a cabra – 151 – 02.05.2006

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Nº151 TERÇA-FEIRA, 2 DE MAIO 2006 Edição Gratuita Ano XV Directora: Margarida Matos PUBLICIDADE EPOCA DE FOGOS PREOCUPA COIMBRA Após os devastadores incêndios flo- restais do Verão passado, A CABRA foi tentar saber o que já foi e o que ainda está a ser feito no campo da prevenção. No Verão passado, arderam mais de quatro mil hectares no distrito de Coimbra, considerado dos pontos de maior risco quanto aos fogos florestais. Os responsáveis do sector apontam como principais problemas a escassez de meios, a indefinição de tarefas e a falta de coordenação entre bombeiros, protecção civil, a polícia e a Direcção-- Geral dos Recursos Florestais. Apesar da crónica falta de limpeza das zonas e caminhos por parte dos propri- etários, Coimbra é uma cidade segura, defendem os responsáveis Pág. 2 Cidade Imprensa em crescimento Num curto espaço de tempo, Coimbra vê nascer três novos jornais. O “Jornal da Universidade” e o “Centro” já lançaram cada um dois números, enquanto o “No- vo Jornal” ainda aguarda para ver a luz do dia. Responsáveis dos jornais mais anti- gos saúdam os novos e consideram posi- tiva a concorrência Pág. 8 Cultura IndieLisboa em Coimbra Os filmes distinguidos no festival interna- cional de cinema independente IndieLis- boa vão ser exibidos no Teatro Académi- co de Gil Vicente na próxima semana. É a primeira vez que a iniciativa sai da ca- pital, esperando–se da parte da organi- zação uma boa adesão Pág. 15 PÁGS. 10 E 11 -> Reportagem Mercado de droga Num momento em que os jardins da Academia têm chamado as atenções pelos piores motivos, A CABRA foi falar com alguns estudantes que traficam drogas leves. Muitas vezes não é per- ceptível a barreira que separa o consu- midor do traficante, condição essencial entre ser inocente ou culpado RUI VELINDRO SUMÁRIO Destaque 2 Opinião 4 Ensino Superior 5 Cidade 8 Nacional 9 T ema 10 Internacional 12 Especial Queima _ Ciência 13 Desporto 14 Cultura 15 V iagens 17 Artes Feitas 18 Entrevista Carlos Reis “Bolonha não é apenas uma reengenharia curricular, mas uma reengenharia de mentalidades” Carlos Reis é a partir de amanhã o novo reitor da Universidade Aberta (UA) e encara como principais objectivos do mandato a actualização do ensino à distância e a cooperação com países de língua portuguesa. Outro dos desafios que enfrenta é ajustar a UA a Bolonha, um processo para o qual nenhu- ma universidade portuguesa está preparada, segundo o catedrático. Em entrevista a A CABRA acusa ainda Governo e universidades de terem uma polí- tica de desqualificação das Humanidades Pág. 5 ´

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Versão integral da edição n.º 151 do jornal universitário de Coimbra “A Cabra”. Portugal, 02.05.2006. Para consultar o jornal na web, visite http://www.acabra.net/ e-mail: [email protected] Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: A CABRA – 151 – 02.05.2006

Nº151 TERÇA-FEIRA,

2 DE MAIO 2006

Edição Gratuita

Ano XV

Directora: Margarida Matos

PUBLICIDADE

EPOCA DE FOGOSPREOCUPA COIMBRA

Após os devastadores incêndios flo-restais do Verão passado, A CABRA foitentar saber o que já foi e o que aindaestá a ser feito no campo da prevenção.

No Verão passado, arderam mais dequatro mil hectares no distrito de

Coimbra, considerado dos pontos demaior risco quanto aos fogos florestais.

Os responsáveis do sector apontamcomo principais problemas a escassezde meios, a indefinição de tarefas e afalta de coordenação entre bombeiros,

protecção civil, a polícia e a Direcção--Geral dos Recursos Florestais.

Apesar da crónica falta de limpeza daszonas e caminhos por parte dos propri-etários, Coimbra é uma cidade segura,defendem os responsáveis Pág. 2

CidadeImprensa em crescimento

Num curto espaço de tempo, Coimbravê nascer três novos jornais. O “Jornal daUniversidade” e o “Centro” já lançaramcada um dois números, enquanto o “No-vo Jornal” ainda aguarda para ver a luz dodia. Responsáveis dos jornais mais anti-gos saúdam os novos e consideram posi-tiva a concorrência Pág. 8

CulturaIndieLisboa em Coimbra

Os filmes distinguidos no festival interna-cional de cinema independente IndieLis-boa vão ser exibidos no Teatro Académi-co de Gil Vicente na próxima semana. Éa primeira vez que a iniciativa sai da ca-pital, esperando–se da parte da organi-zação uma boa adesão Pág. 15

PÁGS. 10 E 11 -> Reportagem

Mercado de drogaNum momento em que os jardins da

Academia têm chamado as atençõespelos piores motivos, A CABRA foi falarcom alguns estudantes que traficamdrogas leves. Muitas vezes não é per-ceptível a barreira que separa o consu-midor do traficante, condição essencialentre ser inocente ou culpado

RUI VELINDRO

SUMÁRIO

Destaque 2Opinião 4Ensino Superior 5Cidade 8Nacional 9Tema 10Internacional 12

Especial Queima _Ciência 13Desporto 14Cultura 15Viagens 17Artes Feitas 18

Entrevista Carlos Reis

“Bolonha não é apenas uma reengenharia curricular, mas uma reengenharia de mentalidades”Carlos Reis é a partir de amanhã o novo reitor da Universidade Aberta (UA) e encara como principais objectivos do mandato a actualização do ensino

à distância e a cooperação com países de língua portuguesa. Outro dos desafios que enfrenta é ajustar a UA a Bolonha, um processo para o qual nenhu-ma universidade portuguesa está preparada, segundo o catedrático. Em entrevista a A CABRA acusa ainda Governo e universidades de terem uma polí-tica de desqualificação das Humanidades Pág. 5

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DESTDESTAQUE -AQUE - Prevenção de fogos2

A CABRA - 2 MAIO DE 2006

Por todo o país está a decorrer umplano de prevenção contra os incêndiosflorestais. Os bombeiros de Coimbra,em colaboração com a autarquia, pre-param–se para mais uma época de fo-gos que, de certa forma, pode vir aatingir os patamares do ano passado.No entanto, “face ao pacote legislativodelineado, há uma certa indefinição so-bre as missões, sobre quem é que pra-tica estas acções” declarou o chefe doGabinete de Protecção Civil, coronelCarlos Alberto Gonçalves, que acres-centou ainda que este facto ocorre“porque foram estabelecidas novas mis-sões ao SEPNA” (Serviço de Protecçãoda Natureza e do Ambiente).

De acordo com o militar, “Coimbra játem elaborado o plano anual, mas é ne-cessário rever essa matéria porque a le-gislação ainda não saiu, para ver quemassume que cargo”. Carlos Gonçalvesafirma ainda que, desta forma, “há umaconfusão” devido à alteração de meto-dologias. “Não há uma coordenação dasacções, quer dos bombeiros, quer deequipas de protecção civil, da GuardaNacional Republicana (GNR), ou mesmoda própria Direcção–Geral dos RecursosFlorestais” (DGRF), afirma.

Porém, cada departamento tem ela-borado aquilo que considera ser a sua

missão e o modo como vão coordenarfunções com os outros agentes, confor-me alega o chefe do Gabinete de Pro-tecção Civil. Por outro lado, o coronelgarante que há uma transferência decargos, pois, por exemplo, “a vigilânciafixa era da responsabilidade da DGRF e,com a nova legislação, passa a fazerparte da responsabilidade da GNR queainda não tem meios para assumir estafunção. Logo, ainda está com a DGRF”.

Outro dos problemas que a corpora-ção de bombeiros enfrenta diz respeitoàs zonas de “sombra”, o nome dado àsáreas que não conseguem ser vigiadasatravés de meios fixos. Estas zonas têmde ser complementadas pela vigilânciamóvel que é efectuada com jipes, mo-tas e bicicletas equipadas com rádios.Normalmente, este tipo de vigilância éfeito pelos Serviços Municipais de Pro-tecção Civil, juntamente com equipas

de bombeiros sapadores, desemprega-dos, reclusos da penitenciária de Coim-bra, e ainda jovens do Instituto Portu-guês da Juventude que se disponibili-zam para a prevenção de incêndios flo-restais.

Além destes, também colaboram navigia diária a GNR, a Polícia de Seguran-ça Pública (PSP), a Policia Municipal, aDGRF, a guarda–florestal e ainda algu-mas empresas de celulose. A interven-ção passa pela supressão dos combus-tíveis (limpeza do terreno à volta daspovoações), prevenção activa e detec-ção do começo de fogos florestais. Co-mo tal, “requer a operação imediata dosprofissionais”, afirma o coronel Gonçal-ves.

Há 10 anos que Coimbra tem o siste-ma de vigilância montado, o qual temvindo a ser melhorado cada vez mais,defende o militar. A média da área ardi-da é de cerca de 20 hectares por épo-ca, o que “é praticamente insignifican-te”, considera Gonçalves.

Chuvas atrasam fogos deste anoO facto de em 2006 as chuvas se te-

rem prolongado até mais tarde é bené-fico, devido ao atraso de todo o proces-so legislativo, que está dependente doServiço Nacional dos Bombeiros.

Coimbra prepara–se para combater

No Verão passado, arderam mais de quatro mil hectares no distrito de Coimbra

As novas instalações da Associação Hu-manitária de Bombeiros Voluntários deCoimbra vão ser construídas na via que li-gará a Avenida da Guarda Inglesa ao Cen-tro de Saúde de Santa Clara, junto àqueleque será o novo edifício da Polícia Judiciá-ria e ao Forum Coimbra. A notícia foi dadapela autarquia durante as comemoraçõesdo 117º aniversário da corporação, no pas-sado dia 23 de Abril.

Além disso, foi também inaugurada umaexposição de 80 quadros de vários pinto-res, na principal sala do Hotel D. Luís, queserão vendidos num jantar–leilão a realizarno dia 12 de Maio. O objectivo consiste naangariação de fundos destinados não só àaquisição de materiais de protecção mas

também de um veículo de combate a incên-dios urbanos para os Bombeiros Voluntá-rios. A viatura em questão está orçamenta-da em 90 mil euros e o presidente da Fun-dação Bissaya Barreto, Viegas Nascimen-to, assegurou pagar metade da verba. Noentanto, tem sido difícil juntar este montan-te, até porque o Ministério da Administra-ção Interna já esgotou a dotação financeirade 2006 destinada a este tipo de equipa-mentos.

Actualmente, o corpo de bombeiros apre-senta 128 voluntários e uma escola de ca-detes com 25 alunos. Nos últimos quatroanos, a corporação, juntamente com a Pro-tecção Civil aumentou em mais de um ter-ço o número de elementos.

Bombeiros Voluntários com novas instalações

A cidade espera a legislação do Serviço Nacional de Bombeiros. Os planos de prevenção aos incêndios devem ser cumpridospor todos os distritos nacionais, mas por enquanto a distribuição das tarefas não está definida

Por Sandra Camelo, Ricardo Machado, Wnurinham Silva (texto) e Rui Velindro (fotografia)

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Prevenção de fogos DESTDESTAQUEAQUE3

2 MAIO DE 2006 - A CABRA

os incêndios florestais“Como é de conhecimento geral, o

ano de 2005 foi um ano de pandemóniodevido às grandes proporções que osincêndios atingiram”, declara o coronelGonçalves. Dados da DGRF indicam queaté ao dia 8 de Setembro de 2005 arde-ram, em todo o país, 286.383 hectaresde povoamentos e matos, registando-–se 32.553 ocorrências. O número defogachos (fogos com menos de um hec-tare de área ardida) foi de 25.339. Aszonas do Litoral Centro e Norte foramas áreas mais fustigadas.

O distrito de Coimbra é um dos pon-tos do país considerados de maior riscoem incêndios florestais. O coronel Car-los Gonçalves recorda que, “até ao dia10 de Agosto, Coimbra era o distritocom menos área ardida em todo o país.Entre o dia 10 e 30 de Agosto passou aser o distrito com maior área ardida,atingindo os 4.138 hectares”.

Este ponto de situação “não deve serconsiderado como uma falha na forma-ção e empenho dos bombeiros”, pois omilitar considera que “nem sempre sãoas falhas da protecção civil, da prepara-ção da vigilância e da detecção dos fo-gos que causam os incêndios”. O coro-nel adianta ainda que “os dois grandesincêndios que ocorreram no ano passa-do foram importados, ou seja, vieram aarder desde Cantanhede e Mealhada eentraram em Coimbra às 21h30 de umdomingo, com uma frente de 13 quiló-metros”. O chefe do Gabinete de Pro-tecção Civil refere ainda a dificuldadede prever a situação, o que permitiu“que o fogo se propagasse durante anoite”.

Além disso, Carlos Gonçalves conside-ra que a operação de protecção civil foi“exemplarmente desencadeada”. Ape-sar das “circunstâncias únicas e espe-ciais que criaram a propagação do in-cêndio”, o coronel salienta que este “foirapidamente circunscrito”, mas não semantes arderem, por projecção de partí-culas incandescentes, seis casas.

Para que uma operação tenha êxito, énecessário que os fogos sejam detecta-dos precocemente e combatidos o maisforte e rapidamente possível, explicaCarlos Gonçalves. O militar destaca ain-

da que, “em cada incêndio que nasceem Coimbra, imediatamente ocorremao local três viaturas e 15 homens, oque extingue à partida 90 por cento dosincêndios”. Contudo, acrescenta que,“se for uma zona de risco, em vez detrês viaturas, ocorrem logo seis veícu-los, dois de cada corporação (os Bom-beiros Sapadores, Voluntários e deBrasfemes)”.

Falta de limpezaem área florestal

A questão da prevenção dos incên-dios e da sua propagação tem váriosfactores, entre os quais se encontram anão preparação em matéria de limpezadas zonas e caminhos. O que está de-terminado desde 2005 é que todas aspessoas que têm casa num espaço flo-restal são obrigados a limpar a áreanum raio de 50 metros. A respectivalimpeza é da responsabilidade dos pro-prietários da casa ou do terreno. Osaglomerados com mais de nove habita-

ções têm de ser limpos até 100 metrose passam a ser da responsabilidade decada câmara municipal. A limpeza des-tas zonas custa cerca de 150 mil eurose têm de ser limpas de três em trêsanos.

A negligência, o desleixo, o vandalis-mo, a piromania, e, acima de tudo, asqueimadas são outras das causas quecontribuem para o constante acréscimodos incêndios florestais.

Questionado sobre os fundos econó-micos e materiais, o chefe da protecçãocivil declarou que “os meios nunca sãosuficientes, da mesma forma que osmeios humanos falham às vezes. O quedá mais trabalho para preparar estasacções de prevenção de fogos florestaisé a obtenção de fundos para realizá-–las.” Embora o coronel considere queos meios são suficientes, Coimbra nãopossui um autotanque de grande porte,viatura que transporta cerca de 30 millitros de água, o que torna difícil contro-lar um incêndio de grandes dimensões.

No entanto. “isto não faz com queCoimbra deixe de ser uma cidade segu-ra”, frisa o coronel Gonçalves. As corpo-rações esperam ainda a aquisição deuma carrinha de caixa aberta, com kitsespecializados para a primeira interven-ção de combate aos incêndios, duasmoto–quatro igualmente equipadascom kits, uma viatura da protecção civile mais oito bicicletas. Depois de Lisboae Porto, a Câmara Municipal de Coimbraé das que mais gasta com os bombei-ros, com cerca de 140 operacionais.

Entre 2000 e 2005 arderam em Portu-gal mais de um milhão de hectares, re-gistando–se mais de 160 mil ocorrên-cias. Face às condições adversas de se-ca que se têm verificado nos últimosanos, e tendo em conta os números re-velados, é importante que a prevençãodos incêndios se realize em todas asestações, visto que os fogos não secombatem apenas no Verão, “previ-nem–se durante todo o ano”, lembraGonçalves.

Para os responsáveis da protecção civil, “os meios nunca são suficientes”

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A euforia da novidade

O Forum abriu. De repente, a cidade mudou-separa o Planalto de Santa Clara, e com ela as filasintermináveis de trânsito, em busca da novidade,repetindo um cenário semelhante ao de há umano, na Solum, na abertura do Dolce Vita.

Bem vistas as coisas, o Forum traz benefícios àcidade: promove postos de trabalho, traz até nósa Fnac (numa cidade de estudantes ávidos porlivros e música) e, mais importante de tudo, dávida à margem esquerda da cidade, completa-mente ignorada, à excepção das festas académi-cas. Por outro lado, a aposta de ceder o comércioda cidade a grupos privados ameaça seriamenteas pequenas lojas da Baixa, e não parece queuma obra faraónica e algo misteriosa como acobertura do espaço resolva o problema.

A aposta, no entanto, não deve partir só daautarquia. Os pequenos comerciantes nunca seprepararam para a chegada das grandes superfí-cies e, desde 1993 (quando abriu o CoimbraShopping) que se multiplicam os trespasses. Anão modernização de instalações e a recusa emabrir ao sábado à tarde ou ao domingo (àexcepção do Natal) conduz a uma situação decrise, colocando o pequeno comércio a fazer opapel de parente pobre no meio da guerra deconsumo entre a Amorim Imobiliária e a Multi-Development (um Portugal-Holanda dos centroscomerciais, numa altura em que se aproxima oMundial).

Entretanto, e talvez aproveitando a euforia danovidade, a cidade vê nascer três novos jornais,todos diferentes: um gratuito, dirigido à comu-nidade universitária; um pago, apresentando-secomo o renascer das cinzas do “Jornal deCoimbra”, e uma publicação mais arrojada, queainda aguarda data de lançamento. Três jornaisque vêm em boa altura, uma vez que os actuais(principalmente os diários) já se estavam a aco-modar.

Numa cidade que tem três cursos de comuni-cação social, não choca o surgimento de novostítulos. No entanto, há uma questão fulcral: nãose faz um jornal só com jornalistas, tem de haverleitores. E será que há leitores para três novosjornais? A pergunta fica no ar, assim como a dúvi-da de qual será o próximo sector em Coimbra,depois dos centros comerciais e da imprensa, aser afectada com a euforia da novidade. JoãoCampos

Propinas para quem?O colega Isaque Santos publicou no último número da Cabra

um artigo em defesa das propinas, sugerindo que são legítimase que deveríamos aceitá–las e lutar antes por um melhor siste-ma de bolsas.

Note–se o economicismo do texto: desenvolvimento de voca-ções, realização pessoal, gosto desinteressado por uma maté-ria - tretas! O estudante não passa de um “homo economicus”,de quem só se espera que “invista” em si mesmo como “capi-tal” e não aspire a mais que vender–se caro no mercado de tra-balho.

Mas independentemente desta crítica mais teórica, a argu-mentação é criticável mesmo dentro da sua lógica mercantil. Éessa critica em termos estritos, os da mera “lógica de financia-mento”, que vamos desenvolver.

Isaque Santos vê correctamente que a educação é uma mer-cadoria peculiar: não existe um só sistema de educação pura-mente privado no mundo. Quantos físicos teríamos ao preçoreal do seu curso? Portanto, a sociedadeno seu todo, que beneficia em ter umapopulação formada, deve financiá–laatravés do Estado.

Qual é então a justificação de haverpropinas? É que, para além da vantagemsocial, haveria uma vantagem “privada”que os estudantes retirariam da “fruiçãodirecta do bem” Ensino Superior (ES), naforma de melhores remunerações futu-ras, que seria justo que pagassem.

Essa vantagem já é paga, na forma defuturos impostos mais altos. Qual é ajustiça de pagá–la uma segunda vez?Mas não nos apressemos. Alarguemosesta lógica. Não é “justo” que um estu-dante de Medicina pague o mesmo queum estudante de Letras - propinas diferenciadas por curso se-riam a solução. E porque não ir para além da Universidade, exi-gindo por exemplo propinas altíssimas no Centro de Estudos Ju-diciários? Os juízes que de lá saem têm remunerações chorudaspela frente, e cremos que não lhes é cobrada qualquer propina.Esperamos ver Isaque Santos na linha da frente dessa reivindi-cação.

