a cabra – 171 – 23.10.2007

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PLANETA TERROR Série Z à moda de Rodriguez ARTES FEITAS | Pág.16 ANO XVII Nº 170 TERÇA-FEIRA | 23 DE OUTUBRO, 2007 Director: Helder Almeida ❅❇❄❋✺✹❄❇✏✹✶✏❇✹❅ ✶❁✺✼✶✏❈❄✻❇✺❇ ❅❇✺❈❈➸✺❈ MEDIA| Pág. 15 Na próxima quinta- –feira, quando a “ca- bra” der as doze bada- ladas, vão ouvir–se os primeiros acor- des na serenata. O acontecimento marca o início das celebrações da Festa das Latas. Este ano as noi- tes do parque realizam–se no Queimódromo e têm mais uma noite musical. Pelo palco da Latada vão passar nomes como: Blasted Mechanism, Orishas, Gentleman, Quim Barreiros e The Gift, David Fonseca. SUPLEMENTO | CENTRAIS Domingos Paciência “ O futebol português está cada vez mais fraco” INCERTEZAS NO SISTEMA DE EMPRÉSTIMOS PARA ESTUDANTES Entidades bancárias já disponibilizam crédito desde o início de Outubro Com a entrada em vigor do Novo Regime Jurídico do Ensino Superior, no passado dia 10 de Outubro, entrou em funciona- mento o sistema de empréstimos. O crédi- to está disponível para todos os estudantes do superior e o valor pode chegar aos 25 mil euros, para licenciaturas de cinco anos. Estão também contemplados créditos para alunos de pós-graduação, mestrado, doutoramento e programas erasmus. Para o Governo este é “um instrumento crucial para o desenvolvimento de uma po- lítica de apoio à escolarização”. Mas há quem veja nos empréstimos apenas uma forma de o Estado cortar nas verbas da ac- ção social escolar e mais um passo para a privatização do ensino. Nos Estados Uni- dos da América, onde se adoptou um siste- ma semelhante, cinco milhões de estudan- tes viram–se impossibilitados de pagar as dívidas contraídas. Nos EUA cinco milhões de estudantes não conseguiram pagar os créditos ❇❯❵❴❜❞◗❲❯❪✯✏ ✸◗❫❙❜❴✏❚◗✏❂◗❪◗ Em Portugal, 1500 mulheres morrem de cancro da mama, o que equivale a qua- tro mulheres por dia. A uma semana do Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, A Cabra foi ouvir falar na angústia e na força de três mulheres, que passaram pela doença. NACIONAL | Pág.9 ❉❜◗❫❝❱❯❜❫❙❨◗❝✏❚❯✏❱❨❙❳❯❨❜❴❝ ❵❯❭❴✏●❨❜❯❭❯❝❝✏❚◗✏❊✸ Desde o ano passado que o número de processos de criminalidade informática em Coimbra duplicou. A falta de contro- lo do serviço wireless da e-U, possibilita que estas transgressões sejam cometi- das pela rede da universidade. A Polícia Judiciária confirma o envolvimento de estudantes. CIENCIA | Pág.11 Quinzenal Gratuito ❉❡❚❴✏◗✏❵❴❝❞❴❝✏❵◗❜◗✏❴✏ ❨❫❙❨❴✏❚◗✏❁◗❞◗❚◗ DESTAQUE | Págs. 2 e 3 CÁTIA MONTEIRO

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Versão integral da edição n.º 171 do jornal universitário de Coimbra “A Cabra”. Quinzenário. Portugal, 23.10.2007. Para consultar o jornal na web, visite http://www.acabra.net/ e-mail: [email protected] Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: A CABRA – 171 – 23.10.2007

PLANETA TERROR

Série Z à modade Rodriguez

ARTES FEITAS | Pág.16

ANO XVII

Nº 170 TERÇA-FEIRA | 23 DE OUTUBRO, 2007 Director: Helder Almeida

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Na próxima quinta-–feira, quando a “ca-bra” der as doze bada-ladas, vão ouvir–seos primeiros acor-des na serenata. Oacontecimentomarca o início dascelebrações daFesta das Latas.Este ano as noi-tes do parquerealizam–se noQueimódromo etêm mais umanoite musical. Pelopalco da Latada vãopassar nomes como:Blasted Mechanism,Orishas, Gentleman, QuimBarreiros e The Gift, DavidFonseca.

SUPLEMENTO | CENTRAIS

Domingos Paciência “ O futebol português está cada vez mais fraco”

INCERTEZAS NO SISTEMA DEEMPRÉSTIMOS PARA ESTUDANTESEntidades bancárias já disponibilizam crédito desde o início de Outubro

Com a entrada em vigor do Novo RegimeJurídico do Ensino Superior, no passadodia 10 de Outubro, entrou em funciona-mento o sistema de empréstimos. O crédi-to está disponível para todos os estudantesdo superior e o valor pode chegar aos 25mil euros, para licenciaturas de cinco anos.Estão também contemplados créditos paraalunos de pós-graduação, mestrado,doutoramento e programas erasmus.

Para o Governo este é “um instrumentocrucial para o desenvolvimento de uma po-lítica de apoio à escolarização”. Mas há

quem veja nos empréstimos apenas umaforma de o Estado cortar nas verbas da ac-ção social escolar e mais um passo para aprivatização do ensino. Nos Estados Uni-dos da América, onde se adoptou um siste-ma semelhante, cinco milhões de estudan-tes viram–se impossibilitados de pagar asdívidas contraídas.

Nos EUA cinco milhõesde estudantes não

conseguiram pagaros créditos

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Em Portugal, 1500 mulheres morremde cancro da mama, o que equivale a qua-tro mulheres por dia. A uma semana doDia Nacional de Prevenção do Cancro daMama, A Cabra foi ouvir falar na angústiae na força de três mulheres, que passarampela doença.

NACIONAL | Pág.9

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Desde o ano passado que o número deprocessos de criminalidade informáticaem Coimbra duplicou. A falta de contro-lo do serviço wireless da e-U, possibilitaque estas transgressões sejam cometi-das pela rede da universidade.

A Polícia Judiciária confirma oenvolvimento de estudantes.

CIENCIA | Pág.11

Quinzenal Gratuito

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DESTAQUE | Págs. 2 e 3

CÁTIA MONTEIRO

Page 2: A CABRA – 171 – 23.10.2007

O sistema de empréstimos para alunos do superior já entrou em funcionamento.

No entanto, existem dúvidasquanto à eficácia desta medida governamental

François Fernandes

Os estudantes que assim o entendamjá têm à disposição um sistema de em-préstimos bancários para financiamentodos estudos superiores. O crédito vaipermitir financiar, total ou parcialmen-te, os estudos incluindo cursos de espe-cialização tecnológica, licenciaturas emestrados, assim como doutoramentos epós–graduações. Os alunos que preten-dam utilizar um dos programas de inter-câmbio de estudantes ou de mobilidadeinternacional, como o Erasmus, tambémpodem recorrer a este novo sistema.

Os valores envolvidos podem variarentre os 1000 e os cinco mil euros, porcada ano lectivo, estando o valor máximode empréstimo estipulado em 25 mil eu-ros para licenciaturas com cinco anos. Oprazo de reembolso oscila entre os seis eos dez anos, com um período de carênciacorrespondente ao seguinte à conclusãodo curso.

A grande novidade do sistema resideno facto de aos estudantes não ser exigi-do qualquer fiador, uma vez que cabe aoFundo de Garantia Mútua cobrir 100 porcento de cada empréstimo. Caso o estu-dante cometa irregularidades durante oreembolso, os bancos podem sempre re-correr ao fundo para reaver a quantia in-vestida.

Os créditos bancários têm uma taxa dejuro fixa para o total do contrato, à qualse acrescenta um “spread” (taxa que obanco utiliza para pagar os encargos comos empréstimos) máximo de 1,5 por cen-to, que diminui consoante o aproveita-mento escolar do aluno. Esta percenta-gem varia dependendo da instituiçãobancária.

Santander–Totta, Banco Espírito San-to, Caixa Geral de Depósitos, MontepioGeral, Millenium BCP, e o Grupo BancoInternacional do Funchal (BANIF), queinclui o Banco Comercial dos Açores,foram os bancos que aderiram até aomomento.

O novo modelo de crédito é indepen-dente dos serviços de Acção Social Esco-lar, o que faz com que os alunos que pe-çam empréstimos possam continuar ausufruir de bolsas de estudo.

Contudo, só poderão recorrer ao crédi-

to, os estudantes do ensino superior queobedeçam a uma série de critérios. Porexemplo, os emprésti-mos estão interditosa cidadãos de na-c i o n a l i d a d enão portu-guesa, bemcomo a alu-nos que te-nham na ban-ca dívidas su-periores a cin-co mil euros.

“Um siste-m com pou-co futuro”

O governo vêno sistema dee m p r é s t i m o sbancários um“ i n s t r u m e n t ocrucial para odesenvolvimen-to de uma polí-tica de apoio àescolarizaçãoda populaçãono patamarmais eleva-do do sis-tema deensino”.No en-t a n t oa sreac-

ç õ e sn ã otêm si-do asmais fa-voráveis.

O vice-–reitor da Univer-sidade de Coimbra, António Gomes Mar-tins, questiona o sucesso do sistema deempréstimos a longo prazo, invocando oexemplo recente nos Estados Unidos on-de “houve uma enorme incidência de in-capacidade em pagar empréstimos porparte dos estudantes recém-licenciados”.

Para António Gomes Martins, o estadoportuguês “olha para o Ensino Superiorcomo um prestador de serviços cujosclientes têm que ser bem satisfeitos, epara isso até se concedem empréstimos”e não “como algo estratégico para o de-senvolvimento em que o estado deveria

investir”.“O sistema de empréstimos pode até

funcionar no início, mas dificilmente da-rá um resultado favorável em relação à

necessidade em aumentar a frequênciano ensino superior”, conclui.

Em declarações anteriores feitasa A CABRA, o reitor da

Universidade de Coimbra,Francisco Seabra Santos, já

tinha defendido que o sis-tema de empréstimos

“não é uma boasolução”. “Não achoboa ideia que umestudante acabe ocurso e comece avida profissionalcom uma cargatão elevada parapagar”, acrescen-tava SeabraSantos.

Já o estudio-so de políticasdo Ensino Su-perior, José

V e i g a

S i -mão, vê o

sistema de créditocomo uma “forma de criar opor-

tunidades para todos os estudantes inde-pendentemente da respectiva situaçãoeconómica”. Contudo, o especialista nãovê com os bons olhos o curto período decarência. “Os estudantes só deveriam co-meçar a pagar os empréstimos depois deestabilizados profissionalmente, e deacordo com o salário que recebam”. “Deoutro modo, não acredito que o novo sis-tema seja bem sucedido”, conclui.

O caso americanoO sistema de empréstimos bancários a

estudantes foi posto em prática pela pri-

meira vez em 1965 nos Estados Unidosda América (EUA). O “Higher EducationAct” foi então aprovado pelo Congressodos EUA.

A falta de acção social e os elevados va-lores das propinas praticadas pelas uni-versidades obrigaram os estudantes a re-correr à banca para pagar os seus estu-dos.

Num país onde a média dos salários émuito inferior às propinas praticadaspor grande parte das instituições de En-sino Superior privadas, os problemasnão tardaram em chegar.

Nos anos seguintes verificou–se comgrande frequência a impossibilidade porparte dos estudantes em pagar as dívidascontraídas.

O congresso, num primeiro momento,aumentou o número de anos de carência,mas mais tarde optou por retirar protec-ções sociais aos devedores e permitiu aoscredores a possibilidade de se apropria-rem dos salários e de confiscarem as li-cenças profissionais.

Actualmente nos Estados Unidos exis-tem cerca de cinco milhões de estudan-tes impossibilitados de pagar as suas dí-vidas.

Em Portugal, a questão dos em-préstimos tem gerado diversasopiniões, favoráveis e desfavorá-veis.

No entanto, só quando os es-tudantes que agora pedemcrédito terminarem os seuscursos e tiverem que começar

a pagar é que se vai ficar asaber do sucesso deste sistema.

Empréstimo em três passos:

Apresentar–se no balcão dainstituição bancária com ocomprovativo de matrícula,comprovativo de média eregisto criminal

Formalizar o pedido

Aguardar cinco dias pelaconfirmação.

2 A CABRA DDEESSTTAAQQUUEE 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

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Novo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior - Sistema de empréstimos

ILUSTRAÇÃO POR: JOSÉ MIGUEL PEREIRA

Page 3: A CABRA – 171 – 23.10.2007

”“VITOR ALVES

Começou com palmase acabou com palmas,

a participação da AssociaçãoAcadémica de Coimbra

na manifestação da últimaquinta–feira, 18. Mas será que

quem aplaudia conhecia asreivindicações estudantis?

Reportagem por Helder Almeida

h malta! Vamos fazer baru-lho! Vamos lá malta jovem!”.O repto é lançado por umhomem alto, de bigode farfa-

lhudo e bochechas rosadas de tinto que,a passo largo, se dirige com uma multi-dão para a zona do metro dos Olivais,em Lisboa – o ponto de encontro da ma-nifestação convocada pela CGTP–IN.

Os estudantes, que acabam de descerdos autocarros, ainda adormecidos pelaviagem, são literalmente atropeladospela massa trabalhadora. A rua Cidadede Bissau é um mar de gente. Bandeirasverdes, amarelas, vermelhas, pretas agi-tam o ar quente, pesado. Pelo ar ecoam

as palavras de ordem dos sindicalistasque, em rimas fortes, verberam contra oestado do país e contra Sócrates, o pri-meiro–ministro. “Justiça social faz faltaa Portugal!”, “o país não se endireitacom políticas de direita!”, “trabalhosim, desemprego não!”, “não à precarie-dade, sim à estabilidade!” podia ouvir-–se.

É ao som de palmas que os cerca deduas centenas de estudantes se juntamaos milhares de trabalhadores de todo opaís. A reacção não deixa de surpreen-der alguns dos alunos de Coimbra.Questionada por que razão aplaude,Brigite Teles, professora na Lousã, dizque “os direitos dos estudantes tambémestão a ser postos em causa”. Confessa,no entanto, não ter conhecimento dasreivindicações dos alunos.

Já Armando Dutra, 54 anos, professordo ensino secundário nos Açores, mani-festante, crê “que têm que ver com me-lhores condições de apoio, sobretudoem matéria de acção social escolar, ecom a nova política europeia em termosde educação que não parece a mais ade-quada”. Para o jurista Luís Matos, de 56

anos, também presente na manifesta-ção, as reclamações “são todas as que sepossa imaginar. É o ensino que não é dequalidade, que é caro”, afirma com con-vicção antes de concluir: “apoio os estu-dantes”.

Envolvida num manto de 200 mil pes-soas, que enche as ruas que vão dos Oli-vais até ao Pavilhão de Portugal, no Par-que das Nações, onde decorre a Confe-rência Intergovernamental da UniãoEuropeia, a Academia de Coimbra lançaas reclamações sobre o estado da educa-ção no país: Processo de Bolonha(“abaixo!”), financiamento (“mais!”),acção social (“não existe em Portugal!”).

Do palco, montado mesmo atrás doedifício onde decorre a cimeira, talvezpara os governantes e a Europa ouviremmelhor o descontentamento popular,Carvalho da Silva vai agradecendo aosvários sindicatos, de norte a sul do país,a presença. Lembra também a compa-rência da academia coimbrã na mani-festação: “aqui, connosco, os estudantesde Coimbra!”. São muitos os que aplau-dem. No fim, a satisfação estava espe-lhada no rosto dos dirigentes da AAC.

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23 de Outubro de 2007, 3ª feira DDEESSTTAAQQUUEE A CABRA 3

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A Academia de Coimbra foi a única do país a juntar-se à manifestação convocada pela CGTP-IN

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François Fernandes

Para se adaptar ao novo Regime Jurídi-co das Instituições do Ensino Superior(RJIES), a Universidade de Coimbra (UC)vê–se obrigada a proceder a uma reuniãoextraordinária dos estatutos numa as-sembleia criada para o efeito.

No dia 10 de Outubro os senadores daUC aprovaram em senado o regulamentopara a constituição da Assembleia Estatu-tária. Esta será constituída por 21 ele-mentos, que incluem o reitor, 12 profes-sores três estudantes e cinco elementosexternos à universidade.

Os membros que vão integrar a assem-bleia vão ser escolhidos através do voto dacomunidade universitária.

Entre 8 e 12 de Novembro vão ser apre-sentadas as listas concorrentes, queentram em campanha de 19 a 23 do mes-mo mês. Três dias depois, a 26, são reali-zadas as eleições.

Só depois os membros eleitos vão poderescolher entre si os elementos externos,através de votação pelo método de Hondt.

A Assembleia Estatutária terá, a partirdesse momento, a tarefa de aprovar osnovos estatutos da UC no prazo de oitomeses.

