laudo nº 36 vicentinÓpolis ministÉrio pÚblico … · o enfoque ecossistema baseia-se no...

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Ministério Público do Estado de Goiás Perícia Ambiental ____________________________________________________________________________________ Perícia Ambiental Rua 23 esquina com Avenida B, Qd 06, Lts. 15/24, sala 314, Jardim Goiás Edifício Sede do Ministério Público Goiânia – Goiás - CEP: 74.805-100 e-mail – [email protected] Telefone: 3243 8347 1 LAUDO 36 Município: VICENTINÓPOLIS Requerente: MINISTÉRIO PÚBLICO Requerido: CAÇÚ COMÉRCIO E INDÚSTRIA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL LTDA. Assunto: PARECER SOBRE A ANÁLISE DO EIA/RIMA E AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA A IMPLANTAÇÃO DE USINA DE ÁLCOOL Procedimento: 2007004200019714 1. INTRODUÇÃO No dia 21 de maio de 2007, por determinação da Dra. Miriam Belle Morais da Silva, Promotora de Justiça, Coordenadora do CAO do Meio Ambiente, via solicitação do Promotora de Justiça de Edéia, Dra. Renata Silva Ribeiro, realizamos a análise do EIA/RIMA e comparecemos ao município para participarmos da Audiência Pública da empresa supra-citada e concluímos com a emissão do presente documento. O município de Vicentinópolis tem uma população 6.008 habitantes, com uma área de 737,2 km², possui 9 vereadores e um total de receitas correntes de R$ 3.886.437.60 conforme dados 2000 da publicação RETRATO DOS MUNICÍPIOS GOIANOS, do Tribunal de Contas dos Municípios, de dezembro de 2001. 2. OBJETIVO A análise do estudo do EIA/RIMA teve como escopo principal verificar se o estudo foi abrangente o suficiente para mostrar as possíveis implicações da implantação da indústria Sucro-alcooleira e emitir um Parecer circunstanciado que visa respaldar as providências jurídicas cabíveis, visando a proteção do meio ambiente daquela região, de acordo com as diretrizes que orienta a Política Ambiental e legislação pertinente ao assunto em tela e sem perder de vista os interesses difusos e coletivos que permeiam a proteção/manutenção do equilíbrio ecológico.

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Perícia Ambiental

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Perícia Ambiental Rua 23 esquina com Avenida B, Qd 06, Lts. 15/24, sala 314, Jardim Goiás Edifício Sede do Ministério Público Goiânia – Goiás - CEP: 74.805-100

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LAUDO

Nº 36 Município: VICENTINÓPOLIS Requerente: MINISTÉRIO PÚBLICO Requerido: CAÇÚ COMÉRCIO E INDÚSTRIA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL

LTDA. Assunto: PARECER SOBRE A ANÁLISE DO EIA/RIMA E AUDIÊNCIA

PÚBLICA PARA A IMPLANTAÇÃO DE USINA DE ÁLCOOL Procedimento: 2007004200019714 1. INTRODUÇÃO

No dia 21 de maio de 2007, por determinação da Dra. Miriam Belle Morais da Silva, Promotora de Justiça, Coordenadora do CAO do Meio Ambiente, via solicitação do Promotora de Justiça de Edéia, Dra. Renata Silva Ribeiro, realizamos a análise do EIA/RIMA e comparecemos ao município para participarmos da Audiência Pública da empresa supra-citada e concluímos com a emissão do presente documento.

O município de Vicentinópolis tem uma população 6.008 habitantes, com uma área de 737,2 km², possui 9 vereadores e um total de receitas correntes de R$ 3.886.437.60 conforme dados 2000 da publicação RETRATO DOS MUNICÍPIOS GOIANOS, do Tribunal de Contas dos Municípios, de dezembro de 2001. 2. OBJETIVO

A análise do estudo do EIA/RIMA teve como escopo principal verificar se o estudo

foi abrangente o suficiente para mostrar as possíveis implicações da implantação da indústria Sucro-alcooleira e emitir um Parecer circunstanciado que visa respaldar as providências jurídicas cabíveis, visando a proteção do meio ambiente daquela região, de acordo com as diretrizes que orienta a Política Ambiental e legislação pertinente ao assunto em tela e sem perder de vista os interesses difusos e coletivos que permeiam a proteção/manutenção do equilíbrio ecológico.

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O Ministério Público entre outras incumbências, tem o Poder e o Dever de promover o inquérito civil público visando à proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, além de ser o guardião do cumprimento da lei e da justiça. Para cumprir sua missão o Laudo Pericial é o documento imprescindível que tendo elementos de convicção suficientes, irá instruir o Procedimento Administrativo - Termo de Ajustamento de Conduta - ou Judicial - Processo Civil e/ou Penal - com o objetivo de assegurar o meio ambiente equilibrado, a saúde e bem estar da comunidade. 3. CONSTATAÇÕES

CONSTAÇÕES FEITAS A PARTIR DO EIA/RIMA

a) Ausência de análise mais concreta, mais significativa sobre os impactos sócio- econômicos que o município sofrerá com a implantação da indústria sucro-alcooleiras (mão de obra oriunda de outras regiões, sobrecarga ao sistema de saúde, problemas de moradia, de segurança, de educação, aumento na demanda de homologação de rescisão de contratos de trabalho sobrecarregando o Ministério Público etc.) e as medidas mitigadoras e compensatórias(como p.e. investimentos na área social) que seriam aplicadas;

b) Não foi contratado nenhum profissional da área de saúde (médicos e enfermeiros) e nenhum químico, para que possa fazer a avaliação dos produtos químicos e produtos perigosos que serão usados na indústria; já que os produtos que estiverem armazenados de forma incorreta, poderão reagir entre si e causar prejuízos materiais, mortes ou seqüelas corporais, poluir o solo, às águas e o ar.

c) Assim com a falta de detalhamento, coerência, estudos sociais para os municípios, falta de dados; feita pela equipe Multidisciplinar, tendo em vista as adequações, o projeto tem que ser corrigido e contemplado com mais embasamento técnicos.

d) Não foram descritas todas conseqüências socio-ambientais com a queima da cana-de-açúcar como:

• Poluição atmosférica com o lançamentos de gases tóxicos primários: monóxidos de carbono, dióxido de carbono, metanos, hidrocarbonetos; gases tóxicos secundários: ozônio e partículas conhecidas por carvãozinho;

• Surgimento de doenças respiratórias;

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• Perda de nutrientes que são exportados para a atmosfera( nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes) obrigando no uso de adubação química;

• Impede a incorporação de matéria orgânica ao solo e isto inviabiliza a atividade biológica do solo;

• Elimina os inimigos naturais das pragas da cana, desequilibra as relações da comunidade biótica do solo com a planta afetando a sua vitalidade e conseqüentemente há a necessidade de maior uso de agrotóxicos;

• Diminuição das áreas com vegetação nativa perenes e menor estabilidade na evapotranspiração, menos umidade atmosférica e conseqüentemente alterações das condições climáticas dentro da área de influência;

e) O documento não descreveu como será permitido à fauna aquática (peixes e

outras espécies) se movimentarem subindo e descendo o rio barrado. Não descreveu as espécies que correm maior perigo de extinção com a modificação com a modificação do seu ecossistema aquático e quais as espécies que serão privilegiadas com o aumento de sua população e a conseqüência disto para as outras espécies e para o meio ambiente;

f) Deixou a desejar quanto ao uso e controle racional e sustentável do meio ambiente no que diz respeito ao uso das águas e do solo.

CONSTAÇÃO FEITA A PARTIR DA AUDIÊNCIA PÚBLICA

g) Foi possível constatar a partir da Audiência Pública que realmente os estudos

apresentados necessitam de um maior aprofundamento para cumprir com os objetivos almejados pela legislação ambiental.

