jornal universitário de coimbra - a cabra

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24 DE FEVEREIRO DE 2015 • ANO XXIV • N.º 269 • GRATUITO DIREÇÃO RAFAELA CARVALHO E PAULO SÉRGIO SANTOS JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA acabra SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA Fusão dos serviços da região centro - Coimbra, Aveiro e Leiria - pode vir a aumentar a fatura da água PÁG. 11 PÁG. 4 Bruno Matias ganhou as eleições para a Direcção Geral da Associa- ção Académica de Coimbra (DG/ AAC) e desde a tomada de posse, no passado dia 22 de janeiro, já se juntou ao movimento estudantil nacional para reunir com a Secre- taria de Estado do Ensino Superior. A discussão centrada na revisão do Regulamento de Bolsas de Ação Social tem sido a bandeira das primeiras ações políticas da nova DG/AAC que voltará a Lisboa ao gabinete de José Ferreira Gomes já no próximo dia 9 de março. Política educativa visa bolsas BRUNO MATIAS PÁG. 4 Com uma abstenção de cerca de 90 por cento e após vários contratem- pos eleitorais, o nome do estudante do terceiro ciclo foi conhecido ainda a tempo da eleição para a equipa reitoral. Jorge Alves Correia, doutorando em Direito, considera ainda assim que as eleições decorrerram de “forma total- mente tranquila”. Com um programa direcionado para a defensa dos estu- dantes doutorados e para a integração dos mesmos nos quadros de docência da Universidade de Coimbra, Jorge Alves Correia foca ainda a sua crítica no funcionalismo envelhecido da UC. Jorge Correia eleito pelo terceiro ciclo CONSELHO GERAL PÁG. 5 A Universidade de Coimbra inaugura as comemorações do 725º aniversá- rio com a Abertura Solene da XVII Semana Cultural. A decorrer até De- zembro de 2015, o programa deste ano conta com os mais diversos eventos organizados por entidades universi- tárias, municipais, entre outras. Na apresentação pública da programação, no passado dia 20, a vice-reitora da Cultura Clara Almeida Santos subli- nhou a importância do evento e deixou claro o desejo de ver mais estudantes envolvidos nas diversas atividades que terão lugar por toda a cidade. UC encontra-se com 725 anos de história XVII SEMANA CULTURAL JOÃO GABRIEL SILVA Com 24 votos a favor, um contra e seis brancos, o reeleito reitor inicia o seu segundo mandato no próximo dia 1 de março. O objetivo será abrir caminho para uma internacionalização da Universidade de Coimbra que lhe permita ser “a melhor universidade de língua portuguesa” PÁG. 2 e 3 “Há gente do mundo culinário, particularmente cozinheiros, que vivem, essencialmente, para o mediatismo” *José Quitério, crítico gastronómico Prémio Universidade de Coimbra 2015 DR

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Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

24 DE FEVEREIRO DE 2015 • ANO XXIV • N.º 269 • GRATUITODIREÇÃO RAFAELA CARVALHO E PAULO SÉRGIO SANTOS

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabraSISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA

Fusão dos serviços da região centro - Coimbra, Aveiro e Leiria - pode vir a aumentar a fatura da água

PÁG. 11

PÁG. 4

Bruno Matias ganhou as eleições para a Direcção Geral da Associa-ção Académica de Coimbra (DG/AAC) e desde a tomada de posse, no passado dia 22 de janeiro, já se juntou ao movimento estudantil nacional para reunir com a Secre-taria de Estado do Ensino Superior. A discussão centrada na revisão do Regulamento de Bolsas de Ação Social tem sido a bandeira das primeiras ações políticas da nova DG/AAC que voltará a Lisboa ao gabinete de José Ferreira Gomes já no próximo dia 9 de março.

Política educativa visa bolsas

BRUNO MATIAS

PÁG. 4

Com uma abstenção de cerca de 90 por cento e após vários contratem-pos eleitorais, o nome do estudante do terceiro ciclo foi conhecido ainda a tempo da eleição para a equipa reitoral. Jorge Alves Correia, doutorando em Direito, considera ainda assim que as eleições decorrerram de “forma total-mente tranquila”. Com um programa direcionado para a defensa dos estu-dantes doutorados e para a integração dos mesmos nos quadros de docência da Universidade de Coimbra, Jorge Alves Correia foca ainda a sua crítica no funcionalismo envelhecido da UC.

Jorge Correia eleito pelo terceiro ciclo

CONSELHO GERAL

PÁG. 5

A Universidade de Coimbra inaugura as comemorações do 725º aniversá-rio com a Abertura Solene da XVII Semana Cultural. A decorrer até De-zembro de 2015, o programa deste ano conta com os mais diversos eventos organizados por entidades universi-tárias, municipais, entre outras. Na apresentação pública da programação, no passado dia 20, a vice-reitora da Cultura Clara Almeida Santos subli-nhou a importância do evento e deixou claro o desejo de ver mais estudantes envolvidos nas diversas atividades que terão lugar por toda a cidade.

UC encontra-se com 725 anos de história

XVII SEMANA CULTURAL

JOÃO GABRIEL SILVACom 24 votos a favor, um contra e seis brancos, o reeleito reitor inicia o seu segundo mandato no próximo dia 1 de março. O objetivo será abrir caminho para uma internacionalização da Universidade de Coimbra que lhe permita ser “a melhor universidade de língua portuguesa” PÁG. 2 e 3

“Há gente do mundo culinário, particularmente cozinheiros, que vivem, essencialmente, para o mediatismo”

*José Quitério, crítico gastronómico

Prémio Universidade de Coimbra 2015

DR

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2 | a cabra | 24 de fevereiro de 2015 | Terça-feira

DESTAQUE

João Gabriel Silva

Sonha “com o dia em que a UC possa afirmar-se como a melhor universidade de língua portuguesa”. Quando?Se trabalharmos muito nesse sentido, apesar de muito exigente, demoraremos dez anos a lá chegar. Isto é um objetivo que não é atingível por uma só pessoa. O meu desafio está em trabalhar no sentido de criar uma vontade coletiva que faça com que seja qual for o reitor escolhido a seguir, ele siga a mesma linha.

Um dos pontos onde aponta a possibilidade de tornar a UC global é a renovação do corpo docente...Mais de metade dos docentes atuais daqui a quinze anos não estará aqui, inclusive eu próprio. Até agora temos estado num regime em que não substituímos quem sai, porque com dinheiro que é libertado temos sido sujeitos a isso. A ligação que eu faço entre as contratações e as aposentações só tem a ver com isto: uma expectativa de orçamento constante, estável.

Defende que o português deve ser a língua principal do ensino. Esta posição não choca com a ambição de tornar a UC global e a contratação dos melhores docentes?Claro que se estabelecermos como requisito ser capaz de ensinar em português, obviamente que isso encurta um bocadinho a escolha, mas também é verdade que não há nenhum problema

em existirem algumas disciplinas ou até cursos inteiros mais específicos que usem língua inglesa. Isso não invalida que eu entenda que a língua base e principal do nosso ensino deva ser a língua portuguesa.

Considera assim que é possível reverter o atual quadro orçamental para o ES?Temos de acreditar nisso. Ainda agora, o Governo anunciou que ia poupar 500 milhões de euros por fazer uma amortização antecipada de metade do empréstimo do FMI. Se preservarem uma pequena parte dessa quantia para tirar as universidades desta situação de grande dificuldade será uma grande iniciativa.

O pagamento a novos docentes não é elegível para financiamento dos quadros comunitários europeus. Qual a alternativa?Aquilo que atualmente está a contribuir para a estabilização do orçamento é o apoio turístico e os estudantes internacionais.

Considera justas as críticas que se fazem ouvir por parte do movimento estudantil acerca da propina?Eu tenho tido uma posição bastante simples: a UC, por várias razões, deve manter a propina. Também digo de igual clareza

que eu sou contra qualquer alteração legislativa ou orçamental que obrigasse a um aumento da propina. Manter o valor da propina é uma questão de sobrevivência. A receita que vem dos mil euros que cada estudante paga é bem importante e sem isso...[não funcionávamos].

Fará sentido este ano discutir em CG um congelamento ou a não imposição da propina máxima?Eu estou e estarei sempre disponível para voltar a trazer a CG a discussão da propina – até podia administrativamente impe-dir a discussão porque o CG só pode discutir este assunto sob proposta da reitoria, mas não uso pretextos burocráticos para fugir à discussão. Se os estudantes quiserem voltar a discutir o assunto com certeza que o faremos. A minha posição nessa matéria é muito clara e é a mesma dos anos anteriores.

Pergunto-lhe em que ponto estão as avaliações dos Centros de Investigação?Há um diferendo grande entre o Conselho de Reitores e o Governo porque as universidades entendem que as regras de atribuição de financiamento foram divulgadas há pouco tempo violam o regulamento e nós entendemos que elas têm de ser ajustadas. Para além de que as reclamações que existam também nesta

O reitor da Universidade de Coimbra (UC) inicia, a partir do dia 1 de março, o seu segundo mandato. A cerimónia de tomada de posse, que coincide com a comemoração dos 725 anos da UC terá lugar durante a Sessão Solene de Abertura da XVII Semana Cultural. Depois de concorrer sozinho, João Gabriel Silva foi reeleito com 24 votos a favor, um contra e seis brancos. Em entrevista, aponta as principais linhas de ação para os próximos quatro anos e sublinha a importância da delineação de uma estratégia que possa ser seguida pelos seus sucessores. Após quatro anos de mandato, João Gabriel Silva defende que o futuro está em apostar numa “universidade global” que se torne “a melhor universidade de língua portuguesa”. No entanto, admite que nada se faz sem “dinheiro, esforço e tempo”. Recursos estes cada vez mais escassos no panorama económico-social do país. Ainda assim, João Gabriel Silva mostra-se esperançoso e crente num futuro melhor.

