informativos stf 2017 · 2019. 2. 26. · informativo stf não possa ser considerado oficial,...

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Page 1: INFORMATIVOS STF 2017 · 2019. 2. 26. · Informativo STF não possa ser considerado oficial, baseia-se estritamente em informa-ções públicas. A obra que ora se apresenta baseia-se

Organizado por mateacuterias

INFORMATIVOS

STF 2017TESES E FUNDAMENTOS

INFORMATIVOS

2017STF TESES E FUNDAMENTOS

Organizado por mateacuterias

Brasiacutelia 2018

Secretaria-Geral da Presidecircncia

Maria Cristina Petcov

Secretaria de Documentaccedilatildeo Ana Valeacuteria de Oliveira Teixeira

Coordenadoria de Jurisprudecircncia Comparada e Divulgaccedilatildeo de Julgados Andreia Fernandes de Siqueira

Coordenadoria de Divulgaccedilatildeo de Jurisprudecircncia Juliana Viana Cardoso

Redaccedilatildeo Alessandra Correia Marreta Andreia Fernandes de Siqueira Anna Daniela de Arauacutejo Martins dos Santos Diego Oliveira de Andrade Soares Fernando Carneiro Rosa Fortes Gisele Landim de Souza Janaiacutena Nicolau Delgado Jean Francisco Correcirca Minuzzi Joatildeo de Souza Nascimento Neto Luiz Carlos Gomes de Freitas Junior Maria Beatriz Moura de Saacute Ricardo Henriques Pontes Tays Renata Lemos Nogueira e Tiago Batista Cardoso

Produccedilatildeo graacutefica e editorial Juliana Viana Cardoso Renan de Moura Sousa e Rochelle Quito

Revisatildeo Ameacutelia Lopes Dias de Arauacutejo Daniela Pires Cardoso Juliana Silva Pereira de Souza Lilian de Lima Falcatildeo Braga Maacutercia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy e Patriacutecio Coelho Noronha

Capa Roberto Hara Watanabe

Projeto graacutefico Eduardo Franco Dias

Diagramaccedilatildeo Camila Penha Soares

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)Supremo Tribunal Federal ndash Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal

Brasil Supremo Tribunal Federal (STF)

Informativos STF 2017 [recurso eletrocircnico] teses e fundamentos Supre-mo Tribunal Federal -- Brasiacutelia STF Secretaria de Documentaccedilatildeo 2018

485 p

Organizado por mateacuterias

Modo de acesso lthttpwwwstfjusbrlivroinformativos2017gt

ISBN 978-85-54223-02-1

1 Tribunal Supremo jurisprudecircncia Brasil I Tiacutetulo

CDDir-3414191

Ministra Caacutermen Luacutecia Antunes Rocha (21-6-2006) Presidente

Ministro Joseacute Antonio Dias Toffoli (23-10-2009) Vice-Presidente

Ministro Joseacute Celso de Mello Filho (17-8-1989) Decano

Ministro Marco Aureacutelio Mendes de Farias Mello (13-6-1990)

Ministro Gilmar Ferreira Mendes (20-6-2002)

Ministro Enrique Ricardo Lewandowski (16-3-2006)

Ministro Luiz Fux (3-3-2011)

Ministra Rosa Maria Pires Weber (19-12-2011)

Ministro Luiacutes Roberto Barroso (26-6-2013)

Ministro Luiz Edson Fachin (16-6-2015)

Ministro Alexandre de Moraes (22-3-2017)

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

APRESENTACcedilAtildeO

Tanto nas faculdades de Direito como nos manuais das disciplinas desse ramo do conhecimento eacute notaacutevel o destaque que vem sendo dado aos posicionamentos ju-diciais Na mesma esteira a atuaccedilatildeo dos profissionais do Direito eacute cada vez mais lastreada em precedentes dos tribunais superiores e notadamente do Supremo Tribunal Federal (STF)

Nesse contexto eacute possiacutevel inferir que haacute crescente interesse por obras que fran-queiem de forma organizada e de faacutecil consulta o acesso agrave jurisprudecircncia emanada pelo STF

Com o intuito de atender tal demanda o Tribunal vem publicando desde 1995 o Informativo STF espeacutecie de ldquojornal juriacutedicordquo que veicula resumos originalmente semanais e hoje tambeacutem mensais das circunstacircncias faacuteticas e processuais e dos fun-damentos proferidos oralmente nas sessotildees de julgamento

Conforme consta do cabeccedilalho de todas as ediccedilotildees do perioacutedico os boletins satildeo elaborados ldquoa partir de notas tomadas nas sessotildees de julgamento das Turmas e do Plenaacuteriordquo de modo que contecircm ldquoresumos natildeo oficiais de decisotildees proferidas pelo Tribunalrdquo Faz-se tal observaccedilatildeo para esclarecer ao leitor que embora o conteuacutedo do Informativo STF natildeo possa ser considerado oficial baseia-se estritamente em informa-ccedilotildees puacuteblicas

A obra que ora se apresenta baseia-se exclusivamente nos acoacuterdatildeos publicados ao longo de 2017 tendo por referecircncia casos que foram noticiados no Informativo STF O acesso aos argumentos de Suas Excelecircncias na exatidatildeo precisa do vernaacuteculo escrito permite explorar a riqueza teacutecnica neles contida e estudar com mais rigor a funda-mentaccedilatildeo das decisotildees do Tribunal

Eacute bom ressaltar que o leitor pode acompanhar mensalmente este trabalho ao aces-sar o Boletim de Acoacuterdatildeos Publicados disponiacutevel no site do Tribunal (Portal do STFJurisprudecircnciaBoletim de Acoacuterdatildeos Publicados)

Um novo ponto de vista sobre a jurisprudecircncia

Eacute da essecircncia do Informativo STF produzir uma siacutentese de decisotildees proferidas pela Cor-te durante as sessotildees de julgamento sem avanccedilar em anaacutelise abstrata da jurisprudecircn-

cia do Tribunal Jaacute o livro Teses e fundamentos percorre caminho diverso e se aprofunda nos julgados do STF para oferecer um produto mais complexo

Desse modo o livro tem por objetivos I ndash Elaborar teses redigidas com base no dispositivo1 dos acoacuterdatildeos e abstraiacutedas das notiacutecias de julgamento e II ndash Analisar a fundamentaccedilatildeo adotada pelo Tribunal e na sequecircncia esboccedilar um panorama do entendimento da Corte sobre os ramos do DireitoA proposta eacute que as teses apontem como caminhou a jurisprudecircncia da Suprema

Corte brasileira ao longo do ano e ainda permitam vislumbrar futuros posiciona-mentos do Tribunal tendo por referecircncia os processos jaacute julgados Cumpre destacar que essas teses ndash com os respectivos fundamentos ndash natildeo traduzem necessariamente a pacificaccedilatildeo da jurisprudecircncia num ou noutro sentido Elas se prestam simplesmente a fornecer mais um instrumento de estudo da jurisprudecircncia e a complementar a funccedilatildeo desempenhada pelo Informativo STF

Tendo isso em vista os textos que compotildeem o livro estruturam-se em tese ju-

riacutedica extraiacuteda do julgado2 e resumo da fundamentaccedilatildeo2 Pretende-se com esse padratildeo que o destaque dado aos dispositivos dos acoacuterdatildeos seja complementado por seus respectivos fundamentos

A ediccedilatildeo de 2017 passou por reformulaccedilatildeo do projeto graacutefico Os dados do pro-

cesso em anaacutelise2 foram movidos para o cabeccedilalho de cada resumo e com o objetivo de garantir acesso raacutepido ao conteuacutedo de teses fixadas no fim da obra foi incluiacuteda uma lista de todas as teses contidas no livro organizadas por ramo do Direito

As decisotildees acerca da redaccedilatildeo e da estrutura do livro foram guiadas tambeacutem pela busca da otimizaccedilatildeo do tempo de seu puacuteblico-alvo Afinal a leitura de acoacuterdatildeos de votos ou mesmo de ementas demandaria esforccedilo interpretativo e tempo dos quais o estudante ou o operador do Direito muitas vezes natildeo dispotildee Assim deu-se pre-ferecircncia a formato de redaccedilatildeo que destacasse o dispositivo do acoacuterdatildeo e seus funda-mentos ao mesmo tempo que traduzisse de forma sinteacutetica o entendimento do STF

Em busca de mais fluidez e concisatildeo decidiu-se retirar do texto principal as re-ferecircncias que natildeo fossem essenciais agrave sua redaccedilatildeo Assim foram transpostos para notas de fim2 entre outras informaccedilotildees pertinentes relatoacuterios de situaccedilotildees faacuteticas e observaccedilotildees processuais quando necessaacuterios agrave compreensatildeo do caso precedentes jurisprudenciais e transcriccedilotildees de normativos ou de doutrina3

A mesma objetividade que orientou a estrutura redacional dos resumos norteou a organizaccedilatildeo dos julgados em disciplinas do Direito e em temas Estes por sua vez

foram subdivididos em assuntos2 especiacuteficos Tal sistematizaccedilatildeo do conteuacutedo visa mais uma vez facilitar o trabalho dos estudantes e dos operadores do Direito que compotildeem o puacuteblico-alvo desta obra

A esse respeito sob o acircngulo dos ramos do Direito optou-se pela anaacutelise vertical dos julgados do ano o que propicia raacutepida visualizaccedilatildeo e comparaccedilatildeo de mateacuterias semelhantes decididas pelos oacutergatildeos do STF A obra permite assim que o leitor veri-fique de forma faacutecil e segura a evoluccedilatildeo jurisprudencial de um dado tema ao longo do tempo

A ideia foi em resumo aliar a objetividade caracteriacutestica do Informativo STF com a profundidade e a riqueza teacutecnico-juriacutedica contida nos acoacuterdatildeos e nos votos dos ministros Para cumprir tal finalidade foi necessaacuterio interpretar os acoacuterdatildeos dos jul-gamentos

Todavia se por um lado eacute certo que a redaccedilatildeo de resumos demanda algum grau de liberdade interpretativa dos documentos originais por outro a hermenecircutica re-conhece ser inerente agrave interpretaccedilatildeo juriacutedica certa dose de subjetividade

Nessa perspectiva embora os analistas responsaacuteveis pelo trabalho tenham se es-forccedilado para ndash acima de tudo ndash manter fidelidade aos entendimentos do STF ao mes-mo tempo que conciliavam concisatildeo e acuidade na remissatildeo aos fundamentos das decisotildees natildeo se deveraacute perder de vista que os resultados do exame da jurisprudecircncia aqui expostos satildeo fruto de interpretaccedilatildeo desses servidores

Espaccedilo para participaccedilatildeo do leitor

Os enunciados aqui publicados tanto podem conter trechos do julgado original ndash na hipoacutetese de estes sintetizarem a ideia principal ndash quanto podem ser resultado ex-clusivo da interpretaccedilatildeo dos acoacuterdatildeos pelos analistas responsaacuteveis pela compilaccedilatildeo Na obra estatildeo disponiacuteveis os links de acesso agrave iacutentegra dos acoacuterdatildeos o que facilita a conferecircncia da acuidade dessa interpretaccedilatildeo O leitor poderaacute encaminhar duacutevidas criacuteticas e sugestotildees para o e-mail cjcdstfjusbr

Ademais entre as razotildees que motivaram a ediccedilatildeo deste trabalho e a opccedilatildeo por este formato especiacutefico estaacute justamente o propoacutesito de fomentar a discussatildeo e de con-tribuir para a difusatildeo do ldquopensamentordquo do Tribunal e para a construccedilatildeo do conheci-mento juriacutedico Com isso promove-se maior abertura agrave participaccedilatildeo da sociedade no exerciacutecio da atividade constitucionalmente atribuiacuteda ao STF

1 Deve-se ter em mente que muitas vezes os dispositivos dos acoacuterdatildeos se limitam a ldquodar (ou ne-gar) provimento ao recursordquo ou ainda ldquoconceder (ou natildeo) a ordemrdquo Embora esses comandos jurisdicionais efetivamente componham o dispositivo da sentenccedila do ponto de vista da anaacutelise das decisotildees judiciais ndash e da jurisprudecircncia ndash eles significam muito pouco Por evidente o objeto deste trabalho eacute o tema decidido pela Corte seja ele de direito material seja de direito processual e natildeo o mero resultado processual de uma demanda especiacutefica Nesse sentido talvez seja possiacutevel discer-nir entre o conteuacutedo formal da decisatildeo que seria exemplificativamente o resultado do recurso (conhecidonatildeo conhecido providonatildeo provido) ou da accedilatildeo (procedecircnciaimprocedecircncia) e o conteuacutedo material da decisatildeo que efetivamente analisa a questatildeo de direito (material ou proces-sual) debatida e possui relevacircncia para a anaacutelise da jurisprudecircncia Em outras palavras o conteuacutedo material da decisatildeo corresponderia aos fragmentos do provimento jurisdicional que tecircm aptidatildeo para transcender ao processo em anaacutelise e constituir o repertoacuterio de entendimentos do Tribunal sobre o ordenamento juriacutedico brasileiro

2 Ver Infograacutefico paacutegina 8

3 Informaccedilotildees entre colchetes natildeo constam do texto original

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado

Nos termos do art 20 XI da Constituiccedilatildeo Federal satildeo bens da Uniatildeo ldquoas terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendiosrdquo

Aleacutem disso desde a Carta de 1934 natildeo se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indiacutegenas como devolutas o mesmo ocorrendo na Constituiccedilatildeo de 1988 por meio de expressa disposiccedilatildeo contida no art 26 IV1

Nesse sentido definido pelas provas carreadas aos autos que as terras que passaram a compor parque indiacutegena eram ocupadas historicamente por iacutendios natildeo haacute falar em titularidade do Estado-membro tampouco em eventual dever de a Uniatildeo indenizaacute-lo por suposta desapropriaccedilatildeo indireta

1 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () IV ndash as terras devolutas natildeo compreendidas entre as da Uniatildeordquo

Assunto

Tese juriacutedica extraiacuteda do julgado

Resumo da fundamentaccedilatildeo

Dados do processo em anaacutelise

Nota de fim

ACO 362DJE de 3-10-2017ACO 366DJE de 1ordm-10-2018rel min Marco Aureacutelio

PlenaacuterioInformativo STF 873

INFOGRAacuteFICO

SUMAacuteRIO

Siglas e abreviaturas 10

Siglas de classes e incidentes processuais 11

Direito Administrativo 12

Direito Ambiental 66

Direito Civil 70

Direito Constitucional 81

Direito Eleitoral 235

Direito Empresarial 243

Direito Financeiro 257

Direito Internacional 260

Direito Penal 269

Direito Previdenciaacuterio 307

Direito Processual Civil 319

Direito Processual Penal 351

Direito Tributaacuterio 396

Iacutendice de teses 427

SIGLAS E ABREVIATURAS

ac acoacuterdatildeo1ordf T Primeira Turma2ordf T Segunda TurmaCF Constituiccedilatildeo FederalCNJ Conselho Nacional de JusticcedilaCofins Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade SocialCP Coacutedigo PenalCPC Coacutedigo de Processo CivilCPP Coacutedigo de Processo PenalCRFB Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do BrasilCTN Coacutedigo Tributaacuterio NacionalDJ Diaacuterio da JusticcedilaDJE Diaacuterio da Justiccedila EletrocircnicoEC Emenda ConstitucionalICMS Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e ServiccedilosINSS Instituto Nacional do Seguro Socialj julgamento emLC Lei ComplementarLOA Lei Orccedilamentaacuteria AnualLoman Lei Orgacircnica da Magistratura NacionalOAB Ordem dos Advogados do BrasilP PlenaacuterioPASEP Programa de Formaccedilatildeo do Patrimocircnio do Servidor PuacuteblicoPIS Programa de Integraccedilatildeo Socialred p o ac redator para o acoacuterdatildeorel min relator o ministroRICD Regimento Interno da Cacircmara dos DeputadosRTJ Revista Trimestral de JurisprudecircnciaSTF Supremo Tribunal FederalT TurmaTJ Tribunal de JusticcedilaTCU Tribunal de Contas da UniatildeoTRF Tribunal Regional Federal

SIGLAS DE CLASSES E INCIDENTES PROCESSUAIS

AC Accedilatildeo CautelarACO Accedilatildeo Ciacutevel OriginaacuteriaADC Accedilatildeo Declaratoacuteria de ConstitucionalidadeADI Accedilatildeo Direta de InconstitucionalidadeADO Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade por OmissatildeoADPF Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito FundamentalAgR Agravo RegimentalAI Agravo de InstrumentoAO Accedilatildeo OriginaacuteriaAP Accedilatildeo PenalAR Accedilatildeo RescisoacuteriaARE Recurso Extraordinaacuterio com AgravoCC Conflito de CompetecircnciaED Embargos de DeclaraccedilatildeoEDv Embargos de DivergecircnciaEI Embargos infringentesEP Execuccedilatildeo PenalExt ExtradiccedilatildeoHC Habeas CorpusIndCom Indulto ou ComutaccedilatildeoInq InqueacuteritoMC Medida CautelarMI Mandado de InjunccedilatildeoMS Mandado de SeguranccedilaPet PeticcedilatildeoProgReg Progressatildeo de RegimeQO Questatildeo de OrdemRcl ReclamaccedilatildeoRE Recurso ExtraordinaacuterioREF ReferendoRG Repercussatildeo GeralRHC Recurso em Habeas CorpusRMS Recurso em Mandado de SeguranccedilaRp RepresentaccedilatildeoSE Sentenccedila Estrangeira

DIR

EA

DM

DIR

EIT

O

AD

MIN

IST

RAT

IVO

ATOS ADMINISTRATIVOSDIREITO ADMINISTRATIVO

14iacutendice de teses

Eacute vedado ao Poder Judiciaacuterio analisar o meacuterito de ato administrativo

O meacuterito do ato administrativo trata de ldquomateacuteria submetida a criteacuterios de conve-niecircncia e oportunidaderdquo1

Aumento de vencimento legalmente concedido com data predeterminada

para iniacutecio de eficaacutecia caracteriza aquisiccedilatildeo de direito

Posta a norma que conferiu aumentos dos valores remuneratoacuterios natildeo se haacute cogitar de expectativa mas de direito que natildeo mais poderia vir a ser reduzido pelo legislador A diminuiccedilatildeo dos valores legalmente estatuiacutedos configura reduccedilatildeo de vencimentos em sistema constitucional no qual a irredutibilidade eacute a regra a ser obedecida2

Assim aumento salarial legalmente concedido ndash e jaacute incorporado ao patrimocircnio dos servidores tendo prazo inicial definido para sua eficaacutecia financeira ndash recai no ter-mo prefixo a que se refere o sect 2ordm do art 6ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que caracteriza a aquisiccedilatildeo do direito e a proteccedilatildeo juriacutedica que lhe concede a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

1 RMS 23543 rel min Ilmar Galvatildeo 1ordf T DJ de 13-10-2000

2 RE 298694 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 23-4-2004

Direito Administrativo Ȥ Atos administrativos

Ȥ Meacuterito administrativo Ȥ Controle do meacuterito

ADI 4013rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 19-4-2017Informativo STF 819

CONTRATOS ADMINISTRATIVOSDIREITO ADMINISTRATIVO

16iacutendice de teses

RE 760931RG ‒ Tema 246 red p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 12-9-2017Informativo STF 862

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado

natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabili-

dade pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou subsidiaacuterio nos ter-

mos do art 71 sect 1ordm da Lei 866619931

A responsabilizaccedilatildeo do poder puacuteblico natildeo pode ocorrer de maneira geneacuterica ou au-tomaacutetica A imputaccedilatildeo da culpa in vigilando ou in elegendo agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica por suposta deficiecircncia na fiscalizaccedilatildeo da fiel observacircncia das normas trabalhistas pela empresa contratada somente pode acontecer nos casos em que se tenha a efe-tiva comprovaccedilatildeo da ausecircncia de fiscalizaccedilatildeo

A alegada ausecircncia de comprovaccedilatildeo em juiacutezo da efetiva fiscalizaccedilatildeo do contrato natildeo substitui a necessidade de prova taxativa do nexo de causalidade entre a conduta da Administraccedilatildeo e o dano sofrido A Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo pode responder pelas diacutevidas trabalhistas da contratada a partir de mera presunccedilatildeo Soacute eacute admissiacutevel que isso ocorra caso a condenaccedilatildeo esteja inequivocamente lastreada em elementos concretos de prova da falha da fiscalizaccedilatildeo do contrato

A Lei 90321995 ao reformar o art 71 da Lei 86661993 criou um sect 2ordm2 dizen-do no sect 1ordm que natildeo haacute responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo Puacuteblica pelo inadimplemento das obrigaccedilotildees trabalhistas A Administraccedilatildeo Puacuteblica jaacute cumpre no momento da licitaccedilatildeo a observacircncia da aptidatildeo orccedilamentaacuteria e financeira da empresa contratada A constitucionalidade desse sect 1ordm declarada na Accedilatildeo Declaratoacuteria de Cons-titucionalidade 163 veda a transferecircncia automaacutetica agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica dos en-cargos trabalhistas resultantes da execuccedilatildeo do contrato de prestaccedilatildeo dos serviccedilos

Com relaccedilatildeo agrave responsabilidade fiscal inserida no sect 2ordm haacute responsabilidade so-lidaacuteria da Administraccedilatildeo Ademais com o advento da Lei 90321995 o legislador buscou excluir a responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo no sentido de evitar o descumprimento do disposto no art 71 da Lei 86661993

Direito Administrativo Ȥ Contratos administrativos

Ȥ Execuccedilatildeo dos contratos Ȥ Responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

17iacutendice de teses

1 ldquoArt 71 O contratado eacute responsaacutevel pelos encargos trabalhistas previdenciaacuterios fiscais e comerciais resultantes da execuccedilatildeo do contrato sect 1ordm A inadimplecircncia do contratado com referecircncia aos encar-gos trabalhistas fiscais e comerciais natildeo transfere agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a responsabilidade por seu pagamento nem poderaacute onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizaccedilatildeo e o uso das obras e edificaccedilotildees inclusive perante o Registro de Imoacuteveisrdquo (Redaccedilatildeo dada pela Lei 9032 de 1995)

2 ldquoArt 71 () sect 2ordm A Administraccedilatildeo responde solidariamente com o contratado pelos encargos previ-denciaacuterios resultantes da execuccedilatildeo do contrato nos termos do art 31 da Lei n 8212 de 24 de julho de 1991rdquo (Redaccedilatildeo dada pela Lei 9032 de 1995)

3 ADC 16 rel min Cezar Peluso P DJE de 24-11-2010

CONTROLE DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO ADMINISTRATIVO

19iacutendice de teses

RE 553710RG ‒ Tema 3941 rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 847

Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisi-

ccedilatildeo ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do

oacutergatildeo competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo

uacutenico da Lei 1055920022 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequi-

do e certo

Ao tratar do regime do anistiado poliacutetico a Lei 105592002 aleacutem de reconhecer a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico tambeacutem reconheceu ao beneficiado o direito a repa-raccedilatildeo econocircmica de caraacuteter indenizatoacuterio que pode ser paga em prestaccedilatildeo uacutenica ou em prestaccedilatildeo mensal permanente e continuada

A existecircncia de dotaccedilatildeo legal eacute suficiente para que haja o cumprimento integral da portaria que reconheceu a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico conforme o art 12 sect 4ordm da Lei 105592002

Demonstrada portanto a existecircncia de dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria decorrente de presumida legiacutetima programaccedilatildeo financeira pela Uniatildeo natildeo se visualiza afronta ao princiacutepio da legalidade da despesa puacuteblica ou agraves regras constitucionais que impotildeem limitaccedilotildees agraves despesas de pessoal e concessotildees de vantagens e benefiacutecios pessoais

Dessa forma o descumprimento da obrigaccedilatildeo de pagamento ldquode valor certo e determinado caracteriza ato omissivo da Administraccedilatildeo Puacuteblicardquo3

Aleacutem disso ao Poder Judiciaacuterio natildeo compete a anaacutelise de forma detalhada da exe-cuccedilatildeo orccedilamentaacuteria para concluir pela suficiecircncia ou insuficiecircncia de recursos para o pagamento das indenizaccedilotildees aos anistiados poliacuteticos Esse exame cabe ao admi-nistrador em momento anterior agrave publicaccedilatildeo da portaria que declara a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico e assegura as reparaccedilotildees econocircmicas correspondentes

Direito Administrativo Ȥ Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Controle judicial Ȥ Mandado de seguranccedila ndash Repercussatildeo Geral

20iacutendice de teses

Havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees

devidas aos anistiados poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibi-

lidade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado

no prazo de sessenta dias

Havendo accedilatildeo especiacutefica para pagamento das reparaccedilotildees econocircmicas a anistiados poliacuteticos civis bem como destinaccedilatildeo da verba em montante expressivo em lei natildeo se pode acolher a alegaccedilatildeo de ausecircncia de previsatildeo orccedilamentaacuteria para atendimento da pretensatildeo4

Ademais natildeo haacute que se aplicar o regime juriacutedico do art 100 da Constituiccedilatildeo Federal se a Administraccedilatildeo Puacuteblica reconhece administrativamente que o anistiado possui direito ao valor decorrente da concessatildeo da anistia A diacutevida da Fazenda Puacuteblica natildeo foi reconhecida por meio de decisatildeo do Poder Judiciaacuterio A discussatildeo cinge-se ao mo-mento do pagamento O direito liacutequido e certo do impetrante jaacute foi reconhecido pela portaria especiacutefica que declarou sua condiccedilatildeo de anistiado sendo entatildeo fixado o valor que lhe era devido de cunho indenizatoacuterio O que se tem na espeacutecie eacute uma obrigaccedilatildeo de fazer por parte da Uniatildeo que estaacute sendo descumprida

Por fim natildeo se admite o argumento de que o pagamento dos valores levaraacute a uma situaccedilatildeo de exaustatildeo orccedilamentaacuteria pois a inexistecircncia de recursos deve ser real demonstrada de forma esclarecedora A exaustatildeo jaacute deve estar presente ou seja a indisponibilidade de caixa deve ser situaccedilatildeo atual e natildeo mera possibilidade futura

1 ldquoFixada a seguinte tese de repercussatildeo geral dividida em trecircs pontos 1) Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisiccedilatildeo ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do oacutergatildeo competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo uacutenico da Lei 105592002 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequido e certo 2) havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees devidas aos anistia-dos poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibilidade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias 3) na ausecircncia ou na insuficiecircncia de disponi-bilidade orccedilamentaacuteria no exerciacutecio em curso cumpre agrave Uniatildeo promover sua previsatildeo no projeto de lei orccedilamentaacuteria imediatamente seguinterdquo

21iacutendice de teses

2 ldquoArt 12 Fica criada no acircmbito do Ministeacuterio da Justiccedila a Comissatildeo de Anistia com a finalidade de examinar os requerimentos referidos no art 10 desta Lei e assessorar o respectivo Ministro de Esta-do em suas decisotildees () sect 4ordm As requisiccedilotildees e decisotildees proferidas pelo Ministro de Estado da Justiccedila nos processos de anistia poliacutetica seratildeo obrigatoriamente cumpridas no prazo de sessenta dias por todos os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica e quaisquer outras entidades a que estejam dirigidas ressalvada a disponibilidade orccedilamentaacuteria () Art 18 Caberaacute ao Ministeacuterio do Planejamento Or-ccedilamento e Gestatildeo efetuar com referecircncia agraves anistias concedidas a civis mediante comunicaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila no prazo de sessenta dias a contar dessa comunicaccedilatildeo o pagamento das reparaccedilotildees econocircmicas desde que atendida a ressalva do sect 4ordm do art 12 desta Leirdquo

3 RMS 26899 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 6-8-2010

4 RMS 27094 rel min Dias Toffoli DJE de 2-8-2010

22iacutendice de teses

RMS 34054rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 28-8-2017Informativo STF 863

A instauraccedilatildeo de processo especiacutefico de anulaccedilatildeo de anistia caracteriza ato im-

pugnaacutevel capaz de por si soacute viabilizar impugnaccedilatildeo pela via mandamental

O tema relacionado agrave revisatildeo das anistias deferidas a militares afastados por mo-tivos poliacuteticos pode ser delimitado em pelo menos duas fases a) publicaccedilatildeo de portaria1 por meio da qual se determina a realizaccedilatildeo de amplo procedimento de revisatildeo das portarias declaratoacuterias da condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico2 b) instaura-ccedilatildeo de processos individuais de reanaacutelise dos atos de anistia etapa inaugurada por despacho do ministro da Justiccedila no sentido da revisatildeo de ofiacutecio das concessotildees de anistia autorizada a abertura de processo de anulaccedilatildeo de portaria declaratoacuteria da condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico

A mera instauraccedilatildeo de processo geral de revisatildeo de anistias estaacutegio inicial do pro-cedimento de autotutela administrativa natildeo caracteriza ato lesivo a direito capaz de por si soacute viabilizar a impugnaccedilatildeo pela via mandamental3 No entanto as balizas satildeo outras quando ultrapassada a primeira fase procedimental estrita a estudos prelimi-nares sobre os atos concessivos de anistia a Administraccedilatildeo instaura processo tenden-te agrave anulaccedilatildeo de portaria de anistia individualizada

Nessa hipoacutetese a atuaccedilatildeo estatal mostra-se ameaccedila real objetiva e iminente agrave situaccedilatildeo juriacutedica do anistiado Assim a claacuteusula constitucional de acesso ao Judiciaacute-rio porquanto assegura ao cidadatildeo tutela contra lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direito direciona agrave adequaccedilatildeo do mandado de seguranccedila a fim de assegurar direito liacutequido e certo do impetrante

Por fim em ambas as fases a oacutetica central sustentada pelos anistiados eacute a con-figuraccedilatildeo da decadecircncia da possibilidade de o poder puacuteblico rever e anular os atos anistiadores Nesse ponto caberaacute agrave Administraccedilatildeo demonstrar junto ao Superior Tribunal de Justiccedila a natildeo ocorrecircncia presente o fato de a norma veiculada na parte final do art 54 da Lei 978419994 constituir exceccedilatildeo agrave regra que favorece o benefi-ciaacuterio do ato administrativo

Direito Administrativo Ȥ Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Controle judicial Ȥ Mandado de seguranccedila

23iacutendice de teses

1 Portaria Interministerial 1342011 do ministro de Estado da Justiccedila e do advogado-geral da Uniatildeo

2 Editadas em decorrecircncia dos afastamentos motivados pela Portaria 1104-GM31964 da Forccedila Aeacute-rea Brasileira

3 Precedentes RMS 30973 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 29-3-2012 e RMS 30993 rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJE de 4-5-2012

4 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NA PROPRIEDADEDIREITO ADMINISTRATIVO

25iacutendice de teses

A expropriaccedilatildeo prevista no art 243 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pode ser

afastada desde que o proprietaacuterio comprove que natildeo incorreu em culpa ain-

da que in vigilando ou in eligendo

O instituto previsto no art 243 da CF natildeo se traduz em verdadeira espeacutecie de desa-propriaccedilatildeo mas em penalidade ou confisco imposto ao proprietaacuterio que praticou a atividade iliacutecita de cultivar plantas psicotroacutepicas sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo sanitaacuterio do Ministeacuterio da Sauacutede2

A nova redaccedilatildeo dada pela Emenda Constitucional 812014 aleacutem de incluir a exploraccedilatildeo de trabalho escravo como nova hipoacutetese de cabimento do confisco su-primiu a previsatildeo de que a expropriaccedilatildeo seria imediata e inseriu a observacircncia dos direitos fundamentais previstos no art 5ordm da CF no que couber

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal em nenhum momento menciona a participaccedilatildeo do proprietaacuterio no cultivo iliacutecito para ensejar a sanccedilatildeo Poreacutem natildeo se pode negar que a medida eacute sancionatoacuteria exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterizaccedilatildeo

A nova redaccedilatildeo do art 243 da CF aclarou a necessidade de observacircncia de nexo miacutenimo de imputaccedilatildeo da atividade iliacutecita ao atingido pela sanccedilatildeo A responsabilidade do proprietaacuterio embora subjetiva eacute bastante proacutexima da objetiva

Se o proprietaacuterio agiu com culpa mesmo natildeo tendo participado diretamente de-veraacute ser expropriado A funccedilatildeo social da propriedade gera para o proprietaacuterio o dever de zelar pelo uso liacutecito do seu imoacutevel ainda que natildeo esteja na posse direta

Poreacutem esse dever natildeo eacute ilimitado Somente se pode exigir do proprietaacuterio que evite o iliacutecito quando isso estiver razoavelmente ao seu alcance O proprietaacuterio pode portanto afastar sua responsabilidade demonstrando que natildeo incorreu em culpa Pode provar que foi esbulhado ou ateacute enganado por possuidor ou detentor

Por fim em caso de condomiacutenio havendo boa-feacute de apenas alguns dos proprie-taacuterios a sanccedilatildeo deve ser aplicada Restaraacute ao proprietaacuterio inocente buscar reparaccedilatildeo dos demais

Direito Administrativo Ȥ Intervenccedilatildeo do Estado na propriedade

Ȥ Expropriaccedilatildeo Ȥ Demonstraccedilatildeo de culpa ndash Repercussatildeo Geral

RE 635336RG ‒ Tema 399rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 15-9-2017Informativo STF 851

26iacutendice de teses

1 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem localizadas cul-turas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordm Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreen-dido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

2 GASPARINI Dioacutegenes Direito administrativo 17 ed Satildeo Paulo Saraiva 2012 p 202

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO ADMINISTRATIVO

28iacutendice de teses

Eacute aplicaacutevel o regime dos precatoacuterios agraves sociedades de economia mista presta-

doras de serviccedilo puacuteblico proacuteprio do Estado e de natureza natildeo concorrencial1

Ao atuar nessas condiccedilotildees a sociedade de economia mista ldquopresta serviccedilo puacuteblico primaacuterio e em regime de exclusividade o qual corresponde agrave proacutepria atuaccedilatildeo do Estado haja vista natildeo visar agrave obtenccedilatildeo de lucro e deter capital social majoritaria-mente estatalrdquo2

Permitir ordens de bloqueio penhora e liberaccedilatildeo de valores da conta uacutenica do Estado de forma indiscriminada fundadas em direitos subjetivos individuais poderia significar retardo ou descontinuidade de poliacuteticas puacuteblicas ou ainda desvio da forma legalmente prevista para a utilizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos3

Por consequecircncia o uso indiscriminado desses procedimentos aleacutem de desvirtuar a vontade do legislador estadual e violar os princiacutepios constitucionais da atividade financeira estatal em especial o da legalidade orccedilamentaacuteria (CF art 167 IV4) consti-tuiria interferecircncia indevida em ofensa aos princiacutepios da independecircncia e da harmo-nia entre os Poderes (CF art 2ordm5)

1 Precedentes RE 225011 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 19-12-2002 RE 393032 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 18-12-2009 e RE 852527 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 13-2-2015

2 RE 852302 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 26-2-2016

3 ADPF 114 MC rel min Joaquim Barbosa decisatildeo monocraacutetica DJ de 27-6-2007

4 ldquoArt 167 Satildeo vedados () IV ndash a vinculaccedilatildeo de receita de impostos a oacutergatildeo fundo ou despesa ressalvadas a reparticcedilatildeo do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos a que se referem os arts 158 e 159 a destinaccedilatildeo de recursos para as accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede para manutenccedilatildeo e desenvolvi-mento do ensino e para realizaccedilatildeo de atividades da administraccedilatildeo tributaacuteria como determinado res-

Direito Administrativo Ȥ Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Administraccedilatildeo Indireta Ȥ Sociedades de economia mista

ADPF 387rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-10-2017Informativo STF 858

29iacutendice de teses

pectivamente pelos arts 198 sect 2ordm 212 e 37 XXII e a prestaccedilatildeo de garantias agraves operaccedilotildees de creacutedito por antecipaccedilatildeo de receita previstas no art 165 sect 8ordm bem como o disposto no sect 4ordm deste artigordquo

5 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

30iacutendice de teses

Os pagamentos devidos em razatildeo de pronunciamento judicial pelos conse-

lhos de fiscalizaccedilatildeo natildeo se submetem ao regime de precatoacuterios

O art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 que cuida do sistema de precatoacuterios diz res-peito a pagamentos a serem feitos natildeo pelos conselhos mas pelas Fazendas Puacuteblicas

Os conselhos de fiscalizaccedilatildeo profissionais satildeo autarquias especiais possuem perso-nalidade juriacutedica de direito puacuteblico e estatildeo submetidos agraves regras constitucionais tais como a fiscalizaccedilatildeo pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo e a submissatildeo ao sistema de concurso puacuteblico para arregimentaccedilatildeo de pessoal

Entretanto esses conselhos natildeo estatildeo submetidos ao Capiacutetulo II do Tiacutetulo VI da CF ndash que versa sobre financcedilas puacuteblicas (arts 163 a 169) ndash natildeo satildeo oacutergatildeos dotados de orccedilamentos e tampouco recebem aportes do Poder Central que eacute a Uniatildeo

Nesse sentido se natildeo eacute possiacutevel incluir os conselhos no grande todo representado pela Fazenda Puacuteblica natildeo eacute possiacutevel aplicar a eles o art 100 da CF Por conseguinte o deacutebito de conselho fiscalizador profissional natildeo eacute executaacutevel como deacutebito da Fazenda

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

Direito Administrativo Ȥ Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Administraccedilatildeo Indireta Ȥ Autarquias ndash Repercussatildeo Geral

RE 938837RG ‒ Tema 877red p o ac min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 25-9-2017Informativo STF 861

PROCESSO ADMINISTRATIVODIREITO ADMINISTRATIVO

32iacutendice de teses

O termo inicial para a formalizaccedilatildeo de mandado de seguranccedila pressupotildee a

ciecircncia do impetrante quando o ato impugnado surgir no acircmbito de proces-

so administrativo do qual seja parte

No tocante aos paracircmetros do ato de notificaccedilatildeo a Administraccedilatildeo deve seguir o disposto nos arts 3ordm1 e 262 da Lei 97841999 Tais dispositivos asseguram ao inte-ressado tomar ciecircncia da tramitaccedilatildeo dos processos administrativos ter vista dos autos obter coacutepias de documentos neles contidos e conhecer as decisotildees proferidas incumbindo ao oacutergatildeo competente perante o qual tramita o processo administrativo determinar a intimaccedilatildeo do interessado para o conhecimento da decisatildeo ou a efeti-vaccedilatildeo de diligecircncias

Ante o quadro normativo mostra-se despicienda a circunstacircncia de o ato impugna-do ter sido publicado no Diaacuterio Oficial Para que haja o curso do prazo de decadecircncia eacute indispensaacutevel natildeo apenas o que se poderia tomar como intimaccedilatildeo ficta mas contar-se com a ciecircncia inequiacutevoca do titular do direito substancial em jogo

Instruiacutedo o processo com documentos suficientes ao exame da pretensatildeo vei-

culada na peticcedilatildeo inicial descabe suscitar a inadequaccedilatildeo da via mandamental

Inexiste oacutebice ao processamento do mandado de seguranccedila quando o exame da pretensatildeo natildeo pressupotildee produccedilatildeo de provas a impetraccedilatildeo natildeo eacute utilizada como substitutiva de accedilatildeo especiacutefica e os documentos trazidos ao processo revelam a exis-tecircncia de ato impugnaacutevel passiacutevel de anaacutelise

1 ldquoArt 3ordm O administrado tem os seguintes direitos perante a Administraccedilatildeo sem prejuiacutezo de ou-tros que lhe sejam assegurados I ndash ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores que deveratildeo facilitar o exerciacutecio de seus direitos e o cumprimento de suas obrigaccedilotildees II ndash ter ciecircncia da tramitaccedilatildeo dos processos administrativos em que tenha a condiccedilatildeo de interessado ter vista dos

Direito Administrativo Ȥ Processo administrativo

Ȥ Comunicaccedilatildeo dos atos Ȥ Ciecircncia do interessado

RMS 32487rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 21-11-2017Informativo STF 884

33iacutendice de teses

autos obter coacutepias de documentos neles contidos e conhecer as decisotildees proferidas III ndash formular alegaccedilotildees e apresentar documentos antes da decisatildeo os quais seratildeo objeto de consideraccedilatildeo pelo oacutergatildeo competente IV ndash fazer-se assistir facultativamente por advogado salvo quando obrigatoacuteria a representaccedilatildeo por forccedila de leirdquo

2 ldquoArt 26 O oacutergatildeo competente perante o qual tramita o processo administrativo determinaraacute a inti-maccedilatildeo do interessado para ciecircncia de decisatildeo ou a efetivaccedilatildeo de diligecircncias sect 1ordm A intimaccedilatildeo deveraacute conter I ndash identificaccedilatildeo do intimado e nome do oacutergatildeo ou entidade administrativa II ndash finalidade da intimaccedilatildeo III ndash data hora e local em que deve comparecer IV ndash se o intimado deve comparecer pessoalmente ou fazer-se representar V ndash informaccedilatildeo da continuidade do processo independente-mente do seu comparecimento VI ndash indicaccedilatildeo dos fatos e fundamentos legais pertinentes sect 2ordm A intimaccedilatildeo observaraacute a antecedecircncia miacutenima de trecircs dias uacuteteis quanto agrave data de comparecimento sect 3ordm A intimaccedilatildeo pode ser efetuada por ciecircncia no processo por via postal com aviso de recebimen-to por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciecircncia do interessado sect 4ordm No caso de interessados indeterminados desconhecidos ou com domiciacutelio indefinido a intimaccedilatildeo deve ser efe-tuada por meio de publicaccedilatildeo oficial sect 5ordm As intimaccedilotildees seratildeo nulas quando feitas sem observacircncia das prescriccedilotildees legais mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidaderdquo

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADODIREITO ADMINISTRATIVO

35iacutendice de teses

Considerando que eacute dever do Estado imposto pelo sistema normativo

manter em seus presiacutedios os padrotildees miacutenimos de humanidade previstos no

ordenamento juriacutedico eacute de sua responsabilidade nos termos do art 37 sect 6ordm

da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a obrigaccedilatildeo de ressarcir os danos inclusive

morais comprovadamente causados aos detentos em decorrecircncia da falta

ou insuficiecircncia das condiccedilotildees legais de encarceramento

A garantia miacutenima de seguranccedila pessoal fiacutesica e psiacutequica dos detentos constitui de-ver estatal que possui amplo lastro natildeo apenas no ordenamento nacional ndash CF2 Lei 72101984 (Lei de Execuccedilatildeo Penal) Lei 94551997 (Lei de Tortura) Lei 128472013 (Sistema Nacional de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Tortura) ndash mas tambeacutem em fontes normativas internacionais adotadas pelo Brasil ndash Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos das Naccedilotildees Unidas Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos Princiacutepios e Boas Praacuteticas para a Proteccedilatildeo de Pessoas Privadas de Liberdade nas Ameacutericas (Resoluccedilatildeo 12008 da Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos) Convenccedilatildeo da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis De-sumanos ou Degradantes e Regras Miacutenimas para o Tratamento de Prisioneiros

O dever de ressarcir danos inclusive morais efetivamente causados por accedilotildees e omissotildees dos agentes estatais ou pela inadequaccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos decorre diretamente do art 37 sect 6ordm da CF Tal norma eacute autoaplicaacutevel natildeo sujeita a interme-diaccedilatildeo legislativa ou administrativa para assegurar o correspondente direito subje-tivo agrave indenizaccedilatildeo

Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuaccedilatildeo da Adminis-traccedilatildeo ou dos seus agentes nasce a responsabilidade civil do Estado Nesse caso os recursos financeiros para a satisfaccedilatildeo do dever de indenizar objeto da condenaccedilatildeo seratildeo providos se for o caso na forma do art 100 da CF

O Estado eacute responsaacutevel pela guarda e seguranccedila das pessoas submetidas a encarce-ramento sendo seu dever mantecirc-las em condiccedilotildees carceraacuterias com miacutenimos padrotildees

Direito Administrativo Ȥ Responsabilidade civil do Estado

Ȥ Responsabilidade objetiva Ȥ Estabelecimentos penitenciaacuterios ndash Repercussatildeo Geral

RE 580252RG ‒ Tema 365red p o ac min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 854

36iacutendice de teses

de humanidade estabelecidos em lei bem como se for o caso ressarcir os danos que daiacute decorrerem A responsabilidade estatal seraacute objetiva no que concerne agrave integri-dade fiacutesica e psiacutequica daqueles que estatildeo sob sua custoacutedia3

As violaccedilotildees a direitos fundamentais causadoras de danos pessoais a detentos em estabelecimentos carceraacuterios natildeo podem ser relevadas ao argumento de que a indeni-zaccedilatildeo natildeo tem o alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente con-siderado que depende da definiccedilatildeo e da implantaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas providecircncias essas de atribuiccedilatildeo legislativa e administrativa Bem como natildeo eacute possiacutevel invocar subterfuacutegios teoacutericos ndash tais como a separaccedilatildeo dos Poderes a reserva do possiacute-vel e a natureza coletiva dos danos sofridos ndash para se afastar a responsabilidade estatal pelas calamitosas condiccedilotildees de carceragem no Brasil

1 ldquoArt 37 () sect 6ordm As pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico e as de direito privado prestadoras de ser-viccedilos puacuteblicos responderatildeo pelos danos que seus agentes nessa qualidade causarem a terceiros assegurado o direito de regresso contra o responsaacutevel nos casos de dolo ou culpardquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVII ndash natildeo haveraacute penas () e) crueacuteis XLVIII ndash a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito a idade e o sexo do apenado XLIX ndash eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moralrdquo

3 Precedentes ARE 662563 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-4-2012 RE 466322 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 27-4-2007 e RE 272839 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 8-4-2005

SERVIDORES PUacuteBLICOSDIREITO ADMINISTRATIVO

38iacutendice de teses

Eacute constitucional a reserva de 20 das vagas oferecidas nos concursos puacute-

blicos para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito

da Administraccedilatildeo Puacuteblica Direta e Indireta Eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo aleacutem da

autodeclaraccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentificaccedilatildeo desde que

respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditoacuterio e a

ampla defesa

Esses criteacuterios prescritos na Lei 1299020141 estatildeo em consonacircncia com o ordena-mento constitucional que rejeita todas as formas de preconceito e discriminaccedilatildeo e impotildee ao Estado o dever de atuar positivamente no combate ao racismo e na redu-ccedilatildeo das desigualdades sociais (CF arts 3ordm III2 e 5ordm caput e XLII3)

A desequiparaccedilatildeo promovida por essa poliacutetica de accedilatildeo afirmativa condiz com o princiacutepio da isonomia e se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira Aleacutem disso a lei visa garantir a igualdade material entre os cidadatildeos por meio da distribuiccedilatildeo mais equitativa de bens sociais e da promoccedilatildeo do reconhecimento da populaccedilatildeo afrodescendente Dessa forma a medida favoreceria a obtenccedilatildeo de postos de prestiacutegio por um grupo histo-ricamente alijado na distribuiccedilatildeo de recursos e poder na sociedade a superaccedilatildeo dos estereoacutetipos raciais o aumento de autoestima da populaccedilatildeo negra a reduccedilatildeo dos pre-conceitos e da discriminaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo do pluralismo e a promoccedilatildeo da diversida-de na Administraccedilatildeo Puacuteblica

Nesse contexto inexiste violaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico e da eficiecircncia A reserva de vagas para negros natildeo isenta os beneficiaacuterios da aprovaccedilatildeo no certame para que sejam considerados aptos a exercer de forma adequada e eficiente um cargo puacuteblico Assim manteacutem-se a livre concorrecircncia no acesso ao serviccedilo puacuteblico com igualdade de oportunidades para todos os candidatos e a impessoalidade no processo seletivo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Concurso puacuteblico Ȥ Regramento juriacutedico

ADC 41rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 17-8-2017Informativo STF 868

39iacutendice de teses

A incorporaccedilatildeo da raccedila como criteacuterio de seleccedilatildeo potencializa o princiacutepio da efi-ciecircncia ao criar um serviccedilo puacuteblico representativo capaz de garantir que as opiniotildees e os interesses de toda a populaccedilatildeo sejam considerados nas decisotildees estatais aleacutem de refletir a realidade da populaccedilatildeo brasileira

A existecircncia de uma poliacutetica de cotas para ingresso de negros em universidades puacuteblicas natildeo afeta a reserva de cargos disponiacuteveis nos concursos puacuteblicos tampouco gera vantagem dupla para seus beneficiaacuterios Isso porque nem todos os cargos e em-pregos puacuteblicos exigem curso superior e natildeo necessariamente o beneficiaacuterio da accedilatildeo afirmativa no serviccedilo puacuteblico utilizou-se de cotas para acesso agrave educaccedilatildeo superior Ademais outros fatores impedem os negros de competir igualitariamente nos con-cursos puacuteblicos como a ausecircncia de condiccedilotildees financeiras para aquisiccedilatildeo de material didaacutetico para frequentar cursos preparatoacuterios para dedicar-se exclusivamente ao es-tudo aleacutem da persistecircncia de preconceitos

A medida observa o princiacutepio da proporcionalidade em sua triacuteplice dimensatildeo eacute adequada para a promoccedilatildeo do objetivo a que se destina eacute necessaacuteria pois natildeo haacute medida alternativa menos gravosa e igualmente idocircnea agrave promoccedilatildeo dos objetivos da Lei 129902014 e eacute proporcional em sentido estrito pois o percentual de reserva de 20 das vagas para negros eacute razoaacutevel visto que uma parcela relevante das vagas ainda continuaraacute destinada agrave livre concorrecircncia tendo a lei previsto que a reserva somente seraacute aplicada quando o nuacutemero de vagas em disputa for igual ou superior a trecircs4 Aleacutem disso a poliacutetica instituiacuteda possui caraacuteter transitoacuterio (dez anos) institui modelo de monitoramento anual dos resultados e emprega meacutetodos de identificaccedilatildeo do componente eacutetnico-racial compatiacuteveis com o princiacutepio da dignidade humana

Nesse cenaacuterio eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentifi-caccedilatildeo como mecanismos de controle de fraudes e de combate a abusos na autode-claraccedilatildeo desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o con-traditoacuterio e a ampla defesa Seriam aplicaacuteveis portanto a autodeclaraccedilatildeo presencial perante a comissatildeo do concurso a exigecircncia de fotos e a formaccedilatildeo de comissotildees com composiccedilatildeo plural para entrevista dos candidatos

Com o objetivo de garantir a efetividade dessa poliacutetica de accedilatildeo afirmativa a Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute aplicar os percentuais de reserva para todas as fases e vagas oferecidas nos concursos (natildeo apenas para as previstas no edital de abertura) Os car-gos disponiacuteveis natildeo poderatildeo ser fracionados de acordo com a especializaccedilatildeo exigida com o intuito de burlar a accedilatildeo afirmativa que soacute se aplica quando houver mais de duas vagas Por fim a ordem classificatoacuteria obtida a partir dos criteacuterios de alternacircncia

40iacutendice de teses

e proporcionalidade na nomeaccedilatildeo dos candidatos aprovados deveraacute produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiaacuterio da reserva de vagas influenciando promoccedilotildees e remoccedilotildees

1 ldquoReserva aos negros 20 (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos para pro-vimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica federal das autarquias das fundaccedilotildees puacuteblicas das empresas puacuteblicas e das sociedades de economia mista con-troladas pela Uniatildeordquo

2 ldquoArt 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil () III ndash erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e regionaisrdquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLII ndash a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo

4 Lei 129902014 ldquoArt 1ordm () sect 1ordm A reserva de vagas seraacute aplicada sempre que o nuacutemero de vagas oferecidas no concurso puacuteblico for igual ou superior a 3 (trecircs)rdquo

41iacutendice de teses

Editais de concurso puacuteblico natildeo podem estabelecer restriccedilatildeo a pessoas com

tatuagem salvo situaccedilotildees excepcionais em razatildeo de conteuacutedo que viole va-

lores constitucionais

Eacute inconstitucional a restriccedilatildeo elencada em edital de concurso para ocupaccedilatildeo de cargo emprego ou para o desempenho de funccedilatildeo puacuteblica sem expressa previsatildeo legal1 em observacircncia ao princiacutepio da legalidade e em conformidade com o art 37 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

O legislador natildeo pode escudar-se em pretensa discricionariedade para criar barrei-ras legais arbitraacuterias e desproporcionais para o acesso agraves funccedilotildees puacuteblicas de modo a ensejar a sensiacutevel diminuiccedilatildeo do nuacutemero de possiacuteveis competidores e a impossibilida-de de escolha pela Administraccedilatildeo dos melhores candidatos Por sua vez os requisitos e impedimentos previstos em lei para o exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica devem ser compa-tiacuteveis com a natureza e as atribuiccedilotildees das atividades a serem desempenhadas3 Assim restriccedilotildees ofensivas aos direitos fundamentais que violem o princiacutepio da proporciona-lidade ou sejam improacuteprias para o exerciacutecio da funccedilatildeo puacuteblica satildeo inconstitucionais

Eacute certo que as tatuagens perderam haacute algum tempo o estigma de caraacuteter mar-ginal Atualmente satildeo vistas como obra artiacutestica e alcanccedilam os mais diversos e he-terogecircneos grupos com as mais variadas idades Considerando que eacute direito funda-mental do cidadatildeo preservar sua imagem como reflexo de sua identidade o Estado natildeo pode desestimular a inserccedilatildeo voluntaacuteria de tatuagens no corpo pois estaria se opondo agrave livre manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo valores amplamente tu-telados pelo ordenamento juriacutedico brasileiro (CF art 5ordm IV4 e IX5)

Incumbe ao Estado estimular o livre intercacircmbio de opiniotildees em um mercado de ideias indispensaacutevel para a formaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica e assegurar que minorias possam se manifestar livremente no meio social o que inclui a natildeo intromissatildeo e o respeito ao direito de escolha Por sua vez a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve exercer a discricionariedade entrincheirada natildeo apenas pela avaliaccedilatildeo unilateral a respeito da

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Concurso puacuteblico Ȥ Regramento juriacutedico ndash Repercussatildeo Geral

RE 898450RG ‒ Tema 838rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

42iacutendice de teses

conveniecircncia e oportunidade de um ato mas sobretudo pelos direitos fundamentais em ambiente de perene diaacutelogo com a sociedade

Ademais com base nos princiacutepios da liberdade e da igualdade natildeo haacute justificativa para que a Administraccedilatildeo Puacuteblica e a sociedade visualizem em pessoas que possuem tatuagens marcas de marginalidade inidoneidade ou inaptidatildeo fiacutesica ou mental para o exerciacutecio de determinado cargo puacuteblico Portanto o Estado natildeo pode considerar aprioristicamente como paracircmetro discriminatoacuterio para o ingresso em uma carreira puacuteblica o simples fato de uma pessoa possuir tatuagens visiacuteveis ou natildeo Afinal isso natildeo macula por si a honra pessoal o profissionalismo e o respeito agraves instituiccedilotildees tampouco lhe diminui a competecircncia

No ordenamento juriacutedico paacutetrio vale destacar a existecircncia de diversas leis sobre o tema no acircmbito das Forccedilas Armadas direcionadas especificamente para a Marinha6 a Aeronaacuteutica7 e o Exeacutercito8 e que proiacutebem apenas tatuagens ofensivas a determi-nados valores institucionais ou que representem ofensa agrave ordem puacuteblica Quanto agrave lei especiacutefica do Exeacutercito Lei 127052012 nota-se a existecircncia de veto da Presidecircncia da Repuacuteblica ao criteacuterio proposto de restriccedilatildeo ao ingresso de candidatos portadores de tatuagens que ldquopelas suas dimensotildees ou natureza prejudiquem a camuflagem e comprometam as operaccedilotildees militaresrdquo (art 2ordm VIII b) A justificativa para o veto amparou-se na hodierna orientaccedilatildeo de que o discriacutemen soacute se explica quando acompa-nhado de paracircmetros razoaacuteveis ou de criteacuterios consistentes para sua aplicaccedilatildeo

Nesse contexto claacuteusula editaliacutecia que prevecirc impedimento agrave participaccedilatildeo de can-didato em concurso puacuteblico em anaacutelise meramente esteacutetica exclusivamente por os-tentar tatuagem visiacutevel sem qualquer simbologia que justificasse seu afastamento do certame mercecirc de natildeo possuir fundamento de validade em lei revela-se preconcei-tuosa discriminatoacuteria e desprovida de razoabilidade Aleacutem de natildeo encontrar amparo na realidade essa restriccedilatildeo afronta um dos objetivos fundamentais do Paiacutes consagra-do no art 3ordm IV da CF9 o que impede que as tatuagens sejam inseridas no rol dos criteacuterios para o reconhecimento de uma inaptidatildeo

Eventual restriccedilatildeo soacute se justifica excepcionalmente caso seja necessaacuteria agrave finalida-de que ela pretende alcanccedilar e agrave natureza do cargo puacuteblico Destarte a tatuagem que viole valores institucionais ou constitucionais ofenda a dignidade humana (como as de incentivo ao oacutedio) represente obscenidades expresse ideologias terroristas ex-tremistas e contraacuterias agraves instituiccedilotildees democraacuteticas incite a violecircncia a ameaccedila e a criminalidade ou incentive a discriminaccedilatildeo ou preconceitos de raccedila e sexo ou qual-

43iacutendice de teses

quer outra forccedila de intoleracircncia eacute incompatiacutevel com o exerciacutecio de qualquer cargo puacuteblico

1 Precedentes RE 593198 AgR rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 1ordm-10-2013 ARE 715061 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 19-6-2013 RE 558833 AgR rel min Ellen Gracie 2ordf T DJE de 25-9-2009 RE 398567 AgR rel min Eros Grau 1ordf T DJ de 24-3-2006 e MS 20973 rel min Paulo Brossard P DJ de 24-4-1992

2 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte I ndash os cargos empregos e funccedilotildees puacuteblicas satildeo acessiacuteveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei assim como aos estrangeiros na forma da leirdquo

3 Precedente ARE 678112 RG rel min Luiz Fux P DJE de 17-5-2013

4 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () IV ndash eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensa-mento sendo vedado o anonimatordquo

5 ldquoArt 5ordm () IX ndash Eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedilardquo

6 Lei 112792006 ldquoArt 11-A () XII ndash natildeo apresentar tatuagem que nos termos de detalhamento constante de normas do Comando da Marinha faccedila alusatildeo a ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas a violecircncia a criminalidade a ideia ou ato libidinoso a discri-minaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem ou ainda a ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadasrdquo

7 Lei 124642011 ldquoArt 20 () XVII ndash natildeo apresentar tatuagem no corpo com siacutembolo ou inscriccedilatildeo que afete a honra pessoal o pundonor militar ou o decoro exigido aos integrantes das Forccedilas Ar-madas que faccedila alusatildeo a a) ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas ou que pregue a violecircncia ou a criminalidade b) discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem c) ideia ou ato libidinoso e d) ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadas ou agrave sociedaderdquo

8 Lei 127052012 ldquoArt 2ordm () VIII ndash natildeo apresentar tatuagens que nos termos de detalhamento constante de normas do Comando do Exeacutercito a) faccedila alusatildeo a ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas a violecircncia a criminalidade a ideia ou ato libidinoso a discri-minaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem ou ainda a ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadasrdquo

9 ldquoArt 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil () IV ndash promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

44iacutendice de teses

A Administraccedilatildeo Puacuteblica deve proceder ao desconto dos dias de paralisaccedilatildeo

decorrentes do exerciacutecio do direito de greve pelos servidores puacuteblicos em

virtude da suspensatildeo do viacutenculo funcional que dela decorre permitida a

compensaccedilatildeo em caso de acordo O desconto seraacute contudo incabiacutevel se ficar

demonstrado que a greve foi provocada por conduta iliacutecita do poder puacuteblico

No julgamento dos MI 670 708 e 712 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ateacute a ediccedilatildeo da lei regulamentadora do direito de greve previsto no art 37 VII da Constituiccedilatildeo Federal1 as Leis 77011988 e 77831989 poderiam ser aplicadas provisoriamente para possibilitar o exerciacutecio desse direito pelos servidores puacuteblicos em especial os arts 1ordm2 ao 9ordm3 144 155 e 176 da Lei 77831989

Entretanto esse direito natildeo eacute absoluto Conquanto a paralisaccedilatildeo seja possiacutevel porque eacute um direito constitucional ela tem consequecircncias O STF jaacute assentou o en-tendimento de que o desconto dos dias de paralisaccedilatildeo eacute ocircnus inerente agrave greve assim como a paralisaccedilatildeo parcial dos serviccedilos puacuteblicos imposta agrave sociedade eacute consequecircncia natural do movimento

A aplicaccedilatildeo do art 7ordm da Lei 778319897 induz ao entendimento de que em prin-ciacutepio a deflagraccedilatildeo de greve corresponde agrave suspensatildeo do contrato de trabalho na qual natildeo haacute falar em prestaccedilatildeo de serviccedilos tampouco em pagamento de sua contra-prestaccedilatildeo

Os grevistas assumem os riscos da empreitada pois do contraacuterio estar-se-ia dian-te de caso de enriquecimento sem causa a violar inclusive o princiacutepio da indisponi-bilidade dos bens e do interesse puacuteblico

Cabe esclarecer que a ausecircncia de regulamentaccedilatildeo do direito de greve natildeo trans-forma os dias de paralisaccedilatildeo do movimento grevista em faltas injustificadas razatildeo pela qual esse desconto natildeo tem o efeito disciplinar punitivo8 9 e 10

Por fim o desconto somente natildeo se realizaraacute se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos servidores puacuteblicos civis ou por outras situaccedilotildees excepcio-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Direitos e deveres Ȥ Direito de greve ndash Repercussatildeo Geral

RE 693456RG ‒ Tema 531rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 19-10-2017Informativo STF 845

45iacutendice de teses

nais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensatildeo da relaccedilatildeo funcional ou de trabalho tais como aquelas em que o ente da Administraccedilatildeo ou o empregador tenha contribuiacutedo mediante conduta recriminaacutevel para que a greve ocorresse ou em que haja negociaccedilatildeo sobre a compensaccedilatildeo dos dias parados ou mesmo o parcelamen-to dos descontos

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mo-ralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () VII ndash o direito de greve seraacute exercido nos termos e nos limites definidos em lei especiacuteficardquo

2 ldquoArt 1ordm Eacute assegurado o direito de greve competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercecirc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender Paraacutegrafo uacutenico O direito de greve seraacute exercido na forma estabelecida nesta Leirdquo

3 ldquoArt 9ordm Durante a greve o sindicato ou a comissatildeo de negociaccedilatildeo mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador manteraacute em atividade equipes de empregados com o propoacutesito de assegurar os serviccedilos cuja paralisaccedilatildeo resultem em prejuiacutezo irreparaacutevel pela deterio-raccedilatildeo irreversiacutevel de bens maacutequinas e equipamentos bem como a manutenccedilatildeo daqueles essenciais agrave retomada das atividades da empresa quando da cessaccedilatildeo do movimento Paraacutegrafo uacutenico Natildeo havendo acordo eacute assegurado ao empregador enquanto perdurar a greve o direito de contratar diretamente os serviccedilos necessaacuterios a que se refere este artigordquo

4 ldquoArt 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservacircncia das normas contidas na presente Lei bem como a manutenccedilatildeo da paralisaccedilatildeo apoacutes a celebraccedilatildeo de acordo convenccedilatildeo ou decisatildeo da Justiccedila do Trabalho Paraacutegrafo uacutenico Na vigecircncia de acordo convenccedilatildeo ou sentenccedila normativa natildeo constitui abuso do exerciacutecio do direito de greve a paralisaccedilatildeo que I ndash tenha por objetivo exigir o cumprimento de claacuteusula ou condiccedilatildeo II ndash seja motivada pela superveniecircncia de fato novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relaccedilatildeo de trabalhordquo

5 ldquoArt 15 A responsabilidade pelos atos praticados iliacutecitos ou crimes cometidos no curso da greve seraacute apurada conforme o caso segundo a legislaccedilatildeo trabalhista civil ou penal Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o Ministeacuterio Puacuteblico de ofiacutecio requisitar a abertura do competente inqueacuterito e oferecer denuacutencia quando houver indiacutecio da praacutetica de delitordquo

6 ldquoArt 17 Fica vedada a paralisaccedilatildeo das atividades por iniciativa do empregador com o objetivo de frustrar negociaccedilatildeo ou dificultar o atendimento de reivindicaccedilotildees dos respectivos empregados (lockout) Paraacutegrafo uacutenico A praacutetica referida no caput assegura aos trabalhadores o direito agrave per-cepccedilatildeo dos salaacuterios durante o periacuteodo de paralisaccedilatildeordquo

7 ldquoArt 7ordm Observadas as condiccedilotildees previstas nesta Lei a participaccedilatildeo em greve suspende o contrato de trabalho devendo as relaccedilotildees obrigacionais durante o periacuteodo ser regidas pelo acordo con-venccedilatildeo laudo arbitral ou decisatildeo da Justiccedila do Trabalho Paraacutegrafo uacutenico Eacute vedada a rescisatildeo de contrato de trabalho durante a greve bem como a contrataccedilatildeo de trabalhadores substitutos exceto na ocorrecircncia das hipoacuteteses previstas nos arts 9ordm e 14rdquo

46iacutendice de teses

8 ADI 3235 red p o ac min Gilmar Mendes P DJE de 12-3-2010

9 RE 226966 red p o ac min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 21-8-2009

10 RE 222532 rel min Sepuacutelveda Pertence 1ordf T DJ de 1ordm-9-2000

47iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime juriacutedico Ȥ Jornada de trabalho

A jornada de trabalho dos ocupantes de cargos puacuteblicos do Poder Judiciaacuterio

federal das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de quatro

(vinte horas semanais) e seis (trinta horas semanais) horas diaacuterias

A Lei 114162006 eacute silente a respeito da jornada de trabalho dos servidores do Po-der Judiciaacuterio Poreacutem existindo legislaccedilatildeo especiacutefica que discipline a jornada de meacutedicos e odontoacutelogos ocupantes de cargos puacuteblicos aplica-se a norma de caraacuteter especial em detrimento da regra geral inserta no caput do art 19 da Lei 811219901

Nos termos da Lei 127022012 e do Decreto-Lei 21401984 a jornada de traba-lho dos servidores das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de vinte horas semanais (no caso dos meacutedicos) e trinta horas semanais (para os odontoacutelogos)

As leis acima mencionadas natildeo contemplam servidores analistas judiciaacuterios ndash es-pecialidades medicina ou odontologia ndash ocupantes de cargo em comissatildeo e funccedilatildeo comissionada Neste caso teratildeo que cumprir a jornada integral de trabalho

1 ldquoArt 19 Os servidores cumpriratildeo jornada de trabalho fixada em razatildeo das atribuiccedilotildees pertinentes aos respectivos cargos respeitada a duraccedilatildeo maacutexima do trabalho semanal de quarenta horas e ob-servados os limites miacutenimo e maacuteximo de seis horas e oito horas diaacuterias respectivamenterdquo

MS 33853rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 29-9-2017Informativo STF 869

48iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Aposentadoria compulsoacuteria ndash Repercussatildeo Geral

RE 786540RG ‒ Tema 763rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 15-12-2017Informativo STF 851

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissatildeo natildeo se sub-

metem agrave regra da aposentadoria compulsoacuteria prevista no art 40 sect 1ordm II da

Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de pro-

vimento efetivo inexistindo tambeacutem qualquer idade limite para fins de no-

meaccedilatildeo a cargo em comissatildeo

O referido dispositivo apresenta um niacutetido recorte o regramento previdenciaacuterio nele previsto aplica-se via de regra aos servidores efetivos2 os quais embora tatildeo servidores puacuteblicos quanto os comissionados3 com eles natildeo se confundem Tivesse o dispositivo em questatildeo o intuito de referir-se aos servidores genericamente consi-derados natildeo traria na letra da norma delimitaccedilatildeo expressa

A loacutegica que rege as nomeaccedilotildees para cargos comissionados eacute distinta daquela que rege as nomeaccedilotildees para os efetivos Os uacuteltimos ingressam no serviccedilo puacuteblico me-diante concurso Haacute ademais o adicional de possuiacuterem estabilidade e tenderem a manter com o Estado um longo e soacutelido viacutenculo o que torna admissiacutevel a expulsoacuteria como forma de oxigenaccedilatildeo e renovaccedilatildeo Os primeiros por sua vez adentram a es-trutura estatal para o desempenho de cargos de chefia direccedilatildeo ou assessoramento pressupondo-se como substrato de sua designaccedilatildeo a existecircncia de uma relaccedilatildeo de confianccedila pessoal e de especialidade incomum O comissionado adentra o serviccedilo puacuteblico entre outros motivos para agregar a esse uacuteltimo uma habilidade natildeo facil-mente encontrada uma formaccedilatildeo teacutecnica especializada Exerce ao menos na teoria atribuiccedilotildees diferenciadas tanto do ponto de vista da rotina e das responsabilidades no local de trabalho como da proacutepria atividade intelectual Sendo esse o fundamento da nomeaccedilatildeo natildeo haacute razatildeo para submeter o indiviacuteduo agrave compulsoacuteria quando aleacutem de persistirem a relaccedilatildeo de confianccedila e a especializaccedilatildeo teacutecnica e intelectual o servidor eacute exoneraacutevel a qualquer momento independentemente inclusive de motivaccedilatildeo

Por sua vez o art 40 sect 13 da CF4 ao determinar a aplicaccedilatildeo do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) evidencia o tratamento dissonante a ser conferido aos

49iacutendice de teses

ocupantes de cargo em comissatildeo Dessa previsatildeo constitucional decorre que a passa-gem para a inatividade observaraacute o art 201 da CF5 e a Lei 82131990 que arrolam as seguintes espeacutecies de aposentadoria por invalidez por idade por tempo de serviccedilo e especial Portanto inexiste para os indiviacuteduos vinculados ao RGPS qualquer previ-satildeo de compulsoriedade de aposentaccedilatildeo a qual seraacute sempre facultativa

Aleacutem disso cabe destacar que se natildeo haacute idade limite para a inativaccedilatildeo e se a legis-laccedilatildeo de regecircncia natildeo cuidou do tema tambeacutem natildeo haacute idade limite para o ingresso em cargo comissionado Os motivos que justificam a natildeo incidecircncia da norma do art 40 sect 1ordm II da CF amparam tambeacutem a impossibilidade de se proibir que o maior de 75 anos seja nomeado para o exerciacutecio de cargo de confianccedila na Administraccedilatildeo Puacute-blica Enquanto natildeo houver alteraccedilatildeo constitucional ou ediccedilatildeo de lei estabelecendo idade maacutexima ndash justificada sempre pela natureza das atribuiccedilotildees do cargo ndash natildeo haacute falar em observacircncia do marco de 75 anos de idade ou de qualquer outro para fins de escolha e designaccedilatildeo para a espeacutecie de funccedilatildeo em comento

Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional inexiste oacutebice

constitucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente per-

maneccedila no cargo comissionado que jaacute desempenhava ou a que seja nomeado

para outro cargo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo uma vez que natildeo se trata

de continuidade ou criaccedilatildeo de viacutenculo efetivo com a Administraccedilatildeo

Nessas situaccedilotildees verifica-se a coexistecircncia de viacutenculo funcional efetivo e de cargo em comissatildeo sem viacutenculo efetivo para o que natildeo se vislumbra vedaccedilatildeo inclusive sob o ponto de vista previdenciaacuterio

O servidor efetivo aposentado compulsoriamente embora mantenha esse viacutenculo com a Administraccedilatildeo mesmo apoacutes sua passagem para a inatividade ao tomar posse em funccedilatildeo de provimento em comissatildeo inaugura com essa uacuteltima uma segunda e nova relaccedilatildeo agora relativa ao cargo comissionado Natildeo se trata de forma irregular de continuidade do viacutenculo efetivo uma vez que comissionados e efetivos satildeo espeacute-cies diacutespares do gecircnero servidor puacuteblico

1 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o

50iacutendice de teses

disposto neste artigo sect 1ordm Os servidores abrangidos pelo regime de previdecircncia de que trata este ar-tigo seratildeo aposentados calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos sectsect 3ordm e 17 () II ndash compulsoriamente com proventos proporcionais ao tempo de contribuiccedilatildeo aos 70 (setenta) anos de idade ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade na forma de lei complementarrdquo

2 Os cargos de provimento efetivo satildeo aqueles ldquodestinados ao provimento em caraacuteter definitivo A permanecircncia eacute que identifica a forma de ocupaccedilatildeo lsquoEacute o cargo ocupado por algueacutem sem transito-riedade ou adequado a uma ocupaccedilatildeo permanentersquo no preciso dizer de Dioacutegenes Gasparini Eles devem ser exercidos obrigatoriamente por funcionaacuterios concursados e de forma permanente res-salvada a titularidade provisoacuteria do funcionaacuterio ainda em periacuteodo probatoacuteriordquo (OLIVEIRA Regis Fernandes de Servidores puacuteblicos 3 ed rev e ampl Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 48)

3 Os cargos de provimento em comissatildeo por sua vez consubstanciam aqueles ldquodestinados a livre provimento e exoneraccedilatildeo O sentido literal de lsquocomissatildeorsquo pode ser expresso como um encargo ou incumbecircncia temporaacuteria oferecida pelo comitente Nesse mesmo sentido o cargo em comissatildeo pode ser cargo isolado ou permanente criado por lei de ocupaccedilatildeo transitoacuteria e livremente preen-chido pelo chefe do Executivo segundo seu exclusivo criteacuterio de confianccedila Transitoacuteria portanto eacute a permanecircncia do servidor escolhido natildeo o cargo que eacute criado por leirdquo (OLIVEIRA Regis Fernan-des de Servidores puacuteblicos 3 ed rev e ampl Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 38)

4 ldquoArt 40 () sect 13 Ao servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo bem como de outro cargo temporaacuterio ou de emprego puacuteblico aplica--se o regime geral de previdecircncia socialrdquo

5 ldquoArt 201 A previdecircncia social seraacute organizada sob a forma de regime geral de caraacuteter contributi-vo e de filiaccedilatildeo obrigatoacuteria observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e atenderaacute nos termos da lei a I ndash cobertura dos eventos de doenccedila invalidez morte e idade avanccedilada II ndash proteccedilatildeo agrave maternidade especialmente agrave gestante III ndash proteccedilatildeo ao trabalhador em situaccedilatildeo de desemprego involuntaacuterio IV ndash salaacuterio-famiacutelia e auxiacutelio-reclusatildeo para os dependentes dos segurados de baixa renda V ndash pensatildeo por morte do segurado homem ou mulher ao cocircnjuge ou companheiro e dependentes observado o disposto no sect 2ordmrdquo

51iacutendice de teses

O cocircmputo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz exige a demonstraccedilatildeo

da efetiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante enco-

mendas de terceiros

A exigecircncia consta da Lei 35521959 e do Enunciado Sumular 961 do Tribunal de Contas da Uniatildeo O elemento essencial agrave caracterizaccedilatildeo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz natildeo seria a percepccedilatildeo de vantagem direta ou indireta mas a efe-tiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante encomendas de terceiros Como consequecircncia a declaraccedilatildeo emitida por instituiccedilatildeo de ensino pro-fissionalizante somente serviria a comprovar o periacuteodo de trabalho caso registrasse expressamente a participaccedilatildeo do educando nas atividades laborativas desenvolvidas para atender aos pedidos feitos agraves escolas

Da certidatildeo lavrada pelo centro de ensino deve constar a declaraccedilatildeo da frequecircncia em curso teacutecnico profissionalizante por certo periacuteodo e referecircncia agrave participaccedilatildeo na produccedilatildeo de quaisquer bens ou serviccedilos solicitados por terceiros Eacute indispensaacutevel a demonstraccedilatildeo de retribuiccedilatildeo pecuniaacuteria agrave conta do orccedilamento salvo casos em que haja situaccedilatildeo jaacute consolidada em entendimento anterior2

A ausecircncia de prova do desempenho concreto de atividades como aluno-aprendiz justifica a glosa da aposentadoria pelo Tribunal de Contas3

1 ldquoConta-se para todos os efeitos como tempo de serviccedilo puacuteblico o periacuteodo de trabalho prestado na qualidade de aluno-aprendiz em Escola Puacuteblica Profissional desde que comprovada a retribuiccedilatildeo pecuniaacuteria agrave conta do Orccedilamento admitindo-se como tal o recebimento de alimentaccedilatildeo farda-mento material escolar e parcela de renda auferida com a execuccedilatildeo de encomendas para terceirosrdquo

2 MS 21185 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 12-2-2010

3 MS 32859 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJE de 23-5-2014

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Aposentadoria

MS 31518rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 6-7-2017Informativo STF 853

52iacutendice de teses

A ocupaccedilatildeo de novo cargo da magistratura dentro da estrutura do Poder Ju-

diciaacuterio pelo titular do abono de permanecircncia natildeo implica a cessaccedilatildeo do

benefiacutecio

ldquo() a jurisdiccedilatildeo enquanto manifestaccedilatildeo da unidade do poder soberano do Esta-do tampouco pode deixar de ser una e indivisiacutevel eacute doutrina assente que o Poder Judiciaacuterio tem caraacuteter nacional natildeo existindo senatildeo por metaacuteforas e metoniacutemias lsquoJudiciaacuterios estaduaisrsquo ao lado de um lsquoJudiciaacuterio federalrsquo A divisatildeo da estrutura ju-diciaacuteria brasileira sob tradicional mas equivocada denominaccedilatildeo em Justiccedilas eacute soacute resultado da reparticcedilatildeo nacional do trabalho da mesma natureza entre distintos oacutergatildeos jurisdicionaisrdquo1 Essa linha de raciociacutenio direciona a concessatildeo do abono de permanecircncia na magistratura conforme estabelece o art 40 sect 19 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1988 (incluiacutedo pela Emenda Constitucional 412003)2

A interpretaccedilatildeo do preceito constitucional que rege a concessatildeo do abono natildeo dispensa esse elemento informador indicativo da ocupaccedilatildeo de novo cargo na magis-tratura tambeacutem contido na estrutura do Poder Judiciaacuterio Assim o respectivo deslo-camento natildeo pode resultar em prejuiacutezo para o beneficiado valendo notar a natureza do abono ndash incentivo agrave permanecircncia em atividade por aqueles que jaacute preencheram as condiccedilotildees para a aposentadoria3 previstas no art 40 sect 1ordm III da CF4

1 ADI 3367 rel min Cezar Peluso P DJ de 13-7-2006

2 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo () sect 19 O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigecircn-cias para aposentadoria voluntaacuteria estabelecidas no sect 1ordm III a e que opte por permanecer em ativi-dade faraacute jus a um abono de permanecircncia equivalente ao valor da sua contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria ateacute completar as exigecircncias para aposentadoria compulsoacuteria contidas no sect 1ordm IIrdquo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Abono de permanecircncia

MS 33424rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 10-4-2017Informativo STF 859

53iacutendice de teses

3 MS 33456 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 17-4-2017

4 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo sect 1ordm Os servidores abrangidos pelo regime de previdecircncia de que trata este artigo seratildeo aposentados calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos sectsect 3ordm e 17 () III ndash voluntariamente desde que cumprido tempo miacutenimo de dez anos de efetivo exerciacutecio no serviccedilo puacuteblico e cinco anos no cargo efetivo em que se daraacute a aposentadoria observadas as se-guintes condiccedilotildees a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuiccedilatildeo se homem e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuiccedilatildeo se mulher b) sessenta e cinco anos de idade se ho-mem e sessenta anos de idade se mulher com proventos proporcionais ao tempo de contribuiccedilatildeordquo

54iacutendice de teses

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulaccedilatildeo de cargos empre-

gos e funccedilotildees a incidecircncia do art 37 XI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pressu-

potildee consideraccedilatildeo de cada um dos viacutenculos formalizados afastada a observacircn-

cia do teto remuneratoacuterio quanto ao somatoacuterio dos ganhos do agente puacuteblico

A regra do teto constitucional expressa duplo objetivo De um lado haacute niacutetido intuito eacutetico de modo a impedir a consolidaccedilatildeo de ldquosupersalaacuteriosrdquo incompatiacuteveis com o princiacutepio republicano indissociaacutevel do regime remuneratoacuterio dos cargos puacuteblicos no que veda a apropriaccedilatildeo ilimitada e individualizada de recursos escassos De outro eacute evidente a finalidade protetiva do eraacuterio visando estancar o dispecircndio indevido de verbas puacuteblicas Nessa medida o teto remuneratoacuterio previsto no texto constitu-cional quando devidamente observado bem como aliado aos limites globais com despesas de pessoal assume a relevante funccedilatildeo de obstar gastos inconciliaacuteveis com a prudecircncia no emprego dos recursos da coletividade

Entretanto a percepccedilatildeo somada de remuneraccedilotildees relativas a cargos acumulaacuteveis ainda que acima no cocircmputo global do patamar maacuteximo natildeo interfere nos objeti-vos que inspiram o texto constitucional

Por um lado isso ocorre porque as situaccedilotildees alcanccediladas pelo art 37 XI da Carta Federal satildeo aquelas nas quais o servidor obteacutem ganhos desproporcionais observadas as atribuiccedilotildees dos cargos puacuteblicos ocupados Admitida a incidecircncia do limitador em cada uma das matriacuteculas descabe declarar prejuiacutezo agrave dimensatildeo eacutetica da norma por-quanto mantida a compatibilidade exigida entre trabalho e remuneraccedilatildeo

Por outro lado haacute que se observar uma necessaacuteria interaccedilatildeo entre os incisos XI e XVI2 do art 37 do texto constitucional em observacircncia ao princiacutepio da unidade da Constituiccedilatildeo a demandar esforccedilo interpretativo que natildeo esvazie o sentido da regra que autoriza a acumulaccedilatildeo

Outrossim a incidecircncia do limitador tendo em vista o somatoacuterio dos ganhos mesmo que acumulaacuteveis os cargos puacuteblicos ocupados viabiliza retribuiccedilatildeo pecuniaacute-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Remuneraccedilatildeo Ȥ Acumulaccedilatildeo de cargos puacuteblicos ndash Repercussatildeo Geral

RE 612975RG ‒ Tema 377rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 8-9-2017Informativo STF 862

55iacutendice de teses

ria inferior ao que se tem como razoaacutevel consideradas as atribuiccedilotildees especiacuteficas dos viacutenculos e as respectivas remuneraccedilotildees a ensejar enriquecimento sem causa do po-der puacuteblico

Natildeo se deve extrair do texto constitucional conclusatildeo a possibilitar tratamento desigual entre servidores puacuteblicos que exerccedilam idecircnticas funccedilotildees O preceito concer-nente agrave acumulaccedilatildeo preconiza que ela eacute remunerada natildeo admitindo a gratuidade ainda que parcial dos serviccedilos prestados observado o art 1ordm da CF no que evidencia como fundamento da Repuacuteblica a proteccedilatildeo dos valores sociais do trabalho

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mo-ralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XI ndash a remuneraccedilatildeo e o subsiacutedio dos ocupantes de cargos funccedilotildees e empregos puacuteblicos da administraccedilatildeo direta autaacuterquica e fundacio-nal dos membros de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Muni-ciacutepios dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes poliacuteticos e os proventos pensotildees ou outra espeacutecie remuneratoacuteria percebidos cumulativamente ou natildeo incluiacutedas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza natildeo poderatildeo exceder o subsiacutedio mensal em espeacutecie dos Ministros do Supremo Tribunal Federal aplicando-se como limite nos Municiacutepios o subsiacutedio do Prefeito e nos Estados e no Distrito Federal o subsiacutedio mensal do Governador no acircmbito do Poder Executivo o subsiacutedio dos Deputados Estaduais e Distritais no acircmbito do Poder Legislativo e o subsiacutedio dos Desembargadores do Tribunal de Justiccedila limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centeacutesimos por cento do subsiacutedio mensal em espeacutecie dos Ministros do Supremo Tribunal Federal no acircmbito do Poder Judiciaacuterio aplicaacutevel este limite aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico aos Procuradores e aos Defensores Puacuteblicosrdquo

2 ldquoArt 37 () XVI ndash eacute vedada a acumulaccedilatildeo remunerada de cargos puacuteblicos exceto quando houver compatibilidade de horaacuterios observado em qualquer caso o disposto no inciso XI a) a de dois car-gos de professor b) a de um cargo de professor com outro teacutecnico ou cientiacutefico c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de sauacutede com profissotildees regulamentadasrdquo

56iacutendice de teses

Eacute legiacutetima a acumulaccedilatildeo de proventos civis e militares quando a reforma se

deu sob a eacutegide da Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1967 e a aposentadoria ocor-

reu antes da vigecircncia da Emenda Constitucional 201998

A Emenda Constitucional 201998 assegura aos inativos que tiverem reingressado ao serviccedilo puacuteblico antes de sua vigecircncia a acumulaccedilatildeo de vencimentos do novo cargo exercido com os proventos da aposentadoria jaacute recebida

O art 111 da referida emenda por sua vez em sua segunda parte vedou expres-samente a concessatildeo de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdecircncia dos servidores civis previsto no art 40 da CF2 No entanto natildeo haacute qualquer referecircncia agrave concessatildeo de proventos militares estes previstos nos arts 423 e 1424 da CF

Segundo o texto constitucional a percepccedilatildeo de dois proventos puacuteblicos um civil e um militar ambos concedidos antes da Emenda Constitucional 201998 eacute situaccedilatildeo natildeo alcanccedilada pela proibiccedilatildeo da referida emenda Portanto eacute legiacutetima sua cumulaccedilatildeo5

1 ldquoArt 11 A vedaccedilatildeo prevista no art 37 sect 10 da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se aplica aos membros de poder e aos inativos servidores e militares que ateacute a publicaccedilatildeo desta Emenda tenham ingressado novamente no serviccedilo puacuteblico por concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos e pelas demais formas previstas na Constituiccedilatildeo Federal sendo-lhes proibida a percepccedilatildeo de mais de uma aposen-tadoria pelo regime de previdecircncia a que se refere o art 40 da Constituiccedilatildeo Federal aplicando-se--lhes em qualquer hipoacutetese o limite de que trata o sect 11 deste mesmo artigordquo

2 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigordquo

3 ldquoArt 42 Os membros das Poliacutecias Militares e Corpos de Bombeiros Militares instituiccedilotildees orga-nizadas com base na hierarquia e disciplina satildeo militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios sect 1ordm Aplicam-se aos militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios aleacutem do que vier a ser fixado em lei as disposiccedilotildees do art 14 sect 8ordm do art 40 sect 9ordm e do art 142 sectsect 2ordm e 3ordm

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Remuneraccedilatildeo Ȥ Acumulaccedilatildeo de proventos e pensotildees

MS 25097rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 5-5-2017Informativo STF 859

57iacutendice de teses

cabendo a lei estadual especiacutefica dispor sobre as mateacuterias do art 142 sect 3ordm X sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores sect 2ordm Aos pensionistas dos militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios aplica-se o que for fixado em lei especiacutefica do respectivo ente estatalrdquo

4 ldquoArt 142 As Forccedilas Armadas constituiacutedas pela Marinha pelo Exeacutercito e pela Aeronaacuteutica satildeo instituiccedilotildees nacionais permanentes e regulares organizadas com base na hierarquia e na disciplina sob a autoridade suprema do Presidente da Repuacuteblica e destinam-se agrave defesa da Paacutetria agrave garantia dos poderes constitucionais e por iniciativa de qualquer destes da lei e da ordem sect 1ordm Lei comple-mentar estabeleceraacute as normas gerais a serem adotadas na organizaccedilatildeo no preparo e no emprego das Forccedilas Armadasrdquo

5 Precedentes MS 25192 rel min Eros Grau P DJ de 6-5-2005 MS 24958 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 1ordm-4-2005 e AI 801096 AgR-EDv rel min Teori Zavascki P DJE de 30-6-2015

58iacutendice de teses

O pedido de desligamento uma vez completado o periacuteodo de Escola Naval

gera para o Estado o direito agrave indenizaccedilatildeo nos termos da Lei 68801980 (Es-

tatuto dos Militares)

Em que pese a expressa referecircncia ao oficialato a disciplina do inciso II do art 1161 do Estatuto dos Militares natildeo impede o reconhecimento da ocorrecircncia de enriqueci-mento iliacutecito sem que isso represente ofensa ao art 206 IV da Constituiccedilatildeo Federal2

Natildeo cabe extrair do Estatuto dos Militares preceitos a liberar os praccedilas especiais do ressarcimento agrave Fazenda Puacuteblica o que implicaria indesejado incentivo agrave evasatildeo O art 116 II da Lei 68801980 disciplina a contagem do prazo dentro do qual a indenizaccedilatildeo deveraacute ser exigida daqueles que apoacutes o teacutermino da graduaccedilatildeo militar procurem outros rumos profissionais

A seguranccedila juriacutedica um dos pilares axioloacutegicos do Estado Democraacutetico de Direi-to obriga natildeo soacute a Administraccedilatildeo Puacuteblica mas tambeacutem aqueles que com ela travem relaccedilotildees juriacutedicas a atuar com lealdade e a natildeo frustrar as legiacutetimas expectativas cria-das a partir de condutas

1 ldquoArt 116 A demissatildeo a pedido seraacute concedida mediante requerimento do interessado () II ndash com indenizaccedilatildeo das despesas feitas pela Uniatildeo com a sua preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo quando contar menos de 5 (cinco) anos de oficialatordquo

2 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () IV ndash gratuidade do ensi-no puacuteblico em estabelecimentos oficiaisrdquo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores militares Ȥ Curso de formaccedilatildeo

RMS 27072rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 30-5-2016Informativo STF 819

59iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores temporaacuterios Ȥ Regras para admissatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 635648RG ‒ Tema 403rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 12-9-2017Informativo STF 869

Eacute compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) a previsatildeo legal que exija o

transcurso de 24 meses contados do teacutermino do contrato antes de nova ad-

missatildeo de professor temporaacuterio anteriormente contratado

Embora natildeo se apliquem integralmente as regras do concurso puacuteblico para as con-trataccedilotildees por necessidade temporaacuteria deve a seleccedilatildeo ainda que simplificada obser-var os princiacutepios da impessoalidade e da moralidade inscritos no art 37 caput da CF1 Satildeo eles que justificam a limitaccedilatildeo constante do art 9ordm III da Lei 874519932 e 3

Nesse contexto o art 9ordm III da Lei 87451993 que dispotildee sobre contrataccedilatildeo temporaacuteria evita que funccedilatildeo temporaacuteria cuja caracteriacutestica eacute a transitoriedade seja transformada em algo ordinaacuterio Dessa forma o dispositivo legal eacute necessaacuterio e ade-quado para preservar o princiacutepio da impessoalidade do concurso puacuteblico

ldquoEacute bem verdade que a impossibilidade de recontrataccedilatildeo dos mesmos profissionais natildeo assegura a observacircncia do art 37 IX da CF4 pois o preenchimento desses postos de trabalho por meio de contratos temporaacuterios ainda que com pessoas antes natildeo contratadas pela Administraccedilatildeo tambeacutem frustra o ideal de temporalidade e transito-riedade desse tipo de contrataccedilatildeo5rdquo

Dessa forma ldquoa descontinuidade do viacutenculo temporaacuterio provocada pela vedaccedilatildeo do art 9ordm III da Lei 87451993 evita que se instale na Administraccedilatildeo interesse con-traacuterio ao provimento efetivo de cargos puacuteblicos mediante concurso e retira o admi-nistrador puacuteblico da situaccedilatildeo cocircmoda de reutilizar a mesma matildeo de obra jaacute recrutada por processo seletivo simplificadordquo6

Assim natildeo configura ofensa agrave isonomia a previsatildeo legal de proibiccedilatildeo por pra-zo determinado de nova contrataccedilatildeo de candidato jaacute anteriormente admitido em processo seletivo simplificado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico

60iacutendice de teses

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

2 ldquoArt 9ordm O pessoal contratado nos termos desta Lei natildeo poderaacute () III ndash ser novamente contratado com fundamento nesta lei antes de decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior salvo nas hipoacuteteses dos incisos I e IX do art 2ordm desta Lei mediante preacutevia autori-zaccedilatildeo conforme determina o art 5ordm desta Leirdquo

3 ADI 3210 rel min Carlos Velloso P DJ de 3-12-2004 e ADI 890 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 6-2-2004

4 ldquoArt 37 () IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblicordquo

5 Trecho do voto do ministro Alexandre de Morais no presente julgamento

6 Idem

61iacutendice de teses

Satildeo inconstitucionais dispositivos de lei estadual de iniciativa parlamentar1

que asseguraram a permanecircncia dos servidores puacuteblicos admitidos em caraacute-

ter temporaacuterio sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico

Os arts 1ordm e 2ordm da Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte revelam fla-grante viacutecio formal A Assembleia Legislativa usurpou a prerrogativa constitu-cionalmente conferida ao chefe do Poder Executivo quanto agraves mateacuterias afetas ao regime juriacutedico dos servidores puacuteblicos2 nos termos do art 61 sect 1ordm II c da Cons-tituiccedilatildeo Federal3

Essa hipoacutetese configura ainda burla ao princiacutepio do concurso puacuteblico (CF art 37 II4) haja vista a estabilizaccedilatildeo de servidores contratados apenas temporariamente sem o preacutevio certame puacuteblico5

Ademais o fato de a lei impugnada abranger temporalmente os servidores cuja admissatildeo operou-se em periacuteodo preacute-constitucional natildeo elide quanto a esses a decla-raccedilatildeo de inconstitucionalidade em razatildeo da flagrante violaccedilatildeo do art 19 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias6 que concedeu estabilidade excepcional so-mente aos servidores que ao tempo da promulgaccedilatildeo do texto estavam em exerciacutecio havia mais de cinco anos

Diante disso foi declarada a inconstitucionalidade dos arts 1ordm7 e 2ordm8 da Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte A norma assegurava a permanecircncia dos servidores da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN) admitidos em caraacuteter temporaacuterio entre o periacuteodo de 8 de janeiro de 1987 a 17 de junho de 1993 sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico e tornava sem efeitos os atos de direccedilatildeo da Universidade que de qualquer forma importassem em exclusatildeo desses servidores do quadro de pessoal

Todavia ante a vigecircncia prolongada da referida lei estadual e a necessidade de res-guardar a seguranccedila juriacutedica9 foi aplicada a modulaccedilatildeo dos efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade nos termos do art 27 da Lei 9868199910 de modo a dar efei-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores temporaacuterios Ȥ Regras para admissatildeo

ADI 1241rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 840

62iacutendice de teses

tos prospectivos agrave decisatildeo a qual somente produziraacute efeitos a partir de doze meses contados da data da publicaccedilatildeo da ata de julgamento Esse periacuteodo foi considerado haacutebil para a realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico a nomeaccedilatildeo e a posse de novos servido-res evitando-se assim prejuiacutezo agrave prestaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico de ensino superior na URRN

Por fim foram ressalvados dos efeitos desta decisatildeo os servidores que jaacute estejam aposentados e aqueles que ateacute a data de publicaccedilatildeo da ata do julgamento tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria exclusivamente para efeitos de apo-sentadoria11

1 Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte

2 Precedentes ADI 4433 MC rel min Ellen Gracie P DJE de 10-11-2010 ADI 4154 rel min Ri-cardo Lewandowski P DJE de 18-6-2010 ADI 2904 rel min Menezes Direito P DJE de 25-9-2009 ADI 2113 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 21-8-2009 ADI 1594 rel min Eros Grau P DJE de 22-8-2008 e ADI 3167 rel min Eros Grau P DJE de 6-9-2007

3 ldquoArt 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Congresso Nacional ao Presidente da Repuacute-blica ao Supremo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II ndash disponham sobre () c) servidores puacuteblicos da Uniatildeo e Territoacuterios seu regime juriacutedico provimento de cargos estabilidade e aposentadoriardquo

4 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico depende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acor-do com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

5 Precedentes ADI 2687 rel min Nelson Jobim P DJ de 6-6-2003 ADI 3609 rel min Dias Toffoli P DJE de 30-10-2014 e ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

6 ldquoArt 19 Os servidores puacuteblicos civis da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios da administraccedilatildeo direta autaacuterquica e das fundaccedilotildees puacuteblicas em exerciacutecio na data da promulga-ccedilatildeo da Constituiccedilatildeo haacute pelo menos cinco anos continuados e que natildeo tenham sido admitidos na forma regulada no art 37 da Constituiccedilatildeo satildeo considerados estaacuteveis no serviccedilo puacuteblicordquo

7 ldquoArt 1ordm Aos servidores da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte admitidos entre o termo inicial da vigecircncia da Lei n 5546 de 8 de janeiro de 1987 que a incorporou agrave Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica Estadual e o da Portaria n 874 de 17 de junho de 1993 do Ministro da Educaccedilatildeo e do Desporto que a reconheceu e originalmente incluiacutedos no Quadro Suplementar integrante da

63iacutendice de teses

estrutura geral de pessoal daquela instituiccedilatildeo de ensino superior eacute assegurado permanecerem no referido Quadrordquo

8 ldquoArt 2ordm Satildeo declarados de nenhum efeito em relaccedilatildeo aos servidores na situaccedilatildeo de que trata o artigo anterior os atos de direccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte que de qualquer forma importem sua exclusatildeo do Quadro a que se refere a presente Leirdquo

9 Precedentes ADI 3609 rel min Dias Toffoli P DJE de 30-10-2014 ADI 3819 rel min Eros Grau P DJE de 28-3-2008 ADI 4125 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 15-2-2011 e ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

10 ldquoArt 27 Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e tendo em vista razotildees de se-guranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse social poderaacute o Supremo Tribunal Federal por maio-ria de dois terccedilos de seus membros restringir os efeitos daquela declaraccedilatildeo ou decidir que ela soacute tenha eficaacutecia a partir de seu tracircnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixadordquo

11 ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

64iacutendice de teses

Eacute ilegiacutetimo o provimento de serventia extrajudicial sem concurso puacuteblico

decorrente de permuta

O art 236 caput e sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 eacute autoaplicaacutevel produzindo efeitos mesmo antes da publicaccedilatildeo da Lei 893519942 Assim desde a promulga-ccedilatildeo da CF eacute aplicaacutevel a exigecircncia constitucional de preacutevia realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico para as hipoacuteteses de ingresso ou remoccedilatildeo na delegaccedilatildeo de serventias extra-judiciais Isso exclui a proacutepria possibilidade de permuta ainda que os envolvidos tenham ingressado por meio de concurso puacuteblico

Essa autoaplicaccedilatildeo independe da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de lei esta-dual com base na qual foi praticado o ato Nesses casos descabe invocar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica que natildeo se sobrepotildee agrave determinaccedilatildeo constitucional expressa

Ademais o prazo decadencial quinquenal do art 54 da Lei 978419993 natildeo se aplica em casos de inconstitucionalidade Em tais hipoacuteteses natildeo haacute confianccedila legiacute-tima a ser tutelada uma vez que se trata de ato que evidencia violaccedilatildeo direta ao preceituado pela ordem constitucional

Logo o prazo decadencial eacute inaplicaacutevel agrave revisatildeo de atos de delegaccedilatildeo de serven-tias extrajudiciais realizados apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 em desconformidade com as exigecircncias prescritas no art 236 caput e sect 3ordm da CF pois o concurso puacuteblico eacute providecircncia necessaacuteria tanto para o ingresso nas serventias extrajudiciais quanto para a remoccedilatildeo e para a permuta4

Nesse sentido inexiste ofensa agrave seguranccedila juriacutedica e ao direito adquirido tam-pouco afronta ao art 54 da Lei 97841999 em ato do Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) que valendo-se de informaccedilotildees fornecidas pelo Tribunal de Justiccedila estadual e citando a Resoluccedilatildeo CNJ 8020095 declarou a vacacircncia de serventia extrajudicial provida por permuta realizada sem preacutevio concurso puacuteblico por se tratar de ato nulo

Por fim do mesmo modo que eacute iliacutecito algueacutem ocupar determinado cargo por forccedila de titularizaccedilatildeo inconstitucional tambeacutem eacute iliacutecito perder o direito ao cargo de

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Particulares colaboradores Ȥ Forma de provimento

MS 29415red p o ac min Luiz Fux

1ordf Turma

DJE de 26-4-2017Informativo STF 841

65iacutendice de teses

origem para o qual havia ingressado mediante concurso puacuteblico Logo apesar de a permuta descrita ter se realizado sem o anterior certame haacute o direito de retorno ao cargo para o qual houve a nomeaccedilatildeo original apoacutes aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico

1 Precedentes MS 28371 AgR rel min Joaquim Barbosa P DJE de 27-2-2013 e MS 28279 rel min Ellen Gracie P DJE de 29-4-2011

2 ldquoRegulamenta o art 236 da Constituiccedilatildeo Federal dispondo sobre serviccedilos notariais e de registro (Lei dos cartoacuterios)rdquo

3 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

4 Precedentes MS 29265 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 23-2-2017 MS 28279 rel min Ellen Gracie P DJE de 29-4-2011 MS 28371 AgR rel min Joaquim Barbosa P DJE de 27-2-2013 e MS 28273 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 21-2-2013

5 ldquoDeclara a vacacircncia dos serviccedilos notariais e de registro ocupados em desacordo com as normas constitucionais pertinentes agrave mateacuteria estabelecendo regras para a preservaccedilatildeo da ampla defesa dos interessados para o periacuteodo de transiccedilatildeo e para a organizaccedilatildeo das vagas do serviccedilo de notas e registro que seratildeo submetidas a concurso puacuteblicordquo

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BIEN

TAL

POLIacuteTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTEDIREITO AMBIENTAL

68iacutendice de teses

No atual estaacutegio do conhecimento cientiacutefico que indica ser incerta a exis-

tecircncia de efeitos nocivos da exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral

a campos eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por sistemas de

energia eleacutetrica natildeo existem impedimentos por ora a que sejam adotados os

paracircmetros propostos pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) conforme

estabelece a Lei 1193420091

Embora o princiacutepio da precauccedilatildeo seja um criteacuterio de gestatildeo de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas cientiacuteficas sobre a possibilidade de um produto evento ou serviccedilo desequilibrar o meio ambiente ou atingir a sauacutede dos cidadatildeos ele natildeo pode ser interpretado exacerbadamente a ponto de produzir paralisia es-tatal ou engessar o progresso da sociedade tampouco gerar temores infundados

Essas caracteriacutesticas exigem que o Estado analise os riscos avalie os custos das me-didas de prevenccedilatildeo e ao final execute as accedilotildees e medidas acautelatoacuterias necessaacuterias as quais seratildeo decorrentes de decisotildees universais natildeo discriminatoacuterias motivadas coerentes e proporcionais

Impor agrave concessionaacuteria de serviccedilo puacuteblico de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica a obrigaccedilatildeo de reduzir o campo eletromagneacutetico de suas linhas de transmissatildeo com base apenas em padrotildees estrangeiros de seguranccedila desprezando-se os limites pre-vistos na legislaccedilatildeo infraconstitucional adotada no Paiacutes bem como a adequaccedilatildeo do sistema de transmissatildeo a curto prazo acarretaria custo desproporcional agraves empresas de energia ndash que repassariam esse ocircnus ao consumidor ndash comprometeria o forne-cimento de energia eleacutetrica agrave populaccedilatildeo de baixa renda em funccedilatildeo dos preccedilos mais elevados e prejudicaria sobremaneira o jaacute combalido desenvolvimento econocircmico do Paiacutes

Por outro lado os estudos desenvolvidos pela OMS demonstram natildeo haver evi-decircncias cientiacuteficas convincentes de que a exposiccedilatildeo humana a campos eletromagneacute-ticos acima dos limites estabelecidos na lei brasileira cause efeitos nocivos agrave sauacutede

Direito Ambiental Ȥ Poliacutetica nacional do meio ambiente

Ȥ Princiacutepios Ȥ Princiacutepio da precauccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 627189RG ‒ Tema 479rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-4-2017Informativo STF 829

69iacutendice de teses

A caracterizaccedilatildeo do que eacute seguro ou natildeo depende do avanccedilo do conhecimento cien-tiacutefico sobre a mateacuteria Entretanto natildeo existem provas ou mesmo indiacutecios que com-provem que o avanccedilo cientiacutefico na Suiacuteccedila ou em outros paiacuteses que natildeo adotam os padrotildees da OMS e da Comissatildeo Internacional de Proteccedilatildeo Contra Radiaccedilatildeo Natildeo Ionizante (ICNIRP) esteja aleacutem do conhecimento cientiacutefico daqueles que os adotam

Nesse sentido diante das incertezas que reinam no campo cientiacutefico o eventual controle pelo Poder Judiciaacuterio quanto agrave legalidade e agrave legitimidade na aplicaccedilatildeo do princiacutepio da precauccedilatildeo haacute de ser realizado com extrema prudecircncia com um controle miacutenimo privilegiando a opccedilatildeo democraacutetica das escolhas discricionaacuterias feitas pelo legislador e pela Administraccedilatildeo Puacuteblica

No futuro caso surjam efetivas e reais razotildees cientiacuteficas eou poliacuteticas para a re-visatildeo do que se deliberou no acircmbito normativo deveratildeo ocorrer novos debates e atualizaccedilatildeo de definiccedilotildees

1 ldquoArt 4ordm Para garantir a proteccedilatildeo da sauacutede e do meio ambiente em todo o territoacuterio brasileiro seratildeo adotados os limites recomendados pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS para a exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral a campos eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por estaccedilotildees transmissoras de radiocomunicaccedilatildeo por terminais de usuaacuterio e por sistemas de ener-gia eleacutetrica que operam na faixa ateacute 300 GHz Paraacutegrafo uacutenico Enquanto natildeo forem estabelecidas novas recomendaccedilotildees pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede seratildeo adotados os limites da Comissatildeo Internacional de Proteccedilatildeo Contra Radiaccedilatildeo Natildeo Ionizante ndash ICNIRP recomendados pela Organiza-ccedilatildeo Mundial de Sauacutederdquo

DIR

EC

IVIL

DIR

EIT

O

CIV

IL

PESSOASDIREITO CIVIL

72iacutendice de teses

O art 59 do Coacutedigo Civil1 eacute compatiacutevel com a autonomia das entidades des-

portivas prevista no art 217 I da Constituiccedilatildeo Federal2

A autonomia das entidades desportivas natildeo eacute absoluta3 Essas agremiaccedilotildees devem obediecircncia agraves normas de caraacuteter geral que impotildeem limitaccedilotildees vaacutelidas agrave sua autono-mia relativa sem que importe lesatildeo a direitos e garantias individuais4

1 ldquoArt 59 Compete privativamente agrave assembleia geral I ndash destituir os administradores II ndash alterar o estatuto Paraacutegrafo uacutenico Para as deliberaccedilotildees a que se referem os incisos I e II deste artigo eacute exigido deliberaccedilatildeo da assembleia especialmente convocada para esse fim cujo quoacuterum seraacute o estabelecido no estatuto bem como os criteacuterios de eleiccedilatildeo dos administradoresrdquo

2 ldquoArt 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo formais como direito de cada um observados I ndash a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamentordquo

3 ldquoO legislador constituinte brasileiro por isso mesmo ndash pretendendo assegurar e incentivar a partici-paccedilatildeo efetiva das referidas associaccedilotildees no acircmbito do desporto nacional ndash conferiu-lhes um grau de autonomia que propicia a tais entes especial prerrogativa juriacutedica consistente no prevalecimento de sua proacutepria vontade em tema de definiccedilatildeo de sua estrutura organizacional e de seu interno funcionamento embora tais entidades estejam sujeitas agraves normas gerais fundadas na legislaccedilatildeo emanada do Estado eis que a noccedilatildeo de autonomia ainda que de extraccedilatildeo constitucional natildeo se revela absoluta nem tem a extensatildeo e o conteuacutedo inerentes ao conceito de soberania e de indepen-decircnciardquo (Trecho do voto do ministro Celso de Mello na ADI 3045 rel min Celso de Mello P DJE de 1ordm-6-2007)

4 ADI 2937 rel min Cezar Peluso P DJE de 29-5-2012

Direito Civil Ȥ Pessoas

Ȥ Pessoas juriacutedicas Ȥ Associaccedilotildees

RE 935482 AgRrel min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 22-3-2017Informativo STF 853

DIREITO DE FAMIacuteLIADIREITO CIVIL

74iacutendice de teses

A paternidade socioafetiva declarada ou natildeo em registro puacuteblico natildeo impe-

de o reconhecimento do viacutenculo de filiaccedilatildeo concomitante baseado na origem

bioloacutegica com os efeitos juriacutedicos proacuteprios

A natildeo previsatildeo dos diversos arranjos familiares na regulaccedilatildeo estatal por omissatildeo do legislador natildeo justifica a negativa de proteccedilatildeo a situaccedilotildees de pluriparentalidade1 Eacute portanto juridicamente admitida a cumulaccedilatildeo de viacutenculos de filiaccedilatildeo derivados da afetividade e da consanguinidade para todos os fins de direito A concessatildeo de tutela juriacutedica concomitante a tais viacutenculos visa prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos com base no sobreprinciacutepio da dignidade humana na sua dimensatildeo de tutela da felicidade ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 1ordm III2 ndash e no princiacutepio da paternidade responsaacutevel ndash CF art 226 sect 7ordm3

A dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral capaz de determinar-se e desenvolver-se em liberdade de modo que a eleiccedilatildeo indivi-dual dos proacuteprios objetivos de vida tem preferecircncia absoluta em relaccedilatildeo a eventuais formulaccedilotildees legais definidoras de modelos preconcebidos destinados a resultados eleitos a priori pelo legislador4 A superaccedilatildeo de oacutebices legais ao pleno desenvolvimen-to das famiacutelias construiacutedas pelas relaccedilotildees afetivas interpessoais dos proacuteprios indiviacute-duos eacute corolaacuterio do sobreprinciacutepio da dignidade humana

O direito agrave busca da felicidade ao mesmo tempo em que eleva o indiviacuteduo agrave cen-tralidade do ordenamento juriacutedico-poliacutetico reconhece as suas capacidades de autode-terminaccedilatildeo autossuficiecircncia e liberdade de escolha dos proacuteprios objetivos proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadatildeos para a persecuccedilatildeo das vontades particulares O indiviacuteduo jamais pode ser reduzido a mero instrumento de consecuccedilatildeo das vontades dos governantes5 por isso esse direito protege o ser huma-no em face de tentativas do Estado de enquadrar a realidade familiar em modelos preconcebidos pela lei

Direito Civil Ȥ Direito de famiacutelia

Ȥ Direito pessoal Ȥ Relaccedilotildees de parentesco ndash Repercussatildeo Geral

RE 898060RG ‒ Tema 622rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 840

75iacutendice de teses

A paternidade responsaacutevel na perspectiva da dignidade humana e da busca pela felicidade impotildee o acolhimento no espectro legal tanto dos viacutenculos de filiaccedilatildeo cons-truiacutedos pela relaccedilatildeo socioafetiva entre os envolvidos quanto daqueles originados da ascendecircncia consanguiacutenea sem que seja necessaacuterio decidir entre um ou outro viacutenculo quando o melhor interesse do descendente for o reconhecimento juriacutedico de ambos

Ademais a ideia de famiacutelia agrave luz dos preceitos introduzidos pela Constituiccedilatildeo Fe-deral de 1988 apartou-se definitivamente da ultrapassada hierarquizaccedilatildeo entre filhos legiacutetimos legitimados e ilegiacutetimos prevista no Coacutedigo Civil de 1916 Nesta norma o paradigma em mateacuteria de filiaccedilatildeo por adotar presunccedilatildeo baseada na centralidade do casamento desconsiderava tanto o fator bioloacutegico quanto o afetivo embora a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute previssem a afetividade enquanto criteacuterio para evitar situaccedilotildees de extrema injusticcedila reconhecendo-se a posse do estado de filho e conse-quentemente o viacutenculo parental em favor daquele que utilizasse o nome da famiacutelia (nominatio) fosse tratado como filho pelo pai (tractatio) e gozasse do reconhecimento da sua condiccedilatildeo de descendente pela comunidade (reputatio)

Nessa linha a Constituiccedilatildeo em caraacuteter meramente exemplificativo reconhece como legiacutetimos modelos de famiacutelia independentes do casamento como a uniatildeo es-taacutevel (CF art 226 sect 3ordm6) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus des-cendentes cognominada ldquofamiacutelia monoparentalrdquo (CF art 226 sect 4ordm7) Aleacutem disso enfatiza que espeacutecies de filiaccedilatildeo dissociadas do matrimocircnio entre os pais merecem equivalente tutela diante da lei sendo vedada discriminaccedilatildeo e portanto qualquer tipo de hierarquia entre elas (CF art 227 sect 6ordm8) As uniotildees estaacuteveis homoafetivas consideradas pela jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal como entidade fami-liar conduziram agrave imperiosidade da interpretaccedilatildeo natildeo reducionista do conceito de famiacutelia como instituiccedilatildeo que tambeacutem se forma por vias distintas do casamento civil9

Assim a compreensatildeo juriacutedica cosmopolita das famiacutelias exige a ampliaccedilatildeo da tu-tela normativa a todas as formas pelas quais a parentalidade pode se manifestar a saber (i) pela presunccedilatildeo decorrente do casamento ou outras hipoacuteteses legais (ii) pela descendecircncia bioloacutegica ou (iii) pela afetividade

A evoluccedilatildeo cientiacutefica responsaacutevel pela popularizaccedilatildeo do exame de DNA conduziu ao reforccedilo de importacircncia do criteacuterio bioloacutegico tanto para fins de filiaccedilatildeo quanto para a concretizaccedilatildeo do direito fundamental agrave busca da identidade geneacutetica como natural emanaccedilatildeo do direito de personalidade de um ser

76iacutendice de teses

1 ldquoA pluriparentalidade no Direito Comparado pode ser exemplificada pelo conceito de lsquodupla pa-ternidadersquo (dual paternity) construiacutedo pela Suprema Corte do Estado da Louisiana EUA desde a deacutecada de 1980 para atender ao mesmo tempo ao melhor interesse da crianccedila e ao direito do genitor agrave declaraccedilatildeo da paternidaderdquo (Trecho da ementa do presente julgamento)

2 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () III ndash a dignidade da pessoa humanardquo

3 ldquoArt 226 A famiacutelia base da sociedade tem especial proteccedilatildeo do Estado () sect 7ordm Fundado nos prin-ciacutepios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsaacutevel o planejamento familiar eacute livre decisatildeo do casal competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e cientiacuteficos para o exerciacute-cio desse direito vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituiccedilotildees oficiais ou privadasrdquo

4 Jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional alematildeo

5 Precedentes RE 477554 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 26-8-2011 e ADPF 132 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

6 ldquoArt 226 () sect 3ordm Para efeito da proteccedilatildeo do Estado eacute reconhecida a uniatildeo estaacutevel entre o homem e a mulher como entidade familiar devendo a lei facilitar sua conversatildeo em casamentordquo

7 ldquoArt 226 () sect 4ordm Entende-se tambeacutem como entidade familiar a comunidade formada por qual-quer dos pais e seus descendentesrdquo

8 ldquoArt 227 () sect 6ordm Os filhos havidos ou natildeo da relaccedilatildeo do casamento ou por adoccedilatildeo teratildeo os mes-mos direitos e qualificaccedilotildees proibidas quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias relativas agrave filiaccedilatildeordquo

9 Precedente ADI 4277 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

77iacutendice de teses

O direito de ter reconhecida a filiaccedilatildeo bioloacutegica prevalece sobre a presunccedilatildeo

legal de paternidade

A observacircncia como dogma sacrossanto da regra inscrita no art 344 do Coacutedigo Civil1 de 1916 segundo a qual cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulher devendo fazecirc-lo no prazo de dois meses contados do nascimento sob pena de incidir a prescriccedilatildeo deve ser afastada Tal preceito distancia-se da realidade das noccedilotildees proacuteprias agrave dignidade do homem aleacutem de natildeo considerar o direito de o filho saber e ter como pai quem o gerou e natildeo permanecer como filho presumido2

O fato de natildeo ter o marido na constacircncia do casamento contestado a paternidade de filho adulterino de sua esposa o qual fora por ele registrado como sendo seu filho legiacutetimo natildeo impede que o filho busque ver reconhecida legalmente a relaccedilatildeo de filia-ccedilatildeo com seu verdadeiro pai bioloacutegico por meio de accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade

A hipoacutetese eacute de tombamento da presunccedilatildeo de paternidade do marido da matildee A existecircncia de prova inequiacutevoca do viacutenculo de filiaccedilatildeo entre investigante e investiga-do consubstanciada em documento oficial idocircneo mostra-se suficiente para afastar a presunccedilatildeo

Ademais o reconhecimento da filiaccedilatildeo declarada pelo proacuteprio investigado deve sobressair a fim de serem concedidas ao investigante todas as consequecircncias legais do fato inclusive o direito de heranccedila

1 ldquoArt 344 Cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulherrdquo

2 ldquoNatildeo devem ser impostos oacutebices de natureza processual ao exerciacutecio do direito fundamental agrave busca da identidade geneacutetica como natural emanaccedilatildeo do direito de personalidade de um ser de forma a tornar-se igualmente efetivo o direito agrave igualdade entre os filhos inclusive de qualificaccedilotildees bem assim o princiacutepio da paternidade responsaacutevelrdquo (RE 363889 rel min Dias Toffoli P DJE de 16-12-2011)

Direito Civil Ȥ Direito de famiacutelia

Ȥ Direito pessoal Ȥ Relaccedilotildees de parentesco

AR 1244 EIrel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 30-3-2017Informativo STF 840

DIREITO DAS SUCESSOtildeESDIREITO CIVIL

79iacutendice de teses

No sistema constitucional vigente eacute inconstitucional a distinccedilatildeo de regimes

sucessoacuterios entre cocircnjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos

os casos o regime estabelecido no art 1829 do Coacutedigo Civil de 20021

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo se limitou ao tratamento juriacutedico tradicional da famiacutelia que instituiacutea o casamento como uacutenica condiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de uma entidade familiar ldquolegiacutetimardquo Pelo contraacuterio o texto constitucional contempla di-ferentes formas de famiacutelia como aquelas constituiacutedas por qualquer dos pais e seus descendentes (monoparental) e aquelas decorrentes de uniatildeo estaacutevel

Ao reconhecer demais formaccedilotildees familiares caracterizadas pelo viacutenculo afetivo e pelo projeto de vida em comum a Constituiccedilatildeo passou a proteger a famiacutelia natildeo como um ldquobem em sirdquo mas como meio para que as pessoas possam se realizar in-dependentemente da configuraccedilatildeo adotada tratando todas as famiacutelias com o mesmo respeito e consideraccedilatildeo O Supremo Tribunal Federal por oportuno jaacute reconheceu a ldquoinexistecircncia de hierarquia ou diferenccedila de qualidade juriacutedica entre as duas formas de constituiccedilatildeo de um novo e autonomizado nuacutecleo domeacutesticordquo aplicando-se agrave uniatildeo estaacutevel entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e consequecircncias da uniatildeo es-taacutevel heteroafetiva2

Apoacutes a vigecircncia da Constituiccedilatildeo de 1988 duas leis ordinaacuterias equiparavam os re-gimes juriacutedicos sucessoacuterios do casamento e da uniatildeo estaacutevel Lei 897119943 e Lei 927819964 No entanto o art 1790 do Coacutedigo Civil de 20025 revogou as referidas normas e passou a discriminar o(a) companheiro(a) dando-lhe direitos sucessoacuterios bem inferiores aos conferidos ao(agrave) esposo(a) Desse modo o dispositivo violou a igualdade entre as famiacutelias consagrada no art 226 sect 3ordm da CF6 e afrontou os princiacute-pios da dignidade da pessoa humana da igualdade e da proporcionalidade na moda-lidade de proibiccedilatildeo agrave proteccedilatildeo deficiente e da vedaccedilatildeo ao retrocesso Afinal cocircnjuges e companheiros devem receber a mesma proteccedilatildeo quanto aos direitos sucessoacuterios

Direito Civil Ȥ Direito das sucessotildees

Ȥ Sucessatildeo legiacutetima Ȥ Ordem da vocaccedilatildeo hereditaacuteria ndash Repercussatildeo Geral

RE 646721RG ‒ Tema 498red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 864

80iacutendice de teses

pois independentemente do tipo de entidade familiar o objetivo estatal da sucessatildeo eacute garantir ao parceiro remanescente meios para que viva dignamente

Tendo em vista que no sistema constitucional vigente a hierarquizaccedilatildeo entre en-tidades familiares eacute incompatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal natildeo sendo legiacutetimo desequiparar para fins sucessoacuterios os cocircnjuges e os companheiros isto eacute a famiacutelia formada pelo casamento e a formada por uniatildeo estaacutevel foi declarada a inconstitucio-nalidade do art 1790 do Coacutedigo Civil de 2002 Assim deve ser aplicado em ambos os casos o mesmo procedimento para sucessatildeo legiacutetima de bens previsto no art 1829 da referida lei

Com a finalidade de preservar a seguranccedila juriacutedica o entendimento ora firma-do eacute aplicaacutevel apenas aos inventaacuterios judiciais em que natildeo tenha havido tracircnsito em julgado da sentenccedila de partilha e agraves partilhas extrajudiciais em que ainda natildeo haja escritura puacuteblica

1 ldquoArt 1829 A sucessatildeo legiacutetima defere-se na ordem seguinte I ndash aos descendentes em concorrecircncia com o cocircnjuge sobrevivente salvo se casado este com o falecido no regime da comunhatildeo universal ou no da separaccedilatildeo obrigatoacuteria de bens (art 1640 paraacutegrafo uacutenico) ou se no regime da comunhatildeo parcial o autor da heranccedila natildeo houver deixado bens particulares II ndash aos ascendentes em concor-recircncia com o cocircnjuge III ndash ao cocircnjuge sobrevivente IV ndash aos colateraisrdquo

2 Precedentes ADI 4277 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011 e ADPF 132 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

3 ldquoRegula o direito dos companheiros a alimentos e agrave sucessatildeordquo

4 ldquoRegula o sect 3ordm do art 226 da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

5 ldquoArt 1790 A companheira ou o companheiro participaraacute da sucessatildeo do outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigecircncia da uniatildeo estaacutevel nas condiccedilotildees seguintes I ndash se concorrer com filhos comuns teraacute direito a uma quota equivalente agrave que por lei for atribuiacuteda ao filho II ndash se concorrer com descendentes soacute do autor da heranccedila tocar-lhe-aacute a metade do que couber a cada um daqueles III ndash se concorrer com outros parentes sucessiacuteveis teraacute direito a um terccedilo da heranccedila IV ndash natildeo havendo parentes sucessiacuteveis teraacute direito agrave totalidade da heranccedilardquo

6 ldquoArt 226 A famiacutelia base da sociedade tem especial proteccedilatildeo do Estado () sect 3ordm Para efeito da pro-teccedilatildeo do Estado eacute reconhecida a uniatildeo estaacutevel entre o homem e a mulher como entidade familiar devendo a lei facilitar sua conversatildeo em casamentordquo

DIR

EC

ON

DIR

EIT

O

CO

NST

ITU

CIO

NA

L

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAISDIREITO CONSTITUCIONAL

83iacutendice de teses

Inexiste decisatildeo do Supremo Tribunal Federal (STF) em controle concentra-

do de constitucionalidade1 e 2 sobre a regulamentaccedilatildeo adequada para o exer-

ciacutecio do direito de resposta haacutebil a justificar o cabimento da reclamaccedilatildeo3

A discussatildeo travada sobre o direito de resposta no julgamento da ADPF 130 (DJE de 26-2-2010) circunscreveu-se sobre o impacto do juiacutezo de natildeo recepccedilatildeo integral da Lei de Imprensa (Lei 52501967) sobre a eficaacutecia do art 5ordm V da Constituiccedilatildeo Federal (CF)4

Naquela ocasiatildeo o Plenaacuterio do STF decidiu que o direito de resposta assegurado constitucionalmente (CF art 5ordm V) pode ser diretamente tutelado independentemente de legislaccedilatildeo especiacutefica regulamentando-o Isso natildeo significa poreacutem que o STF tenha adotado interpretaccedilatildeo pela desnecessidade de comprovaccedilatildeo do ldquoagravordquo a que alude o proacuteprio dispositivo constitucional ao tratar do direito de resposta (CF art 5ordm V) ou a uma impossibilidade de sua densificaccedilatildeo agrave luz da liberdade de imprensa (e das liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento de informaccedilatildeo e de expressatildeo artiacutestica cientiacutefica intelectual e comunicacional) quer sob o prisma legiferante-nomoteacutetico quer jurisprudencial

Logo natildeo versou a ADPF 130 sobre o marco normativo infraconstitucional A uti-lizaccedilatildeo da Lei 131882015 como fundamento por decisatildeo de primeira instacircncia natildeo permite per saltum e se distanciando do sistema recursal esquadrinhado pelo legisla-dor proceder-se agrave substituiccedilatildeo da reconstruccedilatildeo faacutetica adotada por sentenccedila impugna-da pela via da reclamaccedilatildeo realizada sob o crivo do contraditoacuterio para entatildeo atribuir--lhe distinta consequecircncia juriacutedica

1 CF1988 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constitui-ccedilatildeo cabendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildeesrdquo

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Direito de resposta

Rcl 24459 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 5-9-2017Informativo STF 851

84iacutendice de teses

2 CPC2015 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para I ndash pre-servar a competecircncia do tribunal II ndash garantir a autoridade das decisotildees do tribunal III ndash garantir a observacircncia de enunciado de suacutemula vinculante e de decisatildeo do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidaderdquo

3 ldquoDe iniacutecio consigno que a Reclamaccedilatildeo se caracteriza como uma demanda de fundamentaccedilatildeo vin-culada vale dizer cabiacutevel somente quando se fizer presente alguma das hipoacuteteses para ela estri-tamente previstas Partindo de construccedilatildeo jurisprudencial a instrumento com expresso assento constitucional trata-se de accedilatildeo vocacionada precipuamente a duas diferentes finalidades De um lado visa a Reclamaccedilatildeo agrave (i) tutela da autoridade das decisotildees proferidas por esta Corte e das suacute-mulas vinculantes por ela editadas De outro agrave (ii) proteccedilatildeo do importante rol de competecircncias atribuiacutedas ao STF Eacute o que se vecirc nos arts 102 I l e 103-A sect 3ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica No que se refere agrave primeira hipoacutetese tem a Reclamaccedilatildeo especial guarida para garantir a observacircncia das decisotildees proferidas em controle concentrado de constitucionalidade dotadas de efeito vincu-lante como tambeacutem se colhe do art 988 III do CPC Eacute preciso no entanto vagar com o andor a fim de que natildeo se convole esse importante instrumento processual em verdadeiro algoz da Corte impedindo que esta legitimamente desempenhe o papel de Guardiatilde da Constituiccedilatildeo Recorde-se que a proacutepria razatildeo de ser do efeito vinculante estaacute assentada ao papel timoneiro do STF enquanto Corte Constitucional e oacutergatildeo maacuteximo do Poder Judiciaacuterio Isso natildeo significa nem pode significar um amesquinhar do relevante papel a ser desempenhado pelas instacircncias ordinaacuterias no respeito agrave cultura dos precedentes permitindo um acesso per saltum agrave Corte Supremardquo (Trecho da decisatildeo monocraacutetica proferida pelo ministro Edson Fachin na Rcl 24459 publicada no DJE de 6-10-2016)

4 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () V ndash eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagemrdquo

85iacutendice de teses

Natildeo se revela iliacutecita por si soacute a comparaccedilatildeo entre diversas religiotildees inclusi-

ve com explicitaccedilatildeo de certa hierarquizaccedilatildeo ou animosidade entre elas

Quanto agrave liberdade de expressatildeo religiosa1 cumpre reconhecer nas hipoacuteteses de religiotildees que se alccedilam a universais que o discurso proselitista eacute da essecircncia de seu integral exerciacutecio De tal modo a finalidade de alcanccedilar o outro mediante persua-satildeo configura comportamento intriacutenseco a religiotildees de tal natureza

Discursos que evidenciem diferenccedilas ou ateacute mesmo juiacutezos de superioridade natildeo con-substanciam automaticamente preconceito ou discriminaccedilatildeo sob pena de esvaziamen-to do nuacutecleo essencial das manifestaccedilotildees religiosas compreendidas em sua inteireza

O discurso discriminatoacuterio criminoso somente se materializa apoacutes ultrapassadas trecircs etapas indispensaacuteveis Uma de caraacuteter cognitivo em que se atesta a desigualdade entre grupos eou indiviacuteduos Outra de vieacutes valorativo em que se assenta suposta rela-ccedilatildeo de superioridade entre eles E por fim uma terceira em que o agente a partir das fases anteriores supotildee legiacutetima a dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo escravizaccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo ou reduccedilatildeo de direitos fundamentais do diferente que compreende inferior2

A discriminaccedilatildeo natildeo libera consequecircncias juriacutedicas negativas especialmente no acircmbito penal na hipoacutetese em que as etapas iniciais de desigualaccedilatildeo desembocam na suposta prestaccedilatildeo de auxiacutelio ao grupo ou indiviacuteduo que na percepccedilatildeo do agente encontra-se em situaccedilatildeo desfavoraacutevel

1 CF1988 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () VI ndash eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na for-ma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias () VIII ndash ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir--se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em leirdquo

2 BOBBIO Norberto Elogio da serenidade Satildeo Paulo Unesp 2000 p 108

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Liberdade de expressatildeo religiosa

RHC 134682rel min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 29-8-2017Informativo STF 849

86iacutendice de teses

Eacute constitucional a expressatildeo ldquoprivativasrdquo contida no caput do art 3ordm da Lei

823419911 que regulamenta a profissatildeo de nutricionista respeitado o acircmbi-

to de atuaccedilatildeo profissional das demais profissotildees regulamentadas

Apesar de a regra constitucional ser a liberdade no exerciacutecio profissional2 a Consti-tuiccedilatildeo Federal (CF) admite a limitaccedilatildeo ao exerciacutecio das profissotildees (CF art 5ordm XIII3)

No entanto essa reserva legal qualificada estabelecida pela CF natildeo confere ao le-gislador o poder de restringir o exerciacutecio da liberdade a ponto de atingir o seu proacuteprio nuacutecleo essencial Essas restriccedilotildees legais precisam ser proporcionais e necessaacuterias e estatildeo limitadas agraves ldquoqualificaccedilotildees profissionaisrdquo ou seja formaccedilatildeo teacutecnicocientiacutefica indispensaacutevel para o bom desempenho da atividade4

A profissatildeo de nutricionista requer conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos especiacutefi-cos para o desempenho de suas funccedilotildees Dessa forma eacute razoaacutevel que para o exer-ciacutecio das atividades profissionais de nutricionista a lei exija qualificaccedilotildees especiais e registro profissional reservando em razatildeo dessas ldquoqualificaccedilotildees especiaisrdquo tais ativi-dades de forma privativa a essa categoria profissional

Cabe destacar que a norma impugnada elencou como privativas dos nutricionistas atividades eminentemente teacutecnicas que natildeo se confundem com aquelas desempe-nhadas por outros profissionais de niacutevel meacutedio

Natildeo haacute portanto inconstitucionalidade na exigecircncia de niacutevel superior em nutri-ccedilatildeo para atividades eminentemente acadecircmicas a exemplo da direccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo de cursos de graduaccedilatildeo planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de estudos dieteacuteticos ensino das mateacuterias profissionais dos cursos de gra-duaccedilatildeo em nutriccedilatildeo e ensino das disciplinas de nutriccedilatildeo e alimentaccedilatildeo nos cursos de graduaccedilatildeo da aacuterea de sauacutede e outras afins

Tambeacutem natildeo haacute viacutecio na lei no tocante agraves disposiccedilotildees relativas agraves atividades de planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de serviccedilos pertinentes agrave alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo consultoacuterio de nutriccedilatildeo e dieteacutetica e de assistecircncia dieto-

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Liberdade de exerciacutecio profissional

ADI 803rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 23-11-2017Informativo STF 879

87iacutendice de teses

teraacutepica hospitalar ambulatorial e em consultoacuterio de nutriccedilatildeo O exerciacutecio dessas atividades natildeo impede nem prejudica o exerciacutecio daquelas pertinentes a outras aacutereas de niacutevel superior notadamente referentes a bioquiacutemicos e meacutedicos nutroacutelogos Isso porque esses profissionais ldquomesmo que pertencentes agrave aacuterea da sauacutede sujeitam-se a formaccedilatildeo profissional especiacutefica particular o que conduz consequentemente agrave re-serva das atividades a serem privativamente executadas dentro do campo de atuaccedilatildeo respectivordquo5

1 ldquoArt 3ordm Satildeo atividades privativas dos nutricionistas I ndash direccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em nutriccedilatildeo II ndash planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de servi-ccedilos de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo III ndash planejamento coordenaccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de estudos dieteacuteticos IV ndash ensino das mateacuterias profissionais dos cursos de graduaccedilatildeo em nutriccedilatildeo V ndash ensino das disciplinas de nutriccedilatildeo e alimentaccedilatildeo nos cursos de graduaccedilatildeo da aacuterea de sauacutede e outras afins VI ndash auditoria consultoria e assessoria em nutriccedilatildeo e dieteacutetica VII ndash assistecircncia e educaccedilatildeo nutri-cional e coletividades ou indiviacuteduos sadios ou enfermos em instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e em consultoacuterio de nutriccedilatildeo e dieteacutetica VIII ndash assistecircncia dietoteraacutepica hospitalar ambulatorial e a niacutevel de consultoacuterios de nutriccedilatildeo e dieteacutetica prescrevendo planejando analisando supervisionando e avaliando dietas para enfermosrdquo

2 MI 6113 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 13-6-2014

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XIII ndash eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecerrdquo

4 Rp 930 red p o ac min Rodrigues Alckmin P DJ de 2-9-1977 e RE 511961 rel min Gilmar Mendes P DJE de 13-11-2009

5 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica adotado como razotildees de decidir pelo relator

88iacutendice de teses

Eacute garantido o amplo acesso a registros documentais e fonograacuteficos de ses-

sotildees de julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) puacuteblicas ou secretas

ocorridas na deacutecada de 1970

O direito agrave informaccedilatildeo a busca pelo conhecimento da verdade sobre sua histoacuteria sobre os fatos ocorridos em periacuteodo grave e contraacuterio agrave democracia integra o patri-mocircnio juriacutedico de todo cidadatildeo constituindo dever do Estado assegurar os meios para o seu exerciacutecio1

A plena atividade desse direito foi resguardada no julgamento do Recurso Ordi-naacuterio em Mandado de Seguranccedila 230362 no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu aos interessados o acesso aos documentos e arquivos fonograacuteficos relacio-nados agraves sessotildees de julgamentos do STM ocorridas na deacutecada de 1970 Essa decisatildeo natildeo restringiu o acesso aos registros relacionados apenas agraves sessotildees puacuteblicas tendo garantido a liberaccedilatildeo integral das gravaccedilotildees de aacuteudios seja no que se refere agraves sus-tentaccedilotildees orais realizadas pelos advogados seja no que pertine aos debates e votos proferidos pelos componentes do STM em sessotildees secretas

A decisatildeo paradigma de controle eacute expliacutecita ao dispor sobre a ilegitimidade da exceccedilatildeo imposta quanto agrave mateacuteria discutida e votada em sessatildeo secreta pelo Plenaacuterio do STM prevista em ato normativo interno e sobre a ausecircncia de plausibilidade juriacute-dica da justificativa apresentada segundo a qual ldquoo material de que se pleiteou coacutepia apenas serviria para o controle interno do Tribunal ou para o exame dos ministros da Corterdquo3

Afinal natildeo haacute espaccedilo para a discricionariedade da Administraccedilatildeo em restringir o amplo acesso aos documentos gerados a partir dos julgamentos ocorridos no periacuteodo mencionado conferindo induvidosa amplitude agravequela decisatildeo

Nesse contexto eacute injustificaacutevel a resistecircncia que o STM tenta opor ao cumprimen-to da decisatildeo do STF que taxativamente afastou os obstaacuteculos erigidos para impedir que fossem trazidos agrave lume a integralidade dos atos processuais praticados no STM

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Direito agrave informaccedilatildeo

Rcl 11949rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 16-8-2017Informativo STF 857

89iacutendice de teses

oralmente ou por escrito cujo conhecimento cidadatildeos brasileiros requereram para fins de pesquisa histoacuterica e resguardo da memoacuteria nacional O ato pelo qual foi inde-ferido o acesso estaacute em evidente descompasso com a ordem constitucional vigente que erigiu o direito agrave informaccedilatildeo agrave natureza de direito fundamental

Ressalva-se no entanto o acesso aos documentos indispensaacuteveis agrave defesa da in-timidade e agravequeles cujo sigilo se imponha para proteccedilatildeo da sociedade e do Estado Nesses casos deve haver motivaccedilatildeo de forma expliacutecita e pormenorizada pelo Tribu-nal a fim de sujeitar a alegaccedilatildeo a eventual controle judicial

1 ADPF 153 rel min Eros Grau P DJE de 6-8-2010

2 RMS 23036 red p o ac min Nelson Jobim 2ordf T DJ de 25-8-2006

3 Inciso I do Provimento 54STM

90iacutendice de teses

Eacute necessaacuteria a observacircncia da garantia do devido processo legal em especial

do contraditoacuterio e da ampla defesa relativamente agrave inscriccedilatildeo de entes puacutebli-

cos em cadastros federais de inadimplecircncia

ldquoA imposiccedilatildeo de restriccedilotildees de ordem juriacutedica pelo Estado quer se concretize na esfera judicial quer se realize no acircmbito estritamente administrativo (como suce-de com a inclusatildeo de supostos devedores em cadastros puacuteblicos de inadimplentes) supotildee para legitimar-se constitucionalmente o efetivo respeito pelo poder puacutebli-co da garantia indisponiacutevel do due process of law assegurada pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 5ordm LIV1) agrave generalidade das pessoas inclusive agraves proacuteprias pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico eis que o Estado em tema de limitaccedilatildeo ou supressatildeo de direitos natildeo pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva e arbitraacuteria () En-fatizo neste ponto no que se refere agrave questatildeo da titularidade dos direitos e garan-tias fundamentais que essas prerrogativas constitucionais satildeo acessiacuteveis agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico desde que compatiacuteveis com a condiccedilatildeo de estatalidade de que estas se revestem notadamente nos casos de imposiccedilatildeo contra referidas en-tidades estatais de medidas restritivas de direitos pois tais entes puacuteblicos tambeacutem estatildeo amparados por garantias constitucionais de caraacuteter procedimentalrdquo2

A inscriccedilatildeo do nome do Estado-membro em cadastro federal de inadimplen-

tes em face de accedilotildees eou omissotildees de gestotildees anteriores natildeo configura ofen-

sa ao princiacutepio da intranscendecircncia

Consoante o princiacutepio da impessoalidade previsto no art 37 da Constituiccedilatildeo Fe-deral3 a relaccedilatildeo juriacutedica envolve a Uniatildeo e o ente federal e natildeo a Uniatildeo e certo governador ou outro agente

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Devido processo legal

ACO 732rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 21-6-2017Informativo STF 825

91iacutendice de teses

Aleacutem disso o governo se alterna periodicamente nos termos da soberania popular mas o Estado eacute permanente Por isso a mudanccedila de comando poliacutetico natildeo exonera o Estado das obrigaccedilotildees assumidas4

1 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

2 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Celso de Mello na AC 2032 QO (DJE de 20-3-2009) precedente citado pelo relator

3 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

4 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

92iacutendice de teses

Eacute inconstitucional dispositivo de lei federal1 que admite seja erigido agrave condiccedilatildeo

de ldquodepositaacuterio infielrdquo aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor desig-

nado no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria2

A Lei 886619943 contraria os princiacutepios do devido processo legal e da propor-cionalidade bem como os subprinciacutepios da necessidade da adequaccedilatildeo e da pro-porcionalidade em sentido estrito postulados previstos no art 5ordm LIV4 e LV5 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)6 Para o fim de coagir o depositaacuterio a pagar a diacutevida tributaacuteria ou previdenciaacuteria da Uniatildeo dos Estados e do Distrito Federal cria si-tuaccedilatildeo mais onerosa do que a prevista no ordenamento juriacutedico ateacute entatildeo vigente consistente nas garantias constitucionais e nas disposiccedilotildees do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional em seus arts 1427 2018 e 2049

Ademais se o incremento da arrecadaccedilatildeo era o resultado almejado o ordenamen-to juriacutedico jaacute conteacutem modos e formas de chegar a resultado semelhante Afinal na eacutepoca da ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria 4271994 (reeditada pela Medida Provisoacuteria 4491994 e convertida na Lei 88661994) jaacute existia a Lei de Execuccedilatildeo Fiscal (Lei 68301980) e a medida cautelar fiscal (Lei 83971992) as quais satildeo instrumentos su-ficientes adequados e proporcionais ao fim de cobranccedila tributaacuteria Ambos os diplo-mas estipulam ritos e privileacutegios para tutela da arrecadaccedilatildeo ao eraacuterio resguardando por outro lado garantias ao contribuinte

Em outro aspecto eacute certo que ao contribuinte eacute facultado ajuizar accedilatildeo de depoacutesito em face do Fisco federal a fim de obter certidatildeo negativa de deacutebito (ou positiva com efeito de negativa) Poreacutem natildeo pode ser coagido a assim agir sob pena de vulnera-ccedilatildeo ao princiacutepio da proporcionalidade aleacutem do contraditoacuterio e da ampla defesa

O fato de o manejo da accedilatildeo de depoacutesito fiscal encontrar-se em franco desuso ante a existecircncia de outros meios de cobranccedila de creacuteditos disponiacuteveis ao Fisco natildeo afasta a acoimada inconstitucionalidade10

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Prisatildeo civil por diacutevida

ADI 1055rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

93iacutendice de teses

Eacute inconstitucional o ajuizamento de demanda que coage ao depoacutesito da

quantia devida com ou sem apresentaccedilatildeo de contestaccedilatildeo sob pena de decre-

taccedilatildeo de revelia (arts 3ordm11 e 4ordm12 da Lei 88661994)

Determinar que a contestaccedilatildeo seja apresentada com o depoacutesito do numeraacuterio equi-vale mutatis mutandis a exigir depoacutesito preacutevio como requisito de admissibilidade de accedilatildeo judicial Tal situaccedilatildeo eacute manifestamente proibida pelo Supremo Tribunal Federal nos termos do Enunciado 2813 da Suacutemula Vinculante

Haacute afronta ao due process of law ao admitir o ajuizamento de demanda judicial ape-nas com base em ldquodeclaraccedilatildeo feita pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica do valor descontado ou recebido de terceiro constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria e natildeo recolhido aos co-fres puacuteblicosrdquo (Lei 88661994 art 2ordm I)14 sem que ocorra a finalizaccedilatildeo do processo administrativo-fiscal

Eacute ainda cediccedilo que haacute o dever fundamental de pagar tributos Entretanto os meios escolhidos pelo poder puacuteblico devem estar jungidos agrave necessidade da medida agrave ade-quaccedilatildeo e agrave proporcionalidade em sentido estrito de restringir os meios de adimple-mento em caso de cobranccedila judicial as quais natildeo se encontram presentes na aprecia-ccedilatildeo da legislaccedilatildeo ora questionada

O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributaacuterias Um texto constitucional como o nosso proacutedigo na concessatildeo de direitos sociais e na promessa de prestaccedilotildees estatais deve oferecer ao Estado instrumentos suficientes para que possa fazer frente agraves inevitaacuteveis despesas que a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais requer O tributo eacute esse instrumento Considera-se portanto a existecircncia de um dever fundamental de pagar impostos15 Esse dever estaacute expresso no sect 1ordm do art 145 da CF16

Haacute inegaacutevel conflito entre cidadatildeos e agentes privados no sentido de transferir aos demais concidadatildeos o ocircnus da tributaccedilatildeo furtando-se tanto quanto possiacutevel a tal encargo Ao disciplinar de maneira isonocircmica segundo a capacidade econocircmica do contribuinte a distribuiccedilatildeo dos ocircnus tributaacuterios e ao operar por meio da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria para conferir efetividade a esse objetivo o Estado presta verdadeiramente aos cidadatildeos a funccedilatildeo de aacuterbitro de um conflito ineliminaacutevel entre agentes privados

Nesse cenaacuterio o instrumento de agir em juiacutezo estabelecido no inciso LIV do art 5ordm da CF restringe o cumprimento da obrigaccedilatildeo pelo devedor tributaacuterio esta-belecendo como uacutenica forma de pagamento o depoacutesito da quantia devida no prazo de 24 horas em claro desrespeito ao direito de propriedade como limite do limite

94iacutendice de teses

(Schranken-Schranke) Isso porque o diploma normativo em questatildeo suprime parcial ou totalmente posiccedilotildees juriacutedicas individuais e concretas do devedor vinculadas ao pagamento da diacutevida tributaacuteria que repercutem em sua propriedade ante a existecircn-cia de rol normativo-legal que jaacute disciplina a questatildeo com completude Tal restriccedilatildeo conflita com a existecircncia da accedilatildeo de execuccedilatildeo fiscal na qual coincide tal possibilidade aliada a outras bem como limita o direito de defesa do devedor situaccedilatildeo flagrante-mente inconstitucional

Ademais a revogaccedilatildeo da prisatildeo civil por diacutevida pela ratificaccedilatildeo do Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica ndash Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos incorporada ao direito positivo interno do Brasil como estatuto revestido de hierarquia supralegal ndash acaba com o escopo da legislaccedilatildeo em comento natildeo existindo plausibilidade agrave ma-nutenccedilatildeo da tutela jurisdicional diacutespar com o ordenamento juriacutedico no qual cria situaccedilatildeo desproporcional e portanto inconstitucional para o fim de otimizar a arre-cadaccedilatildeo tributaacuteria

Por fim tendo em vista o alargamento da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e o interesse em se evitar a inseguranccedila juriacutedica ou qualquer prejuiacutezo ao eraacuterio em relaccedilatildeo aos prazos prescricionais as accedilotildees de depoacutesito fiscal em curso deveratildeo ser transformadas em accedilotildees de cobranccedila de rito ordinaacuterio sendo oportunizado ao poder puacuteblico sua adequaccedilatildeo ou sua extinccedilatildeo

1 Lei federal 88661994 que dispotildee sobre o depositaacuterio infiel de valor pertencente agrave Fazenda Puacuteblica e daacute outras providecircncias

2 ldquoArt 1ordm Eacute depositaacuterio da Fazenda Puacuteblica observado o disposto nos arts 1282 I e 1283 do Coacute-digo Civil a pessoa a que a legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria imponha a obrigaccedilatildeo de reter ou receber de terceiro e recolher aos cofres puacuteblicos impostos taxas e contribuiccedilotildees inclusive agrave Seguridade Social () sect 2ordm Eacute depositaacuterio infiel aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor referido neste artigo no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteriardquo

3 A Lei 88661994 prevecirc entre outros temas a) a criaccedilatildeo da accedilatildeo de depoacutesito fiscal com o escopo primordial de coagir sob pena de prisatildeo o devedor a depositar o valor referente agrave diacutevida na contes-taccedilatildeo ou apoacutes a sentenccedila no prazo de 24 horas b) a possibilidade de submeter o devedor a sofrer processo judicial de depoacutesito sem que tenha ocorrido a finalizaccedilatildeo do processo administrativo fiscal e c) a proibiccedilatildeo de em se tratando de coisas fungiacuteveis seguir-se o disposto sobre o muacutetuo com a submissatildeo do devedor a regime mais gravoso de pagamento em face dos postulados da proporcionalidade do limite do direito de propriedade e do devido processo legal

4 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

95iacutendice de teses

5 ldquoArt 5ordm () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

6 A questatildeo atinente agrave possibilidade de prisatildeo civil do depositaacuterio infiel no ordenamento juriacutedico jaacute foi apreciada pelo STF em julgamento firmado em sede de repercussatildeo geral nos autos do RE 466343 (rel min Cezar Peluso P DJE de 5-6-2009) oportunidade em que foi considerada iliacutecita indepen-dentemente da modalidade do depoacutesito

7 ldquoArt 142 Compete privativamente agrave autoridade administrativa constituir o creacutedito tributaacuterio pelo lanccedilamento assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrecircncia do fato gerador da obrigaccedilatildeo correspondente determinar a mateacuteria tributaacutevel calcular o montante do tributo devido identificar o sujeito passivo e sendo caso propor a aplicaccedilatildeo da penalidade cabiacutevelrdquo

8 ldquoArt 201 Constitui diacutevida ativa tributaacuteria a proveniente de creacutedito dessa natureza regularmente inscrita na reparticcedilatildeo administrativa competente depois de esgotado o prazo fixado para pagamen-to pela lei ou por decisatildeo final proferida em processo regularrdquo

9 ldquoArt 204 A diacutevida regularmente inscrita goza da presunccedilatildeo de certeza e liquidez e tem o efeito de prova preacute-constituiacuteda Paraacutegrafo uacutenico A presunccedilatildeo a que se refere este artigo eacute relativa e pode ser ilidida por prova inequiacutevoca a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveiterdquo

10 Precedentes TRF5 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 200405000163759 desembargador federal Manuel Maia 2ordf T DJ de 29-7-2009 TRF3 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 00068049520004036100 desembargador federal Cotrim Gui-maratildees 2ordf T DJE de 31-10-2012 e TRF4 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 200071000054980 desembargador federal Antocircnio Albino Ramos de Oliveira 2ordf T DJ de 4-10-2006

11 ldquoArt 3ordm Caracterizada a situaccedilatildeo de depositaacuterio infiel o Secretaacuterio da Receita Federal comunicaraacute ao representante judicial da Fazenda Nacional para que ajuiacuteze accedilatildeo civil a fim de exigir o recolhimento do valor do imposto taxa ou contribuiccedilatildeo descontado com os correspondentes acreacutescimos legais Paraacutegrafo uacutenico A comunicaccedilatildeo de que trata este artigo no acircmbito dos Estados e do Distrito Fe-deral caberaacute agraves autoridades definidas na legislaccedilatildeo especiacutefica dessas unidades federadas feita aos respectivos representantes judiciais competentes no caso do Instituto Nacional de Seguridade So-cial (INSS) a iniciativa caberaacute ao seu presidente competindo ao representante judicial da autarquia processual de que trata este artigordquo

12 ldquoArt 4ordm Na peticcedilatildeo inicial instruiacuteda com a coacutepia autenticada pela reparticcedilatildeo da prova literal do depoacutesito de que trata o art 2ordm o representante judicial da Fazenda Nacional ou conforme o caso o representante judicial dos Estados Distrito Federal ou do INSS requereraacute ao juiacutezo a citaccedilatildeo do depositaacuterio para em dez dias I ndash recolher ou depositar a importacircncia correspondente ao valor do imposto taxa ou contribuiccedilatildeo descontado ou recebido de terceiro com os respectivos acreacutescimos legais II ndash contestar a accedilatildeordquo

13 ldquoEacute inconstitucional a exigecircncia de depoacutesito preacutevio como requisito de admissibilidade de accedilatildeo judi-cial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de creacutedito tributaacuteriordquo

14 ldquoArt 2ordm Constituem prova literal para se caracterizar a situaccedilatildeo de depositaacuterio infiel dentre outras I ndash a declaraccedilatildeo feita pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica do valor descontado ou recebido de terceiro

96iacutendice de teses

constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria e natildeo recolhido aos cofres puacuteblicosrdquo

15 NABAIS Joseacute Casalta O dever fundamental de pagar impostos Coimbra Almedina 1998

16 ldquoArt 145 () sect 1ordm Sempre que possiacutevel os impostos teratildeo caraacuteter pessoal e seratildeo graduados segun-do a capacidade econocircmica do contribuinte facultado agrave administraccedilatildeo tributaacuteria especialmente para conferir efetividade a esses objetivos identificar respeitados os direitos individuais e nos ter-mos da lei o patrimocircnio os rendimentos e as atividades econocircmicas do contribuinterdquo

97iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos sociais Ȥ Direito ao trabalho

ADI 4842rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 8-8-2017Informativo STF 839

Eacute constitucional a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso

dos bombeiros civis

Natildeo haacute violaccedilatildeo direta e literal do art 7ordm XIII da Constituiccedilatildeo Federal1 pelo art 5ordm da Lei 1190120092 A jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso encontra-se respaldada na faculdade conferida pelo legislador constituinte de serem estabelecidas hipoacuteteses de compensaccedilatildeo de jornada

Embora natildeo exista a previsatildeo de reserva legal expressa para a compensaccedilatildeo de jornada no referido dispositivo constitucional a possibilidade de negociaccedilatildeo coleti-va permite inferir que a exceccedilatildeo estabelecida na legislaccedilatildeo para os bombeiros civis garante-lhes em proporccedilatildeo razoaacutevel descanso de 36 horas para cada 12 horas traba-lhadas bem como jornada semanal de trabalho natildeo superior a 36 horas3

Em idecircntico sentido tambeacutem natildeo haacute violaccedilatildeo do direito agrave sauacutede do trabalhador (CF art 1964) e agrave reduccedilatildeo dos riscos inerentes ao trabalho (CF art 7ordm XXII5) Essas prerrogativas natildeo satildeo ipso facto desrespeitadas pela jornada de trabalho dos bombei-ros civis tendo em vista que para cada 12 horas trabalhadas haacute 36 horas de descanso e que prevalece o limite de 36 horas de jornada semanal

1 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo social () XIII ndash duraccedilatildeo do trabalho normal natildeo superior a oito horas diaacuterias e quarenta e quatro semanais facultada a compensaccedilatildeo de horaacuterios e a reduccedilatildeo da jornada mediante acordo ou convenccedilatildeo coletiva de trabalhordquo

2 ldquoArt 5ordm A jornada do Bombeiro Civil eacute de 12 (doze) horas de trabalho por 36 (trinta e seis) horas de descanso num total de 36 (trinta e seis) horas semanaisrdquo

3 RE 425975 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 16-12-2005

98iacutendice de teses

4 ldquoArt 196 A sauacutede eacute direito de todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocirc-micas que visem agrave reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

5 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo social () XXII ndash reduccedilatildeo dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de sauacutede higiene e seguranccedilardquo

99iacutendice de teses

Aquele que natildeo ostenta mais a nacionalidade brasileira por ter adquirido

outra nacionalidade em situaccedilatildeo que natildeo se subsome agraves exceccedilotildees previstas no

art 12 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pode ser extraditado pelo Brasil2

A Constituiccedilatildeo ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira estabeleceu duas hi-poacuteteses (i) o cancelamento judicial da naturalizaccedilatildeo em virtude de praacutetica de ato no-civo ao interesse nacional o que soacute alcanccedilaria brasileiros naturalizados (CF art 12 sect 4ordm I) e (ii) a aquisiccedilatildeo voluntaacuteria de outra nacionalidade secundaacuteria o que alcanccedila-ria indistintamente brasileiros natos e naturalizados

Nesta uacuteltima hipoacutetese ndash de aquisiccedilatildeo de outra nacionalidade ndash a nacionalidade brasileira soacute natildeo seraacute perdida em duas situaccedilotildees que constituem exceccedilatildeo agrave regra (i) reconhecimento de outra nacionalidade originaacuteria (CF art 12 sect 4ordm II a) e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condiccedilatildeo de per-manecircncia em seu territoacuterio ou para o exerciacutecio de direitos civis (CF art 12 sect 4ordm II b)

Nesse contexto caso o brasileiro possua visto permanente de imigraccedilatildeo que o au-torize a trabalhar e gozar de direitos civis no Estado estrangeiro torna-se desneces-saacuteria a obtenccedilatildeo da nacionalidade secundaacuteria para os fins que compotildeem exceccedilatildeo agrave regra da perda da nacionalidade brasileira (CF art 12 sect 4ordm II a e b) Dessa forma sua obtenccedilatildeo somente poderia destinar-se agrave integraccedilatildeo do brasileiro agravequela comunidade nacional estrangeira o que eacute justamente a razatildeo central do criteacuterio adotado pelo cons-tituinte originaacuterio para a perda da nacionalidade brasileira

1 ldquoArt 12 Satildeo brasileiros () sect 4ordm Seraacute declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que I ndash ti-ver cancelada sua naturalizaccedilatildeo por sentenccedila judicial em virtude de atividade nociva ao interesse nacional II ndash adquirir outra nacionalidade salvo nos casos a) de reconhecimento de nacionalidade originaacuteria pela lei estrangeira b) de imposiccedilatildeo de naturalizaccedilatildeo pela norma estrangeira ao brasi-leiro residente em estado estrangeiro como condiccedilatildeo para permanecircncia em seu territoacuterio ou para o exerciacutecio de direitos civisrdquo

2 MS 33864 rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 19-4-2016

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Nacionalidade Ȥ Perda da nacionalidade originaacuteria

Ext 1462rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 29-6-2017Informativo STF 859

ORGANIZACcedilAtildeO DO ESTADODIREITO CONSTITUCIONAL

101iacutendice de teses

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado

Nos termos do art 20 XI da Constituiccedilatildeo Federal satildeo bens da Uniatildeo ldquoas terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendiosrdquo

Aleacutem disso desde a Carta de 1934 natildeo se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indiacutegenas como devolutas o mesmo ocorrendo na Constituiccedilatildeo de 1988 por meio de expressa disposiccedilatildeo contida no art 26 IV1

Nesse sentido definido pelas provas carreadas aos autos que as terras que passaram a compor parque indiacutegena eram ocupadas historicamente por iacutendios natildeo haacute falar em titularidade do Estado-membro tampouco em eventual dever de a Uniatildeo indenizaacute-lo por suposta desapropriaccedilatildeo indireta

1 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () IV ndash as terras devolutas natildeo compreendidas entre as da Uniatildeordquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo

ACO 362DJE de 3-10-2017ACO 366DJE de 1ordm-10-2018rel min Marco Aureacutelio

PlenaacuterioInformativo STF 873

102iacutendice de teses

A Emenda Constitucional 462005 natildeo interferiu na propriedade da Uniatildeo

nos moldes do art 20 VII da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 sobre os terrenos

de marinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municiacutepios

A alteraccedilatildeo introduzida pela Emenda Constitucional 462005 criou no ordena-mento juriacutedico exceccedilatildeo agrave regra geral entatildeo vigente sobre a propriedade das ilhas costeiras Com a redaccedilatildeo conferida ao art 20 IV da CF2 deixaram de pertencer agrave Uniatildeo as ilhas costeiras em que estatildeo sediados entes municipais expressamente ressalvadas as ldquoaacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federal e as referidas no art 26 IIrdquo3 bens que natildeo obstante situados em territoacuterio municipal remanesceram como patrimocircnio federal Assim natildeo mais constitui tiacutetulo haacutebil a ensejar a presunccedilatildeo do domiacutenio da Uniatildeo o simples fato de determinada aacuterea estar situada em ilha costeira se nela estiver sediado Municiacutepio

A interpretaccedilatildeo sistemaacutetica do texto constitucional conduz agrave conclusatildeo de que a alteraccedilatildeo introduzida no inciso IV do art 20 pela Emenda Constitucional 462005 natildeo teve o condatildeo de alterar o regime patrimonial dos bens referidos no inciso VII como aliaacutes de nenhum outro bem arrolado nesse artigo Entender que os terrenos de marinha e acrescidos teriam sido transferidos ao ente municipal levaria agrave conclu-satildeo de que todos os demais bens constitucionalmente atribuiacutedos agrave dominialidade da Uniatildeo ndash potenciais de energia eleacutetrica recursos minerais terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendios etc ndash se situados nas ilhas municipais estariam apoacutes a ediccedilatildeo da emenda igualmente excluiacutedos do patrimocircnio federal Assim as ressalvas cons-tantes da parte final do dispositivo alterado referentes agraves ldquoaacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federalrdquo devem ser compreendidas como adendos aos demais bens integrantes do acervo patrimonial da Uniatildeo

Com a emenda o constituinte derivado em observacircncia ao princiacutepio da isono-mia buscou prestigiar a autonomia municipal e equiparou o regime juriacutedico-patri-monial das ilhas costeiras em que estatildeo sediados Municiacutepios agraves porccedilotildees continentais

RE 636199RG ‒ Tema 676rel min Rosa WeberPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 862

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo ndash Repercussatildeo Geral

103iacutendice de teses

do territoacuterio brasileiro favorecendo a promoccedilatildeo dos interesses locais e o desenvol-vimento da regiatildeo No entanto ausente fator de discriacutemen a legitimar a geraccedilatildeo de efeitos desuniformes no tocante ao regramento dos terrenos de marinha e acresci-dos entre Municiacutepios insulares e continentais incide sobre ambos sem distinccedilatildeo o art 20 VII da CF

Errocircneo supor do ponto de vista loacutegico que no afatilde de estabelecer tratamento isonocircmico entre Municiacutepios continentais e insulares se devesse adotar entre duas interpretaccedilotildees possiacuteveis aquela que elastecesse o comando constitucional ao ponto de sem motivo justificado conceder-lhes tratamento diferenciado

Ademais do ponto de vista histoacuterico os terrenos de marinha e seus acrescidos jaacute integravam o rol de bens da Uniatildeo mesmo antes de as ilhas costeiras passarem a compor o patrimocircnio federal Isso reforccedila o rechaccedilo agrave tese de que se alterou o trata-mento juriacutedico a eles conferido em razatildeo da modificaccedilatildeo introduzida pela Emenda Constitucional 462005 na propriedade das ilhas mariacutetimas

O domiacutenio da Uniatildeo sobre as terras situadas nas ilhas litoracircneas jaacute foi reconhe-cido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Accedilatildeo Ciacutevel Originaacuteria 3174 resguardada a legitimidade de eventual transferecircncia da titularidade para os Estados pelos meios regulares de direito

Tambeacutem destoa do sistema de distribuiccedilatildeo de bens entre as entidades da Fe-deraccedilatildeo assumir que os Municiacutepios sediados em ilhas sejam proprietaacuterios dos terrenos de marinha mas natildeo o sejam os Municiacutepios costeiros Natildeo haveria mo-tivo consistente para justificar a incoerecircncia sistemaacutetica que daiacute resultaria Tal interpretaccedilatildeo da Emenda Constitucional 462005 ficaria desautorizada pela dissi-metria a que conduziria

Por todo o exposto eacute inviaacutevel acolher a interpretaccedilatildeo que inclui as aacutereas corres-pondentes aos terrenos de marinha e acrescidos ndash situadas em ilha costeira ndash no patri-mocircnio do ente municipal nela sediado Afinal constituem bens federais mesmo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Emenda Constitucional 462005

A anaacutelise da conveniecircncia na manutenccedilatildeo do instituto no bojo do ordena-mento juriacutedico paacutetrio demanda discussatildeo proacutepria agrave esfera poliacutetica Com efeito porquanto de jaez constitucional a extinccedilatildeo do instituto depende de processo legislativo especial

1 ldquoArt 20 Satildeo bens da Uniatildeo () VII ndash os terrenos de marinha e seus acrescidosrdquo

104iacutendice de teses

2 ldquoArt 20 Satildeo bens da Uniatildeo () IV ndash as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limiacutetrofes com outros paiacuteses as praias mariacutetimas as ilhas oceacircnicas e as costeiras excluiacutedas destas as que contenham a sede de Municiacutepios exceto aquelas aacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federal e as referidas no art 26 IIrdquo

3 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () II ndash as aacutereas nas ilhas oceacircnicas e costeiras que estiverem no seu domiacutenio excluiacutedas aquelas sob domiacutenio da Uniatildeo Municiacutepios ou terceirosrdquo

4 ACO 317 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 20-11-1992

105iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo por meio de lei estadual de Certidatildeo de Vio-

laccedilatildeo dos Direitos do Consumidor como requisito para contrataccedilatildeo com a

Administraccedilatildeo Puacuteblica

A conformaccedilatildeo legal mais imediata primaacuteria ou de primeiro grau do direito de participar de licitaccedilotildees foi confiada pela Constituiccedilatildeo Federal (CF) tatildeo somente agrave Uniatildeo (CF art 22 XXVII1) que a materializou com a aprovaccedilatildeo do art 27 da Lei 86661993 Este dispositivo exige dos interessados ldquoexclusivamente documenta-ccedilatildeo relativa a I ndash habilitaccedilatildeo juriacutedica II ndash qualificaccedilatildeo teacutecnica III ndash qualificaccedilatildeo econocircmico-financeira IV ndash regularidade fiscal e trabalhista e V ndash cumprimento do disposto no inciso XXXII do art 7ordm da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

Somente a Uniatildeo pode limitar em caraacuteter geral a amplitude da liberdade de aces-so agraves licitaccedilotildees pois requisitos desta natureza podem induzir a uma significativa res-triccedilatildeo da competitividade dos procedimentos licitatoacuterios

A competitividade eacute a pedra de toque desses procedimentos Ao valorizaacute-la fo-mentando a disputa entre os interessados em contratar com o poder puacuteblico o or-denamento atende simultaneamente a dois outros interesses puacuteblicos de alta carga de relevacircncia De um lado viabiliza que o Estado obtenha a melhor oferta possiacutevel enquanto de outro garante o tratamento isonocircmico dos participantes Esta visatildeo de crucial importacircncia para o bom funcionamento dos processos licitatoacuterios estaacute consagrada na literalidade do art 37 XXI da CF2

O referido art 37 XXI do texto constitucional enfatiza a ldquoigualdade de condi-ccedilotildees a todos os concorrentesrdquo como um interesse puacuteblico de primeira grandeza mas que admite temperamentos a serem estabelecidos por dois caminhos a) pela lei que criaraacute condiccedilotildees de diferenciaccedilatildeo exigiacuteveis em abstrato e b) pela autoridade res-ponsaacutevel pela conduccedilatildeo do processo licitatoacuterio que poderaacute estabelecer elementos de distinccedilatildeo circunstanciais de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica sempre vinculados agrave garantia de cumprimento de obrigaccedilotildees especiacuteficas

ADI 3735rel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 838

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

106iacutendice de teses

Disso se depreende que a igualdade de condiccedilotildees na participaccedilatildeo em processos licitatoacuterios eacute uma garantia constitucional relevante Nessa medida as restriccedilotildees a esta proteccedilatildeo devem constar do programa de normas gerais Ao direito estadual (ou mu-nicipal) somente seraacute legiacutetimo inovar se tiver como objetivo estabelecer condiccedilotildees especiacuteficas nomeadamente quando relacionadas a uma classe de objetos a serem contratados ou a peculiares circunstacircncias de interesse local A aprovaccedilatildeo de diplo-mas locais com esses desiacutegnios tem o efeito de padronizar as exigecircncias rotineira-mente praticadas pelas administraccedilotildees locais em licitaccedilotildees especiacuteficas estabilizando as expectativas dos respectivos participantes3

1 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre () XXVII ndash normas gerais de licitaccedilatildeo e contrataccedilatildeo em todas as modalidades para as administraccedilotildees puacuteblicas diretas autaacuterquicas e fun-dacionais da Uniatildeo Estados Distrito Federal e Municiacutepios obedecido o disposto no art 37 XXI e para as empresas puacuteblicas e sociedades de economia mista nos termos do art 173 sect 1ordm IIIrdquo

2 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contratados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que assegure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorrentes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pagamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircncias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacuteveis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

3 Precedente ADI 3059 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 8-5-2015

107iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de

celular em presiacutedio

Ao determinar agraves empresas de telefonia a instalaccedilatildeo de equipamentos para inter-rupccedilatildeo do sinal nas unidades prisionais do Estado o legislador local atuou no nuacute-cleo da regulaccedilatildeo da atividade de telecomunicaccedilotildees de competecircncia privativa da Uniatildeo no que cabe a esta disciplinar a transmissatildeo de sinais no campo eletromag-neacutetico de maneira adequada (CF arts 21 XI 22 IV e 175 IV1)

Os procedimentos concernentes agrave operaccedilatildeo de telefonia celular e ao bloqueio de sinal em determinadas aacutereas podem afetar diretamente a qualidade da prestaccedilatildeo do serviccedilo para a populaccedilatildeo circundante Dessa forma o tema demanda tratamento uniforme em todo o Paiacutes ainda que a finalidade do legislador estadual seja a segu-ranccedila puacuteblica

Diante disso por se tratar de questatildeo relacionada ao interesse nacional a discipli-na dos serviccedilos puacuteblicos que funcionam em todo o territoacuterio cabe agrave Uniatildeo2 Eacute com amparo nessa ideia que a doutrina propotildee a denominada prevalecircncia do interesse3 como criteacuterio para a soluccedilatildeo de conflitos reconhecendo-se a competecircncia da Uniatildeo quando a mateacuteria transcender os interesses locais e regionais

Ademais a instalaccedilatildeo de bloqueadores de sinal de celular em presiacutedios jaacute pos-sui tratamento proacuteprio na legislaccedilatildeo federal (Lei 107922003 art 4ordm4) Embora a norma natildeo seja totalmente expliacutecita a lei parece ter imposto aos entes federativos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

ADI 3835rel min Marco Aureacutelio

DJE de 2-8-2017ADI 5235rel min Dias Toffoli

ADI 4861rel min Gilmar Mendes

ADI 5356red p o ac min Marco Aureacutelio

ADI 5327rel min Dias Toffoli

PlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 833

108iacutendice de teses

administradores dos estabelecimentos penitenciaacuterios a obrigaccedilatildeo de implementar o bloqueio Natildeo haacute menccedilatildeo na legislaccedilatildeo de regecircncia quanto agrave obrigaccedilatildeo de as operadoras prestarem o serviccedilo

Assim ao transferir o ocircnus de instalar bloqueadores de celulares agraves prestadoras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees constata-se tambeacutem interferecircncia indevida nas re-laccedilotildees juriacutedicas entre essas e a Uniatildeo5

1 ldquoArt 21 Compete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos termos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos serviccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspectos institucionais () Art 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica telecomunicaccedilotildees e radiodifusatildeo () Art 175 Incumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos Paraacutegrafo uacutenico A lei disporaacute sobre () IV ndash a obrigaccedilatildeo de manter serviccedilo adequadordquo

2 ADI 3533 rel min Eros Grau P DJ de 6-10-2006 ADI 3846 rel min Gilmar Mendes P DJE de 15-3-2011 ADI 3322 rel min Gilmar Mendes P DJE de 29-3-2011 e ADI 4369 MC-REF rel min Marco Aureacutelio P DJE de 4-5-2011

3 ldquoAo ser constatada uma aparente incidecircncia de determinado assunto em mais de um tipo de com-petecircncia deve-se realizar interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo duas premissas a intensidade da relaccedilatildeo da situaccedilatildeo faacutetica normatizada com a estrutura baacutesica descrita no tipo da competecircncia em anaacutelise e aleacutem disso o fim primaacuterio a que se destina essa norma que possui direta relaccedilatildeo com o princiacutepio da predominacircncia de interessesrdquo (DEGENHART Christoph Staatsrecht I Heidelberg 22 ed 2006 p 56-60)

4 ldquoArt 4ordm Os estabelecimentos penitenciaacuterios especialmente os destinados ao regime disciplinar dife-renciado disporatildeo dentre outros equipamentos de seguranccedila de bloqueadores de telecomunica-ccedilatildeo para telefones celulares raacutedio-transmissores e outros meios definidos no art 60 sect 1ordm da Lei n 9472 de 16 de julho de 1997rdquo

5 ADI 3533 rel min Eros Grau P DJ de 6-10-2006 e ADI 4401 rel min Gilmar Mendes P DJE de 1ordm-10-2010

109iacutendice de teses

Eacute formalmente inconstitucional a lei estadual que regulamenta a cobranccedila

proporcional ao tempo efetivamente utilizado por serviccedilos de estacionamen-

to privado de veiacuteculos no Estado-membro

A disciplina acerca da exploraccedilatildeo econocircmica de estacionamentos privados refere--se a direito civil Trata-se portanto de competecircncia privativa da Uniatildeo a teor do art 22 I da Constituiccedilatildeo Federal1 2 e 3

ldquoEacute indubitaacutevel que a regulamentaccedilatildeo da modalidade de cobranccedila de estaciona-mentos urbanos possui relaccedilatildeo direta com o direito agrave propriedade na medida em que institui limitaccedilatildeo ao pleno exerciacutecio desse mesmo direito no acircmbito das relaccedilotildees con-tratuais Ainda a norma estadual estatui condicionamento acerca da remuneraccedilatildeo do contrato de depoacutesito previsto pelos artigos 627 a 646 do Coacutedigo Civil de 20024 ou seja sobre tema no qual o Congresso Nacional oacutergatildeo constitucionalmente responsaacute-vel por editar normas de direito civil houve por bem deixar ao campo da autonomia privada das partes a fixaccedilatildeo da retribuiccedilatildeo pela prestaccedilatildeordquo5

Diante disso foi declarada inconstitucional a Lei 167852011 do Estado do Paranaacute

1 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

2 ADI 2448 rel min Sydney Sanches P DJ de 13-6-2003 ADI 1623 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 15-4-2011 e ADI 1918 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 1ordm-8-2003

3 Os ministros Roberto Barroso Rosa Weber e Caacutermen Luacutecia acompanharam o relator quanto agrave procedecircncia do pedido formulado na accedilatildeo direta mas por fundamento diverso Segundo entende-ram natildeo haveria inconstitucionalidade formal da lei impugnada porque o assunto discutido seria pertinente a direito do consumidor mateacuteria de competecircncia legislativa concorrente nos termos do art 24 V e VIII da CF Entretanto a interferecircncia do Estado na fixaccedilatildeo de preccedilo privado numa circunstacircncia que natildeo eacute excepcional caracterizaria inconstitucionalidade material da lei por violaccedilatildeo ao princiacutepio constitucional da livre iniciativa previsto no art 170 caput da CF

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

ADI 4862rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 7-2-2017Informativo STF 835

110iacutendice de teses

4 ldquoArt 627 Pelo contrato de depoacutesito recebe o depositaacuterio um objeto moacutevel para guardar ateacute que o depositante o reclame

Art 628 O contrato de depoacutesito eacute gratuito exceto se houver convenccedilatildeo em contraacuterio se resultante de atividade negocial ou se o depositaacuterio o praticar por profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Se o depoacutesito for oneroso e a retribuiccedilatildeo do depositaacuterio natildeo constar de lei nem resultar de ajuste seraacute determinada pelos usos do lugar e na falta destes por arbitramento

Art 629 O depositaacuterio eacute obrigado a ter na guarda e conservaccedilatildeo da coisa depositada o cuidado e diligecircncia que costuma com o que lhe pertence bem como a restituiacute-la com todos os frutos e acrescidos quando o exija o depositante

Art 630 Se o depoacutesito se entregou fechado colado selado ou lacrado nesse mesmo estado se manteraacute

Art 631 Salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio a restituiccedilatildeo da coisa deve dar-se no lugar em que tiver de ser guardada As despesas de restituiccedilatildeo correm por conta do depositante

Art 632 Se a coisa houver sido depositada no interesse de terceiro e o depositaacuterio tiver sido cien-tificado deste fato pelo depositante natildeo poderaacute ele exonerar-se restituindo a coisa a este sem con-sentimento daquele

Art 633 Ainda que o contrato fixe prazo agrave restituiccedilatildeo o depositaacuterio entregaraacute o depoacutesito logo que se lhe exija salvo se tiver o direito de retenccedilatildeo a que se refere o art 644 se o objeto for judicialmente embargado se sobre ele pender execuccedilatildeo notificada ao depositaacuterio ou se houver motivo razoaacutevel de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida

Art 634 No caso do artigo antecedente uacuteltima parte o depositaacuterio expondo o fundamento da suspeita requereraacute que se recolha o objeto ao Depoacutesito Puacuteblico

Art 635 Ao depositaacuterio seraacute facultado outrossim requerer depoacutesito judicial da coisa quando por motivo plausiacutevel natildeo a possa guardar e o depositante natildeo queira recebecirc-la

Art 636 O depositaacuterio que por forccedila maior houver perdido a coisa depositada e recebido outra em seu lugar eacute obrigado a entregar a segunda ao depositante e ceder-lhe as accedilotildees que no caso tiver contra o terceiro responsaacutevel pela restituiccedilatildeo da primeira

Art 637 O herdeiro do depositaacuterio que de boa-feacute vendeu a coisa depositada eacute obrigado a assistir o depositante na reivindicaccedilatildeo e a restituir ao comprador o preccedilo recebido

Art 638 Salvo os casos previstos nos arts 633 e 634 natildeo poderaacute o depositaacuterio furtar-se agrave restituiccedilatildeo do depoacutesito alegando natildeo pertencer a coisa ao depositante ou opondo compensaccedilatildeo exceto se noutro depoacutesito se fundar

Art 639 Sendo dois ou mais depositantes e divisiacutevel a coisa a cada um soacute entregaraacute o depositaacuterio a respectiva parte salvo se houver entre eles solidariedade

Art 640 Sob pena de responder por perdas e danos natildeo poderaacute o depositaacuterio sem licenccedila expressa do depositante servir-se da coisa depositada nem a dar em depoacutesito a outrem

111iacutendice de teses

Paraacutegrafo uacutenico Se o depositaacuterio devidamente autorizado confiar a coisa em depoacutesito a terceiro seraacute responsaacutevel se agiu com culpa na escolha deste

Art 641 Se o depositaacuterio se tornar incapaz a pessoa que lhe assumir a administraccedilatildeo dos bens dili-genciaraacute imediatamente restituir a coisa depositada e natildeo querendo ou natildeo podendo o depositante recebecirc-la recolhecirc-la-aacute ao Depoacutesito Puacuteblico ou promoveraacute nomeaccedilatildeo de outro depositaacuterio

Art 642 O depositaacuterio natildeo responde pelos casos de forccedila maior mas para que lhe valha a escusa teraacute de provaacute-los

Art 643 O depositante eacute obrigado a pagar ao depositaacuterio as despesas feitas com a coisa e os prejuiacute-zos que do depoacutesito provierem

Art 644 O depositaacuterio poderaacute reter o depoacutesito ateacute que se lhe pague a retribuiccedilatildeo devida o liacutequido valor das despesas ou dos prejuiacutezos a que se refere o artigo anterior provando imediatamente esses prejuiacutezos ou essas despesas

Paraacutegrafo uacutenico Se essas diacutevidas despesas ou prejuiacutezos natildeo forem provados suficientemente ou forem iliacutequidos o depositaacuterio poderaacute exigir cauccedilatildeo idocircnea do depositante ou na falta desta a re-moccedilatildeo da coisa para o Depoacutesito Puacuteblico ateacute que se liquidem

Art 645 O depoacutesito de coisas fungiacuteveis em que o depositaacuterio se obrigue a restituir objetos do mesmo gecircnero qualidade e quantidade regular-se-aacute pelo disposto acerca do muacutetuo

Art 646 O depoacutesito voluntaacuterio provar-se-aacute por escritordquo

5 Trecho da manifestaccedilatildeo da Advocacia-Geral da Uniatildeo no presente julgamento citada no voto do ministro Gilmar Mendes

112iacutendice de teses

Eacute constitucional lei estadual1 que declara em regime de extinccedilatildeo a Carteira

de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila estadual2

Tendo em vista que o constituinte conferiu aos Estados-membros competecircncia con-corrente para legislarem sobre previdecircncia social consoante o disposto no art 24 XII da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 natildeo subsiste inconstitucionalidade formal agrave re-ferida lei estadual

Igualmente a adoccedilatildeo do sistema de capitalizaccedilatildeo para o fundo previdenciaacuterio natildeo implica ofensa agrave competecircncia privativa da Uniatildeo para legislar sobre seguros consoacuter-cios ou transferecircncia de valores Em qualquer carteira de previdecircncia ndash puacuteblica ou privada ndash haacute necessidade de estabelecer regras pelas quais seraacute calculado o custeio dos benefiacutecios concedidos

Tambeacutem inexiste ofensa ao art 149 da CF4 A contribuiccedilatildeo em tela natildeo foi criada mediante o diploma impugnado mas jaacute era prevista em lei estadual5 cuja constitu-cionalidade natildeo foi questionada

Eacute inconstitucional dispositivo de lei estadual6 que veda que o Estado-membro

responda direta ou indiretamente pelo pagamento dos benefiacutecios jaacute conce-

didos ou que venham a ser concedidos no acircmbito da Carteira das Serventias

tampouco responsabilize-se por qualquer indenizaccedilatildeo a seus participantes

ou por insuficiecircncia patrimonial passada presente ou futura

A extinccedilatildeo da Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila do Estado embora possiacutevel por meio da referida lei deve respeitar o direito adquirido dos participantes e situaccedilotildees subjetivas jaacute reconhecidas ante a situaccedilatildeo previden-ciaacuteria singular criada e fomentada pelo proacuteprio poder puacuteblico cuja modificaccedilatildeo da realidade juriacutedica implicou a necessidade de liquidaccedilatildeo do Fundo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Estados federados Ȥ Competecircncia legislativa concorrente

ADI 4420red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

113iacutendice de teses

Natildeo tecircm os participantes o dever juriacutedico de arcar com os prejuiacutezos da ausecircncia da principal fonte de custeio da Carteira a qual tem filiaccedilatildeo obrigatoacuteria mesmo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica no tocante agrave decisatildeo de extingui-la tenha atuado dentro dos limites da licitude A lesatildeo indenizaacutevel resulta dos efeitos da posiccedilatildeo administrativa e das caracteriacutesticas hiacutebridas do entatildeo regime previdenciaacuterio e natildeo propriamente da atuaccedilatildeo regular ou irregular da Administraccedilatildeo Eacute antiga a jurisprudecircncia do Supre-mo Tribunal Federal sobre a possibilidade de configuraccedilatildeo da responsabilidade do Estado ainda que o ato praticado seja liacutecito Tal entendimento foi sedimentado no princiacutepio basilar da igualdade segundo o qual descabe imputar a particulares indivi-dualizaacuteveis os encargos sociais decorrentes da atuaccedilatildeo administrativa implementada em prol de toda a coletividade7

Ademais seja optando pela liquidaccedilatildeo seja pela adequaccedilatildeo das fontes de custeio e das regras da Carteira ao regime complementar trazido pela Emenda Constitucio-nal 201998 em nenhuma das alternativas seria possiacutevel desconsiderar o primado da seguranccedila juriacutedica e as consequecircncias que o respeito a esse princiacutepio implica O procedimento de liquidaccedilatildeo embora legiacutetimo quanto ao fim imputa aos participan-tes todo o ocircnus da preservaccedilatildeo do equiliacutebrio financeiro ateacute o efetivo teacutermino da Carteira olvidando-se que agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica incumbia tambeacutem suportar o risco decorrente da modificaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico no transcurso dos anos

Assim aplicando-se a interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo agrave lei estadual em co-mento as regras natildeo se aplicam a quem na data da publicaccedilatildeo da lei jaacute estava em gozo de benefiacutecio ou tinha cumprido com base no regime instituiacutedo em lei estadual regulamentadora8 os requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo Quanto aos que natildeo imple-mentaram todos os requisitos deve ser garantida a faculdade da contagem reciacuteproca de tempo de contribuiccedilatildeo para efeito de aposentadoria pelo Regime Geral da Previ-decircncia Social nos termos do art 201 sect 9ordm da CF9 ficando o Estado responsaacutevel pelas decorrecircncias financeiras da compensaccedilatildeo referida

1 Lei 140162010 do Estado de Satildeo Paulo que declarou em regime de extinccedilatildeo a Carteira de Pre-videcircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila daquele Estado a que se refere a Lei estadual 103931970

2 Trata-se de Carteira de Previdecircncia administrada pelo Instituto de Previdecircncia do Estado de Satildeo Paulo financeiramente autocircnoma com patrimocircnio proacuteprio cujas finalidades satildeo proporcionar aposentadoria aos seus segurados e conceder pensatildeo aos dependentes dos segurados (arts 1ordm e 2ordm da Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo) Com a Emenda Constitucional 201998 o regime criado pela Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas deixou de ter suporte na Constituiccedilatildeo

114iacutendice de teses

natildeo se identificando com nenhum dos modelos nela previstos Embora exerccedilam funccedilatildeo puacuteblica es-sencial agrave administraccedilatildeo da Justiccedila descabe dizer que os integrantes das serventias natildeo oficializadas sejam servidores puacuteblicos titulares de cargos efetivos Dessa forma natildeo eacute aplicaacutevel a sistemaacutetica reservada aos servidores puacuteblicos efetivos baseada no art 40 da CF O diploma impugnado tam-pouco instituiu sistema compatiacutevel com a previdecircncia privada haja vista a vedaccedilatildeo contida no sect 3ordm do art 202 da CF Assim natildeo podem os integrantes das serventias natildeo oficializadas participar de previdecircncia puacuteblica ou privada patrocinada por ente puacuteblico Ante o quadro restaram agrave Carteira Previdenciaacuteria duas possibilidades a adequaccedilatildeo das fontes de custeio e das regras da Carteira ao regime complementar inaugurado com a reforma da Previdecircncia ou a liquidaccedilatildeo

3 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () XII ndash previdecircncia social proteccedilatildeo e defesa da sauacutederdquo

4 ldquoArt 149 Compete exclusivamente agrave Uniatildeo instituir contribuiccedilotildees sociais de intervenccedilatildeo no domiacute-nio econocircmico e de interesse das categorias profissionais ou econocircmicas como instrumento de sua atuaccedilatildeo nas respectivas aacutereas observado o disposto nos arts 146 III e 150 I e III e sem prejuiacutezo do previsto no art 195 sect 6ordm relativamente agraves contribuiccedilotildees a que alude o dispositivordquo

5 Art 43 I e II da Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo

6 Art 3ordm caput e sect 1ordm da Lei 140162010 do Estado de Satildeo Paulo

7 Precedentes ADI 4291 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 14-3-2012 e ADI 4429 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 14-3-2012

8 Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo que reorganiza a Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila do Estado

9 ldquoArt 201 () sect 9ordm Para efeito de aposentadoria eacute assegurada a contagem reciacuteproca do tempo de contribuiccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica e na atividade privada rural e urbana hipoacutetese em que os diversos regimes de previdecircncia social se compensaratildeo financeiramente segundo criteacuterios estabele-cidos em leirdquo

115iacutendice de teses

Eacute constitucional dispositivo de lei estadual1 que autoriza as empresas que fa-

cultativamente patrocinarem bolsas para a formaccedilatildeo superior de professores

a exigir dos beneficiaacuterios em contrapartida serviccedilos na aacuterea educacional

Tal medida visa incentivar e estimular a formaccedilatildeo de professores em niacutevel superior e aprimorar o sistema regional de ensino atraveacutes da implementaccedilatildeo de projetos de alfabetizaccedilatildeo ou de aperfeiccediloamento dos empregados das empresas financiadoras bem como atraveacutes de outras atividades compatiacuteveis com a formaccedilatildeo profissional dos beneficiaacuterios

Inexiste portanto viacutecio de inconstitucionalidade formal A norma natildeo legislou so-bre Direito Civil tampouco sobre Direito do Trabalho ambos assuntos de competecircn-cia legislativa privativa da Uniatildeo nos termos do art 22 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

Tambeacutem natildeo haacute inconstitucionalidade material Trata-se em verdade de norma concernente a educaccedilatildeo e ensino mateacuteria sobre a qual a Constituiccedilatildeo atribui com-petecircncia legislativa concorrente (CF art 24 IX3) cabendo agrave Uniatildeo estabelecer as normas gerais e aos Estados-membros e ao Distrito Federal suplementaacute-las no afatilde de afeiccediloaacute-las agraves particularidades regionais4

O princiacutepio federativo reclama o abandono de qualquer leitura inflacionada e cen-tralizadora das competecircncias normativas da Uniatildeo bem como sugere novas searas normativas que possam ser trilhadas por Estados Municiacutepios e Distrito Federal

A prospective overruling antiacutedoto ao engessamento do pensamento juriacutedico possi-bilita ao Supremo Tribunal Federal rever sua postura prima facie em casos de litiacutegios constitucionais em mateacuteria de competecircncia legislativa Assim viabiliza o prestiacutegio das iniciativas regionais e locais ressalvadas as hipoacuteteses de ofensa expressa e inequiacute-voca de norma da Constituiccedilatildeo de 1988

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Estados federados Ȥ Competecircncia legislativa concorrente

ADI 2663rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 29-5-2017Informativo STF 856

116iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo unilateral por meio de lei estadual5 de be-

nefiacutecio fiscal relativo a Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos

(ICMS) agrave empresa patrocinadora de bolsas de estudo a professores

Embora a competecircncia tributaacuteria abranja como consectaacuterio loacutegico a possibilidade de instituiccedilatildeo de benefiacutecios fiscais (isenccedilotildees concessatildeo de creacutedito presumido redu-ccedilatildeo da base de caacutelculo do tributo) a parte final do art 150 sect 6ordm da CF6 revela regime particular no tocante agraves exoneraccedilotildees fiscais instituiacutedas em relaccedilatildeo ao ICMS Para tal tributo os Estados natildeo podem estabelecer isenccedilotildees livremente sendo exigida a preacutevia deliberaccedilatildeo entre os Estados-membros para a sua concessatildeo conforme pre-visatildeo constitucional (CF art 155 sect 2ordm XII g7) e como disciplinado pela Lei Com-plementar 2419758

A exigecircncia de um convecircnio interestadual preacutevio evidencia a preservaccedilatildeo do equi-liacutebrio horizontal na tributaccedilatildeo dada a relevacircncia do regime do ICMS para a manu-tenccedilatildeo da harmonia do pacto federativo Se fosse liacutecita a cada ente federativo regio-nal a instituiccedilatildeo de exoneraccedilotildees fiscais de forma independente o resultado seria a cognominada guerra fiscal com a busca irrefreaacutevel pela reduccedilatildeo da carga tributaacuteria em cada Estado de forma a atrair empreendimentos e capital para o respectivo ter-ritoacuterio em prejuiacutezo em uacuteltima anaacutelise para a proacutepria forma de estado federalista e seus consectaacuterios fiscais

Nesse cenaacuterio padece de inconstitucionalidade dispositivo de lei estadual por-quanto concessivo de benefiacutecio fiscal de ICMS sem antecedente deliberaccedilatildeo dos Esta-dos e do Distrito Federal caracterizando hipoacutetese tiacutepica de exoneraccedilatildeo conducente agrave guerra fiscal em desarmonia com a Constituiccedilatildeo Federal9

1 Lei 117432002 do Estado do Rio Grande do Sul ldquoAssegura prestaccedilatildeo de serviccedilo e possibilita in-centivo a empresas que financiarem bolsas de estudo aos professores que necessitam completar a formaccedilatildeo pedagoacutegica () Art 1ordm As empresas que patrocinarem bolsas de estudo para professores que ingressam em curso superior em atendimento ao disposto pelo sect 4ordm do art 87 da Lei n 9394 de 20 de dezembro de 1996 que dispotildee sobre as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional poderatildeo em contrapartida exigir dos beneficiaacuterios que lhes prestem serviccedilo para implementaccedilatildeo de projetos de alfabetizaccedilatildeo ou de aperfeiccediloamento de seus empregados bem como outras atividades compatiacuteveis com sua formaccedilatildeo profissional Art 2ordm Os serviccedilos a que se refere o art 1ordm seratildeo prestados apoacutes a conclusatildeo do curso por tempo proporcional ao periacuteodo em que vigorou a bolsa natildeo podendo ul-trapassar a 4 (quatro) anos nem obrigar o beneficiaacuterio a mais de 2 (duas) horas diaacuterias de trabalho Paraacutegrafo uacutenico Se a bolsa for concedida pela proacutepria Instituiccedilatildeo de Ensino Superior frequentada pelo beneficiaacuterio esta poderaacute exigir do mesmo a prestaccedilatildeo de serviccedilo durante a realizaccedilatildeo do cursordquo

117iacutendice de teses

2 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

3 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () IX ndash educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeordquo

4 Precedentes ADI 4060 rel min Luiz Fux P DJE de 4-5-2015 ADI 3669 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 29-6-2007 ADI 682 red p o ac min Joaquim Barbosa P DJE de 11-5-2007 e ADI 3098 rel min Carlos Velloso P DJE de 10-3-2006

5 Lei 117432002 do Estado do Rio Grande do Sul ldquoArt 3ordm Fica o Poder Executivo autorizado a conceder agrave empresa patrocinadora da bolsa prevista na presente lei mediante requerimento da interessada incentivo equivalente a 50 (cinquenta por cento) do valor da mesma a ser deduzido do Imposto sobre Operaccedilotildees Relativas agrave Circulaccedilatildeo de Mercadorias e sobre Prestaccedilotildees de Serviccedilos de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicaccedilatildeordquo

6 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Estados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () sect 6ordm Qualquer subsiacutedio ou isenccedilatildeo reduccedilatildeo de base de caacutelculo concessatildeo de creacutedito presumido anistia ou remissatildeo relativos a impostos taxas ou contribuiccedilotildees soacute poderaacute ser concedido mediante lei especiacutefica federal estadual ou municipal que regule exclusivamente as mateacuterias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuiccedilatildeo sem prejuiacutezo do disposto no art 155 sect 2ordm XII grdquo

7 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () XII ndash cabe agrave lei complementar () g) regular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

8 ldquoDispotildee sobre os convecircnios para a concessatildeo de isenccedilotildees do imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e daacute outras providecircnciasrdquo

9 Precedentes ADI 4481 rel min Roberto Barroso P DJE de 19-5-2015 ADI 4276 rel min Luiz Fux P DJE de 18-9-2014 ADI 2688 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 26-8-2011 e ADI 1247 MC rel min Celso de Mello P DJ de 8-9-1995

118iacutendice de teses

O Municiacutepio tem competecircncia para legislar sobre proteccedilatildeo do meio ambiente

e controle da poluiccedilatildeo quando se tratar de interesse local

Embora a mateacuteria relativa agrave proteccedilatildeo do meio ambiente e ao controle da poluiccedilatildeo seja de competecircncia legislativa concorrente entre Uniatildeo Estados e Distrito Federal (CF art 24 VI sectsect 1ordm a 3ordm1) aos Municiacutepios eacute atribuiacuteda a competecircncia para suple-mentar a legislaccedilatildeo federal e a estadual nos assuntos de interesse local nos termos do art 30 I e II da Constituiccedilatildeo Federal2

ldquoJoseacute Afonso da Silva opina no sentido de que lsquoaiacute certamente competiraacute aos Mu-niciacutepios legislar supletivamente sobre 1 proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico cultural artiacutestico turiacutestico e paisagiacutestico 2 responsabilidade por dano ao meio ambiente ao consumidor a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico e paisa-giacutestico local 3 educaccedilatildeo cultura ensino e sauacutede no que tange agrave prestaccedilatildeo desses serviccedilos no acircmbito local 4 direito urbaniacutestico local etcrsquordquo3

Assim eacute de interesse local a disciplina da poluiccedilatildeo do meio ambiente por veiacuteculos que trafegam no periacutemetro urbano expelindo fumaccedila e gases toacutexicos

Ademais cabe destacar que a competecircncia material ndash administrativa de atividades concretas ndash para a proteccedilatildeo do meio ambiente e o combate agrave poluiccedilatildeo em qualquer de suas formas eacute comum da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios (CF art 23 VI4)

Diante desse quadro como a atividade administrativa desenvolve-se sub legem ndash administrar eacute executar de ofiacutecio a lei ndash ao Municiacutepio devem ser dados os meios para a consecuccedilatildeo de seus fins

1 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () VI ndash florestas caccedila pesca fauna conservaccedilatildeo da natureza defesa do solo e dos recursos naturais proteccedilatildeo do meio ambiente e controle da poluiccedilatildeo () sect 1ordm No acircmbito da legislaccedilatildeo concorrente a competecircncia da Uniatildeo limitar-se-aacute a estabelecer normas gerais sect 2ordm A competecircncia da Uniatildeo para

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Municiacutepios Ȥ Competecircncia legislativa suplementar

RE 194704red p o ac min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 17-11-2017Informativo STF 870

119iacutendice de teses

legislar sobre normas gerais natildeo exclui a competecircncia suplementar dos Estados sect 3ordm Inexistindo lei federal sobre normas gerais os Estados exerceratildeo a competecircncia legislativa plena para atender a suas peculiaridadesrdquo

2 ldquoArt 30 Compete aos Municiacutepios I ndash legislar sobre assuntos de interesse local II ndash suplementar a legislaccedilatildeo federal e a estadual no que couberrdquo

3 VELLOSO Carlos Estado Federal e Estados Federados na Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 ndash o equi-liacutebrio federativo In Temas de direito puacuteblico 1 ed Belo Horizonte Del Rey 1997 p 401

4 ldquoArt 23 Eacute competecircncia comum da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios () VI ndash proteger o meio ambiente e combater a poluiccedilatildeo em qualquer de suas formasrdquo

120iacutendice de teses

Para os fins do art 1ordm I g da Lei Complementar 641 de 18 de maio de 1990

alterado pela Lei Complementar 135 de 4 de junho de 2010 a apreciaccedilatildeo das

contas de prefeitos tanto as de governo quanto as de gestatildeo seraacute exercida

pelas Cacircmaras Municipais com o auxiacutelio dos tribunais de contas competen-

tes cujo parecer preacutevio somente deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de 23

dos vereadores

O constituinte de 1988 optou por atribuir indistintamente o julgamento de todas as contas de responsabilidade dos prefeitos municipais aos vereadores em respeito agrave relaccedilatildeo de equiliacutebrio que deve existir entre os Poderes da Repuacuteblica (checks and balances) Tal encargo natildeo cabe aos teacutecnicos dos tribunais de contas que natildeo satildeo detentores de poder2 Satildeo os vereadores que representam o povo os cidadatildeos os muniacutecipes praticando atos em nome destes nos termos do art 1ordm paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF) o qual prevecirc que ldquotodo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenterdquo

A Cacircmara Municipal portanto eacute o oacutergatildeo que representa a soberania popular em particular o contribuinte e que tem toda a legitimidade para examinar as contas municipais nos termos do art 31 sect 3ordm da CF3

O controle externo eacute exercido pela Cacircmara Municipal com o auxiacutelio dos tribunais de contas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos conselhos ou tribunais de contas dos Municiacutepios onde houver (CF art 31 sect 1ordm4) O ldquoauxiacuteliordquo a que se refere o texto consti-tucional deve ser entendido como ajuda assistecircncia ou amparo fornecido pelo oacutergatildeo teacutecnico administrativo ao oacutergatildeo legislativo5

Cabe destacar que natildeo haacute propriamente um julgamento de contas pelo oacutergatildeo teacutec-nico O relevante papel dos tribunais de contas restringe-se apenas a produzir parecer preacutevio agrave decisatildeo do oacutergatildeo legislativo (CF art 31 sect 2ordm6)

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 de maneira direta revela que o oacutergatildeo competente para lavrar decisatildeo irrecorriacutevel a que faz referecircncia a Lei da Ficha Limpa eacute sem risco

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Municiacutepios Ȥ Fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio ndash Repercussatildeo Geral

RE 848826RG ‒ Tema 835red p o ac min Ricardo LewandowskiPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 834

121iacutendice de teses

de duacutevidas a Cacircmara Municipal porque a decisatildeo eacute do oacutergatildeo legislativo e natildeo do tribunal de contas Natildeo se pode interpretar a referida lei apartada do texto constitu-cional nem interpretar a Carta Magna agrave luz da Lei Complementar 641990 A com-petecircncia do oacutergatildeo legislativo para o julgamento natildeo eacute determinada pela natureza das contas se de gestatildeo ou de governo mas pelo cargo de quem as presta no caso o de prefeito municipal

O respeito agraves leis e agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica representa condiccedilatildeo indispensaacutevel ao regular exerciacutecio da funccedilatildeo fiscalizadora do Poder Legislativo natildeo podendo legi-timar-se a inelegibilidade de candidato ou exercente do cargo de prefeito municipal por ldquodecisatildeordquo de quem natildeo tem competecircncia para tanto

O juiz natural das contas do prefeito sempre seraacute a Cacircmara Municipal prestigian-do-se portanto a democracia a soberania popular a independecircncia e a autonomia do oacutergatildeo legislativo local O caraacuteter puramente poliacutetico das Cacircmaras Municipais eacute ame-nizado justamente pelo exame do parecer preacutevio das contas por parte dos tribunais de contas Haacute no caso balanccedilo prudente que foi elaborado pelo constituinte de 1988

1 ldquoArt 1ordm Satildeo inelegiacuteveis I ndash para qualquer cargo () g) os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeordquo

2 ldquoA funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo que surgira com o constitucionalismo e o Estado de Direito implantado com a Revoluccedilatildeo Francesa sempre constituiu tarefa baacutesica dos parlamentos e assembleias legislati-vas No sistema de separaccedilatildeo de poderes cabe ao oacutergatildeo legislativo criar as leis por isso eacute da loacutegica do sistema que a ele tambeacutem se impute a atribuiccedilatildeo de fiscalizar seu cumprimento pelo Executivo a que incumbe a funccedilatildeo de administraccedilatildeo Por outro lado no que tange ao aspecto especiacutefico que nos interessa aqui ndash o do controle da administraccedilatildeo financeira e orccedilamentaacuteria ndash reserva-se ao Le-gislativo o poder financeiro como uma de suas conquistas seculares pela qual firmara mesmo sua autonomia sendo portanto tambeacutem de palmar evidecircncia que a ele haacute de pertencer em uacuteltima anaacute-lise aquele controle denominado controle externo sem embargo de que se erija e se desenvolva na Administraccedilatildeo moderna eficiente sistema de autocontrole ndash o chamado controle interno ndash de que eacute titular cada um dos Poderes onde ele atua (art 70)rdquo (SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 17 ed Satildeo Paulo Malheiros 2000 p 723-724)

3 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei () sect 3ordm As contas dos Municiacutepios ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de

122iacutendice de teses

qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da leirdquo

4 ldquoArt 31 () sect 1ordm O controle externo da Cacircmara Municipal seraacute exercido com o auxiacutelio dos Tribu-nais de Contas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municiacute-pios onde houverrdquo

5 ADI 614 MC rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 18-5-2001

6 ldquoArt 31 () sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacirc-mara Municipalrdquo

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERESDIREITO CONSTITUCIONAL

124iacutendice de teses

A suspensatildeo do exerciacutecio do mandato de deputado federal pelo Supremo Tri-

bunal Federal (STF) em sede de decisatildeo cautelar penal natildeo gera direito agrave

suspensatildeo do processo de cassaccedilatildeo do mandato

Ningueacutem pode se beneficiar da proacutepria conduta reprovaacutevel1 Nessa linha a conti-nuidade do processo de cassaccedilatildeo de parlamentar afastado do mandato por decisatildeo cautelar tampouco viola o direito agrave ampla defesa ou um ldquodireito de obstruccedilatildeordquo Embora postergar o tracircmite do feito possa ser estrateacutegia favoraacutevel agrave defesa natildeo haacute direito subjetivo a dilaccedilotildees indevidas mas apenas ao devido processo legal

O STF somente deve intervir em procedimentos legislativos para assegurar o cumprimento da Constituiccedilatildeo Federal (CF) proteger direitos fundamentais e res-guardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das instituiccedilotildees repu-blicanas Exemplo tiacutepico na jurisprudecircncia eacute a preservaccedilatildeo dos direitos das minorias parlamentares No entanto em processos de cunho acentuadamente poliacutetico como eacute o caso da cassaccedilatildeo de mandato parlamentar o STF deve se pautar pela deferecircncia e pela autocontenccedilatildeo somente intervindo em casos excepcionaliacutessimos

Ademais o eventual impedimento do relator do processo no Conselho de Eacutetica por integrar o mesmo bloco parlamentar do impetrante natildeo eacute questatildeo que autori-ze intervenccedilatildeo do Judiciaacuterio pois natildeo tem natureza constitucional2 Por pressupor debate sobre o momento relevante para afericcedilatildeo da composiccedilatildeo dos blocos parla-mentares a mateacuteria controvertida cinge-se agrave interpretaccedilatildeo de dispositivos internos da Cacircmara dos Deputados3 Logo a questatildeo deve em princiacutepio ser resolvida pela proacutepria instacircncia legislativa4

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Legislativo Ȥ Deputados e senadores

MS 34327rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 838

125iacutendice de teses

Eacute liacutecita a adoccedilatildeo da votaccedilatildeo nominal em parecer do Conselho de Eacutetica da

Cacircmara dos Deputados

Essa eacute a forma que garante o maior niacutevel de transparecircncia e debate parlamentar tornando puacuteblicas eventuais justificativas de voto dos congressistas enquanto a vo-taccedilatildeo se desenvolve

Na atividade parlamentar a publicidade natildeo deve ser tratada como exceccedilatildeo a ser in-terpretada restritivamente Ao contraacuterio se a votaccedilatildeo nominal eacute prevista para hipoacuteteses graviacutessimas (autorizaccedilatildeo para instauraccedilatildeo de processo por crime comum ou de responsa-bilidade em face do presidente da Repuacuteblica do vice-presidente e dos ministros de Esta-do) nada obsta que a forma tambeacutem seja usada para processos de cassaccedilatildeo de mandato

Assim cabe deferecircncia para com a interpretaccedilatildeo regimental acolhida pela proacutepria Cacircmara dos Deputados quanto ao art 187 sect 4ordm de seu Regimento Interno (RICD)5

Por sua vez o painel eletrocircnico constitui forma de tornar mais aacutegil a votaccedilatildeo que antes ocorria apenas por chamada nominal Portanto natildeo se poderia alegar nulidade por se ter adotado a forma antiga de votaccedilatildeo em detrimento do sistema eletrocircnico Aleacutem disso apoacutes a instalaccedilatildeo dos paineacuteis eletrocircnicos nos plenaacuterios das comissotildees e do Conselho de Eacutetica a Cacircmara natildeo regulamentou as hipoacuteteses de utilizaccedilatildeo do novo sistema natildeo tendo sido especificados os casos em que deve ser observada uma ou outra forma de votaccedilatildeo Natildeo obstante ainda que aplicaacutevel a votaccedilatildeo eletrocircnica ao Conselho de Eacutetica o art 187 sect 4ordm do RICD natildeo aparenta proibir a votaccedilatildeo nominal fora das trecircs6 hipoacuteteses nele previstas

Por fim inexiste o denominado ldquoefeito manadardquo quando a mudanccedila no voto de um parlamentar refere-se a caacutelculo poliacutetico decorrente da constataccedilatildeo de que seu voto pela absolviccedilatildeo do impetrante natildeo mudaria o resultado final Isso aliaacutes demons-tra a ausecircncia de prejuiacutezo capaz de justificar a nulidade alegada

Natildeo acarreta duplicidade o cocircmputo dos membros suplentes para o quoacuterum

de instalaccedilatildeo da sessatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Cidadania

(CCJC)

O art 57 IX do RICD7 prevecirc que a suplecircncia nas comissotildees pertence aos partidos (ou aos blocos de partidos) natildeo estando vinculados propriamente aos titulares ausentes

Assim o quoacuterum de maioria absoluta para a instalaccedilatildeo da sessatildeo na CCJC leva em consideraccedilatildeo o registro no painel eletrocircnico do titular e do suplente que primeiro

126iacutendice de teses

marcou presenccedila dentro daquele partido ou bloco A premissa do argumento segun-do a qual haveria um suplente para cada titular portanto natildeo eacute verdadeira

Na mesma linha natildeo haacute violaccedilatildeo ao art 58 sect 1ordm da CF8 Esse dispositivo se refere agrave representaccedilatildeo proporcional dos partidos ou blocos na composiccedilatildeo das Mesas e de cada comissatildeo e natildeo ao quoacuterum de instalaccedilatildeo das sessotildees

1 O MS 25579 MC citado como precedente natildeo eacute aplicaacutevel agrave hipoacutetese Naquele julgamento o licencia-mento do mandato natildeo foi a razatildeo determinante do argumento pela impossibilidade de instauraccedilatildeo do processo de cassaccedilatildeo Tratou-se em verdade da responsabilizaccedilatildeo de parlamentar para exercer cargo de ministro-chefe da Casa Civil condiccedilatildeo na qual teria praticado os atos objeto de apuraccedilatildeo O STF entendeu que em princiacutepio por forccedila da separaccedilatildeo entre os Poderes natildeo poderia um deputado federal ser julgado pela Casa legislativa por atos por ele praticados como membro do Poder Executivo No entanto ao final a medida liminar foi indeferida validando-se a instauraccedilatildeo do processo de cas-saccedilatildeo do mandato jaacute que a infraccedilatildeo foi considerada como enquadrada no Coacutedigo de Eacutetica e Decoro Parlamentar da Cacircmara dos Deputados ao qual o entatildeo impetrante ainda permanecia vinculado

2 Precedente MS 33729 MC-AgR rel min Roberto Barroso P DJE de 4-2-2016

3 Coacutedigo de Eacutetica e Decoro Parlamentar da Cacircmara dos Deputados

4 Precedentes MS 24356 rel min Carlos Velloso P DJ de 12-9-2003 e MS 22503 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 6-6-1997

5 ldquoArt 187 A votaccedilatildeo nominal far-se-aacute pelo sistema eletrocircnico de votos obedecidas as instruccedilotildees estabelecidas pela Mesa para sua utilizaccedilatildeo () sect 4ordm Quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento e nas hipoacuteteses de que tratam os arts 217 IV e 218 sect 8ordm a votaccedilatildeo nominal seraacute feita pela chamada dos Deputados alternadamente do norte para o sul e vice-versa observando-se querdquo

6 As hipoacuteteses de votaccedilatildeo nominal previstas no RICD satildeo as seguintes a) quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento (art 187 sect 4ordm) b) votaccedilatildeo de parecer para autorizaccedilatildeo do presidente do Supremo Tribunal Federal para instauraccedilatildeo de processo nas infraccedilotildees penais co-muns contra o presidente e o vice-presidente da Repuacuteblica e os ministros de Estado (art 217 IV) c) votaccedilatildeo de parecer quanto ao recebimento de denuacutencia contra o presidente da Repuacuteblica o vice--presidente da Repuacuteblica ou ministro de Estado por crime de responsabilidade (art 218 sect 8ordm)

7 ldquoArt 57 No desenvolvimento dos seus trabalhos as Comissotildees observaratildeo as seguintes normas () IX-A Na votaccedilatildeo seratildeo colhidos primeiramente os votos dos membros titulares presentes e em seguida os dos suplentes dos partidos dos titulares ausentesrdquo

8 ldquoArt 58 O Congresso Nacional e suas Casas teratildeo comissotildees permanentes e temporaacuterias constituiacutedas na forma e com as atribuiccedilotildees previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criaccedilatildeo sect 1ordm Na constituiccedilatildeo das Mesas e de cada Comissatildeo eacute assegurada tanto quanto possiacutevel a representa-ccedilatildeo proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casardquo

127iacutendice de teses

A competecircncia das casas legislativas para decidir sobre a perda do mandato

de congressista condenado criminalmente (art 55 VI e sect 2ordm da Constituiccedilatildeo

Federal1) natildeo eacute absoluta

Quando a condenaccedilatildeo impotildee o cumprimento de pena em regime fechado e natildeo eacute viaacutevel o trabalho externo diante da impossibilidade de cumprimento da fraccedilatildeo miacutenima de 16 da pena para a obtenccedilatildeo do benefiacutecio durante o mandato e antes de consumada a ausecircncia do congressista a 13 das sessotildees ordinaacuterias da casa legislati-va da qual faccedila parte a hipoacutetese eacute de perda automaacutetica do mandato Dessa forma cabe agrave Mesa da casa legislativa declaraacute-la em conformidade com o art 55 III sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal2

ldquoNessa situaccedilatildeo verifica-se uma impossibilidade juriacutedica e fiacutesica para o exerciacutecio do mandato Juriacutedica porque uma das condiccedilotildees miacutenimas exigidas pela Constitui-ccedilatildeo para o exerciacutecio do mandato eacute o comparecimento agraves sessotildees da Casa (Consti-tuiccedilatildeo Federal arts 55 III3 e 56 II4) E fiacutesica porque ele simplesmente natildeo tem como estar presente ao local onde se realizam os trabalhos e sobretudo agraves sessotildees deliberativas da Casa Legislativa5rdquo

1 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () VI ndash que sofrer condenaccedilatildeo criminal em sentenccedila transitada em julgado () sect 2ordm Nos casos dos incisos I II e VI a perda do mandato seraacute decidida pela Cacircmara dos Deputados ou pelo Senado Federal por maioria absoluta mediante pro-vocaccedilatildeo da respectiva Mesa ou de partido poliacutetico representado no Congresso Nacional assegurada ampla defesardquo

2 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () III ndash que deixar de comparecer em cada sessatildeo legislativa agrave terccedila parte das sessotildees ordinaacuterias da Casa a que pertencer salvo licenccedila ou mis-satildeo por esta autorizada () sect 3ordm Nos casos previstos nos incisos III a V a perda seraacute declarada pela Mesa da Casa respectiva de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo de qualquer de seus membros ou de partido poliacutetico representado no Congresso Nacional assegurada ampla defesardquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Legislativo Ȥ Deputados e senadores

AP 694rel min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 31-8-2017Informativo STF 863

128iacutendice de teses

3 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador III ndash que deixar de comparecer em cada sessatildeo legislativa agrave terccedila parte das sessotildees ordinaacuterias da Casa a que pertencer salvo licenccedila ou missatildeo por esta autorizadardquo

4 ldquoArt 56 Natildeo perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () II ndash licenciado pela respectiva Casa por motivo de doenccedila ou para tratar sem remuneraccedilatildeo de interesse particular desde que neste caso o afastamento natildeo ultrapasse cento e vinte dias por sessatildeo legislativardquo

5 MS 32326 MC rel min Roberto Barroso decisatildeo monocraacutetica DJE de 21-3-2014

129iacutendice de teses

A ausecircncia de participaccedilatildeo de terceiros indiretamente afetados pelas deter-

minaccedilotildees do Tribunal de Contas da Uniatildeo em auditoria realizada para apurar

a gestatildeo administrativa de oacutergatildeo puacuteblico natildeo viola o direito ao contraditoacuterio

(CF art 5ordm LV1)

O contraditoacuterio pressupotildee a existecircncia de litigantes ou acusados Isso natildeo ocorre quando o Tribunal de Contas atua no campo da fiscalizaccedilatildeo de oacutergatildeos e entes ad-ministrativos

Nessa espeacutecie de atuaccedilatildeo administrativa a relaccedilatildeo processual envolve apenas o oacutergatildeo fiscalizador e o fiscalizado mostrando-se prescindiacutevel a participaccedilatildeo dos inte-ressados na manutenccedilatildeo do quadro juriacutedico objeto do controle

ldquoOs servidores teratildeo asseguradas as garantias constitucionais inerentes ao devido processo legal nos procedimentos administrativos eventualmente instaurados no oacuter-gatildeo de origem visando agrave adoccedilatildeo das providecircncias preconizadasrdquo2

Nesse contexto ldquoinviabilizaria a atuaccedilatildeo do Tribunal de Contas da Uniatildeo a con-clusatildeo de que em face de repercussotildees de auditoria seja necessaacuterio intimar para vir ao processo de controle qualquer um que pudesse ser alcanccedilado embora de forma indireta pelo pronunciamentordquo3

Uma vez envolvida fiscalizaccedilatildeo linear exercida pelo Tribunal de Contas pre-

sente o disposto no art 71 IV da Carta da Repuacuteblica4 inexiste campo para

evocar-se a decadecircncia prevista no art 54 da Lei 978419995

Em processos de controle abstrato natildeo haacute exame de ato especiacutefico do qual decorra efeito favoraacutevel ao administrado no que a repercussatildeo sobre eventual direito indi-vidual eacute apenas indireta

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

MS 34224rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 27-11-2017Informativo STF 873

130iacutendice de teses

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

2 MS 32876 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJE de 5-8-2014

3 MS 25198 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 26-8-2005 e MS 25206 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 2-9-2005

4 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tribu-nal de Contas da Uniatildeo ao qual compete () IV ndash realizar por iniciativa proacutepria da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal de Comissatildeo teacutecnica ou de inqueacuterito inspeccedilotildees e auditorias de na-tureza contaacutebil financeira orccedilamentaacuteria operacional e patrimonial nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo Executivo e Judiciaacuterio e demais entidades referidas no inciso IIrdquo

5 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

131iacutendice de teses

A prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) eacute

regulada integralmente pela Lei 987319991 seja em razatildeo da interpretaccedilatildeo

correta e da aplicaccedilatildeo direta desta lei seja por analogia

A Lei Orgacircnica do TCU (Lei 844319922) ao prever a competecircncia do oacutergatildeo de con-tas federal para aplicar multas pela praacutetica de infraccedilotildees submetidas agrave sua esfera de apuraccedilatildeo (art 583) deixou de estabelecer prazo para o exerciacutecio do poder punitivo

A ausecircncia de previsatildeo em lei especiacutefica entretanto natildeo significa hipoacutetese de imprescritibilidade Tendo em vista que a aplicaccedilatildeo de multas pelo TCU se insere no exerciacutecio da competecircncia sancionadora da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal4 o TCU subsome-se agrave prescriccedilatildeo quinquenal prevista na Lei 98731999 Esse fundamento decorre do caraacuteter geral dessa norma em mateacuteria de direito administrativo sancio-nador sendo sua disciplina aplicaacutevel a qualquer accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacute-blica Federal exceto agravequeles acircmbitos em que exista regulamentaccedilatildeo proacutepria como as infraccedilotildees de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributaacuteria (Lei 98731999 art 5ordm5)

Por um lado o art 1ordm da Lei 987319996 alude agrave accedilatildeo punitiva ldquono exerciacutecio do poder de poliacuteciardquo Por outro lado a atuaccedilatildeo do TCU natildeo se qualifica em sua acepccedilatildeo claacutessica como exerciacutecio do poder de poliacutecia ndash o qual se caracteriza apenas pela restri-ccedilatildeo da liberdade e da propriedade dos particulares em prol do interesse puacuteblico De fato na atividade de controle externo o TCU fiscaliza a proacutepria atuaccedilatildeo estatal em relaccedilatildeo a gestores de recursos puacuteblicos Natildeo obstante haacute algum tempo a doutrina tem conferido tratamento especiacutefico ao poder sancionador das entidades puacuteblicas diferenciando-o do poder de poliacutecia Distinguem-se assim as limitaccedilotildees impostas com base no poder administrativo de poliacutecia ndash o qual possui caraacuteter de proteccedilatildeo pre-ventiva de interesses puacuteblicos ndash das puniccedilotildees decorrentes do exerciacutecio de autecircntico poder administrativo sancionador este sim de caraacuteter repressivo Eacute dizer o poder de poliacutecia nesse sentido estrito natildeo inclui a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees atividade submetida

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

MS 32201rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 7-8-2017Informativo STF 858

132iacutendice de teses

consoante compreensatildeo mais recente ao regramento juriacutedico proacuteprio e especiacutefico do chamado direito administrativo sancionador

Portanto a rigor a Lei 98731999 regula a accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacute-blica no exerciacutecio do poder administrativo sancionador e natildeo no exerciacutecio do poder de poliacutecia o qual abarca medidas preventivas de proteccedilatildeo de interesses puacuteblicos mas natildeo a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees

Ademais ainda que a referida norma natildeo fosse integralmente aplicaacutevel agrave accedilatildeo pu-nitiva do TCU representa a regulamentaccedilatildeo mais adequada a ser aplicada por ana-logia Afinal o Direito Administrativo tem autonomia cientiacutefica motivo pelo qual natildeo haacute nenhuma razatildeo plausiacutevel pela qual se deva suprir a alegada omissatildeo com recurso agraves normas de Direito Civil e natildeo agraves de Direito Administrativo Assim agrave falta de norma regulamentadora o prazo prescricional referencial em mateacuteria de Direito Administrativo deve ser de cinco anos em harmonia inclusive com amplo conjunto de normas que adota o mesmo paracircmetro7

A razatildeo de ser da Lei 98731999 eacute impedir que as pessoas submetidas ao poder de poliacutecia fiquem eternamente sujeitas agrave possibilidade de aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees ad-ministrativas No caso concreto examina-se a aplicaccedilatildeo de multa pelo TCU agravequeles submetidos agrave sua fiscalizaccedilatildeo Tambeacutem em relaccedilatildeo a estas pessoas o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica impotildee a extinccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em razatildeo do decurso do tempo Como jaacute reconhecido pela doutrina a alegaccedilatildeo de suposta ldquorelaccedilatildeo de sujei-ccedilatildeo especialrdquo com a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo pode servir de subterfuacutegio retoacuterico para a violaccedilatildeo de direitos fundamentais

Estabelece o art 1ordm da Lei 98731999 que o prazo prescricional se inicia ldquoda data da praacutetica do ato ou no caso de infraccedilatildeo permanente ou continuada do dia em que tiver cessadordquo Em caso de conduta de natureza omissiva a infraccedilatildeo deve ser tida como permanente Assim o termo inicial da prescriccedilatildeo se inicia quando cessado o ato por exemplo com a exoneraccedilatildeo do impetrante do cargo

1 ldquoEstabelece prazo de prescriccedilatildeo para o exerciacutecio de accedilatildeo punitiva pela Administraccedilatildeo Puacuteblica Fe-deral direta e indireta e daacute outras providecircnciasrdquo

2 ldquoDispotildee sobre a Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo e daacute outras providecircnciasrdquo

3 ldquoArt 58 O Tribunal poderaacute aplicar multa de Cr$ 4200000000 (quarenta e dois milhotildees de cru-zeiros) ou valor equivalente em outra moeda que venha a ser adotada como moeda nacional aos responsaacuteveis por I ndash contas julgadas irregulares de que natildeo resulte deacutebito nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 19 desta Lei II ndash ato praticado com grave infraccedilatildeo agrave norma legal ou regulamentar de

133iacutendice de teses

natureza contaacutebil financeira orccedilamentaacuteria operacional e patrimonial III ndash ato de gestatildeo ilegiacutetimo ou antieconocircmico de que resulte injustificado dano ao Eraacuterio IV ndash natildeo atendimento no prazo fixado sem causa justificada a diligecircncia do Relator ou a decisatildeo do Tribunal V ndash obstruccedilatildeo ao livre exerciacutecio das inspeccedilotildees e auditorias determinadas VI ndash sonegaccedilatildeo de processo documento ou informaccedilatildeo em inspeccedilotildees ou auditorias realizadas pelo Tribunal VII ndash reincidecircncia no descum-primento de determinaccedilatildeo do Tribunal sect 1ordm Ficaraacute sujeito agrave multa prevista no caput deste artigo aquele que deixar de dar cumprimento agrave decisatildeo do Tribunal salvo motivo justificado sect 2ordm O valor estabelecido no caput deste artigo seraacute atualizado periodicamente por portaria da Presidecircncia do Tribunal com base na variaccedilatildeo acumulada no periacuteodo pelo iacutendice utilizado para atualizaccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios da Uniatildeo sect 3ordm O Regimento Interno disporaacute sobre a gradaccedilatildeo da multa prevista no caput deste artigo em funccedilatildeo da gravidade da infraccedilatildeordquo

4 Precedente RE 190985 rel min Neacuteri da Silveira P DJ de 24-8-2001

5 ldquoArt 5ordm O disposto nesta Lei natildeo se aplica agraves infraccedilotildees de natureza funcional e aos processos e pro-cedimentos de natureza tributaacuteriardquo

6 ldquoArt 1ordm Prescreve em cinco anos a accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal direta e indi-reta no exerciacutecio do poder de poliacutecia objetivando apurar infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo em vigor contados da data da praacutetica do ato ou no caso de infraccedilatildeo permanente ou continuada do dia em que tiver cessado sect 1ordm Incide a prescriccedilatildeo no procedimento administrativo paralisado por mais de trecircs anos pendente de julgamento ou despacho cujos autos seratildeo arquivados de ofiacutecio ou mediante reque-rimento da parte interessada sem prejuiacutezo da apuraccedilatildeo da responsabilidade funcional decorrente da paralisaccedilatildeo se for o caso sect 2ordm Quando o fato objeto da accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo tambeacutem constituir crime a prescriccedilatildeo reger-se-aacute pelo prazo previsto na lei penal Art 1ordm-A Constituiacutedo defi-nitivamente o creacutedito natildeo tributaacuterio apoacutes o teacutermino regular do processo administrativo prescreve em 5 (cinco) anos a accedilatildeo de execuccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica federal relativa a creacutedito decorrente da aplicaccedilatildeo de multa por infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo em vigorrdquo

7 Decreto 209101932 art 1ordm CTN arts 168 173 e 174 Lei 68381980 art 1ordm Lei 81121990 (Regime Juriacutedico dos Servidores Puacuteblicos Civis Federais) art 142 I Lei 84291992 art 23 Lei 89061994 (Estatuto da OAB) art 43 Lei 97831999 Lei 125292011 (Lei Antitruste) art 46 Lei 128462013 (Lei Anticorrupccedilatildeo) art 25 entre outros

134iacutendice de teses

Configura usurpaccedilatildeo de atribuiccedilatildeo tiacutepica do Tribunal de Contas preconiza-

da no art 71 II da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica1 atribuir agrave respectiva Assem-

bleia Legislativa competecircncia para julgar as contas do Poder Legislativo

ldquoOs Estados-membros estatildeo sujeitos em mateacuteria de organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e atribuiccedilotildees fiscalizadoras dos seus Tribunais de Contas ao modelo juriacutedico esta-belecido pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Essa subordinaccedilatildeo normativa ao padratildeo federal deriva de claacuteusula expliacutecita consubstanciada no art 75 caput da Carta Po-liacutetica que assim dispotildee verbis lsquoAs normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados ()rsquo O Supremo Tribunal Federal tendo presente essa realidade juriacutedico--normativa jaacute proclamou na anaacutelise das funccedilotildees institucionais cometidas a esse importante oacutergatildeo estatal de controle externo que lsquo() O regramento dos Tribunais de Contas estaduais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 ndash inobstante a existecircncia de domiacutenio residual para sua autocircnoma formulaccedilatildeo ndash eacute mateacuteria cujo relevo decorre da nova fisionomia assumida pela Federaccedilatildeo brasileira e tambeacutem do necessaacuterio confronto dessa mesma realidade juriacutedico-institucional com a jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal que construiacuteda ao longo do regime constitucional pre-cedente proclamava a inteira submissatildeo dos Estados-membros no delineamento do seu sistema de controle externo ao modelo juriacutedico plasmado na Carta da Re-puacuteblicarsquo ()rdquo2

Logo eacute inconstitucional o art 47 V da Constituiccedilatildeo de Sergipe o qual afastava a competecircncia do Tribunal de Contas estadual para julgar com forccedila vinculante as contas dos integrantes de oacutergatildeos legislativos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

ADI 3077rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

135iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a norma de Constituiccedilatildeo estadual que dispensa apresenta-

ccedilatildeo de parecer preacutevio sobre as contas de chefe do Poder Executivo municipal

a ser emitido pelo respectivo Tribunal de Contas estadual

A norma local natildeo pode excepcionar o que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo excep-cionou indo de encontro ao princiacutepio da simetria expressamente previsto em seu art 753 no concernente agraves competecircncias preciacutepuas dos tribunais de contas estaduais4

ldquoO parecer preacutevio que o prefeito tem que prestar anualmente agrave Cacircmara Munici-pal referido no sect 2ordm emitido pelo oacutergatildeo de contas competente segundo se viu nos comentaacuterios supra natildeo tem apenas o valor de uma opiniatildeo que pode ser aceita ou natildeo Natildeo eacute pois um parecer no sentido teacutecnico de opiniatildeo abalizada mas natildeo impo-sitiva Ao contraacuterio ele vale e tem a eficaacutecia de uma decisatildeo impositiva Sua eficaacutecia pode poreacutem ser desfeita se dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal votarem contra ele Soacute assim natildeo prevaleceraacuterdquo5

Diante disso eacute inconstitucional a expressatildeo ldquodecorrido o tempo previsto sem ofereci-mento do parecer seratildeo os autos remetidos no prazo de cinco dias agraves respectivas Cacircma-ras Municipaisrdquo contida na parte final do inciso XII do art 68 da Constituiccedilatildeo de Sergipe

Eacute permitida apenas uma reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila6

A reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila deve observar o paracircmetro definido no art 128 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica7

Logo por meio da interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica a expres-satildeo ldquopermitida a reconduccedilatildeordquo constante do sect 1ordm do art 116 da Constituiccedilatildeo de Sergi-pe deve ser entendida como ldquopermitida uma reconduccedilatildeordquo

A escolha do superintendente da Poliacutecia Civil pelo governador do Estado

circunscreve-se a delegados ou delegadas de poliacutecia da carreira independen-

temente do estaacutegio de sua progressatildeo funcional

Haacute exigecircncia de simetria entre os criteacuterios da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica e das Cons-tituiccedilotildees estaduais para a nomeaccedilatildeo de chefes da Poliacutecia Civil8

Nesse sentido foi dada interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 144 sect 4ordm9) ao sect 1ordm do art 116 da Constituiccedilatildeo de Sergipe o qual circunscrevia o exerciacutecio da superintendecircncia da Poliacutecia Civil aos delegados ou delegadas em final de carreira

136iacutendice de teses

1 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tribu-nal de Contas da Uniatildeo ao qual compete I ndash apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presiden-te da Repuacuteblica mediante parecer preacutevio que deveraacute ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento II ndash julgar as contas dos administradores e demais responsaacuteveis por dinheiros bens e valores puacuteblicos da administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico federal e as contas daqueles que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao eraacuterio puacuteblicordquo

2 Trecho do voto do ministro Celso de Mello no julgamento da ADI 849 MC rel min Celso de Mello P DJ de 8-4-1994

3 ldquoArt 75 As normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municiacutepios Paraacutegrafo uacutenico As Constituiccedilotildees estaduais disporatildeo sobre os Tribunais de Contas respectivos que seratildeo integrados por sete Conselheirosrdquo

4 ADI 849 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 23-4-1999 e ADI 261 rel min Gilmar Mendes P DJ de 28-2-2003

5 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio contextual agrave Constituiccedilatildeo 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 317

6 ADI 2622 red p o ac min Cezar Peluso P DJE de 16-2-2012

7 ldquoArt 128 O Ministeacuterio Puacuteblico abrange () sect 3ordm Os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territoacuterios formaratildeo lista triacuteplice dentre integrantes da carreira na forma da lei respecti-va para escolha de seu Procurador-Geral que seraacute nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para mandato de dois anos permitida uma reconduccedilatildeordquo

8 ADI 3038 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 12-2-2015

9 ldquoArt 144 A seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguintes oacutergatildeos () sect 4ordm Agraves poliacutecias civis dirigidas por delegados de poliacutecia de carreira incumbem ressalvada a competecircncia da Uniatildeo as funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais exceto as militaresrdquo

137iacutendice de teses

O parecer teacutecnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza mera-

mente opinativa competindo exclusivamente agrave Cacircmara de Vereadores o

julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local sendo inca-

biacutevel o julgamento ficto das contas por decurso de prazo

A expressatildeo ldquosoacute deixaraacute de prevalecerrdquo constante do art 31 sect 2ordm da Constituiccedilatildeo Fe-deral (CF)1 deve ser interpretada de forma sistecircmica de modo a se referir agrave necessida-de de quoacuterum qualificado para rejeiccedilatildeo do parecer emitido pelo Tribunal de Contas

A Constituiccedilatildeo Federal eacute clara ao determinar em seu art 752 que as normas cons-titucionais que conformam o modelo de organizaccedilatildeo do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) satildeo de observacircncia compulsoacuteria pelas Constituiccedilotildees dos Estados-membros3 No acircmbito das competecircncias institucionais do TCU haacute clara distinccedilatildeo entre (i) a com-petecircncia para apreciar e emitir parecer preacutevio sobre contas prestadas anualmente pelo chefe do Poder Executivo especificada no art 71 I da CF4 e (ii) a competecircncia para julgar as contas dos demais administradores e responsaacuteveis entre eles os dos oacutergatildeos dos Poderes Legislativo e Judiciaacuterio definida no art 71 II da CF5

Nesses termos cabe ao Tribunal de Contas apenas apreciar mediante parecer preacute-vio sem conteuacutedo deliberativo as contas prestadas pelo chefe do Poder Executivo A competecircncia para julgar essas contas fica a cargo do Congresso Nacional ndash por forccedila do art 49 IX da CF6 ndash cuja apreciaccedilatildeo natildeo se vincula ao parecer do Tribunal de Contas O poder constituinte originaacuterio conferiu o julgamento das contas do ad-ministrador puacuteblico ao Poder Legislativo pois tal decisatildeo comporta em si natureza poliacutetica e natildeo apenas teacutecnica ou contaacutebil jaacute que objetiva analisar aleacutem das exigecircncias legais para aplicaccedilatildeo de despesas se a atuaccedilatildeo do chefe do Poder Executivo atendeu ou natildeo aos anseios e necessidades da populaccedilatildeo respectiva

No acircmbito municipal o controle externo das contas do prefeito tambeacutem constitui uma das prerrogativas institucionais da Cacircmara dos Vereadores que o exerceraacute com

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas ndash Repercussatildeo Geral

RE 729744RG ‒ Tema 157rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 835

138iacutendice de teses

o auxiacutelio dos tribunais de contas do Estado ou do Municiacutepio onde houver nos ter-mos do art 31 da CF7 e 8

Por seu turno o entendimento de que o parecer conclusivo produziria efeitos ime-diatos que se tornariam permanentes no caso do silecircncio da casa legislativa ofende a regra do art 71 I da CF Essa previsatildeo dispotildee que na anaacutelise das contas do chefe do Poder Executivo os tribunais de contas emitem parecer preacutevio consubstanciado em pronunciamento teacutecnico sem conteuacutedo deliberativo com o fim de subsidiar as atribuiccedilotildees fiscalizadoras do Poder Legislativo que natildeo estaacute obrigado a se vincular agrave manifestaccedilatildeo opinativa daquele oacutergatildeo auxiliar Tal entendimento teria ainda o con-datildeo de transformar a natureza precaacuteria do parecer passiacutevel de aprovaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo em decisatildeo definitiva

O ordenamento juriacutedico paacutetrio natildeo admite o julgamento ficto de contas por de-curso de prazo sob pena de assim se entendendo permitir-se agrave Cacircmara Municipal delegar ao Tribunal de Contas que eacute oacutergatildeo auxiliar competecircncia constitucional que lhe eacute proacutepria aleacutem de se criar sanccedilatildeo ao decurso de prazo inexistente na Constituiccedilatildeo

Do mesmo modo natildeo se conformam com o texto constitucional previsotildees nor-mativas que considerem recomendadas as contas do Municiacutepio nos casos em que o parecer teacutecnico natildeo seja emitido no prazo legal permitindo agraves cacircmaras municipais seu julgamento independentemente do parecer do Tribunal de Contas9

Por fim eacute importante ressaltar que no julgamento das contas anuais do prefeito natildeo haacute julgamento do proacuteprio prefeito mas deliberaccedilatildeo sobre a exatidatildeo da execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria do Municiacutepio A rejeiccedilatildeo das contas tem o condatildeo de gerar como con-sequecircncia a caracterizaccedilatildeo da inelegibilidade do prefeito nos termos do art 1ordm I g da Lei Complementar 64199010 Natildeo se poderia admitir dentro desse sistema que o parecer opinativo do Tribunal de Contas tivesse o condatildeo de gerar tais consequecircncias ao chefe de poder local

Entretanto no caso de a Cacircmara Municipal aprovar as contas do prefeito o que se afasta eacute apenas sua inelegibilidade Os fatos apurados no processo poliacutetico-adminis-trativo poderatildeo dar ensejo agrave sua responsabilizaccedilatildeo civil criminal ou administrativa

1 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei () sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal sect 3ordm As contas do Municiacutepio ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de

139iacutendice de teses

qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei sect 4ordm Eacute vedada a criaccedilatildeo de Tribunais Conselhos ou oacutergatildeos de Contas Municipaisrdquo

2 ldquoArt 75 As normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municiacutepiosrdquo

3 ADI 849 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 24-2-1999 e ADI 3715 rel min Gilmar Mendes P DJE de 30-10-2014

4 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com auxiacutelio do Tribunal de Contas da Uniatildeo ao qual compete I ndash apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Repuacuteblica mediante parecer preacutevio que deveraacute ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimentordquo

5 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tri-bunal de Contas da Uniatildeo ao qual compete () II ndash julgar as contas dos administradores e demais responsaacuteveis por dinheiros bens e valores puacuteblicos da administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico federal e as contas daqueles que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao eraacuterio puacuteblicordquo

6 ldquoArt 49 Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional () IX ndash julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e apreciar os relatoacuterios sobre a execuccedilatildeo dos planos de go-vernordquo

7 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei sect 1ordm O controle externo da Cacircmara Municipal seraacute exercido com o auxiacutelio dos Tribunais de Con-tas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municiacutepios onde houver sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal sect 3ordm As contas do Municiacutepio ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei sect 4ordm Eacute vedada a criaccedilatildeo de Tribunais Conselhos ou oacutergatildeos de Contas Municipaisrdquo

8 Getuacutelio Seacutergio do Amaral sistematiza a forma de controle externo das contas do prefeito prevista no art 31 da Constituiccedilatildeo da seguinte maneira ldquoPrimeiramente o controle externo eacute efetuado pela proacutepria populaccedilatildeo mediante o exame direto das contas que ficam durante sessenta dias agrave disposiccedilatildeo de qualquer contribuinte para o seu exame e apreciaccedilatildeo podendo ser questionada a sua legitimidade tanto administrativa como judicialmente neste uacuteltimo pela accedilatildeo popular o outro niacutevel de controle eacute realizado pelo Tribunal de Contas do Estado mediante a emissatildeo de parecer preacutevio que poderaacute considerar as contas regulares parcialmente regulares ou irregulares e por uacuteltimo exsurge atraveacutes do julgamento das contas municipais realizado pela Cacircmara local que poderaacute acatar o parecer preacutevio emitido pelo Tribunal de Contas do Estado que soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipalrdquo (AMARAL Getuacutelio Seacutergio do Direito agrave defesa do prefeito nos julgamentos das contas municipais aplicabilidade do devido processo legal e da ampla defesa aos julgamentos das contas do administrador municipal pela Cacircmara Municipal doutrina jurisprudecircncia e legislaccedilatildeo Belo Horizonte Ineacutedita 2000 p 22)

140iacutendice de teses

9 ADI 215 MC rel min Celso de Mello P DJ de 3-8-1990

10 ldquoArt 1ordm Satildeo inelegiacuteveis I ndash para qualquer cargo () g) os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeordquo

141iacutendice de teses

Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

(MPTCU) natildeo possuem legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento de

reclamaccedilatildeo no Supremo Tribunal Federal

A atuaccedilatildeo dos agentes do Parquet especial natildeo obstante o alto relevo de suas atribui-ccedilotildees limita-se unicamente ao acircmbito dos proacuteprios Tribunais de Contas perante os quais oficiam

Nos termos do art 128 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 o MPTCU ldquo() natildeo com-potildee a estrutura do Ministeacuterio Puacuteblico comum da Uniatildeo e dos Estados sendo ape-nas atribuiacutedas aos membros daquele as mesmas prerrogativas funcionais deste (CF art 1302)rdquo3

Nesse sentido cabe destacar que ldquoa claacuteusula de garantia inscrita no art 130 da CF1988 eacute de ordem subjetiva e portanto refere-se a direitos vedaccedilotildees e forma de investidura no cargo dos membros do Ministeacuterio Puacuteblico junto agraves Cortes de Contas natildeo constituindo regra de ampliaccedilatildeo da atribuiccedilatildeo institucional do Parquet especialrdquo4

Diante disso ldquoas atribuiccedilotildees do Ministeacuterio Puacuteblico comum entre as quais se inclui sua legitimidade processual extraordinaacuteria e autocircnoma natildeo se estendem ao Ministeacute-rio Puacuteblico junto aos Tribunais de Contasrdquo5

1 ldquoArt 128 O Ministeacuterio Puacuteblico abrange I ndash o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo que compreende a) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal b) o Ministeacuterio Puacuteblico do Trabalho c) o Ministeacuterio Puacuteblico Militar d) o Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e Territoacuterios II ndash os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados sect 1ordm O Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica dentre integrantes da carreira maiores de trinta e cinco anos apoacutes a aprovaccedilatildeo de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal para mandato de dois anos permitida a reconduccedilatildeo sect 2ordm A destituiccedilatildeo do Procurador-Geral da Repuacuteblica por iniciativa do Presidente da Repuacuteblica deveraacute ser precedida de autorizaccedilatildeo da maioria absoluta do Senado Federal sect 3ordm Os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territoacuterios formaratildeo lista triacuteplice dentre integrantes da carreira na forma da lei respectiva para escolha de seu Procurador-Geral que seraacute nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para mandato de dois

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

Rcl 24156 AgRRcl 24158 AgRrel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 20-11-2017Informativo STF 883

142iacutendice de teses

anos permitida uma reconduccedilatildeo sect 4ordm Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territoacuterios poderatildeo ser destituiacutedos por deliberaccedilatildeo da maioria absoluta do Poder Legislativo na forma da lei complementar respectiva sect 5ordm Leis complementares da Uniatildeo e dos Estados cuja ini-ciativa eacute facultada aos respectivos Procuradores-Gerais estabeleceratildeo a organizaccedilatildeo as atribuiccedilotildees e o estatuto de cada Ministeacuterio Puacuteblico observadas relativamente a seus membros I ndash as seguintes garantias a) vitaliciedade apoacutes dois anos de exerciacutecio natildeo podendo perder o cargo senatildeo por sentenccedila judicial transitada em julgado b) inamovibilidade salvo por motivo de interesse puacuteblico mediante decisatildeo do oacutergatildeo colegiado competente do Ministeacuterio Puacuteblico pelo voto da maioria absoluta de seus membros assegurada ampla defesa c) irredutibilidade de subsiacutedio fixado na for-ma do art 39 sect 4ordm e ressalvado o disposto nos arts 37 X e XI 150 II 153 III 153 sect 2ordm I II ndash as seguintes vedaccedilotildees a) receber a qualquer tiacutetulo e sob qualquer pretexto honoraacuterios percentagens ou custas processuais b) exercer a advocacia c) participar de sociedade comercial na forma da lei d) exercer ainda que em disponibilidade qualquer outra funccedilatildeo puacuteblica salvo uma de magisteacuterio e) exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria f ) receber a qualquer tiacutetulo ou pretexto auxiacutelios ou contri-buiccedilotildees de pessoas fiacutesicas entidades puacuteblicas ou privadas ressalvadas as exceccedilotildees previstas em lei sect 6ordm Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 95 paraacutegrafo uacutenico Vrdquo

2 ldquoArt 130 Aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposi-ccedilotildees desta seccedilatildeo pertinentes a direitos vedaccedilotildees e forma de investidurardquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no Rcl 24161 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 9-12-2016

4 Trecho do voto do ministro Dias Toffoli no Rcl 24162 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 7-12-2016

5 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no Rcl 24161 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 9-12-2016

143iacutendice de teses

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de

Contas estadual com a atribuiccedilatildeo de assegurar em juiacutezo a autonomia e a

independecircncia da Corte de Contas bem como de exercer as funccedilotildees de con-

sultoria e assessoramento juriacutedico internos1

Em certas situaccedilotildees determinado Poder necessita estar em juiacutezo praticando por si mesmo e validamente uma seacuterie de atos processuais na defesa de interesses pecu-liares que assegurem sua autonomia ou independecircncia frente aos demais Poderes

Nessa medida eacute reconhecida a possibilidade da criaccedilatildeo de carreiras especiais para a representaccedilatildeo judicial de assembleias legislativas e tribunais de contas natildeo havendo ofensa ao disposto no art 132 da Constituiccedilatildeo Federal2

A procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de Contas estadual natildeo possui

legitimidade ativa para a cobranccedila em juiacutezo de multas aplicadas pela Corte

de Contas3

As decisotildees das cortes de contas que impotildeem condenaccedilatildeo patrimonial tecircm eficaacutecia de tiacutetulo executivo Natildeo podem contudo ser executadas por iniciativa do proacuteprio Tribunal de Contas ante a ausecircncia de titularidade legitimidade e interesse ime-diato e concreto4

A accedilatildeo de cobranccedila somente pode ser proposta pelo ente puacuteblico beneficiaacuterio da condenaccedilatildeo imposta por intermeacutedio de seus proacuteprios procuradores os quais atuaratildeo junto ao oacutergatildeo jurisdicional competente

1 Precedentes ADI 1557 rel min Ellen Gracie P DJ de 18-6-2004 e ADI 94 rel min Gilmar Men-des P DJE de 16-12-2011

2 ldquoArt 132 Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal organizados em carreira na qual o ingresso dependeraacute de concurso puacuteblico de provas e tiacutetulos com a participaccedilatildeo da Ordem dos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Procuradoria especial dos Tribunais de Contas

ADI 4070rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

144iacutendice de teses

Advogados do Brasil em todas as suas fases exerceratildeo a representaccedilatildeo judicial e a consultoria juriacute-dica das respectivas unidades federadas Paraacutegrafo uacutenico Aos procuradores referidos neste artigo eacute assegurada estabilidade apoacutes trecircs anos de efetivo exerciacutecio mediante avaliaccedilatildeo de desempenho perante os oacutergatildeos proacuteprios apoacutes relatoacuterio circunstanciado das corregedoriasrdquo

3 Precedentes RE 223037 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 2-8-2002 AI 818789 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 11-4-2011 RE 525663 AgR rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 13-10-2011 AI 826676 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 24-2-2011 e RE 510034 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 15-8-2008

4 RE 223037 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 2-8-2002

145iacutendice de teses

O sect 4ordm do art 187 do Regimento Interno da Cacircmara dos Deputados (RICD)1 eacute

compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF)

A CF natildeo estabelece criteacuterio a ser adotado na colheita dos votos nas votaccedilotildees nomi-nais na Cacircmara dos Deputados que possa ter sido afrontado pelo art 187 sect 4ordm do RICD o qual estabelece a aplicaccedilatildeo de modelo de votaccedilatildeo alternada do norte para o sul quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento Tendo em vista que natildeo se trata de mateacuteria prevista no texto constitucional inexis-te incompatibilidade entre a norma regimental com qualquer preceito constitucio-nal por absoluta ausecircncia de contraste possiacutevel

Em uacuteltima anaacutelise carece de articulaccedilatildeo miacutenima a alegaccedilatildeo de que a votaccedilatildeo po-deria gerar ldquoefeito cascatardquo de modo que os primeiros votos pudessem influenciar os uacuteltimos o que comprometeria a imparcialidade do julgamento violando os prin-ciacutepios do devido processo legal da moralidade da impessoalidade e da Repuacuteblica Afinal qualquer votaccedilatildeo nominal ndash e portanto natildeo simultacircnea ndash seja ela feita por qualquer criteacuterio jamais eliminaraacute esse possiacutevel efeito pois eacute a ela inerente

Interferecircncias reciacuteprocas nas manifestaccedilotildees dos julgadores satildeo inevitaacuteveis em qual-quer ordem de votaccedilatildeo nominal independentemente do criteacuterio de sequenciamento adotado natildeo sendo possiacutevel presumir a ilegitimidade da deliberaccedilatildeo do colegiado parlamentar por mera alegaccedilatildeo de direcionamento em um ou outro sentido A in-constitucionalidade portanto residiria em tese na proacutepria votaccedilatildeo nominal A provi-decircncia para afastar o ldquoefeito cascatardquo natildeo eacute alterar a forma de colher os votos porque ao fim e ao cabo sempre haveraacute um voto inicial e um voto final mas sim eliminar esse proacuteprio tipo de votaccedilatildeo

Por fim natildeo se pode exigir isenccedilatildeo e imparcialidade dos membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal Na realidade o impeachment eacute questatildeo poliacutetica que haveria de ser resolvida com criteacuterios poliacuteticos A garantia da imparcialidade estaacute no alto quoacuterum exigido para a votaccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Executivo Ȥ Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

ADI 5498 MCred p o ac min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 11-5-2017Informativo STF 821

146iacutendice de teses

Ademais a mera invocaccedilatildeo geneacuterica de transgressatildeo a um postulado constitucio-nal natildeo eacute suficiente para legitimar o ajuizamento de accedilatildeo direta Para tanto eacute preciso natildeo apenas indicar os valores os princiacutepios mas tambeacutem demonstrar as alegaccedilotildees de inconstitucionalidade do dispositivo do regimento interno e estabelecer as razotildees juriacutedicas que pudessem legitimar a pretendida ocorrecircncia de violaccedilatildeo agraves normas in-vocadas no processo de controle objetivo de constitucionalidade

1 ldquoArt 187 A votaccedilatildeo nominal far-se-aacute pelo sistema eletrocircnico de votos obedecidas as instruccedilotildees estabelecidas pela Mesa para sua utilizaccedilatildeo () sect 4ordm Quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento e nas hipoacuteteses de que tratam os arts 217 IV e 218 sect 8ordm a votaccedilatildeo nominal seraacute feita pela chamada dos Deputados alternadamente do norte para o sul e vice-versa observando-se que I ndash os nomes seratildeo enunciados em voz alta por um dos Secretaacuterios II ndash os De-putados levantando-se de suas cadeiras responderatildeo sim ou natildeo conforme aprovem ou rejeitem a mateacuteria em votaccedilatildeo III ndash as abstenccedilotildees seratildeo tambeacutem anotadas pelo Secretaacuteriordquo

147iacutendice de teses

Eacute vedado agraves unidades federativas instituir normas que condicionem a ins-

tauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra o governador por crime comum agrave preacutevia au-

torizaccedilatildeo da casa legislativa cabendo ao Superior Tribunal de Justiccedila (STJ)

dispor fundamentadamente sobre a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares penais

inclusive afastamento do cargo1

Ao instituir a exigecircncia de licenccedila preacutevia como condiccedilatildeo de procedibilidade para a instauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra governadores (voto de 23 do Poder Legislativo estadual) a Constituiccedilatildeo do Estado viola o princiacutepio fundamental da separaccedilatildeo de poderes ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 2ordm2

O poder constituinte estadual fora as situaccedilotildees expressamente previstas na Cons-tituiccedilatildeo Federal natildeo pode alterar a competecircncia e o desempenho das funccedilotildees mate-rialmente tiacutepicas do Poder Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico Subordinar a atuaccedilatildeo de juiacutezes e tribunais a uma preacutevia manifestaccedilatildeo de outro Poder fora dos casos de previsatildeo expressa na Constituiccedilatildeo Federal tolhe competecircncia material tiacutepica do Poder Judiciaacuterio

Aleacutem disso infringe a competecircncia legislativa da Uniatildeo Federal que em conso-nacircncia com os arts 22 I3 e 85 paraacutegrafo uacutenico4 da CF5 editou a Lei 10791950 que define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento

Ademais a Repuacuteblica que inclui a ideia de responsabilidade dos governantes eacute prevista como princiacutepio constitucional sensiacutevel (CF art 34 VII a6) e portanto de ob-servacircncia obrigatoacuteria sendo norma de reproduccedilatildeo proibida pelos Estados-membros a exceccedilatildeo prevista no art 51 I da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica7

Assim tendo-se em vista que as Constituiccedilotildees estaduais natildeo podem estabelecer a chamada ldquolicenccedila preacuteviardquo tambeacutem natildeo podem autorizar o afastamento automaacutetico do governador de suas funccedilotildees quando recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ Como natildeo pode haver controle poliacutetico preacutevio natildeo deve haver afastamento au-tomaacutetico em razatildeo de ato jurisdicional sem cunho decisoacuterio e do qual sequer se exige fundamentaccedilatildeo8 sob pena de violaccedilatildeo ao princiacutepio democraacutetico9

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Executivo Ȥ Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

ADI 4764ADI 4797ADI 4798red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 15-8-2017Informativo STF 863

148iacutendice de teses

Nesse sentido tambeacutem aos governadores satildeo aplicaacuteveis as medidas cautelares di-versas da prisatildeo previstas no art 319 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)10 entre elas ldquoa suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblicardquo e outras que se mostrarem necessaacuterias e cujo fundamento decorra do poder geral de cautela conferido pelo ordenamento juriacutedico brasileiro aos juiacutezes A suspensatildeo do exerciacutecio da funccedilatildeo aleacutem de ser devida-mente fundamentada pelo STJ eacute recorriacutevel e pode ser revogada quando se verificar a falta de motivo para que subsista (CPP art 282 sect 5ordm11)

Cabe ressaltar que antigo entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) apresentava os seguintes fundamentos para a validaccedilatildeo da exigecircncia de licenccedila preacutevia12

i respeito agrave autonomia federativa ii a circunstacircncia de que recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ ocor-

re a suspensatildeo funcional do chefe do Poder Executivo estadual que ficaraacute afastado temporariamente do exerciacutecio do mandato que lhe foi conferido por voto popular

iii simetria na reproduccedilatildeo nas Cartas estaduais de norma semelhante agrave prevista no art 51 I da CF

iv a superveniecircncia da Emenda Constitucional 352001 que suprimiu a neces-sidade de autorizaccedilatildeo legislativa para processamento de parlamentares natildeo incluindo governadores evidenciaria que a Constituiccedilatildeo Federal autoriza ou continua autorizando o poder constituinte decorrente a instituir a chamada ldquocondiccedilatildeo de procedibilidaderdquo

v instituiccedilatildeo da autorizaccedilatildeo preacutevia da Assembleia Legislativa natildeo traz o risco de propiciar quando negada a impunidade dos governadores jaacute que a denega-ccedilatildeo implica a suspensatildeo do fluxo do prazo prescricional

vi proteccedilatildeo agrave estabilidade do governo local (governabilidade) Com efeito a revitalizaccedilatildeo do princiacutepio republicano o inconformismo social com

a impunidade dos agentes puacuteblicos e as renovadas aspiraccedilotildees por moralidade na poliacute-tica provocaram mutaccedilatildeo constitucional no tratamento da mateacuteria (mecanismo que permite a transformaccedilatildeo do sentido e do alcance de normas da Constituiccedilatildeo sem que se opere no entanto qualquer modificaccedilatildeo do texto) Nesse cenaacuterio o entendi-mento anterior foi superado pelos seguintes posicionamentos

i A capacidade de auto-organizaccedilatildeo dos entes federados (elemento essencial da forma federativa de Estado) eacute exercida dentro dos limites impostos pela

149iacutendice de teses

Constituiccedilatildeo Um desses limites eacute o princiacutepio republicano em cujo nuacutecleo essencial se encontra a ideia de responsabilidade dos governantes

ii A previsatildeo da suspensatildeo funcional automaacutetica do governador na hipoacutetese de ser recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ soacute existe por previsatildeo das proacuteprias Constituiccedilotildees estaduais que reproduzem o art 86 sect 1ordm I da CF13 As-sim argumentar em favor da constitucionalidade da licenccedila preacutevia com base na possibilidade de suspensatildeo funcional automaacutetica equivale a juiacutezo sobre a cons-titucionalidade de norma constitucional estadual com base em outra norma constitucional estadual Ademais se a norma do art 51 I natildeo eacute de reproduccedilatildeo permitida aos Estados-membros a do art 86 sect 1ordm I que soacute existe em funccedilatildeo dela tampouco o eacute

iii O art 51 I eacute norma de reproduccedilatildeo vedada aos Estados e natildeo de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria ou facultativa natildeo se aplicando portanto o princiacutepio da simetria

iv A Emenda Constitucional 352001 suprimiu a necessidade de autorizaccedilatildeo le-gislativa para a instauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra deputado e senador natildeo fa-zendo qualquer referecircncia a governador A admissatildeo da sistemaacutetica de licenccedila preacutevia em Constituiccedilotildees estaduais vislumbra possibilidade que natildeo consta da CF tampouco tem embasamento na interpretaccedilatildeo histoacuterica ou sistemaacutetica da referida emenda Com efeito natildeo haacute razatildeo que legitime transplantar a situaccedilatildeo do presidente da Repuacuteblica por sua condiccedilatildeo de chefe de Estado e de Governo bem como de representante da soberania nacional para os governadores

v A negativa de autorizaccedilatildeo preacutevia pela Assembleia Legislativa implica o im-pedimento da instruccedilatildeo processual inviabilizando investigaccedilotildees criminais e favorecendo o perecimento de provas Aleacutem disso a instauraccedilatildeo de processos criminais contra governadores sem licenccedila preacutevia natildeo significa obviamente sua condenaccedilatildeo O que se garante eacute o natildeo comprometimento da instruccedilatildeo criminal necessaacuteria para a responsabilizaccedilatildeo dos governantes

vi Em uma Repuacuteblica a governabilidade natildeo pode se dar agrave custa da natildeo respon-sabilizaccedilatildeo e da impunidade dos governantes locais A instituiccedilatildeo de licenccedilas preacutevias nas unidades federativas serve a propoacutesitos natildeo republicanos estando agrave disposiccedilatildeo de governos de coalizatildeo sendo flagrante a distorccedilatildeo do instituto

1 No acoacuterdatildeo da ADI 4764 foi declarada a inconstitucionalidade das expressotildees constantes do art 44 VII (ldquoprocessar e julgar o Governador () nos crimes de responsabilidaderdquo) e do art 81 parte final (ldquoou perante a Assembleia Legislativa nos crimes de responsabilidaderdquo) assim como das expressotildees

150iacutendice de teses

do art 44 VIII (ldquodeclarar a procedecircncia da acusaccedilatildeordquo) e do art 81 caput primeira parte (ldquoAdmitida a acusaccedilatildeo contra o Governador do Estado por dois terccedilos da Assembleia Legislativardquo) bem como por arrastamento do art 82 I (ldquoArt 82 O Governador ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiccedilardquo) todos da Constituiccedilatildeo do Estado do Acre Tendo em vista que o art 82 I da Constituiccedilatildeo do Estado do Acre (ldquoArt 82 O Governador ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiccedilardquo) apresenta relaccedilatildeo de dependecircncia com as expressotildees do art 44 VIII (ldquodeclarar a procedecircncia da acusaccedilatildeordquo) e do art 81 caput primeira parte (ldquoAdmitida a acusaccedilatildeo contra o Governador do Estado por dois terccedilos da Assembleia Legislativardquo) da mesma Constituiccedilatildeo foi declarada tambeacutem a sua inconstitucionalidade por arrastamento

2 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

3 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

4 ldquoArt 85 Satildeo crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Repuacuteblica que atentem contra a Constituiccedilatildeo Federal e especialmente contra I ndash a existecircncia da Uniatildeo II ndash o livre exerciacutecio do Poder Legislativo do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e dos Poderes constitucionais das unidades da Federaccedilatildeo III ndash o exerciacutecio dos direitos poliacuteticos individuais e sociais IV ndash a seguranccedila interna do Paiacutes V ndash a probidade na administraccedilatildeo VI ndash a lei orccedilamentaacuteria VII ndash o cumprimento das leis e das decisotildees judiciais Paraacutegrafo uacutenico Esses crimes seratildeo definidos em lei especial que estabeleceraacute as normas de processo e julgamentordquo

5 Precedentes ADI 1890 MC rel min Carlos Velloso P DJ de 19-9-2003 ADI 1628 rel min Eros Grau P DJE de 24-11-2006 ADI 4791 rel min Teori Zavascki P DJE de 24-4-2015 e ADI 4792 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 24-4-2015

6 ldquoArt 34 A Uniatildeo natildeo interviraacute nos Estados nem no Distrito Federal exceto para () VII ndash assegu-rar a observacircncia dos seguintes princiacutepios constitucionais a) forma republicana sistema represen-tativo e regime democraacuteticordquo

7 ldquoArt 51 Compete privativamente agrave Cacircmara dos Deputados I ndash autorizar por dois terccedilos de seus membros a instauraccedilatildeo de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da Repuacuteblica e os Ministros de Estadordquo

8 HC 101971 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 2-9-2011 HC 93056 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 14-5-2009 e RHC 118379 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 31-3-2014

9 Precedentes HC 101971 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 5-9-2011 HC 93056 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 15-5-2009 e RHC 118379 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 31-3-2014

10 ldquoArt 319 Satildeo medidas cautelares diversas da prisatildeo I ndash comparecimento perioacutedico em juiacutezo no prazo e nas condiccedilotildees fixadas pelo juiz para informar e justificar atividades II ndash proibiccedilatildeo de acesso ou frequecircncia a determinados lugares quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indi-ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infraccedilotildees III ndash proi-biccedilatildeo de manter contato com pessoa determinada quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante IV ndash proibiccedilatildeo de ausentar-se da Comarca

151iacutendice de teses

quando a permanecircncia seja conveniente ou necessaacuteria para a investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo V ndash reco-lhimento domiciliar no periacuteodo noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residecircncia e trabalho fixos VI ndash suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica ou de atividade de nature-za econocircmica ou financeira quando houver justo receio de sua utilizaccedilatildeo para a praacutetica de infraccedilotildees penais VII ndash internaccedilatildeo provisoacuteria do acusado nas hipoacuteteses de crimes praticados com violecircncia ou grave ameaccedila quando os peritos concluiacuterem ser inimputaacutevel ou semi-imputaacutevel (art 26 do Coacutedigo Penal) e houver risco de reiteraccedilatildeo VIII ndash fianccedila nas infraccedilotildees que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo evitar a obstruccedilatildeo do seu andamento ou em caso de resistecircncia injustificada agrave ordem judicial IX ndash monitoraccedilatildeo eletrocircnicardquo

11 ldquoArt 282 () sect 5ordm O juiz poderaacute revogar a medida cautelar ou substituiacute-la quando verificar a falta de motivo para que subsista bem como voltar a decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquemrdquo

12 Precedentes RE 159230 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 10-6-1994 e HC 80511 red p o ac min Celso de Mello 2ordf T DJ de 14-9-2001

13 ldquoArt 86 Admitida a acusaccedilatildeo contra o Presidente da Repuacuteblica por dois terccedilos da Cacircmara dos Deputados seraacute ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal nas infraccedilotildees pe-nais comuns ou perante o Senado Federal nos crimes de responsabilidade sect 1ordm O Presidente ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federalrdquo

152iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) eacute competente para julgar accedilatildeo ordinaacuteria

coletiva ajuizada contra o Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) quando a con-

troveacutersia versar sobre o alcance dos poderes deste oacutergatildeo

Nessa situaccedilatildeo excepcional restringir o alcance do art 102 I r1 da Constituiccedilatildeo Federal apenas agraves accedilotildees de natureza mandamental resultaria em conferir agrave Justi-ccedila Federal de primeira instacircncia a possibilidade de definir os poderes atribuiacutedos ao CNJ no cumprimento de sua missatildeo subvertendo assim a relaccedilatildeo hieraacuterquica constitucionalmente estabelecida2

Apesar de existir a necessidade de se inibirem indevidas ampliaccedilotildees descaracteri-zadoras das atribuiccedilotildees institucionais do Supremo Tribunal ldquonatildeo [se deve] delimitar a apreciaccedilatildeo originaacuteria do STF com foco apenas na natureza processual da demanda sem antes analisar a substacircncia da mateacuteria deduzidardquo3

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () r) as accedilotildees contra o Conselho Nacional de Justiccedila e contra o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblicordquo

2 Haacute portanto mitigaccedilatildeo do entendimento do STF firmado no julgamento conjunto da AO 1814 QO (rel min Marco Aureacutelio P DJE de 3-12-2014) e da ACO 1680 AgR (rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-12-2014) Na ocasiatildeo definiu-se que o termo ldquoaccedilotildeesrdquo constante do art 102 I r limita-se agraves accedilotildees constitucionais do mandado de seguranccedila habeas data habeas corpus e mandado de injun-ccedilatildeo pela ausecircncia de personalidade juriacutedica do CNJ e consequentemente pela sua incapacidade para ser parte processual em accedilotildees ordinaacuterias

3 Trecho do voto-vista divergente do ministro Dias Toffoli proferido no julgamento conjunto da AO 1814 QO (rel min Marco Aureacutelio P DJE de 3-12-2014) e da ACO 1680 AgR (rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-12-2014)

Pet 4656rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 4-12-2017Informativo STF 851

153iacutendice de teses

Natildeo compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) a execu-

ccedilatildeo individual de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo inclusive aquelas

proferidas em sede mandamental1

Para atraccedilatildeo da competecircncia do STF com base na aliacutenea m do art 102 I da Consti-tuiccedilatildeo Federal (CF) (execuccedilatildeo de seus julgados) faz-se necessaacuterio perquirir sobre a manutenccedilatildeo da ratio que justificou ateacute a prolaccedilatildeo da sentenccedila o exame da demanda pelo Tribunal

Assim adotar interpretaccedilatildeo literal do art 102 I m da CF2 teria como decorrecircncia necessaacuteria a conclusatildeo de que eacute competecircncia do STF apreciar toda e qualquer execu-ccedilatildeo de sentenccedila proferida nas causas de sua competecircncia originaacuteria No entanto essa praacutetica natildeo se justifica por natildeo ser esse o intuito da norma em apreccedilo utilizando-se para tal conclusatildeo a interpretaccedilatildeo teleoloacutegica da norma

As disposiccedilotildees insertas no art 102 I da CF constituem ldquoum complexo de atribui-ccedilotildees jurisdicionais de extraccedilatildeo essencialmente constitucionalrdquo3 dispostas sob criteacute-rios que envolvem

i a natureza da demanda (aliacuteneas a g l j n o e r) eii a posiccedilatildeo constitucional da autoridade ou oacutergatildeo envolvido nas demandas (aliacute-

neas b c d i e q) Nesse ponto fica evidenciada a particularidade da regra de competecircncia inserta

na aliacutenea m que ostenta niacutetido caraacuteter de acessoriedade agraves demais previstas no art 102 I Isso ocorre porque ldquoa execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircn-cia originaacuteriardquo constitui mero prolongamento da anaacutelise jaacute realizada pela Suprema Corte Eacute portanto uma regra firmada por atraccedilatildeo da primeira Logo as conse-quecircncias advindas do exerciacutecio da competecircncia originaacuteria do STF ldquodevem tambeacutem constar do rol normativo especiacutefico da jurisdiccedilatildeo constitucional natildeo se estendendo para as situaccedilotildees em que tais atos satildeo apenas decorrecircncias indiretas do exerciacutecio de tal competecircnciardquo4

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

Pet 6076 QOrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 26-5-2017Informativo STF 862

154iacutendice de teses

Ausente a previsatildeo no texto constitucional a competecircncia para o cumprimento de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo ndash inclusive de caraacuteter mandamental coletivo ndash incumbe aos oacutergatildeos judiciaacuterios de primeira instacircncia

Acresce-se a esse entendimento que o cumprimento de sentenccedila que reconheccedila a exigibilidade de obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa pela Fazenda Puacuteblica eacute processo autocircnomo que se faz por rito especiacutefico5 Se houver mais de um exequente eacute neces-saacuteria a apresentaccedilatildeo de demonstrativo individualizado6

Nesse cenaacuterio o cumprimento da sentenccedila perante as instacircncias ordinaacuterias teraacute o condatildeo de tanto quanto se daacute em sede de accedilatildeo civil puacuteblica aproximar a execuccedilatildeo dos eventuais beneficiaacuterios e facilitar a efetividade do direito jaacute reconhecido

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiccedila fixou sob o rito do recurso repe-titivo (CPC1973 art 543-C7) que ldquoa execuccedilatildeo individual de sentenccedila geneacuterica pro-ferida em accedilatildeo civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domiciacutelio do beneficiaacuteriordquo8 entendimento que eacute inteiramente aplicaacutevel agraves accedilotildees mandamentais coletivas

1 Precedentes que indicam a interpretaccedilatildeo restritiva que o STF daacute a outras aliacuteneas do art 102 I da CF ACO 359 QO rel min Celso de Mello 1ordf T DJ de 11-3-1994 ACO 417 QO rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 7-12-1990 MS 21441 QO red p o ac min Ilmar Galvatildeo P DJ de 28-5-1993 e Rcl 16065 AgR rel min Teori Zavascki P DJE de 19-2-2014

2 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () m) a execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircncia originaacuteria facultada a delegaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para a praacutetica de atos processuaisrdquo

3 Trecho do voto do ministro Celso de Mello na AC 2596 rel min Celso de Mello P DJE de 16-4-2013

4 Trecho do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

5 CPC2015 ldquoArt 534 No cumprimento de sentenccedila que impuser agrave Fazenda Puacuteblica o dever de pagar quantia certa o exequente apresentaraacute demonstrativo discriminado e atualizado do creacutedito contendo I ndash o nome completo e o nuacutemero de inscriccedilatildeo no Cadastro de Pessoas Fiacutesicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica do exequente II ndash o iacutendice de correccedilatildeo monetaacuteria adotado III ndash os juros aplicados e as respectivas taxas IV ndash o termo inicial e o termo final dos juros e da correccedilatildeo monetaacuteria utilizados V ndash a periodicidade da capitalizaccedilatildeo dos juros se for o caso VI ndash a especificaccedilatildeo dos eventuais descontos obrigatoacuterios realizadosrdquo

6 CPC2015 ldquoArt 534 () sect 1ordm Havendo pluralidade de exequentes cada um deveraacute apresentar o seu proacuteprio demonstrativo aplicando-se agrave hipoacutetese se for o caso o disposto nos sectsect 1ordm e 2ordm do art 113rdquo

7 ldquoArt 543-C Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idecircntica questatildeo de direito o recurso especial seraacute processado nos termos deste artigordquo

8 Recurso Especial 1243887 rel min Luis Felipe Salomatildeo Corte Especial DJE de 12-12-2011 recurso repetitivo Temas 480 e 481

155iacutendice de teses

O Supremo Tribunal Federal (STF) natildeo possui competecircncia originaacuteria para

julgar accedilatildeo na qual se discute o direito de magistrado de gozar de licenccedila-

-precircmio

A instauraccedilatildeo de competecircncia originaacuteria do STF com fundamento no art 102 I n da Constituiccedilatildeo Federal1 pressupotildee que a totalidade da magistratura nacional tenha interesse (direto ou indireto) no julgamento da causa e que este natildeo revele pretensatildeo passiacutevel de ser repetida por outras carreiras do serviccedilo puacuteblico

Com efeito o direito agrave fruiccedilatildeo de licenccedila-precircmio por tempo de serviccedilo eacute benefiacutecio que interessa a outros agentes poliacuteticos e servidores puacuteblicos na medida em que pode ser previsto conforme o estatuto juriacutedico do agente ou do servidor2

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () n) a accedilatildeo em que todos os membros da magistra-tura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessadosrdquo

2 AO 2099 rel min Edson Fachin decisatildeo monocraacutetica DJE de 24-11-2016

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

AO 2126red p o ac min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 15-12-2017Informativo STF 855

156iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

Os princiacutepios constitucionais relacionados ao sistema financeiro e orccedilamen-

taacuterio1 os princiacutepios da independecircncia e da harmonia entre os Poderes (CF

art 2ordm2) e o regime constitucional de precatoacuterios (CF art 1003) podem ser

utilizados como paracircmetro de controle na arguiccedilatildeo de descumprimento de

preceito fundamental

Os princiacutepios constitucionais do sistema financeiro e orccedilamentaacuterio satildeo instrumen-tos essenciais para a manutenccedilatildeo da harmonia constitucional Do exame sistemaacuteti-co de seu conteuacutedo verifica-se que a efetividade do sistema financeiro e orccedilamen-taacuterio garante que a Administraccedilatildeo Puacuteblica tenha condiccedilotildees de executar atividades essenciais concretizando importantes valores do Estado Democraacutetico de Direito

Nesse sentido haacute verdadeira interdependecircncia entre esses preceitos fundamentais e aqueles protegidos pela claacuteusula peacutetrea do art 60 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal4 como o princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (CF art 2ordm) elemento basilar do direito constitucional nacional

Por sua vez o regime constitucional dos precatoacuterios eacute o mecanismo de raciona-lizaccedilatildeo dos pagamentos das obrigaccedilotildees estatais oriundos de sentenccedilas judiciais ao mesmo tempo em que permite a continuidade da prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e consequentemente a efetivaccedilatildeo dos proacuteprios direitos fundamentais

1 ldquoArt 167 Satildeo vedados I ndash o iniacutecio de programas ou projetos natildeo incluiacutedos na lei orccedilamentaacuteria anual II ndash a realizaccedilatildeo de despesas ou a assunccedilatildeo de obrigaccedilotildees diretas que excedam os creacuteditos orccedilamentaacuterios ou adicionais III ndash a realizaccedilatildeo de operaccedilotildees de creacuteditos que excedam o montante das despesas de capital ressalvadas as autorizadas mediante creacuteditos suplementares ou especiais com finalidade precisa aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta IV ndash a vinculaccedilatildeo de receita de impostos a oacutergatildeo fundo ou despesa ressalvadas a reparticcedilatildeo do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos a que se referem os arts 158 e 159 a destinaccedilatildeo de recursos para as accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede para manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino e para realizaccedilatildeo de atividades da administraccedilatildeo tributaacuteria como determinado respectivamente pelos arts 198 sect 2ordm 212 e 37

ADPF 387rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-10-2017Informativo STF 858

157iacutendice de teses

XXII e a prestaccedilatildeo de garantias agraves operaccedilotildees de creacutedito por antecipaccedilatildeo de receita previstas no art 165 sect 8ordm bem como o disposto no sect 4ordm deste artigo V ndash a abertura de creacutedito suplementar ou especial sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e sem indicaccedilatildeo dos recursos correspondentes VI ndash a transposiccedilatildeo o remanejamento ou a transferecircncia de recursos de uma categoria de programaccedilatildeo para outra ou de um oacutergatildeo para outro sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa VII ndash a concessatildeo ou uti-lizaccedilatildeo de creacuteditos ilimitados VIII ndash a utilizaccedilatildeo sem autorizaccedilatildeo legislativa especiacutefica de recursos dos orccedilamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir deacuteficit de empresas fundaccedilotildees e fundos inclusive dos mencionados no art 165 sect 5ordm IX ndash a instituiccedilatildeo de fundos de qualquer natureza sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa X ndash a transferecircncia voluntaacuteria de recursos e a concessatildeo de empreacutestimos inclusive por antecipaccedilatildeo de receita pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituiccedilotildees financeiras para pagamento de despesas com pessoal ativo inativo e pensionista dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios XI ndash a utilizaccedilatildeo dos recursos provenientes das contribuiccedilotildees sociais de que trata o art 195 I a e II para a realizaccedilatildeo de despesas distintas do pa-gamento de benefiacutecios do regime geral de previdecircncia social de que trata o art 201rdquo

2 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

3 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

4 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta I ndash de um terccedilo no miacutenimo dos membros da Cacircmara dos Deputados ou do Senado Federal II ndash do Presidente da Repuacuteblica III ndash de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federaccedilatildeo manifestando-se cada uma delas pela maioria relativa de seus membros () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir I ndash a forma federativa de Estado II ndash o voto direto secreto universal e perioacutedico III ndash a separaccedilatildeo dos Poderes IV ndash os direitos e garantias individuaisrdquo

158iacutendice de teses

Na accedilatildeo direta de inconstitucionalidade a arguiccedilatildeo de revogaccedilatildeo da lei ndash apoacutes

a decisatildeo de meacuterito ndash natildeo enseja prejudicialidade da accedilatildeo por perda de objeto

Permitir que se pleiteie a desconstituiccedilatildeo do julgamento em sede de embargos de declaraccedilatildeo sob o fundamento da prejudicialidade da accedilatildeo depois de decidido o seu meacuterito equivaleria a abrir agrave parte a possibilidade de manipular a decisatildeo do Supre-mo Tribunal Federal (STF) Se esta lhe fosse favoraacutevel bastaria natildeo invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos Se ao contraacuterio lhe fosse desfavoraacutevel o reco-nhecimento da prejudicialidade a imunizaria contra os efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade

Aleacutem disso tendo havido enfrentamento do meacuterito da accedilatildeo direta sequer se te-ria o benefiacutecio de poupar os recursos e o tempo do STF para julgamento dos casos de maior utilidade e necessidade Ao contraacuterio ter-se-ia uma situaccedilatildeo absolutamente paradoxal pela qual apoacutes todo o processamento da accedilatildeo concluiacutedo o exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo e demonstrada a efetiva violaccedilatildeo constitucional a decisatildeo do Tribunal natildeo produziria efeito algum por mera tecnicalidade e com base em alegaccedilotildees de iacutendole puramente formal

Assim na hipoacutetese em que a revogaccedilatildeo da norma objeto da accedilatildeo direta natildeo foi co-municada ao Tribunal e na qual este consequentemente enfrentou o meacuterito da causa e declarou a inconstitucionalidade da lei antes de ter conhecimento de que a norma deixou de vigorar natildeo haacute se falar em prejudicialidade da accedilatildeo ou de perda do objeto

Essa situaccedilatildeo constitui exceccedilatildeo ao entendimento segundo o qual a revogaccedilatildeo da norma cuja constitucionalidade eacute questionada por meio de accedilatildeo direta em regra en-seja a perda superveniente do objeto da accedilatildeo e por consequecircncia provoca a extinccedilatildeo do feito sem o julgamento do meacuterito1

Desse entendimento excepcionam-se tambeacutem os casos em que haacute indiacutecios de que a norma foi revogada para fraudar o exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo constitucional em abstrato ou seja quando a revogaccedilatildeo constituir um artifiacutecio para evitar a declaraccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

ADI 951 EDrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 21-6-2017Informativo STF 845

159iacutendice de teses

da sua inconstitucionalidade2 e ainda quando as accedilotildees diretas tenham por objeto leis de eficaacutecia temporaacuteria nos casos em que (i) houve impugnaccedilatildeo em tempo ade-quado (ii) a accedilatildeo foi incluiacuteda em pauta e (iii) o julgamento foi iniciado antes do exaurimento da eficaacutecia3

Eacute preciso impossibilitar a fraude agrave jurisdiccedilatildeo do STF minimizar os ocircnus decorren-tes da demora na prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional preservar o trabalho jaacute efetuado pelo Tribunal e evitar que a constataccedilatildeo da efetiva violaccedilatildeo agrave ordem constitucional se torne inoacutecua

1 ADI 709 rel min Paulo Brossard P DJ de 20-5-1994 ADI 1442 rel min Celso de Mello P DJ de 29-4-2005 e ADI 4620 AgR rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-8-2012

2 ADI 3306 rel min Gilmar Mendes P DJE de 7-6-2011

3 ADI 5287 rel min Luiz Fux P DJE de 12-9-2016 ADI 4426 rel min Dias Toffoli P DJE de 17-5-2011 e ADI 3146 rel min Joaquim Barbosa P DJ de 19-12-2006

160iacutendice de teses

As associaccedilotildees que congregam mera fraccedilatildeo ou parcela de categoria profis-

sional em cujo interesse vecircm a juiacutezo natildeo possuem legitimidade ativa para

provocar a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucionalidade1

Tendo em conta o disposto nos arts 2ordm I da Lei 988219992 e 103 IX da Constitui-ccedilatildeo Federal (CF)3 se o ato normativo impugnado repercute sobre a esfera juriacutedica de toda uma classe natildeo eacute legiacutetimo permitir que associaccedilatildeo representativa de apenas uma parte dos membros dessa mesma classe impugne a norma pela via abstrata da accedilatildeo4 Afinal eventual procedecircncia desta produziraacute efeitos erga omnes (CF art 102 sect 2ordm5) ou seja atingiraacute indistintamente todos os sujeitos compreendidos no acircmbito ou universo subjetivo de validade da norma declarada inconstitucional

Ademais para a afericcedilatildeo da legitimidade ativa para a propositura das accedilotildees de controle concentrado de constitucionalidade natildeo haacute que se estabelecer juiacutezo de ade-quaccedilatildeo entre a associaccedilatildeo autora e o objeto impugnado Tal juiacutezo remonta na ver-dade agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo da pertinecircncia temaacutetica outro requisito de admissibilidade somente apreciado depois de verificado o primeiro pressuposto da legitimidade ativa Com efeito o autor da accedilatildeo direta de inconstitucionalidade deve demonstrar natildeo apenas a legitimidade ativa exigida pela Constituiccedilatildeo (art 103) mas tambeacutem para alguns dos legitimados a existecircncia de pertinecircncia temaacutetica isto eacute a correlaccedilatildeo especiacutefica entre o objeto da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e os obje-tivos institucionais do autor bem como a repercussatildeo direta da norma impugnada na classe representada pelo autor

1 Precedentes citados ADI 4372 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 ADPF 154 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 28-11-2014 ADI 3675 AgR rel min Luiz Fux P DJE de 13-10-2011 e ADI 3617 AgR rel min Cezar Peluso P DJE de 1ordm-7-2011

2 ldquoArt 2ordm Podem propor arguiccedilatildeo de descumprimento de preceito fundamental I ndash os legitimados para a accedilatildeo direta de inconstitucionalidaderdquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

ADPF 254 AgRrel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 30-6-2017Informativo STF 826

161iacutendice de teses

3 ldquoArt 103 Podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucio-nalidade () IX ndash confederaccedilatildeo sindical ou entidade de classe de acircmbito nacionalrdquo

4 O ministro Roberto Barroso acompanhou a conclusatildeo do relator com fundamentaccedilatildeo diversa no sentido de que as associaccedilotildees que representam fraccedilatildeo de categoria profissional satildeo legitimadas ape-nas para impugnar as normas que afetem exclusivamente seus representados desde que preenchi-dos os demais requisitos (representatividade adequada homogeneidade e caraacuteter nacional) Dessa forma a sub-representaccedilatildeo de grupos fracionaacuterios de categorias profissionais eacute evitada ao mesmo tempo em que se respeita a restriccedilatildeo constitucional de legitimaccedilatildeo ativa

5 ldquoArt 102 () sect 2ordm As decisotildees definitivas de meacuterito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nas accedilotildees diretas de inconstitucionalidade e nas accedilotildees declaratoacuterias de constitucionalidade produziratildeo eficaacutecia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta nas esferas federal estadual e municipalrdquo

162iacutendice de teses

Eacute desnecessaacuteria a submissatildeo de demanda judicial agrave regra da reserva de plenaacute-

rio na hipoacutetese em que a decisatildeo judicial estiver fundada em jurisprudecircncia

do Plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal (STF) ou em suacutemula desse Tribunal

Natildeo haacute contrariedade ao Enunciado 101 da Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal ao art 97 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 ou ao art 949 do novo Coacutedigo de Processo Civil3 a autorizar o cabimento da reclamaccedilatildeo (CF art 103-A sect 3ordm4) quando o ato judicial reclamado se utiliza de raciociacutenio decisoacuterio de controle de constitu-cionalidade deixando de aplicar a lei quando jaacute existe pronunciamento acerca da mateacuteria pelo Supremo Tribunal5 A jurisprudecircncia consolidada pelo STF baseia-se em reiterados julgamentos do Tribunal Pleno para propiciar a cristalizaccedilatildeo do entendi-mento jurisprudencial em enunciado sumular6

A reclamaccedilatildeo constitucional fundada em afronta ao Verbete 10 da Suacutemula Vin-culante natildeo pode ser usada como sucedacircneo de recurso ou de accedilatildeo proacutepria para dis-cussotildees acerca da constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretaccedilatildeo idocircnea e legiacutetima pelas autoridades juriacutedicas competentes

A duacutevida razoaacutevel acerca da interpretaccedilatildeo das normas infraconstitucionais tambeacutem natildeo eacute hipoacutetese de cabimento de reclamaccedilatildeo nos termos do art 102 I l da CF7 sob pena de se criar instrumento geral universal de acesso ao STF independentemente de outras vias recursais para manifestar simples irresignaccedilatildeo ou para meras consultas

1 ldquoViola a claacuteusula de reserva de plenaacuterio (CF art 97) a decisatildeo de oacutergatildeo fracionaacuterio de Tribunal que embora natildeo declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder puacutebli-co afasta sua incidecircncia no todo ou em parterdquo

2 ldquoArt 97 Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo oacutergatildeo especial poderatildeo os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Puacuteblicordquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

Rcl 24284 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 11-5-2017Informativo STF 848

163iacutendice de teses

3 ldquoArt 949 Se a arguiccedilatildeo for I ndash rejeitada prosseguiraacute o julgamento II ndash acolhida a questatildeo seraacute submetida ao plenaacuterio do tribunal ou ao seu oacutergatildeo especial onde houver Paraacutegrafo uacutenico Os oacutergatildeos fracionaacuterios dos tribunais natildeo submeteratildeo ao plenaacuterio ou ao oacutergatildeo especial a arguiccedilatildeo de in-constitucionalidade quando jaacute houver pronunciamento destes ou do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal sobre a questatildeordquo

4 ldquoArt 103-A O Supremo Tribunal Federal poderaacute de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo mediante decisatildeo de dois terccedilos dos seus membros apoacutes reiteradas decisotildees sobre mateacuteria constitucional aprovar suacutemula que a partir de sua publicaccedilatildeo na imprensa oficial teraacute efeito vinculante em relaccedilatildeo aos demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta nas esferas federal estadual e municipal bem como proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na forma estabelecida em lei () sect 3ordm Do ato administrativo ou decisatildeo judicial que contrariar a suacutemula aplicaacutevel ou que inde-vidamente a aplicar caberaacute reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal que julgando-a procedente anularaacute o ato administrativo ou cassaraacute a decisatildeo judicial reclamada e determinaraacute que outra seja proferida com ou sem a aplicaccedilatildeo da suacutemula conforme o casordquo

5 Rcl 16528 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 22-3-2017

6 ARE 914045 RG rel min Edson Fachin P DJE de 19-11-2015

7 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildeesrdquo

164iacutendice de teses

Natildeo haacute usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF) quan-

do os tribunais de justiccedila exercem controle abstrato de constitucionalidade de

leis municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria pelos Estados1

As normas de observacircncia obrigatoacuteria satildeo compulsoacuterias aos Estados-membros como modelos a serem seguidos de modo que o poder constituinte decorrente natildeo pode estipular premissas em acircmbito estadual em sentido contraacuterio ao que estabeleceu a Carta Magna A reproduccedilatildeo dos preceitos constitucionais mercecirc de natildeo serem ex-pressos na sua literalidade natildeo retira do Tribunal de Justiccedila a possibilidade de exercer o controle de constitucionalidade2

Precipuamente cabe ao STF o exerciacutecio do controle de constitucionalidade con-centrado encarregado de fiscalizar a compatibilidade de leis e atos normativos na condiccedilatildeo de guarda da Constituiccedilatildeo (CF art 102 caput3) Trata-se de processo obje-tivo cuja preocupaccedilatildeo maior eacute a defesa da ordem constitucional e da preservaccedilatildeo da ordem juriacutedica como um todo em nome da supremacia de que eacute dotada a CF

Contudo eacute possiacutevel que o paracircmetro do controle abstrato perante o Tribunal de Justiccedila dos atos normativos estaduais e municipais se decirc por normas constitucionais de observacircncia obrigatoacuteria pelos Estados-membros Em tal hipoacutetese eacute possiacutevel que o Tribunal de Justiccedila analise a compatibilidade daqueles atos perante a Constituiccedilatildeo estadual quando ela faz remissatildeo agraves normas previstas na CF

O art 39 sect 4ordm da CF natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias

e 13ordm salaacuterio

Natildeo haacute norma constitucional que impeccedila de forma liacutempida a percepccedilatildeo da gratifi-caccedilatildeo de feacuterias e o 13ordm salaacuterio por parte dos agentes poliacuteticos salvo leitura isolada e reducionista do art 39 sect 4ordm da CF4 Tampouco haacute distinccedilatildeo constitucional entre os

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade ndash Repercussatildeo Geral

RE 650898RG ‒ Tema 484red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 852

165iacutendice de teses

detentores de mandato eletivo e os demais agentes poliacuteticos no particular a justifi-car o impedimento de se instituir para qualquer deles direitos sociais assegurados a todos os trabalhadores

Ao contraacuterio o art 39 sect 3ordm da CF5 utiliza expressatildeo suficientemente ampla para abranger um nuacutemero maior de beneficiaacuterios dos direitos sociais do que ocorreria se destinada apenas aos servidores puacuteblicos Como o constituinte natildeo limitou a apli-caccedilatildeo dos direitos sociais referidos no aludido dispositivo aos ldquoservidores puacuteblicosrdquo mas aos ldquoservidores ocupantes de cargo puacuteblicordquo permite-se aquilatar a intenccedilatildeo de alcanccedilar espectro maior de destinataacuterios dos direitos fundamentais sociais

Consectariamente interpretar o art 39 sectsect 3ordm e 4ordm da CF para afastar dos agentes poliacuteticos ainda que apenas dos detentores de mandato eletivo o recebimento de qualquer outra verba aleacutem do subsiacutedio ndash especialmente verbas consagradas a qual-quer trabalhador (no caso terccedilo de feacuterias e 13ordm salaacuterio) ndash representa afastar a aplicabi-lidade imediata dos direitos fundamentais sociais e olvidar a maacutexima de interpretaccedilatildeo constitucional que visa conferir maior efetividade agraves suas normas reduzindo a situa-ccedilatildeo dos agentes poliacuteticos (cargos de especial relevacircncia para o Estado Democraacutetico de Direito) a um plano inferior ao de qualquer trabalhador

Ademais a natureza juriacutedica dos direitos sociais ndash terccedilo de feacuterias e 13ordm salaacuterio ndash como direitos fundamentais reclama exegese conducente a conferir-lhes aplicabilida-de interpretaccedilatildeo na maacutexima medida possiacutevel (CF art 5ordm sectsect 1ordm e 2ordm6) agrave sua efetivaccedilatildeo

O que natildeo ocorre com verba de representaccedilatildeo que tem caraacuteter remuneratoacuterio independentemente de nomenclatura indenizatoacuteria sendo incompatiacutevel com o re-gime constitucional do subsiacutedio Despida de base constitucional para sua instituiccedilatildeo esta verba natildeo se encarta no rol daqueles benefiacutecios previstos no art 7ordm da CF7 a que alude o art 39 sect 3ordm do Diploma Maior Natildeo trata de trabalho extraordinaacuterio a ser desempenhado pelos beneficiaacuterios e tampouco se constitui em efetiva verba indeni-zatoacuteria conduzindo agrave conclusatildeo de sua inconstitucionalidade

Assim o regime de subsiacutedio eacute incompatiacutevel com outras parcelas remuneratoacuterias de natureza mensal Esse natildeo eacute o caso do 13ordm salaacuterio e do terccedilo constitucional de feacuterias pagos anualmente a todos os trabalhadores e servidores

1 O Tribunal ao apreciar o Tema 484 da repercussatildeo geral fixou as seguintes teses 1) ldquoTribunais de Justiccedila podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo

166iacutendice de teses

obrigatoacuteria pelos Estadosrdquo e 2) ldquoO art 39 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias e deacutecimo terceiro salaacuteriordquo

2 RE 598016 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 13-11-2009

3 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lherdquo

4 ldquoArt 39 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo no acircmbito de sua competecircncia regime juriacutedico uacutenico e planos de carreira para os servidores da administraccedilatildeo puacute-blica direta das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas () sect 4ordm O membro de Poder o detentor de mandato eletivo os Ministros de Estado e os Secretaacuterios Estaduais e Municipais seratildeo remunerados exclusivamente por subsiacutedio fixado em parcela uacutenica vedado o acreacutescimo de qualquer gratificaccedilatildeo adicional abono precircmio verba de representaccedilatildeo ou outra espeacutecie remuneratoacuteria obedecido em qualquer caso o disposto no art 37 X e XIrdquo

5 ldquoArt 39 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo no acircmbito de sua compe-tecircncia regime juriacutedico uacutenico e planos de carreira para os servidores da administraccedilatildeo puacuteblica direta das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas () sect 3ordm Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo puacuteblico o disposto no art 7ordm IV VII VIII IX XII XIII XV XVI XVII XVIII XIX XX XXII e XXX podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissatildeo quando a natureza do cargo o exigirrdquo

6 ldquoArt 5ordm () sect 1ordm As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo ime-diata sect 2ordm Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo

7 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo socialrdquo

167iacutendice de teses

Natildeo cabe ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) o controle de controveacutersia

submetida agrave apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio

O CNJ ldquoqualifica-se como instituiccedilatildeo de caraacuteter eminentemente administrativo natildeo dispondo de atribuiccedilotildees funcionais1 que lhe permitam quer colegialmente quer mediante atuaccedilatildeo monocraacutetica de seus Conselheiros ou ainda do Corregedor Na-cional de Justiccedila fiscalizar reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteuacutedo jurisdicional emanados de magistrados e Tribunais em geralrdquo2

1 CF ldquoArt 103-B O Conselho Nacional de Justiccedila compotildee-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos admitida 1 (uma) reconduccedilatildeo sendo () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do cumprimento dos deveres funcio-nais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura I ndash zelar pela autonomia do Poder Judiciaacuterio e pelo cumprimento do Estatuto da Ma-gistratura podendo expedir atos regulamentares no acircmbito de sua competecircncia ou recomendar providecircncias II ndash zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poden-do desconstituiacute-los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeo III ndash receber e conhecer das reclamaccedilotildees contra membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio inclusive contra seus serviccedilos auxiliares serventias e oacutergatildeos prestadores de serviccedilos notariais e de registro que atuem por delegaccedilatildeo do poder puacuteblico ou oficializados sem prejuiacutezo da competecircncia disciplinar e corre-cional dos tribunais podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoccedilatildeo a disponibilidade ou a aposentadoria com subsiacutedios ou proventos proporcionais ao tempo de serviccedilo e aplicar outras sanccedilotildees administrativas assegurada ampla defesa IV ndash representar ao Ministeacuterio Puacuteblico no caso de crime contra a administraccedilatildeo puacuteblica ou de abuso de autoridade V ndash rever de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo os processos disciplinares de juiacutezes e membros de tribunais julgados haacute menos de um ano VI ndash elaborar semestralmente relatoacuterio estatiacutestico sobre processos e sentenccedilas prolatadas por unidade da Federaccedilatildeo nos diferentes oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio VII ndash elaborar re-latoacuterio anual propondo as providecircncias que julgar necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio no Paiacutes e as atividades do Conselho o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tri-bunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional por ocasiatildeo da abertura da sessatildeo legislativa

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Conselho Nacional de Justiccedila

MS 28845rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 11-12-2017Informativo STF 885

168iacutendice de teses

sect 5ordm O Ministro do Superior Tribunal de Justiccedila exerceraacute a funccedilatildeo de Ministro-Corregedor e ficaraacute excluiacutedo da distribuiccedilatildeo de processos no Tribunal competindo-lhe aleacutem das atribuiccedilotildees que lhe fo-rem conferidas pelo Estatuto da Magistratura as seguintes I ndash receber as reclamaccedilotildees e denuacutencias de qualquer interessado relativas aos magistrados e aos serviccedilos judiciaacuterios II ndash exercer funccedilotildees executivas do Conselho de inspeccedilatildeo e de correiccedilatildeo geral III ndash requisitar e designar magistrados delegando-lhes atribuiccedilotildees e requisitar servidores de juiacutezos ou tribunais inclusive nos Estados Distrito Federal e Territoacuteriosrdquo

2 MS 28598 AgR rel min Celso de Mello P DJE de 9-2-2011

169iacutendice de teses

Insere-se entre as competecircncias constitucionalmente atribuiacutedas ao Conselho

Nacional de Justiccedila (CNJ) a possibilidade de afastar por inconstitucionali-

dade a aplicaccedilatildeo de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto

de controle determinando aos oacutergatildeos submetidos a seu espaccedilo de influecircncia

a observacircncia desse entendimento por ato expresso e formal tomado pela

maioria absoluta dos membros do Conselho1

Cuida-se de poder implicitamente atribuiacutedo aos oacutergatildeos autocircnomos de controle ad-ministrativo para fazer valer as competecircncias a eles conferidas pela ordem constitu-cional Nessa linha ldquoos oacutergatildeos administrativos embora natildeo dispondo de competecircn-cia para declarar a inconstitucionalidade de atos estatais (atribuiccedilatildeo cujo exerciacutecio sujeita-se agrave reserva de jurisdiccedilatildeo) podem natildeo obstante recusar-se a conferir aplica-bilidade a tais normas eis que ndash na linha do entendimento desta Suprema Corte ndash lsquohaacute que distinguir entre declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e natildeo aplicaccedilatildeo de leis inconstitucionais pois esta eacute obrigaccedilatildeo de qualquer tribunal ou oacutergatildeo de qualquer dos Poderes do Estadorsquordquo2

