a cabra – 170 – 9.10.2007

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ANO XVII Nº 170 TERÇA-FEIRA | 9 DE OUTUBRO, 2007 Director: Helder Almeida ENTREVISTA: LUíS DE MATOS CULTURA | Pág. 16 Estudantes em alojamento precário TRANSIÇÃO PARA BOLONHA CAUSA DIFICULDADES NA UC Várias faculdades da Universidade de Coimbra (UC) têm tido nas últimas semanas várias dificuldades para implementar o Processo de Bolonha. Em Direito, o presidente do núcleo afir- ma mesmo que “a faculdade vive tem- pos conturbados e de grande polémica”. Em Letras e em Economia a situação não é melhor e é frequente as salas estarem lotadas, obrigando os alunos a sentarem-se no chão. Já a vice-reitora da UC assegura que “o cenário não é tão catastrófico como se diz” e justifica os problemas que existem por este ser um ano de transição. Pág.5 ✸❚❨❲❴✏❚◗✏❵❜◗❤❯ ❯❪✏❪❡❚◗❫❒◗ Com o Processo de Bolonha não foram ape- nas os cursos que se tiveram de adaptar. Também o Código da Praxe teve de mudar. A realiza- ção do cortejo da Queima ao domingo, o surgimento de novos títulos (como Novato, Candeeiro, Bolonhez ou Marquez) e a proibição do uso do colete pelas rapari- gas são algumas das novidades. ENS.SUPERIOR| Pág.6 ⑤✶✏❝❯❭❯❙❒➮❴✏❰✏◗✏❪❨❫❳◗ ❝❯❲❡❫❚◗✏❱◗❪❭❨◗ Em entrevista, Rui Cordeiro conta como foi estar presente no campeonato do mundo. O jogador de Râguebi da académica fala ainda da saída da selecção e do seu futuro na AAC. DESPORTO | Pág.15 De casas de banho em roupeiros, a casas degradas e a senho- rios que vasculham os quartos dos inquilinos e controlam as suas visitas, de tudo se encontra no mercado de arrendamen- to em Coimbra. A uma semana da chegada dos estudantes que ingressam no ensino superior, na segunda fase, A CABRA foi conhecer algumas das histórias de quem já cá está a viver e deixa alguns conselhos a quem procura casa. Págs.2 e 3 ❆❡◗❫❚❴✏❯❭❯❝✏❯❜◗❪✏◗❭❡❫❴❝ Alguns dos mais conceituados profes- sores da Universidade de Coimbra relembram os tempos de estudante. A CABRA foi ouvir as suas memórias, que se cruzam com momentos cruciais da história portuguesa. Os docentes nar- ram ainda estórias caricatas do seu per- curso estudantil. FADOS Será que o espanhol Carlos Saura percebeu a essência da canção nacional? ARTES FEITAS|Pág.24 TEMA | Págs.12 e 13 Alunos queixam-se de não encontrarem resposta para muitas das questões colocadas

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Versão integral da edição n.º 170 do jornal universitário de Coimbra “A Cabra”. Quinzenário. Portugal, 09.10.2007. Para consultar o jornal na web, visite http://www.acabra.net/ e-mail: [email protected] Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: A CABRA – 170 – 9.10.2007

ANO XVII

Nº 170 TERÇA-FEIRA | 9 DE OUTUBRO, 2007 Director: Helder Almeida

ENTREVISTA: LUíSDE MATOSCULTURA | Pág. 16

Estudantes em alojamento precário

TRANSIÇÃO PARA BOLONHACAUSA DIFICULDADES NA UC

Várias faculdades da Universidade deCoimbra (UC) têm tido nas últimassemanas várias dificuldades paraimplementar o Processo de Bolonha.Em Direito, o presidente do núcleo afir-

ma mesmo que “a faculdade vive tem-pos conturbados e de grande polémica”.Em Letras e em Economia a situaçãonão é melhor e é frequente as salasestarem lotadas, obrigando os alunos a

sentarem-se no chão. Já a vice-reitorada UC assegura que “o cenário não é tãocatastrófico como se diz” e justifica osproblemas que existem por este ser umano de transição. Pág.5

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ENS.SUPERIOR| Pág.6

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Em entrevista, Rui Cordeiro conta comofoi estar presente no campeonato domundo. O jogador de Râguebi daacadémica fala ainda da saída daselecção e do seu futuro na AAC.

DESPORTO | Pág.15

De casas de banho em roupeiros, a casas degradas e a senho-rios que vasculham os quartos dos inquilinos e controlam assuas visitas, de tudo se encontra no mercado de arrendamen-to em Coimbra.

A uma semana da chegada dos estudantes que ingressam noensino superior, na segunda fase, A CABRA foi conheceralgumas das histórias de quem já cá está a viver e deixaalguns conselhos a quem procura casa. Págs.2 e 3

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Alguns dos mais conceituados profes-sores da Universidade de Coimbrarelembram os tempos de estudante. ACABRA foi ouvir as suas memórias, quese cruzam com momentos cruciais dahistória portuguesa. Os docentes nar-ram ainda estórias caricatas do seu per-curso estudantil.

FADOS

Será que o espanhol CarlosSaura percebeu a essência da canção nacional?

ARTES FEITAS|Pág.24

TEMA | Págs.12 e 13

Alunos queixam-se de não encontrarem resposta para muitas das questões colocadas

Page 2: A CABRA – 170 – 9.10.2007

A uma semana dachegada dos estudantes

que ingressam noEnsino Superior, na segunda

fase, A Cabra foi descobriralgumas das más condições

com que os estudantesque já cá estão lidam

Helder AlmeidaEmanuela Gomes

João Miranda

asas de banho em roupeiros, fioseléctricos que se cruzam perigosa-mente com canos de água danifi-

cados, contratos inválidos que só permitema entrada de familiares… Muitos estudantesdeparam–se com esta realidade quandoprocuram casa em Coimbra. Preços, acessi-bilidades à faculdade e a pressão de ter quearrendar casa o mais rápido possível são al-guns dos motivos que levam a que os estu-dantes se sujeitem a viver em habitaçõessem condições e com senhorios autoritários.

“Isto deve ter caído hoje porque ainda on-tem estivemos aí a limpar”. O estudante deengenharia civil referia–se ao monte de pó ecimento espalhado pelo soalho gasto resul-tante da queda do reboco de uma das pare-des da sua casa. Este é apenas um dos mui-tos problemas que o edifício da Alta deCoimbra enfrenta. Na cozinha, as marcas deferrugem na parede denunciam o mau esta-do das canalizações. O tecto, com o reboco asoltar–se, obriga os moradores a “fazer ma-labarismos com o tacho” para evitar que os

pedaços de cimento caiam na comida. Fioseléctricos cruzam–se desordenadamentenas várias divisões, por cima das cabeçasdos moradores.

Apesar de tudo, os estudantes vivem lá de-vido ao ambiente comunitário, ao “baixopreço dos quartos” (cerca de 100 euros) e aotamanho da casa, que tem mais de quinzedivisões. Um dos moradores refere que jápor várias vezes foi pedido à senhoria pararealizar obras na casa. No entanto, a pro-prietária tem recusado sempre.

Num cubículo de oito metros quadradoscabe uma cama, uma mesa–de–cabeceira,uma cadeira e uma secretária. Ao fundo dacama fica um roupeiro embutido na parede.À primeira vista tudo parece normal, tiran-do a pequenez da divisão. Um olhar maisatento, porém, encontra um termoacumula-dor fixado na parede junto do roupeiro. Aaparente normalidade desfaz–se quando oinquilino abre uma das portas de correr doarmário revelando uma casa–de–banho,pouco maior que uma cabine telefónica.Lá dentro, um lavatório, uma sanita e umchuveiro repartem o espaço exíguo. O ar-rendatário, que confessa não conseguir usaraquela “divisão”, pretende mudar de quartobrevemente.

Senhorios impõemcláusulas abusivas

Os responsáveis pelo Certificado de Habi-tabilidade da Associação Académica deCoimbra, Marco Veloso e Ana Teixeira, visi-tam dezenas de casas semanalmente. Con-tam que na globalidade o estado das casaspara arrendar em Coimbra não é mau. Aspiores condições e os preços mais elevados

verificam–se nas casas da Alta. Esquenta-dores em casas de banho ou quartos paraarrendar em vãos de escada não são um mi-to, são uma realidade na cidade dos estu-dantes.

Também a relação entre senhorios e estu-dantes se apresenta frequentemente comoum problema. Não raras vezes, os proprie-tários impõem cláusulas abusivas que res-tringem as liberdades dos inquilinos.

Manuela Rocha, licenciada em Teatro, vi-veu três anos num prédio na Praça da Repú-blica. A antiga estudante conta que a senho-ria proibia a entrada de rapazes, mesmo pa-ra trabalhos de grupo.

Maria (nome fictício) vive numa casa naPraça da República, com a senhoria. A estu-dante está também proibida de levar rapa-zes a sua casa. Outra regra imposta não per-mite que as inquilinas levem as chaves dosquartos para fora da habitação, o que podecriar situações embaraçosas. A estudanteconta que uma vez encontrou a senhoriadentro do quarto a revolver os seus objec-tos.

Devido à inexistência de contratos váli-dos, os senhorios aproveitam–se muitas ve-

zes da situação para inflacionar a renda des-regradamente. De um ano para o outro, Ma-ria viu a renda ser–lhe aumentada de 142para 170 euros.

Também o pagamento das despesas da ha-bitação flutua conforme a vontade do se-nhorio. Maria refere que quando arrendou oespaço as contas da água e da luz estavamincluídas no preço. Porém, se a estudantequiser ter um computador ou uma TV noquarto tem que pagar mais cinco euros. Masas despesas não param por aqui. Para utili-zar a máquina de lavar a roupa são mais cin-co euros. E se requerer recibo tem de pagardo seu bolso os cinco por cento de IVA.

Maria relata ainda que “houve uma alturaem que a senhoria queria impor horáriospara ir à sala porque andávamos a ver mui-ta televisão”. “Também não podíamos jan-tar na sala para não estragar a mobília” dizMaria.

Contudo, este tipo de regras não tem su-porte legal. “As pessoas não podem ser proi-bidas de levar ninguém às suas casas”, ex-plica o advogado António Marinho Pinto.“O senhorio ou confia na pessoa e arrendaou não confia e não arrenda”, resume.

Alojamento em Coimbra

��������������������������������������CLÁUDIA TEIXEIRA

Apesar da perigosidade e de ser proibido por lei, em algumas casas ainda se encontram esquentadores em quartos de banho

22 A CABRA DDEESSTTAAQQUUEE 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

C

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O negócio é lucrativo paraos senhorios que, porém,

continuam na maioria semdeclarar os rendimentos

às finanças

Raquel MesquitaVânia Silva

O arrendamento de quartos com máscondições de habitabilidade e a preçoselevados é um dos problemas que os estu-dantes do ensino superior enfrentamquando mudam para uma nova cidade.

Marco Veloso e Ana Teixeira responsá-veis pelo Certificados de Habitabilidadeda Associação Académica de Coimbra(AAC) consideram que a relação entrepreço e qualidade das habitações deCoimbra é equilibrada. Embora reconhe-çam que na Alta da cidade “as casas têmmenos condições e a preços mais caros” osestudantes justificam a escolha desta zonapela proximidade às faculdades.

Os Certificados de Habitabilidade pre-tendem ser uma mais–valia para os estu-dantes que procuram casa. As habitaçõessão visitadas por elementos da Direcção-–Geral da AAC e são classificadas numaescala que vai de “muito bom” a “mau”,tendo em conta parâmetros como a di-mensão da divisão, o estado de conserva-ção dos móveis e da própria habitação e ascondições de segurança. Se um estudanteconstatar que as condições encontradasnão correspondem às descritas no Certifi-cado de Habitabilidade, podem dirigir–seà secretaria da AAC e apresentar queixa.

Muitos proprietários insistem em não

celebrar contratos nem emitir recibos,porque tal também não é, muitas vezes,valorizado pelos arrendatários, que atépodem incluir esse tipo de despesas nasdeclarações de IRS. Segundo o chefe daDivisão de Justiça Tributária da Direcçãode Finanças de Coimbra, Jaime Devesa,os senhorios, apesar das acções de fiscali-zação, “fogem ao fisco com a maior des-contracção”.

Célia Maia, da Associação Portuguesapara a Defesa dos Consumidores (DECO)

alerta, ainda, que os arrendatários e hós-pedes não podem ser submetidos a quais-quer acções por parte dos senhorios que“visem o controlo ou vigilância dos seusmovimentos”.

Caso o local arrendado apresente pro-blemas em termos de qualidade de habi-tabilidade ou de saúde pública os estu-dantes “podem contactar os serviços mu-nicipais, o delegado de saúde ou a delega-ção distrital da Inspecção–Geral das Acti-vidades Económicas.

������������������� ���������� �Quem vem estudar para

Coimbra não tem necessariamente de optar

pelo arrendamentoprivado. Residências,

lares, cooperativase repúblicas são algumas

das alternativas

Raquel MesquitaVânia Silva

Jacqueline Ferreira vive na Repúblicadas Marias do Loureiro. A estudante deEstudos Artísticos conta que a repúblicatem um ambiente familiar e destaca, co-mo ponto forte, a união. “ Identifico–mecom os ideais, vivemos todas em famí-lia”. Nas tradicionais repúblicas de estu-dantes, todos os residentes são respon-sáveis pelas tomadas de decisão e pela

gestão do seu espaço. João Pedro Porto, estudante de Filoso-

fia, já passou por duas residências uni-versitárias e está agora num dos blocosda Residência Universitária João Jacin-to. “Quando entrei na universidade, aminha primeira opção foi ir para uma re-sidência”. Como ponto positivo, João Pe-dro destaca o bom ambiente que se vivena residência. Quanto a regras, apesar denão haver restrições para a hora de en-trada ou saída, é proibida a dormida depessoas que não estejam inscritas na re-sidência. “Não podemos cá deixar dor-mir nenhuma rapariga”, frisou. Existemainda questões hierárquicas que têm queser respeitadas. “O delegado é sempre oporta–voz da residência”, explica o estu-dante.

Já Cláudia Gameiro está num lar cató-lico com cerca de 50 estudantes. A alunade Jornalismo da Universidade de Coim-bra sempre frequentou instituições reli-

giosas e teve conhecimento deste tipo dealojamento através de amigas. “Ter quepagar água e luz à parte não compensa, eno lar não tenho a preocupação com asrefeições”, diz a estudante.Cláudia Gameiro refere ainda não existirimposições para morar no lar, nem mes-mo religiosas. O ambiente é familiar eexiste uma carta de princípios, que esta-belece as regras de funcionamento den-tro do lar. “Não podemos fazer tudo oque queremos, não entram rapazes emesmo a entrada de pessoas estranhas écontrolada”.

As cooperativas são outra das opções.Quando há vagas a entrada faz–se porconcurso. Para concorrer é exigido aapresentação da declaração do IRS, com-provativo da matrícula e recibos do ven-cimento do agregado familiar.

A única restrição nas cooperativas dizrespeito ao barulho (entre a meia–noitee as nove da manhã é exigido silêncio).

CLÁUDIA TEIXEIRA

CÁTIA MONTEIRO

9 de Outubro 2007, 3ª feira DDEESSTTAAQQUUEE A CABRA 33

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����������������������������������������������������������������O meu senhorio comunicou–meque vai aumentar a renda estemês. Essa acção é legal?Para a actualização da renda o senhoriotem que possuir uma avaliação da habi-tação por parte das Finanças, realizadahá menos de três anos, e determinaçãodo nível de conservação. A comunicaçãodeve conter um conjunto de elementosprevistos na lei (como minutas). No ca-so do nível de conservação da habitaçãoser avaliada em mau ou péssimo, nãopode haver actualização da renda.

A minha casa encontra–se emmau estado de conservação. O se-nhorio é obrigado a realizarobras?Se for atribuído um nível de conserva-ção mau ou péssimo à habitação, o in-quilino pode intimar o senhorio à reali-zação de obras. Se o senhorio não asrealizar, o inquilino pode tomar a inicia-tiva de realização das obras, solicitandoà câmara municipal a realização deobras coercivas.

O meu senhorio proíbe a entradade conhecidos meus, na minha ha-bitação. Está a agir legalmente?Não. Os arrendatários não podem serproibidos de levar pessoas a sua casa.

O senhorio é obrigado a fornecer-–me o recibo de renda?Sim. O senhorio é obrigado a fornecerrecibo descriminado ao inquilino e amostrar–lhe, quando solicitado, oscomprovantes relativos às parcelas co-bradas. O senhorio encontra–se aindaobrigado a pagar as taxas de interme-diação e de administração imobiliária.

Por João Miranda

Algumas das habitações mais degradadas encontram-se na alta de Coimbra

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O Processo de Bolonha pressupõe uma revolução doparadigma de ensino, fundamentalmente no que dizrespeito à pedagogia. Reivindica a profunda alteraçãodos métodos de ensino, dos sistemas de avaliação, nosentido de uma maior responsabilização e autonomiados alunos e professores.

Até há bem pouco tempo, a componente científica eraa que primeiramente interessava para a carreira de umdocente. A progressão deste dependia quase em exclu-sivo da capacidade de investigação científica e da inves-tigação realizada, mesmo nas provascom carácter pedagógico, como a agre-gação. Pouco ou nada se investia doponto de vista temporal e financeiro naformação pedagógica de professorespara o ensino superior.

Bolonha altera radicalmente esta si-tuação. Juntando a este facto as leis re-centemente publicadas, e ainda em re-gulamentação sobre a avaliação e aAgência de Avaliação e Acreditação, fi-ca contemplado a avaliação pedagógicacomo pedra central do desempenho dodocente. Resta à nossa Universidaderecuperar o tempo perdido.

A uma Universidade de excelência anível europeu exige–se um rigorosocontrole de qualidade científica e peda-gógica dos seus docentes. Os estudan-tes são o fim último da existência deuniversidades e sem eles a investigaçãocomo a conhecemos não existiria. OProcesso de Bolonha vai tornar maisclaro para todos a diferença entre o bom e o mau peda-gogo, entre o professor dedicado e os restantes. Quandose exige dos alunos um maior trabalho tenhamos aconsciência colectiva para perceber que muito destamudança depende dos docentes.

A Universidade de Coimbra tem hoje inúmeros desa-fios a cumprir. Desde logo, no que diz respeito à melho-ria do acompanhamento não–presencial (tutoriado)que se torna impraticável com base nos actuais ráciosprofessor/estudante recomendados pelo Observatórioda Ciência e do Ensino Superior que contemplam valo-res até aos 1/30 (um professor para 30 alunos). Contu-do, não podemos fazer uma efectiva mudança dos hábi-tos instituídos sem uma maior proximidade e acompa-nhamento entre alunos e docentes.

