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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 712 – STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento: AP 516 ED/DF; HC 113857/AM; HC 110960/DF; HC 115269/RR. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: HC 94869/DF; Rcl 11323 AgR/SP; AI 741616 AgR/RJ; RE 610290/MS. DIREITO CONSTITUCIONAL Formação de novos municípios Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados. Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editas criando novos Municípios são inconstitucionais por violarem essa exigência do § 4º do art. 18. Comentários O Plenário do STF concedeu medida cautelar em ADI para suspender a eficácia da Lei 2.264/2010, do Estado de Rondônia, que criou o município de “Extrema de Rondônia”, a partir de desmembramento de área territorial de Porto Velho. O STF entendeu que a Lei 2.264/2010 violou o art. 18, § 4º da CF/88. O art. 18, § 4º da CF/88 estabelece quatro requisitos para que os Municípios sejam criados, incorporados, fundidos ou desmembrados: a) Lei Complementar Federal: o Congresso Nacional deverá editar uma Lei Complementar estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados; b) Estudos de Viabilidade Municipal: serão realizados Estudos de Viabilidade Municipal, que serão apresentados e publicados na forma da lei; c) Plebiscito: a população dos Municípios envolvidos deverá ser consultada previamente por meio de um plebiscito; d) Lei estadual: tendo sido realizado um estudo de viabilidade municipal e tendo a população aprovado a formação do novo Município, será editada uma lei estadual criando, incorporando, fundindo ou desmembrando os Municípios. Veja a redação do § 4º do art. 18: § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após Página1

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Informativo 712 – STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento: AP 516 ED/DF; HC 113857/AM; HC 110960/DF; HC 115269/RR. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: HC 94869/DF; Rcl 11323 AgR/SP; AI 741616 AgR/RJ; RE 610290/MS.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Formação de novos municípios

Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios

poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados. Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editas criando novos

Municípios são inconstitucionais por violarem essa exigência do § 4º do art. 18. Comentários O Plenário do STF concedeu medida cautelar em ADI para suspender a eficácia da Lei

2.264/2010, do Estado de Rondônia, que criou o município de “Extrema de Rondônia”, a partir de desmembramento de área territorial de Porto Velho. O STF entendeu que a Lei 2.264/2010 violou o art. 18, § 4º da CF/88.

O art. 18, § 4º da CF/88 estabelece quatro requisitos para que os Municípios sejam criados, incorporados, fundidos ou desmembrados: a) Lei Complementar Federal: o Congresso Nacional deverá editar uma Lei Complementar

estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados;

b) Estudos de Viabilidade Municipal: serão realizados Estudos de Viabilidade Municipal, que serão apresentados e publicados na forma da lei;

c) Plebiscito: a população dos Municípios envolvidos deverá ser consultada previamente por meio de um plebiscito;

d) Lei estadual: tendo sido realizado um estudo de viabilidade municipal e tendo a população aprovado a formação do novo Município, será editada uma lei estadual criando, incorporando, fundindo ou desmembrando os Municípios.

Veja a redação do § 4º do art. 18:

§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após P

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divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 15, de 1996)

A Lei Complementar Federal exigida pelo § 4º do art. 18 já foi editada? NÃO. Logo, atualmente, todos os Municípios que forem formados são inconstitucionais porque inexiste a LC exigida pelo § 4º do art. 18, primeiro requisito para a criação, incorporação, fusão ou desmembramento de Municípios. Esse foi o caso da Lei 2.264/2010, do Estado de Rondônia, que criou o município de “Extrema de Rondônia”. Como não há Lei Complementar Federal, esta criação violou o art. 18, § 4º da CF/88.

ADI por omissão 3.682

A exigência de que a formação de novos Municípios dependesse de Lei Complementar Federal foi imposta pela EC 15/96. Pela redação originária da CF/88 bastava Lei Complementar estadual. Como o CN não editou essa LC, foi proposta uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADI 3.682). O STF, ao julgar essa ADI, fez um apelo para que o legislador fizesse a LC e fixou um prazo de 18 meses para isso: (...) Ação julgada procedente para declarar o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, em prazo razoável de 18 (dezoito) meses, adote ele todas as providências legislativas necessárias ao cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 18, § 4º, da Constituição, devendo ser contempladas as situações imperfeitas decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela omissão. Não se trata de impor um prazo para a atuação legislativa do Congresso Nacional, mas apenas da fixação de um parâmetro temporal razoável, tendo em vista o prazo de 24 meses determinado pelo Tribunal nas ADI n°s 2.240, 3.316, 3.489 e 3.689 para que as leis estaduais que criam municípios ou alteram seus limites territoriais continuem vigendo, até que a lei complementar federal seja promulgada contemplando as realidades desses municípios. (ADI 3682, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 09/05/2007)

