jornal universitário de coimbra - a cabra - 197

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A equipa sénior feminina do Oli- vais Coimbra teve este fim-de- semana os seus primeiros jogos oficiais. O técnico José Miguel Araújo perspectiva a nova tempo- rada, lembrando que as olivanenses estão a atravessar uma fase de rees- truturação. O treinador está satis- feito com o plantel que tem à disposi- ção e descarta a pressão de repetir a prestação euro- peia da época passada. 9 a cabra Jornal Universitário de Coimbra Jorge Serrote admite levar AAC para manifestação Após a reprovação da proposta para uma manifestação no último Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA), o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Jorge Serrote, mantém a intenção de sair para a rua. Em breve, a AAC vai reunir com as associações aca- démicas que se mostraram favorá- veis à iniciativa de luta, a fim de pla- near uma acção concertada. Na impossibilidade de um enten- dimento, Serrote não afasta a hipó- tese da académica seguir sozinha. No entanto, este cenário será colo- cado em cima da mesa apenas numa futura Assembleia Magna. A campanha de informação para Junho, decidida no ENDA de Maio, não foi realizada devido a “uma falta de acordo entre as académi- cas”, explica Serrote. Contudo, o di- rigente adianta que as questões do financiamento e da acção social serão prioritárias nas próximas campanhas. 5 PUBLICIDADE 7 de Outubro de 2009 Ano XIX N.º 202 Quinzenal gratuito Director João Ribeiro Editores-executivos Vasco Batista Catarina Domingos A primeira longa metragem de Neill Blomkamp rompe com a estagnação da ficção científica, numa narrativa em que os extra-terrestres ficam presos em Joanesburgo 18 DISTRICT 9 GAFANHOTOS NA TERRA Perspectivas diferentes que convivem na cidade dos estudantes 12 e 13 PRAXE DOIS MUNDOS Como sobrevivem as pequenas discográficas de Coimbra 6 MÚSICA EDITORAS Estudantes reúnem-se em Assembleia Magna na próxima semana Associações académicas favoráveis à acção conjunta reúnem em breve Últimos quatro anos Balanço no ensino superior Com o fim de mais uma legislatura, relembram-se os momentos de re- forma no ensino superior, como a adopção do Processo de Bolonha e o nascimento de uma nova lei de auto- nomia. A acção social e o financia- mento são igualmente analisados. Num ciclo de grandes mudanças, a efectividade da movimentação estu- dantil também é equacionada. 2 e 3 Autárquicas Independentes crescem No próximo domingo, são 33 os movimentos indepen- dentes que se apresen- tam a eleições. A CABRA foi co- nhecer três dessas candidaturas, saber o que motiva os candidatos e quais os principais problemas que têm de en- frentar. 1 4 Mais informação em acabra. net @ José Miguel Araújo “Queremos ser competitivos” INDÚSTRIA EM COIMBRA De um passado próspero aos encerramentos e faltas de apoio MARIA EDUARDA ELOY 11

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Edição 197 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

A equipa sénior feminina do Oli-vais Coimbra teve este fim-de-semana os seus primeiros jogosoficiais. O técnico José MiguelAraújo perspectiva a nova tempo-rada, lembrando que as olivanensesestão a atravessar uma fase de rees-truturação. O treinador está satis-feito com o plantelque tem à disposi-ção e descarta apressão de repetira prestação euro-peia da épocapassada.

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a cabraJornal Universitário de Coimbra

Jorge Serrote admite levar AAC para manifestação

Após a reprovação da propostapara uma manifestação no últimoEncontro Nacional de DirecçõesAssociativas (ENDA), o presidenteda Direcção-Geral da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (DG/AAC),Jorge Serrote, mantém a intençãode sair para a rua. Em breve, a AACvai reunir com as associações aca-

démicas que se mostraram favorá-veis à iniciativa de luta, a fim de pla-near uma acção concertada.

Na impossibilidade de um enten-dimento, Serrote não afasta a hipó-tese da académica seguir sozinha.No entanto, este cenário será colo-cado em cima da mesa apenasnuma futura Assembleia Magna.

A campanha de informação paraJunho, decidida no ENDA de Maio,não foi realizada devido a “umafalta de acordo entre as académi-cas”, explica Serrote. Contudo, o di-rigente adianta que as questões dofinanciamento e da acção socialserão prioritárias nas próximascampanhas. 5

PUBLICIDADE

7 de Outubro de 2009Ano XIXN.º 202Quinzenal gratuito

DirectorJoão Ribeiro

Editores-executivosVasco BatistaCatarina Domingos

A primeira longa metragem de Neill Blomkamp rompe com a estagnação da ficção científica, numa narrativaem que os extra-terrestres ficam presos em Joanesburgo

18

DISTRICT 9GAFANHOTOS NA TERRA

Perspectivas diferentesque convivem na cidadedos estudantes

12 e 13

PRAXEDOIS MUNDOS

Como sobrevivem aspequenas discográficas deCoimbra

6

MÚSICAEDITORAS

Estudantes reúnem-seem AssembleiaMagna na próxima semana

Associações académicas favoráveis à acção conjunta reúnem em breve

Últimos quatro anos

Balanço no ensino superior

Com o fim de mais uma legislatura,relembram-se os momentos de re-forma no ensino superior, como aadopção do Processo de Bolonha e onascimento de uma nova lei de auto-nomia. A acção social e o financia-mento são igualmente analisados.Num ciclo de grandes mudanças, aefectividade da movimentação estu-dantil também é equacionada.

2 e 3

Autárquicas

Independentescrescem

No próximo domingo, são33 os movimentos indepen-dentes que se apresen-tam a eleições. ACABRA foi co-nhecer três dessascandidaturas, saber oque motiva os candidatos e quais osprincipais problemas que têm de en-frentar.

14

Mais informação em

acabra.net@

José Miguel Araújo

“Queremos ser competitivos”

INDÚSTRIA EM COIMBRA

De um passado próspero aos encerramentos e faltas de apoio

MARIA EDUARDA ELOY

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DESTAQUE2 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

m Março de 2005, MarianoGago assumia a pasta daCiência, Tecnologia e En-sino Superior. Pela frente

estavam quatro anos de grandes re-formas no panorama nacional. Aosdesafios da acção social, das políticasde financiamento para as instituiçõesde ensino superior, juntava-se o reptoda adopção do Processo de Bolonhae da reforma das leis de autonomia.O presidente da direcção do Sindi-cato Nacional do Ensino Superior(SNESup), Gonçalo Xufre, destaca “aimplementação de forma eficaz doProcesso de Bolonha e a dinamizaçãodo ensino superior numa fase críticaem termos da procura por parte dosalunos que se candidatavam” como

os principais tópicos de preocupação.O ano lectivo de 2006/2007 come-

çou com a aplicação de Bolonha adois cursos da Universidade de Coim-bra (UC): Psicologia e Engenharia In-formática. A adopção estendeu-se atodos os cursos no ano seguinte.

No entender do presidente da Di-recção-Geral da Associação Acadé-mica de Coimbra (DG/AAC), JorgeSerrote, “não foi dado o devido tempoàs instituições para fazer uma adap-tação correcta do que tinha sido assi-nado, o que fez com que houvessetransformações muito bruscas emprejuízo dos estudantes”.

Desde o início considerado o “pro-cesso da discórdia”, Bolonha tinhacomo principal pressuposto unifor-

mizar o sistema de ensino superioreuropeu. As alterações mais visíveisforam a redução generalizada da du-ração dos cursos, a contabilização dasdisciplinas pelo Sistema Europeu deTransferência e Acumulação de Cré-ditos (ECTS, na sigla original) e ummodelo de avaliação que pressupu-nha a participação activa do estu-dante.

“Portugal conseguiu cumprir comtrês anos de antecipação o prazo le-galmente estipulado”, começa porlembrar Gonçalo Xufre. No entanto,o responsável realça que “o processoainda está longe dos seus objectivosmais nobres”. A impossibilidade dehaver avaliação contínua, por falta decondições humanas e materiais, as

sobreposições de aulas e o desfasa-mento entre a valorização da antigalicenciatura e a obtenção do primeirociclo são as críticas mais apontadas.

Neste sentido, para o vice-presi-dente do Comité Director do EnsinoSuperior e Investigação do Conselhoda Europa, Virgílio Soares, “o Pro-cesso de Bolonha, que deveria estarconcluído em 2010, só agora vai co-meçar a ser realmente aplicado, ape-sar das declarações deauto-satisfação a nível europeu”.

Mudanças na lei da auto-nomiaOutra das grandes reestruturaçõesdata de Junho de 2007, quando o go-verno aprovou o novo Regime Jurí-

dico para as Instituições de EnsinoSuperior (RJIES), que previa a exis-tência de universidades fora da ad-ministração do Estado. Esta reformana lei da autonomia prevê a possibi-lidade de as universidades passarema fundações de direito privado, coma realização de contratos plurianuais,em oposição ao financiamento regu-lar das instituições públicas. Paramanter esses contratos-programa, asfundações comprometem-se a atingirmetas orçamentais. Na opinião dopresidente da direcção do SNESup, oRJIES constitui uma forma de o Es-tado aligeirar as responsabilidades fi-nanceiras. Gonçalo Xufre alerta aindapara a possibilidade de privatização.“Esse risco existe quando observa-

E

Na altura em que se assinala o fim de mais uma legislatura e se perspectivam os anos que seseguem, A CABRA recupera as principais mudanças e políticas do ensino superior. Textos deCatarina Domingos e João Ribeiro e ilustração por Lídia Diniz

O ministro decidiu adoptar a ciência como‘filha’ e o ensino superior como ‘enteado’”

Gonçalo Xufre,presidente da direcção do SNESup

Não são aceitáveis políticas que coloquemas instituições à beira de ataques de nervos”

Virgílio Soares, vice-presidente do Comité Director do Ensino Superior e Investigação do Conselho da Europa

O retrato de quatroreformas no ensino

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DESTAQUE7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 3

mos a forma como as fundaçõesforam apresentadas e criadas”, ex-plica. Para assegurar os objectivos or-çamentais do regime fundacional, asuniversidades terão que canalizarfundos provenientes de propinas, ser-viços administrativos, projectos e ou-tras receitas não consignadas, o queaumenta os custos dos estudantes.

Quanto à propina, Xufre nota que ovalor praticado “seria aceitável se es-tivesse efectivamente a ser utilizadopara um reforço do investimento naqualidade pedagógica e não parapagar um pouco de tudo”.

Ao nível do funcionamento dos ór-gãos de gestão, o novo regime trouxea criação do Conselho Geral quesubstitui o Senado nas funções deli-berativas. A composição deste novoórgão prevê a presença de dez ele-mentos externos (pessoas de relevona sociedade civil e com ligação à uni-versidade e região), cinco estudantes,dois funcionários e 18 docentes. Umadas maiores críticas está ligada àperda de representatividade estudan-

til, que passou de 21 assentos no an-tigo Senado para cinco no novo órgãodeliberativo. A participação dos estu-dantes “foi relegada para segundoplano o que representa um completodesrespeito”, critica Jorge Serrote.“Não posso compactuar quando ele-mentos externos, especialmente numórgão deliberativo, têm o dobro de

presença dos estudantes”, acrescenta.O membro do Conselho Geral da

UC, Luís Rodrigues, concorda com ascríticas do presidente da DG/AAC,mas faz uma chamada de atençãopara as responsabilidades dos estu-dantes. “Se os estudantes estivessemmesmo agarrados a todos os órgãos,

onde estavam representados, nãolhes era tirada [representatividade]nesta proporção”, sublinha.

Financiamento como “problema crónico”No final de 2007 e início de 2008,cinco universidades públicas (Trás-os-Montes e Alto Douro, Évora, Al-garve, Açores e Madeira) eram dadascomo estando em situação de falên-cia técnica. “Este cenário foi provo-cado por uma política dedesinvestimento no ensino superiore por uma estratégia de asfixia finan-ceira por parte do ministério”, acusaGonçalo Xufre.

Já Virgílio Soares coloca a tónicano “problema crónico das regras definanciamento”. “Há situações emque uma maior racionalização é cla-ramente possível, desde que o go-verno esteja aberto a colaborar nassoluções”, concretiza.

No que diz respeito à acção social,Luís Rodrigues fala de falta de atri-buição de verbas da parte da tutelapara explicar os problemas que osserviços atravessam. “Enquantohouve um aumento de valências, nãose registou um aumento de receitasda parte do Estado para as suportar”,sustenta o estudante de Farmácia.

Em relação às bolsas de estudo, opresidente da Federação Académicado Porto, Ricardo Rocha, destaca oatraso nos pagamentos como o maiorproblema.

Desde Outubro de 2007 que foiinstituído o sistema de empréstimosbancários a estudantes para financiaros estudos, havendo um prazo dereembolso entre seis a dez anos apósa conclusão do curso. “É um sistemaque não deve crescer muito e nãodeve ser um substituto da acção so-cial escolar”, entende Ricardo Rocha.Já o presidente da DG/AAC receiaque esta seja uma modalidade que“vem dificultar a vida dos jovens maistarde”.

Recentemente, o Presidente da Re-pública promulgou o Estatuto da Car-reira Docente Universitário, que

exige a obtenção do grau de doutorpara aceder à carreira e que prevê ummodelo de avaliação de professores.Este documento causou grande con-testação, sobretudo junto dos docen-tes dos institutos politécnicos quefizeram greve aos exames no Verãodeste ano.

Para o presidente do Conselho Di-rectivo e Científico da Faculdade deCiências e Tecnologia da UC, JoãoGabriel Silva, o texto é “claramenteum passo positivo” e só peca por nãoser mais “revolucionário”. O docenteadianta que a sua faculdade já prati-cava algumas medidas de contrata-ção, ainda antes da entrada em vigordo diploma.

Os próximos quatro anosDesde 2002, na altura do governo deDurão Barroso, as pastas da ciência edo ensino superior estão agrupadasno mesmo ministério.

Quanto às vantagens desta agrega-ção, João Gabriel Silva acredita que ajunção “faz sentido, porque as uni-versidades são por excelência o sítioonde mais investigação se faz”. Noentanto, adverte que “este governoteve energia a favor da ciência, ti-rando meios às universidades e cau-sando grandes dificuldades”.

Para os próximos quatro anos,Gonçalo Xufre realça a necessidadede “recuperar Bolonha, que está a seruma oportunidade perdida, e imple-mentar um processo de avaliação detodo o sistema de ensino superior”.

A reformulação do financiamentodo ensino superior, a aposta na agên-cia de avaliação e acreditação dasuniversidades e a colaboração das en-tidades empregadoras são, para Vir-gílio Soares, as grandes metas aatingir.

Contactado, o ministério remeteutodas as questões colocadas para o re-latório “Ciência, Tecnologia, Socie-dade da Informação e EnsinoSuperior - Principais medidas e re-sultados: 2005-2009”, sem prestardeclarações.

Com Diana Craveiro

A voz dos estudantes nos quatroanos da legislatura

O período do governo PS ficoumarcado por momentos de con-testação vinda dos vários qua-drantes sociais. Professores,enfermeiros, polícias, militares,agricultores, entre outros não sefizeram de rogados na hora de sairà rua.

Para o ensino superior, os estu-dantes foram abandonando a lutade rua para adoptar outras medi-das para se fazer ouvir junto datutela.

No entender do presidente daDirecção-Geral da AssociaçãoAcadémica de Coimbra(DG/AAC), Jorge Serrote, “foramfeitas algumas iniciativas”, acres-centando que “se poderia ter ca-minhado para algo mais nacionale esse caminho deveria ter sidouma aposta mais forte”. Para o di-rigente associativo, essa apostanão aconteceu, “porque há diver-sas opiniões e visões de ensino su-perior”.

O responsável defende que “asdirecções-gerais foram cum-prindo o seu papel”. “Há semprequestões que são próprias deépoca, momentos em que não épossível levar a cabo as iniciati-vas”, sustenta.

Também o presidente da Fede-ração Académica do Porto (FAP)recusa a ideia de que os estudan-tes não se fizeram ouvir nestesquatros anos, lembrando a ten-dência para a via dialogante. “Omovimento associativo acaboupor enveredar por uma via de diá-logo contíguo, por uma via de en-trega de proposta de alteração,discutindo directamente com osórgãos de gestão”, entende Ri-cardo Rocha. Sem as acções deprotesto, o presidente da FAPacredita que “outras formas sãoigualmente eficazes”.

Estas opiniões não são partilha-das pelo presidente da direcçãodo Sindicato Nacional do EnsinoSuperior (SNESup), GonçaloXufre, que classifica a movimen-tação estudantil como “apagada”.“Ao observar o que se passa nou-tros países, a forma como os nos-sos estudantes aceitaram aimplementação de uma reformatão profunda o Processo de Bolo-nha mostra que a acção estudantilestá ‘anestesiada’”.

No mesmo sentido, o estudantemembro do Conselho Geral daUniversidade de Coimbra, LuísRodrigues, fala num movimentoassociativo “insuficiente”. No casoparticular da AAC, o estudante deFarmácia defende que a acção es-tudantil em Coimbra foi a “menosmá no aspecto nacional”.

CATARINA DOMINGOS

A participação dosestudantes “foi relegada para segundo plano”

O RJIES foi um dos maiores ataques, foi retroceder décadase décadas de história”

Jorge Serrote,presidente da DG/AAC

Houve erros que confundiram oProcesso de Bolonha”

João Gabriel Silva, presidente do Conselho Directivo e Científico da FCTUC

o anos de o superior

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

Estudantes podem vero seu caso solucionado atravésde um requerimento enviadoao reitor. “Casos maisgraves” vão passar pornovo grupo

Seis anos após a aplicação do re-gime de prescrições na Universi-dade de Coimbra (UC), ainda nãoexiste uma solução definitiva paraos estudantes que incorram napossibilidade de ter que abandonaros estudos. Este ano, tal como nosúltimos dois, a hipótese colocadaaos alunos passa por remeter umrequerimento ao gabinete da Rei-

toria da UC, que analisará cadacaso concreto e que deverá encon-trar a solução que melhor se apli-que - o que pode passar porinscrição em regime de tempo par-cial, realização de cadeiras indivi-dualmente, entre outras.

A novidade passa pela criaçãode uma comissão que junta o rei-tor da UC, o presidente da Direc-ção-Geral da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (DG/AAC)e o novo Provedor do Estudante.“Este grupo vai apenas servir paraanalisar os casos mais graves”, ex-plica o presidente da DG/AAC,Jorge Serrote, que admite queainda não surgiu nenhum requeri-mento que exigisse a atenção dacomissão. Segundo Serrote,cercade 100 casos já foram solucionadospela reitoria, através do requeri-mento que pode ser levantado nasecretaria da AAC.

Para o próximo ano, ainda nãoexiste nenhum modelo de procedi-mento definido, mas a vice-reitorada UC, Cristina Robalo Cordeiro,admite que, “tal como neste ano,vai existir uma tentativa de cum-prir a lei”. Por seu lado, Jorge Ser-rote avança que a DG/AAC vaiinterpelar o novo ministro do en-sino superior “no sentido de de-monstrar a posição dos estudantesrelativamente às prescrições, que éa de estarem contra”.

Em vigor desde 2004, ano deaprovação da lei, o regime impedeum aluno que não obtenha umcerto número de créditos concreti-zadas por ano, de se inscrever peloperíodo de dois semestres conse-cutivos.

