a cabra – 174 – 04.12.2007

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ANDRÉ OLIVEIRA VENCE E QUER UNIR ACADEMIA SICKO A América está doente? ARTES FEITAS |Pág.20 Nº 174 TERÇA-FEIRA | 4 DE DEZEMBRO, 2007 Director: Helder Almeida ✺❃❉❇✺❋✾❈❉✶✯✏✸❁➝ CULTURA| Pág. 18 Novo Acordo Ortográfico Futuro da Língua Portuguesa gera discórdia Págs.2 a 4 Quinzenal Gratuito Lista A ganha eleições na primeira volta conquistando quase 3000 votos A origem das espécies é tema de bastan- te discussão na comunidade científica. As opiniões dividem–se entre evolucio- nistas, que acreditam que existiu uma evolução das espécies até ao que conhe- cemos hoje e os criacionistas que defen- dem a intervenção de uma entidade inteli- gente no início das espécies. CIÊNCIA | Pág.14 Quando se assi- nalam os quinze anos da aplica- ção das propinas na Universidade da Coimbra A CABRA lembra os vários mar- cos da história desta polémica. Desde ma- nifestações, concen- trações até a constru- ção simbólica de uma residência e o rapto da mascote da Expo’ 98, muitas foram as manei- ras que os estudantes en- contraram de combater as propinas. ✺❢❴❭❡❙❨❴❫❨❝❪❴✏❋❝✣ ❙❜❨◗❙❨❴❫❨❝❪❴ Todos os anos cerca de 100 docentes es- trangeiros escolhem a UC para leccionar. Para além destes que vêm todos os anos, 53 estão efectivos. A CABRA foi procurar esses professores para descobrir o que os motivou a vir para Coimbra. Estórias de quem largou o país de origem para vir en- sinar em Portugal. ENS.SUPERIOR| Pág.8 ❅❜❴❱❯❝❝❴❜❯❝✏❯❝❞❜◗❫❲❯❨❜❴❝✏❫◗ ❊❫❨❢❯❜❝❨❚◗❚❯✏❚❯✏✸❴❨❪❘❜◗ TEMA | CENTRAIS ❆❡❨❫❥❯✏◗❫❴❝✏❚❯✏❙❜❨◗❞❨❢❨❚◗❚❯ ❙❴❫❞❜◗✏◗❝✏❵❜❴❵❨❫◗❝ ANO XVII O candidato da Lista A, André Olivei- ra, assegurou nas eleições da semana passada a presidência da Direcção–Ge- ral da Associação Académica de Coim- bra. No rescaldo, o estudante finalista de Economia, revela que acredita que vai conseguir aproximar os estudantes à associação e que pretende “unir a AAC”. O aluno critica o facto de muitas vezes se “reduzir a AAC às festas” e quer que os estudantes “possam ver que de facto existe um serviço para servir os sócios”. Nestas eleições votaram pouco mais de 4500 estudantes, tendo a Lista A con- quistado 2992 votos. Em segundo lugar ficaram os “brancos”, com 494, e em ter- ceiro a Lista U, com 354 boletins. Em quarto situou–se a Lista F, com 267 e em último lugar ficou a Lista R, com 261 votos. Também para o Conselho Fiscal foi a Lista A que ficou com quatro dos cinco lugares. Até ao fecho desta edição faltava porém apurar os votos por enve- lope, que decidem o quinto lugar para este órgão. “Brancos” alcançam segundo lugar no escrutínio, com 494 votos ENS.SUPERIOR | Págs. 6 e 7 FOTO :ANA FILIPA OLIVEIRA

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Versão integral da edição n.º 174 do jornal universitário de Coimbra “A Cabra”. Portugal, 04.12.2007. Para consultar o jornal na web, visite http://www.acabra.net/ e-mail: [email protected] Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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ANDRÉ OLIVEIRA VENCE E QUER UNIR ACADEMIA

SICKOA Américaestá doente?

ARTES FEITAS |Pág.20

Nº 174 TERÇA-FEIRA | 4 DE DEZEMBRO, 2007 Director: Helder Almeida

CULTURA| Pág. 18

Novo Acordo Ortográfico Futuro da Língua Portuguesa gera discórdia Págs.2 a 4

Quinzenal Gratuito

Lista A ganha eleições na primeira volta conquistando quase 3000 votos

A origem das espécies é tema de bastan-te discussão na comunidade científica.As opiniões dividem–se entre evolucio-nistas, que acreditam que existiu umaevolução das espécies até ao que conhe-cemos hoje e os criacionistas que defen-dem a intervenção deuma entidade inteli-gente no iníciodas espécies.

CIÊNCIA | Pág.14

Quando se assi-nalam os quinzeanos da aplica-ção das propinas naUniversidade daCoimbra A CABRAlembra os vários mar-cos da história destapolémica. Desde ma-nifestações, concen-trações até a constru-ção simbólica de umaresidência e o rapto damascote da Expo’ 98,muitas foram as manei-ras que os estudantes en-contraram de combateras propinas.

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Todos os anos cerca de 100 docentes es-trangeiros escolhem a UC para leccionar.Para além destes que vêm todos os anos,53 estão efectivos. A CABRA foi procuraresses professores para descobrir o que osmotivou a vir para Coimbra. Estórias dequem largou o país de origem para vir en-sinar em Portugal.

ENS.SUPERIOR| Pág.8

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TEMA | CENTRAIS

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ANO XVII

O candidato da Lista A, André Olivei-ra, assegurou nas eleições da semanapassada a presidência da Direcção–Ge-ral da Associação Académica de Coim-bra. No rescaldo, o estudante finalistade Economia, revela que acredita quevai conseguir aproximar os estudantes àassociação e que pretende “unir a AAC”.O aluno critica o facto de muitas vezesse “reduzir a AAC às festas” e quer queos estudantes “possam ver que de facto

existe um serviço para servir os sócios”.Nestas eleições votaram pouco mais de4500 estudantes, tendo a Lista A con-quistado 2992 votos. Em segundo lugarficaram os “brancos”, com 494, e em ter-

ceiro a Lista U, com 354 boletins. Emquarto situou–se a Lista F, com 267 eem último lugar ficou a Lista R, com 261votos. Também para o Conselho Fiscalfoi a Lista A que ficou com quatro doscinco lugares. Até ao fecho desta ediçãofaltava porém apurar os votos por enve-lope, que decidem o quinto lugar paraeste órgão.

“Brancos” alcançamsegundo lugar noescrutínio, com

494 votos

ENS.SUPERIOR | Págs. 6 e 7

FOTO :ANA FILIPA OLIVEIRA

“Parece importante queo português seafirme comoidioma cujacoesão orto-gráfica facilitea sua difusão”

O Acordo Ortográfico daLíngua Portuguesa pretende

uniformizar o português, idioma oficial de nove países.

Contudo, a sociedade portuguesa não é unânimequanto à implementação

Salvador Cerqueira

“Um passo importante para a defesa daunidade essencial da língua portuguesa epara o seu prestígio internacional”. É destemodo que a Academia Brasileira de Letrasapresenta a opinião de alguns círculos aca-démicos relativamente ao Acordo Ortográ-fico da Língua Portuguesa elaborado em1990.

Dezassete anos volvidos, as deliberaçõesdo acordo ainda não foram implementadas.Porém, posições relativamente à aplicaçãodo pacto já foram tomadas e já houve, tam-bém, um intervalo de tempo suficiente pa-ra que alguns mudassem de opinião. O de-putado e escritor Manuel Alegre confessa játer estado contra o acordo no passado. Em-bora, hoje considere que “para que o portu-guês seja uma língua de comunicação inter-nacional, convém que haja alguns ajustes.Tem que haver consenso”. Alegre, cujasobras são também publicadas além–fron-teiras, crê que o acordo é importante “paraque a Língua Portuguesa seja uma ponte decomunicação com o mundo. Com as novastecnologias tem que haver alguma aproxi-mação na grafia”.

Já o professor jubilado da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra(FLUC), Jorge Morais Barbosa, manifesta-–se contra a aplicação do novo acordo orto-gráfico. O autor da obra “A Língua Portu-guesa no Mundo” considera que “a unidadede uma língua não assenta na ortografia,mas na sintaxe, na sua fonologia e no léxi-co”. Morais Barbosa argumenta que “se oprestígio de uma língua decorresse da suaortografia, por que ruas da amargura nãoandaria uma língua como a inglesa”.

Carlos Reis, que leccionou cursos de Lite-ratura Portuguesa no Brasil e já leccionou amesma disciplina na FLUC, prevê que, como acordo ortográfico, o Português “se afir-me como idioma cuja coesão ortográfica fa-cilite a sua difusão e mesmo a adopção emdiversos campos de actuação”.

O português de hoje no dia de amanhã Morais Barbosa refuta a ideia de unifor-

mização, defendendo que “o acordo consa-gra várias grafias duplas, conforme a pro-núncia, dita padrão, de cada um dos países:António, Vénus, bebé, facto em Portugal,Antônio, Vênus, bebê, fato no Brasil”.

A adaptação dos portugueses às altera-ções no registo escrito da Língua não deveser problemática, como refere João MalacaCasteleiro, doutorado em Linguística Por-tuguesa, uma vez que a uniformização “nãointerfere com a oralidade nem com as dife-renças gramaticais e lexicais que existem,no seio da Língua Portuguesa, nos diferen-

tes países”. O professor da Faculdade deLetras da Universidade de Lisboa salientaainda que se “encontram variadíssimos er-ros, actualmente, cometidos pelos estudan-tes, nas palavras que o acordo pretendemudar”.

Manuel Alegre compara as futuras altera-ções com as mudanças ortográficas queocorreram enquanto frequentava o ensinoprimário: “escrevia–se farmácia com ‘ph’.Aí também houve uma simplificação dagrafia. As pessoas mais velhas continuarama escrever com ‘ph’, mas a pouco e poucohouve uma uniformização”.

Carlos Reis tem uma perspectiva seme-lhante, acreditando que “as comunidadeslinguísticas adaptam–se muito mais rapi-damente do que parece a reajustamentoscomo aqueles que o acordo ortográfico im-plica”. O professor explica que os “reajusta-mentos vão ser facilmente incorporados,não só porque eles são muitíssimo reduzi-dos, cerca de 1,5 por cento das palavras,mas também porque se trata de aproximar

a ortografia da pronúncia”.

Novas ediçõesO Ministério dos Negócios Estrangeiros,

contactado pel’A CABRA, assegura que, pa-ra que o documento entre em vigor em Por-tugal, basta apenas o depósito dos instru-mentos de ratificação. Para isso, após dis-cussão em Conselho de Ministros, vai serlevado a aprovação na Assembleia da Repú-blica. O período de adaptação ao AcordoOrtográfico da Língua Portuguesa foi esta-belecido em 10 anos, para que os livros, in-cluindo os manuais escolares, sejam actua-lizados.

O director do departamento de dicioná-rios das Edições Asa, Álvaro Colaço, admi-te que o ajustamento das publicações “vaiexigir um esforço muito grande das edito-ras, tanto a nível financeiro como de recur-sos humanos”. O director prevê que estasvão ter de “começar a trabalhar e fazer aadaptação o mais rapidamente possível”.

Com Susana Rocha

2 A CABRA DDEESSTTAAQQUUEE 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Dicionários e prontuários vão ser alvos de actualização caso o acordo seja aprovado

Vasco Graça MouraEscritor

“Espero que osescritoresresistam e nãose adaptem”

“A vida é feita de mudanças.Não podemos ter

relações baseadas na suspeição”

“A língua não nos per-tence e cada país

de expressãodita portugue-

sa fala à sua maneira. E ainda bem

que assim é.”ManuelAlegrePolítico

BaptistaBastosEscritor

CarlosReisLinguista

ANA FILIPA OLIVEIRA

“Não ganhamos absolutamentenada. Do pon-

to de vistasimbólico perdemosa oportu-nidade.”

“Não sou a favor do acordo. Masnão faço guerra contraele. Acho que devía-mos estar a discutiroutras coisas maisimportantes.”

Escritores de expressão portuguesa condenam o novoAcordo Ortográfico de Língua

Portuguesa. A falta de paridade nas alterações é dosargumentos mais utilizados

Rui AntunesAna Bela Ferreira

“Cadarço” é atacador, “açougue” é talho,“pingolim” é matraquilho e “furadeira” éberbequim. É e vai continuar a ser. Pelomenos as alterações propostas no novoAcordo Ortográfico não prevêem mudan-ças no vocabulário do português de Portu-gal e do Brasil. No entanto, a ideia de“abrasileirar” a língua mexeu com os afec-tos linguísticos de alguns dos mais concei-tuados escritores de expressão lusa.

Neste campo as previsões não são as me-lhores. José Jorge Letria, adverte que “vaiser muito complicado para nós, em Portu-gal, habituarmo–nos rapidamente no qua-dro deste acordo ortográfico”. O própriogarante “reagir muito mal” à aplicação domesmo e que do ponto de vista lexical vaicontinuar a escrever na variante portugue-sa até ao fim da sua vida. Até porque “nin-guém me impõe um novo vocabulário”evoca.

“O grande poeta Alexandre O’Neil diziaque ‘a regra é não ter regra’”, é assim queBaptista Bastos justifica o facto de nãopretender aderir à norma do Acordo Orto-gráfico. O escritor lembra que é “o povoque tem feito a gramática da língua portu-guesa” e que não são precisos “senhoreslentes e pseudo–linguistas ou linguistas aproclamarem como deve ser a língua”.Baptista Bastos faz ainda questão de frisarque “a língua é liberdade”.

Vasco Graça Moura, é um dos inadapta-dos, e conta não ser o único: “espero queresistam e não se adaptem”, confessa.Quem também se mostra intransigentequanto às mudanças ortográficas é MiguelSousa Tavares. Apesar de ter sido um dosprimeiros a manifestar publicamente o seudesagrado, nas páginas do semanário “Ex-

presso”, parece não estar interessado emalargar o debate e apesar da promessa deluta limita–se a dizer: “não tenho nadamais a acrescentar sobre o assunto”. Acontestação ficou por dois parágrafos nasua coluna de opinião semanal.

Já Lídia Jorge reconhece que acabarápor se adaptar, “porque nada há mais tris-te do que a pessoa ter a sensação que estáa escrever numa grafia envelhecida”. Noentanto, a autora acredita que “não ganha-mos absolutamente nada” com o acordo.Para evitar que os revisores corrijam aqui-lo que o escritor possa escrever ‘à modaantiga’, José Jorge Letria admite que vaiser inevitável a aplicação da norma à suaobra.

“Uma aberração especiosa”O Acordo Ortográfico não reúne simpa-

tias e é mesmo caracterizado como “aber-ração especiosa” por Vasco Graça Moura.Esta luta não é nova e o escritor está neladesde o início, por isso, afirma, convicto,que o acordo “não traz unidade nem difu-são apenas vai aumentar a confusão”.

O processo “está coxo, deficiente no sen-tido da sua operacionalidade e da sua legi-timidade”, defende José Jorge Letria.Também Baptista Bastos é peremptório aoconsiderar que “este acordo não serve pa-ra coisíssima nenhuma”. O escritor subli-nha que grandes poetas como Drummondde Andrade e Camões não precisam deadaptações para “serem entendidos e ama-dos”.

O presidente da Sociedade Portuguesade Escritores, José Manuel Mendes, acre-dita que o acordo não ameaça a língua masconsidera-o insuficiente. “Poderia ter sidomelhor? Julgo que sim. Pode sê–lo ainda?Não quero escrever ‘Delenda est Cartago’[Cartago deve ser destruída]. Mas a ex-pressão ocorre”, frisa.

Um acordo pressupõe cedências iguaisde ambas as partes, mas na batalha transa-tlântica o português de Portugal perde pe-rante a versão brasileira. Neste ponto osescritores são unânimes. “O ganho é defacto brasileiro” reconhece Lídia Jorge.

Tremas, acentos e consoantes mudas à

parte, alguns escritores apontam uma ra-zão economicista para o Brasil querer ace-lerar o processo. José Jorge Letria acredi-ta que o Brasil quer dominar o mercadoeditorial dos países africanos de línguaportuguesa. “Boas contas fazem os bonsamigos, mas amigos, amigos negócios àparte e há aqui um forte interesse econó-mico” alerta. Na óptica de Graça Moura,Portugal fica assim “a perder cultural egeoestrategicamente”. “Não ganha absolu-tamente nada”, remata o escritor.

O acordo não é novidade e escritores co-mo Lídia Jorge, Vasco Graça Moura e JoséJorge Letria são já velhos ‘amigos’ daquestão. A ideia nasceu em 1990, “paramostrar que Portugal não era e não se sen-tia dono de nenhuma língua”, contextuali-za Lígia Jorge, à data membro da Comis-são Nacional de Língua Portuguesa(CNALP), que emitiu pareceres sobre otratado. Ora, 17 anos depois, a escritoraconsidera que “a aproximação deveria ter

sido muito mais aprofundada” e que, hoje,“a sua aplicação resulta numa inutilidade”.

A moratória na aplicação do acordo nãofoi necessariamente negativa. “Passaramvinte anos sobre a primeira discussão e aunidade da língua não foi prejudicada pelanão entrada em vigor”, analisa GraçaMoura. Para o vice–presidente da Socie-dade Portuguesa de Autores, José JorgeLetria, este tempo “contribuiu para refor-çar a hegemonia da norma do portuguêsdo Brasil, através de uma presença omni-presente das telenovelas e da música”.

O descontentamento acerca do acordoestende–se a outros autores do espaço lu-sófono. O escritor moçambicano, MiaCouto, afirma não ser a favor do acordopois não lhe reconhece grandes vantagens.Contudo, “não faço guerra contra ele, pre-firo não dar importância. Devíamos estar adiscutir coisas mais importantes”, finaliza.Em jeito de previsão, José Manuel Mendesfrisa que “até 2017 muita água correrá”.

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira DDEESSTTAAQQUUEE A CABRA 3

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

Mia CoutoEscritor moçambicano

Lídia JorgeEscritora

“Mas porque é que a norma tem que ser

altamente favorável ao Brasil e não a

Portugal?”

José Jorge LetriaVice-presidente da SPA

Quase 20 anos depois da elaboração do Acordo Ortográfico da Língua

Portuguesa, o pacto continuaem suspenso. Foram cerca de

duas décadas de muitos avanços e recuos

Vítor AlvesMartha Mendes

O novo acordo ortográfico que entraem vigor já a partir do próximo ano estáem discussão há 17 anos. Durante esteperíodo o plano passou por várias eta-pas. Desde alterações, a ratificações e àadesão de vários países da lusofonia, ahistória do acordo ortográfico faz–se devárias indecisões.

O mais recente Protocolo Modificativodo Acordo Ortográfico foi assinado em2004. As últimas alterações, despoleta-das pela entrada de Timor Lorosae, ti-nham como finalidade a procura de umasolução definitiva que reunisse o consen-so de todos os Países de Língua OficialPortuguesa (PALOP).

O objectivo principal foi sempre a uni-ficação ortográfica da língua de Camõese uma maior facilidade no intercâmbiocultural e científico entre os PALOP. Aúltima vez que o acordo esteve em cimada mesa foi no ano passado, quando seprocessaram as ratificações finais porparte de Cabo Verde (Fevereiro) e SãoTomé e Príncipe (Dezembro).

