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Meta Objetivos Ao nal desta aula, o aluno deverá estar apto para: compreender o caráter cientíco do estudo da linguagem; reconhecer o papel da pesquisa linguística para o ensino em Letras; • identicar as áreas e subáreas que compõem a pesquisa linguística, especialmente no Brasil; • reetir sobre a dimensão metodológica da pesquisa linguística. • Denir o estudo cientíco da linguagem. • Apresentar uma proposta de subdivisão das áreas e subáreas de pesquisa em lingüística, visando à sistematização metodológica. • Reetir sobre o papel da metodologia empregada pelo pesquisador na pesquisa em letras. Discutir aspectos referentes à metodologia da pesquisa em Letras aplicada ao ensino. 3 aula A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: METODOLOGIA E APLICAÇÕES LETRAS - PESQUISA APLICADA - MOD. 2 - VOL 1 - UNID 1 - AULA 3.indd 51 LETRAS - PESQUISA APLICADA - MOD. 2 - VOL 1 - UNID 1 - AULA 3.indd 51 10/6/2010 10:25:08 10/6/2010 10:25:08

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MetaObjetiv

os Ao fi nal desta aula, o aluno deverá estar apto para:

• compreender o caráter científi co do estudo da linguagem;

• reconhecer o papel da pesquisa linguística para o ensino em Letras;

• identifi car as áreas e subáreas que compõem a pesquisa linguística, especialmente no Brasil;

• refl etir sobre a dimensão metodológica da pesquisa linguística.

• Defi nir o estudo científi co da linguagem.• Apresentar uma proposta de subdivisão

das áreas e subáreas de pesquisa em lingüística, visando à sistematização metodológica.

• Refl etir sobre o papel da metodologia empregada pelo pesquisador na pesquisa em letras.

• Discutir aspectos referentes à metodologia da pesquisa em Letras aplicada ao ensino.

3 aula

A CIÊNCIA LINGUÍSTICA:METODOLOGIA E APLICAÇÕES

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AULA 3A CIÊNCIA LINGUÍSTICA:

METODOLOGIA E APLICAÇÕES

1 INTRODUÇÃO

Todo conhecimento em ciências sociais e humanas é uma forma de conhecer a nós mesmos e de criar

possibilidades para compreender a vida social e outras alternativas sociais.

Luiz Paulo da Moita Lopes

Discutimos, na aula 02, os aspectos fi losófi cos, éticos

e epistemológicos envolvidos no trabalho científi co, refl etindo

sobre a função social de uma pesquisa linguística. Naquela aula,

defi nimos os critérios mínimos para considerar uma pesquisa

como ética e socialmente necessária. Finalmente, à luz desses

critérios, refl etimos sobre a função e a abrangência de uma

pesquisa linguística.

Nesta aula, visando sistematizar a pesquisa em linguagem,

adotaremos uma subdivisão - dentre tantas conhecidas - das

pesquisas linguísticas em geral e da linguística aplicada, em

particular. Será feita, ainda, uma discussão a respeito dos

métodos de pesquisa utilizados nos estudos atuais em ciência

sociais e da linguagem, especialmente no Brasil.

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

54 Módulo 2 I Volume 1 EAD

A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

2 A LINGUAGEM SOB UM PRISMA CIENTÍFICO

Desde o início de sua

escolarização, certamente,

você sempre ouviu falar

que existe uma ciência

que estuda como o corpo

humano funciona. Aprendeu

que há ciências específi cas

que estudam, por exemplo,

como se desenvolvem as

funções cerebrais, como é

o caso da Neurologia.

E você, certamente,

nunca se surpreendeu

com a existência dessas

ciências. Sabe que, embora pensar seja algo que você faça com

tanta naturalidade, há muita coisa a ser estudada sobre como

ocorre o pensamento ou outras funções cerebrais. Da mesma

forma, embora perceba que andar é algo natural, reconhece

que exista muito a ser pesquisado sobre todos os músculos

envolvidos numa caminhada. Sabe que estes estudos não

apenas esclarecem sobre o simples ato de andar - trazendo

para o foco de atenção algo que fazemos sem a necessidade de

refl etir sobre ele - como podem contribuir para ajudar a ciência

médica, por exemplo, a levar sujeitos a andar, quando alguma

doença ou acidente os impede de fazê-lo.