O vice–presidente da DG/AAC, JoãoPita, afirma que o papel dos alunos esco-lhidos para integrarem a comissão serátão maior “quanto a qualidade que elesdemonstrarem e os argumentos que es-grimirem junto dos professores”.

Para João Pita o número de represen-tantes estudantis muito reduzido. O diri-gente estudantil considera que “se estão adeixar de fora os estudantes”, o que podemais tarde “complicar as possibilidadesdos estudantes terem influência dentrodos órgãos da universidade”. “Tenho mui-tas reservas se no futuro voltaremos a ternovamente algum tipo de voz com pesoeleitoral suficiente para fazer valer osnossos direitos e os nossos interesses”,alerta.

Sobre os novos estatutos, uma vez que“vêm já formatados pela especificidade donovo regime jurídico”, João Pita, prevêque sejam “piores do que aqueles que vi-goram neste momento”. O vice–presiden-te da DG/AAC remete no entanto a res-ponsabilidade para o governo, a quemacusa de criar um regime que é “clara-mente contra os estudantes e contra asinstituições”.

Com Cláudia Teixeira

“E

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Há que ser muito céptico em relação a manifestações deestudantes, principalmente quando elas nunca são de es-tudantes!

Elaborando melhor, as “manifs” até podem ser promovi-das com as melhores das intenções e com o melhor dosmotivos mas, no final das contas, quem aparece é um oudois grupinhos de meninos que andam abrincar aos partidos e que procuram fi-car com o protagonismo.

Desde há muitos anos que as “manifs”servem para isto porque, também hámuito tempo, os verdadeiros estudantesdesistiram d’ “a luta”, como lhe chamam.Os verdadeiros estudantes não vão a ma-nifs por várias razões e aqui só vou enu-merar algumas delas:

Não vão porque os verdadeiros estu-dantes não se podem dar ao luxo de per-der aulas, ou ficar com faltas a cadeirasimportantes, porque os pais andam a pa-gar as propinas a custo e por isso nãoquerem desperdiçar o dinheiro deles (éclaro que se pode contrapor com o argu-mento de que os estudantes gastam di-nheiro nos copos por isso têm dinheiro para pagar propi-nas);

Não vão porque já perceberam que são sempre lixadospelos meninos que querem brincar à política;

Não vão porque aparecem sempre alguns agitadores quesó querem criar desacatos e que tiram toda a credibilidadeaos estudantes!

Dia 18 de Outubro houve uma manifestação em Lisboa.Participei porque me interessava ver como seria uma ma-

nifestação a sério, com grupos sindicais organizados e jábatidos nestas andanças.

Confesso que fiquei surpreendido com a magnitude eempenho dos que nela participaram. Gente de todas asidades e de todas as profissões que se juntaram para mos-trar que não estão contentes com a sua situação actual.

Mas neste caso são mesmo os trabalha-dores mais fracos que participam nas ma-nifs, não são os chefes de repartição, ou osdirectores que dão a cara! São os traba-lhadores simples, humildes que realmen-te precisam desses direitos, são os profes-sores que andam todos os anos de escolaem escola, enfermeiros que têm contratosprecários, entre outros.

Ora, fazendo uma comparação com asmanifestações estudantis, observamosque não são os bolseiros que estão lá a pe-dir por uma acção social melhor. Não sãoos mais necessitados que estão lá a pedirque se acabe com as propinas, são os “ou-tros”.

O que é que isto significa? Que os “ou-tros” são altruístas? Não.

Significa que há alguém a beneficiar em nome dos estu-dantes. Há alguém a fazer carreira à conta das manifs quepode dizer que organizou!

Já estava na hora dos verdadeiros estudantes levarem “aluta” a sério e impedirem que esses meninos usem o bom-–nome da Associação Académica de Coimbra única e ex-clusivamente para seu próprio beneficio.

* Carta ao Director(Cartas ao director podem ser enviadas para a [email protected])

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

����������������������������Mais um passopara privatizar o ensino

Entrou em vigor este ano lectivo o sistema de em-préstimos para os estudantes do ensino superior. Se-gundo o Governo, esta medida não vai substituir a ac-ção social escolar, mas é algo mais, que a aumenta ecomplementa.

Por outro lado, o executivo garante que os estu-dantes mais carenciados vão continuar a ser financia-dos a fundo perdido e para isso aumenta as verbaspara a acção social escolar. Relativamente às propi-nas, já uma grande fonte de receita das instituições, égarantido que até 2009 se vão manter inalteradas.

Mas nestas boas intenções depressa se descobremincongruências:

1. empréstimos – até poderia ser uma medida posi-tiva se o País tivesse emprego para os seus licencia-dos poderem pagar os empréstimos. Não nos pode-mos esquecer que quem optar por um empréstimo te-rá que começar a saldar a dívida logo um ano apósterminar a licenciatura. Como sabemos, todos osanos milhares de licenciados ficam no desemprego,por isso como conseguirá um estudante pagar o seuempréstimo, que pode chegar aos 25 mil euros, es-tando no desemprego? A isto, o ministro já respon-deu: só quem tiver condições de pagar é que deve pe-dir apoio à banca. Esclarecedor.

2. acção social escolar – o Orçamento de Estado pa-ra 2008 consagra um aumento de 0,2 por cento paraa acção social escolar no ensino superior. Mas, poroutro lado, corta nas verbas para as cantinas, resi-dências e serviços médicos. Aumenta–se num lado,corta–se no outro.

3. propinas – no ensino superior público paga–se,actualmente, quase mil euros só de propinas. Se até2009 as propinas não aumentam, como garante Ma-riano Gago, o que acontecerá depois dessa data?

As pistas parecem apontar todas num sentido: umacada vez maior privatização do ensino superior. Umaprivatização gradual, em que aos poucos os estudan-tes deixam de ser tratados como usufruidores de umbem público e passam a ser tratados como clientes.Os empréstimos são um passo nesse sentido. Peranteisto, seria bom que os estudantes não se calassem etivessem consciência do que isso representaria para oPaís. O ensino deve ser um direito, não um privilégio.Só assim um País se desenvolve. Mas quem pensanisto em vésperas de mais uma grande festa académi-ca?

Helder Almeida

Editorial

*Nuno Braga , Aluno do 4ºano de Jornalismo

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director Helder Almeida Chefe de Redacção Rui Antunes Editores: Cátia Monteiro (Fotografia), François Fernandes (Ensino Superior), Salvador Cerqueira (Cidade), RaquelCarvalho (Nacional), Rui Antunes (Internacional), João Miranda (Ciência), Patrícia Costa (Desporto), Martha Mendes (Cultura), Ângela Monteiro (Media), Carla Santos(Viagens) Secretária de Redacção Adelaide Baptista Paginação François Fernandes, Rui Antunes, Salvador Cerqueira, Sofia Piçarra Redacção Ana Bela Ferreira, Ana FilipaOliveira, Ana Margarida Gomes, Ana Raquel Melo, Cláudia Teixeira, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Joana Gante, João Pimenta, Liliana Figueira, Marta Campos, Marta Costa,Pedro Crisóstomo, Raquel Mesquita, Sandra Camelo, Sara Simões, Soraia Manuel Ramos,Tânia Ramalho, Wnurinham Silva Fotografia Carine Pimenta, Carolina Sá, CatarinaSilva, Cláudia Teixeira, Daniel Palos, Fábio Teixeira, Fausto Moreira, Filipa Faria, José Marques, Liliana Lago, Martha Morais, Mónica Pópulo, Tiago Lino Ilustração JoséMiguel Pereira, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Andreia Ferreira, André Tejo, Cláudia Morais, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, Laura Cazaban, RafaelFernandes, Raphaël Jerónimo, Rui Craveirinha, Vitor André Mesquita Colaboraram nesta edição Alexandre Oliveira, Andreia Silva, Carolina de Sá, Catarina Domingos,Catarina Fonseca, Catarina Frias, Catarina Pinto, Emanuela Gomes, Filipa Craveiro, Jennifer Lopes, Jens Meisel, João Picanço, José Vasconcelos, Lídia Gomes, Marco Roque,Marta Oliveira, Paulo Lemos, Pedro Martins, Raquel Soares, Rita Matos, Saimon Morais, Tânia Mateus, Tiago Martins, Thiago Neves, Vânia Silva Publicidade Sofia Piçarra- 239821554; 913009117 Impressão CIC - CORAZE, Oliveira de Azeméis, Telefone. 256661460, Fax: 256673861, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplaresProdução Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade deCoimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

4 A CABRA OOPPIINNIIAAOO 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

“Os estudantesnão vão às

manifs porque jáperceberam quesão sempre lixa-dos pelos meni-nos que querem

brincar à política”

Page 5: A CABRA – 171 – 23.10.2007

Orçamento de Estado 08

O vice–reitor António GomesMartins acusa o

estado de “estrangular” as instituições deEnsino Superior

François FernandesMilene Santos

De acordo com a proposta do Orçamentode Estado (OE) para 2008, apresentada nopassado dia 12 de Outubro pelo Governo, asverbas destinadas aos gastos do Ministérioda Ciência, Tecnologia e Ensino Superior(MCTES) vão crescer 8,9 por cento relativa-mente à estimativa de execução deste ano.Deste modo, no próximo ano a despesa doMCTES atinge o valor de 2.508,8 milhões deeuros.

Para o funcionamento das universidades ogoverno destinou 1.153,3 milhões de euros,mais três por cento relativamente ao anopassado. No entanto, o vice–reitor da Uni-versidade de Coimbra, António Gomes Mar-tins, considera esta verba insuficiente. “Em2007 o orçamento para o Ensino Superiorsofreu um corte real de cerca de 15 por cen-to. Aumentar três pontos percentuais em2008 significa não só continuar com dificul-dades como agravá–las”, afirma o vice–rei-tor.

O OE contempla ainda que as universida-des, institutos politécnicos e todos os esta-belecimentos de ensino com autonomia ad-ministrativa e financeira passem a descon-tar 11 por cento para o sistema de protecçãosocial da função pública (actualmente estas

entidades descontam 7,5 por cento). ParaAntónio Gomes Martins a medida “anula, sópor si, o aumento da estimativa registado es-te ano”.

Ainda em relação ao acréscimo estipuladopelo orçamento, o ministro da Ciência, Tec-nologia e Ensino Superior, Mariano Gago,afirmou recentemente em Coimbra que “se-rá desigual para as instituições”. O ministropretende que o financiamento se passe aprocessar “em função da qualidade e de ou-tros parâmetros que foram acordados comas universidades e institutos politécnicos”.Acerca desta questão, o vice–reitor acreditaque se está a levar a cabo uma “politica deestrangulamento do ensino superior ‘darwi-niana’” a que só “as instituições mais fortespodem resistir”.

Por sua vez, os politécnicos viram a fatiado orçamento que lhes era destinada dimi-nuir para os 404,7 milhões de euros, ou se-ja, menos 0,6 por cento. Na opinião do pre-sidente do Conselho Coordenador dos Insti-tutos Superiores Politécnicos (CCISP), Lu-ciano de Almeida, “o orçamento não corres-ponde às necessidades dos politécnicos ,tendo em conta o aumentode alunos”. Lu-ciano de Almeida considera que “a soluçãode reservar uma parte do fundo global desti-nado ao ensino superior para o saneamentofinanceiro de algumas universidades e poli-técnicos, acabou por condicionar o acrésci-mo do orçamento para outras instituições”.O presidente do CCISP sugere que a lei do fi-nanciamento seja alterada “para que as ins-tituições possam ser financiadas de acordocom o seu plano de actividades e nível de re-sultados e não com o orçamento histórico”.

Aumentar bolsas não é soluçãoA Acção Social também viu o seu orça-

mento subir para os 120,8 milhões de euros,ou seja, mais 0,2 por cento. Para AntónioGomes Martins tal disponibilidade orça-mental revela–se mais uma vez insuficiente.O vice–reitor reprova a opção do Governode aumentar o número de bolsas em detri-mento das verbas destinadas ao funciona-mento dos serviços de acção social, o que“implica menos dinheiro para as cantinas,residências e serviços médicos”. Consequen-temente, “os estudantes bolseiros que hojeconseguem comprar serviços a um custo

baixo graças aos serviços de acção social vãoter que recorrer cada vez mais ao mercado”,conclui.

Além disso, António Gomes Martins aler-ta para o facto de os limiares que determi-nam a atribuição de bolsas se mantereminalterados. “ Continuamos com a situaçãoinominável que é a bolsa do escalão máximosó poder ser atribuída a uma família que sótenha um salário mínimo de rendimento etenha pelo menos cinco membros”. A pro-posta orçamental está em discussão até 28de Novembro e entra em vigor a 1 de Janei-ro de 2008.

������������������������ ������������ ��Gabinete das RelaçõesInternacionais mistura

diálogo informal e diversãopara integrar Erasmus na vida

académica

Sandra CameloWnurinham Silva

A chegada de novos alunos Erasmus exi-ge iniciativas que permitam conhecer a vi-da académica de Coimbra. É com este ob-jectivo que o gabinete das Relações Inter-nacionais (RI) da Direcção–Geral da Asso-ciação Académica de Coimbra (DG/AAC)está a organizar convívios e tertúlias dirigi-das aos alunos Erasmus.

Realizados quinzenalmente, os encon-tros pretendem introduzir a comunidade

Erasmus na sociedade portuguesa. Cadasessão das tertúlias é apresentada por umapessoa ou grupo que discute ou demonstraum tema previamente determinado pelogabinete das RI. O coordenador do Gabi-nete das Relações Internacionais daDG/AAC, João Inglês, dá o exemplo da úl-tima sessão cujo tema foi a vida estudantile a tradição de Coimbra. “Não queremosque eles vejam Coimbra só como um lugarde boémia e de escola, pois também preci-sam de ter uma componente cultural da ci-dade”, explica João Inglês. “Os Erasmustêm o hábito de se relacionarem com ou-tros estudantes do país de origem, acaban-do por não se integrar bem na sociedadeportuguesa e na vida académica de Coim-bra”, explica. “Por isso, nós criámos estasreuniões para que eles fiquem a conhecertambém pessoas de outros países”. As ter-

túlias são um espaço de diálogo informalonde, todas as quintas–feiras, os Erasmus“acabam por participar e conversar aberta-mente”, acrescenta o coordenador das RI.

Na tentativa de contrariar os convíviosque normalmente se realizam no EnglishBar ou na Via Latina, o gabinete das Rela-ções Internacionais tem organizado festas“diferentes e maiores, para que os Erasmuspossam ter um espaço suficiente para seencontrarem e conviverem com todos osestudantes da Universidade de Coimbra”,esclarece João inglês.

Wilson Feitosa, um jovem estudante são-–tomense, chegou este ano a Coimbra e es-tá a frequentar o primeiro ano de Direito.Esteve no último convívio realizado pelaDG/AAC e classifica a festa como “muitoboa” e com “boa música”. Segundo o estu-dante o convívio permitiu conhecer novas

pessoas, “estudantes de Itália, Espanha,Áustria e Alemanha que não teria conheci-do se não fosse a festa”. Confessa ainda queeste contacto com estudantes de diferentespaíses serviu para aprender “coisas não sósobre a cidade de Coimbra, mas tambémsobre as cidades de cada um, trocámosmuitas experiências”.

Ao contrário das tertúlias, os convíviosnão têm datas regulares, mas estão abertosa todas as pessoas e “tendo em conta que éuma festa Erasmus, decidimos que seriamelhor eles não pagarem entrada”, afirmaJoão Inglês.

Iniciativa do gabinete das Relações In-ternacionais da Direcção–Geral, os encon-tros Erasmus têm “pés para andar”. Naopinião de João Inglês “se a próxima DGfor inteligente só tem de agarrar no projec-to e seguir em frente”.

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23 de Outubro de 2007, 3ª feira EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR A CABRA 55

RUI ANTUNES

Instituições passam a descontar 11 por cento para o sistema de protecção social

Page 6: A CABRA – 171 – 23.10.2007

realização de exames finais, con-correr à bolsa de estudo e a expec-tativa da candidatura à universida-de são situações do conhecimento

de todos aqueles que entram no ensino su-perior português. Por vezes, a angústia daespera dos resultados pode ser sentida bemlonge da Universidade de Coimbra e atémesmo de Portugal. Países como Cabo–Ver-de, Guiné–Bissau, São Tomé e Príncipe, An-gola, Moçambique e Timor enviam, anual-mente, estudantes com apenas um destino eum objectivo: tirar um curso superior emPortugal.

Antónia Domingos, estudante de mestra-do na faculdade de psicologia, chegou à “ci-dade do Mondego” com um filho nos braçose uma bagagem cheia de ilusões. No primei-ro dia, a mãe solteira encontrou a “praxeobrigatória” das matrículas, na Escola Supe-rior de Educação de Coimbra (ESEC). Pro-curar casa não foi fácil e muito menos en-contrar um lugar para deixar o filho duranteas aulas. Sem conhecer ainda os direitos quetinha, dirigiu–se aos serviços da ESEC, masa assistente social disse–lhe “que o meninonão podia andar na creche da universidade”.Antónia sentiu–se injustiçada pois veio,posteriormente, a “descobrir que todas asestudantes podem deixar os filhos no infan-tário”.