O acordo que agora está em discussãofoi elaborado em 1990. Estava previstoque entrasse em vigor em 1994. A valida-ção da nova ortografia estava sujeita àaprovação de todos os países, o que nãoaconteceu. A entrada em vigor do acordofoi sendo constantemente adiada. Em1998 foi assinado o primeiro protocolomodificativo, obtendo apenas a aprova-

ção de três dos países envolvidos: Portu-gal, Brasil e Cabo Verde.

No passado mês de Novembro, a mi-nistra da Cultura, Isabel Pires de Lima,anunciou no Parlamento que Portugalirá pedir uma dilatação do prazo deadaptação à nova ortografia. Pires de Li-ma considera que o prolongamento daentrada em vigor do acordo se justificapelas várias modificações que o pactoimplica. A alteração de manuais escola-res, dicionários e documentos oficiais,são um exemplo das adaptações necessá-rias.

O que levou ao acordoO primeiro esboço de Acordo Ortográ-

fico da Língua Portuguesa foi realizadoentre a Academia Brasileira de Letras(ABL) e a Academia das Ciências de Por-tugal (ACP), em 1931. Nove anos depoisa ACP publica o primeiro vocabuláriocom as modificações decorrentes de1931. A ABL leva mais três anos a lançaro vocabulário.

Como resultado da Convenção Orto-gráfica de Lisboa (1943) nasce o primei-ro Acordo Ortográfico (1945). Em Portu-gal, este primeiro acordo foi transforma-do em lei mas no Brasil não houve ratifi-cação por parte do Congresso; o paíscontinuou a regular–se pelo vocabuláriode 1943.

Mais de 30 anos depois, em 1971, assi-na–se um novo acordo entre Portugal e oBrasil. Desta vez a ortografia dos doispaíses aproxima–se mas continuam amanter–se algumas diferenças.

Em 1986, o presidente brasileiro JoséSarney tenta resolver a situação da lín-gua portuguesa convocando uma reu-nião, no Rio de Janeiro, com os sete paí-ses que constituem os PALOP. Apesardos esforços, as diferenças ortográficasmantêm–se. São estas diferenças que oNovo Acordo Ortográfico visa suprimir. ü

4 A CABRA DDEESSTTAAQQUUEE 3ª feira, 4 de Dezembo de 2007

Director do Jornal de Letras

Já noticiaram alguma coisa sobreo novo acordo ortográfico?

Nós já demos notícias sobre isso e te-mos dado largo espaço e atenção a esse te-ma, desde há 17 anos, aliás. Não só reflec-tindo as várias opiniões a esse respeito,como publicando textos de alguns espe-cialistas, desde brasileiros a portugueses

como o Vítor Aguiar e Silva, o Óscar Lo-pes, etc. Mais recentemente o assunto atéfoi tema de capa.

Qual a sua opinião sobre a cober-tura que os media têm feito do acor-do?

Na altura do acordo a questão foi muitopolitizada e houve uma certa campanhacontra o movimento anti–acordo entre osquais os mais radicais dessa matéria, oVasco Graça Moura, por exemplo, fizeramum abaixo–assinado. Nessa altura tevemais expressão, depois ficou meio esque-cido, o que eu acho mal. As coisas quandose decidem são para aplicar. Mais recen-temente, voltou à ordem do dia e o JL foio primeiro a pôr o tema na ordem do dia.No Brasil o tema tem estado um bocadoem segundo plano, até que passou paraprimeiro plano nos grandes jornais brasi-

leiros, “O Globo” e a “Folha”. Começou ahaver uma certa sugestão no sentido dePortugal se considerar o dono da língua eestar a atrasar a ratificação.

Uma vez que a língua portuguesaé a ferramenta essencial do vossotrabalho qual o impacto que pre-vêem que o acordo venha a ter nodia a dia da redacção?

Acho que não será muito grande. Isto éimportante não tanto pelas alterações quese verificam, que não são assim tão im-portantes, mas pelo impacto sobre a co-munidade, os países e povos da línguaportuguesa. Do ponto de vista jornalísticocreio que isso não terá grande importân-cia. Eu diria mesmo que é uma questãopara as revisões, o déspota das revisões[risos]. Não tem grande importância por-que não há alterações do mais importan-

te, o significado das palavras, a constru-ção sintáctica.

O acordo favorece a língua portu-guesa e a aproximação dos paíseslusófonos?

Sim e isso é o principal. O português é aterceira língua europeia, e a sétima maisfalada a nível mundial. É utilizada pormais de 200 milhões de pessoas, portantoé bom que seja comum a todos, que tenhauma ortografia comum. Esta tendência deuma língua comum em todo o vasto mun-do da língua portuguesa é a todos os ní-veis favorável, mostra finalmente que es-tes países são capazes de se entender, defazer alguma coisa em comum. E isso éque é o mais importante.

Entrevista por Vítor Alves e Martha Mendes

José Carlos Vasconcelos

O que muda?Desaparecimento do acento circunflexo nas

palavras com “o” duplo. Ao invés de “aben-çôo”, “enjôo” ou “vôo”, os brasileiros vão terde escrever “abençoo”, “enjoo” e “voo”. Tam-bém desaparece o acento na terceira pessoado plural do presente do indicativo dos verbos“crer”, “dar”, “ler”, “ver” e os seus decorren-tes, ficando correcta a grafia “creem”, “deem”,“leem” e “veem”.

Mudam as normas para o uso do hífen:“contra–regra”, “extra–escolar”, “anti–semi-ta” ou “anti–religioso”, passam a escrever–se“contrarregra”, “extraescolar”, “antissemita” e“antirreligioso”. Palavras como “microon-das”ou “arquiinimigo”, alteram para “micro-–ondas” e “arqui–inimigo”.

Incorporação de mais 3 letras no alfabeto,“k”, “w” e “y”.

O acento da palavra “pára” (verbo) vai dei-xar de ser usado.

O “c” e o “p” vão ser eliminados em palavras

em que estas letras não se pronunciam. “Ac-ção”, “acto”, “adopção” e “baptismo” revertempara “ação”, “ato”, “adoção” e “batismo”.

Extinção do “h” em palavras como “húmi-do”. Passa a ser grafado, como no Brasil:“úmido”.

No Brasil desaparecem acentos em palavrascomo “assembléia”, “idéia”, “heróica”.

Do mesmo modo, no Brasil o trema desapa-rece em palavras onde se utilizava.

Criação de alguns casos de dupla grafia pa-ra fazer distinção, como o uso do acento agu-do na primeira pessoa do plural do pretéritoperfeito dos verbos, tais como ”louvámos” emoposição a “louvamos” e “amámos” em oposi-ção a “amamos”.

O que se mantém?A diferenciação entre algumas palavras:

académico/acadêmico, génio/gênio, fenóme-no/fenômeno, bónus/bônus.

Voltar a aprender?

ANA FILIPA OLIVEIRA

Há dezassete anos que a discussão sobre o Acordo está no armário

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

A vitória da

abstençãoAndré Oliveira venceu as eleições para a Direc-

ção–Geral da Associação Académica de Coimbrasem surpresa. Era evidente, à partida, o desfecho,tanto pelos meios de que a Lista A dispunha (des-de faixas a outdoors) como pela pouca força dasoutras listas que se apresentaram a eleições.

No escrutínio participaram pouco mais de4500 estudantes, num universo de cerca de 20mil. Nem o habitual cacique (que alguns até des-valorizam) que caracteriza já as eleições emCoimbra levou mais estudantes a votar. E maisuma vez os votos em branco voltaram a ficar nu-ma posição cimeira: segundo lugar, à frente detrês projectos eleitorais.

Não se pode dizer que são resultados satisfató-rios, muito pelo contrário. Só provam o efectivoafastamento dos estudantes da Academia, a faltade motivação que sentem em participar num ac-to tão fundamental como uma eleição e a descon-fiança que sentem em relação aos projectos.

Como é óbvio não se pode imputar responsabi-lidades apenas às listas por esta fraca participa-ção, mas a verdade é que são estas que têm umaespecial responsabilidade em motivar e mobili-zar, ainda por cima quando em todos os progra-mas era dada prioridade à aproximação aos estu-dantes. Esperava–se mais.

André Oliveira, que em Janeiro toma posse,surge com um discurso optimista. O estudantequer unir a AAC e acredita que conseguirá pôr assecções, organismos autónomos e núcleos a re-mar para o mesmo lado, chamando mais estu-dantes para o movimento associativo.

Por outro lado, pretende dinamizar cultural-mente o espaço do bar, através das secções, criti-cando o uso que se tem dado ao estabelecimento,que está reduzido a uma discoteca (situação a quetodos têm fechado os olhos). Reprova ainda a re-dução da AAC às festas académicas como a Quei-ma ou a Latada. São intenções de força que emprincípio fariam parte das prioridades de umaqualquer direcção. Daqui a um ano se verá se oque se garante agora não cai em saco roto, comohabitualmente.

Helder Almeida

Cartas ao director podem ser enviadas [email protected]

Editorial

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director Helder Almeida Chefe de Redacção Rui Antunes Editores: Cátia Monteiro (Fotografia), Helder Almeida (Ensino Superior), Salvador Cerqueira (Cidade), RaquelCarvalho (Nacional), Rui Antunes (Internacional), João Miranda (Ciência), Patrícia Costa (Desporto), Martha Mendes (Cultura), Ângela Monteiro (Media), Carla Santos(Viagens) Secretária de Redacção Adelaide Baptista Paginação Rui Antunes, Salvador Cerqueira, Sofia Piçarra Redacção Ana Bela Ferreira, Ana Filipa Oliveira, AnaMargarida Gomes, Ana Raquel Melo, Cláudia Teixeira, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Joana Gante, João Pimenta, Liliana Figueira, Marta Campos, Marta Costa, PedroCrisóstomo, Rafael Pereira, Raquel Mesquita, Sandra Camelo, Sara Simões, Sofia Piçarra, Soraia Manuel Ramos,Tânia Ramalho, Wnurinham Silva Fotografia CarinePimenta, Carolina Sá, Catarina Silva, Cláudia Teixeira, Daniel Palos, Fábio Teixeira, Fausto Moreira, Filipa Faria, José Marques, Liliana Lago, Martha Morais, Mónica Pópulo,Nuno Braga, Tiago Lino Ilustração José Miguel Pereira, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Andreia Ferreira, André Tejo, Cláudia Morais, Emanuel Botelho,Fernando Oliveira, François Fernandes, João Alexandre, Laura Cazaban, Rafael Fernandes, Raphaël Jerónimo, Rui Craveirinha, Vitor André Mesquita Colaboraram nestaedição Alexandre Oliveira, Ana Beatriz Rodrigues, Andreia Silva, Carine Anacleto, Carolina de Sá,Catarina Fonseca, Emanuela Gomes, Jeniffer Lopes, João Picanço, MartaOliveira, Nuno Braga, Raquel Soares, Ricardo Baptista, Susana Rocha, Tânia Cardoso, Vânia Silva, Vitor Alves Publicidade Sofia Piçarra - 239821554; 913009117 ImpressãoCIC - CORAZE, Oliveira de Azeméis, Telefone. 256661460, Fax: 256673861, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo daAssociação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social daUniversidade de Coimbra

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira OOPPIINNIIAAOO A CABRA 5

A segunda metade do século XX doSudão foi praticamente preenchida porduas guerras civis, entre o norte e o suldo país. A segunda, que ocorreu entre1983 e 2005, teve como consequênciacerca de dois milhões de mortos e maisde quatro milhões de refugiados.

Desde Fevereiro de 2003 que na re-gião do Darfur, oeste do Sudão, doisgrupos armados se opõem. O conflitoentre os janjawid, milícia mulçumanaconstituída por tribos nómadas africa-nas, e os povos não–árabes da região étido como uma das maiores crises hu-manas da actualidade.

Os dados apontam que entre as víti-mas deste conflito se contavam, em Se-tembro de 2004, 50 mil vítimas mortais

(Organização Mundial de Saúde) e emAbril de 2006 este número atingia já as450 mil mortes (segundo Eric Reeves,professor no Smith College, em Massa-chusetts, EUA, e responsável pelo su-danreeves.org). Também o número depessoas obrigadas a deixar as suas casasse estima em dois milhões.

Em Setembro de 2004 o Conselho deSegurança da ONU aprovou uma co-missão de inquérito para avaliar a ques-tão do Darfur. Porém, a ONU apresen-tou um relatório em que afirmava nãoestar em condições de classificar a crisedo Darfur como genocídio.

No ano passado, o Exército da Liber-tação Sudanesa aceitou uma propostade acordo de paz com o governo do

país. Este acordo incluía o desarma-mento das milícias janjawid e a incor-poração dos rebeldes no exército suda-nês. Contudo, o Movimento Justiça eIgualdade e uma facção do Exército deLibertação opuseram–se ao acordo.

Hoje os combates continuam no Dar-fur. Para não deixar passar esta situa-ção em claro, e para que ninguém digaque não sabe o que está a passar, o Jor-nal Universitário de Coimbra – A CA-BRA, conta com o apoio de especialistase personalidades preocupadas com estacrise humanitária e vai reservar a próxi-ma edição, a sair a 18 de Dezembro, pa-ra lançar um número especial inteira-mente dedicado à questão do Darfur.

A direcção

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

Nestas eleições para direcção-–geral votaram cerca de 4500alunos. Candidatos criticam osucessivo afastamento entre

as direcções–geraise os estudantes

Helder AlmeidaRicardo Baptista

André Oliveira, líder da Lista A, é o novopresidente Direcção–Geral da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (DG/AAC). O estu-dante de Economia foi eleito, na passadaterça, 27, e quarta–feira, 28, à primeiravolta por 2992 votos numa votação em queparticiparam 4513 estudantes (uma dasmenos participadas dos últimos sete anos).

Na votação os brancos ficaram em se-gundo lugar, com 494 votos, seguidos daLista U, com 354. Em quarto ficou a ListaF, com 267, e em último a Lista R, com 261votos.

Já os lugares para o Conselho Fiscal (CF)vão ser preenchidos pela Lista A, que obte-ve 2667 boletins. Até ao fecho desta edição,faltava, contudo, apurar ainda um dos cin-co lugares elegíveis, uma vez que, não eramconhecidos os resultados dos alunos quevotaram por envelope, 247. Também paraeste órgão os votos em branco ficaram emsegundo lugar, com 474 votos. A Lista U

obteve 385 votos, a D 386 e a R 239. Já alista F não conseguiu mais de 252 votos.

O presidente da Comissão Eleitoral (CE),Joel Vasconcelos, afirma que o acto eleito-ral “decorreu de uma forma tranquila e pa-cífica”, não tendo chegado “qualquer tipode queixa, de nenhuma das listas, à CE”. Oestudante refere apenas que houve “umasurnas que fecharam mais cedo que outras”.Assegura, contudo, que “cumprimos os re-gulamentos que dizem que as urnas têm deestar abertas por um período mínimo dedez horas diárias”.

Candidatos criticam sucessivasdirecções–gerais

Elísio Sousa, candidato pela Lista U, afir-ma que apesar do objectivo de ganhar “nãoter sido cumprido”, valoriza muito “o resul-tado que a lista U conseguiu obter, com to-das as dificuldade inerentes ao próprio fi-nanciamento da lista”. O estudante destacaainda o facto de ter conseguido colocar naordem do dia questões como o Processo deBolonha ou o financiamento do ensino.

Por seu lado, o candidato da Lista F, Ma-nuel Afonso, assegura que “os objectivosmais imediatos foram conseguidos, que foichegar a toda a universidade”. Já o candi-dato da Lista R, João Catarro, apesar de sa-ber que seria complicado, afirma que “esta-va à espera de um resultado mais positivo”.

Em relação ao facto dos votos em branco

terem alcançado o segundo lugar no escru-tínio, tanto para a DG/AAC como para o CF(já no ano passado, com sete listas a con-correr, os brancos obtiveram o terceiro lu-gar), todos os candidatos derrotados falamde um cada vez maior alheamento dos es-tudantes e criticam o crescente descréditodas últimas direcções–gerais.

Elísio Sousa afirma que “os estudantestentaram marcar a sua posição política re-

lativamente às últimas direcções–geraisque se têm afastado sucessivamente dos es-tudantes”. Por seu lado, Manuel Afonso,assegura que “os votos em branco são sinalde insatisfação”. “Mas acho que não é a lis-ta vencedora que vai conseguir resolver es-te problema, só o vai aprofundar”, critica.João Catarro atesta que “os estudantes seestão a alhear da AAC e que a associaçãoperdeu um pouco em credibilidade”.

Nuno Mendonça, Edgar

Mendes e Miguel Violante sãoos estudantes eleitos que vãorepresentar os alunos da UC

na Assembleia Estatutária

Ana Beatriz Rodrigues

António Almeida Santos (um dos fundado-res do Partido Socialista), Artur Santos Sil-va (do BPI), Emílio Rui Vilar (da FundaçãoCalouste Gulbenkian), Gonçalo Quadros(da Critical Software) e Manuel Carvalhoda Silva (secretário–geral da CGTP) são oscinco elementos exteriores à comunidadeuniversitária que vão integrar a AssembleiaEstatutária da Universidade de Coimbra(UC).

O órgão tem como função remodelar os es-tatutos da UC, de modo a ficarem adapta-dos ao novo Regime Jurídico das Institui-ções de Ensino Superior (RJIES).A Assembleia Estatutária, composta portrês representantes dos estudantes e por 12representantes dos professores e investiga-dores de carreira, é presidida pelo reitor daUC, Fernando Seabra Santos.As eleições dos membros da AssembleiaEstatutária tiveram lugar no passado dia 26de Novembro, em todas as faculdades daUC. No que diz respeito ao corpo discente,a lista A - “Academia de Causas” - recebeu716 votos, e a Lista U - “Unidos pela GestãoDemocrática” - garantiu 244 votos. No to-tal, juntando os 83 votos em branco e os 7nulos, votaram 1050 estudantes, num uni-verso de 19988 eleitores. Nuno Mendonça,

Edgar Mendes (ambos pela Lista A) e Mi-guel Violante (Lista U) foram eleitos os re-presentantes dos estudantes.Relativamente aos representantes dos pro-fessores e investigadores, tendo sido apre-sentada apenas uma lista, votaram 49,5 porcento dos 954 eleitores. A Lista A recebeu378 votos, registando–se 77 votos em bran-co e 17 nulos.De acordo com um dos representantes docorpo discente na Comissão Eleitoral, Vas-co Cardoso, “as eleições decorreram dentroda normalidade”. O estudante lamenta, po-rém, a pouca afluência às urnas – 5,5 porcento - por parte dos alunos.Para Miguel Violante, a causa da fraca par-ticipação esteve “na falta de informação dosestudantes sobre o que é a Assembleia Es-tatutária” e na “proximidade temporal com

as eleições para os corpos gerentes da Asso-ciação Académica de Coimbra”. TambémNuno Mendonça admite que as eleições“não foram amplamente divulgadas”, querpor parte das listas, quer por parte da uni-versidade.Pondo de parte a questão da nomeação doreitor pelo Governo, Nuno Mendonça con-sidera que quem deve governar a universi-dade “terá sempre de ser alguém de dentro,que conheça a realidade e os problemas”.Para o estudante de Direito, este será umdos pontos fortes a debater durante o man-dato.

