expurgos inflacionários do plano verão

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1 APRESENTAÇÃO O presente trabalho, cujo principal escopo é a análise casuística (case study analysis) do cumprimento de sentença no processo civil coletivo, corresponde a uma acurada investigação jurisprudencial referente à fase executiva do processo n° 0403263-60.1993.8.26.0053. Cuida-se de ação civil pública ajuizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), associação de direito privado, em face Banco Nossa Caixa S/A, posteriormente incorporado pelo Banco do Brasil S/A (sucessão processual), sociedade de economia mista integrante da administração federal indireta, tendo por objeto litigioso o direito daqueles que mantinham contratos de caderneta de poupança com a ré à adequada atualização monetária dos respectivos saldos bancários a partir de janeiro de 1989, uma vez que, em virtude do denominado Plano Verão do Governo Sarney, a correção incidente sobre os valores poupados se deu muito aquém da desvalorização da moeda resultante dos crescentes índices inflacionários vigentes à época.

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Estudo casuístico sobre a execução no processo coletivo.

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APRESENTAO

O presente trabalho, cujo principal escopo a anlise casustica (case study analysis) do cumprimento de sentena no processo civil coletivo, corresponde a uma acurada investigao jurisprudencial referente fase executiva do processo n 0403263-60.1993.8.26.0053.

Cuida-se de ao civil pblica ajuizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), associao de direito privado, em face Banco Nossa Caixa S/A, posteriormente incorporado pelo Banco do Brasil S/A (sucesso processual), sociedade de economia mista integrante da administrao federal indireta, tendo por objeto litigioso o direito daqueles que mantinham contratos de caderneta de poupana com a r adequada atualizao monetria dos respectivos saldos bancrios a partir de janeiro de 1989, uma vez que, em virtude do denominado Plano Vero do Governo Sarney, a correo incidente sobre os valores poupados se deu muito aqum da desvalorizao da moeda resultante dos crescentes ndices inflacionrios vigentes poca.

Malgrado o trnsito em julgado da sentena que ps fim referida lide tenha se dado nos idos de junho de 2011, sendo reconhecido pelo Poder Judicirio o direito dos poupadores ao auferimento dos expurgos inflacionrios, h de se perceber no cotidiano forense uma ebulio de discusses sobre temas correlatos concretizao do disposto no ttulo executivo judicial, tais como a legitimidade ativa para impulsionar o cumprimento de sentena; a competncia territorial para execuo; a responsabilidade de pessoas jurdicas integrantes da administrao pblica indireta por polticas pblicas econmicas (teoria do fato do prncipe); o termo inicial dos juros moratrios; a exigncia de juros remuneratrios; etc. Nesse matiz, objetiva-se demonstrar a urgente necessidade de manifestao do Pretrio Excelso sobre os pontos controvertidos para a garantia da segurana jurdico-econmica essencial estabilidade da nao.

Os temas tratados neste trabalho afiguram-se de grande relevncia e notria contemporaneidade. Seguindo-se o fio condutor do Direito Processual Civil, mormente a fase executiva integrante dos processos coletivos, as discusses in concreto so tangenciadas por diversos ramos pblicos e privados da cincia jurdica, tais como o Direito do Consumidor, o Direito Administrativo e o Direito Constitucional.

Sem embargo, sensvel ao importante papel da interveno do Estado no domnio econmico e ciente das nefastas consequncias sociais que podem advir do exerccio de seu mister, a pesquisa visa tambm compreenso, sob a tica jurdico-processual, da malfadada estratgia poltica de conteno dos ndices inflacionrios, servindo como forma de percepo de um momento da histria econmica do Brasil por meio do Direito.

CAPTULO I - UM BREVE APANHADO HISTRICO-ECONMICO

No campo da economia, o sculo XX foi para o Brasil um turbilho de reviravoltas. Durante a Repblica Velha, o pas tinha como principal propulsor econmico a produo cafeeira, resqucio do sculo XIX, que passava a conviver com o fim da mo de obra servil provocada pela abolio da escravatura e, consequentemente, a incorporar trabalhadores assalariados para a manuteno do empreendimento.

Neste perodo de incipiente esprito republicano, j puderam ser sentidos os efeitos da interveno do Estado no domnio econmico. O setor do caf crescia de forma exacerbada, sendo que, segundo Celso Furtado, as condies excepcionais que oferecia o Brasil para essa cultura valeram aos empresrios brasileiros a oportunidade de controlar trs quartas partes da oferta mundial desse produto[footnoteRef:2]. A expanso era to assombrosa que o Poder Pblico, agora descentralizado, adquiria grande parte da produo para fins de controle artificial da oferta e manuteno dos preos, o que viria a descambar, com a quebra da bolsa de valores norte-americana em 1929, na crise da cultura agrcola nacional. [2: FURTADO. Celso. Formao Econmica do Brasil. 33 Ed. So Paulo: COMPANHIA DAS LETRAS, 2007. p. 252.]

De se notar que no fim do sculo XIX, em decorrncia do otimismo provocado pelo sucesso econmico, o ento Ministro da Fazenda do Presidente Marechal Deodoro da Fonseca, Ruy Barbosa, apostou em uma poltica de massiva injeo de crdito no mercado decorrente da emergncia de grandes massas de trabalhadores assalariados, o que veio a gerar a denominada crise do encilhamento. Dada a instabilidade de uma recente economia livre das amarras do Poder Monrquico, a inflao, pela primeira vez na histria republicana, corroeu a moeda em um ambiente econmico que apostava todas as fichas em um modelo de massiva monocultura.

Com o fim da Repblica Velha, diante do golpe poltico engendrado por Getlio Vargas em 1930, o setor agrcola brasileiro afigurava-se malfadado, mormente pela crise econmica mundial de 1929. Diante desta realidade, o Governo Vargas fora responsvel por uma intensa remodelao produtiva, o que, inclusive, foi o motivo da extensa durao de seu poder. Para Mary Del Priori, a permanncia de Getlio Vargas no poder no teria sido possvel sem o extraordinrio sucesso econmico alcanado durante seu primeiro governo. (...) Pela primeira vez, a produo fabril brasileira ultrapassa a agrcola como principal atividade econmica. Nesse perodo tambm assistimos ao surgimento da indstria de base, ou seja, aquela dedicada produo de mquinas e ferramentas pesadas, siderurgia e metalurgia e industria qumica[footnoteRef:3]. [3: DEL PRIORE, Mary. Uma breve histria do Brasil. So Paulo: PLANETA DO BRASIL, 2010. p. 254.]

Este panorama econmico, impulsionado por um cenrio de crescente industrializao, levou o Brasil ao seu pice econmico em meados do sculo XX, sendo que a dcada de 1960 reconhecida, at hoje, como a poca do milagre econmico. Representante maior deste momento otimista, Juscelino Kubitschek, Presidente da Repblica de 1956 a 1961, implantou um regime desenvolvimentista, cujas principais diretrizes eram o fomento industrializao e a substituio das importaes. Pautado no famoso slogan cinquenta anos em cinco, seu governo veio a resultar na construo de uma nova capital, Braslia.