EC 57/2008 Até o presente momento, o CN não editou a LC de que trata o § 4º do art. 18 da CF/88. No entanto, a fim de regularizar a situação de muitos Municípios criados sem Lei Complementar mesmo após a EC 15/96, o Congresso fez a EC 57/2008, acrescentando o art. 96 ao ADCT e prevendo a convalidação desses Municípios. Veja a redação: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 57, de 2008).”

Em resumo A partir da EC 15/1996, nenhum Município pode ser criado, incorporado, fundido ou desmembramento considerando que não existe ainda a Lei Complementar Federal de que trata o § 4º do art. 18 da CF/88, sendo esse dispositivo norma constitucional de eficácia limitada (depende de lei para produzir todos os seus efeitos);

Os Municípios criados, incorporados, fundidos ou desmembramentos até 31/12/2006, mesmo sendo contrários ao § 4º do art. 18 da CF/88 foram “convalidados” (confirmados, ratificados, regularizados) por força da EC 57/2008;

As leis estaduais que criarem, incorporarem, fundirem ou desmembrarem Municípios após 31/12/2006 devem ser consideradas inconstitucionais.

Processo STJ. Plenário. ADI 4992 MC/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, 26/6./2013.

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Detentor de mandato eletivo e efeitos da condenação

O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de

Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF. Comentários O Deputado Federal Natan Donadon foi condenado, em 2010, pelo STF, a uma pena de 13

anos, 4 meses e 10 dias de reclusão pela prática de formação de quadrilha e peculato. Contra o acórdão condenatório, a defesa do réu opôs embargos de declaração e, em 26/6/2013 estes foram julgados. O Plenário, por maioria, não conheceu dos embargos de declaração e reconheceu o imediato trânsito em julgado da decisão condenatória. A defesa alegou que o STF não poderia determinar a prisão do réu, considerando que ele, enquanto Deputado Federal, somente poderia ser preso em flagrante delito de crime inafiançável, nos termos do art. 53, § 2º da CF/88. Esse argumento é procedente?

NÃO. O § 2º do art. 53 prevê o seguinte:

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

Trata-se da imunidade formal em relação à prisão, também chamada de “incoercibilidade pessoal relativa” (freedom from arrest).

REGRA: Deputados Federais e Senadores não poderão ser presos.

Exceção 1: Poderão ser presos em flagrante de crime inafiançável.

Exceção 2: O Deputado ou Senador condenado por

sentença judicial transitada pode ser preso para cumprir pena.

Trata-se de exceção prevista expressamente na CF/88.

Trata-se de exceção construída pela jurisprudência do STF.

Obs: os autos do flagrante serão remetidos, em até 24h, à Câmara ou ao Senado, para que, pelo voto aberto da maioria de seus membros, eles decidam se mantêm ou não a prisão do parlamentar.

Obs: o parlamentar condenado por sentença transitada em julgado será preso mesmo que não perca o mandato. Poderíamos ter, por exemplo, a esdrúxula situação de um Deputado condenado ao regime semiaberto que, durante o dia, vai até o Congresso Nacional trabalhar e, durante a noite, fica recolhido no presídio.

Obs: existe divergência na doutrina se o Deputado ou Senador pode ser preso por conta de atraso na pensão alimentícia (prisão civil). Admitem: Uadi Bulos e Marcelo Novelino; Não admitem: Pedro Lenza e Bernardo Fernandes. Não há precedente do STF sobre o tema. Desse modo, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como foi o caso do Deputado Federal condenado pelo STF.

Imunidade formal e diplomação

Se o parlamentar praticou o crime antes da diplomação, ele terá direito à imunidade formal?

