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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS AVANÇADO DE NATAL CURSO DE DIREITO CÁTEDRA: TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL I DOCENTE: PROF. PAULO SÉRGIO DUARTE DA ROCHA JÚNIOR “PROVAS EM ESPÉCIES”

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTECAMPUS AVANÇADO DE NATALCURSO DE DIREITOCÁTEDRA: TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL IDOCENTE: PROF. PAULO SÉRGIO DUARTE DA ROCHA JÚNIOR

“PROVAS EM ESPÉCIES”

Natal-RN2009

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MOISÉS SANTOS DA SILVA

“PROVAS EM ESPÉCIES”

Atividade acadêmica elaborada na disciplina de Teoria Geral do Processo Civil I, sob a orientação do Prof. Paulo Sérgio Duarte da Rocha Júnior, como 3ª avaliação parcial do semestre.

Natal-RN2009

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Sumário

1.0-Introdução...................................................................................................................42.0- Provas em espécies.....................................................................................................52.1- Depoimento pessoal...................................................................................................52.2- Confissão.....................................................................................................................62.3- Prova documental......................................................................................................7

2.3.1- Argüição de falsidade.......................................................................................92.4- Exibição de documento ou coisa...............................................................................92.5- Prova testemunhal...................................................................................................102.6- Prova pericial...........................................................................................................122.7- Inspeção judicial......................................................................................................133.0- Regime jurídico das provas no Código Civil e no Código do Processo Civil....134.0- Considerações finais................................................................................................145.0- Referencias Bibliográfica..........................................................................................15

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1.0-Introdução

Antes da abordagem das espécies de provas é mister esclarecer o que seria esse

instituto jurídico, visto que do mesmo emergem questões importantes para o resultado do

processo, podendo determinar a procedência ou improcedência do pedido. Observe-se que o

mesmo é, nada mais, que um instrumento para formação de convencimento do estado-juiz

sobre fatos. Sua natureza é essencialmente processual, mas o direito material como no Código

Civi,l não deixou de abordá-la, é o que nos ensina Wambier (2007, p.407):

“Prova, portanto, é o modo pelo qual o magistrado forma o convencimento sobre as obrigações de fato, que embasam a pretensão das partes. É instituto tipicamente processual, pois sua produção ocorre dentro do processo e é regulado pelas normas processuais, embora, o Código Civil tenha tangencialmente cuidado da matéria, como por exemplo, quando prevê que a prova do pagamento se resume na sua quitação. Assim, finalmente, conceitua-se como prova, o instrumento processual adequado a permitir que o juiz forme o convencimento sobre os fatos que envolvem a relação jurídica, objeto da atuação jurisdicional”.

É através da prova que os eventos são revelados com certeza aproximada da

veracidade do fato afirmado pela parte. Aproximada porque se a verdade fosse a absoluta em

muitas situações o acolhimento do pedido seria inviável. Preza-se nessa esfera processual a

verossimilhança, a certeza aproximada, não a absoluta. É o que nos alude Montenegro Filho

citando(2005, p.342) Calamandrei:

“Todo o sistema probatório civil está preordenado, não só a consentir, senão diretamente a impor ao juiz que se contente, ao julgar a respeito dos fatos, com o sub-rogado da verdade que é a verossimilitude”. E, em passagem posterior, arremata: "mesmo para o juiz mais escrupuloso e atento vale o limite fatal de relatividade da natureza humana: o que vemos é apenas o que nos parece que vemos. Não verdade, mas verossimilhança: aparência (que pode também ser ilusão) de verdade".

Para Greco Filho1 “é todo elemento que pode levar o conhecimento de um fato a

alguém” , segundo o mesmo autor “prova” se originaria do latim probation, que por sua vez,

emana do verbo probare, com significado de examinar, persuadir, demonstrar.