Nesse contexto extrai-se do nuacutecleo normativo impliacutecito do art 103-B II sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 a competecircncia do oacutergatildeo de controle administrativo finan-ceiro e disciplinar da magistratura nacional para ldquodispor primariamente sobre cada qual dos quatro nuacutecleos expressos na loacutegica pressuposiccedilatildeo de que a competecircncia para zelar pela observacircncia do art 37 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica e ainda baixar os atos de sanaccedilatildeo de condutas eventualmente contraacuterias agrave legalidade eacute poder que traz consigo a dimensatildeo da normatividade em abstrato que jaacute eacute forma de prevenir a irrupccedilatildeo de conflitosrdquo4

Assim concluiacuteda pelo CNJ a apreciaccedilatildeo da inconstitucionalidade de lei aprovei-tada como fundamento de ato submetido ao seu exame poderaacute esse oacutergatildeo consti-tucional de controle do Poder Judiciaacuterio valer-se da expediccedilatildeo de ato administrativo formal e expresso de caraacuteter normativo para impor aos oacutergatildeos submetidos cons-

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Conselho Nacional de Justiccedila

Pet 4656rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 4-12-2017Informativo STF 851

170iacutendice de teses

titucionalmente agrave sua atuaccedilatildeo fiscalizadora a invalidade de ato administrativo pela inaplicabilidade do texto legal no qual se baseia por contrariar a CF

O exerciacutecio dessa competecircncia impliacutecita do CNJ revela-se na anaacutelise de caso con-creto por seu Plenaacuterio Os efeitos da inconstitucionalidade incidentalmente constata-da ficam limitados agrave causa posta sob sua apreciaccedilatildeo salvo se houver expressa deter-minaccedilatildeo para os oacutergatildeos constitucionalmente submetidos agrave sua esfera de influecircncia afastarem a aplicaccedilatildeo da lei reputada inconstitucional

A ediccedilatildeo de ato formal expresso tido por legiacutetimo a ser realizado no juiacutezo ad-ministrativo impondo o afastamento do texto normativo para aleacutem da relaccedilatildeo pro-cessual administrativa na qual assentada a inconstitucionalidade busca concretizar os mesmos objetivos motivadores da criaccedilatildeo do instituto da suacutemula vinculante pela Emenda Constitucional 452004 entre os quais a seguranccedila juriacutedica pela aplicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo uniformes da lei e a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo conforme o precei-to do art 5ordm LXXVIII da CF5 aplicaacutevel administrativamente

Aleacutem disso a exigecircncia de observacircncia do postulado da reserva de plenaacuterio pelos oacutergatildeos colegiados de controle administrativo tambeacutem decorre da necessidade de se conferir maior seguranccedila juriacutedica agrave conclusatildeo sobre o viacutecio Somente com a manifes-taccedilatildeo da maioria absoluta dos seus membros eacute possiacutevel ter entendimento inequiacutevoco do colegiado sobre a inadequaccedilatildeo constitucional da lei discutida como fundamento do ato administrativo controlado

Por fim essa atuaccedilatildeo do CNJ natildeo implica reconhecer-lhe competecircncia para decla-rar inconstitucionalidade de norma juriacutedica menos ainda atribuir efeito erga omnes agrave inconstitucionalidade assentada no julgamento do processo administrativo por natildeo resultar em anulaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo da lei cuja vigecircncia persiste

1 Esse entendimento natildeo contraria a conclusatildeo do Supremo Tribunal no julgamento do MS 28141 (rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2011) Nesse julgado assentou-se a incompetecircncia do CNJ para declarar a inconstitucionalidade de lei pois aleacutem de o oacutergatildeo de controle externo do Poder Judiciaacuterio ter atuado como se estivesse no ofiacutecio de controle concentrado de constitucio-nalidade transcendeu os fundamentos do julgado administrativo impondo a ldquoremessa de coacutepias daquele acoacuterdatildeo a todos os Tribunais de Justiccedila Tribunais Regionais Federais e Tribunais Regionais do Trabalho do Paiacutes para que cessasse o repasse a pessoas juriacutedicas estranhas ao Poder Judiciaacuterio entidades de classe ou entidades com finalidade privadardquo Poreacutem determinou o encaminhamento da mateacuteria agrave Procuradoria-Geral da Repuacuteblica para sanar eventual frustraccedilatildeo dos comandos consti-tucionais pela lei mato-grossense que trata de despesas processuais para o cumprimento de cartas precatoacuterias (Lei estadual 89432008)

171iacutendice de teses

2 MS 31923 MC rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJE de 19-4-2013

3 ldquoArt 103-B () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do cumprimento dos deveres funcionais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura () II ndash zelar pela observacircn-cia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

4 ADC 12 rel min Ayres Britto P DJE de 18-12-2009

5 ldquoArt 5ordm () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel du-raccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

172iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar accedilotildees em que a Ordem dos

Advogados do Brasil (OAB) quer mediante o Conselho Federal quer seccio-

nal figure na relaccedilatildeo processual

A OAB consubstancia oacutergatildeo de classe com disciplina legal ndash Lei 89061994 ndash ca-bendo-lhe impor contribuiccedilatildeo anual e exercer atividade fiscalizadora e censoacuteria Eacute por isso mesmo autarquia corporativista1 e 2 o que atrai a teor do art 109 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 a competecircncia da Justiccedila Federal para exame de accedilotildees ndash seja qual for a natureza ndash nas quais integre a relaccedilatildeo processual Eacute improacuteprio esta-belecer distinccedilatildeo considerados os demais conselhos existentes

Ademais quer sob o acircngulo do Conselho Federal quer das seccionais a OAB natildeo eacute associaccedilatildeo pessoa juriacutedica de direito privado em relaccedilatildeo agrave qual eacute vedada a interferecircncia estatal no funcionamento a teor do disposto no inciso XVIII do art 5ordm da CF4

1 Voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento no qual foi ressalvada a existecircncia de duacutevidas quanto agrave natureza juriacutedica da OAB ldquoEu tambeacutem acompanho o relator mas gostaria de fazer um breve registro senhora presidente Eu acho que a Ordem tem uma posiccedilatildeo muito singu-lar Eu acho que ela presta um serviccedilo puacuteblico mas tenho duacutevida se ela pode ser tipificada como uma entidade estatal ateacute pelo tipo de independecircncia que precisa ter e porque acho que ela natildeo eacute obrigada a fazer concurso puacuteblico o que seria uma consequecircncia natural se eu a considerasse uma pessoa juriacutedica de direito puacuteblico Desse modo eu gostaria de ressalvar algumas duacutevidas quanto agrave natureza juriacutedica da Ordem dos Advogados do Brasil Poreacutem natildeo tenho nenhuma duacutevida de que eacute paciacutefico o entendimento de que a competecircncia eacute da Justiccedila Federal Portanto eu estou acompa-nhando o ministro Marco Aureacutelio apenas me reservando para em algum lugar do futuro se vier a ser oportuno tentar refletir sobre essa natureza singular da OABrdquo

2 O Supremo Tribunal Federal abordou o tema referente agrave natureza juriacutedica da OAB no julgamento da ADI 3026 rel min Eros Grau P DJ de 29-6-2006

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

RE 595332RG ‒ Tema 258rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-6-2017Informativo STF 837

173iacutendice de teses

3 ldquoArt 109 Aos juiacutezes federais compete processar e julgar I ndash as causas em que a Uniatildeo entidade autaacuterquica ou empresa puacuteblica federal forem interessadas na condiccedilatildeo de autoras reacutes assistentes ou oponentes exceto as de falecircncia as de acidentes de trabalho e as sujeitas agrave Justiccedila Eleitoral e agrave Justiccedila do Trabalhordquo

4 ldquoArt 5ordm () XVIII ndash a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu funcionamentordquo

174iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar o crime ambiental de caraacuteter

transnacional que envolva animais silvestres ameaccedilados de extinccedilatildeo e espeacute-

cimes exoacuteticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos

pelo Brasil

Atrai a competecircncia da Justiccedila Federal a natureza transnacional do delito ambien-tal de exportaccedilatildeo de animais silvestres nos termos do art 109 IV da Constitui-ccedilatildeo Federal1 A ratio essendi das normas consagradas no direito interno e no direito convencional conduz agrave conclusatildeo de que a transnacionalidade do crime ambiental voltado agrave exportaccedilatildeo de animais silvestres atinge interesse direto especiacutefico e ime-diato da Uniatildeo voltado agrave garantia da seguranccedila ambiental no plano internacional em atuaccedilatildeo conjunta com a comunidade das naccedilotildees

As violaccedilotildees ambientais mais graves recentemente testemunhadas no plano inter-nacional e no Brasil repercutem de modo devastador na esfera dos direitos humanos e fundamentais de comunidades inteiras Essas infraccedilotildees podem constituir a um soacute tempo graves violaccedilotildees de direitos humanos maacutexime se considerarmos que o nuacute-cleo material elementar da dignidade humana ldquoeacute composto do miacutenimo existencial locuccedilatildeo que identifica o conjunto de bens e utilidades baacutesicas para a subsistecircncia fiacutesica e indispensaacutevel ao desfrute da proacutepria liberdade Aqueacutem daquele patamar ainda quando haja sobrevivecircncia natildeo haacute dignidaderdquo2

A ecologia em suas vaacuterias vertentes reconhece como diretriz principal a urgecircncia no enfrentamento de problemas ambientais reais que jaacute logram pocircr em perigo a proacutepria vida na Terra no paradigma da sociedade de risco A crise ambiental traduz especial dramaticidade nos problemas que suscita porquanto ameaccedilam a viabilidade do ldquocontinuum das espeacuteciesrdquo Jaacute a interdependecircncia das matrizes que unem as diferen-tes formas de vida aliada agrave constataccedilatildeo de que a alteraccedilatildeo de apenas um dos fatores nelas presentes pode produzir consequecircncias significativas em todo o conjunto re-

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

RE 835558RG ‒ Tema 648rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 8-8-2017Informativo STF 853

175iacutendice de teses

clama uma linha de coordenaccedilatildeo de poliacuteticas segundo a loacutegica da responsabilidade compartilhada expressa em regulaccedilatildeo internacional centrada no multilateralismo

Destarte o Estado brasileiro eacute signataacuterio de convenccedilotildees e acordos internacionais como a Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuterica ratificada pelo Decreto Legislativo 3 de 1948 em vigor no Brasil desde 26 de novembro de 1965 e promulgada pelo Decreto 58054 de 23 de marccedilo de 1966 a Convenccedilatildeo de Washington sobre o Comeacutercio Internacional das Es-peacutecies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinccedilatildeo (CITES) ratificada pelo Decreto-Lei 541975 e promulgada pelo Decreto 766231975 e a Convenccedilatildeo sobre Diversidade Bioloacutegica (CDB) ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 2 de 8 de fevereiro de 1994 Diante disso percebe-se inequiacutevoco interesse do Brasil na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade e dos recursos bioloacutegicos nacionais

A Repuacuteblica Federativa do Brasil ao firmar a Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuterica assumiu entre outros com-promissos o de ldquotomar as medidas necessaacuterias para a superintendecircncia e regulamenta-ccedilatildeo das importaccedilotildees exportaccedilotildees e tracircnsito de espeacutecies protegidas de flora e fauna e de seus produtos pelos seguintes meios a) concessatildeo de certificados que autorizem a exportaccedilatildeo ou tracircnsito de espeacutecies protegidas de flora e fauna ou de seus produtosrdquo3

Igualmente o Estado brasileiro ratificou adesatildeo ao Princiacutepio da Precauccedilatildeo ao assi-nar a Declaraccedilatildeo do Rio durante a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Am-biente e Desenvolvimento (Rio 92) e a Carta da Terra no Foacuterum Rio+5 Com fulcro nesse princiacutepio fundamental de direito internacional ambiental os povos devem esta-belecer mecanismos de combate preventivos agraves accedilotildees que ameaccedilam a utilizaccedilatildeo sus-tentaacutevel dos ecossistemas biodiversidade e florestas fenocircmeno juriacutedico que a toda evidecircncia implica interesse direto da Uniatildeo quando a conduta revele repercussatildeo no plano internacional

1 ldquoArt 109 Aos juiacutezes federais compete processar e julgar () IV ndash os crimes poliacuteticos e as infraccedilotildees penais praticadas em detrimento de bens serviccedilos ou interesse da Uniatildeo ou de suas entidades au-taacuterquicas ou empresas puacuteblicas excluiacutedas as contravenccedilotildees e ressalvada a competecircncia da Justiccedila Militar e da Justiccedila Eleitoralrdquo

2 Liccedilatildeo acadecircmica do ministro Roberto Barroso citada no voto do ministro Luiz Fux no presente julgamento

3 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuteri-ca em vigor no Brasil desde 1965

176iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila comum julgar accedilatildeo movida por trabalhador contratado

sob o regime da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) mas regido por lei

que instituiu o regime estatutaacuterio no acircmbito do ente puacuteblico com o objetivo

de receber diferenccedilas salariais originadas no primeiro periacuteodo que possuam

reflexo no periacuteodo posterior agrave transmudaccedilatildeo de regime juriacutedico1

Eacute a natureza juriacutedica do viacutenculo existente entre o trabalhador e o poder puacuteblico vigente ao tempo da propositura da accedilatildeo que define a competecircncia jurisdicional para a soluccedilatildeo da controveacutersia independentemente de o direito pleiteado ter-se ori-ginado no periacuteodo celetista2 e 3

Somente a Justiccedila comum eacute competente para constituir direito em favor de ser-vidor submetido no momento da propositura da accedilatildeo ao regime estatutaacuterio ainda que retroativo ao periacuteodo celetista Somente a essa Justiccedila compete pronunciar-se so-bre a existecircncia a validade e a eficaacutecia das relaccedilotildees entre servidores e o poder puacuteblico fundadas em viacutenculo juriacutedico-administrativo4 e 5

Ademais uma vez que em tese existe a possibilidade de o direito previsto em lei sob a eacutegide de regime celetista repercutir no regime estatutaacuterio compete agrave Justiccedila comum decidir sobre sua constituiccedilatildeo ainda que respeitado o prazo prescricional a decisatildeo retroaja para dizer sobre o direito tanto no periacuteodo celetista quanto no estatutaacuterio6 e 7

1 Precedentes RE 141861 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 29-11-1996 e RE 174192 AgR rel min Cezar Peluso 1ordf T DJ de 12-3-2004

2 Precedentes AI 367056 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 18-5-2007 Rcl 7208 AgR red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJE de 27-11-2009 e Rcl 7039 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 8-5-2009

3 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila comum

Rcl 8909 AgRred p o ac min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 21-8-2017Informativo STF 840

177iacutendice de teses

4 Precedentes Rcl 8110 AgR red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJE de 12-2-2010 e Rcl 5924 AgR rel min Eros Grau P DJE de 23-10-2009

5 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

6 Precedente RE 216330 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 18-2-2014

7 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

178iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila do Trabalho processar e julgar causa relativa a depoacutesitos

do Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) de servidor que ingressou

no serviccedilo puacuteblico antes da Constituiccedilatildeo de 1988 sem prestar concurso

A competecircncia eacute a medida da jurisdiccedilatildeo atribuiacuteda constitucional ou infraconstitu-cionalmente ao oacutergatildeo judicial e decorre da accedilatildeo ajuizada de acordo com a causa de pedir1 Se a causa petendi eacute a relaccedilatildeo juriacutedica de natureza celetista pretendendo-se parcelas trabalhistas ndash como indenizaccedilatildeo correspondente aos depoacutesitos natildeo efetua-dos do FGTS ndash a anaacutelise do tema cabe agrave Justiccedila do Trabalho e natildeo agrave Justiccedila comum Agravequela incumbe inclusive examinar possiacutevel carecircncia da accedilatildeo

Ademais se eacute incontroverso que o ingresso do empregado no serviccedilo puacuteblico ocor-reu antes da Constituiccedilatildeo de 1988 e sem a preacutevia realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico apre-senta-se incabiacutevel a transmudaccedilatildeo do regime celetista para o estatutaacuterio2 devendo ser mantida a competecircncia da Justiccedila do Trabalho3

1 A ministra Caacutermen Luacutecia e os ministros Gilmar Mendes e Roberto Barroso ressalvaram seus posi-cionamentos no sentido de que a causa de pedir natildeo define a competecircncia

2 Voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

3 Precedentes ADI 1150 rel min Moreira Alves P DJ de 17-4-1998 e ARE 906491 rel min Teori Zavascki P DJE de 2-10-2015

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila do Trabalho

CC 7950rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 839

179iacutendice de teses

A competecircncia penal da Justiccedila Castrense natildeo se limita apenas aos integran-

tes das Forccedilas Armadas nem se define por isso mesmo ratione personae1

A competecircncia penal da Justiccedila Militar eacute aferiacutevel objetivamente a partir da sub-sunccedilatildeo do comportamento do agente ndash de qualquer agente mesmo o civil ndash ainda que em tempo de paz ao preceito incriminador consubstanciado nos tipos penais definidos no Coacutedigo Penal Militar (CPM)2

O art 124 da Constituiccedilatildeo Federal3 estabelece que agrave Justiccedila Militar compete pro-cessar e julgar os crimes militares definidos em lei Por sua vez o art 9ordm III a do CPM4 considera crime militar em tempo de paz os delitos praticados por militar da reserva ou reformado ou por civil contra as instituiccedilotildees militares contra o patrimocirc-nio sob a administraccedilatildeo militar ou contra a ordem administrativa militar

Interessa agrave Justiccedila Militar da Uniatildeo qualquer fato capaz de desestabilizar os inte-resses moral e organizacional compreendidos no conceito amplo de hierarquia e disciplina militares5

1 HC 109544 MC rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 9-6-2017

2 Idem

3 ldquoArt 124 Agrave Justiccedila Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em leirdquo

4 ldquoArt 9ordm Consideram-se crimes militares em tempo de paz () III ndash os crimes praticados por militar da reserva ou reformado ou por civil contra as instituiccedilotildees militares considerando-se como tais natildeo soacute os compreendidos no inciso I como os do inciso II nos seguintes casos a) contra o patrimocirc-nio sob a administraccedilatildeo militar ou contra a ordem administrativa militarrdquo

5 HC 124858 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 31-8-2015

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Militar

HC 136539rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-6-2017Informativo STF 842

180iacutendice de teses

Eacute inconstitucional o art 3ordm da Resoluccedilatildeo TJTPRJ 120141 do Plenaacuterio do

Tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro que dispotildee sobre regras de processo

eleitoral no Poder Judiciaacuterio estadual

A norma impugnada viola o art 93 caput da Constituiccedilatildeo Federal2 segundo o qual estaacute reservada agrave lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal a re-gulamentaccedilatildeo da mateacuteria afeta agrave elegibilidade para os oacutergatildeos diretivos dos tribunais

Aleacutem disso enquanto a mencionada lei natildeo for editada satildeo as disposiccedilotildees da Lei Complementar 351979 Lei Orgacircnica da Magistratura Nacional (LOMAN) recep-cionada pela Constituiccedilatildeo de 19883 que definem regime juriacutedico uacutenico para a ma-gistratura brasileira e viabilizam tratamento uniforme vaacutelido em todo o territoacuterio nacional para as questotildees intriacutensecas ao Poder Judiciaacuterio garantindo a necessaacuteria independecircncia para a devida prestaccedilatildeo jurisdicional

Desde que natildeo contrariem a Constituiccedilatildeo essas normas devem ser obrigatoria-mente observadas pelos tribunais ao elaborarem seus regimentos internos e demais atos normativos

Diante disso ao prever a possibilidade de ldquoo Desembargador ser novamente eleito para o mesmo cargo desde que observado o intervalo de dois mandatosrdquo o art 3ordm da resoluccedilatildeo impugnada contraria tambeacutem as balizas estabelecidas no art 102 da Loman4

1 ldquoO Tribunal Pleno do Tribunal de Justiccedila do Estado do Rio de Janeiro no acircmbito de sua competecircncia e no uso de suas atribuiccedilotildees legais e regimentais e tendo em vista o que foi decidido na sessatildeo do dia 21 de agosto de 2014 (Processo 0034509-6420148120000) resolve () Art 3ordm Poderaacute o Desembar-gador ser novamente eleito para o mesmo cargo desde que observado o intervalo de dois mandatosrdquo

2 ldquoArt 93 Lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal disporaacute sobre o Estatuto da Magistratura observados os seguintes princiacutepiosrdquo

3 ADI 2880 rel min Gilmar Mendes P DJ de 1ordm-12-2014 ADI 509 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 16-9-2014 e ADI 3508 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 31-8-2007

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Tribunais e juiacutezes dos Estados

ADI 5310rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 9-10-2017Informativo STF 851

181iacutendice de teses

4 ldquoArt 102 Os Tribunais pela maioria dos seus membros efetivos por votaccedilatildeo secreta elegeratildeo dentre seus Juiacutezes mais antigos em nuacutemero correspondente ao dos cargos de direccedilatildeo os titulares destes com mandato por dois anos proibida a reeleiccedilatildeo Quem tiver exercido quaisquer cargos de direccedilatildeo por quatro anos ou o de Presidente natildeo figuraraacute mais entre os elegiacuteveis ateacute que se esgotem todos os nomes na ordem de antiguidade Eacute obrigatoacuteria a aceitaccedilatildeo do cargo salvo recusa manifes-tada e aceita antes da eleiccedilatildeo Paraacutegrafo uacutenico O disposto neste artigo natildeo se aplica ao Juiz eleito para completar periacuteodo de mandato inferior a um anordquo

182iacutendice de teses

Cabe ao procurador-geral da Repuacuteblica a apreciaccedilatildeo de conflitos de atribui-

ccedilatildeo entre oacutergatildeos do Ministeacuterio Puacuteblico

Em divergecircncia interna corporis entre oacutergatildeos ministeriais a apreciaccedilatildeo da lide com-pete ao procurador-geral da Repuacuteblica como oacutergatildeo nacional do Ministeacuterio Puacuteblico1

O conflito de atribuiccedilotildees entre Ministeacuterios Puacuteblicos vinculados a entes federa-tivos diversos natildeo configura conflito federativo com aptidatildeo suficiente para atrair a competecircncia originaacuteria do Supremo Tribunal Federal (STF) prevista no art 102 I da Constituiccedilatildeo Federal2 Por essa razatildeo o STF eacute declarado incompetente para a apreciaccedilatildeo de accedilotildees dessa natureza

1 Precedentes ACO 924 rel min Luiz Fux P DJE de 23-9-2016 ACO 1394 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 28-8-2017 Pet 4706 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 16-5-2017 e Pet 4863 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 16-5-2017

2 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente a) a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal b) nas infraccedilotildees penais comuns o Presidente da Repuacuteblica o Vice-Presidente os membros do Congresso Nacional seus proacuteprios Ministros e o Procurador-Geral da Repuacuteblica c) nas infraccedilotildees penais comuns e nos crimes de responsabilidade os Ministros de Estado e os Coman-dantes da Marinha do Exeacutercito e da Aeronaacuteutica ressalvado o disposto no art 52 I os membros dos Tribunais Superiores os do Tribunal de Contas da Uniatildeo e os chefes de missatildeo diplomaacutetica de caraacuteter permanente d) o habeas corpus sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas aliacute-neas anteriores o mandado de seguranccedila e o habeas data contra atos do Presidente da Repuacuteblica das Mesas da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal do Tribunal de Contas da Uniatildeo do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do proacuteprio Supremo Tribunal Federal e) o litiacutegio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal ou o Territoacuterio f ) as causas e os conflitos entre a Uniatildeo e os Estados a Uniatildeo e o Distrito Federal ou entre uns e outros inclusive as respectivas entidades da administraccedilatildeo indireta g) a extradiccedilatildeo solicitada por Estado estrangeiro h) (Revogado pela Emenda Constitucional n 45 de 2004) i) o habeas corpus quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionaacuterio

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Funccedilotildees essenciais agrave Justiccedila Ȥ Ministeacuterio Puacuteblico

ACO 1567 QOrel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 835

183iacutendice de teses

cujos atos estejam sujeitos diretamente agrave jurisdiccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal ou se trate de crime sujeito agrave mesma jurisdiccedilatildeo em uma uacutenica instacircncia j) a revisatildeo criminal e a accedilatildeo rescisoacuteria de seus julgados l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildees m) a execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircncia originaacuteria facultada a delegaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para a praacutetica de atos processuais n) a accedilatildeo em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados o) os conflitos de competecircncia entre o Superior Tribunal de Justiccedila e quaisquer tribunais entre Tribunais Superiores ou entre estes e qualquer outro tribunal p) o pedido de medida cautelar das accedilotildees diretas de inconstitucionalidade q) o mandado de injunccedilatildeo quando a elaboraccedilatildeo da norma regulamentadora for atribuiccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica do Congresso Nacional da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal das Mesas de uma dessas Casas Legislativas do Tribunal de Contas da Uniatildeo de um dos Tribunais Superiores ou do proacuteprio Supremo Tribunal Federal r) as accedilotildees contra o Conselho Nacional de Justiccedila e contra o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblicordquo

TRIBUTACcedilAtildeO E ORCcedilAMENTODIREITO CONSTITUCIONAL

185iacutendice de teses

A seguranccedila puacuteblica presentes a prevenccedilatildeo e o combate a incecircndios faz-se

no campo da atividade preciacutepua pela unidade da Federaccedilatildeo e porque servi-

ccedilo essencial tem como a viabilizaacute-la a arrecadaccedilatildeo de impostos natildeo cabendo

ao Municiacutepio a criaccedilatildeo de taxa para tal fim

Os serviccedilos de extinccedilatildeo e prevenccedilatildeo de incecircndios e de defesa civil natildeo satildeo espe-ciacuteficos e divisiacuteveis sendo exercidos de forma geral Essas funccedilotildees satildeo essenciais inerentes e exclusivas ao proacuteprio Estado no que deteacutem o monopoacutelio da forccedila

Com efeito a atividade preciacutepua do Estado eacute viabilizada mediante arrecadaccedilatildeo decorrente de impostos pressupondo a taxa o exerciacutecio do poder de poliacutecia ou a utilizaccedilatildeo efetiva ou potencial de serviccedilos puacuteblicos especiacuteficos e divisiacuteveis prestados ao contribuinte ou postos agrave disposiccedilatildeo Nem mesmo o Estado poderia no acircmbito da seguranccedila puacuteblica revelada pela prevenccedilatildeo e combate a incecircndios instituir valida-mente a taxa como proclamou o Supremo Tribunal Federal embora no campo da tutela de urgecircncia1

Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo Federal eacute clara ao estabelecer no art 144 sectsect 6ordm e 7ordm2 a competecircncia estadual para organizar as carreiras de bombeiro militar a quem com-pete o serviccedilo de combate a incecircndios e o poder de poliacutecia a ele correlato nas edifi-caccedilotildees em geral3

Portanto eacute inconcebiacutevel que a pretexto de prevenir sinistro relativo a incecircndio Mu-niciacutepio substitua Estado-membro por meio da criaccedilatildeo de tributo sob o roacutetulo ldquotaxardquo

1 ADI 1942 MC rel min Moreira Alves P DJ de 22-10-1999

2 ldquoArt 144 A seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguin-tes oacutergatildeos () V ndash poliacutecias militares e corpos de bombeiros militares () sect 6ordm As poliacutecias militares e corpos de bombeiros militares forccedilas auxiliares e reserva do Exeacutercito subordinam-se juntamente

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Princiacutepios gerais ndash Repercussatildeo Geral

RE 643247RG ‒ Tema 16rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 19-12-2017Informativo STF 866

186iacutendice de teses

com as poliacutecias civis aos Governadores dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios sect 7ordm A lei disciplinaraacute a organizaccedilatildeo e o funcionamento dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela seguranccedila puacuteblica de maneira a garantir a eficiecircncia de suas atividadesrdquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

187iacutendice de teses

A imunidade reciacuteproca prevista no art 150 VI a da Constituiccedilatildeo Federal

(CF)1 natildeo se estende a empresa privada arrendataacuteria de imoacutevel puacuteblico quan-

do seja ela exploradora de atividade econocircmica com fins lucrativos Nessa

hipoacutetese eacute constitucional a cobranccedila do Imposto Predial Territorial Urbano

(IPTU) pelo Municiacutepio

A imunidade tributaacuteria reciacuteproca decorre da necessidade de observar-se no contex-to federativo o respeito muacutetuo e a autonomia dos entes preservando o sistema fe-derativo Eacute concedida agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico e agravequelas que embora tenham personalidade juriacutedica de direito privado qualificam-se como prestadoras de serviccedilo puacuteblico sem intuito lucrativo Natildeo cabe estender essa garantia para aleacutem das situaccedilotildees versadas no art 150 sect 2ordm da CF como no caso de empresa explora-dora de atividade econocircmica arrendataacuteria de bem puacuteblico (sociedade de economia mista ou empresa puacuteblica) Isso conferiria ao particular vantagem concorrencial in-devida em relaccedilatildeo a outras empresas em afronta ao princiacutepio da livre concorrecircncia (CF art 170 IV2)

Aleacutem disso o art 150 sect 3ordm da CF3 eacute expresso ao dispor que as regras de imunida-de reciacuteproca natildeo se aplicam ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos relacionados com exploraccedilatildeo de atividades econocircmicas regidas pelas normas aplicaacuteveis a empreendi-mentos privados nem exoneram o promitente comprador da obrigaccedilatildeo de pagar imposto relativamente ao bem imoacutevel Tendo em conta a limitaccedilatildeo imposta por esse dispositivo se nem mesmo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico que exploram atividade econocircmica gozam da imunidade as de direito privado tambeacutem natildeo pode-riam fazecirc-lo

O argumento de ser o imoacutevel pertencente agrave Uniatildeo utilizado para a persecuccedilatildeo de interesse puacuteblico tampouco atrai a imunidade quanto ao IPTU O ente puacuteblico ainda que natildeo seja o responsaacutevel pela exploraccedilatildeo direta da atividade econocircmica ao ceder o imoacutevel agrave sociedade de economia mista permite que o bem seja afetado

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 594015RG ‒ Tema 385rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 25-8-2017Informativo STF 860

188iacutendice de teses

a empreendimento desenvolvido ensejando a geraccedilatildeo de riquezas posteriormen-te incorporadas ao patrimocircnio da cessionaacuteria em benefiacutecio uacuteltimo dos acionistas Afastar o ocircnus de pagamento desse tributo por empresa que atua no setor econocircmi-co ombreando com outras a partir de extensatildeo indevida da imunidade reciacuteproca implica desrespeito ao sect 2ordm do art 173 da CF4 Tal dispositivo veda agraves empresas puacute-blicas e agraves sociedades de economia mista o gozo de privileacutegios fiscais natildeo extensivos agraves organizaccedilotildees do setor privado

Por fim agrave luz dos arts 325 e 346 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional tem-se que o Mu-niciacutepio natildeo extrapolou a proacutepria competecircncia ao instituir e cobrar o pagamento de IPTU devido pela sociedade de economia mista A incidecircncia desse imposto natildeo estaacute limitada agrave propriedade do imoacutevel mas tambeacutem ao domiacutenio uacutetil e a posse do bem Ademais o contribuinte natildeo se restringe ao proprietaacuterio do imoacutevel alcanccedilando tanto o titular do domiacutenio uacutetil quanto o possuidor a qualquer tiacutetulo

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

2 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

3 ldquoArt 150 () sect 3ordm As vedaccedilotildees do inciso VI a e do paraacutegrafo anterior natildeo se aplicam ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos relacionados com exploraccedilatildeo de atividades econocircmicas regidas pelas normas aplicaacuteveis a empreendimentos privados ou em que haja contraprestaccedilatildeo ou pagamento de preccedilos ou tarifas pelo usuaacuterio nem exonera o promitente comprador da obrigaccedilatildeo de pagar imposto rela-tivamente ao bem imoacutevelrdquo

4 ldquoArt 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocirc-mica pelo Estado soacute seraacute permitida quando necessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 2ordm As empresas puacuteblicas e as socieda-des de economia mista natildeo poderatildeo gozar de privileacutegios fiscais natildeo extensivos agraves do setor privadordquo

5 ldquoArt 32 O imposto de competecircncia dos Municiacutepios sobre a propriedade predial e territorial urba-na tem como fato gerador a propriedade o domiacutenio uacutetil ou a posse de bem imoacutevel por natureza ou por acessatildeo fiacutesica como definido na lei civil localizado na zona urbana do Municiacutepiordquo

6 ldquoArt 34 Contribuinte do imposto eacute o proprietaacuterio do imoacutevel o titular do seu domiacutenio uacutetil ou o seu possuidor a qualquer tiacutetulordquo

189iacutendice de teses

Os requisitos para o gozo de imunidade hatildeo de estar previstos em lei com-

plementar1 e 2

Em se tratando de limitaccedilatildeo ao poder de tributar ldquoexigecircncias legaisrdquo ao exerciacutecio das imunidades satildeo sempre ldquonormas de regulaccedilatildeordquo agraves quais fez referecircncia o cons-tituinte originaacuterio no inciso II do art 146 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 no qual consta que as mesmas limitaccedilotildees devem ser dispostas em lei complementar

ldquoEacute importante destacar a necessidade permanente de compatibilizar a abordagem finaliacutestica das imunidades com o conjunto normativo e axioloacutegico que eacute a Consti-tuiccedilatildeo Com a Carta compromissoacuteria de hoje existe uma variedade de objetivos opostos estabelecidos em normas de igual hierarquia Nesse acircmbito de antinomias potenciais o elemento sistemaacutetico adquire relevacircncia praacutetica junto ao teleoloacutegico Sob tal perspectiva lsquocada norma juriacutedica deve ser interpretada com consideraccedilatildeo de todas as demais e natildeo de forma isoladarsquo presente a busca pela harmonia e integri-dade sistecircmica da Constituiccedilatildeo Combinados os elementos sistemaacutetico e teleoloacutegico a interpretaccedilatildeo deve cumprir funccedilatildeo harmonizante influenciada prioritariamente por princiacutepios como o da lsquodignidade da pessoa humana da igualdade do Estado De-mocraacutetico de Direito da Repuacuteblica e da Federaccedilatildeorsquordquo4

Ademais o sect 7ordm do art 195 da CF5 deve ser interpretado e aplicado em conjunto com o inciso II do art 146 Assim afasta-se duacutevida quanto agrave reserva exclusiva de lei complementar para a disciplina das condiccedilotildees a serem observadas no exerciacutecio do direito agrave imunidade

No acircmbito do sistema normativo brasileiro e considerada a natureza tributaacuteria das contribuiccedilotildees sociais eacute no Coacutedigo Tributaacuterio Nacional (CTN) precisamente no art 146 que se encontram os requisitos exigidos

ldquoNenhuma lei ordinaacuteria de qualquer poder tributante pode criar requisitos adicio-nais impondo ocircnus que o constituinte deliberadamente quis afastar Todos os requi-sitos acrescentados ao restrito elenco do art 14 satildeo inconstitucionais em face de natildeo

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 566622RG ‒ Tema 32rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 855

190iacutendice de teses

possuir o Poder Tributante nas trecircs esferas nenhuma forccedila legislativa suplementar Apenas a lei complementar pode impor condiccedilotildees Nunca a lei ordinaacuteria que no maacuteximo pode reproduzir os comandos superioresrdquo7

Cabe agrave lei ordinaacuteria apenas prever requisitos que natildeo extrapolem os estabelecidos no CTN ou em lei complementar superveniente sendo-lhe vedado criar obstaacuteculos novos adicionais aos jaacute previstos em ato complementar

Por fim o art 55 da Lei 8212 de 1991 prevecirc requisitos para o exerciacutecio da imu-nidade tributaacuteria versada no sect 7ordm do art 195 da Carta da Repuacuteblica que revelam verdadeiras condiccedilotildees preacutevias ao aludido direito Por isso deve ser reconhecida a inconstitucionalidade formal desse dispositivo infraconstitucional no que extrapola o definido no art 14 do CTN por violaccedilatildeo ao art 146 II da CF

Os requisitos legais exigidos na parte final do sect 7ordm do art 195 da CF enquanto natildeo for editada nova lei complementar sobre a mateacuteria satildeo somente aqueles do art 14 do CTN

1 Entendimento aplicado tambeacutem na ADI 2028 red p o ac min Rosa Weber P DJE de 16-5-2017

2 ldquo1 lsquo() fica evidenciado que (a) entidade beneficente de assistecircncia social (art 195 sect 7ordm) natildeo eacute con-ceito equiparaacutevel a entidade de assistecircncia social sem fins lucrativos (art 150 VI) (b) a Constituiccedilatildeo Federal natildeo reuacutene elementos discursivos para dar concretizaccedilatildeo segura ao que se possa entender por modo beneficente de prestar assistecircncia social (c) a definiccedilatildeo desta condiccedilatildeo modal eacute indispensaacutevel para garantir que a imunidade do art 195 sect 7ordm da CF cumpra a finalidade que lhe eacute designada pelo texto constitucional e (d) esta tarefa foi outorgada ao legislador infraconstitucional que tem auto-ridade para defini-la desde que respeitados os demais termos do texto constitucionalrsquo 2 lsquoAspectos

meramente procedimentais referentes agrave certificaccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo e controle administrativo con-tinuam passiacuteveis de definiccedilatildeo em lei ordinaacuteria A lei complementar eacute forma somente exigiacutevel

para a definiccedilatildeo do modo beneficente de atuaccedilatildeo das entidades de assistecircncia social contempla-

das pelo art 195 sect 7ordm da CF especialmente no que se refere agrave instituiccedilatildeo de contrapartidas a serem observadas por elasrsquordquo (Trecho da ementa da ADI 2028 red p o ac min Rosa Weber P DJE de 16-5-2017 ndash sem grifos no original)

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar () II ndash regular as limitaccedilotildees constitucionais ao poder de tribu-tarrdquo

4 SOUZA NETO Claacuteudio Pereira de SARMENTO Daniel Direito constitucional teoria histoacuteria e meacutetodos de trabalho Belo Horizonte Foacuterum 2012 p 415-416

5 ldquoArt 195 () sect 7ordm Satildeo isentas de contribuiccedilatildeo para a seguridade social as entidades beneficentes de assistecircncia social que atendam agraves exigecircncias estabelecidas em leirdquo

6 ldquoArt 14 O disposto na aliacutenea c do inciso IV do art 9ordm eacute subordinado agrave observacircncia dos seguintes re-quisitos pelas entidades neles referidas I ndash natildeo distribuiacuterem qualquer parcela de seu patrimocircnio ou

191iacutendice de teses

de suas rendas a qualquer tiacutetulo II ndash aplicarem integralmente no Paiacutes os seus recursos na manu-tenccedilatildeo dos seus objetivos institucionais III ndash manterem escrituraccedilatildeo de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidatildeo sect 1ordm Na falta de cumprimento do disposto neste artigo ou no sect 1ordm do art 9ordm a autoridade competente pode suspender a aplicaccedilatildeo do benefiacutecio sect 2ordm Os serviccedilos a que se refere a aliacutenea c do inciso IV do art 9ordm satildeo exclusivamente os diretamente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivosrdquo

7 MARTINS Ives Gandra da Silva Entidades sem fins lucrativos com finalidades culturais e filantroacute-picas ndash Imunidade constitucional de impostos e contribuiccedilotildees sociais ndash Parecer Caderno de direito tributaacuterio e financcedilas puacuteblicas v 4 p 83 1994

192iacutendice de teses

A contribuiccedilatildeo social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do

empregado quer anteriores ou posteriores agrave Emenda Constitucional 201998

ldquoO texto constitucional em seu atual sect 11 do art 201 antigo sect 4ordm1 sempre consagrou a interpretaccedilatildeo extensiva da questatildeo salarial para fins de contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria

Para fins previdenciaacuterios o texto constitucional adotou a expressatildeo lsquofolha de sa-laacuteriosrsquo como o conjunto de verbas remuneratoacuterias de natureza retributiva ao traba-lho realizado incluindo gorjetas comissotildees gratificaccedilotildees horas-extras 13ordm salaacuterio adicionais 13 de feacuterias precircmios entre outras parcelas cuja natureza retributiva ao trabalho habitual prestado mesmo em situaccedilotildees especiais eacute patenterdquo2

1 ldquoArt 201 () sect 4ordm Os ganhos habituais do empregado a qualquer tiacutetulo seratildeo incorporados ao sa-laacuterio para efeito de contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria e consequente repercussatildeo em benefiacutecios nos casos e na forma da leirdquo (Redaccedilatildeo anterior agrave Emenda Constitucional 201998)

2 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 565160RG ‒ Tema 20rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 859

193iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

Incide o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) considerado imoacutevel de

pessoa juriacutedica de direito puacuteblico cedido agrave pessoa juriacutedica de direito privado

devedora do tributo

Natildeo se pode aplicar a imunidade tributaacuteria reciacuteproca se o bem estaacute desvinculado de finalidade estatal A imunidade tributaacuteria reciacuteproca possui natureza subjetiva e natildeo cabe o entendimento a revelar extensatildeo para aleacutem das situaccedilotildees previstas no art 150 sect 2ordm do texto constitucional1 A regra da imunidade da aliacutenea a do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 estaacute restrita agrave instituiccedilatildeo de imposto sobre patrimocircnio ou renda ou serviccedilos das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico

A imunidade reciacuteproca natildeo foi concebida com o propoacutesito de atender particular que desenvolve atividade econocircmica e usufrui de vantagem advinda da utilizaccedilatildeo de bem puacuteblico A previsatildeo decorre da necessidade de observar-se no contexto federati-vo o respeito muacutetuo e a autonomia dos entes Natildeo cabe estendecirc-la evitando a tribu-taccedilatildeo de particulares que atuam no regime de livre concorrecircncia

Caso fosse reconhecida a imunidade isso geraria como efeito colateral vanta-gem competitiva artificial em favor da empresa privada que teria um ganho em relaccedilatildeo aos seus concorrentes A retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formaccedilatildeo de preccedilos menores o que provoca desequiliacutebrio das relaccedilotildees de mer-cado e em consequecircncia afronta ao princiacutepio da livre concorrecircncia expresso no art 170 da CF3

A hipoacutetese de incidecircncia do IPTU natildeo estaacute limitada agrave propriedade do imoacutevel in-cluindo o domiacutenio uacutetil e a posse do bem O mesmo entendimento vale para o contri-buinte do tributo que natildeo se restringe ao proprietaacuterio do imoacutevel alcanccedilando tanto o titular do domiacutenio uacutetil quanto o possuidor a qualquer tiacutetulo

RE 601720RG ‒ Tema 437red p o ac min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 5-9-2017Informativo STF 860

194iacutendice de teses

1 ldquoArt 150 () sect 2ordm A vedaccedilatildeo do inciso VI a eacute extensiva agraves autarquias e agraves fundaccedilotildees instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico no que se refere ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos vinculados a suas finalidades essenciais ou agraves delas decorrentesrdquo

2 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

195iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria constante do art 150 VI d da Constituiccedilatildeo Federal

(CF)1 aplica-se ao livro eletrocircnico (e-book) inclusive aos suportes exclusiva-

mente utilizados para fixaacute-lo

A teleologia da imunidade contida no art 150 VI d da CF aponta para a proteccedilatildeo de valores princiacutepios e ideias de elevada importacircncia como a liberdade de expres-satildeo voltada agrave democratizaccedilatildeo e agrave difusatildeo da cultura a formaccedilatildeo cultural do povo indene de manipulaccedilotildees a neutralidade de modo a natildeo fazer distinccedilatildeo entre grupos economicamente fortes e fracos assim como entre grupos poliacuteticos a livre forma-ccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica e a liberdade de informar e ser informado Tambeacutem busca o barateamento do custo de produccedilatildeo dos livros jornais e perioacutedicos de modo a facilitar e estimular a divulgaccedilatildeo de ideias conhecimentos e informaccedilotildees Com base na interpretaccedilatildeo finaliacutestica se o livro natildeo constituir veiacuteculo de ideias de transmis-satildeo de pensamentos ainda que formalmente possa ser considerado como tal seraacute descabida a aplicaccedilatildeo de vantagens tributaacuterias

A imunidade sob anaacutelise possui natureza objetiva pois protege o objeto tributa-do e natildeo o contribuinte propriamente dito No caso natildeo se leva em consideraccedilatildeo a capacidade contributiva do consumidor mas apenas os impostos incidentes sobre materialidades proacuteprias das operaccedilotildees com livros jornais perioacutedicos e com o papel destinado agrave sua impressatildeo Logo natildeo deve ser interpretada em seus extremos sob pena de se subtrair da salvaguarda toda a racionalidade que inspira seu alcance praacute-tico ou de transformar a imunidade em subjetiva na medida em que acabaria por desonerar de todo a pessoa do contribuinte

De acordo com a interpretaccedilatildeo histoacuterica e teleoloacutegica da imunidade tributaacuteria a vontade do legislador natildeo foi de restringi-la apenas ao livro editado em papel A apli-caccedilatildeo desse instituto deve se projetar no futuro e levar em conta os novos fenocircmenos sociais culturais e tecnoloacutegicos Com isso evita-se o esvaziamento das normas imu-

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 330817RG ‒ Tema 593rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 856

196iacutendice de teses

nizantes por mero lapso temporal aleacutem de se propiciar a constante atualizaccedilatildeo do alcance de seus preceitos

No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo evolutiva da imunidade demonstra que os fun-damentos racionais que levaram agrave ediccedilatildeo do art 150 VI d da CF continuam a existir mesmo no que se refere aos livros eletrocircnicos Afinal o referido dispositivo natildeo diz respeito apenas ao meacutetodo gutenberguiano de produccedilatildeo de livros jornais e perioacutedi-cos natildeo sendo o papel essencial para conceituar esses bens Ademais as mudanccedilas histoacutericas e os fatores poliacuteticos e sociais da atualidade quer em razatildeo do avanccedilo tec-noloacutegico quer em decorrecircncia da preocupaccedilatildeo ambiental justificam a equiparaccedilatildeo do papel aos suportes utilizados para a publicaccedilatildeo dos livros Esses suportes satildeo consi-derados apenas o continente (corpus mechanicum ou seja a base material do livro) que abrange o conteuacutedo (corpus misticum) das obras literaacuterias Para o livro possuir imuni-dade tributaacuteria eacute portanto dispensaacutevel que se apresente no formato de coacutedice pois o corpo mecacircnico natildeo eacute o essencial ou o condicionante para o gozo da imunidade Ante a variedade de tipos de suporte (tangiacutevel ou intangiacutevel) que um livro pode ter essa caracteriacutestica soacute pode ser considerada como elemento acidental no conceito de livro

Acresce-se a esse entendimento natildeo ser necessaacuterio que o leitor tenha de passar sua visatildeo pelo texto e decifrar os signos da escrita Destarte a imunidade de que trata o art 150 VI d da CF estende-se aos livros digitais (e-books) e aos audiolivros ou audio-books (livros gravados em aacuteudio)

No tocante ao CD-ROM este eacute considerado apenas um corpo mecacircnico ou supor-te no qual estaacute fixado o livro (conteuacutedo textual) Tanto o suporte quanto o livro estatildeo abarcados pela imunidade tributaacuteria

Tendo em vista que o avanccedilo na cultura escrita estaacute ligado ao advento de novas tecnologias relativas ao suporte dos livros a teleologia da regra de imunidade igual-mente abrange o papel eletrocircnico (e-paper) e os aparelhos leitores de livros eletrocircni-cos (e-readers) Afinal esses aparelhos se equiparam aos tradicionais corpos mecacircnicos dos livros fiacutesicos ainda que eventualmente estejam equipados com funcionalidades acessoacuterias ou rudimentares que auxiliam a leitura digital como acesso agrave internet para o download de livros digitais dicionaacuterios marcadores escolha do tipo e tamanho de fonte iluminaccedilatildeo do texto etc Entretanto esse entendimento natildeo eacute aplicaacutevel aos apa-relhos multifuncionais como tablets smartphones e laptops os quais vatildeo muito aleacutem de meros equipamentos utilizados para leitura de livros digitais

Por fim vale mencionar que a maior capacidade de interaccedilatildeo com o leitorusuaacute-rio provocada pelos livros digitais a partir de uma determinada maacutequina em com-

197iacutendice de teses

paraccedilatildeo com os livros tradicionais natildeo impede o reconhecimento de sua imunidade tributaacuteria ao bem final pois esse fato parece estar associado ao processo evolutivo da cultura escrita

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre () d) livros jornais perioacutedicos e o papel destinado a sua impressatildeordquo

198iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria subjetiva aplica-se a seus beneficiaacuterios na posiccedilatildeo de

contribuinte de direito mas natildeo na de simples contribuinte de fato sendo

irrelevante para a verificaccedilatildeo da existecircncia do beneplaacutecito constitucional a

repercussatildeo econocircmica do tributo envolvido1

O ente beneficiaacuterio de imunidade tributaacuteria subjetiva ocupante da posiccedilatildeo de simples contribuinte de fato embora possa arcar com os ocircnus financeiros dos impostos envol-vidos nas compras de mercadorias ndash a exemplo do Imposto sobre Produtos Industria-lizados (IPI) e do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ndash caso tenham sido transladados pelo vendedor contribuinte de direito desembolsa importe que juridicamente natildeo eacute tributo mas sim preccedilo decorrente de relaccedilatildeo contratual

A existecircncia ou natildeo dessa translaccedilatildeo econocircmica e sua intensidade dependem de diversos fatores externos agrave natureza da exaccedilatildeo como o momento da pactuaccedilatildeo do preccedilo (se antes ou depois da criaccedilatildeo ou da majoraccedilatildeo do tributo) a elasticidade da oferta e a elasticidade da demanda entre outros

Ademais diversas liccedilotildees doutrinaacuterias2 3 4 5 6 e 7 desaconselham levar em conside-raccedilatildeo a denominada repercussatildeo econocircmica do tributo para verificar a existecircncia da imunidade tributaacuteria

1 ARE 758886 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 20-5-2014 RE 600480 AgR rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 16-8-2013 ARE 721176 AgR rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 13-8-2013 ARE 690382 AgR rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 17-12-2012 AI 736607 AgR rel min Ayres Britto 2ordf T DJE de 19-10-2011 e AI 620444 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 5-3-2010

2 MACHADO Hugo de Brito Curso de direito tributaacuterio 30 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 286287

3 Idem Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro In ______ (Coord) Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro Satildeo Paulo Malheiros 2013 p 208

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 608872RG ‒ Tema 342rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 27-9-2017Informativo STF 855

199iacutendice de teses

4 MACHADO SEGUNDO Hugo de Brito Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro In MACHADO Hugo de Brito (Coord) Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro Satildeo Paulo Malheiros 2013 p 218

5 ATALIBA Geraldo Hipoacutetese de incidecircncia tributaacuteria 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2010 p 143

6 SCHOUERI Luiacutes Eduardo A restituiccedilatildeo de impostos indiretos no sistema juriacutedico-tributaacuterio brasi-leiro Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 27 n 1 p 3948 janmar 1987

7 BECKER Alfredo Augusto Teoria geral do direito tributaacuterio 3 ed Satildeo Paulo Lejus 1998

200iacutendice de teses

A imunidade da aliacutenea d do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal de

19881 alcanccedila componentes eletrocircnicos destinados exclusivamente a inte-

grar unidade didaacutetica com fasciacuteculos

Essa norma objetiva proteger natildeo simplesmente o livro jornal ou perioacutedico como ldquosuportes fiacutesicos de ideias e comunicaccedilatildeordquo mas o valor intriacutenseco do conteuacutedo vei-culado de natureza educacional informativa expressiva do pensamento indivi-dual ou coletivo O meio eacute secundaacuterio importando precipuamente promover e assegurar o direito fundamental agrave educaccedilatildeo agrave cultura agrave informaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo poliacutetica dos cidadatildeos2

Diante disso componentes eletrocircnicos atinentes a cursos de montagem de com-putadores representam elementos indispensaacuteveis ao conjunto didaacutetico integrando o produto final acabado voltado a veicular informaccedilotildees de cunho educativo

A extensatildeo da imunidade tributaacuteria em favor desses elementos eletrocircnicos justifi-ca-se em razatildeo de constituiacuterem material complementar ao conteuacutedo educativo Natildeo se trata de bens que possam ser caracterizados como ldquobrindes comerciaisrdquo presentes apenas como forma de atrair a aquisiccedilatildeo do produto pelo puacuteblico O fasciacuteculo im-presso e os componentes eletrocircnicos satildeo partes fisicamente distinguiacuteveis finaliacutestica e funcionalmente unitaacuterias

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre () d) livros jornais perioacutedicos e o papel destinado a sua impressatildeordquo

2 RE 183403 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 4-5-2001 RE 199183 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 12-6-1998 e RE 221239 rel min Ellen Gracie 2ordf T DJ de 6-8-2004

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 595676RG ‒ Tema 259rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 18-12-2017Informativo STF 856

201iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria prevista no art 150 IV a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

natildeo alcanccedila imoacuteveis da Uniatildeo e das unidades federadas cedidos para empreen-

dimentos privados exploradores de atividade econocircmica com fins lucrativos

A aplicabilidade da imunidade reciacuteproca depende da superaccedilatildeo ou aprovaccedilatildeo em tes-te de trecircs estaacutegios tendo a Constituiccedilatildeo como paracircmetro de controle quais sejam

a) a imunidade eacute ldquosubjetivardquo isto eacute ela se aplica agrave propriedade bens e serviccedilos utilizados na satisfaccedilatildeo dos objetivos institucionais imanentes do ente federado cuja tributaccedilatildeo poderia colocar em risco a respectiva autonomia poliacutetica Em consequecircn-cia eacute incorreto ler a claacuteusula de imunizaccedilatildeo de modo a reduzi-la a mero instrumento destinado a dar ao ente federado condiccedilotildees de contrataccedilatildeo mais vantajosas indepen-dentemente do contexto

b) atividades de exploraccedilatildeo econocircmica destinadas primordialmente a aumentar o patrimocircnio do Estado ou de particulares devem ser submetidas a tributaccedilatildeo por se apresentarem como manifestaccedilotildees de riqueza e deixarem a salvo a autonomia po-liacutetica Em decorrecircncia a circunstacircncia de a atividade ser desenvolvida em regime de monopoacutelio por concessatildeo ou por delegaccedilatildeo eacute de todo irrelevante

c) a desoneraccedilatildeo natildeo deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princiacute-pios da livre concorrecircncia e do exerciacutecio de atividade profissional ou econocircmica liacutecita Em princiacutepio o sucesso ou a desventura empresarial devem pautar-se por virtudes e viacutecios proacuteprios do mercado e da administraccedilatildeo sem que a intervenccedilatildeo do Estado seja favor preponderante

Igualmente a interpretaccedilatildeo da sujeiccedilatildeo passiva mostra-se indissociaacutevel dos con-ceitos constitucionais da propriedade da funccedilatildeo do tributo e da proacutepria imunidade enquanto a tributaccedilatildeo se baseia no aspecto econocircmico e na funccedilatildeo social que se daacute agrave propriedade Na locaccedilatildeo empresarial de fins lucrativos tanto o proprietaacuterio-locador como o possuidor-locataacuterio retiram vantagem econocircmica do bem imoacutevel de modo que a aparente ldquoposse-detenccedilatildeordquo eacute signo presuntivo de riqueza tambeacutem para a pessoa

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar

RE 434251red p o ac min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 836

202iacutendice de teses

que recebe a propriedade imoacutevel para uso Dessa forma o locataacuterio empresarial com fins lucrativos tambeacutem eacute ldquopossuidor a qualquer tiacutetulordquo para fins de incidecircncia do Im-posto Predial Territorial Urbano (IPTU) nos termos da Constituiccedilatildeo Nessa medida o art 32 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional2 deve ser lido agrave luz da CF com ecircnfase em trecircs pontos materialidade possiacutevel do IPTU (CF art 156 I3) isonomia (CF art 150 II4) livre iniciativa e livre concorrecircncia (CF art 170 caput e IV5)

A tributaccedilatildeo representa um custo do empreendimento de modo que sua redu-ccedilatildeo ou supressatildeo conferem importante vantagem competitiva Aliaacutes esta eacute a base da guerra fiscal Reconhecer a impossibilidade pura e simples de o locador particular ser considerado sujeito passivo da exaccedilatildeo somente porque conseguiu alugar imoacutevel de propriedade de ente puacuteblico implicaria em estender a ente privado salvaguarda proacutepria da Federaccedilatildeo

Assim a entidade privada passaria a ter vantagem decorrente de elemento artificial e injustificaacutevel sem qualquer lastro em sua capacidade de gestatildeo ou maior eficiecircncia do agente econocircmico O prejuiacutezo resultante afeta tanto os interesses individuais de cada outra entidade privada que natildeo foi agraciada pelo benefiacutecio como interesses transcen-dentes de toda a coletividade Neste ponto eacute importante frisar que o enfraquecimento do mercado pode acarretar distorccedilotildees na oferta na formaccedilatildeo de preccedilos no desenvolvi-mento de novos produtos e serviccedilos e na qualidade das atividades exercidas

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

2 ldquoArt 32 O imposto de competecircncia dos Municiacutepios sobre a propriedade predial e territorial urba-na tem como fato gerador a propriedade o domiacutenio uacutetil ou a posse de bem imoacutevel por natureza ou por acessatildeo fiacutesica como definido na lei civil localizado na zona urbana do Municiacutepiordquo

3 ldquoArt 156 Compete aos Municiacutepios instituir impostos sobre I ndash propriedade predial e territorial urbanardquo

4 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () II ndash instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situaccedilatildeo equivalente proibida qualquer distinccedilatildeo em razatildeo de ocupaccedilatildeo profissional ou funccedilatildeo por eles exercida independentemente da denominaccedilatildeo juriacutedica dos rendi-mentos tiacutetulos ou direitosrdquo

5 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

203iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Reparticcedilatildeo das receitas tributaacuterias

Natildeo cabe agrave Uniatildeo criar por meio de legislaccedilatildeo ordinaacuteria novos criteacuterios de

deduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da receita arrecadada de impostos em desacordo com

o art 159 I a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Da arrecadaccedilatildeo dos impostos e de acordo com o dispositivo constitucional e legal a Uniatildeo deve entregar ao Fundo de Participaccedilatildeo dos Estados 215 do produto da arrecadaccedilatildeo do Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) e do Imposto sobre Produ-tos Industrializados (IPI)

Dessa forma as balizas referentes agrave regecircncia dos tributos estariam bem definidas e respeitadas natildeo se podendo considerar outras poliacuteticas norteadas pelo interesse da Uniatildeo sob pena de esvaziamento do estabelecido na Constituiccedilatildeo

A reduccedilatildeo na base de caacutelculo ante as deduccedilotildees pela Secretaria do Tesouro Na-cional nos valores recolhidos com o IRPJ das contribuiccedilotildees do Programa de Inte-graccedilatildeo Nacional (PIN) e do Programa de Redistribuiccedilatildeo de Terras e de Estiacutemulo agrave Agroinduacutestria do Norte e do Nordeste (PROTERRA) criados respectivamente pelos Decretos-Lei 1106 de 16 de junho de 1970 e 1179 de 6 de julho de 1971 eacute incompatiacutevel com a ordem constitucional vigente

A uacutenica possibilidade de desconto permitida pela CF seria referente agrave quota-parte alusiva ao desconto na fonte relativamente a servidores dos Estados e do Distrito Federal (art 157 I)2 e dos Municiacutepios (art 158 I)3 porque procedido pelas proacute-prias unidades da Federaccedilatildeo natildeo cabendo admitir o aditamento agrave Carta mediante legislaccedilatildeo ordinaacuteria para chegar-se a subtraccedilotildees diversas esvaziando-se o objetivo da norma que outro natildeo eacute senatildeo a transferecircncia do arrecadado pela Uniatildeo no per-centual referido

A consideraccedilatildeo de outras parcelas para desconto dependeria de emenda consti-tucional

ACO 758rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

204iacutendice de teses

1 ldquoArt 159 A Uniatildeo entregaraacute I ndash do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos sobre renda e proven-tos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados 49 (quarenta e nove por cento) na seguinte forma a) vinte e um inteiros e cinco deacutecimos por cento ao Fundo de Participaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federalrdquo

2 ldquoArt 157 Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal I ndash o produto da arrecadaccedilatildeo do imposto da Uniatildeo sobre renda e proventos de qualquer natureza incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer tiacutetulo por eles suas autarquias e pelas fundaccedilotildees que instituiacuterem e mantiveremrdquo

3 ldquoArt 158 Pertencem aos Municiacutepios I ndash o produto da arrecadaccedilatildeo do imposto da Uniatildeo sobre renda e proventos de qualquer natureza incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer tiacutetulo por eles suas autarquias e pelas fundaccedilotildees que instituiacuterem e mantiveremrdquo

205iacutendice de teses

Eacute assegurado ao Poder Judiciaacuterio estadual o direito de receber ateacute o dia

vinte de cada mecircs em duodeacutecimos os recursos correspondentes agraves dota-

ccedilotildees orccedilamentaacuterias sendo facultado ao Poder Executivo do Estado pro-

ceder ao desconto uniforme da Receita Corrente Liacutequida prevista na Lei

Orccedilamentaacuteria Anual estadual1 em sua proacutepria receita e na dos demais Po-

deres e oacutergatildeos autocircnomos

Ato omissivo consubstanciado em atraso no dever de repasse pelo Poder Exe-cutivo dos recursos financeiros previstos em lei orccedilamentaacuteria aprovada pela As-sembleia Legislativa ao Poder Judiciaacuterio estadual viola o direito prescrito no art 168 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 Esse dispositivo instrumentaliza o postulado da separaccedilatildeo de poderes e impede a sujeiccedilatildeo dos demais Poderes e oacutergatildeos autocirc-nomos da Repuacuteblica a arbiacutetrios e ilegalidades perpetradas no acircmbito do Poder Executivo respectivo

Ainda que se trate de Estado-membro oficialmente reconhecido como em ldquoesta-do de calamidade puacuteblica no acircmbito da administraccedilatildeo financeirardquo3 natildeo se pode le-gitimar a fixaccedilatildeo pelo Poder Executivo de cronograma orccedilamentaacuterio Esse ato retira a previsibilidade da disponibilizaccedilatildeo de recursos aos demais Poderes e instituiccedilotildees autocircnomos subtraindo-lhes as condiccedilotildees miacutenimas de gerir seus proacuteprios recursos considerada a frustraccedilatildeo da receita conforme conveniecircncia e oportunidade Nes-se sentido o repasse duodecimal deve ocorrer ldquoateacute o dia vinte de cada mecircsrdquo (CF art 168) a fim de garantir o autogoverno do Poder Judiciaacuterio tendo em vista ser o repasse ldquouma ordem de distribuiccedilatildeo prioritaacuteria (natildeo somente equitativa) de satisfa-ccedilatildeo das dotaccedilotildees orccedilamentaacuteriasrdquo4

A lei orccedilamentaacuteria no momento de sua elaboraccedilatildeo declara uma expectativa do montante a ser realizado a tiacutetulo de receita que pode ou natildeo vir a acontecer no exer-ciacutecio financeiro de referecircncia sendo o Poder Executivo responsaacutevel por proceder agrave arrecadaccedilatildeo conforme a poliacutetica puacuteblica adotada Ante a possibilidade de a receita

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Financcedilas puacuteblicas Ȥ Orccedilamentos

MS 34483 MCrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 8-8-2017Informativo STF 848

206iacutendice de teses

prevista natildeo vir a se concretizar no curso do exerciacutecio financeiro a Lei de Responsa-bilidade Fiscal (LC 1012000 art 9ordm5) instituiu o dever de cada um dos Poderes por ato proacuteprio proceder aos ajustes necessaacuterios com limitaccedilatildeo de empenho (despesa) ante a frustraccedilatildeo de receitas que inviabilize o cumprimento de suas obrigaccedilotildees Esses ajustes satildeo operados em ambiente de diaacutelogo institucional em que o Poder Executi-vo sinaliza o montante da frustraccedilatildeo de receita ndash calculada a partir do que havia sido projetado no momento da ediccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e a receita efetivamente arreca-dada no curso do exerciacutecio financeiro de referecircncia Por sua vez os demais Poderes e oacutergatildeos autocircnomos da Repuacuteblica no exerciacutecio de sua autonomia administrativa promovem os cortes necessaacuterios em suas despesas para adequar as metas fiscais de sua responsabilidade aos limites constitucionais e legais autorizados conforme con-veniecircncia e oportunidade

Atraveacutes desse diaacutelogo entre Poderes e oacutergatildeos autocircnomos eacute possiacutevel alcanccedilar so-luccedilatildeo conciliatoacuteria para o quadro faacutetico revelado pelas dificuldades declaradas pelo Estado-membro em suas financcedilas agravadas pela queda da arrecadaccedilatildeo O julgamen-to da medida cautelar por sua vez natildeo afasta a possibilidade de posterior audiecircncia de conciliaccedilatildeo entre as partes

Eacute possiacutevel o risco de impasse no ambiente dialoacutegico institucional como na hipoacute-tese de algum Poder ou oacutergatildeo autocircnomo se recusar a realizar a autolimitaccedilatildeo Esse cenaacuterio exsurge porque foi suspensa por forccedila de decisatildeo cautelar na ADI 22386 a eficaacutecia do dispositivo que prescreve a possibilidade de o Poder Executivo por ato unilateral estipular medida de austeridade nas esferas dos demais Poderes e oacutergatildeos autocircnomos7 A ratio que informa esse julgado eacute a impossibilidade de se legitimar a atuaccedilatildeo do Poder Executivo como julgador e executor de sua proacutepria decisatildeo

Essa situaccedilatildeo reclama a atuaccedilatildeo de um terceiro ndash estranho ao oacutergatildeo autocircnomo interessado no repasse orccedilamentaacuterio e ao Poder com a funccedilatildeo de arrecadar a receita e realizar o orccedilamento ndash responsaacutevel por fixar o patamar da reduccedilatildeo financeira e assim solucionar a controveacutersia8 admitindo-se que o contingenciamento uniforme seja autorizado por decisatildeo judicial resguardando-se a possibilidade de compensaccedilatildeo futura no caso de a frustraccedilatildeo orccedilamentaacuteria alegada natildeo se concretizar Tambeacutem eacute ressalvada a revisatildeo desse provimento cautelar caso natildeo se demonstre o decesso na arrecadaccedilatildeo nem no percentual ambos mediante ldquorelatoacuterio detalhado com todos os recursos que compotildeem a Receita Corrente Liacutequidardquo ao qual em todos os casos deve ser conferida a mais ampla transparecircncia e publicidade

207iacutendice de teses

A exigecircncia de repasse integral dos recursos financeiros projetados na lei orccedilamen-taacuteria para Poderes e oacutergatildeos autocircnomos natildeo eacute o meio adequado para se proceder ao sancionamento de eventual ilegalidade perpetrada pelo Poder Executivo nos atos de governo e de gestatildeo de sua responsabilidade os quais podem e devem ser submetidos agrave avaliaccedilatildeo nas esferas adequadas e perante os oacutergatildeos competentes para seu conheci-mento e eventual sanccedilatildeo dos responsaacuteveis

Natildeo prospera a pretensatildeo do governo estadual de compensar os duodeacutecimos fal-tantes da receita orccedilamentaacuteria do Tribunal de Justiccedila do Estado prevista para o exer-ciacutecio financeiro com o superaacutevit e o acuacutemulo financeiro de duodeacutecimos e do fundo gerido pelo proacuteprio Tribunal de Justiccedila apurados nas contas do Poder Judiciaacuterio A receita do Fundo Especial do Tribunal de Justiccedila (FETJ) eacute originada em sua maior parte do pagamento de custas pelas partes que demandam o Poder Judiciaacuterio esta-dual e natildeo satildeo beneficiaacuterias da gratuidade de Justiccedila cuja destinaccedilatildeo eacute exclusiva para ldquocusteio dos serviccedilos afetos agraves atividades especiacuteficas da Justiccedilardquo (CF art 98 sect 2ordm9) Nessa linha havendo ainda lei estadual10 que disciplina a destinaccedilatildeo desses valores haacute portanto impedimento legal e constitucional para a utilizaccedilatildeo desses recursos para pagamento de salaacuterios aos servidores e de subsiacutedios aos magistrados

1 Lei Orccedilamentaacuteria Anual 72102016 do Estado do Rio de Janeiro

2 ldquoArt 168 Os recursos correspondentes agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias compreendidos os creacuteditos su-plementares e especiais destinados aos oacutergatildeos dos Poderes Legislativo e Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria Puacuteblica ser-lhes-atildeo entregues ateacute o dia 20 de cada mecircs em duodeacutecimos na forma da lei complementar a que se refere o art 165 sect 9ordmrdquo

3 Decreto 456922016 e Lei 74832016 ndash ambos do Estado do Rio de Janeiro ndash que respectivamen-te declaram e reconhecem a situaccedilatildeo de calamidade puacuteblica no acircmbito da administraccedilatildeo financeira do Estado do Rio de Janeiro

4 MS 21450 rel min Octavio Gallotti P DJ de 5-6-1992

5 ldquoArt 9ordm Se verificado ao final de um bimestre que a realizaccedilatildeo da receita poderaacute natildeo comportar o cumprimento das metas de resultado primaacuterio ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais os Poderes e o Ministeacuterio Puacuteblico promoveratildeo por ato proacuteprio e nos montantes necessaacuterios nos trinta dias subsequentes limitaccedilatildeo de empenho e movimentaccedilatildeo financeira segundo os criteacuterios fixados pela lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

6 ADI 2238 MC rel min Ilmar Galvatildeo P DJE de 12-9-2008

7 LC 1012000 ldquoArt 9ordm () sect 3ordm No caso de os Poderes Legislativo e Judiciaacuterio e o Ministeacuterio Puacuteblico natildeo promoverem a limitaccedilatildeo no prazo estabelecido no caput eacute o Poder Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os criteacuterios fixados pela lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

208iacutendice de teses

8 MS 31671 MC rel min Ricardo Lewandowski decisatildeo monocraacutetica DJE de 30-10-2012

9 ldquoArt 98 A Uniatildeo no Distrito Federal e nos Territoacuterios e os Estados criaratildeo () sect 2ordm As custas e emolumentos seratildeo destinados exclusivamente ao custeio dos serviccedilos afetos agraves atividades especiacutefi-cas da Justiccedilardquo

10 Art 2ordm da Lei 25241996 do Estado do Rio de Janeiro

209iacutendice de teses

Eacute constitucional a Lei federal 13255 de 15 de fevereiro de 2016 (Lei Orccedilamen-

taacuteria Anual) em especial quanto agraves disposiccedilotildees em que satildeo estipuladas as

dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias destinadas agrave Justiccedila do Trabalho (Lei Orccedilamentaacuteria

Anual de 2016 Anexo IV)

O Poder Judiciaacuterio natildeo obstante ostente iniciativa de encaminhamento da propos-ta orccedilamentaacuteria que lhe eacute proacutepria natildeo interdita do ponto de vista formal que o controle sobre essa iniciativa constitucionalmente consagrada seja realizado de modo autocircnomo em sede parlamentar

No caso a separaccedilatildeo de poderes embora seja claacuteusula peacutetrea natildeo sofreu viola-ccedilatildeo ndash art 2ordm1 cc art 60 sect 4ordm2 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) Primeiramente porque a hipoacutetese normativa impugnada (Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2016 Anexo IV) consti-tui-se como tiacutepica manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo a respeito de proposiccedilatildeo legisla-tiva submetida a discussatildeo parlamentar Em segundo lugar na situaccedilatildeo legislativa ora em apreccedilo as normas procedimentais do devido processo legislativo (procedural due process of law) foram devidamente atendidas vale dizer houve observacircncia da iniciati-va da proposiccedilatildeo legislativa em estrito respeito formal agrave autonomia administrativa e financeira da Justiccedila do Trabalho (CF art 993)

O controle orccedilamentaacuterio pelo Legislativo funda-se num corpo de normas que eacute a um soacute tempo ldquoestatuto protetivo do cidadatildeo-contribuinterdquo e ldquoferramenta do ad-ministrador puacuteblico e instrumento indispensaacutevel ao Estado Democraacutetico de Direito para fazer frente a suas necessidades financeirasrdquo

O abuso do poder de emenda assim como do descumprimento das premissas de pro-porcionalidade (ou de razoabilidade) natildeo pode ser acolhido quando suscitado de forma geneacuterica diante da ausecircncia de impugnaccedilatildeo especiacutefica e adequada dos requisitos norma-tivos reveladores desses excessos invocados em quaisquer das tradiccedilotildees teoacutericas sustenta-das (seja a do desvio do poder seja a da proporcionalidade ou ainda a da razoabilidade)

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Financcedilas puacuteblicas Ȥ Orccedilamentos

ADI 5468rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 2-8-2017Informativo STF 832

210iacutendice de teses

O desvio de finalidade tem como referecircncia conceitual a ideia de deturpaccedilatildeo do dever-poder atribuiacutedo a determinado agente puacuteblico que embora atue aparentemen-te dentro dos limites da atribuiccedilatildeo institucional mobiliza a sua atuaccedilatildeo a finalidade natildeo imposta ou natildeo desejada pela ordem juriacutedica ou pelo interesse puacuteblico

O abuso parlamentar natildeo se configura sob o acircngulo da principiologia dos sub-princiacutepios da proporcionalidade (necessidade adequaccedilatildeo e proporcionalidade em sentido estrito) quando imposta a reduccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico destinado a oacutergatildeos e programas orccedilamentaacuterios em decorrecircncia de crise econocircmica e fiscal4

Por outro lado a jurisdiccedilatildeo constitucional em face da tessitura aberta de confor-maccedilatildeo legislativa prevista pelo art 166 sect 3ordm I da CF5 natildeo deteacutem capacidade insti-tucional automaacutetica ou pressuposta e natildeo pode empreender no acircmbito do controle abstrato a tarefa de coordenaccedilatildeo entre o Plano Plurianual e as respectivas Leis de Diretrizes Orccedilamentaacuterias e Leis Orccedilamentaacuterias Anuais

Diante da ausecircncia de abusividade deve-se declarar que a funccedilatildeo de definir recei-tas e despesas do aparato estatal eacute uma das mais tradicionais e relevantes do Poder Legislativo Impotildee-se ao Poder Judiciaacuterio no caso postura de deferecircncia institucional em relaccedilatildeo ao debate parlamentar sob pena de indevida e ilegiacutetima tentativa de esva-ziamento de tiacutepicas funccedilotildees institucionais do Parlamento

1 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

2 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deli-beraccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir I ndash a forma federativa de Estado II ndash o voto direto secreto universal e perioacutedico III ndash a separaccedilatildeo dos Poderes IV ndash os direitos e garantias individuaisrdquo

3 ldquoArt 99 Ao Poder Judiciaacuterio eacute assegurada autonomia administrativa e financeira sect 1ordm Os tribunais elaboraratildeo suas propostas orccedilamentaacuterias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os de-mais Poderes na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias sect 2ordm O encaminhamento da proposta ouvidos os outros tribunais interessados compete I ndash no acircmbito da Uniatildeo aos Presidentes do Supremo Tribu-nal Federal e dos Tribunais Superiores com a aprovaccedilatildeo dos respectivos tribunais II ndash no acircmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territoacuterios aos Presidentes dos Tribunais de Justiccedila com a aprovaccedilatildeo dos respectivos tribunais sect 3ordm Se os oacutergatildeos referidos no sect 2ordm natildeo encaminharem as res-pectivas propostas orccedilamentaacuterias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias o Poder Executivo consideraraacute para fins de consolidaccedilatildeo da proposta orccedilamentaacuteria anual os valores aprovados na lei orccedilamentaacuteria vigente ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do sect 1ordm deste artigo sect 4ordm Se as propostas orccedilamentaacuterias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do sect 1ordm o Poder Executivo procederaacute aos ajustes necessaacuterios para fins de consolidaccedilatildeo da proposta orccedilamentaacuteria anual sect 5ordm Durante a execuccedilatildeo

211iacutendice de teses

orccedilamentaacuteria do exerciacutecio natildeo poderaacute haver a realizaccedilatildeo de despesas ou a assunccedilatildeo de obrigaccedilotildees que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias exceto se previamente autorizadas mediante a abertura de creacuteditos suplementares ou especiaisrdquo

4 ldquoO cenaacuterio de crise econocircmica e fiscal eacute exemplificado por dados ilustrativos constantes dos autos no sentido de que lsquoEntre os programas que tiveram as suas dotaccedilotildees reduzidas deste ano para o proacuteximo estatildeo o Minha Casa Minha Vida (de R$ 14 bilhotildees para R$ 43 bilhotildees) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Teacutecnico e Emprego ndash Pronatec (de R$ 4 bilhotildees para R$ 16 bilhatildeo) Por outro lado o Bolsa Famiacutelia que teve sua reduccedilatildeo defendida pelo relator teraacute R$ 281 bilhotildees ndash acreacutescimo de R$ 1 bilhatildeo em relaccedilatildeo a 2015 Os cortes de gastos nos oacutergatildeos federais foram feitos em relaccedilatildeo agrave proposta original do Executivo e envolvem principalmente as despesas de custeio Os gastos com pessoal por exemplo passaram de R$ 2875 bilhotildees para R$ 2773 bilhotildees Todos os trecircs Poderes aleacutem do Ministeacuterio Puacuteblico foram afetados No caso mais extremo o do Judiciaacuterio os cortes atingiram 20 do custeio Apenas os Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e da Sauacutede teratildeo mais di-nheiro disponiacutevel devido agrave destinaccedilatildeo de emendas individuais de deputados e senadores O fundo partidaacuterio tambeacutem recebeu dotaccedilatildeo extra durante a tramitaccedilatildeo da LOA mas seraacute menor em 2016 do que foi em 2015 A meta de superaacutevit de R$ 305 bilhotildees vale para todo o setor puacuteblico nacional incluindo Estados e Municiacutepios Para a Uniatildeo a economia para pagamento da diacutevida deveraacute ser de R$ 20 bilhotildees O projeto original do Orccedilamento que o Executivo entregou ao Congresso em agos-to previa um deacuteficit fiscal equivalente aos mesmos R$ 305 bilhotildeesrdquo (Trecho da ementa do presente julgamento)

5 ldquoArt 166 Os projetos de lei relativos ao plano plurianual agraves diretrizes orccedilamentaacuterias ao orccedilamento anual e aos creacuteditos adicionais seratildeo apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional na forma do regimento comum () sect 3ordm As emendas ao projeto de lei do orccedilamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso I ndash sejam compatiacuteveis com o plano pluria-nual e com a lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

ORDEM ECONOcircMICA E FINANCEIRADIREITO CONSTITUCIONAL

213iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 que impotildee a existecircncia de serviccedilo de empacota-

mento em supermercados sob pena de multa e interdiccedilatildeo de estabelecimento

A restriccedilatildeo ao princiacutepio da livre iniciativa (CF art 1ordm IV2) protegido pelo art 170 caput da Constituiccedilatildeo3 a pretexto de proteger os consumidores natildeo atende ao princiacutepio da proporcionalidade nas suas trecircs dimensotildees adequaccedilatildeo necessidade e proporcionalidade em sentido estrito

Em primeiro lugar a providecircncia imposta pela lei estadual eacute inadequada porque a simples presenccedila de um empacotador em supermercados natildeo eacute uma medida que aumente a proteccedilatildeo dos direitos do consumidor mas sim mera conveniecircncia em be-nefiacutecio dos eventuais clientes Dessa forma a medida imposta demonstra-se incapaz de atingir o fim a que alegadamente se propotildee

Em segundo lugar trata-se tambeacutem de medida desnecessaacuteria A obrigaccedilatildeo de con-tratar um empregado ou um fornecedor de matildeo de obra exclusivamente com essa finalidade poderia ser facilmente substituiacuteda por um processo mecacircnico

Por fim as penalidades de multa e interdiccedilatildeo do estabelecimento satildeo despropor-cionais em sentido estrito se comparadas ao conforto gerado pelo empacotamento de mercadorias eis que capazes de verdadeiramente falir um supermercado de pe-queno ou meacutedio porte

1 Lei 21301993 do Estado do Rio de Janeiro ldquoArt 1ordm Os Estabelecimentos Comerciais autodeno-minados de Supermercados sediados ou com filiais no Estado do Rio de Janeiro teratildeo que prestar serviccedilo de empacotamento dos produtos comercializados nos mesmos Paraacutegrafo uacutenico Entende-se por EMPACOTAMENTO o serviccedilo prestado por funcionaacuterio do estabelecimento que teraacute como funccedilatildeo principal a de EMPACOTADOR de colocar em sacolas os produtos que forem adquiridos pelos clientes Art 2ordm O descumprimento desta Lei acarretaraacute as seguintes penalidades I ndash Multa de 10 a 100000 UFERJs [Unidade Fiscal do Estado do Rio de Janeiro] II ndash Interdiccedilatildeo do Estabelecimen-to Art 3ordm Os estabelecimentos citados teratildeo prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicaccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem econocircmica e financeira

Ȥ Princiacutepios gerais da atividade econocircmica Ȥ Livre iniciativa

ADI 907red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 24-11-2017Informativo STF 871

214iacutendice de teses

da presente Lei para adequarem seus quadros de pessoal agraves normas aqui contidas Art 4ordm Esta Lei entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo revogadas as disposiccedilotildees em contraacuteriordquo

2 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre iniciativardquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepiosrdquo

215iacutendice de teses

Nos termos do art 178 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 as normas e os tratados

internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aeacutereas

de passageiros especialmente as Convenccedilotildees de Varsoacutevia e Montreal tecircm

prevalecircncia em relaccedilatildeo ao Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC)

O princiacutepio constitucional que impotildee a defesa do consumidor (CF arts 5ordm XXXII2 e 170 V3) natildeo impede a derrogaccedilatildeo do CDC por norma mais restritiva ainda que por lei especial A proteccedilatildeo do consumidor natildeo eacute a uacutenica diretriz a orientar a ordem econocircmica nem o uacutenico mandamento constitucional a ser observado pelo legislador

Eacute certo que a Constituiccedilatildeo incluiu a defesa do consumidor no rol dos direitos fundamentais Poreacutem o proacuteprio texto constitucional jaacute em redaccedilatildeo originaacuteria tam-beacutem determinou a observacircncia dos acordos internacionais quanto agrave ordenaccedilatildeo do transporte aeacutereo internacional

O teor do art 178 da CF eacute claro ao impor a compatibilizaccedilatildeo entre a competecircncia legislativa interna em mateacuteria de transporte internacional e o cumprimento das normas internacionais adotadas pelo Brasil na mateacuteria

A teleologia da regra eacute uniformizar o direito aeronaacuteutico a fim de viabilizar e fo-mentar o transporte internacional Como a atividade envolve necessariamente dois ou mais Estados soberanos sua execuccedilatildeo sempre se conecta pelo menos a duas ordens juriacutedicas diferentes

Assim sem a uniformizaccedilatildeo das normas aplicaacuteveis a inseguranccedila juriacutedica seria enorme ndash inclusive para os passageiros que soacute poderiam saber os seus direitos recor-rendo a complexas regras de conexatildeo e estudando a legislaccedilatildeo estrangeira aplicaacutevel

Com efeito a harmonizaccedilatildeo das normas favorece a isonomia (CF art 5ordm caput) Afinal garante que todos os consumidores recebam o mesmo tratamento por parte dos fornecedores ndash o que aliaacutes eacute previsto no proacuteprio CDC como direito baacutesico do consumidor (art 6ordm II in fine4) Dessa forma a opccedilatildeo consagrada no art 178 pres-

Direito Constitucional Ȥ Ordem econocircmica e financeira

Ȥ Princiacutepios gerais da atividade econocircmica Ȥ Ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre ndash Repercussatildeo Geral

RE 636331rel min Gilmar MendesARE 766618rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 13-11-2017Informativo STF 859

216iacutendice de teses

tigia a um soacute tempo a previsibilidade do Direito a igualdade e os compromissos firmados pela Repuacuteblica junto agrave comunidade internacional

Ademais cabe destacar que no tocante agrave aparente antinomia entre a regra do art 145 da Lei 80781990 e a regra do art 226 da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia e do art 227 da Convenccedilatildeo de Montreal para Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Internacional deve-se considerar que natildeo haacute diferenccedila de hierarquia entre os diplomas normativos em conflito

As normas internacionais em questatildeo natildeo gozam de estatura normativa suprale-gal de acordo com a orientaccedilatildeo firmada no RE 4663438 uma vez que natildeo versa sobre a disciplina dos direitos humanos

Assim a aparente antinomia deve ser solucionada pela aplicaccedilatildeo dos criteacuterios or-dinaacuterios que determinam a prevalecircncia da lei especial em relaccedilatildeo agrave lei geral e da lei posterior em relaccedilatildeo agrave lei anterior (Lei de Introduccedilatildeo agraves Normas do Direito Brasilei-ro art 2ordm sect 2ordm9)

Com efeito a anaacutelise sob ambos os criteacuterios denota a prevalecircncia das referidas convenccedilotildees internacionais porque mais recentes10 e especiais11 em relaccedilatildeo ao CDC

Diante desse quadro eacute aplicaacutevel o limite indenizatoacuterio estabelecido na Conven-ccedilatildeo de Varsoacutevia e demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil em relaccedilatildeo agraves condenaccedilotildees por dano material decorrente de extravio de bagagem em voos inter-nacionais12

Isso se deve ao fato de a limitaccedilatildeo imposta pelos acordos internacionais alcanccedilar tatildeo somente a indenizaccedilatildeo por dano material e natildeo a reparaccedilatildeo por dano moral A exclusatildeo justifica-se porque a disposiccedilatildeo do art 22 natildeo faz qualquer referecircncia agrave reparaccedilatildeo por dano moral e a imposiccedilatildeo de limites quantitativos preestabelecidos natildeo parece condizente com a proacutepria natureza do bem juriacutedico tutelado nos casos de reparaccedilatildeo por dano moral

Igualmente aplicaacutevel eacute o prazo prescricional previsto no art 2913 da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia para a accedilatildeo de responsabilidade civil no caso de acidente aeacutereo em voo internacional14

1 ldquoArt 178 A lei disporaacute sobre a ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre devendo quanto agrave ordenaccedilatildeo do transporte internacional observar os acordos firmados pela Uniatildeo aten-dido o princiacutepio da reciprocidade Paraacutegrafo uacutenico Na ordenaccedilatildeo do transporte aquaacutetico a lei estabeleceraacute as condiccedilotildees em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a navegaccedilatildeo interior poderatildeo ser feitos por embarcaccedilotildees estrangeirasrdquo

217iacutendice de teses

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXII ndash o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidorrdquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

4 ldquoArt 6ordm Satildeo direitos baacutesicos do consumidor () II ndash a educaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo sobre o consumo ade-quado dos produtos e serviccedilos asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contrataccedilotildeesrdquo

5 ldquoArt 14 O fornecedor de serviccedilos responde independentemente da existecircncia de culpa pela re-paraccedilatildeo dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos bem como por informaccedilotildees insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiccedilatildeo e riscosrdquo

6 Convenccedilatildeo de Varsoacutevia (Decreto 207041931) ldquoArtigo 22 (1) No transporte de pessoas limita--se a responsabilidade do transportador agrave importacircncia de cento e vinte e cinco mil francos por passageiro Se a indenizaccedilatildeo de conformidade com a lei do tribunal que conhecer da questatildeo puder ser arbitrada em constituiccedilatildeo de renda natildeo poderaacute o respectivo capital exceder aquele limite Entretanto por acordo especial com o transportador poderaacute o viajante fixar em mais o limite de responsabilidade (2) No transporte de mercadorias ou de bagagem despachada limita-se a res-ponsabilidade do transportador agrave quantia de duzentos e cinquenta francos por quilograma salvo declaraccedilatildeo especial de lsquointeresse na entregarsquo feita pelo expedidor no momento de confiar ao trans-portador os volumes e mediante o pagamento de uma taxa suplementar eventual Neste caso fica o transportador obrigado a pagar ateacute a importacircncia da quantia declarada salvo se provar ser esta superior ao interesse real que o expedidor tinha entrega (3) Quanto aos objetos que o viajante con-serve sob guarda limita-se a cinco mil francos por viajante a responsabilidade do transportador (4) As quantias acima indicadas consideram-se referentes ao franco francecircs constituiacutedo de sessenta e cinco e meio miligramas do ouro ao tiacutetulo de novecentos mileacutesimos de metal fino Elas se poderatildeo converter em nuacutemeros redondos na moeda nacional de cada paiacutesrdquo

7 Convenccedilatildeo de Montreal para a Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Inter-nacional (Decreto 59102006) ldquoArtigo 22 ndash Limites de Responsabilidade Relativos ao Atraso da Bagagem e da Carga 1 Em caso de dano causado por atraso no transporte de pessoas como se especifica no Artigo 19 a responsabilidade do transportador se limita a 4150 Direitos Especiais de Saque por passageiro 2 No transporte de bagagem a responsabilidade do transportador em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso se limita a 1000 Direitos Especiais de Saque por passageiro a menos que o passageiro haja feito ao transportador ao entregar-lhe a bagagem registrada uma declaraccedilatildeo especial de valor da entrega desta no lugar de destino e tenha pago uma quantia su-plementar se for cabiacutevel Neste caso o transportador estaraacute obrigado a pagar uma soma que natildeo excederaacute o valor declarado a menos que prove que este valor eacute superior ao valor real da entrega no lugar de destino 3 No transporte de carga a responsabilidade do transportador em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso se limita a uma quantia de 17 Direitos Especiais de Saque por quilograma a menos que o expedidor haja feito ao transportador ao entregar-lhe o volume uma declaraccedilatildeo especial de valor de sua entrega no lugar de destino e tenha pago uma quantia suple-

218iacutendice de teses

mentar se for cabiacutevel Neste caso o transportador estaraacute obrigado a pagar uma quantia que natildeo excederaacute o valor declarado a menos que prove que este valor eacute superior ao valor real da entrega no lugar de destino 4 Em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso de uma parte da carga ou de qualquer objeto que ela contenha para determinar a quantia que constitui o limite de responsabi-lidade do transportador somente se levaraacute em conta o peso total do volume ou volumes afetados Natildeo obstante quando a destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso de uma parte da carga ou de um objeto que ela contenha afete o valor de outros volumes compreendidos no mesmo conhecimento aeacutereo ou no mesmo recibo ou se natildeo houver sido expedido nenhum desses documentos nos registros conservados por outros meios mencionados no nuacutemero 2 do Artigo 4 para determinar o limite de responsabilidade tambeacutem se levaraacute em conta o peso total de tais volumes 5 As disposiccedilotildees dos nuacutemeros 1 e 2 deste Artigo natildeo se aplicaratildeo se for provado que o dano eacute resultado de uma accedilatildeo ou omissatildeo do transportador ou de seus prepostos com intenccedilatildeo de causar dano ou de forma teme-raacuteria e sabendo que provavelmente causaria dano sempre que no caso de uma accedilatildeo ou omissatildeo de um preposto se prove tambeacutem que este atuava no exerciacutecio de suas funccedilotildees 6 Os limites prescritos no Artigo 21 e neste Artigo natildeo constituem obstaacuteculo para que o tribunal conceda de acordo com sua lei nacional uma quantia que corresponda a todo ou parte dos custos e outros gastos que o pro-cesso haja acarretado ao autor inclusive juros A disposiccedilatildeo anterior natildeo vigoraraacute quando o valor da indenizaccedilatildeo acordada excluiacutedos os custos e outros gastos do processo natildeo exceder a quantia que o transportador haja oferecido por escrito ao autor dentro de um periacuteodo de seis meses contados a partir do fato que causou o dano ou antes de iniciar a accedilatildeo se a segunda data eacute posteriorrdquo

8 RE 466343 rel min Cezar Peluso P DJE de 5-6-2009

9 ldquoArt 2ordm Natildeo se destinando agrave vigecircncia temporaacuteria a lei teraacute vigor ateacute que outra a modifique ou re-vogue () sect 2ordm A lei nova que estabeleccedila disposiccedilotildees gerais ou especiais a par das jaacute existentes natildeo revoga nem modifica a lei anteriorrdquo

10 ldquoDe fato embora o Decreto 20704 que promulga o texto original da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia tenha sido publicado em 24 de novembro de 1931 as modificaccedilotildees que sucessivamente sofreu satildeo posteriores ao Coacutedigo de Defesa do Consumidorrdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

11 ldquoA Lei 8078 de 1990 disciplina a generalidade das relaccedilotildees de consumo ao passo que as referidas Convenccedilotildees disciplinam uma modalidade especial de contrato a saber o contrato de transporte aeacutereo internacional de passageirosrdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

12 ldquo() as disposiccedilotildees previstas nos acordos internacionais aqui referidos aplicam-se exclusivamente ao transporte aeacutereo internacional de pessoas bagagens ou carga A expressatildeo lsquotransporte interna-cionalrsquo eacute definida no art 1ordm da Convenccedilatildeo para Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Internacional nos seguintes termos lsquo2 Para os fins da presente Convenccedilatildeo a expressatildeo transporte internacional significa todo transporte em que conforme o estipulado pelas partes o ponto de partida e o ponto de destino haja ou natildeo interrupccedilatildeo no transporte ou transbordo estatildeo situados seja no territoacuterio de dois Estados-partes seja no territoacuterio de um soacute Estado-parte havendo escala prevista no territoacuterio de qualquer outro Estado ainda que este natildeo seja um Estado-parte O transporte entre dois pontos dentro do territoacuterio de um soacute Estado-parte sem uma escala acordada

219iacutendice de teses

no territoacuterio de outro Estado natildeo se consideraraacute transporte internacional para os fins da presente Convenccedilatildeorsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

13 ldquoArt 29 (1) A accedilatildeo de responsabilidade deveraacute intentar-se sob pena de caducidade dentro do prazo de dois anos a contar da data de chegada ou do dia em que a aeronave devia ter chegado a seu des-tino ou do da interrupccedilatildeo do transporte (2) O prazo seraacute computado de acordo com a lei nacional do tribunal que conhecer da questatildeordquo

14 RE 297901 rel min Ellen Gracie P DJ de 31-3-2006

ORDEM SOCIALDIREITO CONSTITUCIONAL

221iacutendice de teses

Os estrangeiros residentes no Paiacutes satildeo beneficiaacuterios da assistecircncia social

prevista no art 203 V da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 uma vez atendidos os

requisitos constitucionais e legais

A Assembleia Nacional Constituinte de 19871988 imbuiacuteda de espiacuterito inclusivo e fraternal fez constar o benefiacutecio assistencial previsto no art 203 V da CF

A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar com o objetivo de confe-rir proteccedilatildeo agravequeles incapazes de garantir a subsistecircncia Os preceitos envolvidos satildeo os relativos agrave dignidade humana agrave solidariedade social agrave erradicaccedilatildeo da pobreza e agrave assistecircncia aos desamparados

O substrato do conceito de dignidade humana pode ser decomposto em trecircs ele-mentos (i) valor intriacutenseco (ii) autonomia e (iii) valor comunitaacuterio

Como ldquovalor intriacutensecordquo a dignidade requer o reconhecimento de que cada in-diviacuteduo eacute um fim em si mesmo nos termos do divulgado imperativo categoacuterico kantiano ldquoage de modo a utilizar a humanidade seja em relaccedilatildeo agrave tua proacutepria pes-soa ou qualquer outra sempre e todo o tempo como um fim e nunca meramente como um meiordquo Impede-se de um lado a funcionalizaccedilatildeo do indiviacuteduo e de outro afirma-se o valor de cada ser humano independentemente de escolhas situaccedilatildeo pessoal ou origem

Soa inequiacutevoco que deixar desamparado um ser humano desprovido dos meios materiais para garantir o proacuteprio sustento tendo em vista a situaccedilatildeo de idade avanccedila-da ou deficiecircncia representa expressa desconsideraccedilatildeo do mencionado valor

Como ldquoautonomiardquo a dignidade protege o conjunto de decisotildees e atitudes relacio-nado especificamente agrave vida de certo indiviacuteduo

Para que determinada pessoa seja capaz de mobilizar a proacutepria razatildeo em busca da construccedilatildeo de um ideal de vida boa ndash que no final das contas nos motiva a existir ndash eacute fundamental que lhe sejam fornecidas condiccedilotildees materiais miacutenimas Nesse aspecto

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Seguridade social Ȥ Assistecircncia social ndash Repercussatildeo Geral

RE 587970RG ndash Tema 173rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 22-9-2017Informativo STF 861

222iacutendice de teses

a previsatildeo do art 203 V da Carta Federal tambeacutem opera em suporte dessa concepccedilatildeo de vida digna

A ideia maior de solidariedade social foi alccedilada agrave condiccedilatildeo de princiacutepio pela Lei Fundamental A ningueacutem eacute dada a oportunidade de escolher nascer nesta quadra e nesta sociedade mas todos estatildeo unidos na construccedilatildeo de um propoacutesito comum O estrangeiro residente no Paiacutes inserido na comunidade participa do esforccedilo muacutetuo Esse laccedilo de irmandade fruto para alguns do fortuito e para outros do destino faz-nos de algum modo responsaacuteveis pelo bem de todos inclusive daqueles que ado-taram o Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e sociais nesta terra

Desde a criaccedilatildeo da naccedilatildeo brasileira a presenccedila do estrangeiro no Paiacutes foi incen-tivada e tolerada Dessa forma natildeo eacute coerente com a histoacuteria estabelecer diferen-ciaccedilatildeo tatildeo somente pela nacionalidade especialmente quando a dignidade estaacute em cheque em momento de fragilidade do ser humano ndash idade avanccedilada ou algum tipo de deficiecircncia

Vale notar natildeo existir ressalva em relaccedilatildeo ao natildeo nacional Ao reveacutes o art 5ordm ca-put da CF2 estampa o princiacutepio da igualdade e a necessidade de tratamento isonocircmi-co entre brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes O texto fundamental estabelece que ldquoa assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitarrdquo3 sem restringir os beneficiaacuterios somente aos brasileiros natos ou naturalizados

O benefiacutecio de assistecircncia social tem natureza estrita Natildeo basta a hipossuficiecircncia impotildee-se igualmente a demonstraccedilatildeo da incapacidade de buscar a soluccedilatildeo para tal situaccedilatildeo em decorrecircncia de especiais circunstacircncias individuais Essas pessoas obvia-mente natildeo podem ser colocadas em patamar de igualdade com os demais membros da sociedade Gozam de prioridade na accedilatildeo do Estado determinada pelo proacuteprio texto constitucional

O estrangeiro em situaccedilatildeo regular no Brasil com residecircncia fixa idoso portador de necessidades especiais hipossuficiente em si mesmo e presente a famiacutelia tem ga-rantido o benefiacutecio da assistecircncia social visto que inserido no meio social colabora para o desenvolvimento socioeconocircmico do Paiacutes

Por outro lado os estrangeiros em situaccedilatildeo diversa natildeo alcanccedilam a assistecircncia tendo em vista o natildeo atendimento agraves leis brasileiras Tal fato por si soacute demonstra a ausecircncia de noccedilatildeo de coletividade e de solidariedade a justificar a tutela do Estado

1 ldquoArt 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de con-tribuiccedilatildeo agrave seguridade social e tem por objetivos () V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de

223iacutendice de teses

benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a leirdquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

3 CF art 203 caput

224iacutendice de teses

A garantia constitucional da gratuidade de ensino natildeo obsta a cobranccedila por

universidades puacuteblicas de mensalidade em cursos de especializaccedilatildeo

O princiacutepio da gratuidade natildeo obriga as universidades a perceber exclusivamente recursos puacuteblicos para atender sua missatildeo institucional Ele se estende agraves tarefas de ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo e exige poreacutem que para todas as ta-refas necessaacuterias agrave plena inclusatildeo social missatildeo do direito agrave educaccedilatildeo haja recursos puacuteblicos disponiacuteveis para os estabelecimentos oficiais

Nem todas as atividades potencialmente desempenhadas pelas universidades refe-rem-se exclusivamente ao ensino A funccedilatildeo desempenhada pelas universidades eacute muito mais ampla do que as formas pelas quais elas obtecircm financiamento Haacute tambeacutem ati-vidades de pesquisa e extensatildeo que podem ser subvencionadas por recursos privados

Eacute possiacutevel agraves universidades no acircmbito de sua autonomia didaacutetico-cientiacutefica regula-mentar em harmonia com a legislaccedilatildeo as atividades destinadas preponderantemente agrave extensatildeo universitaacuteria sendo-lhes nessa condiccedilatildeo possiacutevel a instituiccedilatildeo de tarifa

Haacute no texto constitucional uma diferenciaccedilatildeo entre ldquoensinordquo ldquopesquisardquo e ldquoex-tensatildeordquo cujo tripeacute harmocircnico eacute essencial para a educaccedilatildeo de qualidade Nos termos do art 206 IV da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a gratuidade do ensino eacute um princiacutepio aplicaacutevel a todos os estabelecimentos oficiais Para tanto conforme exige o art 212 caput da CF2 um percentual da receita puacuteblica deve ser destinado agrave ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo

A Constituiccedilatildeo no art 213 sect 2ordm3 autoriza argumentum a contrario a captaccedilatildeo de recursos destinados agrave pesquisa e agrave extensatildeo Isso porque os recursos puacuteblicos a que se refere o art 212 caput da CF tecircm destinaccedilatildeo preciacutepua agraves escolas puacuteblicas Jaacute as atividades descritas no art 213 sect 2ordm do texto constitucional natildeo necessariamente contam com recursos puacuteblicos Seria incorreto poreacutem concluir accedilodadamente que a Constituiccedilatildeo natildeo exige financiamento puacuteblico para pesquisa e extensatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Educaccedilatildeo cultura e desporto Ȥ Educaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 597854RG ndash Tema 535rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 21-9-2017Informativo STF 862

225iacutendice de teses

A indissolubilidade entre ldquoensino pesquisa e extensatildeordquo princiacutepio previsto no caput do art 207 da CF4 exige que o financiamento puacuteblico natildeo se destine exclusivamente ao ensino Para a ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo satildeo necessaacuterios nos termos desse artigo pesquisa e extensatildeo

O regime constitucional de poacutes-graduaccedilatildeo deve derivar das exigecircncias constitucio-nais contidas no art 207 da CF Eacute impossiacutevel afirmar a partir de uma leitura estrita da Constituiccedilatildeo que as atividades de poacutes-graduaccedilatildeo satildeo abrangidas pelo conceito de manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino paracircmetro constitucional para a destina-ccedilatildeo com exclusividade dos recursos puacuteblicos

A tarefa de disciplinar quais caracteriacutesticas determinado curso assumiraacute compete ao legislador Caso a atividade preponderante se refira agrave manutenccedilatildeo e desenvolvi-mento do ensino a gratuidade deveraacute ser observada nos termos do art 206 IV da CF

Para mateacuteria relativa a ensino pesquisa e extensatildeo a competecircncia regulamentar eacute concorrente entre Uniatildeo e Estados (CF art 24 IX)5 mas tambeacutem eacute afeta agrave autono-mia universitaacuteria

No exerciacutecio de sua competecircncia para definir normas gerais (CF art 24 sect 1ordm) a Uniatildeo editou a Lei 93941996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional

Da Lei de Diretrizes e Bases eacute possiacutevel depreender ainda que os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo se destinam agrave preparaccedilatildeo para o exerciacutecio do magisteacuterio superior (arts 64 e 66) e por isso satildeo indispensaacuteveis para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento das instituiccedilotildees de ensino (art 55) Eacute preciso observar poreacutem que apenas os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo que se destinam agrave manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino satildeo financiados pelo poder puacuteblico

Natildeo se deve ler a Constituiccedilatildeo a partir da lei Sua referecircncia no entanto exem-plifica o fato de que ao legislador eacute possiacutevel descrever as atividades que por natildeo se relacionarem com a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino natildeo dependem de recursos exclusivamente puacuteblicos sendo liacutecito pois agraves universidades perceber remu-neraccedilatildeo pelo respectivo desempenho

A elaboraccedilatildeo da lei natildeo retira das universidades a competecircncia para por meio de sua autonomia desenvolver outras atividades voltadas agrave comunidade que natildeo se relacionem precisamente com a exigecircncia constitucional da ldquomanutenccedilatildeo e desenvol-vimento do ensinordquo

As universidades natildeo satildeo completamente livres para definir suas atividades O desempenho preciacutepuo de suas funccedilotildees exige no miacutenimo a completa realizaccedilatildeo da-quelas que se relacionem com a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino Nada

226iacutendice de teses

impede que para aleacutem dessas atividades a universidade possa definir outros cursos para a comunidade cursos de extensatildeo sobretudo que embora se relacionem ao ensino guardam independecircncia em relaccedilatildeo a ele

Natildeo se aduza que porque as universidades ostentam natureza autaacuterquica ou fun-dacional somente poderiam adotar o regime tributaacuterio para a obtenccedilatildeo de receitas a implicar que o serviccedilo desempenhado passasse a ser remunerado por taxa

Em primeiro lugar a adoccedilatildeo do regime de direito puacuteblico previsto no art 37 da CF6 natildeo impotildee necessariamente que a obtenccedilatildeo de receita seja exclusivamente pela via tributaacuteria Ademais o princiacutepio da gratuidade veda precisamente a cobranccedila de prestaccedilatildeo compulsoacuteria (CF art 205)7 como ocorre nas atividades de manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino Aleacutem disso tendo em conta que as atividades extraor-dinaacuterias satildeo desempenhadas de modo voluntaacuterio por parte das universidades elas podem estabelecer uma tarifa como contraprestaccedilatildeo

Embora tenham autonomia para definir as atividades que poderatildeo ser ofertadas ao puacuteblico as universidades devem ter em conta que prestam serviccedilo puacuteblico e por-tanto devem garantir os direitos dos usuaacuterios (CF art 175 II)8 observar a modici-dade tarifaacuteria (CF art 175 III)9 e manter serviccedilo de qualidade (CF art 206 VII)10 atendidas as exigecircncias do oacutergatildeo coordenador da educaccedilatildeo (CF art 211 sect 1ordm)11 Final-mente a regulamentaccedilatildeo dessas atividades deve ainda observar o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica do ensino (CF art 206 VI)

1 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () IV ndash gratuidade do ensi-no puacuteblico em estabelecimentos oficiaisrdquo

2 ldquoArt 212 A Uniatildeo aplicaraacute anualmente nunca menos de dezoito e os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios vinte e cinco por cento no miacutenimo da receita resultante de impostos compreendida a proveniente de transferecircncias na manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo

3 ldquoArt 213 Os recursos puacuteblicos seratildeo destinados agraves escolas puacuteblicas podendo ser dirigidos a escolas comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas definidas em lei que () sect 2ordm As atividades de pesqui-sa de extensatildeo e de estiacutemulo e fomento agrave inovaccedilatildeo realizadas por universidades eou por institui-ccedilotildees de educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica poderatildeo receber apoio financeiro do Poder Puacuteblicordquo

4 ldquoArt 207 As universidades gozam de autonomia didaacutetico-cientiacutefica administrativa e de gestatildeo finan-ceira e patrimonial e obedeceratildeo ao princiacutepio de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeordquo

5 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () IX ndash educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeordquo

227iacutendice de teses

6 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

7 ldquoArt 205 A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalhordquo

8 ldquoArt 175 Incumbe ao poder puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou per-missatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos () II ndash os direitos dos usuaacuteriosrdquo

9 ldquoArt 175 Incumbe ao poder puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos () III ndash poliacutetica tarifaacuteriardquo

10 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () VII ndash garantia de padratildeo de qualidaderdquo

11 ldquoArt 211 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios organizaratildeo em regime de colabo-raccedilatildeo seus sistemas de ensino sect 1ordm A Uniatildeo organizaraacute o sistema federal de ensino e o dos Territoacute-rios financiaraacute as instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas federais e exerceraacute em mateacuteria educacional funccedilatildeo redistributiva e supletiva de forma a garantir equalizaccedilatildeo de oportunidades educacionais e padratildeo miacutenimo de qualidade do ensino mediante assistecircncia teacutecnica e financeira aos Estados ao Distrito Federal e aos Municiacutepiosrdquo

228iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 de iniciativa parlamentar que determina que

os escritoacuterios de praacutetica juriacutedica de universidade estadual mantenham plan-

tatildeo criminal para atendimento nos finais de semana e feriados dos hipossu-

ficientes presos em flagrante delito

Por um lado haacute inconstitucionalidade formal por viacutecio de iniciativa (CF art 61 sect 1ordm II c2) A criaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para as secretarias de Estado e para a Poliacutecia Ci-vil compete privativamente ao chefe do Poder Executivo estadual em observacircncia ao princiacutepio da simetria e natildeo ao parlamento3

Por outro haacute inconstitucionalidade material por ofensa agrave autonomia da instituiccedilatildeo de ensino superior prevista no art 207 da Constituiccedilatildeo Federal4 A autonomia admi-nistrativa financeira e didaacutetico-cientiacutefica5 foi ferida uma vez que ausente o assenti-mento da universidade para criaccedilatildeo ou modificaccedilatildeo do novo serviccedilo a ser prestado

Embora a autonomia universitaacuteria natildeo se revista de caraacuteter de independecircncia6 atri-buto tiacutepico dos Poderes da Repuacuteblica revela a impossibilidade de exerciacutecio de tutela ou indevida ingerecircncia no acircmago proacuteprio das suas funccedilotildees Isso assegura agrave universi-dade a discricionariedade de dispor ou propor (legislativamente) sobre sua estrutura e funcionamento administrativo bem como sobre suas atividades pedagoacutegicas

A determinaccedilatildeo de que o escritoacuterio de praacutetica juriacutedica preste serviccedilo aos finais de semana e feriados implica necessariamente a criaccedilatildeo ou ao menos a modificaccedilatildeo de atribuiccedilotildees conferidas ao corpo administrativo que serve ao curso de Direito da universidade Afinal para a promoccedilatildeo da atividade deve a universidade efetuar o re-manejamento de professores supervisores e ceder espaccedilos convenientes bem como arcar com os ocircnus decorrentes dessa nova atribuiccedilatildeo

Ademais como os atendimentos seratildeo realizados pelos acadecircmicos do curso de Direito matriculados no estaacutegio curricular obrigatoacuterio a universidade obrigatoria-mente teria que alterar as grades curriculares e os horaacuterios dos estudantes para que desenvolvessem essas atividades em regime de plantatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Educaccedilatildeo cultura e desporto Ȥ Autonomia universitaacuteria

ADI 3792rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 840

229iacutendice de teses

Natildeo se veda aqui o exerciacutecio do serviccedilo de assistecircncia juriacutedica gratuita aos necessi-tados pelos escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das instituiccedilotildees de ensino superior A ativi-dade jaacute eacute praxe na atualidade pois aleacutem de atender agraves exigecircncias de estaacutegio supervi-sionado desempenha importante papel social inclusive concretizando objetivos que as instituiccedilotildees de ensino devem promover como a indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo e a conscientizaccedilatildeo dos discentes sobre sua responsabilidade so-cial Ocorre que as atividades desenvolvidas pelos acadecircmicos do curso de Direito em decorrecircncia do estaacutegio curricular obrigatoacuterio dizem respeito agrave autonomia didaacutetico--cientiacutefica da universidade natildeo podendo ser impostas pelo Estado Entretanto nada impede que o Estado-membro realize convecircnio com a universidade para viabilizar a prestaccedilatildeo de serviccedilo de assistecircncia judiciaacuteria aos necessitados

1 Refere-se agrave Lei 88652006 do Estado do Rio Grande do Norte O diploma impugnado determina que o escritoacuterio de praacutetica juriacutedica gratuita do curso de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte deveraacute manter plantatildeo para atendimento em finais de semana e feriados nos casos de prisatildeo em flagrante

2 ldquoArt 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Congresso Nacional ao Presidente da Repuacute-blica ao Supremo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II ndash disponham sobre c) servidores puacuteblicos da Uniatildeo e Territoacuterios seu regime juriacutedico provimento de cargos estabilidade e aposentadoriardquo

3 Lei 88652006 do Estado do Rio Grande do Norte ldquoArt 2ordm A Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo da Cultura e dos Desportos deveraacute informar agrave Secretaria de Estado de Defesa Social e da Seguranccedila Puacuteblica sobre a prestaccedilatildeo do serviccedilo especificado no art 1ordm desta Lei Art 3ordm A Secretaria de Estado de Defesa Social e da Seguranccedila Puacuteblica deveraacute comunicar aos Delegados de Poliacutecia para que nos casos de manifesta hipossuficiecircncia econocircmica do preso e na ausecircncia de defensor puacuteblico consti-tuiacutedo seja imediatamente informado ao Escritoacuterio de Praacutetica Juriacutedicardquo

4 ldquoArt 207 As universidades gozam de autonomia didaacutetico-cientiacutefica administrativa e de gestatildeo fi-nanceira e patrimonial e obedeceratildeo ao princiacutepio de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeordquo

5 ADI 51 rel min Paulo Brossard P DJ de 17-9-1993

6 Precedentes RMS 22047 AgR rel min Eros Grau 1ordf T DJ de 31-3-2006 e ADI 1599 MC rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 18-5-2001

230iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a expressatildeo ldquoem horaacuterio diverso do autorizadordquo contida

no art 254 da Lei 806919901

Ofende os arts 5ordm IX2 21 XVI3 e 220 sect 3ordm I4 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) proibir a veiculaccedilatildeo de programas de raacutedio e televisatildeo em determinados horaacuterios conside-rada a classificaccedilatildeo indicativa por idade

Natildeo haacute duacutevida de que tanto a liberdade de expressatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo como a proteccedilatildeo da crianccedila e do adolescente satildeo axiomas de envergadura constitu-cional mas a proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica delineou as regras de sopesamento desses dois valores

A plenitude do exerciacutecio da liberdade de expressatildeo como decorrecircncia imanente da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmaccedilatildeopotencializaccedilatildeo de outras liberdades constitucionais tem regulaccedilatildeo estritamente constitucional imunizando o direito de livre expressatildeo contra tentativas de disciplina ou autorizaccedilatildeo preacutevias por parte de norma hierarquicamente inferior a teor do art 220 da CF Segundo esse dispositivo a ldquomanifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer restriccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeordquo

Assim existe oacutebice constitucional ao controle preacutevio pelo poder puacuteblico do con-teuacutedo objeto de expressatildeo sem contudo retirar do emissor a responsabilidade por eventual desrespeito a direitos alheios imputados agrave comunicaccedilatildeo5

Para que ocorra a real concretizaccedilatildeo da liberdade de expressatildeo consagrada no art 5ordm IX da CF eacute preciso que haja liberdade de comunicaccedilatildeo social prevista no art 220 da CF garantindo-se a livre circulaccedilatildeo de ideias e informaccedilotildees e a comunica-ccedilatildeo livre e pluralista protegida da ingerecircncia estatal

Apesar da garantia constitucional da liberdade de expressatildeo livre de censura ou licenccedila a proacutepria Carta de 1988 conferiu agrave Uniatildeo com exclusividade no art 21 XVI

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Comunicaccedilatildeo social Ȥ Regulaccedilatildeo de diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos

ADI 2404rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 837

231iacutendice de teses

o desempenho da atividade material de ldquoexercer a classificaccedilatildeo para efeito indicativo de diversotildees puacuteblicas e de programas de raacutedio e televisatildeordquo

Essa classificaccedilatildeo dos produtos audiovisuais exercida pelas emissoras busca escla-recer informar indicar aos pais a existecircncia de conteuacutedo inadequado para as crianccedilas e os adolescentes O exerciacutecio da liberdade de programaccedilatildeo pelas emissoras impede que a exibiccedilatildeo de determinado espetaacuteculo dependa de accedilatildeo estatal preacutevia O que haacute eacute mera submissatildeo ao Ministeacuterio da Justiccedila que ocorre exclusivamente para que a Uniatildeo exerccedila sua competecircncia administrativa prevista no inciso XVI do art 21 da CF qual seja classificar para efeito indicativo as diversotildees puacuteblicas e os programas de raacutedio e televisatildeo o que natildeo significa autorizaccedilatildeo Essa atividade natildeo pode ser con-fundida com um ato de licenccedila nem confere poder agrave Uniatildeo para determinar que a exibiccedilatildeo da programaccedilatildeo somente se decirc nos horaacuterios estabelecidos pelo Ministeacuterio da Justiccedila de forma a caracterizar uma imposiccedilatildeo e natildeo uma recomendaccedilatildeo Natildeo haacute horaacuterio autorizado mas horaacuterio recomendado

Ressalte-se que permanece o dever das emissoras de raacutedio e de televisatildeo de exibir ao puacuteblico o aviso de classificaccedilatildeo etaacuteria antes e no decorrer da veiculaccedilatildeo do con-teuacutedo Tal regra estaacute prevista no paraacutegrafo uacutenico do art 766 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente sendo seu descumprimento tipificado como infraccedilatildeo administrativa pelo art 254 ora questionado Eacute importante que os oacutergatildeos competentes reforcem a necessidade de exibiccedilatildeo destacada da informaccedilatildeo sobre a faixa etaacuteria especificada no iniacutecio e durante a exibiccedilatildeo da programaccedilatildeo e em intervalos de tempo natildeo muito distantes (a cada quinze minutos por exemplo) inclusive quanto agraves chamadas da pro-gramaccedilatildeo de forma que as crianccedilas e os adolescentes natildeo sejam estimulados a assistir a programas inadequados para sua faixa etaacuteria Deve o Estado ainda conferir maior publicidade aos avisos de classificaccedilatildeo bem como desenvolver programas educativos acerca do sistema de classificaccedilatildeo indicativa divulgando para toda a sociedade a importacircncia de se fazer uma escolha refletida acerca da programaccedilatildeo ofertada ao puacuteblico infantojuvenil

Sempre seraacute possiacutevel a responsabilizaccedilatildeo judicial das emissoras de radiodifusatildeo por abusos ou eventuais danos agrave integridade das crianccedilas e dos adolescentes levando-se em conta inclusive a recomendaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila quanto aos horaacuterios em que a referida programaccedilatildeo se mostre inadequada Afinal a Constituiccedilatildeo Federal tam-beacutem atribuiu agrave lei federal a competecircncia para ldquoestabelecer meios legais que garantam agrave pessoa e agrave famiacutelia a possibilidade de se defenderem de programas ou programaccedilotildees de raacutedio e televisatildeo que contrariem o disposto no art 2217rdquo (art 220 sect 3ordm II CF)

232iacutendice de teses

1 ldquoArt 254 Transmitir atraveacutes de raacutedio ou televisatildeo espetaacuteculo em horaacuterio diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificaccedilatildeo Pena ndash multa de vinte a cem salaacuterios de referecircncia duplicada em caso de reincidecircncia a autoridade judiciaacuteria poderaacute determinar a suspensatildeo da programaccedilatildeo da emissora por ateacute dois diasrdquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () IX ndash eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedilardquo

3 ldquoArt 21 Compete agrave Uniatildeo () XVI ndash exercer a classificaccedilatildeo para efeito indicativo de diversotildees puacuteblicas e de programas de raacutedio e televisatildeordquo

4 ldquoArt 220 A manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer for-ma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer restriccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 3ordm Compete agrave lei federal I ndash regular as diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos cabendo ao Poder Puacute-blico informar sobre a natureza deles as faixas etaacuterias a que natildeo se recomendem locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre inadequadardquo

5 ADPF 130 rel min Ayres Britto P DJE de 6-11-2009

6 ldquoArt 76 As emissoras de raacutedio e televisatildeo somente exibiratildeo no horaacuterio recomendado para o puacute-blico infantojuvenil programas com finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas Pa-raacutegrafo uacutenico Nenhum espetaacuteculo seraacute apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificaccedilatildeo antes de sua transmissatildeo apresentaccedilatildeo ou exibiccedilatildeordquo

7 ldquoArt 221 A produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguintes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabeleci-dos em lei IV ndash respeito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacuteliardquo

233iacutendice de teses

Lei que regulamenta a atividade da vaquejada1 manifestaccedilatildeo cultural com

caracteriacutesticas de entretenimento eacute incompatiacutevel com o art 225 sect 1ordm VII da

Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

A obrigaccedilatildeo do Estado de garantir a todos o pleno exerciacutecio de direitos culturais incentivando a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees (CF art 2153) natildeo dispen-sa a observacircncia da norma que veda praacuteticas que submetam os animais a crueldade (CF art 225 sect 1ordm VII)

O art 225 da CF consagra a proteccedilatildeo da fauna e da flora como modo de assegurar o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado Cuida-se de direito fundamental de terceira geraccedilatildeo fundado no valor da solidariedade de caraacuteter coletivo ou difuso dotado ldquode altiacutessimo teor de humanismo e universalidaderdquo4

Como direito de todos a manutenccedilatildeo do ecossistema tambeacutem a esses incumbe em benefiacutecio das geraccedilotildees do presente e do futuro O indiviacuteduo eacute considerado titular do direito e ao mesmo tempo destinataacuterio dos deveres de proteccedilatildeo daiacute por que en-cerra verdadeiro ldquodireito-deverrdquo fundamental5

Nesse contexto no acircmbito da ponderaccedilatildeo de direitos fundamentais a jurispru-decircncia do Supremo Tribunal Federal eacute no sentido de interpretar normas e fatos de forma mais favoraacutevel agrave proteccedilatildeo ao meio ambiente Assim demostra-se preocupaccedilatildeo maior com a manutenccedilatildeo em prol dos cidadatildeos de hoje e de amanhatilde das condiccedilotildees ecologicamente equilibradas para uma vida mais saudaacutevel e segura6

Com efeito ante os dados empiacutericos evidenciados por laudos teacutecnicos7 tem-se como indiscutiacutevel o tratamento cruel dispensado agraves espeacutecies animais envolvidas na vaquejada O ato repentino e violento de tracionar o boi pelo rabo assim como a verdadeira tortura preacutevia ndash inclusive por meio de estocadas de choques eleacutetricos ndash agrave qual eacute submetido o animal para que saia do estado de mansidatildeo e dispare em fuga a fim de viabilizar a perseguiccedilatildeo consubstanciam atuaccedilatildeo a implicar descompasso com o preconizado na Carta da Repuacuteblica

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Meio ambiente Ȥ Proteccedilatildeo da fauna

ADI 4983rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 27-4-2017Informativo STF 842

234iacutendice de teses

Assim a crueldade intriacutenseca agrave vaquejada natildeo permite a prevalecircncia do valor cul-tural como resultado desejado pelo sistema de direitos fundamentais da Carta de 1988 O sentido da expressatildeo ldquocrueldaderdquo constante da parte final do inciso VII do sect 1ordm do art 225 da CF alcanccedila a tortura e os maus-tratos infringidos aos bovinos du-rante a praacutetica impugnada

1 Na praacutetica da vaquejada uma dupla de vaqueiros montados em cavalos distintos busca derrubar um touro puxando-o pelo rabo dentro de uma aacuterea demarcada

2 ldquoArt 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees sect 1ordm Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico () VII ndash proteger a fauna e a flora vedadas na forma da lei as praacuteticas que coloquem em risco sua funccedilatildeo ecoloacutegica provoquem a extinccedilatildeo de espeacutecies ou submetam os animais a crueldaderdquo

3 ldquoArt 215 O Estado garantiraacute a todos o pleno exerciacutecio dos direitos culturais e acesso agraves fontes da cultura nacional e apoiaraacute e incentivaraacute a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees culturaisrdquo

4 BONAVIDES Paulo Curso de direito constitucional 11 ed Satildeo Paulo Malheiros 2001 p 523

5 CRUZ Branca Martins da Importacircncia da constitucionalizaccedilatildeo do direito ao ambiente In BONA-VIDES Paulo et al (Orgs) Estudos de direito constitucional em homenagem a Cesar Asfor Rocha Rio de Janeiro Renovar 2009 p 202

6 RE 153531 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJ de 13-3-1998 ADI 2514 rel min Eros Grau P DJ de 9-12-2005 e ADI 1856 rel min Celso de Mello P DJE de 14-10-2011

7 O autor juntou laudos teacutecnicos que demonstram as consequecircncias nocivas agrave sauacutede dos bovinos decorrentes da traccedilatildeo forccedilada no rabo seguida da derrubada tais como fraturas nas patas ruptura de ligamentos e vasos sanguiacuteneos traumatismos e deslocamento da articulaccedilatildeo do rabo ou ateacute o arrancamento deste resultando no comprometimento da medula espinhal e dos nervos espinhais dores fiacutesicas e sofrimento mental Apresentou estudos no sentido de tambeacutem sofrerem lesotildees e danos irreparaacuteveis os cavalos utilizados na atividade tendinite tenossinovite exostose miopatias focal e por esforccedilo fraturas e osteoartrite taacutersica

DIR

EEL

EIT

DIR

EIT

O

ELEI

TO

RA

L

ELEICcedilOtildeESDIREITO ELEITORAL

237iacutendice de teses

Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral natildeo podem deliberar pela

exclusatildeo dos debates de candidatos cuja participaccedilatildeo seja facultativa quando

a emissora tenha optado por convidaacute-los

O art 46 sect 5ordm da Lei 950419971 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 deve ser interpretado restritivamente com o fito de ampliar o debate poliacutetico e conferir maior densidade democraacutetica ao processo eleitoral Permitir a exclusatildeo de candida-tos convidados pela emissora de televisatildeo ou raacutedio resultaria em evidente conflito de interesses o poder de decidir sobre a participaccedilatildeo de um competidor ficaria nas matildeos de seus proacuteprios adversaacuterios que por oacutebvio natildeo tecircm nenhum estiacutemulo para conceder espaccedilo nos meios de comunicaccedilatildeo de massa a quem possa subtrair seus votos e visibilidade

Em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo dos participantes dos debates eacute vaacutelida a fixaccedilatildeo por lei de criteacuterio objetivo que conceda a parcela dos candidatos (os ldquocandidatos aptosrdquo) direito subjetivo agrave participaccedilatildeo nos debates natildeo podendo a emissora de televisatildeo ou de raacutedio a ele se opor ainda que com a concordacircncia de outros candidatos

O criteacuterio adotado pela legislaccedilatildeo brasileira tal como interpretado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assegura a participaccedilatildeo nos debates dos candidatos de parti-dos ou coligaccedilotildees que tenham representatividade miacutenima de dez deputados federais Trata-se de criteacuterio razoaacutevel que eacute coerente com as normas relativas agrave propaganda eleitoral vigentes no Paiacutes e que cumpre as finalidades constitucionais acima citadas

Todavia o legislador natildeo fechou as portas do debate poliacutetico a candidatos de par-tidos ou coligaccedilotildees que tenham menos de dez deputados federais tampouco tolheu por completo a liberdade de programaccedilatildeo das emissoras de televisatildeo e raacutedio Unindo essas duas preocupaccedilotildees a Lei 95041997 facultou que as emissoras convidem para os debates candidatos com representatividade inferior agrave exigida na lei No caso de competidores bem colocados nas pesquisas de intenccedilatildeo de voto eacute razoaacutevel concluir

Direito Eleitoral Ȥ Eleiccedilotildees

Ȥ Propaganda eleitoral Ȥ Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

ADI 5487red p o ac min Roberto BarrosoADI 5488rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 19-12-2017Informativo STF 836Informativo STF 837

238iacutendice de teses

que as emissoras teratildeo estiacutemulos para promover a sua inclusatildeo tanto como forma de aumentar a audiecircncia quanto de garantir a credibilidade do programa Com efeito a participaccedilatildeo de candidato bem colocado nas pesquisas enriquece o embate de ideias e permite que o programa reflita com maior fidelidade as tensotildees ideoloacutegicas presen-tes no debate puacuteblico em torno das propostas dos candidatos com maior percentual de intenccedilatildeo de votos

Esta eacute a interpretaccedilatildeo que jaacute se extraiacutea da legislaccedilatildeo eleitoral antes da minirrefor-ma de 2015 e que deve permanecer possiacutevel diante do atual cenaacuterio normativo Basta que se confira interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo agrave nova redaccedilatildeo do art 46 sect 5ordm da Lei 95041997 dada pela Lei 131652015 no sentido de somente possibilitar que 23 dos ldquocandidatos aptosrdquo acrescentem novos participantes ao debate ndash candidatos que natildeo tenham esse direito assegurado por lei nem tenham sido previamente con-vidados pela emissora Aleacutem disso a autonomia da empresa de raacutedio ou televisatildeo relativamente agrave convocaccedilatildeo de candidatos natildeo enquadrados no criteacuterio do caput do art 46 deve observar criteacuterios objetivos que atendam aos princiacutepios da imparcialidade e da isonomia e o direito agrave informaccedilatildeo a serem fixados pelo TSE

1 ldquoArt 46 Independentemente da veiculaccedilatildeo de propaganda eleitoral gratuita no horaacuterio definido nesta Lei eacute facultada a transmissatildeo por emissora de raacutedio ou televisatildeo de debates sobre as elei-ccedilotildees majoritaacuteria ou proporcional assegurada a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com repre-sentaccedilatildeo no Congresso Nacional de no miacutenimo cinco parlamentares e facultada a dos demais observado o seguinte () sect 5ordm Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleiccedilotildees seratildeo consideradas aprovadas as regras inclusive as que definam o nuacutemero de participantes que obtiverem a concordacircncia de pelo menos 23 (dois terccedilos) dos candidatos aptos no caso de eleiccedilatildeo majoritaacuteria e de pelo menos 23 (dois terccedilos) dos partidos ou coligaccedilotildees com candidatos aptos no caso de eleiccedilatildeo proporcionalrdquo

239iacutendice de teses

Satildeo constitucionais os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 950419971 que

disciplinam a distribuiccedilatildeo dos horaacuterios reservados agrave propaganda eleitoral

gratuita nas emissoras de raacutedio e de televisatildeo e nos canais de televisatildeo por

assinatura

Os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 95041997 em consonacircncia com a claacuteu-sula democraacutetica e com o sistema proporcional estabelecem regra de equidade resguardando o direito de acesso agrave propaganda eleitoral das minorias partidaacuterias e pondo em situaccedilatildeo de benefiacutecio natildeo odioso aquelas agremiaccedilotildees mais lastreadas na legitimidade popular Ademais ao editar os referidos dispositivos o legislador se ateve a um padratildeo equitativo de isonomia ponderando os aspectos formal e mate-rial do princiacutepio da igualdade2

Natildeo haacute falar em igualdade material entre agremiaccedilotildees partidaacuterias que contam com representantes na Cacircmara Federal e legendas que submetidas ao voto popular natildeo lograram eleger representantes para a Cacircmara dos Deputados Assim natildeo se pode exigir tratamento absolutamente igualitaacuterio entre esses partidos porque eles natildeo satildeo materialmente iguais quer do ponto de vista juriacutedico quer da representa-ccedilatildeo poliacutetica que tecircm Embora iguais no plano da legalidade natildeo satildeo iguais quanto agrave legitimidade poliacutetica

Apesar disso eacute certo que a legislaccedilatildeo natildeo pode instituir mecanismos que na praacute-tica excluam das legendas menores a possibilidade de crescimento e de consolidaccedilatildeo no contexto eleitoral devendo ser assegurado um miacutenimo razoaacutevel de espaccedilo para que esses partidos possam participar e influenciar no pleito eleitoral propiciando

Direito Eleitoral Ȥ Eleiccedilotildees

Ȥ Propaganda eleitoral Ȥ Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

ADI 5491rel min Dias ToffoliDJE de 6-9-2017ADI 5423rel min Dias Toffoli

DJE de 19-12-2017ADI 5577rel min Rosa Weber

DJE de 19-12-2017PlenaacuterioInformativo STF 836

240iacutendice de teses

inclusive a renovaccedilatildeo dos quadros poliacuteticos Dessa perspectiva o tempo outorgado proporcionalmente agrave representatividade embora dividido de forma distinta entre as agremiaccedilotildees natildeo nulifica a participaccedilatildeo de nenhuma legenda concorrente

Por outro lado o criteacuterio de divisatildeo adotado ndash proporcionalidade da representa-ccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados ndash guarda estreita relaccedilatildeo com a finalidade colimada pela representatividade proporcional Assim dado que a Cacircmara dos Deputados eacute a Casa Legislativa de representaccedilatildeo do povo pode a eleiccedilatildeo de seus membros servir de criteacuterio de afericcedilatildeo tanto quanto possiacutevel da legitimidade popular sendo legiacutetimo pressupor que a representatividade de seus membros se apresenta como medida ade-quada e razoaacutevel para a divisatildeo do tempo de acesso ao raacutedio e agrave televisatildeo

Igualmente o legislador andou bem ao estabelecer criteacuterios distintos para o caacutel-culo da representatividade das coligaccedilotildees formadas para as eleiccedilotildees majoritaacuterias e proporcionais para efeito de distribuiccedilatildeo do tempo de propaganda eleitoral gratuita considerando no caso de coligaccedilotildees para eleiccedilotildees majoritaacuterias somente os seis maio-res partidos que as compotildeem Isso porque eacute proacuteprio do sistema eleitoral majoritaacuterio refletir as correntes majoritaacuterias da sociedade O criteacuterio adotado mostra-se ademais tributaacuterio da proacutepria essecircncia desse sistema eleitoral que eacute considerar as correntes poliacuteticas da maioria De todo modo tal perspectiva contribuiraacute para que se elimine a praacutetica tatildeo comum no Brasil de as legendas mais expressivas ao lanccedilar candidatos agraves eleiccedilotildees majoritaacuterias coligarem-se com inuacutemeros partidos pequenos com o uacutenico objetivo de obter maior tempo de propaganda eleitoral gratuita no raacutedio e na TV

Eacute constitucional a expressatildeo ldquosuperior a nove deputadosrdquo constante do caput do art 46 da Lei 950419973 na redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 que assegura a par-ticipaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representaccedilatildeo superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de raacutedio ou televisatildeo

O legislador ao conferir nova redaccedilatildeo ao caput do art 46 da Lei 95041997 es-tabeleceu criteacuterio razoaacutevel de afericcedilatildeo da representatividade e da expressividade do partido poliacutetico para efeito de assegurar a participaccedilatildeo de seus candidatos nos debates eleitorais Em realidade o direito de participaccedilatildeo em debates eleitorais ndash diferente-mente da propaganda eleitoral gratuita no raacutedio e na televisatildeo ndash natildeo tem assento constitucional e pode sofrer restriccedilatildeo maior em razatildeo do formato e do objetivo desse tipo de programaccedilatildeo

Sendo assim trata-se de espaccedilo naturalmente restrito no qual no entanto deve haver a exposiccedilatildeo e o confronto de ideias com densidade tal que promova no elei-tor maior esclarecimento a respeito das ideias e das propostas dos candidatos e das

241iacutendice de teses

diferenccedilas entre essas Munido de tais informaccedilotildees o eleitor realiza o cotejo entre elas podendo assim escolher de forma mais consciente em quem votaraacute Nesse cenaacuterio o criteacuterio seletivo adotado pela norma impugnada quanto aos partidos po-liacuteticos que teratildeo assegurado o direito de seus candidatos participarem dos debates eleitorais poderaacute ateacute mesmo contribuir para a reduccedilatildeo da excessiva pulverizaccedilatildeo dos debates eleitorais

Por oacutebvio ao prever o criteacuterio de representaccedilatildeo superior a nove deputados o dis-positivo em questatildeo natildeo obstou a participaccedilatildeo nos debates de partidos poliacuteticos com menor representatividade a qual ainda eacute facultada estando a criteacuterio das emissoras de raacutedio e televisatildeo

Eacute constitucional a redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 ao art 46 da Lei 950419974 o qual assegura a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representaccedilatildeo superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de raacutedio ou televi-satildeo natildeo implicando em afronta agrave anterioridade eleitoral a sua incidecircncia nas eleiccedilotildees realizadas no ano de 2016

Encontra amparo no texto da Constituiccedilatildeo norma juriacutedica que contenha desi-gualaccedilatildeo natildeo odiosa como na espeacutecie em que o fator de discriacutemen ndash a observacircn-cia da proporcionalidade agrave representaccedilatildeo ndash justifica elevar o patamar miacutenimo de representaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados para fins de assegurar a participaccedilatildeo em debates eleitorais

Outrossim ao entrar em vigor a Lei 131652015 nos termos do seu art 14 na data de sua publicaccedilatildeo ndash em 29-9-2015 ndash forccediloso concluir ter sido observado o lapso temporal preacutevio de um ano exigido pela Constituiccedilatildeo Federal5 dado que as eleiccedilotildees de 2016 foram marcadas para o dia 2-10-2016 (Lei 95041997 art 1ordm caput)

A exigecircncia constitucional da anterioridade da lei eleitoral consubstancia marco temporal objetivo que tem por escopo impedir mudanccedilas abruptas na legislaccedilatildeo eleitoral como forma de assegurar o direito das minorias em particular a paridade de armas na disputa eleitoral Se por um lado o referido princiacutepio obsta que even-tual maioria parlamentar altere no periacuteodo de um ano que antecede as eleiccedilotildees as regras que lhes seratildeo aplicaacuteveis por outro informa exatamente que as regras do processo eleitoral podem sim sofrer alteraccedilotildees pelo legislador desde que respeita-da a ressalva constitucional

1 ldquoArt 47 () sect 2ordm Os horaacuterios reservados agrave propaganda de cada eleiccedilatildeo nos termos do sect 1ordm seratildeo distribuiacutedos entre todos os partidos e coligaccedilotildees que tenham candidato observados os seguintes cri-

242iacutendice de teses

teacuterios I ndash 90 (noventa por cento) distribuiacutedos proporcionalmente ao nuacutemero de representantes na Cacircmara dos Deputados considerados no caso de coligaccedilatildeo para eleiccedilotildees majoritaacuterias o resultado da soma do nuacutemero de representantes dos seis maiores partidos que a integrem e nos casos de coligaccedilotildees para eleiccedilotildees proporcionais o resultado da soma do nuacutemero de representantes de todos os partidos que a integrem II ndash 10 (dez por cento) distribuiacutedos igualitariamenterdquo

2 Precedente ADI 4430 rel min Dias Toffoli P DJE de 19-9-2013

3 ldquoArt 46 Independentemente da veiculaccedilatildeo de propaganda eleitoral gratuita no horaacuterio definido nesta Lei eacute facultada a transmissatildeo por emissora de raacutedio ou televisatildeo de debates sobre as eleiccedilotildees majoritaacuteria ou proporcional assegurada a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representa-ccedilatildeo no Congresso Nacional de no miacutenimo cinco parlamentares e facultada a dos demais obser-vado o seguinterdquo

4 Idem

5 ldquoArt 16 A lei que alterar o processo eleitoral entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo natildeo se aplicando agrave eleiccedilatildeo que ocorra ateacute um ano da data de sua vigecircnciardquo

DIR

EEM

PRD

IREI

TO

EM

PRES

AR

IAL

PROPRIEDADE INTELECTUAL DIREITO EMPRESARIAL

245iacutendice de teses

A mera rapidez no tracircmite de projeto de lei1 para aprovaccedilatildeo da Lei 128532013

que alterou ou introduziu dispositivos na Lei 96101998 ao reconfigurar o

marco regulatoacuterio da gestatildeo coletiva de direitos autorais no Brasil natildeo con-

figura inconstitucionalidade formal

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo estabeleceu prazos miacutenimos para tramitaccedilatildeo de projetos de lei nem disciplinou o regime urgente de tramitaccedilatildeo Tal circunstacircncia confere espaccedilo suficiente para o legislador imprimir aos seus trabalhos a cadecircncia que julgar adequada natildeo sendo o fato de o projeto de lei ter tramitado rapidamente nas casas legislativas motivo para reconhecer qualquer maacutecula

Ademais a invocaccedilatildeo geneacuterica do art 59 da CF2 que apenas elenca as espeacutecies legislativas existentes em nosso ordenamento juriacutedico sem apontar violaccedilatildeo de ne-nhum dispositivo constitucional especiacutefico natildeo respalda a declaraccedilatildeo de inconstitu-cionalidade formal da norma

Eacute legiacutetima a promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos au-

torais com o intuito de impedir praacuteticas abusivas por entes intermediaacuterios

A criaccedilatildeo pela Lei 128532013 de obrigaccedilotildees precisas de transparecircncia para a ges-tatildeo coletiva relaciona-se com direitos difusos (dos usuaacuterios) e coletivos (dos titula-res) agrave informaccedilatildeo adequada

Sob o enfoque econocircmico o propoacutesito da medida eacute eliminar a possibilidade de que as entidades intermediaacuterias do setor ndash as associaccedilotildees e o Escritoacuterio Central de Arre-cadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo (ECAD) ndash possam a partir da vantagem informacional de que dispotildeem obter rendas extraordinaacuterias subvertendo seu papel instrumental atraveacutes de praacuteticas indiciaacuterias de comportamento oportunista pelos entes intermediaacuterios em detrimento tanto de usuaacuterios quanto de titulares de direitos autorais

Direito Empresarial Ȥ Propriedade intelectual

Ȥ Direitos autorais Ȥ Gestatildeo coletiva

ADI 5062ADI 5065rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 21-6-2017Informativo STF 845

246iacutendice de teses

Assim a novel legislaccedilatildeo procura romper com esse quadro de irregularidades na gestatildeo coletiva de direitos autorais e impedir que o intermediaacuterio se torne o seu principal beneficiaacuterio

O cacircnone da proporcionalidade encontra-se consubstanciado nos meios eleitos pelo legislador voltados agrave promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos autorais finalidade legiacutetima segundo a ordem constitucional brasileira na medida em que busca mitigar o vieacutes rentista do sistema anterior e prestigiar de forma ime-diata os interesses tanto de titulares de direitos autorais (CF art 5ordm XXVII3) quanto de usuaacuterios (CF art 5ordm XXXII4) e de forma mediata bens juriacutedicos socialmente re-levantes ligados agrave propriedade intelectual como a educaccedilatildeo e o entretenimento (CF art 6ordm5) o acesso agrave cultura (CF art 2156) e agrave informaccedilatildeo (CF art 5ordm XIV7)

Diante disso os dispositivos relativos agrave divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees concernentes agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras intelectuais notadamente muacutesicas e agrave arrecadaccedilatildeo dos respectivos direitos (Lei 96101998 art 68 sectsect 6ordm e 8ordm8 e art 98-B I II9 e paraacutegrafo uacutenico10) agrave vedaccedilatildeo da pactuaccedilatildeo de claacuteusulas de confidencialidade nos contratos de licenciamento (Lei 96101998 art 98-B VI11) e agraves penalidades em caso de descumpri-mento (Lei 96101998 art 109-A12) satildeo constitucionais Afinal foram expostos com clareza os fundamentos e os objetivos que orientaram a atuaccedilatildeo do legislador bem como a loacutegica interna das previsotildees normativas pautada por equiliacutebrio e moderaccedilatildeo

As associaccedilotildees de titulares de direitos autorais exercem atividade de interes-

se puacuteblico e devem atender a sua funccedilatildeo social

As entidades de gestatildeo coletiva de direitos autorais possuem natureza instrumen-tal de viabilizar trocas voluntaacuterias envolvendo propriedade intelectual dadas as dificuldades operacionais que marcam o setor Isso significa que tanto a produccedilatildeo de cultura (pelos autores) quanto o acesso agrave cultura (pelos usuaacuterios) dependem do hiacutegido funcionamento das associaccedilotildees arrecadadoras e distribuidoras de direitos autorais sobretudo ante os elevados custos de transaccedilatildeo

Esse relevante papel econocircmico (manter o mercado e o aumento de bem-estar de autores e usuaacuterios bem como incremento da oferta e do consumo de cultura) eacute traduzido juridicamente como a funccedilatildeo social das aludidas entidades

A transindividualidade da gestatildeo coletiva ao envolver interesses de usuaacuterios e ti-tulares justifica o interesse puacuteblico na sua existecircncia e escorreita atuaccedilatildeo e a pre-senccedila regulatoacuteria maior do Estado na criaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no funcionamento

247iacutendice de teses

das entidades que operam no setor o que se traduz na incidecircncia de disciplina juriacute-dica especiacutefica Trata-se de verdadeiras associaccedilotildees ldquonatildeo expressivasrdquo13 exemplos de ldquoassociaccedilotildees que se dedicam a viabilizar certas atividades essenciais aos associadosrdquo ocupando assim espaccedilo puacuteblico natildeo estatal14

Satildeo constitucionais as disposiccedilotildees acerca dos criteacuterios de votaccedilatildeo previstos

na Lei 96101998 que atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos auto-

rais

As regras referentes agrave limitaccedilatildeo do direito de voto aos titulares originaacuterios (Lei 96101998 art 5ordm XIV e art 97 sect 5ordm) assunccedilatildeo de cargos de direccedilatildeo nas associaccedilotildees (art 97 sect 6ordm) eleiccedilatildeo de dirigentes (art 98 sectsect 13 e 14) e criteacuterio de voto unitaacuterio no Ecad (art 99 sect 1ordm e art 99-A paraacutegrafo uacutenico) natildeo violam a liberdade de associaccedilatildeo (CF art 5ordm XVII15 XVIII16 e XIX17) a garantia da transmissibilidade dos direitos au-torais (CF art 5ordm XXVII18) o princiacutepio da isonomia (CF art 5ordm caput19) tampouco a propriedade privada (CF art 5ordm XXII20 e art 170 II21)

Os titulares originaacuterios e derivados de obras intelectuais (as editoras musicais por exemplo) satildeo diferenciados legalmente para fins de participaccedilatildeo na gestatildeo coletiva de direitos autorais O distinguishing situa-se dentro da margem de conformaccedilatildeo do legislador ordinaacuterio para disciplinar a mateacuteria uma vez que (i) natildeo existe direito constitucional expresso agrave participaccedilatildeo poliacutetica ou administrativa de titulares deriva-dos na gestatildeo coletiva ao contraacuterio dos titulares originaacuterios (CF art 5ordm XXVIII b22) (ii) as regras impugnadas natildeo impactam os direitos patrimoniais dos titulares deriva-dos que continuam a gozar das mesmas expressotildees econocircmicas de que desfrutavam ateacute entatildeo (iii) a importacircncia relativa dos titulares originaacuterios eacute maior para a criaccedilatildeo intelectual cujo estiacutemulo eacute a finalidade uacuteltima da gestatildeo coletiva (iv) eacute justificaacutevel ante os fatos apurados a existecircncia de regras voltadas a minimizar a assimetria de po-der econocircmico entre gravadoras editoras musicais ndash que possuem cataacutelogo de obras de um grande nuacutemero de autores o que lhes confere maior poder decisoacuterio do que aquele dos proacuteprios muacutesicos e compositores ndash e autores individuais os verdadeiros criadores intelectuais

248iacutendice de teses

Eacute constitucional a habilitaccedilatildeo preacutevia das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva em oacuter-

gatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal para a cobranccedila de direitos autorais23

Natildeo haacute violaccedilatildeo agrave liberdade de associaccedilatildeo (CF art 5ordm XVII a XX24) ao princiacutepio da proporcionalidade tampouco ao direito adquirido ou ao ato juriacutedico perfeito (CF art 5ordm XXXVI25) Essa exigecircncia configura tiacutepico exerciacutecio de poder de poliacutecia preventivo voltado a aferir o cumprimento das obrigaccedilotildees legais exigiacuteveis desde o nascedouro da entidade

Sob o prisma da maacutexima tempus regit actum as associaccedilotildees arrecadadoras jaacute exis-tentes devem conformar-se agrave legislaccedilatildeo em vigor sujeitando-se agraves alteraccedilotildees super-venientes agrave sua criaccedilatildeo dado que (i) as regras de transiccedilatildeo satildeo justas e (ii) natildeo existe direito adquirido a regime juriacutedico na ordem constitucional brasileira

Satildeo constitucionais as normas relativas agrave negociaccedilatildeo de preccedilos e formas de li-

cenciamento de direitos autorais (art 98 sectsect 3ordm e 4ordm26) e ao prazo miacutenimo para

comunicaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo pessoal de direitos por seus titulares (art 98

sect 1527) previstas na Lei 96101998

Inexiste afronta ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) agrave livre iniciativa (CF art 1ordm IV28) e aos princiacutepios da proporcionalidade e da realidade

A Lei 96101998 apoacutes alteraccedilotildees natildeo estipulou tabelamento de preccedilos Limitou--se a fixar paracircmetros geneacutericos (razoabilidade boa-feacute e usos do local de utilizaccedilatildeo das obras) para o licenciamento de direitos autorais no intuito de corrigir as distor-ccedilotildees propiciadas pelo poder de mercado das associaccedilotildees gestoras sem retirar dos proacuteprios titulares a prerrogativa de estabelecer o preccedilo de suas obras

A norma abriu outras modalidades de negoacutecio juriacutedico ateacute entatildeo restrito agrave de-nominada ldquolicenccedila cobertorrdquo (blanket license) ou licenciamento pelo formato global Por tal avenccedila o usuaacuterio adquire a preccedilo fixo o direito a reproduzir quantas vezes desejar e por tempo especificado toda e qualquer obra que conste do repertoacuterio da associaccedilatildeo contratante A cobranccedila natildeo eacute proporcional agrave utilizaccedilatildeo do conteuacutedo Para alguns usuaacuterios esse modelo de contrato eacute o mais adequado como ocorre em locais de frequecircncia coletiva estaccedilotildees de raacutedio e emissoras de televisatildeo que executam programaccedilatildeo alheia

Natildeo obstante o licenciamento global como uacutenica opccedilatildeo de negoacutecio eacute ineficiente uma vez que reduz a quantidade de transaccedilotildees (mutuamente beneacuteficas) realizadas

249iacutendice de teses

no mercado e gera diversos efeitos econocircmicos adversos sendo considerado praacutetica abusiva Agrave luz desses fundamentos a Lei 128532013 definiu que o licenciamento cobertor (blanket license) permanece vaacutelido desde que natildeo seja mais o uacutenico tipo de contrato disponiacutevel

Ademais o prazo miacutenimo legal para a comunicaccedilatildeo permite que a associaccedilatildeo ao proceder agrave cobranccedila de seu repertoacuterio possa excluir os valores referentes ao titular que atue pessoalmente minimizando as chances de falhas de comunicaccedilatildeo que pro-piciem duplicidade de cobranccedila tumultuem a gestatildeo coletiva e onerem o usuaacuterio Cuida-se portanto da racionalizaccedilatildeo da atividade arrecadatoacuteria bem como da pro-teccedilatildeo do usuaacuterio de obras intelectuais

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de cadastro unificado de obras e dados autorais29

Inexiste afronta ao direito constitucional agrave privacidade (CF art 5ordm X30) e ao princiacute-pio da proporcionalidade O cadastro unificado de obras justifica-se como forma de prevenir a praacutetica de fraudes e evitar a ocorrecircncia de ambiguidades quanto agrave parti-cipaccedilatildeo individual em obras com tiacutetulos similares problemas esses que vicejavam ante a pouca transparecircncia da sistemaacutetica anterior Assim confere-se publicidade aos dados que satildeo de interesse puacuteblico mas preservam-se as informaccedilotildees de cunho somente individual como valores distribuiacutedos a titular

O modelo regulatoacuterio admite a atuaccedilatildeo pessoal de cada titular na arrecadaccedilatildeo de seus direitos sendo de interesse de qualquer usuaacuterio efetivo ou potencial ter conhe-cimento acerca das participaccedilotildees individuais nas obras Eacute possiacutevel inclusive valer-se do cadastro para compatibilizar o desejo soberano de qualquer autor de ocultar sua identidade mediante o uso de pseudocircnimos ou heterocircnimos e ao mesmo tempo fazer valer seus direitos autorais

Ademais o acesso de qualquer interessado ao Poder Judiciaacuterio (CF art 5ordm XXXV31) natildeo foi violado pela possiacutevel retificaccedilatildeo do cadastro pelo Ministeacuterio da Cultura que evita a prematura judicializaccedilatildeo de eventuais conflitos aleacutem de permitir o enfrenta-mento da controveacutersia a partir de perspectiva teacutecnica e especializada

250iacutendice de teses

A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila

e distribuiccedilatildeo de direitos autorais eacute constitucional e deveraacute ser proporcional

ao custo efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada

uma delas32

As taxas de administraccedilatildeo e a fixaccedilatildeo de limites maacuteximos justificam-se pela estru-tura econocircmica do setor que apesar de franquear espaccedilo para ganhos de escala nas atividades de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo natildeo se traduzia em benefiacutecio aos titulares originaacuterios de direitos autorais

Essa sistemaacutetica representa pois uma garantia individual de cada autor em face de quaisquer maiorias associativas uma vez que limita a disposiccedilatildeo coletiva de direi-tos que satildeo intrinsecamente subjetivos reconduzindo as entidades de gestatildeo coletiva ao seu papel puramente instrumental

O limite para despesa pelas associaccedilotildees com accedilotildees que beneficiem seus associados de forma coletiva equilibra com moderaccedilatildeo a tensatildeo latente entre interesses indivi-duais e coletivos na criaccedilatildeo de obras intelectuais

Eacute constitucional dispositivo que incumbe ao ente arrecadador e agraves associa-

ccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de

perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a

transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titula-

res transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arreca-

daccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de direitos33

As associaccedilotildees surgem para viabilizar o mercado natildeo sendo admitido interromper seu hiacutegido funcionamento inclusive no momento em que deixam de operar no se-tor Por essa razatildeo a Lei 128532013 apenas zelou pela transiccedilatildeo razoaacutevel e menos traumaacutetica para usuaacuterios e titulares natildeo havendo qualquer afronta ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) e agrave garantia da propriedade imaterial e dos segredos do negoacutecio (CF art 5ordm XXIX34) O paracircmetro constitucional invocado eacute nitidamen-te voltado a exploraccedilotildees comerciais enquanto as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva natildeo exercem empresa em sentido juriacutedico sendo-lhes vedado pela legislaccedilatildeo o intuito de obter lucro

251iacutendice de teses

Eacute constitucional dispositivo que prevecirc a participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultu-

ra na prestaccedilatildeo de contas pelas associaccedilotildees de gestatildeo coletiva35

Natildeo haacute que cogitar de violaccedilatildeo agrave livre iniciativa (CF arts 1ordm IV e 170) ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) ou agrave separaccedilatildeo de poderes (CF art 60 sect 4ordm III36) A prerrogativa contida no art 98-C sect 2ordm evita a judicializaccedilatildeo de questotildees juriacutedicas simples como as relativas agrave prestaccedilatildeo de contas por associaccedilotildees a associados

A mediaccedilatildeo e a arbitragem enquanto meacutetodos voluntaacuterios e alternativos agrave juris-diccedilatildeo estatal minimizam a demanda pelo Poder Judiciaacuterio e propiciam a anaacutelise dos conflitos intersubjetivos por teacutecnicos e especialistas no tema sendo a via mais ceacutelere e menos custosa de composiccedilatildeo de litiacutegios A disciplina legal apenas possibilita a so-luccedilatildeo por vias alternativas agraves judiciais sem impedir por qualquer modo o acesso agrave Justiccedila A norma evidencia o caraacuteter voluntaacuterio da submissatildeo de eventuais litiacutegios aos procedimentos alternativos de soluccedilatildeo perante oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Fe-deral dependendo sempre de anuecircncia expressa e muacutetua das partes como ressalvou o Supremo Tribunal Federal ao julgar incidentalmente vaacutelida a Lei de Arbitragem brasileira (Lei 93071996)37

Eacute constitucional dispositivo que determina que o ente arrecadador deveraacute

admitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as as-

sociaccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua

aacuterea de atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Federal38

A previsatildeo legal condiz com o texto constitucional Afinal impede que as associa-ccedilotildees jaacute estabelecidas na gestatildeo coletiva possam asfixiar a criaccedilatildeo de novas entidades mediante poliacuteticas de alijamento junto ao Ecad que ostenta por forccedila de lei o mo-nopoacutelio da arrecadaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo de direitos relativos agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais e literomusicais e de fonogramas

Tal monopoacutelio concedido pelo Estado autoriza maior intervenccedilatildeo do poder puacutebli-co sobre a dinacircmica de funcionamento da entidade a qual deixada por si jaacute provou desvirtuar-se dos propoacutesitos que justificam as suas prerrogativas

A criaccedilatildeo de novas entidades coletivas impotildee pressatildeo competitiva sobre as associa-ccedilotildees jaacute atuantes que tenderatildeo a ser mais eficientes oferecendo serviccedilo de qualidade e com maior retorno para seus associados O monopoacutelio legal que favorece o Ecad en-

252iacutendice de teses

trevisto como bocircnus sofre a incidecircncia da contrapartida consistente no dever de admi-tir toda e qualquer entidade legalmente habilitada franqueando amplo acesso ao Ecad

A legitimidade ativa ad causam para provocar a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucio-nalidade eacute reconhecida agraves entidades de classe de acircmbito nacional (CF art 103 IX39) que devem congregar associados homogecircneos40 assim compreendidos os sujeitos de direito integrantes de uma mesma categoria profissional ou econocircmica41

Por fim em hermenecircutica constitucional eacute necessaacuterio cuidado para que a inter-pretaccedilatildeo ampliativa dos princiacutepios constitucionais natildeo se convole em veto judicial absoluto agrave atuaccedilatildeo do legislador ordinaacuterio que tambeacutem eacute um inteacuterprete legiacutetimo da Constituiccedilatildeo devendo atuar com prudecircncia e cautela de modo que a alegaccedilatildeo geneacute-rica dos direitos fundamentais natildeo asfixie o espaccedilo poliacutetico de deliberaccedilatildeo coletiva Afinal garantias gerais como liberdade de iniciativa propriedade privada e liberdade de associaccedilatildeo natildeo satildeo por si incompatiacuteveis com a presenccedila de regulaccedilatildeo estatal

A propoacutesito a gestatildeo coletiva de direitos autorais e a coexistecircncia da participaccedilatildeo do Estado assumem graus variados em diferentes democracias constitucionais42 A pluralidade de regimes sugere natildeo existir um modelo uacutenico perfeito e acabado de atuaccedilatildeo do poder puacuteblico mas ao reveacutes um maior ou menor protagonismo do Esta-do dependente sempre das escolhas poliacuteticas das maiorias eleitas A experimentaccedilatildeo de diferentes modelos ao longo dos tempos eacute a essecircncia do jogo democraacutetico

1 Projeto de Lei do Senado 1292012 A Casa aprovou o substitutivo do relator senador Humberto Costa ao projeto original de autoria do senador Randolfe Rodrigues

2 ldquoArt 59 O processo legislativo compreende a elaboraccedilatildeo de I ndash emendas agrave Constituiccedilatildeo II ndash leis complementares III ndash leis ordinaacuterias IV ndash leis delegadas V ndash medidas provisoacuterias VI ndash decretos legislativos VII ndash resoluccedilotildees Paraacutegrafo uacutenico Lei complementar disporaacute sobre a elaboraccedilatildeo reda-ccedilatildeo alteraccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das leisrdquo

3 ldquoArt 5ordm () XXVII ndash aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reprodu-ccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixarrdquo

4 ldquoArt 5ordm () XXXII ndash o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidorrdquo

5 ldquoArt 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o transporte o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeordquo

6 ldquoArt 215 O Estado garantiraacute a todos o pleno exerciacutecio dos direitos culturais e acesso agraves fontes da cultura nacional e apoiaraacute e incentivaraacute a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees culturaisrdquo

253iacutendice de teses

7 ldquoArt 5ordm () XIV ndash eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da fonte quan-do necessaacuterio ao exerciacutecio profissionalrdquo

8 ldquoArt 68 Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais e fonogramas em representaccedilotildees e execuccedilotildees puacute-blicas () sect 6ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede sect 7ordm As empresas cinematograacuteficas e de radiodifusatildeo manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos individuais ou coletivos autorizan-do e disciplinando a remuneraccedilatildeo por execuccedilatildeo puacuteblica das obras musicais e fonogramas contidas em seus programas ou obras audiovisuais sect 8ordm Para as empresas mencionadas no sect 7ordm o prazo para cumprimento do disposto no sect 6ordm seraacute ateacute o deacutecimo dia uacutetil de cada mecircs relativamente agrave relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados no mecircs anteriorrdquo

9 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo I ndash dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o tipo de usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores dos direitos autorais arre-cadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios excetuando os valores distribuiacutedos aos titulares individualmente II ndash dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios aos estatutos aos regulamentos de arre-cadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees deliberativas e aos cadastros das obras e titulares que representam bem como ao montante arrecadado e distribuiacutedo e aos creacuteditos eventualmente arrecadados e natildeo distribuiacutedos sua origem e o motivo da sua retenccedilatildeordquo

10 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo () Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas pe-riodicamente em intervalo nunca superior a 6 (seis) mesesrdquo

11 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo () IV ndash oferecer aos titulares de direitos os meios teacutecnicos para que possam acessar o balanccedilo dos seus creacuteditos da forma mais eficiente dentro do estado da teacutecnicardquo

12 ldquoArt 109-A A falta de prestaccedilatildeo ou a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas no cumprimento do disposto no sect 6ordm do art 68 e no sect 9ordm do art 98 sujeitaraacute os responsaacuteveis por determinaccedilatildeo da autoridade competente e nos termos do regulamento desta Lei a multa de 10 (dez) a 30 (trinta por cento) do valor que deveria ser originariamente pago sem prejuiacutezo das perdas e danos Paraacutegrafo uacutenico Aplicam-se as regras da legislaccedilatildeo civil quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees no caso de des-cumprimento pelos usuaacuterios dos seus deveres legais e contratuais junto agraves associaccedilotildees referidas neste Tiacutetulordquo

13 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de direito constitucional 10 ed Satildeo Paulo Saraiva 2015 p 308

14 RE 201819 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 27-10-2006

254iacutendice de teses

15 ldquoArt 5ordm () XVII ndash eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitarrdquo

16 ldquoArt 5ordm () XVIII ndash a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu funcionamentordquo

17 ldquoArt 5ordm () XIX ndash as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso o tracircnsito em julgadordquo

18 ldquoArt 5ordm () XXVII ndash aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reprodu-ccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixarrdquo

19 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

20 ldquoArt 5ordm () XXII ndash eacute garantido o direito de propriedaderdquo

21 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () II ndash propriedade privadardquo

22 ldquoArt 5ordm () XXVIII ndash satildeo assegurados nos termos da lei () b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aprovei-tamento econocircmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativasrdquo

23 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos sect 1ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute liacutecito para as associaccedilotildees que obtiverem habilitaccedilatildeo em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal nos termos do art 98-Ardquo

24 ldquoArt 5ordm () XX ndash ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer associadordquo

25 ldquoArt 5ordm () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

26 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 3ordm Caberaacute agraves as-sociaccedilotildees no interesse dos seus associados estabelecer os preccedilos pela utilizaccedilatildeo de seus repertoacuterios considerando a razoabilidade a boa-feacute e os usos do local de utilizaccedilatildeo das obras sect 4ordm A cobranccedila seraacute sempre proporcional ao grau de utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas pelos usuaacuterios considerando a importacircncia da execuccedilatildeo puacuteblica no exerciacutecio de suas atividades e as particularidades de cada seg-mento conforme disposto no regulamento desta Leirdquo

27 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 15 Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos referidos no caput e no sect 3ordm deste artigo mediante comunicaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo a que estiverem filiados com ateacute 48 (quarenta e oito) horas de antecedecircncia da sua praacuteticardquo

255iacutendice de teses

28 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre iniciativardquo

29 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 6ordm As associaccedilotildees deveratildeo manter um cadastro centralizado de todos os contratos declaraccedilotildees ou documentos de qualquer natureza que comprovem a autoria e a titularidade das obras e dos fo-nogramas bem como as participaccedilotildees individuais em cada obra e em cada fonograma prevenindo o falseamento de dados e fraudes e promovendo a desambiguaccedilatildeo de tiacutetulos similares de obras sect 7ordm As informaccedilotildees mencionadas no sect 6ordm satildeo de interesse puacuteblico e o acesso a elas deveraacute ser dis-ponibilizado por meio eletrocircnico a qualquer interessado de forma gratuita permitindo-se ainda ao Ministeacuterio da Cultura o acesso contiacutenuo e integral a tais informaccedilotildees sect 8ordm Mediante comunicaccedilatildeo do interessado e preservada a ampla defesa e o direito ao contraditoacuterio o Ministeacuterio da Cultura po-deraacute no caso de inconsistecircncia nas informaccedilotildees mencionadas no sect 6ordm deste artigo determinar sua retificaccedilatildeo e demais medidas necessaacuterias agrave sua regularizaccedilatildeo conforme disposto em regulamentordquo

30 ldquoArt 5ordm () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegu-rado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

31 ldquoArt 5ordm () XXXV ndash a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direitordquo

32 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 12 A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila e distribuiccedilatildeo de direitos autorais deveraacute ser proporcional ao custo efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada uma delasrdquo

33 Lei 96101998 ldquoArt 99 A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais e literomusicais e de fonogramas seraacute feita por meio das associaccedilotildees de gestatildeo cole-tiva criadas para este fim por seus titulares as quais deveratildeo unificar a cobranccedila em um uacutenico escri-toacuterio central para arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo que funcionaraacute como ente arrecadador com personali-dade juriacutedica proacutepria e observaraacute os sectsect 1ordm a 12 do art 98 e os arts 98-A 98-B 98-C 99-B 100 100-A e 100-B () sect 7ordm Cabe ao ente arrecadador e agraves associaccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titulares transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de direitosrdquo

34 ldquoArt 5ordm () XXIX ndash a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecno-loacutegico e econocircmico do Paiacutesrdquo

35 Lei 96101998 ldquoArt 98-C As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestar con-tas dos valores devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados sect 1ordm O direito agrave pres-taccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamente pelo associado sect 2ordm Se as contas natildeo forem prestadas

256iacutendice de teses

na forma do sect 1ordm o pedido do associado poderaacute ser encaminhado ao Ministeacuterio da Cultura que apoacutes sua apreciaccedilatildeo poderaacute determinar a prestaccedilatildeo de contas pela associaccedilatildeo na forma do regulamentordquo

36 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deli-beraccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir () III ndash a separaccedilatildeo dos Poderesrdquo

37 SE 5206 AgR rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 30-4-2004

38 Lei 96101998 ldquoArt 99-A O ente arrecadador de que trata o caput do art 99 deveraacute admitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as associaccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua aacuterea de atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal na forma do art 98-A Paraacutegrafo uacutenico As deliberaccedilotildees quanto aos criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos recursos arrecadados seratildeo tomadas por meio do voto unitaacuterio de cada associaccedilatildeo que integre o ente arrecadadorrdquo

39 ldquoArt 103 Podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucio-nalidade () IX ndash confederaccedilatildeo sindical ou entidade de classe de acircmbito nacionalrdquo

40 ADI 42 rel min Paulo Brossard P DJ de 2-4-1993

41 In casu a Uniatildeo Brasileira de Compositores revela homogeneidade da classe formada por seus mem-bros pertencentes agrave categoria econocircmica diferenciada que compreende os titulares de direitos auto-rais e conexos cujas obras estatildeo submetidas agrave execuccedilatildeo puacuteblica e sujeitas agrave gestatildeo coletiva setor da vida social alvo de profundas transformaccedilotildees a partir da ediccedilatildeo da Lei 128532013

42 GERVAIS Daniel (Org) Collective Management of Copyright and Related Rights Alphen aan Den Rijn Kluwer Law International 2nd Edition 2010

DIR

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FIN

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DIacuteVIDA PUacuteBLICA DIREITO FINANCEIRO

259iacutendice de teses

Eacute constitucional condicionar o resgate antecipado de tiacutetulos da diacutevida puacutebli-

ca emitidos em favor das instituiccedilotildees de ensino superior agrave satisfaccedilatildeo de suas

obrigaccedilotildees previdenciaacuterias

Tal medida tem como objetivo excluir da possibilidade de acesso ao creacutedito ime-diato dos valores correspondentes a tais certificados as entidades que apresentem deacutebitos com a previdecircncia Antes de agressiva ao texto constitucional essa restriccedilatildeo corresponde a atitude de necessaacuteria prudecircncia tendente a evitar que devedores da previdecircncia ganhem acesso antecipado a recursos do Tesouro Nacional1

Ademais essa condiccedilatildeo natildeo contraria nem restringe o direito dessas instituiccedilotildees de provocar o Poder Judiciaacuterio para questionar qualquer obrigaccedilatildeo previdenciaacuteria garantidos tambeacutem os direitos processuais ao contraditoacuterio e agrave ampla defesa

Diante disso foi declarada a constitucionalidade do art 12 caput da Lei 1026020012

1 ADI 2545 MC rel min Ellen Gracie P DJ de 7-2-2003

2 ldquoArt 12 A Secretaria do Tesouro Nacional fica autorizada a resgatar antecipadamente mediante solicitaccedilatildeo formal do Fies e atestada pelo INSS os certificados com data de emissatildeo ateacute 10 de no-vembro de 2000 em poder de instituiccedilotildees de ensino que na data de solicitaccedilatildeo do resgate tenham satisfeito as obrigaccedilotildees previdenciaacuterias correntes inclusive os deacutebitos exigiacuteveis constituiacutedos inscri-tos ou ajuizados e que atendam concomitantemente as seguintes condiccedilotildeesrdquo

Direito Financeiro Ȥ Diacutevida puacuteblica

Ȥ Resgate Ȥ Requisitos

ADI 2545rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

DIR

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DIREITO PENAL INTERNACIONALDIREITO INTERNACIONAL

262iacutendice de teses

Em caso de reingresso de extraditando foragido natildeo eacute necessaacuteria nova deci-

satildeo jurisdicional colegiada acerca da entrega basta a emissatildeo de ordem judi-

cial pelo relator do processo

A avaliaccedilatildeo jurisdicional da extradiccedilatildeo na forma do art 102 I g da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 jaacute foi realizada por ocasiatildeo da primeira entrega Natildeo estaacute evidente que a CF garanta uma segunda avaliaccedilatildeo jurisdicional em caso de reingresso inde-vido no territoacuterio nacional

Aleacutem disso a legislaccedilatildeo infraconstitucional de regecircncia [art 932 da Lei 68151980 (Estatuto do Estrangeiro3) e art 984 da Lei 134452017 (Lei de Migraccedilatildeo)] dispotildee que o requerimento para nova entrega dispensa formalidades sendo desnecessaacuterio instruiacute-lo com informaccedilotildees sobre o fato e a legislaccedilatildeo aplicaacutevel No entanto embora os referidos dispositivos tratem da nova entrega como procedimento administrativo verifica-se a necessidade de ordem judicial para a prisatildeo do estrangeiro (CF art 5ordm LXI5 e Lei de Migraccedilatildeo arts 486 e 847)

Por fim cabe destacar que haacute mateacuterias defensivas que podem ser debatidas no procedimento de nova entrega como ldquoa identidade da pessoa reclamadardquo (Estatuto do Estrangeiro art 85 sect 1ordm8 e Lei de Migraccedilatildeo art 91 sect 1ordm9) A simplificaccedilatildeo do procedimento apenas inverte o ocircnus da alegaccedilatildeo Incumbe agrave defesa trazer a juiacutezo e demonstrar as alegaccedilotildees de seu interesse

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () g) a extradiccedilatildeo solicitada por Estado estrangeirordquo

2 ldquoArt 93 O extraditando que depois de entregue ao Estado requerente escapar agrave accedilatildeo da Justiccedila e homiziar-se no Brasil ou por ele transitar seraacute detido mediante pedido feito diretamente por via diplomaacutetica e de novo entregue sem outras formalidadesrdquo

3 A Lei 68151980 (Estatuto do Estrangeiro) foi revogada pela Lei 134452017 (Lei de Migraccedilatildeo)

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1225 AgRrel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 7-12-2017Informativo STF 885

263iacutendice de teses

4 ldquoArt 98 O extraditando que depois de entregue ao Estado requerente escapar agrave accedilatildeo da Justiccedila e homiziar-se no Brasil ou por ele transitar seraacute detido mediante pedido feito diretamente por via diplomaacutetica ou pela Interpol e novamente entregue sem outras formalidadesrdquo

5 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXI ndash ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em leirdquo

6 ldquoArt 48 Nos casos de deportaccedilatildeo ou expulsatildeo o chefe da unidade da Poliacutecia Federal poderaacute repre-sentar perante o juiacutezo federal respeitados nos procedimentos judiciais os direitos agrave ampla defesa e ao devido processo legalrdquo

7 ldquoArt 84 Em caso de urgecircncia o Estado interessado na extradiccedilatildeo poderaacute previamente ou conjun-tamente com a formalizaccedilatildeo do pedido extradicional requerer por via diplomaacutetica ou por meio de autoridade central do Poder Executivo prisatildeo cautelar com o objetivo de assegurar a executorieda-de da medida de extradiccedilatildeo que apoacutes exame da presenccedila dos pressupostos formais de admissibili-dade exigidos nesta Lei ou em tratado deveraacute representar agrave autoridade judicial competente ouvido previamente o Ministeacuterio Puacuteblico Federalrdquo

8 ldquoArt 85 Ao receber o pedido o Relator designaraacute dia e hora para o interrogatoacuterio do extraditando e conforme o caso dar-lhe-aacute curador ou advogado se natildeo o tiver correndo do interrogatoacuterio o prazo de dez dias para a defesa sect 1ordm A defesa versaraacute sobre a identidade da pessoa reclamada defeito de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradiccedilatildeordquo

9 ldquoArt 91 Ao receber o pedido o relator designaraacute dia e hora para o interrogatoacuterio do extraditando e conforme o caso nomear-lhe-aacute curador ou advogado se natildeo o tiver sect 1ordm A defesa a ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias contado da data do interrogatoacuterio versaraacute sobre a identidade da pessoa reclamada defeito de forma de documento apresentado ou ilegalidade da extradiccedilatildeordquo

264iacutendice de teses

A anuecircncia do extraditando com o pedido do Estado requerente poderaacute sur-

tir efeitos juriacutedicos para fins de deferimento da extradiccedilatildeo desde que essa

possibilidade esteja prevista em norma convencional pertinente e obedeccedila agraves

formalidades exigidas

Em regra o Supremo Tribunal Federal (STF) tem proclamado a irrenunciabilida-de em face de nosso ordenamento positivo das garantias juriacutedicas que se revelam inerentes ao processo extradicional Mostra-se irrelevante nesse contexto a mera declaraccedilatildeo do extraditando de que deseja ser imediatamente entregue agrave Justiccedila do Estado requerente1

Entretanto a convenccedilatildeo de extradiccedilatildeo que preveja tal possibilidade qualifica-se como verdadeira lex specialis em face da legislaccedilatildeo domeacutestica brasileira o que lhe atribui precedecircncia juriacutedica sobre o Estatuto do Estrangeiro (Lei 68151980) em hi-poacuteteses nas quais se verifique a configuraccedilatildeo de eventual omissatildeo ou de antinomia com o direito positivo interno de nosso paiacutes

Nada obstante a anuecircncia do extraditando natildeo exonera em princiacutepio o STF do dever de efetuar riacutegido controle de legalidade em obediecircncia ao princiacutepio constitu-cional do devido processo legal

Nesse sentido devem estar satisfeitos todos os demais requisitos e condiccedilotildees a que alude o Estatuto do Estrangeiro natildeo podendo ocorrer ademais quaisquer dos fatores de vedaccedilatildeo inscritos tanto na Lei 68151980 quanto na convenccedilatildeo pertinente

1 Ext 1407 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 22-2-2016

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1476 QOrel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 20-10-2017Informativo STF 864

265iacutendice de teses

O recebimento do pedido de extradiccedilatildeo natildeo constitui causa interruptiva da

prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria salvo disposiccedilatildeo expressa em tratado es-

peciacutefico1 2 e 3

O Coacutedigo Penal (CP) brasileiro e a Lei 68151980 natildeo preveem como causa inter-ruptiva da prescriccedilatildeo a apresentaccedilatildeo do pedido de extradiccedilatildeo

Dessa feita agrave miacutengua de previsatildeo em tratado especiacutefico natildeo haacute por forccedila do princiacutepio da legalidade estrita como se criar um marco interruptivo em desfavor do extraditando

A prisatildeo preventiva para fins de extradiccedilatildeo executoacuteria natildeo constitui causa

interruptiva da prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria do Estado requerente

Embora nos termos do art 117 V do CP4 o iniacutecio ou a continuaccedilatildeo do cumpri-mento da pena interrompam a prescriccedilatildeo mesmo em se tratando de extradiccedilatildeo executoacuteria a prisatildeo preventiva natildeo perde sua natureza cautelar

Essa espeacutecie de prisatildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade para o processo de extra-diccedilatildeo destinada em sua preciacutepua funccedilatildeo instrumental a assegurar a execuccedilatildeo de eventual ordem de extradiccedilatildeo5

Logo natildeo se trata de prisatildeo para execuccedilatildeo da pena imposta ao extraditando no estrangeiro mas de hipoacutetese diversa que busca apenas viabilizar o proacuteprio procedi-mento extradicional

1 Ext 1261 rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 19-9-2013

2 Sobre o tema o Tratado de Extradiccedilatildeo firmado entre a Repuacuteblica Federativa do Brasil e a Repuacuteblica Italiana promulgado pelo Decreto 8631993 cujo art 3ordm 1 b determina que a extradiccedilatildeo natildeo seraacute concedida ldquose na ocasiatildeo do recebimento do pedido segundo a lei de uma das Partes houver ocorrido prescriccedilatildeo do crime ou da penardquo

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1346 EDrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 13-10-2017Informativo STF 838

266iacutendice de teses

3 Ext 1359 rel min Dias Toffoli decisatildeo monocraacutetica DJE de 2-3-2016

4 ldquoArt 117 O curso da prescriccedilatildeo interrompe-se () IV ndash pela publicaccedilatildeo da sentenccedila ou acoacuterdatildeo condenatoacuterios recorriacuteveisrdquo

5 Ext 579 QO rel min Celso de Mello P DJ de 10-9-1993

267iacutendice de teses

A circunstacircncia de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados

ao extraditando como de lesa-humanidade natildeo afasta a sua prescriccedilatildeo

O Estado brasileiro natildeo subscreveu a Convenccedilatildeo sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade muito menos aderiu a ela aleacutem disso apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibili-dade da pretensatildeo estatal de punir1

Ademais ldquoa satisfaccedilatildeo da exigecircncia concernente agrave dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicionalrdquo2

Nesse sentido tanto o Estatuto do Estrangeiro (art 77 VI)3 quanto o proacuteprio tratado de extradiccedilatildeo firmado entre o Brasil e o Estado requerente vedam categori-camente a extradiccedilatildeo quando extinta a punibilidade pela prescriccedilatildeo agrave luz do ordena-mento juriacutedico brasileiro ou do Estado requerente

Por fim o indeferimento do pedido de extradiccedilatildeo com base nesses fundamentos natildeo ofende o art 27 da Convenccedilatildeo de Viena sobre Direito dos Tratados (Decreto 70302009)4 Afinal natildeo se trata de invocaccedilatildeo de limitaccedilotildees de direito interno para justificar o inadimplemento do tratado de extradiccedilatildeo firmado entre o Brasil e o Es-tado requerente mas sim de simples incidecircncia de limitaccedilatildeo veiculada pelo proacuteprio tratado o qual veda a concessatildeo da extradiccedilatildeo ldquoquando a accedilatildeo ou a pena jaacute estiver prescrita segundo as leis do Estado requerente ou requeridordquo5

1 Voto do ministro Celso de Mello na ADPF 153 rel min Eros Grau P DJE de 6-8-2010

2 Ext 683 rel min Celso de Mello P DJE de 21-11-2008

3 ldquoArt 77 Natildeo se concederaacute a extradiccedilatildeo quando () VI ndash estiver extinta a punibilidade pela prescri-ccedilatildeo segundo a lei brasileira ou a do Estado requerenterdquo (A Lei 68151980 ndash Estatuto do Estrangei-ro ndash foi revogada pela Lei 134452017 ndash Lei de Migraccedilatildeo)

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1362red p o ac min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 5-9-2017Informativo STF 846

268iacutendice de teses

4 ldquoArtigo 27 Direito Interno e Observacircncia de Tratados Uma parte natildeo pode invocar as disposiccedilotildees de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado Esta regra natildeo prejudica o artigo 46rdquo

5 Decreto 29501938 ldquoArtigo III Natildeo seraacute concedida a extradiccedilatildeo () c) quando a accedilatildeo ou a pena jaacute estiver prescrita segundo as leis do Estado requerente ou requeridordquo

DIR

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PENASDIREITO PENAL

271iacutendice de teses

Estabelecida a pena-base no miacutenimo legal porque favoraacuteveis todas as cir-

cunstacircncias judiciais a imposiccedilatildeo de regime inicial mais grave revela quadro

de descompasso com a legislaccedilatildeo penal

A dosimetria da pena aleacutem de natildeo admitir soluccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas supotildee como pressuposto de legitimidade adequada fundamentaccedilatildeo racional re-vestida dos predicados de logicidade harmonia e proporcionalidade com os dados empiacutericos em que deve se basear Assim a fixaccedilatildeo do regime inicial de cumprimen-to da pena faz parte do processo de individualizaccedilatildeo da pena tendo no acircmbito do Coacutedigo Penal (CP) interpretaccedilatildeo sistemaacutetica dos arts 331 e 592 ou seja a integraccedilatildeo do criteacuterio referente ao quantum da pena e os vetores subjetivos relacionados agraves circunstacircncias judiciais

Quando aleacutem de o quantum da pena permitir a imposiccedilatildeo de regime inicial mais brando o reacuteu for primaacuterio e a pena-base for fixada no miacutenimo legal impotildee-se a eleiccedilatildeo do regime prisional mais adequado Ademais em prol do princiacutepio da legali-dade deve haver criteriosa e coerente observacircncia dos limites impostos pelo legisla-dor ordinaacuterio3

A estreita correlaccedilatildeo entre as circunstacircncias judiciais e o regime de pena consta expressamente da exposiccedilatildeo de motivos do CP4 Se o julgador ldquoconsiderou todos os elementos do art 59 favoraacuteveis estabelecendo a pena no patamar miacutenimo tambeacutem o regime deve merecer idecircntico criteacuterio determinando-se o mais brando possiacutevelrdquo5

Implica manifesto ldquocontrassenso ter sido a pena da paciente fixada no patamar miacutenimo legal por inexistecircncia de motivos haacutebeis agrave sua majoraccedilatildeo e ao mesmo tem-po assentar-se o regime mais gravoso em torno de proposiccedilotildees natildeo cogitadas na primeira fase da dosimetriardquo6

Igualmente no acircmbito do Superior Tribunal de Justiccedila a interpretaccedilatildeo consolida-da revertida no Verbete 440 da Suacutemula do STJ orienta que ldquofixada a pena-base no miacute-

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

RHC 135298red p o ac min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 8-8-2017Informativo STF 844

272iacutendice de teses

nimo legal eacute vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o ca-biacutevel em razatildeo da sanccedilatildeo imposta com base apenas na gravidade abstrata do delitordquo

A justificativa adotada pelo magistrado exprime as elementares do delito e revela a opiniatildeo do julgador sobre a gravidade do delito em absoluta desconformidade com o Enunciado 718 da Suacutemula do Supremo Tribunal Federal7

1 ldquoArt 33 A pena de reclusatildeo deve ser cumprida em regime fechado semiaberto ou aberto A de detenccedilatildeo em regime semiaberto ou aberto salvo necessidade de transferecircncia a regime fechado () sect 2ordm As penas privativas de liberdade deveratildeo ser executadas em forma progressiva segundo o meacuterito do condenado observados os seguintes criteacuterios e ressalvadas as hipoacuteteses de transferecircncia a regime mais rigoroso a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deveraacute comeccedilar a cumpri-la em regime fechado b) o condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e natildeo exceda a 8 (oito) poderaacute desde o princiacutepio cumpri-la em regime semiaberto c) o condenado natildeo reincidente cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos poderaacute desde o iniacutecio cumpri-la em regime aberto sect 3ordm A determinaccedilatildeo do regime inicial de cumprimento da pena far-se-aacute com obser-vacircncia dos criteacuterios previstos no art 59 deste Coacutedigordquo

2 ldquoArt 59 O juiz atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamento da viacutetima estabeleceraacute conforme seja necessaacuterio e suficiente para reprovaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do crimerdquo

3 HC 121939 red p o ac min Edson Fachin 1ordf T DJE de 5-5-2016 RHC 125435 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 20-8-2015 HC 113577 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 25-11-2015 e HC 83605 rel min Ellen Gracie 2ordf T DJE de 23-4-2004

4 Exposiccedilatildeo de Motivos 211 de 9 de maio de 1983 (exposiccedilatildeo de motivos do CP) ldquo34 A opccedilatildeo pelo regime inicial da execuccedilatildeo cabe pois ao juiz da sentenccedila que o estabeleceraacute no momento da fixaccedilatildeo da pena de acordo com os criteacuterios estabelecidos no art 59 relativos agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social e agrave personalidade do agente bem como aos motivos e circunstacircncias do crimerdquo

5 NUCCI Guilherme de Souza Individualizaccedilatildeo da pena 5 ed Rio de Janeiro Forense 2014 p 260

6 HC 99996 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 22-11-2010

7 ldquoA opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime natildeo constitui motivaccedilatildeo idocircnea para a imposiccedilatildeo de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicadardquo

273iacutendice de teses

O condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 anos e natildeo exceda a

8 anos tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (CP

art 33 sect 2ordm b) caso as circunstacircncias judiciais do art 59 lhe forem favoraacuteveis

A imposiccedilatildeo de regime de cumprimento de pena mais gravoso deve ser fundamen-tada atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamento da viacutetima (CP art 33 sect 3ordm1)

Nessa linha conclui-se que ldquoa hediondez ou a gravidade abstrata do delito natildeo obriga por si soacute o regime prisional mais gravoso pois o juiacutezo em atenccedilatildeo aos princiacute-pios constitucionais da individualizaccedilatildeo da pena e da obrigatoriedade de fundamen-taccedilatildeo das decisotildees judiciais deve motivar o regime imposto observando a singulari-dade do caso concretordquo2

Por fim ldquoafigura-se inadmissiacutevel por contrastar com as Suacutemulas 7183 e 7194 do Supremo Tribunal Federal a fixaccedilatildeo do regime inicial mais gravoso com base na mera opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crimerdquo5

1 ldquoArt 33 A pena de reclusatildeo deve ser cumprida em regime fechado semiaberto ou aberto A de detenccedilatildeo em regime semiaberto ou aberto salvo necessidade de transferecircncia a regime fechado () sect 3ordm A determinaccedilatildeo do regime inicial de cumprimento da pena far-se-aacute com observacircncia dos criteacuterios previstos no art 59 deste Coacutedigordquo

2 HC 133028 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 5-8-2016

3 ldquoA opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime natildeo constitui motivaccedilatildeo idocircnea para a imposiccedilatildeo de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicadardquo

4 ldquoA imposiccedilatildeo do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige moti-vaccedilatildeo idocircneardquo

5 RHC 119893 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 19-12-2014

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

HC 140441rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-5-2017Informativo STF 859

274iacutendice de teses

Natildeo eacute possiacutevel reconhecer o aumento da pena-base diante da culpabilidade

reconhecida meramente por consciecircncia da ilicitude

A consciecircncia da ilicitude eacute pressuposto da culpabilidade ndash art 21 Coacutedigo Penal (CP)1 ndash e portanto circunstacircncia inidocircnea agrave exasperaccedilatildeo da pena

A existecircncia de inqueacuteritos policiais ou de accedilotildees penais sem tracircnsito em julga-

do natildeo pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria

da pena

Em observacircncia ao princiacutepio constitucional da natildeo culpabilidade (CF art 5ordm LVII2) somente a condenaccedilatildeo penal transitada em julgado pode legitimar a consideraccedilatildeo de o reacuteu ostentar o status juriacutedico-penal de condenado com todas as consequecircncias legais daiacute decorrentes3

Assim ldquoa mera sujeiccedilatildeo de algueacutem a simples investigaccedilotildees policiais (arquivadas ou natildeo) ou a persecuccedilotildees criminais ainda em curso natildeo basta soacute por si ante a inexis-tecircncia em tais situaccedilotildees de condenaccedilatildeo penal transitada em julgado para justificar o reconhecimento de que o reacuteu natildeo possui bons antecedentesrdquo4

1 ldquoArt 21 O desconhecimento da lei eacute inescusaacutevel O erro sobre a ilicitude do fato se inevitaacutevel isenta de pena se evitaacutevel poderaacute diminuiacute-la de um sexto a um terccedilordquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

3 RE 591054 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 26-2-2015

4 RHC 113381 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 20-2-2014

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Dosimetria da pena

HC 122940rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 24-4-2017Informativo STF 851

CRIMES CONTRA O PATRIMOcircNIODIREITO PENAL

276iacutendice de teses

No crime de furto (CP art 155) a circunstacircncia ldquorompimento de obstaacuteculordquo

deve ser utilizada alternativamente ou como qualificadora do crime ou como

causa de aumento da pena

Configura bis in idem a utilizaccedilatildeo da circunstacircncia de rompimento de obstaacuteculo para qualificar o delito de furto (CP art 155 sect 4ordm1) e para aumentar a pena-base como circunstacircncias judiciais na primeira fase da dosimetria (CP art 59)

1 ldquoArt 155 Subtrair para si ou para outrem coisa alheia moacutevel () sect 4ordm A pena eacute de reclusatildeo de dois a oito anos e multa se o crime eacute cometido I ndash com destruiccedilatildeo ou rompimento de obstaacuteculo agrave subtraccedilatildeo da coisardquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra o patrimocircnio

Ȥ Furto Ȥ Furto qualificado

HC 122940rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 24-4-2017Informativo STF 851

277iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Crimes contra o patrimocircnio

Ȥ Furto Ȥ Causa de aumento de pena

Eacute legiacutetima a incidecircncia da causa de aumento de pena por crime cometido

durante o repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm1) no caso de furto praticado na

forma qualificada (CP art 155 sect 4ordm2)

A inserccedilatildeo pelo legislador da majorante do repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm) antes das circunstacircncias qualificadoras (criteacuterio topograacutefico) natildeo teve a intenccedilatildeo de excluir sua incidecircncia sobre as modalidades qualificadas do furto (CP art 155 sect 4ordm) Natildeo fos-se assim tambeacutem estaria obstado pela concepccedilatildeo topograacutefica do Coacutedigo Penal (CP) o reconhecimento do instituto do privileacutegio (CP art 155 sect 2ordm3) no furto qualificado

A compatibilidade desses dois institutos furto qualificado-privilegiado jaacute foi re-conhecida pelo Supremo Tribunal Federal4 Cuida-se de qualificadoras objetivas que concorrem com uma majorante tambeacutem objetiva de modo que natildeo haacute contradiccedilatildeo loacutegica ou vedaccedilatildeo legal que possa obstar a convivecircncia harmocircnica entre a causa de aumento de pena do repouso noturno e o furto qualificado quando perfeitamente compatiacuteveis com a situaccedilatildeo faacutetica

1 ldquoArt 155 Subtrair para si ou para outrem coisa alheia moacutevel Pena ndash reclusatildeo de um a quatro anos e multa sect 1ordm A pena aumenta-se de um terccedilo se o crime eacute praticado durante o repouso noturnordquo

2 ldquoArt 155 () sect 4ordm A pena eacute de reclusatildeo de dois a oito anos e multa se o crime eacute cometido I ndash com destruiccedilatildeo ou rompimento de obstaacuteculo agrave subtraccedilatildeo da coisardquo

3 ldquoArt 155 () sect 2ordm Se o criminoso eacute primaacuterio e eacute de pequeno valor a coisa furtada o juiz pode subs-tituir a pena de reclusatildeo pela de detenccedilatildeo diminuiacute-la de um a dois terccedilos ou aplicar somente a pena de multardquo

4 HC 101256 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 14-9-2011 HC 103245 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 23-11-2010 e HC 97034 rel min Ayres Britto 1ordf T DJE de 7-5-2010

HC 130952rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 20-2-2017Informativo STF 851

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUALDIREITO PENAL

279iacutendice de teses

Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor mesmo que praticados

na forma simples tecircm caraacuteter hediondo

Os delitos hoje unificados no mesmo tipo penal prescrito no art 213 do Coacutedigo Penal (CP)1 preveem a modalidade simples e a qualificada A conclusatildeo de que as duas formas satildeo consideradas hediondas (Lei 80721990 art 1ordm V e VI2) adveacutem da presunccedilatildeo de violecircncia no caso do crime praticado na forma simples e de o bem juriacutedico tutelado ser a liberdade sexual3

ldquoEm harmonia com as demais previsotildees a norma jungiu o estupro e o atentado violento ao pudor para merecerem o roacutetulo de hediondez agrave combinaccedilatildeo com o art 223 cabeccedila e paraacutegrafo uacutenico do CP4 Vale dizer que praticado qualquer dos crimes sem que se faccedila presente o disposto no art 223 cabeccedila e paraacutegrafo uacutenico do CP a pena a ser aplicada eacute a majoraccedilatildeo pela Lei 80721990 tal como estabelecido no respectivo art 9ordm e jaacute constante dos arts 213 e 214 do CP (hellip) A natildeo se entender as-sim releva-se a plano secundaacuterio exacerbando-se as normas o que previsto embora entre parecircnteses nos incisos V e VI do art 1ordm da Lei 8072 de 25 de julho de 1990rdquo5

Eacute admissiacutevel o reconhecimento de continuidade delitiva de acordo com o

caso concreto nos casos previstos no art 213 do CP

Com a ediccedilatildeo da Lei 1201520096 que unificou em um mesmo tipo incriminador as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor admite-se o reconhecimento da continuidade delitiva entre os referidos delitos ante a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da retroatividade da lei mais beneacutefica e desde que preenchidos os requisitos legais previstos no art 717 do CP8

1 ldquoArt 213 Constranger algueacutem mediante violecircncia ou grave ameaccedila a ter conjunccedilatildeo carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinosordquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Crimes contra a liberdade sexual Ȥ Estupro

HC 100612red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

280iacutendice de teses

2 ldquoArt 1ordm Satildeo considerados hediondos os seguintes crimes todos tipificados no Decreto-Lei n 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo Penal consumados ou tentados () V ndash estupro (art 213 caput e sectsect 1ordm e 2ordm) VI ndash estupro de vulneraacutevel (art 217-A caput e sectsect 1ordm 2ordm 3ordm e 4ordm)rdquo

3 RHC 119609 rel min Ricardo Lewandowski 1ordf T DJE de 3-2-2014 e HC 120668 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 27-5-2014

4 ldquoArt 223 Se da violecircncia resulta lesatildeo corporal de natureza grave () Paraacutegrafo uacutenico Se do fato resulta a morterdquo

5 HC 88245 red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJ de 20-4-2007

6 ldquoArt 213 Constranger algueacutem mediante violecircncia ou grave ameaccedila a ter conjunccedilatildeo carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinosordquo

7 ldquoArt 71 Quando o agente mediante mais de uma accedilatildeo ou omissatildeo pratica dois ou mais crimes da mesma espeacutecie e pelas condiccedilotildees de tempo lugar maneira de execuccedilatildeo e outras semelhantes devem os subsequentes ser havidos como continuaccedilatildeo do primeiro aplica-se-lhe a pena de um soacute dos crimes se idecircnticas ou a mais grave se diversas aumentada em qualquer caso de um sexto a dois terccedilosrdquo

8 HC 114507 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-12-2013

281iacutendice de teses

Para a configuraccedilatildeo de estupro de vulneraacutevel eacute irrelevante o consentimento

da viacutetima menor de quatorze anos

Sendo a viacutetima menor de quatorze anos por forccedila de presunccedilatildeo legal (CP art 217-A)1 o estupro eacute presumido ainda que se trate de jovens com idades proacuteximas e em rela-cionamento afetivo

1 ldquoArt 217-A Ter conjunccedilatildeo carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos Pena ndash reclusatildeo de 8 (oito) a 15 (quinze) anosrdquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Crimes sexuais contra vulneraacuteveis Ȥ Estupro de vulneraacutevel

HC 122945red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 4-5-2017Informativo STF 858

282iacutendice de teses

Eacute juridicamente possiacutevel a majoraccedilatildeo da pena privativa de liberdade imposta a

bisavocirc de viacutetima em razatildeo da incidecircncia da causa de aumento prevista no in-

ciso II do art 2261 do Coacutedigo Penal (CP) considerada a figura do ascendente

O bisavocirc encontra-se na relaccedilatildeo de parentesco com a bisneta no terceiro grau da linha reta (Coacutedigo Civil arts 1591 e 15942) e natildeo haacute no ordenamento juriacutedico ne-nhuma regra de limitaccedilatildeo quanto ao nuacutemero de geraccedilotildees

O CP natildeo cuida de regras atinentes agrave personalidade civil das pessoas ou das suas relaccedilotildees de parentesco ou ateacute mesmo de filiaccedilatildeo Tais conceitos encontram-se disci-plinados no Coacutedigo Civil e satildeo cotidianamente utilizados em outros ramos do orde-namento juriacutedico de forma subsidiaacuteria a fim de suprir eventuais lacunas indesejadas

1 ldquoArt 226 A pena eacute aumentada () II ndash de metade se o agente eacute ascendente padrasto ou madrasta tio irmatildeo cocircnjuge companheiro tutor curador preceptor ou empregador da viacutetima ou por qual-quer outro tiacutetulo tem autoridade sobre elardquo

2 ldquoArt 1591 Satildeo parentes em linha reta as pessoas que estatildeo umas para com as outras na relaccedilatildeo de ascendentes e descendentes () Art 1594 Contam-se na linha reta os graus de parentesco pelo nuacutemero de geraccedilotildees e na colateral tambeacutem pelo nuacutemero delas subindo de um dos parentes ateacute ao ascendente comum e descendo ateacute encontrar o outro parenterdquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Disposiccedilotildees gerais Ȥ Causa de aumento de pena

RHC 138717rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 5-6-2017Informativo STF 866

CRIMES CONTRA A FEacute PUacuteBLICADIREITO PENAL

284iacutendice de teses

No crime de falsidade ideoloacutegica as provas produzidas devem evidenciar que

o acusado possui ciecircncia inequiacutevoca do conteuacutedo inveriacutedico dos documentos

que assina ou de que o faccedila com o objetivo de prejudicar direito criar obriga-

ccedilatildeo ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante

Sendo o dolo elemento subjetivo do tipo se ausente o fato praticado natildeo eacute tiacutepico Consequentemente natildeo constitui infraccedilatildeo penal ainda que provadas a materiali-dade e a praacutetica da conduta

Aleacutem disso ldquoo fato de o acusado ter subscrito os documentos por si soacute natildeo eacute argumento suficiente para a caracterizaccedilatildeo do dolo da conduta muito menos em re-laccedilatildeo agrave finalidade especiacutefica de prejudicar direito criar obrigaccedilatildeo ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante como reclama o tipo penalrdquo1

ldquoPor fim condenar o chefe do Poder Executivo apenas e tatildeo somente em razatildeo da assinatura dos documentos implicaria no caso concreto responsabilizaccedilatildeo penal objetiva o que eacute inadmissiacutevel na conjuntura penal modernardquo2

1 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

2 Idem

Direito Penal Ȥ Crimes contra a feacute puacuteblica

Ȥ Falsidade ideoloacutegica Ȥ Elemento subjetivo do tipo

AP 931rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 23-6-2017Informativo STF 868

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO PENAL

286iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral Ȥ Peculato

Eacute atiacutepica a conduta de peculato por ato praticado por secretaacuterio parlamentar

que efetivamente exerce a funccedilatildeo puacuteblica referente ao cargo e auxilia o parla-

mentar em assuntos de interesse privado

Existe significativa ldquodiferenccedila entre usar funcionaacuterio puacuteblico em atividade privada e usar a Administraccedilatildeo Puacuteblica para pagar salaacuterio de empregado particular o que configura peculatordquo1

A atividade de secretaacuterio parlamentar natildeo se limita ao desempenho de tarefas bu-rocraacuteticas (pareceres estudos expediccedilatildeo de ofiacutecios acompanhamento de proposi-ccedilotildees redaccedilatildeo de minutas de pronunciamento emissatildeo de passagens aeacutereas emissatildeo de documentos envio de mensagens eletrocircnicas oficiais etc) Compreende outras atividades de apoio intrinsecamente relacionadas ao exerciacutecio do mandato parlamen-tar como o atendimento agrave populaccedilatildeo (Ato da Mesa 721997 da Cacircmara dos Depu-tados art 8ordm2)

Essas atribuiccedilotildees devem ser desempenhadas no gabinete parlamentar na Cacircmara dos Deputados ou no escritoacuterio poliacutetico do deputado federal em seu Estado de repre-sentaccedilatildeo (Ato da Mesa 721997 art 2ordm3)

Dessa forma nos casos em que secretaacuterio parlamentar exerccedila efetivamente as atribuiccedilotildees inerentes a seu cargo puacuteblico ainda que tambeacutem tenha desempenhado outras atividades no estrito interesse particular do parlamentar na condiccedilatildeo de ad-ministrador de fato da empresa da qual ele eacute soacutecio natildeo configura que houve a uti-lizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica para pagar o salaacuterio de empregado particular mas sim o uso de matildeo de obra puacuteblica em desvio para atender a interesses particulares4

Em casos dessa natureza os fatos imputados natildeo configuram iliacutecito penal natildeo cabendo em sede de accedilatildeo penal a emissatildeo de qualquer juiacutezo de valor a respeito da moralidade de sua conduta ou de seu enquadramento em eventual ato de improbida-de administrativa (Lei 84291992)

AP 504red p o ac min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 834

287iacutendice de teses

1 Inq 3776 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 4-11-2014

2 ldquoArt 8ordm Os cargos de que trata este Ato seratildeo exercidos em 25 (vinte e cinco) niacuteveis diferentes de remuneraccedilatildeo complexidade e responsabilidade e teratildeo as seguintes atribuiccedilotildees baacutesicas redaccedilatildeo de correspondecircncia discurso e pareceres do Parlamentar atendimento agraves pessoas encaminhadas ao ga-binete execuccedilatildeo de serviccedilos de secretaria e datilograacuteficos pesquisas acompanhamento interno e ex-terno de assuntos de interesse do Parlamentar conduccedilatildeo de veiacuteculo de propriedade do Parlamentar recebimento e entrega de correspondecircncia outras atividades afins inerentes ao respectivo gabineterdquo

3 ldquoArt 2ordm Os ocupantes dos cargos em comissatildeo de Secretaacuterio Parlamentar teratildeo exerciacutecio exclusiva-mente nos gabinetes parlamentares em Brasiacutelia ou em suas projeccedilotildees nos Estados e reger-se-atildeo pe-las normas estatutaacuterias e disciplinares aplicaacuteveis aos demais servidores da Cacircmara dos Deputadosrdquo

4 Inq 2952 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-12-2014

288iacutendice de teses

No crime de concussatildeo1 natildeo configura bis in idem a elevaccedilatildeo da pena na pri-

meira fase da dosimetria visto que em razatildeo da qualidade funcional ocupa-

da pelo agente dele se deveria exigir maior grau de observacircncia dos deveres

e obrigaccedilotildees relacionados ao cargo ocupado

O delito previsto no art 316 do Coacutedigo Penal (CP) eacute de matildeo proacutepria mas natildeo de matildeo proacutepria especiacutefica Logo eacute possiacutevel considerar a qualificaccedilatildeo especiacutefica do fun-cionaacuterio puacuteblico na primeira fase ante as circunstacircncias do art 592 do CP3

Nesse sentido exemplificativamente ldquoa condiccedilatildeo de deputado federal do agente natildeo se confunde com a qualidade funcional ativa exigida para a praacutetica do crime de concussatildeo A quebra do dever legal de representar fielmente os anseios da populaccedilatildeo e de quem se esperaria uma conduta compatiacutevel com as funccedilotildees por ele exercidas li-gadas entre outros aspectos ao controle e agrave repressatildeo de atos contraacuterios agrave administra-ccedilatildeo e ao patrimocircnio puacuteblico distancia-se em termos de culpabilidade da regra geral de moralidade e probidade administrativa imposta a todos os funcionaacuterios puacuteblicosrdquo4

Da mesma forma dentro do Estado Democraacutetico de Direito e do paiacutes que se al-meja construir o fato de uma autoridade puacuteblica obter vantagem indevida de algueacutem que esteja praticando um delito compromete de maneira grave o fundamento de legitimidade da autoridade que eacute atuar pelo bem comum e pelo bem puacuteblico5

Portanto quem seja investido de parcela de autoridade puacuteblica ndash seja um juiz seja o Ministeacuterio Puacuteblico seja a autoridade policial ndash deve ser avaliado no desempenho da sua funccedilatildeo com escrutiacutenio mais riacutegido e por consequecircncia no que se refere agrave culpabilidade promover em cada caso concreto juiacutezo de reprovabilidade maior6

Diante disso embora a condiccedilatildeo de funcionaacuterio puacuteblico integre o tipo penal do delito previsto no art 316 do CP pode-se levar em conta quando do juiacutezo de reprova-bilidade (CP art 59) a qualidade especiacutefica ou a qualificaccedilatildeo do funcionaacuterio puacuteblico

Direito Penal Ȥ Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral Ȥ Concussatildeo

HC 132990red p o ac min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 23-6-2017Informativo STF 835

289iacutendice de teses

1 ldquoArt 316 Exigir para si ou para outrem direta ou indiretamente ainda que fora da funccedilatildeo ou antes de assumi-la mas em razatildeo dela vantagem indevidardquo

2 ldquoArt 59 O juiz atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamen-to da viacutetima estabeleceraacute conforme seja necessaacuterio e suficiente para reprovaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do crime I ndash as penas aplicaacuteveis dentre as cominadas II ndash a quantidade de pena aplicaacutevel dentro dos limites previstos III ndash o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade IV ndash a subs-tituiccedilatildeo da pena privativa da liberdade aplicada por outra espeacutecie de pena se cabiacutevelrdquo

3 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento

4 RHC 132657 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 2-3-2016

5 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

6 Idem

LEGISLACcedilAtildeO PENAL ESPECIALDIREITO PENAL

291iacutendice de teses

O parecer juriacutedico do oacutergatildeo teacutecnico especializado favoraacutevel agrave inexigibilidade

impede a tipificaccedilatildeo criminosa da conduta prevista no art 89 da Lei 866619931

O referido parecer juriacutedico afasta em princiacutepio a ciecircncia da ilicitude da inexigibili-dade e determina o erro do agente quanto a elemento do tipo qual seja a circuns-tacircncia ldquofora das hipoacuteteses previstas em leirdquo2

Quando o administrador puacuteblico consulta a procuradoria juriacutedica quanto agrave regula-ridade da dispensa ou da inexigibilidade o parecer do corpo juriacutedico quando lavrado de maneira idocircnea ndash sem indiacutecio de que constitua etapa da suposta empreitada cri-minosa ndash confere embasamento juriacutedico ao ato inclusive quanto agrave observacircncia das formalidades do procedimento

Dessa maneira o parecer juriacutedico constitui oacutebice ao enquadramento tiacutepico da conduta do administrador puacuteblico que com base nele assine o termo contratual no exerciacutecio de sua funccedilatildeo salvo indicaccedilatildeo de dolo de beneficiar a si mesmo ou ao con-tratado eou narrativa miacutenima da existecircncia de uniatildeo de desiacutegnios entre os acusados para realizaccedilatildeo comum da praacutetica delitiva

A distinccedilatildeo do iliacutecito administrativo (ato de improbidade) do iliacutecito penal (ato

criminoso) reclama que a exordial acusatoacuteria narre a accedilatildeo finaliacutestica do agente

voltada agrave obtenccedilatildeo de vantagem indevida por meio da dispensa da licitaccedilatildeo

violando com isso o bem juriacutedico penal protegido pelo tipo incriminador3

O crime definido no art 89 da Lei 86661993 apesar de dispensar a prova do re-sultado danoso pressupotildee que a conduta do administrador puacuteblico seja criminosa e que a denuacutencia narre a finalidade do agente de lesar o eraacuterio de obter vantagem indevida ou de beneficiar patrimonialmente o particular contratado ferindo com isso a ratio essendi da licitaccedilatildeo qual seja a impessoalidade da contrataccedilatildeo

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees Ȥ Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

Inq 3674rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 15-9-2017Informativo STF 856

292iacutendice de teses

O tipo previsto no referido dispositivo tem como destinataacuterio o administrador e adjudicataacuterios desonestos e natildeo os supostamente inaacutebeis Isso porque a intenccedilatildeo de ignorar ou simular os pressupostos para a contrataccedilatildeo direta satildeo elementos do tipo que natildeo se perfaz a tiacutetulo de negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia ndash caracterizado-res do atuar culposo

A imputaccedilatildeo do crime definido no art 89 da Lei 86661993 a uma pluralidade

de agentes demanda a descriccedilatildeo indiciaacuteria na peccedila acusatoacuteria do viacutenculo

subjetivo entre os participantes para a obtenccedilatildeo do resultado criminoso4

Para que haja coautoria ou participaccedilatildeo a dogmaacutetica penal exige a evidenciaccedilatildeo de algum indiacutecio de acordo preacutevio revelador do liame psicoloacutegico entre os acusados Em regra este elemento poderaacute ser obtido mediante depoimentos de testemunhos ou ao menos quando haja alguma demonstraccedilatildeo de que todos obtiveram vanta-gem iliacutecita com a praacutetica delituosa comum5 e 6

1 ldquoArt 89 Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade Pena ndash detenccedilatildeo de 3 (trecircs) a 5 (cin-co) anos e multa Paraacutegrafo uacutenico Na mesma pena incorre aquele que tendo comprovadamente concorrido para a consumaccedilatildeo da ilegalidade beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal para celebrar contrato com o Poder Puacuteblicordquo

2 Inq 2482 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 17-2-2012 Inq 3731 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-3-2016 e AP 560 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJ de 11-9-2015

3 Inq 3965 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016 Inq 4104 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016 Inq 4106 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 10-11-2016 Inq 4101 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 10-11-2016 AP 700 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 26-4-2016 Inq 3731 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-3-2016 e Inq 2688 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-2-2015

4 AP 595 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 10-2-2015

5 ldquo(hellip) c) Coautoria Eacute a realizaccedilatildeo conjunta de um delito por vaacuterias pessoas que colaboram conscien-te e voluntariamente A coautoria eacute uma espeacutecie de conspiraccedilatildeo levada agrave praacutetica () Cada coautor responde pelo fato sempre que este permaneccedila no acircmbito da decisatildeo comum acordada previamen-te Qualquer tipo de excesso de um dos coautores repercutiraacute na forma de imputaccedilatildeo subjetiva do resultado que se tenha produzido por excesso assim uns podem responder a tiacutetulo de dolo e outros a tiacutetulo de imprudecircncia ou natildeo responder em absoluto pelo excesso Como na coautoria todos satildeo autores do fato pode acontecer que cada um responda por um tiacutetulo delitivo diferente () Distinta da coautoria eacute a autoria colateral na qual vaacuterias pessoas independentemente umas das outras

293iacutendice de teses

produzem o resultado tiacutepico geralmente de um delito culposordquo (BITENCOURT Cezar Roberto MUNtildeOZ CONDE Francisco Teoria geral do delito Satildeo Paulo Saraiva 2000 p 523525)

6 ldquoSatildeo coautores aqueles que realizam conjuntamente e de muacutetuo acordo um fato () Os coautores repartem entre si a realizaccedilatildeo do tipo de autoria () Para que esta imputaccedilatildeo reciacuteproca possa ocorrer eacute preciso o lsquomuacutetuo acordorsquo que converte em partes de um plano global unitaacuterio as dis-tintas contribuiccedilotildees () O art 28 do Coacutedigo Penal espanhol faz referecircncia agrave coautoria quando diz que lsquosatildeo autores aqueles que realizam o fato conjuntamentersquo Deve-se entender que esta expressatildeo requer natildeo apenas a execuccedilatildeo conjunta mas tambeacutem que a mesma se efetue de muacutetuo acordordquo (MIR PUIG Santiago Direito penal fundamentos e teoria do delito Trad Claacuteudia Viana Garcia e Joseacute Carlos Nobre Porciuacutencula Neto Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2007 p 358359)

294iacutendice de teses

A ausecircncia do elemento subjetivo do tipo (dolo) no crime do art 89 da Lei

86661993 leva agrave rejeiccedilatildeo da denuacutencia

O crime de inexigibilidade de licitaccedilatildeo1 reclama dolo consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar o iliacutecito penal causando dano ao eraacuterio ou obtendo vantagem indevida2 Tal situaccedilatildeo natildeo se faz presente quando o acusado atua em conformidade com a lei e com fulcro em parecer da Procuradoria Juriacutedica configu-rando-se assim inexistecircncia de justa causa para a accedilatildeo penal

1 Lei 86661993 ldquoArt 89 Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade Pena ndash Detenccedilatildeo de 3 (trecircs) a 5 (cinco) anos e multardquo

2 Inq 2688 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-2-2015 Inq 1990 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 21-2-2011 Inq 3016 rel min Ellen Gracie P DJE de 16-2-2011 Inq 2677 rel min Ayres Britto P DJE de 21-10-2010 Inq 2482 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 17-2-2012 Inq 3077 rel min Dias Toffoli P DJE de 25-9-2012 HC 107263 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 5-9-2011 e Inq 3965 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees Ȥ Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

Inq 3753rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 30-5-2017Informativo STF 861

295iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees Ȥ Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

A conduta de transmitir sinal de internet por radiofrequecircncia sem autori-

zaccedilatildeo natildeo configura crime de desenvolver clandestinamente atividades de

telecomunicaccedilotildees (Lei 94721997 art 1831)

Nos termos do art 61 sect 1ordm da Lei 947219972 a oferta de serviccedilo de internet conce-bido como serviccedilo de valor adicionado natildeo constitui atividade de telecomunicaccedilatildeo

1 ldquoArt 183 Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo Pena ndash detenccedilatildeo de dois a quatro anos aumentada da metade se houver dano a terceiro e multa de R$ 1000000 (dez mil reais)rdquo

2 ldquoArt 61 Serviccedilo de valor adicionado eacute a atividade que acrescenta a um serviccedilo de telecomunica-ccedilotildees que lhe daacute suporte e com o qual natildeo se confunde novas utilidades relacionadas ao acesso armazenamento apresentaccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo de informaccedilotildees sect 1ordm Serviccedilo de valor adicionado natildeo constitui serviccedilo de telecomunicaccedilotildees classificando-se seu provedor como usuaacuterio do serviccedilo de telecomunicaccedilotildees que lhe daacute suporte com os direitos e deveres inerentes a essa condiccedilatildeordquo

HC 127978rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 1ordm-12-2017Informativo STF 883

296iacutendice de teses

Excepcionalmente ante a constataccedilatildeo da irrelevacircncia da conduta praticada

pelo paciente e da ausecircncia de resultado lesivo a praacutetica da conduta em tese

subsumida ao art 183 da Lei 947219971 natildeo deve ser resolvida na esfera pe-

nal e sim nas instacircncias administrativas

Caso a Agecircncia Nacional de Telecomunicaccedilotildees (ANATEL) reconheccedila que a interfe-recircncia por parte de atividade clandestina de telecomunicaccedilatildeo tenha ocorrido ape-nas em canais que natildeo tenham recebido a outorga para operar em aacuterea de cobertura da raacutedio comunitaacuteria considera-se que o bem juriacutedico tutelado pela norma perma-nece incoacutelume

Nessa hipoacutetese a seguranccedila dos meios de telecomunicaccedilotildees natildeo sofre qualquer espeacutecie de lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo que mereccedila a intervenccedilatildeo do Direito Penal Logo natildeo deve ser reconhecida a tipicidade material da conduta ante a incidecircncia do princiacutepio da insignificacircncia Assim a mateacuteria deve ser resolvida nas instacircncias admi-nistrativas2 e 3

1 ldquoArt 183 Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeordquo

2 RHC 118014 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 21-8-2013

3 RHC 119123 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 4-8-2014

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees Ȥ Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

HC 138134rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 28-3-2017Informativo STF 853

297iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 96131998 ndash ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores Ȥ Art 1ordm ndash Lavagem de bens direitos ou valores

O crime de lavagem de bens direitos ou valores praticado na modalidade de

ocultaccedilatildeo (Lei 96131998 art 1ordm1) tem natureza de crime permanente

Quem oculta a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou pro-priedade de bens direitos ou valores provenientes de crime enquanto os manti-ver ocultos ou seja escondidos permanece realizando a conduta correspondente a esse verbo nuacutecleo do tipo Ocultar portanto natildeo eacute accedilatildeo que se realiza apenas no momento inicial do encobrimento mas que perdura enquanto o objeto material do crime estiver escondido maacutexime quando o autor deteacutem o poder de fato sobre o referido objeto

Por essa razatildeo a despeito das discussotildees sobre o bem juriacutedico tutelado pelo legis-lador com a tipificaccedilatildeo do crime de lavagem como a atividade delitiva violadora do bem juriacutedico tutelado se prolonga no tempo impende reconhecer que o bem juriacutedico permanece sendo violado enquanto a atividade delitiva natildeo cessar

A caracterizaccedilatildeo de crimes cujo verbo nuacutecleo do tipo eacute ocultar como permanente natildeo eacute exclusividade do delito de lavagem de dinheiro O Direito Penal paacutetrio tipifi-ca a ocultaccedilatildeo de uma seacuterie de objetos materiais em circunstacircncias vaacuterias com a consequente majoritaacuteria classificaccedilatildeo doutrinaacuteria dessas condutas como modalidades permanentes de violaccedilatildeo dos respectivos bens juriacutedicos

Eacute o caso do crime de receptaccedilatildeo que eacute considerado pela doutrina como ldquoinstan-tacircneo (cujo resultado se daacute de maneira instantacircnea natildeo se prolongando no tempo) salvo na modalidade lsquoocultarrsquo que eacute permanente (delito de consumaccedilatildeo prolongada) A ocultaccedilatildeo tem a peculiaridade de significar o disfarce para algo natildeo ser visto sem haver a destruiccedilatildeo Por isso enquanto o agente estiver escondendo a coisa que sabe ser produto de crime consuma-se a infraccedilatildeo penalrdquo2

Outro exemplo eacute o crime de ocultaccedilatildeo de cadaacutever (CP art 2113) o qual eacute conside-rado ldquocrime permanente que subsiste ateacute o instante em que o cadaacutever eacute descoberto

AP 863rel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 29-8-2017Informativo STF 866

298iacutendice de teses

pois ocultar eacute esconder e natildeo simplesmente remover sendo irrelevante o tempo em que o cadaacutever esteve escondidordquo4

A mesma consideraccedilatildeo deve ser transposta para o delito de lavagem na modalida-de de ocultaccedilatildeo Afinal eacute a natureza da accedilatildeo praticada que se prolonga no tempo ou natildeo correspondente ao verbo do qual o legislador se valeu para descrever o crime que define a natureza instantacircnea ou permanente do delito O crime de lavagem de dinheiro na modalidade ocultar portanto eacute igualmente permanente e subsiste ateacute o instante em que os valores provenientes dos crimes antecedentes sejam descobertos

Por fim cabe destacar que ao contraacuterio dos delitos instantacircneos cuja accedilatildeo ocorre num momento especiacutefico e bem delimitado nos crimes permanentes ldquoa accedilatildeo segue em curso enquanto dura a permanecircncia razatildeo pela qual todo esse tempo eacute conside-rado tempo do crime devendo ser computado como momento exato aquele em que cessa a permanecircncia inclusive a efeito de prescriccedilatildeo (art 111 III5 do Coacutedigo Penal)rdquo6

1 ldquoArt 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou pro-priedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente de infraccedilatildeo penal () Pena reclusatildeo de 3 (trecircs) a 10 (dez) anos e multardquo

2 NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo Penal comentado 15 ed Rio de Janeiro Forense 2015 p 1004

3 ldquoArt 211 Destruir subtrair ou ocultar cadaacutever ou parte dele Pena ndash reclusatildeo de um a trecircs anos e multardquo

4 HC 76678 rel min Mauriacutecio Correcirca 2ordf T DJ de 8-9-2000

5 ldquoArt 111 A prescriccedilatildeo antes de transitar em julgado a sentenccedila final comeccedila a correr () III ndash nos crimes permanentes do dia em que cessou a permanecircnciardquo

6 BUSATO Paulo Ceacutesar Direito penal parte geral Satildeo Paulo Atlas 2013 p 145

299iacutendice de teses

Eacute possiacutevel o confisco de todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendi-

do em decorrecircncia do traacutefico de drogas sem a necessidade de se perquirir a

habitualidade reiteraccedilatildeo do uso do bem para tal finalidade a sua modifica-

ccedilatildeo para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou

qualquer outro requisito aleacutem daqueles previstos expressamente no art 243

paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Os preceitos constitucionais sobre o traacutefico de drogas e o respectivo confisco de bens constituem parte dos mandados de criminalizaccedilatildeo previstos pelo poder cons-tituinte originaacuterio a exigir atuaccedilatildeo eneacutergica do Estado sobre o tema devendo com-bater severamente a traficacircncia de drogas sob pena de o ordenamento juriacutedico bra-sileiro incorrer em proteccedilatildeo deficiente dos direitos fundamentais2

Tem-se entatildeo um cenaacuterio em que essa conduta delituosa eacute prevista como crime inafianccedilaacutevel e insuscetiacutevel de graccedila ou anistia3 que permite a extradiccedilatildeo do brasileiro naturalizado4 que autoriza a expropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais e urbanos5 que permite o confisco de ldquotodo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido em decorrecircncia do traacuteficordquo6 A contextualizaccedilatildeo constitucional confere normatizaccedilatildeo uacutenica quanto a esse crime diferenciando-a de todos os demais tipos penais existentes no ordenamento ju-riacutedico brasileiro Nenhum outro tipo penal teve uma preocupaccedilatildeo tatildeo grande do cons-tituinte com a aplicaccedilatildeo simultacircnea de tantos institutos repressivos ou preventivos

Em virtude da concepccedilatildeo patrimonial e lucrativa ligada ao traacutefico de drogas exige-se do Direito Penal uma postura adequada como instrumento de controle da ordem social natildeo apenas no contexto repressivo-corporal mas tambeacutem com um con-datildeo pedagoacutegico mediante instrumentos que propiciem o desestiacutemulo financeiro agrave criminalidade atingindo exatamente aquilo que ela tem como finalidade preciacutepua o lucro Afinal o crime cometido natildeo pode trazer compensaccedilatildeo financeira superior a eventual sanccedilatildeo aplicaacutevel sob pena de tornar a responsabilizaccedilatildeo penal insuficiente no que toca o caraacuteter de prevenccedilatildeo geral e especial

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas ndash Repercussatildeo Geral

RE 638491RG ‒ Tema 647rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 865

300iacutendice de teses

No direito comparado o confisco eacute instituto de grande aplicabilidade nos delitos de repercussatildeo econocircmica sob o vieacutes de que ldquoo crime natildeo deve compensarrdquo pers-pectiva adotada pelo constituinte brasileiro e pela Repuacuteblica Federativa do Brasil que internalizou diversos diplomas internacionais que visam reprimir severamente o traacutefico de drogas A incursatildeo no cenaacuterio global sobre a mateacuteria evidencia o amparo agraves soluccedilotildees confiscatoacuterias na medida em que tal praacutetica natildeo eacute aplicada apenas como pena acessoacuteria imposta em uma condenaccedilatildeo criminal mas como procedimento vol-tado contra o proacuteprio bem cuja aquisiccedilatildeo natildeo seja passiacutevel de comprovaccedilatildeo liacutecita ou seja desproporcional aos rendimentos de quem o possua

O confisco previsto no art 243 paraacutegrafo uacutenico da CF deve ser interpretado agrave luz dos princiacutepios da unidade e da supremacia da Constituiccedilatildeo atentando agrave linguagem natural prevista no seu texto7 Isso significa que a Constituiccedilatildeo deve ser interpretada de modo a evitar contradiccedilatildeo entre suas normas porquanto ao interpretar deter-minado preceito o hermeneuta deve levar em consideraccedilatildeo a Constituiccedilatildeo em sua globalidade e natildeo como normas isoladas e dispersas8 Em outras palavras o direito natildeo deve ser interpretado em tiras mas no seu todo9

Como consequecircncia esse dispositivo natildeo admite outra interpretaccedilatildeo senatildeo a lite-ral no sentido de que ldquotodo e qualquer bemrdquo deve ser confiscado pelo Estado quando for apreendido ldquoem decorrecircnciardquo da praacutetica do traacutefico iliacutecito de drogas Inclusive natildeo se exige qualquer outro requisito material que natildeo seja o trinocircmio traacutefico-bem--confisco aleacutem do respeito ao devido processo legal (CF art 5ordm LIV10) Assim impor qualquer condiccedilatildeo para o confisco de bens apreendidos como a habitualidade eou a reiteraccedilatildeo de seu uso para a finalidade iliacutecita ou adulteraccedilatildeo para dificultar a des-coberta do local do acondicionamento da droga contraria frontalmente o art 243 paraacutegrafo uacutenico da CF11

1 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem localizadas cul-turas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordm Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreen-dido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

2 Precedente HC 104410 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 26-3-2012

3 CF1988 ldquoArt 5ordm () XLIII ndash a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o terrorismo e os definidos

301iacutendice de teses

como crimes hediondos por eles respondendo os mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitiremrdquo

4 CF1988 ldquoArt 5ordm () LI ndash nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da leirdquo

5 CF1988 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem lo-calizadas culturas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordmrdquo

6 CF1988 ldquoArt 243 () Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

7 Precedente RE 543974 rel min Eros Grau P DJE de 28-5-2009

8 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Satildeo Paulo Almedina 2003 p 12231224

9 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 131132

10 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

11 Precedente AC 82 MC rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJ de 28-5-2004

302iacutendice de teses

Eacute irrelevante para a aplicaccedilatildeo do art 40 III da Lei 113432006 (Lei de Dro-

gas) se o agente infrator visa ou natildeo comercializar drogas com os frequenta-

dores de estabelecimento prisional

A aplicaccedilatildeo da causa de aumento de pena prevista no art 40 III da Lei 1134320061 se justifica quando constatada a mera comercializaccedilatildeo de drogas nas imediaccedilotildees de estabelecimentos prisionais

Nesses locais haacute maior aglomeraccedilatildeo de pessoas tendo como mais aacutegil e facilitada a praacutetica do traacutefico de drogas Assim torna-se mais faacutecil ao traficante passar-se desperce-bido agrave fiscalizaccedilatildeo sendo maior consequentemente a reprovabilidade de sua conduta

ldquoA comercializaccedilatildeo de drogas nas dependecircncias ou nas imediaccedilotildees [de estabeleci-mentos prisionais] por si soacute jaacute justifica a incidecircncia da causa especial de aumento de pena sejam quais forem as condiccedilotildees subjetivas do agente que a cometerdquo2

1 ldquoArt 40 As penas previstas nos arts 33 a 37 desta Lei satildeo aumentadas de um sexto a dois terccedilos se () III ndash a infraccedilatildeo tiver sido cometida nas dependecircncias ou imediaccedilotildees de estabelecimentos prisionais de ensino ou hospitalares de sedes de entidades estudantis sociais culturais recreativas esportivas ou beneficentes de locais de trabalho coletivo de recintos onde se realizem espetaacuteculos ou diversotildees de qualquer natureza de serviccedilos de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserccedilatildeo social de unidades militares ou policiais ou em transportes puacuteblicosrdquo

2 HC 114701 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 8-4-2013

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 138944rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 3-8-2017Informativo STF 858

303iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

A quantidade de drogas natildeo pode automaticamente proporcionar o enten-

dimento de que o agente faz do traacutefico seu meio de vida ou integra organiza-

ccedilatildeo criminosa

O impedimento agrave aplicaccedilatildeo do art 33 sect 4ordm da Lei 1134320061 com base apenas nessa circunstacircncia natildeo se encontra devidamente fundamentado Eacute necessaacuteria a demonstraccedilatildeo da existecircncia de provas aptas a comprovar que o agente se dedica agraves atividades criminosas

Ademais configura constrangimento ilegal a decisatildeo fundada em premissa de causa e efeito automaacutetico que deixa de aplicar o redutor sem a devida motivaccedilatildeo2

Conhece-se do habeas corpus3 se flagrante a contradiccedilatildeo entre a justificativa

utilizada para negar a aplicaccedilatildeo da causa de diminuiccedilatildeo de pena prevista no

art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 e a absolviccedilatildeo da acusaccedilatildeo do crime de associa-

ccedilatildeo para o traacutefico tipificado pelo art 35 do mesmo diploma legal

Essa situaccedilatildeo configura patente constrangimento ilegal apto a afastar o entendi-mento jurisprudencial segundo o qual ldquose as instacircncias ordinaacuterias concluiacuteram que o ora agravante se dedicava agrave atividade criminosa para negar a incidecircncia da causa especial de reduccedilatildeo de pena prevista no art 33 sect 4ordm da Lei de Drogas para se chegar a conclusatildeo diversa necessaacuterio seria o reexame de fatos e provas o qual o habeas corpus natildeo comportardquo4

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos vedada a conversatildeo em penas restritivas

RHC 138715rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-6-2017Informativo STF 866

304iacutendice de teses

de direitos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo (Vide Resoluccedilatildeo 5 de 2012)

2 HC 131795 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 17-5-2016

3 HC 118697 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 27-5-2014 e RHC 121239 rel min Ricardo Le-wandowski 2ordf T DJE de 8-4-2014

4 HC 136177 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 22-11-2016 e RHC 137801 AgR rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 24-3-2017

305iacutendice de teses

Eacute possiacutevel considerar a quantidade de droga apreendida para efeito de dimi-

nuiccedilatildeo de pena (Lei 113432006 art 33 sect 4ordm)1

Afinal natildeo eacute criacutevel que algueacutem surpreendido transportando 500 kg de maconha natildeo esteja integrado de alguma forma a grupo criminoso2

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo

2 Trecho de decisatildeo proferida pelo ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento ao deixar de implementar a liminar

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 130981rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 28-4-2017Informativo STF 844

306iacutendice de teses

A quantidade de drogas natildeo constitui isoladamente fundamento idocircneo

para negar o benefiacutecio da reduccedilatildeo da pena do art 33 sect 4ordm da Lei 1134320061

ldquoNos termos do art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 a causa de diminuiccedilatildeo da pena incide nas hipoacuteteses em que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo2

Se ldquoo Tribunal de origem negou a aplicaccedilatildeo da minorante com base em circuns-tacircncias que natildeo estatildeo descritas no dispositivo legal (= quantidade de droga) assim como natildeo realizou nenhum juiacutezo de vinculaccedilatildeo entre a quantidade de droga apreen-dida e a suposta participaccedilatildeo do paciente no crime organizado () a presunccedilatildeo esta-belecida pelo acoacuterdatildeo impugnado merece ser afastadardquo3

Assim natildeo eacute ldquoadequada a presunccedilatildeo de que tatildeo somente a quantidade de entorpe-cente eacute elemento apto a sinalizar que o acusado dedicava-se a atividades delitivasrdquo4

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo

2 HC 116894 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 8-10-2013

3 Idem

4 HC 117185 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 28-11-2013

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 138138rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 13-3-2017Informativo STF 849

DIR

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FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIALDIREITO PREVIDENCIAacuteRIO

309iacutendice de teses

Eacute constitucional formal e materialmente a contribuiccedilatildeo social do emprega-

dor rural pessoa fiacutesica instituiacuteda pela Lei 102562001 incidente sobre a re-

ceita bruta obtida com a comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo

A alteraccedilatildeo promovida pela Emenda Constitucional 201998 trouxe nova redaccedilatildeo ao art 195 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 e permitiu que nova contribuiccedilatildeo pre-videnciaacuteria fosse criada por lei ordinaacuteria em relaccedilatildeo aos empregadores rurais pes-soas fiacutesicas com base de caacutelculo na nova receita Com efeito essa mudanccedila afastou a necessidade de incidecircncia do sect 4ordm do art 1952 deixando consequentemente de exigir nos termos do art 1543 a ediccedilatildeo de lei complementar

Diante disso o novo texto constitucional foi regulamentado pela Lei 102562001 que alterando o art 25 da Lei 821219914 reintroduziu o empregador rural como sujeito passivo da contribuiccedilatildeo

Nesse sentido as alteraccedilotildees da Emenda Constitucional 201998 e da Lei 102562001 afastaram o principal e remanescente argumento de inconstitucionalidade formal que havia levado o Supremo Tribunal Federal (STF) por ocasiatildeo do julgamento do RE 3638535 a desobrigar os empregadores rurais pessoas fiacutesicas do pagamento da contri-buiccedilatildeo social sobre a receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo rural

Cabe destacar que no julgamento do RE 5961776 o STF ao declarar a inconsti-tucionalidade incidental do art 25 decidiu pela exclusatildeo do empregador rural pessoa fiacutesica como sujeito passivo da obrigaccedilatildeo tributaacuteria laacute prevista Contudo a declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade por meio de controle difuso de constitucionalidade aplica-da em razatildeo da repercussatildeo geral para todos os casos idecircnticos natildeo teve o condatildeo de retirar do ordenamento juriacutedico o texto legal do art 25 que inclusive continua a ser aplicado ateacute os dias de hoje em relaccedilatildeo aos segurados especiais Em outras palavras natildeo se extinguiu erga omnes a referida obrigaccedilatildeo tributaacuteria que continuou existente para os segurados especiais com respectivas aliacutequotas e base de caacutelculo constitucio-nais para essas situaccedilotildees

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Financiamento da seguridade social

Ȥ Contribuiccedilatildeo do produtor rural e do pescador Ȥ Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

RE 718874RG ‒ Tema 699red p o ac min Alexandre de MoraesPlenaacuterioDJE de 3-10-2017Informativo STF 859

310iacutendice de teses

Por essa razatildeo natildeo haacute falar que as alteraccedilotildees trazidas pela Emenda Constitucional 201998 ao inciso I do art 195 da CF tiveram o condatildeo de realizar a repristinaccedilatildeo da exigecircncia da contribuiccedilatildeo no tocante aos empregadores rurais pessoas fiacutesicas fi-xadas com base na receita Tampouco se trata da ocorrecircncia de constitucionalidade superveniente em que a ediccedilatildeo da Emenda Constitucional 201998 teria realizado o aproveitamento das aliacutequotas e bases de caacutelculo de contribuiccedilatildeo social declaradas anteriormente inconstitucionais pelo STF e retiradas do ordenamento juriacutedico

Com isso a nova regulamentaccedilatildeo do texto constitucional (poacutes-Emenda Constitu-cional 201998) pela Lei 102562001 alterou o art 25 da Lei 82121991 tatildeo somente para reintroduzir o empregador rural como sujeito passivo da contribuiccedilatildeo ‒ ainda existente para os segurados especiais ‒ sem desta vez incorrer no viacutecio de inconsti-tucionalidade formal que havia maculado a anterior redaccedilatildeo do art 25 dada pela Lei 95281997 e que estava em conflito com a redaccedilatildeo original do art 195 I da CF7

1 ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais I ndash do empregador da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei incidentes sobre a) a folha de salaacuterios e demais rendimen-tos do trabalho pagos ou creditados a qualquer tiacutetulo agrave pessoa fiacutesica que lhe preste serviccedilo mesmo sem viacutenculo empregatiacutecio b) a receita ou o faturamento c) o lucrordquo

2 ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais () sect 4ordm A lei poderaacute instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenccedilatildeo ou expansatildeo da seguridade social obedecido o disposto no art 154 Irdquo

3 ldquoArt 154 A Uniatildeo poderaacute instituir I ndash mediante lei complementar impostos natildeo previstos no artigo anterior desde que sejam natildeo cumulativos e natildeo tenham fato gerador ou base de caacutelculo proacuteprios dos discriminados nesta Constituiccedilatildeo II ndash na iminecircncia ou no caso de guerra externa impostos extraordinaacuterios compreendidos ou natildeo em sua competecircncia tributaacuteria os quais seratildeo suprimidos gradativamente cessadas as causas de sua criaccedilatildeordquo

4 ldquoArt 25 A contribuiccedilatildeo do empregador rural pessoa fiacutesica em substituiccedilatildeo agrave contribuiccedilatildeo de que tratam os incisos I e II do art 22 e a do segurado especial referidos respectivamente na aliacutenea a do inciso V e no inciso VII do art 12 desta Lei destinada agrave Seguridade Social eacute de I ndash 12 (um inteiro e dois deacutecimos por cento) da receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da sua produccedilatildeo II ndash 01 da receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da sua produccedilatildeo para financiamento das prestaccedilotildees por acidente do trabalhordquo

5 RE 363852 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 23-4-2010

311iacutendice de teses

6 RE 596177 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 29-8-2011

7 Redaccedilatildeo original do art 195 I da CF ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a socie-dade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais I ndash dos empregadores incidente sobre a folha de salaacuterios o faturamento e o lucrordquo (Vide EC 20 de 1998)

BENEFIacuteCIOS PREVIDENCIAacuteRIOSDIREITO PREVIDENCIAacuteRIO

313iacutendice de teses

No acircmbito do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) somente lei pode

criar benefiacutecios e vantagens previdenciaacuterias natildeo havendo por ora previsatildeo

legal do direito agrave ldquodesaposentaccedilatildeordquo sendo constitucional a regra do art 18

sect 2ordm da Lei 821319911

ldquoO fato de natildeo haver contraprestaccedilatildeo a essas contribuiccedilotildees vertidas ao Sistema Pre-videnciaacuterio natildeo significa ofensa ao texto constitucional () A solidariedade que estaacute na base desse sistema de proteccedilatildeo social e que inspira o regime de reparticcedilatildeo simples ndash vigente em nosso ordenamento ndash afasta desde logo qualquer viacutecio de inconstitucionalidade que pudesse ser invocado contra as normas que dispotildeem a respeito da exigecircncia de contribuiccedilatildeo dos segurados aposentados que retornam ao mercado de trabalhordquo2

ldquoContrariando a teacutecnica e o objetivo do contrato de seguro no qual buscou no passado a inspiraccedilatildeo a seguridade social natildeo pode se ater a uma correspondecircncia es-trita entre a obrigaccedilatildeo de contribuir e o direito agraves prestaccedilotildees A contribuiccedilatildeo eacute social por representar a parcela fornecida pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica a um fundo que se destina a impedir que todos os cidadatildeos padeccedilam necessidades Aliaacutes funcionando como verdadeiro mecanismo de distribuiccedilatildeo de riquezas nacionais a seguridade so-cial pode vir a ser mais utilizada precisamente por aqueles que para ela nunca contri-buiacuteram e vice-versa pode quase natildeo servir aos que maiores contribuiccedilotildees verteram para o sistemardquo3

Logo se o RGPS possui jaacute haacute algum tempo feiccedilatildeo nitidamente solidaacuteria e contri-butiva natildeo se vislumbra nenhuma inconstitucionalidade na norma do art 18 sect 2ordm da Lei 82131991 que veda aos aposentados que permaneccedilam em atividade ou a

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Benefiacutecios previdenciaacuterios

Ȥ Aposentadorias Ȥ Desaposentaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 381367DJE de 31-10-2017RE 661256DJE de 28-9-2017RE 827833DJE de 2-10-2017RG ‒ Tema 503red p o ac min Dias ToffoliPlenaacuterioInformativo STF 845

314iacutendice de teses

essa retornem o recebimento de qualquer prestaccedilatildeo adicional em razatildeo disso exceto salaacuterio-famiacutelia e reabilitaccedilatildeo profissional4

Tampouco eacute o caso de se conferir a ela ldquointerpretaccedilatildeo conforme ao texto consti-tucional em vigorrdquo pois eacute clara a interpretaccedilatildeo que vecircm dando a Uniatildeo e o INSS no sentido de que esse dispositivo combinado com o art 181-B do Decreto 304819995 impede a desaposentaccedilatildeo

Embora a Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo vede expressamente a desaposentaccedilatildeo tampouco prevecirc o direito que se pretende ver reconhecido Ao contraacuterio a CF dis-potildee de forma clara e especiacutefica6 que ficam remetidas agrave legislaccedilatildeo ordinaacuteria as hipoacutete-ses em que as contribuiccedilotildees vertidas ao sistema previdenciaacuterio repercutem de forma direta na concessatildeo dos benefiacutecios

Natildeo haacute que se olvidar que o art 96 II da Lei 821319917 proiacutebe expressamente que o tempo de serviccedilo jaacute aproveitado para a concessatildeo da aposentadoria seja nova-mente computado Aleacutem disso o Supremo Tribunal Federal (STF) em momento algum declarou a inconstitucionalidade desses dispositivos8 O STF antes do reco-nhecimento da repercussatildeo geral dessa mateacuteria vinha considerando como tese de natureza infraconstitucional e de eventual ofensa reflexa a questatildeo da possibilidade de renuacutencia da aposentadoria para a obtenccedilatildeo de outros benefiacutecios

Dessa forma a desaposentaccedilatildeo natildeo possui previsatildeo legal e em razatildeo disso natildeo tem natureza juriacutedica de ato administrativo mesmo porque a praacutetica de qualquer ato desse tipo pressupotildee o atendimento ao princiacutepio da legalidade administrativa

Por fim natildeo bastasse isso se a aposentadoria foi declarada por meio de ato admi-nistrativo liacutecito natildeo haacute que se falar em desconstituiccedilatildeo do ato mediante desaposenta-ccedilatildeo Afinal se liacutecita foi a concessatildeo do direito previdenciaacuterio sua retirada do mundo juriacutedico natildeo poderia ser admitida com efeitos ex tunc

1 ldquoArt 18 O Regime Geral de Previdecircncia Social compreende as seguintes prestaccedilotildees devidas inclu-sive em razatildeo de eventos decorrentes de acidente do trabalho expressas em benefiacutecios e serviccedilos () sect 2ordm O aposentado pelo Regime Geral de Previdecircncia Social ndash RGPS que permanecer em ativi-dade sujeita a este Regime ou a ele retornar natildeo faraacute jus a prestaccedilatildeo alguma da Previdecircncia Social em decorrecircncia do exerciacutecio dessa atividade exceto ao salaacuterio-famiacutelia e agrave reabilitaccedilatildeo profissional quando empregadordquo

2 Trecho do acoacuterdatildeo recorrido proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo que deu origem ao presente recurso extraordinaacuterio

3 BALERA Wagner A seguridade social na Constituiccedilatildeo de 1988 Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1989 p 5152

315iacutendice de teses

4 RE 437640 rel min Sepuacutelveda Pertence 1ordf T DJE de 2-3-2007

5 ldquoArt 181-B As aposentadorias por idade tempo de contribuiccedilatildeo e especial concedidas pela previ-decircncia social na forma deste Regulamento satildeo irreversiacuteveis e irrenunciaacuteveisrdquo

6 ldquoArt 201 A previdecircncia social seraacute organizada sob a forma de regime geral de caraacuteter contributivo e de filiaccedilatildeo obrigatoacuteria observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e atenderaacute nos termos da lei a () sect 4ordm Eacute assegurado o reajustamento dos benefiacutecios para preservar--lhes em caraacuteter permanente o valor real conforme criteacuterios definidos em leirdquo

7 ldquoArt 96 O tempo de contribuiccedilatildeo ou de serviccedilo de que trata esta Seccedilatildeo seraacute contado de acordo com a legislaccedilatildeo pertinente observadas as normas seguintes () II ndash eacute vedada a contagem de tempo de serviccedilo puacuteblico com o de atividade privada quando concomitantesrdquo

8 RE 442480 rel min Caacutermen Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 11-12-2008 AI 545274 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJ de 7-5-2007 AI 220803 rel min Sepuacutelveda Pertence deci-satildeo monocraacutetica DJ de 14-12-2005 AI 643455 rel min Sepuacutelveda Pertence decisatildeo monocraacutetica DJ de 18-4-2007 RE 576466 rel min Cezar Peluso decisatildeo monocraacutetica DJE de 17-2-2010 RE 656268 rel min Caacutermen Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 5-12-2011 RE 643963 rel min Caacuter-men Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 9-12-2011 e AI 851605 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 23-11-2011

316iacutendice de teses

Os efeitos financeiros das revisotildees de aposentadoria concedidas com base

no art 6ordm-A da Emenda Constitucional 4120031 introduzido pela Emenda

Constitucional 702012 somente se produziratildeo a partir da data de sua pro-

mulgaccedilatildeo (30-3-2012)

Haacute expressa determinaccedilatildeo no proacuteprio texto da Emenda Constitucional 702012 de que os efeitos financeiros nela previstos somente ocorreratildeo a partir da data de pro-mulgaccedilatildeo da emenda na forma do seu art 2ordm2 sob pena inclusive de violaccedilatildeo ao art 195 sect 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal que exige indicaccedilatildeo da fonte de custeio para a majoraccedilatildeo de benefiacutecio previdenciaacuterio Natildeo haacute portanto margem para maiores questionamentos acerca do termo inicial dos efeitos financeiros da referida emen-da constitucional

Caso se entendesse diversamente a consequecircncia seria a condenaccedilatildeo da Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica ao pagamento da diferenccedila entre os proventos efetivamente per-cebidos no periacuteodo anterior agrave vigecircncia da Emenda Constitucional 702012 e aqueles calculados de forma mais vantajosa com incidecircncia de encargos de mora No entan-to por imposiccedilatildeo do princiacutepio da legalidade natildeo era liacutecito agrave Administraccedilatildeo proceder com o pagamento de proventos em desconformidade com o texto constitucional Nessa medida retroagir os efeitos financeiros da Emenda Constitucional 702012 aleacutem de contrariar seu texto expresso implicaria em enriquecimento sem causa dos aposentados em questatildeo em prejuiacutezo do eraacuterio

1 ldquoArt 6ordm-A O servidor da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas au-tarquias e fundaccedilotildees que tenha ingressado no serviccedilo puacuteblico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Emen-da Constitucional e que tenha se aposentado ou venha a se aposentar por invalidez permanente com fundamento no inciso I do sect 1ordm do art 40 da Constituiccedilatildeo Federal tem direito a proventos de aposentadoria calculados com base na remuneraccedilatildeo do cargo efetivo em que se der a aposentado-ria na forma da lei natildeo sendo aplicaacuteveis as disposiccedilotildees constantes dos sectsect 3ordm 8ordm e 17 do art 40 da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Benefiacutecios previdenciaacuterios

Ȥ Aposentadorias Ȥ Aposentadoria por invalidez ndash Repercussatildeo Geral

RE 924456RG ‒ Tema 754red p o ac min Alexandre de MoraesPlenaacuterioDJE de 8-9-2017Informativo STF 860

317iacutendice de teses

2 ldquoArt 2ordm A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como as respectivas autar-quias e fundaccedilotildees procederatildeo no prazo de 180 (cento e oitenta) dias da entrada em vigor desta Emenda Constitucional agrave revisatildeo das aposentadorias e das pensotildees delas decorrentes concedi-das a partir de 1ordm de janeiro de 2004 com base na redaccedilatildeo dada ao sect 1ordm do art 40 da Constituiccedilatildeo Federal pela Emenda Constitucional n 20 de 15 de dezembro de 1998 com efeitos financeiros a partir da data de promulgaccedilatildeo desta Emenda Constitucionalrdquo

DIR

E

PRO

CC

IVIL

DIR

EIT

O

PRO

CES

SUA

L C

IVIL

SUJEITOS DO PROCESSODIREITO PROCESSUAL CIVIL

321iacutendice de teses

Eacute cabiacutevel a fixaccedilatildeo de honoraacuterios recursais prevista no art 85 sect 11 do Coacutedi-

go de Processo Civil (CPC)1 mesmo quando o advogado da parte recorrida

natildeo apresentar contrarrazotildees ou contraminuta

ldquoA expressatildeo lsquotrabalho adicionalrsquo que estaacute no sect 11 desse artigo 85 eacute um gecircnero que compreende vaacuterias espeacutecies dentre elas a contraminuta ou as contrarrazotildees Haacute outras espeacutecies de trabalho adicionalrdquo2

ldquoEsse lsquotrabalho adicionalrsquo natildeo se restringe necessariamente a uma peccedila processual existe todo um trabalho de acompanhamento eventualmente de convencimento oral que faz parte do dia a dia do advogadordquo3

Aleacutem disso a sucumbecircncia recursal surgiu com o objetivo de evitar a reiteraccedilatildeo de recursos ou seja de impedir a interposiccedilatildeo de recursos que seratildeo desprovidos in-dependentemente da apresentaccedilatildeo de contrarrazotildees A finalidade natildeo foi remunerar mais um profissional porque o outro apresentou contrarrazotildees

1 ldquoArt 85 A sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tri-bunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando conforme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

2 Trecho do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

3 Trecho do voto do ministro Ricardo Lewandowski no presente julgamento

Direito Processual Civil Ȥ Sujeitos do processo

Ȥ Partes e procuradores Ȥ Deveres das partes e de seus procuradores

AO 2063 AgRred p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 14-9-2017Informativo STF 865

EXECUCcedilAtildeODIREITO PROCESSUAL CIVIL

323iacutendice de teses

O art 1ordm-F da Lei 949419971 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na

parte em que disciplina os juros moratoacuterios aplicaacuteveis a condenaccedilotildees da Fa-

zenda Puacuteblica eacute inconstitucional ao incidir sobre deacutebitos oriundos de rela-

ccedilatildeo juriacutedico-tributaacuteria aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de

mora pelos quais a Fazenda Puacuteblica remunera seu creacutedito tributaacuterio em res-

peito ao princiacutepio constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput2) quanto agraves

condenaccedilotildees oriundas de relaccedilatildeo juriacutedica natildeo tributaacuteria a fixaccedilatildeo dos juros

moratoacuterios segundo o iacutendice de remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute

constitucional permanecendo hiacutegido nesta extensatildeo o disposto no art 1ordm-F

da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009

A utilizaccedilatildeo da remuneraccedilatildeo prevista na Lei 94941997 fere a isonomia e viola a equidade no tratamento das diacutevidas tributaacuterias O iacutendice utilizado pela Fazenda Puacute-blica nos juros moratoacuterios aplicados aos seus creacuteditos tributaacuterios ndash taxa do Sistema Especial de Liquidaccedilatildeo e de Custoacutedia (SELIC) ndash eacute superior ao iacutendice da poupanccedila ndash Lei 81771991 art 123 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 127032012

A igualdade deve ser investigada em cada relaccedilatildeo juriacutedica especiacutefica (eg tributaacuteria estatutaacuteria processual contratual etc) e natildeo a partir de uma dicotomia geneacuterica entre poder puacuteblicocidadatildeo Assim o Estado e o particular devem estar sujeitos agrave mesma disciplina em mateacuteria de juros no contexto de uma relaccedilatildeo juriacutedica de igual natureza4

Nesse sentido deve ser seguida a orientaccedilatildeo jurisprudencial firmada no julgamen-to das ADI 4357 e ADI 4425 segundo a qual ldquoa quantificaccedilatildeo dos juros moratoacuterios relativos a deacutebitos fazendaacuterios inscritos em precatoacuterios segundo o iacutendice de remune-raccedilatildeo da caderneta de poupanccedila vulnera o princiacutepio constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput) ao incidir sobre deacutebitos estatais de natureza tributaacuteria pela discrimina-ccedilatildeo em detrimento da parte processual privada que salvo expressa determinaccedilatildeo em contraacuterio responde pelos juros da mora tributaacuteria agrave taxa de 1 ao mecircs em favor do Estado (ex vi do art 161 sect 1ordm5 CTN)rdquo6

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 870947RG ‒ Tema 810rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 20-11-2017Informativo STF 878

324iacutendice de teses

Isso porque como natildeo haacute incidecircncia de juros em outras oportunidades eacute imperio-so entender que a orientaccedilatildeo firmada nas referidas accedilotildees diretas ao aludir a ldquoprecatoacute-riosrdquo de natureza tributaacuteria volta-se a rigor para as condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica isto eacute para a fixaccedilatildeo dos juros moratoacuterios ao final da fase de conhecimento do processo judicial

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na

parte em que disciplina a atualizaccedilatildeo monetaacuteria das condenaccedilotildees impostas

agrave Fazenda Puacuteblica segundo a remuneraccedilatildeo oficial da caderneta de poupanccedila

revela-se inconstitucional ao impor restriccedilatildeo desproporcional ao direito de

propriedade (CF art 5ordm XXII7) uma vez que natildeo se qualifica como medida

adequada a capturar a variaccedilatildeo de preccedilos da economia sendo inidocircnea a pro-

mover os fins a que se destina

O iacutendice aplicaacutevel ao caacutelculo da remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute fixado ex ante Eacute portanto inadequado para refletir corretamente a variaccedilatildeo de preccedilos da economia que eacute sempre constatada ex post

Com efeito a finalidade baacutesica da correccedilatildeo monetaacuteria eacute preservar o poder aqui-sitivo da moeda diante da sua desvalorizaccedilatildeo nominal provocada pela inflaccedilatildeo En-quanto instrumento de troca a moeda fiduciaacuteria que conhecemos hoje soacute tem valor na medida em que eacute capaz de ser transformada em bens e serviccedilos Ocorre que a inflaccedilatildeo por representar o aumento persistente e generalizado do niacutevel de preccedilos distorce no tempo a correspondecircncia entre valores real e nominal8

Esse estreito nexo entre correccedilatildeo monetaacuteria e inflaccedilatildeo exige por imperativo de adequaccedilatildeo loacutegica que os instrumentos destinados a realizar a primeira sejam ca-pazes de capturar a segunda Em outras palavras iacutendices de correccedilatildeo monetaacuteria devem ser ao menos em tese aptos a refletir a variaccedilatildeo de preccedilos que caracteriza o fenocircmeno inflacionaacuterio o que somente seraacute possiacutevel se consubstanciarem autecircnti-cos iacutendices de preccedilos

A hipoacutetese aqui diz respeito agrave idoneidade do criteacuterio fixado pelo legislador para atingir o fim a que se destina Assim a adequaccedilatildeo entre meios e fins caracteriza a primeira etapa do itineraacuterio metodoloacutegico exigido pelo dever de proporcionalida-de o qual a seu turno incide sobre todo e qualquer ato estatal conformador de direitos fundamentais9

325iacutendice de teses

Eacute certo que a promoccedilatildeo da finalidade colimada admite graus distintos de intensi-dade qualidade e certeza sendo imperioso respeitar a vontade objetiva do Legislati-vo e do Executivo sempre que o meio escolhido promova minimamente o fim visa-do Sem embargo em hipoacuteteses de inadequaccedilatildeo manifesta revela-se indispensaacutevel a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio

Nesse contexto cabe destacar que a atualizaccedilatildeo monetaacuteria da condenaccedilatildeo impos-ta agrave Fazenda Puacuteblica ocorre em dois momentos distintos

O primeiro se daacute ao final da fase de conhecimento com o tracircnsito em julgado da decisatildeo condenatoacuteria Essa correccedilatildeo inicial compreende o periacuteodo de tempo entre o dano efetivo (ou o ajuizamento da demanda) e a imputaccedilatildeo de responsabilidade agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica A atualizaccedilatildeo eacute estabelecida pelo proacuteprio juiacutezo prolator da decisatildeo condenatoacuteria no exerciacutecio de atividade jurisdicional

O segundo momento ocorre jaacute na fase executiva quando o valor devido eacute efetiva-mente entregue ao credor Esta uacuteltima correccedilatildeo monetaacuteria cobre o lapso temporal en-tre a inscriccedilatildeo do creacutedito em precatoacuterio e o efetivo pagamento O caacutelculo eacute realizado no exerciacutecio de funccedilatildeo administrativa pela Presidecircncia do Tribunal a que vinculado o juiacutezo prolator da decisatildeo condenatoacuteria

O Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar a ADI 4357 e a ADI 4425 decla-rou a inconstitucionalidade da correccedilatildeo monetaacuteria pela Taxa Referencial (TR) apenas quanto ao segundo periacuteodo isto eacute quanto ao intervalo de tempo compreendido en-tre a inscriccedilatildeo do creacutedito em precatoacuterio e o efetivo pagamento

O entendimento firmado no referido julgamento deve ser estendido ao primeiro periacuteodo relativo agrave tramitaccedilatildeo da accedilatildeo judicial Isso porque a remuneraccedilatildeo da caderne-ta de poupanccedila natildeo guarda pertinecircncia com a variaccedilatildeo de preccedilos na economia sendo manifesta e abstratamente incapaz de mensurar a variaccedilatildeo do poder aquisitivo da moe-da Essa inidoneidade fica patente em pelo menos quatro vertentes loacutegico-conceitual teacutecnico-metodoloacutegico histoacuterico-jurisprudencial e pragmaacutetico-consequencialista

Em primeiro lugar haacute um aspecto de ordem loacutegico-conceitual Remuneraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo de valores satildeo conceitos juriacutedicos bem delimitados e distintos

Como o roacutetulo sugere a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila representa o retorno devido ao investidor em razatildeo da perda de disponibilidade sobre capital proacute-prio Em termos juriacutedicos satildeo os frutos civis do capital os juros em linguagem eco-nocircmica representam o custo de oportunidade do capital

326iacutendice de teses

Jaacute a correccedilatildeo monetaacuteria traduz-se na mera recomposiccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda em virtude do fenocircmeno inflacionaacuterio Natildeo se destina a remunerar qualquer coisa senatildeo apenas a manter constante o valor real de certa expressatildeo monetaacuteria

Eacute possiacutevel pois que a remuneraccedilatildeo do capital seja em alguma medida predefini-da Jaacute a correccedilatildeo monetaacuteria natildeo eacute jamais prefixada uma vez que a inflaccedilatildeo eacute insusce-tiacutevel de captaccedilatildeo aprioriacutestica A variaccedilatildeo de preccedilos na economia eacute sempre constatada ex post mas nunca fixada ex ante exceto em regimes ditatoriais em que haacute controle de preccedilos e economia planificada Isso denota que remuneraccedilatildeo e rendimento natildeo equivalem ao restabelecimento do valor da moeda no tempo

Destarte o legislador ordinaacuterio ao utilizar criteacuterio de remuneraccedilatildeo do capital com o objetivo de promover sua atualizaccedilatildeo incorre em evidente desvio de finalida-de subvertendo os institutos baacutesicos da boa teacutecnica juriacutedica

Sob o acircngulo teacutecnico-metodoloacutegico nenhum dos componentes da remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila guarda relaccedilatildeo com a variaccedilatildeo de preccedilos de determinado pe-riacuteodo de tempo Com efeito o tema estaacute disciplinado pelo art 12 da Lei 8177199110 com atual redaccedilatildeo dada pela Lei 127032012

A remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila ndash diferentemente de qualquer outro iacutendice oficial de inflaccedilatildeo ndash eacute sempre prefixada seja na parte jaacute prevista na lei (05 ao mecircs ou 70 da meta da taxa Selic ao ano consoante as hipoacuteteses do inciso II) seja na parte fixada pelo Banco Central (a TR relativa agrave respectiva data de aniversaacuterio na for-ma do inciso I atualmente calculada com base em Certificados de Depoacutesito Bancaacuterio e Recibos de Depoacutesito Bancaacuterio prefixados)

Essa circunstacircncia deixa patente a desvinculaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo dos preccedilos da economia e a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila o que a impede de caracte-rizar-se quer sob o acircngulo formal (loacutegico-conceitual) quer sob o acircngulo material (teacutecnico-metodoloacutegico) como termocircmetro da inflaccedilatildeo

Em terceiro lugar a inidoneidade se manifesta em perspectiva histoacuterico-jurispru-dencial O STF em outras ocasiotildees jaacute se pronunciou sobre a controveacutersia Ao julgar a ADI 493 o Plenaacuterio do Supremo Tribunal entendeu que a TR natildeo foi criada para captar a variaccedilatildeo de preccedilos na economia ldquoa Taxa Referencial (TR) natildeo eacute iacutendice de correccedilatildeo monetaacuteria pois refletindo as variaccedilotildees do custo primaacuterio da captaccedilatildeo dos depoacutesitos a prazo fixo natildeo constitui iacutendice que reflita a variaccedilatildeo do poder aquisitivo da moedardquo11

Por seu turno no julgamento das ADI 4357 e ADI 4425 o STF reiterou essa compreensatildeo ao pontuar a inidoneidade prima facie da remuneraccedilatildeo da caderneta

327iacutendice de teses

de poupanccedila para mensurar o fenocircmeno inflacionaacuterio ldquoa inflaccedilatildeo fenocircmeno tipi-camente econocircmico-monetaacuterio mostra-se insuscetiacutevel de captaccedilatildeo aprioriacutestica (ex ante) de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila) eacute inidocircneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflaccedilatildeo do periacuteodo)rdquo12

Ademais diante desse quadro jurisprudencial sedimentado haveria flagrante in-coerecircncia na aplicaccedilatildeo de criteacuterios distintos de correccedilatildeo monetaacuteria de precatoacuterios e de condenaccedilotildees judiciais da Fazenda Puacuteblica

Por fim a quarta vertente pela qual a inidoneidade se manifesta eacute de iacutendole prag-maacutetico-consequencialista

Com efeito admitir que o poder puacuteblico arbitre segundo criteacuterios de conveniecircn-cia o iacutendice de correccedilatildeo incidente sobre suas diacutevidas configura niacutetida ldquolegislaccedilatildeo em causa proacutepriardquo subversiva do Estado de Direito ao estimular o uso especulativo do Poder Judiciaacuterio em detrimento do direito de propriedade do cidadatildeo

Em um contexto econocircmico como o presente marcado por taxas de inflaccedilatildeo per-sistentemente altas13 a discrepacircncia entre a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila e a meta de inflaccedilatildeo fixada pelo governo eacute a um soacute tempo aviltante para o credor particular e vantajosa para o devedor puacuteblico

Cabe destacar que o regime brasileiro de metas de inflaccedilatildeo natildeo utiliza a remunera-ccedilatildeo da caderneta de poupanccedila como seu criteacuterio norteador De forma anaacuteloga natildeo haacute qualquer contrato entre particular e poder puacuteblico que seja reajustado pela caderneta de poupanccedila Aliaacutes a Lei 86661993 prevecirc expressamente que o criteacuterio de reajuste dos ajustes firmados com o poder puacuteblico ldquodeveraacute retratar a variaccedilatildeo efetiva do custo de produccedilatildeo admitida a adoccedilatildeo de iacutendices especiacuteficos ou setoriaisrdquo (art 40 XI14)

Se o Estado natildeo utiliza a caderneta de poupanccedila como iacutendice de correccedilatildeo quando tem o objetivo de passar credibilidade ao investidor ou de atrair contratantes eacute por-que tem consciecircncia de que o aludido iacutendice natildeo eacute adequado a medir a variaccedilatildeo de preccedilos na economia

Por isso beira a iniquidade permitir utilizaacute-lo quando em questatildeo condenaccedilotildees ju-diciais O cidadatildeo que recorre ao Poder Judiciaacuterio natildeo optou por um investimento ou negoacutecio juriacutedico com o Estado Foi obrigado a litigar Tendo seu direito reconhecido em juiacutezo vulnera a claacuteusula do rule of law vecirc-lo definhar em razatildeo de um regime de atualizaccedilatildeo casuiacutesta injustificaacutevel e beneacutefico apenas da autoridade estatal

328iacutendice de teses

1 ldquoArt 1ordm-F Nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica independentemente de sua natureza e para fins de atualizaccedilatildeo monetaacuteria remuneraccedilatildeo do capital e compensaccedilatildeo da mora haveraacute a incidecircncia uma uacutenica vez ateacute o efetivo pagamento dos iacutendices oficiais de remuneraccedilatildeo baacutesica e juros aplicados agrave caderneta de poupanccedilardquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

3 ldquoArt 12 Em cada periacuteodo de rendimento os depoacutesitos de poupanccedila seratildeo remunerados I ndash como remuneraccedilatildeo baacutesica por taxa correspondente agrave acumulaccedilatildeo das TRD [Taxa Referencial Diaacuteria] no periacuteodo transcorrido entre o dia do uacuteltimo creacutedito de rendimento inclusive e o dia do creacutedito de rendimento exclusive II ndash como remuneraccedilatildeo adicional por juros de a) 05 (cinco deacutecimos por cento) ao mecircs enquanto a meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil for superior a 85 (oito inteiros e cinco deacutecimos por cento) ou b) 70 (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil mensalizada vigente na data de iniacutecio do periacuteodo de rendimento nos demais casosrdquo

4 RE 453740 rel min Gilmar Mendes P DJE de 24-8-2007

5 ldquoArt 161 O creacutedito natildeo integralmente pago no vencimento eacute acrescido de juros de mora seja qual for o motivo determinante da falta sem prejuiacutezo da imposiccedilatildeo das penalidades cabiacuteveis e da aplicaccedilatildeo de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributaacuteria sect 1ordm Se a lei natildeo dispuser de modo diverso os juros de mora satildeo calculados agrave taxa de um por cento ao mecircsrdquo

6 ADI 4357 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 e ADI 4425 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 19-12-2013

7 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXII ndash eacute garantido o direito de propriedaderdquo

8 Cf MANKIW NG Macroeconomia Rio de Janeiro LTC 2010 p 94 DORNBUSH R FISCHER S STARTZ R Macroeconomia Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 2009 p 10 BLANCHARD O Macroeconomia Satildeo Paulo Prentice Hall 2006 p 29

9 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malhei-ros 2015

10 ldquoArt 12 Em cada periacuteodo de rendimento os depoacutesitos de poupanccedila seratildeo remunerados I ndash como remuneraccedilatildeo baacutesica por taxa correspondente agrave acumulaccedilatildeo das TRD [Taxa Referencial Diaacuteria] no periacuteodo transcorrido entre o dia do uacuteltimo creacutedito de rendimento inclusive e o dia do creacutedito de rendimento exclusive II ndash como remuneraccedilatildeo adicional por juros de a) 05 (cinco deacutecimos por cento) ao mecircs enquanto a meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil for superior a 85 (oito inteiros e cinco deacutecimos por cento) ou b) 70 (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil mensalizada vigente na data de iniacutecio do periacuteodo de rendimento nos demais casosrdquo

329iacutendice de teses

11 ADI 493 rel min Moreira Alves P DJ de 4-9-1992

12 ADI 4357 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 e ADI 4425 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 19-12-2013

13 Estimada pelo Banco Central em 95 em 2015 ndash Relatoacuterio de Inflaccedilatildeo v 17 n 3 set 2015

14 ldquoArt 40 O edital conteraacute no preacircmbulo o nuacutemero de ordem em seacuterie anual o nome da reparticcedilatildeo interessada e de seu setor a modalidade o regime de execuccedilatildeo e o tipo da licitaccedilatildeo a menccedilatildeo de que seraacute regida por esta Lei o local dia e hora para recebimento da documentaccedilatildeo e proposta bem como para iniacutecio da abertura dos envelopes e indicaraacute obrigatoriamente o seguinte () XI ndash criteacuterio de reajuste que deveraacute retratar a variaccedilatildeo efetiva do custo de produccedilatildeo admitida a adoccedilatildeo de iacutendices especiacuteficos ou setoriais desde a data prevista para apresentaccedilatildeo da proposta ou do orccedilamento a que essa proposta se referir ateacute a data do adimplemento de cada parcelardquo

330iacutendice de teses

A execuccedilatildeo provisoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer em face da Fazenda Puacuteblica natildeo

atrai o regime constitucional dos precatoacuterios

A sistemaacutetica constitucional dos precatoacuterios natildeo se aplica agraves obrigaccedilotildees de fato posi-tivo ou negativo dada a excepcionalidade do regime de pagamento de deacutebitos pela Fazenda Puacuteblica cuja interpretaccedilatildeo deve ser restrita Por consequecircncia a situaccedilatildeo rege-se pela regra geral de que toda decisatildeo natildeo autossuficiente pode ser cumprida de maneira imediata na pendecircncia de recursos natildeo recebidos com efeito suspensivo

Natildeo se encontra paracircmetro constitucional ou legal que obste a pretensatildeo de exe-cuccedilatildeo provisoacuteria de sentenccedila condenatoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer relativa agrave implan-taccedilatildeo de pensatildeo de militar antes do tracircnsito em julgado dos embargos do devedor opostos pela Fazenda Puacuteblica

Assim natildeo haacute razatildeo para que a obrigaccedilatildeo de fazer tenha seu efeito financeiro postergado em funccedilatildeo do tracircnsito em julgado sob pena de hipertrofiar uma regra constitucional de iacutendole excepcionaliacutessima

Haacute compatibilidade material entre o regime de cumprimento integral de decisatildeo provisoacuteria e a sistemaacutetica dos precatoacuterios haja vista que este apenas se refere agraves obri-gaccedilotildees de pagar quantia certa

ldquoNatildeo dependendo da expediccedilatildeo de precatoacuterio tampouco estando tuteladas pelo art 100 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal1 as sentenccedilas que contecircm obrigaccedilatildeo de natu-reza diversa da obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa poderatildeo normalmente ser objeto de execuccedilatildeo provisoacuteria Dessa forma a execuccedilatildeo provisoacuteria de fazer natildeo fazer e entre-gar coisa eacute incontestavelmente cabiacutevel contra a Fazenda Puacuteblicardquo2

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 3ordm O disposto no caput

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 573872RG ‒ Tema 45rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 866

331iacutendice de teses

deste artigo relativamente agrave expediccedilatildeo de precatoacuterios natildeo se aplica aos pagamentos de obrigaccedilotildees definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentenccedila judicial transitada em julgadordquo

2 NEVES Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Manual de direito processual civil Satildeo Paulo Meacutetodo 2009 p 809-810

332iacutendice de teses

Incidem juros da mora entre a data da realizaccedilatildeo dos caacutelculos e a da requisi-

ccedilatildeo ou do precatoacuterio

O entendimento da natildeo incidecircncia dos juros da mora durante o prazo de dezoito meses previsto no art 100 sect 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF) foi superado pela Emenda Constitucional 622009 a qual incluiu o sect 121 no art 100 da Carta

Em outras palavras hoje haacute norma constitucional confirmando que o sistema de precatoacuterio ndash que abrange as requisiccedilotildees de pequeno valor ndash natildeo pode ser confundido com moratoacuteria2 Por essa razatildeo os juros da mora devem incidir ateacute o pagamento do deacutebito

Aleacutem disso o Verbete Vinculante 17 da Suacutemula3 e 4 natildeo deve ser observado nessa hipoacutetese porquanto natildeo se trata do periacuteodo de dezoito meses aludido no art 100 sect 5ordm da CF5

Cabe ressaltar que no plano infraconstitucional antes mesmo da ediccedilatildeo da Emenda Constitucional 622009 entrou em vigor a Lei 119602009 que modificou o art 1ordm-F da Lei 949419976 A norma passou a prever a incidecircncia dos juros para ldquocompensar a morardquo nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica ldquoateacute o efetivo pagamentordquo

Diante disso o quadro revela a ausecircncia de fundamento constitucional ou legal que justifique o afastamento dos juros da mora enquanto persistir a inadimplecircncia do Estado Isso por certo abrange o lapso temporal entre a data da elaboraccedilatildeo dos caacutelculos e a requisiccedilatildeo de pequeno valor

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 12 A partir da promul-gaccedilatildeo desta Emenda Constitucional a atualizaccedilatildeo de valores de requisitoacuterios apoacutes sua expediccedilatildeo ateacute o efetivo pagamento independentemente de sua natureza seraacute feita pelo iacutendice oficial de re-

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 579431RG ‒ Tema 96rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 30-6-2017Informativo STF 861

333iacutendice de teses

muneraccedilatildeo baacutesica da caderneta de poupanccedila e para fins de compensaccedilatildeo da mora incidiratildeo juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupanccedila ficando excluiacuteda a incidecircncia de juros compensatoacuteriosrdquo

2 ldquoO precatoacuterio estampa o que se conteacutem no tiacutetulo executivo na sentenccedila coberta pela preclusatildeo maior a qual impondo condenaccedilatildeo ao Estado certifica a mais natildeo poder que ele mostrou-se inadimplente devedor pois deixou de satisfazer ndash levando o cidadatildeo ao Judiciaacuterio ndash uma obrigaccedilatildeo que deveria observar espontaneamente O precatoacuterio natildeo consubstancia uma moratoacuteria natildeo eacute um atestado liberatoacuterio Ao contraacuterio pressupotildee o inadimplemento E se este persiste incidem juros Natildeo posso imaginar que simplesmente haja um espaccedilo de tempo durante o qual o Estado natildeo eacute considerado inadimplente Estaacute inadimplente conforme certificado na sentenccedila proferida a con-templar os juros da mora ateacute o pagamento ateacute a liquidaccedilatildeo do deacutebitordquo (Trecho do voto do ministro Marco Aureacutelio no julgamento do RE 298616 rel min Gilmar Mendes P DJE de 3-10-2003)

3 Enunciado 17 da Suacutemula Vinculante ldquoDurante o periacuteodo previsto no paraacutegrafo 1ordm do artigo 100 da Constituiccedilatildeo natildeo incidem juros de mora sobre os precatoacuterios que nele sejam pagosrdquo

4 ldquoNotem que a Emenda foi publicada em 10 de dezembro de 2009 apoacutes a aprovaccedilatildeo do Verbete Vinculante 17 ocorrida na sessatildeo plenaacuteria de 29 de outubro de 2009 O preceito envolve a incidecircncia de juros simples sobre os requisitoacuterios () Cabe ressaltar a propoacutesito que tramita no Supremo a Proposta de Verbete Vinculante 111 [Formalizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil] por meio da qual se requer o cancelamento ou a revisatildeo do Verbete Vinculante 17 O incidente foi sobrestado pelo ministro Dias Toffoli para aguardar o julgamento deste recurso Assentada a mora da Fazenda ateacute o efetivo pagamento do requisitoacuterio natildeo haacute fundamento juriacutedico para afastar a incidecircncia dos juros moratoacuterios durante o lapso temporal anterior agrave expediccedilatildeo da requisiccedilatildeo de pequeno valor que eacute objeto do extraordinaacuteriordquo (Trecho do voto do ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento)

5 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 5ordm Eacute obrigatoacuteria a inclusatildeo no orccedilamento das entidades de direito puacuteblico de verba necessaacuteria ao pagamento de seus deacutebitos oriundos de sentenccedilas transitadas em julgado constantes de precatoacuterios judiciaacuterios apre-sentados ateacute 1ordm de julho fazendo-se o pagamento ateacute o final do exerciacutecio seguinte quando teratildeo seus valores atualizados monetariamenterdquo

6 ldquoArt 1ordm-F Nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica independentemente de sua natureza e para fins de atualizaccedilatildeo monetaacuteria remuneraccedilatildeo do capital e compensaccedilatildeo da mora haveraacute a incidecircncia uma uacutenica vez ateacute o efetivo pagamento dos iacutendices oficiais de remuneraccedilatildeo baacutesica e juros aplicados agrave caderneta de poupanccedilardquo

334iacutendice de teses

Eacute vaacutelida a penhora em bens de pessoa juriacutedica de direito privado realizada

anteriormente agrave sucessatildeo desta pela Uniatildeo natildeo devendo a execuccedilatildeo prosse-

guir mediante precatoacuterio ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 100 caput e sect 1ordm1

O fato de a Uniatildeo suceder processualmente empresa juriacutedica de direito privado natildeo tem o condatildeo de alterar o procedimento de execuccedilatildeo efetivado no regime anterior O pagamento de deacutebitos por precatoacuterios possui a natureza juriacutedica de prerrogativa processual do Estado Traduz-se no direito de natildeo ser financeiramente executado senatildeo por procedimento ou regime de execuccedilatildeo especial do deacutebito bem mais van-tajoso que o resguarda de medidas constritivas como penhora arresto sequestro entre outras

Assim por se tratar de tratamento peculiar concedido agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a Uniatildeo natildeo pode simplesmente transmudar o regime de privado para puacuteblico em prejuiacutezo dos atos juriacutedicos jaacute aperfeiccediloados sugerindo a aplicaccedilatildeo de regra constitu-cional que protege as atividades bens e serviccedilos dos entes puacuteblicos e natildeo de empresas puacuteblicas nem de sociedades de economia mista sob pena de violar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica e do ato juriacutedico perfeito (CF art 5ordm XXXVI2) Com efeito esse privileacutegio natildeo pode retroagir a periacuteodo anterior agrave sucessatildeo eacutepoca em que natildeo incidia nenhum obstaacuteculo agrave constriccedilatildeo dos bens da pessoa juriacutedica de direito privado apenas pelo fato de a Uniatildeo ter assumido o polo passivo da execuccedilatildeo ante a impossibilidade de esse ato ter efeitos retroativos em prejuiacutezo dos atos processuais praticados

Na execuccedilatildeo movida contra a Fazenda Puacuteblica natildeo haacute expropriaccedilatildeo de bens Afi-nal estatildeo revestidos da claacuteusula de inalienabilidade e impenhorabilidade devendo o pagamento do deacutebito submeter-se ao regime de precatoacuterios ou Requisiccedilatildeo de Paga-mento de Pequeno Valor (RPV) prescrito no art 100 da Constituiccedilatildeo

Por expressa disposiccedilatildeo normativa (CF art 173 sect 1ordm II3) bem como pela paciacutefica jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF)4 os privileacutegios da Fazenda Puacute-blica em regra natildeo satildeo extensiacuteveis agraves sociedades de economia mista e agraves empresas

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 693112RG ‒ Tema 355rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-5-2017Informativo STF 853

335iacutendice de teses

puacuteblicas porquanto submetidas ao regime juriacutedico das pessoas juriacutedicas de direito privado inclusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comerciais trabalhistas e tributaacuterios5 Apenas excepcionalmente determinadas pessoas juriacutedicas de natureza privada podem submeter-se ao regime de precatoacuterios devendo ser analisadas as pe-culiaridades de cada hipoacutetese

Nessa mesma linha a jurisprudecircncia do STF assentou entendimento de que as normas especiais que regem o processo de execuccedilatildeo por quantia certa contra a Fa-zenda Puacuteblica se estendem a todas as pessoas de direito puacuteblico interno o que abran-ge a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios e suas respectivas autarquias e fundaccedilotildees puacuteblicas Desse modo em regra natildeo eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo do regime de precatoacuterios agraves empresas puacuteblicas nem agraves sociedades de economia mista por consti-tuiacuterem pessoas juriacutedicas de direito privado sujeitas ao regime de execuccedilatildeo comum agraves empresas privadas (CF art 173 sect 1ordm)6

Acresce-se a esse entendimento que de certa forma a mudanccedila do regime do rito de processamento da execuccedilatildeo quando jaacute estabelecida a penhora aproxima-se de fraude contra os credores Afinal a mudanccedila no curso do processo executivo repre-senta uma forma de retirar dos credores a garantia de seus creacuteditos jaacute aperfeiccediloada e consolidada na forma do regime anterior o que eacute inadmissiacutevel

Por fim admitir a pretensatildeo da Uniatildeo neste processo no sentido de submeter o creacutedito dos exequentes agrave ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios torna ainda mais penosa a espera dos ex-trabalhadores em verem realizados seus direitos jaacute reconhecidos e amparados pela coisa julgada

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim sect 1ordm Os deacutebitos de natureza alimentiacutecia compreendem aqueles decorrentes de salaacuterios vencimentos proventos pensotildees e suas complementaccedilotildees benefiacutecios previdenciaacuterios e indenizaccedilotildees por morte ou por invalidez fundadas em responsabilidade civil em virtude de sentenccedila judicial transitada em julgado e seratildeo pagos com preferecircncia sobre todos os demais deacutebitos exceto sobre aqueles referidos no sect 2ordm deste artigordquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

336iacutendice de teses

3 ldquoArt 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade eco-nocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando necessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da empresa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas inclusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comerciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

4 RE 599628 red p o ac min Joaquim Barbosa P DJE de 17-10-2011 e AI 616138 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 11-12-2012

5 Destaca-se que a questatildeo quanto agrave possibilidade de se concederem privileacutegios proacuteprios de pessoa juriacutedica de direito puacuteblico sucessora de empresa privada aos atos processuais praticados antes da sucessatildeo jaacute foi apreciada no julgamento do RE 599176 Na ocasiatildeo o Plenaacuterio concluiu que a imu-nidade reciacuteproca do art 150 VI a da CF natildeo exonera o sucessor das obrigaccedilotildees tributaacuterias relativas aos fatos ocorridos antes da sucessatildeo

6 RE 220906 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 14-11-2002 RE 229696 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca 1ordf T DJ de 19-12-2002 RE 344975 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 16-12-2005 e RE 393032 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 18-12-2009

337iacutendice de teses

A prisatildeo por diacutevida de natureza alimentiacutecia estaacute ligada ao inadimplemento

inescusaacutevel de prestaccedilatildeo natildeo alcanccedilando situaccedilatildeo juriacutedica a revelar cobranccedila

de saldo devedor

A razatildeo de ser da prisatildeo civil no processo de execuccedilatildeo de alimentos eacute compelir o de-vedor a satisfazer alimentos ou seja quantia voltada agrave subsistecircncia do alimentando e natildeo medida constritiva a cobrar diacutevidas preteacuteritas

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo de alimentos

HC 121426rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 29-3-2017Informativo STF 857

PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNACcedilAtildeO DE DECISOtildeES JUDICIAISDIREITO PROCESSUAL CIVIL

339iacutendice de teses

Eacute cabiacutevel accedilatildeo rescisoacuteria com fundamento no art 485 V do Coacutedigo de Pro-

cesso Civil de 19731 contra decisatildeo que viola literal disposiccedilatildeo do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF)

O RISTF tendo forccedila de lei na ordem anterior agrave Constituiccedilatildeo de 1988 foi por ela recepcionado como norma de igual hierarquia2

1 ldquoArt 485 A sentenccedila de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindida quando () V ndash violar literal disposiccedilatildeo de leirdquo

2 AI 148475 AgR rel min Octavio Gallotti 1ordf T DJ de 30-4-1993 e RE 146747 AgR-EDv rel min Marco Aureacutelio P DJ de 11-4-2003

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Accedilatildeo rescisoacuteria

AR 1551rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 6-11-2017Informativo STF 844

340iacutendice de teses

A partir de 2-5-2017 data da publicaccedilatildeo da ata do julgamento do Tema 246

da repercussatildeo geral1 ndash que reconheceu a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da

Lei 866619932 ndash tornou-se inviaacutevel o manejo da reclamaccedilatildeo constitucional3

com fundamento no julgado da ADC 164 ndash de mesmo objeto

A superveniecircncia do julgamento do recurso paradigma do Tema 246 (RE 760931) im-plica dizer que a conclusatildeo firmada na ADC 16 no que toca agrave sua eficaacutecia vinculante foi plenamente substituiacuteda pela tese firmada em sede de repercussatildeo geral

No julgamento da referida accedilatildeo declaratoacuteria o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da Lei 86661993 Assim passou a ad-mitir a condenaccedilatildeo subsidiaacuteria do ente puacuteblico ao pagamento de verbas trabalhistas inadimplidas por suas contratadas desde que caracterizada a culpa in vigilando ou in eligendo da Administraccedilatildeo

Com base nesse entendimento em alguns casos o STF julgou improcedente re-clamaccedilotildees ajuizadas contra decisotildees da Justiccedila do Trabalho reconhecendo a respon-sabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo quando fundamentadas em evidecircncias de ausecircncia de fiscalizaccedilatildeo do contrato5

Ocorre que ao concluir o julgamento do Tema 246 da repercussatildeo geral o STF afastou a condenaccedilatildeo subsidiaacuteria da Uniatildeo pelas diacutevidas decorrentes de contrato de terceirizaccedilatildeo e fixou a seguinte tese ldquoO inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabilidade pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou sub-sidiaacuterio nos termos do art 71 sect 1ordm da Lei 86661993rdquo6 Com efeito a tese firmada em repercussatildeo geral substituiu o anterior entendimento firmado na ADC 16

Diante disso cabe destacar que a inobservacircncia da tese firmada em repercussatildeo geral somente enseja o ajuizamento da reclamaccedilatildeo quando ldquoesgotadas as instacircn-cias ordinaacuteriasrdquo (CPC2015 art 988 sect 5ordm II7) Nesse sentido a jurisprudecircncia do STF8 exige o correto percurso de todo o iter processual ultimado na interposiccedilatildeo de

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Reclamaccedilatildeo

Rcl 27789 AgRrel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 23-11-2017Informativo STF 882

341iacutendice de teses

agravo interno contra a decisatildeo que nega seguimento ao recurso extraordinaacuterio nos termos do art 1030 I e sect 2ordm do CPC20159

1 RE 760931 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 12-9-2017

2 ldquoArt 71 O contratado eacute responsaacutevel pelos encargos trabalhistas previdenciaacuterios fiscais e comerciais resultantes da execuccedilatildeo do contrato sect 1ordm A inadimplecircncia do contratado com referecircncia aos encar-gos trabalhistas fiscais e comerciais natildeo transfere agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a responsabilidade por seu pagamento nem poderaacute onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizaccedilatildeo e o uso das obras e edificaccedilotildees inclusive perante o Registro de Imoacuteveisrdquo

3 Art 102 I l da CF

4 ADC 16 rel min Cezar Peluso P DJE de 9-9-2011

5 Rcl 13739 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 18-4-2016 Rcl 12050 AgR rel min Celso de Mello P DJE de 19-6-2013 e Rcl 24545 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 10-11-2016

6 RE 760931 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 12-9-2017

7 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para () sect 5ordm Eacute inad-missiacutevel a reclamaccedilatildeo () II ndash proposta para garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo de recurso extraor-dinaacuterio com repercussatildeo geral reconhecida ou de acoacuterdatildeo proferido em julgamento de recursos extraordinaacuterio ou especial repetitivos quando natildeo esgotadas as instacircncias ordinaacuteriasrdquo

8 Rcl 24686 ED-AgR rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 11-4-2017

9 ldquoArt 1030 Recebida a peticcedilatildeo do recurso pela secretaria do tribunal o recorrido seraacute intimado para apresentar contrarrazotildees no prazo de 15 (quinze) dias findo o qual os autos seratildeo conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido que deveraacute I ndash negar seguimento a) a recurso extraordinaacuterio que discuta questatildeo constitucional agrave qual o Supremo Tribunal Federal natildeo tenha reconhecido a existecircncia de repercussatildeo geral ou a recurso extraordinaacuterio interposto contra acoacuterdatildeo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussatildeo geral b) a recurso extraordinaacuterio ou a recurso especial interposto contra acoacuterdatildeo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Supe-rior Tribunal de Justiccedila respectivamente exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos () sect 2ordm Da decisatildeo proferida com fundamento nos incisos I e III caberaacute agravo interno nos termos do art 1021rdquo

342iacutendice de teses

Soacute cabe reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por violaccedilatildeo de tese

fixada em repercussatildeo geral apoacutes terem se esgotado todos os recursos cabiacute-

veis nas instacircncias antecedentes

A interpretaccedilatildeo do art 988 sect 5ordm II do Coacutedigo de Processo Civil (CPC)1 deve ser fundamentalmente teleoloacutegica e natildeo estritamente literal O esgotamento da ins-tacircncia ordinaacuteria em tais casos supotildee o percurso de todo o caminho recursal possiacute-vel antes do acesso ao STF

Se a decisatildeo reclamada ainda comportar reforma por via de recurso a algum tribu-nal inclusive a tribunal superior natildeo se permitiraacute acesso ao STF por via de reclama-ccedilatildeo Esse eacute o sentido que deve ser conferido ao art 988 sect 5ordm II do CPC

Com efeito a interpretaccedilatildeo puramente literal desse dispositivo acabaria por transfe-rir ao STF pela via indireta da reclamaccedilatildeo a competecircncia de pelo menos trecircs tribunais superiores (Superior Tribunal de Justiccedila Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal Su-perior Eleitoral) para onde podem ser dirigidos recursos contra decisotildees de tribunais de segundo grau de jurisdiccedilatildeo

1 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para I ndash preservar a competecircncia do tribunal II ndash garantir a autoridade das decisotildees do tribunal III ndash garantir a obser-vacircncia de enunciado de suacutemula vinculante e de decisatildeo do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade IV ndash garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo proferido em julgamen-to de incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivas ou de incidente de assunccedilatildeo de competecircncia () sect 5ordm Eacute inadmissiacutevel a reclamaccedilatildeo () II ndash proposta para garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo de recurso extraordinaacuterio com repercussatildeo geral reconhecida ou de acoacuterdatildeo proferido em julgamento de recursos extraordinaacuterio ou especial repetitivos quando natildeo esgotadas as instacircncias ordinaacuteriasrdquo

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Reclamaccedilatildeo

Rcl 24686 ED-AgRrel min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 11-4-2017Informativo STF 845

343iacutendice de teses

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Recursos

Ȥ Recurso extraordinaacuterio ‒ Repercussatildeo Geral

O reconhecimento da repercussatildeo geral no Plenaacuterio Virtual natildeo impede sua

rediscussatildeo no Plenaacuterio fiacutesico notadamente quando tal reconhecimento te-

nha ocorrido por falta de manifestaccedilotildees suficientes1

O julgamento proclamado por ausecircncia de manifestaccedilotildees suficientes pode ter sua conclusatildeo revista em razatildeo de mudanccedilas na composiccedilatildeo do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) abstenccedilatildeo de ministros na votaccedilatildeo e unanimidade dos votos proferidos (embora insuficientes) no sentido da ausecircncia de repercussatildeo geral do tema2

Natildeo apresenta repercussatildeo geral o tema relativo agrave competecircncia para proces-

sar e julgar accedilatildeo em que se discute pagamento de adicional de insalubridade

a servidor puacuteblico de ex-Territoacuterio Federal ante a existecircncia de convecircnio fir-

mado entre a Uniatildeo e o Estado-membro para o qual foi cedido

A controveacutersia estaacute restrita a parcela limitada de servidores de ex-Territoacuterio ndash quadro em extinccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal ndash cuja anaacutelise estaacute vinculada a situaccedilotildees temporais tambeacutem especiacuteficas decorrentes da celebraccedilatildeo e vigecircncia de convecircnios

Natildeo se verifica portanto a presenccedila de questotildees relevantes ldquodo ponto de vista econocircmico poliacutetico social ou juriacutedico que ultrapassem os interesses subjetivos da causardquo (CPC2015 art 1035 sect 1ordm3) a justificar pronunciamento de meacuterito do STF

1 No mesmo sentido RE 729 884 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-2-2017

2 RE 607607 ED rel min Luiz Fux P DJE de 12-5-2014

3 ldquoArt 1035 O Supremo Tribunal Federal em decisatildeo irrecorriacutevel natildeo conheceraacute do recurso ex-traordinaacuterio quando a questatildeo constitucional nele versada natildeo tiver repercussatildeo geral nos termos deste artigo sect 1ordm Para efeito de repercussatildeo geral seraacute considerada a existecircncia ou natildeo de questotildees relevantes do ponto de vista econocircmico poliacutetico social ou juriacutedico que ultrapassem os interesses subjetivos do processordquo

RE 584247 QORG ‒ Tema 538rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 2-5-2017Informativo STF 845

344iacutendice de teses

Eacute admissiacutevel a juntada extemporacircnea de prova documental em recursos in-

terpostos no Supremo Tribunal Federal (STF) quando estiver presente inte-

resse puacuteblico primaacuterio na lide

Admitida a veracidade do documento trazido aos autos e presente o interesse puacutebli-co indisponiacutevel consubstanciado no interesse de toda a coletividade na apreciaccedilatildeo da higidez das contas dos gestores puacuteblicos (interesse puacuteblico primaacuterio) deve ser afastada a regra geral1 segundo a qual eacute impossiacutevel a produccedilatildeo de prova por meio da juntada de documento apenas em sede de recurso interposto perante o STF

1 RE 452780 AgR red p o ac min Cezar Peluso 1ordf T DJ de 18-8-2006

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Recursos

Ȥ Agravo interno

RE 916917 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 27-3-2017Informativo STF 850

345iacutendice de teses

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Mandado de seguranccedila

Ȥ Legitimidade ativa

O procurador-geral da Repuacuteblica natildeo possui legitimidade ativa para impe-

trar mandado de seguranccedila em que se questione decisatildeo que reconheccedila a

prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em processo administrativo disciplinar

A legitimidade para impetrar o mandado de seguranccedila pressupotildee a titularidade do direito pretensamente lesado ou ameaccedilado de lesatildeo por ato de autoridade puacuteblica Nas palavras de Hely Lopes Meirelles ldquoO impetrante para ter legitimidade ativa haacute de ser o titular do direito individual ou coletivo para o qual pede proteccedilatildeo pelo man-dado de seguranccedila (hellip) O essencial eacute que o impetrante tenha direito subjetivo proacute-prio (e natildeo simples interesse) a defender em juiacutezo Natildeo haacute confundir interesse com di-reito subjetivo liacutequido e certo que eacute o uacutenico protegiacutevel por mandado de seguranccedilardquo1

O procurador-geral da Repuacuteblica no entanto natildeo eacute o titular do direito liacutequido e certo ultrajado em processo administrativo disciplinar2 Tambeacutem natildeo eacute suficiente a demonstraccedilatildeo do simples interesse ou justificaacutevel a sua atuaccedilatildeo como custos legis em defesa da ordem democraacutetica e juriacutedica pois esses satildeo direitos que natildeo lhe satildeo proacuteprios mas da sociedade

O art 127 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 dispotildee que incumbe ao Ministeacuterio Puacuteblico a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e indivi-duais indisponiacuteveis sendo suas funccedilotildees institucionais enunciadas no art 129 da CF4 Entre elas inclui-se a de ldquozelar pelo efetivo respeito dos Poderes Puacuteblicos e dos ser-viccedilos de relevacircncia puacuteblica aos direitos assegurados nesta Constituiccedilatildeordquo e portanto pelo cumprimento do ordenamento juriacutedico vigente No exerciacutecio de suas funccedilotildees o Ministeacuterio Puacuteblico pode assumir em juiacutezo a condiccedilatildeo de parte autora exercendo o direito de accedilatildeo nos casos previstos em lei ou de parte interveniente naqueles em que sua atuaccedilatildeo como fiscal da ordem juriacutedica seja indispensaacutevel para assegurar a regulari-dade do ato conforme disposiccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil5

Natildeo se pretende a partir dessa compreensatildeo recusar a legitimidade ativa ad cau-sam do Ministeacuterio Puacuteblico para a impetraccedilatildeo de mandado de seguranccedila Busca-se

MS 33736rel min Caacutermen Luacutecia2ordf TurmaDJE de 23-8-2017Informativo STF 831

346iacutendice de teses

apenas assinalar que esta condiciona-se agravequelas situaccedilotildees especiacuteficas em que o direito alegadamente transgredido seja titularizado pela instituiccedilatildeo (ou respeite agraves funccedilotildees descritas no art 129 da CF) ou por aqueles cuja proteccedilatildeo o poder constituinte incum-biu o Ministeacuterio Puacuteblico

Essa conclusatildeo natildeo frustra tampouco debilita a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de sua atribuiccedilatildeo constitucional de defesa da ordem juriacutedica Afinal a ele satildeo reservados os demais instrumentos processuais de tutela previstos em lei igual-mente eficazes a exemplo da accedilatildeo civil puacuteblica

1 MEIRELLES Hely Lopes Mandado de seguranccedila accedilatildeo popular accedilatildeo civil puacuteblica mandado de injunccedilatildeo e habeas data 31 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 62

2 Precedente RMS 32970 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 18-5-2016

3 ldquoArt 127 O Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e indivi-duais indisponiacuteveisrdquo

4 ldquoArt 129 Satildeo funccedilotildees institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico I ndash promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica na forma da lei II ndash zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Puacuteblicos e dos serviccedilos de relevacircncia puacuteblica aos direitos assegurados nesta Constituiccedilatildeo promovendo as medidas necessaacuterias a sua garantia III ndash promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos IV ndash promover a accedilatildeo de inconstitucionalidade ou representaccedilatildeo para fins de intervenccedilatildeo da Uniatildeo e dos Estados nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo V ndash defender judicialmente os direitos e interesses das popula-ccedilotildees indiacutegenas VI ndash expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos de sua competecircncia requisitando informaccedilotildees e documentos para instruiacute-los na forma da lei complementar respectiva VII ndash exercer o controle externo da atividade policial na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior VIII ndash requisitar diligecircncias investigatoacuterias e a instauraccedilatildeo de inqueacuterito policial indicados os fundamentos juriacutedicos de suas manifestaccedilotildees processuais IX ndash exercer outras funccedilotildees que lhe forem conferidas desde que compatiacuteveis com sua finalidade sendo-lhe vedada a represen-taccedilatildeo judicial e a consultoria juriacutedica de entidades puacuteblicasrdquo

5 ldquoArt 177 O Ministeacuterio Puacuteblico exerceraacute o direito de accedilatildeo em conformidade com suas atribuiccedilotildees constitucionais Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta) dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em lei ou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvam I ndash interesse puacuteblico ou social II ndash interesse de incapaz III ndash litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbana Paraacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacute hipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Art 179 Nos casos de intervenccedilatildeo como fiscal da ordem juriacutedica o Ministeacuterio Puacuteblico I ndash teraacute vista dos autos depois das partes sendo intimado de todos os atos do processo II ndash poderaacute produzir provas requerer as medi-das processuais pertinentes e recorrerrdquo