Embora contactado, não foi pos-sível até ao fecho desta ediçãoobter uma reacção por parte doreitor da UC, Seabra Santos.

O futuro da academiae as formas de diálogo com o governo estiveram em análise no último fim-de-semana, em Aljubarrota

Na oitava edição do Fórum AAC(Associação Académica de Coim-bra), a acção social, os programasde mobilidade estudantil, o afas-tamento do associativismo, o fu-turo da academia e os desafios doensino superior para a nova legis-latura foram os painéis debati-dos.

Dos três dias de análise, o pre-sidente da Direcção-Geral da AAC(DG/AAC), Jorge Serrote, salientaa reflexão e o debate que envolve-ram dirigentes de núcleos de es-tudantes, direcção-geral,representantes de pedagógicos edirectivos e ainda secções despor-tivas e culturais.

Uma das questões discutidasque mais afecta directamente osestudantes foi a Acção Social Es-colar. O presidente da DG/AACconta que foram analisadas aspropostas apresentadas na As-sembleia da República: “quais se-riam positivas, ou não, e quaisseriam mais fáceis de implemen-tar”. A conclusão é que a situaçãoé negativa e que há “medidas quenão resolvem o problema”.

Com o sub-financiamento doensino superior, o presidente dadirecção-geral explica que,

quando a nova legislatura come-çar, a solução vai passar por “falarcom todos os partidos políticos ecom o governo”. Contudo, Serrotenão afasta a possibilidade de par-tir para uma manifestação.

Quanto ao afastamento do as-

sociativismo, Jorge Serrote dizque falaram de novas formas decomunicar com as pessoas para as“cativar”. O kit do caloiro, entre-gue a cada novo aluno durante amatrícula, foi uma das medidasapontadas pelo presidente para

contornar o afastamento dos es-tudantes e para “despertar umaconsciência” mais activa pelo as-sociativismo.

No painel do futuro da acade-mia, o presidente do Núcleo deEstudantes de Direito da AAC ,André Costa, diz que foi pensadaa existência, ou não, de “super-núcleos”, já que “há um grandenúmero de núcleos, o que podelevar a que a informação se dis-perse muito”. A solução apontadapassa pelo aumento da importân-cia que é dada ao Conselho Inter-Núcleos, para “reforçar o seupapel e reunir mais vezes”, acres-centa André Costa.

O presidente da direcção-geralrevela que no Fórum AAC 2009foram também equacionadas mu-danças no funcionamento da As-sembleia Magna (AM). A soluçãopassa pela possibilidade de a AMse passar a realizar “ao fim datarde, já que a hora parece seruma questão negativa e esta po-deria ser uma forma de tornaruma magna mais participativa”.

Novo governo, novas medi-das?Um dos pontos que também me-receu atenção no Fórum AAC,foram os desafios do ensino supe-rior na próxima legislatura. O pre-sidente da académica de Coimbrarelembra a entrega de um cadernoreinvindicativo ao primeiro-mi-nistro e candidato pelo PartidoSocialista às eleições legislativas,José Sócrates, e à cabeça de listado Partido Social Democrata paraas mesmas eleições, Manuela Fer-reira Leite. O documento fala dosmaiores problemas e desafios do

superior e apresenta algumas pro-postas. Jorge Serrote explica queconsultaram “todos os programaseleitorais dos vários partidos po-líticos” e tentaram perceber deque forma é que as propostas docaderno foram “registadas”.

O representante do estudantesno Conselho Geral da Universi-dade de Coimbra, João Oliveira,destaca neste ponto as formas en-contradas para uma melhor abor-dagem ao poder político. Oliveiraconta que havia várias opiniõesmas que não se chegou a umaconclusão final. Em debate esteve“uma abordagem mais incisivajunto dos partidos e uma melhorforma de transmitir a mensagemestudantil a nível comunicacio-nal”. Já a presidente do Núcleo deEstudantes de Economia da AAC,Mariana Pratas, destaca a análisedas propostas apresentadas peloBloco de Esquerda nas legislati-vas, que incluíam “propostas deestágios de verão e alargamentodo horário de funcionamento dasfaculdades, para um período noc-turno”.

O Fórum AAC ficou ainda mar-cado por alguns problemas queditaram o seu final prematuro, oque impossibilitou a apresentaçãodas conclusões finais. O presi-dente da direcção-geral revela quehouve “algumas pessoas que cau-saram distúrbios no local onde foirealizado o fórum”, de que sãoexemplo “alguns danos em mobí-lias”. Embora os culpados aindanão tenham sido identificados,Jorge Serrote garantiu que “nãofoi ninguém ligado à DG/AAC”mas que os prejuízos vão serpagos pelos responsáveis.

Nova comissão para analisar prescrições na UCSARA SÃO MIGUEL

JOÃO MIRANDA

DIANA CRAVEIRO

Estudantes debatem ensino superiorFÓRUM AAC 2009

SÓNIA FERNANDES

Page 5: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

ENSINO SUPERIOR7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 5

Estudar em Coimbra efazer um período de estudos numa dasrestantes 13 universidades portuguesas é agorauma realidade

Vá para fora, cá dentro. Graçasao Programa Almeida Garrettqualquer aluno do ensino superiorpúblico universitário pode trocarde estabelecimento de ensino porum semestre, numa iniciativa queabarca ainda estágios e trabalhosou projectos de final de curso.

Neste primeiro ano, a Universi-dade de Coimbra (UC) apenas vaireceber e enviar estudantes ao

abrigo do programa no 2º semes-tre. “Este é o ano piloto, as deci-sões foram tomadas bastante tardee não dava tempo para tudo fun-cionar bem”, explica Ana IsabelFerreira, uma das responsáveispelo projecto. “Se abríssemos logoas candidaturas, com certeza tería-mos problemas”, justifica.

Para efectuar a mobilidadeexige-se que os alunos estejam ma-triculados pelo menos no 2º ano ejá tenham efectuado um mínimode 60 ECTS. O Programa AlmeidaGarrett permite uma mobilidadeapenas com a duração de seismeses e não serão atribuídas bol-sas. No entanto, Ana Isabel Fer-reira sublinha que “os estudantestêm apoio dos Serviços de AcçãoSocial da UC (SASUC) no aloja-mento”. A responsável pelo ‘out-going’ da Divisão de RelaçõesInternacionais, Imagem e Comu-

nicação (DRIIC) dá uma possívelrazão para a inexistência de bolsas.“Por exemplo, um aluno natural doPorto vem estudar para Coimbra efaz Almeida Garrett no Porto”,neste caso pressupõe-se que nãohaja custos de alojamento.

Um projecto ainda emconstruçãoAté ao momento apenas seis estu-dantes da UC se inscreveram parao programa. Em sentido contrário,a universidade vai receber três alu-nos. Como a iniciativa ainda estánuma fase embrionária, a respon-sável pela entrada de alunos Al-meida Garrett, da DRIIC, TeresaSilva, desdramatiza. “O programafoi lançado recentemente, por-tanto, sinceramente, não esperavamais candidaturas. Não me sur-preende que neste momento só te-nhamos três candidatos.”

O projecto parece interessar aosalunos, mas a informação peca porescassa: "ainda não ouvi falar doprograma mas parece-me uma ini-ciativa interessante. Penso quefalta divulgação", explica CarlaRosa, aluna do curso de LínguasModernas da faculdade de Letras.A falta de bolsas também desmo-tiva os estudantes. “Se houvessebolsa, seria muito mais apelativopara nós", é a opinião de Ana Pra-tas, de Bioquímica da faculdade deCiências.

As expectativas para o sucessodo programa são, portanto, olha-das a longo prazo. “Estou conven-cida que vai ser um tipo demobilidade que vai ter bastanteadesão”, afirma Teresa Silva,acrescentando que “até pelo as-pecto económico será mais fácilpara os estudantes movimenta-rem-se dentro do país do que even-

tualmente poderem concretizarperíodos de mobilidade no estran-geiro”. A responsável acredita quea UC “vai receber muitos mais es-tudantes”.

A data para as candidaturas ter-minou em Setembro, mas a DRIICpromete ser flexível e alargar osprazos, estando previstas sessõesde esclarecimento para Outubro eNovembro.

Para além de Coimbra, as uni-versidades dos Açores, Aveiro, Al-garve, Beira Interior, Évora,Lisboa, Nova de Lisboa, Técnica deLisboa, Madeira, Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro, Minho e oISCTE juntaram-se para a concre-tização deste projecto. O AlmeidaGarrett segue os mesmos moldesdo Programa Erasmus, mas, numâmbito nacional, à semelhança doPrograma SITUE, implementadoem Espanha em 2000.

Se do encontro agendado com as outras associaçõesnão sair uma pro-posta de luta, JorgeSerrote remete de-cisão para a Assembleia Magna

A acção conjunta entre acadé-micas aprovada no penúltimo En-contro Nacional de DirecçõesAssociativas (ENDA), em Maio,acabou reprovada no último en-contro, nos passados dias 11, 12 e13 de Setembro. A proposta deuma manifestação nacional, quepartiu da Assembleia Magna daAssociação Académica de Coim-bra (AAC), conseguiu a aprovaçãona reunião geral das académicasno final do ano lectivo passado.

Contudo, um ponto da moção,que se referia à necessidade devoltar a reflectir a acção num en-contro posterior, foi, segundoJorge Serrote, o “refúgio” das vá-rias académicas que chumbarama acção. Para o presidente da Di-recção-Geral da AAC (DG/AAC),também a pouca adesão das aca-démicas ao período de votação doencontro de direcções associati-vas serviu para que a propostafosse reprovada.

Independentemente da repro-vação da proposta em ENDA, Ser-rote pondera ir avante com aacção de luta, junto das associa-

ções favoráveis: “ estou a contac-tar as académicas e, provavel-mente, a reunião será na próximasemana”. Sobre o cenário possívelda AAC avançar sozinha para ainiciativa de luta, Jorge Serroteadmite não ter uma opinião for-mada e remete toda a decisãopara uma futura AssembleiaMagna: “já fizemos muitas inicia-tivas sozinhos. Tudo depende davontade dos estudantes da asso-ciação académica”.

A decisão passa também, naopinião do presidente daDG/AAC, por concertar a inicia-

tiva com o “timing certo”. Emcima da mesa está a tomada deposse do novo governo.

Campanha nacional de informação não se realizouTambém no ENDA de Maio foideliberada a realização de umacampanha de informação a nívelnacional sobre questões como ofinanciamento do ensino supe-rior, Acção Social Escolar ou oProcesso de Bolonha, com inícioagendado para a época de examesde Junho e para o arranque doano lectivo. Acção essa que não se

realizou.“Ficou tudo pendente do

acordo entre todas as associaçõesacadémicas e foi isso que entra-vou a campanha”, justifica o pre-sidente da direcção-geral.

Jorge Serrote explica que o fu-turo da acção de informação pas-sará por desenvolver as principaispreocupações da AAC, visto queno seu entender, “há questõescomo o financiamento e a AcçãoSocial Escolar que são preocupa-ções da académica de Coimbra,mas que não são de todas as asso-ciações”.

OS ESTUDANTES terão a última palavra em Assembleia Magna caso as restantes académicas rejeitem a manifestação

Programa Almeida Garrett promove a mobilidade interna

SÓNIA FERNANDES

LÍDIA PARALTA GOMES

AAC vai reunir com académicas para possível manifestação

JOÃO MIRANDACLÁUDIA TEIXEIRA

Assembleia Magnana próxima semana

Os estudantes da Universidadede Coimbra reúnem-se em As-sembleia Magna na próximaquarta-feira, 14. De acordo como presidente da DG/AAC, JorgeSerrote, “vai haver duas magnas:uma para discutir os Estatutosda AAC e outra para a discussãodo ensino superior”. “Aindavamos decidir qual a ordem detrabalhos da magna da próximasemana”, conclui.

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Longe dos grandes estúdios, ar-tilhados com a última tecnologia daprodução musical, sobrevivem aspequenas editoras. Realizando umtrabalho quase artesanal e commeios reduzidos, estas empresascaseiras atravessam vários proble-mas, mas os projectos não param.

Enfermeiro de profissão, RuiFerreira juntou-se em 1996 a Antó-nio Cunha e José Pinheiro, para darforma à Lux Records. Começarampor editar a compilação “RUC: 10Anos Sempre no Ar” e o álbum“Loudcloud” de António Olaio &João Taborda. Pouco tempo depois,António Cunha e José Pinheiro re-tiram-se da Lux, deixando-a acargo de Rui Ferreira. As ediçõescessaram até 1998, altura em quefoi lançado “FossaNova” dos BelleChase Hotel em parceria com aNorteSul.

Ao longo dos anos, muitos dosnomes mais conhecidos da músicaportuguesa receberam o carimboLux antes de se unirem às grandeseditoras nacionais. Este abandonoé algo que não preocupa Rui Fer-reira que vê a Lux como “umarampa de lançamento” para os ar-tistas e por isso mesmo não assinacontratos.

Homem de ideias fortes, Rui Fer-reira rejeita veementemente for-matos de áudio como o MP3, porfalta de qualidade e de valor histó-rico. “Acho que é uma falta de res-peito completa pelos músicos”,assim como para com os técnicosenvolvidos, critica.

Rui Ferreira considera que ac-tualmente não é difícil encontrarartistas para editar e que muitos lhe

mandam contactos e maquetas, noentanto não abdica dos concertoscomo forma de saber o que as ban-das realmente valem. É da opiniãoque “os discos enganam muito” ealerta para os “truques” de edição:“é fácil melhorar CDs com softwaree, ao vivo, o artista pode acabar porser muito mau”.

Porém, nem todos são da mesmaopinião. “Actualmente já ninguémvai assistir a concertos e a desco-berta de outros músicos é fácil coma Internet”, assegura João Silva,fundador da Rewind Music, que ad-mite usar o MySpace como formade conhecimento de novos artistas.

A Rewind apareceu, em 2007,como resposta à necessidade de al-gumas pequenas bandas editaremelas próprias os seus trabalhos. “Tí-nhamos que criar uma estruturapara sermos independentes”, justi-fica João Silva, que também integrao grupo conimbricense A Jigsaw.

Contudo, nos últimos dois anos,a Rewind tem-se dedicado à divul-gação de artistas internacionais emPortugal através da associação comeditoras estrangeiras. A editora temvindo a manter uma equipa de tra-balho consistente que lhe permiteter a última palavra nas decisões to-madas.

Um outro conceito, que começa aganhar força, são as “netlabels”,editoras que operam exclusiva-mente na Internet. A Mimi Recordsde Fernando Ferreira é um exem-plo de sucesso. Integrada na comu-nidade ClubOtaku, que promove ointercâmbio cultural entre o Japãoe Portugal, a Mimi foi criada em2003, precisamente para divulgar

a música destes dois países. Fer-nando Ferreira considera o inter-câmbio como uma experiênciaengraçada que gera interessantesamizades culturais.

O processo de edição é feito uni-camente no computador portátil.Os artistas enviam maquetas quesão seleccionadas por FernandoFerreira, conforme o gosto e as opi-niões de amigos, para depois re-masterizar e disponibilizar online egratuitamente. Apesar de contro-verso, este sistema de edição nãopreocupa os artistas. "Não vêemcomo música oferecida, mas simcomo divulgação", esclarece o fun-dador da Mimi.

Esporadicamente são editadas,em conjuntos de 100 CDs, compi-lações comemorativas que são pos-tas à venda em concertos e eventosculturais. É o único lucro que a edi-tora tem e não serve como sustentomas sim como uma forma de ga-nhar ânimo.

A liberdade da Mimi passa tam-bém por não haver contratos, per-mitindo que um álbum seja editadopor várias editoras em simultâneo.

Altos e baixosEmbora, como diz João Silva,"Coimbra tenha a vantagem de teruma comunidade académicaenorme", por norma “receptiva aeventos culturais", as três editorasconcordam quanto aos problemascom que se deparam.

A falta de espaços para concertoscom boas condições técnicas, emzonas centrais da cidade é o princi-pal problema. “As pessoas não sedeslocam da Praça da República”,

lamenta Rui Ferreira.Queixas da falta de apoio da au-

tarquia às empresas editoriais sãotambém um tema comum. Rui Fer-reira nota que “o teatro, o cinema, amúsica clássica e o jazz têm subsí-dios”, enquanto a música que co-mercializa é posta de lado.

No entanto, o descontentamentonão reside apenas em factores rela-cionados com a cidade. Uma das si-tuações que mais lamentam é odesinteresse dos meios de comuni-cação, em especial a rádio, que re-jeita à partida tudo o que não écomercial e da imprensa cultural,que não vai além de Lisboa e doPorto.

Apesar de tudo, Rui Ferreira,João Silva e Fernando Ferreiraacreditam que a produção culturaltem vindo a aumentar em quanti-dade e qualidade. Rui Ferreirachega a criticar o excesso, mos-trando que Portugal não tem capa-cidade para editar mais de 260discos por ano e acredita ser “pre-ciso filtrar muito melhor esses pro-jectos”.

Ainda assim o futuro mostra-serisonho para as três editoras. A pró-xima aposta da Lux Records vaipara o lançamento dos primeirosálbuns dos Tiguana Bibles e Ma-dame Godard. A Rewind Music, porsua vez, pretende internacionali-zar-se. Para a Mimi Records, o ob-jectivo próximo é a associação damúsica a outras artes e a possívelcriação de um canal multimédiacom videoclipes dos artistas que re-presentam.

Com Filipa Magalhães ePedro Rodrigues

Em tempos de crise na indústria discográfica mundial, três editoras de Coimbra lidam com inúmeros problemas, mas não cruzam os braços. Por Rafaela Carvalho

Por um punhado de discos

6 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

CULTURA

cápor

15OUT

Mostra de pinturas do NepalEspaço Vit`Arte - Dolce VitaENTRADA GRATUITA

cultura

“SOB A FORÇA DO HIMALAIA”

17OUT

Galeria Pinho Dinís • 21H30CASA MUNICIPAL DA CULTURA

FNAC22H • ENTRADA LIVRE

Salão Brazil23H • 5€

17OUT

Praça do Comércio10H • 17H30

VI EXPOSIÇÃO DE ESPANTALHOS

15OUT

Salão Brazil23H • 4€

Por Jonathan Costa

13OUT

PAPERCURTZ

RARIDADES EM VINIL

FNAC • 21HEntrada Livre

YOU CAN`T WIN DE CHARLIE BROWN

OLIVETREEDANCE

9OUT

10OUT

7OUT

“ADEUS, ATÉ AMANHÔDE ANTÓNIO ESCUDEIRO

10OUT

XIX FESTUNA

Ciclo AstronomiaFNAC • 19HENTRADA LIVRE

TAVG • 21H30NORMAL 5€ • ESTUDANTE 2,50€

ConcertoVia Club

ASTROFOTOGRAFIA

AGENT RIBBONS

PRIMEIROS TRABALHOS de alguns dos mais conhecidos nomes do panorama musical português lançados pela Lux Records e pela Rewind Music

LEANDRO ROLIM

Até

Até

17OUT

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CULTURA7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 7

Teatrão e Brecht unem-se mais uma vez,dispostos a tirar opúblico dos assentospara a procura do melhor fim

É a segunda incursão da compa-nhia do “Teatrão” pela obra de Ber-tolt Brecht. Até 18 de Outubro, estaráem palco, na Oficina Municipal deTeatro (OMT), “A Boa Alma de Set-zuan”, peça encenada pela holandesaCorrina Manara.