As possibilidades são infinitas, e justamente por isso preve-mos dificuldades práticas, pois (1) no plano individual, é impos-sível prever a remuneração futura de cada estudante, (2) noplano colectivo, as estratificações profissionais não têm fim e(3) também elas mudam de forma imprevisível.

Subjaz a isto um raciocínio curioso: a propina seria uma for-ma de diminuir as desigualdades sociais. A ideia é que nas con-dições específicas portuguesas são os mais desfavorecidos a fi-nanciar o grosso dos serviços públicos, ES incluído, ao qual to-davia acede só uma minoria. Mais caricaturalmente: são os po-

bres quem financia o ensino dos ricos. Conclusão: mais justiçafiscal? Não: cobrar o ES a todos, tornando-o ainda mais inaces-sível aos pobres!

É certo que uma coisa não implica logicamente a outra, masestrategicamente: que governo se daria ao trabalho de subir aspropinas e ao mesmo tempo subir na mesma medida as bolsas,para compensar a injustiça resultante? Teria de subi–las não sóem quantia, para não prejudicar os bolseiros existentes, mastambém em número, para acorrer aos novos estudantes quepassaram a carenciados pelo aumento. Sendo pragmático, pa-ra isso não subia as propinas.

No topo da escala social, a vida segue como sempre. Nomeio, e ainda mais na difusa fronteira com a base, parece–nosque o empobrecimento não é de todo compensado por um au-mento de bolsas. A título de exemplo (insuficiente), um artigode Elísio Estanque e João Arriscado Nunes na Revista Crítica deCiências Sociais de Outubro de 2003 estimava que 47 por cen-

to dos estudantes da UC provinha dasclasses teoricamente mais desfavoreci-das. Juntando a categoria híbrida dosTrabalhadores por Conta Própria, eram59 por cento. Segundo os SASUC, 20por cento dos alunos têm bolsa.

Existe já um organismo especializadona difícil contabilidade das contribuiçõessociais: o fisco. Se o fisco, com o seuaparato humano e técnico, tem dificul-dades em fazer com que cada um pa-gue o que é justo, não se vê como umamiríade de serviços de acção social uni-versitária conseguiria melhor. Se o ob-jectivo é, como Isaque Santos diz, aigualdade, é mais fácil subir os impostosnos escalões mais altos, e às empresas,

que aumentar propinas e desenvolver depois um bizantino sis-tema de bolsas para compensar as desgraças. Antes um punha-do de estudantes pagar de menos que uma enormidade delespagar demais, ou nem chegar à universidade. Mais vale um cri-minoso livre que nove justos presos.

É que ao obstáculo económico junta–se o cultural. PierreBourdieu mostrou há décadas como os filhos das classes altastêm mais hipóteses de ter notas altas e caber nos numerusclausus. Mesmo um ES público e gratuito não acabaria com asdesigualdades, mas atenuá–las–ia. O que os defensores daspropinas defendem é que ao obstáculo do capital cultural sejunte o do capital económico. É uma reacção que se coadunacom o facto de até as elites sentirem a corda ao pescoço, mashá sempre quem na sua candura julgue tudo isto conciliávelcom lenga–lengas de qualificação e choque tecnológicos.

José Reis, estudante de Sociologia da Universidade deCoimbra

OPINIÃO4A CABRA - 2 MAIO DE 2006

Editorial

“Antes um punhado de

estudantes pagar de

menos que uma

enormidade deles

pagar demais, ou nem

chegar à universidade”

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Impressão CIC - CORAZE, Oliveira de Azeméis, Telefone. 256661460, Fax:256673861, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académicade Coimbra Contribuinte nº500032173Directora Margarida Matos Chefe de Redacção Vítor Aires Editores: Rui Velindro (Fotografia), Olga Telo Cordeiro (Ensino Superior), João Campos (Cidade), Rui Simões(Nacional/Internacional), Sandra Pereira (Ciência), Bruno Gonçalves (Desporto), Bruno Vicente (Cultura), Cláudio Vaz (Viagens) Secretária de Redacção Sandra FerreiraPaginação Nuno Braga, Tiago Carvalho Webdesign ACABRA.NET Daniel Sequeira, João Pereira, Marco Fernandes, Tiago Gaspar Redacção Ana Beatriz Rodrigues, Ana LuísaSilva, Ana Martins, Ana Rita Faria, André Ventura, Carina Ferreira, Catarina Frias, Daniel Boto, Eunice Oliveira, Gonçalo Ribeiro, Helder Almeida, Inês Rodrigues, Inês Subtil,Jens Meisel, Joana Gante, Joana Nunes, Liliana Figueira, Marisa Ferreira, Marisa Soares, Marta Costa, Martha Mendes, Patrícia Cardoso, Patrícia Costa, Paula Monteiro, PedroGalinha, Rafael Pereira, Raquel Mesquita, Ricardo Machado, Rita Soares, Rui Antunes, Rui Pestana, Salvador Cerqueira, Sandra Camelo, Sandra Henriques, Sara Simões, SérgioMiraldo, Sofia Piçarra, Sónia Nunes, Soraia Manuel Ramos, Suzana Marto, Tânia Ramalho, Wnurinham Silva Fotografia Ana Maria Oliveira, Carine Pimenta, Daniel Palos, FaustoMoreira, Freddy Miguel, João Madureira, Liliana Gonçalves, Martha Morais, Miguel Meneses, Rui Pestana, Simão Ribau Colaboradores permanentes Andreia Ferreira, CláudiaMorais, Emanuel Botelho, Laura Cazaban, João Pedro Pereira, Kossaqui, Rafael Fernandes, Raphaël Jerónimo, Rui Craveirinha, Rui Maia, Tiago Almeida Colaboraram nestaedição Ana Raquel Melo, Carla Santos, Cláudia Sousa, João Oliveira, João Pimenta, Luísa Silva, Sandra Alves Publicidade Cláudio Vaz, Tiago Carvalho - 239821554; 96 32 33308 Logotipo Omar Diogo Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

Page 5: A CABRA – 151 – 02.05.2006

ENSINO SUPERIOR 52 MAIO DE 2006 - A CABRA

O professor catedrático, quetoma posse amanhã como

reitor da Universidade Aberta(UA), insurge–se contra a

desqualificação dashumanidades. Apesar

do novo cargo, o professorcontinuará a leccionarna Faculdade de Letras

da Universidade de Coimbra

Ana Raquel MeloInês Rodrigues

Foi eleito reitor da UA a 5 de Abril.Que projectos pensa concretizar nomandato?

É presunçoso e prematuro dizer que sequer mudar tudo. O sentido de instituiçãoé pouco compatível com a drástica mudan-ça; é compatível, sim, com a reforma.

Pretendo ajustar a UA ao processo deBolonha, porque ela tem nesse aspecto umpotencial que as outras universidades pre-senciais não têm. E construir um plano es-tratégico para os próximos quatro anos:uma universidade recente não se desenvol-ve se não souber para onde quer ir. Tam-bém quero tentar resolver um problemamuito grave de instalações. Outro aspectoé apostar na cooperação, sobretudo comos países de língua oficial portuguesa, dalíngua e cultura portuguesa e em línguaportuguesa. Quero ainda acelerar a actua-lização da UA na metodologia de ensino àdistância.

A UA está preparada para a declara-ção de Bolonha?

Nenhuma universidade portuguesa estápreparada. Bolonha coloca–se nos mesmostermos que a integração de Portugal naUnião Europeia. Não faz sentido saber seestamos de acordo com a integração, é láque temos de funcionar.

O processo não é apenas um caso dereengenharia curricular, mas de reenge-nharia de mentalidades. Existem em Portu-gal universidades a mais para a nossa si-tuação demográfica.

Um dos aspectos importantes de Bolonhaé a referência à responsabilização do estu-dante. E não me pode ser indiferente o quese está a passar nesta faculdade de Letras:a consciência tranquila que os órgãos degestão têm de que 40 por cento dos alunos

não vai às aulas. Provavelmente é porqueestes não lhes fazem falta. Não é porque aspropinas são baratas, porque já não são,não é porque têm que trabalhar, porquehoje já poucos têm que trabalhar, provavel-mente não vão porque a aula não interes-sa ou são preguiçosos ou o professor falta.

Refere frequentemente o conceito“ensino à distância” no programa decandidatura. Este tipo de ensino vaisuplantar o convencional?

É, cada vez mais, uma alternativa impor-tante. Há 20 anos, o ensino à distância eraa porta traseira de acesso ao ensino. Hojeé, mais do que um modo de ser, um mode-lo. É uma alternativa ao presencial mas,por enquanto, é preferível estar numa aulacom os alunos. Os modos técnicos de sechegar à distância são cada vez mais sofis-ticados e trabalham cada vez mais em tem-po real. Isso dá um potencial considerávelde hipóteses de trabalho.

Este ensino adequa–se mais às exi-gências da sociedade?

Permite trabalhar mais depressa; comodizia Álvaro de Campos, “ser toda a genteem toda a parte”. Por muito que seja pos-sível acelerar o tempo, há um tempo hu-mano de reflexão e sedimentação que de-ve ser preservado. Preocupo–me com o

facto de os graus académicos estarem aser regidos por um ritmo mais intenso.Quer–se que no processo de Bolonha secumpram três ciclos num lapso temporal deoito anos. Mas há uma aceleração que nun-ca deve ser radical: a do nosso pensamen-to, e nisso não há nenhum computador queajude.

Pensa que o Ensino Superior se temvindo a tornar elitista?

Na minha geração, quem ia para a uni-versidade era uma minoria que correspon-dia à elite económica e social. Nas franjasdisto, como era o meu caso, eram pessoascom bolsas. Hoje há outras possibilidades,mas houve outros factores de perversão nosistema. Os estudantes das faculdadeseconomicamente potentes, como medici-na, vêm de agregados familiares e estratossocio–económicos que lhes permitiram oacesso a escolas, explicações, livros, queos outros não tiveram. Os que hoje estu-dam Línguas e Literaturas Modernas ouHistória são alunos que muitas vezes nãopuderam ou não tiveram nota para estudaroutra coisa.

Defendeu que as Humanidades es-tão em crise. O sistema de ensino su-perior contribui para essa situação?

Contribui, na forma como o poder políti-

co em Portugal descobriu o fascínio daciência e da tecnologia. O governo aperce-beu–se da necessidade de pôr o país como passo certo quanto ao desenvolvimentotecnológico relativamente a outros países enão tenho nada contra isso. Mas tenhoquando isso gera um novo poder que põeem causa a matriz cultural humanística queé parte da nossa memória. É redutora eculturalmente devastadora a política dedesqualificar e até fazer risota em tornodas Humanidades e isto tem que ver com ofacto de, também por culpa das universida-des, termos estado a formar licenciadospara o desemprego.

O facto de ter feito o seu percursode formação académica em Coimbravai levá–lo a encarar o cargo de formaespecial?

Essa é uma questão curiosa. Estou naUniversidade de Coimbra (UC) mas não co-lado a Coimbra. Acho extremamente fecun-do trabalhar noutros lugares. Fui directorda Biblioteca Nacional e professor visitantenoutras universidades. O que eu aprendinesses anos foi incrível. Só tenho pena denão ter podido activar esses conhecimen-tos aqui, porque nesse aspecto a UC é ex-traordinariamente resistente à mudança; ainércia é a regra do jogo.

Considera esta eleição como o cul-minar de uma longa carreira académi-ca?

A vida é decidida por pequeninos acasos,incidentes que parecem não ter importân-cia alguma. De repente, há alguma coisaque vem e muda tudo. Portanto, não é oculminar nem o seu contrário, é uma eta-pa. Depois, será o que for, desde que euseja feliz, isso é o que me importa.

“A UC é extraordinariamente resistente à mudança; a inércia é a regra do jogo.”

Nenhuma universidade portuguesaestá preparada para Bolonha

HELENA PAULINO

Carlos Reis

Carlos Reis nasceu nos Açores há 56anos. Licenciou–se em Filologia Românicae doutorou–se em Literatura Portuguesa naFaculdade de Letras da Universidade deCoimbra, onde é professor catedrático des-de 1990. Leccionou em várias universida-des estrangeiras. Coordena, desde 1992, aEdição Crítica das Obras de Eça de Queiróse é director da revista “Queirosiana”. Foi di-rector da Biblioteca Nacional de Lisboa en-tre 1998 e 2002. É doutor “honoris causa”pela Pontifícia Universidade Católica do RioGrande do Sul. Foi eleito reitor da Universi-dade Aberta no passado dia 5 de Abril.

Perfil

“ ”

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ENSINO SUPERIOR6A CABRA - 2 MAIO DE 2006

A Organização de Cooperaçãoe Desenvolvimento Económico(OCDE) vai analisar o ensino

superior português ecompará–lo com o sistema

europeu

Helder AlmeidaJoana Nunes

A Universidade de Coimbra (UC) é umadas 10 instituições seleccionadas pelo Mi-nistério da Ciência, Tecnologia e EnsinoSuperior (MCTES) para ser avaliada inter-nacionalmente. Trata–se de uma análiseextensiva que tem como um dos princi-pais objectivos aconselhar e orientar areorganização e racionalização do sistemade ensino à luz das melhores práticas eu-ropeias.

“É um processo que pode trazer muitosbenefícios”, afirma a vice–reitora CristinaRobalo Cordeiro, que assegura que “estaavaliação pode trazer contributos muitoimportantes ou para a continuação do tra-balho que a UC actualmente desenvolveou para uma eventual mudança”.

A acção foi solicitada pelo Governo por-tuguês à OCDE e será conduzida pela As-sociação Europeia das Universidades(AEU), em conjunto com a Rede Europeiapara a Garantia da Qualidade no EnsinoSuperior.

Durante a segunda quinzena de Maio,uma equipa de peritos europeus, america-nos e canadianos vai visitar Portugal. Opropósito do grupo de avaliadores, que foiseleccionado pela AEU, em conjunto coma Associação Europeia de Instituições deEnsino Superior, é fazer um diagnóstico à

qualidade das universidades e dos politéc-nicos. A visita vai incluir ainda um conjun-to de várias entrevistas e contactos insti-tucionais, de forma a garantir a indepen-dência da avaliação.

No final do processo vai ser produzidoum relatório concludente que deverá in-cluir elementos sobre os mecanismos degovernação, as regras de acesso, a auto-nomia institucional, os recursos financei-ros, a internacionalização e outras políti-cas relevantes relacionadas com o ensino.O documento vai ser então tornado públi-co, após discussão e aprovação no Comi-té de Educação da OCDE, que se realiza

em Lisboa, no mês de Dezembro.

Descobrir a vocação da UCCristina Robalo Cordeiro defende que o

relatório final “não deve ter apenas usointerno, mas deve ser discutido nas facul-dades, com os estudantes”. A vice–reitorapensa “ser necessário examinar a qualida-de do serviço que é prestado pela institui-ção, saber qual a verdadeira vocação daUC, se é o ensino, a investigação ou am-bas, perceber o tipo de relação que se es-tabelece com o mundo empresarial e quegénero de preocupações sociais existem”.“Esta pode ser uma forma de nos identifi-

carem os pontos fracos e os pontos for-tes, e assim nos apontarem novos cami-nhos” afirma ainda.

A vice–reitora para o acompanhamentode avaliação de cursos garante que o pro-cesso avaliativo não está vinculado à De-claração de Bolonha, apesar de coincidircom a implementação deste último. Noentanto, vê uma relação entre os doisprocessos, “na medida em que é imple-mentada uma cultura da avaliação a todosos níveis: pedagógica, do sistema e dagestão da avaliação”.

O director–geral do Ensino Superior, An-tónio Morão Dias, destaca a transparênciade todo o processo. “É um projecto com-pletamente independente do poder políti-co”, assegura, “uma vez que as entidadesresponsáveis são estrangeiras e gozam detoda a credibilidade”. Segundo o mesmo,“o MCTES e a Direcção Geral do EnsinoSuperior apenas intervêm financeiramen-te, prestando apoio logístico à equipa deperitos”.

O concurso de avaliação do ensino por-tuguês aberto pelo MCTES teve 42 candi-daturas. Mas o júri apenas seleccionou 10instituições, tendo como base o acordoestabelecido em Novembro de 2005 entreo Governo português e a AEU.

Para além da UC, também as universi-dades de Évora, Fernando Pessoa, Lusó-fona e Algarve foram escolhidas. Os Insti-tutos Politécnicos de Bragança, Porto eLeiria, a Academia Militar e a Escola Supe-rior de Hotelaria e Turismo do Estoril en-cerram o grupo.

O processo de avaliação, que vai estarconcluído até final de 2006, engloba tam-bém a análise das actividades conduzidasdurante os últimos anos pelo ConselhoNacional de Avaliação do Ensino Superior.

Avaliação internacional a 10 instituiçõesarranca já este mês

Ambiente em destaque no auditório da reitoriaEstudantes e Grupo de

Reflexão e Acção Ambientalda Universidade promovem

amanhã um Semináriode Saúde, Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável

Sandra AlvesEunice Oliveira

Com o Seminário de Saúde, Ambiente eDesenvolvimento Sustentável pretende–sesensibilizar a sociedade para as questõesdo ambiente, nomeadamente para o seupeso em termos de saúde. A intenção é as-sim conduzir à consciencialização das ati-

tudes ambientais e à sua repercussão noplaneta.

A iniciativa, organizada pelo Eqofar (Es-tudantes de Química Orgânica da Faculda-de de Farmácia) em parceria com o Grau(Grupo de Reflexão e Acção Ambiental daUniversidade) e com o NEF (Núcleo de Es-tudantes de Farmácia), realiza–se amanhã,dia 3, no Auditório da Reitoria da Universi-dade de Coimbra, entre as 9 e as 18 horas.

O seminário tem como objectivo fulcral aconsolidação de parâmetros ambientais,saúde ambiental e perspectivas futuras.

O programa inclui um conjunto de seteconferências, apresentação de painéis euma mesa redonda. Um dos painéis vai de-bater propostas de alterações curricularesno plano de estudos de Ciências Farmacêu-

ticas, discutindo a possibilidade de inclusãode disciplinas no curso, como áreas opcio-nais de estudo ligadas ao plano ambiental.

Vai ser ainda apresentado o filme “A ter-ra, um planeta aterrador”, um trabalho rea-lizado por alunos estagiários do departa-mento de Ciências da Terra. De seguida vaidiscutir–se a política ambiental da Faculda-de de Farmácia da Universidade de Coim-bra (FFUC) para os próximos tempos e di-versos temas polémicos relacionados como ambiente.

De acordo com a presidente da comissãoorganizadora do seminário, Maria José Mo-reno, o evento “procura ainda alertar, den-tro da faculdade de Farmácia, para a ne-cessidade de um maior empenhamento etrabalho, por parte da licenciatura em

Ciências Farmacêuticas, no binómio saú-de/ambiente”.

A fundadora do Eqofar salienta aindaque é prioritário “cuidar hoje do futuro daspróximas gerações de forma regrada econscienciosa”, tendo em vista o desenvol-vimento sustentável. O Eqofar aproveitatambém para dar a conhecer o seu traba-lho e a forma como vem sendo desenvolvi-do a título extra curricular, de forma volun-tária, na área da química orgânica.

Embora ainda haja poucas inscrições porparte dos alunos da FFUC, Maria José Mo-reno espera “uma adesão massiva por par-te de participantes externos à faculdade eà cidade de Coimbra, já que o seminárioconta com a participação de oradores dequalidade”.

PAULA MONTEIRO

A Universidade de Coimbra é uma das escolhidas para ser sujeita a avaliação internacional

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ENSINO SUPERIOR2 MAIO DE 2006- A CABRA

7

Raquel Mesquita

O VIII Congresso Internacional e Multi-disciplinar vai reunir quinta e sexta–feira,4 e 5 de Maio, no Auditório da Reitoria daUniversidade de Coimbra, investigadoresnacionais e estrangeiros, para uma dis-cussão sobre práticas de ensino e melho-ria da aprendizagem.

