jornal universitário de coimbra - a cabra - 188

24
V I R G Í L I O C A S E I R O Jornal Universitário de Coimbra O s a n o s d e e s t ó r i a s e p e l o u n i v e r s o d o m a e s t r o d a O r q u e s t r a C l á s s i c a d o C e n t r o P 9 11 de Novembro de 2008 Ano XVIII N.º 188 Quinzenal gratuito Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo M A G N A S A i r r e v e r r ê n c i a q u e f e z v e l h a s h i s t ó r i a s n a A c a d e m i a P 1 2 e 1 3 E L E I Ç Õ E S D G / A A C T r ê s p r o j e c t o s a v a n ç a m c o m a s p r i m e i r a s i d e i a s s o b r e a s c a n d i d a t u r a s P 7 Entrega de postais AAC ruma a Lisboa Postais assinados por estudantes da Universidade de Coimbra vão ser entregues, entre hoje e amanhã, na Assembleia da República como crí- tica às políticas do governo para o ensino superior. A reivindicação, le- vado a cabo pela Direcção-Geral da Associação Académica após delibe- ração da última Assembleia Magna, diz respeito ao financiamento e à Acção Social Escolar. P 7 Estudante Atleta Senado aprova Estatuto O novo regulamento incentiva a participação do estudantes da Uni- versidade de Coimbra nas secçõe desportivas da Associação Acadé- mica de Coimbra. P 1 0 Mais informação em acabra. net @ PUBLICIDADE a cabra UC elege Conselho Geral pela primeira vez A Universidade de Coimbra vai a votos no próximo dia 24 para eleger representantes dos professores, alu- nos, investigadores e funcionários para o Conselho Geral. A 13 dias das eleições, os cabeça de lista dos estu- dantes candidatos aos quatro lugares para alunos de licenciatura e mes- trado falam, na primeira pessoa, sobre os seus projectos. Nesta eleição, concorrem ainda 18 professores e dois funcionários. Quanto aos alunos de doutoramento, a quem cabe ocupar um lugar no con- selho, não existe lista a votação. A introdução de elementos exter- nos no governo da universidade e a possibilidade de unidades orgânicas da UC passarem a fundações públicas de direito privado são as maiores preocupações dos cinco estudantes candidatos. Por seu lado, a internacionalização da universidade é uma das principais linhas de força das três listas de pro- fessores e investigadores. P 2 a 5 Alunos candidatos traçam objectivos e definem propostas em entrevista Angola Independência foi há 33 anos A Re- pública de Angola conheceu a inde- pendância em 1975. Depois de uma longa guerra civil, que ter- minou em 2002, o país só agora começa a reconstrução. Porém, a abundância de recursos naturais e o investimento estrangeiro não conseguiu ainda trazer a prospe- ridade desejada. P 1 6 ANA COELHO

Upload: jornal-universitario-de-coimbra-a-cabra

Post on 13-Mar-2016

267 views

Category:

Documents


39 download

DESCRIPTION

Edição 188 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

VIRGÍLIO CASEIRO

Jornal Universitário de Coimbra

Os anos de estórias e pelouniverso do maestro da OrquestraClássica do CentroP 9

11 de Novembro de 2008Ano XVIIIN.º 188Quinzenal gratuito

Director: João MirandaEditor-executivo: Pedro Crisóstomo

MAGNASA irreverrência quefez velhas históriasna AcademiaP 12 e 13

ELEIÇÕES DG/AACTrês projectos avançam com

as primeiras ideias sobreas candidaturas

P 7

Entrega de postais

AAC ruma a Lisboa

Postais assinados por estudantesda Universidade de Coimbra vão serentregues, entre hoje e amanhã, naAssembleia da República como crí-tica às políticas do governo para oensino superior. A reivindicação, le-vado a cabo pela Direcção-Geral daAssociação Académica após delibe-ração da última Assembleia Magna,diz respeito ao financiamento e àAcção Social Escolar.P 7

Estudante Atleta

Senado aprovaEstatuto

O novo regulamento incentiva aparticipação do estudantes da Uni-versidade de Coimbra nas secçõedesportivas da Associação Acadé-mica de Coimbra.P 10

Mais informação em

acabra.net@PUBLICIDADE

a cabra

UC elege Conselho Geralpela primeira vez

A Universidade de Coimbra vai avotos no próximo dia 24 para elegerrepresentantes dos professores, alu-nos, investigadores e funcionáriospara o Conselho Geral. A 13 dias daseleições, os cabeça de lista dos estu-dantes candidatos aos quatro lugarespara alunos de licenciatura e mes-trado falam, na primeira pessoa,

sobre os seus projectos.Nesta eleição, concorrem ainda 18

professores e dois funcionários.Quanto aos alunos de doutoramento,a quem cabe ocupar um lugar no con-selho, não existe lista a votação.

A introdução de elementos exter-nos no governo da universidade e apossibilidade de unidades orgânicas

da UC passarem a fundações públicasde direito privado são as maiorespreocupações dos cinco estudantescandidatos.

Por seu lado, a internacionalizaçãoda universidade é uma das principaislinhas de força das três listas de pro-fessores e investigadores.

P 2 a 5

Alunos candidatostraçam objectivos edefinem propostasem entrevista

Angola

Independênciafoi há 33 anos

A Re-pública

de Angolaconheceua inde-

pendância em 1975. Depois deuma longa guerra civil, que ter-minou em 2002, o país só agoracomeça a reconstrução. Porém, aabundância de recursos naturaise o investimento estrangeiro nãoconseguiu ainda trazer a prospe-ridade desejada.P 16

ANA COELHO

Page 2: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

DESTAQUE2 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

ELEIÇÕES PARA O CONSELHO GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRAANA COELHO

UC vota para o primeiro Conselho GeralO CONSELHO GERAL foi instituído como órgão de governo da universidade com os novos estatutos

Alunos, professores efuncionários entramem campanha paraeleger representantespara o novo órgão degestão da universidade

Os estudantes, docentes, inves-tigadores e não docentes candida-tos ao Conselho Geral daUniversidade de Coimbra (UC)têm, a partir de hoje, duas sema-nas de campanha eleitoral paradiscutir ideias sobre o futuro dauniversidade.

A 1 dias da eleição, os cabeças delista dos alunos mostram-se ex-pectantes quanto à mobilizaçãodos estudantes na votação, por sera primeira vez que há eleições parao órgão, instituído com a aprova-ção dos novos estatutos da UC, emSetembro. Na corrida aos quatroassentos para os alunos do pri-meiro e segundo ciclos estão cincolistas, que disputam um mandatode dois anos no conselho.

O projecto C, com o lema “Coim-bra É Hoje”, tem como candidatoLuís Rodrigues, estudante de Ciên-cias Farmacêuticas. Fabian Figuei-redo, aluno de Sociologia, é onúmero um da Lista M – “A UC

Merece Mais”. Já a Lista P – “Pro-jectar o Futuro – tem como candi-data a estudante de Medicina InêsMesquita. Da Lista T, Nuno Men-donça, estudante de Direito, é o ca-beça de lista e “Representa-teconnosco” o lema. Por último, daLista U – “Unidos Pela UC” –avança Filipe Andrade, aluno deMedicina. A eleição dos membrosé feita através do Método deHondt, sendo que os lugares dis-poníveis são distribuídos entre aslistas, proporcionalmente aosvotos arrecadados.

No Conselho Geral existe aindalugar para dezoito professores,dois não docentes e um aluno doterceiro ciclo, que completa o con-junto dos cinco estudantes que in-tegram o órgão. Contudo, nestaeleição, não existe nenhuma can-didatura por parte de um douto-rando. À Comissão Eleitoral foiapresentado um projecto, que, to-davia, não foi aceite, porque umdos elementos da lista tinha a ins-crição por regularizar.

Ainda assim, os estudantes sãounânimes em concordar que esta-rem a concorrer cinco listas é umsinal de vitalidade e interesse dosestudantes pela representatividadena UC.

No mesmo sentido, o presidenteda Comissão Eleitoral, António dosSantos Justo, destaca a “grande

concorrência ao processo eleito-ral”. Pelo contrário, o envolvi-mento de dez elementos externosna vida da universidade, através dasua presença no Conselho Geral, étido pela maioria dos cabeças delista dos estudantes como umapreocupação.

Conselho Geraltraz mudanças na UCEntre as eleições e 15 de Janeiro de2009, vai decorrer a primeira reu-nião ordinária do Conselho Geral,já com 25 membros eleitos, sendoque os restantes dez (personalida-des “de reconhecido mérito”, ex-ternas à UC) vão ser propostos evotados em reunião. Mais tarde,entre estes, vai ser preferido umpresidente. O órgão reúne, depois,ordinariamente, mais três vezespor ano, ou sempre que o reitor ouum terço dos seus membros solici-tar ao presidente.

Com as transformações impos-tas às universidades pelo RegimeJurídico das Instituições de EnsinoSuperior, em 2007, o ConselhoGeral assume algumas competên-cias do Senado Universitário, pas-sando a definir “as linhas gerais deorientação da universidade”.

A fixação da propina é agora de-liberada pelo novo órgão. Algumasmatérias apreciadas pelo ConselhoGeral a pedido do reitor devem ser

precedidas de um parecer apro-vado pelos membros externos. Damesma forma, é no Conselho Geralque pode ser decidida a fusão ouextinção de faculdades, bem comoa sua transformação em fundaçõesou entidades de natureza pú-blica/privada no seio da UC. UmProvedor do Estudante vai ser in-digitado pelo conselho. É tambémaos 35 membros do ConselhoGeral que compete a eleição do rei-tor, até aqui escolhido pelos pro-

fessores catedráticos na extinta As-sembleia de Universidade. O rei-tor, embora tenha assento, nãotem direito de voto e pode sersubstituído, suspenso ou desti-tuído das funções por decisão doórgão.

O presidente da Comissão Elei-toral reconhece que “a importân-cia” do Conselho Geral pode ser“apelativa no sentido de mobilizar”a afluência às urnas no próximodia 24, em cada faculdade.

Pedro Crisóstomo

CONSTITUIÇÃO DO CONSELHO GERAL

Professores, investigadores

Elementos externos

Estudantes

Funcionários

INFOGRAFIA POR ANA COELHO

Page 3: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

DESTAQUE11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 3

O estudante de Ciências Farmacêuticas pretende levar ao Conselho Geral propostas de melhoramento das condições físicas epedagógicas da Universidade de Coimbra

“O principal problema da UC são as pessoas”LISTA C • “COIMBRA É HOJE” • LUÍS RODRIGUES

Quais os pontos que defendeo vosso projecto?