TUTELA COLETIVADIREITO PROCESSUAL CIVIL

348iacutendice de teses

A eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada a partir de accedilatildeo coletiva de rito

ordinaacuterio ajuizada por associaccedilatildeo civil na defesa de interesses dos associa-

dos somente alcanccedila os filiados residentes no acircmbito da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo

julgador que o fossem em momento anterior ou ateacute a data da propositura

da demanda constantes da relaccedilatildeo juriacutedica juntada agrave inicial do processo de

conhecimento

O art 5ordm XXI da Constituiccedilatildeo Federal1 concernente agraves associaccedilotildees encerra situa-ccedilatildeo de representaccedilatildeo processual a exigir para efeito da atuaccedilatildeo judicial da entidade autorizaccedilatildeo expressa e especiacutefica dos membros os associados

Nessa situaccedilatildeo a associaccedilatildeo aleacutem de natildeo atuar em nome proacuteprio persegue o re-conhecimento de interesses dos filiados decorrendo daiacute a necessidade da colheita de autorizaccedilatildeo expressa de cada qual de forma individual ou mediante assembleia geral designada para esse fim considerada a maioria formada2

A especificidade da autorizaccedilatildeo deve ser compreendida sob o acircngulo do tema no que individualizado o interesse a ser buscado e da vontade mesmo que em assem-bleia geral

A enumeraccedilatildeo dos associados ateacute o momento imediatamente anterior ao do ajui-zamento se presta agrave observacircncia do princiacutepio do devido processo legal inclusive sob o enfoque da razoabilidade Por meio dela presente a relaccedilatildeo nominal eacute que se via-biliza o direito de defesa o contraditoacuterio e a ampla defesa

Uma vez confirmada a exigecircncia de autorizaccedilatildeo especiacutefica dos associados para a formalizaccedilatildeo da demanda decorre ante a loacutegica a oportunidade da comprovaccedilatildeo da filiaccedilatildeo ateacute aquele momento A condiccedilatildeo de filiado eacute pressuposto do ato de anuir com a submissatildeo da controveacutersia ao Judiciaacuterio Nesse sentido natildeo haacute falar em inconstitu-cionalidade do art 2ordm-A da Lei 949419973

Em Direito os fins natildeo justificam os meios Logo descabe potencializar a praacutetica judiciaacuteria tendo em vista a possiacutevel repeticcedilatildeo de casos versando a mesma mateacuteria

Direito Processual Civil Ȥ Tutela coletiva

Ȥ Sentenccedila Ȥ Eficaacutecia subjetiva da coisa julgada ‒ Repercussatildeo Geral

RE 612043RG ‒ Tema 499rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 6-10-2017Informativo STF 864

349iacutendice de teses

para buscar respaldar o alargamento da eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada Essa natildeo eacute a soluccedilatildeo adequada considerado o efeito multiplicador uma vez previs-tos na legislaccedilatildeo ordinaacuteria mecanismos de resoluccedilatildeo de casos repetitivos

Diante disso a problemaacutetica da eficaacutecia territorial do pronunciamento judicial eacute resolvida a partir da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo julgador isso em se tratando de accedilatildeo pluacuterima submetida ao rito ordinaacuterio Esse mesmo enfoque seria observado se ajuizada a accedilatildeo diretamente pelos proacuteprios beneficiaacuterios do direito natildeo havendo tratamento diverso atuando a associaccedilatildeo como representante

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXI ndash as entidades associativas quando expres-samente autorizadas tecircm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmenterdquo

2 AO 152 rel min Carlos Velloso P DJ de 3-3-2000 RE 192305 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 8-2-1999 e RE 573232 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJE de 19-9-2014

3 ldquoArt 2ordm-A A sentenccedila civil prolatada em accedilatildeo de caraacuteter coletivo proposta por entidade associa-tiva na defesa dos interesses e direitos dos seus associados abrangeraacute apenas os substituiacutedos que tenham na data da propositura da accedilatildeo domiciacutelio no acircmbito da competecircncia territorial do oacutergatildeo prolator Paraacutegrafo uacutenico Nas accedilotildees coletivas propostas contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Fe-deral os Municiacutepios e suas autarquias e fundaccedilotildees a peticcedilatildeo inicial deveraacute obrigatoriamente estar instruiacuteda com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou acompanhada da relaccedilatildeo nominal dos seus associados e indicaccedilatildeo dos respectivos endereccedilosrdquo

DIR

E

PRO

CPE

NA

DIR

EIT

O

PRO

CESS

UAL

PEN

AL

PROCESSO EM GERALDIREITO PROCESSUAL PENAL

353iacutendice de teses

Excepcionalmente o momento de apreciaccedilatildeo dos argumentos de defesa es-

crita pode ser deslocado para apoacutes o recebimento da denuacutencia

Observado que o juiz natildeo tenha apreciado com profundidade as hipoacuteteses mencio-nadas no art 397 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)1 por ocasiatildeo do recebimento da denuacutencia ou queixa elas podem (e algumas devem)2 desde logo ser enfrenta-das apoacutes a intervenccedilatildeo da defesa escrita3

A subordinaccedilatildeo hieraacuterquica dos envolvidos natildeo significa a responsabilizaccedilatildeo

criminal automaacutetica do prefeito

Prefeito incluiacutedo entre os acusados em razatildeo unicamente da funccedilatildeo puacuteblica hierar-quicamente superior que entatildeo ocupa sem indicaccedilatildeo miacutenima de sua participaccedilatildeo em praacutetica iliacutecita em conluio com os demais envolvidos evidencia violaccedilatildeo agrave res-ponsabilidade penal subjetiva cuja demonstraccedilatildeo repele a responsabilidade presu-mida em contraposiccedilatildeo agrave responsabilidade objetiva objurgada em mateacuteria penal

A mera subordinaccedilatildeo hieraacuterquica de agentes puacuteblicos ou servidores municipais natildeo implica a automaacutetica responsabilizaccedilatildeo criminal do prefeito Noutros termos natildeo se pode presumir a responsabilidade criminal do prefeito simplesmente com apoio em ldquoouvir dizerrdquo das testemunhas sabido que o nosso sistema juriacutedico-penal natildeo admite a culpa por presunccedilatildeo4

1 ldquoArt 397 Apoacutes o cumprimento do disposto no art 396-A e paraacutegrafos deste Coacutedigo o juiz deveraacute absolver sumariamente o acusado quando verificar I ndash a existecircncia manifesta de causa excludente da ilicitude do fato II ndash a existecircncia manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente salvo inimputabilidade III ndash que o fato narrado evidentemente natildeo constitui crime ou IV ndash extinta a punibilidade do agenterdquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Accedilatildeo penal Ȥ Denuacutencia

AP 912rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 16-5-2017Informativo STF 856

354iacutendice de teses

2 CPP ldquoArt 395 A denuacutencia ou queixa seraacute rejeitada quando I ndash for manifestamente inepta II ndash faltar pressuposto processual ou condiccedilatildeo para o exerciacutecio da accedilatildeo penalrdquo

3 AP 933 QO rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 3-2-2016 e Inq 2411 QO rel min Gilmar Mendes P DJE de 24-4-2008

4 AP 447 rel min Ayres Britto P DJE de 28-5-2009

355iacutendice de teses

A mera posiccedilatildeo hieraacuterquica dos acusados na titularidade da empresa de co-

municaccedilatildeo sem a descriccedilatildeo da accedilatildeo e sem elementos que evidenciem a vonta-

de e consciecircncia de praticar o crime imputado inviabiliza o prosseguimento

da accedilatildeo penal

Os princiacutepios constitucionais do devido processo legal do contraditoacuterio e da ampla defesa (CF art 5ordm LIV e LV1) impotildeem que a inicial acusatoacuteria tenha como funda-mentos elementos probatoacuterios miacutenimos que demonstrem a materialidade do fato delituoso e indiacutecios suficientes de autoria

Nesse contexto a denuacutencia ou a queixa que natildeo conteacutem a exposiccedilatildeo do fato cri-minoso com todas as suas circunstacircncias aleacutem da classificaccedilatildeo do crime impede o exerciacutecio da ampla defesa na medida em que submete o acusado agrave persecuccedilatildeo penal privando-o do contexto sobre o qual se desenvolveraacute a relaccedilatildeo processual

Assim denuacutencia ou queixa baseada apenas na posiccedilatildeo hieraacuterquica do acusado deve ser rechaccedilada por manifesta ausecircncia de justa causa Afinal ldquopermitir que o acusado seja submetido a processo exclusivamente pela posiccedilatildeo hieraacuterquica superior que ocupa-va () viola as regras quanto agrave autoria e participaccedilatildeo que regem o Direito Penal brasilei-ro Deve haver indiacutecios de que o acusado atuou com dolo o que natildeo se verifica no caso dos autos Ademais o mero dever de saber natildeo eacute suficiente para uma condenaccedilatildeo em razatildeo de ensejar uma responsabilizaccedilatildeo objetiva Natildeo cabe presunccedilatildeo in malan partem ante o princiacutepio da natildeo culpabilidade (art 5ordm LVII da Constituiccedilatildeo Federal)rdquo2

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

2 AP 905 QO rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 21-3-2016

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Accedilatildeo penal Ȥ Denuacutencia

Pet 5660rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 8-5-2017Informativo STF 857

356iacutendice de teses

O desmembramento do feito em relaccedilatildeo a imputados que natildeo possuam prer-

rogativa de foro ldquodeve ser a regra diante da manifesta excepcionalidade do

foro por prerrogativa de funccedilatildeo ressalvadas as hipoacuteteses em que a separaccedilatildeo

possa causar prejuiacutezo relevanterdquo1

Presente a imbricaccedilatildeo de condutas e diante da existecircncia de indiacutecios de liame proba-toacuterio entre os fatos ou mesmo de continecircncia (CPP art 77 I)2 natildeo haacute como cindir investigaccedilatildeo em fase embrionaacuteria Isso ocorre inclusive pelo risco de o juiacutezo de pri-meiro grau promover a investigaccedilatildeo de detentores de prerrogativa de foro ainda que de forma indireta em usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF)

A usurpaccedilatildeo da competecircncia do STF contamina de nulidade toda a investigaccedilatildeo realizada em relaccedilatildeo ao detentor da prerrogativa de foro por violaccedilatildeo do princiacutepio do juiz natural (CF art 5ordm LIII)3 O que se busca garantir aleacutem da preservaccedilatildeo da competecircncia constitucional do STF eacute o transcurso da investigaccedilatildeo sob supervisatildeo da autoridade judiciaacuteria competente de modo a assegurar sua higidez

Com efeito nos termos do art 5ordm LVI da Constituiccedilatildeo Federal4 ldquosatildeo inadmissiacute-veis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

Por sua vez dispotildee o art 157 do Coacutedigo de Processo Penal5 que satildeo inadmissiacuteveis as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo de normas constitucionais ou legais

O natildeo desmembramento preserva a higidez do processo investigatoacuterio a racio-nalidade do sistema Ficaria impossiacutevel persecuccedilatildeo investigatoacuteria sem que houvesse coordenaccedilatildeo das accedilotildees tamanha a dimensatildeo daquilo que eacute a visatildeo dos oacutergatildeos de poliacutecia e do Ministeacuterio Puacuteblico

Natildeo eacute a definiccedilatildeo de competecircncia de julgamento que pode atingir algueacutem com prerrogativa de foro mas a racionalidade da investigaccedilatildeo para evitar a coleta de pro-vas por autoridade natildeo competente a fazecirc-lo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia por conexatildeo ou continecircncia

Pet 6138 AgR-segundored p o ac min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 5-9-2017Informativo STF 855

357iacutendice de teses

1 Inq 2903 rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-7-2014

2 ldquoArt 77 A competecircncia seraacute determinada pela continecircncia quando I ndash duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infraccedilatildeordquo

3 ldquoArt 5ordm () LIII ndash ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade competenterdquo

4 ldquoArt 5ordm () LVI ndash satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

5 ldquoArt 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim enten-didas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legaisrdquo

358iacutendice de teses

A existecircncia concreta de indiacutecios de envolvimento de autoridade detentora

de foro por prerrogativa de funccedilatildeo nos diaacutelogos interceptados impotildee a re-

messa imediata ao Supremo Tribunal Federal (STF)

Ainda que a interceptaccedilatildeo telefocircnica seja aparentemente voltada a pessoas que natildeo ostentem prerrogativa de foro por funccedilatildeo o levantamento incontinenti sem nenhu-ma das cautelas exigidas em lei do sigilo do conteuacutedo das conversas mantidas com autoridade detentora de foro por prerrogativa de funccedilatildeo no STF eacute uma decisatildeo que natildeo compete ao juiacutezo de primeiro grau

Em outras palavras cabe apenas ao STF no exerciacutecio de sua competecircncia consti-tucional decidir acerca do cabimento ou natildeo do desmembramento bem como sobre a legitimidade ou natildeo dos atos ateacute entatildeo praticados nos autos

Nesse sentido natildeo tendo havido preacutevia decisatildeo do STF sobre a cisatildeo ou natildeo da investigaccedilatildeo ou da accedilatildeo relativamente aos fatos envolvendo autoridades com prerro-gativa de foro no Tribunal fica delineada ainda que em juiacutezo de cogniccedilatildeo sumaacuteria a concreta probabilidade de violaccedilatildeo da competecircncia prevista no art 102 I b da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica1

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () b) nas infraccedilotildees penais comuns o Presidente da Repuacuteblica o Vice-Presidente os membros do Congresso Nacional seus proacuteprios Ministros e o Procurador-Geral da Repuacuteblicardquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

Rcl 23457 MC-REFrel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 17-4-2017Informativo STF 819

359iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

Natildeo haacute cogitar de usurpaccedilatildeo de competecircncia do Supremo Tribunal Federal

quando a simples menccedilatildeo ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa

de foro assim como a existecircncia de informaccedilotildees ateacute entatildeo fluidas e dispersas

a seu respeito satildeo insuficientes para o deslocamento da competecircncia para o

juiacutezo hierarquicamente superior

Para que haja a atraccedilatildeo da causa para o foro competente eacute imprescindiacutevel a consta-taccedilatildeo da existecircncia de indiacutecios da participaccedilatildeo ativa e concreta do titular da prerro-gativa em iliacutecitos penais1

Ademais natildeo haacute considerar a alegada usurpaccedilatildeo se a autoridade com foro por prerrogativa de funccedilatildeo natildeo tiver sido alvo de nenhuma medida cautelar autorizada pelo juiacutezo no curso da persecuccedilatildeo penal bem como se os fatos verificados sobre a autoridade natildeo tiverem relaccedilatildeo direta com o objeto da investigaccedilatildeo em desfavor do agravante

1 Rcl 2101 AgR rel min Ellen Gracie P DJ de 20-9-2002 HC 82647 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 25-4-2003 e AP 933 QO rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 3-2-2016

Rcl 25497 AgRrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 13-3-2017Informativo STF 854

360iacutendice de teses

Na busca e apreensatildeo caso a autoridade responsaacutevel pela unidade adminis-

trativa entregue de maneira espontacircnea e voluntaacuteria computador de titula-

ridade do ente puacuteblico tal ato revela-se compatiacutevel com a claacuteusula de reserva

de jurisdiccedilatildeo ainda que sobressalente ao mandado judicial

O fato de haver mandado judicial para que seja apreendido determinado equipa-mento natildeo impede que outros equipamentos sejam entregues espontaneamente por guardarem interesse com a investigaccedilatildeo

Embora verificada a entrega voluntaacuteria ao agente policial o exame pericial nos equi-pamentos apreendidos condicionado agrave autorizaccedilatildeo especiacutefica da autoridade judicial res-ponsaacutevel pela supervisatildeo do caderno investigativo resguarda a regularidade da apreen-satildeo e o direito agrave privacidade do repositoacuterio de dados e de informaccedilotildees neles contidos

Aleacutem disso a entrega espontacircnea do equipamento ao agente policial revela dificul-dade da invocaccedilatildeo de direito agrave intimidade visto que se trata de material disponibiliza-do inclusive para o serviccedilo puacuteblico

Natildeo cabe invocar a garantia constitucional do sigilo das comunicaccedilotildees de

dados quando o acesso natildeo alcanccedila a troca de dados restringindo-se apenas

agraves informaccedilotildees armazenadas nos dispositivos eletrocircnicos

ldquoA proteccedilatildeo a que se refere o art 5ordm XII da Constituiccedilatildeo1 eacute da comunicaccedilatildeo lsquode da-dosrsquo e natildeo dos lsquodados em si mesmosrsquo ainda quando armazenados em computadorrdquo2

Inexistindo quebra da troca de dados mas sim acesso aos dados que estavam registrados nos Hardwares (HDs) dos computadores natildeo haacute ilegalidade A proteccedilatildeo agrave garantia constitucional diz respeito agrave troca de dados mas a inviolabilidade cinge-se agrave interferecircncia de um terceiro na troca dessas informaccedilotildees

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

RHC 132062red p o ac min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 24-10-2017Informativo STF 849

361iacutendice de teses

O procedimento administrativo de investigaccedilatildeo criminal natildeo demanda a

amplitude das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditoacuterio

No processo investigatoacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico haacute formaccedilatildeo da opinio delicti do oacutergatildeo acusatoacuterio e o momento proacuteprio do exerciacutecio do contraditoacuterio e da ampla defesa eacute mesmo a instruccedilatildeo judicial

Ademais eventual prejuiacutezo advindo do indeferimento de diligecircncias no curso das apuraccedilotildees (nomeaccedilatildeo de assistente teacutecnico e formulaccedilatildeo de quesitos) eacute passiacutevel de questionamento na accedilatildeo penal decorrente do respectivo inqueacuterito policial

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XII ndash eacute inviolaacutevel o sigilo da correspon-decircncia e das comunicaccedilotildees telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penalrdquo (Vide Lei 92961996)

2 RE 418416 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 19-12-2006

362iacutendice de teses

A prova obtida mediante interceptaccedilatildeo telefocircnica quando referente a infra-

ccedilatildeo penal diversa da investigada deve ser considerada liacutecita se presentes os

requisitos constitucionais e legais

No caso de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada por ordem judicial e crime puniacutevel com reclusatildeo a prova soacute pode ser afastada se verificada alguma hipoacutetese de des-vio de finalidade ou mesmo simulaccedilatildeo ou fraude para obtenccedilatildeo dela como por exemplo a realizaccedilatildeo de simulacro de investigaccedilatildeo em crime apenado com reclu-satildeo somente para obtenccedilatildeo de ordem judicial decretando interceptaccedilatildeo telefocircnica poreacutem com o claro objetivo de descobrir e produzir provas em crimes apenados com detenccedilatildeo ou ainda para produccedilatildeo de provas a serem posteriormente utiliza-das em processos civil ou administrativo-disciplinar1

Ademais cabe destacar que o ldquocrime achadordquo ou seja a infraccedilatildeo penal desconhe-cida e portanto ateacute aquele momento natildeo investigada sempre deve ser cuidadosa-mente analisado para que natildeo se relativize em excesso o art 5ordm XII da Constituiccedilatildeo Federal2 A interpretaccedilatildeo das limitaccedilotildees subjetivas e objetivas na obtenccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial para interceptaccedilotildees telefocircnicas deve visar garantir a efetividade da proteccedilatildeo aos direitos fundamentais consagrados no texto constitucio-nal em especial a intimidade vida privada sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas aleacutem da inadmissibilidade das provas obtidas por meios iliacutecitos

1 MORAES Alexandre Direito constitucional 33 ed Satildeo Paulo Atlas 2017 p 72-73

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XII ndash eacute inviolaacutevel o sigilo da correspon-decircncia e das comunicaccedilotildees telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penalrdquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

HC 129678red p o ac min Alexandre de Moraes1ordf TurmaDJE de 18-8-2017Informativo STF 869

363iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

Apreensotildees de documentos realizadas em automoacutevel por constituir tiacutepica

busca pessoal1 prescinde de autorizaccedilatildeo judicial quando presente fundada

suspeita2 de que nele estatildeo ocultados elementos de prova ou qualquer elemen-

to de convicccedilatildeo agrave elucidaccedilatildeo dos fatos investigados a teor do sect 2ordm do art 2403 e

art 2444 do Coacutedigo de Processo Penal

O espaccedilo compreendido dentro de automoacutevel salvo a hipoacutetese em que consistir a habitaccedilatildeo de seu titular seja ela de caraacuteter permanente seja provisoacuterio (trailers ca-bines de caminhatildeo barcos entre outros5) natildeo estaacute abarcada no conceito juriacutedico de domiciacutelio ao qual a lei dispensa proteccedilatildeo especial e exige autorizaccedilatildeo judicial (CF art 5ordm XI6) O conceito de ldquocasardquo para os fins da proteccedilatildeo juriacutedico-constitucional compreende (a) qualquer compartimento habitado (b) qualquer aposento ocupado de habitaccedilatildeo coletiva e (c) qualquer compartimento privado onde algueacutem exerce profissatildeo ou atividade Esse amplo sentido conceitual da noccedilatildeo juriacutedica de ldquocasardquo harmoniza-se com a exigecircncia constitucional de proteccedilatildeo agrave esfera de liberdade indi-vidual de intimidade pessoal e de privacidade profissional7

Nessa linha de raciociacutenio natildeo se pode conceber o veiacuteculo automotor como um espaccedilo reservado onde o indiviacuteduo desenvolve livremente a sua personalidade senatildeo como extensatildeo de seu proacuteprio corpo Afinal trata-se de meio de transporte desti-nado ao mero deslocamento de seu condutor e por vezes empregado para ocultar vestiacutegios de praacutetica criminosa8 Conceber-se o contraacuterio seria inviabilizar agentes policiais ou fiscais a realizar revista nos veiacuteculos por ocasiatildeo de accedilotildees de fiscalizaccedilatildeo (blitz por exemplo)9

1 ldquoEsse tipo de busca consiste na inspeccedilatildeo do corpo e das vestes de algueacutem para apreensatildeo de ele-mentos de convicccedilatildeo ocultados incluindo-se objetos (bolsas malas pastas) e veiacuteculos (automoacuteveis motocicletas) sob custoacutedia da pessoardquo (MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo penal 18 ed Satildeo Paulo

RHC 117767rel min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 843

364iacutendice de teses

Atlas 2006 PACELLI Eugecircnio FISCHER Douglas Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Penal e sua jurisprudecircncia 7 ed Satildeo Paulo Atlas 2015)

2 ldquoNo particular as circunstacircncias concretas da busca empreendida no automoacutevel do recorrente per-mitem concluir pela validade da medida jaacute que no dia em que realizadas as diligecircncias de busca domiciliar eram obtidas informaccedilotildees via interceptaccedilatildeo telefocircnica (natildeo contestadas) de que provas relevantes agrave elucidaccedilatildeo dos fatos eram ocultadas no interior do veiacuteculo do recorrente estacionado no exato momento da apreensatildeo em logradouro puacuteblicordquo (Trecho do voto do ministro Teori Za-vascki no presente julgamento)

3 ldquoArt 240 A busca seraacute domiciliar ou pessoal sect 1ordm Proceder-se-aacute agrave busca domiciliar quando funda-das razotildees a autorizarem para a) prender criminosos b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos c) apreender instrumentos de falsificaccedilatildeo ou de contrafaccedilatildeo e objetos falsificados ou contrafeitos d) apreender armas e municcedilotildees instrumentos utilizados na praacutetica de crime ou destinados a fim delituoso e) descobrir objetos necessaacuterios agrave prova de infraccedilatildeo ou agrave defesa do reacuteu f ) apreender cartas abertas ou natildeo destinadas ao acusado ou em seu poder quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteuacutedo possa ser uacutetil agrave elucidaccedilatildeo do fato g) apreender pessoas viacutetimas de crimes h) colher qualquer elemento de convicccedilatildeo sect 2ordm Proceder-se-aacute agrave busca pessoal quando houver fundada suspeita de que algueacutem oculte consigo arma proibida ou objetos mencio-nados nas letras b a f e letra h do paraacutegrafo anteriorrdquo

4 ldquoArt 244 A busca pessoal independeraacute de mandado no caso de prisatildeo ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papeacuteis que constituam corpo de delito ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliarrdquo

5 NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo de Processo Penal comentado 13 ed Satildeo Paulo Forense 2014

6 ldquoArt 5ordm () XI ndash a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar sem con-sentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicialrdquo

7 MS 23595 MC rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJ de 1ordm-2-2000

8 ldquoEssa eacute a hipoacutetese vertente em que apoacutes informaccedilotildees obtidas por intermeacutedio de interceptaccedilatildeo de conversas telefocircnicas autorizada judicialmente logo apoacutes a efetivaccedilatildeo da busca e apreensatildeo domici-liar descobriu-se que no interior do veiacuteculo do recorrente estaria o caderno de anotaccedilotildees contendo dados de suma importacircncia para a elucidaccedilatildeo do crime de formaccedilatildeo de cartelrdquo (Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica no presente julgamento)

9 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica no presente julgamento

365iacutendice de teses

A duraccedilatildeo prolongada abusiva e irrazoaacutevel da prisatildeo cautelar de algueacutem

ofende de modo frontal o postulado da dignidade da pessoa humana

Esse postulado representa considerada a centralidade do princiacutepio da dignidade da pessoa humana significativo vetor interpretativo verdadeiro valor-fonte que confor-ma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso paiacutes e que traduz de modo expressivo um dos fundamentos em que se assenta entre noacutes a ordem re-publicana e democraacutetica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo

Cabe enfatizar que o excesso de prazo na duraccedilatildeo irrazoaacutevel da prisatildeo meramente processual de qualquer pessoa notadamente quando natildeo submetida a julgamento por efeito de obstaacuteculo criado pelo proacuteprio Estado revela-se conflitante com esse pa-radigma eacutetico-juriacutedico conformador da proacutepria organizaccedilatildeo institucional do Estado brasileiro Nada pode justificar a permanecircncia de uma pessoa na prisatildeo sem culpa formada quando configurado excesso irrazoaacutevel no tempo da segregaccedilatildeo cautelar

O excesso de prazo quando exclusivamente imputaacutevel ao aparelho judiciaacuterio ndash natildeo derivando portanto de qualquer fato procrastinatoacuterio causalmente atribuiacutevel ao reacuteu ndash traduz situaccedilatildeo anocircmala que compromete a efetividade do processo

Essa dilaccedilatildeo de prazo aleacutem de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadatildeo frustra prerrogativa baacutesica que assiste a qualquer pessoa o direito agrave resolu-ccedilatildeo do litiacutegio sem dilaccedilotildees indevidas (CF art 5ordm LXXVIII1) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional inclusive a de natildeo sofrer o arbiacutetrio da coerccedilatildeo estatal representado pela privaccedilatildeo cautelar da liberdade por tempo irrazoaacutevel ou superior agravequele estabelecido em lei2

A prisatildeo cautelar ndash qualquer que seja a modalidade que ostente no ordenamento positivo brasileiro (prisatildeo em flagrante prisatildeo temporaacuteria prisatildeo preventiva prisatildeo decorrente de sentenccedila de pronuacutencia ou prisatildeo motivada por condenaccedilatildeo penal re-corriacutevel) ndash natildeo pode transmudar-se mediante subversatildeo dos fins que a autorizam em meio de inconstitucional antecipaccedilatildeo executoacuteria da proacutepria sanccedilatildeo penal Afinal esse

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo cautelar

HC 142177rel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 12-9-2017Informativo STF 868

366iacutendice de teses

instrumento de tutela cautelar penal somente se legitima se se comprovar com apoio em base empiacuterica idocircnea a real necessidade da adoccedilatildeo pelo Estado dessa extraordi-naacuteria medida de constriccedilatildeo do status libertatis do indiciado ou do reacuteu3

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitaccedilatildeordquo

2 HC 83773 rel min Celso de Mello 2ordf T DJ de 6-11-2006

3 RTJ 201286-288 rel min Celso de Mello

367iacutendice de teses

A superveniecircncia da sentenccedila penal condenatoacuteria que manteacutem a prisatildeo pre-

ventiva com remissatildeo aos mesmos fundamentos do decreto originaacuterio natildeo

torna prejudicado o habeas corpus1

Embora a sentenccedila lanccedilada em desfavor do paciente possa ter ampliado o espectro de anaacutelise dos fundamentos da custoacutedia baseando-se em um exame mais robusto das provas ainda estaraacute valendo-se dos mesmos criteacuterios sopesados no decreto cau-telar primeiro razatildeo pela qual natildeo haacute cogitar da prejudicialidade da impetraccedilatildeo

Por mais graves e reprovaacuteveis que sejam as condutas supostamente perpetra-

das isso natildeo justifica por si soacute a decretaccedilatildeo da prisatildeo cautelar2

A prisatildeo cautelar eacute a ultima ratio a derradeira medida a que se deve recorrer Somen-te pode ser imposta se as outras medidas cautelares dela diversas natildeo se mostra-rem adequadas ou suficientes para a contenccedilatildeo do periculum libertatis (CPP art 282 sect 6ordm3)4 e 5

O risco concreto da reiteraccedilatildeo delitiva invocado para garantir a ordem puacutebli-

ca deve ser contemporacircneo ao decreto prisional

ldquoA proximidade temporal entre o conhecimento do fato criminoso e sua autoria e a decretaccedilatildeo da prisatildeo provisoacuteria encontra paralelo com a prisatildeo em flagrante que sugere atualidade (lsquoo que estaacute a acontecerrsquo) e evidecircncia (lsquoo que eacute claro manifestorsquo)6 Se a prisatildeo por lsquoordem puacuteblicarsquo eacute ditada por razotildees materiais quanto mais tempo se passar entre a data do fato (ou a data do conhecimento da autoria se distinta) e a decretaccedilatildeo da prisatildeo mais desnecessaacuteria ela se mostraraacute Em consequecircncia natildeo se pode admitir que a prisatildeo preventiva para garantia da ordem puacuteblica seja decretada

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo preventiva

HC 137728rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 31-10-2017Informativo STF 863

368iacutendice de teses

muito tempo apoacutes o fato ou o conhecimento da autoria salvo a superveniecircncia de fatos novos a ele relacionadosrdquo7 e 8

Ademais ldquoa referibilidade estaacute intrinsecamente ligada ao criteacuterio da atualidade os pressupostos que autorizam uma medida cautelar devem estar presentes natildeo apenas no momento de sua imposiccedilatildeo como tambeacutem necessitam se protrair no tempo para legitimar sua subsistecircnciardquo9

1 HC 122939 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 6-10-2014

2 HC 127186 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 3-8-2015

3 ldquoArt 282 As medidas cautelares previstas neste Tiacutetulo deveratildeo ser aplicadas observando-se a () sect 6ordm A prisatildeo preventiva seraacute determinada quando natildeo for cabiacutevel a sua substituiccedilatildeo por outra me-dida cautelar (art 319)rdquo

4 ldquoHeacutelio Tornaghi muito antes da introduccedilatildeo no sistema processual penal brasileiro das medidas cau-telares pessoais diversas da prisatildeo apontou dois princiacutepios a respeito da prisatildeo provisoacuteria lsquo1ordm) a pri-satildeo provisoacuteria eacute um mal e soacute deve existir quando sem ela houver mal maior 2ordm) a prisatildeo provisoacuteria embora maacute pode vir a ser necessaacuteria mas se eacute um mal necessaacuterio somente pode ser tolerada nos limites da necessidade e deve ser substituiacuteda por outras providecircncias que sejam menos maacutes sempre que possiacutevelrsquo (Curso de processo penal 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 1990 v 2 p 7 ()) Esse eminente ju-rista assinalava como orientaccedilatildeo nessa mateacuteria que o magistrado lsquodeve ser prudente e mesmo avaro na decretaccedilatildeorsquo (op cit p 10)rdquo (Trecho do voto do ministro Dias Toffoli no presente julgamento)

5 HC 101537 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 14-11-2011

6 TORNAGHI Heacutelio Curso de processo penal 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 1990 v 1 p 48

7 ZANOIDE DE MORAES Mauriacutecio Presunccedilatildeo de inocecircncia no processo penal brasileiro anaacutelise de sua estrutura normativa para a elaboraccedilatildeo legislativa e para a decisatildeo judicial Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 p 395 BADAROacute Gustavo Henrique Righi Ivahy Processo penal Rio de Janeiro Campus Elsevier 2012 p 734

8 CAPEZ Rodrigo A individualizaccedilatildeo da medida cautelar pessoal no processo penal brasileiro 357 p Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

9 Inq 3842 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 29-2-2016

369iacutendice de teses

Eacute incabiacutevel o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do

acordo de colaboraccedilatildeo premiada

Na Lei 128502013 natildeo se apresenta a revogaccedilatildeo da prisatildeo preventiva como be-nefiacutecio previsto pela realizaccedilatildeo de acordo de colaboraccedilatildeo premiada Tampouco haacute previsatildeo de que em decorrecircncia do descumprimento do acordo seja restabelecida prisatildeo preventiva anteriormente revogada1

Dessa forma na hipoacutetese de celebraccedilatildeo ou descumprimento de acordo de colabo-raccedilatildeo premiada faz-se necessaacuterio o exame do caso concreto ou seja da presenccedila de requisitos para a prisatildeo preventiva ndash Coacutedigo de Processo Penal (CPP) art 3122 ndash ou para a imposiccedilatildeo das medidas cautelares ndash CPP art 2823 cc art 3194

Natildeo existe a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares gravosas nem decreto de prisatildeo pre-ventiva automaacutetico Para tanto eacute necessaacuteria a indicaccedilatildeo de base empiacuterica idocircnea e superveniente agrave realidade ponderada no momento da anterior revogaccedilatildeo da medida prisional (CPP art 3165)

1 HC 131002 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 20-9-2016

2 ldquoArt 312 A prisatildeo preventiva poderaacute ser decretada como garantia da ordem puacuteblica da ordem eco-nocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime e indiacutecio suficiente de autoriardquo

3 ldquoArt 282 As medidas cautelares previstas neste Tiacutetulo deveratildeo ser aplicadas observando-se a I ndash ne-cessidade para aplicaccedilatildeo da lei penal para a investigaccedilatildeo ou a instruccedilatildeo criminal e nos casos expres-samente previstos para evitar a praacutetica de infraccedilotildees penais II ndash adequaccedilatildeo da medida agrave gravidade do crime circunstacircncias do fato e condiccedilotildees pessoais do indiciado ou acusado sect 1ordm As medidas cautelares poderatildeo ser aplicadas isolada ou cumulativamente sect 2ordm As medidas cautelares seratildeo decretadas pelo juiz de ofiacutecio ou a requerimento das partes ou quando no curso da investigaccedilatildeo criminal por representaccedilatildeo da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministeacuterio Puacutebli-co sect 3ordm Ressalvados os casos de urgecircncia ou de perigo de ineficaacutecia da medida o juiz ao receber o pedido de medida cautelar determinaraacute a intimaccedilatildeo da parte contraacuteria acompanhada de coacutepia

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo preventiva

HC 138207rel min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 28-6-2017Informativo STF 862

370iacutendice de teses

do requerimento e das peccedilas necessaacuterias permanecendo os autos em juiacutezo sect 4ordm No caso de des-cumprimento de qualquer das obrigaccedilotildees impostas o juiz de ofiacutecio ou mediante requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico de seu assistente ou do querelante poderaacute substituir a medida impor outra em cumulaccedilatildeo ou em uacuteltimo caso decretar a prisatildeo preventiva (art 312 paraacutegrafo uacutenico) sect 5ordm O juiz poderaacute revogar a medida cautelar ou substituiacute-la quando verificar a falta de motivo para que subsis-ta bem como voltar a decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem sect 6ordm A prisatildeo preventiva seraacute determinada quando natildeo for cabiacutevel a sua substituiccedilatildeo por outra medida cautelar (art 319)rdquo

4 ldquoArt 319 Satildeo medidas cautelares diversas da prisatildeo I ndash comparecimento perioacutedico em juiacutezo no prazo e nas condiccedilotildees fixadas pelo juiz para informar e justificar atividades II ndash proibiccedilatildeo de acesso ou frequecircncia a determinados lugares quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indi-ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infraccedilotildees III ndash proi-biccedilatildeo de manter contato com pessoa determinada quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante IV ndash proibiccedilatildeo de ausentar-se da Comarca quando a permanecircncia seja conveniente ou necessaacuteria para a investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo V ndash reco-lhimento domiciliar no periacuteodo noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residecircncia e trabalho fixos VI ndash suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica ou de atividade de nature-za econocircmica ou financeira quando houver justo receio de sua utilizaccedilatildeo para a praacutetica de infraccedilotildees penais VII ndash internaccedilatildeo provisoacuteria do acusado nas hipoacuteteses de crimes praticados com violecircncia ou grave ameaccedila quando os peritos concluiacuterem ser inimputaacutevel ou semi-imputaacutevel (art 26 do Coacutedigo Penal) e houver risco de reiteraccedilatildeo VIII ndash fianccedila nas infraccedilotildees que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo evitar a obstruccedilatildeo do seu andamento ou em caso de resistecircncia injustificada agrave ordem judicial IX ndash monitoraccedilatildeo eletrocircnicardquo

5 ldquoArt 316 O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no correr do processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquemrdquo

371iacutendice de teses

Eacute constitucional a citaccedilatildeo por hora certa prevista no art 362 do Coacutedigo de

Processo Penal1

O art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal2 e o art 8ordm item 2 b do Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica3 por natildeo trazerem conformaccedilatildeo pormenorizada da garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio conferem ao legislador a tarefa de atribuir-lhes as delimi-taccedilotildees normativas com ampla margem de discricionariedade

No exerciacutecio desta atividade de densificaccedilatildeo de tais princiacutepios o legislador por meio da Lei 117192008 incluiu entre as modalidades de citaccedilatildeo no acircmbito do pro-cesso penal a citaccedilatildeo por hora certa Nada haacute nessa regulamentaccedilatildeo legislativa de contradiccedilatildeo com a Carta Constitucional ou com o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica Justamente buscando conferir eficaacutecia aos preceitos constitucionais e supralegais acerca do contraditoacuterio da ampla defesa do devido processo legal e da razoaacutevel du-raccedilatildeo do processo eacute que houve a implementaccedilatildeo legislativa da citaccedilatildeo por hora certa para que natildeo fosse realizado o ato citatoacuterio pela via do edital

Aliado a isso a aludida reforma legislativa pretendeu obstar que o acusado utili-zando-se de meios escusos para natildeo ser encontrado mesmo possuindo endereccedilo cer-to pudesse impedir a continuidade da accedilatildeo penal inviabilizando o prosseguimento da proacutepria prestaccedilatildeo jurisdicional num evidente exerciacutecio abusivo do seu direito de defesa Nessa medida natildeo haveria de se tolerar atuaccedilatildeo disfuncional dos acusados no exerciacutecio dos seus direitos constitucionalmente assegurados por configurar o abuso do direito a ser rechaccedilado pela ordem juriacutedica4

1 ldquoArt 362 Verificando que o reacuteu se oculta para natildeo ser citado o oficial de justiccedila certificaraacute a ocorrecircn-cia e procederaacute agrave citaccedilatildeo com hora certa na forma estabelecida nos arts 227 a 229 da Lei n 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de Processo Civil Paraacutegrafo uacutenico Completada a citaccedilatildeo com hora certa se o acusado natildeo comparecer ser-lhe-aacute nomeado defensor dativordquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Citaccedilotildees ‒ Repercussatildeo Geral

RE 635145RG ‒ Tema 613red p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 13-9-2017Informativo STF 833

372iacutendice de teses

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

3 ldquoArt 8ordm () 2 Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se comprove legalmente sua culpa Durante o processo toda pessoa tem direito em plena igualdade agraves seguintes garantias miacutenimas () b) comunicaccedilatildeo preacutevia e pormenorizada ao acusado da acusaccedilatildeo formuladardquo

4 HC 111226 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 3-10-2012 e HC 105478 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 23-3-2011

373iacutendice de teses

A antecipaccedilatildeo da prova testemunhal configura medida necessaacuteria quando

considerando-se a gravidade do crime praticado houver a possibilidade con-

creta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrecircncia do

decurso do tempo

Nessas circunstacircncias como nas hipoacuteteses em que haacute a possibilidade de ldquonatildeo serem mais localizadas as testemunhasrdquo e porque uma das testemunhas eacute ldquopolicial mili-tarrdquo a antecipaccedilatildeo da prova testemunhal resguarda a produccedilatildeo probatoacuteria e em uacuteltima anaacutelise o resultado praacutetico do processo penal

Sobre esse aspecto a inserccedilatildeo do inciso LXXVIII no art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal1 veio a conferir mais visibilidade ao direito agrave razoaacutevel duraccedilatildeo do processo que passou a ser um direito fundamental positivado e trouxe aos estudiosos (doutrinadores) e tambeacutem aos operadores do direito ( juiacutezes promotores advogados defensores puacute-blicos etc) a sinalizaccedilatildeo da necessidade de buscar a efetividade desse mandamento constitucional Em outras palavras a duraccedilatildeo razoaacutevel do processo penal eacute um direi-to puacuteblico subjetivo de todo investigadoprocessado e precisa realmente efetivar-se obtendo-se dos agentes do Poder Judiciaacuterio sua real aplicaccedilatildeo

No acircmbito penal a demora da prestaccedilatildeo jurisdicional assume contornos bem es-peciacuteficos O reacuteu preso ou natildeo tem o direito de obter uma resposta estatal o Estado precisa ofertar a prestaccedilatildeo jurisdicional pois o processo natildeo pode durar para sempre A demora na prestaccedilatildeo jurisdicional afeta o jurisdicionado mesmo que natildeo exista prisatildeo cautelar decretada Afinal uma das miseacuterias do processo penal eacute a puniccedilatildeo decorrente do simples tracircmite processual

Nesse sentido aleacutem de acarretar seacuterias consequecircncias ao investigadoprocessado a duraccedilatildeo irrazoaacutevel do processo penal pode ocasionar o enfraquecimento da lem-branccedila dos fatos pelas testemunhas o desaparecimento dos elementos de prova o esquecimento social e a impossibilidade de periacutecia A construccedilatildeo de uma Justiccedila mais

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Citaccedilotildees

HC 135386red p o ac min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 851

374iacutendice de teses

ceacutelere depende do emprego de medidas que preservem os atos praticados Nesse sentido eacute fundamental a coibiccedilatildeo de repeticcedilotildees desnecessaacuterias2

Por fim com relaccedilatildeo agraves garantias inerentes agrave defesa a antecipaccedilatildeo da oitiva das tes-temunhas natildeo revela prejuiacutezo Quando o processo retomar o curso caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do reacuteu basta que se proceda agrave nova inquiriccedilatildeo

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitaccedilatildeordquo

2 ldquoEm artigo para uma coletacircnea de homenagem publicada haacute mais de vinte anos Barbosa Moreira jaacute lamentava a excessiva demora dos processos afirmando que o fenocircmeno tem causas tatildeo complexas e mal individuadas nos respectivos pesos pela carecircncia de estatiacutesticas judiciaacuterias que lsquoseria ambiccedilatildeo vatilde querer encontrar no puro receituaacuterio processual remeacutedio definitivo para a enfermidadersquo E arrolou algumas delas lsquofalhas da organizaccedilatildeo judiciaacuteria deficiecircncia na formaccedilatildeo profissional de juiacutezes e advo-gados precariedade das condiccedilotildees sob as quais se realiza a atividade judicial na maior parte do paiacutes uso arraigado de meacutetodos de trabalho obsoletos e irracionais escasso aproveitamento de recursos tecnoloacutegicosrsquo (DOTTI Reneacute Ariel A prescriccedilatildeo pela pena presumida Rio de Janeiro Revista Forense v 385 maiojun 2006)rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

375iacutendice de teses

Eacute vaacutelida apenas a intimaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo (DPU) ainda que

o recurso especial tenha sido interposto pela Defensoria Puacuteblica estadual

Em caso de recurso especial interposto por Defensoria Puacuteblica estadual que natildeo tenha representaccedilatildeo no Distrito Federal e seja longiacutenqua a exemplo do Estado do Amapaacute eacute vaacutelida a intimaccedilatildeo da DPU jaacute organizada e no desempenho regular de suas atividades perante os tribunais superiores1

A DPU foi estruturada sob o paacutelio dos princiacutepios da unidade e da indivisibilida-de para dar suporte agraves Defensorias Puacuteblicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-membros longiacutenquos que natildeo podem exercer o muacutenus a cada recurso ende-reccedilado aos tribunais superiores

1 HC 82118 rel min Ilmar Galvatildeo 1ordf T DJ de 29-11-2002 e HC 126081 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 16-10-2015

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Intimaccedilotildees

HC 118294red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 20-4-2017Informativo STF 856

PROCESSO EM ESPEacuteCIEDIREITO PROCESSUAL PENAL

377iacutendice de teses

A retirada dos autos de prova considerada iliacutecita natildeo exclui necessariamen-

te as demais peccedilas processuais que a ela faccedilam referecircncia

A denuacutencia a pronuacutencia o acoacuterdatildeo e as demais peccedilas judiciais natildeo satildeo provas do crime Por isso em princiacutepio estatildeo fora da regra de exclusatildeo das provas obtidas por meios iliacutecitos ndash art 5ordm LVI da Constituiccedilatildeo Federal1 A legislaccedilatildeo ao tratar das pro-vas iliacutecitas e derivadas tampouco determina a exclusatildeo de peccedilas processuais que a elas faccedilam referecircncia ndash art 157 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)2

As limitaccedilotildees ao debate em plenaacuterio satildeo mencionadas nos arts 478 e 479 do CPP3 e satildeo pontuais Dessa forma natildeo se pode impedir que os jurados tenham conheci-mento da proacutepria realizaccedilatildeo da prova iliacutecita e dos debates processuais que levaram a sua exclusatildeo A exclusatildeo de prova iliacutecita natildeo eacute contemplada nas normas de restriccedilatildeo ao debate que satildeo de discutiacutevel constitucionalidade e que vecircm sendo interpretadas restritivamente pelo Supremo Tribunal Federal4 e 5

O envelopamento como alternativa agrave desconstituiccedilatildeo da pronuacutencia natildeo eacute viaacutevel Ofende o direito do acusado e a proacutepria soberania dos veredictos assegurada agrave insti-tuiccedilatildeo do juacuteri6

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVI ndash satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

2 ldquoArt 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim enten-didas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legaisrdquo

3 ldquoArt 478 Durante os debates as partes natildeo poderatildeo sob pena de nulidade fazer referecircncias I ndash agrave decisatildeo de pronuacutencia agraves decisotildees posteriores que julgaram admissiacutevel a acusaccedilatildeo ou agrave determina-ccedilatildeo do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusa-do II ndash ao silecircncio do acusado ou agrave ausecircncia de interrogatoacuterio por falta de requerimento em seu prejuiacutezo Art 479 Durante o julgamento natildeo seraacute permitida a leitura de documento ou a exibiccedilatildeo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em espeacutecie

Ȥ Processo comum Ȥ Procedimento relativo aos processos da competecircncia do tribunal do juacuteri

HC 137368rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 849

378iacutendice de teses

de objeto que natildeo tiver sido juntado aos autos com a antecedecircncia miacutenima de 3 (trecircs) dias uacuteteis dando-se ciecircncia agrave outra parte Paraacutegrafo uacutenico Compreende-se na proibiccedilatildeo deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito bem como a exibiccedilatildeo de viacutedeos gravaccedilotildees fotografias laudos quadros croqui ou qualquer outro meio assemelhado cujo conteuacutedo versar sobre a mateacuteria de fato submetida agrave apreciaccedilatildeo e julgamento dos juradosrdquo

4 ldquoA proacutepria constitucionalidade das normas de restriccedilatildeo ao debate tem sido questionada com bons argumentos Nucci por exemplo defende que a censura de referecircncias a documentos dos autos beira agrave inconstitucionalidade (NUCCI Guilherme de Souza Tribunal do juacuteri 5 ed Rio de Janeiro Forense 2014 p 237)rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

5 RHC 123009 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 2-12-2014 e RHC 120598 rel min Gilmar Men-des 2ordf T DJE de 3-8-2015

6 RHC 122909 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 12-12-2014

NULIDADES E RECURSOS EM GERALDIREITO PROCESSUAL PENAL

380iacutendice de teses

Por mais caras que as prerrogativas da defesa e do advogado sejam ao sistema

de garantias de sua violaccedilatildeo natildeo decorre a automaacutetica absolviccedilatildeo do imputado

A violaccedilatildeo judicial das prerrogativas da defesa e dos advogados cria consequecircncias de outras trecircs ordens que devem ser criteriosamente sanadas para natildeo impedir o curso do julgamento

Em primeiro lugar eacute fundamento para a cassaccedilatildeo ou invalidaccedilatildeo do ato judicial No caso de interceptaccedilatildeo de telefone de advogado de reacuteu em accedilatildeo penal a destruiccedilatildeo da prova determinada em primeira instacircncia eacute suficiente e natildeo haacute nulidade a ser de-cretada visto que o ato jaacute foi tornado ineficaz

Em segundo lugar a relaccedilatildeo com o ato atentatoacuterio eacute fundamento para a invalida-ccedilatildeo dos atos processuais subsequentes a ele relacionados O regime de invalidaccedilatildeo de atos processuais subsequentes eacute regrado pela legislaccedilatildeo Conforme o art 573 sect 1ordm do Coacutedigo de Processo Penal1 a nulidade de um ato atinge os atos que ldquodele direta-mente dependamrdquo e os que dele ldquosejam consequecircnciardquo

Os atos subsequentes natildeo satildeo atos que violam as prerrogativas da defesa ou dos advogados mas que dependem e satildeo consequecircncia do ato violador Logo quanto a eles as garantias defensivas e advocatiacutecias natildeo estatildeo em jogo Sendo assim a impor-tacircncia dessas garantias natildeo dispensa a demonstraccedilatildeo do nexo entre o ato violador e o ato contaminado2 e 3

Ademais natildeo se vislumbra invalidaccedilatildeo dos atos subsequentes por suposta intimi-daccedilatildeo da defesa ante o uso abundante dos recursos e os meios de impugnaccedilatildeo ar-rostando o que supostamente poderia ser violaccedilatildeo a prerrogativas advocatiacutecias com exceccedilatildeo de suspeiccedilatildeo e representaccedilotildees buscando a responsabilizaccedilatildeo do julgador no Conselho Nacional de Justiccedila

Em terceiro lugar se a violaccedilatildeo apontar para a parcialidade do julgador haveraacute fundamento para a recusa do magistrado Isso natildeo ocorre se o contexto leva a crer que a interceptaccedilatildeo decorreu de suspeita infundada de participaccedilatildeo em atividade cri-

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Nulidades Ȥ Nulidades relativas

HC 129706rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 832

381iacutendice de teses

minosa pelo titular do terminal telefocircnico sem que a qualidade de advogado tenha sido percebida

O art 2ordm da Lei 92961996 natildeo exige que sejam quebrados os dados cadastrais

de todos os terminais interceptados previamente agrave interceptaccedilatildeo

O que a Lei 92961996 exige eacute a identificaccedilatildeo o mais precisa possiacutevel dos investiga-dos mas admite sua omissatildeo em caso de impossibilidade manifesta e justificada

1 ldquoArt 573 Os atos cuja nulidade natildeo tiver sido sanada na forma dos artigos anteriores seratildeo re-novados ou retificados sect 1ordm A nulidade de um ato uma vez declarada causaraacute a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequecircnciardquo

2 HC 95518 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 19-3-2014

3 ldquoEm muitos casos os atos processuais subsequentes teratildeo evidente nexo com a violaccedilatildeo de garan-tias No exemplo da prisatildeo do advogado para impedir a sustentaccedilatildeo oral o nexo entre o julgamento contraacuterio aos interesses da defesa e a prisatildeo do causiacutedico seria intuiacutedo Em outros casos no entanto a ligaccedilatildeo natildeo seraacute tatildeo patente dependendo de demonstraccedilatildeordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

382iacutendice de teses

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para discutir a suspensatildeo de processo-

-crime sobre a praacutetica da conduta prevista no art 28 da Lei 1134320061 (por-

te de drogas para consumo pessoal)

Natildeo existe previsatildeo de pena privativa de liberdade para essa conduta Isso evidencia a impossibilidade de qualquer ameaccedila agrave liberdade de locomoccedilatildeo que enseje a impe-traccedilatildeo do writ2

O habeas corpus natildeo eacute espeacutecie de recurso apesar de regulamentado no capiacutetulo a eles destinado no Coacutedigo de Processo Penal Eacute uma accedilatildeo constitucional de procedi-mento especial que visa evitar ou cessar violecircncia ou ameaccedila na liberdade de locomo-ccedilatildeo por ilegalidade e abuso de poder

1 ldquoArt 28 Quem adquirir guardar tiver em depoacutesito transportar ou trouxer consigo para consumo pessoal drogas sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar seraacute submetido agraves seguintes penas I ndash advertecircncia sobre os efeitos das drogas II ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade III ndash medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativordquo

2 HC 131395 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 21-11-2017

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Habeas corpus e seu processo

HC 127834red p o ac min Alexandre de Moraes1ordf TurmaDJE de 19-12-2017Informativo STF 887

383iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Habeas corpus e seu processo

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para buscar-se o reconhecimento do

direito a visitas iacutentimas em estabelecimento prisional

Nesse caso natildeo estaacute em jogo a liberdade de ir e vir do cidadatildeo

HC 138286rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 18-12-2017Informativo STF 887

384iacutendice de teses

A ordem juriacutedica natildeo contempla a interposiccedilatildeo de recurso via e-mail

Por natildeo se poder potencializar a forma pela forma a legislaccedilatildeo instrumental visa acima de tudo realizar o implemento da almejada justiccedila Todavia paracircmetros voltados agrave seguranccedila juriacutedica devem ser considerados

No campo da informaacutetica da formalizaccedilatildeo de atos por meio de recursos eletrocirc-nicos devem-se levar em conta presente o disposto no art 1ordm da Lei 980019991 certos requisitos Dessa forma os atos emitidos pelos tribunais consoante o preceito da mencionada lei a prever que ldquoeacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que dependam de peticcedilatildeo escritardquo natildeo contemplam a adoccedilatildeo do e-mail quanto mais sem a apresentaccedilatildeo no prazo legal do original

O fac-siacutemile ou o envio mediante outro meacutetodo pressupotildee a observacircncia de en-dereccedilo que confira certeza quanto ao recebimento da mensagem A Lei 98001999 excepcionando a interposiccedilatildeo direta de recurso permitiu a utilizaccedilatildeo da transmissatildeo de dados e imagens via fac-siacutemile Mesmo assim tem-se que empregado tal meio haacute de apresentar-se o original Ademais maior inviabilidade verifica-se quando o re-curso for protocolado mediante e-mail sem respaldo em qualquer norma legal e sem haver sido apresentado posteriormente em peccedila fiacutesica

1 ldquoArt 1ordm Eacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens tipo fac--siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que dependam de peticcedilatildeo escritardquo

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Disposiccedilotildees gerais

HC 121225rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 29-3-2017Informativo STF 857

EXECUCcedilAtildeO PENALDIREITO PROCESSUAL PENAL

386iacutendice de teses

O limite de trinta anos enunciado no art 75 do Coacutedigo Penal (CP) natildeo eacute

considerado para o caacutelculo de benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (Verbete 715 da

Suacutemula do Supremo Tribunal Federal1)

O ldquoart 75 do CP2 eacute o consectaacuterio loacutegico da expressa vedaccedilatildeo constitucional con-cernente agraves penas de caraacuteter perpeacutetuo (Constituiccedilatildeo Federal art 5ordm XLVII b3) Le-vando-se em conta a necessidade de ressocializaccedilatildeo do apenado natildeo seria coerente de fato permitir-se a subsistecircncia no ordenamento juriacutedico brasileiro de penas de caraacuteter perpeacutetuo Por isso a expressa disposiccedilatildeo legal no sentido de que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade natildeo pode ser superior a trinta anos

Todavia esse limite apenas se reporta ao tempo maacuteximo de efetivo cumprimento da pena natildeo podendo servir de cotejo para a afericcedilatildeo de requisitos temporais neces-saacuterios agrave obtenccedilatildeo de outros benefiacutecios legaisrdquo4 e 5

1 ldquoA pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento determinado pelo art 75 do Coacutedigo Penal natildeo eacute considerada para a concessatildeo de outros benefiacutecios como o livramento condicional ou regime mais favoraacutevel de execuccedilatildeordquo

2 ldquoArt 75 O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade natildeo pode ser superior a 30 (trinta) anos sect 1ordm Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos devem elas ser unificadas para atender ao limite maacuteximo deste artigordquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave segu-ranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes XLVII ndash natildeo haveraacute penas () b) de caraacuteter perpeacutetuordquo

4 HC 98450 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 20-8-2010

5 HC 69423 rel min Carlos Velloso P DJ de 17-9-1993 e HC 106909 rel min Ayres Britto 2ordf T DJE de 4-10-2011

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Limite das penas Ȥ Benefiacutecios da execuccedilatildeo penal

HC 100612red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

387iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Trabalho Ȥ Trabalho interno

Excepcionalmente pode ser considerado para fins de remiccedilatildeo da pena o

total de horas trabalhadas em jornada diaacuteria inferior a seis horas quando

houver determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio

Apesar de a Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) no art 331 prever que a jornada diaacuteria natildeo deve ser inferior a seis nem superior a oito horas para fins de remiccedilatildeo de pena2 em casos dessa natureza deve-se observar os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila Isso torna indeclinaacutevel o dever estatal de honrar o compromisso de remir a pena do sentenciado legiacutetima contraprestaccedilatildeo ao trabalho prestado por ele na forma estipulada pela administraccedilatildeo penitenciaacuteria3 sob pena de desestiacutemulo ao trabalho e agrave ressocializaccedilatildeo

Assim excepcionalmente pode ser considerada jornada diaacuteria inferior a seis horas nos casos em que houver determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio ou seja em que a jornada de trabalho natildeo derive de ato voluntaacuterio nem de indisciplina ou insub-missatildeo do preso Dessa forma admite-se que para computar os dias de remiccedilatildeo as horas trabalhadas sejam somadas e divididas por seis Feita a conversatildeo matemaacutetica do caacutelculo da remiccedilatildeo age-se dentro dos limites previstos na LEP

1 Lei 72101984 ldquoArt 33 A jornada normal de trabalho natildeo seraacute inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas com descanso nos domingos e feriadosrdquo

2 ldquoArt 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderaacute remir por trabalho ou por estudo parte do tempo de execuccedilatildeo da pena sect 1ordm A contagem de tempo referida no caput seraacute feita agrave razatildeo de () II ndash 1 (um) dia de pena a cada 3 (trecircs) dias de trabalhordquo

3 ACO 79 rel min Cezar Peluso P DJE de 28-5-2012

RHC 136509rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 27-4-2017Informativo STF 860

388iacutendice de teses

O marco inicial para fins de obtenccedilatildeo de progressatildeo de regime e demais be-

nefiacutecios executoacuterios eacute a data da custoacutedia cautelar1 Essa data deve necessa-

riamente ser computada desde que natildeo ocorra condenaccedilatildeo posterior apta a

configurar falta grave

Diante da execuccedilatildeo de uma uacutenica condenaccedilatildeo o legislador natildeo impocircs qualquer re-quisito adicional aleacutem dos estabelecidos no art 112 da Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP)2

Assim a sentenccedila penal condenatoacuteria natildeo interrompe o lapso temporal para a ob-tenccedilatildeo de benefiacutecios em sede de execuccedilatildeo penal de um uacutenico crime

A soluccedilatildeo juridicamente adequada e que se coaduna com o sistema progressivo de cumprimento de pena previsto na LEP eacute a de que a sentenccedila condenatoacuteria funciona como paracircmetro acerca do quantum de pena que deveraacute ter sido cumprido para ob-tenccedilatildeo de benefiacutecios relacionados agrave progressatildeo de regime

1 Enunciado 716 da Suacutemula do STF ldquoAdmite-se a progressatildeo de regime de cumprimento de pena ou a aplicaccedilatildeo imediata de regime menos severo nela determinada antes do tracircnsito em julgado da sentenccedila condenatoacuteriardquo

2 ldquoArt 112 A pena privativa de liberdade seraacute executada em forma progressiva com a transferecircncia para regime menos rigoroso a ser determinada pelo juiz quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carceraacuterio comprovado pelo diretor do estabelecimento respeitadas as normas que vedam a progressatildeo sect 1ordm A decisatildeo seraacute sempre motivada e precedida de manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico e do defensor sect 2ordm Idecircntico procedimento seraacute adotado na concessatildeo de livramento condicional indulto e comutaccedilatildeo de penas respeitados os prazos previstos nas normas vigentesrdquo

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie Ȥ Penas privativas de liberdade

RHC 142463rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 3-10-2017Informativo STF 877

389iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie Ȥ Penas privativas de liberdade

O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada

ao sentenciado impede a progressatildeo no regime prisional1

A modificaccedilatildeo legislativa realizada pela Lei 92681996 no art 51 do Coacutedigo Penal (CP)2 referindo-se agrave multa como ldquodiacutevida de valorrdquo natildeo retirou desta o caraacuteter de pena de sanccedilatildeo criminal e sequer poderia cogitar em fazecirc-lo O art 5ordm XLVI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 ao cuidar da individualizaccedilatildeo da pena faz menccedilatildeo expressa agrave multa ao lado da privaccedilatildeo da liberdade e de outras modalidades de sanccedilatildeo penal

Por sua vez a anaacutelise dos requisitos necessaacuterios para a progressatildeo de regime natildeo se restringe ao que eacute referido no art 112 da Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP)4 tendo em vista que outros elementos podem e devem ser considerados pelo julgador na tarefa de individualizaccedilatildeo da resposta punitiva do Estado especialmente na fase executoacuteria Afinal tal como previsto na exposiccedilatildeo de motivos agrave LEP ldquoa progressatildeo deve ser uma conquista do condenado pelo seu meacuteritordquo ldquocompreendido esse vocaacutebulo como apti-datildeo capacidade e merecimento demonstrados no curso da execuccedilatildeordquo

Nesse sentido o julgador atento agraves finalidades da pena e de modo fundamentado estaacute autorizado a lanccedilar matildeo de outros requisitos natildeo necessariamente enunciados no art 112 da LEP mas extraiacutedos do ordenamento juriacutedico para avaliar a possibilida-de de progressatildeo no regime prisional tendo como objetivo sobretudo o exame do merecimento do sentenciado5 e 6

Circunstacircncias brasileiras ndash como as limitaccedilotildees orccedilamentaacuterias a superlotaccedilatildeo dos presiacutedios e a existecircncia de centenas de milhares de mandados de prisatildeo agrave espera de cumprimento ndash fazem com que o sistema de cumprimento de penas e de progressatildeo de regime entre noacutes seja menos severo do que o de outros paiacuteses Menos do que uma opccedilatildeo filosoacutefica ou uma postura de leniecircncia trata-se de uma escolha poliacutetica acerca da alocaccedilatildeo de recursos feita pelas instacircncias representativas da sociedade e materializada na lei

EP 8 ProgReg-AgRrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 20-9-2017Informativo STF 832

390iacutendice de teses

Todavia especialmente em mateacuteria de crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica ndash como tambeacutem nos crimes de colarinho branco em geral ndash a parte verdadeiramente severa da pena a ser executada com rigor haacute de ser a de natureza pecuniaacuteria Esta sim tem o poder de funcionar como real fator de prevenccedilatildeo capaz de inibir a praacutetica de crimes que envolvam apropriaccedilatildeo de recursos puacuteblicos

Assim o condenado tem o dever juriacutedico ndash e natildeo a faculdade ndash de pagar integral-mente o valor da multa Pensar de modo diferente seria o mesmo que ignorar moda-lidade autocircnoma de resposta penal expressamente concebida pela Constituiccedilatildeo nos termos do art 5ordm XLVI c Essa espeacutecie de sanccedilatildeo penal exige cumprimento espontacirc-neo por parte do apenado independentemente da instauraccedilatildeo de execuccedilatildeo judicial

Eacute o que tambeacutem decorre do art 50 do CP7 ao estabelecer que ldquoa multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentenccedilardquo Com efei-to o natildeo recolhimento da multa por condenado que tenha condiccedilotildees econocircmicas de pagaacute-la sem sacrifiacutecio dos recursos indispensaacuteveis ao sustento proacuteprio e de sua famiacutelia constitui deliberado descumprimento de decisatildeo judicial e deve impedir a progressatildeo de regime Aleacutem disso admitir-se o natildeo pagamento da multa configura-ria tratamento privilegiado em relaccedilatildeo ao sentenciado que espontaneamente paga a sanccedilatildeo pecuniaacuteria

Natildeo bastasse essa incongruecircncia loacutegica a passagem para o regime aberto exige do sentenciado ldquoautodisciplina e senso de responsabilidaderdquo (LEP art 114 II8) o que pressupotildee o cumprimento das decisotildees judiciais que se lhe aplicam Tal interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelo que dispotildee o art 36 sect 2ordm do CP9 e o art 118 sect 1ordm da LEP10 que esta-belecem a regressatildeo de regime para o condenado que ldquonatildeo pagar podendo a multa cumulativamente impostardquo O deliberado inadimplemento da pena de multa sequer poderia ser comparaacutevel agrave vedada prisatildeo por diacutevida nos moldes do art 5ordm LXVII da CF11 configurando apenas oacutebice agrave progressatildeo no regime prisional

A exceccedilatildeo admissiacutevel ao dever de pagar multa eacute a impossibilidade econocircmica ab-soluta de fazecirc-lo ou seja eacute possiacutevel a progressatildeo se o sentenciado veraz e compro-vadamente demonstrar sua absoluta insolvabilidade que o impossibilite ateacute mesmo de efetuar o pagamento parcelado da quantia devida como autorizado pelo art 50 do CP

A absoluta incapacidade econocircmica do apenado portanto deve ser devidamen-te demonstrada nos autos inclusive porque a decisatildeo condenatoacuteria fixa o quantum da sanccedilatildeo pecuniaacuteria especialmente em funccedilatildeo da situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu (CP

391iacutendice de teses

art 6012) como deve ser A relativizaccedilatildeo dessa resposta penal depende de prova ro-busta por parte do sentenciado

1 EP 12 AgR rel min Roberto Barroso P DJE de 11-6-2015

2 ldquoArt 51 Transitada em julgado a sentenccedila condenatoacuteria a multa seraacute considerada diacutevida de valor aplicando-se-lhes as normas da legislaccedilatildeo relativa agrave diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica inclusive no que concerne agraves causas interruptivas e suspensivas da prescriccedilatildeordquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVI ndash a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as seguintes a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade b) perda de bens c) multa d) prestaccedilatildeo social alternativa e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitosrdquo

4 ldquoArt 112 A pena privativa de liberdade seraacute executada em forma progressiva com a transferecircncia para regime menos rigoroso a ser determinada pelo juiz quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carceraacuterio comprovado pelo diretor do estabelecimento respeitadas as normas que vedam a progressatildeo sect 1ordm A decisatildeo seraacute sempre motivada e precedida de manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico e do defensor sect 2ordm Idecircntico procedimento seraacute adotado na concessatildeo de livramento condicional indulto e comutaccedilatildeo de penas respeitados os prazos previstos nas normas vigentesrdquo

5 EP 22 rel min Roberto Barroso P DJE de 7-4-2016 e RHC 116033 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 22-4-2013

6 Enunciado 26 da Suacutemula Vinculante ldquoPara efeito de progressatildeo de regime no cumprimento de pena por crime hediondo ou equiparado o juiacutezo da execuccedilatildeo observaraacute a inconstitucionalidade do art 2ordm da Lei n 8072 de 25 de julho de 1990 sem prejuiacutezo de avaliar se o condenado preenche ou natildeo os requisitos objetivos e subjetivos do benefiacutecio podendo determinar para tal fim de modo fundamentado a realizaccedilatildeo de exame criminoloacutegicordquo

7 ldquoArt 50 A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentenccedila A requerimento do condenado e conforme as circunstacircncias o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais sect 1ordm A cobranccedila da multa pode efetuar-se mediante desconto no ven-cimento ou salaacuterio do condenado quando a) aplicada isoladamente b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos c) concedida a suspensatildeo condicional da pena sect 2ordm O desconto natildeo deve incidir sobre os recursos indispensaacuteveis ao sustento do condenado e de sua famiacuteliardquo

8 ldquoArt 114 Somente poderaacute ingressar no regime aberto o condenado que I ndash estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazecirc-lo imediatamente II ndash apresentar pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido fundados indiacutecios de que iraacute ajustar-se com auto-disciplina e senso de responsabilidade ao novo regime Paraacutegrafo uacutenico Poderatildeo ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no art 117 desta Leirdquo

9 ldquoArt 36 O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condena-do sect 1ordm O condenado deveraacute fora do estabelecimento e sem vigilacircncia trabalhar frequentar curso

392iacutendice de teses

ou exercer outra atividade autorizada permanecendo recolhido durante o periacuteodo noturno e nos dias de folga sect 2ordm O condenado seraacute transferido do regime aberto se praticar fato definido como crime doloso se frustrar os fins da execuccedilatildeo ou se podendo natildeo pagar a multa cumulativamente aplicadardquo

10 ldquoArt 118 A execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade ficaraacute sujeita agrave forma regressiva com a trans-ferecircncia para qualquer dos regimes mais rigorosos quando o condenado I ndash praticar fato definido como crime doloso ou falta grave II ndash sofrer condenaccedilatildeo por crime anterior cuja pena somada ao restante da pena em execuccedilatildeo torne incabiacutevel o regime (art 111) sect 1ordm O condenado seraacute trans-ferido do regime aberto se aleacutem das hipoacuteteses referidas nos incisos anteriores frustrar os fins da execuccedilatildeo ou natildeo pagar podendo a multa cumulativamente imposta sect 2ordm Nas hipoacuteteses do inciso I e do paraacutegrafo anterior deveraacute ser ouvido previamente o condenadordquo

11 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVII ndash natildeo haveraacute penas a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX b) de caraacuteter perpeacutetuo c) de traba-lhos forccedilados d) de banimento e) crueacuteisrdquo

12 ldquoArt 60 Na fixaccedilatildeo da pena de multa o juiz deve atender principalmente agrave situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu sect 1ordm A multa pode ser aumentada ateacute o triplo se o juiz considerar que em virtude da situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu eacute ineficaz embora aplicada no maacuteximo sect 2ordm A pena privativa de liberdade apli-cada natildeo superior a 6 (seis) meses pode ser substituiacuteda pela de multa observados os criteacuterios dos incisos II e III do art 44 deste Coacutedigordquo

393iacutendice de teses

O indulto da pena privativa de liberdade natildeo alcanccedila a pena de multa que tenha

sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado

A automaacutetica concessatildeo do indulto da multa a condenado que tenha condiccedilotildees eco-nocircmicas de quitaacute-la sem sacrifiacutecio dos recursos indispensaacuteveis ao sustento proacuteprio ou de sua famiacutelia constituiria em uacuteltima anaacutelise injustificaacutevel descumprimento de decisatildeo judicial e indesejaacutevel tratamento privilegiado em relaccedilatildeo agravequeles sentencia-dos que tempestivamente pagaram a sanccedilatildeo pecuniaacuteria

Sendo o pagamento parcelado da multa e a permanecircncia do sentenciado no regi-me aberto requisitos indispensaacuteveis para a obtenccedilatildeo do benefiacutecio do indulto (Decreto 88302014 art 1ordm XV1) natildeo haacute como exonerar o sentenciado de continuar a hon-rar o acordo espontaneamente assumido ldquoEntender de modo diverso desprestigia o princiacutepio da boa-feacute objetiva na medida em que beneficiaria indevidamente quem adota comportamento contraditoacuteriordquo2

Assim a liberalidade contida no paraacutegrafo uacutenico do art 7ordm3 do Decreto 83802014 somente deve ser admitida na hipoacutetese em que estiver comprovada a extrema carecircn-cia econocircmica do condenado que sequer tenha tido condiccedilotildees de firmar compro-misso de parcelamento do deacutebito Essa interpretaccedilatildeo mais restritiva leva em conside-raccedilatildeo (i) o fato de que a pena de multa embora convertida em diacutevida de valor natildeo perdeu seu caraacuteter de sanccedilatildeo criminal e o seu injustificado inadimplemento interfere no gozo dos benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (como na progressatildeo de regime) e (ii) o caraacuteter essencialmente igualitaacuterio que permeia a concessatildeo pelo presidente da Repuacute-blica da clemecircncia estatal

1 ldquoArt 1ordm Concede-se o indulto coletivo agraves pessoas nacionais e estrangeiras () XV ndash condenadas a pena privativa de liberdade que estejam em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto cujas penas remanescentes em 25 de dezembro de 2014 natildeo sejam superiores a oito anos

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Incidentes de execuccedilatildeo Ȥ Anistia e indulto

EP 11 IndCom-AgRrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 18-12-2017Informativo STF 884

394iacutendice de teses

se natildeo reincidentes e a seis anos se reincidentes desde que tenham cumprido um quarto da pena se natildeo reincidentes ou um terccedilo se reincidentesrdquo

2 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

3 ldquoArt 7ordm O indulto ou a comutaccedilatildeo da pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos alcanccedila a pena de multa aplicada cumulativamente Paraacutegrafo uacutenico A inadimplecircncia da pena de multa cumulada com pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos natildeo impede a declaraccedilatildeo do indulto ou da comutaccedilatildeo de penasrdquo

395iacutendice de teses

Poderaacute se dar a posteriori agrave publicaccedilatildeo da norma a homologaccedilatildeo judicial da

aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo por falta grave para obstar a comutaccedilatildeo de pena

O art 5ordm caput do Decreto 838020141 limita-se a impor a homologaccedilatildeo judicial da aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo por falta grave natildeo exigindo que ela tenha de se dar nos doze meses anteriores a sua publicaccedilatildeo2

Natildeo bastasse isso uma vez que se exige a realizaccedilatildeo de audiecircncia de justificaccedilatildeo assegurando-se o contraditoacuterio e a ampla defesa natildeo faria sentido que a homologaccedilatildeo judicial devesse ocorrer dentro daquele prazo sob pena de natildeo haver tempo haacutebil para a apuraccedilatildeo de eventual falta grave praticada em data proacutexima agrave publicaccedilatildeo do decreto

1 ldquoArt 5ordm A declaraccedilatildeo do indulto e da comutaccedilatildeo de penas previstos neste Decreto fica condicionada agrave inexistecircncia de aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo reconhecida pelo juiacutezo competente em audiecircncia de justifi-caccedilatildeo garantido o direito ao contraditoacuterio e agrave ampla defesa por falta disciplinar de natureza grave prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal cometida nos doze meses de cumprimento da pena contados retroativamente agrave data de publicaccedilatildeo deste Decretordquo

2 AP 512 rel min Ayres Britto P DJE de 20-4-2012 e HC 132236 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 27-9-2016

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Incidentes de execuccedilatildeo Ȥ Anistia e indulto

RHC 133443rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 9-12-2016Informativo STF 842

DIR

ET

RIB

DIR

EIT

O

TR

IBU

TAacuteR

IO

TRIBUTOSDIREITO TRIBUTAacuteRIO

398iacutendice de teses

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) incide sobre

a tarifa de assinatura baacutesica mensal cobrada pelas prestadoras de serviccedilos

de telefonia independentemente da franquia de minutos concedida ou natildeo

ao usuaacuterio

A tarifa de assinatura baacutesica mensal natildeo eacute serviccedilo Eacute contraprestaccedilatildeo pelo serviccedilo de comunicaccedilatildeo propriamente dito prestado pelas concessionaacuterias de telefonia e con-sistente no fornecimento em caraacuteter continuado das condiccedilotildees materiais para que ocorra a comunicaccedilatildeo entre o usuaacuterio e terceiro o que atrai a incidecircncia do ICMS

Existe um complexo sistema de redes e equipamentos para conferir ao usuaacuterio do serviccedilo de telefonia fixa a possibilidade de originar e receber chamadas Eacute justamente o custo da manutenccedilatildeo desse complexo sistema que a cobranccedila de assinatura mensal visa remunerar Ademais eacute de se ressaltar que a manutenccedilatildeo do serviccedilo ao usuaacuterio constitui por si soacute prestaccedilatildeo efetiva desse serviccedilo1

O valor pago pela assinatura mensal da telefonia fixa eacute sem duacutevida tarifa e tem por objetivo custear a manutenccedilatildeo o aperfeiccediloamento e a expansatildeo desse complexo sistema telefocircnico2

O fato de a assinatura mensal dar ou natildeo direito ao usuaacuterio de utilizar a franquia de minutos eacute irrelevante e natildeo tem o condatildeo de descaracterizar o serviccedilo remune-rado pelo valor da assinatura baacutesica mensal como serviccedilo de comunicaccedilatildeo propria-mente dito Afinal o que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica autoriza os Estados e o Distrito Federal a tributar natildeo eacute ldquopropriamente o transporte transmunicipal a comunicaccedilatildeo ou quaisquer outros serviccedilos mas sim as prestaccedilotildees onerosas desses serviccedilosrdquo3 Eacute legiacutetima a incidecircncia do ICMS-comunicaccedilatildeo sobre o valor pago a tiacutetulo de tarifa de assinatura baacutesica mensal portanto

Essa tarifa natildeo se confunde com os serviccedilos preparatoacuterios e acessoacuterios Esses serviccedilos prestados pelas empresas de telefonia tambeacutem conhecidos como serviccedilos intermediaacuterios de comunicaccedilatildeo tais como habilitaccedilatildeo instalaccedilatildeo disponibilidade

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ‒ Repercussatildeo Geral

RE 912888RG ‒ Tema 827rel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 10-5-2017Informativo STF 843

399iacutendice de teses

assinatura (inicial) cadastro de usuaacuterio e equipamento entre outros configuram ati-vidades-meio ou serviccedilos suplementares O valor pago por esses serviccedilos eacute eventual e remunera serviccedilo episoacutedico portanto natildeo incide ICMS sobre ele4

1 Parecer do professor Carlos Ari Sunfeld em consulta feita pelas Telecomunicaccedilotildees de Satildeo Paulo SA (TELESP-TELEFOcircNICA)

2 Parecer do professor Paulo de Barros Carvalho em consulta feita pela Associaccedilatildeo Brasileira de Pres-tadoras de Serviccedilo Telefocircnico Fixo Comutado (ABRAFIX)

3 CARRAZZA Roque Antonio ICMS 17 ed Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 238

4 RE 572020 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 13-10-2014

400iacutendice de teses

Eacute devida a restituiccedilatildeo da diferenccedila do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercado-

rias e Serviccedilos (ICMS) pago a mais no regime de substituiccedilatildeo tributaacuteria para

frente se a base de caacutelculo efetiva da operaccedilatildeo for inferior agrave presumida1

Uma interpretaccedilatildeo restritiva do sect 7ordm do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 para fins de legitimar a natildeo restituiccedilatildeo do excesso representaria injusticcedila fiscal inaceitaacute-vel em um Estado Democraacutetico de Direito o qual eacute fundado em legiacutetimas expec-tativas emanadas de uma relaccedilatildeo de confianccedila e justeza entre Fisco e contribuinte

A razatildeo preciacutepua da constitucionalidade desse preceito eacute o princiacutepio da praticidade tendo em conta que esse dispositivo constitucional promove comodidade economici-dade e eficiecircncia na execuccedilatildeo administrativa das leis tributaacuterias No entanto o princiacutepio da praticidade tributaacuteria natildeo prepondera na hipoacutetese de violaccedilatildeo de direitos e garantias dos contribuintes notadamente os princiacutepios da igualdade capacidade contributiva e vedaccedilatildeo ao confisco bem como a arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS

ldquoAo acrescentar na parte final no sect 7ordm do art 150 da Constituiccedilatildeo o direito agrave resti-tuiccedilatildeo o poder constituinte reformador pretendeu explicitar a inconstitucionalidade da cobranccedila de tributo quando natildeo houve o fato gerador tal como presumido deter-minando por isso a devoluccedilatildeo Caso se interpretasse que o direito agrave restituiccedilatildeo existe somente nas hipoacuteteses de inocorrecircncia total do fato gerador permaneceria a injusticcedila que o constituinte derivado buscou eliminar de forma expressa e estar-se-ia interpre-tando o dispositivo de maneira contraacuteria agrave sua finalidaderdquo3

Portanto a garantia do direito agrave restituiccedilatildeo do excesso natildeo inviabiliza a substitui-ccedilatildeo tributaacuteria progressiva agrave luz da manutenccedilatildeo das vantagens pragmaacuteticas exauridas do sistema de cobranccedila de impostos e contribuiccedilotildees

Em suma a restituiccedilatildeo do excesso atende ao princiacutepio que veda o enriquecimento sem causa tendo em conta a natildeo ocorrecircncia da materialidade presumida do tributo

Diante disso foram declarados inconstitucionais o art 22 sect 10 da Lei 67631975 do Estado de Minas Gerais4 e o art 21 do Regulamento do ICMS de Minas Gerais5

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ‒ Repercussatildeo Geral

RE 593849RG ‒ Tema 201rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 5-4-2017Informativo STF 844

401iacutendice de teses

aprovado pelo Decreto 430802002 em razatildeo de ofensa ao art 150 sect 7ordm da CF Logo deve-se fixar interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo nas expressotildees ldquonatildeo se efetive o fato gerador presumidordquo no sect 11 do art 22 da lei estadual e ldquoa fato gerador presumido que natildeo se realizourdquo no art 22 do Regulamento do ICMS

Dessa forma fica superado parcialmente o entendimento manifestado pelo Supre-mo Tribunal Federal (STF) na ADI 18516 Na accedilatildeo o STF decidiu que a devoluccedilatildeo deveria ocorrer apenas nas hipoacuteteses em que o fato gerador natildeo ocorresse

Os efeitos juriacutedicos desse novo entendimento orientam apenas os litiacutegios judiciais futuros e os pendentes submetidos agrave sistemaacutetica da repercussatildeo geral7

1 ADI 2675 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2017 e ADI 2777 red p o ac min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2017

2 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios (hellip) sect 7ordm A lei poderaacute atribuir a sujeito passivo de obrigaccedilatildeo tributaacuteria a condiccedilatildeo de responsaacutevel pelo pagamento de imposto ou contribuiccedilatildeo cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente assegurada a imediata e preferencial restituiccedilatildeo da quantia paga caso natildeo se realize o fato gerador presumidordquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

4 ldquoArt 22 (hellip) sect 10 Ressalvada a hipoacutetese prevista nos sectsect 11 e 12 deste artigo o imposto corretamente recolhido por substituiccedilatildeo tributaacuteria eacute definitivo natildeo ficando qualquer que seja o valor das saiacutedas das mercadorias 1) o contribuinte e o responsaacutevel sujeitos ao recolhimento da diferenccedila do tributo 2) o Estado sujeito agrave restituiccedilatildeo de qualquer valor ainda que sob a forma de aproveitamento de creacutedito para compensaccedilatildeo com deacutebito por saiacuteda de outra mercadoriardquo

5 ldquoArt 21 Ressalvada a situaccedilatildeo em que o fato gerador presumido natildeo se realizar o imposto correta-mente recolhido por substituiccedilatildeo tributaacuteria eacute definitivo natildeo ficando qualquer que seja o valor das saiacutedas das mercadorias I ndash o contribuinte ou responsaacutevel sujeito ao recolhimento da diferenccedila do tributo II ndash o Estado sujeito agrave restituiccedilatildeo de qualquer valor ainda que sob a forma de aproveitamen-to de creacutedito para compensaccedilatildeo com deacutebito por saiacuteda de outra mercadoriardquo

6 ADI 1851 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 8-5-2002

7 ldquoIsso porque estaacute-se diante de uma hipoacutetese de reescrita (overriding) de precedente Ademais o sect 3ordm do art 927 do CPC2015 assim dispotildee lsquoNa hipoacutetese de alteraccedilatildeo de jurisprudecircncia dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repe-titivos pode haver modulaccedilatildeo dos efeitos da alteraccedilatildeo no interesse social e no da seguranccedila juriacutedicarsquordquo

402iacutendice de teses

A falta de ediccedilatildeo de lei complementar que estabeleccedila os criteacuterios para com-

pensar os Estados por conta das desoneraccedilotildees do Imposto sobre Circulaccedilatildeo

de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sobre as exportaccedilotildees (Emenda Constitu-

cional 422003) configura estado de inconstitucionalidade por omissatildeo

No caso existe um dever constitucional de legislar previsto no art 91 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT)1 e uma omissatildeo legislativa que jaacute perdura por mais de dez anos e traz consequecircncias econocircmicas relevantes sobre-tudo em relaccedilatildeo a determinados Estados-membros

Com a Emenda Constitucional 422003 alterou-se a redaccedilatildeo do art 155 sect 2ordm X a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 para remover completamente as exportaccedilotildees brasi-leiras do campo de incidecircncia do ICMS Essa nova disposiccedilatildeo redefiniu os limites da competecircncia tributaacuteria estadual reduzindo-a com o evidente escopo de induzir pela via da desoneraccedilatildeo as exportaccedilotildees brasileiras Em termos teacutecnicos ocorreu reduccedilatildeo dos limites da competecircncia tributaacuteria estadual ou seja essa desoneraccedilatildeo deu-se em prejuiacutezo de uma fonte de receitas puacuteblicas estaduais Originariamente os Estados e o Distrito Federal poderiam cobrar ICMS em relaccedilatildeo agraves operaccedilotildees que destinassem produtos primaacuterios ao exterior Agora natildeo mais

Entatildeo se de um lado eacute certo que a modificaccedilatildeo prestigia e incentiva as exporta-ccedilotildees em prol de toda a Federaccedilatildeo de outro natildeo eacute menos verdade que a nova regra afeta uma fonte de recursos dos Estados e traz consequecircncias severas especialmente para aqueles que se dedicam agrave atividade de exportaccedilatildeo de produtos primaacuterios Por isso em contrapartida para compensar a perda de arrecadaccedilatildeo que naturalmente decorreria da desoneraccedilatildeo das exportaccedilotildees imposta pela Emenda Constitucional 422003 esta estabeleceu no art 91 do ADCT uma foacutermula de transferecircncia consti-tucional obrigatoacuteria da Uniatildeo em favor dos Estados e do Distrito Federal

Contudo a necessaacuteria lei complementar prevista no caput do art 91 do ADCT nunca foi editada e ateacute hoje segue sendo aplicada a regra ndash que deveria ser temporaacute-

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

ADO 25rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 18-8-2017Informativo STF 849

403iacutendice de teses

ria ndash prevista no sect 3ordm do art 91 Permanece ldquovigente o sistema de entrega de recursos previsto no art 313 e Anexo da Lei Complementar 87 de 13 de setembro de 1996 com a redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar 115 de 26 de dezembro de 2002rdquo

Cabe destacar que a existecircncia de projetos de lei complementar tramitando no Congresso Nacional com o fito de regulamentar essa entrega dos recursos natildeo eacute sufi-ciente para afastar a ineacutercia legislativa passados mais de dez anos da promulgaccedilatildeo da Emenda Constitucional 422003 A inertia deliberandi das casas legislativas pode ser objeto de accedilatildeo direta de inconstitucionalidade por omissatildeo4

Enquanto a sanccedilatildeo e o veto estatildeo disciplinados de forma relativamente precisa no texto constitucional inclusive no que concerne a prazos (CF art 665) a deliberaccedilatildeo natildeo mereceu do constituinte no tocante a esse aspecto uma disciplina mais minu-ciosa Ressalvada a hipoacutetese de utilizaccedilatildeo do procedimento abreviado previsto no art 64 sectsect 1ordm e 2ordm da CF6 natildeo se estabeleceram prazos para a apreciaccedilatildeo dos projetos de lei Observe-se que mesmo nos casos desse procedimento abreviado natildeo haacute ga-rantia quanto agrave aprovaccedilatildeo dentro de determinado prazo uma vez que o modelo de processo legislativo estabelecido pela Constituiccedilatildeo natildeo contempla a aprovaccedilatildeo por decurso de prazo

Ademais o fato de a Emenda Constitucional 422003 ter disposto criteacuterios provi-soacuterios para o repasse (ADCT art 91 sect 3ordm) natildeo configura razatildeo suficiente para afastar a omissatildeo inconstitucional em questatildeo Ao contraacuterio o sentido de provisoriedade estampado no teor do sect 2ordm do art 91 soacute confirma a omissatildeo do Congresso Nacional na mateacuteria Natildeo tem o condatildeo de convalidaacute-la7

Diante disso reconhece-se a mora do Congresso Nacional quanto agrave ediccedilatildeo da lei complementar prevista no art 91 do ADCT fixando o prazo de doze meses para que seja sanada a omissatildeo

Na hipoacutetese de transcorrer in albis o mencionado prazo caberaacute ao Tribunal de Con-tas da Uniatildeo (TCU) a) fixar o valor do montante total a ser transferido aos Estados--membros e ao Distrito Federal considerando os criteacuterios dispostos no art 91 do ADCT para a fixaccedilatildeo do montante a ser transferido anualmente a saber as exportaccedilotildees para o exterior de produtos primaacuterios e semielaborados a relaccedilatildeo entre as exportaccedilotildees e as importaccedilotildees os creacuteditos decorrentes de aquisiccedilotildees destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenccedilatildeo e aproveitamento do creacutedito do imposto a que se refere o art 155 sect 2ordm X a do texto constitucional b) calcular o valor das quotas a que cada um deles faraacute jus considerando os entendimentos entre os Estados-membros e o Distrito Fe-deral realizados no acircmbito do Conselho Nacional de Poliacutetica Fazendaacuteria (CONFAZ)

404iacutendice de teses

1 ldquoArt 91 A Uniatildeo entregaraacute aos Estados e ao Distrito Federal o montante definido em lei comple-mentar de acordo com criteacuterios prazos e condiccedilotildees nela determinados podendo considerar as exportaccedilotildees para o exterior de produtos primaacuterios e semielaborados a relaccedilatildeo entre as exportaccedilotildees e as importaccedilotildees os creacuteditos decorrentes de aquisiccedilotildees destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenccedilatildeo e aproveitamento do creacutedito do imposto a que se refere o art 155 sect 2ordm X a sect 1ordm Do montante de recursos que cabe a cada Estado setenta e cinco por cento pertencem ao proacuteprio Estado e vinte e cinco por cento aos seus Municiacutepios distribuiacutedos segundo os criteacuterios a que se refere o art 158 paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo sect 2ordm A entrega de recursos prevista neste artigo perduraraacute conforme definido em lei complementar ateacute que o imposto a que se refere o art 155 II tenha o produto de sua arrecadaccedilatildeo destinado predominantemente em proporccedilatildeo natildeo inferior a oitenta por cento ao Estado onde ocorrer o consumo das mercadorias bens ou serviccedilos sect 3ordm Enquanto natildeo for editada a lei complementar de que trata o caput em substituiccedilatildeo ao sistema de entrega de recursos nele previsto permaneceraacute vigente o sistema de entrega de recursos previsto no art 31 e Anexo da Lei Complementar n 87 de 13 de setembro de 1996 com a redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar n 115 de 26 de dezembro de 2002 sect 4ordm Os Estados e o Distrito Federal deveratildeo apresentar agrave Uniatildeo nos termos das instruccedilotildees baixadas pelo Ministeacuterio da Fazenda as informaccedilotildees relativas ao imposto de que trata o art 155 II declaradas pelos contribuintes que realizarem operaccedilotildees ou prestaccedilotildees com destino ao exteriorrdquo

2 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () X ndash natildeo incidiraacute a) sobre operaccedilotildees que destinem mercadorias para o exterior nem sobre serviccedilos prestados a destinataacuterios no exterior assegurada a manutenccedilatildeo e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operaccedilotildees e prestaccedilotildees anterioresrdquo

3 ldquoArt 31 Nos exerciacutecios financeiros de 2003 a 2006 a Uniatildeo entregaraacute mensalmente recursos aos Estados e seus Municiacutepios obedecidos os montantes os criteacuterios os prazos e as demais condiccedilotildees fixadas no Anexo desta Lei Complementarrdquo

4 ADI 3682 rel min Gilmar Mendes P DJE de 6-9-2007

5 ldquoArt 66 A Casa na qual tenha sido concluiacuteda a votaccedilatildeo enviaraacute o projeto de lei ao Presidente da Re-puacuteblica que aquiescendo o sancionaraacute sect 1ordm Se o Presidente da Repuacuteblica considerar o projeto no todo ou em parte inconstitucional ou contraacuterio ao interesse puacuteblico vetaacute-lo-aacute total ou parcialmen-te no prazo de quinze dias uacuteteis contados da data do recebimento e comunicaraacute dentro de qua-renta e oito horas ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto sect 2ordm O veto parcial somente abrangeraacute texto integral de artigo de paraacutegrafo de inciso ou de aliacutenea sect 3ordm Decorrido o prazo de quinze dias o silecircncio do Presidente da Repuacuteblica importaraacute sanccedilatildeo sect 4ordm O veto seraacute apreciado em sessatildeo conjunta dentro de trinta dias a contar de seu recebimento soacute podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores sect 5ordm Se o veto natildeo for mantido seraacute o projeto enviado para promulgaccedilatildeo ao Presidente da Repuacuteblica sect 6ordm Esgotado sem deliberaccedilatildeo o prazo es-tabelecido no sect 4ordm o veto seraacute colocado na ordem do dia da sessatildeo imediata sobrestadas as demais proposiccedilotildees ateacute sua votaccedilatildeo final sect 7ordm Se a lei natildeo for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da Repuacuteblica nos casos dos sect 3ordm e sect 5ordm o Presidente do Senado a promulgaraacute e se este natildeo o fizer em igual prazo caberaacute ao Vice-Presidente do Senado fazecirc-lordquo

405iacutendice de teses

6 ldquoArt 64 A discussatildeo e votaccedilatildeo dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da Repuacuteblica do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores teratildeo iniacutecio na Cacircmara dos Deputados sect 1ordm O Presidente da Repuacuteblica poderaacute solicitar urgecircncia para apreciaccedilatildeo de projetos de sua iniciativa sect 2ordm Se no caso do sect 1ordm a Cacircmara dos Deputados e o Senado Federal natildeo se manifestarem sobre a proposiccedilatildeo cada qual sucessivamente em ateacute quarenta e cinco dias sobrestar-se-atildeo todas as demais deliberaccedilotildees legislativas da respectiva Casa com exceccedilatildeo das que tenham prazo constitucional de-terminado ateacute que se ultime a votaccedilatildeordquo

7 ADI 875 rel min Gilmar Mendes P DJE de 30-4-2010

406iacutendice de teses

A vedaccedilatildeo pela legislaccedilatildeo estadual ao aproveitamento dos creacuteditos do Impos-

to sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) gerados pela entrada

de insumos tributados quando o contribuinte faz opccedilatildeo pela tributaccedilatildeo da

saiacuteda das mercadorias com base de caacutelculo do imposto reduzida natildeo viola o

princiacutepio da natildeo cumulatividade1

O princiacutepio da natildeo cumulatividade natildeo confere direito absoluto e irrestrito com relaccedilatildeo aos creacuteditos escriturais do ICMS Dessa forma inexiste qualquer vedaccedilatildeo a restriccedilotildees quanto ao aproveitamento dos creacuteditos financeiros apurados na aquisiccedilatildeo de bens destinados ao ativo fixo do estabelecimento2

A reduccedilatildeo da base de caacutelculo do ICMS constitui isenccedilatildeo parcial e natildeo como ou-trora se considerava categoria autocircnoma em relaccedilatildeo tanto agrave isenccedilatildeo quanto agrave natildeo incidecircncia3

A norma prevista no inciso II do sect 2ordm do art 155 da Constituiccedilatildeo Federal4 ressalva que nas hipoacuteteses em que o contribuinte eacute favorecido com a concessatildeo pelo Fisco dos benefiacutecios fiscais da ldquoisenccedilatildeordquo e da ldquonatildeo incidecircnciardquo o direito ao creditamento do imposto pago nas operaccedilotildees anteriores eacute mitigado

Nesses casos o contribuinte somente pode se beneficiar dos creacuteditos do ICMS ainda que proporcionalmente ao benefiacutecio recebido se expressamente prevista a pos-sibilidade em legislaccedilatildeo estadual a teor do dispositivo constitucional citado

Assim concedido o benefiacutecio fiscal fica obstado o creacutedito para compensaccedilatildeo com o montante devido nas operaccedilotildees ou prestaccedilotildees seguintes bem como anulado o creacute-dito relativo agraves operaccedilotildees anteriores salvo determinaccedilatildeo em contraacuterio na legislaccedilatildeo

1 RE 584023 AgR-EDv-AgR rel min Celso de Mello P DJE de 12-12-2015

2 AI 856339 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 17-12-2015

3 RE 174478 ED rel min Cezar Peluso 2ordf T DJE de 13-5-2010

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

AI 765420 AgR-segundored p o ac min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 7-8-2017Informativo STF 855

407iacutendice de teses

4 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () II ndash operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e sobre prestaccedilotildees de serviccedilos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaccedilatildeo ainda que as operaccedilotildees e as prestaccedilotildees se iniciem no exterior () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () II ndash a isenccedilatildeo ou natildeo incidecircncia salvo determinaccedilatildeo em contraacuterio da legislaccedilatildeo a) natildeo implicaraacute creacutedito para compensaccedilatildeo com o montante devido nas operaccedilotildees ou prestaccedilotildees seguintes b) acarretaraacute a anulaccedilatildeo do creacutedito relativo agraves operaccedilotildees anterioresrdquo

408iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 que embora natildeo tenha criado propriamente

um novo benefiacutecio fiscal ampliou unilateralmente programas de incentivo

relativos ao Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sem

qualquer anuecircncia dos demais Estados e do Distrito Federal

A concessatildeo unilateral de benefiacutecios fiscais em mateacuteria de ICMS por Estado-mem-bro sem preacutevia aprovaccedilatildeo em convecircnio no acircmbito do Conselho Nacional de Poliacuteti-ca Fazendaacuteria (CONFAZ) viola o art 155 sect 2ordm XII g da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 e infringe os requisitos previstos na Lei Complementar 2419753 caracterizando hipoacutetese tiacutepica de ldquoguerra fiscalrdquo4

O art 155 sect 2ordm XII g da CF confere agrave lei complementar a atribuiccedilatildeo de ldquoregular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

Por sua vez a Lei Complementar 241975 deixa claro no art 1ordm que a exigecircncia de preacutevia celebraccedilatildeo de convecircnio no Confaz aplica-se a ldquoquaisquer outros incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais concedidos com base no Imposto de Circula-ccedilatildeo de Mercadorias dos quais resulte reduccedilatildeo ou eliminaccedilatildeo direta ou indireta do respectivo ocircnusrdquo

Inexiste na Constituiccedilatildeo reserva de iniciativa do Poder Executivo para apresentar projeto de lei concernente a mateacuteria tributaacuteria5 mesmo as que implicam renuacutencia de receita6 natildeo havendo inconstitucionalidade formal por viacutecio de iniciativa (CF art 257) em projeto de lei sobre essa mateacuteria iniciado por parlamentar

No mesmo sentido natildeo haacute afronta ao art 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 1012000)8 se a lei estadual natildeo amplia em abstrato a renuacutencia fiscal concedida pelos programas de incentivo mas apenas reintegra ao programa os contribuintes desligados por terem desatendido agraves condiccedilotildees nele antes fixadas

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

ADI 3796rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 856

409iacutendice de teses

Embora em regra natildeo se admita a modulaccedilatildeo de efeitos da decisatildeo em casos de lei estadual que incentive a guerra fiscal9 excepcionalmente se adota a modulaccedilatildeo para que a declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade produza efeitos ex nunc sob pena de punir as empresas que a tenham cumprido visto ter a lei estadual vigorado por muitos anos10

1 Lei 150542006 do Estado do Paranaacute que restabelece benefiacutecios fiscais relativos ao ICMS cance-lados no acircmbito dos programas ldquoBom Empregordquo ldquoParanaacute Mais Empregordquo e ldquoDesenvolvimento Econocircmico Tecnoloacutegico e Social do Paranaacuterdquo

2 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () XII ndash cabe agrave lei complementar () g) regular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

3 ldquoDispotildee sobre os convecircnios para a concessatildeo de isenccedilotildees do imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e daacute outras providecircnciasrdquo

4 Precedentes ADI 286 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 30-8-2002 ADI 1247 rel min Dias Toffoli P DJE de 17-8-2011 ADI 4152 rel min Cezar Peluso P DJE de 21-9-2011 ADI 2549 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 3-10-2011 ADI 3936 MC rel min Gilmar Mendes P DJE de 9-11-2007 ADI 3410 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 8-6-2007 ADI 3429 rel min Ayres Britto P DJ de 27-4-2007 ADI 3312 rel min Eros Grau P DJE de 9-3-2007 e ADI 2722 rel min Gilmar Mendes P DJ de 19-12-2006

5 Precedentes ADI 724 MC rel min Celso de Mello P DJ de 27-4-2001 ADI 2464 rel min Ellen Gracie P DJE de 25-5-2007 e ADI 2724 rel min Gilmar Mendes P DJ de 2-4-2004

6 Precedente ARE 743480 RG rel min Gilmar Mendes P DJE de 20-11-2013

7 ldquoArt 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituiccedilotildees e leis que adotarem observados os princiacutepios desta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo reservadas aos Estados as competecircncias que natildeo lhes sejam vedadas por esta Constituiccedilatildeo sect 2ordm Cabe aos Estados explorar diretamente ou mediante con-cessatildeo os serviccedilos locais de gaacutes canalizado na forma da lei vedada a ediccedilatildeo de medida provisoacuteria para a sua regulamentaccedilatildeo sect 3ordm Os Estados poderatildeo mediante lei complementar instituir regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e microrregiotildees constituiacutedas por agrupamentos de muni-ciacutepios limiacutetrofes para integrar a organizaccedilatildeo o planejamento e a execuccedilatildeo de funccedilotildees puacuteblicas de interesse comumrdquo

8 ldquoArt 14 A concessatildeo ou ampliaccedilatildeo de incentivo ou benefiacutecio de natureza tributaacuteria da qual decorra renuacutencia de receita deveraacute estar acompanhada de estimativa do impacto orccedilamentaacuterio-financeiro no exerciacutecio em que deva iniciar sua vigecircncia e nos dois seguintes atender ao disposto na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias e a pelo menos uma das seguintes condiccedilotildees I ndash demonstraccedilatildeo pelo proponente de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria na forma do art 12 e de que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstas no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedila-

410iacutendice de teses

mentaacuterias II ndash estar acompanhada de medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado no caput por meio do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo da base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ou contribuiccedilatildeo sect 1ordm A renuacutencia compreende anistia remissatildeo sub-siacutedio creacutedito presumido concessatildeo de isenccedilatildeo em caraacuteter natildeo geral alteraccedilatildeo de aliacutequota ou modi-ficaccedilatildeo de base de caacutelculo que implique reduccedilatildeo discriminada de tributos ou contribuiccedilotildees e outros benefiacutecios que correspondam a tratamento diferenciado sect 2ordm Se o ato de concessatildeo ou ampliaccedilatildeo do incentivo ou benefiacutecio de que trata o caput deste artigo decorrer da condiccedilatildeo contida no inciso II o benefiacutecio soacute entraraacute em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso sect 3ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica I ndash agraves alteraccedilotildees das aliacutequotas dos impostos previstos nos incisos I II IV e V do art 153 da Constituiccedilatildeo na forma do seu sect 1ordm II ndash ao cancelamento de deacutebito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobranccedilardquo

9 ADI 3794 ED rel min Roberto Barroso P DJE de 25-2-2015

10 ADI 4481 rel min Roberto Barroso P DJE de 19-5-2015

411iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei municipal que veicule exclusatildeo de valores da base de

caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) fora das

hipoacuteteses previstas em lei complementar nacional1

Tal previsatildeo2 invade a competecircncia da Uniatildeo para estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria (CF art 146 III a3) Isso caracteriza viacutecio formal de inconstitucionalidade4

Cabe destacar que ldquoo art 7ordm da Lei Complementar 1162003 foi categoacuterico ao considerar como base de caacutelculo o preccedilo do serviccedilo sem nenhuma outra exclusatildeo que natildeo a definida em seu sect 2ordm I5 o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviccedilos previstos nos itens 702 e 705 da lista de serviccedilos anexa Logo em alguns serviccedilos relacionados a obras de construccedilatildeo civil o valor dos materiais fornecidos pelo prestador do serviccedilo fica excluiacutedo da base de caacutelculordquo6

Assim ldquoa lei complementar quando o quis fez expressa exclusatildeo de valores da base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos (ISS) Natildeo cabe por conseguinte cogitar de omissatildeo mas de silecircncio eloquente do legislador nacional Por isso natildeo haacute espaccedilo para que os Municiacutepios a pretexto de detalhar aspectos natildeo abordados pela lei na-cional de Direito Tributaacuterio subtraiam da base de caacutelculo do ISS aquilo que natildeo foi expressamente autorizado pela Lei Complementar 1162003rdquo7

Com efeito ldquoo preccedilo do serviccedilo considerada a receita bruta refere-se ao total do valor percebido a tiacutetulo oneroso e em caraacuteter negocial pela prestaccedilatildeo da atividade a terceira pessoa A pessoa a quem se presta o serviccedilo natildeo eacute sujeito passivo do ISS mas o prestador (Lei Complementar 1162003 art 5ordm)rdquo8

Diante disso ldquoos tributos federais que oneram a prestaccedilatildeo do serviccedilo satildeo inde-pendentemente do destinataacuterio ou da qualificaccedilatildeo contaacutebil que se lhes decirc embutidos no preccedilo do serviccedilo e por conseguinte compotildeem a base de caacutelculo do tributo por falta de previsatildeo em contraacuterio da lei complementar nacionalrdquo9

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN)

ADPF 190rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 27-4-2017Informativo STF 841

412iacutendice de teses

Tambeacutem eacute incompatiacutevel com o texto constitucional medida fiscal que resulte

indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida pelo art 88 do

Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT) a partir da redu-

ccedilatildeo da carga tributaacuteria incidente sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilo na territoriali-

dade do ente tributante

Haacute violaccedilatildeo do art 88 I e II do ADCT10 incluiacutedo pela Emenda Constitucional 372002 o qual fixou aliacutequota miacutenima para os fatos geradores do ISSQN assim como vedou a concessatildeo de isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais que resultasse direta ou indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida11

1 O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos dispositivos da norma impugna-da (arts 190 sect 2ordm II e 191 sect 6ordm II e sect 7ordm da Lei 26141997 do Municiacutepio de Estacircncia Hidromineral de Poaacute) e determinou a modulaccedilatildeo prospectiva dos efeitos temporais da declaraccedilatildeo de inconstitu-cionalidade a contar da data do deferimento da medida cautelar em 15-12-2015

2 Lei 26141997 do Municiacutepio de Estacircncia Hidromineral de Poaacute na redaccedilatildeo dada pelas Leis 32692007 e 32762007 ldquoArt 190 A base de caacutelculo do imposto eacute o preccedilo do serviccedilo assim consi-derada a receita bruta () sect 2ordm Natildeo seratildeo incluiacutedos no preccedilo do serviccedilo (hellip) II ndash os seguintes tribu-tos federais relativos agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos tributaacuteveis ocorridos no mesmo mecircs de competecircncia a) Imposto de Renda de Pessoa Juriacutedica b) Contribuiccedilatildeo Social Sobre o Lucro Liacutequido c) PISPASEP d) COFINS Art 191 A base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos eacute o preccedilo do serviccedilo as-sim considerada a receita bruta a qual se aplica mensalmente a aliacutequota constante na Tabela XVI do artigo 184 (hellip) sect 6ordm Natildeo seratildeo incluiacutedos no preccedilo do serviccedilo (hellip) II ndash os seguintes tributos federais relativos agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos tributaacuteveis ocorridos no mesmo mecircs de competecircncia a) Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica b) Contribuiccedilatildeo Social Sobre o Lucro Liacutequido c) PISPASEP d) COFINS sect 7ordm Na prestaccedilatildeo de serviccedilo a que se refere o subitem 1509 da Lista de Serviccedilos natildeo seraacute incluiacutedo no preccedilo do serviccedilo o valor do bem na proporccedilatildeo do valor arrendadordquo

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar III ndash estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tribu-taacuteria especialmente sobre a) definiccedilatildeo de tributos e de suas espeacutecies bem como em relaccedilatildeo aos impostos discriminados nesta Constituiccedilatildeo a dos respectivos fatos geradores bases de caacutelculo e contribuintesrdquo

4 RE 567935 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 4-11-2014 ADI 1945 MC red p o ac min Gilmar Mendes P DJE de 14-3-2011 e ADI 1951 MC rel min Nelson Jobim P DJ de 17-12-1999

5 ldquoArt 7ordm A base de caacutelculo do imposto eacute o preccedilo do serviccedilo () sect 2ordm Natildeo se incluem na base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza I ndash o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviccedilos previstos nos itens 702 e 705 da lista de serviccedilos anexa a esta Lei Complementarrdquo

6 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica adotado como razotildees de decidir

7 Idem

413iacutendice de teses

8 Idem

9 Idem

10 ldquoArt 88 Enquanto lei complementar natildeo disciplinar o disposto nos incisos I e III do sect 3ordm do art 156 da Constituiccedilatildeo Federal o imposto a que se refere o inciso III do caput do mesmo artigo I ndash teraacute aliacutequota miacutenima de dois por cento exceto para os serviccedilos a que se referem os itens 32 33 e 34 da Lista de Serviccedilos anexa ao Decreto-Lei n 406 de 31 de dezembro de 1968 II ndash natildeo seraacute objeto de concessatildeo de isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais que resulte direta ou indiretamente na redu-ccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida no inciso Irdquo

11 Vide nota 2

414iacutendice de teses

As operadoras de planos privados de assistecircncia agrave sauacutede (plano de sauacutede e

seguro-sauacutede) realizam prestaccedilatildeo de serviccedilo sujeita ao Imposto Sobre Servi-

ccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) previsto no art 156 III da Constituiccedilatildeo

Federal (CF)1

O dispositivo constitucional ao referir-se a serviccedilos de qualquer natureza natildeo os restringiu agraves tiacutepicas obrigaccedilotildees de fazer jaacute que raciociacutenio adverso conduziria agrave afir-maccedilatildeo de que haveria serviccedilo apenas nas prestaccedilotildees de fazer nos termos do que define o Direito Privado O que se verifica eacute maior amplitude semacircntica do termo adotado pela Constituiccedilatildeo Federal a qual inevitavelmente leva agrave ampliaccedilatildeo da com-petecircncia tributaacuteria na incidecircncia do ISSQN2

O conceito de prestaccedilatildeo de serviccedilo para efeito da incidecircncia do tributo estaacute re-lacionado ao oferecimento de uma utilidade para outrem a partir de conjunto de atividades materiais ou imateriais prestadas com habitualidade e intuito de lucro podendo estar conjugada ou natildeo com a entrega de bens ao tomador

Ademais por forccedila do comando constitucional expresso no art 156 III reforccedilado pela prescriccedilatildeo da aliacutenea a do inciso III do art 146 cc o inciso I do art 146 da CF3 o constituinte remete agrave lei complementar a funccedilatildeo de definir o conceito ldquode serviccedilos de qualquer naturezardquo o que eacute efetuado pela Lei Complementar 11620034

1 ldquoArt 156 Compete aos Municiacutepios instituir impostos sobre () III ndash serviccedilos de qualquer natureza natildeo compreendidos no art 155 II definidos em lei complementarrdquo

2 RE 547245 rel min Eros Grau P DJ de 5-3-2010

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar I ndash dispor sobre conflitos de competecircncia em mateacuteria tributaacute-ria entre a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios () III ndash estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria especialmente sobre a) definiccedilatildeo de tributos e de suas espeacutecies bem como em relaccedilatildeo aos impostos discriminados nesta Constituiccedilatildeo a dos respectivos fatos gera-dores bases de caacutelculo e contribuintesrdquo

RE 651703RG ‒ Tema 581rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 26-4-2017Informativo STF 841

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) ‒ Repercussatildeo Geral

415iacutendice de teses

4 ldquoArt 1ordm O Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza de competecircncia dos Municiacutepios e do Distrito Federal tem como fato gerador a prestaccedilatildeo de serviccedilos constantes da lista anexa ainda que esses natildeo se constituam como atividade preponderante do prestador (hellip) 422 ndash Planos de medicina de grupo ou individual e convecircnios para prestaccedilatildeo de assistecircncia meacutedica hospitalar odontoloacutegica e congecircneres 423 ndash Outros planos de sauacutede que se cumpram atraveacutes de serviccedilos de terceiros contratados credenciados cooperados ou apenas pagos pelo operador do plano median-te indicaccedilatildeo do beneficiaacuteriordquo

416iacutendice de teses

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) natildeo compotildee

a base de caacutelculo para a incidecircncia da contribuiccedilatildeo para o PIS e da Cofins1

A parcela correspondente ao ICMS pago natildeo tem natureza de faturamento2 nem mesmo de receita mas de simples ingresso de caixa Assim enquanto o montante de ICMS circula pela contabilidade dos sujeitos passivos das contribuiccedilotildees eles ape-nas obtecircm ingresso de caixa de valores que natildeo lhes pertencem

Em assim sendo o montante de ICMS nessas situaccedilotildees natildeo se incorpora ao patri-mocircnio dos sujeitos passivos das contribuiccedilotildees porque tais valores satildeo destinados aos cofres puacuteblicos dos Estados-membros ou do Distrito Federal

Aleacutem disso o mesmo ocorre especificamente com o contribuinte posicionado no meio da cadeia produtiva pois embora nem todo o montante do ICMS seja imedia-tamente recolhido (pelo sujeito passivo da obrigaccedilatildeo tributaacuteria) ele seraacute recolhido e tambeacutem natildeo constitui receita daquele contribuinte

A anaacutelise juriacutedica do princiacutepio da natildeo cumulatividade aplicado ao ICMS haacute que levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo normativo do art 155 sect 2ordm I da Constituiccedilatildeo Federal3 ou seja examinar a natildeo cumulatividade a cada operaccedilatildeo

Nesse sentido ainda que contabilmente o valor do ICMS seja escriturado ele natildeo se relaciona com a definiccedilatildeo constitucional de faturamento para fins de apuraccedilatildeo da base de caacutelculo das contribuiccedilotildees

Portanto ainda que natildeo no mesmo momento o valor do ICMS tem como desti-nataacuterio fiscal a Fazenda Puacuteblica para a qual seraacute transferido

Eacute igualmente verdadeiro que tambeacutem o momento das diferentes operaccedilotildees natildeo pode alterar o regime de aplicaccedilatildeo de tributaccedilatildeo em um sistema que se caracteriza pela compensaccedilatildeo para se chegar agrave inacumulatividade constitucionalmente qualifi-cadora do tributo

Ademais se o art 3ordm sect 2ordm I in fine da Lei 971819984 excluiu da base de caacutelculo daquelas contribuiccedilotildees sociais o ICMS transferido integralmente para os Estados

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees para a seguridade social ‒ Repercussatildeo Geral

RE 574706RG ‒ Tema 69rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 2-10-2017Informativo STF 857

417iacutendice de teses

natildeo haacute como excluir a transferecircncia parcial decorrente do regime de natildeo cumulativi-dade em determinado momento da dinacircmica das operaccedilotildees

1 RE 240785 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 16-12-2014

2 RE 346084 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 RE 358273 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 RE 357950 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 e RE 390840 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006

3 ldquoArt 155 () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte I ndash seraacute natildeo cumulativo compensando-se o que for devido em cada operaccedilatildeo relativa agrave circulaccedilatildeo de mercadorias ou pres-taccedilatildeo de serviccedilos com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federalrdquo

4 ldquoArt 3ordm () sect 2ordm Para fins de determinaccedilatildeo da base de caacutelculo das contribuiccedilotildees a que se refere o art 2ordm excluem-se da receita bruta I ndash (hellip) o Imposto sobre Operaccedilotildees relativas agrave Circulaccedilatildeo de Mercadorias e sobre Prestaccedilotildees de Serviccedilos de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Co-municaccedilatildeo ndash ICMS quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos serviccedilos na condiccedilatildeo de substituto tributaacuteriordquo (Revogado pela Lei 129732014)

418iacutendice de teses

Eacute inconstitucional por ofensa ao princiacutepio da legalidade tributaacuteria lei que

delega aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas a compe-

tecircncia de fixar ou majorar sem paracircmetro legal o valor das contribuiccedilotildees

de interesse das categorias profissionais e econocircmicas usualmente cobradas

sob o tiacutetulo de anuidades vedada ademais a atualizaccedilatildeo desse valor pelos

conselhos em percentual superior aos iacutendices legalmente previstos

A remessa ao ato infralegal natildeo pode resultar em desapoderamento do legislador para tratar de elementos tributaacuterios essenciais Para o respeito do princiacutepio da lega-lidade (CF art 150 I1) eacute essencial que a lei (em sentido estrito) prescreva o limite maacuteximo do valor da exaccedilatildeo ou os criteacuterios para encontraacute-lo o que natildeo ocorreu no caso em tela

A ideia de legalidade no tocante agraves contribuiccedilotildees instituiacutedas no interesse de catego-rias profissionais ou econocircmicas eacute de fim ou de resultado notadamente em razatildeo de a Constituiccedilatildeo natildeo ter traccedilado as linhas de seus pressupostos de fato ou o fato gerador

Como nessas contribuiccedilotildees existe um quecirc de atividade estatal prestada em benefiacute-cio direto ao contribuinte ou a grupo eacute imprescindiacutevel uma faixa de indeterminaccedilatildeo e de complementaccedilatildeo administrativa de seus elementos configuradores dificilmente apreendidos pela legalidade fechada2

No entanto a lei que autoriza os conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regula-mentadas a fixar as anuidades devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas natildeo estabelece expectativas Cria-se assim uma situaccedilatildeo de instabilidade institucional ao deixar ao puro arbiacutetrio do administrador o estabelecimento do valor da exaccedilatildeo Afinal natildeo haacute previsatildeo legal de qualquer limite maacuteximo para a fixaccedilatildeo do valor da anuidade

Diversamente respeita o princiacutepio da legalidade a lei que disciplina os elementos essenciais determinantes para o reconhecimento da contribuiccedilatildeo de interesse de ca-tegoria econocircmica como tal e deixa espaccedilo de complementaccedilatildeo para o regulamento A lei autorizadora em todo caso deve ser legitimamente justificada e o diaacutelogo com

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees profissionais ‒ Repercussatildeo Geral

RE 704292RG ‒ Tema 540rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 844

419iacutendice de teses

o regulamento deve-se dar em termos de subordinaccedilatildeo desenvolvimento e comple-mentariedade

Diante disso foi declarada a inconstitucionalidade material sem reduccedilatildeo de texto do art 2ordm da Lei 1100020043 de forma a excluir de sua incidecircncia a autorizaccedilatildeo para os conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas fixarem as contribuiccedilotildees anuais devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas e por arrastamento da integralidade do seu sect 1ordm

Por fim na esteira do assentado no RE 838284 (DJE de 22-9-2017) e nas ADI 4697 e ADI 4762 (DJE de 30-3-2017) as inconstitucionalidades presentes na Lei 110002004 natildeo se estendem agraves Leis 69941982 e 125142011 Essas duas leis satildeo constitucionais no tocante agraves anuidades devidas aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regula-mentadas haja vista que elas aleacutem de prescreverem o teto da exaccedilatildeo realizam o diaacutelogo com o ato normativo infralegal em termos de subordinaccedilatildeo de desenvolvi-mento e de complementariedade

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios I ndash exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleccedilardquo

2 RE 343446 rel min Carlos Velloso P DJ de 4-4-2003 e RE 290079 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 4-4-2003

3 ldquoArt 2ordm Os Conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas satildeo autorizados a fixar cobrar e executar as contribuiccedilotildees anuais devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas bem como as multas e os preccedilos de serviccedilos relacionados com suas atribuiccedilotildees legais que constituiratildeo receitas proacuteprias de cada Conselho sect 1ordm Quando da fixaccedilatildeo das contribuiccedilotildees anuais os Conselhos deveratildeo levar em consideraccedilatildeo as profissotildees regulamentadas de niacuteveis superior teacutecnico e auxiliarrdquo

420iacutendice de teses

Satildeo constitucionais os dispositivos da Lei 125142011 que dizem respeito agrave

fixaccedilatildeo de anuidades devidas aos conselhos profissionais

Sob o aspecto formal natildeo haacute violaccedilatildeo agrave reserva de lei complementar Essa forma eacute dispensaacutevel para a criaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de intervenccedilatildeo no domiacutenio econocircmico e de interesse das categorias profissionais1

Natildeo procede a alegaccedilatildeo de ausecircncia de pertinecircncia temaacutetica entre a emenda par-lamentar incorporada agrave Medida Provisoacuteria 5362011 e o tema das contribuiccedilotildees devi-das aos conselhos profissionais em geral Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha afirmado na ADI 51272 ldquonatildeo ser compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo a apresenta-ccedilatildeo de emendas sem relaccedilatildeo de pertinecircncia temaacutetica com medida provisoacuteria subme-tida a sua apresentaccedilatildeordquo tendo em vista que foi emprestada eficaacutecia prospectiva ao julgamento dessa accedilatildeo direta os efeitos desse entendimento natildeo se aplicam agrave medida provisoacuteria em questatildeo

Sob o aspecto material a Lei 125142011 observou a capacidade contributiva dos contribuintes pois estabeleceu razoaacutevel correlaccedilatildeo entre a desigualdade educa-cional e a provaacutevel disparidade de rendas auferidas do labor de pessoa fiacutesica Aleacutem disso haacute diferenciaccedilatildeo dos valores das anuidades baseada no capital social da pessoa juriacutedica contribuinte

Natildeo ocorre violaccedilatildeo ao princiacutepio da reserva legal O diploma impugnado eacute jus-tamente a lei em sentido formal que disciplina a mateacuteria referente agrave instituiccedilatildeo das contribuiccedilotildees sociais de interesse profissional para aqueles conselhos previstos no art 3ordm da Lei 1251420113

No tocante agrave legalidade tributaacuteria estrita eacute adequada e suficiente a determinaccedilatildeo do mandamento tributaacuterio no bojo da lei impugnada por meio da fixaccedilatildeo de tetos aos criteacuterios materiais das hipoacuteteses de incidecircncia das contribuiccedilotildees profissionais agrave luz da chave analiacutetica formada pelas categorias da praticabilidade e da parafiscalidade

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees profissionais

ADI 4697ADI 4762rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 30-3-2017Informativo STF 842

421iacutendice de teses

Cabe lembrar que os conselhos profissionais satildeo autarquias de iacutendole federal4 e tendo em conta que a fiscalizaccedilatildeo deles envolve o exerciacutecio de poder de poliacutecia de tributar e de punir estabeleceu-se serem as anuidades cobradas pelos conselhos pro-fissionais tributos da espeacutecie ldquocontribuiccedilotildees de interesse das categorias profissionaisrdquo nos termos do art 149 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica5 6 e 7

Diante disso foi declarada a constitucionalidade dos arts 3ordm8 4ordm9 6ordm10 7ordm11 8ordm12 9ordm13 1014 e 1115 da Lei 125142011

1 AI 739715 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 19-6-2009 e RE 451915 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 1ordm-12-2006

2 ldquoEmenta Direito constitucional Controle de constitucionalidade Emenda parlamentar em pro-jeto de conversatildeo de medida provisoacuteria em lei Conteuacutedo temaacutetico distinto daquele originaacuterio da medida provisoacuteria Praacutetica em desacordo com o princiacutepio democraacutetico e com o devido processo legal (devido processo legislativo) 1 Viola a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica notadamente o princiacutepio democraacutetico e o devido processo legislativo (arts 1ordm caput paraacutegrafo uacutenico 2ordm caput 5ordm caput e LIV CRFB) a praacutetica da inserccedilatildeo mediante emenda parlamentar no processo legislativo de conver-satildeo de medida provisoacuteria em lei de mateacuterias de conteuacutedo temaacutetico estranho ao objeto originaacuterio da medida provisoacuteria 2 Em atenccedilatildeo ao princiacutepio da seguranccedila juriacutedica (arts 1ordm e 5ordm XXXVI

CRFB) mantecircm-se hiacutegidas todas as leis de conversatildeo fruto dessa praacutetica promulgadas ateacute a

data do presente julgamento inclusive aquela impugnada nesta accedilatildeo 3 Accedilatildeo direta de incons-titucionalidade julgada improcedente por maioria de votosrdquo (Ementa da ADI 5127 red p o ac min Edson Fachin DJE de 23-9-2016 ndash Sem grifos no original)

3 ldquoArt 3ordm As disposiccedilotildees aplicaacuteveis para valores devidos a conselhos profissionais quando natildeo existir disposiccedilatildeo a respeito em lei especiacutefica satildeo as constantes desta Lei Paraacutegrafo uacutenico Aplica-se esta Lei tambeacutem aos conselhos profissionais quando lei especiacutefica I ndash estabelecer a cobranccedila de valores expressos em moeda ou unidade de referecircncia natildeo mais existente II ndash natildeo especificar valores mas delegar a fixaccedilatildeo para o proacuteprio conselhordquo

4 MS 10272 rel min Victor Nunes P DJ de 11-7-1963 e MS 22643 rel min Moreira Alves P DJ de 4-12-1998

5 ldquoArt 149 Compete exclusivamente agrave Uniatildeo instituir contribuiccedilotildees sociais de intervenccedilatildeo no domiacute-nio econocircmico e de interesse das categorias profissionais ou econocircmicas como instrumento de sua atuaccedilatildeo nas respectivas aacutereas observado o disposto nos arts 146 III e 150 I e III e sem prejuiacutezo do previsto no art 195 sect 6ordm relativamente agraves contribuiccedilotildees a que alude o dispositivo sect 1ordm Os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo contribuiccedilatildeo cobrada de seus servidores para o custeio em benefiacutecio destes do regime previdenciaacuterio de que trata o art 40 cuja aliacutequota natildeo seraacute inferior agrave da contribuiccedilatildeo dos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo sect 2ordm As contribuiccedilotildees sociais e de intervenccedilatildeo no domiacutenio econocircmico de que trata o caput deste artigo I ndash natildeo incidiratildeo sobre as receitas decorrentes de exportaccedilatildeo II ndash incidiratildeo tambeacutem sobre a importaccedilatildeo de produtos estran-geiros ou serviccedilos III ndash poderatildeo ter aliacutequotas a) ad valorem tendo por base o faturamento a receita

422iacutendice de teses

bruta ou o valor da operaccedilatildeo e no caso de importaccedilatildeo o valor aduaneiro b) especiacutefica tendo por base a unidade de medida adotada sect 3ordm A pessoa natural destinataacuteria das operaccedilotildees de importaccedilatildeo poderaacute ser equiparada a pessoa juriacutedica na forma da lei sect 4ordm A lei definiraacute as hipoacuteteses em que as contribuiccedilotildees incidiratildeo uma uacutenica vezrdquo

6 MS 21797 rel min Carlos Velloso P DJ de 18-5-2001

7 ADI 1717 rel min Sydney Sanches P DJ de 28-3-2003

8 ldquoArt 3ordm As disposiccedilotildees aplicaacuteveis para valores devidos a conselhos profissionais quando natildeo existir disposiccedilatildeo a respeito em lei especiacutefica satildeo as constantes desta Lei Paraacutegrafo uacutenico Aplica-se esta Lei tambeacutem aos conselhos profissionais quando lei especiacutefica I ndash estabelecer a cobranccedila de valores expressos em moeda ou unidade de referecircncia natildeo mais existente II ndash natildeo especificar valores mas delegar a fixaccedilatildeo para o proacuteprio conselhordquo

9 ldquoArt 4ordm Os Conselhos cobraratildeo I ndash multas por violaccedilatildeo da eacutetica conforme disposto na legislaccedilatildeo II ndash anuidades e III ndash outras obrigaccedilotildees definidas em lei especialrdquo

10 ldquoArt 6ordm As anuidades cobradas pelo conselho seratildeo no valor de I ndash para profissionais de niacutevel superior ateacute R$ 50000 (quinhentos reais) II ndash para profissionais de niacutevel teacutecnico ateacute R$ 25000 (duzentos e cinquenta reais) e III ndash para pessoas juriacutedicas conforme o capital social os seguintes valores maacuteximos a) ateacute R$ 5000000 (cinquenta mil reais) R$ 50000 (quinhentos reais) b) acima de R$ 5000000 (cinquenta mil reais) e ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais) R$ 100000 (mil reais) c) acima de R$ 20000000 (duzentos mil reais) e ateacute R$ 50000000 (quinhentos mil reais) R$ 150000 (mil e quinhentos reais) d) acima de R$ 50000000 (quinhentos mil reais) e ateacute R$ 100000000 (um milhatildeo de reais) R$ 200000 (dois mil reais) e) acima de R$ 100000000 (um milhatildeo de reais) e ateacute R$ 200000000 (dois milhotildees de reais) R$ 250000 (dois mil e quinhentos reais) f ) acima de R$ 200000000 (dois milhotildees de reais) e ateacute R$ 1000000000 (dez milhotildees de reais) R$ 300000 (trecircs mil reais) g) acima de R$ 1000000000 (dez milhotildees de reais) R$ 400000 (quatro mil reais) sect 1ordm Os valores das anuidades seratildeo reajustados de acordo com a variaccedilatildeo integral do Iacutendice Nacional de Preccedilos ao Consumidor ndash INPC calculado pela Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE ou pelo iacutendice oficial que venha a substituiacute-lo sect 2ordm O valor exato da anuidade o desconto para profissionais receacutem-inscritos os criteacuterios de isenccedilatildeo para profissionais as regras de recuperaccedilatildeo de creacuteditos as regras de parcelamento garantido o miacutenimo de 5 (cinco) vezes e a concessatildeo de descontos para pagamento antecipado ou agrave vista seratildeo estabelecidos pelos respectivos conselhos federaisrdquo

11 ldquoArt 7ordm Os Conselhos poderatildeo deixar de promover a cobranccedila judicial de valores inferiores a 10 (dez) vezes o valor de que trata o inciso I do art 6ordmrdquo

12 ldquoArt 8ordm Os Conselhos natildeo executaratildeo judicialmente diacutevidas referentes a anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa fiacutesica ou juriacutedica inadimplente Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput natildeo limitaraacute a realizaccedilatildeo de medidas administrativas de cobranccedila a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees por violaccedilatildeo da eacutetica ou a suspensatildeo do exerciacutecio profissionalrdquo

13 ldquoArt 9ordm A existecircncia de valores em atraso natildeo obsta o cancelamento ou a suspensatildeo do registro a pedidordquo

423iacutendice de teses

14 ldquoArt 10 O percentual da arrecadaccedilatildeo destinado ao conselho regional e ao conselho federal respec-tivo eacute o constante da legislaccedilatildeo especiacuteficardquo

15 ldquoArt 11 O valor da Taxa de Anotaccedilatildeo de Responsabilidade Teacutecnica ndash ART prevista na Lei n 6496 de 7 de dezembro de 1977 natildeo poderaacute ultrapassar R$ 15000 (cento e cinquenta reais) Paraacutegrafo uacutenico O valor referido no caput seraacute atualizado anualmente de acordo com a variaccedilatildeo integral do Iacutendice Nacional de Preccedilos ao Consumidor ndash INPC calculado pela Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE ou iacutendice oficial que venha a substituiacute-lordquo

424iacutendice de teses

Natildeo viola a legalidade tributaacuteria lei que prescrevendo o teto possibilita ao

ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporccedilatildeo razoaacutevel com os

custos da atuaccedilatildeo estatal valor esse que natildeo pode ser atualizado por ato do

proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de corre-

ccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos

O princiacutepio da reserva de lei natildeo eacute absoluto Eacute possiacutevel haver maior ou menor aber-tura dos tipos tributaacuterios dependendo da natureza e da estrutura do tributo a que se aplica

Com relaccedilatildeo agraves taxas cobradas em razatildeo do exerciacutecio do poder de poliacutecia por forccedila da ausecircncia de exauriente e minuciosa definiccedilatildeo legal dos serviccedilos compreen-didos admite-se o especial diaacutelogo da lei com os regulamentos na fixaccedilatildeo do aspecto quantitativo da regra matriz de incidecircncia

A lei autorizadora deve ser legitimamente justificada e o diaacutelogo com o regulamen-to deve-se dar em termos de subordinaccedilatildeo desenvolvimento e complementariedade

Alguns criteacuterios devem ser observados para aferir a constitucionalidade da norma regulamentar ldquoa) a delegaccedilatildeo pode ser retirada daquele que a recebeu a qualquer momento por decisatildeo do Congresso b) o Congresso fixa standards ou padrotildees que limitam a accedilatildeo do delegado c) razoabilidade da delegaccedilatildeordquo1

A razatildeo autorizadora da delegaccedilatildeo dessa atribuiccedilatildeo anexa agrave competecircncia tributaacute-ria estaacute justamente na maior capacidade de a Administraccedilatildeo Puacuteblica por estar estrei-tamente ligada agrave atividade estatal direcionada a contribuinte conhecer da realidade e dela extrair elementos para complementar o aspecto quantitativo da taxa visando encontrar com maior grau de proximidade (quando comparado com o legislador) a razoaacutevel equivalecircncia do valor da exaccedilatildeo com os custos que ela pretende ressarcir

A taxa devida pela anotaccedilatildeo de responsabilidade teacutecnica na forma do art 2ordm paraacute-grafo uacutenico da Lei 699419822 insere-se nesse contexto

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Taxas Ȥ Ato normativo infralegal ‒ Valor da taxa ‒ Repercussatildeo Geral

RE 838284RG ‒ Tema 829rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 22-9-2017Informativo STF 844

425iacutendice de teses

Os conselhos de fiscalizaccedilatildeo por estarem mais proacuteximos da atividade-fim do que o legislador podem complementar com mais conhecimento e razoabilidade o as-pecto quantitativo da taxa de anotaccedilatildeo de responsabilidade teacutecnica Esse quantitativo soacute natildeo pode ser atualizado por ato do proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de correccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos

1 RE 343446 rel min Carlos Velloso P DJ de 4-4-2003

2 ldquoArt 2ordm () Paraacutegrafo uacutenico O disposto neste artigo natildeo se aplica agraves taxas referentes agrave Anotaccedilatildeo de Responsabilidade Teacutecnica ndash ART criada pela Lei n 6496 de 7 de dezembro de 1977 as quais poderatildeo ser fixadas observado o limite maacuteximo de 5 MRV [Maior Valor de Referecircncia]rdquo

426iacutendice de teses

As taxas municipais de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento natildeo podem ter como

base de caacutelculo o nuacutemero de empregados ou ramo de atividade exercida pelo

contribuinte

ldquoA taxa eacute um tributo contraprestacional (vinculado) usado na remuneraccedilatildeo de uma atividade especiacutefica seja serviccedilo ou exerciacutecio do poder de poliacutecia e por isso natildeo se ateacutem a signos presuntivos de riqueza As taxas comprometem-se tatildeo somente com o custo do serviccedilo especiacutefico e divisiacutevel que as motiva ou com a atividade de poliacutecia desenvolvidardquo1

O nuacutemero de empregados eacute um indiacutecio insuficiente para fundamentar maior de-manda pelo serviccedilo de fiscalizaccedilatildeo desempenhado pelo Estado

Aleacutem disso o criteacuterio da atividade exercida pelo contribuinte para se aferir o custo do exerciacutecio do poder de poliacutecia desvincula-se do maior ou menor trabalho ou ativi-dade que o poder puacuteblico se vecirc obrigado a desempenhar

Por fim o valor da taxa deve refletir tanto quanto possiacutevel natildeo apenas a intensi-dade do exerciacutecio do poder de poliacutecia mas tambeacutem sua extensatildeo e periodicidade2

1 RE 554951 AgR rel min Dias Toffoli P DJE de 19-11-2013

2 RE 220316 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 29-6-2001

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Taxas Ȥ Taxa de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento

RE 990914rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 19-9-2017Informativo STF 870

427

IacuteNDICE DE TESES

Direito Administrativo

Atos administrativos

Meacuterito administrativo

Controle do meacuterito

Eacute vedado ao Poder Judiciaacuterio analisar o meacuterito de ato administrativo 14

Aumento de vencimento legalmente concedido com data predeterminada

para iniacutecio de eficaacutecia caracteriza aquisiccedilatildeo de direito 14

Contratos administrativos

Execuccedilatildeo dos contratos

Responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado

natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabilida-

de pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou subsidiaacuterio nos termos do

art 71 sect 1ordm da Lei 86661993 16

Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Controle judicial

Mandado de seguranccedila ndash Repercussatildeo Geral

Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisiccedilatildeo

ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do oacutergatildeo

competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo uacutenico da

Lei 105592002 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequido e certo 19

Havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees

devidas aos anistiados poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibili-

dade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado no

prazo de sessenta dias 20

Mandado de seguranccedila

A instauraccedilatildeo de processo especiacutefico de anulaccedilatildeo de anistia caracteriza ato im-

pugnaacutevel capaz de por si soacute viabilizar impugnaccedilatildeo pela via mandamental 22

428

Intervenccedilatildeo do Estado na propriedade

Expropriaccedilatildeo

Demonstraccedilatildeo de culpa ndash Repercussatildeo Geral

A expropriaccedilatildeo prevista no art 243 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) pode ser afas-

tada desde que o proprietaacuterio comprove que natildeo incorreu em culpa ainda que

in vigilando ou in eligendo 25

Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Administraccedilatildeo Indireta

Sociedades de economia mista

Eacute aplicaacutevel o regime dos precatoacuterios agraves sociedades de economia mista presta-

doras de serviccedilo puacuteblico proacuteprio do Estado e de natureza natildeo concorrencial 28

Autarquias ndash Repercussatildeo Geral

Os pagamentos devidos em razatildeo de pronunciamento judicial pelos conse-

lhos de fiscalizaccedilatildeo natildeo se submetem ao regime de precatoacuterios 30

Processo administrativo

Comunicaccedilatildeo dos atos

Ciecircncia do interessado

O termo inicial para a formalizaccedilatildeo de mandado de seguranccedila pressupotildee a

ciecircncia do impetrante quando o ato impugnado surgir no acircmbito de processo

administrativo do qual seja parte 32

Instruiacutedo o processo com documentos suficientes ao exame da pretensatildeo veicu-

lada na peticcedilatildeo inicial descabe suscitar a inadequaccedilatildeo da via mandamental 32

Responsabilidade civil do Estado

Responsabilidade objetiva

Estabelecimentos penitenciaacuterios ndash Repercussatildeo Geral

Considerando que eacute dever do Estado imposto pelo sistema normativo man-

ter em seus presiacutedios os padrotildees miacutenimos de humanidade previstos no orde-

namento juriacutedico eacute de sua responsabilidade nos termos do art 37 sect 6ordm da

Constituiccedilatildeo Federal (CF) a obrigaccedilatildeo de ressarcir os danos inclusive morais

comprovadamente causados aos detentos em decorrecircncia da falta ou insufi-

ciecircncia das condiccedilotildees legais de encarceramento 35

429

Servidores puacuteblicos

Concurso puacuteblico

Regramento juriacutedico

Eacute constitucional a reserva de 20 das vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos

para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito da Admi-

nistraccedilatildeo Puacuteblica Direta e Indireta Eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo aleacutem da autodecla-

raccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentificaccedilatildeo desde que respeitada a

dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditoacuterio e a ampla defesa 38

Regramento juriacutedico ndash Repercussatildeo Geral

Editais de concurso puacuteblico natildeo podem estabelecer restriccedilatildeo a pessoas com ta-

tuagem salvo situaccedilotildees excepcionais em razatildeo de conteuacutedo que viole valores

constitucionais 41

Direitos e deveres

Direito de greve ndash Repercussatildeo Geral

A Administraccedilatildeo Puacuteblica deve proceder ao desconto dos dias de paralisaccedilatildeo

decorrentes do exerciacutecio do direito de greve pelos servidores puacuteblicos em vir-

tude da suspensatildeo do viacutenculo funcional que dela decorre permitida a compen-

saccedilatildeo em caso de acordo O desconto seraacute contudo incabiacutevel se ficar demons-

trado que a greve foi provocada por conduta iliacutecita do poder puacuteblico 44

Regime juriacutedico

Jornada de trabalho

A jornada de trabalho dos ocupantes de cargos puacuteblicos do Poder Judiciaacuterio fe-

deral das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de quatro (vinte

horas semanais) e seis (trinta horas semanais) horas diaacuterias 47

Regime proacuteprio de previdecircncia social

Aposentadoria compulsoacuteria ndash Repercussatildeo Geral

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissatildeo natildeo se subme-

tem agrave regra da aposentadoria compulsoacuteria prevista no art 40 sect 1ordm II da Cons-

tituiccedilatildeo Federal (CF) a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimen-

to efetivo inexistindo tambeacutem qualquer idade limite para fins de nomeaccedilatildeo a

cargo em comissatildeo 48

Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional inexiste oacutebice cons-

titucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente permaneccedila

430

no cargo comissionado que jaacute desempenhava ou a que seja nomeado para ou-

tro cargo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo uma vez que natildeo se trata de conti-

nuidade ou criaccedilatildeo de viacutenculo efetivo com a Administraccedilatildeo 49

Aposentadoria

O cocircmputo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz exige a demonstraccedilatildeo

da efetiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante enco-

mendas de terceiros 51

Abono de permanecircncia

A ocupaccedilatildeo de novo cargo da magistratura dentro da estrutura do Poder Judiciaacute-

rio pelo titular do abono de permanecircncia natildeo implica a cessaccedilatildeo do benefiacutecio 52

Remuneraccedilatildeo

Acumulaccedilatildeo de cargos puacuteblicos ndash Repercussatildeo Geral

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulaccedilatildeo de cargos em-

pregos e funccedilotildees a incidecircncia do art 37 XI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

pressupotildee consideraccedilatildeo de cada um dos viacutenculos formalizados afastada

a observacircncia do teto remuneratoacuterio quanto ao somatoacuterio dos ganhos do

agente puacuteblico 54

Acumulaccedilatildeo de proventos e pensotildees

Eacute legiacutetima a acumulaccedilatildeo de proventos civis e militares quando a reforma se

deu sob a eacutegide da Constituiccedilatildeo Federal de 1967 e a aposentadoria ocorreu

antes da vigecircncia da Emenda Constitucional 201998 56

Servidores militares

Curso de formaccedilatildeo

O pedido de desligamento uma vez completado o periacuteodo de Escola Naval

gera para o Estado o direito agrave indenizaccedilatildeo nos termos da Lei 68801980 (Esta-

tuto dos Militares) 58

Servidores temporaacuterios

Regras para admissatildeo ndash Repercussatildeo Geral

Eacute compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) a previsatildeo legal que exija o

transcurso de 24 meses contados do teacutermino do contrato antes de nova ad-

missatildeo de professor temporaacuterio anteriormente contratado 59

431

Regras para admissatildeo

Satildeo inconstitucionais dispositivos de lei estadual de iniciativa parlamentar

que asseguraram a permanecircncia dos servidores puacuteblicos admitidos em caraacuteter

temporaacuterio sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico 61

Particulares colaboradores

Forma de provimento

Eacute ilegiacutetimo o provimento de serventia extrajudicial sem concurso puacuteblico

decorrente de permuta 64

Direito Ambiental

Poliacutetica nacional do meio ambiente

Princiacutepios

Princiacutepio da precauccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

No atual estaacutegio do conhecimento cientiacutefico que indica ser incerta a existecircncia

de efeitos nocivos da exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral a campos

eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por sistemas de energia eleacute-

trica natildeo existem impedimentos por ora a que sejam adotados os paracircmetros

propostos pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) conforme estabelece a

Lei 119342009 68

Direito Civil

Pessoas

Pessoas juriacutedicas

Associaccedilotildees

O art 59 do Coacutedigo Civil eacute compatiacutevel com a autonomia das entidades despor-

tivas prevista no art 217 I da Constituiccedilatildeo Federal 72

Direito de famiacutelia

Direito pessoal

Relaccedilotildees de parentesco ndash Repercussatildeo Geral

A paternidade socioafetiva declarada ou natildeo em registro puacuteblico natildeo impede

432

o reconhecimento do viacutenculo de filiaccedilatildeo concomitante baseado na origem bio-

loacutegica com os efeitos juriacutedicos proacuteprios 74

Relaccedilotildees de parentesco

O direito de ter reconhecida a filiaccedilatildeo bioloacutegica prevalece sobre a presunccedilatildeo

legal de paternidade 77

Direito das sucessotildees

Sucessatildeo legiacutetima

Ordem da vocaccedilatildeo hereditaacuteria ndash Repercussatildeo Geral

No sistema constitucional vigente eacute inconstitucional a distinccedilatildeo de regimes

sucessoacuterios entre cocircnjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos

os casos o regime estabelecido no art 1829 do Coacutedigo Civil de 2002 79

Direito Constitucional

Direitos e garantias fundamentais

Direitos e deveres individuais e coletivos

Direito de resposta

Inexiste decisatildeo do Supremo Tribunal Federal (STF) em controle concentrado

de constitucionalidade e sobre a regulamentaccedilatildeo adequada para o exerciacutecio do

direito de resposta haacutebil a justificar o cabimento da reclamaccedilatildeo 83

Liberdade de expressatildeo religiosa

Natildeo se revela iliacutecita por si soacute a comparaccedilatildeo entre diversas religiotildees inclusive

com explicitaccedilatildeo de certa hierarquizaccedilatildeo ou animosidade entre elas 85

Liberdade de exerciacutecio profissional

Eacute constitucional a expressatildeo ldquoprivativasrdquo contida no caput do art 3ordm da Lei

82341991 que regulamenta a profissatildeo de nutricionista respeitado o acircmbito

de atuaccedilatildeo profissional das demais profissotildees regulamentadas 86

Direito agrave informaccedilatildeo

Eacute garantido o amplo acesso a registros documentais e fonograacuteficos de sessotildees

de julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) puacuteblicas ou secretas ocor-

ridas na deacutecada de 1970 88

433

Devido processo legal

Eacute necessaacuteria a observacircncia da garantia do devido processo legal em especial

do contraditoacuterio e da ampla defesa relativamente agrave inscriccedilatildeo de entes puacuteblicos

em cadastros federais de inadimplecircncia 90

A inscriccedilatildeo do nome do Estado-membro em cadastro federal de inadimplentes

em face de accedilotildees eou omissotildees de gestotildees anteriores natildeo configura ofensa ao

princiacutepio da intranscendecircncia 90

Prisatildeo civil por diacutevida

Eacute inconstitucional dispositivo de lei federal que admite seja erigido agrave condiccedilatildeo

de ldquodepositaacuterio infielrdquo aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor desig-

nado no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria 92

Eacute inconstitucional o ajuizamento de demanda que coage ao depoacutesito da quan-

tia devida com ou sem apresentaccedilatildeo de contestaccedilatildeo sob pena de decretaccedilatildeo de

revelia (arts 3ordm e 4ordm da Lei 88661994) 93

Direitos sociais

Direito ao trabalho

Eacute constitucional a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso

dos bombeiros civis 97

Nacionalidade

Perda da nacionalidade originaacuteria

Aquele que natildeo ostenta mais a nacionalidade brasileira por ter adquirido ou-

tra nacionalidade em situaccedilatildeo que natildeo se subsome agraves exceccedilotildees previstas no

art 12 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF) pode ser extraditado pelo Brasil 99

Organizaccedilatildeo do Estado

Uniatildeo

Bens da Uniatildeo

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado 101

Bens da Uniatildeo ndash Repercussatildeo Geral

A Emenda Constitucional 462005 natildeo interferiu na propriedade da Uniatildeo nos

moldes do art 20 VII da Constituiccedilatildeo Federal (CF) sobre os terrenos de ma-

rinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municiacutepios 102

434

Competecircncia legislativa privativa

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo por meio de lei estadual de Certidatildeo de Vio-

laccedilatildeo dos Direitos do Consumidor como requisito para contrataccedilatildeo com a Ad-

ministraccedilatildeo Puacuteblica 105

Eacute inconstitucional lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de

celular em presiacutedio 107

Eacute formalmente inconstitucional a lei estadual que regulamenta a cobranccedila

proporcional ao tempo efetivamente utilizado por serviccedilos de estacionamento

privado de veiacuteculos no Estado-membro 109

Estados federados

Competecircncia legislativa concorrente

Eacute constitucional lei estadual que declara em regime de extinccedilatildeo a Carteira de

Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila estadual 112

Eacute inconstitucional dispositivo de lei estadual que veda que o Estado-membro

responda direta ou indiretamente pelo pagamento dos benefiacutecios jaacute conce-

didos ou que venham a ser concedidos no acircmbito da Carteira das Serventias

tampouco responsabilize-se por qualquer indenizaccedilatildeo a seus participantes ou

por insuficiecircncia patrimonial passada presente ou futura 112

Eacute constitucional dispositivo de lei estadual que autoriza as empresas que fa-

cultativamente patrocinarem bolsas para a formaccedilatildeo superior de professores a

exigir dos beneficiaacuterios em contrapartida serviccedilos na aacuterea educacional 115

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo unilateral por meio de lei estadual de be-

nefiacutecio fiscal relativo a Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos

(ICMS) agrave empresa patrocinadora de bolsas de estudo a professores 116

Municiacutepios

Competecircncia legislativa suplementar

O Municiacutepio tem competecircncia para legislar sobre proteccedilatildeo do meio ambiente

e controle da poluiccedilatildeo quando se tratar de interesse local 118

Fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio ndash Repercussatildeo Geral

Para os fins do art 1ordm I g da Lei Complementar 64 de 18 de maio de 1990 alte-

rado pela Lei Complementar 135 de 4 de junho de 2010 a apreciaccedilatildeo das contas

435

de prefeitos tanto as de governo quanto as de gestatildeo seraacute exercida pelas Cacircma-

ras Municipais com o auxiacutelio dos tribunais de contas competentes cujo parecer

preacutevio somente deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de 23 dos vereadores 120

Organizaccedilatildeo dos Poderes

Poder Legislativo

Deputados e senadores

A suspensatildeo do exerciacutecio do mandato de deputado federal pelo Supremo Tri-

bunal Federal (STF) em sede de decisatildeo cautelar penal natildeo gera direito agrave sus-

pensatildeo do processo de cassaccedilatildeo do mandato 124

Eacute liacutecita a adoccedilatildeo da votaccedilatildeo nominal em parecer do Conselho de Eacutetica da Cacirc-

mara dos Deputados 125

Natildeo acarreta duplicidade o cocircmputo dos membros suplentes para o quoacuterum de ins-

talaccedilatildeo da sessatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Cidadania (CCJC) 125

A competecircncia das casas legislativas para decidir sobre a perda do mandato

de congressista condenado criminalmente (art 55 VI e sect 2ordm da Constituiccedilatildeo

Federal) natildeo eacute absoluta 127

Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria

Tribunal de Contas

A ausecircncia de participaccedilatildeo de terceiros indiretamente afetados pelas determi-

naccedilotildees do Tribunal de Contas da Uniatildeo em auditoria realizada para apurar a

gestatildeo administrativa de oacutergatildeo puacuteblico natildeo viola o direito ao contraditoacuterio

(CF art 5ordm LV) 129

Uma vez envolvida fiscalizaccedilatildeo linear exercida pelo Tribunal de Contas pre-

sente o disposto no art 71 IV da Carta da Repuacuteblica inexiste campo para

evocar-se a decadecircncia prevista no art 54 da Lei 97841999 129

A prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) eacute

regulada integralmente pela Lei 98731999 seja em razatildeo da interpretaccedilatildeo

correta e da aplicaccedilatildeo direta desta lei seja por analogia 131

Configura usurpaccedilatildeo de atribuiccedilatildeo tiacutepica do Tribunal de Contas preconizada

no art 71 II da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica atribuir agrave respectiva Assembleia

Legislativa competecircncia para julgar as contas do Poder Legislativo 134

436

Eacute inconstitucional a norma de Constituiccedilatildeo estadual que dispensa apresenta-

ccedilatildeo de parecer preacutevio sobre as contas de chefe do Poder Executivo municipal a

ser emitido pelo respectivo Tribunal de Contas estadual 135

Eacute permitida apenas uma reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila 135

A escolha do superintendente da Poliacutecia Civil pelo governador do Estado

circunscreve-se a delegados ou delegadas de poliacutecia da carreira independente-

mente do estaacutegio de sua progressatildeo funcional 135

Tribunal de Contas ndash Repercussatildeo Geral

O parecer teacutecnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramen-

te opinativa competindo exclusivamente agrave Cacircmara de Vereadores o julga-

mento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local sendo incabiacutevel o

julgamento ficto das contas por decurso de prazo 137

Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

(MPTCU) natildeo possuem legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento de

reclamaccedilatildeo no Supremo Tribunal Federal 141

Procuradoria especial dos Tribunais de Contas

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de

Contas estadual com a atribuiccedilatildeo de assegurar em juiacutezo a autonomia e a inde-

pendecircncia da Corte de Contas bem como de exercer as funccedilotildees de consultoria

e assessoramento juriacutedico internos 143

A procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de Contas estadual natildeo possui

legitimidade ativa para a cobranccedila em juiacutezo de multas aplicadas pela Corte de

Contas 143

Poder Executivo

Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

O sect 4ordm do art 187 do Regimento Interno da Cacircmara dos Deputados (RICD) eacute

compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) 145

Eacute vedado agraves unidades federativas instituir normas que condicionem a instau-

raccedilatildeo de accedilatildeo penal contra o governador por crime comum agrave preacutevia autori-

zaccedilatildeo da casa legislativa cabendo ao Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) dispor

437

fundamentadamente sobre a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares penais inclusi-

ve afastamento do cargo 147

Poder Judiciaacuterio

Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) eacute competente para julgar accedilatildeo ordinaacuteria

coletiva ajuizada contra o Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) quando a con-

troveacutersia versar sobre o alcance dos poderes deste oacutergatildeo 152

Natildeo compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) a execuccedilatildeo

individual de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo inclusive aquelas proferi-

das em sede mandamental 153

O Supremo Tribunal Federal (STF) natildeo possui competecircncia originaacuteria para

julgar accedilatildeo na qual se discute o direito de magistrado de gozar de licenccedila-

-precircmio 155

Controle de constitucionalidade

Os princiacutepios constitucionais relacionados ao sistema financeiro e orccedilamentaacute-

rio os princiacutepios da independecircncia e da harmonia entre os Poderes (CF art

2ordm) e o regime constitucional de precatoacuterios (CF art 100) podem ser utiliza-

dos como paracircmetro de controle na arguiccedilatildeo de descumprimento de preceito

fundamental 156

Na accedilatildeo direta de inconstitucionalidade a arguiccedilatildeo de revogaccedilatildeo da lei ndash apoacutes a

decisatildeo de meacuterito ndash natildeo enseja prejudicialidade da accedilatildeo por perda de objeto 158

As associaccedilotildees que congregam mera fraccedilatildeo ou parcela de categoria profissio-

nal em cujo interesse vecircm a juiacutezo natildeo possuem legitimidade ativa para provo-

car a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucionalidade 160

Eacute desnecessaacuteria a submissatildeo de demanda judicial agrave regra da reserva de plenaacuterio

na hipoacutetese em que a decisatildeo judicial estiver fundada em jurisprudecircncia do Ple-

naacuterio do Supremo Tribunal Federal (STF) ou em suacutemula deste Tribunal 162

Controle de constitucionalidade ndash Repercussatildeo Geral

Natildeo haacute usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF) quando

os tribunais de justiccedila exercem controle abstrato de constitucionalidade de leis

438

municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria pelos Estados 164

O art 39 sect 4ordm da CF natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias e

13ordm salaacuterio 164

Conselho Nacional de Justiccedila

Natildeo cabe ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) o controle de controveacutersia

submetida agrave apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio 167

Insere-se entre as competecircncias constitucionalmente atribuiacutedas ao Conselho

Nacional de Justiccedila (CNJ) a possibilidade de afastar por inconstitucionalidade

a aplicaccedilatildeo de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto de con-

trole determinando aos oacutergatildeos submetidos a seu espaccedilo de influecircncia a obser-

vacircncia desse entendimento por ato expresso e formal tomado pela maioria

absoluta dos membros do Conselho 169

Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar accedilotildees em que a Ordem dos Ad-

vogados do Brasil (OAB) quer mediante o Conselho Federal quer seccional

figure na relaccedilatildeo processual 172

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar o crime ambiental de caraacuteter

transnacional que envolva animais silvestres ameaccedilados de extinccedilatildeo e espeacuteci-

mes exoacuteticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo

Brasil 174

Justiccedila comum

Compete agrave Justiccedila comum julgar accedilatildeo movida por trabalhador contratado sob

o regime da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) mas regido por lei que

instituiu o regime estatutaacuterio no acircmbito do ente puacuteblico com o objetivo de re-

ceber diferenccedilas salariais originadas no primeiro periacuteodo que possuam reflexo

no periacuteodo posterior agrave transmudaccedilatildeo de regime juriacutedico 176

Justiccedila do Trabalho

Compete agrave Justiccedila do Trabalho processar e julgar causa relativa a depoacutesitos do

Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) de servidor que ingressou no

serviccedilo puacuteblico antes da Constituiccedilatildeo de 1988 sem prestar concurso 178

439

Justiccedila Militar

A competecircncia penal da Justiccedila Castrense natildeo se limita apenas aos integrantes

das Forccedilas Armadas nem se define por isso mesmo ratione personae 179

Tribunais e juiacutezes dos Estados

Eacute inconstitucional o art 3ordm da Resoluccedilatildeo TJTPRJ 12014 do Plenaacuterio do Tri-

bunal de Justiccedila do Rio de Janeiro que dispotildee sobre regras de processo eleito-

ral no Poder Judiciaacuterio estadual 180

Funccedilotildees essenciais agrave Justiccedila

Ministeacuterio Puacuteblico

Cabe ao procurador-geral da Repuacuteblica a apreciaccedilatildeo de conflitos de atribuiccedilatildeo

entre oacutergatildeos do Ministeacuterio Puacuteblico 182

Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Sistema tributaacuterio nacional

Princiacutepios gerais ndash Repercussatildeo Geral

A seguranccedila puacuteblica presentes a prevenccedilatildeo e o combate a incecircndios faz-se

no campo da atividade preciacutepua pela unidade da Federaccedilatildeo e porque serviccedilo

essencial tem como a viabilizaacute-la a arrecadaccedilatildeo de impostos natildeo cabendo ao

Municiacutepio a criaccedilatildeo de taxa para tal fim 185

Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

A imunidade reciacuteproca prevista no art 150 VI a da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) natildeo se estende a empresa privada arrendataacuteria de imoacutevel puacuteblico quando

seja ela exploradora de atividade econocircmica com fins lucrativos Nessa hipoacutete-

se eacute constitucional a cobranccedila do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU)

pelo Municiacutepio 187

Os requisitos para o gozo de imunidade hatildeo de estar previstos em lei comple-

mentar 189

A contribuiccedilatildeo social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do

em pregado quer anteriores ou posteriores agrave Emenda Constitucional 201998 192

Incide o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) considerado imoacutevel de

pessoa juriacutedica de direito puacuteblico cedido agrave pessoa juriacutedica de direito privado

devedora do tributo 193

440

A imunidade tributaacuteria constante do art 150 VI d da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) aplica-se ao livro eletrocircnico (e-book) inclusive aos suportes exclusivamen-

te utilizados para fixaacute-lo 195

A imunidade tributaacuteria subjetiva aplica-se a seus beneficiaacuterios na posiccedilatildeo de

contribuinte de direito mas natildeo na de simples contribuinte de fato sendo irre-

levante para a verificaccedilatildeo da existecircncia do beneplaacutecito constitucional a reper-

cussatildeo econocircmica do tributo envolvido 198

A imunidade da aliacutenea d do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 alcanccedila componentes eletrocircnicos destinados exclusivamente a integrar

unidade didaacutetica com fasciacuteculos 200

Limitaccedilotildees do poder de tributar

A imunidade tributaacuteria prevista no art 150 IV a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

natildeo alcanccedila imoacuteveis da Uniatildeo e das unidades federadas cedidos para empreendi-

mentos privados exploradores de atividade econocircmica com fins lucrativos 201

Reparticcedilatildeo das receitas tributaacuterias

Natildeo cabe agrave Uniatildeo criar por meio de legislaccedilatildeo ordinaacuteria novos criteacuterios de

deduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da receita arrecadada de impostos em desacordo com

o art 159 I a da Constituiccedilatildeo Federal (CF) 203

Financcedilas puacuteblicas

Orccedilamentos

Eacute assegurado ao Poder Judiciaacuterio estadual o direito de receber ateacute o dia vin-

te de cada mecircs em duodeacutecimos os recursos correspondentes agraves dotaccedilotildees

orccedilamentaacuterias sendo facultado ao Poder Executivo do Estado proceder ao

desconto uniforme da Receita Corrente Liacutequida prevista na Lei Orccedilamentaacute-

ria Anual estadual em sua proacutepria receita e na dos demais Poderes e oacutergatildeos

autocircnomos 205

Eacute constitucional a Lei federal 13255 de 15 de fevereiro de 2016 (Lei Orccedila-

mentaacuteria Anual) em especial quanto agraves disposiccedilotildees em que satildeo estipuladas as

dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias destinadas agrave Justiccedila do Trabalho (Lei Orccedilamentaacuteria

Anual de 2016 Anexo IV) 209

441

Ordem econocircmica e financeira

Princiacutepios gerais da atividade econocircmica

Livre iniciativa

Eacute inconstitucional lei estadual que impotildee a existecircncia de serviccedilo de empacota-

mento em supermercados sob pena de multa e interdiccedilatildeo de estabelecimento 213

Ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre ndash Repercussatildeo Geral

Nos termos do art 178 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) as normas e os tratados

internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aeacutereas de

passageiros especialmente as Convenccedilotildees de Varsoacutevia e Montreal tecircm preva-

lecircncia em relaccedilatildeo ao Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) 215

Ordem social

Seguridade social

Assistecircncia social ndash Repercussatildeo Geral

Os estrangeiros residentes no Paiacutes satildeo beneficiaacuterios da assistecircncia social pre-

vista no art 203 V da Constituiccedilatildeo Federal (CF) uma vez atendidos os requi-

sitos constitucionais e legais 221

Educaccedilatildeo cultura e desporto

Educaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

A garantia constitucional da gratuidade de ensino natildeo obsta a cobranccedila por

universidades puacuteblicas de mensalidade em cursos de especializaccedilatildeo 224

Autonomia universitaacuteria

Eacute inconstitucional lei estadual de iniciativa parlamentar que determina que os

escritoacuterios de praacutetica juriacutedica de universidade estadual mantenham plantatildeo

criminal para atendimento nos finais de semana e feriados dos hipossuficien-

tes presos em flagrante delito 228

Comunicaccedilatildeo social

Regulaccedilatildeo de diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos

Eacute inconstitucional a expressatildeo ldquoem horaacuterio diverso do autorizadordquo contida no

art 254 da Lei 80691990 230

Meio ambiente

Proteccedilatildeo da fauna

Lei que regulamenta a atividade da vaquejada manifestaccedilatildeo cultural com ca-

442

racteriacutesticas de entretenimento eacute incompatiacutevel com o art 225 sect 1ordm VII da

Constituiccedilatildeo Federal (CF) 233

Direito Eleitoral

Eleiccedilotildees

Propaganda eleitoral

Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral natildeo podem deliberar pela

exclusatildeo dos debates de candidatos cuja participaccedilatildeo seja facultativa quando a

emissora tenha optado por convidaacute-los 237

Satildeo constitucionais os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 95041997 que

disciplinam a distribuiccedilatildeo dos horaacuterios reservados agrave propaganda eleitoral

gratuita nas emissoras de raacutedio e de televisatildeo e nos canais de televisatildeo por

assinatura 239

Direito Empresarial

Propriedade intelectual

Direitos autorais

Gestatildeo coletiva

A mera rapidez no tracircmite de projeto de lei para aprovaccedilatildeo da Lei 128532013

que alterou ou introduziu dispositivos na Lei 96101998 ao reconfigurar o

marco regulatoacuterio da gestatildeo coletiva de direitos autorais no Brasil natildeo confi-

gura inconstitucionalidade formal 245

Eacute legiacutetima a promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos autorais

com o intuito de impedir praacuteticas abusivas por entes intermediaacuterios 245

As associaccedilotildees de titulares de direitos autorais exercem atividade de interesse

puacuteblico e devem atender a sua funccedilatildeo social 246

Satildeo constitucionais as disposiccedilotildees acerca dos criteacuterios de votaccedilatildeo previstos na

Lei 96101998 que atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais 247

443

Eacute constitucional a habilitaccedilatildeo preacutevia das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva em oacuter-

gatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal para a cobranccedila de direitos autorais 248

Satildeo constitucionais as normas relativas agrave negociaccedilatildeo de preccedilos e formas de

licenciamento de direitos autorais (art 98 sectsect 3ordm e 4ordm) e ao prazo miacutenimo para

comunicaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo pessoal de direitos por seus titulares (art 98 sect 15)

previstas na Lei 96101998 248

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de cadastro unificado de obras e dados autorais 249

A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila e dis-

tribuiccedilatildeo de direitos autorais eacute constitucional e deveraacute ser proporcional ao custo

efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada uma delas 250

Eacute constitucional dispositivo que incumbe ao ente arrecadador e agraves associa-

ccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de

perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a

transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titulares

transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arrecadaccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de direitos 250

Eacute constitucional dispositivo que prevecirc a participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura

na prestaccedilatildeo de contas pelas associaccedilotildees de gestatildeo coletiva 251

Eacute constitucional dispositivo que determina que o ente arrecadador deveraacute ad-

mitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as associa-

ccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua aacuterea de

atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal 251

Direito Financeiro

Diacutevida puacuteblica

Resgate

Requisitos

Eacute constitucional condicionar o resgate antecipado de tiacutetulos da diacutevida puacuteblica

emitidos em favor das instituiccedilotildees de ensino superior agrave satisfaccedilatildeo de suas obri-

gaccedilotildees previdenciaacuterias 259

444

Direito Internacional

Direito Penal Internacional

Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal

Extradiccedilatildeo

Em caso de reingresso de extraditando foragido natildeo eacute necessaacuteria nova decisatildeo

jurisdicional colegiada acerca da entrega basta a emissatildeo de ordem judicial

pelo relator do processo 262

A anuecircncia do extraditando com o pedido do Estado requerente poderaacute surtir

efeitos juriacutedicos para fins de deferimento da extradiccedilatildeo desde que essa possibi-

lidade esteja prevista em norma convencional pertinente e obedeccedila agraves forma-

lidades exigidas 264

O recebimento do pedido de extradiccedilatildeo natildeo constitui causa interruptiva da

prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria salvo disposiccedilatildeo expressa em tratado espe-

ciacutefico 265

A prisatildeo preventiva para fins de extradiccedilatildeo executoacuteria natildeo constitui causa in-

terruptiva da prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria do Estado requerente 265

A circunstacircncia de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao

extraditando como de lesa-humanidade natildeo afasta a sua prescriccedilatildeo 267

Direito Penal

Penas

Aplicaccedilatildeo da pena

Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

Estabelecida a pena-base no miacutenimo legal porque favoraacuteveis todas as circuns-

tacircncias judiciais a imposiccedilatildeo de regime inicial mais grave revela quadro de

descompasso com a legislaccedilatildeo penal 271

O condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 anos e natildeo exceda a

8 anos tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (CP

art 33 sect 2ordm b) caso as circunstacircncias judiciais do art 59 lhe forem favoraacuteveis 273

445

Dosimetria da pena

Natildeo eacute possiacutevel reconhecer o aumento da pena-base diante da culpabilidade

reconhecida meramente por consciecircncia da ilicitude 274

A existecircncia de inqueacuteritos policiais ou de accedilotildees penais sem tracircnsito em julgado natildeo

pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena 274

Crimes contra o patrimocircnio

Furto

Furto qualificado

No crime de furto (CP art 155) a circunstacircncia ldquorompimento de obstaacuteculordquo

deve ser utilizada alternativamente ou como qualificadora do crime ou como

causa de aumento da pena 276

Causa de aumento de pena

Eacute legiacutetima a incidecircncia da causa de aumento de pena por crime cometido du-

rante o repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm) no caso de furto praticado na forma

qualificada (CP art 155 sect 4ordm) 277

Crimes contra a dignidade sexual

Crimes contra a liberdade sexual

Estupro

Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor mesmo que praticados

na forma simples tecircm caraacuteter hediondo 279

Eacute admissiacutevel o reconhecimento de continuidade delitiva de acordo com o caso

concreto nos casos previstos no art 213 do CP 279

Crimes sexuais contra vulneraacuteveis

Estupro de vulneraacutevel

Para a configuraccedilatildeo de estupro de vulneraacutevel eacute irrelevante o consentimento

da viacutetima menor de quatorze anos 281

Disposiccedilotildees gerais

Causa de aumento de pena

Eacute juridicamente possiacutevel a majoraccedilatildeo da pena privativa de liberdade imposta a

bisavocirc de viacutetima em razatildeo da incidecircncia da causa de aumento prevista no inciso II

do art 226 do Coacutedigo Penal (CP) considerada a figura do ascendente 282

446

Crimes contra a feacute puacuteblica

Falsidade ideoloacutegica

Elemento subjetivo do tipo

No crime de falsidade ideoloacutegica as provas produzidas devem evidenciar que

o acusado possui ciecircncia inequiacutevoca do conteuacutedo inveriacutedico dos documentos

que assina ou de que o faccedila com o objetivo de prejudicar direito criar obriga-

ccedilatildeo ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante 284

Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral

Peculato

Eacute atiacutepica a conduta de peculato por ato praticado por secretaacuterio parlamentar

que efetivamente exerce a funccedilatildeo puacuteblica referente ao cargo e auxilia o parla-

mentar em assuntos de interesse privado 286

Concussatildeo

No crime de concussatildeo natildeo configura bis in idem a elevaccedilatildeo da pena na pri-

meira fase da dosimetria visto que em razatildeo da qualidade funcional ocupada

pelo agente dele se deveria exigir maior grau de observacircncia dos deveres e

obrigaccedilotildees relacionados ao cargo ocupado 288

Legislaccedilatildeo penal especial

Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees

Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou

deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

O parecer juriacutedico do oacutergatildeo teacutecnico especializado favoraacutevel agrave inexigibili-

dade impede a tipificaccedilatildeo criminosa da conduta prevista no art 89 da Lei

86661993 291

A distinccedilatildeo do iliacutecito administrativo (ato de improbidade) do iliacutecito penal (ato

criminoso) reclama que a exordial acusatoacuteria narre a accedilatildeo finaliacutestica do agente

voltada agrave obtenccedilatildeo de vantagem indevida por meio da dispensa da licitaccedilatildeo

violando com isso o bem juriacutedico penal protegido pelo tipo incriminador 291

A imputaccedilatildeo do crime definido no art 89 da Lei 86661993 a uma pluralidade

de agentes demanda a descriccedilatildeo indiciaacuteria na peccedila acusatoacuteria do viacutenculo sub-

jetivo entre os participantes para a obtenccedilatildeo do resultado criminoso 292

447

A ausecircncia do elemento subjetivo do tipo (dolo) no crime do art 89 da Lei

86661993 leva agrave rejeiccedilatildeo da denuacutencia 294

Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees

Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

A conduta de transmitir sinal de internet por radiofrequecircncia sem autorizaccedilatildeo

natildeo configura crime de desenvolver clandestinamente atividades de telecomu-

nicaccedilotildees (Lei 94721997 art 183) 295

Excepcionalmente ante a constataccedilatildeo da irrelevacircncia da conduta praticada

pelo paciente e da ausecircncia de resultado lesivo a praacutetica da conduta em tese

subsumida ao art 183 da Lei 94721997 natildeo deve ser resolvida na esfera penal

e sim nas instacircncias administrativas 296

Lei 96131998 ndash ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores

Art 1ordm ndash Lavagem de bens direitos ou valores

O crime de lavagem de bens direitos ou valores praticado na modalidade de

ocultaccedilatildeo (Lei 96131998 art 1ordm) tem natureza de crime permanente 297

Lei 113432006 ndash Lei de Drogas

Art 33 ndash Traacutefico de drogas ndash Repercussatildeo Geral

Eacute possiacutevel o confisco de todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido

em decorrecircncia do traacutefico de drogas sem a necessidade de se perquirir a habi-

tualidade reiteraccedilatildeo do uso do bem para tal finalidade a sua modificaccedilatildeo para

dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer

outro requisito aleacutem daqueles previstos expressamente no art 243 paraacutegrafo

uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF) 299

Art 33 ndash Traacutefico de drogas

Eacute irrelevante para a aplicaccedilatildeo do art 40 III da Lei 113432006 (Lei de Drogas)

se o agente infrator visa ou natildeo comercializar drogas com os frequentadores

de estabelecimento prisional 302

A quantidade de drogas natildeo pode automaticamente proporcionar o entendi-

mento de que o agente faz do traacutefico seu meio de vida ou integra organizaccedilatildeo

criminosa 303

448

Conhece-se do habeas corpus se flagrante a contradiccedilatildeo entre a justificativa

utilizada para negar a aplicaccedilatildeo da causa de diminuiccedilatildeo de pena prevista no

art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 e a absolviccedilatildeo da acusaccedilatildeo do crime de associa-

ccedilatildeo para o traacutefico tipificado pelo art 35 do mesmo diploma legal 302

Eacute possiacutevel considerar a quantidade de droga apreendida para efeito de diminui-

ccedilatildeo de pena (Lei 113432006 art 33 sect 4ordm) 305

A quantidade de drogas natildeo constitui isoladamente fundamento idocircneo para

negar o benefiacutecio da reduccedilatildeo da pena do art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 306

Direito Previdenciaacuterio

Financiamento da seguridade social

Contribuiccedilatildeo do produtor rural e do pescador

Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

Eacute constitucional formal e materialmente a contribuiccedilatildeo social do empregador

rural pessoa fiacutesica instituiacuteda pela Lei 102562001 incidente sobre a receita

bruta obtida com a comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo 309

Benefiacutecios previdenciaacuterios

Aposentadorias

Desaposentaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

No acircmbito do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) somente lei pode

criar benefiacutecios e vantagens previdenciaacuterias natildeo havendo por ora previsatildeo

legal do direito agrave ldquodesaposentaccedilatildeordquo sendo constitucional a regra do art 18

sect 2ordm da Lei 82131991 313

Aposentadoria por invalidez ndash Repercussatildeo Geral

Os efeitos financeiros das revisotildees de aposentadoria concedidas com base no

art 6ordm-A da Emenda Constitucional 412003 introduzido pela Emenda Consti-

tucional 702012 somente se produziratildeo a partir da data de sua promulgaccedilatildeo

(30-3-2012) 316

449

Direito Processual Civil

Sujeitos do processo

Partes e procuradores

Deveres das partes e de seus procuradores

Eacute cabiacutevel a fixaccedilatildeo de honoraacuterios recursais prevista no art 85 sect 11 do Coacutedigo

de Processo Civil (CPC) mesmo quando o advogado da parte recorrida natildeo

apresentar contrarrazotildees ou contraminuta 321

Execuccedilatildeo

Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo

Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ndash Repercussatildeo Geral

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na parte

em que disciplina os juros moratoacuterios aplicaacuteveis a condenaccedilotildees da Fazenda Puacute-

blica eacute inconstitucional ao incidir sobre deacutebitos oriundos de relaccedilatildeo juriacutedico-

-tributaacuteria aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais

a Fazenda Puacuteblica remunera seu creacutedito tributaacuterio em respeito ao princiacutepio

constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput) quanto agraves condenaccedilotildees oriundas

de relaccedilatildeo juriacutedica natildeo tributaacuteria a fixaccedilatildeo dos juros moratoacuterios segundo o

iacutendice de remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute constitucional permane-

cendo hiacutegido nesta extensatildeo o disposto no art 1ordm-F da Lei 94941997 com a

redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 323

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na parte

em que disciplina a atualizaccedilatildeo monetaacuteria das condenaccedilotildees impostas agrave Fazen-

da Puacuteblica segundo a remuneraccedilatildeo oficial da caderneta de poupanccedila revela-se

inconstitucional ao impor restriccedilatildeo desproporcional ao direito de propriedade

(CF art 5ordm XXII) uma vez que natildeo se qualifica como medida adequada a cap-

turar a variaccedilatildeo de preccedilos da economia sendo inidocircnea a promover os fins a

que se destina 324

A execuccedilatildeo provisoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer em face da Fazenda Puacuteblica natildeo

atrai o regime constitucional dos precatoacuterios 330

Incidem juros da mora entre a data da realizaccedilatildeo dos caacutelculos e a da requisiccedilatildeo

ou do precatoacuterio 332

450

Eacute vaacutelida a penhora em bens de pessoa juriacutedica de direito privado realizada an-

teriormente agrave sucessatildeo desta pela Uniatildeo natildeo devendo a execuccedilatildeo prosseguir

mediante precatoacuterio ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 100 caput e sect 1ordm 334

Execuccedilatildeo de alimentos

A prisatildeo por diacutevida de natureza alimentiacutecia estaacute ligada ao inadimplemento

inescusaacutevel de prestaccedilatildeo natildeo alcanccedilando situaccedilatildeo juriacutedica a revelar cobranccedila

de saldo devedor 337

Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais

Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais

Accedilatildeo rescisoacuteria

Eacute cabiacutevel accedilatildeo rescisoacuteria com fundamento no art 485 V do Coacutedigo de Pro-

cesso Civil de 1973 contra decisatildeo que viola literal disposiccedilatildeo do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF) 339

Reclamaccedilatildeo

A partir de 2-5-2017 data da publicaccedilatildeo da ata do julgamento do Tema 246 da

repercussatildeo geral ndash que reconheceu a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da

Lei 86661993 ndash tornou-se inviaacutevel o manejo da reclamaccedilatildeo constitucional

com fundamento no julgado da ADC 16 ndash de mesmo objeto 340

Soacute cabe reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por violaccedilatildeo de tese

fixada em repercussatildeo geral apoacutes terem se esgotado todos os recursos cabiacuteveis

nas instacircncias antecedentes 342

Recursos

Recurso extraordinaacuterio ndash Repercussatildeo Geral

O reconhecimento da repercussatildeo geral no Plenaacuterio Virtual natildeo impede sua

rediscussatildeo no Plenaacuterio fiacutesico notadamente quando tal reconhecimento tenha

ocorrido por falta de manifestaccedilotildees suficientes 343

Natildeo apresenta repercussatildeo geral o tema relativo agrave competecircncia para processar

e julgar accedilatildeo em que se discute pagamento de adicional de insalubridade a

servidor puacuteblico de ex-Territoacuterio Federal ante a existecircncia de convecircnio firmado

entre a Uniatildeo e o Estado-membro para o qual foi cedido 343

451

Agravo interno

Eacute admissiacutevel a juntada extemporacircnea de prova documental em recursos inter-

postos no Supremo Tribunal Federal (STF) quando estiver presente interesse

puacuteblico primaacuterio na lide 344

Mandado de seguranccedila

Legitimidade ativa

O procurador-geral da Repuacuteblica natildeo possui legitimidade ativa para impetrar

mandado de seguranccedila em que se questione decisatildeo que reconheccedila a prescri-

ccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em processo administrativo disciplinar 345

Tutela coletiva

Sentenccedila

Eficaacutecia subjetiva da coisa julgada ndash Repercussatildeo Geral

A eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada a partir de accedilatildeo coletiva de rito

ordinaacuterio ajuizada por associaccedilatildeo civil na defesa de interesses dos associados

somente alcanccedila os filiados residentes no acircmbito da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo julgador

que o fossem em momento anterior ou ateacute a data da propositura da demanda

constantes da relaccedilatildeo juriacutedica juntada agrave inicial do processo de conhecimento 348

Direito Processual Penal

Processo em geral

Accedilatildeo penal

Denuacutencia

Excepcionalmente o momento de apreciaccedilatildeo dos argumentos de defesa escri-

ta pode ser deslocado para apoacutes o recebimento da denuacutencia 353

A subordinaccedilatildeo hieraacuterquica dos envolvidos natildeo significa a responsabilizaccedilatildeo

criminal automaacutetica do prefeito 353

A mera posiccedilatildeo hieraacuterquica dos acusados na titularidade da empresa de comunica-

ccedilatildeo sem a descriccedilatildeo da accedilatildeo e sem elementos que evidenciem a vontade e consciecircn-

cia de praticar o crime imputado inviabiliza o prosseguimento da accedilatildeo penal 355

452

Competecircncia

Competecircncia por conexatildeo ou continecircncia

O desmembramento do feito em relaccedilatildeo a imputados que natildeo possuam prerro-

gativa de foro ldquodeve ser a regra diante da manifesta excepcionalidade do foro

por prerrogativa de funccedilatildeo ressalvadas as hipoacuteteses em que a separaccedilatildeo possa

causar prejuiacutezo relevanterdquo 356

Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

A existecircncia concreta de indiacutecios de envolvimento de autoridade detentora de

foro por prerrogativa de funccedilatildeo nos diaacutelogos interceptados impotildee a remessa

imediata ao Supremo Tribunal Federal (STF) 358

Natildeo haacute cogitar de usurpaccedilatildeo de competecircncia do Supremo Tribunal Federal

quando a simples menccedilatildeo ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa

de foro assim como a existecircncia de informaccedilotildees ateacute entatildeo fluidas e dispersas a

seu respeito satildeo insuficientes para o deslocamento da competecircncia para o juiacutezo

hierarquicamente superior 359

Prova

Disposiccedilotildees gerais

Na busca e apreensatildeo caso a autoridade responsaacutevel pela unidade administra-

tiva entregue de maneira espontacircnea e voluntaacuteria computador de titularida-

de do ente puacuteblico tal ato revela-se compatiacutevel com a claacuteusula de reserva de

jurisdiccedilatildeo ainda que sobressalente ao mandado judicial 360

Natildeo cabe invocar a garantia constitucional do sigilo das comunicaccedilotildees de da-

dos quando o acesso natildeo alcanccedila a troca de dados restringindo-se apenas agraves

informaccedilotildees armazenadas nos dispositivos eletrocircnicos 360

O procedimento administrativo de investigaccedilatildeo criminal natildeo demanda a am-

plitude das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditoacuterio 361

A prova obtida mediante interceptaccedilatildeo telefocircnica quando referente a infraccedilatildeo

penal diversa da investigada deve ser considerada liacutecita se presentes os requi-

sitos constitucionais e legais 362

Apreensotildees de documentos realizadas em automoacutevel por constituir tiacutepica

busca pessoal prescinde de autorizaccedilatildeo judicial quando presente fundada sus-

453

peita de que nele estatildeo ocultados elementos de prova ou qualquer elemento de

convicccedilatildeo agrave elucidaccedilatildeo dos fatos investigados a teor do sect 2ordm do art 240 e art

244 do Coacutedigo de Processo Penal 363

Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria

Prisatildeo cautelar

A duraccedilatildeo prolongada abusiva e irrazoaacutevel da prisatildeo cautelar de algueacutem ofen-

de de modo frontal o postulado da dignidade da pessoa humana 365

Prisatildeo preventiva

A superveniecircncia da sentenccedila penal condenatoacuteria que manteacutem a prisatildeo pre-

ventiva com remissatildeo aos mesmos fundamentos do decreto originaacuterio natildeo

torna prejudicado o habeas corpus 367

Por mais graves e reprovaacuteveis que sejam as condutas supostamente perpetra-

das isso natildeo justifica por si soacute a decretaccedilatildeo da prisatildeo cautelar 367

O risco concreto da reiteraccedilatildeo delitiva invocado para garantir a ordem puacutebli-

ca deve ser contemporacircneo ao decreto prisional 367

Eacute incabiacutevel o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do acor-

do de colaboraccedilatildeo premiada 369

Citaccedilotildees e intimaccedilotildees

Citaccedilotildees ndash Repercussatildeo Geral

Eacute constitucional a citaccedilatildeo por hora certa prevista no art 362 do Coacutedigo de

Processo Penal 371

Citaccedilotildees

A antecipaccedilatildeo da prova testemunhal configura medida necessaacuteria quando

considerando-se a gravidade do crime praticado houver a possibilidade con-

creta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrecircncia do

decurso do tempo 373

Intimaccedilotildees

Eacute vaacutelida apenas a intimaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo (DPU) ainda que

o recurso especial tenha sido interposto pela Defensoria Puacuteblica estadual 375

454

Processos em espeacutecie

Processo comum

Procedimento relativo aos processos da competecircncia do tribunal do juacuteri

A retirada dos autos de prova considerada iliacutecita natildeo exclui necessariamente

as demais peccedilas processuais que a ela faccedilam referecircncia 377

Nulidades e recursos em geral

Nulidades

Nulidades relativas

Por mais caras que as prerrogativas da defesa e do advogado sejam ao sistema de

garantias de sua violaccedilatildeo natildeo decorre a automaacutetica absolviccedilatildeo do imputado 380

O art 2ordm da Lei 92961996 natildeo exige que sejam quebrados os dados cadastrais

de todos os terminais interceptados previamente agrave interceptaccedilatildeo 381

Recursos em geral

Habeas corpus e seu processo

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para discutir a suspensatildeo de processo-

-crime sobre a praacutetica da conduta prevista no art 28 da Lei 113432006 (porte

de drogas para consumo pessoal) 382

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para buscar-se o reconhecimento do

direito a visitas iacutentimas em estabelecimento prisional 383

Disposiccedilotildees gerais

A ordem juriacutedica natildeo contempla a interposiccedilatildeo de recurso via e-mail 384

Execuccedilatildeo penal

Limite das penas

Benefiacutecios da execuccedilatildeo penal

O limite de trinta anos enunciado no art 75 do Coacutedigo Penal (CP) natildeo eacute

considerado para o caacutelculo de benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (Verbete 715 da

Suacutemula do Supremo Tribunal Federal) 386

Trabalho

Trabalho interno

Excepcionalmente pode ser considerado para fins de remiccedilatildeo da pena o total

de horas trabalhadas em jornada diaacuteria inferior a seis horas quando houver

determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio 387

455

Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie

Penas privativas de liberdade

O marco inicial para fins de obtenccedilatildeo de progressatildeo de regime e demais bene-

fiacutecios executoacuterios eacute a data da custoacutedia cautelar Essa data deve necessariamente

ser compu tada desde que natildeo ocorra condenaccedilatildeo posterior apta a configurar

falta grave 388

O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao

sentenciado impede a progressatildeo no regime prisional 389

Incidentes de execuccedilatildeo

Anistia e indulto

O indulto da pena privativa de liberdade natildeo alcanccedila a pena de multa que tenha

sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado 393

Poderaacute se dar a posteriori agrave publicaccedilatildeo da norma a homologaccedilatildeo judicial da

aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo por falta grave para obstar a comutaccedilatildeo de pena 395

Direito Tributaacuterio

Tributos

Impostos

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ndash Repercussatildeo Geral

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) incide sobre a tari-

fa de assinatura baacutesica mensal cobrada pelas prestadoras de serviccedilos de telefonia

independentemente da franquia de minutos concedida ou natildeo ao usuaacuterio 398

Eacute devida a restituiccedilatildeo da diferenccedila do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercado-

rias e Serviccedilos (ICMS) pago a mais no regime de substituiccedilatildeo tributaacuteria para

frente se a base de caacutelculo efetiva da operaccedilatildeo for inferior agrave presumida 400

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

A falta de ediccedilatildeo de lei complementar que estabeleccedila os criteacuterios para com-

pensar os Estados por conta das desoneraccedilotildees do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de

Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sobre as exportaccedilotildees (Emenda Constitucional

422003) configura estado de inconstitucionalidade por omissatildeo 402

456

A vedaccedilatildeo pela legislaccedilatildeo estadual ao aproveitamento dos creacuteditos do Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) gerados pela entrada de

insumos tributados quando o contribuinte faz opccedilatildeo pela tributaccedilatildeo da saiacuteda

das mercadorias com base de caacutelculo do imposto reduzida natildeo viola o princiacute-

pio da natildeo cumulatividade 406

Eacute inconstitucional lei estadual que embora natildeo tenha criado propriamente

um novo benefiacutecio fiscal ampliou unilateralmente programas de incentivo

relativos ao Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sem

qualquer anuecircncia dos demais Estados e do Distrito Federal 408

Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN)

Eacute inconstitucional lei municipal que veicule exclusatildeo de valores da base de

caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) fora das

hipoacuteteses previstas em lei complementar nacional 411

Tambeacutem eacute incompatiacutevel com o texto constitucional medida fiscal que resulte

indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida pelo art 88 do Ato

das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT) a partir da reduccedilatildeo da

carga tributaacuteria incidente sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilo na territorialidade do

ente tributante 412

Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) ndash Repercussatildeo Geral

As operadoras de planos privados de assistecircncia agrave sauacutede (plano de sauacutede e

seguro-sauacutede) realizam prestaccedilatildeo de serviccedilo sujeita ao Imposto Sobre Servi-

ccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) previsto no art 156 III da Constituiccedilatildeo

Federal (CF) 414

Contribuiccedilotildees

Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) natildeo compotildee a

base de caacutelculo para a incidecircncia da contribuiccedilatildeo para o PIS e da Cofins 416

Contribuiccedilotildees profissionais ndash Repercussatildeo Geral

Eacute inconstitucional por ofensa ao princiacutepio da legalidade tributaacuteria lei que de-

lega aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas a competecircncia

de fixar ou majorar sem paracircmetro legal o valor das contribuiccedilotildees de interes-

se das categorias profissionais e econocircmicas usualmente cobradas sob o tiacutetulo

457

de anuidades vedada ademais a atualizaccedilatildeo desse valor pelos conselhos em

percentual superior aos iacutendices legalmente previstos 418

Contribuiccedilotildees profissionais

Satildeo constitucionais os dispositivos da Lei 125142011 que dizem respeito agrave

fixaccedilatildeo de anuidades devidas aos conselhos profissionais 420

Taxas

Ato normativo infralegal ndash Valor da taxa ndash Repercussatildeo Geral

Natildeo viola a legalidade tributaacuteria lei que prescrevendo o teto possibilita ao

ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporccedilatildeo razoaacutevel com os

custos da atuaccedilatildeo estatal valor esse que natildeo pode ser atualizado por ato do

proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de corre-

ccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos 424

Taxa de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento

As taxas municipais de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento natildeo podem ter como base

de caacutelculo o nuacutemero de empregados ou ramo de atividade exercida pelo con-

tribuinte 426

Este livro foi produzido na Coordenadoria de Divulgaccedilatildeo de Juris-prudecircncia vinculada agrave Secretaria de Documentaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Foi projetado por Eduardo Franco Dias e com-posto por Camila Penha Soares A capa foi criada por Roberto Hara Wata nabe

A fonte eacute a Dante MT Std projetada nos anos 1950 por Giovanni Mardersteig influenciado pelos tipos cunhados por Francesco Griffo entre 1495 e 1516 e editada em versatildeo eletrocircnica por Ron Carpenter em 1993

O livro foi concluiacutedo em 25 de julho de 2018

Page 2: INFORMATIVOS STF 2017 · 2019. 2. 26. · Informativo STF não possa ser considerado oficial, baseia-se estritamente em informa-ções públicas. A obra que ora se apresenta baseia-se

INFORMATIVOS

2017STF TESES E FUNDAMENTOS

Organizado por mateacuterias

Brasiacutelia 2018

Secretaria-Geral da Presidecircncia

Maria Cristina Petcov

Secretaria de Documentaccedilatildeo Ana Valeacuteria de Oliveira Teixeira

Coordenadoria de Jurisprudecircncia Comparada e Divulgaccedilatildeo de Julgados Andreia Fernandes de Siqueira

Coordenadoria de Divulgaccedilatildeo de Jurisprudecircncia Juliana Viana Cardoso

Redaccedilatildeo Alessandra Correia Marreta Andreia Fernandes de Siqueira Anna Daniela de Arauacutejo Martins dos Santos Diego Oliveira de Andrade Soares Fernando Carneiro Rosa Fortes Gisele Landim de Souza Janaiacutena Nicolau Delgado Jean Francisco Correcirca Minuzzi Joatildeo de Souza Nascimento Neto Luiz Carlos Gomes de Freitas Junior Maria Beatriz Moura de Saacute Ricardo Henriques Pontes Tays Renata Lemos Nogueira e Tiago Batista Cardoso

Produccedilatildeo graacutefica e editorial Juliana Viana Cardoso Renan de Moura Sousa e Rochelle Quito

Revisatildeo Ameacutelia Lopes Dias de Arauacutejo Daniela Pires Cardoso Juliana Silva Pereira de Souza Lilian de Lima Falcatildeo Braga Maacutercia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy e Patriacutecio Coelho Noronha

Capa Roberto Hara Watanabe

Projeto graacutefico Eduardo Franco Dias

Diagramaccedilatildeo Camila Penha Soares

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)Supremo Tribunal Federal ndash Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal

Brasil Supremo Tribunal Federal (STF)

Informativos STF 2017 [recurso eletrocircnico] teses e fundamentos Supre-mo Tribunal Federal -- Brasiacutelia STF Secretaria de Documentaccedilatildeo 2018

485 p

Organizado por mateacuterias

Modo de acesso lthttpwwwstfjusbrlivroinformativos2017gt

ISBN 978-85-54223-02-1

1 Tribunal Supremo jurisprudecircncia Brasil I Tiacutetulo

CDDir-3414191

Ministra Caacutermen Luacutecia Antunes Rocha (21-6-2006) Presidente

Ministro Joseacute Antonio Dias Toffoli (23-10-2009) Vice-Presidente

Ministro Joseacute Celso de Mello Filho (17-8-1989) Decano

Ministro Marco Aureacutelio Mendes de Farias Mello (13-6-1990)

Ministro Gilmar Ferreira Mendes (20-6-2002)

Ministro Enrique Ricardo Lewandowski (16-3-2006)

Ministro Luiz Fux (3-3-2011)

Ministra Rosa Maria Pires Weber (19-12-2011)

Ministro Luiacutes Roberto Barroso (26-6-2013)

Ministro Luiz Edson Fachin (16-6-2015)

Ministro Alexandre de Moraes (22-3-2017)

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

APRESENTACcedilAtildeO

Tanto nas faculdades de Direito como nos manuais das disciplinas desse ramo do conhecimento eacute notaacutevel o destaque que vem sendo dado aos posicionamentos ju-diciais Na mesma esteira a atuaccedilatildeo dos profissionais do Direito eacute cada vez mais lastreada em precedentes dos tribunais superiores e notadamente do Supremo Tribunal Federal (STF)

Nesse contexto eacute possiacutevel inferir que haacute crescente interesse por obras que fran-queiem de forma organizada e de faacutecil consulta o acesso agrave jurisprudecircncia emanada pelo STF

Com o intuito de atender tal demanda o Tribunal vem publicando desde 1995 o Informativo STF espeacutecie de ldquojornal juriacutedicordquo que veicula resumos originalmente semanais e hoje tambeacutem mensais das circunstacircncias faacuteticas e processuais e dos fun-damentos proferidos oralmente nas sessotildees de julgamento

Conforme consta do cabeccedilalho de todas as ediccedilotildees do perioacutedico os boletins satildeo elaborados ldquoa partir de notas tomadas nas sessotildees de julgamento das Turmas e do Plenaacuteriordquo de modo que contecircm ldquoresumos natildeo oficiais de decisotildees proferidas pelo Tribunalrdquo Faz-se tal observaccedilatildeo para esclarecer ao leitor que embora o conteuacutedo do Informativo STF natildeo possa ser considerado oficial baseia-se estritamente em informa-ccedilotildees puacuteblicas

A obra que ora se apresenta baseia-se exclusivamente nos acoacuterdatildeos publicados ao longo de 2017 tendo por referecircncia casos que foram noticiados no Informativo STF O acesso aos argumentos de Suas Excelecircncias na exatidatildeo precisa do vernaacuteculo escrito permite explorar a riqueza teacutecnica neles contida e estudar com mais rigor a funda-mentaccedilatildeo das decisotildees do Tribunal

Eacute bom ressaltar que o leitor pode acompanhar mensalmente este trabalho ao aces-sar o Boletim de Acoacuterdatildeos Publicados disponiacutevel no site do Tribunal (Portal do STFJurisprudecircnciaBoletim de Acoacuterdatildeos Publicados)

Um novo ponto de vista sobre a jurisprudecircncia

Eacute da essecircncia do Informativo STF produzir uma siacutentese de decisotildees proferidas pela Cor-te durante as sessotildees de julgamento sem avanccedilar em anaacutelise abstrata da jurisprudecircn-

cia do Tribunal Jaacute o livro Teses e fundamentos percorre caminho diverso e se aprofunda nos julgados do STF para oferecer um produto mais complexo

Desse modo o livro tem por objetivos I ndash Elaborar teses redigidas com base no dispositivo1 dos acoacuterdatildeos e abstraiacutedas das notiacutecias de julgamento e II ndash Analisar a fundamentaccedilatildeo adotada pelo Tribunal e na sequecircncia esboccedilar um panorama do entendimento da Corte sobre os ramos do DireitoA proposta eacute que as teses apontem como caminhou a jurisprudecircncia da Suprema

Corte brasileira ao longo do ano e ainda permitam vislumbrar futuros posiciona-mentos do Tribunal tendo por referecircncia os processos jaacute julgados Cumpre destacar que essas teses ndash com os respectivos fundamentos ndash natildeo traduzem necessariamente a pacificaccedilatildeo da jurisprudecircncia num ou noutro sentido Elas se prestam simplesmente a fornecer mais um instrumento de estudo da jurisprudecircncia e a complementar a funccedilatildeo desempenhada pelo Informativo STF

Tendo isso em vista os textos que compotildeem o livro estruturam-se em tese ju-

riacutedica extraiacuteda do julgado2 e resumo da fundamentaccedilatildeo2 Pretende-se com esse padratildeo que o destaque dado aos dispositivos dos acoacuterdatildeos seja complementado por seus respectivos fundamentos

A ediccedilatildeo de 2017 passou por reformulaccedilatildeo do projeto graacutefico Os dados do pro-

cesso em anaacutelise2 foram movidos para o cabeccedilalho de cada resumo e com o objetivo de garantir acesso raacutepido ao conteuacutedo de teses fixadas no fim da obra foi incluiacuteda uma lista de todas as teses contidas no livro organizadas por ramo do Direito

As decisotildees acerca da redaccedilatildeo e da estrutura do livro foram guiadas tambeacutem pela busca da otimizaccedilatildeo do tempo de seu puacuteblico-alvo Afinal a leitura de acoacuterdatildeos de votos ou mesmo de ementas demandaria esforccedilo interpretativo e tempo dos quais o estudante ou o operador do Direito muitas vezes natildeo dispotildee Assim deu-se pre-ferecircncia a formato de redaccedilatildeo que destacasse o dispositivo do acoacuterdatildeo e seus funda-mentos ao mesmo tempo que traduzisse de forma sinteacutetica o entendimento do STF

Em busca de mais fluidez e concisatildeo decidiu-se retirar do texto principal as re-ferecircncias que natildeo fossem essenciais agrave sua redaccedilatildeo Assim foram transpostos para notas de fim2 entre outras informaccedilotildees pertinentes relatoacuterios de situaccedilotildees faacuteticas e observaccedilotildees processuais quando necessaacuterios agrave compreensatildeo do caso precedentes jurisprudenciais e transcriccedilotildees de normativos ou de doutrina3

A mesma objetividade que orientou a estrutura redacional dos resumos norteou a organizaccedilatildeo dos julgados em disciplinas do Direito e em temas Estes por sua vez

foram subdivididos em assuntos2 especiacuteficos Tal sistematizaccedilatildeo do conteuacutedo visa mais uma vez facilitar o trabalho dos estudantes e dos operadores do Direito que compotildeem o puacuteblico-alvo desta obra

A esse respeito sob o acircngulo dos ramos do Direito optou-se pela anaacutelise vertical dos julgados do ano o que propicia raacutepida visualizaccedilatildeo e comparaccedilatildeo de mateacuterias semelhantes decididas pelos oacutergatildeos do STF A obra permite assim que o leitor veri-fique de forma faacutecil e segura a evoluccedilatildeo jurisprudencial de um dado tema ao longo do tempo

A ideia foi em resumo aliar a objetividade caracteriacutestica do Informativo STF com a profundidade e a riqueza teacutecnico-juriacutedica contida nos acoacuterdatildeos e nos votos dos ministros Para cumprir tal finalidade foi necessaacuterio interpretar os acoacuterdatildeos dos jul-gamentos

Todavia se por um lado eacute certo que a redaccedilatildeo de resumos demanda algum grau de liberdade interpretativa dos documentos originais por outro a hermenecircutica re-conhece ser inerente agrave interpretaccedilatildeo juriacutedica certa dose de subjetividade

Nessa perspectiva embora os analistas responsaacuteveis pelo trabalho tenham se es-forccedilado para ndash acima de tudo ndash manter fidelidade aos entendimentos do STF ao mes-mo tempo que conciliavam concisatildeo e acuidade na remissatildeo aos fundamentos das decisotildees natildeo se deveraacute perder de vista que os resultados do exame da jurisprudecircncia aqui expostos satildeo fruto de interpretaccedilatildeo desses servidores

Espaccedilo para participaccedilatildeo do leitor

Os enunciados aqui publicados tanto podem conter trechos do julgado original ndash na hipoacutetese de estes sintetizarem a ideia principal ndash quanto podem ser resultado ex-clusivo da interpretaccedilatildeo dos acoacuterdatildeos pelos analistas responsaacuteveis pela compilaccedilatildeo Na obra estatildeo disponiacuteveis os links de acesso agrave iacutentegra dos acoacuterdatildeos o que facilita a conferecircncia da acuidade dessa interpretaccedilatildeo O leitor poderaacute encaminhar duacutevidas criacuteticas e sugestotildees para o e-mail cjcdstfjusbr

Ademais entre as razotildees que motivaram a ediccedilatildeo deste trabalho e a opccedilatildeo por este formato especiacutefico estaacute justamente o propoacutesito de fomentar a discussatildeo e de con-tribuir para a difusatildeo do ldquopensamentordquo do Tribunal e para a construccedilatildeo do conheci-mento juriacutedico Com isso promove-se maior abertura agrave participaccedilatildeo da sociedade no exerciacutecio da atividade constitucionalmente atribuiacuteda ao STF

1 Deve-se ter em mente que muitas vezes os dispositivos dos acoacuterdatildeos se limitam a ldquodar (ou ne-gar) provimento ao recursordquo ou ainda ldquoconceder (ou natildeo) a ordemrdquo Embora esses comandos jurisdicionais efetivamente componham o dispositivo da sentenccedila do ponto de vista da anaacutelise das decisotildees judiciais ndash e da jurisprudecircncia ndash eles significam muito pouco Por evidente o objeto deste trabalho eacute o tema decidido pela Corte seja ele de direito material seja de direito processual e natildeo o mero resultado processual de uma demanda especiacutefica Nesse sentido talvez seja possiacutevel discer-nir entre o conteuacutedo formal da decisatildeo que seria exemplificativamente o resultado do recurso (conhecidonatildeo conhecido providonatildeo provido) ou da accedilatildeo (procedecircnciaimprocedecircncia) e o conteuacutedo material da decisatildeo que efetivamente analisa a questatildeo de direito (material ou proces-sual) debatida e possui relevacircncia para a anaacutelise da jurisprudecircncia Em outras palavras o conteuacutedo material da decisatildeo corresponderia aos fragmentos do provimento jurisdicional que tecircm aptidatildeo para transcender ao processo em anaacutelise e constituir o repertoacuterio de entendimentos do Tribunal sobre o ordenamento juriacutedico brasileiro

2 Ver Infograacutefico paacutegina 8

3 Informaccedilotildees entre colchetes natildeo constam do texto original

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado

Nos termos do art 20 XI da Constituiccedilatildeo Federal satildeo bens da Uniatildeo ldquoas terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendiosrdquo

Aleacutem disso desde a Carta de 1934 natildeo se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indiacutegenas como devolutas o mesmo ocorrendo na Constituiccedilatildeo de 1988 por meio de expressa disposiccedilatildeo contida no art 26 IV1

Nesse sentido definido pelas provas carreadas aos autos que as terras que passaram a compor parque indiacutegena eram ocupadas historicamente por iacutendios natildeo haacute falar em titularidade do Estado-membro tampouco em eventual dever de a Uniatildeo indenizaacute-lo por suposta desapropriaccedilatildeo indireta

1 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () IV ndash as terras devolutas natildeo compreendidas entre as da Uniatildeordquo

Assunto

Tese juriacutedica extraiacuteda do julgado

Resumo da fundamentaccedilatildeo

Dados do processo em anaacutelise

Nota de fim

ACO 362DJE de 3-10-2017ACO 366DJE de 1ordm-10-2018rel min Marco Aureacutelio

PlenaacuterioInformativo STF 873

INFOGRAacuteFICO

SUMAacuteRIO

Siglas e abreviaturas 10

Siglas de classes e incidentes processuais 11

Direito Administrativo 12

Direito Ambiental 66

Direito Civil 70

Direito Constitucional 81

Direito Eleitoral 235

Direito Empresarial 243

Direito Financeiro 257

Direito Internacional 260

Direito Penal 269

Direito Previdenciaacuterio 307

Direito Processual Civil 319

Direito Processual Penal 351

Direito Tributaacuterio 396

Iacutendice de teses 427

SIGLAS E ABREVIATURAS

ac acoacuterdatildeo1ordf T Primeira Turma2ordf T Segunda TurmaCF Constituiccedilatildeo FederalCNJ Conselho Nacional de JusticcedilaCofins Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade SocialCP Coacutedigo PenalCPC Coacutedigo de Processo CivilCPP Coacutedigo de Processo PenalCRFB Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do BrasilCTN Coacutedigo Tributaacuterio NacionalDJ Diaacuterio da JusticcedilaDJE Diaacuterio da Justiccedila EletrocircnicoEC Emenda ConstitucionalICMS Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e ServiccedilosINSS Instituto Nacional do Seguro Socialj julgamento emLC Lei ComplementarLOA Lei Orccedilamentaacuteria AnualLoman Lei Orgacircnica da Magistratura NacionalOAB Ordem dos Advogados do BrasilP PlenaacuterioPASEP Programa de Formaccedilatildeo do Patrimocircnio do Servidor PuacuteblicoPIS Programa de Integraccedilatildeo Socialred p o ac redator para o acoacuterdatildeorel min relator o ministroRICD Regimento Interno da Cacircmara dos DeputadosRTJ Revista Trimestral de JurisprudecircnciaSTF Supremo Tribunal FederalT TurmaTJ Tribunal de JusticcedilaTCU Tribunal de Contas da UniatildeoTRF Tribunal Regional Federal

SIGLAS DE CLASSES E INCIDENTES PROCESSUAIS

AC Accedilatildeo CautelarACO Accedilatildeo Ciacutevel OriginaacuteriaADC Accedilatildeo Declaratoacuteria de ConstitucionalidadeADI Accedilatildeo Direta de InconstitucionalidadeADO Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade por OmissatildeoADPF Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito FundamentalAgR Agravo RegimentalAI Agravo de InstrumentoAO Accedilatildeo OriginaacuteriaAP Accedilatildeo PenalAR Accedilatildeo RescisoacuteriaARE Recurso Extraordinaacuterio com AgravoCC Conflito de CompetecircnciaED Embargos de DeclaraccedilatildeoEDv Embargos de DivergecircnciaEI Embargos infringentesEP Execuccedilatildeo PenalExt ExtradiccedilatildeoHC Habeas CorpusIndCom Indulto ou ComutaccedilatildeoInq InqueacuteritoMC Medida CautelarMI Mandado de InjunccedilatildeoMS Mandado de SeguranccedilaPet PeticcedilatildeoProgReg Progressatildeo de RegimeQO Questatildeo de OrdemRcl ReclamaccedilatildeoRE Recurso ExtraordinaacuterioREF ReferendoRG Repercussatildeo GeralRHC Recurso em Habeas CorpusRMS Recurso em Mandado de SeguranccedilaRp RepresentaccedilatildeoSE Sentenccedila Estrangeira

DIR

EA

DM

DIR

EIT

O

AD

MIN

IST

RAT

IVO

ATOS ADMINISTRATIVOSDIREITO ADMINISTRATIVO

14iacutendice de teses

Eacute vedado ao Poder Judiciaacuterio analisar o meacuterito de ato administrativo

O meacuterito do ato administrativo trata de ldquomateacuteria submetida a criteacuterios de conve-niecircncia e oportunidaderdquo1

Aumento de vencimento legalmente concedido com data predeterminada

para iniacutecio de eficaacutecia caracteriza aquisiccedilatildeo de direito

Posta a norma que conferiu aumentos dos valores remuneratoacuterios natildeo se haacute cogitar de expectativa mas de direito que natildeo mais poderia vir a ser reduzido pelo legislador A diminuiccedilatildeo dos valores legalmente estatuiacutedos configura reduccedilatildeo de vencimentos em sistema constitucional no qual a irredutibilidade eacute a regra a ser obedecida2

Assim aumento salarial legalmente concedido ndash e jaacute incorporado ao patrimocircnio dos servidores tendo prazo inicial definido para sua eficaacutecia financeira ndash recai no ter-mo prefixo a que se refere o sect 2ordm do art 6ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que caracteriza a aquisiccedilatildeo do direito e a proteccedilatildeo juriacutedica que lhe concede a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

1 RMS 23543 rel min Ilmar Galvatildeo 1ordf T DJ de 13-10-2000

2 RE 298694 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 23-4-2004

Direito Administrativo Ȥ Atos administrativos

Ȥ Meacuterito administrativo Ȥ Controle do meacuterito

ADI 4013rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 19-4-2017Informativo STF 819

CONTRATOS ADMINISTRATIVOSDIREITO ADMINISTRATIVO

16iacutendice de teses

RE 760931RG ‒ Tema 246 red p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 12-9-2017Informativo STF 862

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado

natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabili-

dade pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou subsidiaacuterio nos ter-

mos do art 71 sect 1ordm da Lei 866619931

A responsabilizaccedilatildeo do poder puacuteblico natildeo pode ocorrer de maneira geneacuterica ou au-tomaacutetica A imputaccedilatildeo da culpa in vigilando ou in elegendo agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica por suposta deficiecircncia na fiscalizaccedilatildeo da fiel observacircncia das normas trabalhistas pela empresa contratada somente pode acontecer nos casos em que se tenha a efe-tiva comprovaccedilatildeo da ausecircncia de fiscalizaccedilatildeo

A alegada ausecircncia de comprovaccedilatildeo em juiacutezo da efetiva fiscalizaccedilatildeo do contrato natildeo substitui a necessidade de prova taxativa do nexo de causalidade entre a conduta da Administraccedilatildeo e o dano sofrido A Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo pode responder pelas diacutevidas trabalhistas da contratada a partir de mera presunccedilatildeo Soacute eacute admissiacutevel que isso ocorra caso a condenaccedilatildeo esteja inequivocamente lastreada em elementos concretos de prova da falha da fiscalizaccedilatildeo do contrato

A Lei 90321995 ao reformar o art 71 da Lei 86661993 criou um sect 2ordm2 dizen-do no sect 1ordm que natildeo haacute responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo Puacuteblica pelo inadimplemento das obrigaccedilotildees trabalhistas A Administraccedilatildeo Puacuteblica jaacute cumpre no momento da licitaccedilatildeo a observacircncia da aptidatildeo orccedilamentaacuteria e financeira da empresa contratada A constitucionalidade desse sect 1ordm declarada na Accedilatildeo Declaratoacuteria de Cons-titucionalidade 163 veda a transferecircncia automaacutetica agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica dos en-cargos trabalhistas resultantes da execuccedilatildeo do contrato de prestaccedilatildeo dos serviccedilos

Com relaccedilatildeo agrave responsabilidade fiscal inserida no sect 2ordm haacute responsabilidade so-lidaacuteria da Administraccedilatildeo Ademais com o advento da Lei 90321995 o legislador buscou excluir a responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo no sentido de evitar o descumprimento do disposto no art 71 da Lei 86661993

Direito Administrativo Ȥ Contratos administrativos

Ȥ Execuccedilatildeo dos contratos Ȥ Responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

17iacutendice de teses

1 ldquoArt 71 O contratado eacute responsaacutevel pelos encargos trabalhistas previdenciaacuterios fiscais e comerciais resultantes da execuccedilatildeo do contrato sect 1ordm A inadimplecircncia do contratado com referecircncia aos encar-gos trabalhistas fiscais e comerciais natildeo transfere agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a responsabilidade por seu pagamento nem poderaacute onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizaccedilatildeo e o uso das obras e edificaccedilotildees inclusive perante o Registro de Imoacuteveisrdquo (Redaccedilatildeo dada pela Lei 9032 de 1995)

2 ldquoArt 71 () sect 2ordm A Administraccedilatildeo responde solidariamente com o contratado pelos encargos previ-denciaacuterios resultantes da execuccedilatildeo do contrato nos termos do art 31 da Lei n 8212 de 24 de julho de 1991rdquo (Redaccedilatildeo dada pela Lei 9032 de 1995)

3 ADC 16 rel min Cezar Peluso P DJE de 24-11-2010

CONTROLE DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO ADMINISTRATIVO

19iacutendice de teses

RE 553710RG ‒ Tema 3941 rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 847

Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisi-

ccedilatildeo ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do

oacutergatildeo competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo

uacutenico da Lei 1055920022 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequi-

do e certo

Ao tratar do regime do anistiado poliacutetico a Lei 105592002 aleacutem de reconhecer a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico tambeacutem reconheceu ao beneficiado o direito a repa-raccedilatildeo econocircmica de caraacuteter indenizatoacuterio que pode ser paga em prestaccedilatildeo uacutenica ou em prestaccedilatildeo mensal permanente e continuada

A existecircncia de dotaccedilatildeo legal eacute suficiente para que haja o cumprimento integral da portaria que reconheceu a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico conforme o art 12 sect 4ordm da Lei 105592002

Demonstrada portanto a existecircncia de dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria decorrente de presumida legiacutetima programaccedilatildeo financeira pela Uniatildeo natildeo se visualiza afronta ao princiacutepio da legalidade da despesa puacuteblica ou agraves regras constitucionais que impotildeem limitaccedilotildees agraves despesas de pessoal e concessotildees de vantagens e benefiacutecios pessoais

Dessa forma o descumprimento da obrigaccedilatildeo de pagamento ldquode valor certo e determinado caracteriza ato omissivo da Administraccedilatildeo Puacuteblicardquo3

Aleacutem disso ao Poder Judiciaacuterio natildeo compete a anaacutelise de forma detalhada da exe-cuccedilatildeo orccedilamentaacuteria para concluir pela suficiecircncia ou insuficiecircncia de recursos para o pagamento das indenizaccedilotildees aos anistiados poliacuteticos Esse exame cabe ao admi-nistrador em momento anterior agrave publicaccedilatildeo da portaria que declara a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico e assegura as reparaccedilotildees econocircmicas correspondentes

Direito Administrativo Ȥ Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Controle judicial Ȥ Mandado de seguranccedila ndash Repercussatildeo Geral

20iacutendice de teses

Havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees

devidas aos anistiados poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibi-

lidade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado

no prazo de sessenta dias

Havendo accedilatildeo especiacutefica para pagamento das reparaccedilotildees econocircmicas a anistiados poliacuteticos civis bem como destinaccedilatildeo da verba em montante expressivo em lei natildeo se pode acolher a alegaccedilatildeo de ausecircncia de previsatildeo orccedilamentaacuteria para atendimento da pretensatildeo4

Ademais natildeo haacute que se aplicar o regime juriacutedico do art 100 da Constituiccedilatildeo Federal se a Administraccedilatildeo Puacuteblica reconhece administrativamente que o anistiado possui direito ao valor decorrente da concessatildeo da anistia A diacutevida da Fazenda Puacuteblica natildeo foi reconhecida por meio de decisatildeo do Poder Judiciaacuterio A discussatildeo cinge-se ao mo-mento do pagamento O direito liacutequido e certo do impetrante jaacute foi reconhecido pela portaria especiacutefica que declarou sua condiccedilatildeo de anistiado sendo entatildeo fixado o valor que lhe era devido de cunho indenizatoacuterio O que se tem na espeacutecie eacute uma obrigaccedilatildeo de fazer por parte da Uniatildeo que estaacute sendo descumprida

Por fim natildeo se admite o argumento de que o pagamento dos valores levaraacute a uma situaccedilatildeo de exaustatildeo orccedilamentaacuteria pois a inexistecircncia de recursos deve ser real demonstrada de forma esclarecedora A exaustatildeo jaacute deve estar presente ou seja a indisponibilidade de caixa deve ser situaccedilatildeo atual e natildeo mera possibilidade futura

1 ldquoFixada a seguinte tese de repercussatildeo geral dividida em trecircs pontos 1) Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisiccedilatildeo ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do oacutergatildeo competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo uacutenico da Lei 105592002 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequido e certo 2) havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees devidas aos anistia-dos poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibilidade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias 3) na ausecircncia ou na insuficiecircncia de disponi-bilidade orccedilamentaacuteria no exerciacutecio em curso cumpre agrave Uniatildeo promover sua previsatildeo no projeto de lei orccedilamentaacuteria imediatamente seguinterdquo

21iacutendice de teses

2 ldquoArt 12 Fica criada no acircmbito do Ministeacuterio da Justiccedila a Comissatildeo de Anistia com a finalidade de examinar os requerimentos referidos no art 10 desta Lei e assessorar o respectivo Ministro de Esta-do em suas decisotildees () sect 4ordm As requisiccedilotildees e decisotildees proferidas pelo Ministro de Estado da Justiccedila nos processos de anistia poliacutetica seratildeo obrigatoriamente cumpridas no prazo de sessenta dias por todos os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica e quaisquer outras entidades a que estejam dirigidas ressalvada a disponibilidade orccedilamentaacuteria () Art 18 Caberaacute ao Ministeacuterio do Planejamento Or-ccedilamento e Gestatildeo efetuar com referecircncia agraves anistias concedidas a civis mediante comunicaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila no prazo de sessenta dias a contar dessa comunicaccedilatildeo o pagamento das reparaccedilotildees econocircmicas desde que atendida a ressalva do sect 4ordm do art 12 desta Leirdquo

3 RMS 26899 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 6-8-2010

4 RMS 27094 rel min Dias Toffoli DJE de 2-8-2010

22iacutendice de teses

RMS 34054rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 28-8-2017Informativo STF 863

A instauraccedilatildeo de processo especiacutefico de anulaccedilatildeo de anistia caracteriza ato im-

pugnaacutevel capaz de por si soacute viabilizar impugnaccedilatildeo pela via mandamental

O tema relacionado agrave revisatildeo das anistias deferidas a militares afastados por mo-tivos poliacuteticos pode ser delimitado em pelo menos duas fases a) publicaccedilatildeo de portaria1 por meio da qual se determina a realizaccedilatildeo de amplo procedimento de revisatildeo das portarias declaratoacuterias da condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico2 b) instaura-ccedilatildeo de processos individuais de reanaacutelise dos atos de anistia etapa inaugurada por despacho do ministro da Justiccedila no sentido da revisatildeo de ofiacutecio das concessotildees de anistia autorizada a abertura de processo de anulaccedilatildeo de portaria declaratoacuteria da condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico

A mera instauraccedilatildeo de processo geral de revisatildeo de anistias estaacutegio inicial do pro-cedimento de autotutela administrativa natildeo caracteriza ato lesivo a direito capaz de por si soacute viabilizar a impugnaccedilatildeo pela via mandamental3 No entanto as balizas satildeo outras quando ultrapassada a primeira fase procedimental estrita a estudos prelimi-nares sobre os atos concessivos de anistia a Administraccedilatildeo instaura processo tenden-te agrave anulaccedilatildeo de portaria de anistia individualizada

Nessa hipoacutetese a atuaccedilatildeo estatal mostra-se ameaccedila real objetiva e iminente agrave situaccedilatildeo juriacutedica do anistiado Assim a claacuteusula constitucional de acesso ao Judiciaacute-rio porquanto assegura ao cidadatildeo tutela contra lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direito direciona agrave adequaccedilatildeo do mandado de seguranccedila a fim de assegurar direito liacutequido e certo do impetrante

Por fim em ambas as fases a oacutetica central sustentada pelos anistiados eacute a con-figuraccedilatildeo da decadecircncia da possibilidade de o poder puacuteblico rever e anular os atos anistiadores Nesse ponto caberaacute agrave Administraccedilatildeo demonstrar junto ao Superior Tribunal de Justiccedila a natildeo ocorrecircncia presente o fato de a norma veiculada na parte final do art 54 da Lei 978419994 constituir exceccedilatildeo agrave regra que favorece o benefi-ciaacuterio do ato administrativo

Direito Administrativo Ȥ Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Controle judicial Ȥ Mandado de seguranccedila

23iacutendice de teses

1 Portaria Interministerial 1342011 do ministro de Estado da Justiccedila e do advogado-geral da Uniatildeo

2 Editadas em decorrecircncia dos afastamentos motivados pela Portaria 1104-GM31964 da Forccedila Aeacute-rea Brasileira

3 Precedentes RMS 30973 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 29-3-2012 e RMS 30993 rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJE de 4-5-2012

4 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NA PROPRIEDADEDIREITO ADMINISTRATIVO

25iacutendice de teses

A expropriaccedilatildeo prevista no art 243 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pode ser

afastada desde que o proprietaacuterio comprove que natildeo incorreu em culpa ain-

da que in vigilando ou in eligendo

O instituto previsto no art 243 da CF natildeo se traduz em verdadeira espeacutecie de desa-propriaccedilatildeo mas em penalidade ou confisco imposto ao proprietaacuterio que praticou a atividade iliacutecita de cultivar plantas psicotroacutepicas sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo sanitaacuterio do Ministeacuterio da Sauacutede2

A nova redaccedilatildeo dada pela Emenda Constitucional 812014 aleacutem de incluir a exploraccedilatildeo de trabalho escravo como nova hipoacutetese de cabimento do confisco su-primiu a previsatildeo de que a expropriaccedilatildeo seria imediata e inseriu a observacircncia dos direitos fundamentais previstos no art 5ordm da CF no que couber

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal em nenhum momento menciona a participaccedilatildeo do proprietaacuterio no cultivo iliacutecito para ensejar a sanccedilatildeo Poreacutem natildeo se pode negar que a medida eacute sancionatoacuteria exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterizaccedilatildeo

A nova redaccedilatildeo do art 243 da CF aclarou a necessidade de observacircncia de nexo miacutenimo de imputaccedilatildeo da atividade iliacutecita ao atingido pela sanccedilatildeo A responsabilidade do proprietaacuterio embora subjetiva eacute bastante proacutexima da objetiva

Se o proprietaacuterio agiu com culpa mesmo natildeo tendo participado diretamente de-veraacute ser expropriado A funccedilatildeo social da propriedade gera para o proprietaacuterio o dever de zelar pelo uso liacutecito do seu imoacutevel ainda que natildeo esteja na posse direta

Poreacutem esse dever natildeo eacute ilimitado Somente se pode exigir do proprietaacuterio que evite o iliacutecito quando isso estiver razoavelmente ao seu alcance O proprietaacuterio pode portanto afastar sua responsabilidade demonstrando que natildeo incorreu em culpa Pode provar que foi esbulhado ou ateacute enganado por possuidor ou detentor

Por fim em caso de condomiacutenio havendo boa-feacute de apenas alguns dos proprie-taacuterios a sanccedilatildeo deve ser aplicada Restaraacute ao proprietaacuterio inocente buscar reparaccedilatildeo dos demais

Direito Administrativo Ȥ Intervenccedilatildeo do Estado na propriedade

Ȥ Expropriaccedilatildeo Ȥ Demonstraccedilatildeo de culpa ndash Repercussatildeo Geral

RE 635336RG ‒ Tema 399rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 15-9-2017Informativo STF 851

26iacutendice de teses

1 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem localizadas cul-turas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordm Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreen-dido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

2 GASPARINI Dioacutegenes Direito administrativo 17 ed Satildeo Paulo Saraiva 2012 p 202

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO ADMINISTRATIVO

28iacutendice de teses

Eacute aplicaacutevel o regime dos precatoacuterios agraves sociedades de economia mista presta-

doras de serviccedilo puacuteblico proacuteprio do Estado e de natureza natildeo concorrencial1

Ao atuar nessas condiccedilotildees a sociedade de economia mista ldquopresta serviccedilo puacuteblico primaacuterio e em regime de exclusividade o qual corresponde agrave proacutepria atuaccedilatildeo do Estado haja vista natildeo visar agrave obtenccedilatildeo de lucro e deter capital social majoritaria-mente estatalrdquo2

Permitir ordens de bloqueio penhora e liberaccedilatildeo de valores da conta uacutenica do Estado de forma indiscriminada fundadas em direitos subjetivos individuais poderia significar retardo ou descontinuidade de poliacuteticas puacuteblicas ou ainda desvio da forma legalmente prevista para a utilizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos3

Por consequecircncia o uso indiscriminado desses procedimentos aleacutem de desvirtuar a vontade do legislador estadual e violar os princiacutepios constitucionais da atividade financeira estatal em especial o da legalidade orccedilamentaacuteria (CF art 167 IV4) consti-tuiria interferecircncia indevida em ofensa aos princiacutepios da independecircncia e da harmo-nia entre os Poderes (CF art 2ordm5)

1 Precedentes RE 225011 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 19-12-2002 RE 393032 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 18-12-2009 e RE 852527 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 13-2-2015

2 RE 852302 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 26-2-2016

3 ADPF 114 MC rel min Joaquim Barbosa decisatildeo monocraacutetica DJ de 27-6-2007

4 ldquoArt 167 Satildeo vedados () IV ndash a vinculaccedilatildeo de receita de impostos a oacutergatildeo fundo ou despesa ressalvadas a reparticcedilatildeo do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos a que se referem os arts 158 e 159 a destinaccedilatildeo de recursos para as accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede para manutenccedilatildeo e desenvolvi-mento do ensino e para realizaccedilatildeo de atividades da administraccedilatildeo tributaacuteria como determinado res-

Direito Administrativo Ȥ Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Administraccedilatildeo Indireta Ȥ Sociedades de economia mista

ADPF 387rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-10-2017Informativo STF 858

29iacutendice de teses

pectivamente pelos arts 198 sect 2ordm 212 e 37 XXII e a prestaccedilatildeo de garantias agraves operaccedilotildees de creacutedito por antecipaccedilatildeo de receita previstas no art 165 sect 8ordm bem como o disposto no sect 4ordm deste artigordquo

5 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

30iacutendice de teses

Os pagamentos devidos em razatildeo de pronunciamento judicial pelos conse-

lhos de fiscalizaccedilatildeo natildeo se submetem ao regime de precatoacuterios

O art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 que cuida do sistema de precatoacuterios diz res-peito a pagamentos a serem feitos natildeo pelos conselhos mas pelas Fazendas Puacuteblicas

Os conselhos de fiscalizaccedilatildeo profissionais satildeo autarquias especiais possuem perso-nalidade juriacutedica de direito puacuteblico e estatildeo submetidos agraves regras constitucionais tais como a fiscalizaccedilatildeo pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo e a submissatildeo ao sistema de concurso puacuteblico para arregimentaccedilatildeo de pessoal

Entretanto esses conselhos natildeo estatildeo submetidos ao Capiacutetulo II do Tiacutetulo VI da CF ndash que versa sobre financcedilas puacuteblicas (arts 163 a 169) ndash natildeo satildeo oacutergatildeos dotados de orccedilamentos e tampouco recebem aportes do Poder Central que eacute a Uniatildeo

Nesse sentido se natildeo eacute possiacutevel incluir os conselhos no grande todo representado pela Fazenda Puacuteblica natildeo eacute possiacutevel aplicar a eles o art 100 da CF Por conseguinte o deacutebito de conselho fiscalizador profissional natildeo eacute executaacutevel como deacutebito da Fazenda

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

Direito Administrativo Ȥ Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Administraccedilatildeo Indireta Ȥ Autarquias ndash Repercussatildeo Geral

RE 938837RG ‒ Tema 877red p o ac min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 25-9-2017Informativo STF 861

PROCESSO ADMINISTRATIVODIREITO ADMINISTRATIVO

32iacutendice de teses

O termo inicial para a formalizaccedilatildeo de mandado de seguranccedila pressupotildee a

ciecircncia do impetrante quando o ato impugnado surgir no acircmbito de proces-

so administrativo do qual seja parte

No tocante aos paracircmetros do ato de notificaccedilatildeo a Administraccedilatildeo deve seguir o disposto nos arts 3ordm1 e 262 da Lei 97841999 Tais dispositivos asseguram ao inte-ressado tomar ciecircncia da tramitaccedilatildeo dos processos administrativos ter vista dos autos obter coacutepias de documentos neles contidos e conhecer as decisotildees proferidas incumbindo ao oacutergatildeo competente perante o qual tramita o processo administrativo determinar a intimaccedilatildeo do interessado para o conhecimento da decisatildeo ou a efeti-vaccedilatildeo de diligecircncias

Ante o quadro normativo mostra-se despicienda a circunstacircncia de o ato impugna-do ter sido publicado no Diaacuterio Oficial Para que haja o curso do prazo de decadecircncia eacute indispensaacutevel natildeo apenas o que se poderia tomar como intimaccedilatildeo ficta mas contar-se com a ciecircncia inequiacutevoca do titular do direito substancial em jogo

Instruiacutedo o processo com documentos suficientes ao exame da pretensatildeo vei-

culada na peticcedilatildeo inicial descabe suscitar a inadequaccedilatildeo da via mandamental

Inexiste oacutebice ao processamento do mandado de seguranccedila quando o exame da pretensatildeo natildeo pressupotildee produccedilatildeo de provas a impetraccedilatildeo natildeo eacute utilizada como substitutiva de accedilatildeo especiacutefica e os documentos trazidos ao processo revelam a exis-tecircncia de ato impugnaacutevel passiacutevel de anaacutelise

1 ldquoArt 3ordm O administrado tem os seguintes direitos perante a Administraccedilatildeo sem prejuiacutezo de ou-tros que lhe sejam assegurados I ndash ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores que deveratildeo facilitar o exerciacutecio de seus direitos e o cumprimento de suas obrigaccedilotildees II ndash ter ciecircncia da tramitaccedilatildeo dos processos administrativos em que tenha a condiccedilatildeo de interessado ter vista dos

Direito Administrativo Ȥ Processo administrativo

Ȥ Comunicaccedilatildeo dos atos Ȥ Ciecircncia do interessado

RMS 32487rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 21-11-2017Informativo STF 884

33iacutendice de teses

autos obter coacutepias de documentos neles contidos e conhecer as decisotildees proferidas III ndash formular alegaccedilotildees e apresentar documentos antes da decisatildeo os quais seratildeo objeto de consideraccedilatildeo pelo oacutergatildeo competente IV ndash fazer-se assistir facultativamente por advogado salvo quando obrigatoacuteria a representaccedilatildeo por forccedila de leirdquo

2 ldquoArt 26 O oacutergatildeo competente perante o qual tramita o processo administrativo determinaraacute a inti-maccedilatildeo do interessado para ciecircncia de decisatildeo ou a efetivaccedilatildeo de diligecircncias sect 1ordm A intimaccedilatildeo deveraacute conter I ndash identificaccedilatildeo do intimado e nome do oacutergatildeo ou entidade administrativa II ndash finalidade da intimaccedilatildeo III ndash data hora e local em que deve comparecer IV ndash se o intimado deve comparecer pessoalmente ou fazer-se representar V ndash informaccedilatildeo da continuidade do processo independente-mente do seu comparecimento VI ndash indicaccedilatildeo dos fatos e fundamentos legais pertinentes sect 2ordm A intimaccedilatildeo observaraacute a antecedecircncia miacutenima de trecircs dias uacuteteis quanto agrave data de comparecimento sect 3ordm A intimaccedilatildeo pode ser efetuada por ciecircncia no processo por via postal com aviso de recebimen-to por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciecircncia do interessado sect 4ordm No caso de interessados indeterminados desconhecidos ou com domiciacutelio indefinido a intimaccedilatildeo deve ser efe-tuada por meio de publicaccedilatildeo oficial sect 5ordm As intimaccedilotildees seratildeo nulas quando feitas sem observacircncia das prescriccedilotildees legais mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidaderdquo

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADODIREITO ADMINISTRATIVO

35iacutendice de teses

Considerando que eacute dever do Estado imposto pelo sistema normativo

manter em seus presiacutedios os padrotildees miacutenimos de humanidade previstos no

ordenamento juriacutedico eacute de sua responsabilidade nos termos do art 37 sect 6ordm

da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a obrigaccedilatildeo de ressarcir os danos inclusive

morais comprovadamente causados aos detentos em decorrecircncia da falta

ou insuficiecircncia das condiccedilotildees legais de encarceramento

A garantia miacutenima de seguranccedila pessoal fiacutesica e psiacutequica dos detentos constitui de-ver estatal que possui amplo lastro natildeo apenas no ordenamento nacional ndash CF2 Lei 72101984 (Lei de Execuccedilatildeo Penal) Lei 94551997 (Lei de Tortura) Lei 128472013 (Sistema Nacional de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Tortura) ndash mas tambeacutem em fontes normativas internacionais adotadas pelo Brasil ndash Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos das Naccedilotildees Unidas Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos Princiacutepios e Boas Praacuteticas para a Proteccedilatildeo de Pessoas Privadas de Liberdade nas Ameacutericas (Resoluccedilatildeo 12008 da Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos) Convenccedilatildeo da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis De-sumanos ou Degradantes e Regras Miacutenimas para o Tratamento de Prisioneiros

O dever de ressarcir danos inclusive morais efetivamente causados por accedilotildees e omissotildees dos agentes estatais ou pela inadequaccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos decorre diretamente do art 37 sect 6ordm da CF Tal norma eacute autoaplicaacutevel natildeo sujeita a interme-diaccedilatildeo legislativa ou administrativa para assegurar o correspondente direito subje-tivo agrave indenizaccedilatildeo

Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuaccedilatildeo da Adminis-traccedilatildeo ou dos seus agentes nasce a responsabilidade civil do Estado Nesse caso os recursos financeiros para a satisfaccedilatildeo do dever de indenizar objeto da condenaccedilatildeo seratildeo providos se for o caso na forma do art 100 da CF

O Estado eacute responsaacutevel pela guarda e seguranccedila das pessoas submetidas a encarce-ramento sendo seu dever mantecirc-las em condiccedilotildees carceraacuterias com miacutenimos padrotildees

Direito Administrativo Ȥ Responsabilidade civil do Estado

Ȥ Responsabilidade objetiva Ȥ Estabelecimentos penitenciaacuterios ndash Repercussatildeo Geral

RE 580252RG ‒ Tema 365red p o ac min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 854

36iacutendice de teses

de humanidade estabelecidos em lei bem como se for o caso ressarcir os danos que daiacute decorrerem A responsabilidade estatal seraacute objetiva no que concerne agrave integri-dade fiacutesica e psiacutequica daqueles que estatildeo sob sua custoacutedia3

As violaccedilotildees a direitos fundamentais causadoras de danos pessoais a detentos em estabelecimentos carceraacuterios natildeo podem ser relevadas ao argumento de que a indeni-zaccedilatildeo natildeo tem o alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente con-siderado que depende da definiccedilatildeo e da implantaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas providecircncias essas de atribuiccedilatildeo legislativa e administrativa Bem como natildeo eacute possiacutevel invocar subterfuacutegios teoacutericos ndash tais como a separaccedilatildeo dos Poderes a reserva do possiacute-vel e a natureza coletiva dos danos sofridos ndash para se afastar a responsabilidade estatal pelas calamitosas condiccedilotildees de carceragem no Brasil

1 ldquoArt 37 () sect 6ordm As pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico e as de direito privado prestadoras de ser-viccedilos puacuteblicos responderatildeo pelos danos que seus agentes nessa qualidade causarem a terceiros assegurado o direito de regresso contra o responsaacutevel nos casos de dolo ou culpardquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVII ndash natildeo haveraacute penas () e) crueacuteis XLVIII ndash a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito a idade e o sexo do apenado XLIX ndash eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moralrdquo

3 Precedentes ARE 662563 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-4-2012 RE 466322 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 27-4-2007 e RE 272839 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 8-4-2005

SERVIDORES PUacuteBLICOSDIREITO ADMINISTRATIVO

38iacutendice de teses

Eacute constitucional a reserva de 20 das vagas oferecidas nos concursos puacute-

blicos para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito

da Administraccedilatildeo Puacuteblica Direta e Indireta Eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo aleacutem da

autodeclaraccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentificaccedilatildeo desde que

respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditoacuterio e a

ampla defesa

Esses criteacuterios prescritos na Lei 1299020141 estatildeo em consonacircncia com o ordena-mento constitucional que rejeita todas as formas de preconceito e discriminaccedilatildeo e impotildee ao Estado o dever de atuar positivamente no combate ao racismo e na redu-ccedilatildeo das desigualdades sociais (CF arts 3ordm III2 e 5ordm caput e XLII3)

A desequiparaccedilatildeo promovida por essa poliacutetica de accedilatildeo afirmativa condiz com o princiacutepio da isonomia e se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira Aleacutem disso a lei visa garantir a igualdade material entre os cidadatildeos por meio da distribuiccedilatildeo mais equitativa de bens sociais e da promoccedilatildeo do reconhecimento da populaccedilatildeo afrodescendente Dessa forma a medida favoreceria a obtenccedilatildeo de postos de prestiacutegio por um grupo histo-ricamente alijado na distribuiccedilatildeo de recursos e poder na sociedade a superaccedilatildeo dos estereoacutetipos raciais o aumento de autoestima da populaccedilatildeo negra a reduccedilatildeo dos pre-conceitos e da discriminaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo do pluralismo e a promoccedilatildeo da diversida-de na Administraccedilatildeo Puacuteblica

Nesse contexto inexiste violaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico e da eficiecircncia A reserva de vagas para negros natildeo isenta os beneficiaacuterios da aprovaccedilatildeo no certame para que sejam considerados aptos a exercer de forma adequada e eficiente um cargo puacuteblico Assim manteacutem-se a livre concorrecircncia no acesso ao serviccedilo puacuteblico com igualdade de oportunidades para todos os candidatos e a impessoalidade no processo seletivo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Concurso puacuteblico Ȥ Regramento juriacutedico

ADC 41rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 17-8-2017Informativo STF 868

39iacutendice de teses

A incorporaccedilatildeo da raccedila como criteacuterio de seleccedilatildeo potencializa o princiacutepio da efi-ciecircncia ao criar um serviccedilo puacuteblico representativo capaz de garantir que as opiniotildees e os interesses de toda a populaccedilatildeo sejam considerados nas decisotildees estatais aleacutem de refletir a realidade da populaccedilatildeo brasileira

A existecircncia de uma poliacutetica de cotas para ingresso de negros em universidades puacuteblicas natildeo afeta a reserva de cargos disponiacuteveis nos concursos puacuteblicos tampouco gera vantagem dupla para seus beneficiaacuterios Isso porque nem todos os cargos e em-pregos puacuteblicos exigem curso superior e natildeo necessariamente o beneficiaacuterio da accedilatildeo afirmativa no serviccedilo puacuteblico utilizou-se de cotas para acesso agrave educaccedilatildeo superior Ademais outros fatores impedem os negros de competir igualitariamente nos con-cursos puacuteblicos como a ausecircncia de condiccedilotildees financeiras para aquisiccedilatildeo de material didaacutetico para frequentar cursos preparatoacuterios para dedicar-se exclusivamente ao es-tudo aleacutem da persistecircncia de preconceitos

A medida observa o princiacutepio da proporcionalidade em sua triacuteplice dimensatildeo eacute adequada para a promoccedilatildeo do objetivo a que se destina eacute necessaacuteria pois natildeo haacute medida alternativa menos gravosa e igualmente idocircnea agrave promoccedilatildeo dos objetivos da Lei 129902014 e eacute proporcional em sentido estrito pois o percentual de reserva de 20 das vagas para negros eacute razoaacutevel visto que uma parcela relevante das vagas ainda continuaraacute destinada agrave livre concorrecircncia tendo a lei previsto que a reserva somente seraacute aplicada quando o nuacutemero de vagas em disputa for igual ou superior a trecircs4 Aleacutem disso a poliacutetica instituiacuteda possui caraacuteter transitoacuterio (dez anos) institui modelo de monitoramento anual dos resultados e emprega meacutetodos de identificaccedilatildeo do componente eacutetnico-racial compatiacuteveis com o princiacutepio da dignidade humana

Nesse cenaacuterio eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentifi-caccedilatildeo como mecanismos de controle de fraudes e de combate a abusos na autode-claraccedilatildeo desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o con-traditoacuterio e a ampla defesa Seriam aplicaacuteveis portanto a autodeclaraccedilatildeo presencial perante a comissatildeo do concurso a exigecircncia de fotos e a formaccedilatildeo de comissotildees com composiccedilatildeo plural para entrevista dos candidatos

Com o objetivo de garantir a efetividade dessa poliacutetica de accedilatildeo afirmativa a Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute aplicar os percentuais de reserva para todas as fases e vagas oferecidas nos concursos (natildeo apenas para as previstas no edital de abertura) Os car-gos disponiacuteveis natildeo poderatildeo ser fracionados de acordo com a especializaccedilatildeo exigida com o intuito de burlar a accedilatildeo afirmativa que soacute se aplica quando houver mais de duas vagas Por fim a ordem classificatoacuteria obtida a partir dos criteacuterios de alternacircncia

40iacutendice de teses

e proporcionalidade na nomeaccedilatildeo dos candidatos aprovados deveraacute produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiaacuterio da reserva de vagas influenciando promoccedilotildees e remoccedilotildees

1 ldquoReserva aos negros 20 (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos para pro-vimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica federal das autarquias das fundaccedilotildees puacuteblicas das empresas puacuteblicas e das sociedades de economia mista con-troladas pela Uniatildeordquo

2 ldquoArt 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil () III ndash erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e regionaisrdquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLII ndash a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo

4 Lei 129902014 ldquoArt 1ordm () sect 1ordm A reserva de vagas seraacute aplicada sempre que o nuacutemero de vagas oferecidas no concurso puacuteblico for igual ou superior a 3 (trecircs)rdquo

41iacutendice de teses

Editais de concurso puacuteblico natildeo podem estabelecer restriccedilatildeo a pessoas com

tatuagem salvo situaccedilotildees excepcionais em razatildeo de conteuacutedo que viole va-

lores constitucionais

Eacute inconstitucional a restriccedilatildeo elencada em edital de concurso para ocupaccedilatildeo de cargo emprego ou para o desempenho de funccedilatildeo puacuteblica sem expressa previsatildeo legal1 em observacircncia ao princiacutepio da legalidade e em conformidade com o art 37 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

O legislador natildeo pode escudar-se em pretensa discricionariedade para criar barrei-ras legais arbitraacuterias e desproporcionais para o acesso agraves funccedilotildees puacuteblicas de modo a ensejar a sensiacutevel diminuiccedilatildeo do nuacutemero de possiacuteveis competidores e a impossibilida-de de escolha pela Administraccedilatildeo dos melhores candidatos Por sua vez os requisitos e impedimentos previstos em lei para o exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica devem ser compa-tiacuteveis com a natureza e as atribuiccedilotildees das atividades a serem desempenhadas3 Assim restriccedilotildees ofensivas aos direitos fundamentais que violem o princiacutepio da proporciona-lidade ou sejam improacuteprias para o exerciacutecio da funccedilatildeo puacuteblica satildeo inconstitucionais

Eacute certo que as tatuagens perderam haacute algum tempo o estigma de caraacuteter mar-ginal Atualmente satildeo vistas como obra artiacutestica e alcanccedilam os mais diversos e he-terogecircneos grupos com as mais variadas idades Considerando que eacute direito funda-mental do cidadatildeo preservar sua imagem como reflexo de sua identidade o Estado natildeo pode desestimular a inserccedilatildeo voluntaacuteria de tatuagens no corpo pois estaria se opondo agrave livre manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo valores amplamente tu-telados pelo ordenamento juriacutedico brasileiro (CF art 5ordm IV4 e IX5)

Incumbe ao Estado estimular o livre intercacircmbio de opiniotildees em um mercado de ideias indispensaacutevel para a formaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica e assegurar que minorias possam se manifestar livremente no meio social o que inclui a natildeo intromissatildeo e o respeito ao direito de escolha Por sua vez a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve exercer a discricionariedade entrincheirada natildeo apenas pela avaliaccedilatildeo unilateral a respeito da

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Concurso puacuteblico Ȥ Regramento juriacutedico ndash Repercussatildeo Geral

RE 898450RG ‒ Tema 838rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

42iacutendice de teses

conveniecircncia e oportunidade de um ato mas sobretudo pelos direitos fundamentais em ambiente de perene diaacutelogo com a sociedade

Ademais com base nos princiacutepios da liberdade e da igualdade natildeo haacute justificativa para que a Administraccedilatildeo Puacuteblica e a sociedade visualizem em pessoas que possuem tatuagens marcas de marginalidade inidoneidade ou inaptidatildeo fiacutesica ou mental para o exerciacutecio de determinado cargo puacuteblico Portanto o Estado natildeo pode considerar aprioristicamente como paracircmetro discriminatoacuterio para o ingresso em uma carreira puacuteblica o simples fato de uma pessoa possuir tatuagens visiacuteveis ou natildeo Afinal isso natildeo macula por si a honra pessoal o profissionalismo e o respeito agraves instituiccedilotildees tampouco lhe diminui a competecircncia

No ordenamento juriacutedico paacutetrio vale destacar a existecircncia de diversas leis sobre o tema no acircmbito das Forccedilas Armadas direcionadas especificamente para a Marinha6 a Aeronaacuteutica7 e o Exeacutercito8 e que proiacutebem apenas tatuagens ofensivas a determi-nados valores institucionais ou que representem ofensa agrave ordem puacuteblica Quanto agrave lei especiacutefica do Exeacutercito Lei 127052012 nota-se a existecircncia de veto da Presidecircncia da Repuacuteblica ao criteacuterio proposto de restriccedilatildeo ao ingresso de candidatos portadores de tatuagens que ldquopelas suas dimensotildees ou natureza prejudiquem a camuflagem e comprometam as operaccedilotildees militaresrdquo (art 2ordm VIII b) A justificativa para o veto amparou-se na hodierna orientaccedilatildeo de que o discriacutemen soacute se explica quando acompa-nhado de paracircmetros razoaacuteveis ou de criteacuterios consistentes para sua aplicaccedilatildeo

Nesse contexto claacuteusula editaliacutecia que prevecirc impedimento agrave participaccedilatildeo de can-didato em concurso puacuteblico em anaacutelise meramente esteacutetica exclusivamente por os-tentar tatuagem visiacutevel sem qualquer simbologia que justificasse seu afastamento do certame mercecirc de natildeo possuir fundamento de validade em lei revela-se preconcei-tuosa discriminatoacuteria e desprovida de razoabilidade Aleacutem de natildeo encontrar amparo na realidade essa restriccedilatildeo afronta um dos objetivos fundamentais do Paiacutes consagra-do no art 3ordm IV da CF9 o que impede que as tatuagens sejam inseridas no rol dos criteacuterios para o reconhecimento de uma inaptidatildeo

Eventual restriccedilatildeo soacute se justifica excepcionalmente caso seja necessaacuteria agrave finalida-de que ela pretende alcanccedilar e agrave natureza do cargo puacuteblico Destarte a tatuagem que viole valores institucionais ou constitucionais ofenda a dignidade humana (como as de incentivo ao oacutedio) represente obscenidades expresse ideologias terroristas ex-tremistas e contraacuterias agraves instituiccedilotildees democraacuteticas incite a violecircncia a ameaccedila e a criminalidade ou incentive a discriminaccedilatildeo ou preconceitos de raccedila e sexo ou qual-

43iacutendice de teses

quer outra forccedila de intoleracircncia eacute incompatiacutevel com o exerciacutecio de qualquer cargo puacuteblico

1 Precedentes RE 593198 AgR rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 1ordm-10-2013 ARE 715061 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 19-6-2013 RE 558833 AgR rel min Ellen Gracie 2ordf T DJE de 25-9-2009 RE 398567 AgR rel min Eros Grau 1ordf T DJ de 24-3-2006 e MS 20973 rel min Paulo Brossard P DJ de 24-4-1992

2 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte I ndash os cargos empregos e funccedilotildees puacuteblicas satildeo acessiacuteveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei assim como aos estrangeiros na forma da leirdquo

3 Precedente ARE 678112 RG rel min Luiz Fux P DJE de 17-5-2013

4 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () IV ndash eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensa-mento sendo vedado o anonimatordquo

5 ldquoArt 5ordm () IX ndash Eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedilardquo

6 Lei 112792006 ldquoArt 11-A () XII ndash natildeo apresentar tatuagem que nos termos de detalhamento constante de normas do Comando da Marinha faccedila alusatildeo a ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas a violecircncia a criminalidade a ideia ou ato libidinoso a discri-minaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem ou ainda a ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadasrdquo

7 Lei 124642011 ldquoArt 20 () XVII ndash natildeo apresentar tatuagem no corpo com siacutembolo ou inscriccedilatildeo que afete a honra pessoal o pundonor militar ou o decoro exigido aos integrantes das Forccedilas Ar-madas que faccedila alusatildeo a a) ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas ou que pregue a violecircncia ou a criminalidade b) discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem c) ideia ou ato libidinoso e d) ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadas ou agrave sociedaderdquo

8 Lei 127052012 ldquoArt 2ordm () VIII ndash natildeo apresentar tatuagens que nos termos de detalhamento constante de normas do Comando do Exeacutercito a) faccedila alusatildeo a ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas a violecircncia a criminalidade a ideia ou ato libidinoso a discri-minaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem ou ainda a ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadasrdquo

9 ldquoArt 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil () IV ndash promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

44iacutendice de teses

A Administraccedilatildeo Puacuteblica deve proceder ao desconto dos dias de paralisaccedilatildeo

decorrentes do exerciacutecio do direito de greve pelos servidores puacuteblicos em

virtude da suspensatildeo do viacutenculo funcional que dela decorre permitida a

compensaccedilatildeo em caso de acordo O desconto seraacute contudo incabiacutevel se ficar

demonstrado que a greve foi provocada por conduta iliacutecita do poder puacuteblico

No julgamento dos MI 670 708 e 712 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ateacute a ediccedilatildeo da lei regulamentadora do direito de greve previsto no art 37 VII da Constituiccedilatildeo Federal1 as Leis 77011988 e 77831989 poderiam ser aplicadas provisoriamente para possibilitar o exerciacutecio desse direito pelos servidores puacuteblicos em especial os arts 1ordm2 ao 9ordm3 144 155 e 176 da Lei 77831989

Entretanto esse direito natildeo eacute absoluto Conquanto a paralisaccedilatildeo seja possiacutevel porque eacute um direito constitucional ela tem consequecircncias O STF jaacute assentou o en-tendimento de que o desconto dos dias de paralisaccedilatildeo eacute ocircnus inerente agrave greve assim como a paralisaccedilatildeo parcial dos serviccedilos puacuteblicos imposta agrave sociedade eacute consequecircncia natural do movimento

A aplicaccedilatildeo do art 7ordm da Lei 778319897 induz ao entendimento de que em prin-ciacutepio a deflagraccedilatildeo de greve corresponde agrave suspensatildeo do contrato de trabalho na qual natildeo haacute falar em prestaccedilatildeo de serviccedilos tampouco em pagamento de sua contra-prestaccedilatildeo

Os grevistas assumem os riscos da empreitada pois do contraacuterio estar-se-ia dian-te de caso de enriquecimento sem causa a violar inclusive o princiacutepio da indisponi-bilidade dos bens e do interesse puacuteblico

Cabe esclarecer que a ausecircncia de regulamentaccedilatildeo do direito de greve natildeo trans-forma os dias de paralisaccedilatildeo do movimento grevista em faltas injustificadas razatildeo pela qual esse desconto natildeo tem o efeito disciplinar punitivo8 9 e 10

Por fim o desconto somente natildeo se realizaraacute se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos servidores puacuteblicos civis ou por outras situaccedilotildees excepcio-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Direitos e deveres Ȥ Direito de greve ndash Repercussatildeo Geral

RE 693456RG ‒ Tema 531rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 19-10-2017Informativo STF 845

45iacutendice de teses

nais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensatildeo da relaccedilatildeo funcional ou de trabalho tais como aquelas em que o ente da Administraccedilatildeo ou o empregador tenha contribuiacutedo mediante conduta recriminaacutevel para que a greve ocorresse ou em que haja negociaccedilatildeo sobre a compensaccedilatildeo dos dias parados ou mesmo o parcelamen-to dos descontos

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mo-ralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () VII ndash o direito de greve seraacute exercido nos termos e nos limites definidos em lei especiacuteficardquo

2 ldquoArt 1ordm Eacute assegurado o direito de greve competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercecirc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender Paraacutegrafo uacutenico O direito de greve seraacute exercido na forma estabelecida nesta Leirdquo

3 ldquoArt 9ordm Durante a greve o sindicato ou a comissatildeo de negociaccedilatildeo mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador manteraacute em atividade equipes de empregados com o propoacutesito de assegurar os serviccedilos cuja paralisaccedilatildeo resultem em prejuiacutezo irreparaacutevel pela deterio-raccedilatildeo irreversiacutevel de bens maacutequinas e equipamentos bem como a manutenccedilatildeo daqueles essenciais agrave retomada das atividades da empresa quando da cessaccedilatildeo do movimento Paraacutegrafo uacutenico Natildeo havendo acordo eacute assegurado ao empregador enquanto perdurar a greve o direito de contratar diretamente os serviccedilos necessaacuterios a que se refere este artigordquo

4 ldquoArt 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservacircncia das normas contidas na presente Lei bem como a manutenccedilatildeo da paralisaccedilatildeo apoacutes a celebraccedilatildeo de acordo convenccedilatildeo ou decisatildeo da Justiccedila do Trabalho Paraacutegrafo uacutenico Na vigecircncia de acordo convenccedilatildeo ou sentenccedila normativa natildeo constitui abuso do exerciacutecio do direito de greve a paralisaccedilatildeo que I ndash tenha por objetivo exigir o cumprimento de claacuteusula ou condiccedilatildeo II ndash seja motivada pela superveniecircncia de fato novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relaccedilatildeo de trabalhordquo

5 ldquoArt 15 A responsabilidade pelos atos praticados iliacutecitos ou crimes cometidos no curso da greve seraacute apurada conforme o caso segundo a legislaccedilatildeo trabalhista civil ou penal Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o Ministeacuterio Puacuteblico de ofiacutecio requisitar a abertura do competente inqueacuterito e oferecer denuacutencia quando houver indiacutecio da praacutetica de delitordquo

6 ldquoArt 17 Fica vedada a paralisaccedilatildeo das atividades por iniciativa do empregador com o objetivo de frustrar negociaccedilatildeo ou dificultar o atendimento de reivindicaccedilotildees dos respectivos empregados (lockout) Paraacutegrafo uacutenico A praacutetica referida no caput assegura aos trabalhadores o direito agrave per-cepccedilatildeo dos salaacuterios durante o periacuteodo de paralisaccedilatildeordquo

7 ldquoArt 7ordm Observadas as condiccedilotildees previstas nesta Lei a participaccedilatildeo em greve suspende o contrato de trabalho devendo as relaccedilotildees obrigacionais durante o periacuteodo ser regidas pelo acordo con-venccedilatildeo laudo arbitral ou decisatildeo da Justiccedila do Trabalho Paraacutegrafo uacutenico Eacute vedada a rescisatildeo de contrato de trabalho durante a greve bem como a contrataccedilatildeo de trabalhadores substitutos exceto na ocorrecircncia das hipoacuteteses previstas nos arts 9ordm e 14rdquo

46iacutendice de teses

8 ADI 3235 red p o ac min Gilmar Mendes P DJE de 12-3-2010

9 RE 226966 red p o ac min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 21-8-2009

10 RE 222532 rel min Sepuacutelveda Pertence 1ordf T DJ de 1ordm-9-2000

47iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime juriacutedico Ȥ Jornada de trabalho

A jornada de trabalho dos ocupantes de cargos puacuteblicos do Poder Judiciaacuterio

federal das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de quatro

(vinte horas semanais) e seis (trinta horas semanais) horas diaacuterias

A Lei 114162006 eacute silente a respeito da jornada de trabalho dos servidores do Po-der Judiciaacuterio Poreacutem existindo legislaccedilatildeo especiacutefica que discipline a jornada de meacutedicos e odontoacutelogos ocupantes de cargos puacuteblicos aplica-se a norma de caraacuteter especial em detrimento da regra geral inserta no caput do art 19 da Lei 811219901

Nos termos da Lei 127022012 e do Decreto-Lei 21401984 a jornada de traba-lho dos servidores das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de vinte horas semanais (no caso dos meacutedicos) e trinta horas semanais (para os odontoacutelogos)

As leis acima mencionadas natildeo contemplam servidores analistas judiciaacuterios ndash es-pecialidades medicina ou odontologia ndash ocupantes de cargo em comissatildeo e funccedilatildeo comissionada Neste caso teratildeo que cumprir a jornada integral de trabalho

1 ldquoArt 19 Os servidores cumpriratildeo jornada de trabalho fixada em razatildeo das atribuiccedilotildees pertinentes aos respectivos cargos respeitada a duraccedilatildeo maacutexima do trabalho semanal de quarenta horas e ob-servados os limites miacutenimo e maacuteximo de seis horas e oito horas diaacuterias respectivamenterdquo

MS 33853rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 29-9-2017Informativo STF 869

48iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Aposentadoria compulsoacuteria ndash Repercussatildeo Geral

RE 786540RG ‒ Tema 763rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 15-12-2017Informativo STF 851

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissatildeo natildeo se sub-

metem agrave regra da aposentadoria compulsoacuteria prevista no art 40 sect 1ordm II da

Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de pro-

vimento efetivo inexistindo tambeacutem qualquer idade limite para fins de no-

meaccedilatildeo a cargo em comissatildeo

O referido dispositivo apresenta um niacutetido recorte o regramento previdenciaacuterio nele previsto aplica-se via de regra aos servidores efetivos2 os quais embora tatildeo servidores puacuteblicos quanto os comissionados3 com eles natildeo se confundem Tivesse o dispositivo em questatildeo o intuito de referir-se aos servidores genericamente consi-derados natildeo traria na letra da norma delimitaccedilatildeo expressa

A loacutegica que rege as nomeaccedilotildees para cargos comissionados eacute distinta daquela que rege as nomeaccedilotildees para os efetivos Os uacuteltimos ingressam no serviccedilo puacuteblico me-diante concurso Haacute ademais o adicional de possuiacuterem estabilidade e tenderem a manter com o Estado um longo e soacutelido viacutenculo o que torna admissiacutevel a expulsoacuteria como forma de oxigenaccedilatildeo e renovaccedilatildeo Os primeiros por sua vez adentram a es-trutura estatal para o desempenho de cargos de chefia direccedilatildeo ou assessoramento pressupondo-se como substrato de sua designaccedilatildeo a existecircncia de uma relaccedilatildeo de confianccedila pessoal e de especialidade incomum O comissionado adentra o serviccedilo puacuteblico entre outros motivos para agregar a esse uacuteltimo uma habilidade natildeo facil-mente encontrada uma formaccedilatildeo teacutecnica especializada Exerce ao menos na teoria atribuiccedilotildees diferenciadas tanto do ponto de vista da rotina e das responsabilidades no local de trabalho como da proacutepria atividade intelectual Sendo esse o fundamento da nomeaccedilatildeo natildeo haacute razatildeo para submeter o indiviacuteduo agrave compulsoacuteria quando aleacutem de persistirem a relaccedilatildeo de confianccedila e a especializaccedilatildeo teacutecnica e intelectual o servidor eacute exoneraacutevel a qualquer momento independentemente inclusive de motivaccedilatildeo

Por sua vez o art 40 sect 13 da CF4 ao determinar a aplicaccedilatildeo do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) evidencia o tratamento dissonante a ser conferido aos

49iacutendice de teses

ocupantes de cargo em comissatildeo Dessa previsatildeo constitucional decorre que a passa-gem para a inatividade observaraacute o art 201 da CF5 e a Lei 82131990 que arrolam as seguintes espeacutecies de aposentadoria por invalidez por idade por tempo de serviccedilo e especial Portanto inexiste para os indiviacuteduos vinculados ao RGPS qualquer previ-satildeo de compulsoriedade de aposentaccedilatildeo a qual seraacute sempre facultativa

Aleacutem disso cabe destacar que se natildeo haacute idade limite para a inativaccedilatildeo e se a legis-laccedilatildeo de regecircncia natildeo cuidou do tema tambeacutem natildeo haacute idade limite para o ingresso em cargo comissionado Os motivos que justificam a natildeo incidecircncia da norma do art 40 sect 1ordm II da CF amparam tambeacutem a impossibilidade de se proibir que o maior de 75 anos seja nomeado para o exerciacutecio de cargo de confianccedila na Administraccedilatildeo Puacute-blica Enquanto natildeo houver alteraccedilatildeo constitucional ou ediccedilatildeo de lei estabelecendo idade maacutexima ndash justificada sempre pela natureza das atribuiccedilotildees do cargo ndash natildeo haacute falar em observacircncia do marco de 75 anos de idade ou de qualquer outro para fins de escolha e designaccedilatildeo para a espeacutecie de funccedilatildeo em comento

Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional inexiste oacutebice

constitucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente per-

maneccedila no cargo comissionado que jaacute desempenhava ou a que seja nomeado

para outro cargo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo uma vez que natildeo se trata

de continuidade ou criaccedilatildeo de viacutenculo efetivo com a Administraccedilatildeo

Nessas situaccedilotildees verifica-se a coexistecircncia de viacutenculo funcional efetivo e de cargo em comissatildeo sem viacutenculo efetivo para o que natildeo se vislumbra vedaccedilatildeo inclusive sob o ponto de vista previdenciaacuterio

O servidor efetivo aposentado compulsoriamente embora mantenha esse viacutenculo com a Administraccedilatildeo mesmo apoacutes sua passagem para a inatividade ao tomar posse em funccedilatildeo de provimento em comissatildeo inaugura com essa uacuteltima uma segunda e nova relaccedilatildeo agora relativa ao cargo comissionado Natildeo se trata de forma irregular de continuidade do viacutenculo efetivo uma vez que comissionados e efetivos satildeo espeacute-cies diacutespares do gecircnero servidor puacuteblico

1 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o

50iacutendice de teses

disposto neste artigo sect 1ordm Os servidores abrangidos pelo regime de previdecircncia de que trata este ar-tigo seratildeo aposentados calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos sectsect 3ordm e 17 () II ndash compulsoriamente com proventos proporcionais ao tempo de contribuiccedilatildeo aos 70 (setenta) anos de idade ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade na forma de lei complementarrdquo

2 Os cargos de provimento efetivo satildeo aqueles ldquodestinados ao provimento em caraacuteter definitivo A permanecircncia eacute que identifica a forma de ocupaccedilatildeo lsquoEacute o cargo ocupado por algueacutem sem transito-riedade ou adequado a uma ocupaccedilatildeo permanentersquo no preciso dizer de Dioacutegenes Gasparini Eles devem ser exercidos obrigatoriamente por funcionaacuterios concursados e de forma permanente res-salvada a titularidade provisoacuteria do funcionaacuterio ainda em periacuteodo probatoacuteriordquo (OLIVEIRA Regis Fernandes de Servidores puacuteblicos 3 ed rev e ampl Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 48)

3 Os cargos de provimento em comissatildeo por sua vez consubstanciam aqueles ldquodestinados a livre provimento e exoneraccedilatildeo O sentido literal de lsquocomissatildeorsquo pode ser expresso como um encargo ou incumbecircncia temporaacuteria oferecida pelo comitente Nesse mesmo sentido o cargo em comissatildeo pode ser cargo isolado ou permanente criado por lei de ocupaccedilatildeo transitoacuteria e livremente preen-chido pelo chefe do Executivo segundo seu exclusivo criteacuterio de confianccedila Transitoacuteria portanto eacute a permanecircncia do servidor escolhido natildeo o cargo que eacute criado por leirdquo (OLIVEIRA Regis Fernan-des de Servidores puacuteblicos 3 ed rev e ampl Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 38)

4 ldquoArt 40 () sect 13 Ao servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo bem como de outro cargo temporaacuterio ou de emprego puacuteblico aplica--se o regime geral de previdecircncia socialrdquo

5 ldquoArt 201 A previdecircncia social seraacute organizada sob a forma de regime geral de caraacuteter contributi-vo e de filiaccedilatildeo obrigatoacuteria observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e atenderaacute nos termos da lei a I ndash cobertura dos eventos de doenccedila invalidez morte e idade avanccedilada II ndash proteccedilatildeo agrave maternidade especialmente agrave gestante III ndash proteccedilatildeo ao trabalhador em situaccedilatildeo de desemprego involuntaacuterio IV ndash salaacuterio-famiacutelia e auxiacutelio-reclusatildeo para os dependentes dos segurados de baixa renda V ndash pensatildeo por morte do segurado homem ou mulher ao cocircnjuge ou companheiro e dependentes observado o disposto no sect 2ordmrdquo

51iacutendice de teses

O cocircmputo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz exige a demonstraccedilatildeo

da efetiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante enco-

mendas de terceiros

A exigecircncia consta da Lei 35521959 e do Enunciado Sumular 961 do Tribunal de Contas da Uniatildeo O elemento essencial agrave caracterizaccedilatildeo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz natildeo seria a percepccedilatildeo de vantagem direta ou indireta mas a efe-tiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante encomendas de terceiros Como consequecircncia a declaraccedilatildeo emitida por instituiccedilatildeo de ensino pro-fissionalizante somente serviria a comprovar o periacuteodo de trabalho caso registrasse expressamente a participaccedilatildeo do educando nas atividades laborativas desenvolvidas para atender aos pedidos feitos agraves escolas

Da certidatildeo lavrada pelo centro de ensino deve constar a declaraccedilatildeo da frequecircncia em curso teacutecnico profissionalizante por certo periacuteodo e referecircncia agrave participaccedilatildeo na produccedilatildeo de quaisquer bens ou serviccedilos solicitados por terceiros Eacute indispensaacutevel a demonstraccedilatildeo de retribuiccedilatildeo pecuniaacuteria agrave conta do orccedilamento salvo casos em que haja situaccedilatildeo jaacute consolidada em entendimento anterior2

A ausecircncia de prova do desempenho concreto de atividades como aluno-aprendiz justifica a glosa da aposentadoria pelo Tribunal de Contas3

1 ldquoConta-se para todos os efeitos como tempo de serviccedilo puacuteblico o periacuteodo de trabalho prestado na qualidade de aluno-aprendiz em Escola Puacuteblica Profissional desde que comprovada a retribuiccedilatildeo pecuniaacuteria agrave conta do Orccedilamento admitindo-se como tal o recebimento de alimentaccedilatildeo farda-mento material escolar e parcela de renda auferida com a execuccedilatildeo de encomendas para terceirosrdquo

2 MS 21185 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 12-2-2010

3 MS 32859 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJE de 23-5-2014

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Aposentadoria

MS 31518rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 6-7-2017Informativo STF 853

52iacutendice de teses

A ocupaccedilatildeo de novo cargo da magistratura dentro da estrutura do Poder Ju-

diciaacuterio pelo titular do abono de permanecircncia natildeo implica a cessaccedilatildeo do

benefiacutecio

ldquo() a jurisdiccedilatildeo enquanto manifestaccedilatildeo da unidade do poder soberano do Esta-do tampouco pode deixar de ser una e indivisiacutevel eacute doutrina assente que o Poder Judiciaacuterio tem caraacuteter nacional natildeo existindo senatildeo por metaacuteforas e metoniacutemias lsquoJudiciaacuterios estaduaisrsquo ao lado de um lsquoJudiciaacuterio federalrsquo A divisatildeo da estrutura ju-diciaacuteria brasileira sob tradicional mas equivocada denominaccedilatildeo em Justiccedilas eacute soacute resultado da reparticcedilatildeo nacional do trabalho da mesma natureza entre distintos oacutergatildeos jurisdicionaisrdquo1 Essa linha de raciociacutenio direciona a concessatildeo do abono de permanecircncia na magistratura conforme estabelece o art 40 sect 19 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1988 (incluiacutedo pela Emenda Constitucional 412003)2

A interpretaccedilatildeo do preceito constitucional que rege a concessatildeo do abono natildeo dispensa esse elemento informador indicativo da ocupaccedilatildeo de novo cargo na magis-tratura tambeacutem contido na estrutura do Poder Judiciaacuterio Assim o respectivo deslo-camento natildeo pode resultar em prejuiacutezo para o beneficiado valendo notar a natureza do abono ndash incentivo agrave permanecircncia em atividade por aqueles que jaacute preencheram as condiccedilotildees para a aposentadoria3 previstas no art 40 sect 1ordm III da CF4

1 ADI 3367 rel min Cezar Peluso P DJ de 13-7-2006

2 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo () sect 19 O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigecircn-cias para aposentadoria voluntaacuteria estabelecidas no sect 1ordm III a e que opte por permanecer em ativi-dade faraacute jus a um abono de permanecircncia equivalente ao valor da sua contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria ateacute completar as exigecircncias para aposentadoria compulsoacuteria contidas no sect 1ordm IIrdquo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Abono de permanecircncia

MS 33424rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 10-4-2017Informativo STF 859

53iacutendice de teses

3 MS 33456 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 17-4-2017

4 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo sect 1ordm Os servidores abrangidos pelo regime de previdecircncia de que trata este artigo seratildeo aposentados calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos sectsect 3ordm e 17 () III ndash voluntariamente desde que cumprido tempo miacutenimo de dez anos de efetivo exerciacutecio no serviccedilo puacuteblico e cinco anos no cargo efetivo em que se daraacute a aposentadoria observadas as se-guintes condiccedilotildees a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuiccedilatildeo se homem e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuiccedilatildeo se mulher b) sessenta e cinco anos de idade se ho-mem e sessenta anos de idade se mulher com proventos proporcionais ao tempo de contribuiccedilatildeordquo

54iacutendice de teses

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulaccedilatildeo de cargos empre-

gos e funccedilotildees a incidecircncia do art 37 XI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pressu-

potildee consideraccedilatildeo de cada um dos viacutenculos formalizados afastada a observacircn-

cia do teto remuneratoacuterio quanto ao somatoacuterio dos ganhos do agente puacuteblico

A regra do teto constitucional expressa duplo objetivo De um lado haacute niacutetido intuito eacutetico de modo a impedir a consolidaccedilatildeo de ldquosupersalaacuteriosrdquo incompatiacuteveis com o princiacutepio republicano indissociaacutevel do regime remuneratoacuterio dos cargos puacuteblicos no que veda a apropriaccedilatildeo ilimitada e individualizada de recursos escassos De outro eacute evidente a finalidade protetiva do eraacuterio visando estancar o dispecircndio indevido de verbas puacuteblicas Nessa medida o teto remuneratoacuterio previsto no texto constitu-cional quando devidamente observado bem como aliado aos limites globais com despesas de pessoal assume a relevante funccedilatildeo de obstar gastos inconciliaacuteveis com a prudecircncia no emprego dos recursos da coletividade

Entretanto a percepccedilatildeo somada de remuneraccedilotildees relativas a cargos acumulaacuteveis ainda que acima no cocircmputo global do patamar maacuteximo natildeo interfere nos objeti-vos que inspiram o texto constitucional

Por um lado isso ocorre porque as situaccedilotildees alcanccediladas pelo art 37 XI da Carta Federal satildeo aquelas nas quais o servidor obteacutem ganhos desproporcionais observadas as atribuiccedilotildees dos cargos puacuteblicos ocupados Admitida a incidecircncia do limitador em cada uma das matriacuteculas descabe declarar prejuiacutezo agrave dimensatildeo eacutetica da norma por-quanto mantida a compatibilidade exigida entre trabalho e remuneraccedilatildeo

Por outro lado haacute que se observar uma necessaacuteria interaccedilatildeo entre os incisos XI e XVI2 do art 37 do texto constitucional em observacircncia ao princiacutepio da unidade da Constituiccedilatildeo a demandar esforccedilo interpretativo que natildeo esvazie o sentido da regra que autoriza a acumulaccedilatildeo

Outrossim a incidecircncia do limitador tendo em vista o somatoacuterio dos ganhos mesmo que acumulaacuteveis os cargos puacuteblicos ocupados viabiliza retribuiccedilatildeo pecuniaacute-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Remuneraccedilatildeo Ȥ Acumulaccedilatildeo de cargos puacuteblicos ndash Repercussatildeo Geral

RE 612975RG ‒ Tema 377rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 8-9-2017Informativo STF 862

55iacutendice de teses

ria inferior ao que se tem como razoaacutevel consideradas as atribuiccedilotildees especiacuteficas dos viacutenculos e as respectivas remuneraccedilotildees a ensejar enriquecimento sem causa do po-der puacuteblico

Natildeo se deve extrair do texto constitucional conclusatildeo a possibilitar tratamento desigual entre servidores puacuteblicos que exerccedilam idecircnticas funccedilotildees O preceito concer-nente agrave acumulaccedilatildeo preconiza que ela eacute remunerada natildeo admitindo a gratuidade ainda que parcial dos serviccedilos prestados observado o art 1ordm da CF no que evidencia como fundamento da Repuacuteblica a proteccedilatildeo dos valores sociais do trabalho

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mo-ralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XI ndash a remuneraccedilatildeo e o subsiacutedio dos ocupantes de cargos funccedilotildees e empregos puacuteblicos da administraccedilatildeo direta autaacuterquica e fundacio-nal dos membros de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Muni-ciacutepios dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes poliacuteticos e os proventos pensotildees ou outra espeacutecie remuneratoacuteria percebidos cumulativamente ou natildeo incluiacutedas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza natildeo poderatildeo exceder o subsiacutedio mensal em espeacutecie dos Ministros do Supremo Tribunal Federal aplicando-se como limite nos Municiacutepios o subsiacutedio do Prefeito e nos Estados e no Distrito Federal o subsiacutedio mensal do Governador no acircmbito do Poder Executivo o subsiacutedio dos Deputados Estaduais e Distritais no acircmbito do Poder Legislativo e o subsiacutedio dos Desembargadores do Tribunal de Justiccedila limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centeacutesimos por cento do subsiacutedio mensal em espeacutecie dos Ministros do Supremo Tribunal Federal no acircmbito do Poder Judiciaacuterio aplicaacutevel este limite aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico aos Procuradores e aos Defensores Puacuteblicosrdquo

2 ldquoArt 37 () XVI ndash eacute vedada a acumulaccedilatildeo remunerada de cargos puacuteblicos exceto quando houver compatibilidade de horaacuterios observado em qualquer caso o disposto no inciso XI a) a de dois car-gos de professor b) a de um cargo de professor com outro teacutecnico ou cientiacutefico c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de sauacutede com profissotildees regulamentadasrdquo

56iacutendice de teses

Eacute legiacutetima a acumulaccedilatildeo de proventos civis e militares quando a reforma se

deu sob a eacutegide da Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1967 e a aposentadoria ocor-

reu antes da vigecircncia da Emenda Constitucional 201998

A Emenda Constitucional 201998 assegura aos inativos que tiverem reingressado ao serviccedilo puacuteblico antes de sua vigecircncia a acumulaccedilatildeo de vencimentos do novo cargo exercido com os proventos da aposentadoria jaacute recebida

O art 111 da referida emenda por sua vez em sua segunda parte vedou expres-samente a concessatildeo de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdecircncia dos servidores civis previsto no art 40 da CF2 No entanto natildeo haacute qualquer referecircncia agrave concessatildeo de proventos militares estes previstos nos arts 423 e 1424 da CF

Segundo o texto constitucional a percepccedilatildeo de dois proventos puacuteblicos um civil e um militar ambos concedidos antes da Emenda Constitucional 201998 eacute situaccedilatildeo natildeo alcanccedilada pela proibiccedilatildeo da referida emenda Portanto eacute legiacutetima sua cumulaccedilatildeo5

1 ldquoArt 11 A vedaccedilatildeo prevista no art 37 sect 10 da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se aplica aos membros de poder e aos inativos servidores e militares que ateacute a publicaccedilatildeo desta Emenda tenham ingressado novamente no serviccedilo puacuteblico por concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos e pelas demais formas previstas na Constituiccedilatildeo Federal sendo-lhes proibida a percepccedilatildeo de mais de uma aposen-tadoria pelo regime de previdecircncia a que se refere o art 40 da Constituiccedilatildeo Federal aplicando-se--lhes em qualquer hipoacutetese o limite de que trata o sect 11 deste mesmo artigordquo

2 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigordquo

3 ldquoArt 42 Os membros das Poliacutecias Militares e Corpos de Bombeiros Militares instituiccedilotildees orga-nizadas com base na hierarquia e disciplina satildeo militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios sect 1ordm Aplicam-se aos militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios aleacutem do que vier a ser fixado em lei as disposiccedilotildees do art 14 sect 8ordm do art 40 sect 9ordm e do art 142 sectsect 2ordm e 3ordm

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Remuneraccedilatildeo Ȥ Acumulaccedilatildeo de proventos e pensotildees

MS 25097rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 5-5-2017Informativo STF 859

57iacutendice de teses

cabendo a lei estadual especiacutefica dispor sobre as mateacuterias do art 142 sect 3ordm X sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores sect 2ordm Aos pensionistas dos militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios aplica-se o que for fixado em lei especiacutefica do respectivo ente estatalrdquo

4 ldquoArt 142 As Forccedilas Armadas constituiacutedas pela Marinha pelo Exeacutercito e pela Aeronaacuteutica satildeo instituiccedilotildees nacionais permanentes e regulares organizadas com base na hierarquia e na disciplina sob a autoridade suprema do Presidente da Repuacuteblica e destinam-se agrave defesa da Paacutetria agrave garantia dos poderes constitucionais e por iniciativa de qualquer destes da lei e da ordem sect 1ordm Lei comple-mentar estabeleceraacute as normas gerais a serem adotadas na organizaccedilatildeo no preparo e no emprego das Forccedilas Armadasrdquo

5 Precedentes MS 25192 rel min Eros Grau P DJ de 6-5-2005 MS 24958 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 1ordm-4-2005 e AI 801096 AgR-EDv rel min Teori Zavascki P DJE de 30-6-2015

58iacutendice de teses

O pedido de desligamento uma vez completado o periacuteodo de Escola Naval

gera para o Estado o direito agrave indenizaccedilatildeo nos termos da Lei 68801980 (Es-

tatuto dos Militares)

Em que pese a expressa referecircncia ao oficialato a disciplina do inciso II do art 1161 do Estatuto dos Militares natildeo impede o reconhecimento da ocorrecircncia de enriqueci-mento iliacutecito sem que isso represente ofensa ao art 206 IV da Constituiccedilatildeo Federal2

Natildeo cabe extrair do Estatuto dos Militares preceitos a liberar os praccedilas especiais do ressarcimento agrave Fazenda Puacuteblica o que implicaria indesejado incentivo agrave evasatildeo O art 116 II da Lei 68801980 disciplina a contagem do prazo dentro do qual a indenizaccedilatildeo deveraacute ser exigida daqueles que apoacutes o teacutermino da graduaccedilatildeo militar procurem outros rumos profissionais

A seguranccedila juriacutedica um dos pilares axioloacutegicos do Estado Democraacutetico de Direi-to obriga natildeo soacute a Administraccedilatildeo Puacuteblica mas tambeacutem aqueles que com ela travem relaccedilotildees juriacutedicas a atuar com lealdade e a natildeo frustrar as legiacutetimas expectativas cria-das a partir de condutas

1 ldquoArt 116 A demissatildeo a pedido seraacute concedida mediante requerimento do interessado () II ndash com indenizaccedilatildeo das despesas feitas pela Uniatildeo com a sua preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo quando contar menos de 5 (cinco) anos de oficialatordquo

2 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () IV ndash gratuidade do ensi-no puacuteblico em estabelecimentos oficiaisrdquo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores militares Ȥ Curso de formaccedilatildeo

RMS 27072rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 30-5-2016Informativo STF 819

59iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores temporaacuterios Ȥ Regras para admissatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 635648RG ‒ Tema 403rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 12-9-2017Informativo STF 869

Eacute compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) a previsatildeo legal que exija o

transcurso de 24 meses contados do teacutermino do contrato antes de nova ad-

missatildeo de professor temporaacuterio anteriormente contratado

Embora natildeo se apliquem integralmente as regras do concurso puacuteblico para as con-trataccedilotildees por necessidade temporaacuteria deve a seleccedilatildeo ainda que simplificada obser-var os princiacutepios da impessoalidade e da moralidade inscritos no art 37 caput da CF1 Satildeo eles que justificam a limitaccedilatildeo constante do art 9ordm III da Lei 874519932 e 3

Nesse contexto o art 9ordm III da Lei 87451993 que dispotildee sobre contrataccedilatildeo temporaacuteria evita que funccedilatildeo temporaacuteria cuja caracteriacutestica eacute a transitoriedade seja transformada em algo ordinaacuterio Dessa forma o dispositivo legal eacute necessaacuterio e ade-quado para preservar o princiacutepio da impessoalidade do concurso puacuteblico

ldquoEacute bem verdade que a impossibilidade de recontrataccedilatildeo dos mesmos profissionais natildeo assegura a observacircncia do art 37 IX da CF4 pois o preenchimento desses postos de trabalho por meio de contratos temporaacuterios ainda que com pessoas antes natildeo contratadas pela Administraccedilatildeo tambeacutem frustra o ideal de temporalidade e transito-riedade desse tipo de contrataccedilatildeo5rdquo

Dessa forma ldquoa descontinuidade do viacutenculo temporaacuterio provocada pela vedaccedilatildeo do art 9ordm III da Lei 87451993 evita que se instale na Administraccedilatildeo interesse con-traacuterio ao provimento efetivo de cargos puacuteblicos mediante concurso e retira o admi-nistrador puacuteblico da situaccedilatildeo cocircmoda de reutilizar a mesma matildeo de obra jaacute recrutada por processo seletivo simplificadordquo6

Assim natildeo configura ofensa agrave isonomia a previsatildeo legal de proibiccedilatildeo por pra-zo determinado de nova contrataccedilatildeo de candidato jaacute anteriormente admitido em processo seletivo simplificado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico

60iacutendice de teses

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

2 ldquoArt 9ordm O pessoal contratado nos termos desta Lei natildeo poderaacute () III ndash ser novamente contratado com fundamento nesta lei antes de decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior salvo nas hipoacuteteses dos incisos I e IX do art 2ordm desta Lei mediante preacutevia autori-zaccedilatildeo conforme determina o art 5ordm desta Leirdquo

3 ADI 3210 rel min Carlos Velloso P DJ de 3-12-2004 e ADI 890 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 6-2-2004

4 ldquoArt 37 () IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblicordquo

5 Trecho do voto do ministro Alexandre de Morais no presente julgamento

6 Idem

61iacutendice de teses

Satildeo inconstitucionais dispositivos de lei estadual de iniciativa parlamentar1

que asseguraram a permanecircncia dos servidores puacuteblicos admitidos em caraacute-

ter temporaacuterio sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico

Os arts 1ordm e 2ordm da Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte revelam fla-grante viacutecio formal A Assembleia Legislativa usurpou a prerrogativa constitu-cionalmente conferida ao chefe do Poder Executivo quanto agraves mateacuterias afetas ao regime juriacutedico dos servidores puacuteblicos2 nos termos do art 61 sect 1ordm II c da Cons-tituiccedilatildeo Federal3

Essa hipoacutetese configura ainda burla ao princiacutepio do concurso puacuteblico (CF art 37 II4) haja vista a estabilizaccedilatildeo de servidores contratados apenas temporariamente sem o preacutevio certame puacuteblico5

Ademais o fato de a lei impugnada abranger temporalmente os servidores cuja admissatildeo operou-se em periacuteodo preacute-constitucional natildeo elide quanto a esses a decla-raccedilatildeo de inconstitucionalidade em razatildeo da flagrante violaccedilatildeo do art 19 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias6 que concedeu estabilidade excepcional so-mente aos servidores que ao tempo da promulgaccedilatildeo do texto estavam em exerciacutecio havia mais de cinco anos

Diante disso foi declarada a inconstitucionalidade dos arts 1ordm7 e 2ordm8 da Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte A norma assegurava a permanecircncia dos servidores da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN) admitidos em caraacuteter temporaacuterio entre o periacuteodo de 8 de janeiro de 1987 a 17 de junho de 1993 sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico e tornava sem efeitos os atos de direccedilatildeo da Universidade que de qualquer forma importassem em exclusatildeo desses servidores do quadro de pessoal

Todavia ante a vigecircncia prolongada da referida lei estadual e a necessidade de res-guardar a seguranccedila juriacutedica9 foi aplicada a modulaccedilatildeo dos efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade nos termos do art 27 da Lei 9868199910 de modo a dar efei-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores temporaacuterios Ȥ Regras para admissatildeo

ADI 1241rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 840

62iacutendice de teses

tos prospectivos agrave decisatildeo a qual somente produziraacute efeitos a partir de doze meses contados da data da publicaccedilatildeo da ata de julgamento Esse periacuteodo foi considerado haacutebil para a realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico a nomeaccedilatildeo e a posse de novos servido-res evitando-se assim prejuiacutezo agrave prestaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico de ensino superior na URRN

Por fim foram ressalvados dos efeitos desta decisatildeo os servidores que jaacute estejam aposentados e aqueles que ateacute a data de publicaccedilatildeo da ata do julgamento tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria exclusivamente para efeitos de apo-sentadoria11

1 Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte

2 Precedentes ADI 4433 MC rel min Ellen Gracie P DJE de 10-11-2010 ADI 4154 rel min Ri-cardo Lewandowski P DJE de 18-6-2010 ADI 2904 rel min Menezes Direito P DJE de 25-9-2009 ADI 2113 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 21-8-2009 ADI 1594 rel min Eros Grau P DJE de 22-8-2008 e ADI 3167 rel min Eros Grau P DJE de 6-9-2007

3 ldquoArt 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Congresso Nacional ao Presidente da Repuacute-blica ao Supremo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II ndash disponham sobre () c) servidores puacuteblicos da Uniatildeo e Territoacuterios seu regime juriacutedico provimento de cargos estabilidade e aposentadoriardquo

4 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico depende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acor-do com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

5 Precedentes ADI 2687 rel min Nelson Jobim P DJ de 6-6-2003 ADI 3609 rel min Dias Toffoli P DJE de 30-10-2014 e ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

6 ldquoArt 19 Os servidores puacuteblicos civis da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios da administraccedilatildeo direta autaacuterquica e das fundaccedilotildees puacuteblicas em exerciacutecio na data da promulga-ccedilatildeo da Constituiccedilatildeo haacute pelo menos cinco anos continuados e que natildeo tenham sido admitidos na forma regulada no art 37 da Constituiccedilatildeo satildeo considerados estaacuteveis no serviccedilo puacuteblicordquo

7 ldquoArt 1ordm Aos servidores da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte admitidos entre o termo inicial da vigecircncia da Lei n 5546 de 8 de janeiro de 1987 que a incorporou agrave Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica Estadual e o da Portaria n 874 de 17 de junho de 1993 do Ministro da Educaccedilatildeo e do Desporto que a reconheceu e originalmente incluiacutedos no Quadro Suplementar integrante da

63iacutendice de teses

estrutura geral de pessoal daquela instituiccedilatildeo de ensino superior eacute assegurado permanecerem no referido Quadrordquo

8 ldquoArt 2ordm Satildeo declarados de nenhum efeito em relaccedilatildeo aos servidores na situaccedilatildeo de que trata o artigo anterior os atos de direccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte que de qualquer forma importem sua exclusatildeo do Quadro a que se refere a presente Leirdquo

9 Precedentes ADI 3609 rel min Dias Toffoli P DJE de 30-10-2014 ADI 3819 rel min Eros Grau P DJE de 28-3-2008 ADI 4125 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 15-2-2011 e ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

10 ldquoArt 27 Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e tendo em vista razotildees de se-guranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse social poderaacute o Supremo Tribunal Federal por maio-ria de dois terccedilos de seus membros restringir os efeitos daquela declaraccedilatildeo ou decidir que ela soacute tenha eficaacutecia a partir de seu tracircnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixadordquo

11 ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

64iacutendice de teses

Eacute ilegiacutetimo o provimento de serventia extrajudicial sem concurso puacuteblico

decorrente de permuta

O art 236 caput e sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 eacute autoaplicaacutevel produzindo efeitos mesmo antes da publicaccedilatildeo da Lei 893519942 Assim desde a promulga-ccedilatildeo da CF eacute aplicaacutevel a exigecircncia constitucional de preacutevia realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico para as hipoacuteteses de ingresso ou remoccedilatildeo na delegaccedilatildeo de serventias extra-judiciais Isso exclui a proacutepria possibilidade de permuta ainda que os envolvidos tenham ingressado por meio de concurso puacuteblico

Essa autoaplicaccedilatildeo independe da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de lei esta-dual com base na qual foi praticado o ato Nesses casos descabe invocar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica que natildeo se sobrepotildee agrave determinaccedilatildeo constitucional expressa

Ademais o prazo decadencial quinquenal do art 54 da Lei 978419993 natildeo se aplica em casos de inconstitucionalidade Em tais hipoacuteteses natildeo haacute confianccedila legiacute-tima a ser tutelada uma vez que se trata de ato que evidencia violaccedilatildeo direta ao preceituado pela ordem constitucional

Logo o prazo decadencial eacute inaplicaacutevel agrave revisatildeo de atos de delegaccedilatildeo de serven-tias extrajudiciais realizados apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 em desconformidade com as exigecircncias prescritas no art 236 caput e sect 3ordm da CF pois o concurso puacuteblico eacute providecircncia necessaacuteria tanto para o ingresso nas serventias extrajudiciais quanto para a remoccedilatildeo e para a permuta4

Nesse sentido inexiste ofensa agrave seguranccedila juriacutedica e ao direito adquirido tam-pouco afronta ao art 54 da Lei 97841999 em ato do Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) que valendo-se de informaccedilotildees fornecidas pelo Tribunal de Justiccedila estadual e citando a Resoluccedilatildeo CNJ 8020095 declarou a vacacircncia de serventia extrajudicial provida por permuta realizada sem preacutevio concurso puacuteblico por se tratar de ato nulo

Por fim do mesmo modo que eacute iliacutecito algueacutem ocupar determinado cargo por forccedila de titularizaccedilatildeo inconstitucional tambeacutem eacute iliacutecito perder o direito ao cargo de

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Particulares colaboradores Ȥ Forma de provimento

MS 29415red p o ac min Luiz Fux

1ordf Turma

DJE de 26-4-2017Informativo STF 841

65iacutendice de teses

origem para o qual havia ingressado mediante concurso puacuteblico Logo apesar de a permuta descrita ter se realizado sem o anterior certame haacute o direito de retorno ao cargo para o qual houve a nomeaccedilatildeo original apoacutes aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico

1 Precedentes MS 28371 AgR rel min Joaquim Barbosa P DJE de 27-2-2013 e MS 28279 rel min Ellen Gracie P DJE de 29-4-2011

2 ldquoRegulamenta o art 236 da Constituiccedilatildeo Federal dispondo sobre serviccedilos notariais e de registro (Lei dos cartoacuterios)rdquo

3 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

4 Precedentes MS 29265 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 23-2-2017 MS 28279 rel min Ellen Gracie P DJE de 29-4-2011 MS 28371 AgR rel min Joaquim Barbosa P DJE de 27-2-2013 e MS 28273 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 21-2-2013

5 ldquoDeclara a vacacircncia dos serviccedilos notariais e de registro ocupados em desacordo com as normas constitucionais pertinentes agrave mateacuteria estabelecendo regras para a preservaccedilatildeo da ampla defesa dos interessados para o periacuteodo de transiccedilatildeo e para a organizaccedilatildeo das vagas do serviccedilo de notas e registro que seratildeo submetidas a concurso puacuteblicordquo

DIR

EA

MBI

DIR

EIT

O

AM

BIEN

TAL

POLIacuteTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTEDIREITO AMBIENTAL

68iacutendice de teses

No atual estaacutegio do conhecimento cientiacutefico que indica ser incerta a exis-

tecircncia de efeitos nocivos da exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral

a campos eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por sistemas de

energia eleacutetrica natildeo existem impedimentos por ora a que sejam adotados os

paracircmetros propostos pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) conforme

estabelece a Lei 1193420091

Embora o princiacutepio da precauccedilatildeo seja um criteacuterio de gestatildeo de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas cientiacuteficas sobre a possibilidade de um produto evento ou serviccedilo desequilibrar o meio ambiente ou atingir a sauacutede dos cidadatildeos ele natildeo pode ser interpretado exacerbadamente a ponto de produzir paralisia es-tatal ou engessar o progresso da sociedade tampouco gerar temores infundados

Essas caracteriacutesticas exigem que o Estado analise os riscos avalie os custos das me-didas de prevenccedilatildeo e ao final execute as accedilotildees e medidas acautelatoacuterias necessaacuterias as quais seratildeo decorrentes de decisotildees universais natildeo discriminatoacuterias motivadas coerentes e proporcionais

Impor agrave concessionaacuteria de serviccedilo puacuteblico de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica a obrigaccedilatildeo de reduzir o campo eletromagneacutetico de suas linhas de transmissatildeo com base apenas em padrotildees estrangeiros de seguranccedila desprezando-se os limites pre-vistos na legislaccedilatildeo infraconstitucional adotada no Paiacutes bem como a adequaccedilatildeo do sistema de transmissatildeo a curto prazo acarretaria custo desproporcional agraves empresas de energia ndash que repassariam esse ocircnus ao consumidor ndash comprometeria o forne-cimento de energia eleacutetrica agrave populaccedilatildeo de baixa renda em funccedilatildeo dos preccedilos mais elevados e prejudicaria sobremaneira o jaacute combalido desenvolvimento econocircmico do Paiacutes

Por outro lado os estudos desenvolvidos pela OMS demonstram natildeo haver evi-decircncias cientiacuteficas convincentes de que a exposiccedilatildeo humana a campos eletromagneacute-ticos acima dos limites estabelecidos na lei brasileira cause efeitos nocivos agrave sauacutede

Direito Ambiental Ȥ Poliacutetica nacional do meio ambiente

Ȥ Princiacutepios Ȥ Princiacutepio da precauccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 627189RG ‒ Tema 479rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-4-2017Informativo STF 829

69iacutendice de teses

A caracterizaccedilatildeo do que eacute seguro ou natildeo depende do avanccedilo do conhecimento cien-tiacutefico sobre a mateacuteria Entretanto natildeo existem provas ou mesmo indiacutecios que com-provem que o avanccedilo cientiacutefico na Suiacuteccedila ou em outros paiacuteses que natildeo adotam os padrotildees da OMS e da Comissatildeo Internacional de Proteccedilatildeo Contra Radiaccedilatildeo Natildeo Ionizante (ICNIRP) esteja aleacutem do conhecimento cientiacutefico daqueles que os adotam

Nesse sentido diante das incertezas que reinam no campo cientiacutefico o eventual controle pelo Poder Judiciaacuterio quanto agrave legalidade e agrave legitimidade na aplicaccedilatildeo do princiacutepio da precauccedilatildeo haacute de ser realizado com extrema prudecircncia com um controle miacutenimo privilegiando a opccedilatildeo democraacutetica das escolhas discricionaacuterias feitas pelo legislador e pela Administraccedilatildeo Puacuteblica

No futuro caso surjam efetivas e reais razotildees cientiacuteficas eou poliacuteticas para a re-visatildeo do que se deliberou no acircmbito normativo deveratildeo ocorrer novos debates e atualizaccedilatildeo de definiccedilotildees

1 ldquoArt 4ordm Para garantir a proteccedilatildeo da sauacutede e do meio ambiente em todo o territoacuterio brasileiro seratildeo adotados os limites recomendados pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS para a exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral a campos eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por estaccedilotildees transmissoras de radiocomunicaccedilatildeo por terminais de usuaacuterio e por sistemas de ener-gia eleacutetrica que operam na faixa ateacute 300 GHz Paraacutegrafo uacutenico Enquanto natildeo forem estabelecidas novas recomendaccedilotildees pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede seratildeo adotados os limites da Comissatildeo Internacional de Proteccedilatildeo Contra Radiaccedilatildeo Natildeo Ionizante ndash ICNIRP recomendados pela Organiza-ccedilatildeo Mundial de Sauacutederdquo