Perceba-se desde logo que o objeto da prova são os fatos pertinentes e relevantes para

o processo e não o direto, visto que esse último a lei exigi que o magistrado conheça, embora

o próprio CPC em seu art. 337 admita exceções a essa regra quando a parte alegar normas

jurídicas de aplicação incomum como uma lei municipal, estadual estrangeira ou

consuetudinária, em determinação dada pelo juiz. Em sentido contrário é o pensamento de

CÂMARA (2006,p.420) para quem:

1 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 19. ed. São Paulo:Saraiva,2008.p.210.

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“...a prova não tem por fim criar a certeza dos fatos, mas a convicção do juiz sobre tal certeza. Por este motivo, preferimos afirmar que o objeto da prova é constituído pelas alegações das partes a respeito de fatos. As alegações podem ou não coincidir com a verdade, e o que se quer com a produção da prova é exatamente convencer o juiz de que uma determinada alegação é verdadeira. Alegações sobre fatos, pois, e não os fatos propriamente, constituem o objeto da prova”.

É importante frisar também que é irrelevante quem produziu a prova visto que essa

depois de produzida se incorpora ao processo, bem como, também que as obtidas por meios

ilícitos devem ser de pronto a não utilização, visto que nosso ordenamento veda essa

utilização das mesmas. Ressalte-se também a distinção entre prova e meios de prova, esses

são as modalidades pelas quais se constata aquelas. Anote-se também que não há hierarquia

entre as espécies de prova. Isso posto passemos a análise das espécies de meios de prova.

2.0- Provas em espécies

Segundo os doutrinadores, dentre eles,Greco Filho e Misael Montenegro, o rol de

meios de prova do CPC não é taxativo, sendo, portanto admitidos outros meios de prova

desde que moralmente legítimos e hábeis a plena verdade dos fatos, ou das alegações sobre os

fatos, no pensamento de Câmara. Para os primeiros meios, os consagrados no CPC, usa-se a

denominação de típicas ou nominadas e os outros atípicas ou inominadas. Como exemplo

dessas últimas seria a prova emprestada, que Montenegro classifica como típica importada; a

reconstituição de fatos; o reconhecimento de pessoas e objetos, esses últimos citados por

Greco Filho. No CPC temos os seguintes meios de prova nominadas, as quais passaremos a

análise: depoimento pessoal, confissão, prova documental, exibição de documento ou coisa,

prova testemunhal, prova pericial e a inspeção judicial.

2.1- Depoimento pessoal

O principio que rege esse meio de prova é o da vivência dos fatos, especificamente,

pelas partes, em função da possibilidade de confissão. Somente aqueles que experimentaram

os fatos ocorridos é que têm maiores qualificações para falar do mesmo. Daí decorre que esse

meio conta com a primazia da pessoalidade e indelegabilidade, somente podendo ser esses

princípios serem preteridos nos casos onde o procurador tem conhecimento direto dos fatos,

com poderes expressos, e no caso de prepostos de pessoas jurídicas cujos fatos foi quem

vivenciou e sendo em função disso intimados pessoalmente e devendo constar no mandado a

presunção de confissão contra o mesmo dos fatos alegados, caso não compareça ou em caso

de recusa a depor. São de dois tipos: o interrogatório e o depoimento propriamente dito. O

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primeiro tem por finalidade esclarecer fatos, não depende de requerimento da parte, podendo

ser determinado em qualquer estado do processo e não está sujeito a pena de confesso, já o

segundo é requerido pela parte contrária, cuja finalidade primordial será a confissão real ou

ficta da outra parte, sendo produzida na audiência de instrução e julgamento. Outra importante

diferenciação e mostrada por GRECO FILHO (2008, p.218):

“O juiz, ao determinar o interrogatório, o faz simplesmente convocando a parte para depor;o depoimento pessoal é feito mediante a cominação da pena de confesso” e arremata o autor: “Outra diferença está em que podem ser interrogadas mesmo partes incapazes, mas não podem elas prestar depoimento pessoal, porque não podem confessar”.