Entretanto, é curioso observar como as pessoas se

surpreendem quando sabem que existe uma ciência que estuda

algo que também usamos com tanta naturalidade, a linguagem.

Qual será a razão deste estranhamento?

Acreditamos que parte desse estranhamento ocorra

porque as pessoas sentem difi culdade em ver a linguagem - um

conceito abstrato - como algo que possa ser estruturado de tal

forma que permita uma observação sistemática. Por outro lado,

e este é o motivo mais sério, as pessoas foram acostumadas,

a partir da mais tenra idade, a ver a linguagem (falada ou

escrita) pelo ponto de vista prescritivo, ou seja, aprendem,

desde muito cedo, que certas formas de uso são “certas” e

outras são “erradas”. Como, ao estudo científi co, não cabe

FIGURA 1UAB/UESC

Prescritivo: prescrever, em linguagem, é determinar qual a

maneira certa de falar e escrever, tal qual um

médico prescreve o remédio indicado para

uma doença. Como não se pode falar

em maneiras certas (“normais”) nem erradas

(“anormais”) de falar, uma atitude prescritiva é considerada uma postura

preconceituosa frente aos diferentes usos da

linguagem.

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juízo de valor, a ciência da linguagem pretende explicar os usos

linguísticos, abstendo-se dessas considerações valorativas.

Assim, torna-se difícil, para um leigo, entender o que faz essa

ciência, já que tudo que ele sabe sobre os usos linguísticos é

que existem formas certas e erradas de usar a língua, falando

ou escrevendo.

Se você é uma dessas pessoas que ainda se questionam

a esse respeito, irá surpreender-se ao ver que a ciência da

linguagem tem um universo de questões a serem estudadas,

algumas já bastante elucidadas, outras com um longo caminho

a ser investigado.

Para entender como a linguagem pode ser estudada sob

o ponto de vista científi co, é necessário primeiro compreender

o que se denomina como linguagem e qual o alcance do uso

deste termo.

Houve momentos na história das ciências em que a

linguagem era vista como uma unidade explicável por si

mesma, em termos formais. Hoje acreditamos que, se, para

haver linguagem, é necessário a existência de sujeitos em

interação - e, além disso, seu uso implica uma atividade

social - a linguagem só pode ser explicada considerando-se as

condições em que ela ocorre e as características dos sujeitos

envolvidos no seu uso. Visto sob essa perspectiva, embora a

“linguagem”, no sentido geral, seja algo abstrato, é possível

analisar a sua estrutura a partir de usos reais entre sujeitos

sociais, partindo-se da fala ou da escrita. Essas (a fala e a

escrita) são as substâncias sobre as quais um linguista se

debruça ao estudar a linguagem.

3 ADOTANDO UMA SUBDIVISÃO DAS CIÊNCIAS LINGUÍSTICAS

Há dois aspectos que fazem da delimitação do campo da

linguística e da subdivisão em áreas algo extremamente difícil:

a) o fato de, sendo essa uma ciência moderna, já ter nascido

em meio à necessidade de dialogar com outras ciências e

b) a característica multifacetada do seu objeto de estudo: a

linguagem.

Por conseguinte, propor uma subdivisão desta ciência

Interação: processo dialógico entre duas ou mais pessoas, grupos,

instituições entre outros. Convivência recíproca.

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

56 Módulo 2 I Volume 1 EAD

A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

pode parecer uma tarefa impossível

ou desnecessária; entretanto,

optaremos por fazê-lo, visando

tentar colocar alguma ordem ou

sistemática para melhor orientar

vocês, futuros pesquisadores,

quando às possíveis escolhas no

interior desta área científi ca.

Existem muitas divisões

diferentes para o campo de estudo

da Linguística. Mesmo Saussure (1969) questionava-se sobre

as vinculações dessa ciência e quais relações mantinham-se

entre ela e outras ciências humanas:

Os limites que a separam das outras ciências não aparecem sempre nitidamente. Por exemplo, a Linguística deve ser cuidadosamente distinguida da Etnografi a e da Pré-História, onde a língua não intervém senão a título de documento; distingue-se também da Antropologia, que estuda o homem somente do ponto de vista da espécie, enquanto a linguagem é um fato social. Dever-se-ia, então, incorporá-la à Sociologia? Que relações existem entre a Linguística e a Psicologia Social? (SAUSSURE, 1969, p. 14, grifo nosso).