Imunidade formal quanto ao processo: NÃO

Imunidade formal quanto à prisão: SIM

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A imunidade formal quanto ao processo consiste na possibilidade que a Câmara dos Deputados e o Senado possuem de suspender a ação penal que tramita contra o Deputado ou Senador. Está prevista nos §§ 3º a 4º do art. 53 da CF/88:

§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.

Observação Não comentei aqui sobre o tema “perda do mandato de Deputado Federal ou Senador em caso de condenação criminal transitada em julgado”. Isso porque o entendimento acerca desse assunto foi recentemente alterado pela Corte (AP 565, julgada em 08/08/2013). Mais a frente, no Informativo que tratar sobre esse julgamento, irei apontar qual é a posição atual do STF a respeito.

Processo STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância

Não pode ser aplicado o princípio da insignificância no caso de dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP) praticado contra “Orelhão” (aparelho telefônico público), mesmo o

prejuízo tendo sido avaliado em apenas R$ 137,00. Comentários A 2ª Turma do STF afirmou ser inaplicável o princípio da insignificância no caso de dano

qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP) praticado contra o protetor de fibra de aparelho telefônico público (vulgo “orelhão”) pertencente à concessionária de serviço público, cujo prejuízo fora avaliado em R$ 137,00. Justificou-se que, em face da coisa pública atingida, não haveria como reconhecer a mínima ofensividade da conduta, tampouco o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. Destacou-se que as consequências do ato perpetrado transcenderiam a esfera patrimonial, em face da privação da coletividade, impossibilitada de se valer de um telefone público.

Processo STF. 2ª Turma. HC 115383/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 25/6/2013.

Receptação

O STF entende que o § 1º do art. 180 do CP é CONSTITUCIONAL. O objetivo do legislador ao criar a figura típica da receptação qualificada foi justamente a de punir de forma mais gravosa o comerciante ou industrial que, em razão do exercício de sua atividade, pratica alguma das condutas descritas no referido § 1°, valendo-se de sua maior

facilidade para tanto devido à infraestrutura que lhe favorece. O crime foi qualificado pelo legislador em razão da condição do agente que, por sua atividade profissional, merece ser mais severamente punido com base na maior reprovabilidade de sua

conduta. Para o STF, o § 1º do art. 180 pune tanto o agente que atua com dolo eventual como também no

caso de dolo direto. Comentários O Código Penal prevê o delito de receptação no art. 180:

Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que SABE ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,

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receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

A receptação qualificada, por sua vez, encontra-se tipificada no § 1º do art. 180:

Receptação qualificada § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que DEVE SABER ser produto de crime: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

O § 3º do art. 180 prevê a receptação culposa:

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, DEVE PRESUMIR-SE obtida por meio criminoso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

Receptação SIMPLES Receptação QUALIFICADA Receptação CULPOSA

O agente SABE ser produto de crime.

O agente DEVE SABER ser produto de crime.

O agente DEVE PRESUMIR ser produto de crime.

1 a 4 anos 3 a 8 anos 1 mês a 1 ano

Como o § 1º utilizou a expressão “deve saber”, surgiu uma grande dúvida na doutrina: qual é o tipo de dolo exigido do agente para que se configure o crime da receptação qualificada? O § 1º pune apenas o sujeito que agiu com dolo eventual? NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, o agente responde pela receptação qualificada tanto nas hipóteses em que DEVE SABER que a coisa é produto de crime como nos casos em que efetivamente SABE que é produto de crime. Quando o legislador afirma que o agente pode ser punido quando DEVE SABER, obviamente, ele também está punindo o agente que sabe. Ex: João possui uma loja de som automotivo. Rui aparece por lá oferecendo um aparelho de DVD para carro, usado, mas novíssimo, sem qualquer documentação, pedindo por ele a quantia de 100 reais. Rui não contou que o aparelho foi furtado, mas, pelas circunstâncias do negócio e pela experiência no ramo, fica claro que João DEVE SABER que a coisa é produto de crime. João compra o bem e pratica receptação qualificada, sendo que agiu com dolo eventual. Ex2: João possui uma loja de som automotivo. Rui aparece por lá oferecendo um aparelho de DVD para carro e pedindo por ele a quantia de 100 reais. Rui contou que o aparelho foi furtado. Mesmo assim, João compra o bem e pratica receptação qualificada, sendo que agiu com dolo direto. Desse modo, para a jurisprudência majoritária, existe receptação qualificada tanto no caso de dolo eventual (o agente DEVE SABER) como no de dolo direto (o agente SABE). Em suma, a expressão “deve saber” significa dolo eventual, mas abrange também, por coerência lógica, o dolo direto. (...) se o dolo eventual, nos termos da jurisprudência reiterada do Superior Tribunal de Justiça, é suficiente para configurar o tipo de receptação qualificada, com mais razão deve-se aplicar a pena mais grave aos condenados pela prática do crime com dolo direto, como no caso dos autos. Precedentes. (HC 135.653/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 13/12/2011)