DIR

EC

IVIL

DIR

EIT

O

CIV

IL

PESSOASDIREITO CIVIL

72iacutendice de teses

O art 59 do Coacutedigo Civil1 eacute compatiacutevel com a autonomia das entidades des-

portivas prevista no art 217 I da Constituiccedilatildeo Federal2

A autonomia das entidades desportivas natildeo eacute absoluta3 Essas agremiaccedilotildees devem obediecircncia agraves normas de caraacuteter geral que impotildeem limitaccedilotildees vaacutelidas agrave sua autono-mia relativa sem que importe lesatildeo a direitos e garantias individuais4

1 ldquoArt 59 Compete privativamente agrave assembleia geral I ndash destituir os administradores II ndash alterar o estatuto Paraacutegrafo uacutenico Para as deliberaccedilotildees a que se referem os incisos I e II deste artigo eacute exigido deliberaccedilatildeo da assembleia especialmente convocada para esse fim cujo quoacuterum seraacute o estabelecido no estatuto bem como os criteacuterios de eleiccedilatildeo dos administradoresrdquo

2 ldquoArt 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo formais como direito de cada um observados I ndash a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamentordquo

3 ldquoO legislador constituinte brasileiro por isso mesmo ndash pretendendo assegurar e incentivar a partici-paccedilatildeo efetiva das referidas associaccedilotildees no acircmbito do desporto nacional ndash conferiu-lhes um grau de autonomia que propicia a tais entes especial prerrogativa juriacutedica consistente no prevalecimento de sua proacutepria vontade em tema de definiccedilatildeo de sua estrutura organizacional e de seu interno funcionamento embora tais entidades estejam sujeitas agraves normas gerais fundadas na legislaccedilatildeo emanada do Estado eis que a noccedilatildeo de autonomia ainda que de extraccedilatildeo constitucional natildeo se revela absoluta nem tem a extensatildeo e o conteuacutedo inerentes ao conceito de soberania e de indepen-decircnciardquo (Trecho do voto do ministro Celso de Mello na ADI 3045 rel min Celso de Mello P DJE de 1ordm-6-2007)

4 ADI 2937 rel min Cezar Peluso P DJE de 29-5-2012

Direito Civil Ȥ Pessoas

Ȥ Pessoas juriacutedicas Ȥ Associaccedilotildees

RE 935482 AgRrel min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 22-3-2017Informativo STF 853

DIREITO DE FAMIacuteLIADIREITO CIVIL

74iacutendice de teses

A paternidade socioafetiva declarada ou natildeo em registro puacuteblico natildeo impe-

de o reconhecimento do viacutenculo de filiaccedilatildeo concomitante baseado na origem

bioloacutegica com os efeitos juriacutedicos proacuteprios

A natildeo previsatildeo dos diversos arranjos familiares na regulaccedilatildeo estatal por omissatildeo do legislador natildeo justifica a negativa de proteccedilatildeo a situaccedilotildees de pluriparentalidade1 Eacute portanto juridicamente admitida a cumulaccedilatildeo de viacutenculos de filiaccedilatildeo derivados da afetividade e da consanguinidade para todos os fins de direito A concessatildeo de tutela juriacutedica concomitante a tais viacutenculos visa prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos com base no sobreprinciacutepio da dignidade humana na sua dimensatildeo de tutela da felicidade ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 1ordm III2 ndash e no princiacutepio da paternidade responsaacutevel ndash CF art 226 sect 7ordm3

A dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral capaz de determinar-se e desenvolver-se em liberdade de modo que a eleiccedilatildeo indivi-dual dos proacuteprios objetivos de vida tem preferecircncia absoluta em relaccedilatildeo a eventuais formulaccedilotildees legais definidoras de modelos preconcebidos destinados a resultados eleitos a priori pelo legislador4 A superaccedilatildeo de oacutebices legais ao pleno desenvolvimen-to das famiacutelias construiacutedas pelas relaccedilotildees afetivas interpessoais dos proacuteprios indiviacute-duos eacute corolaacuterio do sobreprinciacutepio da dignidade humana

O direito agrave busca da felicidade ao mesmo tempo em que eleva o indiviacuteduo agrave cen-tralidade do ordenamento juriacutedico-poliacutetico reconhece as suas capacidades de autode-terminaccedilatildeo autossuficiecircncia e liberdade de escolha dos proacuteprios objetivos proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadatildeos para a persecuccedilatildeo das vontades particulares O indiviacuteduo jamais pode ser reduzido a mero instrumento de consecuccedilatildeo das vontades dos governantes5 por isso esse direito protege o ser huma-no em face de tentativas do Estado de enquadrar a realidade familiar em modelos preconcebidos pela lei

Direito Civil Ȥ Direito de famiacutelia

Ȥ Direito pessoal Ȥ Relaccedilotildees de parentesco ndash Repercussatildeo Geral

RE 898060RG ‒ Tema 622rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 840

75iacutendice de teses

A paternidade responsaacutevel na perspectiva da dignidade humana e da busca pela felicidade impotildee o acolhimento no espectro legal tanto dos viacutenculos de filiaccedilatildeo cons-truiacutedos pela relaccedilatildeo socioafetiva entre os envolvidos quanto daqueles originados da ascendecircncia consanguiacutenea sem que seja necessaacuterio decidir entre um ou outro viacutenculo quando o melhor interesse do descendente for o reconhecimento juriacutedico de ambos

Ademais a ideia de famiacutelia agrave luz dos preceitos introduzidos pela Constituiccedilatildeo Fe-deral de 1988 apartou-se definitivamente da ultrapassada hierarquizaccedilatildeo entre filhos legiacutetimos legitimados e ilegiacutetimos prevista no Coacutedigo Civil de 1916 Nesta norma o paradigma em mateacuteria de filiaccedilatildeo por adotar presunccedilatildeo baseada na centralidade do casamento desconsiderava tanto o fator bioloacutegico quanto o afetivo embora a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute previssem a afetividade enquanto criteacuterio para evitar situaccedilotildees de extrema injusticcedila reconhecendo-se a posse do estado de filho e conse-quentemente o viacutenculo parental em favor daquele que utilizasse o nome da famiacutelia (nominatio) fosse tratado como filho pelo pai (tractatio) e gozasse do reconhecimento da sua condiccedilatildeo de descendente pela comunidade (reputatio)

Nessa linha a Constituiccedilatildeo em caraacuteter meramente exemplificativo reconhece como legiacutetimos modelos de famiacutelia independentes do casamento como a uniatildeo es-taacutevel (CF art 226 sect 3ordm6) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus des-cendentes cognominada ldquofamiacutelia monoparentalrdquo (CF art 226 sect 4ordm7) Aleacutem disso enfatiza que espeacutecies de filiaccedilatildeo dissociadas do matrimocircnio entre os pais merecem equivalente tutela diante da lei sendo vedada discriminaccedilatildeo e portanto qualquer tipo de hierarquia entre elas (CF art 227 sect 6ordm8) As uniotildees estaacuteveis homoafetivas consideradas pela jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal como entidade fami-liar conduziram agrave imperiosidade da interpretaccedilatildeo natildeo reducionista do conceito de famiacutelia como instituiccedilatildeo que tambeacutem se forma por vias distintas do casamento civil9

Assim a compreensatildeo juriacutedica cosmopolita das famiacutelias exige a ampliaccedilatildeo da tu-tela normativa a todas as formas pelas quais a parentalidade pode se manifestar a saber (i) pela presunccedilatildeo decorrente do casamento ou outras hipoacuteteses legais (ii) pela descendecircncia bioloacutegica ou (iii) pela afetividade

A evoluccedilatildeo cientiacutefica responsaacutevel pela popularizaccedilatildeo do exame de DNA conduziu ao reforccedilo de importacircncia do criteacuterio bioloacutegico tanto para fins de filiaccedilatildeo quanto para a concretizaccedilatildeo do direito fundamental agrave busca da identidade geneacutetica como natural emanaccedilatildeo do direito de personalidade de um ser

76iacutendice de teses

1 ldquoA pluriparentalidade no Direito Comparado pode ser exemplificada pelo conceito de lsquodupla pa-ternidadersquo (dual paternity) construiacutedo pela Suprema Corte do Estado da Louisiana EUA desde a deacutecada de 1980 para atender ao mesmo tempo ao melhor interesse da crianccedila e ao direito do genitor agrave declaraccedilatildeo da paternidaderdquo (Trecho da ementa do presente julgamento)

2 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () III ndash a dignidade da pessoa humanardquo

3 ldquoArt 226 A famiacutelia base da sociedade tem especial proteccedilatildeo do Estado () sect 7ordm Fundado nos prin-ciacutepios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsaacutevel o planejamento familiar eacute livre decisatildeo do casal competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e cientiacuteficos para o exerciacute-cio desse direito vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituiccedilotildees oficiais ou privadasrdquo

4 Jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional alematildeo

5 Precedentes RE 477554 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 26-8-2011 e ADPF 132 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

6 ldquoArt 226 () sect 3ordm Para efeito da proteccedilatildeo do Estado eacute reconhecida a uniatildeo estaacutevel entre o homem e a mulher como entidade familiar devendo a lei facilitar sua conversatildeo em casamentordquo

7 ldquoArt 226 () sect 4ordm Entende-se tambeacutem como entidade familiar a comunidade formada por qual-quer dos pais e seus descendentesrdquo

8 ldquoArt 227 () sect 6ordm Os filhos havidos ou natildeo da relaccedilatildeo do casamento ou por adoccedilatildeo teratildeo os mes-mos direitos e qualificaccedilotildees proibidas quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias relativas agrave filiaccedilatildeordquo

9 Precedente ADI 4277 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

77iacutendice de teses

O direito de ter reconhecida a filiaccedilatildeo bioloacutegica prevalece sobre a presunccedilatildeo

legal de paternidade

A observacircncia como dogma sacrossanto da regra inscrita no art 344 do Coacutedigo Civil1 de 1916 segundo a qual cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulher devendo fazecirc-lo no prazo de dois meses contados do nascimento sob pena de incidir a prescriccedilatildeo deve ser afastada Tal preceito distancia-se da realidade das noccedilotildees proacuteprias agrave dignidade do homem aleacutem de natildeo considerar o direito de o filho saber e ter como pai quem o gerou e natildeo permanecer como filho presumido2

O fato de natildeo ter o marido na constacircncia do casamento contestado a paternidade de filho adulterino de sua esposa o qual fora por ele registrado como sendo seu filho legiacutetimo natildeo impede que o filho busque ver reconhecida legalmente a relaccedilatildeo de filia-ccedilatildeo com seu verdadeiro pai bioloacutegico por meio de accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade

A hipoacutetese eacute de tombamento da presunccedilatildeo de paternidade do marido da matildee A existecircncia de prova inequiacutevoca do viacutenculo de filiaccedilatildeo entre investigante e investiga-do consubstanciada em documento oficial idocircneo mostra-se suficiente para afastar a presunccedilatildeo

Ademais o reconhecimento da filiaccedilatildeo declarada pelo proacuteprio investigado deve sobressair a fim de serem concedidas ao investigante todas as consequecircncias legais do fato inclusive o direito de heranccedila

1 ldquoArt 344 Cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulherrdquo

2 ldquoNatildeo devem ser impostos oacutebices de natureza processual ao exerciacutecio do direito fundamental agrave busca da identidade geneacutetica como natural emanaccedilatildeo do direito de personalidade de um ser de forma a tornar-se igualmente efetivo o direito agrave igualdade entre os filhos inclusive de qualificaccedilotildees bem assim o princiacutepio da paternidade responsaacutevelrdquo (RE 363889 rel min Dias Toffoli P DJE de 16-12-2011)

Direito Civil Ȥ Direito de famiacutelia

Ȥ Direito pessoal Ȥ Relaccedilotildees de parentesco

AR 1244 EIrel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 30-3-2017Informativo STF 840

DIREITO DAS SUCESSOtildeESDIREITO CIVIL

79iacutendice de teses

No sistema constitucional vigente eacute inconstitucional a distinccedilatildeo de regimes

sucessoacuterios entre cocircnjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos

os casos o regime estabelecido no art 1829 do Coacutedigo Civil de 20021

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo se limitou ao tratamento juriacutedico tradicional da famiacutelia que instituiacutea o casamento como uacutenica condiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de uma entidade familiar ldquolegiacutetimardquo Pelo contraacuterio o texto constitucional contempla di-ferentes formas de famiacutelia como aquelas constituiacutedas por qualquer dos pais e seus descendentes (monoparental) e aquelas decorrentes de uniatildeo estaacutevel

Ao reconhecer demais formaccedilotildees familiares caracterizadas pelo viacutenculo afetivo e pelo projeto de vida em comum a Constituiccedilatildeo passou a proteger a famiacutelia natildeo como um ldquobem em sirdquo mas como meio para que as pessoas possam se realizar in-dependentemente da configuraccedilatildeo adotada tratando todas as famiacutelias com o mesmo respeito e consideraccedilatildeo O Supremo Tribunal Federal por oportuno jaacute reconheceu a ldquoinexistecircncia de hierarquia ou diferenccedila de qualidade juriacutedica entre as duas formas de constituiccedilatildeo de um novo e autonomizado nuacutecleo domeacutesticordquo aplicando-se agrave uniatildeo estaacutevel entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e consequecircncias da uniatildeo es-taacutevel heteroafetiva2

Apoacutes a vigecircncia da Constituiccedilatildeo de 1988 duas leis ordinaacuterias equiparavam os re-gimes juriacutedicos sucessoacuterios do casamento e da uniatildeo estaacutevel Lei 897119943 e Lei 927819964 No entanto o art 1790 do Coacutedigo Civil de 20025 revogou as referidas normas e passou a discriminar o(a) companheiro(a) dando-lhe direitos sucessoacuterios bem inferiores aos conferidos ao(agrave) esposo(a) Desse modo o dispositivo violou a igualdade entre as famiacutelias consagrada no art 226 sect 3ordm da CF6 e afrontou os princiacute-pios da dignidade da pessoa humana da igualdade e da proporcionalidade na moda-lidade de proibiccedilatildeo agrave proteccedilatildeo deficiente e da vedaccedilatildeo ao retrocesso Afinal cocircnjuges e companheiros devem receber a mesma proteccedilatildeo quanto aos direitos sucessoacuterios

Direito Civil Ȥ Direito das sucessotildees

Ȥ Sucessatildeo legiacutetima Ȥ Ordem da vocaccedilatildeo hereditaacuteria ndash Repercussatildeo Geral

RE 646721RG ‒ Tema 498red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 864

80iacutendice de teses

pois independentemente do tipo de entidade familiar o objetivo estatal da sucessatildeo eacute garantir ao parceiro remanescente meios para que viva dignamente

Tendo em vista que no sistema constitucional vigente a hierarquizaccedilatildeo entre en-tidades familiares eacute incompatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal natildeo sendo legiacutetimo desequiparar para fins sucessoacuterios os cocircnjuges e os companheiros isto eacute a famiacutelia formada pelo casamento e a formada por uniatildeo estaacutevel foi declarada a inconstitucio-nalidade do art 1790 do Coacutedigo Civil de 2002 Assim deve ser aplicado em ambos os casos o mesmo procedimento para sucessatildeo legiacutetima de bens previsto no art 1829 da referida lei

Com a finalidade de preservar a seguranccedila juriacutedica o entendimento ora firma-do eacute aplicaacutevel apenas aos inventaacuterios judiciais em que natildeo tenha havido tracircnsito em julgado da sentenccedila de partilha e agraves partilhas extrajudiciais em que ainda natildeo haja escritura puacuteblica

1 ldquoArt 1829 A sucessatildeo legiacutetima defere-se na ordem seguinte I ndash aos descendentes em concorrecircncia com o cocircnjuge sobrevivente salvo se casado este com o falecido no regime da comunhatildeo universal ou no da separaccedilatildeo obrigatoacuteria de bens (art 1640 paraacutegrafo uacutenico) ou se no regime da comunhatildeo parcial o autor da heranccedila natildeo houver deixado bens particulares II ndash aos ascendentes em concor-recircncia com o cocircnjuge III ndash ao cocircnjuge sobrevivente IV ndash aos colateraisrdquo

2 Precedentes ADI 4277 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011 e ADPF 132 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

3 ldquoRegula o direito dos companheiros a alimentos e agrave sucessatildeordquo

4 ldquoRegula o sect 3ordm do art 226 da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

5 ldquoArt 1790 A companheira ou o companheiro participaraacute da sucessatildeo do outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigecircncia da uniatildeo estaacutevel nas condiccedilotildees seguintes I ndash se concorrer com filhos comuns teraacute direito a uma quota equivalente agrave que por lei for atribuiacuteda ao filho II ndash se concorrer com descendentes soacute do autor da heranccedila tocar-lhe-aacute a metade do que couber a cada um daqueles III ndash se concorrer com outros parentes sucessiacuteveis teraacute direito a um terccedilo da heranccedila IV ndash natildeo havendo parentes sucessiacuteveis teraacute direito agrave totalidade da heranccedilardquo

6 ldquoArt 226 A famiacutelia base da sociedade tem especial proteccedilatildeo do Estado () sect 3ordm Para efeito da pro-teccedilatildeo do Estado eacute reconhecida a uniatildeo estaacutevel entre o homem e a mulher como entidade familiar devendo a lei facilitar sua conversatildeo em casamentordquo

DIR

EC

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DIR

EIT

O

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L

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAISDIREITO CONSTITUCIONAL

83iacutendice de teses

Inexiste decisatildeo do Supremo Tribunal Federal (STF) em controle concentra-

do de constitucionalidade1 e 2 sobre a regulamentaccedilatildeo adequada para o exer-

ciacutecio do direito de resposta haacutebil a justificar o cabimento da reclamaccedilatildeo3

A discussatildeo travada sobre o direito de resposta no julgamento da ADPF 130 (DJE de 26-2-2010) circunscreveu-se sobre o impacto do juiacutezo de natildeo recepccedilatildeo integral da Lei de Imprensa (Lei 52501967) sobre a eficaacutecia do art 5ordm V da Constituiccedilatildeo Federal (CF)4

Naquela ocasiatildeo o Plenaacuterio do STF decidiu que o direito de resposta assegurado constitucionalmente (CF art 5ordm V) pode ser diretamente tutelado independentemente de legislaccedilatildeo especiacutefica regulamentando-o Isso natildeo significa poreacutem que o STF tenha adotado interpretaccedilatildeo pela desnecessidade de comprovaccedilatildeo do ldquoagravordquo a que alude o proacuteprio dispositivo constitucional ao tratar do direito de resposta (CF art 5ordm V) ou a uma impossibilidade de sua densificaccedilatildeo agrave luz da liberdade de imprensa (e das liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento de informaccedilatildeo e de expressatildeo artiacutestica cientiacutefica intelectual e comunicacional) quer sob o prisma legiferante-nomoteacutetico quer jurisprudencial

Logo natildeo versou a ADPF 130 sobre o marco normativo infraconstitucional A uti-lizaccedilatildeo da Lei 131882015 como fundamento por decisatildeo de primeira instacircncia natildeo permite per saltum e se distanciando do sistema recursal esquadrinhado pelo legisla-dor proceder-se agrave substituiccedilatildeo da reconstruccedilatildeo faacutetica adotada por sentenccedila impugna-da pela via da reclamaccedilatildeo realizada sob o crivo do contraditoacuterio para entatildeo atribuir--lhe distinta consequecircncia juriacutedica

1 CF1988 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constitui-ccedilatildeo cabendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildeesrdquo

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Direito de resposta

Rcl 24459 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 5-9-2017Informativo STF 851

84iacutendice de teses

2 CPC2015 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para I ndash pre-servar a competecircncia do tribunal II ndash garantir a autoridade das decisotildees do tribunal III ndash garantir a observacircncia de enunciado de suacutemula vinculante e de decisatildeo do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidaderdquo

3 ldquoDe iniacutecio consigno que a Reclamaccedilatildeo se caracteriza como uma demanda de fundamentaccedilatildeo vin-culada vale dizer cabiacutevel somente quando se fizer presente alguma das hipoacuteteses para ela estri-tamente previstas Partindo de construccedilatildeo jurisprudencial a instrumento com expresso assento constitucional trata-se de accedilatildeo vocacionada precipuamente a duas diferentes finalidades De um lado visa a Reclamaccedilatildeo agrave (i) tutela da autoridade das decisotildees proferidas por esta Corte e das suacute-mulas vinculantes por ela editadas De outro agrave (ii) proteccedilatildeo do importante rol de competecircncias atribuiacutedas ao STF Eacute o que se vecirc nos arts 102 I l e 103-A sect 3ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica No que se refere agrave primeira hipoacutetese tem a Reclamaccedilatildeo especial guarida para garantir a observacircncia das decisotildees proferidas em controle concentrado de constitucionalidade dotadas de efeito vincu-lante como tambeacutem se colhe do art 988 III do CPC Eacute preciso no entanto vagar com o andor a fim de que natildeo se convole esse importante instrumento processual em verdadeiro algoz da Corte impedindo que esta legitimamente desempenhe o papel de Guardiatilde da Constituiccedilatildeo Recorde-se que a proacutepria razatildeo de ser do efeito vinculante estaacute assentada ao papel timoneiro do STF enquanto Corte Constitucional e oacutergatildeo maacuteximo do Poder Judiciaacuterio Isso natildeo significa nem pode significar um amesquinhar do relevante papel a ser desempenhado pelas instacircncias ordinaacuterias no respeito agrave cultura dos precedentes permitindo um acesso per saltum agrave Corte Supremardquo (Trecho da decisatildeo monocraacutetica proferida pelo ministro Edson Fachin na Rcl 24459 publicada no DJE de 6-10-2016)

4 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () V ndash eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagemrdquo

85iacutendice de teses

Natildeo se revela iliacutecita por si soacute a comparaccedilatildeo entre diversas religiotildees inclusi-

ve com explicitaccedilatildeo de certa hierarquizaccedilatildeo ou animosidade entre elas

Quanto agrave liberdade de expressatildeo religiosa1 cumpre reconhecer nas hipoacuteteses de religiotildees que se alccedilam a universais que o discurso proselitista eacute da essecircncia de seu integral exerciacutecio De tal modo a finalidade de alcanccedilar o outro mediante persua-satildeo configura comportamento intriacutenseco a religiotildees de tal natureza

Discursos que evidenciem diferenccedilas ou ateacute mesmo juiacutezos de superioridade natildeo con-substanciam automaticamente preconceito ou discriminaccedilatildeo sob pena de esvaziamen-to do nuacutecleo essencial das manifestaccedilotildees religiosas compreendidas em sua inteireza

O discurso discriminatoacuterio criminoso somente se materializa apoacutes ultrapassadas trecircs etapas indispensaacuteveis Uma de caraacuteter cognitivo em que se atesta a desigualdade entre grupos eou indiviacuteduos Outra de vieacutes valorativo em que se assenta suposta rela-ccedilatildeo de superioridade entre eles E por fim uma terceira em que o agente a partir das fases anteriores supotildee legiacutetima a dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo escravizaccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo ou reduccedilatildeo de direitos fundamentais do diferente que compreende inferior2

A discriminaccedilatildeo natildeo libera consequecircncias juriacutedicas negativas especialmente no acircmbito penal na hipoacutetese em que as etapas iniciais de desigualaccedilatildeo desembocam na suposta prestaccedilatildeo de auxiacutelio ao grupo ou indiviacuteduo que na percepccedilatildeo do agente encontra-se em situaccedilatildeo desfavoraacutevel

1 CF1988 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () VI ndash eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na for-ma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias () VIII ndash ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir--se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em leirdquo

2 BOBBIO Norberto Elogio da serenidade Satildeo Paulo Unesp 2000 p 108

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Liberdade de expressatildeo religiosa

RHC 134682rel min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 29-8-2017Informativo STF 849

86iacutendice de teses

Eacute constitucional a expressatildeo ldquoprivativasrdquo contida no caput do art 3ordm da Lei

823419911 que regulamenta a profissatildeo de nutricionista respeitado o acircmbi-

to de atuaccedilatildeo profissional das demais profissotildees regulamentadas

Apesar de a regra constitucional ser a liberdade no exerciacutecio profissional2 a Consti-tuiccedilatildeo Federal (CF) admite a limitaccedilatildeo ao exerciacutecio das profissotildees (CF art 5ordm XIII3)

No entanto essa reserva legal qualificada estabelecida pela CF natildeo confere ao le-gislador o poder de restringir o exerciacutecio da liberdade a ponto de atingir o seu proacuteprio nuacutecleo essencial Essas restriccedilotildees legais precisam ser proporcionais e necessaacuterias e estatildeo limitadas agraves ldquoqualificaccedilotildees profissionaisrdquo ou seja formaccedilatildeo teacutecnicocientiacutefica indispensaacutevel para o bom desempenho da atividade4

A profissatildeo de nutricionista requer conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos especiacutefi-cos para o desempenho de suas funccedilotildees Dessa forma eacute razoaacutevel que para o exer-ciacutecio das atividades profissionais de nutricionista a lei exija qualificaccedilotildees especiais e registro profissional reservando em razatildeo dessas ldquoqualificaccedilotildees especiaisrdquo tais ativi-dades de forma privativa a essa categoria profissional

Cabe destacar que a norma impugnada elencou como privativas dos nutricionistas atividades eminentemente teacutecnicas que natildeo se confundem com aquelas desempe-nhadas por outros profissionais de niacutevel meacutedio

Natildeo haacute portanto inconstitucionalidade na exigecircncia de niacutevel superior em nutri-ccedilatildeo para atividades eminentemente acadecircmicas a exemplo da direccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo de cursos de graduaccedilatildeo planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de estudos dieteacuteticos ensino das mateacuterias profissionais dos cursos de gra-duaccedilatildeo em nutriccedilatildeo e ensino das disciplinas de nutriccedilatildeo e alimentaccedilatildeo nos cursos de graduaccedilatildeo da aacuterea de sauacutede e outras afins

Tambeacutem natildeo haacute viacutecio na lei no tocante agraves disposiccedilotildees relativas agraves atividades de planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de serviccedilos pertinentes agrave alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo consultoacuterio de nutriccedilatildeo e dieteacutetica e de assistecircncia dieto-

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Liberdade de exerciacutecio profissional

ADI 803rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 23-11-2017Informativo STF 879

87iacutendice de teses

teraacutepica hospitalar ambulatorial e em consultoacuterio de nutriccedilatildeo O exerciacutecio dessas atividades natildeo impede nem prejudica o exerciacutecio daquelas pertinentes a outras aacutereas de niacutevel superior notadamente referentes a bioquiacutemicos e meacutedicos nutroacutelogos Isso porque esses profissionais ldquomesmo que pertencentes agrave aacuterea da sauacutede sujeitam-se a formaccedilatildeo profissional especiacutefica particular o que conduz consequentemente agrave re-serva das atividades a serem privativamente executadas dentro do campo de atuaccedilatildeo respectivordquo5

1 ldquoArt 3ordm Satildeo atividades privativas dos nutricionistas I ndash direccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em nutriccedilatildeo II ndash planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de servi-ccedilos de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo III ndash planejamento coordenaccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de estudos dieteacuteticos IV ndash ensino das mateacuterias profissionais dos cursos de graduaccedilatildeo em nutriccedilatildeo V ndash ensino das disciplinas de nutriccedilatildeo e alimentaccedilatildeo nos cursos de graduaccedilatildeo da aacuterea de sauacutede e outras afins VI ndash auditoria consultoria e assessoria em nutriccedilatildeo e dieteacutetica VII ndash assistecircncia e educaccedilatildeo nutri-cional e coletividades ou indiviacuteduos sadios ou enfermos em instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e em consultoacuterio de nutriccedilatildeo e dieteacutetica VIII ndash assistecircncia dietoteraacutepica hospitalar ambulatorial e a niacutevel de consultoacuterios de nutriccedilatildeo e dieteacutetica prescrevendo planejando analisando supervisionando e avaliando dietas para enfermosrdquo

2 MI 6113 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 13-6-2014

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XIII ndash eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecerrdquo

4 Rp 930 red p o ac min Rodrigues Alckmin P DJ de 2-9-1977 e RE 511961 rel min Gilmar Mendes P DJE de 13-11-2009

5 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica adotado como razotildees de decidir pelo relator

88iacutendice de teses

Eacute garantido o amplo acesso a registros documentais e fonograacuteficos de ses-

sotildees de julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) puacuteblicas ou secretas

ocorridas na deacutecada de 1970

O direito agrave informaccedilatildeo a busca pelo conhecimento da verdade sobre sua histoacuteria sobre os fatos ocorridos em periacuteodo grave e contraacuterio agrave democracia integra o patri-mocircnio juriacutedico de todo cidadatildeo constituindo dever do Estado assegurar os meios para o seu exerciacutecio1

A plena atividade desse direito foi resguardada no julgamento do Recurso Ordi-naacuterio em Mandado de Seguranccedila 230362 no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu aos interessados o acesso aos documentos e arquivos fonograacuteficos relacio-nados agraves sessotildees de julgamentos do STM ocorridas na deacutecada de 1970 Essa decisatildeo natildeo restringiu o acesso aos registros relacionados apenas agraves sessotildees puacuteblicas tendo garantido a liberaccedilatildeo integral das gravaccedilotildees de aacuteudios seja no que se refere agraves sus-tentaccedilotildees orais realizadas pelos advogados seja no que pertine aos debates e votos proferidos pelos componentes do STM em sessotildees secretas

A decisatildeo paradigma de controle eacute expliacutecita ao dispor sobre a ilegitimidade da exceccedilatildeo imposta quanto agrave mateacuteria discutida e votada em sessatildeo secreta pelo Plenaacuterio do STM prevista em ato normativo interno e sobre a ausecircncia de plausibilidade juriacute-dica da justificativa apresentada segundo a qual ldquoo material de que se pleiteou coacutepia apenas serviria para o controle interno do Tribunal ou para o exame dos ministros da Corterdquo3

Afinal natildeo haacute espaccedilo para a discricionariedade da Administraccedilatildeo em restringir o amplo acesso aos documentos gerados a partir dos julgamentos ocorridos no periacuteodo mencionado conferindo induvidosa amplitude agravequela decisatildeo

Nesse contexto eacute injustificaacutevel a resistecircncia que o STM tenta opor ao cumprimen-to da decisatildeo do STF que taxativamente afastou os obstaacuteculos erigidos para impedir que fossem trazidos agrave lume a integralidade dos atos processuais praticados no STM

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Direito agrave informaccedilatildeo

Rcl 11949rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 16-8-2017Informativo STF 857

89iacutendice de teses

oralmente ou por escrito cujo conhecimento cidadatildeos brasileiros requereram para fins de pesquisa histoacuterica e resguardo da memoacuteria nacional O ato pelo qual foi inde-ferido o acesso estaacute em evidente descompasso com a ordem constitucional vigente que erigiu o direito agrave informaccedilatildeo agrave natureza de direito fundamental

Ressalva-se no entanto o acesso aos documentos indispensaacuteveis agrave defesa da in-timidade e agravequeles cujo sigilo se imponha para proteccedilatildeo da sociedade e do Estado Nesses casos deve haver motivaccedilatildeo de forma expliacutecita e pormenorizada pelo Tribu-nal a fim de sujeitar a alegaccedilatildeo a eventual controle judicial

1 ADPF 153 rel min Eros Grau P DJE de 6-8-2010

2 RMS 23036 red p o ac min Nelson Jobim 2ordf T DJ de 25-8-2006

3 Inciso I do Provimento 54STM

90iacutendice de teses

Eacute necessaacuteria a observacircncia da garantia do devido processo legal em especial

do contraditoacuterio e da ampla defesa relativamente agrave inscriccedilatildeo de entes puacutebli-

cos em cadastros federais de inadimplecircncia

ldquoA imposiccedilatildeo de restriccedilotildees de ordem juriacutedica pelo Estado quer se concretize na esfera judicial quer se realize no acircmbito estritamente administrativo (como suce-de com a inclusatildeo de supostos devedores em cadastros puacuteblicos de inadimplentes) supotildee para legitimar-se constitucionalmente o efetivo respeito pelo poder puacutebli-co da garantia indisponiacutevel do due process of law assegurada pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 5ordm LIV1) agrave generalidade das pessoas inclusive agraves proacuteprias pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico eis que o Estado em tema de limitaccedilatildeo ou supressatildeo de direitos natildeo pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva e arbitraacuteria () En-fatizo neste ponto no que se refere agrave questatildeo da titularidade dos direitos e garan-tias fundamentais que essas prerrogativas constitucionais satildeo acessiacuteveis agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico desde que compatiacuteveis com a condiccedilatildeo de estatalidade de que estas se revestem notadamente nos casos de imposiccedilatildeo contra referidas en-tidades estatais de medidas restritivas de direitos pois tais entes puacuteblicos tambeacutem estatildeo amparados por garantias constitucionais de caraacuteter procedimentalrdquo2

A inscriccedilatildeo do nome do Estado-membro em cadastro federal de inadimplen-

tes em face de accedilotildees eou omissotildees de gestotildees anteriores natildeo configura ofen-

sa ao princiacutepio da intranscendecircncia

Consoante o princiacutepio da impessoalidade previsto no art 37 da Constituiccedilatildeo Fe-deral3 a relaccedilatildeo juriacutedica envolve a Uniatildeo e o ente federal e natildeo a Uniatildeo e certo governador ou outro agente

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Devido processo legal

ACO 732rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 21-6-2017Informativo STF 825

91iacutendice de teses

Aleacutem disso o governo se alterna periodicamente nos termos da soberania popular mas o Estado eacute permanente Por isso a mudanccedila de comando poliacutetico natildeo exonera o Estado das obrigaccedilotildees assumidas4

1 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

2 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Celso de Mello na AC 2032 QO (DJE de 20-3-2009) precedente citado pelo relator

3 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

4 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

92iacutendice de teses

Eacute inconstitucional dispositivo de lei federal1 que admite seja erigido agrave condiccedilatildeo

de ldquodepositaacuterio infielrdquo aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor desig-

nado no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria2

A Lei 886619943 contraria os princiacutepios do devido processo legal e da propor-cionalidade bem como os subprinciacutepios da necessidade da adequaccedilatildeo e da pro-porcionalidade em sentido estrito postulados previstos no art 5ordm LIV4 e LV5 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)6 Para o fim de coagir o depositaacuterio a pagar a diacutevida tributaacuteria ou previdenciaacuteria da Uniatildeo dos Estados e do Distrito Federal cria si-tuaccedilatildeo mais onerosa do que a prevista no ordenamento juriacutedico ateacute entatildeo vigente consistente nas garantias constitucionais e nas disposiccedilotildees do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional em seus arts 1427 2018 e 2049

Ademais se o incremento da arrecadaccedilatildeo era o resultado almejado o ordenamen-to juriacutedico jaacute conteacutem modos e formas de chegar a resultado semelhante Afinal na eacutepoca da ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria 4271994 (reeditada pela Medida Provisoacuteria 4491994 e convertida na Lei 88661994) jaacute existia a Lei de Execuccedilatildeo Fiscal (Lei 68301980) e a medida cautelar fiscal (Lei 83971992) as quais satildeo instrumentos su-ficientes adequados e proporcionais ao fim de cobranccedila tributaacuteria Ambos os diplo-mas estipulam ritos e privileacutegios para tutela da arrecadaccedilatildeo ao eraacuterio resguardando por outro lado garantias ao contribuinte

Em outro aspecto eacute certo que ao contribuinte eacute facultado ajuizar accedilatildeo de depoacutesito em face do Fisco federal a fim de obter certidatildeo negativa de deacutebito (ou positiva com efeito de negativa) Poreacutem natildeo pode ser coagido a assim agir sob pena de vulnera-ccedilatildeo ao princiacutepio da proporcionalidade aleacutem do contraditoacuterio e da ampla defesa

O fato de o manejo da accedilatildeo de depoacutesito fiscal encontrar-se em franco desuso ante a existecircncia de outros meios de cobranccedila de creacuteditos disponiacuteveis ao Fisco natildeo afasta a acoimada inconstitucionalidade10

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Prisatildeo civil por diacutevida

ADI 1055rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

93iacutendice de teses

Eacute inconstitucional o ajuizamento de demanda que coage ao depoacutesito da

quantia devida com ou sem apresentaccedilatildeo de contestaccedilatildeo sob pena de decre-

taccedilatildeo de revelia (arts 3ordm11 e 4ordm12 da Lei 88661994)

Determinar que a contestaccedilatildeo seja apresentada com o depoacutesito do numeraacuterio equi-vale mutatis mutandis a exigir depoacutesito preacutevio como requisito de admissibilidade de accedilatildeo judicial Tal situaccedilatildeo eacute manifestamente proibida pelo Supremo Tribunal Federal nos termos do Enunciado 2813 da Suacutemula Vinculante

Haacute afronta ao due process of law ao admitir o ajuizamento de demanda judicial ape-nas com base em ldquodeclaraccedilatildeo feita pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica do valor descontado ou recebido de terceiro constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria e natildeo recolhido aos co-fres puacuteblicosrdquo (Lei 88661994 art 2ordm I)14 sem que ocorra a finalizaccedilatildeo do processo administrativo-fiscal

Eacute ainda cediccedilo que haacute o dever fundamental de pagar tributos Entretanto os meios escolhidos pelo poder puacuteblico devem estar jungidos agrave necessidade da medida agrave ade-quaccedilatildeo e agrave proporcionalidade em sentido estrito de restringir os meios de adimple-mento em caso de cobranccedila judicial as quais natildeo se encontram presentes na aprecia-ccedilatildeo da legislaccedilatildeo ora questionada

O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributaacuterias Um texto constitucional como o nosso proacutedigo na concessatildeo de direitos sociais e na promessa de prestaccedilotildees estatais deve oferecer ao Estado instrumentos suficientes para que possa fazer frente agraves inevitaacuteveis despesas que a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais requer O tributo eacute esse instrumento Considera-se portanto a existecircncia de um dever fundamental de pagar impostos15 Esse dever estaacute expresso no sect 1ordm do art 145 da CF16

Haacute inegaacutevel conflito entre cidadatildeos e agentes privados no sentido de transferir aos demais concidadatildeos o ocircnus da tributaccedilatildeo furtando-se tanto quanto possiacutevel a tal encargo Ao disciplinar de maneira isonocircmica segundo a capacidade econocircmica do contribuinte a distribuiccedilatildeo dos ocircnus tributaacuterios e ao operar por meio da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria para conferir efetividade a esse objetivo o Estado presta verdadeiramente aos cidadatildeos a funccedilatildeo de aacuterbitro de um conflito ineliminaacutevel entre agentes privados

Nesse cenaacuterio o instrumento de agir em juiacutezo estabelecido no inciso LIV do art 5ordm da CF restringe o cumprimento da obrigaccedilatildeo pelo devedor tributaacuterio esta-belecendo como uacutenica forma de pagamento o depoacutesito da quantia devida no prazo de 24 horas em claro desrespeito ao direito de propriedade como limite do limite

94iacutendice de teses

(Schranken-Schranke) Isso porque o diploma normativo em questatildeo suprime parcial ou totalmente posiccedilotildees juriacutedicas individuais e concretas do devedor vinculadas ao pagamento da diacutevida tributaacuteria que repercutem em sua propriedade ante a existecircn-cia de rol normativo-legal que jaacute disciplina a questatildeo com completude Tal restriccedilatildeo conflita com a existecircncia da accedilatildeo de execuccedilatildeo fiscal na qual coincide tal possibilidade aliada a outras bem como limita o direito de defesa do devedor situaccedilatildeo flagrante-mente inconstitucional

Ademais a revogaccedilatildeo da prisatildeo civil por diacutevida pela ratificaccedilatildeo do Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica ndash Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos incorporada ao direito positivo interno do Brasil como estatuto revestido de hierarquia supralegal ndash acaba com o escopo da legislaccedilatildeo em comento natildeo existindo plausibilidade agrave ma-nutenccedilatildeo da tutela jurisdicional diacutespar com o ordenamento juriacutedico no qual cria situaccedilatildeo desproporcional e portanto inconstitucional para o fim de otimizar a arre-cadaccedilatildeo tributaacuteria

Por fim tendo em vista o alargamento da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e o interesse em se evitar a inseguranccedila juriacutedica ou qualquer prejuiacutezo ao eraacuterio em relaccedilatildeo aos prazos prescricionais as accedilotildees de depoacutesito fiscal em curso deveratildeo ser transformadas em accedilotildees de cobranccedila de rito ordinaacuterio sendo oportunizado ao poder puacuteblico sua adequaccedilatildeo ou sua extinccedilatildeo

1 Lei federal 88661994 que dispotildee sobre o depositaacuterio infiel de valor pertencente agrave Fazenda Puacuteblica e daacute outras providecircncias

2 ldquoArt 1ordm Eacute depositaacuterio da Fazenda Puacuteblica observado o disposto nos arts 1282 I e 1283 do Coacute-digo Civil a pessoa a que a legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria imponha a obrigaccedilatildeo de reter ou receber de terceiro e recolher aos cofres puacuteblicos impostos taxas e contribuiccedilotildees inclusive agrave Seguridade Social () sect 2ordm Eacute depositaacuterio infiel aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor referido neste artigo no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteriardquo

3 A Lei 88661994 prevecirc entre outros temas a) a criaccedilatildeo da accedilatildeo de depoacutesito fiscal com o escopo primordial de coagir sob pena de prisatildeo o devedor a depositar o valor referente agrave diacutevida na contes-taccedilatildeo ou apoacutes a sentenccedila no prazo de 24 horas b) a possibilidade de submeter o devedor a sofrer processo judicial de depoacutesito sem que tenha ocorrido a finalizaccedilatildeo do processo administrativo fiscal e c) a proibiccedilatildeo de em se tratando de coisas fungiacuteveis seguir-se o disposto sobre o muacutetuo com a submissatildeo do devedor a regime mais gravoso de pagamento em face dos postulados da proporcionalidade do limite do direito de propriedade e do devido processo legal

4 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

95iacutendice de teses

5 ldquoArt 5ordm () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

6 A questatildeo atinente agrave possibilidade de prisatildeo civil do depositaacuterio infiel no ordenamento juriacutedico jaacute foi apreciada pelo STF em julgamento firmado em sede de repercussatildeo geral nos autos do RE 466343 (rel min Cezar Peluso P DJE de 5-6-2009) oportunidade em que foi considerada iliacutecita indepen-dentemente da modalidade do depoacutesito

7 ldquoArt 142 Compete privativamente agrave autoridade administrativa constituir o creacutedito tributaacuterio pelo lanccedilamento assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrecircncia do fato gerador da obrigaccedilatildeo correspondente determinar a mateacuteria tributaacutevel calcular o montante do tributo devido identificar o sujeito passivo e sendo caso propor a aplicaccedilatildeo da penalidade cabiacutevelrdquo

8 ldquoArt 201 Constitui diacutevida ativa tributaacuteria a proveniente de creacutedito dessa natureza regularmente inscrita na reparticcedilatildeo administrativa competente depois de esgotado o prazo fixado para pagamen-to pela lei ou por decisatildeo final proferida em processo regularrdquo

9 ldquoArt 204 A diacutevida regularmente inscrita goza da presunccedilatildeo de certeza e liquidez e tem o efeito de prova preacute-constituiacuteda Paraacutegrafo uacutenico A presunccedilatildeo a que se refere este artigo eacute relativa e pode ser ilidida por prova inequiacutevoca a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveiterdquo

10 Precedentes TRF5 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 200405000163759 desembargador federal Manuel Maia 2ordf T DJ de 29-7-2009 TRF3 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 00068049520004036100 desembargador federal Cotrim Gui-maratildees 2ordf T DJE de 31-10-2012 e TRF4 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 200071000054980 desembargador federal Antocircnio Albino Ramos de Oliveira 2ordf T DJ de 4-10-2006

11 ldquoArt 3ordm Caracterizada a situaccedilatildeo de depositaacuterio infiel o Secretaacuterio da Receita Federal comunicaraacute ao representante judicial da Fazenda Nacional para que ajuiacuteze accedilatildeo civil a fim de exigir o recolhimento do valor do imposto taxa ou contribuiccedilatildeo descontado com os correspondentes acreacutescimos legais Paraacutegrafo uacutenico A comunicaccedilatildeo de que trata este artigo no acircmbito dos Estados e do Distrito Fe-deral caberaacute agraves autoridades definidas na legislaccedilatildeo especiacutefica dessas unidades federadas feita aos respectivos representantes judiciais competentes no caso do Instituto Nacional de Seguridade So-cial (INSS) a iniciativa caberaacute ao seu presidente competindo ao representante judicial da autarquia processual de que trata este artigordquo

12 ldquoArt 4ordm Na peticcedilatildeo inicial instruiacuteda com a coacutepia autenticada pela reparticcedilatildeo da prova literal do depoacutesito de que trata o art 2ordm o representante judicial da Fazenda Nacional ou conforme o caso o representante judicial dos Estados Distrito Federal ou do INSS requereraacute ao juiacutezo a citaccedilatildeo do depositaacuterio para em dez dias I ndash recolher ou depositar a importacircncia correspondente ao valor do imposto taxa ou contribuiccedilatildeo descontado ou recebido de terceiro com os respectivos acreacutescimos legais II ndash contestar a accedilatildeordquo

13 ldquoEacute inconstitucional a exigecircncia de depoacutesito preacutevio como requisito de admissibilidade de accedilatildeo judi-cial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de creacutedito tributaacuteriordquo

14 ldquoArt 2ordm Constituem prova literal para se caracterizar a situaccedilatildeo de depositaacuterio infiel dentre outras I ndash a declaraccedilatildeo feita pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica do valor descontado ou recebido de terceiro

96iacutendice de teses

constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria e natildeo recolhido aos cofres puacuteblicosrdquo

15 NABAIS Joseacute Casalta O dever fundamental de pagar impostos Coimbra Almedina 1998

16 ldquoArt 145 () sect 1ordm Sempre que possiacutevel os impostos teratildeo caraacuteter pessoal e seratildeo graduados segun-do a capacidade econocircmica do contribuinte facultado agrave administraccedilatildeo tributaacuteria especialmente para conferir efetividade a esses objetivos identificar respeitados os direitos individuais e nos ter-mos da lei o patrimocircnio os rendimentos e as atividades econocircmicas do contribuinterdquo

97iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos sociais Ȥ Direito ao trabalho

ADI 4842rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 8-8-2017Informativo STF 839

Eacute constitucional a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso

dos bombeiros civis

Natildeo haacute violaccedilatildeo direta e literal do art 7ordm XIII da Constituiccedilatildeo Federal1 pelo art 5ordm da Lei 1190120092 A jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso encontra-se respaldada na faculdade conferida pelo legislador constituinte de serem estabelecidas hipoacuteteses de compensaccedilatildeo de jornada

Embora natildeo exista a previsatildeo de reserva legal expressa para a compensaccedilatildeo de jornada no referido dispositivo constitucional a possibilidade de negociaccedilatildeo coleti-va permite inferir que a exceccedilatildeo estabelecida na legislaccedilatildeo para os bombeiros civis garante-lhes em proporccedilatildeo razoaacutevel descanso de 36 horas para cada 12 horas traba-lhadas bem como jornada semanal de trabalho natildeo superior a 36 horas3

Em idecircntico sentido tambeacutem natildeo haacute violaccedilatildeo do direito agrave sauacutede do trabalhador (CF art 1964) e agrave reduccedilatildeo dos riscos inerentes ao trabalho (CF art 7ordm XXII5) Essas prerrogativas natildeo satildeo ipso facto desrespeitadas pela jornada de trabalho dos bombei-ros civis tendo em vista que para cada 12 horas trabalhadas haacute 36 horas de descanso e que prevalece o limite de 36 horas de jornada semanal

1 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo social () XIII ndash duraccedilatildeo do trabalho normal natildeo superior a oito horas diaacuterias e quarenta e quatro semanais facultada a compensaccedilatildeo de horaacuterios e a reduccedilatildeo da jornada mediante acordo ou convenccedilatildeo coletiva de trabalhordquo

2 ldquoArt 5ordm A jornada do Bombeiro Civil eacute de 12 (doze) horas de trabalho por 36 (trinta e seis) horas de descanso num total de 36 (trinta e seis) horas semanaisrdquo

3 RE 425975 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 16-12-2005

98iacutendice de teses

4 ldquoArt 196 A sauacutede eacute direito de todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocirc-micas que visem agrave reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

5 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo social () XXII ndash reduccedilatildeo dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de sauacutede higiene e seguranccedilardquo

99iacutendice de teses

Aquele que natildeo ostenta mais a nacionalidade brasileira por ter adquirido

outra nacionalidade em situaccedilatildeo que natildeo se subsome agraves exceccedilotildees previstas no

art 12 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pode ser extraditado pelo Brasil2

A Constituiccedilatildeo ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira estabeleceu duas hi-poacuteteses (i) o cancelamento judicial da naturalizaccedilatildeo em virtude de praacutetica de ato no-civo ao interesse nacional o que soacute alcanccedilaria brasileiros naturalizados (CF art 12 sect 4ordm I) e (ii) a aquisiccedilatildeo voluntaacuteria de outra nacionalidade secundaacuteria o que alcanccedila-ria indistintamente brasileiros natos e naturalizados

Nesta uacuteltima hipoacutetese ndash de aquisiccedilatildeo de outra nacionalidade ndash a nacionalidade brasileira soacute natildeo seraacute perdida em duas situaccedilotildees que constituem exceccedilatildeo agrave regra (i) reconhecimento de outra nacionalidade originaacuteria (CF art 12 sect 4ordm II a) e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condiccedilatildeo de per-manecircncia em seu territoacuterio ou para o exerciacutecio de direitos civis (CF art 12 sect 4ordm II b)

Nesse contexto caso o brasileiro possua visto permanente de imigraccedilatildeo que o au-torize a trabalhar e gozar de direitos civis no Estado estrangeiro torna-se desneces-saacuteria a obtenccedilatildeo da nacionalidade secundaacuteria para os fins que compotildeem exceccedilatildeo agrave regra da perda da nacionalidade brasileira (CF art 12 sect 4ordm II a e b) Dessa forma sua obtenccedilatildeo somente poderia destinar-se agrave integraccedilatildeo do brasileiro agravequela comunidade nacional estrangeira o que eacute justamente a razatildeo central do criteacuterio adotado pelo cons-tituinte originaacuterio para a perda da nacionalidade brasileira

1 ldquoArt 12 Satildeo brasileiros () sect 4ordm Seraacute declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que I ndash ti-ver cancelada sua naturalizaccedilatildeo por sentenccedila judicial em virtude de atividade nociva ao interesse nacional II ndash adquirir outra nacionalidade salvo nos casos a) de reconhecimento de nacionalidade originaacuteria pela lei estrangeira b) de imposiccedilatildeo de naturalizaccedilatildeo pela norma estrangeira ao brasi-leiro residente em estado estrangeiro como condiccedilatildeo para permanecircncia em seu territoacuterio ou para o exerciacutecio de direitos civisrdquo

2 MS 33864 rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 19-4-2016

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Nacionalidade Ȥ Perda da nacionalidade originaacuteria

Ext 1462rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 29-6-2017Informativo STF 859

ORGANIZACcedilAtildeO DO ESTADODIREITO CONSTITUCIONAL

101iacutendice de teses

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado

Nos termos do art 20 XI da Constituiccedilatildeo Federal satildeo bens da Uniatildeo ldquoas terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendiosrdquo

Aleacutem disso desde a Carta de 1934 natildeo se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indiacutegenas como devolutas o mesmo ocorrendo na Constituiccedilatildeo de 1988 por meio de expressa disposiccedilatildeo contida no art 26 IV1

Nesse sentido definido pelas provas carreadas aos autos que as terras que passaram a compor parque indiacutegena eram ocupadas historicamente por iacutendios natildeo haacute falar em titularidade do Estado-membro tampouco em eventual dever de a Uniatildeo indenizaacute-lo por suposta desapropriaccedilatildeo indireta

1 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () IV ndash as terras devolutas natildeo compreendidas entre as da Uniatildeordquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo

ACO 362DJE de 3-10-2017ACO 366DJE de 1ordm-10-2018rel min Marco Aureacutelio

PlenaacuterioInformativo STF 873

102iacutendice de teses

A Emenda Constitucional 462005 natildeo interferiu na propriedade da Uniatildeo

nos moldes do art 20 VII da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 sobre os terrenos

de marinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municiacutepios

A alteraccedilatildeo introduzida pela Emenda Constitucional 462005 criou no ordena-mento juriacutedico exceccedilatildeo agrave regra geral entatildeo vigente sobre a propriedade das ilhas costeiras Com a redaccedilatildeo conferida ao art 20 IV da CF2 deixaram de pertencer agrave Uniatildeo as ilhas costeiras em que estatildeo sediados entes municipais expressamente ressalvadas as ldquoaacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federal e as referidas no art 26 IIrdquo3 bens que natildeo obstante situados em territoacuterio municipal remanesceram como patrimocircnio federal Assim natildeo mais constitui tiacutetulo haacutebil a ensejar a presunccedilatildeo do domiacutenio da Uniatildeo o simples fato de determinada aacuterea estar situada em ilha costeira se nela estiver sediado Municiacutepio

A interpretaccedilatildeo sistemaacutetica do texto constitucional conduz agrave conclusatildeo de que a alteraccedilatildeo introduzida no inciso IV do art 20 pela Emenda Constitucional 462005 natildeo teve o condatildeo de alterar o regime patrimonial dos bens referidos no inciso VII como aliaacutes de nenhum outro bem arrolado nesse artigo Entender que os terrenos de marinha e acrescidos teriam sido transferidos ao ente municipal levaria agrave conclu-satildeo de que todos os demais bens constitucionalmente atribuiacutedos agrave dominialidade da Uniatildeo ndash potenciais de energia eleacutetrica recursos minerais terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendios etc ndash se situados nas ilhas municipais estariam apoacutes a ediccedilatildeo da emenda igualmente excluiacutedos do patrimocircnio federal Assim as ressalvas cons-tantes da parte final do dispositivo alterado referentes agraves ldquoaacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federalrdquo devem ser compreendidas como adendos aos demais bens integrantes do acervo patrimonial da Uniatildeo

Com a emenda o constituinte derivado em observacircncia ao princiacutepio da isono-mia buscou prestigiar a autonomia municipal e equiparou o regime juriacutedico-patri-monial das ilhas costeiras em que estatildeo sediados Municiacutepios agraves porccedilotildees continentais

RE 636199RG ‒ Tema 676rel min Rosa WeberPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 862

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo ndash Repercussatildeo Geral

103iacutendice de teses

do territoacuterio brasileiro favorecendo a promoccedilatildeo dos interesses locais e o desenvol-vimento da regiatildeo No entanto ausente fator de discriacutemen a legitimar a geraccedilatildeo de efeitos desuniformes no tocante ao regramento dos terrenos de marinha e acresci-dos entre Municiacutepios insulares e continentais incide sobre ambos sem distinccedilatildeo o art 20 VII da CF

Errocircneo supor do ponto de vista loacutegico que no afatilde de estabelecer tratamento isonocircmico entre Municiacutepios continentais e insulares se devesse adotar entre duas interpretaccedilotildees possiacuteveis aquela que elastecesse o comando constitucional ao ponto de sem motivo justificado conceder-lhes tratamento diferenciado

Ademais do ponto de vista histoacuterico os terrenos de marinha e seus acrescidos jaacute integravam o rol de bens da Uniatildeo mesmo antes de as ilhas costeiras passarem a compor o patrimocircnio federal Isso reforccedila o rechaccedilo agrave tese de que se alterou o trata-mento juriacutedico a eles conferido em razatildeo da modificaccedilatildeo introduzida pela Emenda Constitucional 462005 na propriedade das ilhas mariacutetimas

O domiacutenio da Uniatildeo sobre as terras situadas nas ilhas litoracircneas jaacute foi reconhe-cido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Accedilatildeo Ciacutevel Originaacuteria 3174 resguardada a legitimidade de eventual transferecircncia da titularidade para os Estados pelos meios regulares de direito

Tambeacutem destoa do sistema de distribuiccedilatildeo de bens entre as entidades da Fe-deraccedilatildeo assumir que os Municiacutepios sediados em ilhas sejam proprietaacuterios dos terrenos de marinha mas natildeo o sejam os Municiacutepios costeiros Natildeo haveria mo-tivo consistente para justificar a incoerecircncia sistemaacutetica que daiacute resultaria Tal interpretaccedilatildeo da Emenda Constitucional 462005 ficaria desautorizada pela dissi-metria a que conduziria

Por todo o exposto eacute inviaacutevel acolher a interpretaccedilatildeo que inclui as aacutereas corres-pondentes aos terrenos de marinha e acrescidos ndash situadas em ilha costeira ndash no patri-mocircnio do ente municipal nela sediado Afinal constituem bens federais mesmo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Emenda Constitucional 462005

A anaacutelise da conveniecircncia na manutenccedilatildeo do instituto no bojo do ordena-mento juriacutedico paacutetrio demanda discussatildeo proacutepria agrave esfera poliacutetica Com efeito porquanto de jaez constitucional a extinccedilatildeo do instituto depende de processo legislativo especial

1 ldquoArt 20 Satildeo bens da Uniatildeo () VII ndash os terrenos de marinha e seus acrescidosrdquo

104iacutendice de teses

2 ldquoArt 20 Satildeo bens da Uniatildeo () IV ndash as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limiacutetrofes com outros paiacuteses as praias mariacutetimas as ilhas oceacircnicas e as costeiras excluiacutedas destas as que contenham a sede de Municiacutepios exceto aquelas aacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federal e as referidas no art 26 IIrdquo

3 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () II ndash as aacutereas nas ilhas oceacircnicas e costeiras que estiverem no seu domiacutenio excluiacutedas aquelas sob domiacutenio da Uniatildeo Municiacutepios ou terceirosrdquo

4 ACO 317 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 20-11-1992

105iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo por meio de lei estadual de Certidatildeo de Vio-

laccedilatildeo dos Direitos do Consumidor como requisito para contrataccedilatildeo com a

Administraccedilatildeo Puacuteblica

A conformaccedilatildeo legal mais imediata primaacuteria ou de primeiro grau do direito de participar de licitaccedilotildees foi confiada pela Constituiccedilatildeo Federal (CF) tatildeo somente agrave Uniatildeo (CF art 22 XXVII1) que a materializou com a aprovaccedilatildeo do art 27 da Lei 86661993 Este dispositivo exige dos interessados ldquoexclusivamente documenta-ccedilatildeo relativa a I ndash habilitaccedilatildeo juriacutedica II ndash qualificaccedilatildeo teacutecnica III ndash qualificaccedilatildeo econocircmico-financeira IV ndash regularidade fiscal e trabalhista e V ndash cumprimento do disposto no inciso XXXII do art 7ordm da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

Somente a Uniatildeo pode limitar em caraacuteter geral a amplitude da liberdade de aces-so agraves licitaccedilotildees pois requisitos desta natureza podem induzir a uma significativa res-triccedilatildeo da competitividade dos procedimentos licitatoacuterios

A competitividade eacute a pedra de toque desses procedimentos Ao valorizaacute-la fo-mentando a disputa entre os interessados em contratar com o poder puacuteblico o or-denamento atende simultaneamente a dois outros interesses puacuteblicos de alta carga de relevacircncia De um lado viabiliza que o Estado obtenha a melhor oferta possiacutevel enquanto de outro garante o tratamento isonocircmico dos participantes Esta visatildeo de crucial importacircncia para o bom funcionamento dos processos licitatoacuterios estaacute consagrada na literalidade do art 37 XXI da CF2

O referido art 37 XXI do texto constitucional enfatiza a ldquoigualdade de condi-ccedilotildees a todos os concorrentesrdquo como um interesse puacuteblico de primeira grandeza mas que admite temperamentos a serem estabelecidos por dois caminhos a) pela lei que criaraacute condiccedilotildees de diferenciaccedilatildeo exigiacuteveis em abstrato e b) pela autoridade res-ponsaacutevel pela conduccedilatildeo do processo licitatoacuterio que poderaacute estabelecer elementos de distinccedilatildeo circunstanciais de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica sempre vinculados agrave garantia de cumprimento de obrigaccedilotildees especiacuteficas

ADI 3735rel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 838

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

106iacutendice de teses

Disso se depreende que a igualdade de condiccedilotildees na participaccedilatildeo em processos licitatoacuterios eacute uma garantia constitucional relevante Nessa medida as restriccedilotildees a esta proteccedilatildeo devem constar do programa de normas gerais Ao direito estadual (ou mu-nicipal) somente seraacute legiacutetimo inovar se tiver como objetivo estabelecer condiccedilotildees especiacuteficas nomeadamente quando relacionadas a uma classe de objetos a serem contratados ou a peculiares circunstacircncias de interesse local A aprovaccedilatildeo de diplo-mas locais com esses desiacutegnios tem o efeito de padronizar as exigecircncias rotineira-mente praticadas pelas administraccedilotildees locais em licitaccedilotildees especiacuteficas estabilizando as expectativas dos respectivos participantes3

1 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre () XXVII ndash normas gerais de licitaccedilatildeo e contrataccedilatildeo em todas as modalidades para as administraccedilotildees puacuteblicas diretas autaacuterquicas e fun-dacionais da Uniatildeo Estados Distrito Federal e Municiacutepios obedecido o disposto no art 37 XXI e para as empresas puacuteblicas e sociedades de economia mista nos termos do art 173 sect 1ordm IIIrdquo

2 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contratados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que assegure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorrentes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pagamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircncias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacuteveis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

3 Precedente ADI 3059 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 8-5-2015

107iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de

celular em presiacutedio

Ao determinar agraves empresas de telefonia a instalaccedilatildeo de equipamentos para inter-rupccedilatildeo do sinal nas unidades prisionais do Estado o legislador local atuou no nuacute-cleo da regulaccedilatildeo da atividade de telecomunicaccedilotildees de competecircncia privativa da Uniatildeo no que cabe a esta disciplinar a transmissatildeo de sinais no campo eletromag-neacutetico de maneira adequada (CF arts 21 XI 22 IV e 175 IV1)

Os procedimentos concernentes agrave operaccedilatildeo de telefonia celular e ao bloqueio de sinal em determinadas aacutereas podem afetar diretamente a qualidade da prestaccedilatildeo do serviccedilo para a populaccedilatildeo circundante Dessa forma o tema demanda tratamento uniforme em todo o Paiacutes ainda que a finalidade do legislador estadual seja a segu-ranccedila puacuteblica

Diante disso por se tratar de questatildeo relacionada ao interesse nacional a discipli-na dos serviccedilos puacuteblicos que funcionam em todo o territoacuterio cabe agrave Uniatildeo2 Eacute com amparo nessa ideia que a doutrina propotildee a denominada prevalecircncia do interesse3 como criteacuterio para a soluccedilatildeo de conflitos reconhecendo-se a competecircncia da Uniatildeo quando a mateacuteria transcender os interesses locais e regionais

Ademais a instalaccedilatildeo de bloqueadores de sinal de celular em presiacutedios jaacute pos-sui tratamento proacuteprio na legislaccedilatildeo federal (Lei 107922003 art 4ordm4) Embora a norma natildeo seja totalmente expliacutecita a lei parece ter imposto aos entes federativos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

ADI 3835rel min Marco Aureacutelio

DJE de 2-8-2017ADI 5235rel min Dias Toffoli

ADI 4861rel min Gilmar Mendes

ADI 5356red p o ac min Marco Aureacutelio

ADI 5327rel min Dias Toffoli

PlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 833

108iacutendice de teses

administradores dos estabelecimentos penitenciaacuterios a obrigaccedilatildeo de implementar o bloqueio Natildeo haacute menccedilatildeo na legislaccedilatildeo de regecircncia quanto agrave obrigaccedilatildeo de as operadoras prestarem o serviccedilo

Assim ao transferir o ocircnus de instalar bloqueadores de celulares agraves prestadoras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees constata-se tambeacutem interferecircncia indevida nas re-laccedilotildees juriacutedicas entre essas e a Uniatildeo5

1 ldquoArt 21 Compete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos termos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos serviccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspectos institucionais () Art 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica telecomunicaccedilotildees e radiodifusatildeo () Art 175 Incumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos Paraacutegrafo uacutenico A lei disporaacute sobre () IV ndash a obrigaccedilatildeo de manter serviccedilo adequadordquo

2 ADI 3533 rel min Eros Grau P DJ de 6-10-2006 ADI 3846 rel min Gilmar Mendes P DJE de 15-3-2011 ADI 3322 rel min Gilmar Mendes P DJE de 29-3-2011 e ADI 4369 MC-REF rel min Marco Aureacutelio P DJE de 4-5-2011

3 ldquoAo ser constatada uma aparente incidecircncia de determinado assunto em mais de um tipo de com-petecircncia deve-se realizar interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo duas premissas a intensidade da relaccedilatildeo da situaccedilatildeo faacutetica normatizada com a estrutura baacutesica descrita no tipo da competecircncia em anaacutelise e aleacutem disso o fim primaacuterio a que se destina essa norma que possui direta relaccedilatildeo com o princiacutepio da predominacircncia de interessesrdquo (DEGENHART Christoph Staatsrecht I Heidelberg 22 ed 2006 p 56-60)

4 ldquoArt 4ordm Os estabelecimentos penitenciaacuterios especialmente os destinados ao regime disciplinar dife-renciado disporatildeo dentre outros equipamentos de seguranccedila de bloqueadores de telecomunica-ccedilatildeo para telefones celulares raacutedio-transmissores e outros meios definidos no art 60 sect 1ordm da Lei n 9472 de 16 de julho de 1997rdquo

5 ADI 3533 rel min Eros Grau P DJ de 6-10-2006 e ADI 4401 rel min Gilmar Mendes P DJE de 1ordm-10-2010

109iacutendice de teses

Eacute formalmente inconstitucional a lei estadual que regulamenta a cobranccedila

proporcional ao tempo efetivamente utilizado por serviccedilos de estacionamen-

to privado de veiacuteculos no Estado-membro

A disciplina acerca da exploraccedilatildeo econocircmica de estacionamentos privados refere--se a direito civil Trata-se portanto de competecircncia privativa da Uniatildeo a teor do art 22 I da Constituiccedilatildeo Federal1 2 e 3

ldquoEacute indubitaacutevel que a regulamentaccedilatildeo da modalidade de cobranccedila de estaciona-mentos urbanos possui relaccedilatildeo direta com o direito agrave propriedade na medida em que institui limitaccedilatildeo ao pleno exerciacutecio desse mesmo direito no acircmbito das relaccedilotildees con-tratuais Ainda a norma estadual estatui condicionamento acerca da remuneraccedilatildeo do contrato de depoacutesito previsto pelos artigos 627 a 646 do Coacutedigo Civil de 20024 ou seja sobre tema no qual o Congresso Nacional oacutergatildeo constitucionalmente responsaacute-vel por editar normas de direito civil houve por bem deixar ao campo da autonomia privada das partes a fixaccedilatildeo da retribuiccedilatildeo pela prestaccedilatildeordquo5

Diante disso foi declarada inconstitucional a Lei 167852011 do Estado do Paranaacute

1 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

2 ADI 2448 rel min Sydney Sanches P DJ de 13-6-2003 ADI 1623 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 15-4-2011 e ADI 1918 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 1ordm-8-2003

3 Os ministros Roberto Barroso Rosa Weber e Caacutermen Luacutecia acompanharam o relator quanto agrave procedecircncia do pedido formulado na accedilatildeo direta mas por fundamento diverso Segundo entende-ram natildeo haveria inconstitucionalidade formal da lei impugnada porque o assunto discutido seria pertinente a direito do consumidor mateacuteria de competecircncia legislativa concorrente nos termos do art 24 V e VIII da CF Entretanto a interferecircncia do Estado na fixaccedilatildeo de preccedilo privado numa circunstacircncia que natildeo eacute excepcional caracterizaria inconstitucionalidade material da lei por violaccedilatildeo ao princiacutepio constitucional da livre iniciativa previsto no art 170 caput da CF

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

ADI 4862rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 7-2-2017Informativo STF 835

110iacutendice de teses

4 ldquoArt 627 Pelo contrato de depoacutesito recebe o depositaacuterio um objeto moacutevel para guardar ateacute que o depositante o reclame

Art 628 O contrato de depoacutesito eacute gratuito exceto se houver convenccedilatildeo em contraacuterio se resultante de atividade negocial ou se o depositaacuterio o praticar por profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Se o depoacutesito for oneroso e a retribuiccedilatildeo do depositaacuterio natildeo constar de lei nem resultar de ajuste seraacute determinada pelos usos do lugar e na falta destes por arbitramento

Art 629 O depositaacuterio eacute obrigado a ter na guarda e conservaccedilatildeo da coisa depositada o cuidado e diligecircncia que costuma com o que lhe pertence bem como a restituiacute-la com todos os frutos e acrescidos quando o exija o depositante

Art 630 Se o depoacutesito se entregou fechado colado selado ou lacrado nesse mesmo estado se manteraacute

Art 631 Salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio a restituiccedilatildeo da coisa deve dar-se no lugar em que tiver de ser guardada As despesas de restituiccedilatildeo correm por conta do depositante

Art 632 Se a coisa houver sido depositada no interesse de terceiro e o depositaacuterio tiver sido cien-tificado deste fato pelo depositante natildeo poderaacute ele exonerar-se restituindo a coisa a este sem con-sentimento daquele

Art 633 Ainda que o contrato fixe prazo agrave restituiccedilatildeo o depositaacuterio entregaraacute o depoacutesito logo que se lhe exija salvo se tiver o direito de retenccedilatildeo a que se refere o art 644 se o objeto for judicialmente embargado se sobre ele pender execuccedilatildeo notificada ao depositaacuterio ou se houver motivo razoaacutevel de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida

Art 634 No caso do artigo antecedente uacuteltima parte o depositaacuterio expondo o fundamento da suspeita requereraacute que se recolha o objeto ao Depoacutesito Puacuteblico

Art 635 Ao depositaacuterio seraacute facultado outrossim requerer depoacutesito judicial da coisa quando por motivo plausiacutevel natildeo a possa guardar e o depositante natildeo queira recebecirc-la

Art 636 O depositaacuterio que por forccedila maior houver perdido a coisa depositada e recebido outra em seu lugar eacute obrigado a entregar a segunda ao depositante e ceder-lhe as accedilotildees que no caso tiver contra o terceiro responsaacutevel pela restituiccedilatildeo da primeira

Art 637 O herdeiro do depositaacuterio que de boa-feacute vendeu a coisa depositada eacute obrigado a assistir o depositante na reivindicaccedilatildeo e a restituir ao comprador o preccedilo recebido

Art 638 Salvo os casos previstos nos arts 633 e 634 natildeo poderaacute o depositaacuterio furtar-se agrave restituiccedilatildeo do depoacutesito alegando natildeo pertencer a coisa ao depositante ou opondo compensaccedilatildeo exceto se noutro depoacutesito se fundar

Art 639 Sendo dois ou mais depositantes e divisiacutevel a coisa a cada um soacute entregaraacute o depositaacuterio a respectiva parte salvo se houver entre eles solidariedade

Art 640 Sob pena de responder por perdas e danos natildeo poderaacute o depositaacuterio sem licenccedila expressa do depositante servir-se da coisa depositada nem a dar em depoacutesito a outrem

111iacutendice de teses

Paraacutegrafo uacutenico Se o depositaacuterio devidamente autorizado confiar a coisa em depoacutesito a terceiro seraacute responsaacutevel se agiu com culpa na escolha deste

Art 641 Se o depositaacuterio se tornar incapaz a pessoa que lhe assumir a administraccedilatildeo dos bens dili-genciaraacute imediatamente restituir a coisa depositada e natildeo querendo ou natildeo podendo o depositante recebecirc-la recolhecirc-la-aacute ao Depoacutesito Puacuteblico ou promoveraacute nomeaccedilatildeo de outro depositaacuterio

Art 642 O depositaacuterio natildeo responde pelos casos de forccedila maior mas para que lhe valha a escusa teraacute de provaacute-los

Art 643 O depositante eacute obrigado a pagar ao depositaacuterio as despesas feitas com a coisa e os prejuiacute-zos que do depoacutesito provierem

Art 644 O depositaacuterio poderaacute reter o depoacutesito ateacute que se lhe pague a retribuiccedilatildeo devida o liacutequido valor das despesas ou dos prejuiacutezos a que se refere o artigo anterior provando imediatamente esses prejuiacutezos ou essas despesas

Paraacutegrafo uacutenico Se essas diacutevidas despesas ou prejuiacutezos natildeo forem provados suficientemente ou forem iliacutequidos o depositaacuterio poderaacute exigir cauccedilatildeo idocircnea do depositante ou na falta desta a re-moccedilatildeo da coisa para o Depoacutesito Puacuteblico ateacute que se liquidem

Art 645 O depoacutesito de coisas fungiacuteveis em que o depositaacuterio se obrigue a restituir objetos do mesmo gecircnero qualidade e quantidade regular-se-aacute pelo disposto acerca do muacutetuo

Art 646 O depoacutesito voluntaacuterio provar-se-aacute por escritordquo

5 Trecho da manifestaccedilatildeo da Advocacia-Geral da Uniatildeo no presente julgamento citada no voto do ministro Gilmar Mendes

112iacutendice de teses

Eacute constitucional lei estadual1 que declara em regime de extinccedilatildeo a Carteira

de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila estadual2

Tendo em vista que o constituinte conferiu aos Estados-membros competecircncia con-corrente para legislarem sobre previdecircncia social consoante o disposto no art 24 XII da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 natildeo subsiste inconstitucionalidade formal agrave re-ferida lei estadual

Igualmente a adoccedilatildeo do sistema de capitalizaccedilatildeo para o fundo previdenciaacuterio natildeo implica ofensa agrave competecircncia privativa da Uniatildeo para legislar sobre seguros consoacuter-cios ou transferecircncia de valores Em qualquer carteira de previdecircncia ndash puacuteblica ou privada ndash haacute necessidade de estabelecer regras pelas quais seraacute calculado o custeio dos benefiacutecios concedidos

Tambeacutem inexiste ofensa ao art 149 da CF4 A contribuiccedilatildeo em tela natildeo foi criada mediante o diploma impugnado mas jaacute era prevista em lei estadual5 cuja constitu-cionalidade natildeo foi questionada

Eacute inconstitucional dispositivo de lei estadual6 que veda que o Estado-membro

responda direta ou indiretamente pelo pagamento dos benefiacutecios jaacute conce-

didos ou que venham a ser concedidos no acircmbito da Carteira das Serventias

tampouco responsabilize-se por qualquer indenizaccedilatildeo a seus participantes

ou por insuficiecircncia patrimonial passada presente ou futura

A extinccedilatildeo da Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila do Estado embora possiacutevel por meio da referida lei deve respeitar o direito adquirido dos participantes e situaccedilotildees subjetivas jaacute reconhecidas ante a situaccedilatildeo previden-ciaacuteria singular criada e fomentada pelo proacuteprio poder puacuteblico cuja modificaccedilatildeo da realidade juriacutedica implicou a necessidade de liquidaccedilatildeo do Fundo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Estados federados Ȥ Competecircncia legislativa concorrente

ADI 4420red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

113iacutendice de teses

Natildeo tecircm os participantes o dever juriacutedico de arcar com os prejuiacutezos da ausecircncia da principal fonte de custeio da Carteira a qual tem filiaccedilatildeo obrigatoacuteria mesmo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica no tocante agrave decisatildeo de extingui-la tenha atuado dentro dos limites da licitude A lesatildeo indenizaacutevel resulta dos efeitos da posiccedilatildeo administrativa e das caracteriacutesticas hiacutebridas do entatildeo regime previdenciaacuterio e natildeo propriamente da atuaccedilatildeo regular ou irregular da Administraccedilatildeo Eacute antiga a jurisprudecircncia do Supre-mo Tribunal Federal sobre a possibilidade de configuraccedilatildeo da responsabilidade do Estado ainda que o ato praticado seja liacutecito Tal entendimento foi sedimentado no princiacutepio basilar da igualdade segundo o qual descabe imputar a particulares indivi-dualizaacuteveis os encargos sociais decorrentes da atuaccedilatildeo administrativa implementada em prol de toda a coletividade7

Ademais seja optando pela liquidaccedilatildeo seja pela adequaccedilatildeo das fontes de custeio e das regras da Carteira ao regime complementar trazido pela Emenda Constitucio-nal 201998 em nenhuma das alternativas seria possiacutevel desconsiderar o primado da seguranccedila juriacutedica e as consequecircncias que o respeito a esse princiacutepio implica O procedimento de liquidaccedilatildeo embora legiacutetimo quanto ao fim imputa aos participan-tes todo o ocircnus da preservaccedilatildeo do equiliacutebrio financeiro ateacute o efetivo teacutermino da Carteira olvidando-se que agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica incumbia tambeacutem suportar o risco decorrente da modificaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico no transcurso dos anos

Assim aplicando-se a interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo agrave lei estadual em co-mento as regras natildeo se aplicam a quem na data da publicaccedilatildeo da lei jaacute estava em gozo de benefiacutecio ou tinha cumprido com base no regime instituiacutedo em lei estadual regulamentadora8 os requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo Quanto aos que natildeo imple-mentaram todos os requisitos deve ser garantida a faculdade da contagem reciacuteproca de tempo de contribuiccedilatildeo para efeito de aposentadoria pelo Regime Geral da Previ-decircncia Social nos termos do art 201 sect 9ordm da CF9 ficando o Estado responsaacutevel pelas decorrecircncias financeiras da compensaccedilatildeo referida

1 Lei 140162010 do Estado de Satildeo Paulo que declarou em regime de extinccedilatildeo a Carteira de Pre-videcircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila daquele Estado a que se refere a Lei estadual 103931970

2 Trata-se de Carteira de Previdecircncia administrada pelo Instituto de Previdecircncia do Estado de Satildeo Paulo financeiramente autocircnoma com patrimocircnio proacuteprio cujas finalidades satildeo proporcionar aposentadoria aos seus segurados e conceder pensatildeo aos dependentes dos segurados (arts 1ordm e 2ordm da Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo) Com a Emenda Constitucional 201998 o regime criado pela Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas deixou de ter suporte na Constituiccedilatildeo

114iacutendice de teses

natildeo se identificando com nenhum dos modelos nela previstos Embora exerccedilam funccedilatildeo puacuteblica es-sencial agrave administraccedilatildeo da Justiccedila descabe dizer que os integrantes das serventias natildeo oficializadas sejam servidores puacuteblicos titulares de cargos efetivos Dessa forma natildeo eacute aplicaacutevel a sistemaacutetica reservada aos servidores puacuteblicos efetivos baseada no art 40 da CF O diploma impugnado tam-pouco instituiu sistema compatiacutevel com a previdecircncia privada haja vista a vedaccedilatildeo contida no sect 3ordm do art 202 da CF Assim natildeo podem os integrantes das serventias natildeo oficializadas participar de previdecircncia puacuteblica ou privada patrocinada por ente puacuteblico Ante o quadro restaram agrave Carteira Previdenciaacuteria duas possibilidades a adequaccedilatildeo das fontes de custeio e das regras da Carteira ao regime complementar inaugurado com a reforma da Previdecircncia ou a liquidaccedilatildeo

3 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () XII ndash previdecircncia social proteccedilatildeo e defesa da sauacutederdquo

4 ldquoArt 149 Compete exclusivamente agrave Uniatildeo instituir contribuiccedilotildees sociais de intervenccedilatildeo no domiacute-nio econocircmico e de interesse das categorias profissionais ou econocircmicas como instrumento de sua atuaccedilatildeo nas respectivas aacutereas observado o disposto nos arts 146 III e 150 I e III e sem prejuiacutezo do previsto no art 195 sect 6ordm relativamente agraves contribuiccedilotildees a que alude o dispositivordquo

5 Art 43 I e II da Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo

6 Art 3ordm caput e sect 1ordm da Lei 140162010 do Estado de Satildeo Paulo

7 Precedentes ADI 4291 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 14-3-2012 e ADI 4429 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 14-3-2012

8 Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo que reorganiza a Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila do Estado

9 ldquoArt 201 () sect 9ordm Para efeito de aposentadoria eacute assegurada a contagem reciacuteproca do tempo de contribuiccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica e na atividade privada rural e urbana hipoacutetese em que os diversos regimes de previdecircncia social se compensaratildeo financeiramente segundo criteacuterios estabele-cidos em leirdquo

115iacutendice de teses

Eacute constitucional dispositivo de lei estadual1 que autoriza as empresas que fa-

cultativamente patrocinarem bolsas para a formaccedilatildeo superior de professores

a exigir dos beneficiaacuterios em contrapartida serviccedilos na aacuterea educacional

Tal medida visa incentivar e estimular a formaccedilatildeo de professores em niacutevel superior e aprimorar o sistema regional de ensino atraveacutes da implementaccedilatildeo de projetos de alfabetizaccedilatildeo ou de aperfeiccediloamento dos empregados das empresas financiadoras bem como atraveacutes de outras atividades compatiacuteveis com a formaccedilatildeo profissional dos beneficiaacuterios

Inexiste portanto viacutecio de inconstitucionalidade formal A norma natildeo legislou so-bre Direito Civil tampouco sobre Direito do Trabalho ambos assuntos de competecircn-cia legislativa privativa da Uniatildeo nos termos do art 22 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

Tambeacutem natildeo haacute inconstitucionalidade material Trata-se em verdade de norma concernente a educaccedilatildeo e ensino mateacuteria sobre a qual a Constituiccedilatildeo atribui com-petecircncia legislativa concorrente (CF art 24 IX3) cabendo agrave Uniatildeo estabelecer as normas gerais e aos Estados-membros e ao Distrito Federal suplementaacute-las no afatilde de afeiccediloaacute-las agraves particularidades regionais4

O princiacutepio federativo reclama o abandono de qualquer leitura inflacionada e cen-tralizadora das competecircncias normativas da Uniatildeo bem como sugere novas searas normativas que possam ser trilhadas por Estados Municiacutepios e Distrito Federal

A prospective overruling antiacutedoto ao engessamento do pensamento juriacutedico possi-bilita ao Supremo Tribunal Federal rever sua postura prima facie em casos de litiacutegios constitucionais em mateacuteria de competecircncia legislativa Assim viabiliza o prestiacutegio das iniciativas regionais e locais ressalvadas as hipoacuteteses de ofensa expressa e inequiacute-voca de norma da Constituiccedilatildeo de 1988

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Estados federados Ȥ Competecircncia legislativa concorrente

ADI 2663rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 29-5-2017Informativo STF 856

116iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo unilateral por meio de lei estadual5 de be-

nefiacutecio fiscal relativo a Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos

(ICMS) agrave empresa patrocinadora de bolsas de estudo a professores

Embora a competecircncia tributaacuteria abranja como consectaacuterio loacutegico a possibilidade de instituiccedilatildeo de benefiacutecios fiscais (isenccedilotildees concessatildeo de creacutedito presumido redu-ccedilatildeo da base de caacutelculo do tributo) a parte final do art 150 sect 6ordm da CF6 revela regime particular no tocante agraves exoneraccedilotildees fiscais instituiacutedas em relaccedilatildeo ao ICMS Para tal tributo os Estados natildeo podem estabelecer isenccedilotildees livremente sendo exigida a preacutevia deliberaccedilatildeo entre os Estados-membros para a sua concessatildeo conforme pre-visatildeo constitucional (CF art 155 sect 2ordm XII g7) e como disciplinado pela Lei Com-plementar 2419758

A exigecircncia de um convecircnio interestadual preacutevio evidencia a preservaccedilatildeo do equi-liacutebrio horizontal na tributaccedilatildeo dada a relevacircncia do regime do ICMS para a manu-tenccedilatildeo da harmonia do pacto federativo Se fosse liacutecita a cada ente federativo regio-nal a instituiccedilatildeo de exoneraccedilotildees fiscais de forma independente o resultado seria a cognominada guerra fiscal com a busca irrefreaacutevel pela reduccedilatildeo da carga tributaacuteria em cada Estado de forma a atrair empreendimentos e capital para o respectivo ter-ritoacuterio em prejuiacutezo em uacuteltima anaacutelise para a proacutepria forma de estado federalista e seus consectaacuterios fiscais

Nesse cenaacuterio padece de inconstitucionalidade dispositivo de lei estadual por-quanto concessivo de benefiacutecio fiscal de ICMS sem antecedente deliberaccedilatildeo dos Esta-dos e do Distrito Federal caracterizando hipoacutetese tiacutepica de exoneraccedilatildeo conducente agrave guerra fiscal em desarmonia com a Constituiccedilatildeo Federal9

1 Lei 117432002 do Estado do Rio Grande do Sul ldquoAssegura prestaccedilatildeo de serviccedilo e possibilita in-centivo a empresas que financiarem bolsas de estudo aos professores que necessitam completar a formaccedilatildeo pedagoacutegica () Art 1ordm As empresas que patrocinarem bolsas de estudo para professores que ingressam em curso superior em atendimento ao disposto pelo sect 4ordm do art 87 da Lei n 9394 de 20 de dezembro de 1996 que dispotildee sobre as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional poderatildeo em contrapartida exigir dos beneficiaacuterios que lhes prestem serviccedilo para implementaccedilatildeo de projetos de alfabetizaccedilatildeo ou de aperfeiccediloamento de seus empregados bem como outras atividades compatiacuteveis com sua formaccedilatildeo profissional Art 2ordm Os serviccedilos a que se refere o art 1ordm seratildeo prestados apoacutes a conclusatildeo do curso por tempo proporcional ao periacuteodo em que vigorou a bolsa natildeo podendo ul-trapassar a 4 (quatro) anos nem obrigar o beneficiaacuterio a mais de 2 (duas) horas diaacuterias de trabalho Paraacutegrafo uacutenico Se a bolsa for concedida pela proacutepria Instituiccedilatildeo de Ensino Superior frequentada pelo beneficiaacuterio esta poderaacute exigir do mesmo a prestaccedilatildeo de serviccedilo durante a realizaccedilatildeo do cursordquo

117iacutendice de teses

2 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

3 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () IX ndash educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeordquo

4 Precedentes ADI 4060 rel min Luiz Fux P DJE de 4-5-2015 ADI 3669 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 29-6-2007 ADI 682 red p o ac min Joaquim Barbosa P DJE de 11-5-2007 e ADI 3098 rel min Carlos Velloso P DJE de 10-3-2006

5 Lei 117432002 do Estado do Rio Grande do Sul ldquoArt 3ordm Fica o Poder Executivo autorizado a conceder agrave empresa patrocinadora da bolsa prevista na presente lei mediante requerimento da interessada incentivo equivalente a 50 (cinquenta por cento) do valor da mesma a ser deduzido do Imposto sobre Operaccedilotildees Relativas agrave Circulaccedilatildeo de Mercadorias e sobre Prestaccedilotildees de Serviccedilos de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicaccedilatildeordquo

6 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Estados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () sect 6ordm Qualquer subsiacutedio ou isenccedilatildeo reduccedilatildeo de base de caacutelculo concessatildeo de creacutedito presumido anistia ou remissatildeo relativos a impostos taxas ou contribuiccedilotildees soacute poderaacute ser concedido mediante lei especiacutefica federal estadual ou municipal que regule exclusivamente as mateacuterias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuiccedilatildeo sem prejuiacutezo do disposto no art 155 sect 2ordm XII grdquo

7 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () XII ndash cabe agrave lei complementar () g) regular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

8 ldquoDispotildee sobre os convecircnios para a concessatildeo de isenccedilotildees do imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e daacute outras providecircnciasrdquo

9 Precedentes ADI 4481 rel min Roberto Barroso P DJE de 19-5-2015 ADI 4276 rel min Luiz Fux P DJE de 18-9-2014 ADI 2688 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 26-8-2011 e ADI 1247 MC rel min Celso de Mello P DJ de 8-9-1995

118iacutendice de teses

O Municiacutepio tem competecircncia para legislar sobre proteccedilatildeo do meio ambiente

e controle da poluiccedilatildeo quando se tratar de interesse local

Embora a mateacuteria relativa agrave proteccedilatildeo do meio ambiente e ao controle da poluiccedilatildeo seja de competecircncia legislativa concorrente entre Uniatildeo Estados e Distrito Federal (CF art 24 VI sectsect 1ordm a 3ordm1) aos Municiacutepios eacute atribuiacuteda a competecircncia para suple-mentar a legislaccedilatildeo federal e a estadual nos assuntos de interesse local nos termos do art 30 I e II da Constituiccedilatildeo Federal2

ldquoJoseacute Afonso da Silva opina no sentido de que lsquoaiacute certamente competiraacute aos Mu-niciacutepios legislar supletivamente sobre 1 proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico cultural artiacutestico turiacutestico e paisagiacutestico 2 responsabilidade por dano ao meio ambiente ao consumidor a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico e paisa-giacutestico local 3 educaccedilatildeo cultura ensino e sauacutede no que tange agrave prestaccedilatildeo desses serviccedilos no acircmbito local 4 direito urbaniacutestico local etcrsquordquo3

Assim eacute de interesse local a disciplina da poluiccedilatildeo do meio ambiente por veiacuteculos que trafegam no periacutemetro urbano expelindo fumaccedila e gases toacutexicos

Ademais cabe destacar que a competecircncia material ndash administrativa de atividades concretas ndash para a proteccedilatildeo do meio ambiente e o combate agrave poluiccedilatildeo em qualquer de suas formas eacute comum da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios (CF art 23 VI4)

Diante desse quadro como a atividade administrativa desenvolve-se sub legem ndash administrar eacute executar de ofiacutecio a lei ndash ao Municiacutepio devem ser dados os meios para a consecuccedilatildeo de seus fins

1 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () VI ndash florestas caccedila pesca fauna conservaccedilatildeo da natureza defesa do solo e dos recursos naturais proteccedilatildeo do meio ambiente e controle da poluiccedilatildeo () sect 1ordm No acircmbito da legislaccedilatildeo concorrente a competecircncia da Uniatildeo limitar-se-aacute a estabelecer normas gerais sect 2ordm A competecircncia da Uniatildeo para

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Municiacutepios Ȥ Competecircncia legislativa suplementar

RE 194704red p o ac min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 17-11-2017Informativo STF 870

119iacutendice de teses

legislar sobre normas gerais natildeo exclui a competecircncia suplementar dos Estados sect 3ordm Inexistindo lei federal sobre normas gerais os Estados exerceratildeo a competecircncia legislativa plena para atender a suas peculiaridadesrdquo

2 ldquoArt 30 Compete aos Municiacutepios I ndash legislar sobre assuntos de interesse local II ndash suplementar a legislaccedilatildeo federal e a estadual no que couberrdquo

3 VELLOSO Carlos Estado Federal e Estados Federados na Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 ndash o equi-liacutebrio federativo In Temas de direito puacuteblico 1 ed Belo Horizonte Del Rey 1997 p 401

4 ldquoArt 23 Eacute competecircncia comum da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios () VI ndash proteger o meio ambiente e combater a poluiccedilatildeo em qualquer de suas formasrdquo

120iacutendice de teses

Para os fins do art 1ordm I g da Lei Complementar 641 de 18 de maio de 1990

alterado pela Lei Complementar 135 de 4 de junho de 2010 a apreciaccedilatildeo das

contas de prefeitos tanto as de governo quanto as de gestatildeo seraacute exercida

pelas Cacircmaras Municipais com o auxiacutelio dos tribunais de contas competen-

tes cujo parecer preacutevio somente deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de 23

dos vereadores

O constituinte de 1988 optou por atribuir indistintamente o julgamento de todas as contas de responsabilidade dos prefeitos municipais aos vereadores em respeito agrave relaccedilatildeo de equiliacutebrio que deve existir entre os Poderes da Repuacuteblica (checks and balances) Tal encargo natildeo cabe aos teacutecnicos dos tribunais de contas que natildeo satildeo detentores de poder2 Satildeo os vereadores que representam o povo os cidadatildeos os muniacutecipes praticando atos em nome destes nos termos do art 1ordm paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF) o qual prevecirc que ldquotodo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenterdquo

A Cacircmara Municipal portanto eacute o oacutergatildeo que representa a soberania popular em particular o contribuinte e que tem toda a legitimidade para examinar as contas municipais nos termos do art 31 sect 3ordm da CF3

O controle externo eacute exercido pela Cacircmara Municipal com o auxiacutelio dos tribunais de contas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos conselhos ou tribunais de contas dos Municiacutepios onde houver (CF art 31 sect 1ordm4) O ldquoauxiacuteliordquo a que se refere o texto consti-tucional deve ser entendido como ajuda assistecircncia ou amparo fornecido pelo oacutergatildeo teacutecnico administrativo ao oacutergatildeo legislativo5

Cabe destacar que natildeo haacute propriamente um julgamento de contas pelo oacutergatildeo teacutec-nico O relevante papel dos tribunais de contas restringe-se apenas a produzir parecer preacutevio agrave decisatildeo do oacutergatildeo legislativo (CF art 31 sect 2ordm6)

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 de maneira direta revela que o oacutergatildeo competente para lavrar decisatildeo irrecorriacutevel a que faz referecircncia a Lei da Ficha Limpa eacute sem risco

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Municiacutepios Ȥ Fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio ndash Repercussatildeo Geral

RE 848826RG ‒ Tema 835red p o ac min Ricardo LewandowskiPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 834

121iacutendice de teses

de duacutevidas a Cacircmara Municipal porque a decisatildeo eacute do oacutergatildeo legislativo e natildeo do tribunal de contas Natildeo se pode interpretar a referida lei apartada do texto constitu-cional nem interpretar a Carta Magna agrave luz da Lei Complementar 641990 A com-petecircncia do oacutergatildeo legislativo para o julgamento natildeo eacute determinada pela natureza das contas se de gestatildeo ou de governo mas pelo cargo de quem as presta no caso o de prefeito municipal

O respeito agraves leis e agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica representa condiccedilatildeo indispensaacutevel ao regular exerciacutecio da funccedilatildeo fiscalizadora do Poder Legislativo natildeo podendo legi-timar-se a inelegibilidade de candidato ou exercente do cargo de prefeito municipal por ldquodecisatildeordquo de quem natildeo tem competecircncia para tanto

O juiz natural das contas do prefeito sempre seraacute a Cacircmara Municipal prestigian-do-se portanto a democracia a soberania popular a independecircncia e a autonomia do oacutergatildeo legislativo local O caraacuteter puramente poliacutetico das Cacircmaras Municipais eacute ame-nizado justamente pelo exame do parecer preacutevio das contas por parte dos tribunais de contas Haacute no caso balanccedilo prudente que foi elaborado pelo constituinte de 1988

1 ldquoArt 1ordm Satildeo inelegiacuteveis I ndash para qualquer cargo () g) os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeordquo

2 ldquoA funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo que surgira com o constitucionalismo e o Estado de Direito implantado com a Revoluccedilatildeo Francesa sempre constituiu tarefa baacutesica dos parlamentos e assembleias legislati-vas No sistema de separaccedilatildeo de poderes cabe ao oacutergatildeo legislativo criar as leis por isso eacute da loacutegica do sistema que a ele tambeacutem se impute a atribuiccedilatildeo de fiscalizar seu cumprimento pelo Executivo a que incumbe a funccedilatildeo de administraccedilatildeo Por outro lado no que tange ao aspecto especiacutefico que nos interessa aqui ndash o do controle da administraccedilatildeo financeira e orccedilamentaacuteria ndash reserva-se ao Le-gislativo o poder financeiro como uma de suas conquistas seculares pela qual firmara mesmo sua autonomia sendo portanto tambeacutem de palmar evidecircncia que a ele haacute de pertencer em uacuteltima anaacute-lise aquele controle denominado controle externo sem embargo de que se erija e se desenvolva na Administraccedilatildeo moderna eficiente sistema de autocontrole ndash o chamado controle interno ndash de que eacute titular cada um dos Poderes onde ele atua (art 70)rdquo (SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 17 ed Satildeo Paulo Malheiros 2000 p 723-724)

3 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei () sect 3ordm As contas dos Municiacutepios ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de

122iacutendice de teses

qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da leirdquo

4 ldquoArt 31 () sect 1ordm O controle externo da Cacircmara Municipal seraacute exercido com o auxiacutelio dos Tribu-nais de Contas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municiacute-pios onde houverrdquo

5 ADI 614 MC rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 18-5-2001

6 ldquoArt 31 () sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacirc-mara Municipalrdquo

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERESDIREITO CONSTITUCIONAL

124iacutendice de teses

A suspensatildeo do exerciacutecio do mandato de deputado federal pelo Supremo Tri-

bunal Federal (STF) em sede de decisatildeo cautelar penal natildeo gera direito agrave

suspensatildeo do processo de cassaccedilatildeo do mandato

Ningueacutem pode se beneficiar da proacutepria conduta reprovaacutevel1 Nessa linha a conti-nuidade do processo de cassaccedilatildeo de parlamentar afastado do mandato por decisatildeo cautelar tampouco viola o direito agrave ampla defesa ou um ldquodireito de obstruccedilatildeordquo Embora postergar o tracircmite do feito possa ser estrateacutegia favoraacutevel agrave defesa natildeo haacute direito subjetivo a dilaccedilotildees indevidas mas apenas ao devido processo legal

O STF somente deve intervir em procedimentos legislativos para assegurar o cumprimento da Constituiccedilatildeo Federal (CF) proteger direitos fundamentais e res-guardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das instituiccedilotildees repu-blicanas Exemplo tiacutepico na jurisprudecircncia eacute a preservaccedilatildeo dos direitos das minorias parlamentares No entanto em processos de cunho acentuadamente poliacutetico como eacute o caso da cassaccedilatildeo de mandato parlamentar o STF deve se pautar pela deferecircncia e pela autocontenccedilatildeo somente intervindo em casos excepcionaliacutessimos

Ademais o eventual impedimento do relator do processo no Conselho de Eacutetica por integrar o mesmo bloco parlamentar do impetrante natildeo eacute questatildeo que autori-ze intervenccedilatildeo do Judiciaacuterio pois natildeo tem natureza constitucional2 Por pressupor debate sobre o momento relevante para afericcedilatildeo da composiccedilatildeo dos blocos parla-mentares a mateacuteria controvertida cinge-se agrave interpretaccedilatildeo de dispositivos internos da Cacircmara dos Deputados3 Logo a questatildeo deve em princiacutepio ser resolvida pela proacutepria instacircncia legislativa4

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Legislativo Ȥ Deputados e senadores

MS 34327rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 838

125iacutendice de teses

Eacute liacutecita a adoccedilatildeo da votaccedilatildeo nominal em parecer do Conselho de Eacutetica da

Cacircmara dos Deputados

Essa eacute a forma que garante o maior niacutevel de transparecircncia e debate parlamentar tornando puacuteblicas eventuais justificativas de voto dos congressistas enquanto a vo-taccedilatildeo se desenvolve

Na atividade parlamentar a publicidade natildeo deve ser tratada como exceccedilatildeo a ser in-terpretada restritivamente Ao contraacuterio se a votaccedilatildeo nominal eacute prevista para hipoacuteteses graviacutessimas (autorizaccedilatildeo para instauraccedilatildeo de processo por crime comum ou de responsa-bilidade em face do presidente da Repuacuteblica do vice-presidente e dos ministros de Esta-do) nada obsta que a forma tambeacutem seja usada para processos de cassaccedilatildeo de mandato

Assim cabe deferecircncia para com a interpretaccedilatildeo regimental acolhida pela proacutepria Cacircmara dos Deputados quanto ao art 187 sect 4ordm de seu Regimento Interno (RICD)5

Por sua vez o painel eletrocircnico constitui forma de tornar mais aacutegil a votaccedilatildeo que antes ocorria apenas por chamada nominal Portanto natildeo se poderia alegar nulidade por se ter adotado a forma antiga de votaccedilatildeo em detrimento do sistema eletrocircnico Aleacutem disso apoacutes a instalaccedilatildeo dos paineacuteis eletrocircnicos nos plenaacuterios das comissotildees e do Conselho de Eacutetica a Cacircmara natildeo regulamentou as hipoacuteteses de utilizaccedilatildeo do novo sistema natildeo tendo sido especificados os casos em que deve ser observada uma ou outra forma de votaccedilatildeo Natildeo obstante ainda que aplicaacutevel a votaccedilatildeo eletrocircnica ao Conselho de Eacutetica o art 187 sect 4ordm do RICD natildeo aparenta proibir a votaccedilatildeo nominal fora das trecircs6 hipoacuteteses nele previstas

Por fim inexiste o denominado ldquoefeito manadardquo quando a mudanccedila no voto de um parlamentar refere-se a caacutelculo poliacutetico decorrente da constataccedilatildeo de que seu voto pela absolviccedilatildeo do impetrante natildeo mudaria o resultado final Isso aliaacutes demons-tra a ausecircncia de prejuiacutezo capaz de justificar a nulidade alegada

Natildeo acarreta duplicidade o cocircmputo dos membros suplentes para o quoacuterum

de instalaccedilatildeo da sessatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Cidadania

(CCJC)

O art 57 IX do RICD7 prevecirc que a suplecircncia nas comissotildees pertence aos partidos (ou aos blocos de partidos) natildeo estando vinculados propriamente aos titulares ausentes

Assim o quoacuterum de maioria absoluta para a instalaccedilatildeo da sessatildeo na CCJC leva em consideraccedilatildeo o registro no painel eletrocircnico do titular e do suplente que primeiro

126iacutendice de teses

marcou presenccedila dentro daquele partido ou bloco A premissa do argumento segun-do a qual haveria um suplente para cada titular portanto natildeo eacute verdadeira

Na mesma linha natildeo haacute violaccedilatildeo ao art 58 sect 1ordm da CF8 Esse dispositivo se refere agrave representaccedilatildeo proporcional dos partidos ou blocos na composiccedilatildeo das Mesas e de cada comissatildeo e natildeo ao quoacuterum de instalaccedilatildeo das sessotildees

1 O MS 25579 MC citado como precedente natildeo eacute aplicaacutevel agrave hipoacutetese Naquele julgamento o licencia-mento do mandato natildeo foi a razatildeo determinante do argumento pela impossibilidade de instauraccedilatildeo do processo de cassaccedilatildeo Tratou-se em verdade da responsabilizaccedilatildeo de parlamentar para exercer cargo de ministro-chefe da Casa Civil condiccedilatildeo na qual teria praticado os atos objeto de apuraccedilatildeo O STF entendeu que em princiacutepio por forccedila da separaccedilatildeo entre os Poderes natildeo poderia um deputado federal ser julgado pela Casa legislativa por atos por ele praticados como membro do Poder Executivo No entanto ao final a medida liminar foi indeferida validando-se a instauraccedilatildeo do processo de cas-saccedilatildeo do mandato jaacute que a infraccedilatildeo foi considerada como enquadrada no Coacutedigo de Eacutetica e Decoro Parlamentar da Cacircmara dos Deputados ao qual o entatildeo impetrante ainda permanecia vinculado

2 Precedente MS 33729 MC-AgR rel min Roberto Barroso P DJE de 4-2-2016

3 Coacutedigo de Eacutetica e Decoro Parlamentar da Cacircmara dos Deputados

4 Precedentes MS 24356 rel min Carlos Velloso P DJ de 12-9-2003 e MS 22503 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 6-6-1997

5 ldquoArt 187 A votaccedilatildeo nominal far-se-aacute pelo sistema eletrocircnico de votos obedecidas as instruccedilotildees estabelecidas pela Mesa para sua utilizaccedilatildeo () sect 4ordm Quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento e nas hipoacuteteses de que tratam os arts 217 IV e 218 sect 8ordm a votaccedilatildeo nominal seraacute feita pela chamada dos Deputados alternadamente do norte para o sul e vice-versa observando-se querdquo

6 As hipoacuteteses de votaccedilatildeo nominal previstas no RICD satildeo as seguintes a) quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento (art 187 sect 4ordm) b) votaccedilatildeo de parecer para autorizaccedilatildeo do presidente do Supremo Tribunal Federal para instauraccedilatildeo de processo nas infraccedilotildees penais co-muns contra o presidente e o vice-presidente da Repuacuteblica e os ministros de Estado (art 217 IV) c) votaccedilatildeo de parecer quanto ao recebimento de denuacutencia contra o presidente da Repuacuteblica o vice--presidente da Repuacuteblica ou ministro de Estado por crime de responsabilidade (art 218 sect 8ordm)

7 ldquoArt 57 No desenvolvimento dos seus trabalhos as Comissotildees observaratildeo as seguintes normas () IX-A Na votaccedilatildeo seratildeo colhidos primeiramente os votos dos membros titulares presentes e em seguida os dos suplentes dos partidos dos titulares ausentesrdquo

8 ldquoArt 58 O Congresso Nacional e suas Casas teratildeo comissotildees permanentes e temporaacuterias constituiacutedas na forma e com as atribuiccedilotildees previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criaccedilatildeo sect 1ordm Na constituiccedilatildeo das Mesas e de cada Comissatildeo eacute assegurada tanto quanto possiacutevel a representa-ccedilatildeo proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casardquo

127iacutendice de teses

A competecircncia das casas legislativas para decidir sobre a perda do mandato

de congressista condenado criminalmente (art 55 VI e sect 2ordm da Constituiccedilatildeo

Federal1) natildeo eacute absoluta

Quando a condenaccedilatildeo impotildee o cumprimento de pena em regime fechado e natildeo eacute viaacutevel o trabalho externo diante da impossibilidade de cumprimento da fraccedilatildeo miacutenima de 16 da pena para a obtenccedilatildeo do benefiacutecio durante o mandato e antes de consumada a ausecircncia do congressista a 13 das sessotildees ordinaacuterias da casa legislati-va da qual faccedila parte a hipoacutetese eacute de perda automaacutetica do mandato Dessa forma cabe agrave Mesa da casa legislativa declaraacute-la em conformidade com o art 55 III sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal2

ldquoNessa situaccedilatildeo verifica-se uma impossibilidade juriacutedica e fiacutesica para o exerciacutecio do mandato Juriacutedica porque uma das condiccedilotildees miacutenimas exigidas pela Constitui-ccedilatildeo para o exerciacutecio do mandato eacute o comparecimento agraves sessotildees da Casa (Consti-tuiccedilatildeo Federal arts 55 III3 e 56 II4) E fiacutesica porque ele simplesmente natildeo tem como estar presente ao local onde se realizam os trabalhos e sobretudo agraves sessotildees deliberativas da Casa Legislativa5rdquo

1 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () VI ndash que sofrer condenaccedilatildeo criminal em sentenccedila transitada em julgado () sect 2ordm Nos casos dos incisos I II e VI a perda do mandato seraacute decidida pela Cacircmara dos Deputados ou pelo Senado Federal por maioria absoluta mediante pro-vocaccedilatildeo da respectiva Mesa ou de partido poliacutetico representado no Congresso Nacional assegurada ampla defesardquo

2 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () III ndash que deixar de comparecer em cada sessatildeo legislativa agrave terccedila parte das sessotildees ordinaacuterias da Casa a que pertencer salvo licenccedila ou mis-satildeo por esta autorizada () sect 3ordm Nos casos previstos nos incisos III a V a perda seraacute declarada pela Mesa da Casa respectiva de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo de qualquer de seus membros ou de partido poliacutetico representado no Congresso Nacional assegurada ampla defesardquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Legislativo Ȥ Deputados e senadores

AP 694rel min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 31-8-2017Informativo STF 863

128iacutendice de teses

3 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador III ndash que deixar de comparecer em cada sessatildeo legislativa agrave terccedila parte das sessotildees ordinaacuterias da Casa a que pertencer salvo licenccedila ou missatildeo por esta autorizadardquo

4 ldquoArt 56 Natildeo perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () II ndash licenciado pela respectiva Casa por motivo de doenccedila ou para tratar sem remuneraccedilatildeo de interesse particular desde que neste caso o afastamento natildeo ultrapasse cento e vinte dias por sessatildeo legislativardquo

5 MS 32326 MC rel min Roberto Barroso decisatildeo monocraacutetica DJE de 21-3-2014

129iacutendice de teses

A ausecircncia de participaccedilatildeo de terceiros indiretamente afetados pelas deter-

minaccedilotildees do Tribunal de Contas da Uniatildeo em auditoria realizada para apurar

a gestatildeo administrativa de oacutergatildeo puacuteblico natildeo viola o direito ao contraditoacuterio

(CF art 5ordm LV1)

O contraditoacuterio pressupotildee a existecircncia de litigantes ou acusados Isso natildeo ocorre quando o Tribunal de Contas atua no campo da fiscalizaccedilatildeo de oacutergatildeos e entes ad-ministrativos

Nessa espeacutecie de atuaccedilatildeo administrativa a relaccedilatildeo processual envolve apenas o oacutergatildeo fiscalizador e o fiscalizado mostrando-se prescindiacutevel a participaccedilatildeo dos inte-ressados na manutenccedilatildeo do quadro juriacutedico objeto do controle

ldquoOs servidores teratildeo asseguradas as garantias constitucionais inerentes ao devido processo legal nos procedimentos administrativos eventualmente instaurados no oacuter-gatildeo de origem visando agrave adoccedilatildeo das providecircncias preconizadasrdquo2

Nesse contexto ldquoinviabilizaria a atuaccedilatildeo do Tribunal de Contas da Uniatildeo a con-clusatildeo de que em face de repercussotildees de auditoria seja necessaacuterio intimar para vir ao processo de controle qualquer um que pudesse ser alcanccedilado embora de forma indireta pelo pronunciamentordquo3

Uma vez envolvida fiscalizaccedilatildeo linear exercida pelo Tribunal de Contas pre-

sente o disposto no art 71 IV da Carta da Repuacuteblica4 inexiste campo para

evocar-se a decadecircncia prevista no art 54 da Lei 978419995

Em processos de controle abstrato natildeo haacute exame de ato especiacutefico do qual decorra efeito favoraacutevel ao administrado no que a repercussatildeo sobre eventual direito indi-vidual eacute apenas indireta

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

MS 34224rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 27-11-2017Informativo STF 873

130iacutendice de teses

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

2 MS 32876 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJE de 5-8-2014

3 MS 25198 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 26-8-2005 e MS 25206 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 2-9-2005

4 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tribu-nal de Contas da Uniatildeo ao qual compete () IV ndash realizar por iniciativa proacutepria da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal de Comissatildeo teacutecnica ou de inqueacuterito inspeccedilotildees e auditorias de na-tureza contaacutebil financeira orccedilamentaacuteria operacional e patrimonial nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo Executivo e Judiciaacuterio e demais entidades referidas no inciso IIrdquo

5 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

131iacutendice de teses

A prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) eacute

regulada integralmente pela Lei 987319991 seja em razatildeo da interpretaccedilatildeo

correta e da aplicaccedilatildeo direta desta lei seja por analogia

A Lei Orgacircnica do TCU (Lei 844319922) ao prever a competecircncia do oacutergatildeo de con-tas federal para aplicar multas pela praacutetica de infraccedilotildees submetidas agrave sua esfera de apuraccedilatildeo (art 583) deixou de estabelecer prazo para o exerciacutecio do poder punitivo

A ausecircncia de previsatildeo em lei especiacutefica entretanto natildeo significa hipoacutetese de imprescritibilidade Tendo em vista que a aplicaccedilatildeo de multas pelo TCU se insere no exerciacutecio da competecircncia sancionadora da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal4 o TCU subsome-se agrave prescriccedilatildeo quinquenal prevista na Lei 98731999 Esse fundamento decorre do caraacuteter geral dessa norma em mateacuteria de direito administrativo sancio-nador sendo sua disciplina aplicaacutevel a qualquer accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacute-blica Federal exceto agravequeles acircmbitos em que exista regulamentaccedilatildeo proacutepria como as infraccedilotildees de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributaacuteria (Lei 98731999 art 5ordm5)

Por um lado o art 1ordm da Lei 987319996 alude agrave accedilatildeo punitiva ldquono exerciacutecio do poder de poliacuteciardquo Por outro lado a atuaccedilatildeo do TCU natildeo se qualifica em sua acepccedilatildeo claacutessica como exerciacutecio do poder de poliacutecia ndash o qual se caracteriza apenas pela restri-ccedilatildeo da liberdade e da propriedade dos particulares em prol do interesse puacuteblico De fato na atividade de controle externo o TCU fiscaliza a proacutepria atuaccedilatildeo estatal em relaccedilatildeo a gestores de recursos puacuteblicos Natildeo obstante haacute algum tempo a doutrina tem conferido tratamento especiacutefico ao poder sancionador das entidades puacuteblicas diferenciando-o do poder de poliacutecia Distinguem-se assim as limitaccedilotildees impostas com base no poder administrativo de poliacutecia ndash o qual possui caraacuteter de proteccedilatildeo pre-ventiva de interesses puacuteblicos ndash das puniccedilotildees decorrentes do exerciacutecio de autecircntico poder administrativo sancionador este sim de caraacuteter repressivo Eacute dizer o poder de poliacutecia nesse sentido estrito natildeo inclui a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees atividade submetida

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

MS 32201rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 7-8-2017Informativo STF 858

132iacutendice de teses

consoante compreensatildeo mais recente ao regramento juriacutedico proacuteprio e especiacutefico do chamado direito administrativo sancionador

Portanto a rigor a Lei 98731999 regula a accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacute-blica no exerciacutecio do poder administrativo sancionador e natildeo no exerciacutecio do poder de poliacutecia o qual abarca medidas preventivas de proteccedilatildeo de interesses puacuteblicos mas natildeo a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees

Ademais ainda que a referida norma natildeo fosse integralmente aplicaacutevel agrave accedilatildeo pu-nitiva do TCU representa a regulamentaccedilatildeo mais adequada a ser aplicada por ana-logia Afinal o Direito Administrativo tem autonomia cientiacutefica motivo pelo qual natildeo haacute nenhuma razatildeo plausiacutevel pela qual se deva suprir a alegada omissatildeo com recurso agraves normas de Direito Civil e natildeo agraves de Direito Administrativo Assim agrave falta de norma regulamentadora o prazo prescricional referencial em mateacuteria de Direito Administrativo deve ser de cinco anos em harmonia inclusive com amplo conjunto de normas que adota o mesmo paracircmetro7

A razatildeo de ser da Lei 98731999 eacute impedir que as pessoas submetidas ao poder de poliacutecia fiquem eternamente sujeitas agrave possibilidade de aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees ad-ministrativas No caso concreto examina-se a aplicaccedilatildeo de multa pelo TCU agravequeles submetidos agrave sua fiscalizaccedilatildeo Tambeacutem em relaccedilatildeo a estas pessoas o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica impotildee a extinccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em razatildeo do decurso do tempo Como jaacute reconhecido pela doutrina a alegaccedilatildeo de suposta ldquorelaccedilatildeo de sujei-ccedilatildeo especialrdquo com a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo pode servir de subterfuacutegio retoacuterico para a violaccedilatildeo de direitos fundamentais

Estabelece o art 1ordm da Lei 98731999 que o prazo prescricional se inicia ldquoda data da praacutetica do ato ou no caso de infraccedilatildeo permanente ou continuada do dia em que tiver cessadordquo Em caso de conduta de natureza omissiva a infraccedilatildeo deve ser tida como permanente Assim o termo inicial da prescriccedilatildeo se inicia quando cessado o ato por exemplo com a exoneraccedilatildeo do impetrante do cargo

1 ldquoEstabelece prazo de prescriccedilatildeo para o exerciacutecio de accedilatildeo punitiva pela Administraccedilatildeo Puacuteblica Fe-deral direta e indireta e daacute outras providecircnciasrdquo

2 ldquoDispotildee sobre a Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo e daacute outras providecircnciasrdquo

3 ldquoArt 58 O Tribunal poderaacute aplicar multa de Cr$ 4200000000 (quarenta e dois milhotildees de cru-zeiros) ou valor equivalente em outra moeda que venha a ser adotada como moeda nacional aos responsaacuteveis por I ndash contas julgadas irregulares de que natildeo resulte deacutebito nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 19 desta Lei II ndash ato praticado com grave infraccedilatildeo agrave norma legal ou regulamentar de

133iacutendice de teses

natureza contaacutebil financeira orccedilamentaacuteria operacional e patrimonial III ndash ato de gestatildeo ilegiacutetimo ou antieconocircmico de que resulte injustificado dano ao Eraacuterio IV ndash natildeo atendimento no prazo fixado sem causa justificada a diligecircncia do Relator ou a decisatildeo do Tribunal V ndash obstruccedilatildeo ao livre exerciacutecio das inspeccedilotildees e auditorias determinadas VI ndash sonegaccedilatildeo de processo documento ou informaccedilatildeo em inspeccedilotildees ou auditorias realizadas pelo Tribunal VII ndash reincidecircncia no descum-primento de determinaccedilatildeo do Tribunal sect 1ordm Ficaraacute sujeito agrave multa prevista no caput deste artigo aquele que deixar de dar cumprimento agrave decisatildeo do Tribunal salvo motivo justificado sect 2ordm O valor estabelecido no caput deste artigo seraacute atualizado periodicamente por portaria da Presidecircncia do Tribunal com base na variaccedilatildeo acumulada no periacuteodo pelo iacutendice utilizado para atualizaccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios da Uniatildeo sect 3ordm O Regimento Interno disporaacute sobre a gradaccedilatildeo da multa prevista no caput deste artigo em funccedilatildeo da gravidade da infraccedilatildeordquo

4 Precedente RE 190985 rel min Neacuteri da Silveira P DJ de 24-8-2001

5 ldquoArt 5ordm O disposto nesta Lei natildeo se aplica agraves infraccedilotildees de natureza funcional e aos processos e pro-cedimentos de natureza tributaacuteriardquo

6 ldquoArt 1ordm Prescreve em cinco anos a accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal direta e indi-reta no exerciacutecio do poder de poliacutecia objetivando apurar infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo em vigor contados da data da praacutetica do ato ou no caso de infraccedilatildeo permanente ou continuada do dia em que tiver cessado sect 1ordm Incide a prescriccedilatildeo no procedimento administrativo paralisado por mais de trecircs anos pendente de julgamento ou despacho cujos autos seratildeo arquivados de ofiacutecio ou mediante reque-rimento da parte interessada sem prejuiacutezo da apuraccedilatildeo da responsabilidade funcional decorrente da paralisaccedilatildeo se for o caso sect 2ordm Quando o fato objeto da accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo tambeacutem constituir crime a prescriccedilatildeo reger-se-aacute pelo prazo previsto na lei penal Art 1ordm-A Constituiacutedo defi-nitivamente o creacutedito natildeo tributaacuterio apoacutes o teacutermino regular do processo administrativo prescreve em 5 (cinco) anos a accedilatildeo de execuccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica federal relativa a creacutedito decorrente da aplicaccedilatildeo de multa por infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo em vigorrdquo

7 Decreto 209101932 art 1ordm CTN arts 168 173 e 174 Lei 68381980 art 1ordm Lei 81121990 (Regime Juriacutedico dos Servidores Puacuteblicos Civis Federais) art 142 I Lei 84291992 art 23 Lei 89061994 (Estatuto da OAB) art 43 Lei 97831999 Lei 125292011 (Lei Antitruste) art 46 Lei 128462013 (Lei Anticorrupccedilatildeo) art 25 entre outros

134iacutendice de teses

Configura usurpaccedilatildeo de atribuiccedilatildeo tiacutepica do Tribunal de Contas preconiza-

da no art 71 II da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica1 atribuir agrave respectiva Assem-

bleia Legislativa competecircncia para julgar as contas do Poder Legislativo

ldquoOs Estados-membros estatildeo sujeitos em mateacuteria de organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e atribuiccedilotildees fiscalizadoras dos seus Tribunais de Contas ao modelo juriacutedico esta-belecido pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Essa subordinaccedilatildeo normativa ao padratildeo federal deriva de claacuteusula expliacutecita consubstanciada no art 75 caput da Carta Po-liacutetica que assim dispotildee verbis lsquoAs normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados ()rsquo O Supremo Tribunal Federal tendo presente essa realidade juriacutedico--normativa jaacute proclamou na anaacutelise das funccedilotildees institucionais cometidas a esse importante oacutergatildeo estatal de controle externo que lsquo() O regramento dos Tribunais de Contas estaduais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 ndash inobstante a existecircncia de domiacutenio residual para sua autocircnoma formulaccedilatildeo ndash eacute mateacuteria cujo relevo decorre da nova fisionomia assumida pela Federaccedilatildeo brasileira e tambeacutem do necessaacuterio confronto dessa mesma realidade juriacutedico-institucional com a jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal que construiacuteda ao longo do regime constitucional pre-cedente proclamava a inteira submissatildeo dos Estados-membros no delineamento do seu sistema de controle externo ao modelo juriacutedico plasmado na Carta da Re-puacuteblicarsquo ()rdquo2

Logo eacute inconstitucional o art 47 V da Constituiccedilatildeo de Sergipe o qual afastava a competecircncia do Tribunal de Contas estadual para julgar com forccedila vinculante as contas dos integrantes de oacutergatildeos legislativos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

ADI 3077rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

135iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a norma de Constituiccedilatildeo estadual que dispensa apresenta-

ccedilatildeo de parecer preacutevio sobre as contas de chefe do Poder Executivo municipal

a ser emitido pelo respectivo Tribunal de Contas estadual

A norma local natildeo pode excepcionar o que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo excep-cionou indo de encontro ao princiacutepio da simetria expressamente previsto em seu art 753 no concernente agraves competecircncias preciacutepuas dos tribunais de contas estaduais4

ldquoO parecer preacutevio que o prefeito tem que prestar anualmente agrave Cacircmara Munici-pal referido no sect 2ordm emitido pelo oacutergatildeo de contas competente segundo se viu nos comentaacuterios supra natildeo tem apenas o valor de uma opiniatildeo que pode ser aceita ou natildeo Natildeo eacute pois um parecer no sentido teacutecnico de opiniatildeo abalizada mas natildeo impo-sitiva Ao contraacuterio ele vale e tem a eficaacutecia de uma decisatildeo impositiva Sua eficaacutecia pode poreacutem ser desfeita se dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal votarem contra ele Soacute assim natildeo prevaleceraacuterdquo5

Diante disso eacute inconstitucional a expressatildeo ldquodecorrido o tempo previsto sem ofereci-mento do parecer seratildeo os autos remetidos no prazo de cinco dias agraves respectivas Cacircma-ras Municipaisrdquo contida na parte final do inciso XII do art 68 da Constituiccedilatildeo de Sergipe

Eacute permitida apenas uma reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila6

A reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila deve observar o paracircmetro definido no art 128 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica7

Logo por meio da interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica a expres-satildeo ldquopermitida a reconduccedilatildeordquo constante do sect 1ordm do art 116 da Constituiccedilatildeo de Sergi-pe deve ser entendida como ldquopermitida uma reconduccedilatildeordquo

A escolha do superintendente da Poliacutecia Civil pelo governador do Estado

circunscreve-se a delegados ou delegadas de poliacutecia da carreira independen-

temente do estaacutegio de sua progressatildeo funcional

Haacute exigecircncia de simetria entre os criteacuterios da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica e das Cons-tituiccedilotildees estaduais para a nomeaccedilatildeo de chefes da Poliacutecia Civil8

Nesse sentido foi dada interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 144 sect 4ordm9) ao sect 1ordm do art 116 da Constituiccedilatildeo de Sergipe o qual circunscrevia o exerciacutecio da superintendecircncia da Poliacutecia Civil aos delegados ou delegadas em final de carreira

136iacutendice de teses

1 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tribu-nal de Contas da Uniatildeo ao qual compete I ndash apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presiden-te da Repuacuteblica mediante parecer preacutevio que deveraacute ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento II ndash julgar as contas dos administradores e demais responsaacuteveis por dinheiros bens e valores puacuteblicos da administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico federal e as contas daqueles que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao eraacuterio puacuteblicordquo

2 Trecho do voto do ministro Celso de Mello no julgamento da ADI 849 MC rel min Celso de Mello P DJ de 8-4-1994

3 ldquoArt 75 As normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municiacutepios Paraacutegrafo uacutenico As Constituiccedilotildees estaduais disporatildeo sobre os Tribunais de Contas respectivos que seratildeo integrados por sete Conselheirosrdquo

4 ADI 849 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 23-4-1999 e ADI 261 rel min Gilmar Mendes P DJ de 28-2-2003

5 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio contextual agrave Constituiccedilatildeo 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 317

6 ADI 2622 red p o ac min Cezar Peluso P DJE de 16-2-2012

7 ldquoArt 128 O Ministeacuterio Puacuteblico abrange () sect 3ordm Os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territoacuterios formaratildeo lista triacuteplice dentre integrantes da carreira na forma da lei respecti-va para escolha de seu Procurador-Geral que seraacute nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para mandato de dois anos permitida uma reconduccedilatildeordquo

8 ADI 3038 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 12-2-2015

9 ldquoArt 144 A seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguintes oacutergatildeos () sect 4ordm Agraves poliacutecias civis dirigidas por delegados de poliacutecia de carreira incumbem ressalvada a competecircncia da Uniatildeo as funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais exceto as militaresrdquo

137iacutendice de teses

O parecer teacutecnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza mera-

mente opinativa competindo exclusivamente agrave Cacircmara de Vereadores o

julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local sendo inca-

biacutevel o julgamento ficto das contas por decurso de prazo

A expressatildeo ldquosoacute deixaraacute de prevalecerrdquo constante do art 31 sect 2ordm da Constituiccedilatildeo Fe-deral (CF)1 deve ser interpretada de forma sistecircmica de modo a se referir agrave necessida-de de quoacuterum qualificado para rejeiccedilatildeo do parecer emitido pelo Tribunal de Contas

A Constituiccedilatildeo Federal eacute clara ao determinar em seu art 752 que as normas cons-titucionais que conformam o modelo de organizaccedilatildeo do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) satildeo de observacircncia compulsoacuteria pelas Constituiccedilotildees dos Estados-membros3 No acircmbito das competecircncias institucionais do TCU haacute clara distinccedilatildeo entre (i) a com-petecircncia para apreciar e emitir parecer preacutevio sobre contas prestadas anualmente pelo chefe do Poder Executivo especificada no art 71 I da CF4 e (ii) a competecircncia para julgar as contas dos demais administradores e responsaacuteveis entre eles os dos oacutergatildeos dos Poderes Legislativo e Judiciaacuterio definida no art 71 II da CF5

Nesses termos cabe ao Tribunal de Contas apenas apreciar mediante parecer preacute-vio sem conteuacutedo deliberativo as contas prestadas pelo chefe do Poder Executivo A competecircncia para julgar essas contas fica a cargo do Congresso Nacional ndash por forccedila do art 49 IX da CF6 ndash cuja apreciaccedilatildeo natildeo se vincula ao parecer do Tribunal de Contas O poder constituinte originaacuterio conferiu o julgamento das contas do ad-ministrador puacuteblico ao Poder Legislativo pois tal decisatildeo comporta em si natureza poliacutetica e natildeo apenas teacutecnica ou contaacutebil jaacute que objetiva analisar aleacutem das exigecircncias legais para aplicaccedilatildeo de despesas se a atuaccedilatildeo do chefe do Poder Executivo atendeu ou natildeo aos anseios e necessidades da populaccedilatildeo respectiva

No acircmbito municipal o controle externo das contas do prefeito tambeacutem constitui uma das prerrogativas institucionais da Cacircmara dos Vereadores que o exerceraacute com

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas ndash Repercussatildeo Geral

RE 729744RG ‒ Tema 157rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 835

138iacutendice de teses

o auxiacutelio dos tribunais de contas do Estado ou do Municiacutepio onde houver nos ter-mos do art 31 da CF7 e 8

Por seu turno o entendimento de que o parecer conclusivo produziria efeitos ime-diatos que se tornariam permanentes no caso do silecircncio da casa legislativa ofende a regra do art 71 I da CF Essa previsatildeo dispotildee que na anaacutelise das contas do chefe do Poder Executivo os tribunais de contas emitem parecer preacutevio consubstanciado em pronunciamento teacutecnico sem conteuacutedo deliberativo com o fim de subsidiar as atribuiccedilotildees fiscalizadoras do Poder Legislativo que natildeo estaacute obrigado a se vincular agrave manifestaccedilatildeo opinativa daquele oacutergatildeo auxiliar Tal entendimento teria ainda o con-datildeo de transformar a natureza precaacuteria do parecer passiacutevel de aprovaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo em decisatildeo definitiva

O ordenamento juriacutedico paacutetrio natildeo admite o julgamento ficto de contas por de-curso de prazo sob pena de assim se entendendo permitir-se agrave Cacircmara Municipal delegar ao Tribunal de Contas que eacute oacutergatildeo auxiliar competecircncia constitucional que lhe eacute proacutepria aleacutem de se criar sanccedilatildeo ao decurso de prazo inexistente na Constituiccedilatildeo

Do mesmo modo natildeo se conformam com o texto constitucional previsotildees nor-mativas que considerem recomendadas as contas do Municiacutepio nos casos em que o parecer teacutecnico natildeo seja emitido no prazo legal permitindo agraves cacircmaras municipais seu julgamento independentemente do parecer do Tribunal de Contas9

Por fim eacute importante ressaltar que no julgamento das contas anuais do prefeito natildeo haacute julgamento do proacuteprio prefeito mas deliberaccedilatildeo sobre a exatidatildeo da execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria do Municiacutepio A rejeiccedilatildeo das contas tem o condatildeo de gerar como con-sequecircncia a caracterizaccedilatildeo da inelegibilidade do prefeito nos termos do art 1ordm I g da Lei Complementar 64199010 Natildeo se poderia admitir dentro desse sistema que o parecer opinativo do Tribunal de Contas tivesse o condatildeo de gerar tais consequecircncias ao chefe de poder local

Entretanto no caso de a Cacircmara Municipal aprovar as contas do prefeito o que se afasta eacute apenas sua inelegibilidade Os fatos apurados no processo poliacutetico-adminis-trativo poderatildeo dar ensejo agrave sua responsabilizaccedilatildeo civil criminal ou administrativa

1 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei () sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal sect 3ordm As contas do Municiacutepio ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de

139iacutendice de teses

qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei sect 4ordm Eacute vedada a criaccedilatildeo de Tribunais Conselhos ou oacutergatildeos de Contas Municipaisrdquo

2 ldquoArt 75 As normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municiacutepiosrdquo

3 ADI 849 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 24-2-1999 e ADI 3715 rel min Gilmar Mendes P DJE de 30-10-2014

4 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com auxiacutelio do Tribunal de Contas da Uniatildeo ao qual compete I ndash apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Repuacuteblica mediante parecer preacutevio que deveraacute ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimentordquo

5 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tri-bunal de Contas da Uniatildeo ao qual compete () II ndash julgar as contas dos administradores e demais responsaacuteveis por dinheiros bens e valores puacuteblicos da administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico federal e as contas daqueles que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao eraacuterio puacuteblicordquo

6 ldquoArt 49 Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional () IX ndash julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e apreciar os relatoacuterios sobre a execuccedilatildeo dos planos de go-vernordquo

7 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei sect 1ordm O controle externo da Cacircmara Municipal seraacute exercido com o auxiacutelio dos Tribunais de Con-tas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municiacutepios onde houver sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal sect 3ordm As contas do Municiacutepio ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei sect 4ordm Eacute vedada a criaccedilatildeo de Tribunais Conselhos ou oacutergatildeos de Contas Municipaisrdquo

8 Getuacutelio Seacutergio do Amaral sistematiza a forma de controle externo das contas do prefeito prevista no art 31 da Constituiccedilatildeo da seguinte maneira ldquoPrimeiramente o controle externo eacute efetuado pela proacutepria populaccedilatildeo mediante o exame direto das contas que ficam durante sessenta dias agrave disposiccedilatildeo de qualquer contribuinte para o seu exame e apreciaccedilatildeo podendo ser questionada a sua legitimidade tanto administrativa como judicialmente neste uacuteltimo pela accedilatildeo popular o outro niacutevel de controle eacute realizado pelo Tribunal de Contas do Estado mediante a emissatildeo de parecer preacutevio que poderaacute considerar as contas regulares parcialmente regulares ou irregulares e por uacuteltimo exsurge atraveacutes do julgamento das contas municipais realizado pela Cacircmara local que poderaacute acatar o parecer preacutevio emitido pelo Tribunal de Contas do Estado que soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipalrdquo (AMARAL Getuacutelio Seacutergio do Direito agrave defesa do prefeito nos julgamentos das contas municipais aplicabilidade do devido processo legal e da ampla defesa aos julgamentos das contas do administrador municipal pela Cacircmara Municipal doutrina jurisprudecircncia e legislaccedilatildeo Belo Horizonte Ineacutedita 2000 p 22)

140iacutendice de teses

9 ADI 215 MC rel min Celso de Mello P DJ de 3-8-1990

10 ldquoArt 1ordm Satildeo inelegiacuteveis I ndash para qualquer cargo () g) os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeordquo

141iacutendice de teses

Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

(MPTCU) natildeo possuem legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento de

reclamaccedilatildeo no Supremo Tribunal Federal

A atuaccedilatildeo dos agentes do Parquet especial natildeo obstante o alto relevo de suas atribui-ccedilotildees limita-se unicamente ao acircmbito dos proacuteprios Tribunais de Contas perante os quais oficiam

Nos termos do art 128 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 o MPTCU ldquo() natildeo com-potildee a estrutura do Ministeacuterio Puacuteblico comum da Uniatildeo e dos Estados sendo ape-nas atribuiacutedas aos membros daquele as mesmas prerrogativas funcionais deste (CF art 1302)rdquo3

Nesse sentido cabe destacar que ldquoa claacuteusula de garantia inscrita no art 130 da CF1988 eacute de ordem subjetiva e portanto refere-se a direitos vedaccedilotildees e forma de investidura no cargo dos membros do Ministeacuterio Puacuteblico junto agraves Cortes de Contas natildeo constituindo regra de ampliaccedilatildeo da atribuiccedilatildeo institucional do Parquet especialrdquo4

Diante disso ldquoas atribuiccedilotildees do Ministeacuterio Puacuteblico comum entre as quais se inclui sua legitimidade processual extraordinaacuteria e autocircnoma natildeo se estendem ao Ministeacute-rio Puacuteblico junto aos Tribunais de Contasrdquo5

1 ldquoArt 128 O Ministeacuterio Puacuteblico abrange I ndash o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo que compreende a) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal b) o Ministeacuterio Puacuteblico do Trabalho c) o Ministeacuterio Puacuteblico Militar d) o Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e Territoacuterios II ndash os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados sect 1ordm O Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica dentre integrantes da carreira maiores de trinta e cinco anos apoacutes a aprovaccedilatildeo de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal para mandato de dois anos permitida a reconduccedilatildeo sect 2ordm A destituiccedilatildeo do Procurador-Geral da Repuacuteblica por iniciativa do Presidente da Repuacuteblica deveraacute ser precedida de autorizaccedilatildeo da maioria absoluta do Senado Federal sect 3ordm Os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territoacuterios formaratildeo lista triacuteplice dentre integrantes da carreira na forma da lei respectiva para escolha de seu Procurador-Geral que seraacute nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para mandato de dois

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

Rcl 24156 AgRRcl 24158 AgRrel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 20-11-2017Informativo STF 883

142iacutendice de teses

anos permitida uma reconduccedilatildeo sect 4ordm Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territoacuterios poderatildeo ser destituiacutedos por deliberaccedilatildeo da maioria absoluta do Poder Legislativo na forma da lei complementar respectiva sect 5ordm Leis complementares da Uniatildeo e dos Estados cuja ini-ciativa eacute facultada aos respectivos Procuradores-Gerais estabeleceratildeo a organizaccedilatildeo as atribuiccedilotildees e o estatuto de cada Ministeacuterio Puacuteblico observadas relativamente a seus membros I ndash as seguintes garantias a) vitaliciedade apoacutes dois anos de exerciacutecio natildeo podendo perder o cargo senatildeo por sentenccedila judicial transitada em julgado b) inamovibilidade salvo por motivo de interesse puacuteblico mediante decisatildeo do oacutergatildeo colegiado competente do Ministeacuterio Puacuteblico pelo voto da maioria absoluta de seus membros assegurada ampla defesa c) irredutibilidade de subsiacutedio fixado na for-ma do art 39 sect 4ordm e ressalvado o disposto nos arts 37 X e XI 150 II 153 III 153 sect 2ordm I II ndash as seguintes vedaccedilotildees a) receber a qualquer tiacutetulo e sob qualquer pretexto honoraacuterios percentagens ou custas processuais b) exercer a advocacia c) participar de sociedade comercial na forma da lei d) exercer ainda que em disponibilidade qualquer outra funccedilatildeo puacuteblica salvo uma de magisteacuterio e) exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria f ) receber a qualquer tiacutetulo ou pretexto auxiacutelios ou contri-buiccedilotildees de pessoas fiacutesicas entidades puacuteblicas ou privadas ressalvadas as exceccedilotildees previstas em lei sect 6ordm Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 95 paraacutegrafo uacutenico Vrdquo

2 ldquoArt 130 Aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposi-ccedilotildees desta seccedilatildeo pertinentes a direitos vedaccedilotildees e forma de investidurardquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no Rcl 24161 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 9-12-2016

4 Trecho do voto do ministro Dias Toffoli no Rcl 24162 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 7-12-2016

5 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no Rcl 24161 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 9-12-2016

143iacutendice de teses

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de

Contas estadual com a atribuiccedilatildeo de assegurar em juiacutezo a autonomia e a

independecircncia da Corte de Contas bem como de exercer as funccedilotildees de con-

sultoria e assessoramento juriacutedico internos1

Em certas situaccedilotildees determinado Poder necessita estar em juiacutezo praticando por si mesmo e validamente uma seacuterie de atos processuais na defesa de interesses pecu-liares que assegurem sua autonomia ou independecircncia frente aos demais Poderes

Nessa medida eacute reconhecida a possibilidade da criaccedilatildeo de carreiras especiais para a representaccedilatildeo judicial de assembleias legislativas e tribunais de contas natildeo havendo ofensa ao disposto no art 132 da Constituiccedilatildeo Federal2

A procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de Contas estadual natildeo possui

legitimidade ativa para a cobranccedila em juiacutezo de multas aplicadas pela Corte

de Contas3

As decisotildees das cortes de contas que impotildeem condenaccedilatildeo patrimonial tecircm eficaacutecia de tiacutetulo executivo Natildeo podem contudo ser executadas por iniciativa do proacuteprio Tribunal de Contas ante a ausecircncia de titularidade legitimidade e interesse ime-diato e concreto4

A accedilatildeo de cobranccedila somente pode ser proposta pelo ente puacuteblico beneficiaacuterio da condenaccedilatildeo imposta por intermeacutedio de seus proacuteprios procuradores os quais atuaratildeo junto ao oacutergatildeo jurisdicional competente

1 Precedentes ADI 1557 rel min Ellen Gracie P DJ de 18-6-2004 e ADI 94 rel min Gilmar Men-des P DJE de 16-12-2011

2 ldquoArt 132 Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal organizados em carreira na qual o ingresso dependeraacute de concurso puacuteblico de provas e tiacutetulos com a participaccedilatildeo da Ordem dos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Procuradoria especial dos Tribunais de Contas

ADI 4070rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

144iacutendice de teses

Advogados do Brasil em todas as suas fases exerceratildeo a representaccedilatildeo judicial e a consultoria juriacute-dica das respectivas unidades federadas Paraacutegrafo uacutenico Aos procuradores referidos neste artigo eacute assegurada estabilidade apoacutes trecircs anos de efetivo exerciacutecio mediante avaliaccedilatildeo de desempenho perante os oacutergatildeos proacuteprios apoacutes relatoacuterio circunstanciado das corregedoriasrdquo

3 Precedentes RE 223037 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 2-8-2002 AI 818789 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 11-4-2011 RE 525663 AgR rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 13-10-2011 AI 826676 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 24-2-2011 e RE 510034 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 15-8-2008

4 RE 223037 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 2-8-2002

145iacutendice de teses

O sect 4ordm do art 187 do Regimento Interno da Cacircmara dos Deputados (RICD)1 eacute

compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF)

A CF natildeo estabelece criteacuterio a ser adotado na colheita dos votos nas votaccedilotildees nomi-nais na Cacircmara dos Deputados que possa ter sido afrontado pelo art 187 sect 4ordm do RICD o qual estabelece a aplicaccedilatildeo de modelo de votaccedilatildeo alternada do norte para o sul quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento Tendo em vista que natildeo se trata de mateacuteria prevista no texto constitucional inexis-te incompatibilidade entre a norma regimental com qualquer preceito constitucio-nal por absoluta ausecircncia de contraste possiacutevel

Em uacuteltima anaacutelise carece de articulaccedilatildeo miacutenima a alegaccedilatildeo de que a votaccedilatildeo po-deria gerar ldquoefeito cascatardquo de modo que os primeiros votos pudessem influenciar os uacuteltimos o que comprometeria a imparcialidade do julgamento violando os prin-ciacutepios do devido processo legal da moralidade da impessoalidade e da Repuacuteblica Afinal qualquer votaccedilatildeo nominal ndash e portanto natildeo simultacircnea ndash seja ela feita por qualquer criteacuterio jamais eliminaraacute esse possiacutevel efeito pois eacute a ela inerente

Interferecircncias reciacuteprocas nas manifestaccedilotildees dos julgadores satildeo inevitaacuteveis em qual-quer ordem de votaccedilatildeo nominal independentemente do criteacuterio de sequenciamento adotado natildeo sendo possiacutevel presumir a ilegitimidade da deliberaccedilatildeo do colegiado parlamentar por mera alegaccedilatildeo de direcionamento em um ou outro sentido A in-constitucionalidade portanto residiria em tese na proacutepria votaccedilatildeo nominal A provi-decircncia para afastar o ldquoefeito cascatardquo natildeo eacute alterar a forma de colher os votos porque ao fim e ao cabo sempre haveraacute um voto inicial e um voto final mas sim eliminar esse proacuteprio tipo de votaccedilatildeo

Por fim natildeo se pode exigir isenccedilatildeo e imparcialidade dos membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal Na realidade o impeachment eacute questatildeo poliacutetica que haveria de ser resolvida com criteacuterios poliacuteticos A garantia da imparcialidade estaacute no alto quoacuterum exigido para a votaccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Executivo Ȥ Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

ADI 5498 MCred p o ac min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 11-5-2017Informativo STF 821

146iacutendice de teses

Ademais a mera invocaccedilatildeo geneacuterica de transgressatildeo a um postulado constitucio-nal natildeo eacute suficiente para legitimar o ajuizamento de accedilatildeo direta Para tanto eacute preciso natildeo apenas indicar os valores os princiacutepios mas tambeacutem demonstrar as alegaccedilotildees de inconstitucionalidade do dispositivo do regimento interno e estabelecer as razotildees juriacutedicas que pudessem legitimar a pretendida ocorrecircncia de violaccedilatildeo agraves normas in-vocadas no processo de controle objetivo de constitucionalidade

1 ldquoArt 187 A votaccedilatildeo nominal far-se-aacute pelo sistema eletrocircnico de votos obedecidas as instruccedilotildees estabelecidas pela Mesa para sua utilizaccedilatildeo () sect 4ordm Quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento e nas hipoacuteteses de que tratam os arts 217 IV e 218 sect 8ordm a votaccedilatildeo nominal seraacute feita pela chamada dos Deputados alternadamente do norte para o sul e vice-versa observando-se que I ndash os nomes seratildeo enunciados em voz alta por um dos Secretaacuterios II ndash os De-putados levantando-se de suas cadeiras responderatildeo sim ou natildeo conforme aprovem ou rejeitem a mateacuteria em votaccedilatildeo III ndash as abstenccedilotildees seratildeo tambeacutem anotadas pelo Secretaacuteriordquo

147iacutendice de teses

Eacute vedado agraves unidades federativas instituir normas que condicionem a ins-

tauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra o governador por crime comum agrave preacutevia au-

torizaccedilatildeo da casa legislativa cabendo ao Superior Tribunal de Justiccedila (STJ)

dispor fundamentadamente sobre a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares penais

inclusive afastamento do cargo1

Ao instituir a exigecircncia de licenccedila preacutevia como condiccedilatildeo de procedibilidade para a instauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra governadores (voto de 23 do Poder Legislativo estadual) a Constituiccedilatildeo do Estado viola o princiacutepio fundamental da separaccedilatildeo de poderes ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 2ordm2

O poder constituinte estadual fora as situaccedilotildees expressamente previstas na Cons-tituiccedilatildeo Federal natildeo pode alterar a competecircncia e o desempenho das funccedilotildees mate-rialmente tiacutepicas do Poder Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico Subordinar a atuaccedilatildeo de juiacutezes e tribunais a uma preacutevia manifestaccedilatildeo de outro Poder fora dos casos de previsatildeo expressa na Constituiccedilatildeo Federal tolhe competecircncia material tiacutepica do Poder Judiciaacuterio

Aleacutem disso infringe a competecircncia legislativa da Uniatildeo Federal que em conso-nacircncia com os arts 22 I3 e 85 paraacutegrafo uacutenico4 da CF5 editou a Lei 10791950 que define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento

Ademais a Repuacuteblica que inclui a ideia de responsabilidade dos governantes eacute prevista como princiacutepio constitucional sensiacutevel (CF art 34 VII a6) e portanto de ob-servacircncia obrigatoacuteria sendo norma de reproduccedilatildeo proibida pelos Estados-membros a exceccedilatildeo prevista no art 51 I da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica7

Assim tendo-se em vista que as Constituiccedilotildees estaduais natildeo podem estabelecer a chamada ldquolicenccedila preacuteviardquo tambeacutem natildeo podem autorizar o afastamento automaacutetico do governador de suas funccedilotildees quando recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ Como natildeo pode haver controle poliacutetico preacutevio natildeo deve haver afastamento au-tomaacutetico em razatildeo de ato jurisdicional sem cunho decisoacuterio e do qual sequer se exige fundamentaccedilatildeo8 sob pena de violaccedilatildeo ao princiacutepio democraacutetico9

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Executivo Ȥ Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

ADI 4764ADI 4797ADI 4798red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 15-8-2017Informativo STF 863

148iacutendice de teses

Nesse sentido tambeacutem aos governadores satildeo aplicaacuteveis as medidas cautelares di-versas da prisatildeo previstas no art 319 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)10 entre elas ldquoa suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblicardquo e outras que se mostrarem necessaacuterias e cujo fundamento decorra do poder geral de cautela conferido pelo ordenamento juriacutedico brasileiro aos juiacutezes A suspensatildeo do exerciacutecio da funccedilatildeo aleacutem de ser devida-mente fundamentada pelo STJ eacute recorriacutevel e pode ser revogada quando se verificar a falta de motivo para que subsista (CPP art 282 sect 5ordm11)

Cabe ressaltar que antigo entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) apresentava os seguintes fundamentos para a validaccedilatildeo da exigecircncia de licenccedila preacutevia12

i respeito agrave autonomia federativa ii a circunstacircncia de que recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ ocor-

re a suspensatildeo funcional do chefe do Poder Executivo estadual que ficaraacute afastado temporariamente do exerciacutecio do mandato que lhe foi conferido por voto popular

iii simetria na reproduccedilatildeo nas Cartas estaduais de norma semelhante agrave prevista no art 51 I da CF

iv a superveniecircncia da Emenda Constitucional 352001 que suprimiu a neces-sidade de autorizaccedilatildeo legislativa para processamento de parlamentares natildeo incluindo governadores evidenciaria que a Constituiccedilatildeo Federal autoriza ou continua autorizando o poder constituinte decorrente a instituir a chamada ldquocondiccedilatildeo de procedibilidaderdquo

v instituiccedilatildeo da autorizaccedilatildeo preacutevia da Assembleia Legislativa natildeo traz o risco de propiciar quando negada a impunidade dos governadores jaacute que a denega-ccedilatildeo implica a suspensatildeo do fluxo do prazo prescricional

vi proteccedilatildeo agrave estabilidade do governo local (governabilidade) Com efeito a revitalizaccedilatildeo do princiacutepio republicano o inconformismo social com

a impunidade dos agentes puacuteblicos e as renovadas aspiraccedilotildees por moralidade na poliacute-tica provocaram mutaccedilatildeo constitucional no tratamento da mateacuteria (mecanismo que permite a transformaccedilatildeo do sentido e do alcance de normas da Constituiccedilatildeo sem que se opere no entanto qualquer modificaccedilatildeo do texto) Nesse cenaacuterio o entendi-mento anterior foi superado pelos seguintes posicionamentos

i A capacidade de auto-organizaccedilatildeo dos entes federados (elemento essencial da forma federativa de Estado) eacute exercida dentro dos limites impostos pela

149iacutendice de teses

Constituiccedilatildeo Um desses limites eacute o princiacutepio republicano em cujo nuacutecleo essencial se encontra a ideia de responsabilidade dos governantes

ii A previsatildeo da suspensatildeo funcional automaacutetica do governador na hipoacutetese de ser recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ soacute existe por previsatildeo das proacuteprias Constituiccedilotildees estaduais que reproduzem o art 86 sect 1ordm I da CF13 As-sim argumentar em favor da constitucionalidade da licenccedila preacutevia com base na possibilidade de suspensatildeo funcional automaacutetica equivale a juiacutezo sobre a cons-titucionalidade de norma constitucional estadual com base em outra norma constitucional estadual Ademais se a norma do art 51 I natildeo eacute de reproduccedilatildeo permitida aos Estados-membros a do art 86 sect 1ordm I que soacute existe em funccedilatildeo dela tampouco o eacute

iii O art 51 I eacute norma de reproduccedilatildeo vedada aos Estados e natildeo de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria ou facultativa natildeo se aplicando portanto o princiacutepio da simetria

iv A Emenda Constitucional 352001 suprimiu a necessidade de autorizaccedilatildeo le-gislativa para a instauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra deputado e senador natildeo fa-zendo qualquer referecircncia a governador A admissatildeo da sistemaacutetica de licenccedila preacutevia em Constituiccedilotildees estaduais vislumbra possibilidade que natildeo consta da CF tampouco tem embasamento na interpretaccedilatildeo histoacuterica ou sistemaacutetica da referida emenda Com efeito natildeo haacute razatildeo que legitime transplantar a situaccedilatildeo do presidente da Repuacuteblica por sua condiccedilatildeo de chefe de Estado e de Governo bem como de representante da soberania nacional para os governadores

v A negativa de autorizaccedilatildeo preacutevia pela Assembleia Legislativa implica o im-pedimento da instruccedilatildeo processual inviabilizando investigaccedilotildees criminais e favorecendo o perecimento de provas Aleacutem disso a instauraccedilatildeo de processos criminais contra governadores sem licenccedila preacutevia natildeo significa obviamente sua condenaccedilatildeo O que se garante eacute o natildeo comprometimento da instruccedilatildeo criminal necessaacuteria para a responsabilizaccedilatildeo dos governantes

vi Em uma Repuacuteblica a governabilidade natildeo pode se dar agrave custa da natildeo respon-sabilizaccedilatildeo e da impunidade dos governantes locais A instituiccedilatildeo de licenccedilas preacutevias nas unidades federativas serve a propoacutesitos natildeo republicanos estando agrave disposiccedilatildeo de governos de coalizatildeo sendo flagrante a distorccedilatildeo do instituto

1 No acoacuterdatildeo da ADI 4764 foi declarada a inconstitucionalidade das expressotildees constantes do art 44 VII (ldquoprocessar e julgar o Governador () nos crimes de responsabilidaderdquo) e do art 81 parte final (ldquoou perante a Assembleia Legislativa nos crimes de responsabilidaderdquo) assim como das expressotildees

150iacutendice de teses

do art 44 VIII (ldquodeclarar a procedecircncia da acusaccedilatildeordquo) e do art 81 caput primeira parte (ldquoAdmitida a acusaccedilatildeo contra o Governador do Estado por dois terccedilos da Assembleia Legislativardquo) bem como por arrastamento do art 82 I (ldquoArt 82 O Governador ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiccedilardquo) todos da Constituiccedilatildeo do Estado do Acre Tendo em vista que o art 82 I da Constituiccedilatildeo do Estado do Acre (ldquoArt 82 O Governador ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiccedilardquo) apresenta relaccedilatildeo de dependecircncia com as expressotildees do art 44 VIII (ldquodeclarar a procedecircncia da acusaccedilatildeordquo) e do art 81 caput primeira parte (ldquoAdmitida a acusaccedilatildeo contra o Governador do Estado por dois terccedilos da Assembleia Legislativardquo) da mesma Constituiccedilatildeo foi declarada tambeacutem a sua inconstitucionalidade por arrastamento

2 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

3 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

4 ldquoArt 85 Satildeo crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Repuacuteblica que atentem contra a Constituiccedilatildeo Federal e especialmente contra I ndash a existecircncia da Uniatildeo II ndash o livre exerciacutecio do Poder Legislativo do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e dos Poderes constitucionais das unidades da Federaccedilatildeo III ndash o exerciacutecio dos direitos poliacuteticos individuais e sociais IV ndash a seguranccedila interna do Paiacutes V ndash a probidade na administraccedilatildeo VI ndash a lei orccedilamentaacuteria VII ndash o cumprimento das leis e das decisotildees judiciais Paraacutegrafo uacutenico Esses crimes seratildeo definidos em lei especial que estabeleceraacute as normas de processo e julgamentordquo

5 Precedentes ADI 1890 MC rel min Carlos Velloso P DJ de 19-9-2003 ADI 1628 rel min Eros Grau P DJE de 24-11-2006 ADI 4791 rel min Teori Zavascki P DJE de 24-4-2015 e ADI 4792 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 24-4-2015

6 ldquoArt 34 A Uniatildeo natildeo interviraacute nos Estados nem no Distrito Federal exceto para () VII ndash assegu-rar a observacircncia dos seguintes princiacutepios constitucionais a) forma republicana sistema represen-tativo e regime democraacuteticordquo

7 ldquoArt 51 Compete privativamente agrave Cacircmara dos Deputados I ndash autorizar por dois terccedilos de seus membros a instauraccedilatildeo de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da Repuacuteblica e os Ministros de Estadordquo

8 HC 101971 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 2-9-2011 HC 93056 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 14-5-2009 e RHC 118379 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 31-3-2014

9 Precedentes HC 101971 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 5-9-2011 HC 93056 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 15-5-2009 e RHC 118379 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 31-3-2014

10 ldquoArt 319 Satildeo medidas cautelares diversas da prisatildeo I ndash comparecimento perioacutedico em juiacutezo no prazo e nas condiccedilotildees fixadas pelo juiz para informar e justificar atividades II ndash proibiccedilatildeo de acesso ou frequecircncia a determinados lugares quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indi-ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infraccedilotildees III ndash proi-biccedilatildeo de manter contato com pessoa determinada quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante IV ndash proibiccedilatildeo de ausentar-se da Comarca

151iacutendice de teses

quando a permanecircncia seja conveniente ou necessaacuteria para a investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo V ndash reco-lhimento domiciliar no periacuteodo noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residecircncia e trabalho fixos VI ndash suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica ou de atividade de nature-za econocircmica ou financeira quando houver justo receio de sua utilizaccedilatildeo para a praacutetica de infraccedilotildees penais VII ndash internaccedilatildeo provisoacuteria do acusado nas hipoacuteteses de crimes praticados com violecircncia ou grave ameaccedila quando os peritos concluiacuterem ser inimputaacutevel ou semi-imputaacutevel (art 26 do Coacutedigo Penal) e houver risco de reiteraccedilatildeo VIII ndash fianccedila nas infraccedilotildees que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo evitar a obstruccedilatildeo do seu andamento ou em caso de resistecircncia injustificada agrave ordem judicial IX ndash monitoraccedilatildeo eletrocircnicardquo

11 ldquoArt 282 () sect 5ordm O juiz poderaacute revogar a medida cautelar ou substituiacute-la quando verificar a falta de motivo para que subsista bem como voltar a decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquemrdquo

12 Precedentes RE 159230 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 10-6-1994 e HC 80511 red p o ac min Celso de Mello 2ordf T DJ de 14-9-2001

13 ldquoArt 86 Admitida a acusaccedilatildeo contra o Presidente da Repuacuteblica por dois terccedilos da Cacircmara dos Deputados seraacute ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal nas infraccedilotildees pe-nais comuns ou perante o Senado Federal nos crimes de responsabilidade sect 1ordm O Presidente ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federalrdquo

152iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) eacute competente para julgar accedilatildeo ordinaacuteria

coletiva ajuizada contra o Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) quando a con-

troveacutersia versar sobre o alcance dos poderes deste oacutergatildeo

Nessa situaccedilatildeo excepcional restringir o alcance do art 102 I r1 da Constituiccedilatildeo Federal apenas agraves accedilotildees de natureza mandamental resultaria em conferir agrave Justi-ccedila Federal de primeira instacircncia a possibilidade de definir os poderes atribuiacutedos ao CNJ no cumprimento de sua missatildeo subvertendo assim a relaccedilatildeo hieraacuterquica constitucionalmente estabelecida2

Apesar de existir a necessidade de se inibirem indevidas ampliaccedilotildees descaracteri-zadoras das atribuiccedilotildees institucionais do Supremo Tribunal ldquonatildeo [se deve] delimitar a apreciaccedilatildeo originaacuteria do STF com foco apenas na natureza processual da demanda sem antes analisar a substacircncia da mateacuteria deduzidardquo3

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () r) as accedilotildees contra o Conselho Nacional de Justiccedila e contra o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblicordquo

2 Haacute portanto mitigaccedilatildeo do entendimento do STF firmado no julgamento conjunto da AO 1814 QO (rel min Marco Aureacutelio P DJE de 3-12-2014) e da ACO 1680 AgR (rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-12-2014) Na ocasiatildeo definiu-se que o termo ldquoaccedilotildeesrdquo constante do art 102 I r limita-se agraves accedilotildees constitucionais do mandado de seguranccedila habeas data habeas corpus e mandado de injun-ccedilatildeo pela ausecircncia de personalidade juriacutedica do CNJ e consequentemente pela sua incapacidade para ser parte processual em accedilotildees ordinaacuterias

3 Trecho do voto-vista divergente do ministro Dias Toffoli proferido no julgamento conjunto da AO 1814 QO (rel min Marco Aureacutelio P DJE de 3-12-2014) e da ACO 1680 AgR (rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-12-2014)

Pet 4656rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 4-12-2017Informativo STF 851

153iacutendice de teses

Natildeo compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) a execu-

ccedilatildeo individual de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo inclusive aquelas

proferidas em sede mandamental1

Para atraccedilatildeo da competecircncia do STF com base na aliacutenea m do art 102 I da Consti-tuiccedilatildeo Federal (CF) (execuccedilatildeo de seus julgados) faz-se necessaacuterio perquirir sobre a manutenccedilatildeo da ratio que justificou ateacute a prolaccedilatildeo da sentenccedila o exame da demanda pelo Tribunal

Assim adotar interpretaccedilatildeo literal do art 102 I m da CF2 teria como decorrecircncia necessaacuteria a conclusatildeo de que eacute competecircncia do STF apreciar toda e qualquer execu-ccedilatildeo de sentenccedila proferida nas causas de sua competecircncia originaacuteria No entanto essa praacutetica natildeo se justifica por natildeo ser esse o intuito da norma em apreccedilo utilizando-se para tal conclusatildeo a interpretaccedilatildeo teleoloacutegica da norma

As disposiccedilotildees insertas no art 102 I da CF constituem ldquoum complexo de atribui-ccedilotildees jurisdicionais de extraccedilatildeo essencialmente constitucionalrdquo3 dispostas sob criteacute-rios que envolvem

i a natureza da demanda (aliacuteneas a g l j n o e r) eii a posiccedilatildeo constitucional da autoridade ou oacutergatildeo envolvido nas demandas (aliacute-

neas b c d i e q) Nesse ponto fica evidenciada a particularidade da regra de competecircncia inserta

na aliacutenea m que ostenta niacutetido caraacuteter de acessoriedade agraves demais previstas no art 102 I Isso ocorre porque ldquoa execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircn-cia originaacuteriardquo constitui mero prolongamento da anaacutelise jaacute realizada pela Suprema Corte Eacute portanto uma regra firmada por atraccedilatildeo da primeira Logo as conse-quecircncias advindas do exerciacutecio da competecircncia originaacuteria do STF ldquodevem tambeacutem constar do rol normativo especiacutefico da jurisdiccedilatildeo constitucional natildeo se estendendo para as situaccedilotildees em que tais atos satildeo apenas decorrecircncias indiretas do exerciacutecio de tal competecircnciardquo4

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

Pet 6076 QOrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 26-5-2017Informativo STF 862

154iacutendice de teses

Ausente a previsatildeo no texto constitucional a competecircncia para o cumprimento de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo ndash inclusive de caraacuteter mandamental coletivo ndash incumbe aos oacutergatildeos judiciaacuterios de primeira instacircncia

Acresce-se a esse entendimento que o cumprimento de sentenccedila que reconheccedila a exigibilidade de obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa pela Fazenda Puacuteblica eacute processo autocircnomo que se faz por rito especiacutefico5 Se houver mais de um exequente eacute neces-saacuteria a apresentaccedilatildeo de demonstrativo individualizado6

Nesse cenaacuterio o cumprimento da sentenccedila perante as instacircncias ordinaacuterias teraacute o condatildeo de tanto quanto se daacute em sede de accedilatildeo civil puacuteblica aproximar a execuccedilatildeo dos eventuais beneficiaacuterios e facilitar a efetividade do direito jaacute reconhecido

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiccedila fixou sob o rito do recurso repe-titivo (CPC1973 art 543-C7) que ldquoa execuccedilatildeo individual de sentenccedila geneacuterica pro-ferida em accedilatildeo civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domiciacutelio do beneficiaacuteriordquo8 entendimento que eacute inteiramente aplicaacutevel agraves accedilotildees mandamentais coletivas

1 Precedentes que indicam a interpretaccedilatildeo restritiva que o STF daacute a outras aliacuteneas do art 102 I da CF ACO 359 QO rel min Celso de Mello 1ordf T DJ de 11-3-1994 ACO 417 QO rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 7-12-1990 MS 21441 QO red p o ac min Ilmar Galvatildeo P DJ de 28-5-1993 e Rcl 16065 AgR rel min Teori Zavascki P DJE de 19-2-2014

2 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () m) a execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircncia originaacuteria facultada a delegaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para a praacutetica de atos processuaisrdquo

3 Trecho do voto do ministro Celso de Mello na AC 2596 rel min Celso de Mello P DJE de 16-4-2013

4 Trecho do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

5 CPC2015 ldquoArt 534 No cumprimento de sentenccedila que impuser agrave Fazenda Puacuteblica o dever de pagar quantia certa o exequente apresentaraacute demonstrativo discriminado e atualizado do creacutedito contendo I ndash o nome completo e o nuacutemero de inscriccedilatildeo no Cadastro de Pessoas Fiacutesicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica do exequente II ndash o iacutendice de correccedilatildeo monetaacuteria adotado III ndash os juros aplicados e as respectivas taxas IV ndash o termo inicial e o termo final dos juros e da correccedilatildeo monetaacuteria utilizados V ndash a periodicidade da capitalizaccedilatildeo dos juros se for o caso VI ndash a especificaccedilatildeo dos eventuais descontos obrigatoacuterios realizadosrdquo

6 CPC2015 ldquoArt 534 () sect 1ordm Havendo pluralidade de exequentes cada um deveraacute apresentar o seu proacuteprio demonstrativo aplicando-se agrave hipoacutetese se for o caso o disposto nos sectsect 1ordm e 2ordm do art 113rdquo

7 ldquoArt 543-C Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idecircntica questatildeo de direito o recurso especial seraacute processado nos termos deste artigordquo

8 Recurso Especial 1243887 rel min Luis Felipe Salomatildeo Corte Especial DJE de 12-12-2011 recurso repetitivo Temas 480 e 481

155iacutendice de teses

O Supremo Tribunal Federal (STF) natildeo possui competecircncia originaacuteria para

julgar accedilatildeo na qual se discute o direito de magistrado de gozar de licenccedila-

-precircmio

A instauraccedilatildeo de competecircncia originaacuteria do STF com fundamento no art 102 I n da Constituiccedilatildeo Federal1 pressupotildee que a totalidade da magistratura nacional tenha interesse (direto ou indireto) no julgamento da causa e que este natildeo revele pretensatildeo passiacutevel de ser repetida por outras carreiras do serviccedilo puacuteblico

Com efeito o direito agrave fruiccedilatildeo de licenccedila-precircmio por tempo de serviccedilo eacute benefiacutecio que interessa a outros agentes poliacuteticos e servidores puacuteblicos na medida em que pode ser previsto conforme o estatuto juriacutedico do agente ou do servidor2

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () n) a accedilatildeo em que todos os membros da magistra-tura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessadosrdquo

2 AO 2099 rel min Edson Fachin decisatildeo monocraacutetica DJE de 24-11-2016

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

AO 2126red p o ac min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 15-12-2017Informativo STF 855

156iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

Os princiacutepios constitucionais relacionados ao sistema financeiro e orccedilamen-

taacuterio1 os princiacutepios da independecircncia e da harmonia entre os Poderes (CF

art 2ordm2) e o regime constitucional de precatoacuterios (CF art 1003) podem ser

utilizados como paracircmetro de controle na arguiccedilatildeo de descumprimento de

preceito fundamental

Os princiacutepios constitucionais do sistema financeiro e orccedilamentaacuterio satildeo instrumen-tos essenciais para a manutenccedilatildeo da harmonia constitucional Do exame sistemaacuteti-co de seu conteuacutedo verifica-se que a efetividade do sistema financeiro e orccedilamen-taacuterio garante que a Administraccedilatildeo Puacuteblica tenha condiccedilotildees de executar atividades essenciais concretizando importantes valores do Estado Democraacutetico de Direito

Nesse sentido haacute verdadeira interdependecircncia entre esses preceitos fundamentais e aqueles protegidos pela claacuteusula peacutetrea do art 60 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal4 como o princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (CF art 2ordm) elemento basilar do direito constitucional nacional

Por sua vez o regime constitucional dos precatoacuterios eacute o mecanismo de raciona-lizaccedilatildeo dos pagamentos das obrigaccedilotildees estatais oriundos de sentenccedilas judiciais ao mesmo tempo em que permite a continuidade da prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e consequentemente a efetivaccedilatildeo dos proacuteprios direitos fundamentais

1 ldquoArt 167 Satildeo vedados I ndash o iniacutecio de programas ou projetos natildeo incluiacutedos na lei orccedilamentaacuteria anual II ndash a realizaccedilatildeo de despesas ou a assunccedilatildeo de obrigaccedilotildees diretas que excedam os creacuteditos orccedilamentaacuterios ou adicionais III ndash a realizaccedilatildeo de operaccedilotildees de creacuteditos que excedam o montante das despesas de capital ressalvadas as autorizadas mediante creacuteditos suplementares ou especiais com finalidade precisa aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta IV ndash a vinculaccedilatildeo de receita de impostos a oacutergatildeo fundo ou despesa ressalvadas a reparticcedilatildeo do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos a que se referem os arts 158 e 159 a destinaccedilatildeo de recursos para as accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede para manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino e para realizaccedilatildeo de atividades da administraccedilatildeo tributaacuteria como determinado respectivamente pelos arts 198 sect 2ordm 212 e 37

ADPF 387rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-10-2017Informativo STF 858

157iacutendice de teses

XXII e a prestaccedilatildeo de garantias agraves operaccedilotildees de creacutedito por antecipaccedilatildeo de receita previstas no art 165 sect 8ordm bem como o disposto no sect 4ordm deste artigo V ndash a abertura de creacutedito suplementar ou especial sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e sem indicaccedilatildeo dos recursos correspondentes VI ndash a transposiccedilatildeo o remanejamento ou a transferecircncia de recursos de uma categoria de programaccedilatildeo para outra ou de um oacutergatildeo para outro sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa VII ndash a concessatildeo ou uti-lizaccedilatildeo de creacuteditos ilimitados VIII ndash a utilizaccedilatildeo sem autorizaccedilatildeo legislativa especiacutefica de recursos dos orccedilamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir deacuteficit de empresas fundaccedilotildees e fundos inclusive dos mencionados no art 165 sect 5ordm IX ndash a instituiccedilatildeo de fundos de qualquer natureza sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa X ndash a transferecircncia voluntaacuteria de recursos e a concessatildeo de empreacutestimos inclusive por antecipaccedilatildeo de receita pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituiccedilotildees financeiras para pagamento de despesas com pessoal ativo inativo e pensionista dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios XI ndash a utilizaccedilatildeo dos recursos provenientes das contribuiccedilotildees sociais de que trata o art 195 I a e II para a realizaccedilatildeo de despesas distintas do pa-gamento de benefiacutecios do regime geral de previdecircncia social de que trata o art 201rdquo

2 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

3 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

4 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta I ndash de um terccedilo no miacutenimo dos membros da Cacircmara dos Deputados ou do Senado Federal II ndash do Presidente da Repuacuteblica III ndash de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federaccedilatildeo manifestando-se cada uma delas pela maioria relativa de seus membros () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir I ndash a forma federativa de Estado II ndash o voto direto secreto universal e perioacutedico III ndash a separaccedilatildeo dos Poderes IV ndash os direitos e garantias individuaisrdquo

158iacutendice de teses

Na accedilatildeo direta de inconstitucionalidade a arguiccedilatildeo de revogaccedilatildeo da lei ndash apoacutes

a decisatildeo de meacuterito ndash natildeo enseja prejudicialidade da accedilatildeo por perda de objeto

Permitir que se pleiteie a desconstituiccedilatildeo do julgamento em sede de embargos de declaraccedilatildeo sob o fundamento da prejudicialidade da accedilatildeo depois de decidido o seu meacuterito equivaleria a abrir agrave parte a possibilidade de manipular a decisatildeo do Supre-mo Tribunal Federal (STF) Se esta lhe fosse favoraacutevel bastaria natildeo invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos Se ao contraacuterio lhe fosse desfavoraacutevel o reco-nhecimento da prejudicialidade a imunizaria contra os efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade

Aleacutem disso tendo havido enfrentamento do meacuterito da accedilatildeo direta sequer se te-ria o benefiacutecio de poupar os recursos e o tempo do STF para julgamento dos casos de maior utilidade e necessidade Ao contraacuterio ter-se-ia uma situaccedilatildeo absolutamente paradoxal pela qual apoacutes todo o processamento da accedilatildeo concluiacutedo o exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo e demonstrada a efetiva violaccedilatildeo constitucional a decisatildeo do Tribunal natildeo produziria efeito algum por mera tecnicalidade e com base em alegaccedilotildees de iacutendole puramente formal

Assim na hipoacutetese em que a revogaccedilatildeo da norma objeto da accedilatildeo direta natildeo foi co-municada ao Tribunal e na qual este consequentemente enfrentou o meacuterito da causa e declarou a inconstitucionalidade da lei antes de ter conhecimento de que a norma deixou de vigorar natildeo haacute se falar em prejudicialidade da accedilatildeo ou de perda do objeto

Essa situaccedilatildeo constitui exceccedilatildeo ao entendimento segundo o qual a revogaccedilatildeo da norma cuja constitucionalidade eacute questionada por meio de accedilatildeo direta em regra en-seja a perda superveniente do objeto da accedilatildeo e por consequecircncia provoca a extinccedilatildeo do feito sem o julgamento do meacuterito1

Desse entendimento excepcionam-se tambeacutem os casos em que haacute indiacutecios de que a norma foi revogada para fraudar o exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo constitucional em abstrato ou seja quando a revogaccedilatildeo constituir um artifiacutecio para evitar a declaraccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

ADI 951 EDrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 21-6-2017Informativo STF 845

159iacutendice de teses

da sua inconstitucionalidade2 e ainda quando as accedilotildees diretas tenham por objeto leis de eficaacutecia temporaacuteria nos casos em que (i) houve impugnaccedilatildeo em tempo ade-quado (ii) a accedilatildeo foi incluiacuteda em pauta e (iii) o julgamento foi iniciado antes do exaurimento da eficaacutecia3

Eacute preciso impossibilitar a fraude agrave jurisdiccedilatildeo do STF minimizar os ocircnus decorren-tes da demora na prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional preservar o trabalho jaacute efetuado pelo Tribunal e evitar que a constataccedilatildeo da efetiva violaccedilatildeo agrave ordem constitucional se torne inoacutecua

1 ADI 709 rel min Paulo Brossard P DJ de 20-5-1994 ADI 1442 rel min Celso de Mello P DJ de 29-4-2005 e ADI 4620 AgR rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-8-2012

2 ADI 3306 rel min Gilmar Mendes P DJE de 7-6-2011

3 ADI 5287 rel min Luiz Fux P DJE de 12-9-2016 ADI 4426 rel min Dias Toffoli P DJE de 17-5-2011 e ADI 3146 rel min Joaquim Barbosa P DJ de 19-12-2006

160iacutendice de teses

As associaccedilotildees que congregam mera fraccedilatildeo ou parcela de categoria profis-

sional em cujo interesse vecircm a juiacutezo natildeo possuem legitimidade ativa para

provocar a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucionalidade1

Tendo em conta o disposto nos arts 2ordm I da Lei 988219992 e 103 IX da Constitui-ccedilatildeo Federal (CF)3 se o ato normativo impugnado repercute sobre a esfera juriacutedica de toda uma classe natildeo eacute legiacutetimo permitir que associaccedilatildeo representativa de apenas uma parte dos membros dessa mesma classe impugne a norma pela via abstrata da accedilatildeo4 Afinal eventual procedecircncia desta produziraacute efeitos erga omnes (CF art 102 sect 2ordm5) ou seja atingiraacute indistintamente todos os sujeitos compreendidos no acircmbito ou universo subjetivo de validade da norma declarada inconstitucional

Ademais para a afericcedilatildeo da legitimidade ativa para a propositura das accedilotildees de controle concentrado de constitucionalidade natildeo haacute que se estabelecer juiacutezo de ade-quaccedilatildeo entre a associaccedilatildeo autora e o objeto impugnado Tal juiacutezo remonta na ver-dade agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo da pertinecircncia temaacutetica outro requisito de admissibilidade somente apreciado depois de verificado o primeiro pressuposto da legitimidade ativa Com efeito o autor da accedilatildeo direta de inconstitucionalidade deve demonstrar natildeo apenas a legitimidade ativa exigida pela Constituiccedilatildeo (art 103) mas tambeacutem para alguns dos legitimados a existecircncia de pertinecircncia temaacutetica isto eacute a correlaccedilatildeo especiacutefica entre o objeto da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e os obje-tivos institucionais do autor bem como a repercussatildeo direta da norma impugnada na classe representada pelo autor

1 Precedentes citados ADI 4372 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 ADPF 154 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 28-11-2014 ADI 3675 AgR rel min Luiz Fux P DJE de 13-10-2011 e ADI 3617 AgR rel min Cezar Peluso P DJE de 1ordm-7-2011

2 ldquoArt 2ordm Podem propor arguiccedilatildeo de descumprimento de preceito fundamental I ndash os legitimados para a accedilatildeo direta de inconstitucionalidaderdquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

ADPF 254 AgRrel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 30-6-2017Informativo STF 826

161iacutendice de teses

3 ldquoArt 103 Podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucio-nalidade () IX ndash confederaccedilatildeo sindical ou entidade de classe de acircmbito nacionalrdquo

4 O ministro Roberto Barroso acompanhou a conclusatildeo do relator com fundamentaccedilatildeo diversa no sentido de que as associaccedilotildees que representam fraccedilatildeo de categoria profissional satildeo legitimadas ape-nas para impugnar as normas que afetem exclusivamente seus representados desde que preenchi-dos os demais requisitos (representatividade adequada homogeneidade e caraacuteter nacional) Dessa forma a sub-representaccedilatildeo de grupos fracionaacuterios de categorias profissionais eacute evitada ao mesmo tempo em que se respeita a restriccedilatildeo constitucional de legitimaccedilatildeo ativa

5 ldquoArt 102 () sect 2ordm As decisotildees definitivas de meacuterito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nas accedilotildees diretas de inconstitucionalidade e nas accedilotildees declaratoacuterias de constitucionalidade produziratildeo eficaacutecia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta nas esferas federal estadual e municipalrdquo

162iacutendice de teses

Eacute desnecessaacuteria a submissatildeo de demanda judicial agrave regra da reserva de plenaacute-

rio na hipoacutetese em que a decisatildeo judicial estiver fundada em jurisprudecircncia

do Plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal (STF) ou em suacutemula desse Tribunal

Natildeo haacute contrariedade ao Enunciado 101 da Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal ao art 97 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 ou ao art 949 do novo Coacutedigo de Processo Civil3 a autorizar o cabimento da reclamaccedilatildeo (CF art 103-A sect 3ordm4) quando o ato judicial reclamado se utiliza de raciociacutenio decisoacuterio de controle de constitu-cionalidade deixando de aplicar a lei quando jaacute existe pronunciamento acerca da mateacuteria pelo Supremo Tribunal5 A jurisprudecircncia consolidada pelo STF baseia-se em reiterados julgamentos do Tribunal Pleno para propiciar a cristalizaccedilatildeo do entendi-mento jurisprudencial em enunciado sumular6

A reclamaccedilatildeo constitucional fundada em afronta ao Verbete 10 da Suacutemula Vin-culante natildeo pode ser usada como sucedacircneo de recurso ou de accedilatildeo proacutepria para dis-cussotildees acerca da constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretaccedilatildeo idocircnea e legiacutetima pelas autoridades juriacutedicas competentes

A duacutevida razoaacutevel acerca da interpretaccedilatildeo das normas infraconstitucionais tambeacutem natildeo eacute hipoacutetese de cabimento de reclamaccedilatildeo nos termos do art 102 I l da CF7 sob pena de se criar instrumento geral universal de acesso ao STF independentemente de outras vias recursais para manifestar simples irresignaccedilatildeo ou para meras consultas

1 ldquoViola a claacuteusula de reserva de plenaacuterio (CF art 97) a decisatildeo de oacutergatildeo fracionaacuterio de Tribunal que embora natildeo declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder puacutebli-co afasta sua incidecircncia no todo ou em parterdquo

2 ldquoArt 97 Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo oacutergatildeo especial poderatildeo os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Puacuteblicordquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

Rcl 24284 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 11-5-2017Informativo STF 848

163iacutendice de teses

3 ldquoArt 949 Se a arguiccedilatildeo for I ndash rejeitada prosseguiraacute o julgamento II ndash acolhida a questatildeo seraacute submetida ao plenaacuterio do tribunal ou ao seu oacutergatildeo especial onde houver Paraacutegrafo uacutenico Os oacutergatildeos fracionaacuterios dos tribunais natildeo submeteratildeo ao plenaacuterio ou ao oacutergatildeo especial a arguiccedilatildeo de in-constitucionalidade quando jaacute houver pronunciamento destes ou do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal sobre a questatildeordquo

4 ldquoArt 103-A O Supremo Tribunal Federal poderaacute de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo mediante decisatildeo de dois terccedilos dos seus membros apoacutes reiteradas decisotildees sobre mateacuteria constitucional aprovar suacutemula que a partir de sua publicaccedilatildeo na imprensa oficial teraacute efeito vinculante em relaccedilatildeo aos demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta nas esferas federal estadual e municipal bem como proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na forma estabelecida em lei () sect 3ordm Do ato administrativo ou decisatildeo judicial que contrariar a suacutemula aplicaacutevel ou que inde-vidamente a aplicar caberaacute reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal que julgando-a procedente anularaacute o ato administrativo ou cassaraacute a decisatildeo judicial reclamada e determinaraacute que outra seja proferida com ou sem a aplicaccedilatildeo da suacutemula conforme o casordquo

5 Rcl 16528 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 22-3-2017

6 ARE 914045 RG rel min Edson Fachin P DJE de 19-11-2015

7 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildeesrdquo

164iacutendice de teses

Natildeo haacute usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF) quan-

do os tribunais de justiccedila exercem controle abstrato de constitucionalidade de

leis municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria pelos Estados1

As normas de observacircncia obrigatoacuteria satildeo compulsoacuterias aos Estados-membros como modelos a serem seguidos de modo que o poder constituinte decorrente natildeo pode estipular premissas em acircmbito estadual em sentido contraacuterio ao que estabeleceu a Carta Magna A reproduccedilatildeo dos preceitos constitucionais mercecirc de natildeo serem ex-pressos na sua literalidade natildeo retira do Tribunal de Justiccedila a possibilidade de exercer o controle de constitucionalidade2

Precipuamente cabe ao STF o exerciacutecio do controle de constitucionalidade con-centrado encarregado de fiscalizar a compatibilidade de leis e atos normativos na condiccedilatildeo de guarda da Constituiccedilatildeo (CF art 102 caput3) Trata-se de processo obje-tivo cuja preocupaccedilatildeo maior eacute a defesa da ordem constitucional e da preservaccedilatildeo da ordem juriacutedica como um todo em nome da supremacia de que eacute dotada a CF

Contudo eacute possiacutevel que o paracircmetro do controle abstrato perante o Tribunal de Justiccedila dos atos normativos estaduais e municipais se decirc por normas constitucionais de observacircncia obrigatoacuteria pelos Estados-membros Em tal hipoacutetese eacute possiacutevel que o Tribunal de Justiccedila analise a compatibilidade daqueles atos perante a Constituiccedilatildeo estadual quando ela faz remissatildeo agraves normas previstas na CF

O art 39 sect 4ordm da CF natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias

e 13ordm salaacuterio

Natildeo haacute norma constitucional que impeccedila de forma liacutempida a percepccedilatildeo da gratifi-caccedilatildeo de feacuterias e o 13ordm salaacuterio por parte dos agentes poliacuteticos salvo leitura isolada e reducionista do art 39 sect 4ordm da CF4 Tampouco haacute distinccedilatildeo constitucional entre os

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade ndash Repercussatildeo Geral

RE 650898RG ‒ Tema 484red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 852

165iacutendice de teses

detentores de mandato eletivo e os demais agentes poliacuteticos no particular a justifi-car o impedimento de se instituir para qualquer deles direitos sociais assegurados a todos os trabalhadores

Ao contraacuterio o art 39 sect 3ordm da CF5 utiliza expressatildeo suficientemente ampla para abranger um nuacutemero maior de beneficiaacuterios dos direitos sociais do que ocorreria se destinada apenas aos servidores puacuteblicos Como o constituinte natildeo limitou a apli-caccedilatildeo dos direitos sociais referidos no aludido dispositivo aos ldquoservidores puacuteblicosrdquo mas aos ldquoservidores ocupantes de cargo puacuteblicordquo permite-se aquilatar a intenccedilatildeo de alcanccedilar espectro maior de destinataacuterios dos direitos fundamentais sociais

Consectariamente interpretar o art 39 sectsect 3ordm e 4ordm da CF para afastar dos agentes poliacuteticos ainda que apenas dos detentores de mandato eletivo o recebimento de qualquer outra verba aleacutem do subsiacutedio ndash especialmente verbas consagradas a qual-quer trabalhador (no caso terccedilo de feacuterias e 13ordm salaacuterio) ndash representa afastar a aplicabi-lidade imediata dos direitos fundamentais sociais e olvidar a maacutexima de interpretaccedilatildeo constitucional que visa conferir maior efetividade agraves suas normas reduzindo a situa-ccedilatildeo dos agentes poliacuteticos (cargos de especial relevacircncia para o Estado Democraacutetico de Direito) a um plano inferior ao de qualquer trabalhador

Ademais a natureza juriacutedica dos direitos sociais ndash terccedilo de feacuterias e 13ordm salaacuterio ndash como direitos fundamentais reclama exegese conducente a conferir-lhes aplicabilida-de interpretaccedilatildeo na maacutexima medida possiacutevel (CF art 5ordm sectsect 1ordm e 2ordm6) agrave sua efetivaccedilatildeo

O que natildeo ocorre com verba de representaccedilatildeo que tem caraacuteter remuneratoacuterio independentemente de nomenclatura indenizatoacuteria sendo incompatiacutevel com o re-gime constitucional do subsiacutedio Despida de base constitucional para sua instituiccedilatildeo esta verba natildeo se encarta no rol daqueles benefiacutecios previstos no art 7ordm da CF7 a que alude o art 39 sect 3ordm do Diploma Maior Natildeo trata de trabalho extraordinaacuterio a ser desempenhado pelos beneficiaacuterios e tampouco se constitui em efetiva verba indeni-zatoacuteria conduzindo agrave conclusatildeo de sua inconstitucionalidade

Assim o regime de subsiacutedio eacute incompatiacutevel com outras parcelas remuneratoacuterias de natureza mensal Esse natildeo eacute o caso do 13ordm salaacuterio e do terccedilo constitucional de feacuterias pagos anualmente a todos os trabalhadores e servidores

1 O Tribunal ao apreciar o Tema 484 da repercussatildeo geral fixou as seguintes teses 1) ldquoTribunais de Justiccedila podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo

166iacutendice de teses

obrigatoacuteria pelos Estadosrdquo e 2) ldquoO art 39 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias e deacutecimo terceiro salaacuteriordquo

2 RE 598016 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 13-11-2009

3 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lherdquo

4 ldquoArt 39 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo no acircmbito de sua competecircncia regime juriacutedico uacutenico e planos de carreira para os servidores da administraccedilatildeo puacute-blica direta das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas () sect 4ordm O membro de Poder o detentor de mandato eletivo os Ministros de Estado e os Secretaacuterios Estaduais e Municipais seratildeo remunerados exclusivamente por subsiacutedio fixado em parcela uacutenica vedado o acreacutescimo de qualquer gratificaccedilatildeo adicional abono precircmio verba de representaccedilatildeo ou outra espeacutecie remuneratoacuteria obedecido em qualquer caso o disposto no art 37 X e XIrdquo

5 ldquoArt 39 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo no acircmbito de sua compe-tecircncia regime juriacutedico uacutenico e planos de carreira para os servidores da administraccedilatildeo puacuteblica direta das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas () sect 3ordm Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo puacuteblico o disposto no art 7ordm IV VII VIII IX XII XIII XV XVI XVII XVIII XIX XX XXII e XXX podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissatildeo quando a natureza do cargo o exigirrdquo

6 ldquoArt 5ordm () sect 1ordm As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo ime-diata sect 2ordm Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo

7 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo socialrdquo

167iacutendice de teses

Natildeo cabe ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) o controle de controveacutersia

submetida agrave apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio

O CNJ ldquoqualifica-se como instituiccedilatildeo de caraacuteter eminentemente administrativo natildeo dispondo de atribuiccedilotildees funcionais1 que lhe permitam quer colegialmente quer mediante atuaccedilatildeo monocraacutetica de seus Conselheiros ou ainda do Corregedor Na-cional de Justiccedila fiscalizar reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteuacutedo jurisdicional emanados de magistrados e Tribunais em geralrdquo2

1 CF ldquoArt 103-B O Conselho Nacional de Justiccedila compotildee-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos admitida 1 (uma) reconduccedilatildeo sendo () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do cumprimento dos deveres funcio-nais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura I ndash zelar pela autonomia do Poder Judiciaacuterio e pelo cumprimento do Estatuto da Ma-gistratura podendo expedir atos regulamentares no acircmbito de sua competecircncia ou recomendar providecircncias II ndash zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poden-do desconstituiacute-los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeo III ndash receber e conhecer das reclamaccedilotildees contra membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio inclusive contra seus serviccedilos auxiliares serventias e oacutergatildeos prestadores de serviccedilos notariais e de registro que atuem por delegaccedilatildeo do poder puacuteblico ou oficializados sem prejuiacutezo da competecircncia disciplinar e corre-cional dos tribunais podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoccedilatildeo a disponibilidade ou a aposentadoria com subsiacutedios ou proventos proporcionais ao tempo de serviccedilo e aplicar outras sanccedilotildees administrativas assegurada ampla defesa IV ndash representar ao Ministeacuterio Puacuteblico no caso de crime contra a administraccedilatildeo puacuteblica ou de abuso de autoridade V ndash rever de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo os processos disciplinares de juiacutezes e membros de tribunais julgados haacute menos de um ano VI ndash elaborar semestralmente relatoacuterio estatiacutestico sobre processos e sentenccedilas prolatadas por unidade da Federaccedilatildeo nos diferentes oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio VII ndash elaborar re-latoacuterio anual propondo as providecircncias que julgar necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio no Paiacutes e as atividades do Conselho o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tri-bunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional por ocasiatildeo da abertura da sessatildeo legislativa

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Conselho Nacional de Justiccedila

MS 28845rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 11-12-2017Informativo STF 885

168iacutendice de teses

sect 5ordm O Ministro do Superior Tribunal de Justiccedila exerceraacute a funccedilatildeo de Ministro-Corregedor e ficaraacute excluiacutedo da distribuiccedilatildeo de processos no Tribunal competindo-lhe aleacutem das atribuiccedilotildees que lhe fo-rem conferidas pelo Estatuto da Magistratura as seguintes I ndash receber as reclamaccedilotildees e denuacutencias de qualquer interessado relativas aos magistrados e aos serviccedilos judiciaacuterios II ndash exercer funccedilotildees executivas do Conselho de inspeccedilatildeo e de correiccedilatildeo geral III ndash requisitar e designar magistrados delegando-lhes atribuiccedilotildees e requisitar servidores de juiacutezos ou tribunais inclusive nos Estados Distrito Federal e Territoacuteriosrdquo

2 MS 28598 AgR rel min Celso de Mello P DJE de 9-2-2011

169iacutendice de teses

Insere-se entre as competecircncias constitucionalmente atribuiacutedas ao Conselho

Nacional de Justiccedila (CNJ) a possibilidade de afastar por inconstitucionali-

dade a aplicaccedilatildeo de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto

de controle determinando aos oacutergatildeos submetidos a seu espaccedilo de influecircncia

a observacircncia desse entendimento por ato expresso e formal tomado pela

maioria absoluta dos membros do Conselho1

Cuida-se de poder implicitamente atribuiacutedo aos oacutergatildeos autocircnomos de controle ad-ministrativo para fazer valer as competecircncias a eles conferidas pela ordem constitu-cional Nessa linha ldquoos oacutergatildeos administrativos embora natildeo dispondo de competecircn-cia para declarar a inconstitucionalidade de atos estatais (atribuiccedilatildeo cujo exerciacutecio sujeita-se agrave reserva de jurisdiccedilatildeo) podem natildeo obstante recusar-se a conferir aplica-bilidade a tais normas eis que ndash na linha do entendimento desta Suprema Corte ndash lsquohaacute que distinguir entre declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e natildeo aplicaccedilatildeo de leis inconstitucionais pois esta eacute obrigaccedilatildeo de qualquer tribunal ou oacutergatildeo de qualquer dos Poderes do Estadorsquordquo2

Nesse contexto extrai-se do nuacutecleo normativo impliacutecito do art 103-B II sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 a competecircncia do oacutergatildeo de controle administrativo finan-ceiro e disciplinar da magistratura nacional para ldquodispor primariamente sobre cada qual dos quatro nuacutecleos expressos na loacutegica pressuposiccedilatildeo de que a competecircncia para zelar pela observacircncia do art 37 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica e ainda baixar os atos de sanaccedilatildeo de condutas eventualmente contraacuterias agrave legalidade eacute poder que traz consigo a dimensatildeo da normatividade em abstrato que jaacute eacute forma de prevenir a irrupccedilatildeo de conflitosrdquo4

Assim concluiacuteda pelo CNJ a apreciaccedilatildeo da inconstitucionalidade de lei aprovei-tada como fundamento de ato submetido ao seu exame poderaacute esse oacutergatildeo consti-tucional de controle do Poder Judiciaacuterio valer-se da expediccedilatildeo de ato administrativo formal e expresso de caraacuteter normativo para impor aos oacutergatildeos submetidos cons-

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Conselho Nacional de Justiccedila

Pet 4656rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 4-12-2017Informativo STF 851

170iacutendice de teses

titucionalmente agrave sua atuaccedilatildeo fiscalizadora a invalidade de ato administrativo pela inaplicabilidade do texto legal no qual se baseia por contrariar a CF

O exerciacutecio dessa competecircncia impliacutecita do CNJ revela-se na anaacutelise de caso con-creto por seu Plenaacuterio Os efeitos da inconstitucionalidade incidentalmente constata-da ficam limitados agrave causa posta sob sua apreciaccedilatildeo salvo se houver expressa deter-minaccedilatildeo para os oacutergatildeos constitucionalmente submetidos agrave sua esfera de influecircncia afastarem a aplicaccedilatildeo da lei reputada inconstitucional

A ediccedilatildeo de ato formal expresso tido por legiacutetimo a ser realizado no juiacutezo ad-ministrativo impondo o afastamento do texto normativo para aleacutem da relaccedilatildeo pro-cessual administrativa na qual assentada a inconstitucionalidade busca concretizar os mesmos objetivos motivadores da criaccedilatildeo do instituto da suacutemula vinculante pela Emenda Constitucional 452004 entre os quais a seguranccedila juriacutedica pela aplicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo uniformes da lei e a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo conforme o precei-to do art 5ordm LXXVIII da CF5 aplicaacutevel administrativamente

Aleacutem disso a exigecircncia de observacircncia do postulado da reserva de plenaacuterio pelos oacutergatildeos colegiados de controle administrativo tambeacutem decorre da necessidade de se conferir maior seguranccedila juriacutedica agrave conclusatildeo sobre o viacutecio Somente com a manifes-taccedilatildeo da maioria absoluta dos seus membros eacute possiacutevel ter entendimento inequiacutevoco do colegiado sobre a inadequaccedilatildeo constitucional da lei discutida como fundamento do ato administrativo controlado

Por fim essa atuaccedilatildeo do CNJ natildeo implica reconhecer-lhe competecircncia para decla-rar inconstitucionalidade de norma juriacutedica menos ainda atribuir efeito erga omnes agrave inconstitucionalidade assentada no julgamento do processo administrativo por natildeo resultar em anulaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo da lei cuja vigecircncia persiste

1 Esse entendimento natildeo contraria a conclusatildeo do Supremo Tribunal no julgamento do MS 28141 (rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2011) Nesse julgado assentou-se a incompetecircncia do CNJ para declarar a inconstitucionalidade de lei pois aleacutem de o oacutergatildeo de controle externo do Poder Judiciaacuterio ter atuado como se estivesse no ofiacutecio de controle concentrado de constitucio-nalidade transcendeu os fundamentos do julgado administrativo impondo a ldquoremessa de coacutepias daquele acoacuterdatildeo a todos os Tribunais de Justiccedila Tribunais Regionais Federais e Tribunais Regionais do Trabalho do Paiacutes para que cessasse o repasse a pessoas juriacutedicas estranhas ao Poder Judiciaacuterio entidades de classe ou entidades com finalidade privadardquo Poreacutem determinou o encaminhamento da mateacuteria agrave Procuradoria-Geral da Repuacuteblica para sanar eventual frustraccedilatildeo dos comandos consti-tucionais pela lei mato-grossense que trata de despesas processuais para o cumprimento de cartas precatoacuterias (Lei estadual 89432008)

171iacutendice de teses

2 MS 31923 MC rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJE de 19-4-2013

3 ldquoArt 103-B () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do cumprimento dos deveres funcionais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura () II ndash zelar pela observacircn-cia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

4 ADC 12 rel min Ayres Britto P DJE de 18-12-2009

5 ldquoArt 5ordm () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel du-raccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

172iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar accedilotildees em que a Ordem dos

Advogados do Brasil (OAB) quer mediante o Conselho Federal quer seccio-

nal figure na relaccedilatildeo processual

A OAB consubstancia oacutergatildeo de classe com disciplina legal ndash Lei 89061994 ndash ca-bendo-lhe impor contribuiccedilatildeo anual e exercer atividade fiscalizadora e censoacuteria Eacute por isso mesmo autarquia corporativista1 e 2 o que atrai a teor do art 109 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 a competecircncia da Justiccedila Federal para exame de accedilotildees ndash seja qual for a natureza ndash nas quais integre a relaccedilatildeo processual Eacute improacuteprio esta-belecer distinccedilatildeo considerados os demais conselhos existentes

Ademais quer sob o acircngulo do Conselho Federal quer das seccionais a OAB natildeo eacute associaccedilatildeo pessoa juriacutedica de direito privado em relaccedilatildeo agrave qual eacute vedada a interferecircncia estatal no funcionamento a teor do disposto no inciso XVIII do art 5ordm da CF4

1 Voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento no qual foi ressalvada a existecircncia de duacutevidas quanto agrave natureza juriacutedica da OAB ldquoEu tambeacutem acompanho o relator mas gostaria de fazer um breve registro senhora presidente Eu acho que a Ordem tem uma posiccedilatildeo muito singu-lar Eu acho que ela presta um serviccedilo puacuteblico mas tenho duacutevida se ela pode ser tipificada como uma entidade estatal ateacute pelo tipo de independecircncia que precisa ter e porque acho que ela natildeo eacute obrigada a fazer concurso puacuteblico o que seria uma consequecircncia natural se eu a considerasse uma pessoa juriacutedica de direito puacuteblico Desse modo eu gostaria de ressalvar algumas duacutevidas quanto agrave natureza juriacutedica da Ordem dos Advogados do Brasil Poreacutem natildeo tenho nenhuma duacutevida de que eacute paciacutefico o entendimento de que a competecircncia eacute da Justiccedila Federal Portanto eu estou acompa-nhando o ministro Marco Aureacutelio apenas me reservando para em algum lugar do futuro se vier a ser oportuno tentar refletir sobre essa natureza singular da OABrdquo

2 O Supremo Tribunal Federal abordou o tema referente agrave natureza juriacutedica da OAB no julgamento da ADI 3026 rel min Eros Grau P DJ de 29-6-2006

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

RE 595332RG ‒ Tema 258rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-6-2017Informativo STF 837

173iacutendice de teses

3 ldquoArt 109 Aos juiacutezes federais compete processar e julgar I ndash as causas em que a Uniatildeo entidade autaacuterquica ou empresa puacuteblica federal forem interessadas na condiccedilatildeo de autoras reacutes assistentes ou oponentes exceto as de falecircncia as de acidentes de trabalho e as sujeitas agrave Justiccedila Eleitoral e agrave Justiccedila do Trabalhordquo

4 ldquoArt 5ordm () XVIII ndash a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu funcionamentordquo

174iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar o crime ambiental de caraacuteter

transnacional que envolva animais silvestres ameaccedilados de extinccedilatildeo e espeacute-

cimes exoacuteticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos

pelo Brasil

Atrai a competecircncia da Justiccedila Federal a natureza transnacional do delito ambien-tal de exportaccedilatildeo de animais silvestres nos termos do art 109 IV da Constitui-ccedilatildeo Federal1 A ratio essendi das normas consagradas no direito interno e no direito convencional conduz agrave conclusatildeo de que a transnacionalidade do crime ambiental voltado agrave exportaccedilatildeo de animais silvestres atinge interesse direto especiacutefico e ime-diato da Uniatildeo voltado agrave garantia da seguranccedila ambiental no plano internacional em atuaccedilatildeo conjunta com a comunidade das naccedilotildees

As violaccedilotildees ambientais mais graves recentemente testemunhadas no plano inter-nacional e no Brasil repercutem de modo devastador na esfera dos direitos humanos e fundamentais de comunidades inteiras Essas infraccedilotildees podem constituir a um soacute tempo graves violaccedilotildees de direitos humanos maacutexime se considerarmos que o nuacute-cleo material elementar da dignidade humana ldquoeacute composto do miacutenimo existencial locuccedilatildeo que identifica o conjunto de bens e utilidades baacutesicas para a subsistecircncia fiacutesica e indispensaacutevel ao desfrute da proacutepria liberdade Aqueacutem daquele patamar ainda quando haja sobrevivecircncia natildeo haacute dignidaderdquo2

A ecologia em suas vaacuterias vertentes reconhece como diretriz principal a urgecircncia no enfrentamento de problemas ambientais reais que jaacute logram pocircr em perigo a proacutepria vida na Terra no paradigma da sociedade de risco A crise ambiental traduz especial dramaticidade nos problemas que suscita porquanto ameaccedilam a viabilidade do ldquocontinuum das espeacuteciesrdquo Jaacute a interdependecircncia das matrizes que unem as diferen-tes formas de vida aliada agrave constataccedilatildeo de que a alteraccedilatildeo de apenas um dos fatores nelas presentes pode produzir consequecircncias significativas em todo o conjunto re-

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

RE 835558RG ‒ Tema 648rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 8-8-2017Informativo STF 853

175iacutendice de teses

clama uma linha de coordenaccedilatildeo de poliacuteticas segundo a loacutegica da responsabilidade compartilhada expressa em regulaccedilatildeo internacional centrada no multilateralismo

Destarte o Estado brasileiro eacute signataacuterio de convenccedilotildees e acordos internacionais como a Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuterica ratificada pelo Decreto Legislativo 3 de 1948 em vigor no Brasil desde 26 de novembro de 1965 e promulgada pelo Decreto 58054 de 23 de marccedilo de 1966 a Convenccedilatildeo de Washington sobre o Comeacutercio Internacional das Es-peacutecies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinccedilatildeo (CITES) ratificada pelo Decreto-Lei 541975 e promulgada pelo Decreto 766231975 e a Convenccedilatildeo sobre Diversidade Bioloacutegica (CDB) ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 2 de 8 de fevereiro de 1994 Diante disso percebe-se inequiacutevoco interesse do Brasil na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade e dos recursos bioloacutegicos nacionais

A Repuacuteblica Federativa do Brasil ao firmar a Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuterica assumiu entre outros com-promissos o de ldquotomar as medidas necessaacuterias para a superintendecircncia e regulamenta-ccedilatildeo das importaccedilotildees exportaccedilotildees e tracircnsito de espeacutecies protegidas de flora e fauna e de seus produtos pelos seguintes meios a) concessatildeo de certificados que autorizem a exportaccedilatildeo ou tracircnsito de espeacutecies protegidas de flora e fauna ou de seus produtosrdquo3

Igualmente o Estado brasileiro ratificou adesatildeo ao Princiacutepio da Precauccedilatildeo ao assi-nar a Declaraccedilatildeo do Rio durante a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Am-biente e Desenvolvimento (Rio 92) e a Carta da Terra no Foacuterum Rio+5 Com fulcro nesse princiacutepio fundamental de direito internacional ambiental os povos devem esta-belecer mecanismos de combate preventivos agraves accedilotildees que ameaccedilam a utilizaccedilatildeo sus-tentaacutevel dos ecossistemas biodiversidade e florestas fenocircmeno juriacutedico que a toda evidecircncia implica interesse direto da Uniatildeo quando a conduta revele repercussatildeo no plano internacional

1 ldquoArt 109 Aos juiacutezes federais compete processar e julgar () IV ndash os crimes poliacuteticos e as infraccedilotildees penais praticadas em detrimento de bens serviccedilos ou interesse da Uniatildeo ou de suas entidades au-taacuterquicas ou empresas puacuteblicas excluiacutedas as contravenccedilotildees e ressalvada a competecircncia da Justiccedila Militar e da Justiccedila Eleitoralrdquo

2 Liccedilatildeo acadecircmica do ministro Roberto Barroso citada no voto do ministro Luiz Fux no presente julgamento

3 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuteri-ca em vigor no Brasil desde 1965

176iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila comum julgar accedilatildeo movida por trabalhador contratado

sob o regime da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) mas regido por lei

que instituiu o regime estatutaacuterio no acircmbito do ente puacuteblico com o objetivo

de receber diferenccedilas salariais originadas no primeiro periacuteodo que possuam

reflexo no periacuteodo posterior agrave transmudaccedilatildeo de regime juriacutedico1

Eacute a natureza juriacutedica do viacutenculo existente entre o trabalhador e o poder puacuteblico vigente ao tempo da propositura da accedilatildeo que define a competecircncia jurisdicional para a soluccedilatildeo da controveacutersia independentemente de o direito pleiteado ter-se ori-ginado no periacuteodo celetista2 e 3

Somente a Justiccedila comum eacute competente para constituir direito em favor de ser-vidor submetido no momento da propositura da accedilatildeo ao regime estatutaacuterio ainda que retroativo ao periacuteodo celetista Somente a essa Justiccedila compete pronunciar-se so-bre a existecircncia a validade e a eficaacutecia das relaccedilotildees entre servidores e o poder puacuteblico fundadas em viacutenculo juriacutedico-administrativo4 e 5

Ademais uma vez que em tese existe a possibilidade de o direito previsto em lei sob a eacutegide de regime celetista repercutir no regime estatutaacuterio compete agrave Justiccedila comum decidir sobre sua constituiccedilatildeo ainda que respeitado o prazo prescricional a decisatildeo retroaja para dizer sobre o direito tanto no periacuteodo celetista quanto no estatutaacuterio6 e 7

1 Precedentes RE 141861 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 29-11-1996 e RE 174192 AgR rel min Cezar Peluso 1ordf T DJ de 12-3-2004

2 Precedentes AI 367056 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 18-5-2007 Rcl 7208 AgR red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJE de 27-11-2009 e Rcl 7039 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 8-5-2009

3 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila comum

Rcl 8909 AgRred p o ac min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 21-8-2017Informativo STF 840

177iacutendice de teses

4 Precedentes Rcl 8110 AgR red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJE de 12-2-2010 e Rcl 5924 AgR rel min Eros Grau P DJE de 23-10-2009

5 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

6 Precedente RE 216330 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 18-2-2014

7 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

178iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila do Trabalho processar e julgar causa relativa a depoacutesitos

do Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) de servidor que ingressou

no serviccedilo puacuteblico antes da Constituiccedilatildeo de 1988 sem prestar concurso

A competecircncia eacute a medida da jurisdiccedilatildeo atribuiacuteda constitucional ou infraconstitu-cionalmente ao oacutergatildeo judicial e decorre da accedilatildeo ajuizada de acordo com a causa de pedir1 Se a causa petendi eacute a relaccedilatildeo juriacutedica de natureza celetista pretendendo-se parcelas trabalhistas ndash como indenizaccedilatildeo correspondente aos depoacutesitos natildeo efetua-dos do FGTS ndash a anaacutelise do tema cabe agrave Justiccedila do Trabalho e natildeo agrave Justiccedila comum Agravequela incumbe inclusive examinar possiacutevel carecircncia da accedilatildeo

Ademais se eacute incontroverso que o ingresso do empregado no serviccedilo puacuteblico ocor-reu antes da Constituiccedilatildeo de 1988 e sem a preacutevia realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico apre-senta-se incabiacutevel a transmudaccedilatildeo do regime celetista para o estatutaacuterio2 devendo ser mantida a competecircncia da Justiccedila do Trabalho3

1 A ministra Caacutermen Luacutecia e os ministros Gilmar Mendes e Roberto Barroso ressalvaram seus posi-cionamentos no sentido de que a causa de pedir natildeo define a competecircncia

2 Voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

3 Precedentes ADI 1150 rel min Moreira Alves P DJ de 17-4-1998 e ARE 906491 rel min Teori Zavascki P DJE de 2-10-2015

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila do Trabalho

CC 7950rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 839

179iacutendice de teses

A competecircncia penal da Justiccedila Castrense natildeo se limita apenas aos integran-

tes das Forccedilas Armadas nem se define por isso mesmo ratione personae1

A competecircncia penal da Justiccedila Militar eacute aferiacutevel objetivamente a partir da sub-sunccedilatildeo do comportamento do agente ndash de qualquer agente mesmo o civil ndash ainda que em tempo de paz ao preceito incriminador consubstanciado nos tipos penais definidos no Coacutedigo Penal Militar (CPM)2

O art 124 da Constituiccedilatildeo Federal3 estabelece que agrave Justiccedila Militar compete pro-cessar e julgar os crimes militares definidos em lei Por sua vez o art 9ordm III a do CPM4 considera crime militar em tempo de paz os delitos praticados por militar da reserva ou reformado ou por civil contra as instituiccedilotildees militares contra o patrimocirc-nio sob a administraccedilatildeo militar ou contra a ordem administrativa militar

Interessa agrave Justiccedila Militar da Uniatildeo qualquer fato capaz de desestabilizar os inte-resses moral e organizacional compreendidos no conceito amplo de hierarquia e disciplina militares5

1 HC 109544 MC rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 9-6-2017

2 Idem

3 ldquoArt 124 Agrave Justiccedila Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em leirdquo

4 ldquoArt 9ordm Consideram-se crimes militares em tempo de paz () III ndash os crimes praticados por militar da reserva ou reformado ou por civil contra as instituiccedilotildees militares considerando-se como tais natildeo soacute os compreendidos no inciso I como os do inciso II nos seguintes casos a) contra o patrimocirc-nio sob a administraccedilatildeo militar ou contra a ordem administrativa militarrdquo

5 HC 124858 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 31-8-2015

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Militar

HC 136539rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-6-2017Informativo STF 842

180iacutendice de teses

Eacute inconstitucional o art 3ordm da Resoluccedilatildeo TJTPRJ 120141 do Plenaacuterio do

Tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro que dispotildee sobre regras de processo

eleitoral no Poder Judiciaacuterio estadual

A norma impugnada viola o art 93 caput da Constituiccedilatildeo Federal2 segundo o qual estaacute reservada agrave lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal a re-gulamentaccedilatildeo da mateacuteria afeta agrave elegibilidade para os oacutergatildeos diretivos dos tribunais

Aleacutem disso enquanto a mencionada lei natildeo for editada satildeo as disposiccedilotildees da Lei Complementar 351979 Lei Orgacircnica da Magistratura Nacional (LOMAN) recep-cionada pela Constituiccedilatildeo de 19883 que definem regime juriacutedico uacutenico para a ma-gistratura brasileira e viabilizam tratamento uniforme vaacutelido em todo o territoacuterio nacional para as questotildees intriacutensecas ao Poder Judiciaacuterio garantindo a necessaacuteria independecircncia para a devida prestaccedilatildeo jurisdicional

Desde que natildeo contrariem a Constituiccedilatildeo essas normas devem ser obrigatoria-mente observadas pelos tribunais ao elaborarem seus regimentos internos e demais atos normativos

Diante disso ao prever a possibilidade de ldquoo Desembargador ser novamente eleito para o mesmo cargo desde que observado o intervalo de dois mandatosrdquo o art 3ordm da resoluccedilatildeo impugnada contraria tambeacutem as balizas estabelecidas no art 102 da Loman4

1 ldquoO Tribunal Pleno do Tribunal de Justiccedila do Estado do Rio de Janeiro no acircmbito de sua competecircncia e no uso de suas atribuiccedilotildees legais e regimentais e tendo em vista o que foi decidido na sessatildeo do dia 21 de agosto de 2014 (Processo 0034509-6420148120000) resolve () Art 3ordm Poderaacute o Desembar-gador ser novamente eleito para o mesmo cargo desde que observado o intervalo de dois mandatosrdquo

2 ldquoArt 93 Lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal disporaacute sobre o Estatuto da Magistratura observados os seguintes princiacutepiosrdquo

3 ADI 2880 rel min Gilmar Mendes P DJ de 1ordm-12-2014 ADI 509 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 16-9-2014 e ADI 3508 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 31-8-2007

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Tribunais e juiacutezes dos Estados

ADI 5310rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 9-10-2017Informativo STF 851

181iacutendice de teses

4 ldquoArt 102 Os Tribunais pela maioria dos seus membros efetivos por votaccedilatildeo secreta elegeratildeo dentre seus Juiacutezes mais antigos em nuacutemero correspondente ao dos cargos de direccedilatildeo os titulares destes com mandato por dois anos proibida a reeleiccedilatildeo Quem tiver exercido quaisquer cargos de direccedilatildeo por quatro anos ou o de Presidente natildeo figuraraacute mais entre os elegiacuteveis ateacute que se esgotem todos os nomes na ordem de antiguidade Eacute obrigatoacuteria a aceitaccedilatildeo do cargo salvo recusa manifes-tada e aceita antes da eleiccedilatildeo Paraacutegrafo uacutenico O disposto neste artigo natildeo se aplica ao Juiz eleito para completar periacuteodo de mandato inferior a um anordquo

182iacutendice de teses

Cabe ao procurador-geral da Repuacuteblica a apreciaccedilatildeo de conflitos de atribui-

ccedilatildeo entre oacutergatildeos do Ministeacuterio Puacuteblico

Em divergecircncia interna corporis entre oacutergatildeos ministeriais a apreciaccedilatildeo da lide com-pete ao procurador-geral da Repuacuteblica como oacutergatildeo nacional do Ministeacuterio Puacuteblico1

O conflito de atribuiccedilotildees entre Ministeacuterios Puacuteblicos vinculados a entes federa-tivos diversos natildeo configura conflito federativo com aptidatildeo suficiente para atrair a competecircncia originaacuteria do Supremo Tribunal Federal (STF) prevista no art 102 I da Constituiccedilatildeo Federal2 Por essa razatildeo o STF eacute declarado incompetente para a apreciaccedilatildeo de accedilotildees dessa natureza

1 Precedentes ACO 924 rel min Luiz Fux P DJE de 23-9-2016 ACO 1394 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 28-8-2017 Pet 4706 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 16-5-2017 e Pet 4863 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 16-5-2017

2 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente a) a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal b) nas infraccedilotildees penais comuns o Presidente da Repuacuteblica o Vice-Presidente os membros do Congresso Nacional seus proacuteprios Ministros e o Procurador-Geral da Repuacuteblica c) nas infraccedilotildees penais comuns e nos crimes de responsabilidade os Ministros de Estado e os Coman-dantes da Marinha do Exeacutercito e da Aeronaacuteutica ressalvado o disposto no art 52 I os membros dos Tribunais Superiores os do Tribunal de Contas da Uniatildeo e os chefes de missatildeo diplomaacutetica de caraacuteter permanente d) o habeas corpus sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas aliacute-neas anteriores o mandado de seguranccedila e o habeas data contra atos do Presidente da Repuacuteblica das Mesas da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal do Tribunal de Contas da Uniatildeo do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do proacuteprio Supremo Tribunal Federal e) o litiacutegio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal ou o Territoacuterio f ) as causas e os conflitos entre a Uniatildeo e os Estados a Uniatildeo e o Distrito Federal ou entre uns e outros inclusive as respectivas entidades da administraccedilatildeo indireta g) a extradiccedilatildeo solicitada por Estado estrangeiro h) (Revogado pela Emenda Constitucional n 45 de 2004) i) o habeas corpus quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionaacuterio

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Funccedilotildees essenciais agrave Justiccedila Ȥ Ministeacuterio Puacuteblico

ACO 1567 QOrel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 835

183iacutendice de teses

cujos atos estejam sujeitos diretamente agrave jurisdiccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal ou se trate de crime sujeito agrave mesma jurisdiccedilatildeo em uma uacutenica instacircncia j) a revisatildeo criminal e a accedilatildeo rescisoacuteria de seus julgados l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildees m) a execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircncia originaacuteria facultada a delegaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para a praacutetica de atos processuais n) a accedilatildeo em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados o) os conflitos de competecircncia entre o Superior Tribunal de Justiccedila e quaisquer tribunais entre Tribunais Superiores ou entre estes e qualquer outro tribunal p) o pedido de medida cautelar das accedilotildees diretas de inconstitucionalidade q) o mandado de injunccedilatildeo quando a elaboraccedilatildeo da norma regulamentadora for atribuiccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica do Congresso Nacional da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal das Mesas de uma dessas Casas Legislativas do Tribunal de Contas da Uniatildeo de um dos Tribunais Superiores ou do proacuteprio Supremo Tribunal Federal r) as accedilotildees contra o Conselho Nacional de Justiccedila e contra o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblicordquo

TRIBUTACcedilAtildeO E ORCcedilAMENTODIREITO CONSTITUCIONAL

185iacutendice de teses

A seguranccedila puacuteblica presentes a prevenccedilatildeo e o combate a incecircndios faz-se

no campo da atividade preciacutepua pela unidade da Federaccedilatildeo e porque servi-

ccedilo essencial tem como a viabilizaacute-la a arrecadaccedilatildeo de impostos natildeo cabendo

ao Municiacutepio a criaccedilatildeo de taxa para tal fim

Os serviccedilos de extinccedilatildeo e prevenccedilatildeo de incecircndios e de defesa civil natildeo satildeo espe-ciacuteficos e divisiacuteveis sendo exercidos de forma geral Essas funccedilotildees satildeo essenciais inerentes e exclusivas ao proacuteprio Estado no que deteacutem o monopoacutelio da forccedila

Com efeito a atividade preciacutepua do Estado eacute viabilizada mediante arrecadaccedilatildeo decorrente de impostos pressupondo a taxa o exerciacutecio do poder de poliacutecia ou a utilizaccedilatildeo efetiva ou potencial de serviccedilos puacuteblicos especiacuteficos e divisiacuteveis prestados ao contribuinte ou postos agrave disposiccedilatildeo Nem mesmo o Estado poderia no acircmbito da seguranccedila puacuteblica revelada pela prevenccedilatildeo e combate a incecircndios instituir valida-mente a taxa como proclamou o Supremo Tribunal Federal embora no campo da tutela de urgecircncia1

Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo Federal eacute clara ao estabelecer no art 144 sectsect 6ordm e 7ordm2 a competecircncia estadual para organizar as carreiras de bombeiro militar a quem com-pete o serviccedilo de combate a incecircndios e o poder de poliacutecia a ele correlato nas edifi-caccedilotildees em geral3

Portanto eacute inconcebiacutevel que a pretexto de prevenir sinistro relativo a incecircndio Mu-niciacutepio substitua Estado-membro por meio da criaccedilatildeo de tributo sob o roacutetulo ldquotaxardquo

1 ADI 1942 MC rel min Moreira Alves P DJ de 22-10-1999

2 ldquoArt 144 A seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguin-tes oacutergatildeos () V ndash poliacutecias militares e corpos de bombeiros militares () sect 6ordm As poliacutecias militares e corpos de bombeiros militares forccedilas auxiliares e reserva do Exeacutercito subordinam-se juntamente

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Princiacutepios gerais ndash Repercussatildeo Geral

RE 643247RG ‒ Tema 16rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 19-12-2017Informativo STF 866

186iacutendice de teses

com as poliacutecias civis aos Governadores dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios sect 7ordm A lei disciplinaraacute a organizaccedilatildeo e o funcionamento dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela seguranccedila puacuteblica de maneira a garantir a eficiecircncia de suas atividadesrdquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

187iacutendice de teses

A imunidade reciacuteproca prevista no art 150 VI a da Constituiccedilatildeo Federal

(CF)1 natildeo se estende a empresa privada arrendataacuteria de imoacutevel puacuteblico quan-

do seja ela exploradora de atividade econocircmica com fins lucrativos Nessa

hipoacutetese eacute constitucional a cobranccedila do Imposto Predial Territorial Urbano

(IPTU) pelo Municiacutepio

A imunidade tributaacuteria reciacuteproca decorre da necessidade de observar-se no contex-to federativo o respeito muacutetuo e a autonomia dos entes preservando o sistema fe-derativo Eacute concedida agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico e agravequelas que embora tenham personalidade juriacutedica de direito privado qualificam-se como prestadoras de serviccedilo puacuteblico sem intuito lucrativo Natildeo cabe estender essa garantia para aleacutem das situaccedilotildees versadas no art 150 sect 2ordm da CF como no caso de empresa explora-dora de atividade econocircmica arrendataacuteria de bem puacuteblico (sociedade de economia mista ou empresa puacuteblica) Isso conferiria ao particular vantagem concorrencial in-devida em relaccedilatildeo a outras empresas em afronta ao princiacutepio da livre concorrecircncia (CF art 170 IV2)

Aleacutem disso o art 150 sect 3ordm da CF3 eacute expresso ao dispor que as regras de imunida-de reciacuteproca natildeo se aplicam ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos relacionados com exploraccedilatildeo de atividades econocircmicas regidas pelas normas aplicaacuteveis a empreendi-mentos privados nem exoneram o promitente comprador da obrigaccedilatildeo de pagar imposto relativamente ao bem imoacutevel Tendo em conta a limitaccedilatildeo imposta por esse dispositivo se nem mesmo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico que exploram atividade econocircmica gozam da imunidade as de direito privado tambeacutem natildeo pode-riam fazecirc-lo

O argumento de ser o imoacutevel pertencente agrave Uniatildeo utilizado para a persecuccedilatildeo de interesse puacuteblico tampouco atrai a imunidade quanto ao IPTU O ente puacuteblico ainda que natildeo seja o responsaacutevel pela exploraccedilatildeo direta da atividade econocircmica ao ceder o imoacutevel agrave sociedade de economia mista permite que o bem seja afetado

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 594015RG ‒ Tema 385rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 25-8-2017Informativo STF 860

188iacutendice de teses

a empreendimento desenvolvido ensejando a geraccedilatildeo de riquezas posteriormen-te incorporadas ao patrimocircnio da cessionaacuteria em benefiacutecio uacuteltimo dos acionistas Afastar o ocircnus de pagamento desse tributo por empresa que atua no setor econocircmi-co ombreando com outras a partir de extensatildeo indevida da imunidade reciacuteproca implica desrespeito ao sect 2ordm do art 173 da CF4 Tal dispositivo veda agraves empresas puacute-blicas e agraves sociedades de economia mista o gozo de privileacutegios fiscais natildeo extensivos agraves organizaccedilotildees do setor privado

Por fim agrave luz dos arts 325 e 346 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional tem-se que o Mu-niciacutepio natildeo extrapolou a proacutepria competecircncia ao instituir e cobrar o pagamento de IPTU devido pela sociedade de economia mista A incidecircncia desse imposto natildeo estaacute limitada agrave propriedade do imoacutevel mas tambeacutem ao domiacutenio uacutetil e a posse do bem Ademais o contribuinte natildeo se restringe ao proprietaacuterio do imoacutevel alcanccedilando tanto o titular do domiacutenio uacutetil quanto o possuidor a qualquer tiacutetulo

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

2 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

3 ldquoArt 150 () sect 3ordm As vedaccedilotildees do inciso VI a e do paraacutegrafo anterior natildeo se aplicam ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos relacionados com exploraccedilatildeo de atividades econocircmicas regidas pelas normas aplicaacuteveis a empreendimentos privados ou em que haja contraprestaccedilatildeo ou pagamento de preccedilos ou tarifas pelo usuaacuterio nem exonera o promitente comprador da obrigaccedilatildeo de pagar imposto rela-tivamente ao bem imoacutevelrdquo

4 ldquoArt 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocirc-mica pelo Estado soacute seraacute permitida quando necessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 2ordm As empresas puacuteblicas e as socieda-des de economia mista natildeo poderatildeo gozar de privileacutegios fiscais natildeo extensivos agraves do setor privadordquo

5 ldquoArt 32 O imposto de competecircncia dos Municiacutepios sobre a propriedade predial e territorial urba-na tem como fato gerador a propriedade o domiacutenio uacutetil ou a posse de bem imoacutevel por natureza ou por acessatildeo fiacutesica como definido na lei civil localizado na zona urbana do Municiacutepiordquo

6 ldquoArt 34 Contribuinte do imposto eacute o proprietaacuterio do imoacutevel o titular do seu domiacutenio uacutetil ou o seu possuidor a qualquer tiacutetulordquo

189iacutendice de teses

Os requisitos para o gozo de imunidade hatildeo de estar previstos em lei com-

plementar1 e 2

Em se tratando de limitaccedilatildeo ao poder de tributar ldquoexigecircncias legaisrdquo ao exerciacutecio das imunidades satildeo sempre ldquonormas de regulaccedilatildeordquo agraves quais fez referecircncia o cons-tituinte originaacuterio no inciso II do art 146 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 no qual consta que as mesmas limitaccedilotildees devem ser dispostas em lei complementar

ldquoEacute importante destacar a necessidade permanente de compatibilizar a abordagem finaliacutestica das imunidades com o conjunto normativo e axioloacutegico que eacute a Consti-tuiccedilatildeo Com a Carta compromissoacuteria de hoje existe uma variedade de objetivos opostos estabelecidos em normas de igual hierarquia Nesse acircmbito de antinomias potenciais o elemento sistemaacutetico adquire relevacircncia praacutetica junto ao teleoloacutegico Sob tal perspectiva lsquocada norma juriacutedica deve ser interpretada com consideraccedilatildeo de todas as demais e natildeo de forma isoladarsquo presente a busca pela harmonia e integri-dade sistecircmica da Constituiccedilatildeo Combinados os elementos sistemaacutetico e teleoloacutegico a interpretaccedilatildeo deve cumprir funccedilatildeo harmonizante influenciada prioritariamente por princiacutepios como o da lsquodignidade da pessoa humana da igualdade do Estado De-mocraacutetico de Direito da Repuacuteblica e da Federaccedilatildeorsquordquo4

Ademais o sect 7ordm do art 195 da CF5 deve ser interpretado e aplicado em conjunto com o inciso II do art 146 Assim afasta-se duacutevida quanto agrave reserva exclusiva de lei complementar para a disciplina das condiccedilotildees a serem observadas no exerciacutecio do direito agrave imunidade

No acircmbito do sistema normativo brasileiro e considerada a natureza tributaacuteria das contribuiccedilotildees sociais eacute no Coacutedigo Tributaacuterio Nacional (CTN) precisamente no art 146 que se encontram os requisitos exigidos

ldquoNenhuma lei ordinaacuteria de qualquer poder tributante pode criar requisitos adicio-nais impondo ocircnus que o constituinte deliberadamente quis afastar Todos os requi-sitos acrescentados ao restrito elenco do art 14 satildeo inconstitucionais em face de natildeo

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 566622RG ‒ Tema 32rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 855

190iacutendice de teses

possuir o Poder Tributante nas trecircs esferas nenhuma forccedila legislativa suplementar Apenas a lei complementar pode impor condiccedilotildees Nunca a lei ordinaacuteria que no maacuteximo pode reproduzir os comandos superioresrdquo7

Cabe agrave lei ordinaacuteria apenas prever requisitos que natildeo extrapolem os estabelecidos no CTN ou em lei complementar superveniente sendo-lhe vedado criar obstaacuteculos novos adicionais aos jaacute previstos em ato complementar

Por fim o art 55 da Lei 8212 de 1991 prevecirc requisitos para o exerciacutecio da imu-nidade tributaacuteria versada no sect 7ordm do art 195 da Carta da Repuacuteblica que revelam verdadeiras condiccedilotildees preacutevias ao aludido direito Por isso deve ser reconhecida a inconstitucionalidade formal desse dispositivo infraconstitucional no que extrapola o definido no art 14 do CTN por violaccedilatildeo ao art 146 II da CF

Os requisitos legais exigidos na parte final do sect 7ordm do art 195 da CF enquanto natildeo for editada nova lei complementar sobre a mateacuteria satildeo somente aqueles do art 14 do CTN

1 Entendimento aplicado tambeacutem na ADI 2028 red p o ac min Rosa Weber P DJE de 16-5-2017

2 ldquo1 lsquo() fica evidenciado que (a) entidade beneficente de assistecircncia social (art 195 sect 7ordm) natildeo eacute con-ceito equiparaacutevel a entidade de assistecircncia social sem fins lucrativos (art 150 VI) (b) a Constituiccedilatildeo Federal natildeo reuacutene elementos discursivos para dar concretizaccedilatildeo segura ao que se possa entender por modo beneficente de prestar assistecircncia social (c) a definiccedilatildeo desta condiccedilatildeo modal eacute indispensaacutevel para garantir que a imunidade do art 195 sect 7ordm da CF cumpra a finalidade que lhe eacute designada pelo texto constitucional e (d) esta tarefa foi outorgada ao legislador infraconstitucional que tem auto-ridade para defini-la desde que respeitados os demais termos do texto constitucionalrsquo 2 lsquoAspectos

meramente procedimentais referentes agrave certificaccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo e controle administrativo con-tinuam passiacuteveis de definiccedilatildeo em lei ordinaacuteria A lei complementar eacute forma somente exigiacutevel

para a definiccedilatildeo do modo beneficente de atuaccedilatildeo das entidades de assistecircncia social contempla-

das pelo art 195 sect 7ordm da CF especialmente no que se refere agrave instituiccedilatildeo de contrapartidas a serem observadas por elasrsquordquo (Trecho da ementa da ADI 2028 red p o ac min Rosa Weber P DJE de 16-5-2017 ndash sem grifos no original)

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar () II ndash regular as limitaccedilotildees constitucionais ao poder de tribu-tarrdquo

4 SOUZA NETO Claacuteudio Pereira de SARMENTO Daniel Direito constitucional teoria histoacuteria e meacutetodos de trabalho Belo Horizonte Foacuterum 2012 p 415-416

5 ldquoArt 195 () sect 7ordm Satildeo isentas de contribuiccedilatildeo para a seguridade social as entidades beneficentes de assistecircncia social que atendam agraves exigecircncias estabelecidas em leirdquo

6 ldquoArt 14 O disposto na aliacutenea c do inciso IV do art 9ordm eacute subordinado agrave observacircncia dos seguintes re-quisitos pelas entidades neles referidas I ndash natildeo distribuiacuterem qualquer parcela de seu patrimocircnio ou

191iacutendice de teses

de suas rendas a qualquer tiacutetulo II ndash aplicarem integralmente no Paiacutes os seus recursos na manu-tenccedilatildeo dos seus objetivos institucionais III ndash manterem escrituraccedilatildeo de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidatildeo sect 1ordm Na falta de cumprimento do disposto neste artigo ou no sect 1ordm do art 9ordm a autoridade competente pode suspender a aplicaccedilatildeo do benefiacutecio sect 2ordm Os serviccedilos a que se refere a aliacutenea c do inciso IV do art 9ordm satildeo exclusivamente os diretamente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivosrdquo

7 MARTINS Ives Gandra da Silva Entidades sem fins lucrativos com finalidades culturais e filantroacute-picas ndash Imunidade constitucional de impostos e contribuiccedilotildees sociais ndash Parecer Caderno de direito tributaacuterio e financcedilas puacuteblicas v 4 p 83 1994

192iacutendice de teses

A contribuiccedilatildeo social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do

empregado quer anteriores ou posteriores agrave Emenda Constitucional 201998

ldquoO texto constitucional em seu atual sect 11 do art 201 antigo sect 4ordm1 sempre consagrou a interpretaccedilatildeo extensiva da questatildeo salarial para fins de contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria

Para fins previdenciaacuterios o texto constitucional adotou a expressatildeo lsquofolha de sa-laacuteriosrsquo como o conjunto de verbas remuneratoacuterias de natureza retributiva ao traba-lho realizado incluindo gorjetas comissotildees gratificaccedilotildees horas-extras 13ordm salaacuterio adicionais 13 de feacuterias precircmios entre outras parcelas cuja natureza retributiva ao trabalho habitual prestado mesmo em situaccedilotildees especiais eacute patenterdquo2

1 ldquoArt 201 () sect 4ordm Os ganhos habituais do empregado a qualquer tiacutetulo seratildeo incorporados ao sa-laacuterio para efeito de contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria e consequente repercussatildeo em benefiacutecios nos casos e na forma da leirdquo (Redaccedilatildeo anterior agrave Emenda Constitucional 201998)

2 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 565160RG ‒ Tema 20rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 859

193iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

Incide o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) considerado imoacutevel de

pessoa juriacutedica de direito puacuteblico cedido agrave pessoa juriacutedica de direito privado

devedora do tributo

Natildeo se pode aplicar a imunidade tributaacuteria reciacuteproca se o bem estaacute desvinculado de finalidade estatal A imunidade tributaacuteria reciacuteproca possui natureza subjetiva e natildeo cabe o entendimento a revelar extensatildeo para aleacutem das situaccedilotildees previstas no art 150 sect 2ordm do texto constitucional1 A regra da imunidade da aliacutenea a do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 estaacute restrita agrave instituiccedilatildeo de imposto sobre patrimocircnio ou renda ou serviccedilos das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico

A imunidade reciacuteproca natildeo foi concebida com o propoacutesito de atender particular que desenvolve atividade econocircmica e usufrui de vantagem advinda da utilizaccedilatildeo de bem puacuteblico A previsatildeo decorre da necessidade de observar-se no contexto federati-vo o respeito muacutetuo e a autonomia dos entes Natildeo cabe estendecirc-la evitando a tribu-taccedilatildeo de particulares que atuam no regime de livre concorrecircncia

Caso fosse reconhecida a imunidade isso geraria como efeito colateral vanta-gem competitiva artificial em favor da empresa privada que teria um ganho em relaccedilatildeo aos seus concorrentes A retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formaccedilatildeo de preccedilos menores o que provoca desequiliacutebrio das relaccedilotildees de mer-cado e em consequecircncia afronta ao princiacutepio da livre concorrecircncia expresso no art 170 da CF3

A hipoacutetese de incidecircncia do IPTU natildeo estaacute limitada agrave propriedade do imoacutevel in-cluindo o domiacutenio uacutetil e a posse do bem O mesmo entendimento vale para o contri-buinte do tributo que natildeo se restringe ao proprietaacuterio do imoacutevel alcanccedilando tanto o titular do domiacutenio uacutetil quanto o possuidor a qualquer tiacutetulo

RE 601720RG ‒ Tema 437red p o ac min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 5-9-2017Informativo STF 860

194iacutendice de teses

1 ldquoArt 150 () sect 2ordm A vedaccedilatildeo do inciso VI a eacute extensiva agraves autarquias e agraves fundaccedilotildees instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico no que se refere ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos vinculados a suas finalidades essenciais ou agraves delas decorrentesrdquo

2 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

195iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria constante do art 150 VI d da Constituiccedilatildeo Federal

(CF)1 aplica-se ao livro eletrocircnico (e-book) inclusive aos suportes exclusiva-

mente utilizados para fixaacute-lo

A teleologia da imunidade contida no art 150 VI d da CF aponta para a proteccedilatildeo de valores princiacutepios e ideias de elevada importacircncia como a liberdade de expres-satildeo voltada agrave democratizaccedilatildeo e agrave difusatildeo da cultura a formaccedilatildeo cultural do povo indene de manipulaccedilotildees a neutralidade de modo a natildeo fazer distinccedilatildeo entre grupos economicamente fortes e fracos assim como entre grupos poliacuteticos a livre forma-ccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica e a liberdade de informar e ser informado Tambeacutem busca o barateamento do custo de produccedilatildeo dos livros jornais e perioacutedicos de modo a facilitar e estimular a divulgaccedilatildeo de ideias conhecimentos e informaccedilotildees Com base na interpretaccedilatildeo finaliacutestica se o livro natildeo constituir veiacuteculo de ideias de transmis-satildeo de pensamentos ainda que formalmente possa ser considerado como tal seraacute descabida a aplicaccedilatildeo de vantagens tributaacuterias

A imunidade sob anaacutelise possui natureza objetiva pois protege o objeto tributa-do e natildeo o contribuinte propriamente dito No caso natildeo se leva em consideraccedilatildeo a capacidade contributiva do consumidor mas apenas os impostos incidentes sobre materialidades proacuteprias das operaccedilotildees com livros jornais perioacutedicos e com o papel destinado agrave sua impressatildeo Logo natildeo deve ser interpretada em seus extremos sob pena de se subtrair da salvaguarda toda a racionalidade que inspira seu alcance praacute-tico ou de transformar a imunidade em subjetiva na medida em que acabaria por desonerar de todo a pessoa do contribuinte

De acordo com a interpretaccedilatildeo histoacuterica e teleoloacutegica da imunidade tributaacuteria a vontade do legislador natildeo foi de restringi-la apenas ao livro editado em papel A apli-caccedilatildeo desse instituto deve se projetar no futuro e levar em conta os novos fenocircmenos sociais culturais e tecnoloacutegicos Com isso evita-se o esvaziamento das normas imu-

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 330817RG ‒ Tema 593rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 856

196iacutendice de teses

nizantes por mero lapso temporal aleacutem de se propiciar a constante atualizaccedilatildeo do alcance de seus preceitos

No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo evolutiva da imunidade demonstra que os fun-damentos racionais que levaram agrave ediccedilatildeo do art 150 VI d da CF continuam a existir mesmo no que se refere aos livros eletrocircnicos Afinal o referido dispositivo natildeo diz respeito apenas ao meacutetodo gutenberguiano de produccedilatildeo de livros jornais e perioacutedi-cos natildeo sendo o papel essencial para conceituar esses bens Ademais as mudanccedilas histoacutericas e os fatores poliacuteticos e sociais da atualidade quer em razatildeo do avanccedilo tec-noloacutegico quer em decorrecircncia da preocupaccedilatildeo ambiental justificam a equiparaccedilatildeo do papel aos suportes utilizados para a publicaccedilatildeo dos livros Esses suportes satildeo consi-derados apenas o continente (corpus mechanicum ou seja a base material do livro) que abrange o conteuacutedo (corpus misticum) das obras literaacuterias Para o livro possuir imuni-dade tributaacuteria eacute portanto dispensaacutevel que se apresente no formato de coacutedice pois o corpo mecacircnico natildeo eacute o essencial ou o condicionante para o gozo da imunidade Ante a variedade de tipos de suporte (tangiacutevel ou intangiacutevel) que um livro pode ter essa caracteriacutestica soacute pode ser considerada como elemento acidental no conceito de livro

Acresce-se a esse entendimento natildeo ser necessaacuterio que o leitor tenha de passar sua visatildeo pelo texto e decifrar os signos da escrita Destarte a imunidade de que trata o art 150 VI d da CF estende-se aos livros digitais (e-books) e aos audiolivros ou audio-books (livros gravados em aacuteudio)

No tocante ao CD-ROM este eacute considerado apenas um corpo mecacircnico ou supor-te no qual estaacute fixado o livro (conteuacutedo textual) Tanto o suporte quanto o livro estatildeo abarcados pela imunidade tributaacuteria

Tendo em vista que o avanccedilo na cultura escrita estaacute ligado ao advento de novas tecnologias relativas ao suporte dos livros a teleologia da regra de imunidade igual-mente abrange o papel eletrocircnico (e-paper) e os aparelhos leitores de livros eletrocircni-cos (e-readers) Afinal esses aparelhos se equiparam aos tradicionais corpos mecacircnicos dos livros fiacutesicos ainda que eventualmente estejam equipados com funcionalidades acessoacuterias ou rudimentares que auxiliam a leitura digital como acesso agrave internet para o download de livros digitais dicionaacuterios marcadores escolha do tipo e tamanho de fonte iluminaccedilatildeo do texto etc Entretanto esse entendimento natildeo eacute aplicaacutevel aos apa-relhos multifuncionais como tablets smartphones e laptops os quais vatildeo muito aleacutem de meros equipamentos utilizados para leitura de livros digitais

Por fim vale mencionar que a maior capacidade de interaccedilatildeo com o leitorusuaacute-rio provocada pelos livros digitais a partir de uma determinada maacutequina em com-

197iacutendice de teses

paraccedilatildeo com os livros tradicionais natildeo impede o reconhecimento de sua imunidade tributaacuteria ao bem final pois esse fato parece estar associado ao processo evolutivo da cultura escrita

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre () d) livros jornais perioacutedicos e o papel destinado a sua impressatildeordquo

198iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria subjetiva aplica-se a seus beneficiaacuterios na posiccedilatildeo de

contribuinte de direito mas natildeo na de simples contribuinte de fato sendo

irrelevante para a verificaccedilatildeo da existecircncia do beneplaacutecito constitucional a

repercussatildeo econocircmica do tributo envolvido1

O ente beneficiaacuterio de imunidade tributaacuteria subjetiva ocupante da posiccedilatildeo de simples contribuinte de fato embora possa arcar com os ocircnus financeiros dos impostos envol-vidos nas compras de mercadorias ndash a exemplo do Imposto sobre Produtos Industria-lizados (IPI) e do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ndash caso tenham sido transladados pelo vendedor contribuinte de direito desembolsa importe que juridicamente natildeo eacute tributo mas sim preccedilo decorrente de relaccedilatildeo contratual

A existecircncia ou natildeo dessa translaccedilatildeo econocircmica e sua intensidade dependem de diversos fatores externos agrave natureza da exaccedilatildeo como o momento da pactuaccedilatildeo do preccedilo (se antes ou depois da criaccedilatildeo ou da majoraccedilatildeo do tributo) a elasticidade da oferta e a elasticidade da demanda entre outros

Ademais diversas liccedilotildees doutrinaacuterias2 3 4 5 6 e 7 desaconselham levar em conside-raccedilatildeo a denominada repercussatildeo econocircmica do tributo para verificar a existecircncia da imunidade tributaacuteria

1 ARE 758886 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 20-5-2014 RE 600480 AgR rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 16-8-2013 ARE 721176 AgR rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 13-8-2013 ARE 690382 AgR rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 17-12-2012 AI 736607 AgR rel min Ayres Britto 2ordf T DJE de 19-10-2011 e AI 620444 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 5-3-2010

2 MACHADO Hugo de Brito Curso de direito tributaacuterio 30 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 286287

3 Idem Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro In ______ (Coord) Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro Satildeo Paulo Malheiros 2013 p 208

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 608872RG ‒ Tema 342rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 27-9-2017Informativo STF 855

199iacutendice de teses

4 MACHADO SEGUNDO Hugo de Brito Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro In MACHADO Hugo de Brito (Coord) Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro Satildeo Paulo Malheiros 2013 p 218

5 ATALIBA Geraldo Hipoacutetese de incidecircncia tributaacuteria 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2010 p 143

6 SCHOUERI Luiacutes Eduardo A restituiccedilatildeo de impostos indiretos no sistema juriacutedico-tributaacuterio brasi-leiro Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 27 n 1 p 3948 janmar 1987

7 BECKER Alfredo Augusto Teoria geral do direito tributaacuterio 3 ed Satildeo Paulo Lejus 1998

200iacutendice de teses

A imunidade da aliacutenea d do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal de

19881 alcanccedila componentes eletrocircnicos destinados exclusivamente a inte-

grar unidade didaacutetica com fasciacuteculos

Essa norma objetiva proteger natildeo simplesmente o livro jornal ou perioacutedico como ldquosuportes fiacutesicos de ideias e comunicaccedilatildeordquo mas o valor intriacutenseco do conteuacutedo vei-culado de natureza educacional informativa expressiva do pensamento indivi-dual ou coletivo O meio eacute secundaacuterio importando precipuamente promover e assegurar o direito fundamental agrave educaccedilatildeo agrave cultura agrave informaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo poliacutetica dos cidadatildeos2

Diante disso componentes eletrocircnicos atinentes a cursos de montagem de com-putadores representam elementos indispensaacuteveis ao conjunto didaacutetico integrando o produto final acabado voltado a veicular informaccedilotildees de cunho educativo

A extensatildeo da imunidade tributaacuteria em favor desses elementos eletrocircnicos justifi-ca-se em razatildeo de constituiacuterem material complementar ao conteuacutedo educativo Natildeo se trata de bens que possam ser caracterizados como ldquobrindes comerciaisrdquo presentes apenas como forma de atrair a aquisiccedilatildeo do produto pelo puacuteblico O fasciacuteculo im-presso e os componentes eletrocircnicos satildeo partes fisicamente distinguiacuteveis finaliacutestica e funcionalmente unitaacuterias

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre () d) livros jornais perioacutedicos e o papel destinado a sua impressatildeordquo

2 RE 183403 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 4-5-2001 RE 199183 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 12-6-1998 e RE 221239 rel min Ellen Gracie 2ordf T DJ de 6-8-2004

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 595676RG ‒ Tema 259rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 18-12-2017Informativo STF 856

201iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria prevista no art 150 IV a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

natildeo alcanccedila imoacuteveis da Uniatildeo e das unidades federadas cedidos para empreen-

dimentos privados exploradores de atividade econocircmica com fins lucrativos

A aplicabilidade da imunidade reciacuteproca depende da superaccedilatildeo ou aprovaccedilatildeo em tes-te de trecircs estaacutegios tendo a Constituiccedilatildeo como paracircmetro de controle quais sejam

a) a imunidade eacute ldquosubjetivardquo isto eacute ela se aplica agrave propriedade bens e serviccedilos utilizados na satisfaccedilatildeo dos objetivos institucionais imanentes do ente federado cuja tributaccedilatildeo poderia colocar em risco a respectiva autonomia poliacutetica Em consequecircn-cia eacute incorreto ler a claacuteusula de imunizaccedilatildeo de modo a reduzi-la a mero instrumento destinado a dar ao ente federado condiccedilotildees de contrataccedilatildeo mais vantajosas indepen-dentemente do contexto

b) atividades de exploraccedilatildeo econocircmica destinadas primordialmente a aumentar o patrimocircnio do Estado ou de particulares devem ser submetidas a tributaccedilatildeo por se apresentarem como manifestaccedilotildees de riqueza e deixarem a salvo a autonomia po-liacutetica Em decorrecircncia a circunstacircncia de a atividade ser desenvolvida em regime de monopoacutelio por concessatildeo ou por delegaccedilatildeo eacute de todo irrelevante

c) a desoneraccedilatildeo natildeo deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princiacute-pios da livre concorrecircncia e do exerciacutecio de atividade profissional ou econocircmica liacutecita Em princiacutepio o sucesso ou a desventura empresarial devem pautar-se por virtudes e viacutecios proacuteprios do mercado e da administraccedilatildeo sem que a intervenccedilatildeo do Estado seja favor preponderante

Igualmente a interpretaccedilatildeo da sujeiccedilatildeo passiva mostra-se indissociaacutevel dos con-ceitos constitucionais da propriedade da funccedilatildeo do tributo e da proacutepria imunidade enquanto a tributaccedilatildeo se baseia no aspecto econocircmico e na funccedilatildeo social que se daacute agrave propriedade Na locaccedilatildeo empresarial de fins lucrativos tanto o proprietaacuterio-locador como o possuidor-locataacuterio retiram vantagem econocircmica do bem imoacutevel de modo que a aparente ldquoposse-detenccedilatildeordquo eacute signo presuntivo de riqueza tambeacutem para a pessoa

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar

RE 434251red p o ac min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 836

202iacutendice de teses

que recebe a propriedade imoacutevel para uso Dessa forma o locataacuterio empresarial com fins lucrativos tambeacutem eacute ldquopossuidor a qualquer tiacutetulordquo para fins de incidecircncia do Im-posto Predial Territorial Urbano (IPTU) nos termos da Constituiccedilatildeo Nessa medida o art 32 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional2 deve ser lido agrave luz da CF com ecircnfase em trecircs pontos materialidade possiacutevel do IPTU (CF art 156 I3) isonomia (CF art 150 II4) livre iniciativa e livre concorrecircncia (CF art 170 caput e IV5)

A tributaccedilatildeo representa um custo do empreendimento de modo que sua redu-ccedilatildeo ou supressatildeo conferem importante vantagem competitiva Aliaacutes esta eacute a base da guerra fiscal Reconhecer a impossibilidade pura e simples de o locador particular ser considerado sujeito passivo da exaccedilatildeo somente porque conseguiu alugar imoacutevel de propriedade de ente puacuteblico implicaria em estender a ente privado salvaguarda proacutepria da Federaccedilatildeo

Assim a entidade privada passaria a ter vantagem decorrente de elemento artificial e injustificaacutevel sem qualquer lastro em sua capacidade de gestatildeo ou maior eficiecircncia do agente econocircmico O prejuiacutezo resultante afeta tanto os interesses individuais de cada outra entidade privada que natildeo foi agraciada pelo benefiacutecio como interesses transcen-dentes de toda a coletividade Neste ponto eacute importante frisar que o enfraquecimento do mercado pode acarretar distorccedilotildees na oferta na formaccedilatildeo de preccedilos no desenvolvi-mento de novos produtos e serviccedilos e na qualidade das atividades exercidas

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

2 ldquoArt 32 O imposto de competecircncia dos Municiacutepios sobre a propriedade predial e territorial urba-na tem como fato gerador a propriedade o domiacutenio uacutetil ou a posse de bem imoacutevel por natureza ou por acessatildeo fiacutesica como definido na lei civil localizado na zona urbana do Municiacutepiordquo

3 ldquoArt 156 Compete aos Municiacutepios instituir impostos sobre I ndash propriedade predial e territorial urbanardquo

4 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () II ndash instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situaccedilatildeo equivalente proibida qualquer distinccedilatildeo em razatildeo de ocupaccedilatildeo profissional ou funccedilatildeo por eles exercida independentemente da denominaccedilatildeo juriacutedica dos rendi-mentos tiacutetulos ou direitosrdquo

5 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

203iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Reparticcedilatildeo das receitas tributaacuterias

Natildeo cabe agrave Uniatildeo criar por meio de legislaccedilatildeo ordinaacuteria novos criteacuterios de

deduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da receita arrecadada de impostos em desacordo com

o art 159 I a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Da arrecadaccedilatildeo dos impostos e de acordo com o dispositivo constitucional e legal a Uniatildeo deve entregar ao Fundo de Participaccedilatildeo dos Estados 215 do produto da arrecadaccedilatildeo do Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) e do Imposto sobre Produ-tos Industrializados (IPI)

Dessa forma as balizas referentes agrave regecircncia dos tributos estariam bem definidas e respeitadas natildeo se podendo considerar outras poliacuteticas norteadas pelo interesse da Uniatildeo sob pena de esvaziamento do estabelecido na Constituiccedilatildeo

A reduccedilatildeo na base de caacutelculo ante as deduccedilotildees pela Secretaria do Tesouro Na-cional nos valores recolhidos com o IRPJ das contribuiccedilotildees do Programa de Inte-graccedilatildeo Nacional (PIN) e do Programa de Redistribuiccedilatildeo de Terras e de Estiacutemulo agrave Agroinduacutestria do Norte e do Nordeste (PROTERRA) criados respectivamente pelos Decretos-Lei 1106 de 16 de junho de 1970 e 1179 de 6 de julho de 1971 eacute incompatiacutevel com a ordem constitucional vigente

A uacutenica possibilidade de desconto permitida pela CF seria referente agrave quota-parte alusiva ao desconto na fonte relativamente a servidores dos Estados e do Distrito Federal (art 157 I)2 e dos Municiacutepios (art 158 I)3 porque procedido pelas proacute-prias unidades da Federaccedilatildeo natildeo cabendo admitir o aditamento agrave Carta mediante legislaccedilatildeo ordinaacuteria para chegar-se a subtraccedilotildees diversas esvaziando-se o objetivo da norma que outro natildeo eacute senatildeo a transferecircncia do arrecadado pela Uniatildeo no per-centual referido

A consideraccedilatildeo de outras parcelas para desconto dependeria de emenda consti-tucional

ACO 758rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

204iacutendice de teses

1 ldquoArt 159 A Uniatildeo entregaraacute I ndash do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos sobre renda e proven-tos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados 49 (quarenta e nove por cento) na seguinte forma a) vinte e um inteiros e cinco deacutecimos por cento ao Fundo de Participaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federalrdquo

2 ldquoArt 157 Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal I ndash o produto da arrecadaccedilatildeo do imposto da Uniatildeo sobre renda e proventos de qualquer natureza incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer tiacutetulo por eles suas autarquias e pelas fundaccedilotildees que instituiacuterem e mantiveremrdquo

3 ldquoArt 158 Pertencem aos Municiacutepios I ndash o produto da arrecadaccedilatildeo do imposto da Uniatildeo sobre renda e proventos de qualquer natureza incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer tiacutetulo por eles suas autarquias e pelas fundaccedilotildees que instituiacuterem e mantiveremrdquo

205iacutendice de teses

Eacute assegurado ao Poder Judiciaacuterio estadual o direito de receber ateacute o dia

vinte de cada mecircs em duodeacutecimos os recursos correspondentes agraves dota-

ccedilotildees orccedilamentaacuterias sendo facultado ao Poder Executivo do Estado pro-

ceder ao desconto uniforme da Receita Corrente Liacutequida prevista na Lei

Orccedilamentaacuteria Anual estadual1 em sua proacutepria receita e na dos demais Po-

deres e oacutergatildeos autocircnomos

Ato omissivo consubstanciado em atraso no dever de repasse pelo Poder Exe-cutivo dos recursos financeiros previstos em lei orccedilamentaacuteria aprovada pela As-sembleia Legislativa ao Poder Judiciaacuterio estadual viola o direito prescrito no art 168 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 Esse dispositivo instrumentaliza o postulado da separaccedilatildeo de poderes e impede a sujeiccedilatildeo dos demais Poderes e oacutergatildeos autocirc-nomos da Repuacuteblica a arbiacutetrios e ilegalidades perpetradas no acircmbito do Poder Executivo respectivo

Ainda que se trate de Estado-membro oficialmente reconhecido como em ldquoesta-do de calamidade puacuteblica no acircmbito da administraccedilatildeo financeirardquo3 natildeo se pode le-gitimar a fixaccedilatildeo pelo Poder Executivo de cronograma orccedilamentaacuterio Esse ato retira a previsibilidade da disponibilizaccedilatildeo de recursos aos demais Poderes e instituiccedilotildees autocircnomos subtraindo-lhes as condiccedilotildees miacutenimas de gerir seus proacuteprios recursos considerada a frustraccedilatildeo da receita conforme conveniecircncia e oportunidade Nes-se sentido o repasse duodecimal deve ocorrer ldquoateacute o dia vinte de cada mecircsrdquo (CF art 168) a fim de garantir o autogoverno do Poder Judiciaacuterio tendo em vista ser o repasse ldquouma ordem de distribuiccedilatildeo prioritaacuteria (natildeo somente equitativa) de satisfa-ccedilatildeo das dotaccedilotildees orccedilamentaacuteriasrdquo4

A lei orccedilamentaacuteria no momento de sua elaboraccedilatildeo declara uma expectativa do montante a ser realizado a tiacutetulo de receita que pode ou natildeo vir a acontecer no exer-ciacutecio financeiro de referecircncia sendo o Poder Executivo responsaacutevel por proceder agrave arrecadaccedilatildeo conforme a poliacutetica puacuteblica adotada Ante a possibilidade de a receita

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Financcedilas puacuteblicas Ȥ Orccedilamentos

MS 34483 MCrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 8-8-2017Informativo STF 848

206iacutendice de teses

prevista natildeo vir a se concretizar no curso do exerciacutecio financeiro a Lei de Responsa-bilidade Fiscal (LC 1012000 art 9ordm5) instituiu o dever de cada um dos Poderes por ato proacuteprio proceder aos ajustes necessaacuterios com limitaccedilatildeo de empenho (despesa) ante a frustraccedilatildeo de receitas que inviabilize o cumprimento de suas obrigaccedilotildees Esses ajustes satildeo operados em ambiente de diaacutelogo institucional em que o Poder Executi-vo sinaliza o montante da frustraccedilatildeo de receita ndash calculada a partir do que havia sido projetado no momento da ediccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e a receita efetivamente arreca-dada no curso do exerciacutecio financeiro de referecircncia Por sua vez os demais Poderes e oacutergatildeos autocircnomos da Repuacuteblica no exerciacutecio de sua autonomia administrativa promovem os cortes necessaacuterios em suas despesas para adequar as metas fiscais de sua responsabilidade aos limites constitucionais e legais autorizados conforme con-veniecircncia e oportunidade

Atraveacutes desse diaacutelogo entre Poderes e oacutergatildeos autocircnomos eacute possiacutevel alcanccedilar so-luccedilatildeo conciliatoacuteria para o quadro faacutetico revelado pelas dificuldades declaradas pelo Estado-membro em suas financcedilas agravadas pela queda da arrecadaccedilatildeo O julgamen-to da medida cautelar por sua vez natildeo afasta a possibilidade de posterior audiecircncia de conciliaccedilatildeo entre as partes

Eacute possiacutevel o risco de impasse no ambiente dialoacutegico institucional como na hipoacute-tese de algum Poder ou oacutergatildeo autocircnomo se recusar a realizar a autolimitaccedilatildeo Esse cenaacuterio exsurge porque foi suspensa por forccedila de decisatildeo cautelar na ADI 22386 a eficaacutecia do dispositivo que prescreve a possibilidade de o Poder Executivo por ato unilateral estipular medida de austeridade nas esferas dos demais Poderes e oacutergatildeos autocircnomos7 A ratio que informa esse julgado eacute a impossibilidade de se legitimar a atuaccedilatildeo do Poder Executivo como julgador e executor de sua proacutepria decisatildeo

Essa situaccedilatildeo reclama a atuaccedilatildeo de um terceiro ndash estranho ao oacutergatildeo autocircnomo interessado no repasse orccedilamentaacuterio e ao Poder com a funccedilatildeo de arrecadar a receita e realizar o orccedilamento ndash responsaacutevel por fixar o patamar da reduccedilatildeo financeira e assim solucionar a controveacutersia8 admitindo-se que o contingenciamento uniforme seja autorizado por decisatildeo judicial resguardando-se a possibilidade de compensaccedilatildeo futura no caso de a frustraccedilatildeo orccedilamentaacuteria alegada natildeo se concretizar Tambeacutem eacute ressalvada a revisatildeo desse provimento cautelar caso natildeo se demonstre o decesso na arrecadaccedilatildeo nem no percentual ambos mediante ldquorelatoacuterio detalhado com todos os recursos que compotildeem a Receita Corrente Liacutequidardquo ao qual em todos os casos deve ser conferida a mais ampla transparecircncia e publicidade

207iacutendice de teses

A exigecircncia de repasse integral dos recursos financeiros projetados na lei orccedilamen-taacuteria para Poderes e oacutergatildeos autocircnomos natildeo eacute o meio adequado para se proceder ao sancionamento de eventual ilegalidade perpetrada pelo Poder Executivo nos atos de governo e de gestatildeo de sua responsabilidade os quais podem e devem ser submetidos agrave avaliaccedilatildeo nas esferas adequadas e perante os oacutergatildeos competentes para seu conheci-mento e eventual sanccedilatildeo dos responsaacuteveis

Natildeo prospera a pretensatildeo do governo estadual de compensar os duodeacutecimos fal-tantes da receita orccedilamentaacuteria do Tribunal de Justiccedila do Estado prevista para o exer-ciacutecio financeiro com o superaacutevit e o acuacutemulo financeiro de duodeacutecimos e do fundo gerido pelo proacuteprio Tribunal de Justiccedila apurados nas contas do Poder Judiciaacuterio A receita do Fundo Especial do Tribunal de Justiccedila (FETJ) eacute originada em sua maior parte do pagamento de custas pelas partes que demandam o Poder Judiciaacuterio esta-dual e natildeo satildeo beneficiaacuterias da gratuidade de Justiccedila cuja destinaccedilatildeo eacute exclusiva para ldquocusteio dos serviccedilos afetos agraves atividades especiacuteficas da Justiccedilardquo (CF art 98 sect 2ordm9) Nessa linha havendo ainda lei estadual10 que disciplina a destinaccedilatildeo desses valores haacute portanto impedimento legal e constitucional para a utilizaccedilatildeo desses recursos para pagamento de salaacuterios aos servidores e de subsiacutedios aos magistrados

1 Lei Orccedilamentaacuteria Anual 72102016 do Estado do Rio de Janeiro

2 ldquoArt 168 Os recursos correspondentes agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias compreendidos os creacuteditos su-plementares e especiais destinados aos oacutergatildeos dos Poderes Legislativo e Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria Puacuteblica ser-lhes-atildeo entregues ateacute o dia 20 de cada mecircs em duodeacutecimos na forma da lei complementar a que se refere o art 165 sect 9ordmrdquo

3 Decreto 456922016 e Lei 74832016 ndash ambos do Estado do Rio de Janeiro ndash que respectivamen-te declaram e reconhecem a situaccedilatildeo de calamidade puacuteblica no acircmbito da administraccedilatildeo financeira do Estado do Rio de Janeiro

4 MS 21450 rel min Octavio Gallotti P DJ de 5-6-1992

5 ldquoArt 9ordm Se verificado ao final de um bimestre que a realizaccedilatildeo da receita poderaacute natildeo comportar o cumprimento das metas de resultado primaacuterio ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais os Poderes e o Ministeacuterio Puacuteblico promoveratildeo por ato proacuteprio e nos montantes necessaacuterios nos trinta dias subsequentes limitaccedilatildeo de empenho e movimentaccedilatildeo financeira segundo os criteacuterios fixados pela lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

6 ADI 2238 MC rel min Ilmar Galvatildeo P DJE de 12-9-2008

7 LC 1012000 ldquoArt 9ordm () sect 3ordm No caso de os Poderes Legislativo e Judiciaacuterio e o Ministeacuterio Puacuteblico natildeo promoverem a limitaccedilatildeo no prazo estabelecido no caput eacute o Poder Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os criteacuterios fixados pela lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

208iacutendice de teses

8 MS 31671 MC rel min Ricardo Lewandowski decisatildeo monocraacutetica DJE de 30-10-2012

9 ldquoArt 98 A Uniatildeo no Distrito Federal e nos Territoacuterios e os Estados criaratildeo () sect 2ordm As custas e emolumentos seratildeo destinados exclusivamente ao custeio dos serviccedilos afetos agraves atividades especiacutefi-cas da Justiccedilardquo

10 Art 2ordm da Lei 25241996 do Estado do Rio de Janeiro

209iacutendice de teses

Eacute constitucional a Lei federal 13255 de 15 de fevereiro de 2016 (Lei Orccedilamen-

taacuteria Anual) em especial quanto agraves disposiccedilotildees em que satildeo estipuladas as

dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias destinadas agrave Justiccedila do Trabalho (Lei Orccedilamentaacuteria

Anual de 2016 Anexo IV)

O Poder Judiciaacuterio natildeo obstante ostente iniciativa de encaminhamento da propos-ta orccedilamentaacuteria que lhe eacute proacutepria natildeo interdita do ponto de vista formal que o controle sobre essa iniciativa constitucionalmente consagrada seja realizado de modo autocircnomo em sede parlamentar

No caso a separaccedilatildeo de poderes embora seja claacuteusula peacutetrea natildeo sofreu viola-ccedilatildeo ndash art 2ordm1 cc art 60 sect 4ordm2 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) Primeiramente porque a hipoacutetese normativa impugnada (Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2016 Anexo IV) consti-tui-se como tiacutepica manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo a respeito de proposiccedilatildeo legisla-tiva submetida a discussatildeo parlamentar Em segundo lugar na situaccedilatildeo legislativa ora em apreccedilo as normas procedimentais do devido processo legislativo (procedural due process of law) foram devidamente atendidas vale dizer houve observacircncia da iniciati-va da proposiccedilatildeo legislativa em estrito respeito formal agrave autonomia administrativa e financeira da Justiccedila do Trabalho (CF art 993)

O controle orccedilamentaacuterio pelo Legislativo funda-se num corpo de normas que eacute a um soacute tempo ldquoestatuto protetivo do cidadatildeo-contribuinterdquo e ldquoferramenta do ad-ministrador puacuteblico e instrumento indispensaacutevel ao Estado Democraacutetico de Direito para fazer frente a suas necessidades financeirasrdquo

O abuso do poder de emenda assim como do descumprimento das premissas de pro-porcionalidade (ou de razoabilidade) natildeo pode ser acolhido quando suscitado de forma geneacuterica diante da ausecircncia de impugnaccedilatildeo especiacutefica e adequada dos requisitos norma-tivos reveladores desses excessos invocados em quaisquer das tradiccedilotildees teoacutericas sustenta-das (seja a do desvio do poder seja a da proporcionalidade ou ainda a da razoabilidade)

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Financcedilas puacuteblicas Ȥ Orccedilamentos

ADI 5468rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 2-8-2017Informativo STF 832

210iacutendice de teses

O desvio de finalidade tem como referecircncia conceitual a ideia de deturpaccedilatildeo do dever-poder atribuiacutedo a determinado agente puacuteblico que embora atue aparentemen-te dentro dos limites da atribuiccedilatildeo institucional mobiliza a sua atuaccedilatildeo a finalidade natildeo imposta ou natildeo desejada pela ordem juriacutedica ou pelo interesse puacuteblico

O abuso parlamentar natildeo se configura sob o acircngulo da principiologia dos sub-princiacutepios da proporcionalidade (necessidade adequaccedilatildeo e proporcionalidade em sentido estrito) quando imposta a reduccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico destinado a oacutergatildeos e programas orccedilamentaacuterios em decorrecircncia de crise econocircmica e fiscal4

Por outro lado a jurisdiccedilatildeo constitucional em face da tessitura aberta de confor-maccedilatildeo legislativa prevista pelo art 166 sect 3ordm I da CF5 natildeo deteacutem capacidade insti-tucional automaacutetica ou pressuposta e natildeo pode empreender no acircmbito do controle abstrato a tarefa de coordenaccedilatildeo entre o Plano Plurianual e as respectivas Leis de Diretrizes Orccedilamentaacuterias e Leis Orccedilamentaacuterias Anuais

Diante da ausecircncia de abusividade deve-se declarar que a funccedilatildeo de definir recei-tas e despesas do aparato estatal eacute uma das mais tradicionais e relevantes do Poder Legislativo Impotildee-se ao Poder Judiciaacuterio no caso postura de deferecircncia institucional em relaccedilatildeo ao debate parlamentar sob pena de indevida e ilegiacutetima tentativa de esva-ziamento de tiacutepicas funccedilotildees institucionais do Parlamento

1 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

2 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deli-beraccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir I ndash a forma federativa de Estado II ndash o voto direto secreto universal e perioacutedico III ndash a separaccedilatildeo dos Poderes IV ndash os direitos e garantias individuaisrdquo

3 ldquoArt 99 Ao Poder Judiciaacuterio eacute assegurada autonomia administrativa e financeira sect 1ordm Os tribunais elaboraratildeo suas propostas orccedilamentaacuterias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os de-mais Poderes na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias sect 2ordm O encaminhamento da proposta ouvidos os outros tribunais interessados compete I ndash no acircmbito da Uniatildeo aos Presidentes do Supremo Tribu-nal Federal e dos Tribunais Superiores com a aprovaccedilatildeo dos respectivos tribunais II ndash no acircmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territoacuterios aos Presidentes dos Tribunais de Justiccedila com a aprovaccedilatildeo dos respectivos tribunais sect 3ordm Se os oacutergatildeos referidos no sect 2ordm natildeo encaminharem as res-pectivas propostas orccedilamentaacuterias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias o Poder Executivo consideraraacute para fins de consolidaccedilatildeo da proposta orccedilamentaacuteria anual os valores aprovados na lei orccedilamentaacuteria vigente ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do sect 1ordm deste artigo sect 4ordm Se as propostas orccedilamentaacuterias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do sect 1ordm o Poder Executivo procederaacute aos ajustes necessaacuterios para fins de consolidaccedilatildeo da proposta orccedilamentaacuteria anual sect 5ordm Durante a execuccedilatildeo

211iacutendice de teses

orccedilamentaacuteria do exerciacutecio natildeo poderaacute haver a realizaccedilatildeo de despesas ou a assunccedilatildeo de obrigaccedilotildees que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias exceto se previamente autorizadas mediante a abertura de creacuteditos suplementares ou especiaisrdquo

4 ldquoO cenaacuterio de crise econocircmica e fiscal eacute exemplificado por dados ilustrativos constantes dos autos no sentido de que lsquoEntre os programas que tiveram as suas dotaccedilotildees reduzidas deste ano para o proacuteximo estatildeo o Minha Casa Minha Vida (de R$ 14 bilhotildees para R$ 43 bilhotildees) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Teacutecnico e Emprego ndash Pronatec (de R$ 4 bilhotildees para R$ 16 bilhatildeo) Por outro lado o Bolsa Famiacutelia que teve sua reduccedilatildeo defendida pelo relator teraacute R$ 281 bilhotildees ndash acreacutescimo de R$ 1 bilhatildeo em relaccedilatildeo a 2015 Os cortes de gastos nos oacutergatildeos federais foram feitos em relaccedilatildeo agrave proposta original do Executivo e envolvem principalmente as despesas de custeio Os gastos com pessoal por exemplo passaram de R$ 2875 bilhotildees para R$ 2773 bilhotildees Todos os trecircs Poderes aleacutem do Ministeacuterio Puacuteblico foram afetados No caso mais extremo o do Judiciaacuterio os cortes atingiram 20 do custeio Apenas os Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e da Sauacutede teratildeo mais di-nheiro disponiacutevel devido agrave destinaccedilatildeo de emendas individuais de deputados e senadores O fundo partidaacuterio tambeacutem recebeu dotaccedilatildeo extra durante a tramitaccedilatildeo da LOA mas seraacute menor em 2016 do que foi em 2015 A meta de superaacutevit de R$ 305 bilhotildees vale para todo o setor puacuteblico nacional incluindo Estados e Municiacutepios Para a Uniatildeo a economia para pagamento da diacutevida deveraacute ser de R$ 20 bilhotildees O projeto original do Orccedilamento que o Executivo entregou ao Congresso em agos-to previa um deacuteficit fiscal equivalente aos mesmos R$ 305 bilhotildeesrdquo (Trecho da ementa do presente julgamento)

5 ldquoArt 166 Os projetos de lei relativos ao plano plurianual agraves diretrizes orccedilamentaacuterias ao orccedilamento anual e aos creacuteditos adicionais seratildeo apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional na forma do regimento comum () sect 3ordm As emendas ao projeto de lei do orccedilamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso I ndash sejam compatiacuteveis com o plano pluria-nual e com a lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

ORDEM ECONOcircMICA E FINANCEIRADIREITO CONSTITUCIONAL

213iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 que impotildee a existecircncia de serviccedilo de empacota-

mento em supermercados sob pena de multa e interdiccedilatildeo de estabelecimento

A restriccedilatildeo ao princiacutepio da livre iniciativa (CF art 1ordm IV2) protegido pelo art 170 caput da Constituiccedilatildeo3 a pretexto de proteger os consumidores natildeo atende ao princiacutepio da proporcionalidade nas suas trecircs dimensotildees adequaccedilatildeo necessidade e proporcionalidade em sentido estrito

Em primeiro lugar a providecircncia imposta pela lei estadual eacute inadequada porque a simples presenccedila de um empacotador em supermercados natildeo eacute uma medida que aumente a proteccedilatildeo dos direitos do consumidor mas sim mera conveniecircncia em be-nefiacutecio dos eventuais clientes Dessa forma a medida imposta demonstra-se incapaz de atingir o fim a que alegadamente se propotildee

Em segundo lugar trata-se tambeacutem de medida desnecessaacuteria A obrigaccedilatildeo de con-tratar um empregado ou um fornecedor de matildeo de obra exclusivamente com essa finalidade poderia ser facilmente substituiacuteda por um processo mecacircnico

Por fim as penalidades de multa e interdiccedilatildeo do estabelecimento satildeo despropor-cionais em sentido estrito se comparadas ao conforto gerado pelo empacotamento de mercadorias eis que capazes de verdadeiramente falir um supermercado de pe-queno ou meacutedio porte

1 Lei 21301993 do Estado do Rio de Janeiro ldquoArt 1ordm Os Estabelecimentos Comerciais autodeno-minados de Supermercados sediados ou com filiais no Estado do Rio de Janeiro teratildeo que prestar serviccedilo de empacotamento dos produtos comercializados nos mesmos Paraacutegrafo uacutenico Entende-se por EMPACOTAMENTO o serviccedilo prestado por funcionaacuterio do estabelecimento que teraacute como funccedilatildeo principal a de EMPACOTADOR de colocar em sacolas os produtos que forem adquiridos pelos clientes Art 2ordm O descumprimento desta Lei acarretaraacute as seguintes penalidades I ndash Multa de 10 a 100000 UFERJs [Unidade Fiscal do Estado do Rio de Janeiro] II ndash Interdiccedilatildeo do Estabelecimen-to Art 3ordm Os estabelecimentos citados teratildeo prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicaccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem econocircmica e financeira

Ȥ Princiacutepios gerais da atividade econocircmica Ȥ Livre iniciativa

ADI 907red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 24-11-2017Informativo STF 871

214iacutendice de teses

da presente Lei para adequarem seus quadros de pessoal agraves normas aqui contidas Art 4ordm Esta Lei entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo revogadas as disposiccedilotildees em contraacuteriordquo

2 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre iniciativardquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepiosrdquo

215iacutendice de teses

Nos termos do art 178 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 as normas e os tratados

internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aeacutereas

de passageiros especialmente as Convenccedilotildees de Varsoacutevia e Montreal tecircm

prevalecircncia em relaccedilatildeo ao Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC)

O princiacutepio constitucional que impotildee a defesa do consumidor (CF arts 5ordm XXXII2 e 170 V3) natildeo impede a derrogaccedilatildeo do CDC por norma mais restritiva ainda que por lei especial A proteccedilatildeo do consumidor natildeo eacute a uacutenica diretriz a orientar a ordem econocircmica nem o uacutenico mandamento constitucional a ser observado pelo legislador

Eacute certo que a Constituiccedilatildeo incluiu a defesa do consumidor no rol dos direitos fundamentais Poreacutem o proacuteprio texto constitucional jaacute em redaccedilatildeo originaacuteria tam-beacutem determinou a observacircncia dos acordos internacionais quanto agrave ordenaccedilatildeo do transporte aeacutereo internacional

O teor do art 178 da CF eacute claro ao impor a compatibilizaccedilatildeo entre a competecircncia legislativa interna em mateacuteria de transporte internacional e o cumprimento das normas internacionais adotadas pelo Brasil na mateacuteria

A teleologia da regra eacute uniformizar o direito aeronaacuteutico a fim de viabilizar e fo-mentar o transporte internacional Como a atividade envolve necessariamente dois ou mais Estados soberanos sua execuccedilatildeo sempre se conecta pelo menos a duas ordens juriacutedicas diferentes

Assim sem a uniformizaccedilatildeo das normas aplicaacuteveis a inseguranccedila juriacutedica seria enorme ndash inclusive para os passageiros que soacute poderiam saber os seus direitos recor-rendo a complexas regras de conexatildeo e estudando a legislaccedilatildeo estrangeira aplicaacutevel

Com efeito a harmonizaccedilatildeo das normas favorece a isonomia (CF art 5ordm caput) Afinal garante que todos os consumidores recebam o mesmo tratamento por parte dos fornecedores ndash o que aliaacutes eacute previsto no proacuteprio CDC como direito baacutesico do consumidor (art 6ordm II in fine4) Dessa forma a opccedilatildeo consagrada no art 178 pres-

Direito Constitucional Ȥ Ordem econocircmica e financeira

Ȥ Princiacutepios gerais da atividade econocircmica Ȥ Ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre ndash Repercussatildeo Geral

RE 636331rel min Gilmar MendesARE 766618rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 13-11-2017Informativo STF 859

216iacutendice de teses

tigia a um soacute tempo a previsibilidade do Direito a igualdade e os compromissos firmados pela Repuacuteblica junto agrave comunidade internacional

Ademais cabe destacar que no tocante agrave aparente antinomia entre a regra do art 145 da Lei 80781990 e a regra do art 226 da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia e do art 227 da Convenccedilatildeo de Montreal para Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Internacional deve-se considerar que natildeo haacute diferenccedila de hierarquia entre os diplomas normativos em conflito

As normas internacionais em questatildeo natildeo gozam de estatura normativa suprale-gal de acordo com a orientaccedilatildeo firmada no RE 4663438 uma vez que natildeo versa sobre a disciplina dos direitos humanos

Assim a aparente antinomia deve ser solucionada pela aplicaccedilatildeo dos criteacuterios or-dinaacuterios que determinam a prevalecircncia da lei especial em relaccedilatildeo agrave lei geral e da lei posterior em relaccedilatildeo agrave lei anterior (Lei de Introduccedilatildeo agraves Normas do Direito Brasilei-ro art 2ordm sect 2ordm9)

Com efeito a anaacutelise sob ambos os criteacuterios denota a prevalecircncia das referidas convenccedilotildees internacionais porque mais recentes10 e especiais11 em relaccedilatildeo ao CDC

Diante desse quadro eacute aplicaacutevel o limite indenizatoacuterio estabelecido na Conven-ccedilatildeo de Varsoacutevia e demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil em relaccedilatildeo agraves condenaccedilotildees por dano material decorrente de extravio de bagagem em voos inter-nacionais12

Isso se deve ao fato de a limitaccedilatildeo imposta pelos acordos internacionais alcanccedilar tatildeo somente a indenizaccedilatildeo por dano material e natildeo a reparaccedilatildeo por dano moral A exclusatildeo justifica-se porque a disposiccedilatildeo do art 22 natildeo faz qualquer referecircncia agrave reparaccedilatildeo por dano moral e a imposiccedilatildeo de limites quantitativos preestabelecidos natildeo parece condizente com a proacutepria natureza do bem juriacutedico tutelado nos casos de reparaccedilatildeo por dano moral

Igualmente aplicaacutevel eacute o prazo prescricional previsto no art 2913 da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia para a accedilatildeo de responsabilidade civil no caso de acidente aeacutereo em voo internacional14

1 ldquoArt 178 A lei disporaacute sobre a ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre devendo quanto agrave ordenaccedilatildeo do transporte internacional observar os acordos firmados pela Uniatildeo aten-dido o princiacutepio da reciprocidade Paraacutegrafo uacutenico Na ordenaccedilatildeo do transporte aquaacutetico a lei estabeleceraacute as condiccedilotildees em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a navegaccedilatildeo interior poderatildeo ser feitos por embarcaccedilotildees estrangeirasrdquo

217iacutendice de teses

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXII ndash o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidorrdquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

4 ldquoArt 6ordm Satildeo direitos baacutesicos do consumidor () II ndash a educaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo sobre o consumo ade-quado dos produtos e serviccedilos asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contrataccedilotildeesrdquo

5 ldquoArt 14 O fornecedor de serviccedilos responde independentemente da existecircncia de culpa pela re-paraccedilatildeo dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos bem como por informaccedilotildees insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiccedilatildeo e riscosrdquo

6 Convenccedilatildeo de Varsoacutevia (Decreto 207041931) ldquoArtigo 22 (1) No transporte de pessoas limita--se a responsabilidade do transportador agrave importacircncia de cento e vinte e cinco mil francos por passageiro Se a indenizaccedilatildeo de conformidade com a lei do tribunal que conhecer da questatildeo puder ser arbitrada em constituiccedilatildeo de renda natildeo poderaacute o respectivo capital exceder aquele limite Entretanto por acordo especial com o transportador poderaacute o viajante fixar em mais o limite de responsabilidade (2) No transporte de mercadorias ou de bagagem despachada limita-se a res-ponsabilidade do transportador agrave quantia de duzentos e cinquenta francos por quilograma salvo declaraccedilatildeo especial de lsquointeresse na entregarsquo feita pelo expedidor no momento de confiar ao trans-portador os volumes e mediante o pagamento de uma taxa suplementar eventual Neste caso fica o transportador obrigado a pagar ateacute a importacircncia da quantia declarada salvo se provar ser esta superior ao interesse real que o expedidor tinha entrega (3) Quanto aos objetos que o viajante con-serve sob guarda limita-se a cinco mil francos por viajante a responsabilidade do transportador (4) As quantias acima indicadas consideram-se referentes ao franco francecircs constituiacutedo de sessenta e cinco e meio miligramas do ouro ao tiacutetulo de novecentos mileacutesimos de metal fino Elas se poderatildeo converter em nuacutemeros redondos na moeda nacional de cada paiacutesrdquo

7 Convenccedilatildeo de Montreal para a Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Inter-nacional (Decreto 59102006) ldquoArtigo 22 ndash Limites de Responsabilidade Relativos ao Atraso da Bagagem e da Carga 1 Em caso de dano causado por atraso no transporte de pessoas como se especifica no Artigo 19 a responsabilidade do transportador se limita a 4150 Direitos Especiais de Saque por passageiro 2 No transporte de bagagem a responsabilidade do transportador em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso se limita a 1000 Direitos Especiais de Saque por passageiro a menos que o passageiro haja feito ao transportador ao entregar-lhe a bagagem registrada uma declaraccedilatildeo especial de valor da entrega desta no lugar de destino e tenha pago uma quantia su-plementar se for cabiacutevel Neste caso o transportador estaraacute obrigado a pagar uma soma que natildeo excederaacute o valor declarado a menos que prove que este valor eacute superior ao valor real da entrega no lugar de destino 3 No transporte de carga a responsabilidade do transportador em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso se limita a uma quantia de 17 Direitos Especiais de Saque por quilograma a menos que o expedidor haja feito ao transportador ao entregar-lhe o volume uma declaraccedilatildeo especial de valor de sua entrega no lugar de destino e tenha pago uma quantia suple-

218iacutendice de teses

mentar se for cabiacutevel Neste caso o transportador estaraacute obrigado a pagar uma quantia que natildeo excederaacute o valor declarado a menos que prove que este valor eacute superior ao valor real da entrega no lugar de destino 4 Em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso de uma parte da carga ou de qualquer objeto que ela contenha para determinar a quantia que constitui o limite de responsabi-lidade do transportador somente se levaraacute em conta o peso total do volume ou volumes afetados Natildeo obstante quando a destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso de uma parte da carga ou de um objeto que ela contenha afete o valor de outros volumes compreendidos no mesmo conhecimento aeacutereo ou no mesmo recibo ou se natildeo houver sido expedido nenhum desses documentos nos registros conservados por outros meios mencionados no nuacutemero 2 do Artigo 4 para determinar o limite de responsabilidade tambeacutem se levaraacute em conta o peso total de tais volumes 5 As disposiccedilotildees dos nuacutemeros 1 e 2 deste Artigo natildeo se aplicaratildeo se for provado que o dano eacute resultado de uma accedilatildeo ou omissatildeo do transportador ou de seus prepostos com intenccedilatildeo de causar dano ou de forma teme-raacuteria e sabendo que provavelmente causaria dano sempre que no caso de uma accedilatildeo ou omissatildeo de um preposto se prove tambeacutem que este atuava no exerciacutecio de suas funccedilotildees 6 Os limites prescritos no Artigo 21 e neste Artigo natildeo constituem obstaacuteculo para que o tribunal conceda de acordo com sua lei nacional uma quantia que corresponda a todo ou parte dos custos e outros gastos que o pro-cesso haja acarretado ao autor inclusive juros A disposiccedilatildeo anterior natildeo vigoraraacute quando o valor da indenizaccedilatildeo acordada excluiacutedos os custos e outros gastos do processo natildeo exceder a quantia que o transportador haja oferecido por escrito ao autor dentro de um periacuteodo de seis meses contados a partir do fato que causou o dano ou antes de iniciar a accedilatildeo se a segunda data eacute posteriorrdquo

8 RE 466343 rel min Cezar Peluso P DJE de 5-6-2009

9 ldquoArt 2ordm Natildeo se destinando agrave vigecircncia temporaacuteria a lei teraacute vigor ateacute que outra a modifique ou re-vogue () sect 2ordm A lei nova que estabeleccedila disposiccedilotildees gerais ou especiais a par das jaacute existentes natildeo revoga nem modifica a lei anteriorrdquo

10 ldquoDe fato embora o Decreto 20704 que promulga o texto original da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia tenha sido publicado em 24 de novembro de 1931 as modificaccedilotildees que sucessivamente sofreu satildeo posteriores ao Coacutedigo de Defesa do Consumidorrdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

11 ldquoA Lei 8078 de 1990 disciplina a generalidade das relaccedilotildees de consumo ao passo que as referidas Convenccedilotildees disciplinam uma modalidade especial de contrato a saber o contrato de transporte aeacutereo internacional de passageirosrdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

12 ldquo() as disposiccedilotildees previstas nos acordos internacionais aqui referidos aplicam-se exclusivamente ao transporte aeacutereo internacional de pessoas bagagens ou carga A expressatildeo lsquotransporte interna-cionalrsquo eacute definida no art 1ordm da Convenccedilatildeo para Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Internacional nos seguintes termos lsquo2 Para os fins da presente Convenccedilatildeo a expressatildeo transporte internacional significa todo transporte em que conforme o estipulado pelas partes o ponto de partida e o ponto de destino haja ou natildeo interrupccedilatildeo no transporte ou transbordo estatildeo situados seja no territoacuterio de dois Estados-partes seja no territoacuterio de um soacute Estado-parte havendo escala prevista no territoacuterio de qualquer outro Estado ainda que este natildeo seja um Estado-parte O transporte entre dois pontos dentro do territoacuterio de um soacute Estado-parte sem uma escala acordada

219iacutendice de teses

no territoacuterio de outro Estado natildeo se consideraraacute transporte internacional para os fins da presente Convenccedilatildeorsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

13 ldquoArt 29 (1) A accedilatildeo de responsabilidade deveraacute intentar-se sob pena de caducidade dentro do prazo de dois anos a contar da data de chegada ou do dia em que a aeronave devia ter chegado a seu des-tino ou do da interrupccedilatildeo do transporte (2) O prazo seraacute computado de acordo com a lei nacional do tribunal que conhecer da questatildeordquo

14 RE 297901 rel min Ellen Gracie P DJ de 31-3-2006

ORDEM SOCIALDIREITO CONSTITUCIONAL

221iacutendice de teses

Os estrangeiros residentes no Paiacutes satildeo beneficiaacuterios da assistecircncia social

prevista no art 203 V da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 uma vez atendidos os

requisitos constitucionais e legais

A Assembleia Nacional Constituinte de 19871988 imbuiacuteda de espiacuterito inclusivo e fraternal fez constar o benefiacutecio assistencial previsto no art 203 V da CF

A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar com o objetivo de confe-rir proteccedilatildeo agravequeles incapazes de garantir a subsistecircncia Os preceitos envolvidos satildeo os relativos agrave dignidade humana agrave solidariedade social agrave erradicaccedilatildeo da pobreza e agrave assistecircncia aos desamparados

O substrato do conceito de dignidade humana pode ser decomposto em trecircs ele-mentos (i) valor intriacutenseco (ii) autonomia e (iii) valor comunitaacuterio

Como ldquovalor intriacutensecordquo a dignidade requer o reconhecimento de que cada in-diviacuteduo eacute um fim em si mesmo nos termos do divulgado imperativo categoacuterico kantiano ldquoage de modo a utilizar a humanidade seja em relaccedilatildeo agrave tua proacutepria pes-soa ou qualquer outra sempre e todo o tempo como um fim e nunca meramente como um meiordquo Impede-se de um lado a funcionalizaccedilatildeo do indiviacuteduo e de outro afirma-se o valor de cada ser humano independentemente de escolhas situaccedilatildeo pessoal ou origem

Soa inequiacutevoco que deixar desamparado um ser humano desprovido dos meios materiais para garantir o proacuteprio sustento tendo em vista a situaccedilatildeo de idade avanccedila-da ou deficiecircncia representa expressa desconsideraccedilatildeo do mencionado valor

Como ldquoautonomiardquo a dignidade protege o conjunto de decisotildees e atitudes relacio-nado especificamente agrave vida de certo indiviacuteduo

Para que determinada pessoa seja capaz de mobilizar a proacutepria razatildeo em busca da construccedilatildeo de um ideal de vida boa ndash que no final das contas nos motiva a existir ndash eacute fundamental que lhe sejam fornecidas condiccedilotildees materiais miacutenimas Nesse aspecto

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Seguridade social Ȥ Assistecircncia social ndash Repercussatildeo Geral

RE 587970RG ndash Tema 173rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 22-9-2017Informativo STF 861

222iacutendice de teses

a previsatildeo do art 203 V da Carta Federal tambeacutem opera em suporte dessa concepccedilatildeo de vida digna

A ideia maior de solidariedade social foi alccedilada agrave condiccedilatildeo de princiacutepio pela Lei Fundamental A ningueacutem eacute dada a oportunidade de escolher nascer nesta quadra e nesta sociedade mas todos estatildeo unidos na construccedilatildeo de um propoacutesito comum O estrangeiro residente no Paiacutes inserido na comunidade participa do esforccedilo muacutetuo Esse laccedilo de irmandade fruto para alguns do fortuito e para outros do destino faz-nos de algum modo responsaacuteveis pelo bem de todos inclusive daqueles que ado-taram o Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e sociais nesta terra

Desde a criaccedilatildeo da naccedilatildeo brasileira a presenccedila do estrangeiro no Paiacutes foi incen-tivada e tolerada Dessa forma natildeo eacute coerente com a histoacuteria estabelecer diferen-ciaccedilatildeo tatildeo somente pela nacionalidade especialmente quando a dignidade estaacute em cheque em momento de fragilidade do ser humano ndash idade avanccedilada ou algum tipo de deficiecircncia

Vale notar natildeo existir ressalva em relaccedilatildeo ao natildeo nacional Ao reveacutes o art 5ordm ca-put da CF2 estampa o princiacutepio da igualdade e a necessidade de tratamento isonocircmi-co entre brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes O texto fundamental estabelece que ldquoa assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitarrdquo3 sem restringir os beneficiaacuterios somente aos brasileiros natos ou naturalizados

O benefiacutecio de assistecircncia social tem natureza estrita Natildeo basta a hipossuficiecircncia impotildee-se igualmente a demonstraccedilatildeo da incapacidade de buscar a soluccedilatildeo para tal situaccedilatildeo em decorrecircncia de especiais circunstacircncias individuais Essas pessoas obvia-mente natildeo podem ser colocadas em patamar de igualdade com os demais membros da sociedade Gozam de prioridade na accedilatildeo do Estado determinada pelo proacuteprio texto constitucional

O estrangeiro em situaccedilatildeo regular no Brasil com residecircncia fixa idoso portador de necessidades especiais hipossuficiente em si mesmo e presente a famiacutelia tem ga-rantido o benefiacutecio da assistecircncia social visto que inserido no meio social colabora para o desenvolvimento socioeconocircmico do Paiacutes

Por outro lado os estrangeiros em situaccedilatildeo diversa natildeo alcanccedilam a assistecircncia tendo em vista o natildeo atendimento agraves leis brasileiras Tal fato por si soacute demonstra a ausecircncia de noccedilatildeo de coletividade e de solidariedade a justificar a tutela do Estado

1 ldquoArt 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de con-tribuiccedilatildeo agrave seguridade social e tem por objetivos () V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de

223iacutendice de teses

benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a leirdquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

3 CF art 203 caput

224iacutendice de teses

A garantia constitucional da gratuidade de ensino natildeo obsta a cobranccedila por

universidades puacuteblicas de mensalidade em cursos de especializaccedilatildeo

O princiacutepio da gratuidade natildeo obriga as universidades a perceber exclusivamente recursos puacuteblicos para atender sua missatildeo institucional Ele se estende agraves tarefas de ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo e exige poreacutem que para todas as ta-refas necessaacuterias agrave plena inclusatildeo social missatildeo do direito agrave educaccedilatildeo haja recursos puacuteblicos disponiacuteveis para os estabelecimentos oficiais

Nem todas as atividades potencialmente desempenhadas pelas universidades refe-rem-se exclusivamente ao ensino A funccedilatildeo desempenhada pelas universidades eacute muito mais ampla do que as formas pelas quais elas obtecircm financiamento Haacute tambeacutem ati-vidades de pesquisa e extensatildeo que podem ser subvencionadas por recursos privados

Eacute possiacutevel agraves universidades no acircmbito de sua autonomia didaacutetico-cientiacutefica regula-mentar em harmonia com a legislaccedilatildeo as atividades destinadas preponderantemente agrave extensatildeo universitaacuteria sendo-lhes nessa condiccedilatildeo possiacutevel a instituiccedilatildeo de tarifa

Haacute no texto constitucional uma diferenciaccedilatildeo entre ldquoensinordquo ldquopesquisardquo e ldquoex-tensatildeordquo cujo tripeacute harmocircnico eacute essencial para a educaccedilatildeo de qualidade Nos termos do art 206 IV da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a gratuidade do ensino eacute um princiacutepio aplicaacutevel a todos os estabelecimentos oficiais Para tanto conforme exige o art 212 caput da CF2 um percentual da receita puacuteblica deve ser destinado agrave ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo

A Constituiccedilatildeo no art 213 sect 2ordm3 autoriza argumentum a contrario a captaccedilatildeo de recursos destinados agrave pesquisa e agrave extensatildeo Isso porque os recursos puacuteblicos a que se refere o art 212 caput da CF tecircm destinaccedilatildeo preciacutepua agraves escolas puacuteblicas Jaacute as atividades descritas no art 213 sect 2ordm do texto constitucional natildeo necessariamente contam com recursos puacuteblicos Seria incorreto poreacutem concluir accedilodadamente que a Constituiccedilatildeo natildeo exige financiamento puacuteblico para pesquisa e extensatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Educaccedilatildeo cultura e desporto Ȥ Educaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 597854RG ndash Tema 535rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 21-9-2017Informativo STF 862

225iacutendice de teses

A indissolubilidade entre ldquoensino pesquisa e extensatildeordquo princiacutepio previsto no caput do art 207 da CF4 exige que o financiamento puacuteblico natildeo se destine exclusivamente ao ensino Para a ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo satildeo necessaacuterios nos termos desse artigo pesquisa e extensatildeo

O regime constitucional de poacutes-graduaccedilatildeo deve derivar das exigecircncias constitucio-nais contidas no art 207 da CF Eacute impossiacutevel afirmar a partir de uma leitura estrita da Constituiccedilatildeo que as atividades de poacutes-graduaccedilatildeo satildeo abrangidas pelo conceito de manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino paracircmetro constitucional para a destina-ccedilatildeo com exclusividade dos recursos puacuteblicos

A tarefa de disciplinar quais caracteriacutesticas determinado curso assumiraacute compete ao legislador Caso a atividade preponderante se refira agrave manutenccedilatildeo e desenvolvi-mento do ensino a gratuidade deveraacute ser observada nos termos do art 206 IV da CF

Para mateacuteria relativa a ensino pesquisa e extensatildeo a competecircncia regulamentar eacute concorrente entre Uniatildeo e Estados (CF art 24 IX)5 mas tambeacutem eacute afeta agrave autono-mia universitaacuteria

No exerciacutecio de sua competecircncia para definir normas gerais (CF art 24 sect 1ordm) a Uniatildeo editou a Lei 93941996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional

Da Lei de Diretrizes e Bases eacute possiacutevel depreender ainda que os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo se destinam agrave preparaccedilatildeo para o exerciacutecio do magisteacuterio superior (arts 64 e 66) e por isso satildeo indispensaacuteveis para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento das instituiccedilotildees de ensino (art 55) Eacute preciso observar poreacutem que apenas os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo que se destinam agrave manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino satildeo financiados pelo poder puacuteblico

Natildeo se deve ler a Constituiccedilatildeo a partir da lei Sua referecircncia no entanto exem-plifica o fato de que ao legislador eacute possiacutevel descrever as atividades que por natildeo se relacionarem com a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino natildeo dependem de recursos exclusivamente puacuteblicos sendo liacutecito pois agraves universidades perceber remu-neraccedilatildeo pelo respectivo desempenho

A elaboraccedilatildeo da lei natildeo retira das universidades a competecircncia para por meio de sua autonomia desenvolver outras atividades voltadas agrave comunidade que natildeo se relacionem precisamente com a exigecircncia constitucional da ldquomanutenccedilatildeo e desenvol-vimento do ensinordquo

As universidades natildeo satildeo completamente livres para definir suas atividades O desempenho preciacutepuo de suas funccedilotildees exige no miacutenimo a completa realizaccedilatildeo da-quelas que se relacionem com a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino Nada

226iacutendice de teses

impede que para aleacutem dessas atividades a universidade possa definir outros cursos para a comunidade cursos de extensatildeo sobretudo que embora se relacionem ao ensino guardam independecircncia em relaccedilatildeo a ele

Natildeo se aduza que porque as universidades ostentam natureza autaacuterquica ou fun-dacional somente poderiam adotar o regime tributaacuterio para a obtenccedilatildeo de receitas a implicar que o serviccedilo desempenhado passasse a ser remunerado por taxa

Em primeiro lugar a adoccedilatildeo do regime de direito puacuteblico previsto no art 37 da CF6 natildeo impotildee necessariamente que a obtenccedilatildeo de receita seja exclusivamente pela via tributaacuteria Ademais o princiacutepio da gratuidade veda precisamente a cobranccedila de prestaccedilatildeo compulsoacuteria (CF art 205)7 como ocorre nas atividades de manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino Aleacutem disso tendo em conta que as atividades extraor-dinaacuterias satildeo desempenhadas de modo voluntaacuterio por parte das universidades elas podem estabelecer uma tarifa como contraprestaccedilatildeo

Embora tenham autonomia para definir as atividades que poderatildeo ser ofertadas ao puacuteblico as universidades devem ter em conta que prestam serviccedilo puacuteblico e por-tanto devem garantir os direitos dos usuaacuterios (CF art 175 II)8 observar a modici-dade tarifaacuteria (CF art 175 III)9 e manter serviccedilo de qualidade (CF art 206 VII)10 atendidas as exigecircncias do oacutergatildeo coordenador da educaccedilatildeo (CF art 211 sect 1ordm)11 Final-mente a regulamentaccedilatildeo dessas atividades deve ainda observar o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica do ensino (CF art 206 VI)