Lyons (1981) é autor de uma das mais conhecidas

subdivisões da Linguística no Brasil. Ele, inicialmente, divide

a ciência em dois grandes campos: a linguística geral e a

descritiva. Caracteriza como geral o estudo da linguagem

em termos genéricos, fornecendo conceitos teóricos que irão

nortear o trabalho dos linguistas descritivos; e conceitua como

descritivo o estudo de uma língua específi ca, de um idioma,

como o português, por exemplo. Segundo o autor, os dois

campos estão interligados, visto que o estudioso de uma língua

específi ca necessita lançar mãos dos construtos fornecidos pela

linguística geral para refl etir sobre uma dada língua; enquanto o

linguista geral necessita das informações de estudos em línguas

específi cas para refutar ou confi rmar suas hipóteses gerais. O

autor fornece o seguinte exemplo, a título de ilustração:

O lingüista geral poderia formular a hipótese de que todas as línguas possuem nomes ou verbos. O

FIGURA 2UAB/UESC

PARA CONHECER

Saussure: Ferdinand de Saussure foi o primeiro estudioso a estabelecer as bases para o estudo da linguagem, através da defi nição de termos e delimitação do alcance dessa ciência. Por isso, muitos o consideraram o pai da linguística.

Etnografi a: um estudo etnográfi co

consiste na investigação de um fato por meio da

experiência direta, da participação,

da convivência do pesquisador com a

realidade onde o fato ocorre.

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lingüista descritivo poderia refutá-la com base em uma comprovação empírica de que houvesse pelo menos uma língua em cuja descrição tal distinção não se verifi casse (LYONS, 1981, p. 43).

A segunda divisão do autor é entre linguística diacrônica

e sincrônica. Tanto a linguística geral quanto a descritiva

podem ser estudadas nessas diferentes perspectivas: quando o

estudo visa enfocar as mudanças que ocorrem nas línguas, ou

em um dado idioma, ao longo dos tempos (como os processos

de composição de palavras, por exemplo) diz-se que se está

fazendo linguística diacrônica. Por outro lado, quando se estuda

um determinado fenômeno linguístico por si mesmo, visando

descrever e/ou explicar seu funcionamento, sem compromisso

com a evolução histórica, diz-se que se está fazendo linguística

sincrônica.

A terceira divisão estabelecida pelo autor é entre

linguística teórica e aplicada. Ele entende como teórica a ciência

linguística que estuda a “linguagem e as línguas com vistas a

construir uma teoria de sua estrutura e funções, independente

de quaisquer aplicações práticas” (LYONS, 1981, p. 45); e

como aplicada a ciência que estuda as aplicações dos conceitos

e achados da linguística teórica a uma fi nalidade prática, por

exemplo, o ensino de línguas.

Por fi m, o autor denomina microlinguística o estudo

da linguagem por si mesma, sem se considerar os demais

elementos que a compõem (por exemplo, os sujeitos que a

usam, a cultura em que está inserido esse sujeito entre outros).

Por macrolinguística denomina o estudo que é realizado

considerando-se os aspectos “extralinguísticos” envolvidos na

linguagem.

Borba (1979) apresenta uma classifi cação similar,

apresentando, ainda, as ciências com as quais a linguística

mantém inter-relações, por conta do intercruzamento dos seus

objetos de estudo: a) a Antropologia; b) a Sociologia; c) a

Psicologia; d) a Filosofi a; e) a Filologia.

Na atualidade, há um leque muito grande de ciências

com as quais a linguística dialoga. Além daquelas já citadas

por Borba, com as quais a linguística continua mantendo

relações fundamentais, tem havido uma tendência crescente

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

58 Módulo 2 I Volume 1 EAD

A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

de trabalhos em que a linguística dialoga com a Matemática,

Ciências da Computação, Teoria da Informação, Etnologia,

Neuropsicologia, entre tantas outras.