4. DISCUSSÃO

Precisamos de nos lembrar que:

“Os avanços recentes na biologia molecular, que propiciaram oportunidades para a transferência de genes através das barreiras sexuais, contribuíram para aumentar o valor econômico da diversidade biológica. Há, então, uma preocupação global crescente com as ameaças à qualidade

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de vida apresentadas devido ao empobrecimento biológico gradual do nosso planeta. Como mostra esta publicação, até 60.000 espécies de plantas podem estar em perigo de extinção ou de grave erosão genética durante os próximos 30 a 40 anos . Infelizmente, esta extinção/erosão genética está ocorrendo numa época em que precisaremos, possivelmente, de pools de genes totalmente novos para enfrentar os desafios que surgirão das mudanças potenciais na precipitação, temperatura, nível do mar e incidência de radiação ultravioleta.” (...) “A Estratégia Mundial para a Conservação aponta as razões pelas quais estes objetivos devem ser atingidos em caráter de urgência e os obstáculos para a sua consecução.(...)Isto é urgente porque: Aproximadamente 60.000 espécies de plantas(dentre as 250.000 espécies existentes no mundo) podem estar correndo o risco de extinção ou séria erosão genética nos próximos 30 ou 40 anos, o que é causado na maior parte pela destruição de seus habitats, principalmente nos trópicos (...) Hoje, as pessoas dependem de apenas 20 espécies de plantas para obter mais de 85% de sua alimentação, plantas essas que estão sofrendo um declínio em sua diversidade genética Muitas outras plantas jamais foram examinadas em busca de produtos úteis para o homem, e o seu potencial como culturas comerciais não foi explorado. Milhares de espécies ainda não receberam um nome ou foram descritas cientificamente, e somos, portanto, ignorantes do valor que possam ter para a humanidade”1

A aplicação do enfoque ecossistema ajudará a atingir o equilíbrio dos três objetivos da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CBD). Estes objetivos são: – A conservação da diversidade biológica, – O uso sustentável dos seus componentes, e – A comparticipação justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização de recursos

genéticos.

O enfoque ecossistema baseia-se no reconhecimento de que a conservação de espécies e a diversidade de espécies não pode ser considerada sem levar em conta os processos, funções e interações essenciais entre organismos e o seu ambiente. Também reconhece que os seres humanos, com a sua diversidade cultural, são componentes integrais dos ecossistemas.

1 Estratégia dos Jardins Botânicos para a Conservação -MINISTÉRIO DO INTERIOR -INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO 1990.

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A política agrícola é um tema bastante envolvente e moderno, complexo e abrangente, portanto qualquer proposta necessita de ampla discussão, tendo em vista que, a sua implantação acarreta influências diretas e indiretas em diversos setores, na economia, nas condições sociais e no meio ambiente. Prever as conseqüências desta nova onda de investimento visando resolver um problema global de fonte renovável de energia é uma tarefa importante e extremamente necessária, mas devemos agir com zelo para resguardar nossos recursos naturais renováveis e não renováveis, monitorando-os constantemente visando o uso sustentável. Não podemos somente buscar alcançar as metas estabelecidas e o lucro a todo o custo, precisamos ter senso crítico de levar em consideração uma série de questões envolvidas para sabermos se vale a pena sofrer as conseqüências negativas. Faz-se necessário uma equipe multidisciplinar de verdadeiros estadistas para se elaborar uma política agrícola e prever as repercussões de sua implantação. O plano de Governo precisa estabelecer metas claras onde exista critérios, prioridades, metodologia e estratégias; ao mesmo tempo deve verificar as alternativas, a viabilidade e a exeqüibilidade; precisamos lidar com as questões ambientais de forma integrada e abrangente e quanto a equipe de governo dela espera-se capacidade, conhecimento, experiência e interesse. Só assim teremos um desenvolvimento sustentável e socialmente justo onde todas as possibilidades tenham sido pensadas. A política agrícola e a política ambiental devem agir de forma harmônica, inclusive exigindo que as empresas rurais estejam cumprindo Legislação Ambiental vigente para ter acesso aos financiamentos agrícolas, ou seja, tenham sua Reserva Legal averbada em cartório, que tenham a propriedade com suas Área de Preservação Permanente como manda a lei, que tenham solicitado ou obtido outorga para captação de água etc. É preciso também que a Legislação Trabalhista, a ética e o respeito com o trabalhador rural estejam presente para que todos saiam ganhando com o empreendimento.

Temos que considerar que o variado conjunto de habitats naturais do Cerrado, abriga uma das mais ricas vegetações da terra: em 1 hectare de cerrado podem ser encontradas até 400 espécies diferentes de plantas vasculares. Há pelo menos 11 biotas (soma de floras e faunas) coexistindo, seja misturando-se ou convivendo lado a lado sem se misturarem.

Abrigando cerca de um terço da biota brasileira, ou seja, 5% das espécies da terra,

os Cerrados são regiões de encontro dos grandes domínios regionais de circulação da fauna. São 1.575 espécies conhecidas de animais, muitas encontradas apenas nos Cerrados, representando o segundo maior conjunto animal do planeta, menor apenas que o da Savana Africana, refletindo a diversidade da vegetação.

As áreas que servirão para o plantio de cana de açúcar portanto fazem parte desse

bioma com grande diversidade biológica que com a sua vegetação original adaptada as

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nossas condições climáticas desempenha a importante função de reposição de águas subterrâneas, manutenção da biodiversidade, estabilização do micro-clima, que neste caso depende da água armazenada. Havendo alterações maiores do que as que já ocorreram poderemos ter sérias alterações no ciclo da água que não sendo reposta na mesma proporção e outro tipo de vegetação irá alterar o grau de evaporação local que influenciará na formação de nuvens e consequentemente no clima da região no que se refere a precipitação e ao índice de insolação.

QUANTO A PRESERVAÇÃO DO CERRADO

Segundo a professora Jeanine Felfili2, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa divulgada pela Embrapa Cerrados no dia 15 de fevereiro de 2007, quinta-feira, que conclui que 61% do cerrado conserva a vegetação original, apresenta “uma distorção bem grande”:

“Por essa pesquisa, o cerrado estaria ótimo. Mas só de andar nas estradas se percebe que não é isso”, disse a professora, em entrevista à Agência Brasil. Segundo ela, o problema da pesquisa é metodológico, porque a Embrapa Cerrados (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) classificou como remanescente tanto a vegetação intocada como a que foi perturbada, ou seja, uma área que foi desmatada, virou pasto ou foi abandonada e que tem alguma vegetação crescendo ou está em processo de recuperação. “Para mim, tem uma defasagem de 20%, que é justamente referente a essas áreas degradadas que não estão sendo cultivadas, que foram consideradas como remanescentes”. De acordo com Jeanine Felfili, pesquisas realizadas anteriormente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2000 e pela organização não-governamental (ONG) Conservação Ambiental em 2002, apontam que a vegetação remanescente original do cerrado não ultrapassa os 40% (na verdade, a da ONG registra 46%). “A pesquisa da Embrapa não bate com nenhuma outra pesquisa das outras organizações importantes, que foram divulgadas na época em que o cerrado foi enquadrado como um hot spot mundial”, disse.