Integrar mais pró-activamente osestudantes nos serviços prestados àcomunidade no sentido de os contex-tualizar com o mercado de trabalho.Em relação às propinas, entendemoso ensino superior como um bem pú-blico. Tentaremos encontrar o valorjusto para os estudantes pagarem e,em conjunto com outros membros doConselho Geral das outras universi-dades, fazer acções concertadas como governo. Por exemplo, os estudan-tes do ensino superior parecem tersido esquecidos nesta vanguarda dosportáteis nos primeiro e segundo ci-clos. São estudantes do superior quedariam uma real utilidade aquele ins-trumento de trabalho. Defendemosainda a criação de uma linha especialde transportes entre os pólos III e I, eentre o I e II. O principal problemada UC não é o dinheiro, são as pes-soas.

O que é para vocês um "valor

justo da propina"?Os estudantes que têm dificuldades

económicas, sociais devem exigiruma propina que no mínimo sejaconcordante com as condições quetêm.

Através de uma propina dife-renciada?

Não defendemos a propina dife-renciada. Vamos tentar estar concer-tados com os outros membros doConselho Geral e das outras univer-sidades para procurar soluções con-juntas, e remetê-las ao governo nosentido de este investir mais no en-sino superior.

Qual é a vossa opinião da en-trada de elementos externospara o Conselho Geral (CG)?

Não encontramos uma grande uti-lidade em termos de elementos ex-ternos para um CG.

Quem seriam bons elementosexternos?

Já que tem de haver dez elementosexternos, pelo menos devem ser re-presentativos da sociedade ao níveleconómico, social. Não será com a

concentração de todos os represen-tantes dos bancos nos dez.

Como é que vão fazer lutar?Através do voto, através duma in-

tervenção activa, de denúncia evamos tentar que a haver um investi-mento de alianças externas na uni-versidade que seja um investimentoque nunca comprometa a autonomiauniversitária. Salvaguardo que os in-teresses dos estudantes não podemestar em causa com a intervenção deelementos externos.

Em relação ao número de es-tudantes no Conselho Geral,achas que são suficientes?

Acho o número diminuto. Não é re-presentativo dos estudantes e elesvão ter que procurar as melhoresarmas para conseguir contrabalançaresse facto.

Qual é a tua posição sobre onovo regime jurídico?

Somos a favor de uma maior coo-peração entre as faculdades. A uniãoé a única forma da UC continuar como peso que tem e nos últimos anoshouve uma tentativa interna de frac-

turar essas unidades orgâ-nicas. Isso é um perigoenorme à universali-dade do saber.

A vossa intençãono Conselho Geral éo combate contra oregime?

Isso não terá grandesentido porque as linhasdo CG são muito pragmáti-cas.

Como pretendemactuar em rela-ção a Bolonhae ao regimede prescri-ções?

No regimede prescri-ções vamosdar priori-dade à de-fesa dosestudantescom pro-blemas dereconhe-cimento

de estatutos, de natu-reza ideológica que os

possam prejudicar.É fácil um estu-

dante ter de tra-balhar para pagara propina, e noentanto não vê re-conhecido o seu

estatuto.

João Miranda Cláudia Teixeira

Com uma posição crítica em relação ao regime jurídico do ensino superior, Fabian Figueiredo denuncia a falta derepresentatividade dos estudantes no Conselho Geral e o caminho para a privatização da UC

“A democracia foi derrotada mais uma vez”LISTA M • “A UC MERECE MAIS” • FABIAN FIGUEIREDO

Quais as razões da candi-datura da Lista M?

Decidimos concorrer ao Con-selho Geral, porque a UC e os es-

tudantes têm sido menosprezados,têm-nos cortado direitos e

temos perdido condições.Desagrada-nos o factode os estudantes sóterem quatro lugaresquando são a maio-ria na universidade.Cortaram-nos osdireitos, os traba-lhadores-estudan-tes foramesquecidos e ficoupor resolver umadata de problemasquando o Processo

de Bolonha foi im-plementado.Agora, chegao RJIES quedefende osinteressesque não

são os interesses dos estudantes.Todo o desinteresse que tem pai-rado sobre a UC indigna-nos e faz-nos querer fazer algo: queremosmudar e tornar isto mais dinâmico.

Que apreciação fazes doRJIES?

Com este novo regime jurídico osenado perde força. O ConselhoGeral empurra o Senado para trás,que passa a ser meramente consul-tivo, e dá quatro lugares aos estu-dantes, o que são migalhas. Amesma coisa se passou com os fun-cionários. Mais: os elementos ex-ternos vão ter mais poder do quenós. A democracia foi derrotadamais uma vez.

Achas que a UC corre o riscode privatização?

O que significa privado? Privadosignifica que algo está submetido ainteresses pessoais, não dos estu-dantes. O que é que na UC é nosso?Pagamos uma propina máxima e aque é que temos direito? Temos di-reito a ir às aulas e mais nada. Pa-gamos apontamentos, livros,habitação, alimentação, ou seja, pa-

gamos tudo. A universidade é pú-blica mas para o utilizador tudo éprivado. A universidade não énossa. O Estado tem feito de tudopara isto passar para os privados. Auniversidade caminha para a priva-tização.

Pretendem apresentarnomes para os elementos ex-ternos?

Sou a favor da democracia dasinstituições, ou seja, de que a uni-versidade eleja os seus próprios re-presentantes. O interesse doselementos externos não é tornar aUC um lugar mais justo. O ensino éum negócio espectacular. O objec-tivo é fazer com que os programassirvam os interesses das empresas.Não vamos propor nome algum.Caso sejamos eleitos vamos mos-trar a nossa posição contra a pre-sença de elementos externos. Não épor uma questão de corporativismoou de bairrismo universitário deCoimbra. Não quero é que o inte-lecto dos estudantes de Coimbrasirva os interesses desses elemen-tos. Não é justo, não é correcto,nem é democrático.

Qual é a tua opinião sobreuma possível passagem deuma faculdade ou da universi-dade a fundação?

Sou contra a lógica das fundaçõesporque vai ao encontro da privati-zação. Achamos que a UC precisade uma reformulação dos serviçosadministrativos, precisa de umacompleta desburocratização.

Como vai ser feita a vossacampanha?

O exercício da recolha de assina-turas para a constituição de lista foiengraçado porque quase ninguémsabia o que era o RJIES. A nossacampanha vai servir, essencial-mente, para informar os estudantesdas mudanças que estão a aconte-cer.

Uma das funções do Conse-lho Geral é fixar as propinas.Qual é a vossa posição em re-lação a elas?

Eu vejo a educação como um in-vestimento do país. Sou contra aspropinas porque é uma limitaçãopara quem quer vir para o ensinosuperior.

Sónia Fernandes Cláudia Teixeira

ANA COELHO

ANA COELHO

Page 4: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

DESTAQUE4 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

Dinâmica intelectual, deliberação intelectual, debate de ideias. São estas as palavras de ordem da estudante de Medicina, quepretende lutar contra o desconhecimento do que é o Conselho Geral junto dos estudantes

“O trabalho não se vai ficar pela lista”LISTA P • “PROJECTAR O FUTURO” • INÊS MESQUITA

A favor do ensino superior gratuito, contra as fundações. Nuno Mendonça rejeita a introdução de elementos externosno Conselho Geral e pretende exercer mandato próximo dos estudantes

“Votarei contra a fixação das propinas”LISTA T • “REPRESENTA-TE CONNOSCO” • NUNO MENDONÇA

O que vos levou a concorrerao Conselho Geral?

A experiência e o conhecimentoque temos é positivo e construtivopara este órgão máximo de decisãoda UC, aliados a outra questão muitoimportante – o conhecimento da pró-pria orgânica da universidade…Como é que as faculdades funcionam,quais as suas necessidades e de quemaneira é que podemos contribuirpara construir o futuro da UC. E de-pois, obviamente, a vontade que osalunos desta lista têm em participarno plano estratégico de construçãocientífica, pedagógica da UC, emquestões de financiamento, Provedo-ria do Estudante, entidades orgânicase cooptação. Temos capacidade detranspor estas questões, com sensa-tez, para a análise de tudo o que sur-gir em relação ao Conselho Geral.

Um elemento da tua lista é daactual DG/AAC. É um projectoque sai desta direcção-geral ou

é completamente indepen-dente?

São eleições completamente autó-nomas. Não é de todo uma via directade ligação.

Seria importante a presençade elementos da direcção-geralno Conselho Geral?

Um dos principais objectivos danossa lista é anular o vazio que existenesta Academia relativamente ao co-nhecimento do que é que os repre-sentantes fazem nos órgãos dauniversidade. Queremos colmataressa falha. Somos poucos alunos noConselho Geral e por isso temos quesobressair pelo conteúdo. Faz sentidose for em uníssono, não dando tantaimportância à DG/AAC. A UC deveter três D’s: dinâmica intelectual, de-liberação intelectual, debate deideias.

Quais são as vossas exigên-cias?

Esta lista é contra as instituiçõespúblicas de direito privado, porque osperigos são enormes. A questão dacooptação é uma delas, a questão dasfundações outra. Há muitos estudan-

tes fora do ensino superior devido àacção social e a questão da fundaçãopode vir a influenciar isto. Acima detudo, temos de assegurar que os ele-mentos externos vão ao encontro dadiversidade da UC.

És contra ou a favor?O RJIES obriga a ter esses elemen-

tos e isso vai depender do perfil e ca-pacidade de qualquer um. Não possodizer que a presença deles é positivaou negativa porque não sei quem vãoser.

Mas por princípio…Obviamente que somos contra a

questão dos elementos externosterem ido roubar a representativi-dade da razão de existir da Universi-dade de Coimbra, que é osestudantes. Essa presença nos órgãosexternos só será positiva se acrescen-tar algo de positivo à realidade dosestudantes, não é a interesses, a in-trigas, nem a conflitos.

No que diz respeito às propi-nas, qual é a vossa posição?

Somos pelo princípio do ensino pú-blico, gratuito e de qualidade e, acima

de tudo, idóneo ejusto. Claro quesomos contra aspropinas porprincípio, massabemos queelas são uma rea-lidade, que exis-tem e queaumentaram muitonos últimos anos. O quevamos fazer é o máximoesforço a debatermo-nospara que não aumen-tem.

Os próximosquinze dias espe-ram-se de debateintenso…

Não acreditamos queos estudantes possamvotar sem saberem quemsão as pessoas e o quequerem. Depois, sabendoque há a possibilidade denão estarem todos os ele-mentos da nossa lista re-presentados, o debatee o trabalho nãose vão ficar

pela lista. As pessoas que láestiverem têm que assu-

mir um barcocomum.

Qual é a vossa von-tade para terem con-corrido ao Conselho

Geral?Os estudantes devem

marcar posição como elementofundamental para a construção

de uma melhor universi-dade, que se quer com-

petitiva, comcondições.

O que achassobre o nú-mero de alunosno ConselhoGeral?

É diminuto.Aliás, isso só vem

corroborar o queos estudantes defen-deram na Assem-bleia Estatutária,que deviam sercinco, não com-part imentadospor ciclos.

Aquando dos estatutos, vo-taste a favor e disseste que o nú-mero era razoável.