Euclides de Cassamá, estudante de medi-cina e gestor da Associação de Estudantes

Guineenses, referiu outra contrariedade, “oministério da Guiné entrega as bolsas e osvistos, através da embaixada de Portugal.Mas depois as pessoas chegam aqui e sãoabandonadas”.

É então no meio das adversidades que asassociações de estudantes de cada país sãopreponderantes, fazendo a integração da-queles que pela primeira vez atravessam aponte de Santa Clara, muitas vezes em direc-ção às escadas monumentais.

Difícil de entenderPara quem chega, a cidade dos estudantes

parece uma torre de babel . Na cacofonia dobar da Associação Académica de Coimbra, opresidente da Associação do Estudantes Ti-morenses, Félix de Jesus, estagiário de Ciên-cias da Educação, confessa que, no seu anode ingresso, sentiu bastantes dificuldadeslinguísticas. Da mesma maneira, muitos dosseus conterrâneos sentem dificuldades deintegração devido aos parcos conhecimentosda língua. Para tentar colmatar esta falha, osestudantes guineenses organizam–se entresi para dar explicações de português àquelesque chegam. Para alguns, os dialectos deorigem continuam a dominar as calorosasconversas dos estudantes. “O crioulo estáentranhado no sangue, é um modo de vida”,afirmou o vice–presidente da Associação deEstudantes Cabo–verdianos e estudante deDireito, Bruno Lassy.

Mas é essencialmente através das activi-dades culturais e desportivas que as associa-ções procuram integrar os seus estudantesno seio da comunidade. Por exemplo, os ti-morenses promulgam a interactividade coma música ensaiada em tétum (dialecto); oscabo–verdianos encontram–se para degus-tar pratos tradicionais como a “cachupa” oubeber ponche e aguardente; a AssociaçãoGuineense organiza, frequentemente, festaspara reunir os associados; datas comemora-tivas dos países de origem são celebradas emPortugal.

No decorrer da conversa, Bruno levantouo véu sobre um mundo onde as aparênciasvalem mais do que muitas evidências. O di-rigente recorda situações desagradáveis,“nunca senti preconceito directo, mas sei deuma amiga que não foi atendida numa loja”.Porém, Bruno admite que o preconceito éigualmente visível do outro lado.

Com a aproximação do fim do curso surgea dúvida para o futuro próximo. Para HectorCosta, estudante de Sociologia, a resposta éclara, “quero voltar como quadro altamentequalificado para ajudar o meu país a desen-volver–se”. Já o finalista guineense de medi-cina, Anaxor Casamiro, admite regressar pe-lo menos para África. “ O meu objectivo é es-pecializar–me e voltar para a Guiné–Bissau.Tenho o dever moral de voltar para o meupaís”, enaltece. Para o cônsul de São Tomé ePríncipe, o maior desafio que se impõe aos

entrevistados é a saudade, sentimento con-siderado por Teixeira de Pascoaes como ogrande traço espiritual definidor da almaportuguesa. “São saudades de casa, da famí-lia e dos amigos que ficaram por lá”, rema-tou Euclides de Cassamá.

������������������������������������ ����������������������FÁBIO TEIXEIRA

Através das associações os estudantes mantêm-se unidos e partilham a cultura dos seus países de origem

66 A CABRA EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

No momento da recepção de caloiros oriundos do mundo de língua portuguesa,A CABRA tentou perceber as diversas circunstâncias que se lhes deparam

Por Patrícia Costa, Emanuela Gomes e Carla Santos

A

Timor: “10 anos 10 ideias”, um projectoque inclui várias actividades.

27 Outubro: Assembleia–geral paraaprovar o projecto da nova direcção.

Início de Novembro: recepção dos ca-loiros – encontro e actividades desportivas.

12 Novembro: Dia Nacional de Juven-tude timorense – conferência sobre o Mas-sacre de Sta. Cruz.

14 Dezembro: Mini–conferência deum padre timorense convidado sobre ju-ventude e culturas.

Cabo Verde: recepção ao caloiro.

Guiné: recepção ao caloiro e formaçãosobre a cidade, a história da universidade,etc.

Encontros de um outroPortuguês

Page 7: A CABRA – 171 – 23.10.2007

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“Olá, precisasde ajuda?”

Há dez anos no activo, a linha SOS Estu-dante, tem vindo a dar apoio a um vasto le-que de pessoas que ligam em busca de umapalavra amiga. A iniciativa partiu de PauloDavid Carvalho, que se apercebeu da gran-de quantidade de estudantes que não seconseguiam integrar na faculdade. E quan-do uma conhecida se suicidou, Paulo tevenecessidade de fazer algo. Assim surgiu alinha de apoio, a 17 de Abril de 1997.

Presentemente, a secção conta com aajuda de 30 pessoas, todas estudantes, quetrabalham em regime anónimo e voluntá-rio. O recrutamento é feito em Outubro eMarço. Durante cerca de um mês são abor-dadas as formas de comunicar e temas co-mo o suicídio ou a sexualidade.

A finalidade da linha é garantir um espa-ço onde as pessoas possam ser escutadasindependentemente do tema abordado.“Somos como que um espelho daquilo queas pessoas nos dizem, não fazemos qual-quer tipo de juízos de valor nem damosconselhos. Tentamos apenas que quem ligareflicta sobre aquilo que nos diz”, refere apresidente da secção, Filipa Craveiro.

Segundo as estatísticas de 2006, foi rece-bido um total de 926 chamadas, sendo quecerca de 680 foram realizadas por pessoasdo sexo masculino. O número de chamadasfoi ligeiramente maior nos meses de Janei-ro e Junho, pois “é na altura dos examesque os estudantes ligam mais”, afirma apresidente da secção.

Contudo, Filipa Craveiro salvaguardaque os telefonemas dos estudantes sãouma minoria”. “A média de idades de quemliga é de 35 anos”, diz Filipa Craveiro, o quecomprova que a acção desta secção extra-vasa o universo estudantil.

O número de atendimento disponível pa-ra apoio é o 808200204 ou o 969554545,funcionando entre as 20 horas e a uma damadrugada, excepto no período das fériasescolares. O SOS estudante pode ainda sercontactado por correio electrónico, atravésdo endereço [email protected].

Por Adelaide Baptista eFilipa Craveiro

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BRUNO COSTA-ARQUIVO.

PUBLICIDADE

Para o dia 20 deste mês estava marcada uma reunião extraordinária do senado universitá-rio, no Pólo II. Discutia–se então o valor da propina na Universidade de Coimbra. De forma aimpedir a votação da propina máxima (880 euros), os estudantes tentaram entrar no edifícioonde decorria o senado, tendo sido agredidos pelas forças policiais, chamadas pelo reitor Sea-bra Santos. Um estudante é ainda detido. O presidente da DG/AAC da altura, Miguel Duarte,classifica aquele dia como “o mais triste para a Academia de Coimbra após o 25 de Abril”.

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23 de Outubro de 2007, 3ª feira PPAAGGIINNAA A CABRA 7

As festividades culminam coma apresentação de um

livro dedicado à AAC e umagala no teatro académico

Rita Matos

A Associação Académica de Coimbra(AAC) celebra a 3 de Novembro, no TeatroAcadémico de Gil Vicente 120 anos, numagala aberta a todos os estudantes da Uni-versidade de Coimbra. Na preparação doespectáculo estão envolvidas diversas sec-ções culturais e desportivas e organismosautónomos ligados à AAC.

A gala vai contar com um misto de coreo-grafias musicais, teatro, desporto e um es-pectáculo multimédia “que pretende retra-tar a AAC e os vários contextos que a envol-verem desde a fundação até aos dias de ho-je”, sublinha o coordenador das festivida-des, Joel Vasconcelos. O espectáculo vai sero culminar das comemorações da Academiaque tiveram início a 24 de Março.

Joel Vasconcelos salienta que as come-morações contribuíram para que houvesse“um projecto comum da AAC em que todasas suas estruturas trabalhassem para omesmo”. O coordenador do espectáculo re-fere ainda “que as comemorações não servi-ram só para evocar o passado mas também

para deixar um testemunho para o futuro”.Na gala espera–se a presença de parte da

comissão de honra, que é composta por 130personalidades ligadas à história da Acade-mia, desde ex–dirigentes associativos, anti-gos reitores, vencedores do prémio SalgadoZenha a nomes ligados ao poder actual co-mo José Sócrates, Cavaco Silva ou DurãoBarroso. No final da gala vão ainda ser can-tados, nos jardins da AAC, os parabéns àAcademia, seguindo-se um convívio no Clu-be de Rugby.

Também no mesmo sítio e no mesmo diaé apresentado um livro com fotografias etextos dedicados à AAC, da autoria de Ra-fael Marques.

Nota editorial: Ao longo de oito ediçõesA CABRA manteve esta página dedica-da à história e às secções da casa. Ter-mina aqui a homenagem aos 120 anosda AAC.

A Academia em imagens

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Page 8: A CABRA – 171 – 23.10.2007

LILIANA LAGO

Quando as aulas acabam, o ritmo acelera e a diversão

é o objectivo comum dos estudantes. Empresários danoite falam da importância

estudantil no negócio

Salvador CerqueiraSaimon Morais

Marco Roque

“A noite de Coimbra foi sempre a noitedos estudantes”, afirma o professor AmadeuCarvalho Homem, aluno da Universidade deCoimbra na década de 60. A opinião é parti-lhada pelos comerciantes que trabalham du-rante a noite.

O gerente do café Couraça, Fausto Cor-reia, crê que cerca de “99 por cento” dosclientes são estudantes e que sem a presençada comunidade estudantil, o conhecido caféda Alta “provavelmente não estaria aberto”.O investigador do Centro de Estudos So-ciais, Elísio Estanque, explica que “a pre-sença dos estudantes é tão significativa nacidade que os modelos de consumo de deter-minadas actividades sociais possuem oscontornos que têm”.

A “estudantada”, termo utilizado por al-guns dos empresários, desempenha grandeinfluência na criação de empresas, no perío-do de funcionamento e até nos preços prati-cados. Rute Marinho, secretária da direcçãoda Associação Comercial e Indústrial deCoimbra (ACIC), confirma que “a ausênciada massa estudantil influencia a restauraçãoda cidade, como o período de encerramento,que coincide com a época de férias lectivas”.O relações públicas da discoteca Vinyl, Hu-go Simões, revela que nos dias úteis a pro-gramação do espaço “é confinada aos estu-dantes, com as noites temáticas das terças equintas–feiras”. No fim–de–semana, a vidanocturna é habitada pelos naturais de Coim-bra, que Hugo Simões classifica como “umpúblico–alvo completamente diferente”.

A noite que há cinquenta anos atrás erapassada em locais selectos expandiu–se. An-tigamente, como recorda o professor Carva-

lho Homem, “as noitadas tinham de ser fei-tas no espaço das repúblicas. As tertúlias de-corriam também em certos cafés da Praça daRepública e na Baixa, onde havia uma ououtra tasca que encerrava mais tarde”. Ac-tualmente, Estanque considera que “real-mente a crítica e preocupação sociais dos es-tudantes se está a perder, o que aconteceugraças ao acesso menos restrito à universi-dade e à perspectiva instrumentista que osjovens têm relativamente aos cursos”.

O encontro dos estudantes de Coimbra emespaços nocturnos deriva, de acordo com osociólogo, do facto de “haver uma crise deidentidade em geral e de o indivíduo preci-sar de se sentir integrado. A ilusão de parti-lha e de vivência colectiva, essa experiênciade comunhão, ocorre sobretudo em momen-tos de exaltação”.

Os distúrbios normalmente associados aoconvívio da noite devem–se essencialmenteao barulho. Situações de vandalismo ou vio-lência são pouco frequentes. O gerente doBar da Associação Académica de Coimbra(BAAC), Tomás Ramalho, admite que “nun-ca houve um distúrbio sequer no BAAC”,

mas adverte que “essas situações não podemser controladas pelos gerentes”.

Quando os “morcegos” ultrapassam o li-mite e a diversão se torna preocupação, oInstituto Nacional de Emergência Médica(INEM) é chamado a intervir. O consumo deálcool em excesso e as eventuais quedas sãoos principais casos que o INEM socorre nacidade dos estudantes. A delegada regionaldo instituto, Regina Pimentel, refere que “arotina da equipa só é abalada nos dias defesta. No dia do cortejo da Queima das Fitas,por exemplo, atendemos mais de 200 cha-madas, mas é normal no dia do desfile”.

Os convívios académicos alteram tambémo ritmo do trabalho da empresa responsávelpela limpeza da cidade, ERSUC (ResíduosSólidos do Centro, S. A.). Para o rasto de li-xo deixado pelos estudantes após serenatase convívios, a empresa possui já uma estra-tégia. O responsável pela empresa, SílvioRamos, esclarece que “assim que se iniciamas aulas, a quantidade de material utilizadoaumenta substancialmente. Quando há fes-tas, temos sempre uma estrutura preparada,reforçando o número de trabalhadores”.

Perante a situação utópica de não existir auniversidade em Coimbra, a maioria dosempresários inquiridos, com estabelecimen-tos nas zonas da Alta, Praça da República,avenida Sá da Bandeira e Baixa, conclui quenão seria possível manter o negócio. MárioCoimbra, encarregado de balcão do caféCartola, afirma mesmo que Coimbra seria“uma aldeia com muita casa”.

Quando a fome aperta à noite

Com cerca de 60 anos, a padaria Mimosatem uma forma peculiar de lidar com osnoctívagos. “Temos a porta fechada durantea noite, mas foi–se criando o hábito de baterà porta e ser atendido, a qualquer hora”, re-fere o sócio–gerente, Adérito Jordão. Se-gundo o responsável, o estabelecimento fazsucesso também por “praticar preços acessí-veis às bolsas dos estudantes” e por mantercom eles uma boa relação. A solução paraqualquer distúrbio que surja é “chamar aatenção na altura, até porque às vezes, demanhã, isto está um pandemónio”, afirmaJordão.

respostasde... A população de Coimbra

está disponível para aju-dar a comunidade?Há muita gente disponível pa-

ra ajudar e a prova disso é o grande núme-ro de grupos de voluntariado que existem.Só no Centro Universitário Manuel daNóbrega (CUMN) há quatro, no Justiça ePaz há muitos mais e na própria Associa-ção Académica existe um grupo de volun-tariado. Exemplo disso é o Banco Alimen-tar que também tem tido bastantes volun-tários.

Quais os projectos quetêm especial adesão por

parte dos jovens?Os jovens participam bastante, talvez pelarealidade de Coimbra envolver muitocrianças, como a casa dos órfãos ou a casade infância. Muitos também ajudam nohospital. Creio que muitos voluntáriosvão ao hospital pela dimensão que ele temna região. Além disto, nos últimos anostem nascido uma vontade crescente de,no Verão, irem para África.

De que modo é que oCUMN se distingue deoutras equipas de vo-

luntariado?Não tem de se distinguir totalmente.

Creio que oferece uma motivação para ofazer com um sentido de missão de defen-der o cristianismo ou os valores cristãos.Oferece um espaço e experiências. Não éque sejamos melhores ou muito diferen-tes que outros grupos. O CUMN é maisum espaço aberto e de acolhimento emCoimbra, com grupos diversos onde aspessoas se podem integrar.

8 A CABRA CCIIDDAADDEE 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

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A presença dos estudantes nos espaços de convívio nocturno são uma constante em de Coimbra

Filipe MartinsPresidente do Centro Universitário

Manuel da Nóbrega

1 2 33

Por Salvador Cerqueira e Eunice Oliveira

Page 9: A CABRA – 171 – 23.10.2007

”Em Portugal, duas em cada

dez mulheres sofrem decancro da mama. A Cabrarecolheu testemunhos de

quem já passou pela doença

Reportagem por Raquel CarvalhoCatarina Frias

Ana Raquel MeloCatarina Pinto

odem perguntar se quando meolho ao espelho gosto de ver.Não, claro que não. Mas jáaprendi a amar também aquele

lado”, diz Maria Anunciação, educadora deinfância, 54 anos. “Aquele lado” é diferentedo que foi um dia, ali já não está um seio,mas uma cicatriz que rasga a pele, marca vi-va da existência de um cancro da mama.

Foi há 2 anos. O dia corria ligeiro. Nadafazia prever que aquele fosse um dia dife-rente de tantos outros, até que Maria Anun-ciação entrou no banho e, naquele curto es-paço de tempo, sozinha com a água a jorrarpelo corpo, descobre algo de anormal. Atra-vés da palpação, percebeu que tinha um nó-dulo na mama. Assim, nasceu a dúvida e aangústia. “Fui logo ao centro de saúde, ondeme reencaminharam para o laboratório. Aí,tive a confirmação de que era maligno”.