1 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () IV ndash gratuidade do ensi-no puacuteblico em estabelecimentos oficiaisrdquo

2 ldquoArt 212 A Uniatildeo aplicaraacute anualmente nunca menos de dezoito e os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios vinte e cinco por cento no miacutenimo da receita resultante de impostos compreendida a proveniente de transferecircncias na manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo

3 ldquoArt 213 Os recursos puacuteblicos seratildeo destinados agraves escolas puacuteblicas podendo ser dirigidos a escolas comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas definidas em lei que () sect 2ordm As atividades de pesqui-sa de extensatildeo e de estiacutemulo e fomento agrave inovaccedilatildeo realizadas por universidades eou por institui-ccedilotildees de educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica poderatildeo receber apoio financeiro do Poder Puacuteblicordquo

4 ldquoArt 207 As universidades gozam de autonomia didaacutetico-cientiacutefica administrativa e de gestatildeo finan-ceira e patrimonial e obedeceratildeo ao princiacutepio de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeordquo

5 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () IX ndash educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeordquo

227iacutendice de teses

6 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

7 ldquoArt 205 A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalhordquo

8 ldquoArt 175 Incumbe ao poder puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou per-missatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos () II ndash os direitos dos usuaacuteriosrdquo

9 ldquoArt 175 Incumbe ao poder puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos () III ndash poliacutetica tarifaacuteriardquo

10 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () VII ndash garantia de padratildeo de qualidaderdquo

11 ldquoArt 211 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios organizaratildeo em regime de colabo-raccedilatildeo seus sistemas de ensino sect 1ordm A Uniatildeo organizaraacute o sistema federal de ensino e o dos Territoacute-rios financiaraacute as instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas federais e exerceraacute em mateacuteria educacional funccedilatildeo redistributiva e supletiva de forma a garantir equalizaccedilatildeo de oportunidades educacionais e padratildeo miacutenimo de qualidade do ensino mediante assistecircncia teacutecnica e financeira aos Estados ao Distrito Federal e aos Municiacutepiosrdquo

228iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 de iniciativa parlamentar que determina que

os escritoacuterios de praacutetica juriacutedica de universidade estadual mantenham plan-

tatildeo criminal para atendimento nos finais de semana e feriados dos hipossu-

ficientes presos em flagrante delito

Por um lado haacute inconstitucionalidade formal por viacutecio de iniciativa (CF art 61 sect 1ordm II c2) A criaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para as secretarias de Estado e para a Poliacutecia Ci-vil compete privativamente ao chefe do Poder Executivo estadual em observacircncia ao princiacutepio da simetria e natildeo ao parlamento3

Por outro haacute inconstitucionalidade material por ofensa agrave autonomia da instituiccedilatildeo de ensino superior prevista no art 207 da Constituiccedilatildeo Federal4 A autonomia admi-nistrativa financeira e didaacutetico-cientiacutefica5 foi ferida uma vez que ausente o assenti-mento da universidade para criaccedilatildeo ou modificaccedilatildeo do novo serviccedilo a ser prestado

Embora a autonomia universitaacuteria natildeo se revista de caraacuteter de independecircncia6 atri-buto tiacutepico dos Poderes da Repuacuteblica revela a impossibilidade de exerciacutecio de tutela ou indevida ingerecircncia no acircmago proacuteprio das suas funccedilotildees Isso assegura agrave universi-dade a discricionariedade de dispor ou propor (legislativamente) sobre sua estrutura e funcionamento administrativo bem como sobre suas atividades pedagoacutegicas

A determinaccedilatildeo de que o escritoacuterio de praacutetica juriacutedica preste serviccedilo aos finais de semana e feriados implica necessariamente a criaccedilatildeo ou ao menos a modificaccedilatildeo de atribuiccedilotildees conferidas ao corpo administrativo que serve ao curso de Direito da universidade Afinal para a promoccedilatildeo da atividade deve a universidade efetuar o re-manejamento de professores supervisores e ceder espaccedilos convenientes bem como arcar com os ocircnus decorrentes dessa nova atribuiccedilatildeo

Ademais como os atendimentos seratildeo realizados pelos acadecircmicos do curso de Direito matriculados no estaacutegio curricular obrigatoacuterio a universidade obrigatoria-mente teria que alterar as grades curriculares e os horaacuterios dos estudantes para que desenvolvessem essas atividades em regime de plantatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Educaccedilatildeo cultura e desporto Ȥ Autonomia universitaacuteria

ADI 3792rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 840

229iacutendice de teses

Natildeo se veda aqui o exerciacutecio do serviccedilo de assistecircncia juriacutedica gratuita aos necessi-tados pelos escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das instituiccedilotildees de ensino superior A ativi-dade jaacute eacute praxe na atualidade pois aleacutem de atender agraves exigecircncias de estaacutegio supervi-sionado desempenha importante papel social inclusive concretizando objetivos que as instituiccedilotildees de ensino devem promover como a indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo e a conscientizaccedilatildeo dos discentes sobre sua responsabilidade so-cial Ocorre que as atividades desenvolvidas pelos acadecircmicos do curso de Direito em decorrecircncia do estaacutegio curricular obrigatoacuterio dizem respeito agrave autonomia didaacutetico--cientiacutefica da universidade natildeo podendo ser impostas pelo Estado Entretanto nada impede que o Estado-membro realize convecircnio com a universidade para viabilizar a prestaccedilatildeo de serviccedilo de assistecircncia judiciaacuteria aos necessitados

1 Refere-se agrave Lei 88652006 do Estado do Rio Grande do Norte O diploma impugnado determina que o escritoacuterio de praacutetica juriacutedica gratuita do curso de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte deveraacute manter plantatildeo para atendimento em finais de semana e feriados nos casos de prisatildeo em flagrante

2 ldquoArt 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Congresso Nacional ao Presidente da Repuacute-blica ao Supremo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II ndash disponham sobre c) servidores puacuteblicos da Uniatildeo e Territoacuterios seu regime juriacutedico provimento de cargos estabilidade e aposentadoriardquo

3 Lei 88652006 do Estado do Rio Grande do Norte ldquoArt 2ordm A Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo da Cultura e dos Desportos deveraacute informar agrave Secretaria de Estado de Defesa Social e da Seguranccedila Puacuteblica sobre a prestaccedilatildeo do serviccedilo especificado no art 1ordm desta Lei Art 3ordm A Secretaria de Estado de Defesa Social e da Seguranccedila Puacuteblica deveraacute comunicar aos Delegados de Poliacutecia para que nos casos de manifesta hipossuficiecircncia econocircmica do preso e na ausecircncia de defensor puacuteblico consti-tuiacutedo seja imediatamente informado ao Escritoacuterio de Praacutetica Juriacutedicardquo

4 ldquoArt 207 As universidades gozam de autonomia didaacutetico-cientiacutefica administrativa e de gestatildeo fi-nanceira e patrimonial e obedeceratildeo ao princiacutepio de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeordquo

5 ADI 51 rel min Paulo Brossard P DJ de 17-9-1993

6 Precedentes RMS 22047 AgR rel min Eros Grau 1ordf T DJ de 31-3-2006 e ADI 1599 MC rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 18-5-2001

230iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a expressatildeo ldquoem horaacuterio diverso do autorizadordquo contida

no art 254 da Lei 806919901

Ofende os arts 5ordm IX2 21 XVI3 e 220 sect 3ordm I4 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) proibir a veiculaccedilatildeo de programas de raacutedio e televisatildeo em determinados horaacuterios conside-rada a classificaccedilatildeo indicativa por idade

Natildeo haacute duacutevida de que tanto a liberdade de expressatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo como a proteccedilatildeo da crianccedila e do adolescente satildeo axiomas de envergadura constitu-cional mas a proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica delineou as regras de sopesamento desses dois valores

A plenitude do exerciacutecio da liberdade de expressatildeo como decorrecircncia imanente da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmaccedilatildeopotencializaccedilatildeo de outras liberdades constitucionais tem regulaccedilatildeo estritamente constitucional imunizando o direito de livre expressatildeo contra tentativas de disciplina ou autorizaccedilatildeo preacutevias por parte de norma hierarquicamente inferior a teor do art 220 da CF Segundo esse dispositivo a ldquomanifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer restriccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeordquo

Assim existe oacutebice constitucional ao controle preacutevio pelo poder puacuteblico do con-teuacutedo objeto de expressatildeo sem contudo retirar do emissor a responsabilidade por eventual desrespeito a direitos alheios imputados agrave comunicaccedilatildeo5

Para que ocorra a real concretizaccedilatildeo da liberdade de expressatildeo consagrada no art 5ordm IX da CF eacute preciso que haja liberdade de comunicaccedilatildeo social prevista no art 220 da CF garantindo-se a livre circulaccedilatildeo de ideias e informaccedilotildees e a comunica-ccedilatildeo livre e pluralista protegida da ingerecircncia estatal

Apesar da garantia constitucional da liberdade de expressatildeo livre de censura ou licenccedila a proacutepria Carta de 1988 conferiu agrave Uniatildeo com exclusividade no art 21 XVI

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Comunicaccedilatildeo social Ȥ Regulaccedilatildeo de diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos

ADI 2404rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 837

231iacutendice de teses

o desempenho da atividade material de ldquoexercer a classificaccedilatildeo para efeito indicativo de diversotildees puacuteblicas e de programas de raacutedio e televisatildeordquo

Essa classificaccedilatildeo dos produtos audiovisuais exercida pelas emissoras busca escla-recer informar indicar aos pais a existecircncia de conteuacutedo inadequado para as crianccedilas e os adolescentes O exerciacutecio da liberdade de programaccedilatildeo pelas emissoras impede que a exibiccedilatildeo de determinado espetaacuteculo dependa de accedilatildeo estatal preacutevia O que haacute eacute mera submissatildeo ao Ministeacuterio da Justiccedila que ocorre exclusivamente para que a Uniatildeo exerccedila sua competecircncia administrativa prevista no inciso XVI do art 21 da CF qual seja classificar para efeito indicativo as diversotildees puacuteblicas e os programas de raacutedio e televisatildeo o que natildeo significa autorizaccedilatildeo Essa atividade natildeo pode ser con-fundida com um ato de licenccedila nem confere poder agrave Uniatildeo para determinar que a exibiccedilatildeo da programaccedilatildeo somente se decirc nos horaacuterios estabelecidos pelo Ministeacuterio da Justiccedila de forma a caracterizar uma imposiccedilatildeo e natildeo uma recomendaccedilatildeo Natildeo haacute horaacuterio autorizado mas horaacuterio recomendado

Ressalte-se que permanece o dever das emissoras de raacutedio e de televisatildeo de exibir ao puacuteblico o aviso de classificaccedilatildeo etaacuteria antes e no decorrer da veiculaccedilatildeo do con-teuacutedo Tal regra estaacute prevista no paraacutegrafo uacutenico do art 766 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente sendo seu descumprimento tipificado como infraccedilatildeo administrativa pelo art 254 ora questionado Eacute importante que os oacutergatildeos competentes reforcem a necessidade de exibiccedilatildeo destacada da informaccedilatildeo sobre a faixa etaacuteria especificada no iniacutecio e durante a exibiccedilatildeo da programaccedilatildeo e em intervalos de tempo natildeo muito distantes (a cada quinze minutos por exemplo) inclusive quanto agraves chamadas da pro-gramaccedilatildeo de forma que as crianccedilas e os adolescentes natildeo sejam estimulados a assistir a programas inadequados para sua faixa etaacuteria Deve o Estado ainda conferir maior publicidade aos avisos de classificaccedilatildeo bem como desenvolver programas educativos acerca do sistema de classificaccedilatildeo indicativa divulgando para toda a sociedade a importacircncia de se fazer uma escolha refletida acerca da programaccedilatildeo ofertada ao puacuteblico infantojuvenil

Sempre seraacute possiacutevel a responsabilizaccedilatildeo judicial das emissoras de radiodifusatildeo por abusos ou eventuais danos agrave integridade das crianccedilas e dos adolescentes levando-se em conta inclusive a recomendaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila quanto aos horaacuterios em que a referida programaccedilatildeo se mostre inadequada Afinal a Constituiccedilatildeo Federal tam-beacutem atribuiu agrave lei federal a competecircncia para ldquoestabelecer meios legais que garantam agrave pessoa e agrave famiacutelia a possibilidade de se defenderem de programas ou programaccedilotildees de raacutedio e televisatildeo que contrariem o disposto no art 2217rdquo (art 220 sect 3ordm II CF)

232iacutendice de teses

1 ldquoArt 254 Transmitir atraveacutes de raacutedio ou televisatildeo espetaacuteculo em horaacuterio diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificaccedilatildeo Pena ndash multa de vinte a cem salaacuterios de referecircncia duplicada em caso de reincidecircncia a autoridade judiciaacuteria poderaacute determinar a suspensatildeo da programaccedilatildeo da emissora por ateacute dois diasrdquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () IX ndash eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedilardquo

3 ldquoArt 21 Compete agrave Uniatildeo () XVI ndash exercer a classificaccedilatildeo para efeito indicativo de diversotildees puacuteblicas e de programas de raacutedio e televisatildeordquo

4 ldquoArt 220 A manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer for-ma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer restriccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 3ordm Compete agrave lei federal I ndash regular as diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos cabendo ao Poder Puacute-blico informar sobre a natureza deles as faixas etaacuterias a que natildeo se recomendem locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre inadequadardquo

5 ADPF 130 rel min Ayres Britto P DJE de 6-11-2009

6 ldquoArt 76 As emissoras de raacutedio e televisatildeo somente exibiratildeo no horaacuterio recomendado para o puacute-blico infantojuvenil programas com finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas Pa-raacutegrafo uacutenico Nenhum espetaacuteculo seraacute apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificaccedilatildeo antes de sua transmissatildeo apresentaccedilatildeo ou exibiccedilatildeordquo

7 ldquoArt 221 A produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguintes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabeleci-dos em lei IV ndash respeito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacuteliardquo

233iacutendice de teses

Lei que regulamenta a atividade da vaquejada1 manifestaccedilatildeo cultural com

caracteriacutesticas de entretenimento eacute incompatiacutevel com o art 225 sect 1ordm VII da

Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

A obrigaccedilatildeo do Estado de garantir a todos o pleno exerciacutecio de direitos culturais incentivando a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees (CF art 2153) natildeo dispen-sa a observacircncia da norma que veda praacuteticas que submetam os animais a crueldade (CF art 225 sect 1ordm VII)

O art 225 da CF consagra a proteccedilatildeo da fauna e da flora como modo de assegurar o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado Cuida-se de direito fundamental de terceira geraccedilatildeo fundado no valor da solidariedade de caraacuteter coletivo ou difuso dotado ldquode altiacutessimo teor de humanismo e universalidaderdquo4

Como direito de todos a manutenccedilatildeo do ecossistema tambeacutem a esses incumbe em benefiacutecio das geraccedilotildees do presente e do futuro O indiviacuteduo eacute considerado titular do direito e ao mesmo tempo destinataacuterio dos deveres de proteccedilatildeo daiacute por que en-cerra verdadeiro ldquodireito-deverrdquo fundamental5

Nesse contexto no acircmbito da ponderaccedilatildeo de direitos fundamentais a jurispru-decircncia do Supremo Tribunal Federal eacute no sentido de interpretar normas e fatos de forma mais favoraacutevel agrave proteccedilatildeo ao meio ambiente Assim demostra-se preocupaccedilatildeo maior com a manutenccedilatildeo em prol dos cidadatildeos de hoje e de amanhatilde das condiccedilotildees ecologicamente equilibradas para uma vida mais saudaacutevel e segura6

Com efeito ante os dados empiacutericos evidenciados por laudos teacutecnicos7 tem-se como indiscutiacutevel o tratamento cruel dispensado agraves espeacutecies animais envolvidas na vaquejada O ato repentino e violento de tracionar o boi pelo rabo assim como a verdadeira tortura preacutevia ndash inclusive por meio de estocadas de choques eleacutetricos ndash agrave qual eacute submetido o animal para que saia do estado de mansidatildeo e dispare em fuga a fim de viabilizar a perseguiccedilatildeo consubstanciam atuaccedilatildeo a implicar descompasso com o preconizado na Carta da Repuacuteblica

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Meio ambiente Ȥ Proteccedilatildeo da fauna

ADI 4983rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 27-4-2017Informativo STF 842

234iacutendice de teses

Assim a crueldade intriacutenseca agrave vaquejada natildeo permite a prevalecircncia do valor cul-tural como resultado desejado pelo sistema de direitos fundamentais da Carta de 1988 O sentido da expressatildeo ldquocrueldaderdquo constante da parte final do inciso VII do sect 1ordm do art 225 da CF alcanccedila a tortura e os maus-tratos infringidos aos bovinos du-rante a praacutetica impugnada

1 Na praacutetica da vaquejada uma dupla de vaqueiros montados em cavalos distintos busca derrubar um touro puxando-o pelo rabo dentro de uma aacuterea demarcada

2 ldquoArt 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees sect 1ordm Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico () VII ndash proteger a fauna e a flora vedadas na forma da lei as praacuteticas que coloquem em risco sua funccedilatildeo ecoloacutegica provoquem a extinccedilatildeo de espeacutecies ou submetam os animais a crueldaderdquo

3 ldquoArt 215 O Estado garantiraacute a todos o pleno exerciacutecio dos direitos culturais e acesso agraves fontes da cultura nacional e apoiaraacute e incentivaraacute a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees culturaisrdquo

4 BONAVIDES Paulo Curso de direito constitucional 11 ed Satildeo Paulo Malheiros 2001 p 523

5 CRUZ Branca Martins da Importacircncia da constitucionalizaccedilatildeo do direito ao ambiente In BONA-VIDES Paulo et al (Orgs) Estudos de direito constitucional em homenagem a Cesar Asfor Rocha Rio de Janeiro Renovar 2009 p 202

6 RE 153531 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJ de 13-3-1998 ADI 2514 rel min Eros Grau P DJ de 9-12-2005 e ADI 1856 rel min Celso de Mello P DJE de 14-10-2011

7 O autor juntou laudos teacutecnicos que demonstram as consequecircncias nocivas agrave sauacutede dos bovinos decorrentes da traccedilatildeo forccedilada no rabo seguida da derrubada tais como fraturas nas patas ruptura de ligamentos e vasos sanguiacuteneos traumatismos e deslocamento da articulaccedilatildeo do rabo ou ateacute o arrancamento deste resultando no comprometimento da medula espinhal e dos nervos espinhais dores fiacutesicas e sofrimento mental Apresentou estudos no sentido de tambeacutem sofrerem lesotildees e danos irreparaacuteveis os cavalos utilizados na atividade tendinite tenossinovite exostose miopatias focal e por esforccedilo fraturas e osteoartrite taacutersica

DIR

EEL

EIT

DIR

EIT

O

ELEI

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RA

L

ELEICcedilOtildeESDIREITO ELEITORAL

237iacutendice de teses

Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral natildeo podem deliberar pela

exclusatildeo dos debates de candidatos cuja participaccedilatildeo seja facultativa quando

a emissora tenha optado por convidaacute-los

O art 46 sect 5ordm da Lei 950419971 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 deve ser interpretado restritivamente com o fito de ampliar o debate poliacutetico e conferir maior densidade democraacutetica ao processo eleitoral Permitir a exclusatildeo de candida-tos convidados pela emissora de televisatildeo ou raacutedio resultaria em evidente conflito de interesses o poder de decidir sobre a participaccedilatildeo de um competidor ficaria nas matildeos de seus proacuteprios adversaacuterios que por oacutebvio natildeo tecircm nenhum estiacutemulo para conceder espaccedilo nos meios de comunicaccedilatildeo de massa a quem possa subtrair seus votos e visibilidade

Em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo dos participantes dos debates eacute vaacutelida a fixaccedilatildeo por lei de criteacuterio objetivo que conceda a parcela dos candidatos (os ldquocandidatos aptosrdquo) direito subjetivo agrave participaccedilatildeo nos debates natildeo podendo a emissora de televisatildeo ou de raacutedio a ele se opor ainda que com a concordacircncia de outros candidatos

O criteacuterio adotado pela legislaccedilatildeo brasileira tal como interpretado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assegura a participaccedilatildeo nos debates dos candidatos de parti-dos ou coligaccedilotildees que tenham representatividade miacutenima de dez deputados federais Trata-se de criteacuterio razoaacutevel que eacute coerente com as normas relativas agrave propaganda eleitoral vigentes no Paiacutes e que cumpre as finalidades constitucionais acima citadas

Todavia o legislador natildeo fechou as portas do debate poliacutetico a candidatos de par-tidos ou coligaccedilotildees que tenham menos de dez deputados federais tampouco tolheu por completo a liberdade de programaccedilatildeo das emissoras de televisatildeo e raacutedio Unindo essas duas preocupaccedilotildees a Lei 95041997 facultou que as emissoras convidem para os debates candidatos com representatividade inferior agrave exigida na lei No caso de competidores bem colocados nas pesquisas de intenccedilatildeo de voto eacute razoaacutevel concluir

Direito Eleitoral Ȥ Eleiccedilotildees

Ȥ Propaganda eleitoral Ȥ Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

ADI 5487red p o ac min Roberto BarrosoADI 5488rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 19-12-2017Informativo STF 836Informativo STF 837

238iacutendice de teses

que as emissoras teratildeo estiacutemulos para promover a sua inclusatildeo tanto como forma de aumentar a audiecircncia quanto de garantir a credibilidade do programa Com efeito a participaccedilatildeo de candidato bem colocado nas pesquisas enriquece o embate de ideias e permite que o programa reflita com maior fidelidade as tensotildees ideoloacutegicas presen-tes no debate puacuteblico em torno das propostas dos candidatos com maior percentual de intenccedilatildeo de votos

Esta eacute a interpretaccedilatildeo que jaacute se extraiacutea da legislaccedilatildeo eleitoral antes da minirrefor-ma de 2015 e que deve permanecer possiacutevel diante do atual cenaacuterio normativo Basta que se confira interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo agrave nova redaccedilatildeo do art 46 sect 5ordm da Lei 95041997 dada pela Lei 131652015 no sentido de somente possibilitar que 23 dos ldquocandidatos aptosrdquo acrescentem novos participantes ao debate ndash candidatos que natildeo tenham esse direito assegurado por lei nem tenham sido previamente con-vidados pela emissora Aleacutem disso a autonomia da empresa de raacutedio ou televisatildeo relativamente agrave convocaccedilatildeo de candidatos natildeo enquadrados no criteacuterio do caput do art 46 deve observar criteacuterios objetivos que atendam aos princiacutepios da imparcialidade e da isonomia e o direito agrave informaccedilatildeo a serem fixados pelo TSE

1 ldquoArt 46 Independentemente da veiculaccedilatildeo de propaganda eleitoral gratuita no horaacuterio definido nesta Lei eacute facultada a transmissatildeo por emissora de raacutedio ou televisatildeo de debates sobre as elei-ccedilotildees majoritaacuteria ou proporcional assegurada a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com repre-sentaccedilatildeo no Congresso Nacional de no miacutenimo cinco parlamentares e facultada a dos demais observado o seguinte () sect 5ordm Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleiccedilotildees seratildeo consideradas aprovadas as regras inclusive as que definam o nuacutemero de participantes que obtiverem a concordacircncia de pelo menos 23 (dois terccedilos) dos candidatos aptos no caso de eleiccedilatildeo majoritaacuteria e de pelo menos 23 (dois terccedilos) dos partidos ou coligaccedilotildees com candidatos aptos no caso de eleiccedilatildeo proporcionalrdquo

239iacutendice de teses

Satildeo constitucionais os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 950419971 que

disciplinam a distribuiccedilatildeo dos horaacuterios reservados agrave propaganda eleitoral

gratuita nas emissoras de raacutedio e de televisatildeo e nos canais de televisatildeo por

assinatura

Os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 95041997 em consonacircncia com a claacuteu-sula democraacutetica e com o sistema proporcional estabelecem regra de equidade resguardando o direito de acesso agrave propaganda eleitoral das minorias partidaacuterias e pondo em situaccedilatildeo de benefiacutecio natildeo odioso aquelas agremiaccedilotildees mais lastreadas na legitimidade popular Ademais ao editar os referidos dispositivos o legislador se ateve a um padratildeo equitativo de isonomia ponderando os aspectos formal e mate-rial do princiacutepio da igualdade2

Natildeo haacute falar em igualdade material entre agremiaccedilotildees partidaacuterias que contam com representantes na Cacircmara Federal e legendas que submetidas ao voto popular natildeo lograram eleger representantes para a Cacircmara dos Deputados Assim natildeo se pode exigir tratamento absolutamente igualitaacuterio entre esses partidos porque eles natildeo satildeo materialmente iguais quer do ponto de vista juriacutedico quer da representa-ccedilatildeo poliacutetica que tecircm Embora iguais no plano da legalidade natildeo satildeo iguais quanto agrave legitimidade poliacutetica

Apesar disso eacute certo que a legislaccedilatildeo natildeo pode instituir mecanismos que na praacute-tica excluam das legendas menores a possibilidade de crescimento e de consolidaccedilatildeo no contexto eleitoral devendo ser assegurado um miacutenimo razoaacutevel de espaccedilo para que esses partidos possam participar e influenciar no pleito eleitoral propiciando

Direito Eleitoral Ȥ Eleiccedilotildees

Ȥ Propaganda eleitoral Ȥ Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

ADI 5491rel min Dias ToffoliDJE de 6-9-2017ADI 5423rel min Dias Toffoli

DJE de 19-12-2017ADI 5577rel min Rosa Weber

DJE de 19-12-2017PlenaacuterioInformativo STF 836

240iacutendice de teses

inclusive a renovaccedilatildeo dos quadros poliacuteticos Dessa perspectiva o tempo outorgado proporcionalmente agrave representatividade embora dividido de forma distinta entre as agremiaccedilotildees natildeo nulifica a participaccedilatildeo de nenhuma legenda concorrente

Por outro lado o criteacuterio de divisatildeo adotado ndash proporcionalidade da representa-ccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados ndash guarda estreita relaccedilatildeo com a finalidade colimada pela representatividade proporcional Assim dado que a Cacircmara dos Deputados eacute a Casa Legislativa de representaccedilatildeo do povo pode a eleiccedilatildeo de seus membros servir de criteacuterio de afericcedilatildeo tanto quanto possiacutevel da legitimidade popular sendo legiacutetimo pressupor que a representatividade de seus membros se apresenta como medida ade-quada e razoaacutevel para a divisatildeo do tempo de acesso ao raacutedio e agrave televisatildeo

Igualmente o legislador andou bem ao estabelecer criteacuterios distintos para o caacutel-culo da representatividade das coligaccedilotildees formadas para as eleiccedilotildees majoritaacuterias e proporcionais para efeito de distribuiccedilatildeo do tempo de propaganda eleitoral gratuita considerando no caso de coligaccedilotildees para eleiccedilotildees majoritaacuterias somente os seis maio-res partidos que as compotildeem Isso porque eacute proacuteprio do sistema eleitoral majoritaacuterio refletir as correntes majoritaacuterias da sociedade O criteacuterio adotado mostra-se ademais tributaacuterio da proacutepria essecircncia desse sistema eleitoral que eacute considerar as correntes poliacuteticas da maioria De todo modo tal perspectiva contribuiraacute para que se elimine a praacutetica tatildeo comum no Brasil de as legendas mais expressivas ao lanccedilar candidatos agraves eleiccedilotildees majoritaacuterias coligarem-se com inuacutemeros partidos pequenos com o uacutenico objetivo de obter maior tempo de propaganda eleitoral gratuita no raacutedio e na TV

Eacute constitucional a expressatildeo ldquosuperior a nove deputadosrdquo constante do caput do art 46 da Lei 950419973 na redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 que assegura a par-ticipaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representaccedilatildeo superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de raacutedio ou televisatildeo

O legislador ao conferir nova redaccedilatildeo ao caput do art 46 da Lei 95041997 es-tabeleceu criteacuterio razoaacutevel de afericcedilatildeo da representatividade e da expressividade do partido poliacutetico para efeito de assegurar a participaccedilatildeo de seus candidatos nos debates eleitorais Em realidade o direito de participaccedilatildeo em debates eleitorais ndash diferente-mente da propaganda eleitoral gratuita no raacutedio e na televisatildeo ndash natildeo tem assento constitucional e pode sofrer restriccedilatildeo maior em razatildeo do formato e do objetivo desse tipo de programaccedilatildeo

Sendo assim trata-se de espaccedilo naturalmente restrito no qual no entanto deve haver a exposiccedilatildeo e o confronto de ideias com densidade tal que promova no elei-tor maior esclarecimento a respeito das ideias e das propostas dos candidatos e das

241iacutendice de teses

diferenccedilas entre essas Munido de tais informaccedilotildees o eleitor realiza o cotejo entre elas podendo assim escolher de forma mais consciente em quem votaraacute Nesse cenaacuterio o criteacuterio seletivo adotado pela norma impugnada quanto aos partidos po-liacuteticos que teratildeo assegurado o direito de seus candidatos participarem dos debates eleitorais poderaacute ateacute mesmo contribuir para a reduccedilatildeo da excessiva pulverizaccedilatildeo dos debates eleitorais

Por oacutebvio ao prever o criteacuterio de representaccedilatildeo superior a nove deputados o dis-positivo em questatildeo natildeo obstou a participaccedilatildeo nos debates de partidos poliacuteticos com menor representatividade a qual ainda eacute facultada estando a criteacuterio das emissoras de raacutedio e televisatildeo

Eacute constitucional a redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 ao art 46 da Lei 950419974 o qual assegura a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representaccedilatildeo superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de raacutedio ou televi-satildeo natildeo implicando em afronta agrave anterioridade eleitoral a sua incidecircncia nas eleiccedilotildees realizadas no ano de 2016

Encontra amparo no texto da Constituiccedilatildeo norma juriacutedica que contenha desi-gualaccedilatildeo natildeo odiosa como na espeacutecie em que o fator de discriacutemen ndash a observacircn-cia da proporcionalidade agrave representaccedilatildeo ndash justifica elevar o patamar miacutenimo de representaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados para fins de assegurar a participaccedilatildeo em debates eleitorais

Outrossim ao entrar em vigor a Lei 131652015 nos termos do seu art 14 na data de sua publicaccedilatildeo ndash em 29-9-2015 ndash forccediloso concluir ter sido observado o lapso temporal preacutevio de um ano exigido pela Constituiccedilatildeo Federal5 dado que as eleiccedilotildees de 2016 foram marcadas para o dia 2-10-2016 (Lei 95041997 art 1ordm caput)

A exigecircncia constitucional da anterioridade da lei eleitoral consubstancia marco temporal objetivo que tem por escopo impedir mudanccedilas abruptas na legislaccedilatildeo eleitoral como forma de assegurar o direito das minorias em particular a paridade de armas na disputa eleitoral Se por um lado o referido princiacutepio obsta que even-tual maioria parlamentar altere no periacuteodo de um ano que antecede as eleiccedilotildees as regras que lhes seratildeo aplicaacuteveis por outro informa exatamente que as regras do processo eleitoral podem sim sofrer alteraccedilotildees pelo legislador desde que respeita-da a ressalva constitucional

1 ldquoArt 47 () sect 2ordm Os horaacuterios reservados agrave propaganda de cada eleiccedilatildeo nos termos do sect 1ordm seratildeo distribuiacutedos entre todos os partidos e coligaccedilotildees que tenham candidato observados os seguintes cri-

242iacutendice de teses

teacuterios I ndash 90 (noventa por cento) distribuiacutedos proporcionalmente ao nuacutemero de representantes na Cacircmara dos Deputados considerados no caso de coligaccedilatildeo para eleiccedilotildees majoritaacuterias o resultado da soma do nuacutemero de representantes dos seis maiores partidos que a integrem e nos casos de coligaccedilotildees para eleiccedilotildees proporcionais o resultado da soma do nuacutemero de representantes de todos os partidos que a integrem II ndash 10 (dez por cento) distribuiacutedos igualitariamenterdquo

2 Precedente ADI 4430 rel min Dias Toffoli P DJE de 19-9-2013

3 ldquoArt 46 Independentemente da veiculaccedilatildeo de propaganda eleitoral gratuita no horaacuterio definido nesta Lei eacute facultada a transmissatildeo por emissora de raacutedio ou televisatildeo de debates sobre as eleiccedilotildees majoritaacuteria ou proporcional assegurada a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representa-ccedilatildeo no Congresso Nacional de no miacutenimo cinco parlamentares e facultada a dos demais obser-vado o seguinterdquo

4 Idem

5 ldquoArt 16 A lei que alterar o processo eleitoral entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo natildeo se aplicando agrave eleiccedilatildeo que ocorra ateacute um ano da data de sua vigecircnciardquo

DIR

EEM

PRD

IREI

TO

EM

PRES

AR

IAL

PROPRIEDADE INTELECTUAL DIREITO EMPRESARIAL

245iacutendice de teses

A mera rapidez no tracircmite de projeto de lei1 para aprovaccedilatildeo da Lei 128532013

que alterou ou introduziu dispositivos na Lei 96101998 ao reconfigurar o

marco regulatoacuterio da gestatildeo coletiva de direitos autorais no Brasil natildeo con-

figura inconstitucionalidade formal

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo estabeleceu prazos miacutenimos para tramitaccedilatildeo de projetos de lei nem disciplinou o regime urgente de tramitaccedilatildeo Tal circunstacircncia confere espaccedilo suficiente para o legislador imprimir aos seus trabalhos a cadecircncia que julgar adequada natildeo sendo o fato de o projeto de lei ter tramitado rapidamente nas casas legislativas motivo para reconhecer qualquer maacutecula

Ademais a invocaccedilatildeo geneacuterica do art 59 da CF2 que apenas elenca as espeacutecies legislativas existentes em nosso ordenamento juriacutedico sem apontar violaccedilatildeo de ne-nhum dispositivo constitucional especiacutefico natildeo respalda a declaraccedilatildeo de inconstitu-cionalidade formal da norma

Eacute legiacutetima a promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos au-

torais com o intuito de impedir praacuteticas abusivas por entes intermediaacuterios

A criaccedilatildeo pela Lei 128532013 de obrigaccedilotildees precisas de transparecircncia para a ges-tatildeo coletiva relaciona-se com direitos difusos (dos usuaacuterios) e coletivos (dos titula-res) agrave informaccedilatildeo adequada

Sob o enfoque econocircmico o propoacutesito da medida eacute eliminar a possibilidade de que as entidades intermediaacuterias do setor ndash as associaccedilotildees e o Escritoacuterio Central de Arre-cadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo (ECAD) ndash possam a partir da vantagem informacional de que dispotildeem obter rendas extraordinaacuterias subvertendo seu papel instrumental atraveacutes de praacuteticas indiciaacuterias de comportamento oportunista pelos entes intermediaacuterios em detrimento tanto de usuaacuterios quanto de titulares de direitos autorais

Direito Empresarial Ȥ Propriedade intelectual

Ȥ Direitos autorais Ȥ Gestatildeo coletiva

ADI 5062ADI 5065rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 21-6-2017Informativo STF 845

246iacutendice de teses

Assim a novel legislaccedilatildeo procura romper com esse quadro de irregularidades na gestatildeo coletiva de direitos autorais e impedir que o intermediaacuterio se torne o seu principal beneficiaacuterio

O cacircnone da proporcionalidade encontra-se consubstanciado nos meios eleitos pelo legislador voltados agrave promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos autorais finalidade legiacutetima segundo a ordem constitucional brasileira na medida em que busca mitigar o vieacutes rentista do sistema anterior e prestigiar de forma ime-diata os interesses tanto de titulares de direitos autorais (CF art 5ordm XXVII3) quanto de usuaacuterios (CF art 5ordm XXXII4) e de forma mediata bens juriacutedicos socialmente re-levantes ligados agrave propriedade intelectual como a educaccedilatildeo e o entretenimento (CF art 6ordm5) o acesso agrave cultura (CF art 2156) e agrave informaccedilatildeo (CF art 5ordm XIV7)

Diante disso os dispositivos relativos agrave divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees concernentes agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras intelectuais notadamente muacutesicas e agrave arrecadaccedilatildeo dos respectivos direitos (Lei 96101998 art 68 sectsect 6ordm e 8ordm8 e art 98-B I II9 e paraacutegrafo uacutenico10) agrave vedaccedilatildeo da pactuaccedilatildeo de claacuteusulas de confidencialidade nos contratos de licenciamento (Lei 96101998 art 98-B VI11) e agraves penalidades em caso de descumpri-mento (Lei 96101998 art 109-A12) satildeo constitucionais Afinal foram expostos com clareza os fundamentos e os objetivos que orientaram a atuaccedilatildeo do legislador bem como a loacutegica interna das previsotildees normativas pautada por equiliacutebrio e moderaccedilatildeo

As associaccedilotildees de titulares de direitos autorais exercem atividade de interes-

se puacuteblico e devem atender a sua funccedilatildeo social

As entidades de gestatildeo coletiva de direitos autorais possuem natureza instrumen-tal de viabilizar trocas voluntaacuterias envolvendo propriedade intelectual dadas as dificuldades operacionais que marcam o setor Isso significa que tanto a produccedilatildeo de cultura (pelos autores) quanto o acesso agrave cultura (pelos usuaacuterios) dependem do hiacutegido funcionamento das associaccedilotildees arrecadadoras e distribuidoras de direitos autorais sobretudo ante os elevados custos de transaccedilatildeo

Esse relevante papel econocircmico (manter o mercado e o aumento de bem-estar de autores e usuaacuterios bem como incremento da oferta e do consumo de cultura) eacute traduzido juridicamente como a funccedilatildeo social das aludidas entidades

A transindividualidade da gestatildeo coletiva ao envolver interesses de usuaacuterios e ti-tulares justifica o interesse puacuteblico na sua existecircncia e escorreita atuaccedilatildeo e a pre-senccedila regulatoacuteria maior do Estado na criaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no funcionamento

247iacutendice de teses

das entidades que operam no setor o que se traduz na incidecircncia de disciplina juriacute-dica especiacutefica Trata-se de verdadeiras associaccedilotildees ldquonatildeo expressivasrdquo13 exemplos de ldquoassociaccedilotildees que se dedicam a viabilizar certas atividades essenciais aos associadosrdquo ocupando assim espaccedilo puacuteblico natildeo estatal14

Satildeo constitucionais as disposiccedilotildees acerca dos criteacuterios de votaccedilatildeo previstos

na Lei 96101998 que atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos auto-

rais

As regras referentes agrave limitaccedilatildeo do direito de voto aos titulares originaacuterios (Lei 96101998 art 5ordm XIV e art 97 sect 5ordm) assunccedilatildeo de cargos de direccedilatildeo nas associaccedilotildees (art 97 sect 6ordm) eleiccedilatildeo de dirigentes (art 98 sectsect 13 e 14) e criteacuterio de voto unitaacuterio no Ecad (art 99 sect 1ordm e art 99-A paraacutegrafo uacutenico) natildeo violam a liberdade de associaccedilatildeo (CF art 5ordm XVII15 XVIII16 e XIX17) a garantia da transmissibilidade dos direitos au-torais (CF art 5ordm XXVII18) o princiacutepio da isonomia (CF art 5ordm caput19) tampouco a propriedade privada (CF art 5ordm XXII20 e art 170 II21)

Os titulares originaacuterios e derivados de obras intelectuais (as editoras musicais por exemplo) satildeo diferenciados legalmente para fins de participaccedilatildeo na gestatildeo coletiva de direitos autorais O distinguishing situa-se dentro da margem de conformaccedilatildeo do legislador ordinaacuterio para disciplinar a mateacuteria uma vez que (i) natildeo existe direito constitucional expresso agrave participaccedilatildeo poliacutetica ou administrativa de titulares deriva-dos na gestatildeo coletiva ao contraacuterio dos titulares originaacuterios (CF art 5ordm XXVIII b22) (ii) as regras impugnadas natildeo impactam os direitos patrimoniais dos titulares deriva-dos que continuam a gozar das mesmas expressotildees econocircmicas de que desfrutavam ateacute entatildeo (iii) a importacircncia relativa dos titulares originaacuterios eacute maior para a criaccedilatildeo intelectual cujo estiacutemulo eacute a finalidade uacuteltima da gestatildeo coletiva (iv) eacute justificaacutevel ante os fatos apurados a existecircncia de regras voltadas a minimizar a assimetria de po-der econocircmico entre gravadoras editoras musicais ndash que possuem cataacutelogo de obras de um grande nuacutemero de autores o que lhes confere maior poder decisoacuterio do que aquele dos proacuteprios muacutesicos e compositores ndash e autores individuais os verdadeiros criadores intelectuais

248iacutendice de teses

Eacute constitucional a habilitaccedilatildeo preacutevia das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva em oacuter-

gatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal para a cobranccedila de direitos autorais23

Natildeo haacute violaccedilatildeo agrave liberdade de associaccedilatildeo (CF art 5ordm XVII a XX24) ao princiacutepio da proporcionalidade tampouco ao direito adquirido ou ao ato juriacutedico perfeito (CF art 5ordm XXXVI25) Essa exigecircncia configura tiacutepico exerciacutecio de poder de poliacutecia preventivo voltado a aferir o cumprimento das obrigaccedilotildees legais exigiacuteveis desde o nascedouro da entidade

Sob o prisma da maacutexima tempus regit actum as associaccedilotildees arrecadadoras jaacute exis-tentes devem conformar-se agrave legislaccedilatildeo em vigor sujeitando-se agraves alteraccedilotildees super-venientes agrave sua criaccedilatildeo dado que (i) as regras de transiccedilatildeo satildeo justas e (ii) natildeo existe direito adquirido a regime juriacutedico na ordem constitucional brasileira

Satildeo constitucionais as normas relativas agrave negociaccedilatildeo de preccedilos e formas de li-

cenciamento de direitos autorais (art 98 sectsect 3ordm e 4ordm26) e ao prazo miacutenimo para

comunicaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo pessoal de direitos por seus titulares (art 98

sect 1527) previstas na Lei 96101998

Inexiste afronta ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) agrave livre iniciativa (CF art 1ordm IV28) e aos princiacutepios da proporcionalidade e da realidade

A Lei 96101998 apoacutes alteraccedilotildees natildeo estipulou tabelamento de preccedilos Limitou--se a fixar paracircmetros geneacutericos (razoabilidade boa-feacute e usos do local de utilizaccedilatildeo das obras) para o licenciamento de direitos autorais no intuito de corrigir as distor-ccedilotildees propiciadas pelo poder de mercado das associaccedilotildees gestoras sem retirar dos proacuteprios titulares a prerrogativa de estabelecer o preccedilo de suas obras

A norma abriu outras modalidades de negoacutecio juriacutedico ateacute entatildeo restrito agrave de-nominada ldquolicenccedila cobertorrdquo (blanket license) ou licenciamento pelo formato global Por tal avenccedila o usuaacuterio adquire a preccedilo fixo o direito a reproduzir quantas vezes desejar e por tempo especificado toda e qualquer obra que conste do repertoacuterio da associaccedilatildeo contratante A cobranccedila natildeo eacute proporcional agrave utilizaccedilatildeo do conteuacutedo Para alguns usuaacuterios esse modelo de contrato eacute o mais adequado como ocorre em locais de frequecircncia coletiva estaccedilotildees de raacutedio e emissoras de televisatildeo que executam programaccedilatildeo alheia

Natildeo obstante o licenciamento global como uacutenica opccedilatildeo de negoacutecio eacute ineficiente uma vez que reduz a quantidade de transaccedilotildees (mutuamente beneacuteficas) realizadas

249iacutendice de teses

no mercado e gera diversos efeitos econocircmicos adversos sendo considerado praacutetica abusiva Agrave luz desses fundamentos a Lei 128532013 definiu que o licenciamento cobertor (blanket license) permanece vaacutelido desde que natildeo seja mais o uacutenico tipo de contrato disponiacutevel

Ademais o prazo miacutenimo legal para a comunicaccedilatildeo permite que a associaccedilatildeo ao proceder agrave cobranccedila de seu repertoacuterio possa excluir os valores referentes ao titular que atue pessoalmente minimizando as chances de falhas de comunicaccedilatildeo que pro-piciem duplicidade de cobranccedila tumultuem a gestatildeo coletiva e onerem o usuaacuterio Cuida-se portanto da racionalizaccedilatildeo da atividade arrecadatoacuteria bem como da pro-teccedilatildeo do usuaacuterio de obras intelectuais

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de cadastro unificado de obras e dados autorais29

Inexiste afronta ao direito constitucional agrave privacidade (CF art 5ordm X30) e ao princiacute-pio da proporcionalidade O cadastro unificado de obras justifica-se como forma de prevenir a praacutetica de fraudes e evitar a ocorrecircncia de ambiguidades quanto agrave parti-cipaccedilatildeo individual em obras com tiacutetulos similares problemas esses que vicejavam ante a pouca transparecircncia da sistemaacutetica anterior Assim confere-se publicidade aos dados que satildeo de interesse puacuteblico mas preservam-se as informaccedilotildees de cunho somente individual como valores distribuiacutedos a titular

O modelo regulatoacuterio admite a atuaccedilatildeo pessoal de cada titular na arrecadaccedilatildeo de seus direitos sendo de interesse de qualquer usuaacuterio efetivo ou potencial ter conhe-cimento acerca das participaccedilotildees individuais nas obras Eacute possiacutevel inclusive valer-se do cadastro para compatibilizar o desejo soberano de qualquer autor de ocultar sua identidade mediante o uso de pseudocircnimos ou heterocircnimos e ao mesmo tempo fazer valer seus direitos autorais

Ademais o acesso de qualquer interessado ao Poder Judiciaacuterio (CF art 5ordm XXXV31) natildeo foi violado pela possiacutevel retificaccedilatildeo do cadastro pelo Ministeacuterio da Cultura que evita a prematura judicializaccedilatildeo de eventuais conflitos aleacutem de permitir o enfrenta-mento da controveacutersia a partir de perspectiva teacutecnica e especializada

250iacutendice de teses

A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila

e distribuiccedilatildeo de direitos autorais eacute constitucional e deveraacute ser proporcional

ao custo efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada

uma delas32

As taxas de administraccedilatildeo e a fixaccedilatildeo de limites maacuteximos justificam-se pela estru-tura econocircmica do setor que apesar de franquear espaccedilo para ganhos de escala nas atividades de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo natildeo se traduzia em benefiacutecio aos titulares originaacuterios de direitos autorais

Essa sistemaacutetica representa pois uma garantia individual de cada autor em face de quaisquer maiorias associativas uma vez que limita a disposiccedilatildeo coletiva de direi-tos que satildeo intrinsecamente subjetivos reconduzindo as entidades de gestatildeo coletiva ao seu papel puramente instrumental

O limite para despesa pelas associaccedilotildees com accedilotildees que beneficiem seus associados de forma coletiva equilibra com moderaccedilatildeo a tensatildeo latente entre interesses indivi-duais e coletivos na criaccedilatildeo de obras intelectuais

Eacute constitucional dispositivo que incumbe ao ente arrecadador e agraves associa-

ccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de

perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a

transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titula-

res transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arreca-

daccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de direitos33

As associaccedilotildees surgem para viabilizar o mercado natildeo sendo admitido interromper seu hiacutegido funcionamento inclusive no momento em que deixam de operar no se-tor Por essa razatildeo a Lei 128532013 apenas zelou pela transiccedilatildeo razoaacutevel e menos traumaacutetica para usuaacuterios e titulares natildeo havendo qualquer afronta ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) e agrave garantia da propriedade imaterial e dos segredos do negoacutecio (CF art 5ordm XXIX34) O paracircmetro constitucional invocado eacute nitidamen-te voltado a exploraccedilotildees comerciais enquanto as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva natildeo exercem empresa em sentido juriacutedico sendo-lhes vedado pela legislaccedilatildeo o intuito de obter lucro

251iacutendice de teses

Eacute constitucional dispositivo que prevecirc a participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultu-

ra na prestaccedilatildeo de contas pelas associaccedilotildees de gestatildeo coletiva35

Natildeo haacute que cogitar de violaccedilatildeo agrave livre iniciativa (CF arts 1ordm IV e 170) ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) ou agrave separaccedilatildeo de poderes (CF art 60 sect 4ordm III36) A prerrogativa contida no art 98-C sect 2ordm evita a judicializaccedilatildeo de questotildees juriacutedicas simples como as relativas agrave prestaccedilatildeo de contas por associaccedilotildees a associados

A mediaccedilatildeo e a arbitragem enquanto meacutetodos voluntaacuterios e alternativos agrave juris-diccedilatildeo estatal minimizam a demanda pelo Poder Judiciaacuterio e propiciam a anaacutelise dos conflitos intersubjetivos por teacutecnicos e especialistas no tema sendo a via mais ceacutelere e menos custosa de composiccedilatildeo de litiacutegios A disciplina legal apenas possibilita a so-luccedilatildeo por vias alternativas agraves judiciais sem impedir por qualquer modo o acesso agrave Justiccedila A norma evidencia o caraacuteter voluntaacuterio da submissatildeo de eventuais litiacutegios aos procedimentos alternativos de soluccedilatildeo perante oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Fe-deral dependendo sempre de anuecircncia expressa e muacutetua das partes como ressalvou o Supremo Tribunal Federal ao julgar incidentalmente vaacutelida a Lei de Arbitragem brasileira (Lei 93071996)37

Eacute constitucional dispositivo que determina que o ente arrecadador deveraacute

admitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as as-

sociaccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua

aacuterea de atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Federal38

A previsatildeo legal condiz com o texto constitucional Afinal impede que as associa-ccedilotildees jaacute estabelecidas na gestatildeo coletiva possam asfixiar a criaccedilatildeo de novas entidades mediante poliacuteticas de alijamento junto ao Ecad que ostenta por forccedila de lei o mo-nopoacutelio da arrecadaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo de direitos relativos agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais e literomusicais e de fonogramas

Tal monopoacutelio concedido pelo Estado autoriza maior intervenccedilatildeo do poder puacutebli-co sobre a dinacircmica de funcionamento da entidade a qual deixada por si jaacute provou desvirtuar-se dos propoacutesitos que justificam as suas prerrogativas

A criaccedilatildeo de novas entidades coletivas impotildee pressatildeo competitiva sobre as associa-ccedilotildees jaacute atuantes que tenderatildeo a ser mais eficientes oferecendo serviccedilo de qualidade e com maior retorno para seus associados O monopoacutelio legal que favorece o Ecad en-

252iacutendice de teses

trevisto como bocircnus sofre a incidecircncia da contrapartida consistente no dever de admi-tir toda e qualquer entidade legalmente habilitada franqueando amplo acesso ao Ecad

A legitimidade ativa ad causam para provocar a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucio-nalidade eacute reconhecida agraves entidades de classe de acircmbito nacional (CF art 103 IX39) que devem congregar associados homogecircneos40 assim compreendidos os sujeitos de direito integrantes de uma mesma categoria profissional ou econocircmica41

Por fim em hermenecircutica constitucional eacute necessaacuterio cuidado para que a inter-pretaccedilatildeo ampliativa dos princiacutepios constitucionais natildeo se convole em veto judicial absoluto agrave atuaccedilatildeo do legislador ordinaacuterio que tambeacutem eacute um inteacuterprete legiacutetimo da Constituiccedilatildeo devendo atuar com prudecircncia e cautela de modo que a alegaccedilatildeo geneacute-rica dos direitos fundamentais natildeo asfixie o espaccedilo poliacutetico de deliberaccedilatildeo coletiva Afinal garantias gerais como liberdade de iniciativa propriedade privada e liberdade de associaccedilatildeo natildeo satildeo por si incompatiacuteveis com a presenccedila de regulaccedilatildeo estatal

A propoacutesito a gestatildeo coletiva de direitos autorais e a coexistecircncia da participaccedilatildeo do Estado assumem graus variados em diferentes democracias constitucionais42 A pluralidade de regimes sugere natildeo existir um modelo uacutenico perfeito e acabado de atuaccedilatildeo do poder puacuteblico mas ao reveacutes um maior ou menor protagonismo do Esta-do dependente sempre das escolhas poliacuteticas das maiorias eleitas A experimentaccedilatildeo de diferentes modelos ao longo dos tempos eacute a essecircncia do jogo democraacutetico

1 Projeto de Lei do Senado 1292012 A Casa aprovou o substitutivo do relator senador Humberto Costa ao projeto original de autoria do senador Randolfe Rodrigues

2 ldquoArt 59 O processo legislativo compreende a elaboraccedilatildeo de I ndash emendas agrave Constituiccedilatildeo II ndash leis complementares III ndash leis ordinaacuterias IV ndash leis delegadas V ndash medidas provisoacuterias VI ndash decretos legislativos VII ndash resoluccedilotildees Paraacutegrafo uacutenico Lei complementar disporaacute sobre a elaboraccedilatildeo reda-ccedilatildeo alteraccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das leisrdquo

3 ldquoArt 5ordm () XXVII ndash aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reprodu-ccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixarrdquo

4 ldquoArt 5ordm () XXXII ndash o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidorrdquo

5 ldquoArt 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o transporte o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeordquo

6 ldquoArt 215 O Estado garantiraacute a todos o pleno exerciacutecio dos direitos culturais e acesso agraves fontes da cultura nacional e apoiaraacute e incentivaraacute a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees culturaisrdquo

253iacutendice de teses

7 ldquoArt 5ordm () XIV ndash eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da fonte quan-do necessaacuterio ao exerciacutecio profissionalrdquo

8 ldquoArt 68 Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais e fonogramas em representaccedilotildees e execuccedilotildees puacute-blicas () sect 6ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede sect 7ordm As empresas cinematograacuteficas e de radiodifusatildeo manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos individuais ou coletivos autorizan-do e disciplinando a remuneraccedilatildeo por execuccedilatildeo puacuteblica das obras musicais e fonogramas contidas em seus programas ou obras audiovisuais sect 8ordm Para as empresas mencionadas no sect 7ordm o prazo para cumprimento do disposto no sect 6ordm seraacute ateacute o deacutecimo dia uacutetil de cada mecircs relativamente agrave relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados no mecircs anteriorrdquo

9 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo I ndash dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o tipo de usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores dos direitos autorais arre-cadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios excetuando os valores distribuiacutedos aos titulares individualmente II ndash dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios aos estatutos aos regulamentos de arre-cadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees deliberativas e aos cadastros das obras e titulares que representam bem como ao montante arrecadado e distribuiacutedo e aos creacuteditos eventualmente arrecadados e natildeo distribuiacutedos sua origem e o motivo da sua retenccedilatildeordquo

10 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo () Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas pe-riodicamente em intervalo nunca superior a 6 (seis) mesesrdquo

11 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo () IV ndash oferecer aos titulares de direitos os meios teacutecnicos para que possam acessar o balanccedilo dos seus creacuteditos da forma mais eficiente dentro do estado da teacutecnicardquo

12 ldquoArt 109-A A falta de prestaccedilatildeo ou a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas no cumprimento do disposto no sect 6ordm do art 68 e no sect 9ordm do art 98 sujeitaraacute os responsaacuteveis por determinaccedilatildeo da autoridade competente e nos termos do regulamento desta Lei a multa de 10 (dez) a 30 (trinta por cento) do valor que deveria ser originariamente pago sem prejuiacutezo das perdas e danos Paraacutegrafo uacutenico Aplicam-se as regras da legislaccedilatildeo civil quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees no caso de des-cumprimento pelos usuaacuterios dos seus deveres legais e contratuais junto agraves associaccedilotildees referidas neste Tiacutetulordquo

13 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de direito constitucional 10 ed Satildeo Paulo Saraiva 2015 p 308

14 RE 201819 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 27-10-2006

254iacutendice de teses

15 ldquoArt 5ordm () XVII ndash eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitarrdquo

16 ldquoArt 5ordm () XVIII ndash a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu funcionamentordquo

17 ldquoArt 5ordm () XIX ndash as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso o tracircnsito em julgadordquo

18 ldquoArt 5ordm () XXVII ndash aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reprodu-ccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixarrdquo

19 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

20 ldquoArt 5ordm () XXII ndash eacute garantido o direito de propriedaderdquo

21 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () II ndash propriedade privadardquo

22 ldquoArt 5ordm () XXVIII ndash satildeo assegurados nos termos da lei () b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aprovei-tamento econocircmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativasrdquo

23 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos sect 1ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute liacutecito para as associaccedilotildees que obtiverem habilitaccedilatildeo em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal nos termos do art 98-Ardquo

24 ldquoArt 5ordm () XX ndash ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer associadordquo

25 ldquoArt 5ordm () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

26 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 3ordm Caberaacute agraves as-sociaccedilotildees no interesse dos seus associados estabelecer os preccedilos pela utilizaccedilatildeo de seus repertoacuterios considerando a razoabilidade a boa-feacute e os usos do local de utilizaccedilatildeo das obras sect 4ordm A cobranccedila seraacute sempre proporcional ao grau de utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas pelos usuaacuterios considerando a importacircncia da execuccedilatildeo puacuteblica no exerciacutecio de suas atividades e as particularidades de cada seg-mento conforme disposto no regulamento desta Leirdquo

27 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 15 Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos referidos no caput e no sect 3ordm deste artigo mediante comunicaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo a que estiverem filiados com ateacute 48 (quarenta e oito) horas de antecedecircncia da sua praacuteticardquo

255iacutendice de teses

28 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre iniciativardquo

29 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 6ordm As associaccedilotildees deveratildeo manter um cadastro centralizado de todos os contratos declaraccedilotildees ou documentos de qualquer natureza que comprovem a autoria e a titularidade das obras e dos fo-nogramas bem como as participaccedilotildees individuais em cada obra e em cada fonograma prevenindo o falseamento de dados e fraudes e promovendo a desambiguaccedilatildeo de tiacutetulos similares de obras sect 7ordm As informaccedilotildees mencionadas no sect 6ordm satildeo de interesse puacuteblico e o acesso a elas deveraacute ser dis-ponibilizado por meio eletrocircnico a qualquer interessado de forma gratuita permitindo-se ainda ao Ministeacuterio da Cultura o acesso contiacutenuo e integral a tais informaccedilotildees sect 8ordm Mediante comunicaccedilatildeo do interessado e preservada a ampla defesa e o direito ao contraditoacuterio o Ministeacuterio da Cultura po-deraacute no caso de inconsistecircncia nas informaccedilotildees mencionadas no sect 6ordm deste artigo determinar sua retificaccedilatildeo e demais medidas necessaacuterias agrave sua regularizaccedilatildeo conforme disposto em regulamentordquo

30 ldquoArt 5ordm () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegu-rado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

31 ldquoArt 5ordm () XXXV ndash a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direitordquo

32 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 12 A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila e distribuiccedilatildeo de direitos autorais deveraacute ser proporcional ao custo efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada uma delasrdquo

33 Lei 96101998 ldquoArt 99 A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais e literomusicais e de fonogramas seraacute feita por meio das associaccedilotildees de gestatildeo cole-tiva criadas para este fim por seus titulares as quais deveratildeo unificar a cobranccedila em um uacutenico escri-toacuterio central para arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo que funcionaraacute como ente arrecadador com personali-dade juriacutedica proacutepria e observaraacute os sectsect 1ordm a 12 do art 98 e os arts 98-A 98-B 98-C 99-B 100 100-A e 100-B () sect 7ordm Cabe ao ente arrecadador e agraves associaccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titulares transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de direitosrdquo

34 ldquoArt 5ordm () XXIX ndash a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecno-loacutegico e econocircmico do Paiacutesrdquo

35 Lei 96101998 ldquoArt 98-C As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestar con-tas dos valores devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados sect 1ordm O direito agrave pres-taccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamente pelo associado sect 2ordm Se as contas natildeo forem prestadas

256iacutendice de teses

na forma do sect 1ordm o pedido do associado poderaacute ser encaminhado ao Ministeacuterio da Cultura que apoacutes sua apreciaccedilatildeo poderaacute determinar a prestaccedilatildeo de contas pela associaccedilatildeo na forma do regulamentordquo

36 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deli-beraccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir () III ndash a separaccedilatildeo dos Poderesrdquo

37 SE 5206 AgR rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 30-4-2004

38 Lei 96101998 ldquoArt 99-A O ente arrecadador de que trata o caput do art 99 deveraacute admitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as associaccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua aacuterea de atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal na forma do art 98-A Paraacutegrafo uacutenico As deliberaccedilotildees quanto aos criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos recursos arrecadados seratildeo tomadas por meio do voto unitaacuterio de cada associaccedilatildeo que integre o ente arrecadadorrdquo

39 ldquoArt 103 Podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucio-nalidade () IX ndash confederaccedilatildeo sindical ou entidade de classe de acircmbito nacionalrdquo

40 ADI 42 rel min Paulo Brossard P DJ de 2-4-1993

41 In casu a Uniatildeo Brasileira de Compositores revela homogeneidade da classe formada por seus mem-bros pertencentes agrave categoria econocircmica diferenciada que compreende os titulares de direitos auto-rais e conexos cujas obras estatildeo submetidas agrave execuccedilatildeo puacuteblica e sujeitas agrave gestatildeo coletiva setor da vida social alvo de profundas transformaccedilotildees a partir da ediccedilatildeo da Lei 128532013

42 GERVAIS Daniel (Org) Collective Management of Copyright and Related Rights Alphen aan Den Rijn Kluwer Law International 2nd Edition 2010

DIR

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DIR

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FIN

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RO

DIacuteVIDA PUacuteBLICA DIREITO FINANCEIRO

259iacutendice de teses

Eacute constitucional condicionar o resgate antecipado de tiacutetulos da diacutevida puacutebli-

ca emitidos em favor das instituiccedilotildees de ensino superior agrave satisfaccedilatildeo de suas

obrigaccedilotildees previdenciaacuterias

Tal medida tem como objetivo excluir da possibilidade de acesso ao creacutedito ime-diato dos valores correspondentes a tais certificados as entidades que apresentem deacutebitos com a previdecircncia Antes de agressiva ao texto constitucional essa restriccedilatildeo corresponde a atitude de necessaacuteria prudecircncia tendente a evitar que devedores da previdecircncia ganhem acesso antecipado a recursos do Tesouro Nacional1

Ademais essa condiccedilatildeo natildeo contraria nem restringe o direito dessas instituiccedilotildees de provocar o Poder Judiciaacuterio para questionar qualquer obrigaccedilatildeo previdenciaacuteria garantidos tambeacutem os direitos processuais ao contraditoacuterio e agrave ampla defesa

Diante disso foi declarada a constitucionalidade do art 12 caput da Lei 1026020012

1 ADI 2545 MC rel min Ellen Gracie P DJ de 7-2-2003

2 ldquoArt 12 A Secretaria do Tesouro Nacional fica autorizada a resgatar antecipadamente mediante solicitaccedilatildeo formal do Fies e atestada pelo INSS os certificados com data de emissatildeo ateacute 10 de no-vembro de 2000 em poder de instituiccedilotildees de ensino que na data de solicitaccedilatildeo do resgate tenham satisfeito as obrigaccedilotildees previdenciaacuterias correntes inclusive os deacutebitos exigiacuteveis constituiacutedos inscri-tos ou ajuizados e que atendam concomitantemente as seguintes condiccedilotildeesrdquo

Direito Financeiro Ȥ Diacutevida puacuteblica

Ȥ Resgate Ȥ Requisitos

ADI 2545rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

DIR

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DIREITO PENAL INTERNACIONALDIREITO INTERNACIONAL

262iacutendice de teses

Em caso de reingresso de extraditando foragido natildeo eacute necessaacuteria nova deci-

satildeo jurisdicional colegiada acerca da entrega basta a emissatildeo de ordem judi-

cial pelo relator do processo

A avaliaccedilatildeo jurisdicional da extradiccedilatildeo na forma do art 102 I g da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 jaacute foi realizada por ocasiatildeo da primeira entrega Natildeo estaacute evidente que a CF garanta uma segunda avaliaccedilatildeo jurisdicional em caso de reingresso inde-vido no territoacuterio nacional

Aleacutem disso a legislaccedilatildeo infraconstitucional de regecircncia [art 932 da Lei 68151980 (Estatuto do Estrangeiro3) e art 984 da Lei 134452017 (Lei de Migraccedilatildeo)] dispotildee que o requerimento para nova entrega dispensa formalidades sendo desnecessaacuterio instruiacute-lo com informaccedilotildees sobre o fato e a legislaccedilatildeo aplicaacutevel No entanto embora os referidos dispositivos tratem da nova entrega como procedimento administrativo verifica-se a necessidade de ordem judicial para a prisatildeo do estrangeiro (CF art 5ordm LXI5 e Lei de Migraccedilatildeo arts 486 e 847)

Por fim cabe destacar que haacute mateacuterias defensivas que podem ser debatidas no procedimento de nova entrega como ldquoa identidade da pessoa reclamadardquo (Estatuto do Estrangeiro art 85 sect 1ordm8 e Lei de Migraccedilatildeo art 91 sect 1ordm9) A simplificaccedilatildeo do procedimento apenas inverte o ocircnus da alegaccedilatildeo Incumbe agrave defesa trazer a juiacutezo e demonstrar as alegaccedilotildees de seu interesse

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () g) a extradiccedilatildeo solicitada por Estado estrangeirordquo

2 ldquoArt 93 O extraditando que depois de entregue ao Estado requerente escapar agrave accedilatildeo da Justiccedila e homiziar-se no Brasil ou por ele transitar seraacute detido mediante pedido feito diretamente por via diplomaacutetica e de novo entregue sem outras formalidadesrdquo

3 A Lei 68151980 (Estatuto do Estrangeiro) foi revogada pela Lei 134452017 (Lei de Migraccedilatildeo)

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1225 AgRrel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 7-12-2017Informativo STF 885

263iacutendice de teses

4 ldquoArt 98 O extraditando que depois de entregue ao Estado requerente escapar agrave accedilatildeo da Justiccedila e homiziar-se no Brasil ou por ele transitar seraacute detido mediante pedido feito diretamente por via diplomaacutetica ou pela Interpol e novamente entregue sem outras formalidadesrdquo

5 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXI ndash ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em leirdquo

6 ldquoArt 48 Nos casos de deportaccedilatildeo ou expulsatildeo o chefe da unidade da Poliacutecia Federal poderaacute repre-sentar perante o juiacutezo federal respeitados nos procedimentos judiciais os direitos agrave ampla defesa e ao devido processo legalrdquo

7 ldquoArt 84 Em caso de urgecircncia o Estado interessado na extradiccedilatildeo poderaacute previamente ou conjun-tamente com a formalizaccedilatildeo do pedido extradicional requerer por via diplomaacutetica ou por meio de autoridade central do Poder Executivo prisatildeo cautelar com o objetivo de assegurar a executorieda-de da medida de extradiccedilatildeo que apoacutes exame da presenccedila dos pressupostos formais de admissibili-dade exigidos nesta Lei ou em tratado deveraacute representar agrave autoridade judicial competente ouvido previamente o Ministeacuterio Puacuteblico Federalrdquo

8 ldquoArt 85 Ao receber o pedido o Relator designaraacute dia e hora para o interrogatoacuterio do extraditando e conforme o caso dar-lhe-aacute curador ou advogado se natildeo o tiver correndo do interrogatoacuterio o prazo de dez dias para a defesa sect 1ordm A defesa versaraacute sobre a identidade da pessoa reclamada defeito de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradiccedilatildeordquo

9 ldquoArt 91 Ao receber o pedido o relator designaraacute dia e hora para o interrogatoacuterio do extraditando e conforme o caso nomear-lhe-aacute curador ou advogado se natildeo o tiver sect 1ordm A defesa a ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias contado da data do interrogatoacuterio versaraacute sobre a identidade da pessoa reclamada defeito de forma de documento apresentado ou ilegalidade da extradiccedilatildeordquo

264iacutendice de teses

A anuecircncia do extraditando com o pedido do Estado requerente poderaacute sur-

tir efeitos juriacutedicos para fins de deferimento da extradiccedilatildeo desde que essa

possibilidade esteja prevista em norma convencional pertinente e obedeccedila agraves

formalidades exigidas

Em regra o Supremo Tribunal Federal (STF) tem proclamado a irrenunciabilida-de em face de nosso ordenamento positivo das garantias juriacutedicas que se revelam inerentes ao processo extradicional Mostra-se irrelevante nesse contexto a mera declaraccedilatildeo do extraditando de que deseja ser imediatamente entregue agrave Justiccedila do Estado requerente1

Entretanto a convenccedilatildeo de extradiccedilatildeo que preveja tal possibilidade qualifica-se como verdadeira lex specialis em face da legislaccedilatildeo domeacutestica brasileira o que lhe atribui precedecircncia juriacutedica sobre o Estatuto do Estrangeiro (Lei 68151980) em hi-poacuteteses nas quais se verifique a configuraccedilatildeo de eventual omissatildeo ou de antinomia com o direito positivo interno de nosso paiacutes

Nada obstante a anuecircncia do extraditando natildeo exonera em princiacutepio o STF do dever de efetuar riacutegido controle de legalidade em obediecircncia ao princiacutepio constitu-cional do devido processo legal

Nesse sentido devem estar satisfeitos todos os demais requisitos e condiccedilotildees a que alude o Estatuto do Estrangeiro natildeo podendo ocorrer ademais quaisquer dos fatores de vedaccedilatildeo inscritos tanto na Lei 68151980 quanto na convenccedilatildeo pertinente

1 Ext 1407 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 22-2-2016

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1476 QOrel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 20-10-2017Informativo STF 864

265iacutendice de teses

O recebimento do pedido de extradiccedilatildeo natildeo constitui causa interruptiva da

prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria salvo disposiccedilatildeo expressa em tratado es-

peciacutefico1 2 e 3

O Coacutedigo Penal (CP) brasileiro e a Lei 68151980 natildeo preveem como causa inter-ruptiva da prescriccedilatildeo a apresentaccedilatildeo do pedido de extradiccedilatildeo

Dessa feita agrave miacutengua de previsatildeo em tratado especiacutefico natildeo haacute por forccedila do princiacutepio da legalidade estrita como se criar um marco interruptivo em desfavor do extraditando

A prisatildeo preventiva para fins de extradiccedilatildeo executoacuteria natildeo constitui causa

interruptiva da prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria do Estado requerente

Embora nos termos do art 117 V do CP4 o iniacutecio ou a continuaccedilatildeo do cumpri-mento da pena interrompam a prescriccedilatildeo mesmo em se tratando de extradiccedilatildeo executoacuteria a prisatildeo preventiva natildeo perde sua natureza cautelar

Essa espeacutecie de prisatildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade para o processo de extra-diccedilatildeo destinada em sua preciacutepua funccedilatildeo instrumental a assegurar a execuccedilatildeo de eventual ordem de extradiccedilatildeo5

Logo natildeo se trata de prisatildeo para execuccedilatildeo da pena imposta ao extraditando no estrangeiro mas de hipoacutetese diversa que busca apenas viabilizar o proacuteprio procedi-mento extradicional

1 Ext 1261 rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 19-9-2013

2 Sobre o tema o Tratado de Extradiccedilatildeo firmado entre a Repuacuteblica Federativa do Brasil e a Repuacuteblica Italiana promulgado pelo Decreto 8631993 cujo art 3ordm 1 b determina que a extradiccedilatildeo natildeo seraacute concedida ldquose na ocasiatildeo do recebimento do pedido segundo a lei de uma das Partes houver ocorrido prescriccedilatildeo do crime ou da penardquo

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1346 EDrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 13-10-2017Informativo STF 838

266iacutendice de teses

3 Ext 1359 rel min Dias Toffoli decisatildeo monocraacutetica DJE de 2-3-2016

4 ldquoArt 117 O curso da prescriccedilatildeo interrompe-se () IV ndash pela publicaccedilatildeo da sentenccedila ou acoacuterdatildeo condenatoacuterios recorriacuteveisrdquo

5 Ext 579 QO rel min Celso de Mello P DJ de 10-9-1993

267iacutendice de teses

A circunstacircncia de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados

ao extraditando como de lesa-humanidade natildeo afasta a sua prescriccedilatildeo

O Estado brasileiro natildeo subscreveu a Convenccedilatildeo sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade muito menos aderiu a ela aleacutem disso apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibili-dade da pretensatildeo estatal de punir1

Ademais ldquoa satisfaccedilatildeo da exigecircncia concernente agrave dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicionalrdquo2

Nesse sentido tanto o Estatuto do Estrangeiro (art 77 VI)3 quanto o proacuteprio tratado de extradiccedilatildeo firmado entre o Brasil e o Estado requerente vedam categori-camente a extradiccedilatildeo quando extinta a punibilidade pela prescriccedilatildeo agrave luz do ordena-mento juriacutedico brasileiro ou do Estado requerente

Por fim o indeferimento do pedido de extradiccedilatildeo com base nesses fundamentos natildeo ofende o art 27 da Convenccedilatildeo de Viena sobre Direito dos Tratados (Decreto 70302009)4 Afinal natildeo se trata de invocaccedilatildeo de limitaccedilotildees de direito interno para justificar o inadimplemento do tratado de extradiccedilatildeo firmado entre o Brasil e o Es-tado requerente mas sim de simples incidecircncia de limitaccedilatildeo veiculada pelo proacuteprio tratado o qual veda a concessatildeo da extradiccedilatildeo ldquoquando a accedilatildeo ou a pena jaacute estiver prescrita segundo as leis do Estado requerente ou requeridordquo5

1 Voto do ministro Celso de Mello na ADPF 153 rel min Eros Grau P DJE de 6-8-2010

2 Ext 683 rel min Celso de Mello P DJE de 21-11-2008

3 ldquoArt 77 Natildeo se concederaacute a extradiccedilatildeo quando () VI ndash estiver extinta a punibilidade pela prescri-ccedilatildeo segundo a lei brasileira ou a do Estado requerenterdquo (A Lei 68151980 ndash Estatuto do Estrangei-ro ndash foi revogada pela Lei 134452017 ndash Lei de Migraccedilatildeo)

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1362red p o ac min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 5-9-2017Informativo STF 846

268iacutendice de teses

4 ldquoArtigo 27 Direito Interno e Observacircncia de Tratados Uma parte natildeo pode invocar as disposiccedilotildees de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado Esta regra natildeo prejudica o artigo 46rdquo

5 Decreto 29501938 ldquoArtigo III Natildeo seraacute concedida a extradiccedilatildeo () c) quando a accedilatildeo ou a pena jaacute estiver prescrita segundo as leis do Estado requerente ou requeridordquo

DIR

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PENASDIREITO PENAL

271iacutendice de teses

Estabelecida a pena-base no miacutenimo legal porque favoraacuteveis todas as cir-

cunstacircncias judiciais a imposiccedilatildeo de regime inicial mais grave revela quadro

de descompasso com a legislaccedilatildeo penal

A dosimetria da pena aleacutem de natildeo admitir soluccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas supotildee como pressuposto de legitimidade adequada fundamentaccedilatildeo racional re-vestida dos predicados de logicidade harmonia e proporcionalidade com os dados empiacutericos em que deve se basear Assim a fixaccedilatildeo do regime inicial de cumprimen-to da pena faz parte do processo de individualizaccedilatildeo da pena tendo no acircmbito do Coacutedigo Penal (CP) interpretaccedilatildeo sistemaacutetica dos arts 331 e 592 ou seja a integraccedilatildeo do criteacuterio referente ao quantum da pena e os vetores subjetivos relacionados agraves circunstacircncias judiciais

Quando aleacutem de o quantum da pena permitir a imposiccedilatildeo de regime inicial mais brando o reacuteu for primaacuterio e a pena-base for fixada no miacutenimo legal impotildee-se a eleiccedilatildeo do regime prisional mais adequado Ademais em prol do princiacutepio da legali-dade deve haver criteriosa e coerente observacircncia dos limites impostos pelo legisla-dor ordinaacuterio3

A estreita correlaccedilatildeo entre as circunstacircncias judiciais e o regime de pena consta expressamente da exposiccedilatildeo de motivos do CP4 Se o julgador ldquoconsiderou todos os elementos do art 59 favoraacuteveis estabelecendo a pena no patamar miacutenimo tambeacutem o regime deve merecer idecircntico criteacuterio determinando-se o mais brando possiacutevelrdquo5

Implica manifesto ldquocontrassenso ter sido a pena da paciente fixada no patamar miacutenimo legal por inexistecircncia de motivos haacutebeis agrave sua majoraccedilatildeo e ao mesmo tem-po assentar-se o regime mais gravoso em torno de proposiccedilotildees natildeo cogitadas na primeira fase da dosimetriardquo6

Igualmente no acircmbito do Superior Tribunal de Justiccedila a interpretaccedilatildeo consolida-da revertida no Verbete 440 da Suacutemula do STJ orienta que ldquofixada a pena-base no miacute-

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

RHC 135298red p o ac min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 8-8-2017Informativo STF 844

272iacutendice de teses

nimo legal eacute vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o ca-biacutevel em razatildeo da sanccedilatildeo imposta com base apenas na gravidade abstrata do delitordquo

A justificativa adotada pelo magistrado exprime as elementares do delito e revela a opiniatildeo do julgador sobre a gravidade do delito em absoluta desconformidade com o Enunciado 718 da Suacutemula do Supremo Tribunal Federal7

1 ldquoArt 33 A pena de reclusatildeo deve ser cumprida em regime fechado semiaberto ou aberto A de detenccedilatildeo em regime semiaberto ou aberto salvo necessidade de transferecircncia a regime fechado () sect 2ordm As penas privativas de liberdade deveratildeo ser executadas em forma progressiva segundo o meacuterito do condenado observados os seguintes criteacuterios e ressalvadas as hipoacuteteses de transferecircncia a regime mais rigoroso a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deveraacute comeccedilar a cumpri-la em regime fechado b) o condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e natildeo exceda a 8 (oito) poderaacute desde o princiacutepio cumpri-la em regime semiaberto c) o condenado natildeo reincidente cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos poderaacute desde o iniacutecio cumpri-la em regime aberto sect 3ordm A determinaccedilatildeo do regime inicial de cumprimento da pena far-se-aacute com obser-vacircncia dos criteacuterios previstos no art 59 deste Coacutedigordquo

2 ldquoArt 59 O juiz atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamento da viacutetima estabeleceraacute conforme seja necessaacuterio e suficiente para reprovaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do crimerdquo

3 HC 121939 red p o ac min Edson Fachin 1ordf T DJE de 5-5-2016 RHC 125435 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 20-8-2015 HC 113577 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 25-11-2015 e HC 83605 rel min Ellen Gracie 2ordf T DJE de 23-4-2004

4 Exposiccedilatildeo de Motivos 211 de 9 de maio de 1983 (exposiccedilatildeo de motivos do CP) ldquo34 A opccedilatildeo pelo regime inicial da execuccedilatildeo cabe pois ao juiz da sentenccedila que o estabeleceraacute no momento da fixaccedilatildeo da pena de acordo com os criteacuterios estabelecidos no art 59 relativos agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social e agrave personalidade do agente bem como aos motivos e circunstacircncias do crimerdquo

5 NUCCI Guilherme de Souza Individualizaccedilatildeo da pena 5 ed Rio de Janeiro Forense 2014 p 260

6 HC 99996 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 22-11-2010

7 ldquoA opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime natildeo constitui motivaccedilatildeo idocircnea para a imposiccedilatildeo de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicadardquo

273iacutendice de teses

O condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 anos e natildeo exceda a

8 anos tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (CP

art 33 sect 2ordm b) caso as circunstacircncias judiciais do art 59 lhe forem favoraacuteveis

A imposiccedilatildeo de regime de cumprimento de pena mais gravoso deve ser fundamen-tada atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamento da viacutetima (CP art 33 sect 3ordm1)

Nessa linha conclui-se que ldquoa hediondez ou a gravidade abstrata do delito natildeo obriga por si soacute o regime prisional mais gravoso pois o juiacutezo em atenccedilatildeo aos princiacute-pios constitucionais da individualizaccedilatildeo da pena e da obrigatoriedade de fundamen-taccedilatildeo das decisotildees judiciais deve motivar o regime imposto observando a singulari-dade do caso concretordquo2

Por fim ldquoafigura-se inadmissiacutevel por contrastar com as Suacutemulas 7183 e 7194 do Supremo Tribunal Federal a fixaccedilatildeo do regime inicial mais gravoso com base na mera opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crimerdquo5

1 ldquoArt 33 A pena de reclusatildeo deve ser cumprida em regime fechado semiaberto ou aberto A de detenccedilatildeo em regime semiaberto ou aberto salvo necessidade de transferecircncia a regime fechado () sect 3ordm A determinaccedilatildeo do regime inicial de cumprimento da pena far-se-aacute com observacircncia dos criteacuterios previstos no art 59 deste Coacutedigordquo

2 HC 133028 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 5-8-2016

3 ldquoA opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime natildeo constitui motivaccedilatildeo idocircnea para a imposiccedilatildeo de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicadardquo

4 ldquoA imposiccedilatildeo do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige moti-vaccedilatildeo idocircneardquo

5 RHC 119893 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 19-12-2014

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

HC 140441rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-5-2017Informativo STF 859

274iacutendice de teses

Natildeo eacute possiacutevel reconhecer o aumento da pena-base diante da culpabilidade

reconhecida meramente por consciecircncia da ilicitude

A consciecircncia da ilicitude eacute pressuposto da culpabilidade ndash art 21 Coacutedigo Penal (CP)1 ndash e portanto circunstacircncia inidocircnea agrave exasperaccedilatildeo da pena

A existecircncia de inqueacuteritos policiais ou de accedilotildees penais sem tracircnsito em julga-

do natildeo pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria

da pena

Em observacircncia ao princiacutepio constitucional da natildeo culpabilidade (CF art 5ordm LVII2) somente a condenaccedilatildeo penal transitada em julgado pode legitimar a consideraccedilatildeo de o reacuteu ostentar o status juriacutedico-penal de condenado com todas as consequecircncias legais daiacute decorrentes3

Assim ldquoa mera sujeiccedilatildeo de algueacutem a simples investigaccedilotildees policiais (arquivadas ou natildeo) ou a persecuccedilotildees criminais ainda em curso natildeo basta soacute por si ante a inexis-tecircncia em tais situaccedilotildees de condenaccedilatildeo penal transitada em julgado para justificar o reconhecimento de que o reacuteu natildeo possui bons antecedentesrdquo4

1 ldquoArt 21 O desconhecimento da lei eacute inescusaacutevel O erro sobre a ilicitude do fato se inevitaacutevel isenta de pena se evitaacutevel poderaacute diminuiacute-la de um sexto a um terccedilordquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

3 RE 591054 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 26-2-2015

4 RHC 113381 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 20-2-2014

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Dosimetria da pena

HC 122940rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 24-4-2017Informativo STF 851

CRIMES CONTRA O PATRIMOcircNIODIREITO PENAL

276iacutendice de teses

No crime de furto (CP art 155) a circunstacircncia ldquorompimento de obstaacuteculordquo

deve ser utilizada alternativamente ou como qualificadora do crime ou como

causa de aumento da pena

Configura bis in idem a utilizaccedilatildeo da circunstacircncia de rompimento de obstaacuteculo para qualificar o delito de furto (CP art 155 sect 4ordm1) e para aumentar a pena-base como circunstacircncias judiciais na primeira fase da dosimetria (CP art 59)

1 ldquoArt 155 Subtrair para si ou para outrem coisa alheia moacutevel () sect 4ordm A pena eacute de reclusatildeo de dois a oito anos e multa se o crime eacute cometido I ndash com destruiccedilatildeo ou rompimento de obstaacuteculo agrave subtraccedilatildeo da coisardquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra o patrimocircnio

Ȥ Furto Ȥ Furto qualificado

HC 122940rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 24-4-2017Informativo STF 851

277iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Crimes contra o patrimocircnio

Ȥ Furto Ȥ Causa de aumento de pena

Eacute legiacutetima a incidecircncia da causa de aumento de pena por crime cometido

durante o repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm1) no caso de furto praticado na

forma qualificada (CP art 155 sect 4ordm2)

A inserccedilatildeo pelo legislador da majorante do repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm) antes das circunstacircncias qualificadoras (criteacuterio topograacutefico) natildeo teve a intenccedilatildeo de excluir sua incidecircncia sobre as modalidades qualificadas do furto (CP art 155 sect 4ordm) Natildeo fos-se assim tambeacutem estaria obstado pela concepccedilatildeo topograacutefica do Coacutedigo Penal (CP) o reconhecimento do instituto do privileacutegio (CP art 155 sect 2ordm3) no furto qualificado

A compatibilidade desses dois institutos furto qualificado-privilegiado jaacute foi re-conhecida pelo Supremo Tribunal Federal4 Cuida-se de qualificadoras objetivas que concorrem com uma majorante tambeacutem objetiva de modo que natildeo haacute contradiccedilatildeo loacutegica ou vedaccedilatildeo legal que possa obstar a convivecircncia harmocircnica entre a causa de aumento de pena do repouso noturno e o furto qualificado quando perfeitamente compatiacuteveis com a situaccedilatildeo faacutetica

1 ldquoArt 155 Subtrair para si ou para outrem coisa alheia moacutevel Pena ndash reclusatildeo de um a quatro anos e multa sect 1ordm A pena aumenta-se de um terccedilo se o crime eacute praticado durante o repouso noturnordquo

2 ldquoArt 155 () sect 4ordm A pena eacute de reclusatildeo de dois a oito anos e multa se o crime eacute cometido I ndash com destruiccedilatildeo ou rompimento de obstaacuteculo agrave subtraccedilatildeo da coisardquo

3 ldquoArt 155 () sect 2ordm Se o criminoso eacute primaacuterio e eacute de pequeno valor a coisa furtada o juiz pode subs-tituir a pena de reclusatildeo pela de detenccedilatildeo diminuiacute-la de um a dois terccedilos ou aplicar somente a pena de multardquo

4 HC 101256 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 14-9-2011 HC 103245 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 23-11-2010 e HC 97034 rel min Ayres Britto 1ordf T DJE de 7-5-2010

HC 130952rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 20-2-2017Informativo STF 851

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUALDIREITO PENAL

279iacutendice de teses

Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor mesmo que praticados

na forma simples tecircm caraacuteter hediondo

Os delitos hoje unificados no mesmo tipo penal prescrito no art 213 do Coacutedigo Penal (CP)1 preveem a modalidade simples e a qualificada A conclusatildeo de que as duas formas satildeo consideradas hediondas (Lei 80721990 art 1ordm V e VI2) adveacutem da presunccedilatildeo de violecircncia no caso do crime praticado na forma simples e de o bem juriacutedico tutelado ser a liberdade sexual3

ldquoEm harmonia com as demais previsotildees a norma jungiu o estupro e o atentado violento ao pudor para merecerem o roacutetulo de hediondez agrave combinaccedilatildeo com o art 223 cabeccedila e paraacutegrafo uacutenico do CP4 Vale dizer que praticado qualquer dos crimes sem que se faccedila presente o disposto no art 223 cabeccedila e paraacutegrafo uacutenico do CP a pena a ser aplicada eacute a majoraccedilatildeo pela Lei 80721990 tal como estabelecido no respectivo art 9ordm e jaacute constante dos arts 213 e 214 do CP (hellip) A natildeo se entender as-sim releva-se a plano secundaacuterio exacerbando-se as normas o que previsto embora entre parecircnteses nos incisos V e VI do art 1ordm da Lei 8072 de 25 de julho de 1990rdquo5

Eacute admissiacutevel o reconhecimento de continuidade delitiva de acordo com o

caso concreto nos casos previstos no art 213 do CP

Com a ediccedilatildeo da Lei 1201520096 que unificou em um mesmo tipo incriminador as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor admite-se o reconhecimento da continuidade delitiva entre os referidos delitos ante a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da retroatividade da lei mais beneacutefica e desde que preenchidos os requisitos legais previstos no art 717 do CP8

1 ldquoArt 213 Constranger algueacutem mediante violecircncia ou grave ameaccedila a ter conjunccedilatildeo carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinosordquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Crimes contra a liberdade sexual Ȥ Estupro

HC 100612red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

280iacutendice de teses

2 ldquoArt 1ordm Satildeo considerados hediondos os seguintes crimes todos tipificados no Decreto-Lei n 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo Penal consumados ou tentados () V ndash estupro (art 213 caput e sectsect 1ordm e 2ordm) VI ndash estupro de vulneraacutevel (art 217-A caput e sectsect 1ordm 2ordm 3ordm e 4ordm)rdquo

3 RHC 119609 rel min Ricardo Lewandowski 1ordf T DJE de 3-2-2014 e HC 120668 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 27-5-2014

4 ldquoArt 223 Se da violecircncia resulta lesatildeo corporal de natureza grave () Paraacutegrafo uacutenico Se do fato resulta a morterdquo

5 HC 88245 red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJ de 20-4-2007

6 ldquoArt 213 Constranger algueacutem mediante violecircncia ou grave ameaccedila a ter conjunccedilatildeo carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinosordquo

7 ldquoArt 71 Quando o agente mediante mais de uma accedilatildeo ou omissatildeo pratica dois ou mais crimes da mesma espeacutecie e pelas condiccedilotildees de tempo lugar maneira de execuccedilatildeo e outras semelhantes devem os subsequentes ser havidos como continuaccedilatildeo do primeiro aplica-se-lhe a pena de um soacute dos crimes se idecircnticas ou a mais grave se diversas aumentada em qualquer caso de um sexto a dois terccedilosrdquo

8 HC 114507 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-12-2013

281iacutendice de teses

Para a configuraccedilatildeo de estupro de vulneraacutevel eacute irrelevante o consentimento

da viacutetima menor de quatorze anos

Sendo a viacutetima menor de quatorze anos por forccedila de presunccedilatildeo legal (CP art 217-A)1 o estupro eacute presumido ainda que se trate de jovens com idades proacuteximas e em rela-cionamento afetivo

1 ldquoArt 217-A Ter conjunccedilatildeo carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos Pena ndash reclusatildeo de 8 (oito) a 15 (quinze) anosrdquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Crimes sexuais contra vulneraacuteveis Ȥ Estupro de vulneraacutevel

HC 122945red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 4-5-2017Informativo STF 858

282iacutendice de teses

Eacute juridicamente possiacutevel a majoraccedilatildeo da pena privativa de liberdade imposta a

bisavocirc de viacutetima em razatildeo da incidecircncia da causa de aumento prevista no in-

ciso II do art 2261 do Coacutedigo Penal (CP) considerada a figura do ascendente

O bisavocirc encontra-se na relaccedilatildeo de parentesco com a bisneta no terceiro grau da linha reta (Coacutedigo Civil arts 1591 e 15942) e natildeo haacute no ordenamento juriacutedico ne-nhuma regra de limitaccedilatildeo quanto ao nuacutemero de geraccedilotildees

O CP natildeo cuida de regras atinentes agrave personalidade civil das pessoas ou das suas relaccedilotildees de parentesco ou ateacute mesmo de filiaccedilatildeo Tais conceitos encontram-se disci-plinados no Coacutedigo Civil e satildeo cotidianamente utilizados em outros ramos do orde-namento juriacutedico de forma subsidiaacuteria a fim de suprir eventuais lacunas indesejadas

1 ldquoArt 226 A pena eacute aumentada () II ndash de metade se o agente eacute ascendente padrasto ou madrasta tio irmatildeo cocircnjuge companheiro tutor curador preceptor ou empregador da viacutetima ou por qual-quer outro tiacutetulo tem autoridade sobre elardquo

2 ldquoArt 1591 Satildeo parentes em linha reta as pessoas que estatildeo umas para com as outras na relaccedilatildeo de ascendentes e descendentes () Art 1594 Contam-se na linha reta os graus de parentesco pelo nuacutemero de geraccedilotildees e na colateral tambeacutem pelo nuacutemero delas subindo de um dos parentes ateacute ao ascendente comum e descendo ateacute encontrar o outro parenterdquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Disposiccedilotildees gerais Ȥ Causa de aumento de pena

RHC 138717rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 5-6-2017Informativo STF 866

CRIMES CONTRA A FEacute PUacuteBLICADIREITO PENAL

284iacutendice de teses

No crime de falsidade ideoloacutegica as provas produzidas devem evidenciar que

o acusado possui ciecircncia inequiacutevoca do conteuacutedo inveriacutedico dos documentos

que assina ou de que o faccedila com o objetivo de prejudicar direito criar obriga-

ccedilatildeo ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante

Sendo o dolo elemento subjetivo do tipo se ausente o fato praticado natildeo eacute tiacutepico Consequentemente natildeo constitui infraccedilatildeo penal ainda que provadas a materiali-dade e a praacutetica da conduta

Aleacutem disso ldquoo fato de o acusado ter subscrito os documentos por si soacute natildeo eacute argumento suficiente para a caracterizaccedilatildeo do dolo da conduta muito menos em re-laccedilatildeo agrave finalidade especiacutefica de prejudicar direito criar obrigaccedilatildeo ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante como reclama o tipo penalrdquo1

ldquoPor fim condenar o chefe do Poder Executivo apenas e tatildeo somente em razatildeo da assinatura dos documentos implicaria no caso concreto responsabilizaccedilatildeo penal objetiva o que eacute inadmissiacutevel na conjuntura penal modernardquo2

1 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

2 Idem

Direito Penal Ȥ Crimes contra a feacute puacuteblica

Ȥ Falsidade ideoloacutegica Ȥ Elemento subjetivo do tipo

AP 931rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 23-6-2017Informativo STF 868

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO PENAL

286iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral Ȥ Peculato

Eacute atiacutepica a conduta de peculato por ato praticado por secretaacuterio parlamentar

que efetivamente exerce a funccedilatildeo puacuteblica referente ao cargo e auxilia o parla-

mentar em assuntos de interesse privado

Existe significativa ldquodiferenccedila entre usar funcionaacuterio puacuteblico em atividade privada e usar a Administraccedilatildeo Puacuteblica para pagar salaacuterio de empregado particular o que configura peculatordquo1

A atividade de secretaacuterio parlamentar natildeo se limita ao desempenho de tarefas bu-rocraacuteticas (pareceres estudos expediccedilatildeo de ofiacutecios acompanhamento de proposi-ccedilotildees redaccedilatildeo de minutas de pronunciamento emissatildeo de passagens aeacutereas emissatildeo de documentos envio de mensagens eletrocircnicas oficiais etc) Compreende outras atividades de apoio intrinsecamente relacionadas ao exerciacutecio do mandato parlamen-tar como o atendimento agrave populaccedilatildeo (Ato da Mesa 721997 da Cacircmara dos Depu-tados art 8ordm2)

Essas atribuiccedilotildees devem ser desempenhadas no gabinete parlamentar na Cacircmara dos Deputados ou no escritoacuterio poliacutetico do deputado federal em seu Estado de repre-sentaccedilatildeo (Ato da Mesa 721997 art 2ordm3)

Dessa forma nos casos em que secretaacuterio parlamentar exerccedila efetivamente as atribuiccedilotildees inerentes a seu cargo puacuteblico ainda que tambeacutem tenha desempenhado outras atividades no estrito interesse particular do parlamentar na condiccedilatildeo de ad-ministrador de fato da empresa da qual ele eacute soacutecio natildeo configura que houve a uti-lizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica para pagar o salaacuterio de empregado particular mas sim o uso de matildeo de obra puacuteblica em desvio para atender a interesses particulares4

Em casos dessa natureza os fatos imputados natildeo configuram iliacutecito penal natildeo cabendo em sede de accedilatildeo penal a emissatildeo de qualquer juiacutezo de valor a respeito da moralidade de sua conduta ou de seu enquadramento em eventual ato de improbida-de administrativa (Lei 84291992)

AP 504red p o ac min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 834

287iacutendice de teses

1 Inq 3776 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 4-11-2014

2 ldquoArt 8ordm Os cargos de que trata este Ato seratildeo exercidos em 25 (vinte e cinco) niacuteveis diferentes de remuneraccedilatildeo complexidade e responsabilidade e teratildeo as seguintes atribuiccedilotildees baacutesicas redaccedilatildeo de correspondecircncia discurso e pareceres do Parlamentar atendimento agraves pessoas encaminhadas ao ga-binete execuccedilatildeo de serviccedilos de secretaria e datilograacuteficos pesquisas acompanhamento interno e ex-terno de assuntos de interesse do Parlamentar conduccedilatildeo de veiacuteculo de propriedade do Parlamentar recebimento e entrega de correspondecircncia outras atividades afins inerentes ao respectivo gabineterdquo

3 ldquoArt 2ordm Os ocupantes dos cargos em comissatildeo de Secretaacuterio Parlamentar teratildeo exerciacutecio exclusiva-mente nos gabinetes parlamentares em Brasiacutelia ou em suas projeccedilotildees nos Estados e reger-se-atildeo pe-las normas estatutaacuterias e disciplinares aplicaacuteveis aos demais servidores da Cacircmara dos Deputadosrdquo

4 Inq 2952 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-12-2014

288iacutendice de teses

No crime de concussatildeo1 natildeo configura bis in idem a elevaccedilatildeo da pena na pri-

meira fase da dosimetria visto que em razatildeo da qualidade funcional ocupa-

da pelo agente dele se deveria exigir maior grau de observacircncia dos deveres

e obrigaccedilotildees relacionados ao cargo ocupado

O delito previsto no art 316 do Coacutedigo Penal (CP) eacute de matildeo proacutepria mas natildeo de matildeo proacutepria especiacutefica Logo eacute possiacutevel considerar a qualificaccedilatildeo especiacutefica do fun-cionaacuterio puacuteblico na primeira fase ante as circunstacircncias do art 592 do CP3

Nesse sentido exemplificativamente ldquoa condiccedilatildeo de deputado federal do agente natildeo se confunde com a qualidade funcional ativa exigida para a praacutetica do crime de concussatildeo A quebra do dever legal de representar fielmente os anseios da populaccedilatildeo e de quem se esperaria uma conduta compatiacutevel com as funccedilotildees por ele exercidas li-gadas entre outros aspectos ao controle e agrave repressatildeo de atos contraacuterios agrave administra-ccedilatildeo e ao patrimocircnio puacuteblico distancia-se em termos de culpabilidade da regra geral de moralidade e probidade administrativa imposta a todos os funcionaacuterios puacuteblicosrdquo4

Da mesma forma dentro do Estado Democraacutetico de Direito e do paiacutes que se al-meja construir o fato de uma autoridade puacuteblica obter vantagem indevida de algueacutem que esteja praticando um delito compromete de maneira grave o fundamento de legitimidade da autoridade que eacute atuar pelo bem comum e pelo bem puacuteblico5

Portanto quem seja investido de parcela de autoridade puacuteblica ndash seja um juiz seja o Ministeacuterio Puacuteblico seja a autoridade policial ndash deve ser avaliado no desempenho da sua funccedilatildeo com escrutiacutenio mais riacutegido e por consequecircncia no que se refere agrave culpabilidade promover em cada caso concreto juiacutezo de reprovabilidade maior6

Diante disso embora a condiccedilatildeo de funcionaacuterio puacuteblico integre o tipo penal do delito previsto no art 316 do CP pode-se levar em conta quando do juiacutezo de reprova-bilidade (CP art 59) a qualidade especiacutefica ou a qualificaccedilatildeo do funcionaacuterio puacuteblico

Direito Penal Ȥ Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral Ȥ Concussatildeo

HC 132990red p o ac min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 23-6-2017Informativo STF 835

289iacutendice de teses

1 ldquoArt 316 Exigir para si ou para outrem direta ou indiretamente ainda que fora da funccedilatildeo ou antes de assumi-la mas em razatildeo dela vantagem indevidardquo

2 ldquoArt 59 O juiz atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamen-to da viacutetima estabeleceraacute conforme seja necessaacuterio e suficiente para reprovaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do crime I ndash as penas aplicaacuteveis dentre as cominadas II ndash a quantidade de pena aplicaacutevel dentro dos limites previstos III ndash o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade IV ndash a subs-tituiccedilatildeo da pena privativa da liberdade aplicada por outra espeacutecie de pena se cabiacutevelrdquo

3 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento

4 RHC 132657 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 2-3-2016

5 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

6 Idem

LEGISLACcedilAtildeO PENAL ESPECIALDIREITO PENAL

291iacutendice de teses

O parecer juriacutedico do oacutergatildeo teacutecnico especializado favoraacutevel agrave inexigibilidade

impede a tipificaccedilatildeo criminosa da conduta prevista no art 89 da Lei 866619931

O referido parecer juriacutedico afasta em princiacutepio a ciecircncia da ilicitude da inexigibili-dade e determina o erro do agente quanto a elemento do tipo qual seja a circuns-tacircncia ldquofora das hipoacuteteses previstas em leirdquo2

Quando o administrador puacuteblico consulta a procuradoria juriacutedica quanto agrave regula-ridade da dispensa ou da inexigibilidade o parecer do corpo juriacutedico quando lavrado de maneira idocircnea ndash sem indiacutecio de que constitua etapa da suposta empreitada cri-minosa ndash confere embasamento juriacutedico ao ato inclusive quanto agrave observacircncia das formalidades do procedimento

Dessa maneira o parecer juriacutedico constitui oacutebice ao enquadramento tiacutepico da conduta do administrador puacuteblico que com base nele assine o termo contratual no exerciacutecio de sua funccedilatildeo salvo indicaccedilatildeo de dolo de beneficiar a si mesmo ou ao con-tratado eou narrativa miacutenima da existecircncia de uniatildeo de desiacutegnios entre os acusados para realizaccedilatildeo comum da praacutetica delitiva

A distinccedilatildeo do iliacutecito administrativo (ato de improbidade) do iliacutecito penal (ato

criminoso) reclama que a exordial acusatoacuteria narre a accedilatildeo finaliacutestica do agente

voltada agrave obtenccedilatildeo de vantagem indevida por meio da dispensa da licitaccedilatildeo

violando com isso o bem juriacutedico penal protegido pelo tipo incriminador3

O crime definido no art 89 da Lei 86661993 apesar de dispensar a prova do re-sultado danoso pressupotildee que a conduta do administrador puacuteblico seja criminosa e que a denuacutencia narre a finalidade do agente de lesar o eraacuterio de obter vantagem indevida ou de beneficiar patrimonialmente o particular contratado ferindo com isso a ratio essendi da licitaccedilatildeo qual seja a impessoalidade da contrataccedilatildeo

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees Ȥ Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

Inq 3674rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 15-9-2017Informativo STF 856

292iacutendice de teses

O tipo previsto no referido dispositivo tem como destinataacuterio o administrador e adjudicataacuterios desonestos e natildeo os supostamente inaacutebeis Isso porque a intenccedilatildeo de ignorar ou simular os pressupostos para a contrataccedilatildeo direta satildeo elementos do tipo que natildeo se perfaz a tiacutetulo de negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia ndash caracterizado-res do atuar culposo

A imputaccedilatildeo do crime definido no art 89 da Lei 86661993 a uma pluralidade

de agentes demanda a descriccedilatildeo indiciaacuteria na peccedila acusatoacuteria do viacutenculo

subjetivo entre os participantes para a obtenccedilatildeo do resultado criminoso4

Para que haja coautoria ou participaccedilatildeo a dogmaacutetica penal exige a evidenciaccedilatildeo de algum indiacutecio de acordo preacutevio revelador do liame psicoloacutegico entre os acusados Em regra este elemento poderaacute ser obtido mediante depoimentos de testemunhos ou ao menos quando haja alguma demonstraccedilatildeo de que todos obtiveram vanta-gem iliacutecita com a praacutetica delituosa comum5 e 6

1 ldquoArt 89 Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade Pena ndash detenccedilatildeo de 3 (trecircs) a 5 (cin-co) anos e multa Paraacutegrafo uacutenico Na mesma pena incorre aquele que tendo comprovadamente concorrido para a consumaccedilatildeo da ilegalidade beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal para celebrar contrato com o Poder Puacuteblicordquo

2 Inq 2482 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 17-2-2012 Inq 3731 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-3-2016 e AP 560 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJ de 11-9-2015

3 Inq 3965 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016 Inq 4104 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016 Inq 4106 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 10-11-2016 Inq 4101 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 10-11-2016 AP 700 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 26-4-2016 Inq 3731 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-3-2016 e Inq 2688 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-2-2015

4 AP 595 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 10-2-2015

5 ldquo(hellip) c) Coautoria Eacute a realizaccedilatildeo conjunta de um delito por vaacuterias pessoas que colaboram conscien-te e voluntariamente A coautoria eacute uma espeacutecie de conspiraccedilatildeo levada agrave praacutetica () Cada coautor responde pelo fato sempre que este permaneccedila no acircmbito da decisatildeo comum acordada previamen-te Qualquer tipo de excesso de um dos coautores repercutiraacute na forma de imputaccedilatildeo subjetiva do resultado que se tenha produzido por excesso assim uns podem responder a tiacutetulo de dolo e outros a tiacutetulo de imprudecircncia ou natildeo responder em absoluto pelo excesso Como na coautoria todos satildeo autores do fato pode acontecer que cada um responda por um tiacutetulo delitivo diferente () Distinta da coautoria eacute a autoria colateral na qual vaacuterias pessoas independentemente umas das outras

293iacutendice de teses

produzem o resultado tiacutepico geralmente de um delito culposordquo (BITENCOURT Cezar Roberto MUNtildeOZ CONDE Francisco Teoria geral do delito Satildeo Paulo Saraiva 2000 p 523525)

6 ldquoSatildeo coautores aqueles que realizam conjuntamente e de muacutetuo acordo um fato () Os coautores repartem entre si a realizaccedilatildeo do tipo de autoria () Para que esta imputaccedilatildeo reciacuteproca possa ocorrer eacute preciso o lsquomuacutetuo acordorsquo que converte em partes de um plano global unitaacuterio as dis-tintas contribuiccedilotildees () O art 28 do Coacutedigo Penal espanhol faz referecircncia agrave coautoria quando diz que lsquosatildeo autores aqueles que realizam o fato conjuntamentersquo Deve-se entender que esta expressatildeo requer natildeo apenas a execuccedilatildeo conjunta mas tambeacutem que a mesma se efetue de muacutetuo acordordquo (MIR PUIG Santiago Direito penal fundamentos e teoria do delito Trad Claacuteudia Viana Garcia e Joseacute Carlos Nobre Porciuacutencula Neto Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2007 p 358359)

294iacutendice de teses

A ausecircncia do elemento subjetivo do tipo (dolo) no crime do art 89 da Lei

86661993 leva agrave rejeiccedilatildeo da denuacutencia

O crime de inexigibilidade de licitaccedilatildeo1 reclama dolo consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar o iliacutecito penal causando dano ao eraacuterio ou obtendo vantagem indevida2 Tal situaccedilatildeo natildeo se faz presente quando o acusado atua em conformidade com a lei e com fulcro em parecer da Procuradoria Juriacutedica configu-rando-se assim inexistecircncia de justa causa para a accedilatildeo penal

1 Lei 86661993 ldquoArt 89 Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade Pena ndash Detenccedilatildeo de 3 (trecircs) a 5 (cinco) anos e multardquo

2 Inq 2688 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-2-2015 Inq 1990 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 21-2-2011 Inq 3016 rel min Ellen Gracie P DJE de 16-2-2011 Inq 2677 rel min Ayres Britto P DJE de 21-10-2010 Inq 2482 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 17-2-2012 Inq 3077 rel min Dias Toffoli P DJE de 25-9-2012 HC 107263 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 5-9-2011 e Inq 3965 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees Ȥ Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

Inq 3753rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 30-5-2017Informativo STF 861

295iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees Ȥ Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

A conduta de transmitir sinal de internet por radiofrequecircncia sem autori-

zaccedilatildeo natildeo configura crime de desenvolver clandestinamente atividades de

telecomunicaccedilotildees (Lei 94721997 art 1831)

Nos termos do art 61 sect 1ordm da Lei 947219972 a oferta de serviccedilo de internet conce-bido como serviccedilo de valor adicionado natildeo constitui atividade de telecomunicaccedilatildeo

1 ldquoArt 183 Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo Pena ndash detenccedilatildeo de dois a quatro anos aumentada da metade se houver dano a terceiro e multa de R$ 1000000 (dez mil reais)rdquo

2 ldquoArt 61 Serviccedilo de valor adicionado eacute a atividade que acrescenta a um serviccedilo de telecomunica-ccedilotildees que lhe daacute suporte e com o qual natildeo se confunde novas utilidades relacionadas ao acesso armazenamento apresentaccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo de informaccedilotildees sect 1ordm Serviccedilo de valor adicionado natildeo constitui serviccedilo de telecomunicaccedilotildees classificando-se seu provedor como usuaacuterio do serviccedilo de telecomunicaccedilotildees que lhe daacute suporte com os direitos e deveres inerentes a essa condiccedilatildeordquo

HC 127978rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 1ordm-12-2017Informativo STF 883

296iacutendice de teses

Excepcionalmente ante a constataccedilatildeo da irrelevacircncia da conduta praticada

pelo paciente e da ausecircncia de resultado lesivo a praacutetica da conduta em tese

subsumida ao art 183 da Lei 947219971 natildeo deve ser resolvida na esfera pe-

nal e sim nas instacircncias administrativas

Caso a Agecircncia Nacional de Telecomunicaccedilotildees (ANATEL) reconheccedila que a interfe-recircncia por parte de atividade clandestina de telecomunicaccedilatildeo tenha ocorrido ape-nas em canais que natildeo tenham recebido a outorga para operar em aacuterea de cobertura da raacutedio comunitaacuteria considera-se que o bem juriacutedico tutelado pela norma perma-nece incoacutelume

Nessa hipoacutetese a seguranccedila dos meios de telecomunicaccedilotildees natildeo sofre qualquer espeacutecie de lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo que mereccedila a intervenccedilatildeo do Direito Penal Logo natildeo deve ser reconhecida a tipicidade material da conduta ante a incidecircncia do princiacutepio da insignificacircncia Assim a mateacuteria deve ser resolvida nas instacircncias admi-nistrativas2 e 3

1 ldquoArt 183 Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeordquo

2 RHC 118014 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 21-8-2013

3 RHC 119123 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 4-8-2014

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees Ȥ Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

HC 138134rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 28-3-2017Informativo STF 853

297iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 96131998 ndash ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores Ȥ Art 1ordm ndash Lavagem de bens direitos ou valores

O crime de lavagem de bens direitos ou valores praticado na modalidade de

ocultaccedilatildeo (Lei 96131998 art 1ordm1) tem natureza de crime permanente

Quem oculta a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou pro-priedade de bens direitos ou valores provenientes de crime enquanto os manti-ver ocultos ou seja escondidos permanece realizando a conduta correspondente a esse verbo nuacutecleo do tipo Ocultar portanto natildeo eacute accedilatildeo que se realiza apenas no momento inicial do encobrimento mas que perdura enquanto o objeto material do crime estiver escondido maacutexime quando o autor deteacutem o poder de fato sobre o referido objeto

Por essa razatildeo a despeito das discussotildees sobre o bem juriacutedico tutelado pelo legis-lador com a tipificaccedilatildeo do crime de lavagem como a atividade delitiva violadora do bem juriacutedico tutelado se prolonga no tempo impende reconhecer que o bem juriacutedico permanece sendo violado enquanto a atividade delitiva natildeo cessar

A caracterizaccedilatildeo de crimes cujo verbo nuacutecleo do tipo eacute ocultar como permanente natildeo eacute exclusividade do delito de lavagem de dinheiro O Direito Penal paacutetrio tipifi-ca a ocultaccedilatildeo de uma seacuterie de objetos materiais em circunstacircncias vaacuterias com a consequente majoritaacuteria classificaccedilatildeo doutrinaacuteria dessas condutas como modalidades permanentes de violaccedilatildeo dos respectivos bens juriacutedicos

Eacute o caso do crime de receptaccedilatildeo que eacute considerado pela doutrina como ldquoinstan-tacircneo (cujo resultado se daacute de maneira instantacircnea natildeo se prolongando no tempo) salvo na modalidade lsquoocultarrsquo que eacute permanente (delito de consumaccedilatildeo prolongada) A ocultaccedilatildeo tem a peculiaridade de significar o disfarce para algo natildeo ser visto sem haver a destruiccedilatildeo Por isso enquanto o agente estiver escondendo a coisa que sabe ser produto de crime consuma-se a infraccedilatildeo penalrdquo2

Outro exemplo eacute o crime de ocultaccedilatildeo de cadaacutever (CP art 2113) o qual eacute conside-rado ldquocrime permanente que subsiste ateacute o instante em que o cadaacutever eacute descoberto

AP 863rel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 29-8-2017Informativo STF 866

298iacutendice de teses

pois ocultar eacute esconder e natildeo simplesmente remover sendo irrelevante o tempo em que o cadaacutever esteve escondidordquo4

A mesma consideraccedilatildeo deve ser transposta para o delito de lavagem na modalida-de de ocultaccedilatildeo Afinal eacute a natureza da accedilatildeo praticada que se prolonga no tempo ou natildeo correspondente ao verbo do qual o legislador se valeu para descrever o crime que define a natureza instantacircnea ou permanente do delito O crime de lavagem de dinheiro na modalidade ocultar portanto eacute igualmente permanente e subsiste ateacute o instante em que os valores provenientes dos crimes antecedentes sejam descobertos

Por fim cabe destacar que ao contraacuterio dos delitos instantacircneos cuja accedilatildeo ocorre num momento especiacutefico e bem delimitado nos crimes permanentes ldquoa accedilatildeo segue em curso enquanto dura a permanecircncia razatildeo pela qual todo esse tempo eacute conside-rado tempo do crime devendo ser computado como momento exato aquele em que cessa a permanecircncia inclusive a efeito de prescriccedilatildeo (art 111 III5 do Coacutedigo Penal)rdquo6

1 ldquoArt 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou pro-priedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente de infraccedilatildeo penal () Pena reclusatildeo de 3 (trecircs) a 10 (dez) anos e multardquo

2 NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo Penal comentado 15 ed Rio de Janeiro Forense 2015 p 1004

3 ldquoArt 211 Destruir subtrair ou ocultar cadaacutever ou parte dele Pena ndash reclusatildeo de um a trecircs anos e multardquo

4 HC 76678 rel min Mauriacutecio Correcirca 2ordf T DJ de 8-9-2000

5 ldquoArt 111 A prescriccedilatildeo antes de transitar em julgado a sentenccedila final comeccedila a correr () III ndash nos crimes permanentes do dia em que cessou a permanecircnciardquo

6 BUSATO Paulo Ceacutesar Direito penal parte geral Satildeo Paulo Atlas 2013 p 145

299iacutendice de teses

Eacute possiacutevel o confisco de todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendi-

do em decorrecircncia do traacutefico de drogas sem a necessidade de se perquirir a

habitualidade reiteraccedilatildeo do uso do bem para tal finalidade a sua modifica-

ccedilatildeo para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou

qualquer outro requisito aleacutem daqueles previstos expressamente no art 243

paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Os preceitos constitucionais sobre o traacutefico de drogas e o respectivo confisco de bens constituem parte dos mandados de criminalizaccedilatildeo previstos pelo poder cons-tituinte originaacuterio a exigir atuaccedilatildeo eneacutergica do Estado sobre o tema devendo com-bater severamente a traficacircncia de drogas sob pena de o ordenamento juriacutedico bra-sileiro incorrer em proteccedilatildeo deficiente dos direitos fundamentais2

Tem-se entatildeo um cenaacuterio em que essa conduta delituosa eacute prevista como crime inafianccedilaacutevel e insuscetiacutevel de graccedila ou anistia3 que permite a extradiccedilatildeo do brasileiro naturalizado4 que autoriza a expropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais e urbanos5 que permite o confisco de ldquotodo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido em decorrecircncia do traacuteficordquo6 A contextualizaccedilatildeo constitucional confere normatizaccedilatildeo uacutenica quanto a esse crime diferenciando-a de todos os demais tipos penais existentes no ordenamento ju-riacutedico brasileiro Nenhum outro tipo penal teve uma preocupaccedilatildeo tatildeo grande do cons-tituinte com a aplicaccedilatildeo simultacircnea de tantos institutos repressivos ou preventivos

Em virtude da concepccedilatildeo patrimonial e lucrativa ligada ao traacutefico de drogas exige-se do Direito Penal uma postura adequada como instrumento de controle da ordem social natildeo apenas no contexto repressivo-corporal mas tambeacutem com um con-datildeo pedagoacutegico mediante instrumentos que propiciem o desestiacutemulo financeiro agrave criminalidade atingindo exatamente aquilo que ela tem como finalidade preciacutepua o lucro Afinal o crime cometido natildeo pode trazer compensaccedilatildeo financeira superior a eventual sanccedilatildeo aplicaacutevel sob pena de tornar a responsabilizaccedilatildeo penal insuficiente no que toca o caraacuteter de prevenccedilatildeo geral e especial

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas ndash Repercussatildeo Geral

RE 638491RG ‒ Tema 647rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 865

300iacutendice de teses

No direito comparado o confisco eacute instituto de grande aplicabilidade nos delitos de repercussatildeo econocircmica sob o vieacutes de que ldquoo crime natildeo deve compensarrdquo pers-pectiva adotada pelo constituinte brasileiro e pela Repuacuteblica Federativa do Brasil que internalizou diversos diplomas internacionais que visam reprimir severamente o traacutefico de drogas A incursatildeo no cenaacuterio global sobre a mateacuteria evidencia o amparo agraves soluccedilotildees confiscatoacuterias na medida em que tal praacutetica natildeo eacute aplicada apenas como pena acessoacuteria imposta em uma condenaccedilatildeo criminal mas como procedimento vol-tado contra o proacuteprio bem cuja aquisiccedilatildeo natildeo seja passiacutevel de comprovaccedilatildeo liacutecita ou seja desproporcional aos rendimentos de quem o possua

O confisco previsto no art 243 paraacutegrafo uacutenico da CF deve ser interpretado agrave luz dos princiacutepios da unidade e da supremacia da Constituiccedilatildeo atentando agrave linguagem natural prevista no seu texto7 Isso significa que a Constituiccedilatildeo deve ser interpretada de modo a evitar contradiccedilatildeo entre suas normas porquanto ao interpretar deter-minado preceito o hermeneuta deve levar em consideraccedilatildeo a Constituiccedilatildeo em sua globalidade e natildeo como normas isoladas e dispersas8 Em outras palavras o direito natildeo deve ser interpretado em tiras mas no seu todo9

Como consequecircncia esse dispositivo natildeo admite outra interpretaccedilatildeo senatildeo a lite-ral no sentido de que ldquotodo e qualquer bemrdquo deve ser confiscado pelo Estado quando for apreendido ldquoem decorrecircnciardquo da praacutetica do traacutefico iliacutecito de drogas Inclusive natildeo se exige qualquer outro requisito material que natildeo seja o trinocircmio traacutefico-bem--confisco aleacutem do respeito ao devido processo legal (CF art 5ordm LIV10) Assim impor qualquer condiccedilatildeo para o confisco de bens apreendidos como a habitualidade eou a reiteraccedilatildeo de seu uso para a finalidade iliacutecita ou adulteraccedilatildeo para dificultar a des-coberta do local do acondicionamento da droga contraria frontalmente o art 243 paraacutegrafo uacutenico da CF11

1 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem localizadas cul-turas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordm Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreen-dido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

2 Precedente HC 104410 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 26-3-2012

3 CF1988 ldquoArt 5ordm () XLIII ndash a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o terrorismo e os definidos

301iacutendice de teses

como crimes hediondos por eles respondendo os mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitiremrdquo

4 CF1988 ldquoArt 5ordm () LI ndash nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da leirdquo

5 CF1988 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem lo-calizadas culturas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordmrdquo

6 CF1988 ldquoArt 243 () Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

7 Precedente RE 543974 rel min Eros Grau P DJE de 28-5-2009

8 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Satildeo Paulo Almedina 2003 p 12231224

9 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 131132

10 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

11 Precedente AC 82 MC rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJ de 28-5-2004

302iacutendice de teses

Eacute irrelevante para a aplicaccedilatildeo do art 40 III da Lei 113432006 (Lei de Dro-

gas) se o agente infrator visa ou natildeo comercializar drogas com os frequenta-

dores de estabelecimento prisional

A aplicaccedilatildeo da causa de aumento de pena prevista no art 40 III da Lei 1134320061 se justifica quando constatada a mera comercializaccedilatildeo de drogas nas imediaccedilotildees de estabelecimentos prisionais

Nesses locais haacute maior aglomeraccedilatildeo de pessoas tendo como mais aacutegil e facilitada a praacutetica do traacutefico de drogas Assim torna-se mais faacutecil ao traficante passar-se desperce-bido agrave fiscalizaccedilatildeo sendo maior consequentemente a reprovabilidade de sua conduta

ldquoA comercializaccedilatildeo de drogas nas dependecircncias ou nas imediaccedilotildees [de estabeleci-mentos prisionais] por si soacute jaacute justifica a incidecircncia da causa especial de aumento de pena sejam quais forem as condiccedilotildees subjetivas do agente que a cometerdquo2

1 ldquoArt 40 As penas previstas nos arts 33 a 37 desta Lei satildeo aumentadas de um sexto a dois terccedilos se () III ndash a infraccedilatildeo tiver sido cometida nas dependecircncias ou imediaccedilotildees de estabelecimentos prisionais de ensino ou hospitalares de sedes de entidades estudantis sociais culturais recreativas esportivas ou beneficentes de locais de trabalho coletivo de recintos onde se realizem espetaacuteculos ou diversotildees de qualquer natureza de serviccedilos de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserccedilatildeo social de unidades militares ou policiais ou em transportes puacuteblicosrdquo

2 HC 114701 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 8-4-2013

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 138944rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 3-8-2017Informativo STF 858

303iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

A quantidade de drogas natildeo pode automaticamente proporcionar o enten-

dimento de que o agente faz do traacutefico seu meio de vida ou integra organiza-

ccedilatildeo criminosa

O impedimento agrave aplicaccedilatildeo do art 33 sect 4ordm da Lei 1134320061 com base apenas nessa circunstacircncia natildeo se encontra devidamente fundamentado Eacute necessaacuteria a demonstraccedilatildeo da existecircncia de provas aptas a comprovar que o agente se dedica agraves atividades criminosas

Ademais configura constrangimento ilegal a decisatildeo fundada em premissa de causa e efeito automaacutetico que deixa de aplicar o redutor sem a devida motivaccedilatildeo2

Conhece-se do habeas corpus3 se flagrante a contradiccedilatildeo entre a justificativa

utilizada para negar a aplicaccedilatildeo da causa de diminuiccedilatildeo de pena prevista no

art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 e a absolviccedilatildeo da acusaccedilatildeo do crime de associa-

ccedilatildeo para o traacutefico tipificado pelo art 35 do mesmo diploma legal

Essa situaccedilatildeo configura patente constrangimento ilegal apto a afastar o entendi-mento jurisprudencial segundo o qual ldquose as instacircncias ordinaacuterias concluiacuteram que o ora agravante se dedicava agrave atividade criminosa para negar a incidecircncia da causa especial de reduccedilatildeo de pena prevista no art 33 sect 4ordm da Lei de Drogas para se chegar a conclusatildeo diversa necessaacuterio seria o reexame de fatos e provas o qual o habeas corpus natildeo comportardquo4

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos vedada a conversatildeo em penas restritivas

RHC 138715rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-6-2017Informativo STF 866

304iacutendice de teses

de direitos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo (Vide Resoluccedilatildeo 5 de 2012)

2 HC 131795 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 17-5-2016

3 HC 118697 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 27-5-2014 e RHC 121239 rel min Ricardo Le-wandowski 2ordf T DJE de 8-4-2014

4 HC 136177 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 22-11-2016 e RHC 137801 AgR rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 24-3-2017

305iacutendice de teses

Eacute possiacutevel considerar a quantidade de droga apreendida para efeito de dimi-

nuiccedilatildeo de pena (Lei 113432006 art 33 sect 4ordm)1

Afinal natildeo eacute criacutevel que algueacutem surpreendido transportando 500 kg de maconha natildeo esteja integrado de alguma forma a grupo criminoso2

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo

2 Trecho de decisatildeo proferida pelo ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento ao deixar de implementar a liminar

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 130981rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 28-4-2017Informativo STF 844

306iacutendice de teses

A quantidade de drogas natildeo constitui isoladamente fundamento idocircneo

para negar o benefiacutecio da reduccedilatildeo da pena do art 33 sect 4ordm da Lei 1134320061

ldquoNos termos do art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 a causa de diminuiccedilatildeo da pena incide nas hipoacuteteses em que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo2

Se ldquoo Tribunal de origem negou a aplicaccedilatildeo da minorante com base em circuns-tacircncias que natildeo estatildeo descritas no dispositivo legal (= quantidade de droga) assim como natildeo realizou nenhum juiacutezo de vinculaccedilatildeo entre a quantidade de droga apreen-dida e a suposta participaccedilatildeo do paciente no crime organizado () a presunccedilatildeo esta-belecida pelo acoacuterdatildeo impugnado merece ser afastadardquo3

Assim natildeo eacute ldquoadequada a presunccedilatildeo de que tatildeo somente a quantidade de entorpe-cente eacute elemento apto a sinalizar que o acusado dedicava-se a atividades delitivasrdquo4

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo

2 HC 116894 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 8-10-2013

3 Idem

4 HC 117185 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 28-11-2013

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 138138rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 13-3-2017Informativo STF 849

DIR

EPR

EVD

IREI

TO

PR

EVID

ENC

IAacuteR

IO

FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIALDIREITO PREVIDENCIAacuteRIO

309iacutendice de teses

Eacute constitucional formal e materialmente a contribuiccedilatildeo social do emprega-

dor rural pessoa fiacutesica instituiacuteda pela Lei 102562001 incidente sobre a re-

ceita bruta obtida com a comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo

A alteraccedilatildeo promovida pela Emenda Constitucional 201998 trouxe nova redaccedilatildeo ao art 195 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 e permitiu que nova contribuiccedilatildeo pre-videnciaacuteria fosse criada por lei ordinaacuteria em relaccedilatildeo aos empregadores rurais pes-soas fiacutesicas com base de caacutelculo na nova receita Com efeito essa mudanccedila afastou a necessidade de incidecircncia do sect 4ordm do art 1952 deixando consequentemente de exigir nos termos do art 1543 a ediccedilatildeo de lei complementar

Diante disso o novo texto constitucional foi regulamentado pela Lei 102562001 que alterando o art 25 da Lei 821219914 reintroduziu o empregador rural como sujeito passivo da contribuiccedilatildeo

Nesse sentido as alteraccedilotildees da Emenda Constitucional 201998 e da Lei 102562001 afastaram o principal e remanescente argumento de inconstitucionalidade formal que havia levado o Supremo Tribunal Federal (STF) por ocasiatildeo do julgamento do RE 3638535 a desobrigar os empregadores rurais pessoas fiacutesicas do pagamento da contri-buiccedilatildeo social sobre a receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo rural

Cabe destacar que no julgamento do RE 5961776 o STF ao declarar a inconsti-tucionalidade incidental do art 25 decidiu pela exclusatildeo do empregador rural pessoa fiacutesica como sujeito passivo da obrigaccedilatildeo tributaacuteria laacute prevista Contudo a declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade por meio de controle difuso de constitucionalidade aplica-da em razatildeo da repercussatildeo geral para todos os casos idecircnticos natildeo teve o condatildeo de retirar do ordenamento juriacutedico o texto legal do art 25 que inclusive continua a ser aplicado ateacute os dias de hoje em relaccedilatildeo aos segurados especiais Em outras palavras natildeo se extinguiu erga omnes a referida obrigaccedilatildeo tributaacuteria que continuou existente para os segurados especiais com respectivas aliacutequotas e base de caacutelculo constitucio-nais para essas situaccedilotildees

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Financiamento da seguridade social

Ȥ Contribuiccedilatildeo do produtor rural e do pescador Ȥ Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

RE 718874RG ‒ Tema 699red p o ac min Alexandre de MoraesPlenaacuterioDJE de 3-10-2017Informativo STF 859

310iacutendice de teses

Por essa razatildeo natildeo haacute falar que as alteraccedilotildees trazidas pela Emenda Constitucional 201998 ao inciso I do art 195 da CF tiveram o condatildeo de realizar a repristinaccedilatildeo da exigecircncia da contribuiccedilatildeo no tocante aos empregadores rurais pessoas fiacutesicas fi-xadas com base na receita Tampouco se trata da ocorrecircncia de constitucionalidade superveniente em que a ediccedilatildeo da Emenda Constitucional 201998 teria realizado o aproveitamento das aliacutequotas e bases de caacutelculo de contribuiccedilatildeo social declaradas anteriormente inconstitucionais pelo STF e retiradas do ordenamento juriacutedico

Com isso a nova regulamentaccedilatildeo do texto constitucional (poacutes-Emenda Constitu-cional 201998) pela Lei 102562001 alterou o art 25 da Lei 82121991 tatildeo somente para reintroduzir o empregador rural como sujeito passivo da contribuiccedilatildeo ‒ ainda existente para os segurados especiais ‒ sem desta vez incorrer no viacutecio de inconsti-tucionalidade formal que havia maculado a anterior redaccedilatildeo do art 25 dada pela Lei 95281997 e que estava em conflito com a redaccedilatildeo original do art 195 I da CF7

1 ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais I ndash do empregador da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei incidentes sobre a) a folha de salaacuterios e demais rendimen-tos do trabalho pagos ou creditados a qualquer tiacutetulo agrave pessoa fiacutesica que lhe preste serviccedilo mesmo sem viacutenculo empregatiacutecio b) a receita ou o faturamento c) o lucrordquo

2 ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais () sect 4ordm A lei poderaacute instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenccedilatildeo ou expansatildeo da seguridade social obedecido o disposto no art 154 Irdquo

3 ldquoArt 154 A Uniatildeo poderaacute instituir I ndash mediante lei complementar impostos natildeo previstos no artigo anterior desde que sejam natildeo cumulativos e natildeo tenham fato gerador ou base de caacutelculo proacuteprios dos discriminados nesta Constituiccedilatildeo II ndash na iminecircncia ou no caso de guerra externa impostos extraordinaacuterios compreendidos ou natildeo em sua competecircncia tributaacuteria os quais seratildeo suprimidos gradativamente cessadas as causas de sua criaccedilatildeordquo

4 ldquoArt 25 A contribuiccedilatildeo do empregador rural pessoa fiacutesica em substituiccedilatildeo agrave contribuiccedilatildeo de que tratam os incisos I e II do art 22 e a do segurado especial referidos respectivamente na aliacutenea a do inciso V e no inciso VII do art 12 desta Lei destinada agrave Seguridade Social eacute de I ndash 12 (um inteiro e dois deacutecimos por cento) da receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da sua produccedilatildeo II ndash 01 da receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da sua produccedilatildeo para financiamento das prestaccedilotildees por acidente do trabalhordquo

5 RE 363852 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 23-4-2010

311iacutendice de teses

6 RE 596177 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 29-8-2011

7 Redaccedilatildeo original do art 195 I da CF ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a socie-dade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais I ndash dos empregadores incidente sobre a folha de salaacuterios o faturamento e o lucrordquo (Vide EC 20 de 1998)

BENEFIacuteCIOS PREVIDENCIAacuteRIOSDIREITO PREVIDENCIAacuteRIO

313iacutendice de teses

No acircmbito do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) somente lei pode

criar benefiacutecios e vantagens previdenciaacuterias natildeo havendo por ora previsatildeo

legal do direito agrave ldquodesaposentaccedilatildeordquo sendo constitucional a regra do art 18

sect 2ordm da Lei 821319911

ldquoO fato de natildeo haver contraprestaccedilatildeo a essas contribuiccedilotildees vertidas ao Sistema Pre-videnciaacuterio natildeo significa ofensa ao texto constitucional () A solidariedade que estaacute na base desse sistema de proteccedilatildeo social e que inspira o regime de reparticcedilatildeo simples ndash vigente em nosso ordenamento ndash afasta desde logo qualquer viacutecio de inconstitucionalidade que pudesse ser invocado contra as normas que dispotildeem a respeito da exigecircncia de contribuiccedilatildeo dos segurados aposentados que retornam ao mercado de trabalhordquo2

ldquoContrariando a teacutecnica e o objetivo do contrato de seguro no qual buscou no passado a inspiraccedilatildeo a seguridade social natildeo pode se ater a uma correspondecircncia es-trita entre a obrigaccedilatildeo de contribuir e o direito agraves prestaccedilotildees A contribuiccedilatildeo eacute social por representar a parcela fornecida pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica a um fundo que se destina a impedir que todos os cidadatildeos padeccedilam necessidades Aliaacutes funcionando como verdadeiro mecanismo de distribuiccedilatildeo de riquezas nacionais a seguridade so-cial pode vir a ser mais utilizada precisamente por aqueles que para ela nunca contri-buiacuteram e vice-versa pode quase natildeo servir aos que maiores contribuiccedilotildees verteram para o sistemardquo3

Logo se o RGPS possui jaacute haacute algum tempo feiccedilatildeo nitidamente solidaacuteria e contri-butiva natildeo se vislumbra nenhuma inconstitucionalidade na norma do art 18 sect 2ordm da Lei 82131991 que veda aos aposentados que permaneccedilam em atividade ou a

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Benefiacutecios previdenciaacuterios

Ȥ Aposentadorias Ȥ Desaposentaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 381367DJE de 31-10-2017RE 661256DJE de 28-9-2017RE 827833DJE de 2-10-2017RG ‒ Tema 503red p o ac min Dias ToffoliPlenaacuterioInformativo STF 845

314iacutendice de teses

essa retornem o recebimento de qualquer prestaccedilatildeo adicional em razatildeo disso exceto salaacuterio-famiacutelia e reabilitaccedilatildeo profissional4

Tampouco eacute o caso de se conferir a ela ldquointerpretaccedilatildeo conforme ao texto consti-tucional em vigorrdquo pois eacute clara a interpretaccedilatildeo que vecircm dando a Uniatildeo e o INSS no sentido de que esse dispositivo combinado com o art 181-B do Decreto 304819995 impede a desaposentaccedilatildeo

Embora a Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo vede expressamente a desaposentaccedilatildeo tampouco prevecirc o direito que se pretende ver reconhecido Ao contraacuterio a CF dis-potildee de forma clara e especiacutefica6 que ficam remetidas agrave legislaccedilatildeo ordinaacuteria as hipoacutete-ses em que as contribuiccedilotildees vertidas ao sistema previdenciaacuterio repercutem de forma direta na concessatildeo dos benefiacutecios

Natildeo haacute que se olvidar que o art 96 II da Lei 821319917 proiacutebe expressamente que o tempo de serviccedilo jaacute aproveitado para a concessatildeo da aposentadoria seja nova-mente computado Aleacutem disso o Supremo Tribunal Federal (STF) em momento algum declarou a inconstitucionalidade desses dispositivos8 O STF antes do reco-nhecimento da repercussatildeo geral dessa mateacuteria vinha considerando como tese de natureza infraconstitucional e de eventual ofensa reflexa a questatildeo da possibilidade de renuacutencia da aposentadoria para a obtenccedilatildeo de outros benefiacutecios

Dessa forma a desaposentaccedilatildeo natildeo possui previsatildeo legal e em razatildeo disso natildeo tem natureza juriacutedica de ato administrativo mesmo porque a praacutetica de qualquer ato desse tipo pressupotildee o atendimento ao princiacutepio da legalidade administrativa

Por fim natildeo bastasse isso se a aposentadoria foi declarada por meio de ato admi-nistrativo liacutecito natildeo haacute que se falar em desconstituiccedilatildeo do ato mediante desaposenta-ccedilatildeo Afinal se liacutecita foi a concessatildeo do direito previdenciaacuterio sua retirada do mundo juriacutedico natildeo poderia ser admitida com efeitos ex tunc

1 ldquoArt 18 O Regime Geral de Previdecircncia Social compreende as seguintes prestaccedilotildees devidas inclu-sive em razatildeo de eventos decorrentes de acidente do trabalho expressas em benefiacutecios e serviccedilos () sect 2ordm O aposentado pelo Regime Geral de Previdecircncia Social ndash RGPS que permanecer em ativi-dade sujeita a este Regime ou a ele retornar natildeo faraacute jus a prestaccedilatildeo alguma da Previdecircncia Social em decorrecircncia do exerciacutecio dessa atividade exceto ao salaacuterio-famiacutelia e agrave reabilitaccedilatildeo profissional quando empregadordquo

2 Trecho do acoacuterdatildeo recorrido proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo que deu origem ao presente recurso extraordinaacuterio

3 BALERA Wagner A seguridade social na Constituiccedilatildeo de 1988 Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1989 p 5152

315iacutendice de teses

4 RE 437640 rel min Sepuacutelveda Pertence 1ordf T DJE de 2-3-2007

5 ldquoArt 181-B As aposentadorias por idade tempo de contribuiccedilatildeo e especial concedidas pela previ-decircncia social na forma deste Regulamento satildeo irreversiacuteveis e irrenunciaacuteveisrdquo

6 ldquoArt 201 A previdecircncia social seraacute organizada sob a forma de regime geral de caraacuteter contributivo e de filiaccedilatildeo obrigatoacuteria observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e atenderaacute nos termos da lei a () sect 4ordm Eacute assegurado o reajustamento dos benefiacutecios para preservar--lhes em caraacuteter permanente o valor real conforme criteacuterios definidos em leirdquo

7 ldquoArt 96 O tempo de contribuiccedilatildeo ou de serviccedilo de que trata esta Seccedilatildeo seraacute contado de acordo com a legislaccedilatildeo pertinente observadas as normas seguintes () II ndash eacute vedada a contagem de tempo de serviccedilo puacuteblico com o de atividade privada quando concomitantesrdquo

8 RE 442480 rel min Caacutermen Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 11-12-2008 AI 545274 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJ de 7-5-2007 AI 220803 rel min Sepuacutelveda Pertence deci-satildeo monocraacutetica DJ de 14-12-2005 AI 643455 rel min Sepuacutelveda Pertence decisatildeo monocraacutetica DJ de 18-4-2007 RE 576466 rel min Cezar Peluso decisatildeo monocraacutetica DJE de 17-2-2010 RE 656268 rel min Caacutermen Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 5-12-2011 RE 643963 rel min Caacuter-men Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 9-12-2011 e AI 851605 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 23-11-2011

316iacutendice de teses

Os efeitos financeiros das revisotildees de aposentadoria concedidas com base

no art 6ordm-A da Emenda Constitucional 4120031 introduzido pela Emenda

Constitucional 702012 somente se produziratildeo a partir da data de sua pro-

mulgaccedilatildeo (30-3-2012)

Haacute expressa determinaccedilatildeo no proacuteprio texto da Emenda Constitucional 702012 de que os efeitos financeiros nela previstos somente ocorreratildeo a partir da data de pro-mulgaccedilatildeo da emenda na forma do seu art 2ordm2 sob pena inclusive de violaccedilatildeo ao art 195 sect 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal que exige indicaccedilatildeo da fonte de custeio para a majoraccedilatildeo de benefiacutecio previdenciaacuterio Natildeo haacute portanto margem para maiores questionamentos acerca do termo inicial dos efeitos financeiros da referida emen-da constitucional

Caso se entendesse diversamente a consequecircncia seria a condenaccedilatildeo da Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica ao pagamento da diferenccedila entre os proventos efetivamente per-cebidos no periacuteodo anterior agrave vigecircncia da Emenda Constitucional 702012 e aqueles calculados de forma mais vantajosa com incidecircncia de encargos de mora No entan-to por imposiccedilatildeo do princiacutepio da legalidade natildeo era liacutecito agrave Administraccedilatildeo proceder com o pagamento de proventos em desconformidade com o texto constitucional Nessa medida retroagir os efeitos financeiros da Emenda Constitucional 702012 aleacutem de contrariar seu texto expresso implicaria em enriquecimento sem causa dos aposentados em questatildeo em prejuiacutezo do eraacuterio

1 ldquoArt 6ordm-A O servidor da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas au-tarquias e fundaccedilotildees que tenha ingressado no serviccedilo puacuteblico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Emen-da Constitucional e que tenha se aposentado ou venha a se aposentar por invalidez permanente com fundamento no inciso I do sect 1ordm do art 40 da Constituiccedilatildeo Federal tem direito a proventos de aposentadoria calculados com base na remuneraccedilatildeo do cargo efetivo em que se der a aposentado-ria na forma da lei natildeo sendo aplicaacuteveis as disposiccedilotildees constantes dos sectsect 3ordm 8ordm e 17 do art 40 da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Benefiacutecios previdenciaacuterios

Ȥ Aposentadorias Ȥ Aposentadoria por invalidez ndash Repercussatildeo Geral

RE 924456RG ‒ Tema 754red p o ac min Alexandre de MoraesPlenaacuterioDJE de 8-9-2017Informativo STF 860

317iacutendice de teses

2 ldquoArt 2ordm A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como as respectivas autar-quias e fundaccedilotildees procederatildeo no prazo de 180 (cento e oitenta) dias da entrada em vigor desta Emenda Constitucional agrave revisatildeo das aposentadorias e das pensotildees delas decorrentes concedi-das a partir de 1ordm de janeiro de 2004 com base na redaccedilatildeo dada ao sect 1ordm do art 40 da Constituiccedilatildeo Federal pela Emenda Constitucional n 20 de 15 de dezembro de 1998 com efeitos financeiros a partir da data de promulgaccedilatildeo desta Emenda Constitucionalrdquo

DIR

E

PRO

CC

IVIL

DIR

EIT

O

PRO

CES

SUA

L C

IVIL

SUJEITOS DO PROCESSODIREITO PROCESSUAL CIVIL

321iacutendice de teses

Eacute cabiacutevel a fixaccedilatildeo de honoraacuterios recursais prevista no art 85 sect 11 do Coacutedi-

go de Processo Civil (CPC)1 mesmo quando o advogado da parte recorrida

natildeo apresentar contrarrazotildees ou contraminuta

ldquoA expressatildeo lsquotrabalho adicionalrsquo que estaacute no sect 11 desse artigo 85 eacute um gecircnero que compreende vaacuterias espeacutecies dentre elas a contraminuta ou as contrarrazotildees Haacute outras espeacutecies de trabalho adicionalrdquo2

ldquoEsse lsquotrabalho adicionalrsquo natildeo se restringe necessariamente a uma peccedila processual existe todo um trabalho de acompanhamento eventualmente de convencimento oral que faz parte do dia a dia do advogadordquo3

Aleacutem disso a sucumbecircncia recursal surgiu com o objetivo de evitar a reiteraccedilatildeo de recursos ou seja de impedir a interposiccedilatildeo de recursos que seratildeo desprovidos in-dependentemente da apresentaccedilatildeo de contrarrazotildees A finalidade natildeo foi remunerar mais um profissional porque o outro apresentou contrarrazotildees

1 ldquoArt 85 A sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tri-bunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando conforme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

2 Trecho do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

3 Trecho do voto do ministro Ricardo Lewandowski no presente julgamento

Direito Processual Civil Ȥ Sujeitos do processo

Ȥ Partes e procuradores Ȥ Deveres das partes e de seus procuradores

AO 2063 AgRred p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 14-9-2017Informativo STF 865

EXECUCcedilAtildeODIREITO PROCESSUAL CIVIL

323iacutendice de teses

O art 1ordm-F da Lei 949419971 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na

parte em que disciplina os juros moratoacuterios aplicaacuteveis a condenaccedilotildees da Fa-

zenda Puacuteblica eacute inconstitucional ao incidir sobre deacutebitos oriundos de rela-

ccedilatildeo juriacutedico-tributaacuteria aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de

mora pelos quais a Fazenda Puacuteblica remunera seu creacutedito tributaacuterio em res-

peito ao princiacutepio constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput2) quanto agraves

condenaccedilotildees oriundas de relaccedilatildeo juriacutedica natildeo tributaacuteria a fixaccedilatildeo dos juros

moratoacuterios segundo o iacutendice de remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute

constitucional permanecendo hiacutegido nesta extensatildeo o disposto no art 1ordm-F

da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009

A utilizaccedilatildeo da remuneraccedilatildeo prevista na Lei 94941997 fere a isonomia e viola a equidade no tratamento das diacutevidas tributaacuterias O iacutendice utilizado pela Fazenda Puacute-blica nos juros moratoacuterios aplicados aos seus creacuteditos tributaacuterios ndash taxa do Sistema Especial de Liquidaccedilatildeo e de Custoacutedia (SELIC) ndash eacute superior ao iacutendice da poupanccedila ndash Lei 81771991 art 123 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 127032012

A igualdade deve ser investigada em cada relaccedilatildeo juriacutedica especiacutefica (eg tributaacuteria estatutaacuteria processual contratual etc) e natildeo a partir de uma dicotomia geneacuterica entre poder puacuteblicocidadatildeo Assim o Estado e o particular devem estar sujeitos agrave mesma disciplina em mateacuteria de juros no contexto de uma relaccedilatildeo juriacutedica de igual natureza4

Nesse sentido deve ser seguida a orientaccedilatildeo jurisprudencial firmada no julgamen-to das ADI 4357 e ADI 4425 segundo a qual ldquoa quantificaccedilatildeo dos juros moratoacuterios relativos a deacutebitos fazendaacuterios inscritos em precatoacuterios segundo o iacutendice de remune-raccedilatildeo da caderneta de poupanccedila vulnera o princiacutepio constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput) ao incidir sobre deacutebitos estatais de natureza tributaacuteria pela discrimina-ccedilatildeo em detrimento da parte processual privada que salvo expressa determinaccedilatildeo em contraacuterio responde pelos juros da mora tributaacuteria agrave taxa de 1 ao mecircs em favor do Estado (ex vi do art 161 sect 1ordm5 CTN)rdquo6

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 870947RG ‒ Tema 810rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 20-11-2017Informativo STF 878

324iacutendice de teses

Isso porque como natildeo haacute incidecircncia de juros em outras oportunidades eacute imperio-so entender que a orientaccedilatildeo firmada nas referidas accedilotildees diretas ao aludir a ldquoprecatoacute-riosrdquo de natureza tributaacuteria volta-se a rigor para as condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica isto eacute para a fixaccedilatildeo dos juros moratoacuterios ao final da fase de conhecimento do processo judicial

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na

parte em que disciplina a atualizaccedilatildeo monetaacuteria das condenaccedilotildees impostas

agrave Fazenda Puacuteblica segundo a remuneraccedilatildeo oficial da caderneta de poupanccedila

revela-se inconstitucional ao impor restriccedilatildeo desproporcional ao direito de

propriedade (CF art 5ordm XXII7) uma vez que natildeo se qualifica como medida

adequada a capturar a variaccedilatildeo de preccedilos da economia sendo inidocircnea a pro-

mover os fins a que se destina

O iacutendice aplicaacutevel ao caacutelculo da remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute fixado ex ante Eacute portanto inadequado para refletir corretamente a variaccedilatildeo de preccedilos da economia que eacute sempre constatada ex post

Com efeito a finalidade baacutesica da correccedilatildeo monetaacuteria eacute preservar o poder aqui-sitivo da moeda diante da sua desvalorizaccedilatildeo nominal provocada pela inflaccedilatildeo En-quanto instrumento de troca a moeda fiduciaacuteria que conhecemos hoje soacute tem valor na medida em que eacute capaz de ser transformada em bens e serviccedilos Ocorre que a inflaccedilatildeo por representar o aumento persistente e generalizado do niacutevel de preccedilos distorce no tempo a correspondecircncia entre valores real e nominal8

Esse estreito nexo entre correccedilatildeo monetaacuteria e inflaccedilatildeo exige por imperativo de adequaccedilatildeo loacutegica que os instrumentos destinados a realizar a primeira sejam ca-pazes de capturar a segunda Em outras palavras iacutendices de correccedilatildeo monetaacuteria devem ser ao menos em tese aptos a refletir a variaccedilatildeo de preccedilos que caracteriza o fenocircmeno inflacionaacuterio o que somente seraacute possiacutevel se consubstanciarem autecircnti-cos iacutendices de preccedilos

A hipoacutetese aqui diz respeito agrave idoneidade do criteacuterio fixado pelo legislador para atingir o fim a que se destina Assim a adequaccedilatildeo entre meios e fins caracteriza a primeira etapa do itineraacuterio metodoloacutegico exigido pelo dever de proporcionalida-de o qual a seu turno incide sobre todo e qualquer ato estatal conformador de direitos fundamentais9

325iacutendice de teses

Eacute certo que a promoccedilatildeo da finalidade colimada admite graus distintos de intensi-dade qualidade e certeza sendo imperioso respeitar a vontade objetiva do Legislati-vo e do Executivo sempre que o meio escolhido promova minimamente o fim visa-do Sem embargo em hipoacuteteses de inadequaccedilatildeo manifesta revela-se indispensaacutevel a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio

Nesse contexto cabe destacar que a atualizaccedilatildeo monetaacuteria da condenaccedilatildeo impos-ta agrave Fazenda Puacuteblica ocorre em dois momentos distintos

O primeiro se daacute ao final da fase de conhecimento com o tracircnsito em julgado da decisatildeo condenatoacuteria Essa correccedilatildeo inicial compreende o periacuteodo de tempo entre o dano efetivo (ou o ajuizamento da demanda) e a imputaccedilatildeo de responsabilidade agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica A atualizaccedilatildeo eacute estabelecida pelo proacuteprio juiacutezo prolator da decisatildeo condenatoacuteria no exerciacutecio de atividade jurisdicional

O segundo momento ocorre jaacute na fase executiva quando o valor devido eacute efetiva-mente entregue ao credor Esta uacuteltima correccedilatildeo monetaacuteria cobre o lapso temporal en-tre a inscriccedilatildeo do creacutedito em precatoacuterio e o efetivo pagamento O caacutelculo eacute realizado no exerciacutecio de funccedilatildeo administrativa pela Presidecircncia do Tribunal a que vinculado o juiacutezo prolator da decisatildeo condenatoacuteria

O Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar a ADI 4357 e a ADI 4425 decla-rou a inconstitucionalidade da correccedilatildeo monetaacuteria pela Taxa Referencial (TR) apenas quanto ao segundo periacuteodo isto eacute quanto ao intervalo de tempo compreendido en-tre a inscriccedilatildeo do creacutedito em precatoacuterio e o efetivo pagamento

O entendimento firmado no referido julgamento deve ser estendido ao primeiro periacuteodo relativo agrave tramitaccedilatildeo da accedilatildeo judicial Isso porque a remuneraccedilatildeo da caderne-ta de poupanccedila natildeo guarda pertinecircncia com a variaccedilatildeo de preccedilos na economia sendo manifesta e abstratamente incapaz de mensurar a variaccedilatildeo do poder aquisitivo da moe-da Essa inidoneidade fica patente em pelo menos quatro vertentes loacutegico-conceitual teacutecnico-metodoloacutegico histoacuterico-jurisprudencial e pragmaacutetico-consequencialista

Em primeiro lugar haacute um aspecto de ordem loacutegico-conceitual Remuneraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo de valores satildeo conceitos juriacutedicos bem delimitados e distintos

Como o roacutetulo sugere a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila representa o retorno devido ao investidor em razatildeo da perda de disponibilidade sobre capital proacute-prio Em termos juriacutedicos satildeo os frutos civis do capital os juros em linguagem eco-nocircmica representam o custo de oportunidade do capital

326iacutendice de teses

Jaacute a correccedilatildeo monetaacuteria traduz-se na mera recomposiccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda em virtude do fenocircmeno inflacionaacuterio Natildeo se destina a remunerar qualquer coisa senatildeo apenas a manter constante o valor real de certa expressatildeo monetaacuteria

Eacute possiacutevel pois que a remuneraccedilatildeo do capital seja em alguma medida predefini-da Jaacute a correccedilatildeo monetaacuteria natildeo eacute jamais prefixada uma vez que a inflaccedilatildeo eacute insusce-tiacutevel de captaccedilatildeo aprioriacutestica A variaccedilatildeo de preccedilos na economia eacute sempre constatada ex post mas nunca fixada ex ante exceto em regimes ditatoriais em que haacute controle de preccedilos e economia planificada Isso denota que remuneraccedilatildeo e rendimento natildeo equivalem ao restabelecimento do valor da moeda no tempo

Destarte o legislador ordinaacuterio ao utilizar criteacuterio de remuneraccedilatildeo do capital com o objetivo de promover sua atualizaccedilatildeo incorre em evidente desvio de finalida-de subvertendo os institutos baacutesicos da boa teacutecnica juriacutedica

Sob o acircngulo teacutecnico-metodoloacutegico nenhum dos componentes da remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila guarda relaccedilatildeo com a variaccedilatildeo de preccedilos de determinado pe-riacuteodo de tempo Com efeito o tema estaacute disciplinado pelo art 12 da Lei 8177199110 com atual redaccedilatildeo dada pela Lei 127032012

A remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila ndash diferentemente de qualquer outro iacutendice oficial de inflaccedilatildeo ndash eacute sempre prefixada seja na parte jaacute prevista na lei (05 ao mecircs ou 70 da meta da taxa Selic ao ano consoante as hipoacuteteses do inciso II) seja na parte fixada pelo Banco Central (a TR relativa agrave respectiva data de aniversaacuterio na for-ma do inciso I atualmente calculada com base em Certificados de Depoacutesito Bancaacuterio e Recibos de Depoacutesito Bancaacuterio prefixados)

Essa circunstacircncia deixa patente a desvinculaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo dos preccedilos da economia e a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila o que a impede de caracte-rizar-se quer sob o acircngulo formal (loacutegico-conceitual) quer sob o acircngulo material (teacutecnico-metodoloacutegico) como termocircmetro da inflaccedilatildeo

Em terceiro lugar a inidoneidade se manifesta em perspectiva histoacuterico-jurispru-dencial O STF em outras ocasiotildees jaacute se pronunciou sobre a controveacutersia Ao julgar a ADI 493 o Plenaacuterio do Supremo Tribunal entendeu que a TR natildeo foi criada para captar a variaccedilatildeo de preccedilos na economia ldquoa Taxa Referencial (TR) natildeo eacute iacutendice de correccedilatildeo monetaacuteria pois refletindo as variaccedilotildees do custo primaacuterio da captaccedilatildeo dos depoacutesitos a prazo fixo natildeo constitui iacutendice que reflita a variaccedilatildeo do poder aquisitivo da moedardquo11

Por seu turno no julgamento das ADI 4357 e ADI 4425 o STF reiterou essa compreensatildeo ao pontuar a inidoneidade prima facie da remuneraccedilatildeo da caderneta

327iacutendice de teses

de poupanccedila para mensurar o fenocircmeno inflacionaacuterio ldquoa inflaccedilatildeo fenocircmeno tipi-camente econocircmico-monetaacuterio mostra-se insuscetiacutevel de captaccedilatildeo aprioriacutestica (ex ante) de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila) eacute inidocircneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflaccedilatildeo do periacuteodo)rdquo12

Ademais diante desse quadro jurisprudencial sedimentado haveria flagrante in-coerecircncia na aplicaccedilatildeo de criteacuterios distintos de correccedilatildeo monetaacuteria de precatoacuterios e de condenaccedilotildees judiciais da Fazenda Puacuteblica

Por fim a quarta vertente pela qual a inidoneidade se manifesta eacute de iacutendole prag-maacutetico-consequencialista

Com efeito admitir que o poder puacuteblico arbitre segundo criteacuterios de conveniecircn-cia o iacutendice de correccedilatildeo incidente sobre suas diacutevidas configura niacutetida ldquolegislaccedilatildeo em causa proacutepriardquo subversiva do Estado de Direito ao estimular o uso especulativo do Poder Judiciaacuterio em detrimento do direito de propriedade do cidadatildeo

Em um contexto econocircmico como o presente marcado por taxas de inflaccedilatildeo per-sistentemente altas13 a discrepacircncia entre a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila e a meta de inflaccedilatildeo fixada pelo governo eacute a um soacute tempo aviltante para o credor particular e vantajosa para o devedor puacuteblico

Cabe destacar que o regime brasileiro de metas de inflaccedilatildeo natildeo utiliza a remunera-ccedilatildeo da caderneta de poupanccedila como seu criteacuterio norteador De forma anaacuteloga natildeo haacute qualquer contrato entre particular e poder puacuteblico que seja reajustado pela caderneta de poupanccedila Aliaacutes a Lei 86661993 prevecirc expressamente que o criteacuterio de reajuste dos ajustes firmados com o poder puacuteblico ldquodeveraacute retratar a variaccedilatildeo efetiva do custo de produccedilatildeo admitida a adoccedilatildeo de iacutendices especiacuteficos ou setoriaisrdquo (art 40 XI14)

Se o Estado natildeo utiliza a caderneta de poupanccedila como iacutendice de correccedilatildeo quando tem o objetivo de passar credibilidade ao investidor ou de atrair contratantes eacute por-que tem consciecircncia de que o aludido iacutendice natildeo eacute adequado a medir a variaccedilatildeo de preccedilos na economia

Por isso beira a iniquidade permitir utilizaacute-lo quando em questatildeo condenaccedilotildees ju-diciais O cidadatildeo que recorre ao Poder Judiciaacuterio natildeo optou por um investimento ou negoacutecio juriacutedico com o Estado Foi obrigado a litigar Tendo seu direito reconhecido em juiacutezo vulnera a claacuteusula do rule of law vecirc-lo definhar em razatildeo de um regime de atualizaccedilatildeo casuiacutesta injustificaacutevel e beneacutefico apenas da autoridade estatal

328iacutendice de teses

1 ldquoArt 1ordm-F Nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica independentemente de sua natureza e para fins de atualizaccedilatildeo monetaacuteria remuneraccedilatildeo do capital e compensaccedilatildeo da mora haveraacute a incidecircncia uma uacutenica vez ateacute o efetivo pagamento dos iacutendices oficiais de remuneraccedilatildeo baacutesica e juros aplicados agrave caderneta de poupanccedilardquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

3 ldquoArt 12 Em cada periacuteodo de rendimento os depoacutesitos de poupanccedila seratildeo remunerados I ndash como remuneraccedilatildeo baacutesica por taxa correspondente agrave acumulaccedilatildeo das TRD [Taxa Referencial Diaacuteria] no periacuteodo transcorrido entre o dia do uacuteltimo creacutedito de rendimento inclusive e o dia do creacutedito de rendimento exclusive II ndash como remuneraccedilatildeo adicional por juros de a) 05 (cinco deacutecimos por cento) ao mecircs enquanto a meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil for superior a 85 (oito inteiros e cinco deacutecimos por cento) ou b) 70 (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil mensalizada vigente na data de iniacutecio do periacuteodo de rendimento nos demais casosrdquo

4 RE 453740 rel min Gilmar Mendes P DJE de 24-8-2007

5 ldquoArt 161 O creacutedito natildeo integralmente pago no vencimento eacute acrescido de juros de mora seja qual for o motivo determinante da falta sem prejuiacutezo da imposiccedilatildeo das penalidades cabiacuteveis e da aplicaccedilatildeo de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributaacuteria sect 1ordm Se a lei natildeo dispuser de modo diverso os juros de mora satildeo calculados agrave taxa de um por cento ao mecircsrdquo

6 ADI 4357 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 e ADI 4425 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 19-12-2013

7 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXII ndash eacute garantido o direito de propriedaderdquo

8 Cf MANKIW NG Macroeconomia Rio de Janeiro LTC 2010 p 94 DORNBUSH R FISCHER S STARTZ R Macroeconomia Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 2009 p 10 BLANCHARD O Macroeconomia Satildeo Paulo Prentice Hall 2006 p 29

9 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malhei-ros 2015

10 ldquoArt 12 Em cada periacuteodo de rendimento os depoacutesitos de poupanccedila seratildeo remunerados I ndash como remuneraccedilatildeo baacutesica por taxa correspondente agrave acumulaccedilatildeo das TRD [Taxa Referencial Diaacuteria] no periacuteodo transcorrido entre o dia do uacuteltimo creacutedito de rendimento inclusive e o dia do creacutedito de rendimento exclusive II ndash como remuneraccedilatildeo adicional por juros de a) 05 (cinco deacutecimos por cento) ao mecircs enquanto a meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil for superior a 85 (oito inteiros e cinco deacutecimos por cento) ou b) 70 (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil mensalizada vigente na data de iniacutecio do periacuteodo de rendimento nos demais casosrdquo

329iacutendice de teses

11 ADI 493 rel min Moreira Alves P DJ de 4-9-1992

12 ADI 4357 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 e ADI 4425 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 19-12-2013

13 Estimada pelo Banco Central em 95 em 2015 ndash Relatoacuterio de Inflaccedilatildeo v 17 n 3 set 2015

14 ldquoArt 40 O edital conteraacute no preacircmbulo o nuacutemero de ordem em seacuterie anual o nome da reparticcedilatildeo interessada e de seu setor a modalidade o regime de execuccedilatildeo e o tipo da licitaccedilatildeo a menccedilatildeo de que seraacute regida por esta Lei o local dia e hora para recebimento da documentaccedilatildeo e proposta bem como para iniacutecio da abertura dos envelopes e indicaraacute obrigatoriamente o seguinte () XI ndash criteacuterio de reajuste que deveraacute retratar a variaccedilatildeo efetiva do custo de produccedilatildeo admitida a adoccedilatildeo de iacutendices especiacuteficos ou setoriais desde a data prevista para apresentaccedilatildeo da proposta ou do orccedilamento a que essa proposta se referir ateacute a data do adimplemento de cada parcelardquo

330iacutendice de teses

A execuccedilatildeo provisoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer em face da Fazenda Puacuteblica natildeo

atrai o regime constitucional dos precatoacuterios

A sistemaacutetica constitucional dos precatoacuterios natildeo se aplica agraves obrigaccedilotildees de fato posi-tivo ou negativo dada a excepcionalidade do regime de pagamento de deacutebitos pela Fazenda Puacuteblica cuja interpretaccedilatildeo deve ser restrita Por consequecircncia a situaccedilatildeo rege-se pela regra geral de que toda decisatildeo natildeo autossuficiente pode ser cumprida de maneira imediata na pendecircncia de recursos natildeo recebidos com efeito suspensivo

Natildeo se encontra paracircmetro constitucional ou legal que obste a pretensatildeo de exe-cuccedilatildeo provisoacuteria de sentenccedila condenatoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer relativa agrave implan-taccedilatildeo de pensatildeo de militar antes do tracircnsito em julgado dos embargos do devedor opostos pela Fazenda Puacuteblica

Assim natildeo haacute razatildeo para que a obrigaccedilatildeo de fazer tenha seu efeito financeiro postergado em funccedilatildeo do tracircnsito em julgado sob pena de hipertrofiar uma regra constitucional de iacutendole excepcionaliacutessima

Haacute compatibilidade material entre o regime de cumprimento integral de decisatildeo provisoacuteria e a sistemaacutetica dos precatoacuterios haja vista que este apenas se refere agraves obri-gaccedilotildees de pagar quantia certa

ldquoNatildeo dependendo da expediccedilatildeo de precatoacuterio tampouco estando tuteladas pelo art 100 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal1 as sentenccedilas que contecircm obrigaccedilatildeo de natu-reza diversa da obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa poderatildeo normalmente ser objeto de execuccedilatildeo provisoacuteria Dessa forma a execuccedilatildeo provisoacuteria de fazer natildeo fazer e entre-gar coisa eacute incontestavelmente cabiacutevel contra a Fazenda Puacuteblicardquo2

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 3ordm O disposto no caput

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 573872RG ‒ Tema 45rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 866

331iacutendice de teses

deste artigo relativamente agrave expediccedilatildeo de precatoacuterios natildeo se aplica aos pagamentos de obrigaccedilotildees definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentenccedila judicial transitada em julgadordquo

2 NEVES Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Manual de direito processual civil Satildeo Paulo Meacutetodo 2009 p 809-810

332iacutendice de teses

Incidem juros da mora entre a data da realizaccedilatildeo dos caacutelculos e a da requisi-

ccedilatildeo ou do precatoacuterio

O entendimento da natildeo incidecircncia dos juros da mora durante o prazo de dezoito meses previsto no art 100 sect 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF) foi superado pela Emenda Constitucional 622009 a qual incluiu o sect 121 no art 100 da Carta

Em outras palavras hoje haacute norma constitucional confirmando que o sistema de precatoacuterio ndash que abrange as requisiccedilotildees de pequeno valor ndash natildeo pode ser confundido com moratoacuteria2 Por essa razatildeo os juros da mora devem incidir ateacute o pagamento do deacutebito

Aleacutem disso o Verbete Vinculante 17 da Suacutemula3 e 4 natildeo deve ser observado nessa hipoacutetese porquanto natildeo se trata do periacuteodo de dezoito meses aludido no art 100 sect 5ordm da CF5

Cabe ressaltar que no plano infraconstitucional antes mesmo da ediccedilatildeo da Emenda Constitucional 622009 entrou em vigor a Lei 119602009 que modificou o art 1ordm-F da Lei 949419976 A norma passou a prever a incidecircncia dos juros para ldquocompensar a morardquo nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica ldquoateacute o efetivo pagamentordquo

Diante disso o quadro revela a ausecircncia de fundamento constitucional ou legal que justifique o afastamento dos juros da mora enquanto persistir a inadimplecircncia do Estado Isso por certo abrange o lapso temporal entre a data da elaboraccedilatildeo dos caacutelculos e a requisiccedilatildeo de pequeno valor

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 12 A partir da promul-gaccedilatildeo desta Emenda Constitucional a atualizaccedilatildeo de valores de requisitoacuterios apoacutes sua expediccedilatildeo ateacute o efetivo pagamento independentemente de sua natureza seraacute feita pelo iacutendice oficial de re-

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 579431RG ‒ Tema 96rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 30-6-2017Informativo STF 861

333iacutendice de teses

muneraccedilatildeo baacutesica da caderneta de poupanccedila e para fins de compensaccedilatildeo da mora incidiratildeo juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupanccedila ficando excluiacuteda a incidecircncia de juros compensatoacuteriosrdquo

2 ldquoO precatoacuterio estampa o que se conteacutem no tiacutetulo executivo na sentenccedila coberta pela preclusatildeo maior a qual impondo condenaccedilatildeo ao Estado certifica a mais natildeo poder que ele mostrou-se inadimplente devedor pois deixou de satisfazer ndash levando o cidadatildeo ao Judiciaacuterio ndash uma obrigaccedilatildeo que deveria observar espontaneamente O precatoacuterio natildeo consubstancia uma moratoacuteria natildeo eacute um atestado liberatoacuterio Ao contraacuterio pressupotildee o inadimplemento E se este persiste incidem juros Natildeo posso imaginar que simplesmente haja um espaccedilo de tempo durante o qual o Estado natildeo eacute considerado inadimplente Estaacute inadimplente conforme certificado na sentenccedila proferida a con-templar os juros da mora ateacute o pagamento ateacute a liquidaccedilatildeo do deacutebitordquo (Trecho do voto do ministro Marco Aureacutelio no julgamento do RE 298616 rel min Gilmar Mendes P DJE de 3-10-2003)

3 Enunciado 17 da Suacutemula Vinculante ldquoDurante o periacuteodo previsto no paraacutegrafo 1ordm do artigo 100 da Constituiccedilatildeo natildeo incidem juros de mora sobre os precatoacuterios que nele sejam pagosrdquo

4 ldquoNotem que a Emenda foi publicada em 10 de dezembro de 2009 apoacutes a aprovaccedilatildeo do Verbete Vinculante 17 ocorrida na sessatildeo plenaacuteria de 29 de outubro de 2009 O preceito envolve a incidecircncia de juros simples sobre os requisitoacuterios () Cabe ressaltar a propoacutesito que tramita no Supremo a Proposta de Verbete Vinculante 111 [Formalizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil] por meio da qual se requer o cancelamento ou a revisatildeo do Verbete Vinculante 17 O incidente foi sobrestado pelo ministro Dias Toffoli para aguardar o julgamento deste recurso Assentada a mora da Fazenda ateacute o efetivo pagamento do requisitoacuterio natildeo haacute fundamento juriacutedico para afastar a incidecircncia dos juros moratoacuterios durante o lapso temporal anterior agrave expediccedilatildeo da requisiccedilatildeo de pequeno valor que eacute objeto do extraordinaacuteriordquo (Trecho do voto do ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento)

5 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 5ordm Eacute obrigatoacuteria a inclusatildeo no orccedilamento das entidades de direito puacuteblico de verba necessaacuteria ao pagamento de seus deacutebitos oriundos de sentenccedilas transitadas em julgado constantes de precatoacuterios judiciaacuterios apre-sentados ateacute 1ordm de julho fazendo-se o pagamento ateacute o final do exerciacutecio seguinte quando teratildeo seus valores atualizados monetariamenterdquo

6 ldquoArt 1ordm-F Nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica independentemente de sua natureza e para fins de atualizaccedilatildeo monetaacuteria remuneraccedilatildeo do capital e compensaccedilatildeo da mora haveraacute a incidecircncia uma uacutenica vez ateacute o efetivo pagamento dos iacutendices oficiais de remuneraccedilatildeo baacutesica e juros aplicados agrave caderneta de poupanccedilardquo

334iacutendice de teses

Eacute vaacutelida a penhora em bens de pessoa juriacutedica de direito privado realizada

anteriormente agrave sucessatildeo desta pela Uniatildeo natildeo devendo a execuccedilatildeo prosse-

guir mediante precatoacuterio ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 100 caput e sect 1ordm1

O fato de a Uniatildeo suceder processualmente empresa juriacutedica de direito privado natildeo tem o condatildeo de alterar o procedimento de execuccedilatildeo efetivado no regime anterior O pagamento de deacutebitos por precatoacuterios possui a natureza juriacutedica de prerrogativa processual do Estado Traduz-se no direito de natildeo ser financeiramente executado senatildeo por procedimento ou regime de execuccedilatildeo especial do deacutebito bem mais van-tajoso que o resguarda de medidas constritivas como penhora arresto sequestro entre outras

Assim por se tratar de tratamento peculiar concedido agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a Uniatildeo natildeo pode simplesmente transmudar o regime de privado para puacuteblico em prejuiacutezo dos atos juriacutedicos jaacute aperfeiccediloados sugerindo a aplicaccedilatildeo de regra constitu-cional que protege as atividades bens e serviccedilos dos entes puacuteblicos e natildeo de empresas puacuteblicas nem de sociedades de economia mista sob pena de violar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica e do ato juriacutedico perfeito (CF art 5ordm XXXVI2) Com efeito esse privileacutegio natildeo pode retroagir a periacuteodo anterior agrave sucessatildeo eacutepoca em que natildeo incidia nenhum obstaacuteculo agrave constriccedilatildeo dos bens da pessoa juriacutedica de direito privado apenas pelo fato de a Uniatildeo ter assumido o polo passivo da execuccedilatildeo ante a impossibilidade de esse ato ter efeitos retroativos em prejuiacutezo dos atos processuais praticados

Na execuccedilatildeo movida contra a Fazenda Puacuteblica natildeo haacute expropriaccedilatildeo de bens Afi-nal estatildeo revestidos da claacuteusula de inalienabilidade e impenhorabilidade devendo o pagamento do deacutebito submeter-se ao regime de precatoacuterios ou Requisiccedilatildeo de Paga-mento de Pequeno Valor (RPV) prescrito no art 100 da Constituiccedilatildeo

Por expressa disposiccedilatildeo normativa (CF art 173 sect 1ordm II3) bem como pela paciacutefica jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF)4 os privileacutegios da Fazenda Puacute-blica em regra natildeo satildeo extensiacuteveis agraves sociedades de economia mista e agraves empresas

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 693112RG ‒ Tema 355rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-5-2017Informativo STF 853

335iacutendice de teses

puacuteblicas porquanto submetidas ao regime juriacutedico das pessoas juriacutedicas de direito privado inclusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comerciais trabalhistas e tributaacuterios5 Apenas excepcionalmente determinadas pessoas juriacutedicas de natureza privada podem submeter-se ao regime de precatoacuterios devendo ser analisadas as pe-culiaridades de cada hipoacutetese

Nessa mesma linha a jurisprudecircncia do STF assentou entendimento de que as normas especiais que regem o processo de execuccedilatildeo por quantia certa contra a Fa-zenda Puacuteblica se estendem a todas as pessoas de direito puacuteblico interno o que abran-ge a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios e suas respectivas autarquias e fundaccedilotildees puacuteblicas Desse modo em regra natildeo eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo do regime de precatoacuterios agraves empresas puacuteblicas nem agraves sociedades de economia mista por consti-tuiacuterem pessoas juriacutedicas de direito privado sujeitas ao regime de execuccedilatildeo comum agraves empresas privadas (CF art 173 sect 1ordm)6

Acresce-se a esse entendimento que de certa forma a mudanccedila do regime do rito de processamento da execuccedilatildeo quando jaacute estabelecida a penhora aproxima-se de fraude contra os credores Afinal a mudanccedila no curso do processo executivo repre-senta uma forma de retirar dos credores a garantia de seus creacuteditos jaacute aperfeiccediloada e consolidada na forma do regime anterior o que eacute inadmissiacutevel

Por fim admitir a pretensatildeo da Uniatildeo neste processo no sentido de submeter o creacutedito dos exequentes agrave ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios torna ainda mais penosa a espera dos ex-trabalhadores em verem realizados seus direitos jaacute reconhecidos e amparados pela coisa julgada

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim sect 1ordm Os deacutebitos de natureza alimentiacutecia compreendem aqueles decorrentes de salaacuterios vencimentos proventos pensotildees e suas complementaccedilotildees benefiacutecios previdenciaacuterios e indenizaccedilotildees por morte ou por invalidez fundadas em responsabilidade civil em virtude de sentenccedila judicial transitada em julgado e seratildeo pagos com preferecircncia sobre todos os demais deacutebitos exceto sobre aqueles referidos no sect 2ordm deste artigordquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

336iacutendice de teses

3 ldquoArt 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade eco-nocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando necessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da empresa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas inclusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comerciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

4 RE 599628 red p o ac min Joaquim Barbosa P DJE de 17-10-2011 e AI 616138 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 11-12-2012

5 Destaca-se que a questatildeo quanto agrave possibilidade de se concederem privileacutegios proacuteprios de pessoa juriacutedica de direito puacuteblico sucessora de empresa privada aos atos processuais praticados antes da sucessatildeo jaacute foi apreciada no julgamento do RE 599176 Na ocasiatildeo o Plenaacuterio concluiu que a imu-nidade reciacuteproca do art 150 VI a da CF natildeo exonera o sucessor das obrigaccedilotildees tributaacuterias relativas aos fatos ocorridos antes da sucessatildeo

6 RE 220906 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 14-11-2002 RE 229696 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca 1ordf T DJ de 19-12-2002 RE 344975 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 16-12-2005 e RE 393032 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 18-12-2009

337iacutendice de teses

A prisatildeo por diacutevida de natureza alimentiacutecia estaacute ligada ao inadimplemento

inescusaacutevel de prestaccedilatildeo natildeo alcanccedilando situaccedilatildeo juriacutedica a revelar cobranccedila

de saldo devedor

A razatildeo de ser da prisatildeo civil no processo de execuccedilatildeo de alimentos eacute compelir o de-vedor a satisfazer alimentos ou seja quantia voltada agrave subsistecircncia do alimentando e natildeo medida constritiva a cobrar diacutevidas preteacuteritas

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo de alimentos

HC 121426rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 29-3-2017Informativo STF 857

PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNACcedilAtildeO DE DECISOtildeES JUDICIAISDIREITO PROCESSUAL CIVIL

339iacutendice de teses

Eacute cabiacutevel accedilatildeo rescisoacuteria com fundamento no art 485 V do Coacutedigo de Pro-

cesso Civil de 19731 contra decisatildeo que viola literal disposiccedilatildeo do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF)

O RISTF tendo forccedila de lei na ordem anterior agrave Constituiccedilatildeo de 1988 foi por ela recepcionado como norma de igual hierarquia2

1 ldquoArt 485 A sentenccedila de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindida quando () V ndash violar literal disposiccedilatildeo de leirdquo

2 AI 148475 AgR rel min Octavio Gallotti 1ordf T DJ de 30-4-1993 e RE 146747 AgR-EDv rel min Marco Aureacutelio P DJ de 11-4-2003

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Accedilatildeo rescisoacuteria

AR 1551rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 6-11-2017Informativo STF 844

340iacutendice de teses

A partir de 2-5-2017 data da publicaccedilatildeo da ata do julgamento do Tema 246

da repercussatildeo geral1 ndash que reconheceu a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da

Lei 866619932 ndash tornou-se inviaacutevel o manejo da reclamaccedilatildeo constitucional3

com fundamento no julgado da ADC 164 ndash de mesmo objeto

A superveniecircncia do julgamento do recurso paradigma do Tema 246 (RE 760931) im-plica dizer que a conclusatildeo firmada na ADC 16 no que toca agrave sua eficaacutecia vinculante foi plenamente substituiacuteda pela tese firmada em sede de repercussatildeo geral

No julgamento da referida accedilatildeo declaratoacuteria o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da Lei 86661993 Assim passou a ad-mitir a condenaccedilatildeo subsidiaacuteria do ente puacuteblico ao pagamento de verbas trabalhistas inadimplidas por suas contratadas desde que caracterizada a culpa in vigilando ou in eligendo da Administraccedilatildeo

Com base nesse entendimento em alguns casos o STF julgou improcedente re-clamaccedilotildees ajuizadas contra decisotildees da Justiccedila do Trabalho reconhecendo a respon-sabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo quando fundamentadas em evidecircncias de ausecircncia de fiscalizaccedilatildeo do contrato5

Ocorre que ao concluir o julgamento do Tema 246 da repercussatildeo geral o STF afastou a condenaccedilatildeo subsidiaacuteria da Uniatildeo pelas diacutevidas decorrentes de contrato de terceirizaccedilatildeo e fixou a seguinte tese ldquoO inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabilidade pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou sub-sidiaacuterio nos termos do art 71 sect 1ordm da Lei 86661993rdquo6 Com efeito a tese firmada em repercussatildeo geral substituiu o anterior entendimento firmado na ADC 16

Diante disso cabe destacar que a inobservacircncia da tese firmada em repercussatildeo geral somente enseja o ajuizamento da reclamaccedilatildeo quando ldquoesgotadas as instacircn-cias ordinaacuteriasrdquo (CPC2015 art 988 sect 5ordm II7) Nesse sentido a jurisprudecircncia do STF8 exige o correto percurso de todo o iter processual ultimado na interposiccedilatildeo de

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Reclamaccedilatildeo

Rcl 27789 AgRrel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 23-11-2017Informativo STF 882

341iacutendice de teses

agravo interno contra a decisatildeo que nega seguimento ao recurso extraordinaacuterio nos termos do art 1030 I e sect 2ordm do CPC20159

1 RE 760931 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 12-9-2017

2 ldquoArt 71 O contratado eacute responsaacutevel pelos encargos trabalhistas previdenciaacuterios fiscais e comerciais resultantes da execuccedilatildeo do contrato sect 1ordm A inadimplecircncia do contratado com referecircncia aos encar-gos trabalhistas fiscais e comerciais natildeo transfere agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a responsabilidade por seu pagamento nem poderaacute onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizaccedilatildeo e o uso das obras e edificaccedilotildees inclusive perante o Registro de Imoacuteveisrdquo

3 Art 102 I l da CF

4 ADC 16 rel min Cezar Peluso P DJE de 9-9-2011

5 Rcl 13739 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 18-4-2016 Rcl 12050 AgR rel min Celso de Mello P DJE de 19-6-2013 e Rcl 24545 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 10-11-2016

6 RE 760931 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 12-9-2017

7 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para () sect 5ordm Eacute inad-missiacutevel a reclamaccedilatildeo () II ndash proposta para garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo de recurso extraor-dinaacuterio com repercussatildeo geral reconhecida ou de acoacuterdatildeo proferido em julgamento de recursos extraordinaacuterio ou especial repetitivos quando natildeo esgotadas as instacircncias ordinaacuteriasrdquo

8 Rcl 24686 ED-AgR rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 11-4-2017

9 ldquoArt 1030 Recebida a peticcedilatildeo do recurso pela secretaria do tribunal o recorrido seraacute intimado para apresentar contrarrazotildees no prazo de 15 (quinze) dias findo o qual os autos seratildeo conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido que deveraacute I ndash negar seguimento a) a recurso extraordinaacuterio que discuta questatildeo constitucional agrave qual o Supremo Tribunal Federal natildeo tenha reconhecido a existecircncia de repercussatildeo geral ou a recurso extraordinaacuterio interposto contra acoacuterdatildeo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussatildeo geral b) a recurso extraordinaacuterio ou a recurso especial interposto contra acoacuterdatildeo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Supe-rior Tribunal de Justiccedila respectivamente exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos () sect 2ordm Da decisatildeo proferida com fundamento nos incisos I e III caberaacute agravo interno nos termos do art 1021rdquo

342iacutendice de teses

Soacute cabe reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por violaccedilatildeo de tese

fixada em repercussatildeo geral apoacutes terem se esgotado todos os recursos cabiacute-

veis nas instacircncias antecedentes

A interpretaccedilatildeo do art 988 sect 5ordm II do Coacutedigo de Processo Civil (CPC)1 deve ser fundamentalmente teleoloacutegica e natildeo estritamente literal O esgotamento da ins-tacircncia ordinaacuteria em tais casos supotildee o percurso de todo o caminho recursal possiacute-vel antes do acesso ao STF

Se a decisatildeo reclamada ainda comportar reforma por via de recurso a algum tribu-nal inclusive a tribunal superior natildeo se permitiraacute acesso ao STF por via de reclama-ccedilatildeo Esse eacute o sentido que deve ser conferido ao art 988 sect 5ordm II do CPC

Com efeito a interpretaccedilatildeo puramente literal desse dispositivo acabaria por transfe-rir ao STF pela via indireta da reclamaccedilatildeo a competecircncia de pelo menos trecircs tribunais superiores (Superior Tribunal de Justiccedila Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal Su-perior Eleitoral) para onde podem ser dirigidos recursos contra decisotildees de tribunais de segundo grau de jurisdiccedilatildeo

1 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para I ndash preservar a competecircncia do tribunal II ndash garantir a autoridade das decisotildees do tribunal III ndash garantir a obser-vacircncia de enunciado de suacutemula vinculante e de decisatildeo do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade IV ndash garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo proferido em julgamen-to de incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivas ou de incidente de assunccedilatildeo de competecircncia () sect 5ordm Eacute inadmissiacutevel a reclamaccedilatildeo () II ndash proposta para garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo de recurso extraordinaacuterio com repercussatildeo geral reconhecida ou de acoacuterdatildeo proferido em julgamento de recursos extraordinaacuterio ou especial repetitivos quando natildeo esgotadas as instacircncias ordinaacuteriasrdquo

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Reclamaccedilatildeo

Rcl 24686 ED-AgRrel min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 11-4-2017Informativo STF 845

343iacutendice de teses

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Recursos

Ȥ Recurso extraordinaacuterio ‒ Repercussatildeo Geral

O reconhecimento da repercussatildeo geral no Plenaacuterio Virtual natildeo impede sua

rediscussatildeo no Plenaacuterio fiacutesico notadamente quando tal reconhecimento te-

nha ocorrido por falta de manifestaccedilotildees suficientes1

O julgamento proclamado por ausecircncia de manifestaccedilotildees suficientes pode ter sua conclusatildeo revista em razatildeo de mudanccedilas na composiccedilatildeo do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) abstenccedilatildeo de ministros na votaccedilatildeo e unanimidade dos votos proferidos (embora insuficientes) no sentido da ausecircncia de repercussatildeo geral do tema2

Natildeo apresenta repercussatildeo geral o tema relativo agrave competecircncia para proces-

sar e julgar accedilatildeo em que se discute pagamento de adicional de insalubridade

a servidor puacuteblico de ex-Territoacuterio Federal ante a existecircncia de convecircnio fir-

mado entre a Uniatildeo e o Estado-membro para o qual foi cedido

A controveacutersia estaacute restrita a parcela limitada de servidores de ex-Territoacuterio ndash quadro em extinccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal ndash cuja anaacutelise estaacute vinculada a situaccedilotildees temporais tambeacutem especiacuteficas decorrentes da celebraccedilatildeo e vigecircncia de convecircnios

Natildeo se verifica portanto a presenccedila de questotildees relevantes ldquodo ponto de vista econocircmico poliacutetico social ou juriacutedico que ultrapassem os interesses subjetivos da causardquo (CPC2015 art 1035 sect 1ordm3) a justificar pronunciamento de meacuterito do STF

1 No mesmo sentido RE 729 884 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-2-2017

2 RE 607607 ED rel min Luiz Fux P DJE de 12-5-2014

3 ldquoArt 1035 O Supremo Tribunal Federal em decisatildeo irrecorriacutevel natildeo conheceraacute do recurso ex-traordinaacuterio quando a questatildeo constitucional nele versada natildeo tiver repercussatildeo geral nos termos deste artigo sect 1ordm Para efeito de repercussatildeo geral seraacute considerada a existecircncia ou natildeo de questotildees relevantes do ponto de vista econocircmico poliacutetico social ou juriacutedico que ultrapassem os interesses subjetivos do processordquo

RE 584247 QORG ‒ Tema 538rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 2-5-2017Informativo STF 845

344iacutendice de teses

Eacute admissiacutevel a juntada extemporacircnea de prova documental em recursos in-

terpostos no Supremo Tribunal Federal (STF) quando estiver presente inte-

resse puacuteblico primaacuterio na lide

Admitida a veracidade do documento trazido aos autos e presente o interesse puacutebli-co indisponiacutevel consubstanciado no interesse de toda a coletividade na apreciaccedilatildeo da higidez das contas dos gestores puacuteblicos (interesse puacuteblico primaacuterio) deve ser afastada a regra geral1 segundo a qual eacute impossiacutevel a produccedilatildeo de prova por meio da juntada de documento apenas em sede de recurso interposto perante o STF

1 RE 452780 AgR red p o ac min Cezar Peluso 1ordf T DJ de 18-8-2006

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Recursos

Ȥ Agravo interno

RE 916917 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 27-3-2017Informativo STF 850

345iacutendice de teses

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Mandado de seguranccedila

Ȥ Legitimidade ativa

O procurador-geral da Repuacuteblica natildeo possui legitimidade ativa para impe-

trar mandado de seguranccedila em que se questione decisatildeo que reconheccedila a

prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em processo administrativo disciplinar

A legitimidade para impetrar o mandado de seguranccedila pressupotildee a titularidade do direito pretensamente lesado ou ameaccedilado de lesatildeo por ato de autoridade puacuteblica Nas palavras de Hely Lopes Meirelles ldquoO impetrante para ter legitimidade ativa haacute de ser o titular do direito individual ou coletivo para o qual pede proteccedilatildeo pelo man-dado de seguranccedila (hellip) O essencial eacute que o impetrante tenha direito subjetivo proacute-prio (e natildeo simples interesse) a defender em juiacutezo Natildeo haacute confundir interesse com di-reito subjetivo liacutequido e certo que eacute o uacutenico protegiacutevel por mandado de seguranccedilardquo1

O procurador-geral da Repuacuteblica no entanto natildeo eacute o titular do direito liacutequido e certo ultrajado em processo administrativo disciplinar2 Tambeacutem natildeo eacute suficiente a demonstraccedilatildeo do simples interesse ou justificaacutevel a sua atuaccedilatildeo como custos legis em defesa da ordem democraacutetica e juriacutedica pois esses satildeo direitos que natildeo lhe satildeo proacuteprios mas da sociedade

O art 127 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 dispotildee que incumbe ao Ministeacuterio Puacuteblico a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e indivi-duais indisponiacuteveis sendo suas funccedilotildees institucionais enunciadas no art 129 da CF4 Entre elas inclui-se a de ldquozelar pelo efetivo respeito dos Poderes Puacuteblicos e dos ser-viccedilos de relevacircncia puacuteblica aos direitos assegurados nesta Constituiccedilatildeordquo e portanto pelo cumprimento do ordenamento juriacutedico vigente No exerciacutecio de suas funccedilotildees o Ministeacuterio Puacuteblico pode assumir em juiacutezo a condiccedilatildeo de parte autora exercendo o direito de accedilatildeo nos casos previstos em lei ou de parte interveniente naqueles em que sua atuaccedilatildeo como fiscal da ordem juriacutedica seja indispensaacutevel para assegurar a regulari-dade do ato conforme disposiccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil5

Natildeo se pretende a partir dessa compreensatildeo recusar a legitimidade ativa ad cau-sam do Ministeacuterio Puacuteblico para a impetraccedilatildeo de mandado de seguranccedila Busca-se

MS 33736rel min Caacutermen Luacutecia2ordf TurmaDJE de 23-8-2017Informativo STF 831

346iacutendice de teses

apenas assinalar que esta condiciona-se agravequelas situaccedilotildees especiacuteficas em que o direito alegadamente transgredido seja titularizado pela instituiccedilatildeo (ou respeite agraves funccedilotildees descritas no art 129 da CF) ou por aqueles cuja proteccedilatildeo o poder constituinte incum-biu o Ministeacuterio Puacuteblico

Essa conclusatildeo natildeo frustra tampouco debilita a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de sua atribuiccedilatildeo constitucional de defesa da ordem juriacutedica Afinal a ele satildeo reservados os demais instrumentos processuais de tutela previstos em lei igual-mente eficazes a exemplo da accedilatildeo civil puacuteblica

1 MEIRELLES Hely Lopes Mandado de seguranccedila accedilatildeo popular accedilatildeo civil puacuteblica mandado de injunccedilatildeo e habeas data 31 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 62

2 Precedente RMS 32970 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 18-5-2016

3 ldquoArt 127 O Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e indivi-duais indisponiacuteveisrdquo

4 ldquoArt 129 Satildeo funccedilotildees institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico I ndash promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica na forma da lei II ndash zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Puacuteblicos e dos serviccedilos de relevacircncia puacuteblica aos direitos assegurados nesta Constituiccedilatildeo promovendo as medidas necessaacuterias a sua garantia III ndash promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos IV ndash promover a accedilatildeo de inconstitucionalidade ou representaccedilatildeo para fins de intervenccedilatildeo da Uniatildeo e dos Estados nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo V ndash defender judicialmente os direitos e interesses das popula-ccedilotildees indiacutegenas VI ndash expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos de sua competecircncia requisitando informaccedilotildees e documentos para instruiacute-los na forma da lei complementar respectiva VII ndash exercer o controle externo da atividade policial na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior VIII ndash requisitar diligecircncias investigatoacuterias e a instauraccedilatildeo de inqueacuterito policial indicados os fundamentos juriacutedicos de suas manifestaccedilotildees processuais IX ndash exercer outras funccedilotildees que lhe forem conferidas desde que compatiacuteveis com sua finalidade sendo-lhe vedada a represen-taccedilatildeo judicial e a consultoria juriacutedica de entidades puacuteblicasrdquo

5 ldquoArt 177 O Ministeacuterio Puacuteblico exerceraacute o direito de accedilatildeo em conformidade com suas atribuiccedilotildees constitucionais Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta) dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em lei ou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvam I ndash interesse puacuteblico ou social II ndash interesse de incapaz III ndash litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbana Paraacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacute hipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Art 179 Nos casos de intervenccedilatildeo como fiscal da ordem juriacutedica o Ministeacuterio Puacuteblico I ndash teraacute vista dos autos depois das partes sendo intimado de todos os atos do processo II ndash poderaacute produzir provas requerer as medi-das processuais pertinentes e recorrerrdquo

TUTELA COLETIVADIREITO PROCESSUAL CIVIL

348iacutendice de teses

A eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada a partir de accedilatildeo coletiva de rito

ordinaacuterio ajuizada por associaccedilatildeo civil na defesa de interesses dos associa-

dos somente alcanccedila os filiados residentes no acircmbito da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo

julgador que o fossem em momento anterior ou ateacute a data da propositura

da demanda constantes da relaccedilatildeo juriacutedica juntada agrave inicial do processo de

conhecimento

O art 5ordm XXI da Constituiccedilatildeo Federal1 concernente agraves associaccedilotildees encerra situa-ccedilatildeo de representaccedilatildeo processual a exigir para efeito da atuaccedilatildeo judicial da entidade autorizaccedilatildeo expressa e especiacutefica dos membros os associados

Nessa situaccedilatildeo a associaccedilatildeo aleacutem de natildeo atuar em nome proacuteprio persegue o re-conhecimento de interesses dos filiados decorrendo daiacute a necessidade da colheita de autorizaccedilatildeo expressa de cada qual de forma individual ou mediante assembleia geral designada para esse fim considerada a maioria formada2

A especificidade da autorizaccedilatildeo deve ser compreendida sob o acircngulo do tema no que individualizado o interesse a ser buscado e da vontade mesmo que em assem-bleia geral

A enumeraccedilatildeo dos associados ateacute o momento imediatamente anterior ao do ajui-zamento se presta agrave observacircncia do princiacutepio do devido processo legal inclusive sob o enfoque da razoabilidade Por meio dela presente a relaccedilatildeo nominal eacute que se via-biliza o direito de defesa o contraditoacuterio e a ampla defesa

Uma vez confirmada a exigecircncia de autorizaccedilatildeo especiacutefica dos associados para a formalizaccedilatildeo da demanda decorre ante a loacutegica a oportunidade da comprovaccedilatildeo da filiaccedilatildeo ateacute aquele momento A condiccedilatildeo de filiado eacute pressuposto do ato de anuir com a submissatildeo da controveacutersia ao Judiciaacuterio Nesse sentido natildeo haacute falar em inconstitu-cionalidade do art 2ordm-A da Lei 949419973

Em Direito os fins natildeo justificam os meios Logo descabe potencializar a praacutetica judiciaacuteria tendo em vista a possiacutevel repeticcedilatildeo de casos versando a mesma mateacuteria

Direito Processual Civil Ȥ Tutela coletiva

Ȥ Sentenccedila Ȥ Eficaacutecia subjetiva da coisa julgada ‒ Repercussatildeo Geral

RE 612043RG ‒ Tema 499rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 6-10-2017Informativo STF 864

349iacutendice de teses

para buscar respaldar o alargamento da eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada Essa natildeo eacute a soluccedilatildeo adequada considerado o efeito multiplicador uma vez previs-tos na legislaccedilatildeo ordinaacuteria mecanismos de resoluccedilatildeo de casos repetitivos

Diante disso a problemaacutetica da eficaacutecia territorial do pronunciamento judicial eacute resolvida a partir da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo julgador isso em se tratando de accedilatildeo pluacuterima submetida ao rito ordinaacuterio Esse mesmo enfoque seria observado se ajuizada a accedilatildeo diretamente pelos proacuteprios beneficiaacuterios do direito natildeo havendo tratamento diverso atuando a associaccedilatildeo como representante

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXI ndash as entidades associativas quando expres-samente autorizadas tecircm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmenterdquo

2 AO 152 rel min Carlos Velloso P DJ de 3-3-2000 RE 192305 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 8-2-1999 e RE 573232 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJE de 19-9-2014

3 ldquoArt 2ordm-A A sentenccedila civil prolatada em accedilatildeo de caraacuteter coletivo proposta por entidade associa-tiva na defesa dos interesses e direitos dos seus associados abrangeraacute apenas os substituiacutedos que tenham na data da propositura da accedilatildeo domiciacutelio no acircmbito da competecircncia territorial do oacutergatildeo prolator Paraacutegrafo uacutenico Nas accedilotildees coletivas propostas contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Fe-deral os Municiacutepios e suas autarquias e fundaccedilotildees a peticcedilatildeo inicial deveraacute obrigatoriamente estar instruiacuteda com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou acompanhada da relaccedilatildeo nominal dos seus associados e indicaccedilatildeo dos respectivos endereccedilosrdquo

DIR

E

PRO

CPE

NA

DIR

EIT

O

PRO

CESS

UAL

PEN

AL

PROCESSO EM GERALDIREITO PROCESSUAL PENAL

353iacutendice de teses

Excepcionalmente o momento de apreciaccedilatildeo dos argumentos de defesa es-

crita pode ser deslocado para apoacutes o recebimento da denuacutencia

Observado que o juiz natildeo tenha apreciado com profundidade as hipoacuteteses mencio-nadas no art 397 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)1 por ocasiatildeo do recebimento da denuacutencia ou queixa elas podem (e algumas devem)2 desde logo ser enfrenta-das apoacutes a intervenccedilatildeo da defesa escrita3

A subordinaccedilatildeo hieraacuterquica dos envolvidos natildeo significa a responsabilizaccedilatildeo

criminal automaacutetica do prefeito

Prefeito incluiacutedo entre os acusados em razatildeo unicamente da funccedilatildeo puacuteblica hierar-quicamente superior que entatildeo ocupa sem indicaccedilatildeo miacutenima de sua participaccedilatildeo em praacutetica iliacutecita em conluio com os demais envolvidos evidencia violaccedilatildeo agrave res-ponsabilidade penal subjetiva cuja demonstraccedilatildeo repele a responsabilidade presu-mida em contraposiccedilatildeo agrave responsabilidade objetiva objurgada em mateacuteria penal

A mera subordinaccedilatildeo hieraacuterquica de agentes puacuteblicos ou servidores municipais natildeo implica a automaacutetica responsabilizaccedilatildeo criminal do prefeito Noutros termos natildeo se pode presumir a responsabilidade criminal do prefeito simplesmente com apoio em ldquoouvir dizerrdquo das testemunhas sabido que o nosso sistema juriacutedico-penal natildeo admite a culpa por presunccedilatildeo4

1 ldquoArt 397 Apoacutes o cumprimento do disposto no art 396-A e paraacutegrafos deste Coacutedigo o juiz deveraacute absolver sumariamente o acusado quando verificar I ndash a existecircncia manifesta de causa excludente da ilicitude do fato II ndash a existecircncia manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente salvo inimputabilidade III ndash que o fato narrado evidentemente natildeo constitui crime ou IV ndash extinta a punibilidade do agenterdquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Accedilatildeo penal Ȥ Denuacutencia

AP 912rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 16-5-2017Informativo STF 856

354iacutendice de teses

2 CPP ldquoArt 395 A denuacutencia ou queixa seraacute rejeitada quando I ndash for manifestamente inepta II ndash faltar pressuposto processual ou condiccedilatildeo para o exerciacutecio da accedilatildeo penalrdquo

3 AP 933 QO rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 3-2-2016 e Inq 2411 QO rel min Gilmar Mendes P DJE de 24-4-2008

4 AP 447 rel min Ayres Britto P DJE de 28-5-2009

355iacutendice de teses

A mera posiccedilatildeo hieraacuterquica dos acusados na titularidade da empresa de co-

municaccedilatildeo sem a descriccedilatildeo da accedilatildeo e sem elementos que evidenciem a vonta-

de e consciecircncia de praticar o crime imputado inviabiliza o prosseguimento

da accedilatildeo penal

Os princiacutepios constitucionais do devido processo legal do contraditoacuterio e da ampla defesa (CF art 5ordm LIV e LV1) impotildeem que a inicial acusatoacuteria tenha como funda-mentos elementos probatoacuterios miacutenimos que demonstrem a materialidade do fato delituoso e indiacutecios suficientes de autoria

Nesse contexto a denuacutencia ou a queixa que natildeo conteacutem a exposiccedilatildeo do fato cri-minoso com todas as suas circunstacircncias aleacutem da classificaccedilatildeo do crime impede o exerciacutecio da ampla defesa na medida em que submete o acusado agrave persecuccedilatildeo penal privando-o do contexto sobre o qual se desenvolveraacute a relaccedilatildeo processual

Assim denuacutencia ou queixa baseada apenas na posiccedilatildeo hieraacuterquica do acusado deve ser rechaccedilada por manifesta ausecircncia de justa causa Afinal ldquopermitir que o acusado seja submetido a processo exclusivamente pela posiccedilatildeo hieraacuterquica superior que ocupa-va () viola as regras quanto agrave autoria e participaccedilatildeo que regem o Direito Penal brasilei-ro Deve haver indiacutecios de que o acusado atuou com dolo o que natildeo se verifica no caso dos autos Ademais o mero dever de saber natildeo eacute suficiente para uma condenaccedilatildeo em razatildeo de ensejar uma responsabilizaccedilatildeo objetiva Natildeo cabe presunccedilatildeo in malan partem ante o princiacutepio da natildeo culpabilidade (art 5ordm LVII da Constituiccedilatildeo Federal)rdquo2

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

2 AP 905 QO rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 21-3-2016

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Accedilatildeo penal Ȥ Denuacutencia

Pet 5660rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 8-5-2017Informativo STF 857

356iacutendice de teses

O desmembramento do feito em relaccedilatildeo a imputados que natildeo possuam prer-

rogativa de foro ldquodeve ser a regra diante da manifesta excepcionalidade do

foro por prerrogativa de funccedilatildeo ressalvadas as hipoacuteteses em que a separaccedilatildeo

possa causar prejuiacutezo relevanterdquo1

Presente a imbricaccedilatildeo de condutas e diante da existecircncia de indiacutecios de liame proba-toacuterio entre os fatos ou mesmo de continecircncia (CPP art 77 I)2 natildeo haacute como cindir investigaccedilatildeo em fase embrionaacuteria Isso ocorre inclusive pelo risco de o juiacutezo de pri-meiro grau promover a investigaccedilatildeo de detentores de prerrogativa de foro ainda que de forma indireta em usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF)

A usurpaccedilatildeo da competecircncia do STF contamina de nulidade toda a investigaccedilatildeo realizada em relaccedilatildeo ao detentor da prerrogativa de foro por violaccedilatildeo do princiacutepio do juiz natural (CF art 5ordm LIII)3 O que se busca garantir aleacutem da preservaccedilatildeo da competecircncia constitucional do STF eacute o transcurso da investigaccedilatildeo sob supervisatildeo da autoridade judiciaacuteria competente de modo a assegurar sua higidez

Com efeito nos termos do art 5ordm LVI da Constituiccedilatildeo Federal4 ldquosatildeo inadmissiacute-veis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

Por sua vez dispotildee o art 157 do Coacutedigo de Processo Penal5 que satildeo inadmissiacuteveis as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo de normas constitucionais ou legais

O natildeo desmembramento preserva a higidez do processo investigatoacuterio a racio-nalidade do sistema Ficaria impossiacutevel persecuccedilatildeo investigatoacuteria sem que houvesse coordenaccedilatildeo das accedilotildees tamanha a dimensatildeo daquilo que eacute a visatildeo dos oacutergatildeos de poliacutecia e do Ministeacuterio Puacuteblico

Natildeo eacute a definiccedilatildeo de competecircncia de julgamento que pode atingir algueacutem com prerrogativa de foro mas a racionalidade da investigaccedilatildeo para evitar a coleta de pro-vas por autoridade natildeo competente a fazecirc-lo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia por conexatildeo ou continecircncia

Pet 6138 AgR-segundored p o ac min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 5-9-2017Informativo STF 855

357iacutendice de teses

1 Inq 2903 rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-7-2014

2 ldquoArt 77 A competecircncia seraacute determinada pela continecircncia quando I ndash duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infraccedilatildeordquo

3 ldquoArt 5ordm () LIII ndash ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade competenterdquo

4 ldquoArt 5ordm () LVI ndash satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

5 ldquoArt 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim enten-didas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legaisrdquo

358iacutendice de teses

A existecircncia concreta de indiacutecios de envolvimento de autoridade detentora

de foro por prerrogativa de funccedilatildeo nos diaacutelogos interceptados impotildee a re-

messa imediata ao Supremo Tribunal Federal (STF)

Ainda que a interceptaccedilatildeo telefocircnica seja aparentemente voltada a pessoas que natildeo ostentem prerrogativa de foro por funccedilatildeo o levantamento incontinenti sem nenhu-ma das cautelas exigidas em lei do sigilo do conteuacutedo das conversas mantidas com autoridade detentora de foro por prerrogativa de funccedilatildeo no STF eacute uma decisatildeo que natildeo compete ao juiacutezo de primeiro grau

Em outras palavras cabe apenas ao STF no exerciacutecio de sua competecircncia consti-tucional decidir acerca do cabimento ou natildeo do desmembramento bem como sobre a legitimidade ou natildeo dos atos ateacute entatildeo praticados nos autos

Nesse sentido natildeo tendo havido preacutevia decisatildeo do STF sobre a cisatildeo ou natildeo da investigaccedilatildeo ou da accedilatildeo relativamente aos fatos envolvendo autoridades com prerro-gativa de foro no Tribunal fica delineada ainda que em juiacutezo de cogniccedilatildeo sumaacuteria a concreta probabilidade de violaccedilatildeo da competecircncia prevista no art 102 I b da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica1

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () b) nas infraccedilotildees penais comuns o Presidente da Repuacuteblica o Vice-Presidente os membros do Congresso Nacional seus proacuteprios Ministros e o Procurador-Geral da Repuacuteblicardquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

Rcl 23457 MC-REFrel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 17-4-2017Informativo STF 819

359iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

Natildeo haacute cogitar de usurpaccedilatildeo de competecircncia do Supremo Tribunal Federal

quando a simples menccedilatildeo ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa

de foro assim como a existecircncia de informaccedilotildees ateacute entatildeo fluidas e dispersas

a seu respeito satildeo insuficientes para o deslocamento da competecircncia para o

juiacutezo hierarquicamente superior

Para que haja a atraccedilatildeo da causa para o foro competente eacute imprescindiacutevel a consta-taccedilatildeo da existecircncia de indiacutecios da participaccedilatildeo ativa e concreta do titular da prerro-gativa em iliacutecitos penais1

Ademais natildeo haacute considerar a alegada usurpaccedilatildeo se a autoridade com foro por prerrogativa de funccedilatildeo natildeo tiver sido alvo de nenhuma medida cautelar autorizada pelo juiacutezo no curso da persecuccedilatildeo penal bem como se os fatos verificados sobre a autoridade natildeo tiverem relaccedilatildeo direta com o objeto da investigaccedilatildeo em desfavor do agravante

1 Rcl 2101 AgR rel min Ellen Gracie P DJ de 20-9-2002 HC 82647 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 25-4-2003 e AP 933 QO rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 3-2-2016

Rcl 25497 AgRrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 13-3-2017Informativo STF 854

360iacutendice de teses

Na busca e apreensatildeo caso a autoridade responsaacutevel pela unidade adminis-

trativa entregue de maneira espontacircnea e voluntaacuteria computador de titula-

ridade do ente puacuteblico tal ato revela-se compatiacutevel com a claacuteusula de reserva

de jurisdiccedilatildeo ainda que sobressalente ao mandado judicial

O fato de haver mandado judicial para que seja apreendido determinado equipa-mento natildeo impede que outros equipamentos sejam entregues espontaneamente por guardarem interesse com a investigaccedilatildeo

Embora verificada a entrega voluntaacuteria ao agente policial o exame pericial nos equi-pamentos apreendidos condicionado agrave autorizaccedilatildeo especiacutefica da autoridade judicial res-ponsaacutevel pela supervisatildeo do caderno investigativo resguarda a regularidade da apreen-satildeo e o direito agrave privacidade do repositoacuterio de dados e de informaccedilotildees neles contidos

Aleacutem disso a entrega espontacircnea do equipamento ao agente policial revela dificul-dade da invocaccedilatildeo de direito agrave intimidade visto que se trata de material disponibiliza-do inclusive para o serviccedilo puacuteblico

Natildeo cabe invocar a garantia constitucional do sigilo das comunicaccedilotildees de

dados quando o acesso natildeo alcanccedila a troca de dados restringindo-se apenas

agraves informaccedilotildees armazenadas nos dispositivos eletrocircnicos

ldquoA proteccedilatildeo a que se refere o art 5ordm XII da Constituiccedilatildeo1 eacute da comunicaccedilatildeo lsquode da-dosrsquo e natildeo dos lsquodados em si mesmosrsquo ainda quando armazenados em computadorrdquo2

Inexistindo quebra da troca de dados mas sim acesso aos dados que estavam registrados nos Hardwares (HDs) dos computadores natildeo haacute ilegalidade A proteccedilatildeo agrave garantia constitucional diz respeito agrave troca de dados mas a inviolabilidade cinge-se agrave interferecircncia de um terceiro na troca dessas informaccedilotildees

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

RHC 132062red p o ac min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 24-10-2017Informativo STF 849

361iacutendice de teses

O procedimento administrativo de investigaccedilatildeo criminal natildeo demanda a

amplitude das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditoacuterio

No processo investigatoacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico haacute formaccedilatildeo da opinio delicti do oacutergatildeo acusatoacuterio e o momento proacuteprio do exerciacutecio do contraditoacuterio e da ampla defesa eacute mesmo a instruccedilatildeo judicial

Ademais eventual prejuiacutezo advindo do indeferimento de diligecircncias no curso das apuraccedilotildees (nomeaccedilatildeo de assistente teacutecnico e formulaccedilatildeo de quesitos) eacute passiacutevel de questionamento na accedilatildeo penal decorrente do respectivo inqueacuterito policial

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XII ndash eacute inviolaacutevel o sigilo da correspon-decircncia e das comunicaccedilotildees telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penalrdquo (Vide Lei 92961996)

2 RE 418416 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 19-12-2006

362iacutendice de teses

A prova obtida mediante interceptaccedilatildeo telefocircnica quando referente a infra-

ccedilatildeo penal diversa da investigada deve ser considerada liacutecita se presentes os

requisitos constitucionais e legais

No caso de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada por ordem judicial e crime puniacutevel com reclusatildeo a prova soacute pode ser afastada se verificada alguma hipoacutetese de des-vio de finalidade ou mesmo simulaccedilatildeo ou fraude para obtenccedilatildeo dela como por exemplo a realizaccedilatildeo de simulacro de investigaccedilatildeo em crime apenado com reclu-satildeo somente para obtenccedilatildeo de ordem judicial decretando interceptaccedilatildeo telefocircnica poreacutem com o claro objetivo de descobrir e produzir provas em crimes apenados com detenccedilatildeo ou ainda para produccedilatildeo de provas a serem posteriormente utiliza-das em processos civil ou administrativo-disciplinar1

Ademais cabe destacar que o ldquocrime achadordquo ou seja a infraccedilatildeo penal desconhe-cida e portanto ateacute aquele momento natildeo investigada sempre deve ser cuidadosa-mente analisado para que natildeo se relativize em excesso o art 5ordm XII da Constituiccedilatildeo Federal2 A interpretaccedilatildeo das limitaccedilotildees subjetivas e objetivas na obtenccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial para interceptaccedilotildees telefocircnicas deve visar garantir a efetividade da proteccedilatildeo aos direitos fundamentais consagrados no texto constitucio-nal em especial a intimidade vida privada sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas aleacutem da inadmissibilidade das provas obtidas por meios iliacutecitos

1 MORAES Alexandre Direito constitucional 33 ed Satildeo Paulo Atlas 2017 p 72-73

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XII ndash eacute inviolaacutevel o sigilo da correspon-decircncia e das comunicaccedilotildees telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penalrdquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

HC 129678red p o ac min Alexandre de Moraes1ordf TurmaDJE de 18-8-2017Informativo STF 869

363iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

Apreensotildees de documentos realizadas em automoacutevel por constituir tiacutepica

busca pessoal1 prescinde de autorizaccedilatildeo judicial quando presente fundada

suspeita2 de que nele estatildeo ocultados elementos de prova ou qualquer elemen-

to de convicccedilatildeo agrave elucidaccedilatildeo dos fatos investigados a teor do sect 2ordm do art 2403 e

art 2444 do Coacutedigo de Processo Penal

O espaccedilo compreendido dentro de automoacutevel salvo a hipoacutetese em que consistir a habitaccedilatildeo de seu titular seja ela de caraacuteter permanente seja provisoacuterio (trailers ca-bines de caminhatildeo barcos entre outros5) natildeo estaacute abarcada no conceito juriacutedico de domiciacutelio ao qual a lei dispensa proteccedilatildeo especial e exige autorizaccedilatildeo judicial (CF art 5ordm XI6) O conceito de ldquocasardquo para os fins da proteccedilatildeo juriacutedico-constitucional compreende (a) qualquer compartimento habitado (b) qualquer aposento ocupado de habitaccedilatildeo coletiva e (c) qualquer compartimento privado onde algueacutem exerce profissatildeo ou atividade Esse amplo sentido conceitual da noccedilatildeo juriacutedica de ldquocasardquo harmoniza-se com a exigecircncia constitucional de proteccedilatildeo agrave esfera de liberdade indi-vidual de intimidade pessoal e de privacidade profissional7

Nessa linha de raciociacutenio natildeo se pode conceber o veiacuteculo automotor como um espaccedilo reservado onde o indiviacuteduo desenvolve livremente a sua personalidade senatildeo como extensatildeo de seu proacuteprio corpo Afinal trata-se de meio de transporte desti-nado ao mero deslocamento de seu condutor e por vezes empregado para ocultar vestiacutegios de praacutetica criminosa8 Conceber-se o contraacuterio seria inviabilizar agentes policiais ou fiscais a realizar revista nos veiacuteculos por ocasiatildeo de accedilotildees de fiscalizaccedilatildeo (blitz por exemplo)9

1 ldquoEsse tipo de busca consiste na inspeccedilatildeo do corpo e das vestes de algueacutem para apreensatildeo de ele-mentos de convicccedilatildeo ocultados incluindo-se objetos (bolsas malas pastas) e veiacuteculos (automoacuteveis motocicletas) sob custoacutedia da pessoardquo (MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo penal 18 ed Satildeo Paulo

RHC 117767rel min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 843

364iacutendice de teses

Atlas 2006 PACELLI Eugecircnio FISCHER Douglas Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Penal e sua jurisprudecircncia 7 ed Satildeo Paulo Atlas 2015)

2 ldquoNo particular as circunstacircncias concretas da busca empreendida no automoacutevel do recorrente per-mitem concluir pela validade da medida jaacute que no dia em que realizadas as diligecircncias de busca domiciliar eram obtidas informaccedilotildees via interceptaccedilatildeo telefocircnica (natildeo contestadas) de que provas relevantes agrave elucidaccedilatildeo dos fatos eram ocultadas no interior do veiacuteculo do recorrente estacionado no exato momento da apreensatildeo em logradouro puacuteblicordquo (Trecho do voto do ministro Teori Za-vascki no presente julgamento)

3 ldquoArt 240 A busca seraacute domiciliar ou pessoal sect 1ordm Proceder-se-aacute agrave busca domiciliar quando funda-das razotildees a autorizarem para a) prender criminosos b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos c) apreender instrumentos de falsificaccedilatildeo ou de contrafaccedilatildeo e objetos falsificados ou contrafeitos d) apreender armas e municcedilotildees instrumentos utilizados na praacutetica de crime ou destinados a fim delituoso e) descobrir objetos necessaacuterios agrave prova de infraccedilatildeo ou agrave defesa do reacuteu f ) apreender cartas abertas ou natildeo destinadas ao acusado ou em seu poder quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteuacutedo possa ser uacutetil agrave elucidaccedilatildeo do fato g) apreender pessoas viacutetimas de crimes h) colher qualquer elemento de convicccedilatildeo sect 2ordm Proceder-se-aacute agrave busca pessoal quando houver fundada suspeita de que algueacutem oculte consigo arma proibida ou objetos mencio-nados nas letras b a f e letra h do paraacutegrafo anteriorrdquo

4 ldquoArt 244 A busca pessoal independeraacute de mandado no caso de prisatildeo ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papeacuteis que constituam corpo de delito ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliarrdquo

5 NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo de Processo Penal comentado 13 ed Satildeo Paulo Forense 2014

6 ldquoArt 5ordm () XI ndash a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar sem con-sentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicialrdquo

7 MS 23595 MC rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJ de 1ordm-2-2000

8 ldquoEssa eacute a hipoacutetese vertente em que apoacutes informaccedilotildees obtidas por intermeacutedio de interceptaccedilatildeo de conversas telefocircnicas autorizada judicialmente logo apoacutes a efetivaccedilatildeo da busca e apreensatildeo domici-liar descobriu-se que no interior do veiacuteculo do recorrente estaria o caderno de anotaccedilotildees contendo dados de suma importacircncia para a elucidaccedilatildeo do crime de formaccedilatildeo de cartelrdquo (Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica no presente julgamento)

9 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica no presente julgamento

365iacutendice de teses

A duraccedilatildeo prolongada abusiva e irrazoaacutevel da prisatildeo cautelar de algueacutem

ofende de modo frontal o postulado da dignidade da pessoa humana

Esse postulado representa considerada a centralidade do princiacutepio da dignidade da pessoa humana significativo vetor interpretativo verdadeiro valor-fonte que confor-ma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso paiacutes e que traduz de modo expressivo um dos fundamentos em que se assenta entre noacutes a ordem re-publicana e democraacutetica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo

Cabe enfatizar que o excesso de prazo na duraccedilatildeo irrazoaacutevel da prisatildeo meramente processual de qualquer pessoa notadamente quando natildeo submetida a julgamento por efeito de obstaacuteculo criado pelo proacuteprio Estado revela-se conflitante com esse pa-radigma eacutetico-juriacutedico conformador da proacutepria organizaccedilatildeo institucional do Estado brasileiro Nada pode justificar a permanecircncia de uma pessoa na prisatildeo sem culpa formada quando configurado excesso irrazoaacutevel no tempo da segregaccedilatildeo cautelar

O excesso de prazo quando exclusivamente imputaacutevel ao aparelho judiciaacuterio ndash natildeo derivando portanto de qualquer fato procrastinatoacuterio causalmente atribuiacutevel ao reacuteu ndash traduz situaccedilatildeo anocircmala que compromete a efetividade do processo

Essa dilaccedilatildeo de prazo aleacutem de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadatildeo frustra prerrogativa baacutesica que assiste a qualquer pessoa o direito agrave resolu-ccedilatildeo do litiacutegio sem dilaccedilotildees indevidas (CF art 5ordm LXXVIII1) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional inclusive a de natildeo sofrer o arbiacutetrio da coerccedilatildeo estatal representado pela privaccedilatildeo cautelar da liberdade por tempo irrazoaacutevel ou superior agravequele estabelecido em lei2

A prisatildeo cautelar ndash qualquer que seja a modalidade que ostente no ordenamento positivo brasileiro (prisatildeo em flagrante prisatildeo temporaacuteria prisatildeo preventiva prisatildeo decorrente de sentenccedila de pronuacutencia ou prisatildeo motivada por condenaccedilatildeo penal re-corriacutevel) ndash natildeo pode transmudar-se mediante subversatildeo dos fins que a autorizam em meio de inconstitucional antecipaccedilatildeo executoacuteria da proacutepria sanccedilatildeo penal Afinal esse

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo cautelar

HC 142177rel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 12-9-2017Informativo STF 868

366iacutendice de teses

instrumento de tutela cautelar penal somente se legitima se se comprovar com apoio em base empiacuterica idocircnea a real necessidade da adoccedilatildeo pelo Estado dessa extraordi-naacuteria medida de constriccedilatildeo do status libertatis do indiciado ou do reacuteu3

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitaccedilatildeordquo

2 HC 83773 rel min Celso de Mello 2ordf T DJ de 6-11-2006

3 RTJ 201286-288 rel min Celso de Mello

367iacutendice de teses

A superveniecircncia da sentenccedila penal condenatoacuteria que manteacutem a prisatildeo pre-

ventiva com remissatildeo aos mesmos fundamentos do decreto originaacuterio natildeo

torna prejudicado o habeas corpus1

Embora a sentenccedila lanccedilada em desfavor do paciente possa ter ampliado o espectro de anaacutelise dos fundamentos da custoacutedia baseando-se em um exame mais robusto das provas ainda estaraacute valendo-se dos mesmos criteacuterios sopesados no decreto cau-telar primeiro razatildeo pela qual natildeo haacute cogitar da prejudicialidade da impetraccedilatildeo

Por mais graves e reprovaacuteveis que sejam as condutas supostamente perpetra-

das isso natildeo justifica por si soacute a decretaccedilatildeo da prisatildeo cautelar2

A prisatildeo cautelar eacute a ultima ratio a derradeira medida a que se deve recorrer Somen-te pode ser imposta se as outras medidas cautelares dela diversas natildeo se mostra-rem adequadas ou suficientes para a contenccedilatildeo do periculum libertatis (CPP art 282 sect 6ordm3)4 e 5

O risco concreto da reiteraccedilatildeo delitiva invocado para garantir a ordem puacutebli-

ca deve ser contemporacircneo ao decreto prisional

ldquoA proximidade temporal entre o conhecimento do fato criminoso e sua autoria e a decretaccedilatildeo da prisatildeo provisoacuteria encontra paralelo com a prisatildeo em flagrante que sugere atualidade (lsquoo que estaacute a acontecerrsquo) e evidecircncia (lsquoo que eacute claro manifestorsquo)6 Se a prisatildeo por lsquoordem puacuteblicarsquo eacute ditada por razotildees materiais quanto mais tempo se passar entre a data do fato (ou a data do conhecimento da autoria se distinta) e a decretaccedilatildeo da prisatildeo mais desnecessaacuteria ela se mostraraacute Em consequecircncia natildeo se pode admitir que a prisatildeo preventiva para garantia da ordem puacuteblica seja decretada

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo preventiva

HC 137728rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 31-10-2017Informativo STF 863

368iacutendice de teses

muito tempo apoacutes o fato ou o conhecimento da autoria salvo a superveniecircncia de fatos novos a ele relacionadosrdquo7 e 8

Ademais ldquoa referibilidade estaacute intrinsecamente ligada ao criteacuterio da atualidade os pressupostos que autorizam uma medida cautelar devem estar presentes natildeo apenas no momento de sua imposiccedilatildeo como tambeacutem necessitam se protrair no tempo para legitimar sua subsistecircnciardquo9

1 HC 122939 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 6-10-2014

2 HC 127186 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 3-8-2015

3 ldquoArt 282 As medidas cautelares previstas neste Tiacutetulo deveratildeo ser aplicadas observando-se a () sect 6ordm A prisatildeo preventiva seraacute determinada quando natildeo for cabiacutevel a sua substituiccedilatildeo por outra me-dida cautelar (art 319)rdquo

4 ldquoHeacutelio Tornaghi muito antes da introduccedilatildeo no sistema processual penal brasileiro das medidas cau-telares pessoais diversas da prisatildeo apontou dois princiacutepios a respeito da prisatildeo provisoacuteria lsquo1ordm) a pri-satildeo provisoacuteria eacute um mal e soacute deve existir quando sem ela houver mal maior 2ordm) a prisatildeo provisoacuteria embora maacute pode vir a ser necessaacuteria mas se eacute um mal necessaacuterio somente pode ser tolerada nos limites da necessidade e deve ser substituiacuteda por outras providecircncias que sejam menos maacutes sempre que possiacutevelrsquo (Curso de processo penal 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 1990 v 2 p 7 ()) Esse eminente ju-rista assinalava como orientaccedilatildeo nessa mateacuteria que o magistrado lsquodeve ser prudente e mesmo avaro na decretaccedilatildeorsquo (op cit p 10)rdquo (Trecho do voto do ministro Dias Toffoli no presente julgamento)

5 HC 101537 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 14-11-2011

6 TORNAGHI Heacutelio Curso de processo penal 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 1990 v 1 p 48

7 ZANOIDE DE MORAES Mauriacutecio Presunccedilatildeo de inocecircncia no processo penal brasileiro anaacutelise de sua estrutura normativa para a elaboraccedilatildeo legislativa e para a decisatildeo judicial Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 p 395 BADAROacute Gustavo Henrique Righi Ivahy Processo penal Rio de Janeiro Campus Elsevier 2012 p 734

8 CAPEZ Rodrigo A individualizaccedilatildeo da medida cautelar pessoal no processo penal brasileiro 357 p Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

9 Inq 3842 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 29-2-2016

369iacutendice de teses

Eacute incabiacutevel o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do

acordo de colaboraccedilatildeo premiada

Na Lei 128502013 natildeo se apresenta a revogaccedilatildeo da prisatildeo preventiva como be-nefiacutecio previsto pela realizaccedilatildeo de acordo de colaboraccedilatildeo premiada Tampouco haacute previsatildeo de que em decorrecircncia do descumprimento do acordo seja restabelecida prisatildeo preventiva anteriormente revogada1

Dessa forma na hipoacutetese de celebraccedilatildeo ou descumprimento de acordo de colabo-raccedilatildeo premiada faz-se necessaacuterio o exame do caso concreto ou seja da presenccedila de requisitos para a prisatildeo preventiva ndash Coacutedigo de Processo Penal (CPP) art 3122 ndash ou para a imposiccedilatildeo das medidas cautelares ndash CPP art 2823 cc art 3194

Natildeo existe a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares gravosas nem decreto de prisatildeo pre-ventiva automaacutetico Para tanto eacute necessaacuteria a indicaccedilatildeo de base empiacuterica idocircnea e superveniente agrave realidade ponderada no momento da anterior revogaccedilatildeo da medida prisional (CPP art 3165)

1 HC 131002 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 20-9-2016

2 ldquoArt 312 A prisatildeo preventiva poderaacute ser decretada como garantia da ordem puacuteblica da ordem eco-nocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime e indiacutecio suficiente de autoriardquo

3 ldquoArt 282 As medidas cautelares previstas neste Tiacutetulo deveratildeo ser aplicadas observando-se a I ndash ne-cessidade para aplicaccedilatildeo da lei penal para a investigaccedilatildeo ou a instruccedilatildeo criminal e nos casos expres-samente previstos para evitar a praacutetica de infraccedilotildees penais II ndash adequaccedilatildeo da medida agrave gravidade do crime circunstacircncias do fato e condiccedilotildees pessoais do indiciado ou acusado sect 1ordm As medidas cautelares poderatildeo ser aplicadas isolada ou cumulativamente sect 2ordm As medidas cautelares seratildeo decretadas pelo juiz de ofiacutecio ou a requerimento das partes ou quando no curso da investigaccedilatildeo criminal por representaccedilatildeo da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministeacuterio Puacutebli-co sect 3ordm Ressalvados os casos de urgecircncia ou de perigo de ineficaacutecia da medida o juiz ao receber o pedido de medida cautelar determinaraacute a intimaccedilatildeo da parte contraacuteria acompanhada de coacutepia

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo preventiva

HC 138207rel min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 28-6-2017Informativo STF 862

370iacutendice de teses

do requerimento e das peccedilas necessaacuterias permanecendo os autos em juiacutezo sect 4ordm No caso de des-cumprimento de qualquer das obrigaccedilotildees impostas o juiz de ofiacutecio ou mediante requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico de seu assistente ou do querelante poderaacute substituir a medida impor outra em cumulaccedilatildeo ou em uacuteltimo caso decretar a prisatildeo preventiva (art 312 paraacutegrafo uacutenico) sect 5ordm O juiz poderaacute revogar a medida cautelar ou substituiacute-la quando verificar a falta de motivo para que subsis-ta bem como voltar a decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem sect 6ordm A prisatildeo preventiva seraacute determinada quando natildeo for cabiacutevel a sua substituiccedilatildeo por outra medida cautelar (art 319)rdquo

4 ldquoArt 319 Satildeo medidas cautelares diversas da prisatildeo I ndash comparecimento perioacutedico em juiacutezo no prazo e nas condiccedilotildees fixadas pelo juiz para informar e justificar atividades II ndash proibiccedilatildeo de acesso ou frequecircncia a determinados lugares quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indi-ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infraccedilotildees III ndash proi-biccedilatildeo de manter contato com pessoa determinada quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante IV ndash proibiccedilatildeo de ausentar-se da Comarca quando a permanecircncia seja conveniente ou necessaacuteria para a investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo V ndash reco-lhimento domiciliar no periacuteodo noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residecircncia e trabalho fixos VI ndash suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica ou de atividade de nature-za econocircmica ou financeira quando houver justo receio de sua utilizaccedilatildeo para a praacutetica de infraccedilotildees penais VII ndash internaccedilatildeo provisoacuteria do acusado nas hipoacuteteses de crimes praticados com violecircncia ou grave ameaccedila quando os peritos concluiacuterem ser inimputaacutevel ou semi-imputaacutevel (art 26 do Coacutedigo Penal) e houver risco de reiteraccedilatildeo VIII ndash fianccedila nas infraccedilotildees que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo evitar a obstruccedilatildeo do seu andamento ou em caso de resistecircncia injustificada agrave ordem judicial IX ndash monitoraccedilatildeo eletrocircnicardquo

5 ldquoArt 316 O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no correr do processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquemrdquo

371iacutendice de teses

Eacute constitucional a citaccedilatildeo por hora certa prevista no art 362 do Coacutedigo de

Processo Penal1

O art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal2 e o art 8ordm item 2 b do Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica3 por natildeo trazerem conformaccedilatildeo pormenorizada da garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio conferem ao legislador a tarefa de atribuir-lhes as delimi-taccedilotildees normativas com ampla margem de discricionariedade

No exerciacutecio desta atividade de densificaccedilatildeo de tais princiacutepios o legislador por meio da Lei 117192008 incluiu entre as modalidades de citaccedilatildeo no acircmbito do pro-cesso penal a citaccedilatildeo por hora certa Nada haacute nessa regulamentaccedilatildeo legislativa de contradiccedilatildeo com a Carta Constitucional ou com o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica Justamente buscando conferir eficaacutecia aos preceitos constitucionais e supralegais acerca do contraditoacuterio da ampla defesa do devido processo legal e da razoaacutevel du-raccedilatildeo do processo eacute que houve a implementaccedilatildeo legislativa da citaccedilatildeo por hora certa para que natildeo fosse realizado o ato citatoacuterio pela via do edital

Aliado a isso a aludida reforma legislativa pretendeu obstar que o acusado utili-zando-se de meios escusos para natildeo ser encontrado mesmo possuindo endereccedilo cer-to pudesse impedir a continuidade da accedilatildeo penal inviabilizando o prosseguimento da proacutepria prestaccedilatildeo jurisdicional num evidente exerciacutecio abusivo do seu direito de defesa Nessa medida natildeo haveria de se tolerar atuaccedilatildeo disfuncional dos acusados no exerciacutecio dos seus direitos constitucionalmente assegurados por configurar o abuso do direito a ser rechaccedilado pela ordem juriacutedica4

1 ldquoArt 362 Verificando que o reacuteu se oculta para natildeo ser citado o oficial de justiccedila certificaraacute a ocorrecircn-cia e procederaacute agrave citaccedilatildeo com hora certa na forma estabelecida nos arts 227 a 229 da Lei n 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de Processo Civil Paraacutegrafo uacutenico Completada a citaccedilatildeo com hora certa se o acusado natildeo comparecer ser-lhe-aacute nomeado defensor dativordquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Citaccedilotildees ‒ Repercussatildeo Geral

RE 635145RG ‒ Tema 613red p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 13-9-2017Informativo STF 833

372iacutendice de teses

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

3 ldquoArt 8ordm () 2 Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se comprove legalmente sua culpa Durante o processo toda pessoa tem direito em plena igualdade agraves seguintes garantias miacutenimas () b) comunicaccedilatildeo preacutevia e pormenorizada ao acusado da acusaccedilatildeo formuladardquo

4 HC 111226 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 3-10-2012 e HC 105478 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 23-3-2011

373iacutendice de teses

A antecipaccedilatildeo da prova testemunhal configura medida necessaacuteria quando

considerando-se a gravidade do crime praticado houver a possibilidade con-

creta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrecircncia do

decurso do tempo

Nessas circunstacircncias como nas hipoacuteteses em que haacute a possibilidade de ldquonatildeo serem mais localizadas as testemunhasrdquo e porque uma das testemunhas eacute ldquopolicial mili-tarrdquo a antecipaccedilatildeo da prova testemunhal resguarda a produccedilatildeo probatoacuteria e em uacuteltima anaacutelise o resultado praacutetico do processo penal

Sobre esse aspecto a inserccedilatildeo do inciso LXXVIII no art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal1 veio a conferir mais visibilidade ao direito agrave razoaacutevel duraccedilatildeo do processo que passou a ser um direito fundamental positivado e trouxe aos estudiosos (doutrinadores) e tambeacutem aos operadores do direito ( juiacutezes promotores advogados defensores puacute-blicos etc) a sinalizaccedilatildeo da necessidade de buscar a efetividade desse mandamento constitucional Em outras palavras a duraccedilatildeo razoaacutevel do processo penal eacute um direi-to puacuteblico subjetivo de todo investigadoprocessado e precisa realmente efetivar-se obtendo-se dos agentes do Poder Judiciaacuterio sua real aplicaccedilatildeo

No acircmbito penal a demora da prestaccedilatildeo jurisdicional assume contornos bem es-peciacuteficos O reacuteu preso ou natildeo tem o direito de obter uma resposta estatal o Estado precisa ofertar a prestaccedilatildeo jurisdicional pois o processo natildeo pode durar para sempre A demora na prestaccedilatildeo jurisdicional afeta o jurisdicionado mesmo que natildeo exista prisatildeo cautelar decretada Afinal uma das miseacuterias do processo penal eacute a puniccedilatildeo decorrente do simples tracircmite processual

Nesse sentido aleacutem de acarretar seacuterias consequecircncias ao investigadoprocessado a duraccedilatildeo irrazoaacutevel do processo penal pode ocasionar o enfraquecimento da lem-branccedila dos fatos pelas testemunhas o desaparecimento dos elementos de prova o esquecimento social e a impossibilidade de periacutecia A construccedilatildeo de uma Justiccedila mais

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Citaccedilotildees

HC 135386red p o ac min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 851

374iacutendice de teses

ceacutelere depende do emprego de medidas que preservem os atos praticados Nesse sentido eacute fundamental a coibiccedilatildeo de repeticcedilotildees desnecessaacuterias2

Por fim com relaccedilatildeo agraves garantias inerentes agrave defesa a antecipaccedilatildeo da oitiva das tes-temunhas natildeo revela prejuiacutezo Quando o processo retomar o curso caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do reacuteu basta que se proceda agrave nova inquiriccedilatildeo

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitaccedilatildeordquo

2 ldquoEm artigo para uma coletacircnea de homenagem publicada haacute mais de vinte anos Barbosa Moreira jaacute lamentava a excessiva demora dos processos afirmando que o fenocircmeno tem causas tatildeo complexas e mal individuadas nos respectivos pesos pela carecircncia de estatiacutesticas judiciaacuterias que lsquoseria ambiccedilatildeo vatilde querer encontrar no puro receituaacuterio processual remeacutedio definitivo para a enfermidadersquo E arrolou algumas delas lsquofalhas da organizaccedilatildeo judiciaacuteria deficiecircncia na formaccedilatildeo profissional de juiacutezes e advo-gados precariedade das condiccedilotildees sob as quais se realiza a atividade judicial na maior parte do paiacutes uso arraigado de meacutetodos de trabalho obsoletos e irracionais escasso aproveitamento de recursos tecnoloacutegicosrsquo (DOTTI Reneacute Ariel A prescriccedilatildeo pela pena presumida Rio de Janeiro Revista Forense v 385 maiojun 2006)rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

375iacutendice de teses

Eacute vaacutelida apenas a intimaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo (DPU) ainda que

o recurso especial tenha sido interposto pela Defensoria Puacuteblica estadual

Em caso de recurso especial interposto por Defensoria Puacuteblica estadual que natildeo tenha representaccedilatildeo no Distrito Federal e seja longiacutenqua a exemplo do Estado do Amapaacute eacute vaacutelida a intimaccedilatildeo da DPU jaacute organizada e no desempenho regular de suas atividades perante os tribunais superiores1

A DPU foi estruturada sob o paacutelio dos princiacutepios da unidade e da indivisibilida-de para dar suporte agraves Defensorias Puacuteblicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-membros longiacutenquos que natildeo podem exercer o muacutenus a cada recurso ende-reccedilado aos tribunais superiores

1 HC 82118 rel min Ilmar Galvatildeo 1ordf T DJ de 29-11-2002 e HC 126081 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 16-10-2015

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Intimaccedilotildees

HC 118294red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 20-4-2017Informativo STF 856

PROCESSO EM ESPEacuteCIEDIREITO PROCESSUAL PENAL

377iacutendice de teses

A retirada dos autos de prova considerada iliacutecita natildeo exclui necessariamen-

te as demais peccedilas processuais que a ela faccedilam referecircncia

A denuacutencia a pronuacutencia o acoacuterdatildeo e as demais peccedilas judiciais natildeo satildeo provas do crime Por isso em princiacutepio estatildeo fora da regra de exclusatildeo das provas obtidas por meios iliacutecitos ndash art 5ordm LVI da Constituiccedilatildeo Federal1 A legislaccedilatildeo ao tratar das pro-vas iliacutecitas e derivadas tampouco determina a exclusatildeo de peccedilas processuais que a elas faccedilam referecircncia ndash art 157 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)2

As limitaccedilotildees ao debate em plenaacuterio satildeo mencionadas nos arts 478 e 479 do CPP3 e satildeo pontuais Dessa forma natildeo se pode impedir que os jurados tenham conheci-mento da proacutepria realizaccedilatildeo da prova iliacutecita e dos debates processuais que levaram a sua exclusatildeo A exclusatildeo de prova iliacutecita natildeo eacute contemplada nas normas de restriccedilatildeo ao debate que satildeo de discutiacutevel constitucionalidade e que vecircm sendo interpretadas restritivamente pelo Supremo Tribunal Federal4 e 5

O envelopamento como alternativa agrave desconstituiccedilatildeo da pronuacutencia natildeo eacute viaacutevel Ofende o direito do acusado e a proacutepria soberania dos veredictos assegurada agrave insti-tuiccedilatildeo do juacuteri6

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVI ndash satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

2 ldquoArt 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim enten-didas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legaisrdquo

3 ldquoArt 478 Durante os debates as partes natildeo poderatildeo sob pena de nulidade fazer referecircncias I ndash agrave decisatildeo de pronuacutencia agraves decisotildees posteriores que julgaram admissiacutevel a acusaccedilatildeo ou agrave determina-ccedilatildeo do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusa-do II ndash ao silecircncio do acusado ou agrave ausecircncia de interrogatoacuterio por falta de requerimento em seu prejuiacutezo Art 479 Durante o julgamento natildeo seraacute permitida a leitura de documento ou a exibiccedilatildeo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em espeacutecie

Ȥ Processo comum Ȥ Procedimento relativo aos processos da competecircncia do tribunal do juacuteri

HC 137368rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 849

378iacutendice de teses

de objeto que natildeo tiver sido juntado aos autos com a antecedecircncia miacutenima de 3 (trecircs) dias uacuteteis dando-se ciecircncia agrave outra parte Paraacutegrafo uacutenico Compreende-se na proibiccedilatildeo deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito bem como a exibiccedilatildeo de viacutedeos gravaccedilotildees fotografias laudos quadros croqui ou qualquer outro meio assemelhado cujo conteuacutedo versar sobre a mateacuteria de fato submetida agrave apreciaccedilatildeo e julgamento dos juradosrdquo

4 ldquoA proacutepria constitucionalidade das normas de restriccedilatildeo ao debate tem sido questionada com bons argumentos Nucci por exemplo defende que a censura de referecircncias a documentos dos autos beira agrave inconstitucionalidade (NUCCI Guilherme de Souza Tribunal do juacuteri 5 ed Rio de Janeiro Forense 2014 p 237)rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

5 RHC 123009 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 2-12-2014 e RHC 120598 rel min Gilmar Men-des 2ordf T DJE de 3-8-2015

6 RHC 122909 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 12-12-2014

NULIDADES E RECURSOS EM GERALDIREITO PROCESSUAL PENAL

380iacutendice de teses

Por mais caras que as prerrogativas da defesa e do advogado sejam ao sistema

de garantias de sua violaccedilatildeo natildeo decorre a automaacutetica absolviccedilatildeo do imputado

A violaccedilatildeo judicial das prerrogativas da defesa e dos advogados cria consequecircncias de outras trecircs ordens que devem ser criteriosamente sanadas para natildeo impedir o curso do julgamento

Em primeiro lugar eacute fundamento para a cassaccedilatildeo ou invalidaccedilatildeo do ato judicial No caso de interceptaccedilatildeo de telefone de advogado de reacuteu em accedilatildeo penal a destruiccedilatildeo da prova determinada em primeira instacircncia eacute suficiente e natildeo haacute nulidade a ser de-cretada visto que o ato jaacute foi tornado ineficaz

Em segundo lugar a relaccedilatildeo com o ato atentatoacuterio eacute fundamento para a invalida-ccedilatildeo dos atos processuais subsequentes a ele relacionados O regime de invalidaccedilatildeo de atos processuais subsequentes eacute regrado pela legislaccedilatildeo Conforme o art 573 sect 1ordm do Coacutedigo de Processo Penal1 a nulidade de um ato atinge os atos que ldquodele direta-mente dependamrdquo e os que dele ldquosejam consequecircnciardquo

Os atos subsequentes natildeo satildeo atos que violam as prerrogativas da defesa ou dos advogados mas que dependem e satildeo consequecircncia do ato violador Logo quanto a eles as garantias defensivas e advocatiacutecias natildeo estatildeo em jogo Sendo assim a impor-tacircncia dessas garantias natildeo dispensa a demonstraccedilatildeo do nexo entre o ato violador e o ato contaminado2 e 3

Ademais natildeo se vislumbra invalidaccedilatildeo dos atos subsequentes por suposta intimi-daccedilatildeo da defesa ante o uso abundante dos recursos e os meios de impugnaccedilatildeo ar-rostando o que supostamente poderia ser violaccedilatildeo a prerrogativas advocatiacutecias com exceccedilatildeo de suspeiccedilatildeo e representaccedilotildees buscando a responsabilizaccedilatildeo do julgador no Conselho Nacional de Justiccedila

Em terceiro lugar se a violaccedilatildeo apontar para a parcialidade do julgador haveraacute fundamento para a recusa do magistrado Isso natildeo ocorre se o contexto leva a crer que a interceptaccedilatildeo decorreu de suspeita infundada de participaccedilatildeo em atividade cri-

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Nulidades Ȥ Nulidades relativas

HC 129706rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 832

381iacutendice de teses

minosa pelo titular do terminal telefocircnico sem que a qualidade de advogado tenha sido percebida

O art 2ordm da Lei 92961996 natildeo exige que sejam quebrados os dados cadastrais

de todos os terminais interceptados previamente agrave interceptaccedilatildeo

O que a Lei 92961996 exige eacute a identificaccedilatildeo o mais precisa possiacutevel dos investiga-dos mas admite sua omissatildeo em caso de impossibilidade manifesta e justificada

1 ldquoArt 573 Os atos cuja nulidade natildeo tiver sido sanada na forma dos artigos anteriores seratildeo re-novados ou retificados sect 1ordm A nulidade de um ato uma vez declarada causaraacute a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequecircnciardquo

2 HC 95518 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 19-3-2014

3 ldquoEm muitos casos os atos processuais subsequentes teratildeo evidente nexo com a violaccedilatildeo de garan-tias No exemplo da prisatildeo do advogado para impedir a sustentaccedilatildeo oral o nexo entre o julgamento contraacuterio aos interesses da defesa e a prisatildeo do causiacutedico seria intuiacutedo Em outros casos no entanto a ligaccedilatildeo natildeo seraacute tatildeo patente dependendo de demonstraccedilatildeordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

382iacutendice de teses

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para discutir a suspensatildeo de processo-

-crime sobre a praacutetica da conduta prevista no art 28 da Lei 1134320061 (por-

te de drogas para consumo pessoal)

Natildeo existe previsatildeo de pena privativa de liberdade para essa conduta Isso evidencia a impossibilidade de qualquer ameaccedila agrave liberdade de locomoccedilatildeo que enseje a impe-traccedilatildeo do writ2

O habeas corpus natildeo eacute espeacutecie de recurso apesar de regulamentado no capiacutetulo a eles destinado no Coacutedigo de Processo Penal Eacute uma accedilatildeo constitucional de procedi-mento especial que visa evitar ou cessar violecircncia ou ameaccedila na liberdade de locomo-ccedilatildeo por ilegalidade e abuso de poder

1 ldquoArt 28 Quem adquirir guardar tiver em depoacutesito transportar ou trouxer consigo para consumo pessoal drogas sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar seraacute submetido agraves seguintes penas I ndash advertecircncia sobre os efeitos das drogas II ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade III ndash medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativordquo

2 HC 131395 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 21-11-2017

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Habeas corpus e seu processo

HC 127834red p o ac min Alexandre de Moraes1ordf TurmaDJE de 19-12-2017Informativo STF 887

383iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Habeas corpus e seu processo

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para buscar-se o reconhecimento do

direito a visitas iacutentimas em estabelecimento prisional

Nesse caso natildeo estaacute em jogo a liberdade de ir e vir do cidadatildeo

HC 138286rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 18-12-2017Informativo STF 887

384iacutendice de teses

A ordem juriacutedica natildeo contempla a interposiccedilatildeo de recurso via e-mail

Por natildeo se poder potencializar a forma pela forma a legislaccedilatildeo instrumental visa acima de tudo realizar o implemento da almejada justiccedila Todavia paracircmetros voltados agrave seguranccedila juriacutedica devem ser considerados

No campo da informaacutetica da formalizaccedilatildeo de atos por meio de recursos eletrocirc-nicos devem-se levar em conta presente o disposto no art 1ordm da Lei 980019991 certos requisitos Dessa forma os atos emitidos pelos tribunais consoante o preceito da mencionada lei a prever que ldquoeacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que dependam de peticcedilatildeo escritardquo natildeo contemplam a adoccedilatildeo do e-mail quanto mais sem a apresentaccedilatildeo no prazo legal do original

O fac-siacutemile ou o envio mediante outro meacutetodo pressupotildee a observacircncia de en-dereccedilo que confira certeza quanto ao recebimento da mensagem A Lei 98001999 excepcionando a interposiccedilatildeo direta de recurso permitiu a utilizaccedilatildeo da transmissatildeo de dados e imagens via fac-siacutemile Mesmo assim tem-se que empregado tal meio haacute de apresentar-se o original Ademais maior inviabilidade verifica-se quando o re-curso for protocolado mediante e-mail sem respaldo em qualquer norma legal e sem haver sido apresentado posteriormente em peccedila fiacutesica

1 ldquoArt 1ordm Eacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens tipo fac--siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que dependam de peticcedilatildeo escritardquo

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Disposiccedilotildees gerais

HC 121225rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 29-3-2017Informativo STF 857

EXECUCcedilAtildeO PENALDIREITO PROCESSUAL PENAL

386iacutendice de teses

O limite de trinta anos enunciado no art 75 do Coacutedigo Penal (CP) natildeo eacute

considerado para o caacutelculo de benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (Verbete 715 da

Suacutemula do Supremo Tribunal Federal1)

O ldquoart 75 do CP2 eacute o consectaacuterio loacutegico da expressa vedaccedilatildeo constitucional con-cernente agraves penas de caraacuteter perpeacutetuo (Constituiccedilatildeo Federal art 5ordm XLVII b3) Le-vando-se em conta a necessidade de ressocializaccedilatildeo do apenado natildeo seria coerente de fato permitir-se a subsistecircncia no ordenamento juriacutedico brasileiro de penas de caraacuteter perpeacutetuo Por isso a expressa disposiccedilatildeo legal no sentido de que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade natildeo pode ser superior a trinta anos

Todavia esse limite apenas se reporta ao tempo maacuteximo de efetivo cumprimento da pena natildeo podendo servir de cotejo para a afericcedilatildeo de requisitos temporais neces-saacuterios agrave obtenccedilatildeo de outros benefiacutecios legaisrdquo4 e 5

1 ldquoA pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento determinado pelo art 75 do Coacutedigo Penal natildeo eacute considerada para a concessatildeo de outros benefiacutecios como o livramento condicional ou regime mais favoraacutevel de execuccedilatildeordquo

2 ldquoArt 75 O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade natildeo pode ser superior a 30 (trinta) anos sect 1ordm Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos devem elas ser unificadas para atender ao limite maacuteximo deste artigordquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave segu-ranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes XLVII ndash natildeo haveraacute penas () b) de caraacuteter perpeacutetuordquo

4 HC 98450 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 20-8-2010

5 HC 69423 rel min Carlos Velloso P DJ de 17-9-1993 e HC 106909 rel min Ayres Britto 2ordf T DJE de 4-10-2011

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Limite das penas Ȥ Benefiacutecios da execuccedilatildeo penal

HC 100612red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

387iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Trabalho Ȥ Trabalho interno

Excepcionalmente pode ser considerado para fins de remiccedilatildeo da pena o

total de horas trabalhadas em jornada diaacuteria inferior a seis horas quando

houver determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio

Apesar de a Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) no art 331 prever que a jornada diaacuteria natildeo deve ser inferior a seis nem superior a oito horas para fins de remiccedilatildeo de pena2 em casos dessa natureza deve-se observar os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila Isso torna indeclinaacutevel o dever estatal de honrar o compromisso de remir a pena do sentenciado legiacutetima contraprestaccedilatildeo ao trabalho prestado por ele na forma estipulada pela administraccedilatildeo penitenciaacuteria3 sob pena de desestiacutemulo ao trabalho e agrave ressocializaccedilatildeo

Assim excepcionalmente pode ser considerada jornada diaacuteria inferior a seis horas nos casos em que houver determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio ou seja em que a jornada de trabalho natildeo derive de ato voluntaacuterio nem de indisciplina ou insub-missatildeo do preso Dessa forma admite-se que para computar os dias de remiccedilatildeo as horas trabalhadas sejam somadas e divididas por seis Feita a conversatildeo matemaacutetica do caacutelculo da remiccedilatildeo age-se dentro dos limites previstos na LEP

1 Lei 72101984 ldquoArt 33 A jornada normal de trabalho natildeo seraacute inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas com descanso nos domingos e feriadosrdquo

2 ldquoArt 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderaacute remir por trabalho ou por estudo parte do tempo de execuccedilatildeo da pena sect 1ordm A contagem de tempo referida no caput seraacute feita agrave razatildeo de () II ndash 1 (um) dia de pena a cada 3 (trecircs) dias de trabalhordquo

3 ACO 79 rel min Cezar Peluso P DJE de 28-5-2012

RHC 136509rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 27-4-2017Informativo STF 860

388iacutendice de teses

O marco inicial para fins de obtenccedilatildeo de progressatildeo de regime e demais be-

nefiacutecios executoacuterios eacute a data da custoacutedia cautelar1 Essa data deve necessa-

riamente ser computada desde que natildeo ocorra condenaccedilatildeo posterior apta a

configurar falta grave

Diante da execuccedilatildeo de uma uacutenica condenaccedilatildeo o legislador natildeo impocircs qualquer re-quisito adicional aleacutem dos estabelecidos no art 112 da Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP)2

Assim a sentenccedila penal condenatoacuteria natildeo interrompe o lapso temporal para a ob-tenccedilatildeo de benefiacutecios em sede de execuccedilatildeo penal de um uacutenico crime

A soluccedilatildeo juridicamente adequada e que se coaduna com o sistema progressivo de cumprimento de pena previsto na LEP eacute a de que a sentenccedila condenatoacuteria funciona como paracircmetro acerca do quantum de pena que deveraacute ter sido cumprido para ob-tenccedilatildeo de benefiacutecios relacionados agrave progressatildeo de regime

1 Enunciado 716 da Suacutemula do STF ldquoAdmite-se a progressatildeo de regime de cumprimento de pena ou a aplicaccedilatildeo imediata de regime menos severo nela determinada antes do tracircnsito em julgado da sentenccedila condenatoacuteriardquo

2 ldquoArt 112 A pena privativa de liberdade seraacute executada em forma progressiva com a transferecircncia para regime menos rigoroso a ser determinada pelo juiz quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carceraacuterio comprovado pelo diretor do estabelecimento respeitadas as normas que vedam a progressatildeo sect 1ordm A decisatildeo seraacute sempre motivada e precedida de manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico e do defensor sect 2ordm Idecircntico procedimento seraacute adotado na concessatildeo de livramento condicional indulto e comutaccedilatildeo de penas respeitados os prazos previstos nas normas vigentesrdquo

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie Ȥ Penas privativas de liberdade

RHC 142463rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 3-10-2017Informativo STF 877

389iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie Ȥ Penas privativas de liberdade

O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada

ao sentenciado impede a progressatildeo no regime prisional1

A modificaccedilatildeo legislativa realizada pela Lei 92681996 no art 51 do Coacutedigo Penal (CP)2 referindo-se agrave multa como ldquodiacutevida de valorrdquo natildeo retirou desta o caraacuteter de pena de sanccedilatildeo criminal e sequer poderia cogitar em fazecirc-lo O art 5ordm XLVI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 ao cuidar da individualizaccedilatildeo da pena faz menccedilatildeo expressa agrave multa ao lado da privaccedilatildeo da liberdade e de outras modalidades de sanccedilatildeo penal

Por sua vez a anaacutelise dos requisitos necessaacuterios para a progressatildeo de regime natildeo se restringe ao que eacute referido no art 112 da Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP)4 tendo em vista que outros elementos podem e devem ser considerados pelo julgador na tarefa de individualizaccedilatildeo da resposta punitiva do Estado especialmente na fase executoacuteria Afinal tal como previsto na exposiccedilatildeo de motivos agrave LEP ldquoa progressatildeo deve ser uma conquista do condenado pelo seu meacuteritordquo ldquocompreendido esse vocaacutebulo como apti-datildeo capacidade e merecimento demonstrados no curso da execuccedilatildeordquo

Nesse sentido o julgador atento agraves finalidades da pena e de modo fundamentado estaacute autorizado a lanccedilar matildeo de outros requisitos natildeo necessariamente enunciados no art 112 da LEP mas extraiacutedos do ordenamento juriacutedico para avaliar a possibilida-de de progressatildeo no regime prisional tendo como objetivo sobretudo o exame do merecimento do sentenciado5 e 6

Circunstacircncias brasileiras ndash como as limitaccedilotildees orccedilamentaacuterias a superlotaccedilatildeo dos presiacutedios e a existecircncia de centenas de milhares de mandados de prisatildeo agrave espera de cumprimento ndash fazem com que o sistema de cumprimento de penas e de progressatildeo de regime entre noacutes seja menos severo do que o de outros paiacuteses Menos do que uma opccedilatildeo filosoacutefica ou uma postura de leniecircncia trata-se de uma escolha poliacutetica acerca da alocaccedilatildeo de recursos feita pelas instacircncias representativas da sociedade e materializada na lei

EP 8 ProgReg-AgRrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 20-9-2017Informativo STF 832

390iacutendice de teses

Todavia especialmente em mateacuteria de crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica ndash como tambeacutem nos crimes de colarinho branco em geral ndash a parte verdadeiramente severa da pena a ser executada com rigor haacute de ser a de natureza pecuniaacuteria Esta sim tem o poder de funcionar como real fator de prevenccedilatildeo capaz de inibir a praacutetica de crimes que envolvam apropriaccedilatildeo de recursos puacuteblicos

Assim o condenado tem o dever juriacutedico ndash e natildeo a faculdade ndash de pagar integral-mente o valor da multa Pensar de modo diferente seria o mesmo que ignorar moda-lidade autocircnoma de resposta penal expressamente concebida pela Constituiccedilatildeo nos termos do art 5ordm XLVI c Essa espeacutecie de sanccedilatildeo penal exige cumprimento espontacirc-neo por parte do apenado independentemente da instauraccedilatildeo de execuccedilatildeo judicial

Eacute o que tambeacutem decorre do art 50 do CP7 ao estabelecer que ldquoa multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentenccedilardquo Com efei-to o natildeo recolhimento da multa por condenado que tenha condiccedilotildees econocircmicas de pagaacute-la sem sacrifiacutecio dos recursos indispensaacuteveis ao sustento proacuteprio e de sua famiacutelia constitui deliberado descumprimento de decisatildeo judicial e deve impedir a progressatildeo de regime Aleacutem disso admitir-se o natildeo pagamento da multa configura-ria tratamento privilegiado em relaccedilatildeo ao sentenciado que espontaneamente paga a sanccedilatildeo pecuniaacuteria

Natildeo bastasse essa incongruecircncia loacutegica a passagem para o regime aberto exige do sentenciado ldquoautodisciplina e senso de responsabilidaderdquo (LEP art 114 II8) o que pressupotildee o cumprimento das decisotildees judiciais que se lhe aplicam Tal interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelo que dispotildee o art 36 sect 2ordm do CP9 e o art 118 sect 1ordm da LEP10 que esta-belecem a regressatildeo de regime para o condenado que ldquonatildeo pagar podendo a multa cumulativamente impostardquo O deliberado inadimplemento da pena de multa sequer poderia ser comparaacutevel agrave vedada prisatildeo por diacutevida nos moldes do art 5ordm LXVII da CF11 configurando apenas oacutebice agrave progressatildeo no regime prisional

A exceccedilatildeo admissiacutevel ao dever de pagar multa eacute a impossibilidade econocircmica ab-soluta de fazecirc-lo ou seja eacute possiacutevel a progressatildeo se o sentenciado veraz e compro-vadamente demonstrar sua absoluta insolvabilidade que o impossibilite ateacute mesmo de efetuar o pagamento parcelado da quantia devida como autorizado pelo art 50 do CP

A absoluta incapacidade econocircmica do apenado portanto deve ser devidamen-te demonstrada nos autos inclusive porque a decisatildeo condenatoacuteria fixa o quantum da sanccedilatildeo pecuniaacuteria especialmente em funccedilatildeo da situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu (CP

391iacutendice de teses

art 6012) como deve ser A relativizaccedilatildeo dessa resposta penal depende de prova ro-busta por parte do sentenciado

1 EP 12 AgR rel min Roberto Barroso P DJE de 11-6-2015

2 ldquoArt 51 Transitada em julgado a sentenccedila condenatoacuteria a multa seraacute considerada diacutevida de valor aplicando-se-lhes as normas da legislaccedilatildeo relativa agrave diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica inclusive no que concerne agraves causas interruptivas e suspensivas da prescriccedilatildeordquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVI ndash a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as seguintes a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade b) perda de bens c) multa d) prestaccedilatildeo social alternativa e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitosrdquo

4 ldquoArt 112 A pena privativa de liberdade seraacute executada em forma progressiva com a transferecircncia para regime menos rigoroso a ser determinada pelo juiz quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carceraacuterio comprovado pelo diretor do estabelecimento respeitadas as normas que vedam a progressatildeo sect 1ordm A decisatildeo seraacute sempre motivada e precedida de manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico e do defensor sect 2ordm Idecircntico procedimento seraacute adotado na concessatildeo de livramento condicional indulto e comutaccedilatildeo de penas respeitados os prazos previstos nas normas vigentesrdquo

5 EP 22 rel min Roberto Barroso P DJE de 7-4-2016 e RHC 116033 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 22-4-2013

6 Enunciado 26 da Suacutemula Vinculante ldquoPara efeito de progressatildeo de regime no cumprimento de pena por crime hediondo ou equiparado o juiacutezo da execuccedilatildeo observaraacute a inconstitucionalidade do art 2ordm da Lei n 8072 de 25 de julho de 1990 sem prejuiacutezo de avaliar se o condenado preenche ou natildeo os requisitos objetivos e subjetivos do benefiacutecio podendo determinar para tal fim de modo fundamentado a realizaccedilatildeo de exame criminoloacutegicordquo

7 ldquoArt 50 A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentenccedila A requerimento do condenado e conforme as circunstacircncias o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais sect 1ordm A cobranccedila da multa pode efetuar-se mediante desconto no ven-cimento ou salaacuterio do condenado quando a) aplicada isoladamente b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos c) concedida a suspensatildeo condicional da pena sect 2ordm O desconto natildeo deve incidir sobre os recursos indispensaacuteveis ao sustento do condenado e de sua famiacuteliardquo

8 ldquoArt 114 Somente poderaacute ingressar no regime aberto o condenado que I ndash estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazecirc-lo imediatamente II ndash apresentar pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido fundados indiacutecios de que iraacute ajustar-se com auto-disciplina e senso de responsabilidade ao novo regime Paraacutegrafo uacutenico Poderatildeo ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no art 117 desta Leirdquo

9 ldquoArt 36 O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condena-do sect 1ordm O condenado deveraacute fora do estabelecimento e sem vigilacircncia trabalhar frequentar curso

392iacutendice de teses

ou exercer outra atividade autorizada permanecendo recolhido durante o periacuteodo noturno e nos dias de folga sect 2ordm O condenado seraacute transferido do regime aberto se praticar fato definido como crime doloso se frustrar os fins da execuccedilatildeo ou se podendo natildeo pagar a multa cumulativamente aplicadardquo

10 ldquoArt 118 A execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade ficaraacute sujeita agrave forma regressiva com a trans-ferecircncia para qualquer dos regimes mais rigorosos quando o condenado I ndash praticar fato definido como crime doloso ou falta grave II ndash sofrer condenaccedilatildeo por crime anterior cuja pena somada ao restante da pena em execuccedilatildeo torne incabiacutevel o regime (art 111) sect 1ordm O condenado seraacute trans-ferido do regime aberto se aleacutem das hipoacuteteses referidas nos incisos anteriores frustrar os fins da execuccedilatildeo ou natildeo pagar podendo a multa cumulativamente imposta sect 2ordm Nas hipoacuteteses do inciso I e do paraacutegrafo anterior deveraacute ser ouvido previamente o condenadordquo

11 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVII ndash natildeo haveraacute penas a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX b) de caraacuteter perpeacutetuo c) de traba-lhos forccedilados d) de banimento e) crueacuteisrdquo

12 ldquoArt 60 Na fixaccedilatildeo da pena de multa o juiz deve atender principalmente agrave situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu sect 1ordm A multa pode ser aumentada ateacute o triplo se o juiz considerar que em virtude da situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu eacute ineficaz embora aplicada no maacuteximo sect 2ordm A pena privativa de liberdade apli-cada natildeo superior a 6 (seis) meses pode ser substituiacuteda pela de multa observados os criteacuterios dos incisos II e III do art 44 deste Coacutedigordquo

393iacutendice de teses

O indulto da pena privativa de liberdade natildeo alcanccedila a pena de multa que tenha

sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado

A automaacutetica concessatildeo do indulto da multa a condenado que tenha condiccedilotildees eco-nocircmicas de quitaacute-la sem sacrifiacutecio dos recursos indispensaacuteveis ao sustento proacuteprio ou de sua famiacutelia constituiria em uacuteltima anaacutelise injustificaacutevel descumprimento de decisatildeo judicial e indesejaacutevel tratamento privilegiado em relaccedilatildeo agravequeles sentencia-dos que tempestivamente pagaram a sanccedilatildeo pecuniaacuteria

Sendo o pagamento parcelado da multa e a permanecircncia do sentenciado no regi-me aberto requisitos indispensaacuteveis para a obtenccedilatildeo do benefiacutecio do indulto (Decreto 88302014 art 1ordm XV1) natildeo haacute como exonerar o sentenciado de continuar a hon-rar o acordo espontaneamente assumido ldquoEntender de modo diverso desprestigia o princiacutepio da boa-feacute objetiva na medida em que beneficiaria indevidamente quem adota comportamento contraditoacuteriordquo2

Assim a liberalidade contida no paraacutegrafo uacutenico do art 7ordm3 do Decreto 83802014 somente deve ser admitida na hipoacutetese em que estiver comprovada a extrema carecircn-cia econocircmica do condenado que sequer tenha tido condiccedilotildees de firmar compro-misso de parcelamento do deacutebito Essa interpretaccedilatildeo mais restritiva leva em conside-raccedilatildeo (i) o fato de que a pena de multa embora convertida em diacutevida de valor natildeo perdeu seu caraacuteter de sanccedilatildeo criminal e o seu injustificado inadimplemento interfere no gozo dos benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (como na progressatildeo de regime) e (ii) o caraacuteter essencialmente igualitaacuterio que permeia a concessatildeo pelo presidente da Repuacute-blica da clemecircncia estatal

1 ldquoArt 1ordm Concede-se o indulto coletivo agraves pessoas nacionais e estrangeiras () XV ndash condenadas a pena privativa de liberdade que estejam em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto cujas penas remanescentes em 25 de dezembro de 2014 natildeo sejam superiores a oito anos

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Incidentes de execuccedilatildeo Ȥ Anistia e indulto

EP 11 IndCom-AgRrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 18-12-2017Informativo STF 884

394iacutendice de teses

se natildeo reincidentes e a seis anos se reincidentes desde que tenham cumprido um quarto da pena se natildeo reincidentes ou um terccedilo se reincidentesrdquo

2 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

3 ldquoArt 7ordm O indulto ou a comutaccedilatildeo da pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos alcanccedila a pena de multa aplicada cumulativamente Paraacutegrafo uacutenico A inadimplecircncia da pena de multa cumulada com pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos natildeo impede a declaraccedilatildeo do indulto ou da comutaccedilatildeo de penasrdquo

395iacutendice de teses

Poderaacute se dar a posteriori agrave publicaccedilatildeo da norma a homologaccedilatildeo judicial da

aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo por falta grave para obstar a comutaccedilatildeo de pena

O art 5ordm caput do Decreto 838020141 limita-se a impor a homologaccedilatildeo judicial da aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo por falta grave natildeo exigindo que ela tenha de se dar nos doze meses anteriores a sua publicaccedilatildeo2

Natildeo bastasse isso uma vez que se exige a realizaccedilatildeo de audiecircncia de justificaccedilatildeo assegurando-se o contraditoacuterio e a ampla defesa natildeo faria sentido que a homologaccedilatildeo judicial devesse ocorrer dentro daquele prazo sob pena de natildeo haver tempo haacutebil para a apuraccedilatildeo de eventual falta grave praticada em data proacutexima agrave publicaccedilatildeo do decreto

1 ldquoArt 5ordm A declaraccedilatildeo do indulto e da comutaccedilatildeo de penas previstos neste Decreto fica condicionada agrave inexistecircncia de aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo reconhecida pelo juiacutezo competente em audiecircncia de justifi-caccedilatildeo garantido o direito ao contraditoacuterio e agrave ampla defesa por falta disciplinar de natureza grave prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal cometida nos doze meses de cumprimento da pena contados retroativamente agrave data de publicaccedilatildeo deste Decretordquo

2 AP 512 rel min Ayres Britto P DJE de 20-4-2012 e HC 132236 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 27-9-2016

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Incidentes de execuccedilatildeo Ȥ Anistia e indulto

RHC 133443rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 9-12-2016Informativo STF 842

DIR

ET

RIB

DIR

EIT

O

TR

IBU

TAacuteR

IO

TRIBUTOSDIREITO TRIBUTAacuteRIO

398iacutendice de teses

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) incide sobre

a tarifa de assinatura baacutesica mensal cobrada pelas prestadoras de serviccedilos

de telefonia independentemente da franquia de minutos concedida ou natildeo

ao usuaacuterio

A tarifa de assinatura baacutesica mensal natildeo eacute serviccedilo Eacute contraprestaccedilatildeo pelo serviccedilo de comunicaccedilatildeo propriamente dito prestado pelas concessionaacuterias de telefonia e con-sistente no fornecimento em caraacuteter continuado das condiccedilotildees materiais para que ocorra a comunicaccedilatildeo entre o usuaacuterio e terceiro o que atrai a incidecircncia do ICMS

Existe um complexo sistema de redes e equipamentos para conferir ao usuaacuterio do serviccedilo de telefonia fixa a possibilidade de originar e receber chamadas Eacute justamente o custo da manutenccedilatildeo desse complexo sistema que a cobranccedila de assinatura mensal visa remunerar Ademais eacute de se ressaltar que a manutenccedilatildeo do serviccedilo ao usuaacuterio constitui por si soacute prestaccedilatildeo efetiva desse serviccedilo1

O valor pago pela assinatura mensal da telefonia fixa eacute sem duacutevida tarifa e tem por objetivo custear a manutenccedilatildeo o aperfeiccediloamento e a expansatildeo desse complexo sistema telefocircnico2

O fato de a assinatura mensal dar ou natildeo direito ao usuaacuterio de utilizar a franquia de minutos eacute irrelevante e natildeo tem o condatildeo de descaracterizar o serviccedilo remune-rado pelo valor da assinatura baacutesica mensal como serviccedilo de comunicaccedilatildeo propria-mente dito Afinal o que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica autoriza os Estados e o Distrito Federal a tributar natildeo eacute ldquopropriamente o transporte transmunicipal a comunicaccedilatildeo ou quaisquer outros serviccedilos mas sim as prestaccedilotildees onerosas desses serviccedilosrdquo3 Eacute legiacutetima a incidecircncia do ICMS-comunicaccedilatildeo sobre o valor pago a tiacutetulo de tarifa de assinatura baacutesica mensal portanto

Essa tarifa natildeo se confunde com os serviccedilos preparatoacuterios e acessoacuterios Esses serviccedilos prestados pelas empresas de telefonia tambeacutem conhecidos como serviccedilos intermediaacuterios de comunicaccedilatildeo tais como habilitaccedilatildeo instalaccedilatildeo disponibilidade

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ‒ Repercussatildeo Geral

RE 912888RG ‒ Tema 827rel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 10-5-2017Informativo STF 843

399iacutendice de teses

assinatura (inicial) cadastro de usuaacuterio e equipamento entre outros configuram ati-vidades-meio ou serviccedilos suplementares O valor pago por esses serviccedilos eacute eventual e remunera serviccedilo episoacutedico portanto natildeo incide ICMS sobre ele4

1 Parecer do professor Carlos Ari Sunfeld em consulta feita pelas Telecomunicaccedilotildees de Satildeo Paulo SA (TELESP-TELEFOcircNICA)

2 Parecer do professor Paulo de Barros Carvalho em consulta feita pela Associaccedilatildeo Brasileira de Pres-tadoras de Serviccedilo Telefocircnico Fixo Comutado (ABRAFIX)

3 CARRAZZA Roque Antonio ICMS 17 ed Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 238

4 RE 572020 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 13-10-2014

400iacutendice de teses

Eacute devida a restituiccedilatildeo da diferenccedila do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercado-

rias e Serviccedilos (ICMS) pago a mais no regime de substituiccedilatildeo tributaacuteria para

frente se a base de caacutelculo efetiva da operaccedilatildeo for inferior agrave presumida1

Uma interpretaccedilatildeo restritiva do sect 7ordm do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 para fins de legitimar a natildeo restituiccedilatildeo do excesso representaria injusticcedila fiscal inaceitaacute-vel em um Estado Democraacutetico de Direito o qual eacute fundado em legiacutetimas expec-tativas emanadas de uma relaccedilatildeo de confianccedila e justeza entre Fisco e contribuinte

A razatildeo preciacutepua da constitucionalidade desse preceito eacute o princiacutepio da praticidade tendo em conta que esse dispositivo constitucional promove comodidade economici-dade e eficiecircncia na execuccedilatildeo administrativa das leis tributaacuterias No entanto o princiacutepio da praticidade tributaacuteria natildeo prepondera na hipoacutetese de violaccedilatildeo de direitos e garantias dos contribuintes notadamente os princiacutepios da igualdade capacidade contributiva e vedaccedilatildeo ao confisco bem como a arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS

ldquoAo acrescentar na parte final no sect 7ordm do art 150 da Constituiccedilatildeo o direito agrave resti-tuiccedilatildeo o poder constituinte reformador pretendeu explicitar a inconstitucionalidade da cobranccedila de tributo quando natildeo houve o fato gerador tal como presumido deter-minando por isso a devoluccedilatildeo Caso se interpretasse que o direito agrave restituiccedilatildeo existe somente nas hipoacuteteses de inocorrecircncia total do fato gerador permaneceria a injusticcedila que o constituinte derivado buscou eliminar de forma expressa e estar-se-ia interpre-tando o dispositivo de maneira contraacuteria agrave sua finalidaderdquo3

Portanto a garantia do direito agrave restituiccedilatildeo do excesso natildeo inviabiliza a substitui-ccedilatildeo tributaacuteria progressiva agrave luz da manutenccedilatildeo das vantagens pragmaacuteticas exauridas do sistema de cobranccedila de impostos e contribuiccedilotildees

Em suma a restituiccedilatildeo do excesso atende ao princiacutepio que veda o enriquecimento sem causa tendo em conta a natildeo ocorrecircncia da materialidade presumida do tributo

Diante disso foram declarados inconstitucionais o art 22 sect 10 da Lei 67631975 do Estado de Minas Gerais4 e o art 21 do Regulamento do ICMS de Minas Gerais5

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ‒ Repercussatildeo Geral

RE 593849RG ‒ Tema 201rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 5-4-2017Informativo STF 844

401iacutendice de teses

aprovado pelo Decreto 430802002 em razatildeo de ofensa ao art 150 sect 7ordm da CF Logo deve-se fixar interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo nas expressotildees ldquonatildeo se efetive o fato gerador presumidordquo no sect 11 do art 22 da lei estadual e ldquoa fato gerador presumido que natildeo se realizourdquo no art 22 do Regulamento do ICMS

Dessa forma fica superado parcialmente o entendimento manifestado pelo Supre-mo Tribunal Federal (STF) na ADI 18516 Na accedilatildeo o STF decidiu que a devoluccedilatildeo deveria ocorrer apenas nas hipoacuteteses em que o fato gerador natildeo ocorresse

Os efeitos juriacutedicos desse novo entendimento orientam apenas os litiacutegios judiciais futuros e os pendentes submetidos agrave sistemaacutetica da repercussatildeo geral7

1 ADI 2675 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2017 e ADI 2777 red p o ac min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2017

2 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios (hellip) sect 7ordm A lei poderaacute atribuir a sujeito passivo de obrigaccedilatildeo tributaacuteria a condiccedilatildeo de responsaacutevel pelo pagamento de imposto ou contribuiccedilatildeo cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente assegurada a imediata e preferencial restituiccedilatildeo da quantia paga caso natildeo se realize o fato gerador presumidordquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

4 ldquoArt 22 (hellip) sect 10 Ressalvada a hipoacutetese prevista nos sectsect 11 e 12 deste artigo o imposto corretamente recolhido por substituiccedilatildeo tributaacuteria eacute definitivo natildeo ficando qualquer que seja o valor das saiacutedas das mercadorias 1) o contribuinte e o responsaacutevel sujeitos ao recolhimento da diferenccedila do tributo 2) o Estado sujeito agrave restituiccedilatildeo de qualquer valor ainda que sob a forma de aproveitamento de creacutedito para compensaccedilatildeo com deacutebito por saiacuteda de outra mercadoriardquo

5 ldquoArt 21 Ressalvada a situaccedilatildeo em que o fato gerador presumido natildeo se realizar o imposto correta-mente recolhido por substituiccedilatildeo tributaacuteria eacute definitivo natildeo ficando qualquer que seja o valor das saiacutedas das mercadorias I ndash o contribuinte ou responsaacutevel sujeito ao recolhimento da diferenccedila do tributo II ndash o Estado sujeito agrave restituiccedilatildeo de qualquer valor ainda que sob a forma de aproveitamen-to de creacutedito para compensaccedilatildeo com deacutebito por saiacuteda de outra mercadoriardquo

6 ADI 1851 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 8-5-2002

7 ldquoIsso porque estaacute-se diante de uma hipoacutetese de reescrita (overriding) de precedente Ademais o sect 3ordm do art 927 do CPC2015 assim dispotildee lsquoNa hipoacutetese de alteraccedilatildeo de jurisprudecircncia dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repe-titivos pode haver modulaccedilatildeo dos efeitos da alteraccedilatildeo no interesse social e no da seguranccedila juriacutedicarsquordquo

402iacutendice de teses

A falta de ediccedilatildeo de lei complementar que estabeleccedila os criteacuterios para com-

pensar os Estados por conta das desoneraccedilotildees do Imposto sobre Circulaccedilatildeo

de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sobre as exportaccedilotildees (Emenda Constitu-

cional 422003) configura estado de inconstitucionalidade por omissatildeo

No caso existe um dever constitucional de legislar previsto no art 91 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT)1 e uma omissatildeo legislativa que jaacute perdura por mais de dez anos e traz consequecircncias econocircmicas relevantes sobre-tudo em relaccedilatildeo a determinados Estados-membros

Com a Emenda Constitucional 422003 alterou-se a redaccedilatildeo do art 155 sect 2ordm X a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 para remover completamente as exportaccedilotildees brasi-leiras do campo de incidecircncia do ICMS Essa nova disposiccedilatildeo redefiniu os limites da competecircncia tributaacuteria estadual reduzindo-a com o evidente escopo de induzir pela via da desoneraccedilatildeo as exportaccedilotildees brasileiras Em termos teacutecnicos ocorreu reduccedilatildeo dos limites da competecircncia tributaacuteria estadual ou seja essa desoneraccedilatildeo deu-se em prejuiacutezo de uma fonte de receitas puacuteblicas estaduais Originariamente os Estados e o Distrito Federal poderiam cobrar ICMS em relaccedilatildeo agraves operaccedilotildees que destinassem produtos primaacuterios ao exterior Agora natildeo mais

Entatildeo se de um lado eacute certo que a modificaccedilatildeo prestigia e incentiva as exporta-ccedilotildees em prol de toda a Federaccedilatildeo de outro natildeo eacute menos verdade que a nova regra afeta uma fonte de recursos dos Estados e traz consequecircncias severas especialmente para aqueles que se dedicam agrave atividade de exportaccedilatildeo de produtos primaacuterios Por isso em contrapartida para compensar a perda de arrecadaccedilatildeo que naturalmente decorreria da desoneraccedilatildeo das exportaccedilotildees imposta pela Emenda Constitucional 422003 esta estabeleceu no art 91 do ADCT uma foacutermula de transferecircncia consti-tucional obrigatoacuteria da Uniatildeo em favor dos Estados e do Distrito Federal

Contudo a necessaacuteria lei complementar prevista no caput do art 91 do ADCT nunca foi editada e ateacute hoje segue sendo aplicada a regra ndash que deveria ser temporaacute-

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

ADO 25rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 18-8-2017Informativo STF 849

403iacutendice de teses

ria ndash prevista no sect 3ordm do art 91 Permanece ldquovigente o sistema de entrega de recursos previsto no art 313 e Anexo da Lei Complementar 87 de 13 de setembro de 1996 com a redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar 115 de 26 de dezembro de 2002rdquo

Cabe destacar que a existecircncia de projetos de lei complementar tramitando no Congresso Nacional com o fito de regulamentar essa entrega dos recursos natildeo eacute sufi-ciente para afastar a ineacutercia legislativa passados mais de dez anos da promulgaccedilatildeo da Emenda Constitucional 422003 A inertia deliberandi das casas legislativas pode ser objeto de accedilatildeo direta de inconstitucionalidade por omissatildeo4

Enquanto a sanccedilatildeo e o veto estatildeo disciplinados de forma relativamente precisa no texto constitucional inclusive no que concerne a prazos (CF art 665) a deliberaccedilatildeo natildeo mereceu do constituinte no tocante a esse aspecto uma disciplina mais minu-ciosa Ressalvada a hipoacutetese de utilizaccedilatildeo do procedimento abreviado previsto no art 64 sectsect 1ordm e 2ordm da CF6 natildeo se estabeleceram prazos para a apreciaccedilatildeo dos projetos de lei Observe-se que mesmo nos casos desse procedimento abreviado natildeo haacute ga-rantia quanto agrave aprovaccedilatildeo dentro de determinado prazo uma vez que o modelo de processo legislativo estabelecido pela Constituiccedilatildeo natildeo contempla a aprovaccedilatildeo por decurso de prazo

Ademais o fato de a Emenda Constitucional 422003 ter disposto criteacuterios provi-soacuterios para o repasse (ADCT art 91 sect 3ordm) natildeo configura razatildeo suficiente para afastar a omissatildeo inconstitucional em questatildeo Ao contraacuterio o sentido de provisoriedade estampado no teor do sect 2ordm do art 91 soacute confirma a omissatildeo do Congresso Nacional na mateacuteria Natildeo tem o condatildeo de convalidaacute-la7

Diante disso reconhece-se a mora do Congresso Nacional quanto agrave ediccedilatildeo da lei complementar prevista no art 91 do ADCT fixando o prazo de doze meses para que seja sanada a omissatildeo

Na hipoacutetese de transcorrer in albis o mencionado prazo caberaacute ao Tribunal de Con-tas da Uniatildeo (TCU) a) fixar o valor do montante total a ser transferido aos Estados--membros e ao Distrito Federal considerando os criteacuterios dispostos no art 91 do ADCT para a fixaccedilatildeo do montante a ser transferido anualmente a saber as exportaccedilotildees para o exterior de produtos primaacuterios e semielaborados a relaccedilatildeo entre as exportaccedilotildees e as importaccedilotildees os creacuteditos decorrentes de aquisiccedilotildees destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenccedilatildeo e aproveitamento do creacutedito do imposto a que se refere o art 155 sect 2ordm X a do texto constitucional b) calcular o valor das quotas a que cada um deles faraacute jus considerando os entendimentos entre os Estados-membros e o Distrito Fe-deral realizados no acircmbito do Conselho Nacional de Poliacutetica Fazendaacuteria (CONFAZ)

404iacutendice de teses

1 ldquoArt 91 A Uniatildeo entregaraacute aos Estados e ao Distrito Federal o montante definido em lei comple-mentar de acordo com criteacuterios prazos e condiccedilotildees nela determinados podendo considerar as exportaccedilotildees para o exterior de produtos primaacuterios e semielaborados a relaccedilatildeo entre as exportaccedilotildees e as importaccedilotildees os creacuteditos decorrentes de aquisiccedilotildees destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenccedilatildeo e aproveitamento do creacutedito do imposto a que se refere o art 155 sect 2ordm X a sect 1ordm Do montante de recursos que cabe a cada Estado setenta e cinco por cento pertencem ao proacuteprio Estado e vinte e cinco por cento aos seus Municiacutepios distribuiacutedos segundo os criteacuterios a que se refere o art 158 paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo sect 2ordm A entrega de recursos prevista neste artigo perduraraacute conforme definido em lei complementar ateacute que o imposto a que se refere o art 155 II tenha o produto de sua arrecadaccedilatildeo destinado predominantemente em proporccedilatildeo natildeo inferior a oitenta por cento ao Estado onde ocorrer o consumo das mercadorias bens ou serviccedilos sect 3ordm Enquanto natildeo for editada a lei complementar de que trata o caput em substituiccedilatildeo ao sistema de entrega de recursos nele previsto permaneceraacute vigente o sistema de entrega de recursos previsto no art 31 e Anexo da Lei Complementar n 87 de 13 de setembro de 1996 com a redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar n 115 de 26 de dezembro de 2002 sect 4ordm Os Estados e o Distrito Federal deveratildeo apresentar agrave Uniatildeo nos termos das instruccedilotildees baixadas pelo Ministeacuterio da Fazenda as informaccedilotildees relativas ao imposto de que trata o art 155 II declaradas pelos contribuintes que realizarem operaccedilotildees ou prestaccedilotildees com destino ao exteriorrdquo

2 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () X ndash natildeo incidiraacute a) sobre operaccedilotildees que destinem mercadorias para o exterior nem sobre serviccedilos prestados a destinataacuterios no exterior assegurada a manutenccedilatildeo e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operaccedilotildees e prestaccedilotildees anterioresrdquo

3 ldquoArt 31 Nos exerciacutecios financeiros de 2003 a 2006 a Uniatildeo entregaraacute mensalmente recursos aos Estados e seus Municiacutepios obedecidos os montantes os criteacuterios os prazos e as demais condiccedilotildees fixadas no Anexo desta Lei Complementarrdquo

4 ADI 3682 rel min Gilmar Mendes P DJE de 6-9-2007

5 ldquoArt 66 A Casa na qual tenha sido concluiacuteda a votaccedilatildeo enviaraacute o projeto de lei ao Presidente da Re-puacuteblica que aquiescendo o sancionaraacute sect 1ordm Se o Presidente da Repuacuteblica considerar o projeto no todo ou em parte inconstitucional ou contraacuterio ao interesse puacuteblico vetaacute-lo-aacute total ou parcialmen-te no prazo de quinze dias uacuteteis contados da data do recebimento e comunicaraacute dentro de qua-renta e oito horas ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto sect 2ordm O veto parcial somente abrangeraacute texto integral de artigo de paraacutegrafo de inciso ou de aliacutenea sect 3ordm Decorrido o prazo de quinze dias o silecircncio do Presidente da Repuacuteblica importaraacute sanccedilatildeo sect 4ordm O veto seraacute apreciado em sessatildeo conjunta dentro de trinta dias a contar de seu recebimento soacute podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores sect 5ordm Se o veto natildeo for mantido seraacute o projeto enviado para promulgaccedilatildeo ao Presidente da Repuacuteblica sect 6ordm Esgotado sem deliberaccedilatildeo o prazo es-tabelecido no sect 4ordm o veto seraacute colocado na ordem do dia da sessatildeo imediata sobrestadas as demais proposiccedilotildees ateacute sua votaccedilatildeo final sect 7ordm Se a lei natildeo for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da Repuacuteblica nos casos dos sect 3ordm e sect 5ordm o Presidente do Senado a promulgaraacute e se este natildeo o fizer em igual prazo caberaacute ao Vice-Presidente do Senado fazecirc-lordquo

405iacutendice de teses

6 ldquoArt 64 A discussatildeo e votaccedilatildeo dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da Repuacuteblica do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores teratildeo iniacutecio na Cacircmara dos Deputados sect 1ordm O Presidente da Repuacuteblica poderaacute solicitar urgecircncia para apreciaccedilatildeo de projetos de sua iniciativa sect 2ordm Se no caso do sect 1ordm a Cacircmara dos Deputados e o Senado Federal natildeo se manifestarem sobre a proposiccedilatildeo cada qual sucessivamente em ateacute quarenta e cinco dias sobrestar-se-atildeo todas as demais deliberaccedilotildees legislativas da respectiva Casa com exceccedilatildeo das que tenham prazo constitucional de-terminado ateacute que se ultime a votaccedilatildeordquo

7 ADI 875 rel min Gilmar Mendes P DJE de 30-4-2010

406iacutendice de teses

A vedaccedilatildeo pela legislaccedilatildeo estadual ao aproveitamento dos creacuteditos do Impos-

to sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) gerados pela entrada

de insumos tributados quando o contribuinte faz opccedilatildeo pela tributaccedilatildeo da

saiacuteda das mercadorias com base de caacutelculo do imposto reduzida natildeo viola o

princiacutepio da natildeo cumulatividade1

O princiacutepio da natildeo cumulatividade natildeo confere direito absoluto e irrestrito com relaccedilatildeo aos creacuteditos escriturais do ICMS Dessa forma inexiste qualquer vedaccedilatildeo a restriccedilotildees quanto ao aproveitamento dos creacuteditos financeiros apurados na aquisiccedilatildeo de bens destinados ao ativo fixo do estabelecimento2

A reduccedilatildeo da base de caacutelculo do ICMS constitui isenccedilatildeo parcial e natildeo como ou-trora se considerava categoria autocircnoma em relaccedilatildeo tanto agrave isenccedilatildeo quanto agrave natildeo incidecircncia3

A norma prevista no inciso II do sect 2ordm do art 155 da Constituiccedilatildeo Federal4 ressalva que nas hipoacuteteses em que o contribuinte eacute favorecido com a concessatildeo pelo Fisco dos benefiacutecios fiscais da ldquoisenccedilatildeordquo e da ldquonatildeo incidecircnciardquo o direito ao creditamento do imposto pago nas operaccedilotildees anteriores eacute mitigado

Nesses casos o contribuinte somente pode se beneficiar dos creacuteditos do ICMS ainda que proporcionalmente ao benefiacutecio recebido se expressamente prevista a pos-sibilidade em legislaccedilatildeo estadual a teor do dispositivo constitucional citado

Assim concedido o benefiacutecio fiscal fica obstado o creacutedito para compensaccedilatildeo com o montante devido nas operaccedilotildees ou prestaccedilotildees seguintes bem como anulado o creacute-dito relativo agraves operaccedilotildees anteriores salvo determinaccedilatildeo em contraacuterio na legislaccedilatildeo

1 RE 584023 AgR-EDv-AgR rel min Celso de Mello P DJE de 12-12-2015

2 AI 856339 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 17-12-2015

3 RE 174478 ED rel min Cezar Peluso 2ordf T DJE de 13-5-2010

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

AI 765420 AgR-segundored p o ac min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 7-8-2017Informativo STF 855

407iacutendice de teses

4 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () II ndash operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e sobre prestaccedilotildees de serviccedilos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaccedilatildeo ainda que as operaccedilotildees e as prestaccedilotildees se iniciem no exterior () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () II ndash a isenccedilatildeo ou natildeo incidecircncia salvo determinaccedilatildeo em contraacuterio da legislaccedilatildeo a) natildeo implicaraacute creacutedito para compensaccedilatildeo com o montante devido nas operaccedilotildees ou prestaccedilotildees seguintes b) acarretaraacute a anulaccedilatildeo do creacutedito relativo agraves operaccedilotildees anterioresrdquo

408iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 que embora natildeo tenha criado propriamente

um novo benefiacutecio fiscal ampliou unilateralmente programas de incentivo

relativos ao Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sem

qualquer anuecircncia dos demais Estados e do Distrito Federal

A concessatildeo unilateral de benefiacutecios fiscais em mateacuteria de ICMS por Estado-mem-bro sem preacutevia aprovaccedilatildeo em convecircnio no acircmbito do Conselho Nacional de Poliacuteti-ca Fazendaacuteria (CONFAZ) viola o art 155 sect 2ordm XII g da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 e infringe os requisitos previstos na Lei Complementar 2419753 caracterizando hipoacutetese tiacutepica de ldquoguerra fiscalrdquo4

O art 155 sect 2ordm XII g da CF confere agrave lei complementar a atribuiccedilatildeo de ldquoregular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

Por sua vez a Lei Complementar 241975 deixa claro no art 1ordm que a exigecircncia de preacutevia celebraccedilatildeo de convecircnio no Confaz aplica-se a ldquoquaisquer outros incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais concedidos com base no Imposto de Circula-ccedilatildeo de Mercadorias dos quais resulte reduccedilatildeo ou eliminaccedilatildeo direta ou indireta do respectivo ocircnusrdquo

Inexiste na Constituiccedilatildeo reserva de iniciativa do Poder Executivo para apresentar projeto de lei concernente a mateacuteria tributaacuteria5 mesmo as que implicam renuacutencia de receita6 natildeo havendo inconstitucionalidade formal por viacutecio de iniciativa (CF art 257) em projeto de lei sobre essa mateacuteria iniciado por parlamentar

No mesmo sentido natildeo haacute afronta ao art 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 1012000)8 se a lei estadual natildeo amplia em abstrato a renuacutencia fiscal concedida pelos programas de incentivo mas apenas reintegra ao programa os contribuintes desligados por terem desatendido agraves condiccedilotildees nele antes fixadas

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

ADI 3796rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 856

409iacutendice de teses

Embora em regra natildeo se admita a modulaccedilatildeo de efeitos da decisatildeo em casos de lei estadual que incentive a guerra fiscal9 excepcionalmente se adota a modulaccedilatildeo para que a declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade produza efeitos ex nunc sob pena de punir as empresas que a tenham cumprido visto ter a lei estadual vigorado por muitos anos10

1 Lei 150542006 do Estado do Paranaacute que restabelece benefiacutecios fiscais relativos ao ICMS cance-lados no acircmbito dos programas ldquoBom Empregordquo ldquoParanaacute Mais Empregordquo e ldquoDesenvolvimento Econocircmico Tecnoloacutegico e Social do Paranaacuterdquo

2 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () XII ndash cabe agrave lei complementar () g) regular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

3 ldquoDispotildee sobre os convecircnios para a concessatildeo de isenccedilotildees do imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e daacute outras providecircnciasrdquo

4 Precedentes ADI 286 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 30-8-2002 ADI 1247 rel min Dias Toffoli P DJE de 17-8-2011 ADI 4152 rel min Cezar Peluso P DJE de 21-9-2011 ADI 2549 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 3-10-2011 ADI 3936 MC rel min Gilmar Mendes P DJE de 9-11-2007 ADI 3410 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 8-6-2007 ADI 3429 rel min Ayres Britto P DJ de 27-4-2007 ADI 3312 rel min Eros Grau P DJE de 9-3-2007 e ADI 2722 rel min Gilmar Mendes P DJ de 19-12-2006

5 Precedentes ADI 724 MC rel min Celso de Mello P DJ de 27-4-2001 ADI 2464 rel min Ellen Gracie P DJE de 25-5-2007 e ADI 2724 rel min Gilmar Mendes P DJ de 2-4-2004

6 Precedente ARE 743480 RG rel min Gilmar Mendes P DJE de 20-11-2013

7 ldquoArt 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituiccedilotildees e leis que adotarem observados os princiacutepios desta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo reservadas aos Estados as competecircncias que natildeo lhes sejam vedadas por esta Constituiccedilatildeo sect 2ordm Cabe aos Estados explorar diretamente ou mediante con-cessatildeo os serviccedilos locais de gaacutes canalizado na forma da lei vedada a ediccedilatildeo de medida provisoacuteria para a sua regulamentaccedilatildeo sect 3ordm Os Estados poderatildeo mediante lei complementar instituir regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e microrregiotildees constituiacutedas por agrupamentos de muni-ciacutepios limiacutetrofes para integrar a organizaccedilatildeo o planejamento e a execuccedilatildeo de funccedilotildees puacuteblicas de interesse comumrdquo

8 ldquoArt 14 A concessatildeo ou ampliaccedilatildeo de incentivo ou benefiacutecio de natureza tributaacuteria da qual decorra renuacutencia de receita deveraacute estar acompanhada de estimativa do impacto orccedilamentaacuterio-financeiro no exerciacutecio em que deva iniciar sua vigecircncia e nos dois seguintes atender ao disposto na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias e a pelo menos uma das seguintes condiccedilotildees I ndash demonstraccedilatildeo pelo proponente de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria na forma do art 12 e de que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstas no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedila-

410iacutendice de teses

mentaacuterias II ndash estar acompanhada de medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado no caput por meio do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo da base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ou contribuiccedilatildeo sect 1ordm A renuacutencia compreende anistia remissatildeo sub-siacutedio creacutedito presumido concessatildeo de isenccedilatildeo em caraacuteter natildeo geral alteraccedilatildeo de aliacutequota ou modi-ficaccedilatildeo de base de caacutelculo que implique reduccedilatildeo discriminada de tributos ou contribuiccedilotildees e outros benefiacutecios que correspondam a tratamento diferenciado sect 2ordm Se o ato de concessatildeo ou ampliaccedilatildeo do incentivo ou benefiacutecio de que trata o caput deste artigo decorrer da condiccedilatildeo contida no inciso II o benefiacutecio soacute entraraacute em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso sect 3ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica I ndash agraves alteraccedilotildees das aliacutequotas dos impostos previstos nos incisos I II IV e V do art 153 da Constituiccedilatildeo na forma do seu sect 1ordm II ndash ao cancelamento de deacutebito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobranccedilardquo

9 ADI 3794 ED rel min Roberto Barroso P DJE de 25-2-2015

10 ADI 4481 rel min Roberto Barroso P DJE de 19-5-2015

411iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei municipal que veicule exclusatildeo de valores da base de

caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) fora das

hipoacuteteses previstas em lei complementar nacional1

Tal previsatildeo2 invade a competecircncia da Uniatildeo para estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria (CF art 146 III a3) Isso caracteriza viacutecio formal de inconstitucionalidade4

Cabe destacar que ldquoo art 7ordm da Lei Complementar 1162003 foi categoacuterico ao considerar como base de caacutelculo o preccedilo do serviccedilo sem nenhuma outra exclusatildeo que natildeo a definida em seu sect 2ordm I5 o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviccedilos previstos nos itens 702 e 705 da lista de serviccedilos anexa Logo em alguns serviccedilos relacionados a obras de construccedilatildeo civil o valor dos materiais fornecidos pelo prestador do serviccedilo fica excluiacutedo da base de caacutelculordquo6

Assim ldquoa lei complementar quando o quis fez expressa exclusatildeo de valores da base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos (ISS) Natildeo cabe por conseguinte cogitar de omissatildeo mas de silecircncio eloquente do legislador nacional Por isso natildeo haacute espaccedilo para que os Municiacutepios a pretexto de detalhar aspectos natildeo abordados pela lei na-cional de Direito Tributaacuterio subtraiam da base de caacutelculo do ISS aquilo que natildeo foi expressamente autorizado pela Lei Complementar 1162003rdquo7

Com efeito ldquoo preccedilo do serviccedilo considerada a receita bruta refere-se ao total do valor percebido a tiacutetulo oneroso e em caraacuteter negocial pela prestaccedilatildeo da atividade a terceira pessoa A pessoa a quem se presta o serviccedilo natildeo eacute sujeito passivo do ISS mas o prestador (Lei Complementar 1162003 art 5ordm)rdquo8

Diante disso ldquoos tributos federais que oneram a prestaccedilatildeo do serviccedilo satildeo inde-pendentemente do destinataacuterio ou da qualificaccedilatildeo contaacutebil que se lhes decirc embutidos no preccedilo do serviccedilo e por conseguinte compotildeem a base de caacutelculo do tributo por falta de previsatildeo em contraacuterio da lei complementar nacionalrdquo9