2 Site: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/02/16/materia.2007-02-16.4742945337/view Acesso: 03/08/2007

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Hot spots são ecossistemas de alta biodiversidade que estão sob muita pressão de degradação, e que por isso têm prioridade de preservação. No Brasil, além do cerrado, a mata atlântica também é considerada um hot spot. Segundo a professora, caso o percentual apontado pela pesquisa da Embrapa esteja realmente correto, não haverá razão para a preservação da biodiversidade do cerrado continuar prioritária. Para Felfili, o cerrado não conseguirá resistir às pressões agrícolas sem a criação de unidades de conservação que funcionem de fato. Ela disse ainda ser necessário ampliar o tamanho das reservas desse bioma. “Enquanto as reservas na Amazônia são de 1 milhão de hectares, as do cerrado são todas pequenas, não passam da casa do milhar. Uma família de onças não consegue viver num parque nacional”, afirmou. A professora disse também que falta fiscalização e assistência técnica de órgãos como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para que as reservas legais cumpram sua função. “Estamos precisando fazer a transversalidade que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sempre prega. Ou seja, os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente se darem as mãos e fazerem um trabalho integrado”.

Não é razoável que a terra sem a sua vegetação original, degradada ou nua, em alguns lugares chegue a valer até três vezes mais que a terra com mata em pé. É preciso que se crie mecanismos coercitivos para isso não ocorra através de uma política de valorização da mata em pé.

IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO A vegetação tem grande importância para a dinâmica da água, conservação do solo,

manutenção da biodiversidade. Vale a pena ressaltar o papel importante que a vegetação desempenha no balanço hidrológico em qualquer ambiente onde ela esteja presente, logo a sua supressão acarreta mudanças profundas no balanço hidrológico. Para entender melhor vamos citar os principais elementos do ciclo hidrológico: precipitação, intercepção, infiltração, evaporação, transpiração, escoamento superficial, escoamento subterrâneo e armazenamento. O balanço hidrológico além de levar em conta os inputs e outputs do sistema considera também a água armazenada, a dinâmica de todo este processo está fortemente relacionado ao balanço de energia. Como conseqüência da supressão da vegetação temos: a diminuição do lençol freático; diminuição da água das nascentes; diminuição do incremento de água ao longo do seu leito; menos água disponível no período de estiagem para as plantas; eliminação dos espécies vegetais mais sensíveis ao déficit de água e para finalizar, sem contudo significar o esgotamento do tema, temos a diminuição da umidade relativa do ar e seus efeitos negativos para a saúde e a qualidade de vida humana. A água é um bem finito cuja preservação vem sendo implementada com inúmeras Leis e

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políticas, a conscientização da população para a preservação deste recurso, tanto em qualidade quanto em quantidade esta intimamente ligado a manutenção do equilíbrio ecológico, da manutenção das vegetações - em especial as nativas, da manutenção das Áreas de Preservação Permanentes, da exploração agropecuária sustentável, na aplicação de técnicas conservacionistas do solo etc.

A importância da manutenção da vegetação nativa em nossa região justifica-se pelo

ângulo de incidência da insolação, o tempo de exposição à radiação solar, isto é, o número de horas de brilho solar diário. Em virtude da posição geográfica da região o solo as gramíneas e as plantas de pequeno porte que possuem enraizamento mais superficial ressecam-se facilmente. Este fato aliado a má distribuição das precipitações atmosféricas expõe o solo a erosão pluvial.

Geralmente, em nossa região, os dias não são completamente limpos, pois existem

nuvens com diferentes concentrações de vapor, água e gelo, que causam alteração na radiação incidente sobre a superfície do solo. Depreende-se que as mudanças imprimidas nas vegetações nativas implicará na alteração da umidade do ar, a evapotranspiração das plantas, com repercussões diversas que torna-se difícil saber a intensidade de cada uma das possíveis alterações e seus desdobramentos. O Brasil também precisa, de forma urgente, tomar medidas preventivas contra a DESERTIFICAÇÃO e medidas corretivas nas regiões onde o processo de desertificação encontra-se em andamento. Sobre este assunto colocamos em anexo as legislações pertinentes e documentos internacionais sobre o tema. Quanto ao gerenciamento dos nossos Recursos Hídricos precisamos avançar muito, temos uma boa Legislação no entanto na prática não se faz quase nada. Para se ter uma idéia sobre este assunto colocamos em anexo um resumo do “PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS” sobre o qual gostaríamos que todos tomassem conhecimento para que se tenha ciência de que falta muito para cumprir tudo que consta de documento, e só resumimos um Capítulo sobre o tema.

MOTIVOS PARA PRESERVAÇÃO/CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Há muito o homem, por meio de suas atividades, vem destruindo a natureza antes

mesmo de conhece-la, inicialmente como coletores e caçadores e posteriormente com as atividades de agricultura, pecuária, construção de estradas, extração mineral, usinas hidrelétricas etc. e com passar do tempo com maquinários cada vez mais sofisticados e capazes de imprimir modificações maiores. Como conseqüência temos no mundo todo várias espécies de animais e vegetais que foram extintos, alguns antes mesmos de sequer

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terem sido identificados e outros tantos correm risco de extinção. A intenção do texto que citamos abaixo tem como escopo motivar a preservação/conservação considerando os interesses do ser humano por tudo aquilo que diz respeito a sua sobrevivência ou que possa vir a ser lucrativo (já vivemos em um mundo capitalista onde dinheiro costuma falar mais alto) se não nos bastarem o simples respeito ao direito de existência das diversas outras formas de vida que coabitam conosco o nosso ecossistema terrestre. É um alerta às autoridades, uma oportunidade de tomarmos consciência do que vem ocorrendo e nos reorientarmos nas tomadas de decisões em tudo aquilo que diz respeito as nossas atividades lesivas ao meio ambiente. Transcrevemos logo abaixo partes de um artigo intitulado: “A FRONTEIRA FINAL” de Thomas Lovejoy (ex- consultor do Banco Mundial, do Instituto Smithsoniam e atual presidente do Centro H. John Heinz III para Ciência, Economia e Meio Ambiente)3:

A FRONTEIRA FINAL “É surpreendente descobrir quão ínfima é a parcela do conhecimento científico sobre a vida na Terra. Os cientistas não sabem dizer de forma conclusiva quantas espécies, existem. O total pode ser de 10 milhões. Mas o número de espécies, em algumas avaliações, chegaria a 100 milhões. Desse total, só estão descritas e reconhecidas pela ciência entre 1,5 milhão e 1,8 milhão de espécies. Isso nos leva à espetacular conclusão de que mais de 95% de todos os seres vivos ainda estão por ser descobertos. Qualquer que seja a estimativa que aceitemos sobre o número total de espécies, fica evidente que o desconhecido é muito maior que o conhecido. Soa estranho, mas o processo de catalogação da vida na Terra tem sido até agora lento, árduo, com base não muito sólida.

(...) Uma iniciativa recente e ousada, o ALL Species Project ( Projeto TODAS as Espécies), foi realizada para resolver esse grave déficit de conhecimento. É um plano que pretende descrever todas as formas de vida no planeta nos próximos 25 ano. Primeiro, haverá um encontro de cientistas dos países com megadiversidade (o Brasil é o número 1 do mundo nesse aspecto) , depois uma conferência em Havard sobre o assunto. Será uma grande aventura científica e renderá dividendos mais imediatos do que levar o homem à Lua. Quando o projeto estiver concluído, entenderemos os delineamentos da vida na Terra e começaremos a perceber quanto ela é importante para o nosso dia-a-dia. Os grandes avanços da ciência e da tecnologia nos últimos tempos podem dar a impressão de que a natureza não é tão importante assim para a humanidade. Na verdade, descobres-se exatamente o contrário ao

3 Revista Veja edição especial – Editora ABRIL, Edição Especial n.º 22, ano 35-VEJA 1783/A – Dezembro de 2002, página 68.

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conhecer melhor o que a natureza faz e pode fazer pelos povos. Por exemplo, a enzima de uma bactéria numa fonte de água termal no parque nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, foi o que tornou possível o Projeto Genoma Humano, com todo o seu inestimável valor para a compreensão do bem-estar, da produtividade e da saúde humana. Um novo grupo de compostos provenientes de uma obscura reunião de organismos conhecida como slime molds, ou limo de mofo, é o primeiro a mostrar eficiência no controle de certos tipos de câncer resistentes ao taxol. Este último é uma molécula do teixo do Pacífico, árvore canadense considerada lixo pela indústria de madeira.