O cancro da mama, tal como outros can-cros, é traiçoeiro, manhoso, desenvolve–sedentro do corpo, de mansinho, em silêncio.Segundo a ginecologista, Teresa Rebelo, “ocancro da mama pode passar despercebidodurante muito tempo, porque é uma doençaindolor nas fases iniciais e só é detectável fa-zendo alguns exames de rastreio”. Portanto,o auto–exame da mama, a ida regular ao gi-necologista, a mamografia e a ecografia ma-mária são cuidados essenciais para que adoença seja detectada precocemente, o queaumenta as probabilidades de cura.

Os cuidados referidos foram todos deixa-dos de lado por Silvina Santa Rajado, refor-mada, 73 anos. “Fiz a primeira mamografiaaos 64 anos, até aí não ligava a mamogra-fias”, confessa. Nessa altura, foram–lhediagnosticados nódulos no seio, mas só hádois anos os exames revelaram um tumormaligno. “Depois do resultado da biopsiadisseram–me que tinha de ser operada, ti-nha de fazer radioterapia, mas não seria ne-cessário tirar o peito”. Apesar dos ecos nega-tivos da palavra cancro, Silvina fala de “sor-te”. A “sorte” de não ter que lidar com a au-sência de uma mama. A “sorte” de não terque se submeter ao doloroso tratamento daquimioterapia.

Maria Anunciação não teve essa mesmasorte. Com a quimioterapia “perdi o sabor, ocheiro, a visão ficou afectada, o cabelo, o as-pecto, as unhas ficaram negras, a pele esca-mou, ficamos com um aspecto miserável”,

confessa São, como é tratada pelos amigos.Do período da “quimio”, a educadora de

infância recorda a frase que ouvia frequen-temente: “a quimioterapia é um medica-mento cego, surdo e mudo”, porque matacélulas boas e más. Mata aleatoriamente.

Depois da quimioterapiaApós o tratamento, Maria Anunciação su-

jeitou–se a uma mastectomização radical deum seio. “Na altura, não estava preocupadacom o lado estético. A única coisa que mepreocupava era a erradicação total do mal”,revela. Ao nível cirúrgico a operação correubem, no entanto, Maria teve que enfrentar aperda da mama. “Apetecia–me gritar e dizera toda a gente ‘não tenho mama’, era assimuma dor horrorosa”.

Desde a mastectomização, a reconstruçãomamária era uma prioridade para Maria,contudo, o seu desejo nunca se concretizou.A notícia que se seguiu fê–la abandonar aideia. São tinha novamente cancro. Desco-briu-o no seu local de trabalho. Ali mesmo,explodiu para o mundo. Nesse dia, “eu cho-rei a minha humanidade. Não tive vergonhade mostrar a minha humanidade, estavatriste, estava inconsolável, sentia–me mise-rável”, lembra.

Desta vez, São sentiu a doença de umaforma diferente, já sabia por aquilo que teriade passar novamente. A recuperação foi me-nos difícil, contudo a dor continuou a serimensa. Uma dor que se reflectia em tudo àsua volta. Uma dor que expressava nos qua-dros que sempre gostou de pintar. Uma dordifícil de suportar sem apoio psicológico.

São passou pela dor com o apoio do filho,“foi o elo mais forte da minha doença, umsoldado discreto mas presente”, relembra.No entanto, recorreu também à ajuda deuma psicóloga. “Ela obrigava–me a pôr tudocá para fora. O medo da dor, porque tem–semedo de tudo, de um mundo que é subita-mente diferente, que cai em cima de nós”,recorda. “Passamos a estar resumidos a umgrande cancro que está na nossa cabeça, nosnossos olhos, nos nossos ouvidos, tudo écancro”, era este o mundo de São naquelafase da doença. A ginecologista, CristinaFrutuoso, também salienta a importânciado apoio psicológico, “o acompanhamentodeve ser feito durante e após o tratamento”.

A fragilidade decorrente da doença advémda ausência, que se reflecte no lado mais ín-timo de uma mulher. Da ausência de umamama, com a qual São tem aprendido a li-dar. Contudo, “é uma perda que ainda medói, quando ponho um decote e não possopô–lo mais profundo porque se nota”.

Ilda Henriques, 48 anos, também senteessa ausência, “ sou uma mulher vaidosa,sempre gostei de usar decote e, de repente,vejo que não posso usar. É claro que faz fal-ta”. Esta ausência reflecte–se inevitavel-mente na vida afectiva e sexual da mulher.Nesse sentido, o apoio do marido foi funda-mental, “ele quis logo ver a cicatriz, passa amão no peito como se tivesse mama”.

A vida com a doençaIlda convive com o cancro desde 1999, “eu

tinha cancro da mama, eu tenho, porquenão há cura para o cancro, a gente continua

a ter a doença”, afirma. Contudo, Ilda passaagora por uma fase estável. Ao longo dotempo, “fui–me abaixo mas levantei–me,chorei, ri, enfim...acho que consegui”, con-fessa. Da doença retirou uma forma mais in-tensa de viver a vida, “comecei a querer vi-ver mais rápido, a dar mais valor às coisas ea sentir mais”, conclui Ilda Henriques.

O cancro da mama alterou–lhes o corpo,os sentimentos, o olhar sobre as coisas, a vi-da. “Agora gosto muito mais de mim”, dizSão com a força de alguém que não ficoupreso ao passado. Lá atrás, ficou a ideia de“mulher invencível”, de “super mu-lher”…Maria Anunciação ganhou, assim,uma nova forma de vida, situada na frontei-ra entre os limites impostos pela doença eum infinito que aprendeu a conquistar.

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A 30 de Outubro celebra-se o Dia Nacional de Prevençaão do Cancro da Mama

A Associação Portuguesa de Apoio àMulher (APAM) com cancro da mama e oMovimento Vencer e Viver são algumasdas instituições que prestam auxílio às ví-timas da doença.

Apoio a nível hospitalar e domiciliário,grupos de apoio e uma linha telefónicasão algumas das funções desempenhadaspelo Movimento Vencer e Viver, consti-tuído exclusivamente por voluntários.

Por sua vez, a APAM inclui apenas pro-fissionais de saúde, que prestam serviçosna área da medicina, da enfermagem e dapsicologia, entre outras.

Associações que ajudam

23 de Outubro de 2007, 3ª feira NNAACCIIOONNAALL A CABRA 9

CÁTIA MONTEIRO

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Page 10: A CABRA – 171 – 23.10.2007

Gémeos conseguiram colocar a Polónia no centrodas atenções. Especialistas

consideram que a imagem dopaís saiu danificada

Rui AntunesCatarina Domingos

Catarina Fonseca

Há 35 anos os gémeos Kaczynski torna-vam–se conhecidos no grande ecrã atravésda participação em “Os dois que roubarama Lua”. Hoje, o filme é outro. Lech e Jaros-law voltam a ser protagonistas, mas, destavez, na cena política polaca e europeia.Derrotado nas legislativas de domingoJaroslaw vai deixar de ser primeiro-min-istro, mas impõe–se uma certeza: a de queo apelido Kaczynski vai continuar a estarpresente no poder político do país.

Para além do aspecto físico, os gémeostêm também linhas ideológicas comuns.Ambos pertencem ao Partido Lei e Justiça(PiS) e nos últimos dois anos têm levado acabo uma governação conjunta. Lech, elei-to presidente em 2005, nomeou o irmãoJaroslaw para primeiro–ministro depois daobscura demissão do então chefe de Gover-no, Kazimierz Marcinkiewicz.

“Populistas, de extrema–direita, com umdiscurso nacionalista”, é assim que a espe-cialista em assuntos europeus, Isabel Mei-relles, define os líderes polacos. Já JoséGoulão, jornalista perito em política inter-nacional, classifica os Kaczynski como“uma versão actualizada daquilo que foi ociclo de Lech Walesa [primeiro líder do pe-ríodo pós–comunista] ”. João Carlos Barra-das, comentador de política internacionalda TSF, recorda que os irmãos “vêm doscírculos mais conservadores da direita”.“Tiveram um contributo para um carácterainda mais xenófobo da política na Poló-nia”, acrescenta.

A tendência para a xenofobia não é a úni-ca das linhas controversas, já que os irmãospretendem eliminar a herança comunista edesenvolver uma “revolução moral” de ín-dole conservadora. José Goulão afirma queos gémeos “são contra direitos sociais ad-quiridos como o aborto”. Também JoãoCarlos Barradas lembra que a Polónia serecusou a participar no dia europeu contraa pena de morte. O comentador recordaainda “as campanhas contra homossexuaisna função pública por parte do executivo deJaroslaw Kaczynski”.

A maioria da população corrobora as me-didas do poder bicéfalo. José Goulão expli-ca que “a essência conservadora polaca éfruto de uma realidade que se caracterizapor uma população obrigada à hierarquiacatólica”. O jornalista acrescenta que “a Po-lónia é o país onde mais se verifica uma as-sociação política e social à Igreja Católica,com forte influência nas massas conserva-doras”.

Porém, são outras as políticas que ser-vem de bandeira aos gémeos, como o forta-lecimento da economia, através da reduçãodo défice e do desemprego, e o combate àcorrupção. José Goulão fala numa “grandecapacidade de intervenção relativamenteàs políticas económicas mundiais”. No en-tanto, atenta que os Kaczynski “defendemum capitalismo selvagem, um crescimentoeconómico a todo o custo, sem atender aosproblemas sociais que possam ser criados”.

“Polónia non grata” dificultaestabilidade europeia

As relações entre a Polónia e a União Eu-ropeia (UE) deterioraram–se com a chega-da ao poder do presidente Lech Kaczynski.Nos últimos tempos a Polónia chegou aameaçar boicotar algumas medidas euro-peias, inclusivamente o novo Tratado Re-formador.

“São pelos interesses da Polónia e contraa União Europeia”. Isabel Meirelles sinteti-za desta forma a postura dos gémeos face àcomunidade. José Goulão partilha da opi-nião, classificando o partido do Governocomo “autoritário e eurocéptico, o que po-de criar problemas na integração plena daPolónia na UE”. O jornalista acrescenta queos Kaczynski “são claramente desconfiadosacerca do Tratado Constitucional e dos for-matos de funcionamento da UE”.

No seio da UE, a Polónia vai cultivandodisputas particulares. A Alemanha é umdos países mais hostilizados pelos gémeos.Apesar da tentativa de Angela Merkel deapaziguar os ânimos, a Polónia tem vindo adefender um menor peso dos germânicosnas instituições comunitárias. Os argumen-tos utilizados são, no entender de Isabel

Meirelles, “mórbidos”. A especialista recor-da o último Conselho Europeu onde os di-plomatas polacos disseram que se Alema-nha não tivesse morto 30 milhões de ju-deus, hoje a Polónia teria uma populaçãoidêntica.

A impopularidade polaca ultrapassa asfronteiras comunitárias. A Rússia é um dosrivais por excelência dos Kaczynski, quetêm impedido um acordo entre os 27 e oexecutivo de Putin. A Cimeira UE–Rússiaque se realiza em Mafra, na próxima sexta-–feira, 26, pode mesmo estar condenada aofracasso devido à intransigência polaca.

José Goulão considera que quando é ne-cessária unanimidade os gémeos “podemser um grande problema”. Porém deixa oaviso que a era Kaczynski não vai durar pa-ra sempre. “A Europa não pode ser drama-ticamente afectada por uma ‘passagem pro-visória’”, preconiza Goulão.

D.R.

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Ana Margarida GomesJennifer Lopes

Muitos foram os países que, nos últimos40 anos, viram o seu nome alterado. Entreas principais razões que levaram a essamudança, destacam–se as de natureza po-lítica e cultural. Miguel Monjardino, pro-fessor do Instituto de Estudos Políticos daUniversidade Católica, refere que “a dife-rente ordem política instaurada nos terri-tórios é, habitualmente, a razão que leva àadopção de uma nova nomenclatura pelamaioria dos países”.

Um dos casos que se insere na categoriados países que viram o seu nome alteradopor razões políticas é o do Zimbabué. Em1963, a Federação da África Central desfez-–se. Dela faziam parte a Niassalândia, quecom a independência adoptou o nome deMalawi, a Rodésia do Norte, que passou achamar–se Zâmbia, e a Rodésia do Sul. Es-ta última só em 1980, com o fim da guerracolonial, conquistou a sua independência,tomando o nome de Zimbabué. SegundoMiguel Monjardino, “a mudança de podergerou a mudança de nome, dando assim aentender que o país que aparece é diferen-te do ponto de vista político”.

Outro caso de relevo é o do Myanmarque, até Junho de 1989, era denominadopelas autoridades desse país de Birmânia.António Gama Mendes, docente deGeografia Política da Faculdade de Letrasda Universidade de Coimbra, afirma que “amudança de estatuto político levou à alte-ração do nome Birmânia, designação quelhe foi atribuída durante a colonização in-glesa, para Myanmar.” Esta modificação,que reflecte um posicionamento políticoparticular, é, ainda hoje, contestada por tersido imposta por um regime militar nãoeleito.

A República Democrática do Congo viutambém o seu nome alterado por diversasvezes. Congo, no início, toma a designaçãode Zaire em 1971, devido à política de “afri-canização” que proibia nomes ocidentais ecristãos. Em 1997, o nome muda para Re-pública Democrática do Congo. GamaMendes aponta estas mudanças como von-tade de reforço da identidade nacional.

Os casos anteriormente referidos são depaíses que, após conquistarem a sua inde-pendência, adoptaram novos nomes. Noentanto, o docente refere que “outros háque se formaram mantendo o nome quelhes era atribuído enquanto regiões não au-tónomas”. Entre esses têm–se como exem-plos Timor–Leste e a Bielorússia, dois paí-ses que mantiveram a designação pela qualeram conhecidos antes da independência.

Miguel Monjardino conclui que “a prin-cipal razão para as mudanças de nome dosdiversos países é a vontade de afirmaçãodos regimes que neles estiveram em vi-gor”.

10 A CABRA IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

Apesar da derrota de Jaroslaw os polacos vão continuar com um Kaczynski no poder

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O presidente da Comissão Europeia,Durão Barroso, defende a Polónia dizen-do que “no que diz respeito aos direitosfundamentais é um país que, até hoje,tem vindo a cumprir todos os seus com-promissos”. Barroso remete até para osindicadores do eurobarómetro que dizemque “a opinião pública na Polónia é umadas mais pró–europeias”.

Quanto às posições xenófobas assumi-das pelos líderes polacos Barroso é pe-remptório ao afirmar: “houve declara-ções infelizes de alguns responsáveis po-líticos que obviamente não podemossubscrever”.

A palavra de Durão

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(Bilhete Geral: 33 euros)

Page 12: A CABRA – 171 – 23.10.2007

PATRÍCIA COSTA

2 A CABRA SSUUPPLLEEMMEENNTTOO 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

Sete noites com muita lataA Festa das Latas muda–se este ano para o Queimódromo e tem mais um dia no programa.

Paralelamente às noites do parque realizam–se ainda várias actividades desportivas e culturais.Por Helder Almeida, Lídia Gomes, Tiago Martins e Marta Oliveira

uando se pensa na Festadas Latas a ideia vai emprimeiro lugar para asnoites do parque e para osconcertos. Na verdade, es-ta é a vertente mais publi-citada e a que interessa

mais ao estudante, que este ano podecontar com mais uma noite de convívionum espaço diferente dos anos anterio-res.

A realização da festa no Queimódromoé uma das novidades. Segundo o Coorde-nador Geral da Festa das Latas 2007, Ri-cardo Duarte, a mudança de espaço deve-–se, em primeiro lugar à segurança que oQueimódromo proporciona. “Notou–seuma crescente afluência de pessoas aorecinto da Latada e o espaço do EstádioUniversitário já tinha a sua degradaçãonatural”, refere. Por outro lado, o facto deo anterior local não possibilitar um es-coamento rápido das pessoas em caso deemergência foi também preponderante.

Relativamente à disposição do recinto,a maior parte está reservada para a tendados concertos, que vai estar acoplada aopalco. Perpendicularmente à tenda prin-cipal situa–se a tenda dos núcleos, ondeestão as concessões de bebidas e um es-paço para a restauração. Apesar da Lata-da se realizar no mesmo local das noitesda Queima das Fitas, o espaço vai ser me-nor, “de forma a que seja mais acolhedor

e que as pessoas se sintam mais próxi-mas”, justifica o Coordenador Geral dafesta. Ricardo Duarte assegura ainda quea área vai ter uma capacidade máxima de40 mil pessoas.

Este ano a Latada não termina, comotem sido habitual, na terça–feira. Devidoao feriado de 1 de Novembro, a festa con-ta com mais um dia. “Queríamos marcaruma diferença, pensando também que é aLatada no ano em que a Associação Aca-démica comemora 120 anos, e pensámosapostar na quarta–feira”, afirma RicardoDuarte. A aposta reflecte–se também nasbandas que actuam nessa noite, todas in-ternacionais, e no preço mais elevado dosbilhetes, que para estudantes fica em 15euros.