O evento, dedicado ao tema “Aprendiza-gens Escolares e Funções Cognitivas - De-senvolvimento, Avaliação e Intervenções”,é promovido pelo Centro de Psicopedago-gia (unidade de investigação da Fundaçãopara a Ciência e a Tecnologia), em colabo-ração com o Serviço de Avaliação Psicoló-gica da Universidade de Coimbra.

A partir de modelos teóricos e resulta-dos de investigação empírica relativos àsaprendizagens escolares, o evento vaiprocurar reflectir sobre o papel do ensino,dos valores na educação e da aquisição deconhecimentos.

A utilidade de instrumentos de avalia-ção, como testes neuropsicológicos, re-centemente adaptados à população esco-lar portuguesa, e necessários para o co-nhecimento de função cognitiva, é outrodos temas a ser discutido.

De maneira a orientar a melhoria do en-sino e da aprendizagem, o evento vai pro-curar discutir as dificuldades de aprendi-zagem e os comportamentos desviantes.

O evento, que vai contar com a presen-ça de especialistas de diferentes áreasdisciplinares como Psicologia, Ciências daEducação, Genética, Medicina, Neurociên-cias, Filosofia, Física, Matemática e Eco-nomia, pretende apresentar práticas pe-dagógicas e analisar estratégias nos dife-rentes níveis escolares.

O evento vai ainda procurar compreen-der os efeitos dos medicamentos nas fun-ções cognitivas e o desenvolvimento detestes cognitivos para avaliar o início deproblemas de cognição nos adultos.

Num estudo sobre a economiaportuguesa, a OCDE defendeque o ensino superior é elitistae propõe o aumento de bolsas e

empréstimos

Ana Beatriz Rodrigues

A Organização para a Cooperação e De-senvolvimento Económico (OCDE) classi-ficou, num relatório que apresentou a 20de Abril, como injusta e ineficaz a actualLei de Bases do Financiamento do EnsinoSuperior Português.

Segundo o mesmo estudo, o actual sis-tema beneficia os mais ricos, destacandoque “as propinas nas instituições públicassão relativamente baixas, enquanto ascontrapartidas salariais para os detento-res de um diploma são altas”.

Para resolver a situação, a OCDE pro-põe o aumento das propinas, a par de umsistema de empréstimos e bolsas para osmais necessitados, visto que actualmenteapenas cerca de um quarto dos alunos re-cebem ajuda monetária.

O estudo defende ainda que os recur-sos adicionais permitiriam aumentar aqualidade do pessoal docente e da inves-tigação. Os peritos da OCDE crêem que,se os estudantes pagassem propinas maisaltas, passariam a estar mais atentos àqualidade e às matérias oferecidas, po-dendo, desta forma, exercer uma maiorpressão sobre as instituições para que es-tas dessem respostas às suas necessida-

des, com vista a melhorar as condiçõesde ensino.

De acordo com o reitor da Universidadede Coimbra (UC), Seabra Santos, é ne-cessário “reflectir maduramente sobre aquestão”, pois “algumas consideraçõesmerecem reparo”. O reitor sublinha, con-tudo, que a OCDE “detém credibilidade,já que é uma instituição preocupada comquestões de igualdade e acesso universalao estudo e ao ensino superior”.

Para o presidente da Direcção–Geral daAssociação Académica de Coimbra(DG/AAC), Fernando Gonçalves, “tudo

aquilo que a OCDE diz é completamentefalacioso”. O dirigente associativo afirmaque o estudo parte de um pressupostoerrado, que conduz cada vez mais a umaelitização do ensino, na medida em que“só os estudantes que têm dinheiro é quejá estão no ensino superior, por isso va-mos exigir mais desses estudantes”.

Já o presidente do Conselho de Reitoresdas Universidades Portuguesas (CRUP),José Lopes da Silva, afirma que “este es-tudo não constitui qualquer novidade noque respeita a propinas”, defendendo, po-rém, que seria preferível que os alunos

pagassem uma taxa, depois de se licen-ciarem, quando já tivessem emprego. Lo-pes da Silva chama a atenção para o fac-to do presente relatório não corresponderà análise ao sistema de ensino superiorportuguês que foi encomendada pelo Mi-nistério da Ciência, Tecnologia e do Ensi-no Superior. Desta forma, o presidente doCRUP considera prematuro tirar ilaçõesdo que foi publicitado.

Insucesso também preocupa OC-DE

Outro dos pontos que, segundo a orga-nização, deve merecer muita atenção daspolíticas públicas prende–se com as ele-vadas taxas de insucesso e abandono es-colares. Para a OCDE, a solução para oproblema passa pela diversificação dasofertas educativas e pelo aumento daqualidade de ensino. Desenvolver umamaior capacidade científica, de autono-mia e prestação de contas por parte dasinstituições, a par de um sistema de acre-ditação, são passos essenciais para a me-lhoria do ensino superior.

A racionalização da oferta, englobandoa fusão e encerramento de instituições, ofecho de cursos com poucos alunos euma reestruturação das formações sãomais algumas das medidas propostas.

A organização internacional está con-victa que as medidas ajudariam Portugala ter um sistema de ensino mais justo eeficiente, tendo como base objectivosque se prendem com um apoio mais am-plo do Estado aos mais necessitados e naredução da taxa de insucesso escolar.

OCDE sugere propinas mais altas para Portugal

O aumento das propinas não é uma solução consensual

RUI VELINDRO

Aprendizagem e ensino em debate

Olga Telo Cordeiro

Ao contrário das expectativas, as bolsasde estudo atribuídas pelo Governo portu-guês a estudantes de Países Africanos deLíngua Oficial Portuguesa têm como efeito asua fixação em Portugal, não levando ao de-senvolvimento dos países de onde provêm.Esta é a principal conclusão de um relatórioda Organização do Comércio e Desenvolvi-mento Económico (OCDE), que avalia as po-líticas de cooperação em Portugal.

De acordo com o Comité de Ajuda ao De-senvolvimento da organização internacional,Portugal deve repensar o que considera ser“questionáveis benefícios” destes apoios fi-nanceiros.

Em declarações ao jornal “Público” o se-cretário de estado dos Negócios Estrangei-ros e da Cooperação, João Gomes Cravinho,admite que muitos estudantes africanosacabam por ficar no nosso país depois determinar as suas formações, apesar de as

bolsas pretenderem ser um estímulo ao de-senvolvimento do país de origem. O gover-nante revelou que já em finais de Julho osistema de candidaturas a bolsas vai ser al-terado, visto que o problema já está sinali-zado.

O Instituto de Apoio ao Desenvolvimento(IPAD) pretende privilegiar a partir de agorabolsas de mestrados e doutoramentos, emdetrimento das licenciaturas e seleccionarbolseiros directamente em instituições afri-canas, atribuindo as bolsas a estudantescom regresso garantido. O organismo queintegra o Ministério dos Negócios Estrangei-ros admite a falta de pessoal com formaçãoem cooperação, o que constitui outra dascríticas patentes no relatório, divulgado nodia 27 de Abril.

Neste ano lectivo, o IPAD atribuiu a estu-dantes de cinco países africanos lusófonos55 bolsas para licenciados, 57 para mestra-dos e pós-graduações e 23 para cursos dedoutoramento.

“Cérebros” africanos ficam em Portugal

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CIDADE8A CABRA - 2 MAIO DE 2006

“Jornal da Universidade” e“Centro” já lançaram doisnúmeros. “Novo Jornal”

ainda não tem datade lançamento

João CamposSofia Piçarra

Soraia Manuel Ramos

A imprensa regional em Coimbra estáem crescimento, com o aparecimentode três jornais. Ao “Jornal da Universi-dade”, lançado a 1 de Março, e ao “Cen-tro”, com o primeiro número a 12 deAbril, junta–se o “Novo Jornal”, queaguarda uma data definitiva para publi-cação (ver caixa). As questões do mer-cado e da concorrência são aspectossublinhados pelos responsáveis dos ór-gãos de comunicação da cidade.

No entender do professor da Faculda-de de Letras da Universidade de Coim-bra (FLUC), Carlos Camponez, “para ocidadão comum é sempre positivo havernovos jornais, porque a escolha é alar-gada a novos conteúdos”.

A ideia é partilhada pelos membrosdos diários regionais. “O aparecimentode novos jornais não deve preocuparaqueles que já existem”, refere o direc-tor adjunto do “Diário As Beiras”, SoaresRebelo, acrescentando que “deve serum estímulo para que se faça mais emelhor”. O director do “Diário de Coim-bra”, Adriano Lucas, entende que “apressão da concorrência é benéfica e le-va–nos a novas iniciativas”.

O docente da FLUC afirma que “umdos mercados dos media que ainda po-de crescer é o regional”. No entanto,Carlos Camponez considera que “o cres-cimento da imprensa em Coimbra é umespaço muito reduzido, com dois jornaisregionais diários e forte implementaçãoda imprensa diária nacional”. O directordo “Centro” e do “Jornal da Universida-de”, Jorge Castilho, admite que “é umaaposta muito arriscada lançar um jor-nal”, mas afirma que “só a prática pode-rá dizer se os projectos terão viabilida-de”.

Apesar das dificuldades em criar umnovo órgão, Jorge Castilho defende:“Não nos podemos acomodar e há queser criativo e enfrentar as dificuldadescom a diversidade”. O director de doisdos novos jornais pretende combater aideia de um “meio controlado, que ser-ve de instrumento a interesses econó-micos e políticos”.

Colmatar lacunasJorge Castilho justifica a fundação do

“Centro” com a necessidade de ocupar“um espaço deixado em branco pelo‘Jornal de Coimbra’ (JC), que muitaspessoas sentiram não ser ocupado poroutros jornais”. O director ambiciona“um máximo de rigor para reconquistara confiança que o JC tinha conseguido”.

A aposta na juventude é a lógica dosdois projectos dirigidos por Castilho, aoconsiderar que “a formação actual é de-masiado virada para a parte teórica”. Aquestão do ensino é também importan-te para Soares Rebelo, até porquedefende que “Coimbra tem de justificara existência de um curso de Jornalismoe não pode estar a formar massa cin-zenta para a deixar ir embora”, numa ci-dade com “responsabilidades acrescidassobre outros distritos do país”, no en-tender do director adjunto do “Diário AsBeiras”.

Sobre os jornais que lidera, Jorge Cas-tilho qualifica–os como “dois projectoscompletamente distintos”. Apesar deproposto pela reitoria, o “Jornal da Uni-versidade” é absolutamente autónomodesta, que “aceitou a total independên-cia editorial do jornal”. O director refor-ça: “No dia em que sentir alguma pres-são, deixarei de encabeçar o projecto”.

A independência reflecte–se na perio-dicidade, “que poderia ser semanal pelaquantidade de acontecimentos na uni-versidade, mas teria custos quatro ve-zes maiores do que um jornal mensal”,que é distribuído gratuitamente.

Sendo um jornal pago, as leis do mer-cado vão ditar a regularidade do “Cen-tro”, actualmente quinzenal. O directoracredita haver espaço para jornais pa-

gos e gratuitos, mas é a favor dos pri-meiros, “porque há um compromissoentre quem faz os jornais e quem oscompra e não com os anunciantes”. Noentanto, Jorge Castilho compreende agratuitidade do “Jornal da Universida-de”, uma vez que é dirigido “a um públi-co–alvo, os estudantes universitários,que não têm muito dinheiro para com-prar jornais”.

Mais jornais em Coimbra

“Jornal da Universidade” e “Centro” já viram a luz do dia, “Novo Jornal” aguarda data de lançamento

RAQUEL MESQUITA

Três novos títulos chegam às bancas

Para além dos dois jornais já lançados,está previsto o lançamento de um terceironovo título. Editado pela empresa Socieda-de Aberta e liderado pelo actual director daRádio Beira Litoral, Fernando Moura, o “No-vo Jornal” pretende divulgar “factos, opi-niões e ideias inovadoras e rege–se por cri-térios jornalísticos de rigor e isenção”, deacordo com a nota de imprensa divulgada.

Tendo como mote publicar “tudo o que sesabe e ainda não se escreveu”, o novo ór-gão promete “apresentar a cidade paraalém da câmara e da universidade”. O pri-meiro jornal regional a dispor de um Prove-dor do Leitor conta, ao nível da opinião, compersonalidades da região nas gerações de70 e 80.

Na nota de imprensa, o “Novo Jornal” de-

fine a sua imagem com “uma paginaçãomoderna, alegre e inovadora, com grandesespaços dedicados à fotografia e à infogra-fia”.

A equipa editorial e comercial ainda seencontra em constituição mas vai integrarquadros jovens e profissionais com expe-riência jornalística e publicitária. Quanto àseditorias em que o jornal se divide, consti-tuem, também, novidade, com páginas de-dicadas a festas, noites, dinheiro, empre-sas, saúde, ensino, justiça, política, Inter-net, casas e carros.

Segundo o futuro director da publicação,Fernando Moura, a data de lançamento ain-da não está definida, mas vai contar com aedição antecipada de um número zero euma campanha de promoção.

Informação para além da câmara e da universidade

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NACIONAL 92 MAIO DE 2006 - A CABRA

PP e PSD escolhem líderesEleições nos partidos de direita realizam–se este fim–de–semana

RUI VELINDRO

Cinco candidatos disputam adirecção do PP num congressoextraordinário, marcado pelaausência de nomes ilustres naoposição a Ribeiro e Castro.No PSD, o cenário é idêntico,com as “grandes figuras” aoptarem por não desafiar

Marques Mendes

Rui AntunesSofia Piçarra

As duas principais forças partidáriasda direita portuguesa vão a votos nospróximos dias. Ribeiro e Castro, do Par-tido Popular (CDS/PP), e Marques Men-des, do Partido Social Democrata (PSD),defendem a liderança num clima de ins-tabilidade partidária provocado pelascríticas dos opositores.

No XXI Congresso do Partido Popular,que se realiza nos dias 6 e 7 de Maio, naBatalha, são cinco os candidatos quedisputam a presidência do partido. Ri-beiro e Castro aposta numa moção como nome “2009”, o mesmo que utilizouno documento que lhe garantiu a vitóriahá cerca de um ano. O secretário–geraldo PP, Martim Borges de Freitas, apoia aproposta do actual líder, e assume comoobjectivo da equipa “fazer com que opartido se prepare melhor, de forma aenfrentar a ronda eleitoral de 2009”,ano de eleições europeias, legislativas eautárquicas.

A oposição a Ribeiro e Castro desen-volve–se em quatro frentes distintas. Ovice–presidente da concelhia nacionaldemocrata–cristã, Paulo Miranda, enca-beça a moção “Um CDS para todos” eacusa o presidente de “falta de lideran-ça”, considerando-o “um mau gestorsem carisma”. O candidato prometeuma revisão de estatutos imediata emostra–se confiante quando afirma:“Tenho a certeza que vou ganhar”.

Hélder Cravo e Herculano Gonçalves,líderes das distritais de Évora e Santa-rém, respectivamente, também ambi-cionam a direcção dos populares. Ape-sar de distintas, as moções dos candida-tos oriundos dos órgãos regionais de-fendem a importância de reestruturar edescentralizar o partido. Para Cravo, énecessário renovar o PP, que “não podeser dirigido exclusivamente por pessoasque fazem carreira da política, mas poraqueles que vivem em contacto diário

com o país real”. Já Herculano Gonçal-ves pretende, acima de tudo, “devolvero CDS aos militantes, debater ideias ealterar os órgãos nacionais do partido”.Ambos acreditam no sucesso das pro-postas no congresso e destacam a ur-gência em unificar os militantes.

“Fazer Futuro” é o título da moçãosubscrita pelo presidente da JuventudePopular, João Almeida, cujo objectivodeclarado é contribuir para o enriqueci-mento do congresso e, ao mesmo tem-po, “aumentar a ambição do partido e aconvicção de que estaremos preparadospara o combate eleitoral de 2009”. Noentanto, para o jovem candidato, “o im-portante não é a liderança mas sim odebate de ideias”.

A reunião promete ser agitada pelasdivergências entre os apoiantes do lídere os que o acusam de “autismo” faceaos militantes. O congresso democrata-–cristão conta com a influente presençade Telmo Correia, que já admitiu fazerfrente a Ribeiro e Castro, apesar de nãose assumir como candidato.

Eleições directas precedemcongresso laranja

Pela primeira vez na sua história, oPartido Social Democrata escolhe atra-vés de eleições directas quem vai ficar àfrente da direcção. A votação realiza–sena sexta–feira, 5 de Maio, em todas assecções do partido espalhadas pelo

país.Apenas o presidente do PSD, Luís

Marques Mendes, e o líder dos Trabalha-dores Social–Democratas (TSD), AlbertoPereira Coelho, vão a escrutínio. Com olema de campanha “Credibilidade paraVencer”, Marques Mendes tem por ob-jectivo a revalidação do cargo e a pre-paração do partido para os confrontoseleitorais de 2009. O líder laranja contacom a presença de vários notáveis doPSD na sua Comissão de Honra, presidi-da por Francisco Pinto Balsemão.

Enquanto isso, Pereira Coelho culpa opartido por não ter as mesmas condi-ções que o outro candidato, a quem di-rige duras críticas, considerando-o “in-competente a vários níveis”. O candida-to pretende “devolver os destinos doPSD às bases” e acusa: “Há muitas pes-soas no partido que não querem que es-ta candidatura avance”. No entanto,mostra–se confiante e afirma que, “apartir do momento que sou candidato,já sou vencedor”.

As eleições directas decidem quem vaifazer o discurso de encerramento doXXIX Congresso Nacional na qualidadede presidente do PSD. A reunião de mi-litantes realiza–se na Póvoa do Varzim,nos dias 19, 20 e 21, onde vão ser elei-tos outros órgãos nacionais, nomeada-mente a mesa do congresso, o conselhode jurisdição, a comissão política e oconselho nacional.

Apesar da existência de adversários, os actuais líderes de PP e PSD devem ser re-eleitos

À direita, nadade novo

‘Dejà vu’: os militantes do Partido So-cial Democrata (PSD) e do Partido Po-pular (PP) escolhem, no próximo fim-–de–semana, o seu novo presidente.

A situação não é nova e o observadormais desatento pode questionar: “en-tão, mas, outra vez?!”. De facto, foi hápouco mais de um ano que PSD e PPrecrutaram, respectivamente, Luís Mar-ques Mendes e José Ribeiro e Castropara a sua liderança. E, por exemplo, ossociais–democratas já somaram cincopresidentes diferentes desde que Cava-co Silva deixou de o ser, em 1995. Paralembrar e meditar ficam os nomes: Fer-nando Nogueira (1995 a 1996), Marce-lo Rebelo de Sousa (1996 a 1999), Du-rão Barroso (1999 a 2004), Pedro San-tana Lopes (2004 e 2005) e Luís Mar-ques Mendes.

É verdade que desta vez são as bem-–vindas eleições directas (em que, de-mocraticamente, cada militante tem di-reito a um voto) que dão azo a novosescrutínios nos dois principais partidosda direita nacional. Mas não é menosverdade que as sucessivas eleições sãoigualmente fruto da falta de pulso nasua liderança, quando cada estruturatenta, simplesmente, puxar para o seulado e assaltar o poder.

No PSD, os últimos 10 anos foram dealternância entre nomes fortes (Marce-lo), nomes para queimar (Nogueira),nomes para queimar que tiveram sortecom as circunstâncias (Durão), e umautêntico ‘case–study’ (Santana). Ago-ra, Marques Mendes, com a vitória se-guríssima, vai tentar mostrar que é umlíder capaz de fazer a oposição que nãofez no primeiro ano de mandato. E, jáagora, tentar subir além dos frágeis 31por cento que as últimas sondagensdão a um PSD que não consegue capi-talizar as medidas impopulares do exe-cutivo socialista...

Enquanto isso, incapaz de pensar emoposição, o PP permanece, tão só, con-centrado na turbulência interna. Os de-mocratas–cristãos ainda não consegui-ram superar a perda de Paulo Portas,depois do fracasso eleitoral de 20 deFevereiro de 2005. Ribeiro e Castrocontinua a ser o “bode expiatório” paratodos os problemas, sem que nenhum“notável” do partido queira arriscar sera próxima vítima... Ante isso, só dois outrês desconhecidos e um júnior aceita-ram fazer o “frete” da oposição interna.E a crise continua sem fim à vista.