A biodiversidade não proporciona apenas bens valiosos como essas moléculas, mas também serve de biblioteca fundamental para as ciências naturais. A história da ciência é pontilhada de exemplos - como antibióticos e vacinas – de enormes avanços baseados em observações casuais de organismos até então pouco conhecidos, como o mofo penicillium, no primeiro caso, e vírus da varíola bovina, o vaccinia, no segundo. Os inibidores de ataques cardíacos usados por dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo para controlar a hipertensão nasceram do estudo de uma cobra venenosa na Instituto Butantan. A natureza contribui para o bem-estar humano por meio de vários tipos de serviços prestados pelos ecossistemas. A preservação de ecossistemas das bacias hídricas é um poderoso aliado na manutenção da qualidade da água. A administração da cidade de Nova York percebeu que recuperar o meio ambiente e a vida natural nas áreas de suas fontes custaria apenas 10% do valor necessário para construir estações de tratamento da água nas regiões degradadas. O ex-prefeito de Quito Roque Sevilla chama as florestas de “fábricas de água”. Os serviços prestados pelos ecossistemas incluem a prevenção de desastres. A China baniu a extração de madeira e iniciou um processo de reflorestamento apenas com o objetivo de conter as enchentes devastadoras. “Desastre natural” é muitas vezes o nome errado de acontecimento em parte ou de todo provocado pelo homem. Estima-se que os serviços prestados pelos ecossistemas tenham um valor econômico global de 33 milhões de dólares por ano – mais que o produto mundial econômico bruto. Não é à toa que levam o assunto a sério - embora ainda não o suficiente – os governos de vários países e agências internacionais como o Banco Mundial ( cujo vice-presidente para a América Latina e o Caribe me mandou uma carta, em 1985, agradecendo por tê-lo iniciado no assunto). A natureza está sob ataque. As florestas encolhem. A maioria das regiões pesqueiras está esgotada e super-explorada. Os Estados Unidos viram desaparecer a maior parte de suas pradarias, áreas convertidas em terras para a agricultura e que a cada ano sofrem perdas terríveis de camadas de solo. Os rejeitos agrícolas levados pelo rio Mississippi criaram uma enorme zona morta anóxica no Golfo do México.

(...) A melhor maneira da avaliar o grau de depredação do planeta é a taxa de extinção de espécies. A biodiversidade é a “soma final” do planeta; integra todas as formas pelas quais afetamos o meio ambiente. Extinção é um fenômeno natural, faz parte da evolução, no ritmo em que

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novas espécies expulsam outras mais antigas. A maioria dos cientistas acredita que elevamos esse ritmo a um ponto 1000 vezes mais alto que o normal. Outra medida é o número de espécies em extinção: aves (12%), mamíferos (18%), peixes (5%) e plantas de floração (8%). A conclusão é uma só: a natureza está com graves problemas. (grifo nosso)

(...)”

FAUNA E FLORA

O valor da vegetação nativa em relação a uma cultura sazonal é que primeira garante estabilidade ao ecossistema enquanto a outra causa instabilidade no tocante as condições de micro-clima (umidade atmosférica, temperatura etc.) acarretando problemas para a fauna no que diz respeito a abrigo, alimentação, esconderijo dos inimigos naturais, alimentação, reprodução. Além disto as grandes extensões de uma mesma cultura, em especial quando esta possuí a mesma carga genética propícia o desenvolvimento de pragas e doenças, enquanto que a utilização de diferentes cultivares aliado a presença de biomas nas proximidades das monoculturas e o uso de culturas consorciadas, ou no mínimo a rotação de cultura evita ou minimiza ao máximo a instalação de doenças e pragas nas lavouras. O resultado dessas práticas evita ou minimiza o uso de agrotóxicos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) o que resulta em menor custo para a lavoura, menos intoxicação para o trabalhador e menos poluição/contaminação do meio ambiente com conseqüências nefastas para a fauna.

A evapo-transpiração das plantas ganha importância de acordo com as extensões das culturas e massa foliar já que o vapor d’água lançado na atmosfera implica em conseqüências meteorológicas e climáticas - no caso das vegetações nativas arbustivas este processo garante mais estabilidade ao ecossistema - a saber:

a) O vapor d’água absorve muito facilmente as radiações térmicas; como

conseqüência o ar úmido se aquece mais que o ar seco sob ação direta dos raios solares;

b) O vapor d’água, ao formar-se ou ao condensar-se produz variações consideráveis na temperatura do ar. Assim, um quilograma (1kg) de vapor d’água, ao formar-se o ao condensar-se pode esfriar ou aquecer de 1º(um grau) 2.000m³ de ar;

c) A quantidade de vapor d’água existente na atmosfera regula a velocidade com que se evapora a água sobre a superfície terrestre e dos mares;

d) O vapor d’água, por sua condensação ou congelação, produz numerosos fenômenos meteorológicos, por exemplo: nuvens, chuvas, orvalho, granizo, neves etc.;

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e) Regula o teor de Umidade dos Solos; f) Influi na velocidade de transpiração das plantas; g) Favorece ou não o aparecimento de pragas ou doenças; h) A importância destas áreas é tal que não sendo preservadas afetará tanto

localmente quanto outras área circunjacentes; i) Algumas áreas de solo argiloso são importantes na regularização do

regime hídrico local por possuir uma drenagem lenta, sazonalmente, acumulam água superficialmente durante alguns meses do ano e ao saturar o lençol freático ocorre o afloramento.

Importância e papéis desempenhados pelas áreas com vegetação nativa:

a) As áreas vegetadas são regularizadoras das calhas dos cursos d’água da região, contribuindo para mantê-los estabilizados e perenizados;

b) A destruição dessas áreas e o uso dos mananciais sem critérios comprometerá o abastecimento das populações e dos animais que fazem uso desses cursos d’água;

c) Não podemos prescindir de espécie dessas áreas que se quer ainda desvendamos sua ecologia e função dentro do ecossistema;

d) A vegetação nativa propícia o controle das enchentes, pois contribui significativamente para o armazenamento da água no sub-solo, e evita que ela escorra rapidamente;

e) Evita a perda de solo; f) Evita o assoreamento dos mananciais; g) Purifica a água; h) Regulariza as vazões dos mananciais; i) Contribui para a provisão de água; j) Umidificação da atmosfera; k) Reposição de água subterrânea; l) Estabilização do micro-clima; m) Diminuição da amplitude térmica; n) Diminuição da temperatura; o) Fornecimento de alimentos para animais, inclusive aqueles que estão em rota

migratória, nas estações secas; p) Valores culturais: como por exemplo, o papel das áreas de cerrado como fonte

de remédios e alimentos para as comunidades ou simplesmente o valor cultural das paisagens de cerrado;

q) Manutenção da biodiversidade, essas áreas servem de abrigo, refúgio, alimentação e rota migratória para algumas espécies e é o último refúgio para as espécies vivas nativas da região, tanto da flora quanto da fauna;

r) São locais que abrigam as últimas espécies da flora e da fauna local, já a grande maioria das áreas nativas foram substituídas por lavouras;