Conhecem–se hoje as fragilidades do funcionamentodo horário de atendimento dos docentes, que por lei

tem que ser no mínimo igual a metade das horas lecti-vas. Por um lado, existe a sensação de que os estudan-tes não aparecem durante as aulas guardando as dúvi-das para a véspera dos exames; por outro lado, ainda seassiste a falta de informação e de disponibilidade de do-centes em cumprir o seu horário, muitas vezes fruto dadesmotivação de não terem alunos durante semanasconsecutivas.

São estes, a par de muitos outros, os desafios e os obs-táculos que a universidade enfrenta nestes primeiros

meses de funcionamento dos novoscursos.

Não esqueçamos que todas as trans-formações se processam num contextode desinvestimento governamentalacentuado, para o sector do ensino su-perior. Uma transformação que foipremeditadamente adiada – e bem -para uma melhor implementação, nãoestá, assim, imune a problemas e a umarranque com alguns solavancos.

Com a perspectiva de que é fulcralanalisar e intervir ao longo deste pri-meiro ano de implementação de Bolo-nha, e não apenas criticar, a AAC vaiapresentar durante o mês de Outubroo Observatório do Processo de Bolo-nha da AAC que vai monitorizar e ana-lisar parâmetros concretos de questõespedagógicas, de avaliação e do esforçodo estudante.

Este observatório tem como objecti-vo verificar a desejada e pretendida

implementação de novos métodos de ensino na Univer-sidade e aferir a relação esforço teórico/esforço na prá-tica, para o estudante, que o sistema de créditos ECTS,para cada cadeira e em cada curso, pretende tornar con-sequente. Sem a participação construtiva da comunida-de estudantil neste esforço de equilibrar e tornar maiseficiente a implementação do Processo de Bolonha, es-te dificilmente se materializará em melhorias no ensinoda Universidade de Coimbra.

Falamos de uma participação, é importante repeti–lo,que é dificultada pela degradação da representação deestudantes nas estruturas de governo da Universidade,fruto da aprovação do novo Regime Jurídico para asInstituições de Ensino Superior, pelo Governo e pelaAssembleia da República.

É, ainda assim, uma responsabilidade que os estudan-tes devem assumir e que a AAC assume.

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

������������������������������ ����������������������������Licenciados

na transiçãoHá um ano A CABRA dava notícia da preocu-

pação dos estudantes quanto à implementaçãodo Processo de Bolonha. As dúvidas erammuitas e falava-se de uma falta de informaçãogeneralizada. Da parte da reitoria admitia-seque os erros iam ocorrer mas garantia-se que “avontade e a formação dos estudantes seriaassegurada”.

Um ano decorreu e Bolonha passou a vigorarem todos os cursos da Universidade deCoimbra. Das várias faculdades chegam notíciasque não entusiasmam: serviços administrativossem resposta para as muitas dúvidas dosalunos; estudantes impedidos de, no acto damatrícula, se inscreverem às cadeiras que têmem atraso; turmas de vários anos a frequentaras mesmas disciplinas; sobreposição de cadeirasno horário; salas lotadas com os alunos asentarem-se no chão; alunos obrigados a aced-

er a um segundo ciclo para concluir a formação;equivalências entre cadeiras que não têm quever umas com as outras... A lista é extensa.

A reitoria diz que “o cenário não é tão cata-strófico como se afirma” e que “este ano é detransição”. A verdade é que os estudantes queapanharam o processo estão a ser prejudicadose vão sair prejudicados, quando se garantiu quenunca o seriam. Na maior parte dos casos,Bolonha correspondeu apenas a um encurtar dalicenciatura, de quatro para três anos, fazendouma mistura de cadeiras de um e outro ano,com critérios pedagógicos duvidosos. É assimque um aluno que tenha apanhado a reforma ameio do curso sai licenciado por Bolonha. Todossabem que é um ano de transição mas os estu-dantes mereciam ser tratados de uma formamais condigna pela instituição que os recebeu eque há partida lhes garantiu uma formação dequalidade.

Helder Almeida

Editorial

*João Pita, vice-presidente da DG/AAC eJoão Pena, coordenador do Pelouro da Pedagogia/Ligação aos Órgãos da DG/AAC

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director Helder Almeida Chefe de Redacção Rui Antunes Editores: Cátia Monteiro (Fotografia), François Fernandes (Ensino Superior), Raquel Carvalho (Nacional), RuiAntunes (Internacional), João Miranda (Ciência), Patrícia Costa (Desporto), Martha Mendes (Cultura), Ângela Monteiro (Media), Carla Santos (Viagens) Secretária deRedacção Adelaide Baptista Paginação François Fernandes, Rui Antunes, Salvador Cerqueira, Sofia Piçarra Redacção Ana Bela Ferreira, Ana Filipa Oliveira, Ana MargaridaGomes, Ana Raquel Melo, Cláudia Teixeira, Diana do Mar, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Joana Gante, João Pimenta, Liliana Figueira, Marta Campos, Marta Costa, PedroCrisóstomo, Raquel Mesquita, Sandra Camelo, Sara Simões, Soraia Manuel Ramos,Tânia Ramalho, Wnurinham Silva Fotografia Carine Pimenta, Carolina Sá, Catarina Silva,Cláudia Teixeira, Daniel Palos, Fábio Teixeira, Fausto Moreira, Filipa Faria, José Marques, Liliana Lago, Martha Morais, Mónica Pópulo, Tiago Lino Ilustração José MiguelPereira, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Andreia Ferreira, André Tejo, Cláudia Morais, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, Laura CazabanRafael Fernandes,Raphaël Jerónimo, Rui Craveirinha, Vitor André Mesquita Colaboraram nesta edição Alexandre Oliveira, Carla São Miguel, Carolina Sá, Cátia Sousa Catarina Domingos,Catarina Fonseca, Diana Silva, Emanuela Gomes, Jennifer Lopes, Marco Roque, Nuno Braga, Pedro Cunha, Rita Matos, Saimon Morais, Sarah Halls, Susana Ramos, TâniaMateus, Vânia Silva Publicidade Sofia Piçarra - 239821554; 913009117 Impressão CIC - CORAZE, Oliveira de Azeméis, Telefone. 256661460, Fax: 256673861, e-mail:[email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de CoimbraAgradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

44 A CABRA OOPPIINNIIAAOO 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

Os estudantesmereciam ser tratados

de uma forma maiscondigna pela UC“

“ O Processode Bolonhavai tornarmais claro

para todos adiferença en-

tre o bome o mau

pedagogo.”

Page 5: A CABRA – 170 – 9.10.2007

A impossibilidade de umaavaliação contínua e oexcesso de alunos são alguns dos problemas

detectados na transiçãopara Bolonha

Pedro CunhaAdelaide Ferreira

Cláudia Teixeira

À excepção dos cursos de Informática e dePsicologia, onde o Processo de Bolonha jávigorou durante o ano passado, foi no actualano lectivo que o novo sistema se generali-zou pela Universidade de Coimbra (UC). Atransição não tem sido fácil e várias são ascomplicações que os alunos enfrentam.

Direito foi um dos cursos mais problemá-ticos. O presidente do Núcleo de Estudantesde Direito (NED/AAC), Tiago Lavoura, che-ga mesmo a afirmar que “a faculdade vivetempos conturbados e de grande polémica”.O dirigente associativo explica que “o esta-do da situação dos serviços administrativoscentrais e da faculdade é caótico, havendouma total descoordenação entre si”.

Os alunos não encontram resposta paramuitas das questões colocadas, queixando-–se da “falta de decisão por parte dos ór-gãos competentes”, denuncia Tiago Lavou-ra. Uma das principais reclamações prende-–se com o facto de os estudantes se veremimpedidos, no acto de matrícula, de se ins-creverem às cadeiras que têm em atraso porultrapassarem os créditos que lhes são per-mitidos fazer num ano lectivo. A conjunturacomplica–se no caso dos alunos do quartoano, uma vez que “foi determinado que oaluno só poderia fazer a inscrição a 60 cré-ditos, apesar de no quarto ano da licenciatu-ra o valor global de créditos das disciplinasobrigatórias ser de 66 créditos”, alerta Tia-go Lavoura. O presidente do NED/AACmostra–se indignado ao equacionar a possi-

bilidade dos discentes terem que fazer “du-rante dois anos aquilo que deveria ser feitoem apenas um”.

Salas lotadasindignam estudantes

O presidente do Núcleo de Estudantes daFaculdade de Letras da UC, Nuno Almeida,fala de várias anomalias na implementaçãodo Processo de Bolonha. “Os atrasos na ela-boração da tabela final de equivalências le-varam a atrasos significativos no processode matrículas”, explica. Devido ao facto dasequivalências das unidades curriculares doplano anterior terem sido dadas a novasunidades curriculares de anos não corres-

pondentes, “há turmas de vários anos a fre-quentar as mesmas cadeiras, tornando asturmas muito numerosas, dificultando aaprendizagem em termos de experiênciaprática”, afirma o dirigente associativo. Co-mo consequência é frequente as salas esta-rem constantemente lotadas, o que obrigaos alunos muitas vezes a sentarem–se nochão.

O mesmo problema repete–se na Faculda-de de Economia da Universidade de Coim-bra (FEUC). O presidente do Núcleo de Es-tudantes de Economia, Alexandre Leal,alerta para o “número elevado de discipli-nas opcionais disponível para escolha, quefez com que não fosse possível prever as ins-crições nessas mesmas disciplinas”. Isto le-va a que haja demasiados estudantes inscri-tos nas cadeiras, originando, mais uma vez,dificuldades em praticar o regime de avalia-ção contínua, subjacente ao Processo de Bo-lonha. No entanto, o dirigente associativosalienta “a adesão muito positiva dos estu-dantes à necessidade de uma maior presen-ça nas aulas, bem como a um regime de ava-liação contínua que prevê um peso cada vezmenor do exame final”.

O curso de Sociologia, da FEUC apresentaigualmente várias complicações. O presi-dente do Núcleo de Estudantes da Sociolo-gia, Miguel Violante, explica que “a introdu-ção do primeiro ciclo de três anos faz comque os estudantes tenham de aceder a umsegundo ciclo para concluir a sua forma-ção”. Tendo em conta que um mestrado desegundo ciclo tem propinas com valores va-riantes, atingindo no máximo os 3000 eu-ros, o presidente conclui que “um estudantetem que pagar ainda mais para poder obter

a formação completa”. O curso de Sociolo-gia dá a oportunidade aos alunos de acaba-rem a licenciatura pelo plano antigo de en-sino, mas o dirigente associativo denunciaque “quem opte por acabar o curso pelo pla-no antigo acaba por sair prejudicado, limi-tando–se apenas a fazer exames ou fre-quências já que não serão leccionadas asrespectivas cadeiras”. Os Menores (cadeiracomplementar que pertence a uma licencia-tura diferente daquela que se frequenta),visto como uma mais–valia do Processo deBolonha, não vão funcionar este ano lectivona FEUC. Consequentemente, “quem estáno plano de transição e que passe automati-camente para Bolonha não terá acesso aosmesmos”, afirma Miguel Violante. A sobre-posição de cadeiras no horário faz com quehaja alunos com duas aulas a decorrer emsimultâneo, não reunindo portanto condi-ções para aceder a avaliação contínua. Osestudantes com cadeiras sobrepostas vêem-–se obrigados a seguir um regime de avalia-ção final. Esta é uma realidade vivida nasdiferentes faculdades e departamentos daUC.

A reitoria, no entanto desdramatiza a si-tuação. Segundo a vice–reitora, CristinaRobalo Cordeiro, “o cenário não é tão catas-trófico como se diz”, e justifica os proble-mas vividos em algumas faculdades com ofacto deste ser “um ano de transição”. “Exis-tem comissões de acompanhamento do pro-cesso em cada uma das faculdades para ten-tar remediar aquilo que for possível e criarnovas condições”, afirma Robalo Cordeiro.Apesar de tudo a vice–reitora considera que“de uma maneira geral as coisas estão a cor-rer razoavelmente”.

����������������������������������������Processo de Bolonha

Uma vez mais o Processo de Bolonha é alvo de fortes críticas da parte dos estudantes

9 de Outubro de 2007, 3ª feira EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR A CABRA 55

Foi no actual ano lectivo que Bolonha chegou a todo o País. A Universidade de Coim-bra tem enfrentado algumas dificuldades na transição para este plano, mas não é umcaso isolado. Na Universidade da Beira Interior a adaptação para o Processo de Bolo-nha foi “acima de tudo confusa”, conta o presidente da Associação Académica da Uni-versidade da Beira Interior, Fernando Jesus. O dirigente associativo explica que estarealidade deve–se ao facto de haver uma reestruturação feita “em cima do joelho”, on-de os cursos foram basicamente “comprimidos de 5 para 3 anos, retirando–se apenasalgumas cadeiras consideradas menos importantes”, denuncia. Fernando Jesus afir-ma que “os cursos que mais problemas apresentaram na transição para Bolonha fo-ram os da área das engenharias, em que o facto de os mestrados não serem integra-dos, foi uma fonte de preocupação devido à acreditação da Ordem dos Engenheiros”.

O presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro, Luís Ricardo Fer-reira, conta que “a adequação dos planos de estudo ao novo paradigma de ensino-–aprendizagem foi feita de forma cuidada por cada comissão de curso, envolvendo osalunos nesta discussão”. O presidente defende que “o incremento de avaliação contí-nua, como método preferencial de auscultação e monitorização do aproveitamentodos alunos de cada curso, é uma prioridade há muito assumida”. Luís Ricardo Ferrei-ra afirma ainda que no que diz respeito à transição curricular, “os serviços académi-cos e administrativos corresponderam razoavelmente”.

Bolonha noutras Universidades

D. R.

Page 6: A CABRA – 170 – 9.10.2007

O novo código da praxe está em vigor desde

o dia 7 de Setembro e traz mudanças que o adequam

ao Processo de Bolonha

Catarina DomingosCatarina Fonseca

A reestruturação curricular que o Proces-so de Bolonha impôs trouxe também impli-cações nas normas praxísticas da academiade Coimbra. As alterações mais significati-vas verificam–se na hierarquia, no calendá-rio dos eventos académicos, no modo deagir das trupes e no traje feminino.

O Dux Veteranorum, João Luís Jesus, es-clarece que os princípios orientadores paraa elaboração do novo código da praxe pas-saram por “manter inalterada a identidadetradicional da Universidade de Coimbra(UC) e todo o seu significado”, acrescentan-do ainda que “tudo o que existe na praxetem que ter raízes no passado”.

Com a redução do número de anos das li-cenciaturas e a criação do segundo ciclo, tí-tulos como “quartanista” e “quintanista”desaparecem, enquanto que as categorias“caloiro”, “semi–puto”, “puto” e “veterano”se mantêm. Agora, os estudantes do pri-meiro ciclo que tenham o mesmo númerode matrículas que a duração do curso quefrequentam, passam a ser designados “can-deeiros”. Segue–se a categoria de “bacha-rel” que se atribui aos alunos que tenhammais matrículas do que as necessárias paracompletar o primeiro ciclo. “Novato” é o es-tudante que se matricula pela primeira vezno segundo ciclo e que não possui nenhu-ma matrícula na UC. Os alunos que estãoinscritos pela primeira vez no segundo cicloe que não são “Novatos” adquirem o títulode “bolognez”. Criou–se também o grau de“marquez” para os estudantes que, por te-rem sido caloiros estrangeiros ou novatos,não podem passar à categoria de veteranos.Ou aqueles que, tendo duas matrículas no

segundo ciclo, não estão em condições determinar o curso. Por último, aparece o es-tatuto de “veterano”, para os estudantesnacionais que tenham um número de ma-trículas igual ou superior ao total previstoincluindo o segundo ciclo e que tenhamusado insígnias pessoais.

Verificam–se igualmente alterações nocalendário dos eventos tradicionais que re-sultam da nova hierarquia. Desde a Latadaaté à Queima das Fitas usa–se o grelo napasta (candeeiro grelado), a partir do Cor-tejo da Queima usam–se as fitas durantetrês semanas (candeeiro fitado). “Foi tudocondensado num ano”, sintetiza o Dux.“Só existem dois eventos vocacionados pa-ra os grelados (Queima do Grelo e o Corte-jo), os outros são para fitados. Se o Cortejocontinuasse a meio da Queima metade dascerimónias tradicionais não se realizariame haveria um acumular de actividades”,continua. Assim, o Cortejo vai ser antecipa-do para domingo, o que para a comunidadeestudantil “foi o maior choque”, revela JoãoLuís. É de assinalar a criação de um quartoperíodo de praxe, que vai desde o Cortejoaté à Bênção das Pastas, que se realiza trêsa quatro semanas depois.

O modo de agir das trupes vai agora obe-decer a uma maior regulamentação, dadoque é obrigatório o preenchimento de umdocumento, denominado “Sanctionatis Do-cumentum”, que permitirá uma maior res-ponsabilização dos infractores. “Aprovei-tou–se a revisão do código para acrescentaralgumas coisas, de modo a possibilitar ummaior controlo”, explica o Dux.

O colete proibidoOutra das novidades apresentadas é a

proibição do uso do colete no traje femini-no. A peça de vestuário académico passa a

estar interdita, depois de, na edição do có-digo de 2001, o seu uso ter sido facultativo.“Não foi uma proibição ao acaso”, justificao presidente do Conselho de Veteranos. “Ocolete era opcional e não obrigatório comoas lojas quiseram mostrar, impingindo apeça. Optou–se pela uniformização”.

A polémica gerada em torno desta decisãotem sido grande e admite–se a hipótese deapresentar abaixos–assinados ou moções.“Há a possibilidade de fazer circular umabaixo–assinado não só na Faculdade dePsicologia, mas também nas outras facul-dades, mas não é nada oficial”, revela Ale-xandre Almeida, do Núcleo de Estudantesde Psicologia e Ciências da Educação.O membro do Conselho de Veteranos, VitorFerreira, confidencia que “o único ponto aser votado por unanimidade foi o da proibi-ção do colete feminino”, acrescentando que“quando um ponto é aclamado por unani-midade é muito difícil haver revisão”.