Tal agenda, alicerada em altos endividamentos externos e internos (growth cum debt), apontava para a possibilidade de uma vindoura instabilidade econmica. Para Fernando Herren Aguillar, os gastos pblicos decorrentes dessas iniciativas logo trouxeram consequncias nocivas. Aoitado pela retomada da inflao e pela sucesso de greves, Kubitschek adotou o Plano de Estabilizao Monetria (PEM), em 1958, elaborado por Lucas Lopes, Ministro da Fazenda, e Roberto Campos, Presidente do BNDE. (...) Pressionado pelos debates polticos e pelo fracasso do PEM, Kubitschek decidiu, em 1959, romper negociaes iniciadas com o FMI para a concesso de um emprstimo de 300 milhes de dlares[footnoteRef:4]. [4: AGUILLAR, Fernando Herren. Direito Econmico: do direito nacional ao direito supranacional. 3 Ed. So Paulo: ATLAS, 2012. p. 155.]

Importante destacar que, em 1964, marco inicial do regime poltico militarizado, fora promulgada a Lei n 4.357 que, ao permitir ao Poder Executivo Federal a emisso de Obrigaes do Tesouro Nacional e atrelar tais ttulos previsibilidade de atualizao do valor nominal em virtude das variaes do poder aquisitivo da moeda nacional, introduziu no arcabouo jurdico ptrio o instituto da correo monetria. A instituio deste mecanismo demonstrou a percepo do Poder Pblico da inflao poca e teve por escopo permitir que contrataes de longo prazo pudessem ser efetuadas com segurana, sem risco de eroso dos valores negociados.

Ironicamente, a criao deste instrumento fora um dos fatores responsveis pela galopante inflao que assolou o Brasil no ltimo quartel do sculo XX. Majoritariamente, os estudiosos da economia compreendem que os picos de desvalorizao monetria ocorridos nos anos 80 caracterizam-se pelo conceito de "inflao inercial", segundo o qual "parte da inflao que ser observada no futuro depende da inflao passada, afetada tanto por choques de oferta como pela demanda, gerando uma inrcia propagada por meio de mecanismos formais ou informais"[footnoteRef:5]. No Brasil, o instrumento legalmente formalizado de transmisso inercial fora a referida implantao da correo monetria, uma vez que os agentes econmicos passaram a considerar as taxas inflacionrias dos meses pretritos como corretas e constantes, gerando uma previsibilidade de aumento de preos em meses seguintes (concepo de inrcia). [5: LIMA, Maria Lcia L. M. Padua (Coord). Direito e economia: 30 anos de Brasil, Tomo I. So Paulo: SARAIVA, 2012. p. 488.]

O desenvolvimentismo brasileiro enfrentou grandes dificuldades com a primeira (1973) e a segunda (1979) crises do petrleo, quando os pases-membros da OPEP decidiram subitamente pelo aumento do preo dos barris e, concomitantemente, pela diminuio da produo. As consequncias globais desses acontecimentos levaram falncia do modelo growth cum debt, uma vez que os Estados Unidos, diante das fortes presses inflacionrias sobre sua economia interna, utilizaram-se de sua poltica monetria para elevao da taxa real de juros, o que, ao elevar surpreendentemente o valor do dlar, provocou grandes deficits a pases endividados, tais como o Brasil. Segundo Maria Lcia Padua, "as consequncias sobre os pases em desenvolvimento com elevados endividamento externo, como Brasil, Mxico e Argentina, foram trgicas. O comeo do ciclo virtuoso nos EUA foi o incio do ciclo vicioso no Brasil e demais pases altamente endividados"[footnoteRef:6]. [6: Idem]

A desastrosa atmosfera econmica que se formava no horizonte nacional, expressa por verdadeiro declnio (em 1981 o Brasil decresceu 4,2%), fora responsvel por grande adeso popular aos movimentos de democratizao. De acordo Mary Del Priori, "nesse contexto que a crescente mobilizao popular passa a ditar o ritmo de transio do regime. Se na primeira fase ela comandada quase exclusivamente por quartis, agora tem como contrapeso a fora das ruas"[footnoteRef:7]. [7: DEL PRIORE, Mary. Uma breve histria do Brasil. So Paulo: PLANETA DO BRASIL, 2010. p. 287.]

Em 15 de maro de 1985, aps quinze anos de ditadura militar, assume o poder um Presidente civil, Jos Sarney, em decorrncia da morte de Tancredo Neves, com o qual integrava a chapa eleitoral na qualidade de Vice-Presidente. A derrocada econmica experimentada nos anos 80, com um nvel inflacionrio que chegou aos 200% a.a. em 1983, logo aps a moratria mexicana, trouxe ao governo civil grande preocupao com a adoo de planos para garantia de estabilidade de mercado.

O primeiro choque heterodoxo[footnoteRef:8] fora o Plano Cruzado, em fevereiro de 1986. Dentre as principais medidas adotadas, destacam-se a criao de uma nova moeda, o Cruzado, com o corte de trs zeros; o congelamento artificial de preos; e o fim da correo monetria genrica. Malgrado os ndices de corroso monetria tenham se estabilizado inicialmente, observou-se, em virtude do congelamento de preos, a escassez da oferta de insumos bsicos nas prateleiras dos mercados, gerando um clima de insatisfao popular. Em junho de 1987, adotou-se o Plano Bresser que compreendia medidas de congelamento e controle da crise fiscal, tais como o fim da atualizao automtica de salrios (gatilho salarial), aumento de tributos, postergao de obras de grande porte, etc. Tal plano, assim como seu antecessor, no atingiu os resultados dele esperados. [8: O conceito de choque heterodoxo contraposiciona-se ao de choque ortodoxo, estando este em consonncia com medidas convencionais de combate inflao, tais como o controle do crdito no mercado e o aumento das taxas bsicas de juros. Reconhecida a natureza peculiar da inflao brasileira, de regime inercial, o Poder Pblico criou uma a agenda heterodoxa para o controle inflacionrio, concretizada por meio de planos econmicos.]