Como já afi rmamos antes, o objeto de estudo da ciência

da linguagem, seja a linguagem geral ou uma dada língua,

por seu caráter multifacetado, conduz o desenvolvimento das

pesquisas sempre na direção de enfoques interdisciplinares ou

transdisciplinares. Daí a maior difi culdade, especialmente na

atualidade, de determinação de uma ciência à qual se vincula

um estudo que envolva a linguagem como objeto. Afi nal, o que

“não” é linguagem?

Em virtude da escassez de publicações atualizadas sobre

uma provável subdivisão da linguística no Brasil, decidimos

consultar alguns programas de ensino de importantes

universidades brasileiras como base para nossa subdivisão.

Assim, a proposta que apresentaremos a seguir não deverá

ser rigorosamente interpretada, visto objetivar apenas uma

delimitação possível para as áreas de estudo da linguística.

Também vale salientar que não será possível explicar cada uma

delas, em virtude da vastidão com que se apresentam.

Em linhas gerais, as grandes áreas de estudo dividem-se

em:

a) Linguística histórica. Constitui-se como o estudo

diacrônico das línguas. No Brasil, a grande maioria dos

estudos históricos refere-se à língua portuguesa, embora

já existam trabalhos sobre outras línguas nativas, como

as indígenas;

b) Descrição e análise linguística, correspondente ao que

Lyons (1981) denomina estudo sincrônico. Caracterizado

por descrições e/ou explicações de aspectos das línguas

com base nos níveis de análise, desde o fonético até o

discursivo;

c) Linguística aplicada. Diz respeito a estudos que aplicam

as teorias linguísticas a alguma outra área ou setor do

conhecimento.

No interior da Linguística histórica, estudam-se os

aspectos históricos das línguas em todos os níveis linguísticos

formais, quais sejam: fonético, fonológico, morfológico,

sintático e semântico. Estuda-se ainda o contato entre línguas,

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os processos de gramaticalização, as línguas clássicas,

línguas neolatinas entre outros.

Às pesquisas da área de descrição e análise linguística

cabem estudar os fenômenos linguísticos concernentes aos

níveis de análise gramatical, quais sejam: fonética, fonologia,

morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. Também no

interior desta área, poderíamos inserir, grosso modo, os estudos

do campo da lexicologia, lexicografi a, terminologia,

análise de discurso, análise da conversação, aquisição

da linguagem e processamento da linguagem. Há ainda as

pesquisas cujo objeto exige uma relação estreita da Linguística

com outras ciências; esse é o caso da Dialetologia (relação

entre Linguística e Geografi a), da Sociolinguística (relação

entre Linguística e Sociologia), da Psicolinguística (Linguística

e Psicologia), da Neurolinguística (Linguística e Neurologia), da

Filosofi a da linguagem entre outros.

Por fi m, a Linguística aplicada compreende a área cujos

estudos visam à aplicação das teorias linguísticas a outros

setores, compreendendo os estudos de tradução, o ensino

de línguas estrangeiras (LE), o ensino da língua materna/

portuguesa (LM/LP) e as linguagens e tecnologias entre outras.

É necessário salientar que essa subdivisão não é

estanque, havendo situações várias em que um mesmo

estudo pode ser apontado como pertencente a muitas dentre

essas áreas e linhas descritas. Serve, entretanto, como norte

para compreendermos como se caracteriza hoje a linguística

brasileira.

Além disso, sabemos que essa classifi cação não inclui

as tendências atuais, que atendem às demandas da pós-

modernidade e que, por isso mesmo, não permitem a sua

inclusão dentro de nenhum desses paradigmas tradicionais.

Estamos nos referindo aos estudos de linguagem e identidade,

descrição e ensino de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais,

descrição e ensino do Braille, línguas indígenas, minorias

linguísticas entre tantos outros.

Gramaticalização: processos de mudanças de status ou de função de determinados itens

gramaticais

Lexicologia: estudo do acervo de palavras

(léxico) de um determinado idioma.

Lexicografi a: estudo das técnicas de elaboração dos

dicionários.

Terminologia: estudo do uso de termos com sentidos específi cos,

geralmente relacionados a uma determinada área

profi ssional.

Análise de discurso: estudo analítico dos

sentidos implícitos a um determinado discurso,

considerando as condições em que esse

discurso ocorre.