Com o fito de garantir a sinceridade do depoimento pessoal não é licito levá-lo

previamente escrito. Observa-se que há situações onde há justa recusa de responder é o que

esclarece WAMBIER(2007, p.434):

“Por razões de ordem ética, o legislador estabelece que a parte não é obrigada a responder sobre fatos que possam lhe trazer conseqüências mais sérias do que a sucumbência. Assim, é justa a recusa à resposta sobre fatos criminosos ou torpes que lhe tenham sido imputados”.

As partes serão interrogadas na forma prescrita para a inquirição de testemunhas, é o

que prescreve o art. 344 do CPC.

2.2- Confissão

De acordo com art. 348 do CPC há confissão quando a parte admite a verdade de um

fato, contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. Para GRECO FILHO não seria meio

de prova, mas a própria, já para WAMBIER assim pode ser considerada, visto que, revela ao

juiz a verdade de um fato que tenha sido alegado por uma das partes, o confitente. Alcança

apenas o fato alegado, não implicando necessariamente procedência do pedido, admiti-se

como veraz um fato ocorrido, “ deixando de a ele contrapor outro meio de prova”, nas idéias

de WAMBIER. Visto que não há hierarquia de provas e o juiz julga de acordo com o

princípio do livre convencimento motivado, o simples fato da confissão não dispensa outros

meios de provas e circunstâncias verossímeis. Sendo o direito indisponível ou aparte incapaz

ou havendo litisconsórcio a admissão de fatos não valerá como confissão, no último caso para

os litisconsórcios não confessos. Acresça-se que efeito também não há se for da essência do

negócio jurídico, o instrumento público. Também é indivisível e irretratável como explica

GRECO FILHO(2008, p.221):

“Uma vez feita produz o efeito de tornar os fatos incontroversos, não podendo a parte que quiser invocá-la como prova aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitar

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no que lhe for desfavorável, salvo se contiver fato distinto que possa constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção”.

Podem ser classificada em judicial espontânea ou provocada e extrajudicial, ainda

podem ser expressas ou tácitas, essa podendo ser efeito da revelia (art. 319), da falta de

expugnação de cada fato específico (art. 302), falta de comparecimento ou recusa de

depor(art. 342, §2º) ou a não exibição de documentação determinado pelo juiz (art.359).

A confissão produzida por erro, dolo ou coação poderá ser revogada por ação própria.

Se ainda pendente, por ação anulatória ordinária, se transitada em julgado por ação rescisória.

No caso de pendência poderá haver suspensão da ação nos termos do art. 265, IV, a. É

legítimo para propor ação de revogação o confitente.

A confissão é diversa do reconhecimento jurídico e da renúncia. Nessas a posição

processual é relevante, sendo que o primeiro é praticado pelo réu e o segundo pelo autor,

diferente daquela que pode ser praticada por ambas as partes. Esses dois últimos são atos

dispositivos enquanto a confissão não o é. Por fim tomando as lições de Wambier, o

reconhecimento e a renuncia (2008, p.435):

“alcança as conseqüências jurídicas do fato, enquanto na confissão há a admissão apenas da veracidade do fato, cabendo ao juiz determinar as conseqüências que do fato resultam, podendo, alias, julgar favoravelmente ao confitente”.

A confissão é possível por meio de representação nas condições do parágrafo único do

art. 213 do CC, que prescreva : “Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz

nos limites em que este pode vincular o representado”. Ou seja, só se admite nesse caso, a

confissão se o representado autorizou expressamente o representante a confessar.

2.3- Prova documental

Como ensina MONTEGNEGRO FILHO (2005, p. 483):

“O documento embute sempre um fato dito representado, ou seja, o fato que teria

ocorrido em momento pretérito, que justificou a sua confecção".