A actriz Leonor Barata explica:“não queremos que o público venhapara assistir confortavelmente a umespectáculo” e por isso Brecht – exí-mio aniquilador das falas vazias, daboca para fora, e respeitável coreó-grafo dos silêncios e dos gestos – foia escolha. Exige-se uma consciênciapela parte de quem vem assistir pois,como diz outra das actrizes da com-panhia de teatro, Inês Mourão, “esta-mos a falar de realidade e compessoas concretas”.

Na Setzuan (espaço ficcional ondedecorre o drama) da OMT, não hápalco, na parede defronte da plateiaestá uma comprida cortina de plás-tico límpido, que atrás esconde ora olimbo, ora a fábrica dos operários. Apeça principia com o vendedor deáguas, Wang, que desliza por todo oespaço, de bicicleta, a anunciar avinda dos deuses, “só eu sabia que ví-nheis”. Logo aparecem três entes di-vinos (a lembrar as três moiras da

mitologia grega, figurantes do des-tino) deselegantes e andrajosos, àprocura de uma alma boa. Wang logolhes explica que Setzuan encontra-se em estado de penúria, não há di-nheiro, e os que são bons, vestempesadas carapaças de inveja; os deu-ses esclarecem que não se metem emassuntos económicos.

A fuga de Shen-TéA boa alma de Setzuan revela-se, e éa modesta Shen-Té, uma prostitutaque, por aceitar receber os deuses em

sua casa, é abonada por uma apetecí-vel maquia de dinheiro. Shen-Té ad-quire então uma tabacaria, pronta aencaminhar a sua vida por trilhosmais humildes. No entanto, logo se vêrondada pelo ciúme dos próximos,desesperados aproveitadores, e todaa bonomia que lhe recheava a alma sevê fragilizada; instaura-se o conflitocentral da peça que subjuga a prota-gonista à dúvida maniqueísta, daaflita procura pelo terreno em que,como diz Brecht num dos seus poe-mas, seja possível “criar um estado de

coisas que torne possível a bondade;ou melhor: que a torne supérflua!”.

A solução organizada por Shen-Téé então fazer nascer alguém novo,fragmentar-se num alter-ego, que éShui-Tá, seu suposto primo, homemrígido e perspicaz, personagem-tipocorrespondente ao novo homem docapital. É ele que salva a tabacariados credores e que, com a força que éa precisa para “construir impérios”,edifica em Setzuan uma fábrica capazde empregar toda a população e ter-minar com a imoralidade imposta

pelos árduos tempos.Todo o dilema se adensa quando

Shen-Té se apaixona pelo perspicazaviador Yang Sun e a tabacaria final-mente fecha. A realidade que falavaInês Mourão é esta: um caóticomundo de homens transfiguradospelo medo e pela miséria. Pelos me-lhores ou piores caminhos, cabe aopúblico decidir o desfecho desta (e dasua) existência. O certo é que, comodiz a protagonista “as boas almas sãocomo os sinos, se lhes tocam, tocam,se não lhes tocam, não tocam”.

Cultura, arte e gastronomia do paísdos czares durante Outubro, nas Galeriasde Santa Clara

Desde o início do ano que o GaleriaBar de Santa Clara é mensalmenteredecorado consoante as tradiçõesdos diferentes países, programadospela iniciativa “Um mês, um país”. Aco-organizadora deste périplo cultu-ral e responsável pelas galerias, OlgaSeco, confirma que Angola, CaboVerde, Marrocos, Turquia, Cuba,Irão, Brasil, Iraque e Estónia forampaíses que por já lá passaram. A par-tir de 9 de Outubro começam as acti-vidades dedicadas à Rússia.

A ideia surge, segundo Olga Seco,

da crescente e sentida internaciona-lização das populações, bem patentena cidade de Coimbra: “a sociedadeé cada vez mais internacional e acabapor ser natural pensar em termosmulticulturais”. Acrescenta ainda anecessidade de integrar quem vemde fora: “ao fazer o mês do Irão aca-bámos por conhecer todos os irania-nos de Coimbra”, valoriza.

Todos os fins-de-semana, a par-tir da próxima sexta-feira, conta-rão com actividades que vãodesde a leitura de contos, a con-versas sobre temas correntes dacontemporaneidade russa e ses-sões de cinema. O dia de estreiainicia com uma mostra da gastro-nomia típica, a chamada “MesaRussa”, tendo a colaboração doúnico estabelecimento de produtosrussos em Coimbra, o supermercado“Matriosca”. Actuam ainda nomesmo dia o duo Marina e Vladimir,pertencente à Orquestra Regional do

Centro, com um reportório de mú-sica tradicional do seu país de ori-gem.

No dia 17 há a projecção do filme“À beira do mar azul” do autor BorisBarnet e no dia 10 o padre Arsénioaborda o tema da religião no paístranscontinental. Dia 16 é entregue àexibição de curtas-metragens de vá-rios realizadores russos. O dia 31fica reservado para o célebre escri-tor Nikolai Gogol, interpretado porNina Guerra e Filipe Guerra. Ou-tubro encerra-se pelas mãos dogrupo “Aranhiças e Elefantes” queteatralizarão a literatura russanuma “Salada Rússia”.

Para uma reprodução fiel da cul-tura nacional de cada mês, explica

a co-organizadora do evento, “esta-belecemos uma colaboração próximacom pessoas com quem iremos dis-cutir sobre o genuíno do país”. Nocaso da Rússia foi o professor da Fa-culdade de Letras, Vladimir Pliassov,

além da colaboração permanente daVideolab, do Centro de Estudos So-ciais da Universidade de Coimbra eda própria Embaixada Russa.

Graças a este projecto foram cria-das aulas de conversação gratuitas.“A ideia resultou do contacto com osconvidados dos vários países, propo-mos este projecto e eles aceitaram”,conta a co-organizadora do eventoNão vão haver lições dos idiomas,mas diálogos entre os participantes.Inglês, persa, hindi e português (paraestrangeiros) são as línguas que vãosendo faladas na Galeria Santa Claradesde do início deste mês.

Segundo Olga Seco o balanço é po-sitivo: “as pessoas que vêm ver o mêstemático de um país acabam por virver os países seguintes”. O mês deNovembro será dedicado a São Tomée Príncipe e para Dezembro, últimomês temático, está programada umaselecção das melhores actividades detodo o ano.

“Um mês, um país”, a vez da Rússia

Deuses procuram boas almas em tempos de crise

MARIA LASTRESPEDRO LEITÃO

FILIPA MAGALHÃES

PAULO ABRANTES

“TRÊS MOIRAS da mitologia grega, figurantes do destino, deselegantes e adrajosas”

ANA MARIA COELHOFILIPA MAGALHÃES

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8 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

DESPORTOBASQUETEBOLGinásio vs AAC17h • Pavilhão Galamba Marques

FUTEBOLAcadémica vs MoinhosEstádio Universitário

VOLEIBOLCV Lisboa vs Académica17h • Pavilhão Escola Secundária Vergílio Ferreira

ANDEBOLAAC vs Ass. 20km Almeirim18h • Pavilhão 3 do Estádio Universitário

10OUT

10OUT

1oOUT

10OUT

A G E N D A D E S P O R T I V A

Voleibol daAAC traçamanutençãocomo objectivo

A equipa de sénior masculinade voleibol da Associação Acadé-mica de Coimbra (AAC) inicia aparticipação no campeonato na-cional A2 no próximo sábado, 10.

A turma academista sofreu umagrande remodelação, tanto a níveltécnico como a nível de jogadores.O técnico Carlos Marques, que oano passado liderava a equipamasculina, passou este ano a trei-nar a turma feminina, assumindoassim um novo projecto. “Nãotinha tempo para acompanhar osseniores masculinos devido aoshorários de treinos que estavamprogramados e também porquefoi o culminar de um ciclo”, refereo agora treinador da equipa femi-nina.

Para o técnico, a sua equipa“ainda está em construção” e es-pera “receber mais algumas joga-doras” para conseguir “asseguraros objectivos que passam pelamanutenção na liga A2”.

Esta época o técnico das estu-dantes assume que vai ser “umcampeonato difícil, pois houveequipas que se reforçaram emquantidade e qualidade”. No en-tender de Carlos Marques, Bele-nenses, Santo Tirso e Lusófonasão os principais candidatos avencer a Divisão A2. O campeo-nato tem início marcado para dia18. A equipa feminina recebe oBelenenses, turma que se assumecomo a principal candidata ao tí-tulo.

A equipa sénior masculina daAcadémica também tem novo téc-nico. Miguel Margalho é agora otécnico da formação masculina,depois de, no ano passado, tersido adjunto de Carlos Marques.Para Miguel Margalho, “o cam-peonato vai ser complicado, masvai ser bem disputado e commuita competitividade”. O princi-pal objectivo dos estudantes passapor “assegurar a manutenção”, oque significa que, de acordo com otécnico, “ficar nos oito primeirosseria o ideal”, reforçando a ideiaque pretende intrometer-se naluta dos primeiros lugares.

O técnico academista está satis-feito com o plantel que tem à dis-posição e que “dá garantias parafazer um bom campeonato”. AAcadémica recebeu alguns novosjogadores e também conseguiu oregresso de outros jogadores queno passado marcaram presençana equipa.

ANDRÉ FERREIRA

Máxima ambição para enfrentar a Divisão de Honra

O rugby daAcadémica entra emacção no campeonatoeste sábado, com a recepção ao Benfica.O objectivo é chegarà final-four

A equipa sénior da secção derugby da Associação Académicade Coimbra (AAC) está de re-gresso ao grupo dos melhores damodalidade no plano nacional.Segundo o presidente da secção,Jaime Carvalho, esta subida dedivisão “é colocar a secção nolugar de onde nunca devia tersaído e merece estar”.

A ambição é grande e visível nodiscurso do treinador, SérgioFranco. Segundo o técnico, “o ob-jectivo para esta época passa portentar ficar entre os quatro pri-meiros lugares e atingir a fasefinal com as melhores equipasque vão disputar o título”.

Sérgio Franco está ciente dasdificuldades que a equipa vai en-frentar, mas destaca a qualidadedo plantel que “este ano está mais

equilibrado, dispõe de melhoresalternativas e dá garantias delutar pelos objectivos traçados”.

A Académica conta nesta novaépoca com novos elementos quetransitaram da formação sub-21para o plantel principal, este factoaliado à contratação de jogadoresestrangeiros que chegaram recen-temente a Coimbra, torna o plan-tel mais alargado e com maiorqualidade para enfrentar as novasexigências.

O capitão de equipa, GonçaloNeto, revela que o balneário estápreparado para o desafio que seavizinha mencionando a “granderesponsabilidade que é actuar aum nível completamente dife-rente e que exige melhores com-petências e maior dedicação”,assegurando que “os objectivosdevem ser auspiciosos para quesejam atingidos”. Para o jogador,a Académica é um clube “hospita-leiro e que tudo faz para prepararos novos jogadores para daremcem por cento dentro de campo”,realça.

Melhores condições de treinoNos últimos anos, as queixasacerca das condições de trabalhoeram evidentes, mas nesta nova

época a secção de rugby contacom progressos. A equipa vai pas-sar a ter a possibilidade de treinare jogar no Estádio Sérgio Concei-ção em detrimento do campo doEstádio Universitário de Coim-bra, o que, para o presidente dasecção, representa “uma melhoriasubstancial” para a modalidadeem Coimbra.

A estrutura da secção está maisforte e Jaime Carvalho refereainda que “o orçamento para estaépoca subiu para o dobro”, dandoa oportunidade de contratar maisjogadores de maior qualidade.

Neste momento, a equipa estánuma fase avançada de pré-tem-porada. Para Sérgio Franco, o iní-cio de época “está a correr bem”,mostrando-se “confiante com aequipa que tem ao dispor”. O trei-nador academista revelou aindaque “vão chegar mais três refor-

ços, todos estrangeiros”. O téc-nico considera que é “importanteter estrangeiros na equipa paracompetir ao mais alto nível”.

O desafio da equipa recém-pro-movida em vingar no campeonatonacional da modalidade é grande.A equipa orientada por SérgioFranco vai ter como principal ad-versário o Grupo Desportivo deDireito, actual campeão nacional,que para o treinador “tem umplantel de grande categoria, com22 jogadores internacionais,tendo alguns deles jogado nosprincipais campeonatos europeusno ano passado”.

A prova é composta por oitoequipas. A fase de apuramentojoga-se a duas voltas ao longo de14 jornadas. As formações que fi-carem nos quatro primeiros luga-res disputam a fase final,constituída por meias-finais e afinal onde se vai apurar o cam-peão nacional. A última classifi-cada da fase de apuramento édespromovida à Primeira DivisãoNacional.

A Académica inicia a sua parti-cipação no campeonato este sá-bado, 10, ao receber o SportLisboa e Benfica, um jogo a dis-putar em Taveiro, no Estádio Sér-gio Conceição.

LEANDRO ROLIM

O orçamento desteano aumentou parao dobro, adianta opresidente da secção

A ACADÉMICA TEM a sua estreia marcada para sábado, diante do Benfica.

MIGUEL CUSTÓDIO

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DESPORTO7 de Outubro de 2009| Quarta-feira | a cabra | 9

O que pode fazer a equipa femi-nina do Olivais esta época, de-pois de ter alcançado obicampeonato?Esta equipa está a entrar numa al-tura de reestruturação. Tem muitasjogadoras novas, não na equipa, masjovens de idade. Para já o único ob-jectivo é tornar a equipa competitiva.Se conseguirmos ser competitivosem todos os jogos estamos no cami-nho certo.

Assume a candidatura ao tí-tulo?Não. Ganhar os dois [títulos] foimuito difícil. Agora, foi assumido,por mim e pela direcção do clube,que estamos no momento de renovara equipa. Depois de anos sem ganharnada e depois dominar a liga duranteduas épocas com quatro títulos,agora é a altura para repensar aequipa. Por isso, temos de trabalharimenso com estas jovens jogadoras.Por um lado, queremos ser competi-tivos. Por outro lado, não podemosmeter a responsabilidade num grupotão jovem de fazer igual ou melhorque na época passada.

Então descarta a ideia do tri-campeonato?Não entramos dentro de campo paraperder. Agora, é preciso estar muitoclaro que uma equipa tão jovem nãovai ser tão consistente como o anopassado. Possivelmente, somos aequipa que maior reestruturaçãoestá a sofrer. Até ao final desta liga, ocampeão é o Olivais, logo temos todoo direito de querer defender o título.

Como tem corrido a preparaçãoda equipa?Bem. O trabalho tem sido duro. Asjogadoras mais jovens são as que têmsofrido mais. Foram as jogadorasque mais dificuldades tiveram paraentrar nos nossos ritmos. Semanaapós semana estão a perceber anossa filosofia atacante e defensiva.Estou contente com o trabalho reali-zado.

Está satisfeito com as novas jo-gadoras?Na perspectiva de ir buscar jogado-ras jovens que se comprometam comeste projecto, de dois a quatro anos,estou contente. São jogadoras commuito potencial, embora ainda nãotenham estatuto na liga, mas esperoque em pouco tempo tenham esseestatuto.

E as jogadoras norte-america-nas?São muito jovens também. É a pri-meira experiência europeia. É pre-

ciso ter mais tempo para fazer umareal avaliação às jogadoras norte-americanas.

As saídas da Ambrosia Ander-son e Aja Parham deixam aequipa menos forte?Numa equipa portuguesa não pode-mos estar à espera que as jogadorasestrangeiras fiquem cá muito tempo.Que eu me lembre, na história doclube, a Aja foi a terceira jogadoraque ficou cá dois anos. Normal-mente, passam por cá e vão paracampeonatos melhores. Ajudaram-nos muito, mas chegamos a uma al-tura em que o nosso mercado édemasiado pequeno e as outras ligassão mais fortes. Por outro lado, achoque as duas mereciam jogar a umnível mais alto. Fico contente, por-que as duas reconhecem que saíramdaqui melhores jogadoras do quequando cá chegaram.

Como treinador, como se sen-tiu quando viu a Aja Parhamrumar aos EUA para jogar naliga profissional de basquetebolfeminino?É sempre um motivo de orgulho.Quando ela acabou a universidadenão conseguiu entrar no “draft”, foium ano para a Alemanha e depois es-teve dois anos aqui nos Olivais. Ébom ver que o trabalho dela e onosso é reconhecido.

Depois de ter atingido os 16-avos-de-final da EurocupWomen, como vai encarar esteano a participação europeia?Não gosto do pensamento peque-nino de perder por muitos e aindadizer que foi uma boa experiência.Perder não é bom e a perder pormuitos não é boa experiência. O ob-jectivo da participação é aproximaro nível das nossas equipas ao níveleuropeu. As pessoas têm de perceberque não é normal uma equipa portu-guesa chegar à fase de grupos na Eu-rocup e ganhar três jogos, comofizemos o ano passado. Mais anor-mal é passar aos 16 avos. Por isso, ogrande objectivo passa por ser com-petitivo nos jogos.

Sentem a pressão de vencer ostrês jogos e passar à fase se-guinte?Eu pessoalmente não sinto, porqueestaria a pensar de forma errada. De-pois estaria a condicionar a equipapara um nível de exigência que nãotem obrigação nenhuma de ter,ainda para mais sendo uma equipatão jovem.

O que acha dos adversários queestão no caminho do Olivais?A equipa espanhola já participanesta prova há muitos anos e ga-nhou-a há oito. Está mais do que ha-

bituada a isto. A equipa croata nãoconheço assim tão bem, porque a in-formação é menor, mas o basquetecroata é muito superior ao nosso. Aequipa belga foi a equipa que domi-nou a Eurocup, chegou aos oitavos eé uma equipa que há dois anos jo-gava na Euroleague, competição su-perior. Por isso, não vejo facilidadesem lado nenhum no nosso grupo.

Quem são as candidatas ao tí-tulo?Ainda não vi as equipas. No grupo dafrente penso que estão o CAB Ma-deira, o Boa Viagem, o Vagos, oAlgés. Tenho de incluir também oOlivais e o Barcelos.

Há alguma equipa que possavir a surpreender?O Santo André tem um grupo de jo-vens interessante, mas não vi amaior parte das equipas.

O que é que recorda como joga-dor de basquetebol e, depois,como animador de Minibas-quete?[risos] Com pena minha, com 16anos, percebi que nunca iria passar

de um jogador mediano e um treina-dor meu achou que eu tinha “queda”para treinar. Depois foi tudo muitoconfuso, porque ser um miúdo de 16anos a dar treino a miúdos de 12 ou13, que não é uma diferença de ida-des muito grande, é complicado.

Com o extenso currículo comotreinador, que balanço faz dasua carreira?[risos] Para já, tive oportunidade detrabalhar como adjunto com o pro-fessor Carlos Gonçalves, que foi meutreinador. Mais tarde fui adjunto doNorberto Alves, treinador da Acadé-mica, e adjunto no Lusitânia na ligaprofissional. Consegui trabalhar comtreinadores com quem aprendimuito. Depois ao longo dos anoshouve alguns títulos. É sempre bomganhar. Penso que por onde tenhopassado as equipas mostram quali-dade.

Sente-se um técnico ganhador?Nos últimos anos tenho sido [risos].Estou mais habituado a ganhar doque a perder.