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s) As áreas de Reserva Legal são insuficientes para abrigar e manter a biodiversidade em toda a sua plenitude, isto é, são áreas que não oferecem condições para manter de forma adequada a diversidade genética que cada espécie(patrimônio genético) necessita para assegurar a sua sobrevivência, manter os processos ecológicos e assegurar a utilização sustentável das espécies e dos ecossistemas;

t) A existência de ecossistemas nativos permitem o seu estudo e o conhecimento do funcionamento desses ambientes permitirá a recuperação de áreas degradas(que são inúmeras);

u) A diversidade biológica é básica tanto para a segurança ecológica quanto para a segurança alimentar. Avanços sustentáveis na produtividade biológica não serão possíveis sem acesso à diversidade biológica. É preciso lembrar que o homem ao fazer o melhoramento das espécies animais e vegetais não cria genes, apenas manipula-os para se conseguir as combinações com as características agronômicas ou zootécnicas desejadas. É a natureza que dispõe dos pools de genes necessários para se criar p. e. uma variedade de planta que tenha resistência ao pulgão, um bovino com características adequadas para produzir mais carne e ser abatido mais precoce etc.;

v) Manter a integridade destes ambientes para as gerações presente e futuras onde pesquisadores e cientistas poderão ampliar seus conhecimentos sobre a evolução e diferenciação biológica e quais as melhores opções para se recuperar ambientes degradados;

w) Fazer com que seja cumprida os três principais objetivos da conservação dos recursos vivos conforme a “Estratégia Mundial para a Conservação”:

• Manter os processos ecológicos e os sistemas vitais essenciais; • Preservar a diversidade genética; • Assegurar a utilização sustentável das espécies e dos ecossistemas;

x) Mesclar áreas com vegetação permanente e diversificada propícia a existências de inimigos naturais que podem desempenhar o papel de predadores das pragas que assolam as culturas;

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Com o objetivo de minimizar os impactos advindos do setor sucro-alcooleiro chegamos as conclusões e recomendações abaixo:

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• PODER PÚBLICO 1. Aplicar a Legislação Ambiental e exigir medidas de Precaução ou Preventivas a

todos aqueles (pessoas físicas ou jurídicas, instituições públicas ou privadas) que ao desrespeitarem a legislação vigente estejam causando ou possa vir a causar, de forma direta ou indireta, ou via sinergismo potencialize a degradação do meio ambiente, o rompimento ou interferência nas relações ecológicas entre as espécies da comunidade biótica de um ecossistema;

2. Solicitar ao CREA-Go dados relativos as exigências deste Conselho sobre a cultura da cana de açúcar, tais como o número mínimo de Engenheiros Agrônomos que a empresa deve ter por hectare etc.;

3. Exigir que todas as Indústrias Sucroalcooleiras, inclusive os fornecedores ou

trabalhos relacionados a esta atividade façam seguro visando reparar possíveis acidentes ou danos, sejam eles de natureza forem: ambiental, de trânsito, industrial, social ou econômico decorrentes da atividade;

4. Exigir através de um Termos de Ajustamento de Conduta - TAC que o(s)

empreendedore(s), responsáveis pelo empreendimento assumam o compromisso de tomar as medidas mitigadoras cabíveis para corrigir os possíveis reflexos negativos que porventura surgirem em conseqüência de suas atividades;

5. Fazendo-se valer dos Princípios da Prevenção e da Precaução, firmar um TAC com

o Compromisso de Responsabilidade com as Indústrias Sucro-alcooleiras para assumir a tomada de medidas mitigadas/compensatórias para solucionar o problemas que surgirem em decorrência desta atividade e que não foram contemplados no trabalho ou previsto no total de sua abrangência e influência, no que diz respeito as questões ambientais, sociais e econômicas. A importância desta exigência deve-se ao fato de nem todos as conseqüências da implantação da indústria estarem contempladas. Por exemplo: o estudo não demonstrou e não previu, de maneira adequada os impactos antrópicos (ambientais, sociais e econômicos) que surgirão com a implantação do empreendimento e os seus desdobramentos, na questão social p.e. apenas retratou a situação em que se encontra o município na área urbana e rural;

6. O Estado de Goiás deve vincular a concessão de quaisquer incentivos

fiscais ou de créditos ao cumprimento dos preceitos de sustentabilidade preestabelecidos que deverão compor os instrumentos estratégicos de planejamento regional e gestão territorial visando o desenvolvimento e o uso sustentável dos nossos recursos naturais;

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7. Exigir que o Governo Estadual avalie de forma criteriosa e responsável as

Políticas Públicas de incentivos, prevendo de antemão e de acordo com as peculiaridades de cada Município/Região quais serão os desdobramentos das medidas adotadas e as conseqüências positivas e negativas. Para tanto deverá ter como embasamento um estudo a partir do qual possa fundamentar a tomada de decisão que deverá ser democrática devendo para isto promover eventos para a discussão com a sociedade os órgãos governamentais, ouvir as entidades de Classe, perscrutar o cenário mundial etc., de tal sorte que as decisões sejam responsáveis, estratégicas, justas e coerentes onde os interesses da sociedade prevaleça através do desenvolvimento sustentável e a justiça social realize-se por meio de uma justa distribuição de rendas que beneficie todos;

8. Exigir que o Governo propicie amplo esclarecimento aos produtores/agricultores

sobre as formas de contrato de arrendamento, franquia, terceirização, aplicação de agrotóxicos, responsabilidade sobre as Áreas de Preservação Permanente e outros esclarecimentos importantes para evitar contratos que venham a prejudicar o hipossuficiente nesta relação e realizar os cuidados necessários para garantir o meio ambiente saudável;

9. Exigir que se destine verbas (destinar um % da produção de cana para pesquisa

ambiental) para as instituições de ensino para realizarem pesquisas com espécies nativas da fauna, da flora e de suas relações ecológicas, de tal forma que se permita conhecer um mínimo dessas interações que ocorrem entre as espécies da região. P. e. qual o impacto da cultura da cana na vida das Abelhas nativas se estas mudarem os seus hábitos em função da alimentação farta e fácil proporcionada pelo açúcar da cana? Quais serão as conseqüências para as plantas que delas dependem para a sua reprodução? E os animais que dependiam dos frutos gerados por esta planta? E com garantir a perpetuação dessa espécie?;

10. Exigir que se destine verbas (destinar um % da produção de cana para pesquisa

ambiental) para as instituições de ensino para realizarem pesquisas com espécies nativas de zooplâncton, fictoplâncton etc. Ou seja, realizar estudos da Comunidade biótica dos mananciais de tal forma que se possa conhece-la e monitorá-la ao longo do tempo, podendo ela ser um dos parâmetros indicadores qualidade ambiental do manancial. Isto é, antes que ocorrá as modificações. Devemos lembrar que a comunidade biótica de pequenos organismos é a base de sustentação das espécies maiores e é ela que permite a existência desta, dá-lhe a sustentabilidade, é a base da cadeia alimentar. Por isto o estudo para o entendimento destes pequenos organismos é de fundamental importância;

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11. Que a Política de Governo incentive a diversificação de culturas para que os produtores não abandone as outras atividades que realizavam, estes deverão ser alertados que todas as atividades tem os seus altos e baixos na lucratividade. Assim fazendo evitaram dissabores futuros ao garantirem outros meios de renda que não os deixem refém do mercado de um só tipo de lucro, propiciando-lhes estabilidade econômica e maior independência financeira;

• SOCIEDADE 12. As difusas e diversificadas natureza das ações humanas estão modificando o meio

ambiente de forma rápida, degradando-o com conseqüências negativas para a fauna e a flora, com reflexos ruins para a sociedade é preciso que as autoridades tomem as medidas cabíveis visando mudar o comportamento de pessoas e instituições de tal forma que as mudanças sejam acompanhadas das medidas mitigadoras;

13. As condições atuais de qualidade de vida da sociedade local (município) deve ser

preservada ou melhorada. Os impactos negativos deverão ser previstos e as medidas preventivas deverão ser apontadas e colocadas em prática para mitigar os problemas;

14. As condições de trabalho deverão ser dignas e a remuneração compatível com a

atividade exercida de tal sorte que permita a ascensão social;

• SOLO 15. Exigir que o solo fique o mínimo possível sem cobertura vegetal, seja nativa ou

exótica pois ela é de grande importância para a conservação do solo, da comunidade biótica e edáfica;

16. Fazer uso de máquinas e equipamentos que evitem ou minimizem a compactação do

solo, fazer uso de variedades adequadas e de espaçamentos que contribuam para evitar ou diminuir o uso de agrotóxicos;

17. O uso intensivo do solo com qualquer tipo de monocultura acarreta problemas de

deterioração para o solo, tais como: empobrecimento do solo em determinados nutrientes, erosão mais acentuada – perda de solo fértil, eliminação de organismos da comunidade biótica do solo: micorrizas, bactérias, fungos, microorganismos saprófitos (fazem a mineralização da matéria orgânica), artrópodes etc.