Para Greco Filho(2008, p.225):

“Documento é todo objeto do qual se extraem fatos em virtude da existência de símbolos, sinais gráficos, mecânicos, eletromagnéticos etc. É documento, portanto, uma pedra sobre a qual estejam impressos caracteres, símbolos ou letras; é documentos a fita magnética para reprodução por meio de aparelho próprio, o filme fotográfico etc”.

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Os documento podem ser públicos ou particulares, de acordo com a origem. Os

públicos têm fé pública em função do princípio da presunção de legalidade dos atos

administrativos, também podem ser originais, que é o primeiro criado, ou cópias, reprodução

do primeiro. Os documentos ainda podem ser autênticos e veraz. A autenticidade está

relacionada com a forma do documento, sua materialidade e a veracidade com seu conteúdo.

O vício quanto a esse é a falsidade ideológica quanto aquele é a falsidade material.

O valor probante dos documentos pode ser dividido por 5 (cinco) grupos de regras

exposta por GRECO FILHO(2008, p.226):

“1) regras sobre os documentos públicos; 2) regras sobre os documentos particulares; 3) regras sobre documentos especiais; 4) regras sobre cópias; 5) regras sobre a fé que emana dos documentos”.

E arremata o mesmos autor(2008, p. 227) sobre os documentos públicos:

“Quanto aos documentos públicos, desde que mantida sua integridade, estabelece o Código uma presunção absoluta não só de sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o tabelião ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença(..) O documento público pode ser parcialmente viciado pela incompetência da autoridade que o lavrou ou omissão de formalidades legais. Neste caso deste que subscrito pelas partes, vale como documento particular, cabendo ao juiz apreciar se pode produzir os efeitos pretendidos”.

Sobre os particulares declara :

“...os documentos particulares, estabelece o Código uma presunção de que, sendo escritos e assinados ou somente assinados pelas partes, as declarações deles constantes são verdadeiras. Esta presunção não se aplica às declarações de ciência, quais sejam, as declarações de que a parte tem conhecimento de certo fato, não se considerando provado o fato, mas somente que a parte declarou que o conhece. Cabe ao interessado, mediante outras provas, o ônus de demonstrar a existência do fato”.

È importante salientar que segundo esse autor se o documento particular tiver a firma

reconhecida pelo tabelião, na presença do signatário, ganha presunção absoluta de

autenticidade, valendo-se para eles as regras dos documentos públicos

Sobre a regras dos documentos especiais, o autor(2009, p.230) remete que:

“estabelece o Código que o telegrama, o radiograma ou qualquer outro meio de transmissão tem a mesma força probatória do documento particular, se o original constante da estação expedidora foi assinado pelo remetente”.

Finalmente em relação a regras sobre a fé que emana dos documentos ensina (2008, p.230)

“Cessa a fé de qualquer documento, público ou particular, ao ser declarada judicialmente sua falsidade. O documento particular, mesmo sem se declarar sua falsidade, perde a fé se lhe for contestada a assinatura e enquanto não se lhe

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comprovar a veracidade ou se, assinado em branco, foi abusivamente preenchido. Considera-se abuso quando aquele que recebeu o documento assinado, com texto não escrito no todo ou parte, formá-lo ou completá-lo, por si ou por meio de outrem, violando o pacto feito com o signatário”.

2.3.1- Argüição de falsidade

A argüição de falsidade de falsidade só é cabível quando há falsidade material no

documento, podendo ser provado dentro do processo, por ação incidental, ou por ação

autônoma. Sendo incidental poderá ser suscitada a qualquer tempo e grau de jurisdição, na

contestação ou até 10 dias contados da intimação da juntada aos autos, sendo esse prazo

preclusivo. O processo ficará suspenso, de acordo com art. 394 do CPC. Se já transitado em

julgado pode ser argüido na ação rescisória. Será processado em apenso se, se der após

instrução aos autos principais. Nas lições de GRECO FILHO(2008,p.231):

“No tribunal, o incidente será processado perante o relator, o qual, depois de instuílo, deverá remeter para julgamento no primeiro grau, para que se respeite o pincípio do duplo grau de jurisdição. Em qualquer hipótese, suscitado o incidente, o processo ficará suspenso ate o julgamento.Suscitado o incidente, a parte que produziu o documento será intimada para responder no prazo de dez dias e, depois,se for o caso de falsidade material, o juiz mandará realizar exame pericial, podendo, também, ser designada audiência para que seja produzida prova oral.