Foi a única alternativa. Quandodigo razoável digo dentro daquilo quenos foi apresentado. Inicialmenteapresentamos uma proposta de setealunos, mas depois acabou por ficarassim.

Se achas que o número é re-duzido como vão ‘levantar avoz’?

Há três ou quatro pontos quedevem ser levantados logo a seguir àsreuniões. Devemos tratar da acçãosocial, dar continuidade ao trabalhoque havia no Senado, e alertar sobrepequenos problemas causados peloProcesso de Bolonha.

O facto de reunir ordinaria-mente quatro vezes por ano, vaidificultar essa ligação?

Não acredito que venha a reunir sóquatro vezes, dada a estrutura dauniversidade. É preciso uma proxi-midade saudável com a Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), porque é aestrutura que representa os estudan-tes.

Mas a DG não está represen-tada no Conselho Geral…

Não, mas poderá existir a possibi-lidade de ser cooptado, embora se le-vante um problema, porque não hácooptados por um ano.

Como vais informar todos osestudantes?

Irei tentar sempre que haja umaAssembleia Magna para colocar ospresentes a par daquilo que se temvindo a fazer no Conselho Geral.Criaremos um blogue. As pessoasvivem completamente alheadas, mui-tas nem sabem como funciona o Con-selho Geral, quase ninguém sabe oque é.

Isso é preocupante?Se chegarmos ao dia 24 e houver

pessoas que não saibam dizer o que éo Conselho Geral, isso é preocupante.

Quais são as vossas propos-tas?

Queríamos alertar para as questõesrelativas à acção social, em relação àsquestões pedagógicas… O mesmocom o Processo de Bolonha. Votareisempre contra a fixação das propinas,

por uma questão de princípio. Acre-dito no ensino superior gratuito e dequalidade.

Em relação aos dez elementosexternos que compõem o Con-selho Geral, consideras o nú-mero excessivo?

Sinceramente, acho. Quanto se deua cooptação dos elementos externospara a Assembleia Estatutária, abs-tive-me e farei o mesmo nesta coop-tação. Empresas atrás dauniversidade não é o caminho. Quemestá dentro deve ter mais representa-ção do que quem vem de fora.

Achas preocupante que o pre-sidente tenha de ser um ele-mento externo?

Não sabia que era assim.

No caso de uma instituiçãoquerer passar a fundação, queposição é que tomarias?

Já votei contra nos estatutos e sereicontra adiante.

Vês algum perigo nas funda-ções?

Não será o melhor caminho.

Pedro CrisóstomoSónia FernandesCláudia Teixeira

Pedro CrisóstomoSónia FernandesCláudia Teixeira

ANA COELHO

ANA COELHO

Page 5: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

DESTAQUE11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 5

O estudante de Medicina refere a importância do ensino superior gratuito, defende a redução das propinase denuncia que os estudantes perderam poder de decisão “de forma gritante” na universidade

“Vamos levar a voz dos nossos colegas”LISTA U • “UNIDOS PELA UC” • FILIPE ANDRADE

A internacionalização da universidade é uma das principais linhas orientadoras das três listas de professores que concorremao Conselho Geral. Por Sónia Fernandes e Catarina Domingos

Visões coincidentes sobre a UCLISTAS DE PROFESSORES E INVESTIGADORES

LISTA A •

A lista que tem à cabeça Boaventura de Sousa Santos (Facul-dade de Economia da Universidade de Coimbra) e José de FariaCosta (Faculdade de Direito) tem como nova ambição uma“fortíssima internacionalização e a consolidação de excelência”,como afirma Faria Costa. O número dois da lista A acrescentaainda que se deve “transformar a UC em qualquer coisa em quese possa orgulhar, sobretudo no plano internacional”.

As linhas de força deste projecto são, no entender do tam-bém presidente do Conselho Directivo da FDUC, “promover acultura e a politica universitária e de ajuda e entreajuda ao re-itor”. Para Faria Costa, a importância do Conselho Geral é “cap-ital do desenvolvimento da política universitária”, uma vez que“este novo regime político [RJIES] altera substancialmente asescolhas e a estrutura normal relativa à universidade”.

A lista A defende na moção estratégica que os estatutos “seafastam do primado da cidadania e da democracia”. Para o el-emento da lista “o que importa é sobretudo os órgãos fazeremeles próprios o reforço da cidadania e gestão democrática”.

Em relação aos elementos externos do Conselho Geral, alista A considera que o número é razoável e afirma ainda queeste já não é um assunto a discutir.

Questionado sobre a possível privatização da Universidadede Coimbra, Faria Costa discorda. Quanto à possível passagemdas faculdades a fundações, classifica-a como “um cenário fan-tasioso”, sublinhando que a sua lista “trabalha num quadro nor-mativo de normalidade”.

LISTA E •

Encabeçada por João Filipe Queiró (Departamento deMatemática), a Lista E define como linhas orientadoras para oseu projecto “defender uma boa interpretação do ConselhoGeral e das suas competências” e o “reforço pela afirmação dauniversidade como uma instituição de referência, nacional e in-ternacional”.

No seu entender, a UC deve “ter a ambição de melhorar sem-pre” e acredita que este “é o caminho que assegura o melhor fu-turo, e é o único digno da Universidade de Coimbra”.

Nos princípios da lista está referido como um dos pontos fun-damentais a simplificação administrativa. Sobre este assunto,João Filipe Queiró explica que “é fundamental que a compo-nente administrativa seja simplificada para os investigadores”.

Na questão dos elementos externos, o docente consideraque, “se forem escolhidas personalidades de grande qualidadee credibilidade, essa participação poderá ser útil à universidade,sem prejudicar a sua autonomia”. “Não devemos ter medo dosolhares externos”, acrescenta.

O representante da lista E não crê que a aplicação do RegimeJurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) vá desvirtuara UC da sua base fundadora e reafirma que a Universidade deCoimbra tem uma cultura institucional suficientemente fortepara atravessar diferentes leis e governos. “Não foi a olhar paradentro, nem a contemplar o passado, que a Universidade deCoimbra se tornou a forte instituição que hoje é, e que quere-mos que continue a ser”, lembra.

LISTA U •

A lista U, que tem como número um João Carlos Marques(Faculdade de Ciências e Tecnologia), define como linha prin-cipal do projecto a resposta às questões: “onde estamos, paraonde queremos ir e como é que lá chegamos?”.

Para Carlos Marques, o “Conselho Geral é o órgão por ex-celência onde terá lugar o debate das linhas estratégicas da uni-versidade” e, por isso, defende que “a promoção dainvestigação interdisciplinar e transdisciplinar terá de ser umadas linhas de força da Universidade de Coimbra”.

As principais bandeiras da lista U são ter um papel dinâmicono debate sobre a reorganização e reestruturação das áreas dosaber na universidade. João Carlos Marques quer uma institu-ição “sem exclusões mas exigente, de prestígio internacional” edeseja ainda que “o mérito seja recompensado, que se conservea tradição mas se aposte na inovação e modernidade, quecatalise o desenvolvimento regional e nacional”.

Para o cabeça de lista, o número de elementos externos a in-tegrar o Conselho Geral “parece um número razoável” e afirmaque “gostaria de ver integrar personalidades estrangeiras degrande prestígio” e também “pessoas que desempenharampapel de relevo na UC, que a compreendem bem por dentro”.

Em relação a uma possível passagem a fundação das facul-dades, João Carlos Marques considera que “se esta opção forserenamente discutida, pesados todos os factores, a UC saberátomar a resolução que melhor garanta o seu futuro”. Todavia,sublinha: “acredito na universidade pública”.

Porque concorrem ao Conse-lho Geral?

Estamos a concorrer porque os es-tudantes têm direito de ter um ensinosuperior público, gratuito e de quali-dade e uma gestão democrática dauniversidade, portanto, estamos acandidatar-nos para lutar por isso noConselho Geral com as armas que pu-dermos e conseguirmos.

Quais são as principais ban-deiras da vossa lista?

Temos a principal ambição de lutarpor um ensino superior de qualidadee gratuito e vamos dar atenção atodas as situações que possam pôrisso em causa. A democraticidade naAcademia é, para nós, muito impor-tante e vemos com muita descon-fiança as entidades externas queestão no Conselho Geral. Perdemospoder de decisão na UC. Vemos commaus olhos, por exemplo, entidadesrelacionadas com a banca a decidirou a votar a alienação de patrimónioda universidade, a fixarem preços de

propinas ou até as operações de cré-dito à universidade. Vamos também,como é óbvio, levar a voz dos nossoscolegas, porque as coisas não podemaparecer votadas e decididas, querseja pelo reitor, quer pelo ConselhoGeral, e não saber porque foram vo-tadas e quem votou nelas. É impor-tante trazer essas informações cápara fora. É este papel que nos cabedesempenhar.

Achas o número de elementosexternos excessivo, portanto?

Além de excessivos, até achamoscompletamente dispensáveis. Nãoachamos que tenha grande lógica ter-mos pessoas externas à universidadea dirigirem o seu destino. Se são ex-ternos à universidade que interessesé que eles vão defender no ConselhoGeral?! Não vão defender de certezaos interesses da universidade porqueeles são externos. A sua própria elei-ção não é feita da forma mais demo-crática.

E em relação aos estudantes?Quatro estudantes em 35 elemen-

tos é manifestamente pouco. Perde-mos poder de decisão na

universidade de forma gritante. Opoder de influência é muito reduzidoem questões muito importantes.

Que apreciação geral fazessobre o RJIES?

O poder dos estudantes é reduzido,o reitor passa a ser eleito por um nú-mero muito inferior de pessoas. É umregime jurídico que quando mete ele-mentos externos, e quando mete umgestor no Conselho Geral abre as por-tas a uma possível fundação, uma en-tidade de capitais públicos masgerida de forma privada.

Como é que vês a possível pas-sagem de uma faculdade a fun-dação?

É negativo. Nós defendemos que oensino superior deve ser público, gra-tuito e de qualidade e portanto nãodeve ser gerido com carácter privado,não deve ser gerido numa óptica deempresariação, muito menos comuma óptica de empresariação que vácondicionar o funcionamento de de-terminados departamentos e de cer-tas faculdades.

A universidade corre o risco

de privatização?Privatização nos

termos jurídicosda palavra nãosei. Agora quecorre o risco decomeçar a fun-cionar menoscomo uma entidadepública e corre o risco defuncionar cada vez maiscomo uma entidade privada,isso sim. Porque se não fosseassim qual seria a necessi-dade de haver no Conse-lho Geral elementos quevêm do mundo empresa-rial?

Uma das funções doConselho Geral é a fi-xação das propinas. Oque defendem?

Como defendemos umensino gratuito, defende-mos que as propinas nãodevem ser fixadas, devehaver uma redução das pro-pinas, deve ser o Estado a fi-nanciar o Ensino Superior emvez dos alunos, portanto somos

contra.