Posteriormente, em janeiro de 1989, fora adotado o terceiro e mais efmero choque heterodoxo, o denominado Plano Vero. Para Miriam Leito, o plano, que criou a moeda Cruzado Novo, foi anunciado no santo domingo, 15 de janeiro. Foi chamado de Vero. Durou menos que um vero. Em maro, a inflao foi de 6% e quando foi anunciada pelo IBGE o ministro (Malson da Nbrega) j sabia que tinha fracassado[footnoteRef:9]. Dentre suas estratgias constavam a criao de uma moeda nova, o Cruzado Novo, o congelamento de preos e a mudana dos indexadores de salrios e das cadernetas de poupana, com o escopo de busca de equiparao da moeda nacional com o dlar. Esta ltima medida merece ateno especial, pois que ponto fulcral deste trabalho. [9: LEITO. Miriam. Saga Brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda. So Paulo: RECORD, 2011. ]

A Medida Provisria n 32, transformada a posteriori na Lei n 7730/89, trazia em seu bojo a previso de correo monetria das cadernetas de poupana pelo ndice da Letra Financeira do Tesouro Nacional (LFT) em detrimento do ndice de Preos ao Consumidor (IPC-IBGE)[footnoteRef:10], nos meses de fevereiro, maro e abril de 1989. Tratava-se de mecanismo de desindexao econmica com fins de conteno da inflao inercial, buscando-se romper a memria inflacionria. Ocorre que a diferena entre ambos os incides estabeleceu-se no patamar de 42,72%, levando os poupadores a uma sensvel perda do poder aquisitivo dos valores depositados poca. Tal ocorrncia gerou um grande nmero de litgios judicializados, como o que ser analisado na presente exposio. [10: Art. 17. Os saldos das cadernetas de poupana sero atualizados: I - no ms de fevereiro de 1989, com base no rendimento acumulado da Letra Financeira do Tesouro Nacional - LFT, verificado no ms de janeiro de 1989, deduzido o percentual fixo de 0,5% (meio por cento);II - nos meses de maro e abril de 1989, com base no rendimento acumulado da Letra Financeira do Tesouro - LFT, deduzido o percentual fixo de 0,5% (meio por cento), ou da variao do IPC, verificados no ms anterior, prevalecendo o maior; III - a partir de maio de 1989, com base na variao do IPC verificada no ms anterior.]

Diante da ineficcia do Plano Vero, o primeiro presidente eleito diretamente na Repblica Nova, Fernando Collor de Mello, lanou os Planos Collor I e II. Tais polticas entraram nos anais da histria brasileira como as mais desastrosas e violentas formas de interveno estatal sobre o domnio econmico privado desde o incio do sculo XX, culminando com o impeachment de seu criador em 1992. Dentre as medidas tomadas, incluam-se o regime de congelamento de preos e de ativos econmicos dos cidados, o que gerou gigantesca insatisfao frente cidadania.

A situao monetria brasileira s viria melhorar a partir de 1994, quando, durante o governo de Itamar Franco, o ento Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, idealizou o Plano Real. Tratou-se de poltica econmica que sabiamente promoveu a desindexao da economia em perda do poder aquisitivo de compra, por meio da criao da Unidade Real de Valor (URV), mais tarde convertida no Real, moeda vigente at os presentes dias. Por meio de uma articulao de equilbrio fiscal, abertura econmica e privatizaes, a moeda brasileira pode se parear ao dlar, possibilitando, assim, um surpreendente controle dos patamares inflacionrios.

Interessante observar que o Brasil tenha levado tanto tempo para estabilizar sua situao monetria. Resta flagrante a dificuldade de um Estado solitrio, alheio aos interesses dos agentes scio-econmico, fazer valer sua legitimidade soberana de interveno e manuteno da ordem. Nesse contexto, fica a brilhante lio do socilogo JOS EDUARDO FARIA, segundo a qual todos esses planos ruram, entre outros motivos, por falta de capacidade de estabilizar novas regras e expectativas econmicas e polticas. Tanto essas regras quanto essas expectativas consistiam em condio sine qua non para que (os quatro planos) ultrapassassem sua forma coercitiva, atingindo um processo autossustentado de progresso, sendo que todas as tentativas de reimpor princpios corretivos acabaram em completos e acelerados fracassos, ficando o ensinamento de que, sem poder e sem adeso de empresrios e trabalhadores, s resta autoridade econmica a promoo ativa da recesso, a qual, assim mesmo, pode degenerar em estagflao[footnoteRef:11]. [11: FARIA, Jos Eduardo. Direito e economia na democratizao brasileira. So Paulo: Saraiva, 2013.p.63]

CAPTULO II O PROCESSO COLETIVO E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TERCEIRA DIMENSO

O processo civil tradicional, cujas razes remontam antiguidade greco-romana, mecanismo procedimental apto resoluo dos litgios entre particulares por meio de um rito previamente definido. Destarte, pressupe a existncia de dois ou mais sujeitos de direito que pretendam fruir o mesmo bem da vida, havendo, assim, um conflito de interesses qualificado por uma pretenso resistida (lide). Trata-se de forma de conferir legitimidade resoluo das controvrsias por meio de um procedimento no qual dada a oportunidade de ampla manifestao aos litigantes[footnoteRef:12]. [12: Ver, neste sentido, LUHMANN, Niklas.Legitimao pelo procedimento. Traduo de Maria da Conceio. Brasilia: UNB, 1980]

O processo coletivo, inspirado nas class actions norte-americanas, um instrumento especfico tutela de direitos que extravasam o mbito do subjetivismo individualizado. Denominados processos de interesse pblico (public law litigation), os processos coletivos (...) servem s demandas judiciais que envolvam, para alm dos interesses meramente individuais, aqueles referentes preservao da harmonia e realizao dos objetivos constitucionais da sociedade e da comunidade[footnoteRef:13] [13: DIDIER JR., Fredie et alli. Curso de Direito Processual Civil. v. 4. Salvador: JUSPODIVM, 2013. p. 37.]

Os estudiosos dos direitos fundamentais[footnoteRef:14] classificam historicamente seu objeto de anlise em trs geraes ou dimenses, sendo este ltimo posicionamento coerente com a ideia da possibilidade de coexistncia simultnea de todas as categorias. [14: Para Jos Afonso da Silva, direitos fundamentais correspondem, no nvel do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituies que o (ordenamento jurdico) concretiza em garantia de uma convivncia digna, livre e igual de todas as pessoas. SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. So Paulo, MALHEIROS, 1992. p. 163-164]

Posto isso, a primeira dimenso de direitos fundamentais exsurge com as tendncias do constitucionalismo moderno, movimento liberal de estruturao do Estado e proteo das liberdades individuais nsitas ao laissez faire mercantil. Doutrinariamente reconhecidos como direitos de defesa, compreendem os interesses civis e polticos, uma vez que impem ao Poder Pblico um dever de absteno.

A segunda dimenso tem sua tnica delineada no sculo XIX, quando a ideologia marxista passa a sugerir a adoo de um modelo poltico de bem-estar social, em que o Estado passa a ser, tambm, provedor de garantias materiais de existncia digna ao seu povo. Com o Welfare State, portanto, so positivados os direitos sociais, culturais e econmicos, qualificados como direitos de prestao. Finalmente, a terceira dimenso de direitos fundamentais tem seu reconhecimento na segunda metade do sculo XX, era em que o individualismo passa a ceder espao ao coletivismo frente s intensas correntes globalizatrias e massificadoras. Passa-se a ter a percepo de que a coletividade, de per se, titular de direitos e deveres, assim como os sujeitos de direito individualmente considerados. Sendo assim, com fulcro em deveres fraternidade e solidariedade, entende-se que determinados ramos do direito compreendem relaes de carter transindividual, estando presentes neste rol, verbi gratia, o direito ambiental e o direito do consumidor.