Análise da conversação:

semelhante à análise do discurso, só que

circunscrito ao discurso oral.

Aquisição da linguagem: estudo

do processo de aprendizagem de uma

língua pela criança.

Processamento da linguagem: estudo das atividades linguístico-cognitivas envolvidas no processamento da

linguagem.

Braille: sistema de leitura para defi cientes

visuais em que se utilizam sinais para

serem percebidos pelo tato.

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

60 Módulo 2 I Volume 1 EAD

A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

4 A PESQUISA LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO

Defi nir o que é a linguística aplicada

não é tarefa fácil para os dias de hoje.

Em primeiro lugar, porque o termo

ganhou acepções tão variadas,

especialmente no Brasil, que

talvez pudéssemos nos referir a

diferentes “linguísticas aplicadas”.

Segundo, porque alguns autores

têm colocado em dúvida a existência

real dessa disciplina (MOITA LOPES,

2006; RAJAGOPALAN, 2006).

Concordamos com os autores citados

quanto à necessidade de defi nição da Linguística

aplicada enquanto uma ciência autônoma que, embora

mantenha relações estreitas com a Linguística (assim como

mantém com outras ciências, como a Sociologia), não pode ser

vista como vinculada à linguística teórica, ou seja, como uma

ciência de menor alcance do que a Linguística teórica. Todavia,

não entraremos nessa discussão, em virtude de a mesma exigir

um fôlego maior do que o que é permitido a uma pequena

parte de uma aula.

Assim, no que tange ao primeiro aspecto antes

mencionado, há diferentes acepções para a Linguística aplicada.

Por vezes, o termo tem sido usado como sinônimo de Linguística

aplicada ao ensino da segunda língua/língua estrangeira (LE), a

ponto de não nos surpreendermos quando, ao participar de um

Seminário de Linguística Aplicada, assistimos exclusivamente

a estudos voltados para LE; o que leva os estudiosos de língua

materna/língua portuguesa (LM/LP) a se sentirem excluídos

da matéria. Outras vezes, o termo é usado como sinônimo de

Linguística aplicada ao ensino, fi cando, desta vez, de fora os

estudos que não abordam a questão do ensino, e que são,

contudo, aplicações da Linguística a outros setores, como é

o caso dos estudos de tradução, computação, tecnologias da

informação entre outras.

Para evitar essa confusão, e tentar por alguma ordem

ao menos neste espaço, permitimo-nos chamar de Linguística

FIGURA 3UAB/UESC

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aplicada ao ensino - pressupondo, com esta terminologia, a

existência de uma Linguística que também seja “aplicada”, mas

não “ao ensino” - a toda pesquisa que visa à investigação acerca

do ensino de línguas e cuja base teórica é a Linguística, mas

não apenas ela, como também outras ciências relacionadas

ao ensino (Sociologia, Psicologia, Antropologia entre outras).

Então, denominaremos Linguística aplicada ao ensino de LE os

estudos voltados para a segunda língua; enquanto a Linguística

aplicada ao ensino de LP abrange os estudos voltados para o

ensino da língua materna, a língua portuguesa.

Dito isso, passaremos, adiante, a apresentar os principais

métodos empregados pelas ciências sociais, entre elas a

Linguística, nas investigações científi cas.

5 OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS E OS MÉTODOS CIENTÍFICOS

Embora já tenhamos

advertido que uma abordagem

científi ca não se limita ao uso

de métodos sofi sticados de

observação da realidade, na

verdade, é no método, dizendo

melhor, na metodologia que reside a diferença

mais perceptível entre o conhecimento produzido

pelo senso comum e o conhecimento produzido

pela ciência.

Defi nimos metodologia como o conjunto

de princípios procedimentais que regem uma

pesquisa; tais princípios certamente envolvem

critérios fi losófi cos, epistemológicos, éticos e técnicos,

conforme já nos referimos na aula anterior.

Quanto ao conceito de método, adotaremos

a divisão proposta por Marconi e Lakatos (2009),

distinguindo os métodos de abordagem dos métodos

de procedimento.FIGURA 4

UAB/UESC

by Jamile Ocké

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

62 Módulo 2 I Volume 1 EAD

A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

5.1 Os métodos de abordagem

Os métodos de abordagem dizem respeito à orientação

que é escolhida pelo cientista na investigação de um fenômeno.

