste trabalho a considerao de informaes de outro gnero, com material emprico prprio: as atitudes e os comportamentos individuais e coletivos identificados a partir de pesquisas por amostragem (surveys) (p.133) a consolidao progressiva dos vnculos entre os partidos e a sociedade deve ser empiricamente ser revelada pelas seguintes caractersticas bsicas: a. Pelo registro de nveis expressivos, no-declinantes, do montante de identificao partidria. O somatrio dos percentuais de identificao dos eleitores com cada um dos partidos de ser sempre superior ao percentual de no-preferncia ou alienao, e no pode apresentar um perfil declinante, o que revelaria uma escalada do suposto divrcio entre os partidos e a sociedade. b. A consolidao estar expressa, tambm, por um grau razovel de congruncia entre as preferncias partidrias e as opes eleitorais nos nveis de disputa adequados a essa observao. (p.134)

1 Limites e incentivos identificao partidria sobre a utilidade do conceito de identificao partidria na previso do comportamento eleitoral dos indivduos, mesmo os crticos mais rigorosos reconhecem a sua posio de centralidade, assumida em mais de trs dcadas de uso intensivo nos estudos eleitorais. (p.135) de fcil interpretao e extrema simplicidade de medio enquanto conceito, a funcionalidade da identificao partidria percorre quatro itens bsicos, sintetizados por Dixon (1972:507): 1. Censura seletivamente as novas informaes polticas; 2. Organiza a informao poltica relevante, emprestando-lhe inteligibilidade; 3. Ajuda a resolver as dissonncias cognitivas e emotivas causadas por percepes incongruentes do ambiente poltico; e 4. Reduz a necessidade do eleitor avaliar sinopticamente cada candidato ou questo em tela. (pp.135-6) h necessidade de se delinear alguns fatores vocacionados a desempenhar um papel importante na malha de constrangimento que envolve o processo do despertar e da evoluo dos vnculos psicolgicos dos indivduos com as organizaes partidrias. A negligncia da importncia dessa moldura era a principal vulnerabilidade das primeiras abordagens do comportamento poltico, como lembrou Dahl (1966). Sero enfatizadas trs fatores, axiomticas tomados como principais: a. A durao do sistema partidrio; b. O contexto da comunicao; c. O quadro legal-institucional. (p.136) 1.1 A durao do sistema partidrio o fator tempo tem sido, at o momento, negligenciado pelos analistas que avaliaram o sistema partidrio dessa etapa republicana. O diminuto perodo de durao menos de 19 anos , abrigando, ademais, um nmero reduzido de pleitos em cada uma das categorias eleitorais, impedisse que o quadro institucional-partidrio j se mostrasse inteiramente cristalizado [...] a dimenso temporal assume importncia decisiva na dinmica do comportamento poltico. (p.137) quanto maior a idade do sistema partidrio, maior a tendncia regularidade na distribuio de foras em seu interior. A lealdade partidria, aqui referida como identificao, de um lado envolve mecanismos de aprendizagem, de resistncia e de transmisso intergeracional, de outro, comporta, tambm, um processo de rpido esquecimento. Declina a taxa de reteno da identificao subseqente suspenso do processo democrtico que elimine a relevncia dos partidos de massa existentes (Converse, 1969;148) (p.137) outra limitao importante decorria da prpria origem do quadro partidrio surgido em 1945. Afora os elementos a ele incorporados e que nele permanecem oriundos da estrutura do Estado Novo. A inexistncia, no perodo anterior a ditadura, de partidos de massa. De fato a dcada de 30 havia-se caracterizado, por esse prisma, pela mirade de partidos regionais. Recuando-se no