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O § 1º do art. 180 do CP é inconstitucional? Há alguma violação no fato de ele prever uma pena maior que a do caput? NÃO.O STF já decidiu reiteradas vezes que o § 1º do art. 180 do CP é CONSTITUCIONAL. O objetivo do legislador ao criar a figura típica da receptação qualificada foi justamente a de punir de forma mais gravosa o comerciante ou industrial que, em razão do exercício de sua atividade, pratica alguma das condutas descritas no referido § 1°, valendo-se de sua maior facilidade para tanto devido à infraestrutura que lhe favorece. O crime foi qualificado pelo legislador em razão da condição do agente que, por sua atividade profissional, merece ser mais severamente punido com base na maior reprovabilidade de sua conduta. Segundo a posição do STF, a lei expressamente afirmou que o sujeito que agiu com dolo eventual (“deve saber”) deveria ser punido, mas isso não significa, por óbvio, que o comerciante ou industrial que agiu com dolo direto não tenha também praticado o crime. “Não há proibição de, com base nos critérios e métodos interpretativos, ser alcançada a conclusão acerca da presença do elemento subjetivo representado pelo dolo direto no tipo do § 1°, do art. 180, do Código Penal, não havendo violação ao princípio da reserva absoluta de lei com a conclusão acima referida.” (RE 443388, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 18/08/2009). No julgado noticiado neste informativo, o STF reafirmou sua posição entendendo que o § 1º do art. 180 do CP é CONSTITUCIONAL. Essa é a posição também do STJ:

(...) Não há ofensa aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, pela majoração da pena de um delito praticado com dolo eventual (art. 180, § 1.º, do Código Penal) em detrimento de um crime praticado com dolo direto (art. 180, caput, do Código Penal), pois o legislador objetivou apenar mais gravemente aquele que sabe ou devia saber que o produto era de origem criminosa e, ainda sim, dele se utilizou para a atividade comercial ou industrial. (...) (HC 186.066/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 05/02/2013)

Processo STF. 1ª Turma. RHC 117143/RS, rel. Min. Rosa Weber, 25/6/2013.

Peculato de uso

O STF considerou atípica a conduta de “peculato de uso” de um veículo para a realização de deslocamentos por interesse particular.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: João, servidor público estadual, tinha à sua disposição, em razão de seu cargo, um veículo pertencente à Administração Pública, para que pudesse deslocar-se no interesse do serviço. Ocorre que ele utilizou o referido automóvel como meio de transporte para realizar encontro sexual com uma meretriz em um motel da cidade. Descoberto esse fato, o Ministério Público denunciou o agente pela prática de peculato-desvio (art. 312, parte final, do Código Penal).

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Defensoria

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O juiz deverá receber essa denúncia? O fato narrado é típico? NÃO. Segundo a doutrina e jurisprudência majoritárias, é atípico o “uso momentâneo de coisa infungível, sem a intenção de incorporá-la ao patrimônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral restituição a quem de direito.” (MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. São Paulo: Método, 2011, p. 586). Vale ressaltar que essa conduta configuraria, obviamente, improbidade administrativa (art.

9º, IV, da Lei n. 8.429/92).

Vamos esquematizar o assunto porque há mais informações importantes sobre o tema:

Servidor público que utiliza temporariamente bem público para satisfazer interesse particular, sem a intenção de se apoderar ou desviar definitivamente a coisa, comete crime?

Se o bem é infungível e não consumível:

NÃO Ex: é atípica a conduta do servidor público federal que utilizar carro oficial para levar seu cachorro ao veterinário. Ex2: é atípica a conduta do servidor que usa o computador da repartição para fazer um trabalho escolar.