Assim, teríamos os métodos: a) indutivo; b) dedutivo; c)

hipotético-dedutivo e d) dialético.

Historicamente, o surgimento desses métodos de

abordagem deu-se sucessivamente, em virtude da mudança de

perspectivas do homem frente ao mundo. Entretanto, podemos

encontrar, nos dias atuais, pesquisas que se enquadram nessas

diferentes perspectivas (ou em mais de uma).

Diz-se que o cientista utiliza um método indutivo, diante

de um objeto de pesquisa, quando ele realiza um raciocínio

analítico, das partes para o todo. Assim, por exemplo, ao observar

um comportamento constante de vários elementos particulares,

o estudioso chega à conclusão de que tal comportamento é

igual para os elementos daquela espécie, atingindo o todo, o

geral. Trabalhos cuja abordagem básica segue este princípio

são denominados empiristas, uma vez que partem de dados

concretos, observáveis, visando à generalização.

O método dedutivo segue um movimento contrário ao

anterior: do todo para as partes. A partir de uma concepção

prévia genérica sobre um determinado fenômeno; verifi ca se

tal concepção se justifi ca em elementos particulares. Assim,

pretende-se não partir de dados concretos para chegar a uma

conclusão, mas, sim, partir de uma ideia geral e utilizar os dados

concretos para confi rmar ou não a ideia geral. Essa concepção

prévia é fruto da razão, do raciocínio lógico. Por isso, estudos

que utilizam primordialmente esse princípio são denominados

racionalistas.

O método hipotético-dedutivo segue basicamente o

mesmo princípio do dedutivo - do todo para as partes - com

a diferença principal de que este geralmente parte de um

problema identifi cado, elabora uma hipótese (geral) sobre

esse problema e submete essa hipótese à prova para que seja

corroborada ou não:

Se a hipótese não supera os testes, estará falseada, refutada, e exige nova reformulação do problema e da hipótese, que, se superar os testes rigorosos, estará corroborada, confi rmada provisoriamente (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 74).

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Quanto ao método dialético, embora haja muitos modelos

diferentes - dialética da sucessão, dialética da coexistência,

dialética histórica idealista, dialética materialista (MARCONI;

LAKATOS, 2009) - podemos dizer que a concepção comum a

todos é a de que um fenômeno não ocorre isoladamente e, desse

modo, não pode ser descrito e analisado em separado, sem se

considerar os demais aspectos que com ele se relacionam.

Marconi e Lakatos (2009, p. 85-86) explicam quatro leis

fundamentais que regem uma abordagem dialética:

a) “tudo se relaciona”. Segundo essa lei, as coisas

não ocorrem isoladamente, não há independência

absoluta, todo fenômeno participa de um todo

coerente;

b) “tudo se transforma”, ou seja, nada é estático, está

em constantes mudanças processuais; portanto, as

conclusões a que chegamos sobre um determinado

objeto de estudo são sempre provisórias, visto que o

próprio objeto não será o mesmo sempre;

c) a quantidade e a qualidade estão profundamente

relacionadas; em outras palavras, uma série de

mudanças quantitativas gera mudanças de estado,

ou seja, qualitativas. Assim, tomando o exemplo dos

estados da água, pode-se dizer que “entre 1º e 99º,

temos mudanças quantitativas. Acima ou abaixo

desse limite, a mudança é qualitativa” (MARCONI;

LAKATOS, 2009, p. 86), isto porque, acima, a água

transforma-se em vapor; abaixo, em gelo;

d) os contrários se interpenetram. Segundo essa lei,

os fenômenos são constituídos, internamente, de

contradições, e é a luta entre esses contrários que

gera a mudança do quantitativo para o qualitativo.

5.2 Os métodos de procedimento

Os métodos de procedimento, como o nome sugere,

correspondem ao uso concreto de um conjunto de técnicas

inerentes a certo modelo ou perspectiva de pesquisa. Segundo

Marconi e Lakatos (2009), os métodos de procedimento mais

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

64 Módulo 2 I Volume 1 EAD

A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

comuns às ciências sociais - entre elas, a ciência linguística -

são os seguintes: a) método histórico; b) método comparativo;

c) método estatístico; d) método tipológico; e) método

funcionalista; f) método estruturalista.