Entrevista por Sandro Raimundo e Paulo Sérgio Santos Fotografias de Tiago Cortez

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24 de fevereiro de 2015 | Terça-feira | a cabra | 3

DESTAQUE

fase serão avaliadas pelo painel independente da European Science Foundation.

No Polo II há instalações muito recentes com problemas estruturais graves. Considera estas situações graves?Nós já conseguimos resolver vários dos problemas graves que lá havia, não resolvemos todos. Mas de facto é pena que a qualidade da construção daqueles edifícios tenha sido, digamos assim, limitada. O que é uma coisa muito difícil de explicar quando isto foi construído há pouco tempo.

Alguns estudantes veem o Programa de Apoio Social a Estudantes através de Atividades de Tempo Parcial (PASEP) como uma forma de compensar a falta de trabalhadores, bem como contornar a tardia atribuição de bolsas. Qual é a sua opinião? Contornar a tardia atribuição de bolsas para mim é uma novidade absoluta. Isso significaria que o PASEP. seriam atribuídos essen-cialmente no início do ano letivo e os PASEP não têm nenhuma concentração no início do ano letivo. Quanto à questão de ser para substituir pessoal, será que faz sentido que nós tenhamos funcionários só para estar a vigiar os espaços quando há tantos estudantes que beneficiam disto e com isso ajudam a pagar os seus estudos. A quantidade de estudantes que nós temos tido para estas tarefas, é enorme.

A atribuição de bolsas passou a ser da alçada governa-mental e as queixas continuaram. Teria sido preferível continuar nas universidades essa responsabilidade?Prefiro que esteja no governo, porque assim são eles que pagam. E a responsabilidade de encontrar dinheiro é deles. O sistema de bolsas é tem obrigação de ser igual para todos. Se é para o governo regulamentar, é para não permitir que se criem desigual-dades. Mas é importante é que o sistema informático funcione.

O que pode a UC fazer em termos de ação social para combater o crescente abandono universitário?Existe uma correlação enorme entre o insucesso escolar e o abandono. A melhor maneira que temos para baixar o abando-no escolar é aumentar o sucesso escolar, isto é, dar aulas com melhor qualidade e selecionar melhor os alunos. Nem sempre fazemos isso muito bem feito e acabamos por aceitar que en-trem estudantes que depois não têm condições pra ter sucesso naquela área. Por isso é que tenho feito um esforço enorme para pôr em andamento o Sistema de Gestão de Qualidade Pedagógica (SGQP), que nos permite identificar melhor onde é que as coisas estão a correr mal.

A criação da comissão de revisão de regulamento de atribuição de bolsas foi definida apenas há umas se-manas depois de ter sido muito discutida ao longo de

2014. É uma questão que se está a arrastar desneces-sariamente?Os níveis de bolsa que são atribuídos atualmente em Portugal, aos escalões, são ridiculamente baixos. Ficam fora dos escalões pessoas com rendimentos ‘per capita’ baixíssimos. Tudo quanto forem revisões no sentido de conseguir melhorar os escalões e manter mais gente no ensino superior é muito bem vindo.

O fundo de apoio social tem tido menos procura do que o valor disponível. Porquê?Ficou com dinheiro disponível, mas não sobrou nenhuma for-tuna. Foi por isso também que nós alargámos os indicadores, embora o que fizemos foi mantê-los alinhados e atualizá-los para ficarem mais próximos do regulamento de bolsas nacional. Agora como alterámos os parâmetros de atribuição dos apoios, não sei como será este ano.

No Regulamento Pedagógico, o que está a ser alterado?Introduzimos várias alterações no sentido de criar mais re-gularidade e uniformidade no funcionamento pedagógico da universidade. Em questões de acesso a exames, de dispensa de exames, de regalias diversas, temos vindo a fazer, nos últimos anos, um esforço enorme de uniformização porque havia de-partamentos muito diferentes entre setores diferentes da UC.

Dados de 2012 referem mais de 27 por cento licenciados na UC no desempregos. É um número elevado?O número é obviamente elevado. Mas não nos podemos esquecer do momento em que essa análise está a ser feita. Em compara-ção com a média do desemprego juvenil em Portugal, estamos muito bem em valor relativo. Uma das coisas que já foi pedido às faculdade é uma reflexão sobre que ajustes é que poderão ser feitos aos próprios cursos para resolver alguma insuficiência que possa existir. Depois, gostaria que nós tivéssemos meios no que diz respeito a atividades ligadas à empregabilidade, coisas mais operacionais do processo de procura de emprego, em que nós temos tido uma presença limitada. Mas não há milagres, tudo isto custa dinheiro, esforço e tempo.

Não seria também uma estratégia a UC estar mais ligada ao tecido industrial da própria cidade…A UC já faz isso em larga escala. Não há nenhuma universidade portuguesa que tenha maior índice de produção de empresas que a UC. Não há nenhuma incubadora melhor que o Instituto Pedro Nunes. Ainda temos o BioCant em Cantanhede.

Refere no seu programa de ação um reforço da oferta cultural, social e desportiva com uma ajuda significativa aos organismos da AAC. A que mecanismos se refere?Espero que consigamos aumentar a quantidade de dinheiro que nós conseguimos disponibilizar para ajudar os organismos. Se

conseguirmos aumentar a quantidade de dinheiro disponível para isso conseguimos criar mais atividade e mais dinheiro. Nós queremos que os estudantes estejam envolvidos, queremos que haja mais atividade para eles se envolverem. Podemos olhar e dizer assim que Bolonha, como vem encurtar a permanência dos estudantes na universidade, faz com que eles não tenham tempo e não se dediquem tanto às atividades extracurriculares. Mas isso não é verdade porque na realidade a percentagem de estudantes que sai só com a licenciatura é muito pequena, a larguíssima maioria dos estudantes faz o percurso dos cinco anos.

O Regime Jurídico das Instituições de ES protagonizou imensas mudanças, tal como a diminuição dos poderes do reitor. Concorda com o regime?O RJIES veio trazer uma coisa muito importante para a univer-sidade, que é o facto de haver elementos externos no Conselho Geral. As universidades beneficiam muito em ter pessoas de grande qualidade. A acusação que se faz, genericamente às uni-versidades é que são muito fechadas sobre si próprias. Essa vinda de pessoas do exterior foi extremamente importante, trazem uma perspetiva diferente. Depois os conselhos gerais trouxeram também a preocupação do pensamento estratégico, de pensar quais os nossos pontos fortes, fracos, as nossas oportunidades, em que direção devemos evoluir. O principal problema que vejo não está tanto relacionado com o RJIES mas com a autonomia da universidade. A perda da autonomia das universidades, em vários setores, tem sido muito desagradável. A criação de desi-gualdades entre as universidades, com umas serem fundações e outras não serem, criam mais fatores de divisão que não têm justificação sólida. Não é diretamente ligada ao RJIES, mas este foi um passo importante nessa evolução.

Como vê as críticas por parte dos estudantes em relação à sua proporção no CG?Eu acho que a relevância da presença dos vários corpos no CG tem que ser medida essencialmente pela sua capacidade de influência e de argumentação. Eu tenho-me esforçado imenso para que os estudantes sejam efetivamente ouvidos.

Quanto aos Jogos Europeus Universitários 2018, referiu anteriormente que a renovação do Estado Universitário vai estar por completar quando ocorrerem os jogos. Carlos Cidade já classificou a atitude como “de serviços mínimos”. É aceitável que isso aconteça?Isso está tudo muito fora de contexto. Já falei com o doutor Carlos Cidade várias vezes e isso não corresponde à sua posição. Evidente que todos nós queremos recuperar integralmente o Estádio Universitário mas temos que ter também consciência que há pouco dinheiro e, portanto, temos que ir passo a passo. Nós queremos fazer uma recuperação do estádio para durar e não uma recuperação para os jogos.

“Manter o valor da propina

é uma questão de sobrevivência”

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Um mês após a tomada de posse, Bruno Matias faz um balanço positivo do último mandato e aponta a eliminação da dívida da AAC como o grandeobjetivo para 2015

Na passada quinta-feira, a Direção--Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) apresentou, em Assembleia Magna (AM), o relatório Anual & Contas que teve um saldo positivo de cerca de 247 mil euros. Bruno Matias, presidente da DG/AAC, considera que este resultado é “um superar de expectativas” e con-tinua a apontar a liquidação de toda a dívida da “casa” como objetivo do mandato. Atualmente, a dívida total da AAC é, segundo Bruno Matias, “cerca de 170 mil euros”, na qual não estão incluídas as dívidas aos forne-cedores que são pagas a 30 dias e a da secção de basquetebol.

Para atingir o prometido pelo pre-

sidente da DG em campanha, está a ser preparada uma plataforma digital, partilhada por todas as “secções, nú-cleos e organismos” da AAC, na qual se poderá ter “um maior controlo” daquilo que é gasto, referiu Bruno Matias. A plataforma de gestão, vai permitir que “excessos ao nível da dí-vida não voltem a acontecer”, contou o dirigente associativo. A ideia do pro-jeto é tornar o processo da AAC mais “transparente”. Contudo, Bruno Ma-tias esclarece que não pretende “estar constantemente a supervisionar” o trabalho de todos os organismos, pelo contrário, a ideia é fazer com que se a contabilidade “seja a real”.