tempo, nem os partidos do Imprio, nem o sistema de partidos nicos estaduais da Repblica Velha, haviam ultrapassado a condio de clubes de elites. De sorte que apenas com o psguerra nasciam entidades de representao poltica com real significado societrio, entretanto sem razes anteriores que lhes permitissem um aprofundamento mais rpido, e organizando-se dentro de uma cultura poltica fortemente marcada pela experincia ditatorial. pesava como obstculo solidificao da identificao em nveis mais elevados a existncia de um grande contingente de eleitores jovens, resultado das elevadas taxas de fertilidade do pas naquele perodo, combinadas com a modesta longevidade mdia da populao. O autor observa tambm que o fato de se registrarem entre eles os ndices mais elevados de alienao partidria. E que em cada sistema partidrio os eleitores jovens so muito mais flexveis, instveis e muito mais receptivos aos novos eventos que os contingentes de velhos eleitores. (p.138) 1.2 O contexto da comunicao o contexto dos meios de comunicao no perodo era francamente benfico ao desenvolvimento desses laos de identificao. Era muito mais simples que nos dias correntes o processo de distribuio de informao poltica. Informaes sobre lderes, candidatos, partidos, programas, governos e suas polticas. (p.139) a televiso, tem sido unanimemente apontada como causa importante da modificao das relaes entre os indivduos e a cena poltica. (p.131) ao possibilitar a formao de vnculos diretos entre candidatos e eleitores, a comunicao eletrnica exponencializa a importncia da personalidade e das questes especficas na poltica, deixando em segundo plano a influncia dos vnculos de lealdade partidria. (p.139) durante toda a Repblica inaugurada em 1945 pontificavam como veculos de difuso das informaes polticas os jornais, as revistas, as rdios, os comcios e as reunies pblicas. Quase toda a imprensa tinha uma clara orientao poltica, fato que contribua para desenvolver e reforar os vnculos partidrios. (p.140) 1.3 O quadro legal-institucional propiciava aquela moldura legal-institucional o surgimento e a evoluo dos vnculos citados? bastante freqente na literatura que aborda o sistema partidrio desse perodo a referncia s imperfeies da legislao partidrio-eleitoral sob a qual ele operava, que funcionariam como obstculos consolidao das instituies representativas. Alem de se ressaltar os principais desses empecilhos, pretende-se, agora, ir mais adiante, apontando elementos da mesma moldura institucional que desempenhavam, por sua vez, o papel positivo de catalisadores do processo de enraizamento social dos partidos. (p.142) (MARIA DO CARMO) entre os obstculos mencionados, foram citados no captulo V a proibio de partidos ideolgicos, a ausncia de incentivos maior coeso interna dos partidos, a facilidade na troca de legendas e as eleies presidenciais e vice-presidenciais em turno nico, funcionando como estmulo ao cruzamento das fronteiras partidrias, alm das coligaes eleitorais ad hoc. Da mesma forma, entre os incentivos j foram mencionada no mesmo captulo a exigncia de partidos nacionais que ajudava a evitar a proliferao de organizaes. (p.142)

argumentos efetivamente novos que surgem no quadro apresentado so: a no-coincidncia das eleies majoritrias e proporcionais em cada nvel, a existncia de cargos de vice disputados independentemente da eleio dos titulares e a introduo da cdula oficial, de um lado como obstculos; e, de outro, como incentivos, o monoplio da representao desfrutados pelos partidos em todos os nveis e a importncia das eleies presidenciais e vice-presidenciais, enquanto nacionalizadoras da poltica e homogeneizadoras da leitura dos partidos pela opinio pblica. (p.142) a proibio de organizaes ideolgicas, inscritas no Cdigo Eleitoral (art.114), que redundaria na cassao do registro do Partido Comunista em 1947, teve vrias conseqncias nocivas para a consolidao do sistema partidrio. A mais bvia delas que vedava a expresso legtima de preferncias a uma parcela expressiva do eleitorado. A excluso dos comunistas desestimulava uma clara definio ideolgica direita, no propiciando vnculos de identificao partidria mais fortes tambm desse lado do espectro ideolgico. (p.142) a ausncia de mecanismos institucionais que contribussem para maior coeso interna. Espalhados em um extenso territrio marcado por grandes desigualdades regionais, os partidos tendiam a reunir no seu bojo a mais variada gama de interesses, nem sempre sintonizados com os respectivos programas, que se entrincheiravam nas diversas sees estaduais. (p.143) eleies proporcionais, principalmente quando separadas dos pleitos para o Executivo, com listas abertas de candidatos de cada legenda, e comportando coaliazes ad hoc, exatamente como continua a ocorrer nos dias atuais, compunham a moldura ideal para a acentuada despartidarizao da disputa nesse plano. (p.145) a adoo da cdula oficial foi uma medida democratizante, visando, principalmente, diminuir na esfera eleitoral a probabilidade de coao a que estavam submetidas as populaes mais dependentes do poder pblico ou privado, sobretudo no interior do pas, a cdula oficial abria a possibilidade do dissenso dos eleitores, freqentemente permitindo que marcassem nomes diferentes dos que lhes eram impostos. Teria no entanto, uma outra conseqncia um tanto fragmentadora, pois tambm veio permitir a diversificao das legendas escolhidas nos diversos nveis. Em reas tradicionalmente controladas pelo PSD, por exemplo, facilitou o aparecimento de votos para outras siglas, sobretudo em disputas parlamentares, dissolvendo a reiterao no comportamento eleitoral dos vnculos com um nico partido. (p.145) 2 A identificao partidria no Brasil antes do golpe militar