Já Miguel Violante garante que “não vaipermitir, de maneira alguma, que a UC pas-se a fundação”, pois a criação de uma fun-dação “é o primeiro passo para acabar como ensino superior gratuito e de qualidade”.

JOÃO MIRANDA

No total votaram para a DG/AAC e para o Conselho Fiscal 4513 estudantes

6 A CABRA EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

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Rescaldo: Eleições DG/AAC 2007

O estudante finalista de Eco-nomia, natural de Coimbra,

venceu na semana passada aseleições para a Direcção–Ge-ral da Associação Académica

de Coimbra. Conquistou 2992votos. Em Janeiro toma posse

Helder Almeida

Agora que foste eleito presidenteda DG/AAC quais vão ser as tuas pri-meiras medidas?

Consideramos dois ou três pontos quesão prioritários, sendo difícil definir ape-nas um. Em primeiro lugar, queremos re-solver os problemas que têm surgido à vol-ta das secções, seja com o bar, a segurança,ou o que for. Por outro lado, o campo deSanta Cruz é para nós prioritário tendo emconta que a obra já está atrasada. E há ain-da a questão do Processo de Bolonha e osproblemas que os estudantes estão a pas-sar com a sua implementação.

Afirmaste em declarações ao “Jor-nal de Notícias” que a AssociaçãoAcadémica de Coimbra (AAC) nãoestá unida. És tu e a tua equipa que avão unir?

Vamos fazer tudo o que estiver ao nossoalcance para unir a AAC, porque as secçõesestão descontentes. Se estas perceberemque a DG/AAC está a trabalhar em prol dosestudantes, em prol da casa, certamentevamos ter uma AAC unida em torno de to-das as suas causas.

As secções pretendem dinamizarculturalmente o espaço do bar. Vaisapoiar e dar força às secções nesteaspecto?

Sem dúvida nenhuma, porque é o bar daAAC. A nossa prioridade é, em conjuntocom as pessoas que estão à frente do bar,mostrar a nossa produção cultural para le-varmos para lá as secções.

Posso perceber então que obar passará a ser um es-paço diferente doque é agora.

Vamos fazertudo o que es-tiver ao nossoa l c a n c e ,tendo emconta oscontratosque es-tão es-tabe-l e -

cidos, para resolver não só esta questão daprodução cultural que não existe no bar,mas também o barulho e o excesso de pes-soas que por vezes tem e que prejudicam obom funcionamento da casa. Neste sentidoo que afirmo é que vou fazer tudo o que es-tiver ao meu alcance para levar as secçõesaté ao bar. Acreditamos que vai haver sen-sibilidade por parte das pessoas que estãoà frente do estabelecimento porque só as-sim é que faz sentido pois é o bar da AAC.O espaço não deve ser só uma discoteca.

Como comentas a elevada absten-ção que houve nestas eleições?

Em primeiro lugar esta abstenção tem deservir de reflexão para o futuro. Para mima AAC não é só o bar, não é só a Queimadas Fitas, não é só a Latada mas, ao longodos anos, temos caminhado para reduzir aAAC às festas. Certamente quese as secções estiverem mo-tivadas, se conseguiremtrazer mais pessoas àassociação, não te-remos uma abs-tenção tão gran-de. Por outrolado, é impor-tante referirque não po-demos com-parar estaeleição coma do anopassado emque haviaduas listasmuito fortesque disputaramaté ao último votoquem é que ia ven-cer.

Qual a razãodos votos emb r a n c ot e -

rem ficado em segundo lugar?O voto em branco é também uma forma

de mostrar descontentamento. É preferívelter votos em branco a haver abstenção. Is-so pode ser fruto da realidade que nestemomento temos na AAC, desta falta de cre-dibilidade de que tenho vindo a falar. Podeser fruto das sucessivas direcções–gerais, eeu também já pertenci a uma e não estou adescartar–me desta responsabilidade. Te-mos de ser todos nós a tirar algumas dasconclusões e se todos participarmos e tra-balharmos para o mesmo acredito que osvotos brancos talvez deixem de ser o se-gundo classificado.

O tema da aproximação aos estu-dantes é recorrente todos os anos…

A aproximação seja a quem for nunca sefaz de um dia para o outro ou de um ano

para o outro, é um pro-cesso. Todos os ex-

–candidatos, to-dos os ex–pre-

sidentes pro-p u s e r a m

aproximaros estu-

d a n t e sà casa.Nuncan i n -g u é mo con-seguiumas euacreditoque o

vou con-seguir.

A s s e g u -ras então

que daqui aum ano a

AAC vaie s t a r

mais unida?Não asseguro que vou ter a aproximação

total aos estudantes. Asseguro que vou fa-zer tudo aquilo que estiver ao nosso alcan-ce para termos as secções, os organismosautónomos e os núcleos de estudantes arumar para o mesmo lado. E quando tiver-mos qualquer tipo de actividade que envol-va toda a associação académica ou que aassociação tenha de se concentrar em si-tuações fortes acredito que vou ter todas assecções e grande parte dos núcleos presen-tes como nunca estiveram até agora.

Como é que esperas ver a AAC da-qui a um ano?

Unida. E credibilizada. Que as pessoasolhem para a associação académica e ve-jam mais do que as festas. Que possam verque de facto existe um serviço para serviros estudantes e os sócios.

Disseste que pretendes clarificar asituação com o reitor. A tua equipapretende apresentar alguma moção,nas primeiras magnas, nesse senti-do?

A nossa posição em relação ao reitor émuito clara. Nunca esquecendo o passado,achamos, no entanto, que neste momentoa AAC e a reitoria têm de estar em sintonia.Neste momento deixa de fazer sentido umacontestação ao reitor tendo em conta quefoi reeleito há um ano e tendo em contatambém que esta DG/AAC já desenvolveuvários esforços no sentido de uma aproxi-mação. A crítica que deixo é que de factonão o resolveu no local próprio, não teveem conta uma deliberação de Magna queneste momento existe e que apenas prevêrelações institucionais. E como todos sabe-mos temos mais do que relações institucio-nais neste momento. Atenção que eu con-cordo com ela, discordo é de ainda não tersido resolvido em Assembleia Magna(AM). Vou discutir isso no seio da minhaequipa na altura apropriada, mas acreditoque há a possibilidade de apresentarmosuma moção de modo a alterarmos a que

neste momento existe. Mas se avontade dos estudantes

presentes na AM foroutra certamente

vamos respei-tar essa posi-

ção. Com Ricar-

do Bap-tista

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR A CABRA 7

André Oliveira

“ ”

FOTO:FÁBIO TEIXEIRA

Universidade de Coimbra(UC) atrai todos os anos, aoabrigo de diversos programasde mobilidade, alunos e pro-

fessores dos quatro cantos do mundo.Antoinet Brink, professora de Neerlandês

na Faculdade de Letras da UC (FLUC), veiopara Portugal com vista a finalizar a tese delicenciatura em Língua e Cultura Portugue-sa. No mesmo ano, a UC iniciou um inter-câmbio com a universidade de origem da do-cente, Universidade de Utrek, e surgiu aideia de criar uma cadeira de Estudos Neer-landeses. Convidada para leccionar a disci-plina, “comecei a criar raízes cá, casei e fuificando”, explica Brink.

Relativamente às dificuldades encontra-das em Coimbra, a professora queixa–se que“aqui os edifícios são muito frios e o corpode uma pessoa do norte não está habituadoa este frio. Lá [Holanda] as casas têm todasaquecimento”.

Susana Echeverría, docente convidada pe-la Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC(FCTUC), veio como bolseira de doutora-mento: “apareceu a possibilidade de dar au-las, e achei que era uma boa oportunidade”.

Para a professora espanhola, “os proble-mas são, sobretudo, burocráticos. Há muitascoisas que não sabia, e que acho que muitaspessoas não sabem, sobre como funciona odepartamento, a faculdade, a universidade”.

Echeverría lamenta o facto de os professo-res estrangeiros “dependerem mais da boavontade das pessoas que estão à sua volta,do que se calhar das pessoas que deveriam,

realmente, informá–los”.

“As mulheres são atraentes”Muitos são os docentes estrangeiros que

estão já efectivos nas faculdades onde traba-lham. Alexander Kovacec, professor no de-partamento de Matemática da FCTUC, é pe-remptório quando assinala o principal moti-vo da sua vinda para Portugal: “as mulheressão atraentes”, graceja.

Para Kovacec, arranjar emprego na UCnão foi muito difícil. “Eles queriam alguémque desse Lógica e outras cadeiras, pois ti-nham falta de pessoal”, então “falei com odirector do departamento, fiz um semináriode apresentação, o Conselho Científico reu-niu, e decidiu aceitar a minha candidatura”,explica o professor austríaco.

Vladimir Pliássov chegou a Coimbra em1988 mas só assinou contrato três anos de-pois, devido a problemas burocráticos. Ape-sar de ter sido o primeiro professor de Rus-so na FLUC, tal não significa que tenha sen-tido dificuldades em relacionar–se com osrestantes colegas e alunos. Vladimir recorda,“no meu primeiro grupo havia poucos alu-nos e uma rapariga que escrevia o cirílico(caracteres russos) melhor que eu!”.

“Para mim dar aulas é o ar que respiro”,confessa Hans–richard Jahnke. Na opiniãode Jahnke, os problemas de integração en-volvem também alguma falta de abertura dequem chega, “temos que ter abertura paraaceitar formas diferentes de viver”, por isso,“uma coisa que se devia dizer às pessoas queemigram é: preparem–se, porque não vão

encontrar a mesma realidade”. O professorde Sociologia afirma que nunca teve ne-nhum problema com alunos e acrescentaque até foi muito bem recebido pelos profes-sores e funcionários da Faculdade de Letras.

Alain Massart, professor na Faculdade deCiências do Desporto e Educação Física (FC-DEFUC), veio da Bélgica, depois de se ter ca-sado com uma portuguesa, e também nãoencontrou dificuldades na integração. “Pri-meiro, o que marca uma pessoa aqui emCoimbra são todas as tradições”, afirma odesportista, que vai, frequentemente, a jan-tares com os alunos. “Aqui há realmenteuma tradição bastante forte, que não há nauniversidade onde estudei”, comenta.

Desde Judo, Natação, Educação para aSaúde, Nutrição e orientação de estágio,Massart tem vindo a assumir várias respon-sabilidades na instituição, “o que advém daconfiança que se vem associando à minhapessoa aqui nesta faculdade”.

UC aposta na mobilidadeDesde há muitos anos que a UC tem vindo

a apostar na contratação de professores es-trangeiros, quer em mobilidade, quer efecti-vos. Por outro lado, verifica–se também oaumento da disponibilização de conteúdosque levam a uma maior troca de conheci-mentos entre universidades de diversospontos do mundo.

A consequente internacionalização do sa-ber tem dado frutos, como menciona a Che-fe da Divisão de Relações Internacionais,Imagem e Comunicação, Filomena de Car-

valho: “a Universidade de Coimbra foi consi-derada um dos 20 casos de sucesso do Pro-grama Erasmus, e está muito bem classifica-da na mobilidade de professores, nomeada-mente nos que chegam”.

“Os professores trazem, não apenas umsaber mais valioso e enriquecido, como vêmmuitas vezes colaborar em áreas para ondetrazem algo de novo, em termos científicos”,sublinha a vice–reitora da UC, Cristina Ro-balo Cordeiro.

No caso específico da FCTUC, o sucessodos seus alunos é tão importante, que “há al-gum tempo, a instituição estabeleceu a regrade que só contrataria docentes com doutora-mento feito”, explica o vice–presidente doConselho Científico da faculdade, Luís Me-nezes. O responsável acrescenta que “nãonos importa a origem do professor, desdeque ele cumpra um padrão de qualidade deexcelência. Se um professor estrangeiro ébom, tem lugar aqui, de certeza”.

De acordo com dados fornecidos pelo as-sessor do Gabinete de Imprensa da Reitoria,Pedro Santos, dos 1504 professores da UC,53 são estrangeiros efectivos. Quanto aosdocentes em mobilidade, que vêm por diver-sas razões, chegam a ser 100 por ano.

Neste caso, o processo começa com a cele-bração de acordos de parceria, que servemde base “a uma candidatura que, se for acei-te, permite–nos desenvolver as actividades”.Essa candidatura é anual e é feita, nomeada-mente, com base “em acordos bilaterais ce-lebrados com as universidades parceiras”,explica Filomena de Carvalho.

8 A CABRA EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Todos os anos vêm para a Universidade de Coimbra cerca de 100 professores leccionar as mais variadas matérias

São 53 os professores de outros países que estão efectivos na Universidade de Coimbra, para além dos 100 que vêm em

mobilidade, todos os anos. A CABRA falou com alguns e ficou a perceber quais os motivos que levaram os docentesa estabelecerem–se por cá. Por Nuno Braga, Liliana Figueira e Marta Oliveira

A

CÁTIA MONTEIRO

Instituições de acção socialesforçam–se por apoiar quem precisa de abrigo,

alimentos e aconselhamento,indo ao encontro

de distintas faixas etárias

Tânia CardosoSalvador Cerqueira

Raquel Soares

O sobre–endividamento, a precariedadede vida na terceira idade, o desamparo nainfância e ainda o desemprego são os pro-blemas com que as casas de acção social deCoimbra lidam.

Entre as instituições de solidariedade atrabalhar em Coimbra, algumas resistem aopassar do tempo, como a Associação das Co-zinhas Económicas Rainha Santa Isabel, afuncionar desde 1933. Entrando numa dasruelas da Baixa, encontramos uma casabranca, com letras pouco visíveis, para ondese dirigem duas senhoras de idade que ten-tam chegar rápido à associação, cujo nomedecerto já conhecem. A instituição abre asportas às 11h30, “pois às 9 horas da manhãjá temos pessoas à espera para comer.Quando abrimos, há quem não venha paraalmoçar, vêm tomar a primeira refeição dodia. Por isso, abrimos tão cedo”, explica AnaMaria Cristóvão, técnica da associação.

A casa oferece almoços e jantares durantetodo o ano. Aqui pode ir qualquer pessoa ecomer uma refeição completa numa dasduas salas do palacete adaptado. Os que po-dem, contribuem com uma quantia simbóli-ca para o custo da refeição porque agora, co-mo Ana Maria esclarece, “a pobreza apre-senta–se com uma face distinta. O tipo deexclusão é diferente”.

Com o intuito de acabar com a mendici-dade, a Casa dos Pobres de Coimbra come-çou por “acolher pessoas que vagueavampelas ruas”, segundo o presidente, AníbalDuarte Almeida. Sem fins lucrativos, a fun-dação de apoio a idosos, de carácter religio-

so, foi considerada instituição de utilidadepública.

A tarefa do Centro Comunitário de De-senvolvimento e Solidariedade Social deCoimbra é semelhante, dando enfoque àsquestões de solidão e obstáculos da terceiraidade. Lucília Galvão, membro da comissãoinstaladora do centro, descreve o trabalhodo organismo como uma “ajuda no envelhe-cimento, mas sobretudo na preparação deuma reforma ocupada, com qualidade de vi-da e lucidez mental”, acrescenta.

Apoio social na juventudeSob alçada da Santa Casa da Misericórdia

de Coimbra funciona o Colégio de Órfãos deSão Caetano. Perto da Sé Velha, deparamo-–nos com a típica agitação juvenil disfarça-da entre as habitações cinzentas da Alta. Oespaço interior apresenta–se em bom esta-do, embora o vice–provedor da instituição,Augusto Alfaiate, considere que “há necessi-dade de obras de adaptação, porque as con-dições para as crianças têm que ser cada vez

melhores”. Hoje em dia, os jovens que ali seencontram vieram ou por ordem do tribu-nal, ou devido às contrariedades da vida; enão apenas pela qualidade de órfãos. Por is-so, a palavra órfãos cai do nome da institui-ção, que passa a denominar–se apenas porColégio de São Caetano.

A casa faz um acompanhamento a longoprazo dos jovens e, de acordo com Alfaiate,tem como objectivo “encaminhar as crian-ças para um projecto de vida”. A orientaçãoé sustentada também por voluntários, equi-pa constituída, em parte, por universitáriosda Faculdade de Psicologia e Ciências daEducação da Universidade de Coimbra, quese enquadram nas matrizes pedagógicas doabrigo.

A Casa de Infância Doutor Elysio de Mou-ra, sediada no Colégio de Santo António daPedreira, na Alta, procura auxiliar jovens dosexo feminino. Quanto ao Natal, o presiden-te da instituição, Aníbal Pinto Castro, cons-tata que é uma época de “partilha e contem-plação às crianças”, o que leva a sociedade a

demonstrar–se mais atenta a estas causas.

Natal com outro saborPerto do Natal, as instituições traçam no-

vos projectos para celebrar a quadra. Ceiasde Natal e outros convívios, alguns abertosao público, estão entre as actividades festi-vas.

O Colégio de São Caetano serve de exem-plo, sendo uma casa onde, embora se privi-legie o regresso das crianças ao seio fami-liar, se festeja a consoada nas instalações.Uma das jovens residentes no colégio, Lilia-na, de 15 anos, afirma, com um sorriso, quegosta de tudo naquela casa. “Das activida-des que fazemos nas festas de Natal e dasoportunidades que nos dão para participar”.

O presidente da Casa de Infância DoutorElysio de Moura reconhece, satisfeito, que“a recompensa é a tranquilidade de cons-ciência de quem faz algum bem pelo seu se-melhante. É uma compensação extraordi-nária poder ajudar”.

Com Carine Anacleto

FOTOS: INÊS SUBTIL

respostasde...

O que se pode fazer pa-ra que a cultura seja esti-mulada em Coimbra e anível nacional?

O ensino ainda não deu o sal-to que devia ter dado há alguns anos em re-lação às artes. Actualmente no ensino nãoexiste um encontro de sinergias entre as es-colas e determinadas instituições vocacio-nadas na produção de arte, algo essencial. Acriação do Colégio das Artes pode vir a co-brir uma lacuna no ensino da arte em gerale na relação da Universidade de Coimbracom a arte. Ainda se pensa que a arte não éimportante na formação das pessoas a todosos níveis. Há uma grande insensibilidadeem relação à produção cultural em Coimbra.

Deve–se responsabili-zar também parte da po-pulação?

Se houver oferta, as pessoasprocuram-na. Há uma limitação na gestãodas matérias educativas. Por parte do Esta-do e da autarquia há obrigações essenciaisem financiar e não chamar instituições co-mo o Centro de Artes Visuais de “subsídio-–independentes”, que contribuem para odesenvolvimento cultural. A política cultu-ral da cidade, neste momento, é uma políti-ca de centros comerciais e de um futebol fa-lido. Investiu–se no estádio de Coimbra,mas descurou–se toda a componente peda-gógica, formativa.