Balanço finalA discussão do documento começou em

Outubro de 2006 e prolongou–se durantedez meses. O Conselho esteve aberto a su-gestões, mas, segundo João Luís Jesus,houve muito poucas. Para o processo foicriada uma Comissão constituída por novepessoas: veteranos, antigos estudantes e“pessoas com diferentes ideias sobre a pra-xe”. Esta Comissão apresentou propostasao Conselho de Veteranos, constituído por55 pessoas votou o documento final a 26 deJulho de 2007.

O Conselho de Veteranos mostra–se ain-da disponível para esclarecer qualquer tipode dúvidas.

O Dux revela estar satisfeito com o resul-tado final, “acho que se conseguiu fazer al-go de positivo e que vai revitalizar a praxe”.

FÁBIO TEIXEIRA

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Soraia Manuel Ramos

A moção que regulamenta a figura doestudante a tempo parcial foi aprovadaa 12 de Setembro, pelo Senado da Uni-versidade de Coimbra (UC). O novo re-gime permite a todos os alunos inscre-verem–se apenas em algumas cadeiras(as quais correspondam no máximo ametade dos créditos que o regime de es-tudantes a tempo integral comporta).

Outra das novidades da moção apro-vada visa permitir aos alunos o requeri-mento do estatuto de Estudante a Tem-po Parcial de uma forma retroactiva,para os dois últimos anos lectivos. To-davia, de acordo com a moção do Esta-do, esta só pode ser aplicada aos estu-dantes que “em cada um dos últimosdois anos lectivos não tenham obtidoaproveitamento a mais de metade donúmero de créditos”.

“Esta pode ser a solução ideal para fu-gir às prescrições”, confessa Ana Silva.A estudante, que trabalha em part–ti-me, não pode ir a todas as aulas e reve-la que vai a passar a dedicar–se “empleno a apenas três ou quatro cadeiras”.Para aderir ao novo regime Ana Silvaestá a preparar o requerimento ao Rei-tor, que tem como limite de entrega opróximo dia 31.

O regime é uma hipótese legal, con-templada também na lei de financia-mento, quando se refere o número má-ximo de matrículas que um estudantepode ter sem prescrever. Como cadaano lectivo de um aluno a tempo parcialequivale a meia matrícula esta pode servista como uma solução alternativa pa-ra evitar a prescrição.

Rui Santos, um aluno de Economiaem risco de prescrever, que fez a épocade especial de exames em Setembro,considera que “o regime de prescriçõesé injusto e peca pela falta de informa-ção”. No entanto, compreende que “nãohá espaço nem condições para todos naUniversidade de Coimbra”. No que tocaao novo regime considera que “a ideia éboa, pouco original, mas possivelmentea única solução para quem não querprescrever”.

Por parte da universidade, a vice–rei-tora Cristina Robalo Cordeiro defendeque este é um regime vantajoso porque“permite aos alunos ter menos cadei-ras, menos carga horária e pagar ape-nas 70 por cento da propina ou o valorda propina mínima”.

A vice–reitora da UC, salienta aindaque esta nova figura de estudante atempo parcial “torna os alunos maisresponsáveis e conscientes das suaspossibilidades e do contexto em que es-tão a estudar”.

66 A CABRA EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

Proibição do colete feminino é a alteração mais polémica do novo código da praxe

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Até ao século XVIII as praxes eram co-nhecidas como “investidas” e erammarcadas pela violência para com os ca-loiros, na altura chamados “novatos”.Por isso, o rei D. João V proibiu qual-quer ritual praxístico. Já no século XIX,deixa de se falar em “investidas” e pas-sam–se a usar os termos “caçoadas”.Durante a I República a praxe quase de-sapareceu. As práticas renascem em1919 e voltam a ser abolidas em 1969com a crise académica. Com o 25 deAbril, a praxe é retomada e o código quehavia sido lançado em 1957 foi sendoactualizado. Uma revisão mais profun-da levou à edição do código de 1993.Asduas últimas revisões datam de 2001 e2007.

Das “investidas” à praxe

Page 7: A CABRA – 170 – 9.10.2007

Até 1992 a frequência no ensino superior custava apenas 1200$00 (5.99€).Contudo, o último governo de Cavaco Silva decidiu aumentar o montante parauma média nacional de 55.000$00 (274.34€), prevendo uma atualização pro-gressiva. “Make love not propinas”, “O meu pai não paga” ou “não Pagamos!”foram algumas das palavras do descontentamento da Academia.

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A verdadeira“Briosa”

“Briosa” desde o “Tempo de Coimbra”,uma honrada crónica de António Cabralsobre a vida coimbrã.A mais antiga Secção Desportiva daAssociação Académica de Coimbra (AAC)foi fundada a 11 de Novembro de 1887.A Académica jogou no campo da Ínsua dosBentos, mas fez-se no Santa Cruz. O está-dio foi obra do trabalho de cooperaçãoestudantil. Só no primeiro encontro oficial,na época 1922/23, é que os estudantesvenceram. 3-0 foi o resultado ante oModerno, para o Campeonato de Coimbra.O símbolo máximo da sintonia existenteentre a Universidade de Coimbra e odesporto académico deu-se em 68/69,quando os estudantes envergaram faixasde contestação ao regime político vigente,na final do Jamor. A AAC perdeu o jogo por2-1 contra o Benfica, mas a situação ficoudistintamente marcada.Mas, antes disso, o palmarés da Académicaconta com uma Taça de Portugal, conquis-tada em 1939 precisamente ao clube daLuz, por 4-3. Como um dos “históricos” dofutebol nacional, a “equipa do Mondego”obteve um segundo lugar no CampeonatoNacional em 66/67. Foi campeã da IIDivisão Nacional em 48/49, 72/73 e pas-sou, memoravelmente, pelos quartos-de-final da Taça das Taças, em 69/70.Contudo, em 1974, a Academia cessou ofutebol profissional, devido ao lutoacadémico decretado pela DG/AAC.Surgiu, entretanto, o Clube Académico deCoimbra (CAC) que, apesar de nome e sím-bolo diferentes, alcançou a notoriedade daextinta Académica, na 1ª Divisão. Em 1984foi criado o Organismo Autónomo deFutebol, a Académica/OAF, numa tentati-va de reaproximação à casa-mãe, desta vezjá com o mesmo nome e símbolo.Presentemente, a Secção de Futebol daAAC milita na 1ª Divisão de Honra daAssociação de Futebol de Coimbra. Oplantel joga no Estádio Universitário, masespera voltar, em 2009, aos campos doSanta Cruz.O guarda-redes e vice-presidente dasecção, Pedro Bento, defende que se “man-tém os princípios básicos que vigoravamantes da separação”. Segundo o guardião,“a comunidade estudantil desconhecemuitas vezes a secção de futebol, pelomediatismodo OAF”, lamenta.

Por Patrícia Costa

������������������������������������������Considerado um emblema

da cidade, o edifício da AAC tem vindo a deteriorar-

se, perdendo muitas dassuas características iniciais

Adelaide Baptista

O edifício da Associação Académica deCoimbra (AAC) nasceu em 1961 pelas mãosdos arquitectos Alberto Pessoa e João AbelManta. A ideia surgiu em 1954 “na sequên-cia das obras da alta universitária, pois eranecessário reinstalar a AAC cujo edifício-–sede, o Palácio dos Grilos, tinha sido de-

molido”, explica o arquitecto José AntónioBandeirinha.

Optou–se por construir um edifício admi-nistrativo e cultural – o edifício das secções- , e o Estádio Universitário de Coimbra pa-ra abrigar as secções desportivas. Na opi-nião do arquitecto, o complexo da AAC,constituído pelas cantinas, pelo Teatro Aca-démico Gil Vicente (TAGV) e pelo edifíciodas secções, é um “projecto muito inteli-gente pois cria módulos que têm algumamaleabilidade, tem um rigor e qualidade deacabamentos excepcional para a época, ha-vendo uma simbiose perfeita entre a arqui-tectura e as artes plásticas presente nos pai-néis de azulejos e no jardim”.

Porém, Bandeirinha admite que “a mag-

nifica obra de arquitectura que é o edifícioestá hoje escondida por uma grande polui-ção visual”. O edifício tem sido alterado “deforma quase irreversível devido às peque-nas obras de transformação que foram des-truindo o espaço”. Segundo o arquitecto,“alterar o edifício da maneira como se alte-rou equivale a mexer numa construção me-dieval ”.

Quanto à ideia que existe de que o edifícioda AAC tem a marca da escola alemãBauhaus, Bandeirinha afirma que “apenasde forma muito remota é que se poderia di-zer que a construção é daquele movimento.No entanto, o arquitecto sublinha que estaobra “se estivesse em bom estado seria re-conhecida em todo o mundo”.

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História

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9 de Outubro de 2007, 3ª feira PPAAGGIINNAA A CABRA 77

Page 8: A CABRA – 170 – 9.10.2007

Dinamizar a actividade turística de Coimbra

a nível nacional einternacional é o objectivo da

recentemente criada Turismo Coimbra – Empresa Municipal

Nuno BragaLiliana Figueira

Ângela Monteiro

A Turismo Coimbra – Empresa Muni-cipal (TC) resultou da necessidade de fa-cilitar a criação de parcerias com priva-dos de modo a fomentar a realização deeventos culturais na cidade dos estu-dantes, que envolvam tanto o municípiocomo entidades privadas.

Apesar de já haver empresas interessa-das na iniciativa, o presidente da Câma-ra Municipal de Coimbra, Carlos Encar-nação, não adianta nomes, remetendopara a TC, fundada em Fevereiro passa-do, a tarefa de captar os investimentos edefinir os projectos a realizar. Para tal,está prevista uma revisão dos estatutoscom vista a possibilitar a entrada de ca-pitais privados, que encontram no po-tencial turístico de Coimbra uma opor-tunidade de investimento. Carlos En-carnação confirma que “nesta altura, aempresa é unicamente pública mas oobjectivo é que se transforme breve-mente numa empresa de capitais públi-cos com a participação de capitais priva-dos”.

Uma das apostas fortes da TC é a cria-ção de um sítio informativo sobre a ci-dade e os locais de maior interesse. Opresidente da empresa municipal de tu-rismo, Luís Alcoforado, classifica o por-tal como “uma espécie de posto de turis-mo virtual para que as pessoas, em qual-quer ponto do mundo, possam prepararas suas visitas antes de chegarem à cida-

de de Coimbra”.A remodelação do convento de S. Fran-cisco, futuro centro de congressos, e oaumento do número de visitas guiadas,por dia, à Universidade de Coimbra(UC) são outras das prioridades assumi-das pela empresa. O presidente avançaainda que a reitoria “espera fechar o anocom 180 mil entradas pagas na Univer-sidade”, sem contar com os convites dacomunidade académica e os participan-tes nos congressos organizados pela UC.“Temos números muito interessantesque estão ao nível de qualquer museunacional”, conclui.

Tendo em conta que Coimbra é umacidade cujas características estão suba-proveitadas, há que começar a “marcarencontro com a História, a cultura e aarte da cidade”, criando “alguns eventosde realização temporal fixa na épocabaixa”, sublinha Alcoforado.

O “circuito dos presépios” é a primei-ra de uma série de actividades, a cargoda TC que, em Dezembro, vai levar osturistas e os conimbricenses a conhece-rem o património da cidade.

Também o fado, a guitarra e os mitosfemininos, Rainha Santa Isabel e Inêsde Castro, são peças fundamentais dacultura de Coimbra que a TC pretenderevalorizar.

Luís Alcoforado salienta a necessidadede investir na publicidade além frontei-ras. Assim, no primeiro trimestre de2008, a Turismo Coimbra – EmpresaMunicipal vai apostar fortemente nomercado espanhol, com especial inci-dência na televisão.Alcoforado remata: “mais importante

que dizer que Coimbra é a cidade do co-nhecimento, devia ser que Coimbra é acidade onde o conhecimento está ao al-cance de todos”.

Perante a acumulação de areia no leito do rio Mondego,

prevêem–se consequências e

adiam–se soluções paramanter a navegabilidade

Filipa Faria

O Mondego é cada vez mais um rio deareia. As consequências são várias e vãodesde a redução do percurso náutico doBasófias às inundações num Invernochuvoso.

Entre as causas apontadas para este

problema, Renato Ladeiro, da OdabarcaAnimação Turística, afirma que “o pro-blema persiste há 10 anos”. Ladeiroconstata que, “se a ponte Rainha SantaIsabel não existisse, o assoreamentonão seria um problema porque a areiaseria arrastada”.

O vice–presidente da Câmara Munici-pal de Coimbra (CMC), João Rebelo,atribui a responsabilidade ao Institutoda Água (INAG) por “nunca ter intervi-do como devia, e não ter feito o desasso-reamento do rio nos pontos mais signi-ficativos”.

João Rebelo revela que a única coisaque a CMC pode fazer “é exercer pres-são sobre o INAG para resolver essaquestão”. O vice–presidente não conse-

gue “perceber o porquê desta demora”,mas adianta que “o concurso vai ser fei-to este ano para a obra ser executadaem 2008”.

A autarquia impõe algumas condiçõesà entidade que ficar encarregue pelo de-sassoreamento do Mondego: “a extrac-ção deve ser feita sob a água do rio e nãoapenas com um pequeno curso deágua”, porque isso “privaria a cidade deCoimbra de um verão com desportosnáuticos e navegação turística”.

Renato Ladeiro alerta que “no Inver-no o caudal do Mondego é elevado e acorrente tem mais força e, devido à acu-mulação de areia, há tendência para orio encher”. O nível das águas sobe e osestragos são uma possibilidade. Rebelo

afirma que, nesse cenário, “a câmarapode tomar as providências todas, maso desassoreamento do rio ainda não foifeito. As consequências podem surgir eapenas serem minoradas”.João Rebelo garante que “a Câmara su-

geriu ao INAG a futura venda da areiaextraída e a aplicação do dinheiro na re-qualificação dos paredões”. No entanto,o vice–presidente lamenta que “não se-ja essa a ideia do instituto”.O Instituto da Água, aquando contacta-do por A CABRA, remeteu a responsabi-lidade do projecto de desassoreamentoà Comissão de Coordenação e Desen-volvimento Regional do Centro, da qualnão obtivemos qualquer resposta até aofecho da edição.

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88 A CABRA CCIIDDAADDEE 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

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Luís Alcoforado pretende redefinir a imagem de Coimbra no estrangeiro

3Presidente da C. M. de Coimbra

Consegue imaginar acidade sem aUniversidade?

Dificilmente. A Históriada cidade e da universidadeestão interligadas, “a marcaCoimbra” está tão ligada a

uma coisa e a outra que é difícil prevera sua dissolução. Tenho dito muito ve-zes que, no fundo, Coimbra é o resulta-do concreto de duas irmãs siamesas, ci-dade e universidade, ligadas por um co-ração comum. Se uma morrer, a outratambém morre.

2

O que é que Coimbratem de melhor e depior?

De melhor, uma quali-dade de vida acima da mé-

dia, do ponto de vista geral. Penso quetem índices de qualidade de vida muitosuperiores em relação à maior partedas cidades. De pior, um grande desre-gulamento em várias áreas da cidade,uma grande confusão, como em SantaClara e S. Martinho do Bispo. Há váriosdesregulamentos do ponto de vista ur-banístico, na cidade.

1

Um café, um bom lugarpara ler e uma rua deeleição em Coimbra.

O melhor café da cida-de é aquele onde vou todosos sábados de manhã,quando posso, um barzinhojunto ao rio no Parque Dr.

Manuel Braga. Lá posso estar sossega-do, sozinho, a ler os jornais. A rua deeleição será certamente na Baixa, asruas Visconde da Luz e Ferreira Borges.

Martha Mendes

3

Carlos Encarnação

NUNO BRAGA

Page 9: A CABRA – 170 – 9.10.2007

Plano Tecnológico português possibilita umaparticipação mais activa

dos cidadãos através de serviços públicos

via electrónica

Raquel CarvalhoAna Raquel Melo

Joana Mendes

Portugal é o terceiro melhor país europeuna disponibilidade de serviços públicosonline (ver gráfico) e o quarto a nível desofisticação. Este é o resultado de um estu-do promovido pela Comissão Europeia,que analisou os serviços públicos onlineoferecidos pelos 27 Estados–membros daUnião Europeia.

A publicação do Diário da República naInternet a custo zero, o Portal do Cidadãoe o Portal da Empresa são alguns dos pro-jectos de maior impacto junto da popula-ção e que explicam os resultados obtidospor Portugal.

Segundo o membro da Agência para a So-ciedade do Conhecimento, Graça Simões,o Portal da Empresa é “uma das iniciativasmais inovadoras a nível nacional e interna-cional, dada a possibilidade de criar umaempresa online, com custos e burocraciamais reduzidos”. Por sua vez, a sociólogaFátima Fonseca sublinha a importância doPortal do Cidadão, porque “a organizaçãodos serviços é feita em função das necessi-dades das pessoas e não em função da es-trutura orgânica da administração públi-ca”. Esta é precisamente a base do governoelectrónico: “identificar as necessidades

básicas da população e investir na capaci-tação dos serviços públicos”, conclui adoutoranda em “Governação, Conheci-mento e Inovação”.

Uma das empresas que mais cooperacom o sector público português é a CriticalSotfware, cujo “volume de negócios temvindo a crescer cerca de 100 por cento nes-sa área”, afirma o “Business DevelopmentManager”, Filipe Freitas. A empresa pre-tende tornar o serviço público mais efi-ciente e mais próximo dos cidadãos portu-gueses, operando em áreas como a admi-nistração interna, a justiça ou a segurançasocial. Além disso, “a Critical Software vi-sa ultrapassar o espaço português, desen-volvendo plataformas que permitem facili-tar a comunicação entre os Estados euro-peus”, acrescenta Filipe Freitas.

Ainda ao nível da relação entre os Esta-dos, o Gabinete do Coordenador da Estra-tégia de Lisboa e do Plano Tecnológico re-fere o Passaporte Electrónico como “umexemplo inovador numa nova lógica dereorganização dos serviços públicos”.

Serviço público aproxima–se dos cidadãos

A disponibilização de serviços públicosonline tem contribuído não só para umamaior aproximação entre os Estados, mastambém entre o cidadão e o seu governo.De acordo com o Gabinete do Coordena-dor do Plano Tecnológico, “o relaciona-mento dos cidadãos e também das empre-sas com a administração pública tem vindoa mudar”. Exemplo disso é que em 2007,pela primeira vez, o número de declara-ções fiscais electrónicas ultrapassou as queforam entregues em papel, cerca de 3 mi-lhões de pessoas usaram a Internet para

este fim. O serviço online de emprego (Ne-temprego), que conta com mais de 400 milcurrículos online; a compra do selo para oautomóvel; e a Empresa na Hora, são ou-tros projectos que registam grande adesão.