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN)

ADPF 190rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 27-4-2017Informativo STF 841

412iacutendice de teses

Tambeacutem eacute incompatiacutevel com o texto constitucional medida fiscal que resulte

indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida pelo art 88 do

Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT) a partir da redu-

ccedilatildeo da carga tributaacuteria incidente sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilo na territoriali-

dade do ente tributante

Haacute violaccedilatildeo do art 88 I e II do ADCT10 incluiacutedo pela Emenda Constitucional 372002 o qual fixou aliacutequota miacutenima para os fatos geradores do ISSQN assim como vedou a concessatildeo de isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais que resultasse direta ou indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida11

1 O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos dispositivos da norma impugna-da (arts 190 sect 2ordm II e 191 sect 6ordm II e sect 7ordm da Lei 26141997 do Municiacutepio de Estacircncia Hidromineral de Poaacute) e determinou a modulaccedilatildeo prospectiva dos efeitos temporais da declaraccedilatildeo de inconstitu-cionalidade a contar da data do deferimento da medida cautelar em 15-12-2015

2 Lei 26141997 do Municiacutepio de Estacircncia Hidromineral de Poaacute na redaccedilatildeo dada pelas Leis 32692007 e 32762007 ldquoArt 190 A base de caacutelculo do imposto eacute o preccedilo do serviccedilo assim consi-derada a receita bruta () sect 2ordm Natildeo seratildeo incluiacutedos no preccedilo do serviccedilo (hellip) II ndash os seguintes tribu-tos federais relativos agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos tributaacuteveis ocorridos no mesmo mecircs de competecircncia a) Imposto de Renda de Pessoa Juriacutedica b) Contribuiccedilatildeo Social Sobre o Lucro Liacutequido c) PISPASEP d) COFINS Art 191 A base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos eacute o preccedilo do serviccedilo as-sim considerada a receita bruta a qual se aplica mensalmente a aliacutequota constante na Tabela XVI do artigo 184 (hellip) sect 6ordm Natildeo seratildeo incluiacutedos no preccedilo do serviccedilo (hellip) II ndash os seguintes tributos federais relativos agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos tributaacuteveis ocorridos no mesmo mecircs de competecircncia a) Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica b) Contribuiccedilatildeo Social Sobre o Lucro Liacutequido c) PISPASEP d) COFINS sect 7ordm Na prestaccedilatildeo de serviccedilo a que se refere o subitem 1509 da Lista de Serviccedilos natildeo seraacute incluiacutedo no preccedilo do serviccedilo o valor do bem na proporccedilatildeo do valor arrendadordquo

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar III ndash estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tribu-taacuteria especialmente sobre a) definiccedilatildeo de tributos e de suas espeacutecies bem como em relaccedilatildeo aos impostos discriminados nesta Constituiccedilatildeo a dos respectivos fatos geradores bases de caacutelculo e contribuintesrdquo

4 RE 567935 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 4-11-2014 ADI 1945 MC red p o ac min Gilmar Mendes P DJE de 14-3-2011 e ADI 1951 MC rel min Nelson Jobim P DJ de 17-12-1999

5 ldquoArt 7ordm A base de caacutelculo do imposto eacute o preccedilo do serviccedilo () sect 2ordm Natildeo se incluem na base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza I ndash o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviccedilos previstos nos itens 702 e 705 da lista de serviccedilos anexa a esta Lei Complementarrdquo

6 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica adotado como razotildees de decidir

7 Idem

413iacutendice de teses

8 Idem

9 Idem

10 ldquoArt 88 Enquanto lei complementar natildeo disciplinar o disposto nos incisos I e III do sect 3ordm do art 156 da Constituiccedilatildeo Federal o imposto a que se refere o inciso III do caput do mesmo artigo I ndash teraacute aliacutequota miacutenima de dois por cento exceto para os serviccedilos a que se referem os itens 32 33 e 34 da Lista de Serviccedilos anexa ao Decreto-Lei n 406 de 31 de dezembro de 1968 II ndash natildeo seraacute objeto de concessatildeo de isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais que resulte direta ou indiretamente na redu-ccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida no inciso Irdquo

11 Vide nota 2

414iacutendice de teses

As operadoras de planos privados de assistecircncia agrave sauacutede (plano de sauacutede e

seguro-sauacutede) realizam prestaccedilatildeo de serviccedilo sujeita ao Imposto Sobre Servi-

ccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) previsto no art 156 III da Constituiccedilatildeo

Federal (CF)1

O dispositivo constitucional ao referir-se a serviccedilos de qualquer natureza natildeo os restringiu agraves tiacutepicas obrigaccedilotildees de fazer jaacute que raciociacutenio adverso conduziria agrave afir-maccedilatildeo de que haveria serviccedilo apenas nas prestaccedilotildees de fazer nos termos do que define o Direito Privado O que se verifica eacute maior amplitude semacircntica do termo adotado pela Constituiccedilatildeo Federal a qual inevitavelmente leva agrave ampliaccedilatildeo da com-petecircncia tributaacuteria na incidecircncia do ISSQN2

O conceito de prestaccedilatildeo de serviccedilo para efeito da incidecircncia do tributo estaacute re-lacionado ao oferecimento de uma utilidade para outrem a partir de conjunto de atividades materiais ou imateriais prestadas com habitualidade e intuito de lucro podendo estar conjugada ou natildeo com a entrega de bens ao tomador

Ademais por forccedila do comando constitucional expresso no art 156 III reforccedilado pela prescriccedilatildeo da aliacutenea a do inciso III do art 146 cc o inciso I do art 146 da CF3 o constituinte remete agrave lei complementar a funccedilatildeo de definir o conceito ldquode serviccedilos de qualquer naturezardquo o que eacute efetuado pela Lei Complementar 11620034

1 ldquoArt 156 Compete aos Municiacutepios instituir impostos sobre () III ndash serviccedilos de qualquer natureza natildeo compreendidos no art 155 II definidos em lei complementarrdquo

2 RE 547245 rel min Eros Grau P DJ de 5-3-2010

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar I ndash dispor sobre conflitos de competecircncia em mateacuteria tributaacute-ria entre a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios () III ndash estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria especialmente sobre a) definiccedilatildeo de tributos e de suas espeacutecies bem como em relaccedilatildeo aos impostos discriminados nesta Constituiccedilatildeo a dos respectivos fatos gera-dores bases de caacutelculo e contribuintesrdquo

RE 651703RG ‒ Tema 581rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 26-4-2017Informativo STF 841

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) ‒ Repercussatildeo Geral

415iacutendice de teses

4 ldquoArt 1ordm O Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza de competecircncia dos Municiacutepios e do Distrito Federal tem como fato gerador a prestaccedilatildeo de serviccedilos constantes da lista anexa ainda que esses natildeo se constituam como atividade preponderante do prestador (hellip) 422 ndash Planos de medicina de grupo ou individual e convecircnios para prestaccedilatildeo de assistecircncia meacutedica hospitalar odontoloacutegica e congecircneres 423 ndash Outros planos de sauacutede que se cumpram atraveacutes de serviccedilos de terceiros contratados credenciados cooperados ou apenas pagos pelo operador do plano median-te indicaccedilatildeo do beneficiaacuteriordquo

416iacutendice de teses

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) natildeo compotildee

a base de caacutelculo para a incidecircncia da contribuiccedilatildeo para o PIS e da Cofins1

A parcela correspondente ao ICMS pago natildeo tem natureza de faturamento2 nem mesmo de receita mas de simples ingresso de caixa Assim enquanto o montante de ICMS circula pela contabilidade dos sujeitos passivos das contribuiccedilotildees eles ape-nas obtecircm ingresso de caixa de valores que natildeo lhes pertencem

Em assim sendo o montante de ICMS nessas situaccedilotildees natildeo se incorpora ao patri-mocircnio dos sujeitos passivos das contribuiccedilotildees porque tais valores satildeo destinados aos cofres puacuteblicos dos Estados-membros ou do Distrito Federal

Aleacutem disso o mesmo ocorre especificamente com o contribuinte posicionado no meio da cadeia produtiva pois embora nem todo o montante do ICMS seja imedia-tamente recolhido (pelo sujeito passivo da obrigaccedilatildeo tributaacuteria) ele seraacute recolhido e tambeacutem natildeo constitui receita daquele contribuinte

A anaacutelise juriacutedica do princiacutepio da natildeo cumulatividade aplicado ao ICMS haacute que levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo normativo do art 155 sect 2ordm I da Constituiccedilatildeo Federal3 ou seja examinar a natildeo cumulatividade a cada operaccedilatildeo

Nesse sentido ainda que contabilmente o valor do ICMS seja escriturado ele natildeo se relaciona com a definiccedilatildeo constitucional de faturamento para fins de apuraccedilatildeo da base de caacutelculo das contribuiccedilotildees

Portanto ainda que natildeo no mesmo momento o valor do ICMS tem como desti-nataacuterio fiscal a Fazenda Puacuteblica para a qual seraacute transferido

Eacute igualmente verdadeiro que tambeacutem o momento das diferentes operaccedilotildees natildeo pode alterar o regime de aplicaccedilatildeo de tributaccedilatildeo em um sistema que se caracteriza pela compensaccedilatildeo para se chegar agrave inacumulatividade constitucionalmente qualifi-cadora do tributo

Ademais se o art 3ordm sect 2ordm I in fine da Lei 971819984 excluiu da base de caacutelculo daquelas contribuiccedilotildees sociais o ICMS transferido integralmente para os Estados

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees para a seguridade social ‒ Repercussatildeo Geral

RE 574706RG ‒ Tema 69rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 2-10-2017Informativo STF 857

417iacutendice de teses

natildeo haacute como excluir a transferecircncia parcial decorrente do regime de natildeo cumulativi-dade em determinado momento da dinacircmica das operaccedilotildees

1 RE 240785 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 16-12-2014

2 RE 346084 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 RE 358273 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 RE 357950 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 e RE 390840 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006

3 ldquoArt 155 () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte I ndash seraacute natildeo cumulativo compensando-se o que for devido em cada operaccedilatildeo relativa agrave circulaccedilatildeo de mercadorias ou pres-taccedilatildeo de serviccedilos com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federalrdquo

4 ldquoArt 3ordm () sect 2ordm Para fins de determinaccedilatildeo da base de caacutelculo das contribuiccedilotildees a que se refere o art 2ordm excluem-se da receita bruta I ndash (hellip) o Imposto sobre Operaccedilotildees relativas agrave Circulaccedilatildeo de Mercadorias e sobre Prestaccedilotildees de Serviccedilos de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Co-municaccedilatildeo ndash ICMS quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos serviccedilos na condiccedilatildeo de substituto tributaacuteriordquo (Revogado pela Lei 129732014)

418iacutendice de teses

Eacute inconstitucional por ofensa ao princiacutepio da legalidade tributaacuteria lei que

delega aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas a compe-

tecircncia de fixar ou majorar sem paracircmetro legal o valor das contribuiccedilotildees

de interesse das categorias profissionais e econocircmicas usualmente cobradas

sob o tiacutetulo de anuidades vedada ademais a atualizaccedilatildeo desse valor pelos

conselhos em percentual superior aos iacutendices legalmente previstos

A remessa ao ato infralegal natildeo pode resultar em desapoderamento do legislador para tratar de elementos tributaacuterios essenciais Para o respeito do princiacutepio da lega-lidade (CF art 150 I1) eacute essencial que a lei (em sentido estrito) prescreva o limite maacuteximo do valor da exaccedilatildeo ou os criteacuterios para encontraacute-lo o que natildeo ocorreu no caso em tela

A ideia de legalidade no tocante agraves contribuiccedilotildees instituiacutedas no interesse de catego-rias profissionais ou econocircmicas eacute de fim ou de resultado notadamente em razatildeo de a Constituiccedilatildeo natildeo ter traccedilado as linhas de seus pressupostos de fato ou o fato gerador

Como nessas contribuiccedilotildees existe um quecirc de atividade estatal prestada em benefiacute-cio direto ao contribuinte ou a grupo eacute imprescindiacutevel uma faixa de indeterminaccedilatildeo e de complementaccedilatildeo administrativa de seus elementos configuradores dificilmente apreendidos pela legalidade fechada2

No entanto a lei que autoriza os conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regula-mentadas a fixar as anuidades devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas natildeo estabelece expectativas Cria-se assim uma situaccedilatildeo de instabilidade institucional ao deixar ao puro arbiacutetrio do administrador o estabelecimento do valor da exaccedilatildeo Afinal natildeo haacute previsatildeo legal de qualquer limite maacuteximo para a fixaccedilatildeo do valor da anuidade

Diversamente respeita o princiacutepio da legalidade a lei que disciplina os elementos essenciais determinantes para o reconhecimento da contribuiccedilatildeo de interesse de ca-tegoria econocircmica como tal e deixa espaccedilo de complementaccedilatildeo para o regulamento A lei autorizadora em todo caso deve ser legitimamente justificada e o diaacutelogo com

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees profissionais ‒ Repercussatildeo Geral

RE 704292RG ‒ Tema 540rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 844

419iacutendice de teses

o regulamento deve-se dar em termos de subordinaccedilatildeo desenvolvimento e comple-mentariedade

Diante disso foi declarada a inconstitucionalidade material sem reduccedilatildeo de texto do art 2ordm da Lei 1100020043 de forma a excluir de sua incidecircncia a autorizaccedilatildeo para os conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas fixarem as contribuiccedilotildees anuais devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas e por arrastamento da integralidade do seu sect 1ordm

Por fim na esteira do assentado no RE 838284 (DJE de 22-9-2017) e nas ADI 4697 e ADI 4762 (DJE de 30-3-2017) as inconstitucionalidades presentes na Lei 110002004 natildeo se estendem agraves Leis 69941982 e 125142011 Essas duas leis satildeo constitucionais no tocante agraves anuidades devidas aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regula-mentadas haja vista que elas aleacutem de prescreverem o teto da exaccedilatildeo realizam o diaacutelogo com o ato normativo infralegal em termos de subordinaccedilatildeo de desenvolvi-mento e de complementariedade

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios I ndash exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleccedilardquo

2 RE 343446 rel min Carlos Velloso P DJ de 4-4-2003 e RE 290079 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 4-4-2003

3 ldquoArt 2ordm Os Conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas satildeo autorizados a fixar cobrar e executar as contribuiccedilotildees anuais devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas bem como as multas e os preccedilos de serviccedilos relacionados com suas atribuiccedilotildees legais que constituiratildeo receitas proacuteprias de cada Conselho sect 1ordm Quando da fixaccedilatildeo das contribuiccedilotildees anuais os Conselhos deveratildeo levar em consideraccedilatildeo as profissotildees regulamentadas de niacuteveis superior teacutecnico e auxiliarrdquo

420iacutendice de teses

Satildeo constitucionais os dispositivos da Lei 125142011 que dizem respeito agrave

fixaccedilatildeo de anuidades devidas aos conselhos profissionais

Sob o aspecto formal natildeo haacute violaccedilatildeo agrave reserva de lei complementar Essa forma eacute dispensaacutevel para a criaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de intervenccedilatildeo no domiacutenio econocircmico e de interesse das categorias profissionais1

Natildeo procede a alegaccedilatildeo de ausecircncia de pertinecircncia temaacutetica entre a emenda par-lamentar incorporada agrave Medida Provisoacuteria 5362011 e o tema das contribuiccedilotildees devi-das aos conselhos profissionais em geral Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha afirmado na ADI 51272 ldquonatildeo ser compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo a apresenta-ccedilatildeo de emendas sem relaccedilatildeo de pertinecircncia temaacutetica com medida provisoacuteria subme-tida a sua apresentaccedilatildeordquo tendo em vista que foi emprestada eficaacutecia prospectiva ao julgamento dessa accedilatildeo direta os efeitos desse entendimento natildeo se aplicam agrave medida provisoacuteria em questatildeo

Sob o aspecto material a Lei 125142011 observou a capacidade contributiva dos contribuintes pois estabeleceu razoaacutevel correlaccedilatildeo entre a desigualdade educa-cional e a provaacutevel disparidade de rendas auferidas do labor de pessoa fiacutesica Aleacutem disso haacute diferenciaccedilatildeo dos valores das anuidades baseada no capital social da pessoa juriacutedica contribuinte

Natildeo ocorre violaccedilatildeo ao princiacutepio da reserva legal O diploma impugnado eacute jus-tamente a lei em sentido formal que disciplina a mateacuteria referente agrave instituiccedilatildeo das contribuiccedilotildees sociais de interesse profissional para aqueles conselhos previstos no art 3ordm da Lei 1251420113

No tocante agrave legalidade tributaacuteria estrita eacute adequada e suficiente a determinaccedilatildeo do mandamento tributaacuterio no bojo da lei impugnada por meio da fixaccedilatildeo de tetos aos criteacuterios materiais das hipoacuteteses de incidecircncia das contribuiccedilotildees profissionais agrave luz da chave analiacutetica formada pelas categorias da praticabilidade e da parafiscalidade

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees profissionais

ADI 4697ADI 4762rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 30-3-2017Informativo STF 842

421iacutendice de teses

Cabe lembrar que os conselhos profissionais satildeo autarquias de iacutendole federal4 e tendo em conta que a fiscalizaccedilatildeo deles envolve o exerciacutecio de poder de poliacutecia de tributar e de punir estabeleceu-se serem as anuidades cobradas pelos conselhos pro-fissionais tributos da espeacutecie ldquocontribuiccedilotildees de interesse das categorias profissionaisrdquo nos termos do art 149 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica5 6 e 7

Diante disso foi declarada a constitucionalidade dos arts 3ordm8 4ordm9 6ordm10 7ordm11 8ordm12 9ordm13 1014 e 1115 da Lei 125142011

1 AI 739715 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 19-6-2009 e RE 451915 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 1ordm-12-2006

2 ldquoEmenta Direito constitucional Controle de constitucionalidade Emenda parlamentar em pro-jeto de conversatildeo de medida provisoacuteria em lei Conteuacutedo temaacutetico distinto daquele originaacuterio da medida provisoacuteria Praacutetica em desacordo com o princiacutepio democraacutetico e com o devido processo legal (devido processo legislativo) 1 Viola a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica notadamente o princiacutepio democraacutetico e o devido processo legislativo (arts 1ordm caput paraacutegrafo uacutenico 2ordm caput 5ordm caput e LIV CRFB) a praacutetica da inserccedilatildeo mediante emenda parlamentar no processo legislativo de conver-satildeo de medida provisoacuteria em lei de mateacuterias de conteuacutedo temaacutetico estranho ao objeto originaacuterio da medida provisoacuteria 2 Em atenccedilatildeo ao princiacutepio da seguranccedila juriacutedica (arts 1ordm e 5ordm XXXVI

CRFB) mantecircm-se hiacutegidas todas as leis de conversatildeo fruto dessa praacutetica promulgadas ateacute a

data do presente julgamento inclusive aquela impugnada nesta accedilatildeo 3 Accedilatildeo direta de incons-titucionalidade julgada improcedente por maioria de votosrdquo (Ementa da ADI 5127 red p o ac min Edson Fachin DJE de 23-9-2016 ndash Sem grifos no original)

3 ldquoArt 3ordm As disposiccedilotildees aplicaacuteveis para valores devidos a conselhos profissionais quando natildeo existir disposiccedilatildeo a respeito em lei especiacutefica satildeo as constantes desta Lei Paraacutegrafo uacutenico Aplica-se esta Lei tambeacutem aos conselhos profissionais quando lei especiacutefica I ndash estabelecer a cobranccedila de valores expressos em moeda ou unidade de referecircncia natildeo mais existente II ndash natildeo especificar valores mas delegar a fixaccedilatildeo para o proacuteprio conselhordquo

4 MS 10272 rel min Victor Nunes P DJ de 11-7-1963 e MS 22643 rel min Moreira Alves P DJ de 4-12-1998

5 ldquoArt 149 Compete exclusivamente agrave Uniatildeo instituir contribuiccedilotildees sociais de intervenccedilatildeo no domiacute-nio econocircmico e de interesse das categorias profissionais ou econocircmicas como instrumento de sua atuaccedilatildeo nas respectivas aacutereas observado o disposto nos arts 146 III e 150 I e III e sem prejuiacutezo do previsto no art 195 sect 6ordm relativamente agraves contribuiccedilotildees a que alude o dispositivo sect 1ordm Os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo contribuiccedilatildeo cobrada de seus servidores para o custeio em benefiacutecio destes do regime previdenciaacuterio de que trata o art 40 cuja aliacutequota natildeo seraacute inferior agrave da contribuiccedilatildeo dos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo sect 2ordm As contribuiccedilotildees sociais e de intervenccedilatildeo no domiacutenio econocircmico de que trata o caput deste artigo I ndash natildeo incidiratildeo sobre as receitas decorrentes de exportaccedilatildeo II ndash incidiratildeo tambeacutem sobre a importaccedilatildeo de produtos estran-geiros ou serviccedilos III ndash poderatildeo ter aliacutequotas a) ad valorem tendo por base o faturamento a receita

422iacutendice de teses

bruta ou o valor da operaccedilatildeo e no caso de importaccedilatildeo o valor aduaneiro b) especiacutefica tendo por base a unidade de medida adotada sect 3ordm A pessoa natural destinataacuteria das operaccedilotildees de importaccedilatildeo poderaacute ser equiparada a pessoa juriacutedica na forma da lei sect 4ordm A lei definiraacute as hipoacuteteses em que as contribuiccedilotildees incidiratildeo uma uacutenica vezrdquo

6 MS 21797 rel min Carlos Velloso P DJ de 18-5-2001

7 ADI 1717 rel min Sydney Sanches P DJ de 28-3-2003

8 ldquoArt 3ordm As disposiccedilotildees aplicaacuteveis para valores devidos a conselhos profissionais quando natildeo existir disposiccedilatildeo a respeito em lei especiacutefica satildeo as constantes desta Lei Paraacutegrafo uacutenico Aplica-se esta Lei tambeacutem aos conselhos profissionais quando lei especiacutefica I ndash estabelecer a cobranccedila de valores expressos em moeda ou unidade de referecircncia natildeo mais existente II ndash natildeo especificar valores mas delegar a fixaccedilatildeo para o proacuteprio conselhordquo

9 ldquoArt 4ordm Os Conselhos cobraratildeo I ndash multas por violaccedilatildeo da eacutetica conforme disposto na legislaccedilatildeo II ndash anuidades e III ndash outras obrigaccedilotildees definidas em lei especialrdquo

10 ldquoArt 6ordm As anuidades cobradas pelo conselho seratildeo no valor de I ndash para profissionais de niacutevel superior ateacute R$ 50000 (quinhentos reais) II ndash para profissionais de niacutevel teacutecnico ateacute R$ 25000 (duzentos e cinquenta reais) e III ndash para pessoas juriacutedicas conforme o capital social os seguintes valores maacuteximos a) ateacute R$ 5000000 (cinquenta mil reais) R$ 50000 (quinhentos reais) b) acima de R$ 5000000 (cinquenta mil reais) e ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais) R$ 100000 (mil reais) c) acima de R$ 20000000 (duzentos mil reais) e ateacute R$ 50000000 (quinhentos mil reais) R$ 150000 (mil e quinhentos reais) d) acima de R$ 50000000 (quinhentos mil reais) e ateacute R$ 100000000 (um milhatildeo de reais) R$ 200000 (dois mil reais) e) acima de R$ 100000000 (um milhatildeo de reais) e ateacute R$ 200000000 (dois milhotildees de reais) R$ 250000 (dois mil e quinhentos reais) f ) acima de R$ 200000000 (dois milhotildees de reais) e ateacute R$ 1000000000 (dez milhotildees de reais) R$ 300000 (trecircs mil reais) g) acima de R$ 1000000000 (dez milhotildees de reais) R$ 400000 (quatro mil reais) sect 1ordm Os valores das anuidades seratildeo reajustados de acordo com a variaccedilatildeo integral do Iacutendice Nacional de Preccedilos ao Consumidor ndash INPC calculado pela Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE ou pelo iacutendice oficial que venha a substituiacute-lo sect 2ordm O valor exato da anuidade o desconto para profissionais receacutem-inscritos os criteacuterios de isenccedilatildeo para profissionais as regras de recuperaccedilatildeo de creacuteditos as regras de parcelamento garantido o miacutenimo de 5 (cinco) vezes e a concessatildeo de descontos para pagamento antecipado ou agrave vista seratildeo estabelecidos pelos respectivos conselhos federaisrdquo

11 ldquoArt 7ordm Os Conselhos poderatildeo deixar de promover a cobranccedila judicial de valores inferiores a 10 (dez) vezes o valor de que trata o inciso I do art 6ordmrdquo

12 ldquoArt 8ordm Os Conselhos natildeo executaratildeo judicialmente diacutevidas referentes a anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa fiacutesica ou juriacutedica inadimplente Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput natildeo limitaraacute a realizaccedilatildeo de medidas administrativas de cobranccedila a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees por violaccedilatildeo da eacutetica ou a suspensatildeo do exerciacutecio profissionalrdquo

13 ldquoArt 9ordm A existecircncia de valores em atraso natildeo obsta o cancelamento ou a suspensatildeo do registro a pedidordquo

423iacutendice de teses

14 ldquoArt 10 O percentual da arrecadaccedilatildeo destinado ao conselho regional e ao conselho federal respec-tivo eacute o constante da legislaccedilatildeo especiacuteficardquo

15 ldquoArt 11 O valor da Taxa de Anotaccedilatildeo de Responsabilidade Teacutecnica ndash ART prevista na Lei n 6496 de 7 de dezembro de 1977 natildeo poderaacute ultrapassar R$ 15000 (cento e cinquenta reais) Paraacutegrafo uacutenico O valor referido no caput seraacute atualizado anualmente de acordo com a variaccedilatildeo integral do Iacutendice Nacional de Preccedilos ao Consumidor ndash INPC calculado pela Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE ou iacutendice oficial que venha a substituiacute-lordquo

424iacutendice de teses

Natildeo viola a legalidade tributaacuteria lei que prescrevendo o teto possibilita ao

ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporccedilatildeo razoaacutevel com os

custos da atuaccedilatildeo estatal valor esse que natildeo pode ser atualizado por ato do

proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de corre-

ccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos

O princiacutepio da reserva de lei natildeo eacute absoluto Eacute possiacutevel haver maior ou menor aber-tura dos tipos tributaacuterios dependendo da natureza e da estrutura do tributo a que se aplica

Com relaccedilatildeo agraves taxas cobradas em razatildeo do exerciacutecio do poder de poliacutecia por forccedila da ausecircncia de exauriente e minuciosa definiccedilatildeo legal dos serviccedilos compreen-didos admite-se o especial diaacutelogo da lei com os regulamentos na fixaccedilatildeo do aspecto quantitativo da regra matriz de incidecircncia

A lei autorizadora deve ser legitimamente justificada e o diaacutelogo com o regulamen-to deve-se dar em termos de subordinaccedilatildeo desenvolvimento e complementariedade

Alguns criteacuterios devem ser observados para aferir a constitucionalidade da norma regulamentar ldquoa) a delegaccedilatildeo pode ser retirada daquele que a recebeu a qualquer momento por decisatildeo do Congresso b) o Congresso fixa standards ou padrotildees que limitam a accedilatildeo do delegado c) razoabilidade da delegaccedilatildeordquo1

A razatildeo autorizadora da delegaccedilatildeo dessa atribuiccedilatildeo anexa agrave competecircncia tributaacute-ria estaacute justamente na maior capacidade de a Administraccedilatildeo Puacuteblica por estar estrei-tamente ligada agrave atividade estatal direcionada a contribuinte conhecer da realidade e dela extrair elementos para complementar o aspecto quantitativo da taxa visando encontrar com maior grau de proximidade (quando comparado com o legislador) a razoaacutevel equivalecircncia do valor da exaccedilatildeo com os custos que ela pretende ressarcir

A taxa devida pela anotaccedilatildeo de responsabilidade teacutecnica na forma do art 2ordm paraacute-grafo uacutenico da Lei 699419822 insere-se nesse contexto

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Taxas Ȥ Ato normativo infralegal ‒ Valor da taxa ‒ Repercussatildeo Geral

RE 838284RG ‒ Tema 829rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 22-9-2017Informativo STF 844

425iacutendice de teses

Os conselhos de fiscalizaccedilatildeo por estarem mais proacuteximos da atividade-fim do que o legislador podem complementar com mais conhecimento e razoabilidade o as-pecto quantitativo da taxa de anotaccedilatildeo de responsabilidade teacutecnica Esse quantitativo soacute natildeo pode ser atualizado por ato do proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de correccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos

1 RE 343446 rel min Carlos Velloso P DJ de 4-4-2003

2 ldquoArt 2ordm () Paraacutegrafo uacutenico O disposto neste artigo natildeo se aplica agraves taxas referentes agrave Anotaccedilatildeo de Responsabilidade Teacutecnica ndash ART criada pela Lei n 6496 de 7 de dezembro de 1977 as quais poderatildeo ser fixadas observado o limite maacuteximo de 5 MRV [Maior Valor de Referecircncia]rdquo

426iacutendice de teses

As taxas municipais de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento natildeo podem ter como

base de caacutelculo o nuacutemero de empregados ou ramo de atividade exercida pelo

contribuinte

ldquoA taxa eacute um tributo contraprestacional (vinculado) usado na remuneraccedilatildeo de uma atividade especiacutefica seja serviccedilo ou exerciacutecio do poder de poliacutecia e por isso natildeo se ateacutem a signos presuntivos de riqueza As taxas comprometem-se tatildeo somente com o custo do serviccedilo especiacutefico e divisiacutevel que as motiva ou com a atividade de poliacutecia desenvolvidardquo1

O nuacutemero de empregados eacute um indiacutecio insuficiente para fundamentar maior de-manda pelo serviccedilo de fiscalizaccedilatildeo desempenhado pelo Estado

Aleacutem disso o criteacuterio da atividade exercida pelo contribuinte para se aferir o custo do exerciacutecio do poder de poliacutecia desvincula-se do maior ou menor trabalho ou ativi-dade que o poder puacuteblico se vecirc obrigado a desempenhar

Por fim o valor da taxa deve refletir tanto quanto possiacutevel natildeo apenas a intensi-dade do exerciacutecio do poder de poliacutecia mas tambeacutem sua extensatildeo e periodicidade2

1 RE 554951 AgR rel min Dias Toffoli P DJE de 19-11-2013

2 RE 220316 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 29-6-2001

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Taxas Ȥ Taxa de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento

RE 990914rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 19-9-2017Informativo STF 870

427

IacuteNDICE DE TESES

Direito Administrativo

Atos administrativos

Meacuterito administrativo

Controle do meacuterito

Eacute vedado ao Poder Judiciaacuterio analisar o meacuterito de ato administrativo 14

Aumento de vencimento legalmente concedido com data predeterminada

para iniacutecio de eficaacutecia caracteriza aquisiccedilatildeo de direito 14

Contratos administrativos

Execuccedilatildeo dos contratos

Responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado

natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabilida-

de pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou subsidiaacuterio nos termos do

art 71 sect 1ordm da Lei 86661993 16

Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Controle judicial

Mandado de seguranccedila ndash Repercussatildeo Geral

Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisiccedilatildeo

ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do oacutergatildeo

competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo uacutenico da

Lei 105592002 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequido e certo 19

Havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees

devidas aos anistiados poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibili-

dade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado no

prazo de sessenta dias 20

Mandado de seguranccedila

A instauraccedilatildeo de processo especiacutefico de anulaccedilatildeo de anistia caracteriza ato im-

pugnaacutevel capaz de por si soacute viabilizar impugnaccedilatildeo pela via mandamental 22

428

Intervenccedilatildeo do Estado na propriedade

Expropriaccedilatildeo

Demonstraccedilatildeo de culpa ndash Repercussatildeo Geral

A expropriaccedilatildeo prevista no art 243 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) pode ser afas-

tada desde que o proprietaacuterio comprove que natildeo incorreu em culpa ainda que

in vigilando ou in eligendo 25

Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Administraccedilatildeo Indireta

Sociedades de economia mista

Eacute aplicaacutevel o regime dos precatoacuterios agraves sociedades de economia mista presta-

doras de serviccedilo puacuteblico proacuteprio do Estado e de natureza natildeo concorrencial 28

Autarquias ndash Repercussatildeo Geral

Os pagamentos devidos em razatildeo de pronunciamento judicial pelos conse-

lhos de fiscalizaccedilatildeo natildeo se submetem ao regime de precatoacuterios 30

Processo administrativo

Comunicaccedilatildeo dos atos

Ciecircncia do interessado

O termo inicial para a formalizaccedilatildeo de mandado de seguranccedila pressupotildee a

ciecircncia do impetrante quando o ato impugnado surgir no acircmbito de processo

administrativo do qual seja parte 32

Instruiacutedo o processo com documentos suficientes ao exame da pretensatildeo veicu-

lada na peticcedilatildeo inicial descabe suscitar a inadequaccedilatildeo da via mandamental 32

Responsabilidade civil do Estado

Responsabilidade objetiva

Estabelecimentos penitenciaacuterios ndash Repercussatildeo Geral

Considerando que eacute dever do Estado imposto pelo sistema normativo man-

ter em seus presiacutedios os padrotildees miacutenimos de humanidade previstos no orde-

namento juriacutedico eacute de sua responsabilidade nos termos do art 37 sect 6ordm da

Constituiccedilatildeo Federal (CF) a obrigaccedilatildeo de ressarcir os danos inclusive morais

comprovadamente causados aos detentos em decorrecircncia da falta ou insufi-

ciecircncia das condiccedilotildees legais de encarceramento 35

429

Servidores puacuteblicos

Concurso puacuteblico

Regramento juriacutedico

Eacute constitucional a reserva de 20 das vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos

para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito da Admi-

nistraccedilatildeo Puacuteblica Direta e Indireta Eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo aleacutem da autodecla-

raccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentificaccedilatildeo desde que respeitada a

dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditoacuterio e a ampla defesa 38

Regramento juriacutedico ndash Repercussatildeo Geral

Editais de concurso puacuteblico natildeo podem estabelecer restriccedilatildeo a pessoas com ta-

tuagem salvo situaccedilotildees excepcionais em razatildeo de conteuacutedo que viole valores

constitucionais 41

Direitos e deveres

Direito de greve ndash Repercussatildeo Geral

A Administraccedilatildeo Puacuteblica deve proceder ao desconto dos dias de paralisaccedilatildeo

decorrentes do exerciacutecio do direito de greve pelos servidores puacuteblicos em vir-

tude da suspensatildeo do viacutenculo funcional que dela decorre permitida a compen-

saccedilatildeo em caso de acordo O desconto seraacute contudo incabiacutevel se ficar demons-

trado que a greve foi provocada por conduta iliacutecita do poder puacuteblico 44

Regime juriacutedico

Jornada de trabalho

A jornada de trabalho dos ocupantes de cargos puacuteblicos do Poder Judiciaacuterio fe-

deral das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de quatro (vinte

horas semanais) e seis (trinta horas semanais) horas diaacuterias 47

Regime proacuteprio de previdecircncia social

Aposentadoria compulsoacuteria ndash Repercussatildeo Geral

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissatildeo natildeo se subme-

tem agrave regra da aposentadoria compulsoacuteria prevista no art 40 sect 1ordm II da Cons-

tituiccedilatildeo Federal (CF) a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimen-

to efetivo inexistindo tambeacutem qualquer idade limite para fins de nomeaccedilatildeo a

cargo em comissatildeo 48

Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional inexiste oacutebice cons-

titucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente permaneccedila

430

no cargo comissionado que jaacute desempenhava ou a que seja nomeado para ou-

tro cargo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo uma vez que natildeo se trata de conti-

nuidade ou criaccedilatildeo de viacutenculo efetivo com a Administraccedilatildeo 49

Aposentadoria

O cocircmputo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz exige a demonstraccedilatildeo

da efetiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante enco-

mendas de terceiros 51

Abono de permanecircncia

A ocupaccedilatildeo de novo cargo da magistratura dentro da estrutura do Poder Judiciaacute-

rio pelo titular do abono de permanecircncia natildeo implica a cessaccedilatildeo do benefiacutecio 52

Remuneraccedilatildeo

Acumulaccedilatildeo de cargos puacuteblicos ndash Repercussatildeo Geral

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulaccedilatildeo de cargos em-

pregos e funccedilotildees a incidecircncia do art 37 XI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

pressupotildee consideraccedilatildeo de cada um dos viacutenculos formalizados afastada

a observacircncia do teto remuneratoacuterio quanto ao somatoacuterio dos ganhos do

agente puacuteblico 54

Acumulaccedilatildeo de proventos e pensotildees

Eacute legiacutetima a acumulaccedilatildeo de proventos civis e militares quando a reforma se

deu sob a eacutegide da Constituiccedilatildeo Federal de 1967 e a aposentadoria ocorreu

antes da vigecircncia da Emenda Constitucional 201998 56

Servidores militares

Curso de formaccedilatildeo

O pedido de desligamento uma vez completado o periacuteodo de Escola Naval

gera para o Estado o direito agrave indenizaccedilatildeo nos termos da Lei 68801980 (Esta-

tuto dos Militares) 58

Servidores temporaacuterios

Regras para admissatildeo ndash Repercussatildeo Geral

Eacute compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) a previsatildeo legal que exija o

transcurso de 24 meses contados do teacutermino do contrato antes de nova ad-

missatildeo de professor temporaacuterio anteriormente contratado 59

431

Regras para admissatildeo

Satildeo inconstitucionais dispositivos de lei estadual de iniciativa parlamentar

que asseguraram a permanecircncia dos servidores puacuteblicos admitidos em caraacuteter

temporaacuterio sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico 61

Particulares colaboradores

Forma de provimento

Eacute ilegiacutetimo o provimento de serventia extrajudicial sem concurso puacuteblico

decorrente de permuta 64

Direito Ambiental

Poliacutetica nacional do meio ambiente

Princiacutepios

Princiacutepio da precauccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

No atual estaacutegio do conhecimento cientiacutefico que indica ser incerta a existecircncia

de efeitos nocivos da exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral a campos

eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por sistemas de energia eleacute-

trica natildeo existem impedimentos por ora a que sejam adotados os paracircmetros

propostos pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) conforme estabelece a

Lei 119342009 68

Direito Civil

Pessoas

Pessoas juriacutedicas

Associaccedilotildees

O art 59 do Coacutedigo Civil eacute compatiacutevel com a autonomia das entidades despor-

tivas prevista no art 217 I da Constituiccedilatildeo Federal 72

Direito de famiacutelia

Direito pessoal

Relaccedilotildees de parentesco ndash Repercussatildeo Geral

A paternidade socioafetiva declarada ou natildeo em registro puacuteblico natildeo impede

432

o reconhecimento do viacutenculo de filiaccedilatildeo concomitante baseado na origem bio-

loacutegica com os efeitos juriacutedicos proacuteprios 74

Relaccedilotildees de parentesco

O direito de ter reconhecida a filiaccedilatildeo bioloacutegica prevalece sobre a presunccedilatildeo

legal de paternidade 77

Direito das sucessotildees

Sucessatildeo legiacutetima

Ordem da vocaccedilatildeo hereditaacuteria ndash Repercussatildeo Geral

No sistema constitucional vigente eacute inconstitucional a distinccedilatildeo de regimes

sucessoacuterios entre cocircnjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos

os casos o regime estabelecido no art 1829 do Coacutedigo Civil de 2002 79

Direito Constitucional

Direitos e garantias fundamentais

Direitos e deveres individuais e coletivos

Direito de resposta

Inexiste decisatildeo do Supremo Tribunal Federal (STF) em controle concentrado

de constitucionalidade e sobre a regulamentaccedilatildeo adequada para o exerciacutecio do

direito de resposta haacutebil a justificar o cabimento da reclamaccedilatildeo 83

Liberdade de expressatildeo religiosa

Natildeo se revela iliacutecita por si soacute a comparaccedilatildeo entre diversas religiotildees inclusive

com explicitaccedilatildeo de certa hierarquizaccedilatildeo ou animosidade entre elas 85

Liberdade de exerciacutecio profissional

Eacute constitucional a expressatildeo ldquoprivativasrdquo contida no caput do art 3ordm da Lei

82341991 que regulamenta a profissatildeo de nutricionista respeitado o acircmbito

de atuaccedilatildeo profissional das demais profissotildees regulamentadas 86

Direito agrave informaccedilatildeo

Eacute garantido o amplo acesso a registros documentais e fonograacuteficos de sessotildees

de julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) puacuteblicas ou secretas ocor-

ridas na deacutecada de 1970 88

433

Devido processo legal

Eacute necessaacuteria a observacircncia da garantia do devido processo legal em especial

do contraditoacuterio e da ampla defesa relativamente agrave inscriccedilatildeo de entes puacuteblicos

em cadastros federais de inadimplecircncia 90

A inscriccedilatildeo do nome do Estado-membro em cadastro federal de inadimplentes

em face de accedilotildees eou omissotildees de gestotildees anteriores natildeo configura ofensa ao

princiacutepio da intranscendecircncia 90

Prisatildeo civil por diacutevida

Eacute inconstitucional dispositivo de lei federal que admite seja erigido agrave condiccedilatildeo

de ldquodepositaacuterio infielrdquo aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor desig-

nado no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria 92

Eacute inconstitucional o ajuizamento de demanda que coage ao depoacutesito da quan-

tia devida com ou sem apresentaccedilatildeo de contestaccedilatildeo sob pena de decretaccedilatildeo de

revelia (arts 3ordm e 4ordm da Lei 88661994) 93

Direitos sociais

Direito ao trabalho

Eacute constitucional a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso

dos bombeiros civis 97

Nacionalidade

Perda da nacionalidade originaacuteria

Aquele que natildeo ostenta mais a nacionalidade brasileira por ter adquirido ou-

tra nacionalidade em situaccedilatildeo que natildeo se subsome agraves exceccedilotildees previstas no

art 12 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF) pode ser extraditado pelo Brasil 99

Organizaccedilatildeo do Estado

Uniatildeo

Bens da Uniatildeo

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado 101

Bens da Uniatildeo ndash Repercussatildeo Geral

A Emenda Constitucional 462005 natildeo interferiu na propriedade da Uniatildeo nos

moldes do art 20 VII da Constituiccedilatildeo Federal (CF) sobre os terrenos de ma-

rinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municiacutepios 102

434

Competecircncia legislativa privativa

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo por meio de lei estadual de Certidatildeo de Vio-

laccedilatildeo dos Direitos do Consumidor como requisito para contrataccedilatildeo com a Ad-

ministraccedilatildeo Puacuteblica 105

Eacute inconstitucional lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de

celular em presiacutedio 107

Eacute formalmente inconstitucional a lei estadual que regulamenta a cobranccedila

proporcional ao tempo efetivamente utilizado por serviccedilos de estacionamento

privado de veiacuteculos no Estado-membro 109

Estados federados

Competecircncia legislativa concorrente

Eacute constitucional lei estadual que declara em regime de extinccedilatildeo a Carteira de

Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila estadual 112

Eacute inconstitucional dispositivo de lei estadual que veda que o Estado-membro

responda direta ou indiretamente pelo pagamento dos benefiacutecios jaacute conce-

didos ou que venham a ser concedidos no acircmbito da Carteira das Serventias

tampouco responsabilize-se por qualquer indenizaccedilatildeo a seus participantes ou

por insuficiecircncia patrimonial passada presente ou futura 112

Eacute constitucional dispositivo de lei estadual que autoriza as empresas que fa-

cultativamente patrocinarem bolsas para a formaccedilatildeo superior de professores a

exigir dos beneficiaacuterios em contrapartida serviccedilos na aacuterea educacional 115

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo unilateral por meio de lei estadual de be-

nefiacutecio fiscal relativo a Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos

(ICMS) agrave empresa patrocinadora de bolsas de estudo a professores 116

Municiacutepios

Competecircncia legislativa suplementar

O Municiacutepio tem competecircncia para legislar sobre proteccedilatildeo do meio ambiente

e controle da poluiccedilatildeo quando se tratar de interesse local 118

Fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio ndash Repercussatildeo Geral

Para os fins do art 1ordm I g da Lei Complementar 64 de 18 de maio de 1990 alte-

rado pela Lei Complementar 135 de 4 de junho de 2010 a apreciaccedilatildeo das contas

435

de prefeitos tanto as de governo quanto as de gestatildeo seraacute exercida pelas Cacircma-

ras Municipais com o auxiacutelio dos tribunais de contas competentes cujo parecer

preacutevio somente deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de 23 dos vereadores 120

Organizaccedilatildeo dos Poderes

Poder Legislativo

Deputados e senadores

A suspensatildeo do exerciacutecio do mandato de deputado federal pelo Supremo Tri-

bunal Federal (STF) em sede de decisatildeo cautelar penal natildeo gera direito agrave sus-

pensatildeo do processo de cassaccedilatildeo do mandato 124

Eacute liacutecita a adoccedilatildeo da votaccedilatildeo nominal em parecer do Conselho de Eacutetica da Cacirc-

mara dos Deputados 125

Natildeo acarreta duplicidade o cocircmputo dos membros suplentes para o quoacuterum de ins-

talaccedilatildeo da sessatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Cidadania (CCJC) 125

A competecircncia das casas legislativas para decidir sobre a perda do mandato

de congressista condenado criminalmente (art 55 VI e sect 2ordm da Constituiccedilatildeo

Federal) natildeo eacute absoluta 127

Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria

Tribunal de Contas

A ausecircncia de participaccedilatildeo de terceiros indiretamente afetados pelas determi-

naccedilotildees do Tribunal de Contas da Uniatildeo em auditoria realizada para apurar a

gestatildeo administrativa de oacutergatildeo puacuteblico natildeo viola o direito ao contraditoacuterio

(CF art 5ordm LV) 129

Uma vez envolvida fiscalizaccedilatildeo linear exercida pelo Tribunal de Contas pre-

sente o disposto no art 71 IV da Carta da Repuacuteblica inexiste campo para

evocar-se a decadecircncia prevista no art 54 da Lei 97841999 129

A prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) eacute

regulada integralmente pela Lei 98731999 seja em razatildeo da interpretaccedilatildeo

correta e da aplicaccedilatildeo direta desta lei seja por analogia 131

Configura usurpaccedilatildeo de atribuiccedilatildeo tiacutepica do Tribunal de Contas preconizada

no art 71 II da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica atribuir agrave respectiva Assembleia

Legislativa competecircncia para julgar as contas do Poder Legislativo 134

436

Eacute inconstitucional a norma de Constituiccedilatildeo estadual que dispensa apresenta-

ccedilatildeo de parecer preacutevio sobre as contas de chefe do Poder Executivo municipal a

ser emitido pelo respectivo Tribunal de Contas estadual 135

Eacute permitida apenas uma reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila 135

A escolha do superintendente da Poliacutecia Civil pelo governador do Estado

circunscreve-se a delegados ou delegadas de poliacutecia da carreira independente-

mente do estaacutegio de sua progressatildeo funcional 135

Tribunal de Contas ndash Repercussatildeo Geral

O parecer teacutecnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramen-

te opinativa competindo exclusivamente agrave Cacircmara de Vereadores o julga-

mento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local sendo incabiacutevel o

julgamento ficto das contas por decurso de prazo 137

Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

(MPTCU) natildeo possuem legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento de

reclamaccedilatildeo no Supremo Tribunal Federal 141

Procuradoria especial dos Tribunais de Contas

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de

Contas estadual com a atribuiccedilatildeo de assegurar em juiacutezo a autonomia e a inde-

pendecircncia da Corte de Contas bem como de exercer as funccedilotildees de consultoria

e assessoramento juriacutedico internos 143

A procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de Contas estadual natildeo possui

legitimidade ativa para a cobranccedila em juiacutezo de multas aplicadas pela Corte de

Contas 143

Poder Executivo

Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

O sect 4ordm do art 187 do Regimento Interno da Cacircmara dos Deputados (RICD) eacute

compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) 145

Eacute vedado agraves unidades federativas instituir normas que condicionem a instau-

raccedilatildeo de accedilatildeo penal contra o governador por crime comum agrave preacutevia autori-

zaccedilatildeo da casa legislativa cabendo ao Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) dispor

437

fundamentadamente sobre a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares penais inclusi-

ve afastamento do cargo 147

Poder Judiciaacuterio

Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) eacute competente para julgar accedilatildeo ordinaacuteria

coletiva ajuizada contra o Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) quando a con-

troveacutersia versar sobre o alcance dos poderes deste oacutergatildeo 152

Natildeo compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) a execuccedilatildeo

individual de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo inclusive aquelas proferi-

das em sede mandamental 153

O Supremo Tribunal Federal (STF) natildeo possui competecircncia originaacuteria para

julgar accedilatildeo na qual se discute o direito de magistrado de gozar de licenccedila-

-precircmio 155

Controle de constitucionalidade

Os princiacutepios constitucionais relacionados ao sistema financeiro e orccedilamentaacute-

rio os princiacutepios da independecircncia e da harmonia entre os Poderes (CF art

2ordm) e o regime constitucional de precatoacuterios (CF art 100) podem ser utiliza-

dos como paracircmetro de controle na arguiccedilatildeo de descumprimento de preceito

fundamental 156

Na accedilatildeo direta de inconstitucionalidade a arguiccedilatildeo de revogaccedilatildeo da lei ndash apoacutes a

decisatildeo de meacuterito ndash natildeo enseja prejudicialidade da accedilatildeo por perda de objeto 158

As associaccedilotildees que congregam mera fraccedilatildeo ou parcela de categoria profissio-

nal em cujo interesse vecircm a juiacutezo natildeo possuem legitimidade ativa para provo-

car a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucionalidade 160

Eacute desnecessaacuteria a submissatildeo de demanda judicial agrave regra da reserva de plenaacuterio

na hipoacutetese em que a decisatildeo judicial estiver fundada em jurisprudecircncia do Ple-

naacuterio do Supremo Tribunal Federal (STF) ou em suacutemula deste Tribunal 162

Controle de constitucionalidade ndash Repercussatildeo Geral

Natildeo haacute usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF) quando

os tribunais de justiccedila exercem controle abstrato de constitucionalidade de leis

438

municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria pelos Estados 164

O art 39 sect 4ordm da CF natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias e

13ordm salaacuterio 164

Conselho Nacional de Justiccedila

Natildeo cabe ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) o controle de controveacutersia

submetida agrave apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio 167

Insere-se entre as competecircncias constitucionalmente atribuiacutedas ao Conselho

Nacional de Justiccedila (CNJ) a possibilidade de afastar por inconstitucionalidade

a aplicaccedilatildeo de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto de con-

trole determinando aos oacutergatildeos submetidos a seu espaccedilo de influecircncia a obser-

vacircncia desse entendimento por ato expresso e formal tomado pela maioria

absoluta dos membros do Conselho 169

Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar accedilotildees em que a Ordem dos Ad-

vogados do Brasil (OAB) quer mediante o Conselho Federal quer seccional

figure na relaccedilatildeo processual 172

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar o crime ambiental de caraacuteter

transnacional que envolva animais silvestres ameaccedilados de extinccedilatildeo e espeacuteci-

mes exoacuteticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo

Brasil 174

Justiccedila comum

Compete agrave Justiccedila comum julgar accedilatildeo movida por trabalhador contratado sob

o regime da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) mas regido por lei que

instituiu o regime estatutaacuterio no acircmbito do ente puacuteblico com o objetivo de re-

ceber diferenccedilas salariais originadas no primeiro periacuteodo que possuam reflexo

no periacuteodo posterior agrave transmudaccedilatildeo de regime juriacutedico 176

Justiccedila do Trabalho

Compete agrave Justiccedila do Trabalho processar e julgar causa relativa a depoacutesitos do

Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) de servidor que ingressou no

serviccedilo puacuteblico antes da Constituiccedilatildeo de 1988 sem prestar concurso 178

439

Justiccedila Militar

A competecircncia penal da Justiccedila Castrense natildeo se limita apenas aos integrantes

das Forccedilas Armadas nem se define por isso mesmo ratione personae 179

Tribunais e juiacutezes dos Estados

Eacute inconstitucional o art 3ordm da Resoluccedilatildeo TJTPRJ 12014 do Plenaacuterio do Tri-

bunal de Justiccedila do Rio de Janeiro que dispotildee sobre regras de processo eleito-

ral no Poder Judiciaacuterio estadual 180

Funccedilotildees essenciais agrave Justiccedila

Ministeacuterio Puacuteblico

Cabe ao procurador-geral da Repuacuteblica a apreciaccedilatildeo de conflitos de atribuiccedilatildeo

entre oacutergatildeos do Ministeacuterio Puacuteblico 182

Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Sistema tributaacuterio nacional

Princiacutepios gerais ndash Repercussatildeo Geral

A seguranccedila puacuteblica presentes a prevenccedilatildeo e o combate a incecircndios faz-se

no campo da atividade preciacutepua pela unidade da Federaccedilatildeo e porque serviccedilo

essencial tem como a viabilizaacute-la a arrecadaccedilatildeo de impostos natildeo cabendo ao

Municiacutepio a criaccedilatildeo de taxa para tal fim 185

Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

A imunidade reciacuteproca prevista no art 150 VI a da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) natildeo se estende a empresa privada arrendataacuteria de imoacutevel puacuteblico quando

seja ela exploradora de atividade econocircmica com fins lucrativos Nessa hipoacutete-

se eacute constitucional a cobranccedila do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU)

pelo Municiacutepio 187

Os requisitos para o gozo de imunidade hatildeo de estar previstos em lei comple-

mentar 189

A contribuiccedilatildeo social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do

em pregado quer anteriores ou posteriores agrave Emenda Constitucional 201998 192

Incide o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) considerado imoacutevel de

pessoa juriacutedica de direito puacuteblico cedido agrave pessoa juriacutedica de direito privado

devedora do tributo 193

440

A imunidade tributaacuteria constante do art 150 VI d da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) aplica-se ao livro eletrocircnico (e-book) inclusive aos suportes exclusivamen-

te utilizados para fixaacute-lo 195

A imunidade tributaacuteria subjetiva aplica-se a seus beneficiaacuterios na posiccedilatildeo de

contribuinte de direito mas natildeo na de simples contribuinte de fato sendo irre-

levante para a verificaccedilatildeo da existecircncia do beneplaacutecito constitucional a reper-

cussatildeo econocircmica do tributo envolvido 198

A imunidade da aliacutenea d do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 alcanccedila componentes eletrocircnicos destinados exclusivamente a integrar

unidade didaacutetica com fasciacuteculos 200

Limitaccedilotildees do poder de tributar

A imunidade tributaacuteria prevista no art 150 IV a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

natildeo alcanccedila imoacuteveis da Uniatildeo e das unidades federadas cedidos para empreendi-

mentos privados exploradores de atividade econocircmica com fins lucrativos 201

Reparticcedilatildeo das receitas tributaacuterias

Natildeo cabe agrave Uniatildeo criar por meio de legislaccedilatildeo ordinaacuteria novos criteacuterios de

deduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da receita arrecadada de impostos em desacordo com

o art 159 I a da Constituiccedilatildeo Federal (CF) 203

Financcedilas puacuteblicas

Orccedilamentos

Eacute assegurado ao Poder Judiciaacuterio estadual o direito de receber ateacute o dia vin-

te de cada mecircs em duodeacutecimos os recursos correspondentes agraves dotaccedilotildees

orccedilamentaacuterias sendo facultado ao Poder Executivo do Estado proceder ao

desconto uniforme da Receita Corrente Liacutequida prevista na Lei Orccedilamentaacute-

ria Anual estadual em sua proacutepria receita e na dos demais Poderes e oacutergatildeos

autocircnomos 205

Eacute constitucional a Lei federal 13255 de 15 de fevereiro de 2016 (Lei Orccedila-

mentaacuteria Anual) em especial quanto agraves disposiccedilotildees em que satildeo estipuladas as

dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias destinadas agrave Justiccedila do Trabalho (Lei Orccedilamentaacuteria

Anual de 2016 Anexo IV) 209

441

Ordem econocircmica e financeira

Princiacutepios gerais da atividade econocircmica

Livre iniciativa

Eacute inconstitucional lei estadual que impotildee a existecircncia de serviccedilo de empacota-

mento em supermercados sob pena de multa e interdiccedilatildeo de estabelecimento 213

Ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre ndash Repercussatildeo Geral

Nos termos do art 178 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) as normas e os tratados

internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aeacutereas de

passageiros especialmente as Convenccedilotildees de Varsoacutevia e Montreal tecircm preva-

lecircncia em relaccedilatildeo ao Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) 215

Ordem social

Seguridade social

Assistecircncia social ndash Repercussatildeo Geral

Os estrangeiros residentes no Paiacutes satildeo beneficiaacuterios da assistecircncia social pre-

vista no art 203 V da Constituiccedilatildeo Federal (CF) uma vez atendidos os requi-

sitos constitucionais e legais 221

Educaccedilatildeo cultura e desporto

Educaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

A garantia constitucional da gratuidade de ensino natildeo obsta a cobranccedila por

universidades puacuteblicas de mensalidade em cursos de especializaccedilatildeo 224

Autonomia universitaacuteria

Eacute inconstitucional lei estadual de iniciativa parlamentar que determina que os

escritoacuterios de praacutetica juriacutedica de universidade estadual mantenham plantatildeo

criminal para atendimento nos finais de semana e feriados dos hipossuficien-

tes presos em flagrante delito 228

Comunicaccedilatildeo social

Regulaccedilatildeo de diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos

Eacute inconstitucional a expressatildeo ldquoem horaacuterio diverso do autorizadordquo contida no

art 254 da Lei 80691990 230

Meio ambiente

Proteccedilatildeo da fauna

Lei que regulamenta a atividade da vaquejada manifestaccedilatildeo cultural com ca-

442

racteriacutesticas de entretenimento eacute incompatiacutevel com o art 225 sect 1ordm VII da

Constituiccedilatildeo Federal (CF) 233

Direito Eleitoral

Eleiccedilotildees

Propaganda eleitoral

Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral natildeo podem deliberar pela

exclusatildeo dos debates de candidatos cuja participaccedilatildeo seja facultativa quando a

emissora tenha optado por convidaacute-los 237

Satildeo constitucionais os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 95041997 que

disciplinam a distribuiccedilatildeo dos horaacuterios reservados agrave propaganda eleitoral

gratuita nas emissoras de raacutedio e de televisatildeo e nos canais de televisatildeo por

assinatura 239

Direito Empresarial

Propriedade intelectual

Direitos autorais

Gestatildeo coletiva

A mera rapidez no tracircmite de projeto de lei para aprovaccedilatildeo da Lei 128532013

que alterou ou introduziu dispositivos na Lei 96101998 ao reconfigurar o

marco regulatoacuterio da gestatildeo coletiva de direitos autorais no Brasil natildeo confi-

gura inconstitucionalidade formal 245

Eacute legiacutetima a promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos autorais

com o intuito de impedir praacuteticas abusivas por entes intermediaacuterios 245

As associaccedilotildees de titulares de direitos autorais exercem atividade de interesse

puacuteblico e devem atender a sua funccedilatildeo social 246

Satildeo constitucionais as disposiccedilotildees acerca dos criteacuterios de votaccedilatildeo previstos na

Lei 96101998 que atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais 247

443

Eacute constitucional a habilitaccedilatildeo preacutevia das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva em oacuter-

gatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal para a cobranccedila de direitos autorais 248

Satildeo constitucionais as normas relativas agrave negociaccedilatildeo de preccedilos e formas de

licenciamento de direitos autorais (art 98 sectsect 3ordm e 4ordm) e ao prazo miacutenimo para

comunicaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo pessoal de direitos por seus titulares (art 98 sect 15)

previstas na Lei 96101998 248

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de cadastro unificado de obras e dados autorais 249

A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila e dis-

tribuiccedilatildeo de direitos autorais eacute constitucional e deveraacute ser proporcional ao custo

efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada uma delas 250

Eacute constitucional dispositivo que incumbe ao ente arrecadador e agraves associa-

ccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de

perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a

transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titulares

transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arrecadaccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de direitos 250

Eacute constitucional dispositivo que prevecirc a participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura

na prestaccedilatildeo de contas pelas associaccedilotildees de gestatildeo coletiva 251

Eacute constitucional dispositivo que determina que o ente arrecadador deveraacute ad-

mitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as associa-

ccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua aacuterea de

atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal 251

Direito Financeiro

Diacutevida puacuteblica

Resgate

Requisitos

Eacute constitucional condicionar o resgate antecipado de tiacutetulos da diacutevida puacuteblica

emitidos em favor das instituiccedilotildees de ensino superior agrave satisfaccedilatildeo de suas obri-

gaccedilotildees previdenciaacuterias 259

444

Direito Internacional

Direito Penal Internacional

Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal

Extradiccedilatildeo

Em caso de reingresso de extraditando foragido natildeo eacute necessaacuteria nova decisatildeo

jurisdicional colegiada acerca da entrega basta a emissatildeo de ordem judicial

pelo relator do processo 262

A anuecircncia do extraditando com o pedido do Estado requerente poderaacute surtir

efeitos juriacutedicos para fins de deferimento da extradiccedilatildeo desde que essa possibi-

lidade esteja prevista em norma convencional pertinente e obedeccedila agraves forma-

lidades exigidas 264

O recebimento do pedido de extradiccedilatildeo natildeo constitui causa interruptiva da

prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria salvo disposiccedilatildeo expressa em tratado espe-

ciacutefico 265

A prisatildeo preventiva para fins de extradiccedilatildeo executoacuteria natildeo constitui causa in-

terruptiva da prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria do Estado requerente 265

A circunstacircncia de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao

extraditando como de lesa-humanidade natildeo afasta a sua prescriccedilatildeo 267

Direito Penal

Penas

Aplicaccedilatildeo da pena

Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

Estabelecida a pena-base no miacutenimo legal porque favoraacuteveis todas as circuns-

tacircncias judiciais a imposiccedilatildeo de regime inicial mais grave revela quadro de

descompasso com a legislaccedilatildeo penal 271

O condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 anos e natildeo exceda a

8 anos tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (CP

art 33 sect 2ordm b) caso as circunstacircncias judiciais do art 59 lhe forem favoraacuteveis 273

445

Dosimetria da pena

Natildeo eacute possiacutevel reconhecer o aumento da pena-base diante da culpabilidade

reconhecida meramente por consciecircncia da ilicitude 274

A existecircncia de inqueacuteritos policiais ou de accedilotildees penais sem tracircnsito em julgado natildeo

pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena 274

Crimes contra o patrimocircnio

Furto

Furto qualificado

No crime de furto (CP art 155) a circunstacircncia ldquorompimento de obstaacuteculordquo

deve ser utilizada alternativamente ou como qualificadora do crime ou como

causa de aumento da pena 276

Causa de aumento de pena

Eacute legiacutetima a incidecircncia da causa de aumento de pena por crime cometido du-

rante o repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm) no caso de furto praticado na forma

qualificada (CP art 155 sect 4ordm) 277

Crimes contra a dignidade sexual

Crimes contra a liberdade sexual

Estupro

Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor mesmo que praticados

na forma simples tecircm caraacuteter hediondo 279

Eacute admissiacutevel o reconhecimento de continuidade delitiva de acordo com o caso

concreto nos casos previstos no art 213 do CP 279

Crimes sexuais contra vulneraacuteveis

Estupro de vulneraacutevel

Para a configuraccedilatildeo de estupro de vulneraacutevel eacute irrelevante o consentimento

da viacutetima menor de quatorze anos 281

Disposiccedilotildees gerais

Causa de aumento de pena

Eacute juridicamente possiacutevel a majoraccedilatildeo da pena privativa de liberdade imposta a

bisavocirc de viacutetima em razatildeo da incidecircncia da causa de aumento prevista no inciso II

do art 226 do Coacutedigo Penal (CP) considerada a figura do ascendente 282

446

Crimes contra a feacute puacuteblica

Falsidade ideoloacutegica

Elemento subjetivo do tipo

No crime de falsidade ideoloacutegica as provas produzidas devem evidenciar que

o acusado possui ciecircncia inequiacutevoca do conteuacutedo inveriacutedico dos documentos

que assina ou de que o faccedila com o objetivo de prejudicar direito criar obriga-

ccedilatildeo ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante 284

Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral

Peculato

Eacute atiacutepica a conduta de peculato por ato praticado por secretaacuterio parlamentar

que efetivamente exerce a funccedilatildeo puacuteblica referente ao cargo e auxilia o parla-

mentar em assuntos de interesse privado 286

Concussatildeo

No crime de concussatildeo natildeo configura bis in idem a elevaccedilatildeo da pena na pri-

meira fase da dosimetria visto que em razatildeo da qualidade funcional ocupada

pelo agente dele se deveria exigir maior grau de observacircncia dos deveres e

obrigaccedilotildees relacionados ao cargo ocupado 288

Legislaccedilatildeo penal especial

Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees

Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou

deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

O parecer juriacutedico do oacutergatildeo teacutecnico especializado favoraacutevel agrave inexigibili-

dade impede a tipificaccedilatildeo criminosa da conduta prevista no art 89 da Lei

86661993 291

A distinccedilatildeo do iliacutecito administrativo (ato de improbidade) do iliacutecito penal (ato

criminoso) reclama que a exordial acusatoacuteria narre a accedilatildeo finaliacutestica do agente

voltada agrave obtenccedilatildeo de vantagem indevida por meio da dispensa da licitaccedilatildeo

violando com isso o bem juriacutedico penal protegido pelo tipo incriminador 291

A imputaccedilatildeo do crime definido no art 89 da Lei 86661993 a uma pluralidade

de agentes demanda a descriccedilatildeo indiciaacuteria na peccedila acusatoacuteria do viacutenculo sub-

jetivo entre os participantes para a obtenccedilatildeo do resultado criminoso 292

447

A ausecircncia do elemento subjetivo do tipo (dolo) no crime do art 89 da Lei

86661993 leva agrave rejeiccedilatildeo da denuacutencia 294

Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees

Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

A conduta de transmitir sinal de internet por radiofrequecircncia sem autorizaccedilatildeo

natildeo configura crime de desenvolver clandestinamente atividades de telecomu-

nicaccedilotildees (Lei 94721997 art 183) 295

Excepcionalmente ante a constataccedilatildeo da irrelevacircncia da conduta praticada

pelo paciente e da ausecircncia de resultado lesivo a praacutetica da conduta em tese

subsumida ao art 183 da Lei 94721997 natildeo deve ser resolvida na esfera penal

e sim nas instacircncias administrativas 296

Lei 96131998 ndash ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores

Art 1ordm ndash Lavagem de bens direitos ou valores

O crime de lavagem de bens direitos ou valores praticado na modalidade de

ocultaccedilatildeo (Lei 96131998 art 1ordm) tem natureza de crime permanente 297

Lei 113432006 ndash Lei de Drogas

Art 33 ndash Traacutefico de drogas ndash Repercussatildeo Geral

Eacute possiacutevel o confisco de todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido

em decorrecircncia do traacutefico de drogas sem a necessidade de se perquirir a habi-

tualidade reiteraccedilatildeo do uso do bem para tal finalidade a sua modificaccedilatildeo para

dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer

outro requisito aleacutem daqueles previstos expressamente no art 243 paraacutegrafo

uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF) 299

Art 33 ndash Traacutefico de drogas

Eacute irrelevante para a aplicaccedilatildeo do art 40 III da Lei 113432006 (Lei de Drogas)

se o agente infrator visa ou natildeo comercializar drogas com os frequentadores

de estabelecimento prisional 302

A quantidade de drogas natildeo pode automaticamente proporcionar o entendi-

mento de que o agente faz do traacutefico seu meio de vida ou integra organizaccedilatildeo

criminosa 303

448

Conhece-se do habeas corpus se flagrante a contradiccedilatildeo entre a justificativa

utilizada para negar a aplicaccedilatildeo da causa de diminuiccedilatildeo de pena prevista no

art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 e a absolviccedilatildeo da acusaccedilatildeo do crime de associa-

ccedilatildeo para o traacutefico tipificado pelo art 35 do mesmo diploma legal 302

Eacute possiacutevel considerar a quantidade de droga apreendida para efeito de diminui-

ccedilatildeo de pena (Lei 113432006 art 33 sect 4ordm) 305

A quantidade de drogas natildeo constitui isoladamente fundamento idocircneo para

negar o benefiacutecio da reduccedilatildeo da pena do art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 306

Direito Previdenciaacuterio

Financiamento da seguridade social

Contribuiccedilatildeo do produtor rural e do pescador

Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

Eacute constitucional formal e materialmente a contribuiccedilatildeo social do empregador

rural pessoa fiacutesica instituiacuteda pela Lei 102562001 incidente sobre a receita

bruta obtida com a comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo 309

Benefiacutecios previdenciaacuterios

Aposentadorias

Desaposentaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

No acircmbito do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) somente lei pode

criar benefiacutecios e vantagens previdenciaacuterias natildeo havendo por ora previsatildeo

legal do direito agrave ldquodesaposentaccedilatildeordquo sendo constitucional a regra do art 18

sect 2ordm da Lei 82131991 313

Aposentadoria por invalidez ndash Repercussatildeo Geral

Os efeitos financeiros das revisotildees de aposentadoria concedidas com base no

art 6ordm-A da Emenda Constitucional 412003 introduzido pela Emenda Consti-

tucional 702012 somente se produziratildeo a partir da data de sua promulgaccedilatildeo

(30-3-2012) 316

449

Direito Processual Civil

Sujeitos do processo

Partes e procuradores

Deveres das partes e de seus procuradores

Eacute cabiacutevel a fixaccedilatildeo de honoraacuterios recursais prevista no art 85 sect 11 do Coacutedigo

de Processo Civil (CPC) mesmo quando o advogado da parte recorrida natildeo

apresentar contrarrazotildees ou contraminuta 321

Execuccedilatildeo

Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo

Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ndash Repercussatildeo Geral

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na parte

em que disciplina os juros moratoacuterios aplicaacuteveis a condenaccedilotildees da Fazenda Puacute-

blica eacute inconstitucional ao incidir sobre deacutebitos oriundos de relaccedilatildeo juriacutedico-

-tributaacuteria aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais

a Fazenda Puacuteblica remunera seu creacutedito tributaacuterio em respeito ao princiacutepio

constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput) quanto agraves condenaccedilotildees oriundas

de relaccedilatildeo juriacutedica natildeo tributaacuteria a fixaccedilatildeo dos juros moratoacuterios segundo o

iacutendice de remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute constitucional permane-

cendo hiacutegido nesta extensatildeo o disposto no art 1ordm-F da Lei 94941997 com a

redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 323

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na parte

em que disciplina a atualizaccedilatildeo monetaacuteria das condenaccedilotildees impostas agrave Fazen-

da Puacuteblica segundo a remuneraccedilatildeo oficial da caderneta de poupanccedila revela-se

inconstitucional ao impor restriccedilatildeo desproporcional ao direito de propriedade

(CF art 5ordm XXII) uma vez que natildeo se qualifica como medida adequada a cap-

turar a variaccedilatildeo de preccedilos da economia sendo inidocircnea a promover os fins a

que se destina 324

A execuccedilatildeo provisoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer em face da Fazenda Puacuteblica natildeo

atrai o regime constitucional dos precatoacuterios 330

Incidem juros da mora entre a data da realizaccedilatildeo dos caacutelculos e a da requisiccedilatildeo

ou do precatoacuterio 332

450

Eacute vaacutelida a penhora em bens de pessoa juriacutedica de direito privado realizada an-

teriormente agrave sucessatildeo desta pela Uniatildeo natildeo devendo a execuccedilatildeo prosseguir

mediante precatoacuterio ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 100 caput e sect 1ordm 334

Execuccedilatildeo de alimentos

A prisatildeo por diacutevida de natureza alimentiacutecia estaacute ligada ao inadimplemento

inescusaacutevel de prestaccedilatildeo natildeo alcanccedilando situaccedilatildeo juriacutedica a revelar cobranccedila

de saldo devedor 337

Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais

Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais

Accedilatildeo rescisoacuteria

Eacute cabiacutevel accedilatildeo rescisoacuteria com fundamento no art 485 V do Coacutedigo de Pro-

cesso Civil de 1973 contra decisatildeo que viola literal disposiccedilatildeo do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF) 339

Reclamaccedilatildeo

A partir de 2-5-2017 data da publicaccedilatildeo da ata do julgamento do Tema 246 da

repercussatildeo geral ndash que reconheceu a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da

Lei 86661993 ndash tornou-se inviaacutevel o manejo da reclamaccedilatildeo constitucional

com fundamento no julgado da ADC 16 ndash de mesmo objeto 340

Soacute cabe reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por violaccedilatildeo de tese

fixada em repercussatildeo geral apoacutes terem se esgotado todos os recursos cabiacuteveis

nas instacircncias antecedentes 342

Recursos

Recurso extraordinaacuterio ndash Repercussatildeo Geral

O reconhecimento da repercussatildeo geral no Plenaacuterio Virtual natildeo impede sua

rediscussatildeo no Plenaacuterio fiacutesico notadamente quando tal reconhecimento tenha

ocorrido por falta de manifestaccedilotildees suficientes 343

Natildeo apresenta repercussatildeo geral o tema relativo agrave competecircncia para processar

e julgar accedilatildeo em que se discute pagamento de adicional de insalubridade a

servidor puacuteblico de ex-Territoacuterio Federal ante a existecircncia de convecircnio firmado

entre a Uniatildeo e o Estado-membro para o qual foi cedido 343

451

Agravo interno

Eacute admissiacutevel a juntada extemporacircnea de prova documental em recursos inter-

postos no Supremo Tribunal Federal (STF) quando estiver presente interesse

puacuteblico primaacuterio na lide 344

Mandado de seguranccedila

Legitimidade ativa

O procurador-geral da Repuacuteblica natildeo possui legitimidade ativa para impetrar

mandado de seguranccedila em que se questione decisatildeo que reconheccedila a prescri-

ccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em processo administrativo disciplinar 345

Tutela coletiva

Sentenccedila

Eficaacutecia subjetiva da coisa julgada ndash Repercussatildeo Geral

A eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada a partir de accedilatildeo coletiva de rito

ordinaacuterio ajuizada por associaccedilatildeo civil na defesa de interesses dos associados

somente alcanccedila os filiados residentes no acircmbito da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo julgador

que o fossem em momento anterior ou ateacute a data da propositura da demanda

constantes da relaccedilatildeo juriacutedica juntada agrave inicial do processo de conhecimento 348

Direito Processual Penal

Processo em geral

Accedilatildeo penal

Denuacutencia

Excepcionalmente o momento de apreciaccedilatildeo dos argumentos de defesa escri-

ta pode ser deslocado para apoacutes o recebimento da denuacutencia 353

A subordinaccedilatildeo hieraacuterquica dos envolvidos natildeo significa a responsabilizaccedilatildeo

criminal automaacutetica do prefeito 353

A mera posiccedilatildeo hieraacuterquica dos acusados na titularidade da empresa de comunica-

ccedilatildeo sem a descriccedilatildeo da accedilatildeo e sem elementos que evidenciem a vontade e consciecircn-

cia de praticar o crime imputado inviabiliza o prosseguimento da accedilatildeo penal 355

452

Competecircncia

Competecircncia por conexatildeo ou continecircncia

O desmembramento do feito em relaccedilatildeo a imputados que natildeo possuam prerro-

gativa de foro ldquodeve ser a regra diante da manifesta excepcionalidade do foro

por prerrogativa de funccedilatildeo ressalvadas as hipoacuteteses em que a separaccedilatildeo possa

causar prejuiacutezo relevanterdquo 356

Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

A existecircncia concreta de indiacutecios de envolvimento de autoridade detentora de

foro por prerrogativa de funccedilatildeo nos diaacutelogos interceptados impotildee a remessa

imediata ao Supremo Tribunal Federal (STF) 358

Natildeo haacute cogitar de usurpaccedilatildeo de competecircncia do Supremo Tribunal Federal

quando a simples menccedilatildeo ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa

de foro assim como a existecircncia de informaccedilotildees ateacute entatildeo fluidas e dispersas a

seu respeito satildeo insuficientes para o deslocamento da competecircncia para o juiacutezo

hierarquicamente superior 359

Prova

Disposiccedilotildees gerais

Na busca e apreensatildeo caso a autoridade responsaacutevel pela unidade administra-

tiva entregue de maneira espontacircnea e voluntaacuteria computador de titularida-

de do ente puacuteblico tal ato revela-se compatiacutevel com a claacuteusula de reserva de

jurisdiccedilatildeo ainda que sobressalente ao mandado judicial 360

Natildeo cabe invocar a garantia constitucional do sigilo das comunicaccedilotildees de da-

dos quando o acesso natildeo alcanccedila a troca de dados restringindo-se apenas agraves

informaccedilotildees armazenadas nos dispositivos eletrocircnicos 360

O procedimento administrativo de investigaccedilatildeo criminal natildeo demanda a am-

plitude das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditoacuterio 361

A prova obtida mediante interceptaccedilatildeo telefocircnica quando referente a infraccedilatildeo

penal diversa da investigada deve ser considerada liacutecita se presentes os requi-

sitos constitucionais e legais 362

Apreensotildees de documentos realizadas em automoacutevel por constituir tiacutepica

busca pessoal prescinde de autorizaccedilatildeo judicial quando presente fundada sus-

453

peita de que nele estatildeo ocultados elementos de prova ou qualquer elemento de

convicccedilatildeo agrave elucidaccedilatildeo dos fatos investigados a teor do sect 2ordm do art 240 e art

244 do Coacutedigo de Processo Penal 363

Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria

Prisatildeo cautelar

A duraccedilatildeo prolongada abusiva e irrazoaacutevel da prisatildeo cautelar de algueacutem ofen-

de de modo frontal o postulado da dignidade da pessoa humana 365

Prisatildeo preventiva

A superveniecircncia da sentenccedila penal condenatoacuteria que manteacutem a prisatildeo pre-

ventiva com remissatildeo aos mesmos fundamentos do decreto originaacuterio natildeo

torna prejudicado o habeas corpus 367

Por mais graves e reprovaacuteveis que sejam as condutas supostamente perpetra-

das isso natildeo justifica por si soacute a decretaccedilatildeo da prisatildeo cautelar 367

O risco concreto da reiteraccedilatildeo delitiva invocado para garantir a ordem puacutebli-

ca deve ser contemporacircneo ao decreto prisional 367

Eacute incabiacutevel o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do acor-

do de colaboraccedilatildeo premiada 369

Citaccedilotildees e intimaccedilotildees

Citaccedilotildees ndash Repercussatildeo Geral

Eacute constitucional a citaccedilatildeo por hora certa prevista no art 362 do Coacutedigo de

Processo Penal 371

Citaccedilotildees

A antecipaccedilatildeo da prova testemunhal configura medida necessaacuteria quando

considerando-se a gravidade do crime praticado houver a possibilidade con-

creta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrecircncia do

decurso do tempo 373

Intimaccedilotildees

Eacute vaacutelida apenas a intimaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo (DPU) ainda que

o recurso especial tenha sido interposto pela Defensoria Puacuteblica estadual 375

454

Processos em espeacutecie

Processo comum

Procedimento relativo aos processos da competecircncia do tribunal do juacuteri

A retirada dos autos de prova considerada iliacutecita natildeo exclui necessariamente

as demais peccedilas processuais que a ela faccedilam referecircncia 377

Nulidades e recursos em geral

Nulidades

Nulidades relativas

Por mais caras que as prerrogativas da defesa e do advogado sejam ao sistema de

garantias de sua violaccedilatildeo natildeo decorre a automaacutetica absolviccedilatildeo do imputado 380

O art 2ordm da Lei 92961996 natildeo exige que sejam quebrados os dados cadastrais

de todos os terminais interceptados previamente agrave interceptaccedilatildeo 381

Recursos em geral

Habeas corpus e seu processo

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para discutir a suspensatildeo de processo-

-crime sobre a praacutetica da conduta prevista no art 28 da Lei 113432006 (porte

de drogas para consumo pessoal) 382

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para buscar-se o reconhecimento do

direito a visitas iacutentimas em estabelecimento prisional 383

Disposiccedilotildees gerais

A ordem juriacutedica natildeo contempla a interposiccedilatildeo de recurso via e-mail 384

Execuccedilatildeo penal

Limite das penas

Benefiacutecios da execuccedilatildeo penal

O limite de trinta anos enunciado no art 75 do Coacutedigo Penal (CP) natildeo eacute

considerado para o caacutelculo de benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (Verbete 715 da

Suacutemula do Supremo Tribunal Federal) 386

Trabalho

Trabalho interno

Excepcionalmente pode ser considerado para fins de remiccedilatildeo da pena o total

de horas trabalhadas em jornada diaacuteria inferior a seis horas quando houver

determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio 387

455

Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie

Penas privativas de liberdade

O marco inicial para fins de obtenccedilatildeo de progressatildeo de regime e demais bene-

fiacutecios executoacuterios eacute a data da custoacutedia cautelar Essa data deve necessariamente

ser compu tada desde que natildeo ocorra condenaccedilatildeo posterior apta a configurar

falta grave 388

O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao

sentenciado impede a progressatildeo no regime prisional 389

Incidentes de execuccedilatildeo

Anistia e indulto

O indulto da pena privativa de liberdade natildeo alcanccedila a pena de multa que tenha

sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado 393

Poderaacute se dar a posteriori agrave publicaccedilatildeo da norma a homologaccedilatildeo judicial da

aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo por falta grave para obstar a comutaccedilatildeo de pena 395

Direito Tributaacuterio

Tributos

Impostos

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ndash Repercussatildeo Geral

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) incide sobre a tari-

fa de assinatura baacutesica mensal cobrada pelas prestadoras de serviccedilos de telefonia

independentemente da franquia de minutos concedida ou natildeo ao usuaacuterio 398

Eacute devida a restituiccedilatildeo da diferenccedila do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercado-

rias e Serviccedilos (ICMS) pago a mais no regime de substituiccedilatildeo tributaacuteria para

frente se a base de caacutelculo efetiva da operaccedilatildeo for inferior agrave presumida 400

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

A falta de ediccedilatildeo de lei complementar que estabeleccedila os criteacuterios para com-

pensar os Estados por conta das desoneraccedilotildees do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de

Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sobre as exportaccedilotildees (Emenda Constitucional

422003) configura estado de inconstitucionalidade por omissatildeo 402

456

A vedaccedilatildeo pela legislaccedilatildeo estadual ao aproveitamento dos creacuteditos do Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) gerados pela entrada de

insumos tributados quando o contribuinte faz opccedilatildeo pela tributaccedilatildeo da saiacuteda

das mercadorias com base de caacutelculo do imposto reduzida natildeo viola o princiacute-

pio da natildeo cumulatividade 406

Eacute inconstitucional lei estadual que embora natildeo tenha criado propriamente

um novo benefiacutecio fiscal ampliou unilateralmente programas de incentivo

relativos ao Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sem

qualquer anuecircncia dos demais Estados e do Distrito Federal 408

Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN)

Eacute inconstitucional lei municipal que veicule exclusatildeo de valores da base de

caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) fora das

hipoacuteteses previstas em lei complementar nacional 411

Tambeacutem eacute incompatiacutevel com o texto constitucional medida fiscal que resulte

indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida pelo art 88 do Ato

das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT) a partir da reduccedilatildeo da

carga tributaacuteria incidente sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilo na territorialidade do

ente tributante 412

Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) ndash Repercussatildeo Geral

As operadoras de planos privados de assistecircncia agrave sauacutede (plano de sauacutede e

seguro-sauacutede) realizam prestaccedilatildeo de serviccedilo sujeita ao Imposto Sobre Servi-

ccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) previsto no art 156 III da Constituiccedilatildeo

Federal (CF) 414

Contribuiccedilotildees

Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) natildeo compotildee a

base de caacutelculo para a incidecircncia da contribuiccedilatildeo para o PIS e da Cofins 416

Contribuiccedilotildees profissionais ndash Repercussatildeo Geral

Eacute inconstitucional por ofensa ao princiacutepio da legalidade tributaacuteria lei que de-

lega aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas a competecircncia

de fixar ou majorar sem paracircmetro legal o valor das contribuiccedilotildees de interes-

se das categorias profissionais e econocircmicas usualmente cobradas sob o tiacutetulo

457

de anuidades vedada ademais a atualizaccedilatildeo desse valor pelos conselhos em

percentual superior aos iacutendices legalmente previstos 418

Contribuiccedilotildees profissionais

Satildeo constitucionais os dispositivos da Lei 125142011 que dizem respeito agrave

fixaccedilatildeo de anuidades devidas aos conselhos profissionais 420

Taxas

Ato normativo infralegal ndash Valor da taxa ndash Repercussatildeo Geral

Natildeo viola a legalidade tributaacuteria lei que prescrevendo o teto possibilita ao

ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporccedilatildeo razoaacutevel com os

custos da atuaccedilatildeo estatal valor esse que natildeo pode ser atualizado por ato do

proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de corre-

ccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos 424

Taxa de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento

As taxas municipais de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento natildeo podem ter como base

de caacutelculo o nuacutemero de empregados ou ramo de atividade exercida pelo con-

tribuinte 426

Este livro foi produzido na Coordenadoria de Divulgaccedilatildeo de Juris-prudecircncia vinculada agrave Secretaria de Documentaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Foi projetado por Eduardo Franco Dias e com-posto por Camila Penha Soares A capa foi criada por Roberto Hara Wata nabe

A fonte eacute a Dante MT Std projetada nos anos 1950 por Giovanni Mardersteig influenciado pelos tipos cunhados por Francesco Griffo entre 1495 e 1516 e editada em versatildeo eletrocircnica por Ron Carpenter em 1993

O livro foi concluiacutedo em 25 de julho de 2018

Page 3: INFORMATIVOS STF 2017 · 2019. 2. 26. · Informativo STF não possa ser considerado oficial, baseia-se estritamente em informa-ções públicas. A obra que ora se apresenta baseia-se

Secretaria-Geral da Presidecircncia

Maria Cristina Petcov

Secretaria de Documentaccedilatildeo Ana Valeacuteria de Oliveira Teixeira

Coordenadoria de Jurisprudecircncia Comparada e Divulgaccedilatildeo de Julgados Andreia Fernandes de Siqueira

Coordenadoria de Divulgaccedilatildeo de Jurisprudecircncia Juliana Viana Cardoso

Redaccedilatildeo Alessandra Correia Marreta Andreia Fernandes de Siqueira Anna Daniela de Arauacutejo Martins dos Santos Diego Oliveira de Andrade Soares Fernando Carneiro Rosa Fortes Gisele Landim de Souza Janaiacutena Nicolau Delgado Jean Francisco Correcirca Minuzzi Joatildeo de Souza Nascimento Neto Luiz Carlos Gomes de Freitas Junior Maria Beatriz Moura de Saacute Ricardo Henriques Pontes Tays Renata Lemos Nogueira e Tiago Batista Cardoso

Produccedilatildeo graacutefica e editorial Juliana Viana Cardoso Renan de Moura Sousa e Rochelle Quito

Revisatildeo Ameacutelia Lopes Dias de Arauacutejo Daniela Pires Cardoso Juliana Silva Pereira de Souza Lilian de Lima Falcatildeo Braga Maacutercia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy e Patriacutecio Coelho Noronha

Capa Roberto Hara Watanabe

Projeto graacutefico Eduardo Franco Dias

Diagramaccedilatildeo Camila Penha Soares

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)Supremo Tribunal Federal ndash Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal

Brasil Supremo Tribunal Federal (STF)

Informativos STF 2017 [recurso eletrocircnico] teses e fundamentos Supre-mo Tribunal Federal -- Brasiacutelia STF Secretaria de Documentaccedilatildeo 2018

485 p

Organizado por mateacuterias

Modo de acesso lthttpwwwstfjusbrlivroinformativos2017gt

ISBN 978-85-54223-02-1

1 Tribunal Supremo jurisprudecircncia Brasil I Tiacutetulo

CDDir-3414191

Ministra Caacutermen Luacutecia Antunes Rocha (21-6-2006) Presidente

Ministro Joseacute Antonio Dias Toffoli (23-10-2009) Vice-Presidente

Ministro Joseacute Celso de Mello Filho (17-8-1989) Decano

Ministro Marco Aureacutelio Mendes de Farias Mello (13-6-1990)

Ministro Gilmar Ferreira Mendes (20-6-2002)

Ministro Enrique Ricardo Lewandowski (16-3-2006)

Ministro Luiz Fux (3-3-2011)

Ministra Rosa Maria Pires Weber (19-12-2011)

Ministro Luiacutes Roberto Barroso (26-6-2013)

Ministro Luiz Edson Fachin (16-6-2015)

Ministro Alexandre de Moraes (22-3-2017)

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

APRESENTACcedilAtildeO

Tanto nas faculdades de Direito como nos manuais das disciplinas desse ramo do conhecimento eacute notaacutevel o destaque que vem sendo dado aos posicionamentos ju-diciais Na mesma esteira a atuaccedilatildeo dos profissionais do Direito eacute cada vez mais lastreada em precedentes dos tribunais superiores e notadamente do Supremo Tribunal Federal (STF)

Nesse contexto eacute possiacutevel inferir que haacute crescente interesse por obras que fran-queiem de forma organizada e de faacutecil consulta o acesso agrave jurisprudecircncia emanada pelo STF

Com o intuito de atender tal demanda o Tribunal vem publicando desde 1995 o Informativo STF espeacutecie de ldquojornal juriacutedicordquo que veicula resumos originalmente semanais e hoje tambeacutem mensais das circunstacircncias faacuteticas e processuais e dos fun-damentos proferidos oralmente nas sessotildees de julgamento

Conforme consta do cabeccedilalho de todas as ediccedilotildees do perioacutedico os boletins satildeo elaborados ldquoa partir de notas tomadas nas sessotildees de julgamento das Turmas e do Plenaacuteriordquo de modo que contecircm ldquoresumos natildeo oficiais de decisotildees proferidas pelo Tribunalrdquo Faz-se tal observaccedilatildeo para esclarecer ao leitor que embora o conteuacutedo do Informativo STF natildeo possa ser considerado oficial baseia-se estritamente em informa-ccedilotildees puacuteblicas

A obra que ora se apresenta baseia-se exclusivamente nos acoacuterdatildeos publicados ao longo de 2017 tendo por referecircncia casos que foram noticiados no Informativo STF O acesso aos argumentos de Suas Excelecircncias na exatidatildeo precisa do vernaacuteculo escrito permite explorar a riqueza teacutecnica neles contida e estudar com mais rigor a funda-mentaccedilatildeo das decisotildees do Tribunal

Eacute bom ressaltar que o leitor pode acompanhar mensalmente este trabalho ao aces-sar o Boletim de Acoacuterdatildeos Publicados disponiacutevel no site do Tribunal (Portal do STFJurisprudecircnciaBoletim de Acoacuterdatildeos Publicados)

Um novo ponto de vista sobre a jurisprudecircncia

Eacute da essecircncia do Informativo STF produzir uma siacutentese de decisotildees proferidas pela Cor-te durante as sessotildees de julgamento sem avanccedilar em anaacutelise abstrata da jurisprudecircn-

cia do Tribunal Jaacute o livro Teses e fundamentos percorre caminho diverso e se aprofunda nos julgados do STF para oferecer um produto mais complexo

Desse modo o livro tem por objetivos I ndash Elaborar teses redigidas com base no dispositivo1 dos acoacuterdatildeos e abstraiacutedas das notiacutecias de julgamento e II ndash Analisar a fundamentaccedilatildeo adotada pelo Tribunal e na sequecircncia esboccedilar um panorama do entendimento da Corte sobre os ramos do DireitoA proposta eacute que as teses apontem como caminhou a jurisprudecircncia da Suprema

Corte brasileira ao longo do ano e ainda permitam vislumbrar futuros posiciona-mentos do Tribunal tendo por referecircncia os processos jaacute julgados Cumpre destacar que essas teses ndash com os respectivos fundamentos ndash natildeo traduzem necessariamente a pacificaccedilatildeo da jurisprudecircncia num ou noutro sentido Elas se prestam simplesmente a fornecer mais um instrumento de estudo da jurisprudecircncia e a complementar a funccedilatildeo desempenhada pelo Informativo STF

Tendo isso em vista os textos que compotildeem o livro estruturam-se em tese ju-

riacutedica extraiacuteda do julgado2 e resumo da fundamentaccedilatildeo2 Pretende-se com esse padratildeo que o destaque dado aos dispositivos dos acoacuterdatildeos seja complementado por seus respectivos fundamentos

A ediccedilatildeo de 2017 passou por reformulaccedilatildeo do projeto graacutefico Os dados do pro-

cesso em anaacutelise2 foram movidos para o cabeccedilalho de cada resumo e com o objetivo de garantir acesso raacutepido ao conteuacutedo de teses fixadas no fim da obra foi incluiacuteda uma lista de todas as teses contidas no livro organizadas por ramo do Direito

As decisotildees acerca da redaccedilatildeo e da estrutura do livro foram guiadas tambeacutem pela busca da otimizaccedilatildeo do tempo de seu puacuteblico-alvo Afinal a leitura de acoacuterdatildeos de votos ou mesmo de ementas demandaria esforccedilo interpretativo e tempo dos quais o estudante ou o operador do Direito muitas vezes natildeo dispotildee Assim deu-se pre-ferecircncia a formato de redaccedilatildeo que destacasse o dispositivo do acoacuterdatildeo e seus funda-mentos ao mesmo tempo que traduzisse de forma sinteacutetica o entendimento do STF

Em busca de mais fluidez e concisatildeo decidiu-se retirar do texto principal as re-ferecircncias que natildeo fossem essenciais agrave sua redaccedilatildeo Assim foram transpostos para notas de fim2 entre outras informaccedilotildees pertinentes relatoacuterios de situaccedilotildees faacuteticas e observaccedilotildees processuais quando necessaacuterios agrave compreensatildeo do caso precedentes jurisprudenciais e transcriccedilotildees de normativos ou de doutrina3

A mesma objetividade que orientou a estrutura redacional dos resumos norteou a organizaccedilatildeo dos julgados em disciplinas do Direito e em temas Estes por sua vez

foram subdivididos em assuntos2 especiacuteficos Tal sistematizaccedilatildeo do conteuacutedo visa mais uma vez facilitar o trabalho dos estudantes e dos operadores do Direito que compotildeem o puacuteblico-alvo desta obra

A esse respeito sob o acircngulo dos ramos do Direito optou-se pela anaacutelise vertical dos julgados do ano o que propicia raacutepida visualizaccedilatildeo e comparaccedilatildeo de mateacuterias semelhantes decididas pelos oacutergatildeos do STF A obra permite assim que o leitor veri-fique de forma faacutecil e segura a evoluccedilatildeo jurisprudencial de um dado tema ao longo do tempo

A ideia foi em resumo aliar a objetividade caracteriacutestica do Informativo STF com a profundidade e a riqueza teacutecnico-juriacutedica contida nos acoacuterdatildeos e nos votos dos ministros Para cumprir tal finalidade foi necessaacuterio interpretar os acoacuterdatildeos dos jul-gamentos

Todavia se por um lado eacute certo que a redaccedilatildeo de resumos demanda algum grau de liberdade interpretativa dos documentos originais por outro a hermenecircutica re-conhece ser inerente agrave interpretaccedilatildeo juriacutedica certa dose de subjetividade

Nessa perspectiva embora os analistas responsaacuteveis pelo trabalho tenham se es-forccedilado para ndash acima de tudo ndash manter fidelidade aos entendimentos do STF ao mes-mo tempo que conciliavam concisatildeo e acuidade na remissatildeo aos fundamentos das decisotildees natildeo se deveraacute perder de vista que os resultados do exame da jurisprudecircncia aqui expostos satildeo fruto de interpretaccedilatildeo desses servidores

Espaccedilo para participaccedilatildeo do leitor

Os enunciados aqui publicados tanto podem conter trechos do julgado original ndash na hipoacutetese de estes sintetizarem a ideia principal ndash quanto podem ser resultado ex-clusivo da interpretaccedilatildeo dos acoacuterdatildeos pelos analistas responsaacuteveis pela compilaccedilatildeo Na obra estatildeo disponiacuteveis os links de acesso agrave iacutentegra dos acoacuterdatildeos o que facilita a conferecircncia da acuidade dessa interpretaccedilatildeo O leitor poderaacute encaminhar duacutevidas criacuteticas e sugestotildees para o e-mail cjcdstfjusbr

Ademais entre as razotildees que motivaram a ediccedilatildeo deste trabalho e a opccedilatildeo por este formato especiacutefico estaacute justamente o propoacutesito de fomentar a discussatildeo e de con-tribuir para a difusatildeo do ldquopensamentordquo do Tribunal e para a construccedilatildeo do conheci-mento juriacutedico Com isso promove-se maior abertura agrave participaccedilatildeo da sociedade no exerciacutecio da atividade constitucionalmente atribuiacuteda ao STF

1 Deve-se ter em mente que muitas vezes os dispositivos dos acoacuterdatildeos se limitam a ldquodar (ou ne-gar) provimento ao recursordquo ou ainda ldquoconceder (ou natildeo) a ordemrdquo Embora esses comandos jurisdicionais efetivamente componham o dispositivo da sentenccedila do ponto de vista da anaacutelise das decisotildees judiciais ndash e da jurisprudecircncia ndash eles significam muito pouco Por evidente o objeto deste trabalho eacute o tema decidido pela Corte seja ele de direito material seja de direito processual e natildeo o mero resultado processual de uma demanda especiacutefica Nesse sentido talvez seja possiacutevel discer-nir entre o conteuacutedo formal da decisatildeo que seria exemplificativamente o resultado do recurso (conhecidonatildeo conhecido providonatildeo provido) ou da accedilatildeo (procedecircnciaimprocedecircncia) e o conteuacutedo material da decisatildeo que efetivamente analisa a questatildeo de direito (material ou proces-sual) debatida e possui relevacircncia para a anaacutelise da jurisprudecircncia Em outras palavras o conteuacutedo material da decisatildeo corresponderia aos fragmentos do provimento jurisdicional que tecircm aptidatildeo para transcender ao processo em anaacutelise e constituir o repertoacuterio de entendimentos do Tribunal sobre o ordenamento juriacutedico brasileiro

2 Ver Infograacutefico paacutegina 8

3 Informaccedilotildees entre colchetes natildeo constam do texto original

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado

Nos termos do art 20 XI da Constituiccedilatildeo Federal satildeo bens da Uniatildeo ldquoas terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendiosrdquo

Aleacutem disso desde a Carta de 1934 natildeo se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indiacutegenas como devolutas o mesmo ocorrendo na Constituiccedilatildeo de 1988 por meio de expressa disposiccedilatildeo contida no art 26 IV1

Nesse sentido definido pelas provas carreadas aos autos que as terras que passaram a compor parque indiacutegena eram ocupadas historicamente por iacutendios natildeo haacute falar em titularidade do Estado-membro tampouco em eventual dever de a Uniatildeo indenizaacute-lo por suposta desapropriaccedilatildeo indireta

1 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () IV ndash as terras devolutas natildeo compreendidas entre as da Uniatildeordquo

Assunto

Tese juriacutedica extraiacuteda do julgado

Resumo da fundamentaccedilatildeo

Dados do processo em anaacutelise

Nota de fim

ACO 362DJE de 3-10-2017ACO 366DJE de 1ordm-10-2018rel min Marco Aureacutelio

PlenaacuterioInformativo STF 873

INFOGRAacuteFICO

SUMAacuteRIO

Siglas e abreviaturas 10

Siglas de classes e incidentes processuais 11

Direito Administrativo 12

Direito Ambiental 66

Direito Civil 70

Direito Constitucional 81

Direito Eleitoral 235

Direito Empresarial 243

Direito Financeiro 257

Direito Internacional 260

Direito Penal 269

Direito Previdenciaacuterio 307

Direito Processual Civil 319

Direito Processual Penal 351

Direito Tributaacuterio 396

Iacutendice de teses 427

SIGLAS E ABREVIATURAS

ac acoacuterdatildeo1ordf T Primeira Turma2ordf T Segunda TurmaCF Constituiccedilatildeo FederalCNJ Conselho Nacional de JusticcedilaCofins Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade SocialCP Coacutedigo PenalCPC Coacutedigo de Processo CivilCPP Coacutedigo de Processo PenalCRFB Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do BrasilCTN Coacutedigo Tributaacuterio NacionalDJ Diaacuterio da JusticcedilaDJE Diaacuterio da Justiccedila EletrocircnicoEC Emenda ConstitucionalICMS Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e ServiccedilosINSS Instituto Nacional do Seguro Socialj julgamento emLC Lei ComplementarLOA Lei Orccedilamentaacuteria AnualLoman Lei Orgacircnica da Magistratura NacionalOAB Ordem dos Advogados do BrasilP PlenaacuterioPASEP Programa de Formaccedilatildeo do Patrimocircnio do Servidor PuacuteblicoPIS Programa de Integraccedilatildeo Socialred p o ac redator para o acoacuterdatildeorel min relator o ministroRICD Regimento Interno da Cacircmara dos DeputadosRTJ Revista Trimestral de JurisprudecircnciaSTF Supremo Tribunal FederalT TurmaTJ Tribunal de JusticcedilaTCU Tribunal de Contas da UniatildeoTRF Tribunal Regional Federal

SIGLAS DE CLASSES E INCIDENTES PROCESSUAIS

AC Accedilatildeo CautelarACO Accedilatildeo Ciacutevel OriginaacuteriaADC Accedilatildeo Declaratoacuteria de ConstitucionalidadeADI Accedilatildeo Direta de InconstitucionalidadeADO Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade por OmissatildeoADPF Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito FundamentalAgR Agravo RegimentalAI Agravo de InstrumentoAO Accedilatildeo OriginaacuteriaAP Accedilatildeo PenalAR Accedilatildeo RescisoacuteriaARE Recurso Extraordinaacuterio com AgravoCC Conflito de CompetecircnciaED Embargos de DeclaraccedilatildeoEDv Embargos de DivergecircnciaEI Embargos infringentesEP Execuccedilatildeo PenalExt ExtradiccedilatildeoHC Habeas CorpusIndCom Indulto ou ComutaccedilatildeoInq InqueacuteritoMC Medida CautelarMI Mandado de InjunccedilatildeoMS Mandado de SeguranccedilaPet PeticcedilatildeoProgReg Progressatildeo de RegimeQO Questatildeo de OrdemRcl ReclamaccedilatildeoRE Recurso ExtraordinaacuterioREF ReferendoRG Repercussatildeo GeralRHC Recurso em Habeas CorpusRMS Recurso em Mandado de SeguranccedilaRp RepresentaccedilatildeoSE Sentenccedila Estrangeira

DIR

EA

DM

DIR

EIT

O

AD

MIN

IST

RAT

IVO

ATOS ADMINISTRATIVOSDIREITO ADMINISTRATIVO

14iacutendice de teses

Eacute vedado ao Poder Judiciaacuterio analisar o meacuterito de ato administrativo

O meacuterito do ato administrativo trata de ldquomateacuteria submetida a criteacuterios de conve-niecircncia e oportunidaderdquo1

Aumento de vencimento legalmente concedido com data predeterminada

para iniacutecio de eficaacutecia caracteriza aquisiccedilatildeo de direito

Posta a norma que conferiu aumentos dos valores remuneratoacuterios natildeo se haacute cogitar de expectativa mas de direito que natildeo mais poderia vir a ser reduzido pelo legislador A diminuiccedilatildeo dos valores legalmente estatuiacutedos configura reduccedilatildeo de vencimentos em sistema constitucional no qual a irredutibilidade eacute a regra a ser obedecida2

Assim aumento salarial legalmente concedido ndash e jaacute incorporado ao patrimocircnio dos servidores tendo prazo inicial definido para sua eficaacutecia financeira ndash recai no ter-mo prefixo a que se refere o sect 2ordm do art 6ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que caracteriza a aquisiccedilatildeo do direito e a proteccedilatildeo juriacutedica que lhe concede a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

1 RMS 23543 rel min Ilmar Galvatildeo 1ordf T DJ de 13-10-2000

2 RE 298694 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 23-4-2004

Direito Administrativo Ȥ Atos administrativos

Ȥ Meacuterito administrativo Ȥ Controle do meacuterito

ADI 4013rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 19-4-2017Informativo STF 819

CONTRATOS ADMINISTRATIVOSDIREITO ADMINISTRATIVO

16iacutendice de teses

RE 760931RG ‒ Tema 246 red p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 12-9-2017Informativo STF 862

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado

natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabili-

dade pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou subsidiaacuterio nos ter-

mos do art 71 sect 1ordm da Lei 866619931

A responsabilizaccedilatildeo do poder puacuteblico natildeo pode ocorrer de maneira geneacuterica ou au-tomaacutetica A imputaccedilatildeo da culpa in vigilando ou in elegendo agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica por suposta deficiecircncia na fiscalizaccedilatildeo da fiel observacircncia das normas trabalhistas pela empresa contratada somente pode acontecer nos casos em que se tenha a efe-tiva comprovaccedilatildeo da ausecircncia de fiscalizaccedilatildeo

A alegada ausecircncia de comprovaccedilatildeo em juiacutezo da efetiva fiscalizaccedilatildeo do contrato natildeo substitui a necessidade de prova taxativa do nexo de causalidade entre a conduta da Administraccedilatildeo e o dano sofrido A Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo pode responder pelas diacutevidas trabalhistas da contratada a partir de mera presunccedilatildeo Soacute eacute admissiacutevel que isso ocorra caso a condenaccedilatildeo esteja inequivocamente lastreada em elementos concretos de prova da falha da fiscalizaccedilatildeo do contrato

A Lei 90321995 ao reformar o art 71 da Lei 86661993 criou um sect 2ordm2 dizen-do no sect 1ordm que natildeo haacute responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo Puacuteblica pelo inadimplemento das obrigaccedilotildees trabalhistas A Administraccedilatildeo Puacuteblica jaacute cumpre no momento da licitaccedilatildeo a observacircncia da aptidatildeo orccedilamentaacuteria e financeira da empresa contratada A constitucionalidade desse sect 1ordm declarada na Accedilatildeo Declaratoacuteria de Cons-titucionalidade 163 veda a transferecircncia automaacutetica agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica dos en-cargos trabalhistas resultantes da execuccedilatildeo do contrato de prestaccedilatildeo dos serviccedilos

Com relaccedilatildeo agrave responsabilidade fiscal inserida no sect 2ordm haacute responsabilidade so-lidaacuteria da Administraccedilatildeo Ademais com o advento da Lei 90321995 o legislador buscou excluir a responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo no sentido de evitar o descumprimento do disposto no art 71 da Lei 86661993

Direito Administrativo Ȥ Contratos administrativos

Ȥ Execuccedilatildeo dos contratos Ȥ Responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

17iacutendice de teses

1 ldquoArt 71 O contratado eacute responsaacutevel pelos encargos trabalhistas previdenciaacuterios fiscais e comerciais resultantes da execuccedilatildeo do contrato sect 1ordm A inadimplecircncia do contratado com referecircncia aos encar-gos trabalhistas fiscais e comerciais natildeo transfere agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a responsabilidade por seu pagamento nem poderaacute onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizaccedilatildeo e o uso das obras e edificaccedilotildees inclusive perante o Registro de Imoacuteveisrdquo (Redaccedilatildeo dada pela Lei 9032 de 1995)

2 ldquoArt 71 () sect 2ordm A Administraccedilatildeo responde solidariamente com o contratado pelos encargos previ-denciaacuterios resultantes da execuccedilatildeo do contrato nos termos do art 31 da Lei n 8212 de 24 de julho de 1991rdquo (Redaccedilatildeo dada pela Lei 9032 de 1995)

3 ADC 16 rel min Cezar Peluso P DJE de 24-11-2010

CONTROLE DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO ADMINISTRATIVO

19iacutendice de teses

RE 553710RG ‒ Tema 3941 rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 847

Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisi-

ccedilatildeo ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do

oacutergatildeo competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo

uacutenico da Lei 1055920022 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequi-

do e certo

Ao tratar do regime do anistiado poliacutetico a Lei 105592002 aleacutem de reconhecer a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico tambeacutem reconheceu ao beneficiado o direito a repa-raccedilatildeo econocircmica de caraacuteter indenizatoacuterio que pode ser paga em prestaccedilatildeo uacutenica ou em prestaccedilatildeo mensal permanente e continuada

A existecircncia de dotaccedilatildeo legal eacute suficiente para que haja o cumprimento integral da portaria que reconheceu a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico conforme o art 12 sect 4ordm da Lei 105592002

Demonstrada portanto a existecircncia de dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria decorrente de presumida legiacutetima programaccedilatildeo financeira pela Uniatildeo natildeo se visualiza afronta ao princiacutepio da legalidade da despesa puacuteblica ou agraves regras constitucionais que impotildeem limitaccedilotildees agraves despesas de pessoal e concessotildees de vantagens e benefiacutecios pessoais

Dessa forma o descumprimento da obrigaccedilatildeo de pagamento ldquode valor certo e determinado caracteriza ato omissivo da Administraccedilatildeo Puacuteblicardquo3

Aleacutem disso ao Poder Judiciaacuterio natildeo compete a anaacutelise de forma detalhada da exe-cuccedilatildeo orccedilamentaacuteria para concluir pela suficiecircncia ou insuficiecircncia de recursos para o pagamento das indenizaccedilotildees aos anistiados poliacuteticos Esse exame cabe ao admi-nistrador em momento anterior agrave publicaccedilatildeo da portaria que declara a condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico e assegura as reparaccedilotildees econocircmicas correspondentes

Direito Administrativo Ȥ Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Controle judicial Ȥ Mandado de seguranccedila ndash Repercussatildeo Geral

20iacutendice de teses

Havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees

devidas aos anistiados poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibi-

lidade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado

no prazo de sessenta dias

Havendo accedilatildeo especiacutefica para pagamento das reparaccedilotildees econocircmicas a anistiados poliacuteticos civis bem como destinaccedilatildeo da verba em montante expressivo em lei natildeo se pode acolher a alegaccedilatildeo de ausecircncia de previsatildeo orccedilamentaacuteria para atendimento da pretensatildeo4

Ademais natildeo haacute que se aplicar o regime juriacutedico do art 100 da Constituiccedilatildeo Federal se a Administraccedilatildeo Puacuteblica reconhece administrativamente que o anistiado possui direito ao valor decorrente da concessatildeo da anistia A diacutevida da Fazenda Puacuteblica natildeo foi reconhecida por meio de decisatildeo do Poder Judiciaacuterio A discussatildeo cinge-se ao mo-mento do pagamento O direito liacutequido e certo do impetrante jaacute foi reconhecido pela portaria especiacutefica que declarou sua condiccedilatildeo de anistiado sendo entatildeo fixado o valor que lhe era devido de cunho indenizatoacuterio O que se tem na espeacutecie eacute uma obrigaccedilatildeo de fazer por parte da Uniatildeo que estaacute sendo descumprida

Por fim natildeo se admite o argumento de que o pagamento dos valores levaraacute a uma situaccedilatildeo de exaustatildeo orccedilamentaacuteria pois a inexistecircncia de recursos deve ser real demonstrada de forma esclarecedora A exaustatildeo jaacute deve estar presente ou seja a indisponibilidade de caixa deve ser situaccedilatildeo atual e natildeo mera possibilidade futura

1 ldquoFixada a seguinte tese de repercussatildeo geral dividida em trecircs pontos 1) Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisiccedilatildeo ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do oacutergatildeo competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo uacutenico da Lei 105592002 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequido e certo 2) havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees devidas aos anistia-dos poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibilidade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias 3) na ausecircncia ou na insuficiecircncia de disponi-bilidade orccedilamentaacuteria no exerciacutecio em curso cumpre agrave Uniatildeo promover sua previsatildeo no projeto de lei orccedilamentaacuteria imediatamente seguinterdquo

21iacutendice de teses

2 ldquoArt 12 Fica criada no acircmbito do Ministeacuterio da Justiccedila a Comissatildeo de Anistia com a finalidade de examinar os requerimentos referidos no art 10 desta Lei e assessorar o respectivo Ministro de Esta-do em suas decisotildees () sect 4ordm As requisiccedilotildees e decisotildees proferidas pelo Ministro de Estado da Justiccedila nos processos de anistia poliacutetica seratildeo obrigatoriamente cumpridas no prazo de sessenta dias por todos os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica e quaisquer outras entidades a que estejam dirigidas ressalvada a disponibilidade orccedilamentaacuteria () Art 18 Caberaacute ao Ministeacuterio do Planejamento Or-ccedilamento e Gestatildeo efetuar com referecircncia agraves anistias concedidas a civis mediante comunicaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila no prazo de sessenta dias a contar dessa comunicaccedilatildeo o pagamento das reparaccedilotildees econocircmicas desde que atendida a ressalva do sect 4ordm do art 12 desta Leirdquo

3 RMS 26899 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 6-8-2010

4 RMS 27094 rel min Dias Toffoli DJE de 2-8-2010

22iacutendice de teses

RMS 34054rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 28-8-2017Informativo STF 863

A instauraccedilatildeo de processo especiacutefico de anulaccedilatildeo de anistia caracteriza ato im-

pugnaacutevel capaz de por si soacute viabilizar impugnaccedilatildeo pela via mandamental

O tema relacionado agrave revisatildeo das anistias deferidas a militares afastados por mo-tivos poliacuteticos pode ser delimitado em pelo menos duas fases a) publicaccedilatildeo de portaria1 por meio da qual se determina a realizaccedilatildeo de amplo procedimento de revisatildeo das portarias declaratoacuterias da condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico2 b) instaura-ccedilatildeo de processos individuais de reanaacutelise dos atos de anistia etapa inaugurada por despacho do ministro da Justiccedila no sentido da revisatildeo de ofiacutecio das concessotildees de anistia autorizada a abertura de processo de anulaccedilatildeo de portaria declaratoacuteria da condiccedilatildeo de anistiado poliacutetico

A mera instauraccedilatildeo de processo geral de revisatildeo de anistias estaacutegio inicial do pro-cedimento de autotutela administrativa natildeo caracteriza ato lesivo a direito capaz de por si soacute viabilizar a impugnaccedilatildeo pela via mandamental3 No entanto as balizas satildeo outras quando ultrapassada a primeira fase procedimental estrita a estudos prelimi-nares sobre os atos concessivos de anistia a Administraccedilatildeo instaura processo tenden-te agrave anulaccedilatildeo de portaria de anistia individualizada

Nessa hipoacutetese a atuaccedilatildeo estatal mostra-se ameaccedila real objetiva e iminente agrave situaccedilatildeo juriacutedica do anistiado Assim a claacuteusula constitucional de acesso ao Judiciaacute-rio porquanto assegura ao cidadatildeo tutela contra lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direito direciona agrave adequaccedilatildeo do mandado de seguranccedila a fim de assegurar direito liacutequido e certo do impetrante

Por fim em ambas as fases a oacutetica central sustentada pelos anistiados eacute a con-figuraccedilatildeo da decadecircncia da possibilidade de o poder puacuteblico rever e anular os atos anistiadores Nesse ponto caberaacute agrave Administraccedilatildeo demonstrar junto ao Superior Tribunal de Justiccedila a natildeo ocorrecircncia presente o fato de a norma veiculada na parte final do art 54 da Lei 978419994 constituir exceccedilatildeo agrave regra que favorece o benefi-ciaacuterio do ato administrativo

Direito Administrativo Ȥ Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Controle judicial Ȥ Mandado de seguranccedila

23iacutendice de teses

1 Portaria Interministerial 1342011 do ministro de Estado da Justiccedila e do advogado-geral da Uniatildeo

2 Editadas em decorrecircncia dos afastamentos motivados pela Portaria 1104-GM31964 da Forccedila Aeacute-rea Brasileira

3 Precedentes RMS 30973 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 29-3-2012 e RMS 30993 rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJE de 4-5-2012

4 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NA PROPRIEDADEDIREITO ADMINISTRATIVO

25iacutendice de teses

A expropriaccedilatildeo prevista no art 243 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pode ser

afastada desde que o proprietaacuterio comprove que natildeo incorreu em culpa ain-

da que in vigilando ou in eligendo

O instituto previsto no art 243 da CF natildeo se traduz em verdadeira espeacutecie de desa-propriaccedilatildeo mas em penalidade ou confisco imposto ao proprietaacuterio que praticou a atividade iliacutecita de cultivar plantas psicotroacutepicas sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo sanitaacuterio do Ministeacuterio da Sauacutede2

A nova redaccedilatildeo dada pela Emenda Constitucional 812014 aleacutem de incluir a exploraccedilatildeo de trabalho escravo como nova hipoacutetese de cabimento do confisco su-primiu a previsatildeo de que a expropriaccedilatildeo seria imediata e inseriu a observacircncia dos direitos fundamentais previstos no art 5ordm da CF no que couber

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal em nenhum momento menciona a participaccedilatildeo do proprietaacuterio no cultivo iliacutecito para ensejar a sanccedilatildeo Poreacutem natildeo se pode negar que a medida eacute sancionatoacuteria exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterizaccedilatildeo

A nova redaccedilatildeo do art 243 da CF aclarou a necessidade de observacircncia de nexo miacutenimo de imputaccedilatildeo da atividade iliacutecita ao atingido pela sanccedilatildeo A responsabilidade do proprietaacuterio embora subjetiva eacute bastante proacutexima da objetiva

Se o proprietaacuterio agiu com culpa mesmo natildeo tendo participado diretamente de-veraacute ser expropriado A funccedilatildeo social da propriedade gera para o proprietaacuterio o dever de zelar pelo uso liacutecito do seu imoacutevel ainda que natildeo esteja na posse direta

Poreacutem esse dever natildeo eacute ilimitado Somente se pode exigir do proprietaacuterio que evite o iliacutecito quando isso estiver razoavelmente ao seu alcance O proprietaacuterio pode portanto afastar sua responsabilidade demonstrando que natildeo incorreu em culpa Pode provar que foi esbulhado ou ateacute enganado por possuidor ou detentor

Por fim em caso de condomiacutenio havendo boa-feacute de apenas alguns dos proprie-taacuterios a sanccedilatildeo deve ser aplicada Restaraacute ao proprietaacuterio inocente buscar reparaccedilatildeo dos demais

Direito Administrativo Ȥ Intervenccedilatildeo do Estado na propriedade

Ȥ Expropriaccedilatildeo Ȥ Demonstraccedilatildeo de culpa ndash Repercussatildeo Geral

RE 635336RG ‒ Tema 399rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 15-9-2017Informativo STF 851

26iacutendice de teses

1 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem localizadas cul-turas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordm Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreen-dido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

2 GASPARINI Dioacutegenes Direito administrativo 17 ed Satildeo Paulo Saraiva 2012 p 202

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO ADMINISTRATIVO

28iacutendice de teses

Eacute aplicaacutevel o regime dos precatoacuterios agraves sociedades de economia mista presta-

doras de serviccedilo puacuteblico proacuteprio do Estado e de natureza natildeo concorrencial1

Ao atuar nessas condiccedilotildees a sociedade de economia mista ldquopresta serviccedilo puacuteblico primaacuterio e em regime de exclusividade o qual corresponde agrave proacutepria atuaccedilatildeo do Estado haja vista natildeo visar agrave obtenccedilatildeo de lucro e deter capital social majoritaria-mente estatalrdquo2

Permitir ordens de bloqueio penhora e liberaccedilatildeo de valores da conta uacutenica do Estado de forma indiscriminada fundadas em direitos subjetivos individuais poderia significar retardo ou descontinuidade de poliacuteticas puacuteblicas ou ainda desvio da forma legalmente prevista para a utilizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos3

Por consequecircncia o uso indiscriminado desses procedimentos aleacutem de desvirtuar a vontade do legislador estadual e violar os princiacutepios constitucionais da atividade financeira estatal em especial o da legalidade orccedilamentaacuteria (CF art 167 IV4) consti-tuiria interferecircncia indevida em ofensa aos princiacutepios da independecircncia e da harmo-nia entre os Poderes (CF art 2ordm5)

1 Precedentes RE 225011 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 19-12-2002 RE 393032 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 18-12-2009 e RE 852527 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 13-2-2015

2 RE 852302 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 26-2-2016

3 ADPF 114 MC rel min Joaquim Barbosa decisatildeo monocraacutetica DJ de 27-6-2007

4 ldquoArt 167 Satildeo vedados () IV ndash a vinculaccedilatildeo de receita de impostos a oacutergatildeo fundo ou despesa ressalvadas a reparticcedilatildeo do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos a que se referem os arts 158 e 159 a destinaccedilatildeo de recursos para as accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede para manutenccedilatildeo e desenvolvi-mento do ensino e para realizaccedilatildeo de atividades da administraccedilatildeo tributaacuteria como determinado res-

Direito Administrativo Ȥ Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Administraccedilatildeo Indireta Ȥ Sociedades de economia mista

ADPF 387rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-10-2017Informativo STF 858

29iacutendice de teses

pectivamente pelos arts 198 sect 2ordm 212 e 37 XXII e a prestaccedilatildeo de garantias agraves operaccedilotildees de creacutedito por antecipaccedilatildeo de receita previstas no art 165 sect 8ordm bem como o disposto no sect 4ordm deste artigordquo

5 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

30iacutendice de teses

Os pagamentos devidos em razatildeo de pronunciamento judicial pelos conse-

lhos de fiscalizaccedilatildeo natildeo se submetem ao regime de precatoacuterios

O art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 que cuida do sistema de precatoacuterios diz res-peito a pagamentos a serem feitos natildeo pelos conselhos mas pelas Fazendas Puacuteblicas

Os conselhos de fiscalizaccedilatildeo profissionais satildeo autarquias especiais possuem perso-nalidade juriacutedica de direito puacuteblico e estatildeo submetidos agraves regras constitucionais tais como a fiscalizaccedilatildeo pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo e a submissatildeo ao sistema de concurso puacuteblico para arregimentaccedilatildeo de pessoal

Entretanto esses conselhos natildeo estatildeo submetidos ao Capiacutetulo II do Tiacutetulo VI da CF ndash que versa sobre financcedilas puacuteblicas (arts 163 a 169) ndash natildeo satildeo oacutergatildeos dotados de orccedilamentos e tampouco recebem aportes do Poder Central que eacute a Uniatildeo

Nesse sentido se natildeo eacute possiacutevel incluir os conselhos no grande todo representado pela Fazenda Puacuteblica natildeo eacute possiacutevel aplicar a eles o art 100 da CF Por conseguinte o deacutebito de conselho fiscalizador profissional natildeo eacute executaacutevel como deacutebito da Fazenda

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

Direito Administrativo Ȥ Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Administraccedilatildeo Indireta Ȥ Autarquias ndash Repercussatildeo Geral

RE 938837RG ‒ Tema 877red p o ac min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 25-9-2017Informativo STF 861

PROCESSO ADMINISTRATIVODIREITO ADMINISTRATIVO

32iacutendice de teses

O termo inicial para a formalizaccedilatildeo de mandado de seguranccedila pressupotildee a

ciecircncia do impetrante quando o ato impugnado surgir no acircmbito de proces-

so administrativo do qual seja parte

No tocante aos paracircmetros do ato de notificaccedilatildeo a Administraccedilatildeo deve seguir o disposto nos arts 3ordm1 e 262 da Lei 97841999 Tais dispositivos asseguram ao inte-ressado tomar ciecircncia da tramitaccedilatildeo dos processos administrativos ter vista dos autos obter coacutepias de documentos neles contidos e conhecer as decisotildees proferidas incumbindo ao oacutergatildeo competente perante o qual tramita o processo administrativo determinar a intimaccedilatildeo do interessado para o conhecimento da decisatildeo ou a efeti-vaccedilatildeo de diligecircncias

Ante o quadro normativo mostra-se despicienda a circunstacircncia de o ato impugna-do ter sido publicado no Diaacuterio Oficial Para que haja o curso do prazo de decadecircncia eacute indispensaacutevel natildeo apenas o que se poderia tomar como intimaccedilatildeo ficta mas contar-se com a ciecircncia inequiacutevoca do titular do direito substancial em jogo

Instruiacutedo o processo com documentos suficientes ao exame da pretensatildeo vei-

culada na peticcedilatildeo inicial descabe suscitar a inadequaccedilatildeo da via mandamental

Inexiste oacutebice ao processamento do mandado de seguranccedila quando o exame da pretensatildeo natildeo pressupotildee produccedilatildeo de provas a impetraccedilatildeo natildeo eacute utilizada como substitutiva de accedilatildeo especiacutefica e os documentos trazidos ao processo revelam a exis-tecircncia de ato impugnaacutevel passiacutevel de anaacutelise

1 ldquoArt 3ordm O administrado tem os seguintes direitos perante a Administraccedilatildeo sem prejuiacutezo de ou-tros que lhe sejam assegurados I ndash ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores que deveratildeo facilitar o exerciacutecio de seus direitos e o cumprimento de suas obrigaccedilotildees II ndash ter ciecircncia da tramitaccedilatildeo dos processos administrativos em que tenha a condiccedilatildeo de interessado ter vista dos

Direito Administrativo Ȥ Processo administrativo

Ȥ Comunicaccedilatildeo dos atos Ȥ Ciecircncia do interessado

RMS 32487rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 21-11-2017Informativo STF 884

33iacutendice de teses

autos obter coacutepias de documentos neles contidos e conhecer as decisotildees proferidas III ndash formular alegaccedilotildees e apresentar documentos antes da decisatildeo os quais seratildeo objeto de consideraccedilatildeo pelo oacutergatildeo competente IV ndash fazer-se assistir facultativamente por advogado salvo quando obrigatoacuteria a representaccedilatildeo por forccedila de leirdquo

2 ldquoArt 26 O oacutergatildeo competente perante o qual tramita o processo administrativo determinaraacute a inti-maccedilatildeo do interessado para ciecircncia de decisatildeo ou a efetivaccedilatildeo de diligecircncias sect 1ordm A intimaccedilatildeo deveraacute conter I ndash identificaccedilatildeo do intimado e nome do oacutergatildeo ou entidade administrativa II ndash finalidade da intimaccedilatildeo III ndash data hora e local em que deve comparecer IV ndash se o intimado deve comparecer pessoalmente ou fazer-se representar V ndash informaccedilatildeo da continuidade do processo independente-mente do seu comparecimento VI ndash indicaccedilatildeo dos fatos e fundamentos legais pertinentes sect 2ordm A intimaccedilatildeo observaraacute a antecedecircncia miacutenima de trecircs dias uacuteteis quanto agrave data de comparecimento sect 3ordm A intimaccedilatildeo pode ser efetuada por ciecircncia no processo por via postal com aviso de recebimen-to por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciecircncia do interessado sect 4ordm No caso de interessados indeterminados desconhecidos ou com domiciacutelio indefinido a intimaccedilatildeo deve ser efe-tuada por meio de publicaccedilatildeo oficial sect 5ordm As intimaccedilotildees seratildeo nulas quando feitas sem observacircncia das prescriccedilotildees legais mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidaderdquo

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADODIREITO ADMINISTRATIVO

35iacutendice de teses

Considerando que eacute dever do Estado imposto pelo sistema normativo

manter em seus presiacutedios os padrotildees miacutenimos de humanidade previstos no

ordenamento juriacutedico eacute de sua responsabilidade nos termos do art 37 sect 6ordm

da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a obrigaccedilatildeo de ressarcir os danos inclusive

morais comprovadamente causados aos detentos em decorrecircncia da falta

ou insuficiecircncia das condiccedilotildees legais de encarceramento

A garantia miacutenima de seguranccedila pessoal fiacutesica e psiacutequica dos detentos constitui de-ver estatal que possui amplo lastro natildeo apenas no ordenamento nacional ndash CF2 Lei 72101984 (Lei de Execuccedilatildeo Penal) Lei 94551997 (Lei de Tortura) Lei 128472013 (Sistema Nacional de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Tortura) ndash mas tambeacutem em fontes normativas internacionais adotadas pelo Brasil ndash Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos das Naccedilotildees Unidas Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos Princiacutepios e Boas Praacuteticas para a Proteccedilatildeo de Pessoas Privadas de Liberdade nas Ameacutericas (Resoluccedilatildeo 12008 da Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos) Convenccedilatildeo da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis De-sumanos ou Degradantes e Regras Miacutenimas para o Tratamento de Prisioneiros

O dever de ressarcir danos inclusive morais efetivamente causados por accedilotildees e omissotildees dos agentes estatais ou pela inadequaccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos decorre diretamente do art 37 sect 6ordm da CF Tal norma eacute autoaplicaacutevel natildeo sujeita a interme-diaccedilatildeo legislativa ou administrativa para assegurar o correspondente direito subje-tivo agrave indenizaccedilatildeo

Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuaccedilatildeo da Adminis-traccedilatildeo ou dos seus agentes nasce a responsabilidade civil do Estado Nesse caso os recursos financeiros para a satisfaccedilatildeo do dever de indenizar objeto da condenaccedilatildeo seratildeo providos se for o caso na forma do art 100 da CF

O Estado eacute responsaacutevel pela guarda e seguranccedila das pessoas submetidas a encarce-ramento sendo seu dever mantecirc-las em condiccedilotildees carceraacuterias com miacutenimos padrotildees

Direito Administrativo Ȥ Responsabilidade civil do Estado

Ȥ Responsabilidade objetiva Ȥ Estabelecimentos penitenciaacuterios ndash Repercussatildeo Geral

RE 580252RG ‒ Tema 365red p o ac min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 854

36iacutendice de teses

de humanidade estabelecidos em lei bem como se for o caso ressarcir os danos que daiacute decorrerem A responsabilidade estatal seraacute objetiva no que concerne agrave integri-dade fiacutesica e psiacutequica daqueles que estatildeo sob sua custoacutedia3

As violaccedilotildees a direitos fundamentais causadoras de danos pessoais a detentos em estabelecimentos carceraacuterios natildeo podem ser relevadas ao argumento de que a indeni-zaccedilatildeo natildeo tem o alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente con-siderado que depende da definiccedilatildeo e da implantaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas providecircncias essas de atribuiccedilatildeo legislativa e administrativa Bem como natildeo eacute possiacutevel invocar subterfuacutegios teoacutericos ndash tais como a separaccedilatildeo dos Poderes a reserva do possiacute-vel e a natureza coletiva dos danos sofridos ndash para se afastar a responsabilidade estatal pelas calamitosas condiccedilotildees de carceragem no Brasil

1 ldquoArt 37 () sect 6ordm As pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico e as de direito privado prestadoras de ser-viccedilos puacuteblicos responderatildeo pelos danos que seus agentes nessa qualidade causarem a terceiros assegurado o direito de regresso contra o responsaacutevel nos casos de dolo ou culpardquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVII ndash natildeo haveraacute penas () e) crueacuteis XLVIII ndash a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito a idade e o sexo do apenado XLIX ndash eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moralrdquo

3 Precedentes ARE 662563 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-4-2012 RE 466322 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 27-4-2007 e RE 272839 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 8-4-2005

SERVIDORES PUacuteBLICOSDIREITO ADMINISTRATIVO

38iacutendice de teses

Eacute constitucional a reserva de 20 das vagas oferecidas nos concursos puacute-

blicos para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito

da Administraccedilatildeo Puacuteblica Direta e Indireta Eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo aleacutem da

autodeclaraccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentificaccedilatildeo desde que

respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditoacuterio e a

ampla defesa

Esses criteacuterios prescritos na Lei 1299020141 estatildeo em consonacircncia com o ordena-mento constitucional que rejeita todas as formas de preconceito e discriminaccedilatildeo e impotildee ao Estado o dever de atuar positivamente no combate ao racismo e na redu-ccedilatildeo das desigualdades sociais (CF arts 3ordm III2 e 5ordm caput e XLII3)

A desequiparaccedilatildeo promovida por essa poliacutetica de accedilatildeo afirmativa condiz com o princiacutepio da isonomia e se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira Aleacutem disso a lei visa garantir a igualdade material entre os cidadatildeos por meio da distribuiccedilatildeo mais equitativa de bens sociais e da promoccedilatildeo do reconhecimento da populaccedilatildeo afrodescendente Dessa forma a medida favoreceria a obtenccedilatildeo de postos de prestiacutegio por um grupo histo-ricamente alijado na distribuiccedilatildeo de recursos e poder na sociedade a superaccedilatildeo dos estereoacutetipos raciais o aumento de autoestima da populaccedilatildeo negra a reduccedilatildeo dos pre-conceitos e da discriminaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo do pluralismo e a promoccedilatildeo da diversida-de na Administraccedilatildeo Puacuteblica

Nesse contexto inexiste violaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico e da eficiecircncia A reserva de vagas para negros natildeo isenta os beneficiaacuterios da aprovaccedilatildeo no certame para que sejam considerados aptos a exercer de forma adequada e eficiente um cargo puacuteblico Assim manteacutem-se a livre concorrecircncia no acesso ao serviccedilo puacuteblico com igualdade de oportunidades para todos os candidatos e a impessoalidade no processo seletivo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Concurso puacuteblico Ȥ Regramento juriacutedico

ADC 41rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 17-8-2017Informativo STF 868

39iacutendice de teses

A incorporaccedilatildeo da raccedila como criteacuterio de seleccedilatildeo potencializa o princiacutepio da efi-ciecircncia ao criar um serviccedilo puacuteblico representativo capaz de garantir que as opiniotildees e os interesses de toda a populaccedilatildeo sejam considerados nas decisotildees estatais aleacutem de refletir a realidade da populaccedilatildeo brasileira

A existecircncia de uma poliacutetica de cotas para ingresso de negros em universidades puacuteblicas natildeo afeta a reserva de cargos disponiacuteveis nos concursos puacuteblicos tampouco gera vantagem dupla para seus beneficiaacuterios Isso porque nem todos os cargos e em-pregos puacuteblicos exigem curso superior e natildeo necessariamente o beneficiaacuterio da accedilatildeo afirmativa no serviccedilo puacuteblico utilizou-se de cotas para acesso agrave educaccedilatildeo superior Ademais outros fatores impedem os negros de competir igualitariamente nos con-cursos puacuteblicos como a ausecircncia de condiccedilotildees financeiras para aquisiccedilatildeo de material didaacutetico para frequentar cursos preparatoacuterios para dedicar-se exclusivamente ao es-tudo aleacutem da persistecircncia de preconceitos

A medida observa o princiacutepio da proporcionalidade em sua triacuteplice dimensatildeo eacute adequada para a promoccedilatildeo do objetivo a que se destina eacute necessaacuteria pois natildeo haacute medida alternativa menos gravosa e igualmente idocircnea agrave promoccedilatildeo dos objetivos da Lei 129902014 e eacute proporcional em sentido estrito pois o percentual de reserva de 20 das vagas para negros eacute razoaacutevel visto que uma parcela relevante das vagas ainda continuaraacute destinada agrave livre concorrecircncia tendo a lei previsto que a reserva somente seraacute aplicada quando o nuacutemero de vagas em disputa for igual ou superior a trecircs4 Aleacutem disso a poliacutetica instituiacuteda possui caraacuteter transitoacuterio (dez anos) institui modelo de monitoramento anual dos resultados e emprega meacutetodos de identificaccedilatildeo do componente eacutetnico-racial compatiacuteveis com o princiacutepio da dignidade humana

Nesse cenaacuterio eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentifi-caccedilatildeo como mecanismos de controle de fraudes e de combate a abusos na autode-claraccedilatildeo desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o con-traditoacuterio e a ampla defesa Seriam aplicaacuteveis portanto a autodeclaraccedilatildeo presencial perante a comissatildeo do concurso a exigecircncia de fotos e a formaccedilatildeo de comissotildees com composiccedilatildeo plural para entrevista dos candidatos

Com o objetivo de garantir a efetividade dessa poliacutetica de accedilatildeo afirmativa a Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute aplicar os percentuais de reserva para todas as fases e vagas oferecidas nos concursos (natildeo apenas para as previstas no edital de abertura) Os car-gos disponiacuteveis natildeo poderatildeo ser fracionados de acordo com a especializaccedilatildeo exigida com o intuito de burlar a accedilatildeo afirmativa que soacute se aplica quando houver mais de duas vagas Por fim a ordem classificatoacuteria obtida a partir dos criteacuterios de alternacircncia

40iacutendice de teses

e proporcionalidade na nomeaccedilatildeo dos candidatos aprovados deveraacute produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiaacuterio da reserva de vagas influenciando promoccedilotildees e remoccedilotildees

1 ldquoReserva aos negros 20 (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos para pro-vimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica federal das autarquias das fundaccedilotildees puacuteblicas das empresas puacuteblicas e das sociedades de economia mista con-troladas pela Uniatildeordquo

2 ldquoArt 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil () III ndash erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e regionaisrdquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLII ndash a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo

4 Lei 129902014 ldquoArt 1ordm () sect 1ordm A reserva de vagas seraacute aplicada sempre que o nuacutemero de vagas oferecidas no concurso puacuteblico for igual ou superior a 3 (trecircs)rdquo

41iacutendice de teses

Editais de concurso puacuteblico natildeo podem estabelecer restriccedilatildeo a pessoas com

tatuagem salvo situaccedilotildees excepcionais em razatildeo de conteuacutedo que viole va-

lores constitucionais

Eacute inconstitucional a restriccedilatildeo elencada em edital de concurso para ocupaccedilatildeo de cargo emprego ou para o desempenho de funccedilatildeo puacuteblica sem expressa previsatildeo legal1 em observacircncia ao princiacutepio da legalidade e em conformidade com o art 37 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

O legislador natildeo pode escudar-se em pretensa discricionariedade para criar barrei-ras legais arbitraacuterias e desproporcionais para o acesso agraves funccedilotildees puacuteblicas de modo a ensejar a sensiacutevel diminuiccedilatildeo do nuacutemero de possiacuteveis competidores e a impossibilida-de de escolha pela Administraccedilatildeo dos melhores candidatos Por sua vez os requisitos e impedimentos previstos em lei para o exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica devem ser compa-tiacuteveis com a natureza e as atribuiccedilotildees das atividades a serem desempenhadas3 Assim restriccedilotildees ofensivas aos direitos fundamentais que violem o princiacutepio da proporciona-lidade ou sejam improacuteprias para o exerciacutecio da funccedilatildeo puacuteblica satildeo inconstitucionais

Eacute certo que as tatuagens perderam haacute algum tempo o estigma de caraacuteter mar-ginal Atualmente satildeo vistas como obra artiacutestica e alcanccedilam os mais diversos e he-terogecircneos grupos com as mais variadas idades Considerando que eacute direito funda-mental do cidadatildeo preservar sua imagem como reflexo de sua identidade o Estado natildeo pode desestimular a inserccedilatildeo voluntaacuteria de tatuagens no corpo pois estaria se opondo agrave livre manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo valores amplamente tu-telados pelo ordenamento juriacutedico brasileiro (CF art 5ordm IV4 e IX5)

Incumbe ao Estado estimular o livre intercacircmbio de opiniotildees em um mercado de ideias indispensaacutevel para a formaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica e assegurar que minorias possam se manifestar livremente no meio social o que inclui a natildeo intromissatildeo e o respeito ao direito de escolha Por sua vez a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve exercer a discricionariedade entrincheirada natildeo apenas pela avaliaccedilatildeo unilateral a respeito da

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Concurso puacuteblico Ȥ Regramento juriacutedico ndash Repercussatildeo Geral

RE 898450RG ‒ Tema 838rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

42iacutendice de teses

conveniecircncia e oportunidade de um ato mas sobretudo pelos direitos fundamentais em ambiente de perene diaacutelogo com a sociedade

Ademais com base nos princiacutepios da liberdade e da igualdade natildeo haacute justificativa para que a Administraccedilatildeo Puacuteblica e a sociedade visualizem em pessoas que possuem tatuagens marcas de marginalidade inidoneidade ou inaptidatildeo fiacutesica ou mental para o exerciacutecio de determinado cargo puacuteblico Portanto o Estado natildeo pode considerar aprioristicamente como paracircmetro discriminatoacuterio para o ingresso em uma carreira puacuteblica o simples fato de uma pessoa possuir tatuagens visiacuteveis ou natildeo Afinal isso natildeo macula por si a honra pessoal o profissionalismo e o respeito agraves instituiccedilotildees tampouco lhe diminui a competecircncia

No ordenamento juriacutedico paacutetrio vale destacar a existecircncia de diversas leis sobre o tema no acircmbito das Forccedilas Armadas direcionadas especificamente para a Marinha6 a Aeronaacuteutica7 e o Exeacutercito8 e que proiacutebem apenas tatuagens ofensivas a determi-nados valores institucionais ou que representem ofensa agrave ordem puacuteblica Quanto agrave lei especiacutefica do Exeacutercito Lei 127052012 nota-se a existecircncia de veto da Presidecircncia da Repuacuteblica ao criteacuterio proposto de restriccedilatildeo ao ingresso de candidatos portadores de tatuagens que ldquopelas suas dimensotildees ou natureza prejudiquem a camuflagem e comprometam as operaccedilotildees militaresrdquo (art 2ordm VIII b) A justificativa para o veto amparou-se na hodierna orientaccedilatildeo de que o discriacutemen soacute se explica quando acompa-nhado de paracircmetros razoaacuteveis ou de criteacuterios consistentes para sua aplicaccedilatildeo

Nesse contexto claacuteusula editaliacutecia que prevecirc impedimento agrave participaccedilatildeo de can-didato em concurso puacuteblico em anaacutelise meramente esteacutetica exclusivamente por os-tentar tatuagem visiacutevel sem qualquer simbologia que justificasse seu afastamento do certame mercecirc de natildeo possuir fundamento de validade em lei revela-se preconcei-tuosa discriminatoacuteria e desprovida de razoabilidade Aleacutem de natildeo encontrar amparo na realidade essa restriccedilatildeo afronta um dos objetivos fundamentais do Paiacutes consagra-do no art 3ordm IV da CF9 o que impede que as tatuagens sejam inseridas no rol dos criteacuterios para o reconhecimento de uma inaptidatildeo

Eventual restriccedilatildeo soacute se justifica excepcionalmente caso seja necessaacuteria agrave finalida-de que ela pretende alcanccedilar e agrave natureza do cargo puacuteblico Destarte a tatuagem que viole valores institucionais ou constitucionais ofenda a dignidade humana (como as de incentivo ao oacutedio) represente obscenidades expresse ideologias terroristas ex-tremistas e contraacuterias agraves instituiccedilotildees democraacuteticas incite a violecircncia a ameaccedila e a criminalidade ou incentive a discriminaccedilatildeo ou preconceitos de raccedila e sexo ou qual-

43iacutendice de teses

quer outra forccedila de intoleracircncia eacute incompatiacutevel com o exerciacutecio de qualquer cargo puacuteblico

1 Precedentes RE 593198 AgR rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 1ordm-10-2013 ARE 715061 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 19-6-2013 RE 558833 AgR rel min Ellen Gracie 2ordf T DJE de 25-9-2009 RE 398567 AgR rel min Eros Grau 1ordf T DJ de 24-3-2006 e MS 20973 rel min Paulo Brossard P DJ de 24-4-1992

2 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte I ndash os cargos empregos e funccedilotildees puacuteblicas satildeo acessiacuteveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei assim como aos estrangeiros na forma da leirdquo

3 Precedente ARE 678112 RG rel min Luiz Fux P DJE de 17-5-2013

4 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () IV ndash eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensa-mento sendo vedado o anonimatordquo

5 ldquoArt 5ordm () IX ndash Eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedilardquo

6 Lei 112792006 ldquoArt 11-A () XII ndash natildeo apresentar tatuagem que nos termos de detalhamento constante de normas do Comando da Marinha faccedila alusatildeo a ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas a violecircncia a criminalidade a ideia ou ato libidinoso a discri-minaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem ou ainda a ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadasrdquo

7 Lei 124642011 ldquoArt 20 () XVII ndash natildeo apresentar tatuagem no corpo com siacutembolo ou inscriccedilatildeo que afete a honra pessoal o pundonor militar ou o decoro exigido aos integrantes das Forccedilas Ar-madas que faccedila alusatildeo a a) ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas ou que pregue a violecircncia ou a criminalidade b) discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem c) ideia ou ato libidinoso e d) ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadas ou agrave sociedaderdquo

8 Lei 127052012 ldquoArt 2ordm () VIII ndash natildeo apresentar tatuagens que nos termos de detalhamento constante de normas do Comando do Exeacutercito a) faccedila alusatildeo a ideologia terrorista ou extremista contraacuteria agraves instituiccedilotildees democraacuteticas a violecircncia a criminalidade a ideia ou ato libidinoso a discri-minaccedilatildeo ou preconceito de raccedila credo sexo ou origem ou ainda a ideia ou ato ofensivo agraves Forccedilas Armadasrdquo

9 ldquoArt 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil () IV ndash promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

44iacutendice de teses

A Administraccedilatildeo Puacuteblica deve proceder ao desconto dos dias de paralisaccedilatildeo

decorrentes do exerciacutecio do direito de greve pelos servidores puacuteblicos em

virtude da suspensatildeo do viacutenculo funcional que dela decorre permitida a

compensaccedilatildeo em caso de acordo O desconto seraacute contudo incabiacutevel se ficar

demonstrado que a greve foi provocada por conduta iliacutecita do poder puacuteblico

No julgamento dos MI 670 708 e 712 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ateacute a ediccedilatildeo da lei regulamentadora do direito de greve previsto no art 37 VII da Constituiccedilatildeo Federal1 as Leis 77011988 e 77831989 poderiam ser aplicadas provisoriamente para possibilitar o exerciacutecio desse direito pelos servidores puacuteblicos em especial os arts 1ordm2 ao 9ordm3 144 155 e 176 da Lei 77831989

Entretanto esse direito natildeo eacute absoluto Conquanto a paralisaccedilatildeo seja possiacutevel porque eacute um direito constitucional ela tem consequecircncias O STF jaacute assentou o en-tendimento de que o desconto dos dias de paralisaccedilatildeo eacute ocircnus inerente agrave greve assim como a paralisaccedilatildeo parcial dos serviccedilos puacuteblicos imposta agrave sociedade eacute consequecircncia natural do movimento

A aplicaccedilatildeo do art 7ordm da Lei 778319897 induz ao entendimento de que em prin-ciacutepio a deflagraccedilatildeo de greve corresponde agrave suspensatildeo do contrato de trabalho na qual natildeo haacute falar em prestaccedilatildeo de serviccedilos tampouco em pagamento de sua contra-prestaccedilatildeo

Os grevistas assumem os riscos da empreitada pois do contraacuterio estar-se-ia dian-te de caso de enriquecimento sem causa a violar inclusive o princiacutepio da indisponi-bilidade dos bens e do interesse puacuteblico

Cabe esclarecer que a ausecircncia de regulamentaccedilatildeo do direito de greve natildeo trans-forma os dias de paralisaccedilatildeo do movimento grevista em faltas injustificadas razatildeo pela qual esse desconto natildeo tem o efeito disciplinar punitivo8 9 e 10

Por fim o desconto somente natildeo se realizaraacute se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos servidores puacuteblicos civis ou por outras situaccedilotildees excepcio-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Direitos e deveres Ȥ Direito de greve ndash Repercussatildeo Geral

RE 693456RG ‒ Tema 531rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 19-10-2017Informativo STF 845

45iacutendice de teses

nais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensatildeo da relaccedilatildeo funcional ou de trabalho tais como aquelas em que o ente da Administraccedilatildeo ou o empregador tenha contribuiacutedo mediante conduta recriminaacutevel para que a greve ocorresse ou em que haja negociaccedilatildeo sobre a compensaccedilatildeo dos dias parados ou mesmo o parcelamen-to dos descontos

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mo-ralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () VII ndash o direito de greve seraacute exercido nos termos e nos limites definidos em lei especiacuteficardquo

2 ldquoArt 1ordm Eacute assegurado o direito de greve competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercecirc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender Paraacutegrafo uacutenico O direito de greve seraacute exercido na forma estabelecida nesta Leirdquo

3 ldquoArt 9ordm Durante a greve o sindicato ou a comissatildeo de negociaccedilatildeo mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador manteraacute em atividade equipes de empregados com o propoacutesito de assegurar os serviccedilos cuja paralisaccedilatildeo resultem em prejuiacutezo irreparaacutevel pela deterio-raccedilatildeo irreversiacutevel de bens maacutequinas e equipamentos bem como a manutenccedilatildeo daqueles essenciais agrave retomada das atividades da empresa quando da cessaccedilatildeo do movimento Paraacutegrafo uacutenico Natildeo havendo acordo eacute assegurado ao empregador enquanto perdurar a greve o direito de contratar diretamente os serviccedilos necessaacuterios a que se refere este artigordquo

4 ldquoArt 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservacircncia das normas contidas na presente Lei bem como a manutenccedilatildeo da paralisaccedilatildeo apoacutes a celebraccedilatildeo de acordo convenccedilatildeo ou decisatildeo da Justiccedila do Trabalho Paraacutegrafo uacutenico Na vigecircncia de acordo convenccedilatildeo ou sentenccedila normativa natildeo constitui abuso do exerciacutecio do direito de greve a paralisaccedilatildeo que I ndash tenha por objetivo exigir o cumprimento de claacuteusula ou condiccedilatildeo II ndash seja motivada pela superveniecircncia de fato novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relaccedilatildeo de trabalhordquo

5 ldquoArt 15 A responsabilidade pelos atos praticados iliacutecitos ou crimes cometidos no curso da greve seraacute apurada conforme o caso segundo a legislaccedilatildeo trabalhista civil ou penal Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o Ministeacuterio Puacuteblico de ofiacutecio requisitar a abertura do competente inqueacuterito e oferecer denuacutencia quando houver indiacutecio da praacutetica de delitordquo

6 ldquoArt 17 Fica vedada a paralisaccedilatildeo das atividades por iniciativa do empregador com o objetivo de frustrar negociaccedilatildeo ou dificultar o atendimento de reivindicaccedilotildees dos respectivos empregados (lockout) Paraacutegrafo uacutenico A praacutetica referida no caput assegura aos trabalhadores o direito agrave per-cepccedilatildeo dos salaacuterios durante o periacuteodo de paralisaccedilatildeordquo

7 ldquoArt 7ordm Observadas as condiccedilotildees previstas nesta Lei a participaccedilatildeo em greve suspende o contrato de trabalho devendo as relaccedilotildees obrigacionais durante o periacuteodo ser regidas pelo acordo con-venccedilatildeo laudo arbitral ou decisatildeo da Justiccedila do Trabalho Paraacutegrafo uacutenico Eacute vedada a rescisatildeo de contrato de trabalho durante a greve bem como a contrataccedilatildeo de trabalhadores substitutos exceto na ocorrecircncia das hipoacuteteses previstas nos arts 9ordm e 14rdquo

46iacutendice de teses

8 ADI 3235 red p o ac min Gilmar Mendes P DJE de 12-3-2010

9 RE 226966 red p o ac min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 21-8-2009

10 RE 222532 rel min Sepuacutelveda Pertence 1ordf T DJ de 1ordm-9-2000

47iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime juriacutedico Ȥ Jornada de trabalho

A jornada de trabalho dos ocupantes de cargos puacuteblicos do Poder Judiciaacuterio

federal das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de quatro

(vinte horas semanais) e seis (trinta horas semanais) horas diaacuterias

A Lei 114162006 eacute silente a respeito da jornada de trabalho dos servidores do Po-der Judiciaacuterio Poreacutem existindo legislaccedilatildeo especiacutefica que discipline a jornada de meacutedicos e odontoacutelogos ocupantes de cargos puacuteblicos aplica-se a norma de caraacuteter especial em detrimento da regra geral inserta no caput do art 19 da Lei 811219901

Nos termos da Lei 127022012 e do Decreto-Lei 21401984 a jornada de traba-lho dos servidores das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de vinte horas semanais (no caso dos meacutedicos) e trinta horas semanais (para os odontoacutelogos)

As leis acima mencionadas natildeo contemplam servidores analistas judiciaacuterios ndash es-pecialidades medicina ou odontologia ndash ocupantes de cargo em comissatildeo e funccedilatildeo comissionada Neste caso teratildeo que cumprir a jornada integral de trabalho

1 ldquoArt 19 Os servidores cumpriratildeo jornada de trabalho fixada em razatildeo das atribuiccedilotildees pertinentes aos respectivos cargos respeitada a duraccedilatildeo maacutexima do trabalho semanal de quarenta horas e ob-servados os limites miacutenimo e maacuteximo de seis horas e oito horas diaacuterias respectivamenterdquo

MS 33853rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 29-9-2017Informativo STF 869

48iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Aposentadoria compulsoacuteria ndash Repercussatildeo Geral

RE 786540RG ‒ Tema 763rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 15-12-2017Informativo STF 851

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissatildeo natildeo se sub-

metem agrave regra da aposentadoria compulsoacuteria prevista no art 40 sect 1ordm II da

Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de pro-

vimento efetivo inexistindo tambeacutem qualquer idade limite para fins de no-

meaccedilatildeo a cargo em comissatildeo

O referido dispositivo apresenta um niacutetido recorte o regramento previdenciaacuterio nele previsto aplica-se via de regra aos servidores efetivos2 os quais embora tatildeo servidores puacuteblicos quanto os comissionados3 com eles natildeo se confundem Tivesse o dispositivo em questatildeo o intuito de referir-se aos servidores genericamente consi-derados natildeo traria na letra da norma delimitaccedilatildeo expressa

A loacutegica que rege as nomeaccedilotildees para cargos comissionados eacute distinta daquela que rege as nomeaccedilotildees para os efetivos Os uacuteltimos ingressam no serviccedilo puacuteblico me-diante concurso Haacute ademais o adicional de possuiacuterem estabilidade e tenderem a manter com o Estado um longo e soacutelido viacutenculo o que torna admissiacutevel a expulsoacuteria como forma de oxigenaccedilatildeo e renovaccedilatildeo Os primeiros por sua vez adentram a es-trutura estatal para o desempenho de cargos de chefia direccedilatildeo ou assessoramento pressupondo-se como substrato de sua designaccedilatildeo a existecircncia de uma relaccedilatildeo de confianccedila pessoal e de especialidade incomum O comissionado adentra o serviccedilo puacuteblico entre outros motivos para agregar a esse uacuteltimo uma habilidade natildeo facil-mente encontrada uma formaccedilatildeo teacutecnica especializada Exerce ao menos na teoria atribuiccedilotildees diferenciadas tanto do ponto de vista da rotina e das responsabilidades no local de trabalho como da proacutepria atividade intelectual Sendo esse o fundamento da nomeaccedilatildeo natildeo haacute razatildeo para submeter o indiviacuteduo agrave compulsoacuteria quando aleacutem de persistirem a relaccedilatildeo de confianccedila e a especializaccedilatildeo teacutecnica e intelectual o servidor eacute exoneraacutevel a qualquer momento independentemente inclusive de motivaccedilatildeo

Por sua vez o art 40 sect 13 da CF4 ao determinar a aplicaccedilatildeo do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) evidencia o tratamento dissonante a ser conferido aos

49iacutendice de teses

ocupantes de cargo em comissatildeo Dessa previsatildeo constitucional decorre que a passa-gem para a inatividade observaraacute o art 201 da CF5 e a Lei 82131990 que arrolam as seguintes espeacutecies de aposentadoria por invalidez por idade por tempo de serviccedilo e especial Portanto inexiste para os indiviacuteduos vinculados ao RGPS qualquer previ-satildeo de compulsoriedade de aposentaccedilatildeo a qual seraacute sempre facultativa

Aleacutem disso cabe destacar que se natildeo haacute idade limite para a inativaccedilatildeo e se a legis-laccedilatildeo de regecircncia natildeo cuidou do tema tambeacutem natildeo haacute idade limite para o ingresso em cargo comissionado Os motivos que justificam a natildeo incidecircncia da norma do art 40 sect 1ordm II da CF amparam tambeacutem a impossibilidade de se proibir que o maior de 75 anos seja nomeado para o exerciacutecio de cargo de confianccedila na Administraccedilatildeo Puacute-blica Enquanto natildeo houver alteraccedilatildeo constitucional ou ediccedilatildeo de lei estabelecendo idade maacutexima ndash justificada sempre pela natureza das atribuiccedilotildees do cargo ndash natildeo haacute falar em observacircncia do marco de 75 anos de idade ou de qualquer outro para fins de escolha e designaccedilatildeo para a espeacutecie de funccedilatildeo em comento

Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional inexiste oacutebice

constitucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente per-

maneccedila no cargo comissionado que jaacute desempenhava ou a que seja nomeado

para outro cargo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo uma vez que natildeo se trata

de continuidade ou criaccedilatildeo de viacutenculo efetivo com a Administraccedilatildeo

Nessas situaccedilotildees verifica-se a coexistecircncia de viacutenculo funcional efetivo e de cargo em comissatildeo sem viacutenculo efetivo para o que natildeo se vislumbra vedaccedilatildeo inclusive sob o ponto de vista previdenciaacuterio

O servidor efetivo aposentado compulsoriamente embora mantenha esse viacutenculo com a Administraccedilatildeo mesmo apoacutes sua passagem para a inatividade ao tomar posse em funccedilatildeo de provimento em comissatildeo inaugura com essa uacuteltima uma segunda e nova relaccedilatildeo agora relativa ao cargo comissionado Natildeo se trata de forma irregular de continuidade do viacutenculo efetivo uma vez que comissionados e efetivos satildeo espeacute-cies diacutespares do gecircnero servidor puacuteblico

1 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o

50iacutendice de teses

disposto neste artigo sect 1ordm Os servidores abrangidos pelo regime de previdecircncia de que trata este ar-tigo seratildeo aposentados calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos sectsect 3ordm e 17 () II ndash compulsoriamente com proventos proporcionais ao tempo de contribuiccedilatildeo aos 70 (setenta) anos de idade ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade na forma de lei complementarrdquo

2 Os cargos de provimento efetivo satildeo aqueles ldquodestinados ao provimento em caraacuteter definitivo A permanecircncia eacute que identifica a forma de ocupaccedilatildeo lsquoEacute o cargo ocupado por algueacutem sem transito-riedade ou adequado a uma ocupaccedilatildeo permanentersquo no preciso dizer de Dioacutegenes Gasparini Eles devem ser exercidos obrigatoriamente por funcionaacuterios concursados e de forma permanente res-salvada a titularidade provisoacuteria do funcionaacuterio ainda em periacuteodo probatoacuteriordquo (OLIVEIRA Regis Fernandes de Servidores puacuteblicos 3 ed rev e ampl Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 48)

3 Os cargos de provimento em comissatildeo por sua vez consubstanciam aqueles ldquodestinados a livre provimento e exoneraccedilatildeo O sentido literal de lsquocomissatildeorsquo pode ser expresso como um encargo ou incumbecircncia temporaacuteria oferecida pelo comitente Nesse mesmo sentido o cargo em comissatildeo pode ser cargo isolado ou permanente criado por lei de ocupaccedilatildeo transitoacuteria e livremente preen-chido pelo chefe do Executivo segundo seu exclusivo criteacuterio de confianccedila Transitoacuteria portanto eacute a permanecircncia do servidor escolhido natildeo o cargo que eacute criado por leirdquo (OLIVEIRA Regis Fernan-des de Servidores puacuteblicos 3 ed rev e ampl Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 38)

4 ldquoArt 40 () sect 13 Ao servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo bem como de outro cargo temporaacuterio ou de emprego puacuteblico aplica--se o regime geral de previdecircncia socialrdquo

5 ldquoArt 201 A previdecircncia social seraacute organizada sob a forma de regime geral de caraacuteter contributi-vo e de filiaccedilatildeo obrigatoacuteria observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e atenderaacute nos termos da lei a I ndash cobertura dos eventos de doenccedila invalidez morte e idade avanccedilada II ndash proteccedilatildeo agrave maternidade especialmente agrave gestante III ndash proteccedilatildeo ao trabalhador em situaccedilatildeo de desemprego involuntaacuterio IV ndash salaacuterio-famiacutelia e auxiacutelio-reclusatildeo para os dependentes dos segurados de baixa renda V ndash pensatildeo por morte do segurado homem ou mulher ao cocircnjuge ou companheiro e dependentes observado o disposto no sect 2ordmrdquo

51iacutendice de teses

O cocircmputo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz exige a demonstraccedilatildeo

da efetiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante enco-

mendas de terceiros

A exigecircncia consta da Lei 35521959 e do Enunciado Sumular 961 do Tribunal de Contas da Uniatildeo O elemento essencial agrave caracterizaccedilatildeo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz natildeo seria a percepccedilatildeo de vantagem direta ou indireta mas a efe-tiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante encomendas de terceiros Como consequecircncia a declaraccedilatildeo emitida por instituiccedilatildeo de ensino pro-fissionalizante somente serviria a comprovar o periacuteodo de trabalho caso registrasse expressamente a participaccedilatildeo do educando nas atividades laborativas desenvolvidas para atender aos pedidos feitos agraves escolas

Da certidatildeo lavrada pelo centro de ensino deve constar a declaraccedilatildeo da frequecircncia em curso teacutecnico profissionalizante por certo periacuteodo e referecircncia agrave participaccedilatildeo na produccedilatildeo de quaisquer bens ou serviccedilos solicitados por terceiros Eacute indispensaacutevel a demonstraccedilatildeo de retribuiccedilatildeo pecuniaacuteria agrave conta do orccedilamento salvo casos em que haja situaccedilatildeo jaacute consolidada em entendimento anterior2

A ausecircncia de prova do desempenho concreto de atividades como aluno-aprendiz justifica a glosa da aposentadoria pelo Tribunal de Contas3

1 ldquoConta-se para todos os efeitos como tempo de serviccedilo puacuteblico o periacuteodo de trabalho prestado na qualidade de aluno-aprendiz em Escola Puacuteblica Profissional desde que comprovada a retribuiccedilatildeo pecuniaacuteria agrave conta do Orccedilamento admitindo-se como tal o recebimento de alimentaccedilatildeo farda-mento material escolar e parcela de renda auferida com a execuccedilatildeo de encomendas para terceirosrdquo

2 MS 21185 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 12-2-2010

3 MS 32859 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJE de 23-5-2014

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Aposentadoria

MS 31518rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 6-7-2017Informativo STF 853

52iacutendice de teses

A ocupaccedilatildeo de novo cargo da magistratura dentro da estrutura do Poder Ju-

diciaacuterio pelo titular do abono de permanecircncia natildeo implica a cessaccedilatildeo do

benefiacutecio

ldquo() a jurisdiccedilatildeo enquanto manifestaccedilatildeo da unidade do poder soberano do Esta-do tampouco pode deixar de ser una e indivisiacutevel eacute doutrina assente que o Poder Judiciaacuterio tem caraacuteter nacional natildeo existindo senatildeo por metaacuteforas e metoniacutemias lsquoJudiciaacuterios estaduaisrsquo ao lado de um lsquoJudiciaacuterio federalrsquo A divisatildeo da estrutura ju-diciaacuteria brasileira sob tradicional mas equivocada denominaccedilatildeo em Justiccedilas eacute soacute resultado da reparticcedilatildeo nacional do trabalho da mesma natureza entre distintos oacutergatildeos jurisdicionaisrdquo1 Essa linha de raciociacutenio direciona a concessatildeo do abono de permanecircncia na magistratura conforme estabelece o art 40 sect 19 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1988 (incluiacutedo pela Emenda Constitucional 412003)2

A interpretaccedilatildeo do preceito constitucional que rege a concessatildeo do abono natildeo dispensa esse elemento informador indicativo da ocupaccedilatildeo de novo cargo na magis-tratura tambeacutem contido na estrutura do Poder Judiciaacuterio Assim o respectivo deslo-camento natildeo pode resultar em prejuiacutezo para o beneficiado valendo notar a natureza do abono ndash incentivo agrave permanecircncia em atividade por aqueles que jaacute preencheram as condiccedilotildees para a aposentadoria3 previstas no art 40 sect 1ordm III da CF4

1 ADI 3367 rel min Cezar Peluso P DJ de 13-7-2006

2 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo () sect 19 O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigecircn-cias para aposentadoria voluntaacuteria estabelecidas no sect 1ordm III a e que opte por permanecer em ativi-dade faraacute jus a um abono de permanecircncia equivalente ao valor da sua contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria ateacute completar as exigecircncias para aposentadoria compulsoacuteria contidas no sect 1ordm IIrdquo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Regime proacuteprio de previdecircncia social Ȥ Abono de permanecircncia

MS 33424rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 10-4-2017Informativo STF 859

53iacutendice de teses

3 MS 33456 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 17-4-2017

4 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo sect 1ordm Os servidores abrangidos pelo regime de previdecircncia de que trata este artigo seratildeo aposentados calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos sectsect 3ordm e 17 () III ndash voluntariamente desde que cumprido tempo miacutenimo de dez anos de efetivo exerciacutecio no serviccedilo puacuteblico e cinco anos no cargo efetivo em que se daraacute a aposentadoria observadas as se-guintes condiccedilotildees a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuiccedilatildeo se homem e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuiccedilatildeo se mulher b) sessenta e cinco anos de idade se ho-mem e sessenta anos de idade se mulher com proventos proporcionais ao tempo de contribuiccedilatildeordquo

54iacutendice de teses

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulaccedilatildeo de cargos empre-

gos e funccedilotildees a incidecircncia do art 37 XI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pressu-

potildee consideraccedilatildeo de cada um dos viacutenculos formalizados afastada a observacircn-

cia do teto remuneratoacuterio quanto ao somatoacuterio dos ganhos do agente puacuteblico

A regra do teto constitucional expressa duplo objetivo De um lado haacute niacutetido intuito eacutetico de modo a impedir a consolidaccedilatildeo de ldquosupersalaacuteriosrdquo incompatiacuteveis com o princiacutepio republicano indissociaacutevel do regime remuneratoacuterio dos cargos puacuteblicos no que veda a apropriaccedilatildeo ilimitada e individualizada de recursos escassos De outro eacute evidente a finalidade protetiva do eraacuterio visando estancar o dispecircndio indevido de verbas puacuteblicas Nessa medida o teto remuneratoacuterio previsto no texto constitu-cional quando devidamente observado bem como aliado aos limites globais com despesas de pessoal assume a relevante funccedilatildeo de obstar gastos inconciliaacuteveis com a prudecircncia no emprego dos recursos da coletividade

Entretanto a percepccedilatildeo somada de remuneraccedilotildees relativas a cargos acumulaacuteveis ainda que acima no cocircmputo global do patamar maacuteximo natildeo interfere nos objeti-vos que inspiram o texto constitucional

Por um lado isso ocorre porque as situaccedilotildees alcanccediladas pelo art 37 XI da Carta Federal satildeo aquelas nas quais o servidor obteacutem ganhos desproporcionais observadas as atribuiccedilotildees dos cargos puacuteblicos ocupados Admitida a incidecircncia do limitador em cada uma das matriacuteculas descabe declarar prejuiacutezo agrave dimensatildeo eacutetica da norma por-quanto mantida a compatibilidade exigida entre trabalho e remuneraccedilatildeo

Por outro lado haacute que se observar uma necessaacuteria interaccedilatildeo entre os incisos XI e XVI2 do art 37 do texto constitucional em observacircncia ao princiacutepio da unidade da Constituiccedilatildeo a demandar esforccedilo interpretativo que natildeo esvazie o sentido da regra que autoriza a acumulaccedilatildeo

Outrossim a incidecircncia do limitador tendo em vista o somatoacuterio dos ganhos mesmo que acumulaacuteveis os cargos puacuteblicos ocupados viabiliza retribuiccedilatildeo pecuniaacute-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Remuneraccedilatildeo Ȥ Acumulaccedilatildeo de cargos puacuteblicos ndash Repercussatildeo Geral

RE 612975RG ‒ Tema 377rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 8-9-2017Informativo STF 862

55iacutendice de teses

ria inferior ao que se tem como razoaacutevel consideradas as atribuiccedilotildees especiacuteficas dos viacutenculos e as respectivas remuneraccedilotildees a ensejar enriquecimento sem causa do po-der puacuteblico

Natildeo se deve extrair do texto constitucional conclusatildeo a possibilitar tratamento desigual entre servidores puacuteblicos que exerccedilam idecircnticas funccedilotildees O preceito concer-nente agrave acumulaccedilatildeo preconiza que ela eacute remunerada natildeo admitindo a gratuidade ainda que parcial dos serviccedilos prestados observado o art 1ordm da CF no que evidencia como fundamento da Repuacuteblica a proteccedilatildeo dos valores sociais do trabalho

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mo-ralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XI ndash a remuneraccedilatildeo e o subsiacutedio dos ocupantes de cargos funccedilotildees e empregos puacuteblicos da administraccedilatildeo direta autaacuterquica e fundacio-nal dos membros de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Muni-ciacutepios dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes poliacuteticos e os proventos pensotildees ou outra espeacutecie remuneratoacuteria percebidos cumulativamente ou natildeo incluiacutedas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza natildeo poderatildeo exceder o subsiacutedio mensal em espeacutecie dos Ministros do Supremo Tribunal Federal aplicando-se como limite nos Municiacutepios o subsiacutedio do Prefeito e nos Estados e no Distrito Federal o subsiacutedio mensal do Governador no acircmbito do Poder Executivo o subsiacutedio dos Deputados Estaduais e Distritais no acircmbito do Poder Legislativo e o subsiacutedio dos Desembargadores do Tribunal de Justiccedila limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centeacutesimos por cento do subsiacutedio mensal em espeacutecie dos Ministros do Supremo Tribunal Federal no acircmbito do Poder Judiciaacuterio aplicaacutevel este limite aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico aos Procuradores e aos Defensores Puacuteblicosrdquo

2 ldquoArt 37 () XVI ndash eacute vedada a acumulaccedilatildeo remunerada de cargos puacuteblicos exceto quando houver compatibilidade de horaacuterios observado em qualquer caso o disposto no inciso XI a) a de dois car-gos de professor b) a de um cargo de professor com outro teacutecnico ou cientiacutefico c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de sauacutede com profissotildees regulamentadasrdquo

56iacutendice de teses

Eacute legiacutetima a acumulaccedilatildeo de proventos civis e militares quando a reforma se

deu sob a eacutegide da Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1967 e a aposentadoria ocor-

reu antes da vigecircncia da Emenda Constitucional 201998

A Emenda Constitucional 201998 assegura aos inativos que tiverem reingressado ao serviccedilo puacuteblico antes de sua vigecircncia a acumulaccedilatildeo de vencimentos do novo cargo exercido com os proventos da aposentadoria jaacute recebida

O art 111 da referida emenda por sua vez em sua segunda parte vedou expres-samente a concessatildeo de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdecircncia dos servidores civis previsto no art 40 da CF2 No entanto natildeo haacute qualquer referecircncia agrave concessatildeo de proventos militares estes previstos nos arts 423 e 1424 da CF

Segundo o texto constitucional a percepccedilatildeo de dois proventos puacuteblicos um civil e um militar ambos concedidos antes da Emenda Constitucional 201998 eacute situaccedilatildeo natildeo alcanccedilada pela proibiccedilatildeo da referida emenda Portanto eacute legiacutetima sua cumulaccedilatildeo5

1 ldquoArt 11 A vedaccedilatildeo prevista no art 37 sect 10 da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se aplica aos membros de poder e aos inativos servidores e militares que ateacute a publicaccedilatildeo desta Emenda tenham ingressado novamente no serviccedilo puacuteblico por concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos e pelas demais formas previstas na Constituiccedilatildeo Federal sendo-lhes proibida a percepccedilatildeo de mais de uma aposen-tadoria pelo regime de previdecircncia a que se refere o art 40 da Constituiccedilatildeo Federal aplicando-se--lhes em qualquer hipoacutetese o limite de que trata o sect 11 deste mesmo artigordquo

2 ldquoArt 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas autarquias e fundaccedilotildees eacute assegurado regime de previdecircncia de caraacuteter contributivo e solidaacuterio mediante contribuiccedilatildeo do respectivo ente puacuteblico dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigordquo

3 ldquoArt 42 Os membros das Poliacutecias Militares e Corpos de Bombeiros Militares instituiccedilotildees orga-nizadas com base na hierarquia e disciplina satildeo militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios sect 1ordm Aplicam-se aos militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios aleacutem do que vier a ser fixado em lei as disposiccedilotildees do art 14 sect 8ordm do art 40 sect 9ordm e do art 142 sectsect 2ordm e 3ordm

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Remuneraccedilatildeo Ȥ Acumulaccedilatildeo de proventos e pensotildees

MS 25097rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 5-5-2017Informativo STF 859

57iacutendice de teses

cabendo a lei estadual especiacutefica dispor sobre as mateacuterias do art 142 sect 3ordm X sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores sect 2ordm Aos pensionistas dos militares dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios aplica-se o que for fixado em lei especiacutefica do respectivo ente estatalrdquo

4 ldquoArt 142 As Forccedilas Armadas constituiacutedas pela Marinha pelo Exeacutercito e pela Aeronaacuteutica satildeo instituiccedilotildees nacionais permanentes e regulares organizadas com base na hierarquia e na disciplina sob a autoridade suprema do Presidente da Repuacuteblica e destinam-se agrave defesa da Paacutetria agrave garantia dos poderes constitucionais e por iniciativa de qualquer destes da lei e da ordem sect 1ordm Lei comple-mentar estabeleceraacute as normas gerais a serem adotadas na organizaccedilatildeo no preparo e no emprego das Forccedilas Armadasrdquo

5 Precedentes MS 25192 rel min Eros Grau P DJ de 6-5-2005 MS 24958 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 1ordm-4-2005 e AI 801096 AgR-EDv rel min Teori Zavascki P DJE de 30-6-2015

58iacutendice de teses

O pedido de desligamento uma vez completado o periacuteodo de Escola Naval

gera para o Estado o direito agrave indenizaccedilatildeo nos termos da Lei 68801980 (Es-

tatuto dos Militares)

Em que pese a expressa referecircncia ao oficialato a disciplina do inciso II do art 1161 do Estatuto dos Militares natildeo impede o reconhecimento da ocorrecircncia de enriqueci-mento iliacutecito sem que isso represente ofensa ao art 206 IV da Constituiccedilatildeo Federal2

Natildeo cabe extrair do Estatuto dos Militares preceitos a liberar os praccedilas especiais do ressarcimento agrave Fazenda Puacuteblica o que implicaria indesejado incentivo agrave evasatildeo O art 116 II da Lei 68801980 disciplina a contagem do prazo dentro do qual a indenizaccedilatildeo deveraacute ser exigida daqueles que apoacutes o teacutermino da graduaccedilatildeo militar procurem outros rumos profissionais

A seguranccedila juriacutedica um dos pilares axioloacutegicos do Estado Democraacutetico de Direi-to obriga natildeo soacute a Administraccedilatildeo Puacuteblica mas tambeacutem aqueles que com ela travem relaccedilotildees juriacutedicas a atuar com lealdade e a natildeo frustrar as legiacutetimas expectativas cria-das a partir de condutas

1 ldquoArt 116 A demissatildeo a pedido seraacute concedida mediante requerimento do interessado () II ndash com indenizaccedilatildeo das despesas feitas pela Uniatildeo com a sua preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo quando contar menos de 5 (cinco) anos de oficialatordquo

2 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () IV ndash gratuidade do ensi-no puacuteblico em estabelecimentos oficiaisrdquo

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores militares Ȥ Curso de formaccedilatildeo

RMS 27072rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 30-5-2016Informativo STF 819

59iacutendice de teses

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores temporaacuterios Ȥ Regras para admissatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 635648RG ‒ Tema 403rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 12-9-2017Informativo STF 869

Eacute compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) a previsatildeo legal que exija o

transcurso de 24 meses contados do teacutermino do contrato antes de nova ad-

missatildeo de professor temporaacuterio anteriormente contratado

Embora natildeo se apliquem integralmente as regras do concurso puacuteblico para as con-trataccedilotildees por necessidade temporaacuteria deve a seleccedilatildeo ainda que simplificada obser-var os princiacutepios da impessoalidade e da moralidade inscritos no art 37 caput da CF1 Satildeo eles que justificam a limitaccedilatildeo constante do art 9ordm III da Lei 874519932 e 3

Nesse contexto o art 9ordm III da Lei 87451993 que dispotildee sobre contrataccedilatildeo temporaacuteria evita que funccedilatildeo temporaacuteria cuja caracteriacutestica eacute a transitoriedade seja transformada em algo ordinaacuterio Dessa forma o dispositivo legal eacute necessaacuterio e ade-quado para preservar o princiacutepio da impessoalidade do concurso puacuteblico

ldquoEacute bem verdade que a impossibilidade de recontrataccedilatildeo dos mesmos profissionais natildeo assegura a observacircncia do art 37 IX da CF4 pois o preenchimento desses postos de trabalho por meio de contratos temporaacuterios ainda que com pessoas antes natildeo contratadas pela Administraccedilatildeo tambeacutem frustra o ideal de temporalidade e transito-riedade desse tipo de contrataccedilatildeo5rdquo

Dessa forma ldquoa descontinuidade do viacutenculo temporaacuterio provocada pela vedaccedilatildeo do art 9ordm III da Lei 87451993 evita que se instale na Administraccedilatildeo interesse con-traacuterio ao provimento efetivo de cargos puacuteblicos mediante concurso e retira o admi-nistrador puacuteblico da situaccedilatildeo cocircmoda de reutilizar a mesma matildeo de obra jaacute recrutada por processo seletivo simplificadordquo6

Assim natildeo configura ofensa agrave isonomia a previsatildeo legal de proibiccedilatildeo por pra-zo determinado de nova contrataccedilatildeo de candidato jaacute anteriormente admitido em processo seletivo simplificado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico

60iacutendice de teses

1 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

2 ldquoArt 9ordm O pessoal contratado nos termos desta Lei natildeo poderaacute () III ndash ser novamente contratado com fundamento nesta lei antes de decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior salvo nas hipoacuteteses dos incisos I e IX do art 2ordm desta Lei mediante preacutevia autori-zaccedilatildeo conforme determina o art 5ordm desta Leirdquo

3 ADI 3210 rel min Carlos Velloso P DJ de 3-12-2004 e ADI 890 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 6-2-2004

4 ldquoArt 37 () IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblicordquo

5 Trecho do voto do ministro Alexandre de Morais no presente julgamento

6 Idem

61iacutendice de teses

Satildeo inconstitucionais dispositivos de lei estadual de iniciativa parlamentar1

que asseguraram a permanecircncia dos servidores puacuteblicos admitidos em caraacute-

ter temporaacuterio sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico

Os arts 1ordm e 2ordm da Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte revelam fla-grante viacutecio formal A Assembleia Legislativa usurpou a prerrogativa constitu-cionalmente conferida ao chefe do Poder Executivo quanto agraves mateacuterias afetas ao regime juriacutedico dos servidores puacuteblicos2 nos termos do art 61 sect 1ordm II c da Cons-tituiccedilatildeo Federal3

Essa hipoacutetese configura ainda burla ao princiacutepio do concurso puacuteblico (CF art 37 II4) haja vista a estabilizaccedilatildeo de servidores contratados apenas temporariamente sem o preacutevio certame puacuteblico5

Ademais o fato de a lei impugnada abranger temporalmente os servidores cuja admissatildeo operou-se em periacuteodo preacute-constitucional natildeo elide quanto a esses a decla-raccedilatildeo de inconstitucionalidade em razatildeo da flagrante violaccedilatildeo do art 19 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias6 que concedeu estabilidade excepcional so-mente aos servidores que ao tempo da promulgaccedilatildeo do texto estavam em exerciacutecio havia mais de cinco anos

Diante disso foi declarada a inconstitucionalidade dos arts 1ordm7 e 2ordm8 da Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte A norma assegurava a permanecircncia dos servidores da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN) admitidos em caraacuteter temporaacuterio entre o periacuteodo de 8 de janeiro de 1987 a 17 de junho de 1993 sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico e tornava sem efeitos os atos de direccedilatildeo da Universidade que de qualquer forma importassem em exclusatildeo desses servidores do quadro de pessoal

Todavia ante a vigecircncia prolongada da referida lei estadual e a necessidade de res-guardar a seguranccedila juriacutedica9 foi aplicada a modulaccedilatildeo dos efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade nos termos do art 27 da Lei 9868199910 de modo a dar efei-

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Servidores temporaacuterios Ȥ Regras para admissatildeo

ADI 1241rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 840

62iacutendice de teses

tos prospectivos agrave decisatildeo a qual somente produziraacute efeitos a partir de doze meses contados da data da publicaccedilatildeo da ata de julgamento Esse periacuteodo foi considerado haacutebil para a realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico a nomeaccedilatildeo e a posse de novos servido-res evitando-se assim prejuiacutezo agrave prestaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico de ensino superior na URRN

Por fim foram ressalvados dos efeitos desta decisatildeo os servidores que jaacute estejam aposentados e aqueles que ateacute a data de publicaccedilatildeo da ata do julgamento tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria exclusivamente para efeitos de apo-sentadoria11

1 Lei 66971994 do Estado do Rio Grande do Norte

2 Precedentes ADI 4433 MC rel min Ellen Gracie P DJE de 10-11-2010 ADI 4154 rel min Ri-cardo Lewandowski P DJE de 18-6-2010 ADI 2904 rel min Menezes Direito P DJE de 25-9-2009 ADI 2113 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 21-8-2009 ADI 1594 rel min Eros Grau P DJE de 22-8-2008 e ADI 3167 rel min Eros Grau P DJE de 6-9-2007

3 ldquoArt 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Congresso Nacional ao Presidente da Repuacute-blica ao Supremo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II ndash disponham sobre () c) servidores puacuteblicos da Uniatildeo e Territoacuterios seu regime juriacutedico provimento de cargos estabilidade e aposentadoriardquo

4 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico depende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acor-do com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

5 Precedentes ADI 2687 rel min Nelson Jobim P DJ de 6-6-2003 ADI 3609 rel min Dias Toffoli P DJE de 30-10-2014 e ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

6 ldquoArt 19 Os servidores puacuteblicos civis da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios da administraccedilatildeo direta autaacuterquica e das fundaccedilotildees puacuteblicas em exerciacutecio na data da promulga-ccedilatildeo da Constituiccedilatildeo haacute pelo menos cinco anos continuados e que natildeo tenham sido admitidos na forma regulada no art 37 da Constituiccedilatildeo satildeo considerados estaacuteveis no serviccedilo puacuteblicordquo

7 ldquoArt 1ordm Aos servidores da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte admitidos entre o termo inicial da vigecircncia da Lei n 5546 de 8 de janeiro de 1987 que a incorporou agrave Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica Estadual e o da Portaria n 874 de 17 de junho de 1993 do Ministro da Educaccedilatildeo e do Desporto que a reconheceu e originalmente incluiacutedos no Quadro Suplementar integrante da

63iacutendice de teses

estrutura geral de pessoal daquela instituiccedilatildeo de ensino superior eacute assegurado permanecerem no referido Quadrordquo

8 ldquoArt 2ordm Satildeo declarados de nenhum efeito em relaccedilatildeo aos servidores na situaccedilatildeo de que trata o artigo anterior os atos de direccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional do Rio Grande do Norte que de qualquer forma importem sua exclusatildeo do Quadro a que se refere a presente Leirdquo

9 Precedentes ADI 3609 rel min Dias Toffoli P DJE de 30-10-2014 ADI 3819 rel min Eros Grau P DJE de 28-3-2008 ADI 4125 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 15-2-2011 e ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

10 ldquoArt 27 Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e tendo em vista razotildees de se-guranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse social poderaacute o Supremo Tribunal Federal por maio-ria de dois terccedilos de seus membros restringir os efeitos daquela declaraccedilatildeo ou decidir que ela soacute tenha eficaacutecia a partir de seu tracircnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixadordquo

11 ADI 4876 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-7-2014

64iacutendice de teses

Eacute ilegiacutetimo o provimento de serventia extrajudicial sem concurso puacuteblico

decorrente de permuta

O art 236 caput e sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 eacute autoaplicaacutevel produzindo efeitos mesmo antes da publicaccedilatildeo da Lei 893519942 Assim desde a promulga-ccedilatildeo da CF eacute aplicaacutevel a exigecircncia constitucional de preacutevia realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico para as hipoacuteteses de ingresso ou remoccedilatildeo na delegaccedilatildeo de serventias extra-judiciais Isso exclui a proacutepria possibilidade de permuta ainda que os envolvidos tenham ingressado por meio de concurso puacuteblico

Essa autoaplicaccedilatildeo independe da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de lei esta-dual com base na qual foi praticado o ato Nesses casos descabe invocar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica que natildeo se sobrepotildee agrave determinaccedilatildeo constitucional expressa

Ademais o prazo decadencial quinquenal do art 54 da Lei 978419993 natildeo se aplica em casos de inconstitucionalidade Em tais hipoacuteteses natildeo haacute confianccedila legiacute-tima a ser tutelada uma vez que se trata de ato que evidencia violaccedilatildeo direta ao preceituado pela ordem constitucional

Logo o prazo decadencial eacute inaplicaacutevel agrave revisatildeo de atos de delegaccedilatildeo de serven-tias extrajudiciais realizados apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 em desconformidade com as exigecircncias prescritas no art 236 caput e sect 3ordm da CF pois o concurso puacuteblico eacute providecircncia necessaacuteria tanto para o ingresso nas serventias extrajudiciais quanto para a remoccedilatildeo e para a permuta4

Nesse sentido inexiste ofensa agrave seguranccedila juriacutedica e ao direito adquirido tam-pouco afronta ao art 54 da Lei 97841999 em ato do Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) que valendo-se de informaccedilotildees fornecidas pelo Tribunal de Justiccedila estadual e citando a Resoluccedilatildeo CNJ 8020095 declarou a vacacircncia de serventia extrajudicial provida por permuta realizada sem preacutevio concurso puacuteblico por se tratar de ato nulo

Por fim do mesmo modo que eacute iliacutecito algueacutem ocupar determinado cargo por forccedila de titularizaccedilatildeo inconstitucional tambeacutem eacute iliacutecito perder o direito ao cargo de

Direito Administrativo Ȥ Servidores puacuteblicos

Ȥ Particulares colaboradores Ȥ Forma de provimento

MS 29415red p o ac min Luiz Fux

1ordf Turma

DJE de 26-4-2017Informativo STF 841

65iacutendice de teses

origem para o qual havia ingressado mediante concurso puacuteblico Logo apesar de a permuta descrita ter se realizado sem o anterior certame haacute o direito de retorno ao cargo para o qual houve a nomeaccedilatildeo original apoacutes aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico

1 Precedentes MS 28371 AgR rel min Joaquim Barbosa P DJE de 27-2-2013 e MS 28279 rel min Ellen Gracie P DJE de 29-4-2011

2 ldquoRegulamenta o art 236 da Constituiccedilatildeo Federal dispondo sobre serviccedilos notariais e de registro (Lei dos cartoacuterios)rdquo

3 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

4 Precedentes MS 29265 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 23-2-2017 MS 28279 rel min Ellen Gracie P DJE de 29-4-2011 MS 28371 AgR rel min Joaquim Barbosa P DJE de 27-2-2013 e MS 28273 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 21-2-2013

5 ldquoDeclara a vacacircncia dos serviccedilos notariais e de registro ocupados em desacordo com as normas constitucionais pertinentes agrave mateacuteria estabelecendo regras para a preservaccedilatildeo da ampla defesa dos interessados para o periacuteodo de transiccedilatildeo e para a organizaccedilatildeo das vagas do serviccedilo de notas e registro que seratildeo submetidas a concurso puacuteblicordquo

DIR

EA

MBI

DIR

EIT

O

AM

BIEN

TAL

POLIacuteTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTEDIREITO AMBIENTAL

68iacutendice de teses

No atual estaacutegio do conhecimento cientiacutefico que indica ser incerta a exis-

tecircncia de efeitos nocivos da exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral

a campos eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por sistemas de

energia eleacutetrica natildeo existem impedimentos por ora a que sejam adotados os

paracircmetros propostos pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) conforme

estabelece a Lei 1193420091

Embora o princiacutepio da precauccedilatildeo seja um criteacuterio de gestatildeo de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas cientiacuteficas sobre a possibilidade de um produto evento ou serviccedilo desequilibrar o meio ambiente ou atingir a sauacutede dos cidadatildeos ele natildeo pode ser interpretado exacerbadamente a ponto de produzir paralisia es-tatal ou engessar o progresso da sociedade tampouco gerar temores infundados

Essas caracteriacutesticas exigem que o Estado analise os riscos avalie os custos das me-didas de prevenccedilatildeo e ao final execute as accedilotildees e medidas acautelatoacuterias necessaacuterias as quais seratildeo decorrentes de decisotildees universais natildeo discriminatoacuterias motivadas coerentes e proporcionais

Impor agrave concessionaacuteria de serviccedilo puacuteblico de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica a obrigaccedilatildeo de reduzir o campo eletromagneacutetico de suas linhas de transmissatildeo com base apenas em padrotildees estrangeiros de seguranccedila desprezando-se os limites pre-vistos na legislaccedilatildeo infraconstitucional adotada no Paiacutes bem como a adequaccedilatildeo do sistema de transmissatildeo a curto prazo acarretaria custo desproporcional agraves empresas de energia ndash que repassariam esse ocircnus ao consumidor ndash comprometeria o forne-cimento de energia eleacutetrica agrave populaccedilatildeo de baixa renda em funccedilatildeo dos preccedilos mais elevados e prejudicaria sobremaneira o jaacute combalido desenvolvimento econocircmico do Paiacutes

Por outro lado os estudos desenvolvidos pela OMS demonstram natildeo haver evi-decircncias cientiacuteficas convincentes de que a exposiccedilatildeo humana a campos eletromagneacute-ticos acima dos limites estabelecidos na lei brasileira cause efeitos nocivos agrave sauacutede

Direito Ambiental Ȥ Poliacutetica nacional do meio ambiente

Ȥ Princiacutepios Ȥ Princiacutepio da precauccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 627189RG ‒ Tema 479rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-4-2017Informativo STF 829

69iacutendice de teses

A caracterizaccedilatildeo do que eacute seguro ou natildeo depende do avanccedilo do conhecimento cien-tiacutefico sobre a mateacuteria Entretanto natildeo existem provas ou mesmo indiacutecios que com-provem que o avanccedilo cientiacutefico na Suiacuteccedila ou em outros paiacuteses que natildeo adotam os padrotildees da OMS e da Comissatildeo Internacional de Proteccedilatildeo Contra Radiaccedilatildeo Natildeo Ionizante (ICNIRP) esteja aleacutem do conhecimento cientiacutefico daqueles que os adotam

Nesse sentido diante das incertezas que reinam no campo cientiacutefico o eventual controle pelo Poder Judiciaacuterio quanto agrave legalidade e agrave legitimidade na aplicaccedilatildeo do princiacutepio da precauccedilatildeo haacute de ser realizado com extrema prudecircncia com um controle miacutenimo privilegiando a opccedilatildeo democraacutetica das escolhas discricionaacuterias feitas pelo legislador e pela Administraccedilatildeo Puacuteblica

No futuro caso surjam efetivas e reais razotildees cientiacuteficas eou poliacuteticas para a re-visatildeo do que se deliberou no acircmbito normativo deveratildeo ocorrer novos debates e atualizaccedilatildeo de definiccedilotildees

1 ldquoArt 4ordm Para garantir a proteccedilatildeo da sauacutede e do meio ambiente em todo o territoacuterio brasileiro seratildeo adotados os limites recomendados pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS para a exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral a campos eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por estaccedilotildees transmissoras de radiocomunicaccedilatildeo por terminais de usuaacuterio e por sistemas de ener-gia eleacutetrica que operam na faixa ateacute 300 GHz Paraacutegrafo uacutenico Enquanto natildeo forem estabelecidas novas recomendaccedilotildees pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede seratildeo adotados os limites da Comissatildeo Internacional de Proteccedilatildeo Contra Radiaccedilatildeo Natildeo Ionizante ndash ICNIRP recomendados pela Organiza-ccedilatildeo Mundial de Sauacutederdquo

DIR

EC

IVIL

DIR

EIT

O

CIV

IL

PESSOASDIREITO CIVIL

72iacutendice de teses

O art 59 do Coacutedigo Civil1 eacute compatiacutevel com a autonomia das entidades des-

portivas prevista no art 217 I da Constituiccedilatildeo Federal2

A autonomia das entidades desportivas natildeo eacute absoluta3 Essas agremiaccedilotildees devem obediecircncia agraves normas de caraacuteter geral que impotildeem limitaccedilotildees vaacutelidas agrave sua autono-mia relativa sem que importe lesatildeo a direitos e garantias individuais4

1 ldquoArt 59 Compete privativamente agrave assembleia geral I ndash destituir os administradores II ndash alterar o estatuto Paraacutegrafo uacutenico Para as deliberaccedilotildees a que se referem os incisos I e II deste artigo eacute exigido deliberaccedilatildeo da assembleia especialmente convocada para esse fim cujo quoacuterum seraacute o estabelecido no estatuto bem como os criteacuterios de eleiccedilatildeo dos administradoresrdquo

2 ldquoArt 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo formais como direito de cada um observados I ndash a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamentordquo

3 ldquoO legislador constituinte brasileiro por isso mesmo ndash pretendendo assegurar e incentivar a partici-paccedilatildeo efetiva das referidas associaccedilotildees no acircmbito do desporto nacional ndash conferiu-lhes um grau de autonomia que propicia a tais entes especial prerrogativa juriacutedica consistente no prevalecimento de sua proacutepria vontade em tema de definiccedilatildeo de sua estrutura organizacional e de seu interno funcionamento embora tais entidades estejam sujeitas agraves normas gerais fundadas na legislaccedilatildeo emanada do Estado eis que a noccedilatildeo de autonomia ainda que de extraccedilatildeo constitucional natildeo se revela absoluta nem tem a extensatildeo e o conteuacutedo inerentes ao conceito de soberania e de indepen-decircnciardquo (Trecho do voto do ministro Celso de Mello na ADI 3045 rel min Celso de Mello P DJE de 1ordm-6-2007)

4 ADI 2937 rel min Cezar Peluso P DJE de 29-5-2012

Direito Civil Ȥ Pessoas

Ȥ Pessoas juriacutedicas Ȥ Associaccedilotildees

RE 935482 AgRrel min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 22-3-2017Informativo STF 853

DIREITO DE FAMIacuteLIADIREITO CIVIL

74iacutendice de teses

A paternidade socioafetiva declarada ou natildeo em registro puacuteblico natildeo impe-

de o reconhecimento do viacutenculo de filiaccedilatildeo concomitante baseado na origem

bioloacutegica com os efeitos juriacutedicos proacuteprios

A natildeo previsatildeo dos diversos arranjos familiares na regulaccedilatildeo estatal por omissatildeo do legislador natildeo justifica a negativa de proteccedilatildeo a situaccedilotildees de pluriparentalidade1 Eacute portanto juridicamente admitida a cumulaccedilatildeo de viacutenculos de filiaccedilatildeo derivados da afetividade e da consanguinidade para todos os fins de direito A concessatildeo de tutela juriacutedica concomitante a tais viacutenculos visa prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos com base no sobreprinciacutepio da dignidade humana na sua dimensatildeo de tutela da felicidade ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 1ordm III2 ndash e no princiacutepio da paternidade responsaacutevel ndash CF art 226 sect 7ordm3

A dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral capaz de determinar-se e desenvolver-se em liberdade de modo que a eleiccedilatildeo indivi-dual dos proacuteprios objetivos de vida tem preferecircncia absoluta em relaccedilatildeo a eventuais formulaccedilotildees legais definidoras de modelos preconcebidos destinados a resultados eleitos a priori pelo legislador4 A superaccedilatildeo de oacutebices legais ao pleno desenvolvimen-to das famiacutelias construiacutedas pelas relaccedilotildees afetivas interpessoais dos proacuteprios indiviacute-duos eacute corolaacuterio do sobreprinciacutepio da dignidade humana

O direito agrave busca da felicidade ao mesmo tempo em que eleva o indiviacuteduo agrave cen-tralidade do ordenamento juriacutedico-poliacutetico reconhece as suas capacidades de autode-terminaccedilatildeo autossuficiecircncia e liberdade de escolha dos proacuteprios objetivos proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadatildeos para a persecuccedilatildeo das vontades particulares O indiviacuteduo jamais pode ser reduzido a mero instrumento de consecuccedilatildeo das vontades dos governantes5 por isso esse direito protege o ser huma-no em face de tentativas do Estado de enquadrar a realidade familiar em modelos preconcebidos pela lei

Direito Civil Ȥ Direito de famiacutelia

Ȥ Direito pessoal Ȥ Relaccedilotildees de parentesco ndash Repercussatildeo Geral

RE 898060RG ‒ Tema 622rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 840

75iacutendice de teses

A paternidade responsaacutevel na perspectiva da dignidade humana e da busca pela felicidade impotildee o acolhimento no espectro legal tanto dos viacutenculos de filiaccedilatildeo cons-truiacutedos pela relaccedilatildeo socioafetiva entre os envolvidos quanto daqueles originados da ascendecircncia consanguiacutenea sem que seja necessaacuterio decidir entre um ou outro viacutenculo quando o melhor interesse do descendente for o reconhecimento juriacutedico de ambos

Ademais a ideia de famiacutelia agrave luz dos preceitos introduzidos pela Constituiccedilatildeo Fe-deral de 1988 apartou-se definitivamente da ultrapassada hierarquizaccedilatildeo entre filhos legiacutetimos legitimados e ilegiacutetimos prevista no Coacutedigo Civil de 1916 Nesta norma o paradigma em mateacuteria de filiaccedilatildeo por adotar presunccedilatildeo baseada na centralidade do casamento desconsiderava tanto o fator bioloacutegico quanto o afetivo embora a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute previssem a afetividade enquanto criteacuterio para evitar situaccedilotildees de extrema injusticcedila reconhecendo-se a posse do estado de filho e conse-quentemente o viacutenculo parental em favor daquele que utilizasse o nome da famiacutelia (nominatio) fosse tratado como filho pelo pai (tractatio) e gozasse do reconhecimento da sua condiccedilatildeo de descendente pela comunidade (reputatio)

Nessa linha a Constituiccedilatildeo em caraacuteter meramente exemplificativo reconhece como legiacutetimos modelos de famiacutelia independentes do casamento como a uniatildeo es-taacutevel (CF art 226 sect 3ordm6) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus des-cendentes cognominada ldquofamiacutelia monoparentalrdquo (CF art 226 sect 4ordm7) Aleacutem disso enfatiza que espeacutecies de filiaccedilatildeo dissociadas do matrimocircnio entre os pais merecem equivalente tutela diante da lei sendo vedada discriminaccedilatildeo e portanto qualquer tipo de hierarquia entre elas (CF art 227 sect 6ordm8) As uniotildees estaacuteveis homoafetivas consideradas pela jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal como entidade fami-liar conduziram agrave imperiosidade da interpretaccedilatildeo natildeo reducionista do conceito de famiacutelia como instituiccedilatildeo que tambeacutem se forma por vias distintas do casamento civil9

Assim a compreensatildeo juriacutedica cosmopolita das famiacutelias exige a ampliaccedilatildeo da tu-tela normativa a todas as formas pelas quais a parentalidade pode se manifestar a saber (i) pela presunccedilatildeo decorrente do casamento ou outras hipoacuteteses legais (ii) pela descendecircncia bioloacutegica ou (iii) pela afetividade

A evoluccedilatildeo cientiacutefica responsaacutevel pela popularizaccedilatildeo do exame de DNA conduziu ao reforccedilo de importacircncia do criteacuterio bioloacutegico tanto para fins de filiaccedilatildeo quanto para a concretizaccedilatildeo do direito fundamental agrave busca da identidade geneacutetica como natural emanaccedilatildeo do direito de personalidade de um ser

76iacutendice de teses

1 ldquoA pluriparentalidade no Direito Comparado pode ser exemplificada pelo conceito de lsquodupla pa-ternidadersquo (dual paternity) construiacutedo pela Suprema Corte do Estado da Louisiana EUA desde a deacutecada de 1980 para atender ao mesmo tempo ao melhor interesse da crianccedila e ao direito do genitor agrave declaraccedilatildeo da paternidaderdquo (Trecho da ementa do presente julgamento)

2 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () III ndash a dignidade da pessoa humanardquo

3 ldquoArt 226 A famiacutelia base da sociedade tem especial proteccedilatildeo do Estado () sect 7ordm Fundado nos prin-ciacutepios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsaacutevel o planejamento familiar eacute livre decisatildeo do casal competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e cientiacuteficos para o exerciacute-cio desse direito vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituiccedilotildees oficiais ou privadasrdquo

4 Jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional alematildeo

5 Precedentes RE 477554 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 26-8-2011 e ADPF 132 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

6 ldquoArt 226 () sect 3ordm Para efeito da proteccedilatildeo do Estado eacute reconhecida a uniatildeo estaacutevel entre o homem e a mulher como entidade familiar devendo a lei facilitar sua conversatildeo em casamentordquo

7 ldquoArt 226 () sect 4ordm Entende-se tambeacutem como entidade familiar a comunidade formada por qual-quer dos pais e seus descendentesrdquo

8 ldquoArt 227 () sect 6ordm Os filhos havidos ou natildeo da relaccedilatildeo do casamento ou por adoccedilatildeo teratildeo os mes-mos direitos e qualificaccedilotildees proibidas quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias relativas agrave filiaccedilatildeordquo

9 Precedente ADI 4277 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

77iacutendice de teses

O direito de ter reconhecida a filiaccedilatildeo bioloacutegica prevalece sobre a presunccedilatildeo

legal de paternidade

A observacircncia como dogma sacrossanto da regra inscrita no art 344 do Coacutedigo Civil1 de 1916 segundo a qual cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulher devendo fazecirc-lo no prazo de dois meses contados do nascimento sob pena de incidir a prescriccedilatildeo deve ser afastada Tal preceito distancia-se da realidade das noccedilotildees proacuteprias agrave dignidade do homem aleacutem de natildeo considerar o direito de o filho saber e ter como pai quem o gerou e natildeo permanecer como filho presumido2

O fato de natildeo ter o marido na constacircncia do casamento contestado a paternidade de filho adulterino de sua esposa o qual fora por ele registrado como sendo seu filho legiacutetimo natildeo impede que o filho busque ver reconhecida legalmente a relaccedilatildeo de filia-ccedilatildeo com seu verdadeiro pai bioloacutegico por meio de accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade

A hipoacutetese eacute de tombamento da presunccedilatildeo de paternidade do marido da matildee A existecircncia de prova inequiacutevoca do viacutenculo de filiaccedilatildeo entre investigante e investiga-do consubstanciada em documento oficial idocircneo mostra-se suficiente para afastar a presunccedilatildeo

Ademais o reconhecimento da filiaccedilatildeo declarada pelo proacuteprio investigado deve sobressair a fim de serem concedidas ao investigante todas as consequecircncias legais do fato inclusive o direito de heranccedila

1 ldquoArt 344 Cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulherrdquo

2 ldquoNatildeo devem ser impostos oacutebices de natureza processual ao exerciacutecio do direito fundamental agrave busca da identidade geneacutetica como natural emanaccedilatildeo do direito de personalidade de um ser de forma a tornar-se igualmente efetivo o direito agrave igualdade entre os filhos inclusive de qualificaccedilotildees bem assim o princiacutepio da paternidade responsaacutevelrdquo (RE 363889 rel min Dias Toffoli P DJE de 16-12-2011)

Direito Civil Ȥ Direito de famiacutelia

Ȥ Direito pessoal Ȥ Relaccedilotildees de parentesco

AR 1244 EIrel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 30-3-2017Informativo STF 840

DIREITO DAS SUCESSOtildeESDIREITO CIVIL

79iacutendice de teses

No sistema constitucional vigente eacute inconstitucional a distinccedilatildeo de regimes

sucessoacuterios entre cocircnjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos

os casos o regime estabelecido no art 1829 do Coacutedigo Civil de 20021

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo se limitou ao tratamento juriacutedico tradicional da famiacutelia que instituiacutea o casamento como uacutenica condiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de uma entidade familiar ldquolegiacutetimardquo Pelo contraacuterio o texto constitucional contempla di-ferentes formas de famiacutelia como aquelas constituiacutedas por qualquer dos pais e seus descendentes (monoparental) e aquelas decorrentes de uniatildeo estaacutevel

Ao reconhecer demais formaccedilotildees familiares caracterizadas pelo viacutenculo afetivo e pelo projeto de vida em comum a Constituiccedilatildeo passou a proteger a famiacutelia natildeo como um ldquobem em sirdquo mas como meio para que as pessoas possam se realizar in-dependentemente da configuraccedilatildeo adotada tratando todas as famiacutelias com o mesmo respeito e consideraccedilatildeo O Supremo Tribunal Federal por oportuno jaacute reconheceu a ldquoinexistecircncia de hierarquia ou diferenccedila de qualidade juriacutedica entre as duas formas de constituiccedilatildeo de um novo e autonomizado nuacutecleo domeacutesticordquo aplicando-se agrave uniatildeo estaacutevel entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e consequecircncias da uniatildeo es-taacutevel heteroafetiva2

Apoacutes a vigecircncia da Constituiccedilatildeo de 1988 duas leis ordinaacuterias equiparavam os re-gimes juriacutedicos sucessoacuterios do casamento e da uniatildeo estaacutevel Lei 897119943 e Lei 927819964 No entanto o art 1790 do Coacutedigo Civil de 20025 revogou as referidas normas e passou a discriminar o(a) companheiro(a) dando-lhe direitos sucessoacuterios bem inferiores aos conferidos ao(agrave) esposo(a) Desse modo o dispositivo violou a igualdade entre as famiacutelias consagrada no art 226 sect 3ordm da CF6 e afrontou os princiacute-pios da dignidade da pessoa humana da igualdade e da proporcionalidade na moda-lidade de proibiccedilatildeo agrave proteccedilatildeo deficiente e da vedaccedilatildeo ao retrocesso Afinal cocircnjuges e companheiros devem receber a mesma proteccedilatildeo quanto aos direitos sucessoacuterios

Direito Civil Ȥ Direito das sucessotildees

Ȥ Sucessatildeo legiacutetima Ȥ Ordem da vocaccedilatildeo hereditaacuteria ndash Repercussatildeo Geral

RE 646721RG ‒ Tema 498red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 864

80iacutendice de teses

pois independentemente do tipo de entidade familiar o objetivo estatal da sucessatildeo eacute garantir ao parceiro remanescente meios para que viva dignamente

Tendo em vista que no sistema constitucional vigente a hierarquizaccedilatildeo entre en-tidades familiares eacute incompatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal natildeo sendo legiacutetimo desequiparar para fins sucessoacuterios os cocircnjuges e os companheiros isto eacute a famiacutelia formada pelo casamento e a formada por uniatildeo estaacutevel foi declarada a inconstitucio-nalidade do art 1790 do Coacutedigo Civil de 2002 Assim deve ser aplicado em ambos os casos o mesmo procedimento para sucessatildeo legiacutetima de bens previsto no art 1829 da referida lei

Com a finalidade de preservar a seguranccedila juriacutedica o entendimento ora firma-do eacute aplicaacutevel apenas aos inventaacuterios judiciais em que natildeo tenha havido tracircnsito em julgado da sentenccedila de partilha e agraves partilhas extrajudiciais em que ainda natildeo haja escritura puacuteblica

1 ldquoArt 1829 A sucessatildeo legiacutetima defere-se na ordem seguinte I ndash aos descendentes em concorrecircncia com o cocircnjuge sobrevivente salvo se casado este com o falecido no regime da comunhatildeo universal ou no da separaccedilatildeo obrigatoacuteria de bens (art 1640 paraacutegrafo uacutenico) ou se no regime da comunhatildeo parcial o autor da heranccedila natildeo houver deixado bens particulares II ndash aos ascendentes em concor-recircncia com o cocircnjuge III ndash ao cocircnjuge sobrevivente IV ndash aos colateraisrdquo

2 Precedentes ADI 4277 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011 e ADPF 132 rel min Ayres Britto P DJE de 14-10-2011

3 ldquoRegula o direito dos companheiros a alimentos e agrave sucessatildeordquo

4 ldquoRegula o sect 3ordm do art 226 da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

5 ldquoArt 1790 A companheira ou o companheiro participaraacute da sucessatildeo do outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigecircncia da uniatildeo estaacutevel nas condiccedilotildees seguintes I ndash se concorrer com filhos comuns teraacute direito a uma quota equivalente agrave que por lei for atribuiacuteda ao filho II ndash se concorrer com descendentes soacute do autor da heranccedila tocar-lhe-aacute a metade do que couber a cada um daqueles III ndash se concorrer com outros parentes sucessiacuteveis teraacute direito a um terccedilo da heranccedila IV ndash natildeo havendo parentes sucessiacuteveis teraacute direito agrave totalidade da heranccedilardquo

6 ldquoArt 226 A famiacutelia base da sociedade tem especial proteccedilatildeo do Estado () sect 3ordm Para efeito da pro-teccedilatildeo do Estado eacute reconhecida a uniatildeo estaacutevel entre o homem e a mulher como entidade familiar devendo a lei facilitar sua conversatildeo em casamentordquo

DIR

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAISDIREITO CONSTITUCIONAL

83iacutendice de teses

Inexiste decisatildeo do Supremo Tribunal Federal (STF) em controle concentra-

do de constitucionalidade1 e 2 sobre a regulamentaccedilatildeo adequada para o exer-

ciacutecio do direito de resposta haacutebil a justificar o cabimento da reclamaccedilatildeo3

A discussatildeo travada sobre o direito de resposta no julgamento da ADPF 130 (DJE de 26-2-2010) circunscreveu-se sobre o impacto do juiacutezo de natildeo recepccedilatildeo integral da Lei de Imprensa (Lei 52501967) sobre a eficaacutecia do art 5ordm V da Constituiccedilatildeo Federal (CF)4

Naquela ocasiatildeo o Plenaacuterio do STF decidiu que o direito de resposta assegurado constitucionalmente (CF art 5ordm V) pode ser diretamente tutelado independentemente de legislaccedilatildeo especiacutefica regulamentando-o Isso natildeo significa poreacutem que o STF tenha adotado interpretaccedilatildeo pela desnecessidade de comprovaccedilatildeo do ldquoagravordquo a que alude o proacuteprio dispositivo constitucional ao tratar do direito de resposta (CF art 5ordm V) ou a uma impossibilidade de sua densificaccedilatildeo agrave luz da liberdade de imprensa (e das liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento de informaccedilatildeo e de expressatildeo artiacutestica cientiacutefica intelectual e comunicacional) quer sob o prisma legiferante-nomoteacutetico quer jurisprudencial

Logo natildeo versou a ADPF 130 sobre o marco normativo infraconstitucional A uti-lizaccedilatildeo da Lei 131882015 como fundamento por decisatildeo de primeira instacircncia natildeo permite per saltum e se distanciando do sistema recursal esquadrinhado pelo legisla-dor proceder-se agrave substituiccedilatildeo da reconstruccedilatildeo faacutetica adotada por sentenccedila impugna-da pela via da reclamaccedilatildeo realizada sob o crivo do contraditoacuterio para entatildeo atribuir--lhe distinta consequecircncia juriacutedica

1 CF1988 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constitui-ccedilatildeo cabendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildeesrdquo

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Direito de resposta

Rcl 24459 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 5-9-2017Informativo STF 851

84iacutendice de teses

2 CPC2015 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para I ndash pre-servar a competecircncia do tribunal II ndash garantir a autoridade das decisotildees do tribunal III ndash garantir a observacircncia de enunciado de suacutemula vinculante e de decisatildeo do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidaderdquo

3 ldquoDe iniacutecio consigno que a Reclamaccedilatildeo se caracteriza como uma demanda de fundamentaccedilatildeo vin-culada vale dizer cabiacutevel somente quando se fizer presente alguma das hipoacuteteses para ela estri-tamente previstas Partindo de construccedilatildeo jurisprudencial a instrumento com expresso assento constitucional trata-se de accedilatildeo vocacionada precipuamente a duas diferentes finalidades De um lado visa a Reclamaccedilatildeo agrave (i) tutela da autoridade das decisotildees proferidas por esta Corte e das suacute-mulas vinculantes por ela editadas De outro agrave (ii) proteccedilatildeo do importante rol de competecircncias atribuiacutedas ao STF Eacute o que se vecirc nos arts 102 I l e 103-A sect 3ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica No que se refere agrave primeira hipoacutetese tem a Reclamaccedilatildeo especial guarida para garantir a observacircncia das decisotildees proferidas em controle concentrado de constitucionalidade dotadas de efeito vincu-lante como tambeacutem se colhe do art 988 III do CPC Eacute preciso no entanto vagar com o andor a fim de que natildeo se convole esse importante instrumento processual em verdadeiro algoz da Corte impedindo que esta legitimamente desempenhe o papel de Guardiatilde da Constituiccedilatildeo Recorde-se que a proacutepria razatildeo de ser do efeito vinculante estaacute assentada ao papel timoneiro do STF enquanto Corte Constitucional e oacutergatildeo maacuteximo do Poder Judiciaacuterio Isso natildeo significa nem pode significar um amesquinhar do relevante papel a ser desempenhado pelas instacircncias ordinaacuterias no respeito agrave cultura dos precedentes permitindo um acesso per saltum agrave Corte Supremardquo (Trecho da decisatildeo monocraacutetica proferida pelo ministro Edson Fachin na Rcl 24459 publicada no DJE de 6-10-2016)

4 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () V ndash eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagemrdquo

85iacutendice de teses

Natildeo se revela iliacutecita por si soacute a comparaccedilatildeo entre diversas religiotildees inclusi-

ve com explicitaccedilatildeo de certa hierarquizaccedilatildeo ou animosidade entre elas

Quanto agrave liberdade de expressatildeo religiosa1 cumpre reconhecer nas hipoacuteteses de religiotildees que se alccedilam a universais que o discurso proselitista eacute da essecircncia de seu integral exerciacutecio De tal modo a finalidade de alcanccedilar o outro mediante persua-satildeo configura comportamento intriacutenseco a religiotildees de tal natureza

Discursos que evidenciem diferenccedilas ou ateacute mesmo juiacutezos de superioridade natildeo con-substanciam automaticamente preconceito ou discriminaccedilatildeo sob pena de esvaziamen-to do nuacutecleo essencial das manifestaccedilotildees religiosas compreendidas em sua inteireza

O discurso discriminatoacuterio criminoso somente se materializa apoacutes ultrapassadas trecircs etapas indispensaacuteveis Uma de caraacuteter cognitivo em que se atesta a desigualdade entre grupos eou indiviacuteduos Outra de vieacutes valorativo em que se assenta suposta rela-ccedilatildeo de superioridade entre eles E por fim uma terceira em que o agente a partir das fases anteriores supotildee legiacutetima a dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo escravizaccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo ou reduccedilatildeo de direitos fundamentais do diferente que compreende inferior2

A discriminaccedilatildeo natildeo libera consequecircncias juriacutedicas negativas especialmente no acircmbito penal na hipoacutetese em que as etapas iniciais de desigualaccedilatildeo desembocam na suposta prestaccedilatildeo de auxiacutelio ao grupo ou indiviacuteduo que na percepccedilatildeo do agente encontra-se em situaccedilatildeo desfavoraacutevel

1 CF1988 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () VI ndash eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na for-ma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias () VIII ndash ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir--se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em leirdquo

2 BOBBIO Norberto Elogio da serenidade Satildeo Paulo Unesp 2000 p 108

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Liberdade de expressatildeo religiosa

RHC 134682rel min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 29-8-2017Informativo STF 849

86iacutendice de teses

Eacute constitucional a expressatildeo ldquoprivativasrdquo contida no caput do art 3ordm da Lei

823419911 que regulamenta a profissatildeo de nutricionista respeitado o acircmbi-

to de atuaccedilatildeo profissional das demais profissotildees regulamentadas

Apesar de a regra constitucional ser a liberdade no exerciacutecio profissional2 a Consti-tuiccedilatildeo Federal (CF) admite a limitaccedilatildeo ao exerciacutecio das profissotildees (CF art 5ordm XIII3)

No entanto essa reserva legal qualificada estabelecida pela CF natildeo confere ao le-gislador o poder de restringir o exerciacutecio da liberdade a ponto de atingir o seu proacuteprio nuacutecleo essencial Essas restriccedilotildees legais precisam ser proporcionais e necessaacuterias e estatildeo limitadas agraves ldquoqualificaccedilotildees profissionaisrdquo ou seja formaccedilatildeo teacutecnicocientiacutefica indispensaacutevel para o bom desempenho da atividade4

A profissatildeo de nutricionista requer conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos especiacutefi-cos para o desempenho de suas funccedilotildees Dessa forma eacute razoaacutevel que para o exer-ciacutecio das atividades profissionais de nutricionista a lei exija qualificaccedilotildees especiais e registro profissional reservando em razatildeo dessas ldquoqualificaccedilotildees especiaisrdquo tais ativi-dades de forma privativa a essa categoria profissional

Cabe destacar que a norma impugnada elencou como privativas dos nutricionistas atividades eminentemente teacutecnicas que natildeo se confundem com aquelas desempe-nhadas por outros profissionais de niacutevel meacutedio

Natildeo haacute portanto inconstitucionalidade na exigecircncia de niacutevel superior em nutri-ccedilatildeo para atividades eminentemente acadecircmicas a exemplo da direccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo de cursos de graduaccedilatildeo planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de estudos dieteacuteticos ensino das mateacuterias profissionais dos cursos de gra-duaccedilatildeo em nutriccedilatildeo e ensino das disciplinas de nutriccedilatildeo e alimentaccedilatildeo nos cursos de graduaccedilatildeo da aacuterea de sauacutede e outras afins

Tambeacutem natildeo haacute viacutecio na lei no tocante agraves disposiccedilotildees relativas agraves atividades de planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de serviccedilos pertinentes agrave alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo consultoacuterio de nutriccedilatildeo e dieteacutetica e de assistecircncia dieto-

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Liberdade de exerciacutecio profissional

ADI 803rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 23-11-2017Informativo STF 879

87iacutendice de teses

teraacutepica hospitalar ambulatorial e em consultoacuterio de nutriccedilatildeo O exerciacutecio dessas atividades natildeo impede nem prejudica o exerciacutecio daquelas pertinentes a outras aacutereas de niacutevel superior notadamente referentes a bioquiacutemicos e meacutedicos nutroacutelogos Isso porque esses profissionais ldquomesmo que pertencentes agrave aacuterea da sauacutede sujeitam-se a formaccedilatildeo profissional especiacutefica particular o que conduz consequentemente agrave re-serva das atividades a serem privativamente executadas dentro do campo de atuaccedilatildeo respectivordquo5

1 ldquoArt 3ordm Satildeo atividades privativas dos nutricionistas I ndash direccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em nutriccedilatildeo II ndash planejamento organizaccedilatildeo direccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de servi-ccedilos de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo III ndash planejamento coordenaccedilatildeo supervisatildeo e avaliaccedilatildeo de estudos dieteacuteticos IV ndash ensino das mateacuterias profissionais dos cursos de graduaccedilatildeo em nutriccedilatildeo V ndash ensino das disciplinas de nutriccedilatildeo e alimentaccedilatildeo nos cursos de graduaccedilatildeo da aacuterea de sauacutede e outras afins VI ndash auditoria consultoria e assessoria em nutriccedilatildeo e dieteacutetica VII ndash assistecircncia e educaccedilatildeo nutri-cional e coletividades ou indiviacuteduos sadios ou enfermos em instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e em consultoacuterio de nutriccedilatildeo e dieteacutetica VIII ndash assistecircncia dietoteraacutepica hospitalar ambulatorial e a niacutevel de consultoacuterios de nutriccedilatildeo e dieteacutetica prescrevendo planejando analisando supervisionando e avaliando dietas para enfermosrdquo

2 MI 6113 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 13-6-2014

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XIII ndash eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecerrdquo

4 Rp 930 red p o ac min Rodrigues Alckmin P DJ de 2-9-1977 e RE 511961 rel min Gilmar Mendes P DJE de 13-11-2009

5 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica adotado como razotildees de decidir pelo relator

88iacutendice de teses

Eacute garantido o amplo acesso a registros documentais e fonograacuteficos de ses-

sotildees de julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) puacuteblicas ou secretas

ocorridas na deacutecada de 1970

O direito agrave informaccedilatildeo a busca pelo conhecimento da verdade sobre sua histoacuteria sobre os fatos ocorridos em periacuteodo grave e contraacuterio agrave democracia integra o patri-mocircnio juriacutedico de todo cidadatildeo constituindo dever do Estado assegurar os meios para o seu exerciacutecio1

A plena atividade desse direito foi resguardada no julgamento do Recurso Ordi-naacuterio em Mandado de Seguranccedila 230362 no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu aos interessados o acesso aos documentos e arquivos fonograacuteficos relacio-nados agraves sessotildees de julgamentos do STM ocorridas na deacutecada de 1970 Essa decisatildeo natildeo restringiu o acesso aos registros relacionados apenas agraves sessotildees puacuteblicas tendo garantido a liberaccedilatildeo integral das gravaccedilotildees de aacuteudios seja no que se refere agraves sus-tentaccedilotildees orais realizadas pelos advogados seja no que pertine aos debates e votos proferidos pelos componentes do STM em sessotildees secretas

A decisatildeo paradigma de controle eacute expliacutecita ao dispor sobre a ilegitimidade da exceccedilatildeo imposta quanto agrave mateacuteria discutida e votada em sessatildeo secreta pelo Plenaacuterio do STM prevista em ato normativo interno e sobre a ausecircncia de plausibilidade juriacute-dica da justificativa apresentada segundo a qual ldquoo material de que se pleiteou coacutepia apenas serviria para o controle interno do Tribunal ou para o exame dos ministros da Corterdquo3

Afinal natildeo haacute espaccedilo para a discricionariedade da Administraccedilatildeo em restringir o amplo acesso aos documentos gerados a partir dos julgamentos ocorridos no periacuteodo mencionado conferindo induvidosa amplitude agravequela decisatildeo

Nesse contexto eacute injustificaacutevel a resistecircncia que o STM tenta opor ao cumprimen-to da decisatildeo do STF que taxativamente afastou os obstaacuteculos erigidos para impedir que fossem trazidos agrave lume a integralidade dos atos processuais praticados no STM

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Direito agrave informaccedilatildeo

Rcl 11949rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 16-8-2017Informativo STF 857

89iacutendice de teses

oralmente ou por escrito cujo conhecimento cidadatildeos brasileiros requereram para fins de pesquisa histoacuterica e resguardo da memoacuteria nacional O ato pelo qual foi inde-ferido o acesso estaacute em evidente descompasso com a ordem constitucional vigente que erigiu o direito agrave informaccedilatildeo agrave natureza de direito fundamental

Ressalva-se no entanto o acesso aos documentos indispensaacuteveis agrave defesa da in-timidade e agravequeles cujo sigilo se imponha para proteccedilatildeo da sociedade e do Estado Nesses casos deve haver motivaccedilatildeo de forma expliacutecita e pormenorizada pelo Tribu-nal a fim de sujeitar a alegaccedilatildeo a eventual controle judicial

1 ADPF 153 rel min Eros Grau P DJE de 6-8-2010

2 RMS 23036 red p o ac min Nelson Jobim 2ordf T DJ de 25-8-2006

3 Inciso I do Provimento 54STM

90iacutendice de teses

Eacute necessaacuteria a observacircncia da garantia do devido processo legal em especial

do contraditoacuterio e da ampla defesa relativamente agrave inscriccedilatildeo de entes puacutebli-

cos em cadastros federais de inadimplecircncia

ldquoA imposiccedilatildeo de restriccedilotildees de ordem juriacutedica pelo Estado quer se concretize na esfera judicial quer se realize no acircmbito estritamente administrativo (como suce-de com a inclusatildeo de supostos devedores em cadastros puacuteblicos de inadimplentes) supotildee para legitimar-se constitucionalmente o efetivo respeito pelo poder puacutebli-co da garantia indisponiacutevel do due process of law assegurada pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 5ordm LIV1) agrave generalidade das pessoas inclusive agraves proacuteprias pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico eis que o Estado em tema de limitaccedilatildeo ou supressatildeo de direitos natildeo pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva e arbitraacuteria () En-fatizo neste ponto no que se refere agrave questatildeo da titularidade dos direitos e garan-tias fundamentais que essas prerrogativas constitucionais satildeo acessiacuteveis agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico desde que compatiacuteveis com a condiccedilatildeo de estatalidade de que estas se revestem notadamente nos casos de imposiccedilatildeo contra referidas en-tidades estatais de medidas restritivas de direitos pois tais entes puacuteblicos tambeacutem estatildeo amparados por garantias constitucionais de caraacuteter procedimentalrdquo2

A inscriccedilatildeo do nome do Estado-membro em cadastro federal de inadimplen-

tes em face de accedilotildees eou omissotildees de gestotildees anteriores natildeo configura ofen-

sa ao princiacutepio da intranscendecircncia

Consoante o princiacutepio da impessoalidade previsto no art 37 da Constituiccedilatildeo Fe-deral3 a relaccedilatildeo juriacutedica envolve a Uniatildeo e o ente federal e natildeo a Uniatildeo e certo governador ou outro agente

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Devido processo legal

ACO 732rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 21-6-2017Informativo STF 825

91iacutendice de teses

Aleacutem disso o governo se alterna periodicamente nos termos da soberania popular mas o Estado eacute permanente Por isso a mudanccedila de comando poliacutetico natildeo exonera o Estado das obrigaccedilotildees assumidas4

1 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

2 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Celso de Mello na AC 2032 QO (DJE de 20-3-2009) precedente citado pelo relator

3 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

4 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

92iacutendice de teses

Eacute inconstitucional dispositivo de lei federal1 que admite seja erigido agrave condiccedilatildeo

de ldquodepositaacuterio infielrdquo aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor desig-

nado no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria2

A Lei 886619943 contraria os princiacutepios do devido processo legal e da propor-cionalidade bem como os subprinciacutepios da necessidade da adequaccedilatildeo e da pro-porcionalidade em sentido estrito postulados previstos no art 5ordm LIV4 e LV5 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)6 Para o fim de coagir o depositaacuterio a pagar a diacutevida tributaacuteria ou previdenciaacuteria da Uniatildeo dos Estados e do Distrito Federal cria si-tuaccedilatildeo mais onerosa do que a prevista no ordenamento juriacutedico ateacute entatildeo vigente consistente nas garantias constitucionais e nas disposiccedilotildees do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional em seus arts 1427 2018 e 2049

Ademais se o incremento da arrecadaccedilatildeo era o resultado almejado o ordenamen-to juriacutedico jaacute conteacutem modos e formas de chegar a resultado semelhante Afinal na eacutepoca da ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria 4271994 (reeditada pela Medida Provisoacuteria 4491994 e convertida na Lei 88661994) jaacute existia a Lei de Execuccedilatildeo Fiscal (Lei 68301980) e a medida cautelar fiscal (Lei 83971992) as quais satildeo instrumentos su-ficientes adequados e proporcionais ao fim de cobranccedila tributaacuteria Ambos os diplo-mas estipulam ritos e privileacutegios para tutela da arrecadaccedilatildeo ao eraacuterio resguardando por outro lado garantias ao contribuinte

Em outro aspecto eacute certo que ao contribuinte eacute facultado ajuizar accedilatildeo de depoacutesito em face do Fisco federal a fim de obter certidatildeo negativa de deacutebito (ou positiva com efeito de negativa) Poreacutem natildeo pode ser coagido a assim agir sob pena de vulnera-ccedilatildeo ao princiacutepio da proporcionalidade aleacutem do contraditoacuterio e da ampla defesa

O fato de o manejo da accedilatildeo de depoacutesito fiscal encontrar-se em franco desuso ante a existecircncia de outros meios de cobranccedila de creacuteditos disponiacuteveis ao Fisco natildeo afasta a acoimada inconstitucionalidade10

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos e deveres individuais e coletivos Ȥ Prisatildeo civil por diacutevida

ADI 1055rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

93iacutendice de teses

Eacute inconstitucional o ajuizamento de demanda que coage ao depoacutesito da

quantia devida com ou sem apresentaccedilatildeo de contestaccedilatildeo sob pena de decre-

taccedilatildeo de revelia (arts 3ordm11 e 4ordm12 da Lei 88661994)

Determinar que a contestaccedilatildeo seja apresentada com o depoacutesito do numeraacuterio equi-vale mutatis mutandis a exigir depoacutesito preacutevio como requisito de admissibilidade de accedilatildeo judicial Tal situaccedilatildeo eacute manifestamente proibida pelo Supremo Tribunal Federal nos termos do Enunciado 2813 da Suacutemula Vinculante

Haacute afronta ao due process of law ao admitir o ajuizamento de demanda judicial ape-nas com base em ldquodeclaraccedilatildeo feita pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica do valor descontado ou recebido de terceiro constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria e natildeo recolhido aos co-fres puacuteblicosrdquo (Lei 88661994 art 2ordm I)14 sem que ocorra a finalizaccedilatildeo do processo administrativo-fiscal

Eacute ainda cediccedilo que haacute o dever fundamental de pagar tributos Entretanto os meios escolhidos pelo poder puacuteblico devem estar jungidos agrave necessidade da medida agrave ade-quaccedilatildeo e agrave proporcionalidade em sentido estrito de restringir os meios de adimple-mento em caso de cobranccedila judicial as quais natildeo se encontram presentes na aprecia-ccedilatildeo da legislaccedilatildeo ora questionada

O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributaacuterias Um texto constitucional como o nosso proacutedigo na concessatildeo de direitos sociais e na promessa de prestaccedilotildees estatais deve oferecer ao Estado instrumentos suficientes para que possa fazer frente agraves inevitaacuteveis despesas que a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais requer O tributo eacute esse instrumento Considera-se portanto a existecircncia de um dever fundamental de pagar impostos15 Esse dever estaacute expresso no sect 1ordm do art 145 da CF16

Haacute inegaacutevel conflito entre cidadatildeos e agentes privados no sentido de transferir aos demais concidadatildeos o ocircnus da tributaccedilatildeo furtando-se tanto quanto possiacutevel a tal encargo Ao disciplinar de maneira isonocircmica segundo a capacidade econocircmica do contribuinte a distribuiccedilatildeo dos ocircnus tributaacuterios e ao operar por meio da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria para conferir efetividade a esse objetivo o Estado presta verdadeiramente aos cidadatildeos a funccedilatildeo de aacuterbitro de um conflito ineliminaacutevel entre agentes privados

Nesse cenaacuterio o instrumento de agir em juiacutezo estabelecido no inciso LIV do art 5ordm da CF restringe o cumprimento da obrigaccedilatildeo pelo devedor tributaacuterio esta-belecendo como uacutenica forma de pagamento o depoacutesito da quantia devida no prazo de 24 horas em claro desrespeito ao direito de propriedade como limite do limite

94iacutendice de teses

(Schranken-Schranke) Isso porque o diploma normativo em questatildeo suprime parcial ou totalmente posiccedilotildees juriacutedicas individuais e concretas do devedor vinculadas ao pagamento da diacutevida tributaacuteria que repercutem em sua propriedade ante a existecircn-cia de rol normativo-legal que jaacute disciplina a questatildeo com completude Tal restriccedilatildeo conflita com a existecircncia da accedilatildeo de execuccedilatildeo fiscal na qual coincide tal possibilidade aliada a outras bem como limita o direito de defesa do devedor situaccedilatildeo flagrante-mente inconstitucional

Ademais a revogaccedilatildeo da prisatildeo civil por diacutevida pela ratificaccedilatildeo do Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica ndash Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos incorporada ao direito positivo interno do Brasil como estatuto revestido de hierarquia supralegal ndash acaba com o escopo da legislaccedilatildeo em comento natildeo existindo plausibilidade agrave ma-nutenccedilatildeo da tutela jurisdicional diacutespar com o ordenamento juriacutedico no qual cria situaccedilatildeo desproporcional e portanto inconstitucional para o fim de otimizar a arre-cadaccedilatildeo tributaacuteria

Por fim tendo em vista o alargamento da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e o interesse em se evitar a inseguranccedila juriacutedica ou qualquer prejuiacutezo ao eraacuterio em relaccedilatildeo aos prazos prescricionais as accedilotildees de depoacutesito fiscal em curso deveratildeo ser transformadas em accedilotildees de cobranccedila de rito ordinaacuterio sendo oportunizado ao poder puacuteblico sua adequaccedilatildeo ou sua extinccedilatildeo

1 Lei federal 88661994 que dispotildee sobre o depositaacuterio infiel de valor pertencente agrave Fazenda Puacuteblica e daacute outras providecircncias

2 ldquoArt 1ordm Eacute depositaacuterio da Fazenda Puacuteblica observado o disposto nos arts 1282 I e 1283 do Coacute-digo Civil a pessoa a que a legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria imponha a obrigaccedilatildeo de reter ou receber de terceiro e recolher aos cofres puacuteblicos impostos taxas e contribuiccedilotildees inclusive agrave Seguridade Social () sect 2ordm Eacute depositaacuterio infiel aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor referido neste artigo no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteriardquo

3 A Lei 88661994 prevecirc entre outros temas a) a criaccedilatildeo da accedilatildeo de depoacutesito fiscal com o escopo primordial de coagir sob pena de prisatildeo o devedor a depositar o valor referente agrave diacutevida na contes-taccedilatildeo ou apoacutes a sentenccedila no prazo de 24 horas b) a possibilidade de submeter o devedor a sofrer processo judicial de depoacutesito sem que tenha ocorrido a finalizaccedilatildeo do processo administrativo fiscal e c) a proibiccedilatildeo de em se tratando de coisas fungiacuteveis seguir-se o disposto sobre o muacutetuo com a submissatildeo do devedor a regime mais gravoso de pagamento em face dos postulados da proporcionalidade do limite do direito de propriedade e do devido processo legal

4 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

95iacutendice de teses

5 ldquoArt 5ordm () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

6 A questatildeo atinente agrave possibilidade de prisatildeo civil do depositaacuterio infiel no ordenamento juriacutedico jaacute foi apreciada pelo STF em julgamento firmado em sede de repercussatildeo geral nos autos do RE 466343 (rel min Cezar Peluso P DJE de 5-6-2009) oportunidade em que foi considerada iliacutecita indepen-dentemente da modalidade do depoacutesito

7 ldquoArt 142 Compete privativamente agrave autoridade administrativa constituir o creacutedito tributaacuterio pelo lanccedilamento assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrecircncia do fato gerador da obrigaccedilatildeo correspondente determinar a mateacuteria tributaacutevel calcular o montante do tributo devido identificar o sujeito passivo e sendo caso propor a aplicaccedilatildeo da penalidade cabiacutevelrdquo

8 ldquoArt 201 Constitui diacutevida ativa tributaacuteria a proveniente de creacutedito dessa natureza regularmente inscrita na reparticcedilatildeo administrativa competente depois de esgotado o prazo fixado para pagamen-to pela lei ou por decisatildeo final proferida em processo regularrdquo

9 ldquoArt 204 A diacutevida regularmente inscrita goza da presunccedilatildeo de certeza e liquidez e tem o efeito de prova preacute-constituiacuteda Paraacutegrafo uacutenico A presunccedilatildeo a que se refere este artigo eacute relativa e pode ser ilidida por prova inequiacutevoca a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveiterdquo

10 Precedentes TRF5 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 200405000163759 desembargador federal Manuel Maia 2ordf T DJ de 29-7-2009 TRF3 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 00068049520004036100 desembargador federal Cotrim Gui-maratildees 2ordf T DJE de 31-10-2012 e TRF4 Apelaccedilatildeo Ciacutevel 200071000054980 desembargador federal Antocircnio Albino Ramos de Oliveira 2ordf T DJ de 4-10-2006

11 ldquoArt 3ordm Caracterizada a situaccedilatildeo de depositaacuterio infiel o Secretaacuterio da Receita Federal comunicaraacute ao representante judicial da Fazenda Nacional para que ajuiacuteze accedilatildeo civil a fim de exigir o recolhimento do valor do imposto taxa ou contribuiccedilatildeo descontado com os correspondentes acreacutescimos legais Paraacutegrafo uacutenico A comunicaccedilatildeo de que trata este artigo no acircmbito dos Estados e do Distrito Fe-deral caberaacute agraves autoridades definidas na legislaccedilatildeo especiacutefica dessas unidades federadas feita aos respectivos representantes judiciais competentes no caso do Instituto Nacional de Seguridade So-cial (INSS) a iniciativa caberaacute ao seu presidente competindo ao representante judicial da autarquia processual de que trata este artigordquo

12 ldquoArt 4ordm Na peticcedilatildeo inicial instruiacuteda com a coacutepia autenticada pela reparticcedilatildeo da prova literal do depoacutesito de que trata o art 2ordm o representante judicial da Fazenda Nacional ou conforme o caso o representante judicial dos Estados Distrito Federal ou do INSS requereraacute ao juiacutezo a citaccedilatildeo do depositaacuterio para em dez dias I ndash recolher ou depositar a importacircncia correspondente ao valor do imposto taxa ou contribuiccedilatildeo descontado ou recebido de terceiro com os respectivos acreacutescimos legais II ndash contestar a accedilatildeordquo

13 ldquoEacute inconstitucional a exigecircncia de depoacutesito preacutevio como requisito de admissibilidade de accedilatildeo judi-cial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de creacutedito tributaacuteriordquo

14 ldquoArt 2ordm Constituem prova literal para se caracterizar a situaccedilatildeo de depositaacuterio infiel dentre outras I ndash a declaraccedilatildeo feita pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica do valor descontado ou recebido de terceiro

96iacutendice de teses

constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria e natildeo recolhido aos cofres puacuteblicosrdquo

15 NABAIS Joseacute Casalta O dever fundamental de pagar impostos Coimbra Almedina 1998

16 ldquoArt 145 () sect 1ordm Sempre que possiacutevel os impostos teratildeo caraacuteter pessoal e seratildeo graduados segun-do a capacidade econocircmica do contribuinte facultado agrave administraccedilatildeo tributaacuteria especialmente para conferir efetividade a esses objetivos identificar respeitados os direitos individuais e nos ter-mos da lei o patrimocircnio os rendimentos e as atividades econocircmicas do contribuinterdquo

97iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Direitos sociais Ȥ Direito ao trabalho

ADI 4842rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 8-8-2017Informativo STF 839

Eacute constitucional a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso

dos bombeiros civis

Natildeo haacute violaccedilatildeo direta e literal do art 7ordm XIII da Constituiccedilatildeo Federal1 pelo art 5ordm da Lei 1190120092 A jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso encontra-se respaldada na faculdade conferida pelo legislador constituinte de serem estabelecidas hipoacuteteses de compensaccedilatildeo de jornada

Embora natildeo exista a previsatildeo de reserva legal expressa para a compensaccedilatildeo de jornada no referido dispositivo constitucional a possibilidade de negociaccedilatildeo coleti-va permite inferir que a exceccedilatildeo estabelecida na legislaccedilatildeo para os bombeiros civis garante-lhes em proporccedilatildeo razoaacutevel descanso de 36 horas para cada 12 horas traba-lhadas bem como jornada semanal de trabalho natildeo superior a 36 horas3

Em idecircntico sentido tambeacutem natildeo haacute violaccedilatildeo do direito agrave sauacutede do trabalhador (CF art 1964) e agrave reduccedilatildeo dos riscos inerentes ao trabalho (CF art 7ordm XXII5) Essas prerrogativas natildeo satildeo ipso facto desrespeitadas pela jornada de trabalho dos bombei-ros civis tendo em vista que para cada 12 horas trabalhadas haacute 36 horas de descanso e que prevalece o limite de 36 horas de jornada semanal

1 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo social () XIII ndash duraccedilatildeo do trabalho normal natildeo superior a oito horas diaacuterias e quarenta e quatro semanais facultada a compensaccedilatildeo de horaacuterios e a reduccedilatildeo da jornada mediante acordo ou convenccedilatildeo coletiva de trabalhordquo

2 ldquoArt 5ordm A jornada do Bombeiro Civil eacute de 12 (doze) horas de trabalho por 36 (trinta e seis) horas de descanso num total de 36 (trinta e seis) horas semanaisrdquo

3 RE 425975 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 16-12-2005

98iacutendice de teses

4 ldquoArt 196 A sauacutede eacute direito de todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocirc-micas que visem agrave reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

5 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo social () XXII ndash reduccedilatildeo dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de sauacutede higiene e seguranccedilardquo

99iacutendice de teses

Aquele que natildeo ostenta mais a nacionalidade brasileira por ter adquirido

outra nacionalidade em situaccedilatildeo que natildeo se subsome agraves exceccedilotildees previstas no

art 12 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 pode ser extraditado pelo Brasil2

A Constituiccedilatildeo ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira estabeleceu duas hi-poacuteteses (i) o cancelamento judicial da naturalizaccedilatildeo em virtude de praacutetica de ato no-civo ao interesse nacional o que soacute alcanccedilaria brasileiros naturalizados (CF art 12 sect 4ordm I) e (ii) a aquisiccedilatildeo voluntaacuteria de outra nacionalidade secundaacuteria o que alcanccedila-ria indistintamente brasileiros natos e naturalizados

Nesta uacuteltima hipoacutetese ndash de aquisiccedilatildeo de outra nacionalidade ndash a nacionalidade brasileira soacute natildeo seraacute perdida em duas situaccedilotildees que constituem exceccedilatildeo agrave regra (i) reconhecimento de outra nacionalidade originaacuteria (CF art 12 sect 4ordm II a) e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condiccedilatildeo de per-manecircncia em seu territoacuterio ou para o exerciacutecio de direitos civis (CF art 12 sect 4ordm II b)

Nesse contexto caso o brasileiro possua visto permanente de imigraccedilatildeo que o au-torize a trabalhar e gozar de direitos civis no Estado estrangeiro torna-se desneces-saacuteria a obtenccedilatildeo da nacionalidade secundaacuteria para os fins que compotildeem exceccedilatildeo agrave regra da perda da nacionalidade brasileira (CF art 12 sect 4ordm II a e b) Dessa forma sua obtenccedilatildeo somente poderia destinar-se agrave integraccedilatildeo do brasileiro agravequela comunidade nacional estrangeira o que eacute justamente a razatildeo central do criteacuterio adotado pelo cons-tituinte originaacuterio para a perda da nacionalidade brasileira

1 ldquoArt 12 Satildeo brasileiros () sect 4ordm Seraacute declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que I ndash ti-ver cancelada sua naturalizaccedilatildeo por sentenccedila judicial em virtude de atividade nociva ao interesse nacional II ndash adquirir outra nacionalidade salvo nos casos a) de reconhecimento de nacionalidade originaacuteria pela lei estrangeira b) de imposiccedilatildeo de naturalizaccedilatildeo pela norma estrangeira ao brasi-leiro residente em estado estrangeiro como condiccedilatildeo para permanecircncia em seu territoacuterio ou para o exerciacutecio de direitos civisrdquo

2 MS 33864 rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 19-4-2016

Direito Constitucional Ȥ Direitos e garantias fundamentais

Ȥ Nacionalidade Ȥ Perda da nacionalidade originaacuteria

Ext 1462rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 29-6-2017Informativo STF 859

ORGANIZACcedilAtildeO DO ESTADODIREITO CONSTITUCIONAL

101iacutendice de teses

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado

Nos termos do art 20 XI da Constituiccedilatildeo Federal satildeo bens da Uniatildeo ldquoas terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendiosrdquo

Aleacutem disso desde a Carta de 1934 natildeo se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indiacutegenas como devolutas o mesmo ocorrendo na Constituiccedilatildeo de 1988 por meio de expressa disposiccedilatildeo contida no art 26 IV1

Nesse sentido definido pelas provas carreadas aos autos que as terras que passaram a compor parque indiacutegena eram ocupadas historicamente por iacutendios natildeo haacute falar em titularidade do Estado-membro tampouco em eventual dever de a Uniatildeo indenizaacute-lo por suposta desapropriaccedilatildeo indireta

1 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () IV ndash as terras devolutas natildeo compreendidas entre as da Uniatildeordquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo

ACO 362DJE de 3-10-2017ACO 366DJE de 1ordm-10-2018rel min Marco Aureacutelio

PlenaacuterioInformativo STF 873

102iacutendice de teses

A Emenda Constitucional 462005 natildeo interferiu na propriedade da Uniatildeo

nos moldes do art 20 VII da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 sobre os terrenos

de marinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municiacutepios

A alteraccedilatildeo introduzida pela Emenda Constitucional 462005 criou no ordena-mento juriacutedico exceccedilatildeo agrave regra geral entatildeo vigente sobre a propriedade das ilhas costeiras Com a redaccedilatildeo conferida ao art 20 IV da CF2 deixaram de pertencer agrave Uniatildeo as ilhas costeiras em que estatildeo sediados entes municipais expressamente ressalvadas as ldquoaacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federal e as referidas no art 26 IIrdquo3 bens que natildeo obstante situados em territoacuterio municipal remanesceram como patrimocircnio federal Assim natildeo mais constitui tiacutetulo haacutebil a ensejar a presunccedilatildeo do domiacutenio da Uniatildeo o simples fato de determinada aacuterea estar situada em ilha costeira se nela estiver sediado Municiacutepio

A interpretaccedilatildeo sistemaacutetica do texto constitucional conduz agrave conclusatildeo de que a alteraccedilatildeo introduzida no inciso IV do art 20 pela Emenda Constitucional 462005 natildeo teve o condatildeo de alterar o regime patrimonial dos bens referidos no inciso VII como aliaacutes de nenhum outro bem arrolado nesse artigo Entender que os terrenos de marinha e acrescidos teriam sido transferidos ao ente municipal levaria agrave conclu-satildeo de que todos os demais bens constitucionalmente atribuiacutedos agrave dominialidade da Uniatildeo ndash potenciais de energia eleacutetrica recursos minerais terras tradicionalmente ocupadas pelos iacutendios etc ndash se situados nas ilhas municipais estariam apoacutes a ediccedilatildeo da emenda igualmente excluiacutedos do patrimocircnio federal Assim as ressalvas cons-tantes da parte final do dispositivo alterado referentes agraves ldquoaacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federalrdquo devem ser compreendidas como adendos aos demais bens integrantes do acervo patrimonial da Uniatildeo

Com a emenda o constituinte derivado em observacircncia ao princiacutepio da isono-mia buscou prestigiar a autonomia municipal e equiparou o regime juriacutedico-patri-monial das ilhas costeiras em que estatildeo sediados Municiacutepios agraves porccedilotildees continentais

RE 636199RG ‒ Tema 676rel min Rosa WeberPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 862

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Bens da Uniatildeo ndash Repercussatildeo Geral

103iacutendice de teses

do territoacuterio brasileiro favorecendo a promoccedilatildeo dos interesses locais e o desenvol-vimento da regiatildeo No entanto ausente fator de discriacutemen a legitimar a geraccedilatildeo de efeitos desuniformes no tocante ao regramento dos terrenos de marinha e acresci-dos entre Municiacutepios insulares e continentais incide sobre ambos sem distinccedilatildeo o art 20 VII da CF

Errocircneo supor do ponto de vista loacutegico que no afatilde de estabelecer tratamento isonocircmico entre Municiacutepios continentais e insulares se devesse adotar entre duas interpretaccedilotildees possiacuteveis aquela que elastecesse o comando constitucional ao ponto de sem motivo justificado conceder-lhes tratamento diferenciado

Ademais do ponto de vista histoacuterico os terrenos de marinha e seus acrescidos jaacute integravam o rol de bens da Uniatildeo mesmo antes de as ilhas costeiras passarem a compor o patrimocircnio federal Isso reforccedila o rechaccedilo agrave tese de que se alterou o trata-mento juriacutedico a eles conferido em razatildeo da modificaccedilatildeo introduzida pela Emenda Constitucional 462005 na propriedade das ilhas mariacutetimas

O domiacutenio da Uniatildeo sobre as terras situadas nas ilhas litoracircneas jaacute foi reconhe-cido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Accedilatildeo Ciacutevel Originaacuteria 3174 resguardada a legitimidade de eventual transferecircncia da titularidade para os Estados pelos meios regulares de direito

Tambeacutem destoa do sistema de distribuiccedilatildeo de bens entre as entidades da Fe-deraccedilatildeo assumir que os Municiacutepios sediados em ilhas sejam proprietaacuterios dos terrenos de marinha mas natildeo o sejam os Municiacutepios costeiros Natildeo haveria mo-tivo consistente para justificar a incoerecircncia sistemaacutetica que daiacute resultaria Tal interpretaccedilatildeo da Emenda Constitucional 462005 ficaria desautorizada pela dissi-metria a que conduziria

Por todo o exposto eacute inviaacutevel acolher a interpretaccedilatildeo que inclui as aacutereas corres-pondentes aos terrenos de marinha e acrescidos ndash situadas em ilha costeira ndash no patri-mocircnio do ente municipal nela sediado Afinal constituem bens federais mesmo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Emenda Constitucional 462005

A anaacutelise da conveniecircncia na manutenccedilatildeo do instituto no bojo do ordena-mento juriacutedico paacutetrio demanda discussatildeo proacutepria agrave esfera poliacutetica Com efeito porquanto de jaez constitucional a extinccedilatildeo do instituto depende de processo legislativo especial

1 ldquoArt 20 Satildeo bens da Uniatildeo () VII ndash os terrenos de marinha e seus acrescidosrdquo

104iacutendice de teses

2 ldquoArt 20 Satildeo bens da Uniatildeo () IV ndash as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limiacutetrofes com outros paiacuteses as praias mariacutetimas as ilhas oceacircnicas e as costeiras excluiacutedas destas as que contenham a sede de Municiacutepios exceto aquelas aacutereas afetadas ao serviccedilo puacuteblico e a unidade ambiental federal e as referidas no art 26 IIrdquo

3 ldquoArt 26 Incluem-se entre os bens dos Estados () II ndash as aacutereas nas ilhas oceacircnicas e costeiras que estiverem no seu domiacutenio excluiacutedas aquelas sob domiacutenio da Uniatildeo Municiacutepios ou terceirosrdquo

4 ACO 317 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 20-11-1992

105iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo por meio de lei estadual de Certidatildeo de Vio-

laccedilatildeo dos Direitos do Consumidor como requisito para contrataccedilatildeo com a

Administraccedilatildeo Puacuteblica

A conformaccedilatildeo legal mais imediata primaacuteria ou de primeiro grau do direito de participar de licitaccedilotildees foi confiada pela Constituiccedilatildeo Federal (CF) tatildeo somente agrave Uniatildeo (CF art 22 XXVII1) que a materializou com a aprovaccedilatildeo do art 27 da Lei 86661993 Este dispositivo exige dos interessados ldquoexclusivamente documenta-ccedilatildeo relativa a I ndash habilitaccedilatildeo juriacutedica II ndash qualificaccedilatildeo teacutecnica III ndash qualificaccedilatildeo econocircmico-financeira IV ndash regularidade fiscal e trabalhista e V ndash cumprimento do disposto no inciso XXXII do art 7ordm da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

Somente a Uniatildeo pode limitar em caraacuteter geral a amplitude da liberdade de aces-so agraves licitaccedilotildees pois requisitos desta natureza podem induzir a uma significativa res-triccedilatildeo da competitividade dos procedimentos licitatoacuterios

A competitividade eacute a pedra de toque desses procedimentos Ao valorizaacute-la fo-mentando a disputa entre os interessados em contratar com o poder puacuteblico o or-denamento atende simultaneamente a dois outros interesses puacuteblicos de alta carga de relevacircncia De um lado viabiliza que o Estado obtenha a melhor oferta possiacutevel enquanto de outro garante o tratamento isonocircmico dos participantes Esta visatildeo de crucial importacircncia para o bom funcionamento dos processos licitatoacuterios estaacute consagrada na literalidade do art 37 XXI da CF2

O referido art 37 XXI do texto constitucional enfatiza a ldquoigualdade de condi-ccedilotildees a todos os concorrentesrdquo como um interesse puacuteblico de primeira grandeza mas que admite temperamentos a serem estabelecidos por dois caminhos a) pela lei que criaraacute condiccedilotildees de diferenciaccedilatildeo exigiacuteveis em abstrato e b) pela autoridade res-ponsaacutevel pela conduccedilatildeo do processo licitatoacuterio que poderaacute estabelecer elementos de distinccedilatildeo circunstanciais de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica sempre vinculados agrave garantia de cumprimento de obrigaccedilotildees especiacuteficas

ADI 3735rel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 838

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

106iacutendice de teses

Disso se depreende que a igualdade de condiccedilotildees na participaccedilatildeo em processos licitatoacuterios eacute uma garantia constitucional relevante Nessa medida as restriccedilotildees a esta proteccedilatildeo devem constar do programa de normas gerais Ao direito estadual (ou mu-nicipal) somente seraacute legiacutetimo inovar se tiver como objetivo estabelecer condiccedilotildees especiacuteficas nomeadamente quando relacionadas a uma classe de objetos a serem contratados ou a peculiares circunstacircncias de interesse local A aprovaccedilatildeo de diplo-mas locais com esses desiacutegnios tem o efeito de padronizar as exigecircncias rotineira-mente praticadas pelas administraccedilotildees locais em licitaccedilotildees especiacuteficas estabilizando as expectativas dos respectivos participantes3

1 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre () XXVII ndash normas gerais de licitaccedilatildeo e contrataccedilatildeo em todas as modalidades para as administraccedilotildees puacuteblicas diretas autaacuterquicas e fun-dacionais da Uniatildeo Estados Distrito Federal e Municiacutepios obedecido o disposto no art 37 XXI e para as empresas puacuteblicas e sociedades de economia mista nos termos do art 173 sect 1ordm IIIrdquo

2 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contratados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que assegure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorrentes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pagamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircncias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacuteveis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

3 Precedente ADI 3059 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 8-5-2015

107iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de

celular em presiacutedio

Ao determinar agraves empresas de telefonia a instalaccedilatildeo de equipamentos para inter-rupccedilatildeo do sinal nas unidades prisionais do Estado o legislador local atuou no nuacute-cleo da regulaccedilatildeo da atividade de telecomunicaccedilotildees de competecircncia privativa da Uniatildeo no que cabe a esta disciplinar a transmissatildeo de sinais no campo eletromag-neacutetico de maneira adequada (CF arts 21 XI 22 IV e 175 IV1)

Os procedimentos concernentes agrave operaccedilatildeo de telefonia celular e ao bloqueio de sinal em determinadas aacutereas podem afetar diretamente a qualidade da prestaccedilatildeo do serviccedilo para a populaccedilatildeo circundante Dessa forma o tema demanda tratamento uniforme em todo o Paiacutes ainda que a finalidade do legislador estadual seja a segu-ranccedila puacuteblica

Diante disso por se tratar de questatildeo relacionada ao interesse nacional a discipli-na dos serviccedilos puacuteblicos que funcionam em todo o territoacuterio cabe agrave Uniatildeo2 Eacute com amparo nessa ideia que a doutrina propotildee a denominada prevalecircncia do interesse3 como criteacuterio para a soluccedilatildeo de conflitos reconhecendo-se a competecircncia da Uniatildeo quando a mateacuteria transcender os interesses locais e regionais

Ademais a instalaccedilatildeo de bloqueadores de sinal de celular em presiacutedios jaacute pos-sui tratamento proacuteprio na legislaccedilatildeo federal (Lei 107922003 art 4ordm4) Embora a norma natildeo seja totalmente expliacutecita a lei parece ter imposto aos entes federativos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

ADI 3835rel min Marco Aureacutelio

DJE de 2-8-2017ADI 5235rel min Dias Toffoli

ADI 4861rel min Gilmar Mendes

ADI 5356red p o ac min Marco Aureacutelio

ADI 5327rel min Dias Toffoli

PlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 833

108iacutendice de teses

administradores dos estabelecimentos penitenciaacuterios a obrigaccedilatildeo de implementar o bloqueio Natildeo haacute menccedilatildeo na legislaccedilatildeo de regecircncia quanto agrave obrigaccedilatildeo de as operadoras prestarem o serviccedilo

Assim ao transferir o ocircnus de instalar bloqueadores de celulares agraves prestadoras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees constata-se tambeacutem interferecircncia indevida nas re-laccedilotildees juriacutedicas entre essas e a Uniatildeo5

1 ldquoArt 21 Compete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos termos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos serviccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspectos institucionais () Art 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica telecomunicaccedilotildees e radiodifusatildeo () Art 175 Incumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos Paraacutegrafo uacutenico A lei disporaacute sobre () IV ndash a obrigaccedilatildeo de manter serviccedilo adequadordquo

2 ADI 3533 rel min Eros Grau P DJ de 6-10-2006 ADI 3846 rel min Gilmar Mendes P DJE de 15-3-2011 ADI 3322 rel min Gilmar Mendes P DJE de 29-3-2011 e ADI 4369 MC-REF rel min Marco Aureacutelio P DJE de 4-5-2011

3 ldquoAo ser constatada uma aparente incidecircncia de determinado assunto em mais de um tipo de com-petecircncia deve-se realizar interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo duas premissas a intensidade da relaccedilatildeo da situaccedilatildeo faacutetica normatizada com a estrutura baacutesica descrita no tipo da competecircncia em anaacutelise e aleacutem disso o fim primaacuterio a que se destina essa norma que possui direta relaccedilatildeo com o princiacutepio da predominacircncia de interessesrdquo (DEGENHART Christoph Staatsrecht I Heidelberg 22 ed 2006 p 56-60)

4 ldquoArt 4ordm Os estabelecimentos penitenciaacuterios especialmente os destinados ao regime disciplinar dife-renciado disporatildeo dentre outros equipamentos de seguranccedila de bloqueadores de telecomunica-ccedilatildeo para telefones celulares raacutedio-transmissores e outros meios definidos no art 60 sect 1ordm da Lei n 9472 de 16 de julho de 1997rdquo

5 ADI 3533 rel min Eros Grau P DJ de 6-10-2006 e ADI 4401 rel min Gilmar Mendes P DJE de 1ordm-10-2010

109iacutendice de teses

Eacute formalmente inconstitucional a lei estadual que regulamenta a cobranccedila

proporcional ao tempo efetivamente utilizado por serviccedilos de estacionamen-

to privado de veiacuteculos no Estado-membro

A disciplina acerca da exploraccedilatildeo econocircmica de estacionamentos privados refere--se a direito civil Trata-se portanto de competecircncia privativa da Uniatildeo a teor do art 22 I da Constituiccedilatildeo Federal1 2 e 3

ldquoEacute indubitaacutevel que a regulamentaccedilatildeo da modalidade de cobranccedila de estaciona-mentos urbanos possui relaccedilatildeo direta com o direito agrave propriedade na medida em que institui limitaccedilatildeo ao pleno exerciacutecio desse mesmo direito no acircmbito das relaccedilotildees con-tratuais Ainda a norma estadual estatui condicionamento acerca da remuneraccedilatildeo do contrato de depoacutesito previsto pelos artigos 627 a 646 do Coacutedigo Civil de 20024 ou seja sobre tema no qual o Congresso Nacional oacutergatildeo constitucionalmente responsaacute-vel por editar normas de direito civil houve por bem deixar ao campo da autonomia privada das partes a fixaccedilatildeo da retribuiccedilatildeo pela prestaccedilatildeordquo5

Diante disso foi declarada inconstitucional a Lei 167852011 do Estado do Paranaacute

1 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

2 ADI 2448 rel min Sydney Sanches P DJ de 13-6-2003 ADI 1623 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 15-4-2011 e ADI 1918 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 1ordm-8-2003

3 Os ministros Roberto Barroso Rosa Weber e Caacutermen Luacutecia acompanharam o relator quanto agrave procedecircncia do pedido formulado na accedilatildeo direta mas por fundamento diverso Segundo entende-ram natildeo haveria inconstitucionalidade formal da lei impugnada porque o assunto discutido seria pertinente a direito do consumidor mateacuteria de competecircncia legislativa concorrente nos termos do art 24 V e VIII da CF Entretanto a interferecircncia do Estado na fixaccedilatildeo de preccedilo privado numa circunstacircncia que natildeo eacute excepcional caracterizaria inconstitucionalidade material da lei por violaccedilatildeo ao princiacutepio constitucional da livre iniciativa previsto no art 170 caput da CF

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Uniatildeo Ȥ Competecircncia legislativa privativa

ADI 4862rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 7-2-2017Informativo STF 835

110iacutendice de teses

4 ldquoArt 627 Pelo contrato de depoacutesito recebe o depositaacuterio um objeto moacutevel para guardar ateacute que o depositante o reclame

Art 628 O contrato de depoacutesito eacute gratuito exceto se houver convenccedilatildeo em contraacuterio se resultante de atividade negocial ou se o depositaacuterio o praticar por profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Se o depoacutesito for oneroso e a retribuiccedilatildeo do depositaacuterio natildeo constar de lei nem resultar de ajuste seraacute determinada pelos usos do lugar e na falta destes por arbitramento

Art 629 O depositaacuterio eacute obrigado a ter na guarda e conservaccedilatildeo da coisa depositada o cuidado e diligecircncia que costuma com o que lhe pertence bem como a restituiacute-la com todos os frutos e acrescidos quando o exija o depositante

Art 630 Se o depoacutesito se entregou fechado colado selado ou lacrado nesse mesmo estado se manteraacute

Art 631 Salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio a restituiccedilatildeo da coisa deve dar-se no lugar em que tiver de ser guardada As despesas de restituiccedilatildeo correm por conta do depositante

Art 632 Se a coisa houver sido depositada no interesse de terceiro e o depositaacuterio tiver sido cien-tificado deste fato pelo depositante natildeo poderaacute ele exonerar-se restituindo a coisa a este sem con-sentimento daquele

Art 633 Ainda que o contrato fixe prazo agrave restituiccedilatildeo o depositaacuterio entregaraacute o depoacutesito logo que se lhe exija salvo se tiver o direito de retenccedilatildeo a que se refere o art 644 se o objeto for judicialmente embargado se sobre ele pender execuccedilatildeo notificada ao depositaacuterio ou se houver motivo razoaacutevel de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida

Art 634 No caso do artigo antecedente uacuteltima parte o depositaacuterio expondo o fundamento da suspeita requereraacute que se recolha o objeto ao Depoacutesito Puacuteblico

Art 635 Ao depositaacuterio seraacute facultado outrossim requerer depoacutesito judicial da coisa quando por motivo plausiacutevel natildeo a possa guardar e o depositante natildeo queira recebecirc-la

Art 636 O depositaacuterio que por forccedila maior houver perdido a coisa depositada e recebido outra em seu lugar eacute obrigado a entregar a segunda ao depositante e ceder-lhe as accedilotildees que no caso tiver contra o terceiro responsaacutevel pela restituiccedilatildeo da primeira

Art 637 O herdeiro do depositaacuterio que de boa-feacute vendeu a coisa depositada eacute obrigado a assistir o depositante na reivindicaccedilatildeo e a restituir ao comprador o preccedilo recebido

Art 638 Salvo os casos previstos nos arts 633 e 634 natildeo poderaacute o depositaacuterio furtar-se agrave restituiccedilatildeo do depoacutesito alegando natildeo pertencer a coisa ao depositante ou opondo compensaccedilatildeo exceto se noutro depoacutesito se fundar

Art 639 Sendo dois ou mais depositantes e divisiacutevel a coisa a cada um soacute entregaraacute o depositaacuterio a respectiva parte salvo se houver entre eles solidariedade

Art 640 Sob pena de responder por perdas e danos natildeo poderaacute o depositaacuterio sem licenccedila expressa do depositante servir-se da coisa depositada nem a dar em depoacutesito a outrem

111iacutendice de teses

Paraacutegrafo uacutenico Se o depositaacuterio devidamente autorizado confiar a coisa em depoacutesito a terceiro seraacute responsaacutevel se agiu com culpa na escolha deste

Art 641 Se o depositaacuterio se tornar incapaz a pessoa que lhe assumir a administraccedilatildeo dos bens dili-genciaraacute imediatamente restituir a coisa depositada e natildeo querendo ou natildeo podendo o depositante recebecirc-la recolhecirc-la-aacute ao Depoacutesito Puacuteblico ou promoveraacute nomeaccedilatildeo de outro depositaacuterio

Art 642 O depositaacuterio natildeo responde pelos casos de forccedila maior mas para que lhe valha a escusa teraacute de provaacute-los

Art 643 O depositante eacute obrigado a pagar ao depositaacuterio as despesas feitas com a coisa e os prejuiacute-zos que do depoacutesito provierem

Art 644 O depositaacuterio poderaacute reter o depoacutesito ateacute que se lhe pague a retribuiccedilatildeo devida o liacutequido valor das despesas ou dos prejuiacutezos a que se refere o artigo anterior provando imediatamente esses prejuiacutezos ou essas despesas

Paraacutegrafo uacutenico Se essas diacutevidas despesas ou prejuiacutezos natildeo forem provados suficientemente ou forem iliacutequidos o depositaacuterio poderaacute exigir cauccedilatildeo idocircnea do depositante ou na falta desta a re-moccedilatildeo da coisa para o Depoacutesito Puacuteblico ateacute que se liquidem

Art 645 O depoacutesito de coisas fungiacuteveis em que o depositaacuterio se obrigue a restituir objetos do mesmo gecircnero qualidade e quantidade regular-se-aacute pelo disposto acerca do muacutetuo

Art 646 O depoacutesito voluntaacuterio provar-se-aacute por escritordquo

5 Trecho da manifestaccedilatildeo da Advocacia-Geral da Uniatildeo no presente julgamento citada no voto do ministro Gilmar Mendes

112iacutendice de teses

Eacute constitucional lei estadual1 que declara em regime de extinccedilatildeo a Carteira

de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila estadual2

Tendo em vista que o constituinte conferiu aos Estados-membros competecircncia con-corrente para legislarem sobre previdecircncia social consoante o disposto no art 24 XII da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 natildeo subsiste inconstitucionalidade formal agrave re-ferida lei estadual

Igualmente a adoccedilatildeo do sistema de capitalizaccedilatildeo para o fundo previdenciaacuterio natildeo implica ofensa agrave competecircncia privativa da Uniatildeo para legislar sobre seguros consoacuter-cios ou transferecircncia de valores Em qualquer carteira de previdecircncia ndash puacuteblica ou privada ndash haacute necessidade de estabelecer regras pelas quais seraacute calculado o custeio dos benefiacutecios concedidos

Tambeacutem inexiste ofensa ao art 149 da CF4 A contribuiccedilatildeo em tela natildeo foi criada mediante o diploma impugnado mas jaacute era prevista em lei estadual5 cuja constitu-cionalidade natildeo foi questionada

Eacute inconstitucional dispositivo de lei estadual6 que veda que o Estado-membro

responda direta ou indiretamente pelo pagamento dos benefiacutecios jaacute conce-

didos ou que venham a ser concedidos no acircmbito da Carteira das Serventias

tampouco responsabilize-se por qualquer indenizaccedilatildeo a seus participantes

ou por insuficiecircncia patrimonial passada presente ou futura

A extinccedilatildeo da Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila do Estado embora possiacutevel por meio da referida lei deve respeitar o direito adquirido dos participantes e situaccedilotildees subjetivas jaacute reconhecidas ante a situaccedilatildeo previden-ciaacuteria singular criada e fomentada pelo proacuteprio poder puacuteblico cuja modificaccedilatildeo da realidade juriacutedica implicou a necessidade de liquidaccedilatildeo do Fundo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Estados federados Ȥ Competecircncia legislativa concorrente

ADI 4420red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

113iacutendice de teses

Natildeo tecircm os participantes o dever juriacutedico de arcar com os prejuiacutezos da ausecircncia da principal fonte de custeio da Carteira a qual tem filiaccedilatildeo obrigatoacuteria mesmo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica no tocante agrave decisatildeo de extingui-la tenha atuado dentro dos limites da licitude A lesatildeo indenizaacutevel resulta dos efeitos da posiccedilatildeo administrativa e das caracteriacutesticas hiacutebridas do entatildeo regime previdenciaacuterio e natildeo propriamente da atuaccedilatildeo regular ou irregular da Administraccedilatildeo Eacute antiga a jurisprudecircncia do Supre-mo Tribunal Federal sobre a possibilidade de configuraccedilatildeo da responsabilidade do Estado ainda que o ato praticado seja liacutecito Tal entendimento foi sedimentado no princiacutepio basilar da igualdade segundo o qual descabe imputar a particulares indivi-dualizaacuteveis os encargos sociais decorrentes da atuaccedilatildeo administrativa implementada em prol de toda a coletividade7

Ademais seja optando pela liquidaccedilatildeo seja pela adequaccedilatildeo das fontes de custeio e das regras da Carteira ao regime complementar trazido pela Emenda Constitucio-nal 201998 em nenhuma das alternativas seria possiacutevel desconsiderar o primado da seguranccedila juriacutedica e as consequecircncias que o respeito a esse princiacutepio implica O procedimento de liquidaccedilatildeo embora legiacutetimo quanto ao fim imputa aos participan-tes todo o ocircnus da preservaccedilatildeo do equiliacutebrio financeiro ateacute o efetivo teacutermino da Carteira olvidando-se que agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica incumbia tambeacutem suportar o risco decorrente da modificaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico no transcurso dos anos

Assim aplicando-se a interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo agrave lei estadual em co-mento as regras natildeo se aplicam a quem na data da publicaccedilatildeo da lei jaacute estava em gozo de benefiacutecio ou tinha cumprido com base no regime instituiacutedo em lei estadual regulamentadora8 os requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo Quanto aos que natildeo imple-mentaram todos os requisitos deve ser garantida a faculdade da contagem reciacuteproca de tempo de contribuiccedilatildeo para efeito de aposentadoria pelo Regime Geral da Previ-decircncia Social nos termos do art 201 sect 9ordm da CF9 ficando o Estado responsaacutevel pelas decorrecircncias financeiras da compensaccedilatildeo referida

1 Lei 140162010 do Estado de Satildeo Paulo que declarou em regime de extinccedilatildeo a Carteira de Pre-videcircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila daquele Estado a que se refere a Lei estadual 103931970

2 Trata-se de Carteira de Previdecircncia administrada pelo Instituto de Previdecircncia do Estado de Satildeo Paulo financeiramente autocircnoma com patrimocircnio proacuteprio cujas finalidades satildeo proporcionar aposentadoria aos seus segurados e conceder pensatildeo aos dependentes dos segurados (arts 1ordm e 2ordm da Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo) Com a Emenda Constitucional 201998 o regime criado pela Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas deixou de ter suporte na Constituiccedilatildeo

114iacutendice de teses

natildeo se identificando com nenhum dos modelos nela previstos Embora exerccedilam funccedilatildeo puacuteblica es-sencial agrave administraccedilatildeo da Justiccedila descabe dizer que os integrantes das serventias natildeo oficializadas sejam servidores puacuteblicos titulares de cargos efetivos Dessa forma natildeo eacute aplicaacutevel a sistemaacutetica reservada aos servidores puacuteblicos efetivos baseada no art 40 da CF O diploma impugnado tam-pouco instituiu sistema compatiacutevel com a previdecircncia privada haja vista a vedaccedilatildeo contida no sect 3ordm do art 202 da CF Assim natildeo podem os integrantes das serventias natildeo oficializadas participar de previdecircncia puacuteblica ou privada patrocinada por ente puacuteblico Ante o quadro restaram agrave Carteira Previdenciaacuteria duas possibilidades a adequaccedilatildeo das fontes de custeio e das regras da Carteira ao regime complementar inaugurado com a reforma da Previdecircncia ou a liquidaccedilatildeo

3 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () XII ndash previdecircncia social proteccedilatildeo e defesa da sauacutederdquo

4 ldquoArt 149 Compete exclusivamente agrave Uniatildeo instituir contribuiccedilotildees sociais de intervenccedilatildeo no domiacute-nio econocircmico e de interesse das categorias profissionais ou econocircmicas como instrumento de sua atuaccedilatildeo nas respectivas aacutereas observado o disposto nos arts 146 III e 150 I e III e sem prejuiacutezo do previsto no art 195 sect 6ordm relativamente agraves contribuiccedilotildees a que alude o dispositivordquo

5 Art 43 I e II da Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo

6 Art 3ordm caput e sect 1ordm da Lei 140162010 do Estado de Satildeo Paulo

7 Precedentes ADI 4291 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 14-3-2012 e ADI 4429 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 14-3-2012

8 Lei 103931970 do Estado de Satildeo Paulo que reorganiza a Carteira de Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila do Estado

9 ldquoArt 201 () sect 9ordm Para efeito de aposentadoria eacute assegurada a contagem reciacuteproca do tempo de contribuiccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica e na atividade privada rural e urbana hipoacutetese em que os diversos regimes de previdecircncia social se compensaratildeo financeiramente segundo criteacuterios estabele-cidos em leirdquo

115iacutendice de teses

Eacute constitucional dispositivo de lei estadual1 que autoriza as empresas que fa-

cultativamente patrocinarem bolsas para a formaccedilatildeo superior de professores

a exigir dos beneficiaacuterios em contrapartida serviccedilos na aacuterea educacional

Tal medida visa incentivar e estimular a formaccedilatildeo de professores em niacutevel superior e aprimorar o sistema regional de ensino atraveacutes da implementaccedilatildeo de projetos de alfabetizaccedilatildeo ou de aperfeiccediloamento dos empregados das empresas financiadoras bem como atraveacutes de outras atividades compatiacuteveis com a formaccedilatildeo profissional dos beneficiaacuterios

Inexiste portanto viacutecio de inconstitucionalidade formal A norma natildeo legislou so-bre Direito Civil tampouco sobre Direito do Trabalho ambos assuntos de competecircn-cia legislativa privativa da Uniatildeo nos termos do art 22 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

Tambeacutem natildeo haacute inconstitucionalidade material Trata-se em verdade de norma concernente a educaccedilatildeo e ensino mateacuteria sobre a qual a Constituiccedilatildeo atribui com-petecircncia legislativa concorrente (CF art 24 IX3) cabendo agrave Uniatildeo estabelecer as normas gerais e aos Estados-membros e ao Distrito Federal suplementaacute-las no afatilde de afeiccediloaacute-las agraves particularidades regionais4

O princiacutepio federativo reclama o abandono de qualquer leitura inflacionada e cen-tralizadora das competecircncias normativas da Uniatildeo bem como sugere novas searas normativas que possam ser trilhadas por Estados Municiacutepios e Distrito Federal

A prospective overruling antiacutedoto ao engessamento do pensamento juriacutedico possi-bilita ao Supremo Tribunal Federal rever sua postura prima facie em casos de litiacutegios constitucionais em mateacuteria de competecircncia legislativa Assim viabiliza o prestiacutegio das iniciativas regionais e locais ressalvadas as hipoacuteteses de ofensa expressa e inequiacute-voca de norma da Constituiccedilatildeo de 1988

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Estados federados Ȥ Competecircncia legislativa concorrente

ADI 2663rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 29-5-2017Informativo STF 856

116iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo unilateral por meio de lei estadual5 de be-

nefiacutecio fiscal relativo a Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos

(ICMS) agrave empresa patrocinadora de bolsas de estudo a professores

Embora a competecircncia tributaacuteria abranja como consectaacuterio loacutegico a possibilidade de instituiccedilatildeo de benefiacutecios fiscais (isenccedilotildees concessatildeo de creacutedito presumido redu-ccedilatildeo da base de caacutelculo do tributo) a parte final do art 150 sect 6ordm da CF6 revela regime particular no tocante agraves exoneraccedilotildees fiscais instituiacutedas em relaccedilatildeo ao ICMS Para tal tributo os Estados natildeo podem estabelecer isenccedilotildees livremente sendo exigida a preacutevia deliberaccedilatildeo entre os Estados-membros para a sua concessatildeo conforme pre-visatildeo constitucional (CF art 155 sect 2ordm XII g7) e como disciplinado pela Lei Com-plementar 2419758

A exigecircncia de um convecircnio interestadual preacutevio evidencia a preservaccedilatildeo do equi-liacutebrio horizontal na tributaccedilatildeo dada a relevacircncia do regime do ICMS para a manu-tenccedilatildeo da harmonia do pacto federativo Se fosse liacutecita a cada ente federativo regio-nal a instituiccedilatildeo de exoneraccedilotildees fiscais de forma independente o resultado seria a cognominada guerra fiscal com a busca irrefreaacutevel pela reduccedilatildeo da carga tributaacuteria em cada Estado de forma a atrair empreendimentos e capital para o respectivo ter-ritoacuterio em prejuiacutezo em uacuteltima anaacutelise para a proacutepria forma de estado federalista e seus consectaacuterios fiscais

Nesse cenaacuterio padece de inconstitucionalidade dispositivo de lei estadual por-quanto concessivo de benefiacutecio fiscal de ICMS sem antecedente deliberaccedilatildeo dos Esta-dos e do Distrito Federal caracterizando hipoacutetese tiacutepica de exoneraccedilatildeo conducente agrave guerra fiscal em desarmonia com a Constituiccedilatildeo Federal9

1 Lei 117432002 do Estado do Rio Grande do Sul ldquoAssegura prestaccedilatildeo de serviccedilo e possibilita in-centivo a empresas que financiarem bolsas de estudo aos professores que necessitam completar a formaccedilatildeo pedagoacutegica () Art 1ordm As empresas que patrocinarem bolsas de estudo para professores que ingressam em curso superior em atendimento ao disposto pelo sect 4ordm do art 87 da Lei n 9394 de 20 de dezembro de 1996 que dispotildee sobre as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional poderatildeo em contrapartida exigir dos beneficiaacuterios que lhes prestem serviccedilo para implementaccedilatildeo de projetos de alfabetizaccedilatildeo ou de aperfeiccediloamento de seus empregados bem como outras atividades compatiacuteveis com sua formaccedilatildeo profissional Art 2ordm Os serviccedilos a que se refere o art 1ordm seratildeo prestados apoacutes a conclusatildeo do curso por tempo proporcional ao periacuteodo em que vigorou a bolsa natildeo podendo ul-trapassar a 4 (quatro) anos nem obrigar o beneficiaacuterio a mais de 2 (duas) horas diaacuterias de trabalho Paraacutegrafo uacutenico Se a bolsa for concedida pela proacutepria Instituiccedilatildeo de Ensino Superior frequentada pelo beneficiaacuterio esta poderaacute exigir do mesmo a prestaccedilatildeo de serviccedilo durante a realizaccedilatildeo do cursordquo

117iacutendice de teses

2 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

3 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () IX ndash educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeordquo

4 Precedentes ADI 4060 rel min Luiz Fux P DJE de 4-5-2015 ADI 3669 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 29-6-2007 ADI 682 red p o ac min Joaquim Barbosa P DJE de 11-5-2007 e ADI 3098 rel min Carlos Velloso P DJE de 10-3-2006

5 Lei 117432002 do Estado do Rio Grande do Sul ldquoArt 3ordm Fica o Poder Executivo autorizado a conceder agrave empresa patrocinadora da bolsa prevista na presente lei mediante requerimento da interessada incentivo equivalente a 50 (cinquenta por cento) do valor da mesma a ser deduzido do Imposto sobre Operaccedilotildees Relativas agrave Circulaccedilatildeo de Mercadorias e sobre Prestaccedilotildees de Serviccedilos de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicaccedilatildeordquo

6 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Estados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () sect 6ordm Qualquer subsiacutedio ou isenccedilatildeo reduccedilatildeo de base de caacutelculo concessatildeo de creacutedito presumido anistia ou remissatildeo relativos a impostos taxas ou contribuiccedilotildees soacute poderaacute ser concedido mediante lei especiacutefica federal estadual ou municipal que regule exclusivamente as mateacuterias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuiccedilatildeo sem prejuiacutezo do disposto no art 155 sect 2ordm XII grdquo

7 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () XII ndash cabe agrave lei complementar () g) regular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

8 ldquoDispotildee sobre os convecircnios para a concessatildeo de isenccedilotildees do imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e daacute outras providecircnciasrdquo

9 Precedentes ADI 4481 rel min Roberto Barroso P DJE de 19-5-2015 ADI 4276 rel min Luiz Fux P DJE de 18-9-2014 ADI 2688 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 26-8-2011 e ADI 1247 MC rel min Celso de Mello P DJ de 8-9-1995

118iacutendice de teses

O Municiacutepio tem competecircncia para legislar sobre proteccedilatildeo do meio ambiente

e controle da poluiccedilatildeo quando se tratar de interesse local

Embora a mateacuteria relativa agrave proteccedilatildeo do meio ambiente e ao controle da poluiccedilatildeo seja de competecircncia legislativa concorrente entre Uniatildeo Estados e Distrito Federal (CF art 24 VI sectsect 1ordm a 3ordm1) aos Municiacutepios eacute atribuiacuteda a competecircncia para suple-mentar a legislaccedilatildeo federal e a estadual nos assuntos de interesse local nos termos do art 30 I e II da Constituiccedilatildeo Federal2

ldquoJoseacute Afonso da Silva opina no sentido de que lsquoaiacute certamente competiraacute aos Mu-niciacutepios legislar supletivamente sobre 1 proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico cultural artiacutestico turiacutestico e paisagiacutestico 2 responsabilidade por dano ao meio ambiente ao consumidor a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico e paisa-giacutestico local 3 educaccedilatildeo cultura ensino e sauacutede no que tange agrave prestaccedilatildeo desses serviccedilos no acircmbito local 4 direito urbaniacutestico local etcrsquordquo3

Assim eacute de interesse local a disciplina da poluiccedilatildeo do meio ambiente por veiacuteculos que trafegam no periacutemetro urbano expelindo fumaccedila e gases toacutexicos

Ademais cabe destacar que a competecircncia material ndash administrativa de atividades concretas ndash para a proteccedilatildeo do meio ambiente e o combate agrave poluiccedilatildeo em qualquer de suas formas eacute comum da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios (CF art 23 VI4)

Diante desse quadro como a atividade administrativa desenvolve-se sub legem ndash administrar eacute executar de ofiacutecio a lei ndash ao Municiacutepio devem ser dados os meios para a consecuccedilatildeo de seus fins

1 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () VI ndash florestas caccedila pesca fauna conservaccedilatildeo da natureza defesa do solo e dos recursos naturais proteccedilatildeo do meio ambiente e controle da poluiccedilatildeo () sect 1ordm No acircmbito da legislaccedilatildeo concorrente a competecircncia da Uniatildeo limitar-se-aacute a estabelecer normas gerais sect 2ordm A competecircncia da Uniatildeo para

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Municiacutepios Ȥ Competecircncia legislativa suplementar

RE 194704red p o ac min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 17-11-2017Informativo STF 870

119iacutendice de teses

legislar sobre normas gerais natildeo exclui a competecircncia suplementar dos Estados sect 3ordm Inexistindo lei federal sobre normas gerais os Estados exerceratildeo a competecircncia legislativa plena para atender a suas peculiaridadesrdquo

2 ldquoArt 30 Compete aos Municiacutepios I ndash legislar sobre assuntos de interesse local II ndash suplementar a legislaccedilatildeo federal e a estadual no que couberrdquo

3 VELLOSO Carlos Estado Federal e Estados Federados na Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 ndash o equi-liacutebrio federativo In Temas de direito puacuteblico 1 ed Belo Horizonte Del Rey 1997 p 401

4 ldquoArt 23 Eacute competecircncia comum da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios () VI ndash proteger o meio ambiente e combater a poluiccedilatildeo em qualquer de suas formasrdquo

120iacutendice de teses

Para os fins do art 1ordm I g da Lei Complementar 641 de 18 de maio de 1990

alterado pela Lei Complementar 135 de 4 de junho de 2010 a apreciaccedilatildeo das

contas de prefeitos tanto as de governo quanto as de gestatildeo seraacute exercida

pelas Cacircmaras Municipais com o auxiacutelio dos tribunais de contas competen-

tes cujo parecer preacutevio somente deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de 23

dos vereadores

O constituinte de 1988 optou por atribuir indistintamente o julgamento de todas as contas de responsabilidade dos prefeitos municipais aos vereadores em respeito agrave relaccedilatildeo de equiliacutebrio que deve existir entre os Poderes da Repuacuteblica (checks and balances) Tal encargo natildeo cabe aos teacutecnicos dos tribunais de contas que natildeo satildeo detentores de poder2 Satildeo os vereadores que representam o povo os cidadatildeos os muniacutecipes praticando atos em nome destes nos termos do art 1ordm paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF) o qual prevecirc que ldquotodo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenterdquo

A Cacircmara Municipal portanto eacute o oacutergatildeo que representa a soberania popular em particular o contribuinte e que tem toda a legitimidade para examinar as contas municipais nos termos do art 31 sect 3ordm da CF3

O controle externo eacute exercido pela Cacircmara Municipal com o auxiacutelio dos tribunais de contas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos conselhos ou tribunais de contas dos Municiacutepios onde houver (CF art 31 sect 1ordm4) O ldquoauxiacuteliordquo a que se refere o texto consti-tucional deve ser entendido como ajuda assistecircncia ou amparo fornecido pelo oacutergatildeo teacutecnico administrativo ao oacutergatildeo legislativo5

Cabe destacar que natildeo haacute propriamente um julgamento de contas pelo oacutergatildeo teacutec-nico O relevante papel dos tribunais de contas restringe-se apenas a produzir parecer preacutevio agrave decisatildeo do oacutergatildeo legislativo (CF art 31 sect 2ordm6)

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 de maneira direta revela que o oacutergatildeo competente para lavrar decisatildeo irrecorriacutevel a que faz referecircncia a Lei da Ficha Limpa eacute sem risco

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo do Estado

Ȥ Municiacutepios Ȥ Fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio ndash Repercussatildeo Geral

RE 848826RG ‒ Tema 835red p o ac min Ricardo LewandowskiPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 834

121iacutendice de teses

de duacutevidas a Cacircmara Municipal porque a decisatildeo eacute do oacutergatildeo legislativo e natildeo do tribunal de contas Natildeo se pode interpretar a referida lei apartada do texto constitu-cional nem interpretar a Carta Magna agrave luz da Lei Complementar 641990 A com-petecircncia do oacutergatildeo legislativo para o julgamento natildeo eacute determinada pela natureza das contas se de gestatildeo ou de governo mas pelo cargo de quem as presta no caso o de prefeito municipal

O respeito agraves leis e agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica representa condiccedilatildeo indispensaacutevel ao regular exerciacutecio da funccedilatildeo fiscalizadora do Poder Legislativo natildeo podendo legi-timar-se a inelegibilidade de candidato ou exercente do cargo de prefeito municipal por ldquodecisatildeordquo de quem natildeo tem competecircncia para tanto

O juiz natural das contas do prefeito sempre seraacute a Cacircmara Municipal prestigian-do-se portanto a democracia a soberania popular a independecircncia e a autonomia do oacutergatildeo legislativo local O caraacuteter puramente poliacutetico das Cacircmaras Municipais eacute ame-nizado justamente pelo exame do parecer preacutevio das contas por parte dos tribunais de contas Haacute no caso balanccedilo prudente que foi elaborado pelo constituinte de 1988

1 ldquoArt 1ordm Satildeo inelegiacuteveis I ndash para qualquer cargo () g) os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeordquo

2 ldquoA funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo que surgira com o constitucionalismo e o Estado de Direito implantado com a Revoluccedilatildeo Francesa sempre constituiu tarefa baacutesica dos parlamentos e assembleias legislati-vas No sistema de separaccedilatildeo de poderes cabe ao oacutergatildeo legislativo criar as leis por isso eacute da loacutegica do sistema que a ele tambeacutem se impute a atribuiccedilatildeo de fiscalizar seu cumprimento pelo Executivo a que incumbe a funccedilatildeo de administraccedilatildeo Por outro lado no que tange ao aspecto especiacutefico que nos interessa aqui ndash o do controle da administraccedilatildeo financeira e orccedilamentaacuteria ndash reserva-se ao Le-gislativo o poder financeiro como uma de suas conquistas seculares pela qual firmara mesmo sua autonomia sendo portanto tambeacutem de palmar evidecircncia que a ele haacute de pertencer em uacuteltima anaacute-lise aquele controle denominado controle externo sem embargo de que se erija e se desenvolva na Administraccedilatildeo moderna eficiente sistema de autocontrole ndash o chamado controle interno ndash de que eacute titular cada um dos Poderes onde ele atua (art 70)rdquo (SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 17 ed Satildeo Paulo Malheiros 2000 p 723-724)

3 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei () sect 3ordm As contas dos Municiacutepios ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de

122iacutendice de teses

qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da leirdquo

4 ldquoArt 31 () sect 1ordm O controle externo da Cacircmara Municipal seraacute exercido com o auxiacutelio dos Tribu-nais de Contas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municiacute-pios onde houverrdquo

5 ADI 614 MC rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 18-5-2001

6 ldquoArt 31 () sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacirc-mara Municipalrdquo

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERESDIREITO CONSTITUCIONAL

124iacutendice de teses

A suspensatildeo do exerciacutecio do mandato de deputado federal pelo Supremo Tri-

bunal Federal (STF) em sede de decisatildeo cautelar penal natildeo gera direito agrave

suspensatildeo do processo de cassaccedilatildeo do mandato

Ningueacutem pode se beneficiar da proacutepria conduta reprovaacutevel1 Nessa linha a conti-nuidade do processo de cassaccedilatildeo de parlamentar afastado do mandato por decisatildeo cautelar tampouco viola o direito agrave ampla defesa ou um ldquodireito de obstruccedilatildeordquo Embora postergar o tracircmite do feito possa ser estrateacutegia favoraacutevel agrave defesa natildeo haacute direito subjetivo a dilaccedilotildees indevidas mas apenas ao devido processo legal

O STF somente deve intervir em procedimentos legislativos para assegurar o cumprimento da Constituiccedilatildeo Federal (CF) proteger direitos fundamentais e res-guardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das instituiccedilotildees repu-blicanas Exemplo tiacutepico na jurisprudecircncia eacute a preservaccedilatildeo dos direitos das minorias parlamentares No entanto em processos de cunho acentuadamente poliacutetico como eacute o caso da cassaccedilatildeo de mandato parlamentar o STF deve se pautar pela deferecircncia e pela autocontenccedilatildeo somente intervindo em casos excepcionaliacutessimos

Ademais o eventual impedimento do relator do processo no Conselho de Eacutetica por integrar o mesmo bloco parlamentar do impetrante natildeo eacute questatildeo que autori-ze intervenccedilatildeo do Judiciaacuterio pois natildeo tem natureza constitucional2 Por pressupor debate sobre o momento relevante para afericcedilatildeo da composiccedilatildeo dos blocos parla-mentares a mateacuteria controvertida cinge-se agrave interpretaccedilatildeo de dispositivos internos da Cacircmara dos Deputados3 Logo a questatildeo deve em princiacutepio ser resolvida pela proacutepria instacircncia legislativa4

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Legislativo Ȥ Deputados e senadores

MS 34327rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 838

125iacutendice de teses

Eacute liacutecita a adoccedilatildeo da votaccedilatildeo nominal em parecer do Conselho de Eacutetica da

Cacircmara dos Deputados

Essa eacute a forma que garante o maior niacutevel de transparecircncia e debate parlamentar tornando puacuteblicas eventuais justificativas de voto dos congressistas enquanto a vo-taccedilatildeo se desenvolve

Na atividade parlamentar a publicidade natildeo deve ser tratada como exceccedilatildeo a ser in-terpretada restritivamente Ao contraacuterio se a votaccedilatildeo nominal eacute prevista para hipoacuteteses graviacutessimas (autorizaccedilatildeo para instauraccedilatildeo de processo por crime comum ou de responsa-bilidade em face do presidente da Repuacuteblica do vice-presidente e dos ministros de Esta-do) nada obsta que a forma tambeacutem seja usada para processos de cassaccedilatildeo de mandato

Assim cabe deferecircncia para com a interpretaccedilatildeo regimental acolhida pela proacutepria Cacircmara dos Deputados quanto ao art 187 sect 4ordm de seu Regimento Interno (RICD)5

Por sua vez o painel eletrocircnico constitui forma de tornar mais aacutegil a votaccedilatildeo que antes ocorria apenas por chamada nominal Portanto natildeo se poderia alegar nulidade por se ter adotado a forma antiga de votaccedilatildeo em detrimento do sistema eletrocircnico Aleacutem disso apoacutes a instalaccedilatildeo dos paineacuteis eletrocircnicos nos plenaacuterios das comissotildees e do Conselho de Eacutetica a Cacircmara natildeo regulamentou as hipoacuteteses de utilizaccedilatildeo do novo sistema natildeo tendo sido especificados os casos em que deve ser observada uma ou outra forma de votaccedilatildeo Natildeo obstante ainda que aplicaacutevel a votaccedilatildeo eletrocircnica ao Conselho de Eacutetica o art 187 sect 4ordm do RICD natildeo aparenta proibir a votaccedilatildeo nominal fora das trecircs6 hipoacuteteses nele previstas

Por fim inexiste o denominado ldquoefeito manadardquo quando a mudanccedila no voto de um parlamentar refere-se a caacutelculo poliacutetico decorrente da constataccedilatildeo de que seu voto pela absolviccedilatildeo do impetrante natildeo mudaria o resultado final Isso aliaacutes demons-tra a ausecircncia de prejuiacutezo capaz de justificar a nulidade alegada

Natildeo acarreta duplicidade o cocircmputo dos membros suplentes para o quoacuterum

de instalaccedilatildeo da sessatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Cidadania

(CCJC)

O art 57 IX do RICD7 prevecirc que a suplecircncia nas comissotildees pertence aos partidos (ou aos blocos de partidos) natildeo estando vinculados propriamente aos titulares ausentes

Assim o quoacuterum de maioria absoluta para a instalaccedilatildeo da sessatildeo na CCJC leva em consideraccedilatildeo o registro no painel eletrocircnico do titular e do suplente que primeiro

126iacutendice de teses

marcou presenccedila dentro daquele partido ou bloco A premissa do argumento segun-do a qual haveria um suplente para cada titular portanto natildeo eacute verdadeira

Na mesma linha natildeo haacute violaccedilatildeo ao art 58 sect 1ordm da CF8 Esse dispositivo se refere agrave representaccedilatildeo proporcional dos partidos ou blocos na composiccedilatildeo das Mesas e de cada comissatildeo e natildeo ao quoacuterum de instalaccedilatildeo das sessotildees

1 O MS 25579 MC citado como precedente natildeo eacute aplicaacutevel agrave hipoacutetese Naquele julgamento o licencia-mento do mandato natildeo foi a razatildeo determinante do argumento pela impossibilidade de instauraccedilatildeo do processo de cassaccedilatildeo Tratou-se em verdade da responsabilizaccedilatildeo de parlamentar para exercer cargo de ministro-chefe da Casa Civil condiccedilatildeo na qual teria praticado os atos objeto de apuraccedilatildeo O STF entendeu que em princiacutepio por forccedila da separaccedilatildeo entre os Poderes natildeo poderia um deputado federal ser julgado pela Casa legislativa por atos por ele praticados como membro do Poder Executivo No entanto ao final a medida liminar foi indeferida validando-se a instauraccedilatildeo do processo de cas-saccedilatildeo do mandato jaacute que a infraccedilatildeo foi considerada como enquadrada no Coacutedigo de Eacutetica e Decoro Parlamentar da Cacircmara dos Deputados ao qual o entatildeo impetrante ainda permanecia vinculado

2 Precedente MS 33729 MC-AgR rel min Roberto Barroso P DJE de 4-2-2016

3 Coacutedigo de Eacutetica e Decoro Parlamentar da Cacircmara dos Deputados

4 Precedentes MS 24356 rel min Carlos Velloso P DJ de 12-9-2003 e MS 22503 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 6-6-1997

5 ldquoArt 187 A votaccedilatildeo nominal far-se-aacute pelo sistema eletrocircnico de votos obedecidas as instruccedilotildees estabelecidas pela Mesa para sua utilizaccedilatildeo () sect 4ordm Quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento e nas hipoacuteteses de que tratam os arts 217 IV e 218 sect 8ordm a votaccedilatildeo nominal seraacute feita pela chamada dos Deputados alternadamente do norte para o sul e vice-versa observando-se querdquo

6 As hipoacuteteses de votaccedilatildeo nominal previstas no RICD satildeo as seguintes a) quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento (art 187 sect 4ordm) b) votaccedilatildeo de parecer para autorizaccedilatildeo do presidente do Supremo Tribunal Federal para instauraccedilatildeo de processo nas infraccedilotildees penais co-muns contra o presidente e o vice-presidente da Repuacuteblica e os ministros de Estado (art 217 IV) c) votaccedilatildeo de parecer quanto ao recebimento de denuacutencia contra o presidente da Repuacuteblica o vice--presidente da Repuacuteblica ou ministro de Estado por crime de responsabilidade (art 218 sect 8ordm)