Para além das noites, a cultura e odesporto

Os preços cada vez mais elevados dasfestas académicas coimbrãs e os objecti-vos cada vez mais centrados no lucro, le-vam muitos a comparar a Latada e aQueima a um qualquer festival de Verão.Uma ideia que é rejeitada pelo tambémvice–presidente da Direcção–Geral daAAC. “É redutor demais chamar à Festadas Latas um festival de Verão, uma vezque há um aspecto único aqui, que são asbarracas dos núcleos, o que acaba por di-ferenciar a Latada de qualquer festival oumesmo da Queima das Fitas”. “Acho que

as festas académicas se adaptaram àquiloque teria que ser. É a festa do estudante eeste deve ser privilegiado, mas tem quehaver uma maior aproximação à cidade,nem que seja no fim–de–semana”, defen-de Ricardo Duarte.

Mas a Latada não é só as noites do par-que. Para além dos concertos, existe umprograma cultural e desportivo, no qualos estudantes podem participar. Para ho-je está marcado o tradicional peddy tas-cas e para amanhã a serenata, que se rea-liza no largo da Sé Nova, seguida de umconvívio nas Químicas. Para a tarde docortejo, terça–feira, está programado umconcurso de fotografia. Em Novembro es-tá ainda prevista uma homenagem à can-ção de Coimbra e a Adolfo Rocha, médicoe escritor mais conhecido por MiguelTorga.

Do programa desportivo faz parte umaactividade de parapente, a 10 de Novem-bro, um “campo montanha”, que decorrede 16 a 18 de Novembro, e um raide urba-no a realizar no Pólo I, a 21 de Novembro,e no Pólo II, a 22.

Ruben Olival, coordenador do progra-ma cultural, e Bruno Leal, coordenadordo programa desportivo, esperam umaboa adesão aos projectos, apesar de reco-nhecerem que os estudantes se mostrammais interessados nas noites do parquedo que nas outras actividades realizadasdurante este período.

Q A história das latas

Com o objectivo de celebrar o início doano lectivo e dar as boas vindas aos no-vos estudantes que chegam à cidade, aFesta das Latas é uma das mais caracte-rísticas festas académicas de Coimbra.Mas nem sempre foi assim. Com ori-gens no século XIX, a Latada realizava-–se em Maio, quando os estudantes co-memoravam efusivamente o términodas actividades escolares, utilizando la-tas e outros objectos igualmente ruido-sos. É apenas a partir dos anos 50/60que a Festa das Latas ganha o formatoque hoje conhecemos, com a Cerimóniada Imposição de Insígnias, compra donabo e o seu ponto alto, o Cortejo, ondeos caloiros desfilam com as suas curio-sas indumentárias e as mensagens satí-ricas normalmente referentes à realida-de académica ou política do país. Inicialmente, cada Faculdade tinha oseu próprio cortejo, realizado em diasdiferentes. Com o aumento exponencialdo número de alunos, a partir de 1979,e com restabelecimento das tradiçõesacadémicas, optou–se por juntar todosos alunos nas mesmas festividades.A Latada destaca–se também pela acti-va participação dos núcleos, o que lheconfere um carácter mais familiar doque a própria Queima das Fitas. L.G.

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Tal como manda a tradição, a Latada de2007 abre com a típica actuação das tu-nas académicas de Coimbra, no SarauAcadémico. O espectáculo inicia–se àmeia–noite e as guitarradas dos estu-dantes dão as boas vindas aos caloiros.

23 de Outubro de 2007, 3ª feira SSUUPPLLEEMMEENNTTOO A CABRA 3

25Quinta-feira

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A segunda noite das latas abre com abanda de Alcobaça, The Gift. O conjuntoliderado por Sónia Tavares tem uma fas-quia elevada devido à excelente actua-ção na Queima do ano passado. Anoite prossegue com o ex–Si-lence 4 David Fonseca, a apre-sentar na Latada o novo ál-bum intitulado «Dreams inColour», cujo single «Su-perstars II» se tornou umhit logo na primeira sema-na. A noite não fica com-pleta sem a actuação daTuna de Medicina.

26Sexta-feira

Pedro Khima, celebrizado pelasnovelas da TVI, é o primeiro a pisaro palco. Seguem–se os Chauffeur Na-varrus, grupo lisboeta de pop blues.Num outro registo, mais quente e dan-çável, os Irmãos Verdades prometemcontagiar com o seu kizomba a audiên-cia. Após o concerto da banda angolana,actuam os Papas da Língua, conjunto bra-sileiro de Léo Herken, Fernando, Zé Na-tálio e Serginho Moah, cujo novo projecto“Ao Vivo” tem feito grande sucesso, sendojá disco de ouro. A conhecida Estudantinafecha a noite.

Sábado

A noite abre com o punk–rock de TheCynicals, vencedores do último festivalde bandas de garagem de Corroios,abrindo assim as odes aos SqueezeTheeze Pleeze. A banda de Cantanhedetem um novo álbum, e quer mostrar–seem forma na Latada. A noite prosseguecom os cabeças de cartaz Blasted Me-chanism, que retornam à cidade dos es-tudantes depois de um excelente concer-to na última Queima das Fitas, que to-dos os presentes esperam ver repetido.A noite só termina com a actuação de InVino Veritas.

28Domingo

Para o quinto dia da Festa das Latas, osestudantes contam com a actuação docantor popular português José Cid e BigBand, membro original da mítica bandaQuarteto 1111 e autor de célebres can-ções como “Como o Macaco Gosta daBanana” e “Mosca Superstar”. Confir-ma–se a presença dos consagrados Xu-tos & Pontapés, que continuam a pro-mover o seu último CD, “Mundo ao Con-trário”. A tuna Fan–Farra Académica deCoimbra, que comemora o seu vigésimoaniversário, encerra a noite.

29Segunda-feira

A noite grande da Festa das Latas abrecom os promissores Daphakz, que ac-tuam antes do aclamado rei da MúsicaPopular Alternativa. De Leonel Nunesespera–se um espectáculo memorável,ao som de êxitos como “Porque nãotem talo o nabo” e “Um pepino entreos tomates”. O ponto alto da noite estáreservado para a já habitual perfor-mance de Quim Barreiros que prome-te levar à loucura milhares de estudan-tes, sedentos de um bom pé de dança.A noite termina ao som da original Or-xestra Pitagórica, conhecida pelo seucarácter satírico e bem–humorado.

30Terça-feira

Para o últimodia da Latada,a representa-

ção do hip-–hop cubano

está a cargo dosOrishas, que

apresentam oúltimo álbum,

“Antidiótico”. Aestrear nos pal-

cos das festasestudantis co-nimbricenses

vai estar o can-tor alemão de

reggae Gentle-man. A noitefica completacom a músicajamaicana de

Gary NestaPine, actual

cantor dabanda The

Wailers e voz dohit mundial “Love

Generation”, de BobSinclair. A Festa das

Latas termina ao somdas vozes femininas da

tuna As Fans.

31Quarta

27

Por Paulo Lemos, Tiago Martins e João Picanço

ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

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Suplemento inteiramente financiado pela Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra e distribuído com a edição nº171 d’ A CABRA

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Tubo deEnsaio

Informática serve a comunidade

NomeLaboratório de Informática e Sistemas

(LIS) do Instituto Pedro Nunes (IPN)

LocalRua Pedro Nunes, em Coimbra

Data de criaçãoO IPN nasceu em 1991, o LIS foi criado

pouco tempo depois

ResponsávelMário Zenha Rela

ColaboradoresPessoas do quadro do IPN, docentes do

Departamento de Engenharia Informáticada FCTUC, estudantes das áreas da Enge-nharia Informática e Electrotécnica e re-cém–licenciados.

Área de trabalhoMaioritariamente nas áreas de informáti-

ca e de sistemas de informação, redes e co-municações, segurança e trabalhos multi-média.

Projectos desenvolvidosUm exemplo de um projecto em curso, já

de longa data, é o CIFICAT, que consistenum sistema para várias entidades fiscais ede segurança, com o intuito de colaborar nopatrulhamento da orla marítima.

Criação de websites em plataformas opensource.

Planeamento e projecto das redes dos tri-bunais nacionais e de hospitais.

FinanciamentoOs projectos são co–financiados com fun-

dos europeus e nacionais.

Expectativas para o futuroColaborar cada vez mais na transferência

de tecnologia entre a UC e as empresas.

ContactosTelefone: 239 700 900E–mail: [email protected]

Por Pedro Martins

O acesso à internetcomplementa a pesquisa

académica. Mas a ausência decontrolo no tráfego e nas

restrições de transferênciaspossibilita muitas vezesabusos puníveis por lei

Filipa FariaJoão MirandaSofia Piçarra

“Do ano passado para este, duplicou onúmero de processos de criminalidade in-formática na área de intervenção da Polí-cia Judiciária (PJ) de Coimbra”. A afirma-ção pertence a António Gonçalves, inspec-tor–chefe da PJ da área de Coimbra, quesublinha faltarem ainda os dados do últi-mo trimestre de 2007.

A responsabilidade no aumento é atri-buída essencialmente aos estudantes uni-versitários. O inspector–chefe aponta quedurante as férias do Verão “ocorrem me-nos casos na zona de Coimbra, porque équando os estudantes estão de férias”.

O facto de existir um tráfego ilimitadoatravés da rede e-U permite aos estudan-tes realizarem transferências de ficheirossem qualquer controlo por parte do Centrode Informática da Universidade de Coim-bra (CIUC), o gestor do serviço.

Mário Bernardes, responsável peloCIUC, confirma que “não existem restri-ções de tráfego nem controlo das transfe-rências realizadas via wireless”, mas res-salva que “os utilizadores são responsáveispelo uso que fazem dos recursos disponi-bilizados”.

Actualmente, os estudantes da UC po-dem aceder à internet através de duas re-des. A guest e-U, onde “o utilizador se au-tentica através do browser e que não é en-criptada, pelo que qualquer pessoa podever ao que se está a aceder”, explica Gui-lherme Morais, presidente do Núcleo deEstudantes de Engenharia Informática daAssociação Académica de Coimbra. Nestarede, apenas se podem usar os protocoloshttp, https, pop3, smtp e ssh.

Outra opção é a rede e-U, que atribui“um IP único a cada usuário, sem restri-ções de protocolos” esclarece ainda o estu-dante. A e-U permite a utilização de todo otipo de programas, como torrents, emule,mirc e jogos online, entre outros.

Para 2008, está prevista uma evoluçãona rede sem fios da e-U no sentido de seuniformizar com as congéneres europeias.Mas, em princípio, as normas de utilizaçãovão manter–se. O responsável do CIUCafirma que os utentes beneficiam de umavelocidade confortável no tráfego, situaçãoque só é sustentável “enquanto não houverum aproveitamento abusivo” porque “háque ter em conta que a largura de banda ea capacidade de processamento dos equi-pamentos não são ilimitadas”. Contudo,

ressalva que, até à data, o CIUC “não rece-beu nenhuma queixa formal relativamentea transferências ilegais de dados atravésda rede Wireless da UC”.

Entre a liberdade e o abusoO inspector–chefe da PJ de Coimbra

aponta que, nos casos de transferênciasilegais ou abusivas, “a UC não é lesadauma vez que tem um tráfego praticamenteilimitado, logo, que nunca se ultrapassa”.Nestas situações, está muitas vezes emcausa o acesso com o propósito de fazerdownloads de fi-cheiros com direi-tos reservados, oque pode consti-tuir crime deusurpação e, aler-ta António Gon-çalves, “é da intei-ra responsabili-dade do utiliza-dor”. O coorde-nador do CIUCafirma que a enti-dade “monitorizaa utilização da re-de com o objecti-vo de gerir a mes-ma”, no sentido de “avaliar o desempenhoe não o controlo das transferências realiza-das”.

O inspector–chefe garante que a PJ “temconhecimento de muitos casos com estu-dantes universitários”, mas que estes sereferem, principalmente, a acessos ilegíti-mos a redes de outrem, o que estabeleceum outro crime.

A protecção dos direitos de autor com-pete ao próprio autor da obra ou ao titulardos mesmos. Quando estes são violadoscabe ao lesado apresentar queixa no Mi-nistério Público. Segundo o advogado An-

tónio Marinho e Pinto “é crime tudo o quese traduza na utilização de obras de tercei-ros sem a devida autorização”, e pode serpunível com pena de prisão até três anos.No entanto, para o causídico, “seria total-mente aberrante nas sociedades actuaistentar punir pessoas por realizarem trans-ferências de ficheiros para uso próprio”. Aprática é tão corrente que a sua penaliza-ção equivaleria a “criminalizar toda a so-ciedade portuguesa”.

A questão altera–se quando está emcausa a “exploração comercial, ou uma uti-

lização abusiva, oque constitui inega-velmente crime”, noentender de Mari-nho e Pinto.Segundo o advoga-do, para além da cri-minalidade, “esta-mos também peran-te responsabilidadecivil”.

António Gonçal-ves admite que, porser “um crime con-temporâneo”, e depequena criminali-dade, não existem

ainda grandes condenações. A prisão efec-tiva é substituída pela sanção monetária,apreensão de todo o material informáticoou cumprimento de serviço comunitário, oque, na visão do inspector–chefe, “surtemais efeito na desincentivação dos jovenspara esta prática”.

António Marinho e Pinto corrobora que“as penas pecuniárias são elemento dis-suasor suficiente para evitar estes crimes”,mas adverte que “a ausência de penas apli-cadas torna quase convidativa a práticadeste delito”.

com Thiago Neves

������������������������������ ������ �������������� ��������23 de Outubro de 2007, 3ª feira CCIIEENNCCIIAA A CABRA 11

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

De 1 Out. a 30 Nov. Das 9h30 às 16hNeste Outono… vamos abraçar as Árvo-res?!! – Jardim Botânico de Coimbra24 de Out. 9h - Workshop: “Metodologiado Ensino da Medicina Geral e Familiar” –Auditório do Ibili FMUC 25 e 26 de Out. Conferência: “A ciênciaterá limites?” - Auditório 2 da FundaçãoCalouste Gulbenkian

INFOGRAFIA POR JOÃO MIRANDA

Page 16: A CABRA – 171 – 23.10.2007

O futebol português está de novo aser alvo de críticas por culpa das deci-sões arbitrais?

Sim. Chegámos a uma altura em que trei-nadores e dirigentes entram no mesmo dia-pasão, que é criticar os árbitros. Não ponhoem causa a honestidade dos árbitros nem di-go que as decisões são tomadas com o pen-samento de prejudicar alguma equipa, maso que é certo é que os erros existem. É o maldo futebol português, porque as coisas emtermos de arbitragem podiam ser mais equi-libradas e muito mais organizadas. Os árbi-tros poderiam tentar chegar a um acordo eperceber os erros que cometem, para teruma voz muito mais activa.

Pensa que é tempo do futebol seabrir aos meios tecnológicos, capazesde esclarecer situações duvidosas?

O futebol já evoluiu muito. Temos cons-ciência de que não assistimos a tão bons es-pectáculos como antigamente. Agora, háuma coisa: quanto mais evolução houver nofutebol, menos beleza vai haver em termosde espectáculo. Vai haver situações faladas àvolta do futebol, porque no dia em que sedecidir o problema do golo, se a bola entrouou não entrou, não haverá discussão nemtanta matéria para os jornais.

As equipas “pequenas” são prejudi-cadas quando defrontam os grandesdo futebol português?

Dificilmente são beneficiadas. Os jornaistêm de vender e é normal que os benefíciose os erros contra os grandes sejam muitomais analisados do que contra as equipaspequenas. Muitas vezes passam ao lado, ou-tras nem passam na televisão, e portanto,nem há assunto para debater durante trêsou quatro dias.

Quando entrou, a Académica tinhaapenas dois golos marcados nos 4 jo-gos disputados. A partir de Janeiro,será uma equipa à “Domingos”, maisatacante?

As pessoas da Académica já têm consciên-cia daquilo que é necessário e do que a equi-pa precisa. Vamos tentar trabalhar no senti-do de melhorarmos e fazermos com que se-ja bem reforçada. Queremos marcar mais esofrer o menos possível. E se vierem refor-ços, mesmo reforços, vamos ter uma equipamuito melhor e ganhar mais vezes.

Pode desvendar a sua estratégia?A estratégia depende da situação. Nunca

pode ser a mesma. Dentro do futebol exis-tem os nossos princípios de jogo, modelos,sistemas e estratégias. Portanto, perante oadversário devemos procurar a melhor es-tratégia para ganhar.

Ainda não repetiu um “onze” nocampeonato, desde que está no co-mando técnico da Académica…

Se calhar nem vou repetir, porque joga-mos contra várias equipas com característi-cas diferentes. Além do interesse do resulta-do há a estratégia, e há determinados joga-dores que são importantes para aquele mo-mento. Depois há lesões, situações de joga-dores que estão menos confiantes…

Quer enviar alguma mensagem aosadeptos da Académica?