Rui Simões

Nota do editor

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Foi apanhado pelos seguranças. Du-rante um festival de Verão, as 38 gramasde drogas leves que tinha nos bolsos fi-zeram com que pela primeira vez na vi-da, Fábio, nome fictício, 22 anos, estu-dante na Universidade de Coimbra (UC),passasse a noite na prisão. No dia se-guinte foi presente a tribunal e o pesa-delo acabou por aí, apesar do inevitávelregisto no cadastro e do grande susto.Segundo a lei portuguesa referente aoconsumo de estupefacientes e substân-cias psicotrópicas, só é tolerada a possede cerca de 4-5 gramas.

Hoje, Fábio continua a traficar mas ad-mite ter–se tornado bastante mais cuida-doso e até uma “pessoa paranóica” como medo de um segundo encontro com apolícia.

Aos 15 anos começou com o consumode tabaco. Depois vieram os amigos e os“charutos”. Ao princípio, diz, apenas fu-mava em ocasiões especiais, como fes-

tas à noite e festivais de Verão. O derra-deiro passo para começar a traficar foidado com facilidade. “Comecei a com-prar maiores quantidades com amigos:era mais fácil e barato”. Seguidamente, eà medida que tinha mais contactos, Fá-bio apercebeu–se que esta seria umaboa forma de “pagar o vício”.

Quando veio para Coimbra, o negóciomanteve–se. Sempre com um ar descon-traído, enquanto faz malabarismo, afir-ma que “o consumo na cidade é genera-lizado”, embora considere a droga maiscara que em outros sítios. Segundo ex-plica, são os estudantes que trazemgrande parte do que se consome paraCoimbra e que o negócio gira à volta“dos amigos e dos amigos dos amigos”.

Fábio vende derivados de marijuana,considerados drogas leves – haxixe, pó-len e óleos, quase sempre em casa, pa-ra não correr riscos. Além disso, explicaque, uma vez que não lida com grandes

“Quem parte e repartefica sempre com a melhor parte”

TEMATEMA -- MERCADO DE DROGA10

A CABRA - 2 MAIO DE 2006

A CABRA fez uma viagem ao mundo dos estudantes universitários que, para além de consumirem, também vendem drogas leves.Esta é uma barreira que nem sempre se distingue bem. E, por ser cada vez mais ténue, são muitos aqueles a quem o risco sai caro.

Dados estatísticos mostram que o número de traficantes/consumidores detidos tem aumentado Por Helder Almeida e Inês Subtil (texto) e Cláudio Vaz (fotografia)

O uso de substâncias psicotrópicas é recorrente entre os estudantes

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Mercado de Droga TEMATEMA 11

quantidades, estes produtos “não sus-tentam ninguém e não dá para ganhardinheiro”.

Jardins debaixo de olhoHá, no entanto, quem consiga lucrar

com o negócio. Tiago, nome fictício, 26anos, ex–estudante na UC, também tra-ficante, diz que o ganho depende essen-cialmente da fonte de abastecimento ou,como explica, “a droga vale aquilo quederem por ela”. Neste momento semocupação a tempo inteiro, parte do di-nheiro que gasta todos os dias vem donegócio do tráfico. Ironizando, diz:“quem parte e reparte, fica sempre coma melhor parte”. Segundo Tiago, isto sóacontece porque a última vez que seabasteceu foi em Marrocos, o principalfornecedor de haxixe de Portugal. Dessaforma, o “lucro pode alcançar os 300 porcento”, explica. A passagem de substân-cias ilícitas na fronteira entre este país eEspanha “é relativamente fácil”, comen-ta, isto se as quantidades forem baixas(cerca de um quilo) e apesar de saberque “há sempre riscos”.

Com um copo de cerveja na mão, sen-tado numa das esplanadas da Praça daRepública, o ex–estudante garante que“o consumo nunca vai acabar”. Segundoconsidera, o problema é que “umas dro-gas são melhor aceites, como o álcool”.

Do outro lado, o Jardim da Sereia, umdos antigos locais de maior tráfico e con-sumo na cidade. Tiago sublinha que “aquestão das drogas leves se estende atoda a Coimbra”. No caso da diminuiçãodo negócio na Sereia, a explicação resi-de numa “mega–rusga” ao espaço, queacabou por deslocar quem lá se dirigiapara outros locais, diz.

Até há bem pouco tempo, os jardins daAssociação Académica de Coimbra (AAC)também faziam parte da lista dos lugarespreferidos. Com o aumento do consumoe das queixas de “mau ambiente”, vai sercontratada uma empresa privada. O ob-jectivo é garantir a segurança do edifício

e do respectivo espaço verde, como de-clarou Fernando Gonçalves, presidenteda Direcção-Geral da AAC. Na opinião deFábio, o tráfico de drogas que ali ocorrenão é feito por estudantes, reconhecen-do que o sítio é mal frequentado. Tiagovai mais longe ao considerar que as re-centes notícias e medidas foram “umaboa coisa que aconteceu”.

O consumo como acto socialPara quem compra, os jardins são

sempre a “última das opções”. Inês, no-me fictício, 24 anos, estudante de Medi-cina, diz que “o que lá se vende é infla-cionado no preço e de má qualidade”.Consumidora assídua de drogas leves,para as conseguir arranjar recorre sem-pre a amigos e conhecidos.

A futura médica começou a fumar aos20 anos, mas explica ser uma excepção:

“a maioria já fuma antes de chegar àuniversidade”. Numa licenciatura comgrandes exigências de estudo, Inês dizque este hábito já afectou o seu rendi-mento, como quando por vezes “deixade ir às aulas”. Além disso, a estudanteconsidera que há redução da memória acurto–prazo e por isso “não fumo quan-do vou estudar”. Embora tenha consciên-cia dos efeitos referidos, não parecepreocupada. Com um sorriso explica asrazões para o vício - “gosto da deturpa-ção da realidade, da calma e do senti-mento pacífico que provoca”.

O consumo é visto por Inês como actosocial: “não fumo sozinha”. A mesmaideia é partilhada por João Duarte, 24anos, estudante de Bioquímica, ao afir-mar que, no seu grupo de amigos, “ouso de drogas leves é generalizado”. Ani-mado com as questões levantadas, sen-

tado num café a beber cerveja, diz comnaturalidade que “este é um negócio ex-ponencial e devia deixar de ser tabu”. Acompra é feita em conjunto para “ficarmais em conta no preço e ser mais fácil”.“Toda a gente desenrasca os outros”, ex-plica.

As apreensões e o tráficoA barreira entre quem consome e

quem passa é cada vez mais ténue. Se-gundo João, é uma questão de tempopara “se acabar por fazer papel de trafi-cante e distribuir”, apesar de referir queo lucro é mínimo ou mesmo inexistente.

Além das pessoas envolvidas no negó-cio das drogas leves, o tráfico está de-pendente das quantidades disponíveis.António, 21 anos, estudante na UC, co-menta que a “escassez do momento” é oprincipal motivo para agora não vender:“já houve mais, mas com as apreensõesfeitas pela polícia está complicado”.Grande parte do fornecimento que tinhachegava da capital. No entanto, Antóniosublinha que, “a uma hora do Porto e aduas de Lisboa”, Coimbra tem uma boalocalização para a entrada de drogas.

Apesar de actualmente não traficar, re-fere que, quando o fazia, as quantidadesvendidas a cada pessoa rondavam os 10euros (cerca de duas gramas), na maio-ria dos casos.

Dados estatísticos do Instituto da Dro-ga e Toxicodependência referentes a2004 (os últimos disponíveis) indicamque a cannabis é a substância ilícita quemais se consome, tanto em Portugal co-mo na Europa. Comparativamente a2003, houve um aumento do número decondenados pela posse de haxixe (mais12 por cento).

Em 2004, a Polícia Judiciária deteve413 traficantes/consumidores, entre os20 e os 29 anos. Segundo João, é umaquestão de tempo para “se passar doconsumo à distribuição”. Condição es-sencial para a distinção entre inocente eculpado.

Os locais de tráfico têm estado sob a mira da polícia

“As pessoas compram sementes e conso-mem em casa. O tráfico é quase inexistente”,explica Núria Mur, 23 anos, estudante espa-nhola de Erasmus. Esta é a base do auto–cul-tivo da cannabis para consumo pessoal.

Analisando a situação em Espanha, Núriafala de um “autêntico movimento em torno doauto–cultivo”. Em Barcelona, cidade onde es-tuda, grande parte dos consumidores faz asua própria criação: “o que pode acontecer éum amigo arranjar a outro, mas a venda adesconhecidos quase não acontece”.

Para quem quer iniciar a sua própria cultu-ra, há em Espanha lojas onde se pode com-prar sementes de cannabis, apesar da lei nãopermitir que se plante.

Apesar de tudo, a estudante afirma que amaioria das pessoas que praticam o auto–cul-tivo não tem a noção que é crime.

Já António Lorca, 23 anos, aluno espanholde Erasmus, não tem tanta certeza da exis-tência de um movimento, mas garante que“muitas pessoas plantam cânhamo em casapara não terem de comprar”. Para António, oauto–cultivo é uma forma de acabar com o trá-fico, apesar de ter amigos que após começa-rem a produzir passaram a vender. Quanto auma possível mudança da legislação espa-nhola, o estudante tem dúvidas: “após a entra-da em vigor da lei que restringe o consumo dotabaco, não acho que haja vontade para umaliberalização do consumo de drogas”.

Espanha: semear, plantar e fumar

“É uma ideia errada as pessoas de outrospaíses pensarem que os holandeses estãosempre a consumir drogas”, opinião de ArjanGroote, 30 anos, estudante de doutoramentoem Patologia, na Universidade de Utreque.

Apontado como o exemplo mundial, o paístem uma política liberal no que respeita àsdrogas. A Holanda foi pioneira na distinção en-tre drogas “duras”, como por exemplo a heroí-na e cocaína, e “leves”, os derivados da can-nabis.

Segundo Arjan, existe um “turismo da dro-ga” motivado pela ideia errada de que tudo élegal.

A capital, Amesterdão, é um dos pontos pre-dilectos de quem procura consumir, mas o es-

tudante critica o facto de essa ser “a única ra-zão para os turistas lá irem”.

A decisão de “separar” os respectivos mer-cados através da existência das “coffeeshops” (os estabelecimentos onde é permitidaa venda de pequenas quantidades de haxixee marijuana) tem valido à Holanda a perpétuacensura do Órgão Internacional de Controlode Estupefacientes.

Segundo a legislação, é permitida a possede pequenas quantidades de drogas para usopessoal (menos de 0,5 gramas de “drogas pe-sadas” e menos de cinco gramas para a can-nabis). A grande diferença do país é, porém, aliberalização da venda, que o torna um localúnico no mundo.

Holanda, um caso paradigmático

2 MAIO DE 2006 - A CABRA

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INTERNACIONAL12A CABRA - 2 MAIO DE 2006

Timor–Leste continua a ser um dos países me-nos desenvolvidos do mundo, segundo o RelatórioNacional de Desenvolvimento Humano de 2006, daOrganização das Nações Unidas (ONU). O primeiroobjectivo fixado pelo organismo, que passava porreduzir em um terço a pobreza até 2015, perma-nece, no entanto, realizável.

O petróleo e o gás podem ser a chave, mas, ten-do em conta que 80 por cento das famílias timo-renses vivem da agricultura, esses rendimentos sópoderão reduzir a pobreza se forem canalizadospara o desenvolvimento rural e para sectores comoa educação e a saúde.

O mais recente estado–membro da ONU foi con-siderado o mais pobre do Sudeste Asiático, com 40por cento da população a viver abaixo do limiar depobreza. A esperança média de vida é de 55,5anos e metade da população não tem acesso aágua potável.

O contexto de retirada progressiva das tropas daONU e o declínio da ajuda internacional têm con-tribuído em muito para a contracção do ProdutoInterno Bruto (PIB) do país. Sob liderança interna-cional, muito do sector agrícola foi convertido paracolheitas de exportação. No entanto, essa opçãotem falhado devido aos baixos preços do mercadointernacional. Devido à falta das antigas colheitasde subsistência, o país começou em 2005 a passarpor uma ausência crónica de alimentos.

A presença internacional em Timor provocou ain-da uma explosão nos sectores do comércio, hote-laria e restauração, nos anos que se seguiram aoreferendo em 1999. A reversão do fenómeno reve-la–se agora muito negativa para a economia timo-

rense. Uma outra agravante tem a ver com a pro-porção desmedida de investimentos dirigidos paraDili, a capital. De facto, só um quinto dos bens eserviços visam os territórios rurais.

Ao nível da educação, Timor–Leste conseguiuprogressos significativos para pôr em marcha asinstituições de uma administração pública de base,mas, actualmente, dois terços das mulheres e me-tade dos homens com idades entre os 15 e 60 anossão analfabetos e 10 a 30 por cento das criançasem idade escolar não frequentam a escola.

No campo político, a situação é mais encorajado-ra. O relatório sublinha os importantes avanços nosúltimos quatro anos, com grande participação po-pular e vontade política. Se o escrutínio de 1999 foivisto como uma possibilidade única de escapar àocupação indonésia, o carácter determinante daseleições de 2001 para a assembleia constituinteera nitidamente menor mas, mesmo assim, 94 porcento dos timorenses foram votar. Apesar da apa-rente estabilidade, o secretário–geral das NaçõesUnidas, Kofi Annan, quer garantir uma “presençapolítica internacional” no país até à realização daspróximas eleições, em 2007.

O grande desafio de Timor passa agora por apli-car de forma inteligente o grande potencial finan-ceiro das suas reservas energéticas. Para isso, oparlamento timorense legislou em Julho de 2005 aabertura de um Fundo de Petróleo. A 12 de Janei-ro, Timor–Leste assinou um tratado com a Austrá-lia para permitir o arranque de projectos de desen-volvimento petrolífero e de gás no Mar de Timor.Estas reservas podem gerar mais de cinco mil mil-hões de dólares, ao longo dos próximos 20 anos.

Pobreza acentua-se nomais jovem país mundial

Formação de governoentra em fase decisiva

Soraia Manuel Ramos

O plano para a devolução da autonomia da Irlanda do Norte (ou Ul-ster) prevê uma reunião no próximo dia 15, como primeira tentativa pa-ra a formação de um governo até 24 de Novembro. A 6 de Abril, os par-tidos irlandeses receberam um ultimato para a constituição de governoaté à referida data, levando a uma progressiva devolução da autonomiado Ulster. A intenção foi manifestada, em Armagh, pelos primeiros–mi-nistros da Inglaterra (Tony Blair) e República da Irlanda (Bertie Ahern).

O processo prevê–se complexo e é composto por diferentes fases, aprimeira das quais é a reunião da assembleia, a 15 de Maio. Se nas seissemanas seguintes não se eleger um executivo, os 108 membros da as-sembleia de Stormont vão ter mais 12 semanas para constituir o gover-no. Caso esta segunda oportunidade também não resulte, estes vão dei-xar de ser assalariados e vai ser feita uma parceria entre Londres e Du-blin para se aplicarem os acordos de paz de Sexta–feira Santa de 1998.

“Os contribuintes da Irlanda do Norte não podem continuar a pagaranos e anos um salário de 85 mil libras [quase 122 mil euros] para osmembros da Assembleia não fazerem o seu trabalho”, criticou o minis-tro britânico para o Ulster, Peter Hain.

Já Blair e Ahern, numa declaração conjunta ao diário inglês “The Ti-mes”, afirmaram que não se justificam eleições no próximo ano: “Nãose deve pedir aos cidadãos que participem na eleição de uma assem-bleia que não se reúne. Assim, não haveria escolha senão congelar ossalários e benefícios para os membros da assembleia e adiar o seu re-começo para quando houver uma clara vontade política de exercer opoder autonómico”.

RUI VELINDRO

O melhoramento do sistema educativo é uma das prioridades no país presidido por Xanana Gusmão

Independência vai avotos em Montenegro

Salvador Cerqueira

No dia 21 de Maio, os montenegrinos decidem se continuam a fazerparte da federação com a Sérvia ou preferem a independência. Após de-cisão unânime do parlamento daquela região balcânica, 46 mil eleitoresrespondem em referendo à questão: “Quer que o Montenegro seja umEstado independente com uma total legitimidade internacional e legal?”.

O Montenegro e a Sérvia estão unidos desde 2003, prevendo a even-tual cisão das repúblicas três anos volvidos. A última consulta, realizadaem 1992, reflectiu o desejo de união com a Sérvia. Desde então, tem-–se vindo a negociar com a oposição a execução de um referendo.

Para que o estado da Sérvia e Montenegro, último marco da Jugoslá-via, se desmantele, é necessário que votem, no mínimo, metade doseleitores e que 55 por cento dos votantes se expressem favoráveis à se-paração.

O primeiro–ministro da república de Montenegro, Milo Djukanovic,acredita que o país “será edificado como um estado democrático querespeitará os direitos do homem e as liberdades, as normas internacio-nais e a igualdade de direitos dos seus cidadãos”.

As sondagens indicam que 43 por cento dos eleitores tencionam vo-tar a favor do movimento independentista, enquanto os indecisos reú-nem 24 por cento dos votantes. Nos últimos dias, as acções nacionalis-tas têm aumentado.

Enquanto a Sérvia se opõe à independência, o presidente da repúbli-ca de Montenegro, Filip Vujanovic, argumenta que os dois países devem“viver com pontos de vista diferentes, aceitar o outro, e que as diferen-ças representam a riqueza e a qualidade específica da nossa democra-cia”. Já a UE mostra–se receosa que a independência contribua para omaior afastamento dos povos dos Balcãs.

Timor-Leste

Irlanda do Norte

A 20 de Maio de 2002, a independência de Timor–Leste foi restaurada e asNações Unidas entregaram o poder ao primeiro governo constitucional do

país. Passados quatro anos, o que mudou na vida económica, social epolítica de Timor Lorosae? O relatório recente da ONU dá algumas respostas

Por Cláudia Sousa

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QQUUEEIIMMAA DDAASS FFIITTAASS __ CCOOIIMMBBRRAA __ MMAAIIOO 22000066Este suplemento é parte integrante do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA, nº 151, não podendo ser vendido separadamente

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Na primeira noite da festa dos estudantes de Coimbra, odestaque vai para Melanie C, a única artista internacional nasNoites do Parque. No entanto, há outras atracções para os vi-sitantes: Duff, Lulla Bye e Coral Quecofónico do Cifrão.

Depois de, no ano passado, terem estado na Queima das Fi-tas do Porto, os cinco elementos dos Duff vêm pela primeiravez a Coimbra e abrem as noites na Praça da Canção. O pro-jecto nasceu no Verão de 1996 mas foi em 2003 que gravaramcinco temas numa primeira maquete e desde então mostramcomo é possível misturar ska, reggae, funk e rock.

Após o sucesso com as Spice Girls, a “sporty–spice” MelanieC volta a apostar na sua carreira a solo. Depois de conquistaro número um nas vendas discográficas, sobretudo graças ao

single “First day of my life”, um dos mais tocados nas rádiosnacionais, a artista britânica vem pela primeira vez a Portugal.

Em seguida, a noite de Economia conta com os Lulla Bye, abanda portuense que se apresentou com a designação Mud-–Her no Termómetro Unplugged 2003. Depois de meses emestúdio, o primeiro single, “Making Me Better”, chegou ao mer-cado em Setembro de 2003. No entanto, só dois anos mais tar-de foi conhecido o álbum de estreia, integrado na banda sono-ra da série televisiva “Morangos com Açúcar”.

O Coral Quecofónico do Cifrão, formado em 1993, já faz par-te da tradição das Noites do Parque. Desde a sua consagraçãocomo Tuna Oficial da faculdade de Economia, em 1997, o co-ral juntou alguns originais ao reportório de serenatas coimbrãs.

Sexta-feira 5 de Maio

Sábado 6 de Maio

Domingo 7 de Maio

Segunda-feira 8 de Maio

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Neste dia vão actuar no recinto grandes nomes da músicaportuguesa como Rui Veloso e The Gift.

Considerado o pai do rock português, Rui Veloso regressa àQueima das Fitas para apresentar o seu novo disco, “A Espu-ma das Canções”, lançado em Novembro passado, onde o can-tor se reinventa com novos temas.