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desrespeitando-se toda uma relação de interdependência existente e consolidada ao longo da evolução que levou milhões de anos;

18. Exigir o plantio de cana de açúcar consorciado a outras culturas e/ou atividades

silviculturas e realizar a periodicidade de rotação de cultura de acordo com o que for recomendado pelos centros de estudos especializados;

19. Fazer uso de novas tecnologias e conhecimentos para otimizar o manejo do solo de

acordo com o seu tipo e levando-se em consideração a análise química e física do solo, a topografia da área e o clima da região. Adotar técnicas conservacionistas do solo, incorporar matéria orgânica(restos culturais) visando melhorar a relação C/N do solo para manter ou melhorar as sua condições edáficas, diminuir o escorrimento superficial da água solo, aumentar a sua infiltração, propiciar as relações simbióticas entre vegetais, microorganismos e pequenos organismos do solo;

20. Os efluentes líquidos das indústrias sucroalcoleira/usinas/destilarias de álcool e

açúcar (vinhoto ou vinhaça) deverão ser contidos para o armazenamento até a sua destinação final em recipientes adequados que comprovem a sua eficácia e resistência contra a corrosão química, tração física, intempéries (insolação, amplitudes térmicas, etc.). A condução destes líquidos deverá ser realizada por tubulações apropriadas até os locais de aplicação da fertirrigação;

21. Para a aplicação da fertirrigação onde exista a passagens de tubulações por

mananciais conduzindo o vinhoto, o responsável pelo empreendimento deverá dar conhecimento ao órgão ambiental responsável pelo Licenciamento que por sua vez deverá exigir todas as medidas cabíveis para evitar danos ambientais, ou achando prudente deverá fazer uso do Princípio da Prevenção e não autorizar tal prática;

22. A partir do local de alcance dos canhões de fertirrigação deverá ser deixado um

espaço de no mínimo 170 m das Áreas de Preservação Permanente sem a aplicação do produto. O objetivo é fazer com todo o líquido da fertirrigação seja absorvido pelo solo e aproveitado pela cultura sem escorrimento superficial e sem causar poluição dos recursos hídricos, inclusive o subterrâneo e nem causar danos ou interferência na vegetação nativa da APP;

23. A fertirrigação só deverá ser permitida quando o uso da mesma for realizada com a

participação profissional habilitado com Anotação de Responsabilidade Técnica - ART devendo por isso observar os cuidados, métodos e técnicas, que levem em conta a quantidades do efluente a ser aplicado de acordo com o tipo de solo e obedecendo a distância mínima de 200 metros de qualquer coleção hídrica superficial (corpos d´água, nascentes, espaços brejosos ou encharcados, mesmo que intermitentes),

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24. Deixar alguns arbustos em meio a cultura como testemunho da evolução ou não dos processos erosivos. E caso queiram utilizar de outro método que se comprove a sua eficácia;

25. Exigir o zoneamento Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE do Estado de

Goiás e regulamente os procedimentos para o licenciamento dos empreendimentos sucroalcooleiros, contemplando o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental EIA/RIMA visando assegurar o desenvolvimento e o uso sustentável dos nossos recursos naturais;

26. Conforme Resolução CONAMA n.º 001/9 há necessidade de licenciamento

ambiental para empreendimentos Sucroalcooleiros por serem atividades potencialmente poluidoras, por isso é Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental – EIA/RIMA na qual exista uma equipe multidisciplinar capaz de apontar soluções para os diversos problemas que surgem nesta atividade;

27. Os Empreendimentos Sucroalcooleiros constituem-se como atividade

potencialmente poluidora ao ambiente, tanto no subsistema agrícola (cultivo), quanto no subsistema industrial (produção de álcool e açúcar) e por isso todas as etapas destes empreendimentos deverão apontar os problemas com as respectivas soluções;

28. Exigir a rotação de cultura como uma necessidade para assegurar a sustentabilidade

do solo evitando-se o seu empobrecimento e a maior necessidade do uso de agrotóxicos;

29. Tanto os aglomerados de árvores, quanto as árvores esparsas remanescentes de

vegetação nativa existentes no interior das propriedades rurais antes do plantio da cana, além daquelas que compõem APP e RL, deverão ser conservados ou compensados - no caso da sua supressão -, após levantamento florístico georeferenciado que permita a sua localização;

30. No caso da compensação ambiental decorrente da supressão de espécies nativas, a

mesma deverá ser efetuada na razão mínima de 10 novas árvores nativas para cada árvore adulta suprimida e os tratos culturais deverão ser mantidos por no mínimo 3 (três) anos após o plantio;

31. Deve-se estipular, através de estudo, qual o número de árvores deverão ser

plantadas por hectare de área cultivada com cereais, leguminosas comestíveis ou gramíneas, não importando qual o tipo de vegetação sejam elas para qual finalidade forem plantadas. Essas árvores visam propiciar os diversos benefícios que lhes são peculiares e ao mesmo tempo buscar um equilíbrio entre as espécies permanentes e as culturas sazonais mais as pastagens. A disposição destas árvores poderá ser

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enfileiradas servindo com divisor entre propriedades, talhões, glebas etc. ou juntas, devendo-se evitar largas extensões de culturas sem a presença destas;

32. A responsabilidade do impacto social do empreendimento sucroalcooleiro, deve ser

prevista no EIA/RIMA, que contemplará medidas mitigadoras, nas áreas de saúde, educação, habitação, assistência social e segurança pública dos municípios localizados na zona de influência do empreendimento;

• ATMOSFERA

33. A evapo-transpiração das plantas ganha importância de acordo com as extensões das culturas e massa foliar já que o vapor d’água lançado na atmosfera implica em conseqüências meteorológicas e climáticas - no caso das vegetações nativas arbustivas este processo garante mais estabilidade ao ecossistema - a saber:

a) vapor d’água absorve muito facilmente as radiações térmicas; como conseqüência o ar úmido se aquece mais que o ar seco sob ação direta dos raios solares;

b) vapor d’água, ao formar-se ou ao condensar-se produz variações consideráveis na temperatura do ar. Assim, um quilograma (1kg) de vapor d’água, ao formar-se o ao condensar-se pode esfriar ou aquecer de 1º(um grau) 2.000m³ de ar;

c) A quantidade de vapor d’água existente na atmosfera regula a velocidade com que se evapora a água sobre a superfície terrestre e dos mares;

d) vapor d’água, por sua condensação ou congelação, produz numerosos fenômenos meteorológicos, por exemplo: nuvens, chuvas, orvalho, granizo, neves etc.;

e) Regula o teor de Umidade dos Solos; f) Influi na velocidade de transpiração das plantas; g) Favorece ou não o aparecimento de pragas ou doenças; h) A importância destas áreas é tal que não sendo preservadas afetará tanto

localmente quanto outras área circunjacentes; • ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, DE VEGETAÇÃO NATIVA