7 ldquoArt 57 No desenvolvimento dos seus trabalhos as Comissotildees observaratildeo as seguintes normas () IX-A Na votaccedilatildeo seratildeo colhidos primeiramente os votos dos membros titulares presentes e em seguida os dos suplentes dos partidos dos titulares ausentesrdquo

8 ldquoArt 58 O Congresso Nacional e suas Casas teratildeo comissotildees permanentes e temporaacuterias constituiacutedas na forma e com as atribuiccedilotildees previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criaccedilatildeo sect 1ordm Na constituiccedilatildeo das Mesas e de cada Comissatildeo eacute assegurada tanto quanto possiacutevel a representa-ccedilatildeo proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casardquo

127iacutendice de teses

A competecircncia das casas legislativas para decidir sobre a perda do mandato

de congressista condenado criminalmente (art 55 VI e sect 2ordm da Constituiccedilatildeo

Federal1) natildeo eacute absoluta

Quando a condenaccedilatildeo impotildee o cumprimento de pena em regime fechado e natildeo eacute viaacutevel o trabalho externo diante da impossibilidade de cumprimento da fraccedilatildeo miacutenima de 16 da pena para a obtenccedilatildeo do benefiacutecio durante o mandato e antes de consumada a ausecircncia do congressista a 13 das sessotildees ordinaacuterias da casa legislati-va da qual faccedila parte a hipoacutetese eacute de perda automaacutetica do mandato Dessa forma cabe agrave Mesa da casa legislativa declaraacute-la em conformidade com o art 55 III sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal2

ldquoNessa situaccedilatildeo verifica-se uma impossibilidade juriacutedica e fiacutesica para o exerciacutecio do mandato Juriacutedica porque uma das condiccedilotildees miacutenimas exigidas pela Constitui-ccedilatildeo para o exerciacutecio do mandato eacute o comparecimento agraves sessotildees da Casa (Consti-tuiccedilatildeo Federal arts 55 III3 e 56 II4) E fiacutesica porque ele simplesmente natildeo tem como estar presente ao local onde se realizam os trabalhos e sobretudo agraves sessotildees deliberativas da Casa Legislativa5rdquo

1 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () VI ndash que sofrer condenaccedilatildeo criminal em sentenccedila transitada em julgado () sect 2ordm Nos casos dos incisos I II e VI a perda do mandato seraacute decidida pela Cacircmara dos Deputados ou pelo Senado Federal por maioria absoluta mediante pro-vocaccedilatildeo da respectiva Mesa ou de partido poliacutetico representado no Congresso Nacional assegurada ampla defesardquo

2 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () III ndash que deixar de comparecer em cada sessatildeo legislativa agrave terccedila parte das sessotildees ordinaacuterias da Casa a que pertencer salvo licenccedila ou mis-satildeo por esta autorizada () sect 3ordm Nos casos previstos nos incisos III a V a perda seraacute declarada pela Mesa da Casa respectiva de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo de qualquer de seus membros ou de partido poliacutetico representado no Congresso Nacional assegurada ampla defesardquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Legislativo Ȥ Deputados e senadores

AP 694rel min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 31-8-2017Informativo STF 863

128iacutendice de teses

3 ldquoArt 55 Perderaacute o mandato o Deputado ou Senador III ndash que deixar de comparecer em cada sessatildeo legislativa agrave terccedila parte das sessotildees ordinaacuterias da Casa a que pertencer salvo licenccedila ou missatildeo por esta autorizadardquo

4 ldquoArt 56 Natildeo perderaacute o mandato o Deputado ou Senador () II ndash licenciado pela respectiva Casa por motivo de doenccedila ou para tratar sem remuneraccedilatildeo de interesse particular desde que neste caso o afastamento natildeo ultrapasse cento e vinte dias por sessatildeo legislativardquo

5 MS 32326 MC rel min Roberto Barroso decisatildeo monocraacutetica DJE de 21-3-2014

129iacutendice de teses

A ausecircncia de participaccedilatildeo de terceiros indiretamente afetados pelas deter-

minaccedilotildees do Tribunal de Contas da Uniatildeo em auditoria realizada para apurar

a gestatildeo administrativa de oacutergatildeo puacuteblico natildeo viola o direito ao contraditoacuterio

(CF art 5ordm LV1)

O contraditoacuterio pressupotildee a existecircncia de litigantes ou acusados Isso natildeo ocorre quando o Tribunal de Contas atua no campo da fiscalizaccedilatildeo de oacutergatildeos e entes ad-ministrativos

Nessa espeacutecie de atuaccedilatildeo administrativa a relaccedilatildeo processual envolve apenas o oacutergatildeo fiscalizador e o fiscalizado mostrando-se prescindiacutevel a participaccedilatildeo dos inte-ressados na manutenccedilatildeo do quadro juriacutedico objeto do controle

ldquoOs servidores teratildeo asseguradas as garantias constitucionais inerentes ao devido processo legal nos procedimentos administrativos eventualmente instaurados no oacuter-gatildeo de origem visando agrave adoccedilatildeo das providecircncias preconizadasrdquo2

Nesse contexto ldquoinviabilizaria a atuaccedilatildeo do Tribunal de Contas da Uniatildeo a con-clusatildeo de que em face de repercussotildees de auditoria seja necessaacuterio intimar para vir ao processo de controle qualquer um que pudesse ser alcanccedilado embora de forma indireta pelo pronunciamentordquo3

Uma vez envolvida fiscalizaccedilatildeo linear exercida pelo Tribunal de Contas pre-

sente o disposto no art 71 IV da Carta da Repuacuteblica4 inexiste campo para

evocar-se a decadecircncia prevista no art 54 da Lei 978419995

Em processos de controle abstrato natildeo haacute exame de ato especiacutefico do qual decorra efeito favoraacutevel ao administrado no que a repercussatildeo sobre eventual direito indi-vidual eacute apenas indireta

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

MS 34224rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 27-11-2017Informativo STF 873

130iacutendice de teses

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

2 MS 32876 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJE de 5-8-2014

3 MS 25198 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 26-8-2005 e MS 25206 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 2-9-2005

4 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tribu-nal de Contas da Uniatildeo ao qual compete () IV ndash realizar por iniciativa proacutepria da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal de Comissatildeo teacutecnica ou de inqueacuterito inspeccedilotildees e auditorias de na-tureza contaacutebil financeira orccedilamentaacuteria operacional e patrimonial nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo Executivo e Judiciaacuterio e demais entidades referidas no inciso IIrdquo

5 ldquoArt 54 O direito da Administraccedilatildeo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favo-raacuteveis para os destinataacuterios decai em cinco anos contados da data em que foram praticados salvo comprovada maacute-feacuterdquo

131iacutendice de teses

A prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) eacute

regulada integralmente pela Lei 987319991 seja em razatildeo da interpretaccedilatildeo

correta e da aplicaccedilatildeo direta desta lei seja por analogia

A Lei Orgacircnica do TCU (Lei 844319922) ao prever a competecircncia do oacutergatildeo de con-tas federal para aplicar multas pela praacutetica de infraccedilotildees submetidas agrave sua esfera de apuraccedilatildeo (art 583) deixou de estabelecer prazo para o exerciacutecio do poder punitivo

A ausecircncia de previsatildeo em lei especiacutefica entretanto natildeo significa hipoacutetese de imprescritibilidade Tendo em vista que a aplicaccedilatildeo de multas pelo TCU se insere no exerciacutecio da competecircncia sancionadora da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal4 o TCU subsome-se agrave prescriccedilatildeo quinquenal prevista na Lei 98731999 Esse fundamento decorre do caraacuteter geral dessa norma em mateacuteria de direito administrativo sancio-nador sendo sua disciplina aplicaacutevel a qualquer accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacute-blica Federal exceto agravequeles acircmbitos em que exista regulamentaccedilatildeo proacutepria como as infraccedilotildees de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributaacuteria (Lei 98731999 art 5ordm5)

Por um lado o art 1ordm da Lei 987319996 alude agrave accedilatildeo punitiva ldquono exerciacutecio do poder de poliacuteciardquo Por outro lado a atuaccedilatildeo do TCU natildeo se qualifica em sua acepccedilatildeo claacutessica como exerciacutecio do poder de poliacutecia ndash o qual se caracteriza apenas pela restri-ccedilatildeo da liberdade e da propriedade dos particulares em prol do interesse puacuteblico De fato na atividade de controle externo o TCU fiscaliza a proacutepria atuaccedilatildeo estatal em relaccedilatildeo a gestores de recursos puacuteblicos Natildeo obstante haacute algum tempo a doutrina tem conferido tratamento especiacutefico ao poder sancionador das entidades puacuteblicas diferenciando-o do poder de poliacutecia Distinguem-se assim as limitaccedilotildees impostas com base no poder administrativo de poliacutecia ndash o qual possui caraacuteter de proteccedilatildeo pre-ventiva de interesses puacuteblicos ndash das puniccedilotildees decorrentes do exerciacutecio de autecircntico poder administrativo sancionador este sim de caraacuteter repressivo Eacute dizer o poder de poliacutecia nesse sentido estrito natildeo inclui a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees atividade submetida

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

MS 32201rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 7-8-2017Informativo STF 858

132iacutendice de teses

consoante compreensatildeo mais recente ao regramento juriacutedico proacuteprio e especiacutefico do chamado direito administrativo sancionador

Portanto a rigor a Lei 98731999 regula a accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacute-blica no exerciacutecio do poder administrativo sancionador e natildeo no exerciacutecio do poder de poliacutecia o qual abarca medidas preventivas de proteccedilatildeo de interesses puacuteblicos mas natildeo a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees

Ademais ainda que a referida norma natildeo fosse integralmente aplicaacutevel agrave accedilatildeo pu-nitiva do TCU representa a regulamentaccedilatildeo mais adequada a ser aplicada por ana-logia Afinal o Direito Administrativo tem autonomia cientiacutefica motivo pelo qual natildeo haacute nenhuma razatildeo plausiacutevel pela qual se deva suprir a alegada omissatildeo com recurso agraves normas de Direito Civil e natildeo agraves de Direito Administrativo Assim agrave falta de norma regulamentadora o prazo prescricional referencial em mateacuteria de Direito Administrativo deve ser de cinco anos em harmonia inclusive com amplo conjunto de normas que adota o mesmo paracircmetro7

A razatildeo de ser da Lei 98731999 eacute impedir que as pessoas submetidas ao poder de poliacutecia fiquem eternamente sujeitas agrave possibilidade de aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees ad-ministrativas No caso concreto examina-se a aplicaccedilatildeo de multa pelo TCU agravequeles submetidos agrave sua fiscalizaccedilatildeo Tambeacutem em relaccedilatildeo a estas pessoas o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica impotildee a extinccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em razatildeo do decurso do tempo Como jaacute reconhecido pela doutrina a alegaccedilatildeo de suposta ldquorelaccedilatildeo de sujei-ccedilatildeo especialrdquo com a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo pode servir de subterfuacutegio retoacuterico para a violaccedilatildeo de direitos fundamentais

Estabelece o art 1ordm da Lei 98731999 que o prazo prescricional se inicia ldquoda data da praacutetica do ato ou no caso de infraccedilatildeo permanente ou continuada do dia em que tiver cessadordquo Em caso de conduta de natureza omissiva a infraccedilatildeo deve ser tida como permanente Assim o termo inicial da prescriccedilatildeo se inicia quando cessado o ato por exemplo com a exoneraccedilatildeo do impetrante do cargo

1 ldquoEstabelece prazo de prescriccedilatildeo para o exerciacutecio de accedilatildeo punitiva pela Administraccedilatildeo Puacuteblica Fe-deral direta e indireta e daacute outras providecircnciasrdquo

2 ldquoDispotildee sobre a Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo e daacute outras providecircnciasrdquo

3 ldquoArt 58 O Tribunal poderaacute aplicar multa de Cr$ 4200000000 (quarenta e dois milhotildees de cru-zeiros) ou valor equivalente em outra moeda que venha a ser adotada como moeda nacional aos responsaacuteveis por I ndash contas julgadas irregulares de que natildeo resulte deacutebito nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 19 desta Lei II ndash ato praticado com grave infraccedilatildeo agrave norma legal ou regulamentar de

133iacutendice de teses

natureza contaacutebil financeira orccedilamentaacuteria operacional e patrimonial III ndash ato de gestatildeo ilegiacutetimo ou antieconocircmico de que resulte injustificado dano ao Eraacuterio IV ndash natildeo atendimento no prazo fixado sem causa justificada a diligecircncia do Relator ou a decisatildeo do Tribunal V ndash obstruccedilatildeo ao livre exerciacutecio das inspeccedilotildees e auditorias determinadas VI ndash sonegaccedilatildeo de processo documento ou informaccedilatildeo em inspeccedilotildees ou auditorias realizadas pelo Tribunal VII ndash reincidecircncia no descum-primento de determinaccedilatildeo do Tribunal sect 1ordm Ficaraacute sujeito agrave multa prevista no caput deste artigo aquele que deixar de dar cumprimento agrave decisatildeo do Tribunal salvo motivo justificado sect 2ordm O valor estabelecido no caput deste artigo seraacute atualizado periodicamente por portaria da Presidecircncia do Tribunal com base na variaccedilatildeo acumulada no periacuteodo pelo iacutendice utilizado para atualizaccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios da Uniatildeo sect 3ordm O Regimento Interno disporaacute sobre a gradaccedilatildeo da multa prevista no caput deste artigo em funccedilatildeo da gravidade da infraccedilatildeordquo

4 Precedente RE 190985 rel min Neacuteri da Silveira P DJ de 24-8-2001

5 ldquoArt 5ordm O disposto nesta Lei natildeo se aplica agraves infraccedilotildees de natureza funcional e aos processos e pro-cedimentos de natureza tributaacuteriardquo

6 ldquoArt 1ordm Prescreve em cinco anos a accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal direta e indi-reta no exerciacutecio do poder de poliacutecia objetivando apurar infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo em vigor contados da data da praacutetica do ato ou no caso de infraccedilatildeo permanente ou continuada do dia em que tiver cessado sect 1ordm Incide a prescriccedilatildeo no procedimento administrativo paralisado por mais de trecircs anos pendente de julgamento ou despacho cujos autos seratildeo arquivados de ofiacutecio ou mediante reque-rimento da parte interessada sem prejuiacutezo da apuraccedilatildeo da responsabilidade funcional decorrente da paralisaccedilatildeo se for o caso sect 2ordm Quando o fato objeto da accedilatildeo punitiva da Administraccedilatildeo tambeacutem constituir crime a prescriccedilatildeo reger-se-aacute pelo prazo previsto na lei penal Art 1ordm-A Constituiacutedo defi-nitivamente o creacutedito natildeo tributaacuterio apoacutes o teacutermino regular do processo administrativo prescreve em 5 (cinco) anos a accedilatildeo de execuccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica federal relativa a creacutedito decorrente da aplicaccedilatildeo de multa por infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo em vigorrdquo

7 Decreto 209101932 art 1ordm CTN arts 168 173 e 174 Lei 68381980 art 1ordm Lei 81121990 (Regime Juriacutedico dos Servidores Puacuteblicos Civis Federais) art 142 I Lei 84291992 art 23 Lei 89061994 (Estatuto da OAB) art 43 Lei 97831999 Lei 125292011 (Lei Antitruste) art 46 Lei 128462013 (Lei Anticorrupccedilatildeo) art 25 entre outros

134iacutendice de teses

Configura usurpaccedilatildeo de atribuiccedilatildeo tiacutepica do Tribunal de Contas preconiza-

da no art 71 II da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica1 atribuir agrave respectiva Assem-

bleia Legislativa competecircncia para julgar as contas do Poder Legislativo

ldquoOs Estados-membros estatildeo sujeitos em mateacuteria de organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e atribuiccedilotildees fiscalizadoras dos seus Tribunais de Contas ao modelo juriacutedico esta-belecido pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Essa subordinaccedilatildeo normativa ao padratildeo federal deriva de claacuteusula expliacutecita consubstanciada no art 75 caput da Carta Po-liacutetica que assim dispotildee verbis lsquoAs normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados ()rsquo O Supremo Tribunal Federal tendo presente essa realidade juriacutedico--normativa jaacute proclamou na anaacutelise das funccedilotildees institucionais cometidas a esse importante oacutergatildeo estatal de controle externo que lsquo() O regramento dos Tribunais de Contas estaduais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 ndash inobstante a existecircncia de domiacutenio residual para sua autocircnoma formulaccedilatildeo ndash eacute mateacuteria cujo relevo decorre da nova fisionomia assumida pela Federaccedilatildeo brasileira e tambeacutem do necessaacuterio confronto dessa mesma realidade juriacutedico-institucional com a jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal que construiacuteda ao longo do regime constitucional pre-cedente proclamava a inteira submissatildeo dos Estados-membros no delineamento do seu sistema de controle externo ao modelo juriacutedico plasmado na Carta da Re-puacuteblicarsquo ()rdquo2

Logo eacute inconstitucional o art 47 V da Constituiccedilatildeo de Sergipe o qual afastava a competecircncia do Tribunal de Contas estadual para julgar com forccedila vinculante as contas dos integrantes de oacutergatildeos legislativos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas

ADI 3077rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

135iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a norma de Constituiccedilatildeo estadual que dispensa apresenta-

ccedilatildeo de parecer preacutevio sobre as contas de chefe do Poder Executivo municipal

a ser emitido pelo respectivo Tribunal de Contas estadual

A norma local natildeo pode excepcionar o que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo excep-cionou indo de encontro ao princiacutepio da simetria expressamente previsto em seu art 753 no concernente agraves competecircncias preciacutepuas dos tribunais de contas estaduais4

ldquoO parecer preacutevio que o prefeito tem que prestar anualmente agrave Cacircmara Munici-pal referido no sect 2ordm emitido pelo oacutergatildeo de contas competente segundo se viu nos comentaacuterios supra natildeo tem apenas o valor de uma opiniatildeo que pode ser aceita ou natildeo Natildeo eacute pois um parecer no sentido teacutecnico de opiniatildeo abalizada mas natildeo impo-sitiva Ao contraacuterio ele vale e tem a eficaacutecia de uma decisatildeo impositiva Sua eficaacutecia pode poreacutem ser desfeita se dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal votarem contra ele Soacute assim natildeo prevaleceraacuterdquo5

Diante disso eacute inconstitucional a expressatildeo ldquodecorrido o tempo previsto sem ofereci-mento do parecer seratildeo os autos remetidos no prazo de cinco dias agraves respectivas Cacircma-ras Municipaisrdquo contida na parte final do inciso XII do art 68 da Constituiccedilatildeo de Sergipe

Eacute permitida apenas uma reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila6

A reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila deve observar o paracircmetro definido no art 128 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica7

Logo por meio da interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica a expres-satildeo ldquopermitida a reconduccedilatildeordquo constante do sect 1ordm do art 116 da Constituiccedilatildeo de Sergi-pe deve ser entendida como ldquopermitida uma reconduccedilatildeordquo

A escolha do superintendente da Poliacutecia Civil pelo governador do Estado

circunscreve-se a delegados ou delegadas de poliacutecia da carreira independen-

temente do estaacutegio de sua progressatildeo funcional

Haacute exigecircncia de simetria entre os criteacuterios da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica e das Cons-tituiccedilotildees estaduais para a nomeaccedilatildeo de chefes da Poliacutecia Civil8

Nesse sentido foi dada interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 144 sect 4ordm9) ao sect 1ordm do art 116 da Constituiccedilatildeo de Sergipe o qual circunscrevia o exerciacutecio da superintendecircncia da Poliacutecia Civil aos delegados ou delegadas em final de carreira

136iacutendice de teses

1 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tribu-nal de Contas da Uniatildeo ao qual compete I ndash apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presiden-te da Repuacuteblica mediante parecer preacutevio que deveraacute ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento II ndash julgar as contas dos administradores e demais responsaacuteveis por dinheiros bens e valores puacuteblicos da administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico federal e as contas daqueles que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao eraacuterio puacuteblicordquo

2 Trecho do voto do ministro Celso de Mello no julgamento da ADI 849 MC rel min Celso de Mello P DJ de 8-4-1994

3 ldquoArt 75 As normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municiacutepios Paraacutegrafo uacutenico As Constituiccedilotildees estaduais disporatildeo sobre os Tribunais de Contas respectivos que seratildeo integrados por sete Conselheirosrdquo

4 ADI 849 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 23-4-1999 e ADI 261 rel min Gilmar Mendes P DJ de 28-2-2003

5 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio contextual agrave Constituiccedilatildeo 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 317

6 ADI 2622 red p o ac min Cezar Peluso P DJE de 16-2-2012

7 ldquoArt 128 O Ministeacuterio Puacuteblico abrange () sect 3ordm Os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territoacuterios formaratildeo lista triacuteplice dentre integrantes da carreira na forma da lei respecti-va para escolha de seu Procurador-Geral que seraacute nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para mandato de dois anos permitida uma reconduccedilatildeordquo

8 ADI 3038 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 12-2-2015

9 ldquoArt 144 A seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguintes oacutergatildeos () sect 4ordm Agraves poliacutecias civis dirigidas por delegados de poliacutecia de carreira incumbem ressalvada a competecircncia da Uniatildeo as funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais exceto as militaresrdquo

137iacutendice de teses

O parecer teacutecnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza mera-

mente opinativa competindo exclusivamente agrave Cacircmara de Vereadores o

julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local sendo inca-

biacutevel o julgamento ficto das contas por decurso de prazo

A expressatildeo ldquosoacute deixaraacute de prevalecerrdquo constante do art 31 sect 2ordm da Constituiccedilatildeo Fe-deral (CF)1 deve ser interpretada de forma sistecircmica de modo a se referir agrave necessida-de de quoacuterum qualificado para rejeiccedilatildeo do parecer emitido pelo Tribunal de Contas

A Constituiccedilatildeo Federal eacute clara ao determinar em seu art 752 que as normas cons-titucionais que conformam o modelo de organizaccedilatildeo do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) satildeo de observacircncia compulsoacuteria pelas Constituiccedilotildees dos Estados-membros3 No acircmbito das competecircncias institucionais do TCU haacute clara distinccedilatildeo entre (i) a com-petecircncia para apreciar e emitir parecer preacutevio sobre contas prestadas anualmente pelo chefe do Poder Executivo especificada no art 71 I da CF4 e (ii) a competecircncia para julgar as contas dos demais administradores e responsaacuteveis entre eles os dos oacutergatildeos dos Poderes Legislativo e Judiciaacuterio definida no art 71 II da CF5

Nesses termos cabe ao Tribunal de Contas apenas apreciar mediante parecer preacute-vio sem conteuacutedo deliberativo as contas prestadas pelo chefe do Poder Executivo A competecircncia para julgar essas contas fica a cargo do Congresso Nacional ndash por forccedila do art 49 IX da CF6 ndash cuja apreciaccedilatildeo natildeo se vincula ao parecer do Tribunal de Contas O poder constituinte originaacuterio conferiu o julgamento das contas do ad-ministrador puacuteblico ao Poder Legislativo pois tal decisatildeo comporta em si natureza poliacutetica e natildeo apenas teacutecnica ou contaacutebil jaacute que objetiva analisar aleacutem das exigecircncias legais para aplicaccedilatildeo de despesas se a atuaccedilatildeo do chefe do Poder Executivo atendeu ou natildeo aos anseios e necessidades da populaccedilatildeo respectiva

No acircmbito municipal o controle externo das contas do prefeito tambeacutem constitui uma das prerrogativas institucionais da Cacircmara dos Vereadores que o exerceraacute com

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Tribunal de Contas ndash Repercussatildeo Geral

RE 729744RG ‒ Tema 157rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 835

138iacutendice de teses

o auxiacutelio dos tribunais de contas do Estado ou do Municiacutepio onde houver nos ter-mos do art 31 da CF7 e 8

Por seu turno o entendimento de que o parecer conclusivo produziria efeitos ime-diatos que se tornariam permanentes no caso do silecircncio da casa legislativa ofende a regra do art 71 I da CF Essa previsatildeo dispotildee que na anaacutelise das contas do chefe do Poder Executivo os tribunais de contas emitem parecer preacutevio consubstanciado em pronunciamento teacutecnico sem conteuacutedo deliberativo com o fim de subsidiar as atribuiccedilotildees fiscalizadoras do Poder Legislativo que natildeo estaacute obrigado a se vincular agrave manifestaccedilatildeo opinativa daquele oacutergatildeo auxiliar Tal entendimento teria ainda o con-datildeo de transformar a natureza precaacuteria do parecer passiacutevel de aprovaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo em decisatildeo definitiva

O ordenamento juriacutedico paacutetrio natildeo admite o julgamento ficto de contas por de-curso de prazo sob pena de assim se entendendo permitir-se agrave Cacircmara Municipal delegar ao Tribunal de Contas que eacute oacutergatildeo auxiliar competecircncia constitucional que lhe eacute proacutepria aleacutem de se criar sanccedilatildeo ao decurso de prazo inexistente na Constituiccedilatildeo

Do mesmo modo natildeo se conformam com o texto constitucional previsotildees nor-mativas que considerem recomendadas as contas do Municiacutepio nos casos em que o parecer teacutecnico natildeo seja emitido no prazo legal permitindo agraves cacircmaras municipais seu julgamento independentemente do parecer do Tribunal de Contas9

Por fim eacute importante ressaltar que no julgamento das contas anuais do prefeito natildeo haacute julgamento do proacuteprio prefeito mas deliberaccedilatildeo sobre a exatidatildeo da execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria do Municiacutepio A rejeiccedilatildeo das contas tem o condatildeo de gerar como con-sequecircncia a caracterizaccedilatildeo da inelegibilidade do prefeito nos termos do art 1ordm I g da Lei Complementar 64199010 Natildeo se poderia admitir dentro desse sistema que o parecer opinativo do Tribunal de Contas tivesse o condatildeo de gerar tais consequecircncias ao chefe de poder local

Entretanto no caso de a Cacircmara Municipal aprovar as contas do prefeito o que se afasta eacute apenas sua inelegibilidade Os fatos apurados no processo poliacutetico-adminis-trativo poderatildeo dar ensejo agrave sua responsabilizaccedilatildeo civil criminal ou administrativa

1 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei () sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal sect 3ordm As contas do Municiacutepio ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de

139iacutendice de teses

qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei sect 4ordm Eacute vedada a criaccedilatildeo de Tribunais Conselhos ou oacutergatildeos de Contas Municipaisrdquo

2 ldquoArt 75 As normas estabelecidas nesta seccedilatildeo aplicam-se no que couber agrave organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municiacutepiosrdquo

3 ADI 849 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 24-2-1999 e ADI 3715 rel min Gilmar Mendes P DJE de 30-10-2014

4 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com auxiacutelio do Tribunal de Contas da Uniatildeo ao qual compete I ndash apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Repuacuteblica mediante parecer preacutevio que deveraacute ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimentordquo

5 ldquoArt 71 O controle externo a cargo do Congresso Nacional seraacute exercido com o auxiacutelio do Tri-bunal de Contas da Uniatildeo ao qual compete () II ndash julgar as contas dos administradores e demais responsaacuteveis por dinheiros bens e valores puacuteblicos da administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico federal e as contas daqueles que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao eraacuterio puacuteblicordquo

6 ldquoArt 49 Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional () IX ndash julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e apreciar os relatoacuterios sobre a execuccedilatildeo dos planos de go-vernordquo

7 ldquoArt 31 A fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio seraacute exercida pelo Poder Legislativo Municipal mediante con-trole externo e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal na forma da lei sect 1ordm O controle externo da Cacircmara Municipal seraacute exercido com o auxiacutelio dos Tribunais de Con-tas dos Estados ou do Municiacutepio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municiacutepios onde houver sect 2ordm O parecer preacutevio emitido pelo oacutergatildeo competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipal sect 3ordm As contas do Municiacutepio ficaratildeo durante sessenta dias anualmente agrave disposiccedilatildeo de qualquer contribuinte para exame e apreciaccedilatildeo o qual poderaacute questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei sect 4ordm Eacute vedada a criaccedilatildeo de Tribunais Conselhos ou oacutergatildeos de Contas Municipaisrdquo

8 Getuacutelio Seacutergio do Amaral sistematiza a forma de controle externo das contas do prefeito prevista no art 31 da Constituiccedilatildeo da seguinte maneira ldquoPrimeiramente o controle externo eacute efetuado pela proacutepria populaccedilatildeo mediante o exame direto das contas que ficam durante sessenta dias agrave disposiccedilatildeo de qualquer contribuinte para o seu exame e apreciaccedilatildeo podendo ser questionada a sua legitimidade tanto administrativa como judicialmente neste uacuteltimo pela accedilatildeo popular o outro niacutevel de controle eacute realizado pelo Tribunal de Contas do Estado mediante a emissatildeo de parecer preacutevio que poderaacute considerar as contas regulares parcialmente regulares ou irregulares e por uacuteltimo exsurge atraveacutes do julgamento das contas municipais realizado pela Cacircmara local que poderaacute acatar o parecer preacutevio emitido pelo Tribunal de Contas do Estado que soacute deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de dois terccedilos dos membros da Cacircmara Municipalrdquo (AMARAL Getuacutelio Seacutergio do Direito agrave defesa do prefeito nos julgamentos das contas municipais aplicabilidade do devido processo legal e da ampla defesa aos julgamentos das contas do administrador municipal pela Cacircmara Municipal doutrina jurisprudecircncia e legislaccedilatildeo Belo Horizonte Ineacutedita 2000 p 22)

140iacutendice de teses

9 ADI 215 MC rel min Celso de Mello P DJ de 3-8-1990

10 ldquoArt 1ordm Satildeo inelegiacuteveis I ndash para qualquer cargo () g) os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeordquo

141iacutendice de teses

Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

(MPTCU) natildeo possuem legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento de

reclamaccedilatildeo no Supremo Tribunal Federal

A atuaccedilatildeo dos agentes do Parquet especial natildeo obstante o alto relevo de suas atribui-ccedilotildees limita-se unicamente ao acircmbito dos proacuteprios Tribunais de Contas perante os quais oficiam

Nos termos do art 128 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 o MPTCU ldquo() natildeo com-potildee a estrutura do Ministeacuterio Puacuteblico comum da Uniatildeo e dos Estados sendo ape-nas atribuiacutedas aos membros daquele as mesmas prerrogativas funcionais deste (CF art 1302)rdquo3

Nesse sentido cabe destacar que ldquoa claacuteusula de garantia inscrita no art 130 da CF1988 eacute de ordem subjetiva e portanto refere-se a direitos vedaccedilotildees e forma de investidura no cargo dos membros do Ministeacuterio Puacuteblico junto agraves Cortes de Contas natildeo constituindo regra de ampliaccedilatildeo da atribuiccedilatildeo institucional do Parquet especialrdquo4

Diante disso ldquoas atribuiccedilotildees do Ministeacuterio Puacuteblico comum entre as quais se inclui sua legitimidade processual extraordinaacuteria e autocircnoma natildeo se estendem ao Ministeacute-rio Puacuteblico junto aos Tribunais de Contasrdquo5

1 ldquoArt 128 O Ministeacuterio Puacuteblico abrange I ndash o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo que compreende a) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal b) o Ministeacuterio Puacuteblico do Trabalho c) o Ministeacuterio Puacuteblico Militar d) o Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e Territoacuterios II ndash os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados sect 1ordm O Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica dentre integrantes da carreira maiores de trinta e cinco anos apoacutes a aprovaccedilatildeo de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal para mandato de dois anos permitida a reconduccedilatildeo sect 2ordm A destituiccedilatildeo do Procurador-Geral da Repuacuteblica por iniciativa do Presidente da Repuacuteblica deveraacute ser precedida de autorizaccedilatildeo da maioria absoluta do Senado Federal sect 3ordm Os Ministeacuterios Puacuteblicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territoacuterios formaratildeo lista triacuteplice dentre integrantes da carreira na forma da lei respectiva para escolha de seu Procurador-Geral que seraacute nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para mandato de dois

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

Rcl 24156 AgRRcl 24158 AgRrel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 20-11-2017Informativo STF 883

142iacutendice de teses

anos permitida uma reconduccedilatildeo sect 4ordm Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territoacuterios poderatildeo ser destituiacutedos por deliberaccedilatildeo da maioria absoluta do Poder Legislativo na forma da lei complementar respectiva sect 5ordm Leis complementares da Uniatildeo e dos Estados cuja ini-ciativa eacute facultada aos respectivos Procuradores-Gerais estabeleceratildeo a organizaccedilatildeo as atribuiccedilotildees e o estatuto de cada Ministeacuterio Puacuteblico observadas relativamente a seus membros I ndash as seguintes garantias a) vitaliciedade apoacutes dois anos de exerciacutecio natildeo podendo perder o cargo senatildeo por sentenccedila judicial transitada em julgado b) inamovibilidade salvo por motivo de interesse puacuteblico mediante decisatildeo do oacutergatildeo colegiado competente do Ministeacuterio Puacuteblico pelo voto da maioria absoluta de seus membros assegurada ampla defesa c) irredutibilidade de subsiacutedio fixado na for-ma do art 39 sect 4ordm e ressalvado o disposto nos arts 37 X e XI 150 II 153 III 153 sect 2ordm I II ndash as seguintes vedaccedilotildees a) receber a qualquer tiacutetulo e sob qualquer pretexto honoraacuterios percentagens ou custas processuais b) exercer a advocacia c) participar de sociedade comercial na forma da lei d) exercer ainda que em disponibilidade qualquer outra funccedilatildeo puacuteblica salvo uma de magisteacuterio e) exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria f ) receber a qualquer tiacutetulo ou pretexto auxiacutelios ou contri-buiccedilotildees de pessoas fiacutesicas entidades puacuteblicas ou privadas ressalvadas as exceccedilotildees previstas em lei sect 6ordm Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 95 paraacutegrafo uacutenico Vrdquo

2 ldquoArt 130 Aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposi-ccedilotildees desta seccedilatildeo pertinentes a direitos vedaccedilotildees e forma de investidurardquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no Rcl 24161 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 9-12-2016

4 Trecho do voto do ministro Dias Toffoli no Rcl 24162 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 7-12-2016

5 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no Rcl 24161 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 9-12-2016

143iacutendice de teses

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de

Contas estadual com a atribuiccedilatildeo de assegurar em juiacutezo a autonomia e a

independecircncia da Corte de Contas bem como de exercer as funccedilotildees de con-

sultoria e assessoramento juriacutedico internos1

Em certas situaccedilotildees determinado Poder necessita estar em juiacutezo praticando por si mesmo e validamente uma seacuterie de atos processuais na defesa de interesses pecu-liares que assegurem sua autonomia ou independecircncia frente aos demais Poderes

Nessa medida eacute reconhecida a possibilidade da criaccedilatildeo de carreiras especiais para a representaccedilatildeo judicial de assembleias legislativas e tribunais de contas natildeo havendo ofensa ao disposto no art 132 da Constituiccedilatildeo Federal2

A procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de Contas estadual natildeo possui

legitimidade ativa para a cobranccedila em juiacutezo de multas aplicadas pela Corte

de Contas3

As decisotildees das cortes de contas que impotildeem condenaccedilatildeo patrimonial tecircm eficaacutecia de tiacutetulo executivo Natildeo podem contudo ser executadas por iniciativa do proacuteprio Tribunal de Contas ante a ausecircncia de titularidade legitimidade e interesse ime-diato e concreto4

A accedilatildeo de cobranccedila somente pode ser proposta pelo ente puacuteblico beneficiaacuterio da condenaccedilatildeo imposta por intermeacutedio de seus proacuteprios procuradores os quais atuaratildeo junto ao oacutergatildeo jurisdicional competente

1 Precedentes ADI 1557 rel min Ellen Gracie P DJ de 18-6-2004 e ADI 94 rel min Gilmar Men-des P DJE de 16-12-2011

2 ldquoArt 132 Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal organizados em carreira na qual o ingresso dependeraacute de concurso puacuteblico de provas e tiacutetulos com a participaccedilatildeo da Ordem dos

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria Ȥ Procuradoria especial dos Tribunais de Contas

ADI 4070rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

144iacutendice de teses

Advogados do Brasil em todas as suas fases exerceratildeo a representaccedilatildeo judicial e a consultoria juriacute-dica das respectivas unidades federadas Paraacutegrafo uacutenico Aos procuradores referidos neste artigo eacute assegurada estabilidade apoacutes trecircs anos de efetivo exerciacutecio mediante avaliaccedilatildeo de desempenho perante os oacutergatildeos proacuteprios apoacutes relatoacuterio circunstanciado das corregedoriasrdquo

3 Precedentes RE 223037 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 2-8-2002 AI 818789 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 11-4-2011 RE 525663 AgR rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 13-10-2011 AI 826676 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 24-2-2011 e RE 510034 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 15-8-2008

4 RE 223037 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 2-8-2002

145iacutendice de teses

O sect 4ordm do art 187 do Regimento Interno da Cacircmara dos Deputados (RICD)1 eacute

compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF)

A CF natildeo estabelece criteacuterio a ser adotado na colheita dos votos nas votaccedilotildees nomi-nais na Cacircmara dos Deputados que possa ter sido afrontado pelo art 187 sect 4ordm do RICD o qual estabelece a aplicaccedilatildeo de modelo de votaccedilatildeo alternada do norte para o sul quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento Tendo em vista que natildeo se trata de mateacuteria prevista no texto constitucional inexis-te incompatibilidade entre a norma regimental com qualquer preceito constitucio-nal por absoluta ausecircncia de contraste possiacutevel

Em uacuteltima anaacutelise carece de articulaccedilatildeo miacutenima a alegaccedilatildeo de que a votaccedilatildeo po-deria gerar ldquoefeito cascatardquo de modo que os primeiros votos pudessem influenciar os uacuteltimos o que comprometeria a imparcialidade do julgamento violando os prin-ciacutepios do devido processo legal da moralidade da impessoalidade e da Repuacuteblica Afinal qualquer votaccedilatildeo nominal ndash e portanto natildeo simultacircnea ndash seja ela feita por qualquer criteacuterio jamais eliminaraacute esse possiacutevel efeito pois eacute a ela inerente

Interferecircncias reciacuteprocas nas manifestaccedilotildees dos julgadores satildeo inevitaacuteveis em qual-quer ordem de votaccedilatildeo nominal independentemente do criteacuterio de sequenciamento adotado natildeo sendo possiacutevel presumir a ilegitimidade da deliberaccedilatildeo do colegiado parlamentar por mera alegaccedilatildeo de direcionamento em um ou outro sentido A in-constitucionalidade portanto residiria em tese na proacutepria votaccedilatildeo nominal A provi-decircncia para afastar o ldquoefeito cascatardquo natildeo eacute alterar a forma de colher os votos porque ao fim e ao cabo sempre haveraacute um voto inicial e um voto final mas sim eliminar esse proacuteprio tipo de votaccedilatildeo

Por fim natildeo se pode exigir isenccedilatildeo e imparcialidade dos membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal Na realidade o impeachment eacute questatildeo poliacutetica que haveria de ser resolvida com criteacuterios poliacuteticos A garantia da imparcialidade estaacute no alto quoacuterum exigido para a votaccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Executivo Ȥ Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

ADI 5498 MCred p o ac min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 11-5-2017Informativo STF 821

146iacutendice de teses

Ademais a mera invocaccedilatildeo geneacuterica de transgressatildeo a um postulado constitucio-nal natildeo eacute suficiente para legitimar o ajuizamento de accedilatildeo direta Para tanto eacute preciso natildeo apenas indicar os valores os princiacutepios mas tambeacutem demonstrar as alegaccedilotildees de inconstitucionalidade do dispositivo do regimento interno e estabelecer as razotildees juriacutedicas que pudessem legitimar a pretendida ocorrecircncia de violaccedilatildeo agraves normas in-vocadas no processo de controle objetivo de constitucionalidade

1 ldquoArt 187 A votaccedilatildeo nominal far-se-aacute pelo sistema eletrocircnico de votos obedecidas as instruccedilotildees estabelecidas pela Mesa para sua utilizaccedilatildeo () sect 4ordm Quando o sistema eletrocircnico natildeo estiver em condiccedilotildees de funcionamento e nas hipoacuteteses de que tratam os arts 217 IV e 218 sect 8ordm a votaccedilatildeo nominal seraacute feita pela chamada dos Deputados alternadamente do norte para o sul e vice-versa observando-se que I ndash os nomes seratildeo enunciados em voz alta por um dos Secretaacuterios II ndash os De-putados levantando-se de suas cadeiras responderatildeo sim ou natildeo conforme aprovem ou rejeitem a mateacuteria em votaccedilatildeo III ndash as abstenccedilotildees seratildeo tambeacutem anotadas pelo Secretaacuteriordquo

147iacutendice de teses

Eacute vedado agraves unidades federativas instituir normas que condicionem a ins-

tauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra o governador por crime comum agrave preacutevia au-

torizaccedilatildeo da casa legislativa cabendo ao Superior Tribunal de Justiccedila (STJ)

dispor fundamentadamente sobre a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares penais

inclusive afastamento do cargo1

Ao instituir a exigecircncia de licenccedila preacutevia como condiccedilatildeo de procedibilidade para a instauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra governadores (voto de 23 do Poder Legislativo estadual) a Constituiccedilatildeo do Estado viola o princiacutepio fundamental da separaccedilatildeo de poderes ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 2ordm2

O poder constituinte estadual fora as situaccedilotildees expressamente previstas na Cons-tituiccedilatildeo Federal natildeo pode alterar a competecircncia e o desempenho das funccedilotildees mate-rialmente tiacutepicas do Poder Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico Subordinar a atuaccedilatildeo de juiacutezes e tribunais a uma preacutevia manifestaccedilatildeo de outro Poder fora dos casos de previsatildeo expressa na Constituiccedilatildeo Federal tolhe competecircncia material tiacutepica do Poder Judiciaacuterio

Aleacutem disso infringe a competecircncia legislativa da Uniatildeo Federal que em conso-nacircncia com os arts 22 I3 e 85 paraacutegrafo uacutenico4 da CF5 editou a Lei 10791950 que define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento

Ademais a Repuacuteblica que inclui a ideia de responsabilidade dos governantes eacute prevista como princiacutepio constitucional sensiacutevel (CF art 34 VII a6) e portanto de ob-servacircncia obrigatoacuteria sendo norma de reproduccedilatildeo proibida pelos Estados-membros a exceccedilatildeo prevista no art 51 I da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica7

Assim tendo-se em vista que as Constituiccedilotildees estaduais natildeo podem estabelecer a chamada ldquolicenccedila preacuteviardquo tambeacutem natildeo podem autorizar o afastamento automaacutetico do governador de suas funccedilotildees quando recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ Como natildeo pode haver controle poliacutetico preacutevio natildeo deve haver afastamento au-tomaacutetico em razatildeo de ato jurisdicional sem cunho decisoacuterio e do qual sequer se exige fundamentaccedilatildeo8 sob pena de violaccedilatildeo ao princiacutepio democraacutetico9

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Executivo Ȥ Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

ADI 4764ADI 4797ADI 4798red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 15-8-2017Informativo STF 863

148iacutendice de teses

Nesse sentido tambeacutem aos governadores satildeo aplicaacuteveis as medidas cautelares di-versas da prisatildeo previstas no art 319 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)10 entre elas ldquoa suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblicardquo e outras que se mostrarem necessaacuterias e cujo fundamento decorra do poder geral de cautela conferido pelo ordenamento juriacutedico brasileiro aos juiacutezes A suspensatildeo do exerciacutecio da funccedilatildeo aleacutem de ser devida-mente fundamentada pelo STJ eacute recorriacutevel e pode ser revogada quando se verificar a falta de motivo para que subsista (CPP art 282 sect 5ordm11)

Cabe ressaltar que antigo entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) apresentava os seguintes fundamentos para a validaccedilatildeo da exigecircncia de licenccedila preacutevia12

i respeito agrave autonomia federativa ii a circunstacircncia de que recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ ocor-

re a suspensatildeo funcional do chefe do Poder Executivo estadual que ficaraacute afastado temporariamente do exerciacutecio do mandato que lhe foi conferido por voto popular

iii simetria na reproduccedilatildeo nas Cartas estaduais de norma semelhante agrave prevista no art 51 I da CF

iv a superveniecircncia da Emenda Constitucional 352001 que suprimiu a neces-sidade de autorizaccedilatildeo legislativa para processamento de parlamentares natildeo incluindo governadores evidenciaria que a Constituiccedilatildeo Federal autoriza ou continua autorizando o poder constituinte decorrente a instituir a chamada ldquocondiccedilatildeo de procedibilidaderdquo

v instituiccedilatildeo da autorizaccedilatildeo preacutevia da Assembleia Legislativa natildeo traz o risco de propiciar quando negada a impunidade dos governadores jaacute que a denega-ccedilatildeo implica a suspensatildeo do fluxo do prazo prescricional

vi proteccedilatildeo agrave estabilidade do governo local (governabilidade) Com efeito a revitalizaccedilatildeo do princiacutepio republicano o inconformismo social com

a impunidade dos agentes puacuteblicos e as renovadas aspiraccedilotildees por moralidade na poliacute-tica provocaram mutaccedilatildeo constitucional no tratamento da mateacuteria (mecanismo que permite a transformaccedilatildeo do sentido e do alcance de normas da Constituiccedilatildeo sem que se opere no entanto qualquer modificaccedilatildeo do texto) Nesse cenaacuterio o entendi-mento anterior foi superado pelos seguintes posicionamentos

i A capacidade de auto-organizaccedilatildeo dos entes federados (elemento essencial da forma federativa de Estado) eacute exercida dentro dos limites impostos pela

149iacutendice de teses

Constituiccedilatildeo Um desses limites eacute o princiacutepio republicano em cujo nuacutecleo essencial se encontra a ideia de responsabilidade dos governantes

ii A previsatildeo da suspensatildeo funcional automaacutetica do governador na hipoacutetese de ser recebida a denuacutencia ou a queixa-crime pelo STJ soacute existe por previsatildeo das proacuteprias Constituiccedilotildees estaduais que reproduzem o art 86 sect 1ordm I da CF13 As-sim argumentar em favor da constitucionalidade da licenccedila preacutevia com base na possibilidade de suspensatildeo funcional automaacutetica equivale a juiacutezo sobre a cons-titucionalidade de norma constitucional estadual com base em outra norma constitucional estadual Ademais se a norma do art 51 I natildeo eacute de reproduccedilatildeo permitida aos Estados-membros a do art 86 sect 1ordm I que soacute existe em funccedilatildeo dela tampouco o eacute

iii O art 51 I eacute norma de reproduccedilatildeo vedada aos Estados e natildeo de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria ou facultativa natildeo se aplicando portanto o princiacutepio da simetria

iv A Emenda Constitucional 352001 suprimiu a necessidade de autorizaccedilatildeo le-gislativa para a instauraccedilatildeo de accedilatildeo penal contra deputado e senador natildeo fa-zendo qualquer referecircncia a governador A admissatildeo da sistemaacutetica de licenccedila preacutevia em Constituiccedilotildees estaduais vislumbra possibilidade que natildeo consta da CF tampouco tem embasamento na interpretaccedilatildeo histoacuterica ou sistemaacutetica da referida emenda Com efeito natildeo haacute razatildeo que legitime transplantar a situaccedilatildeo do presidente da Repuacuteblica por sua condiccedilatildeo de chefe de Estado e de Governo bem como de representante da soberania nacional para os governadores

v A negativa de autorizaccedilatildeo preacutevia pela Assembleia Legislativa implica o im-pedimento da instruccedilatildeo processual inviabilizando investigaccedilotildees criminais e favorecendo o perecimento de provas Aleacutem disso a instauraccedilatildeo de processos criminais contra governadores sem licenccedila preacutevia natildeo significa obviamente sua condenaccedilatildeo O que se garante eacute o natildeo comprometimento da instruccedilatildeo criminal necessaacuteria para a responsabilizaccedilatildeo dos governantes

vi Em uma Repuacuteblica a governabilidade natildeo pode se dar agrave custa da natildeo respon-sabilizaccedilatildeo e da impunidade dos governantes locais A instituiccedilatildeo de licenccedilas preacutevias nas unidades federativas serve a propoacutesitos natildeo republicanos estando agrave disposiccedilatildeo de governos de coalizatildeo sendo flagrante a distorccedilatildeo do instituto

1 No acoacuterdatildeo da ADI 4764 foi declarada a inconstitucionalidade das expressotildees constantes do art 44 VII (ldquoprocessar e julgar o Governador () nos crimes de responsabilidaderdquo) e do art 81 parte final (ldquoou perante a Assembleia Legislativa nos crimes de responsabilidaderdquo) assim como das expressotildees

150iacutendice de teses

do art 44 VIII (ldquodeclarar a procedecircncia da acusaccedilatildeordquo) e do art 81 caput primeira parte (ldquoAdmitida a acusaccedilatildeo contra o Governador do Estado por dois terccedilos da Assembleia Legislativardquo) bem como por arrastamento do art 82 I (ldquoArt 82 O Governador ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiccedilardquo) todos da Constituiccedilatildeo do Estado do Acre Tendo em vista que o art 82 I da Constituiccedilatildeo do Estado do Acre (ldquoArt 82 O Governador ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiccedilardquo) apresenta relaccedilatildeo de dependecircncia com as expressotildees do art 44 VIII (ldquodeclarar a procedecircncia da acusaccedilatildeordquo) e do art 81 caput primeira parte (ldquoAdmitida a acusaccedilatildeo contra o Governador do Estado por dois terccedilos da Assembleia Legislativardquo) da mesma Constituiccedilatildeo foi declarada tambeacutem a sua inconstitucionalidade por arrastamento

2 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

3 ldquoArt 22 Compete privativamente agrave Uniatildeo legislar sobre I ndash direito civil comercial penal proces-sual eleitoral agraacuterio mariacutetimo aeronaacuteutico espacial e do trabalhordquo

4 ldquoArt 85 Satildeo crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Repuacuteblica que atentem contra a Constituiccedilatildeo Federal e especialmente contra I ndash a existecircncia da Uniatildeo II ndash o livre exerciacutecio do Poder Legislativo do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e dos Poderes constitucionais das unidades da Federaccedilatildeo III ndash o exerciacutecio dos direitos poliacuteticos individuais e sociais IV ndash a seguranccedila interna do Paiacutes V ndash a probidade na administraccedilatildeo VI ndash a lei orccedilamentaacuteria VII ndash o cumprimento das leis e das decisotildees judiciais Paraacutegrafo uacutenico Esses crimes seratildeo definidos em lei especial que estabeleceraacute as normas de processo e julgamentordquo

5 Precedentes ADI 1890 MC rel min Carlos Velloso P DJ de 19-9-2003 ADI 1628 rel min Eros Grau P DJE de 24-11-2006 ADI 4791 rel min Teori Zavascki P DJE de 24-4-2015 e ADI 4792 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 24-4-2015

6 ldquoArt 34 A Uniatildeo natildeo interviraacute nos Estados nem no Distrito Federal exceto para () VII ndash assegu-rar a observacircncia dos seguintes princiacutepios constitucionais a) forma republicana sistema represen-tativo e regime democraacuteticordquo

7 ldquoArt 51 Compete privativamente agrave Cacircmara dos Deputados I ndash autorizar por dois terccedilos de seus membros a instauraccedilatildeo de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da Repuacuteblica e os Ministros de Estadordquo

8 HC 101971 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 2-9-2011 HC 93056 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 14-5-2009 e RHC 118379 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 31-3-2014

9 Precedentes HC 101971 rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 5-9-2011 HC 93056 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 15-5-2009 e RHC 118379 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 31-3-2014

10 ldquoArt 319 Satildeo medidas cautelares diversas da prisatildeo I ndash comparecimento perioacutedico em juiacutezo no prazo e nas condiccedilotildees fixadas pelo juiz para informar e justificar atividades II ndash proibiccedilatildeo de acesso ou frequecircncia a determinados lugares quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indi-ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infraccedilotildees III ndash proi-biccedilatildeo de manter contato com pessoa determinada quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante IV ndash proibiccedilatildeo de ausentar-se da Comarca

151iacutendice de teses

quando a permanecircncia seja conveniente ou necessaacuteria para a investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo V ndash reco-lhimento domiciliar no periacuteodo noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residecircncia e trabalho fixos VI ndash suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica ou de atividade de nature-za econocircmica ou financeira quando houver justo receio de sua utilizaccedilatildeo para a praacutetica de infraccedilotildees penais VII ndash internaccedilatildeo provisoacuteria do acusado nas hipoacuteteses de crimes praticados com violecircncia ou grave ameaccedila quando os peritos concluiacuterem ser inimputaacutevel ou semi-imputaacutevel (art 26 do Coacutedigo Penal) e houver risco de reiteraccedilatildeo VIII ndash fianccedila nas infraccedilotildees que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo evitar a obstruccedilatildeo do seu andamento ou em caso de resistecircncia injustificada agrave ordem judicial IX ndash monitoraccedilatildeo eletrocircnicardquo

11 ldquoArt 282 () sect 5ordm O juiz poderaacute revogar a medida cautelar ou substituiacute-la quando verificar a falta de motivo para que subsista bem como voltar a decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquemrdquo

12 Precedentes RE 159230 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 10-6-1994 e HC 80511 red p o ac min Celso de Mello 2ordf T DJ de 14-9-2001

13 ldquoArt 86 Admitida a acusaccedilatildeo contra o Presidente da Repuacuteblica por dois terccedilos da Cacircmara dos Deputados seraacute ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal nas infraccedilotildees pe-nais comuns ou perante o Senado Federal nos crimes de responsabilidade sect 1ordm O Presidente ficaraacute suspenso de suas funccedilotildees I ndash nas infraccedilotildees penais comuns se recebida a denuacutencia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federalrdquo

152iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) eacute competente para julgar accedilatildeo ordinaacuteria

coletiva ajuizada contra o Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) quando a con-

troveacutersia versar sobre o alcance dos poderes deste oacutergatildeo

Nessa situaccedilatildeo excepcional restringir o alcance do art 102 I r1 da Constituiccedilatildeo Federal apenas agraves accedilotildees de natureza mandamental resultaria em conferir agrave Justi-ccedila Federal de primeira instacircncia a possibilidade de definir os poderes atribuiacutedos ao CNJ no cumprimento de sua missatildeo subvertendo assim a relaccedilatildeo hieraacuterquica constitucionalmente estabelecida2

Apesar de existir a necessidade de se inibirem indevidas ampliaccedilotildees descaracteri-zadoras das atribuiccedilotildees institucionais do Supremo Tribunal ldquonatildeo [se deve] delimitar a apreciaccedilatildeo originaacuteria do STF com foco apenas na natureza processual da demanda sem antes analisar a substacircncia da mateacuteria deduzidardquo3

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () r) as accedilotildees contra o Conselho Nacional de Justiccedila e contra o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblicordquo

2 Haacute portanto mitigaccedilatildeo do entendimento do STF firmado no julgamento conjunto da AO 1814 QO (rel min Marco Aureacutelio P DJE de 3-12-2014) e da ACO 1680 AgR (rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-12-2014) Na ocasiatildeo definiu-se que o termo ldquoaccedilotildeesrdquo constante do art 102 I r limita-se agraves accedilotildees constitucionais do mandado de seguranccedila habeas data habeas corpus e mandado de injun-ccedilatildeo pela ausecircncia de personalidade juriacutedica do CNJ e consequentemente pela sua incapacidade para ser parte processual em accedilotildees ordinaacuterias

3 Trecho do voto-vista divergente do ministro Dias Toffoli proferido no julgamento conjunto da AO 1814 QO (rel min Marco Aureacutelio P DJE de 3-12-2014) e da ACO 1680 AgR (rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-12-2014)

Pet 4656rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 4-12-2017Informativo STF 851

153iacutendice de teses

Natildeo compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) a execu-

ccedilatildeo individual de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo inclusive aquelas

proferidas em sede mandamental1

Para atraccedilatildeo da competecircncia do STF com base na aliacutenea m do art 102 I da Consti-tuiccedilatildeo Federal (CF) (execuccedilatildeo de seus julgados) faz-se necessaacuterio perquirir sobre a manutenccedilatildeo da ratio que justificou ateacute a prolaccedilatildeo da sentenccedila o exame da demanda pelo Tribunal

Assim adotar interpretaccedilatildeo literal do art 102 I m da CF2 teria como decorrecircncia necessaacuteria a conclusatildeo de que eacute competecircncia do STF apreciar toda e qualquer execu-ccedilatildeo de sentenccedila proferida nas causas de sua competecircncia originaacuteria No entanto essa praacutetica natildeo se justifica por natildeo ser esse o intuito da norma em apreccedilo utilizando-se para tal conclusatildeo a interpretaccedilatildeo teleoloacutegica da norma

As disposiccedilotildees insertas no art 102 I da CF constituem ldquoum complexo de atribui-ccedilotildees jurisdicionais de extraccedilatildeo essencialmente constitucionalrdquo3 dispostas sob criteacute-rios que envolvem

i a natureza da demanda (aliacuteneas a g l j n o e r) eii a posiccedilatildeo constitucional da autoridade ou oacutergatildeo envolvido nas demandas (aliacute-

neas b c d i e q) Nesse ponto fica evidenciada a particularidade da regra de competecircncia inserta

na aliacutenea m que ostenta niacutetido caraacuteter de acessoriedade agraves demais previstas no art 102 I Isso ocorre porque ldquoa execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircn-cia originaacuteriardquo constitui mero prolongamento da anaacutelise jaacute realizada pela Suprema Corte Eacute portanto uma regra firmada por atraccedilatildeo da primeira Logo as conse-quecircncias advindas do exerciacutecio da competecircncia originaacuteria do STF ldquodevem tambeacutem constar do rol normativo especiacutefico da jurisdiccedilatildeo constitucional natildeo se estendendo para as situaccedilotildees em que tais atos satildeo apenas decorrecircncias indiretas do exerciacutecio de tal competecircnciardquo4

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

Pet 6076 QOrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 26-5-2017Informativo STF 862

154iacutendice de teses

Ausente a previsatildeo no texto constitucional a competecircncia para o cumprimento de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo ndash inclusive de caraacuteter mandamental coletivo ndash incumbe aos oacutergatildeos judiciaacuterios de primeira instacircncia

Acresce-se a esse entendimento que o cumprimento de sentenccedila que reconheccedila a exigibilidade de obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa pela Fazenda Puacuteblica eacute processo autocircnomo que se faz por rito especiacutefico5 Se houver mais de um exequente eacute neces-saacuteria a apresentaccedilatildeo de demonstrativo individualizado6

Nesse cenaacuterio o cumprimento da sentenccedila perante as instacircncias ordinaacuterias teraacute o condatildeo de tanto quanto se daacute em sede de accedilatildeo civil puacuteblica aproximar a execuccedilatildeo dos eventuais beneficiaacuterios e facilitar a efetividade do direito jaacute reconhecido

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiccedila fixou sob o rito do recurso repe-titivo (CPC1973 art 543-C7) que ldquoa execuccedilatildeo individual de sentenccedila geneacuterica pro-ferida em accedilatildeo civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domiciacutelio do beneficiaacuteriordquo8 entendimento que eacute inteiramente aplicaacutevel agraves accedilotildees mandamentais coletivas

1 Precedentes que indicam a interpretaccedilatildeo restritiva que o STF daacute a outras aliacuteneas do art 102 I da CF ACO 359 QO rel min Celso de Mello 1ordf T DJ de 11-3-1994 ACO 417 QO rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 7-12-1990 MS 21441 QO red p o ac min Ilmar Galvatildeo P DJ de 28-5-1993 e Rcl 16065 AgR rel min Teori Zavascki P DJE de 19-2-2014

2 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () m) a execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircncia originaacuteria facultada a delegaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para a praacutetica de atos processuaisrdquo

3 Trecho do voto do ministro Celso de Mello na AC 2596 rel min Celso de Mello P DJE de 16-4-2013

4 Trecho do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

5 CPC2015 ldquoArt 534 No cumprimento de sentenccedila que impuser agrave Fazenda Puacuteblica o dever de pagar quantia certa o exequente apresentaraacute demonstrativo discriminado e atualizado do creacutedito contendo I ndash o nome completo e o nuacutemero de inscriccedilatildeo no Cadastro de Pessoas Fiacutesicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Juriacutedica do exequente II ndash o iacutendice de correccedilatildeo monetaacuteria adotado III ndash os juros aplicados e as respectivas taxas IV ndash o termo inicial e o termo final dos juros e da correccedilatildeo monetaacuteria utilizados V ndash a periodicidade da capitalizaccedilatildeo dos juros se for o caso VI ndash a especificaccedilatildeo dos eventuais descontos obrigatoacuterios realizadosrdquo

6 CPC2015 ldquoArt 534 () sect 1ordm Havendo pluralidade de exequentes cada um deveraacute apresentar o seu proacuteprio demonstrativo aplicando-se agrave hipoacutetese se for o caso o disposto nos sectsect 1ordm e 2ordm do art 113rdquo

7 ldquoArt 543-C Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idecircntica questatildeo de direito o recurso especial seraacute processado nos termos deste artigordquo

8 Recurso Especial 1243887 rel min Luis Felipe Salomatildeo Corte Especial DJE de 12-12-2011 recurso repetitivo Temas 480 e 481

155iacutendice de teses

O Supremo Tribunal Federal (STF) natildeo possui competecircncia originaacuteria para

julgar accedilatildeo na qual se discute o direito de magistrado de gozar de licenccedila-

-precircmio

A instauraccedilatildeo de competecircncia originaacuteria do STF com fundamento no art 102 I n da Constituiccedilatildeo Federal1 pressupotildee que a totalidade da magistratura nacional tenha interesse (direto ou indireto) no julgamento da causa e que este natildeo revele pretensatildeo passiacutevel de ser repetida por outras carreiras do serviccedilo puacuteblico

Com efeito o direito agrave fruiccedilatildeo de licenccedila-precircmio por tempo de serviccedilo eacute benefiacutecio que interessa a outros agentes poliacuteticos e servidores puacuteblicos na medida em que pode ser previsto conforme o estatuto juriacutedico do agente ou do servidor2

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () n) a accedilatildeo em que todos os membros da magistra-tura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessadosrdquo

2 AO 2099 rel min Edson Fachin decisatildeo monocraacutetica DJE de 24-11-2016

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Supremo Tribunal Federal

AO 2126red p o ac min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 15-12-2017Informativo STF 855

156iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

Os princiacutepios constitucionais relacionados ao sistema financeiro e orccedilamen-

taacuterio1 os princiacutepios da independecircncia e da harmonia entre os Poderes (CF

art 2ordm2) e o regime constitucional de precatoacuterios (CF art 1003) podem ser

utilizados como paracircmetro de controle na arguiccedilatildeo de descumprimento de

preceito fundamental

Os princiacutepios constitucionais do sistema financeiro e orccedilamentaacuterio satildeo instrumen-tos essenciais para a manutenccedilatildeo da harmonia constitucional Do exame sistemaacuteti-co de seu conteuacutedo verifica-se que a efetividade do sistema financeiro e orccedilamen-taacuterio garante que a Administraccedilatildeo Puacuteblica tenha condiccedilotildees de executar atividades essenciais concretizando importantes valores do Estado Democraacutetico de Direito

Nesse sentido haacute verdadeira interdependecircncia entre esses preceitos fundamentais e aqueles protegidos pela claacuteusula peacutetrea do art 60 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal4 como o princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (CF art 2ordm) elemento basilar do direito constitucional nacional

Por sua vez o regime constitucional dos precatoacuterios eacute o mecanismo de raciona-lizaccedilatildeo dos pagamentos das obrigaccedilotildees estatais oriundos de sentenccedilas judiciais ao mesmo tempo em que permite a continuidade da prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e consequentemente a efetivaccedilatildeo dos proacuteprios direitos fundamentais

1 ldquoArt 167 Satildeo vedados I ndash o iniacutecio de programas ou projetos natildeo incluiacutedos na lei orccedilamentaacuteria anual II ndash a realizaccedilatildeo de despesas ou a assunccedilatildeo de obrigaccedilotildees diretas que excedam os creacuteditos orccedilamentaacuterios ou adicionais III ndash a realizaccedilatildeo de operaccedilotildees de creacuteditos que excedam o montante das despesas de capital ressalvadas as autorizadas mediante creacuteditos suplementares ou especiais com finalidade precisa aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta IV ndash a vinculaccedilatildeo de receita de impostos a oacutergatildeo fundo ou despesa ressalvadas a reparticcedilatildeo do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos a que se referem os arts 158 e 159 a destinaccedilatildeo de recursos para as accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede para manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino e para realizaccedilatildeo de atividades da administraccedilatildeo tributaacuteria como determinado respectivamente pelos arts 198 sect 2ordm 212 e 37

ADPF 387rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-10-2017Informativo STF 858

157iacutendice de teses

XXII e a prestaccedilatildeo de garantias agraves operaccedilotildees de creacutedito por antecipaccedilatildeo de receita previstas no art 165 sect 8ordm bem como o disposto no sect 4ordm deste artigo V ndash a abertura de creacutedito suplementar ou especial sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e sem indicaccedilatildeo dos recursos correspondentes VI ndash a transposiccedilatildeo o remanejamento ou a transferecircncia de recursos de uma categoria de programaccedilatildeo para outra ou de um oacutergatildeo para outro sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa VII ndash a concessatildeo ou uti-lizaccedilatildeo de creacuteditos ilimitados VIII ndash a utilizaccedilatildeo sem autorizaccedilatildeo legislativa especiacutefica de recursos dos orccedilamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir deacuteficit de empresas fundaccedilotildees e fundos inclusive dos mencionados no art 165 sect 5ordm IX ndash a instituiccedilatildeo de fundos de qualquer natureza sem preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa X ndash a transferecircncia voluntaacuteria de recursos e a concessatildeo de empreacutestimos inclusive por antecipaccedilatildeo de receita pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituiccedilotildees financeiras para pagamento de despesas com pessoal ativo inativo e pensionista dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios XI ndash a utilizaccedilatildeo dos recursos provenientes das contribuiccedilotildees sociais de que trata o art 195 I a e II para a realizaccedilatildeo de despesas distintas do pa-gamento de benefiacutecios do regime geral de previdecircncia social de que trata o art 201rdquo

2 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

3 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

4 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta I ndash de um terccedilo no miacutenimo dos membros da Cacircmara dos Deputados ou do Senado Federal II ndash do Presidente da Repuacuteblica III ndash de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federaccedilatildeo manifestando-se cada uma delas pela maioria relativa de seus membros () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir I ndash a forma federativa de Estado II ndash o voto direto secreto universal e perioacutedico III ndash a separaccedilatildeo dos Poderes IV ndash os direitos e garantias individuaisrdquo

158iacutendice de teses

Na accedilatildeo direta de inconstitucionalidade a arguiccedilatildeo de revogaccedilatildeo da lei ndash apoacutes

a decisatildeo de meacuterito ndash natildeo enseja prejudicialidade da accedilatildeo por perda de objeto

Permitir que se pleiteie a desconstituiccedilatildeo do julgamento em sede de embargos de declaraccedilatildeo sob o fundamento da prejudicialidade da accedilatildeo depois de decidido o seu meacuterito equivaleria a abrir agrave parte a possibilidade de manipular a decisatildeo do Supre-mo Tribunal Federal (STF) Se esta lhe fosse favoraacutevel bastaria natildeo invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos Se ao contraacuterio lhe fosse desfavoraacutevel o reco-nhecimento da prejudicialidade a imunizaria contra os efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade

Aleacutem disso tendo havido enfrentamento do meacuterito da accedilatildeo direta sequer se te-ria o benefiacutecio de poupar os recursos e o tempo do STF para julgamento dos casos de maior utilidade e necessidade Ao contraacuterio ter-se-ia uma situaccedilatildeo absolutamente paradoxal pela qual apoacutes todo o processamento da accedilatildeo concluiacutedo o exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo e demonstrada a efetiva violaccedilatildeo constitucional a decisatildeo do Tribunal natildeo produziria efeito algum por mera tecnicalidade e com base em alegaccedilotildees de iacutendole puramente formal

Assim na hipoacutetese em que a revogaccedilatildeo da norma objeto da accedilatildeo direta natildeo foi co-municada ao Tribunal e na qual este consequentemente enfrentou o meacuterito da causa e declarou a inconstitucionalidade da lei antes de ter conhecimento de que a norma deixou de vigorar natildeo haacute se falar em prejudicialidade da accedilatildeo ou de perda do objeto

Essa situaccedilatildeo constitui exceccedilatildeo ao entendimento segundo o qual a revogaccedilatildeo da norma cuja constitucionalidade eacute questionada por meio de accedilatildeo direta em regra en-seja a perda superveniente do objeto da accedilatildeo e por consequecircncia provoca a extinccedilatildeo do feito sem o julgamento do meacuterito1

Desse entendimento excepcionam-se tambeacutem os casos em que haacute indiacutecios de que a norma foi revogada para fraudar o exerciacutecio da jurisdiccedilatildeo constitucional em abstrato ou seja quando a revogaccedilatildeo constituir um artifiacutecio para evitar a declaraccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

ADI 951 EDrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 21-6-2017Informativo STF 845

159iacutendice de teses

da sua inconstitucionalidade2 e ainda quando as accedilotildees diretas tenham por objeto leis de eficaacutecia temporaacuteria nos casos em que (i) houve impugnaccedilatildeo em tempo ade-quado (ii) a accedilatildeo foi incluiacuteda em pauta e (iii) o julgamento foi iniciado antes do exaurimento da eficaacutecia3

Eacute preciso impossibilitar a fraude agrave jurisdiccedilatildeo do STF minimizar os ocircnus decorren-tes da demora na prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional preservar o trabalho jaacute efetuado pelo Tribunal e evitar que a constataccedilatildeo da efetiva violaccedilatildeo agrave ordem constitucional se torne inoacutecua

1 ADI 709 rel min Paulo Brossard P DJ de 20-5-1994 ADI 1442 rel min Celso de Mello P DJ de 29-4-2005 e ADI 4620 AgR rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-8-2012

2 ADI 3306 rel min Gilmar Mendes P DJE de 7-6-2011

3 ADI 5287 rel min Luiz Fux P DJE de 12-9-2016 ADI 4426 rel min Dias Toffoli P DJE de 17-5-2011 e ADI 3146 rel min Joaquim Barbosa P DJ de 19-12-2006

160iacutendice de teses

As associaccedilotildees que congregam mera fraccedilatildeo ou parcela de categoria profis-

sional em cujo interesse vecircm a juiacutezo natildeo possuem legitimidade ativa para

provocar a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucionalidade1

Tendo em conta o disposto nos arts 2ordm I da Lei 988219992 e 103 IX da Constitui-ccedilatildeo Federal (CF)3 se o ato normativo impugnado repercute sobre a esfera juriacutedica de toda uma classe natildeo eacute legiacutetimo permitir que associaccedilatildeo representativa de apenas uma parte dos membros dessa mesma classe impugne a norma pela via abstrata da accedilatildeo4 Afinal eventual procedecircncia desta produziraacute efeitos erga omnes (CF art 102 sect 2ordm5) ou seja atingiraacute indistintamente todos os sujeitos compreendidos no acircmbito ou universo subjetivo de validade da norma declarada inconstitucional

Ademais para a afericcedilatildeo da legitimidade ativa para a propositura das accedilotildees de controle concentrado de constitucionalidade natildeo haacute que se estabelecer juiacutezo de ade-quaccedilatildeo entre a associaccedilatildeo autora e o objeto impugnado Tal juiacutezo remonta na ver-dade agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo da pertinecircncia temaacutetica outro requisito de admissibilidade somente apreciado depois de verificado o primeiro pressuposto da legitimidade ativa Com efeito o autor da accedilatildeo direta de inconstitucionalidade deve demonstrar natildeo apenas a legitimidade ativa exigida pela Constituiccedilatildeo (art 103) mas tambeacutem para alguns dos legitimados a existecircncia de pertinecircncia temaacutetica isto eacute a correlaccedilatildeo especiacutefica entre o objeto da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e os obje-tivos institucionais do autor bem como a repercussatildeo direta da norma impugnada na classe representada pelo autor

1 Precedentes citados ADI 4372 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 ADPF 154 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 28-11-2014 ADI 3675 AgR rel min Luiz Fux P DJE de 13-10-2011 e ADI 3617 AgR rel min Cezar Peluso P DJE de 1ordm-7-2011

2 ldquoArt 2ordm Podem propor arguiccedilatildeo de descumprimento de preceito fundamental I ndash os legitimados para a accedilatildeo direta de inconstitucionalidaderdquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

ADPF 254 AgRrel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 30-6-2017Informativo STF 826

161iacutendice de teses

3 ldquoArt 103 Podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucio-nalidade () IX ndash confederaccedilatildeo sindical ou entidade de classe de acircmbito nacionalrdquo

4 O ministro Roberto Barroso acompanhou a conclusatildeo do relator com fundamentaccedilatildeo diversa no sentido de que as associaccedilotildees que representam fraccedilatildeo de categoria profissional satildeo legitimadas ape-nas para impugnar as normas que afetem exclusivamente seus representados desde que preenchi-dos os demais requisitos (representatividade adequada homogeneidade e caraacuteter nacional) Dessa forma a sub-representaccedilatildeo de grupos fracionaacuterios de categorias profissionais eacute evitada ao mesmo tempo em que se respeita a restriccedilatildeo constitucional de legitimaccedilatildeo ativa

5 ldquoArt 102 () sect 2ordm As decisotildees definitivas de meacuterito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nas accedilotildees diretas de inconstitucionalidade e nas accedilotildees declaratoacuterias de constitucionalidade produziratildeo eficaacutecia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta nas esferas federal estadual e municipalrdquo

162iacutendice de teses

Eacute desnecessaacuteria a submissatildeo de demanda judicial agrave regra da reserva de plenaacute-

rio na hipoacutetese em que a decisatildeo judicial estiver fundada em jurisprudecircncia

do Plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal (STF) ou em suacutemula desse Tribunal

Natildeo haacute contrariedade ao Enunciado 101 da Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal ao art 97 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 ou ao art 949 do novo Coacutedigo de Processo Civil3 a autorizar o cabimento da reclamaccedilatildeo (CF art 103-A sect 3ordm4) quando o ato judicial reclamado se utiliza de raciociacutenio decisoacuterio de controle de constitu-cionalidade deixando de aplicar a lei quando jaacute existe pronunciamento acerca da mateacuteria pelo Supremo Tribunal5 A jurisprudecircncia consolidada pelo STF baseia-se em reiterados julgamentos do Tribunal Pleno para propiciar a cristalizaccedilatildeo do entendi-mento jurisprudencial em enunciado sumular6

A reclamaccedilatildeo constitucional fundada em afronta ao Verbete 10 da Suacutemula Vin-culante natildeo pode ser usada como sucedacircneo de recurso ou de accedilatildeo proacutepria para dis-cussotildees acerca da constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretaccedilatildeo idocircnea e legiacutetima pelas autoridades juriacutedicas competentes

A duacutevida razoaacutevel acerca da interpretaccedilatildeo das normas infraconstitucionais tambeacutem natildeo eacute hipoacutetese de cabimento de reclamaccedilatildeo nos termos do art 102 I l da CF7 sob pena de se criar instrumento geral universal de acesso ao STF independentemente de outras vias recursais para manifestar simples irresignaccedilatildeo ou para meras consultas

1 ldquoViola a claacuteusula de reserva de plenaacuterio (CF art 97) a decisatildeo de oacutergatildeo fracionaacuterio de Tribunal que embora natildeo declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder puacutebli-co afasta sua incidecircncia no todo ou em parterdquo

2 ldquoArt 97 Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo oacutergatildeo especial poderatildeo os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Puacuteblicordquo

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade

Rcl 24284 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 11-5-2017Informativo STF 848

163iacutendice de teses

3 ldquoArt 949 Se a arguiccedilatildeo for I ndash rejeitada prosseguiraacute o julgamento II ndash acolhida a questatildeo seraacute submetida ao plenaacuterio do tribunal ou ao seu oacutergatildeo especial onde houver Paraacutegrafo uacutenico Os oacutergatildeos fracionaacuterios dos tribunais natildeo submeteratildeo ao plenaacuterio ou ao oacutergatildeo especial a arguiccedilatildeo de in-constitucionalidade quando jaacute houver pronunciamento destes ou do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal sobre a questatildeordquo

4 ldquoArt 103-A O Supremo Tribunal Federal poderaacute de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo mediante decisatildeo de dois terccedilos dos seus membros apoacutes reiteradas decisotildees sobre mateacuteria constitucional aprovar suacutemula que a partir de sua publicaccedilatildeo na imprensa oficial teraacute efeito vinculante em relaccedilatildeo aos demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta nas esferas federal estadual e municipal bem como proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na forma estabelecida em lei () sect 3ordm Do ato administrativo ou decisatildeo judicial que contrariar a suacutemula aplicaacutevel ou que inde-vidamente a aplicar caberaacute reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal que julgando-a procedente anularaacute o ato administrativo ou cassaraacute a decisatildeo judicial reclamada e determinaraacute que outra seja proferida com ou sem a aplicaccedilatildeo da suacutemula conforme o casordquo

5 Rcl 16528 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 22-3-2017

6 ARE 914045 RG rel min Edson Fachin P DJE de 19-11-2015

7 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildeesrdquo

164iacutendice de teses

Natildeo haacute usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF) quan-

do os tribunais de justiccedila exercem controle abstrato de constitucionalidade de

leis municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria pelos Estados1

As normas de observacircncia obrigatoacuteria satildeo compulsoacuterias aos Estados-membros como modelos a serem seguidos de modo que o poder constituinte decorrente natildeo pode estipular premissas em acircmbito estadual em sentido contraacuterio ao que estabeleceu a Carta Magna A reproduccedilatildeo dos preceitos constitucionais mercecirc de natildeo serem ex-pressos na sua literalidade natildeo retira do Tribunal de Justiccedila a possibilidade de exercer o controle de constitucionalidade2

Precipuamente cabe ao STF o exerciacutecio do controle de constitucionalidade con-centrado encarregado de fiscalizar a compatibilidade de leis e atos normativos na condiccedilatildeo de guarda da Constituiccedilatildeo (CF art 102 caput3) Trata-se de processo obje-tivo cuja preocupaccedilatildeo maior eacute a defesa da ordem constitucional e da preservaccedilatildeo da ordem juriacutedica como um todo em nome da supremacia de que eacute dotada a CF

Contudo eacute possiacutevel que o paracircmetro do controle abstrato perante o Tribunal de Justiccedila dos atos normativos estaduais e municipais se decirc por normas constitucionais de observacircncia obrigatoacuteria pelos Estados-membros Em tal hipoacutetese eacute possiacutevel que o Tribunal de Justiccedila analise a compatibilidade daqueles atos perante a Constituiccedilatildeo estadual quando ela faz remissatildeo agraves normas previstas na CF

O art 39 sect 4ordm da CF natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias

e 13ordm salaacuterio

Natildeo haacute norma constitucional que impeccedila de forma liacutempida a percepccedilatildeo da gratifi-caccedilatildeo de feacuterias e o 13ordm salaacuterio por parte dos agentes poliacuteticos salvo leitura isolada e reducionista do art 39 sect 4ordm da CF4 Tampouco haacute distinccedilatildeo constitucional entre os

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Controle de constitucionalidade ndash Repercussatildeo Geral

RE 650898RG ‒ Tema 484red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 24-8-2017Informativo STF 852

165iacutendice de teses

detentores de mandato eletivo e os demais agentes poliacuteticos no particular a justifi-car o impedimento de se instituir para qualquer deles direitos sociais assegurados a todos os trabalhadores

Ao contraacuterio o art 39 sect 3ordm da CF5 utiliza expressatildeo suficientemente ampla para abranger um nuacutemero maior de beneficiaacuterios dos direitos sociais do que ocorreria se destinada apenas aos servidores puacuteblicos Como o constituinte natildeo limitou a apli-caccedilatildeo dos direitos sociais referidos no aludido dispositivo aos ldquoservidores puacuteblicosrdquo mas aos ldquoservidores ocupantes de cargo puacuteblicordquo permite-se aquilatar a intenccedilatildeo de alcanccedilar espectro maior de destinataacuterios dos direitos fundamentais sociais

Consectariamente interpretar o art 39 sectsect 3ordm e 4ordm da CF para afastar dos agentes poliacuteticos ainda que apenas dos detentores de mandato eletivo o recebimento de qualquer outra verba aleacutem do subsiacutedio ndash especialmente verbas consagradas a qual-quer trabalhador (no caso terccedilo de feacuterias e 13ordm salaacuterio) ndash representa afastar a aplicabi-lidade imediata dos direitos fundamentais sociais e olvidar a maacutexima de interpretaccedilatildeo constitucional que visa conferir maior efetividade agraves suas normas reduzindo a situa-ccedilatildeo dos agentes poliacuteticos (cargos de especial relevacircncia para o Estado Democraacutetico de Direito) a um plano inferior ao de qualquer trabalhador

Ademais a natureza juriacutedica dos direitos sociais ndash terccedilo de feacuterias e 13ordm salaacuterio ndash como direitos fundamentais reclama exegese conducente a conferir-lhes aplicabilida-de interpretaccedilatildeo na maacutexima medida possiacutevel (CF art 5ordm sectsect 1ordm e 2ordm6) agrave sua efetivaccedilatildeo

O que natildeo ocorre com verba de representaccedilatildeo que tem caraacuteter remuneratoacuterio independentemente de nomenclatura indenizatoacuteria sendo incompatiacutevel com o re-gime constitucional do subsiacutedio Despida de base constitucional para sua instituiccedilatildeo esta verba natildeo se encarta no rol daqueles benefiacutecios previstos no art 7ordm da CF7 a que alude o art 39 sect 3ordm do Diploma Maior Natildeo trata de trabalho extraordinaacuterio a ser desempenhado pelos beneficiaacuterios e tampouco se constitui em efetiva verba indeni-zatoacuteria conduzindo agrave conclusatildeo de sua inconstitucionalidade

Assim o regime de subsiacutedio eacute incompatiacutevel com outras parcelas remuneratoacuterias de natureza mensal Esse natildeo eacute o caso do 13ordm salaacuterio e do terccedilo constitucional de feacuterias pagos anualmente a todos os trabalhadores e servidores

1 O Tribunal ao apreciar o Tema 484 da repercussatildeo geral fixou as seguintes teses 1) ldquoTribunais de Justiccedila podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo

166iacutendice de teses

obrigatoacuteria pelos Estadosrdquo e 2) ldquoO art 39 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias e deacutecimo terceiro salaacuteriordquo

2 RE 598016 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 13-11-2009

3 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lherdquo

4 ldquoArt 39 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo no acircmbito de sua competecircncia regime juriacutedico uacutenico e planos de carreira para os servidores da administraccedilatildeo puacute-blica direta das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas () sect 4ordm O membro de Poder o detentor de mandato eletivo os Ministros de Estado e os Secretaacuterios Estaduais e Municipais seratildeo remunerados exclusivamente por subsiacutedio fixado em parcela uacutenica vedado o acreacutescimo de qualquer gratificaccedilatildeo adicional abono precircmio verba de representaccedilatildeo ou outra espeacutecie remuneratoacuteria obedecido em qualquer caso o disposto no art 37 X e XIrdquo

5 ldquoArt 39 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo no acircmbito de sua compe-tecircncia regime juriacutedico uacutenico e planos de carreira para os servidores da administraccedilatildeo puacuteblica direta das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas () sect 3ordm Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo puacuteblico o disposto no art 7ordm IV VII VIII IX XII XIII XV XVI XVII XVIII XIX XX XXII e XXX podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissatildeo quando a natureza do cargo o exigirrdquo

6 ldquoArt 5ordm () sect 1ordm As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo ime-diata sect 2ordm Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo

7 ldquoArt 7ordm Satildeo direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aleacutem de outros que visem agrave melhoria de sua condiccedilatildeo socialrdquo

167iacutendice de teses

Natildeo cabe ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) o controle de controveacutersia

submetida agrave apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio

O CNJ ldquoqualifica-se como instituiccedilatildeo de caraacuteter eminentemente administrativo natildeo dispondo de atribuiccedilotildees funcionais1 que lhe permitam quer colegialmente quer mediante atuaccedilatildeo monocraacutetica de seus Conselheiros ou ainda do Corregedor Na-cional de Justiccedila fiscalizar reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteuacutedo jurisdicional emanados de magistrados e Tribunais em geralrdquo2

1 CF ldquoArt 103-B O Conselho Nacional de Justiccedila compotildee-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos admitida 1 (uma) reconduccedilatildeo sendo () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do cumprimento dos deveres funcio-nais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura I ndash zelar pela autonomia do Poder Judiciaacuterio e pelo cumprimento do Estatuto da Ma-gistratura podendo expedir atos regulamentares no acircmbito de sua competecircncia ou recomendar providecircncias II ndash zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poden-do desconstituiacute-los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeo III ndash receber e conhecer das reclamaccedilotildees contra membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio inclusive contra seus serviccedilos auxiliares serventias e oacutergatildeos prestadores de serviccedilos notariais e de registro que atuem por delegaccedilatildeo do poder puacuteblico ou oficializados sem prejuiacutezo da competecircncia disciplinar e corre-cional dos tribunais podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoccedilatildeo a disponibilidade ou a aposentadoria com subsiacutedios ou proventos proporcionais ao tempo de serviccedilo e aplicar outras sanccedilotildees administrativas assegurada ampla defesa IV ndash representar ao Ministeacuterio Puacuteblico no caso de crime contra a administraccedilatildeo puacuteblica ou de abuso de autoridade V ndash rever de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo os processos disciplinares de juiacutezes e membros de tribunais julgados haacute menos de um ano VI ndash elaborar semestralmente relatoacuterio estatiacutestico sobre processos e sentenccedilas prolatadas por unidade da Federaccedilatildeo nos diferentes oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio VII ndash elaborar re-latoacuterio anual propondo as providecircncias que julgar necessaacuterias sobre a situaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio no Paiacutes e as atividades do Conselho o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tri-bunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional por ocasiatildeo da abertura da sessatildeo legislativa

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Conselho Nacional de Justiccedila

MS 28845rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 11-12-2017Informativo STF 885

168iacutendice de teses

sect 5ordm O Ministro do Superior Tribunal de Justiccedila exerceraacute a funccedilatildeo de Ministro-Corregedor e ficaraacute excluiacutedo da distribuiccedilatildeo de processos no Tribunal competindo-lhe aleacutem das atribuiccedilotildees que lhe fo-rem conferidas pelo Estatuto da Magistratura as seguintes I ndash receber as reclamaccedilotildees e denuacutencias de qualquer interessado relativas aos magistrados e aos serviccedilos judiciaacuterios II ndash exercer funccedilotildees executivas do Conselho de inspeccedilatildeo e de correiccedilatildeo geral III ndash requisitar e designar magistrados delegando-lhes atribuiccedilotildees e requisitar servidores de juiacutezos ou tribunais inclusive nos Estados Distrito Federal e Territoacuteriosrdquo

2 MS 28598 AgR rel min Celso de Mello P DJE de 9-2-2011

169iacutendice de teses

Insere-se entre as competecircncias constitucionalmente atribuiacutedas ao Conselho

Nacional de Justiccedila (CNJ) a possibilidade de afastar por inconstitucionali-

dade a aplicaccedilatildeo de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto

de controle determinando aos oacutergatildeos submetidos a seu espaccedilo de influecircncia

a observacircncia desse entendimento por ato expresso e formal tomado pela

maioria absoluta dos membros do Conselho1

Cuida-se de poder implicitamente atribuiacutedo aos oacutergatildeos autocircnomos de controle ad-ministrativo para fazer valer as competecircncias a eles conferidas pela ordem constitu-cional Nessa linha ldquoos oacutergatildeos administrativos embora natildeo dispondo de competecircn-cia para declarar a inconstitucionalidade de atos estatais (atribuiccedilatildeo cujo exerciacutecio sujeita-se agrave reserva de jurisdiccedilatildeo) podem natildeo obstante recusar-se a conferir aplica-bilidade a tais normas eis que ndash na linha do entendimento desta Suprema Corte ndash lsquohaacute que distinguir entre declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade e natildeo aplicaccedilatildeo de leis inconstitucionais pois esta eacute obrigaccedilatildeo de qualquer tribunal ou oacutergatildeo de qualquer dos Poderes do Estadorsquordquo2

Nesse contexto extrai-se do nuacutecleo normativo impliacutecito do art 103-B II sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 a competecircncia do oacutergatildeo de controle administrativo finan-ceiro e disciplinar da magistratura nacional para ldquodispor primariamente sobre cada qual dos quatro nuacutecleos expressos na loacutegica pressuposiccedilatildeo de que a competecircncia para zelar pela observacircncia do art 37 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica e ainda baixar os atos de sanaccedilatildeo de condutas eventualmente contraacuterias agrave legalidade eacute poder que traz consigo a dimensatildeo da normatividade em abstrato que jaacute eacute forma de prevenir a irrupccedilatildeo de conflitosrdquo4

Assim concluiacuteda pelo CNJ a apreciaccedilatildeo da inconstitucionalidade de lei aprovei-tada como fundamento de ato submetido ao seu exame poderaacute esse oacutergatildeo consti-tucional de controle do Poder Judiciaacuterio valer-se da expediccedilatildeo de ato administrativo formal e expresso de caraacuteter normativo para impor aos oacutergatildeos submetidos cons-

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Conselho Nacional de Justiccedila

Pet 4656rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 4-12-2017Informativo STF 851

170iacutendice de teses

titucionalmente agrave sua atuaccedilatildeo fiscalizadora a invalidade de ato administrativo pela inaplicabilidade do texto legal no qual se baseia por contrariar a CF

O exerciacutecio dessa competecircncia impliacutecita do CNJ revela-se na anaacutelise de caso con-creto por seu Plenaacuterio Os efeitos da inconstitucionalidade incidentalmente constata-da ficam limitados agrave causa posta sob sua apreciaccedilatildeo salvo se houver expressa deter-minaccedilatildeo para os oacutergatildeos constitucionalmente submetidos agrave sua esfera de influecircncia afastarem a aplicaccedilatildeo da lei reputada inconstitucional

A ediccedilatildeo de ato formal expresso tido por legiacutetimo a ser realizado no juiacutezo ad-ministrativo impondo o afastamento do texto normativo para aleacutem da relaccedilatildeo pro-cessual administrativa na qual assentada a inconstitucionalidade busca concretizar os mesmos objetivos motivadores da criaccedilatildeo do instituto da suacutemula vinculante pela Emenda Constitucional 452004 entre os quais a seguranccedila juriacutedica pela aplicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo uniformes da lei e a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo conforme o precei-to do art 5ordm LXXVIII da CF5 aplicaacutevel administrativamente

Aleacutem disso a exigecircncia de observacircncia do postulado da reserva de plenaacuterio pelos oacutergatildeos colegiados de controle administrativo tambeacutem decorre da necessidade de se conferir maior seguranccedila juriacutedica agrave conclusatildeo sobre o viacutecio Somente com a manifes-taccedilatildeo da maioria absoluta dos seus membros eacute possiacutevel ter entendimento inequiacutevoco do colegiado sobre a inadequaccedilatildeo constitucional da lei discutida como fundamento do ato administrativo controlado

Por fim essa atuaccedilatildeo do CNJ natildeo implica reconhecer-lhe competecircncia para decla-rar inconstitucionalidade de norma juriacutedica menos ainda atribuir efeito erga omnes agrave inconstitucionalidade assentada no julgamento do processo administrativo por natildeo resultar em anulaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo da lei cuja vigecircncia persiste

1 Esse entendimento natildeo contraria a conclusatildeo do Supremo Tribunal no julgamento do MS 28141 (rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2011) Nesse julgado assentou-se a incompetecircncia do CNJ para declarar a inconstitucionalidade de lei pois aleacutem de o oacutergatildeo de controle externo do Poder Judiciaacuterio ter atuado como se estivesse no ofiacutecio de controle concentrado de constitucio-nalidade transcendeu os fundamentos do julgado administrativo impondo a ldquoremessa de coacutepias daquele acoacuterdatildeo a todos os Tribunais de Justiccedila Tribunais Regionais Federais e Tribunais Regionais do Trabalho do Paiacutes para que cessasse o repasse a pessoas juriacutedicas estranhas ao Poder Judiciaacuterio entidades de classe ou entidades com finalidade privadardquo Poreacutem determinou o encaminhamento da mateacuteria agrave Procuradoria-Geral da Repuacuteblica para sanar eventual frustraccedilatildeo dos comandos consti-tucionais pela lei mato-grossense que trata de despesas processuais para o cumprimento de cartas precatoacuterias (Lei estadual 89432008)

171iacutendice de teses

2 MS 31923 MC rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJE de 19-4-2013

3 ldquoArt 103-B () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do cumprimento dos deveres funcionais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura () II ndash zelar pela observacircn-cia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

4 ADC 12 rel min Ayres Britto P DJE de 18-12-2009

5 ldquoArt 5ordm () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel du-raccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

172iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar accedilotildees em que a Ordem dos

Advogados do Brasil (OAB) quer mediante o Conselho Federal quer seccio-

nal figure na relaccedilatildeo processual

A OAB consubstancia oacutergatildeo de classe com disciplina legal ndash Lei 89061994 ndash ca-bendo-lhe impor contribuiccedilatildeo anual e exercer atividade fiscalizadora e censoacuteria Eacute por isso mesmo autarquia corporativista1 e 2 o que atrai a teor do art 109 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 a competecircncia da Justiccedila Federal para exame de accedilotildees ndash seja qual for a natureza ndash nas quais integre a relaccedilatildeo processual Eacute improacuteprio esta-belecer distinccedilatildeo considerados os demais conselhos existentes

Ademais quer sob o acircngulo do Conselho Federal quer das seccionais a OAB natildeo eacute associaccedilatildeo pessoa juriacutedica de direito privado em relaccedilatildeo agrave qual eacute vedada a interferecircncia estatal no funcionamento a teor do disposto no inciso XVIII do art 5ordm da CF4

1 Voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento no qual foi ressalvada a existecircncia de duacutevidas quanto agrave natureza juriacutedica da OAB ldquoEu tambeacutem acompanho o relator mas gostaria de fazer um breve registro senhora presidente Eu acho que a Ordem tem uma posiccedilatildeo muito singu-lar Eu acho que ela presta um serviccedilo puacuteblico mas tenho duacutevida se ela pode ser tipificada como uma entidade estatal ateacute pelo tipo de independecircncia que precisa ter e porque acho que ela natildeo eacute obrigada a fazer concurso puacuteblico o que seria uma consequecircncia natural se eu a considerasse uma pessoa juriacutedica de direito puacuteblico Desse modo eu gostaria de ressalvar algumas duacutevidas quanto agrave natureza juriacutedica da Ordem dos Advogados do Brasil Poreacutem natildeo tenho nenhuma duacutevida de que eacute paciacutefico o entendimento de que a competecircncia eacute da Justiccedila Federal Portanto eu estou acompa-nhando o ministro Marco Aureacutelio apenas me reservando para em algum lugar do futuro se vier a ser oportuno tentar refletir sobre essa natureza singular da OABrdquo

2 O Supremo Tribunal Federal abordou o tema referente agrave natureza juriacutedica da OAB no julgamento da ADI 3026 rel min Eros Grau P DJ de 29-6-2006

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

RE 595332RG ‒ Tema 258rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-6-2017Informativo STF 837

173iacutendice de teses

3 ldquoArt 109 Aos juiacutezes federais compete processar e julgar I ndash as causas em que a Uniatildeo entidade autaacuterquica ou empresa puacuteblica federal forem interessadas na condiccedilatildeo de autoras reacutes assistentes ou oponentes exceto as de falecircncia as de acidentes de trabalho e as sujeitas agrave Justiccedila Eleitoral e agrave Justiccedila do Trabalhordquo

4 ldquoArt 5ordm () XVIII ndash a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu funcionamentordquo

174iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar o crime ambiental de caraacuteter

transnacional que envolva animais silvestres ameaccedilados de extinccedilatildeo e espeacute-

cimes exoacuteticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos

pelo Brasil

Atrai a competecircncia da Justiccedila Federal a natureza transnacional do delito ambien-tal de exportaccedilatildeo de animais silvestres nos termos do art 109 IV da Constitui-ccedilatildeo Federal1 A ratio essendi das normas consagradas no direito interno e no direito convencional conduz agrave conclusatildeo de que a transnacionalidade do crime ambiental voltado agrave exportaccedilatildeo de animais silvestres atinge interesse direto especiacutefico e ime-diato da Uniatildeo voltado agrave garantia da seguranccedila ambiental no plano internacional em atuaccedilatildeo conjunta com a comunidade das naccedilotildees

As violaccedilotildees ambientais mais graves recentemente testemunhadas no plano inter-nacional e no Brasil repercutem de modo devastador na esfera dos direitos humanos e fundamentais de comunidades inteiras Essas infraccedilotildees podem constituir a um soacute tempo graves violaccedilotildees de direitos humanos maacutexime se considerarmos que o nuacute-cleo material elementar da dignidade humana ldquoeacute composto do miacutenimo existencial locuccedilatildeo que identifica o conjunto de bens e utilidades baacutesicas para a subsistecircncia fiacutesica e indispensaacutevel ao desfrute da proacutepria liberdade Aqueacutem daquele patamar ainda quando haja sobrevivecircncia natildeo haacute dignidaderdquo2

A ecologia em suas vaacuterias vertentes reconhece como diretriz principal a urgecircncia no enfrentamento de problemas ambientais reais que jaacute logram pocircr em perigo a proacutepria vida na Terra no paradigma da sociedade de risco A crise ambiental traduz especial dramaticidade nos problemas que suscita porquanto ameaccedilam a viabilidade do ldquocontinuum das espeacuteciesrdquo Jaacute a interdependecircncia das matrizes que unem as diferen-tes formas de vida aliada agrave constataccedilatildeo de que a alteraccedilatildeo de apenas um dos fatores nelas presentes pode produzir consequecircncias significativas em todo o conjunto re-

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

RE 835558RG ‒ Tema 648rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 8-8-2017Informativo STF 853

175iacutendice de teses

clama uma linha de coordenaccedilatildeo de poliacuteticas segundo a loacutegica da responsabilidade compartilhada expressa em regulaccedilatildeo internacional centrada no multilateralismo

Destarte o Estado brasileiro eacute signataacuterio de convenccedilotildees e acordos internacionais como a Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuterica ratificada pelo Decreto Legislativo 3 de 1948 em vigor no Brasil desde 26 de novembro de 1965 e promulgada pelo Decreto 58054 de 23 de marccedilo de 1966 a Convenccedilatildeo de Washington sobre o Comeacutercio Internacional das Es-peacutecies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinccedilatildeo (CITES) ratificada pelo Decreto-Lei 541975 e promulgada pelo Decreto 766231975 e a Convenccedilatildeo sobre Diversidade Bioloacutegica (CDB) ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 2 de 8 de fevereiro de 1994 Diante disso percebe-se inequiacutevoco interesse do Brasil na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade e dos recursos bioloacutegicos nacionais

A Repuacuteblica Federativa do Brasil ao firmar a Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuterica assumiu entre outros com-promissos o de ldquotomar as medidas necessaacuterias para a superintendecircncia e regulamenta-ccedilatildeo das importaccedilotildees exportaccedilotildees e tracircnsito de espeacutecies protegidas de flora e fauna e de seus produtos pelos seguintes meios a) concessatildeo de certificados que autorizem a exportaccedilatildeo ou tracircnsito de espeacutecies protegidas de flora e fauna ou de seus produtosrdquo3

Igualmente o Estado brasileiro ratificou adesatildeo ao Princiacutepio da Precauccedilatildeo ao assi-nar a Declaraccedilatildeo do Rio durante a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Am-biente e Desenvolvimento (Rio 92) e a Carta da Terra no Foacuterum Rio+5 Com fulcro nesse princiacutepio fundamental de direito internacional ambiental os povos devem esta-belecer mecanismos de combate preventivos agraves accedilotildees que ameaccedilam a utilizaccedilatildeo sus-tentaacutevel dos ecossistemas biodiversidade e florestas fenocircmeno juriacutedico que a toda evidecircncia implica interesse direto da Uniatildeo quando a conduta revele repercussatildeo no plano internacional

1 ldquoArt 109 Aos juiacutezes federais compete processar e julgar () IV ndash os crimes poliacuteticos e as infraccedilotildees penais praticadas em detrimento de bens serviccedilos ou interesse da Uniatildeo ou de suas entidades au-taacuterquicas ou empresas puacuteblicas excluiacutedas as contravenccedilotildees e ressalvada a competecircncia da Justiccedila Militar e da Justiccedila Eleitoralrdquo

2 Liccedilatildeo acadecircmica do ministro Roberto Barroso citada no voto do ministro Luiz Fux no presente julgamento

3 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo da Flora da Fauna e das Belezas Cecircnicas Naturais dos Paiacuteses da Ameacuteri-ca em vigor no Brasil desde 1965

176iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila comum julgar accedilatildeo movida por trabalhador contratado

sob o regime da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) mas regido por lei

que instituiu o regime estatutaacuterio no acircmbito do ente puacuteblico com o objetivo

de receber diferenccedilas salariais originadas no primeiro periacuteodo que possuam

reflexo no periacuteodo posterior agrave transmudaccedilatildeo de regime juriacutedico1

Eacute a natureza juriacutedica do viacutenculo existente entre o trabalhador e o poder puacuteblico vigente ao tempo da propositura da accedilatildeo que define a competecircncia jurisdicional para a soluccedilatildeo da controveacutersia independentemente de o direito pleiteado ter-se ori-ginado no periacuteodo celetista2 e 3

Somente a Justiccedila comum eacute competente para constituir direito em favor de ser-vidor submetido no momento da propositura da accedilatildeo ao regime estatutaacuterio ainda que retroativo ao periacuteodo celetista Somente a essa Justiccedila compete pronunciar-se so-bre a existecircncia a validade e a eficaacutecia das relaccedilotildees entre servidores e o poder puacuteblico fundadas em viacutenculo juriacutedico-administrativo4 e 5

Ademais uma vez que em tese existe a possibilidade de o direito previsto em lei sob a eacutegide de regime celetista repercutir no regime estatutaacuterio compete agrave Justiccedila comum decidir sobre sua constituiccedilatildeo ainda que respeitado o prazo prescricional a decisatildeo retroaja para dizer sobre o direito tanto no periacuteodo celetista quanto no estatutaacuterio6 e 7

1 Precedentes RE 141861 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 29-11-1996 e RE 174192 AgR rel min Cezar Peluso 1ordf T DJ de 12-3-2004

2 Precedentes AI 367056 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 18-5-2007 Rcl 7208 AgR red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJE de 27-11-2009 e Rcl 7039 AgR rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 8-5-2009

3 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila comum

Rcl 8909 AgRred p o ac min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 21-8-2017Informativo STF 840

177iacutendice de teses

4 Precedentes Rcl 8110 AgR red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJE de 12-2-2010 e Rcl 5924 AgR rel min Eros Grau P DJE de 23-10-2009

5 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

6 Precedente RE 216330 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 18-2-2014

7 Trecho do voto-vista do ministro Dias Toffoli no presente julgamento

178iacutendice de teses

Compete agrave Justiccedila do Trabalho processar e julgar causa relativa a depoacutesitos

do Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) de servidor que ingressou

no serviccedilo puacuteblico antes da Constituiccedilatildeo de 1988 sem prestar concurso

A competecircncia eacute a medida da jurisdiccedilatildeo atribuiacuteda constitucional ou infraconstitu-cionalmente ao oacutergatildeo judicial e decorre da accedilatildeo ajuizada de acordo com a causa de pedir1 Se a causa petendi eacute a relaccedilatildeo juriacutedica de natureza celetista pretendendo-se parcelas trabalhistas ndash como indenizaccedilatildeo correspondente aos depoacutesitos natildeo efetua-dos do FGTS ndash a anaacutelise do tema cabe agrave Justiccedila do Trabalho e natildeo agrave Justiccedila comum Agravequela incumbe inclusive examinar possiacutevel carecircncia da accedilatildeo

Ademais se eacute incontroverso que o ingresso do empregado no serviccedilo puacuteblico ocor-reu antes da Constituiccedilatildeo de 1988 e sem a preacutevia realizaccedilatildeo de concurso puacuteblico apre-senta-se incabiacutevel a transmudaccedilatildeo do regime celetista para o estatutaacuterio2 devendo ser mantida a competecircncia da Justiccedila do Trabalho3

1 A ministra Caacutermen Luacutecia e os ministros Gilmar Mendes e Roberto Barroso ressalvaram seus posi-cionamentos no sentido de que a causa de pedir natildeo define a competecircncia

2 Voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

3 Precedentes ADI 1150 rel min Moreira Alves P DJ de 17-4-1998 e ARE 906491 rel min Teori Zavascki P DJE de 2-10-2015

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila do Trabalho

CC 7950rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 839

179iacutendice de teses

A competecircncia penal da Justiccedila Castrense natildeo se limita apenas aos integran-

tes das Forccedilas Armadas nem se define por isso mesmo ratione personae1

A competecircncia penal da Justiccedila Militar eacute aferiacutevel objetivamente a partir da sub-sunccedilatildeo do comportamento do agente ndash de qualquer agente mesmo o civil ndash ainda que em tempo de paz ao preceito incriminador consubstanciado nos tipos penais definidos no Coacutedigo Penal Militar (CPM)2

O art 124 da Constituiccedilatildeo Federal3 estabelece que agrave Justiccedila Militar compete pro-cessar e julgar os crimes militares definidos em lei Por sua vez o art 9ordm III a do CPM4 considera crime militar em tempo de paz os delitos praticados por militar da reserva ou reformado ou por civil contra as instituiccedilotildees militares contra o patrimocirc-nio sob a administraccedilatildeo militar ou contra a ordem administrativa militar

Interessa agrave Justiccedila Militar da Uniatildeo qualquer fato capaz de desestabilizar os inte-resses moral e organizacional compreendidos no conceito amplo de hierarquia e disciplina militares5

1 HC 109544 MC rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 9-6-2017

2 Idem

3 ldquoArt 124 Agrave Justiccedila Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em leirdquo

4 ldquoArt 9ordm Consideram-se crimes militares em tempo de paz () III ndash os crimes praticados por militar da reserva ou reformado ou por civil contra as instituiccedilotildees militares considerando-se como tais natildeo soacute os compreendidos no inciso I como os do inciso II nos seguintes casos a) contra o patrimocirc-nio sob a administraccedilatildeo militar ou contra a ordem administrativa militarrdquo

5 HC 124858 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 31-8-2015

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Justiccedila Militar

HC 136539rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-6-2017Informativo STF 842

180iacutendice de teses

Eacute inconstitucional o art 3ordm da Resoluccedilatildeo TJTPRJ 120141 do Plenaacuterio do

Tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro que dispotildee sobre regras de processo

eleitoral no Poder Judiciaacuterio estadual

A norma impugnada viola o art 93 caput da Constituiccedilatildeo Federal2 segundo o qual estaacute reservada agrave lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal a re-gulamentaccedilatildeo da mateacuteria afeta agrave elegibilidade para os oacutergatildeos diretivos dos tribunais

Aleacutem disso enquanto a mencionada lei natildeo for editada satildeo as disposiccedilotildees da Lei Complementar 351979 Lei Orgacircnica da Magistratura Nacional (LOMAN) recep-cionada pela Constituiccedilatildeo de 19883 que definem regime juriacutedico uacutenico para a ma-gistratura brasileira e viabilizam tratamento uniforme vaacutelido em todo o territoacuterio nacional para as questotildees intriacutensecas ao Poder Judiciaacuterio garantindo a necessaacuteria independecircncia para a devida prestaccedilatildeo jurisdicional

Desde que natildeo contrariem a Constituiccedilatildeo essas normas devem ser obrigatoria-mente observadas pelos tribunais ao elaborarem seus regimentos internos e demais atos normativos

Diante disso ao prever a possibilidade de ldquoo Desembargador ser novamente eleito para o mesmo cargo desde que observado o intervalo de dois mandatosrdquo o art 3ordm da resoluccedilatildeo impugnada contraria tambeacutem as balizas estabelecidas no art 102 da Loman4

1 ldquoO Tribunal Pleno do Tribunal de Justiccedila do Estado do Rio de Janeiro no acircmbito de sua competecircncia e no uso de suas atribuiccedilotildees legais e regimentais e tendo em vista o que foi decidido na sessatildeo do dia 21 de agosto de 2014 (Processo 0034509-6420148120000) resolve () Art 3ordm Poderaacute o Desembar-gador ser novamente eleito para o mesmo cargo desde que observado o intervalo de dois mandatosrdquo

2 ldquoArt 93 Lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal disporaacute sobre o Estatuto da Magistratura observados os seguintes princiacutepiosrdquo

3 ADI 2880 rel min Gilmar Mendes P DJ de 1ordm-12-2014 ADI 509 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 16-9-2014 e ADI 3508 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 31-8-2007

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Poder Judiciaacuterio Ȥ Tribunais e juiacutezes dos Estados

ADI 5310rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 9-10-2017Informativo STF 851

181iacutendice de teses

4 ldquoArt 102 Os Tribunais pela maioria dos seus membros efetivos por votaccedilatildeo secreta elegeratildeo dentre seus Juiacutezes mais antigos em nuacutemero correspondente ao dos cargos de direccedilatildeo os titulares destes com mandato por dois anos proibida a reeleiccedilatildeo Quem tiver exercido quaisquer cargos de direccedilatildeo por quatro anos ou o de Presidente natildeo figuraraacute mais entre os elegiacuteveis ateacute que se esgotem todos os nomes na ordem de antiguidade Eacute obrigatoacuteria a aceitaccedilatildeo do cargo salvo recusa manifes-tada e aceita antes da eleiccedilatildeo Paraacutegrafo uacutenico O disposto neste artigo natildeo se aplica ao Juiz eleito para completar periacuteodo de mandato inferior a um anordquo

182iacutendice de teses

Cabe ao procurador-geral da Repuacuteblica a apreciaccedilatildeo de conflitos de atribui-

ccedilatildeo entre oacutergatildeos do Ministeacuterio Puacuteblico

Em divergecircncia interna corporis entre oacutergatildeos ministeriais a apreciaccedilatildeo da lide com-pete ao procurador-geral da Repuacuteblica como oacutergatildeo nacional do Ministeacuterio Puacuteblico1

O conflito de atribuiccedilotildees entre Ministeacuterios Puacuteblicos vinculados a entes federa-tivos diversos natildeo configura conflito federativo com aptidatildeo suficiente para atrair a competecircncia originaacuteria do Supremo Tribunal Federal (STF) prevista no art 102 I da Constituiccedilatildeo Federal2 Por essa razatildeo o STF eacute declarado incompetente para a apreciaccedilatildeo de accedilotildees dessa natureza

1 Precedentes ACO 924 rel min Luiz Fux P DJE de 23-9-2016 ACO 1394 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 28-8-2017 Pet 4706 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 16-5-2017 e Pet 4863 red p o ac min Teori Zavascki P DJE de 16-5-2017

2 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente a) a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal b) nas infraccedilotildees penais comuns o Presidente da Repuacuteblica o Vice-Presidente os membros do Congresso Nacional seus proacuteprios Ministros e o Procurador-Geral da Repuacuteblica c) nas infraccedilotildees penais comuns e nos crimes de responsabilidade os Ministros de Estado e os Coman-dantes da Marinha do Exeacutercito e da Aeronaacuteutica ressalvado o disposto no art 52 I os membros dos Tribunais Superiores os do Tribunal de Contas da Uniatildeo e os chefes de missatildeo diplomaacutetica de caraacuteter permanente d) o habeas corpus sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas aliacute-neas anteriores o mandado de seguranccedila e o habeas data contra atos do Presidente da Repuacuteblica das Mesas da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal do Tribunal de Contas da Uniatildeo do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do proacuteprio Supremo Tribunal Federal e) o litiacutegio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal ou o Territoacuterio f ) as causas e os conflitos entre a Uniatildeo e os Estados a Uniatildeo e o Distrito Federal ou entre uns e outros inclusive as respectivas entidades da administraccedilatildeo indireta g) a extradiccedilatildeo solicitada por Estado estrangeiro h) (Revogado pela Emenda Constitucional n 45 de 2004) i) o habeas corpus quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionaacuterio

Direito Constitucional Ȥ Organizaccedilatildeo dos Poderes

Ȥ Funccedilotildees essenciais agrave Justiccedila Ȥ Ministeacuterio Puacuteblico

ACO 1567 QOrel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 835

183iacutendice de teses

cujos atos estejam sujeitos diretamente agrave jurisdiccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal ou se trate de crime sujeito agrave mesma jurisdiccedilatildeo em uma uacutenica instacircncia j) a revisatildeo criminal e a accedilatildeo rescisoacuteria de seus julgados l) a reclamaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo de sua competecircncia e garantia da autoridade de suas decisotildees m) a execuccedilatildeo de sentenccedila nas causas de sua competecircncia originaacuteria facultada a delegaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para a praacutetica de atos processuais n) a accedilatildeo em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados o) os conflitos de competecircncia entre o Superior Tribunal de Justiccedila e quaisquer tribunais entre Tribunais Superiores ou entre estes e qualquer outro tribunal p) o pedido de medida cautelar das accedilotildees diretas de inconstitucionalidade q) o mandado de injunccedilatildeo quando a elaboraccedilatildeo da norma regulamentadora for atribuiccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica do Congresso Nacional da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal das Mesas de uma dessas Casas Legislativas do Tribunal de Contas da Uniatildeo de um dos Tribunais Superiores ou do proacuteprio Supremo Tribunal Federal r) as accedilotildees contra o Conselho Nacional de Justiccedila e contra o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblicordquo

TRIBUTACcedilAtildeO E ORCcedilAMENTODIREITO CONSTITUCIONAL

185iacutendice de teses

A seguranccedila puacuteblica presentes a prevenccedilatildeo e o combate a incecircndios faz-se

no campo da atividade preciacutepua pela unidade da Federaccedilatildeo e porque servi-

ccedilo essencial tem como a viabilizaacute-la a arrecadaccedilatildeo de impostos natildeo cabendo

ao Municiacutepio a criaccedilatildeo de taxa para tal fim

Os serviccedilos de extinccedilatildeo e prevenccedilatildeo de incecircndios e de defesa civil natildeo satildeo espe-ciacuteficos e divisiacuteveis sendo exercidos de forma geral Essas funccedilotildees satildeo essenciais inerentes e exclusivas ao proacuteprio Estado no que deteacutem o monopoacutelio da forccedila

Com efeito a atividade preciacutepua do Estado eacute viabilizada mediante arrecadaccedilatildeo decorrente de impostos pressupondo a taxa o exerciacutecio do poder de poliacutecia ou a utilizaccedilatildeo efetiva ou potencial de serviccedilos puacuteblicos especiacuteficos e divisiacuteveis prestados ao contribuinte ou postos agrave disposiccedilatildeo Nem mesmo o Estado poderia no acircmbito da seguranccedila puacuteblica revelada pela prevenccedilatildeo e combate a incecircndios instituir valida-mente a taxa como proclamou o Supremo Tribunal Federal embora no campo da tutela de urgecircncia1

Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo Federal eacute clara ao estabelecer no art 144 sectsect 6ordm e 7ordm2 a competecircncia estadual para organizar as carreiras de bombeiro militar a quem com-pete o serviccedilo de combate a incecircndios e o poder de poliacutecia a ele correlato nas edifi-caccedilotildees em geral3

Portanto eacute inconcebiacutevel que a pretexto de prevenir sinistro relativo a incecircndio Mu-niciacutepio substitua Estado-membro por meio da criaccedilatildeo de tributo sob o roacutetulo ldquotaxardquo

1 ADI 1942 MC rel min Moreira Alves P DJ de 22-10-1999

2 ldquoArt 144 A seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguin-tes oacutergatildeos () V ndash poliacutecias militares e corpos de bombeiros militares () sect 6ordm As poliacutecias militares e corpos de bombeiros militares forccedilas auxiliares e reserva do Exeacutercito subordinam-se juntamente

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Princiacutepios gerais ndash Repercussatildeo Geral

RE 643247RG ‒ Tema 16rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 19-12-2017Informativo STF 866

186iacutendice de teses

com as poliacutecias civis aos Governadores dos Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios sect 7ordm A lei disciplinaraacute a organizaccedilatildeo e o funcionamento dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela seguranccedila puacuteblica de maneira a garantir a eficiecircncia de suas atividadesrdquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

187iacutendice de teses

A imunidade reciacuteproca prevista no art 150 VI a da Constituiccedilatildeo Federal

(CF)1 natildeo se estende a empresa privada arrendataacuteria de imoacutevel puacuteblico quan-

do seja ela exploradora de atividade econocircmica com fins lucrativos Nessa

hipoacutetese eacute constitucional a cobranccedila do Imposto Predial Territorial Urbano

(IPTU) pelo Municiacutepio

A imunidade tributaacuteria reciacuteproca decorre da necessidade de observar-se no contex-to federativo o respeito muacutetuo e a autonomia dos entes preservando o sistema fe-derativo Eacute concedida agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico e agravequelas que embora tenham personalidade juriacutedica de direito privado qualificam-se como prestadoras de serviccedilo puacuteblico sem intuito lucrativo Natildeo cabe estender essa garantia para aleacutem das situaccedilotildees versadas no art 150 sect 2ordm da CF como no caso de empresa explora-dora de atividade econocircmica arrendataacuteria de bem puacuteblico (sociedade de economia mista ou empresa puacuteblica) Isso conferiria ao particular vantagem concorrencial in-devida em relaccedilatildeo a outras empresas em afronta ao princiacutepio da livre concorrecircncia (CF art 170 IV2)

Aleacutem disso o art 150 sect 3ordm da CF3 eacute expresso ao dispor que as regras de imunida-de reciacuteproca natildeo se aplicam ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos relacionados com exploraccedilatildeo de atividades econocircmicas regidas pelas normas aplicaacuteveis a empreendi-mentos privados nem exoneram o promitente comprador da obrigaccedilatildeo de pagar imposto relativamente ao bem imoacutevel Tendo em conta a limitaccedilatildeo imposta por esse dispositivo se nem mesmo as pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico que exploram atividade econocircmica gozam da imunidade as de direito privado tambeacutem natildeo pode-riam fazecirc-lo

O argumento de ser o imoacutevel pertencente agrave Uniatildeo utilizado para a persecuccedilatildeo de interesse puacuteblico tampouco atrai a imunidade quanto ao IPTU O ente puacuteblico ainda que natildeo seja o responsaacutevel pela exploraccedilatildeo direta da atividade econocircmica ao ceder o imoacutevel agrave sociedade de economia mista permite que o bem seja afetado

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 594015RG ‒ Tema 385rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 25-8-2017Informativo STF 860

188iacutendice de teses

a empreendimento desenvolvido ensejando a geraccedilatildeo de riquezas posteriormen-te incorporadas ao patrimocircnio da cessionaacuteria em benefiacutecio uacuteltimo dos acionistas Afastar o ocircnus de pagamento desse tributo por empresa que atua no setor econocircmi-co ombreando com outras a partir de extensatildeo indevida da imunidade reciacuteproca implica desrespeito ao sect 2ordm do art 173 da CF4 Tal dispositivo veda agraves empresas puacute-blicas e agraves sociedades de economia mista o gozo de privileacutegios fiscais natildeo extensivos agraves organizaccedilotildees do setor privado

Por fim agrave luz dos arts 325 e 346 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional tem-se que o Mu-niciacutepio natildeo extrapolou a proacutepria competecircncia ao instituir e cobrar o pagamento de IPTU devido pela sociedade de economia mista A incidecircncia desse imposto natildeo estaacute limitada agrave propriedade do imoacutevel mas tambeacutem ao domiacutenio uacutetil e a posse do bem Ademais o contribuinte natildeo se restringe ao proprietaacuterio do imoacutevel alcanccedilando tanto o titular do domiacutenio uacutetil quanto o possuidor a qualquer tiacutetulo

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

2 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

3 ldquoArt 150 () sect 3ordm As vedaccedilotildees do inciso VI a e do paraacutegrafo anterior natildeo se aplicam ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos relacionados com exploraccedilatildeo de atividades econocircmicas regidas pelas normas aplicaacuteveis a empreendimentos privados ou em que haja contraprestaccedilatildeo ou pagamento de preccedilos ou tarifas pelo usuaacuterio nem exonera o promitente comprador da obrigaccedilatildeo de pagar imposto rela-tivamente ao bem imoacutevelrdquo

4 ldquoArt 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocirc-mica pelo Estado soacute seraacute permitida quando necessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 2ordm As empresas puacuteblicas e as socieda-des de economia mista natildeo poderatildeo gozar de privileacutegios fiscais natildeo extensivos agraves do setor privadordquo

5 ldquoArt 32 O imposto de competecircncia dos Municiacutepios sobre a propriedade predial e territorial urba-na tem como fato gerador a propriedade o domiacutenio uacutetil ou a posse de bem imoacutevel por natureza ou por acessatildeo fiacutesica como definido na lei civil localizado na zona urbana do Municiacutepiordquo

6 ldquoArt 34 Contribuinte do imposto eacute o proprietaacuterio do imoacutevel o titular do seu domiacutenio uacutetil ou o seu possuidor a qualquer tiacutetulordquo

189iacutendice de teses

Os requisitos para o gozo de imunidade hatildeo de estar previstos em lei com-

plementar1 e 2

Em se tratando de limitaccedilatildeo ao poder de tributar ldquoexigecircncias legaisrdquo ao exerciacutecio das imunidades satildeo sempre ldquonormas de regulaccedilatildeordquo agraves quais fez referecircncia o cons-tituinte originaacuterio no inciso II do art 146 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 no qual consta que as mesmas limitaccedilotildees devem ser dispostas em lei complementar

ldquoEacute importante destacar a necessidade permanente de compatibilizar a abordagem finaliacutestica das imunidades com o conjunto normativo e axioloacutegico que eacute a Consti-tuiccedilatildeo Com a Carta compromissoacuteria de hoje existe uma variedade de objetivos opostos estabelecidos em normas de igual hierarquia Nesse acircmbito de antinomias potenciais o elemento sistemaacutetico adquire relevacircncia praacutetica junto ao teleoloacutegico Sob tal perspectiva lsquocada norma juriacutedica deve ser interpretada com consideraccedilatildeo de todas as demais e natildeo de forma isoladarsquo presente a busca pela harmonia e integri-dade sistecircmica da Constituiccedilatildeo Combinados os elementos sistemaacutetico e teleoloacutegico a interpretaccedilatildeo deve cumprir funccedilatildeo harmonizante influenciada prioritariamente por princiacutepios como o da lsquodignidade da pessoa humana da igualdade do Estado De-mocraacutetico de Direito da Repuacuteblica e da Federaccedilatildeorsquordquo4

Ademais o sect 7ordm do art 195 da CF5 deve ser interpretado e aplicado em conjunto com o inciso II do art 146 Assim afasta-se duacutevida quanto agrave reserva exclusiva de lei complementar para a disciplina das condiccedilotildees a serem observadas no exerciacutecio do direito agrave imunidade

No acircmbito do sistema normativo brasileiro e considerada a natureza tributaacuteria das contribuiccedilotildees sociais eacute no Coacutedigo Tributaacuterio Nacional (CTN) precisamente no art 146 que se encontram os requisitos exigidos

ldquoNenhuma lei ordinaacuteria de qualquer poder tributante pode criar requisitos adicio-nais impondo ocircnus que o constituinte deliberadamente quis afastar Todos os requi-sitos acrescentados ao restrito elenco do art 14 satildeo inconstitucionais em face de natildeo

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 566622RG ‒ Tema 32rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 855

190iacutendice de teses

possuir o Poder Tributante nas trecircs esferas nenhuma forccedila legislativa suplementar Apenas a lei complementar pode impor condiccedilotildees Nunca a lei ordinaacuteria que no maacuteximo pode reproduzir os comandos superioresrdquo7

Cabe agrave lei ordinaacuteria apenas prever requisitos que natildeo extrapolem os estabelecidos no CTN ou em lei complementar superveniente sendo-lhe vedado criar obstaacuteculos novos adicionais aos jaacute previstos em ato complementar

Por fim o art 55 da Lei 8212 de 1991 prevecirc requisitos para o exerciacutecio da imu-nidade tributaacuteria versada no sect 7ordm do art 195 da Carta da Repuacuteblica que revelam verdadeiras condiccedilotildees preacutevias ao aludido direito Por isso deve ser reconhecida a inconstitucionalidade formal desse dispositivo infraconstitucional no que extrapola o definido no art 14 do CTN por violaccedilatildeo ao art 146 II da CF

Os requisitos legais exigidos na parte final do sect 7ordm do art 195 da CF enquanto natildeo for editada nova lei complementar sobre a mateacuteria satildeo somente aqueles do art 14 do CTN

1 Entendimento aplicado tambeacutem na ADI 2028 red p o ac min Rosa Weber P DJE de 16-5-2017

2 ldquo1 lsquo() fica evidenciado que (a) entidade beneficente de assistecircncia social (art 195 sect 7ordm) natildeo eacute con-ceito equiparaacutevel a entidade de assistecircncia social sem fins lucrativos (art 150 VI) (b) a Constituiccedilatildeo Federal natildeo reuacutene elementos discursivos para dar concretizaccedilatildeo segura ao que se possa entender por modo beneficente de prestar assistecircncia social (c) a definiccedilatildeo desta condiccedilatildeo modal eacute indispensaacutevel para garantir que a imunidade do art 195 sect 7ordm da CF cumpra a finalidade que lhe eacute designada pelo texto constitucional e (d) esta tarefa foi outorgada ao legislador infraconstitucional que tem auto-ridade para defini-la desde que respeitados os demais termos do texto constitucionalrsquo 2 lsquoAspectos

meramente procedimentais referentes agrave certificaccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo e controle administrativo con-tinuam passiacuteveis de definiccedilatildeo em lei ordinaacuteria A lei complementar eacute forma somente exigiacutevel

para a definiccedilatildeo do modo beneficente de atuaccedilatildeo das entidades de assistecircncia social contempla-

das pelo art 195 sect 7ordm da CF especialmente no que se refere agrave instituiccedilatildeo de contrapartidas a serem observadas por elasrsquordquo (Trecho da ementa da ADI 2028 red p o ac min Rosa Weber P DJE de 16-5-2017 ndash sem grifos no original)

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar () II ndash regular as limitaccedilotildees constitucionais ao poder de tribu-tarrdquo

4 SOUZA NETO Claacuteudio Pereira de SARMENTO Daniel Direito constitucional teoria histoacuteria e meacutetodos de trabalho Belo Horizonte Foacuterum 2012 p 415-416

5 ldquoArt 195 () sect 7ordm Satildeo isentas de contribuiccedilatildeo para a seguridade social as entidades beneficentes de assistecircncia social que atendam agraves exigecircncias estabelecidas em leirdquo

6 ldquoArt 14 O disposto na aliacutenea c do inciso IV do art 9ordm eacute subordinado agrave observacircncia dos seguintes re-quisitos pelas entidades neles referidas I ndash natildeo distribuiacuterem qualquer parcela de seu patrimocircnio ou

191iacutendice de teses

de suas rendas a qualquer tiacutetulo II ndash aplicarem integralmente no Paiacutes os seus recursos na manu-tenccedilatildeo dos seus objetivos institucionais III ndash manterem escrituraccedilatildeo de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidatildeo sect 1ordm Na falta de cumprimento do disposto neste artigo ou no sect 1ordm do art 9ordm a autoridade competente pode suspender a aplicaccedilatildeo do benefiacutecio sect 2ordm Os serviccedilos a que se refere a aliacutenea c do inciso IV do art 9ordm satildeo exclusivamente os diretamente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivosrdquo

7 MARTINS Ives Gandra da Silva Entidades sem fins lucrativos com finalidades culturais e filantroacute-picas ndash Imunidade constitucional de impostos e contribuiccedilotildees sociais ndash Parecer Caderno de direito tributaacuterio e financcedilas puacuteblicas v 4 p 83 1994

192iacutendice de teses

A contribuiccedilatildeo social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do

empregado quer anteriores ou posteriores agrave Emenda Constitucional 201998

ldquoO texto constitucional em seu atual sect 11 do art 201 antigo sect 4ordm1 sempre consagrou a interpretaccedilatildeo extensiva da questatildeo salarial para fins de contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria

Para fins previdenciaacuterios o texto constitucional adotou a expressatildeo lsquofolha de sa-laacuteriosrsquo como o conjunto de verbas remuneratoacuterias de natureza retributiva ao traba-lho realizado incluindo gorjetas comissotildees gratificaccedilotildees horas-extras 13ordm salaacuterio adicionais 13 de feacuterias precircmios entre outras parcelas cuja natureza retributiva ao trabalho habitual prestado mesmo em situaccedilotildees especiais eacute patenterdquo2

1 ldquoArt 201 () sect 4ordm Os ganhos habituais do empregado a qualquer tiacutetulo seratildeo incorporados ao sa-laacuterio para efeito de contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria e consequente repercussatildeo em benefiacutecios nos casos e na forma da leirdquo (Redaccedilatildeo anterior agrave Emenda Constitucional 201998)

2 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 565160RG ‒ Tema 20rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 859

193iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

Incide o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) considerado imoacutevel de

pessoa juriacutedica de direito puacuteblico cedido agrave pessoa juriacutedica de direito privado

devedora do tributo

Natildeo se pode aplicar a imunidade tributaacuteria reciacuteproca se o bem estaacute desvinculado de finalidade estatal A imunidade tributaacuteria reciacuteproca possui natureza subjetiva e natildeo cabe o entendimento a revelar extensatildeo para aleacutem das situaccedilotildees previstas no art 150 sect 2ordm do texto constitucional1 A regra da imunidade da aliacutenea a do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 estaacute restrita agrave instituiccedilatildeo de imposto sobre patrimocircnio ou renda ou serviccedilos das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico

A imunidade reciacuteproca natildeo foi concebida com o propoacutesito de atender particular que desenvolve atividade econocircmica e usufrui de vantagem advinda da utilizaccedilatildeo de bem puacuteblico A previsatildeo decorre da necessidade de observar-se no contexto federati-vo o respeito muacutetuo e a autonomia dos entes Natildeo cabe estendecirc-la evitando a tribu-taccedilatildeo de particulares que atuam no regime de livre concorrecircncia

Caso fosse reconhecida a imunidade isso geraria como efeito colateral vanta-gem competitiva artificial em favor da empresa privada que teria um ganho em relaccedilatildeo aos seus concorrentes A retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formaccedilatildeo de preccedilos menores o que provoca desequiliacutebrio das relaccedilotildees de mer-cado e em consequecircncia afronta ao princiacutepio da livre concorrecircncia expresso no art 170 da CF3

A hipoacutetese de incidecircncia do IPTU natildeo estaacute limitada agrave propriedade do imoacutevel in-cluindo o domiacutenio uacutetil e a posse do bem O mesmo entendimento vale para o contri-buinte do tributo que natildeo se restringe ao proprietaacuterio do imoacutevel alcanccedilando tanto o titular do domiacutenio uacutetil quanto o possuidor a qualquer tiacutetulo

RE 601720RG ‒ Tema 437red p o ac min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 5-9-2017Informativo STF 860

194iacutendice de teses

1 ldquoArt 150 () sect 2ordm A vedaccedilatildeo do inciso VI a eacute extensiva agraves autarquias e agraves fundaccedilotildees instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico no que se refere ao patrimocircnio agrave renda e aos serviccedilos vinculados a suas finalidades essenciais ou agraves delas decorrentesrdquo

2 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

195iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria constante do art 150 VI d da Constituiccedilatildeo Federal

(CF)1 aplica-se ao livro eletrocircnico (e-book) inclusive aos suportes exclusiva-

mente utilizados para fixaacute-lo

A teleologia da imunidade contida no art 150 VI d da CF aponta para a proteccedilatildeo de valores princiacutepios e ideias de elevada importacircncia como a liberdade de expres-satildeo voltada agrave democratizaccedilatildeo e agrave difusatildeo da cultura a formaccedilatildeo cultural do povo indene de manipulaccedilotildees a neutralidade de modo a natildeo fazer distinccedilatildeo entre grupos economicamente fortes e fracos assim como entre grupos poliacuteticos a livre forma-ccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica e a liberdade de informar e ser informado Tambeacutem busca o barateamento do custo de produccedilatildeo dos livros jornais e perioacutedicos de modo a facilitar e estimular a divulgaccedilatildeo de ideias conhecimentos e informaccedilotildees Com base na interpretaccedilatildeo finaliacutestica se o livro natildeo constituir veiacuteculo de ideias de transmis-satildeo de pensamentos ainda que formalmente possa ser considerado como tal seraacute descabida a aplicaccedilatildeo de vantagens tributaacuterias

A imunidade sob anaacutelise possui natureza objetiva pois protege o objeto tributa-do e natildeo o contribuinte propriamente dito No caso natildeo se leva em consideraccedilatildeo a capacidade contributiva do consumidor mas apenas os impostos incidentes sobre materialidades proacuteprias das operaccedilotildees com livros jornais perioacutedicos e com o papel destinado agrave sua impressatildeo Logo natildeo deve ser interpretada em seus extremos sob pena de se subtrair da salvaguarda toda a racionalidade que inspira seu alcance praacute-tico ou de transformar a imunidade em subjetiva na medida em que acabaria por desonerar de todo a pessoa do contribuinte

De acordo com a interpretaccedilatildeo histoacuterica e teleoloacutegica da imunidade tributaacuteria a vontade do legislador natildeo foi de restringi-la apenas ao livro editado em papel A apli-caccedilatildeo desse instituto deve se projetar no futuro e levar em conta os novos fenocircmenos sociais culturais e tecnoloacutegicos Com isso evita-se o esvaziamento das normas imu-

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Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 330817RG ‒ Tema 593rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 856

196iacutendice de teses

nizantes por mero lapso temporal aleacutem de se propiciar a constante atualizaccedilatildeo do alcance de seus preceitos

No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo evolutiva da imunidade demonstra que os fun-damentos racionais que levaram agrave ediccedilatildeo do art 150 VI d da CF continuam a existir mesmo no que se refere aos livros eletrocircnicos Afinal o referido dispositivo natildeo diz respeito apenas ao meacutetodo gutenberguiano de produccedilatildeo de livros jornais e perioacutedi-cos natildeo sendo o papel essencial para conceituar esses bens Ademais as mudanccedilas histoacutericas e os fatores poliacuteticos e sociais da atualidade quer em razatildeo do avanccedilo tec-noloacutegico quer em decorrecircncia da preocupaccedilatildeo ambiental justificam a equiparaccedilatildeo do papel aos suportes utilizados para a publicaccedilatildeo dos livros Esses suportes satildeo consi-derados apenas o continente (corpus mechanicum ou seja a base material do livro) que abrange o conteuacutedo (corpus misticum) das obras literaacuterias Para o livro possuir imuni-dade tributaacuteria eacute portanto dispensaacutevel que se apresente no formato de coacutedice pois o corpo mecacircnico natildeo eacute o essencial ou o condicionante para o gozo da imunidade Ante a variedade de tipos de suporte (tangiacutevel ou intangiacutevel) que um livro pode ter essa caracteriacutestica soacute pode ser considerada como elemento acidental no conceito de livro

Acresce-se a esse entendimento natildeo ser necessaacuterio que o leitor tenha de passar sua visatildeo pelo texto e decifrar os signos da escrita Destarte a imunidade de que trata o art 150 VI d da CF estende-se aos livros digitais (e-books) e aos audiolivros ou audio-books (livros gravados em aacuteudio)

No tocante ao CD-ROM este eacute considerado apenas um corpo mecacircnico ou supor-te no qual estaacute fixado o livro (conteuacutedo textual) Tanto o suporte quanto o livro estatildeo abarcados pela imunidade tributaacuteria

Tendo em vista que o avanccedilo na cultura escrita estaacute ligado ao advento de novas tecnologias relativas ao suporte dos livros a teleologia da regra de imunidade igual-mente abrange o papel eletrocircnico (e-paper) e os aparelhos leitores de livros eletrocircni-cos (e-readers) Afinal esses aparelhos se equiparam aos tradicionais corpos mecacircnicos dos livros fiacutesicos ainda que eventualmente estejam equipados com funcionalidades acessoacuterias ou rudimentares que auxiliam a leitura digital como acesso agrave internet para o download de livros digitais dicionaacuterios marcadores escolha do tipo e tamanho de fonte iluminaccedilatildeo do texto etc Entretanto esse entendimento natildeo eacute aplicaacutevel aos apa-relhos multifuncionais como tablets smartphones e laptops os quais vatildeo muito aleacutem de meros equipamentos utilizados para leitura de livros digitais

Por fim vale mencionar que a maior capacidade de interaccedilatildeo com o leitorusuaacute-rio provocada pelos livros digitais a partir de uma determinada maacutequina em com-

197iacutendice de teses

paraccedilatildeo com os livros tradicionais natildeo impede o reconhecimento de sua imunidade tributaacuteria ao bem final pois esse fato parece estar associado ao processo evolutivo da cultura escrita

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre () d) livros jornais perioacutedicos e o papel destinado a sua impressatildeordquo

198iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria subjetiva aplica-se a seus beneficiaacuterios na posiccedilatildeo de

contribuinte de direito mas natildeo na de simples contribuinte de fato sendo

irrelevante para a verificaccedilatildeo da existecircncia do beneplaacutecito constitucional a

repercussatildeo econocircmica do tributo envolvido1

O ente beneficiaacuterio de imunidade tributaacuteria subjetiva ocupante da posiccedilatildeo de simples contribuinte de fato embora possa arcar com os ocircnus financeiros dos impostos envol-vidos nas compras de mercadorias ndash a exemplo do Imposto sobre Produtos Industria-lizados (IPI) e do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ndash caso tenham sido transladados pelo vendedor contribuinte de direito desembolsa importe que juridicamente natildeo eacute tributo mas sim preccedilo decorrente de relaccedilatildeo contratual

A existecircncia ou natildeo dessa translaccedilatildeo econocircmica e sua intensidade dependem de diversos fatores externos agrave natureza da exaccedilatildeo como o momento da pactuaccedilatildeo do preccedilo (se antes ou depois da criaccedilatildeo ou da majoraccedilatildeo do tributo) a elasticidade da oferta e a elasticidade da demanda entre outros

Ademais diversas liccedilotildees doutrinaacuterias2 3 4 5 6 e 7 desaconselham levar em conside-raccedilatildeo a denominada repercussatildeo econocircmica do tributo para verificar a existecircncia da imunidade tributaacuteria

1 ARE 758886 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 20-5-2014 RE 600480 AgR rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 16-8-2013 ARE 721176 AgR rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 13-8-2013 ARE 690382 AgR rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 17-12-2012 AI 736607 AgR rel min Ayres Britto 2ordf T DJE de 19-10-2011 e AI 620444 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 5-3-2010

2 MACHADO Hugo de Brito Curso de direito tributaacuterio 30 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 286287

3 Idem Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro In ______ (Coord) Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro Satildeo Paulo Malheiros 2013 p 208

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 608872RG ‒ Tema 342rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 27-9-2017Informativo STF 855

199iacutendice de teses

4 MACHADO SEGUNDO Hugo de Brito Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro In MACHADO Hugo de Brito (Coord) Tributaccedilatildeo indireta no direito brasileiro Satildeo Paulo Malheiros 2013 p 218

5 ATALIBA Geraldo Hipoacutetese de incidecircncia tributaacuteria 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2010 p 143

6 SCHOUERI Luiacutes Eduardo A restituiccedilatildeo de impostos indiretos no sistema juriacutedico-tributaacuterio brasi-leiro Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 27 n 1 p 3948 janmar 1987

7 BECKER Alfredo Augusto Teoria geral do direito tributaacuterio 3 ed Satildeo Paulo Lejus 1998

200iacutendice de teses

A imunidade da aliacutenea d do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal de

19881 alcanccedila componentes eletrocircnicos destinados exclusivamente a inte-

grar unidade didaacutetica com fasciacuteculos

Essa norma objetiva proteger natildeo simplesmente o livro jornal ou perioacutedico como ldquosuportes fiacutesicos de ideias e comunicaccedilatildeordquo mas o valor intriacutenseco do conteuacutedo vei-culado de natureza educacional informativa expressiva do pensamento indivi-dual ou coletivo O meio eacute secundaacuterio importando precipuamente promover e assegurar o direito fundamental agrave educaccedilatildeo agrave cultura agrave informaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo poliacutetica dos cidadatildeos2

Diante disso componentes eletrocircnicos atinentes a cursos de montagem de com-putadores representam elementos indispensaacuteveis ao conjunto didaacutetico integrando o produto final acabado voltado a veicular informaccedilotildees de cunho educativo

A extensatildeo da imunidade tributaacuteria em favor desses elementos eletrocircnicos justifi-ca-se em razatildeo de constituiacuterem material complementar ao conteuacutedo educativo Natildeo se trata de bens que possam ser caracterizados como ldquobrindes comerciaisrdquo presentes apenas como forma de atrair a aquisiccedilatildeo do produto pelo puacuteblico O fasciacuteculo im-presso e os componentes eletrocircnicos satildeo partes fisicamente distinguiacuteveis finaliacutestica e funcionalmente unitaacuterias

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre () d) livros jornais perioacutedicos e o papel destinado a sua impressatildeordquo

2 RE 183403 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 4-5-2001 RE 199183 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 12-6-1998 e RE 221239 rel min Ellen Gracie 2ordf T DJ de 6-8-2004

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

RE 595676RG ‒ Tema 259rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 18-12-2017Informativo STF 856

201iacutendice de teses

A imunidade tributaacuteria prevista no art 150 IV a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

natildeo alcanccedila imoacuteveis da Uniatildeo e das unidades federadas cedidos para empreen-

dimentos privados exploradores de atividade econocircmica com fins lucrativos

A aplicabilidade da imunidade reciacuteproca depende da superaccedilatildeo ou aprovaccedilatildeo em tes-te de trecircs estaacutegios tendo a Constituiccedilatildeo como paracircmetro de controle quais sejam

a) a imunidade eacute ldquosubjetivardquo isto eacute ela se aplica agrave propriedade bens e serviccedilos utilizados na satisfaccedilatildeo dos objetivos institucionais imanentes do ente federado cuja tributaccedilatildeo poderia colocar em risco a respectiva autonomia poliacutetica Em consequecircn-cia eacute incorreto ler a claacuteusula de imunizaccedilatildeo de modo a reduzi-la a mero instrumento destinado a dar ao ente federado condiccedilotildees de contrataccedilatildeo mais vantajosas indepen-dentemente do contexto

b) atividades de exploraccedilatildeo econocircmica destinadas primordialmente a aumentar o patrimocircnio do Estado ou de particulares devem ser submetidas a tributaccedilatildeo por se apresentarem como manifestaccedilotildees de riqueza e deixarem a salvo a autonomia po-liacutetica Em decorrecircncia a circunstacircncia de a atividade ser desenvolvida em regime de monopoacutelio por concessatildeo ou por delegaccedilatildeo eacute de todo irrelevante

c) a desoneraccedilatildeo natildeo deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princiacute-pios da livre concorrecircncia e do exerciacutecio de atividade profissional ou econocircmica liacutecita Em princiacutepio o sucesso ou a desventura empresarial devem pautar-se por virtudes e viacutecios proacuteprios do mercado e da administraccedilatildeo sem que a intervenccedilatildeo do Estado seja favor preponderante

Igualmente a interpretaccedilatildeo da sujeiccedilatildeo passiva mostra-se indissociaacutevel dos con-ceitos constitucionais da propriedade da funccedilatildeo do tributo e da proacutepria imunidade enquanto a tributaccedilatildeo se baseia no aspecto econocircmico e na funccedilatildeo social que se daacute agrave propriedade Na locaccedilatildeo empresarial de fins lucrativos tanto o proprietaacuterio-locador como o possuidor-locataacuterio retiram vantagem econocircmica do bem imoacutevel de modo que a aparente ldquoposse-detenccedilatildeordquo eacute signo presuntivo de riqueza tambeacutem para a pessoa

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Limitaccedilotildees do poder de tributar

RE 434251red p o ac min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 31-8-2017Informativo STF 836

202iacutendice de teses

que recebe a propriedade imoacutevel para uso Dessa forma o locataacuterio empresarial com fins lucrativos tambeacutem eacute ldquopossuidor a qualquer tiacutetulordquo para fins de incidecircncia do Im-posto Predial Territorial Urbano (IPTU) nos termos da Constituiccedilatildeo Nessa medida o art 32 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional2 deve ser lido agrave luz da CF com ecircnfase em trecircs pontos materialidade possiacutevel do IPTU (CF art 156 I3) isonomia (CF art 150 II4) livre iniciativa e livre concorrecircncia (CF art 170 caput e IV5)

A tributaccedilatildeo representa um custo do empreendimento de modo que sua redu-ccedilatildeo ou supressatildeo conferem importante vantagem competitiva Aliaacutes esta eacute a base da guerra fiscal Reconhecer a impossibilidade pura e simples de o locador particular ser considerado sujeito passivo da exaccedilatildeo somente porque conseguiu alugar imoacutevel de propriedade de ente puacuteblico implicaria em estender a ente privado salvaguarda proacutepria da Federaccedilatildeo

Assim a entidade privada passaria a ter vantagem decorrente de elemento artificial e injustificaacutevel sem qualquer lastro em sua capacidade de gestatildeo ou maior eficiecircncia do agente econocircmico O prejuiacutezo resultante afeta tanto os interesses individuais de cada outra entidade privada que natildeo foi agraciada pelo benefiacutecio como interesses transcen-dentes de toda a coletividade Neste ponto eacute importante frisar que o enfraquecimento do mercado pode acarretar distorccedilotildees na oferta na formaccedilatildeo de preccedilos no desenvolvi-mento de novos produtos e serviccedilos e na qualidade das atividades exercidas

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Es-tados ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () VI ndash instituir impostos sobre a) patrimocircnio renda ou serviccedilos uns dos outrosrdquo

2 ldquoArt 32 O imposto de competecircncia dos Municiacutepios sobre a propriedade predial e territorial urba-na tem como fato gerador a propriedade o domiacutenio uacutetil ou a posse de bem imoacutevel por natureza ou por acessatildeo fiacutesica como definido na lei civil localizado na zona urbana do Municiacutepiordquo

3 ldquoArt 156 Compete aos Municiacutepios instituir impostos sobre I ndash propriedade predial e territorial urbanardquo

4 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios () II ndash instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situaccedilatildeo equivalente proibida qualquer distinccedilatildeo em razatildeo de ocupaccedilatildeo profissional ou funccedilatildeo por eles exercida independentemente da denominaccedilatildeo juriacutedica dos rendi-mentos tiacutetulos ou direitosrdquo

5 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () IV ndash livre concorrecircnciardquo

203iacutendice de teses

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Sistema tributaacuterio nacional Ȥ Reparticcedilatildeo das receitas tributaacuterias

Natildeo cabe agrave Uniatildeo criar por meio de legislaccedilatildeo ordinaacuteria novos criteacuterios de

deduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da receita arrecadada de impostos em desacordo com

o art 159 I a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Da arrecadaccedilatildeo dos impostos e de acordo com o dispositivo constitucional e legal a Uniatildeo deve entregar ao Fundo de Participaccedilatildeo dos Estados 215 do produto da arrecadaccedilatildeo do Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) e do Imposto sobre Produ-tos Industrializados (IPI)

Dessa forma as balizas referentes agrave regecircncia dos tributos estariam bem definidas e respeitadas natildeo se podendo considerar outras poliacuteticas norteadas pelo interesse da Uniatildeo sob pena de esvaziamento do estabelecido na Constituiccedilatildeo

A reduccedilatildeo na base de caacutelculo ante as deduccedilotildees pela Secretaria do Tesouro Na-cional nos valores recolhidos com o IRPJ das contribuiccedilotildees do Programa de Inte-graccedilatildeo Nacional (PIN) e do Programa de Redistribuiccedilatildeo de Terras e de Estiacutemulo agrave Agroinduacutestria do Norte e do Nordeste (PROTERRA) criados respectivamente pelos Decretos-Lei 1106 de 16 de junho de 1970 e 1179 de 6 de julho de 1971 eacute incompatiacutevel com a ordem constitucional vigente

A uacutenica possibilidade de desconto permitida pela CF seria referente agrave quota-parte alusiva ao desconto na fonte relativamente a servidores dos Estados e do Distrito Federal (art 157 I)2 e dos Municiacutepios (art 158 I)3 porque procedido pelas proacute-prias unidades da Federaccedilatildeo natildeo cabendo admitir o aditamento agrave Carta mediante legislaccedilatildeo ordinaacuteria para chegar-se a subtraccedilotildees diversas esvaziando-se o objetivo da norma que outro natildeo eacute senatildeo a transferecircncia do arrecadado pela Uniatildeo no per-centual referido

A consideraccedilatildeo de outras parcelas para desconto dependeria de emenda consti-tucional

ACO 758rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 851

204iacutendice de teses

1 ldquoArt 159 A Uniatildeo entregaraacute I ndash do produto da arrecadaccedilatildeo dos impostos sobre renda e proven-tos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados 49 (quarenta e nove por cento) na seguinte forma a) vinte e um inteiros e cinco deacutecimos por cento ao Fundo de Participaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federalrdquo

2 ldquoArt 157 Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal I ndash o produto da arrecadaccedilatildeo do imposto da Uniatildeo sobre renda e proventos de qualquer natureza incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer tiacutetulo por eles suas autarquias e pelas fundaccedilotildees que instituiacuterem e mantiveremrdquo

3 ldquoArt 158 Pertencem aos Municiacutepios I ndash o produto da arrecadaccedilatildeo do imposto da Uniatildeo sobre renda e proventos de qualquer natureza incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer tiacutetulo por eles suas autarquias e pelas fundaccedilotildees que instituiacuterem e mantiveremrdquo

205iacutendice de teses

Eacute assegurado ao Poder Judiciaacuterio estadual o direito de receber ateacute o dia

vinte de cada mecircs em duodeacutecimos os recursos correspondentes agraves dota-

ccedilotildees orccedilamentaacuterias sendo facultado ao Poder Executivo do Estado pro-

ceder ao desconto uniforme da Receita Corrente Liacutequida prevista na Lei

Orccedilamentaacuteria Anual estadual1 em sua proacutepria receita e na dos demais Po-

deres e oacutergatildeos autocircnomos

Ato omissivo consubstanciado em atraso no dever de repasse pelo Poder Exe-cutivo dos recursos financeiros previstos em lei orccedilamentaacuteria aprovada pela As-sembleia Legislativa ao Poder Judiciaacuterio estadual viola o direito prescrito no art 168 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 Esse dispositivo instrumentaliza o postulado da separaccedilatildeo de poderes e impede a sujeiccedilatildeo dos demais Poderes e oacutergatildeos autocirc-nomos da Repuacuteblica a arbiacutetrios e ilegalidades perpetradas no acircmbito do Poder Executivo respectivo

Ainda que se trate de Estado-membro oficialmente reconhecido como em ldquoesta-do de calamidade puacuteblica no acircmbito da administraccedilatildeo financeirardquo3 natildeo se pode le-gitimar a fixaccedilatildeo pelo Poder Executivo de cronograma orccedilamentaacuterio Esse ato retira a previsibilidade da disponibilizaccedilatildeo de recursos aos demais Poderes e instituiccedilotildees autocircnomos subtraindo-lhes as condiccedilotildees miacutenimas de gerir seus proacuteprios recursos considerada a frustraccedilatildeo da receita conforme conveniecircncia e oportunidade Nes-se sentido o repasse duodecimal deve ocorrer ldquoateacute o dia vinte de cada mecircsrdquo (CF art 168) a fim de garantir o autogoverno do Poder Judiciaacuterio tendo em vista ser o repasse ldquouma ordem de distribuiccedilatildeo prioritaacuteria (natildeo somente equitativa) de satisfa-ccedilatildeo das dotaccedilotildees orccedilamentaacuteriasrdquo4

A lei orccedilamentaacuteria no momento de sua elaboraccedilatildeo declara uma expectativa do montante a ser realizado a tiacutetulo de receita que pode ou natildeo vir a acontecer no exer-ciacutecio financeiro de referecircncia sendo o Poder Executivo responsaacutevel por proceder agrave arrecadaccedilatildeo conforme a poliacutetica puacuteblica adotada Ante a possibilidade de a receita

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Financcedilas puacuteblicas Ȥ Orccedilamentos

MS 34483 MCrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 8-8-2017Informativo STF 848

206iacutendice de teses

prevista natildeo vir a se concretizar no curso do exerciacutecio financeiro a Lei de Responsa-bilidade Fiscal (LC 1012000 art 9ordm5) instituiu o dever de cada um dos Poderes por ato proacuteprio proceder aos ajustes necessaacuterios com limitaccedilatildeo de empenho (despesa) ante a frustraccedilatildeo de receitas que inviabilize o cumprimento de suas obrigaccedilotildees Esses ajustes satildeo operados em ambiente de diaacutelogo institucional em que o Poder Executi-vo sinaliza o montante da frustraccedilatildeo de receita ndash calculada a partir do que havia sido projetado no momento da ediccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e a receita efetivamente arreca-dada no curso do exerciacutecio financeiro de referecircncia Por sua vez os demais Poderes e oacutergatildeos autocircnomos da Repuacuteblica no exerciacutecio de sua autonomia administrativa promovem os cortes necessaacuterios em suas despesas para adequar as metas fiscais de sua responsabilidade aos limites constitucionais e legais autorizados conforme con-veniecircncia e oportunidade

Atraveacutes desse diaacutelogo entre Poderes e oacutergatildeos autocircnomos eacute possiacutevel alcanccedilar so-luccedilatildeo conciliatoacuteria para o quadro faacutetico revelado pelas dificuldades declaradas pelo Estado-membro em suas financcedilas agravadas pela queda da arrecadaccedilatildeo O julgamen-to da medida cautelar por sua vez natildeo afasta a possibilidade de posterior audiecircncia de conciliaccedilatildeo entre as partes

Eacute possiacutevel o risco de impasse no ambiente dialoacutegico institucional como na hipoacute-tese de algum Poder ou oacutergatildeo autocircnomo se recusar a realizar a autolimitaccedilatildeo Esse cenaacuterio exsurge porque foi suspensa por forccedila de decisatildeo cautelar na ADI 22386 a eficaacutecia do dispositivo que prescreve a possibilidade de o Poder Executivo por ato unilateral estipular medida de austeridade nas esferas dos demais Poderes e oacutergatildeos autocircnomos7 A ratio que informa esse julgado eacute a impossibilidade de se legitimar a atuaccedilatildeo do Poder Executivo como julgador e executor de sua proacutepria decisatildeo

Essa situaccedilatildeo reclama a atuaccedilatildeo de um terceiro ndash estranho ao oacutergatildeo autocircnomo interessado no repasse orccedilamentaacuterio e ao Poder com a funccedilatildeo de arrecadar a receita e realizar o orccedilamento ndash responsaacutevel por fixar o patamar da reduccedilatildeo financeira e assim solucionar a controveacutersia8 admitindo-se que o contingenciamento uniforme seja autorizado por decisatildeo judicial resguardando-se a possibilidade de compensaccedilatildeo futura no caso de a frustraccedilatildeo orccedilamentaacuteria alegada natildeo se concretizar Tambeacutem eacute ressalvada a revisatildeo desse provimento cautelar caso natildeo se demonstre o decesso na arrecadaccedilatildeo nem no percentual ambos mediante ldquorelatoacuterio detalhado com todos os recursos que compotildeem a Receita Corrente Liacutequidardquo ao qual em todos os casos deve ser conferida a mais ampla transparecircncia e publicidade

207iacutendice de teses

A exigecircncia de repasse integral dos recursos financeiros projetados na lei orccedilamen-taacuteria para Poderes e oacutergatildeos autocircnomos natildeo eacute o meio adequado para se proceder ao sancionamento de eventual ilegalidade perpetrada pelo Poder Executivo nos atos de governo e de gestatildeo de sua responsabilidade os quais podem e devem ser submetidos agrave avaliaccedilatildeo nas esferas adequadas e perante os oacutergatildeos competentes para seu conheci-mento e eventual sanccedilatildeo dos responsaacuteveis

Natildeo prospera a pretensatildeo do governo estadual de compensar os duodeacutecimos fal-tantes da receita orccedilamentaacuteria do Tribunal de Justiccedila do Estado prevista para o exer-ciacutecio financeiro com o superaacutevit e o acuacutemulo financeiro de duodeacutecimos e do fundo gerido pelo proacuteprio Tribunal de Justiccedila apurados nas contas do Poder Judiciaacuterio A receita do Fundo Especial do Tribunal de Justiccedila (FETJ) eacute originada em sua maior parte do pagamento de custas pelas partes que demandam o Poder Judiciaacuterio esta-dual e natildeo satildeo beneficiaacuterias da gratuidade de Justiccedila cuja destinaccedilatildeo eacute exclusiva para ldquocusteio dos serviccedilos afetos agraves atividades especiacuteficas da Justiccedilardquo (CF art 98 sect 2ordm9) Nessa linha havendo ainda lei estadual10 que disciplina a destinaccedilatildeo desses valores haacute portanto impedimento legal e constitucional para a utilizaccedilatildeo desses recursos para pagamento de salaacuterios aos servidores e de subsiacutedios aos magistrados

1 Lei Orccedilamentaacuteria Anual 72102016 do Estado do Rio de Janeiro

2 ldquoArt 168 Os recursos correspondentes agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias compreendidos os creacuteditos su-plementares e especiais destinados aos oacutergatildeos dos Poderes Legislativo e Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria Puacuteblica ser-lhes-atildeo entregues ateacute o dia 20 de cada mecircs em duodeacutecimos na forma da lei complementar a que se refere o art 165 sect 9ordmrdquo

3 Decreto 456922016 e Lei 74832016 ndash ambos do Estado do Rio de Janeiro ndash que respectivamen-te declaram e reconhecem a situaccedilatildeo de calamidade puacuteblica no acircmbito da administraccedilatildeo financeira do Estado do Rio de Janeiro

4 MS 21450 rel min Octavio Gallotti P DJ de 5-6-1992

5 ldquoArt 9ordm Se verificado ao final de um bimestre que a realizaccedilatildeo da receita poderaacute natildeo comportar o cumprimento das metas de resultado primaacuterio ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais os Poderes e o Ministeacuterio Puacuteblico promoveratildeo por ato proacuteprio e nos montantes necessaacuterios nos trinta dias subsequentes limitaccedilatildeo de empenho e movimentaccedilatildeo financeira segundo os criteacuterios fixados pela lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

6 ADI 2238 MC rel min Ilmar Galvatildeo P DJE de 12-9-2008

7 LC 1012000 ldquoArt 9ordm () sect 3ordm No caso de os Poderes Legislativo e Judiciaacuterio e o Ministeacuterio Puacuteblico natildeo promoverem a limitaccedilatildeo no prazo estabelecido no caput eacute o Poder Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os criteacuterios fixados pela lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

208iacutendice de teses

8 MS 31671 MC rel min Ricardo Lewandowski decisatildeo monocraacutetica DJE de 30-10-2012

9 ldquoArt 98 A Uniatildeo no Distrito Federal e nos Territoacuterios e os Estados criaratildeo () sect 2ordm As custas e emolumentos seratildeo destinados exclusivamente ao custeio dos serviccedilos afetos agraves atividades especiacutefi-cas da Justiccedilardquo

10 Art 2ordm da Lei 25241996 do Estado do Rio de Janeiro

209iacutendice de teses

Eacute constitucional a Lei federal 13255 de 15 de fevereiro de 2016 (Lei Orccedilamen-

taacuteria Anual) em especial quanto agraves disposiccedilotildees em que satildeo estipuladas as

dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias destinadas agrave Justiccedila do Trabalho (Lei Orccedilamentaacuteria

Anual de 2016 Anexo IV)

O Poder Judiciaacuterio natildeo obstante ostente iniciativa de encaminhamento da propos-ta orccedilamentaacuteria que lhe eacute proacutepria natildeo interdita do ponto de vista formal que o controle sobre essa iniciativa constitucionalmente consagrada seja realizado de modo autocircnomo em sede parlamentar

No caso a separaccedilatildeo de poderes embora seja claacuteusula peacutetrea natildeo sofreu viola-ccedilatildeo ndash art 2ordm1 cc art 60 sect 4ordm2 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) Primeiramente porque a hipoacutetese normativa impugnada (Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2016 Anexo IV) consti-tui-se como tiacutepica manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo a respeito de proposiccedilatildeo legisla-tiva submetida a discussatildeo parlamentar Em segundo lugar na situaccedilatildeo legislativa ora em apreccedilo as normas procedimentais do devido processo legislativo (procedural due process of law) foram devidamente atendidas vale dizer houve observacircncia da iniciati-va da proposiccedilatildeo legislativa em estrito respeito formal agrave autonomia administrativa e financeira da Justiccedila do Trabalho (CF art 993)

O controle orccedilamentaacuterio pelo Legislativo funda-se num corpo de normas que eacute a um soacute tempo ldquoestatuto protetivo do cidadatildeo-contribuinterdquo e ldquoferramenta do ad-ministrador puacuteblico e instrumento indispensaacutevel ao Estado Democraacutetico de Direito para fazer frente a suas necessidades financeirasrdquo

O abuso do poder de emenda assim como do descumprimento das premissas de pro-porcionalidade (ou de razoabilidade) natildeo pode ser acolhido quando suscitado de forma geneacuterica diante da ausecircncia de impugnaccedilatildeo especiacutefica e adequada dos requisitos norma-tivos reveladores desses excessos invocados em quaisquer das tradiccedilotildees teoacutericas sustenta-das (seja a do desvio do poder seja a da proporcionalidade ou ainda a da razoabilidade)

Direito Constitucional Ȥ Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Ȥ Financcedilas puacuteblicas Ȥ Orccedilamentos

ADI 5468rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 2-8-2017Informativo STF 832

210iacutendice de teses

O desvio de finalidade tem como referecircncia conceitual a ideia de deturpaccedilatildeo do dever-poder atribuiacutedo a determinado agente puacuteblico que embora atue aparentemen-te dentro dos limites da atribuiccedilatildeo institucional mobiliza a sua atuaccedilatildeo a finalidade natildeo imposta ou natildeo desejada pela ordem juriacutedica ou pelo interesse puacuteblico

O abuso parlamentar natildeo se configura sob o acircngulo da principiologia dos sub-princiacutepios da proporcionalidade (necessidade adequaccedilatildeo e proporcionalidade em sentido estrito) quando imposta a reduccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico destinado a oacutergatildeos e programas orccedilamentaacuterios em decorrecircncia de crise econocircmica e fiscal4

Por outro lado a jurisdiccedilatildeo constitucional em face da tessitura aberta de confor-maccedilatildeo legislativa prevista pelo art 166 sect 3ordm I da CF5 natildeo deteacutem capacidade insti-tucional automaacutetica ou pressuposta e natildeo pode empreender no acircmbito do controle abstrato a tarefa de coordenaccedilatildeo entre o Plano Plurianual e as respectivas Leis de Diretrizes Orccedilamentaacuterias e Leis Orccedilamentaacuterias Anuais

Diante da ausecircncia de abusividade deve-se declarar que a funccedilatildeo de definir recei-tas e despesas do aparato estatal eacute uma das mais tradicionais e relevantes do Poder Legislativo Impotildee-se ao Poder Judiciaacuterio no caso postura de deferecircncia institucional em relaccedilatildeo ao debate parlamentar sob pena de indevida e ilegiacutetima tentativa de esva-ziamento de tiacutepicas funccedilotildees institucionais do Parlamento

1 ldquoArt 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o Executivo e o Judiciaacuteriordquo

2 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deli-beraccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir I ndash a forma federativa de Estado II ndash o voto direto secreto universal e perioacutedico III ndash a separaccedilatildeo dos Poderes IV ndash os direitos e garantias individuaisrdquo

3 ldquoArt 99 Ao Poder Judiciaacuterio eacute assegurada autonomia administrativa e financeira sect 1ordm Os tribunais elaboraratildeo suas propostas orccedilamentaacuterias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os de-mais Poderes na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias sect 2ordm O encaminhamento da proposta ouvidos os outros tribunais interessados compete I ndash no acircmbito da Uniatildeo aos Presidentes do Supremo Tribu-nal Federal e dos Tribunais Superiores com a aprovaccedilatildeo dos respectivos tribunais II ndash no acircmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territoacuterios aos Presidentes dos Tribunais de Justiccedila com a aprovaccedilatildeo dos respectivos tribunais sect 3ordm Se os oacutergatildeos referidos no sect 2ordm natildeo encaminharem as res-pectivas propostas orccedilamentaacuterias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias o Poder Executivo consideraraacute para fins de consolidaccedilatildeo da proposta orccedilamentaacuteria anual os valores aprovados na lei orccedilamentaacuteria vigente ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do sect 1ordm deste artigo sect 4ordm Se as propostas orccedilamentaacuterias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do sect 1ordm o Poder Executivo procederaacute aos ajustes necessaacuterios para fins de consolidaccedilatildeo da proposta orccedilamentaacuteria anual sect 5ordm Durante a execuccedilatildeo

211iacutendice de teses

orccedilamentaacuteria do exerciacutecio natildeo poderaacute haver a realizaccedilatildeo de despesas ou a assunccedilatildeo de obrigaccedilotildees que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias exceto se previamente autorizadas mediante a abertura de creacuteditos suplementares ou especiaisrdquo

4 ldquoO cenaacuterio de crise econocircmica e fiscal eacute exemplificado por dados ilustrativos constantes dos autos no sentido de que lsquoEntre os programas que tiveram as suas dotaccedilotildees reduzidas deste ano para o proacuteximo estatildeo o Minha Casa Minha Vida (de R$ 14 bilhotildees para R$ 43 bilhotildees) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Teacutecnico e Emprego ndash Pronatec (de R$ 4 bilhotildees para R$ 16 bilhatildeo) Por outro lado o Bolsa Famiacutelia que teve sua reduccedilatildeo defendida pelo relator teraacute R$ 281 bilhotildees ndash acreacutescimo de R$ 1 bilhatildeo em relaccedilatildeo a 2015 Os cortes de gastos nos oacutergatildeos federais foram feitos em relaccedilatildeo agrave proposta original do Executivo e envolvem principalmente as despesas de custeio Os gastos com pessoal por exemplo passaram de R$ 2875 bilhotildees para R$ 2773 bilhotildees Todos os trecircs Poderes aleacutem do Ministeacuterio Puacuteblico foram afetados No caso mais extremo o do Judiciaacuterio os cortes atingiram 20 do custeio Apenas os Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e da Sauacutede teratildeo mais di-nheiro disponiacutevel devido agrave destinaccedilatildeo de emendas individuais de deputados e senadores O fundo partidaacuterio tambeacutem recebeu dotaccedilatildeo extra durante a tramitaccedilatildeo da LOA mas seraacute menor em 2016 do que foi em 2015 A meta de superaacutevit de R$ 305 bilhotildees vale para todo o setor puacuteblico nacional incluindo Estados e Municiacutepios Para a Uniatildeo a economia para pagamento da diacutevida deveraacute ser de R$ 20 bilhotildees O projeto original do Orccedilamento que o Executivo entregou ao Congresso em agos-to previa um deacuteficit fiscal equivalente aos mesmos R$ 305 bilhotildeesrdquo (Trecho da ementa do presente julgamento)

5 ldquoArt 166 Os projetos de lei relativos ao plano plurianual agraves diretrizes orccedilamentaacuterias ao orccedilamento anual e aos creacuteditos adicionais seratildeo apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional na forma do regimento comum () sect 3ordm As emendas ao projeto de lei do orccedilamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso I ndash sejam compatiacuteveis com o plano pluria-nual e com a lei de diretrizes orccedilamentaacuteriasrdquo

ORDEM ECONOcircMICA E FINANCEIRADIREITO CONSTITUCIONAL

213iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 que impotildee a existecircncia de serviccedilo de empacota-

mento em supermercados sob pena de multa e interdiccedilatildeo de estabelecimento

A restriccedilatildeo ao princiacutepio da livre iniciativa (CF art 1ordm IV2) protegido pelo art 170 caput da Constituiccedilatildeo3 a pretexto de proteger os consumidores natildeo atende ao princiacutepio da proporcionalidade nas suas trecircs dimensotildees adequaccedilatildeo necessidade e proporcionalidade em sentido estrito

Em primeiro lugar a providecircncia imposta pela lei estadual eacute inadequada porque a simples presenccedila de um empacotador em supermercados natildeo eacute uma medida que aumente a proteccedilatildeo dos direitos do consumidor mas sim mera conveniecircncia em be-nefiacutecio dos eventuais clientes Dessa forma a medida imposta demonstra-se incapaz de atingir o fim a que alegadamente se propotildee

Em segundo lugar trata-se tambeacutem de medida desnecessaacuteria A obrigaccedilatildeo de con-tratar um empregado ou um fornecedor de matildeo de obra exclusivamente com essa finalidade poderia ser facilmente substituiacuteda por um processo mecacircnico

Por fim as penalidades de multa e interdiccedilatildeo do estabelecimento satildeo despropor-cionais em sentido estrito se comparadas ao conforto gerado pelo empacotamento de mercadorias eis que capazes de verdadeiramente falir um supermercado de pe-queno ou meacutedio porte

1 Lei 21301993 do Estado do Rio de Janeiro ldquoArt 1ordm Os Estabelecimentos Comerciais autodeno-minados de Supermercados sediados ou com filiais no Estado do Rio de Janeiro teratildeo que prestar serviccedilo de empacotamento dos produtos comercializados nos mesmos Paraacutegrafo uacutenico Entende-se por EMPACOTAMENTO o serviccedilo prestado por funcionaacuterio do estabelecimento que teraacute como funccedilatildeo principal a de EMPACOTADOR de colocar em sacolas os produtos que forem adquiridos pelos clientes Art 2ordm O descumprimento desta Lei acarretaraacute as seguintes penalidades I ndash Multa de 10 a 100000 UFERJs [Unidade Fiscal do Estado do Rio de Janeiro] II ndash Interdiccedilatildeo do Estabelecimen-to Art 3ordm Os estabelecimentos citados teratildeo prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicaccedilatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem econocircmica e financeira

Ȥ Princiacutepios gerais da atividade econocircmica Ȥ Livre iniciativa

ADI 907red p o ac min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 24-11-2017Informativo STF 871

214iacutendice de teses

da presente Lei para adequarem seus quadros de pessoal agraves normas aqui contidas Art 4ordm Esta Lei entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo revogadas as disposiccedilotildees em contraacuteriordquo

2 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre iniciativardquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepiosrdquo

215iacutendice de teses

Nos termos do art 178 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 as normas e os tratados

internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aeacutereas

de passageiros especialmente as Convenccedilotildees de Varsoacutevia e Montreal tecircm

prevalecircncia em relaccedilatildeo ao Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC)

O princiacutepio constitucional que impotildee a defesa do consumidor (CF arts 5ordm XXXII2 e 170 V3) natildeo impede a derrogaccedilatildeo do CDC por norma mais restritiva ainda que por lei especial A proteccedilatildeo do consumidor natildeo eacute a uacutenica diretriz a orientar a ordem econocircmica nem o uacutenico mandamento constitucional a ser observado pelo legislador

Eacute certo que a Constituiccedilatildeo incluiu a defesa do consumidor no rol dos direitos fundamentais Poreacutem o proacuteprio texto constitucional jaacute em redaccedilatildeo originaacuteria tam-beacutem determinou a observacircncia dos acordos internacionais quanto agrave ordenaccedilatildeo do transporte aeacutereo internacional

O teor do art 178 da CF eacute claro ao impor a compatibilizaccedilatildeo entre a competecircncia legislativa interna em mateacuteria de transporte internacional e o cumprimento das normas internacionais adotadas pelo Brasil na mateacuteria

A teleologia da regra eacute uniformizar o direito aeronaacuteutico a fim de viabilizar e fo-mentar o transporte internacional Como a atividade envolve necessariamente dois ou mais Estados soberanos sua execuccedilatildeo sempre se conecta pelo menos a duas ordens juriacutedicas diferentes

Assim sem a uniformizaccedilatildeo das normas aplicaacuteveis a inseguranccedila juriacutedica seria enorme ndash inclusive para os passageiros que soacute poderiam saber os seus direitos recor-rendo a complexas regras de conexatildeo e estudando a legislaccedilatildeo estrangeira aplicaacutevel

Com efeito a harmonizaccedilatildeo das normas favorece a isonomia (CF art 5ordm caput) Afinal garante que todos os consumidores recebam o mesmo tratamento por parte dos fornecedores ndash o que aliaacutes eacute previsto no proacuteprio CDC como direito baacutesico do consumidor (art 6ordm II in fine4) Dessa forma a opccedilatildeo consagrada no art 178 pres-

Direito Constitucional Ȥ Ordem econocircmica e financeira

Ȥ Princiacutepios gerais da atividade econocircmica Ȥ Ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre ndash Repercussatildeo Geral

RE 636331rel min Gilmar MendesARE 766618rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 13-11-2017Informativo STF 859

216iacutendice de teses

tigia a um soacute tempo a previsibilidade do Direito a igualdade e os compromissos firmados pela Repuacuteblica junto agrave comunidade internacional

Ademais cabe destacar que no tocante agrave aparente antinomia entre a regra do art 145 da Lei 80781990 e a regra do art 226 da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia e do art 227 da Convenccedilatildeo de Montreal para Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Internacional deve-se considerar que natildeo haacute diferenccedila de hierarquia entre os diplomas normativos em conflito

As normas internacionais em questatildeo natildeo gozam de estatura normativa suprale-gal de acordo com a orientaccedilatildeo firmada no RE 4663438 uma vez que natildeo versa sobre a disciplina dos direitos humanos

Assim a aparente antinomia deve ser solucionada pela aplicaccedilatildeo dos criteacuterios or-dinaacuterios que determinam a prevalecircncia da lei especial em relaccedilatildeo agrave lei geral e da lei posterior em relaccedilatildeo agrave lei anterior (Lei de Introduccedilatildeo agraves Normas do Direito Brasilei-ro art 2ordm sect 2ordm9)

Com efeito a anaacutelise sob ambos os criteacuterios denota a prevalecircncia das referidas convenccedilotildees internacionais porque mais recentes10 e especiais11 em relaccedilatildeo ao CDC

Diante desse quadro eacute aplicaacutevel o limite indenizatoacuterio estabelecido na Conven-ccedilatildeo de Varsoacutevia e demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil em relaccedilatildeo agraves condenaccedilotildees por dano material decorrente de extravio de bagagem em voos inter-nacionais12

Isso se deve ao fato de a limitaccedilatildeo imposta pelos acordos internacionais alcanccedilar tatildeo somente a indenizaccedilatildeo por dano material e natildeo a reparaccedilatildeo por dano moral A exclusatildeo justifica-se porque a disposiccedilatildeo do art 22 natildeo faz qualquer referecircncia agrave reparaccedilatildeo por dano moral e a imposiccedilatildeo de limites quantitativos preestabelecidos natildeo parece condizente com a proacutepria natureza do bem juriacutedico tutelado nos casos de reparaccedilatildeo por dano moral

Igualmente aplicaacutevel eacute o prazo prescricional previsto no art 2913 da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia para a accedilatildeo de responsabilidade civil no caso de acidente aeacutereo em voo internacional14

1 ldquoArt 178 A lei disporaacute sobre a ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre devendo quanto agrave ordenaccedilatildeo do transporte internacional observar os acordos firmados pela Uniatildeo aten-dido o princiacutepio da reciprocidade Paraacutegrafo uacutenico Na ordenaccedilatildeo do transporte aquaacutetico a lei estabeleceraacute as condiccedilotildees em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a navegaccedilatildeo interior poderatildeo ser feitos por embarcaccedilotildees estrangeirasrdquo

217iacutendice de teses

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXII ndash o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidorrdquo

3 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

4 ldquoArt 6ordm Satildeo direitos baacutesicos do consumidor () II ndash a educaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo sobre o consumo ade-quado dos produtos e serviccedilos asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contrataccedilotildeesrdquo

5 ldquoArt 14 O fornecedor de serviccedilos responde independentemente da existecircncia de culpa pela re-paraccedilatildeo dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos bem como por informaccedilotildees insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiccedilatildeo e riscosrdquo

6 Convenccedilatildeo de Varsoacutevia (Decreto 207041931) ldquoArtigo 22 (1) No transporte de pessoas limita--se a responsabilidade do transportador agrave importacircncia de cento e vinte e cinco mil francos por passageiro Se a indenizaccedilatildeo de conformidade com a lei do tribunal que conhecer da questatildeo puder ser arbitrada em constituiccedilatildeo de renda natildeo poderaacute o respectivo capital exceder aquele limite Entretanto por acordo especial com o transportador poderaacute o viajante fixar em mais o limite de responsabilidade (2) No transporte de mercadorias ou de bagagem despachada limita-se a res-ponsabilidade do transportador agrave quantia de duzentos e cinquenta francos por quilograma salvo declaraccedilatildeo especial de lsquointeresse na entregarsquo feita pelo expedidor no momento de confiar ao trans-portador os volumes e mediante o pagamento de uma taxa suplementar eventual Neste caso fica o transportador obrigado a pagar ateacute a importacircncia da quantia declarada salvo se provar ser esta superior ao interesse real que o expedidor tinha entrega (3) Quanto aos objetos que o viajante con-serve sob guarda limita-se a cinco mil francos por viajante a responsabilidade do transportador (4) As quantias acima indicadas consideram-se referentes ao franco francecircs constituiacutedo de sessenta e cinco e meio miligramas do ouro ao tiacutetulo de novecentos mileacutesimos de metal fino Elas se poderatildeo converter em nuacutemeros redondos na moeda nacional de cada paiacutesrdquo

7 Convenccedilatildeo de Montreal para a Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Inter-nacional (Decreto 59102006) ldquoArtigo 22 ndash Limites de Responsabilidade Relativos ao Atraso da Bagagem e da Carga 1 Em caso de dano causado por atraso no transporte de pessoas como se especifica no Artigo 19 a responsabilidade do transportador se limita a 4150 Direitos Especiais de Saque por passageiro 2 No transporte de bagagem a responsabilidade do transportador em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso se limita a 1000 Direitos Especiais de Saque por passageiro a menos que o passageiro haja feito ao transportador ao entregar-lhe a bagagem registrada uma declaraccedilatildeo especial de valor da entrega desta no lugar de destino e tenha pago uma quantia su-plementar se for cabiacutevel Neste caso o transportador estaraacute obrigado a pagar uma soma que natildeo excederaacute o valor declarado a menos que prove que este valor eacute superior ao valor real da entrega no lugar de destino 3 No transporte de carga a responsabilidade do transportador em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso se limita a uma quantia de 17 Direitos Especiais de Saque por quilograma a menos que o expedidor haja feito ao transportador ao entregar-lhe o volume uma declaraccedilatildeo especial de valor de sua entrega no lugar de destino e tenha pago uma quantia suple-

218iacutendice de teses

mentar se for cabiacutevel Neste caso o transportador estaraacute obrigado a pagar uma quantia que natildeo excederaacute o valor declarado a menos que prove que este valor eacute superior ao valor real da entrega no lugar de destino 4 Em caso de destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso de uma parte da carga ou de qualquer objeto que ela contenha para determinar a quantia que constitui o limite de responsabi-lidade do transportador somente se levaraacute em conta o peso total do volume ou volumes afetados Natildeo obstante quando a destruiccedilatildeo perda avaria ou atraso de uma parte da carga ou de um objeto que ela contenha afete o valor de outros volumes compreendidos no mesmo conhecimento aeacutereo ou no mesmo recibo ou se natildeo houver sido expedido nenhum desses documentos nos registros conservados por outros meios mencionados no nuacutemero 2 do Artigo 4 para determinar o limite de responsabilidade tambeacutem se levaraacute em conta o peso total de tais volumes 5 As disposiccedilotildees dos nuacutemeros 1 e 2 deste Artigo natildeo se aplicaratildeo se for provado que o dano eacute resultado de uma accedilatildeo ou omissatildeo do transportador ou de seus prepostos com intenccedilatildeo de causar dano ou de forma teme-raacuteria e sabendo que provavelmente causaria dano sempre que no caso de uma accedilatildeo ou omissatildeo de um preposto se prove tambeacutem que este atuava no exerciacutecio de suas funccedilotildees 6 Os limites prescritos no Artigo 21 e neste Artigo natildeo constituem obstaacuteculo para que o tribunal conceda de acordo com sua lei nacional uma quantia que corresponda a todo ou parte dos custos e outros gastos que o pro-cesso haja acarretado ao autor inclusive juros A disposiccedilatildeo anterior natildeo vigoraraacute quando o valor da indenizaccedilatildeo acordada excluiacutedos os custos e outros gastos do processo natildeo exceder a quantia que o transportador haja oferecido por escrito ao autor dentro de um periacuteodo de seis meses contados a partir do fato que causou o dano ou antes de iniciar a accedilatildeo se a segunda data eacute posteriorrdquo

8 RE 466343 rel min Cezar Peluso P DJE de 5-6-2009

9 ldquoArt 2ordm Natildeo se destinando agrave vigecircncia temporaacuteria a lei teraacute vigor ateacute que outra a modifique ou re-vogue () sect 2ordm A lei nova que estabeleccedila disposiccedilotildees gerais ou especiais a par das jaacute existentes natildeo revoga nem modifica a lei anteriorrdquo

10 ldquoDe fato embora o Decreto 20704 que promulga o texto original da Convenccedilatildeo de Varsoacutevia tenha sido publicado em 24 de novembro de 1931 as modificaccedilotildees que sucessivamente sofreu satildeo posteriores ao Coacutedigo de Defesa do Consumidorrdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

11 ldquoA Lei 8078 de 1990 disciplina a generalidade das relaccedilotildees de consumo ao passo que as referidas Convenccedilotildees disciplinam uma modalidade especial de contrato a saber o contrato de transporte aeacutereo internacional de passageirosrdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

12 ldquo() as disposiccedilotildees previstas nos acordos internacionais aqui referidos aplicam-se exclusivamente ao transporte aeacutereo internacional de pessoas bagagens ou carga A expressatildeo lsquotransporte interna-cionalrsquo eacute definida no art 1ordm da Convenccedilatildeo para Unificaccedilatildeo de Certas Regras Relativas ao Transporte Aeacutereo Internacional nos seguintes termos lsquo2 Para os fins da presente Convenccedilatildeo a expressatildeo transporte internacional significa todo transporte em que conforme o estipulado pelas partes o ponto de partida e o ponto de destino haja ou natildeo interrupccedilatildeo no transporte ou transbordo estatildeo situados seja no territoacuterio de dois Estados-partes seja no territoacuterio de um soacute Estado-parte havendo escala prevista no territoacuterio de qualquer outro Estado ainda que este natildeo seja um Estado-parte O transporte entre dois pontos dentro do territoacuterio de um soacute Estado-parte sem uma escala acordada

219iacutendice de teses

no territoacuterio de outro Estado natildeo se consideraraacute transporte internacional para os fins da presente Convenccedilatildeorsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

13 ldquoArt 29 (1) A accedilatildeo de responsabilidade deveraacute intentar-se sob pena de caducidade dentro do prazo de dois anos a contar da data de chegada ou do dia em que a aeronave devia ter chegado a seu des-tino ou do da interrupccedilatildeo do transporte (2) O prazo seraacute computado de acordo com a lei nacional do tribunal que conhecer da questatildeordquo

14 RE 297901 rel min Ellen Gracie P DJ de 31-3-2006

ORDEM SOCIALDIREITO CONSTITUCIONAL

221iacutendice de teses

Os estrangeiros residentes no Paiacutes satildeo beneficiaacuterios da assistecircncia social

prevista no art 203 V da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 uma vez atendidos os

requisitos constitucionais e legais

A Assembleia Nacional Constituinte de 19871988 imbuiacuteda de espiacuterito inclusivo e fraternal fez constar o benefiacutecio assistencial previsto no art 203 V da CF

A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar com o objetivo de confe-rir proteccedilatildeo agravequeles incapazes de garantir a subsistecircncia Os preceitos envolvidos satildeo os relativos agrave dignidade humana agrave solidariedade social agrave erradicaccedilatildeo da pobreza e agrave assistecircncia aos desamparados

O substrato do conceito de dignidade humana pode ser decomposto em trecircs ele-mentos (i) valor intriacutenseco (ii) autonomia e (iii) valor comunitaacuterio

Como ldquovalor intriacutensecordquo a dignidade requer o reconhecimento de que cada in-diviacuteduo eacute um fim em si mesmo nos termos do divulgado imperativo categoacuterico kantiano ldquoage de modo a utilizar a humanidade seja em relaccedilatildeo agrave tua proacutepria pes-soa ou qualquer outra sempre e todo o tempo como um fim e nunca meramente como um meiordquo Impede-se de um lado a funcionalizaccedilatildeo do indiviacuteduo e de outro afirma-se o valor de cada ser humano independentemente de escolhas situaccedilatildeo pessoal ou origem

Soa inequiacutevoco que deixar desamparado um ser humano desprovido dos meios materiais para garantir o proacuteprio sustento tendo em vista a situaccedilatildeo de idade avanccedila-da ou deficiecircncia representa expressa desconsideraccedilatildeo do mencionado valor

Como ldquoautonomiardquo a dignidade protege o conjunto de decisotildees e atitudes relacio-nado especificamente agrave vida de certo indiviacuteduo

Para que determinada pessoa seja capaz de mobilizar a proacutepria razatildeo em busca da construccedilatildeo de um ideal de vida boa ndash que no final das contas nos motiva a existir ndash eacute fundamental que lhe sejam fornecidas condiccedilotildees materiais miacutenimas Nesse aspecto

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Seguridade social Ȥ Assistecircncia social ndash Repercussatildeo Geral

RE 587970RG ndash Tema 173rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 22-9-2017Informativo STF 861

222iacutendice de teses

a previsatildeo do art 203 V da Carta Federal tambeacutem opera em suporte dessa concepccedilatildeo de vida digna

A ideia maior de solidariedade social foi alccedilada agrave condiccedilatildeo de princiacutepio pela Lei Fundamental A ningueacutem eacute dada a oportunidade de escolher nascer nesta quadra e nesta sociedade mas todos estatildeo unidos na construccedilatildeo de um propoacutesito comum O estrangeiro residente no Paiacutes inserido na comunidade participa do esforccedilo muacutetuo Esse laccedilo de irmandade fruto para alguns do fortuito e para outros do destino faz-nos de algum modo responsaacuteveis pelo bem de todos inclusive daqueles que ado-taram o Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e sociais nesta terra

Desde a criaccedilatildeo da naccedilatildeo brasileira a presenccedila do estrangeiro no Paiacutes foi incen-tivada e tolerada Dessa forma natildeo eacute coerente com a histoacuteria estabelecer diferen-ciaccedilatildeo tatildeo somente pela nacionalidade especialmente quando a dignidade estaacute em cheque em momento de fragilidade do ser humano ndash idade avanccedilada ou algum tipo de deficiecircncia

Vale notar natildeo existir ressalva em relaccedilatildeo ao natildeo nacional Ao reveacutes o art 5ordm ca-put da CF2 estampa o princiacutepio da igualdade e a necessidade de tratamento isonocircmi-co entre brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes O texto fundamental estabelece que ldquoa assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitarrdquo3 sem restringir os beneficiaacuterios somente aos brasileiros natos ou naturalizados

O benefiacutecio de assistecircncia social tem natureza estrita Natildeo basta a hipossuficiecircncia impotildee-se igualmente a demonstraccedilatildeo da incapacidade de buscar a soluccedilatildeo para tal situaccedilatildeo em decorrecircncia de especiais circunstacircncias individuais Essas pessoas obvia-mente natildeo podem ser colocadas em patamar de igualdade com os demais membros da sociedade Gozam de prioridade na accedilatildeo do Estado determinada pelo proacuteprio texto constitucional

O estrangeiro em situaccedilatildeo regular no Brasil com residecircncia fixa idoso portador de necessidades especiais hipossuficiente em si mesmo e presente a famiacutelia tem ga-rantido o benefiacutecio da assistecircncia social visto que inserido no meio social colabora para o desenvolvimento socioeconocircmico do Paiacutes

Por outro lado os estrangeiros em situaccedilatildeo diversa natildeo alcanccedilam a assistecircncia tendo em vista o natildeo atendimento agraves leis brasileiras Tal fato por si soacute demonstra a ausecircncia de noccedilatildeo de coletividade e de solidariedade a justificar a tutela do Estado

1 ldquoArt 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de con-tribuiccedilatildeo agrave seguridade social e tem por objetivos () V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de

223iacutendice de teses

benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a leirdquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

3 CF art 203 caput

224iacutendice de teses

A garantia constitucional da gratuidade de ensino natildeo obsta a cobranccedila por

universidades puacuteblicas de mensalidade em cursos de especializaccedilatildeo

O princiacutepio da gratuidade natildeo obriga as universidades a perceber exclusivamente recursos puacuteblicos para atender sua missatildeo institucional Ele se estende agraves tarefas de ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo e exige poreacutem que para todas as ta-refas necessaacuterias agrave plena inclusatildeo social missatildeo do direito agrave educaccedilatildeo haja recursos puacuteblicos disponiacuteveis para os estabelecimentos oficiais

Nem todas as atividades potencialmente desempenhadas pelas universidades refe-rem-se exclusivamente ao ensino A funccedilatildeo desempenhada pelas universidades eacute muito mais ampla do que as formas pelas quais elas obtecircm financiamento Haacute tambeacutem ati-vidades de pesquisa e extensatildeo que podem ser subvencionadas por recursos privados

Eacute possiacutevel agraves universidades no acircmbito de sua autonomia didaacutetico-cientiacutefica regula-mentar em harmonia com a legislaccedilatildeo as atividades destinadas preponderantemente agrave extensatildeo universitaacuteria sendo-lhes nessa condiccedilatildeo possiacutevel a instituiccedilatildeo de tarifa

Haacute no texto constitucional uma diferenciaccedilatildeo entre ldquoensinordquo ldquopesquisardquo e ldquoex-tensatildeordquo cujo tripeacute harmocircnico eacute essencial para a educaccedilatildeo de qualidade Nos termos do art 206 IV da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 a gratuidade do ensino eacute um princiacutepio aplicaacutevel a todos os estabelecimentos oficiais Para tanto conforme exige o art 212 caput da CF2 um percentual da receita puacuteblica deve ser destinado agrave ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo

A Constituiccedilatildeo no art 213 sect 2ordm3 autoriza argumentum a contrario a captaccedilatildeo de recursos destinados agrave pesquisa e agrave extensatildeo Isso porque os recursos puacuteblicos a que se refere o art 212 caput da CF tecircm destinaccedilatildeo preciacutepua agraves escolas puacuteblicas Jaacute as atividades descritas no art 213 sect 2ordm do texto constitucional natildeo necessariamente contam com recursos puacuteblicos Seria incorreto poreacutem concluir accedilodadamente que a Constituiccedilatildeo natildeo exige financiamento puacuteblico para pesquisa e extensatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Educaccedilatildeo cultura e desporto Ȥ Educaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 597854RG ndash Tema 535rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 21-9-2017Informativo STF 862

225iacutendice de teses

A indissolubilidade entre ldquoensino pesquisa e extensatildeordquo princiacutepio previsto no caput do art 207 da CF4 exige que o financiamento puacuteblico natildeo se destine exclusivamente ao ensino Para a ldquomanutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo satildeo necessaacuterios nos termos desse artigo pesquisa e extensatildeo

O regime constitucional de poacutes-graduaccedilatildeo deve derivar das exigecircncias constitucio-nais contidas no art 207 da CF Eacute impossiacutevel afirmar a partir de uma leitura estrita da Constituiccedilatildeo que as atividades de poacutes-graduaccedilatildeo satildeo abrangidas pelo conceito de manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino paracircmetro constitucional para a destina-ccedilatildeo com exclusividade dos recursos puacuteblicos

A tarefa de disciplinar quais caracteriacutesticas determinado curso assumiraacute compete ao legislador Caso a atividade preponderante se refira agrave manutenccedilatildeo e desenvolvi-mento do ensino a gratuidade deveraacute ser observada nos termos do art 206 IV da CF

Para mateacuteria relativa a ensino pesquisa e extensatildeo a competecircncia regulamentar eacute concorrente entre Uniatildeo e Estados (CF art 24 IX)5 mas tambeacutem eacute afeta agrave autono-mia universitaacuteria

No exerciacutecio de sua competecircncia para definir normas gerais (CF art 24 sect 1ordm) a Uniatildeo editou a Lei 93941996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional

Da Lei de Diretrizes e Bases eacute possiacutevel depreender ainda que os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo se destinam agrave preparaccedilatildeo para o exerciacutecio do magisteacuterio superior (arts 64 e 66) e por isso satildeo indispensaacuteveis para a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento das instituiccedilotildees de ensino (art 55) Eacute preciso observar poreacutem que apenas os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo que se destinam agrave manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino satildeo financiados pelo poder puacuteblico

Natildeo se deve ler a Constituiccedilatildeo a partir da lei Sua referecircncia no entanto exem-plifica o fato de que ao legislador eacute possiacutevel descrever as atividades que por natildeo se relacionarem com a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino natildeo dependem de recursos exclusivamente puacuteblicos sendo liacutecito pois agraves universidades perceber remu-neraccedilatildeo pelo respectivo desempenho

A elaboraccedilatildeo da lei natildeo retira das universidades a competecircncia para por meio de sua autonomia desenvolver outras atividades voltadas agrave comunidade que natildeo se relacionem precisamente com a exigecircncia constitucional da ldquomanutenccedilatildeo e desenvol-vimento do ensinordquo

As universidades natildeo satildeo completamente livres para definir suas atividades O desempenho preciacutepuo de suas funccedilotildees exige no miacutenimo a completa realizaccedilatildeo da-quelas que se relacionem com a manutenccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino Nada

226iacutendice de teses

impede que para aleacutem dessas atividades a universidade possa definir outros cursos para a comunidade cursos de extensatildeo sobretudo que embora se relacionem ao ensino guardam independecircncia em relaccedilatildeo a ele

Natildeo se aduza que porque as universidades ostentam natureza autaacuterquica ou fun-dacional somente poderiam adotar o regime tributaacuterio para a obtenccedilatildeo de receitas a implicar que o serviccedilo desempenhado passasse a ser remunerado por taxa

Em primeiro lugar a adoccedilatildeo do regime de direito puacuteblico previsto no art 37 da CF6 natildeo impotildee necessariamente que a obtenccedilatildeo de receita seja exclusivamente pela via tributaacuteria Ademais o princiacutepio da gratuidade veda precisamente a cobranccedila de prestaccedilatildeo compulsoacuteria (CF art 205)7 como ocorre nas atividades de manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino Aleacutem disso tendo em conta que as atividades extraor-dinaacuterias satildeo desempenhadas de modo voluntaacuterio por parte das universidades elas podem estabelecer uma tarifa como contraprestaccedilatildeo

Embora tenham autonomia para definir as atividades que poderatildeo ser ofertadas ao puacuteblico as universidades devem ter em conta que prestam serviccedilo puacuteblico e por-tanto devem garantir os direitos dos usuaacuterios (CF art 175 II)8 observar a modici-dade tarifaacuteria (CF art 175 III)9 e manter serviccedilo de qualidade (CF art 206 VII)10 atendidas as exigecircncias do oacutergatildeo coordenador da educaccedilatildeo (CF art 211 sect 1ordm)11 Final-mente a regulamentaccedilatildeo dessas atividades deve ainda observar o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica do ensino (CF art 206 VI)

1 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () IV ndash gratuidade do ensi-no puacuteblico em estabelecimentos oficiaisrdquo

2 ldquoArt 212 A Uniatildeo aplicaraacute anualmente nunca menos de dezoito e os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios vinte e cinco por cento no miacutenimo da receita resultante de impostos compreendida a proveniente de transferecircncias na manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensinordquo

3 ldquoArt 213 Os recursos puacuteblicos seratildeo destinados agraves escolas puacuteblicas podendo ser dirigidos a escolas comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas definidas em lei que () sect 2ordm As atividades de pesqui-sa de extensatildeo e de estiacutemulo e fomento agrave inovaccedilatildeo realizadas por universidades eou por institui-ccedilotildees de educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica poderatildeo receber apoio financeiro do Poder Puacuteblicordquo

4 ldquoArt 207 As universidades gozam de autonomia didaacutetico-cientiacutefica administrativa e de gestatildeo finan-ceira e patrimonial e obedeceratildeo ao princiacutepio de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeordquo

5 ldquoArt 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre () IX ndash educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeordquo

227iacutendice de teses

6 ldquoArt 37 A administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade mora-lidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

7 ldquoArt 205 A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalhordquo

8 ldquoArt 175 Incumbe ao poder puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou per-missatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos () II ndash os direitos dos usuaacuteriosrdquo

9 ldquoArt 175 Incumbe ao poder puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos () III ndash poliacutetica tarifaacuteriardquo

10 ldquoArt 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios () VII ndash garantia de padratildeo de qualidaderdquo

11 ldquoArt 211 A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios organizaratildeo em regime de colabo-raccedilatildeo seus sistemas de ensino sect 1ordm A Uniatildeo organizaraacute o sistema federal de ensino e o dos Territoacute-rios financiaraacute as instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas federais e exerceraacute em mateacuteria educacional funccedilatildeo redistributiva e supletiva de forma a garantir equalizaccedilatildeo de oportunidades educacionais e padratildeo miacutenimo de qualidade do ensino mediante assistecircncia teacutecnica e financeira aos Estados ao Distrito Federal e aos Municiacutepiosrdquo

228iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 de iniciativa parlamentar que determina que

os escritoacuterios de praacutetica juriacutedica de universidade estadual mantenham plan-

tatildeo criminal para atendimento nos finais de semana e feriados dos hipossu-

ficientes presos em flagrante delito

Por um lado haacute inconstitucionalidade formal por viacutecio de iniciativa (CF art 61 sect 1ordm II c2) A criaccedilatildeo de atribuiccedilotildees para as secretarias de Estado e para a Poliacutecia Ci-vil compete privativamente ao chefe do Poder Executivo estadual em observacircncia ao princiacutepio da simetria e natildeo ao parlamento3

Por outro haacute inconstitucionalidade material por ofensa agrave autonomia da instituiccedilatildeo de ensino superior prevista no art 207 da Constituiccedilatildeo Federal4 A autonomia admi-nistrativa financeira e didaacutetico-cientiacutefica5 foi ferida uma vez que ausente o assenti-mento da universidade para criaccedilatildeo ou modificaccedilatildeo do novo serviccedilo a ser prestado

Embora a autonomia universitaacuteria natildeo se revista de caraacuteter de independecircncia6 atri-buto tiacutepico dos Poderes da Repuacuteblica revela a impossibilidade de exerciacutecio de tutela ou indevida ingerecircncia no acircmago proacuteprio das suas funccedilotildees Isso assegura agrave universi-dade a discricionariedade de dispor ou propor (legislativamente) sobre sua estrutura e funcionamento administrativo bem como sobre suas atividades pedagoacutegicas

A determinaccedilatildeo de que o escritoacuterio de praacutetica juriacutedica preste serviccedilo aos finais de semana e feriados implica necessariamente a criaccedilatildeo ou ao menos a modificaccedilatildeo de atribuiccedilotildees conferidas ao corpo administrativo que serve ao curso de Direito da universidade Afinal para a promoccedilatildeo da atividade deve a universidade efetuar o re-manejamento de professores supervisores e ceder espaccedilos convenientes bem como arcar com os ocircnus decorrentes dessa nova atribuiccedilatildeo

Ademais como os atendimentos seratildeo realizados pelos acadecircmicos do curso de Direito matriculados no estaacutegio curricular obrigatoacuterio a universidade obrigatoria-mente teria que alterar as grades curriculares e os horaacuterios dos estudantes para que desenvolvessem essas atividades em regime de plantatildeo

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Educaccedilatildeo cultura e desporto Ȥ Autonomia universitaacuteria

ADI 3792rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 840

229iacutendice de teses

Natildeo se veda aqui o exerciacutecio do serviccedilo de assistecircncia juriacutedica gratuita aos necessi-tados pelos escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das instituiccedilotildees de ensino superior A ativi-dade jaacute eacute praxe na atualidade pois aleacutem de atender agraves exigecircncias de estaacutegio supervi-sionado desempenha importante papel social inclusive concretizando objetivos que as instituiccedilotildees de ensino devem promover como a indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo e a conscientizaccedilatildeo dos discentes sobre sua responsabilidade so-cial Ocorre que as atividades desenvolvidas pelos acadecircmicos do curso de Direito em decorrecircncia do estaacutegio curricular obrigatoacuterio dizem respeito agrave autonomia didaacutetico--cientiacutefica da universidade natildeo podendo ser impostas pelo Estado Entretanto nada impede que o Estado-membro realize convecircnio com a universidade para viabilizar a prestaccedilatildeo de serviccedilo de assistecircncia judiciaacuteria aos necessitados

1 Refere-se agrave Lei 88652006 do Estado do Rio Grande do Norte O diploma impugnado determina que o escritoacuterio de praacutetica juriacutedica gratuita do curso de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte deveraacute manter plantatildeo para atendimento em finais de semana e feriados nos casos de prisatildeo em flagrante

2 ldquoArt 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Congresso Nacional ao Presidente da Repuacute-blica ao Supremo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II ndash disponham sobre c) servidores puacuteblicos da Uniatildeo e Territoacuterios seu regime juriacutedico provimento de cargos estabilidade e aposentadoriardquo

3 Lei 88652006 do Estado do Rio Grande do Norte ldquoArt 2ordm A Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo da Cultura e dos Desportos deveraacute informar agrave Secretaria de Estado de Defesa Social e da Seguranccedila Puacuteblica sobre a prestaccedilatildeo do serviccedilo especificado no art 1ordm desta Lei Art 3ordm A Secretaria de Estado de Defesa Social e da Seguranccedila Puacuteblica deveraacute comunicar aos Delegados de Poliacutecia para que nos casos de manifesta hipossuficiecircncia econocircmica do preso e na ausecircncia de defensor puacuteblico consti-tuiacutedo seja imediatamente informado ao Escritoacuterio de Praacutetica Juriacutedicardquo

4 ldquoArt 207 As universidades gozam de autonomia didaacutetico-cientiacutefica administrativa e de gestatildeo fi-nanceira e patrimonial e obedeceratildeo ao princiacutepio de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeordquo

5 ADI 51 rel min Paulo Brossard P DJ de 17-9-1993

6 Precedentes RMS 22047 AgR rel min Eros Grau 1ordf T DJ de 31-3-2006 e ADI 1599 MC rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 18-5-2001

230iacutendice de teses

Eacute inconstitucional a expressatildeo ldquoem horaacuterio diverso do autorizadordquo contida

no art 254 da Lei 806919901

Ofende os arts 5ordm IX2 21 XVI3 e 220 sect 3ordm I4 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) proibir a veiculaccedilatildeo de programas de raacutedio e televisatildeo em determinados horaacuterios conside-rada a classificaccedilatildeo indicativa por idade

Natildeo haacute duacutevida de que tanto a liberdade de expressatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo como a proteccedilatildeo da crianccedila e do adolescente satildeo axiomas de envergadura constitu-cional mas a proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica delineou as regras de sopesamento desses dois valores

A plenitude do exerciacutecio da liberdade de expressatildeo como decorrecircncia imanente da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmaccedilatildeopotencializaccedilatildeo de outras liberdades constitucionais tem regulaccedilatildeo estritamente constitucional imunizando o direito de livre expressatildeo contra tentativas de disciplina ou autorizaccedilatildeo preacutevias por parte de norma hierarquicamente inferior a teor do art 220 da CF Segundo esse dispositivo a ldquomanifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer restriccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeordquo

Assim existe oacutebice constitucional ao controle preacutevio pelo poder puacuteblico do con-teuacutedo objeto de expressatildeo sem contudo retirar do emissor a responsabilidade por eventual desrespeito a direitos alheios imputados agrave comunicaccedilatildeo5

Para que ocorra a real concretizaccedilatildeo da liberdade de expressatildeo consagrada no art 5ordm IX da CF eacute preciso que haja liberdade de comunicaccedilatildeo social prevista no art 220 da CF garantindo-se a livre circulaccedilatildeo de ideias e informaccedilotildees e a comunica-ccedilatildeo livre e pluralista protegida da ingerecircncia estatal

Apesar da garantia constitucional da liberdade de expressatildeo livre de censura ou licenccedila a proacutepria Carta de 1988 conferiu agrave Uniatildeo com exclusividade no art 21 XVI

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Comunicaccedilatildeo social Ȥ Regulaccedilatildeo de diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos

ADI 2404rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 837

231iacutendice de teses

o desempenho da atividade material de ldquoexercer a classificaccedilatildeo para efeito indicativo de diversotildees puacuteblicas e de programas de raacutedio e televisatildeordquo

Essa classificaccedilatildeo dos produtos audiovisuais exercida pelas emissoras busca escla-recer informar indicar aos pais a existecircncia de conteuacutedo inadequado para as crianccedilas e os adolescentes O exerciacutecio da liberdade de programaccedilatildeo pelas emissoras impede que a exibiccedilatildeo de determinado espetaacuteculo dependa de accedilatildeo estatal preacutevia O que haacute eacute mera submissatildeo ao Ministeacuterio da Justiccedila que ocorre exclusivamente para que a Uniatildeo exerccedila sua competecircncia administrativa prevista no inciso XVI do art 21 da CF qual seja classificar para efeito indicativo as diversotildees puacuteblicas e os programas de raacutedio e televisatildeo o que natildeo significa autorizaccedilatildeo Essa atividade natildeo pode ser con-fundida com um ato de licenccedila nem confere poder agrave Uniatildeo para determinar que a exibiccedilatildeo da programaccedilatildeo somente se decirc nos horaacuterios estabelecidos pelo Ministeacuterio da Justiccedila de forma a caracterizar uma imposiccedilatildeo e natildeo uma recomendaccedilatildeo Natildeo haacute horaacuterio autorizado mas horaacuterio recomendado

Ressalte-se que permanece o dever das emissoras de raacutedio e de televisatildeo de exibir ao puacuteblico o aviso de classificaccedilatildeo etaacuteria antes e no decorrer da veiculaccedilatildeo do con-teuacutedo Tal regra estaacute prevista no paraacutegrafo uacutenico do art 766 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente sendo seu descumprimento tipificado como infraccedilatildeo administrativa pelo art 254 ora questionado Eacute importante que os oacutergatildeos competentes reforcem a necessidade de exibiccedilatildeo destacada da informaccedilatildeo sobre a faixa etaacuteria especificada no iniacutecio e durante a exibiccedilatildeo da programaccedilatildeo e em intervalos de tempo natildeo muito distantes (a cada quinze minutos por exemplo) inclusive quanto agraves chamadas da pro-gramaccedilatildeo de forma que as crianccedilas e os adolescentes natildeo sejam estimulados a assistir a programas inadequados para sua faixa etaacuteria Deve o Estado ainda conferir maior publicidade aos avisos de classificaccedilatildeo bem como desenvolver programas educativos acerca do sistema de classificaccedilatildeo indicativa divulgando para toda a sociedade a importacircncia de se fazer uma escolha refletida acerca da programaccedilatildeo ofertada ao puacuteblico infantojuvenil

Sempre seraacute possiacutevel a responsabilizaccedilatildeo judicial das emissoras de radiodifusatildeo por abusos ou eventuais danos agrave integridade das crianccedilas e dos adolescentes levando-se em conta inclusive a recomendaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila quanto aos horaacuterios em que a referida programaccedilatildeo se mostre inadequada Afinal a Constituiccedilatildeo Federal tam-beacutem atribuiu agrave lei federal a competecircncia para ldquoestabelecer meios legais que garantam agrave pessoa e agrave famiacutelia a possibilidade de se defenderem de programas ou programaccedilotildees de raacutedio e televisatildeo que contrariem o disposto no art 2217rdquo (art 220 sect 3ordm II CF)

232iacutendice de teses

1 ldquoArt 254 Transmitir atraveacutes de raacutedio ou televisatildeo espetaacuteculo em horaacuterio diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificaccedilatildeo Pena ndash multa de vinte a cem salaacuterios de referecircncia duplicada em caso de reincidecircncia a autoridade judiciaacuteria poderaacute determinar a suspensatildeo da programaccedilatildeo da emissora por ateacute dois diasrdquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () IX ndash eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedilardquo

3 ldquoArt 21 Compete agrave Uniatildeo () XVI ndash exercer a classificaccedilatildeo para efeito indicativo de diversotildees puacuteblicas e de programas de raacutedio e televisatildeordquo

4 ldquoArt 220 A manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer for-ma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer restriccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 3ordm Compete agrave lei federal I ndash regular as diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos cabendo ao Poder Puacute-blico informar sobre a natureza deles as faixas etaacuterias a que natildeo se recomendem locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre inadequadardquo

5 ADPF 130 rel min Ayres Britto P DJE de 6-11-2009

6 ldquoArt 76 As emissoras de raacutedio e televisatildeo somente exibiratildeo no horaacuterio recomendado para o puacute-blico infantojuvenil programas com finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas Pa-raacutegrafo uacutenico Nenhum espetaacuteculo seraacute apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificaccedilatildeo antes de sua transmissatildeo apresentaccedilatildeo ou exibiccedilatildeordquo

7 ldquoArt 221 A produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguintes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabeleci-dos em lei IV ndash respeito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacuteliardquo

233iacutendice de teses

Lei que regulamenta a atividade da vaquejada1 manifestaccedilatildeo cultural com

caracteriacutesticas de entretenimento eacute incompatiacutevel com o art 225 sect 1ordm VII da

Constituiccedilatildeo Federal (CF)2

A obrigaccedilatildeo do Estado de garantir a todos o pleno exerciacutecio de direitos culturais incentivando a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees (CF art 2153) natildeo dispen-sa a observacircncia da norma que veda praacuteticas que submetam os animais a crueldade (CF art 225 sect 1ordm VII)

O art 225 da CF consagra a proteccedilatildeo da fauna e da flora como modo de assegurar o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado Cuida-se de direito fundamental de terceira geraccedilatildeo fundado no valor da solidariedade de caraacuteter coletivo ou difuso dotado ldquode altiacutessimo teor de humanismo e universalidaderdquo4

Como direito de todos a manutenccedilatildeo do ecossistema tambeacutem a esses incumbe em benefiacutecio das geraccedilotildees do presente e do futuro O indiviacuteduo eacute considerado titular do direito e ao mesmo tempo destinataacuterio dos deveres de proteccedilatildeo daiacute por que en-cerra verdadeiro ldquodireito-deverrdquo fundamental5

Nesse contexto no acircmbito da ponderaccedilatildeo de direitos fundamentais a jurispru-decircncia do Supremo Tribunal Federal eacute no sentido de interpretar normas e fatos de forma mais favoraacutevel agrave proteccedilatildeo ao meio ambiente Assim demostra-se preocupaccedilatildeo maior com a manutenccedilatildeo em prol dos cidadatildeos de hoje e de amanhatilde das condiccedilotildees ecologicamente equilibradas para uma vida mais saudaacutevel e segura6

Com efeito ante os dados empiacutericos evidenciados por laudos teacutecnicos7 tem-se como indiscutiacutevel o tratamento cruel dispensado agraves espeacutecies animais envolvidas na vaquejada O ato repentino e violento de tracionar o boi pelo rabo assim como a verdadeira tortura preacutevia ndash inclusive por meio de estocadas de choques eleacutetricos ndash agrave qual eacute submetido o animal para que saia do estado de mansidatildeo e dispare em fuga a fim de viabilizar a perseguiccedilatildeo consubstanciam atuaccedilatildeo a implicar descompasso com o preconizado na Carta da Repuacuteblica

Direito Constitucional Ȥ Ordem social

Ȥ Meio ambiente Ȥ Proteccedilatildeo da fauna

ADI 4983rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 27-4-2017Informativo STF 842

234iacutendice de teses

Assim a crueldade intriacutenseca agrave vaquejada natildeo permite a prevalecircncia do valor cul-tural como resultado desejado pelo sistema de direitos fundamentais da Carta de 1988 O sentido da expressatildeo ldquocrueldaderdquo constante da parte final do inciso VII do sect 1ordm do art 225 da CF alcanccedila a tortura e os maus-tratos infringidos aos bovinos du-rante a praacutetica impugnada

1 Na praacutetica da vaquejada uma dupla de vaqueiros montados em cavalos distintos busca derrubar um touro puxando-o pelo rabo dentro de uma aacuterea demarcada

2 ldquoArt 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees sect 1ordm Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico () VII ndash proteger a fauna e a flora vedadas na forma da lei as praacuteticas que coloquem em risco sua funccedilatildeo ecoloacutegica provoquem a extinccedilatildeo de espeacutecies ou submetam os animais a crueldaderdquo

3 ldquoArt 215 O Estado garantiraacute a todos o pleno exerciacutecio dos direitos culturais e acesso agraves fontes da cultura nacional e apoiaraacute e incentivaraacute a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees culturaisrdquo

4 BONAVIDES Paulo Curso de direito constitucional 11 ed Satildeo Paulo Malheiros 2001 p 523

5 CRUZ Branca Martins da Importacircncia da constitucionalizaccedilatildeo do direito ao ambiente In BONA-VIDES Paulo et al (Orgs) Estudos de direito constitucional em homenagem a Cesar Asfor Rocha Rio de Janeiro Renovar 2009 p 202

6 RE 153531 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJ de 13-3-1998 ADI 2514 rel min Eros Grau P DJ de 9-12-2005 e ADI 1856 rel min Celso de Mello P DJE de 14-10-2011

7 O autor juntou laudos teacutecnicos que demonstram as consequecircncias nocivas agrave sauacutede dos bovinos decorrentes da traccedilatildeo forccedilada no rabo seguida da derrubada tais como fraturas nas patas ruptura de ligamentos e vasos sanguiacuteneos traumatismos e deslocamento da articulaccedilatildeo do rabo ou ateacute o arrancamento deste resultando no comprometimento da medula espinhal e dos nervos espinhais dores fiacutesicas e sofrimento mental Apresentou estudos no sentido de tambeacutem sofrerem lesotildees e danos irreparaacuteveis os cavalos utilizados na atividade tendinite tenossinovite exostose miopatias focal e por esforccedilo fraturas e osteoartrite taacutersica

DIR

EEL

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EIT

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ELEICcedilOtildeESDIREITO ELEITORAL

237iacutendice de teses

Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral natildeo podem deliberar pela

exclusatildeo dos debates de candidatos cuja participaccedilatildeo seja facultativa quando

a emissora tenha optado por convidaacute-los

O art 46 sect 5ordm da Lei 950419971 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 deve ser interpretado restritivamente com o fito de ampliar o debate poliacutetico e conferir maior densidade democraacutetica ao processo eleitoral Permitir a exclusatildeo de candida-tos convidados pela emissora de televisatildeo ou raacutedio resultaria em evidente conflito de interesses o poder de decidir sobre a participaccedilatildeo de um competidor ficaria nas matildeos de seus proacuteprios adversaacuterios que por oacutebvio natildeo tecircm nenhum estiacutemulo para conceder espaccedilo nos meios de comunicaccedilatildeo de massa a quem possa subtrair seus votos e visibilidade

Em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo dos participantes dos debates eacute vaacutelida a fixaccedilatildeo por lei de criteacuterio objetivo que conceda a parcela dos candidatos (os ldquocandidatos aptosrdquo) direito subjetivo agrave participaccedilatildeo nos debates natildeo podendo a emissora de televisatildeo ou de raacutedio a ele se opor ainda que com a concordacircncia de outros candidatos

O criteacuterio adotado pela legislaccedilatildeo brasileira tal como interpretado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assegura a participaccedilatildeo nos debates dos candidatos de parti-dos ou coligaccedilotildees que tenham representatividade miacutenima de dez deputados federais Trata-se de criteacuterio razoaacutevel que eacute coerente com as normas relativas agrave propaganda eleitoral vigentes no Paiacutes e que cumpre as finalidades constitucionais acima citadas

Todavia o legislador natildeo fechou as portas do debate poliacutetico a candidatos de par-tidos ou coligaccedilotildees que tenham menos de dez deputados federais tampouco tolheu por completo a liberdade de programaccedilatildeo das emissoras de televisatildeo e raacutedio Unindo essas duas preocupaccedilotildees a Lei 95041997 facultou que as emissoras convidem para os debates candidatos com representatividade inferior agrave exigida na lei No caso de competidores bem colocados nas pesquisas de intenccedilatildeo de voto eacute razoaacutevel concluir

Direito Eleitoral Ȥ Eleiccedilotildees

Ȥ Propaganda eleitoral Ȥ Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

ADI 5487red p o ac min Roberto BarrosoADI 5488rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 19-12-2017Informativo STF 836Informativo STF 837

238iacutendice de teses

que as emissoras teratildeo estiacutemulos para promover a sua inclusatildeo tanto como forma de aumentar a audiecircncia quanto de garantir a credibilidade do programa Com efeito a participaccedilatildeo de candidato bem colocado nas pesquisas enriquece o embate de ideias e permite que o programa reflita com maior fidelidade as tensotildees ideoloacutegicas presen-tes no debate puacuteblico em torno das propostas dos candidatos com maior percentual de intenccedilatildeo de votos

Esta eacute a interpretaccedilatildeo que jaacute se extraiacutea da legislaccedilatildeo eleitoral antes da minirrefor-ma de 2015 e que deve permanecer possiacutevel diante do atual cenaacuterio normativo Basta que se confira interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo agrave nova redaccedilatildeo do art 46 sect 5ordm da Lei 95041997 dada pela Lei 131652015 no sentido de somente possibilitar que 23 dos ldquocandidatos aptosrdquo acrescentem novos participantes ao debate ndash candidatos que natildeo tenham esse direito assegurado por lei nem tenham sido previamente con-vidados pela emissora Aleacutem disso a autonomia da empresa de raacutedio ou televisatildeo relativamente agrave convocaccedilatildeo de candidatos natildeo enquadrados no criteacuterio do caput do art 46 deve observar criteacuterios objetivos que atendam aos princiacutepios da imparcialidade e da isonomia e o direito agrave informaccedilatildeo a serem fixados pelo TSE

1 ldquoArt 46 Independentemente da veiculaccedilatildeo de propaganda eleitoral gratuita no horaacuterio definido nesta Lei eacute facultada a transmissatildeo por emissora de raacutedio ou televisatildeo de debates sobre as elei-ccedilotildees majoritaacuteria ou proporcional assegurada a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com repre-sentaccedilatildeo no Congresso Nacional de no miacutenimo cinco parlamentares e facultada a dos demais observado o seguinte () sect 5ordm Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleiccedilotildees seratildeo consideradas aprovadas as regras inclusive as que definam o nuacutemero de participantes que obtiverem a concordacircncia de pelo menos 23 (dois terccedilos) dos candidatos aptos no caso de eleiccedilatildeo majoritaacuteria e de pelo menos 23 (dois terccedilos) dos partidos ou coligaccedilotildees com candidatos aptos no caso de eleiccedilatildeo proporcionalrdquo

239iacutendice de teses

Satildeo constitucionais os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 950419971 que

disciplinam a distribuiccedilatildeo dos horaacuterios reservados agrave propaganda eleitoral

gratuita nas emissoras de raacutedio e de televisatildeo e nos canais de televisatildeo por

assinatura

Os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 95041997 em consonacircncia com a claacuteu-sula democraacutetica e com o sistema proporcional estabelecem regra de equidade resguardando o direito de acesso agrave propaganda eleitoral das minorias partidaacuterias e pondo em situaccedilatildeo de benefiacutecio natildeo odioso aquelas agremiaccedilotildees mais lastreadas na legitimidade popular Ademais ao editar os referidos dispositivos o legislador se ateve a um padratildeo equitativo de isonomia ponderando os aspectos formal e mate-rial do princiacutepio da igualdade2

Natildeo haacute falar em igualdade material entre agremiaccedilotildees partidaacuterias que contam com representantes na Cacircmara Federal e legendas que submetidas ao voto popular natildeo lograram eleger representantes para a Cacircmara dos Deputados Assim natildeo se pode exigir tratamento absolutamente igualitaacuterio entre esses partidos porque eles natildeo satildeo materialmente iguais quer do ponto de vista juriacutedico quer da representa-ccedilatildeo poliacutetica que tecircm Embora iguais no plano da legalidade natildeo satildeo iguais quanto agrave legitimidade poliacutetica

Apesar disso eacute certo que a legislaccedilatildeo natildeo pode instituir mecanismos que na praacute-tica excluam das legendas menores a possibilidade de crescimento e de consolidaccedilatildeo no contexto eleitoral devendo ser assegurado um miacutenimo razoaacutevel de espaccedilo para que esses partidos possam participar e influenciar no pleito eleitoral propiciando

Direito Eleitoral Ȥ Eleiccedilotildees

Ȥ Propaganda eleitoral Ȥ Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

ADI 5491rel min Dias ToffoliDJE de 6-9-2017ADI 5423rel min Dias Toffoli

DJE de 19-12-2017ADI 5577rel min Rosa Weber

DJE de 19-12-2017PlenaacuterioInformativo STF 836

240iacutendice de teses

inclusive a renovaccedilatildeo dos quadros poliacuteticos Dessa perspectiva o tempo outorgado proporcionalmente agrave representatividade embora dividido de forma distinta entre as agremiaccedilotildees natildeo nulifica a participaccedilatildeo de nenhuma legenda concorrente

Por outro lado o criteacuterio de divisatildeo adotado ndash proporcionalidade da representa-ccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados ndash guarda estreita relaccedilatildeo com a finalidade colimada pela representatividade proporcional Assim dado que a Cacircmara dos Deputados eacute a Casa Legislativa de representaccedilatildeo do povo pode a eleiccedilatildeo de seus membros servir de criteacuterio de afericcedilatildeo tanto quanto possiacutevel da legitimidade popular sendo legiacutetimo pressupor que a representatividade de seus membros se apresenta como medida ade-quada e razoaacutevel para a divisatildeo do tempo de acesso ao raacutedio e agrave televisatildeo

Igualmente o legislador andou bem ao estabelecer criteacuterios distintos para o caacutel-culo da representatividade das coligaccedilotildees formadas para as eleiccedilotildees majoritaacuterias e proporcionais para efeito de distribuiccedilatildeo do tempo de propaganda eleitoral gratuita considerando no caso de coligaccedilotildees para eleiccedilotildees majoritaacuterias somente os seis maio-res partidos que as compotildeem Isso porque eacute proacuteprio do sistema eleitoral majoritaacuterio refletir as correntes majoritaacuterias da sociedade O criteacuterio adotado mostra-se ademais tributaacuterio da proacutepria essecircncia desse sistema eleitoral que eacute considerar as correntes poliacuteticas da maioria De todo modo tal perspectiva contribuiraacute para que se elimine a praacutetica tatildeo comum no Brasil de as legendas mais expressivas ao lanccedilar candidatos agraves eleiccedilotildees majoritaacuterias coligarem-se com inuacutemeros partidos pequenos com o uacutenico objetivo de obter maior tempo de propaganda eleitoral gratuita no raacutedio e na TV

Eacute constitucional a expressatildeo ldquosuperior a nove deputadosrdquo constante do caput do art 46 da Lei 950419973 na redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 que assegura a par-ticipaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representaccedilatildeo superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de raacutedio ou televisatildeo

O legislador ao conferir nova redaccedilatildeo ao caput do art 46 da Lei 95041997 es-tabeleceu criteacuterio razoaacutevel de afericcedilatildeo da representatividade e da expressividade do partido poliacutetico para efeito de assegurar a participaccedilatildeo de seus candidatos nos debates eleitorais Em realidade o direito de participaccedilatildeo em debates eleitorais ndash diferente-mente da propaganda eleitoral gratuita no raacutedio e na televisatildeo ndash natildeo tem assento constitucional e pode sofrer restriccedilatildeo maior em razatildeo do formato e do objetivo desse tipo de programaccedilatildeo

Sendo assim trata-se de espaccedilo naturalmente restrito no qual no entanto deve haver a exposiccedilatildeo e o confronto de ideias com densidade tal que promova no elei-tor maior esclarecimento a respeito das ideias e das propostas dos candidatos e das

241iacutendice de teses

diferenccedilas entre essas Munido de tais informaccedilotildees o eleitor realiza o cotejo entre elas podendo assim escolher de forma mais consciente em quem votaraacute Nesse cenaacuterio o criteacuterio seletivo adotado pela norma impugnada quanto aos partidos po-liacuteticos que teratildeo assegurado o direito de seus candidatos participarem dos debates eleitorais poderaacute ateacute mesmo contribuir para a reduccedilatildeo da excessiva pulverizaccedilatildeo dos debates eleitorais

Por oacutebvio ao prever o criteacuterio de representaccedilatildeo superior a nove deputados o dis-positivo em questatildeo natildeo obstou a participaccedilatildeo nos debates de partidos poliacuteticos com menor representatividade a qual ainda eacute facultada estando a criteacuterio das emissoras de raacutedio e televisatildeo

Eacute constitucional a redaccedilatildeo dada pela Lei 131652015 ao art 46 da Lei 950419974 o qual assegura a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representaccedilatildeo superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de raacutedio ou televi-satildeo natildeo implicando em afronta agrave anterioridade eleitoral a sua incidecircncia nas eleiccedilotildees realizadas no ano de 2016

Encontra amparo no texto da Constituiccedilatildeo norma juriacutedica que contenha desi-gualaccedilatildeo natildeo odiosa como na espeacutecie em que o fator de discriacutemen ndash a observacircn-cia da proporcionalidade agrave representaccedilatildeo ndash justifica elevar o patamar miacutenimo de representaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados para fins de assegurar a participaccedilatildeo em debates eleitorais

Outrossim ao entrar em vigor a Lei 131652015 nos termos do seu art 14 na data de sua publicaccedilatildeo ndash em 29-9-2015 ndash forccediloso concluir ter sido observado o lapso temporal preacutevio de um ano exigido pela Constituiccedilatildeo Federal5 dado que as eleiccedilotildees de 2016 foram marcadas para o dia 2-10-2016 (Lei 95041997 art 1ordm caput)

A exigecircncia constitucional da anterioridade da lei eleitoral consubstancia marco temporal objetivo que tem por escopo impedir mudanccedilas abruptas na legislaccedilatildeo eleitoral como forma de assegurar o direito das minorias em particular a paridade de armas na disputa eleitoral Se por um lado o referido princiacutepio obsta que even-tual maioria parlamentar altere no periacuteodo de um ano que antecede as eleiccedilotildees as regras que lhes seratildeo aplicaacuteveis por outro informa exatamente que as regras do processo eleitoral podem sim sofrer alteraccedilotildees pelo legislador desde que respeita-da a ressalva constitucional

1 ldquoArt 47 () sect 2ordm Os horaacuterios reservados agrave propaganda de cada eleiccedilatildeo nos termos do sect 1ordm seratildeo distribuiacutedos entre todos os partidos e coligaccedilotildees que tenham candidato observados os seguintes cri-

242iacutendice de teses

teacuterios I ndash 90 (noventa por cento) distribuiacutedos proporcionalmente ao nuacutemero de representantes na Cacircmara dos Deputados considerados no caso de coligaccedilatildeo para eleiccedilotildees majoritaacuterias o resultado da soma do nuacutemero de representantes dos seis maiores partidos que a integrem e nos casos de coligaccedilotildees para eleiccedilotildees proporcionais o resultado da soma do nuacutemero de representantes de todos os partidos que a integrem II ndash 10 (dez por cento) distribuiacutedos igualitariamenterdquo

2 Precedente ADI 4430 rel min Dias Toffoli P DJE de 19-9-2013

3 ldquoArt 46 Independentemente da veiculaccedilatildeo de propaganda eleitoral gratuita no horaacuterio definido nesta Lei eacute facultada a transmissatildeo por emissora de raacutedio ou televisatildeo de debates sobre as eleiccedilotildees majoritaacuteria ou proporcional assegurada a participaccedilatildeo de candidatos dos partidos com representa-ccedilatildeo no Congresso Nacional de no miacutenimo cinco parlamentares e facultada a dos demais obser-vado o seguinterdquo

4 Idem

5 ldquoArt 16 A lei que alterar o processo eleitoral entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo natildeo se aplicando agrave eleiccedilatildeo que ocorra ateacute um ano da data de sua vigecircnciardquo

DIR

EEM

PRD

IREI

TO

EM

PRES

AR

IAL

PROPRIEDADE INTELECTUAL DIREITO EMPRESARIAL

245iacutendice de teses

A mera rapidez no tracircmite de projeto de lei1 para aprovaccedilatildeo da Lei 128532013

que alterou ou introduziu dispositivos na Lei 96101998 ao reconfigurar o

marco regulatoacuterio da gestatildeo coletiva de direitos autorais no Brasil natildeo con-

figura inconstitucionalidade formal

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo estabeleceu prazos miacutenimos para tramitaccedilatildeo de projetos de lei nem disciplinou o regime urgente de tramitaccedilatildeo Tal circunstacircncia confere espaccedilo suficiente para o legislador imprimir aos seus trabalhos a cadecircncia que julgar adequada natildeo sendo o fato de o projeto de lei ter tramitado rapidamente nas casas legislativas motivo para reconhecer qualquer maacutecula

Ademais a invocaccedilatildeo geneacuterica do art 59 da CF2 que apenas elenca as espeacutecies legislativas existentes em nosso ordenamento juriacutedico sem apontar violaccedilatildeo de ne-nhum dispositivo constitucional especiacutefico natildeo respalda a declaraccedilatildeo de inconstitu-cionalidade formal da norma

Eacute legiacutetima a promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos au-

torais com o intuito de impedir praacuteticas abusivas por entes intermediaacuterios

A criaccedilatildeo pela Lei 128532013 de obrigaccedilotildees precisas de transparecircncia para a ges-tatildeo coletiva relaciona-se com direitos difusos (dos usuaacuterios) e coletivos (dos titula-res) agrave informaccedilatildeo adequada

Sob o enfoque econocircmico o propoacutesito da medida eacute eliminar a possibilidade de que as entidades intermediaacuterias do setor ndash as associaccedilotildees e o Escritoacuterio Central de Arre-cadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo (ECAD) ndash possam a partir da vantagem informacional de que dispotildeem obter rendas extraordinaacuterias subvertendo seu papel instrumental atraveacutes de praacuteticas indiciaacuterias de comportamento oportunista pelos entes intermediaacuterios em detrimento tanto de usuaacuterios quanto de titulares de direitos autorais

Direito Empresarial Ȥ Propriedade intelectual

Ȥ Direitos autorais Ȥ Gestatildeo coletiva

ADI 5062ADI 5065rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 21-6-2017Informativo STF 845

246iacutendice de teses

Assim a novel legislaccedilatildeo procura romper com esse quadro de irregularidades na gestatildeo coletiva de direitos autorais e impedir que o intermediaacuterio se torne o seu principal beneficiaacuterio

O cacircnone da proporcionalidade encontra-se consubstanciado nos meios eleitos pelo legislador voltados agrave promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos autorais finalidade legiacutetima segundo a ordem constitucional brasileira na medida em que busca mitigar o vieacutes rentista do sistema anterior e prestigiar de forma ime-diata os interesses tanto de titulares de direitos autorais (CF art 5ordm XXVII3) quanto de usuaacuterios (CF art 5ordm XXXII4) e de forma mediata bens juriacutedicos socialmente re-levantes ligados agrave propriedade intelectual como a educaccedilatildeo e o entretenimento (CF art 6ordm5) o acesso agrave cultura (CF art 2156) e agrave informaccedilatildeo (CF art 5ordm XIV7)

Diante disso os dispositivos relativos agrave divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees concernentes agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras intelectuais notadamente muacutesicas e agrave arrecadaccedilatildeo dos respectivos direitos (Lei 96101998 art 68 sectsect 6ordm e 8ordm8 e art 98-B I II9 e paraacutegrafo uacutenico10) agrave vedaccedilatildeo da pactuaccedilatildeo de claacuteusulas de confidencialidade nos contratos de licenciamento (Lei 96101998 art 98-B VI11) e agraves penalidades em caso de descumpri-mento (Lei 96101998 art 109-A12) satildeo constitucionais Afinal foram expostos com clareza os fundamentos e os objetivos que orientaram a atuaccedilatildeo do legislador bem como a loacutegica interna das previsotildees normativas pautada por equiliacutebrio e moderaccedilatildeo

As associaccedilotildees de titulares de direitos autorais exercem atividade de interes-

se puacuteblico e devem atender a sua funccedilatildeo social

As entidades de gestatildeo coletiva de direitos autorais possuem natureza instrumen-tal de viabilizar trocas voluntaacuterias envolvendo propriedade intelectual dadas as dificuldades operacionais que marcam o setor Isso significa que tanto a produccedilatildeo de cultura (pelos autores) quanto o acesso agrave cultura (pelos usuaacuterios) dependem do hiacutegido funcionamento das associaccedilotildees arrecadadoras e distribuidoras de direitos autorais sobretudo ante os elevados custos de transaccedilatildeo

Esse relevante papel econocircmico (manter o mercado e o aumento de bem-estar de autores e usuaacuterios bem como incremento da oferta e do consumo de cultura) eacute traduzido juridicamente como a funccedilatildeo social das aludidas entidades

A transindividualidade da gestatildeo coletiva ao envolver interesses de usuaacuterios e ti-tulares justifica o interesse puacuteblico na sua existecircncia e escorreita atuaccedilatildeo e a pre-senccedila regulatoacuteria maior do Estado na criaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no funcionamento

247iacutendice de teses

das entidades que operam no setor o que se traduz na incidecircncia de disciplina juriacute-dica especiacutefica Trata-se de verdadeiras associaccedilotildees ldquonatildeo expressivasrdquo13 exemplos de ldquoassociaccedilotildees que se dedicam a viabilizar certas atividades essenciais aos associadosrdquo ocupando assim espaccedilo puacuteblico natildeo estatal14

Satildeo constitucionais as disposiccedilotildees acerca dos criteacuterios de votaccedilatildeo previstos

na Lei 96101998 que atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos auto-

rais

As regras referentes agrave limitaccedilatildeo do direito de voto aos titulares originaacuterios (Lei 96101998 art 5ordm XIV e art 97 sect 5ordm) assunccedilatildeo de cargos de direccedilatildeo nas associaccedilotildees (art 97 sect 6ordm) eleiccedilatildeo de dirigentes (art 98 sectsect 13 e 14) e criteacuterio de voto unitaacuterio no Ecad (art 99 sect 1ordm e art 99-A paraacutegrafo uacutenico) natildeo violam a liberdade de associaccedilatildeo (CF art 5ordm XVII15 XVIII16 e XIX17) a garantia da transmissibilidade dos direitos au-torais (CF art 5ordm XXVII18) o princiacutepio da isonomia (CF art 5ordm caput19) tampouco a propriedade privada (CF art 5ordm XXII20 e art 170 II21)

Os titulares originaacuterios e derivados de obras intelectuais (as editoras musicais por exemplo) satildeo diferenciados legalmente para fins de participaccedilatildeo na gestatildeo coletiva de direitos autorais O distinguishing situa-se dentro da margem de conformaccedilatildeo do legislador ordinaacuterio para disciplinar a mateacuteria uma vez que (i) natildeo existe direito constitucional expresso agrave participaccedilatildeo poliacutetica ou administrativa de titulares deriva-dos na gestatildeo coletiva ao contraacuterio dos titulares originaacuterios (CF art 5ordm XXVIII b22) (ii) as regras impugnadas natildeo impactam os direitos patrimoniais dos titulares deriva-dos que continuam a gozar das mesmas expressotildees econocircmicas de que desfrutavam ateacute entatildeo (iii) a importacircncia relativa dos titulares originaacuterios eacute maior para a criaccedilatildeo intelectual cujo estiacutemulo eacute a finalidade uacuteltima da gestatildeo coletiva (iv) eacute justificaacutevel ante os fatos apurados a existecircncia de regras voltadas a minimizar a assimetria de po-der econocircmico entre gravadoras editoras musicais ndash que possuem cataacutelogo de obras de um grande nuacutemero de autores o que lhes confere maior poder decisoacuterio do que aquele dos proacuteprios muacutesicos e compositores ndash e autores individuais os verdadeiros criadores intelectuais

248iacutendice de teses

Eacute constitucional a habilitaccedilatildeo preacutevia das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva em oacuter-

gatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal para a cobranccedila de direitos autorais23

Natildeo haacute violaccedilatildeo agrave liberdade de associaccedilatildeo (CF art 5ordm XVII a XX24) ao princiacutepio da proporcionalidade tampouco ao direito adquirido ou ao ato juriacutedico perfeito (CF art 5ordm XXXVI25) Essa exigecircncia configura tiacutepico exerciacutecio de poder de poliacutecia preventivo voltado a aferir o cumprimento das obrigaccedilotildees legais exigiacuteveis desde o nascedouro da entidade

Sob o prisma da maacutexima tempus regit actum as associaccedilotildees arrecadadoras jaacute exis-tentes devem conformar-se agrave legislaccedilatildeo em vigor sujeitando-se agraves alteraccedilotildees super-venientes agrave sua criaccedilatildeo dado que (i) as regras de transiccedilatildeo satildeo justas e (ii) natildeo existe direito adquirido a regime juriacutedico na ordem constitucional brasileira

Satildeo constitucionais as normas relativas agrave negociaccedilatildeo de preccedilos e formas de li-

cenciamento de direitos autorais (art 98 sectsect 3ordm e 4ordm26) e ao prazo miacutenimo para

comunicaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo pessoal de direitos por seus titulares (art 98

sect 1527) previstas na Lei 96101998

Inexiste afronta ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) agrave livre iniciativa (CF art 1ordm IV28) e aos princiacutepios da proporcionalidade e da realidade

A Lei 96101998 apoacutes alteraccedilotildees natildeo estipulou tabelamento de preccedilos Limitou--se a fixar paracircmetros geneacutericos (razoabilidade boa-feacute e usos do local de utilizaccedilatildeo das obras) para o licenciamento de direitos autorais no intuito de corrigir as distor-ccedilotildees propiciadas pelo poder de mercado das associaccedilotildees gestoras sem retirar dos proacuteprios titulares a prerrogativa de estabelecer o preccedilo de suas obras

A norma abriu outras modalidades de negoacutecio juriacutedico ateacute entatildeo restrito agrave de-nominada ldquolicenccedila cobertorrdquo (blanket license) ou licenciamento pelo formato global Por tal avenccedila o usuaacuterio adquire a preccedilo fixo o direito a reproduzir quantas vezes desejar e por tempo especificado toda e qualquer obra que conste do repertoacuterio da associaccedilatildeo contratante A cobranccedila natildeo eacute proporcional agrave utilizaccedilatildeo do conteuacutedo Para alguns usuaacuterios esse modelo de contrato eacute o mais adequado como ocorre em locais de frequecircncia coletiva estaccedilotildees de raacutedio e emissoras de televisatildeo que executam programaccedilatildeo alheia

Natildeo obstante o licenciamento global como uacutenica opccedilatildeo de negoacutecio eacute ineficiente uma vez que reduz a quantidade de transaccedilotildees (mutuamente beneacuteficas) realizadas

249iacutendice de teses

no mercado e gera diversos efeitos econocircmicos adversos sendo considerado praacutetica abusiva Agrave luz desses fundamentos a Lei 128532013 definiu que o licenciamento cobertor (blanket license) permanece vaacutelido desde que natildeo seja mais o uacutenico tipo de contrato disponiacutevel

Ademais o prazo miacutenimo legal para a comunicaccedilatildeo permite que a associaccedilatildeo ao proceder agrave cobranccedila de seu repertoacuterio possa excluir os valores referentes ao titular que atue pessoalmente minimizando as chances de falhas de comunicaccedilatildeo que pro-piciem duplicidade de cobranccedila tumultuem a gestatildeo coletiva e onerem o usuaacuterio Cuida-se portanto da racionalizaccedilatildeo da atividade arrecadatoacuteria bem como da pro-teccedilatildeo do usuaacuterio de obras intelectuais

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de cadastro unificado de obras e dados autorais29

Inexiste afronta ao direito constitucional agrave privacidade (CF art 5ordm X30) e ao princiacute-pio da proporcionalidade O cadastro unificado de obras justifica-se como forma de prevenir a praacutetica de fraudes e evitar a ocorrecircncia de ambiguidades quanto agrave parti-cipaccedilatildeo individual em obras com tiacutetulos similares problemas esses que vicejavam ante a pouca transparecircncia da sistemaacutetica anterior Assim confere-se publicidade aos dados que satildeo de interesse puacuteblico mas preservam-se as informaccedilotildees de cunho somente individual como valores distribuiacutedos a titular

O modelo regulatoacuterio admite a atuaccedilatildeo pessoal de cada titular na arrecadaccedilatildeo de seus direitos sendo de interesse de qualquer usuaacuterio efetivo ou potencial ter conhe-cimento acerca das participaccedilotildees individuais nas obras Eacute possiacutevel inclusive valer-se do cadastro para compatibilizar o desejo soberano de qualquer autor de ocultar sua identidade mediante o uso de pseudocircnimos ou heterocircnimos e ao mesmo tempo fazer valer seus direitos autorais

Ademais o acesso de qualquer interessado ao Poder Judiciaacuterio (CF art 5ordm XXXV31) natildeo foi violado pela possiacutevel retificaccedilatildeo do cadastro pelo Ministeacuterio da Cultura que evita a prematura judicializaccedilatildeo de eventuais conflitos aleacutem de permitir o enfrenta-mento da controveacutersia a partir de perspectiva teacutecnica e especializada

250iacutendice de teses

A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila

e distribuiccedilatildeo de direitos autorais eacute constitucional e deveraacute ser proporcional

ao custo efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada

uma delas32

As taxas de administraccedilatildeo e a fixaccedilatildeo de limites maacuteximos justificam-se pela estru-tura econocircmica do setor que apesar de franquear espaccedilo para ganhos de escala nas atividades de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo natildeo se traduzia em benefiacutecio aos titulares originaacuterios de direitos autorais

Essa sistemaacutetica representa pois uma garantia individual de cada autor em face de quaisquer maiorias associativas uma vez que limita a disposiccedilatildeo coletiva de direi-tos que satildeo intrinsecamente subjetivos reconduzindo as entidades de gestatildeo coletiva ao seu papel puramente instrumental

O limite para despesa pelas associaccedilotildees com accedilotildees que beneficiem seus associados de forma coletiva equilibra com moderaccedilatildeo a tensatildeo latente entre interesses indivi-duais e coletivos na criaccedilatildeo de obras intelectuais

Eacute constitucional dispositivo que incumbe ao ente arrecadador e agraves associa-

ccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de

perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a

transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titula-

res transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arreca-

daccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de direitos33

As associaccedilotildees surgem para viabilizar o mercado natildeo sendo admitido interromper seu hiacutegido funcionamento inclusive no momento em que deixam de operar no se-tor Por essa razatildeo a Lei 128532013 apenas zelou pela transiccedilatildeo razoaacutevel e menos traumaacutetica para usuaacuterios e titulares natildeo havendo qualquer afronta ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) e agrave garantia da propriedade imaterial e dos segredos do negoacutecio (CF art 5ordm XXIX34) O paracircmetro constitucional invocado eacute nitidamen-te voltado a exploraccedilotildees comerciais enquanto as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva natildeo exercem empresa em sentido juriacutedico sendo-lhes vedado pela legislaccedilatildeo o intuito de obter lucro

251iacutendice de teses

Eacute constitucional dispositivo que prevecirc a participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultu-

ra na prestaccedilatildeo de contas pelas associaccedilotildees de gestatildeo coletiva35

Natildeo haacute que cogitar de violaccedilatildeo agrave livre iniciativa (CF arts 1ordm IV e 170) ao direito de propriedade (CF art 5ordm XXII) ou agrave separaccedilatildeo de poderes (CF art 60 sect 4ordm III36) A prerrogativa contida no art 98-C sect 2ordm evita a judicializaccedilatildeo de questotildees juriacutedicas simples como as relativas agrave prestaccedilatildeo de contas por associaccedilotildees a associados

A mediaccedilatildeo e a arbitragem enquanto meacutetodos voluntaacuterios e alternativos agrave juris-diccedilatildeo estatal minimizam a demanda pelo Poder Judiciaacuterio e propiciam a anaacutelise dos conflitos intersubjetivos por teacutecnicos e especialistas no tema sendo a via mais ceacutelere e menos custosa de composiccedilatildeo de litiacutegios A disciplina legal apenas possibilita a so-luccedilatildeo por vias alternativas agraves judiciais sem impedir por qualquer modo o acesso agrave Justiccedila A norma evidencia o caraacuteter voluntaacuterio da submissatildeo de eventuais litiacutegios aos procedimentos alternativos de soluccedilatildeo perante oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Fe-deral dependendo sempre de anuecircncia expressa e muacutetua das partes como ressalvou o Supremo Tribunal Federal ao julgar incidentalmente vaacutelida a Lei de Arbitragem brasileira (Lei 93071996)37

Eacute constitucional dispositivo que determina que o ente arrecadador deveraacute

admitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as as-

sociaccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua

aacuterea de atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Federal38

A previsatildeo legal condiz com o texto constitucional Afinal impede que as associa-ccedilotildees jaacute estabelecidas na gestatildeo coletiva possam asfixiar a criaccedilatildeo de novas entidades mediante poliacuteticas de alijamento junto ao Ecad que ostenta por forccedila de lei o mo-nopoacutelio da arrecadaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo de direitos relativos agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais e literomusicais e de fonogramas

Tal monopoacutelio concedido pelo Estado autoriza maior intervenccedilatildeo do poder puacutebli-co sobre a dinacircmica de funcionamento da entidade a qual deixada por si jaacute provou desvirtuar-se dos propoacutesitos que justificam as suas prerrogativas

A criaccedilatildeo de novas entidades coletivas impotildee pressatildeo competitiva sobre as associa-ccedilotildees jaacute atuantes que tenderatildeo a ser mais eficientes oferecendo serviccedilo de qualidade e com maior retorno para seus associados O monopoacutelio legal que favorece o Ecad en-

252iacutendice de teses

trevisto como bocircnus sofre a incidecircncia da contrapartida consistente no dever de admi-tir toda e qualquer entidade legalmente habilitada franqueando amplo acesso ao Ecad

A legitimidade ativa ad causam para provocar a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucio-nalidade eacute reconhecida agraves entidades de classe de acircmbito nacional (CF art 103 IX39) que devem congregar associados homogecircneos40 assim compreendidos os sujeitos de direito integrantes de uma mesma categoria profissional ou econocircmica41

Por fim em hermenecircutica constitucional eacute necessaacuterio cuidado para que a inter-pretaccedilatildeo ampliativa dos princiacutepios constitucionais natildeo se convole em veto judicial absoluto agrave atuaccedilatildeo do legislador ordinaacuterio que tambeacutem eacute um inteacuterprete legiacutetimo da Constituiccedilatildeo devendo atuar com prudecircncia e cautela de modo que a alegaccedilatildeo geneacute-rica dos direitos fundamentais natildeo asfixie o espaccedilo poliacutetico de deliberaccedilatildeo coletiva Afinal garantias gerais como liberdade de iniciativa propriedade privada e liberdade de associaccedilatildeo natildeo satildeo por si incompatiacuteveis com a presenccedila de regulaccedilatildeo estatal

A propoacutesito a gestatildeo coletiva de direitos autorais e a coexistecircncia da participaccedilatildeo do Estado assumem graus variados em diferentes democracias constitucionais42 A pluralidade de regimes sugere natildeo existir um modelo uacutenico perfeito e acabado de atuaccedilatildeo do poder puacuteblico mas ao reveacutes um maior ou menor protagonismo do Esta-do dependente sempre das escolhas poliacuteticas das maiorias eleitas A experimentaccedilatildeo de diferentes modelos ao longo dos tempos eacute a essecircncia do jogo democraacutetico

1 Projeto de Lei do Senado 1292012 A Casa aprovou o substitutivo do relator senador Humberto Costa ao projeto original de autoria do senador Randolfe Rodrigues

2 ldquoArt 59 O processo legislativo compreende a elaboraccedilatildeo de I ndash emendas agrave Constituiccedilatildeo II ndash leis complementares III ndash leis ordinaacuterias IV ndash leis delegadas V ndash medidas provisoacuterias VI ndash decretos legislativos VII ndash resoluccedilotildees Paraacutegrafo uacutenico Lei complementar disporaacute sobre a elaboraccedilatildeo reda-ccedilatildeo alteraccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das leisrdquo

3 ldquoArt 5ordm () XXVII ndash aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reprodu-ccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixarrdquo

4 ldquoArt 5ordm () XXXII ndash o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidorrdquo

5 ldquoArt 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o transporte o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeordquo

6 ldquoArt 215 O Estado garantiraacute a todos o pleno exerciacutecio dos direitos culturais e acesso agraves fontes da cultura nacional e apoiaraacute e incentivaraacute a valorizaccedilatildeo e a difusatildeo das manifestaccedilotildees culturaisrdquo

253iacutendice de teses

7 ldquoArt 5ordm () XIV ndash eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da fonte quan-do necessaacuterio ao exerciacutecio profissionalrdquo

8 ldquoArt 68 Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais e fonogramas em representaccedilotildees e execuccedilotildees puacute-blicas () sect 6ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede sect 7ordm As empresas cinematograacuteficas e de radiodifusatildeo manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos individuais ou coletivos autorizan-do e disciplinando a remuneraccedilatildeo por execuccedilatildeo puacuteblica das obras musicais e fonogramas contidas em seus programas ou obras audiovisuais sect 8ordm Para as empresas mencionadas no sect 7ordm o prazo para cumprimento do disposto no sect 6ordm seraacute ateacute o deacutecimo dia uacutetil de cada mecircs relativamente agrave relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados no mecircs anteriorrdquo

9 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo I ndash dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o tipo de usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores dos direitos autorais arre-cadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios excetuando os valores distribuiacutedos aos titulares individualmente II ndash dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios aos estatutos aos regulamentos de arre-cadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees deliberativas e aos cadastros das obras e titulares que representam bem como ao montante arrecadado e distribuiacutedo e aos creacuteditos eventualmente arrecadados e natildeo distribuiacutedos sua origem e o motivo da sua retenccedilatildeordquo

10 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo () Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas pe-riodicamente em intervalo nunca superior a 6 (seis) mesesrdquo

11 ldquoArt 98-B As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho de suas funccedilotildees deveratildeo () IV ndash oferecer aos titulares de direitos os meios teacutecnicos para que possam acessar o balanccedilo dos seus creacuteditos da forma mais eficiente dentro do estado da teacutecnicardquo

12 ldquoArt 109-A A falta de prestaccedilatildeo ou a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas no cumprimento do disposto no sect 6ordm do art 68 e no sect 9ordm do art 98 sujeitaraacute os responsaacuteveis por determinaccedilatildeo da autoridade competente e nos termos do regulamento desta Lei a multa de 10 (dez) a 30 (trinta por cento) do valor que deveria ser originariamente pago sem prejuiacutezo das perdas e danos Paraacutegrafo uacutenico Aplicam-se as regras da legislaccedilatildeo civil quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees no caso de des-cumprimento pelos usuaacuterios dos seus deveres legais e contratuais junto agraves associaccedilotildees referidas neste Tiacutetulordquo

13 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de direito constitucional 10 ed Satildeo Paulo Saraiva 2015 p 308

14 RE 201819 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 27-10-2006

254iacutendice de teses

15 ldquoArt 5ordm () XVII ndash eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitarrdquo

16 ldquoArt 5ordm () XVIII ndash a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu funcionamentordquo

17 ldquoArt 5ordm () XIX ndash as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso o tracircnsito em julgadordquo

18 ldquoArt 5ordm () XXVII ndash aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reprodu-ccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixarrdquo

19 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

20 ldquoArt 5ordm () XXII ndash eacute garantido o direito de propriedaderdquo

21 ldquoArt 170 A ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna conforme os ditames da justiccedila social observados os seguintes princiacutepios () II ndash propriedade privadardquo

22 ldquoArt 5ordm () XXVIII ndash satildeo assegurados nos termos da lei () b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aprovei-tamento econocircmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativasrdquo

23 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos sect 1ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute liacutecito para as associaccedilotildees que obtiverem habilitaccedilatildeo em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal nos termos do art 98-Ardquo

24 ldquoArt 5ordm () XX ndash ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer associadordquo

25 ldquoArt 5ordm () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

26 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 3ordm Caberaacute agraves as-sociaccedilotildees no interesse dos seus associados estabelecer os preccedilos pela utilizaccedilatildeo de seus repertoacuterios considerando a razoabilidade a boa-feacute e os usos do local de utilizaccedilatildeo das obras sect 4ordm A cobranccedila seraacute sempre proporcional ao grau de utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas pelos usuaacuterios considerando a importacircncia da execuccedilatildeo puacuteblica no exerciacutecio de suas atividades e as particularidades de cada seg-mento conforme disposto no regulamento desta Leirdquo

27 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 15 Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos referidos no caput e no sect 3ordm deste artigo mediante comunicaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo a que estiverem filiados com ateacute 48 (quarenta e oito) horas de antecedecircncia da sua praacuteticardquo

255iacutendice de teses

28 ldquoArt 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos () IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre iniciativardquo

29 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 6ordm As associaccedilotildees deveratildeo manter um cadastro centralizado de todos os contratos declaraccedilotildees ou documentos de qualquer natureza que comprovem a autoria e a titularidade das obras e dos fo-nogramas bem como as participaccedilotildees individuais em cada obra e em cada fonograma prevenindo o falseamento de dados e fraudes e promovendo a desambiguaccedilatildeo de tiacutetulos similares de obras sect 7ordm As informaccedilotildees mencionadas no sect 6ordm satildeo de interesse puacuteblico e o acesso a elas deveraacute ser dis-ponibilizado por meio eletrocircnico a qualquer interessado de forma gratuita permitindo-se ainda ao Ministeacuterio da Cultura o acesso contiacutenuo e integral a tais informaccedilotildees sect 8ordm Mediante comunicaccedilatildeo do interessado e preservada a ampla defesa e o direito ao contraditoacuterio o Ministeacuterio da Cultura po-deraacute no caso de inconsistecircncia nas informaccedilotildees mencionadas no sect 6ordm deste artigo determinar sua retificaccedilatildeo e demais medidas necessaacuterias agrave sua regularizaccedilatildeo conforme disposto em regulamentordquo

30 ldquoArt 5ordm () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegu-rado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

31 ldquoArt 5ordm () XXXV ndash a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direitordquo

32 Lei 96101998 ldquoArt 98 Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de que trata o art 97 tornam-se man-dataacuterias de seus associados para a praacutetica de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudi-cial de seus direitos autorais bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos () sect 12 A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila e distribuiccedilatildeo de direitos autorais deveraacute ser proporcional ao custo efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada uma delasrdquo

33 Lei 96101998 ldquoArt 99 A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais e literomusicais e de fonogramas seraacute feita por meio das associaccedilotildees de gestatildeo cole-tiva criadas para este fim por seus titulares as quais deveratildeo unificar a cobranccedila em um uacutenico escri-toacuterio central para arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo que funcionaraacute como ente arrecadador com personali-dade juriacutedica proacutepria e observaraacute os sectsect 1ordm a 12 do art 98 e os arts 98-A 98-B 98-C 99-B 100 100-A e 100-B () sect 7ordm Cabe ao ente arrecadador e agraves associaccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titulares transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de direitosrdquo

34 ldquoArt 5ordm () XXIX ndash a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecno-loacutegico e econocircmico do Paiacutesrdquo

35 Lei 96101998 ldquoArt 98-C As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestar con-tas dos valores devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados sect 1ordm O direito agrave pres-taccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamente pelo associado sect 2ordm Se as contas natildeo forem prestadas

256iacutendice de teses

na forma do sect 1ordm o pedido do associado poderaacute ser encaminhado ao Ministeacuterio da Cultura que apoacutes sua apreciaccedilatildeo poderaacute determinar a prestaccedilatildeo de contas pela associaccedilatildeo na forma do regulamentordquo

36 ldquoArt 60 A Constituiccedilatildeo poderaacute ser emendada mediante proposta () sect 4ordm Natildeo seraacute objeto de deli-beraccedilatildeo a proposta de emenda tendente a abolir () III ndash a separaccedilatildeo dos Poderesrdquo

37 SE 5206 AgR rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 30-4-2004

38 Lei 96101998 ldquoArt 99-A O ente arrecadador de que trata o caput do art 99 deveraacute admitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as associaccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua aacuterea de atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal na forma do art 98-A Paraacutegrafo uacutenico As deliberaccedilotildees quanto aos criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos recursos arrecadados seratildeo tomadas por meio do voto unitaacuterio de cada associaccedilatildeo que integre o ente arrecadadorrdquo

39 ldquoArt 103 Podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidade e a accedilatildeo declaratoacuteria de constitucio-nalidade () IX ndash confederaccedilatildeo sindical ou entidade de classe de acircmbito nacionalrdquo

40 ADI 42 rel min Paulo Brossard P DJ de 2-4-1993

41 In casu a Uniatildeo Brasileira de Compositores revela homogeneidade da classe formada por seus mem-bros pertencentes agrave categoria econocircmica diferenciada que compreende os titulares de direitos auto-rais e conexos cujas obras estatildeo submetidas agrave execuccedilatildeo puacuteblica e sujeitas agrave gestatildeo coletiva setor da vida social alvo de profundas transformaccedilotildees a partir da ediccedilatildeo da Lei 128532013

42 GERVAIS Daniel (Org) Collective Management of Copyright and Related Rights Alphen aan Den Rijn Kluwer Law International 2nd Edition 2010

DIR

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DIacuteVIDA PUacuteBLICA DIREITO FINANCEIRO

259iacutendice de teses

Eacute constitucional condicionar o resgate antecipado de tiacutetulos da diacutevida puacutebli-

ca emitidos em favor das instituiccedilotildees de ensino superior agrave satisfaccedilatildeo de suas

obrigaccedilotildees previdenciaacuterias

Tal medida tem como objetivo excluir da possibilidade de acesso ao creacutedito ime-diato dos valores correspondentes a tais certificados as entidades que apresentem deacutebitos com a previdecircncia Antes de agressiva ao texto constitucional essa restriccedilatildeo corresponde a atitude de necessaacuteria prudecircncia tendente a evitar que devedores da previdecircncia ganhem acesso antecipado a recursos do Tesouro Nacional1

Ademais essa condiccedilatildeo natildeo contraria nem restringe o direito dessas instituiccedilotildees de provocar o Poder Judiciaacuterio para questionar qualquer obrigaccedilatildeo previdenciaacuteria garantidos tambeacutem os direitos processuais ao contraditoacuterio e agrave ampla defesa

Diante disso foi declarada a constitucionalidade do art 12 caput da Lei 1026020012

1 ADI 2545 MC rel min Ellen Gracie P DJ de 7-2-2003

2 ldquoArt 12 A Secretaria do Tesouro Nacional fica autorizada a resgatar antecipadamente mediante solicitaccedilatildeo formal do Fies e atestada pelo INSS os certificados com data de emissatildeo ateacute 10 de no-vembro de 2000 em poder de instituiccedilotildees de ensino que na data de solicitaccedilatildeo do resgate tenham satisfeito as obrigaccedilotildees previdenciaacuterias correntes inclusive os deacutebitos exigiacuteveis constituiacutedos inscri-tos ou ajuizados e que atendam concomitantemente as seguintes condiccedilotildeesrdquo

Direito Financeiro Ȥ Diacutevida puacuteblica

Ȥ Resgate Ȥ Requisitos

ADI 2545rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 847

DIR

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DIREITO PENAL INTERNACIONALDIREITO INTERNACIONAL

262iacutendice de teses

Em caso de reingresso de extraditando foragido natildeo eacute necessaacuteria nova deci-

satildeo jurisdicional colegiada acerca da entrega basta a emissatildeo de ordem judi-

cial pelo relator do processo

A avaliaccedilatildeo jurisdicional da extradiccedilatildeo na forma do art 102 I g da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 jaacute foi realizada por ocasiatildeo da primeira entrega Natildeo estaacute evidente que a CF garanta uma segunda avaliaccedilatildeo jurisdicional em caso de reingresso inde-vido no territoacuterio nacional

Aleacutem disso a legislaccedilatildeo infraconstitucional de regecircncia [art 932 da Lei 68151980 (Estatuto do Estrangeiro3) e art 984 da Lei 134452017 (Lei de Migraccedilatildeo)] dispotildee que o requerimento para nova entrega dispensa formalidades sendo desnecessaacuterio instruiacute-lo com informaccedilotildees sobre o fato e a legislaccedilatildeo aplicaacutevel No entanto embora os referidos dispositivos tratem da nova entrega como procedimento administrativo verifica-se a necessidade de ordem judicial para a prisatildeo do estrangeiro (CF art 5ordm LXI5 e Lei de Migraccedilatildeo arts 486 e 847)

Por fim cabe destacar que haacute mateacuterias defensivas que podem ser debatidas no procedimento de nova entrega como ldquoa identidade da pessoa reclamadardquo (Estatuto do Estrangeiro art 85 sect 1ordm8 e Lei de Migraccedilatildeo art 91 sect 1ordm9) A simplificaccedilatildeo do procedimento apenas inverte o ocircnus da alegaccedilatildeo Incumbe agrave defesa trazer a juiacutezo e demonstrar as alegaccedilotildees de seu interesse

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo caben-do-lhe I ndash processar e julgar originariamente () g) a extradiccedilatildeo solicitada por Estado estrangeirordquo

2 ldquoArt 93 O extraditando que depois de entregue ao Estado requerente escapar agrave accedilatildeo da Justiccedila e homiziar-se no Brasil ou por ele transitar seraacute detido mediante pedido feito diretamente por via diplomaacutetica e de novo entregue sem outras formalidadesrdquo

3 A Lei 68151980 (Estatuto do Estrangeiro) foi revogada pela Lei 134452017 (Lei de Migraccedilatildeo)

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1225 AgRrel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 7-12-2017Informativo STF 885

263iacutendice de teses

4 ldquoArt 98 O extraditando que depois de entregue ao Estado requerente escapar agrave accedilatildeo da Justiccedila e homiziar-se no Brasil ou por ele transitar seraacute detido mediante pedido feito diretamente por via diplomaacutetica ou pela Interpol e novamente entregue sem outras formalidadesrdquo

5 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXI ndash ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em leirdquo

6 ldquoArt 48 Nos casos de deportaccedilatildeo ou expulsatildeo o chefe da unidade da Poliacutecia Federal poderaacute repre-sentar perante o juiacutezo federal respeitados nos procedimentos judiciais os direitos agrave ampla defesa e ao devido processo legalrdquo

7 ldquoArt 84 Em caso de urgecircncia o Estado interessado na extradiccedilatildeo poderaacute previamente ou conjun-tamente com a formalizaccedilatildeo do pedido extradicional requerer por via diplomaacutetica ou por meio de autoridade central do Poder Executivo prisatildeo cautelar com o objetivo de assegurar a executorieda-de da medida de extradiccedilatildeo que apoacutes exame da presenccedila dos pressupostos formais de admissibili-dade exigidos nesta Lei ou em tratado deveraacute representar agrave autoridade judicial competente ouvido previamente o Ministeacuterio Puacuteblico Federalrdquo

8 ldquoArt 85 Ao receber o pedido o Relator designaraacute dia e hora para o interrogatoacuterio do extraditando e conforme o caso dar-lhe-aacute curador ou advogado se natildeo o tiver correndo do interrogatoacuterio o prazo de dez dias para a defesa sect 1ordm A defesa versaraacute sobre a identidade da pessoa reclamada defeito de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradiccedilatildeordquo

9 ldquoArt 91 Ao receber o pedido o relator designaraacute dia e hora para o interrogatoacuterio do extraditando e conforme o caso nomear-lhe-aacute curador ou advogado se natildeo o tiver sect 1ordm A defesa a ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias contado da data do interrogatoacuterio versaraacute sobre a identidade da pessoa reclamada defeito de forma de documento apresentado ou ilegalidade da extradiccedilatildeordquo

264iacutendice de teses

A anuecircncia do extraditando com o pedido do Estado requerente poderaacute sur-

tir efeitos juriacutedicos para fins de deferimento da extradiccedilatildeo desde que essa

possibilidade esteja prevista em norma convencional pertinente e obedeccedila agraves

formalidades exigidas

Em regra o Supremo Tribunal Federal (STF) tem proclamado a irrenunciabilida-de em face de nosso ordenamento positivo das garantias juriacutedicas que se revelam inerentes ao processo extradicional Mostra-se irrelevante nesse contexto a mera declaraccedilatildeo do extraditando de que deseja ser imediatamente entregue agrave Justiccedila do Estado requerente1

Entretanto a convenccedilatildeo de extradiccedilatildeo que preveja tal possibilidade qualifica-se como verdadeira lex specialis em face da legislaccedilatildeo domeacutestica brasileira o que lhe atribui precedecircncia juriacutedica sobre o Estatuto do Estrangeiro (Lei 68151980) em hi-poacuteteses nas quais se verifique a configuraccedilatildeo de eventual omissatildeo ou de antinomia com o direito positivo interno de nosso paiacutes

Nada obstante a anuecircncia do extraditando natildeo exonera em princiacutepio o STF do dever de efetuar riacutegido controle de legalidade em obediecircncia ao princiacutepio constitu-cional do devido processo legal

Nesse sentido devem estar satisfeitos todos os demais requisitos e condiccedilotildees a que alude o Estatuto do Estrangeiro natildeo podendo ocorrer ademais quaisquer dos fatores de vedaccedilatildeo inscritos tanto na Lei 68151980 quanto na convenccedilatildeo pertinente

1 Ext 1407 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 22-2-2016

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1476 QOrel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 20-10-2017Informativo STF 864

265iacutendice de teses

O recebimento do pedido de extradiccedilatildeo natildeo constitui causa interruptiva da

prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria salvo disposiccedilatildeo expressa em tratado es-

peciacutefico1 2 e 3

O Coacutedigo Penal (CP) brasileiro e a Lei 68151980 natildeo preveem como causa inter-ruptiva da prescriccedilatildeo a apresentaccedilatildeo do pedido de extradiccedilatildeo

Dessa feita agrave miacutengua de previsatildeo em tratado especiacutefico natildeo haacute por forccedila do princiacutepio da legalidade estrita como se criar um marco interruptivo em desfavor do extraditando

A prisatildeo preventiva para fins de extradiccedilatildeo executoacuteria natildeo constitui causa

interruptiva da prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria do Estado requerente

Embora nos termos do art 117 V do CP4 o iniacutecio ou a continuaccedilatildeo do cumpri-mento da pena interrompam a prescriccedilatildeo mesmo em se tratando de extradiccedilatildeo executoacuteria a prisatildeo preventiva natildeo perde sua natureza cautelar

Essa espeacutecie de prisatildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade para o processo de extra-diccedilatildeo destinada em sua preciacutepua funccedilatildeo instrumental a assegurar a execuccedilatildeo de eventual ordem de extradiccedilatildeo5

Logo natildeo se trata de prisatildeo para execuccedilatildeo da pena imposta ao extraditando no estrangeiro mas de hipoacutetese diversa que busca apenas viabilizar o proacuteprio procedi-mento extradicional

1 Ext 1261 rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 19-9-2013

2 Sobre o tema o Tratado de Extradiccedilatildeo firmado entre a Repuacuteblica Federativa do Brasil e a Repuacuteblica Italiana promulgado pelo Decreto 8631993 cujo art 3ordm 1 b determina que a extradiccedilatildeo natildeo seraacute concedida ldquose na ocasiatildeo do recebimento do pedido segundo a lei de uma das Partes houver ocorrido prescriccedilatildeo do crime ou da penardquo

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1346 EDrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 13-10-2017Informativo STF 838

266iacutendice de teses

3 Ext 1359 rel min Dias Toffoli decisatildeo monocraacutetica DJE de 2-3-2016

4 ldquoArt 117 O curso da prescriccedilatildeo interrompe-se () IV ndash pela publicaccedilatildeo da sentenccedila ou acoacuterdatildeo condenatoacuterios recorriacuteveisrdquo

5 Ext 579 QO rel min Celso de Mello P DJ de 10-9-1993

267iacutendice de teses

A circunstacircncia de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados

ao extraditando como de lesa-humanidade natildeo afasta a sua prescriccedilatildeo

O Estado brasileiro natildeo subscreveu a Convenccedilatildeo sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade muito menos aderiu a ela aleacutem disso apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibili-dade da pretensatildeo estatal de punir1

Ademais ldquoa satisfaccedilatildeo da exigecircncia concernente agrave dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicionalrdquo2

Nesse sentido tanto o Estatuto do Estrangeiro (art 77 VI)3 quanto o proacuteprio tratado de extradiccedilatildeo firmado entre o Brasil e o Estado requerente vedam categori-camente a extradiccedilatildeo quando extinta a punibilidade pela prescriccedilatildeo agrave luz do ordena-mento juriacutedico brasileiro ou do Estado requerente

Por fim o indeferimento do pedido de extradiccedilatildeo com base nesses fundamentos natildeo ofende o art 27 da Convenccedilatildeo de Viena sobre Direito dos Tratados (Decreto 70302009)4 Afinal natildeo se trata de invocaccedilatildeo de limitaccedilotildees de direito interno para justificar o inadimplemento do tratado de extradiccedilatildeo firmado entre o Brasil e o Es-tado requerente mas sim de simples incidecircncia de limitaccedilatildeo veiculada pelo proacuteprio tratado o qual veda a concessatildeo da extradiccedilatildeo ldquoquando a accedilatildeo ou a pena jaacute estiver prescrita segundo as leis do Estado requerente ou requeridordquo5

1 Voto do ministro Celso de Mello na ADPF 153 rel min Eros Grau P DJE de 6-8-2010

2 Ext 683 rel min Celso de Mello P DJE de 21-11-2008

3 ldquoArt 77 Natildeo se concederaacute a extradiccedilatildeo quando () VI ndash estiver extinta a punibilidade pela prescri-ccedilatildeo segundo a lei brasileira ou a do Estado requerenterdquo (A Lei 68151980 ndash Estatuto do Estrangei-ro ndash foi revogada pela Lei 134452017 ndash Lei de Migraccedilatildeo)

Direito Internacional Ȥ Direito Penal Internacional

Ȥ Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal Ȥ Extradiccedilatildeo

Ext 1362red p o ac min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 5-9-2017Informativo STF 846

268iacutendice de teses

4 ldquoArtigo 27 Direito Interno e Observacircncia de Tratados Uma parte natildeo pode invocar as disposiccedilotildees de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado Esta regra natildeo prejudica o artigo 46rdquo

5 Decreto 29501938 ldquoArtigo III Natildeo seraacute concedida a extradiccedilatildeo () c) quando a accedilatildeo ou a pena jaacute estiver prescrita segundo as leis do Estado requerente ou requeridordquo

DIR

EPE

NA

DIR

EIT

O

PEN

AL

PENASDIREITO PENAL

271iacutendice de teses

Estabelecida a pena-base no miacutenimo legal porque favoraacuteveis todas as cir-

cunstacircncias judiciais a imposiccedilatildeo de regime inicial mais grave revela quadro

de descompasso com a legislaccedilatildeo penal

A dosimetria da pena aleacutem de natildeo admitir soluccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas supotildee como pressuposto de legitimidade adequada fundamentaccedilatildeo racional re-vestida dos predicados de logicidade harmonia e proporcionalidade com os dados empiacutericos em que deve se basear Assim a fixaccedilatildeo do regime inicial de cumprimen-to da pena faz parte do processo de individualizaccedilatildeo da pena tendo no acircmbito do Coacutedigo Penal (CP) interpretaccedilatildeo sistemaacutetica dos arts 331 e 592 ou seja a integraccedilatildeo do criteacuterio referente ao quantum da pena e os vetores subjetivos relacionados agraves circunstacircncias judiciais

Quando aleacutem de o quantum da pena permitir a imposiccedilatildeo de regime inicial mais brando o reacuteu for primaacuterio e a pena-base for fixada no miacutenimo legal impotildee-se a eleiccedilatildeo do regime prisional mais adequado Ademais em prol do princiacutepio da legali-dade deve haver criteriosa e coerente observacircncia dos limites impostos pelo legisla-dor ordinaacuterio3

A estreita correlaccedilatildeo entre as circunstacircncias judiciais e o regime de pena consta expressamente da exposiccedilatildeo de motivos do CP4 Se o julgador ldquoconsiderou todos os elementos do art 59 favoraacuteveis estabelecendo a pena no patamar miacutenimo tambeacutem o regime deve merecer idecircntico criteacuterio determinando-se o mais brando possiacutevelrdquo5

Implica manifesto ldquocontrassenso ter sido a pena da paciente fixada no patamar miacutenimo legal por inexistecircncia de motivos haacutebeis agrave sua majoraccedilatildeo e ao mesmo tem-po assentar-se o regime mais gravoso em torno de proposiccedilotildees natildeo cogitadas na primeira fase da dosimetriardquo6

Igualmente no acircmbito do Superior Tribunal de Justiccedila a interpretaccedilatildeo consolida-da revertida no Verbete 440 da Suacutemula do STJ orienta que ldquofixada a pena-base no miacute-

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

RHC 135298red p o ac min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 8-8-2017Informativo STF 844

272iacutendice de teses

nimo legal eacute vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o ca-biacutevel em razatildeo da sanccedilatildeo imposta com base apenas na gravidade abstrata do delitordquo

A justificativa adotada pelo magistrado exprime as elementares do delito e revela a opiniatildeo do julgador sobre a gravidade do delito em absoluta desconformidade com o Enunciado 718 da Suacutemula do Supremo Tribunal Federal7

1 ldquoArt 33 A pena de reclusatildeo deve ser cumprida em regime fechado semiaberto ou aberto A de detenccedilatildeo em regime semiaberto ou aberto salvo necessidade de transferecircncia a regime fechado () sect 2ordm As penas privativas de liberdade deveratildeo ser executadas em forma progressiva segundo o meacuterito do condenado observados os seguintes criteacuterios e ressalvadas as hipoacuteteses de transferecircncia a regime mais rigoroso a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deveraacute comeccedilar a cumpri-la em regime fechado b) o condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e natildeo exceda a 8 (oito) poderaacute desde o princiacutepio cumpri-la em regime semiaberto c) o condenado natildeo reincidente cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos poderaacute desde o iniacutecio cumpri-la em regime aberto sect 3ordm A determinaccedilatildeo do regime inicial de cumprimento da pena far-se-aacute com obser-vacircncia dos criteacuterios previstos no art 59 deste Coacutedigordquo

2 ldquoArt 59 O juiz atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamento da viacutetima estabeleceraacute conforme seja necessaacuterio e suficiente para reprovaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do crimerdquo

3 HC 121939 red p o ac min Edson Fachin 1ordf T DJE de 5-5-2016 RHC 125435 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 20-8-2015 HC 113577 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 25-11-2015 e HC 83605 rel min Ellen Gracie 2ordf T DJE de 23-4-2004

4 Exposiccedilatildeo de Motivos 211 de 9 de maio de 1983 (exposiccedilatildeo de motivos do CP) ldquo34 A opccedilatildeo pelo regime inicial da execuccedilatildeo cabe pois ao juiz da sentenccedila que o estabeleceraacute no momento da fixaccedilatildeo da pena de acordo com os criteacuterios estabelecidos no art 59 relativos agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social e agrave personalidade do agente bem como aos motivos e circunstacircncias do crimerdquo

5 NUCCI Guilherme de Souza Individualizaccedilatildeo da pena 5 ed Rio de Janeiro Forense 2014 p 260

6 HC 99996 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 22-11-2010

7 ldquoA opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime natildeo constitui motivaccedilatildeo idocircnea para a imposiccedilatildeo de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicadardquo

273iacutendice de teses

O condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 anos e natildeo exceda a

8 anos tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (CP

art 33 sect 2ordm b) caso as circunstacircncias judiciais do art 59 lhe forem favoraacuteveis

A imposiccedilatildeo de regime de cumprimento de pena mais gravoso deve ser fundamen-tada atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamento da viacutetima (CP art 33 sect 3ordm1)

Nessa linha conclui-se que ldquoa hediondez ou a gravidade abstrata do delito natildeo obriga por si soacute o regime prisional mais gravoso pois o juiacutezo em atenccedilatildeo aos princiacute-pios constitucionais da individualizaccedilatildeo da pena e da obrigatoriedade de fundamen-taccedilatildeo das decisotildees judiciais deve motivar o regime imposto observando a singulari-dade do caso concretordquo2

Por fim ldquoafigura-se inadmissiacutevel por contrastar com as Suacutemulas 7183 e 7194 do Supremo Tribunal Federal a fixaccedilatildeo do regime inicial mais gravoso com base na mera opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crimerdquo5

1 ldquoArt 33 A pena de reclusatildeo deve ser cumprida em regime fechado semiaberto ou aberto A de detenccedilatildeo em regime semiaberto ou aberto salvo necessidade de transferecircncia a regime fechado () sect 3ordm A determinaccedilatildeo do regime inicial de cumprimento da pena far-se-aacute com observacircncia dos criteacuterios previstos no art 59 deste Coacutedigordquo

2 HC 133028 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 5-8-2016

3 ldquoA opiniatildeo do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime natildeo constitui motivaccedilatildeo idocircnea para a imposiccedilatildeo de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicadardquo

4 ldquoA imposiccedilatildeo do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige moti-vaccedilatildeo idocircneardquo

5 RHC 119893 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 19-12-2014

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

HC 140441rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-5-2017Informativo STF 859

274iacutendice de teses

Natildeo eacute possiacutevel reconhecer o aumento da pena-base diante da culpabilidade

reconhecida meramente por consciecircncia da ilicitude

A consciecircncia da ilicitude eacute pressuposto da culpabilidade ndash art 21 Coacutedigo Penal (CP)1 ndash e portanto circunstacircncia inidocircnea agrave exasperaccedilatildeo da pena

A existecircncia de inqueacuteritos policiais ou de accedilotildees penais sem tracircnsito em julga-

do natildeo pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria

da pena

Em observacircncia ao princiacutepio constitucional da natildeo culpabilidade (CF art 5ordm LVII2) somente a condenaccedilatildeo penal transitada em julgado pode legitimar a consideraccedilatildeo de o reacuteu ostentar o status juriacutedico-penal de condenado com todas as consequecircncias legais daiacute decorrentes3

Assim ldquoa mera sujeiccedilatildeo de algueacutem a simples investigaccedilotildees policiais (arquivadas ou natildeo) ou a persecuccedilotildees criminais ainda em curso natildeo basta soacute por si ante a inexis-tecircncia em tais situaccedilotildees de condenaccedilatildeo penal transitada em julgado para justificar o reconhecimento de que o reacuteu natildeo possui bons antecedentesrdquo4

1 ldquoArt 21 O desconhecimento da lei eacute inescusaacutevel O erro sobre a ilicitude do fato se inevitaacutevel isenta de pena se evitaacutevel poderaacute diminuiacute-la de um sexto a um terccedilordquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

3 RE 591054 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 26-2-2015

4 RHC 113381 rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 20-2-2014

Direito Penal Ȥ Penas

Ȥ Aplicaccedilatildeo da pena Ȥ Dosimetria da pena

HC 122940rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 24-4-2017Informativo STF 851

CRIMES CONTRA O PATRIMOcircNIODIREITO PENAL

276iacutendice de teses

No crime de furto (CP art 155) a circunstacircncia ldquorompimento de obstaacuteculordquo

deve ser utilizada alternativamente ou como qualificadora do crime ou como

causa de aumento da pena

Configura bis in idem a utilizaccedilatildeo da circunstacircncia de rompimento de obstaacuteculo para qualificar o delito de furto (CP art 155 sect 4ordm1) e para aumentar a pena-base como circunstacircncias judiciais na primeira fase da dosimetria (CP art 59)

1 ldquoArt 155 Subtrair para si ou para outrem coisa alheia moacutevel () sect 4ordm A pena eacute de reclusatildeo de dois a oito anos e multa se o crime eacute cometido I ndash com destruiccedilatildeo ou rompimento de obstaacuteculo agrave subtraccedilatildeo da coisardquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra o patrimocircnio

Ȥ Furto Ȥ Furto qualificado

HC 122940rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 24-4-2017Informativo STF 851

277iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Crimes contra o patrimocircnio

Ȥ Furto Ȥ Causa de aumento de pena

Eacute legiacutetima a incidecircncia da causa de aumento de pena por crime cometido

durante o repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm1) no caso de furto praticado na

forma qualificada (CP art 155 sect 4ordm2)

A inserccedilatildeo pelo legislador da majorante do repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm) antes das circunstacircncias qualificadoras (criteacuterio topograacutefico) natildeo teve a intenccedilatildeo de excluir sua incidecircncia sobre as modalidades qualificadas do furto (CP art 155 sect 4ordm) Natildeo fos-se assim tambeacutem estaria obstado pela concepccedilatildeo topograacutefica do Coacutedigo Penal (CP) o reconhecimento do instituto do privileacutegio (CP art 155 sect 2ordm3) no furto qualificado

A compatibilidade desses dois institutos furto qualificado-privilegiado jaacute foi re-conhecida pelo Supremo Tribunal Federal4 Cuida-se de qualificadoras objetivas que concorrem com uma majorante tambeacutem objetiva de modo que natildeo haacute contradiccedilatildeo loacutegica ou vedaccedilatildeo legal que possa obstar a convivecircncia harmocircnica entre a causa de aumento de pena do repouso noturno e o furto qualificado quando perfeitamente compatiacuteveis com a situaccedilatildeo faacutetica

1 ldquoArt 155 Subtrair para si ou para outrem coisa alheia moacutevel Pena ndash reclusatildeo de um a quatro anos e multa sect 1ordm A pena aumenta-se de um terccedilo se o crime eacute praticado durante o repouso noturnordquo

2 ldquoArt 155 () sect 4ordm A pena eacute de reclusatildeo de dois a oito anos e multa se o crime eacute cometido I ndash com destruiccedilatildeo ou rompimento de obstaacuteculo agrave subtraccedilatildeo da coisardquo

3 ldquoArt 155 () sect 2ordm Se o criminoso eacute primaacuterio e eacute de pequeno valor a coisa furtada o juiz pode subs-tituir a pena de reclusatildeo pela de detenccedilatildeo diminuiacute-la de um a dois terccedilos ou aplicar somente a pena de multardquo

4 HC 101256 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 14-9-2011 HC 103245 rel min Dias Toffoli 1ordf T DJE de 23-11-2010 e HC 97034 rel min Ayres Britto 1ordf T DJE de 7-5-2010

HC 130952rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 20-2-2017Informativo STF 851

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUALDIREITO PENAL

279iacutendice de teses

Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor mesmo que praticados

na forma simples tecircm caraacuteter hediondo

Os delitos hoje unificados no mesmo tipo penal prescrito no art 213 do Coacutedigo Penal (CP)1 preveem a modalidade simples e a qualificada A conclusatildeo de que as duas formas satildeo consideradas hediondas (Lei 80721990 art 1ordm V e VI2) adveacutem da presunccedilatildeo de violecircncia no caso do crime praticado na forma simples e de o bem juriacutedico tutelado ser a liberdade sexual3

ldquoEm harmonia com as demais previsotildees a norma jungiu o estupro e o atentado violento ao pudor para merecerem o roacutetulo de hediondez agrave combinaccedilatildeo com o art 223 cabeccedila e paraacutegrafo uacutenico do CP4 Vale dizer que praticado qualquer dos crimes sem que se faccedila presente o disposto no art 223 cabeccedila e paraacutegrafo uacutenico do CP a pena a ser aplicada eacute a majoraccedilatildeo pela Lei 80721990 tal como estabelecido no respectivo art 9ordm e jaacute constante dos arts 213 e 214 do CP (hellip) A natildeo se entender as-sim releva-se a plano secundaacuterio exacerbando-se as normas o que previsto embora entre parecircnteses nos incisos V e VI do art 1ordm da Lei 8072 de 25 de julho de 1990rdquo5

Eacute admissiacutevel o reconhecimento de continuidade delitiva de acordo com o

caso concreto nos casos previstos no art 213 do CP

Com a ediccedilatildeo da Lei 1201520096 que unificou em um mesmo tipo incriminador as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor admite-se o reconhecimento da continuidade delitiva entre os referidos delitos ante a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da retroatividade da lei mais beneacutefica e desde que preenchidos os requisitos legais previstos no art 717 do CP8

1 ldquoArt 213 Constranger algueacutem mediante violecircncia ou grave ameaccedila a ter conjunccedilatildeo carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinosordquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Crimes contra a liberdade sexual Ȥ Estupro

HC 100612red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

280iacutendice de teses

2 ldquoArt 1ordm Satildeo considerados hediondos os seguintes crimes todos tipificados no Decreto-Lei n 2848 de 7 de dezembro de 1940 ndash Coacutedigo Penal consumados ou tentados () V ndash estupro (art 213 caput e sectsect 1ordm e 2ordm) VI ndash estupro de vulneraacutevel (art 217-A caput e sectsect 1ordm 2ordm 3ordm e 4ordm)rdquo

3 RHC 119609 rel min Ricardo Lewandowski 1ordf T DJE de 3-2-2014 e HC 120668 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 27-5-2014

4 ldquoArt 223 Se da violecircncia resulta lesatildeo corporal de natureza grave () Paraacutegrafo uacutenico Se do fato resulta a morterdquo

5 HC 88245 red p o ac min Caacutermen Luacutecia P DJ de 20-4-2007

6 ldquoArt 213 Constranger algueacutem mediante violecircncia ou grave ameaccedila a ter conjunccedilatildeo carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinosordquo

7 ldquoArt 71 Quando o agente mediante mais de uma accedilatildeo ou omissatildeo pratica dois ou mais crimes da mesma espeacutecie e pelas condiccedilotildees de tempo lugar maneira de execuccedilatildeo e outras semelhantes devem os subsequentes ser havidos como continuaccedilatildeo do primeiro aplica-se-lhe a pena de um soacute dos crimes se idecircnticas ou a mais grave se diversas aumentada em qualquer caso de um sexto a dois terccedilosrdquo

8 HC 114507 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-12-2013

281iacutendice de teses

Para a configuraccedilatildeo de estupro de vulneraacutevel eacute irrelevante o consentimento

da viacutetima menor de quatorze anos

Sendo a viacutetima menor de quatorze anos por forccedila de presunccedilatildeo legal (CP art 217-A)1 o estupro eacute presumido ainda que se trate de jovens com idades proacuteximas e em rela-cionamento afetivo

1 ldquoArt 217-A Ter conjunccedilatildeo carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos Pena ndash reclusatildeo de 8 (oito) a 15 (quinze) anosrdquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Crimes sexuais contra vulneraacuteveis Ȥ Estupro de vulneraacutevel

HC 122945red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 4-5-2017Informativo STF 858

282iacutendice de teses

Eacute juridicamente possiacutevel a majoraccedilatildeo da pena privativa de liberdade imposta a

bisavocirc de viacutetima em razatildeo da incidecircncia da causa de aumento prevista no in-

ciso II do art 2261 do Coacutedigo Penal (CP) considerada a figura do ascendente

O bisavocirc encontra-se na relaccedilatildeo de parentesco com a bisneta no terceiro grau da linha reta (Coacutedigo Civil arts 1591 e 15942) e natildeo haacute no ordenamento juriacutedico ne-nhuma regra de limitaccedilatildeo quanto ao nuacutemero de geraccedilotildees

O CP natildeo cuida de regras atinentes agrave personalidade civil das pessoas ou das suas relaccedilotildees de parentesco ou ateacute mesmo de filiaccedilatildeo Tais conceitos encontram-se disci-plinados no Coacutedigo Civil e satildeo cotidianamente utilizados em outros ramos do orde-namento juriacutedico de forma subsidiaacuteria a fim de suprir eventuais lacunas indesejadas

1 ldquoArt 226 A pena eacute aumentada () II ndash de metade se o agente eacute ascendente padrasto ou madrasta tio irmatildeo cocircnjuge companheiro tutor curador preceptor ou empregador da viacutetima ou por qual-quer outro tiacutetulo tem autoridade sobre elardquo

2 ldquoArt 1591 Satildeo parentes em linha reta as pessoas que estatildeo umas para com as outras na relaccedilatildeo de ascendentes e descendentes () Art 1594 Contam-se na linha reta os graus de parentesco pelo nuacutemero de geraccedilotildees e na colateral tambeacutem pelo nuacutemero delas subindo de um dos parentes ateacute ao ascendente comum e descendo ateacute encontrar o outro parenterdquo

Direito Penal Ȥ Crimes contra a dignidade sexual

Ȥ Disposiccedilotildees gerais Ȥ Causa de aumento de pena

RHC 138717rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 5-6-2017Informativo STF 866

CRIMES CONTRA A FEacute PUacuteBLICADIREITO PENAL

284iacutendice de teses

No crime de falsidade ideoloacutegica as provas produzidas devem evidenciar que

o acusado possui ciecircncia inequiacutevoca do conteuacutedo inveriacutedico dos documentos

que assina ou de que o faccedila com o objetivo de prejudicar direito criar obriga-

ccedilatildeo ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante

Sendo o dolo elemento subjetivo do tipo se ausente o fato praticado natildeo eacute tiacutepico Consequentemente natildeo constitui infraccedilatildeo penal ainda que provadas a materiali-dade e a praacutetica da conduta

Aleacutem disso ldquoo fato de o acusado ter subscrito os documentos por si soacute natildeo eacute argumento suficiente para a caracterizaccedilatildeo do dolo da conduta muito menos em re-laccedilatildeo agrave finalidade especiacutefica de prejudicar direito criar obrigaccedilatildeo ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante como reclama o tipo penalrdquo1

ldquoPor fim condenar o chefe do Poder Executivo apenas e tatildeo somente em razatildeo da assinatura dos documentos implicaria no caso concreto responsabilizaccedilatildeo penal objetiva o que eacute inadmissiacutevel na conjuntura penal modernardquo2

1 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

2 Idem

Direito Penal Ȥ Crimes contra a feacute puacuteblica

Ȥ Falsidade ideoloacutegica Ȥ Elemento subjetivo do tipo

AP 931rel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 23-6-2017Informativo STF 868

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICADIREITO PENAL

286iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral Ȥ Peculato

Eacute atiacutepica a conduta de peculato por ato praticado por secretaacuterio parlamentar

que efetivamente exerce a funccedilatildeo puacuteblica referente ao cargo e auxilia o parla-

mentar em assuntos de interesse privado

Existe significativa ldquodiferenccedila entre usar funcionaacuterio puacuteblico em atividade privada e usar a Administraccedilatildeo Puacuteblica para pagar salaacuterio de empregado particular o que configura peculatordquo1

A atividade de secretaacuterio parlamentar natildeo se limita ao desempenho de tarefas bu-rocraacuteticas (pareceres estudos expediccedilatildeo de ofiacutecios acompanhamento de proposi-ccedilotildees redaccedilatildeo de minutas de pronunciamento emissatildeo de passagens aeacutereas emissatildeo de documentos envio de mensagens eletrocircnicas oficiais etc) Compreende outras atividades de apoio intrinsecamente relacionadas ao exerciacutecio do mandato parlamen-tar como o atendimento agrave populaccedilatildeo (Ato da Mesa 721997 da Cacircmara dos Depu-tados art 8ordm2)

Essas atribuiccedilotildees devem ser desempenhadas no gabinete parlamentar na Cacircmara dos Deputados ou no escritoacuterio poliacutetico do deputado federal em seu Estado de repre-sentaccedilatildeo (Ato da Mesa 721997 art 2ordm3)

Dessa forma nos casos em que secretaacuterio parlamentar exerccedila efetivamente as atribuiccedilotildees inerentes a seu cargo puacuteblico ainda que tambeacutem tenha desempenhado outras atividades no estrito interesse particular do parlamentar na condiccedilatildeo de ad-ministrador de fato da empresa da qual ele eacute soacutecio natildeo configura que houve a uti-lizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica para pagar o salaacuterio de empregado particular mas sim o uso de matildeo de obra puacuteblica em desvio para atender a interesses particulares4

Em casos dessa natureza os fatos imputados natildeo configuram iliacutecito penal natildeo cabendo em sede de accedilatildeo penal a emissatildeo de qualquer juiacutezo de valor a respeito da moralidade de sua conduta ou de seu enquadramento em eventual ato de improbida-de administrativa (Lei 84291992)

AP 504red p o ac min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 834

287iacutendice de teses

1 Inq 3776 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 4-11-2014

2 ldquoArt 8ordm Os cargos de que trata este Ato seratildeo exercidos em 25 (vinte e cinco) niacuteveis diferentes de remuneraccedilatildeo complexidade e responsabilidade e teratildeo as seguintes atribuiccedilotildees baacutesicas redaccedilatildeo de correspondecircncia discurso e pareceres do Parlamentar atendimento agraves pessoas encaminhadas ao ga-binete execuccedilatildeo de serviccedilos de secretaria e datilograacuteficos pesquisas acompanhamento interno e ex-terno de assuntos de interesse do Parlamentar conduccedilatildeo de veiacuteculo de propriedade do Parlamentar recebimento e entrega de correspondecircncia outras atividades afins inerentes ao respectivo gabineterdquo

3 ldquoArt 2ordm Os ocupantes dos cargos em comissatildeo de Secretaacuterio Parlamentar teratildeo exerciacutecio exclusiva-mente nos gabinetes parlamentares em Brasiacutelia ou em suas projeccedilotildees nos Estados e reger-se-atildeo pe-las normas estatutaacuterias e disciplinares aplicaacuteveis aos demais servidores da Cacircmara dos Deputadosrdquo

4 Inq 2952 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-12-2014

288iacutendice de teses

No crime de concussatildeo1 natildeo configura bis in idem a elevaccedilatildeo da pena na pri-

meira fase da dosimetria visto que em razatildeo da qualidade funcional ocupa-

da pelo agente dele se deveria exigir maior grau de observacircncia dos deveres

e obrigaccedilotildees relacionados ao cargo ocupado

O delito previsto no art 316 do Coacutedigo Penal (CP) eacute de matildeo proacutepria mas natildeo de matildeo proacutepria especiacutefica Logo eacute possiacutevel considerar a qualificaccedilatildeo especiacutefica do fun-cionaacuterio puacuteblico na primeira fase ante as circunstacircncias do art 592 do CP3

Nesse sentido exemplificativamente ldquoa condiccedilatildeo de deputado federal do agente natildeo se confunde com a qualidade funcional ativa exigida para a praacutetica do crime de concussatildeo A quebra do dever legal de representar fielmente os anseios da populaccedilatildeo e de quem se esperaria uma conduta compatiacutevel com as funccedilotildees por ele exercidas li-gadas entre outros aspectos ao controle e agrave repressatildeo de atos contraacuterios agrave administra-ccedilatildeo e ao patrimocircnio puacuteblico distancia-se em termos de culpabilidade da regra geral de moralidade e probidade administrativa imposta a todos os funcionaacuterios puacuteblicosrdquo4

Da mesma forma dentro do Estado Democraacutetico de Direito e do paiacutes que se al-meja construir o fato de uma autoridade puacuteblica obter vantagem indevida de algueacutem que esteja praticando um delito compromete de maneira grave o fundamento de legitimidade da autoridade que eacute atuar pelo bem comum e pelo bem puacuteblico5

Portanto quem seja investido de parcela de autoridade puacuteblica ndash seja um juiz seja o Ministeacuterio Puacuteblico seja a autoridade policial ndash deve ser avaliado no desempenho da sua funccedilatildeo com escrutiacutenio mais riacutegido e por consequecircncia no que se refere agrave culpabilidade promover em cada caso concreto juiacutezo de reprovabilidade maior6

Diante disso embora a condiccedilatildeo de funcionaacuterio puacuteblico integre o tipo penal do delito previsto no art 316 do CP pode-se levar em conta quando do juiacutezo de reprova-bilidade (CP art 59) a qualidade especiacutefica ou a qualificaccedilatildeo do funcionaacuterio puacuteblico

Direito Penal Ȥ Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Ȥ Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral Ȥ Concussatildeo

HC 132990red p o ac min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 23-6-2017Informativo STF 835

289iacutendice de teses

1 ldquoArt 316 Exigir para si ou para outrem direta ou indiretamente ainda que fora da funccedilatildeo ou antes de assumi-la mas em razatildeo dela vantagem indevidardquo