A importância da política educativa Num ano marcado por eleições le-gislativas, Bruno Matias teme que a DG/AAC tenha um “curto espaço de tempo” para trabalhar em alterações para o Ensino Superior (ES), antes que este seja deixado para segundo plano. Como tal, parte da ação deste mandato passa pela política educa-tiva. A alteração do regulamento de atribuição de bolsas é um ponto fun-damental que o dirigente pretende debater internamente e levar a AM. Também importante para a DG/AAC

é a discussão de um novo modelo de financiamento do ES, mais equilibra-do, que deixe de fora “as discrepân-

cias que existem entre as Universida-des”. Em cima da mesa está, ainda, o adiamento da regulamentação da

figura de consórcio, que o presidente “repudia a cem por cento”.

Na política local, depois da criação da propina mensal para o próximo ano letivo, a Associação trabalha agora com a Universidade de Coim-bra (UC) no sentido de “discutir um programa de flexibilização do pa-gamento de valores em dívida”. A ideia é impedir que o estudante fique impossibilitado de se inscrever por dívidas anteriores à universidade.

A 9 de março, Bruno Matias tem marcada uma reunião com o Secre-tário de Estado do ES José Ferreira Gomes, “que será decisiva para de-terminar os planos da AAC ao nível reivindicativo e de defesa dos estu-dantes.”

A preparação para os EUSA GamesBruno Matias adiantou, ainda, que é “urgente nomear uma comissão” para organizar os EUSA Games que se vão realizar em Coimbra, em 2018. A comissão será liderada por Mário Santos, secretário-geral da Federação Académica de Desporto Universitário, e o presidente da AAC prevê que fique completa dentro de “duas ou três semanas”. Para além disso, Bruno Matias considera que é fundamental “criar um gabinete de desporto” entre a Universidade de Coimbra (UC), a Reitoria e a AAC. O projeto já foi, de facto, apresentado à reitoria mas o presidente da DG/AAC aponta críticas a Helena Freitas, vice-reitora para o Desporto, por falta de “vontade de evoluir no desenvol-vimento do desporto”.

4 | a cabra | 24 de fevereiro de 2015 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR

“Houve um economicismo exacerbado por parte do reitor”

Jorge Alves Correia é natural de Coimbra e foi eleito para repre-sentar os estudantes do terceiro ciclo no Conselho Geral (CG) da Universidade de Coimbra (UC). Com 31 anos encontra-se a reali-zar o Doutoramento em Direito e está ligado à Juventude Social Democrata

Que balanço fazes das eleições?As eleições correram de forma total-mente tranquila, sem quaisquer trocas de acusações. Adiantámo-nos relati-vamente aos outros candidatos num programa eleitoral muito profundo.

Como vês a elevada taxa de abs-tenção (cerca de 90 por cento)?As pessoas não sentem que o CG toque no seu interesse direto e não veem grande benefício em envolverem-se.

Que projeto da tua lista é que vais dedicar maior foco de ação?Já obtivemos a grande vitória de o reitor incluir no seu programa uma medida que considerámos fundamen-tal: a redefinição do modelo do corpo docente para os próximos 15 anos atra-vés da contratação de doutorandos para auxiliar aulas e exames. Outro ponto é a questão das propinas. As universidades estão muito dependen-tes do Estado e do valor das propinas.

Nós podemos indicar fontes alternati-vas de financiamento para conseguir colocar o ensino gratuito e universal. É fundamental que algumas empresas requisitem os doutorandos do ponto de vista de empregabilidade e de en-comenda de projetos estratégicos. Há também a necessidade de uma com-patibilização maior, pois tem havido um desfasamento temporal entre o pagamento das bolsas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e o pagamento da propina. Outro aspeto importante é maior clareza na afetação das propinas. Esse dinheiro não é apli-cado na investigação. As universidades não estão aqui para dar aulas. Elas afirmam-se, sobretudo, como polos de investigação de excelência.

Consideras que nas diferentes discussões faz sentido os estu-dantes votarem em bloco?Sem dúvida. Os nossos problemas acabam por ser semelhantes: a qua-lidade do ensino, o valor da propina, os estudos e trabalhos de investigação. A divisão entre ciclos é importante. No entanto, existe um défice de represen-tatividade do terceiro ciclo que podia ter mais um representante. Estaria um mais vocacionado para as áreas científicas que têm problemas específi-cos. E outro para as humanidades e as artes. Devíamos ter personalidades de reconhecido mérito, mas de qualidade comprovada e não personalidades que não estão ali com provas dadas.

Que balanço fazes do mandato do reitor até à reeleição? Houve um economicismo exacerbado por parte do reitor. Mas por outro lado o reitor teve vários cortes orçamentais anunciados todos os anos.

Os conselheiros estudantes têm uma estratégia conjunta? Num primeiro momento elaborámos um caderno de encargos para levar ao reitor antes da sua reeleição. En-tendemos que era um momento para ter um poder negocial maior. Agora com a distribuição dos conselheiros gerais pelas comissões vai haver esse trabalho conjunto.

Qual a tua opinião sobre o novo Regulamento Pedagógico da UC? Os processos disciplinares aos estu-dantes e a forma como isso foi mono-polizado na reitoria é um dos aspetos a que a comunidade académica não esteve atenta. Há uma excessiva con-centração de poder no reitor e a prote-ção das garantias dos estudantes não está acomodada. Quando há revisões devemos organizar debates para quan-do chegar à altura podermos propor as coisas no devido tempo.

A revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) tem sido adiada. Pensas que ainda irá acontecer?Não tem havido vontade política para o fazer e portanto não vai acontecer. Há

uma grande crítica ao recente modelo do Processo de Bolonha. Portugal foi dos países que foi longe de mais. Não era obrigatório uma semestralização como terá resultado do acordo. A li-cenciatura tem vindo a tornar-se num fast-food de programas. O RJIES é importante, só que ele não define tudo. A ação dos agentes universitários e dos seus representantes tem de estar coor-denada com quem executa no terreno.

Que problemas apontas à UC?A complexidade que hoje são as can-didaturas a fundos estruturais tem conduzido a que se percam muitas oportunidades de financiamento. Um dos problemas maiores da UC é a falta de coordenação e implementação de medidas no terreno. Isso, e o funciona-lismo da universidade está envelhecido e a necessitar de maior qualificação.

Que balanço fazes dos anteriores conselheiros estudantes?Sei que tiveram intervenções brilhan-tes no CG que me foram relatadas e o nosso objetivo é manter o nível.

Um mandato de dois anos é su-ficiente para realizar o que pre-tendes?É um mandato realista tendo em conta que na comunidade académica vive-se muito a ideia de transição. O conse-lheiro geral depois de definir as posi-ções deve estar no terreno e não só lá dentro a exercer um cargo honorífico.

Pedro BarreiroSandro Raimundo

INÊS DUARTE

JORGE ALVES CORREIA 31 ANOS

Bruno Matias quer “terminar com a dívida” da AAC

BRUNO MATIAS REÚNE COM O SECRETÁRIO DE ESTADO DO ES NO DIA 9 DE MARÇO

Teresa BorgesJoão Neves

RAFAELA CARVALHO

Page 5: Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

24 de fevereiro de 2015 | Terça-feira | a cabra | 5

CULTURA

A Secção de Filatelia assinala 50 anos com a realização de várias atividades, ao longo dos próximos meses

Reconhecida a nível nacional, a Secção de Filatelia da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC) comemora meio século. A secção

cultural irá realizar diversos even-tos entre os quais um congresso nacional de Filatelia, que ocorrerá a 14 de março, e várias cerimónias abertas ao público geral e que de-correm até 28 de Fevereiro.

Para assinalar os 50 anos de existência, comemorados a 23 de fevereiro, os CTT - Correios de Portugal lançaram um carimbo e um inteiro postal, um objeto que contém um selo impresso ou uma inscrição que indica um determi-nado valor facial pago. Ambos os

itens filatélicos têm como mote o aniversário da SF/AAC.

O dia 14 de março será, na opi-nião do Tesoureiro da secção, Nuno Cardoso, “o ponto alto das come-morações”. Nesse dia terá lugar, no Hotel D. Luís, o Congresso de Filatelia, para o qual estão convi-dados o presidente da Federação Portuguesa de Filatelia e o diretor de filatelia dos CTT.

O descerramento da placa come-morativa do aniversário da secção ocorrerá no dia 28 de fevereiro, no

segundo piso do edifício da AAC. Estão também marcados para esse dia um almoço e uma cerimónia pública comemorativa às 15h30. Nuno Cardoso espera que a ceri-mónia, que irá decorrer no Mini Auditório Salgado Zenha, no edi-fício da Rua Padre António Vieira, seja “uma confraternização entre os sócios e antigos diretores”.

“Infelizmente não estou a ver futuro porque nós, para cumprir-mos os estatutos da associação académica, precisamos de dire-

tores estudantes”, explica Nuno Cardoso relativamente à situação da secção cultural. No entanto, o secretário da SF/AAC mostra-se também otimista ao afirmar que “as expectativas têm que ser as me-lhores possíveis”, e que, após as celebrações, se verá “se aparecem sócios novos, se elas dinamizarem de alguma forma”.