Para mim eles foram uma surpresa, por-que um jogo com o Paços de Ferreira ter cin-co ou seis mil pessoas, com as coisas a nãocorrerem bem naquele momento, é sinal deque gostam da Académica. Quero que conti-nuem a apoiar e a acreditar numa equipamais forte e mais consistente. Hoje sou daAcadémica e no futuro serei da Académica,porque realmente sinto que este é um clubediferente, que tem pessoas que gostam deuma forma muito especial do clube. Esperoainda trazer mais público ao estádio, o queera sinal de que as coisas estavam bem enca-minhadas e estávamos a cativar com o queestamos a fazer.

Na União de Leiria queixava–se dosproblemas disciplinares dos jogado-res. Foi, aliás por isso que saiu do clu-be. Domingos combina com ordem?

Se é uma profissão paga, temos que ser omais profissionais possível. Tem que haverregras, organização, e a partir do momento

em que elas são quebradas é natural que eunão fique satisfeito. Aconteceram situaçõesque não foram do meu agrado. Há bem pou-co tempo, na União de Leiria, a direcçãochegou ao ponto de mandar cinco ou seis jo-gadores embora. Afinal a culpa não era dotreinador.

No seu caso, juventude convive comambição?

Sim. Fui criado numa escola onde fui trei-nado para ganhar e portanto tenho que serambicioso. Fui assim enquanto jogador etambém o serei como treinador. Infelizmen-te essa ambição terminará um dia, mas en-quanto sentir que posso e que tenho quali-dade vou acreditando no meu trabalho.

Tem que se ter “paciência” para ofutebol?

Tem que se ter muita paciência para o fu-tebol que é apresentado hoje nos estádiosportugueses. Se eu fosse espectador e vissejogos como tem acontecido esta época, per-dia a paciência e deixava de ver futebol, por-que os espectáculos são de má qualidade epor todos os motivos. Talvez esteja na estru-turação do futebol português porque as pes-soas que lá estão deviam ter mais qualidadee o critério de escolha devia ser mais rigoro-so. Outras vezes aparece um jogador a des-pontar e é vendido por 25 ou 30 milhões deeuros no final do ano. E o futebol portuguêsé cada vez mais fraco.

O que recorda do tempo em que foi

jogador?Coisas muito boas e alguma saudade da-

quilo que fiz e que eu hoje vejo poucos fazer(risos).

Pode contar–nos a melhor e a piorsituação enquanto jogador?

É complicado. Fui muitas vezes campeãonacional, também melhor marcador docampeonato. Aliás, ser o último melhormarcador português é um orgulho, pois es-tamos a falar de há mais de 10 anos. Tam-bém o é, ser o melhor marcador da superta-ça Cândido de Oliveira de toda a história.Das piores talvez as lesões, ou aquela situa-ção em que, num jogo, um treinador me me-teu a 10 minutos do fim e me tirou a cinco.Servem para crescermos e sabermos que àsvezes as coisas não são como queremos.

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“Hoje sou da Académica e no futuro serei da Académica porque sinto que este é um clube diferente”

Com o seu sotaque nortenho, o treinador da Académica/OAF, Domingos Paciência falouda experiência enquanto jogador, mas sobretudo do cargo que ocupa actualmente

Por Patrícia Costa e José Vasconcelos“ ”12 A CABRA DDEESSPPOORRTTOO 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

Melhor jogador de sempre: Ma-radonaMelhor jogador actual: CristianoRonaldoMelhor treinador actual: VanGaalPassagem por Leiria: cresciUm campeonato: espanholA selecção qualifica–se: mal eraO campeão 2007/08: FC PortoUm local de Coimbra: a zona doestádioFora dos relvados: Família, conví-vio com os amigos e desfrutar ao má-ximo cada momento

Tácticas de Domingo(s)

CÁTIA MONTEIRO

Page 17: A CABRA – 171 – 23.10.2007

Circo Ribatejano estreiano próximo sábado, 27,no Teatro Académico de

Gil Vicente (TAGV) com umconceito inovador da arte

Raquel SoaresAndreia Silva

O TAGV vai acolher, ainda esta semana,um novo modelo de circo. A dupla Ferlos-cardo, nascida de uma parceria entre Fer-nando Romão e Carlos Oliveira, pretendetransmitir uma nova perspectiva do uni-verso circense. Os artistas procuramconstruir “um aparato cénico, com umadramaturgia própria, que se afasta da es-tética rígida do circo tradicional”, explicaFernando Romão.

Tendo apostado neste conceito inova-dor o director do TAGV, Manuel Portela,garante que é importante “enquanto tea-tro universitário, mostrar novos espectá-culos e novas experiências relacionadascom todas as disciplinas artísticas”.

O espectáculo do “novo circo” é já co-nhecido na Europa, em países como Es-panha, Itália e França. Segundo ManuelPortela, França tem mesmo “uma tradi-ção muito forte nesta prática artística”.

Pouco difundido em Portugal, o “novocirco” tem ganho cada vez mais projec-ção. “Muitos destes grupos internacionaistêm passado pelas salas portuguesas”, oque tem influenciado a criação recente decolectivos nacionais nesta área.

Estas encenações “são concebidas de

forma polivalente para serem interpreta-das em vários tipos de espaço”, esclareceo director do TAGV. Assim sendo, no ca-so de Ferloscardo, “não foi necessáriauma mudança especial por causa da áreado teatro, pois o espectáculo tem as suaspróprias estruturas que vão ser implanta-das no palco”, conclui Portela.

Criada em 2004 na cidade de Santa-rém, a companhia Ferloscardo teve nomalabarismo o ponto de partida. Desdeaí, “houve uma vontade de transformartoda a experiência adquirida ao longo dosanos, muito prática e autodidacta”. A du-pla procurou criar “um espectáculo comuma linguagem própria”, revela Fernan-do Romão.

O artista circense refere ainda que “oespectáculo é em parte a resposta a toda aorigem do nosso trabalho, muito rudi-mentar, com uma grande pobreza de re-cursos”. Para a Ferloscardo, Coimbra re-velou–se numa oportunidade de mostraro seu trabalho: “queríamos muito ser osúnicos em palco até que surgiu esta hipó-tese”.

A companhia espera alcançar uma novadimensão junto da comunidade académi-ca, uma vez que “a área do circo estimulaa curiosidade do público jovem; estamosà espera de ser recebidos por um públicoestudantil e universitário”, revela Romão.

Manuel Portela considera que Ferlos-cardo é um espectáculo para todas as ida-des, não tendo “um público específico co-mo destinatário”. Desta forma, o directordo Teatro Académico espera “uma boaplateia”.

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C u l tu r apor ca

Fernando Pessoa: o que há denovo nas novas edições?

Comunidade de Leitores, conversas sobreliteraturaLivraria Almedina Estádio; 21H

“Parede de Segredos”, TeatroTAGV; 21h30

10€ (bilhete normal) 8€ (Estudante/Sénior)

Apresentação da “O Mal”Revista de Arte e Ideias

FNAC; 21h30

“Paz, Pão, Habitação... As Ope-rações SAAL”, Documentário

TAGV; 21h30

Quarteto de Cordas e AcordeãoNo âmbito do XV Festival de Músi-

ca de CoimbraAuditório da Casa Municipal da Cultura21h30; Entrada Gratuita

Gala Comemorativa dos120 Anos da AACTAGV; 21h30O evento está incluído no pro-

grama oficial da Comemoração dos 120Anos de uma das mais emblemáticas asso-ciações de estudantes portuguesas – a As-sociação Académica de CoimbraEntrada Livre

“A Vida é Bela”, CinemaCiclo de Cinema Italiano

Casa Municipal da Cultura; 15H

“Water Dreams”exposição–instalaçãoDe Angel OrensanzMuseu da ÁguaDe terça–feira a domingo,

das 10H às 13H e das 14H às 18H

“Na Estrada Real”, TeatroCompanhia Escola da NoiteEm palco na Oficina Municipal do TeatroO espectáculo insere–se no ciclo dedicadoa Anton Tchékhov, que a companhia man-tém desde o início do ano. A peça tem comotema central a miséria russa presenciadapelo dramaturgoDe terça–feira a sábado às 21h30, aos do-mingos às 16HBilhetes entre os 6€ e os 10€

Exposição deNoronha da CostaPinturaGaleria SeteDe segunda a sexta–fei-ra das 11H às 13H e das

14H às 20HAos sábados das 15H às 20H

Por André Amador

D.R.

23 de Outubro de 2007, 3ª feira CCUULLTTUURRAA A CABRA 13

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4Até

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17Até

Um baixo, uma bateria,uma guitarra e uma

voz fadista juntam–se numencontro de ritmos variados.

O resultado éuma nova sonoridade

Alexandre OliveiraVânia Silva

O Teatro Académico de Gil Vicente(TAGV) leva a palco, quarta–feira, 31, ogrupo SAL. A banda que se estreou noinício do ano na Casa da Música, noPorto, insere–se num projecto musicalque entrelaça diferentes culturas, desdea costa de África, à costa brasileira e àsterras lusitanas.

Com referências à Península Ibérica, aÁfrica, e ao continente sul–americano, apreocupação principal da banda “é fazermúsica original que agrade e satisfaça eque, de alguma maneira, visite os locaisonde a língua portuguesa se estabele-ceu”, frisa o guitarrista, José Peixoto.

O projecto musical integra José Pei-xoto na guitarra clássica, Fernando Jú-dice no baixo, Vicky na bateria e AnaSofia Varela na voz. Segundo José Pei-xoto, a preferência por uma voz femini-na, deve–se ao facto da banda reconhe-cer que seria “interessante ter uma pes-soa vinda do fado, que não o cantassemas que fosse uma mais valia para estetipo de canto que só existe aqui em Por-tugal”. A escolha da vocalista Ana SofiaVarela – há mais de uma década consi-derada a voz mais aclamada do chama-do novo fado – não foi aleatória. “Elatransporta muitas das coisas que nósqueríamos para a nossa música”, frisaFernando Júdice.

Apesar do repertório musical da ban-da se aproximar do fado, José Peixoto eFernando Júdice negam a ideia de SALser uma banda fadista. “O fado pode es-tar presente neste tipo de música masno seu conteúdo não podemos dizer queé isso que fazemos”, conclui a banda. Noentanto, o grupo tem como característi-ca incontornável a produção de uma

música que toca o horizonte do fado. O nome do projecto está ligado às raí-

zes nacionais. O objectivo dos membrosda banda era que, de alguma maneira, onome do grupo pudesse sintetizar a si-tuação geográfica e cultural de Portugal.“Achámos que SAL era o nome indicadoporque sintetizava este novo conceito ea relação com o mar e o oceano”, expli-ca José Peixoto.

Em digressão desde 5 de Outubro,SAL já visitou algumas das maiores ci-dades do país. Segundo o guitarrista aexperiência “está a correr bem, a nívelartístico estamos muito satisfeitos, osconcertos têm sido muito positivos”.

O grupo aguarda com muita expecta-tiva a vinda a Coimbra, “uma cidade pri-vilegiada onde a classe estudantil é pornatureza curiosa”, acredita FernandoJúdice.

Para o futuro espera–se mais SAL: “anossa vontade é trabalhar mais na mú-sica, e estamos nesse processo. Fazercoisas novas e trabalhar é o mais impor-tante”, remata o baixista.

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ão poucas as livrarias alfarrabistasem Coimbra. Apenas três ou quatroestabelecimentos nas zonas antigasda cidade – a Baixa ou a Alta. As es-

tantes estão cheias de livros usados. Quandoas prateleiras deixam de ser suficientes paratantas estórias, os montes de livros come-çam a crescer pelo chão e pelas escadas dosprédios, com um ar tão antigo como os vol-umes que albergam. Páginas sublinhadas,escritas e rasgadas. Folhas amareladas pelosanos. O cheiro a papel velho. São estes os in-gredientes dos livros que através das suaspáginas mil vezes folheadas contam estóriasde todos os tempos.

Actualmente são raros os que conseguemsobreviver apenas com a venda de alfarrá-bios. O que Coimbra tem para oferecer hojesão lojinhas deterioradas que “enganam”quem as vê de fora. Disfarçadas pelos expo-sitores de lembranças para os turistas, estaspequenas bibliotecas escondem um mundode obras diversas. Nas estantes estão livrosem várias línguas: inglês, francês, italiano. Oacesso dos comerciantes às obras dá–sesempre da mesma forma: “as pessoas quequerem vender ligam e nós vamos a casa veras bibliotecas”, explica Cláudio Martins,proprietário de uma livraria alfarrabista naVisconde da Luz. Depois seleccionam os li-vros “de acordo com o mercado”.

É também de acordo com o mercado quese definem os preços. Na loja de Cláudio to-das as obras custam três euros, independen-

temente da edição, temática ou do verdadei-ro valor. É um trabalho amador aquele queCláudio faz juntamente com o irmão, Ricar-do Martins, dono de outro estabelecimentoalfarrabista no Arco da Almedina. Cláudio éamador porque não é profissional e porque éapaixonado pelo que faz.

Ricardo, no entanto, foi–se profissionali-zando ao longo dos 23 anos que tem dedica-do ao negócio. Na sua loja há obras para umeuro e obras “sem valor”, sublinha RicardoMartins, que já chegou a vender um livropor mil euros. Agora “o negócio vai mal”,mas apesar de nem sempre compensarfinanceiramente, o livreiro reconhece queeste ofício o tem enriquecido culturalmente.

O alfarrabista tem aprendido muito atra-vés da profissão. “À medida que vou contac-tando com os livros vou sabendo mais”, con-fessa Ricardo, que lamenta o fim das tertú-lias em Coimbra: “dantes havia os estudan-tes e professores passavam por aqui e tro-cavam ideias sobre os livros e as matérias.Aqui, no meu espaço”, refere orgulhoso.Nesses tempos, Ricardo ia bebendo o saberpartilhado pelos que vinham da universida-de até à Baixa. Hoje, quem conversa com elepressente cultura e traquejo por detrás dohomem simples, afável, de sorriso largo.

A casa do fim da ruaAo fim da Ferreira Borges, situa–se a li-

vraria alfarrabista Miguel de Carvalho. Noprimeiro piso de um prédio de traça antiga,

Miguel vende ao lado do vizinho Justino Al-faiate. O edifício está parado no tempo, maso livreiro soube actualizar–se.

Ao contrário dos outros alfarrabistas, Mi-guel tem a casa meticulosamente organiza-da: parece mais uma biblioteca do que umaloja de livros usados. As obras distribuem-–se pelas estantes por temas e por ordem al-fabética. Em comum com os outros alfarra-bistas tem o facto de culpar a Internet pelacrise no negócio. No entanto, é o único quetem base de dados informatizada e que afir-ma conseguir viver somente do comérciodos livros em segunda–mão.

Ao percorrer a livraria salta à vista ummostrador fechado a cadeado, onde se vêum livro aberto. A primeira página tem umadedicatória ilegível do autor. A obra custa400 euros. Ao lado repousa uma edição de1941 do “Fado”, de José Régio.

Deixou uma carreira como engenheirogeólogo pela bibliofilia porque esta é umaactividade que incentiva. “Conhecemos pes-soas interessantes e sou, acima de tudo,apaixonado pelos livros”, conclui.

Da Baixa à AltaEntre o Departamento de Química e a Bi-

blioteca Geral, na Alta de Coimbra, está a ca-sa Sérgio Brígida, de portas abertas há 36anos. Hoje com 71 anos, Brígida é um ho-mem de cabelo totalmente grisalho, tãobranco como a camisa que veste. Sobre o na-riz tem uns óculos que são, em si mesmo,

uma antiguidade: aros geometricamente cir-culares e cor de bronze.

Apesar do aspecto clássico, Brígida man-tém–se a par da actualidade. Discute a Aca-demia, o Processo de Bolonha e a Internet.Percebe–se que é um homem culto. Tem oantigo 5º ano do liceu e garante que conhe-ce bem a maioria dos livros que vende.

Sérgio Brígida era funcionário público.Esteve seis anos na antiga Lourenço Mar-ques, actual Maputo, capital de Moçambi-que, onde trabalhou na universidade abertano início de 60. O contacto com os estudan-tes, o ensino e a biblioteca universitária, on-de exercia funções, despertaram–lhe o inte-resse pelos livros. Quando regressou a Por-tugal iniciou–se na venda alfarrabista.

No início o negócio dos livros conciliava-–se com serviços de procuradoria prestadosaos estudantes. Depois, com a chegada doscomputadores, os préstimos estudantis dei-xaram de ser necessários. Brígida dedicou-–se por inteiro aos livros antigos, obras semtempo nem época que lhe dá prazer passarde mão em mão.

Não se arrepende. “Gosto imenso de livrose as obras antigas então… São tudo paramim”. Lamenta, contudo, que o negócio setenha deteriorado tanto. O homem que che-gou a vender um alfarrábio do século XVIadmite derrotado: “já quase ninguém procu-ra livros, tudo tem o seu tempo”. Tudo, à ex-cepção das obras atrás do homem que desa-bafa nostálgico. Essas são intemporais.