O processo coletivo, por sua vez, tem por finalidade a tutela dos direitos de terceira gerao, sendo moldado especificamente como ferramenta apta ao fomento de sua proteo e ao restabelecimento dos interesses scio-coletivos. Tais interesses coletivos lato sensu subdividem-se em trs categorias, quais sejam:

A) Interesses difusos: correspondem a direitos transindividuais de natureza indivisvel e de titularidade indeterminvel, por exemplo, a pretenso de punio e compensao em virtude de um dano ambiental abrangente;B) Interesses coletivos stritcto sensu: correspondem a direitos transindividuais de natureza indivisvel cuja titularidade recai sobre um determinado grupo de agentes, por exemplo, a pretenso de declarao de nulidade de clusulas de contrato de adeso que atinja as massas populacionais;C) Interesses individuais homogneos: correspondem a direitos individuais e divisveis que unem sujeitos de direito em razo de uma circunstncia de fato, por exemplo, a pretenso ressarcitria de distintos consumidores frente compra de diversos veculos automotores viciados[footnoteRef:15]. [15: A classificao disposta , inclusive, positivada no bojo do pargrafo nico do art. 81 da Lei 8078/90, verbis: A defesa coletiva ser exercida quando se tratar de: I interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas pro circunstncias de fato; II interesses o direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrria por uma relao jurdica base; III interesses ou direitos individuais homogneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. ]

Vale ressaltar que a classificao acima disposta, embora til e ensejadora de consequncias processuais distintas, no estanque. Um mesmo acontecimento da vida pode, concomitantemente, ser fato gerador de direitos difusos, coletivos em sentido estrito e individuais homogneos. Pense-se, por exemplo, na hiptese do naufrgio de um navio petroleiro. A mesma situatio poderia ensejar inmeros danos ambientais (interesses difusos, pois que indeterminados os sujeitos afetados); incidentes com a categoria dos trabalhadores envolvidos (interesses coletivos em sentido estrito, uma vez que pertencentes a um grupo determinado de indivduos); e mortes de parte da tripulao (interesses individuais homogneos, pois que divisveis e emergentes de uma situao ftica comum).

Destarte, a plena compreenso dos conceitos imprescinde da anlise casustica das pretenses deduzidas em juzo. Segundo FREDIE DIDIER, trata-se de caracterstica hbrida ou interativa do direito material e direito processual intrnseca aos direitos coletivos, um direito a meio caminho[footnoteRef:16]. [16: DIDIER JR., Fredie et alli. Curso de Direito Processual Civil. v. 4. Salvador: JUSPODIVM, 2013. p. 90.]

CAPTULO III A AO CIVIL PBLICA N 0403263-60.1993.8.26.0053 E O TTULO EXECUTIVO JUDICIAL

CAPTULO IV A LEGITIMIDADE PARA O CUMPRIMENTO INDIVIDUAL DE SENTENA

Uma das questes mais controversas relativa fase de cumprimento de sentena da Ao Civil Pblica n 0403263-60.1993.8.26.0053 recai sobre a legitimidade para impulsionar a fase executiva.

A controvrsia tem sua origem na aparente antinomia normativa entre a Constituio Federal e o Cdigo de Defesa do Consumidor. Enquanto a Lei Maior dispe, no Ttulo correspondente aos direitos e garantias fundamentais, que as entidades associativas so legtimas a representar seus associados, desde que expressamente autorizadas[footnoteRef:17]; a Lei 8078/70 prev que as associaes constitudas h mais de ano que tenham por fim a defesa dos interesses dos consumidores so legtimas para a propositura de aes coletivas, dispensada a autorizao assemblear[footnoteRef:18]. [17: CF, Art. 5, XXI As entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.] [18: CDC, Art. 82. Para os fins do art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente: (...) IV as associaes legalmente constitudas h pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este cdigo, dispensada a autorizao assemblear. ]

Discute-se nos Tribunais, portanto, a legitimidade do sujeito no associado ao IDEC, pessoa jurdica autora da ao de conhecimento, para fins de figurar como exequente na fase de cumprimento de sentena. O Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios (TJDFT), ao enfrentar a questo, reconheceu a legitimidade dos no associados em virtude da eficcia erga omnes da coisa julgada proveniente da Ao Civil Pblica:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENA. AO CIVIL PBLICA. IDEC. LEGITIMIDADE ATIVA. POUPADOR NO ASSOCIADO. DESNECESSIDADE DE SUSPENSO. JULGAMENTO DO RESP 1391198. AJUIZAMENTO. DOMICLIO DO EXEQUENTE OU DISTRITO FEDERAL. IMPUGNAO ACOLHIDA. IMPOSSIBILIDADE. INCLUSO DE INDCES POSTERIORES. RESPEITO COISA JULGADA (TJ-DF - AGI: 20140020256597 DF 0026120-26.2014.8.07.0000, Relator: JOO EGMONT, Data de Julgamento: 26/11/2014, 2 Turma Cvel, DJE : 02/12/2014)

Trata-se do entendimento majoritrio aplicado pelo Tribunal de Justia de So Paulo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENA. AO CIVIL PBLICA. EXPURGOS INFLACIONRIOS. LEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA. FILIAO AO IDEC. Desnecessidade de comprovao do vnculo associativo com a entidade, que props a ao civil pblica, pela agravada, para se beneficiar dos efeitos da sentena. DIFERENA DE NDICES. O clculo do poupador adotou a diferena de 20,36%, estipulando exatamente aquilo que o agravante aduziu nas razes recursais. JUROS REMUNERATRIOS. Incidncia de juros remuneratrios mensais. Possibilidade. Espcie de juros que integram a obrigao principal do contrato de depsito (poupana), acarretando a incidncia ms a ms sobre a diferena entre os ndices de atualizao devidos e aplicados. CORREO MONETRIA. Atualizao que deve ser feita pela Tabela Prtica deste Egrgio Tribunal de Justia e no pelos ndices de poupana. JUROS DE MORA. Incidncia inicial a partir da citao na fase de liquidao de sentena e no da ao civil pblica. Precedente do Superior Tribunal de Justia. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-SP - AI: 20987623220148260000 SP 2098762-32.2014.8.26.0000, Relator: Rosangela Telles, 17 Cmara de Direito Privado, DJ 23/09/2014) [g.n.]