Durante o segundo semestre será ainda possível visitar uma exposi-ção da SF/AAC na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

CAPC cria bienal para internacionalização da arte feita em Coimbra

Secção de Filatelia comemora 50 anos

RAQUEL MENDONÇA - ARQUIVO

“Ano Zero”, o novo projeto bienal do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC) pretende captar artistas e críticos da arte contemporânea para Coimbra

O CAPC prepara a realização de uma bienal de arte contemporânea intitulada “Ano Zero” que terá início a partir de novembro de 2015. A iniciati-va inclui na sua programação cerca de 30 atividades, com a participação de artistas prestigiados a nível nacional e internacional. Segundo o diretor do CAPC, Carlos Antunes, “a lista é longa e ainda não está encerrada”, mas é possível contar já com a participação de nomes portugueses como o artista plástico Francisco Tropa, a dupla de artistas visuais Moirika Reker Gil-berto Reis e o cineasta Pedro Costa. A nível internacional a organização

garantiu já a presença do artista norte--americano Matt Mullican.

O evento é caraterizado, nas pala-vras de Francisco Tropa, como uma “obra composta por vários disposi-tivos que têm naturezas diferentes”. Segundo Moirika Reker Gilberto Reis, “o CAPC tem feito um trabalho de grande mérito ao longo dos anos e tem havido sempre um grande empenho para que todas as artes, de alguma forma, estejam representadas, assim como os artistas”.A dupla considera ainda que esta iniciativa será “muito positiva para Coimbra”.

O projeto pretende contribuir não só para a divulgação deste tipo de arte em Coimbra mas também permitir “convocar artistas mais novos para que possam trabalhar com artistas mais consagrados”, declara Carlos Antunes.

A bienal procura usar os espaços patrimoniais da cidade, sem se res-tringir apenas, segundo o diretor do CAPC, “aos lugares inscritos na lista para ser património da UNESCO”. O grande objetivo da criação deste pro-jeto é “contribuir para a legitimação de Coimbra na lista de património da UNESCO” e “poder criar em Coimbra

um evento de dimensão internacional que seja atrativo numa primeira ins-tância para quem é de Coimbra mas também para quem não é”, afirma Carlos Antunes.

Na lista dos locais escolhidos para a realização dos eventos encontram--se, entre outros, o Convento de Santa Clara, o Círculo da Sereia e a Sé Velha.

O projeto conta com a parceria da Universidade de Coimbra e da Câmara Municipal de Coimbra e será, com-parativamente com eventos prévios realizados pelo CAPC, “mais ambi-cioso e muito mais difícil de executar, mas que pode captar para Coimbra a atenção, não só dos artistas, como dos meios críticos da arte contempo-rânea”, explica Carlos Antunes.

O diretor do CAPC refere ainda que “os turistas, quando chegam a Coimbra, perguntam que eventos de dimensão internacional acontecem na cidade. E, de facto, não aconte-cem quase nenhuns”. José António Bandeirinha, curador da exposição, apoia também este ponto de vista, ao defender que “a arte contemporânea em Coimbra tem tido uma divulgação que poderia ser muito mais efetiva e muito mais motivadora”.

Carolina SaavedraCatarina Santos

Cátia Cavaleiro

A Universidade de Coimbra comemora 725 anos de história com a XVII Semana Cultural, sob o tema “Tempo de Encontro(s)”. O evento dura até dezembro

A XVII Semana Cultural da Uni-versidade de Coimbra (UC) inicia-se a 1 de março e termina no dia 4 de dezembro. Este ano, ao contrário das edições anteriores, as festividades durarão até ao final de 2015 devido à comemoração dos 725 anos da univer-sidade. Março e abril serão os meses com programação mais intensa.

O tema deste ano, “Tempo de Encontro(s)”, prende-se com o “en-contro entre o passado e o presente e pretende promover os 725 anos de história da Universidade” mas tam-bém “celebrar com os Países Africa-nos de Língua Oficial Portuguesa os 40 anos de independência”, afirmou o reitor da UC, João Gabriel Silva, na apresentação pública da programação que decorreu no passado dia 20.

A Semana Cultural apresentará mais de 150 eventos em que estarão envolvidas 60 entidades, como a As-sociação Académica de Coimbra, os vários núcleos de estudantes, o Tea-tro Académico Gil Vicente (TAGV) e a Rádio Universidade Coimbra (RUC), como “mediapartner”. Para

além disso, a RTP mostrará três do-cumentários acerda da UC e da sua programação ao longo do ano.

As comemorações vão englobar atividades como espetáculos, ex-posições, conferências, debates e oficinas. A abertura desta Semana Cultural será feita através de uma Sessão Solene no dia 1 de março e o segundo dia terminará com o concerto da cantora Adriana Calcanhoto no TAGV. Além destes eventos, a RUC dará um concerto a 7 de março para comemorar o seu 29º aniversário. Haverá ainda um concerto solidá-rio realizado pelas várias repúblicas estudantis no dia 24 de março. Para o encerramento desta XVII Semana Cultural, a universidade programa um Congresso Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa, nos dias 3 e 4 de dezembro.

O grande objetivo destas celebra-ções é “afirmar a universidade como uma marca internacional e global”, revela o reitor. Outro dos objetivos é “proporcionar à própria cidade esta oportunidade de perceber que a uni-versidade é um agente e motor de Coimbra e da região e que consegue dinamizar várias atividades”, acre-senta a vice reitora para a Cultura e Comunicação da UC, Clara Almeida Santos.

A Semana Cultural foi preparada para que existissem mais atividades que no ano anterior, com a expecta-tiva de atrair mais estudantes. A vice reitora refere, ainda, que “nos anos anteriores os alunos estrangeiros fo-ram os que mais se envolveram neste evento”, contudo espera que este ano tal tendência se inverta.

Universidade celebra725 anos de ‘encontros’

Mariana AfonsoRita Espassadim

MARIANA AFONSO

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JOSÉ QUITÉRIO

Galardoado com o prémio Universidade de Coimbra 2015, José Quitério é agraciado pela sua carreira como crítico gastronómico, durante 38 anos. Foi, porém, uma homenagem que nunca esperou re-ceber. Nos caminhos da gastronomia, acreditava que tinha como missão “servir o leitor” e assim o fez até ter de abandonar em janeiro o seu reconhe-cido trabalho no semanário Expresso por questões de saúde. Durante o seu percurso fez-se sempre acompanhar de princípios deontológicos elaborados por si mesmo que considera fundamentais para o seu ofício. Entrava e saía dos restaurantes que cri-ticava como um cliente anónimo para não afetar a sua imparcialidade e o modo como os pratos eram confecionados. Afirma-se como um apreciador e protetor da culinária tradicional portuguesa e é da opinião que a gastronomia de um país representa, no fundo, a cultura do mesmo.

Por Pedro Barreiro e Inês Duarte

José Quitério

Recebe, a 1 de março, o prémio Universidade de Coimbra 2015. Esperava receber este prémio pela sua carreira?

De maneira nenhuma. Foi uma surpresa total quando no dia 21 de janeiro o senhor reitor me informa que tinha recebido um prémio. Fiquei totalmente boquiaberto, estupefacto. Quando ele me disse as pessoas que já tinham recebido este prémio senti-me mais pequenino, porque, perante algumas celebridades na área da cultura e da ciência, não tenho cabimento. Por outro lado, como me explicou o senhor reitor, podia ser visto como um sinal de grande abertura da UC ao ponto de acharem que a gastronomia faz parte da cultura. Atribuírem-me o prémio e pensarem que eu desempenhei algum papel na existência da gastronomia ao longo desses anos todos é uma honra imensíssima.

Como é que define o papel de um crítico gastronómico? Eu costumava dizer que assumo o papel de um cliente normal que tem unicamente como missão servir o leitor. Apresento-lhe o que, segundo a opinião do crítico, poderá encontrar nesse res-taurante: como é que é desde a elaboração da ementa, da carta, como funciona a cozinha, o serviço, para chegarmos à conclusão fundamental se realmente vale a pena gastar dinheiro naquele restaurante. Depois, tem também obrigação, se tiver conheci-mentos para isso, de produzir textos sobre os aspetos gerais da gastronomia, da história, etnográficos, sociológicos, de modo a fornecer informação.

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PRÉMIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA 2015

Críticas de faca e garfo

Quais foram as maiores mudanças a que assistiu na gastronomia portuguesa em 38 anos de trabalho? Ui, imensíssimas. Em 1976 a culinária portuguesa estava num mau bocado. Descurava-se a cozinha tradicional, tentava-se fazer imitações do estrangeiro, particularmente de França. Nos anos ‘80 houve uma mudança realmente significativa em que as pessoas, as autarquias e as câmaras municipais ficaram interessadas em propagandear as suas próprias terras. Essas entidades começa-ram a aperceber-se de que era muito importante divulgar a sua gastronomia, que as suas práticas culinárias específicas eram uma coisa que caracterizava aquela região e que era mais um fator de chamamento de visitantes. A visão da cozinha como património. Nessa mesma altura há um acontecimento fundamental que é a publicação do livro “Cozinha Tradicional Portuguesa” de Maria de Lourdes Modesto em 1982. Foi a grande codificação e guia da nossa cozinha tradicional, onde estão estatuídas as nossas receitas absolutamente genuínas desde o Minho até aos Açores. Antigamente estas coisas passavam de geração em geração através do elemento sonoro, as avós ensinavam às mães, as mães ensi-navam às filhas. A partir do momento em que a mulher entrou no mercado de trabalho isso já não é possível. Perdeu-se essa tradição de herança familiar.