Poderíamos dizer que o método histórico foi o primeiro

método conhecido utilizado nos estudos linguísticos. Estudo da

origem das línguas e sua evolução; estabelecimento de troncos

linguísticos, mais especifi camente o estudo das mudanças

ocorridas na passagem do latim para o português; e, até

mesmo, a infl uência de línguas minoritárias sobre o português

ofi cial do Brasil, constituem exemplos de estudos que utilizam

o método histórico. Assim, defi ne-se como histórico o método

que consiste em investigar acontecimentos do passado e sua

interferência na sociedade atual.

O método comparativo consiste na comparação entre

grupos, povos, sociedades, ou seja, entre unidades de mesma

grandeza, visando estabelecer semelhanças e/ou diferenças

entre eles, tendo em vista o esclarecimento a respeito de um

dado aspecto da realidade. Por exemplo, através do método

comparativo entre línguas, observando-se, pelo uso de técnicas

rigorosas, as semelhanças e diferenças entre elas, foi que se

estabeleceram as famílias linguísticas. Neste caso, tanto se

realizou um estudo comparativo como histórico, daí denominar-

se método histórico-comparativo.

Por método monográfi co compreende-se o estudo que se

concentra num caso particular - um indivíduo, uma profi ssão,

uma instituição, um grupo entre outros - investigando, ao

máximo, as propriedades que o compõem e as relações entre

elas. Pesquisando um caso particular, o estudioso terá mais

condições de analisar o maior leque possível de fatores que

interferem naquele fenômeno; isso permite uma leitura mais

global, menos compartimentada. Entretanto, não interessa ao

pesquisador apenas aquele caso em particular, senão seria um

estudo óbvio, interessa que as conclusões alcançadas, a partir

da análise de um único elemento, possam ser generalizadas

ao maior número possível de elementos. Um exemplo claro

nas pesquisas linguísticas são os estudos de caso na área

de aquisição da linguagem: através do acompanhamento

detalhado do desenvolvimento da linguagem de uma criança

em particular - por exemplo, a aprendizagem de palavras com

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sílabas complexas -, procura-se chegar a regras gerais sobre o

processo de aquisição desse aspecto específi co da linguagem.

Quanto ao método estatístico, acreditamos que consista

num método acessório às pesquisas sociais, visto que simples

dados estatísticos, sem a devida interpretação, não constituem

pesquisa científi ca; entretanto, o método estatístico, fornecendo

informações quantitativas sobre um dado fenômeno, permite a

obtenção de generalizações sobre a natureza e o signifi cado

desse fenômeno (MARCONI; LAKATOS, 2009).

O método tipológico é pouco usado em ciências

sociais, especialmente na atualidade, já que seu uso implica

a comparação entre fenômenos sociais complexos, visando à

criação de um tipo ideal, que represente todos os fenômenos

investigados. Por exemplo, o levantamento das características

de uma diversidade de textos de um determinado gênero (que

poderia também incluir textos de diferentes períodos históricos,

implicando o uso do método histórico) pode levar o estudioso a

propor um tipo padrão, característico daquele gênero.

Denomina-se método funcionalista o método de

interpretação da realidade, que consiste em considerar as

funções desempenhadas pelas unidades que compõem um

fenômeno. Esse método:

[...] considera, de um lado, a sociedade como uma estrutura complexa de grupos ou indivíduos, reunidos numa trama de ações e reações sociais; de outro, como um sistema de instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação às outras. Qualquer que seja o enfoque, fi ca claro que o conceito de sociedade é visto como um todo em funcionamento, um sistema em operação (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 95).

Na Linguística, o método foi instituído pelo chamado

Círculo Linguístico de Praga, fundado em outubro de 1926.

Há quem afi rme que Saussure foi um típico funcionalista, pois

levava sempre em consideração as funções exercidas entre os

elementos menores para comporem uma unidade maior. Ele

mesmo denominava a língua como um sistema formado por

valores de relações.