No entanto, não vai esquecer os êxitos de sempre, aclama-dos pela crítica e tão conhecidos entre o público português,como “Chico Fininho”, “Paixão (segundo S. Martinho da viola)”e “Não há estrelas no céu”.

Outra presença muito esperada são os The Gift, consagra-dos a melhor banda portuguesa, pelo canal de televisão MTV,no ano passado. Os músicos de Alcobaça estrearam–se em

1997, com o álbum “Digital Atmosphere”. No ano seguinte lan-çaram “Vinyl” e foi com o tema “Ok, Do You Want SomethingSimple” que a banda alcançou o seu maior sucesso.

O álbum mais recente dos The Gift, terceiro na discografiado grupo, intitulado “AM–FM”, vendeu mais de 30 mil exem-plares, e nele constam temas como “Music” ou “Driving youslow”.

O último grupo a actuar são os X–Wife, grupo constituídopor João Vieira, Fernando Sousa e Rui Maia. Em 2004, a ban-da portuense lançou o seu primeiro álbum, intitulado “FeedingThe Machine”, que se destina ao mais variado público e quecom certeza vai agradar aos estudantes neste segundo dia daQueima das Fitas de Coimbra.

A organização das Noites do Parque reservou para a progra-mação da noite de Direito dois veteranos da música alternati-va nacional – os Moonspell e os Mão Morta. A noite de Domin-go conta ainda com a participação dos Diabolo e da tuna daclaque da AAC/OAF, Fan–Farra Académica de Coimbra.

Sendo uma das bandas portuguesas de maior sucesso inter-nacional, com mais de 500 mil álbuns vendidos desde 1994, osMoonspell definem–se como uma banda de heavy metal cominfluências góticas. Entre as referências musicais da bandacontam–se Celtic Frost e os Sisters of Mercy, sendo que as le-tras contêm referências a poetas como Fernando Pessoa (Álva-ro de Campos) e o seu Opiário ou a Charles Baudelaire.

O quarteto liderado por Fernando Ribeiro vai apresentar o

seu mais recente trabalho, “Memorial”, de 2006, álbum quetem sido alvo de elogios por parte da crítica especializada. Es-te disco marca a estreia do grupo na editora discográfica SPVe é assumido como sendo um retorno à sonoridade dos primei-ros tempos da banda.

O ano de 2004 viu nascer o mais recente álbum dos MãoMorta – “Nus”. Este trabalho, baseado na poesia de Allen Gins-berg, foi considerado pelo jornal Blitz como o melhor disco des-se ano.

A banda de Adolfo Luxúria Canibal (que já colaborou emduas faixas do álbum “Darkness and Hope” dos Moonspell) éconhecida pela intensidade com que encara as prestações aovivo, sendo conhecidos os excessos do seu vocalista em palco.

Considerados os dinossauros do rock português, os Xutos &Pontapés regressam a Coimbra como cabeça–de–cartaz para asegunda–feira das Noites do Parque. A mais famosa bandaportuguesa, formada em 1978, possui já no seu repertório 17álbuns e um DVD gravado ao vivo no Pavilhão Atlântico em Lis-boa, e vem actuar com músicas conhecidas pelo público portu-guês, como “A Minha Alegre Casinha”, “Circo de Feras”, “Ho-mem do Leme”, “Não sou o único” e, mais recentemente,“Mundo ao Contrário”e “Ai se ele cai”.

Na noite de 8 de Maio vai também actuar a banda de Canta-nhede, Squeeze Theeze Pleeze, presença habitual nas festasacadémicas. A banda, que alcançou o êxito com o single “Odeto a child (Bea)”, é já um nome reconhecido pelo público em

geral, tendo participado em diversos eventos, como festivaisde Verão, recepções ao Caloiro e semanas académicas, desdea sua formação em 2002. A música “Hi Hello!” foi a primeiramúsica retirada do novo álbum “Flatline”, cujo lançamento sedeu o ano passado, e tem sido um grande sucesso nas rádiosnacionais. Este sucedeu ao primeiro álbum de originais da ban-da, “Open”.

À Estudantina Universitária de Coimbra, fundada em 1984,cabe encerrar a noite referente à Faculdade de Ciências e Tec-nologia. A tuna formada apenas por elementos masculinos daAcademia e que organiza o Festival Internacional de Tunas deCoimbra - Festuna, é dona de grande reconhecimento não sónos palcos nacionais como também internacionais.

“E no sétimo dia descansou...” (Gén 2, 2-

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A última noite da Queima das Fitas abre com os FitaCola. Es-ta banda punk, proveniente de Coimbra, surge no início de2005, e congrega elementos de projectos passados, como LostTarget e Full Damage. Nas palavras do baixista, Ricardo Mar-tins, é “o ponto alto da carreira da banda, uma vez que é o con-certo número 50, o que o torna ainda mais especial”.

Logo de seguida sobem ao palco os setubalenses Hands onApproach, a grande revelação de 1999. A banda começou acarreira musical em 1996, com um espectáculo ao vivo na An-tena 3. Os Hands on Approach já têm três álbuns editados:“Blown” (1999), com o single “My Wonder Moon”; “Moving Spi-rits” (2000), com “The Endless Road”; e “Grooving into Mons-ter’s Eyeball” (2005), de onde é extraído “If You Give Up”.

A grande estrela da noite é o MC português com mais noto-riedade da actualidade. Boss AC sobe ao palco para apresentarum repertório já com três álbuns - “Manda–Chuva” (1998), “Ri-mar Contra a Maré” (2002) e “Ritmo Amor Palavras” (2005) - euma carreira de quase uma década. O MC mistura influênciasda soul, do “Rhythm & Blues” e de sonoridades africanas.

Para terminar a festa, não podiam faltar tunas e grupos de fa-do. Primeiro sobem ao palco “As Fans”, tuna feminina. A seguir,actua o grupo Rags, integrado na Tuna Académica da Universi-dade de Coimbra, em 1995. A sonoridade inspira–se no rockdos anos 50 e 60, “rags” e jazz contemporâneo. Para acabar anoite, o palco é do Grupo de Fados de Coimbra, constituído porantigos estudantes, que mantêm vivo o Fado de Coimbra.

Sexta-feira 12 de Maio

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Terça-feira 9 de Maio

Quarta-feira 10 de Maio

Quinta-feira 11 de Maio

Após o célebre Cortejo dos Quartanistas pelas ruas dacidade, a noite de terça-feira da Queima das Fitas vai contarcom a já tradicional presença do rei da música tradicional por-tuguesa, Quim Barreiros. Do seu acordeão surgiram clássicos,tais como, “A cabritinha”, “Chupa Teresa” e a “Garagem da vi-zinha”, que certamente vão levar o público ao rubro.

Com mais de 30 anos de carreira, o ícone da música “pim-ba” tem um lugar cativo nas Latadas e Queimas de Coimbra,sendo aliás membro honorário da República dos Fantasmas,demonstração do seu grande apego à “cidade dos estudan-tes”.

Em seguida, a Banda Lusa vai brindar o Parque com umaactuação que segue um estilo preferencialmente popular, em-

bora personifique uma vertente mais romântica. Os temasmais conhecidos do grande público são “Contigo faço amor”e “Levo–te pra casa”.

Por fim é a vez de uma das mais aclamadas tunas da Uni-versidade de Coimbra, a Tuna de Medicina, “nascida” a 12 deJaneiro de 1994, dia em que foi realizado o primeiro ensaio.Já o primeiro espectáculo deu–se a 26 de Março do mesmoano, conjuntamente com as Mondeguinas, que assim os apa-drinharam, durante o I Centenário da Academia Musical Ara-zerense. A Tuna de Medicina é membro honorário da Tuna Ca-moniana In Vino Veritas da Universidade Autónoma de Lisboae apadrinha a Tuna feminina de Medicina da Universidade deCoimbra.

Para este dia são esperados os Da Weasel, banda já habitualem festas académicas. Criado em 1993, o grupo soube man-ter–se fiel ao estilo hip–hop, não deixando de inovar e sur-preender, sendo por isso, actualmente uma das bandas demaior sucesso nacional. O público pode certamente contarcom temas tão conhecidos como “Todagente” ou “Re–trata-mento”.

Os Fonzie, formados em 1996, por um trio constituído porJoão Marques (bateria), David Marques (guitarra) e Hugo Maia(voz e guitarra) vieram a compor a sua primeira maquete em1997, após a entrada do baixista Daniel. O seu sucesso temvindo a crescer, nomeadamente no estrangeiro, e hoje sãouma das bandas em maior ascensão entre as preferências dos

mais jovens.A actuar também no recinto vai estar a Imperial tertúlia “In

vino veritas”, que conta actualmente com 25 elementos no ac-tivo. Desde a sua fundação, em 1991, tem vindo a recuperartemas populares antigos da região de Coimbra, compondotambém músicas originais. É, sem dúvida, uma tertúlia quevingou no panorama musical da Associação Académica deCoimbra.

As “Mondeguinas” são uma tuna feminina da universidadede Coimbra, constituída por 30 elementos, que vem tentandodivulgar a música portuguesa, desde 1993.

A encerrar a noite vão estar os Fishbrain, uma das bandaspunk–rock de maior revelação da cidade.

Quinta–feira vai ser marcada pelo rock em português. JorgePalma, artista de culto nacional, é o destaque para mais umanoite do parque. Irreverente, o músico conta com uma carrei-ra que marcou várias gerações e que ainda hoje move milha-res de fãs. Temas como “Frágil” ou “Dá–me Lume” vão seraguardados com expectativa.

Os Toranja são a segunda banda a entrar em palco. Influen-ciados pela sonoridade de Jorge Palma, são considerados umadas bandas–sensação do momento. Desde o lançamento em2003 de “Esquissos” que gozam de um sucesso ascendente. Oano passado editaram “Segundo”, cujo primeiro single, “Laços”,se tornou num dos temas mais rodados nas rádios nacionais.“A Carta” ou “Fogo e Noite” são outras das canções mais

aguardadas neste concerto.A abertura da noite fica para o Grupo de Cordas, que surgiu

em 1997, com o objectivo de divulgar a música tradicional por-tuguesa e estrangeira. O grupo é parte integrante da Secçãode Fados da Associação Académica de Coimbra (AAC) e, con-forme o próprio nome indica, os instrumentos de cordas sãopredominantes. Do seu repertório mais comum, destacam–setemas como “Quadrilha” ou “Vai–te lavar morenaça”.

A encerrar, uma orquestra que dispensa apresentações, a Or-xestra Pitagórica. Com um estilo muito particular, vincado pelaboa disposição, faz também ela parte da Secção de Fados daAAC. Sanitas, violas, sinais de trânsito e cavaquinhos são al-guns dos instrumentos utilizados para animar o público.

-3). E tu,... aguentas até ao oitavo?

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Primeira QueimaOs dias vão passando e a hora que tanto anseio vem

chegando de mansinho. Por entre muita ansiedade e umpouquinho de nervosismo, vejo aproximar–se a tão es-perada Queima das Fitas. A expectativa é muita pois, naverdade, e apesar das muitas histórias que me foramsendo contadas, não sei bem o que me espera. O trajeque está no armário há tanto tempo à espera de vir pa-ra a rua e mostrar à cidade que já não sou caloira, o de-sejo de ver a serenata, os concertos, o tão aguardadodesfile…tudo cria em mim uma grande curiosidade.

É tanta a vontade de trajar, ver a cidade cobrir–se depreto para ouvir os fados que antes não gostávamos eque agora põem as lágrimas nos olhos. Sonho já com es-se momento e sem me aperceber, acabo por me imagi-nar no meu último ano a ouvir a música da despedi-

da...que saudade tenho já de um tempo que ainda nãochegou. Coimbra, que acolhe estudantes de todos os re-cantos do país, marca–os para sempre e, embora sejatudo tão novo para mim, sinto que também eu já façoparte desse mundo. Esta é sem dúvida a semana maisdesejada do ano. Dizem que a primeira Queima é espe-cial. Acredito que sim. Deixar para trás a vida de caloiro,a praxe e todas aquelas tradições que tornam o primei-ro ano em Coimbra o mais inesquecível deles todos. Con-tam os doutores que são tempos de euforia e eu vouaguardando para confirmar as inúmeras histórias e ri-tuais que se repetem ano após ano e que, no entanto,são sempre tão únicos. As palavras fogem quando que-ro explicar o que sinto e espero desta Queima das Fitase a inspiração parece estar enclausurada nalgum longín-quo lugar da mente, tanta é a expectativa.

Quero tanto ver o cortejo, fazer parte dele. A cidadepára para ver os milhares de estudantes que saem à rua

vestidos com capa e batina. Os finalistas de bengala ecartola, os caloiros envergando o traje ainda novo. E vousonhando com tudo isto, vagueando em mente pelasruas da cidade, vestida de negro, descendo desde o Lar-go de D.Dinis até à baixa num cortejo interminável. E de-pois, ao fim do dia, com os pés cansados mas com umavontade imensa de viver essa tão aguardada semana,rumo até ao recinto da Queima para ver os concertos edançar a noite inteira.

Acordo do sonho e afinal estou no meu quarto a escre-ver e a Queima das Fitas afinal ainda não chegou… Porentre uma certa nostalgia que então surge em mim, aca-bo por lembrar–me que já só faltam uns dias. E entãosorrio pois, como diz o povo, “Quem espera sempre al-cança” e afinal a espera está quase no fim…

Sofia Marques Ribeiro17 anos, Bioquímica

Paulo Aroso Campos28 anos, estudante de Engenharia Mecânica

Ouço uma balada da despedida e comovo–me. Pensoque no final deste ano poderá ser a minha balada dadespedida e o partir para um novo voo, diferente daque-le - longo - que tenho feito desde que entrei nos regis-tos da Universidade de Coimbra.

Espalhados pelas ruas, os cartazes a anunciar as noi-tes do parque da Queima das Fitas... “Ah! a Queima dasFitas!...”, penso eu com ar saudoso de relembrar as his-tórias e aventuras e amigos nas várias edições por quepassei. Houve momentos únicos, como a primeira Sere-nata Monumental na Sé Velha, o primeiro cortejo comoestudante universitário, a ida no carro no cortejo, o anoem que estive em Erasmus em Paris e faltei à festa...

A primeira Queima como estudante foi em Maio de 97.Os moldes em que a festa se fazia não eram muito dife-rentes dos de agora. As noites do Parque eram mesmo

no parque - parque Manuel Braga, na Portagem - sendoque pelos caminhos ladeados de relva e árvores do Par-que havia barracas de bebidas, muitas - bem mais pe-quenas e separadas - e no local onde agora floresce oParque Verde era onde se montava o palco para os es-pectáculos. De noite, aquele espaço tornava–se enormee pelos caminhos ou pela relva cruzavam–se milhares deestudantes por noite, encontrando–se facilmente bas-tantes pessoas conhecidas. Passaram por cá grandesnomes da música internacional como Clawfinger ou IggyPop. Pelos relvados havia muito romance - amores e de-samores, alguns bem tórridos, outros mais alcoólicos...- e muita cura de bebedeira! Outros aproveitavam afrescura da relva para retemperar forças e dormir, por-que a festa é longa e dura e os corpos têm os seus limi-tes.

Agora também há mais uma noite, tornando a festamais longa, - como se o estudante se importasse! - eque antes não existia, a noite da faculdade de Ciências

do Desporto e Educação Física... que ainda não tem edi-fício que se possa chamar faculdade...

A ida no carro durante o cortejo é algo de fenomenal:ver de cima os milhares de pessoas que estão ali paranós e por nós, que perdoam os nossos excessos alcoó-licos e se embrenham na festa e participam da alegria -e do álcool. Muitos procuram as plaquetes com as cari-caturas porque, mesmo que sejamos autênticos desco-nhecidos, aos seus olhos são obras de arte: as caricatu-ras, os nomes, os artistas que nos desenham e os ami-gos que contam as nossas histórias. Acima de tudo étambém uma recordação valiosa de quem vê e não sequer esquecer.

Última Queima das Fitas... quem diria... Mesmo depoisde celebrar durante tantos anos fica já no corpo aquelevazio futuro de saudade!

Última Queima das Fitas?

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A Queima das Fitas de Coimbra é a semana mais longa e esperada da vidaacadémica. Tida como a mais antiga festade estudantes de Portugal, a sua história

começa no século XIX.

Raquel MesquitaGonçalo Ribeiro

A festa dos estudantes começa com a tradicional Serena-ta Monumental, no Largo da Sé Velha, passa pela semprehilariante Garraiada, na Praça de Touros da Figueira da Foze tem o seu ponto alto no Cortejo dos Quartanistas.Com re-percussão a nível nacional, ultrapassa fronteiras, atingindoníveis nunca antes alcançados por qualquer outra organiza-ção do género.

Os alicerces que lhe deram origem remontam a 1899,com a realização do Centenário da Sebenta. A intenção dasfestividades seria a de homenagear várias personalidades eacontecimentos. Mais tarde, em 1905 celebra–se o Enterrodo Grau.

Até ao início do século XX, verificaram–se algumas dificul-dades, condicionadas pelas condições políticas, económicase sociais da época: a proclamação da República, e a Primei-ra Guerra Mundial.

De acordo com a estrutura que conserva actualmente, aQueima das Fitas surge em Coimbra a partir de 1919.

Com o avançar do tempo e uma diversificação cada vezmaior, a cada ano surgiam elementos novos a todos os ní-veis: a Garraiada, em 1929/30; a Venda da Pasta, cuja re-ceita revertia a favor do Asilo da Infância Desvalida (hojeCasa de Infância Doutor Elysio de Moura), em 1932; e oBaile de Gala das Faculdades em 1933.

Em 1935 surge o primeiro cartaz litografado, substituídoem 1938 por um cartaz com várias cores. Ainda hoje se rea-liza um concurso com o objectivo de escolher o cartaz queserve de imagem ao evento. Neste ano, o grande palco daQueima, que desde 1930 era no Parque da Cidade, volta aser no Jardim Botânico.

A Serenata Monumental surge pela primeira vez em 1949,

para abrir as festividades da Queima.

As “manifs” colocam queima em riscoEntretanto, a 8 de Maio de 1969, os estudantes grelados,

solidários com a greve académica, decidem não realizar aQueima das Fitas, que só viria a ser retomada 12 anos de-pois.

Ainda em 1972, contra o luto académico, alguns quarta-nistas realizaram com êxito actos comemorativos, houve atéa elaboração do cartaz e do selo, mas o cortejo não se rea-lizou.

A Revolução de Abril não terminou com a greve académi-ca. Posições radicais deram origem a confusões, os estu-dantes ficaram privados da sua festa académica e tudo pa-recia indicar que não se voltaria a realizar.

O I Seminário do Fado de Coimbra, realizado em 1978,vem dar alguma força aos que queriam reatar o Cortejo. Oano de 1979 é marcado pelo facto de a Direcção–Geral daAssociação Académica de Coimbra, presidida por Maló deAbreu, conseguir organizar com os seus próprios meios a ISemana Académica de Coimbra, que decorreu de 2 a 10 deJunho.

Em 1980, os estudantes que se opunham ao regresso dasfestividades académicas não conseguiram impedir festejosque em muito se assemelhavam à Queima das Fitas, muitoembora não tivessem conseguido o apoio dos organismosautónomos da AAC. A cidade adere à iniciativa e as lojassão decoradas com motivos alusivos à festa dos estudantes.

De 23 a 28 de Maio, realiza–se novamente, em pleno, aQueima das Fitas, com um programa completo e uma assis-tência ao Cortejo que o jornal “Diário de Coimbra” estimouem mais de 200 mil pessoas. Isto apesar de, no dia 28 deMaio, um grupo de estudantes tivesse procurado bloquearo cortejo da Queima das Fitas, ao fundo da Rua AlexandreHerculano. O programa inclui ainda uma semana cultural eum programa desportivo, que envolveu as secções despor-tivas da AAC e convidados nacionais e estrangeiros.

A Queima das Fitas é a festa máxima da Academia, con-sistindo para os Quartanistas Fitados e Veteranos a come-moração da última jornada universitária ou seja, o derradei-ro trajecto da vivência coimbrã.