Há três anos, a CâmaraMunicipal de Coimbra(CMC) cortou o financia-mento ao CAV, deixando-o numa situação difícil. Ocenário mantém–se?

Tenho feito projectos pessoais em Lisboae noutras cidades para financiar o CAV, pa-ra que não fechemos as portas. Há três anosque a CMC não financia o centro. Não finan-ciando, como manter o funcionamento dainstituição? Cada exposição custa dinheiro.Embora tenhamos feito o impossível paranão encerrar e para manter uma programa-ção de qualidade, tivemos de reduzir drasti-camente a produção cultural do CAV.

Por Wnurinham Silva

O bem-estar dos que usufruem das iniciativas de solidariedade é a preocupação das casas de apoio social

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Solidariedade em Coimbra

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira CCIIDDAADDEE A CABRA 9

3Albano da Silva Pereira

Director do Centro de Artes Visuais (CAV)

Apesar da sociedade portuguesa estar melhor

informada, os números decasos registados de VIH/sida

continuam a aumentar

Ana Raquel MeloJoão Ribeiro

“Vírus democrático, que não escolhe se-xos, idades, raças ou crenças”, define a psi-cóloga e coordenadora interina da Associa-ção de Planeamento para a Família (APF),Sónia Araújo. Doença que cresce e ultra-passa barreiras. Indiscriminadamente. Ví-rus que corre e destrói caminhos, a uma ve-locidade vertiginosa. Doença ainda sem cu-ra: VIH/sida.

Seis pessoas são infectadas, todos osdias, pelo VIH/sida, em Portugal, mostraum relatório apresentado recentemente.Apesar do primeiro caso desta epidemia tersido diagnosticado, no nosso país, há maisde vinte anos, os números continuam aalastrar. Verifica–se um aumento médio decerca de 2.400 casos por ano, revela o Ins-tituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jor-ge.

“O número de novos casos de infecçãotem que ver com comportamentos de risco,sobretudo na população heterossexual”,considera a médica Beatriz Casais, daCoordenação Nacional para a Infecção doVIH/sida. Mas, afinal, o que é um compor-tamento de risco? Segundo Sónia Araújo,“mesmo em relações sexuais com o parcei-ro que consideramos ter uma relação está-vel e de confiança, sem preservativo, esta-mos a ter um comportamento de risco”.

Jovens bem informados, mas na ‘hora H’…Os comportamentos de risco são bem co-

nhecidos pela grande maioria dos jovens.Manuel Gaspar, 15 anos, é peremptório emrelação à importância das aulas de Educa-ção Sexual: “foram úteis, pois ajudaram-–nos a saber quais os perigos da sida”. Asformas de contágio são também do conhe-cimento geral dos adolescentes. “Via se-xual, contacto sanguíneo, troca de seringasinfectadas e pela gravidez”, enumera umjovem casal. Quanto à forma de protecçãocontra o vírus, os jovens têm a resposta naponta da língua: usar preservativo.

Apesar da clara percepção das geraçõesmais novas em relação ao problema e suasconsequências, muitas vezes na prática aconsciência é esquecida. “A informação porsi só não chega”, garante a coordenadorada APF. Acrescentando que “há muitos jo-vens bem informados acerca do uso do pre-servativo, sabem que é o único meio con-traceptivo que permite evitar não só a sida,mas também outras doenças sexualmentetransmissíveis. No entanto, não o utili-zam”. E porquê? “Porque o parceiro faz

pressão no sentido de não o usar, recorren-do a argumentos do estilo, ‘se usas preser-vativo é porque não confias em mim’”, ex-plica Sónia Araújo.

Opinião partilhada pela docente da ca-deira de “Educação e Prevenção para oVIH/sida”, na Faculdade de Psicologia eCiências da Educação da Universidade deLisboa (FPCEUL), Maria João Alvarez. “Deinício até se usa, mas depois, com a sensa-ção de à vontade, conhecimento e confian-ça, deixa–se o preservativo, sem que am-bos os parceiros tenham feito um teste dedespistagem do HIV”, afirma.

Não só informação, mas também educaçãoParece unânime considerar que é no

campo da educação, e não da informação,que os mecanismos de combate ao vírus es-tão a falhar. A psicóloga do Centro deAconselhamento de Detecção Precoce doVIH/sida (CAD), Ana Ganho, entende que“ainda estamos num país do terceiro mun-do no que toca a programas de prevenção.De facto, se não há uma boa educação emgeral como é que poderia haver uma boaeducação para a prevenção do VIH?”.

Neste sentido, Maria João Alvarez lem-bra uma iniciativa da antiga Comissão Na-cional de Luta Contra a Sida, muito útil eeficaz entre os jovens, o Teatro Debate.“Actores apresentam histórias inacabadas,colocando dilemas a ser reflectidos pela au-diência constituída habitualmente por es-tudantes”, descreve.

VIH/sida, um estigma por apagar

A estas falhas na formação da sociedadejuntam–se mitos não desfeitos que conde-nam o portador de VIH/sida.

No entender da coordenadora da APF,“tudo o que tenha a ver com o comporta-mento sexual das pessoas acaba por ser vis-to como uma falta de cuidado, como umdesleixo”. E conclui, “ é uma doença queainda muita gente olha como: ‘foi culpatua, ainda bem que isto te aconteceu’”. Es-ta atitude leva, geralmente, ao isolamentodo infectado, “ a pessoa coíbe–se de contarque tem a doença, por achar que vai serdiscriminada”, considera Sónia Araújo.

De acordo com a Liga Portuguesa Contraa Sida, “a marginalização; a solidão; a faltade informação; as carências de apoio fami-liar, institucional e comunitário” são al-guns “vírus sociais”, que contribuem paraum maior agravamento do estado de saúdeda pessoa infectada.

A psicóloga Maria João Alvarez alertatambém para a discriminação institucionale refere os acontecimentos ocorridos, re-centemente, em Portugal, sobre um cozi-nheiro despedido por ser VIH positivo,bem como o impedimento de um cirurgiãoinfectado de continuar a operar.

A discriminação existe, assim, em váriasáreas, inclusive no seio da comunidade mé-dica. “Há de facto uma preparação dos pro-fissionais da saúde para a promoção dasaúde, mas não há uma preparação paratrabalhar a doença”, crítica Ana Ganho. Aatitude discriminatória envolve também “avitimização repetida das pessoas, quer nasituação de inscrição no centro de saúde,

quer na marcação de consulta, no pedidode apoio pecuniário na segurança social… odoente tem de estar constantemente a ex-por a sua situação, que devia ser confiden-cial”, censura ainda a psicóloga do CAD.

A outra face da doença“Há uma crise biográfica. A certa altura

há uma reconfiguração e um reconsiderardaquilo que somos do ponto de vista sociale dos afectos”, considera Ana Ganho. OVIH/Sida mais do que um problema físicotorna–se um problema de relacionamentocom o mundo. “A nível de trabalho, corre-mos o risco de perdermos o emprego; a ní-vel pessoal, corremos o risco de ficarmossem companheiro e perdermos o direitoaos afectos, ao amor e ao ser querido”.

Apesar dos avanços a nível do tratamen-to, que hoje já permite um maior controloda infecção, os custos de viver com VIH/si-da ainda são significativos, tanto a nível fí-sico como psicológico. “Receio de microor-ganismos, cuidados acrescidos com a ali-mentação e com o exercício físico, e mala-barismos para tomar a medicação quandoindicada”, são alguns dos entraves a umavida normal referidos por Maria João Alva-rez.

“Em certa medida, dão–se duas mortes.A morte física e uma outra morte, a de sesentir morto pelas implicações de mortedesta infecção”, considera a docente daFPCEUL. Pois, tal como afirma a psicólogado CAD, “o VIH/sida é, sem dúvida, umproblema social, de afectos e de relações”.

Com Raquel Carvalho

10 A CABRA NNAACCIIOONNAALL 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

A partilha de seringas entre toxicodependentes aumenta o risco de infecção

VIH/sida

HUGO MENESES

Caso da Arca de Zoé colocouem causa a credibilidade das

ONG´s. Responsáveis dasorganizações portuguesasacreditam que a imagem

negativa pode ser passageira

Joana GanteWnurinham Silva

As organizações não–governamentais(ONG’s) têm construído, ao longo do tempo,uma imagem sólida. No entanto, a Arca deZoé abanou essa ideia com a tentativa de le-var para França 103 crianças órfãs a pretex-to de serem adoptadas (ver caixa). A des-confiança de que o objectivo seria o tráficode menores instalou um clima de descon-fiança em torno da função concreta dasONG’s.

Para a coordenadora da licenciatura deRelações Internacionais da Universidade deCoimbra (UC) e professora de Cooperaçãopara o Desenvolvimento, Paula Duarte Lo-pes, “mesmo que as crianças fossem órfãs,não é dessa forma que se procede à retiradadas crianças para adopção, tendo sido umaviolação total, quer nacional, quer interna-cional do direito destas crianças”.

A vice–presidente da Amnistia Interna-cional, Lucília Justino, compara o caso daorganização francesa com um derrame decrude, “que quando tem início se vai alas-trando e apanha todas as gaivotas até elasnão se conseguirem mexer”. Isto é, apesarde muitas organizações realizarem um bomtrabalho no terreno, há outras que vêm tiraralguma credibilidade quanto à legitimidadedas organizações. “O que é perigoso, porquenão se pode generalizar esse tipo de com-portamento a todas a ONG’s”, corrobora Síl-via Roque, investigadora do Centro de Estu-dos Sociais da UC.

Apesar de tudo, para João Fernandes, se-cretário do Conselho Directivo da OIKOS(ONG de cooperação para o desenvolvimen-to), o caso da Arca de Zoé “é isolado e nãovai afectar a credibilidade de todas asONG’s. Paula Duarte partilha da opinião etem esperança que esta seja “uma manchatemporária porque há outras organizações atrabalhar no terreno com resultados muitopositivos”.

O secretário da OIKOS diz que a “transpa-rência e seriedade” são características es-senciais que estes organismos devem pos-suir, “de forma a evitar possíveis manipula-ções e casos que ponham em risco toda aimagem do sector”.

As ONG’s são associações da sociedade ci-vil, sem fins lucrativos, com característicasespecíficas que as diferenciam do Estado ede outras organizações e instituições priva-das. Temas como o papel que desempe-nham, as missões e o financiamento são al-guns tópicos indispensáveis para perceberqual a posição que estes grupos ocupam nasociedade.

O ingrato papel das ONG´sPara a directora executiva da Plataforma

Portuguesa das ONG’s, Sophie Robin, o pa-pel das ONG’s é apoiar “todas as acções quetenham a ver com o desenvolvimento dospaíses do sul” e sensibilizar as populaçõesdos países mais desenvolvidos.

A Plataforma Portuguesa é uma associa-ção privada sem fins lucrativos, que repre-senta a grande maioria das ONG’s portu-guesas, registadas no Ministério dos Negó-cios Estrangeiros. Tem como tarefa funda-mental coordenar as organizações portu-guesas, de forma a “capacitar as organiza-ções para que possam dar, individualmenteou colectivamente uma resposta mais efi-ciente à ajuda ao desenvolvimento”, explicaSophie Robin.

Os diferentes tipos de ONG’s, tais comoCooperação para o Desenvolvimento, a Aju-da Humanitária e de Emergência e Educa-ção para o Desenvolvimento, têm como ob-jectivo “promover o auto–desenvolvimentodas populações mais pobres a nível mun-dial, e fazer com que sejam capazes de rei-vindicar e exercer os seus direitos humanos,económicos, sociais e políticos”, explicaJoão Fernandes.

A Amnistia Internacional tem a missão deconcretizar a visão de “um mundo em quecada pessoa desfruta de todos os DireitosHumanos consagrados na Declaração Uni-versal dos Direitos Humanos”, esclarece avice–presidente, Lucília Justino. Acrescentaque por haver “organizações encapotadas,fantasmas, há uma grande desconfiança re-lativamente a algumas ONG’s”. Por isso é“preciso perceber muito bem a área de in-tervenção das ONG’s, qual a sua missão, oprojecto de apoio, para que depois os doa-dores não se sintam enganados”.

Quanto à sobrevivência do continente

africano sem as ONG´s, os representantesdas organizações portuguesas concordamque seria mais difícil. Segundo Sophie Ro-bin, os países em vias de desenvolvimentosem a ajuda das ONG’s “estariam um boca-dinho piores do que estão agora.” Porque asONG’s “contribuem substancialmente parao financiamento e desenvolvimento dos paí-ses do sul, a nível das infra–estruturas bási-cas como a saúde e a educação”, acrescenta.

A Arca de Zoé é uma organizaçãonão–governamental (ONG), fundadapor Eric Breteau, em Janeiro de 2005,para ajudar as vítimas do tsunami queassolou a Indonésia, em Dezembro de2004.

O caso que mediatizou a ONG france-sa ocorreu a 25 de Outubro, em Abé-ché, cidade do Chade, quando a organi-zação tentou transportar ilegalmentepara França 103 crianças africanas. Oobjectivo era, segundo a organização,dar as crianças, órfãs de guerra do Dar-fur, para adopção. Mas a polícia deAbéché desconfiou que o transportedas crianças seria para tráfico. A opera-ção foi interrompida e o Ministério Pú-blico de Abéché acusou de sequestro efraude nove cidadãos franceses, trêsjornalistas e seis trabalhadores da Arcade Zoé.

A associação argumenta que as suasintenções eram unicamente humanitá-rias. Ainda assim, a ONU considera quelevar crianças, mesmo que vivam numcontexto difícil, para longe das famíliase cultura pode não ser o melhor modode as ajudar.

O dilúvio de Zoé

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL A CABRA 11

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

Filipa Oliveira

Pristina e Belgrado têm apenas seisdias para chegarem a um acordo unâni-me. A 10 de Dezembro, a “troika” depaíses mediadores internacionais -União Europeia, Rússia e Estados Uni-dos da América - vai apresentar um re-latório pormenorizado ao Conselho deSegurança das Nações Unidas, com to-da a fase de negociações para futuro doKosovo.

Do lado sérvio está Moscovo que pre-tende convencer os países europeus dosriscos de independência kosovar.Apoiado pelos EUA, o desejo de sobera-nia kosovar promete elevar–se e decla-rar independência unilateral caso ces-sem as negociações sem um acordo fa-vorável.

Na opinião da investigadora do Insti-tuto Português de Relações Internacio-nais da Universidade Nova de Lisboa(IPRI/UNL), Sónia Rodrigues, “o Koso-vo é uma espécie de campo de batalhapara estes dois países projectarem a suainfluência”. A Rússia, país historica-mente aliado da Sérvia, defende que oKosovo deve continuar a fazer parte deterritório sérvio. Já os Estados Unidosestão dispostos a apoiar a independên-cia unilateral da região.

As recentes eleições legislativas quederam a vitória a Hashim Thaci, do Par-tido Democrático do Kosovo, é “um cla-ro sinal dessa impaciência por parte dapopulação kosovar”, explica a investi-gadora. A 17 de Novembro, segundo Só-nia Rodrigues, “um dos partidos menosmoderados foi eleito pela população ko-sovar de maioria albanesa que pretendeter uma postura mais firme na fase finalde negociações”.

A investigadora do IPRI/UNL referetambém que “o facto de existir 90 porcento de albaneses no Kosovo podecontribuir para que a independência se-ja consumada”. A luta pela desagrega-ção de Belgrado é um processo que setem arrastado ao longo das duas últi-mas décadas. Tendo sido o primeiro tu-bo de ensaio da NATO após a GuerraFria, actualmente o Kosovo é uma zonade forte presença de entidades exter-nas, através da própria NATO e das Na-ções Unidas.

“Em relação a uma possível eclosãoda guerra, penso e quero que não acon-teça, porque a presença internacional émuito forte”, garante Sónia Rodrigues.Contudo, salvaguarda: “existem focosde instabilidade e de confrontos quenão serão de estranhar, mas não creioque a Sérvia irá intervir militarmentena região”.

Kosovo

12 A CABRA TTEEMMAA 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Década emeia de controvérsia

No ano em que as propinas fazem 15 anos naUniversidade de Coimbra (UC), A CABRA foi re-lembrar um pouco da história do financiamentodo ensino superior. Por Filipa Faria, EmanuelaGomes e João Miranda

A aplicação das propinas no ensino su-perior foi sempre um tema polémico. Des-de 1991, ano em que se aplicou este modode financiamento, estudantes, Reitoria eGoverno batem–se pela sua posição.

Diamantino Gomes Durão assume em1991 a pasta do Ministério da Educaçãono Governo de Cavaco Silva. Pela sua mãoé aplicada a lei que instaura as primeiraspropinas no Ensino Superior desde o 25de Abril.

No entanto, na UC esta taxa não foiimediatamente fixada. “Os prazos da apli-cação na universidade foram sucessiva-mente alargados porque o Senado Univer-sitário não fixou a propina”, explica Ricar-do Matos, antigo estudante de Engenha-ria Informática. “Na altura o senado to-mou uma posição favorável aos estudan-tes e o processo foi–se arrastando”, acres-centa.

A contestação vivida em relação não sóà intenção de aumentar as propinas, mas

também à continua-ção da política

das ProvasGlobais

d e

Acesso ao Ensino Superior conduz, emMarço de 1992, à demissão de Diamanti-no Durão, que passa a pasta para o entãoMinistro Adjunto e dos Assuntos Parla-mentares, António Couto dos Santos.

O Dia do Estudante (24 de Março) é ce-lebrado em Coimbra com uma manifesta-ção contra as propinas, acção que se re-pete em Lisboa e Aveiro.

No mês seguinte o novo Ministro daEducação recupera a proposta do aumen-to das propinas e começa um processo dediscussão com as associações de estudan-tes do ensino superior sobre a proposta delei de bases da acção social.

Referendo na academiaPor iniciativa da Direcção–Geral da As-

sociação Académica de Coimbra(DG/AAC) realiza–se um referendo nosdias 5 e 6 de Maio de 1992 quepretende apurar a posição dosestudantes de Coimbra peranteas propinas. No plebiscito, 74por cento mostram–se contra,20 por cento defendem que estasnão devem ser aplicadas “en-quanto não forem dadas as ga-rantias de melhoria do ensino

superior” e cinco por cento votam a favorda aplicação das propinas. António Vigá-rio, presidente da DG/AAC em 1992 lem-bra que “participaram mais de 60 porcento dos estudantes da UC” e que “foi aprimeira vez que se puseram urnas nas fa-culdades”.

A 14 de Maio, o Conselho de Ministrosaprova a proposta da lei das propinas.Nesse mesmo dia, ocorrem manifestaçõesde estudantes em Lisboa e no Porto.

A lei das propinas é aprovada na As-sembleia da República no fim do mês, on-de os estudantes presentes em protestosão expulsos das galerias. Em Agosto épublicada em Diário da República a lei n.º20/92, que “estabelece normas relativasao sistema de propinas”.

Ricardo Matos explica que “nesta lei ha-via vários escalões seleccionados confor-me a declaração de IRS dos pais”. “No pri-

meiro anopretendia-–se quefosse pagovinte e cin-co por cen-to do custo

real do ensino, no segundo ano cinquentapor cento, até chegar aos custos reais doensino” acrescenta.