A gastronomia de um país é um reflexo da sua cultura?Sim, sem dúvida. Reflete hábitos. Para já, vendo a coisa no as-peto mais material, no nosso caso, que temos a singularidade de sermos um país pequenino, os nossos produtos são de uma diversidade imensíssima. Porque as pessoas tiveram de ter o engenho de trabalhar os produtos que tinham à mão no sentido de criar pratos apetecíveis. No fundo, a gastronomia é transfor-mar a necessidade elementar de alimentação numa coisa que seja apetecível, apetitosa e que nos dê prazer. A capacidade de elaborar essas tais receitas é uma coisa muito própria de países mais pobres, que não têm uma abundância de produtos. Quando

há uma grande abundância dos produtos mais “nobres”, há menos necessidade de puxar pela cabeça, de criar coisas. Países que têm uma excelente carne, não lhes passa pela cabeça grelhar a carne com sal e pouco mais, às vezes com molho.

Pode-se falar em globalização de algumas gastronomias?Claro, mas não no sentido de serem conhecidas mundialmente. Não quer dizer que, substancialmente, elas tenham muito inte-resse, mas há casos recentes de alguns países que resolveram investir nesta área. Distribuíram fatias grandes do seu orçamento para a gastronomia e fizeram propaganda em todo o mundo para puderem ser reconhecidas. Todas as globalizações gastronómicas são vantajosas? Ou seja, que não há cozinhas que acabam por ser ne-gligenciadas?Não precisamos de nenhum fenómeno ligado à globalização para sermos conhecidos. Pessoas normais que vêm a Portugal e dizem que vêm para comer bem, não vêm à procura do restaurante que tenha as distinções de um guia universalmente conhecido. Nós temos uma fama de ser um sítio onde se come bem, que atrai imensas pessoas. Quando as coisas são realmente boas, raramente ficam no seu casulo e completamente desconhecidas. Não há produtos bons em todos os países do mundo, nem todos os países do mundo têm cozinhas boas. Há alguns que são privilegiados.

Enquanto crítico havia algo que valorizasse mais? O aspeto do restaurante, o empratamento da comida...Não, o fundamental é aquilo que nos aparece no prato, o gosto que isso transmite. Tudo o resto pode complementar, mas é relativamente secundário. Evidentemente que a maneira de apresentação também tem muita importância mas é algo que passou a ser valorizado em Portugal há relativamente poucos anos – é aquela coisa antiga de que os olhos também comem.

Antes de ir aos restaurantes lia sobre a comida, sobre o restaurante em si? Já tinha uma ideia do mesmo?Não, de maneira nenhuma. Ia sempre virgem. Eventualmente poderei ter lido na imprensa alguma apreciação que me possa ter dado um lamiré. Fora isso, ia virgem. Sabia apenas os res-taurantes que iam abrindo por outros meios da comunicação social, e selecionava.

Defende a isenção absoluta na crítica e os princípios deontológicos. É uma lição consequente da sua passa-gem pelo jornalismo? Nesta atividade e no jornalismo isso é fundamental. Fui eu que elaborei as minhas próprias regras deontológicas. Foi algo que considerei que devia fazer porque era a única maneira de poder ser sério e atingir credibilidade. É fundamental que o leitor acredite em nós. Tenho a consciência absoluta que só assim é possível obter credibilidade.

Considera que a crítica gastronómica evoluiu?Não, não, a crítica não evoluiu nada em termos substanciais. As pessoas que escrevem sobre restaurantes, não considero propriamente críticos, são mais divulgadores que outra coisa. Esses já não têm qualquer espécie de problema em entrar na intimidade com cozinheiros e proprietários, que é uma coisa que eu sempre reservei. Não se podiam criar laços com cozinheiros e proprietários porque isso ia perturbar o critério de apreciação. Entrou-se num caminho mais fácil, pessoas que escrevem sobre restaurantes às vezes até com alguma promiscuidade e já não sabemos se é crítica se é divulgação.

Qual a sua opinião sobre o mediatismo que se tem feito notar no mundo culinário?É fundamental. Há gente do mundo culinário, particularmente cozinheiros, que vivem, essencialmente, para o mediatismo. Cozinheiro que se preze já tem o seu promotor, a sua agência promocional que procura que ele apareça o mais possível nos meios de comunicação. Já são raríssimos os cozinheiros que se contentam em desempenhar bem o seu ofício e esperar que isso seja reconhecido de uma maneira natural.

A gastronomia portuguesa está bem entregue?A tal gastronomia tradicional é o nosso património que devemos sempre arvorar como bandeira, porque nos distingue tremen-damente. Há uma frase do grande arqueólogo Cláudio Torres que eu acho que define bem isto, “uma nação, no fundo, é uma comunidade de cheiros e sabores”. Essa parte da nossa cozinha como património está bem entregue – no sentido de que agora toda a gente se interessa por isso. Depois, há uma coisa mais ur-bana, a luta pelo orgulho, pelo reconhecimento internacional que é dado pelos tais guias, que têm influência mundial e atraem um tipo de turismo com maior capacidade financeira. Nesse sentido, a cozinha portuguesa, já com outra faceta mais intensa – uma cozinha de autor/vanguarda baseada em produtos portugueses, ganha um aspeto com grande interesse. Agora, há uns exageros que são meramente modas que vão passar rapidamente porque não têm qualquer tipo de sustentabilidade, nem de gosto nem cultural. (São modas, como as modas das roupas).

ILUSTRAÇÃO POR RAQUEL VINHAS

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DESPORTO

O pavilhão do Marialvas vai receber a Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica. Elena Rosca, medalhada de bronze em 2014, junta o papel de competidora ao de organizadora

Elena Rosca volta a competir em Cantanhede, um ano depois de ter conquistado o terceiro lugar na competição individual feminina da Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica. Mas este ano, a atleta que nasceu na Roménia vai desem-penhar um duplo papel. Para além da competição no tapete, Elena Rosca faz parte do departamento de comunicação da Federação de Ginástica de Portugal.

A atleta portuguesa, licenciada em Ciências da Comunicação, é estagiária na Federação de Ginás-tica de Portugal. Uma situação que retirou tempo de treino à ginasta. “Antigamente treinava entre três e quatro horas diariamente. Agora treino três vezes por semana entre duas e três horas”, diz Elena Rosca que acrescenta que “tenta conjugar as duas coisas”. Apesar disso, a gi-nasta diz estar preparada para a taça do mundo e afirma: “o objetivo é tentar evoluir de uma competição para outra e dar o meu melhor”. A atleta adianta ainda que “era ótimo manter o lugar no pódio, do ano passado mas provavelmente vai ser muito complicado”.

Aos 25 anos, Elena Rosca é a grande esperança portuguesa para obter uma medalha na Taça do

Mundo de Ginástica Aeróbica. Isso mesmo refere João Dias, presiden-te da academia Cantanhede Gym. “Não será fácil, mas conhecendo-a tão bem como conheço, não tenho dúvidas que ela irá fazer tudo o que tiver ao seu alcance para voltar a alcançar uma medalha nesta im-portante competição internacio-nal”, afirma João Dias ao mesmo tempo que descreve a atleta como sendo “a melhor ginasta a nível nacional”.

A academia Cantanhede Gym é a grande promotora do evento. “A academia tem vindo a crescer imenso, é um dos clubes com maior

número de atleta e tem todas as condições necessárias para orga-nizar a taça do mundo”, diz Elena Rosca que deixa grandes elogios à organização da prova.

Mais participantes, mais qualificaçãoA ginástica aeróbica é a modalidade mais recente dentro da ginástica e ainda não tem tanta notoriedade como a ginástica de trampolins, artística ou rítmica. Contudo, Elena Rosca reconhece que a modalidade está a crescer em popularidade. “Temos vindo a obter algumas medalhas, e a chegar a finais de

campeonatos da Europa,” explica. Mas Elena quer mais, e por isso convida todos a “estarem presentes na competição porque vai ser um campeonato com muito bom nível”.

Aliás, essa é uma das grandes no-vidades desta que Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica. João Dias conta que uma das grandes dife-renças deste ano é que estarão pre-sentes todos os grandes nomes da modalidade. “Vamos aumentar não só a quantidade de participantes mas também a qualidade dos con-correntes internacionais, vão estar presentes os campeões do mundo masculinos que não estiveram o

ano passado” afirma João Dias. A organização espera receber

perto de trezentos participantes e destaca o apoio dos voluntários do evento e da Câmara Municipal de Cantanhede que apoiou desde o primeiro minuto a candidatura e a realização da Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica. O presidente do Cantanhede Gym revelou ain-da que têm a ambição de voltar a receber o evento em 2016. “Vai ser uma questão de voltarmos a conseguir os recursos necessários, essencialmente logísticos, de modo a trazermos pela terceira vez a Taça do Mundo a Cantanhede“, remata.

O Estádio Universitário de Coimbra recebe no dia quatro de março o IX encontro desportivo para pessoas com deficiência intelectual

Englobado no programa da déci-ma quinta semana cultural da Uni-versidade de Coimbra, vai realizar--se na quarta-feira, dia quatro de março, o IX Movimento Especial, um encontro desportivo promovi-do pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Uni-versidade de Coimbra (FCDEFUC).

O encontro é programado pelo Núcleo de Estudos de Atividade Física Adaptada. Maria João Cam-pos, organizadora do evento e pro-fessora auxiliar da FCDEFUC, ad-mite que “existe um carinho muito especial por esta atividade” e por isso mesmo “já é o nono ano em que se realiza”. A professora afirma que “um dos objetivos da iniciativa é abrir a faculdade à comunidade através do convite a instituições que raramente têm acesso à ativi-dade física”. A intenção é “propor-cionar o reencontro do desporto com a população portadora de deficiência intelectual”, conclui.