Além disso, as estratégias de governaçãoelectrónica têm contribuído para umamaior transparência dos processos políti-cos e uma participação mais activa dos ci-dadãos. Empresas como a Critical Softwa-re estão a trabalhar na perspectiva de darmobilidade aos processos eleitorais, per-mitindo que uma pessoa vote em qualquerlugar. “O voto electrónico é uma forma desimplificar a vida e de combater a absten-ção eleitoral”, considera a socióloga Fáti-ma Fonseca.

Por outro lado, o investigador do Centrode Estudos Sociais, Elísio Estanque, con-corda que “ os meios electrónicos podemser úteis para possibilitar uma maiortransparência e mobilização dos cida-dãos”, mas lembra que “esses meios po-dem ter implicações ao nível de uma maior

vigilância sobre a nossa actividade e sobrea nossa esfera privada”. O sociólogo afirmaainda que “a componente electrónica não éum fim em si mesmo, mas um meio”, aler-tando para “a necessidade de medidascomplementares, que devem ser articula-das com a disponibilização de meios infor-máticos de forma a colmatar a infoexclu-são”.

Tendo em conta as limitações ainda exis-tentes, Graça Simões da Agência para a So-ciedade do Conhecimento, afirma que“uma das prioridades é adequar todos ossites da administração pública central aoscidadãos com necessidades especiais e ido-sos, até ao final deste ano”. Nesse sentido,“o governo português pretende apostarnuma massificação da utilização de com-putadores e da Internet de banda larga,bem como na aquisição de competênciasbásicas em Tecnologias da Informação eComunicação pela população”, acrescentao gabinete do Coordenador do Plano Tec-nológico.

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9 de Outubro de 2007, 3ª feira NNAACCIIOONNAALL A CABRA 99

Portugal na fila da frente dos serviços públicos digitais

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Page 10: A CABRA – 170 – 9.10.2007

Após 19 anos de silêncio,a população birmanesa voltou a sair à rua em

protesto contra o regimeditatorial. Analistas

admitem que a situaçãopossa inspirar outras

insurreições

Ana Bela FerreiraTiago Martins

Ana Filipa Oliveira

Actualmente designada de Myanmarpela Organização das Nações Unidas(ONU), a Birmânia está entre os 20 paísesmais pobres do mundo. No entanto, é umdos Estados mais ricos em recursos natu-rais. Em Agosto a situação agravou–secom o aumento em mais de 100 e500 por cento nos preços doscombustíveis e do gás natu-ral, respectivamente.Uma medida aplica-da, sem aviso pré-vio, pela junta mili-tar que governa opaís há 45 anos eque se denominaConselho de Estadopara a Paz e Desenvolvi-mento.

Em resposta, a população saiu àrua, e aquilo que começou por ser um pro-testo culminou em manifestações contra oregime. Com a entrada simbólica dosmonges budistas, a contestação aumen-tou, adquirindo contornos de resistênciapacífica ao regime. Desta forma, a Birmâ-nia transformou–se numa questão priori-tária para a comunidade internacional.Para a vice–presidente da Amnistia Inter-nacional Portugal, Lucília José Justino, “asituação era previsível, embora a dimen-são, o alargamento e rapidez dos protes-tos e das manifestações tenham surpreen-dido todos, especialmente os militares”.

Na Birmânia, oitenta por cento da popu-lação é budista e os monges exercem o pa-pel de líderes espirituais da comunidade.Na perspectiva do eurodeputado socialis-ta, Capoulas Santos, “os monges budistassão uma autoridade moral que tem umgrande impacto na política”. E acrescentaque “não se trata do protesto de popula-ções enraivecidas ou sangrentas, trata–sede um protesto muito categórico de quemdedica a sua vida à reflexão”.

Invocando a manifestação pró–demo-cracia de 1988, onde milhares de pessoasforam reprimidas pela junta militar e queresultou em três mil mortos, o especialis-ta em relações internacionais, Luís Tomé,defende que desta vez o desfecho pode serdiferente. “Aquilo que aconteceu com aditadura militar é intolerável que sejaaceite hoje”, explica. Numa postura opti-mista, o docente da Faculdade de Econo-

mia da Universidade de Coimbra, RogérioLeitão, considera que “esta é uma situa-ção diferente que abre perspectivas parafinalmente [o país] chegar a um processode democratização”. Também CapoulasSantos acredita na queda do actual regi-me. Contudo receia que “possa não ocor-rer de forma pacífica”.

Entretanto, a Junta Militar aplicou me-didas severas para pôr fim a qualquer for-ma de protesto. Para além de decretar orecolher obrigatório, proibiu a reunião degrupos demais decinco

pessoas e a ligação à Internet deixou defuncionar. Até agora, várias pessoas fo-ram presas, mas o número difere confor-me a fonte. Segundo dados divulgados pe-lo regime, dez pessoas morreram duranteos confrontos dos últimos dias e cerca deduas mil foram detidas. Mas associaçõesde defesa dos direitos humanos acreditamque, até à semana passada, mais de umacentena de manifestantes pacíficos perde-ram a vida e cerca de seis mil pessoas es-tão detidas pelas autoridades.

O alerta internacionalA comunidade internacional já apelou a

uma resolução pacífica da situação. OsEstados Unidos da América e a União Eu-ropeia sugeriram à ONU o agravamentodas sanções. Mas, na opinião dos analis-tas, os países que podem fazer a diferençasão a Índia e a República Popular da Chi-na. Rogério Leitão considera que “a Chinatem mostrado alguma abertura e preocu-pação com a situação birmanesa”, sobre-tudo no que diz respeito ao seu projectode desenvolvimento económico para a re-gião. “Isso é um factor que pode pressio-nar a China a ter um papel mais activo nasolução do problema”, acrescenta o do-cente. E conclui: “A China é sem dúvida ogrande actor que pode, e deve, ter um pa-pel de descongestionar esta situação”.

Luís Tomé relembra que “a Índia e aChina têm–se pautado, nestas últimas dé-cadas, por uma postura de não ingerência

nos assuntos internos de outros países”.No entanto, o investigador defende que“os dois países são cada vez mais impor-tantes do ponto de vista da política inter-nacional. Desta forma, “é inevitável queessas responsabilidades sejam trazidaspara a resolução do Myanmar”, esclarece.

O movimento birmanês de resistênciapacífica pode servir de incentivo a outrasinsurreições. Rogério Leitão admite que o“efeito contágio pode ser muito forte,principalmente no universo do budismo”.E considera que “a China vai ter em contaeste elemento”. Na mesma linha de pen-

samento, Capoulas Santos fala de um“efeito dominó”, alegando que “é ne-cessário cautela e pragmatismo pa-ra encontrar uma solução satisfa-tória para evitar a criação de um

precedente”. Luís Tomé concorda que o Ti-bete pode inspirar–se nas

manifestações birmane-sas. O especialista re-

lembra ainda queestas não são as

primeiras vo-zes pacífi-cas a ten-tar mudarum regimee que por

isso “sãoo l h a d a s

pelo podercomo mecanismos subversivos provavel-mente ao serviço de actores externos”.Daí que a “reacção e percepção dos acon-tecimentos seja diferente da opinião pú-blica internacional”, analisa Luís Tomé.

A resistência pacífica não é um métodoexclusivo dos monges budistas(ver info-grafia), embora o seu expoente máximoseja o religioso Mahatma Gandhi. Este li-derou a revolução pacífica que conduziu aÍndia à independência, em 1947 , inspi-rando movimentos em todo o mundo. Po-rém, os actos de resistência pacífica maisrecentes, tiveram lugar no interior da Eu-ropa do Leste. Alguns destes movimentostiveram sucesso, mas outros ainda “lu-tam” pela democracia, como é o caso doZubr na Bielorrússia.

Birmânia ������������������������������ ��������������

1100 A CABRA IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

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ILUSTRAÇÃO: JOSÉ MIGUEL PEREIRA

INFOGRAFIA: RUI ANTUNES

Uma longa espera1948 Independência1962 O general Nei Win toma o podere impõe um partido único1988 Milhares de manifestantes sãomortos ao lutar pela democracia. Umanova Junta sobe ao poder1991 Aung San Suu Kyi recebe o Pré-mio Nobel da Paz1992 Início da governação do actuallíder, Than ShewSetembro 2007 Os monges organi-zam marchas contra a brutalidade doregime

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A saúde tem sidouma das prioridades

na investigação científica da UC. As apostas são

muitas nos vários departamentos da FCTUC

Marta CostaRita Matos

Carla São Miguel

As doenças hepáticas e sua relação como desenvolvimento da diabetes é o projec-to que, neste momento, ocupa os investi-gadores Carlos Palmeira e Anabela Rolodo Departamento de Zoologia daFaculdade de Ciências e Tecnologia daUniversidade de Coimbra (FCTUC). O trabalho, revela a investigadora, “con-siste em determinar quais os sinais quesão enviados por órgãos como o fígado aotecido adiposo de pessoas obesas”. Anabe-la Rolo acredita que estes sinais “vão indu-zir alterações no metabolismo de outrosórgãos”. Um dos objectivos da investigação é o de-senvolvimento de técnicas que evitem aprogressão de doenças hepáticas para ca-sos mais graves como o cancro. A finalida-de do projecto é “conseguir transpor os re-sultados obtidos para a melhoria da condi-ção humana”.

A investigadora do Departamento de En-genharia Química da FCTUC, Helena Gil,verificou “que era possível colar órgãos in-ternos”. Esta técnica “também tinha a van-tagem de evitar hemorragias”, acrescentaa especialista.

Os adesivos biológicos são uma tecnolo-gia que possibilita fazer a adesão de teci-

dos sem recurso a pontos. O material usa-do é absorvido pelo organismo, não sendonecessário removê–lo depois da “regene-ração do tecido”, afirma Helena Gil.

A ideia não é nova, mas a investigadorasublinha que a “toxicidade é inferior aosque já existem no mercado”, possibilitan-do a sua aplicação a nível interno.

Investigação auxilia doentesDa necessidade de acompanhamento de

crianças em estado crítico, resultou o sis-tema de transporte de doentes recém-–nascidos. O investigador do Departa-mento de Engenharia Informática da FC-TUC, Jorge Henriques, explica que “a ideiaé, em situações críticas, tratar de transfe-rências de doentes de um hospital satélitepara um hospital central pediátrico”.

O transporte de bebés em estado críticoconsiste, num primeiro momento, na defi-nição da possibilidade de transferência en-

tre hospitais. A segunda fase, prevista pa-ra o próximo ano, pretende “integrar o sis-tema de comunicação na própria ambu-lância”, adianta Jorge Henriques. O objec-tivo é o acompanhamento do bebé “en-quanto decorre o processo de transferên-cia”.

Também a investigadora do Departa-mento de Antropologia da FCTUC, Ma-nuela Alvarez, responsável pela pesquisareferente à Espondilite Anquilosante con-sidera a investigação científica “um auxíliopara os médicos mas sobretudo para osdoentes”.

O projecto de pesquisa sobre a Espondi-lite Anquilosante, ainda a decorrer, já ob-teve alguns resultados que podem “dimi-nuir o grau de sofrimento” dos doentes.Manuela Alvarez acrescenta ainda que,“agora estamos apenas a recolher dados”,mas esperam–se “mais conclusões para ofinal do ano”.

Tubo deEnsaio

A Ciência aquitão perto

NomeExploratório Infante D. Henrique, Cen-

tro Ciência Viva de Coimbra

LocalCasa Municipal da Cultura de Coimbra

Data de CriaçãoNovembro de 1995

ResponsávelVictor Manuel Simões Gil

ColaboradoresDe momento, o Exploratório conta com

três professores destacados pelo Ministé-rio. Existe uma equipa de oito colabora-dores. A direcção é composta por trêsprofessores universitários

Área de trabalhoO Exploratório é um museu de ciência

interactivo. Dedicado em especial àscrianças, pretende ensinar de uma formadivertida. “Proibido não mexer”é o lema,afirma uma responsável

Projectos desenvolvidosExiste uma exposição interactiva perma-

nente. Existe, entre outros, um módulode astronomia, um observatório de árvo-res, hortas pedagógicas e aquários. O Ex-ploratório também é responsável pela di-namização de dois clubes científicos noParque Verde do Mondego

FinanciamentoO grosso do financiamento do Explorató-rio provém do Ministério da Ciência e doEnsino Superior, enquadrado no progra-ma Ciência Viva.

Expectativas Para O FuturoO grande objectivo é a construção de um

novo espaço, na margem esquerda doMondego. Segundo responsáveis do Ex-ploratório, o projecto já está aprovado eas obras vão começar brevemente

ContactosTelefone: 239 7038 E-mail: [email protected]: http://www.exploratorio.pt

Por Marco Roque

BRUNA GUERREIRO

Astrónomos da UC integrammissão científica da AgênciaEspacial Europeia que tem

como objectivo medira idade das estrelas

Carolina de SáCátia Sousa

João Fernandes e Margarida Serote,investigadores da Faculdade de Ciênciae Tecnologia da Universidade Coimbra(FCTUC) e membros do Grupo de As-trofísica da UC (GAUC) estão a desen-volver modelos teóricos que vão permi-tir uma análise da duração da vida dasestrelas. O estudo pode, consequentemente, dar

a conhecer a idade do Universo. JoãoFernandes argumenta que “não existemestrelas mais antigas que o cosmos, por-tanto é credível que as estrelas mais ve-lhas tenham nascido nos primórdios douniverso”.

O brilho das estrelas e a sua posiçãono espaço são factores que vão auxiliaros investigadores durante a fase de me-dição. Outros elementos, como a com-posição química e a temperatura doscorpos estelares, vão ser também obser-vados pela Sonda que será lançada noano de 2011, integrada no projectoGAIA.

A missão espacial surge na sequênciade uma outra missão, Hipparcos, que serevelou insuficiente pela falta de umasonda que permitisse obter dados maisconcretos. No ano de 2001, Hipparcosterminou a sua actividade.

Actualmente, GAIA envolve técnicos eastrónomos de diversos países da UniãoEuropeia. Neste momento em solo na-cional têm vindo a ser desenvolvidastécnicas computacionais para a simula-ção de observação das estrelas.

Departamentos académicos da Uni-versidade de Lisboa, Universidade doPorto e Universidade Nova de Lisboa,em parceria com duas empresas portu-

guesas de software, formam um consór-cio na missão.

Segundo o astrónomo da UC, o traba-lho em curso resulta de uma congrega-ção de esforços das instituições lusaspara atingir um objectivo comum. JoãoFernandes reforça ainda que a “partici-pação nacional na missão GAIA é umdos poucos exemplos em que, em Por-tugal, o meio universitário e empresa-rial se unem em bloco para o mesmofim”. Também no Observatório Euro-peu do Sul, a marca portuguesa é visí-vel: astrónomos lusos colaboram emobservações feitas a partir da terra e doespaço.

O docente refere ainda 2009 como umano propício para o desenvolvimento edivulgação dos projectos relacionadoscom a exploração espacial, visto tratar-–se do Ano Internacional da Astrono-mia. Em Portugal também vão ser dina-mizados eventos com o intuito de pro-mover a história da astronomia do nos-so país.

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Avanços no transporte de recém-nascidos é um dos projectos da FCTUC

9 de Outubro de 2007, 3ª feira CCIIEENNCCIIAA A CABRA 1111

De 1 Out. a 30 Nov. Das 10h às 14h – Pas-seios de Outono na Mata do Botânico - Matado Jardim do Botânico

10 e 17 de Out. 15h – Quartas com a Indús-tria – Departamento de Engenharia Mecânicada UC

17 de Out. 15h15 - Conferência: “Meninosgordos: todos diferentes todos iguais” - Servi-ço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolis-mo dos HUC

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1122 A CABRA TTEEMMAA 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

Quando elesestavam do outro lado...Numa sala de aula há sempre os que estãosentados e o que está de pé. Porém, os queagora ensinam, um dia já estiveram no lu-gar dos que aprendem… Por Rui Antunes,Filipa Faria e Andreia Silva*

aber qual era percurso estu-dantil dos seus professoresfaz parte do imaginário demuitos alunos. Alguns dosmais ilustres docentes da

Universidade de Coimbra (UC) aceita-ram o desafio de contar as suas vivênciasacadémicas. No pretérito, e com algumsaudosismo, relatam percursos pessoaisque, a certa altura, coincidiram com mo-mentos históricos da universidade e doPaís.

“Coimbra sempre foi uma festa”. É des-ta forma que Carlos Fiolhais, professorcatedrático da Faculdade de Ciências eTecnologia da Universidade de Coimbra(FCTUC), retrata os seus períodos de di-versão enquanto estudante. Apesar de terestudado entre 1973 e 1978, em pleno lu-to académico, Fiolhais garante que “ha-via sempre a possibilidade dos estudan-tes se divertirem, fazíamos as nossas pró-prias festas”. “A malta reunia–se no Tea-tro Académico Gil Vicente (TAGV) e de-pois ia beber um copo. Um copo não, vá-rios copos…”, revela.

Já Amadeu Carvalho Homem, profes-sor da Faculdade de Letras da UC(FLUC), preferia o cinema. “Íamos aoSousa Bastos e ao Avenida e depois co-mentávamos os filmes à mesa do cafécom uns finos à volta”, recorda. CarvalhoHomem considera também que quandofrequentou a sua licenciatura (início dadécada de 60) “os estudantes de Coimbratinham, entre si, uma relação muito maisumbilical do que têm hoje”.

Pertencente a uma outra geração, Amíl-car Falcão, professor catedrático da Fa-culdade de Farmácia da UC (FFUC), fala

num quotidiano mais parecido com osdias de hoje: “ estudava nas cantinas comos colegas, tinha aulas de tarde e à noiteíamos aos cafés”. Durante o seu curso(1983 a 1989), todas as semanas, o do-cente cumpria o ritual de “jogar à bolacom os amigos da faculdade e terminar odia na Praça da República a beber umascervejolas”.

Com uma vida mais ligada ao estudo,Carlos Reis, catedrático da FLUC, narra“um quotidiano relativamente trivial eapagado, com poucacoisa de extraordiná-rio: um namorico, umbailarico e a ida a umbarzito à noite”. Oprofessor fala de umasociedade inocenteem que “as meninasestudantes viviam emlares dirigidos porfreiras, com horários estritos”, o que li-mitava as saídas. “Uma ida ao cinema ouum baile de vez em quando e pouco pas-sava daí”, conclui.