Livros técnicos, de ficção, colecções. Quem entra num alfarrabista encontra um pouco de tudo entre os livros espalhados pelos cantos

14 A CABRA CCUULLTTUURRAA 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

CÁTIA MONTEIRO

Alfarrabistas de Coimbra

������������������������������ ������������������������Alojam–se em estabelecimentos antigos como os livros que vendem.

Cada vez em menor número, cultos e interessados, são assim os alfarrabistas da cidade do conhecimentoReportagem por Pedro Crisóstomo, Martha Mendes e Carolina de Sá

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José Nuno Martins, provedordo ouvinte da RDP, acusa

a direcção de programaçãode “não estar disponível

para receber a crítica, só os aplausos”

Liliana FigueiraTânia Mateus

Jens Meisel

“Tenho tido problemas relacionais denatureza absolutamente grave devido aum mau estar constante, levando a que,nesta altura, esteja numa situação de nãodiálogo com o director de programação daRDP, Rui Pêgo”. A afirmação parte do pro-vedor do ouvinte, José Nuno Martins,quando questionado sobre a relação entrea figura do provedor e os directores da es-tação pública. Contactado pel’A CABRA,Rui Pêgo não quis prestar quaisquer decla-rações.

Em entrevista, José Nuno Martins reve-la que desde o segundo programa, “Em no-me do ouvinte”, houve “tentativas de es-conder o espaço do provedor, colocando-oem horários que não são consentâneoscom a importância da sua acção”. José Nu-no Martins acusa a direcção de programa-ção da RDP de “tentativas de modificaçãoe de censura constante [relativamente] àsdecisões que o provedor tomou e da formacomo indagou acerca das reclamações dosouvintes”. A CABRA tentou contactar a ad-ministração do grupo RTP no entanto, talnão foi possível até ao fecho desta edição.

Os estatutos do provedor do serviço pú-blico de rádio e televisão, formalizados emFevereiro de 2006 pela lei portuguesa,conferem “independência [ao provedor]face aos órgãos e estruturas da concessio-nária e respectivos operadores”. Apesardeste pressuposto, José Nuno Martins de-nuncia que “a própria administração daRTP tentou reconfigurar as competênciasdo provedor do ouvinte dizendo que eu es-tava a agir fora das minhas competências,que não são definidas pela administraçãomas sim pela lei”. Nuno Martins acrescen-ta ainda que “desde 15 de Maio que a ad-ministração da RTP não se encontra comos provedores”.

No entanto, José Nuno Martins ressalvaque “da parte da informação, da técnica edas áreas de multimédia” tem encontradosempre uma grande receptividade.

Luís Marinho não confirma nem desmente conflitos

Estas declarações surgem na mesma al-tura em que o pivô da RTP, José Rodriguesdos Santos, responde a um inquérito ac-cionado pela administração da empresa. O

jornalista reafirmou ao jornal “PÚBLICO”,do passado dia 7 de Outubro, a existênciade pressões políticas nos critérios edito-riais. A primeira denúncia remonta a2004, quando a administração da RTP no-meou Rosa Veloso para correspondenteem Madrid, apesar de a jornalista estar noquarto lugar na lista do concurso para ocargo.

Ao contrário das alegadas pressões deque fala José Nuno Martins, o provedor dotelespectador, José Manuel Paquete deOliveira garante: “não recebi nem aguen-taria nenhuma pressão quer da direcçãode informação, quer da de programação”.Paquete de Oliveira não é tão incisivo nasconsiderações que tece. Acerca das rela-ções que mantém, a título profissional,com as direcções de programação e de in-formação da RTP, o sociólogo considera-–as “boas e cordiais”, embora “o papel doprovedor seja, por natureza, conflitual”.Sublinha ainda: “em relação às minhas po-sições, e às determinações dos directores,terei discordâncias, mas cada um no seulugar”.

Por outro lado, o director de informaçãoda RTP, António Luís Marinho, não con-firmou nem desmentiu a conflitualidadeentre papéis: “não há nenhuma divergên-cia de interesses, mas é evidente que quan-do há críticas há sempre um conflito po-tencial ”. Luís Marinho avalia a figura doprovedor como sendo útil na percepção deerros, o que “ajuda sempre a melhorar”.

“Eficácia discutível”Depois de recolhidas as críticas, as su-

gestões ou os aplausos do público, e avalia-da a pertinência, o provedor remete–aspara os responsáveis de conteúdos. Alémde pedidos de esclarecimento, o provedorenvia relatórios da sua actividade e solici-tações para reunir com os dirigentes, istoé, “recados para dentro” nas palavras doprovedor do telespectador.

De acordo com Paquete de Oliveira “a fi-gura do provedor carece de eficácia emtermos práticos”, visto que as recomenda-ções que apresenta aos directores “nãotêm uma força vinculativa”. Quanto muito,podem funcionar como “uma tentativa depromover a auto–regulação”, observa.

Em Abril do próximo ano cessa o pri-meiro mandato dos dois provedores. Pa-quete de Oliveira e José Nuno Martins de-monstraram não querer continuar a de-sempenhar o cargo. Enquanto o provedordo ouvinte não se mostra disponível paraum segundo mandato, o do telespectadorpensa que “será melhor abrir caminho pa-ra que a experiência seja realizada por ou-tra pessoa, enriquecendo uma função útilpara a televisão, para a cidadania e para ademocracia”.

Do ponto de vista dos resultados alcan-çados até agora, Paquete de Oliveira contaque “muitos telespectadores escrevem adizer que acham que a esta altura já deviater conseguido operar muito mais modifi-cações”. Aliás, o provedor é o próprio aconcordar que “há algumas rectificações afazer sobretudo naquilo que se pode men-cionar como obrigações de serviço públi-co”. Com Helder Almeida e

Ângela Monteiro

RUI ANTUNES

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Soraia Manuel Ramos

O primeiro semanário gratuito em Por-tugal pretende fechar a semana e abrir ofim–de–semana. A primeira edição do“SEXTA” chega ao público de todo o paísno fim desta semana.

O novo jornal resulta de uma parceriaentre o generalista “PÚBLICO” e o des-portivo “A BOLA” e, de acordo com o di-rector–adjunto do “SEXTA”, Luís Fran-cisco, “a aliança é perfeita, por questõesestratégicas, já que será um jornal maispopular do que o “PÚBLICO” e com con-teúdos que “A BOLA” não traz.”

O principal objectivo da publicação é“ser popular e não ‘popularucho’, acres-centa.

O responsável pelo “SEXTA” adiantaque o semanário terá “características ma-gazinescas, leve sem ser breve, atraentesem ser cor–de–rosa, interessante semser profundo, sério sem ser chato e semprecisar de levar tudo a sério”.

Com uma tiragem de 350 mil exempla-res, a maior em Portugal, o “SEXTA” vaiser distribuído, a partir do dia 26, nas zo-nas da Grande Lisboa e do Grande Porto(uma rede idêntica à dos outros jornaisgratuitos), nos hipermercados Modelo eContinente e também como encarte nosdois jornais que lhe dão origem.

Luís Francisco, ex-jornalista do“PÚBLICO”, defende que “o ‘SEXTA’acrescenta informação à ‘A BOLA’ e tam-bém ao ‘PÚBLICO’, porque será um con-ceito diferente”.

O novo título, de 32 páginas, é descritopela detentora do “PÚBLICO”, a Sonae-com, como “um projecto inovador, queestá a gerar grande expectativa” e vai par-tilhar recursos humanos e logísticos dosdois diários. No entanto, Luís Franciscogarante que “o ‘SEXTA’ vai contar comuma redacção independente, que todos ostextos vão ser escritos em exclusivo e nãoserão reaproveitados”.

Por parte do desportivo “A BOLA”, daSociedade Vicra Desportiva, João Bonzi-nho adianta que, no “SEXTA”,“o desportoterá um peso superior, porque é um temaque interessa às pessoas”. No entanto, odirector do novo jornal explica que “seráum semanário generalista”.

Sob a máxima “A primeira página dofim–de–semana”, a publicidade, do novojornal já está na imprensa, nos “outdoors”e na Internet desde o dia 12, com dois tí-tulos misturados do “PÚBLICO” e d’“ABOLA”, que juntos não são verosímeis.

O projecto representa um investimentosuperior a dois milhões de euros no pri-meiro ano. A nova publicação vai ser geri-da por uma entidade jurídica participadade igual forma pelos dois diários.

Com Ângela Monteiro

Insatisfação leva o provedor do ouvinte da RDP a não renovar mandato em Abril

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23 de Outubro de 2007, 3ª feira MMEEDDIIAA A CABRA 15

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Casal Instantâneo

O “pai” de “Virgem aos 40 anos”, Judd Apatow, es-tá de regresso com mais uma comédia escrita e rea-lizada por si. Alison (Katherine Heigl) vê os seus de-sejos realizados quando é promovida a pivot na es-tação de televisão onde trabalha. Decide comemorarbebendo uns copos (a mais) numa discoteca, ondetrava conhecimento com Ben (Seth Rogen), um jo-vem redondo (em todos os sentidos) cuja única ocu-pação é ficar “mocado” com os amigos. Terminam anoite com um preservativo “esquecido”, o que dáinício a uns longos 9 meses de peripécias. Juntospor uma criança ainda por nascer, tudo terão de fa-zer para chegar a uma decisão final: a de abraçar amaturidade ou a de continuar a viver uma adoles-cência extemporânea.

A simplicidade da narrativa é um dos pontos altosdeste filme. As situações cómicas surgem com flui-dez, enquadrando o bom desempenho dos actores.O segredo da película está na forma natural como sedebruça sobre o quotidiano, sem nunca forçar um“gag” ou uma piada. É um verdadeiro estudo cómi-

co comportamental que joga facilmente com a lógi-ca humana.

As promessas expectáveis de algumas gargalhadassão cumpridas, sem esquecer, no entanto, o ladomais sério de toda a situação que Alison e Ben cria-ram, de todas as dúvidas e decisões mal tomadascom que aquele “casal instantâneo” vai lidando.

Mas nem tudo está a favor de Apatow. Por maislongo que o filme seja (afinal dispõe de 130 minu-tos) carece de um maior aprofundamento de situa-ções e personagens e isso demonstra, talvez, algumreceio em não conseguir suportar narrativas parale-las com firmeza. No fundo, falta–lhe arrojo suficien-te para ascender a outra categoria, que é o Cinema.

Ainda assim, este filme sobrevive graças a umguião de se lhe tirar o chapéu e aos actores que tãobem souberam interpretá–lo.

Cláudia Morais

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3|5

Planeta Rodriguez

Os mais atentos saberão que este filme, realizadopor Robert Rodriguez é uma das metades de Grin-dhouse que envolveu também Quentin Tarantino eo seu À Prova de Morte. Trata–se de uma homena-gem aos filmes rascos que passavam em sessão du-pla nos anos 60 nos EUA, e é nesse contexto que te-mos de encarar este filme.

Um acidente liberta um gás tóxico que transfor-ma comuns mortais em zombies que por sua vez sealimentam de humanos transformando–os emmais zombies, enquanto acompanhamos a luta pe-la sobrevivência de um conjunto heterogéneo depersonagens.

Mas a ideia de Rodriguez é ser o mais fiel possí-vel na recriação do cinema Grindhouse: filmes vio-lentos, com muito sangue, acção e muitas “gajasboas”. Mais que Tarantino, Rodriguez consegue sergenial na maneira como aproveita este exercíciopara levar ao limite o seu potencial imaginativo, eexplorar um conjunto de ideias que apenas funcio-nariam num projecto como este, pondo em delírio

a plateia com cenas que tem tanto de fantástico co-mo de cómico. Uma ex–dançarina que tem umametralhadora em vez de uma perna, ou uma anes-tesista que ataca os zombies com as suas injecçõesde trabalho. Ideias que se atropelam, e que nos le-vam a querer rever o filme.

Aviso: Os riscos e os saltos na fita fazem parte dacaracterização deste género cinematográfico, sãopor isso propositados e não erros de projecção. Seique têm aparecido algumas queixas quanto a isso,como já tinha acontecido com À Prova de Morte...

Rafael Fernandes

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16 A CABRA AARRTTEESS FFEEIITTAASS 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

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A Cabra d’OuroA Cabra aconselha

Vale o bilheteA evitar Fraco Podia ser pior

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Os Liars não são uma daquelas bandas que dão es-paço à criação de expectativas. O percurso musicaldeste trio Nova–Iorquino, desde há já vários anos ra-dicado em Berlim, foi sempre marcado por uma capa-cidade ímpar em ser imprevisível. A prová–lo estãoos agora quatro registos de originais que a banda jáeditou desde a sua formação em 2001 (escassos me-ses antes da edição do álbum de estreia), cada um de-les com uma abordagem completamente diferentedaquilo a que podemos definir como corrente estéti-ca da banda.

Como já é habitual, o grande público tomou conhe-cimento dos onze temas que compõem este álbumhomónimo largas semanas antes da data de lança-mento oficial, mercê de uma fuga editorial que permi-tiu que em alguns dias milhares de cópias fossem des-carregadas via internet. E desde logo, as reacções nãose fizeram esperar: onde alguns viram desinspiração(especialmente pelo facto de a banda explorar nesteúltimo registo o formato canção como nunca anteshavia feito); outros viram um álbum que estica o con-ceito de eclético a um nível quase sem precedentes,sem, no entanto, alguma vez roçar a incoerência. Oque nos deixa a braços com uma quase–certeza: osLiars são mesmo uma das melhores bandas da actua-lidade e têm uma facilidade extrema em prová–lo.

“Liars” traz–nos os momentos mais bem consegui-dos da carreira conjunta de Angus Andrew, AaronHemphill e Julian Gross, espalhados por sonoridadesque podem ir do rock mais extremo (“plaster casts oseverything”, o tema que abre o álbum), à “pop” maisdoce e adolescente (protection, muito possivelmenteos melhores quatro minutos e meio de música algumavez compostos pela banda) sempre com uma ponde-ração inteligente entro o “lo–fi” típico, quase ineren-te à banda e o cuidado semi–redundante que habi-tualmente se emprega na criação de canções pop.

O mais espantoso de tudo acerca deste registo será,no entanto, a forma quase imediata com que nosapercebemos da imagem de marca da banda, peseembora a longa distância que separa este álbum dostrês anteriores. E é aqui que ficamos com a certezaque os Liars pertencem mesmo àquele clube restritode artistas incapazes de produzir um álbum abaixo degenial.

Emanuel Boltelho

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“O velho está sentado na beira da cama estreita, mãos abertas fincadas nos joe-lhos, cabeça baixa, olhos fincados no chão”, assim começa a narrativa de Viagensno Scriptorium. O velho chama–se Mr. Blank. Não sabe quem é, nem o que foi.Criaturas estranhas povoam a sua imaginação e um enorme sentimento de culpatoma–lhe conta do coração. Não tem memória, salvo raras recordações de infân-cia. E vê–se ali, sozinho, num quarto, rodeado por um sem número de fotografiase folhas dactilografadas.

À medida que avançamos no livro, ouvimos falar em “tratamento”, “relatórios”,“missões”, “confederação”, “primitivos”…peças de um puzzle habilmente recortadopor Paul Auster. O leitor e também Mr. Blank caminham lado a lado em busca derespostas. Porém, as dúvidas permanecem e adensam–se.

Paul Auster não nos revela em momento algum quem é, afinal, Mr Blank. A nósresta–nos suspeitar…Talvez Mr. Blank seja um alter ego de Paul Auster. E o quar-to, cujo tecto é comparado a uma folha em branco, represente a mente do autor.Por sua vez, as personagens que visitam Mr. Blank ao longo da narrativa e que vêmde outros livros de Auster (como d’ A Trilogia de Nova Iorque ou d’ A Noite do Orá-culo) são, sem dúvida, alguns dos seres que habitam o universo criativo do escritore argumentista americano. Assim, no final da obra, percebemos que este livro não

é só um livro, é um livro dentro de outro livro. Depois de As Loucuras de Brooklyn (2006), Viagens no Scrip-torium representa o regresso de Paul Auster a um universo metafísico, de reflexão sobre o processo criativo daescrita. E talvez seja também um pouco mais do que isso. Esta obra encerra uma metáfora sobre os EUA, quan-do fala de uma “confederação”, que forja um inimigo comum a fim de desencadear uma guerra. Mais uma vez,Paul Auster revela de forma subtil a sua posição relativamente à política norte–americana.No entanto, Viagens no Scriptorium é, sobretudo, uma divagação sobre o processo criativo, a imaginação e ainterpenetração entre o universo ficcional e a realidade.