Maria João Campos revela ainda que “este ano o tema do encontro é o circo”. A professora explica que o encontro é importante “para os

estudantes poderem organizar eventos no âmbito do desporto adaptado e terem contacto ‘in loco’ com a deficiência intelectual”.

O evento, apelidado de “Mo-vimento Especial”, vai contar com cerca de 150 participantes. Os convidados provêm de várias instituições de solidariedade so-cial da região centro, como as Associações Portuguesas de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente de Coimbra, da Figueira da Foz e de Condeixa-a-Nova. “Esta é uma boa oportunidade para que todos possam interagir com pessoas de instituições e locais diferentes”, refere a docente.

O dia vai ser preenchido com “atividades lúdicas organizadas pelos alunos de deporto, mais es-

pecificamente aqueles que escolhe-ram a opção de atividade física para grupos especiais”, explica Maria João Campos. Da parte da tarde, serão os utentes das instituições a mostrar as suas capacidades. “Eles vão apresentar algumas danças e coreografias”, declara a professora. Maria João Campos salienta que a característica fundamental que um professor de desporto adap-tado deve ter é “saber ouvir e ter sensibilidade para saber lidar com pessoas com necessidades espe-ciais”. A docente da UC explica que o truque está em “explicar as coisas de uma forma concisa, simples e com recurso à demonstração”.

Outro dos convidados é a As-sociação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC). Anabela Marto,

professora de Educação Física da instituição revela esta é “uma das poucas ações que se realizam em Coimbra destinadas a pessoas com limitações motoras e intelectuais” e é uma oportunidade para os uten-tes “criarem hábitos de vida sau-dável e melhorar a sua capacidade de socialização”.

O Encontro Desportivo FCDE-FUC para Pessoas com Deficiência Intelectual é uma ocasião especial para professores, alunos, utentes e funcionários. Como refere o Nú-cleo de Estudos de Atividade Física Adaptada, na sua declaração de missão, “o desporto é uma forma de dotar jovens e adultos com ne-cessidades especiais de competên-cias psicomotoras promovendo a inclusão escolar e social”.

Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica realiza-se esta semana em Cantanhede

Movimento especial por um dia de desporto diferente

CANTANHEDE RECEBE A TAÇA DO MUNDO DE GINÁSTICA PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO, COM PRESPETIVAS DE O VOLTAR A FAZER EM 2016

Tiago Cortez

Tiago Cortez

DR

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24 de fevereiro de 2015 | Terça-feira | a cabra | 9

DESPORTO

Não é patinagem artística nem ballet. É Roller Der-by, um desporto pratica-

do maioritariamente por mulheres onde o contacto físico é uma cons-tante. Vânia Ribeiro, cofundadora da equipa e treinadora, conta que a ideia de criar as Rocket Dolls par-tiu do “gosto pela patinagem, pelo contacto e pela velocidade”.

O jogo é disputado numa pista oval com duas equipas de cinco elementos. As ‘blockers’, ou blo-queadoras, impedem a passagem da jogadora que marca pontos, a ‘jammer’. “No fim de dois minutos de partida a ‘jammer’ que passar mais vezes pelas ‘blockers’ é a que marcou mais pontos e a sua equipa é a vencedora”, conta Vânia Ribei-ro. Um encontro tem a duração de 60 minutos dividido em duas partes de 30 que por sua vez se dividem em ‘jams’ que têm a duração de dois minutos.

A ‘jammer’ é a jogadora que mar-ca pontos e é ela que têm a respon-sabilidade de provocar o contacto e tentar ultrapassar as ‘blockers’. As jogadoras distinguem-na pela es-trela que usa no capacete. Quando perguntamos se a melhor ‘blocker’ é a que consegue ultrapassar as ‘blo-

ckers’ em força ou em agilidade, Vâ-nia Ribeiro afirma que “para além da velocidade tem de ter resistência física porque a ‘jammer’ vai contra uma parede de ‘blockers’” e acres-centa “sem dúvida que a velocidade é a característica mais importante numa ‘jammer’”. João Penacho, também ele co-fundador da equipa, diz que é “preciso ter agilidade e destreza para encontrar pontos de passagem”. A inteligência é tam-bém um requisito para trabalhar em equipa.

O culto do rock and rollAs Rocket Dolls juntam-se três vezes por semana no pavilhão da Escola Secundária José Falcão. A equipa, constituída por 25 rapari-gas com idades variadas, apresenta--se de patins e capacete na mão todas as segundas, quartas e sextas. Logo no aquecimento é possível ver que se trata de um desporto diferente: corridas e alongamen-tos mas a característica que salta à vista é a música de fundo. João Penacho, o único homem no meio de mulheres, defende que o Roller Derby, “é um desporto diferente aliado à cultura do rock and roll, da banda desenhada e tem a grande

vantagem de ser praticado em pa-tins”. As cores predominantes são o preto e o amarelo, ostentado nas meias e nas camisolas bem como as caveiras cravadas nos patins das desportistas. Associado a esta cultura estão os nomes de guerra que as jogadoras exibem orgulho-samente nas t-shirts. “O nome de guerra é uma tentativa de criar o nosso alter ego, cada uma escolhe o seu nome de guerra e o seu núme-ro, que pode até ser o seu número da sorte” e o objetivo é “criar um alter ego dentro da pista, deixar a nossa vida particular fora do treino e aqui dentro assumir uma postura com muito mais garra e mais força”, afirma Bloody Bones, ou como é conhecida fora das Rocket Dolls, Vânia Ribeiro. ApocaLips, Horny Bolt, Anir’Attack e KarmaComa são alguns dos nomes escolhidos pelas patinadoras.

Por ser um desporto de contacto, a segurança é uma das prioridades. ”Temos de usar cotoveleiras, joe-lheiras, proteção para os dentes e capacetes”, diz Vânia Ribeiro. No entanto, as quedas acontecem mas o que impressiona é que ao contrá-rio de outros desportos o jogo não pára. O treino não pára, ninguém

se junta ao pé da patinadora menos afortunada, não entra imediata-mente o massagista ou o carro--maca. O máximo que acontece é uma asneira que sai a medo ou um riso nervoso. A partida continua e há que apanhar as outras jogadoras. É esta cultura que faz das nódoas negras uma marca de orgulho que torna o Roller Derby um desporto diferente.

Crescer sobre patinsO Roller Derby, que nasceu nos Es-tados Unidos em 1937 e tem vindo a crescer em todo o mundo, está a ser considerado para fazer parte dos Jogos Olímpicos já em 2020. A WFTDA – Associação Mundial de Derby de Pista Plana conta já com trezentas e uma equipas ofi-ciais e noventa e uma em fase de aprendizagem. Vânia Ribeiro re-vela-nos que entrar para o ranking da WFTDA é um objetivo futuro mas primeiro é preciso “criar e fo-mentar bem a equipa de Coimbra, fazer uma equipa bastante coesa em termos de qualidade a nível na-cional”. Para isso as Rocket Dolls vão ter uma formação com Marta Curtis, a fundadora do Roller Der-by Porto. “Podemos dizer que é a

‘roller girl’ com mais conhecimen-to a nível nacional” e vai ser “uma formação para melhorar as nossas capacidades”, afirma a cofundadora da equipa. O desporto surgiu pela primeira vez em Portugal em 2011, com a criação da equipa Roller Der-by Porto. Atualmente existem oito equipas em Portugal mas ainda não há um campeonato. Contudo, Bloo-dy Bones revelou que 2015 vai ser o ano do primeiro jogo amigável das Rocket Dolls.

As Rocket Dolls completaram um ano no passado dia nove de fevereiro e continuam à procura de novas atletas, “mas nesta fase exige-se que saibam patinar”, avisa João Penacho. “Estamos também à procura de rapazes que queiram integrar equipas de arbitragem”, explica o cofundador das Rocket Dolls que refere ainda que no futuro serão abertos treinos de captação.

As Rocket Dolls são uma equipa num desporto com pouca expressão em Portugal. Os treinos são inten-sos e a entreajuda constante. As jogadoras mais experientes ajudam as que ainda não voam sobre os patins. Força, garra, coragem, cair e levantar. 25 raparigas que mostram que a mulher não é o sexo fraco.

A cultura das nódoas negras Força, garra, coragem, cair e levantar. Assim são as Rocket Dolls, a primeira equipa de Roller Derby da cidade de Coimbra. 25 raparigas treinam três vezes por semana no pavilhão da Escola Secundária José Falcão. Mulheres a contrariar todos os estereótipos ao som do rock and roll. Fotografia e texto por Tiago Cortez

ATUALMENTE EXISTEM OITO EQUIPAS DE ROLLER DERBY EM PORTUGAL. AS ROCKET DOLLS JUNTARAM-SE AO ROL FEZ, NO DIA NOVE DE FEVEREIRO, UM ANO

ROLLER DERBY EM COIMBRA - ROCKET DOLLS

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10 | a cabra | 24 de feveiro de 2015 | Terça-feira

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

A Assembleia Geral das Nações Unidas declara 2015 o Ano Internacional da Luz.Cerca de cem países aceitaram colaborar nas comemorações

No passado mês de Janeiro teve início uma série de atividades, em diversos países do mundo, que têm como principal objetivo a celebra-ção do Ano Internacional da Luz (AIL). Além da comemoração de alguns marcos históricos, como os estudos de Einstein sobre o vinculo entre luz e cosmologia em 1915, estas abordagens tentam sensibi-lizar o público para importância da luz nas sociedades como hoje as conhecemos, desde as mais de-senvolvidas, até às que estão em

vias de se desenvolver.Carlos Fiolhais, físico docente da

Faculdade de Ciências e Tecnolo-gia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e responsável nacional pelos eventos integrados no AIL, esclarece a importância destas co-memorações nos variados setores que alicerçam uma sociedade. “A luz une-nos e pode unir-nos mais. As modernas tecnologias ópticas potenciadas pela luz permitem telecomunicações rapidíssimas e promovem melhor qualidade de vida, estando ao serviço da saúde, sustentabilidade ambiental e eco-nomia”, sustenta.

