íticas e expurgos nos círculos revolucionários paulistas
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Antteses
ISSN: 1984-3356
hramirez1967@yahoo.com
Universidade Estadual de Londrina
Brasil
Lobo de Arruda Campos, Alzira; Cardoso Gomes, lvaro; Gomes Ghizzi Godoy, Marlia
Autocrticas e expurgos nos crculos revolucionrios paulistas (1928-1935).
Antteses, vol. 9, nm. 17, enero-junio, 2016, pp. 115-135
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, Brasil
Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=193346401008
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DOI: 10.5433/1984-3356.2016v9n17p115
Autocrticas e expurgos nos crculos
revolucionrios paulistas1 (1928-1935).
Auto-critiques and expurgations in the paulistas'revolutionary environments
(1928-1935).
Alzira Lobo de Arruda Campos2
lvaro Cardoso Gomes3
Marlia Gomes Ghizzi Godoy4
RESUMO
As dissenses ocorridas nos meios revolucionrios paulistas, nos anos 30, pontuaram a histria do
Partido Comunista do Brasil e das demais correntes de esquerda, produzindo censuras e autocrticas
dirigidas a muitos de seus membros. A determinao revolucionria dos camaradas, desenvolvida na
cultura de gueto da subverso, propiciou a formao de estratgias de sobrevivncia, das quais, a
mais perversa, era a dvida metdica lanada sobre a lealdade de companheiros de jornada. Nas
reunies do partido, traies supostas ou reais ocupavam boa parte da pauta. Impurezas tericas,
envolvimento com trotskistas, adeses pequeno-burguesas, colaboracionismo, deslealdade ao
partido, envenenavam as relaes dos comunistas. Informaes provenientes de fontes diversas
cartas, atas de reunies, circulares, pronturios policiais permitem-nos analisar esse processo,
submetido ao silncio quase total da historiografia brasileira.
Palavras-chave: Histria Poltica. Revoluo Proletria. Comunistas em So Paulo. Trotskismo.
1 "Meios ou Crculos revolucionrios" expresso usual da poca, empregada por militantes e policiais, para designar anarquistas, socialistas e comunistas, isto , lideranas trabalhistas que lutavam por mudanas radicais da sociedade. A partir de 1929, dissidentes do PCB reuniram-se na Oposio de Esquerda, da qual se originou a Liga Comunista Internacionalista. Como corrente hegemnica e diretamente influenciado pelo stalinismo, o Partido Comunista foi o maior responsvel pelo expurgo de camaradas, processo ento praticado, embora em menor escala, pelas demais correntes de esquerda. 2 Mestra e Doutora em Histria Social (USP), Livre-docente em Metodologia da Histria (UNESP); docente do Programa de Mestrado em Cincias Humanas da UNISA (rea interdisciplinar); e-mail: loboarruda@hotmail.com 3 Mestra Doutor, Livre-docente e Titular em Literatura Portuguesa (USP); docente e coordenador do Programa de Mestrado em Cincias Humanas da UNISA (rea interdisciplinar); e-mail: alcgomes@uol.com.br 4Mestra em Antropologia (USP) e Doutora em Psicologia Social (PUC/SP); docente do Programa de Mestrado em Cincias Humanas da UNISA (rea interdisciplinar); e-mail: mgggodoy@yahoo.com.br.
, v. 9, n. 17, p. 115-135, jan./jun. 2016 116
ABSTRACT
The dissensions occurred in the paulistas's revolutionary circles, in the thirties, punctuated the history
of the Communist Party of Brasil and of the other left-wing streams, causing censorships and auto-
critiques directed to many of its members. The revolutionary determination of the comrades,
developed in the culture of the subversion ghettos, propitiated the formation of the survival
strategies, of which, the most perverse, was the methodical doubt that surrounded the loyalty of the
journey companions. In the party's meetings, presumed or real betrayals played a big role in the
discussions. Theoretical impurities, being involved with the trotskyist, little bourgeois adhesions,
collaborationism, disloyalty to the party, poisoned the communists' relations. Information derived
from diverse sources letters, minutes of meetings, circulars, officers' handbooks allow us to
analyze this process, submitted to a almost complete silence of the Brazilian historiography.
Keyword: History. Politics. Proletarian Revolution. Communist in So Paulo. Trotskism.