Se fores eleito, vota-rás contra a fixação?

Com este preço,sim.

Marta PedroCláudia Teixeira

ANA COELHO

As entrevistas em

acabra.net

Page 6: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

ENSINO SUPERIOR6 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

PUBLICIDADE

Há vida à noite na UC

ESTUDANTES DE ARQUITECTURA passam longas horas à noite a fazer projectos nas salas do departamento

ão cerca de 22 horas no De-partamento de Arquitec-tura da Faculdade deCiências e Tecnologia da

Universidade de Coimbra(FCTUC). O portão aberto facilita aentrada no local. Após subir as es-cadas surge um grande átrio comuma varanda comprida e cheia deportas. Nas várias salas de estudodo departamento ouve-se música evive-se um clima de trabalho in-tenso mas também de descontrac-ção e companheirismo. No quadrode ardósia vêem-se rabiscos debrincadeira. Em frente, as mesasrepletas de maquetas rodeiam-sede olhares curiosos e atentos. O es-tudante de arquitectura David Pi-nheiro explica: “a quantidade denoites passadas no departamentodepende muito dos trabalhos quetenho para apresentar mas quatropor semana é a média”. David de-nuncia a falta de apoios da facul-dade, nomeadamente no que dizrespeito à alimentação visto que“nem uma máquina de comida há”.

A mesma situação preocupa aaluna Tânia Correia. No entanto, eapesar de ser a sua primeira noitede estudo no departamento, Tâniaestá a adorar a experiência “pois oespírito de entreajuda é forte e oambiente de trabalho em grupo épropício à troca de dúvidas e co-nhecimento”. Pedro Grilo, estu-dante do primeiro ano, sublinhaque “a vida à noite no departa-mento de Arquitectura dá para tudoporque se vive um misto de brinca-deira e trabalho”. Ouve-se alguémna sala dos alunos do quarto ano:“põe música”. E assim começa maisuma noite de trabalho.

Departamentos sãomelhor local de trabalhoNum ambiente um pouco maissério, os estudantes do Departa-mento de Engenharia Electrotéc-nica da FCTUC também optam peloedifício para local de trabalho. Aquio acesso aos alunos é mais restrito,o que torna o meio mais calmo e si-lencioso.

Num laboratório do terceiro pisoo finalista de Engenharia Electro-técnica Nelson Bruno trabalha noprojecto final de curso. O estudanterefere que não fica no departa-mento até muito tarde pois passa láa maior parte do dia, mas sublinhaa importância do trabalho de grupoà noite visto que “é melhor paratirar dúvidas, já para não falar dasmuito melhores condições de es-tudo”.

No mesmo laboratório encontra-se Eunice Oliveira. A doutorandaconta que “grande parte das noitessão passadas no departamento, in-clusive o fim-de-semana”. “Sempreque posso venho para o departa-mento trabalhar”, reforça. Euniceexplica que “existe mais facilidadeem aceder a material de trabalho emesmo nas condições de estudo,até porque se encontra sempre umorientador disponível”. “As dificul-dades encontradas residem nofacto de não haver uma impressorano laboratório e de a rede informá-tica, que é indispensável no traba-

lho, falhar frequentemente”, de-nuncia a estudante.

Grande parte dos estudantes deEngenharia Electrotécnica traba-lham à noite no departamentodesde o primeiro ano, mas para oestudante do quinto ano GonçaloMarques, esta era a sua primeira vi-sita ao edifício durante a noite.“Hoje não vou cá passar muitotempo, mas penso, no futuro, pas-sar cá muitas noites porque o am-biente é sossegado e oferece muitoboas condições”, afirma o estu-dante.

No Departamento de EngenhariaInformática da FCTUC o sistema deentrada é semelhante ao anterior,no entanto, todos os estudantestêm acesso ao edifício. Em compa-ração com o Departamento de En-genharia Electrotécnica, aquivive-se um ambiente completa-mente diferente, muito mais dinâ-mico e repleto de estudantes.Devido ao ritmo intensivo de traba-lho, o departamento tem uma salade convívio com matraquilhos, uma

estrutura para jogar ténis de mesaque foi doada por um professor,uma televisão e uma consola de vi-deojogos. A estudante do primeiroano de mestrado Margarida Fariaafirma que passa a maior parte dassuas noites no departamento. Mar-garida explica que “os computado-res da escola são do século passado”e, como tal, os estudantes têm queutilizar os computadores pessoais.“Há muita falta de tomadas e ex-tensões e torna-se complicado tantagente trabalhar ao mesmo tempocom esta condicionante”. A estu-dante refere ainda a falha constanteda rede informática o que é proble-mático visto que “os projectos sãomaioritariamente de grupo e, por-tanto, há a necessidade de estarmosligados em rede”. No local encon-tra-se um colega que já estava nodepartamento há dois dias segui-dos. Margarida Faria conta que jáforam chamadas ambulâncias vá-rias vezes, devido a desmaios porexaustão.

Com Cláudia Teixeira

CLÁUDIA TEIXEIRA

S

Depois de um dia de aulas e quando o trabalho aperta, alguns departamentos daUniversidade de Coimbra estão abertos à noite aos estudantes que precisam de fazerinvestigação ou realizar trabalhos. Por Sara Lopes e Renata Rodrigues

Page 7: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

ENSINO SUPERIOR11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 7

Magna discuteestatutos

A Assembleia Magna (AM) de ama-nhã retoma a discussão dos estatutosda Associação Académica de Coimbra(AAC). Em causa está a realização, ounão, de uma nova alteração do di-ploma. A reunião geral de alunos vemno seguimento da aprovação de umamoção apresentada na última magnapela estudante da Faculdade de Le-tras Ana Beatriz Rodrigues, em re-presentação dos alunos do ConselhoDirectivo da faculdade. A moção pro-punha, então, o adiamento da discus-são dos estatutos da AAC, visto que,e de acordo com a estudante, “os es-tudantes têm que estar conscienciali-zados e melhor informados acerca datemática”.

C.T.

AAC entrega postaisna Assembleia da RepúblicaAs políticas para oensino superior levamos estudantes da UC aLisboa. Direcção-geralda AAC não concertaesforços com umafaculdade daUniversidade Nova deLisboa

Uma acção de protesto organizadapela Associação de Estudantes da Fa-culdade de Ciências Sociais e Huma-nas da Universidade Nova de Lisboa(AEFCSH) está prevista para ama-nhã, 12. Os estudantes da Nova deLisboa pretendem demonstrar a suaposição em relação às verbas atribuí-das ao ensino superior no Orçamentode Estado para 2009 e ao Processo deBolonha. O novo Regime Jurídicodas Instituições de Ensino Superior,as propinas e outros problemas rela-cionados com o superior fazem tam-bém parte das reivindicações daAEFCSH.

Também a Associação Académicade Coimbra (AAC) se vai deslocaresta semana à capital para contestaras políticas governamentais para oensino superior. Postais assinadospor vários estudantes da Universi-dade de Coimbra (UC) a reclamar“mais e melhor acção social” são aforma de protesto encontrada pelaAcademia.

O presidente da Direcção-Geral daAAC (DG/AAC), André Oliveira, ex-plica que o objectivo é que “a mensa-gem passe ao Ministro da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior”.

Até ao fecho desta edição, a direc-ção-geral esperava uma resposta porparte da AR para saber se vai ser re-cebida hoje ou amanhã. André Oli-veira explica que “tudo está a ser feitopara que nos recebam na quarta-feira[amanhã]”. “Caso não seja possível”,explica André Oliveira, “a Academiavai deslocar-se a Lisboa dia 11[hoje]”.

Da mesma forma, era ainda desco-nhecido se outros estudantes da UC,para além dos elementos daDG/AAC, vão poder participar naacção.

Na possibilidade de a entrega dospostais ser feita amanhã e, no que dizrespeito a concertar esforços com a

AEFCSH na luta contra as políticasdo executivo, André Oliveira é cate-górico: “a AAC não se vai juntar àacção de protesto dos colegas da Uni-versidade Nova de Lisboa”. “Vamos aLisboa por uma acção concreta, que éa acção social escolar, e com um ob-jectivo único – entregar os postais naAR”, sublinha. O presidente daDG/AAC reafirma: “o propósito destaida a Lisboa não é manifestarmo-nos,mas sim falar com a Comissão deEducação da AR e mostrar a posiçãodos estudantes da UC com a entregasimbólica de postais”. Já na últimaAssembleia Magna, a direcção-geralse mostrou contra as acções de rua.

A iniciativa decorre de uma delibe-

ração da Assembleia Magna, onde foiaprovada uma moção apresentadapelo estudante de Medicina MarcosLemos. De acordo com a moção, ospostais deveriam incluir os actuaisproblemas do ensino superior, com oobjectivo de criticar o actual governo.

A última vez que a Academia sedeslocou a Lisboa em protesto acon-teceu no dia 28 de Março, na mani-festação organizada pelaInterjovem/CGTP (ConfederaçãoGeral dos Trabalhadores Portugueses– Intersindical Nacional).

Cláudia Teixeira

Até agora, apenasJorge Serroteoficializou acandidatura, mas já seconhecem mais duaslistas: Projecto Ue FAE

Decorrem nos dias 26 e 27 deNovembro as eleições para os cor-pos gerentes da Associação Aca-démica de Coimbra (AAC). Oactual vice-presidente da Direc-ção-Geral da AAC (DG/AAC),Jorge Serrote, é, para já, o únicocandidato oficial. “É um projectode continuidade da actualDG/AAC mas a lista integra tam-bém pessoas novas”, assegura.

De acordo com o dirigente asso-ciativo, “o projecto apresenta qua-tro bandeiras fundamentais”. Napolítica educativa, Jorge Serroteacredita que “cada vez mais se de-sinveste no ensino superior e aspropinas estão cada vez mais ele-vadas”. Mostra-se também preo-cupado com as políticas dejuventude e defende que a AACdeve ter um papel mais interven-tivo “para impedir o afastamentodos estudantes do associativismoe da política”. Jorge Serrote pre-tende “privilegiar o serviço ao es-tudante” e refere a reabilitação doCampo de Santa Cruz e o novo es-tatuto do estudante-atleta comofundamentais para uma aposta nodesporto universitário. O estu-dante garante ainda que nãoexiste qualquer tipo de apoio par-tidário e que vai privilegiar o diá-logo no que diz respeito à forma

de luta estudantil.O elemento do projecto U Hen-

rique Paranhos explica que ogrupo ainda não tem candidatodefinido, mas denuncia a “inérciatotal face aos problemas dos estu-dantes” das direcções-gerais ante-riores. De acordo com oestudante, o objectivo principal dogrupo é “defender os direitos dosestudantes e uma escola verdadei-ramente pública e de qualidade”.