no total, quase dois teros do eleitorado dos principais capitais brasileiras (64%) eram capazes de citar em pergunta aberta um partido poltico de preferncia. Isso no auge da conjuntura de colapso democrtico, quando a cena poltica era de assalto pelas entidades de representao corporativa, fossem de esquerda, fossem de direita, em um clima de confronto. (p.149) o padro de competio especfico histria partidrio-eleitoral de cada Estado fornece pistas importantes para explanao mais elaborada dessa questo. Na maioria das capitais onde se registravam os menores valores agregados de preferncia (capitais nordestinas e So Paulo) isso estava associado debilidade relativa do PTB, partido com que se identifica a maior fatia do eleitorado dos grandes centros. (p.150) as classes mdia e alta eram o territrio especial da presena da UDN que, contudo, comeava a sofrer nessa rea a competio do PDC. O PSD, a, j acusara declnio irremedivel. Mesmo

nesse escalo social privilegiado, o trabalhismo mostrava grande presena afirmando-se como uma das maiores foras partidrias. (p.151) quando a ateno se desloca para as classes pobres, assoma uma preferncia majoritria pelo PTB em todas as capitais. Os mais baixos ndices de adeso ao PTB entre os pobres foram registrados em capitais nordestinas. (p.151) como os dados permitiram constatar, no faz muito sentido falar na ocorrncia de realinhamento no sistema partidrio examinado. Havia importantes movimentos do eleitorado, principalmente dos grandes centros urbanos. Dois eram os partidos bvios beneficirios desses movimentos: a UDN e o PTB. O crescimento da identificao com o PTB no ocorria em detrimento de vnculos psicolgicos que porventura existissem anteriormente (o que tipificaria o realinhamento), mas, sim, como um sinal positivo do ponto de vista da qualidade do sistema partidrio. (p.164) 3 A congruncia entre a identificao partidria e o voto

parte considervel da literatura que aborda o fenmeno da identificao partidria dedica-se a investigar os efeitos dessa varivel sobre o comportamento eleitoral. (p.164) duas concluses indisputadas resultam das muitas pesquisas conduzidas internacionalmente sobre o tema: 1. que os percentuais de congruncia entre as preferncias partidrias expressas pelos eleitores e as intenes de votos, ou o prprio comportamento eleitoral, variam de pas a pas. E de regio para regio. 2. Quando tomadas isoladamente cada uma das unidades de anlise mencionadas no pargrafo anterior, os percentuais de voto partidrios variam em funo de pelo menos dois aspectos: um de carter histrico, que diz respeito s contingncias envolvidas em cada pleito especfico, ensejando maior ou menor relevncia das foras de curo prazo, conjunturais, que estimulam os eleitores defeco das candidaturas dos seus partidos; e outro aspecto, de carter institucional, refere-se s distintas categorias de eleies que, por sua maior ou menor centralidade no quadro de referncias dos eleitores, do lugar a diferentes clculos eleitorais. (p.165) tudo o que foi observado aplica-se ao sistema partidrio-eleitoral brasileiro vigente entre 1945 e 1964. (p.165) expondo informaes disponveis relativas aos dois ltimos pleitos presidenciais, baseadas em pesquisas realizadas em quatro capitais, evidenciam uma elevada congruncia, em 1955 e 1960, entre preferncias partidrias e o comportamento dos eleitores nas urnas. (p.165) em 1955, fica comprovado que quase sempre o principal contingente de votos dos candidatos em cada uma das trs capitais era proveniente do subconjunto de eleitores identificados com o partido que patrocinava aquela candidatura. (p.167) apesar de a legislao tornar as escolhas dos cargos de presidente e vice totalmente independentes entre si, facultando os mais diferentes arranjos, abrindo possibilidade para que os fatores regionais desempenhassem papel determinante, verificou-se que, em linhas gerais, as principais chapas eram endossadas por parcela significativa do eleitorado. (p.169)