No meio de uma carreira dedi-

cada ao basquetebol, que lugarocupa o curso de Artes?[risos] É algo que deixa sempre aspessoas baralhadas. Havia três coi-sas que eu gostava de fazer: era obasquetebol, as artes plásticas e amúsica. Das três coisas a única queeu tive hipótese de começar a fazerfoi o basquete.

Porque aceitou continuar naequipa feminina do Olivais?Primeiro por uma questão de opor-tunidades. Dos convites que meforam propostos comparados com odesafio desta direcção, este foi o queachei mais interessante para mim.

Mas recebeu convites?Sim, recebi alguns. Não acontecerammuitos, mas houve convites.

Tem a ambição de treinaralgum clube em Portugal ou noestrangeiro?Claro. Em Portugal, não fecho aporta a qualquer projecto que sejainteressante. Gostaria muito de pas-sar por uma experiência no estran-geiro, mas penso que qualquertreinador gostaria.

“SOMOS A EQUIPA que maior restruturação está a sofrer”, diz José Araújo.

O treinador levou a equipa feminina do Olivais à conquista do bicampeonato, da Taça de Portugale da Supertaça. Num discurso cauteloso, José Araújo antevê dificuldades para 2009/2010

JOSÉ MIGUEL ARAÚJO • TÉCNICO DA EQUIPA SÉNIOR FEMININA DE BASQUETEBOL DO OLIVAIS COIMBRA

Mais habituado a ganhar do que a perder

ANA MARIA COELHO

CATARINA DOMINGOSANDRÉ FERREIRA

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DESPORTO10 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

BASQUETEBOLA equipa

sénior debasquete-bol daAcadémicateve este

fim-de-semana o seu pri-meiro compromisso oficial.A AAC venceu o Angrabas-ket por 80-72, em jogo re-lativo à segunda jornada dazona centro/sul do TroféuAntónio Pratas. Nestejogo, AJ Jackson esteveem destaque ao apontar25 pontos no encontro. Aestreia da turma de Nor-berto Alves na liga apenasacontece em Novembro.

VOLEIBOLA equipa

sénior fe-minina daAAC dispu-tou estef i m - d e -

semana um torneio de pré-temporada na Lousã. Numtorneio que se jogava àmelhor de três “sets”, aAcadémica venceu o Lousãpor 3-0, o Clube de Volei-bol de Aveiro também por3-0 e os juvenis da Tochapor 2-1. A estreia em jogosoficiais acontece no dia 18de Outubro, em jogo daprimeira jornada da DivisãoA2.

HÓQUEI EM PATINSA Acadé-

mica es-t r e o u - s eeste fim-de-semanano Cam-

peonato Nacional da 2.ªDi-visão. A turma de MiguelVieira deslocou-se a Paçosde Ferreira para jogar coma Juventude Pacense. Oencontro terminou comuma vitória para a equipacaseira por 6-5. Na pró-xima jornada, a AAC des-loca-se a Santa Maria daFeira, para defrontar oClube Académico da Feira.

ANDEBOLEm jogo

relativo àquarta jor-nada doC a m p e o -nato Nacio-

nal de 3.ªDivisão, a equipasénior de andebol da Aca-démica venceu em Viseu oAcadémico local por 34-37. Com este resultado, aAAC soma nove pontos. Napróxima ronda, a turma deRicardo Sousa recebe a As-sociação 20 km Almeirim.

CATARINA DOMINGOS

Obras no pavilhão começam

O solo do pavilhãoonde actuam asequipas de hóquei empatins da Académicavai ser melhoradopara voltar a receberjogos

As obras de requalificação dopiso do Pavilhão 1 do Estádio Uni-versitário de Coimbra já estão emmarcha. Este parece ser o desfechodo problema com que se debateu aSecção de Patinagem da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (AAC), de-pois de a Associação de Patinagemde Coimbra (APC) ter informadoque os vários escalões não volta-vam a jogar sem que o local so-fresse reparações.

A primeira data para o início daintervenção era dia 28 de Setem-bro, mas houve um adiamento porrazões burocráticas. “A obra aindanão tinha sido adjudicada”, explicaa presidente da secção, Fátima Va-lente.

A reabilitação do espaço tem aduração prevista de uma semana emeia e está a cargo da FundaçãoCultural da Universidade de Coim-bra, que gere o estádio universitá-rio.

Como solução, a secção procurouum novo terreno dentro da cidade,mas “nenhum tinha condições anível do piso, nem tabelas”, comoconta a dirigente. “Como o tempodas obras também não é muito,vamos fazer treino físico”, acres-centa Fátima Valente.

No que diz respeito aos jogos, apresidente considera que está tudo“orientado”. “Trocámos as jornadasda equipa sénior masculina, que sá-

bado jogava em casa. Vamos pri-meiro a Santa Maria da Feira e, nasegunda volta, o Clube Académicoda Feira vem a Coimbra”, explicaFátima Valente. O CampeonatoNacional Feminino só tem iníciomarcado para Novembro. Nos ou-tros escalões, os jogos agendadosacontecem fora de portas, pelo queestá “tudo salvaguardado, nem queas obras se atrasem um pouco”.Estes foram os caminhos para evi-tar consequências mais gravescomo a notificação de falta de com-parência, a eliminação das provasem que a Académica se encontrainscrita, as multas no valor de doissalários mínimos por jogo e a des-cida de divisão do escalão sénior.

Este foi um início atribulado paraa secção de patinagem, que agoraencontra uma solução para a ma-deira degradada e para os buracosjunto às balizas, que levaram aochumbo da APC.

Objectivos desportivos mantêm-se “Com tudo a ser normalizado”, asecção de patinagem não mudou asmetas que tem para a temporada2009/2010. O Campeonato Nacio-nal de 2.ª Divisão começou no pas-sado fim-de-semana. A Académica,enquadrada na zona norte, teve oseu primeiro teste em Paços de Fer-reira, diante da Juventude Pacense.

No entender de Fátima Valente,os objectivos desportivos “nãoforam afectados pelo turbilhão dasúltimas semanas”. Nas provas re-gionais, os vários escalões “vão ten-tar alcançar o melhor lugarpossível”. No que diz respeito àturma sénior, “o espírito é tentarvencer a maior parte dos jogos econseguir a manutenção na se-gunda divisão”, como garante a di-rigente. Este fim-de-semana, aAAC tem o segundo teste em SantaMaria da Feira.

Rogério Gonçalveschegou a Coimbra coma exigente tarefa desuceder DomingosPaciência, sétimo classificado em2008/2009

A chegada a Coimbra de RogérioGonçalves, a 18 de Junho, foi con-troversa desde início. O vice-presi-dente para o futebol profissional daAcadémica/Organismo Autónomode Futebol (AAC/OAF), Jorge Ale-xandre, pediu a demissão por alega-damente não ter sido ouvido na

escolha do sucessor de DomingosPaciência, cabendo essa escolha aopresidente, José Eduardo Simões.

O então novo técnico da Briosa,Rogério Gonçalves começou a pre-parar a equipa na Covilhã, local es-colhido para a realização de estágiode pré-temporada. A (pré) época co-meçou bem com a vitória no torneioda Covilhã, onde a Académica empa-tou com a equipa da casa e depoisvenceu o eterno rival, Naval 1º deMaio, por uma bola a zero. Depois osestudantes enfrentaram várias equi-pas, entre elas o Belenenses, tendoperdido apenas dentro de portascom o Santa Clara, por duas bolas auma. No Torneio Cidade de Espinho,a Académica perdeu os dois jogos:primeiro com o Sporting local e de-

pois com o Rio Ave.Braga foi o primeiro adversário

nas competições oficiais, num jogoem que a Briosa fez a melhor exibi-ção, mas acabando por perder poruma bola. Nos dois jogos seguintes,Paços de Ferreira e Sporting deslo-caram-se a Coimbra. Contra a equipada capital do móvel, a Briosa empa-tou a uma bola e frente aos leoninosa derrota por duas bolas foi inevitá-vel. Na jornada seguinte, a desloca-ção ao reduto do Olhanense marcouo início da grande manifestação. ABriosa perdeu com a recém-promo-vida equipa de Olhão, por duas bolasa uma e a jogar frente a nove jogado-res.

Rogério Gonçalves começava a seralvo de grande contestação por parte

dos adeptos academistas que nãoviam êxitos na equipa. Com o em-pate em Vila do Conde, com o RioAve, o técnico não conseguia afastara pressão em que estava mergu-lhado. A derrota pesada com o Marí-timo não dava qualquer hipótese àdirecção da Briosa que de imediatoapresentou uma proposta para a res-cisão do contrato. Rogério Gonçalvespassou por Coimbra sem conseguirvencer em jogos oficiais e deixandoa Académica no último lugar da clas-sificação. Com estes resultados o téc-nico aumenta para dois anos e novemeses o tempo que está sem vencerpara a liga portuguesa de futebol. Oúltimo triunfo foi a 4 de Fevereiro de2007, quando treinava o Sporting deBraga.

Rogério Gonçalves passa por Coimbra sem vencer

RAFAELA CARVALHO

HÓQUEI EM PATINS

A ASSOCIAÇÃO DE PATINAGEM de Coimbra chumbou a realização de jogos sem que o piso do Pavilhão 1 fosse reparado

ANDRÉ FERREIRA

PROLONGAMENTO

CATARINA DOMINGOS

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Painéis sonoros concebidos para invisuais e horários deautocarros notelemóvel facilitam a mobilidade em Coimbra

Depois dos painéis informativos,que indicam o tempo de espera dosautocarros, agora os utentes invi-suais vão ter painéis sonoros quedisponibilizam a mesma informa-ção. O administrador-delegado dosServiços Municipalizados de Trans-portes Urbanos de Coimbra

(SMTUC), Manuel Oliveira, de-signa-os como uma “nova geraçãode painéis informativos”. É umamedida da empresa de transportesque pretende contribuir para a au-tonomia dos invisuais e das pessoascom acuidade visual reduzida. Osistema sonoro vai estar localizadoem quatro paragens de grande mo-vimento dentro da cidade.

“Só com o funcionamento dosdispositivos é que poderemos saberse a medida é positiva”, revela a téc-nica de serviço social da Associaçãode Cegos e Amblíopes de Portugal(ACAPO), Ana Eduarda Ribeiro.Será difícil prever os pontos fortes efracos deste sistema de informação,dado que “nos primeiros tempos deutilização é que os utentes conse-guem perceber as falhas”, acres-

centa.Segundo a técnica de serviço so-

cial, os SMTUC têm dado tambémformação aos motoristas, com o ob-jectivo de os sensibilizar para as ne-

cessidades dos invisuais. Nas zonasde paragem, sempre que avistamuma pessoa invisual ou com limita-ção visual, os condutores procuramsaber se ela pretende seguir na-quela linha. “Todas as medidas quecontribuam para a autonomia dos

invisuais são positivas”, remataAna Eduarda Ribeiro, conside-rando, contudo, que é “utópico”adaptar tudo numa sociedade demaiorias.

SMTUC com serviço para tele-móvelCom o intuito de melhorar a vidados utentes dos transportes públi-cos, foi criado o SMTUC Mobile.Através de uma aplicação instaladano telemóvel, os utilizadorespodem consultar os horários dosautocarros da empresa e saberquantos minutos faltam para alinha em que pretendem viajar.

O serviço está disponível para“download” gratuito no sítio dosSMTUC na Internet, desde Setem-bro. Até à data, tem conseguido

“bastante adesão”, segundo o ad-ministrador-delegado dos SMTUC.

Os utentes dos transportes urba-nos de Coimbra, com acesso a estaaplicação, vão esperar menostempo pelos autocarros.

De futuro, os SMTUC queremimplementar também uma novaforma de emissão de bilhetes, se-melhante à utilizada no Porto e emLisboa. Os novos títulos de trans-portes poderão ser carregados sem-pre que necessário, em vez dosactuais descartáveis. O processo en-contra-se numa “fase de adjudica-ção” dependente do financiamentodo Instituto da Mobilidade e dosTransportes Terrestres, avança Ma-nuel Oliveira, sem adiantar quandoentrará em funcionamento.

Com Maria Eduarda Eloy

CIDADE7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 11

A identidade da cidadeestá em transformaçãodevido à perda de indústrias que a projectavam no país eno mundo. A Marcopolo e a Poceram são osexemplos maisrecentes

Coimbra perdeu, em 2009, maisduas das suas indústrias emblemá-ticas. Face à crise mundial, a Mar-copolo – Indústria de Carroçarias,S.A. encerra a fábrica de Coimbra ea Poceram entra em processo de in-solvência. O presidente da CâmaraMunicipal de Coimbra (CMC), Car-los Encarnação, afirma que “a câ-mara tem uma capacidade limitadade intervenção” para ajudar estasempresas, mas procura prestarapoio em situações críticas. Encar-nação refere o exemplo da Marco-polo que já há oito anos pretendiaencerrar a fábrica de Coimbra eque foi persuadida a não o fazer naaltura. “A CMC foi um parceiro in-teressado na vida da Marcopolo,procurou facilitar-lhes a vida omais possível, fez encomendas,comprou autocarros, carroçarias”e, portanto, a autarquia “ficou ab-solutamente surpreendida com adecisão da empresa de sair deCoimbra”, conclui. A CABRA pro-curou entrar em contacto com aMarcopolo, no entanto, até à datade fecho da edição não obteve res-posta.

Longe de serem fenómenos iso-lados no panorama da cidade, fa-lências e encerramentosenquadram-se numa tendência que

se prolonga há mais de 25 anos. Orepresentante da Sociedade Cen-tral de Cervejas, Basílio Dinis, as-socia a extinção da Topázio,enquanto produto conimbricense,há já 17 anos, à falta de saneamentoadequado às necessidades de pro-dução. Mas admite que “não seriapossível fazer o saneamento” paraa fábrica, em detrimento de zonasurbanas carenciadas e que a autar-quia de Manuel Machado, entãopresidente da CMC, se “portou ex-traordinariamente”.

Contra as probabilidades queditam o fim das indústrias maistradicionais em Coimbra, há em-presas que ainda persistem. A Fu-coli – Somepal, S.A., a Dan Cake ea ressuscitada Ceres – Cerâmicas

Reunidas, S.A. são disso exemplos.O presidente do Conselho de Ad-ministração da Fucoli – Somepal,S.A., Álvaro Pereira, afirma quemantém a sua empresa de meta-lurgia em funcionamento com“apoio zero da autarquia”. CarlosEncarnação contrapõe que o me-lhor apoio que a autarquia podedar à metalúrgica “é fazer as obrasde saneamento”, para aumentar asvendas de produtos daquela indús-tria.

Novas apostas renovam a cidade O mediatismo industrial em Coim-bra tem sido canalizado para oiParque, pólo de empresas ligadasàs tecnologias e à saúde. São estes

os novos produtos que a cidade ex-porta e que vêm ao encontro doideal do economista e docente daFaculdade de Economia da Univer-sidade de Coimbra (FEUC) JoséReis que afirma que “o que importaé ter empresas que inovem, quepossam criar emprego e que retri-buam bem do ponto de vista sala-rial”. Contudo, para o Coordenadorda União de Sindicatos de Coim-bra, António Moreira, apesar de acriação de emprego ser positiva, asdiferenças entre o tipo de mão-de-obra da indústria tradicional e danova indústria são tão marcadasque as novas empresas “para alémde pequenas e para além de poucasnão conseguem absorver a mão-de-obra que está no desemprego”.

O investigador do Centro de Es-tudos Sociais (CES) Carlos Fortunarevela que as indústrias com mão-de-obra pouco qualificada “estão aperder espaço face às empresas deserviços”, que “marcam o com-passo das novas tendências da eco-nomia”. O director da AssociaçãoComercial e Industrial de Coimbra,Paulo Mendes, confirma a opiniãodo investigador do CES ao afirmarque as indústrias voltadas para asnovas tecnologias “são mais rele-vantes” e que “as outras são indús-trias não competitivas no territórioeuropeu, que estão a ser desvalori-zadas e localizadas em territóriosonde a mão-de-obra intensiva émais barata”.

Apesar de a cidade ser conotadacom comércio e serviços, fábricascomo a Estaco, a Real Cerâmica, aTriunfo, as Confecções Ideal, a Fá-brica da Cerveja (produtora damarca Topázio), contribuíram paradefinir a identidade de Coimbra.Nuns casos o encerramento e, nou-tros, a deslocação para regiões di-ferentes destas indústrias dossectores metalúrgico, cerâmico,têxtil, de géneros alimentares, di-taram a perda de “empresas quemarcaram um tempo e marcaramtambém uma referência da cidadeno plano nacional e internacional”,como afirma o sindicalista AntónioMoreira.

Carlos Fortuna, acredita que aidentidade da cidade “se está a per-der”. Contudo, o sociólogo revelaque “a longo prazo, o que vamosver é uma mudança na natureza doemprego e da indústria econó-mica”, em vez de uma lacuna, mar-cada por desemprego e problemassociais. “Daqui a 25 anos”, a cidadeestará a “refazer a sua identidade”,conclui.

Com Alexandra Lacerda eMarta Pereira

SÃO CADA VEZ mais as indústrias tradicionais a desaparecer em Coimbra

SMTUC apostam na inovação

FOTOMONTAGEM POR LEANDRO ROLIM

ANA MARIA COELHO

Mudanças no panorama industrial de Coimbra

MARIA EDUARDA ELOY

Painéis sonoros vão ser colocados em paragens degrande movimento

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reatar do novo ano lec-tivo e a chegada dosnovos alunos da Uni-versidade de Coimbra

(UC) resultam na intensificação doconvívio entre caloiros e doutorese na própria intensificação dapraxe. É altura de receber os novosestudantes e integrá-los na vidaacadémica, em Coimbra, na facul-dade, e, em última instância, numanova realidade que se afigura irre-verente. Quem vive em Coimbranão fica indiferente às manifesta-ções de praxe que se perpetuamum pouco por toda a cidade.Uma passagem pelos jardins daAssociação Académica de Coimbra(AAC) permite percepcionar deperto a forma como é vivida apraxe por uma tertúlia da Facul-dade de Direito da Universidade deCoimbra. Naquele espaço, encon-trámos “As Imperiais – Os Cow-boys”. Um dos membros do grupoacadémico, João Henriques,adianta que a tertúlia “pretende in-tegrar os caloiros na vida acadé-mica e em Coimbra através dapraxe”. Além disso, revela que tam-bém se “discute política, a vida aca-démica e o futuro da AAC” e que atertúlia pretende ter um papel ac-tivo na integração dos caloiros quea ela pertencem. “Nota-se muito adiferença de um que é praxado eque está dentro da tertúlia para umque não está” revela Luís Amorim,outro dos elementos da tertúlia.No que concerne à função dapraxe como elemento fundamentalà adaptação na academia, os mem-bros “d’As Imperiais – Os Cow-boys” são unânimes e afirmam deforma decisiva que “é totalmenteimpossível viver-se Coimbra sem

se ser pela praxe”. “A praxe não seresume ao gozo com os caloiros.Estar de capa traçada a ouvir a se-renata monumental da Queimadas Fitas é praxe”, ressalvam.A integração numa nova vida éconsiderada o objectivo último dapraxe e o que legitima a sua exis-tência. “A praxe surgiu como ummeio de integração do estudantena sua academia”, relembra o do-cente da Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra (FLUC),Amadeu Carvalho Homem. Na ver-dade, a integração é vista comoalgo subentendido quando se re-fere a praxe. “Não faz sentido falarem integração e praxe. A praxe é aprópria integração dos caloiros”,afirma veementemente o Dux Ve-teranorum da UC João Luís Jesus.