O AIL é também uma oportuni-dade de agir na área da educação pela ação de atividades que explo-ram as dimensões da Luz nas áreas da Ciência, Cultura e Natureza. O docente esclarece a importância destas dimensões e a forma como elas dialogam entre si pois ”a luz é ciência, porque está omnipre-sente na Natureza, e sem ela não conheceríamos o mundo, mas a

luz é também cultura: a luz é uma poderosa metáfora para significar conhecimento, esclarecimento, razão”.

Ainda no domínio da educação, o vinculo que existe entre a luz e as telecomunicações pode concreti-zar “uma melhor educação à escala global de modo a superar desigual-dades”, alega o físico. Assim a luz e a exploração das suas utilidades, pode esbater as fronteiras entre povos que se querem conhecer mutuamente e tenta suavizar os contrastes socioeconómicos que existem entre países.

Conferências, concursos, exposi-ções, publicações e manifestações artísticas vão ser o tipo de ativida-des que vão integrar o AIL em Por-tugal, com o apoio de instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Agên-cia Ciência Viva e a Organização das Nações Unidas (ONU), que já agendaram diversas atividades em variados pontos do país.

Coimbra abriu, a 14 de feverei-ro no Museu da Ciência, a expo-sição “Olhos que Falam” que visa integrar-se nestas comemorações e consiste numa mostra de foto-grafias oftamológicas.

Carlos Fiolhais, como responsá-vel pela exposição, esclarece a sua pertinência para o AIL. ”É através do olho humano que o nosso cére-bro está em contacto com o mun-do e funciona como uma câmara que capta a luz natural e artificial, processa-a e envia informação para o cérebro”, explica o professor. É o olho que vai distinguir as variadas formas de luz, formas que depois vão causar impressões mentais. “Hoje, graças aos nossos conheci-mentos da luz e fisiologia do olho, conseguimos reparar defeitos de visão como é o caso, por exemplo, da miopia, que pode ser curada com o auxílio de laser”, ilustra o docente.

No entanto, esta abordagem não demonstra apenas o elo que existe entre luz e ciência, ela explica tam-

bém que pode haver uma sintonia entre ciência e arte. “A fotografia é tecnologia, pois resulta de avanços na ciência, mas também é arte e uma fotografia do corpo humano pode, como qualquer outra, ter as-pectos artísticos”, refere Carlos Fio-lhais. Um dos objetivos deste pro-jecto será demonstrar que “ciência e arte são em princípio diferentes, mas podem e devem comunicar”. “Este é um dos fenómenos que iremos ver várias vezes neste Ano Internacional da Luz”, avisa.

Carlos Fiolhais ressalva sempre o cariz educacional, científico e cultural inerente ao tema da luz. Um tema que destrói barreiras e que ajuda o homem, em qualquer parte do mundo, a reinventar-se a si e ao que o rodeia. Por isso, com este projecto “mais do que uma grande luz, espera-se que surjam numerosas pequenas luzes”, afirma o docente. “Uma “chamazinha” em cada sítio... porque a luz quando nasce é de todos e para todos”, re-mata Carlos Fiolhais.

Onconfertilidade, a nova oportunidade para doentes com cancro

Novas luzes nos caminhos do MundoESTA OPORTUNIDADE PARECE MELHORAR A ADAPTAÇÃO PSICOLÓGICA DOS DOENTES

Rita Fé

“ONCOFERTILIDADE uma nova abordagem dos doentes jovens com cancro”, é o tema que vai presidir a sessão pública de 28 de fevereiro

A Oncofertilidade é um tema que interessa cada vez mais à área da Oncologia e que será abordado pu-blicamente na sessão a decorrer no Auditório da Reitoria da Universi-dade de Coimbra (UC) no próximo dia 28 de fevereiro. O evento conta com a participação de um vasto le-que de oradores competentes em algumas vertentes que este cam-po de investigação pode envolver. Será uma sessão que conta com a presença de todos os interessados, não só para assistir, mas também para participar colocando questões e dúvidas.

Segundo a oradora Teresa Almei-da Santos, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, a Oncofertilidade “é uma área de investigação que se foca nas opções reprodutivas dos doentes oncológicos”. Assim, a fertilidade em doentes oncológi-cos assume-se como um campo de trabalho crucial e decisivo para o futuro dos indivíduos portadores de uma doença cancerígena, visto que “os tratamentos oncológicos,

tais como a quimioterapia, podem originar infertilidade futura”.

Os processos que envolvem a pre-servação da fertilidade em doentes oncológicos visam dar a hipótese aos “doentes jovens de guardar material reprodutivo - como es-permatozoides, ovócitos e tecido ovárico antes dos tratamentos - para os utilizarem depois da doença, caso não consigam ter filhos de forma natural”, esclarece a presidente.

Uma área multidisciplinarPorém, a questão da fertilidade em doentes portadores de cancro ul-trapassa o plano da ciência e entra no domínio da motivação. Como elucida a docente, “a oportunidade de tomar uma decisão em relação à preservação da sua fertilidade, antes do início dos tratamentos, dá algum sentido de controlo ao doente num contexto pautado por incontrola-bilidade devido ao diagnóstico de doença oncológica e aos seus tra-tamentos”. Este aspeto parece me-lhorar a adaptação psicológica do paciente ao diagnóstico da doença pois permite-lhe projetar um futuro, com emoções positivas e sentir que ainda pode esperar muito mais da vida. “Por isso o mais importante é dar a oportunidade ao doente de se informar e decidir”, esclarece.

Deste modo, o rumo da sessão tem de ser multidisciplinar e mul-tifacetado, pois a própria área da Oncofertilidade é diversificada e abrangente. Na abordagem que se faz ao doente oncológico relativa à sua fertilidade, o acompanhamento

médico e psicológico é indispensá-vel “dada a complexidade da deci-são em relação à preservação da fertilidade e o contexto emocional exigente associado ao diagnóstico de doença oncológica”, alega Te-resa Almeida Santos. Serão estas as variadas vertentes que vão pre-sidir a conferência e que servirão, em grande medida, para propor-cionar ferramentas informativas a instituições de saúde e melhorar a informação online.

Uma abordagem que interessa a todos Na verdade, estamos perante uma divulgação que não interessa ape-nas a médicos estudiosos da área, a enfermeiros ou psicólogos, nem somente ao doente oncológico. A oradora fez questão de vincar o interesse que esta sessão pode ter para o cidadão comum e explica que é importante ter em conside-ração que “o número de doentes jovens em idade reprodutiva e sem filhos tem vindo a aumentar nos últimos anos” e que os tratamen-tos oncológicos têm garantido um aumento da taxa de sobrevivência de doentes portadores de cancro. Desta forma, “encontramos cada vez mais sobreviventes ainda em idade reprodutiva, com desejo de ter filhos e é fundamental informarmo-nos acerca desta possibilidade, para que possamos divulgar a informação junto de quem possa precisar de ser referenciado para um especialista e ser aconselhado, no momento certo, acerca da sua fertilidade futura”, remata.

Rita Fé

FOTOMONTAGEM POR RAFAELA CARVALHO

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24 de fevereiro de 2015 | Terça-feira | a cabra | 11

CIDADE

RAFAELA CARVALHO

Fusão nos sistemas de água pode aumentar fatura dos consumidoresFusão dos sistemas multimunicipais de água poderá implicar um aumento do preço da água para cidadãos dos distritos de Coimbra, Aveiro e Leiria

Os cidadãos do Município de Coimbra podem ter de pagar mais na fatura da água, para colmatar “pre-juízos que lhes são alheios”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e presidente da Asso-ciação Nacional de Municípios Por-tugueses (ANMP), Manuel Machado. Estas declarações foram dadas no decorrer do debate público sobre “Os Municípios, a reestruturação e o futuro modelo organizacional dos serviços de água e saneamento em Portugal”, no dia 12 deste mês.

A proposta da criação do novo Sistema Multimunicipal de Abaste-cimento de Água e de Saneamento do Centro Litoral de Portugal foi elaborada pelo Ministério do Am-biente, Ordenamento do Território e Energia. Entre outras medidas, o plano pretende fundir a empresa Águas do Mondego, “financeira-mente sustentável” com as empresas SimRia – Saneamento Integrado dos Municípios da Ria e SimLis - Sanea-mento Integrado dos Municípios do Lis, dos distritos de Aveiro e Leiria respetivamente, que se encontram “altamente endividadas”, conclui Manuel Machado. Também a em-presa Águas de Portugal está “falida”, segundo declarações do autarca ao jornal Público em dezembro passado.

De acordo com o vereador da CMC eleito pelo movimento Cidadãos Por

Coimbra (CPC), José Ferreira da Silva, a empresa Águas de Portugal tem problemas de “natureza orga-nizacional e financeira relativamen-te complexos”. Por esse motivo, a companhia quer solucionar o défice “à custa das empresas que funcio-nam bem como é o caso das Águas de Coimbra e que têm rentabilidade porque têm políticas adequadas”, conclui o vereador.