boa parte do eleitorado adepto do PTB, mesmo em meio crise e radicalizao das elites polticas, na impossibilidade das candidaturas de Brizola ou Goulart, dispunham-se a sufragar o nome de Juscelino, reiterando nas urnas, em 1965, a aliana partidria que dera estabilidade poltica ao pas a partir de 1955. (p.174) em junho/julho de 1963, perguntada sobre os caminhos mais indicados para o Brasil, a maioria expressiva de eleitores (45%) j apontara a perspectiva do centro (equiparada na questo s posies de Juscelino e Magalhes Pinto) como a que melhor convinha ao pas. (p.175) essa maioria centrista tendia a apoiar algumas reformas preconizadas pelos progressistas, principalmente a Reforma Agrria, vista como necessria por 72% dos eleitores das principais capitais [...] a opinio predominantemente favorvel mudana da estrutura agrria no se restringia aos setores mais pobres. Atravessava os diversos grupos sociais. (p.176) os valores dessa opinio pblica majoritariamente centrista que apoiava em linhas gerais o governo Goulart e, dentro de certos limites, algumas das reformas anunciadas pelo presidente, moviam-se em um espao ideolgico estreito, o que, no raro, levava-a a oscilar entre as posies caractersticas da esquerda e da direita do espectro. (p.178) no que concerne a polticas pblicas, esse centro no era imobilista. As principais reformas poderiam vir a ser viabilizada com seu apoio. Esse centro, ademais, via com bons olhos a reiterao da parceria entre o PSD e o PTB que possibilitara a vitoria de Juscelino em 1955. (p.180) a opinio pblica definia, pragmaticamente, a agenda de temas da campanha presidencial de 1965. A preocupao com o combate a inflao vinha em primeiro lugar com 40%%, sucedida pelo problema da agricultura (includa a questo da reforma agrria) com 25%. Em terceiro lugar, 18% dos eleitores apontavam o desenvolvimento econmico, seguido do problema social, 14% e da poltica externa, 4%. (p.180) 4 Concluso

foram analisados dados de pesquisa de opinio realizadas em certo nmero de cidades brasileiras, no perodo que vai de 1948 at alguns dias antes do golpe militar de 1964. (p.181) a anlises evidenciam o fato de que um processo de consolidao do sistema partidrio, em termos de seus vnculos psicolgicos com o eleitorado, estava em marcha pelo menos nos ltimos dez anos daquela fase republicana. (p.181) conclui-se que uma parcela amplamente majoritria do eleitorado dos grandes centros urbanos se autoposicionava ao centro do espectro ideolgico. Reformista, embora com certa cautela, mas anticomunista ferrenho, naturalmente em sintonia com a Igreja Catlica da poca. (p.182) consubstanciava-se, desse modo, um sistema partidrio que, a despeito de considervel overlapping entre os principais partidos ao centro do espectro ideolgico, tinha razovel diferenciao social das bases dos seus integrantes. E, principalmente, via crescer a parcela de eleitores que com eles se identificava. (p.182) do ponto de vista do eleitorado, portanto, no havia problema de esvaziamento do centro. Se isso ocorria com as elites, por trs desse movimento no se encontrava lgica especificamente eleitoral, como descrito nos processos que desembocam no pluralismo polarizado (Sartori).

Tratava-se de uma ntida opo de setores das elites, esquerda e direita, pelo recurso radicalizao, em prejuzo das regras democrticas vigentes. (p.182) Captulo VII Consideraes Finais a demonologia do regime que sucumbiu em abril de 1964, freqentemente inclui o sistema partidrio da poca como um dos fatores relevantes na composio do cenrio em que se deu a ruptura constitucional. (p.183) nessa tica, a debilidade da estrutura partidria em decorrncia, principalmente, da fragilidade do seu apoio no eleitorado, fazia-se incapaz de balizar e imprimir regularidade expresso da vontade poltica das foras sociais, levando o pas a instabilidade e uma escala irrefrevel, com as disputas eleitorais apresentando, simultaneamente ndices crescentes de decomposio das votaes, exacerbado grau de personalizao das competies, legendas coligativas ad hoc como substituto aos partidos formais, alm de um eleitorado flutuante excessivo situado, sobretudo, nos grandes centros, um subproduto da modernizao da sociedade, avesso a partidos e presa fcil dos apelos populistas. (p.183) ocorre que as anlises sobre o sistema partidrio brasileiro da poca, notadamente quanto ao seu aspecto eleitoral, face determinante na definio de sua implantao e na sua capacidade de organizar a participao poltica, quando no ressentiram da ausncia do apoio de evidencias empricas, sofreram a forte limitao decorrente do manuseio de dados restritos a umas poucas categorias de disputas, o que no lhes permitiu descortinar inmeros aspectos de um sistema bastante complexos. (p.184) o reexame das teses clssicas da bibliografia sobre o tema, [...] apresentou concluses objetivas quanto a cada um dos trs blocos em que se foram organizadas, expostas de modo sumarizado a seguir. (p.184) as teses de desestruturao ou desisntitucionalizao no so procedentes, em virtude da constatao irretorquvel de trs fatores (MUITO IMPORTANTE): 1. No se registrava a multiplicao do nmero de partidos ou de legendas inscritas nas disputas. 2. O aumento do porcentual de votos em branco e nulos nas eleies verificava-se de forma expressiva apenas em algumas poucas categorias eleitorais pleitos a Cmara dos Deputados e aos cargos de vice-governadores , denotando antes a perda da visibilidade da importncia relativa desses espaos institucionais do que uma rejeio ao sistema poltico como um todo ou ao sistema partidrio em especial. 3. Os ndices de fracionamento na distribuio do suporte eleitoral s legendas no fim do perodo apresentavam tendncias diferentes nos diversos nveis e planos de disputas, constatao que inviabiliza qualquer interpretao unvoca no sentido da crescente desestruturao do sistema em seu conjunto. Mesmo no caso de elevao do fracionamento, a continuidade da pesquisa exposta nos captulos posteriores ratifica a concluso de que o sistema, ao contrrio de estar experimentando um processo dissolutrio, na verdade apenas verificava a sua nacionalizao. (p.184)