Se o bem é fungível ou consumível:

SIM Ex: haverá fato típico na conduta do servidor público federal que utilizar dinheiro público para pagar suas contas pessoais, ainda que restitua integralmente a quantia antes que descubram.

Exceção: Se o agente é prefeito, haverá crime porque existe expressa previsão legal nesse sentido

no art. 1º, II, do Decreto-Lei n. 201/67: Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: II - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos;

Ressalte-se que, no exemplo do uso indevido do veículo oficial, poderá, em tese, a depender do caso concreto, ficar caracterizado peculato da gasolina gasta no trajeto, caso o consumo seja de considerável monta, a ponto de transbordar o princípio da insignificância.

Por fim, vale mencionar que tramita no Congresso Nacional um projeto de lei para tornar típica a conduta do peculato de uso.

Precedente do STJ

(...) Analogamente ao furto de uso, o peculato de uso também não configura ilícito penal, tão-somente administrativo. Todavia, o peculato desvio é modalidade típica, submetendo o autor do fato à pena do artigo 312 do Código Penal. (...) (HC 94.168/MG, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora Convocada Do TJ/MG), Sexta Turma, julgado em 01/04/2008)

Processo STF. 1ª Turma. HC 108433 AgR/MG, rel. Min. Luiz Fux, 25/6/2013.

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DIREITO PENAL MILITAR (obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matéria)

Em regra, não se admite perdão judicial no CPM

Não existe perdão judicial no caso de homicídio culposo no CPM. Não se pode aplicar por analogia o perdão judicial previsto no art. 121, § 5º do CP (homicídio

culposo) aos crimes militares. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:

João, soldado do Exército brasileiro, durante um treinamento militar, sem que tomasse as devidas cautelas, efetuou disparos de arma de fogo. Dois disparos ricochetearam na viatura militar. Com isso, uma das balas atingiu a mão de João, provocando sérias lesões e a outra acertou Pedro, outro soldado que estava no local e que veio a falecer.

Qual crime praticado por João? Homicídio culposo, previsto no art. 206 do Código Penal Militar:

Art. 206. Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a quatro anos. § 1° A pena pode ser agravada se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima.

Alegação da defesa: perdão judicial A DPU, que fazia a defesa de João, alegou que o juiz deveria deixar de aplicar pena ao réu, reconhecendo a ocorrência de perdão judicial. Para tanto, a DPU pedia que o magistrado utilizasse, por analogia in bonan partem, o § 5º do art. 121 do Código Penal (comum, não o militar). Veja o que diz o dispositivo:

§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Como os disparos efetuados culposamente por João ocasionaram lesão em sua mão, além do falecimento de seu amigo Pedro, a DPU postulava que fosse reconhecido que as consequências da infração atingiram o próprio agente de forma muito grave, de forma que a pena não era mais necessária (“ele já teria sido punido pela vida”).

A 1ª Turma do STF concordou com essa tese? NÃO. O art. 123 do CPM traz as hipóteses de extinção da punibilidade relacionadas com os crimes militares. Nesse rol não há a previsão do perdão judicial. Segundo entendeu o STF, ao não prever o perdão judicial, houve um “silêncio eloquente” do legislador, ou seja, o CPM, propositalmente, não quis conceder, como regra, o perdão judicial aos crimes militares. Logo, não se pode utilizar a analogia, considerando que não houve lacuna da lei, mas sim uma vontade de não consagrar esse instituto.

A única exceção em que é permitido o perdão judicial no CPM é no caso de receptação culposa (art. 255, parágrafo único, do CPM).

Processo STF. 1ª Turma. HC 116254/SP, rel. Min. Rosa Weber, 25/6/2013.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR (obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matéria)

Interrogatório como último ato da instrução penal militar

A Lei n. 11.719/2008 alterou o Código de Processo Penal, prevendo que o interrogatório deverá ser o último ato de instrução (art. 400).