Corroborando esta jurisprudncia, preleciona Fredie Didier que a coisa julgada proveniente de um processo conduzido por um sindicato ou associao no beneficia apenas os indivduos sindicalizados ou associados. Todo aquele que pertencer ao grupo poder valer-se da coisa julgada coletiva para obter a proteo em sua esfera jurdica individual. (...) Quer sejam eles associados ou no na poca dos fatos, quer sejam eles residentes ou no na mesma localizao geogrfica, quer sejam ele associados ou no da prpria associao, nos processos coletivos o acesso a justia amplo, nos termos da Constituio, para alcanar toda situao jurdica coletiva lato sensu (difusa, coletiva stricto sensu ou individuais homogneos) e a todos dever beneficiar a coisa julgada favorvel, sem exceo, em razo da indivisibilidade do direito coletivo[footnoteRef:19]. [19: DIDIER JR., Fredie et alli. Curso de Direito Processual Civil. v. 4. Salvador: JUSPODIVM, 2013. p. 393]

Malgrado, o Pretrio Excelso, ao se manifestar sobre a temtica, reconheceu que, em virtude do art. 5, XXI da Constituio Federal, os efeitos da coisa julgada em ao proposta por ente associativo somente se espraiam a seus associados, sendo imprescindvel autorizao especfica destes para tanto. o que se extrai do julgamento do RE 573.232/SC da relatoria do Ministro Ricardo Lewandoski, cuja ementa se colaciona:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUO DE SENTENA EM AOORDINRIA DE CARTER COLETIVO PROPOSTA PORASSOCIAO CIVIL. EXTENSO SUBJETIVA DA COISA JULGADA. 1. Na hiptese, no se trata de mandado de segurana coletivo (CF, art.5,LXX, alneab), tampouco de ao civil pblica (ante a vedao expressa veiculao de pretenso envolvendo tributos, segundo opargrafo nicodo art.1da Lei n7.347/85). Trata-se, isso sim, de ao ordinria coletiva, proposta por entidade associativa, e por isso inaplicvel a disposio do art.8,III, daCF, que se dirige a organizaes sindicais (STF, AgRg em RE n 225.965-3/DF, Relator Min. Carlos Velloso, DJ 05.03.1999). Em verdade, a associao autora encontra-se legitimada presente demanda por fora do incisoXXI do artigo5daConstituio Federal. 2. Em se tratando de ao coletiva ordinria proposta por entidade associativa de carter civil, os efeitos da coisa julgada em relao aos substitudos so regulados pelo artigo2- A da Lei n9.494/97, que dispe que os efeitos da coisa julgada abrangem unicamente os substitudos que, na data da propositura da ao, tivessem domiclio no mbito da competncia territorial do rgo prolator. De todo necessrio, portanto, instruir-se a inicial da execuo de sentena com a documentao comprobatria de filiao do associado at a data da propositura da ao. 3. Agravo de instrumento improvido. (STF. RE 573.232/SC. Rel. Min RICARDO LEWANDOSKI. Plenrio. DJ 14/05/2014).

Este julgado rapidamente fora observado por juzos de primeira instncia, levando extino de diversos processos por carncia de ao (art. 267, VI, CPC). Nesta esteira, traz-se baila excerto de sentena prolatada na 6 Vara da Fazenda Pblica de So Paulo, foro originrio da Ao Civil Pblica:

Requer o Banco do Brasil a extino do processo porque, em Acrdo datado de 14.05.2014, do Egrgio Supremo Tribunal Federal, emanado no julgamento do RE n 573232, ficou assente que em aes propostas por entidades associativas, apenas os associados que filiados s respectivas entidades podero executar o ttulo judicial. Alm disso, os filiados devem autorizar expressamente a representao pela entidade associativa. Ao dar provimento ao Recurso Extraordinrio (RE) 573232, o Plenrio reafirmou a jurisprudncia da Corte no sentido de que no basta permisso estatutria genrica, sendo indispensvel que a filiao e autorizao do filiado seja dada por ato individual ou em assemblia geral. Acolho o pedido do Banco do Brasil, uma vez que se a aplica a estes autos a mencionada repercusso geral, e julgo extinto o processo, sem apreciao do mrito, com fundamento no artigo267, inciso VI doCPC. Custas e honorrios pelo exequente, que fixo por equidade em R$ 100,00, isento, entretanto, se beneficirio de justia gratuita[footnoteRef:20]. [20: 6 Vara da Fazenda Pblica da Comarca de So Paulo. Juza Alexandra Fuchs. Autos n 1014528-09.2013.8.26.0053;]

Neste sentido, manifesta-se Humberto Theodoro Jnior: a funo da associao civil privada e no vai alm do interesse dos associados. No se pode, portanto, pretender sua atuao como rgo de defesa e representao de toda a coletividade[footnoteRef:21]. [21: THEODORO JR. Humberto. Direitos do Consumidor. Rio de Janeiro: FORENSE, 2002. p. 122.]

Percebe-se, desta feita, manifesta disparidade de entendimento nos Tribunais sobre o alcance subjetivo da coisa julgada em aes coletivas que tratem de direitos individuais homogneos, o que vem a demonstrar que os institutos correlatos ao processo coletivo esto em fase de consolidao e aperfeioamento tanto na doutrina, como na jurisprudncia. Diante da grande divergncia jurisprudencial sobre a temtica, h de se reconhecer a necessidade de manifestao do Supremo Tribunal Federal sobre o tema in concreto, sob pena de prevalecimento da insegurana jurdica, o que de todo indesejvel.

CAPTULO V A COMPETNCIA TERRITORIAL E A ABRANGNCIA DA COISA JULGADA MATERIAL FRENTE AO ART. 2-A DA LEI N. 9.494/97

Iniciadas as execues individuais, por vezes fora trazida baila a questo da competncia territorial para o cumprimento da sentena prolatada em ao coletiva envolvendo direitos individuais homogneos.

Como se sabe, a ao civil pblica que veio a gerar a ttulo executivo judicial exequendo fora proposta frente a 6 Vara da Fazenda Pblica de So Paulo. Aps o trnsito em julgado da sentena em 08 de junho de 2011, diante do no conhecimento de Agravo de Instrumento interposto pelo IDEC junto ao Supremo Tribunal Federal, diversos poupadores passaram a promover individualmente a fase de cumprimento de sentena em seus domiclios, que muitas vezes no se confundia com a comarca da Capital paulista, amparados pela proteo conferida pela lei consumerista[footnoteRef:22]. [22: A Lei 8.078/90, buscando efetivar a defesa do consumidor em juzo, assim dispe: Art. 101.Na ao de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e servios, sem prejuzo do disposto nos Captulos I e II deste ttulo, sero observadas as seguintes normas: I- a ao pode ser proposta no domiclio do autor; [g.n.]]

Vrios juzes singulares, entretanto, reconheceram a incompetncia territorial e determinaram a remessa dos autos 6 Vara da Fazenda Pblica em hermenutica literal do art. 2-A da Lei n 9.494/97, verbis:

Art.2o-A.A sentena civil prolatada em ao de carter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abranger apenas os substitudos que tenham, na data da propositura da ao, domiclio no mbito da competncia territorial do rgo prolator.