tambm as teses que, em sentido oposto, optaram pela caracterizao do sistema em termos da existncia de partidos dominantes, ou, de outro lado, como a bipolarizao, no se mostram consistente: 1. Verificou-se em termos de Estado e territrios que no ocorreram, a no ser episodicamente, situaes possveis de serem caracterizadas como de efetiva nocompetio, reveladoras da existncia de partidos dominantes. Ao longo do perodo, de maneira geral, operava-se sempre saudvel competitividade no plano estadual. 2. No tocante hipteses da bipolarizao com ou sem movimentos pendulares , essa tambm no sobreviveu ao exame do nmero de competidores reais envolvidos na seqncia de eleies majoritrias. Evidenciou-se a impossibilidade de se apontar uma tendncia bipolarizao. Ademais, como se verificou no captulo VI, ao que tudo indica, o fracionamento voltaria a crescer bastante no pleito presidencial previsto para 1965. (p.185) mesmo um terceiro bloco de interpretaes, que se opuseram s teses de desestruturao do sistema em tela, identificando, ao invs, a existncia de um processo de realinhamento partidrio, no tiveram suas concluses inteiramente legitimadas pela evidencias manuseadas: 1. O sistema partidrio-eleitoral da poca, mais que o atual, dado o maior nmero de disputas eleitorais que acolhia, no pode ser definido pela evoluo da correlao de foras em apenas uma ou outra das suas vrias faces. Em cada regio a dinmica da competio caracterizava-se por atravessar estgios diferenciados, sendo isso certamente verdadeiro tambm em termos de Estados e municpios. 2. O declnio de partidos como o PSD e PR na maioria das disputas e a ascenso do PTB e PDC e outras organizaes menores no eram processos simtricos. Decorriam, freqentemente, da nacionalizao da implantao dos partidos, com a pluralizao do quadro de alternativas, restrito inicialmente nas reas perifricas a apenas dois competidores (PSD e UDN). 3. O conceito adequado de nacionalizao, como uma das caractersticas da marcha do sistema partidrio-eleitoral brasileiro iniciado em 1945, refere-se a extenso de sua complexidade inicial. A conjugao de fatores institucionais, como a legislao partidria e eleitoral e a organizao federativa do Estado, e de fatores socioeconmicos que podem ser sintetizados na meno modernizao acelerada sofrida pelo pas, dava ensejo implantao extensiva dos partidos menores que aos poucos abriam espaos de representao. A complexidade da competio, significando um nmero mais elevado de atores reais, independentemente de quais fossem, no ficavam mais circunscrita ao centro-sul do pas, estendendo-se para as demais regies. (p.186) A pesquisa se dirigiu construo de uma hiptese alternativa: 1. A hiptese apresentada neste trabalho sobre o estado do sistema partidrio-eleitoral brasileiro s vsperas do seu fim qualifica-o como um sistema bastante complexo em processo de consolidao. Um processo heterogneo, com alguns obstculos srios, sobretudo no terreno da legislao eleitoral e partidria, mas no bojo do qual os sinais de institucionalizao eram muito mais expressivos.