Constituindo o expoente máximo do pulsar da vida aca-démica tradicional, o Cortejo é parte integrante e funda-mental da Queima das Fitas e nele se integram a maioriados estudantes da Universidade de Coimbra (UC).

Os anos de todas as mudançasJá nos anos 90, a festa realizou–se no Parque Dr. Manuel

Braga. “Antes havia umas barraquinhas que transmitiam oelevado espírito académico que se vivia”, recorda João LuísJesus, o Dux Veteranorum, estudante de Engenharia Elec-trotécnica. No entanto, classifica o último ano do antigoparque como o mais marcante. “Eu estava na organizaçãoe o cartaz foi muito bem conseguido, tudo correu muitobem”, recorda.

Desde 2000 que os concertos se realizam na Praça daCanção e, segundo o Dux Veteranorum, “as grandes tendasdo novo parque têm fins maioritariamente comerciais, o quecontribuiu para alguma perda do espírito académico que sevivia antigamente”.

Em 2003, a Queima das Fitas trouxe novidades, com acriação da noite da Faculdade de Ciências do Desporto eEducação Física (FCDEFUC), o que implicou mais uma Noi-te do Parque. Além disso, regressou também o “Palco 2” de-pois um interregno de dois anos. Numa co–produção entrea Queima das Fitas e a Rádio Universidade de Coimbra(RUC), o palco foi montra de projectos musicais menos co-

nhecidos.Este ano foi ainda marcado pelo aparecimento de um no-

vo modelo de Bilhete Geral, cujo tamanho passou a ser se-melhante ao de um cartão de crédito, permitindo um con-trolo mais rígido na entrada do Queimódromo. Por fim, o re-cinto passou a contar com um espaço destinado a servir re-feições.

As outras actividades da Queima das Fitas, que criaram aimagem e a identidade da festa, como o Chá Dançante, oBaile de Gala ou o Sarau Académico, “têm cada vez menosafluência, as pessoas simplesmente não aderem; o sarauquase que já não enche o Teatro Académico”, refere o es-tudante de Engenharia Electrotécnica.

Relativamente a aspectos negativos, “não há Queima quenão tenha os seus problemas”. Segundo o Dux Veterano-rum, não existem regulamentos perfeitos, pois as festasacadémicas “dependem sempre da capacidade e da dispo-sição dos organizadores”.

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“Estórias” da Queima

Nos anos 90 a Queima realizava-se na Portagem

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1899 – Centenário da Sebenta1905 – Enterro do Grau1919 – Surge o termo Queima das Fitas1930 – Garraiada1932 – Venda da Pasta1933 – Baile de Gala1935 – Primeiro Cartaz litografado1938 – Cartaz multicolor e realização dos concertos no

Jardim Botânico1949 – Serenata Monumental1969 – Luto académico (a Queima é interrompida por

12 anos)1979 – Realização da I Semana Académica1999 – Última Queima no Parque Manuel Braga2000 – A Queima do novo milénio vai para a Praça da

Canção2001 – Suspensão do Palco 22003 – Nova noite da FCDEFUC e regresso do Palco 22006 – Nova suspensão do Palco 2

Os principais momentos

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A Queima das Fitas é um festival académico anual que comporta não só

as noites de concertos no parque, mas também outras actividades.

A CABRA foi saber em que consistem esses outros eventos mais tradicionais

Por Patrícia Cardoso, Ricardo Machado,Ana Luísa Silva, Luísa Silva

Serenata Monumental“Quem não passa por uma Serenata Monumental da

Queima não pode dizer que passou por Coimbra”. É des-te modo que João Luís Jesus, Dux Veteranorum da Asso-ciação Académica de Coimbra, descreve a dimensão des-te acontecimento. O mesmo acrescenta ainda que “é oex–líbris e o maior espetáculo em termos de fado deCoimbra”

A Serenata Monumental realiza–se na noite que marcao início oficial da Queima das Fitas. De acordo com JoãoLuís Jesus, “para se tocar nas escadas da Sé Velha, o fa-do tem de ser muito bom. É o sonho de qualquer grupopoder tocar naquele local”. No entanto, o Dux Veterano-rum considera “uma falta de respeito ter cerca de cinco aoito mil pessoas que vão lá porque é giro, mas não con-seguem estar 60 minutos calados, não respeitando o tra-balho de colegas que se esforçaram tanto durante anos”.João Luís Jesus explica que “são precisos seis ou seteanos para aprender e merecer tocar na Serenata Monu-mental”.

Cortejo dos QuintanistasO Cortejo da Queima das Fitas é marcado pelo desfile

de Quartanistas fitados em carros alegóricos e de finalis-tas que trajam de cartola e bengala, representando o fimdo curso. Aos “putos” cabe levar o grelo, que será quei-mado no quarto ano. Já para os estudantes do primeiroano, o cortejo simboliza o primeiro desfile em que vão tra-

jados.De acordo com o responsável pelo Pelouro do Cortejo e

Garraiada, Luís Gil, este é um dos eventos mais difíceis deorganizar, até porque “há muitos documentos entreguesfora do prazo”. O mesmo explica que, para várias entida-des, como “o Conselho de Veteranos, a polícia e os segu-ros, é necessário que os requisitos sejam entregues den-tro do tempo estabelecido”.

Luís Gil esclarece ainda que, apesar de o cortejo não terrentabilidade, o preço das inscrições (600 euros) vemamortizar os gastos que são efectuados em autorizações,policiamento e divulgação.

Em comparação com anos anteriores, o responsável pe-lo pelouro do Cortejo salienta que se registou um núme-ro menor de inscrições e acredita que se deve ao facto de,“de ano para ano, haver menos pessoas inscritas na uni-versidade”.

Este evento teve origem em finais de Maio de 1901,quando os estudantes do quarto ano jurídico organizaramum cortejo com cerca de 20 carros motorizados e a cava-lo, enfeitados com flores e festões de murta. Nessa altu-ra, os caloiros seguiam no cortejo amarrados por fitas ver-melhas e com várias latas atadas com fios onde os dou-tores batiam com as bengalas.

GarraiadaActualmente, a Garraiada consiste numa tourada onde

novilhos de quatro anos são lidados, não só por cavalei-ros e forcados amadores, como também pelos estudan-tes.

No entanto, quando este evento teve ínicio em 1929/30,eram os caloiros que, ornamentados com chocalhos, cor-nos e afins, se apresentavam no Largo da Feira do Gado,em Santa Clara, para serem toureados pelos doutores.

Para João Luís Jesus, “a Garraiada está sempre cheia. Éuma adesão total. Ninguém perde aquela manhã a dormirna areia, nem a viagem de comboio efectuada de direc-ta”.

No entanto, relativamente à organização deste evento,Luís Gil esclarece que é “um pouco mais complexo”, umavez que envolve “a mobilização para a Figueira da Foz,pois temos que certificar a CP e a polícia da Figueira. Épreciso ainda efectuar contratos com o Coliseu e verificaras vagas dos cavaleiros”.

Queima do Grelo e Queima das FitasO acto de queimar as fitas é anterior à própria festa da

Queima das Fitas. As fitas, como consequência de mea-dos do século passado, eram tiras de tecido que serviampara atar os livros, a que se chamava o grelo, e eramqueimadas já de noite. As cinzas eram colocadas numa la-ta que mais tarde passou a ser colocada junto à Porta Fér-rea.

A Queima do Grelo é uma estrutura que simboliza o dei-xar de ser grelado para passar a ser fitado. O grelo, apóster sido utilizado na lapela dos estudantes do terceiro ano(no caso dos cursos de cinco anos), vai para a pasta dosquartanistas. Actualmente, no dia do cortejo, estes quei-mam–no no “penico” e começam a usar as fitas, indican-do a sua posição de pré–finalistas.

Queimar as fitas representa um acto simbólico cujo sig-nificado assenta na proximidade do fim do curso.

Baile de GalaDe acordo com a responsável pelo Pelouro de Bailes e

Chá Dançante, Rita Costa, “o baile representa uma activi-dade diferente, ligada à tradição, em que os estudantesacabam por levar uma recordação diferente das noites doparque”. João Luís Jesus explica que o baile, em meadosda década de 30, “tinha uma função específica que era ade apresentar os fitados à sociedade”.

Relativamente à organização desta actividade, Rita Cos-ta refere que seguiu “a estrutura conhecida que é abrirconcurso para decoração, produção e catering”. O pontoque mais a preocupou foi “tentar dar um menor prejuízopossível”, uma vez que se trata de um pelouro com saldo

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Para além das noites no parque

José Cid vai ser a principal atracção do Chá Dançante da edição deste ano da Queima das Fitas

D.R.

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negativo por natureza. No entanto, acrescenta que “éuma tradição que, segundo o regulamento da queima,tem que ser feito e acho que as pessoas que normalmen-te vão acabam por gostar do evento”.

A actividade engloba um jantar no qual estão inscritas“cerca de 560 pessoas, mais uns 150 convidados protoco-lares. O reitor não vai ser convidado, tal como no ano pas-sado, devido aos conflitos entre a associação e a reitoria”.

A responsável pela organização salienta que as expec-tativas são boas. “Vai estar bastante gente no baile. Alémdas pessoas que vão ao jantar, vão mais cerca de 500 aobaile”. Este ano, o convidado para o evento é o maestroVitorino de Almeida.

Chá DançanteEste ano, o Chá Dançante vai contar com a presença de

José Cid. Rita Costa acredita que, “apesar de muita gen-te não gostar, pode ser interessante e chamar muitas pes-soas, até porque há um abaixo assinado na cidade a pe-dir que o artista venha à Queima”.

De acordo com João Luís Jesus “o chá dançante já foium evento com cerca de oito mil pessoas lá dentro. Nes-te momento comporta à volta de mil e tal”. O Dux Vetera-norum explica que, além de ter mudado de instalações e,como tal, não ter tanta capacidade, “os estudantes pare-cem ter esquecido que existe esta actividade”. No entan-to, refere que a Comissão Organizadora da Queima das Fi-tas 2006 vai tentar recuperar esta tendência pela mudan-ça de programa.

Venda das pastasO objectivo da venda da pasta é “os fitados de Coimbra

irem à Elysio de Moura, buscar as meninas que vivem nainstituição e levarem–nas para a Baixa para passear evender pastas”, conforme afirma Luís Gil. O responsávelpelo pelouro que trata do evento acrescenta ainda que “ainstituição trata de tudo, e o dinheiro reverte a favor daCasa de Infância Doutor Elysio de Moura”. Ao fim da tar-de, a Queima das Fitas proporciona às crianças um lanchee fornece animação, “como a presença de palhaços”.

A actividade que consiste em vender as pastas data de1932, tendo sido iniciada pelo curso médico, em que o di-nheiro revestia para o Asilo da Infância Desvalida.

Récita dos QuintanistasA Récita é a oportunidade dada aos Quintanistas para

se exprimirem e criticarem o que quiserem, seja a socie-dade, os professores, a universidade, da forma mais ade-quada às suas intenções. De acordo com João Luís Jesus,este “era um dos eventos mais importantes da Queimadas Fitas” e acrescenta que “era o local onde os estudan-

tes tinham oportunidade de dizer aquilo queriam mas nãopodiam dizer noutras alturas, de uma forma artística e sa-tírica”.

No entanto, o Dux Veteranorum lamenta que “nestemomento esteja completamente em declínio. São dois outrês grupos que perdem cerca de três dias para se orga-nizarem e irem lá dizer umas patacoadas”.

Benção das Pastas De acordo com João Luís Jesus, este é “provavelmente

o único evento da Queima das Fitas a que as pessoas vãoconscientes do que estão a fazer”.

A Benção das Pastas é um dos momentos de maior sig-nificado para grande parte dos finalistas, assumindo umasolenidade especial para o estudante católico. Centenasde finalistas reúnem–se na Sé Velha para o ritual queanuncia a chegada da Queima das Fitas e cumprem assimuma das últimas tradições da sua vida académica.

A Queima das Fitas constitui, para os Quartanistas Fita-dos, o ponto de passagem para o derradeiro trajecto davivência estudantil coimbrã; para os caloiros a emancipa-ção e para os Veteranos o fim da caminhada.

Os caloiros passam a semi–putos, os semi–putos a pu-tos, os putos a quartanistas, os quartanistas a quintanis-tas e os quintanistas a veteranos.

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Este ano, o Pelouro Cultural apresenta um leque diversifi-cado de actividades, apostando assim, na inovação que, se-gundo a responsável, Ana Luísa Martins, “pode reverter atendência que se vêm a sentir nos últimos anos e, atravésda divulgação e dinamização, pode chamar mais gente”.

Uma das actividades mais mediatizadas deste pelouro é oSarau de Gala, organizado juntamente com a Secção de Fa-dos. O Sarau consiste num concerto que se realiza no Tea-tro Académico de Gil Vicente, no dia 5 de Maio. às 21 horase que pretende mostrar ao público todos os grupos da casa,seguido por um convívio na Cantina dos Grelhados. Paraalém deste evento, Ana Luísa Martins reforça a importânciado Festival Internacional de Tunas Masculinas que, no en-tanto, “não se sabe se este ano se vai poder realizar”, e o Ci-clo de Palestras, acontecimento pensado com o objectivo dereunir cada núcleo das faculdades e que, de acordo com aestudante de Psicologia, “pretende dar a cada um deles aoportunidade de fazer uma palestra sobre um tema actual”.Para isso, a Queima das Fitas disponibiliza as verbas neces-sárias para a realização das mesmas.

Para além destes eventos, vai–se realizar o Peddy Tas-cas, o Musicalidades, o Tunalidades e o Festival de TeatroAmador. O Tunalidades é uma actividade que envolve as Tu-nas femininas e é organizado pelas próprias Fans e o Festi-val de Teatro Amador já começou e vai terminar no próximodia 17 de Maio.

Contudo estas não são as únicas actividades que este pe-louro suporta. De acordo com Ana Luísa Martins, “ há umasérie de actividades propostas pelas próprias secções que opelouro tenta apoiar”. Dentro desses acontecimentos muitosmediatizados, como salienta a estudante, estão incluídos,para este ano, o Caminho do Cinema Português, o ENEF -Encontro Nacional Etnográfico e de Folclore, o Mês do Fadoe outros de menor dimensão, organizados pela Secção deGastronomia, Secção de Jornalismo, o Grupo Ecológico e aTV/AAC (o Concurso de Curtas Metragens e de Argumentospara Curtas Metragens). Os apoios passam pelo próprio fi-nanciamento, pela oferta de prémios, montagem de palcos,som e luz.

Relativamente aos apoios financeiros, Ana Luísa Martinsexplica que “os orçamentos são disponibilizados pela pró-pria Queima das Fitas, o que este ano provocou uma situa-ção um bocado complicada, devido à falta de dinheiro”.

Programa Cultural

O maior evento desportivo organizado pelo Pelouro do Des-porto este ano é o Raid Urbano, conforme afirma o presiden-te da Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF)2006, Ricardo Duarte. Segundo o mesmo, este projecto, quetem lugar amanhã, vai ser realizado em parceria com a Direc-ção–Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) ecorresponde a um evento que começa à tarde na AAC e vaiprolongar–se até à noite, acabando na Baixa.

De acordo com Ricardo Duarte, “serão feitas actividadescomo slide, rappel, BTT, peddy paper, manobras de cordas,entre outras coisas”.

Apesar do responsável do pelouro de Desporto considerareste evento como “o mais trabalhoso”, acredita que o facto deser realizado em conjunto com a DG/AAC e com várias em-presas de eventos “permite uma divisão de esforços que vãofacilitar o trabalho”.

Relativamente às expectativas, Ricardo Duarte refere que

“a iniciativa vai envolver muitas pessoas. Estamos à esperade uma enorme afluência por ser precisamente antes daQueima”.

Além desta actividade, o presidente da COQF salienta adescida nocturna do rio Mondego, que se efectua no dia 24 deMaio e relembra as actividades mais mediáticas como “A quei-ma vai à tropa” e o “Assalto à reitoria”.

“A queima vai à tropa” foi o primeiro evento organizado pe-lo pelouro do desporto, e teve lugar na base militar de São Ja-cinto nos dias 24, 25 e 26 de Março. Já o “Assalto à reitoria”consistiu num jogo de paintball realizado no Pólo II, no dia 26de Abril, que, segundo Ricardo Duarte, “teve bastante ade-são”.

O presidente da COQF afirma que “o pelouro de Desportotem uma filosofia muito própria que consiste em proporcionarao estudante actividades a preços muito mais baixos queaqueles que são destacados normalmente”.

Programa Desportivo

Desde 1901 que o Cortejo dos Quartanistas representa o ponto alto da Queima das Fitas de Coimbra

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Natural de Seia, o presidente daComissão Central da Queima das Fitas

(CCQF) 2006 pretende que a festa pagueas dívidas dos anos anteriores.

O estudante do 3º ano de Jornalismo, com 20 anos, afirma que outro objectivo

da Queima das Fitas (QF) deste ano é ajudar as secções da Associação

Académica de Coimbra

Sandra Henriques

Decorre desde o mês passado o programa cul-tural e desportivo da QF. Como está a ser a ade-são ao programa?

O desporto já teve algumas actividades, com umaadesão bastante aceitável. No entanto, a maior fatiados eventos vai ser depois das Noites do Parque. Pri-meiro, porque este ano tivemos um período de acçãomenor, e também porque não é bom termos muitas ac-tividades seguidas.

Quanto ao cartaz das Noites do Parque, o orça-mento deste ano é menor que o do ano passado.É o cartaz desejado ou o possível?

O cartaz deixa–nos a todos bastante satisfeitos. Pri-meiro, devido à questão de sempre das bandas inter-nacionais: entendemos que não devemos ter uma ban-da internacional só para dizer que temos. Temos umaartista internacional [Melanie C] que foi consideradauma boa aposta, porque há dois meses e meio que énúmero 1 em Portugal, e está nos lugares cimeiros dastabelas de vendas por esse mundo fora.

Quanto ao orçamento, é muito mais baixo que o doano passado e, como é óbvio, tem que se adaptar o di-nheiro ao que queremos. Mas também acho que o di-nheiro gasto em anos anteriores é exagerado, porqueultrapassa as verdadeiras possibilidades da QF. Pensoque a afluência não será prejudicada, porque temosum cartaz bastante equilibrado, abarcando quase todosos tipos de música. À partida, como poderia a QF deanos anteriores ser acusada, ninguém fica de fora, por-que há noites diferentes para pessoas diferentes.

A CCQF começou a trabalhar mais tarde e tam-bém com dificuldades financeiras - com orça-mento zero. Isso foi um obstáculo ou um estí-mulo?

O orçamento não foi zero: começámos com um sal-do negativo de mais de 100 mil euros, quando a QF co-meça todos os anos com uma determinada verba. Éum desafio enorme para todos começarmos nestas cir-cunstâncias, para conseguirmos fazer uma festa emmenos tempo e com a mesma qualidade ou até supe-rior. Dá–nos um gosto especial e ainda mais força paratrabalhar. Essa condicionante deu–nos uma maior legi-timidade para definir prioridades e gastar o dinheiroonde é mais necessário.

Que tipo de condicionantes sentiram este ano?Por exemplo, tens um orçamento para a QF e há pa-

gamentos que não podem ser adiados. As bandas in-

ternacionais não vêm se não lhes deres dinheiro namão; com as bandas nacionais mesmo assim tens deassinar contrato e pagar. Mas, com o trabalho que es-tá a ser desenvolvido pelas diversas entidades, pensoque as dificuldades que poderão existir estão a ser con-tornadas.

Disseste agora que a organização trabalha co-mo uma equipa. Nas relações interpessoais, aCCQF tem–se dado bem?

Este ano, as relações dentro da comissão têm sidobastante boas. Foi criado um sentimento geral de queestamos a trabalhar para o mesmo e não tem que ha-ver divisões. E é isso que é de destacar.

Quanto à tua função em específico, ser presi-dente da CCQF é uma grande responsabilidade.Tem sido difícil?

Em relação àquilo que me diz respeito, é muito maiscomplicado porque, para além da presidência, tenho opelouro do Desporto. Não havia comissário de Despor-to e eu achei que poderia assumir a função.