Manuel Lopes Porto, catedrático apo-sentado da Faculdade de Direito da UCreitera o que diz Carlos Reis, lembrandoa dificuldade que os rapazes tinham parase aproximarem das colegas. Miúdas àparte, Lopes Porto lembra que “haviaépocas de mais boémia, como as latadas”e que as saídas nocturnas “dependiammuito das associações em que se estavaenvolvido e dos interesses de cada um”.

Tempos de AbrilA maioria dos professores contactados

viveu momentos marcantes na história

da Universidade de Coimbra e do País. Acrise académica de 69 e o 25 de Abril de74 impõem–se como inevitáveis recorda-ções. Num misto de orgulho e nostalgia,Carlos Fiolhais brinca com a situação di-zendo: “Àquela pergunta do Batista Bas-tos: ‘Onde é que estava no 25 de Abril?’,eu posso responder: a estudar na Univer-sidade de Coimbra”. Carlos Reis e JoséReis, catedrático da Faculdade de Econo-mia da UC (FEUC) podiam subscrever aresposta. José Reis recorda que no dia da

Revolução dos Cravosfoi a uma aula às oitoda manhã e “aindanão sabia que tinhahavido uma revolu-ção, mas, a partir daí,nunca mais fui a umaaula a essa hora”. JáFiolhais conta que es-tava a meio de uma

aula de matemática quando alguémabriu a porta e disse: “a aula acabou, háuma revolução na rua”. “O 25 de Abrilmudou tudo”, sintetiza o professor daFCTUC.Carlos Reis prefere destacar o enriqueci-mento pessoal que adquiriu ao viver es-tes dois acontecimentos, considerandoser “um privilégio” pertencer a esta gera-ção de Abril. José Reis partilha da mes-ma opinião dizendo que “foram períodosestimulantes e de grande transformaçãoda universidade”.

Sítios que ficaram na memóriaApesar de estudarem em épocas dife-

rentes, que abrangem três décadas(60,70 e 80), os professores são unâni-

mes quanto ao local de preferência: aPraça da República. No que diz respeitoao lazer, todos os caminhos iam daràquele espaço. “Eu vivia na Praça da Re-pública, que era o coração da vida acadé-mica”, refere José Reis. O docente daFEUC define–se como “um dos fiéis doTropical naquela altura” e acrescenta quea praça era um “local onde se discutia po-lítica, e se resolviam todos os problemasdo mundo entre a meia–noite e as quatroda manhã”. Contudo, enquanto criava oCentro de Estudos Sociais e a RevistaCrítica dos Assuntos Sociais, tinha aindatempo para frequentar outros espaçoscomo o TAGV, a Associação Académica ealgumas repúblicas. Já Carvalho Homeme Fiolhais preferiam o “mítico Manda-rim”.

Também Carlos Reis elege a praça co-mo centro da vida académica. O docenterelembra igualmente o Tropical e o Mo-çambique, bem como outros cafés “ondese jogava bilhar e matraquilhos”. “Lem-bro–me inclusive de jogar matraquilhoscom o Laurentino Dias [actual Secretáriode Estado do Desporto]”. Todavia, nãoesquece o Oásis, situado junto à Sé Velha,nem as tardes que passava no Internacio-nal, um café–biblioteca localizado naBaixa. Amílcar Falcão frequentava o caféAcadémico por uma razão especial: “ti-nha umas tostas mistas maravilhosas”.

Porém, apesar da Praça da Repúblicaser o principal local de encontro, o espa-ço mais unânime tem como morada a ruaPadre António Vieira. O bar da Associa-ção Académica de Coimbra (AAC) atra-vessou gerações, assumindo–se comoum local de referência. “Lembro–me de

sA malta reunia-

se no TAGV e depoisia beber um copo.

Um copo não, vários copos...

“”

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CÁTIA MONTEIRO

ir lá e beber um café por dez tostões”, dizCarlos Reis num tom saudosista.

Academia: o ‘habitat’ natural dos estudantes

Tal como acontece hoje, a AAC semprefoi vista como uma segunda casa para osestudantes. Os agora professores não fu-giam à regra. José Reis optou por umaaproximação política, fazendo parte daDirecção–Geral da AAC (DG/AAC) eleitaem 77. Apesar de a DG/AAC se ter assu-mido como “independente”, o professorda FEUC admite que “apoiava o lado es-querdo da vida”. Já Fiolhais preferia“passar as noites com o rei, a rainha e obispo”, em campeonatos organizados pe-la Secção de Xadrez. Por sua vez, LopesPorto conta que passava pouco tempo naassociação. Ainda assim o catedrático deDireito fez parte do Orfeon e jogou hó-quei em patins na Académica.

Longe das actividades políticas, Amíl-car Falcão usufruía da oferta desportivada AAC. Durante os primeiros anos decurso, jogou andebol na Académica, quedepois veio a abandonar para se dedicarà Secção de Ténis.

A equipa de futebol sempre foi um es-tímulo à ligação entre os estudantes e aAcademia. No entender de Carvalho Ho-mem “a briosa era uma referência funda-mental”. Carlos Reis também define aequipa de futebol como um marco na vi-da dos estudantes. O professor da FLUCconta que, no seu primeiro ano, chegou asair de Coimbra, de Capa e Batina, parair ver jogar a Académica. No entanto, fazquestão de relembrar que a equipa aindaera composta por estudantes.

Tradição Vs. luto“Capa Negra/ Rosa Negra / Bandeira

da Liberdade”… Carvalho Homem cita osversos de Adriano Correia de Oliveira,para explicar porque sempre usou traje.Para o docente da FLUC vestir Capa eBatina era um acto “reaccionário no inte-rior de um regime que abafava todas asliberdades”. Além disso, o traje era usa-do por uma questão económica. “O estu-dante não tinha muitas posses, haviamuita gente que não tinha dinheiro e osalunos que usavam traje chegavam a fa-zer todo o seu curso com dois ou três pa-

res de calças”, recorda. No que diz res-peito à praxe, o professor não considerater sido “um praxista por essência”. Noentanto, confessa: “cheguei a fazer tru-pes, e também fiz questão de ser rapadoe ir assim para o Mandarim”.

Já José Reis é absolutamente anti–pra-xe. O docente considera que o costume “éuma forma de incultura total que des-prestigia a universidade”. Para Fiolhais ofacto de, no seu período de estudante, apraxe ter estado suspensa fez com quenão se identificasse minimamente comas tradições académicas.

Uns viveram antes da revolução, outros

durante e outros depois. Contudo, amaioria dos professores viveu momentosmarcantes. Apesar do País estar em mu-dança, os que agora são notáveis profes-sores, tiveram um quotidiano comum.Sem fotocópias nem computadores, mascom um enorme espírito crítico e irreve-rência que sempre caracterizou a Acade-mia. Como qualquer estudante, aliaramo estudo à diversão. Um caminho vulgarmarcado por períodos quentes, por his-tórias “do tempo da outra senhora” e poraquilo que os une a todos: a Universida-de de Coimbra. Com Susana Ramos

9 de Outubro de 2007, 3ª feira TTEEMMAA A CABRA 1133

Amadeu Carvalho Homem

O tropa–estudanteA recordação mais marcante da vivênciaacadémica de Carvalho Homem prende-–se com a chamada ao exército. “A meiodo curso fui obrigado a cumprir serviçomilitar, e fiquei sem quaisquer contactoscom Coimbra. Acontece que continuei omeu curso e fiz cadeiras com classifica-ções apreciáveis, porque havia colegasque, sem que eu lhes tivesse pedido, mecontinuavam a mandar os apontamen-tos.”

Carlos Fiolhais

A força do “gorila”Carlos Fiolhais recorda a forma repres-siva como os alunos eram tratados antesdo 25 de Abril de 1974. “No meu tempohouve um dia em que o professor pediua um empregado daqueles que tambémfaziam segurança (e a que nós chamáva-mos gorilas) para expulsar um aluno sóporque ele o tinha interrompido durantea aula.”

Poucos chegaram ao fimO docente da FCTUC lembra como o nú-mero de alunos foi diminuindo com o

avançar da licenciatura de Física. “Nãome lembro quantos alunos entraram nocurso, mas lembro–me de quantos é quesaíram, só quatro, eu e mais três. Cabía-mos num táxi.”

Introdução ao estudo deMarilynNos períodos que se seguiram à Revolu-ção dos Cravos, os alunos tinham gran-de influência nos seus planos de estu-dos. A maioria das cadeiras era propostae discutida em plenários. Fiolhais contaque “certo dia, numa dessas reuniões,um dos alunos propôs incluir no seuplano curricular uma cadeira sobre a vi-da sexual da Marilyn Monroe.”

Espectáculo gratuitoAs batalhas políticas sempre foram umaconstante em Coimbra. Carlos Fiolhaislembra que frequentemente havia deba-tes no TAGV onde “estavam presentesos elementos da União de EstudantesComunistas (UEC) e do MRPP e quenormalmente acabavam em luta. O pes-soal chegava a atirar–se do palco.. Via-–se o espectáculo sem pagar bilhete.”

Ponto de ordem à mesaNos períodos de estudante do catedráti-

co havia muitas Assembleias Magnas,que duravam horas. “Sempre tive umapostura neutra e durante essas longasMagnas divertia–me a fazer pontos deordem à mesa, do género: ‘vamos agoraalmoçar’.”

O cromo da lista telefónicaDurante a licenciatura de Física foramvárias as histórias que Fiolhais viveu.Apesar de ocultar algumas (por respeitoaos colegas) narra que “a certa alturaum professor em vez de ir com o livrodebaixo do braço, chegou à aula comuma lista telefónica. Havia professoresum bocado cromos.”

Amílcar Falcão

Aluno negociador“Apesar de só saírem dois mecanismosno exame de Química nós tínhamos dedecorar 60. Mas havia um dos meus co-legas que seleccionava o que estudava eestudou apenas 10 mecanismos. Noexame acabaram por sair dois que nãoestavam nos 10 que ele estudou. Então,chamou o professor e tentou negociardizendo que não sabia aqueles dois masque colocava lá outros dez”, recordaAmílcar Falcão.

As estórias deles

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O público em geralconsidera as artes marciais

uma modalidadeviolenta e agressiva,

menosprezando ocarácter de defesa pessoal

Patrícia CostaJoana Gante

Soraia Manuel Ramos

As artes marciais eram conhecidas por se-rem utilizadas primordialmente em comba-te, pelas forças militares. Ao invés, nos diasque correm, têm uma componente destina-da ao bem–estar físico, psicológico e de efei-to visual, ainda que permaneçam as linhasiniciais das técnicas de combate.

A diferença entre a arte marcial e umaqualquer dança ou aula de aeróbica é o com-bate. Na verdadeira arte marcial, “o ataque éa defesa e a defesa é o ataque”. Porém, paraquem “apenas” assiste, não é fácil distinguirum do outro, funcionando como um conjun-to entre corpo e espírito. O objectivo princi-pal não é a supremacia do mais forte, a afir-mação de uma personalidade sobre outrapela força, pela violência ou pela agressivi-dade.

No início de cada ano lectivo, as artes mar-ciais disputam o horário do final da tardecom os cursos de línguas. Cada vez mais ce-do, veste–se o fato apropriado, aprendem-–se as filosofias e sonha–se ser como osatletas ou como os heróis de desenhos ani-mados asiáticos.

Provenientes da China, do Japão e da Co-reia, as artes marciais são popularizadas embandas desenhadas e especialmente em fil-mes. Personagens como Jet Le, Jackie Chane Bruce Lee fazem parte do repertório dequalquer jovem adolescente.

A divulgação das conquistas de TelmaMonteiro, actual bi–campeã do mundo emjudo, têm ajudado a “piscar o olho” aos no-vos atletas. Telma tinha 16 anos quando co-meçou a praticar mas, apesar de ser um bomexemplo, não é prática comum. As artesmarciais exigem dedicação, persistência emuita prática. É algo que não se aprendenum mês ou dois, porque são necessários al-guns anos de treino.

Do judo ao taekwondoO praticante e professor de judo da AAC,

Gonçalo Órfão, tem 14 anos de treino, tendoiniciado a prática da modalidade apenascom seis. Gonçalo reconhece que “esta temriscos e lesões, como qualquer desporto” eadianta que “a diferença é que o judo adap-ta–se à pessoa, é muito completo e desen-volve a coordenação e a destreza física e psí-quica, em qualquer idade”.

O taekwondo, uma outra arte marcial mui-to em voga, é uma técnica de combate semarmas, para defesa pessoal, e também impli-ca um modo particular de vida e disciplina.

A qualquer praticante são incutidos comoprincípios a cortesia, integridade, perseve-rança, auto–domínio e espírito indomável,que se interliga com uma autocrítica cons-tante e severa.

“Experimentei várias artes marciais, masacabei por ficar no taekwondo porque meidentifiquei com o jogo de combate e com ospontapés”, confessa o treinador de taekwon-do da AAC, Pedro Machado.

Tae (té) significa saltar, voar ou esmagarcom o pé. Kwon indica bater ou destruir coma mão ou o punho. Do é a arte em si, é o ca-minho ou o método.

De acordo com o livro especializado A Ar-te da Guerra, de Sun Tzu, “combater e ven-cer todas as batalhas não é a excelência su-prema; a excelência suprema é vencer semcombater”.

Promoção do autoconhecimentoA mais antiga e diversificada arte marcial

é, muitas vezes, chamada incorrectamentede Kung Fu, mas o termo mais correcto, uti-lizado na China, é Wushu, que significa “tra-balho duro”. Esta descrição encaixa–se norigor envolvido na aprendizagem e na práti-ca das artes marciais chinesas que, na épocade Qing (século XVII), era voltado para a de-fesa da própria vida em combates muito du-ros, aliando isto a altos padrões de moral,carácter e disciplina mental.

Em todos os praticantes repousa a respon-sabilidade no cuidado com o próximo. Des-sa forma, uma escola de Kung Fu age comouma família. Na tradição chinesa, os mem-bros de uma escola são denominados “ir-mãos” (si hing). O mestre é visto como “pai”,

conhecido pelo respeitoso termo “Si Fu”, enão é apenas um professor de artes mar-ciais, mas sim responsável em guiar e agircomo exemplo para os discípulos.

Combinando velocidade e força com graçae beleza, através de movimentos fluidos ecirculares, esta modalidade ajuda na defini-ção, tonificação e fortalecimento de todo ocorpo. Aliás, essa é uma vantagem apontadaa todas as artes marciais que visam contri-buir para um melhor auto–conhecimento,seguindo a máxima “conhece–te a ti mes-mo”. “Conhecer os outros é ser inteligente,mas conhecer–se a si próprio é ser sábio”.Os cânones da sociedade feudal limitavam oensino das artes marciais somente ao sexomasculino. Agora transmite–se a ideologiasem qualquer exclusão.

O Tai Chi Chuan, praticado para a saúde edefesa pessoal, é uma arte marcial chinesaque foi criada em 1200. Os praticantes damodalidade defendem que contribui parauma saúde melhor através de um desenvol-vimento equilibrado dos órgãos, uma me-lhoria da digestão, da coordenação motora,da actividade metabólica, do fortalecimentodos rins, sono tranquilo e recuperação da vi-talidade. Até porque Tai Chi é realizado len-tamente, permitindo a harmonização da cir-culação sanguínea com a respiração, en-quanto se coordenam os movimentos dasmãos, pés e cabeça. Portanto, não exige umagrande força nem envolve exercícios físicosextenuantes, podendo ser praticado porqualquer pessoa, independentemente daidade ou condição física.

Ultimamente, as técnicas utilizadas têm-–se distanciado demasiado dos gestos técni-

cos originais. Antes, a técnica era valorizadapelos seus resultados em combate real, hojeé-o pelo seu efeito visual, deixando de se afe-rir a eficácia marcial.

A “reviravolta” dahistória

Inicialmente, as técnicas foram pensadaspara serem aplicadas nos campos de bata-lha. Hoje em dia, a maioria das pessoasaprende uma arte marcial para auto–defe-sa.Com raízes na Índia, as modalidades têmmais de dois mil anos. Há vestígios de quetenham surgido, nessa época, as primeirasformas de luta organizada, Vajramushti,que consistia num sistema de luta de guer-reiros indianos. No ano 520 a.C.,Bodhidharma, monge budista indiano,partiu em viagem à procura de inspiraçãoespiritual. Viajou da Índia para a China,pernoitando nos templos que encontravapelo caminho, até chegar ao Templo Shao-lin, em Hunan, onde encontrou os mongesdo templo com uma saúde débil, causadapela inactividade.O budista aliciou os monges de Shaolin pa-ra a prática de exercícios físicos, transmi-tindo máximas da filosofia Zen, no sentidode uma recuperação física e espiritual. Osexercícios eram baseados em métodos derespiração profunda e ioga, com movimen-tos semelhantes a técnicas de combate. Asua prática tornou–se tradição no templo,evoluindo para o sistema de Shaolin Kung.

1144 A CABRA DDEESSPPOORRTTOO 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

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O professor de Taekwondo da AAC defende a prática da modalidade como forma de libertar o espírito

Artes Marciais

D. R.

Page 15: A CABRA – 170 – 9.10.2007

Que balanço faz da prestação dos“Lobos” no Campeonato do Mundode Râguebi?Muito positivo. Ninguém nos conhecia cáem Portugal e surpreendemos o mundo dorâguebi pela maneira como jogámos. Masnão quisemos ir para lá discutir resultadonenhum.

Enquanto única equipa amadora nocampeonato, acabaram por sentir al-guma pressão?Não nos sentíamos pressionados porquequem tem que ter pressão é quem quer ga-nhar os jogos. Quando entramos é para daro máximo, porque é esse o espírito. É claroque sentimos ansiedade no primeiro jogoporque estávamos num estádio esgotado,com 20 mil portugueses a apoiar–nos. An-siedade sim, e muita emoção junta, maspressão não.

A imprensa estrangeira ficou admi-rada com a forma como a equipa en-toou o hino nacional. A TF1 elegeumesmo este momento como o maisincrível do mundial. O hino é a ima-gem de marca da selecção?É uma das imagens. Mas aquilo é o Cam-peonato do Mundo de Râguebi não é ne-nhum concurso de coros, portanto não se-rá a única. A maneira como nós jogámos,como nos atirámos para o jogo e como lu-támos é a verdadeira imagem.

Muito se escreveu sobre a maneiracomo cantaram o hino. O que sen-tiu?A forma como cantamos sempre foi a mes-ma mas nunca tinha sido tão mediatizada.Houve uma perspectiva de câmara que meapanhou uma lágrima. Se calhar outro ân-gulo já não a apanhava, mas a verdade éque é uma emoção tremenda estar ali. Ba-teu forte. É o sonho de uma vida.