O Governo e várias associações, entreelas a Federação Académica do Porto e aAssociação Académica da Universidadedo Minho assinam a 27 de Outubro o“Contrato Social”. Para António Vigário,tratou–se de “negociar as questões funda-mentais do ensino por rendinhas”. Nomesmo dia, vinte outras associações repu-diam publicamente o contrato e convo-cam uma manifestação para 18 de No-vembro em Lisboa. A AAC insere–se nogrupo.

Na manifestação participam cerca dedez mil estudantes, António Vigário re-corda que “foram dois comboios só daAAC”. “Julgava–se que não era possívelorganizar uma corrente com tantas pes-soas” refere ainda o ex–dirigente.

No seguimento desta onda de contesta-ções, também Couto dos Santos é demiti-do. Manuela Ferreira Leite ocupa o cargode Ministra da Educação, revoga a lei emvigor e institui uma nova lei de propinas.O conceito imposto desta nova norma

Durante muitos anos os estudantes utilizaram o comboio para chegar

ARQUIVO

passa pela taxa única. A lei afirma aindaque as propinas servem para cobrir a ac-ção social escolar.

“A contestação a esta lei continuou es-sencialmente com manifestações de rua,mas nunca mais houve uma com tantaforça como as anteriores” expõe RicardoMatos. Contudo, o antigo estudante refe-re que “um dos grandes motes de lutaeram mesmo os boicotes ao pagamentode propinas”.

No final de 95 um grupo parlamentarquestionou na Assembleia da Republicaqual era o estado do boicote. Só em Coim-bra, dezasseis mil estudantes não paga-vam as propinas.

Novo Governo, Nova LeiDurante as legislativas de 1995, a AAC

dinamiza uma campanha que traz aCoimbra todos os candidatos a São Bento.António Guterres compromete–se a revo-gar a lei das propinas caso seja eleito. Aprimeira lei de 1996 consiste na suspen-são das propinas do Governo de CavacoSilva.

As propinas passam então a ser regula-mentadas pela lei de 1941, que prevê umvalor de 1200 escudos (6 euros). Esta ver-ba fica em vigor por dois anos.

Em Março de 1997, durante a campa-nha para a DG/AAC, surge a ideia de in-dexar as propinas ao valor do salário mí-nimo.

Para António Silva, presidente daDG/AAC em 1997, esta lei prevê que “opróprio financiamento do ensino supe-

rior tenha uma mecânica que transportagrande parte da sua subsistência para osestudantes via propinas”.

O antigo dirigente lembra “as dificulda-de na mobilização e no arranque de umaluta de dimensões nacionais” porque, es-clarece que “a lei de financiamento surgemas simultaneamente surge a lei de basedo sistema que confere o grau de licencia-tura aos politécnicos”. “A intenção erafragmentar a iniciativa nacional”, acusaainda.

No início deste ano decorre “uma mani-festação gigantesca em Lisboa, que temlugar na Assembleia da República”. Osestudantes são mais tarde mobilizadospara o Terreiro do Paço “que estava com-pletamente cheio e onde não se via ummetro de chão” descreve António Silva.

Também Ricardo Matos recorda “umamanifestação em Coimbra com pelo me-nos cinco mil pessoas” e acrescenta que“nesse ano também se apelou ao boicote”.

Outro marco da luta contra as propinasneste ano reporta–se ao rapto, por ele-mentos não identificados, de uma figurada personagem Gil, mascote da Expo’ 98,que se utiliza então para divulgar a expo-sição universal na região de Coimbra.Mais tarde a figura aparece abandonadana zona da Alta da cidade, com uma placaao peito onde se lê “Antes quero desa-parecer que pagar propinas!”. Posterior-mente, durante uma manifestação os es-tudantes lançam ao rio uma réplica dia-bolizada da mascote ampliada. AntónioSilva descreve esta acção como “mais umtraço ímpar da Academia”.

Autonomia UniversitáriaCom a eleição do Governo de José Ma-

nuel Durão Barroso, Pedro Lynce assumeo cargo de Ministro da Ciência e do Ensi-no Superior. A lei que indexava o valor dapropina ao salário mínimo termina e é in-cutida às universidades a responsabilida-de de fixar o valor da propina.

A contestação a esta nova lei tem tam-bém lugar em Coimbra. Vítor Hugo Sal-gado, presidente da DG/AAC entre 2001e 2003, refere como exemplos “as grevescom a porta fechada, as AssembleiasMagnas bastante discutidas e bastanteparticipadas, manifestações na rua, a des-cida das monumentais, o corte da Pontede Santa Clara” e, a nível nacional, “amaior manifestação de estudantes do en-sino superior com cerca de 15 mil alunos,em Lisboa”. Outra iniciativa que o ex–di-rigente tem em memória é “a entrega dovalor das propinas em papel higiénico aosenhor ministro do Ensino Superior”.

No dia da manifestação em Lisboa, oSenado Universitário aprova, à reveliados estudantes, a aplicação da propinamínima para o ano lectivo de 03/04 e amáxima para o ano lectivo 04/05.

Durante este processo Pedro Lynce ésubstituído por Maria Graça de Carvalhona tutela do Ensino Superior, após o es-cândalo do alegado favorecimento no

acesso ao ensino superior da filha de umministro.

No início do ano lectivo de 04/05 a rei-toria impõe o fim do boicote das propi-nas. Miguel Duarte, presidente daDG/AAC em 2004, encara este acto comoum “desrespeito, por parte da reitoria,pela acção política da Academia”.

Existe também a iniciativa governa-mental da aplicação da Lei de Autonomia,que coloca nas instituições a responsabi-lidade de captar os seus fundos. O antigodirigente associativo defende que a nor-ma “surge com o intuito de acabar com asforças do sistema universitário, uma ideiaque nasce com a democratização da socie-dade, no pós-25 de Abril”.

Ainda no mandato de Miguel Duarte, éaprovada em Assembleia Magna a inva-são do Senado Universitário a 20 de Ou-tubro, de modo a impossibilitar a fixaçãodo valor máximo da propina, que passariade 480 euros para 880 euros. A polícia foichamada pelo Reitor, Jorge Seabra San-tos, ao local do Senado e carregou sobreos estudantes. O ex–dirigente descreve oReitor, pela acção que tomou, como “ogrande inimigo dos estudantes”. Sobre opedido de demissão de Seabra Santos,Miguel Duarte encara-o como ”o ponto defracção entre a académica e a Academia”.

A CABRA tentou contactar EduardoMarçal Grilo e Pedro Lynce não tendo ob-tido resposta. Com Carla Santos

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira TTEEMMAA A CABRA 13

às manifestações na capital

A mascote Gil foi instrumentalizada na luta contra as propinas

O que pensamhoje os antigosdirigentes?

António VigárioVejo o Ensino Superior cada vez mais

longe, porque a minha vida profissionallevou–me para outros campos. Sinto

que a luta não foi em vão. Se fosse hojeeu travaria essa luta outra vez.

António Silva Penso que a causa do ensino superioré uma causa importante de defesa,penso que os nossos princípios eramperfeitamente válidos e eram princí-pios que defendíamos com muita con-vicção.

Victor Hugo Salgado Continuo a defender claramente a ne-

cessidade de haver boas condições nasinstituições do ensino superior e um

bom sistema de apoio de acção socialescolar

Miguel Duarte Encaro da mesma forma e tenho penaque se tenha perdido a ideia de activa-mente defender o sistema de ensinogratuito.

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‘Feudo criacionista’, ‘redutoda pseudociência’, assim se

referem vários evolucionistasà Universidade de Coimbra. Odebate começa a tomar outros

contornos com troca de provocações

Catarina FonsecaJeniffer LopesAndreia Silva

Criacionistas e evolucionistas conti-nuam o debate que parece não ter fim àvista. O facto de o professor da Faculda-de de Ciências e Tecnologia da Universi-dade de Coimbra (FCTUC), Carlos Fio-lhais, ter recebido, por via anónima, umlivro criacionista no seu cacifo, é prova

disso. Para o do-cente, evolucio-

nista, o carácternão identifica-

d o

da ofertarevela que “os criacio-

nistas têm medo do ridículo a que estãosujeitos na comunidade científica e nasociedade em geral”. Acrescenta aindaque os criacionistas “chegam a difundirerros monumentais como, por exemplo,tomar como factos científicos as afirma-ções do ‘Génesis’, o primeiro livro da Bí-blia.” O director do Museu da Ciência daUniversidade de Coimbra, Paulo GamaMota, concorda, referindo–se ao livrocomo sendo de “descarada propaganda”e chamando–lhe “tijolo criacionista”.

O criacionismo, doutrina de grandeadesão até ao século XVIII, assenta nacrença de que a génese do universo sedeve ao sobrenatural e ao milagre. Aperspectiva cristã desta teoria defendeque Deus criou o mundo e tudo o quenele existe. Segundo o professor da Fa-culdade de Direito da Universidade deCoimbra (FDUC), Jónatas Machado, “ocriacionismo consiste na convicção deque o Universo e a Vida foram o resulta-do de um acto criador intencional e nãoo resultado de uma evolução cósmica ebiológica aleatória”.

Relativamente ao evolucionismo, outeoria da evolução, Carlos Fiolhais, diztratar–se da “descrição que a ciência,depois de Darwin, faz do desenvolvi-

mento dos organismos vivos ao longodos tempos”. Com Charles Darwin, na-turalista britânico, surge a ideia de evo-lução e é introduzido o conceito de “se-lecção natural”. A teoria da evoluçãovem completar a de Darwin. Passa aafirmar–se que as espécies existentes naTerra não são imutáveis – elas podemsofrer uma modificação gradual que po-de levar à formação de novas raças e es-pécies.

Quando questionado sobre o porquêde defender esta teoria, Carlos Fiolhaisjustifica a sua posição dizendo que co-nhece e confia no método científico.Fiolhais acrescenta que a esmagadoramaioria dos cientistas defende a teoriada evolução, por se tratar “da úni-ca que está de acordo com osfactos, em particular com ovasto e rico registo fóssil etambém com os ensi-namentos da ge-néti-

ca moderna.” A molé-cula do ADN, por exemplo,tem vindo a fornecer um amplo su-porte à teoria da evolução.Jónatas Machado, por outro lado, jus-

tifica a sua posição criacionista com ofacto de ser cristão. Segundo o docente,

“uma interpretação correcta das es-crituras judaico–cristãsé incompatível com

uma visão evolutiva doUniverso e da Vida”. Machado sublinhaainda que “as evidências científicas cor-roboram a criação e contrariam a evolu-ção”. Em relação às informações conti-das no ADN, por exemplo, os evolucio-nistas defendem que, para se chegar aoHomem tal como hoje o conhecemos,foram necessários biliões de alteraçõesnos seus genes, o que é impossível doponto de vista criacionista. Jónatas Ma-chado diz, ainda, que estas alteraçõestendem a destruir a informação genéti-ca e não a enriquecê–la. Para os criacio-nistas, as evidências fósseis não sãoconvincentes em termos de evoluçãogradual.

A teoria criacionista é de natureza re-ligiosa, logo “não tem rigorosamentenada de científico”, defende Carlos Fio-lhais. “Querem fazer passar por ciênciaaquilo que é o seu credo religioso. É ummanifesto abuso. A atitude dessas pes-soas é bastante perigosa pois atentacontra os fundamentos da sociedade de-mocrática e laica e convém, por isso, es-tar atenta a ela e contrariá–la activa-mente”.

Paulo Gama Mota concorda e acres-centa que “o criacionismo, mesmo nasua versão leve designada ‘intelligentdesign’, viola princípios básicos de toda

a ciência, da física à astronomia.” “Oscriacionistas mobilizam consideráveisrecursos económicos nos Estados Uni-dos, mas também na Europa, para faze-rem uma campanha de propagandacontra a ideia de que as espécies evo-luem”, acrescenta.

Criacionismo e evolucionismocomo azeite e água?

No que diz respeito à compatibilidadeentre as teorias criacionista e evolucio-nista, as opiniões divergem. Enquantoque uns consideram possível conciliaras duas ideologias, outros defendem asua total separação. “Em Portugal, mui-tos católicos e até protestantes não têmproblema nenhum em acreditar em

Deus e ao mesmo tempo na teoria daevolução, ou, mais em geral, em tudo

o que a ciência desco-briu”, afirma Car-

los Fiolhais. Jó-natas Machadoconcorda, dizen-

do que “existem vá-rias tentativas de con-

ciliar a crençan u m

Cria-d o r

com acrença na evolução”. No entanto, subli-nha que “o criacionismo propriamentedito procura enfatizar a dimensão in-tencional e inteligente da teoria”.

“Nunca se falou tanto do tema emPortugal como hoje”. Esta é a opinião deJónatas Machado acerca da preponde-rância do criacionismo. Segundo o do-cente da FDUC, isto pode significar queou o criacionismo está a ganhar força,ou o interesse no tema é cada vez maior.Por sua vez, Carlos Fiolhais entendeque, em Coimbra, tal como nas universi-dades do mundo, “se ensina a teoria daevolução”. Por essa razão, o evolucionis-mo tem “toda a força”.

14 A CABRA CCIIEENNCCIIAA 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Tubo deEnsaio

Biotecnologia aoserviço da saúde

NomeBiocant ParkLocalParque Tecnológico de Cantanhede

Data de criaçãoO edifício sede foi inaugurado a 9 de

Junho de 2006

ResponsávelDr. António Manuel Sampaio Teixeira

(Director–geral)

ColaboradoresO Biocant Park é um projecto da Câma-

ra Municipal de Cantanhede em colabo-ração com o Centro de Neurociências eBiologia Celular da Universidade deCoimbra

Área de trabalhoPrimeiro Parque de Ciência e Tecnolo-

gia especializado em Biotecnologia emPortugal

Projectos desenvolvidosDiversos projectos biotecnológicos

aplicáveis à saúde, como avanços no com-bate da doença de Alzheimer, ou o desen-volvimento de um chip de diagnóstico

FinanciamentoEm grande parte o parque é financiado

por fundos do Município de Cantanhedee por fundos atribuídos pela União Euro-peia

Expectativas para o futuroExpandir o parque, através da criação

de infra–estruturas e de mais projectos.Crescer também a nível de recursos hu-manos e de empresas colaboradoras

ContactosTelefone: 231 410 890E–mail: [email protected]: http://www.biocantpark.com

Por Rafael Pereira

De 3 a 7 de Dez Curso Avançado em Re-produção Biológica - Anfiteatro de Fisiolo-gia da FMUC7 de Dez Palestra Academic: LearningEngineering with LabVIEW -Auditório doDep. Eng. Mecânica da FCTUC Até 22 de Dez Cursos da Primavera –Departamento de Botânica da FCTUC

Neocriacionismo – Também de-nominado ‘intelligent design’ é umacorrente que surgiu na década de 20nos estados Unidos da América, defen-de que existiu a influência de uma en-tidade inteligente na criação das espé-cies. Os neo–criacionistas lutam pelainclusão desta teoria no ensino.

Criacionismo Clássico – Corren-te que defende o aparecimento domundo tal com o livro Génesis defen-de. Esta teoria está ainda presente emvárias outras religiões para além docristianismo, como hinduísmo, o isla-mismo.

Diferenças no criacionismo

Novo projecto daUniversidade de Coimbra

(UC) pode trazer melhoriasna operação do

ligamento cruzado,uma das lesões mais graves

no desporto

Patrícia Costa

Imagem 1: minuto 63, o árbitro pára ojogo por breves momentos. O número 10do clube da casa prende o pé na relva e ocorpo roda sobre ele noutra direcção.Minuto 75, nova paragem na partida.Desta vez, o guarda-redes adversáriochoca com o avançado, provocando umaabertura interna no joelho. Azar a maispara um jogo só. Diagnósticos: duas rup-turas do ligamento cruzado anterior(LCA) do joelho, com afastamento dosjogadores dos relvados no mínimo quatromeses.

Imagem 2: um sistema GPS virtual comaplicação cirúrgica. Agora ligue as figurase reproduza o novo projecto “ArthNav-Navegação Assistida por Computador emCirurgia Ortopédica”, criado por investi-gadores do Departamento de EngenhariaElectrotécnica e de Computadores daFaculdade de Ciências e Tecnologia daUniversidade de Coimbra (FCTUC).Encabeçado por João Barreto e PauloMenezes, em estrita colaboração com ocirurgião Fernando Fonseca, do Serviçode Ortopedia dos Hospitais daUniversidade de Coimbra, o sistema vaiassistir o médico nas aplicações cirúrgi-cas, nomeadamente da ruptura de liga-mento cruzado anterior, mas nunca “sub-stituindo o papel profissional do terapeu-ta”.

Segundo João Barreto, “vão ser uti-lizadas técnicas de visão por computadorpara processar as imagens de forma acompletá-las, e a partir daí, o computa-dor dá indicações ao médico, se maispara a direita ou mais para a esquerda,para ele abrir o ‘túnel’ e precisar aposição do osso”.

A cirurgia da ruptura de ligamentos énormalmente efectuada por artroscopia,ou seja, pela “abertura de dois buracos,que dão acesso à cavidade do joelho.Num deles, coloca-se o artroscópio paraajuda de remoção do ligamento roto enoutro, o médico trabalha”, explica oinvestigador.

Contudo, a tarefa simultânea de obser-var e trabalhar o joelho torna-se compli-cada, daí que o objectivo principal dainovação passe por “minimizar as falhasou o insucesso clínico motivado por fal-has humanas de execução”, através de

sensores ópticos, reconstrução 3D e reg-isto de modelos pré-operativos.

Aposta de “grande impacto”Para o público, as faltas não passam

por mais do que isso, mas para osjogadores segue-se-lhes a incapacidadede continuar o jogo, o que leva a pensarlogo numa lesão mais ou menos séria. Aslesões podem mesmo tornar-se uma cruzdolorosa, um martírio a suportar. Embreves segundos, um futuro risonho podedescambar num pesadelo, ou até mesmoser o fim de uma carreira enquantoprofissional. 90% dos atletas com rup-turas deste tipo não voltam ao nível queapresentavam a priori, o que leva aencarar a lesão com muita atenção.

O joelho é a maior articulação docorpo, estando bastante susceptível alesões, o que contribui para a altaincidência de lesões do ligamento cruza-do. Situado no centro do joelho, o LCA,tem um papel fundamental na estabili-dade do joelho, pois é responsável por85% da força que evita o deslocamentoanterior da tíbia sobre o fémur, estabi-lizando, igualmente, a articulação emdois planos.

Com a intenção de lançar um protótipoem 2010, o cientista conta que a apli-cação “não será unicamente nas cirurgiasortopédicas”, uma vez tratar-se de umprocessamento de imagem. “Já ouviufalar das cápsulas endoscopias? É umacâmara que tem um transmissor rádiofrequência e envia as imagens para omédico. Um dos problemas que se colocaé que muitas vezes é difícil saber onde

anda a cápsula. Este sistema permite-mesaber em que zona é que eu estou”, por-menorizou.