Por opção vossa?Não, não houve comissário porque não houve candi-

dato na Faculdade de Ciências do Desporto e EducaçãoFísica. Depois, na altura em que se estavam a distribuiros pelouros, preferi ficar eu sobrecarregado do que darmais responsabilidade a qualquer outra pessoa. Nãoporque não poderiam fazê–lo, mas porque queria cha-mar a mim essa responsabilidade. Na minha função, éum bocado complicado gerir dois pelouros, o temponão é muito.

Eu tento acompanhar aquilo que é feito em cada umdos pelouros, porque acho que ser presidente da CCQFnão é só dar a cara; é também ter o conhecimento doque se passa para, no caso de algo correr menos bem,poder dar a cara por isso e ajudar se for necessário.Mas penso que está tudo a ser feito com bastante qua-lidade, tão grande ou maior que em anos anteriores.

Com a Queima propriamente dita à porta quaisas expectativas da CCQF? Pensam que vai corrermelhor que no ano passado?

As expectativas da CCQF, penso que são as mesmasdos estudantes da Universidade de Coimbra, ou seja,fazer uma festa que todas as pessoas que a vivamsaiam de lá a dizer que gostaram. Em termos deafluência, queremos que seja bastante elevada, quere-mos que a cidade acorra em massa à QF.

Também queremos captar o maior número de pes-soas possível de fora de Coimbra. Com a Road to Quei-ma, estamos a levar por todo o país aquilo que é a QFde Coimbra, a divulgar as Noites do Parque e as outrasactividades. Depois, desejamos que, em termos de se-gurança, tudo corra dentro da normalidade.

E há também uma coisa que é muito importante queé a questão financeira, tendo em conta a QF do anopassado. Este ano, para além de pagar tudo o que es-tá para trás, queremos também deixar algo para o fu-turo, porque todos nós temos consciência dos proble-mas que as secções vivem. Temos secções com sériasdificuldades porque não têm dinheiro para as financiare essa é também uma responsabilidade que sentimos:que o saldo final desta QF permita também ajudar acasa o máximo possível.

QQUUEEIIMMAA DDAASS FFIITTAASS __ CCOOIIMMBBRRAA __ MMAAIIOO 22000066

“O dinheiro gasto em outros anos é exagerado”

“Queremos que a cidade acorra em massa à Queima das Fitas”

Ricardo Duarte

CARINE PIMENTA

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CIÊNCIA 132 MAIO DE 2006 - A CABRA

Em parceria com oLaboratório Nacional de

Engenharia Civil, aUniversidade de Coimbra

vai analisar os acidentes deviação que ocorrem

na maior cidade do país

Raquel MesquitaRafael Pereira

Estudar a segurança e gestão da rederodoviária urbana na cidade de Lisboa éo novo projecto que a Faculdade deCiências e Tecnologia da Universidade deCoimbra (FCTUC) vai desenvolver em co-laboração com o Laboratório Nacional deEngenharia Civil (LNEC).

O “Protocolo de Cooperação Técnica eCientífica na área de segurança rodoviá-ria na cidade de Lisboa”, que oficializa aparceria a partir do dia 11 de Maio, visaa criação de um método que defina asprioridades de intervenção, em que seidentifica e ordena as zonas de acumula-ção de acidentes em área urbana.

Deste modo, o projecto IRUMS – Infra-–estruturas Rodoviárias Urbanas MaisSeguras, integrado no programa, temcomo principal objectivo a “avaliação doefeito dos problemas e a percepção dorisco para os utentes”, refere Luís PicadoSantos, docente de Engenharia Civil daUniversidade de Coimbra.

João Cardoso, responsável pelo projec-to e membro do LNEC, refere que é fun-damental “combinar o SIG (Sistema deInformação Geográfica) com outros sis-

temas relevantes para a descrição defactores urbanos”. Entre estes incluem-–se a densidade urbana e o uso do solo,que possam influenciar a exposição aorisco, a probabilidade de acidente e asua respectiva gravidade.

Co–financiado pela Fundação para aCiência e Tecnologia e ao abrigo do Pro-grama Operacional de Ciência e Inova-ção 2010, o protocolo prevê também odesenvolvimento de projectos conjuntosde investigação e desenvolvimento (I&D)que compreendam a demonstração e a

transferência de tecnologia. Medianteequipamento já existente ou a adquirirpelas instituições proponentes pretende-–se “recolher dados pormenorizados so-bre os acidentes, as características dosarruamentos e o tráfego (veículos eutentes desprotegidos)”, salienta JoãoCardoso.

Identificar pontos de acumulaçãode acidentes para corrigir estradas

Com o intuito de aprofundar a coope-ração técnica e científica na identificação

e resolução de diversos problemas, oLNEC vai ainda aplicar um método cien-tífico para estudar a cidade e identificaros pontos de acumulação de acidentes,para se decidirem as medidas rectifica-doras da sinistralidade.

Segundo Picado Santos, os municípiossão responsáveis pelas ruas, mas é a Po-lícia de Segurança Pública e a Direcção-–Geral de Viação que gerem os aciden-tes. Assim, “se a câmara quiser interce-der numa área com um elevado númerode ocorrências, não o pode fazer, porquenão sabe onde”, conclui.

Com o objectivo de atingir resultadospráticos, enquanto o LNEC e a FCTUC sededicam ao estudo da cidade, a autar-quia vai fornecer, ao longo dos próximostrês anos, os dados referentes à sinistra-lidade. Do cruzamento de informaçãoentre as entidades vai resultar as deci-sões sobre onde e como intervir.

O LNEC vai começar por intervir em al-gumas zonas–piloto, o que pode incluirobras, alteração de traçados ou apenas aintrodução de semáforos. Contudo, a au-tarquia tem mais medidas em vias de se-rem aprovadas.

Todo o procedimento vai incorporar aexperiência portuguesa e estrangeira nodomínio, visando a correlação entre asvariáveis recolhidas e a segurança, ao ní-vel da intervenção correctiva.

O sistema estudado vai poder ser utili-zado pelas entidades municipais paraapoio técnico à intervenção e atribuiçãode fundos para a correcção de deficiên-cias da estrada que contribuam para aocorrência ou agravamento dos aciden-tes rodoviários.

UC estuda sinistralidade em Lisboa

Estudante da Arca premiado em concurso europeuPedro Galinha

José Pedro Coimbra, estudante da li-cenciatura em Design de Equipamentosda Escola Universitária de Artes deCoimbra (Arca/EUAC), venceu um pré-mio inserido no programa Leonardo daVinci com a apresentação de um dispo-sitivo porta–bebés.

No âmbito do projecto Pro.f.use (ToProject Friendly and Usefully), a princi-pal funcionalidade deste equipamentoreside na capacidade de ser instaladoem cadeiras de rodas. Deste modo, omecanismo concebido pelo aluno daEUAC permite a um deficiente motor

transportar, sem dificuldades acresci-das, crianças cuja idade não deve exce-der os seis meses.

Quando colocado sobre os membrosinferiores dos utilizadores de cadeirasde rodas através de um conjunto de pe-ças de encaixe, o dispositivo possibilitauma maior independência aos portado-res de limitações físicas, relativamenteaos cuidados prestados a recém–nasci-dos.

Os projectos na área da mobilidade etransporte pessoal têm conhecido emPortugal um acréscimo significativo. “Hávários trabalhos em termos de inclusão,em áreas como as engenharias, arqui-

tectura e também design”, afirma PaulaTrigueiros, docente de Design de Equi-pamentos na EUAC. A professora, quedinamizou na passada semana umworkshop intitulado “Design, Comunica-ção e Inclusão”, refere que “o sucessode José Pedro Coimbra vem no segui-mento de um investimento” realizadono âmbito dessa temática.

Para além do estudante português, osprojectos de outros dois alunos, prove-nientes de Itália e Holanda, foram pre-miados na iniciativa, financiada pela Co-missão Europeia e coordenada peloCentro de Inovação em Negócios de Pis-toia, Itália.

RUI VELINDRO

Combater os acidentes de viação na capital é o principal objectivo da investigação

Networking2006

A quinta edição da Conferência Inter-nacional de Networking realiza–se de15 a 19 de Maio no Departamento deEngenharia Informática daUniversidade de Coimbra (Pólo II).

O evento pretende discutir os últimosavanços na área das telecomunicaçõese conta com a realização de sessõestécnicas, workshops e a presença devários investigadores internacionais.

A iniciativa é patrocinada pela IFIP,Techincal Committee onCommunication Systems (TC6).

FCTUC vai investigar a segurança rodoviária na capital

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Râguebi com época para esquecerBruno Gonçalves

O râguebi da Académica foi neste do-mingo afastado do escalão mais alto damodalidade em Portugal.

No jogo realizado no Estádio Universitá-rio de Lisboa, os “estudantes” foram bati-dos pelo CDUP por 17-13. A partida foibastante equilibrada, mas os últimos 15minutos de jogo foram fatais para a Brio-

sa, que acabou por perder por apenasquatro pontos de diferença.

Dois anos depois de ter sido campeãnacional, a Académica vai deixar a Divisãode Honra para jogar na I Divisão. Na edi-ção deste ano, que acabou neste fim–de-–semana, o râguebi da Académica apenasconseguiu um ponto, averbando apenasderrotas, tendo até a derrota mais pesa-da do campeonato, 88-0 frente ao Bele-

nenses.Esta é a segunda vez que a Secção de

Râguebi se vê fora do escalão principal. Aúnica vez que se tinha verificado a mes-ma situação foi na época de 1992/93.Nessa altura, a descida de divisão podeaté ter sido benéfica para a secção, queganhou, no ano seguinte, o campeonatoda II divisão, e disputou a final da TaçaNacional.

Ao empatar 0-0 com o Belenenses, adversário directo

na luta pela permanência, aAcadémica / OAF “recupera”a tradição de adiar todas as decisões para a recta final

Patrícia Costa

A Académica deslocou–se a Belém, do-mingo, 30 de Abril, para defrontar a equipalocal, num jogo a contar para a 33ª jornadada Liga Betandwin.com. A vitória interessa-va a ambas as equipas, já que asseguraria auma delas, de imediato e matematicamente,a manutenção. Contudo, o jogo terminouempatado e as contas da manutenção ficamadiadas para a última jornada.

Nelo Vingada, limitado pelas lesões queafectam a equipa, optou por Ezequias parao eixo da defesa, de modo a colmatar a au-sência de Hugo Alcântara.

As duas equipas, separadas apenas porum ponto, não apresentaram um futebolvistoso, tendo por isso realizado uma parti-da equilibrada. Na primeira parte, a Briosaprocurou incomodar Marco Aurélio, contudo,nunca chegou a concretizar nenhuma dasoportunidades. Só ao minuto 25 é que aequipa visitante criou perigo real: o guarda-–redes dos azuis fez uma defesa complica-da, após cruzamento de N’Doye. Seguida-mente, Vítor Vinha tentou a sua sorte delonge, mas sem efeito. 10 minutos depois,Joeano falhou a emenda para golo, após um

cruzamento de Rui Miguel. No fim do primei-ro período do encontro, o Belenenses crioua melhor oportunidade da partida. PauloSérgio remata para golo, mas Vítor Vinhaevita a vantagem dos jogadores do Restelo.

Na segunda parte, o Belenenses foi aequipa mais atacante, mas não conseguiumarcar, pois encontrou um Pedro Roma ins-pirado e atento, na baliza adversária. Aos 52minutos, Zé Pedro marcou um livre no ladoesquerdo, ao qual Roma respondeu bem. Esomente à passagem do quarto de hora éque os estudantes conseguiram “sacudir” apressão dos azuis, com N’Doye a rematarmuito distante da baliza. Depois de algumas

substituições feitas pelos treinadores, aequipa da casa só não chegou ao golo, maisuma vez, por mérito do guarda–redes aca-demista. Zé Pedro, aproveitando uma desa-tenção de Vítor Vinha, rematou para umaboa defesa de Roma.

No final do jogo, Nelo Vingada realçou a“intensidade emocional” impressa no jogo e“a necessidade de pontuar”. Já Couceiroapontou a falta de concretização como a fa-lha da sua equipa.

Na ponta final do campeonato, a Acadé-mica recebe o Marítimo e o Belenenses des-loca–se a Barcelos, para defrontar o Gil Vi-cente.

Manutenção adiada

A Briosa precisa apenas de um empate na última jornada para fugir à “linha-de-água”

RUI VELINDRO

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DESPORTO14A CABRA - 2 MAIO DE 2006

PPoonnttooVViirrgguullaa

por Tiago Almeida

Fim da eraVingada

“O ciclo de Vingada, iniciadoem Janeiro de 2005, acabou por

ficar aquém das expectativas,em parte pelas delineadas emtorno da presente temporada”

Domingo, no Restelo, o empate entre Be-lenenses e Académica adiou tudo para a úl-tima ronda da Liga. No final do jogo, à Co-municação Social, instado a analisar o pon-to conquistado em Belém, Ezequias deixouescapar, entre o cansaço de 90 minutos deesforço, que o objectivo que a equipa tinhapara aquele jogo “foi cumprido”. A verdadeé que os “azuis” ameaçaram a baliza acade-mista por diversas vezes e o empate, peloqual a equipa apenas lutou, esteve em ris-co. Ao longo da época, a postura de expec-tativa e de falta de coragem frente a adver-sários da segunda metade da tabela foi evi-dente. Em Penafiel, em Paços e na Amado-ra, apenas para citar alguns exemplos, a vi-tória da Briosa fugiu por entre os dedos,sempre devido a uma segunda parte seme-lhante à produzida domingo, no Restelo.

Nelo Vingada é um profissional sério,competente e, acima de tudo, sensato. Ecomo escasseia esse bom senso no futebolportuguês! Porém, o ciclo de Vingada, ini-ciado em Janeiro de 2005, acabou por ficaraquém das expectativas, em parte pelas de-lineadas em torno da presente temporada.Foram muitas as lesões que assolaram oplantel (Filipe Teixeira e Dionattan ausen-taram-se numa fase decisiva), foram muitasas pressões externas em torno de umaequipa aparentemente bem estruturada noarranque da época. Contudo, no limite, ficaa sensação de fracasso, face ao plantel àdisposição. Afinal, Zé Castro, Danilo, PedroSilva, Brum e Filipe Teixeira, interessam a“meio mundo” e alguns deles não vestirão acamisola preta na próxima época. Assim, aera Vingada termina... com naturalidade

, &&

.,

Sete equipas lutam pela continuidade

Page 23: A CABRA – 151 – 02.05.2006

Festival internacional de cinema independente

IndieLisboa estreia em Coimbra

Ciência aliada à cultura

Uma família com duasgerações de artistas revelaparte das suas obras, numa

exposição que pretendeformar um elo entre oconhecimento culturale as ciências exactas

Marta CostaJoão Oliveira

A mostra de pintura e fotografia “RuiCunha, Pai e Filho: duas vidas, uma obra”está patente no Departamento de Bioquí-mica da Faculdade de Ciências e Tecnolo-gia da Universidade de Coimbra (FCTUC),até ao dia 18 de Maio.

Rui Cunha, filho, considerou “um desa-fio” o convite para expor as suas obras.Segundo o artista, a iniciativa deve–se “auma necessidade pessoal e também da

própria universidade de levar aos jovensnovas panorâmicas”.

Tomando Rui Eloy Cunha, seu pai, comoum modelo a seguir, o pintor sentiu–seemocionado com a ideia de juntar asobras de ambos. “O que aqui está é a pas-sagem aos jovens de um pouco da sabe-doria do meu pai”, afirma.

O ex–presidente do Departamento deBioquímica da FCTUC, Luís Martinho, re-vela que “há outros projectos para o espa-ço, alguns deles já pensados ou parcial-mente planeados”. Entre uma sessão dedeclamação de poesia, “sketches” teatraise exposições de jovens artistas, há várioseventos que se pretendem realizar no de-partamento, sempre com a direcção artís-tica do pintor.

Todas as obras da exposição “Rui Cu-nha, Pai e Filho: duas vidas, uma obra”encontram–se apresentadas no átrio quetem o nome do artista, bem como numdos corredores do edifício, e podem ser

adquiridas no local.

Uma família culturalRui Eloy Cunha, pai, nasceu em Coim-

bra em 1912, tendo–se formado em Medi-cina pela universidade da cidade. Desdecedo desenvolveu uma paixão pela foto-grafia, como passatempo, tendo ganho di-versos prémios de mérito como fotógrafo

amador. Faleceu em 1984, deixando o seunome como uma referência nacional naárea.

Rui Cunha, filho, nasceu em 1942 e,apesar de preferir a pintura, também pos-sui diversos trabalhos em cerâmica e es-cultura. Em todas as suas obras procura“imprimir uma nova forma de ver a arteem Coimbra”.

Os filmes premiados nacapital chegam na próximasemana a Coimbra, numa

extensão do evento queacabou no domingo

em Lisboa

Ana Rita FariaJoana Gante

Inês Rodrigues

“Até agora, para ver o IndieLisboa, tí-nhamos que nos deslocar à capital; agoraas pessoas de Coimbra poderão ver o In-die na própria cidade”, considera a asses-sora de imprensa do Teatro Académico deGil Vicente, Teresa Santos.

A extensão do festival de cinema aCoimbra, que está a cargo do teatro aca-démico e do Fila K Cineclub, pretende“oferecer ao público três dias com o me-lhor do que passou por Lisboa”, afirma odirector do Fila K, Paulo Fonseca.

A terceira edição do IndieLisboa chega aCoimbra na próxima segunda–feira, 8 deMaio, com uma programação especial di-rigida a crianças e jovens, e continua nosdias 10 e 12, com duas sessões diárias.Os organizadores locais esperam que aafluência do público seja bastante positi-va, “até porque é a primeira vez que uma

extensão de um festival com tanto prestí-gio vem a Coimbra”, sublinha Teresa San-tos.

Um dos organizadores do IndieLisboa,Nuno Sena, considera que, embora oevento decorra na capital, “não deixa deser um festival nacional que pode estarpresente noutros locais do país”.

Nuno Sena reforça o interesse da orga-nização “em continuar a apostar na pre-sença do festival fora de Lisboa”. Assim,para além de Coimbra, o evento vai esten-

der–se também a Aveiro, Famalicão, Al-mada e Guimarães.

Um evento em ascensãoO IndieLisboa é um festival dedicado à

divulgação de obras e cinematografiascom menor visibilidade no circuito comer-cial português. No entanto, Nuno Sena re-cusa a ideia de que os filmes sejam para“minorias”, adiantando que “as suas qua-lidades justificam que sejam vistos pelomaior número de pessoas”.

A terceira edição do IndieLisboa, quedecorreu entre 20 e 30 de Abril na capital,atingiu um número recorde de espectado-res. Em comunicado oficial, a organizaçãomencionou que a previsão inicial de 25 milpessoas poderá mesmo ter sido ultrapas-sada.

“Apostámos na multiplicação de todosos acontecimentos do festival – mais fil-mes, mais sessões, mais salas de cinema– e o público acompanhou esse cresci-mento”, conclui o organizador.

O teatro académico vai receber os três dias do IndieLisboa em Coimbra

PAULA MONTEIRO

O IndieLisboa nasceu há três anos,com o objectivo de criar um festival de ci-nema generalista em Portugal, integrandouma competição de curtas e longas–me-tragens de novos realizadores.

Um dos organizadores, Nuno Sena,considera que “as últimas edições tive-ram como pontos marcantes a organiza-ção cuidada e uma programação de qua-lidade”. O objectivo passou por “valorizaros filmes e os espectadores, proporcio-nando um encontro entre o público, os fil-mes e os seus autores”.

Em apenas dois anos, o IndieLisboatornou–se uma referência na área do ci-nema em Portugal, tendo exibido 210 fil-mes oriundos de diversos países.

Retrospectiva do festival

NUNO BRAGA

CULTURA 152 MAIO DE 2006 - A CABRA

Page 24: A CABRA – 151 – 02.05.2006

Uma cortina separa o reale o imaginário. Superstições

de uma noite de S. João Batistaenvolvem o palco num evento

que combina música,lengalengas e expressão

cultural. É esta a propostado GEFAC, que repõe

o espectáculo“A água dorme de noite”

Sandra FerreiraSandra Pereira

A partir do ciclo da água, o Grupo deEtnografia e Folclore da Academia deCoimbra (GEFAC) mergulha nas lendasdas 24 horas de uma festa de S. JoãoBatista. Mas mais do que o retrato deum dia de festa, a peça, que regressaao palco do Teatro Académico Gil Vicen-te hoje e amanhã, representa o ciclo davida, numa mistura de sagrado e profa-no.