O projecto U opõe-se ao novoRegime Jurídico das Instituiçõesde Ensino Superior (RJIES) e oscortes orçamentais no Ensino Su-perior. Os atrasos no pagamentodas bolsas e o novo sistema deempréstimos constituem, igual-mente, uma preocupação para oselementos do projecto. De acordocom Henrique Paranhos, “nãochegam acções simbólicas. Um diade gabinete é suficiente para saber

que essa forma de luta não chega”.A luta pela Acção Social Escolar

e a denúncia dos sucessivos cortesorçamentais por parte do Governoconstituem as principais bandei-ras da Frente de Acção Estudantil(FAE). O elemento do grupo can-didato à DG/AAC, ManuelAfonso, explica que “a acção socialé um direito básico que tem vindoa ser estrangulado” e prometeadoptar “uma solução que vá paraalém da luta de gabinete”. Outradas preocupações diz respeito àfalta de pluralidade, defendendoque existem “muitos projectosmas poucas ideias”. ManuelAfonso garante que “a FAE nãobeneficia de qualquer apoio parti-dário” e que “a campanha é finan-ciada com o «plafond» dapapelaria da AAC e contributosdos elementos da lista”.

Com Cláudia Teixeira

Três projectos em marcha para a DG/AACANA COELHO

PEDRO CRISÓSTOMO

MOÇÃO DA ÚLTIMA MAGNA aprovou a entrega dos postais na Assembleia da República

Novadiminuiçãode bolsas

Uma diminuição no valor dasbolsas de estudo atribuídas pelosServiços de Acção Social da Univer-sidade de Coimbra (SASUC) estáprevista para este ano lectivo. O ad-ministrador dos SASUC, AntónioLuzio Vaz, refere que esta reduçãose deve a “mudança de critérios im-postos pelo governo”. “Agora é con-tabilizado o subsídio de Natal nafórmula de atribuição de bolsas, oque faz com que aumente o rendi-mento do agregado e que, portanto,a bolsa de estudo baixe”, explica. Àmargem das bolsas de estudo, umaauditoria financeira do Tribunal deContas detectou ilegalidades nascontas dos SASUC. Luzio Vaz ex-plica que se tratam de “ilegalidadesmeramente formais”. “Na minhaopinião, isto é uma forma de fazero lobby das privadas”, critica o ad-ministrador.

C.T.

João OliveiraJoão Picanço

Acompanhe em

acabra.net

Page 8: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

CULTURA8 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

cápor

11NOV

ConversaCAFÉ-TEATRO TAGV • 18H

ENTRADA LIVRE

cultura

11NOV

OS MALUCOS DE MAIO

Cinema - Ciclo Louis MallFNAC • 21H30 • ENTRADA LIVRE

Sessão com António ArnautALMEDINA ESTÁDIO • 21H

ENTRADA LIVRE

Teatro • Trama que envolve violência,mentira, sedução e poder

TAGV • 21H30 • 8¤; ESTUDANTE 6¤

14NOV

MúsicaFNAC • 22H • ENTRADA LIVRE

SUPA AO VIVO

CinemaTAGV • 21H30 • 4,5¤; ESTUDANTE 3,5¤

18NOV

O MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO

CinemaRealizador: Daniele LuchettiTAGV • 21H30 • 4,5¤; ESTUDANTE 3,5¤

19 e 20NOV

Colóquios de Outono 2008Reflexão sobre a produção artística e a

produção de pensamento AUDITÓRIO DA REITORIA UC

ENTRADA LIVRE

19NOV

António Rosado - pianoPedro Carneiro - marimba/vibrafoneTAGV • 21H30 • 10¤; ESTUDANTE 8¤

ENCONTRO DE AUTORES

8DEZ

PINTURA DE DULCE ZAMITH

ExposiçãoGALERIA ARTE VÁRIA2ª A SÁBADO - 12H- 20H

Por João Picanço

Com a vinda dobailado russo“O Lago dos Cisnes”,A CABRA foi conheceras capacidades e aslimitações que o teatroda universidadeenfrenta para recebergrandes espectáculos

Apesar de Coimbra ser uma cidadeaberta à cultura, segundo alguns es-pecialistas, não tem as infra-estrutu-ras necessárias para estar na rota dosgrandes espectáculos. Contudo, o“Lago dos Cisnes”, que o Teatro Aca-démico de Gil Vicente (TAGV) acolheno fim deste mês, é exemplo de comosão contornadas algumas limitações.

Segundo o coordenador do cursode Estudos Artísticos na Faculdadede Letras da Universidade de Coim-bra (FLUC) e antigo director doTAGV, Abílio Hernandez, “o teatrotem todas as condições para receberum espectáculo de qualidade”. Con-tudo, o docente reitera: “se os gran-des espectáculos exigirem grandecapacidade técnica, ao nível do es-paço, é obvio que tem limitações”.

O actual vice-director do TAGV,Francisco Paz, responsável pela pro-gramação, reconhece: “ não temos ascondições ideais, nem perto disso”.Contudo, explica: “fazemos desde hámuitos anos esse tipo de espectácu-los com as condições que temos”.

O professor de Estudos Artísticosda FLUC, Fernando Matos de Oli-veira, afirma acerca da temática que

“Portugal ainda vive muito concen-trado em Lisboa e Porto”.

Ao nível do orçamento dedicadoaos grandes espectáculos por partedo Estado, o docente explica que ”aitinerância dos espectáculos é um cri-tério importante de financiamentopara outros espectáculos”.

Um dos constrangimentos aponta-dos por Francisco Paz é “a falta de es-paços laterais”, bem como “a idade dopalco – que está velho – e a inclina-ção, que não abona a favor dos es-pectáculos”. Contudo, o vice-directoradverte que “não é impeditivo”. Ascadeiras, a estrutura do palco, o ar

condicionado e o equipamento de luze som são os materiais com mais ca-rência de arranjo, segundo FranciscoPaz. Uma das formas de contornar aslimitações financeiras é “alugar o ma-terial que temos às entidades que oTAGV acolhe, a preços mais módi-cos”, o que faz com que “se recupereaos poucos o investimento que oTAGV faz”, declara.

Aquando do cargo como director,Abilio Hernadez refere que as dificul-dades também existiram. “Num ounoutro caso, houve manifesta dificul-dade, sem grande margem de mano-bra”. Os exemplos ilustrativos

apontados por Hernadez são a ópera“O Boticário” e o bailado “Pedro eInês”. Relativamente a este, que veioa Coimbra quando a cidade foi Capi-tal da Cultura, em 2003, o ex-direc-tor refere que “foi necessário fazergrandes alterações no cenário, e issonecessariamente significou um acrés-cimo de custo no espectáculo”. Con-tudo, o docente assevera: “nãopodemos duplicar a dimensão dopalco”. Reconhece que Coimbra ne-cessita de uma estrutura apta paragrandes espectáculos, mas concluique “o TAGV, com o palco que tem,desenvolve um excelente trabalho”.

O PALCO tem 50 anos e possui uma inclinação impeditiva a alguns espectáculos

O hodierno edifícioque o Pátio daInquisição abraça é olocal escolhido pormuitos para mostrararte em Coimbra emostrá-la… a quemestá disposto a vê-la

A porta é de vidro. Comprida, altae larga. Fica no Pátio da Inquisição,onde as paredes que lhe suportamas frinchas estão para lá de uma ar-cada velha, sinuosa e que escondetodas as rugas que o tempo lhe quisrasgar. Por entre tanto barro e tantafissura, estão traços de actualidadea contrastar com o envolvente: é aexposição “A Part of My Life”, deMarianne Muller, no Centro de

Artes Visuais de Coimbra (CAV) atéao primeiro dia de Janeiro do pró-ximo ano.

Depois de passar o vidro, opulen-tas paredes se insurgem num reflexocelestial abalando de rompante a re-tina de um primeiro olhar: o branco.

Do lado esquerdo, numa das mui-tas paredes que suporta o edifício,um quadro enorme. É invulgar peladimensão que abrange a parede queamistosamente o suporta. Tem umemoldurado largo que é réplica detodos os outros quadros que aquelasala contém. Esse quadro, aí. Sim. Éuma fotografia: uma espécie de rosaou duas. O que quisermos que seja.Uma mancha brusca e harmoniosa-mente delineada. Tem contornospouco precisos, mas a sua profundi-dade atinge a sensibilidade de mui-tos.

Num outro espaço, estão salas pe-quenas, recônditas e entrelaçadasumas nas outras, ligando-se pelas

fotografias que albergam. No âmagode cada sala, três e quatro sumptuo-sos retratos onde os pormenores sãocentro do norte e do sul do pisoprincipal daquele espaço. As ima-gens que compõem todo aquele es-paço são as formas de expressãoartística de uma fotógrafa que o ele-geu para se mostrar. É só delaaquele espaço. São os seus traçosque através da objectiva que a defi-nem perante a multidão anónimaque ali entra e a contempla atravésde uma moldura com quatro ladospretos e fortes.

A passo lento, deixo para trás ochão e fujo para aquele que aindanão pisei. Os passos ecoam por todoo lado. Paro. É um quadro que chocaaquilo que habitualmente muitos re-primem por força de convenções so-ciais: um nu. Sem pudor. Sempreconceitos. Nem ângulos censura-dos.

Num outro recôndito espaço, está

um televisor LCD. Sento-me no pa-ralelepípedo que lá está e observo aimagem. Identifico um típico lava-tório de uma casa de banho. Olho evolto a olhar e continuo sem perce-ber de onde veio. Do chão sai lite-ralmente o som de água a correr dolavatório que está na parede daqueleespaço, envolvendo o próprio espec-tador.

Depois de percorrer 20 imagensfotográficas ao longo da grande sala,facilmente se percebe que percor-rem todo um mundo feminino bas-tante real que explora o íntimo dasvisões de cada fotografia, onde a fi-gura da mulher é o vértice de umapirâmide assente na dicotomiacorpo – alma.

Quando o som do último passocaminha para abandonar a sala,uma frase dactilografada no cimentoda parede “aproxima-te, ouve-me”,de Rui Chafes, transpõe-me paradentro da arte fora daquele edifício.

ANA COELHO

Sara Oliveira

Sara LopesRenata Rodrigues

17NOV

EU SERVI O REI DE INGLATERRA

ARTE_REAL_MENTE_ ARTE

XI FESTIVAL DE

MÚSICA DE COIMBRA

MÉDICO À FORÇA

TAGV tem condições limitadaspara grandes espectáculos

Do centro onde a arte acontece

LUTAS ESTUDANTIS:ONTEM E HOJE

13NOV

14 e 15NOV

até

Page 9: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

CULTURA11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 9

om que idade sentiu ointeresse pela música?

Apareceu no útero ma-terno. Sem saber comecei a

criar o gosto no útero materno. Edepois no período perinatal, aí tam-bém cantei. Foi a primeira vez quecantei e a partir daí o gosto man-teve-se e continuei a cantar e a tocarsempre que possível.

Porquê esse interesse emaprofundar o conhecimentomusical?