Liberdade para decidirA maior parte dos alunos que in-gressa na Universidade de Coim-bra (UC) é proveniente de outrasregiões do país. Neste âmbito, JoãoHenriques metaforiza e consideraque “os caloiros sentem a praxecomo uma muleta”. “Eles olhampara os mais velhos como guiasque os introduzem na vida acadé-mica”. Por outro lado, os membrosda tertúlia encaram a anti-praxecomo uma opção que nunca é in-terpretada como motivo de exclu-são. “Cada um tem a sua visãoquanto à praxe e a solução passapor respeitar. Não é, de modoalgum, uma forma de exclusão”,argumenta.No entender do Dux Veteranorum,“a maioria dos alunos que se de-claram anti-praxe desconhecem aessência da praxe”. “A praxe é

muito mais do que as pessoas pen-sam e envolve a queima, a bênçãodas pastas, a latada”, relembra.Este ano, o conselho de veteranostomou a iniciativa de oferecer atodos os caloiros um exemplar docódigo da praxe “para que Coimbracontinue a ser o exemplo por exce-lência do que é tradição acadé-mica”, esclarece João Jesus.Otermo praxe remonta ao ano de1860 e pretendia reunir, no mesmocampo semântico, a panóplia doscomportamentos característicos douniverso académico. Na altura, aexpressão emergiu em virtude daconcorrência entre a UC e as outrasuniversidades que entretanto sefundiram em Lisboa e no Porto. Naverdade, a análise sócio-históricadenota que as tradições estudantise, de uma forma mais abrangente,a universidade têm sido alvo de al-terações nos seus conteúdos e nassuas práticas. “A universidade aolongo do tempo sofreu uma trans-formação bem evidente e isso tam-bém se sente no modo como apraxe tem sido entendida” destacao docente da FLUC.

Evolução à luz da mudançaEnquanto dinâmica social,a praxe tem acompa-nhado as mudanças dacontemporaneidade,não se mantendo es-tanque. “Enquantoconstrução deuma certai d e n t i -dade es-tudantil,a praxe

tem evoluído ao longo dos anos etende a ser completamente alte-rada” antevê o investigador doCentro de Estudos Sociais (CES) daUC e especialista em movimentosestudantis, Rui Bebiano. “Cada vezmenos podemos detectar um com-portamento padrão entre os alunosuniversitários”. “A manutenção deuma certa ligação à hierarquizaçãodos estudantes, ao predomínio deuma cultura masculina baseadanuma determinada ideia de boé-mia é cada vez mais anacrónica”,considera Bebiano.Por outro lado, João Luís Jesusconsidera que a praxe tem evoluído“de acordo com a sociedade emque se insere”. “Em função dessaconexão, a evolução reflecte a faltade espírito crítico e iniciativa, deimaginação e inovação”, lamenta.Na mesma matriz de pensamento,Carvalho Homem acredita que apraxe pode também desenca-dear meios activos de refor-çar componentes desuperioridade in-d i v i d u a l .N e s s e

sentido, alerta que o sentido dapraxe pode ser distorcido e “em vezde se converter num meio positivode integração, converte-se nummeio negativo de opção”.As mutações verificadas podem re-sultar num alheamento dos estu-dantes à tradição e nos elementosbásicos da praxe. “O próprio re-curso à capa e batina tinha um sig-nificado bem diferente”. “Hoje osestudante só vestem o traje na al-tura das festas”, finaliza.

Vestem o traje académico e são unânimes quanto ao papel da praxe na integração dos caloiros.A praxe tem evoluído à luz das mutações da sociedade. Por Vasco Batista e Pedro Leitão

12 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

PRAXE

O

De capae batina

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7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 13

PRAXE

uem cruza a rua das Es-teirinhas, na chamada“Baixa da Alta” de Coim-bra, não fica indiferente a

um edifício que lembra um navio.Construído no século XVI por ummarinheiro, hoje alberga uma dasmais antigas repúblicas de estu-dantes da cidade – a Prá-Kys-Tão.É hora de jantar e mais de dez pes-soas, entre repúblicos (aqueles quehabitam uma república) e comen-sais (os que apenas jantam e parti-cipam nas tertúlias), juntam-senum ambiente descontraído e ani-mado. Nas paredes, convivem vá-rias gerações de “prakystaneses”onde a originalidade e a irreverên-cia deixaram a sua marca. Apesarde ser, desde 1969, uma repúblicadeclaradamente anti-praxe, a me-mória dos tempos da capa e batinamantém-se presente em alguma de-coração.

Os actuais moradores da Prá-Kys-Tão fazem parte de um grupode estudantes que se demarca damaioria, pois rejeita tudo aquiloque a praxe pressupõe. “Como éque podes criar uma relação comalguém quando tens uma pessoa odia todo a chamar-te besta e a nãodeixar que a olhem nos olhos?”,pergunta-se Ana Sofia Costa. Paraquem discorda da praxe, esta nãofunciona como integração e aquiloque defendem é que se questione arazão de uma hierarquia baseadanuma tradição que vêem como re-trógrada. José Eduardo, no pri-meiro ano de Estudos Portuguesese Lusófonos, conta que a justifica-ção dada por um “doutor” apósuma qualquer ordem baseava-se no“respeito pelo código da praxe”. “Eutenho personalidade; não é só por-que alguém se lembrou de escreverestas coisas que eu me vou sujei-tar”, defende.

Muitas vezes o primeiro contactodos novos estudantes com a vidaacadémica passa pela praxe e estaacaba por ser uma oportunidade dese conhecerem. Catarina Alvescompreende “o que é chegar sozi-nho a uma cidade e deixar-se socia-lizar através da humilhação e dahierarquia, porque se tem necessi-dade de conhecer pessoas”. No en-

tanto, “acho que as pessoas vãopara a praxe sem sequer pensar noque ela simboliza”.

Uma questão de individualidade

Uma crítica comum entre quemcondena a praxe prende-se com ocarácter normalizador da tradição.O perpetuar de ideias e atitudesidentificadas com a praxe gera o re-ceio de que a comunidade estudan-til perca uma postura de crítica e deoriginalidade que lhe é associada.Catarina chama a atenção para “oproblema de recriar continuamenteos mesmos costumes, as mesmastradições” e adverte que “o impor-tante é que as pessoas não deixemde ser elas próprias para se torna-rem uma ovelha vestida de preto”.

O boneco de traje penduradosobre a rua das Matemáticas deixaantever que não há lugar para ca-loiros e doutores. É aqui que se con-centra um grande número derepúblicas anti-praxe, entre elas aRepública do Kuarenta. SérgioMoutinho, um dos habitantes,realça aquele que, na sua opinião, éum dos grandes problemas dapraxe: “uma pessoa chega aquicheia de ideias, cheia de força, cheiade projectos, e acaba por fazer tudoque os outros fazem, a mentalidadefica bastante modelada”. A caracte-rística de arrasto da praxe reflecte-se no próprio movimentoestudantil. “As magnas antesatraíam muito mais estudantes, oque hoje não se verifica. As pessoasnão questionam as coisas”, nota LiaAntunes, também da Kuarenta.

Para a maioria, a vida académicade Coimbra identifica-se com a cul-tura da praxe e sem ela essa vivên-cia seria mais pobre. José Eduardodiscorda: em poucas semanas, o es-tudante da faculdade de Letras jáfoi a ensaios do GEFAC (Grupo deEtnografia e Folclore da Academiade Coimbra), integrou reuniões donúcleo, assistiu a concertos e comí-cios. “É mais fácil perceber qual é overdadeiro espírito académico, sen-tir que se faz parte da mudança, doque seguir doutores o dia todo”,conclui.

O fim da praxe seria o ideal? Sér-

gio Moutinho acredita que “cadaum deve ter a informação necessá-ria para escolher”. Apesar de afas-tar a praxe não pretende impor asua opção.

Não muito longe da Kuarenta, háquem tenha posições mais incisi-vas. As habitantes da República dasMarias do Loureiro orgulham-se damilitância contra a praxe que pra-ticam desde a fundação, em 1993.“Há alguns anos que distribuímosflyers, cartazes e damos informa-ções aos novos estudantes sobre apraxe e a república”, conta uma das“Marias”. Em 2003, com o apoio daAntípodas, entretanto extinta, e daMATA (Movimento Anti-TradiçãoAcadémica), elaboraram o Mani-festo Anti-Praxe que juntou cercade 80 personalidades de diversoscampos da sociedade civil.

Em relação ao futuro do movi-mento anti-praxe, as Marias sãocépticas. “Quando cheguei a Coim-bra, em 1999, tinha esperanças quea praxe fosse desaparecer aos pou-cos; hoje só a vejo aumentar”.

A PRÁ-KYS-TÃO é uma das repúblicas mais antigas de Coimbra

Tradição

Recusam a praxe, não usam capa e batina, vivemCoimbra de uma forma que poucos conhecem. Asrepúblicas anti-praxe são ainda um mundo por explorar. Por João Ribeiro e Artur Romeu

Q

Por diversas ocasiões, desdeque existem registos da suaprática, a praxe (termo que narealidade só começou a serutilizado na segunda metadedo século XIX) sofreu fortescontestações que levarammesmo à sua suspensão.

O historiador Miguel Cardinarefere que, no século XVIII, “D.João V suspendeu algumaspráticas rituais após investidasmortais a novatos”, alvo decríticas de intelectuais.

Já no século XX, por duasocasiões, a praxe foi proibidana Universidade de Coimbra.Após a implantação da Repú-blica, em 1910, estas práticasforam interrompidas durantenove anos. A crise académicade 1969 potenciou a últimaproibição da praxe resultante,segundo Cardina, da “renova-ção política, cultural e moral”da altura. Em 1979, a praxevolta a ser instituída.

CONTESTAÇÃO AOLONGO DO TEMPO

RAFAELA CARVALHO

semcódigo

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om 46 anos, HorácioPina Prata é candidatoindependente à CâmaraMunicipal de Coimbra

(CMC). Com passado político noPartido Social-Democrata (PSD), oex-vice-presidente da autarquiaressalva “não estar contra nin-guém”, mas destaca “os problemasque têm surgido da natureza ma-crocéfala dos partidos políticos”.Nesse sentido, acrescenta que“muitas vezes as orientações nacio-nais são contra as questões locais”.“Coimbra tem sido maltratada”, cri-tica. Nesse sentido, sublinha "avantagem da liberdade”, proporcio-nada pela independência.

Para o vereador, a sociedade emgeral está cada vez mais consciente“que a mais-valia da participação eda cidadania é fundamental”, sendouma questão de tempo até os parti-dos se verem forçados a alterar a le-gislação. Por isso, o candidatodefende a criação de “círculos uni-nominais”, nos quais “pessoas quequeiram candidatar-se a deputadospara poderem ir defender a suaterra e a sua região o possam fazer”.Pina Prata entende ainda que “o ca-minho da defesa dos locais é um ca-minho que tem a ver acima de tudocom a liberdade da candidatura”.

“Se nós queremos ter a verda-deira democracia participativatemos de lutar, mostrando que ascandidaturas independentes sãofundamentais e incontornáveis nadefesa das regiões”, finaliza o can-didato.

“A forma liberta” de participa-çãoFilipe de Sousa é candidato ao mu-nicípio de Santa Cruz, na Madeira.O vereador foi eleito em 2005 peloPartido Socialista, mas tal como ou-tros candidatos independentes re-solveu deixar o anterior partido,criando posteriormente o movi-mento Juntos Pelo Povo.

Para o candidato, a vantagemfundamental é “acima de tudo, aforma liberta como as pessoas par-ticipam”, evitando assim quaisquer“interferências partidárias nas de-cisões que são importantes para aresolução dos problemas”. Poroutro lado, como desvantagens faceaos concorrentes, aponta a ausên-cia de um “aparelhado”, bem comoa relativa “inexperiência” de algunsmembros do movimento, subli-nhando que o trabalho para estaseleições dura “há já largos meses”.

Lembrando que “outras pessoasnão queriam que o símbolo esti-vesse explanado no boletim devoto”, uma exigência comum a ou-tras candidaturas, afirma que “exis-tem grandes obstáculos por parte

dos partidos enquanto legislado-res”, que “deveriam simplificar estetipo de projecto”. O madeirenselembra que “uma candidatura in-dependente tira protagonismo e atéreceitas aos próprios partidos”,considerando que não vai haver “fa-cilidades”.

Apesar das dificuldades, o actualvereador acredita que “haver gru-pos de cidadãos a concorrer paraautarquias locais, vai valorizar overdadeiro sentido da democracia edo poder local”.

Uma forma de democracia Teresa Serrenho é candidata inde-pendente à Junta de Freguesia deNossa Sra. do Pópulo, em Caldas daRainha. A professora, de 53 anos,constitui um caso raro nestas elei-ções autárquicas visto que é daspoucas cabeças-de-lista sem ante-rior filiação partidária. Salientandoque a sua postura na vida “semprefoi mais de intervir que criticar”,acrescenta que o cidadão, além dodireito de ser crítico, “tem obriga-ção de fazer algo também”.

A professora compara o pro-blema do país ao de uma freguesia:“os cidadãos ao alhearem-se da po-lítica vão permitindo que as máqui-

nas no poder se instalem cada vezmais”. Teresa Serrenho acreditaque “a maior parte das pessoas têmo sentimento de estarem fartos esaturados das máquinas partidá-rias, dos compadrios, dos conheci-dos ou de gente amestrada que sófaz o que o partido diz”.

Como desvantagem principal,considera que não dispõe de “umaparelho partidário com dinheiro”,explicando que “não há qualquerapoio à cabeça”. “Para fazer umacampanha minimamente condignagasta-se bastante dinheiro”, la-menta.

Tal como outros candidatos,afirma ser injusto não poder exibiro símbolo do movimento no bole-tim de voto, criticando também oelevado número de assinaturas ne-cessárias em zonas mais populosas.Para a candidata, é importante“mostrar que é possível uma demo-cracia diferente”. E é peremptória:“acho que a candidatura indepen-dente é a forma perfeita de demo-cracia”.

A renovação que (não) há nopoderNa análise aos aspectos acerca dascandidaturas independentes, o in-

vestigador do Instituto de CiênciasSociais da Universidade de Lisboa(ICS-UL) Manuel Villaverde Cabralsublinha que “no estado em queestá o sistema partidário, tudo oque for manifestação dos interesseslocais, das forças vivas e da socie-dade civil é bem-vindo”. No enten-der de Manuel Villaverde Cabral, asociedade civil “não é virtuosa pordefinição” e destaca a importânciadestes movimentos cívicos “sobre-tudo em Portugal, onde os partidosexercem um monopólio pratica-mente completo sobre a represen-tação política”.

Por outro lado, para o docente daFaculdade de Economia da Univer-sidade de Coimbra (FEUC) Fer-nando Ruivo um problema dascandidaturas independentes é que,muitas vezes, consistem “numgrupo de amigos ou numa clientelaque dá o apoio a essa mesma can-didatura”, quando deveriam ser“movimentos sociais ou de opiniãofortes, emanados da sociedade civilcom objectivos muito precisos”.

Para estas autárquicas, o profes-sor adianta que “só 29 presidentesde câmara é que não se recandida-tam”. Na opinião do investigador, éevidente que daqui a quatro anos

serão outros, por lei, mas, por outrolado, já estão a ser preparados. “Sãoos vice-presidentes, são os filhos deantigos presidentes. O sistema po-lítico fecha-se à população e o Es-tado está cristalizado”, ajuíza.

Segundo Villaverde Cabral, “ha-vendo vontade”, há espaço paracandidaturas independentes, lem-brando o caso do Helena Roseta,que há dois anos conseguiu dez porcento dos votos em Lisboa.

Fernando Ruivo lembra também“o caso paradigmático” da candida-tura de Manuel Alegre às presiden-ciais de 2006, obtendo “um milhãode votos contra um candidato doPS”. Apesar disso, mostra-se maiscéptico em relação às possibilida-des reais de sucesso dos indepen-dentes: “o poder é dos que lá estãoe que se reproduzem”. “Entramaqueles que eles querem e que vãotreinando, nas juventudes partidá-rias, fazendo a tarimba até conse-guirem ocupar um cargo”, acusa.No seu entender, a solução passapela criação de uma “sociedade civilportuguesa mais forte”, em quehaja “debates, discussões, alterna-tivas, participações da população euma série de itens que não apare-cem”.

Nestas eleições autárquicas, são 33 os movimentos independentes que vão a votos no próximodomingo. Os candidatos queixam-se da desigualdade de meios disponíveis, mas sentem que aliberdade compensa. Por Bruno Monterroso

Os desafios de ser independente

C

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2009

A PRESENÇA do símbolo das candidaturas independentes no boletim de voto é uma exigência comum

FOTOMONTAGEM POR LEANDRO ROLIM

PAÍS & MUNDO14 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

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PAÍS & MUNDO7 de Outubro de 2009| Quarta-feira | a cabra | 15

No encerramento da cimeira do G-20 em Pittsburgh, Gordon Browndestacou a criação de uma “novaordem económica mundial para lidarcom os problemas financeiros e eco-nómicos globais". Brown consideraque os antigos sistemas de coopera-ção internacional foram ultrapassa-dos. Além disso, o dirigente britânicoexplicou que os chefes de Estado dospaíses membros vão reunir regular-mente e que a Coreia do Sul vai a as-sumir a presidência em 2010. Brownpretende que o G-20 assuma umpapel mais importante do que o G-8desempenhou no passado. O G-8mantêm-se activo, mas passará a tra-tar de questões relacionadas, porexemplo, com a segurança.

B.M.

BREVES

G-20O povo grego foi a votos no pas-

sado domingo para eleger o pró-ximo governo. O resultado ditou amaioria absoluta do Pasok - Movi-mento Socialista Pahnlénico - en-cabeçado por George Papandreou.

O desfecho eleitoral veio pôr fimà permanência de Kostas Kara-manlis à frente dos destinos do paísda Europa mediterrânica. O candi-dato pela Nova Democracia obteveo pior resultado desde a criação dopartido. Assim, pagou pelos pro-blemas que marcaram o seu man-dato, como sejam os casos decorrupção, os avultados níveis dedesemprego, e, por último, a res-posta ineficiente dada aos incên-dios que atingiram a Grécia nosdois últimos verões. Ao reconhecer

a derrota, Karamanlis abandonoua liderança do partido.

Depois de cinco anos com políti-cas decretadas por um governoconservador, o novo presidente so-cialista promete retribuir a con-fiança que lhe foi atribuída.Durante a campanha eleitoral, Pa-pandreou apresentou medidas ino-vadoras, como a promessa doinvestimento de três milhões numsistema sustentado numa lógica so-cial da economia. O líder do Pasokpretende taxar os mais ricos paraapoiar os desfavorecidos.

O novo executivo terá de saberlidar com a crise económica insta-lada na Grécia e com o défice doPIB a roçar os seis por cento.

V.B.