O espectáculo surgiu no âmbito da VIISemana Cultural da Universidade deCoimbra, cujo tema foi “De mar a mar”.Com o objectivo de manter viva a cultu-ra popular portuguesa, o GEFAC serviu-–se do elemento mais importante domar, a água, e descobriu “estórias” mis-teriosas em torno de um santo. Entre asladainhas que se repetiam nessa noite,surge a frase que dá nome ao espectá-

culo.Depois da lotação esgotada da primei-

ra apresentação, o GEFAC decidiu repora peça. “Após cinco meses de prepara-ção, não queríamos queimar tudo numahora”, explica Hélder Wasterlain, mem-bro do grupo.

O espectáculo tem início pelas 21h30e os bilhetes custam entre três (estu-dante) e cinco euros (público em geral).

Noite mística da cultura popular

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CULTURA16A CABRA - 2 MAIO DE 2006

Teatro comsotaquebrasileiro

Suzana Marto

“No Natal a gente vem te buscar” é umaprodução brasileira que vai ser apresenta-da no Teatro Académico de Gil Vicente, nodia 11 de Maio, às 21h30.

A peça teatral é da autoria de Naum Al-ves de Souza e faz parte de um ciclo re-trospectivo do autor, onde são abordadostemas como a família, as tradições brasilei-ras e os preconceitos.

Segundo a directora do espectáculo, El-vira Gentil, o trabalho desenvolvido traduz-–se numa “peça humana que trata o uni-verso de cada personagem, as lutas, o tra-balho e as diferenças de cada um”.

Com personagens influenciadas pelamoral religiosa, a história leva o especta-dor a São Paulo, na década de 40, girandoem torno de uma “solteirona”, a persona-gem principal, bem como da sua família.

Elvira Gentil admite que o objectivo doprojecto em Coimbra consiste em “aproxi-mar o povo português e ver como os lusi-tanos recebem a encenação”.

DANIEL SEQUEIRA

O espectáculo “A água dorme de noite” foi criado para a VII Semana Cultural da UC

Page 25: A CABRA – 151 – 02.05.2006

VIAGENS 172 MAIO DE 2006 - A CABRA

Crónica Erasmus

Caminhos e incertezasApesar da vontade em mudar, viver e estudar num

país que não é o nosso, as incertezas são ainda mui-tas. Tudo começou quando, em meados de Fevereiro,foi conhecida a listagem dos candidatos colocados.

Espanha é o meu destino, mas a cidade, essa, aindaé uma incógnita. Possivelmente, Madrid, a minha pri-meira escolha, mas estou dependente de terceiros(pois é, a média afinal é importante!).

Com a dúvida a persistir, a vontade parece esmore-cer. Os dias passam e a papelada relativa ao “Erasmus”continua em branco. Esta indefinição leva–me a reflec-tir cada mais… Será que até à data limite da inscriçãoa vontade em mudar se mantém?

A experiência Erasmus é única, não tenho dúvidas.Este é o sentimento demonstrado por quem volta aPortugal após um período a estudar no estrangeiro.“Vale a pena, não te vais arrepender!”

Pois bem, não vou arrepender–me! E, se nada emcontrário acontecer, partirei rumo a Espanha, em Se-tembro, ficando para trás a família e os amigos e à mi-nha frente, um “mundo novo”. Ir ao encontro do des-conhecido é um dos grandes desafios que me espera.

Novo país, diferentes cidades, multiplicidade de cul-turas e pessoas, ou seja, outras mentalidades. Mas asnovas descobertas não se cingem apenas à busca decoisas exteriores ao nosso ser. Abrange igualmente adescoberta de nós próprios.

As dificuldades nos primeiros dias serão um teste àcapacidade de sobrevivência. Não receio passar umanoite ao relento. Receio sim não fazer disso um gran-

de momento. Crescemos com estas pequenas coisas.É isso que procuro.A chegada a um local desconheci-do, a procura de casa, a adaptação a um nível de vidabastante mais elevado que o nosso e a nova Universi-dade serão, para além das possíveis noites a dormitaralgures numa estação ou jardim, a realidade a enfren-tar.

O programa Erasmus é assim: uma aventura quenão é de todo maravilhosa. Outro factor nada agradá-vel prende–se com a não garantia financeira relativa-mente às bolsas de mobilidade.

Uma barreira que leva, invariavelmente, à desistên-cia de vários alunos. Espero, no entanto, não engros-sar essa lista para que leve avante a minha futura ex-periência Erasmus, certamente a mais emocionante daminha curta existência.

Pedro Galinha

De Osaca a Kyushu... Passados oito meses a residir no Japão, o

sistema do metropolitano da cidade de Osacaainda me parece confuso. Não ajudava o factoda mochila ser pequena (mesmo assim ainda estava extremamente pesada) e o saco-camanão ter cabido lá dentro. Chegámos em cima

da hora e fomos os últimos passageiros aembarcar no ferry que nos levaria a Kyushu,uma das quatro ilhas principais situada a sul

do Japão Por Carla Santos (Texto e Fotografia)

O bilhete de segunda, segunda classe (e entenda–se quenão me repeti) dava–nos acesso a Futon, numa camarata deaproximada 40 pessoas, onde miúdos e graúdos conviveramruidosamente nas doze horas da viagem.

Pela manhã do dia seguinte chegámos a Beppu, cidade por-tuária conhecida pelas famosas “onsen” ou nascentes de águaquentes. As onsen dividem–se em dois grupos, os chamados“infernos” onde a água é ácida, demasiado quente, de tons co-loridos sendo por vezes lamacenta, onde o banho é interdito.

As onsen podem ser mistas ou separadas por sexo, e variamno tipo de serviços que oferecem. Famosos são os banhos deareia aquecida que segundo os entendidos fazem rejuvenescer.

Após abandonarmos a “ Las Vegas” das termas, pernoitámosem Oita, cidade irmã de Aveiro com a qual se realizam activida-des de intercâmbio cultural. Personagens históricas como o pa-dre Luís de Almeida, entre outros jesuítas espanhóis e portu-gueses, viriam aí fundar o primeiro hospital de carácter cientí-fico do Japão. Oita constituiu um marco na nossa viagem, daíaté o regresso de Osaca, o percurso seria feito à boleia.

De polegar em riste, meio sorriso e uma pequena vénia (em-prestada da cultura japonesa) conseguimos duas boleias para

Usuki, uma pequena cidade piscatória perto da montanha ondese encontram gravadas na ravina imponentes imagens de Budadatadas do século X.

As boleias foram surgindo, e com elas fomos ouvindo histó-rias de vidas, na maioria das vezes, em japonês e um poucoperdidas na tradução. As boleias foram variando, desde um ca-beleireiro, uma dona de casa, um comerciante, funcionários deempresas, duas famílias japonesas, uma família de Taiwan, umacarrinha cheia de mulheres executivas muito bem dispostas, umfarmacêutico e um surfista, dando–nos a conhecer uma outrafaceta do Japão, a faceta de quem anda na estrada, de quemconfia e de quem tem curiosidade em saber como pensam osgaijin (palavra calão em japonês para se referir a estrangeiros).

Um dos poucos falantes de inglês que nos deu boleia arran-jou–nos alojamento com um familiar na moderna cidade deFukuoka, de onde por 25 euros e duas horas de um tempo pre-cioso de que não dispunhamos, pode–se apanhar um ferry pa-ra a Coreia do Sul.

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Page 26: A CABRA – 151 – 02.05.2006

ARTES... Opera: bonsventos do Norte

Por volta do Verão de 2003, troquei pela primeira vezo Internet Explorer por outro “browser”. A razão era sim-ples: estava farto de “pop–ups” e, sobretudo, da impres-sionante quantidade de “spyware” que o “browser” daMicrosoft conseguia (e consegue) acumular. A escolharecaiu, então, sobre o Opera, uma aplicação que já ti-nha usado algumas vezes.

Naveguei com o “browser” norueguês durante cercade um ano, até que abri uma conta no Gmail. O proble-ma estava no facto de o Opera ser, nessa altura, incom-patível com o serviço do Google. Preferindo trocar de“browser” do que de e–mail, acabei por experimentar oFirefox, no que foi até aqui um caminho sem retorno.Dois anos passados, decidi descarregar o Opera, ago-ra na versão 8.5 e com uma versão 9 em fase beta.

O Opera é normalmente descrito como tendo umapercentagem de utilizadores residual. É, no entanto,preciso dizer que o programa se identifica por defeitocomo sendo o Internet Explorer. Isto permite aceder asites que possuem mecanismos de detecção destina-dos a impedir a visualização por “browser”s que não se-jam os mais populares. E também faz com que as esta-tísticas possam ser enganadoras...

A versão 8.5 do Opera foi uma agradável surpresa.Quando comparado com a versão de há dois anos, es-te Opera é extremamente leve em termos visuais (algoem que o Firefox era imbatível), apresentando–se pordefeito com bastante espaço na janela principal. O in-terface é muito elegante, com os efeitos de transparên-cia e “iluminação” de botões, assim como a “skin” pa-drão, a deixarem a concorrência a um canto.

O carregamento das páginas é rápido e o Operamostrou–se compatível com todos os sites em que tes-tei. O problema é o carregamento de PDFs, onde o In-ternet Explorer leva, sem dúvida, a melhor: tal como oFirefox, o Opera tem muitos problemas em lidar com fi-cheiros neste formato.

Em resumo, o Opera está no bom caminho e é umaalternativa perfeitamente viável ao Firefox. Os utilizado-res deste poderão sentir falta da personalização que asextensões permitem, mas as muitas funcionalidadeschegam para a maioria das necessidades de navega-ção.

Sendo a versão 8.5 realmente boa, vale a pena es-preitar o que anda a companhia a fazer na versão 9,que tem por grande novidade as “widgets” – pequenasaplicações em Ajax, que transformam o “browser” numaespécie de “dashboard” do Mac OS X e que servem pa-ra todo o tipo de coisas, desde jogar xadrez a ver o es-tado do tempo. As “widgets” só podem ser usadas se oOpera estiver a correr. O conceito parece evidente: ofe-recer ao utilizador uma série de pequenas aplicaçõesúteis e torná–lo, assim, dependente do “browser”. Masa estratégia não funciona. Embora algumas sejam defacto interessantes, ninguém achará imprescindíveisestas aplicações e o esforço seria mais bem empregueem desenvolver algumas extensões instaláveis.João Pedro Pereira - [email protected]

Comentários e críticas podem ser deixados emhttp://engrenagem.jppereira.com

Cinefilia

Zeros e uns

iiiooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooouu

iioooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooouu

iooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooouuuu

iioooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooouuTítulo de Morte

Joey Gazelle (Paul Walker, “Velocidade Furiosa”)está envolvido numa espécie de máfia. Depois deum negócio que corre mal, fica incumbido de “eli-minar” uma arma. Nada que não estivesse acostu-mado a fazer, mas desta vez algo corre mal e a ar-ma cai nas mãos erradas.

Todo o filme gira à volta desta arma, que vaipassando de mão em mão, enquanto Joey procu-ra recuperá–la a todo o custo, despistando os seus“colegas”, já desconfiados da sua falha.

“Medo de Morte” é um thriller interessante, quefoca o submundo do crime nos EUA, mas que aomesmo tempo pisca o olho a alguns dos direitoshumanos ainda hoje pouco respeitados.

Um argumento bem escrito, algo complexo masno qual facilmente nos envolvemos, apesar de de-correr de uma forma muito rápida; reserva–nospequenas surpresas que culminam com um finaltambém algo inesperado.

Wayne Kramer realiza o filme de uma forma fre-

nética, adornadapor alguns efeitosque favorecem odinamismo do fil-me, com o objecti-vo de dar uma sen-sação de velocida-de que acompanhao argumento, mas que por vezes dá um ar artifi-cial ao filme.

Mark Isham (“Colisão”) apresenta aqui uma ban-da sonora razoável. Destaque ainda para PaulWalker, com uma interpretação bem acima daqui-lo a que nos habituou.

Mais uma vez nota negativa para a tradução dotítulo para português. De resto, nada a que nãoestejamos já habituados. “Medo de Morte” dizmuito pouco sobre o filme, ao contrário do títulooriginal (“Running Scared”) que se adequa de for-ma bem mais óbvia ao argumento acima resumi-do.

Rafael Fernandes

Rui Pestana

Laura Cazaban

Raphäel Jerónimo

Rafael Fernandes

iiooooooouiiuuiuiiiioooouu

Medo de Morte / Wayne Kramer

Vaidade? Alguma mas não muita...Paulo Rocha, 43 anos depois da estreia como ci-

neasta em “Os Verdes Anos”, apresenta–nos “Vanitas”com a sua actriz fetiche Isabel Ruth no papel da esti-lista Nela Calheiros.

Numa espécie de Santa Trindade temos: Nela, a es-tilista veterana, determinada e forte; Mila, sua prote-gida, jovem modelo fútil por quem os homens caemde amores (como o seu próprio padrasto Augusto e oprimo direito Alfredo); e Tino, filho mudo de Augusto,que partilha com Mila uma relação ambígua que variaentre a adoração endeusada e o desejo carnal. ComNela a sucumbir ao mais fiel inimigo da beleza, o tem-po, Mila surge, embora mais frágil, como sua possívelherdeira no mundo da moda e da glória da juventu-de.

Num enredo que parece complexo, a narrativa pro-mete mais do que aquilo que alguma vez poderia vira cumprir. Apesar de se poder ver a marca de Rochaem todo o filme (aqueles pequenos toques de absur-do quase inexplicáveis, misteriosos, que vai deixando

aqui e ali), “Vanitas” é uma imagem “quadro” emque, nas cenas mais significativas, as personagens sedispõem no ecrã de forma simbólica e milimetrica-mente pensada.Surpreendentemente, Rocha pareceleigo: problemas técnicos de som e imagem, a utiliza-ção do vídeo digital como se tivesse esquecido toda asua experiência de cineasta, uma narrativa com espa-ços em branco... no fundo, falta de coerência a váriosníveis - um “soube–me a pouco”.

“A Piscina”, curta–metragem de Iana e João Vianaque acompanha a sessão de “Vanitas”, é um bemconseguido plano sequência; embora seja uma suces-são não–narrativa, mais estética que coreografada,tocando o ilógico - fazendo lembrar muito vagamen-te “Cremaster” de Matthew Barney - os seus interes-santes jogos de some simbolismos vários(a vida numa metá-fora) dão–lhe umadimensão intrigante.

Cláudia Moraisiiooooooouiiuuuiiiioooouu iiooooooouuuuiiiiiioooouu

Vanitas / Paulo Rocha

Cláudia Morais

Jorge Vaz Nande

Rui Craveirinha

iiooooooouuuuiiiiiiiooouuu

Todas as críticas em acabra.net.

A Cabra d’OuroA Cabra aconselha

Vale o bilheteA evitar Fraco Podia ser pior

Page 27: A CABRA – 151 – 02.05.2006

Morrissey ama-nosEm 2004, quando Morrissey apareceu com o excelente

álbum “You are the Quarry”, todas as luzes se voltaram pa-ra ele. O disco teve boas críticas e foi muito bem aceite portodos. Desde “Vauxhall & I”, de 1994, que o ex–vocalistados Smiths não criava uma obra tão consistente e perfeita.

Gravado em Roma, onde o artista vive actualmente,“Ringleader of Tormentors” foi produzido por Tony Viscon-ti – conhecido por excelentes trabalhos realizados com Da-vid Bowie nos anos 70.

Seguindo a mesma linha a que já nos tinha habituado, onovo disco está porém repleto de atmosferas não usuaisaté à data. Conta com a colaboração do compositor emaestro Ennio Morricone, conhecido por bandas sonorascomo “Cinema Paraíso”. Liricamente menos político que osanteriores, sente–se drama e paixão no ar. Pelos vistos, ocantor anda apaixonado, o que o levou a viver na cidadeitaliana.

Os maiores testemunhos encontram–se nos temas “DearGod, Please Help Me” (“There are explosive kegs /Between my legs / Dear God, please help me”); e “At LastI Am Born” (“I once was a mess of guilt because of theflesh / It’s remarkable what you can learn / Once you areborn, born, born”).

O single de avanço “You Have Killed Me” e outras can-ções, como “In The Future When All’s Well” ou “The FatherWho Must Be Killed”, mostram–nos um Morrissey sempreseguro no campo da pop, com melodias admiráveis e re-frões marcantes.

O momento alto surge com “The Youngest Was The MostLoved”, a fazer lembrar uma mistura de Smiths e DavidBowie (era–Diamond Dogs). O ambiente urbano–nocturnoe o coro sinistro no refrão assentam de forma perfeita.

Depois de uma escrita irrepreensível desde 1985, cheiade êxitos como “There’s a Light That Never Goes Out”,“Bigmouth Strikes Again”, “Everyday is Like Sunday” ou“First of The Gang To Die”, Morrissey continua, pois, bri-lhante – as palavras soam geniais, a voz está mais forteque nunca, o estilo original permanece.

O que leva “Ringleader of Tormentors” a ser um discotão bom? Será fruto de um novo parceiro na composiçãodas canções? Afinal, cinco foram escritas com Jesse Tobias,novo membro da sua banda. Será que Tony Visconti e a ci-dade de Roma são responsáveis pelo entusiasmo do can-tor? Ou tudo isto será por amor? Rui Maia

No ouvido... À cabeceira

FAUSTO MOREIRA

FEITAS...

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Rinoplastia radical

Sob a chancela da Assírio & Alvim, com umaequipa de tradutores, Nina e Filipe Guerra, quetêm, nos últimos anos, actualizado de forma bri-lhante as traduções dos grandes clássicos russos,O Nariz é um dos contos de Gógol que é impossí-vel contornar.

Publicado pela primeira vez em 1836, este con-to é sobre o absurdo de um homem, numa ma-nhã igual às outras, ter perdido o seu nariz, que,enquanto o corrupio desesperado do seu hospe-deiro em buscas infrutíferas para o encontrar erestituir a ordem natural das coisas, se passeiapela cidade de S. Petersburgo e pretende uma vi-da independente.

Tudo começa quando um barbeiro, ao encetarum pão acabado de cozer do seu pequeno almo-ço, encontra um nariz. Do outro lado da cidade,Kovaliov, assessor colegial e major, com intuito dever o estado de uma borbulha que lhe tinha sur-gido no nariz no dia anterior, olha–se com horrorao espelho, verificando que não tinha nariz. A au-sência de qualquer ferida ou sinal de que naque-le local tenha existido um nariz, leva Kovaliov a

uma sucessão de peripécias, cujo auge reside noencontro com o seu próprio nariz, na Catedral daVirgem de Kazan, na pele de conselheiro de Esta-do, o qual age como se de um estranho se tratas-se.

Sem que o autor revele passos importantes deacontecimentos que permitam compreender oque quer que seja, um polícia bate à porta de Ko-valiov para lhe devolver o nariz, surgindo um no-vo problema: o de o colocar no seu devido sítio...

Esta história absurda, ou sobre o absurdo, ésublinhada pelo facto de o autor nos confessarque ele próprio não faz ideia do que se está apassar, nunca revelando ou sequer permitindoqualquer forma de o leitor compreender o porquêdo que se está a passar.

Escrito com o brilhantismo de Gogól, e commuito humor, esta parece ser uma sátira a algu-ma literatura da época, não obstante outras expli-cações, usando para tal o nariz, um símbolo co-mum na sua escrita e na cultura russa de então,como podemos entrever no capítulo final destebreve conto.

Boa Queima e... não percam o nariz.Andreia Ferreira

Morrissey“Ringleader of Tormentors”

Sancturary Records, 2006

8/10

O Nariz

Nikolai Gógol

Assírio & Alvim, 2002, 2ª edição

10/10

Page 28: A CABRA – 151 – 02.05.2006

Redacção: Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54 Fax: 239 82 15 54

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