Um futuro melhor?A ligamentoplastia do ligamento cruza-

do é uma cirurgia de risco elevado, peloque um insignificante erro poderá provo-car problemas aos jogadores, dores,diminuição de mobilidade articular,

forçando-os a uma cirurgia correctiva. Ocaso mais paradigmático sucedeu aojogador encarnado, Mantorras, que foi “àfaca” quatro vezes e ficou com a medulaóssea afectada. Outro jogador a contascom uma lesão complicada de se curar foio jogador leonino Derlei. A ruptura par-cial do ligamento colateral interno dojoelho direito fê-lo estar afastado doismeses da competição, arriscando-o anova intervenção cirúrgica.

No caso da rotura de ligamentos, “oprojecto não se destina a diminuir otempo de convalescença. Apenas o fazquando a cirurgia corre mal, uma vez quese procura evitar esses erros”, afirma oprofessor.

Financiado pela Fundação para aCiência e Tecnologia, João Barreto acred-ita que se for bem sucedido, o programapoderá ter um potencial de aplicação degrande impacto”, regozija.

Relativamente à aplicação tecnológicano mundo do desporto, o cientistaadmite que a tecnologia não vai acabarcom a espontaneidade do futebol, crian-do “outras formas de beleza”. Para ele, “atecnologia não termina com as coisasboas que vêm do passado, um exemplo éa Internet: pôs-se a questão desta substi-tuir os livros, os jornais, mas as pessoascontinuam a gostar. Se por acaso se veri-ficar que as tecnologias vão afectar ofutebol, estas são retiradas e volta-se aoque era”, finaliza.

Com Daniela Costa

O investigador João Barreto explica o procedimento do novo projecto

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira DDEESSPPOORRTTOO A CABRA 15

Investigação

INÊS SUBTIL

Uma medalha de prata e outrade bronze são os resultadosmáximos alcançados pelos

atletas nacionais, em Coimbra

Patrícia CostaAlexandre Oliveira

Duas medalhas nacionais, três disci-plinas, 44 países, 609 atletas. São estesos principais números a reter do Mun-dial de Kickboxing Amador, realizadoem Coimbra, entre 30 de Novembro e 2de Dezembro.

Sérgio Gonçalves alcançou o terceirolugar, na disciplina de full contact, naqual há contacto pleno, acima da cintu-ra. O desportista sente–se “realizado”,mas promete não baixar os braços. “Odesgaste é físico mas também muitoemocional, porque nunca sabemosquando vamos combater. É um nível deansiedade muito grande”, desabafa. Oatleta nacional foi eliminado nos quar-tos–de–final, sexta, 30 de Novembro,pelo russo Sergey Bogdan, que veio avencer a categoria de peso -86 kg.

Alexandra Pinto, Catarina Rodrigues eFátima Oliveira também constam na lis-ta dos vencedores, sagrando–se vice-–campeãs do mundo, domingo, 2, nadisciplina de aerokickboxing (um mistode kickboxing e aeróbica).

Segundo a atleta e treinadora, FátimaOliveira, a modalidade “exige um treinodiário de flexibilidade, expressão corpo-ral e dança, assim como um trabalho deequipa, uma amizade e sincronizaçãograndes entre as colegas”. Fátima acon-selha à prática, mas avisa que “não éuma brincadeira. São dois minutos noringue, com coreografias que demorammeses a preparar para dois minutos deexposição”, confessa.

Quanto à participação da mulher nes-te desporto “já não é de maneira nenhu-ma um mito. Já temos muitas mulheresatletas”, conta.

Também o seleccionador de aerokick-boxing, Rogério Nunes, considera aprestação boa, “dado ser o primeiro anoe porque esperávamos ficar a meio databela, mas ficamos medalhados”.

No sábado, 1, a outra equipa de ae-rokickboxing falhou o pódio por duasdécimas. Mónica Salgado representouindividualmente a equipa nacional e fi-

cou a uma décima de Laura Fiori, atletaitaliana, que ocupou a terceira posição.O mesmo aconteceu com a apresentaçãoda coreagrafia do trio português, com-posto por Mónica Salgado, Manuel Tei-xeira e Dayana Silva, que não conquis-tou a medalha de bronze por 0,005 déci-mas, ficando atrás da selecção croata.

Um futuro promissorCom o campeonato disputado, o trei-

nador–adjunto de full contact, PauloSantos, antevê um futuro risonho. “Es-tamos no bom caminho. Este ano a equi-pa foi toda revista, temos apenas doisatletas que participaram na selecção, deresto estamos a formar para o futuro”,afirma.

Portugal não teve baixas por KO(knock out) nem por lesão. “Lutámoscom os melhores atletas. Os que subi-ram ao pódio foram os que eliminaramos nossos atletas, portanto perdemoscom dignidade”, louva Paulo Santos. Otreinador–adjunto volta a reafirmar agarra dos nacionais: “não vejo trabalhonenhum nos outros atletas que seja mui-to melhor que o nosso. Vejo sim umaforma de estar em cima do ringue total-mente diferente, mais simplificada”.

Em termos de qualidade, o técnico não

inferioriza a prestação portuguesa. “Adiferença está em que nós pisamos o rin-gue uma vez por ano e eles pisam o rin-gue uma vez por mês”, compara. O se-leccionador nacional para a disciplinade full contact, Fernando Fernandes,corrobora a opinião do colega de traba-lho. “Temos uma equipa nova e aindanão se pode exigir muito”.

Já Carla Silva, a atleta “promissora”para o alcance de uma medalha, perdeunos quartos–de–final com a italianaChiara Mandelli. Fernando Fernandesexplica que “havia três atletas em quemapostámos um pouco mais, para os trêsprimeiros lugares. No caso da Carla, ocombate foi extremamente equilibrado eapenas perdeu por um ponto”.

Numa organização entre a World As-sociation of Kickboxing Organizations(WAKO) e a Câmara Municipal deCoimbra, o vice–presidente da Federa-ção Nacional de Kickboxing, JoaquimLourenço, julga o evento como o maiorrealizado em Coimbra, salientando aafluência dos participantes e público, jáque o Pavilhão Multidesportos conheceudas maiores enchentes. Também “os ho-téis em Coimbra ficaram completamen-te cheios, tivemos que recorrer à Lousã enão vieram dez países”.

HUGO MENESES

BasquetebolProliga, sábado, 1 (Pavilhão Municipal

Formigueiro)AAC 76-67 Maia

Na oitava jornada da Proliga, os estudan-tes rumaram a Águas Santas, na Maia, ondeconseguiram obter o 13º lugar na tabelaclassificativa. Com apenas duas vitórias emtoda a competição, a AAC vai encontrar sá-bado, 8, o Atlético/Slicei, em casa.

FutsalLiga Universitária de Futsal (LUF)Sexta (Pavilhão3-Universitário)AAC 5-3 AAUAV

No arranque da LUF, a Académica rece-beu e venceu a equipa da Associação Acadé-mica da Universidade de Aveiro, garantin-do o primeiro lugar na tabela da Zona Sul.Na próxima jornada, esta quinta, 6, a equi-pa dos estudantes vai defrontar o rival Ins-tituto Politécnico de Coimbra.

RemoOpen de Portugal , Sábado 1 (Pavilhão do

União de Coimbra)1º Prémio nos seniores pesados, absolu-

tos consagrados, infantis masculinos, mas-ters 3 femininos, proporção feminino e pré-mio jovem no remo feminino

Em Coimbra, a Secção de Remo da AACconseguiu arrecadar seis primeiros prémiosno Open de Remo Indoor de Portugal,subindo ainda ao pódio, cinco vezes, parareceber os segundos e terceiros lugares.

VoleibolCampeonato Nacional A2 MasculinoDomingo, 2 (Pavilhão 3 Universitário)AAC 3-2 Fiães

Campeonato Nacional A2 FemininoDomingo, 2 (Pavilhão Acácio Rosa)Belenenses 3-0 AAC

Após a descida de divisão, não está fácil avida para o voleibol masculino, que contacom mais derrotas do que vitórias na divi-são A2. Após uma jornada dupla, a AACperdeu por 1-3, sábado 1, com o Clube K, evenceu o Clube Desportivo de Fiães por 3-2,garantindo o oitavo lugar.

Também as femininas jogaram fora, nãotendo conseguido trazer uma vitória paracasa. A equipa encontra–se agora classifica-da em 6º lugar no ranking da divisão.

Por João Miranda

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Mesmo amador, o campeonato surpreendeu pela qualidade e profissionalismo

16 A CABRA DDEESSPPOORRTTOO 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Campeonato Mundial de Kickboxing Amador

Antigo espaço de culto de chá,a Quinta das Lágrimasretoma a tradição das

tertúlias culturais todasas primeiras quintas–feiras

de cada mês

Pedro CrisóstomoCarolina de Sá

“Chá com Lágrimas” é a iniciativa que asala tradicional do chá da Quinta das Lágri-mas acolhe mensalmente, com o objectivode debater temas da actualidade num am-biente de tertúlia, música e conversa infor-mal. O projecto é promovido pelo HotelQuinta das Lágrimas em parceria com a Li-vraria Minerva Coimbra e a Fundação Inêsde Castro.

A escolha da Quinta das Lágrimas paracenário dos encontros alia a tradição da ter-túlia ao culto do chá, que em tempos foi aimagem cultural associada ao espaço. A res-ponsável pelo evento na Quinta das Lágri-mas, Teresa Lopes, explica que o local “éum lugar primordial, onde, ao final do dia,com a lareira acesa, tudo se proporcionapara que as tertúlias à volta do chá se vol-tem a realizar”. É em ambiente informalque “durante duas ou três horas, as pessoaspodem discutir temas que propiciem umaboa conversa ao final do dia”, acrescenta.

A sala recebeu em Novembro a primeiratertúlia, “Chá com Bichos”, celebrada sob osigno da obra de Miguel Torga. A próximasessão de “Chá com Lágrimas” realiza–sequinta–feira, 6, pelas 17h30, e tem como te-ma o “Natal Ontem e Hoje”. À semelhançado primeiro encontro, os participantes reú-nem–se à mesa, ao cair da noite, entre cháe bolos, para conversar. Desta vez, sobre o

assunto é o simbolismo e o consumismo daquadra natalícia. Isabel Garcia, da LivrariaMinerva, explica o intuito do segundo en-contro: “juntar um grupo de pessoas inte-ressadas por cultura a falar sobre o Natalem ambiente de tertúlia, à volta de um chá”.

Frei Domingues é o convidado que vai re-flectir acerca do significado do Natal de on-tem e da crescente tendência para o consu-mo do Natal de hoje.

Um italiano a cantar CoimbraPara além do debate, a tertúlia ganha di-

mensão com uma componente musical, acargo do tenor italiano Giovanni D’Amore,acompanhado ao piano por Stefano Nanni.

Temas de Natal são interpretados pelosmúsicos ao mesmo tempo que a tertúlia de-corre. Isabel Garcia considera que as melo-dias “motivam as pessoas para uma parti-lha imensa de saberes” e contribuem paradinamizar “o outro lado da cidade”.

Giovanni D’Amore, natural da Sicília a vi-ver em Coimbra, mostra na tertúlia o temaque integra o seu novo álbum, que traçauma homenagem à cidade que o acolhe hácinco anos. A canção, com arranjos do mú-sico Stefano Nanni, pianista que acompa-nhou Luciano Pavarotti, presta igualmenteum tributo à Língua Portuguesa. “Portugaltem uma cultura muito própria”, remata omúsico.

Alunos de Arquitectura daUniversidade de Coimbra (UC)

expõem as suas ideaias paraas margens do rio Mondego

Tânia MateusAlexandre Oliveira

Uma exposição de projectos para as mar-gens do Mondego de jovens arquitectoscomeça sexta-feira, 7, e vai estar patente noMuseu da Água até 3 de Janeiro. Os autoresdos projectos estiveram de 10 a 15 deSetembro num workshop subordinado aotema Margens Utópicas do Mondego.

O Museu da Água lançou o mote aoDepartamento de Arquitectura da UC queparticipou com 45 alunos e nove professoresorientadores. A coordenação científicaesteve a cargo do arquitecto Gonçalo Byrne.

Os futuros arquitectos dividiram-se em

três grupos para projectar três espaçosdiferentes em três áreas compreendidasentre a Ponte do Açude e a Ponte da Portela.

“A consolidação das margens e o facto deser a zona mais central e com maior fluxo depessoas de toda a margem do Mondego”foram mais-valias que fizeram o aluno do 5ºano, Nuno Gaspar, interessar-se por estedesafio. A área fica entre a ponte SantaClara e a ponte Rainha Santa. A intervençãodeste grupo foi a mais ousada e utópica.“Criar uma espécie de bolsas à superfície daágua que corresponderiam a várias estru-turas destinadas à criação de microempre-sas” foi o objectivo que o grupo encontroupara “habitar a água”.

No projecto compreendido entre a ponteRainha Santa e a Portela a meta foi resolveralguns problemas. Maria Barreiros, do4ºano, explica que o grupo quis contornar o“acesso dificultado à água para revitalizarum espaço inutilizado e mal conservado”.

Como tal, a proposta foi “um grande edifícioque contorna toda a curva de Coimbra; comhabitação, comércio, cultura, espaçosdesportivos, entre outras estruturas”, comodescreve o aluno do 5º ano, Hugo Sousa.

Para Maria Barreiros este trabalho foi omais “extremista” quanto à intervenção noespaço, contrastando com o que abrangeu azona entre a ponte do Açude e a ponte SantaClara. De acordo com a aluna do 5º ano,Inês Lourenço, o grupo quis “criar percursosà cota do rio e à cota da estrada, aliados auma mancha verde” que se estende desde oParque Manuel Braga até ao Choupal.

O arquitecto Nuno Correia, professoreorientador, considera que “quase todos [osprojectos] são praticáveis” apesar de terem“uma vertente um pouco idealista”. Sobre aimportância das iniciativas para a divul-gação da arquitectura, Maria Barreiros éoptimista: “o papel do arquitecto é cada vezmais importante na sociedade”.

BRUNA GUERREIRO

É em torno do chá que se vai conversar sobre o natal de agora e o natal de outros tempos

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira CCUULLTTUURRAA A CABRA 17

Cul turapor ca

Rodrigo Leão &Cinema Ensemble Rodrigo Leão apresenta o seu no-vo espectáculo intitulado “Os Por-

tugueses”, com base na música que compôspara o documentário da RTP, “Portugal,um Retrato Social”. O concerto, cantadopor Ana Vieira, vai incluir, ainda, algunstemas inéditos do artista.TAGV 21h3027€50 (1ª plateia) 11€50 (amigo/a TAGV balcão)

Quinta dos Contos “Os Piratas deAlexandria”

Ateneu de Coimbra 22H

Espectáculo de encerramento dasComemorações dos 50 Anos do CoroMisto da Universidade de CoimbraTAGV 21h30; 2€50

Ópera “Bichus”Teatro Cerca S. Bernardo21h30

“Dreams in Colour” por David FonsecaFnac 17H

“Frágil, Artistas Portu-gueses por Darfur” Apresentação de uma cam-panha de sensibilização e de

um CD duplo. Participação de artistas co-mo Mafalda Arnauth, Fernando Tordo ouCarlos Vidal. Exibição de fotografias e pro-jecção do documentário “Darfur: o Chama-mento à Consciência”Fnac, 21h30

Exposição de Pintura de Graça MoraisEdifício Chiado

Até dia 17

“O Círculo de Giz Caucasiano”, TeatroMuseu dos TransportesAté dia 27

European MovementJazz Orchestra No âmbito da PresidênciaPortuguesa da União Euro-

peia. Direcção do músico e professor, ZéEduardo. O agrupamento musical vai in-terpretar composições de Paulo Gomes,Andreia Pinto Correia, Paulo Perfeito,Claus Nymark e Matthias SchrieflTAGV, 21h308€ (normal), 6€ (estudante)

Exposição “Super Pop”Artes Plásticas de Alexandre Reigada

Galeria AlmedinaAté dia 4

Por Liliana Figueira

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Em entrevista a ACABRA, Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves dos Clã falaram do novo disco e do panorama musical português.Manuela, ex–estudante da Universidade de Coimbra, contou como foi a sua passagem pela cidade dos estudantes

Por Lígia Anjo e João Picanço

Os Clã têm um novo álbum, “Cintu-ra”. Como é que o descrevem? Quaisas diferenças em relação ao último,“Rosa Carne”?

Manuela Azevedo (MA): Primaveril éum bom adjectivo para este álbum. Dá umasensação de recomeço, e também o compa-raria com o “Rosa Carne”. Dá a sensação deque com o “Rosa Carne” iamos começar umaetapa nova, também por uma questão de vo-cabulário da língua portuguesa. Este álbumé uma espécie de reacção ao “Rosa Carne”,principalmente na parte musical. Na partelírica não há assim tanta diferença na ma-neira como a língua é trabalhada, pois man-temos, entre outros, a colaboração com oCarlos Tê, e a equipa é praticamente a mes-ma do “Rosa Carne”. Contamos agora tam-bém com a colaboração de Sérgio Godinho,mas procuramos sempre uma coesão literá-ria. É como se fosse um novo capítulo do serfeminino que habita o “Rosa Carne”, apesarde abandonar as frequentes reflexões e in-trospecções e passar a ser mais alegre.

Como é que vêem a música portu-guesa actual?

Hélder Gonçalves (HG): A música emPortugal está a efervescer. Está a acontecermuita coisa. O que está a faltar é alguma coi-sa mais sólida, que dure. Há muita gente afazer coisas boas, mas têm muita pressa desucesso. Nos últimos anos têm aparecidomuitas bandas novas, mas passado um anoelas acabam. Desde a altura em que aparece-mos, nos anos 90, apareceram connosco osDa Weasel, Cool Hipnoise, Pedro Abrunho-sa, Ornatos, ou seja, houve um boom de mú-sica nova em Portugal. Desde essa alturanão há projectos muito consistentes em ter-mos de carreira. É estranho pois um grupopode–se juntar num trabalho com intençãode fazer algo pontual e sem continuidade co-mo os Humanos, por exemplo.

É difícil entrar no mundo da músi-ca?

MA: Hoje em dia é mais fácil gravar, poisqualquer pessoa, em casa, pode gravar umdisco. A dificuldadeque havia em en-contrar uma edito-ra para lançar essetrabalho deixa deexistir. As editorasnão estão interes-sadas em grupos novos, e em construir car-reiras. E os grupos pensam que colocam asmúsicas no ‘myspace’ e salvam a situação, oque é um grande erro. Estes grupos acabampor ficar um pouco desapontados com a fal-ta de sucesso e de reconhecimento, e desis-tem. Acho que as bandas novas têm que

aprender a viver esta revolução de já não ha-ver editoras, mas têm de pensar como é quese tem sucesso ou não; como funcionam asindústrias em sistemas comerciais. No nos-so tempo nós insistimos e no início foi mauporque não vendíamos e não tínhamos con-certos. Entretanto começámos a engrenar,mas só no terceiro disco. As coisas levamtempo, e crescem com alguma calma.

A Manuela estudou em Coimbra.Com que olhar ficou do espírito aca-démico?