José Ferreira da Silva salienta ainda que “a fusão proposta pelo Governo não visa senão tentar re-solver problemas que são próprios das Águas de Portugal e que nenhum benefício terão designadamente para

as Águas de Coimbra e para os con-sumidores em Coimbra”.

Por seu turno, o presidente da empresa Águas de Coimbra Pedro Coimbra, afirmou, em declarações à agência Lusa em novembro passado, que podem ocorrer “instabilidades e alterações” que levariam a um “siste-ma mais frágil no seu todo” e pode-riam afetar a qualidade da água. O presidente fala ainda numa possível “subida das tarifas” na fatura da água.

Privatização pode ser soluçãoManuel Machado acredita que esta proposta tem como finalidade a privatização deste setor. Segundo o

presidente, a ANMP reconhece que “a água é um bem público essencial, social e ecologicamente relevante” e que por esse motivo recusa uma reestruturação que ponha em causa o desempenho de um serviço público de qualidade.

De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, Emídio Sousa, “é preciso apontar caminhos para o futuro”. O presidente defende ainda que “os autarcas têm de pugnar por um serviço com a máxima qua-lidade e ao melhor preço possível, seja sob gestão pública ou conces-sionada”.

Outro dos pontos com que Ma-nuel Machado discorda é a fusão do setor “águas e saneamento”, objeto social das Águas do Mondego com o setor de “sistemas de saneamento e esgotos”, principal centro de ação da SimRia e da SimLis. Na opinião do vereador da CMC, o Governo quer misturar “águas com sistemas que não têm águas, que são apenas de resíduos”, na tentativa de solucionar o défice dos Municípios de Aveiro e de Leiria.

De acordo com o presidente da Câmara Municipal da Batalha, no dis-trito de Leiria, Paulo Santos, os “gra-ves problemas de insustentabilidade económica e financeira existentes no sector não se resolvem através da adoção de um regime tarifário e de fa-turação que penalize os utilizadores”, daí o autarca “apresentar protestos” em relação à medida. Segundo o pre-sidente, as especificidades de cada sistema devem ser tidas em conta.

Alternativa à fusão jáfoi apresentadaComo alternativa a esta proposta de fusão, Manuel Machado refere que a ANMP sugere a “criação e instituição pelo Estado de um Fundo de Equi-líbrio Tarifário”. Este, para “além de incentivar a eficiência da gestão e de respeitar a autonomia local no setor das águas”, iria também permi-tir a resolução do problema do défice tarifário, o qual resulta de opções políticas locais e de condicionalis-mos, como “as condições geomor-fológicas, a dispersão populacional caraterística das regiões do interior e as diferentes taxas de comparticipa-ção de projetos apoiados por fundos comunitários”, conclui.

Até ao final da edição não foi pos-sível obter declarações do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Ter-ritório e Energia, nem da empresa Águas de Portugal.

Sara Pinto

O NOVO PLANO PRETENDE FUNDIR A EMPRESA ÁGUAS DO MONDEGO COM A SIM-RIA (AVEIRO) E A SIMLIS (LEIRIA)

Inaugurada no passado dia 14 de Fevereiro, é um exemplo único na cidade, localiza-se numa zona protegida e é propriedade de interesse público desde 2001

Além de visitar a exposição que se encontra no interior da casa, os vi-sitantes podem obter informações sobre o município. A edificação localiza-se no centro histórico da cidade e é um Imóvel de Interesse Nacional, refere o Chefe da Divisão de Reabilitação Urbana da Câma-

ra Municipal de Coimbra, Sidónio Simões. Situa-se na Zona Especial de Proteção da Igreja de S. Barto-lomeu e como menciona Sidónio Simões, o imóvel “está naturalmen-te protegido a nível patrimonial”.

Dentro da casa é possível visitar uma exposição medieval com ade-reços cedidos pela Viv’Arte, uma companhia de teatro de Oliveira do Bairro. A ideia, como refere a gestora da propriedade Sara Cruz, é “ver a casa como ela poderia ser no século XVI”. Para além de visi-tas guiadas e disponibilização de informações sobre o município, é ainda permitido aos utentes guar-dar objetos pessoais, em armários disponibilizados, enquanto visitam a cidade.

Para visitar o espaço é necessá-

rio fazer uma doação não sujeita a montante mínimo. “Estamos a pedir um donativo para que nos ajudem a reabilitar o edifício”, re-fere Sara Cruz. Sem grandes obstá-culos para arrancar, o projeto “vai crescendo passo a passo” reitera a gestora.

Esta é uma casa de estrutura ar-quitetónica típica da Idade Média, composta por três pequenas divi-sões e uma outra adjacente, na qual funcionava originalmente uma loja e onde atualmente se encontra a receção. “Este imóvel é um exem-plar único na cidade onde as ca-racterísticas medievais estão todas bem patentes, bem conservadas”, declara Sidónio Simões. O edifício foi construído como resposta “a necessidades básicas elementares

de abrigo e armazenamento, a que frequentemente se associa o local de trabalho”, explica Sidónio Si-mões.

Tal como os restantes edifícios do centro histórico, neste espaço recomenda-se que seja privilegia-do o uso comercial e residencial. “Os usos devem complementar-se para que a Baixa atraia residen-tes”, clarifica Sidónio Simões. O Chefe da Divisão acredita que a Casa Medieval pode servir não só como exemplo a outras proprie-dades imobiliárias da cidade, mas também como “ incentivo à criação de outras micro, pequenas e mé-dias empresas”. Sidónio Simões espera ainda que contribua para “trazer gente que pretenda morar, produzir, criar riqueza e emprego”.

Casa Medieval de Coimbra abre portas ao público

Cátia Cavaleiro

RAFAELA CARVALHO

Page 12: Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

Editorial

1As semanas seguintes serão de grande apreensão para muitos universitá-rios, pois está em cima da mesa a discussão da revisão do Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior

(RABEEES). Este apoio social, que tem sido muitas vezes o “ganha pão” dos que decidiram arriscar estudar, mesmo com dificuldades financeiras, vai ser revisto por uma comissão que está para ser criada desde a reunião do movi-mento estudantil com o Secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, no final do mês de janeiro. Com a integração de dois representantes dos estudantes na comissão de revisão podem ganhar-se – ou não - trunfos que invertam este cenário que tem deixado milhares de jovens fora do jogo universitário. A comissão será ainda constituída por elementos da secretaria de Estado, do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), da Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado (APESP), do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e da Direção Geral de Ensino Superior (DGES). Apesar de ainda não estar completamente formado e oficializado, este grupo conta já com algumas metas definidas, tais como a produção de resultados no prazo de dois meses e a implementação das revisões já no próximo mês de maio.

Que se lembrem, na hora de rever, a máxima que em 1976 foi consagrada na Constituição da República Portuguesa: “todos têm o direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar”. O esquecimento desta importante consagração tem feito, infelizmente, com que houvesse um sem fim de estudantes, capacitados e com vontade, a não poderem ingressar no ensino superior. Tudo porque ser “esperto” não chega. As contas são fáceis de fazer mas difíceis de pagar. Corre-se o risco de se elitizar o ensino superior, dando acesso apenas àqueles de famílias mais afortunadas financeiramente.

2Foi com pena que se viu uma corrida solitária à equipa reitoral. Seria uma obrigação a ginástica de ideias e de reinvenções que em tudo beneficiariam o Ensino Superior – fosse qual fosse o candidato eleito.

Estará a Universidade de Coimbra (UC) fora dos interesses de possíveis candidatos ou será o receio da responsabilidade? As respostas, essas, cabem a quem não teve a ousadia de se chegar à frente.

Num percurso que, quando terminar somará oito anos, João Gabriel Silva, reeleito para o cargo de reitor, promete apostar numa UC global, mas é bastante cauteloso na forma como trata os números. Sem dúvida que se o problema não fosse dinheiro a UC estaria no ranking número um. Mas como vivemos num mundo real, poder-se-ia dizer que a extrema cautela do reitor faz parecer cada avanço uma lenta progressão.

Sandro Raimundo

Tudo porque ser “esperto” não chega. As contas são fáceis de fazer mas difíceis de pagar. Corre-se o risco de se elitizar o ensino superior, dando acesso apenas àqueles de fa-mílias mais afortunadas financeiramente”

Custos no Ensino supErior: as Contas são fáCEis dE fazEr mas difíCEis dE pagar

DireçãoPaulo Sérgio Santos, Rafaela Carvalho

Equipa Editorial Sandro Raimundo (Ensino Superior), Inês Duarte (Cultura), Rita Fé (Ciência e Tecnologia)

FotografiaInês Duarte, Mariana Afonso, Rafaela Carvalho, Sandro Raimundo, Tiago Cortez

Ilustração Raquel Vinhas

Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: [email protected]

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Rádio Universidade de Coimbra

Tiragem 3000 exemplares

Ficha Técnica

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRADepósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Propriedade Associação Académica de Coimbra

Colaborou nesta ediçãoCatarina Santos, Cátia Cavaleiro, Camila Vidal, Carolina Saavedra, João Neves, Mariana Afonso, Pedro Barreiro, Rita Espassandim, Tiago Cortez, Sara Pinto

Colaboradores permanentesDiana Craveiro, Camilo Soldado, Filipe Furtado, João Gaspar, Maria Eduarda Eloy, Teresa Borges

PaginaçãoRafaela Carvalho

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabra

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acabra.wordpress.comMais informação disponível em

SANDRO RAIMUNDO