Muitas pessoas acusam o râguebi deser um desporto agressivo.Concorda? É um desporto de contacto, portanto te-mos que nos mentalizar que se jogarmoscom paninhos quentes é só apanhar na ca-ra. O râguebi tem que ser jogado comagressividade, mas não com violência. Ofutebol é muito mais violento. Preferia milvezes apanhar uma grande placagem doque uma entrada de carrinho.

O que sentiu ao marcar um ensaiofrente à selecção mais forte do mun-do?É uma sensação do caraças. Poucas equi-pas se podem gabar de marcar à Nova Ze-lândia. Os neozelandeses até me vieram fe-licitar, no final do jogo. Vi uma entrevista

do Lomu [considerado o melhor jogadorde todos os tempos] na qual dizia: “marca-ram um ensaio parece que tinham ganha-do o campeonato mundial”. (risos)

Como foi ver o “haka” (antiga dançamaori) à sua frente?Há jogadores da nossa equipa que têm o“haka” no iPod e antes de entrarem emcampo ouvem–na. Sinto–me privi-legiado por ouvir a “haka” naprimeira fila. É umadança guerreira masnão nos mete me-do, estimula-–nos.

Como era oa m b i e n t eentre os 30lobos?A selecção é a mi-nha segunda família.Temos uma relação de ex-trema amizade, confidencialida-de e união. Tenho colegas de equipa comquem ia até onde calhasse.

Por quanto mais tempo é que a selec-ção vai poder contar com Rui Cor-deiro?A minha carreira internacional terminou.Neste momento o cansaço está a superar oprazer do râguebi. O meu último jogo foicontra a Roménia, foi pena não ga-

nharmos.

Considera que a presença portugue-sa no campeonato pode dar um novoimpulso ao desporto em Portugal?Pode e deve. Já deu um impulso grandecom as inscrições dos miúdos a cresceremexponencialmente. Agora é preciso que os

c l u b e stenham condições para os receber. Hámuito trabalho a fazer, não podemos ser osmaiores agora e daqui a uma semana jáninguém se lembrar de nós.

O que falta ao râguebi para começara ter mais público no nosso país?Precisa de evolução e de um apoio maior

dos media na transmissão de jogos. Nestemomento, as cartas já estão lançadas e épreciso saber jogar com elas. Não sei se va-mos conseguir, mas espero que sim.

Considera que as nacionalizações norâguebi são um desvirtuar do espíri-to de selecção?Os jogadores argentinos da selecção portu-

guesa cantam o hino com vontadedo princípio ao fim. E com a

ajuda deles talvez o râ-guebi possa evoluir

física e tecnica-mente.

Em visita àFigueira daFoz, o Presi-

dente da Re-pública falou

de si como umherói. O que pensa

disto?Herói não, porque os heróis es-

tão mortos. Quando fui à internet fiqueilisonjeado quando li o que Cavaco Silva ti-nha dito. Gostei muito por se ter lembradoda minha profissão e do meu nome. Foi en-graçado.

É possível que a Académica volte aser campeã nacional no râguebi?Num futuro próximo não. Mas daqui a doisanos é possível voltarmos a ser campeões.

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“Há jogadores da nossa equipa que têm o “haka” no iPod”

Rui,um Cordeiro em pele de Lobo, desco-

briu o prazer do râguebi, com 18 anos, quando foi estudarpara Vila Real. Desde então, à custa do sacrifício pessoal, conseguiu

conciliar a carreira profissional com a desportiva. O seleccionador nacional,Tomaz Morais, considera-o “o orgulho em pessoa, uma pessoa íntegra, com

quem todos sentem prazer em estar”. Também Joaquim Ferreira, o melhor amigo deCordeiro na selecção, fala da “enorme capacidade de luta” do internacional portu-guês e define-o como “um grande amigo”. Quanto ao abandono da selecção, Tomaz Mo-rais diz que a saída do jogador “é uma perda proporcional ao seu peso”, brincando com

os 140 quilos do atleta. Do mesmo modo, o treinador da AAC, Sérgio Franco, re-força que é preciso dar o lugar a outros. “A vida pessoal do Rui é incompatível

com a prática do râguebi a este nível”, assevera o técnico academista. Acinco dias de completar 31 anos o médico veterinário quer

agora dedicar–se mais à profissão, mas prometenão deixar o râguebi.

9 de Outubro de 2007, 3ª feira DDEESSPPOORRTTOO A CABRA 1155

Apesar do Campeonato do Mundo de Râguebi ainda estar a decorrer, a selecção já regressou a Portugal. Rui Cordeiro, um dos principais jogadores da equipa nacional falou–nos daquela que foi a sua maiorexperiência desportiva. O jogador confirmou o abandono do conjunto orientado por Tomaz Morais,

mas garantiu a continuidade na Associação Académica de Coimbra (AAC). Por Rui Antunes e Patrícia Costa

“ ”ANA BELA FERREIRA

Page 16: A CABRA – 170 – 9.10.2007

O maior mágico por-tuguês apresentoua primeira ilusãoaos 11 anos. 26anos depois o ho-mem que vestesempre de pretogarante que o seumaior sonho époder continuara fazer aquilo quelhe dá mais pra-zer: Magia.

Martha Mendes

A magia é um es-pectáculo trans-versal ou temum público–al-vo?É completamentetransversal. Se fi-

zermos um per-fil do públicode um espectá-culo de magiavamos encon-trar de profes-sores catedráti-cos a taxistas.Em todas as ar-tes é preciso umconhecimentoprévio para po-dermos enten-der o que ve-mos. No casoda magianão. Bastaas pessoasterem pre-sente asua con-

dição hu-mana, carac-

terizada pelofacto de terem

imaginação e depercepcionarem o

mundo através da vi-são, da audição, dos

sentidos. É esta a ma-téria–prima da magia:a imaginação das pes-soas.

O espectáculo de ma-gia resulta do poder,

fascínio e mistério que omágico exerce sobre a au-diência?Eu divido o processo em dois es-

tádios. Primeiro os mágicos pe-gam nos seus recursos e usam–nospara criar uma ilusão. Depois cadaespectador interpreta essa ilusão,

convertendo-a num momentopatético ou num momento má-gico. Se eu mostrar uma caixavazia e disser “agora vai apare-

cer aqui um elefante”, as pessoastêm duas hipóteses: acham que é

um desafio interessante e convertem aquelailusão num momento mágico, ou dizem “acaixa está vazia mas o elefante deve estarescondido nalgum sítio”. A possibilidade deconverter o truque numa ilusão, esse passoextra, que transforma a magia num mo-mento bonito, para recordar, cabe a cadaespectador.

A magia é hoje considerada parte dopatrimónio cultural?No trabalho continuado de dignificaçãodesta arte percorreu–se um longo caminho.A magia vê–se em prime–time nas televi-sões do mundo inteiro, enche teatros, cativamilhões. Esse estatuto está conseguido. Emquase todos os espectáculos que fizemos oministério da Cultura colocou a chancela deinteresse cultural. Agorano caso concreto dosapoios… Este ano, naGaliza, o Instituto Gale-go de Artes Cénicas eMusicais aprovou emcongresso, pela primeiravez, a entrega de quatro tipos de financia-mento: ao teatro, à música, à dança e à ma-gia. Os quatro com valores iguais. Isto é no-tável. As pessoas estão a acordar para umconceito plural de cultura.

Há falta de concorrência no panora-ma da magia, em Portugal?Como espectador penso que sim, como má-gico não. Como espectador gostava quehouvesse mais concorrência porque gostode magia e de ver magia. Como profissionalnão sinto essa necessidade porque isto nãoé necessariamente uma competição. No ca-so de uma arte cada corrida, cada desafio,está em cada espectador que enche o teatro;está no trabalho que nós próprios fizemos.

Mas a concorrência pode ajudar aevoluir…Claro que sim, mas tenho um segredo paraa concorrência, um truque que uso na mi-nha vida diária.

Qual é?Se quisermos ser inovadores não podemoster o nosso país como limite. Quando crioalgo, o meu objectivo é que isso seja bomem qualquer parte do mundo. Se eu vi al-guém no Japão a fazer um número era fácilcopiá–lo. Mas a procura é fazer algo me-lhor. Se tivermos como referência esse ladoda aldeia global em que vivemos, acabamospor ter imensa concorrência. Ninguém mevai chamar para ir lá fora se houver lá outrapessoa que faça o mesmo. A singularidadefunciona como uma espécie de passaporte.

Com o espectáculo Enigma percorreuvários locais do País. Tem tambémum teatro móvel onde percorre Por-tugal, de norte a sul. É importantedescentralizar a magia?O ser humano sonha e gosta de fazer coisasdiferentes. Quando comecei a brincar maisa sério à magia tinha 17 ou 18 anos e depa-rei–me com o facto da arte ser muito malvista. Não era necessário abrir portas, era

necessário partir paredes. Era uma artemuito mal vista e…

Porquê?A magia teve sempre momentos de maior emenor popularidade. Há épocas de ouro,mas quando eu entrei neste mundo atraves-sávamos uma fase de total indiferença. Apalavra ilusionista era um termo desgasta-do que remetia para um mágico vestido decasaca a fazer aparecer caixinhas, pombas elenços. Os mágicos acomodaram–se. Eugostava muito de fazer mas também gosta-va de ser respeitado e de encontrar coisasnovas. A minha carreira é construída de pe-quenas pedrinhas de dignidade que ficampara mim e para a magia.

Em 99 recebeu o pré-mio The Magician OfThe Year, da Acade-mia de Artes Mágicasde Hollywood, peloseu “talento, êxitos,amor e respeito pela

magia e pelos colegas ilusionistas; epela sua abordagem e estilo artísticoscativantes que permitiram conquis-tar os corações de públicos de todo omundo”. O que é que ainda lhe faltafazer?Uau! Eu li isso na altura, mas já não melembrava! (silêncio) Uau…! (sorriso) Uau…!(silêncio) Como é um trabalho que não aca-ba e um prazer que eu nunca deixo de ter,vivo sempre excitadíssimo com a possibili-dade de amanhã tentar um truque novo, es-crever um espectáculo, pensar numa novasérie de televisão. Isso alimenta–me, é algoque me mantém vivo interiormente porqueeu pertenço ao grupo de pessoas, cada vezmais restrito, que fazem o que gostam, por-que gostam, como gostam, quando gostame retiram um prazer enorme disso. Não hámaior privilégio do que esse. Por isso conti-nuar é o que me falta fazer. Continuar.

Abracadabra: Luís de Matos

Quem foi o maior ilusionista de sempre?Harry Houdini.É considerado o maior mágicoportuguês.Só se foi até ontem, amanhã não sei.Ser conhecido.É uma consequência, não um objectivo.Porquê a imagem do homem de preto?Nunca tive muito jeito para combinar cores.E gosto do preto. Fazer aparecer ou desaparecer?Aparecer. Sou muito positivo.Um dos cinco sentidos.O sexto.O seu truque preferido.Aquele que hei–de inventar amanhã. O que é que gostava de tirar dacartola?Uma vida mais longa.Magia é…Sonhar.

1166 A CABRA CCUULLTTUURRAA 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

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As pessoas estãoa acordar paraum conceito

plural de cultura

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FOTO: LILIANA LAGO Versão integral em www.acabra.net

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Percorrer a essência deMiguel Torga através douniverso da terra e dainfância é o desafio da

nova produção d’O Teatrão

Pedro CrisóstomoAlexandre Oliveira

Vânia Silva

No ano das comemorações do centená-rio do nascimento de Miguel Torga, acompanhia O Teatrão tem em cena o es-pectáculo “TerraTorga”, até 17 deNovembro no Museu dos Transportes. Ahomenagem ao escritor convoca a cidadepara um universo de memórias e expe-riências que apelam à descoberta de um“reino maravilhoso”.

Com base em alguns contos de MiguelTorga e misturando elementos que evo-cam a força e as memórias do autor, a no-va produção d’O Teatrão aposta numa en-cenação sensorial em que a terra, a água eas pedras se misturam com as própriaspersonagens. A peça junta vários quadroscénicos sem um fio condutor explícito, ca-bendo ao público estabelecer uma lógicanarrativa entre as cenas. As personagens eambientes criados são fruto das memóriase do imaginário das intérpretes AdrianaCampos, Inês Mourão e Isabel Craveiro.

A criadora artística, Leonor Barata, ex-plica que o espectáculo “não é sobre Mi-guel Torga, mas a partir de Miguel Torga.É uma viagem em que não há uma histó-ria com personagens e acções tipificadas.As cenas sucedem–se como um sonho”.Torga “fala de um lugar a que chama ‘Rei-no Maravilhoso’, e que identifica clara-mente com Trás–os–Montes”, conclui. Aintérprete e directora d’O Teatrão, IsabelCraveiro, lembra que o autor “escreveuensaios sobre todas as regiões do País. Elequeria perceber que País era este. Quepessoas são estas que o constroem? E es-sa é também um bocadinho a viagem quenós fomos à procura”.

Encontrar o lugar da felicidadeNa opinião de Leonor Barata, o públicodeve estar desperto para a “sensibilidadee emotividade”. “O espectáculo não podeser lido com os óculos da razão ou da cau-salidade lógica”, frisa. A produção teatraldestina–se essencialmente a crianças apartir dos seis anos, mas abre caminho aum universo para todas as idades, razãoque leva Isabel Craveiro a acreditar que“pais e filhos vão partilhar reinos maravi-lhosos”. A complexidade do autor não fazcom que o público se distancie do espectá-culo, uma vez que “as pessoas aproxi-mam–se muito de Torga porque reconhe-cem nele uma parte do País”. O vereadorda Cultura da Câmara Municipal de Coim-bra (CMC), Mário Nunes, concorda: “Mi-guel Torga arrasta sempre multidões”.

Um dos objectivos de “TerraTorga” éconstruir um momento de reflexão sobre

as memórias de cada um. Leonor Barata eIsabel Craveiro deixam em aberto: “O queé que ecoa de Torga em nós?”. A produçãosurgiu de um convite da CMC à compa-nhia e vai estar em palco até 17 de Novem-bro, no Museu dos Transportes.

Para a directora da companhia homena-gear o escritor “é acima de tudo uma res-ponsabilidade”, pois Miguel Torga é “um

autor bastante complexo, com uma obramuito vasta e ecléctica”. Nas palavras deMário Nunes, o tributo de Coimbra aotransmontano vem “reforçar tudo aquiloque Torga escreveu e deixou à Humanida-de”.

“Ter um reino maravilhoso é essencialpara viver”, concordam as responsáveispelo espectáculo.

C u l tu r apor ca

Encontro com o escritor Cristóvãode Aguiar

Livraria Almedina Estádio22H

“Corações em Ferrugem”Teatro BrutoA peça que tem como te-ma central a viagem fazum trajecto interno atra-

vés do qual atravessa a solidão, o pen-samento, os actos humanos e a utiliza-ção das línguas e dos sotaques.Teatro Académico de Gil VicenteÁs 10h30 e às 15H 8€ (bilhete normal) 6€ (bilhete estu-dante/sénior)

Arquitectura, urbanismo e poder:a arquitectura e as civilizações nas

grandes charneiras da História”Conferência por Walter RossaDepartamento de ArquitecturaDas 18H às 20H

“Sentidos”Música, Ana Laíns

Teatro Académico de Gil Vicente21H3010€ (bilhete normal) 5€ (Amigo/a TAGV)

Inauguração da exposi-ção de Noronha da CostaA inauguração conta coma presença do artista ecom o lançamento do ca-tálogo da exposição. Da

mostra fazem parte alguns dos traba-lhos recentes do autor.Galeria Sete21h30

Orquestra Regional Lira AçorianaTeatro Académico de Gil Vicente

21h305€ (bilhete normal) 3€ (bilhete estudan-

te/sénior)

Desenho e escultura, Artur VarelaGaleria Santa Clara

Das 14H às 2H. Sexta–feira e sábadoencerra às 3H

A 19 Outubro8ª Festa do Cinema Francês

Teatro Académico de Gil Vicente3,50€ (bilhete normal)

“Sira Ba”, exposição de fotografiaCláudio de Campos CalhauGaleria Ferrer Correia, na Casa

Municipal da CulturaSegunda a sexta–feira das 9H às 18h30

IV Exposição de Espan-talhosPraça do ComércioDas 10H às 18H

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Nasceu em São Martinho de Anta,Trás–os–Montes, mas foi em Coimbraque passou grande parte da vida. Foina cidade que fez da medicina activida-de profissional durante largos anos. Abata branca era objecto do seu quoti-diano. No consultório era uma pessoaaustera e reservada. Na escrita encon-trou a paz e a solidão que tanto preza-va.

Para além do espólio que deixou à li-teratura portuguesa, Torga era um ho-mem iminentemente rural. Caçava noscampos do Mondego e gostava de cal-correar o Douro transmontano. A obra

torguiana é também o reflexo deste vi-ver português. Quem o conheceu, des-creve-o como um homem solitário e ri-goroso. No auto–retrato biográficodescreve–se na terceira pessoa: “Temea morte como uma noite sem madru-gada”.

Como compositor preferido elegiaBach e nas artes plásticas admirava Pi-casso, Siqueiros, Orozco e Portinari.Nas palavras do próprio Torga, “a artenão é uma ambição: é um destino”.Ambição tinha uma: “Se pudesse reco-meçar a vida gostaria de ser mais poe-ta ainda”.

Torga, mais do que um escritor

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9 de Outubro de 2007, 3ª feira CCUULLTTUURRAA A CABRA 1177

por Cátia Monteiro

ILUSTRAÇÃO:RAFAEL ANTUNES

Page 18: A CABRA – 170 – 9.10.2007

A maioria socialistaaprovou isoladamente,

a 20 de Setembro, o NovoEstatuto dos Jornalistas.