Não se processa o incidente se a parte que produziu o documento concordar em retirá-lo e a parte suscitante não se opuser ao desentranhamento. Essa é uma regra que atende a finalidade prática do processo civil. Não cabe, aí, investigar o eventual crime que a falsidade significa, mas apenas o andamento rápido da causa, de modo que, se as partes concordam em retirar o documento, o processo prosseguirá sem ele, ficando a eventual declaração e investigação fora do processo civil”.

Segundo esse ultimo autor o incidente em sendo ação, encerra-se por sentença

cabendo apelação.

2.4- Exibição de documento ou coisa

É ação autônoma de caracteres cautelar, pode ser antecedente ou incidente ao

processo. O legitimado ativo é qualquer das parte e o passivo a parte contrária ou terceiro,

sendo o procedimento diferente para cada uma dessas possibilidades. Nas lições de Alexandre

CÂMARA (2006,p.431):

“Na petição inicial da “ação de exibição”, além dos requisitos de qualquer petição inicial, deverá haver a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa; a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; e as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar a existência do documento ou da coisa, bem como sua localização em mãos do requerido. Este será citado para responder em cinco dias (se se tratar do

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adversário do requerente no processo principal) ou em dez dias (se for terceiro estranho ao processo para onde se pretende carrear a prova)”.

De acordo com art. 363 poderá haver escusa nos casos de lesão á intimidade ou à

honra do requerido, de sua família ou dever tenha obrigação de dever de sigilo. Excluído esses

casos deverá exibir a coisa ou documento e não o fazendo o juiz poderá considerar

verdadeiros os fatos argüido por aquele que solicitou a exibição, no processo civil e no penal

expedirá mandado de apreensão se o requerido for terceiro (art. 362).

2.5- Prova testemunhal

É prova obtida por pessoa estranha ao feito, que é a testemunha e nisso é que

diferencia de depoimento pessoal onde o meio de prova é uma das partes, que em juízo relata

o sabe sobre a causa. Além da restrição genérica prevista no art. 3662 do CPC, esse tipo de

prova não é permitida nos termos do art 227 do CC que prescreve:

“Art. 227 Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados

A exceção aludida no artigo é a do inciso II do art. 402 do CPC. É o caso onde se é

impossível a obtenção de prova escrita. Observe-se que a prova desta categoria é sempre

permitida quando subsidiária de acordo com parágrafo único do art. 227 do CC.

“A priori” qualquer pessoa pode ser testemunha, com as exceções do art 228 do CC e art. 405

do CPC(as incapazes, impedidas ou suspeitas).

Nos caso de suspeição e impedimento, se capazes, poderá o juiz tomar seu depoimento

como informantes. O CC no parágrafo único do art. 228 permite até que alguns incapazes

sejam tomados como informantes. Essa opção do legislador é criticada por doutrinadores

como CÂMARA(2006, p.438), veja o que o mesmo declara em relação aos menores de

dezesseis anos:

“A nosso, a regra trazida pelo Código Civil de 2002, que torna possível a colheita de depoimento de menores de dezesseis anos na qualidade de informantes, deve ser lida como se contivesse uma ressalva: a de que tais depoimentos só serão colhidos quando isto for essencial para a proteção dos interesses do próprio incapaz. Não estando em jogo interesses da criança ou do adolescente, tal depoimento não deve ser colhido”.