E CORREDORES ECOLÓGICOS 34. Há a necessidade de preservar as últimas áreas representativas de vegetação nativa

da região e manter as Áreas de Preservação Permanente ainda não antropizadas

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protegidas ou resgatar as desprovidas da vegetação nativas que deverão ser revegetadas e delimitadas para que não sejam utilizadas para nenhum outro fim ( como p. e. a manobra de implementos agrícolas, plantio). Para a proteção desses espaços todas as técnicas de conservação do solo deverão ser utilizadas – fora da Área de Preservação Permanente – visando a proteção desta área e dos mananciais;

35. Impedir qualquer atividade de plantio até que os órgãos, via técnicos e autoridades

competentes, definam qual o destino das mesmas, as exigências, os cuidados e quais deverão ser os procedimentos no seu entorno;

36. Qualquer intenção de intervenção em Áreas de Preservação Permanente deverá

ser precedida de estudo complementar e da autorização dos órgãos competentes;

37. Não permitir qualquer tipo de intervenção nos ambientes das Áreas de Preservação Permanente antes de se proceder ao estudo complementar do EIA/RIMA – Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental com a devida aprovação dos órgãos envolvidos;

38. Implantar ou manter murundus (elevação mais acentuada no solo), ou similar, antes

do limite das Áreas de Preservação Permanente - APP de qualquer coleção hídrica ou área brejosa, devendo o primeiro situar-se logo após o final da faixa da APP e os demais com espaçamento de acordo com a declividade e tipo de solo, em ambas as margens e em todo o curso do manancial eventualmente situado nos imóveis utilizados para o plantio da cana-de-açúcar, próprios, arrendados ou objeto de parceria;

39. Constar, em todos os contratos a serem firmados entre o(s) empreendedor(es) e o(s)

fornecedor(es) de cana-de-açúcar, cláusulas específicas estabelecendo as seguintes obrigações para o fornecedor:

I. Todo o plantio de cana com o objetivo de fornecer matéria prima à

indústria deverá apresentar um Contrato de Fornecedor e deverá obedecer as regras que forem estabelecidas e convalidadas;

II. Todas as Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal das propriedades rurais onde for realizado o cultivo da cana-de-açúcar deverão delimitar por meio de cercas de arame (de tal forma que não impeça o livre trânsito da fauna), no prazo de 06 (seis) meses, contados a partir do início do plantio da cana e, no prazo de um ano apresentar Projeto de Recuperação com as espécies nativas a serem plantadas e em até dois anos executar o plantio das mudas de espécies nativas;

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40. Caso opte-se por uma Unidade de Conservação deve-se exigir que a Agência Ambiental do Estado de Goiás no cumprimento de sua função, dispondo do poder/dever e contando com o corpo técnico especializado que dispõe, defina e crie o tipo de Unidade de Conservação mais adequado e representativo do bioma da região. A este órgão caberá também proteger e fiscalizar as últimas Área de Preservação Permanente e Reserva Legal que ainda servem de refúgios para as diversas espécies nativas da região(ema, arara, garça, tuiuiú, perdiz, cateto, queixada dentre diversas outras espécies da fauna) que tem estas área como seu criadouro natural onde se refugiam, se alimentam e se procriam além de servirem como rotas migratórias;

41. Criar o máximo de corredores de comunicação entre as Área de Preservação

Permanente e as Reservas Legal para garantir a movimentação da fauna dando-lhes as condições de sobrevivência ao lhe permitir mais locais na busca de alimentos, abrigo, refugio etc. e assim cumprir a sua função de disseminadoras de sementes e genes entre os indivíduos da mesma espécie, garantindo a variabilidade genética das espécies o que lhes propicia maiores chances de perpetuação;

• ÁGUA 42. Exigir a utilização de práticas agrícolas que requeiram menos uso da água, como p.

e. realizar a colheita mecanizada que evitar a queima da cana para a sua colheita. Quando se faz uso da cana queima necessita-se, depois de muita água para a limpeza desta antes da moagem;

43. Para fazer uso industrial ou agrícola de qualquer dos recursos hídricos(subterrâneo

ou superficial) nas propriedades rurais próprias ou arrendadas as empresas ou proprietários deverão obter outorga junto ao órgão competente;

44. Não aplicar produtos agroquímicos por avião numa distância inferior à 5.000 m

(cinco mil metros) de núcleos urbanos, áreas povoadas e mananciais ou reservatórios de captação de água para o abastecimento humano e/ou dessedentação de animais e de 500 m (quinhentos metros) de quaisquer mananciais hídricos, sendo que a aplicação de tais produtos nas áreas cultivadas limítrofes às Áreas de Preservação Permanente - APP(s) e de Reserva Legal - RL (áreas remanescentes com fragmentos de vegetação nativa) será admitida somente por via terrestre e com observância dos cuidados, métodos e técnicas, que levem em conta a direção dos ventos, tamanho das partículas pulverizadas, horário de aplicação etc., para se minimizar os efeitos poluentes;

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45. As lavouras de cana-de-açúcar deverão ter um afastamento mínimo de 200 m

(duzentos metros) dos mananciais de abastecimento público, inclui-se neste rol os mananciais tributários daquele;

46. Que os estudos de EIAs/RIMAs deverão ser melhor elaborados, realizando um

estudo que abranja o ciclo completo das nossas estações e, que não seja feito apenas para cumprir uma formalidade mas sim para atender o seu verdadeiro objetivo que é o de mostrar a realidade e permitir orientar os técnicos a si reorientarem e as autoridades a exigirem dos empreendedores a tomarem todas as medidas cabíveis para mitigar ou prevenir os problemas que advirão;

47. Que os arrendatários das terras e seus proprietários deverão tomar todas as medidas

cabíveis visando evitar a contaminação das águas subterrâneas, dos mananciais e do solo;

48. Devido a inexistência de normatizações técnicas nas Legislações Federal, Estadual e

Municipal pertinente aos impactos que causam a degradação nos manaciais hídricos, sugerimos que seja destinado recursos visando o monitoramento dos mananciais, através da coleta de informações que subsidiarão o estudos e conclusões que darão condições de se conhecer cada um dos mananciais a serem estudados e que se encontram dentro da área de influência do empreendimento. Dessa forma teremos os requisitos mínimos necessário para conhecer cada um dos mananciais e com isto ter condições de aplicar procedimentos técnicos específicos. Os estudos a serem realizados deverão ser compatíveis à luz dos conhecimentos científicos gerados até o presente, no que diz respeito aos problemas que envolvem os ecossistemas aquáticos e deverão dar condições para diagnosticar e entender as conseqüências advindas dos impactos negativos ocorrido em um manancial. Estes requisitos estão divididos em três fases:

1ª - FASE

Diagnóstico da sanidade ambiental do manancial: Estudo dos fatores que influenciam as condições ambientais do manancial hídrico: fatores naturais e fatores antrópicos que alteram o padrão de qualidade ambiental do manancial;

2ª - FASE

Implantação de medidas conforme dados obtidos pós levantamento/diagnóstico do manancial. As medidas a serem adotadas serão as mais diversas, conforme as conclusões tiradas após o diagnóstico, poderão ser: o afastamento da fonte de poluição do manancial, construção de barreiras físicas para impedir a chegada do material a coleção hídrica,

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reflorestamento, medidas de conservação do solo etc. e também exigências simultâneas que combinem diversas providências que se complementam.