A Noruega ocupa este ano o pri-meiro lugar do Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH) da ONU(Organização das Nações Unidas), su-plantando a Islândia na liderança. Aqueda do país insular para o terceirolugar deveu-se à crise económica ins-talada. O IDH permite avaliar os ní-veis de riqueza e pobreza dos países ecompará-los no que concerne à espe-rança média de vida e ao acesso àeducação e à saúde. O relatório foiapresentado na segunda-feira na Tai-lândia e centra-se nos efeitos da imi-gração no desenvolvimento humano.Actualmente, o país com maior nívelde pobreza é o Níger, logo seguidopelo Afeganistão. Portugal desceu umlugar e ocupa a 34ª posição.

B.M.

D.R. NoruegaGrécia

A poucos dias dos festejos da fundação da China, as fronteirasdo Tibete foram encerradas aos turistas estrangeiros. As negociações entre aspartes mostram-se difíceis

A questão no Tibete voltou a ocu-par destaque no debate político in-ternacional. Poucos dias antes dascomemorações do 60º aniversárioda fundação da República Popularda China, o governo chinês decretouo encerramento das fronteiras tibe-tanas a turistas estrangeiros atéamanhã, dia 8. O docente da Facul-dade de Ciências Humanas da Uni-versidade Católica PortuguesaMiguel Monjardino considera que oencerramento do Tibete aos estran-geiros “deve ser visto à luz das cele-brações do 60º aniversário daChina” e de modo a assegurar que osfestejos não são “manchados comalgum tipo de problema”.

Para se compreender a questão noTibete, torna-se imperativo recuaralguns séculos na história. A Chinatrata-se de um país multinacionalcomposto por 56 nacionalidades,cuja formação não se processou deforma alheia a conflitos entre as suasdinastias, classes e etnias. Neste sen-tido, a docente de Relações Interna-cionais na Faculdade de Economiada Universidade de Coimbra (FEUC)Carmen Mendes considera que “a in-tegridade territorial é o factor polí-tico, económico e social prioritário”da China. Na verdade, a ameaça dedesfragmentação territorial ficoubem patente “aquando das manifes-

tações a favor da independência daprovíncia tibetana a poucos mesesdos Jogos Olímpicos”, acrescenta.Além disso, para Monjardino, “ageografia política chinesa mostraque o acesso ao interior da Chinapelo sul é absolutamente vital paraPequim”.

Os confrontos no Tibete são hojeuma realidade que “praticamentetodo o mundo conhece”. “Nem todosos povos têm essa sorte”, analisaMonjardino. Neste aspecto, a comu-nidade internacional tem assumidoum papel preponderante, “conse-guindo manter o assunto na comu-nicação social”, completa. Naverdade, trata-se da única forma quea comunidade internacional encon-trou para manter o assunto vivo, jáque “ninguém vai sancionar a China,que é membro do Conselho de Segu-rança da ONU (Organização das Na-ções Unidas)”. “A China fará tudo oque estiver ao seu alcance para man-

ter o Tibete no seu controlo, mas acomunidade internacional não estádisposta a isso”. “É uma assimetriade forças”, examina Monjardino.

Diálogos sem futuroAs negociações entre a China e a co-munidade internacional revelam-secomplexas, em virtude da intransi-gência do governo de Ju Hintao quecritica o mundo ocidental pela inge-rência num assunto interno. “Para oslíderes chineses, o Tibete, tal comoTaiwan e Xinjiang, é um assunto in-terno e não pode ser transposto parao plano internacional”, expressa adocente da FEUC.

A postura intransigente dos líde-res chineses contrasta com a aber-tura e o apelo ao diálogo por parte doDalai Lama, prémio Nobel da Paz,que, segundo Monjardino, constitui“uma importante alavanca neste tipode combate”. Com efeito, a atribui-ção do Nobel da Paz a Dalai Lama foi

“muito mal recebido por Pequim, so-bretudo quando a política de aber-tura da China ao exterior estava noauge” comenta Carmen Mendes. “AChina percepcionou a pressão oci-dental e o apoio ao povo tibetanocomo um incentivo ao exacerbar dosmovimentos de oposição políticaemergentes”, desenvolve.

O diálogo entre a União Europeia(UE) e a China já têm uma longa his-tória e reveste-se de ambiguidades.Em matéria de direitos humanos e,sobretudo, na questão tibetana, asconversações têm-se mostrado con-traproducentes. Deste modo, aindaque a UE respeite os princípios bási-cos de um estado de direito, enfrenta“o dilema de escolher entre os inte-resses económicos e a censura polí-tica”, tal como destaca a docente.Com efeito, “a União Europeia temfalhado redondamente na conduçãode uma política coerente de direitoshumanos em relação à China, prin-

cipalmente devido aos interesseseconómicos individuais dos seus Es-tados membros”.

Para além do TibeteOs conflitos no Tibete não são casosisolados. A China enfrenta tambémproblemas com Taiwan e Xinjiang.Desde 1949, Taiwan é consideradapelas autoridades chinesas uma“província rebelde”, sendo que em2005 foi promulgada a Lei Anti-Se-cessão, que legitima a utilização daforça caso Taiwan declare unilateral-mente independência. ”No entanto,os líderes chineses evitam uma ocu-pação por meios militares, temendoa retaliação dos EUA e o agrava-mento do relacionamento com oJapão”, defende a docente. Por suavez, Xinjiang registou este ano gra-ves motins na sua capital, Urumqi,das quais resultaram dezenas demortes e um julgamento de mais deduzentos supostos manifestantes.

CONFLITO NO TIBETE já dura há meio século

Tibete isolado

VASCO BATISTABRUNO MONTERROSO

RELAÇÕES TIBETE - CHINA

1912 – Tibete expulsa tropaschinesas e adquire independênciaaté 1949, data da fundação daRepública Popular da China.

1950 – Tibete é invadido portropas comunistas chinesas quetomam de assalto a sede do gov-erno. O governo tibetano reportao caso à ONU que adiou o prob-lema.

1965 – China reconhece for-malmente o Tibete como regiãoautónoma.

2007 – Governo chinêspropõe reatar das conversações,caso o Tibete aceite a soberaniachinesa

60.º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA

D.R.

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Por que tenho“déjà vu”?

COLUNA DOSPORQUÊS

De certeza que todos já tiverama estranha sensação de ter vividoantes uma determinada situação oude ter estado num dado lugar,quando sabem que tal não aconte-ceu. A essa sensação chama-se“déjà vu”. Embora este fenómenoseja subjectivo e muitas vezesvago, sabe-se que ocorre com fre-quência (estima-se que em cerca dedois terços da população).

Uma sensação de “déjà vu” podedurar entre uma fracção de segundoe alguns segundos e dissipar-se rap-idamente da memória ou ser recor-

dada em detalhe muito tempo apóster tido lugar. Podemos mesmo tera sensação que aquela situaçãoocorreu muitas vezes.

Uma das hipóteses que explicameste fenómeno relaciona-se com aformação, armazenamento e evo-cação da memória, em que podeocorrer um desvio ocasional e de-sacertado da informação do circuitoda memória de curta duração, parao circuito de armazenamento damemória de longa duração. Nestasocasiões, quando um facto novotem lugar, a informação chega, er-

radamente, via circuitos da memóriade longa duração e o indivíduo tema percepção que tal informação jáestava armazenada. Logo, o eventoparece já ter ocorrido no passado.

Outra explicação, também rela-cionada com a formação damemória, tem a ver com uma pos-sível demora na percepção de de-terminada informação como sendonova. Tal atraso no processamentoda informação fará igualmente comque o cérebro interprete a situaçãocomo memória já anteriormenteadquirida. Alguns estudos têm rev-

elado que a estimulação do cortéxentorrinal conduz à ocorrência deestados de “déjà vu”. Esta região docérebro está situada no interior doslobos temporais esquerdo e direito esabe-se que é vital para o processa-mento da memória. À medida que oconhecimento sobre o cérebro pro-gride será talvez possível estudar ecompreender melhor o fenómenoneurológico de “déjà vu”.

TERESA GIRÃO, ESPECIALISTA DOCENTRO DE NEUROCIÊNCIAS

E BIOLOGIA CELULAR

CIÊNCIA & TECNOLOGIA16 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

As evoluções da ciência permi-tem criar melhores condições devida em vários campos. Na áreada saúde, o vírus da gripe A temsido dos mais comentados e maistemidos pela humanidade. No en-tanto, num curto espaço detempo, desenvolveu-se uma va-cina que está agora pronta paraser administrada. É a investigaçãocientífica que permite que tais so-luções surjam, mas no que toca aajudar o homem, até a ciência temlimites.

Os medicamentos que surgemnos postos de saúde passam porvárias etapas até serem comercia-lizados. Uma das mais importan-tes é a fase experimental, ondedesde logo surgem oposições emrelação ao uso de animais porcausar a morte a várias espécies.O membro da Associação Agirpelos Animais Myriam Kanoun-Boulé condena estas práticas,afirmando que “o que é ilegal epunível fora de um laboratório,torna-se permitido dentro dele”.A activista declara que, nos locaisde experimentação, “o animal jánão é considerado como um servivo, mas sim como material des-cartável”.

Por outro lado, o docente da Fa-culdade de Ciências e Tecnologiada Universidade de Coimbra(FCTUC) Joaquim Norberto Piresconsidera que o uso destes seresvivos na fase experimental é “im-prescindível” e que a sua morte éinevitável pois serve para “garan-tir resultados”. Apesar disso, osinvestigadores fazem com que“sejam bem tratados e que os pro-cedimentos de morte sejam dig-nos e rápidos”. O docenteconsidera “que não é possível che-gar a uma lei que impeça a utili-zação de animais”, uma vez que orisco seria maior ao se “aplicarum medicamento numa pessoasem nunca o ter testado”. No en-tanto, o recurso a métodos alter-nativos como cadáveres, célulasestaminais e simulações por com-

putador são uma forma de mini-mizar o número de animais sacri-ficados.

Ensaios clínicos podemcomprometer dignidade hu-mana Após esta etapa, surgem os en-saios clínicos e as questões éticasque lhes estão associadas. Este

procedimento é um passo essen-cial na experimentação científicaporque, como explica JoaquimNorberto Pires, “apesar de haverum grande grau de aproximação,os seres vivos são sempre diferen-tes” e é necessário testar as reac-ções no homem. Os ensaiosclínicos são regulados pela IN-

FARMED (Autoridade Nacionaldo Medicamento e Produtos deSaúde), que remete para a legisla-ção em vigor para esclarecer algu-mas questões.

A lei limita estes ensaios clíni-cos de maneira a proteger a inte-gridade física e moral dosparticipantes. De acordo com a lei

nº46 de 19 de Agosto de 2004, noartigo 6º, é exigido aos responsá-veis que informem os direitos doparticipante, que obtenham o seuconsentimento livre e esclarecidoe lhe concedam todas as condi-ções a que têm direito. O incum-primento da legislação constituiuma violação dos direitos huma-nos.

A Amnistia Internacional é umadas organizações que “ se pautapela dignidade humana, pela De-claração Universal dos DireitosHumanos e por padrões interna-cionais desses mesmos direitos”,como esclarece o membro da di-recção da instituição Ana Mon-teiro. Para ter um maior alcance,a organização tem uma rede deprofissionais de saúde, a AmnestyInternational Health Professio-nals Network, e uma rede de “lob-bying” orientada para a saúdemental, a Amnesty InternationalMental Health Lobbying Net-work.

O que leva então algumas pes-soas a participar em ensaios clíni-cos? Ana Monteiro destacaessencialmente três grupos. O pri-meiro refere-se aos que optampor entrar no ensaio “pela remu-neração e falta de condições”. Osintuitos altruístas são o argu-mento do segundo grupo. “Aquiestamos a falar das pessoas quetêm cancro ou doenças genéticasque sentem que poderão estar aajudar outras pessoas na mesmacondição”, explica. Por fim, surgeo grupo que participa por ver nosensaios “uma pequena possibili-dade de sobrevivência”.

Segundo o membro da Amnis-tia Internacional, “a organizaçãonão tem uma posição definida emrelação aos ensaios clínicos”, mas“assume o compromisso de moni-torizar situações em que a inte-gridade humana esteja a sercomprometida” e desenvolvecampanhas, como a “Exija Digni-dade”, onde pretende sensibilizara população para as questões dosdireitos humanos.

Com Andreia Polido

As barreiras morais da ciência A investigação científica é limitada por princípios éticos e legais. Animais e humanos sãosubmetidos a experiências para responder ao progresso

SARA SÃO MIGUELILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

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ESTATUTO EDITORIAL7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 17

De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de Im-prensa, qualquer publicação deve divulgar, anualmente, oseu estatuto editorial

1. ACABRA e ACABRA.NET são dois órgãos de co-municação social académicos cujo objectivo é constituí-rem-se – numa simbiose capaz de aproveitar o formato eestilo diferente que cada um possui – enquanto JornalUniversitário de Coimbra.

2. ACABRA e ACABRA.NET têm como público-alvoa Academia de Coimbra e

é sob este princípio que devem guiar as decisões edito-riais.

3. ACABRA e ACABRA.NET orientam o seu con-teúdo por critérios de rigor,

criatividade e independência política, económica, ideo-lógica ou de qualquer outra espécie.

4. ACABRA e ACABRA.NET praticam um jornalismoque se quer universitário

no sentido amplo do termo – desprovido de preconcei-tos, criativo, atento, incisivo,

crítico e irreverente.

5. ACABRA e ACABRA.NET praticam um jornalismode qualidade, que foge ao sensacionalismo e reconhececomo limite a fronteira da vida privada.

6. ACABRA e ACABRA.NET são na sua essênciaconstituídos por um conteúdo

informativo, mas possuem espaço e abertura para con-teúdos não informativos,

que se pautem por critérios de qualidade e criatividade.7. ACABRA e ACABRA.NET integram-se na Secção

de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra, pe-rante cuja Direcção são responsáveis; contudo, as decisõeseditoriais d’ ACABRA e d’ ACABRA.NET não estão su-bordinadas aos interesses ou a qualquer posição da Secçãode Jornalismo, nem aquele facto interfere com a relaçãosempre honesta e transparente que ACABRA e ACA-BRA.NET se obrigam a ter perante os seus leitores.

8. A CABRA é um jornal quinzenal, cuja periodicidadeacompanha os períodos

de actividade lectiva.

9. ACABRA.NET é um site informativo, de actualiza-ção diária, cuja actividade

acompanha os períodos de actividade lectiva.

A isenção, imparcialidade e inte-gridade que devem marcar o trabalhono Jornal Universitário de Coimbraimplicam por parte dos seus jornalis-tas o conhecimento e aceitação de re-gras de conduta. Assim, o jornalistadeve:

1. Recusar cargos e funções in-compatíveis com a sua actividade dejornalista. Neste grupo incluem-se li-gações à Direcção-Geral da Associa-ção Académica de Coimbra, àQueima das Fitas, ao poder autár-quico, bem como a actividade em ga-binetes de imprensa, na área dapublicidade e das relações públicas.Deste grupo estão excluídos, por res-peito para com o direito do estudantede Coimbra de participar na gestãoda Universidade de Coimbra, os car-gos em órgãos de gestão das faculda-des e da universidade. Cabe àDirecção do Jornal Universitário deCoimbra decidir quais os casos emque a actividade jornalística se en-contra prejudicada por outras activi-dades e agir em conformidade.

2. Abdicar do uso de informaçõesobtidas sob a identificação de “jorna-lista do Jornal Universitário de Coim-

bra” (ou similares) em trabalhos quenão sejam realizados no âmbito doJornal Universitário de Coimbra.Além disso, o jornalista compromete-se ao sigilo das informações obtidasdesta forma. Excepções a esta normapoderão ser autorizadas pela Direc-ção do Jornal Universitário de Coim-bra.

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festar em Reunião Geral de Alunos ouAssembleia Magna, desde que não es-teja nessa altura em exercício da suaactividade jornalística, em cujo casodeverá prescindir do seu direito deexpressão e voto. De igual forma,nunca será impedido de participaractivamente em qualquer actividadepública. Cabe à Direcção do JornalUniversitário de Coimbra decidirquais os casos em que a actividadejornalística se encontra prejudicadapor outras actividades e agir em con-formidade.

5. Ter consciência do valor da in-formação e das suas eventuais conse-quências, particularmente no meioacadémico de Coimbra, no qual oJornal Universitário de Coimbra éproduzido e para o qual produz.Neste contexto particularmente sen-sível, o jornalista deve ter especialatenção à proveniência da informa-ção e à eventual parcialidade ou inte-resses da fonte (não descurando oimprescindível processo de cruza-mento de fontes), bem como garantiruma igualdade de representação emcaso de informações contraditóriasou interesses antagónicos, evitandoque o Jornal Universitário de Coim-

bra se torne meio de comunicação dequalquer instituição, grupo ou pes-soa. Num meio em que o desenrolarde acontecimentos pode afectar, di-recta ou indirectamente, o JornalUniversitário de Coimbra, o jorna-lista tem também que saber manter odistanciamento necessário para aprodução de uma informação rigo-rosa.

6. Garantir a originalidade do seutrabalho. O plágio é proibido. Nestescasos, a Direcção do Jornal Universi-tário de Coimbra deverá agir discipli-narmente e o jornal deveráretractar-se publicamente.

7. Recusar qualquer tipo de grati-ficação externa pela realização de umtrabalho jornalístico. Estão excluídosdeste grupo livros, cd’s, bilhetes paracinema, espectáculos ou outros even-tos, bem como qualquer outro mate-rial que venha a ser alvo detratamento crítico ou jornalístico;constituem também excepção convi-tes de entidades para eventos que te-nham um inegável interessejornalístico (por exemplo, convites daDirecção-Geral da Associação Acadé-mica de Coimbra para cobertura doFórum AAC). Cabe à Direcção do Jor-nal Universitário de Coimbra resol-ver qualquer questão ambígua.

Estatuto Editorial do JornalUniversitário de Coimbra A CABRAe do portal informativo ACABRA.NET

DE ACORDO COM O ARTIGO 17º, ALÍNEA 3, DA LEI DE IMPRENSA, QUALQUER PUBLICAÇÃO DEVE DIVULGAR, ANUALMENTE, O SEU ESTATUTO EDITORIAL

Princípios e normas de conduta

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ARTES FEITAS18 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

s extra-terrestes muda-ram de agência de via-gem, trocaram ostradicionais Estados

Unidos por um destino mais al-ternativo, a África do Sul. District9 é a primeira longa metragem deNeill Blomkamp, um dos protegi-dos de Peter Jackson, ele que tam-bém assina a obra no papel deprodutor.Imaginem que um dia, depois depassearem o cão que certamentetêm, reparam numa nave quepaira sobre a cidade. É essa a pre-missa de District 9. Um objectovoador não identificado aparecedo nada, a sobrevoar Joanes-burgo, e nós, humanos, comobons hospitaleiros que somos, atéaguentamos uns dias com aquilolá em cima, mas, como paciênciatem limites, é tomada a decisão deentrar furtivamente pela gerin-gonça a dentro. Qual não é o es-panto quando se descobre que emvez de criaturas hostis, afinal es-tamos perante seres que apenas

encalharam neste planeta e que sepudessem teriam muito gosto emir embora. Nos meses que se se-guem, e por problemas de inte-gração é criado um gueto para os“gafanhotos”, que passam a viverem regime de exclusão.Ninguém se pode queixar da faltade originalidade. Numa altura emque a ficção-científica se encon-trava em profunda estagnação eisque surge um título que quebracom todas as convenções, não sóno conteúdo, mas também na es-tética. A primeira parte do filme,que nos dá a história de fundo, éfeita com excertos de noticiário,vídeos de telemóvel e entrevistas,o que permite ao espectador umamaior proximidade a tudo o que apartir dali vai acontecer e con-vida-nos a moldar a nossa linhade pensamento para o formato:“Ó diabo, isto até é plausível”.Quando se entra na trama princi-pal, o estilo não muda muito, pas-samos apenas dosemi-documentário para um es-

tilo de filmagem de câmara aoombro ao bom velho estilo doResgate do Soldado Ryan ou deséries como The Shield.Onde realmente se sentem os 30milhões de dólares da produção énos efeitos especiais, ou não fossea Weta Workshops, responsávelpela saga Senhor dos Anéis, aforça motriz por detrás desse tra-balho.Não há actores reconhecíveis noelenco, mas isso não impede boasperformances por parte deSharlto Copley, o actor principal,e, por incrível que pareça, dosseres digitais, que conseguem sermais expressivos que um KeanuReaves dopado.Resumindo, esta é uma das me-lhores super-produções dos últi-mos anos. Não insulta ainteligência do espectador e con-segue ser uma poderosa e intem-poral metáfora das relaçõeshumanas. Combina a acção deTerminator, o coração de ET e anojice d’ A Mosca.