Apesar da habitual escrita simples e desconcertante, este é um livro difícil de digerir, que pode suscitar aoleitor a seguinte dúvida: “Quando é que este absurdo acaba?”, à qual Paul Auster responde: “Não vai acabarnunca”. Raquel Carvalho

OUVIR

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LER

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Estados Unidos, 1961. Uma ainda jovem organização secreta prepara a operaçãoque pretende remover Fidel Castro do poder: a invasão da Baía dos Porcos, em Cu-ba. Mas algo corre mal. Um informador dentro da CIA passou a informação para ooutro lado da cortina de ferro...

É este o ponto de partida para um filme de espiões à maneira antiga. Não há per-seguições de automóveis, nem violentas lutas corpo–a–corpo e é curioso que sejaMatt Damon a protagonizar tanto a versão mais cerebral aqui presente, como o es-pião mais moderno e musculado que perde a memória no Mediterrâneo. Damoninterpreta aqui Edward Wilson, personagem baseada num dos fundadores da CIA,e é mesmo um dos pontos fortes do filme. Frio, distante e fechado sobre si mesmo,um registo de contenção que é menos apreciado que o over–acting, mas mais esti-mulante de seguir e que confirma a maturidade do actor. Também interessante deseguir é a narrativa, construída pelo (aqui) realizador Robert DeNiro de formanão–linear, obrigando o espectador a estar atento a todos os pormenores e man-tendo a tensão esticada durante todo o filme.

Justamente, este trabalho foi galardoado no Festival de Berlim deste ano com oprémio para melhor elenco. De facto, a juntar à grande performance de Matt Da-

mon temos William Hurt, John Turturro, Alec Baldwin, Michael Gambon, e o próprio DeNiro. De fora destalista fica Angelina Jolie pois é claramente o elemento fraco da película, raramente alcançando a linguagem cor-poral necessária que a personagem lhe exige. Ainda merecedora de destaque é a banda sonora, subtil e rara-mente se sobrepondo à composição visual, apenas pontuando a vida de Edward Wilson desde os tempos deuniversidade, quando é recrutado para o FBI, até às semanas seguintes ao fiasco da Baía dos Porcos.

Cerebral e sem medo de assumir um ritmo que nada tem a ver com os filmes de espionagem actuais, O BomPastor levou cerca de 120 mil portugueses às salas de cinema e chega agora ao mercado DVD numa edição quedeixa muito a desejar, motivo que leva à baixa classificação aqui atribuída. Cerca de uma dezena de cenas cor-tadas e o já habitual trailer, são os extras com que nos brinda a Lusomundo, além da redundância de chamar“interactivos” aos menus do DVD e também os apresentar como uma “opção especial”.

Fernando Oliveira

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23 de Outubro 2007, 3ª feira AARRTTEESS FFEEIITTAASS A CABRA 17

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A Cabra foi despedir–sedo calor onde modos de vida

e lendas continuama resistir na praia.

Texto e foto por Carla Santos

Tudo começa numa ponta de terra queinvade o mar. Inadvertidamente, o geomé-trico Farol da Nazaré mistura–se com a ro-cha do planalto onde está fundado. A pedradas paredes, que reveste o edifício, vai per-dendo a sua cor original.E camufla–se ago-ra de verde escuro, trazido pelo sal do mar.

Um estreito caminho desenha–se do la-do direito da estrutura e serpenteia até àparte de trás. De um lado vê–se a Praia doNorte, quase deserta, do outro o extensoareal das outras praias da Nazaré. À nossafrente, a infinitude do mar abre os braços eestende–os para lá do que a vista alcança.Pequenos barcos pesqueiros parecem pon-tos no horizonte enevoado do alto mar. Notopo do cabo do farol também se pesca “oque vai aparecendo”, é o que explica umadepto da modalidade, de pele bastantecurtida pelo sol, que quase se confundecom a rocha onde está sentado.

Perto dali, rochedos mal recortados e en-crustados no mar albergam grandes coló-nias de molusculos. De fato e parafernáliade mergulho, são vários os que tentam asua sorte na apanha de percebes. Deixam-–se navegar ao sabor das ondas, perto dosrochedos, e quando mergulham apenas o

cano para respirar fica visível.À distância de uma subida, a partir do fa-

rol, está o Sítio, área de peregrinação deNossa Senhora da Nazaré desde o séculoXII. A lenda conta que D.Fuas Roupinhoterá perseguido um veado naquele local emdia de nevoeiro. O alcaide não reparou quea caça terá saltado para o precipicío, mas oseu cavalo foi impedido pela santa de cair.O povo diz que as marcas da travagem re-pentina do cavalo ainda estão no local on-de foi erguido a Ermida da Memória.

A módica quantia de oitenta e cinco cên-timos permite uma descida panorâmicadas lendas do Sítio, para a realidade daspraias do centro da vila, através do ascen-sor fundado em 1889.

Na vila as casas organizam–se em cama-das mais ou menos planas atrás do aindaextenso areal. Ali moram pescadores, as tí-picas senhoras das sete saias (algumasmuito gastas), comerciantes, donos depensões, miúdos da praia de cabelo quei-mado pelo sol.

Cheira a mar, férias, colónias balneares ebaldes e ancinhos na areia.

Poucos são os resistentes banhistas deOutubro. Quem ali se mantém é o peixe,aberto e curtido ao sol em estruturas demadeira, muito organizadas, no meio dapraia. As gaivotas voam para terra, mas ospescadores continuam nos pequenos bar-cos no mar. Ainda não é hora de regressar.

Na tela de quem pintou Portugal, a Naza-ré é o imenso barco e o areal da praia, a re-de lançada ao oceano.

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Qual a melhor viagem que já fez?Fiz duas viagens que tiveram significado para mim. Uma foi a Macau, que foi o sítio mais

longe onde fui. É um sítio maravilhoso e que gostava de rever. A outra foi a que fiz a Ber-lim com o intuito de ver três concertos do Tom Waits. Achei que nunca iria conseguir vero Tom Waits tocar e portanto foi um marco na minha vida em termos musicais.

Quando viaja prefere conhecer ou relaxar?Muitas vezes vou unicamente para relaxar e, ao mesmo tempo, viver a vida da cidade.

Geralmente deixo–me ir sem grandes planos. Ao longo dos dias em que estou nesses locaisacabo por fazer os programas consoante a disposição. No fundo dou mais valor ao impre-visto. E os sítios onde vou parar, nem que seja por acaso, têm mais interesse para mim.

Associa a música às viagens?Temos sempre uma banda sonora para a vida, há sempre músicas que nos acompanham,

que se referem a determinados momentos e que acabam por nos acompanhar como sendouma banda sonora. Nem que seja só na nossa cabeça, como recordação.

Qual a viagem que falta fazer?O Expresso do Oriente ou então, algo que esteja mais ao meu alcance, uma viagem a

Moscovo e São Petersburgo, pela imponência dos locais. Para onde é a próxima viagem?Paris, para o lançamento do novo álbum dos Wraygunn no fim de Novembro.

Ângela Monteiro

Viagens num minuto

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Antes da chegada ao aeroporto para uma longa viagem, ao outro lado do globo ou desti-no tropical, uma consulta de medicina do viajante nos Hospitais da Universidade de Coim-bra (HUC) é quase obrigatória.

Malária, Febre Tifóide, Febre Amarela, são algumas das doenças tropicais mais frequen-tes e manifestam–se geralmente sob a forma de febres ou diarreia, por isso há que estarprevenido antes da viagem.

Consoante o destino é feito um tipo de programa de vacinação diferente. A vacina da Fe-bre Amarela é a mais utilizada por abranger uma área mais ampla, da África Subsariana àAmérica do Sul. Mas não é a única: também as vacinas da Hepatite A e Hepatite B se tor-nam quase indispensáveis. Para quem pretende viajar para países onde a diferença de fu-so horário é superior a três horas, o “Jet Lag” também se vai manifestar.

Os sintomas vão desde dores de cabeça e mal–estar a redução das capacidades psico-–motoras, e podem ser atenuados através da adopção do estilo de vida do país para ondese viaja.

Isso implica adoptar os horários locais de sono e refeição, mas também frequentar locaisluminosos porque a “luz solar funciona como despertador e evita a sonolência diurna”,aconselha o médico dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Saraiva da Cunha.

Eunice Oliveira

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18 A CABRA VVIIAAGGEENNSS 3ª feira, 23 de Outubro de 2007

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CONFISSÕES|RUI DAMASCENO*|50 anos| Actor e tipógrafo

Sou tipógrafo de dia e actor à noite. Gosto das duas coisas, embora me reveja maisna profissão da noite. Sou um actor amador na verdadeira essência da palavra, amo oque faço. Dá–me muito prazer pisar o tabelado, a proximidade com o público, a inten-sidade das palmas. Já representei para quatro pessoas. Nesse dia, vi que era realmentedisto que eu gostava, dar o que tinha naquele momento, sem me interessar se estava aactuar para 4, 30 ou 200 pessoas. Represento para o público e para prazer pes-soal. No fundo, o teatro é uma conversa com as pessoas, uma montra da vida, do quesomos e queremos ser, uma espécie de esquizofrenia controlada. Comecei a re-

presentar no CITAC, fui para a Bonifrates, passei por um grupo profissional em Lisboa, pela Escola da Noite... Já fiz dois ou trêsfilmes e uma telenovela. Jurei para nunca mais. Gostava de protagonizar um grande filme. Também ambiciono fazer um tex-to na base da provocação, agitar o público. Perguntar às pessoas “mas que raio de vida é a nossa?”. Aliás, o teatro só temsentido assim. A tipografia é um legado familiar. Os meus pais eram tipógrafos. É uma herança que me encanta verdadeiramente.É algo físico, uma paixão pelo cheiro do que me é mais querido, os tipos, o chumbo, o componedor, o prelo, a máquina tipo-gráfica... Nunca me desfiz de nenhum tipo da minha tipografia. Nasci e cresci em Coimbra. Tive uma infância normal, comotodos os putos, andei à pancada, corri a Sé Velha e a Alta... Coimbra cresceu muito. Tornou–se uma cidade de betão. A nível cul-tural tinha muito mais interesse antes do 25 de Abril, e imediatamente a seguir. Agora é um marasmo, as pessoas já não tra-balham para a cidade, por isso, tenho uma certa nostalgia do que passou. Quando trabalhava antes do 25 de Abril levava unscalduços de vez em quando, depois do 25 de Abril levava uns calduços, mas refilava. Sou um pai galinha, tenho seis filhos dequem gosto muito, e a quem azucrino muito a cabeça. Quero é que os meus filhos sejam felizes. Faço a comida ao fim de se-mana, gosto de beber uns copos, de chatear as pessoas, dar–lhes cabo da cabeça. Sou um grande bandido, sou terrível. Pa-ra além do teatro, a arte mais interessante é a arte de educar. Não sou um educador, mas sinto que é um dom que as pes-soas deviam cultivar. E não é preciso dizer mais nada. Entrevista por Ângela Monteiro e Sofia Piçarra

*Actualmente em cena com a peça “O senhor Ibrahim e as flores do Corão”, no Teatro Estúdio da Bonifrates

Nesse dia tinha jantado a correr. Acho queengoli duas batatas fritas sem as ter masti-gado devidamente. Empurrei cada garfadacom sucessivos copos de água. E, com apressa, deixei cair gordura nas calças. Tudoisto, para não chegar atrasado a mais umaAssembleia Magna na Cantina dos Grelha-dos.

Confesso que estava expectante. Com onovo ano lectivo a entrar em velocidade decruzeiro, queria ver e ouvir os meus repre-sentantes. Estava “em pulgas” para saber seera desta que as propinas iam à vida. Masnão. Nada disso aconteceu.

Mal me acerquei do edifício, constatei deimediato que alguma coisa iria correr mal.Em primeiro lugar, porque os acessos estãouma miséria. Dirigi–me às cantinas e opteipor fazê–lo atravessando o edifício da Asso-ciação. À saída deparei–me com um jardimem destroços. O que me fez alguma confu-são. Estaria eu a caminho de uma Assem-bleia Magna, não de estudantes, mas de pra-ticantes de paintball?

Outro facto que me surpreendeu foi a fra-ca afluência. A hora de almoço desse dia ha-via trazido mais gente às cantinas, do que aque estava presente na reunião das reu-niões. É certo que chegar aos Grelhados nãoé fácil, mas, quanto a mim, as razões para ta-manha escassez de estudantes são outras.

Faltam temas fracturantes. Que mexam

realmente com o dia–a–dia da comunidade.Há, por exemplo, uma instituição que vivedias terríveis e que está completamente ar-redada das moções apresentadas e discuti-das em «sede de Assembleia Magna». Refi-ro–me, claro está, ao “Quarto de Hora Aca-démico”.

Ninguém o respeita. Ninguém lhe dá va-lor. Mas o seu regresso em força assumiriamuito mais importância, do que o próprioProcesso de Bolonha. É que, quase não hátempo para trocar de sala, entre uma aula eoutra. E todos os dias vejo estudantes esba-foridos nos corredores. Nestas condiçõesperde o professor, perde o aluno, perde ainstituição de ensino, e, como o leitor já terádescortinado, perdemos todos.

Portanto, apresento desde já a minha mo-

ção: Proponho a venda do “Quarto de HoraAcadémico” a uma marca de refrigerantes.Quero profissionais na promoção destesquinze minutos. Quero reduzir níveis de an-siedade.

Assim, logo que termine a aula, o alunoreceberá uma lata de 33cl do respectivo lí-quido, e poderá bebericá–lo até ao fim dosquinze minutos. Um contrato bem esgalha-do poderá, eventualmente, fazer com que orefrigerante se faça acompanhar de um que-que de laranja, para aconchegar o estômago.

É óbvio que, para a coisa entrar nos eixos,teremos todos que discutir se a bebida devetrazer palhinha, ou não. Mas para isso, con-voque–se outra Assembleia Magna.

Por Vítor André Mesquita

23 de Outubro de 2007, 3ª feira PPEENNUULLTTIIMMAA A CABRA19

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eLesALEMANHA “Ficou constatado que

o senhor foi o culpado pelo desapareci-mento do rolo” é o que diz a carta de de-missão. O senhor é Jochen Lorenz, mo-torista de autocarro alemão, e tirou, sempedir, um rolo de papel higiénico da ga-ragem da empresa onde trabalhava. Adiarreia e a indisposição que sentia leva-ram o motorista a pegar num rolo para ocaso de piorar. O “ladrão” foi apanhadopelas câmaras de vigilância e demitidoporque a quantidade de papel higiénico écontrolada pela empresa.

REINO UNIDO “You’re Beautiful” éum tema que os ouvintes da rádio EssexFM não vão ouvir tão cedo. O cantor Ja-mes Blunt foi banido desta rádio inglesaporque, segundo o seu programador, osouvintes precisam de descansar da vozdo artista. Esta é a resposta da Essex FMàs pressões da indústria musical que for-çam as rádios a passar algumas músicasde forma incessante.

CAMBODJA Uma vaca supostamen-te responsável por provocar vários aci-dentes e seis mortes foi finalmente “deti-da”. O animal com 1,5 metros de altura epeso desconhecido, estava parado nomeio de um cruzamento quando um mo-torista chocou contra ela, tendo morteimediata. O facto da vaca andar solta e asestradas não serem iluminadas são asprincipais razões dos acidentes.

Ana Bela FerreiraILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

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José Maria Pimentel nasceu em Coja a 25 de Agosto de 1953. Estudou fotogra-fia em Paris, no Centre d´Enseignement et Perfectionnement PhotographiqueProfessionnel.A revolução de 25 de Abril de 1974 permitiu ao fotógrafo voltar a Portugal edeixar a sua marca na arte nacional, com exposições pelo país.O artista partilha a sua paixão pela fotografia com a pintura e a escultura.De 1 de Maio a 18 de Julho de 2000, José Maria lançou–se numa aventura.Como fotógrafo e navegador da única equipa portuguesa participante num ra-li para carros clássicos, dá a volta ao mundo em 80 dias num Bentley.“Sair de casa e ver o mundo noutras perspectivas”, era o seu objectivoprincipal. Com o trabalho feito nesta viagem, José Pimentel foi premiado pe-la revista “Visão”, em 2002 e 2003.Esta fotografia sintetiza as precariedades vividas em Kashgar, na China, ondetudo o que é dispensável é lançado pela janela.O fotógrafo passeava pelas ruas da cidade, quando se deparou com este cená-rio. O que é visível no chão é resultado da falta de saneamento: “Kashgar éuma cidade com influências muçulmanas, onde a higiene é passada para ter-ceiro plano”, relata o artista.Esta é uma fotografia real, sem máscaras nem mentiras. Quem observa o mo-mento captado pela máquina não fica indiferente ao à–vontade da criançacom a precariedade.“Volta ao mundo – imagem de 80 dias”, segue quinta–feira, 25, para o Centrode Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.

Por Alexandre OliveiraVânia Silva

Mais informação disponível em:Redacção: Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54 Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção/Produção:

Secção de Jornalismo da

Associação Académica de Coimbra

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

PUBLICIDADE Cartoon por José Miguel Pereira

Fragmentos de Mundo| José Maria PimentelFotografia, grayscale, 2000

Notas sobre arte...

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