MA: Vivi de forma mais ou menos distraí-da o espírito académico. O meu padrinhoera daqui, era dos melhores alunos da Fa-culdade de Direito, e vivia muito a vida aca-démica. Levou–me à Latada, pôs–me unstotós, obrigou–me a fazer uma declaração

de amor a senhorescarecas, e um poucopelo gosto dele acabeipor participar em fes-tas académicas, mastudo de forma muitodiscreta, sem sentir

verdadeiramente o espírito. Vesti o fato naQueima das Fitas para os meus pais verem.

E a cidade?MA: Em relação à cidade, nos primeiros

tempos apaixonei–me completamente porCoimbra: viver o espírito da cidade, assistir

a espectáculos fantásticos no Gil Vicente, edepois andar à rasca de dinheiro por gastartudo em teatro e em cinema. Aprendi muitacoisa nessesp r i m e i r o sanos, co-nheci genteincrível, ti-nha conver-sas fabulo-sas sobre tudo e mais alguma coisa. Nos doisúltimos anos fartei–me da cidade completa-mente, porque me sentia invadida de gente,e as coisas tornaram–se desinteressantes.Nos últimos dois anos tinha a preocupaçãode acabar o curso rapidamente para sair ur-gentemente daqui.

Porque é que decidiu envergar pelamúsica, depois de ter cursado direitoem Coimbra?

MA: Terminei o estágio no Porto e aindaexerci. Mas era muito complicado fazer asduas coisas ao mesmo tempo. Por muitasvezes tinha de pedir a colegas meus para meirem substituir no tribunal e não conseguiaconciliar. Os Clã eram mais interessantes eapaixonantes.

Os Clã formaram–se há 15 anos.Evoluíram enquanto pessoas e artis-tas ao longo deste tempo?

MA: Tivemos uma grande vantagem:

crescer devagarinho. Fomos conquistandoterritório em termos de público e de traba-lho, até a nível de conseguir fazer aquilo que

q u e r e m o s .C o n s t r u i n d opasso a passotudo, com umacerta segurançaem cada passo,para não sermos

apanhados desprevenidos com algo fora docomum que acontecesse na nossa carreira,um sucesso extraordinário que não nos dei-xasse sair à rua, ou o contrário, um insuces-so que não nos deixasse trabalhar. Por isso,fomos fazendo as coisas como queríamos,cumprindo a nossa expressão artística, semnenhum tipo de pressões. Isso dá–nos algu-ma saúde e garante–nos muita liberdade,que é fundamental.

Porquê o nome “Clã”?MA: Foi daquelas coisas absolutamente

banais. Fizemos uma lista com nomes, levá-mos para o ensaio e apareceu esse que de re-pente fez sentido para toda a gente. Para nóso importante era escolher um nome peque-nino, graficamente porreiro que passasse aideia de que éramos uma banda, um grupo,e não um Hélder compositor e mais não seiquem, ou a menina e o menino, pois toda agente é importante. Essa coisa de ‘clã’ suge-re família e pareceu–nos ser o ideal.

18 A CABRA CCUULLTTUURRAA 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Manuela Azevedo esteve em Coimbra a apresentar o novo álbum dos Clã, “Cintura”

Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves

Tiago Lino

“ ”

Tivémos uma grandevantagem: crescer

devagarinho“

O meu padrinho levou–me à Latada, pôs–me totós e obri-

gou–me a fazer declarações deamor a senhores carecas

“”

As potencialidades da Web 2.0seduziram os media

tradicionais a apostar no online. Apesar das novidades,

o panorama nacional aindarevela disparidades

Por Ângela Monteiro e Sofia Piçarra

“Se as pessoas estão na Internet, os ór-gãos de comunicação social que queiram es-tar junto delas é aí que têm de estar”. A afir-mação do chefe de redacção da “Rádio Re-nascença”, Pedro Leal, justifica o crescenteinvestimento dos media tradicionais no su-porte online.

No último ano assistiu–se a uma presen-ça cada vez mais forte das estações de rádio,televisão e jornais na rede. A aposta do Gru-po Renascença (GR) passa por “explorar ou-tras áreas próprias do multimédia como ovídeo e a infografia através de animações”.Pedro Leal considera que esta abordagemno tratamento das notícias é um “comple-mento e uma nova forma de estar na rádio”.O GR prepara, já para 2008, canais temáti-cos de música para o online que se esten-dem também à área da informação. O jorna-lista acredita que “a rádio já não se consomeem ondas hertzianas, é também online”.

Da mesma forma, o jornal “Público” reco-nheceu a importância de uma postura cadavez mais voltada para as novas tecnologias.A recente remodelação do site evidencia apreocupação em conquistar novos utiliza-dores e aproximar–se dos que já conhecema página. A possibilidade de personalizar aforma de ver as notícias é uma das novida-des do site do diário. A partir de agora, o lei-tor pode escolher o tipo, tamanho e cor deletra dos textos e títulos. “Queremos deixaras pessoas escolher como querem ver o Pú-blico” justifica o editor do “publico.pt”, An-tónio Granado.

O espaço dedicado à imagem tambémcresceu, não só na fotografia, mas principal-mente com a introdução de conteúdos ví-deo, que chegam de agências noticiosas,mas resultam também de produção própria.“O ‘Público’ tem de ser cada vez menos umveículo que só divulga as suas notícias atra-vés do papel”, defende Granado. O objectivodo jornal é passar “a difundi–las em papel,por Internet ou através de SMS”, numa ver-tente multiplataforma.

“Um jornal, uma televisão, uma rádio”No entanto, o diário não é pioneiro na uti-

lização de um meio que lhe é estranho. O“Expresso” foi o primeiro jornal a recorrer àimagem vídeo na rede. O serviço “ExpressoTV” foi lançado em Fevereiro deste ano,mas reflecte a continuidade de um projectoiniciado em 2006. Vídeos produzidos para aInternet, mas também com qualidade parapassarem na televisão são desenvolvidospela redacção integrada. O editor multimé-

dia do jornal explica que o semanário “temapenas uma redacção que trabalha tanto pa-ra o jornal como para a Internet”. MiguelMartins assegura que “qualquer história, dequalquer jornalista do ‘Expresso’ pode darum ‘Expresso TV’”.

Se na rede a principal aposta da rádio e daimprensa incide na exploração da imagemem movimento, para a televisão, já familia-rizada com este terreno, o desafio é desco-brir as potencialidades do som.

Nesse sentido, o site da RTP (Rádio e Te-levisão de Portugal), reformulado há cercade duas semanas, reforçou o papel da infor-mação, aproveitando melhor os conteúdosproduzidos pela Antena 1. O coordenadorda redacção multimédia da RTP esclareceque “neste momento a grande aposta é naárea de vídeo e áudio”. Quem visita a páginatem acesso a todas as peças de todos os blo-cos noticiosos, de todos os órgãos do grupo.

Alexandre Brito aponta como grande van-tagem do online “a capacidade de ter tudodos outros meios”. No fundo, “é um jornal,uma televisão e uma rádio”, conclui.

“Repensar o jornalimo” para aWeb 2.0

A evolução da tecnologia trouxe para ocampo do concretizavel o que antes estavaapenas no plano da imaginação. A chegadada Web 2.0 e a multiplicação dos suportesexpandiu os limites e possibilidades da In-ternet. Acessos de Banda Larga, telemóveiscom acesso à Internet e PDA’s revoluciona-ram a forma como acedemos e nos apro-priamos da informação, obrigando os meiosde comunicação a acompanhar o “choquetecnológico”.

Segundo Paulo Querido, jornalista atentoàs tecnologias de informação e comuni-

cação estes novos suportes “tornam a infor-mação mais acessível e produzem dois efei-tos: aceleram o seu consumo e banalizam-–no”.

No entanto, há ainda um longo caminho apercorrer. Para a docente de Jornalismo emLinha da Faculdade de Letras da Universi-dade de Coimbra, Clara Almeida Santos, “ojornalismo online em Portugal está a fun-cionar a várias velocidades”. No panoramanacional podemos encontrar “óptimosexemplos de ciberjornalismo”, mas também“versões fac–similadas da versão impressa”,o que será o “grau zero de jornalismo onli-ne”, aponta a professora.

A posição é partilhada por António JoséSilva, autor do livro “Os diários generalistasportugueses em papel e online”, que recusaa ideia de existir jornalismo online em Por-tugal de “forma absoluta”. Para o autor, “háprojectos jornalísticos muito interessantes,mas outros estão exactamente como esta-vam há três ou quatro anos atrás”.

Ao mesmo tempo, as novas geraçõesaprenderam a dominar as possibilidades darede e tornaram–se consumidores digitaismais exigentes. Por isso, “o jornalista e ojornalismo têm de se repensar”, consideraClara Almeida Santos. A aposta na criativi-dade é imperativa, porque esta realidadeobriga “os jornalistas a inventar novas for-mas de contar notícias”.

As tecnologias que suportam a difusãodos media estão em permanente transfor-mação e de forma cada vez mais célere. “Ossuportes integram–se na tendência de in-formação em rede” destaca Paulo Querido,que concorda que o conceito de informação,“tem vindo a mudar com a Web”. Quanto aofuturo, o jornalista não hesita em afirmarque “o limite é a imaginação…”

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira MMEEDDIIAA A CABRA 19

FÁBIO TEIXEIRA

i CrónicaO Saber e o seu lugar

Há uns dias a minha atenção foi atraídapor uma notícia de um jornal que dizia queo corredor de Fórmula 1 Lewis Hamiltontinha tido a sua entrada na Wikipedia al-terada de modo a denegrir a sua imagem.

Aparentemente alguém ligado à Merce-des, parceiro da McLaren na F1, a partir dopaís natal de Fernando Alonso, terá adulte-rado a informação. São incontáveis os es-cândalos envolvendo políticos e organiza-ções por manipulação da informação quenão lhes é favorável.

Mas o que é a Wikipedia? Trata–se deuma enciclopédia em linha, criada no iní-cio de 2001 por Jimmy Wales, gratuita eaberta. Cada um de nós pode criar e editarentradas sem restrições. Passados seisanos a Wikipedia cresceu e diversificou-–se. Só em inglês existem mais de dois mi-lhões de entradas, aproximando–se a ver-são portuguesa das quatrocentas mil. Exis-te uma empresa e uma fundação. Aparece-ram os Wikibooks. A Wikipedia virou mo-da!

O modelo do projecto é simples: abertaao escrutínio de (e por) todos a informaçãonela contida será cada vez melhor. No en-tanto a realidade parece desmentir essacrença com a qualidade (e veracidade) dostextos a degradar–se com o tempo.

Como resposta a este problema LarrySanger iniciou em 2006 um projecto a quechamou Citizendium. Os autores dostextos estão identificados e estes são revis-tos por especialistas.

Um jovem doutorando americano, VirgilGriffith, criou uma aplicação informática aque chamou WikiScanner, que permitedeterminar quem editou os documentosatravés dos endereços únicos que cadacomputador possui. Foi assim que desco-briu e tornou público muitos autores defalsificações. Serão estas as duas únicas al-ternativas: fechar um projecto que se queraberto ou confiar na censura social que re-sulta da descoberta e denúncia dos infrac-tores?

No contexto educativo, cada vez maisalunos e professores usam o sítio milagro-so. Os primeiros, para fazer os seus traba-lhos a custo zero; os segundos, para encon-trar informação e ligações rapidamente.Preocupante é que todos o fazem acritica-mente. (Claro que podemos pôr os alunos aescrever ou corrigir entradas na Wikipe-dia...)

Nesta sociedade de aparências e de bai-lados de sombras parece ser uma impossi-bilidade a existência de projectos colecti-vos e libertadores. A utopia de um sabercerto que ocupa um lugar que é de todos,um CyberOráculo, parece impossível.Parafraseando Esopo, apetece dizer que oconhecimento é o melhor e o pior das coi-sas. Cabe a cada um resolver a contradição.

Ernesto Costa, professor da FCTUC

O desenvolvimento da Internet potenciou o crescimento dos media tradicionais na rede

“Uma nação que tem medo de ficar doente”

Já todos conhecem Michael Moore: é cínico, irónico euma dor de cabeça para todos os políticos americanos,seja Hillary Clinton ou George W. Bush. Ultimamente,têm–se questionado muito os seus métodos, a sua im-parcialidade, a manipulação cinematográfica dos seusdocumentários, etc. Admita–se, Moore raramente dáoportunidade de defesa aos seus adversários e oculta fa-lhas importantes nos seus argumentos. Mas nada dissomuda o facto de que Moore denuncia, em documentá-rios mordazes e repletos de um humor amargo e agrido-ce, os grandes males da (grande?) nação dos EUA.

Em “Sicko”, o alvo a abater é o sistema de saúde ame-ricano, privatizado e gerido pelas companhias de seguro.É a história de médicos que recebem promoções astro-nómicas por não curar doentes terminais, de doentes aquem é recusado o dinheiro para pagar a conta hospita-lar por terem tido constipações quando eram crianças ede mil e um milionários que fazem dinheiro à custa dosofrimento e morte dos outros. É a história de uma na-ção onde todos, menos os ricos, têm medo de adoecer. Ameio deste triste conto, Moore viaja pelo Canadá e Euro-

pa e descobre algo de novo e extraordinário: a Social De-mocracia. Admirável mundo novo esse, onde há férias efolgas em grande número, onde se recebem subsídios deférias e de doença, onde a saúde é grátis e os medica-mentos baratos, e onde tudo isto é pago pelos impostos,sem que por isso deixe de existir dinheiro para comprarautomóveis e LCD’s.

Para os Americanos, “Sicko” é o relembrar duma ter-rível realidade e um abrir de olhos para o que os EUApoderiam ter sido: um país rico financeiramente… e so-cialmente. Para os Europeus, é um abrir de olhos para arealidade que os espera, caso continuem a usar como re-ferência o modelo de desenvolvimento americano. Omais triste de tudo isto, é que Moore, como Al Gore, ar-risca–se a passar a sua mensagem, mas a não mudar na-da no estado das coisas… que ao menos tenha direito aoNobel da Revolta.

Rui Craveirinha

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Disney regressa às origens… mais ou menos

Era uma vez uma rapariga de nome Gisele (AmyAdams) que vivia no reino encantado (e animado) deAndalasia. A jovem donzela aguardava com ansiedade achegada do seu verdadeiro amor, o charmoso principeEdward, com o qual planeava viver feliz para sempre.No entanto, a mãe de Edward (James Marsden), a ter-rível rainha Narrisa (Susan Sarandon), não via combons olhos a união entre os dois, por isso, no dia emque Edward e Gisele se iam casar resolveu enviar a fu-tura princesa para um sítio onde não existem finais fe-lizes: o mundo real.

É desta forma que começa “Uma História de Encan-tar”, a última aventura da Disney. Depois de nos últi-mos anos ter sido vítima de inúmeras paródias (as maisbem sucedidas partiram da afamada saga “Shrek”), acasa do rato Mickey resolveu também ela auto–paro-diar–se, e o resultado não foi nada mau.

Desde a bruxa malvada ao seu assistente com proble-mas de consciência, passando por animais que (não) fa-lam, todos os elementos dos contos de fadas estão pre-

sentes. As alusões aos clássicos da Disney são mais doque muitas, e embora demore um pouco a arrancar, es-tamos perante uma comédia refrescante, com algunsmomentos verdadeiramente hilariantes.

Ao contrário dos filmes animados da Dreamworks,“Uma História de Encantar” não opta por gozar com osclássicos animados. Aqui as referências são tratadascom carinho e ingenuidade, o que torna este filme nu-ma obra genuinamente “fofa”.

É certo que esse excesso de “fofura” não vai agradar atoda a gente, e a estrutura previsível da obra, perdemuitos pontos quando comparada com as irreverentesaventuras do ogre verde da DreamWorks.

Mas para ser sincero, não creio que estejam a compe-tir no mesmo campeonato e tanto um como outro filmetêm o seu lugar entre miúdos e graúdos.

E agora se me permitem caros leitores, para acabaresta crítica não poderia deixar de fora um: “… e viveramfelizes para sempre”.

François Fernandes

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20 A CABRA AARRTTEESS FFEEIITTAASS 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

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A Cabra d’OuroA Cabra aconselha

Vale o bilheteA evitar Fraco Podia ser pior

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Enérgico, vibrante, eclético, juvenil, urbano. Estes sãoalguns dos adjectivos de que nos servimos para caracte-rizar o som apresentado por “Proof Of Youth” (POY), osegundo disco dos britânicos The Go! Team.

Liderados na voz por Ninja (belíssima performercom raízes entre o Egipto e a Nigéria) e na produção porIan Parton (uma espécie de cérebro da banda e coman-dante das tropas; para além da guitarra, harmónica epercussão), o colectivo apresenta ao todo seis elemen-tos. Parton é mesmo o membro mais antigo. Diz a histó-ria que, durante bastante tempo, o seu quarto foi o seumundo, no qual elaborou um moroso e minucioso tra-balho de colagem de “samples”; processo de recolha emontagem de que viria a resultar o esboço do primeirodisco e ao qual se iriam juntar os restantes elementos.

O novo registo, de acordo com os próprios, resultan-te de uma complementaridade de equipa muito maiorque no muito aclamado “Thunder”, “Lightning”,“Strike”, segue o refrescante rasto deixado desde 2004.Aqui podemos encontrar algumas colaborações comoChuck D dos lendários Public Enemy (uma das influên-cias do colectivo a par de temáticas como Rua Sésamo,Rocky ou Charlie Brown) em “Flashlight Fight”, MarinaRibatski do Bonde do Rolé ou a contribuição vocal deSolex.

Com edição em Setembro passado, o mais recentetrabalho acaba por resultar de um apego a fórmulas pré-–existentes: permanecem as trompetes em jeito de cele-bração, as guitarras sujas (agora menos), a vénia aosprimórdios do hip–hop, o recurso aos “samples” e asbatidas pujantes que invadem as ancas dos mais incau-tos. Existe também a possibilidade de o ouvinte se verna situação de, involuntariamente, cantarolar faixas co-mo o single “Grip Like A Vice” ou a descomprometida“Doing It Right”. Contudo, a influência declarada nasguitarras à Sonic Youth encontra–se mais esbatida,dando maior espaço à alusão aos anos 50, aos coros decheerleaders americanas vindas de um qualquer gueto.

Assim, porventura menos aguçado, POY continua amostrar sinais de pureza, honestidade e vitalidade, aca-bando por ser mais consistente e de ver depuradas as li-gações caóticas e cacofónicas entre as mais diferentesreferências. O mais importante: faz–nos sorrir.

João Alexandre

!!""##""A História conta que, em 1456, Diogo Gomes “descobria” as ilhas de Cabo Ver-

de, na altura completamente desertas. Mas somente em 1989 é dada a conhecer aestória privada de um Cabo Verde do início do século XX, pela mão do escritorGermano de Almeida e a vida do senhor Napumoceno.

Tudo começa com a morte da personagem principal e a leitura do seu testamen-to de aproximadamente trezentas páginas, escritas dez anos antes. O comercianteque morreu solteiro e rico, de reputação imaculada, afinal tinha “esqueletos no ar-mário”. Toda vida escondeu partes de si pelo Mindelo e outros poucos pontos doarquipélago cabo–verdiano.