O STF entendeu que essa reforma legislativa deverá ser aplicada também ao processo penal militar. Assim, no processo penal militar, o interrogatório também deverá ser o último ato

instrutório da instrução penal. Processo STF. 1ª Turma. HC 115698/AM, rel. Min. Luiz Fux, 25/6/2013; HC 115530/PR , rel. Min. Luiz Fux, 25/6/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (PGM-Maceió 2012) A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios far-se-ão

por lei estadual, dentro do período determinado por Lei ordinária, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. ( )

2) (DPE/TO 2013 CESPE) O deputado ou senador que tenha praticado crime antes da diplomação não terá direito à imunidade formal em relação ao processo e à prisão. ( )

3) (Juiz TJCE 2012 CESPE) Na hipótese de crime praticado antes da diplomação, o parlamentar não terá a imunidade formal em relação ao processo, mas terá a imunidade formal em relação à prisão. ( )

4) (Juiz TJPB 2011 CESPE) Os parlamentares federais possuem imunidade formal para a prisão e para o processo, não podendo, desde a expedição do diploma, ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, nem processados criminalmente sem prévia licença da respectiva casa. ( )

5) (Juiz Federal TRF1 2009 CESPE) A jurisprudência unânime do STF é de que a pena cominada no CP para a receptação qualificada é inconstitucional, por ofensa aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, pois é prevista pena mais severa para o agente que obrigatoriamente deve saber da origem ilícita do produto, em relação àquele que, eventualmente, saiba de tal origem. ( )

6) (Juiz TJPA 2012 CESPE) O preceito secundário do delito de receptação qualificada foi declarado inconstitucional pelo STF, por violação aos princípios constitucionais da proporcionalidade e da individualização da pena. ( )

7) (Juiz TJCE 2012 CESPE) Na hipótese de o crime de receptação ser cometido no exercício de atividade comercial, aumenta-se a pena de um sexto até a metade. ( )

Gabarito

1. E 2. E 3. C 4. E 5. E 6. E 7. E

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INFORMATIVO esquematizado

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

Reabertura de inquérito: notícia de nova prova Em conclusão, o Plenário declarou a extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva, em favor de paciente, nos autos de habeas corpus impetrado contra ato do Procurador-Geral da República. O PGR havia requerido o desarquivamento de procedimento administrativo e a reabertura de inquérito policial instaurado para apurar a suposta prática de crime de tráfico de influência por parte do paciente, à época senador, acusado de intermediar contrato firmado entre entidade da administração indireta estadual e pessoa jurídica de direito privado — v. Informativos 574 e 672. HC 94869/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 26.6.2013.

AI: tempestividade de RE e recesso forense Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão do Min. Menezes Direito, que desprovera agravo de instrumento, porquanto reputara intempestivo o recurso extraordinário inadmitido pelo tribunal a quo por motivo diverso — v. Informativos 545, 560, 606 e 699. O agravante arguia que o recurso extraordinário seria tempestivo, uma vez que os prazos estariam suspensos na Corte de origem em virtude de recesso forense de final de ano, tendo sido reconhecida sua tempestividade naquele tribunal. Salientou-se que, embora a jurisprudência do STF permitisse a comprovação da tempestividade até a interposição do regimental, o recorrente limitara-se a aduzi-la e deixara de juntar aos autos cópia de documentos que comprovassem a alegada suspensão do prazo. AI 741616 AgR/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 25.6.2013. (AI-741616)

Pensão e policial militar excluído da corporação A 2ª Turma negou provimento a recurso extraordinário interposto de decisão que concedera segurança a dependentes de policial militar excluído da corporação, em sentença transitada em julgado. No caso, a decisão recorrida afastara a alegada inconstitucionalidade do art. 117 da Lei Complementar 53/90, do Estado de Mato Grosso do Sul. O mencionado artigo garantiria, aos dependentes de policial militar excluído ou demitido da corporação, com dez anos de serviço, pensão proporcional ao tempo de contribuição feito à previdência local. Destacou-se que, embora a ADI 1542/MS (DJe de 20.3.2013) — em que se discutia a constitucionalidade da mencionada norma — tenha sido julgada prejudicada, diante da revogação superveniente daquele dispositivo, este fato não atingiria situações consolidadas, do ponto de vista jurídico. Asseverou-se que a Constituição, em seu art. 42, § 1º, estabeleceria competir à lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, X (“X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra”). Enfatizou-se, ainda, que caberia aos estados-membros, por lei especial, regular os direitos previdenciários dos integrantes de sua polícia militar, conforme o art. 42, § 2º, da CF (“§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do respectivo ente estatal”). Concluiu-se que haveria um locupletamento ilícito por parte do Estado, se viesse a se apropriar do referido benefício. RE 610290/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 25.6.2013.