De se notar que, por se tratar de sria limitao aos efeitos do prprio instituto jurdico da ao coletiva, a doutrina h muito obtempera a aplicao do dispositivo retromencionado. Aduz Hugo Nigro Mazzilli que a interpretao literal da norma corresponderia a negar o acesso coletivo jurisdio, violando-se, pois, a garantia constitucional que visa a assegurar tanto a efetividade do acesso individual como coletivo Justia. O que se deve entender que, se o dano tiver carter nacional ou regional, a ao coletiva poder ser proposta na Capital do Estado ou do Distrito Federal, e o juiz ter competncia para decidir a lide para todos, residentes ou no na respectiva Capital[footnoteRef:23]. [23: MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juzo. 25 ed. So Paulo: SARAIVA, 2012. P]

O entendimento doutrinrio, por sua vez, fora adotado pela jurisprudncia quase que em unanimidade, reconhecendo-se o domiclio do consumidor como comarca competente para a execuo individual da sentena coletiva, tendo por conseqncia a mitigao da perpetuatio jurisdictionis.

Neste sentido, passa-se a colacionar alguns julgados:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGCIOS JURDICOS BANCRIOS. AO ORDINRIA DE COBRANA DE EXPURGOS INFLACIONRIOS EM CADERNETA DE POUPANA. COMPETNCIA TERRITORIAL. O consumidor pode optar entre o foro de seu domiclio ou pelas regras gerais de competncia. Hiptese em que inexiste regra de competncia vlida a amparar a competncia territorial do juzo eleito pelos autores. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento N 70057414450, Vigsima Quarta Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 05/12/2013) (TJ-RS - AI: 70057414450 RS , Relator: Ricardo Torres Hermann, Data de Julgamento: 05/12/2013, Vigsima Quarta Cmara Cvel, Data de Publicao: Dirio da Justia do dia 10/12/2013)

CUMPRIMENTO DE SENTENA. AO CIVIL PBLICA PROMOVIDA PELO IDEC. EXPURGOS INFLACIONRIOS. EFEITOS DA SENTENA EXEQUENDA. Eficcia do r. decisum que no se restringe rea da Comarca ou do Estado em que foi proferido. Competncia do juzo a quo por se tratar do Foro de domiclio do exequente (consumidor). Matria decidida pelo STJ nos termos do art. 543-C do CPC. (TJ-SP. APELAO N: 4008985-46.2013.8.26.0000. Rel. ROSANGELA TELLES. 17 Cmara de Direito Privado. DJ 08/08/2015).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO DE COBRANA. EXPURGOS INFLACIONRIOS. COMPETNCIA TERRITORIAL DE NATUREZA RELATIVA. DECLINAO DE OFCIO. IMPOSSIBILIDADE. AO PROPOSTA NO FORO DO DOMICLIO DOS CONSUMIDORES. NECESSIDADE DE ARGUIO DA INCOMPETNCIA PELA PARTE CONTRRIA. INTELIGNCIA DA SMULA 33 DO STJ. SUSPENSO DO PROCESSO AT JULGAMENTO DEFINITIVO PELO STF DA REPERCUSSO GERAL INSTAURADA SOBRE OS EXPURGOS INFLACIONRIOS. SUSPENSO INOPORTUNA. SOBRESTAMENTO QUE ATINGE AES DE COBRANA EM GRAU DE RECURSO. DECISO REFORMADA. AGRAVO PROVIDO. (TJ-PR - AI: 7742878 PR 0774287-8, Relator: Marco Antonio Antoniassi, Data de Julgamento: 15/06/2011, 14 Cmara Cvel, Data de Publicao: DJ: 666)

CAPTULO VI A (DES)NECESSIDADE DA LIQUIDAO DA SENTENA

A liquidao de sentena uma forma de integrao do ttulo executivo judicial. Enquanto este traz em seu bojo o an debeatur (existncia do dbito), a liquidao se presta apurao do quantum debeatur (quanto devido).

Os processualistas contemporneos apontam a existncia de duas principais formas de liquidao:

A) Liquidao por artigos: trata-se de mtodo de fixao do quantum debeatur apto a ser utilizado quando da necessidade de demonstrao de fatos novos[footnoteRef:24]. Por determinao legal, observar-se- o procedimento comum ordinrio ou sumrio para que se atinja a liquidez do ttulo executivo (art. 475-F, CPC); [24: Fatos novos devero ser entendidos como aqueles que deixaram de ser alegados na fase de conhecimento, ou efetivamente o foram, mas que restaram passveis de anlise em momento oportuno, qual seja, a fase de liquidao.]

B) Liquidao por arbitramento: trata-se de liquidao que se d por meio de percia para a estimao pecuniria de coisas ou direitos, sendo realizada por tcnicos ou especialistas. Adotar-se- tal modalidade em virtude da natureza do objeto litigioso; da conveno das partes; ou de determinao judicial em sentena.

De se notar que, nas hipteses em que o quantum debeatur puder ser aferido por meio de simples clculos aritmticos, como o quanto aos expurgos inflacionrios, caber ao exequente elaborar memria atualizada de seu crdito, no existindo mais a antiga liquidao por clculos. Como ressalta Marcus Vinicius Rios Gonalves, com a Lei n. 8.794/94, alterou-se a sistemtica: deixou de existir a liquidao por clculo do contador. Quando se verificar que o quantum depende de simples clculo aritmtico, no haver mais fase de liquidao, devendo o credor dar incio execuo, na forma do art. 475-J, instruindo o pedido com memria discriminada e atualizada do clculo[footnoteRef:25]. [25: GONALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de Direito Processual Civil. v.3. So Paulo: SARAIVA, 2014. p. 112]

Consigne-se, por oportuno, certa peculiaridade no que tange s sentenas genricas em aes civis pblicas para a tutela de direitos individuais homogneos. Incide sobre tal procedimento a denominada liquidao imprpria, uma vez que no visa propriamente fixao do quantum debeatur, mas sim comprovao de pertinncia subjetiva do exequente com a situao abstratamente definida na sentena genrica prolatada na fase de conhecimento. Ensina Cndido Rangel Dinamarco que o objetivo deste rito inclui a pretenso do demandante ao reconhecimento, em um primeiro momento, de sua prpria condio de lesado, ou seja, pretenso declarao de existncia do dano individual alegado[footnoteRef:26]. [26: DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de Direito Processual Civil. v.4. So Paulo: Malheiros, 2009. p. 734]

No que se refere fase executiva da Ao Civil Pblica n. 0403263-60.1993.8.26.0053, os juzos de primeira instncia divergem sobre a imprescindibilidade de liquidao de sentena no caso concreto. O Tribunal de Justia de So Paulo, harmonizando o entendimento sobre a matria, compreende a desnecessidade de liquidao, uma vez caber aos poupadores, por mero clculo aritmtico, individualizar o valor da indenizao a ser recebida. Assim fez constar o Desembargador Paulo Pastore em voto de sua lavra:

Com efeito, conquanto seja ilquida a sentena proferida na ao civil coletiva, no h regramento legal que imponha exclusivamente a liquidao por artigos no tocante, vislumbrando-se a liquidao por simples clculos (TJSP. Agravo de Instrumento n. 0217683-86.2011.8.26.0000. 17 Cmara de Direito Privado. Rel. PAULO PASTORE. DJ 14/03/2012)

Trata-se de posicionamento adequado e que visa a impulsionar com maior celeridade a marcha processual, ainda mais levando-se em conta que a 6 Vara da Fazenda Pblica, quando da remessa dos autos origem, despachou indicando os critrios a serem tomados pelos poupadores para a atualizao de seus crditos[footnoteRef:27]. [27: A Juza de Direito Alexandra Fuchs, a fls. 1351 nos Autos de n. 0403263-60.1993.8.26.0053, assim disps: Cada habilitante dever comprovar ser Cliente da Nossa Caixa, em janeiro de 1989, e com caderneta de poupana com aniversrio entre os dias 1 e 15 de janeiro de 1989, apresentar demonstrativo de dbito, com o ndice de correo para janeiro de 1989 de 42,71%, acrescidos de juros de 0,5% at a citao e de 1% desde a citao at a data do clculo, e verba honorria de 10% do valor da condenao.]

Dadas as peculiaridades da demanda e a facilidade de comprovao da pertinncia subjetiva dos poupadores com o disposto na sentena genrica, de se perceber que a Corte Bandeirante no fez exigncia de uma fase autnoma de liquidao imprpria. Ao revs, para garantir maior efetividade do provimento jurisdicional, exigiu simplesmente que os exequentes acostassem s suas peas exordiais comprovao suficiente, por meio de extratos bancrios, da qualidade de poupadores em janeiro de 1989 e dos valores depositados nas cadernetas, calculando-se a diferena entre a real inflao poca (42,71%) e a correo monetria efetivamente aplicada. o que se extrai de excerto do voto do Desembargador Nelson Calandra, verbis:

Por fim, caber ao poupador trazer com seu pedido de habilitao para o cumprimento de sentena os extratos bancrios do perodo do Plano Vero, bem como, em conseqncia, o respectivo clculo da condenao. Caso o exequente no obtenha os referidos extratos na via administrativa, cumprir ao executado sua pronta exibio, haja vista que lhe recai o dever de guarda sobre tais documentos (TJSP. Agravo de Instrumento n. 2112714714-78.2014.8.26.0000. 17 Cmara de Direito Privado. Rel. HENRIQUE NELSON CALANDRA. DJ 29/01/2015)

CAPTULO VII A PRESCRIO INCIDENTE SOBRE AS PRETENSES INDIVIDUAIS

Matria de grande interesse a correlata aos efeitos da ao coletiva sobre aes individuais. No que tange prescrio, na esteira de compreenso do processo coletivo como instrumento de tutela do interessa social, h de se ter que os efeitos interruptivos da prescrio operados pela citao (art. 219, 1, CPC) espraiam-se s pretenses individuais.

Assim o porque, ex vi legis, com escopo de dar efetividade ao instituto, a coisa julgada que se forma na ao coletiva pode ser transportada in utilibus ao plano individual, sendo prudente, portanto, o reconhecimento de prazos prescricionais equnimes para a melhor proteo do interesse pblico.

O Superior Tribunal de Justia, reconhecendo que as normas que regulam processo coletivo formam um microssistema passvel de compreenso harmnica, firmou entendimento no sentido de aplicao anloga do prazo prescricional da ao popular s aes coletivas para a tutela de direitos individuais homogneos. Trata-se, portanto, de prazo quinquenal[footnoteRef:28]. Confira-se o teor da ementa do REsp. n. 1.070.896/SC: [28: A doutrina faz contundente crtica a este posicionamento, uma vez que tal opo interpretativa desconsidera o fundamento jurdico material da prescrio, podendo, em muitos casos, prejudicar sobremaneira os substitudos processuais e concomitantemente esvaziar a finalidade do processo coletivo. Neste sentido, ver DIDIER JR., Fredie et alli. Curso de Direito Processual Civil. v. 4. Salvador: JUSPODIVM, 2013. p. 310.]

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AO CIVIL PBLICA DECORRENTE DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGNEOS. POUPANA. COBRANA DOS EXPURGOS INFLACIONRIOS. PLANOS BRESSER E VERO. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL. 1. A Ao Civil Pblica e a Ao Popular compem um microssistema de tutela dos direitos difusos, por isso que, no havendo previso de prazo prescricional para a propositura da Ao Civil Pblica, recomenda-se a aplicao, por analogia, do prazo quinquenal previsto no art. 21 da Lei n. 4.717/65.2. Embora o direito subjetivo objeto da presente ao civil pblica se identifique com aquele contido em inmeras aes individuais que discutem a cobrana de expurgos inflacionrios referentes aos Planos Bresser e Vero, so, na verdade, aes independentes, no implicando a extino da ao civil pblica, que busca a concretizao de um direto subjetivo coletivizado, a extino das demais pretenses individuais com origem comum, as quais no possuem os mesmos prazos de prescrio.3. Em outro ngulo, considerando-se que as pretenses coletivas sequer existiam poca dos fatos, pois em 1987 e 1989 no havia a possibilidade de ajuizamento da ao civil pblica decorrente de direitos individuais homogneos, tutela coletiva consagrada com o advento, em 1990, do CDC, incabvel atribuir s aes civis pblicas o prazo prescricional vintenrio previsto no art. 177 do CC/16.4. Ainda que o art. 7 do CDC preveja a abertura do microssistema para outras normas que dispem sobre a defesa dos direitos dos consumidores, a regra existente fora do sistema, que tem carter meramente geral e vai de encontro ao regido especificamente na legislao consumeirista, no afasta o prazo prescricional estabelecido no art. 27 do CDC.5. Recurso especial a que se nega provimento. (STJ - REsp: 1070896 SC 2008/0115825-6, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMO, Data de Julgamento: 14/04/2010, S2 - SEGUNDA SEO, Data de Publicao: DJe 04/08/2010)

Reconhecido o lustro prescricional, de se aplicar a mesma regra fase de cumprimento de sentena em observncia Smula n. 150 do Supremo Tribunal Federal, verbis:

SMULA N. 150 - PRESCREVE A EXECUO NO MESMO PRAZO DE PRESCRIO DA AO.