District 9

CIN

EM

A

VAI PRÁ TUA TERRA!

CRÍTICA DE JOSÉ SANTIAGO

DE

NEILL BLOMKAMP

COM

SHARLTO COPLEY

JASON COPE

ROBERT HOBBS

2009

PLATAFORMA

XBOX360, PS3, PC-WINDOWS

EDITORA

EIDOS INTERACTIVE

2009

universo de adapta-ções de “franchises” aomeio vídeo-jogável écaracterizado por um

encaixotamento primário e vaziode sentido do universo que de-fine a obra original a um qual-quer género interactivoestereotipado. De facto, “Ark-ham Asylum” passa esse requi-sito, com a equipa daRocksteady Studios a forneceruma envolvência que replica efi-cazmente o espaço narrativo eestético da banda desenhada. Enesse campo, é preciso relevar otrabalho de Mark Hammill (ovelhinho Luke Skywalker) navoz de Joker, que consegue tor-nar o medíocre argumentonuma deliciosa sucessão de gags

de humor negro. Mas o aspectomais surpreendente deste “Bat-man” é exactamente o romperda lógica de encapsulamento tí-pica das “franchises”. As suasmecânicas de jogo não são gené-ricas e ocas, mas sim um espe-lho adequado à acção do heróidas “comics”: um misto de ex-ploração, combate corpo-a-corpo elegante (recordando“Assassin’s Creed”) e sequênciasfurtivas. Há aqui uma caracteri-zação minuciosa do “modus ope-randi” de Batman, desde o usoda sombra e da surpresa en-quanto armas de eleição, ao re-curso dos icónicos “gadgets”.Infelizmente, os diferentes esti-los de jogo nunca são remistura-dos de forma orgânica, levando

a que a experiência se tornenuma sequência linear e previsí-vel de arenas de jogo enclausu-radas, cada uma com o seu tipode jogabilidade específico. Oca-sionalmente encontram-se osbosses da praxe, mas nem essesconseguem servir de clímax aum ciclo de jogo levemente re-petitivo, ao qual falta tensão eum ritmo em crescendo. “Ark-ham Asylum” é, por isso, umdesses raros casos de uma tran-sição bem sucedida ao meio lú-dico. Imperfeita, é certo, masmuito acima do que é expectá-vel.

"Encarnar o Cavaleiro Negro"

Batman Arkham Asylum”

RUI CRAVEIRINHA

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Artigo disponível na:

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ARTES FEITAS7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 19

ica Levi é daquelas pes-soas que dificilmenteiria passar desperce-

bida. Enganem-se os que pensavamque seria devido ao facto de esta ra-pariga de 21 anos, nascida, criada eresidente no Reino Unido parecerum rapaz. É certo que o aspecto nomínimo invulgar de Micachu, comoprefere dar-se a conhecer, dá desdelogo a entender que há algo demuito especial com a pessoa emcausa, mas cedo se percebeu queseria a música a área em que se iriadestacar. Com apenas 21 anos já feznessa área de tudo um pouco; vindade uma educação musical profun-damente clássica, fez formação deinstrumento em violino e viola dearco. Foi mesmo convidada pela suainstituição de ensino a compor umapeça orquestral para a Orquestra Fi-larmónica de Londres. Antes dissoexperimentou o terreno do ‘grime’,tendo sido autora de algumas mix-tapes que lhe valeram o reconheci-

mento da comunidade ligada a esse género musical. Mas facilmentese percebe que o seu ecletismo é tal que muito provavelmente é apre-ciadora de música de todos os géneros que possam ser localizadosentre, antes e para lá da música clássica e do ‘grime’. Jewellery éprova disso mesmo.

Com tantas referências musicais à mistura, seria de esperar o ele-vado grau de desconstrução da ideia de género musical que se espe-lha ao longo dos curtíssimos 35 minutos que dura este Jewellery.Aliás, se há criticas a apontar a este disco, será por isso mesmo. Amescla de influências é tal que a sonoridade do álbum é tudo menosconvencional, e por conseguinte não se tratará certamente de um tra-balho fácil.

O epicentro deste terramoto estilístico será a viola de baixa quali-dade (e por sinal nada bem tratada) de Micachu. Percebe-se que acomposição do disco passou muito por construir temas baseados noscurtos trechos desafinados e repetitivos da guitarra preparada (o somé tão diferente do habitual que se pode mesmo duvidar que se tratede uma guitarra) a que Mica Levi juntou linhas de voz, para poste-riormente serem adicionadas as percussões nervosas de Marc Pell eos sintetizadores inocentes de Raisa Khan. Tudo isto conjugado deuma perspectiva sempre ‘lo-fi’, com pontas intencionalmente deixa-das soltas e o aspirador de “Turn Me Well” a fazer o papel de cerejano topo do bolo.

A ironia do destino faz com que as particularidades de Jewellery otornem daqueles discos em que os mesmos pormenores podem fazerdiferentes ouvintes amar ou odiar o disco. Para ficarem a saber deque lado da trincheira estão, o melhor mesmo será escutá-lo.

erminar um livro e achar queacabamos de levar com umavida inteira. Cheia de muitasoutras, este último livro de

Nabokov escrito em russo é uma florestade longos e velhos troncos da literaturarussa, história recente de borboletas emi-grantes onde cada personagem reclamauma vida. A complexidade da narrativaesconde a disputa constante, entre per-sonagens, por verosimilhança e imorta-lidade, num ciclo muito para além do queé narrado.Fedor Godunov-Tcherdnytsev é umjovem escritor emigrado em Berlim,assim como foi Nabokov, que busca oaperfeiçoamento e reconhecimento dasua escrita. Vagueando fascinado pri-meiro por Puchkin e depois, mais tarde,por Gogol, Fedor é a personificação dointelectual emigrado que fugiu de umaRússia em revolução.Uma primeira parte dedicada à poesia deFedor que tarda em ser “espremida” pelacrítica, segue-se um longo desabafosobre lepidópteros, uma das grandes pai-xões do autor (curiosamente Nabokovdesenha a lápis uma borboleta num livro,da primeira edição em inglês, que ofereceà sua mulher no seu 43º aniversário).Este fascínio de Nabokov por lepidópte-ros (foi um dos maiores especialistas naárea) é um dado bastante presente aolongo do livro, para alguns leitores pos-sivelmente até à náusea, pelo desapare-

cimento do pai de Fedor, um exploradorque se dedica ao estudo das borboletas,que desaparece subitamente numa dasviagens à Ásia Central marcando o cami-nho do personagem principal.Com o decorrer do texto a obsessivabusca, de Fedor, pela pureza e perfeiçãoda sua escrita é completada por uma pai-xão que, por si só, é digna do “enredo deum romance notável”. Fedor é confron-tado com dúvidas: ceder ao amor ou se-guir obstinado através do processocriativo que lhe cobrava todo o “seu ca-pital de trabalho”.Numa mistura de fantasia com a reali-dade, Vladimir Nabokov usa a vida deTchernychevskii, um conhecido escritorrusso precursor do realismo socialista,como ponto de viragem literário paraFedor Tcherdnytsev. Este critica a faltade sensibilidade de Tchernychevskii paraa arte, que se encontra bem longe do seuideal puchkiniano, mas admira a sua co-ragem como escritor.A fórmula de Nabokov para “O Dom” pa-rece apontar para uma síntese final deinspiração hegeliana, um último capí-tulo, um retorno do espírito à ideiaquando Fedor cumpre aquilo que imagi-nou previamente.Vladimir Nabokov, apesar das seme-lhanças com alguns traços presentes nolivro, descarta desde logo, com preocu-pação, qualquer tentativa para identifi-car “o criador com a criatura”.

inais do Futuro” é um“thriller” apocalíptico quese baseia numa previsão

de uma rapariga enigmática. O filmecomeça nos optimísticos anos 50americanos, aquando da abertura deuma escola. Os alunos são convida-dos a desenhar a sua imagem do fu-turo. Uma menina não desenha,limita-se a digitar números para asua folha de papel. 50 anos maistarde, os desenhos são desenterradospelos alunos dessa escola e o pai deum dos alunos, o Professor JohnKoestler (Nicolas Cage), descobreque os números estavam relaciona-dos com catástrofes que tinham as-solado o mundo nos últimos 50 anos.John Koestler procura, então, des-vendar os segredos daquele papel en-criptado. Acaba por descobrir quefaltam ainda três prenunciações,uma delas envolvendo a Humani-dade por inteiro.Apesar de “Sinais do Futuro” ser con-siderado um “thriller”, tal aspecto émuitas vezes posto de parte duranteo filme. Alex Proyas, realizador doconhecido “I, Robot”, apostou muitonos efeitos especiais (alguns mal con-seguidos) e no desempenho de Nico-las Cage, descaracterizando umpouco o enigma e relegando o “sus-

pense” para um segundo plano.Acaba sendo um filme de acção compouca força, a deixar uma sensaçãode insatisfação no espectador. Ape-sar de todos os defeitos, “Sinais doFuturo” é salvo pela ruptura de al-guns clichés de filmes apocalípticose pelas últimas imagens que apare-cem antes de rodar o genérico, ima-gens essas que nos deixam a reflectirsobre a nossa existência e sobre acerteza das coisas. Um filme construído com recurso aalguns efeitos especiais dá sempreum bom “making of”. O interesse dever a produção de certas cenas dofilme faz com que valha a pena oDVD conter extras, visto que o co-mentário áudio do realizador acabapor se tornar algo fastidioso à me-dida que o vamos ouvindo. A voz deProyas aborrece e a obrigação deouvir os seus comentários enquantovemos o filme mais uma vez, trans-forma o comentário num grande su-plício para qualquer espectador.

OUVIR

DE

VLADIMIR NABOKOV

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EMANUEL BOTELHO

Artigos disponíveis na:

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O Dom ”

JOÃO GASPAR

RUI MIGUEL PEREIRA

Sinais do Futuro”

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Apenas maisum filme apocalíptico...

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

LER

As jóias da coroa

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A Russia deVladimir Nabokov

FILME

EXTRAS

DE

ALEX PROYAS

EDITORA

LUSOMUNDO

2009

ARTES FEITAS

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

mundíce, lixo, sujidade epoluição. Pensar isto en-quanto se contempla a fo-tografia é válido. Mas se a

Alta de Coimbra fosse apenassacos de lixo pretos bem arru-mados a uma esquina e rabiscospolíticos nas paredes de casasdegradadas todos viveriam umpouco melhor. Em especial osgatos e cães vadios que agrade-cem a farta refeição. Infeliz-mente, a Alta de Coimbra é maissuja do que isto. Nesta tarde deDomingo não se viam os coposplásticos de cerveja nem as pa-lhinhas negras das bebidasbrancas que todas as noites en-chem as ruas da Praça da Repú-blica ao Quebra-Costas. Sorte ados turistas que por ali andavamperdidos entre os flash’s dassuas próprias máquinas foto-gráficas e o som da guitarra por-tuguesa que nunca se sabemuito bem de onde vem.

200 X 100VENENO NEGRO • POR RAFAELA CARVALHO

I

SOLTAS20| a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

EU ESTUDO LÁ

Coimbra recebe imensos estudantes estrangeiros com vidasdiferentes no paísnatal. A CABRA faloucom Kamila Friedlovae descobriu como é estudar em Bratislava

Os caloiros estão todos no largo eusam uma espécie de coroa. Está adecorrer a primeira cerimónia deiniciação dos novos alunos na Uni-

versidade de Comenius, em Bratis-lava, a capital da República Eslo-vaca. Um por um, são chamados aopalco e juram ser bons alunos. Nofinal, todos cantam a chamada“Canção do Estudante”, num ritualque acontece sempre na primeirasemana do ano lectivo.

O “Beánia” é a segunda cerimóniade entrada no Ensino Superior eslo-vaco. Um baile de gala que tem lugardurante o mês de Novembro e queconta com a presença dos antigos enovos alunos e também de algunsprofessores. Nesta altura os caloirossão baptizados. “Quando eu era ca-loira, durante o Beánia, uma aluna

mais velha olha para mim e diz ‘abrea boca’. Eu abri e de repente vejo umdisparo de pistola de água a ser pro-jectado. Era vodka”, conta KamilaFriedlova. A partir daquele mo-mento era oficialmente um membroda Faculdade de Gestão da Univer-sidade de Comenius.

O Ensino Superior não é obriga-tório na Eslováquia mas estes novosalunos não pagam propinas durantecinco anos. O Governo financia o es-tudo desde que o curso seja comple-tado no tempo previsto. A partir daíé fixado o pagamento de cerca de800 euros anuais.

Kamila diz que ficou encantada

com a Universidade de Coimbraporque há um projector em cadasala de aula. Na Faculdade de Ges-tão de Comenius são apenas dois.“Não temos nem giz de cores paraescrever na ardósia”, acrescenta.“Quando há, é porque algum pro-fessor o financiou do próprio bolso”,o que é raro acontecer. Kamila la-menta que na Eslováquia os profes-sores sejam uma das classes maismal pagas.

Quanto ao alojamento, a univer-sidade tem residências especiaispara estudantes mas a maioria nãotem grandes condições e muitos alu-nos não são aceites por falta de es-

paço. A alternativa passa pelaMlynská Dolina, uma zona de Bra-tislava reservada a estudantes, combares, cantinas e quartos que podemcustar entre os 100 e os 300 euros.Mesmo assim, não há muitos alunosque possam pagar esse valor.

Durante a noite, a agitação não émuito grande. As grandes festas e asidas à discoteca acontecem no má-ximo uma ou duas vezes por mês.Mas os finais de tarde são geral-mente passados entre amigos, a pas-sear pela cidade ou simplesmente aconversar na esplanada de um café.

Por Cristiana Pereira

NA UNIVERSIDADE DE COMENIUS os novos estudantes não pagam propinas durante cinco anos

ESTUDAR NO

CENTRO DA

EUROPA

UNIVERSIDADE DE COMENIUS • BRATISLAVA

D.R.

Page 21: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

SOLTAS7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 21

GRÃ-BRETANHA Umrecluso de uma prisão daGrã-Bretanha ficou em-briagado com o gel desin-fectante usado para evitaro contágio de gripe A. Odetido terá bebido o pro-duto, que contém álcool,poucas horas depois deeste ter sido disponibili-zado pelos guardas pri-sionais. Também emMarço, o hospital RoyalBournemouth tinha reti-rado da recepção os de-sinfectantes à base deálcool para evitar que ospacientes ingerissem oproduto.

CHINA As autoridadeschinesas estão a usar manteiga paraevitar o suicídio. Na região deGuangzhou, a estrutura metálica deuma ponte é untada com manteigapara evitar que os suicidas subam ese atirem. Depois de cartazes e atéguardas nas extremidades da ponte,foi esta a solução encontrada peloGoverno chinês. O suicídio é tãocomum na zona que até provocaembaraços no trânsito quando oscondutores param para assistir.

FRANÇA Uma deputada francesaquer obrigar revistas e sites a iden-tificar as fotografias alteradas noPhotoshop. O projecto de lei pre-tende assim acabar com as falsasimagens que transmitem uma be-leza inalcançável no mundo real eque podem corromper as mentesdos leitores, em especial das jovensadolescentes.

Cristiana Pereira

O M

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O A

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TRÁR

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COM PERSONALIDADE

Formei-me em jornalismo e trabalho no gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Coimbra. Faço o “Santos da Casa” na RUC desde 1994 e, enquanto me der gozofazer, enquanto achar que a música portuguesa e os seus artistas têm qualidade, acho que deve ser divulgada. Os dois programas não são tão distintos quanto isso porque euàs vezes no “Discos Perdidos” também passo música portuguesa, mesmo sendo um programa sobre música dos anos 70 e 80. Essa opção deve-se ao facto de eu tercrescido e começado a cimentar os meus gostos musicais no final dos anos 80, a partir de 1986 sensivelmente. Quando comecei com estas actividades, comecei a conhecer maise a ir a concertos, a entrevistar bandas e funcionou tudo tipo bola de neve até chegar ao que chegou hoje. Continuo a achar que naquela altura se fazia muito boa música, secalhar muito melhor do que se faz agora. Nota-se isso porque a música daquela altura continua a passar e as pessoas continuam a ouvir, mesmo as camadas mais jo-vens. A partir daí ficou-me o gosto e pensei, “porque não fazer um programa?”. Neste momento, em Portugal, faz-se mais música de qualidade que não é tão ouvida doque alguma que não tem tanta qualidade mas passa. Há muita coisa que as rádios não passam. Especialmente naquelas rádios mais mainstream, de playlist mais for-matada, há muita coisa que não passa. Além disso, as leis que se tentam criar para proteger os artistas portugueses, acabam por proteger sempre os mesmos ou seja,aqueles que não precisam de protecção. Por isso há muita coisa que fica ao lado. O “Santos da Casa” serve também para mostrar essas bandas que não chegam aos discos, gra-vam só maquetas, que não têm oportunidade de tocar nos grandes festivais mas que têm qualidade. Existe qualidade suficiente na música portuguesa para que ela seja di-vulgada e há bons projectos, basta as pessoas estarem um bocado mais atentas porque as bandas vão tocando aqui e acolá. Se as editoras estivessem um bocado maisatentas também eram capazes de descobrir mais alguns projectos interessantes. Quando comecei a ouvir música comprava mais aqueles Polystar e compilações do género que traziamos mega hits todos. Isso funcionou até eu começar a ouvir outro género de música e a grande paixão que eu tinha eram os Duran Duran. Falando de música portuguesa, o pri-meiro disco que comprei foi o primeiro álbum dos Táxi e o primeiro concerto de estádio que eu vi foi a primeira vez que o David Bowie veio a Portugal, no es-tádio de Alvalade. Para além da música também gosto muito de cinema e como tal vejo muitos filmes. Compro muitos CDs e muitos DVDs. Sou contra a pirataria porquetambém já fiz edição de discos e sei o que custa fazê-los e o que custa vendê-los e ficar com eles em casa e não vender.