O documento aguardapromulgação sob protesto

do sindicato

Tânia MateusJoão MirandaSofia Piçarra

Depois do veto presidencial, a 3 de Agos-to, ter alertado para alguns aspectos da pro-posta de lei anteriormente apresentada, oPartido Socialista (PS) procedeu a altera-ções para atender às preocupações presi-denciais. A primeira proposta do Estatutodo Jornalista (EJ) visava a exigência de umgrau académico superior para o acesso àprofissão, um dos três pontos que mereceuparticular atenção por parte do Presidenteda República (PR). Cavaco Silva considerouque exigir a licenciatura “pode comportarum acréscimo das despesas de pessoal”,ameaçando a viabilidade das pequenas emédias empresas de media.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas(SJ) refuta a ideia e acusa o PR de “ceder apressões económicas”. Alfredo Maia encarao argumento como “uma falácia, já que os li-cenciados ganham tão mal quanto os outrosprofissionais com menos habilitações”. Porsua vez, o jornalista Paulo Marques, favorá-vel ao novo texto, cede nesta questão aoafirmar que “se perdeu uma oportunidadehistórica de colocar num patamar exigente ahabilitação mínima para o exercício da pro-fissão”. Neste ponto “o PS acabou por teraquilo que não teve no resto do processo:falta de coragem e vergonha, o que o levou aacatar a sugestão de Cavaco”, diz o jornal-ista.

Outro ponto prende–se com o sigilo pro-fissional. Para Cavaco Silva “não é inteira-mente evidente” em que circunstâncias po-de o tribunal exigir a revelação das fontes.Na versão vetada existe a confusão entre sa-ber se o jornalista está ao abrigo das leis ge-rais ou se, pelo contrário, está protegido pe-las excepções concedidas a médicos e advo-gados.

A nova versão remete para o Código deProcesso Penal as condições em que o sigiloprofissional pode ser quebrado. Para BrunoDias, deputado do PCP, “mais do que um di-reito, o sigilo é um dever deontológico e umfactor fundamental para a confiança dasfontes”. A resolução “põe em causa o tra-

balho de investigação jornalistica”, avisa odeputado.

Introdução de um regimedisciplinar

“Não é positivo definir em lei as sançõessobre os jornalistas”. A opinião é do deputa-do do PSD, Agostinho Branquinho, queacredita que a “intromissão do Estado emmatérias deontológicas prova uma visãocontroleira da sociedade”. O regime disci-plinar do EJ também suscitou dúvidas a Ca-vaco Silva. Na fundamentação do veto, oPresidente considerou “pouco claros” os cri-térios de relação entre o grau de culpa e a

sanção aplicável, o que conduziu à quedadas sanções pecuniárias propostas no pri-meiro texto. Alfredo Maia alerta para o peri-go das suspensões do título profissional po-derem “justificar a cessação de um contratode trabalho, condenando ao desemprego”.

A par das questões suscitadas pelo PR,surgem críticas à regulação dos direitos deautor. Durante trinta dias o produto do jor-nalista pode ser usado pela entidade patro-nal em qualquer publicação do mesmo gru-po empresarial, sem remuneração adicio-nal, nem autorização prévia do autor.

Da mesma forma, as chefias podem alter-ar o texto do jornalista, alegando motivos delinha editorial ou espaço. Nesses casos, ojornalista pode apenas recusar-se a assinara peça por não se rever no trabalho. O pre-sidente do sindicato prevê que “a prazo ca-minhemos para uma redacção única, ondeteremos cada vez menos jornalistas a escre-ver para mais órgãos”.

Apesar das controvérsias, alguns pontosdo estatuto parecem reunir consenso. Atransposição do Código Deontológico a Leivai permitir, segundo Paulo Marques, “har-monizar interpretações e decisões de natu-reza jurídica”. Alfredo Maia acrescenta queo facto da Comissão da Carteira Profissionalser constituída por jornalistas, ainda quepresidida por um jurista, é a solução ade-quada. Isto porque é “um organismo inde-pendente do poder político, com jornalistasque, além de regularem a atribuição da car-teira profissional, ficam também com a fun-ção de aplicar um regime disciplinar”.

Também o reforço do poder do Conselhode Redacção e a obrigatoriedade da presen-ça de um juiz nas buscas realizadas a redac-ções ou a domicílios dos jornalistas sãoapontados como mais–valias da nova Lei.Depois do veto presidencial a única formade travar a sua aplicação é o recurso ao Tri-bunal Constitucional, medida que o SJ já es-tá a preparar.

��������������� ������Problemas técnicos

atrasamo pleno funcionamento

das plataformas deLetras e Medicina

Ana Margarida Gomes Jeniffer Lopes

A plataforma Web On Campus (WOC)entra este ano em funcionamento nas fa-culdades de Letras e Medicina da Universi-dade de Coimbra, (FLUC e FMUC, respec-tivamente), as últimas a integrar o projec-to. Problemas técnicos impediram o acessode todas as faculdades ao projecto no anolectivo 2006/2007 . Alguns desses impedi-mentos ainda persistem, mas os serviçosesperam que tudo seja resolvido em breve.

“O WOC é uma plataforma que permite

aos estudantes da UC ter acesso a uma sé-rie de informação, conteúdos relativos àsdisciplinas e unidades curriculares do cur-so que frequentam”, afirmou o vice–reitorda UC, António Rebelo. As informações decarácter genérico estão disponíveis a to-dos. As que os docentes consideram que sódevem estar acessíveis aos alunos, necessi-tam de autenticação dos utilizadores.

O coordenador do WOC na FLUC, Antó-nio Rebelo sublinhou que, “actualmente,na Faculdade de Letras, os professores jápodem disponibilizar os programas das ca-deiras e receber formação sobre outrasfuncionalidades do WOC”.

Segundo o professor, “a transição tem si-do complexa, pois é necessário transferir oque se encontra na página dos ECTS [Sis-tema Europeu de Transferência de Crédi-tos] para o WOC, assim como introduzir aadaptação a Bolonha”.

António Rebelo acrescenta que “os pro-blemas técnicos na FLUC não existemnoutras faculdades porque estas não têm amesma profusão de cursos e cadeiras quepodem funcionar com estatutos variados.”O grande número de cadeiras e professo-res, bem como as inúmeras escolhas que osestudantes podem fazer, têm contribuídopara um funcionamento parcial do WOCna FLUC.

Soluções inovadoras estão a ser criadaspara resolver os problemas e os serviçosresponsáveis esperam que dentro de umasemana a plataforma esteja completamen-te operacional. A pretensão é, ainda, a deintegrar o WOC no portal da FLUC, paraque os utilizadores possam aceder às com-ponentes da plataforma. No entanto, osalunos da Faculdade de Letras só vão po-der ter pleno acesso a todas as funcionali-dades do portal quando os serviços acadé-

micos terminarem a época de matrículas.Relativamente à Faculdade de Medicina,

o vice–presidente do Conselho Executivo,Manuel Santos Rosa, explica que o proces-so de Bolonha veio acelerar a adesão aoWOC. O professor da FMUC garante que“o atraso na construção da plataforma nãoprejudicou os alunos, pois a informação jáestava disponível no sítio da faculdade”.Manuel Santos Rosa acrescenta ainda quea demora se verificou devido à necessidadede construção de uma plataforma que reu-nisse toda a informação.

António Gomes Martins referiu aindaque a versão 3.0 do WOC está em desen-volvimento. O vice–reitor sublinha a im-portância da nova versão, que melhor vai“responder aos requisitos de Bolonha”. OWOC 3.0 vai também disponibilizar umserviço online de entrega de trabalhos, fó-runs de discussão, entre outros projectos.

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1188 A CABRA MMEEDDIIAA 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

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1. ACABRA e ACABRA.NET são doisórgãos de comunicação social académicoscujo objectivo é constituírem–se – numasimbiose capaz de aproveitar o formato eestilo diferente que cada um possui – en-quanto Jornal Universitário de Coimbra.

2. ACABRA e ACABRA.NET têm co-mo público–alvo a Academia de Coimbra eé sob este princípio que devem guiar as de-cisões editoriais.

3. ACABRA e ACABRA.NET orien-tam o seu conteúdo por critérios de rigor,

criatividade e independência política, eco-nómica, ideológica ou de qualquer outraespécie.

4. ACABRA e ACABRA.NET prati-cam um jornalismo que se quer universitá-rio no sentido amplo do termo – desprovi-do de preconceitos, criativo, atento, incisi-vo, crítico e irreverente.

5. ACABRA e ACABRA.NET prati-cam um jornalismo de qualidade, que fogeao sensacionalismo e reconhece como li-mite a fronteira da vida privada.

6. ACABRA e ACABRA.NET são nasua essência constituídos por um conteú-do informativo, mas possuem espaço eabertura para conteúdos não informativos,que se pautem por critérios de qualidade ecriatividade.

7. ACABRA e ACABRA.NET inte-gram–se na Secção de Jornalismo da As-sociação Académica de Coimbra, perantecuja Direcção são responsáveis; contudo,as decisões editoriais d’ ACABRA e d’ ACA-BRA.NET não estão subordinadas aos in-

teresses ou a qualquer posição da Secçãode Jornalismo, nem aquele facto interferecom a relação sempre honesta e transpa-rente que ACABRA e ACABRA.NET seobrigam a ter perante os seus leitores.

8. A CABRA é um jornal quinzenal, cu-ja periodicidade acompanha os períodosde actividade lectiva.

9. ACABRA.NET é um site informati-vo, de actualização diária, cuja actividadeacompanha os períodos de actividade lec-tiva.

�������������� ��������� A isenção, imparcialidade e integridade

que devem marcar o trabalho no JornalUniversitário de Coimbra implicam porparte dos seus jornalistas o conhecimentoe aceitação de regras de conduta. Assim, ojornalista deve:

1. Recusar cargos e funções incompatí-veis com a sua actividade de jornalista.Neste grupo incluem–se ligações à Direc-ção–Geral da Associação Académica deCoimbra, à Queima das Fitas, ao poderautárquico, bem como a actividade emgabinetes de imprensa, na área da publi-cidade e das relações públicas. Deste gru-po estão excluídos, por respeito para como direito do estudante de Coimbra de par-ticipar na gestão da Universidade deCoimbra, os cargos em órgãos de gestãodas faculdades e da universidade. Cabe àDirecção do Jornal Universitário deCoimbra decidir quais os casos em que aactividade jornalística se encontra preju-dicada por outras actividades e agir emconformidade.

2. Abdicar do uso de informações obti-das sob a identificação de “jornalista doJornal Universitário de Coimbra” (ou si-milares) em trabalhos que não sejam rea-lizados no âmbito do Jornal Universitáriode Coimbra. Além disso, o jornalista com-promete–se ao sigilo das informações ob-tidas desta forma. Excepções a esta nor-ma poderão ser autorizadas pela Direcçãodo Jornal Universitário de Coimbra.

3. Recorrer apenas a meios legais paraa obtenção da informação, sendo norma aidentificação como jornalista do JornalUniversitário de Coimbra. De forma algu-ma podem ser usadas informações obti-das através de conversas informais ou ou-tras situações em que o jornalista não seidentifica como tal e como estando emexercício de actividade.

4. Abdicar de se envolver em activida-des ou tomadas de posição públicas quecomprometam a imagem de isenção e in-dependência do Jornal Universitário deCoimbra. Contudo, o Jornal Universitáriode Coimbra reconhece o direito inaliená-vel do jornalista universitário a assumir-–se como cidadão. Assim, nunca um jor-nalista do Jornal Universitário de Coim-bra será impedido de se manifestar emReunião Geral de Alunos ou AssembleiaMagna, desde que não esteja nessa alturaem exercício da sua actividade jornalísti-ca, em cujo caso deverá prescindir do seudireito de expressão e voto. De igual for-ma, nunca será impedido de participaractivamente em qualquer actividade pú-blica. Cabe à Direcção do Jornal Universi-tário de Coimbra decidir quais os casosem que a actividade jornalística se encon-tra prejudicada por outras actividades eagir em conformidade.

5. Ter consciência do valor da informa-ção e das suas eventuais consequências,particularmente no meio académico deCoimbra, no qual o Jornal Universitáriode Coimbra é produzido e para o qualproduz. Neste contexto particularmentesensível, o jornalista deve ter especialatenção à proveniência da informação e àeventual parcialidade ou interesses dafonte (não descurando o imprescindívelprocesso de cruzamento de fontes), bemcomo garantir uma igualdade de repre-sentação em caso de informações contra-ditórias ou interesses antagónicos, evi-tando que o Jornal Universitário deCoimbra se torne meio de comunicaçãode qualquer instituição, grupo ou pessoa.Num meio em que o desenrolar de acon-tecimentos pode afectar, directa ou indi-rectamente, o Jornal Universitário deCoimbra, o jornalista tem também quesaber manter o distanciamento necessá-

rio para a produção de uma informaçãorigorosa.

6. Garantir a originalidade do seu tra-balho. O plágio é proibido. Nestes casos, aDirecção do Jornal Universitário deCoimbra deverá agir disciplinarmente e ojornal deverá retractar–se publicamente.

7. Recusar qualquer tipo de gratificaçãoexterna pela realização de um trabalhojornalístico. Estão excluídos deste grupo

livros, cd’s, bilhetes para cinema, espectá-culos ou outros eventos, bem como qual-quer outro material que venha a ser alvode tratamento crítico ou jornalístico;constituem também excepção convites deentidades para eventos que tenham uminegável interesse jornalístico (por exem-plo, convites da Direcção–Geral da Asso-ciação Académica de Coimbra para cober-tura do Fórum AAC). Cabe à Direcção doJornal Universitário de Coimbra resolverqualquer questão ambígua.

De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de Imprensa, qualquer publicação deve divulgar, anualmente, o seu estatuto editorial

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9 de Outubro de 2007, 3ª feira EESSTTAATTUUTTOO EEDDIITTOORRIIAALL A CABRA 1199

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Não é este o nosso fado

“Fados” é o último capítulo de uma trilogia dedica-da a três das grandes formas de expressão musicalurbana do último século. Depois de “Flamenco” e“Tango” o cineasta espanhol Carlos Saura pretendeaqui imortalizar, numa obra definitiva, a essência dogrande estilo musical nacional.

Mas, infelizmente, cedo nos apercebemos que se fi-cou pelas intenções. “Fados” não é uma longa–me-tragem dramática, nem tão pouco um documentá-rio. Na realidade não é mais do que uma sucessão decanções interpretadas por diversos músicos mais oumenos conhecidos, com Carlos do Carmo e Mariza àcabeça. Aqui não se explica o que é o Fado, nem oque este significa para o povo português. O fenóme-no Amália aparece reduzido a uma pequena apari-ção já na parte final da sua carreira, enquanto en-saiava uma nova canção, e nem se dignam a explicaro porquê de algumas presenças no mínimo estra-nhas (o rapper NBC ou Lila Downs não são propria-mente expoentes máximos na arte do Fado). Comose isto não bastasse, aquilo que poderia justificar o

formato cinematográfico desta obra, as coreogra-fias, oscilam entre o competente e o francamentedesajustado: ao contrário do Tango ou do Flamenco,o Fado não tem uma componente de dança, logo, omínimo que se poderia esperar, seria que Saura pro-curasse outro tipo de abordagem.

Tirando alguns momentos mais arrojados estetica-mente (mas que no fundo se limitam a simples jogosde luzes e espelhos), “Fados” tem tanto de cinemacomo um vídeo amador filmado por um turista nu-ma casa de Fados. Filma–se porque é cultura, por-que é típico mas sem se saber ao certo qual o pontode vista artístico do homem que está por detrás dacâmara.

Esta é uma obra oca e inconsequente que não pas-sa de um aborrecido vídeo clip de hora e meia.François Fernandes

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A estrela cadente

Imaginem uma terra de encantar repleta de bruxas,magos, reis, príncipes, piratas e ladrões; um reinomágico em nada diferente dos que se encontram emcontos de J.R.R. Tolkien ou C.S. Lewis. Virem tudode pernas para o ar e obtêm “Stardust”, um filme ba-seado no conto homónimo de Neil Gaiman. Autor debandas desenhadas, novelas gráficas e livros de fan-tasia, Gaiman é conhecido pelo seu perverso sentidode humor que corrompe sistematicamente as con-venções do género, resultando em contos de fantasiapara adultos, repletos daquele bom humor “brit”,onde absurdo e macabro andam de mão dada. “Stardust” narra a aventura de Tristan, um pobre ra-paz que está apaixonado por uma snob de classe al-ta. Decidido a conquistar o coração (e carteira) dasua amada, promete–lhe um pedaço de uma estrelacadente. Mas as coisas complicam–se, porque a es-trela é cobiçada por uns príncipes pouco encantadosque precisam dela para suceder ao rei, e ainda trêsbruxas velhas e más (mesmo más), que precisam daestrela para serem de novo jovens, e assim recupe-rarem o seu corpo esbelto e sensual. Nessa busca,

Tristan encontrará ainda um pirata gay, um guar-dião com quase cem anos que sabe mais “kung fu”que Jackie Chan, e os fantasmas de príncipes mor-tos, que vão comentando a acção como comentado-res de futebol. A tradução desta louca história para o grande ecrã,ao encargo de Mathew Vaughn (Layer Cake), é bemsucedida (embora um tanto académica), e graças aoexcelente elenco (Michelle Pfeifer, Robert DeNiro,Peter O’Toole, Ricky Gervais) consegue capturar to-da a perversão que Gaiman gosta de imprimir nassuas personagens. Inteligente e extremamente di-vertido, a anos–luz de “Harry Potters” e afins, “Star-dust” é o cartão de visita ideal para ficar a conhecerum dos autores de fantasia mais criativos dos últi-mos ano. Rui Craverinha

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A Cabra d’OuroA Cabra aconselha

Vale o bilheteA evitar Fraco Podia ser pior

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Num contexto actualem que, cada vez mais, quantidade parece não ser si-nónimo de qualidade, os Animal Collective são umadas bandas que, nos últimos anos, mais tem dado deaudácia e criatividade à música e ao que se possa ape-lidar de movimento indie. Depois de oito álbuns, doisEP e uma barbaridade de concertos, quer sejam enca-rados como “freak folk”, “pop alucinada” ou encaixa-dos em qualquer outro género, estes quatro amigos(Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deacon) não se in-teressam por clichés e, divididos entre Lisboa, Balti-more, Nova Iorque e Paris, acabam por ultrapassar asbarreiras mais convencionais.

Já no início deste ano, em Janeiro, um dos elemen-tos deste colectivo deu bastante que falar. Voltava oburburinho com o lançamento de “Person Pitch” porparte de Panda Bear, naquele que será, certamente,um dos trabalhos mais férteis de todo o 2007.