A vida é complicada e cheia depercursos, caminhos, cruzamentos,quer de factos ou de pessoas. Se es-tivermos acordados para a vida ra-pidamente nos apercebemos que háum conjunto de realidades ineren-tes à nossa própria formação e evo-lução que nos leva todos os dias afazer rotundas. Elas são pontos deencontro e de divergência, porquetodos nós procuramos chegar a umarotunda, mas, mal chegamos a umarotunda, queremos lá estar o menostempo possível. A vida é feita destesair e partir, deste partir e chegar.Quando regressamos às coisas, sa-boreamo-las de forma diferenteporque o enriquecimento que fize-mos durante o périplo dá-nos co-nhecimentos e abre-nosperspectivas para saborear as coisasque já tivemos, de uma forma dife-rente.

Foi musicoterapeuta. Por-quê?

A musicoterapia é um tipo de ex-ploração da música tendo conta aincidência terapêutica em relação auma pessoa que queremos modifi-car. Só por isso é inebriante, inte-ressantíssimo! A música ao serencarada como complementariza-ção terapêutica permite estabeleceruma relação de proximidade com ooutro. Em determinada altura daminha vida, eu próprio cheguei àconclusão de que sou anormal. Du-rante muito tempo preocupei-mecom isso, mas depois cheguei à con-clusão que os normais são anormaisque conseguiram a maioria. E é porisso que se calhar com essa ansie-dade toda, de quatro em quatroanos vamos às eleições votar paraver se conseguimos maioria. Se in-tegrarmos a nossa maioria, somosnormais, se continuarmos num par-tido de minoria, somos anormais,neste caso, ideológico. A música sópor si não cura nada, mas pode pro-porcionar condições facilitadoraspara a cura.

Então a musicoterapia con-tribui para um melhor desen-volvimento pessoal ecognitivo?

Na minha vida, tudo contribuiu

para um melhor entendimento cog-nitivo, afectivo e motor porque eusou tripartido. Quando somos tri-partidos somos divinos. Tudo o queenvolve algum espírito e alguma ce-dência metafísica é ternário. Tudo oque tem a ver com estabilidade,tranquilidade e aprendizagem équaternário. Está sentada numa ca-deira com quatro pernas e está es-tável. Está numa sala com quatroparedes e acha normal. Há este con-fronto entre o quaternário e o ter-nário que é importante ter noçãodisso. O grande papel do educadornão é transferir para o aluno os co-nhecimentos, é criar condições deinstabilidade para que ele próprioprocure conhecimento. A vida vai-nos ensinando isto. Temos de saberviver com o que temos. Para isso, énecessário esforço de introspecçãofilosófica para que consigamos en-tender que todas as vidas vão teracidentes de percurso, uns transpo-níveis outros intransponíveis.

Como é que olha para a suacarreira docente?

Como alguém que dedicou a suavida a um fenómeno interessantís-simo, alucinante e inebriador. Agar-rar nos outros e transformar-me nohomem mais rico, com a maior for-tuna pública que não conseguemdescapitalizar. Um professor paraalém dos conhecimentos que tem desaber, tem de gerir todo o “comér-cio cultural” com uma tranquilidadede quem tem a certeza que temstocks para as pessoas todas.Quando só tenho a especificidadedo conhecimento da minha área, re-jeito os alunos porque tenho medoque eles descubram a fragilidadedos meus conhecimentos. E aquiaparece o conceito de dois profes-sores totalmente diferentes: osacessíveis, que são geralmente osbons, e os inacessíveis, que são osmaus com medo de serem desco-bertos. Ao longo da carreira docentefui ganhando uma fortuna, guar-dando-a no meu cofre. Todos osanos abro as portas do cofre e digoaos meus alunos: “o capital é vosso,metam as mãos, levem o que quise-rem, sirvam-se à vontade deste ca-pital”. E sempre que os alunosmetem as mãos no meu cofre etiram o capital do conhecimentoque querem tirar, eu fico ainda maisrico.

Já esteve em muitos países.Comparativamente, Portugaldá mais ou menos importânciaà música?

Portugal tem um modelo culturalque decorre do analfabetismo queno Estado Novo abundava. Depoistentou recuperar, mas o investi-mento nunca foi fundamental e su-

ficiente para poder mudar a face dascoisas. Ao longo da vida, uma pes-soa recebeu o conhecimento visual-mente, auditivamente,gustativamente, olfactivamente,tactivamente e foi amadurecendo.Nesses cinco sentidos, o sistemaeducativo só amadurece um: avisão. Os outros ficam em estadosubdesenvolvido e consequente-mente “anormalizados”. Contudo, aignorância dá-nos tranquilidade.

O estereótipo de que a mú-sica clássica é elitista é porvezes generalizado. Considera-o verdadeiro?

Não. É apenas aferida para umdeterminado estado de audiçãoadulta. Como não há estimulaçãopara uma audição adulta no nossosistema educativo, há uma dife-rença muito grande entre a capaci-dade de compreensão auditiva e oproduto das pessoas mais desenvol-vidas auditivamente. Costumo ex-plicar que a música erudita vivenum palácio, ao passo que as pes-soas geradas por este sistema edu-cativo vivem num T1. O mundo é agrande aprendizagem da vida.

Fazendo uma retrospectiva,o que é que ainda lhe faltafazer?

Ser feliz, globalmente, em tudo oque a expressão envolve. Ser feliznão é concretizar um projecto,achá-lo mau e rejeitá-lo só porqueele não está bom. Ser feliz é conse-guir habituar-se a esperar tranqui-lamente na fila da vida à espera damorte. Durante muito tempo, pe-rante a expectativa da morte, vive-mos numa angústia que nos tornaaté hipocondríacos. Ser feliz é sercapaz de digerir as coisas. Sei queestou na fila da morte, sei que nãoestou apressado em morrer, mastenho a tranquilidade airosa desaber que a minha vez chega e quetenho que aproveitar hoje tudoaquilo que possa, para que se foramanhã, eu esteja de consciênciatranquila. Isto é que é a felicidade.

Isso também o atormenta?Atormentou-me muito durante

muito tempo. É preciso gerir, vivere interrogarmo-nos muito no silên-cio e na escuridão dos quartos ilu-minados, porque nos quartosiluminados podemos ter uma escu-ridão terrível, nas casas movimen-tadas podemos ter uma solidãoangustiante. Perante a morte daminha mãe podia matar-me… Masneste leque de opções escolhi o queme deu mais prazer: ficar ao pé delaa chorar, construir a minha felici-dade perante dados inamovíveis,uma felicidade triste. A morte é umafelicidade triste.

A música, a musicoterapia e a docência são valências que fazem parte do dicionáriodo mestre do som que nasceu e vive em Coimbra. Por Eduarda Barbosa e Sara Oliveira

A MÚSICA é o centro do mundo de Virgílio Caseiro

VIRGÍLIO CASEIRO - MAESTRO DA ORQUESTRA CLÁSSICA DO CENTRO

PEDRO MONTEIRO

“A morte é uma felicidade triste”

C

Nasceu em Ansião a 8 de Julho de 1948. É licenciado em Ciências Mu-sicais, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UniversidadeNova de Lisboa, e Mestre em Ciências Musicais, pela Faculdade de Letrasda Universidade de Coimbra. É especialista em musicoterapia, direcçãocoral e de orquestra. Como musicólogo, tem realizado conferências econcertos como maestro e cantor em vários países da Europa e do mundo.Já foi agraciado com diversos prémios de naturezas diversas, e actual-mente rege a Orquestra Clássica do Centro, em Coimbra.

S.O.

PERFIL

Page 10: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

10 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

DESPORTOBASQUETEBOLAcadémica vs Galitos FC15H • PAVILHÃO MULTIDESPORTOS

VOLEIBOLSporting C. Caldas vs Académica17H30 • PAVILHÃO RAUL JARDIM GRAÇA

ANDEBOLAcadémica vs AD Sanjoanense18H • PAVILHÃO UNIVERSITÁRIO 3

HÓQUEI EM PATINSFC Oliveira do Hospital vs Académica21H • PAVILHÃO DESPORTIVO MUNICIPAL

16NOV

15NOV

15NOV

15OUT

A G E N D A D E S P O R T I V A

Para voltarà Divisãode Honra

Com a esperança de regressar aoescalão principal, a Secção de Rugbyda Associação Académica de Coim-bra (AAC) tem apostado numaequipa jovem e renovada.

Depois de ter descido de escalãoe voltado ao Campeonato Nacionalda I Divisão, a Académica encontra-se neste momento no primeiro lugarda tabela, ainda que tenha mais en-contros disputados que os adversá-rios.

O balanço dos últimos quatrojogos, “é positivo, com a vitóriasobre os três adversários directos”,defende o treinador da AAC, SérgioFranco. Na sua opinião, RugbyClube Lousã, CR Arcos Valdevez e oVitória Futebol Clube são os candi-datos aos primeiros lugares.

Este ano a equipa da Académicaperdeu 19 dos 39 jogadores que in-tegravam o grupo na época anterior.Por essa razão foram integrados vá-rios jogadores do escalão inferior. AAAC está num processo de renova-ção. “É um trabalho que leva tempoporque é uma equipa praticamentenova”, acrescenta Sérgio Franco.

Para além da perda de atletas, porrazões académicas e profissionais, o

clube enfrenta outros problemas.Para o presidente da Secção deRugby da AAC, Jaime Carvalho, “oproblema é que todos são atletasamadores e não se pode exigir quetreinem como os profissionais”.Para Sérgio Franco, a equipa tam-bém tem trunfos. “Há falta de pesono bloco de avançados, o que po-derá ser um ponto a nosso favor,porque são mais rápidos”, revela.

O campeonato fez uma paragempor causa da Taça de Portugal. AAAC está isenta da primeira elimi-natória da prova, mas volta a jogarno sábado, dia 15, com a AssociaçãoPrazer de Jogar Rugby. No entenderde Jaime Carvalho, a paragem podeser “prejudicial para a equipa, já quese treina com menos frequência”.

A Associação Prazer de JogarRugby é a equipa que lidera o GrupoNorte/Centro da Segunda Divisão,num escalão abaixo da AAC. Assim,para o treinador Sérgio Franco“apesar de o adversário jogar bem,a Académica é favorita", conclui.

Ana Coelho

Estatuto para protegerestudantes atletas

O regulamento vemvalorizar a práticadesportiva dos querepresentam a UCe a AAC

No último Senado Universitáriofoi aprovado, por unanimidade, oEstatuto Estudante Atleta, umareivindicação estudantil. O docu-mento contempla a possibilidadede adiar o prazo de entrega de tra-balhos, de escolher primeiro os ho-rários em detrimento de outrosestudantes, de poder ir a outrasturmas práticas mesmo depois daescolha de turnos durante o ano,de requerer exame a quatro cadei-ras semestrais na época especial ede pedir relevação de faltas.