HÁ 15 ANOS A SER UM DOS “SANTOS DA CASA”

Entrevista por Camilo Soldado

NUNO ÁVILA • 39 ANOS • LOCUTOR DE RÁDIO

RAFAELA CARVALHO

iz o calendário grego-riano que o ano começaem Janeiro. Doze badala-

das, grande festa, malabarismosem cima de cadeiras e o Funchalbate o recorde de arremessa-mento de fogo-de-artifício. Éassim desde o século XVII. Pois

caríssimos, deixem que vos diga,o calendário gregoriano é umatreta. Senão analisemos: assim àpartida, o que é que realmente co-meça em Janeiro? A apanha dafruta? A época da caça? Nem isso.O Professor Marcelo atira-se aorio? Não chega. O ano começa

mesmo é em Setembro, o mês darentrée, galicismo abraçado pelaocidental pátria lusa mas que nãorenega as suas origens: é uma pa-lavra cheia de classe, de fino re-corte, que fica bem em qualquerboca, em qualquer título de jor-nal. E, diz quem sabe, tem umabaguete enfiada no cesto da bici-cleta e só toma banho aos fins-de-semana. Confesso, uma dasminhas grandes lutas – chamar-lhe-ia até projecto de vida - é queos meses sejam renomados se-gundo as suas características: umFevereiro transformar-se-ia numbem gráfico “Está um Frio dosDiabos” e o nosso querido mês deAgosto em “Aluguei um T1 naQuarteira e Meti Lá a FamíliaToda”. Setembro, claro, arrecada-ria um bem requintado e conciso“La Rentrée”. Tudo para facilitar.E porque na verdade odeio mito-logia romana.

Ano novo, vida nova, portanto.Acabaram-se as reposições na te-levisão, o “homem nu com umafaca no bolso” dos diários. Coim-bra enche-se de novos Erasmusmuito loiros e muito cheios destecalor que não dá tréguas e caloi-rada neófita em busca da pedra fi-losofal, do Santo Graal da cidade,como quem diz, do bar com me-lhor traçadinho e minis mais ba-ratas. Mas este ano, amigos, a talrentrée foi em grande. E não umgrande qualquer: foi “TGV”grande, “Jornal de 6ª” grande. A

rentrée desportiva já lá vai e comrazões de sobra (normalmente àmeia dúzia) para os efusivos fes-tejos dos homens de família, ta-xistas em particular. Por sua vez,nem tanto para os CEO’s de em-presas, cinquentões com duplaconsoante no sobrenome em par-ticular. A rentrée política trouxeeleições, os portugueses pegaramno método de Hondt, baralha-ram, partiram e voltaram a dar eagora, de repente, os temposserão de negociação. E ainda fal-tam as autárquicas. A parte boade ser uma mestranda rural é queeste voto é significativamentemais fácil. Autarquicamente fa-lando, os programas, as ideias, aboa vontade, tudo isso está sobre-valorizado: afinal de contasvamos acabar sempre por votarno tipo de bigode que ofereceu omaior e mais suculento porco noespeto ali no átrio da Junta deFreguesia.

Vão por mim, o ano começamesmo em Setembro. Parece-meque vamos todos sobreviver à ren-trée. E o Professor Marcelo vaimudar o seu primeiro banho doano para o primeiro dia do Ou-tono.

MAU TEMPO NO CHOUPAL

BOAS (RE)ENTRADAS

Por Mestranda Maria Armanda

D

ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

Todas as crónicas em

cabra net@

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

OPINIÃO22 | a cabra | 7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira

A comemoração dos dez anos daassinatura do Tratado de Bolonhaé mote para uma reflexão. Surgiuum novo modus operandis acercado ensino, que de magistral passa àaquisição de aptidões, que com oconhecimento levam ao desenvol-vimento de atitudes e competên-cias.

Surge a centralização do ensinono aluno, que apreende (e não ape-nas “aprende”) o conhecimento edesenvolve o “saber fazer”. A ideiaem si é aliciante, porque finalmentese exige um papel activo dos alu-nos, acabando com a passividade.A tutoria e o ensino acompanhado epróximo são pilares deste desafio,existindo um compromisso do-cente/discente.

Na Universidade de Coimbra aimplementação deste Processo en-volveu corpo docente, discente efuncionários. O primeiro docu-mento sobre Bolonha surgiu “embruto”, com aspectos completa-mente desadequados e longínquosda realidade da Universidade. De-correram então adequações impor-tantíssimas, em Senado daUniversidade, em 2006, resultandoem alterações de acordo com a es-pecificidade de cada curso. No en-

tanto, por ter sido um projectoabraçado em pouco tempo, houvefalta de planificação, sem avaliaçãodas condições existentes para apli-cação da avaliação contínua, cominfra-estruturas e recursos huma-nos escassos até hoje.

A implementação real do Pro-cesso de Bolonha foi dolorosa, umchoque sem preparação no modode pensar e agir da comunidadeuniversitária. Mas existiam já ca-minhos traçados: a definição realdo objectivos de cada curso – os“Descritores de Dublin” – que es-pecificam a quantidade de aulas, deacordo com a importância dostemas e peso ao longo do curso emodo de avaliação dos conteúdos.No entanto, faltou a imprescindívelreorganização de todo o processode ensino-aprendizagem até aí vi-gente.

Os ECTS sofreram uma distribui-ção errada pelas cadeiras, havendoem muitos cursos uma simples dis-tribuição homogénea pelas Unida-des Curriculares, sem ter em contaos conteúdos leccionados.

A avaliação contínua tem que seraperfeiçoada, já que não existemdocentes suficientes para a rentabi-lizar, continuando a recorrer a tes-

tes que não avaliam competências.Nalguns casos cada semestre ter-mina com avaliações finais, que namaioria dos casos substitui a ava-liação contínua, por não haver re-cursos humanos nem estruturaispara a realizar.

Outro dos objectivos da Declara-ção de Bolonha é o aumento da mo-bilidade dentro da Área de EnsinoEuropeia. No entanto, para tal, é in-dispensável a uniformização e equi-paração de graus e conteúdosleccionados e a criação de um sis-tema de comparação eficaz do tra-balho realizado, além da criação devagas reais para mobilidade.

Existe outra questão frágil, emque os estudantes de MestradosNão Integrados estão sujeitos apropinas de 2º ciclo aumentadas, oque significa que, para acederem adeterminada área profissional, têmde completar os dois ciclos, comcustos diferentes dos anteriores aoProcesso.

Após este balanço, surge a ques-tão: trarão estas exigências do Tra-tado de Bolonha resultadosrealmente positivos? Na teoria sim,com a aquisição de competências,aptidões e atitudes, na construçãodo “saber fazer”. Mas diariamente

se desenha um longo caminho porpercorrer, com tantas lacunasainda existentes, nomeadamentenas condições de ensino e estraté-gias de formação. Para a sua con-cretização, urge mudarmentalidades, para que todos acei-tem o Processo de Bolonha, traba-lhando nele e não contra ele,construindo o futuro e não impe-dindo o progresso.

Com o passar do tempo, algo im-pensável se revelou: o afastamentodos estudantes das funções asso-ciativas e de lazer da Academia, re-ceosos das novas exigências. Ascompetências sociais e humanasque se adquirem além dos livrossão tão importantes como o con-teúdo curricular…acreditem e tra-balhem para o futuro, sem esqueceras tradições da nossa Academia,que deve a sua história a quem deugrande parte da vida em prol dosoutros. Com organização, dedica-ção a Coimbra e vontade, viver otempo de estudante com o ProcessoBolonha é possível!

*Membro do Conselho Geral daUniversidade de Coimbra

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

A implementação realdo Processo deBolonha foi dolorosa,um choque sempreparação no modode pensar e agir dacomunidade universitária

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D.R.

PROCESSO DE BOLONHA - UMA REALIDADE NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA?

INÊS MESQUITA*

Page 23: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

OPINIÃO7 de Outubro de 2009 | Quarta-feira | a cabra | 23

A 4 de Outubro de 1992 foi as-sinado em Roma uma convençãocomplexa, conjunto de mecanis-mos e garantias, fruto de discus-sões às vezes extenuantes. Aconvenção representava um co-nhecimento importante: A pazera possível. A paz é vida, é o fimde um pesadelo, é um nasci-mento. Por isso celebramos oAcordo Geral de paz.

Moçambique emergiu de déca-das de guerra para se tornarnuma das economias africanascom melhor desempenho. Ocrescimento tem sido na ordemdos 8 por cento ao ano, impul-sionado pelo bom desempenhodos sectores dos transportes, co-municações, indústria, constru-ção e a recuperação naagricultura. A implementaçãoconsistente de reformas funda-mentais conduziu a aumentosconsideráveis de investimentosno País. Dados indicam que a po-breza registou um decréscimo de15 por cento. Três milhões de pes-soas saíram da pobreza absoluta,sobretudo nas áreas rurais, a mor-talidade infantil baixou e as ma-trículas escolares aumentaram.

Porque a psicologia profundade uma pessoa não pode fazer-sesem a compreensão da sua pró-pria história, quero lembrar atodos que Moçambique saiu deuma guerra armada mas entrounoutra guerra: “LUTA CONTRA APOBREZA ABSOLUTA”.

O turismo em Moçambique re-vela um grande potencial para ocrescimento do seu PIB com aspraias de águas limpas, apropria-das para a prática do turismo,principalmente as que se encon-tram muito distantes dos centros

urbanos e ao longo da costa comoas da província de Cabo Delgado,com destaque para as ilhas Qui-rimbas.

O País tem ainda vários parquesnacionais, onde sobressai o Par-que Nacional de Gorongoza, comas suas infraestruturais reabilita-das e repovoadas com certos ani-mais que estavam desaparecendo.

Para atingir níveis que lhe sãode direito, Moçambique temapostado na diversificação do seuproduto turístico que consiste noecoturismo e no turismo de praia.

Em termos de segurança, de-nota-se um aumento de condiçõesque garantem e transmitem, não

só às populações como tambémao turismo cada vez mais o bem-estar e um sentimento de con-fiança.

Com grande satisfação tenhoacompanhado o sucesso com queo País se tem desenvolvido. Acada aniversário o País ganha umritmo e cada cidadão tem a cons-ciência de que sendo parte inte-grante da comunidade, ajuda areinventar diariamente o ciclo devida, cuidando melhor do seubairro, da sua aldeia, da sua ci-dade, colaborando de modo in-tenso na erradicação da pobreza eno progresso do País.

Envio o meu voto para que Mo-çambique continue buscando oseu desenvolvimento através daspequenas conquistas de cada dia.

Parabéns nesta data tão auspi-ciosa!

* Presidente da Mocimbra(Casa de Moçambique

em Coimbra)

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director João Ribeiro Editores-Executivos Vasco Batista, Catarina Domingos Editor-Executivo Multimédia: Maria João Fernan-des Editores: Leandro Rolim (Fotografia), Diana Craveiro (Ensino Superior), Filipa Magalhães (Cultura), André Ferreira (Desporto), MariaEduarda Eloy (Cidade), Bruno Monterroso (País & Mundo), Sara São Miguel (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Camilo Sol-dado Paginação Sara São Miguel, Sónia Fernandes Redacção Alice Alves, Ana Maria Coelho, Ana Rita Santos, Catarina Fonseca, Cláu-dia Teixeira, Filipa Faria, João Miranda, Luís Simões, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Rui Miguel Pereira, Sónia Fernandes,Tiago Carvalho Fotografia Ana Maria Coelho, Camilo Soldado, Rafaela Carvalho Ilustração Lídia Dinis, Tatiana Simões Colaboraramnesta edição Alexandra Lacerda, Ana Maria Coelho, Artur Romeu, Cristiana Pereira, Jonathan Costa, Lídia Paralda Gomes, Maria Lastres,Marta Pereira, Miguel Custódio, Pedro Leitão Colaboradores permanentes André Costa, Camilo Soldado, Emanuel Botelho, FernandoOliveira, João Gaspar, José Santiago, Mário Santos, Sofia Piçarra, Rui Craveirinha, Rui Miguel Pereira, Tânia Cardoso Publicidade SóniaFernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981,e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade As-sociação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade deCoimbra

17º ANIVERSÁRIO

DO ACORDO

GERAL DE PAZ DE

MOÇAMBIQUE

JAIR CHIULELE*

EDITORIAL

O FIM DE UM CICLO, O ETERNIZAR DAS ATITUDES

Em Março de 2005, a AssociaçãoAcadémica de Coimbra assinou, nestejornal, uma carta aberta dirigida aorecém-eleito primeiro-ministro por-tuguês, José Sócrates. Nela se lan-çava o repto de “investir na educaçãopor um país de futuro”; exigiam-segarantias de gratuitidade no ensinosuperior; recusava-se a utilização doProcesso de Bolonha como “mais uminstrumento de desresponsabilizaçãodo Estado pela educação”; deman-dava-se o reforço da acção social e de-fendia-se a autonomia universitária eo direito de representação dos estu-dantes.

Quatro anos volvidos, os resultadossão evidentes. Tivemos um ministroreformista, que quis mudar muita

coisa, ouvindo muito pouco, à ima-gem do que fizeram alguns dos seuscolegas nas respectivas pastas. Umministro que apenas se preocupoucom uma das áreas da sua governa-ção, negligenciando outra e fazendoreformas contra as pessoas.

Desde logo a aplicação do Tratadode Bolonha que, apesar de não tersido assinado por Mariano Gago, foipor si posto em marcha com resulta-dos negativos. Escudando-se em es-tatísticas e num provinciano “quererfazer ver” aos parceiros europeus, Bo-lonha foi aplicado sem olhar à reali-dade das universidades portuguesas.O ensino direccionado para o aluno,premissa que tanto fez sonhar osmais crédulos, depressa se mostrouuma miragem teórica, sem efeitospráticos, para além de sobrecarregaros estudantes e, consequentemente,afastá-los das actividades extra-cur-riculares.

Seguiu-se o Regime Jurídico dasInstituições do Ensino Superior, o

mal afamado RJIES. Uma reformaautista, que não teve direito à discus-são pública que uma medida de tãograves consequências deveria ter.Trata-se tão só de uma fuga do Es-tado às suas responsabilidades depromover um ensino gratuito, comoprescreve a Constituição. É uma ten-tativa declarada de transformar asuniversidades em autênticas empre-sas, com uma lógica não pedagógica,mas económica. E quando o lucro é oobjectivo, as pessoas são mais fáceisde sacrificar.

Foi também esta reforma que afas-tou os estudantes dos órgãos de deci-são das instituições de ensinosuperior, num claro atentado a todasas vitórias alcançadas contra quem os

tentou calar.E perante este cenário que, mais do

que preocupante, é perigoso para adefesa dos direitos e garantias funda-mentais de uma sociedade democrá-tica, que fazem os estudantes?

Se foram quatro anos de ataques aonúcleo duro dos direitos da comuni-dade estudantil, foram também qua-tro anos de imobilismo e acomodaçãode todos aqueles que deviam ser for-ças aglutinadoras da acção estudan-til. O discurso, pré-definido e vulgar,perpetua-se e o medo de tomar umaposição, de adoptar acções realmentemarcantes é maior. E, sem contesta-ção, é mais fácil passar por cima dosinteresses dos estudantes.

Uma nova legislatura começa. Osproblemas são os mesmos, agravadospor quatro anos de erros. Pede-se queos estudantes parem para pensar emtudo aquilo que lhes tem sido tirado ereajam antes que haja mais para la-mentar.

João Ribeiro

Foram quatro anos de ataques ao núcleo duro dos direitos da comunidade estudantil “

Com grande satisfação tenhoacompanhado osucesso com que oPaís se temdesenvolvido

Page 24: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

acabra.netRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção e Produção:Secção de Jornalismo da Associ-ação Académica de Coimbra

Mais informação disponível em

Após três dias de discussão, oFórum AAC foi fraco de decisões.Numa altura em que é cada vez maisurgente discutir as problemáticas doensino superior e em que a falta de fi-nanciamento põe em risco a conti-nuidade de estudantes nasuniversidades, foram poucas as me-didas palpáveis que saíram do fórum.

Depois de um encontro que juntoutodos os representantes dos alunosuniversitários era importante haversoluções.

Impunha-se que três dias de refle-xão fossem suficientes para que diri-gentes e estudantes apresentassemmais do que discursos vazios.

D.C.

Conselho de Adm. HUC

Fórum AAC 2009Rogério

Gonçalves

O muito aguardado silo-auto dosHospitais da Universidade de Coim-bra (HUC) parece ter ganho final-mente pernas para andar. Após cercade sete anos de deliberação, com mui-tas informações contraditórias de en-tremeio, foi anunciado pelo Conselhode Administração do hospital que oplano director dos HUC está a ser ul-timado e contemplará a localizaçãodefinitiva do silo-auto, que será cons-truído até 2013. O projecto vai acres-centar inicialmente 900 lugares auma zona que diariamente tem ummovimento de 30 mil veículos. Restasaber se será desta vez que a obraavança.

M.E.E.

Rogério Gonçalves passou porCoimbra sem êxito. O técnico nãoconseguiu nenhuma vitória, emprovas oficiais, enquanto treina-dor da Académica. Depois de tersido alvo de muitas críticas e deforte contestação por parte dosadeptos e sócios da Briosa, o trei-nador acabou por rescindir o con-trato que o ligava aos estudantes.Dois anos e nove meses é o tempoque Rogério Gonçalves não vencena liga portuguesa de futebol. ZéNando, o treinador adjunto, foiquem assumiu a liderança daequipa, que esta semana deveráconhecer o novo treinador.

A.F.

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Nem ninguém lhes ligou coisa ne-nhuma. Dois corpos no ar a celebraruma (in)sustentável leveza e nin-guém lhes ligou patavina. Os habi-tantes do studium (R. Barthes)desta foto, em segundo plano, pare-cem estar de tal forma indiferentesaos “bailados”, que se transformameles mesmos no punctum imprová-vel (isto se este não o é sempre pornatureza). Com uma atitude impor-tunável, um lá-estão-eles-outra-vez-nisto, retiram todo o interessese protagonismo ao salto épico dabailarina e do seu coreógrafo, quepartilha com ela a levitação, RolandPetit. Repare-se na especial atitudedo baterista que calmamente fumao seu cigarro, desviou o olhar,rodou ligeiramente o pescoço, masnão muito. O interessante, paramim, é que ninguém parece real-mente fazer caso do que se passanesta espécie de bastidores doOpera de Paris. Por que estes dois

esforçaram-se, produzem pose (ine-vitável para quem sabe que vai serfotografado diriam alguns). WillyRizzo explica, em entrevista ao jor-nal The Guardian, que “fotografar adança é como caçar”, exige rapidez.Para tirar esta foto Rizzo estevebem atento aos sinais, primeiro osbailarinos ensaiaram uns breves edescontraídos passos como queadiantando o momento, enquantoisso Rizzo preparou a sua Rolleiflex.Com uma lente rápida e sem luzesde palco ou auxiliares, restou a luzsuave e terna da janela.

Em pequeno teve aulas de dança,o que talvez explique o brilhantismodos seus vários trabalhos sobre otema. No entanto, este fotografo desucesso, não estudou a arte em ladonenhum, tendo-se tornado fotojor-nalista ao fotografar os julgamentosde Nuremberga.

Por Rui Miguel Pereira

Notassobrearte...

SAUT DE L'ANGE • Willy Rizzo1955

TIRA MISSO :: Por André Costa

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