“Strawberry Jam”, o mais recente registo, chegou nomês de Setembro pela mão da editora Domino (depoisde edições desde 2004 pela Fat Cat) e sucede–se aobrilhante “Feels” (2005). Se, por um lado, nos traba-lhos anteriores se encontravam uns Animal Collectivemais próximos de devaneios experimentais e de umainfância demente, no novo disco, apesar de a receitaser mais ou menos a mesma, parecem menos flexíveisnas estruturas das canções. Uma das principais dife-renças de quase todo o disco, é a de parecer existir ape-nas uma voz presente. Se, antes ganhavam imensocom as várias camadas de tons e o entrelaçar de har-monias vocais, com a voz (por vezes demasiado solitá-ria) de Avey Tare (David Portner), os Animal Colectiveparecem, aqui e ali, perder um pouco de plasticidade elançar–se verdadeiramente no sentido de “banda”, ca-da um no seu lugar. No entanto, “Strawberry Jam”vem provar algo que, mais tarde ou mais cedo, todosteriam de reconhecer: os Animal Colective são enor-mes. E isto porque, apesar de, no geral este último dis-co não ser tão abrangente quanto “Feels” ou tão casti-ço como “Sung Tongs”, faixas como “Fireworks”, “De-rek” ou “For Reverend Green”, continuam a fazer–nosquerer partilhar de toda uma esperança e simplicidadeem forma de onomatopeias. Em suma, quase semprenos fazem bem. Como rodapé fica a nota para o deli-cioso artwork (imagens a cargo de Avey Tare) que tãobem ilustra e dá a perceber o que o disco tem de me-lhor. João Alexandre

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Seria impossível, neste espaço, não referir Eduardo Prado Coelho (EPC), ao qual acena cultural portuguesa muito deve, sobretudo pela divulgação cultural junto dogrande público, de modo despoluído, sem pedantismos de quem se considera umaelite e pensa ser apenas de alguns o acesso à cultura.A par da sua obra, EPC é também responsável pela apresentação de muitos pensa-dores/autores no panorama nacional (Barthes, Derrida, Llansol...). Provocadorinato, sem a presunção que alguns nele teimam querer encontrar, EPC escreveuartigos (Público e Jornal de Letras) e alimentou muitas polémicas, muitas vezessaindo da esfera da arte para a política, onde nem sempre terá sido aplaudido.Da vasta bibliografia optou–se propor para leitura a sua tese de doutoramento, de1983, sob a orientação de Maria de Lourdes Belchior Pontes, pela relevância en-quanto ensaio crítico.Aqui, EPC propõe–se à difícil tarefa de aplicar o conceito de “paradigma” (cientí-fico) de T. Kuhn à literatura, fazendo desfilar perante nós um sem número de pen-sadores, num espectro multidisciplinar, de molde a reflectir sobre o que é a Lite-ratura, que esquemas mentais lhe subjazem e a fazem existir enquanto algo de dis-tinto. Ainda que, por vezes, a quantidade de referências dificulte separar a posiçãode EPC da dos autores que leu, é uma leitura que nos permite filtrar, dar–nos len-tes para compreender a problemática literária, funcionando como um horizonte

primeiro a partir do qual podemos vislumbrar todos os fios que (entre)tecem a complexidade da temática,ainda que desemboquemos na mesma conclusão de EPC: de que a literatura é «uma relação sem relação –tudo/ o resto.(…) Disto poderia dizer Duras (…): orgasmo negro.», reiterando–se a ideia, nas palavras cita-das de Lispector, «a lente não devassa a escuridão, apenas a revela ainda mais».EPC deixou–nos uma ausência pesada, mas fica o seu legado, impossível de olvidar, independentemente deempatias, porque, como nos diz: «na medida em que escrevo, esta escrita, que é o trabalho da morte queexiste em toda a literatura, é também a impossibilidade de morrer que a literatura é.».

Andreia Ferreira

OUVIR

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LER

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O mundo é cruel. Todos o sabemos. Quer seja através dos noticiários que inundamas nossas casas, quer seja pelas experiências pessoais de cada um. Quando e o quenos levou em particular a olhar a vida desta forma? Terá sido uma guerra? Uma de-silusão de ordem sentimental, uma perda ou até mesmo uma simples questão derevoltante injustiça? Será que não tomámos consciência de tal facto tarde demais?

A película escrita, dirigida e produzida por Guillermo del Toro abre–nos a men-te à mais bela forma de fintar a realidade: a imaginação. E como esta não tem limi-tes surge–nos na forma de uma (já em vias de extinção) fábula. Ainda existem fá-bulas. Felizmente sim. Esta conta a história de uma menina, Ofélia, que vai morarcom a sua mãe grávida e com o seu padrasto, Capitán Vidal, para uma floresta emNavarra. Em plena ressaca da Guerra Civil espanhola, a sua mãe casa com o capi-tão sádico e fascista que tem por missão espalhar os ideais de Franco, erradicandotodo e qualquer rebelde comunista da floresta em seu domínio. De forma a torneara violência emocional a que é sujeita, Ofélia mergulha num mar de fantasia povoa-do de fadas e seres transcendentes, embarcando numa odisseia utópica em buscade um reino subterrâneo do qual seria princesa.

Se o filme impressiona pelo argumento brilhante, pela realização minuciosa e cui-dada e pela fotografia perfeita (Guillermo Navarro “limpou” o Óscar ao brilhante Vilmos Zsigmond em a Dá-lia Negra), não podemos esquecer de forma alguma as extraordinárias interpretações dos catalães Ivana Bas-quero (a pequena Ofélia) e Sergi Lopez (o desprezível Capitán Vidal). Importa ainda referir que no aspectotécnico a película é irrepreensível. E as animações são simplesmente brilhantes.

Acima de tudo, O Labirinto do Fauno é um filme com uma mensagem de esperança. Para lá do real, do tris-te, do cruel, há sempre uma luz. Há sempre uma outra forma de sorrir, de seguir em frente. A perseverançadequem acredita acaba por ser recompensada. Uma última palavra para as mais de três horas de extras in-cluídas nesta edição especial com dois discos. Os extras estão (bem) recheados de documentários sobre per-sonagens, o realizador, a fascinante criação digital e o já tradicional “making of”, pecando apenas pela ausên-cia de um documentário acerca da Guerra Civil e da época em particular no país de “nuestros hermanos”. OLabirinto do Fauno é, sem dúvida, um dos melhores trabalhos de 2007 (data de estreia em Portugal), dandoprovas de que a magia de Guillermo del Toro não tem limites. A imaginação tudo pode…

André Tejo

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9 de Outubro de 2007, 3ª feira AARRTTEESS FFEEIITTAASS A CABRA 2211

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EuA CABRA viajou quase até Espanha para

espreitar marcas que o tempo não apagou.

Texto e foto porCarla Santos

Há momentos em que o vento litoralnos leva para pequenos recantos escon-didos no interior do país. Algures nafronteira portuguesa ainda se pode chei-rar no horizonte as batalhas fronteiriçasde outros tempos. Se hoje fosse um des-ses dias quase de certeza que seríamoslevados para Sortelha. O caminho é si-nuoso, e as curvas e contracurvas sãouma constante. Na paisagem os blocosredondos e irregulares de granito assen-taram como se até ali tivessem rolado aoacaso, sem outro local onde pousar. Ena tela irregular o verde seco convivebem com a cor castanha e o cinzento du-ro e envolvente. Ao olhar desarmado, asparedes que ladeiam a Sortelha mura-lhada são pequenas quando compara-das com a fortaleza granítica que a ro-deia. De um lado do posto de vigia, nocentro da localidade, perfila–se a Covade Beira, do outro a Serra da Malcata, lámais ao fundo está a Serra da Estrela e aRibeira do Castanheiro a recortar o ho-rizonte. É um autêntico abraço apertadode pedra a toda a volta.

O plano de reconstrução das aldeiashistóricas atacou casa a casa,e deixou-–as revestidas de tons suaves areia, por-

tas e janelas de madeira, ora verdes, oravermelhas. O granito foi–se instalandogeometricamente nas ruas estreitas eapertadas, na pequena igreja e no seulargo. Nesse mesmo largo duas senho-ras, que traziam na cara a passagem dosanos, fazem cestaria de bracejo. São es-trelas de televisão e do mundo de cine-ma, apareceram em programas da ma-nhã e documentários estrangeiros sobrePortugal. Contam histórias da sua moci-dade na serrania,com as pernas estendi-

das na calçada de granito, a quem passeou relembram–no entre si.

Considerada uma aldeia museu dePortugal, só faltam as vitrines entre a vi-da nas muralhas e os visitantes do mo-numento bélico situado a uns ventosos800 metros de altitude. Datado no sécu-lo XII, tinha como objectivo defender opaís dos ataques de um mundo exterior.

Os gritos descomprometidos dascrianças que brincam no arco da entra-da faz–nos lembrar que não são dali e

estão apenas de visita. A escola fechoueste ano, por causa da restrururação dasescolas primárias portuguesas feita peloministério da educação no ano passado.

A vida quase parou em Sortelha, o tu-rismo faz despertar, de quando emquando, a aldeia que sonolentamenteviu os seus habitantes diminuirem para14 pessoas a tempo inteiro. Nestes pri-meiros dias de chuva restam apenas es-cadinhas, corrimões de ferro, flores, ár-vores de fruto e pingos de água.

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Apesar da chuva, Sortelha mantém o encanto

“Viaje de avião ao preço de uma viagemde táxi”, é assim que um blogue na Inter-net promove a utilização de voos a baixocusto, que constituem já 27 por cento dosvoos anuais realizados em Portugal.

Estima–se que em território nacional onúmero de operadoras que disponibili-zam voos a preço reduzido, também co-nhecidos por voos “low cost” ou “budg-et”, seja ligeiramente superior a 30. Ascompanhias têm viagens com partidanos aeroportos comerciais do País (Lis-boa, Porto, Faro e Funchal). Apesar detodos os destinos se localizarem na Euro-pa, com a maioria dos voos a terem comodestino a Inglaterra ou Alemanha, o le-que de escolha relativamente ao destinoé vasto. É possível viajar até Milão por38,99 euros, até Estocolmo a 12,99 euros

ou, mesmo, até Barcelona a partir de umcêntimo. As empresas aéreas executam estas tari-fas graças à redução de despesas adicio-nais, não assegurando serviço de alimen-tação a bordo, diminuindo a distânciaentre os assentos ou utilizando o mínimode tripulação exigida.

Há novidades agendadas no mundo“low cost” para 29 de Outubro, data emque vai ser possível viajar em voos a bai-xo custo de Portugal continental para oarquipélago da Madeira. Para 2008 ha-verá também uma actualização quanto àhipótese de executar voos a preço reduzi-do a partir de Ponta Delgada, adiantou osecretário açoriano da Economia, DuartePonte.

Salvador Cerqueira

���� ���� ������������ ������������������������ ��O mês pode anunciar a chegada da es-

tação da chuva, mas isso não deve impe-dir o viajante de sair pelo mundo.

O segundo maior festival do Brasil,de-pois do Carnaval do Rio de Janeiro é oCirío de Nazaré. A festa é conotadacom as procissões da estátua da Virgemde Nazaré, acompanhada por milharesde peregrinos. Homens e mulheres ro-deiam a santa que está assente em cen-tenas de flores. Os peregrinos cami-nham sem sapatos e seguram uma cor-da que simboliza o laço entre a santa eseus seguidores.

Ainda no continente sul- americano, oFestival Mundial de Tango, em Bue-nos Aires, dá a possibilidade de partici-par em “workshops” de Tango e aulaspara todos os níveis. Aprender a história

de uma das danças sensuais mais famo-sas do mundo no local onde esta nasceupode constituir uma forte tentação. Oponto alto do festival passa também pe-la mostra de gastronomia local e dançasfolclores.

Para terminar as sugestões, o Gui-ness Jazz Festival será uma boaopção para quem visitar a Irlanda. A ci-dade de Cork recebe estrelas de todo omundo, numa atmosfera amigável com40 mil amantes do jazz. O festival existehá 30 anos, nele participam mil músicosde mais de 30 nacionalidades que ac-tuam em 80 locais específicos da cida-de. No velho continente, a Irlandatorna-se a capital da música jazzdurante o mês chuvoso de Outubro.

Sarah Halls

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2222 A CABRA VVIIAAGGEENNSS 3ª feira, 9 de Outubro de 2007

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CONFISSÕES| URBANO TAVARES RODRIGUES | ESCRITOR

A marca dos meus passos identifica onde estive, e existem, nos meuslivros, marcas autobiográficas, mas nunca me escondi atrás da minha obra. Nascicom o amor da palavra, e logo que comecei a escrever, quis traduzir o mundomágico do Alentejo. A primeira fase da minha escrita é de encantamento com o vento,a lua, os bichos, as ervas, as árvores... Quando me tornei consciente da mi-séria dos camponeses quis exprimir a minha solidariedade para com eles. A escritaofereceu–me um maior conhecimento de mim próprio e do mundo. Gosto profun-

damente do romance, que me absorve. Exige um grande esforço, às vezes sofrimento, mas também oferece grandes ale-grias. O que vai ficar de mim é a obra. Tive uma vida conturbada, de participação activa na luta, cheia de prisões, quea minha obra reflecte, nos temas do alvorecer de Abril, a grande união da esquerda, que depois não se concretizou, a euforia ea felicidade de uma época. Mas acima de tudo a minha literatura é de interioridade, de tentativa de compreensão e sondagemprofunda do ser humano. Fiz da escrita uma forma de resistir, mas não sou apenas um escritor de combate. Sem-pre tive preocupações estéticas muito fortes. A minha obra é trabalhada ao nível da estrutura, da palavra, da rima, da frase. Asensualidade faz parte da minha própria natureza, que tentei transmitir para a escrita. Mas o erotismo é também umaforma de combate e insubmissão num país falsamente puro, pretensamente puritano, um país hipócrita, como era o Portugalsalazarista. Nunca pensei desistir da luta, apesar dos momentos de angústia e desânimo. Tenho as forças queconseguir reunir para lutar contra o neoliberalismo. A geração mais jovem está compreensivelmente desiludida coma política. Têm uma capacidade latente de reivindicação, insurgem–se contra situações miseráveis, mas não têm ainda umaorientação de luta. Aceito com muita naturalidade a finitude da vida. Porém gostaria de ter tempo para educaro meu filho. Vou lançar este mês um livro de contos, “Cadernos do Prior do Crato”, no qual trabalhei muito, na investigação.Antes de ir embora, gostava de ter cá fora ainda um outro livro de contos, “ A ultima colina”. O meu filho e a minha mulher é oque me move para continuar. Sei que lhes vou fazer falta, e essa é uma razão muito forte para tentarviver. Por Saimon Morais e Sofia Piçarra

Não gosto da Praxe. E confesso que apre-cio do mesmo modo a Anti–Praxe.

Da primeira ouço FRA’s a menos e cân-ticos de bancada a mais. Da segunda nãovejo actos, só crispação. Olhando para asduas realidades, ao mesmo tempo, vejoque perdem força ano após ano.

Contudo, não posso deixar passar emclaro o novo Código da Praxe Académica,apresentado no pretérito 26 de Setembro.E quero reflectir um pouco sobre a revisãode que foi alvo.

Li que o novo texto foi resultado de dezmeses de aturado labor. O que me impres-siona de sobremaneira. O leitor mais de-satento deverá estar a perguntar–se:- Quem são estes tipos?! Dez meses?! – aoque eu acrescento:- Não podiam ter contratado João Cata-tau? Aquele tipo…o dos manuais de Códi-go da Estrada! – alguém com mais destre-za a lidar com códigos, pois alguma coisanão funcionou. É que as únicas alteraçõescomentadas, nas ruas e cafés da cidade,são a proibição do colete nas moças, o no-vo grau de Candeeiro e o cortejo da quei-ma ter passado para Domingo.

E, para além disso, encontrei algumasfalhas graves. Uma delas foi–me apontadapor um dos estudantes mais calaceiros daAcademia, que se queixava da falta de umCódigo da Praxe anotado. Mas há mais. Não encontrei na Secção III, Título I, Dascondições gerais da praxe, nenhum artigoque remetesse para aquela que eu intitulo:

a condição de Silvester Stalone. Passo aexplicar.

Nos dias em que há jantar de curso, oualgum desses convívios bem animados,são frequentes os jogos de sedução entremachos e fêmeas. O ponto alto do jogo, opreciso momento em que o termómetroatinge o vermelho, acontece quando o ma-cho trajado desaperta o colarinho e colocaa gravata à volta da cabeça, com o nó apender para um dos lados. Independente-mente de ficar mais bonito ou não de tra-je, ou de ficar mais parecido com JohnRambo ou não com a gravata na cabeça, obolonhez Silvester Stalone, por exemplo, éuma figura que eu não vejo tipificada nes-ta legislação.

Não referir, por uma única vez que seja,a figura de Vasco Santana é outra das si-tuações que me tem tirado o sono. Entãocria–se o grau de Candeeiro e não se criao correspondente grau de Vasco Santana?Exigia–se um pouco mais! Dez meses enão tiveram o cuidado de rever o “Pátiodas Cantigas”? Quanto a mim são doisgraus indissociáveis.

Por último, algo que também me parecefazer falta a este código é uma figura quenos remeta para o avanço tecnológico queassalta o país. Refiro–me a uma ferra-menta que permita a “formação de trupena hora”. Ou, quem sabe, a criação do bal-cão “Perdi a Batina”, a pensar nos mais in-cautos. Por André Mesquita

9 de Outubro de 2007, 3ª feira PPEENNUULLTTIIMMAA A CABRA 2233

eLesREINO UNIDO “Nunca fui assaltado,mas agora fui roubado por um ganso”disse um homem, de 23 anos, ao jornalinglês “The Sun”. O jovem foi atacadopor quatro gansos que o atiraram parao chão e lhe golpearam a mão até soltaro telemóvel. Após o ataque os gansosfugiram levando consigo o aparelho.

JAPÃO Devolver energia às pilhas on-de quer que estejamos já não é proble-ma. Os japoneses inventaram as pilhasNoPoPo em formato AA e AAA, recarre-gáveis com urina. Por enquanto apenasse comercializam no Japão, nós por cáficamos à espera.

FRANÇA Assim que chegar ao merca-do a “Hotdoll” vai salvar muitos cães dasolidão e muitos donos da vergonha.Este brinquedo não é mais do que umacadela artificial que satisfaz as necessi-dades sexuais dos canídeos. È o adeus àimagem do cão agarrado às suas per-nas, agradeça ao francês Clement Eloy.

EUA Quatro edifícios em forma de Lsão, à primeira vista, um local de traba-lho agradável. Assim pensavam os mili-tares da base naval americana, situadaperto de San Diego, até o Google Earthmostrar o que não devia. Visto do céu,o quartel ganha a forma de uma cruzsuástica. Resultado: a marinha ameri-cana vai gastar 423 mil euros em obraspara disfarçar a forma da construção enúmero equivalente em pedidos de des-culpa.

Ana Bela Ferreira

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