A testemunha pode se escusar caso o seu depoimento acarretem grave dano, ou a seu

cônjuge ou parentes até segundo grau (consaguineos/afins/reta/colateral), ou por estado ou

2 Art. 366.  Quando a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento público, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta.

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dever de ofício deva guardar sigilo. Nessa última situação a testemunha não pode depor sobe

pena de cometer o crime de violação de segredo (art. 154 CP).

A regra é que a prova testemunhal seja prestada na audiência de instrução e

julgamento. O requerimento da mesma deve ser feita na inicial e na contestação. No processo

ordinário ensina GRECO FILHO(2008,p.238):

“a parte interessada na produção da prova testemunhal deve requerer a apresentação de tal meio de prova na inicial, se se tratar do autor, e na contestação, se se tratar de réu, e, posteriormente, após o deferimento da prova na fase de saneamento, depositar, até dez dias antes da audiencia, se outro prazo não foi fixado pelo juiz ao designar a audiência, em cartório, o rol de testemunhas com a qualificação de cada uma.

E continua o autor:

“Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da audiência, depositar em cartório o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, profissão, residência e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será apresentado até dez dias antes da audiência. É lícito a cada parte oferecer, no máximo, dez testemunhas; quando qualquer das partes oferecer mais de três testemunhas para a prova de cada fato, o juiz poderá dispensar as restantes (art. 407 e parágrafo único, com redação dada pela lei n. 10.358/2001)”.

Sendo sumário o procedimento deve o rol constar na inicial quando do autor e o réu

deve apresentar com a contestação na primeira audiência.

Pode haver a presença de outras testemunhas mencionadas quando no depoimento de

dessas que sejam relevantes para conhecimento de fatos. É última prova a ser produzida na

audiência. Se a testemunha faltar a audiência poderá ser adiada e a testemunha conduzida,

pode ocorrer também por causa justificada. O juiz recebera a qualificação das testemunhas,

depois disso deferirá ou não o depoimento. Também será dada oportunidade a outra parte a

levantar impedimento e suspeição. No inicio do depoimento a testemunha prestará

compromisso de dizer a verdade e será cientificado do que isso pode acarretar do ponto de

vista penal. O depoimento de uma testemunha não poderá ser ouvida por outra. Primeiramente

serão ouvidas a do autor, posteriormente as do réu. As testemunhas são inquiridas pelo juiz,

não se permitindo perguntas diretas, mas somente através do juiz, que considerando-as

impertinentes as indeferirá. O depoimento deverá ser reduzido a termo idôneo, será assinado

pelo juiz, partes e testemunhas. Havendo recurso esse termo deve ser datilografado. Como

dito anteriormente, a convocação de testemunhas mencionadas é possível, e a parte que

arrolou deverá ser responsável pelas despesa decorrentes. As testemunhas não serão

penalizados seja na esfera privada ou pública nas relações de trabalho,com perda de salário,

falta ou tempo de serviço.

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2.6- Prova pericial

Esse meio de prova como ensina Greco Filho tem a finalidade de documentar nos

autos o conhecimento especializado, inclusive para exame no grau de recurso. Ao determinar

a perícia, todavia, o juiz não abdica nem delega seu poder de decidir, podendo criticar,

comentar e apreciar o laudo precial, acolhedo-o ou não, segundo o conhecimento e as regras

lógicas e técnicas, ensina o mesmo autor. Ou seja, o parecer técnico não é vinculativo ao juiz.

Na lições de WAMBIER(2007,p.548) o código classifica-os da seguinte forma:

“I) Exame: é a perícia propriamente dita, pois consiste no trabalho que o perito faz de inspecionar coisas ou pessoas, procurando desvendar os aspectos técnicos ou científicos que, ocularmente, não encontram visíveis.II) Vistoria: sob essa denominação, entende-se a mesma atividade do exame, mas restrita aos bens imóveis.III) Avaliação: é a atribuição de valores para bens jurídicos (coisas, direitos ou obrigações)”.