Houve um menino descalço que partiu da ilha de S. Nicolau para S.Filipe com oobjectivo de tentar a sua sorte, e enriqueceu a vender chapéus–de–chuva em vezde guarda–sol, num sítio onde era pouco provável que chovesse! Dez mil unidadessão vendidas num dia de cheias, de azar e sorte.

Pouco a pouco somos confrontados com as contrariedades da vida do generosoe metódico defunto, que nunca foi aceite pela aristocracia local, apesar de ter di-nheiro. Acompanhamos o caminho auspicioso que seguiu nos negócios. O testa-mento é escrito sem máscaras, de tal modo que são reveladas conquistas de mu-lheres, filhos ilegítimos e outros deslizes que a sociedade condenava abertamente,

mas de certo modo fechava os olhos. Há mais vida para além da morte. Napumoceno da Silva Araújo e as personagens com quem interage tam-

bém têm espaço e respiram alguma complexidade. A narrativa discorre sem dificuldade perante os olhos doleitor. Uma fluidez típica do ritmo discursivo de Germano de Almeida. O sentido de humor e ironia do escri-tor conseguem desenhar retratos de uma sociedade hipócrita, anos antes da independência de Cabo Verde.

O realizador brasileiro Francisco Manso levou o defunto mindelense aos ecrãs de cinema em 1997, com umaadaptação desta primeira obra de Germano de Almeida. O facto de acabar de forma mais ou menos previsívelpode constituir um ponto negativo deste livro alegre, curioso, vivo e afável. O consagrado escritor cabo–ver-diano lançou no ano passado mais uma obra a juntar à já extensa lista. “Eva” é o título do livro que prometevoltar a fazer a ponte entre as ilhas e Lisboa. Carla Santos

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LER

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É com esta pergunta que António Barretoabre o primeiro capítulo de “Portugal, Um Retrato Social”. Não podia sermais adequada. Sociólogo de formação, o convite a António Barreto parapassar a documentário (ou “filmes para televisão”, como o próprio refere)os livros onde escalpeliza a evolução da sociedade portuguesa nos últimosquarenta anos apanhou o próprio de surpresa, com as estatísticas que col-igiu em trabalhos escritos a apresentarem-se como o maior medo a domi-nar. Todos os receios que o normal português, ao qual é tirado o retrato,poderia ter com o desfilar de um rol de números, frios e despersonalizados,numa noite de televisão são dissipados no início do primeiro capítulo.Depois de “Gente Diferente”, mais seis capítulos se seguiram nas noites deterça-feira da RTP. Durante estes sete capítulos, António Barreto recorre frequentemente a

comparações entre o “antes” da década de sessenta e o “hoje” de 2007. Oimpacto de reconhecer em rostos humanos a pobreza de um país atrasado earrasado por uma guerra colonial e uma ditadura é assinalável. Se fossemprecisas mais provas quanto à evolução proporcionada pela Revolução de25 de Abril bastaria recordar a obscena mortalidade infantil de oitenta pormil que vigorava nos anos 60.

Documento histórico, com certeza, mas com uma fotografia fantástica, plena de luminosidade, eum domínio irrepreensível da técnica de realização por parte de Joana Pontes, sem esquecer a mag-nifica banda sonora de Rodrigo Leão, “Portugal, Um Retrato Social”, é um triunfo a todos os níveis.Desde o momento em que foi emitido pela primeira vez até agora que é editado em DVD, com ummuito útil livro onde se pode consultar a ficha técnica, mas também o currículo dos vários elemen-tos que integraram a equipa técnica. Outra agradável surpresa é adaptação do guião deste primeirocapítulo episódio, ao formato texto e ainda à descrição, por parte do director de fotografia JoãoRibeiro, das fontes de luz numa das cenas iniciais, algo que costuma estar incluído no conteúdo dodisco, mas que aqui nos é apresentado também em texto.

Fernando Oliveira

VER

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4 de Dezembro de 2007, 3ª feira AARRTTEESS FFEEIITTAASS A CABRA 21

OUVIR

A imponente Igreja de SantaLuzia dá as boas vindas a quem

chega a Viana do Castelo,também conhecida como

Princesa do Lima. Texto e fotopor Liliana Figueira

Do alto de Santa Luzia, que roubou o no-me à igreja aí construída, no início do sécu-lo XX, é possível testemunhar a união per-feita da terra com o mar. Lá em baixo, na ci-dade, nascem prédios em redor do centrobranco e granítico.

Ao fundo, junto à vastidão do Atlântico,situam–se os estaleiros navais, enquantoque do outro lado do rio Lima, está o portocomercial de Viana, onde sobressaem enor-mes gruas. A praia, essa, tanto serve parabanhistas como para amantes de desportosnáuticos, dependendo da margem em quenos encontremos.

Domingo traz o silêncio e a acalmia às ar-térias estreitas da baixa. Percorrendo a ruaManuel Espregueira, ficamos a conhecer to-da a zona antiga da cidade, com paragemobrigatória na Praça da República, que dánome ao centro histórico. Aí se encontramvários monumentos, entre os quais, os anti-gos Paços do Concelho e o Chafariz, datadodo século XV.

Conta a história que, antigamente, os pe-regrinos que rumavam a Santiago de Com-postela, ao atravessarem Viana, saíam poraquela porta que, por esse motivo, se passou

a chamar Porta de Santiago.E porque Viana do Castelo é conhecida pe-

lo seu folclore, é impossível sair de SantaLuzia sem um casal de bonecos Maria e Ma-nel, vestidos a rigor. O Museu do Traje, edi-ficado no centro histórico, é também umaboa hipótese para quem deseja conhecer umpouco mais da tradição folclórica do Norte.

A Princesa do Lima destaca–se pelos seusbelos edifícios, fundados em diversos estilosarquitectónicos, que vão do manuelino ebarroco à arte–déco. O antigo, porém, con-vive com o moderno da zona ribeirinha, on-de foram construídos alguns bares, um par-que infantil, e onde está projectada a futurabiblioteca municipal.

As crianças brincam no Jardim da Marinaà beira do rio, enquanto casais de meia–ida-de aproveitam o sossego de fim de tarde pa-ra caminharem nos passeios ladeados porárvores semi–nuas. Grupos de jovens divi-dem–se pelos vários locais de convívio, noespaço a que chamam “o cais de Viana”, jun-to ao Lima e à marina.No porto há muitoque se instalou o Navio–Hospital Gil Eanes,embarcação construída em 1955, nos Esta-leiros Navais vianenses, para apoiar os baca-lhoeiros que pescavam nas águas da TerraNova e da Gronelândia. Actualmente, o na-vio serve de museu, de pousada da juventu-de, e acolhe, no seu interior, um bar, umasala de reuniões e uma loja de lembranças.

O frio abate–se sobre Viana do Castelo,que cheira a rio, a mar. No ar, as gaivotas

guincham e planam junto à superfície do rioLima, para logo virem descansar nos postes

de electricidade que iluminam a noite daavenida Marginal.

Existe na Internet variada informação para a preparação de todo o tipo de viagem. Mastambém há sítios onde a aventura é partilhada com os cibernautas em tempo real e com vi-vacidade.Fóruns como o “virtualtourist.com” oferecem dicas dos melhores locais para co-mer e dormir (entre outros) pelo próprio turista/utilizador, que está ou esteve in loco. Masé crescente a aparição de blogs de viagens, muitas vezes agregados a sites informativos, on-de é possível acompanhar a viagem do jornalista. As actualizações são constantes e a dura-ção da viagem em si tende a ser grande.

O site on–line do jornal “Público” apresenta uma hiperligação para o diário online “tem-podeviajar.blogspot.com” de André Parente. A viagem deste gestor de marketing foi acom-panhada a par e passo, através das palavras e fotografias que publicou naquele espaço. Ogoogle maps, aplicação também instalada no blog, dava a oportunidade de localizar preci-samente André Parente no globo.

Miguel Mendes é outro português que se fez à estrada recentemente e documenta a via-gem na blogsfera. O sítio do semanário Expresso alberga os vídeos que publica dos espa-ços onde se encontra. Com estas ferramentas multimédia as viagens virtuais tornam–semais reais. Os diários digitais são fáceis de manusear e alguns permitem que o leitor deixeum comentário ao que vai sendo publicado.

Mais do que uma preciosa ajuda na preparação da partida para o estrangeiro, estesblogs mostram o lado pessoal e por vezes mais humano dos diferentes locais do mundopor onde os viajantes vão passando.

Carla Santos

“Ring in the Holidays Music Festival” é o nome de um evento que junta, até esta

sexta-feira, 8, músicas de todo o mundo, na Universidade de Salisbury, no estado norte-americano de Maryland.

O espectáculo pretende, numa semana, dar as boas-vindas ao Inverno, representandotodas as zonas do planeta através de canções, algumas bem conhecidas e típicas e outras quese estreiam ao longo destes sete dias. Todos os estilos musicais são bem-vindos e todos têmlugar no Holloway Hall Auditorium, onde também se vai começar a pensar no Natal, ouvin-do as melodias mais propícias da época. Os ingressos vão desde 5 a 20 dólares americanos.

O nome da próxima sugestão pede pela “próxima festa” e promete deixar os visitantesdeslumbrados com as danças com o fogo. “Next to Last Fest” é a proposta da capital gregapara o próximo fim-de-semana. Em Atenas, cada risco traçado com o fogo vai contar umahistória, teatralizada com a ajuda de líquidos, tecidos, estruturas e personagens tambémenvoltas em chamas. Pode parecer perigoso ou até assustar algumas pessoas, mas o conviteabrange toda a família. O preço deste Unifire Theatre vai de 15 a 20 dólares, pelos dois dias.

E logo a seguir ao fim-de-semana em Atenas, a próxima paragem é a capital italiana: parao “Romaeurope Festival 2007”, com um programa heterogéneo que engloba teatro con-temporâneo, dança, arte, música electrónica e novas tecnologias. Este evento que dura até15 de Dezembro, já começou a juntar a descoberta e a inovação europeias desde 7 deNovembro.

Soraia Manuel RamosPUBLICIDADE

22 A CABRA VVIIAAGGEENNSS 3ª feira, 4 de Dezembro de 2007

Agenda mundial de eventos

CONFISSÕES|FERNANDO MORA RAMOS* | 55 anos | ENCENADOR

Iniciei–me em 1972 num contexto de teatro universitário, em Moçambi-que, para onde fui muito novo. Sou afro – alentejano nascido em Lisboa. Tenho umacostela moçambicana muito forte. O meu irmão mais velho fazia teatro nessa al-tura e eu fui com ele. Fui apanhado pelo teatro aos 16 anos. Desses tempos guar-do memórias magníficas, da descoberta de um modo de vida muito diferente dos ou-tros. Aquilo que implica fazer teatro é fundamentalmente algo muito diferente do queaquilo a que a maior parte das profissões obriga. Esta é uma profissão sem grandes ro-tinas, onde dominam lógicas de imprevisto, surpresa, precariedade. É um privilégio

fazer teatro. Essa dimensão de inventar outros, que é uma coisa tão antiga como o próprio mundo e ligado à infância. Em ca-sa havia uma grande biblioteca e o meu pai era um grande espectador de teatro. Fazíamos teatro também por razões po-líticas. No tempo do Estado Novo o espaço de trabalho teatral era um espaço de resistência que escapava aquela lógica domi-nante e pidesca que toda a gente vivia. Sobre o signo do medo, de não pisar o risco, de não poder dizer isto ou aquilo. A peçaque mais me tocou foi “Ella” de Herbert Achternbusch. Gostava também de fazer de parvo, uma figura de Gil Vicen-te. É alguém a quem é permitido dizer algumas verdades, o que não acontece a algumas figuras. É ingrato fazer teatro emPortugal. Principalmente um teatro que não se vende, que não envereda pela via do comercial. É um combate, é uma luta. Seos alternativos tiverem os tomates no sítio o teatro tem um grande futuro. Audácia, coragem, capacidade de resis-tência, e não desistir. Se não fosse actor gostava de ser cozinheiro, gastrónomo, enólogo. Não há nada que pague a empa-tia de um profundo silêncio, numa sala de 200 pessoas. Essa sensação tão incomum sobre a mesma frase, sobre a mes-ma pausa, sobre o mesmo problema humano. Nós também sabemos que temos um calendário. Um actor tem que estar tecni-camente apetrechado para ser eficaz, para usar bem a voz. Tem que ter uma disciplina. O trabalho de actor é alta compe-tição, se for encarado a sério, se for encarado naquela versão palhaça e carnavalesca do “ei pa e tal somos artistas”… Masisso não é teatro. Entrevista por João Pimenta

*Actualmente em cena com a peça “Coronel Pássaro”

Por estes dias, entrei no edifício da Asso-ciação Académica e senti uma certa irritaçãono ar. Curioso, de imediato perguntei ao bo-tão esquerdo do meu colarinho - assim comoquem fala para um kit mãos livres de um te-lemóvel:

- Que raio se andará a passar nesta casa?Três passos depois, um coro de espirros

fez luz sobre a minha dúvida. Era o pó dasobras a fazer das suas. E que obras! SantaEngrácia cora de vergonha. Em Coimbra, osdirigentes associativos fazem gato–sapatodaquela que é a grande referência para mui-tos, em termos de obras por acabar.

E ao que tudo indica, esta situação vaicontinuar. Pelo menos já derrubaram umaparede do edifício, para construírem umacesso aos jardins. Se isto não é sinal de queas obras se vão prolongar, então não sei…Será que vão mesmo aproveitar para fazeresquecer de vez, a referida freguesia lisboetae prolongar os trabalhos ad kalendas græ-cas? Eu tenho respostas. Agarrem–-se!

Brocas e martelos vão continuar a ecoarpelo edifício. E os membros das Secções eOrganismos Autónomos, que não se ouvemuns aos outros durante a noite por causa dobarulho da música do bar, e dos tampõesque trazem nos ouvidos, vão ver a sua vidatransformada num inferno. Podem mesmovir a ser expulsos.

Porque o que está previsto, meus amigos,não é nada agradável. Com o apoio da Socie-

dade Columbófila de Cucujães, os responsá-veis pelas obras, mais cedo ou mais tarde,vão acabar com todas as Secções e Organis-mos, transformando o edifício num grandepombal. É o fim do que era a A.A.C., paradar lugar a uma mega Secção de Columbofi-lia. É verdade. Virada para a Rua Padre An-tónio Vieira, para aproveitar as janelas. NaEXPO–RAINHA 2007 (V Exposição de Co-lumbofilia), não se falou de outra coisa.

Os manifestos e o direito à indignaçãocontra quem quer transformar o edifício nocofre–forte do Tio Patinhas vão acabar. Compombos, em vez de pessoas, basta fazer alargada de manhã e esperar por eles à noite.E a um pombo–correio, nunca vai ser pedi-do um cartão à entrada, pois ele chega sem-pre a horas.

A alimentação dos bichos vai estar a cargo

de columbófilos profissionais, mas quem vailiderar este potencial foco de vírus H5N1 éaquela idosa do filme “Sozinho em casa II –Perdido em Nova Iorque”. Ela demonstrouao longo de toda a película uma extrema de-licadeza e sensibilidade para com os “borra-chinos” e até mesmo alguma estima por al-guns “pombos de ano”. Quanto a mim, a se-nhora, apesar de não ser a pessoa mais velhada casa, merece uma oportunidade. E assimevitámos a chatice de um concurso público.

PS-O leitor mais atento já terá reparado queroubei o título deste texto à comédia românticade Spielberg, com Tom Hanks e Shelley Long.Mas se Paula Moura Pinheiro roubou a “Câma-ra Clara” a Barthes, porque não arriscar?

Crónica por Vítor André Mesquita

4 de Dezembro de 2007, 3ª feira PPEENNUULLTTIIMMAA A CABRA 23

eLesEUA Uma pequena cidade no Texas

foi vendida no site eBay, a um italiano,por três milhões de dólares. Constavamda oferta os seus “ex–libris”, como osedificios para uma escola, um salão dedanças e um bar. O vendedor, um cor-rector de imóveis de 47 anos, comprarao terreno que constitui a cidade de Al-bert há três anos, sendo o seu únicomorador.

ESCÓCIA Robert Stewart, 51 anos,foi condenado a três anos de prisão emregime aberto após ter sido apanhado...a fazer sexo com uma bicicleta. O seunome consta agora da lista de pessoascondenadas por crimes sexuais, ao ladode pedófilos e violadores.

HOLANDA Um homem de Haak-sbergen foi apanhado em flagrante porum fazendeiro ao abusar sexualmentede uma ovelha. Foi absolvido devido àimpossibilidade de a ovelha prestar de-clarações, isto porque a Lei holandesasó considera crime se se provar que oanimal não queria e que sofreu stressemocional com o acto.

SUÉCIA As mulheres que não sabemnadar vêem agora o seu problema ex-tinto. A empresa sueca Bernstrand&Cocriou um biquini que insufla nos seios eno rabo, funcionando como uma bóia.O BayWatch Biquini deixa as senhorasmais curvilíneas enquanto põe fim aosseus medos salgados.

Adelaide Baptista

Eu

tUILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

MARTHA MENDES

Mais informação disponível em:Redacção: Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54 Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção/Produção:

Secção de Jornalismo da

Associação Académica de Coimbra

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

PUBLICIDADE Cartoon por José Miguel Pereira

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“Uma coisa é a natureza e as pessoas que se movem, outra coisa é a escultura”. O escul-tor Pedro Figueiredo define assim a sua arte. Com o objectivo principal de simplificar aomáximo, o artista pretende sair do nada numa espécie de encontro com a felicidade.

“Sentido Único” foi o título dado pelo escultor e professor de Desenho na Escola das Ar-tes de Coimbra à peça naturalista retratada. Aqui o mais importante não é um pé sermaior que o outro, mas o aspecto visual que isto pode oferecer ao crítico de arte, possibi-litando uma interpretação infinita. A escala irreal do pormenor do pé da peça permiteuma base de apoio que não seria possível utilizando uma escala humana.

Em geral, na obra de Figueiredo a posição que as obras apresentam é o mais importan-te para a interpretação de um imaginário. O afastamento dos membros das esculturas, namaioria representações do humano, envolve as mesmas num equilíbrio que transmiteuma calma por parte das próprias que recai sobre o crítico. Assim, estabelece–se um es-paço íntimo entre o objecto artístico e o observador quando a arte já não é apenas visível,mas pode tornar visível. É neste momento que acontecem possibilidades de mundos den-tro de cada observador.

Pedro Figueiredo nasceu na Guarda, a 22 de Outubro de 1974. Actualmente tem traba-lhos expostos na Galeria de S. Mamede, e no espaço de design aveiromeuamor, em Avei-ro. Brevemente algumas das suas obras vão poder ser visitadas numa colectiva em Avei-ro, na Galeria Nuno Sacramento.

Na arte como na Escultura tudo se torna possível para quem produz, e para quem ob-serva. Pedro Figueiredo afirma ainda que “na realidade, o cavalo não galopa só com duaspernas. Mas no mundo da arte o cavalo consegue galopar”.

Vânia Silva

Esqueletos de Ferro|Pedro FigueiredoEscultura, ferro, barro e resina

Notas

sobre arte...