A Corte Bandeirante, ao analisar a matria, compreendeu que o prazo prescricional para impulsionar a execuo individual de 5 (cinco) anos a contar do trnsito em julgado, afastando, desta feita, a objeo de mrito arguida pelo Banco do Brasil S/A (incorporador da Nossa Caixa S/A) em sede de exceo de pr-executividade ou impugnao ao cumprimento de sentena. Neste sentido, ilustrando o exposto, voto da relatoria da Magistrada Rosangela Telles:

No presente caso, a liquidao de sentena foi proposta em 2013, contudo, a ao civil pblica foi regularmente ajuizada no ano de 1993, cuja sentena foi proferida em 18.11.1993, transitada em julgado em 08.06.2011, conforme consulta ao stio deste Egrgio Tribunal de Justia ao processo n 0403263-60.1993.8.26.0053, com disponibilizao de despacho informando a baixa da ao civil pblica dos Tribunais Superiores, bem como, a possvel interposio de liquidao do julgado aos interessados. A iterativa jurisprudncia firmou o entendimento de que o prazo quinquenal para a execuo individual em ao civil pblica, tanto que esse posicionamento culminou no julgamento proferido pela 2 Seo do STJ nos autos do Resp. 1.273.643/PR, julgado sob os efeitos do art. 543-C do CPC aos 27.02.2013, sob a relatoria do Min. Sidnei Benetti. (...) V-se, portanto, que a liquidao de sentena individual no superou o lustro prescricional. (TJSP. Agravo de Instrumento n. 2091650-12.2014.8.26.0000. Rel. ROSANGELA TELLES. 17 Cmara de Direito Privado. DJ 03/12/2014).

CAPTULO VIII OS JUROS DE MORA: TERMO A QUO

No que tange s questes meritrias da fase executiva da Ao Civil Pblica n. 0403263-60.1993.8.26.0053, a mais controversa certamente a que tangencia o termo inicial dos juros moratrios, tendo o Superior Tribunal de Justia pacificado a matria no julgamento do REsp 1.370.899/SP, submetido sistemtica dos recursos repetitivos (art. 543-C, CPC).

Os juros moratrios ho de ser entendidos como incidentes em caso de retardamento na sua restituio ou de descumprimento de obrigao. (...). So devidos em razo do inadimplemento e correm a partir da constituio em mora. (...) Mesmo que os juros moratrios no sejam convencionados, sempre sero devidos taxa legal. (...) Diferentemente do que ocorre com os compensatrios, so previstos como consequncia do inadimplemento ou inexecuo do contrato, ou de simples retardamento[footnoteRef:29]. [29: GONALVES. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: teoria geral das obrigaes. v.2. So Paulo: SARAIVA, 2012. p. 404/407.]

Tendo por fato gerador a constituio em mora[footnoteRef:30], o termo a quo desta obrigao acessria pode ser estabelecido de trs formas distintas, quais sejam: [30: Mora, ou inadimplemento relativo, trata-se do no cumprimento de uma obrigao no tempo, forma ou lugar pactuado. ]

A) RESPONSABILIDADE CONTRATUAL - DANOS MATERIAIS MORA EX RE: Haver constituio em mora ex re sempre que a obrigao violada tiver um termo certo para cumprimento. Assim sendo, se determinada prestao tiver que se cumprida em determinado dia, ultrapassado este limite cronolgico o devedor restar automaticamente constitudo em mora, razo pela qual, a partir do inadimplemento, sero devidos juros moratrios;B) RESPONSABILIDADE CONTRATUAL - DANOS MATERIAIS MORA EX PERSONA: Haver constituio de mora ex persona nas hipteses em que a obrigao tem termo final indeterminado. Em virtude da inexistncia de marco temporal apto aferio do dies ad quem para o cumprimento obrigacional, caber ao credor constituir o devedor em mora para que sejam devidos juros moratrios. Segue-se, ento, a regra do art. 219 do Cdigo de Processo Civil, segundo a qual a citao ato jurdico apto ao reconhecimento do inadimplemento relativo do solvens;C) RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL: As duas primeiras formas de aferio do incio do cmputo dos juros de mora aplicam-se exclusivamente responsabilidade civil advinda de contrato. Quando a responsabilidade civil for extracontratual (aquiliana), ou seja, advier de ato ilcito (art. 186, CC), os juros de mora sero devidos retroativamente data do evento danoso, nos termos da Smula 54 do STJ[footnoteRef:31], independentemente dos danos serem materiais ou morais. [31: SMULA 54 - OS JUROS MORATORIOS FLUEM A PARTIR DO EVENTO DANOSO, EM CASO DE RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL.]

Posto isso, de se notar que a responsabilidade civil decorrente da aplicao de ndices de correo monetria aqum da inflao vigente poca contratual, uma vez que traduz desrespeito s clusulas convencionalmente pactuadas. Os danos gerados, por sua vez, foram materiais, uma vez que atingiram o patrimnio economicamente afervel dos poupadores. Ainda, ressalte-se que a constituio em mora na hiptese somente pode ser ex persona, uma vez no haver, por bvio, qualquer prazo previsto para o ressarcimento das diferenas correspondentes atualizao monetria dos valores depositados, sendo imprescindvel, portanto, a constituio em mora da instituio financeira por parte dos poupadores.

Como sabido, um dos efeitos da citao, mesmo que ordenada por juiz incompetente, a constituio do devedor em mora[footnoteRef:32]. [32: CPC, Art. 219 A citao vlida torna prevento o juzo, induz litispendncia e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrio. [g.n]]

In casu, diante da imprescindibilidade de constituio em mora para o incio do cmputo dos juros moratrios, passou-se a discutir se esta se deu com a citao na fase de conhecimento ou com a citao[footnoteRef:33] (rectius: intimao) para pagamento na fase executiva individual. [33: A citao na fase de cumprimento de sentena, em verdade, tem natureza jurdica de intimao, dada a contempornea natureza sincrtica do processo civil. Embora os sujeitos processuais que integram a fase executiva sejam distintos daquele que assumiu o polo ativo da ao de conhecimento (substituio processual por legitimidade extraordinria), h de se ter que a fase de cognio e a fase de concretizao do que fora previsto no ttulo executivo judicial integram o mesmo processo. ]

Primeiramente, o Superior Tribunal de Justia, compreendendo que apenas na fase executiva individual era possvel a identificao do credor e dos valores a este devidos, firmou entendimento no sentido de que os juros moratrios s se faziam devidos a partir da fase de cumprimento de sentena. Era o entendimento adotado pela Min. Maria Isabel Galloti, verbis:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO NOS PRPRIOS AUTOS. EXPURGOS INFLACIONRIOS. AO CIVIL PBLICA. TERMO INICIAL DA INCIDNCIA DOS JUROS DE MORA. DEFINIO. 1. O termo inicial de incidncia dos juros de mora, em casos de liquidao ou cumprimento individual de sentena proferida em ao civil pblica, em que se discute sobre diferenas de correo monetria decorrentes de caderneta de poupana, conta-se a partir da citao do depositrio-devedor para a fase de liquidao do dbito declarado genericamente na ao coletiva. Somente nesse momento, o depositante-credor identificado e comprovada sua legitimao para a causa, como disciplinam os artigos 405 do Cdigo Civil, e 219 do Cdigo de Processo Civil. Precedente. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no AREsp: 260696 MT 2012/0247024-9, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de Julgamento: 06/08/2013, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicao: DJe 16/08/2013)

Tal compreenso reverberou na jurisprudncia dos Tribunais Estaduais.

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