Autocrticas e expurgos, rotineiros na biografia do Partido Comunista Brasileiro, contagiaram em graus
variados a historiografia, condenando ao ostracismo personagens responsveis pela fundao e pelo
funcionamento do "Partido", nos tempos dominados pelas oligarquias estaduais e por Vargas. No se trata
de peculiaridade da historiografia brasileira. Historiadores da velha esquerda internacional reconhecem
que se fundamentaram pouco em investigaes de primeira mo e nem sempre conseguiram refletir sobre
os acontecimentos de forma desapaixonada, tendo em conta os laos que os uniram ao comunismo
(HOBSBAWN, 1985, p. 11).
Mais recentemente, tm aparecido trabalhos sobre as dissidncias ocorridas no mbito do PCB, como
International Trotskyism, 1929-1985, A Documented analysis of the movement, de Robert J. Alexander, que
concede espao ao estabelecimento do trotskismo, realando a sua precocidade e a sua importncia na
organizao dos trabalhadores, especialmente em So Paulo (ALEXANDER, 1991, p. 131).
No Brasil, o tema da Revoluo Proletria, conduzida especialmente pelos comunistas, acarretou uma
disciplina partidria tambm em muitas pesquisas, que omitiram deliberadamente lideranas operrias e
revolucionrias no stalinistas.
A respeito disso, Dainis Karepovs nota que a historiografia das cises no PCB ocupa poucos pargrafos
das obras relativas s duas primeiras dcadas da histria do partido, e, em geral, mantm a interpretao
oficial dos stalinistas. Essa viso estilizada, pouco sistematizada e insuficientemente lastreada por fontes de
primeira mo, acaba por desclassificar a viso dos dissidentes, encerrando o conhecimento no aspecto
institucional e burocrtico da direo partidria e da Internacional Comunista. Para agravar o quadro, os
partidos comunistas sempre tiveram o hbito de reescrever suas prprias histrias de acordo com a
orientao poltica por eles praticada no momento histrico em que tais textos foram produzidos. Assim, a
cada mudana de linha poltica, muitos episdios tiveram sua interpretao completamente alterada. Nos
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anos 1970, as dissidncias voltaram a ser abordadas e subsidiadas por documentos, como no caso de Edgard
Carone. Este, entretanto, ao assumir a explicao oficial que responsabiliza personalidades que teriam
errado na avaliao do momento histrico e na conduo do partido pelas cises ocorridas, contribui para
impedir o aprofundamento do exame e discusso da poltica comunista nos anos de formao do partido
(KAREPOVS, 1996, p. 2-14).
Murilo Leal Pereira Neto, em Outras histrias, esclarece determinadas posies dos aderentes da Liga
Comunista em So Paulo, no bojo de seu estudo sobre o trotskismo no Brasil, entre os anos 1952-1966, obra
que inclui circunstncias polticas e histrias de vida dos primeiros dissidentes do PCB. Do ponto de vista
terico-metodolgico, o autor critica a historiografia nacional que pretende limitar a histria do
proletariado brasileiro histria do PCB, como tambm a tendncia acadmica que reproduz acriticamente
essa viso, "reduzindo a importncia de outras correntes e prticas polticas e empobrecendo a
compreenso da pluralidade real de influncias, prticas, tentativas e projetos que constituem a histria da
esquerda brasileira" (PEREIRA NETO, 1997, p. 2). Como exemplo, o autor cita as numerosas obras de Carone
dedicadas ao estudo do movimento operrio no Brasil e histria do PCB, as quais esquecem ou
desqualificam a ao dos trotskistas, sumria e erroneamente. Do mesmo modo, Daniel Aaro Reis exclui os
trotskistas das organizaes comunistas no Brasil, justificando essa posio pela pequena expresso poltica
e social que teriam tido, o que o levou a se restringir a estudar os grupos que "assumiram o 'legado'
marxista-leninista e a contribuio da III Internacional" (PEREIRA NETO, 1997, p. 8).
Jos Castilho Marques Neto, por sua vez, historia criticamente o aparecimento da Oposio de
Esquerda no Brasil, considerando o surgimento do jornal do Grupo Comunista Lenine (GCL) A Luta de
Classe , em 8/5/1930, como marco de constituio de uma dissidncia organizada nos quadros e no terreno
terico do PCB. Note-se que at em relao ao ttulo do jornal, ocorriam controvrsias entre os dissidentes.
Assim que, a partir de 1934, como consequncia da diviso da LCI em dois grupos o de Hylcar Leite e o
"Fernando-Alves" ("Fernando", Aristides Lobo e "Alves", Victor Azevedo Pinheiro) circularam dois jornais
trotskistas com o mesmo nome, diferenciados apenas pelo "c" mudo, que continuou a figurar no peridico
do primeiro grupo (MARQUES NETO, 1993, p. 22).
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