3ª - FASE

Monitoramento das medidas implantadas. IMPLANTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS PARA O ESTUDO DO CICLO DA

ÁGUA

49. Exigir a instalação de uma estação Fluviométrica e de uma Plataforma de Coleta de Dados – PCD, para: monitorar a qualidade do ar; monitoramento do nível da água subterrânea visando obter dados sobre a qualidade e quantidade; obter dados meteorológicos. Deve-se exigir que o levantamento destes dados se iniciem com os estudos do EIA/RIMA, ou seja, antes da implantação do empreendimento sucroalcooleiro. O objetivo é:

• Plataforma de Coleta de Dados - PCD, para monitoramento permanente das

variáveis meteorológicas: pluviometria, umidade, insolação, umidade relativa do ar, direção e velocidade dos ventos (a dez metros de altura) etc. e acoplado a estação sensores para monitorar a qualidade do ar. A anuência para instalação da PCD deverá ser dada pelo Núcleo de Meteorologia da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás;

• Estação Fluviométrica e demais estudos capazes de realizar o

monitoramento da vazão do curso d’água;

• Exigir a instalação de hidrante para saber se consumo real é igual a outorga de água expedida;

ESTUDOS A SEREM REALIZADOS RELATIVOS A ÁGUA

50. Exigir um estudo mostrando o consumo de água, que não o outorgado, ou seja, da água retirada pela cultura da cana através do solo, desde o seu plantio até a sua colheita ( ou seja, a água necessária para todos os processos fisiológicos e o de fotossíntese que dará origem a formação dos tecidos da planta, os líquidos contidos na planta, a evapotranspiração etc. ) de tal maneira que fique claro qual a influência da cultura no abastecimento do lençol subterrâneo e a sua repercussão no incremento das vazões dos mananciais das bacias onde estão sendo realizados os cultivos;

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• ESTABELECER SISTEMAS QUE POSSAM SERVIR DE INDICADORES:

DA QUALIDADE AMBIENTAL

51. Estabelecer sistemas que possam servir de Indicadores Ambientais:

• Para começar, a definição mais geral de espécie indicadora é um organismo cujas características (presença / ausência, densidade populacional, dispersão, sucesso reprodutivo etc) são usadas como um índice de atributos muito difíceis, inconvenientes ou caros de se medir para outras espécies ou condições ambientais de interesse. Entretanto, existem algumas variações desta definição de acordo com o objetivo específico do que se quer avaliar. Os usos costumam variar entre indicar amplitudes dos vários tipos de influências antrópicas, dar pistas de mudanças populacionais em outras espécies, localizar áreas de elevada biodiversidade ou servir como “proteção” para os requerimentos de espécies simpátricas.4

• Realizar estudo da Comunidade biótica do solo e da água de tal forma que se

possa conhece-la e monitorá-la ao longo do tempo, podendo ela ser um dos parâmetros indicadores das condições ambientais;

FATORES AMBIENTAIS QUE INTERFEREM NA SAÚDE 52. Estabelecer Sistemas que possam servir de Indicadores de Vigilância

Ambiental em Saúde:

• Considera-se a vigilância ambiental em saúde como o processo contínuo de coleta de dados e análise de informação sobre saúde e ambiente, com o intuito de orientar a execução de ações de controle de fatores ambientais que interferem na saúde e contribuem para a ocorrência de doenças e agravos.5

• SUSTENTABILIDADE

4 http://www.biologo.com.br/ecologia/ecologia3.htm Acesso: 17/04/2007 5 http://200.214.130.38/portal/arquivos/pdf/iesus_vol8_3_indicadores.pdf Acesso: 17/04/2007

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53. Exigir que todas as atividades levem em consideração a importância da

sustentabilidade para a qual temos as seguintes definições que necessitam ser consideradas:

• “Sustentabilidade é um relacionamento entre sistemas econômicos

dinâmicos e sistemas ecológicos maiores e também dinâmicos, embora de mudança mais lenta, em que: a) a vida humana pode continuar indefinidamente; b) os indivíduos podem prosperar; c) as culturas humanas podem desenvolver-se; mas em que d) os resultados das atividades humanas obedecem a limites para não destruir a diversidade, a complexidade e a função do sistema ecológico de apoio à vida” (Costanza, 1991, p.85);

• Em formulação mais breve, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais – IUCN (1991) – considera desenvolvimento sustentável o processo que melhora as condições de vida das comunidades humanas e, ao mesmo tempo, respeita os limites da capacidade de carga dos ecossistemas;

S.M.J. este é o relatório pericial, contendo vinte e cinco (25) laudas e trinta e seis

(36) anexos, sobre Legislação e Doutrina e o Termo de Referencia para diagnostico e Monitoramento dos Impactos ambientais em Mananciais Hídricos, todos rubricados e ao final assinado pelo Perito. O trabalho contou com a participação das estagiárias Norah Lívia de Araújo e Jéssica Pena de Paula ambas do curso de Gestão em Controle Ambiental – Uni-Anhanguera e Ana Carolina Guimarães do curso de Engenharia Agrícola – UEG.

Perícia Ambiental do Ministério Público do Estado de Goiás, aos três (03) dias do

mês de agosto do ano de dois mil e sete (2007).

Giuliano Pompeu Rios de Pina* Técnico Pericial Ambiental – MP-GO Eng. Agrônomo CREA-GO 5511/D

Bel em Biologia e Direito

* ex-Chefe do Departamento de Informações Ambientais – DEIAM e ex-Chefe do Departamento de Controle da Qualidade Ambiental - DCQA, da Fundação do Meio Ambiente – FEMAGO(atualmente Agência Ambiental do Estado de Goiás); Integrou a Comissão para a execução do Concurso Público da SUPERINTENDÊNCIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE(atualmente Agência Ambiental do Estado de Goiás) em 1987; ex-Membro do Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERHI; ex-Membro do Conselho Científico do Jardim Botânico, Chefe do Núcleo Técnico do Jardim Botânico e Ex-coordenador do Jardim Botânico Amália Hermano; ex-chefe de gabinete da Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SEMMA; ex-Conselheiro do Conselho da Cidade onde coordenava as atividades relativas ao meio ambiente; ex-Membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente – COMMAm, Relator da Resolução nº 03/93, relativa à arborização urbana, ao ajardinamento dos logradouros públicos, preservação, manutenção e melhoramento das áreas verdes etc.; ex-Presidente da Associação dos Biólogos de Goiás – ABG, Membro da comissão que elaborou o Plano de Desenvolvimento Integrado de Goiânia – PDIG, representando a FEMAGO ; ex-Membro da comissão de Coordenação Técnica de Monitoramento dos Trabalhos de Execução do Convênio de Substituição, Manejo e Manutenção da Arborização de Ruas de Goiânia; ex-Membro da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Goiás; ex-Membro da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES; Integrante da equipe que elaborou o Projeto de Reflorestamento da Bacia do Rio Meia Ponte, junto a captação da SANEAGO no Município de Goiânia; Integrante da equipe que elaborou o ante-projeto de Lei que regulamenta a atividade

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de pesca no Estado de Goiás; com diversos cursos na área ambiental dentre eles: vários cursos sobre Avaliação de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA); Curso “Perícias em Ações do Meio Ambiente” pelo Instituto de Engenharia (de São Paulo-SP) e Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia – IBAPE; Curso de Recuperação de Áreas Degradadas da Fundação de Pesquisa Florestais do Paraná – fupef; Curso de Avaliação e Perícias Rurais pela AEAGO; ex-Assesor de Controle Interno do TRIBUNAL DE JUSTIÇA D ESTADO DE GOIÁS e com os seguintes cursos superiores: Bacharel em Ciências Biológicas – Modalidade Ecologia, Licenciatura em Ciências Biológica e Engenheiro Agrônomo, pela Universidade Federal de Goiás e Bacharel em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira; com aprovação nos seguintes Concursos: SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – Cargo: Profissional em Educação III – Especialidade: Ciências – Classificação 3º lugar, Ano: 1996; SECRETARIA MUNICIPAL SAÚDE – Cargo: Biólogo – Classificação: 2º lugar, Ano: 1998; MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS – Cargo: Técnico Pericial Ambiental – Classificação: 4º lugar, Ano: 1998; GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS– Cargo: Gestor de Recursos Naturais – Classificação: 15º lugar; Ano: 2001.