2 ldquoArt 59 O juiz atendendo agrave culpabilidade aos antecedentes agrave conduta social agrave personalidade do agente aos motivos agraves circunstacircncias e consequecircncias do crime bem como ao comportamen-to da viacutetima estabeleceraacute conforme seja necessaacuterio e suficiente para reprovaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do crime I ndash as penas aplicaacuteveis dentre as cominadas II ndash a quantidade de pena aplicaacutevel dentro dos limites previstos III ndash o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade IV ndash a subs-tituiccedilatildeo da pena privativa da liberdade aplicada por outra espeacutecie de pena se cabiacutevelrdquo

3 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento

4 RHC 132657 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 2-3-2016

5 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

6 Idem

LEGISLACcedilAtildeO PENAL ESPECIALDIREITO PENAL

291iacutendice de teses

O parecer juriacutedico do oacutergatildeo teacutecnico especializado favoraacutevel agrave inexigibilidade

impede a tipificaccedilatildeo criminosa da conduta prevista no art 89 da Lei 866619931

O referido parecer juriacutedico afasta em princiacutepio a ciecircncia da ilicitude da inexigibili-dade e determina o erro do agente quanto a elemento do tipo qual seja a circuns-tacircncia ldquofora das hipoacuteteses previstas em leirdquo2

Quando o administrador puacuteblico consulta a procuradoria juriacutedica quanto agrave regula-ridade da dispensa ou da inexigibilidade o parecer do corpo juriacutedico quando lavrado de maneira idocircnea ndash sem indiacutecio de que constitua etapa da suposta empreitada cri-minosa ndash confere embasamento juriacutedico ao ato inclusive quanto agrave observacircncia das formalidades do procedimento

Dessa maneira o parecer juriacutedico constitui oacutebice ao enquadramento tiacutepico da conduta do administrador puacuteblico que com base nele assine o termo contratual no exerciacutecio de sua funccedilatildeo salvo indicaccedilatildeo de dolo de beneficiar a si mesmo ou ao con-tratado eou narrativa miacutenima da existecircncia de uniatildeo de desiacutegnios entre os acusados para realizaccedilatildeo comum da praacutetica delitiva

A distinccedilatildeo do iliacutecito administrativo (ato de improbidade) do iliacutecito penal (ato

criminoso) reclama que a exordial acusatoacuteria narre a accedilatildeo finaliacutestica do agente

voltada agrave obtenccedilatildeo de vantagem indevida por meio da dispensa da licitaccedilatildeo

violando com isso o bem juriacutedico penal protegido pelo tipo incriminador3

O crime definido no art 89 da Lei 86661993 apesar de dispensar a prova do re-sultado danoso pressupotildee que a conduta do administrador puacuteblico seja criminosa e que a denuacutencia narre a finalidade do agente de lesar o eraacuterio de obter vantagem indevida ou de beneficiar patrimonialmente o particular contratado ferindo com isso a ratio essendi da licitaccedilatildeo qual seja a impessoalidade da contrataccedilatildeo

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees Ȥ Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

Inq 3674rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 15-9-2017Informativo STF 856

292iacutendice de teses

O tipo previsto no referido dispositivo tem como destinataacuterio o administrador e adjudicataacuterios desonestos e natildeo os supostamente inaacutebeis Isso porque a intenccedilatildeo de ignorar ou simular os pressupostos para a contrataccedilatildeo direta satildeo elementos do tipo que natildeo se perfaz a tiacutetulo de negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia ndash caracterizado-res do atuar culposo

A imputaccedilatildeo do crime definido no art 89 da Lei 86661993 a uma pluralidade

de agentes demanda a descriccedilatildeo indiciaacuteria na peccedila acusatoacuteria do viacutenculo

subjetivo entre os participantes para a obtenccedilatildeo do resultado criminoso4

Para que haja coautoria ou participaccedilatildeo a dogmaacutetica penal exige a evidenciaccedilatildeo de algum indiacutecio de acordo preacutevio revelador do liame psicoloacutegico entre os acusados Em regra este elemento poderaacute ser obtido mediante depoimentos de testemunhos ou ao menos quando haja alguma demonstraccedilatildeo de que todos obtiveram vanta-gem iliacutecita com a praacutetica delituosa comum5 e 6

1 ldquoArt 89 Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade Pena ndash detenccedilatildeo de 3 (trecircs) a 5 (cin-co) anos e multa Paraacutegrafo uacutenico Na mesma pena incorre aquele que tendo comprovadamente concorrido para a consumaccedilatildeo da ilegalidade beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal para celebrar contrato com o Poder Puacuteblicordquo

2 Inq 2482 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 17-2-2012 Inq 3731 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-3-2016 e AP 560 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJ de 11-9-2015

3 Inq 3965 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016 Inq 4104 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016 Inq 4106 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 10-11-2016 Inq 4101 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 10-11-2016 AP 700 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 26-4-2016 Inq 3731 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 2-3-2016 e Inq 2688 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-2-2015

4 AP 595 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 10-2-2015

5 ldquo(hellip) c) Coautoria Eacute a realizaccedilatildeo conjunta de um delito por vaacuterias pessoas que colaboram conscien-te e voluntariamente A coautoria eacute uma espeacutecie de conspiraccedilatildeo levada agrave praacutetica () Cada coautor responde pelo fato sempre que este permaneccedila no acircmbito da decisatildeo comum acordada previamen-te Qualquer tipo de excesso de um dos coautores repercutiraacute na forma de imputaccedilatildeo subjetiva do resultado que se tenha produzido por excesso assim uns podem responder a tiacutetulo de dolo e outros a tiacutetulo de imprudecircncia ou natildeo responder em absoluto pelo excesso Como na coautoria todos satildeo autores do fato pode acontecer que cada um responda por um tiacutetulo delitivo diferente () Distinta da coautoria eacute a autoria colateral na qual vaacuterias pessoas independentemente umas das outras

293iacutendice de teses

produzem o resultado tiacutepico geralmente de um delito culposordquo (BITENCOURT Cezar Roberto MUNtildeOZ CONDE Francisco Teoria geral do delito Satildeo Paulo Saraiva 2000 p 523525)

6 ldquoSatildeo coautores aqueles que realizam conjuntamente e de muacutetuo acordo um fato () Os coautores repartem entre si a realizaccedilatildeo do tipo de autoria () Para que esta imputaccedilatildeo reciacuteproca possa ocorrer eacute preciso o lsquomuacutetuo acordorsquo que converte em partes de um plano global unitaacuterio as dis-tintas contribuiccedilotildees () O art 28 do Coacutedigo Penal espanhol faz referecircncia agrave coautoria quando diz que lsquosatildeo autores aqueles que realizam o fato conjuntamentersquo Deve-se entender que esta expressatildeo requer natildeo apenas a execuccedilatildeo conjunta mas tambeacutem que a mesma se efetue de muacutetuo acordordquo (MIR PUIG Santiago Direito penal fundamentos e teoria do delito Trad Claacuteudia Viana Garcia e Joseacute Carlos Nobre Porciuacutencula Neto Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2007 p 358359)

294iacutendice de teses

A ausecircncia do elemento subjetivo do tipo (dolo) no crime do art 89 da Lei

86661993 leva agrave rejeiccedilatildeo da denuacutencia

O crime de inexigibilidade de licitaccedilatildeo1 reclama dolo consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar o iliacutecito penal causando dano ao eraacuterio ou obtendo vantagem indevida2 Tal situaccedilatildeo natildeo se faz presente quando o acusado atua em conformidade com a lei e com fulcro em parecer da Procuradoria Juriacutedica configu-rando-se assim inexistecircncia de justa causa para a accedilatildeo penal

1 Lei 86661993 ldquoArt 89 Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade Pena ndash Detenccedilatildeo de 3 (trecircs) a 5 (cinco) anos e multardquo

2 Inq 2688 red p o ac min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 12-2-2015 Inq 1990 rel min Caacutermen Luacutecia P DJE de 21-2-2011 Inq 3016 rel min Ellen Gracie P DJE de 16-2-2011 Inq 2677 rel min Ayres Britto P DJE de 21-10-2010 Inq 2482 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 17-2-2012 Inq 3077 rel min Dias Toffoli P DJE de 25-9-2012 HC 107263 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 5-9-2011 e Inq 3965 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 6-12-2016

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees Ȥ Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

Inq 3753rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 30-5-2017Informativo STF 861

295iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees Ȥ Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

A conduta de transmitir sinal de internet por radiofrequecircncia sem autori-

zaccedilatildeo natildeo configura crime de desenvolver clandestinamente atividades de

telecomunicaccedilotildees (Lei 94721997 art 1831)

Nos termos do art 61 sect 1ordm da Lei 947219972 a oferta de serviccedilo de internet conce-bido como serviccedilo de valor adicionado natildeo constitui atividade de telecomunicaccedilatildeo

1 ldquoArt 183 Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo Pena ndash detenccedilatildeo de dois a quatro anos aumentada da metade se houver dano a terceiro e multa de R$ 1000000 (dez mil reais)rdquo

2 ldquoArt 61 Serviccedilo de valor adicionado eacute a atividade que acrescenta a um serviccedilo de telecomunica-ccedilotildees que lhe daacute suporte e com o qual natildeo se confunde novas utilidades relacionadas ao acesso armazenamento apresentaccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo de informaccedilotildees sect 1ordm Serviccedilo de valor adicionado natildeo constitui serviccedilo de telecomunicaccedilotildees classificando-se seu provedor como usuaacuterio do serviccedilo de telecomunicaccedilotildees que lhe daacute suporte com os direitos e deveres inerentes a essa condiccedilatildeordquo

HC 127978rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 1ordm-12-2017Informativo STF 883

296iacutendice de teses

Excepcionalmente ante a constataccedilatildeo da irrelevacircncia da conduta praticada

pelo paciente e da ausecircncia de resultado lesivo a praacutetica da conduta em tese

subsumida ao art 183 da Lei 947219971 natildeo deve ser resolvida na esfera pe-

nal e sim nas instacircncias administrativas

Caso a Agecircncia Nacional de Telecomunicaccedilotildees (ANATEL) reconheccedila que a interfe-recircncia por parte de atividade clandestina de telecomunicaccedilatildeo tenha ocorrido ape-nas em canais que natildeo tenham recebido a outorga para operar em aacuterea de cobertura da raacutedio comunitaacuteria considera-se que o bem juriacutedico tutelado pela norma perma-nece incoacutelume

Nessa hipoacutetese a seguranccedila dos meios de telecomunicaccedilotildees natildeo sofre qualquer espeacutecie de lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo que mereccedila a intervenccedilatildeo do Direito Penal Logo natildeo deve ser reconhecida a tipicidade material da conduta ante a incidecircncia do princiacutepio da insignificacircncia Assim a mateacuteria deve ser resolvida nas instacircncias admi-nistrativas2 e 3

1 ldquoArt 183 Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeordquo

2 RHC 118014 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 21-8-2013

3 RHC 119123 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 4-8-2014

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees Ȥ Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

HC 138134rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 28-3-2017Informativo STF 853

297iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 96131998 ndash ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores Ȥ Art 1ordm ndash Lavagem de bens direitos ou valores

O crime de lavagem de bens direitos ou valores praticado na modalidade de

ocultaccedilatildeo (Lei 96131998 art 1ordm1) tem natureza de crime permanente

Quem oculta a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou pro-priedade de bens direitos ou valores provenientes de crime enquanto os manti-ver ocultos ou seja escondidos permanece realizando a conduta correspondente a esse verbo nuacutecleo do tipo Ocultar portanto natildeo eacute accedilatildeo que se realiza apenas no momento inicial do encobrimento mas que perdura enquanto o objeto material do crime estiver escondido maacutexime quando o autor deteacutem o poder de fato sobre o referido objeto

Por essa razatildeo a despeito das discussotildees sobre o bem juriacutedico tutelado pelo legis-lador com a tipificaccedilatildeo do crime de lavagem como a atividade delitiva violadora do bem juriacutedico tutelado se prolonga no tempo impende reconhecer que o bem juriacutedico permanece sendo violado enquanto a atividade delitiva natildeo cessar

A caracterizaccedilatildeo de crimes cujo verbo nuacutecleo do tipo eacute ocultar como permanente natildeo eacute exclusividade do delito de lavagem de dinheiro O Direito Penal paacutetrio tipifi-ca a ocultaccedilatildeo de uma seacuterie de objetos materiais em circunstacircncias vaacuterias com a consequente majoritaacuteria classificaccedilatildeo doutrinaacuteria dessas condutas como modalidades permanentes de violaccedilatildeo dos respectivos bens juriacutedicos

Eacute o caso do crime de receptaccedilatildeo que eacute considerado pela doutrina como ldquoinstan-tacircneo (cujo resultado se daacute de maneira instantacircnea natildeo se prolongando no tempo) salvo na modalidade lsquoocultarrsquo que eacute permanente (delito de consumaccedilatildeo prolongada) A ocultaccedilatildeo tem a peculiaridade de significar o disfarce para algo natildeo ser visto sem haver a destruiccedilatildeo Por isso enquanto o agente estiver escondendo a coisa que sabe ser produto de crime consuma-se a infraccedilatildeo penalrdquo2

Outro exemplo eacute o crime de ocultaccedilatildeo de cadaacutever (CP art 2113) o qual eacute conside-rado ldquocrime permanente que subsiste ateacute o instante em que o cadaacutever eacute descoberto

AP 863rel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 29-8-2017Informativo STF 866

298iacutendice de teses

pois ocultar eacute esconder e natildeo simplesmente remover sendo irrelevante o tempo em que o cadaacutever esteve escondidordquo4

A mesma consideraccedilatildeo deve ser transposta para o delito de lavagem na modalida-de de ocultaccedilatildeo Afinal eacute a natureza da accedilatildeo praticada que se prolonga no tempo ou natildeo correspondente ao verbo do qual o legislador se valeu para descrever o crime que define a natureza instantacircnea ou permanente do delito O crime de lavagem de dinheiro na modalidade ocultar portanto eacute igualmente permanente e subsiste ateacute o instante em que os valores provenientes dos crimes antecedentes sejam descobertos

Por fim cabe destacar que ao contraacuterio dos delitos instantacircneos cuja accedilatildeo ocorre num momento especiacutefico e bem delimitado nos crimes permanentes ldquoa accedilatildeo segue em curso enquanto dura a permanecircncia razatildeo pela qual todo esse tempo eacute conside-rado tempo do crime devendo ser computado como momento exato aquele em que cessa a permanecircncia inclusive a efeito de prescriccedilatildeo (art 111 III5 do Coacutedigo Penal)rdquo6

1 ldquoArt 1ordm Ocultar ou dissimular a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo ou pro-priedade de bens direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente de infraccedilatildeo penal () Pena reclusatildeo de 3 (trecircs) a 10 (dez) anos e multardquo

2 NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo Penal comentado 15 ed Rio de Janeiro Forense 2015 p 1004

3 ldquoArt 211 Destruir subtrair ou ocultar cadaacutever ou parte dele Pena ndash reclusatildeo de um a trecircs anos e multardquo

4 HC 76678 rel min Mauriacutecio Correcirca 2ordf T DJ de 8-9-2000

5 ldquoArt 111 A prescriccedilatildeo antes de transitar em julgado a sentenccedila final comeccedila a correr () III ndash nos crimes permanentes do dia em que cessou a permanecircnciardquo

6 BUSATO Paulo Ceacutesar Direito penal parte geral Satildeo Paulo Atlas 2013 p 145

299iacutendice de teses

Eacute possiacutevel o confisco de todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendi-

do em decorrecircncia do traacutefico de drogas sem a necessidade de se perquirir a

habitualidade reiteraccedilatildeo do uso do bem para tal finalidade a sua modifica-

ccedilatildeo para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou

qualquer outro requisito aleacutem daqueles previstos expressamente no art 243

paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Os preceitos constitucionais sobre o traacutefico de drogas e o respectivo confisco de bens constituem parte dos mandados de criminalizaccedilatildeo previstos pelo poder cons-tituinte originaacuterio a exigir atuaccedilatildeo eneacutergica do Estado sobre o tema devendo com-bater severamente a traficacircncia de drogas sob pena de o ordenamento juriacutedico bra-sileiro incorrer em proteccedilatildeo deficiente dos direitos fundamentais2

Tem-se entatildeo um cenaacuterio em que essa conduta delituosa eacute prevista como crime inafianccedilaacutevel e insuscetiacutevel de graccedila ou anistia3 que permite a extradiccedilatildeo do brasileiro naturalizado4 que autoriza a expropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais e urbanos5 que permite o confisco de ldquotodo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido em decorrecircncia do traacuteficordquo6 A contextualizaccedilatildeo constitucional confere normatizaccedilatildeo uacutenica quanto a esse crime diferenciando-a de todos os demais tipos penais existentes no ordenamento ju-riacutedico brasileiro Nenhum outro tipo penal teve uma preocupaccedilatildeo tatildeo grande do cons-tituinte com a aplicaccedilatildeo simultacircnea de tantos institutos repressivos ou preventivos

Em virtude da concepccedilatildeo patrimonial e lucrativa ligada ao traacutefico de drogas exige-se do Direito Penal uma postura adequada como instrumento de controle da ordem social natildeo apenas no contexto repressivo-corporal mas tambeacutem com um con-datildeo pedagoacutegico mediante instrumentos que propiciem o desestiacutemulo financeiro agrave criminalidade atingindo exatamente aquilo que ela tem como finalidade preciacutepua o lucro Afinal o crime cometido natildeo pode trazer compensaccedilatildeo financeira superior a eventual sanccedilatildeo aplicaacutevel sob pena de tornar a responsabilizaccedilatildeo penal insuficiente no que toca o caraacuteter de prevenccedilatildeo geral e especial

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas ndash Repercussatildeo Geral

RE 638491RG ‒ Tema 647rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 23-8-2017Informativo STF 865

300iacutendice de teses

No direito comparado o confisco eacute instituto de grande aplicabilidade nos delitos de repercussatildeo econocircmica sob o vieacutes de que ldquoo crime natildeo deve compensarrdquo pers-pectiva adotada pelo constituinte brasileiro e pela Repuacuteblica Federativa do Brasil que internalizou diversos diplomas internacionais que visam reprimir severamente o traacutefico de drogas A incursatildeo no cenaacuterio global sobre a mateacuteria evidencia o amparo agraves soluccedilotildees confiscatoacuterias na medida em que tal praacutetica natildeo eacute aplicada apenas como pena acessoacuteria imposta em uma condenaccedilatildeo criminal mas como procedimento vol-tado contra o proacuteprio bem cuja aquisiccedilatildeo natildeo seja passiacutevel de comprovaccedilatildeo liacutecita ou seja desproporcional aos rendimentos de quem o possua

O confisco previsto no art 243 paraacutegrafo uacutenico da CF deve ser interpretado agrave luz dos princiacutepios da unidade e da supremacia da Constituiccedilatildeo atentando agrave linguagem natural prevista no seu texto7 Isso significa que a Constituiccedilatildeo deve ser interpretada de modo a evitar contradiccedilatildeo entre suas normas porquanto ao interpretar deter-minado preceito o hermeneuta deve levar em consideraccedilatildeo a Constituiccedilatildeo em sua globalidade e natildeo como normas isoladas e dispersas8 Em outras palavras o direito natildeo deve ser interpretado em tiras mas no seu todo9

Como consequecircncia esse dispositivo natildeo admite outra interpretaccedilatildeo senatildeo a lite-ral no sentido de que ldquotodo e qualquer bemrdquo deve ser confiscado pelo Estado quando for apreendido ldquoem decorrecircnciardquo da praacutetica do traacutefico iliacutecito de drogas Inclusive natildeo se exige qualquer outro requisito material que natildeo seja o trinocircmio traacutefico-bem--confisco aleacutem do respeito ao devido processo legal (CF art 5ordm LIV10) Assim impor qualquer condiccedilatildeo para o confisco de bens apreendidos como a habitualidade eou a reiteraccedilatildeo de seu uso para a finalidade iliacutecita ou adulteraccedilatildeo para dificultar a des-coberta do local do acondicionamento da droga contraria frontalmente o art 243 paraacutegrafo uacutenico da CF11

1 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem localizadas cul-turas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordm Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreen-dido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

2 Precedente HC 104410 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 26-3-2012

3 CF1988 ldquoArt 5ordm () XLIII ndash a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o terrorismo e os definidos

301iacutendice de teses

como crimes hediondos por eles respondendo os mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitiremrdquo

4 CF1988 ldquoArt 5ordm () LI ndash nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da leirdquo

5 CF1988 ldquoArt 243 As propriedades rurais e urbanas de qualquer regiatildeo do Paiacutes onde forem lo-calizadas culturas ilegais de plantas psicotroacutepicas ou a exploraccedilatildeo de trabalho escravo na forma da lei seratildeo expropriadas e destinadas agrave reforma agraacuteria e a programas de habitaccedilatildeo popular sem qualquer indenizaccedilatildeo ao proprietaacuterio e sem prejuiacutezo de outras sanccedilotildees previstas em lei observado no que couber o disposto no art 5ordmrdquo

6 CF1988 ldquoArt 243 () Paraacutegrafo uacutenico Todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido em decorrecircncia do traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e da exploraccedilatildeo de trabalho escravo seraacute confiscado e reverteraacute a fundo especial com destinaccedilatildeo especiacutefica na forma da leirdquo

7 Precedente RE 543974 rel min Eros Grau P DJE de 28-5-2009

8 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Satildeo Paulo Almedina 2003 p 12231224

9 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 2009 p 131132

10 ldquoArt 5ordm () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalrdquo

11 Precedente AC 82 MC rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJ de 28-5-2004

302iacutendice de teses

Eacute irrelevante para a aplicaccedilatildeo do art 40 III da Lei 113432006 (Lei de Dro-

gas) se o agente infrator visa ou natildeo comercializar drogas com os frequenta-

dores de estabelecimento prisional

A aplicaccedilatildeo da causa de aumento de pena prevista no art 40 III da Lei 1134320061 se justifica quando constatada a mera comercializaccedilatildeo de drogas nas imediaccedilotildees de estabelecimentos prisionais

Nesses locais haacute maior aglomeraccedilatildeo de pessoas tendo como mais aacutegil e facilitada a praacutetica do traacutefico de drogas Assim torna-se mais faacutecil ao traficante passar-se desperce-bido agrave fiscalizaccedilatildeo sendo maior consequentemente a reprovabilidade de sua conduta

ldquoA comercializaccedilatildeo de drogas nas dependecircncias ou nas imediaccedilotildees [de estabeleci-mentos prisionais] por si soacute jaacute justifica a incidecircncia da causa especial de aumento de pena sejam quais forem as condiccedilotildees subjetivas do agente que a cometerdquo2

1 ldquoArt 40 As penas previstas nos arts 33 a 37 desta Lei satildeo aumentadas de um sexto a dois terccedilos se () III ndash a infraccedilatildeo tiver sido cometida nas dependecircncias ou imediaccedilotildees de estabelecimentos prisionais de ensino ou hospitalares de sedes de entidades estudantis sociais culturais recreativas esportivas ou beneficentes de locais de trabalho coletivo de recintos onde se realizem espetaacuteculos ou diversotildees de qualquer natureza de serviccedilos de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserccedilatildeo social de unidades militares ou policiais ou em transportes puacuteblicosrdquo

2 HC 114701 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 8-4-2013

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 138944rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 3-8-2017Informativo STF 858

303iacutendice de teses

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

A quantidade de drogas natildeo pode automaticamente proporcionar o enten-

dimento de que o agente faz do traacutefico seu meio de vida ou integra organiza-

ccedilatildeo criminosa

O impedimento agrave aplicaccedilatildeo do art 33 sect 4ordm da Lei 1134320061 com base apenas nessa circunstacircncia natildeo se encontra devidamente fundamentado Eacute necessaacuteria a demonstraccedilatildeo da existecircncia de provas aptas a comprovar que o agente se dedica agraves atividades criminosas

Ademais configura constrangimento ilegal a decisatildeo fundada em premissa de causa e efeito automaacutetico que deixa de aplicar o redutor sem a devida motivaccedilatildeo2

Conhece-se do habeas corpus3 se flagrante a contradiccedilatildeo entre a justificativa

utilizada para negar a aplicaccedilatildeo da causa de diminuiccedilatildeo de pena prevista no

art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 e a absolviccedilatildeo da acusaccedilatildeo do crime de associa-

ccedilatildeo para o traacutefico tipificado pelo art 35 do mesmo diploma legal

Essa situaccedilatildeo configura patente constrangimento ilegal apto a afastar o entendi-mento jurisprudencial segundo o qual ldquose as instacircncias ordinaacuterias concluiacuteram que o ora agravante se dedicava agrave atividade criminosa para negar a incidecircncia da causa especial de reduccedilatildeo de pena prevista no art 33 sect 4ordm da Lei de Drogas para se chegar a conclusatildeo diversa necessaacuterio seria o reexame de fatos e provas o qual o habeas corpus natildeo comportardquo4

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos vedada a conversatildeo em penas restritivas

RHC 138715rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 9-6-2017Informativo STF 866

304iacutendice de teses

de direitos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo (Vide Resoluccedilatildeo 5 de 2012)

2 HC 131795 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 17-5-2016

3 HC 118697 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 27-5-2014 e RHC 121239 rel min Ricardo Le-wandowski 2ordf T DJE de 8-4-2014

4 HC 136177 AgR rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 22-11-2016 e RHC 137801 AgR rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 24-3-2017

305iacutendice de teses

Eacute possiacutevel considerar a quantidade de droga apreendida para efeito de dimi-

nuiccedilatildeo de pena (Lei 113432006 art 33 sect 4ordm)1

Afinal natildeo eacute criacutevel que algueacutem surpreendido transportando 500 kg de maconha natildeo esteja integrado de alguma forma a grupo criminoso2

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo

2 Trecho de decisatildeo proferida pelo ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento ao deixar de implementar a liminar

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 130981rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 28-4-2017Informativo STF 844

306iacutendice de teses

A quantidade de drogas natildeo constitui isoladamente fundamento idocircneo

para negar o benefiacutecio da reduccedilatildeo da pena do art 33 sect 4ordm da Lei 1134320061

ldquoNos termos do art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 a causa de diminuiccedilatildeo da pena incide nas hipoacuteteses em que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo2

Se ldquoo Tribunal de origem negou a aplicaccedilatildeo da minorante com base em circuns-tacircncias que natildeo estatildeo descritas no dispositivo legal (= quantidade de droga) assim como natildeo realizou nenhum juiacutezo de vinculaccedilatildeo entre a quantidade de droga apreen-dida e a suposta participaccedilatildeo do paciente no crime organizado () a presunccedilatildeo esta-belecida pelo acoacuterdatildeo impugnado merece ser afastadardquo3

Assim natildeo eacute ldquoadequada a presunccedilatildeo de que tatildeo somente a quantidade de entorpe-cente eacute elemento apto a sinalizar que o acusado dedicava-se a atividades delitivasrdquo4

1 ldquoArt 33 Importar exportar remeter preparar produzir fabricar adquirir vender expor agrave ven-da oferecer ter em depoacutesito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas ainda que gratuitamente sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar () sect 4ordm Nos delitos definidos no caput e no sect 1ordm deste artigo as penas poderatildeo ser reduzidas de um sexto a dois terccedilos desde que o agente seja primaacuterio de bons antecedentes natildeo se dedique agraves atividades criminosas nem integre organizaccedilatildeo criminosardquo

2 HC 116894 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 8-10-2013

3 Idem

4 HC 117185 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 28-11-2013

Direito Penal Ȥ Legislaccedilatildeo penal especial

Ȥ Lei 113432006 ndash Lei de Drogas Ȥ Art 33 ndash Traacutefico de drogas

HC 138138rel min Ricardo Lewandowski2ordf TurmaDJE de 13-3-2017Informativo STF 849

DIR

EPR

EVD

IREI

TO

PR

EVID

ENC

IAacuteR

IO

FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIALDIREITO PREVIDENCIAacuteRIO

309iacutendice de teses

Eacute constitucional formal e materialmente a contribuiccedilatildeo social do emprega-

dor rural pessoa fiacutesica instituiacuteda pela Lei 102562001 incidente sobre a re-

ceita bruta obtida com a comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo

A alteraccedilatildeo promovida pela Emenda Constitucional 201998 trouxe nova redaccedilatildeo ao art 195 I da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1 e permitiu que nova contribuiccedilatildeo pre-videnciaacuteria fosse criada por lei ordinaacuteria em relaccedilatildeo aos empregadores rurais pes-soas fiacutesicas com base de caacutelculo na nova receita Com efeito essa mudanccedila afastou a necessidade de incidecircncia do sect 4ordm do art 1952 deixando consequentemente de exigir nos termos do art 1543 a ediccedilatildeo de lei complementar

Diante disso o novo texto constitucional foi regulamentado pela Lei 102562001 que alterando o art 25 da Lei 821219914 reintroduziu o empregador rural como sujeito passivo da contribuiccedilatildeo

Nesse sentido as alteraccedilotildees da Emenda Constitucional 201998 e da Lei 102562001 afastaram o principal e remanescente argumento de inconstitucionalidade formal que havia levado o Supremo Tribunal Federal (STF) por ocasiatildeo do julgamento do RE 3638535 a desobrigar os empregadores rurais pessoas fiacutesicas do pagamento da contri-buiccedilatildeo social sobre a receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo rural

Cabe destacar que no julgamento do RE 5961776 o STF ao declarar a inconsti-tucionalidade incidental do art 25 decidiu pela exclusatildeo do empregador rural pessoa fiacutesica como sujeito passivo da obrigaccedilatildeo tributaacuteria laacute prevista Contudo a declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade por meio de controle difuso de constitucionalidade aplica-da em razatildeo da repercussatildeo geral para todos os casos idecircnticos natildeo teve o condatildeo de retirar do ordenamento juriacutedico o texto legal do art 25 que inclusive continua a ser aplicado ateacute os dias de hoje em relaccedilatildeo aos segurados especiais Em outras palavras natildeo se extinguiu erga omnes a referida obrigaccedilatildeo tributaacuteria que continuou existente para os segurados especiais com respectivas aliacutequotas e base de caacutelculo constitucio-nais para essas situaccedilotildees

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Financiamento da seguridade social

Ȥ Contribuiccedilatildeo do produtor rural e do pescador Ȥ Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

RE 718874RG ‒ Tema 699red p o ac min Alexandre de MoraesPlenaacuterioDJE de 3-10-2017Informativo STF 859

310iacutendice de teses

Por essa razatildeo natildeo haacute falar que as alteraccedilotildees trazidas pela Emenda Constitucional 201998 ao inciso I do art 195 da CF tiveram o condatildeo de realizar a repristinaccedilatildeo da exigecircncia da contribuiccedilatildeo no tocante aos empregadores rurais pessoas fiacutesicas fi-xadas com base na receita Tampouco se trata da ocorrecircncia de constitucionalidade superveniente em que a ediccedilatildeo da Emenda Constitucional 201998 teria realizado o aproveitamento das aliacutequotas e bases de caacutelculo de contribuiccedilatildeo social declaradas anteriormente inconstitucionais pelo STF e retiradas do ordenamento juriacutedico

Com isso a nova regulamentaccedilatildeo do texto constitucional (poacutes-Emenda Constitu-cional 201998) pela Lei 102562001 alterou o art 25 da Lei 82121991 tatildeo somente para reintroduzir o empregador rural como sujeito passivo da contribuiccedilatildeo ‒ ainda existente para os segurados especiais ‒ sem desta vez incorrer no viacutecio de inconsti-tucionalidade formal que havia maculado a anterior redaccedilatildeo do art 25 dada pela Lei 95281997 e que estava em conflito com a redaccedilatildeo original do art 195 I da CF7

1 ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais I ndash do empregador da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei incidentes sobre a) a folha de salaacuterios e demais rendimen-tos do trabalho pagos ou creditados a qualquer tiacutetulo agrave pessoa fiacutesica que lhe preste serviccedilo mesmo sem viacutenculo empregatiacutecio b) a receita ou o faturamento c) o lucrordquo

2 ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais () sect 4ordm A lei poderaacute instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenccedilatildeo ou expansatildeo da seguridade social obedecido o disposto no art 154 Irdquo

3 ldquoArt 154 A Uniatildeo poderaacute instituir I ndash mediante lei complementar impostos natildeo previstos no artigo anterior desde que sejam natildeo cumulativos e natildeo tenham fato gerador ou base de caacutelculo proacuteprios dos discriminados nesta Constituiccedilatildeo II ndash na iminecircncia ou no caso de guerra externa impostos extraordinaacuterios compreendidos ou natildeo em sua competecircncia tributaacuteria os quais seratildeo suprimidos gradativamente cessadas as causas de sua criaccedilatildeordquo

4 ldquoArt 25 A contribuiccedilatildeo do empregador rural pessoa fiacutesica em substituiccedilatildeo agrave contribuiccedilatildeo de que tratam os incisos I e II do art 22 e a do segurado especial referidos respectivamente na aliacutenea a do inciso V e no inciso VII do art 12 desta Lei destinada agrave Seguridade Social eacute de I ndash 12 (um inteiro e dois deacutecimos por cento) da receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da sua produccedilatildeo II ndash 01 da receita bruta proveniente da comercializaccedilatildeo da sua produccedilatildeo para financiamento das prestaccedilotildees por acidente do trabalhordquo

5 RE 363852 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 23-4-2010

311iacutendice de teses

6 RE 596177 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 29-8-2011

7 Redaccedilatildeo original do art 195 I da CF ldquoArt 195 A seguridade social seraacute financiada por toda a socie-dade de forma direta e indireta nos termos da lei mediante recursos provenientes dos orccedilamentos da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios e das seguintes contribuiccedilotildees sociais I ndash dos empregadores incidente sobre a folha de salaacuterios o faturamento e o lucrordquo (Vide EC 20 de 1998)

BENEFIacuteCIOS PREVIDENCIAacuteRIOSDIREITO PREVIDENCIAacuteRIO

313iacutendice de teses

No acircmbito do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) somente lei pode

criar benefiacutecios e vantagens previdenciaacuterias natildeo havendo por ora previsatildeo

legal do direito agrave ldquodesaposentaccedilatildeordquo sendo constitucional a regra do art 18

sect 2ordm da Lei 821319911

ldquoO fato de natildeo haver contraprestaccedilatildeo a essas contribuiccedilotildees vertidas ao Sistema Pre-videnciaacuterio natildeo significa ofensa ao texto constitucional () A solidariedade que estaacute na base desse sistema de proteccedilatildeo social e que inspira o regime de reparticcedilatildeo simples ndash vigente em nosso ordenamento ndash afasta desde logo qualquer viacutecio de inconstitucionalidade que pudesse ser invocado contra as normas que dispotildeem a respeito da exigecircncia de contribuiccedilatildeo dos segurados aposentados que retornam ao mercado de trabalhordquo2

ldquoContrariando a teacutecnica e o objetivo do contrato de seguro no qual buscou no passado a inspiraccedilatildeo a seguridade social natildeo pode se ater a uma correspondecircncia es-trita entre a obrigaccedilatildeo de contribuir e o direito agraves prestaccedilotildees A contribuiccedilatildeo eacute social por representar a parcela fornecida pela pessoa fiacutesica ou juriacutedica a um fundo que se destina a impedir que todos os cidadatildeos padeccedilam necessidades Aliaacutes funcionando como verdadeiro mecanismo de distribuiccedilatildeo de riquezas nacionais a seguridade so-cial pode vir a ser mais utilizada precisamente por aqueles que para ela nunca contri-buiacuteram e vice-versa pode quase natildeo servir aos que maiores contribuiccedilotildees verteram para o sistemardquo3

Logo se o RGPS possui jaacute haacute algum tempo feiccedilatildeo nitidamente solidaacuteria e contri-butiva natildeo se vislumbra nenhuma inconstitucionalidade na norma do art 18 sect 2ordm da Lei 82131991 que veda aos aposentados que permaneccedilam em atividade ou a

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Benefiacutecios previdenciaacuterios

Ȥ Aposentadorias Ȥ Desaposentaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

RE 381367DJE de 31-10-2017RE 661256DJE de 28-9-2017RE 827833DJE de 2-10-2017RG ‒ Tema 503red p o ac min Dias ToffoliPlenaacuterioInformativo STF 845

314iacutendice de teses

essa retornem o recebimento de qualquer prestaccedilatildeo adicional em razatildeo disso exceto salaacuterio-famiacutelia e reabilitaccedilatildeo profissional4

Tampouco eacute o caso de se conferir a ela ldquointerpretaccedilatildeo conforme ao texto consti-tucional em vigorrdquo pois eacute clara a interpretaccedilatildeo que vecircm dando a Uniatildeo e o INSS no sentido de que esse dispositivo combinado com o art 181-B do Decreto 304819995 impede a desaposentaccedilatildeo

Embora a Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo vede expressamente a desaposentaccedilatildeo tampouco prevecirc o direito que se pretende ver reconhecido Ao contraacuterio a CF dis-potildee de forma clara e especiacutefica6 que ficam remetidas agrave legislaccedilatildeo ordinaacuteria as hipoacutete-ses em que as contribuiccedilotildees vertidas ao sistema previdenciaacuterio repercutem de forma direta na concessatildeo dos benefiacutecios

Natildeo haacute que se olvidar que o art 96 II da Lei 821319917 proiacutebe expressamente que o tempo de serviccedilo jaacute aproveitado para a concessatildeo da aposentadoria seja nova-mente computado Aleacutem disso o Supremo Tribunal Federal (STF) em momento algum declarou a inconstitucionalidade desses dispositivos8 O STF antes do reco-nhecimento da repercussatildeo geral dessa mateacuteria vinha considerando como tese de natureza infraconstitucional e de eventual ofensa reflexa a questatildeo da possibilidade de renuacutencia da aposentadoria para a obtenccedilatildeo de outros benefiacutecios

Dessa forma a desaposentaccedilatildeo natildeo possui previsatildeo legal e em razatildeo disso natildeo tem natureza juriacutedica de ato administrativo mesmo porque a praacutetica de qualquer ato desse tipo pressupotildee o atendimento ao princiacutepio da legalidade administrativa

Por fim natildeo bastasse isso se a aposentadoria foi declarada por meio de ato admi-nistrativo liacutecito natildeo haacute que se falar em desconstituiccedilatildeo do ato mediante desaposenta-ccedilatildeo Afinal se liacutecita foi a concessatildeo do direito previdenciaacuterio sua retirada do mundo juriacutedico natildeo poderia ser admitida com efeitos ex tunc

1 ldquoArt 18 O Regime Geral de Previdecircncia Social compreende as seguintes prestaccedilotildees devidas inclu-sive em razatildeo de eventos decorrentes de acidente do trabalho expressas em benefiacutecios e serviccedilos () sect 2ordm O aposentado pelo Regime Geral de Previdecircncia Social ndash RGPS que permanecer em ativi-dade sujeita a este Regime ou a ele retornar natildeo faraacute jus a prestaccedilatildeo alguma da Previdecircncia Social em decorrecircncia do exerciacutecio dessa atividade exceto ao salaacuterio-famiacutelia e agrave reabilitaccedilatildeo profissional quando empregadordquo

2 Trecho do acoacuterdatildeo recorrido proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo que deu origem ao presente recurso extraordinaacuterio

3 BALERA Wagner A seguridade social na Constituiccedilatildeo de 1988 Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1989 p 5152

315iacutendice de teses

4 RE 437640 rel min Sepuacutelveda Pertence 1ordf T DJE de 2-3-2007

5 ldquoArt 181-B As aposentadorias por idade tempo de contribuiccedilatildeo e especial concedidas pela previ-decircncia social na forma deste Regulamento satildeo irreversiacuteveis e irrenunciaacuteveisrdquo

6 ldquoArt 201 A previdecircncia social seraacute organizada sob a forma de regime geral de caraacuteter contributivo e de filiaccedilatildeo obrigatoacuteria observados criteacuterios que preservem o equiliacutebrio financeiro e atuarial e atenderaacute nos termos da lei a () sect 4ordm Eacute assegurado o reajustamento dos benefiacutecios para preservar--lhes em caraacuteter permanente o valor real conforme criteacuterios definidos em leirdquo

7 ldquoArt 96 O tempo de contribuiccedilatildeo ou de serviccedilo de que trata esta Seccedilatildeo seraacute contado de acordo com a legislaccedilatildeo pertinente observadas as normas seguintes () II ndash eacute vedada a contagem de tempo de serviccedilo puacuteblico com o de atividade privada quando concomitantesrdquo

8 RE 442480 rel min Caacutermen Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 11-12-2008 AI 545274 rel min Marco Aureacutelio decisatildeo monocraacutetica DJ de 7-5-2007 AI 220803 rel min Sepuacutelveda Pertence deci-satildeo monocraacutetica DJ de 14-12-2005 AI 643455 rel min Sepuacutelveda Pertence decisatildeo monocraacutetica DJ de 18-4-2007 RE 576466 rel min Cezar Peluso decisatildeo monocraacutetica DJE de 17-2-2010 RE 656268 rel min Caacutermen Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 5-12-2011 RE 643963 rel min Caacuter-men Luacutecia decisatildeo monocraacutetica DJE de 9-12-2011 e AI 851605 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 23-11-2011

316iacutendice de teses

Os efeitos financeiros das revisotildees de aposentadoria concedidas com base

no art 6ordm-A da Emenda Constitucional 4120031 introduzido pela Emenda

Constitucional 702012 somente se produziratildeo a partir da data de sua pro-

mulgaccedilatildeo (30-3-2012)

Haacute expressa determinaccedilatildeo no proacuteprio texto da Emenda Constitucional 702012 de que os efeitos financeiros nela previstos somente ocorreratildeo a partir da data de pro-mulgaccedilatildeo da emenda na forma do seu art 2ordm2 sob pena inclusive de violaccedilatildeo ao art 195 sect 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal que exige indicaccedilatildeo da fonte de custeio para a majoraccedilatildeo de benefiacutecio previdenciaacuterio Natildeo haacute portanto margem para maiores questionamentos acerca do termo inicial dos efeitos financeiros da referida emen-da constitucional

Caso se entendesse diversamente a consequecircncia seria a condenaccedilatildeo da Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica ao pagamento da diferenccedila entre os proventos efetivamente per-cebidos no periacuteodo anterior agrave vigecircncia da Emenda Constitucional 702012 e aqueles calculados de forma mais vantajosa com incidecircncia de encargos de mora No entan-to por imposiccedilatildeo do princiacutepio da legalidade natildeo era liacutecito agrave Administraccedilatildeo proceder com o pagamento de proventos em desconformidade com o texto constitucional Nessa medida retroagir os efeitos financeiros da Emenda Constitucional 702012 aleacutem de contrariar seu texto expresso implicaria em enriquecimento sem causa dos aposentados em questatildeo em prejuiacutezo do eraacuterio

1 ldquoArt 6ordm-A O servidor da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios incluiacutedas suas au-tarquias e fundaccedilotildees que tenha ingressado no serviccedilo puacuteblico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Emen-da Constitucional e que tenha se aposentado ou venha a se aposentar por invalidez permanente com fundamento no inciso I do sect 1ordm do art 40 da Constituiccedilatildeo Federal tem direito a proventos de aposentadoria calculados com base na remuneraccedilatildeo do cargo efetivo em que se der a aposentado-ria na forma da lei natildeo sendo aplicaacuteveis as disposiccedilotildees constantes dos sectsect 3ordm 8ordm e 17 do art 40 da Constituiccedilatildeo Federalrdquo

Direito Previdenciaacuterio Ȥ Benefiacutecios previdenciaacuterios

Ȥ Aposentadorias Ȥ Aposentadoria por invalidez ndash Repercussatildeo Geral

RE 924456RG ‒ Tema 754red p o ac min Alexandre de MoraesPlenaacuterioDJE de 8-9-2017Informativo STF 860

317iacutendice de teses

2 ldquoArt 2ordm A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como as respectivas autar-quias e fundaccedilotildees procederatildeo no prazo de 180 (cento e oitenta) dias da entrada em vigor desta Emenda Constitucional agrave revisatildeo das aposentadorias e das pensotildees delas decorrentes concedi-das a partir de 1ordm de janeiro de 2004 com base na redaccedilatildeo dada ao sect 1ordm do art 40 da Constituiccedilatildeo Federal pela Emenda Constitucional n 20 de 15 de dezembro de 1998 com efeitos financeiros a partir da data de promulgaccedilatildeo desta Emenda Constitucionalrdquo

DIR

E

PRO

CC

IVIL

DIR

EIT

O

PRO

CES

SUA

L C

IVIL

SUJEITOS DO PROCESSODIREITO PROCESSUAL CIVIL

321iacutendice de teses

Eacute cabiacutevel a fixaccedilatildeo de honoraacuterios recursais prevista no art 85 sect 11 do Coacutedi-

go de Processo Civil (CPC)1 mesmo quando o advogado da parte recorrida

natildeo apresentar contrarrazotildees ou contraminuta

ldquoA expressatildeo lsquotrabalho adicionalrsquo que estaacute no sect 11 desse artigo 85 eacute um gecircnero que compreende vaacuterias espeacutecies dentre elas a contraminuta ou as contrarrazotildees Haacute outras espeacutecies de trabalho adicionalrdquo2

ldquoEsse lsquotrabalho adicionalrsquo natildeo se restringe necessariamente a uma peccedila processual existe todo um trabalho de acompanhamento eventualmente de convencimento oral que faz parte do dia a dia do advogadordquo3

Aleacutem disso a sucumbecircncia recursal surgiu com o objetivo de evitar a reiteraccedilatildeo de recursos ou seja de impedir a interposiccedilatildeo de recursos que seratildeo desprovidos in-dependentemente da apresentaccedilatildeo de contrarrazotildees A finalidade natildeo foi remunerar mais um profissional porque o outro apresentou contrarrazotildees

1 ldquoArt 85 A sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tri-bunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando conforme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

2 Trecho do voto do ministro Edson Fachin no presente julgamento

3 Trecho do voto do ministro Ricardo Lewandowski no presente julgamento

Direito Processual Civil Ȥ Sujeitos do processo

Ȥ Partes e procuradores Ȥ Deveres das partes e de seus procuradores

AO 2063 AgRred p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 14-9-2017Informativo STF 865

EXECUCcedilAtildeODIREITO PROCESSUAL CIVIL

323iacutendice de teses

O art 1ordm-F da Lei 949419971 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na

parte em que disciplina os juros moratoacuterios aplicaacuteveis a condenaccedilotildees da Fa-

zenda Puacuteblica eacute inconstitucional ao incidir sobre deacutebitos oriundos de rela-

ccedilatildeo juriacutedico-tributaacuteria aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de

mora pelos quais a Fazenda Puacuteblica remunera seu creacutedito tributaacuterio em res-

peito ao princiacutepio constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput2) quanto agraves

condenaccedilotildees oriundas de relaccedilatildeo juriacutedica natildeo tributaacuteria a fixaccedilatildeo dos juros

moratoacuterios segundo o iacutendice de remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute

constitucional permanecendo hiacutegido nesta extensatildeo o disposto no art 1ordm-F

da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009

A utilizaccedilatildeo da remuneraccedilatildeo prevista na Lei 94941997 fere a isonomia e viola a equidade no tratamento das diacutevidas tributaacuterias O iacutendice utilizado pela Fazenda Puacute-blica nos juros moratoacuterios aplicados aos seus creacuteditos tributaacuterios ndash taxa do Sistema Especial de Liquidaccedilatildeo e de Custoacutedia (SELIC) ndash eacute superior ao iacutendice da poupanccedila ndash Lei 81771991 art 123 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 127032012

A igualdade deve ser investigada em cada relaccedilatildeo juriacutedica especiacutefica (eg tributaacuteria estatutaacuteria processual contratual etc) e natildeo a partir de uma dicotomia geneacuterica entre poder puacuteblicocidadatildeo Assim o Estado e o particular devem estar sujeitos agrave mesma disciplina em mateacuteria de juros no contexto de uma relaccedilatildeo juriacutedica de igual natureza4

Nesse sentido deve ser seguida a orientaccedilatildeo jurisprudencial firmada no julgamen-to das ADI 4357 e ADI 4425 segundo a qual ldquoa quantificaccedilatildeo dos juros moratoacuterios relativos a deacutebitos fazendaacuterios inscritos em precatoacuterios segundo o iacutendice de remune-raccedilatildeo da caderneta de poupanccedila vulnera o princiacutepio constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput) ao incidir sobre deacutebitos estatais de natureza tributaacuteria pela discrimina-ccedilatildeo em detrimento da parte processual privada que salvo expressa determinaccedilatildeo em contraacuterio responde pelos juros da mora tributaacuteria agrave taxa de 1 ao mecircs em favor do Estado (ex vi do art 161 sect 1ordm5 CTN)rdquo6

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 870947RG ‒ Tema 810rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 20-11-2017Informativo STF 878

324iacutendice de teses

Isso porque como natildeo haacute incidecircncia de juros em outras oportunidades eacute imperio-so entender que a orientaccedilatildeo firmada nas referidas accedilotildees diretas ao aludir a ldquoprecatoacute-riosrdquo de natureza tributaacuteria volta-se a rigor para as condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica isto eacute para a fixaccedilatildeo dos juros moratoacuterios ao final da fase de conhecimento do processo judicial

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na

parte em que disciplina a atualizaccedilatildeo monetaacuteria das condenaccedilotildees impostas

agrave Fazenda Puacuteblica segundo a remuneraccedilatildeo oficial da caderneta de poupanccedila

revela-se inconstitucional ao impor restriccedilatildeo desproporcional ao direito de

propriedade (CF art 5ordm XXII7) uma vez que natildeo se qualifica como medida

adequada a capturar a variaccedilatildeo de preccedilos da economia sendo inidocircnea a pro-

mover os fins a que se destina

O iacutendice aplicaacutevel ao caacutelculo da remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute fixado ex ante Eacute portanto inadequado para refletir corretamente a variaccedilatildeo de preccedilos da economia que eacute sempre constatada ex post

Com efeito a finalidade baacutesica da correccedilatildeo monetaacuteria eacute preservar o poder aqui-sitivo da moeda diante da sua desvalorizaccedilatildeo nominal provocada pela inflaccedilatildeo En-quanto instrumento de troca a moeda fiduciaacuteria que conhecemos hoje soacute tem valor na medida em que eacute capaz de ser transformada em bens e serviccedilos Ocorre que a inflaccedilatildeo por representar o aumento persistente e generalizado do niacutevel de preccedilos distorce no tempo a correspondecircncia entre valores real e nominal8

Esse estreito nexo entre correccedilatildeo monetaacuteria e inflaccedilatildeo exige por imperativo de adequaccedilatildeo loacutegica que os instrumentos destinados a realizar a primeira sejam ca-pazes de capturar a segunda Em outras palavras iacutendices de correccedilatildeo monetaacuteria devem ser ao menos em tese aptos a refletir a variaccedilatildeo de preccedilos que caracteriza o fenocircmeno inflacionaacuterio o que somente seraacute possiacutevel se consubstanciarem autecircnti-cos iacutendices de preccedilos

A hipoacutetese aqui diz respeito agrave idoneidade do criteacuterio fixado pelo legislador para atingir o fim a que se destina Assim a adequaccedilatildeo entre meios e fins caracteriza a primeira etapa do itineraacuterio metodoloacutegico exigido pelo dever de proporcionalida-de o qual a seu turno incide sobre todo e qualquer ato estatal conformador de direitos fundamentais9

325iacutendice de teses

Eacute certo que a promoccedilatildeo da finalidade colimada admite graus distintos de intensi-dade qualidade e certeza sendo imperioso respeitar a vontade objetiva do Legislati-vo e do Executivo sempre que o meio escolhido promova minimamente o fim visa-do Sem embargo em hipoacuteteses de inadequaccedilatildeo manifesta revela-se indispensaacutevel a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio

Nesse contexto cabe destacar que a atualizaccedilatildeo monetaacuteria da condenaccedilatildeo impos-ta agrave Fazenda Puacuteblica ocorre em dois momentos distintos

O primeiro se daacute ao final da fase de conhecimento com o tracircnsito em julgado da decisatildeo condenatoacuteria Essa correccedilatildeo inicial compreende o periacuteodo de tempo entre o dano efetivo (ou o ajuizamento da demanda) e a imputaccedilatildeo de responsabilidade agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica A atualizaccedilatildeo eacute estabelecida pelo proacuteprio juiacutezo prolator da decisatildeo condenatoacuteria no exerciacutecio de atividade jurisdicional

O segundo momento ocorre jaacute na fase executiva quando o valor devido eacute efetiva-mente entregue ao credor Esta uacuteltima correccedilatildeo monetaacuteria cobre o lapso temporal en-tre a inscriccedilatildeo do creacutedito em precatoacuterio e o efetivo pagamento O caacutelculo eacute realizado no exerciacutecio de funccedilatildeo administrativa pela Presidecircncia do Tribunal a que vinculado o juiacutezo prolator da decisatildeo condenatoacuteria

O Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar a ADI 4357 e a ADI 4425 decla-rou a inconstitucionalidade da correccedilatildeo monetaacuteria pela Taxa Referencial (TR) apenas quanto ao segundo periacuteodo isto eacute quanto ao intervalo de tempo compreendido en-tre a inscriccedilatildeo do creacutedito em precatoacuterio e o efetivo pagamento

O entendimento firmado no referido julgamento deve ser estendido ao primeiro periacuteodo relativo agrave tramitaccedilatildeo da accedilatildeo judicial Isso porque a remuneraccedilatildeo da caderne-ta de poupanccedila natildeo guarda pertinecircncia com a variaccedilatildeo de preccedilos na economia sendo manifesta e abstratamente incapaz de mensurar a variaccedilatildeo do poder aquisitivo da moe-da Essa inidoneidade fica patente em pelo menos quatro vertentes loacutegico-conceitual teacutecnico-metodoloacutegico histoacuterico-jurisprudencial e pragmaacutetico-consequencialista

Em primeiro lugar haacute um aspecto de ordem loacutegico-conceitual Remuneraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo de valores satildeo conceitos juriacutedicos bem delimitados e distintos

Como o roacutetulo sugere a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila representa o retorno devido ao investidor em razatildeo da perda de disponibilidade sobre capital proacute-prio Em termos juriacutedicos satildeo os frutos civis do capital os juros em linguagem eco-nocircmica representam o custo de oportunidade do capital

326iacutendice de teses

Jaacute a correccedilatildeo monetaacuteria traduz-se na mera recomposiccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda em virtude do fenocircmeno inflacionaacuterio Natildeo se destina a remunerar qualquer coisa senatildeo apenas a manter constante o valor real de certa expressatildeo monetaacuteria

Eacute possiacutevel pois que a remuneraccedilatildeo do capital seja em alguma medida predefini-da Jaacute a correccedilatildeo monetaacuteria natildeo eacute jamais prefixada uma vez que a inflaccedilatildeo eacute insusce-tiacutevel de captaccedilatildeo aprioriacutestica A variaccedilatildeo de preccedilos na economia eacute sempre constatada ex post mas nunca fixada ex ante exceto em regimes ditatoriais em que haacute controle de preccedilos e economia planificada Isso denota que remuneraccedilatildeo e rendimento natildeo equivalem ao restabelecimento do valor da moeda no tempo

Destarte o legislador ordinaacuterio ao utilizar criteacuterio de remuneraccedilatildeo do capital com o objetivo de promover sua atualizaccedilatildeo incorre em evidente desvio de finalida-de subvertendo os institutos baacutesicos da boa teacutecnica juriacutedica

Sob o acircngulo teacutecnico-metodoloacutegico nenhum dos componentes da remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila guarda relaccedilatildeo com a variaccedilatildeo de preccedilos de determinado pe-riacuteodo de tempo Com efeito o tema estaacute disciplinado pelo art 12 da Lei 8177199110 com atual redaccedilatildeo dada pela Lei 127032012

A remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila ndash diferentemente de qualquer outro iacutendice oficial de inflaccedilatildeo ndash eacute sempre prefixada seja na parte jaacute prevista na lei (05 ao mecircs ou 70 da meta da taxa Selic ao ano consoante as hipoacuteteses do inciso II) seja na parte fixada pelo Banco Central (a TR relativa agrave respectiva data de aniversaacuterio na for-ma do inciso I atualmente calculada com base em Certificados de Depoacutesito Bancaacuterio e Recibos de Depoacutesito Bancaacuterio prefixados)

Essa circunstacircncia deixa patente a desvinculaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo dos preccedilos da economia e a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila o que a impede de caracte-rizar-se quer sob o acircngulo formal (loacutegico-conceitual) quer sob o acircngulo material (teacutecnico-metodoloacutegico) como termocircmetro da inflaccedilatildeo

Em terceiro lugar a inidoneidade se manifesta em perspectiva histoacuterico-jurispru-dencial O STF em outras ocasiotildees jaacute se pronunciou sobre a controveacutersia Ao julgar a ADI 493 o Plenaacuterio do Supremo Tribunal entendeu que a TR natildeo foi criada para captar a variaccedilatildeo de preccedilos na economia ldquoa Taxa Referencial (TR) natildeo eacute iacutendice de correccedilatildeo monetaacuteria pois refletindo as variaccedilotildees do custo primaacuterio da captaccedilatildeo dos depoacutesitos a prazo fixo natildeo constitui iacutendice que reflita a variaccedilatildeo do poder aquisitivo da moedardquo11

Por seu turno no julgamento das ADI 4357 e ADI 4425 o STF reiterou essa compreensatildeo ao pontuar a inidoneidade prima facie da remuneraccedilatildeo da caderneta

327iacutendice de teses

de poupanccedila para mensurar o fenocircmeno inflacionaacuterio ldquoa inflaccedilatildeo fenocircmeno tipi-camente econocircmico-monetaacuterio mostra-se insuscetiacutevel de captaccedilatildeo aprioriacutestica (ex ante) de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila) eacute inidocircneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflaccedilatildeo do periacuteodo)rdquo12

Ademais diante desse quadro jurisprudencial sedimentado haveria flagrante in-coerecircncia na aplicaccedilatildeo de criteacuterios distintos de correccedilatildeo monetaacuteria de precatoacuterios e de condenaccedilotildees judiciais da Fazenda Puacuteblica

Por fim a quarta vertente pela qual a inidoneidade se manifesta eacute de iacutendole prag-maacutetico-consequencialista

Com efeito admitir que o poder puacuteblico arbitre segundo criteacuterios de conveniecircn-cia o iacutendice de correccedilatildeo incidente sobre suas diacutevidas configura niacutetida ldquolegislaccedilatildeo em causa proacutepriardquo subversiva do Estado de Direito ao estimular o uso especulativo do Poder Judiciaacuterio em detrimento do direito de propriedade do cidadatildeo

Em um contexto econocircmico como o presente marcado por taxas de inflaccedilatildeo per-sistentemente altas13 a discrepacircncia entre a remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila e a meta de inflaccedilatildeo fixada pelo governo eacute a um soacute tempo aviltante para o credor particular e vantajosa para o devedor puacuteblico

Cabe destacar que o regime brasileiro de metas de inflaccedilatildeo natildeo utiliza a remunera-ccedilatildeo da caderneta de poupanccedila como seu criteacuterio norteador De forma anaacuteloga natildeo haacute qualquer contrato entre particular e poder puacuteblico que seja reajustado pela caderneta de poupanccedila Aliaacutes a Lei 86661993 prevecirc expressamente que o criteacuterio de reajuste dos ajustes firmados com o poder puacuteblico ldquodeveraacute retratar a variaccedilatildeo efetiva do custo de produccedilatildeo admitida a adoccedilatildeo de iacutendices especiacuteficos ou setoriaisrdquo (art 40 XI14)

Se o Estado natildeo utiliza a caderneta de poupanccedila como iacutendice de correccedilatildeo quando tem o objetivo de passar credibilidade ao investidor ou de atrair contratantes eacute por-que tem consciecircncia de que o aludido iacutendice natildeo eacute adequado a medir a variaccedilatildeo de preccedilos na economia

Por isso beira a iniquidade permitir utilizaacute-lo quando em questatildeo condenaccedilotildees ju-diciais O cidadatildeo que recorre ao Poder Judiciaacuterio natildeo optou por um investimento ou negoacutecio juriacutedico com o Estado Foi obrigado a litigar Tendo seu direito reconhecido em juiacutezo vulnera a claacuteusula do rule of law vecirc-lo definhar em razatildeo de um regime de atualizaccedilatildeo casuiacutesta injustificaacutevel e beneacutefico apenas da autoridade estatal

328iacutendice de teses

1 ldquoArt 1ordm-F Nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica independentemente de sua natureza e para fins de atualizaccedilatildeo monetaacuteria remuneraccedilatildeo do capital e compensaccedilatildeo da mora haveraacute a incidecircncia uma uacutenica vez ateacute o efetivo pagamento dos iacutendices oficiais de remuneraccedilatildeo baacutesica e juros aplicados agrave caderneta de poupanccedilardquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

3 ldquoArt 12 Em cada periacuteodo de rendimento os depoacutesitos de poupanccedila seratildeo remunerados I ndash como remuneraccedilatildeo baacutesica por taxa correspondente agrave acumulaccedilatildeo das TRD [Taxa Referencial Diaacuteria] no periacuteodo transcorrido entre o dia do uacuteltimo creacutedito de rendimento inclusive e o dia do creacutedito de rendimento exclusive II ndash como remuneraccedilatildeo adicional por juros de a) 05 (cinco deacutecimos por cento) ao mecircs enquanto a meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil for superior a 85 (oito inteiros e cinco deacutecimos por cento) ou b) 70 (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil mensalizada vigente na data de iniacutecio do periacuteodo de rendimento nos demais casosrdquo

4 RE 453740 rel min Gilmar Mendes P DJE de 24-8-2007

5 ldquoArt 161 O creacutedito natildeo integralmente pago no vencimento eacute acrescido de juros de mora seja qual for o motivo determinante da falta sem prejuiacutezo da imposiccedilatildeo das penalidades cabiacuteveis e da aplicaccedilatildeo de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributaacuteria sect 1ordm Se a lei natildeo dispuser de modo diverso os juros de mora satildeo calculados agrave taxa de um por cento ao mecircsrdquo

6 ADI 4357 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 e ADI 4425 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 19-12-2013

7 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXII ndash eacute garantido o direito de propriedaderdquo

8 Cf MANKIW NG Macroeconomia Rio de Janeiro LTC 2010 p 94 DORNBUSH R FISCHER S STARTZ R Macroeconomia Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 2009 p 10 BLANCHARD O Macroeconomia Satildeo Paulo Prentice Hall 2006 p 29

9 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malhei-ros 2015

10 ldquoArt 12 Em cada periacuteodo de rendimento os depoacutesitos de poupanccedila seratildeo remunerados I ndash como remuneraccedilatildeo baacutesica por taxa correspondente agrave acumulaccedilatildeo das TRD [Taxa Referencial Diaacuteria] no periacuteodo transcorrido entre o dia do uacuteltimo creacutedito de rendimento inclusive e o dia do creacutedito de rendimento exclusive II ndash como remuneraccedilatildeo adicional por juros de a) 05 (cinco deacutecimos por cento) ao mecircs enquanto a meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil for superior a 85 (oito inteiros e cinco deacutecimos por cento) ou b) 70 (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano definida pelo Banco Central do Brasil mensalizada vigente na data de iniacutecio do periacuteodo de rendimento nos demais casosrdquo

329iacutendice de teses

11 ADI 493 rel min Moreira Alves P DJ de 4-9-1992

12 ADI 4357 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 26-9-2014 e ADI 4425 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 19-12-2013

13 Estimada pelo Banco Central em 95 em 2015 ndash Relatoacuterio de Inflaccedilatildeo v 17 n 3 set 2015

14 ldquoArt 40 O edital conteraacute no preacircmbulo o nuacutemero de ordem em seacuterie anual o nome da reparticcedilatildeo interessada e de seu setor a modalidade o regime de execuccedilatildeo e o tipo da licitaccedilatildeo a menccedilatildeo de que seraacute regida por esta Lei o local dia e hora para recebimento da documentaccedilatildeo e proposta bem como para iniacutecio da abertura dos envelopes e indicaraacute obrigatoriamente o seguinte () XI ndash criteacuterio de reajuste que deveraacute retratar a variaccedilatildeo efetiva do custo de produccedilatildeo admitida a adoccedilatildeo de iacutendices especiacuteficos ou setoriais desde a data prevista para apresentaccedilatildeo da proposta ou do orccedilamento a que essa proposta se referir ateacute a data do adimplemento de cada parcelardquo

330iacutendice de teses

A execuccedilatildeo provisoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer em face da Fazenda Puacuteblica natildeo

atrai o regime constitucional dos precatoacuterios

A sistemaacutetica constitucional dos precatoacuterios natildeo se aplica agraves obrigaccedilotildees de fato posi-tivo ou negativo dada a excepcionalidade do regime de pagamento de deacutebitos pela Fazenda Puacuteblica cuja interpretaccedilatildeo deve ser restrita Por consequecircncia a situaccedilatildeo rege-se pela regra geral de que toda decisatildeo natildeo autossuficiente pode ser cumprida de maneira imediata na pendecircncia de recursos natildeo recebidos com efeito suspensivo

Natildeo se encontra paracircmetro constitucional ou legal que obste a pretensatildeo de exe-cuccedilatildeo provisoacuteria de sentenccedila condenatoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer relativa agrave implan-taccedilatildeo de pensatildeo de militar antes do tracircnsito em julgado dos embargos do devedor opostos pela Fazenda Puacuteblica

Assim natildeo haacute razatildeo para que a obrigaccedilatildeo de fazer tenha seu efeito financeiro postergado em funccedilatildeo do tracircnsito em julgado sob pena de hipertrofiar uma regra constitucional de iacutendole excepcionaliacutessima

Haacute compatibilidade material entre o regime de cumprimento integral de decisatildeo provisoacuteria e a sistemaacutetica dos precatoacuterios haja vista que este apenas se refere agraves obri-gaccedilotildees de pagar quantia certa

ldquoNatildeo dependendo da expediccedilatildeo de precatoacuterio tampouco estando tuteladas pelo art 100 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal1 as sentenccedilas que contecircm obrigaccedilatildeo de natu-reza diversa da obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa poderatildeo normalmente ser objeto de execuccedilatildeo provisoacuteria Dessa forma a execuccedilatildeo provisoacuteria de fazer natildeo fazer e entre-gar coisa eacute incontestavelmente cabiacutevel contra a Fazenda Puacuteblicardquo2

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 3ordm O disposto no caput

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 573872RG ‒ Tema 45rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 11-9-2017Informativo STF 866

331iacutendice de teses

deste artigo relativamente agrave expediccedilatildeo de precatoacuterios natildeo se aplica aos pagamentos de obrigaccedilotildees definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentenccedila judicial transitada em julgadordquo

2 NEVES Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Manual de direito processual civil Satildeo Paulo Meacutetodo 2009 p 809-810

332iacutendice de teses

Incidem juros da mora entre a data da realizaccedilatildeo dos caacutelculos e a da requisi-

ccedilatildeo ou do precatoacuterio

O entendimento da natildeo incidecircncia dos juros da mora durante o prazo de dezoito meses previsto no art 100 sect 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF) foi superado pela Emenda Constitucional 622009 a qual incluiu o sect 121 no art 100 da Carta

Em outras palavras hoje haacute norma constitucional confirmando que o sistema de precatoacuterio ndash que abrange as requisiccedilotildees de pequeno valor ndash natildeo pode ser confundido com moratoacuteria2 Por essa razatildeo os juros da mora devem incidir ateacute o pagamento do deacutebito

Aleacutem disso o Verbete Vinculante 17 da Suacutemula3 e 4 natildeo deve ser observado nessa hipoacutetese porquanto natildeo se trata do periacuteodo de dezoito meses aludido no art 100 sect 5ordm da CF5

Cabe ressaltar que no plano infraconstitucional antes mesmo da ediccedilatildeo da Emenda Constitucional 622009 entrou em vigor a Lei 119602009 que modificou o art 1ordm-F da Lei 949419976 A norma passou a prever a incidecircncia dos juros para ldquocompensar a morardquo nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica ldquoateacute o efetivo pagamentordquo

Diante disso o quadro revela a ausecircncia de fundamento constitucional ou legal que justifique o afastamento dos juros da mora enquanto persistir a inadimplecircncia do Estado Isso por certo abrange o lapso temporal entre a data da elaboraccedilatildeo dos caacutelculos e a requisiccedilatildeo de pequeno valor

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 12 A partir da promul-gaccedilatildeo desta Emenda Constitucional a atualizaccedilatildeo de valores de requisitoacuterios apoacutes sua expediccedilatildeo ateacute o efetivo pagamento independentemente de sua natureza seraacute feita pelo iacutendice oficial de re-

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 579431RG ‒ Tema 96rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 30-6-2017Informativo STF 861

333iacutendice de teses

muneraccedilatildeo baacutesica da caderneta de poupanccedila e para fins de compensaccedilatildeo da mora incidiratildeo juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupanccedila ficando excluiacuteda a incidecircncia de juros compensatoacuteriosrdquo

2 ldquoO precatoacuterio estampa o que se conteacutem no tiacutetulo executivo na sentenccedila coberta pela preclusatildeo maior a qual impondo condenaccedilatildeo ao Estado certifica a mais natildeo poder que ele mostrou-se inadimplente devedor pois deixou de satisfazer ndash levando o cidadatildeo ao Judiciaacuterio ndash uma obrigaccedilatildeo que deveria observar espontaneamente O precatoacuterio natildeo consubstancia uma moratoacuteria natildeo eacute um atestado liberatoacuterio Ao contraacuterio pressupotildee o inadimplemento E se este persiste incidem juros Natildeo posso imaginar que simplesmente haja um espaccedilo de tempo durante o qual o Estado natildeo eacute considerado inadimplente Estaacute inadimplente conforme certificado na sentenccedila proferida a con-templar os juros da mora ateacute o pagamento ateacute a liquidaccedilatildeo do deacutebitordquo (Trecho do voto do ministro Marco Aureacutelio no julgamento do RE 298616 rel min Gilmar Mendes P DJE de 3-10-2003)

3 Enunciado 17 da Suacutemula Vinculante ldquoDurante o periacuteodo previsto no paraacutegrafo 1ordm do artigo 100 da Constituiccedilatildeo natildeo incidem juros de mora sobre os precatoacuterios que nele sejam pagosrdquo

4 ldquoNotem que a Emenda foi publicada em 10 de dezembro de 2009 apoacutes a aprovaccedilatildeo do Verbete Vinculante 17 ocorrida na sessatildeo plenaacuteria de 29 de outubro de 2009 O preceito envolve a incidecircncia de juros simples sobre os requisitoacuterios () Cabe ressaltar a propoacutesito que tramita no Supremo a Proposta de Verbete Vinculante 111 [Formalizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil] por meio da qual se requer o cancelamento ou a revisatildeo do Verbete Vinculante 17 O incidente foi sobrestado pelo ministro Dias Toffoli para aguardar o julgamento deste recurso Assentada a mora da Fazenda ateacute o efetivo pagamento do requisitoacuterio natildeo haacute fundamento juriacutedico para afastar a incidecircncia dos juros moratoacuterios durante o lapso temporal anterior agrave expediccedilatildeo da requisiccedilatildeo de pequeno valor que eacute objeto do extraordinaacuteriordquo (Trecho do voto do ministro Marco Aureacutelio no presente julgamento)

5 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim () sect 5ordm Eacute obrigatoacuteria a inclusatildeo no orccedilamento das entidades de direito puacuteblico de verba necessaacuteria ao pagamento de seus deacutebitos oriundos de sentenccedilas transitadas em julgado constantes de precatoacuterios judiciaacuterios apre-sentados ateacute 1ordm de julho fazendo-se o pagamento ateacute o final do exerciacutecio seguinte quando teratildeo seus valores atualizados monetariamenterdquo

6 ldquoArt 1ordm-F Nas condenaccedilotildees impostas agrave Fazenda Puacuteblica independentemente de sua natureza e para fins de atualizaccedilatildeo monetaacuteria remuneraccedilatildeo do capital e compensaccedilatildeo da mora haveraacute a incidecircncia uma uacutenica vez ateacute o efetivo pagamento dos iacutendices oficiais de remuneraccedilatildeo baacutesica e juros aplicados agrave caderneta de poupanccedilardquo

334iacutendice de teses

Eacute vaacutelida a penhora em bens de pessoa juriacutedica de direito privado realizada

anteriormente agrave sucessatildeo desta pela Uniatildeo natildeo devendo a execuccedilatildeo prosse-

guir mediante precatoacuterio ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 100 caput e sect 1ordm1

O fato de a Uniatildeo suceder processualmente empresa juriacutedica de direito privado natildeo tem o condatildeo de alterar o procedimento de execuccedilatildeo efetivado no regime anterior O pagamento de deacutebitos por precatoacuterios possui a natureza juriacutedica de prerrogativa processual do Estado Traduz-se no direito de natildeo ser financeiramente executado senatildeo por procedimento ou regime de execuccedilatildeo especial do deacutebito bem mais van-tajoso que o resguarda de medidas constritivas como penhora arresto sequestro entre outras

Assim por se tratar de tratamento peculiar concedido agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a Uniatildeo natildeo pode simplesmente transmudar o regime de privado para puacuteblico em prejuiacutezo dos atos juriacutedicos jaacute aperfeiccediloados sugerindo a aplicaccedilatildeo de regra constitu-cional que protege as atividades bens e serviccedilos dos entes puacuteblicos e natildeo de empresas puacuteblicas nem de sociedades de economia mista sob pena de violar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica e do ato juriacutedico perfeito (CF art 5ordm XXXVI2) Com efeito esse privileacutegio natildeo pode retroagir a periacuteodo anterior agrave sucessatildeo eacutepoca em que natildeo incidia nenhum obstaacuteculo agrave constriccedilatildeo dos bens da pessoa juriacutedica de direito privado apenas pelo fato de a Uniatildeo ter assumido o polo passivo da execuccedilatildeo ante a impossibilidade de esse ato ter efeitos retroativos em prejuiacutezo dos atos processuais praticados

Na execuccedilatildeo movida contra a Fazenda Puacuteblica natildeo haacute expropriaccedilatildeo de bens Afi-nal estatildeo revestidos da claacuteusula de inalienabilidade e impenhorabilidade devendo o pagamento do deacutebito submeter-se ao regime de precatoacuterios ou Requisiccedilatildeo de Paga-mento de Pequeno Valor (RPV) prescrito no art 100 da Constituiccedilatildeo

Por expressa disposiccedilatildeo normativa (CF art 173 sect 1ordm II3) bem como pela paciacutefica jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF)4 os privileacutegios da Fazenda Puacute-blica em regra natildeo satildeo extensiacuteveis agraves sociedades de economia mista e agraves empresas

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ‒ Repercussatildeo Geral

RE 693112RG ‒ Tema 355rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 25-5-2017Informativo STF 853

335iacutendice de teses

puacuteblicas porquanto submetidas ao regime juriacutedico das pessoas juriacutedicas de direito privado inclusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comerciais trabalhistas e tributaacuterios5 Apenas excepcionalmente determinadas pessoas juriacutedicas de natureza privada podem submeter-se ao regime de precatoacuterios devendo ser analisadas as pe-culiaridades de cada hipoacutetese

Nessa mesma linha a jurisprudecircncia do STF assentou entendimento de que as normas especiais que regem o processo de execuccedilatildeo por quantia certa contra a Fa-zenda Puacuteblica se estendem a todas as pessoas de direito puacuteblico interno o que abran-ge a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios e suas respectivas autarquias e fundaccedilotildees puacuteblicas Desse modo em regra natildeo eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo do regime de precatoacuterios agraves empresas puacuteblicas nem agraves sociedades de economia mista por consti-tuiacuterem pessoas juriacutedicas de direito privado sujeitas ao regime de execuccedilatildeo comum agraves empresas privadas (CF art 173 sect 1ordm)6

Acresce-se a esse entendimento que de certa forma a mudanccedila do regime do rito de processamento da execuccedilatildeo quando jaacute estabelecida a penhora aproxima-se de fraude contra os credores Afinal a mudanccedila no curso do processo executivo repre-senta uma forma de retirar dos credores a garantia de seus creacuteditos jaacute aperfeiccediloada e consolidada na forma do regime anterior o que eacute inadmissiacutevel

Por fim admitir a pretensatildeo da Uniatildeo neste processo no sentido de submeter o creacutedito dos exequentes agrave ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios torna ainda mais penosa a espera dos ex-trabalhadores em verem realizados seus direitos jaacute reconhecidos e amparados pela coisa julgada

1 ldquoArt 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim sect 1ordm Os deacutebitos de natureza alimentiacutecia compreendem aqueles decorrentes de salaacuterios vencimentos proventos pensotildees e suas complementaccedilotildees benefiacutecios previdenciaacuterios e indenizaccedilotildees por morte ou por invalidez fundadas em responsabilidade civil em virtude de sentenccedila judicial transitada em julgado e seratildeo pagos com preferecircncia sobre todos os demais deacutebitos exceto sobre aqueles referidos no sect 2ordm deste artigordquo

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

336iacutendice de teses

3 ldquoArt 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade eco-nocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando necessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da empresa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas inclusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comerciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

4 RE 599628 red p o ac min Joaquim Barbosa P DJE de 17-10-2011 e AI 616138 AgR rel min Celso de Mello 2ordf T DJE de 11-12-2012

5 Destaca-se que a questatildeo quanto agrave possibilidade de se concederem privileacutegios proacuteprios de pessoa juriacutedica de direito puacuteblico sucessora de empresa privada aos atos processuais praticados antes da sucessatildeo jaacute foi apreciada no julgamento do RE 599176 Na ocasiatildeo o Plenaacuterio concluiu que a imu-nidade reciacuteproca do art 150 VI a da CF natildeo exonera o sucessor das obrigaccedilotildees tributaacuterias relativas aos fatos ocorridos antes da sucessatildeo

6 RE 220906 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 14-11-2002 RE 229696 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca 1ordf T DJ de 19-12-2002 RE 344975 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 16-12-2005 e RE 393032 AgR rel min Caacutermen Luacutecia 1ordf T DJE de 18-12-2009

337iacutendice de teses

A prisatildeo por diacutevida de natureza alimentiacutecia estaacute ligada ao inadimplemento

inescusaacutevel de prestaccedilatildeo natildeo alcanccedilando situaccedilatildeo juriacutedica a revelar cobranccedila

de saldo devedor

A razatildeo de ser da prisatildeo civil no processo de execuccedilatildeo de alimentos eacute compelir o de-vedor a satisfazer alimentos ou seja quantia voltada agrave subsistecircncia do alimentando e natildeo medida constritiva a cobrar diacutevidas preteacuteritas

Direito Processual Civil Ȥ Execuccedilatildeo

Ȥ Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo Ȥ Execuccedilatildeo de alimentos

HC 121426rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 29-3-2017Informativo STF 857

PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNACcedilAtildeO DE DECISOtildeES JUDICIAISDIREITO PROCESSUAL CIVIL

339iacutendice de teses

Eacute cabiacutevel accedilatildeo rescisoacuteria com fundamento no art 485 V do Coacutedigo de Pro-

cesso Civil de 19731 contra decisatildeo que viola literal disposiccedilatildeo do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF)

O RISTF tendo forccedila de lei na ordem anterior agrave Constituiccedilatildeo de 1988 foi por ela recepcionado como norma de igual hierarquia2

1 ldquoArt 485 A sentenccedila de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindida quando () V ndash violar literal disposiccedilatildeo de leirdquo

2 AI 148475 AgR rel min Octavio Gallotti 1ordf T DJ de 30-4-1993 e RE 146747 AgR-EDv rel min Marco Aureacutelio P DJ de 11-4-2003

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Accedilatildeo rescisoacuteria

AR 1551rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 6-11-2017Informativo STF 844

340iacutendice de teses

A partir de 2-5-2017 data da publicaccedilatildeo da ata do julgamento do Tema 246

da repercussatildeo geral1 ndash que reconheceu a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da

Lei 866619932 ndash tornou-se inviaacutevel o manejo da reclamaccedilatildeo constitucional3

com fundamento no julgado da ADC 164 ndash de mesmo objeto

A superveniecircncia do julgamento do recurso paradigma do Tema 246 (RE 760931) im-plica dizer que a conclusatildeo firmada na ADC 16 no que toca agrave sua eficaacutecia vinculante foi plenamente substituiacuteda pela tese firmada em sede de repercussatildeo geral

No julgamento da referida accedilatildeo declaratoacuteria o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da Lei 86661993 Assim passou a ad-mitir a condenaccedilatildeo subsidiaacuteria do ente puacuteblico ao pagamento de verbas trabalhistas inadimplidas por suas contratadas desde que caracterizada a culpa in vigilando ou in eligendo da Administraccedilatildeo

Com base nesse entendimento em alguns casos o STF julgou improcedente re-clamaccedilotildees ajuizadas contra decisotildees da Justiccedila do Trabalho reconhecendo a respon-sabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo quando fundamentadas em evidecircncias de ausecircncia de fiscalizaccedilatildeo do contrato5

Ocorre que ao concluir o julgamento do Tema 246 da repercussatildeo geral o STF afastou a condenaccedilatildeo subsidiaacuteria da Uniatildeo pelas diacutevidas decorrentes de contrato de terceirizaccedilatildeo e fixou a seguinte tese ldquoO inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabilidade pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou sub-sidiaacuterio nos termos do art 71 sect 1ordm da Lei 86661993rdquo6 Com efeito a tese firmada em repercussatildeo geral substituiu o anterior entendimento firmado na ADC 16

Diante disso cabe destacar que a inobservacircncia da tese firmada em repercussatildeo geral somente enseja o ajuizamento da reclamaccedilatildeo quando ldquoesgotadas as instacircn-cias ordinaacuteriasrdquo (CPC2015 art 988 sect 5ordm II7) Nesse sentido a jurisprudecircncia do STF8 exige o correto percurso de todo o iter processual ultimado na interposiccedilatildeo de

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Reclamaccedilatildeo

Rcl 27789 AgRrel min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 23-11-2017Informativo STF 882

341iacutendice de teses

agravo interno contra a decisatildeo que nega seguimento ao recurso extraordinaacuterio nos termos do art 1030 I e sect 2ordm do CPC20159

1 RE 760931 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 12-9-2017

2 ldquoArt 71 O contratado eacute responsaacutevel pelos encargos trabalhistas previdenciaacuterios fiscais e comerciais resultantes da execuccedilatildeo do contrato sect 1ordm A inadimplecircncia do contratado com referecircncia aos encar-gos trabalhistas fiscais e comerciais natildeo transfere agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a responsabilidade por seu pagamento nem poderaacute onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizaccedilatildeo e o uso das obras e edificaccedilotildees inclusive perante o Registro de Imoacuteveisrdquo

3 Art 102 I l da CF

4 ADC 16 rel min Cezar Peluso P DJE de 9-9-2011

5 Rcl 13739 AgR rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 18-4-2016 Rcl 12050 AgR rel min Celso de Mello P DJE de 19-6-2013 e Rcl 24545 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 10-11-2016

6 RE 760931 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 12-9-2017

7 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para () sect 5ordm Eacute inad-missiacutevel a reclamaccedilatildeo () II ndash proposta para garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo de recurso extraor-dinaacuterio com repercussatildeo geral reconhecida ou de acoacuterdatildeo proferido em julgamento de recursos extraordinaacuterio ou especial repetitivos quando natildeo esgotadas as instacircncias ordinaacuteriasrdquo

8 Rcl 24686 ED-AgR rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 11-4-2017

9 ldquoArt 1030 Recebida a peticcedilatildeo do recurso pela secretaria do tribunal o recorrido seraacute intimado para apresentar contrarrazotildees no prazo de 15 (quinze) dias findo o qual os autos seratildeo conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido que deveraacute I ndash negar seguimento a) a recurso extraordinaacuterio que discuta questatildeo constitucional agrave qual o Supremo Tribunal Federal natildeo tenha reconhecido a existecircncia de repercussatildeo geral ou a recurso extraordinaacuterio interposto contra acoacuterdatildeo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussatildeo geral b) a recurso extraordinaacuterio ou a recurso especial interposto contra acoacuterdatildeo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Supe-rior Tribunal de Justiccedila respectivamente exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos () sect 2ordm Da decisatildeo proferida com fundamento nos incisos I e III caberaacute agravo interno nos termos do art 1021rdquo

342iacutendice de teses

Soacute cabe reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por violaccedilatildeo de tese

fixada em repercussatildeo geral apoacutes terem se esgotado todos os recursos cabiacute-

veis nas instacircncias antecedentes

A interpretaccedilatildeo do art 988 sect 5ordm II do Coacutedigo de Processo Civil (CPC)1 deve ser fundamentalmente teleoloacutegica e natildeo estritamente literal O esgotamento da ins-tacircncia ordinaacuteria em tais casos supotildee o percurso de todo o caminho recursal possiacute-vel antes do acesso ao STF

Se a decisatildeo reclamada ainda comportar reforma por via de recurso a algum tribu-nal inclusive a tribunal superior natildeo se permitiraacute acesso ao STF por via de reclama-ccedilatildeo Esse eacute o sentido que deve ser conferido ao art 988 sect 5ordm II do CPC

Com efeito a interpretaccedilatildeo puramente literal desse dispositivo acabaria por transfe-rir ao STF pela via indireta da reclamaccedilatildeo a competecircncia de pelo menos trecircs tribunais superiores (Superior Tribunal de Justiccedila Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal Su-perior Eleitoral) para onde podem ser dirigidos recursos contra decisotildees de tribunais de segundo grau de jurisdiccedilatildeo

1 ldquoArt 988 Caberaacute reclamaccedilatildeo da parte interessada ou do Ministeacuterio Puacuteblico para I ndash preservar a competecircncia do tribunal II ndash garantir a autoridade das decisotildees do tribunal III ndash garantir a obser-vacircncia de enunciado de suacutemula vinculante e de decisatildeo do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade IV ndash garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo proferido em julgamen-to de incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivas ou de incidente de assunccedilatildeo de competecircncia () sect 5ordm Eacute inadmissiacutevel a reclamaccedilatildeo () II ndash proposta para garantir a observacircncia de acoacuterdatildeo de recurso extraordinaacuterio com repercussatildeo geral reconhecida ou de acoacuterdatildeo proferido em julgamento de recursos extraordinaacuterio ou especial repetitivos quando natildeo esgotadas as instacircncias ordinaacuteriasrdquo

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais Ȥ Reclamaccedilatildeo

Rcl 24686 ED-AgRrel min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 11-4-2017Informativo STF 845

343iacutendice de teses

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Recursos

Ȥ Recurso extraordinaacuterio ‒ Repercussatildeo Geral

O reconhecimento da repercussatildeo geral no Plenaacuterio Virtual natildeo impede sua

rediscussatildeo no Plenaacuterio fiacutesico notadamente quando tal reconhecimento te-

nha ocorrido por falta de manifestaccedilotildees suficientes1

O julgamento proclamado por ausecircncia de manifestaccedilotildees suficientes pode ter sua conclusatildeo revista em razatildeo de mudanccedilas na composiccedilatildeo do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) abstenccedilatildeo de ministros na votaccedilatildeo e unanimidade dos votos proferidos (embora insuficientes) no sentido da ausecircncia de repercussatildeo geral do tema2

Natildeo apresenta repercussatildeo geral o tema relativo agrave competecircncia para proces-

sar e julgar accedilatildeo em que se discute pagamento de adicional de insalubridade

a servidor puacuteblico de ex-Territoacuterio Federal ante a existecircncia de convecircnio fir-

mado entre a Uniatildeo e o Estado-membro para o qual foi cedido

A controveacutersia estaacute restrita a parcela limitada de servidores de ex-Territoacuterio ndash quadro em extinccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal ndash cuja anaacutelise estaacute vinculada a situaccedilotildees temporais tambeacutem especiacuteficas decorrentes da celebraccedilatildeo e vigecircncia de convecircnios

Natildeo se verifica portanto a presenccedila de questotildees relevantes ldquodo ponto de vista econocircmico poliacutetico social ou juriacutedico que ultrapassem os interesses subjetivos da causardquo (CPC2015 art 1035 sect 1ordm3) a justificar pronunciamento de meacuterito do STF

1 No mesmo sentido RE 729 884 rel min Dias Toffoli P DJE de 1ordm-2-2017

2 RE 607607 ED rel min Luiz Fux P DJE de 12-5-2014

3 ldquoArt 1035 O Supremo Tribunal Federal em decisatildeo irrecorriacutevel natildeo conheceraacute do recurso ex-traordinaacuterio quando a questatildeo constitucional nele versada natildeo tiver repercussatildeo geral nos termos deste artigo sect 1ordm Para efeito de repercussatildeo geral seraacute considerada a existecircncia ou natildeo de questotildees relevantes do ponto de vista econocircmico poliacutetico social ou juriacutedico que ultrapassem os interesses subjetivos do processordquo

RE 584247 QORG ‒ Tema 538rel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 2-5-2017Informativo STF 845

344iacutendice de teses

Eacute admissiacutevel a juntada extemporacircnea de prova documental em recursos in-

terpostos no Supremo Tribunal Federal (STF) quando estiver presente inte-

resse puacuteblico primaacuterio na lide

Admitida a veracidade do documento trazido aos autos e presente o interesse puacutebli-co indisponiacutevel consubstanciado no interesse de toda a coletividade na apreciaccedilatildeo da higidez das contas dos gestores puacuteblicos (interesse puacuteblico primaacuterio) deve ser afastada a regra geral1 segundo a qual eacute impossiacutevel a produccedilatildeo de prova por meio da juntada de documento apenas em sede de recurso interposto perante o STF

1 RE 452780 AgR red p o ac min Cezar Peluso 1ordf T DJ de 18-8-2006

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Recursos

Ȥ Agravo interno

RE 916917 AgRrel min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 27-3-2017Informativo STF 850

345iacutendice de teses

Direito Processual Civil Ȥ Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais Ȥ Mandado de seguranccedila

Ȥ Legitimidade ativa

O procurador-geral da Repuacuteblica natildeo possui legitimidade ativa para impe-

trar mandado de seguranccedila em que se questione decisatildeo que reconheccedila a

prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em processo administrativo disciplinar

A legitimidade para impetrar o mandado de seguranccedila pressupotildee a titularidade do direito pretensamente lesado ou ameaccedilado de lesatildeo por ato de autoridade puacuteblica Nas palavras de Hely Lopes Meirelles ldquoO impetrante para ter legitimidade ativa haacute de ser o titular do direito individual ou coletivo para o qual pede proteccedilatildeo pelo man-dado de seguranccedila (hellip) O essencial eacute que o impetrante tenha direito subjetivo proacute-prio (e natildeo simples interesse) a defender em juiacutezo Natildeo haacute confundir interesse com di-reito subjetivo liacutequido e certo que eacute o uacutenico protegiacutevel por mandado de seguranccedilardquo1

O procurador-geral da Repuacuteblica no entanto natildeo eacute o titular do direito liacutequido e certo ultrajado em processo administrativo disciplinar2 Tambeacutem natildeo eacute suficiente a demonstraccedilatildeo do simples interesse ou justificaacutevel a sua atuaccedilatildeo como custos legis em defesa da ordem democraacutetica e juriacutedica pois esses satildeo direitos que natildeo lhe satildeo proacuteprios mas da sociedade

O art 127 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 dispotildee que incumbe ao Ministeacuterio Puacuteblico a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e indivi-duais indisponiacuteveis sendo suas funccedilotildees institucionais enunciadas no art 129 da CF4 Entre elas inclui-se a de ldquozelar pelo efetivo respeito dos Poderes Puacuteblicos e dos ser-viccedilos de relevacircncia puacuteblica aos direitos assegurados nesta Constituiccedilatildeordquo e portanto pelo cumprimento do ordenamento juriacutedico vigente No exerciacutecio de suas funccedilotildees o Ministeacuterio Puacuteblico pode assumir em juiacutezo a condiccedilatildeo de parte autora exercendo o direito de accedilatildeo nos casos previstos em lei ou de parte interveniente naqueles em que sua atuaccedilatildeo como fiscal da ordem juriacutedica seja indispensaacutevel para assegurar a regulari-dade do ato conforme disposiccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil5

Natildeo se pretende a partir dessa compreensatildeo recusar a legitimidade ativa ad cau-sam do Ministeacuterio Puacuteblico para a impetraccedilatildeo de mandado de seguranccedila Busca-se

MS 33736rel min Caacutermen Luacutecia2ordf TurmaDJE de 23-8-2017Informativo STF 831

346iacutendice de teses

apenas assinalar que esta condiciona-se agravequelas situaccedilotildees especiacuteficas em que o direito alegadamente transgredido seja titularizado pela instituiccedilatildeo (ou respeite agraves funccedilotildees descritas no art 129 da CF) ou por aqueles cuja proteccedilatildeo o poder constituinte incum-biu o Ministeacuterio Puacuteblico

Essa conclusatildeo natildeo frustra tampouco debilita a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de sua atribuiccedilatildeo constitucional de defesa da ordem juriacutedica Afinal a ele satildeo reservados os demais instrumentos processuais de tutela previstos em lei igual-mente eficazes a exemplo da accedilatildeo civil puacuteblica

1 MEIRELLES Hely Lopes Mandado de seguranccedila accedilatildeo popular accedilatildeo civil puacuteblica mandado de injunccedilatildeo e habeas data 31 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 62

2 Precedente RMS 32970 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 18-5-2016

3 ldquoArt 127 O Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e indivi-duais indisponiacuteveisrdquo

4 ldquoArt 129 Satildeo funccedilotildees institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico I ndash promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica na forma da lei II ndash zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Puacuteblicos e dos serviccedilos de relevacircncia puacuteblica aos direitos assegurados nesta Constituiccedilatildeo promovendo as medidas necessaacuterias a sua garantia III ndash promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos IV ndash promover a accedilatildeo de inconstitucionalidade ou representaccedilatildeo para fins de intervenccedilatildeo da Uniatildeo e dos Estados nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo V ndash defender judicialmente os direitos e interesses das popula-ccedilotildees indiacutegenas VI ndash expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos de sua competecircncia requisitando informaccedilotildees e documentos para instruiacute-los na forma da lei complementar respectiva VII ndash exercer o controle externo da atividade policial na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior VIII ndash requisitar diligecircncias investigatoacuterias e a instauraccedilatildeo de inqueacuterito policial indicados os fundamentos juriacutedicos de suas manifestaccedilotildees processuais IX ndash exercer outras funccedilotildees que lhe forem conferidas desde que compatiacuteveis com sua finalidade sendo-lhe vedada a represen-taccedilatildeo judicial e a consultoria juriacutedica de entidades puacuteblicasrdquo

5 ldquoArt 177 O Ministeacuterio Puacuteblico exerceraacute o direito de accedilatildeo em conformidade com suas atribuiccedilotildees constitucionais Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta) dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em lei ou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvam I ndash interesse puacuteblico ou social II ndash interesse de incapaz III ndash litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbana Paraacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacute hipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Art 179 Nos casos de intervenccedilatildeo como fiscal da ordem juriacutedica o Ministeacuterio Puacuteblico I ndash teraacute vista dos autos depois das partes sendo intimado de todos os atos do processo II ndash poderaacute produzir provas requerer as medi-das processuais pertinentes e recorrerrdquo

TUTELA COLETIVADIREITO PROCESSUAL CIVIL

348iacutendice de teses

A eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada a partir de accedilatildeo coletiva de rito

ordinaacuterio ajuizada por associaccedilatildeo civil na defesa de interesses dos associa-

dos somente alcanccedila os filiados residentes no acircmbito da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo

julgador que o fossem em momento anterior ou ateacute a data da propositura

da demanda constantes da relaccedilatildeo juriacutedica juntada agrave inicial do processo de

conhecimento

O art 5ordm XXI da Constituiccedilatildeo Federal1 concernente agraves associaccedilotildees encerra situa-ccedilatildeo de representaccedilatildeo processual a exigir para efeito da atuaccedilatildeo judicial da entidade autorizaccedilatildeo expressa e especiacutefica dos membros os associados

Nessa situaccedilatildeo a associaccedilatildeo aleacutem de natildeo atuar em nome proacuteprio persegue o re-conhecimento de interesses dos filiados decorrendo daiacute a necessidade da colheita de autorizaccedilatildeo expressa de cada qual de forma individual ou mediante assembleia geral designada para esse fim considerada a maioria formada2

A especificidade da autorizaccedilatildeo deve ser compreendida sob o acircngulo do tema no que individualizado o interesse a ser buscado e da vontade mesmo que em assem-bleia geral

A enumeraccedilatildeo dos associados ateacute o momento imediatamente anterior ao do ajui-zamento se presta agrave observacircncia do princiacutepio do devido processo legal inclusive sob o enfoque da razoabilidade Por meio dela presente a relaccedilatildeo nominal eacute que se via-biliza o direito de defesa o contraditoacuterio e a ampla defesa

Uma vez confirmada a exigecircncia de autorizaccedilatildeo especiacutefica dos associados para a formalizaccedilatildeo da demanda decorre ante a loacutegica a oportunidade da comprovaccedilatildeo da filiaccedilatildeo ateacute aquele momento A condiccedilatildeo de filiado eacute pressuposto do ato de anuir com a submissatildeo da controveacutersia ao Judiciaacuterio Nesse sentido natildeo haacute falar em inconstitu-cionalidade do art 2ordm-A da Lei 949419973

Em Direito os fins natildeo justificam os meios Logo descabe potencializar a praacutetica judiciaacuteria tendo em vista a possiacutevel repeticcedilatildeo de casos versando a mesma mateacuteria

Direito Processual Civil Ȥ Tutela coletiva

Ȥ Sentenccedila Ȥ Eficaacutecia subjetiva da coisa julgada ‒ Repercussatildeo Geral

RE 612043RG ‒ Tema 499rel min Marco AureacutelioPlenaacuterioDJE de 6-10-2017Informativo STF 864

349iacutendice de teses

para buscar respaldar o alargamento da eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada Essa natildeo eacute a soluccedilatildeo adequada considerado o efeito multiplicador uma vez previs-tos na legislaccedilatildeo ordinaacuteria mecanismos de resoluccedilatildeo de casos repetitivos

Diante disso a problemaacutetica da eficaacutecia territorial do pronunciamento judicial eacute resolvida a partir da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo julgador isso em se tratando de accedilatildeo pluacuterima submetida ao rito ordinaacuterio Esse mesmo enfoque seria observado se ajuizada a accedilatildeo diretamente pelos proacuteprios beneficiaacuterios do direito natildeo havendo tratamento diverso atuando a associaccedilatildeo como representante

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXI ndash as entidades associativas quando expres-samente autorizadas tecircm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmenterdquo

2 AO 152 rel min Carlos Velloso P DJ de 3-3-2000 RE 192305 rel min Marco Aureacutelio 2ordf T DJ de 8-2-1999 e RE 573232 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJE de 19-9-2014

3 ldquoArt 2ordm-A A sentenccedila civil prolatada em accedilatildeo de caraacuteter coletivo proposta por entidade associa-tiva na defesa dos interesses e direitos dos seus associados abrangeraacute apenas os substituiacutedos que tenham na data da propositura da accedilatildeo domiciacutelio no acircmbito da competecircncia territorial do oacutergatildeo prolator Paraacutegrafo uacutenico Nas accedilotildees coletivas propostas contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Fe-deral os Municiacutepios e suas autarquias e fundaccedilotildees a peticcedilatildeo inicial deveraacute obrigatoriamente estar instruiacuteda com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou acompanhada da relaccedilatildeo nominal dos seus associados e indicaccedilatildeo dos respectivos endereccedilosrdquo

DIR

E

PRO

CPE

NA

DIR

EIT

O

PRO

CESS

UAL

PEN

AL

PROCESSO EM GERALDIREITO PROCESSUAL PENAL

353iacutendice de teses

Excepcionalmente o momento de apreciaccedilatildeo dos argumentos de defesa es-

crita pode ser deslocado para apoacutes o recebimento da denuacutencia

Observado que o juiz natildeo tenha apreciado com profundidade as hipoacuteteses mencio-nadas no art 397 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)1 por ocasiatildeo do recebimento da denuacutencia ou queixa elas podem (e algumas devem)2 desde logo ser enfrenta-das apoacutes a intervenccedilatildeo da defesa escrita3

A subordinaccedilatildeo hieraacuterquica dos envolvidos natildeo significa a responsabilizaccedilatildeo

criminal automaacutetica do prefeito

Prefeito incluiacutedo entre os acusados em razatildeo unicamente da funccedilatildeo puacuteblica hierar-quicamente superior que entatildeo ocupa sem indicaccedilatildeo miacutenima de sua participaccedilatildeo em praacutetica iliacutecita em conluio com os demais envolvidos evidencia violaccedilatildeo agrave res-ponsabilidade penal subjetiva cuja demonstraccedilatildeo repele a responsabilidade presu-mida em contraposiccedilatildeo agrave responsabilidade objetiva objurgada em mateacuteria penal

A mera subordinaccedilatildeo hieraacuterquica de agentes puacuteblicos ou servidores municipais natildeo implica a automaacutetica responsabilizaccedilatildeo criminal do prefeito Noutros termos natildeo se pode presumir a responsabilidade criminal do prefeito simplesmente com apoio em ldquoouvir dizerrdquo das testemunhas sabido que o nosso sistema juriacutedico-penal natildeo admite a culpa por presunccedilatildeo4

1 ldquoArt 397 Apoacutes o cumprimento do disposto no art 396-A e paraacutegrafos deste Coacutedigo o juiz deveraacute absolver sumariamente o acusado quando verificar I ndash a existecircncia manifesta de causa excludente da ilicitude do fato II ndash a existecircncia manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente salvo inimputabilidade III ndash que o fato narrado evidentemente natildeo constitui crime ou IV ndash extinta a punibilidade do agenterdquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Accedilatildeo penal Ȥ Denuacutencia

AP 912rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 16-5-2017Informativo STF 856

354iacutendice de teses

2 CPP ldquoArt 395 A denuacutencia ou queixa seraacute rejeitada quando I ndash for manifestamente inepta II ndash faltar pressuposto processual ou condiccedilatildeo para o exerciacutecio da accedilatildeo penalrdquo

3 AP 933 QO rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 3-2-2016 e Inq 2411 QO rel min Gilmar Mendes P DJE de 24-4-2008

4 AP 447 rel min Ayres Britto P DJE de 28-5-2009

355iacutendice de teses

A mera posiccedilatildeo hieraacuterquica dos acusados na titularidade da empresa de co-

municaccedilatildeo sem a descriccedilatildeo da accedilatildeo e sem elementos que evidenciem a vonta-

de e consciecircncia de praticar o crime imputado inviabiliza o prosseguimento

da accedilatildeo penal

Os princiacutepios constitucionais do devido processo legal do contraditoacuterio e da ampla defesa (CF art 5ordm LIV e LV1) impotildeem que a inicial acusatoacuteria tenha como funda-mentos elementos probatoacuterios miacutenimos que demonstrem a materialidade do fato delituoso e indiacutecios suficientes de autoria

Nesse contexto a denuacutencia ou a queixa que natildeo conteacutem a exposiccedilatildeo do fato cri-minoso com todas as suas circunstacircncias aleacutem da classificaccedilatildeo do crime impede o exerciacutecio da ampla defesa na medida em que submete o acusado agrave persecuccedilatildeo penal privando-o do contexto sobre o qual se desenvolveraacute a relaccedilatildeo processual

Assim denuacutencia ou queixa baseada apenas na posiccedilatildeo hieraacuterquica do acusado deve ser rechaccedilada por manifesta ausecircncia de justa causa Afinal ldquopermitir que o acusado seja submetido a processo exclusivamente pela posiccedilatildeo hieraacuterquica superior que ocupa-va () viola as regras quanto agrave autoria e participaccedilatildeo que regem o Direito Penal brasilei-ro Deve haver indiacutecios de que o acusado atuou com dolo o que natildeo se verifica no caso dos autos Ademais o mero dever de saber natildeo eacute suficiente para uma condenaccedilatildeo em razatildeo de ensejar uma responsabilizaccedilatildeo objetiva Natildeo cabe presunccedilatildeo in malan partem ante o princiacutepio da natildeo culpabilidade (art 5ordm LVII da Constituiccedilatildeo Federal)rdquo2

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

2 AP 905 QO rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 21-3-2016

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Accedilatildeo penal Ȥ Denuacutencia

Pet 5660rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 8-5-2017Informativo STF 857

356iacutendice de teses

O desmembramento do feito em relaccedilatildeo a imputados que natildeo possuam prer-

rogativa de foro ldquodeve ser a regra diante da manifesta excepcionalidade do

foro por prerrogativa de funccedilatildeo ressalvadas as hipoacuteteses em que a separaccedilatildeo

possa causar prejuiacutezo relevanterdquo1

Presente a imbricaccedilatildeo de condutas e diante da existecircncia de indiacutecios de liame proba-toacuterio entre os fatos ou mesmo de continecircncia (CPP art 77 I)2 natildeo haacute como cindir investigaccedilatildeo em fase embrionaacuteria Isso ocorre inclusive pelo risco de o juiacutezo de pri-meiro grau promover a investigaccedilatildeo de detentores de prerrogativa de foro ainda que de forma indireta em usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF)

A usurpaccedilatildeo da competecircncia do STF contamina de nulidade toda a investigaccedilatildeo realizada em relaccedilatildeo ao detentor da prerrogativa de foro por violaccedilatildeo do princiacutepio do juiz natural (CF art 5ordm LIII)3 O que se busca garantir aleacutem da preservaccedilatildeo da competecircncia constitucional do STF eacute o transcurso da investigaccedilatildeo sob supervisatildeo da autoridade judiciaacuteria competente de modo a assegurar sua higidez

Com efeito nos termos do art 5ordm LVI da Constituiccedilatildeo Federal4 ldquosatildeo inadmissiacute-veis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

Por sua vez dispotildee o art 157 do Coacutedigo de Processo Penal5 que satildeo inadmissiacuteveis as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo de normas constitucionais ou legais

O natildeo desmembramento preserva a higidez do processo investigatoacuterio a racio-nalidade do sistema Ficaria impossiacutevel persecuccedilatildeo investigatoacuteria sem que houvesse coordenaccedilatildeo das accedilotildees tamanha a dimensatildeo daquilo que eacute a visatildeo dos oacutergatildeos de poliacutecia e do Ministeacuterio Puacuteblico

Natildeo eacute a definiccedilatildeo de competecircncia de julgamento que pode atingir algueacutem com prerrogativa de foro mas a racionalidade da investigaccedilatildeo para evitar a coleta de pro-vas por autoridade natildeo competente a fazecirc-lo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia por conexatildeo ou continecircncia

Pet 6138 AgR-segundored p o ac min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 5-9-2017Informativo STF 855

357iacutendice de teses

1 Inq 2903 rel min Teori Zavascki P DJE de 1ordm-7-2014

2 ldquoArt 77 A competecircncia seraacute determinada pela continecircncia quando I ndash duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infraccedilatildeordquo

3 ldquoArt 5ordm () LIII ndash ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade competenterdquo

4 ldquoArt 5ordm () LVI ndash satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

5 ldquoArt 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim enten-didas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legaisrdquo

358iacutendice de teses

A existecircncia concreta de indiacutecios de envolvimento de autoridade detentora

de foro por prerrogativa de funccedilatildeo nos diaacutelogos interceptados impotildee a re-

messa imediata ao Supremo Tribunal Federal (STF)

Ainda que a interceptaccedilatildeo telefocircnica seja aparentemente voltada a pessoas que natildeo ostentem prerrogativa de foro por funccedilatildeo o levantamento incontinenti sem nenhu-ma das cautelas exigidas em lei do sigilo do conteuacutedo das conversas mantidas com autoridade detentora de foro por prerrogativa de funccedilatildeo no STF eacute uma decisatildeo que natildeo compete ao juiacutezo de primeiro grau

Em outras palavras cabe apenas ao STF no exerciacutecio de sua competecircncia consti-tucional decidir acerca do cabimento ou natildeo do desmembramento bem como sobre a legitimidade ou natildeo dos atos ateacute entatildeo praticados nos autos

Nesse sentido natildeo tendo havido preacutevia decisatildeo do STF sobre a cisatildeo ou natildeo da investigaccedilatildeo ou da accedilatildeo relativamente aos fatos envolvendo autoridades com prerro-gativa de foro no Tribunal fica delineada ainda que em juiacutezo de cogniccedilatildeo sumaacuteria a concreta probabilidade de violaccedilatildeo da competecircncia prevista no art 102 I b da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica1

1 ldquoArt 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal precipuamente a guarda da Constituiccedilatildeo ca-bendo-lhe I ndash processar e julgar originariamente () b) nas infraccedilotildees penais comuns o Presidente da Repuacuteblica o Vice-Presidente os membros do Congresso Nacional seus proacuteprios Ministros e o Procurador-Geral da Repuacuteblicardquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

Rcl 23457 MC-REFrel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 17-4-2017Informativo STF 819

359iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Competecircncia Ȥ Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

Natildeo haacute cogitar de usurpaccedilatildeo de competecircncia do Supremo Tribunal Federal

quando a simples menccedilatildeo ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa

de foro assim como a existecircncia de informaccedilotildees ateacute entatildeo fluidas e dispersas

a seu respeito satildeo insuficientes para o deslocamento da competecircncia para o

juiacutezo hierarquicamente superior

Para que haja a atraccedilatildeo da causa para o foro competente eacute imprescindiacutevel a consta-taccedilatildeo da existecircncia de indiacutecios da participaccedilatildeo ativa e concreta do titular da prerro-gativa em iliacutecitos penais1

Ademais natildeo haacute considerar a alegada usurpaccedilatildeo se a autoridade com foro por prerrogativa de funccedilatildeo natildeo tiver sido alvo de nenhuma medida cautelar autorizada pelo juiacutezo no curso da persecuccedilatildeo penal bem como se os fatos verificados sobre a autoridade natildeo tiverem relaccedilatildeo direta com o objeto da investigaccedilatildeo em desfavor do agravante

1 Rcl 2101 AgR rel min Ellen Gracie P DJ de 20-9-2002 HC 82647 rel min Carlos Velloso 2ordf T DJ de 25-4-2003 e AP 933 QO rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 3-2-2016

Rcl 25497 AgRrel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 13-3-2017Informativo STF 854

360iacutendice de teses

Na busca e apreensatildeo caso a autoridade responsaacutevel pela unidade adminis-

trativa entregue de maneira espontacircnea e voluntaacuteria computador de titula-

ridade do ente puacuteblico tal ato revela-se compatiacutevel com a claacuteusula de reserva

de jurisdiccedilatildeo ainda que sobressalente ao mandado judicial

O fato de haver mandado judicial para que seja apreendido determinado equipa-mento natildeo impede que outros equipamentos sejam entregues espontaneamente por guardarem interesse com a investigaccedilatildeo

Embora verificada a entrega voluntaacuteria ao agente policial o exame pericial nos equi-pamentos apreendidos condicionado agrave autorizaccedilatildeo especiacutefica da autoridade judicial res-ponsaacutevel pela supervisatildeo do caderno investigativo resguarda a regularidade da apreen-satildeo e o direito agrave privacidade do repositoacuterio de dados e de informaccedilotildees neles contidos

Aleacutem disso a entrega espontacircnea do equipamento ao agente policial revela dificul-dade da invocaccedilatildeo de direito agrave intimidade visto que se trata de material disponibiliza-do inclusive para o serviccedilo puacuteblico

Natildeo cabe invocar a garantia constitucional do sigilo das comunicaccedilotildees de

dados quando o acesso natildeo alcanccedila a troca de dados restringindo-se apenas

agraves informaccedilotildees armazenadas nos dispositivos eletrocircnicos

ldquoA proteccedilatildeo a que se refere o art 5ordm XII da Constituiccedilatildeo1 eacute da comunicaccedilatildeo lsquode da-dosrsquo e natildeo dos lsquodados em si mesmosrsquo ainda quando armazenados em computadorrdquo2

Inexistindo quebra da troca de dados mas sim acesso aos dados que estavam registrados nos Hardwares (HDs) dos computadores natildeo haacute ilegalidade A proteccedilatildeo agrave garantia constitucional diz respeito agrave troca de dados mas a inviolabilidade cinge-se agrave interferecircncia de um terceiro na troca dessas informaccedilotildees

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

RHC 132062red p o ac min Edson Fachin1ordf TurmaDJE de 24-10-2017Informativo STF 849

361iacutendice de teses

O procedimento administrativo de investigaccedilatildeo criminal natildeo demanda a

amplitude das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditoacuterio

No processo investigatoacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico haacute formaccedilatildeo da opinio delicti do oacutergatildeo acusatoacuterio e o momento proacuteprio do exerciacutecio do contraditoacuterio e da ampla defesa eacute mesmo a instruccedilatildeo judicial

Ademais eventual prejuiacutezo advindo do indeferimento de diligecircncias no curso das apuraccedilotildees (nomeaccedilatildeo de assistente teacutecnico e formulaccedilatildeo de quesitos) eacute passiacutevel de questionamento na accedilatildeo penal decorrente do respectivo inqueacuterito policial

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XII ndash eacute inviolaacutevel o sigilo da correspon-decircncia e das comunicaccedilotildees telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penalrdquo (Vide Lei 92961996)

2 RE 418416 rel min Sepuacutelveda Pertence P DJ de 19-12-2006

362iacutendice de teses

A prova obtida mediante interceptaccedilatildeo telefocircnica quando referente a infra-

ccedilatildeo penal diversa da investigada deve ser considerada liacutecita se presentes os

requisitos constitucionais e legais

No caso de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada por ordem judicial e crime puniacutevel com reclusatildeo a prova soacute pode ser afastada se verificada alguma hipoacutetese de des-vio de finalidade ou mesmo simulaccedilatildeo ou fraude para obtenccedilatildeo dela como por exemplo a realizaccedilatildeo de simulacro de investigaccedilatildeo em crime apenado com reclu-satildeo somente para obtenccedilatildeo de ordem judicial decretando interceptaccedilatildeo telefocircnica poreacutem com o claro objetivo de descobrir e produzir provas em crimes apenados com detenccedilatildeo ou ainda para produccedilatildeo de provas a serem posteriormente utiliza-das em processos civil ou administrativo-disciplinar1

Ademais cabe destacar que o ldquocrime achadordquo ou seja a infraccedilatildeo penal desconhe-cida e portanto ateacute aquele momento natildeo investigada sempre deve ser cuidadosa-mente analisado para que natildeo se relativize em excesso o art 5ordm XII da Constituiccedilatildeo Federal2 A interpretaccedilatildeo das limitaccedilotildees subjetivas e objetivas na obtenccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial para interceptaccedilotildees telefocircnicas deve visar garantir a efetividade da proteccedilatildeo aos direitos fundamentais consagrados no texto constitucio-nal em especial a intimidade vida privada sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas aleacutem da inadmissibilidade das provas obtidas por meios iliacutecitos

1 MORAES Alexandre Direito constitucional 33 ed Satildeo Paulo Atlas 2017 p 72-73

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XII ndash eacute inviolaacutevel o sigilo da correspon-decircncia e das comunicaccedilotildees telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penalrdquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

HC 129678red p o ac min Alexandre de Moraes1ordf TurmaDJE de 18-8-2017Informativo STF 869

363iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prova Ȥ Disposiccedilotildees gerais

Apreensotildees de documentos realizadas em automoacutevel por constituir tiacutepica

busca pessoal1 prescinde de autorizaccedilatildeo judicial quando presente fundada

suspeita2 de que nele estatildeo ocultados elementos de prova ou qualquer elemen-

to de convicccedilatildeo agrave elucidaccedilatildeo dos fatos investigados a teor do sect 2ordm do art 2403 e

art 2444 do Coacutedigo de Processo Penal

O espaccedilo compreendido dentro de automoacutevel salvo a hipoacutetese em que consistir a habitaccedilatildeo de seu titular seja ela de caraacuteter permanente seja provisoacuterio (trailers ca-bines de caminhatildeo barcos entre outros5) natildeo estaacute abarcada no conceito juriacutedico de domiciacutelio ao qual a lei dispensa proteccedilatildeo especial e exige autorizaccedilatildeo judicial (CF art 5ordm XI6) O conceito de ldquocasardquo para os fins da proteccedilatildeo juriacutedico-constitucional compreende (a) qualquer compartimento habitado (b) qualquer aposento ocupado de habitaccedilatildeo coletiva e (c) qualquer compartimento privado onde algueacutem exerce profissatildeo ou atividade Esse amplo sentido conceitual da noccedilatildeo juriacutedica de ldquocasardquo harmoniza-se com a exigecircncia constitucional de proteccedilatildeo agrave esfera de liberdade indi-vidual de intimidade pessoal e de privacidade profissional7

Nessa linha de raciociacutenio natildeo se pode conceber o veiacuteculo automotor como um espaccedilo reservado onde o indiviacuteduo desenvolve livremente a sua personalidade senatildeo como extensatildeo de seu proacuteprio corpo Afinal trata-se de meio de transporte desti-nado ao mero deslocamento de seu condutor e por vezes empregado para ocultar vestiacutegios de praacutetica criminosa8 Conceber-se o contraacuterio seria inviabilizar agentes policiais ou fiscais a realizar revista nos veiacuteculos por ocasiatildeo de accedilotildees de fiscalizaccedilatildeo (blitz por exemplo)9

1 ldquoEsse tipo de busca consiste na inspeccedilatildeo do corpo e das vestes de algueacutem para apreensatildeo de ele-mentos de convicccedilatildeo ocultados incluindo-se objetos (bolsas malas pastas) e veiacuteculos (automoacuteveis motocicletas) sob custoacutedia da pessoardquo (MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo penal 18 ed Satildeo Paulo

RHC 117767rel min Teori Zavascki2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 843

364iacutendice de teses

Atlas 2006 PACELLI Eugecircnio FISCHER Douglas Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Penal e sua jurisprudecircncia 7 ed Satildeo Paulo Atlas 2015)

2 ldquoNo particular as circunstacircncias concretas da busca empreendida no automoacutevel do recorrente per-mitem concluir pela validade da medida jaacute que no dia em que realizadas as diligecircncias de busca domiciliar eram obtidas informaccedilotildees via interceptaccedilatildeo telefocircnica (natildeo contestadas) de que provas relevantes agrave elucidaccedilatildeo dos fatos eram ocultadas no interior do veiacuteculo do recorrente estacionado no exato momento da apreensatildeo em logradouro puacuteblicordquo (Trecho do voto do ministro Teori Za-vascki no presente julgamento)

3 ldquoArt 240 A busca seraacute domiciliar ou pessoal sect 1ordm Proceder-se-aacute agrave busca domiciliar quando funda-das razotildees a autorizarem para a) prender criminosos b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos c) apreender instrumentos de falsificaccedilatildeo ou de contrafaccedilatildeo e objetos falsificados ou contrafeitos d) apreender armas e municcedilotildees instrumentos utilizados na praacutetica de crime ou destinados a fim delituoso e) descobrir objetos necessaacuterios agrave prova de infraccedilatildeo ou agrave defesa do reacuteu f ) apreender cartas abertas ou natildeo destinadas ao acusado ou em seu poder quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteuacutedo possa ser uacutetil agrave elucidaccedilatildeo do fato g) apreender pessoas viacutetimas de crimes h) colher qualquer elemento de convicccedilatildeo sect 2ordm Proceder-se-aacute agrave busca pessoal quando houver fundada suspeita de que algueacutem oculte consigo arma proibida ou objetos mencio-nados nas letras b a f e letra h do paraacutegrafo anteriorrdquo

4 ldquoArt 244 A busca pessoal independeraacute de mandado no caso de prisatildeo ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papeacuteis que constituam corpo de delito ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliarrdquo

5 NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo de Processo Penal comentado 13 ed Satildeo Paulo Forense 2014

6 ldquoArt 5ordm () XI ndash a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar sem con-sentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicialrdquo

7 MS 23595 MC rel min Celso de Mello decisatildeo monocraacutetica DJ de 1ordm-2-2000

8 ldquoEssa eacute a hipoacutetese vertente em que apoacutes informaccedilotildees obtidas por intermeacutedio de interceptaccedilatildeo de conversas telefocircnicas autorizada judicialmente logo apoacutes a efetivaccedilatildeo da busca e apreensatildeo domici-liar descobriu-se que no interior do veiacuteculo do recorrente estaria o caderno de anotaccedilotildees contendo dados de suma importacircncia para a elucidaccedilatildeo do crime de formaccedilatildeo de cartelrdquo (Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica no presente julgamento)

9 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica no presente julgamento

365iacutendice de teses

A duraccedilatildeo prolongada abusiva e irrazoaacutevel da prisatildeo cautelar de algueacutem

ofende de modo frontal o postulado da dignidade da pessoa humana

Esse postulado representa considerada a centralidade do princiacutepio da dignidade da pessoa humana significativo vetor interpretativo verdadeiro valor-fonte que confor-ma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso paiacutes e que traduz de modo expressivo um dos fundamentos em que se assenta entre noacutes a ordem re-publicana e democraacutetica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo

Cabe enfatizar que o excesso de prazo na duraccedilatildeo irrazoaacutevel da prisatildeo meramente processual de qualquer pessoa notadamente quando natildeo submetida a julgamento por efeito de obstaacuteculo criado pelo proacuteprio Estado revela-se conflitante com esse pa-radigma eacutetico-juriacutedico conformador da proacutepria organizaccedilatildeo institucional do Estado brasileiro Nada pode justificar a permanecircncia de uma pessoa na prisatildeo sem culpa formada quando configurado excesso irrazoaacutevel no tempo da segregaccedilatildeo cautelar

O excesso de prazo quando exclusivamente imputaacutevel ao aparelho judiciaacuterio ndash natildeo derivando portanto de qualquer fato procrastinatoacuterio causalmente atribuiacutevel ao reacuteu ndash traduz situaccedilatildeo anocircmala que compromete a efetividade do processo

Essa dilaccedilatildeo de prazo aleacutem de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadatildeo frustra prerrogativa baacutesica que assiste a qualquer pessoa o direito agrave resolu-ccedilatildeo do litiacutegio sem dilaccedilotildees indevidas (CF art 5ordm LXXVIII1) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional inclusive a de natildeo sofrer o arbiacutetrio da coerccedilatildeo estatal representado pela privaccedilatildeo cautelar da liberdade por tempo irrazoaacutevel ou superior agravequele estabelecido em lei2

A prisatildeo cautelar ndash qualquer que seja a modalidade que ostente no ordenamento positivo brasileiro (prisatildeo em flagrante prisatildeo temporaacuteria prisatildeo preventiva prisatildeo decorrente de sentenccedila de pronuacutencia ou prisatildeo motivada por condenaccedilatildeo penal re-corriacutevel) ndash natildeo pode transmudar-se mediante subversatildeo dos fins que a autorizam em meio de inconstitucional antecipaccedilatildeo executoacuteria da proacutepria sanccedilatildeo penal Afinal esse

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo cautelar

HC 142177rel min Celso de Mello2ordf TurmaDJE de 12-9-2017Informativo STF 868

366iacutendice de teses

instrumento de tutela cautelar penal somente se legitima se se comprovar com apoio em base empiacuterica idocircnea a real necessidade da adoccedilatildeo pelo Estado dessa extraordi-naacuteria medida de constriccedilatildeo do status libertatis do indiciado ou do reacuteu3

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitaccedilatildeordquo

2 HC 83773 rel min Celso de Mello 2ordf T DJ de 6-11-2006

3 RTJ 201286-288 rel min Celso de Mello

367iacutendice de teses

A superveniecircncia da sentenccedila penal condenatoacuteria que manteacutem a prisatildeo pre-

ventiva com remissatildeo aos mesmos fundamentos do decreto originaacuterio natildeo

torna prejudicado o habeas corpus1

Embora a sentenccedila lanccedilada em desfavor do paciente possa ter ampliado o espectro de anaacutelise dos fundamentos da custoacutedia baseando-se em um exame mais robusto das provas ainda estaraacute valendo-se dos mesmos criteacuterios sopesados no decreto cau-telar primeiro razatildeo pela qual natildeo haacute cogitar da prejudicialidade da impetraccedilatildeo

Por mais graves e reprovaacuteveis que sejam as condutas supostamente perpetra-

das isso natildeo justifica por si soacute a decretaccedilatildeo da prisatildeo cautelar2

A prisatildeo cautelar eacute a ultima ratio a derradeira medida a que se deve recorrer Somen-te pode ser imposta se as outras medidas cautelares dela diversas natildeo se mostra-rem adequadas ou suficientes para a contenccedilatildeo do periculum libertatis (CPP art 282 sect 6ordm3)4 e 5

O risco concreto da reiteraccedilatildeo delitiva invocado para garantir a ordem puacutebli-

ca deve ser contemporacircneo ao decreto prisional

ldquoA proximidade temporal entre o conhecimento do fato criminoso e sua autoria e a decretaccedilatildeo da prisatildeo provisoacuteria encontra paralelo com a prisatildeo em flagrante que sugere atualidade (lsquoo que estaacute a acontecerrsquo) e evidecircncia (lsquoo que eacute claro manifestorsquo)6 Se a prisatildeo por lsquoordem puacuteblicarsquo eacute ditada por razotildees materiais quanto mais tempo se passar entre a data do fato (ou a data do conhecimento da autoria se distinta) e a decretaccedilatildeo da prisatildeo mais desnecessaacuteria ela se mostraraacute Em consequecircncia natildeo se pode admitir que a prisatildeo preventiva para garantia da ordem puacuteblica seja decretada

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo preventiva

HC 137728rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 31-10-2017Informativo STF 863

368iacutendice de teses

muito tempo apoacutes o fato ou o conhecimento da autoria salvo a superveniecircncia de fatos novos a ele relacionadosrdquo7 e 8

Ademais ldquoa referibilidade estaacute intrinsecamente ligada ao criteacuterio da atualidade os pressupostos que autorizam uma medida cautelar devem estar presentes natildeo apenas no momento de sua imposiccedilatildeo como tambeacutem necessitam se protrair no tempo para legitimar sua subsistecircnciardquo9

1 HC 122939 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 6-10-2014

2 HC 127186 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 3-8-2015

3 ldquoArt 282 As medidas cautelares previstas neste Tiacutetulo deveratildeo ser aplicadas observando-se a () sect 6ordm A prisatildeo preventiva seraacute determinada quando natildeo for cabiacutevel a sua substituiccedilatildeo por outra me-dida cautelar (art 319)rdquo

4 ldquoHeacutelio Tornaghi muito antes da introduccedilatildeo no sistema processual penal brasileiro das medidas cau-telares pessoais diversas da prisatildeo apontou dois princiacutepios a respeito da prisatildeo provisoacuteria lsquo1ordm) a pri-satildeo provisoacuteria eacute um mal e soacute deve existir quando sem ela houver mal maior 2ordm) a prisatildeo provisoacuteria embora maacute pode vir a ser necessaacuteria mas se eacute um mal necessaacuterio somente pode ser tolerada nos limites da necessidade e deve ser substituiacuteda por outras providecircncias que sejam menos maacutes sempre que possiacutevelrsquo (Curso de processo penal 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 1990 v 2 p 7 ()) Esse eminente ju-rista assinalava como orientaccedilatildeo nessa mateacuteria que o magistrado lsquodeve ser prudente e mesmo avaro na decretaccedilatildeorsquo (op cit p 10)rdquo (Trecho do voto do ministro Dias Toffoli no presente julgamento)

5 HC 101537 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 14-11-2011

6 TORNAGHI Heacutelio Curso de processo penal 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 1990 v 1 p 48

7 ZANOIDE DE MORAES Mauriacutecio Presunccedilatildeo de inocecircncia no processo penal brasileiro anaacutelise de sua estrutura normativa para a elaboraccedilatildeo legislativa e para a decisatildeo judicial Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 p 395 BADAROacute Gustavo Henrique Righi Ivahy Processo penal Rio de Janeiro Campus Elsevier 2012 p 734

8 CAPEZ Rodrigo A individualizaccedilatildeo da medida cautelar pessoal no processo penal brasileiro 357 p Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

9 Inq 3842 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 29-2-2016

369iacutendice de teses

Eacute incabiacutevel o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do

acordo de colaboraccedilatildeo premiada

Na Lei 128502013 natildeo se apresenta a revogaccedilatildeo da prisatildeo preventiva como be-nefiacutecio previsto pela realizaccedilatildeo de acordo de colaboraccedilatildeo premiada Tampouco haacute previsatildeo de que em decorrecircncia do descumprimento do acordo seja restabelecida prisatildeo preventiva anteriormente revogada1

Dessa forma na hipoacutetese de celebraccedilatildeo ou descumprimento de acordo de colabo-raccedilatildeo premiada faz-se necessaacuterio o exame do caso concreto ou seja da presenccedila de requisitos para a prisatildeo preventiva ndash Coacutedigo de Processo Penal (CPP) art 3122 ndash ou para a imposiccedilatildeo das medidas cautelares ndash CPP art 2823 cc art 3194

Natildeo existe a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares gravosas nem decreto de prisatildeo pre-ventiva automaacutetico Para tanto eacute necessaacuteria a indicaccedilatildeo de base empiacuterica idocircnea e superveniente agrave realidade ponderada no momento da anterior revogaccedilatildeo da medida prisional (CPP art 3165)

1 HC 131002 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 20-9-2016

2 ldquoArt 312 A prisatildeo preventiva poderaacute ser decretada como garantia da ordem puacuteblica da ordem eco-nocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime e indiacutecio suficiente de autoriardquo

3 ldquoArt 282 As medidas cautelares previstas neste Tiacutetulo deveratildeo ser aplicadas observando-se a I ndash ne-cessidade para aplicaccedilatildeo da lei penal para a investigaccedilatildeo ou a instruccedilatildeo criminal e nos casos expres-samente previstos para evitar a praacutetica de infraccedilotildees penais II ndash adequaccedilatildeo da medida agrave gravidade do crime circunstacircncias do fato e condiccedilotildees pessoais do indiciado ou acusado sect 1ordm As medidas cautelares poderatildeo ser aplicadas isolada ou cumulativamente sect 2ordm As medidas cautelares seratildeo decretadas pelo juiz de ofiacutecio ou a requerimento das partes ou quando no curso da investigaccedilatildeo criminal por representaccedilatildeo da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministeacuterio Puacutebli-co sect 3ordm Ressalvados os casos de urgecircncia ou de perigo de ineficaacutecia da medida o juiz ao receber o pedido de medida cautelar determinaraacute a intimaccedilatildeo da parte contraacuteria acompanhada de coacutepia

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria Ȥ Prisatildeo preventiva

HC 138207rel min Edson Fachin2ordf TurmaDJE de 28-6-2017Informativo STF 862

370iacutendice de teses

do requerimento e das peccedilas necessaacuterias permanecendo os autos em juiacutezo sect 4ordm No caso de des-cumprimento de qualquer das obrigaccedilotildees impostas o juiz de ofiacutecio ou mediante requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico de seu assistente ou do querelante poderaacute substituir a medida impor outra em cumulaccedilatildeo ou em uacuteltimo caso decretar a prisatildeo preventiva (art 312 paraacutegrafo uacutenico) sect 5ordm O juiz poderaacute revogar a medida cautelar ou substituiacute-la quando verificar a falta de motivo para que subsis-ta bem como voltar a decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem sect 6ordm A prisatildeo preventiva seraacute determinada quando natildeo for cabiacutevel a sua substituiccedilatildeo por outra medida cautelar (art 319)rdquo

4 ldquoArt 319 Satildeo medidas cautelares diversas da prisatildeo I ndash comparecimento perioacutedico em juiacutezo no prazo e nas condiccedilotildees fixadas pelo juiz para informar e justificar atividades II ndash proibiccedilatildeo de acesso ou frequecircncia a determinados lugares quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indi-ciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infraccedilotildees III ndash proi-biccedilatildeo de manter contato com pessoa determinada quando por circunstacircncias relacionadas ao fato deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante IV ndash proibiccedilatildeo de ausentar-se da Comarca quando a permanecircncia seja conveniente ou necessaacuteria para a investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo V ndash reco-lhimento domiciliar no periacuteodo noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residecircncia e trabalho fixos VI ndash suspensatildeo do exerciacutecio de funccedilatildeo puacuteblica ou de atividade de nature-za econocircmica ou financeira quando houver justo receio de sua utilizaccedilatildeo para a praacutetica de infraccedilotildees penais VII ndash internaccedilatildeo provisoacuteria do acusado nas hipoacuteteses de crimes praticados com violecircncia ou grave ameaccedila quando os peritos concluiacuterem ser inimputaacutevel ou semi-imputaacutevel (art 26 do Coacutedigo Penal) e houver risco de reiteraccedilatildeo VIII ndash fianccedila nas infraccedilotildees que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo evitar a obstruccedilatildeo do seu andamento ou em caso de resistecircncia injustificada agrave ordem judicial IX ndash monitoraccedilatildeo eletrocircnicardquo

5 ldquoArt 316 O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no correr do processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquemrdquo

371iacutendice de teses

Eacute constitucional a citaccedilatildeo por hora certa prevista no art 362 do Coacutedigo de

Processo Penal1

O art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal2 e o art 8ordm item 2 b do Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica3 por natildeo trazerem conformaccedilatildeo pormenorizada da garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio conferem ao legislador a tarefa de atribuir-lhes as delimi-taccedilotildees normativas com ampla margem de discricionariedade

No exerciacutecio desta atividade de densificaccedilatildeo de tais princiacutepios o legislador por meio da Lei 117192008 incluiu entre as modalidades de citaccedilatildeo no acircmbito do pro-cesso penal a citaccedilatildeo por hora certa Nada haacute nessa regulamentaccedilatildeo legislativa de contradiccedilatildeo com a Carta Constitucional ou com o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica Justamente buscando conferir eficaacutecia aos preceitos constitucionais e supralegais acerca do contraditoacuterio da ampla defesa do devido processo legal e da razoaacutevel du-raccedilatildeo do processo eacute que houve a implementaccedilatildeo legislativa da citaccedilatildeo por hora certa para que natildeo fosse realizado o ato citatoacuterio pela via do edital

Aliado a isso a aludida reforma legislativa pretendeu obstar que o acusado utili-zando-se de meios escusos para natildeo ser encontrado mesmo possuindo endereccedilo cer-to pudesse impedir a continuidade da accedilatildeo penal inviabilizando o prosseguimento da proacutepria prestaccedilatildeo jurisdicional num evidente exerciacutecio abusivo do seu direito de defesa Nessa medida natildeo haveria de se tolerar atuaccedilatildeo disfuncional dos acusados no exerciacutecio dos seus direitos constitucionalmente assegurados por configurar o abuso do direito a ser rechaccedilado pela ordem juriacutedica4

1 ldquoArt 362 Verificando que o reacuteu se oculta para natildeo ser citado o oficial de justiccedila certificaraacute a ocorrecircn-cia e procederaacute agrave citaccedilatildeo com hora certa na forma estabelecida nos arts 227 a 229 da Lei n 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de Processo Civil Paraacutegrafo uacutenico Completada a citaccedilatildeo com hora certa se o acusado natildeo comparecer ser-lhe-aacute nomeado defensor dativordquo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Citaccedilotildees ‒ Repercussatildeo Geral

RE 635145RG ‒ Tema 613red p o ac min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 13-9-2017Informativo STF 833

372iacutendice de teses

2 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LV ndash aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentesrdquo

3 ldquoArt 8ordm () 2 Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se comprove legalmente sua culpa Durante o processo toda pessoa tem direito em plena igualdade agraves seguintes garantias miacutenimas () b) comunicaccedilatildeo preacutevia e pormenorizada ao acusado da acusaccedilatildeo formuladardquo

4 HC 111226 rel min Luiz Fux 1ordf T DJE de 3-10-2012 e HC 105478 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 23-3-2011

373iacutendice de teses

A antecipaccedilatildeo da prova testemunhal configura medida necessaacuteria quando

considerando-se a gravidade do crime praticado houver a possibilidade con-

creta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrecircncia do

decurso do tempo

Nessas circunstacircncias como nas hipoacuteteses em que haacute a possibilidade de ldquonatildeo serem mais localizadas as testemunhasrdquo e porque uma das testemunhas eacute ldquopolicial mili-tarrdquo a antecipaccedilatildeo da prova testemunhal resguarda a produccedilatildeo probatoacuteria e em uacuteltima anaacutelise o resultado praacutetico do processo penal

Sobre esse aspecto a inserccedilatildeo do inciso LXXVIII no art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal1 veio a conferir mais visibilidade ao direito agrave razoaacutevel duraccedilatildeo do processo que passou a ser um direito fundamental positivado e trouxe aos estudiosos (doutrinadores) e tambeacutem aos operadores do direito ( juiacutezes promotores advogados defensores puacute-blicos etc) a sinalizaccedilatildeo da necessidade de buscar a efetividade desse mandamento constitucional Em outras palavras a duraccedilatildeo razoaacutevel do processo penal eacute um direi-to puacuteblico subjetivo de todo investigadoprocessado e precisa realmente efetivar-se obtendo-se dos agentes do Poder Judiciaacuterio sua real aplicaccedilatildeo

No acircmbito penal a demora da prestaccedilatildeo jurisdicional assume contornos bem es-peciacuteficos O reacuteu preso ou natildeo tem o direito de obter uma resposta estatal o Estado precisa ofertar a prestaccedilatildeo jurisdicional pois o processo natildeo pode durar para sempre A demora na prestaccedilatildeo jurisdicional afeta o jurisdicionado mesmo que natildeo exista prisatildeo cautelar decretada Afinal uma das miseacuterias do processo penal eacute a puniccedilatildeo decorrente do simples tracircmite processual

Nesse sentido aleacutem de acarretar seacuterias consequecircncias ao investigadoprocessado a duraccedilatildeo irrazoaacutevel do processo penal pode ocasionar o enfraquecimento da lem-branccedila dos fatos pelas testemunhas o desaparecimento dos elementos de prova o esquecimento social e a impossibilidade de periacutecia A construccedilatildeo de uma Justiccedila mais

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Citaccedilotildees

HC 135386red p o ac min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 851

374iacutendice de teses

ceacutelere depende do emprego de medidas que preservem os atos praticados Nesse sentido eacute fundamental a coibiccedilatildeo de repeticcedilotildees desnecessaacuterias2

Por fim com relaccedilatildeo agraves garantias inerentes agrave defesa a antecipaccedilatildeo da oitiva das tes-temunhas natildeo revela prejuiacutezo Quando o processo retomar o curso caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do reacuteu basta que se proceda agrave nova inquiriccedilatildeo

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LXXVIII ndash a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitaccedilatildeordquo

2 ldquoEm artigo para uma coletacircnea de homenagem publicada haacute mais de vinte anos Barbosa Moreira jaacute lamentava a excessiva demora dos processos afirmando que o fenocircmeno tem causas tatildeo complexas e mal individuadas nos respectivos pesos pela carecircncia de estatiacutesticas judiciaacuterias que lsquoseria ambiccedilatildeo vatilde querer encontrar no puro receituaacuterio processual remeacutedio definitivo para a enfermidadersquo E arrolou algumas delas lsquofalhas da organizaccedilatildeo judiciaacuteria deficiecircncia na formaccedilatildeo profissional de juiacutezes e advo-gados precariedade das condiccedilotildees sob as quais se realiza a atividade judicial na maior parte do paiacutes uso arraigado de meacutetodos de trabalho obsoletos e irracionais escasso aproveitamento de recursos tecnoloacutegicosrsquo (DOTTI Reneacute Ariel A prescriccedilatildeo pela pena presumida Rio de Janeiro Revista Forense v 385 maiojun 2006)rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

375iacutendice de teses

Eacute vaacutelida apenas a intimaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo (DPU) ainda que

o recurso especial tenha sido interposto pela Defensoria Puacuteblica estadual

Em caso de recurso especial interposto por Defensoria Puacuteblica estadual que natildeo tenha representaccedilatildeo no Distrito Federal e seja longiacutenqua a exemplo do Estado do Amapaacute eacute vaacutelida a intimaccedilatildeo da DPU jaacute organizada e no desempenho regular de suas atividades perante os tribunais superiores1

A DPU foi estruturada sob o paacutelio dos princiacutepios da unidade e da indivisibilida-de para dar suporte agraves Defensorias Puacuteblicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-membros longiacutenquos que natildeo podem exercer o muacutenus a cada recurso ende-reccedilado aos tribunais superiores

1 HC 82118 rel min Ilmar Galvatildeo 1ordf T DJ de 29-11-2002 e HC 126081 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 16-10-2015

Direito Processual Penal Ȥ Processo em geral

Ȥ Citaccedilotildees e intimaccedilotildees Ȥ Intimaccedilotildees

HC 118294red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 20-4-2017Informativo STF 856

PROCESSO EM ESPEacuteCIEDIREITO PROCESSUAL PENAL

377iacutendice de teses

A retirada dos autos de prova considerada iliacutecita natildeo exclui necessariamen-

te as demais peccedilas processuais que a ela faccedilam referecircncia

A denuacutencia a pronuacutencia o acoacuterdatildeo e as demais peccedilas judiciais natildeo satildeo provas do crime Por isso em princiacutepio estatildeo fora da regra de exclusatildeo das provas obtidas por meios iliacutecitos ndash art 5ordm LVI da Constituiccedilatildeo Federal1 A legislaccedilatildeo ao tratar das pro-vas iliacutecitas e derivadas tampouco determina a exclusatildeo de peccedilas processuais que a elas faccedilam referecircncia ndash art 157 do Coacutedigo de Processo Penal (CPP)2

As limitaccedilotildees ao debate em plenaacuterio satildeo mencionadas nos arts 478 e 479 do CPP3 e satildeo pontuais Dessa forma natildeo se pode impedir que os jurados tenham conheci-mento da proacutepria realizaccedilatildeo da prova iliacutecita e dos debates processuais que levaram a sua exclusatildeo A exclusatildeo de prova iliacutecita natildeo eacute contemplada nas normas de restriccedilatildeo ao debate que satildeo de discutiacutevel constitucionalidade e que vecircm sendo interpretadas restritivamente pelo Supremo Tribunal Federal4 e 5

O envelopamento como alternativa agrave desconstituiccedilatildeo da pronuacutencia natildeo eacute viaacutevel Ofende o direito do acusado e a proacutepria soberania dos veredictos assegurada agrave insti-tuiccedilatildeo do juacuteri6

1 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igual-dade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVI ndash satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitosrdquo

2 ldquoArt 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim enten-didas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legaisrdquo

3 ldquoArt 478 Durante os debates as partes natildeo poderatildeo sob pena de nulidade fazer referecircncias I ndash agrave decisatildeo de pronuacutencia agraves decisotildees posteriores que julgaram admissiacutevel a acusaccedilatildeo ou agrave determina-ccedilatildeo do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusa-do II ndash ao silecircncio do acusado ou agrave ausecircncia de interrogatoacuterio por falta de requerimento em seu prejuiacutezo Art 479 Durante o julgamento natildeo seraacute permitida a leitura de documento ou a exibiccedilatildeo

Direito Processual Penal Ȥ Processo em espeacutecie

Ȥ Processo comum Ȥ Procedimento relativo aos processos da competecircncia do tribunal do juacuteri

HC 137368rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 2-8-2017Informativo STF 849

378iacutendice de teses

de objeto que natildeo tiver sido juntado aos autos com a antecedecircncia miacutenima de 3 (trecircs) dias uacuteteis dando-se ciecircncia agrave outra parte Paraacutegrafo uacutenico Compreende-se na proibiccedilatildeo deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito bem como a exibiccedilatildeo de viacutedeos gravaccedilotildees fotografias laudos quadros croqui ou qualquer outro meio assemelhado cujo conteuacutedo versar sobre a mateacuteria de fato submetida agrave apreciaccedilatildeo e julgamento dos juradosrdquo

4 ldquoA proacutepria constitucionalidade das normas de restriccedilatildeo ao debate tem sido questionada com bons argumentos Nucci por exemplo defende que a censura de referecircncias a documentos dos autos beira agrave inconstitucionalidade (NUCCI Guilherme de Souza Tribunal do juacuteri 5 ed Rio de Janeiro Forense 2014 p 237)rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

5 RHC 123009 rel min Rosa Weber 1ordf T DJE de 2-12-2014 e RHC 120598 rel min Gilmar Men-des 2ordf T DJE de 3-8-2015

6 RHC 122909 rel min Caacutermen Luacutecia 2ordf T DJE de 12-12-2014

NULIDADES E RECURSOS EM GERALDIREITO PROCESSUAL PENAL

380iacutendice de teses

Por mais caras que as prerrogativas da defesa e do advogado sejam ao sistema

de garantias de sua violaccedilatildeo natildeo decorre a automaacutetica absolviccedilatildeo do imputado

A violaccedilatildeo judicial das prerrogativas da defesa e dos advogados cria consequecircncias de outras trecircs ordens que devem ser criteriosamente sanadas para natildeo impedir o curso do julgamento

Em primeiro lugar eacute fundamento para a cassaccedilatildeo ou invalidaccedilatildeo do ato judicial No caso de interceptaccedilatildeo de telefone de advogado de reacuteu em accedilatildeo penal a destruiccedilatildeo da prova determinada em primeira instacircncia eacute suficiente e natildeo haacute nulidade a ser de-cretada visto que o ato jaacute foi tornado ineficaz

Em segundo lugar a relaccedilatildeo com o ato atentatoacuterio eacute fundamento para a invalida-ccedilatildeo dos atos processuais subsequentes a ele relacionados O regime de invalidaccedilatildeo de atos processuais subsequentes eacute regrado pela legislaccedilatildeo Conforme o art 573 sect 1ordm do Coacutedigo de Processo Penal1 a nulidade de um ato atinge os atos que ldquodele direta-mente dependamrdquo e os que dele ldquosejam consequecircnciardquo

Os atos subsequentes natildeo satildeo atos que violam as prerrogativas da defesa ou dos advogados mas que dependem e satildeo consequecircncia do ato violador Logo quanto a eles as garantias defensivas e advocatiacutecias natildeo estatildeo em jogo Sendo assim a impor-tacircncia dessas garantias natildeo dispensa a demonstraccedilatildeo do nexo entre o ato violador e o ato contaminado2 e 3

Ademais natildeo se vislumbra invalidaccedilatildeo dos atos subsequentes por suposta intimi-daccedilatildeo da defesa ante o uso abundante dos recursos e os meios de impugnaccedilatildeo ar-rostando o que supostamente poderia ser violaccedilatildeo a prerrogativas advocatiacutecias com exceccedilatildeo de suspeiccedilatildeo e representaccedilotildees buscando a responsabilizaccedilatildeo do julgador no Conselho Nacional de Justiccedila

Em terceiro lugar se a violaccedilatildeo apontar para a parcialidade do julgador haveraacute fundamento para a recusa do magistrado Isso natildeo ocorre se o contexto leva a crer que a interceptaccedilatildeo decorreu de suspeita infundada de participaccedilatildeo em atividade cri-

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Nulidades Ȥ Nulidades relativas

HC 129706rel min Gilmar Mendes2ordf TurmaDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 832

381iacutendice de teses

minosa pelo titular do terminal telefocircnico sem que a qualidade de advogado tenha sido percebida

O art 2ordm da Lei 92961996 natildeo exige que sejam quebrados os dados cadastrais

de todos os terminais interceptados previamente agrave interceptaccedilatildeo

O que a Lei 92961996 exige eacute a identificaccedilatildeo o mais precisa possiacutevel dos investiga-dos mas admite sua omissatildeo em caso de impossibilidade manifesta e justificada

1 ldquoArt 573 Os atos cuja nulidade natildeo tiver sido sanada na forma dos artigos anteriores seratildeo re-novados ou retificados sect 1ordm A nulidade de um ato uma vez declarada causaraacute a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequecircnciardquo

2 HC 95518 rel min Teori Zavascki 2ordf T DJE de 19-3-2014

3 ldquoEm muitos casos os atos processuais subsequentes teratildeo evidente nexo com a violaccedilatildeo de garan-tias No exemplo da prisatildeo do advogado para impedir a sustentaccedilatildeo oral o nexo entre o julgamento contraacuterio aos interesses da defesa e a prisatildeo do causiacutedico seria intuiacutedo Em outros casos no entanto a ligaccedilatildeo natildeo seraacute tatildeo patente dependendo de demonstraccedilatildeordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

382iacutendice de teses

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para discutir a suspensatildeo de processo-

-crime sobre a praacutetica da conduta prevista no art 28 da Lei 1134320061 (por-

te de drogas para consumo pessoal)

Natildeo existe previsatildeo de pena privativa de liberdade para essa conduta Isso evidencia a impossibilidade de qualquer ameaccedila agrave liberdade de locomoccedilatildeo que enseje a impe-traccedilatildeo do writ2

O habeas corpus natildeo eacute espeacutecie de recurso apesar de regulamentado no capiacutetulo a eles destinado no Coacutedigo de Processo Penal Eacute uma accedilatildeo constitucional de procedi-mento especial que visa evitar ou cessar violecircncia ou ameaccedila na liberdade de locomo-ccedilatildeo por ilegalidade e abuso de poder

1 ldquoArt 28 Quem adquirir guardar tiver em depoacutesito transportar ou trouxer consigo para consumo pessoal drogas sem autorizaccedilatildeo ou em desacordo com determinaccedilatildeo legal ou regulamentar seraacute submetido agraves seguintes penas I ndash advertecircncia sobre os efeitos das drogas II ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade III ndash medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativordquo

2 HC 131395 rel min Marco Aureacutelio 1ordf T DJE de 21-11-2017

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Habeas corpus e seu processo

HC 127834red p o ac min Alexandre de Moraes1ordf TurmaDJE de 19-12-2017Informativo STF 887

383iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Habeas corpus e seu processo

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para buscar-se o reconhecimento do

direito a visitas iacutentimas em estabelecimento prisional

Nesse caso natildeo estaacute em jogo a liberdade de ir e vir do cidadatildeo

HC 138286rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 18-12-2017Informativo STF 887

384iacutendice de teses

A ordem juriacutedica natildeo contempla a interposiccedilatildeo de recurso via e-mail

Por natildeo se poder potencializar a forma pela forma a legislaccedilatildeo instrumental visa acima de tudo realizar o implemento da almejada justiccedila Todavia paracircmetros voltados agrave seguranccedila juriacutedica devem ser considerados

No campo da informaacutetica da formalizaccedilatildeo de atos por meio de recursos eletrocirc-nicos devem-se levar em conta presente o disposto no art 1ordm da Lei 980019991 certos requisitos Dessa forma os atos emitidos pelos tribunais consoante o preceito da mencionada lei a prever que ldquoeacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que dependam de peticcedilatildeo escritardquo natildeo contemplam a adoccedilatildeo do e-mail quanto mais sem a apresentaccedilatildeo no prazo legal do original

O fac-siacutemile ou o envio mediante outro meacutetodo pressupotildee a observacircncia de en-dereccedilo que confira certeza quanto ao recebimento da mensagem A Lei 98001999 excepcionando a interposiccedilatildeo direta de recurso permitiu a utilizaccedilatildeo da transmissatildeo de dados e imagens via fac-siacutemile Mesmo assim tem-se que empregado tal meio haacute de apresentar-se o original Ademais maior inviabilidade verifica-se quando o re-curso for protocolado mediante e-mail sem respaldo em qualquer norma legal e sem haver sido apresentado posteriormente em peccedila fiacutesica

1 ldquoArt 1ordm Eacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens tipo fac--siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que dependam de peticcedilatildeo escritardquo

Direito Processual Penal Ȥ Nulidades e recursos em geral

Ȥ Recursos em geral Ȥ Disposiccedilotildees gerais

HC 121225rel min Marco Aureacutelio1ordf TurmaDJE de 29-3-2017Informativo STF 857

EXECUCcedilAtildeO PENALDIREITO PROCESSUAL PENAL

386iacutendice de teses

O limite de trinta anos enunciado no art 75 do Coacutedigo Penal (CP) natildeo eacute

considerado para o caacutelculo de benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (Verbete 715 da

Suacutemula do Supremo Tribunal Federal1)

O ldquoart 75 do CP2 eacute o consectaacuterio loacutegico da expressa vedaccedilatildeo constitucional con-cernente agraves penas de caraacuteter perpeacutetuo (Constituiccedilatildeo Federal art 5ordm XLVII b3) Le-vando-se em conta a necessidade de ressocializaccedilatildeo do apenado natildeo seria coerente de fato permitir-se a subsistecircncia no ordenamento juriacutedico brasileiro de penas de caraacuteter perpeacutetuo Por isso a expressa disposiccedilatildeo legal no sentido de que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade natildeo pode ser superior a trinta anos

Todavia esse limite apenas se reporta ao tempo maacuteximo de efetivo cumprimento da pena natildeo podendo servir de cotejo para a afericcedilatildeo de requisitos temporais neces-saacuterios agrave obtenccedilatildeo de outros benefiacutecios legaisrdquo4 e 5

1 ldquoA pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento determinado pelo art 75 do Coacutedigo Penal natildeo eacute considerada para a concessatildeo de outros benefiacutecios como o livramento condicional ou regime mais favoraacutevel de execuccedilatildeordquo

2 ldquoArt 75 O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade natildeo pode ser superior a 30 (trinta) anos sect 1ordm Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos devem elas ser unificadas para atender ao limite maacuteximo deste artigordquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave segu-ranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes XLVII ndash natildeo haveraacute penas () b) de caraacuteter perpeacutetuordquo

4 HC 98450 rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJE de 20-8-2010

5 HC 69423 rel min Carlos Velloso P DJ de 17-9-1993 e HC 106909 rel min Ayres Britto 2ordf T DJE de 4-10-2011

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Limite das penas Ȥ Benefiacutecios da execuccedilatildeo penal

HC 100612red p o ac min Roberto Barroso1ordf TurmaDJE de 31-5-2017Informativo STF 835

387iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Trabalho Ȥ Trabalho interno

Excepcionalmente pode ser considerado para fins de remiccedilatildeo da pena o

total de horas trabalhadas em jornada diaacuteria inferior a seis horas quando

houver determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio

Apesar de a Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) no art 331 prever que a jornada diaacuteria natildeo deve ser inferior a seis nem superior a oito horas para fins de remiccedilatildeo de pena2 em casos dessa natureza deve-se observar os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila Isso torna indeclinaacutevel o dever estatal de honrar o compromisso de remir a pena do sentenciado legiacutetima contraprestaccedilatildeo ao trabalho prestado por ele na forma estipulada pela administraccedilatildeo penitenciaacuteria3 sob pena de desestiacutemulo ao trabalho e agrave ressocializaccedilatildeo

Assim excepcionalmente pode ser considerada jornada diaacuteria inferior a seis horas nos casos em que houver determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio ou seja em que a jornada de trabalho natildeo derive de ato voluntaacuterio nem de indisciplina ou insub-missatildeo do preso Dessa forma admite-se que para computar os dias de remiccedilatildeo as horas trabalhadas sejam somadas e divididas por seis Feita a conversatildeo matemaacutetica do caacutelculo da remiccedilatildeo age-se dentro dos limites previstos na LEP

1 Lei 72101984 ldquoArt 33 A jornada normal de trabalho natildeo seraacute inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas com descanso nos domingos e feriadosrdquo

2 ldquoArt 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderaacute remir por trabalho ou por estudo parte do tempo de execuccedilatildeo da pena sect 1ordm A contagem de tempo referida no caput seraacute feita agrave razatildeo de () II ndash 1 (um) dia de pena a cada 3 (trecircs) dias de trabalhordquo

3 ACO 79 rel min Cezar Peluso P DJE de 28-5-2012

RHC 136509rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 27-4-2017Informativo STF 860

388iacutendice de teses

O marco inicial para fins de obtenccedilatildeo de progressatildeo de regime e demais be-

nefiacutecios executoacuterios eacute a data da custoacutedia cautelar1 Essa data deve necessa-

riamente ser computada desde que natildeo ocorra condenaccedilatildeo posterior apta a

configurar falta grave

Diante da execuccedilatildeo de uma uacutenica condenaccedilatildeo o legislador natildeo impocircs qualquer re-quisito adicional aleacutem dos estabelecidos no art 112 da Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP)2

Assim a sentenccedila penal condenatoacuteria natildeo interrompe o lapso temporal para a ob-tenccedilatildeo de benefiacutecios em sede de execuccedilatildeo penal de um uacutenico crime

A soluccedilatildeo juridicamente adequada e que se coaduna com o sistema progressivo de cumprimento de pena previsto na LEP eacute a de que a sentenccedila condenatoacuteria funciona como paracircmetro acerca do quantum de pena que deveraacute ter sido cumprido para ob-tenccedilatildeo de benefiacutecios relacionados agrave progressatildeo de regime

1 Enunciado 716 da Suacutemula do STF ldquoAdmite-se a progressatildeo de regime de cumprimento de pena ou a aplicaccedilatildeo imediata de regime menos severo nela determinada antes do tracircnsito em julgado da sentenccedila condenatoacuteriardquo

2 ldquoArt 112 A pena privativa de liberdade seraacute executada em forma progressiva com a transferecircncia para regime menos rigoroso a ser determinada pelo juiz quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carceraacuterio comprovado pelo diretor do estabelecimento respeitadas as normas que vedam a progressatildeo sect 1ordm A decisatildeo seraacute sempre motivada e precedida de manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico e do defensor sect 2ordm Idecircntico procedimento seraacute adotado na concessatildeo de livramento condicional indulto e comutaccedilatildeo de penas respeitados os prazos previstos nas normas vigentesrdquo

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie Ȥ Penas privativas de liberdade

RHC 142463rel min Luiz Fux1ordf TurmaDJE de 3-10-2017Informativo STF 877

389iacutendice de teses

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie Ȥ Penas privativas de liberdade

O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada

ao sentenciado impede a progressatildeo no regime prisional1

A modificaccedilatildeo legislativa realizada pela Lei 92681996 no art 51 do Coacutedigo Penal (CP)2 referindo-se agrave multa como ldquodiacutevida de valorrdquo natildeo retirou desta o caraacuteter de pena de sanccedilatildeo criminal e sequer poderia cogitar em fazecirc-lo O art 5ordm XLVI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)3 ao cuidar da individualizaccedilatildeo da pena faz menccedilatildeo expressa agrave multa ao lado da privaccedilatildeo da liberdade e de outras modalidades de sanccedilatildeo penal

Por sua vez a anaacutelise dos requisitos necessaacuterios para a progressatildeo de regime natildeo se restringe ao que eacute referido no art 112 da Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP)4 tendo em vista que outros elementos podem e devem ser considerados pelo julgador na tarefa de individualizaccedilatildeo da resposta punitiva do Estado especialmente na fase executoacuteria Afinal tal como previsto na exposiccedilatildeo de motivos agrave LEP ldquoa progressatildeo deve ser uma conquista do condenado pelo seu meacuteritordquo ldquocompreendido esse vocaacutebulo como apti-datildeo capacidade e merecimento demonstrados no curso da execuccedilatildeordquo

Nesse sentido o julgador atento agraves finalidades da pena e de modo fundamentado estaacute autorizado a lanccedilar matildeo de outros requisitos natildeo necessariamente enunciados no art 112 da LEP mas extraiacutedos do ordenamento juriacutedico para avaliar a possibilida-de de progressatildeo no regime prisional tendo como objetivo sobretudo o exame do merecimento do sentenciado5 e 6

Circunstacircncias brasileiras ndash como as limitaccedilotildees orccedilamentaacuterias a superlotaccedilatildeo dos presiacutedios e a existecircncia de centenas de milhares de mandados de prisatildeo agrave espera de cumprimento ndash fazem com que o sistema de cumprimento de penas e de progressatildeo de regime entre noacutes seja menos severo do que o de outros paiacuteses Menos do que uma opccedilatildeo filosoacutefica ou uma postura de leniecircncia trata-se de uma escolha poliacutetica acerca da alocaccedilatildeo de recursos feita pelas instacircncias representativas da sociedade e materializada na lei

EP 8 ProgReg-AgRrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 20-9-2017Informativo STF 832

390iacutendice de teses

Todavia especialmente em mateacuteria de crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica ndash como tambeacutem nos crimes de colarinho branco em geral ndash a parte verdadeiramente severa da pena a ser executada com rigor haacute de ser a de natureza pecuniaacuteria Esta sim tem o poder de funcionar como real fator de prevenccedilatildeo capaz de inibir a praacutetica de crimes que envolvam apropriaccedilatildeo de recursos puacuteblicos

Assim o condenado tem o dever juriacutedico ndash e natildeo a faculdade ndash de pagar integral-mente o valor da multa Pensar de modo diferente seria o mesmo que ignorar moda-lidade autocircnoma de resposta penal expressamente concebida pela Constituiccedilatildeo nos termos do art 5ordm XLVI c Essa espeacutecie de sanccedilatildeo penal exige cumprimento espontacirc-neo por parte do apenado independentemente da instauraccedilatildeo de execuccedilatildeo judicial

Eacute o que tambeacutem decorre do art 50 do CP7 ao estabelecer que ldquoa multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentenccedilardquo Com efei-to o natildeo recolhimento da multa por condenado que tenha condiccedilotildees econocircmicas de pagaacute-la sem sacrifiacutecio dos recursos indispensaacuteveis ao sustento proacuteprio e de sua famiacutelia constitui deliberado descumprimento de decisatildeo judicial e deve impedir a progressatildeo de regime Aleacutem disso admitir-se o natildeo pagamento da multa configura-ria tratamento privilegiado em relaccedilatildeo ao sentenciado que espontaneamente paga a sanccedilatildeo pecuniaacuteria

Natildeo bastasse essa incongruecircncia loacutegica a passagem para o regime aberto exige do sentenciado ldquoautodisciplina e senso de responsabilidaderdquo (LEP art 114 II8) o que pressupotildee o cumprimento das decisotildees judiciais que se lhe aplicam Tal interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelo que dispotildee o art 36 sect 2ordm do CP9 e o art 118 sect 1ordm da LEP10 que esta-belecem a regressatildeo de regime para o condenado que ldquonatildeo pagar podendo a multa cumulativamente impostardquo O deliberado inadimplemento da pena de multa sequer poderia ser comparaacutevel agrave vedada prisatildeo por diacutevida nos moldes do art 5ordm LXVII da CF11 configurando apenas oacutebice agrave progressatildeo no regime prisional

A exceccedilatildeo admissiacutevel ao dever de pagar multa eacute a impossibilidade econocircmica ab-soluta de fazecirc-lo ou seja eacute possiacutevel a progressatildeo se o sentenciado veraz e compro-vadamente demonstrar sua absoluta insolvabilidade que o impossibilite ateacute mesmo de efetuar o pagamento parcelado da quantia devida como autorizado pelo art 50 do CP

A absoluta incapacidade econocircmica do apenado portanto deve ser devidamen-te demonstrada nos autos inclusive porque a decisatildeo condenatoacuteria fixa o quantum da sanccedilatildeo pecuniaacuteria especialmente em funccedilatildeo da situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu (CP

391iacutendice de teses

art 6012) como deve ser A relativizaccedilatildeo dessa resposta penal depende de prova ro-busta por parte do sentenciado

1 EP 12 AgR rel min Roberto Barroso P DJE de 11-6-2015

2 ldquoArt 51 Transitada em julgado a sentenccedila condenatoacuteria a multa seraacute considerada diacutevida de valor aplicando-se-lhes as normas da legislaccedilatildeo relativa agrave diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica inclusive no que concerne agraves causas interruptivas e suspensivas da prescriccedilatildeordquo

3 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVI ndash a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as seguintes a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade b) perda de bens c) multa d) prestaccedilatildeo social alternativa e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitosrdquo

4 ldquoArt 112 A pena privativa de liberdade seraacute executada em forma progressiva com a transferecircncia para regime menos rigoroso a ser determinada pelo juiz quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carceraacuterio comprovado pelo diretor do estabelecimento respeitadas as normas que vedam a progressatildeo sect 1ordm A decisatildeo seraacute sempre motivada e precedida de manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico e do defensor sect 2ordm Idecircntico procedimento seraacute adotado na concessatildeo de livramento condicional indulto e comutaccedilatildeo de penas respeitados os prazos previstos nas normas vigentesrdquo

5 EP 22 rel min Roberto Barroso P DJE de 7-4-2016 e RHC 116033 rel min Ricardo Lewandowski 2ordf T DJE de 22-4-2013

6 Enunciado 26 da Suacutemula Vinculante ldquoPara efeito de progressatildeo de regime no cumprimento de pena por crime hediondo ou equiparado o juiacutezo da execuccedilatildeo observaraacute a inconstitucionalidade do art 2ordm da Lei n 8072 de 25 de julho de 1990 sem prejuiacutezo de avaliar se o condenado preenche ou natildeo os requisitos objetivos e subjetivos do benefiacutecio podendo determinar para tal fim de modo fundamentado a realizaccedilatildeo de exame criminoloacutegicordquo

7 ldquoArt 50 A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentenccedila A requerimento do condenado e conforme as circunstacircncias o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais sect 1ordm A cobranccedila da multa pode efetuar-se mediante desconto no ven-cimento ou salaacuterio do condenado quando a) aplicada isoladamente b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos c) concedida a suspensatildeo condicional da pena sect 2ordm O desconto natildeo deve incidir sobre os recursos indispensaacuteveis ao sustento do condenado e de sua famiacuteliardquo

8 ldquoArt 114 Somente poderaacute ingressar no regime aberto o condenado que I ndash estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazecirc-lo imediatamente II ndash apresentar pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido fundados indiacutecios de que iraacute ajustar-se com auto-disciplina e senso de responsabilidade ao novo regime Paraacutegrafo uacutenico Poderatildeo ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no art 117 desta Leirdquo

9 ldquoArt 36 O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condena-do sect 1ordm O condenado deveraacute fora do estabelecimento e sem vigilacircncia trabalhar frequentar curso

392iacutendice de teses

ou exercer outra atividade autorizada permanecendo recolhido durante o periacuteodo noturno e nos dias de folga sect 2ordm O condenado seraacute transferido do regime aberto se praticar fato definido como crime doloso se frustrar os fins da execuccedilatildeo ou se podendo natildeo pagar a multa cumulativamente aplicadardquo

10 ldquoArt 118 A execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade ficaraacute sujeita agrave forma regressiva com a trans-ferecircncia para qualquer dos regimes mais rigorosos quando o condenado I ndash praticar fato definido como crime doloso ou falta grave II ndash sofrer condenaccedilatildeo por crime anterior cuja pena somada ao restante da pena em execuccedilatildeo torne incabiacutevel o regime (art 111) sect 1ordm O condenado seraacute trans-ferido do regime aberto se aleacutem das hipoacuteteses referidas nos incisos anteriores frustrar os fins da execuccedilatildeo ou natildeo pagar podendo a multa cumulativamente imposta sect 2ordm Nas hipoacuteteses do inciso I e do paraacutegrafo anterior deveraacute ser ouvido previamente o condenadordquo

11 ldquoArt 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualda-de agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XLVII ndash natildeo haveraacute penas a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX b) de caraacuteter perpeacutetuo c) de traba-lhos forccedilados d) de banimento e) crueacuteisrdquo

12 ldquoArt 60 Na fixaccedilatildeo da pena de multa o juiz deve atender principalmente agrave situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu sect 1ordm A multa pode ser aumentada ateacute o triplo se o juiz considerar que em virtude da situaccedilatildeo econocircmica do reacuteu eacute ineficaz embora aplicada no maacuteximo sect 2ordm A pena privativa de liberdade apli-cada natildeo superior a 6 (seis) meses pode ser substituiacuteda pela de multa observados os criteacuterios dos incisos II e III do art 44 deste Coacutedigordquo

393iacutendice de teses

O indulto da pena privativa de liberdade natildeo alcanccedila a pena de multa que tenha

sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado

A automaacutetica concessatildeo do indulto da multa a condenado que tenha condiccedilotildees eco-nocircmicas de quitaacute-la sem sacrifiacutecio dos recursos indispensaacuteveis ao sustento proacuteprio ou de sua famiacutelia constituiria em uacuteltima anaacutelise injustificaacutevel descumprimento de decisatildeo judicial e indesejaacutevel tratamento privilegiado em relaccedilatildeo agravequeles sentencia-dos que tempestivamente pagaram a sanccedilatildeo pecuniaacuteria

Sendo o pagamento parcelado da multa e a permanecircncia do sentenciado no regi-me aberto requisitos indispensaacuteveis para a obtenccedilatildeo do benefiacutecio do indulto (Decreto 88302014 art 1ordm XV1) natildeo haacute como exonerar o sentenciado de continuar a hon-rar o acordo espontaneamente assumido ldquoEntender de modo diverso desprestigia o princiacutepio da boa-feacute objetiva na medida em que beneficiaria indevidamente quem adota comportamento contraditoacuteriordquo2

Assim a liberalidade contida no paraacutegrafo uacutenico do art 7ordm3 do Decreto 83802014 somente deve ser admitida na hipoacutetese em que estiver comprovada a extrema carecircn-cia econocircmica do condenado que sequer tenha tido condiccedilotildees de firmar compro-misso de parcelamento do deacutebito Essa interpretaccedilatildeo mais restritiva leva em conside-raccedilatildeo (i) o fato de que a pena de multa embora convertida em diacutevida de valor natildeo perdeu seu caraacuteter de sanccedilatildeo criminal e o seu injustificado inadimplemento interfere no gozo dos benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (como na progressatildeo de regime) e (ii) o caraacuteter essencialmente igualitaacuterio que permeia a concessatildeo pelo presidente da Repuacute-blica da clemecircncia estatal

1 ldquoArt 1ordm Concede-se o indulto coletivo agraves pessoas nacionais e estrangeiras () XV ndash condenadas a pena privativa de liberdade que estejam em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto cujas penas remanescentes em 25 de dezembro de 2014 natildeo sejam superiores a oito anos

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Incidentes de execuccedilatildeo Ȥ Anistia e indulto

EP 11 IndCom-AgRrel min Roberto BarrosoPlenaacuterioDJE de 18-12-2017Informativo STF 884

394iacutendice de teses

se natildeo reincidentes e a seis anos se reincidentes desde que tenham cumprido um quarto da pena se natildeo reincidentes ou um terccedilo se reincidentesrdquo

2 Trecho do voto do ministro Alexandre de Moraes no presente julgamento

3 ldquoArt 7ordm O indulto ou a comutaccedilatildeo da pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos alcanccedila a pena de multa aplicada cumulativamente Paraacutegrafo uacutenico A inadimplecircncia da pena de multa cumulada com pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos natildeo impede a declaraccedilatildeo do indulto ou da comutaccedilatildeo de penasrdquo

395iacutendice de teses

Poderaacute se dar a posteriori agrave publicaccedilatildeo da norma a homologaccedilatildeo judicial da

aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo por falta grave para obstar a comutaccedilatildeo de pena

O art 5ordm caput do Decreto 838020141 limita-se a impor a homologaccedilatildeo judicial da aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo por falta grave natildeo exigindo que ela tenha de se dar nos doze meses anteriores a sua publicaccedilatildeo2

Natildeo bastasse isso uma vez que se exige a realizaccedilatildeo de audiecircncia de justificaccedilatildeo assegurando-se o contraditoacuterio e a ampla defesa natildeo faria sentido que a homologaccedilatildeo judicial devesse ocorrer dentro daquele prazo sob pena de natildeo haver tempo haacutebil para a apuraccedilatildeo de eventual falta grave praticada em data proacutexima agrave publicaccedilatildeo do decreto

1 ldquoArt 5ordm A declaraccedilatildeo do indulto e da comutaccedilatildeo de penas previstos neste Decreto fica condicionada agrave inexistecircncia de aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo reconhecida pelo juiacutezo competente em audiecircncia de justifi-caccedilatildeo garantido o direito ao contraditoacuterio e agrave ampla defesa por falta disciplinar de natureza grave prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal cometida nos doze meses de cumprimento da pena contados retroativamente agrave data de publicaccedilatildeo deste Decretordquo

2 AP 512 rel min Ayres Britto P DJE de 20-4-2012 e HC 132236 rel min Dias Toffoli 2ordf T DJE de 27-9-2016

Direito Processual Penal Ȥ Execuccedilatildeo penal

Ȥ Incidentes de execuccedilatildeo Ȥ Anistia e indulto

RHC 133443rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 9-12-2016Informativo STF 842

DIR

ET

RIB

DIR

EIT

O

TR

IBU

TAacuteR

IO

TRIBUTOSDIREITO TRIBUTAacuteRIO

398iacutendice de teses

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) incide sobre

a tarifa de assinatura baacutesica mensal cobrada pelas prestadoras de serviccedilos

de telefonia independentemente da franquia de minutos concedida ou natildeo

ao usuaacuterio

A tarifa de assinatura baacutesica mensal natildeo eacute serviccedilo Eacute contraprestaccedilatildeo pelo serviccedilo de comunicaccedilatildeo propriamente dito prestado pelas concessionaacuterias de telefonia e con-sistente no fornecimento em caraacuteter continuado das condiccedilotildees materiais para que ocorra a comunicaccedilatildeo entre o usuaacuterio e terceiro o que atrai a incidecircncia do ICMS

Existe um complexo sistema de redes e equipamentos para conferir ao usuaacuterio do serviccedilo de telefonia fixa a possibilidade de originar e receber chamadas Eacute justamente o custo da manutenccedilatildeo desse complexo sistema que a cobranccedila de assinatura mensal visa remunerar Ademais eacute de se ressaltar que a manutenccedilatildeo do serviccedilo ao usuaacuterio constitui por si soacute prestaccedilatildeo efetiva desse serviccedilo1

O valor pago pela assinatura mensal da telefonia fixa eacute sem duacutevida tarifa e tem por objetivo custear a manutenccedilatildeo o aperfeiccediloamento e a expansatildeo desse complexo sistema telefocircnico2

O fato de a assinatura mensal dar ou natildeo direito ao usuaacuterio de utilizar a franquia de minutos eacute irrelevante e natildeo tem o condatildeo de descaracterizar o serviccedilo remune-rado pelo valor da assinatura baacutesica mensal como serviccedilo de comunicaccedilatildeo propria-mente dito Afinal o que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica autoriza os Estados e o Distrito Federal a tributar natildeo eacute ldquopropriamente o transporte transmunicipal a comunicaccedilatildeo ou quaisquer outros serviccedilos mas sim as prestaccedilotildees onerosas desses serviccedilosrdquo3 Eacute legiacutetima a incidecircncia do ICMS-comunicaccedilatildeo sobre o valor pago a tiacutetulo de tarifa de assinatura baacutesica mensal portanto

Essa tarifa natildeo se confunde com os serviccedilos preparatoacuterios e acessoacuterios Esses serviccedilos prestados pelas empresas de telefonia tambeacutem conhecidos como serviccedilos intermediaacuterios de comunicaccedilatildeo tais como habilitaccedilatildeo instalaccedilatildeo disponibilidade

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ‒ Repercussatildeo Geral

RE 912888RG ‒ Tema 827rel min Teori ZavasckiPlenaacuterioDJE de 10-5-2017Informativo STF 843

399iacutendice de teses

assinatura (inicial) cadastro de usuaacuterio e equipamento entre outros configuram ati-vidades-meio ou serviccedilos suplementares O valor pago por esses serviccedilos eacute eventual e remunera serviccedilo episoacutedico portanto natildeo incide ICMS sobre ele4

1 Parecer do professor Carlos Ari Sunfeld em consulta feita pelas Telecomunicaccedilotildees de Satildeo Paulo SA (TELESP-TELEFOcircNICA)

2 Parecer do professor Paulo de Barros Carvalho em consulta feita pela Associaccedilatildeo Brasileira de Pres-tadoras de Serviccedilo Telefocircnico Fixo Comutado (ABRAFIX)

3 CARRAZZA Roque Antonio ICMS 17 ed Satildeo Paulo Malheiros 2015 p 238

4 RE 572020 red p o ac min Luiz Fux P DJE de 13-10-2014

400iacutendice de teses

Eacute devida a restituiccedilatildeo da diferenccedila do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercado-

rias e Serviccedilos (ICMS) pago a mais no regime de substituiccedilatildeo tributaacuteria para

frente se a base de caacutelculo efetiva da operaccedilatildeo for inferior agrave presumida1

Uma interpretaccedilatildeo restritiva do sect 7ordm do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 para fins de legitimar a natildeo restituiccedilatildeo do excesso representaria injusticcedila fiscal inaceitaacute-vel em um Estado Democraacutetico de Direito o qual eacute fundado em legiacutetimas expec-tativas emanadas de uma relaccedilatildeo de confianccedila e justeza entre Fisco e contribuinte

A razatildeo preciacutepua da constitucionalidade desse preceito eacute o princiacutepio da praticidade tendo em conta que esse dispositivo constitucional promove comodidade economici-dade e eficiecircncia na execuccedilatildeo administrativa das leis tributaacuterias No entanto o princiacutepio da praticidade tributaacuteria natildeo prepondera na hipoacutetese de violaccedilatildeo de direitos e garantias dos contribuintes notadamente os princiacutepios da igualdade capacidade contributiva e vedaccedilatildeo ao confisco bem como a arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS

ldquoAo acrescentar na parte final no sect 7ordm do art 150 da Constituiccedilatildeo o direito agrave resti-tuiccedilatildeo o poder constituinte reformador pretendeu explicitar a inconstitucionalidade da cobranccedila de tributo quando natildeo houve o fato gerador tal como presumido deter-minando por isso a devoluccedilatildeo Caso se interpretasse que o direito agrave restituiccedilatildeo existe somente nas hipoacuteteses de inocorrecircncia total do fato gerador permaneceria a injusticcedila que o constituinte derivado buscou eliminar de forma expressa e estar-se-ia interpre-tando o dispositivo de maneira contraacuteria agrave sua finalidaderdquo3

Portanto a garantia do direito agrave restituiccedilatildeo do excesso natildeo inviabiliza a substitui-ccedilatildeo tributaacuteria progressiva agrave luz da manutenccedilatildeo das vantagens pragmaacuteticas exauridas do sistema de cobranccedila de impostos e contribuiccedilotildees

Em suma a restituiccedilatildeo do excesso atende ao princiacutepio que veda o enriquecimento sem causa tendo em conta a natildeo ocorrecircncia da materialidade presumida do tributo

Diante disso foram declarados inconstitucionais o art 22 sect 10 da Lei 67631975 do Estado de Minas Gerais4 e o art 21 do Regulamento do ICMS de Minas Gerais5

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ‒ Repercussatildeo Geral

RE 593849RG ‒ Tema 201rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 5-4-2017Informativo STF 844

401iacutendice de teses

aprovado pelo Decreto 430802002 em razatildeo de ofensa ao art 150 sect 7ordm da CF Logo deve-se fixar interpretaccedilatildeo conforme agrave Constituiccedilatildeo nas expressotildees ldquonatildeo se efetive o fato gerador presumidordquo no sect 11 do art 22 da lei estadual e ldquoa fato gerador presumido que natildeo se realizourdquo no art 22 do Regulamento do ICMS

Dessa forma fica superado parcialmente o entendimento manifestado pelo Supre-mo Tribunal Federal (STF) na ADI 18516 Na accedilatildeo o STF decidiu que a devoluccedilatildeo deveria ocorrer apenas nas hipoacuteteses em que o fato gerador natildeo ocorresse

Os efeitos juriacutedicos desse novo entendimento orientam apenas os litiacutegios judiciais futuros e os pendentes submetidos agrave sistemaacutetica da repercussatildeo geral7

1 ADI 2675 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2017 e ADI 2777 red p o ac min Ricardo Lewandowski P DJE de 30-6-2017

2 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios (hellip) sect 7ordm A lei poderaacute atribuir a sujeito passivo de obrigaccedilatildeo tributaacuteria a condiccedilatildeo de responsaacutevel pelo pagamento de imposto ou contribuiccedilatildeo cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente assegurada a imediata e preferencial restituiccedilatildeo da quantia paga caso natildeo se realize o fato gerador presumidordquo

3 Trecho do voto do ministro Roberto Barroso no presente julgamento

4 ldquoArt 22 (hellip) sect 10 Ressalvada a hipoacutetese prevista nos sectsect 11 e 12 deste artigo o imposto corretamente recolhido por substituiccedilatildeo tributaacuteria eacute definitivo natildeo ficando qualquer que seja o valor das saiacutedas das mercadorias 1) o contribuinte e o responsaacutevel sujeitos ao recolhimento da diferenccedila do tributo 2) o Estado sujeito agrave restituiccedilatildeo de qualquer valor ainda que sob a forma de aproveitamento de creacutedito para compensaccedilatildeo com deacutebito por saiacuteda de outra mercadoriardquo

5 ldquoArt 21 Ressalvada a situaccedilatildeo em que o fato gerador presumido natildeo se realizar o imposto correta-mente recolhido por substituiccedilatildeo tributaacuteria eacute definitivo natildeo ficando qualquer que seja o valor das saiacutedas das mercadorias I ndash o contribuinte ou responsaacutevel sujeito ao recolhimento da diferenccedila do tributo II ndash o Estado sujeito agrave restituiccedilatildeo de qualquer valor ainda que sob a forma de aproveitamen-to de creacutedito para compensaccedilatildeo com deacutebito por saiacuteda de outra mercadoriardquo

6 ADI 1851 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 8-5-2002

7 ldquoIsso porque estaacute-se diante de uma hipoacutetese de reescrita (overriding) de precedente Ademais o sect 3ordm do art 927 do CPC2015 assim dispotildee lsquoNa hipoacutetese de alteraccedilatildeo de jurisprudecircncia dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repe-titivos pode haver modulaccedilatildeo dos efeitos da alteraccedilatildeo no interesse social e no da seguranccedila juriacutedicarsquordquo

402iacutendice de teses

A falta de ediccedilatildeo de lei complementar que estabeleccedila os criteacuterios para com-

pensar os Estados por conta das desoneraccedilotildees do Imposto sobre Circulaccedilatildeo

de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sobre as exportaccedilotildees (Emenda Constitu-

cional 422003) configura estado de inconstitucionalidade por omissatildeo

No caso existe um dever constitucional de legislar previsto no art 91 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT)1 e uma omissatildeo legislativa que jaacute perdura por mais de dez anos e traz consequecircncias econocircmicas relevantes sobre-tudo em relaccedilatildeo a determinados Estados-membros

Com a Emenda Constitucional 422003 alterou-se a redaccedilatildeo do art 155 sect 2ordm X a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 para remover completamente as exportaccedilotildees brasi-leiras do campo de incidecircncia do ICMS Essa nova disposiccedilatildeo redefiniu os limites da competecircncia tributaacuteria estadual reduzindo-a com o evidente escopo de induzir pela via da desoneraccedilatildeo as exportaccedilotildees brasileiras Em termos teacutecnicos ocorreu reduccedilatildeo dos limites da competecircncia tributaacuteria estadual ou seja essa desoneraccedilatildeo deu-se em prejuiacutezo de uma fonte de receitas puacuteblicas estaduais Originariamente os Estados e o Distrito Federal poderiam cobrar ICMS em relaccedilatildeo agraves operaccedilotildees que destinassem produtos primaacuterios ao exterior Agora natildeo mais

Entatildeo se de um lado eacute certo que a modificaccedilatildeo prestigia e incentiva as exporta-ccedilotildees em prol de toda a Federaccedilatildeo de outro natildeo eacute menos verdade que a nova regra afeta uma fonte de recursos dos Estados e traz consequecircncias severas especialmente para aqueles que se dedicam agrave atividade de exportaccedilatildeo de produtos primaacuterios Por isso em contrapartida para compensar a perda de arrecadaccedilatildeo que naturalmente decorreria da desoneraccedilatildeo das exportaccedilotildees imposta pela Emenda Constitucional 422003 esta estabeleceu no art 91 do ADCT uma foacutermula de transferecircncia consti-tucional obrigatoacuteria da Uniatildeo em favor dos Estados e do Distrito Federal

Contudo a necessaacuteria lei complementar prevista no caput do art 91 do ADCT nunca foi editada e ateacute hoje segue sendo aplicada a regra ndash que deveria ser temporaacute-

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

ADO 25rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 18-8-2017Informativo STF 849

403iacutendice de teses

ria ndash prevista no sect 3ordm do art 91 Permanece ldquovigente o sistema de entrega de recursos previsto no art 313 e Anexo da Lei Complementar 87 de 13 de setembro de 1996 com a redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar 115 de 26 de dezembro de 2002rdquo

Cabe destacar que a existecircncia de projetos de lei complementar tramitando no Congresso Nacional com o fito de regulamentar essa entrega dos recursos natildeo eacute sufi-ciente para afastar a ineacutercia legislativa passados mais de dez anos da promulgaccedilatildeo da Emenda Constitucional 422003 A inertia deliberandi das casas legislativas pode ser objeto de accedilatildeo direta de inconstitucionalidade por omissatildeo4

Enquanto a sanccedilatildeo e o veto estatildeo disciplinados de forma relativamente precisa no texto constitucional inclusive no que concerne a prazos (CF art 665) a deliberaccedilatildeo natildeo mereceu do constituinte no tocante a esse aspecto uma disciplina mais minu-ciosa Ressalvada a hipoacutetese de utilizaccedilatildeo do procedimento abreviado previsto no art 64 sectsect 1ordm e 2ordm da CF6 natildeo se estabeleceram prazos para a apreciaccedilatildeo dos projetos de lei Observe-se que mesmo nos casos desse procedimento abreviado natildeo haacute ga-rantia quanto agrave aprovaccedilatildeo dentro de determinado prazo uma vez que o modelo de processo legislativo estabelecido pela Constituiccedilatildeo natildeo contempla a aprovaccedilatildeo por decurso de prazo

Ademais o fato de a Emenda Constitucional 422003 ter disposto criteacuterios provi-soacuterios para o repasse (ADCT art 91 sect 3ordm) natildeo configura razatildeo suficiente para afastar a omissatildeo inconstitucional em questatildeo Ao contraacuterio o sentido de provisoriedade estampado no teor do sect 2ordm do art 91 soacute confirma a omissatildeo do Congresso Nacional na mateacuteria Natildeo tem o condatildeo de convalidaacute-la7

Diante disso reconhece-se a mora do Congresso Nacional quanto agrave ediccedilatildeo da lei complementar prevista no art 91 do ADCT fixando o prazo de doze meses para que seja sanada a omissatildeo

Na hipoacutetese de transcorrer in albis o mencionado prazo caberaacute ao Tribunal de Con-tas da Uniatildeo (TCU) a) fixar o valor do montante total a ser transferido aos Estados--membros e ao Distrito Federal considerando os criteacuterios dispostos no art 91 do ADCT para a fixaccedilatildeo do montante a ser transferido anualmente a saber as exportaccedilotildees para o exterior de produtos primaacuterios e semielaborados a relaccedilatildeo entre as exportaccedilotildees e as importaccedilotildees os creacuteditos decorrentes de aquisiccedilotildees destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenccedilatildeo e aproveitamento do creacutedito do imposto a que se refere o art 155 sect 2ordm X a do texto constitucional b) calcular o valor das quotas a que cada um deles faraacute jus considerando os entendimentos entre os Estados-membros e o Distrito Fe-deral realizados no acircmbito do Conselho Nacional de Poliacutetica Fazendaacuteria (CONFAZ)

404iacutendice de teses

1 ldquoArt 91 A Uniatildeo entregaraacute aos Estados e ao Distrito Federal o montante definido em lei comple-mentar de acordo com criteacuterios prazos e condiccedilotildees nela determinados podendo considerar as exportaccedilotildees para o exterior de produtos primaacuterios e semielaborados a relaccedilatildeo entre as exportaccedilotildees e as importaccedilotildees os creacuteditos decorrentes de aquisiccedilotildees destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenccedilatildeo e aproveitamento do creacutedito do imposto a que se refere o art 155 sect 2ordm X a sect 1ordm Do montante de recursos que cabe a cada Estado setenta e cinco por cento pertencem ao proacuteprio Estado e vinte e cinco por cento aos seus Municiacutepios distribuiacutedos segundo os criteacuterios a que se refere o art 158 paraacutegrafo uacutenico da Constituiccedilatildeo sect 2ordm A entrega de recursos prevista neste artigo perduraraacute conforme definido em lei complementar ateacute que o imposto a que se refere o art 155 II tenha o produto de sua arrecadaccedilatildeo destinado predominantemente em proporccedilatildeo natildeo inferior a oitenta por cento ao Estado onde ocorrer o consumo das mercadorias bens ou serviccedilos sect 3ordm Enquanto natildeo for editada a lei complementar de que trata o caput em substituiccedilatildeo ao sistema de entrega de recursos nele previsto permaneceraacute vigente o sistema de entrega de recursos previsto no art 31 e Anexo da Lei Complementar n 87 de 13 de setembro de 1996 com a redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar n 115 de 26 de dezembro de 2002 sect 4ordm Os Estados e o Distrito Federal deveratildeo apresentar agrave Uniatildeo nos termos das instruccedilotildees baixadas pelo Ministeacuterio da Fazenda as informaccedilotildees relativas ao imposto de que trata o art 155 II declaradas pelos contribuintes que realizarem operaccedilotildees ou prestaccedilotildees com destino ao exteriorrdquo

2 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () X ndash natildeo incidiraacute a) sobre operaccedilotildees que destinem mercadorias para o exterior nem sobre serviccedilos prestados a destinataacuterios no exterior assegurada a manutenccedilatildeo e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operaccedilotildees e prestaccedilotildees anterioresrdquo

3 ldquoArt 31 Nos exerciacutecios financeiros de 2003 a 2006 a Uniatildeo entregaraacute mensalmente recursos aos Estados e seus Municiacutepios obedecidos os montantes os criteacuterios os prazos e as demais condiccedilotildees fixadas no Anexo desta Lei Complementarrdquo

4 ADI 3682 rel min Gilmar Mendes P DJE de 6-9-2007

5 ldquoArt 66 A Casa na qual tenha sido concluiacuteda a votaccedilatildeo enviaraacute o projeto de lei ao Presidente da Re-puacuteblica que aquiescendo o sancionaraacute sect 1ordm Se o Presidente da Repuacuteblica considerar o projeto no todo ou em parte inconstitucional ou contraacuterio ao interesse puacuteblico vetaacute-lo-aacute total ou parcialmen-te no prazo de quinze dias uacuteteis contados da data do recebimento e comunicaraacute dentro de qua-renta e oito horas ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto sect 2ordm O veto parcial somente abrangeraacute texto integral de artigo de paraacutegrafo de inciso ou de aliacutenea sect 3ordm Decorrido o prazo de quinze dias o silecircncio do Presidente da Repuacuteblica importaraacute sanccedilatildeo sect 4ordm O veto seraacute apreciado em sessatildeo conjunta dentro de trinta dias a contar de seu recebimento soacute podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores sect 5ordm Se o veto natildeo for mantido seraacute o projeto enviado para promulgaccedilatildeo ao Presidente da Repuacuteblica sect 6ordm Esgotado sem deliberaccedilatildeo o prazo es-tabelecido no sect 4ordm o veto seraacute colocado na ordem do dia da sessatildeo imediata sobrestadas as demais proposiccedilotildees ateacute sua votaccedilatildeo final sect 7ordm Se a lei natildeo for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da Repuacuteblica nos casos dos sect 3ordm e sect 5ordm o Presidente do Senado a promulgaraacute e se este natildeo o fizer em igual prazo caberaacute ao Vice-Presidente do Senado fazecirc-lordquo

405iacutendice de teses

6 ldquoArt 64 A discussatildeo e votaccedilatildeo dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da Repuacuteblica do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores teratildeo iniacutecio na Cacircmara dos Deputados sect 1ordm O Presidente da Repuacuteblica poderaacute solicitar urgecircncia para apreciaccedilatildeo de projetos de sua iniciativa sect 2ordm Se no caso do sect 1ordm a Cacircmara dos Deputados e o Senado Federal natildeo se manifestarem sobre a proposiccedilatildeo cada qual sucessivamente em ateacute quarenta e cinco dias sobrestar-se-atildeo todas as demais deliberaccedilotildees legislativas da respectiva Casa com exceccedilatildeo das que tenham prazo constitucional de-terminado ateacute que se ultime a votaccedilatildeordquo

7 ADI 875 rel min Gilmar Mendes P DJE de 30-4-2010

406iacutendice de teses

A vedaccedilatildeo pela legislaccedilatildeo estadual ao aproveitamento dos creacuteditos do Impos-

to sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) gerados pela entrada

de insumos tributados quando o contribuinte faz opccedilatildeo pela tributaccedilatildeo da

saiacuteda das mercadorias com base de caacutelculo do imposto reduzida natildeo viola o

princiacutepio da natildeo cumulatividade1

O princiacutepio da natildeo cumulatividade natildeo confere direito absoluto e irrestrito com relaccedilatildeo aos creacuteditos escriturais do ICMS Dessa forma inexiste qualquer vedaccedilatildeo a restriccedilotildees quanto ao aproveitamento dos creacuteditos financeiros apurados na aquisiccedilatildeo de bens destinados ao ativo fixo do estabelecimento2

A reduccedilatildeo da base de caacutelculo do ICMS constitui isenccedilatildeo parcial e natildeo como ou-trora se considerava categoria autocircnoma em relaccedilatildeo tanto agrave isenccedilatildeo quanto agrave natildeo incidecircncia3

A norma prevista no inciso II do sect 2ordm do art 155 da Constituiccedilatildeo Federal4 ressalva que nas hipoacuteteses em que o contribuinte eacute favorecido com a concessatildeo pelo Fisco dos benefiacutecios fiscais da ldquoisenccedilatildeordquo e da ldquonatildeo incidecircnciardquo o direito ao creditamento do imposto pago nas operaccedilotildees anteriores eacute mitigado

Nesses casos o contribuinte somente pode se beneficiar dos creacuteditos do ICMS ainda que proporcionalmente ao benefiacutecio recebido se expressamente prevista a pos-sibilidade em legislaccedilatildeo estadual a teor do dispositivo constitucional citado

Assim concedido o benefiacutecio fiscal fica obstado o creacutedito para compensaccedilatildeo com o montante devido nas operaccedilotildees ou prestaccedilotildees seguintes bem como anulado o creacute-dito relativo agraves operaccedilotildees anteriores salvo determinaccedilatildeo em contraacuterio na legislaccedilatildeo

1 RE 584023 AgR-EDv-AgR rel min Celso de Mello P DJE de 12-12-2015

2 AI 856339 AgR rel min Roberto Barroso 1ordf T DJE de 17-12-2015

3 RE 174478 ED rel min Cezar Peluso 2ordf T DJE de 13-5-2010

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

AI 765420 AgR-segundored p o ac min Rosa Weber1ordf TurmaDJE de 7-8-2017Informativo STF 855

407iacutendice de teses

4 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () II ndash operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e sobre prestaccedilotildees de serviccedilos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaccedilatildeo ainda que as operaccedilotildees e as prestaccedilotildees se iniciem no exterior () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () II ndash a isenccedilatildeo ou natildeo incidecircncia salvo determinaccedilatildeo em contraacuterio da legislaccedilatildeo a) natildeo implicaraacute creacutedito para compensaccedilatildeo com o montante devido nas operaccedilotildees ou prestaccedilotildees seguintes b) acarretaraacute a anulaccedilatildeo do creacutedito relativo agraves operaccedilotildees anterioresrdquo

408iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei estadual1 que embora natildeo tenha criado propriamente

um novo benefiacutecio fiscal ampliou unilateralmente programas de incentivo

relativos ao Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sem

qualquer anuecircncia dos demais Estados e do Distrito Federal

A concessatildeo unilateral de benefiacutecios fiscais em mateacuteria de ICMS por Estado-mem-bro sem preacutevia aprovaccedilatildeo em convecircnio no acircmbito do Conselho Nacional de Poliacuteti-ca Fazendaacuteria (CONFAZ) viola o art 155 sect 2ordm XII g da Constituiccedilatildeo Federal (CF)2 e infringe os requisitos previstos na Lei Complementar 2419753 caracterizando hipoacutetese tiacutepica de ldquoguerra fiscalrdquo4

O art 155 sect 2ordm XII g da CF confere agrave lei complementar a atribuiccedilatildeo de ldquoregular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

Por sua vez a Lei Complementar 241975 deixa claro no art 1ordm que a exigecircncia de preacutevia celebraccedilatildeo de convecircnio no Confaz aplica-se a ldquoquaisquer outros incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais concedidos com base no Imposto de Circula-ccedilatildeo de Mercadorias dos quais resulte reduccedilatildeo ou eliminaccedilatildeo direta ou indireta do respectivo ocircnusrdquo

Inexiste na Constituiccedilatildeo reserva de iniciativa do Poder Executivo para apresentar projeto de lei concernente a mateacuteria tributaacuteria5 mesmo as que implicam renuacutencia de receita6 natildeo havendo inconstitucionalidade formal por viacutecio de iniciativa (CF art 257) em projeto de lei sobre essa mateacuteria iniciado por parlamentar

No mesmo sentido natildeo haacute afronta ao art 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 1012000)8 se a lei estadual natildeo amplia em abstrato a renuacutencia fiscal concedida pelos programas de incentivo mas apenas reintegra ao programa os contribuintes desligados por terem desatendido agraves condiccedilotildees nele antes fixadas

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

ADI 3796rel min Gilmar MendesPlenaacuterioDJE de 1ordm-8-2017Informativo STF 856

409iacutendice de teses

Embora em regra natildeo se admita a modulaccedilatildeo de efeitos da decisatildeo em casos de lei estadual que incentive a guerra fiscal9 excepcionalmente se adota a modulaccedilatildeo para que a declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade produza efeitos ex nunc sob pena de punir as empresas que a tenham cumprido visto ter a lei estadual vigorado por muitos anos10

1 Lei 150542006 do Estado do Paranaacute que restabelece benefiacutecios fiscais relativos ao ICMS cance-lados no acircmbito dos programas ldquoBom Empregordquo ldquoParanaacute Mais Empregordquo e ldquoDesenvolvimento Econocircmico Tecnoloacutegico e Social do Paranaacuterdquo

2 ldquoArt 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte () XII ndash cabe agrave lei complementar () g) regular a forma como mediante deliberaccedilatildeo dos Estados e do Distrito Federal isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais seratildeo concedidos e revogadosrdquo

3 ldquoDispotildee sobre os convecircnios para a concessatildeo de isenccedilotildees do imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e daacute outras providecircnciasrdquo

4 Precedentes ADI 286 rel min Mauriacutecio Correcirca P DJ de 30-8-2002 ADI 1247 rel min Dias Toffoli P DJE de 17-8-2011 ADI 4152 rel min Cezar Peluso P DJE de 21-9-2011 ADI 2549 rel min Ricardo Lewandowski P DJE de 3-10-2011 ADI 3936 MC rel min Gilmar Mendes P DJE de 9-11-2007 ADI 3410 rel min Joaquim Barbosa P DJE de 8-6-2007 ADI 3429 rel min Ayres Britto P DJ de 27-4-2007 ADI 3312 rel min Eros Grau P DJE de 9-3-2007 e ADI 2722 rel min Gilmar Mendes P DJ de 19-12-2006

5 Precedentes ADI 724 MC rel min Celso de Mello P DJ de 27-4-2001 ADI 2464 rel min Ellen Gracie P DJE de 25-5-2007 e ADI 2724 rel min Gilmar Mendes P DJ de 2-4-2004

6 Precedente ARE 743480 RG rel min Gilmar Mendes P DJE de 20-11-2013

7 ldquoArt 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituiccedilotildees e leis que adotarem observados os princiacutepios desta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo reservadas aos Estados as competecircncias que natildeo lhes sejam vedadas por esta Constituiccedilatildeo sect 2ordm Cabe aos Estados explorar diretamente ou mediante con-cessatildeo os serviccedilos locais de gaacutes canalizado na forma da lei vedada a ediccedilatildeo de medida provisoacuteria para a sua regulamentaccedilatildeo sect 3ordm Os Estados poderatildeo mediante lei complementar instituir regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e microrregiotildees constituiacutedas por agrupamentos de muni-ciacutepios limiacutetrofes para integrar a organizaccedilatildeo o planejamento e a execuccedilatildeo de funccedilotildees puacuteblicas de interesse comumrdquo

8 ldquoArt 14 A concessatildeo ou ampliaccedilatildeo de incentivo ou benefiacutecio de natureza tributaacuteria da qual decorra renuacutencia de receita deveraacute estar acompanhada de estimativa do impacto orccedilamentaacuterio-financeiro no exerciacutecio em que deva iniciar sua vigecircncia e nos dois seguintes atender ao disposto na lei de diretrizes orccedilamentaacuterias e a pelo menos uma das seguintes condiccedilotildees I ndash demonstraccedilatildeo pelo proponente de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria na forma do art 12 e de que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstas no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedila-

410iacutendice de teses

mentaacuterias II ndash estar acompanhada de medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado no caput por meio do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo da base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ou contribuiccedilatildeo sect 1ordm A renuacutencia compreende anistia remissatildeo sub-siacutedio creacutedito presumido concessatildeo de isenccedilatildeo em caraacuteter natildeo geral alteraccedilatildeo de aliacutequota ou modi-ficaccedilatildeo de base de caacutelculo que implique reduccedilatildeo discriminada de tributos ou contribuiccedilotildees e outros benefiacutecios que correspondam a tratamento diferenciado sect 2ordm Se o ato de concessatildeo ou ampliaccedilatildeo do incentivo ou benefiacutecio de que trata o caput deste artigo decorrer da condiccedilatildeo contida no inciso II o benefiacutecio soacute entraraacute em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso sect 3ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica I ndash agraves alteraccedilotildees das aliacutequotas dos impostos previstos nos incisos I II IV e V do art 153 da Constituiccedilatildeo na forma do seu sect 1ordm II ndash ao cancelamento de deacutebito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobranccedilardquo

9 ADI 3794 ED rel min Roberto Barroso P DJE de 25-2-2015

10 ADI 4481 rel min Roberto Barroso P DJE de 19-5-2015

411iacutendice de teses

Eacute inconstitucional lei municipal que veicule exclusatildeo de valores da base de

caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) fora das

hipoacuteteses previstas em lei complementar nacional1

Tal previsatildeo2 invade a competecircncia da Uniatildeo para estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria (CF art 146 III a3) Isso caracteriza viacutecio formal de inconstitucionalidade4

Cabe destacar que ldquoo art 7ordm da Lei Complementar 1162003 foi categoacuterico ao considerar como base de caacutelculo o preccedilo do serviccedilo sem nenhuma outra exclusatildeo que natildeo a definida em seu sect 2ordm I5 o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviccedilos previstos nos itens 702 e 705 da lista de serviccedilos anexa Logo em alguns serviccedilos relacionados a obras de construccedilatildeo civil o valor dos materiais fornecidos pelo prestador do serviccedilo fica excluiacutedo da base de caacutelculordquo6

Assim ldquoa lei complementar quando o quis fez expressa exclusatildeo de valores da base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos (ISS) Natildeo cabe por conseguinte cogitar de omissatildeo mas de silecircncio eloquente do legislador nacional Por isso natildeo haacute espaccedilo para que os Municiacutepios a pretexto de detalhar aspectos natildeo abordados pela lei na-cional de Direito Tributaacuterio subtraiam da base de caacutelculo do ISS aquilo que natildeo foi expressamente autorizado pela Lei Complementar 1162003rdquo7

Com efeito ldquoo preccedilo do serviccedilo considerada a receita bruta refere-se ao total do valor percebido a tiacutetulo oneroso e em caraacuteter negocial pela prestaccedilatildeo da atividade a terceira pessoa A pessoa a quem se presta o serviccedilo natildeo eacute sujeito passivo do ISS mas o prestador (Lei Complementar 1162003 art 5ordm)rdquo8

Diante disso ldquoos tributos federais que oneram a prestaccedilatildeo do serviccedilo satildeo inde-pendentemente do destinataacuterio ou da qualificaccedilatildeo contaacutebil que se lhes decirc embutidos no preccedilo do serviccedilo e por conseguinte compotildeem a base de caacutelculo do tributo por falta de previsatildeo em contraacuterio da lei complementar nacionalrdquo9

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN)

ADPF 190rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 27-4-2017Informativo STF 841

412iacutendice de teses

Tambeacutem eacute incompatiacutevel com o texto constitucional medida fiscal que resulte

indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida pelo art 88 do

Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT) a partir da redu-

ccedilatildeo da carga tributaacuteria incidente sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilo na territoriali-

dade do ente tributante

Haacute violaccedilatildeo do art 88 I e II do ADCT10 incluiacutedo pela Emenda Constitucional 372002 o qual fixou aliacutequota miacutenima para os fatos geradores do ISSQN assim como vedou a concessatildeo de isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais que resultasse direta ou indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida11

1 O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos dispositivos da norma impugna-da (arts 190 sect 2ordm II e 191 sect 6ordm II e sect 7ordm da Lei 26141997 do Municiacutepio de Estacircncia Hidromineral de Poaacute) e determinou a modulaccedilatildeo prospectiva dos efeitos temporais da declaraccedilatildeo de inconstitu-cionalidade a contar da data do deferimento da medida cautelar em 15-12-2015

2 Lei 26141997 do Municiacutepio de Estacircncia Hidromineral de Poaacute na redaccedilatildeo dada pelas Leis 32692007 e 32762007 ldquoArt 190 A base de caacutelculo do imposto eacute o preccedilo do serviccedilo assim consi-derada a receita bruta () sect 2ordm Natildeo seratildeo incluiacutedos no preccedilo do serviccedilo (hellip) II ndash os seguintes tribu-tos federais relativos agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos tributaacuteveis ocorridos no mesmo mecircs de competecircncia a) Imposto de Renda de Pessoa Juriacutedica b) Contribuiccedilatildeo Social Sobre o Lucro Liacutequido c) PISPASEP d) COFINS Art 191 A base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos eacute o preccedilo do serviccedilo as-sim considerada a receita bruta a qual se aplica mensalmente a aliacutequota constante na Tabela XVI do artigo 184 (hellip) sect 6ordm Natildeo seratildeo incluiacutedos no preccedilo do serviccedilo (hellip) II ndash os seguintes tributos federais relativos agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos tributaacuteveis ocorridos no mesmo mecircs de competecircncia a) Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica b) Contribuiccedilatildeo Social Sobre o Lucro Liacutequido c) PISPASEP d) COFINS sect 7ordm Na prestaccedilatildeo de serviccedilo a que se refere o subitem 1509 da Lista de Serviccedilos natildeo seraacute incluiacutedo no preccedilo do serviccedilo o valor do bem na proporccedilatildeo do valor arrendadordquo

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar III ndash estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tribu-taacuteria especialmente sobre a) definiccedilatildeo de tributos e de suas espeacutecies bem como em relaccedilatildeo aos impostos discriminados nesta Constituiccedilatildeo a dos respectivos fatos geradores bases de caacutelculo e contribuintesrdquo

4 RE 567935 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 4-11-2014 ADI 1945 MC red p o ac min Gilmar Mendes P DJE de 14-3-2011 e ADI 1951 MC rel min Nelson Jobim P DJ de 17-12-1999

5 ldquoArt 7ordm A base de caacutelculo do imposto eacute o preccedilo do serviccedilo () sect 2ordm Natildeo se incluem na base de caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza I ndash o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviccedilos previstos nos itens 702 e 705 da lista de serviccedilos anexa a esta Lei Complementarrdquo

6 Trecho do parecer da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica adotado como razotildees de decidir

7 Idem

413iacutendice de teses

8 Idem

9 Idem

10 ldquoArt 88 Enquanto lei complementar natildeo disciplinar o disposto nos incisos I e III do sect 3ordm do art 156 da Constituiccedilatildeo Federal o imposto a que se refere o inciso III do caput do mesmo artigo I ndash teraacute aliacutequota miacutenima de dois por cento exceto para os serviccedilos a que se referem os itens 32 33 e 34 da Lista de Serviccedilos anexa ao Decreto-Lei n 406 de 31 de dezembro de 1968 II ndash natildeo seraacute objeto de concessatildeo de isenccedilotildees incentivos e benefiacutecios fiscais que resulte direta ou indiretamente na redu-ccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida no inciso Irdquo

11 Vide nota 2

414iacutendice de teses

As operadoras de planos privados de assistecircncia agrave sauacutede (plano de sauacutede e

seguro-sauacutede) realizam prestaccedilatildeo de serviccedilo sujeita ao Imposto Sobre Servi-

ccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) previsto no art 156 III da Constituiccedilatildeo

Federal (CF)1

O dispositivo constitucional ao referir-se a serviccedilos de qualquer natureza natildeo os restringiu agraves tiacutepicas obrigaccedilotildees de fazer jaacute que raciociacutenio adverso conduziria agrave afir-maccedilatildeo de que haveria serviccedilo apenas nas prestaccedilotildees de fazer nos termos do que define o Direito Privado O que se verifica eacute maior amplitude semacircntica do termo adotado pela Constituiccedilatildeo Federal a qual inevitavelmente leva agrave ampliaccedilatildeo da com-petecircncia tributaacuteria na incidecircncia do ISSQN2

O conceito de prestaccedilatildeo de serviccedilo para efeito da incidecircncia do tributo estaacute re-lacionado ao oferecimento de uma utilidade para outrem a partir de conjunto de atividades materiais ou imateriais prestadas com habitualidade e intuito de lucro podendo estar conjugada ou natildeo com a entrega de bens ao tomador

Ademais por forccedila do comando constitucional expresso no art 156 III reforccedilado pela prescriccedilatildeo da aliacutenea a do inciso III do art 146 cc o inciso I do art 146 da CF3 o constituinte remete agrave lei complementar a funccedilatildeo de definir o conceito ldquode serviccedilos de qualquer naturezardquo o que eacute efetuado pela Lei Complementar 11620034

1 ldquoArt 156 Compete aos Municiacutepios instituir impostos sobre () III ndash serviccedilos de qualquer natureza natildeo compreendidos no art 155 II definidos em lei complementarrdquo

2 RE 547245 rel min Eros Grau P DJ de 5-3-2010

3 ldquoArt 146 Cabe agrave lei complementar I ndash dispor sobre conflitos de competecircncia em mateacuteria tributaacute-ria entre a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios () III ndash estabelecer normas gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria especialmente sobre a) definiccedilatildeo de tributos e de suas espeacutecies bem como em relaccedilatildeo aos impostos discriminados nesta Constituiccedilatildeo a dos respectivos fatos gera-dores bases de caacutelculo e contribuintesrdquo

RE 651703RG ‒ Tema 581rel min Luiz FuxPlenaacuterioDJE de 26-4-2017Informativo STF 841

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Impostos Ȥ Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) ‒ Repercussatildeo Geral

415iacutendice de teses

4 ldquoArt 1ordm O Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza de competecircncia dos Municiacutepios e do Distrito Federal tem como fato gerador a prestaccedilatildeo de serviccedilos constantes da lista anexa ainda que esses natildeo se constituam como atividade preponderante do prestador (hellip) 422 ndash Planos de medicina de grupo ou individual e convecircnios para prestaccedilatildeo de assistecircncia meacutedica hospitalar odontoloacutegica e congecircneres 423 ndash Outros planos de sauacutede que se cumpram atraveacutes de serviccedilos de terceiros contratados credenciados cooperados ou apenas pagos pelo operador do plano median-te indicaccedilatildeo do beneficiaacuteriordquo

416iacutendice de teses

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) natildeo compotildee

a base de caacutelculo para a incidecircncia da contribuiccedilatildeo para o PIS e da Cofins1

A parcela correspondente ao ICMS pago natildeo tem natureza de faturamento2 nem mesmo de receita mas de simples ingresso de caixa Assim enquanto o montante de ICMS circula pela contabilidade dos sujeitos passivos das contribuiccedilotildees eles ape-nas obtecircm ingresso de caixa de valores que natildeo lhes pertencem

Em assim sendo o montante de ICMS nessas situaccedilotildees natildeo se incorpora ao patri-mocircnio dos sujeitos passivos das contribuiccedilotildees porque tais valores satildeo destinados aos cofres puacuteblicos dos Estados-membros ou do Distrito Federal

Aleacutem disso o mesmo ocorre especificamente com o contribuinte posicionado no meio da cadeia produtiva pois embora nem todo o montante do ICMS seja imedia-tamente recolhido (pelo sujeito passivo da obrigaccedilatildeo tributaacuteria) ele seraacute recolhido e tambeacutem natildeo constitui receita daquele contribuinte

A anaacutelise juriacutedica do princiacutepio da natildeo cumulatividade aplicado ao ICMS haacute que levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo normativo do art 155 sect 2ordm I da Constituiccedilatildeo Federal3 ou seja examinar a natildeo cumulatividade a cada operaccedilatildeo

Nesse sentido ainda que contabilmente o valor do ICMS seja escriturado ele natildeo se relaciona com a definiccedilatildeo constitucional de faturamento para fins de apuraccedilatildeo da base de caacutelculo das contribuiccedilotildees

Portanto ainda que natildeo no mesmo momento o valor do ICMS tem como desti-nataacuterio fiscal a Fazenda Puacuteblica para a qual seraacute transferido

Eacute igualmente verdadeiro que tambeacutem o momento das diferentes operaccedilotildees natildeo pode alterar o regime de aplicaccedilatildeo de tributaccedilatildeo em um sistema que se caracteriza pela compensaccedilatildeo para se chegar agrave inacumulatividade constitucionalmente qualifi-cadora do tributo

Ademais se o art 3ordm sect 2ordm I in fine da Lei 971819984 excluiu da base de caacutelculo daquelas contribuiccedilotildees sociais o ICMS transferido integralmente para os Estados

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees para a seguridade social ‒ Repercussatildeo Geral

RE 574706RG ‒ Tema 69rel min Caacutermen LuacuteciaPlenaacuterioDJE de 2-10-2017Informativo STF 857

417iacutendice de teses

natildeo haacute como excluir a transferecircncia parcial decorrente do regime de natildeo cumulativi-dade em determinado momento da dinacircmica das operaccedilotildees

1 RE 240785 rel min Marco Aureacutelio P DJE de 16-12-2014

2 RE 346084 red p o ac min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 RE 358273 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 RE 357950 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006 e RE 390840 rel min Marco Aureacutelio P DJ de 6-2-2006

3 ldquoArt 155 () sect 2ordm O imposto previsto no inciso II atenderaacute ao seguinte I ndash seraacute natildeo cumulativo compensando-se o que for devido em cada operaccedilatildeo relativa agrave circulaccedilatildeo de mercadorias ou pres-taccedilatildeo de serviccedilos com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federalrdquo

4 ldquoArt 3ordm () sect 2ordm Para fins de determinaccedilatildeo da base de caacutelculo das contribuiccedilotildees a que se refere o art 2ordm excluem-se da receita bruta I ndash (hellip) o Imposto sobre Operaccedilotildees relativas agrave Circulaccedilatildeo de Mercadorias e sobre Prestaccedilotildees de Serviccedilos de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Co-municaccedilatildeo ndash ICMS quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos serviccedilos na condiccedilatildeo de substituto tributaacuteriordquo (Revogado pela Lei 129732014)

418iacutendice de teses

Eacute inconstitucional por ofensa ao princiacutepio da legalidade tributaacuteria lei que

delega aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas a compe-

tecircncia de fixar ou majorar sem paracircmetro legal o valor das contribuiccedilotildees

de interesse das categorias profissionais e econocircmicas usualmente cobradas

sob o tiacutetulo de anuidades vedada ademais a atualizaccedilatildeo desse valor pelos

conselhos em percentual superior aos iacutendices legalmente previstos

A remessa ao ato infralegal natildeo pode resultar em desapoderamento do legislador para tratar de elementos tributaacuterios essenciais Para o respeito do princiacutepio da lega-lidade (CF art 150 I1) eacute essencial que a lei (em sentido estrito) prescreva o limite maacuteximo do valor da exaccedilatildeo ou os criteacuterios para encontraacute-lo o que natildeo ocorreu no caso em tela

A ideia de legalidade no tocante agraves contribuiccedilotildees instituiacutedas no interesse de catego-rias profissionais ou econocircmicas eacute de fim ou de resultado notadamente em razatildeo de a Constituiccedilatildeo natildeo ter traccedilado as linhas de seus pressupostos de fato ou o fato gerador

Como nessas contribuiccedilotildees existe um quecirc de atividade estatal prestada em benefiacute-cio direto ao contribuinte ou a grupo eacute imprescindiacutevel uma faixa de indeterminaccedilatildeo e de complementaccedilatildeo administrativa de seus elementos configuradores dificilmente apreendidos pela legalidade fechada2

No entanto a lei que autoriza os conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regula-mentadas a fixar as anuidades devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas natildeo estabelece expectativas Cria-se assim uma situaccedilatildeo de instabilidade institucional ao deixar ao puro arbiacutetrio do administrador o estabelecimento do valor da exaccedilatildeo Afinal natildeo haacute previsatildeo legal de qualquer limite maacuteximo para a fixaccedilatildeo do valor da anuidade

Diversamente respeita o princiacutepio da legalidade a lei que disciplina os elementos essenciais determinantes para o reconhecimento da contribuiccedilatildeo de interesse de ca-tegoria econocircmica como tal e deixa espaccedilo de complementaccedilatildeo para o regulamento A lei autorizadora em todo caso deve ser legitimamente justificada e o diaacutelogo com

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees profissionais ‒ Repercussatildeo Geral

RE 704292RG ‒ Tema 540rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 3-8-2017Informativo STF 844

419iacutendice de teses

o regulamento deve-se dar em termos de subordinaccedilatildeo desenvolvimento e comple-mentariedade

Diante disso foi declarada a inconstitucionalidade material sem reduccedilatildeo de texto do art 2ordm da Lei 1100020043 de forma a excluir de sua incidecircncia a autorizaccedilatildeo para os conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas fixarem as contribuiccedilotildees anuais devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas e por arrastamento da integralidade do seu sect 1ordm

Por fim na esteira do assentado no RE 838284 (DJE de 22-9-2017) e nas ADI 4697 e ADI 4762 (DJE de 30-3-2017) as inconstitucionalidades presentes na Lei 110002004 natildeo se estendem agraves Leis 69941982 e 125142011 Essas duas leis satildeo constitucionais no tocante agraves anuidades devidas aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regula-mentadas haja vista que elas aleacutem de prescreverem o teto da exaccedilatildeo realizam o diaacutelogo com o ato normativo infralegal em termos de subordinaccedilatildeo de desenvolvi-mento e de complementariedade

1 ldquoArt 150 Sem prejuiacutezo de outras garantias asseguradas ao contribuinte eacute vedado agrave Uniatildeo aos Esta-dos ao Distrito Federal e aos Municiacutepios I ndash exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleccedilardquo

2 RE 343446 rel min Carlos Velloso P DJ de 4-4-2003 e RE 290079 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 4-4-2003

3 ldquoArt 2ordm Os Conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas satildeo autorizados a fixar cobrar e executar as contribuiccedilotildees anuais devidas por pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas bem como as multas e os preccedilos de serviccedilos relacionados com suas atribuiccedilotildees legais que constituiratildeo receitas proacuteprias de cada Conselho sect 1ordm Quando da fixaccedilatildeo das contribuiccedilotildees anuais os Conselhos deveratildeo levar em consideraccedilatildeo as profissotildees regulamentadas de niacuteveis superior teacutecnico e auxiliarrdquo

420iacutendice de teses

Satildeo constitucionais os dispositivos da Lei 125142011 que dizem respeito agrave

fixaccedilatildeo de anuidades devidas aos conselhos profissionais

Sob o aspecto formal natildeo haacute violaccedilatildeo agrave reserva de lei complementar Essa forma eacute dispensaacutevel para a criaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de intervenccedilatildeo no domiacutenio econocircmico e de interesse das categorias profissionais1

Natildeo procede a alegaccedilatildeo de ausecircncia de pertinecircncia temaacutetica entre a emenda par-lamentar incorporada agrave Medida Provisoacuteria 5362011 e o tema das contribuiccedilotildees devi-das aos conselhos profissionais em geral Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha afirmado na ADI 51272 ldquonatildeo ser compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo a apresenta-ccedilatildeo de emendas sem relaccedilatildeo de pertinecircncia temaacutetica com medida provisoacuteria subme-tida a sua apresentaccedilatildeordquo tendo em vista que foi emprestada eficaacutecia prospectiva ao julgamento dessa accedilatildeo direta os efeitos desse entendimento natildeo se aplicam agrave medida provisoacuteria em questatildeo

Sob o aspecto material a Lei 125142011 observou a capacidade contributiva dos contribuintes pois estabeleceu razoaacutevel correlaccedilatildeo entre a desigualdade educa-cional e a provaacutevel disparidade de rendas auferidas do labor de pessoa fiacutesica Aleacutem disso haacute diferenciaccedilatildeo dos valores das anuidades baseada no capital social da pessoa juriacutedica contribuinte

Natildeo ocorre violaccedilatildeo ao princiacutepio da reserva legal O diploma impugnado eacute jus-tamente a lei em sentido formal que disciplina a mateacuteria referente agrave instituiccedilatildeo das contribuiccedilotildees sociais de interesse profissional para aqueles conselhos previstos no art 3ordm da Lei 1251420113

No tocante agrave legalidade tributaacuteria estrita eacute adequada e suficiente a determinaccedilatildeo do mandamento tributaacuterio no bojo da lei impugnada por meio da fixaccedilatildeo de tetos aos criteacuterios materiais das hipoacuteteses de incidecircncia das contribuiccedilotildees profissionais agrave luz da chave analiacutetica formada pelas categorias da praticabilidade e da parafiscalidade

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Contribuiccedilotildees Ȥ Contribuiccedilotildees profissionais

ADI 4697ADI 4762rel min Edson FachinPlenaacuterioDJE de 30-3-2017Informativo STF 842

421iacutendice de teses

Cabe lembrar que os conselhos profissionais satildeo autarquias de iacutendole federal4 e tendo em conta que a fiscalizaccedilatildeo deles envolve o exerciacutecio de poder de poliacutecia de tributar e de punir estabeleceu-se serem as anuidades cobradas pelos conselhos pro-fissionais tributos da espeacutecie ldquocontribuiccedilotildees de interesse das categorias profissionaisrdquo nos termos do art 149 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica5 6 e 7

Diante disso foi declarada a constitucionalidade dos arts 3ordm8 4ordm9 6ordm10 7ordm11 8ordm12 9ordm13 1014 e 1115 da Lei 125142011

1 AI 739715 AgR rel min Eros Grau 2ordf T DJE de 19-6-2009 e RE 451915 AgR rel min Gilmar Mendes 2ordf T DJ de 1ordm-12-2006

2 ldquoEmenta Direito constitucional Controle de constitucionalidade Emenda parlamentar em pro-jeto de conversatildeo de medida provisoacuteria em lei Conteuacutedo temaacutetico distinto daquele originaacuterio da medida provisoacuteria Praacutetica em desacordo com o princiacutepio democraacutetico e com o devido processo legal (devido processo legislativo) 1 Viola a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica notadamente o princiacutepio democraacutetico e o devido processo legislativo (arts 1ordm caput paraacutegrafo uacutenico 2ordm caput 5ordm caput e LIV CRFB) a praacutetica da inserccedilatildeo mediante emenda parlamentar no processo legislativo de conver-satildeo de medida provisoacuteria em lei de mateacuterias de conteuacutedo temaacutetico estranho ao objeto originaacuterio da medida provisoacuteria 2 Em atenccedilatildeo ao princiacutepio da seguranccedila juriacutedica (arts 1ordm e 5ordm XXXVI

CRFB) mantecircm-se hiacutegidas todas as leis de conversatildeo fruto dessa praacutetica promulgadas ateacute a

data do presente julgamento inclusive aquela impugnada nesta accedilatildeo 3 Accedilatildeo direta de incons-titucionalidade julgada improcedente por maioria de votosrdquo (Ementa da ADI 5127 red p o ac min Edson Fachin DJE de 23-9-2016 ndash Sem grifos no original)

3 ldquoArt 3ordm As disposiccedilotildees aplicaacuteveis para valores devidos a conselhos profissionais quando natildeo existir disposiccedilatildeo a respeito em lei especiacutefica satildeo as constantes desta Lei Paraacutegrafo uacutenico Aplica-se esta Lei tambeacutem aos conselhos profissionais quando lei especiacutefica I ndash estabelecer a cobranccedila de valores expressos em moeda ou unidade de referecircncia natildeo mais existente II ndash natildeo especificar valores mas delegar a fixaccedilatildeo para o proacuteprio conselhordquo

4 MS 10272 rel min Victor Nunes P DJ de 11-7-1963 e MS 22643 rel min Moreira Alves P DJ de 4-12-1998

5 ldquoArt 149 Compete exclusivamente agrave Uniatildeo instituir contribuiccedilotildees sociais de intervenccedilatildeo no domiacute-nio econocircmico e de interesse das categorias profissionais ou econocircmicas como instrumento de sua atuaccedilatildeo nas respectivas aacutereas observado o disposto nos arts 146 III e 150 I e III e sem prejuiacutezo do previsto no art 195 sect 6ordm relativamente agraves contribuiccedilotildees a que alude o dispositivo sect 1ordm Os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios instituiratildeo contribuiccedilatildeo cobrada de seus servidores para o custeio em benefiacutecio destes do regime previdenciaacuterio de que trata o art 40 cuja aliacutequota natildeo seraacute inferior agrave da contribuiccedilatildeo dos servidores titulares de cargos efetivos da Uniatildeo sect 2ordm As contribuiccedilotildees sociais e de intervenccedilatildeo no domiacutenio econocircmico de que trata o caput deste artigo I ndash natildeo incidiratildeo sobre as receitas decorrentes de exportaccedilatildeo II ndash incidiratildeo tambeacutem sobre a importaccedilatildeo de produtos estran-geiros ou serviccedilos III ndash poderatildeo ter aliacutequotas a) ad valorem tendo por base o faturamento a receita

422iacutendice de teses

bruta ou o valor da operaccedilatildeo e no caso de importaccedilatildeo o valor aduaneiro b) especiacutefica tendo por base a unidade de medida adotada sect 3ordm A pessoa natural destinataacuteria das operaccedilotildees de importaccedilatildeo poderaacute ser equiparada a pessoa juriacutedica na forma da lei sect 4ordm A lei definiraacute as hipoacuteteses em que as contribuiccedilotildees incidiratildeo uma uacutenica vezrdquo

6 MS 21797 rel min Carlos Velloso P DJ de 18-5-2001

7 ADI 1717 rel min Sydney Sanches P DJ de 28-3-2003

8 ldquoArt 3ordm As disposiccedilotildees aplicaacuteveis para valores devidos a conselhos profissionais quando natildeo existir disposiccedilatildeo a respeito em lei especiacutefica satildeo as constantes desta Lei Paraacutegrafo uacutenico Aplica-se esta Lei tambeacutem aos conselhos profissionais quando lei especiacutefica I ndash estabelecer a cobranccedila de valores expressos em moeda ou unidade de referecircncia natildeo mais existente II ndash natildeo especificar valores mas delegar a fixaccedilatildeo para o proacuteprio conselhordquo

9 ldquoArt 4ordm Os Conselhos cobraratildeo I ndash multas por violaccedilatildeo da eacutetica conforme disposto na legislaccedilatildeo II ndash anuidades e III ndash outras obrigaccedilotildees definidas em lei especialrdquo

10 ldquoArt 6ordm As anuidades cobradas pelo conselho seratildeo no valor de I ndash para profissionais de niacutevel superior ateacute R$ 50000 (quinhentos reais) II ndash para profissionais de niacutevel teacutecnico ateacute R$ 25000 (duzentos e cinquenta reais) e III ndash para pessoas juriacutedicas conforme o capital social os seguintes valores maacuteximos a) ateacute R$ 5000000 (cinquenta mil reais) R$ 50000 (quinhentos reais) b) acima de R$ 5000000 (cinquenta mil reais) e ateacute R$ 20000000 (duzentos mil reais) R$ 100000 (mil reais) c) acima de R$ 20000000 (duzentos mil reais) e ateacute R$ 50000000 (quinhentos mil reais) R$ 150000 (mil e quinhentos reais) d) acima de R$ 50000000 (quinhentos mil reais) e ateacute R$ 100000000 (um milhatildeo de reais) R$ 200000 (dois mil reais) e) acima de R$ 100000000 (um milhatildeo de reais) e ateacute R$ 200000000 (dois milhotildees de reais) R$ 250000 (dois mil e quinhentos reais) f ) acima de R$ 200000000 (dois milhotildees de reais) e ateacute R$ 1000000000 (dez milhotildees de reais) R$ 300000 (trecircs mil reais) g) acima de R$ 1000000000 (dez milhotildees de reais) R$ 400000 (quatro mil reais) sect 1ordm Os valores das anuidades seratildeo reajustados de acordo com a variaccedilatildeo integral do Iacutendice Nacional de Preccedilos ao Consumidor ndash INPC calculado pela Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE ou pelo iacutendice oficial que venha a substituiacute-lo sect 2ordm O valor exato da anuidade o desconto para profissionais receacutem-inscritos os criteacuterios de isenccedilatildeo para profissionais as regras de recuperaccedilatildeo de creacuteditos as regras de parcelamento garantido o miacutenimo de 5 (cinco) vezes e a concessatildeo de descontos para pagamento antecipado ou agrave vista seratildeo estabelecidos pelos respectivos conselhos federaisrdquo

11 ldquoArt 7ordm Os Conselhos poderatildeo deixar de promover a cobranccedila judicial de valores inferiores a 10 (dez) vezes o valor de que trata o inciso I do art 6ordmrdquo

12 ldquoArt 8ordm Os Conselhos natildeo executaratildeo judicialmente diacutevidas referentes a anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa fiacutesica ou juriacutedica inadimplente Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput natildeo limitaraacute a realizaccedilatildeo de medidas administrativas de cobranccedila a aplicaccedilatildeo de sanccedilotildees por violaccedilatildeo da eacutetica ou a suspensatildeo do exerciacutecio profissionalrdquo

13 ldquoArt 9ordm A existecircncia de valores em atraso natildeo obsta o cancelamento ou a suspensatildeo do registro a pedidordquo

423iacutendice de teses

14 ldquoArt 10 O percentual da arrecadaccedilatildeo destinado ao conselho regional e ao conselho federal respec-tivo eacute o constante da legislaccedilatildeo especiacuteficardquo

15 ldquoArt 11 O valor da Taxa de Anotaccedilatildeo de Responsabilidade Teacutecnica ndash ART prevista na Lei n 6496 de 7 de dezembro de 1977 natildeo poderaacute ultrapassar R$ 15000 (cento e cinquenta reais) Paraacutegrafo uacutenico O valor referido no caput seraacute atualizado anualmente de acordo com a variaccedilatildeo integral do Iacutendice Nacional de Preccedilos ao Consumidor ndash INPC calculado pela Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE ou iacutendice oficial que venha a substituiacute-lordquo

424iacutendice de teses

Natildeo viola a legalidade tributaacuteria lei que prescrevendo o teto possibilita ao

ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporccedilatildeo razoaacutevel com os

custos da atuaccedilatildeo estatal valor esse que natildeo pode ser atualizado por ato do

proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de corre-

ccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos

O princiacutepio da reserva de lei natildeo eacute absoluto Eacute possiacutevel haver maior ou menor aber-tura dos tipos tributaacuterios dependendo da natureza e da estrutura do tributo a que se aplica

Com relaccedilatildeo agraves taxas cobradas em razatildeo do exerciacutecio do poder de poliacutecia por forccedila da ausecircncia de exauriente e minuciosa definiccedilatildeo legal dos serviccedilos compreen-didos admite-se o especial diaacutelogo da lei com os regulamentos na fixaccedilatildeo do aspecto quantitativo da regra matriz de incidecircncia

A lei autorizadora deve ser legitimamente justificada e o diaacutelogo com o regulamen-to deve-se dar em termos de subordinaccedilatildeo desenvolvimento e complementariedade

Alguns criteacuterios devem ser observados para aferir a constitucionalidade da norma regulamentar ldquoa) a delegaccedilatildeo pode ser retirada daquele que a recebeu a qualquer momento por decisatildeo do Congresso b) o Congresso fixa standards ou padrotildees que limitam a accedilatildeo do delegado c) razoabilidade da delegaccedilatildeordquo1

A razatildeo autorizadora da delegaccedilatildeo dessa atribuiccedilatildeo anexa agrave competecircncia tributaacute-ria estaacute justamente na maior capacidade de a Administraccedilatildeo Puacuteblica por estar estrei-tamente ligada agrave atividade estatal direcionada a contribuinte conhecer da realidade e dela extrair elementos para complementar o aspecto quantitativo da taxa visando encontrar com maior grau de proximidade (quando comparado com o legislador) a razoaacutevel equivalecircncia do valor da exaccedilatildeo com os custos que ela pretende ressarcir

A taxa devida pela anotaccedilatildeo de responsabilidade teacutecnica na forma do art 2ordm paraacute-grafo uacutenico da Lei 699419822 insere-se nesse contexto

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Taxas Ȥ Ato normativo infralegal ‒ Valor da taxa ‒ Repercussatildeo Geral

RE 838284RG ‒ Tema 829rel min Dias ToffoliPlenaacuterioDJE de 22-9-2017Informativo STF 844

425iacutendice de teses

Os conselhos de fiscalizaccedilatildeo por estarem mais proacuteximos da atividade-fim do que o legislador podem complementar com mais conhecimento e razoabilidade o as-pecto quantitativo da taxa de anotaccedilatildeo de responsabilidade teacutecnica Esse quantitativo soacute natildeo pode ser atualizado por ato do proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de correccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos

1 RE 343446 rel min Carlos Velloso P DJ de 4-4-2003

2 ldquoArt 2ordm () Paraacutegrafo uacutenico O disposto neste artigo natildeo se aplica agraves taxas referentes agrave Anotaccedilatildeo de Responsabilidade Teacutecnica ndash ART criada pela Lei n 6496 de 7 de dezembro de 1977 as quais poderatildeo ser fixadas observado o limite maacuteximo de 5 MRV [Maior Valor de Referecircncia]rdquo

426iacutendice de teses

As taxas municipais de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento natildeo podem ter como

base de caacutelculo o nuacutemero de empregados ou ramo de atividade exercida pelo

contribuinte

ldquoA taxa eacute um tributo contraprestacional (vinculado) usado na remuneraccedilatildeo de uma atividade especiacutefica seja serviccedilo ou exerciacutecio do poder de poliacutecia e por isso natildeo se ateacutem a signos presuntivos de riqueza As taxas comprometem-se tatildeo somente com o custo do serviccedilo especiacutefico e divisiacutevel que as motiva ou com a atividade de poliacutecia desenvolvidardquo1

O nuacutemero de empregados eacute um indiacutecio insuficiente para fundamentar maior de-manda pelo serviccedilo de fiscalizaccedilatildeo desempenhado pelo Estado

Aleacutem disso o criteacuterio da atividade exercida pelo contribuinte para se aferir o custo do exerciacutecio do poder de poliacutecia desvincula-se do maior ou menor trabalho ou ativi-dade que o poder puacuteblico se vecirc obrigado a desempenhar

Por fim o valor da taxa deve refletir tanto quanto possiacutevel natildeo apenas a intensi-dade do exerciacutecio do poder de poliacutecia mas tambeacutem sua extensatildeo e periodicidade2

1 RE 554951 AgR rel min Dias Toffoli P DJE de 19-11-2013

2 RE 220316 rel min Ilmar Galvatildeo P DJ de 29-6-2001

Direito Tributaacuterio Ȥ Tributos

Ȥ Taxas Ȥ Taxa de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento

RE 990914rel min Dias Toffoli2ordf TurmaDJE de 19-9-2017Informativo STF 870

427

IacuteNDICE DE TESES

Direito Administrativo

Atos administrativos

Meacuterito administrativo

Controle do meacuterito

Eacute vedado ao Poder Judiciaacuterio analisar o meacuterito de ato administrativo 14

Aumento de vencimento legalmente concedido com data predeterminada

para iniacutecio de eficaacutecia caracteriza aquisiccedilatildeo de direito 14

Contratos administrativos

Execuccedilatildeo dos contratos

Responsabilidade subsidiaacuteria da Administraccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado

natildeo transfere automaticamente ao poder puacuteblico contratante a responsabilida-

de pelo seu pagamento seja em caraacuteter solidaacuterio ou subsidiaacuterio nos termos do

art 71 sect 1ordm da Lei 86661993 16

Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Controle judicial

Mandado de seguranccedila ndash Repercussatildeo Geral

Reconhecido o direito agrave anistia poliacutetica a falta de cumprimento de requisiccedilatildeo

ou determinaccedilatildeo de providecircncias por parte da Uniatildeo por intermeacutedio do oacutergatildeo

competente no prazo previsto nos arts 12 sect 4ordm e 18 caput e paraacutegrafo uacutenico da

Lei 105592002 caracteriza ilegalidade e violaccedilatildeo de direito liacutequido e certo 19

Havendo rubricas no orccedilamento destinadas ao pagamento das indenizaccedilotildees

devidas aos anistiados poliacuteticos e natildeo demonstrada a ausecircncia de disponibili-

dade de caixa a Uniatildeo haacute de promover o pagamento do valor ao anistiado no

prazo de sessenta dias 20

Mandado de seguranccedila

A instauraccedilatildeo de processo especiacutefico de anulaccedilatildeo de anistia caracteriza ato im-

pugnaacutevel capaz de por si soacute viabilizar impugnaccedilatildeo pela via mandamental 22

428

Intervenccedilatildeo do Estado na propriedade

Expropriaccedilatildeo

Demonstraccedilatildeo de culpa ndash Repercussatildeo Geral

A expropriaccedilatildeo prevista no art 243 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) pode ser afas-

tada desde que o proprietaacuterio comprove que natildeo incorreu em culpa ainda que

in vigilando ou in eligendo 25

Organizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Administraccedilatildeo Indireta

Sociedades de economia mista

Eacute aplicaacutevel o regime dos precatoacuterios agraves sociedades de economia mista presta-

doras de serviccedilo puacuteblico proacuteprio do Estado e de natureza natildeo concorrencial 28

Autarquias ndash Repercussatildeo Geral

Os pagamentos devidos em razatildeo de pronunciamento judicial pelos conse-

lhos de fiscalizaccedilatildeo natildeo se submetem ao regime de precatoacuterios 30

Processo administrativo

Comunicaccedilatildeo dos atos

Ciecircncia do interessado

O termo inicial para a formalizaccedilatildeo de mandado de seguranccedila pressupotildee a

ciecircncia do impetrante quando o ato impugnado surgir no acircmbito de processo

administrativo do qual seja parte 32

Instruiacutedo o processo com documentos suficientes ao exame da pretensatildeo veicu-

lada na peticcedilatildeo inicial descabe suscitar a inadequaccedilatildeo da via mandamental 32

Responsabilidade civil do Estado

Responsabilidade objetiva

Estabelecimentos penitenciaacuterios ndash Repercussatildeo Geral

Considerando que eacute dever do Estado imposto pelo sistema normativo man-

ter em seus presiacutedios os padrotildees miacutenimos de humanidade previstos no orde-

namento juriacutedico eacute de sua responsabilidade nos termos do art 37 sect 6ordm da

Constituiccedilatildeo Federal (CF) a obrigaccedilatildeo de ressarcir os danos inclusive morais

comprovadamente causados aos detentos em decorrecircncia da falta ou insufi-

ciecircncia das condiccedilotildees legais de encarceramento 35

429

Servidores puacuteblicos

Concurso puacuteblico

Regramento juriacutedico

Eacute constitucional a reserva de 20 das vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos

para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos no acircmbito da Admi-

nistraccedilatildeo Puacuteblica Direta e Indireta Eacute legiacutetima a utilizaccedilatildeo aleacutem da autodecla-

raccedilatildeo de criteacuterios subsidiaacuterios de heteroidentificaccedilatildeo desde que respeitada a

dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditoacuterio e a ampla defesa 38

Regramento juriacutedico ndash Repercussatildeo Geral

Editais de concurso puacuteblico natildeo podem estabelecer restriccedilatildeo a pessoas com ta-

tuagem salvo situaccedilotildees excepcionais em razatildeo de conteuacutedo que viole valores

constitucionais 41

Direitos e deveres

Direito de greve ndash Repercussatildeo Geral

A Administraccedilatildeo Puacuteblica deve proceder ao desconto dos dias de paralisaccedilatildeo

decorrentes do exerciacutecio do direito de greve pelos servidores puacuteblicos em vir-

tude da suspensatildeo do viacutenculo funcional que dela decorre permitida a compen-

saccedilatildeo em caso de acordo O desconto seraacute contudo incabiacutevel se ficar demons-

trado que a greve foi provocada por conduta iliacutecita do poder puacuteblico 44

Regime juriacutedico

Jornada de trabalho

A jornada de trabalho dos ocupantes de cargos puacuteblicos do Poder Judiciaacuterio fe-

deral das aacutereas de medicina e odontologia eacute respectivamente de quatro (vinte

horas semanais) e seis (trinta horas semanais) horas diaacuterias 47

Regime proacuteprio de previdecircncia social

Aposentadoria compulsoacuteria ndash Repercussatildeo Geral

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissatildeo natildeo se subme-

tem agrave regra da aposentadoria compulsoacuteria prevista no art 40 sect 1ordm II da Cons-

tituiccedilatildeo Federal (CF) a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimen-

to efetivo inexistindo tambeacutem qualquer idade limite para fins de nomeaccedilatildeo a

cargo em comissatildeo 48

Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional inexiste oacutebice cons-

titucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente permaneccedila

430

no cargo comissionado que jaacute desempenhava ou a que seja nomeado para ou-

tro cargo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo uma vez que natildeo se trata de conti-

nuidade ou criaccedilatildeo de viacutenculo efetivo com a Administraccedilatildeo 49

Aposentadoria

O cocircmputo do tempo de serviccedilo como aluno-aprendiz exige a demonstraccedilatildeo

da efetiva execuccedilatildeo do ofiacutecio para o qual recebia instruccedilatildeo mediante enco-

mendas de terceiros 51

Abono de permanecircncia

A ocupaccedilatildeo de novo cargo da magistratura dentro da estrutura do Poder Judiciaacute-

rio pelo titular do abono de permanecircncia natildeo implica a cessaccedilatildeo do benefiacutecio 52

Remuneraccedilatildeo

Acumulaccedilatildeo de cargos puacuteblicos ndash Repercussatildeo Geral

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulaccedilatildeo de cargos em-

pregos e funccedilotildees a incidecircncia do art 37 XI da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

pressupotildee consideraccedilatildeo de cada um dos viacutenculos formalizados afastada

a observacircncia do teto remuneratoacuterio quanto ao somatoacuterio dos ganhos do

agente puacuteblico 54

Acumulaccedilatildeo de proventos e pensotildees

Eacute legiacutetima a acumulaccedilatildeo de proventos civis e militares quando a reforma se

deu sob a eacutegide da Constituiccedilatildeo Federal de 1967 e a aposentadoria ocorreu

antes da vigecircncia da Emenda Constitucional 201998 56

Servidores militares

Curso de formaccedilatildeo

O pedido de desligamento uma vez completado o periacuteodo de Escola Naval

gera para o Estado o direito agrave indenizaccedilatildeo nos termos da Lei 68801980 (Esta-

tuto dos Militares) 58

Servidores temporaacuterios

Regras para admissatildeo ndash Repercussatildeo Geral

Eacute compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) a previsatildeo legal que exija o

transcurso de 24 meses contados do teacutermino do contrato antes de nova ad-

missatildeo de professor temporaacuterio anteriormente contratado 59

431

Regras para admissatildeo

Satildeo inconstitucionais dispositivos de lei estadual de iniciativa parlamentar

que asseguraram a permanecircncia dos servidores puacuteblicos admitidos em caraacuteter

temporaacuterio sem a preacutevia aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico 61

Particulares colaboradores

Forma de provimento

Eacute ilegiacutetimo o provimento de serventia extrajudicial sem concurso puacuteblico

decorrente de permuta 64

Direito Ambiental

Poliacutetica nacional do meio ambiente

Princiacutepios

Princiacutepio da precauccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

No atual estaacutegio do conhecimento cientiacutefico que indica ser incerta a existecircncia

de efeitos nocivos da exposiccedilatildeo ocupacional e da populaccedilatildeo em geral a campos

eleacutetricos magneacuteticos e eletromagneacuteticos gerados por sistemas de energia eleacute-

trica natildeo existem impedimentos por ora a que sejam adotados os paracircmetros

propostos pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) conforme estabelece a

Lei 119342009 68

Direito Civil

Pessoas

Pessoas juriacutedicas

Associaccedilotildees

O art 59 do Coacutedigo Civil eacute compatiacutevel com a autonomia das entidades despor-

tivas prevista no art 217 I da Constituiccedilatildeo Federal 72

Direito de famiacutelia

Direito pessoal

Relaccedilotildees de parentesco ndash Repercussatildeo Geral

A paternidade socioafetiva declarada ou natildeo em registro puacuteblico natildeo impede

432

o reconhecimento do viacutenculo de filiaccedilatildeo concomitante baseado na origem bio-

loacutegica com os efeitos juriacutedicos proacuteprios 74

Relaccedilotildees de parentesco

O direito de ter reconhecida a filiaccedilatildeo bioloacutegica prevalece sobre a presunccedilatildeo

legal de paternidade 77

Direito das sucessotildees

Sucessatildeo legiacutetima

Ordem da vocaccedilatildeo hereditaacuteria ndash Repercussatildeo Geral

No sistema constitucional vigente eacute inconstitucional a distinccedilatildeo de regimes

sucessoacuterios entre cocircnjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos

os casos o regime estabelecido no art 1829 do Coacutedigo Civil de 2002 79

Direito Constitucional

Direitos e garantias fundamentais

Direitos e deveres individuais e coletivos

Direito de resposta

Inexiste decisatildeo do Supremo Tribunal Federal (STF) em controle concentrado

de constitucionalidade e sobre a regulamentaccedilatildeo adequada para o exerciacutecio do

direito de resposta haacutebil a justificar o cabimento da reclamaccedilatildeo 83

Liberdade de expressatildeo religiosa

Natildeo se revela iliacutecita por si soacute a comparaccedilatildeo entre diversas religiotildees inclusive

com explicitaccedilatildeo de certa hierarquizaccedilatildeo ou animosidade entre elas 85

Liberdade de exerciacutecio profissional

Eacute constitucional a expressatildeo ldquoprivativasrdquo contida no caput do art 3ordm da Lei

82341991 que regulamenta a profissatildeo de nutricionista respeitado o acircmbito

de atuaccedilatildeo profissional das demais profissotildees regulamentadas 86

Direito agrave informaccedilatildeo

Eacute garantido o amplo acesso a registros documentais e fonograacuteficos de sessotildees

de julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) puacuteblicas ou secretas ocor-

ridas na deacutecada de 1970 88

433

Devido processo legal

Eacute necessaacuteria a observacircncia da garantia do devido processo legal em especial

do contraditoacuterio e da ampla defesa relativamente agrave inscriccedilatildeo de entes puacuteblicos

em cadastros federais de inadimplecircncia 90

A inscriccedilatildeo do nome do Estado-membro em cadastro federal de inadimplentes

em face de accedilotildees eou omissotildees de gestotildees anteriores natildeo configura ofensa ao

princiacutepio da intranscendecircncia 90

Prisatildeo civil por diacutevida

Eacute inconstitucional dispositivo de lei federal que admite seja erigido agrave condiccedilatildeo

de ldquodepositaacuterio infielrdquo aquele que natildeo entrega agrave Fazenda Puacuteblica o valor desig-

nado no termo e forma fixados na legislaccedilatildeo tributaacuteria ou previdenciaacuteria 92

Eacute inconstitucional o ajuizamento de demanda que coage ao depoacutesito da quan-

tia devida com ou sem apresentaccedilatildeo de contestaccedilatildeo sob pena de decretaccedilatildeo de

revelia (arts 3ordm e 4ordm da Lei 88661994) 93

Direitos sociais

Direito ao trabalho

Eacute constitucional a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso

dos bombeiros civis 97

Nacionalidade

Perda da nacionalidade originaacuteria

Aquele que natildeo ostenta mais a nacionalidade brasileira por ter adquirido ou-

tra nacionalidade em situaccedilatildeo que natildeo se subsome agraves exceccedilotildees previstas no

art 12 sect 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal (CF) pode ser extraditado pelo Brasil 99

Organizaccedilatildeo do Estado

Uniatildeo

Bens da Uniatildeo

Comprovada a histoacuterica presenccedila indiacutegena na aacuterea descabe qualquer indeni-

zaccedilatildeo em favor do Estado 101

Bens da Uniatildeo ndash Repercussatildeo Geral

A Emenda Constitucional 462005 natildeo interferiu na propriedade da Uniatildeo nos

moldes do art 20 VII da Constituiccedilatildeo Federal (CF) sobre os terrenos de ma-

rinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municiacutepios 102

434

Competecircncia legislativa privativa

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo por meio de lei estadual de Certidatildeo de Vio-

laccedilatildeo dos Direitos do Consumidor como requisito para contrataccedilatildeo com a Ad-

ministraccedilatildeo Puacuteblica 105

Eacute inconstitucional lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de

celular em presiacutedio 107

Eacute formalmente inconstitucional a lei estadual que regulamenta a cobranccedila

proporcional ao tempo efetivamente utilizado por serviccedilos de estacionamento

privado de veiacuteculos no Estado-membro 109

Estados federados

Competecircncia legislativa concorrente

Eacute constitucional lei estadual que declara em regime de extinccedilatildeo a Carteira de

Previdecircncia das Serventias natildeo Oficializadas da Justiccedila estadual 112

Eacute inconstitucional dispositivo de lei estadual que veda que o Estado-membro

responda direta ou indiretamente pelo pagamento dos benefiacutecios jaacute conce-

didos ou que venham a ser concedidos no acircmbito da Carteira das Serventias

tampouco responsabilize-se por qualquer indenizaccedilatildeo a seus participantes ou

por insuficiecircncia patrimonial passada presente ou futura 112

Eacute constitucional dispositivo de lei estadual que autoriza as empresas que fa-

cultativamente patrocinarem bolsas para a formaccedilatildeo superior de professores a

exigir dos beneficiaacuterios em contrapartida serviccedilos na aacuterea educacional 115

Eacute inconstitucional a instituiccedilatildeo unilateral por meio de lei estadual de be-

nefiacutecio fiscal relativo a Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos

(ICMS) agrave empresa patrocinadora de bolsas de estudo a professores 116

Municiacutepios

Competecircncia legislativa suplementar

O Municiacutepio tem competecircncia para legislar sobre proteccedilatildeo do meio ambiente

e controle da poluiccedilatildeo quando se tratar de interesse local 118

Fiscalizaccedilatildeo do Municiacutepio ndash Repercussatildeo Geral

Para os fins do art 1ordm I g da Lei Complementar 64 de 18 de maio de 1990 alte-

rado pela Lei Complementar 135 de 4 de junho de 2010 a apreciaccedilatildeo das contas

435

de prefeitos tanto as de governo quanto as de gestatildeo seraacute exercida pelas Cacircma-

ras Municipais com o auxiacutelio dos tribunais de contas competentes cujo parecer

preacutevio somente deixaraacute de prevalecer por decisatildeo de 23 dos vereadores 120

Organizaccedilatildeo dos Poderes

Poder Legislativo

Deputados e senadores

A suspensatildeo do exerciacutecio do mandato de deputado federal pelo Supremo Tri-

bunal Federal (STF) em sede de decisatildeo cautelar penal natildeo gera direito agrave sus-

pensatildeo do processo de cassaccedilatildeo do mandato 124

Eacute liacutecita a adoccedilatildeo da votaccedilatildeo nominal em parecer do Conselho de Eacutetica da Cacirc-

mara dos Deputados 125

Natildeo acarreta duplicidade o cocircmputo dos membros suplentes para o quoacuterum de ins-

talaccedilatildeo da sessatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Cidadania (CCJC) 125

A competecircncia das casas legislativas para decidir sobre a perda do mandato

de congressista condenado criminalmente (art 55 VI e sect 2ordm da Constituiccedilatildeo

Federal) natildeo eacute absoluta 127

Fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira e orccedilamentaacuteria

Tribunal de Contas

A ausecircncia de participaccedilatildeo de terceiros indiretamente afetados pelas determi-

naccedilotildees do Tribunal de Contas da Uniatildeo em auditoria realizada para apurar a

gestatildeo administrativa de oacutergatildeo puacuteblico natildeo viola o direito ao contraditoacuterio

(CF art 5ordm LV) 129

Uma vez envolvida fiscalizaccedilatildeo linear exercida pelo Tribunal de Contas pre-

sente o disposto no art 71 IV da Carta da Repuacuteblica inexiste campo para

evocar-se a decadecircncia prevista no art 54 da Lei 97841999 129

A prescriccedilatildeo da pretensatildeo punitiva do Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) eacute

regulada integralmente pela Lei 98731999 seja em razatildeo da interpretaccedilatildeo

correta e da aplicaccedilatildeo direta desta lei seja por analogia 131

Configura usurpaccedilatildeo de atribuiccedilatildeo tiacutepica do Tribunal de Contas preconizada

no art 71 II da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica atribuir agrave respectiva Assembleia

Legislativa competecircncia para julgar as contas do Poder Legislativo 134

436

Eacute inconstitucional a norma de Constituiccedilatildeo estadual que dispensa apresenta-

ccedilatildeo de parecer preacutevio sobre as contas de chefe do Poder Executivo municipal a

ser emitido pelo respectivo Tribunal de Contas estadual 135

Eacute permitida apenas uma reconduccedilatildeo ao cargo de procurador-geral de Justiccedila 135

A escolha do superintendente da Poliacutecia Civil pelo governador do Estado

circunscreve-se a delegados ou delegadas de poliacutecia da carreira independente-

mente do estaacutegio de sua progressatildeo funcional 135

Tribunal de Contas ndash Repercussatildeo Geral

O parecer teacutecnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramen-

te opinativa competindo exclusivamente agrave Cacircmara de Vereadores o julga-

mento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local sendo incabiacutevel o

julgamento ficto das contas por decurso de prazo 137

Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico Especial junto aos Tribunais de Contas

(MPTCU) natildeo possuem legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento de

reclamaccedilatildeo no Supremo Tribunal Federal 141

Procuradoria especial dos Tribunais de Contas

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de

Contas estadual com a atribuiccedilatildeo de assegurar em juiacutezo a autonomia e a inde-

pendecircncia da Corte de Contas bem como de exercer as funccedilotildees de consultoria

e assessoramento juriacutedico internos 143

A procuradoria juriacutedica vinculada a Tribunal de Contas estadual natildeo possui

legitimidade ativa para a cobranccedila em juiacutezo de multas aplicadas pela Corte de

Contas 143

Poder Executivo

Responsabilidade do presidente da Repuacuteblica

O sect 4ordm do art 187 do Regimento Interno da Cacircmara dos Deputados (RICD) eacute

compatiacutevel com a Constituiccedilatildeo Federal (CF) 145

Eacute vedado agraves unidades federativas instituir normas que condicionem a instau-

raccedilatildeo de accedilatildeo penal contra o governador por crime comum agrave preacutevia autori-

zaccedilatildeo da casa legislativa cabendo ao Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) dispor

437

fundamentadamente sobre a aplicaccedilatildeo de medidas cautelares penais inclusi-

ve afastamento do cargo 147

Poder Judiciaacuterio

Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) eacute competente para julgar accedilatildeo ordinaacuteria

coletiva ajuizada contra o Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) quando a con-

troveacutersia versar sobre o alcance dos poderes deste oacutergatildeo 152

Natildeo compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) a execuccedilatildeo

individual de sentenccedilas geneacutericas de perfil coletivo inclusive aquelas proferi-

das em sede mandamental 153

O Supremo Tribunal Federal (STF) natildeo possui competecircncia originaacuteria para

julgar accedilatildeo na qual se discute o direito de magistrado de gozar de licenccedila-

-precircmio 155

Controle de constitucionalidade

Os princiacutepios constitucionais relacionados ao sistema financeiro e orccedilamentaacute-

rio os princiacutepios da independecircncia e da harmonia entre os Poderes (CF art

2ordm) e o regime constitucional de precatoacuterios (CF art 100) podem ser utiliza-

dos como paracircmetro de controle na arguiccedilatildeo de descumprimento de preceito

fundamental 156

Na accedilatildeo direta de inconstitucionalidade a arguiccedilatildeo de revogaccedilatildeo da lei ndash apoacutes a

decisatildeo de meacuterito ndash natildeo enseja prejudicialidade da accedilatildeo por perda de objeto 158

As associaccedilotildees que congregam mera fraccedilatildeo ou parcela de categoria profissio-

nal em cujo interesse vecircm a juiacutezo natildeo possuem legitimidade ativa para provo-

car a fiscalizaccedilatildeo abstrata de constitucionalidade 160

Eacute desnecessaacuteria a submissatildeo de demanda judicial agrave regra da reserva de plenaacuterio

na hipoacutetese em que a decisatildeo judicial estiver fundada em jurisprudecircncia do Ple-

naacuterio do Supremo Tribunal Federal (STF) ou em suacutemula deste Tribunal 162

Controle de constitucionalidade ndash Repercussatildeo Geral

Natildeo haacute usurpaccedilatildeo da competecircncia do Supremo Tribunal Federal (STF) quando

os tribunais de justiccedila exercem controle abstrato de constitucionalidade de leis

438

municipais utilizando como paracircmetro normas da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

desde que se trate de normas de reproduccedilatildeo obrigatoacuteria pelos Estados 164

O art 39 sect 4ordm da CF natildeo eacute incompatiacutevel com o pagamento de terccedilo de feacuterias e

13ordm salaacuterio 164

Conselho Nacional de Justiccedila

Natildeo cabe ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) o controle de controveacutersia

submetida agrave apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio 167

Insere-se entre as competecircncias constitucionalmente atribuiacutedas ao Conselho

Nacional de Justiccedila (CNJ) a possibilidade de afastar por inconstitucionalidade

a aplicaccedilatildeo de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto de con-

trole determinando aos oacutergatildeos submetidos a seu espaccedilo de influecircncia a obser-

vacircncia desse entendimento por ato expresso e formal tomado pela maioria

absoluta dos membros do Conselho 169

Justiccedila Federal ndash Repercussatildeo Geral

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar accedilotildees em que a Ordem dos Ad-

vogados do Brasil (OAB) quer mediante o Conselho Federal quer seccional

figure na relaccedilatildeo processual 172

Compete agrave Justiccedila Federal processar e julgar o crime ambiental de caraacuteter

transnacional que envolva animais silvestres ameaccedilados de extinccedilatildeo e espeacuteci-

mes exoacuteticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo

Brasil 174

Justiccedila comum

Compete agrave Justiccedila comum julgar accedilatildeo movida por trabalhador contratado sob

o regime da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) mas regido por lei que

instituiu o regime estatutaacuterio no acircmbito do ente puacuteblico com o objetivo de re-

ceber diferenccedilas salariais originadas no primeiro periacuteodo que possuam reflexo

no periacuteodo posterior agrave transmudaccedilatildeo de regime juriacutedico 176

Justiccedila do Trabalho

Compete agrave Justiccedila do Trabalho processar e julgar causa relativa a depoacutesitos do

Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) de servidor que ingressou no

serviccedilo puacuteblico antes da Constituiccedilatildeo de 1988 sem prestar concurso 178

439

Justiccedila Militar

A competecircncia penal da Justiccedila Castrense natildeo se limita apenas aos integrantes

das Forccedilas Armadas nem se define por isso mesmo ratione personae 179

Tribunais e juiacutezes dos Estados

Eacute inconstitucional o art 3ordm da Resoluccedilatildeo TJTPRJ 12014 do Plenaacuterio do Tri-

bunal de Justiccedila do Rio de Janeiro que dispotildee sobre regras de processo eleito-

ral no Poder Judiciaacuterio estadual 180

Funccedilotildees essenciais agrave Justiccedila

Ministeacuterio Puacuteblico

Cabe ao procurador-geral da Repuacuteblica a apreciaccedilatildeo de conflitos de atribuiccedilatildeo

entre oacutergatildeos do Ministeacuterio Puacuteblico 182

Tributaccedilatildeo e orccedilamento

Sistema tributaacuterio nacional

Princiacutepios gerais ndash Repercussatildeo Geral

A seguranccedila puacuteblica presentes a prevenccedilatildeo e o combate a incecircndios faz-se

no campo da atividade preciacutepua pela unidade da Federaccedilatildeo e porque serviccedilo

essencial tem como a viabilizaacute-la a arrecadaccedilatildeo de impostos natildeo cabendo ao

Municiacutepio a criaccedilatildeo de taxa para tal fim 185

Limitaccedilotildees do poder de tributar ndash Repercussatildeo Geral

A imunidade reciacuteproca prevista no art 150 VI a da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) natildeo se estende a empresa privada arrendataacuteria de imoacutevel puacuteblico quando

seja ela exploradora de atividade econocircmica com fins lucrativos Nessa hipoacutete-

se eacute constitucional a cobranccedila do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU)

pelo Municiacutepio 187

Os requisitos para o gozo de imunidade hatildeo de estar previstos em lei comple-

mentar 189

A contribuiccedilatildeo social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do

em pregado quer anteriores ou posteriores agrave Emenda Constitucional 201998 192

Incide o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) considerado imoacutevel de

pessoa juriacutedica de direito puacuteblico cedido agrave pessoa juriacutedica de direito privado

devedora do tributo 193

440

A imunidade tributaacuteria constante do art 150 VI d da Constituiccedilatildeo Federal

(CF) aplica-se ao livro eletrocircnico (e-book) inclusive aos suportes exclusivamen-

te utilizados para fixaacute-lo 195

A imunidade tributaacuteria subjetiva aplica-se a seus beneficiaacuterios na posiccedilatildeo de

contribuinte de direito mas natildeo na de simples contribuinte de fato sendo irre-

levante para a verificaccedilatildeo da existecircncia do beneplaacutecito constitucional a reper-

cussatildeo econocircmica do tributo envolvido 198

A imunidade da aliacutenea d do inciso VI do art 150 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 alcanccedila componentes eletrocircnicos destinados exclusivamente a integrar

unidade didaacutetica com fasciacuteculos 200

Limitaccedilotildees do poder de tributar

A imunidade tributaacuteria prevista no art 150 IV a da Constituiccedilatildeo Federal (CF)

natildeo alcanccedila imoacuteveis da Uniatildeo e das unidades federadas cedidos para empreendi-

mentos privados exploradores de atividade econocircmica com fins lucrativos 201

Reparticcedilatildeo das receitas tributaacuterias

Natildeo cabe agrave Uniatildeo criar por meio de legislaccedilatildeo ordinaacuteria novos criteacuterios de

deduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da receita arrecadada de impostos em desacordo com

o art 159 I a da Constituiccedilatildeo Federal (CF) 203

Financcedilas puacuteblicas

Orccedilamentos

Eacute assegurado ao Poder Judiciaacuterio estadual o direito de receber ateacute o dia vin-

te de cada mecircs em duodeacutecimos os recursos correspondentes agraves dotaccedilotildees

orccedilamentaacuterias sendo facultado ao Poder Executivo do Estado proceder ao

desconto uniforme da Receita Corrente Liacutequida prevista na Lei Orccedilamentaacute-

ria Anual estadual em sua proacutepria receita e na dos demais Poderes e oacutergatildeos

autocircnomos 205

Eacute constitucional a Lei federal 13255 de 15 de fevereiro de 2016 (Lei Orccedila-

mentaacuteria Anual) em especial quanto agraves disposiccedilotildees em que satildeo estipuladas as

dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias destinadas agrave Justiccedila do Trabalho (Lei Orccedilamentaacuteria

Anual de 2016 Anexo IV) 209

441

Ordem econocircmica e financeira

Princiacutepios gerais da atividade econocircmica

Livre iniciativa

Eacute inconstitucional lei estadual que impotildee a existecircncia de serviccedilo de empacota-

mento em supermercados sob pena de multa e interdiccedilatildeo de estabelecimento 213

Ordenaccedilatildeo dos transportes aeacutereo aquaacutetico e terrestre ndash Repercussatildeo Geral

Nos termos do art 178 da Constituiccedilatildeo Federal (CF) as normas e os tratados

internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aeacutereas de

passageiros especialmente as Convenccedilotildees de Varsoacutevia e Montreal tecircm preva-

lecircncia em relaccedilatildeo ao Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) 215

Ordem social

Seguridade social

Assistecircncia social ndash Repercussatildeo Geral

Os estrangeiros residentes no Paiacutes satildeo beneficiaacuterios da assistecircncia social pre-

vista no art 203 V da Constituiccedilatildeo Federal (CF) uma vez atendidos os requi-

sitos constitucionais e legais 221

Educaccedilatildeo cultura e desporto

Educaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

A garantia constitucional da gratuidade de ensino natildeo obsta a cobranccedila por

universidades puacuteblicas de mensalidade em cursos de especializaccedilatildeo 224

Autonomia universitaacuteria

Eacute inconstitucional lei estadual de iniciativa parlamentar que determina que os

escritoacuterios de praacutetica juriacutedica de universidade estadual mantenham plantatildeo

criminal para atendimento nos finais de semana e feriados dos hipossuficien-

tes presos em flagrante delito 228

Comunicaccedilatildeo social

Regulaccedilatildeo de diversotildees e espetaacuteculos puacuteblicos

Eacute inconstitucional a expressatildeo ldquoem horaacuterio diverso do autorizadordquo contida no

art 254 da Lei 80691990 230

Meio ambiente

Proteccedilatildeo da fauna

Lei que regulamenta a atividade da vaquejada manifestaccedilatildeo cultural com ca-

442

racteriacutesticas de entretenimento eacute incompatiacutevel com o art 225 sect 1ordm VII da

Constituiccedilatildeo Federal (CF) 233

Direito Eleitoral

Eleiccedilotildees

Propaganda eleitoral

Propaganda eleitoral no raacutedio e na televisatildeo

Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral natildeo podem deliberar pela

exclusatildeo dos debates de candidatos cuja participaccedilatildeo seja facultativa quando a

emissora tenha optado por convidaacute-los 237

Satildeo constitucionais os incisos I e II do sect 2ordm do art 47 da Lei 95041997 que

disciplinam a distribuiccedilatildeo dos horaacuterios reservados agrave propaganda eleitoral

gratuita nas emissoras de raacutedio e de televisatildeo e nos canais de televisatildeo por

assinatura 239

Direito Empresarial

Propriedade intelectual

Direitos autorais

Gestatildeo coletiva

A mera rapidez no tracircmite de projeto de lei para aprovaccedilatildeo da Lei 128532013

que alterou ou introduziu dispositivos na Lei 96101998 ao reconfigurar o

marco regulatoacuterio da gestatildeo coletiva de direitos autorais no Brasil natildeo confi-

gura inconstitucionalidade formal 245

Eacute legiacutetima a promoccedilatildeo da transparecircncia da gestatildeo coletiva de direitos autorais

com o intuito de impedir praacuteticas abusivas por entes intermediaacuterios 245

As associaccedilotildees de titulares de direitos autorais exercem atividade de interesse

puacuteblico e devem atender a sua funccedilatildeo social 246

Satildeo constitucionais as disposiccedilotildees acerca dos criteacuterios de votaccedilatildeo previstos na

Lei 96101998 que atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais 247

443

Eacute constitucional a habilitaccedilatildeo preacutevia das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva em oacuter-

gatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal para a cobranccedila de direitos autorais 248

Satildeo constitucionais as normas relativas agrave negociaccedilatildeo de preccedilos e formas de

licenciamento de direitos autorais (art 98 sectsect 3ordm e 4ordm) e ao prazo miacutenimo para

comunicaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo pessoal de direitos por seus titulares (art 98 sect 15)

previstas na Lei 96101998 248

Eacute constitucional a criaccedilatildeo de cadastro unificado de obras e dados autorais 249

A taxa de administraccedilatildeo praticada pelas associaccedilotildees no exerciacutecio da cobranccedila e dis-

tribuiccedilatildeo de direitos autorais eacute constitucional e deveraacute ser proporcional ao custo

efetivo de suas operaccedilotildees considerando as peculiaridades de cada uma delas 250

Eacute constitucional dispositivo que incumbe ao ente arrecadador e agraves associa-

ccedilotildees de gestatildeo coletiva zelar pela continuidade da arrecadaccedilatildeo e no caso de

perda da habilitaccedilatildeo por alguma associaccedilatildeo cabe a ela cooperar para que a

transiccedilatildeo entre associaccedilotildees seja realizada sem qualquer prejuiacutezo aos titulares

transferindo-se todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao processo de arrecadaccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de direitos 250

Eacute constitucional dispositivo que prevecirc a participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura

na prestaccedilatildeo de contas pelas associaccedilotildees de gestatildeo coletiva 251

Eacute constitucional dispositivo que determina que o ente arrecadador deveraacute ad-

mitir em seus quadros aleacutem das associaccedilotildees que o constituiacuteram as associa-

ccedilotildees de titulares de direitos autorais que tenham pertinecircncia com sua aacuterea de

atuaccedilatildeo e estejam habilitadas em oacutergatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal 251

Direito Financeiro

Diacutevida puacuteblica

Resgate

Requisitos

Eacute constitucional condicionar o resgate antecipado de tiacutetulos da diacutevida puacuteblica

emitidos em favor das instituiccedilotildees de ensino superior agrave satisfaccedilatildeo de suas obri-

gaccedilotildees previdenciaacuterias 259

444

Direito Internacional

Direito Penal Internacional

Cooperaccedilatildeo internacional em mateacuteria penal

Extradiccedilatildeo

Em caso de reingresso de extraditando foragido natildeo eacute necessaacuteria nova decisatildeo

jurisdicional colegiada acerca da entrega basta a emissatildeo de ordem judicial

pelo relator do processo 262

A anuecircncia do extraditando com o pedido do Estado requerente poderaacute surtir

efeitos juriacutedicos para fins de deferimento da extradiccedilatildeo desde que essa possibi-

lidade esteja prevista em norma convencional pertinente e obedeccedila agraves forma-

lidades exigidas 264

O recebimento do pedido de extradiccedilatildeo natildeo constitui causa interruptiva da

prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria salvo disposiccedilatildeo expressa em tratado espe-

ciacutefico 265

A prisatildeo preventiva para fins de extradiccedilatildeo executoacuteria natildeo constitui causa in-

terruptiva da prescriccedilatildeo da pretensatildeo executoacuteria do Estado requerente 265

A circunstacircncia de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao

extraditando como de lesa-humanidade natildeo afasta a sua prescriccedilatildeo 267

Direito Penal

Penas

Aplicaccedilatildeo da pena

Fixaccedilatildeo de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade

Estabelecida a pena-base no miacutenimo legal porque favoraacuteveis todas as circuns-

tacircncias judiciais a imposiccedilatildeo de regime inicial mais grave revela quadro de

descompasso com a legislaccedilatildeo penal 271

O condenado natildeo reincidente cuja pena seja superior a 4 anos e natildeo exceda a

8 anos tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (CP

art 33 sect 2ordm b) caso as circunstacircncias judiciais do art 59 lhe forem favoraacuteveis 273

445

Dosimetria da pena

Natildeo eacute possiacutevel reconhecer o aumento da pena-base diante da culpabilidade

reconhecida meramente por consciecircncia da ilicitude 274

A existecircncia de inqueacuteritos policiais ou de accedilotildees penais sem tracircnsito em julgado natildeo

pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena 274

Crimes contra o patrimocircnio

Furto

Furto qualificado

No crime de furto (CP art 155) a circunstacircncia ldquorompimento de obstaacuteculordquo

deve ser utilizada alternativamente ou como qualificadora do crime ou como

causa de aumento da pena 276

Causa de aumento de pena

Eacute legiacutetima a incidecircncia da causa de aumento de pena por crime cometido du-

rante o repouso noturno (CP art 155 sect 1ordm) no caso de furto praticado na forma

qualificada (CP art 155 sect 4ordm) 277

Crimes contra a dignidade sexual

Crimes contra a liberdade sexual

Estupro

Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor mesmo que praticados

na forma simples tecircm caraacuteter hediondo 279

Eacute admissiacutevel o reconhecimento de continuidade delitiva de acordo com o caso

concreto nos casos previstos no art 213 do CP 279

Crimes sexuais contra vulneraacuteveis

Estupro de vulneraacutevel

Para a configuraccedilatildeo de estupro de vulneraacutevel eacute irrelevante o consentimento

da viacutetima menor de quatorze anos 281

Disposiccedilotildees gerais

Causa de aumento de pena

Eacute juridicamente possiacutevel a majoraccedilatildeo da pena privativa de liberdade imposta a

bisavocirc de viacutetima em razatildeo da incidecircncia da causa de aumento prevista no inciso II

do art 226 do Coacutedigo Penal (CP) considerada a figura do ascendente 282

446

Crimes contra a feacute puacuteblica

Falsidade ideoloacutegica

Elemento subjetivo do tipo

No crime de falsidade ideoloacutegica as provas produzidas devem evidenciar que

o acusado possui ciecircncia inequiacutevoca do conteuacutedo inveriacutedico dos documentos

que assina ou de que o faccedila com o objetivo de prejudicar direito criar obriga-

ccedilatildeo ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante 284

Crimes contra a Administraccedilatildeo Puacuteblica

Crimes praticados por funcionaacuterio puacuteblico contra a Administraccedilatildeo em geral

Peculato

Eacute atiacutepica a conduta de peculato por ato praticado por secretaacuterio parlamentar

que efetivamente exerce a funccedilatildeo puacuteblica referente ao cargo e auxilia o parla-

mentar em assuntos de interesse privado 286

Concussatildeo

No crime de concussatildeo natildeo configura bis in idem a elevaccedilatildeo da pena na pri-

meira fase da dosimetria visto que em razatildeo da qualidade funcional ocupada

pelo agente dele se deveria exigir maior grau de observacircncia dos deveres e

obrigaccedilotildees relacionados ao cargo ocupado 288

Legislaccedilatildeo penal especial

Lei 86661993 ndash Licitaccedilotildees

Art 89 ndash Dispensar ou inexigir licitaccedilatildeo fora das hipoacuteteses previstas em lei ou

deixar de observar as formalidades pertinentes agrave dispensa ou agrave inexigibilidade

O parecer juriacutedico do oacutergatildeo teacutecnico especializado favoraacutevel agrave inexigibili-

dade impede a tipificaccedilatildeo criminosa da conduta prevista no art 89 da Lei

86661993 291

A distinccedilatildeo do iliacutecito administrativo (ato de improbidade) do iliacutecito penal (ato

criminoso) reclama que a exordial acusatoacuteria narre a accedilatildeo finaliacutestica do agente

voltada agrave obtenccedilatildeo de vantagem indevida por meio da dispensa da licitaccedilatildeo

violando com isso o bem juriacutedico penal protegido pelo tipo incriminador 291

A imputaccedilatildeo do crime definido no art 89 da Lei 86661993 a uma pluralidade

de agentes demanda a descriccedilatildeo indiciaacuteria na peccedila acusatoacuteria do viacutenculo sub-

jetivo entre os participantes para a obtenccedilatildeo do resultado criminoso 292

447

A ausecircncia do elemento subjetivo do tipo (dolo) no crime do art 89 da Lei

86661993 leva agrave rejeiccedilatildeo da denuacutencia 294

Lei 94721997 ndash Lei de Telecomunicaccedilotildees

Art 183 ndash Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicaccedilatildeo

A conduta de transmitir sinal de internet por radiofrequecircncia sem autorizaccedilatildeo

natildeo configura crime de desenvolver clandestinamente atividades de telecomu-

nicaccedilotildees (Lei 94721997 art 183) 295

Excepcionalmente ante a constataccedilatildeo da irrelevacircncia da conduta praticada

pelo paciente e da ausecircncia de resultado lesivo a praacutetica da conduta em tese

subsumida ao art 183 da Lei 94721997 natildeo deve ser resolvida na esfera penal

e sim nas instacircncias administrativas 296

Lei 96131998 ndash ldquoLavagemrdquo ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores

Art 1ordm ndash Lavagem de bens direitos ou valores

O crime de lavagem de bens direitos ou valores praticado na modalidade de

ocultaccedilatildeo (Lei 96131998 art 1ordm) tem natureza de crime permanente 297

Lei 113432006 ndash Lei de Drogas

Art 33 ndash Traacutefico de drogas ndash Repercussatildeo Geral

Eacute possiacutevel o confisco de todo e qualquer bem de valor econocircmico apreendido

em decorrecircncia do traacutefico de drogas sem a necessidade de se perquirir a habi-

tualidade reiteraccedilatildeo do uso do bem para tal finalidade a sua modificaccedilatildeo para

dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer

outro requisito aleacutem daqueles previstos expressamente no art 243 paraacutegrafo

uacutenico da Constituiccedilatildeo Federal (CF) 299

Art 33 ndash Traacutefico de drogas

Eacute irrelevante para a aplicaccedilatildeo do art 40 III da Lei 113432006 (Lei de Drogas)

se o agente infrator visa ou natildeo comercializar drogas com os frequentadores

de estabelecimento prisional 302

A quantidade de drogas natildeo pode automaticamente proporcionar o entendi-

mento de que o agente faz do traacutefico seu meio de vida ou integra organizaccedilatildeo

criminosa 303

448

Conhece-se do habeas corpus se flagrante a contradiccedilatildeo entre a justificativa

utilizada para negar a aplicaccedilatildeo da causa de diminuiccedilatildeo de pena prevista no

art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 e a absolviccedilatildeo da acusaccedilatildeo do crime de associa-

ccedilatildeo para o traacutefico tipificado pelo art 35 do mesmo diploma legal 302

Eacute possiacutevel considerar a quantidade de droga apreendida para efeito de diminui-

ccedilatildeo de pena (Lei 113432006 art 33 sect 4ordm) 305

A quantidade de drogas natildeo constitui isoladamente fundamento idocircneo para

negar o benefiacutecio da reduccedilatildeo da pena do art 33 sect 4ordm da Lei 113432006 306

Direito Previdenciaacuterio

Financiamento da seguridade social

Contribuiccedilatildeo do produtor rural e do pescador

Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

Eacute constitucional formal e materialmente a contribuiccedilatildeo social do empregador

rural pessoa fiacutesica instituiacuteda pela Lei 102562001 incidente sobre a receita

bruta obtida com a comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo 309

Benefiacutecios previdenciaacuterios

Aposentadorias

Desaposentaccedilatildeo ndash Repercussatildeo Geral

No acircmbito do Regime Geral de Previdecircncia Social (RGPS) somente lei pode

criar benefiacutecios e vantagens previdenciaacuterias natildeo havendo por ora previsatildeo

legal do direito agrave ldquodesaposentaccedilatildeordquo sendo constitucional a regra do art 18

sect 2ordm da Lei 82131991 313

Aposentadoria por invalidez ndash Repercussatildeo Geral

Os efeitos financeiros das revisotildees de aposentadoria concedidas com base no

art 6ordm-A da Emenda Constitucional 412003 introduzido pela Emenda Consti-

tucional 702012 somente se produziratildeo a partir da data de sua promulgaccedilatildeo

(30-3-2012) 316

449

Direito Processual Civil

Sujeitos do processo

Partes e procuradores

Deveres das partes e de seus procuradores

Eacute cabiacutevel a fixaccedilatildeo de honoraacuterios recursais prevista no art 85 sect 11 do Coacutedigo

de Processo Civil (CPC) mesmo quando o advogado da parte recorrida natildeo

apresentar contrarrazotildees ou contraminuta 321

Execuccedilatildeo

Das diversas espeacutecies de execuccedilatildeo

Execuccedilatildeo contra a Fazenda Puacuteblica ndash Repercussatildeo Geral

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na parte

em que disciplina os juros moratoacuterios aplicaacuteveis a condenaccedilotildees da Fazenda Puacute-

blica eacute inconstitucional ao incidir sobre deacutebitos oriundos de relaccedilatildeo juriacutedico-

-tributaacuteria aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais

a Fazenda Puacuteblica remunera seu creacutedito tributaacuterio em respeito ao princiacutepio

constitucional da isonomia (CF art 5ordm caput) quanto agraves condenaccedilotildees oriundas

de relaccedilatildeo juriacutedica natildeo tributaacuteria a fixaccedilatildeo dos juros moratoacuterios segundo o

iacutendice de remuneraccedilatildeo da caderneta de poupanccedila eacute constitucional permane-

cendo hiacutegido nesta extensatildeo o disposto no art 1ordm-F da Lei 94941997 com a

redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 323

O art 1ordm-F da Lei 94941997 com a redaccedilatildeo dada pela Lei 119602009 na parte

em que disciplina a atualizaccedilatildeo monetaacuteria das condenaccedilotildees impostas agrave Fazen-

da Puacuteblica segundo a remuneraccedilatildeo oficial da caderneta de poupanccedila revela-se

inconstitucional ao impor restriccedilatildeo desproporcional ao direito de propriedade

(CF art 5ordm XXII) uma vez que natildeo se qualifica como medida adequada a cap-

turar a variaccedilatildeo de preccedilos da economia sendo inidocircnea a promover os fins a

que se destina 324

A execuccedilatildeo provisoacuteria de obrigaccedilatildeo de fazer em face da Fazenda Puacuteblica natildeo

atrai o regime constitucional dos precatoacuterios 330

Incidem juros da mora entre a data da realizaccedilatildeo dos caacutelculos e a da requisiccedilatildeo

ou do precatoacuterio 332

450

Eacute vaacutelida a penhora em bens de pessoa juriacutedica de direito privado realizada an-

teriormente agrave sucessatildeo desta pela Uniatildeo natildeo devendo a execuccedilatildeo prosseguir

mediante precatoacuterio ndash Constituiccedilatildeo Federal (CF) art 100 caput e sect 1ordm 334

Execuccedilatildeo de alimentos

A prisatildeo por diacutevida de natureza alimentiacutecia estaacute ligada ao inadimplemento

inescusaacutevel de prestaccedilatildeo natildeo alcanccedilando situaccedilatildeo juriacutedica a revelar cobranccedila

de saldo devedor 337

Processos nos tribunais e meios de impugnaccedilatildeo de decisotildees judiciais

Ordem dos processos e processos de competecircncia originaacuteria dos tribunais

Accedilatildeo rescisoacuteria

Eacute cabiacutevel accedilatildeo rescisoacuteria com fundamento no art 485 V do Coacutedigo de Pro-

cesso Civil de 1973 contra decisatildeo que viola literal disposiccedilatildeo do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF) 339

Reclamaccedilatildeo

A partir de 2-5-2017 data da publicaccedilatildeo da ata do julgamento do Tema 246 da

repercussatildeo geral ndash que reconheceu a constitucionalidade do art 71 sect 1ordm da

Lei 86661993 ndash tornou-se inviaacutevel o manejo da reclamaccedilatildeo constitucional

com fundamento no julgado da ADC 16 ndash de mesmo objeto 340

Soacute cabe reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por violaccedilatildeo de tese

fixada em repercussatildeo geral apoacutes terem se esgotado todos os recursos cabiacuteveis

nas instacircncias antecedentes 342

Recursos

Recurso extraordinaacuterio ndash Repercussatildeo Geral

O reconhecimento da repercussatildeo geral no Plenaacuterio Virtual natildeo impede sua

rediscussatildeo no Plenaacuterio fiacutesico notadamente quando tal reconhecimento tenha

ocorrido por falta de manifestaccedilotildees suficientes 343

Natildeo apresenta repercussatildeo geral o tema relativo agrave competecircncia para processar

e julgar accedilatildeo em que se discute pagamento de adicional de insalubridade a

servidor puacuteblico de ex-Territoacuterio Federal ante a existecircncia de convecircnio firmado

entre a Uniatildeo e o Estado-membro para o qual foi cedido 343

451

Agravo interno

Eacute admissiacutevel a juntada extemporacircnea de prova documental em recursos inter-

postos no Supremo Tribunal Federal (STF) quando estiver presente interesse

puacuteblico primaacuterio na lide 344

Mandado de seguranccedila

Legitimidade ativa

O procurador-geral da Repuacuteblica natildeo possui legitimidade ativa para impetrar

mandado de seguranccedila em que se questione decisatildeo que reconheccedila a prescri-

ccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em processo administrativo disciplinar 345

Tutela coletiva

Sentenccedila

Eficaacutecia subjetiva da coisa julgada ndash Repercussatildeo Geral

A eficaacutecia subjetiva da coisa julgada formada a partir de accedilatildeo coletiva de rito

ordinaacuterio ajuizada por associaccedilatildeo civil na defesa de interesses dos associados

somente alcanccedila os filiados residentes no acircmbito da jurisdiccedilatildeo do oacutergatildeo julgador

que o fossem em momento anterior ou ateacute a data da propositura da demanda

constantes da relaccedilatildeo juriacutedica juntada agrave inicial do processo de conhecimento 348

Direito Processual Penal

Processo em geral

Accedilatildeo penal

Denuacutencia

Excepcionalmente o momento de apreciaccedilatildeo dos argumentos de defesa escri-

ta pode ser deslocado para apoacutes o recebimento da denuacutencia 353

A subordinaccedilatildeo hieraacuterquica dos envolvidos natildeo significa a responsabilizaccedilatildeo

criminal automaacutetica do prefeito 353

A mera posiccedilatildeo hieraacuterquica dos acusados na titularidade da empresa de comunica-

ccedilatildeo sem a descriccedilatildeo da accedilatildeo e sem elementos que evidenciem a vontade e consciecircn-

cia de praticar o crime imputado inviabiliza o prosseguimento da accedilatildeo penal 355

452

Competecircncia

Competecircncia por conexatildeo ou continecircncia

O desmembramento do feito em relaccedilatildeo a imputados que natildeo possuam prerro-

gativa de foro ldquodeve ser a regra diante da manifesta excepcionalidade do foro

por prerrogativa de funccedilatildeo ressalvadas as hipoacuteteses em que a separaccedilatildeo possa

causar prejuiacutezo relevanterdquo 356

Competecircncia pela prerrogativa de funccedilatildeo

A existecircncia concreta de indiacutecios de envolvimento de autoridade detentora de

foro por prerrogativa de funccedilatildeo nos diaacutelogos interceptados impotildee a remessa

imediata ao Supremo Tribunal Federal (STF) 358

Natildeo haacute cogitar de usurpaccedilatildeo de competecircncia do Supremo Tribunal Federal

quando a simples menccedilatildeo ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa

de foro assim como a existecircncia de informaccedilotildees ateacute entatildeo fluidas e dispersas a

seu respeito satildeo insuficientes para o deslocamento da competecircncia para o juiacutezo

hierarquicamente superior 359

Prova

Disposiccedilotildees gerais

Na busca e apreensatildeo caso a autoridade responsaacutevel pela unidade administra-

tiva entregue de maneira espontacircnea e voluntaacuteria computador de titularida-

de do ente puacuteblico tal ato revela-se compatiacutevel com a claacuteusula de reserva de

jurisdiccedilatildeo ainda que sobressalente ao mandado judicial 360

Natildeo cabe invocar a garantia constitucional do sigilo das comunicaccedilotildees de da-

dos quando o acesso natildeo alcanccedila a troca de dados restringindo-se apenas agraves

informaccedilotildees armazenadas nos dispositivos eletrocircnicos 360

O procedimento administrativo de investigaccedilatildeo criminal natildeo demanda a am-

plitude das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditoacuterio 361

A prova obtida mediante interceptaccedilatildeo telefocircnica quando referente a infraccedilatildeo

penal diversa da investigada deve ser considerada liacutecita se presentes os requi-

sitos constitucionais e legais 362

Apreensotildees de documentos realizadas em automoacutevel por constituir tiacutepica

busca pessoal prescinde de autorizaccedilatildeo judicial quando presente fundada sus-

453

peita de que nele estatildeo ocultados elementos de prova ou qualquer elemento de

convicccedilatildeo agrave elucidaccedilatildeo dos fatos investigados a teor do sect 2ordm do art 240 e art

244 do Coacutedigo de Processo Penal 363

Prisatildeo medidas cautelares e liberdade provisoacuteria

Prisatildeo cautelar

A duraccedilatildeo prolongada abusiva e irrazoaacutevel da prisatildeo cautelar de algueacutem ofen-

de de modo frontal o postulado da dignidade da pessoa humana 365

Prisatildeo preventiva

A superveniecircncia da sentenccedila penal condenatoacuteria que manteacutem a prisatildeo pre-

ventiva com remissatildeo aos mesmos fundamentos do decreto originaacuterio natildeo

torna prejudicado o habeas corpus 367

Por mais graves e reprovaacuteveis que sejam as condutas supostamente perpetra-

das isso natildeo justifica por si soacute a decretaccedilatildeo da prisatildeo cautelar 367

O risco concreto da reiteraccedilatildeo delitiva invocado para garantir a ordem puacutebli-

ca deve ser contemporacircneo ao decreto prisional 367

Eacute incabiacutevel o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do acor-

do de colaboraccedilatildeo premiada 369

Citaccedilotildees e intimaccedilotildees

Citaccedilotildees ndash Repercussatildeo Geral

Eacute constitucional a citaccedilatildeo por hora certa prevista no art 362 do Coacutedigo de

Processo Penal 371

Citaccedilotildees

A antecipaccedilatildeo da prova testemunhal configura medida necessaacuteria quando

considerando-se a gravidade do crime praticado houver a possibilidade con-

creta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrecircncia do

decurso do tempo 373

Intimaccedilotildees

Eacute vaacutelida apenas a intimaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo (DPU) ainda que

o recurso especial tenha sido interposto pela Defensoria Puacuteblica estadual 375

454

Processos em espeacutecie

Processo comum

Procedimento relativo aos processos da competecircncia do tribunal do juacuteri

A retirada dos autos de prova considerada iliacutecita natildeo exclui necessariamente

as demais peccedilas processuais que a ela faccedilam referecircncia 377

Nulidades e recursos em geral

Nulidades

Nulidades relativas

Por mais caras que as prerrogativas da defesa e do advogado sejam ao sistema de

garantias de sua violaccedilatildeo natildeo decorre a automaacutetica absolviccedilatildeo do imputado 380

O art 2ordm da Lei 92961996 natildeo exige que sejam quebrados os dados cadastrais

de todos os terminais interceptados previamente agrave interceptaccedilatildeo 381

Recursos em geral

Habeas corpus e seu processo

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para discutir a suspensatildeo de processo-

-crime sobre a praacutetica da conduta prevista no art 28 da Lei 113432006 (porte

de drogas para consumo pessoal) 382

O habeas corpus natildeo eacute o meio adequado para buscar-se o reconhecimento do

direito a visitas iacutentimas em estabelecimento prisional 383

Disposiccedilotildees gerais

A ordem juriacutedica natildeo contempla a interposiccedilatildeo de recurso via e-mail 384

Execuccedilatildeo penal

Limite das penas

Benefiacutecios da execuccedilatildeo penal

O limite de trinta anos enunciado no art 75 do Coacutedigo Penal (CP) natildeo eacute

considerado para o caacutelculo de benefiacutecios da execuccedilatildeo penal (Verbete 715 da

Suacutemula do Supremo Tribunal Federal) 386

Trabalho

Trabalho interno

Excepcionalmente pode ser considerado para fins de remiccedilatildeo da pena o total

de horas trabalhadas em jornada diaacuteria inferior a seis horas quando houver

determinaccedilatildeo da administraccedilatildeo do presiacutedio 387

455

Execuccedilatildeo das penas em espeacutecie

Penas privativas de liberdade

O marco inicial para fins de obtenccedilatildeo de progressatildeo de regime e demais bene-

fiacutecios executoacuterios eacute a data da custoacutedia cautelar Essa data deve necessariamente

ser compu tada desde que natildeo ocorra condenaccedilatildeo posterior apta a configurar

falta grave 388

O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao

sentenciado impede a progressatildeo no regime prisional 389

Incidentes de execuccedilatildeo

Anistia e indulto

O indulto da pena privativa de liberdade natildeo alcanccedila a pena de multa que tenha

sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado 393

Poderaacute se dar a posteriori agrave publicaccedilatildeo da norma a homologaccedilatildeo judicial da

aplicaccedilatildeo de sanccedilatildeo por falta grave para obstar a comutaccedilatildeo de pena 395

Direito Tributaacuterio

Tributos

Impostos

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) ndash Repercussatildeo Geral

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) incide sobre a tari-

fa de assinatura baacutesica mensal cobrada pelas prestadoras de serviccedilos de telefonia

independentemente da franquia de minutos concedida ou natildeo ao usuaacuterio 398

Eacute devida a restituiccedilatildeo da diferenccedila do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercado-

rias e Serviccedilos (ICMS) pago a mais no regime de substituiccedilatildeo tributaacuteria para

frente se a base de caacutelculo efetiva da operaccedilatildeo for inferior agrave presumida 400

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS)

A falta de ediccedilatildeo de lei complementar que estabeleccedila os criteacuterios para com-

pensar os Estados por conta das desoneraccedilotildees do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de

Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sobre as exportaccedilotildees (Emenda Constitucional

422003) configura estado de inconstitucionalidade por omissatildeo 402

456

A vedaccedilatildeo pela legislaccedilatildeo estadual ao aproveitamento dos creacuteditos do Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) gerados pela entrada de

insumos tributados quando o contribuinte faz opccedilatildeo pela tributaccedilatildeo da saiacuteda

das mercadorias com base de caacutelculo do imposto reduzida natildeo viola o princiacute-

pio da natildeo cumulatividade 406

Eacute inconstitucional lei estadual que embora natildeo tenha criado propriamente

um novo benefiacutecio fiscal ampliou unilateralmente programas de incentivo

relativos ao Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) sem

qualquer anuecircncia dos demais Estados e do Distrito Federal 408

Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN)

Eacute inconstitucional lei municipal que veicule exclusatildeo de valores da base de

caacutelculo do Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) fora das

hipoacuteteses previstas em lei complementar nacional 411

Tambeacutem eacute incompatiacutevel com o texto constitucional medida fiscal que resulte

indiretamente na reduccedilatildeo da aliacutequota miacutenima estabelecida pelo art 88 do Ato

das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias (ADCT) a partir da reduccedilatildeo da

carga tributaacuteria incidente sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilo na territorialidade do

ente tributante 412

Imposto Sobre Serviccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) ndash Repercussatildeo Geral

As operadoras de planos privados de assistecircncia agrave sauacutede (plano de sauacutede e

seguro-sauacutede) realizam prestaccedilatildeo de serviccedilo sujeita ao Imposto Sobre Servi-

ccedilos de Qualquer Natureza (ISSQN) previsto no art 156 III da Constituiccedilatildeo

Federal (CF) 414

Contribuiccedilotildees

Contribuiccedilotildees para a seguridade social ndash Repercussatildeo Geral

O Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) natildeo compotildee a

base de caacutelculo para a incidecircncia da contribuiccedilatildeo para o PIS e da Cofins 416

Contribuiccedilotildees profissionais ndash Repercussatildeo Geral

Eacute inconstitucional por ofensa ao princiacutepio da legalidade tributaacuteria lei que de-

lega aos conselhos de fiscalizaccedilatildeo de profissotildees regulamentadas a competecircncia

de fixar ou majorar sem paracircmetro legal o valor das contribuiccedilotildees de interes-

se das categorias profissionais e econocircmicas usualmente cobradas sob o tiacutetulo

457

de anuidades vedada ademais a atualizaccedilatildeo desse valor pelos conselhos em

percentual superior aos iacutendices legalmente previstos 418

Contribuiccedilotildees profissionais

Satildeo constitucionais os dispositivos da Lei 125142011 que dizem respeito agrave

fixaccedilatildeo de anuidades devidas aos conselhos profissionais 420

Taxas

Ato normativo infralegal ndash Valor da taxa ndash Repercussatildeo Geral

Natildeo viola a legalidade tributaacuteria lei que prescrevendo o teto possibilita ao

ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporccedilatildeo razoaacutevel com os

custos da atuaccedilatildeo estatal valor esse que natildeo pode ser atualizado por ato do

proacuteprio conselho de fiscalizaccedilatildeo em percentual superior aos iacutendices de corre-

ccedilatildeo monetaacuteria legalmente previstos 424

Taxa de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento

As taxas municipais de fiscalizaccedilatildeo e funcionamento natildeo podem ter como base

de caacutelculo o nuacutemero de empregados ou ramo de atividade exercida pelo con-

tribuinte 426

Este livro foi produzido na Coordenadoria de Divulgaccedilatildeo de Juris-prudecircncia vinculada agrave Secretaria de Documentaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Foi projetado por Eduardo Franco Dias e com-posto por Camila Penha Soares A capa foi criada por Roberto Hara Wata nabe

A fonte eacute a Dante MT Std projetada nos anos 1950 por Giovanni Mardersteig influenciado pelos tipos cunhados por Francesco Griffo entre 1495 e 1516 e editada em versatildeo eletrocircnica por Ron Carpenter em 1993

O livro foi concluiacutedo em 25 de julho de 2018

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