2. De fato, o saldo da literatura existente sobre o tema at agora se situava-se no patamar explicitado por Campello de Souza (1976:168) no fim de sua pesquisa: as hipteses da inviabilidade congnita e do fortalecimento do sistema partidrio no perodo estudado, segundo ela encontravam nos dados crditos equivalentes. Avanando-se nesse terreno, superando-se o impasse, foi mostrado que aquele sistema apresentava marcas predominantes de consolidao. 3. Cumprindo o seu papel inicial de viabilizar o processo de expanso do quadro partidrio, uma vez avanada a nacionalizao do sistema, com a redistribuio do apoio eleitoral processando-se principalmente nas reas mais atrasadas, a importncia dos traos estruturais da sociedade diminuiria sensivelmente. A maior autonomizao do sistema em face das variveis socioeconmicas um indicador importante de sua progressiva consolidao. 4. Era cada vez maior, ou no mnimo bastante estvel, a correlao entre os formatos assumidos pelos pares de eleies dentro de cada categoria de disputas, denotando, tambm, a consolidao alcanada pelos padres de distribuio de foras ao longo das unidades federativas. 5. Observou-se emergir na pesquisa a constatao de processos de articulao diferenciados entre pleitos, segundo a que pertenciam. Assim, era possvel, tambm, falar-se de dois subsistemas: um majoritrio e outro proporcional. 6. A pesquisa evidenciou que o papel de integrao entre os subsistemas majoritrio e proporcional era cumprido pela competio em torno dos governos estaduais. Eram essas disputas que, tal como ocorre hoje, em grande medida, estruturavam em cada Estado o desempenho das demais eleies, inclusive as parlamentares. 7. A variedade e a irregularidade das coalizes, bem como o deslocamento dos parlamentares entre as siglas, faziam com que o plano proporcional no fosse o melhor espao para definir a imagem pblica dos partidos. Os vnculos entre esses e o eleitorado eram criados, reforados e modificados tendo como referncia os conflitos visveis no terreno das disputas majoritrias. (pp.187-9) A hiptese de consolidao pde ser alvo de um teste qualificado como definitivo pelo exame de grande quantidade de dados inditos extrados de pesquisa Ibope, a partir da considerao preliminar de certos contextos. 1. Apesar da curta idade da totalidade dos partidos da poca e a generalizada ausncia de razes histricas representavam uma limitao importante para que se pudessem manifestar vnculos de maior densidade entre os partidos e eleitores. Os ndices que foram identificados so extremamente satisfatrios. 2. A estrutura dos mass media naquela fase, ainda no hegemonizada pela televiso, desempenhava um papel francamente favorvel ao desenvolvimento do sistema partidrio. 3. A moldagem legal-institucional desempenhava papis contraditrios sobre o sistema partidrio-eleitoral.

4. As pesquisas realizadas pelo Ibope dias antes do golpe militar, no auge da crise poltica, mostram que grande parte (64%) do eleitorado das grandes cidades manifestava adeso a partidos. Viu-se, tambm, que esse nmero pode ser classificado como elevado sob qualquer parmetro, inclusive em uma abordagem comparativa. 5. Contemplada uma srie histrica desses dados, contata-se que o monte agregado de identificao partidria no era declinante, ao contrrio, ascendia em diversas reas. 6. Havia uma elevada congruncia entre a identificao partidria e o voto pelo menos nas eleies presidenciais. E a orientao partidria na definio das chapas pelos eleitores (presidente e vice-presidente), sem nenhuma vinculao obrigatria, ocorria de forma satisfatria. 7. Comprovou-se que no havia um cenrio de acirramento dos conflitos ideolgicos entre os eleitores que por si s empurrasse o sistema para a bipolarizao. A maioria do eleitorado se situava no centro do espectro ideolgico e profundamente anticomunista. A radicalizao era ntida opo estratgica de setores das elites, esquerda e direita, desinteressados da manuteno da institucionalidade democrtica. (pp.189-190) Por fim, Lavareda conclui afirmando que o sistema partidrio-eleitoral que se consolidava no Brasil entre 1945 e 1964 era uma experincia privilegiada nas suas circunstncias para implementao de clivagens polticas duradouras na sociedade e que a interrupo daquele sistema e sua posterior dissoluo com a adoo do bipartidarismo, imposto artificialmente, talvez tenha significado a inviabilizao da ultima chance de consolidao de um sistema partidrio-eleitoral no Brasil. (p.191)