Para o coordenador-geral dodesporto da Direcção-Geral da As-sociação Académica de Coimbra(AAC), Miguel Portugal, a aprova-ção “é uma maneira de recompen-sar os estudantes que praticamdesporto”. No mesmo sentido, avice-reitora da Universidade deCoimbra (UC) e mentora do pro-jecto, Cristina Robalo Cordeiro, re-força que o Estatuto do EstudanteAtleta “ revela o lugar que deve serdado ao desporto na Universidadede Coimbra para os estudantes que

querem praticá-lo de forma séria eregular”.

Apesar de entrar em vigor no diaseguinte à aprovação no Senado,ficou a ressalva que o regulamentonecessita de algumas alteraçõespara tornar o texto mais consentâ-neo com a linguagem jurídica. “Háum aspecto ou outro que é precisoacautelar em termos de expressãoe de linguagem”, explica a vice-rei-tora.

Ao contrário das outras institui-ções do ensino superior, o novotexto inclui não só a participaçãonas provas da Federação Acadé-mica do Desporto Universitário(FADU), como também salva-guarda os estudantes universitá-rios que competem dentro dassecções. Nas outras universidadesdo país apenas só é considerado oprimeiro aspecto. “Pegou-se emideias, na especificidade da AAC efez-se o regulamento mais com-pleto do país”, avalia Miguel Por-tugal.

Mas o Regulamento do Estu-dante Atleta não tem só regalias.Também abarca deveres, “para queas coisas corram bem e sejam fei-tas com seriedade”, como afirmaCristina Robalo Cordeiro. “Nofundo o estudante tem de mostrarque treina, tem que perder tempocom o desporto que pratica e teraproveitamento escolar”, resume ocoordenador do desporto.

O mecanismo de controlo está a

cargo do Observatório do Desportoda UC, que vai ser constituído porum membro da reitoria, um mem-bro da Faculdade de Desporto, ummembro dos Serviços de Acção So-cial e um membro do ConselhoDesportivo da AAC. A vice-reitoraconta que “o órgão vai não vigiar,mas acompanhar os actos e as ac-tividades dos estudantes”.

A cessação de direitos acontecequando o estudante atleta faltar aduas ou mais competições. No en-tanto, este aspecto vai ser refor-

mulado, uma vez que nem todos osatletas têm o mesmo número demomentos competitivos. “Nãoachamos correcto que um atletaque tenha 30 ou 40 momentoscompetitivos durante o ano sejaeliminado à segunda competição”,defende Miguel Portugal.

Cristina Robalo Cordeiro recusaa ideia que “a UC é das últimas” aadoptar um regulamento comoeste e classifica a ideia como “ino-vadora”. Por outro lado, a mentorado projecto acredita que “com o re-

conhecimento e a valorização doestudante atleta podem atrair-semais jovens para o desporto”.

O que pensam os atletasApesar de alguns atletas não es-

tarem a par da aprovação do Esta-tuto Atleta Estudante, todossalientam a importância para con-tinuar a prática desportiva. Com25 anos, Rui Pita actua na equipaprincipal da Secção de Futebol daAAC, da qual também é presi-dente. “Perdemos muito tempo eisso prejudica-nos claramente nosestudos e se de alguma forma for-mos recompensados, tudo bem”,sublinha.

Para Fernando Sousa, extremoda equipa sénior de basquetebol daAAC e estudante de Gestão na Fa-culdade de Economia da UC, onovo documento é “uma forma deincentivar os estudantes a pratica-rem o desporto”. “Muitos atletasao ingressarem no ensino superiordesistem dos desportos que prati-cam, devido às incompatibilidadese ao acumular de trabalho”, argu-menta o atleta. Como “trabalha-dor, atleta e estudante”, FernandoSousa diz que a gestão das activi-dades é “uma questão de organiza-ção”.

O novo estatuto já era uma bata-lha com décadas e veio para fixar“a prática desportiva na UC e reco-nhecer o esforço e dedicação dosatletas”, como se lê no preâmbulo.

ANA COELHO

ALÉM DE DIREITOS, o estatuto exige que o atleta treine seriamente e se dedique à prática desportiva

Ana CoelhoCatarina Domingos

O estatuto aindavai sofrer algumasalterações parao adequar àlinguagem jurídica

Page 11: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

DESPORTO11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 11

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

BASQUETEBOLA equipa

sénior debasquetebolda Associa-ção Acadé-

mica deCoimbra (AAC) perdeu foracom o Casino Ginásio por 73-67. Esta é a segunda derrotaque a equipa de Norberto Alvessofre na Liga Portuguesa deBasquetebol. Assim, depois dojogo antecipado da nona jor-nada da prova, a Académica caipara quinto lugar, com 12 pon-tos somados. Na próximaronda, a Académica recebe oGalitos FC, no Pavilhão Multi-desportos, em mais uma jor-nada cruzada.

VOLEIBOLEste fim-

de-semanafoi de jor-nada duplapara a

equipa sé-nior de voleibol da AAC. Aturma de Carlos Marques so-freu duas derrotas. No sábado,perdeu frente ao Centro Volei-bol de Lisboa por 3-0 e, no do-mingo, foi derrotado peloDesportivo de Gueifães por 3-1.Em seniores femininos, a AACtambém não foi feliz, ao perderpor 3-1 com o AC Juventude.

HÓQUEI EM PATINSA AAC

somou aquarta vitó-ria no Cam-p e o n a t o

Nacional deTerceira Divisão – Zona NorteB, ao vencer em casa o Perosi-nho por 7-3. Em quatro jorna-das, a equipa de Miguel Vieirasó conhece triunfos, somandoagora 12 pontos. A Académicapartilha a liderança com o Ma-rinhense e, na próxima jor-nada, joga em Oliveira doHospital, com o clube local.

ANDEBOLPara o

CampeonatoNacional daSegunda Di-visão – ZonaCentro, a

Académica somou o segundoempate consecutivo. EmAveiro, a AAC empatou com aJOBRA a 23. À nona jornada, aequipa de Ricardo Sousa soma17 pontos. Este domingo, nojogo para a Taça Presidente daRepública, a equipa dos estu-dantes venceu por 31-26 oÍlhavo AC, na primeira elimi-natória da Zona Norte.

Catarina Domingos

Clube deve a antigos jogadores

As dificuldades financeiras continuama ensombrar o clube.Dentro de campo, aUnião ainda não conhece o sabor daderrota

Há dois anos a jogar nas distri-tais, a União de Coimbra atravessauma fase de mudança, em busca dasaúde financeira. Eleito há quatromeses como presidente, CarlosFélix afirma que “está tudo a ser re-solvido com as Finanças e Segu-rança Social, através de uminvestidor”, recusando-se, con-tudo, a revelar o nome do nego-ciante. Por outro lado, o clube tenta

sobreviver com um passivo de 600mil euros.

Apesar dos ordenados do plantelestarem em dia, o clube tem dívi-das a saldar com antigos atletas.Gabriel Carvalho, agora no GrupoDesportivo Guiense, revela que oclube conimbricense lhe deve 3500euros, relativos a um ano e meio deordenados. O guarda-redes de 26anos avança que “o advogado está aresolver a situação via tribunal evai interpelar um processo”. Emrelação ao período que esteve naUnião de Coimbra, o jogador contaque foi afastado da titularidade, de-pois da chegada do investidor queexigiu a sua saída da baliza para aentrada de um outro guarda-redes,filho de um apoiante do clube. “Otécnico disse-me que não estavapara compactuar com estes jogui-nhos e que se ia embora”, lembra.

Carlos Félix explica que, “com osantigos jogadores”, estão “a tentar

arranjar protocolos de acordo paralhes podermos pagar faseada-mente”.

Ainda no plano financeiro, o pre-sidente conta que os sócios têm asquotas em dia. Ainda que nãotenha havido uma grande campa-nha para angariar sócios, desde oinício do mandato do actual presi-dente entraram mais 250 sócios.

A treinar em Taveiro, no EstádioSérgio Conceição, a União deCoimbra vê agora a hipótese de re-gressar ao Campo da Arregaça. Oclube é um dos sete contempladoscom um relvado sintético de ter-ceira geração, atribuído pela Câ-mara Municipal de Coimbra.Quanto à importância da reabilita-ção do espaço, Carlos Félix destacaa possibilidade de “desenvolvermuito mais as camadas jovens”.“Até os seniores poderiam even-tualmente jogar na Arregaça, o queseria bem melhor”, acrescenta. O

projecto deve ser concretizado atéJulho de 2009.

Sempre a ganhar Ao cabo da sétima jornada, a Uniãode Coimbra é líder isolada da Divi-são de Honra da Associação de Fu-tebol de Coimbra, com 21 pontos.Este fim-de-semana, a equipa dePedro Ilharco recebeu e goleou oMoinhos por 8-0.

Com o melhor ataque e defesa eo maior número de vitórias daprova, a União soma e segue. O“primeiro objectivo” é alcançar aTerceira Divisão Nacional. “Com-prometi-me nas eleições quandofui eleito a subir de divisão, é issoque estamos a tentar fazer”, asse-gura o presidente. Carlos Félix temconfiança no grupo e classifica-ocomo “uma excelente equipa”. Napróxima jornada, dia 16, a Uniãojoga na Carapinheira com a equipalocal.

Catarina DomingosAndré Ferreira

Aprovada há poucomais de um mês,a Pró-Secção de Bilhartem até dois anos paramostrar que pode vir aser a 26ª secção de-sportiva da AAC

Com a intenção de levar o bilhar àcomunidade universitária, foi criadaa nova Pró-Secção de Bilhar da Asso-ciação Académica de Coimbra (AAC).A aprovação deste projecto foi dadano plenário das secções desportivas,tendo a Pró-Secção até dois anos para

mostrar que tem condições para setornar numa Secção Desportiva daAAC.

O primeiro passo, segundo RicardoSalgado, um dos responsáveis peloprojecto, vai ser dado com a apresen-tação da equipa, com a realização deum torneio de abertura.

A equipa já é composta por seisatletas, estando mais três praticantesem processo de inscrição na Federa-ção Portuguesa de Bilhar. O espaço,também a ser apresentado, está si-tuado na rua do Brasil, que devido aquestões burocráticas ainda não foiestreado. Ricardo Salgado descreve-o mesmo como “novo, único emCoimbra e talvez no país”, com con-dições excepcionais.

O passo seguinte vai concretizar-se ainda com a abertura de uma es-

cola de Pool, aberta a todos estudan-tes, e com a criação de um Campeo-nato Nacional de BilharUniversitário, com a cooperação daFederação Académica do DesportoUniversitário (FADU). Durante a fasede crescimento da modalidade, estãotambém pensados vários torneios decaptação de atletas.