Ainda segundo o mesmo autor podem ser judicial,extrajudicial e informal conforme o

ambiente que se produza e o grau de formalidade exigido para sua validade.

Tratando-se de meio que causa retardo no processo e oneroso o juiz deverá avaliar sua

utilidade necessidade e sua viabilidade.

O perito deverá ser pessoa especializada indicada pelo juiz e que observe as mesmas

regras de suspeição e impedimentos relativo aquele, que observará o que alei determina, no

art.422 do CPC, como deverá executar o seu mister. As partes poderão formular quesitos e

apresentar assistentes técnicos de sua confiança em 5 dias (art. 421, §1º).

O juiz de acordo com a natureza do caso reduzir a perícia em inquisição ao mesmo e

aos assistentes ou dispensar esses quando na inicial ou contestação já houver pareceres

técnicos ou documentos que elucidem os fatos.

O laudo do perito deverá se entregue em prazo estipulado pelo juiz, respeitando pelo

menos 20 dias antes da audiência.

Pairado-se dúvidas é possível uma segunda perícia que o juiz determinará.

Os honorários do perito são de responsabilidade de requereu a perícia, ou pelo autor,

quando ambas as partes requererem ou quando determinado de oficio pelo juiz e são

antecipados.

2.7- Inspeção judicial

Nas lições de GRECO FILHO (2008, p.245) :

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“Para alguns a inspeção seria meio valiosíssimo no convencimento do juiz; para outros seria perigoso expediente de envolvimento do magistrado nos fatos”

E arremata o autor:

“Essas duas opiniões, porém, não se excluem, e encerram duas observações verdadeiras: de uma lado pode a inspeção judicial ser o instrumento decisivo para captação da verdade; de outro pode envolver o magistrado no calor da refrega.”

Esse é o motivo pelo qual o CPC institui esse meio de prova como facultativa, de

acordo com o critério do juiz. Então de oficio a requerimento da parte pode inspecionar

pessoas, coisas, em qualquer fase processual. Sendo obrigatório apenas no caso do art 1.181,

exame e interrogatório de interditado.

Na realização poderá o juiz ser assistido pó peritos. Poderá ser feita na sede que se encontra o

objeto da perícia, desde que assim julgue o juiz para um melhor esclarecimento dos fatos.

Na inspeção o juiz poderá ser auxiliado por peritos. Essa inspeção poder ser feita no

local do objeto da mesma, para se evitar despesas desnecessárias, ou para melhor

esclarecimento dos fatos, etc, de acordo com a necessidade que juiz julgar necessária.

O procedimento para inspeção, nas lições de Greco Filho(2008, p.246), é seguinte:

“Determinada a inspeção, o juiz deverá designar dia, hora e local da inspeção, intimando as partes para que possam, se quiserem, acompanhá-la. As partes têm sempre direito a assistir à inspeção, prestando esclarecimento e fazendo observações que reputem de interesse para a causa.Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa, podendo o auto ser acompanhado de desenho, gráfico ou fotografia”.

3.0- Regime jurídico das provas no Código Civil e no Código do Processo Civil

A prova, apesar de sua natureza processual, é tema de interesse tanto do direito

material quanto do processual, por isso torna-se difícil a tarefa de delimitar qual o campo de

regramento próprio de cada um deles. Marcato(2004, p.991) discorrendo sobre o tema cita o

entendimento de Clovis Bevilaqua e Caio Mario da Silva Pereira:

“Entra na esfera do direito civil a determinação das provas, e a indicação tanto do seu valor jurídico quanto das condições de sua admissibilidade. Ao direito processual cabe estabelecer o modo de constituir a prova e de produzi-la em juízo.