Por fi m, o método estruturalista, muito conhecido no

interior das ciências linguísticas - pelo fato de Saussure ter

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

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A Ciência Linguística: metodologia e aplicações

AATIVIDADESTIVIDADES

procurado, ao estabelecer as bases da ciência linguística

sincrônica, a construção de um modelo abstrato e uno (embora

não ignorasse a existência da diversidade), que é o conceito

de língua - visa à construção de um modelo geral para explicar

os fenômenos concretos. O método estruturalista não analisa

“os elementos em si, mas as relações que entre eles ocorrem,

pois somente eles são constantes, ao passo que os elementos

podem variar” (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 96). Em virtude

de a nossa ciência ter se sistematizado justamente no auge

do estruturalismo histórico, percebe-se sempre resquícios de

estruturalismo no interior de qualquer pesquisa linguística. O

próprio conceito de língua que subjaz a maioria dos trabalhos é

um conceito estruturalista.

Você deverá fazer a leitura do artigo científi co abaixo:

SAMPAIO. N. F. S.; BERNARDO, K. F.; PAIXÃO, T. N. Interação e linguagem: notas sobre a fala de idosos em situações sociocomunicativas. ReVEL, vol. 7, n. 13, 2009. Disponível em: <http://www.revel.inf.br/site2007/_pdf/15/artigos/revel_13_interacao_e_linguagem.pdf>

Após a leitura, você deverá elaborar um comentário crítico original sobre esse artigo. Como sugestão, propomos que você tente responder os seguintes questionamentos:

a) qual a área do conhecimento na qual a pesquisa feita está inserida? b) qual (quais) o(s) método(s) utilizado(s) pelos pesquisadores neste estudo? c) qual o objetivo desta pesquisa? d) o objetivo foi atingido? e) que conhecimento novo esta pesquisa produz?f) a pesquisa pode ter alguma aplicabilidade? Qual? g) outros questionamentos que você julgar relevantes.

Seu texto deve ter entre uma a quatro páginas. Exercite sua capacidade de síntese.

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LEITURA RECOMENDADA

6 CONCLUSÃO

Como se pôde notar desde o início, visando fornecer um

suporte simplifi cado aos iniciantes em pesquisa, pretendemos

propor uma sistematização dos estudos afetos à área da

Linguística, especialmente no Brasil. Para tanto, abordamos os

métodos de pesquisa mais conhecidos e, dentre eles, aqueles

que são mais utilizados pelas pesquisas sociais e linguísticas.

Tentamos um esboço esquemático dos estudos

linguísticos tradicionalmente realizados no Brasil - utilizando,

para isso, informações a respeito dos programas de pesquisa e

pós-graduação das principais universidades públicas brasileiras

- objetivando fornecer uma orientação, aos estudantes, a

respeito das linhas e áreas de pesquisa em letras no nosso país.

Na próxima aula, começaremos a abordar o trabalho

acadêmico propriamente dito, discutindo os critérios para a

elaboração de trabalhos científi cos.

ANDRE, Marli. Pesquisa em educação: buscando rigor e qualidade. Cad. Pesqui. [online].

2001, n.113, pp. 51-64. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n113/a03n113.pdf.

Acesso em: jul. 2009.

FONSECA, Cláudia. Quando cada caso não é um caso: pesquisa etnográfi ca e educação.

Revista Brasileira de Educação, n. 10, p. 58-78, 1999. Disponível em: <http://www.

anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE10/RBDE10_06_CLAUDIA_FONSECA.pdf > Acesso em:

jul. 2009.

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Pesquisa Aplicada ao ensino de Letras

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A Ciência Linguística: metodologia e aplicaçõesR

EF

ER

ÊN

CIA

S7 REFERÊNCIAS

BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos

lingüísticos. 6. ed. S. Paulo: Editora Nacional, 1979.

LYONS, John. Linguagem e lingüística: uma introdução. Rio

de Janeiro: Guanabara, 1981.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria.

Metodologia Científi ca. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

MOITA LOPES, Luis Paulo da. Lingüística aplicada e vida

contemporânea: problematização dos construtos que têm

orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, Luis Paulo da (Org.).

Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São Paulo:

Parábola, 2006.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. Repensar o papel da lingüística

aplicada. In: MOITA LOPES, Luis Paulo da. Por uma lingüística

aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Lingüística Geral. Tradução

de Antonio Cheline, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São

Paulo: Cultrix, 1969.

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Suas anotações

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