Como no Brasil a competência para legislar sobre as matérias é da União a discussão

no plano prático não tem tanta importância, é o que pensa GRECO FILHO. Segundo o mesmo

autor nosso CPC optou pela orientação de considerar tudo quanto relativo a prova nesse

diploma, desconsiderando a legislação material que existia na época sobre o assunto (CC de

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1916). Mas, o Código Civil de 2002, veio tratar da matéria em seus arts. 212 a 232. Ou seja,

no sistema atual o CC que deveria trazer apenas matérias de direito material traz matérias de

direito processual, em especial relativas à prova. Em sinopse, GRECO FILHO(2008, p.216),

faz breve nota dos artigos do Novo Código civil e suas repercussões no Processo:

“Art. 212:relaciona como meios de prova dos fatos jurídicos, salvo os que dependam de forma especial,a confissão documento,a testemunha, a presunção e a perícia. Todos são meios ou fórmulas adotadas no Código de Processo, cabendo, ainda, os demais “moralmente légítmos” aí admitidos.Alt. 213: define o âmbito da confissão, que só pode limitar-se a direitos disponíveis do confitente e nos limites da representação quando feita por representante. Não há alteração no sistema do CPC.Art. 214: dispõe que a confissão 6 irrevogável mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou coação. Não há incompatibilidade com o art. 352 do CPC; eles se completam, apesar de ligeira divergência terminológica.Arts. 215 a 218: elegem a escritura pública come prova plena, enumeram seus requisitos e forma, e dão validade as cópias e outros documentos públicos, com compatibilidade em face dos arts. 364 a 369 do CPC.Ârts. 219 a 226: disciplinam documentos particulares, de for ma compatível e complementar ao CPC.Arts. 227 a 229: estabelecem normas quanto à prova testemunhal compatíveis. como e CPC. Alteraram apenas o valor máximo contratual para a prova exclusivamente testemunhal para decuplo do maior salário mínimo.Art. 230: prevê que as presunções, que não as legais, não se admitem nos casos em que a lei exclui a prova testemunhal, O dispositivo está relacionado com o art. 335 do CPC — que trata das regras de experiência enquanto geradoras de presunções humanas — adiante comentado, e deve entender-se aplicável se a presunção resulta do depoimento testemunhal, não se aplicando se a presunção resultar da experiência técnico a portai da prova pericial.Ãrts. 231e 232: estabelecem uma presunção,a de que ar a submeter-se a exame médico não pode reverter em favor do recusante:e que recusa à perícia médica ordenada pelo juiz pode suprir a prova que se poderia obter com o exame. Já antes do Código Civil entendia-se que as normas sobre presunções eram ou podiam ser civis, de direito material, de modo que os artigos são aplicáveis e podem trazer útil solução em casos, por exemplo, de investigação de paternidade. Têm, na verdade, um aspecto processual que da dispensa do ônus da prova do autor em virtude da recusa do réu e será aplicada pelo juiz no contexto da persuasão racional”.

4.0- Considerações finais

Sendo a norma jurídica um regulador das relações sociais, mas no plano abstrato, que

somente encontra campo para atuação concreta quando um fato da vida se mostra adequado à

sua incidência, é a prova um dos modos pelo qual o magistrado forma o convencimento sobre

as alegações de fatos que sustentam a pretensão das partes. Apesar de ser instituto tipicamente

processual nosso código civil, código de direito essencialmente material, regulou também essa

matéria (art. 212 à 232). É relevante salientar que são coisas diversas : a prova e os meios de

provas, mas por vezes se confundem como na confissão. Os meios seriam as diversas

modalidades pelas quais a constatação sobre a ocorrência ou não dos fatos chega até o juiz. A

prova propriamente dita seriam a adequação das alegações aos fatos levantados.

Page 15: provas em espécies

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5.0- Referencias Bibliográfica

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 14. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2006. v.1.

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 19. ed. São Paulo:Saraiva,2008.

MARCATO, Antônio Carlos. Código do Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 2004.

MONTEGNEGRO FILHO, Misael. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento I. 4.ed.São Paulo:Atlas,2005.v.1

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flavio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 9. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2006/2007. v.1