A Pró-Secção vai estar aberta atodos os estudantes do ensino supe-rior e prevê-se, de momento, um sis-tema de quotas para quem frequentara escola, somente para compensar oaluguer do espaço. Ricardo Salgadoassegura que o projecto possibilita aum aluno de condições financeirasmédias praticar esta modalidade, decustos elevados, e ascender em ter-mos competitivos.

Para já, a iniciativa só conta com

apoios de pequenos financiadores“amigos”, uma vez que, por ser umaPró-Secção, não tem direito ao di-nheiro da AAC, ainda que conte comapoio na divulgação.

Apesar de defender que o bilharnão tem expressão na zona centro,Ricardo Salgado mostra-se optimistae deseja “trazer para Coimbra gran-des eventos da modalidade”.

Bilhar dá os primeiros passos na AAC

GONÇALO CARVALHO

ANA COELHO

UNIÃO DE COIMBRA

ENTRETANTO, A CAMÂRA MUNICIPAL anunciou que vai atribuir um relvado sintético ao Campo da Arregaça

Emanuela GomesJosé Vasconcelos

Page 12: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

12 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

TEMA

Na véspera da Assembleia Magna, fomosconhecer os momentos mais caricatos quemarcaram o órgão máximo da Academia.Por Diana Craveiro e João Miranda

uem hoje participanuma AssembleiaMagna pode não imagi-nar os momentos de ir-reverência que pautam

a história do órgão máximo da As-sociação Académica de Coimbra(AAC). Desde magnas que resulta-ram em manifestações e manifes-tações que deram em magnas até àapresentação de moções que ape-lavam à desobediência civil atravésdo nudismo, várias foram as situa-ções que demonstram a originali-dade dos estudantes.

Corria a década de 70 e, resul-tado da crise académica de 69, aAcademia vivia tempos conturba-dos e assaltada pelo combate entrevárias facções políticas. “As mag-nas eram um autêntico faroeste”,lembra o antigo estudantes da Uni-versidade de Coimbra (UC) Joa-quim Reis. A rivalidade entre osdiferentes grupos conduziu a queos estudantes ligados ao Movi-mento Reorganizador do Partidodo Proletariado (MRPP) fossemimpedidos de falar na magna. Joa-quim Reis lembra que, “apesardisso, o dirigente do MRPP da al-tura insistiu em ir falar e voou dobalcão do Teatro Académico Gil Vi-cente para a plateia”. “Havia gru-pos partidários deextrema-esquerda e de direita queformavam tipo piquetes, que fica-vam regra geral no balcão, paraquando a malta do MRPP ia falar.O dirigente foi atirado do balcãopelo menos três vezes”, acrescentao antigo estudante. Contudo, Joa-quim Reis explica que o alunonunca se magoou, devido ao factode os estudantes que compunhama plateia no piso de baixo apararem

a queda.No ano lectivo de 77/78, a dis-

cussão sobre a reintegração dapraxe, após dez anos de luto aca-démico, veio trazer uma nova con-trovérsia na Academia, que sereflectia na própria discussão dasAssembleias Magnas. JoaquimReis recorda que numa magna rea-lizada nos jardins da associação,uma proposta foi posta à votação ea direcção apelou à unanimidadede voto. Na altura do escrutínio,vários estudantes abstiveram-se.“Quando perguntam «Então quemvota contra?» só houve um gajoque pôs o braço no ar, que fui eu. Eentão, curiosamente, o colega queestava a contar os votos diz «Eh pá,não há ninguém a votar contra.» ehá alguém que diz «Não, está alium!» e ele «Ah, o teu voto nãoconta, que tu és maluquinho! Una-nimidade!»”, recorda JoaquimReis.

Reunião com oministro, em directoTambém as propostas levadas adiscussão na Assembleia Magnaarriscam muitas vezes pela sua ori-ginalidade. Outro antigo estudanteda UC, Ricardo Matos, lembra queaquando da discussão da relaçãoda estrutura da Queima das Fitascom a AAC existiam várias propos-tas divergentes. Enquanto unsapoiavam que deveria ser o Conse-lho de Veteranos a assumir umaposição mais forte dentro da Co-missão Fiscalizadora da festa, ou-tros defendiam que esse papel teriade passar pela Direcção-Geral daAAC (DG/AAC).

A controvérsia foi-se gerandocom vários momentos de choque

DE ESTÓRIAS

E HISTÓRIAS

UMA MAGNA

Q

ARQUIVO

Page 13: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 13

TEMA

até que, numa Assembleia Magnapara discutir o assunto, um estu-dante afecto à posição da DG/AACdecide propor o emparedamentoda porta da sala do Conselho deVeteranos, enquanto este não sedemovesse da sua ideia de autono-mizar a Queima das Fitas em rela-ção à AAC. “A reacção das pessoasfoi, na altura, eufórica, no sentidode rirem e bater palmas, mas de-pois acabaram por não votar favo-ravelmente”, conta Ricardo Matos.Contudo, a ideia de que a AAC teriaque possuir uma posição mais fortena Queima das Fitas acabou porsair triunfante.

Ricardo Matos enumera tambémcomo uma das histórias mais mar-cantes, uma magna que decorreu àmesma hora do que um programatelevisivo de debate, em que o Mi-nistro da Educação da altura, Mar-çal Grilo, respondia às questões dopúblico, que contactava o pro-grama telefonicamente. “Estáva-mos em plena Assembleia Magnaquando disseram isso à DG/AAC.Então o presidente da direcção-geral, António Silva, não podia per-der a oportunidade de ligar parafazer questões ao ministro, mas elenão podia estar na assembleia aomesmo tempo”, recorda RicardoMatos. A solução encontrada pas-sou pela instalação de um televisorna sala onde decorria a AssembleiaMagna.

“A malta reagiu muito bem, aAcademia de Coimbra a interpelarem directo o ministro. Ele lá tentouresponder mas ficou entalado,como é óbvio... O presidente colo-cava as questões e depois desli-gava, mas o ministro fugiu àpergunta”, relembra RicardoMatos.

O presidente da DG/AAC no anolectivo de 97/98, António Silva,lembra uma moção aprovada quedeliberava a realização de uma ma-nifestação à porta da Expo 98: “foiuma situação um bocado compli-cada, que poderia jogar contra nós,porque a exposição era um símbolode representação do país”.

“Em virtude de não haver condi-ções objectivas e práticas para rea-lizar a manifestação, acabámos portorná-la numa acção de sensibili-zação. Por isso, fomos em dois au-tocarros cheios de estudantes paraLisboa onde fizemos uma acção desensibilização à porta da Expo 98”,conta António Silva.

O antigo dirigente recorda aindaque “chegou a haver moções apre-sentadas com o aval da DG/AACpara realizar caminhadas até Lis-boa e ainda moções de incentivo àdesordem pública em Coimbra,para as pessoas saírem de casatodas sem roupa. Essas, claro, quea DG/AAC já não podia apresen-tar”.

Magna em vias de factoJá o antigo presidente da DG/AACe da Mesa da Assembleia Magna,Vitor Hugo Salgado, guarda na me-mória as duas primeiras magnasenquanto presidente do órgão: “aprimeira assembleia a que eu pre-sidi, no auditório Paulo Quintela,

tinha cerca de cem pessoas que de-cidiram encerrar a universidadepor tempo indeterminado en-quanto não se resolvesse o pro-blema de falta de verbas defuncionamento”. Em Dezembro de2001, a segunda reunião máxima,inicialmente agendada para oPalco Paulo Quintela, teve de semudar para os jardins da associa-ção devido à grande afluência.“Teve a participação de cerca detrês mil estudantes. Na altura, foivotado um conjunto de matérias eum conjunto de medidas, comofalar com o primeiro-ministro, An-tónio Guterres”, conta Vitor HugoSalgado.

Em 2002, uma AssembleiaMagna deliberou a realização deuma manifestação nacional em Lis-boa, à qual algumas associações deestudantes não aderiram. “A direc-ção-geral então desmobilizou-se damanifestação, mas a Academia deCoimbra não é só a DG/AAC, eassim houve quem mobilizassepara ir à manifestação e foram doisautocarros aqui de Coimbra”, contaRicardo Matos. Para essa noite es-tava também marcada uma As-sembleia Magna. Segundo o antigoestudante, “o presidente daDG/AAC, que era na altura o VítorHugo Salgado, tinha um jantar deapoiantes marcado para esse dia.Então juntou-se [na AssembleiaMagna] no Paulo Quintela a maltaque tinha ido à manifestação e osapoiantes da lista da DG/AAC, quetinham vindo em massa do jantar”.

O recinto rapidamente sobrelo-tou, tendo alguns estudantes quese sentar no palco e começou agerar-se uma discussão se, tendoem conta as condições, deveria de-correr a magna, que depressa setransformou em briga. “A sensaçãoque tenho é que as pessoas que sepegaram eram ambas apoiantes damesma tendência e lembro-me deestar a ver a situação e dizer: «Masestes gajos estão onde, para andarà porrada entre eles próprios?»não fazia muito sentido”, recordaRicardo Matos.

“Demito-me!”“Depois destas magnas todas, uma,que me marcou bastante, foi amagna em que a DG/AAC pediu ademissão do reitor”, confessa VitorHugo Salgado. No órgão máximoda Academia, o presidente colocoudez questões ao Reitor da UC, quea DG/AAC considerava “essencialserem respondidas”, caso não vissesatisfeita a sua vontade, a direcçãodos estudantes exigiria a demissãodo reitor. Na sequência do ulti-mato, Fernando Rebelo demitiu-se. Na Assembleia Magna seguinte,Vitor Hugo Salgado subiu ao pa-lanque, onde leu as questões colo-cadas na reunião anterior. No finalde cada uma, deu a resposta: “de-mito-me”, encenando uma possívelresposta do reitor. “A partir da ter-ceira questão, o que acabo por ve-rificar é que o auditório completojá dizia «demito-me, demito-me,demito-me»”, conta o antigo diri-gente.

Ricardo Matos recorda que,

nessa mesma Assembleia Magna,dois estudantes subiram ao palan-que e “pegando nesse processo damanifestação, imitaram o discursodo Vitor Hugo Salgado. «Foi mar-cada uma manifestação mas eu nãovou, por isso, demito-me!» Pega-ram no discurso que ele tinha feitopara o Reitor e adaptaram-no”.

Ricardo Matos lembra ainda umestudante que declamava as suasintervenções todas em verso : “nãopropunha nada, rigorosamentenada e tinha discursos muito com-

pridos mas o pessoal sentava-se eficava a ouvir aquilo”. As propostasque o antigo estudante ressalvacomo mais caricatas passam pelapintura do edifício da Direcção Re-gional da Educação do Centro depreto e o envio de folhas de papelhigiénico para a caixa de correio doMinistério da Educação. Uma ma-nifestação de pijama, para simboli-zar o adormecimento do ensinosuperior, e um jogo de roleta russaentre o presidente da DG/AAC e oMinistro da Educação foram pro-

postas que não viram o apoio dosrestantes sócios da Academia.

Algumas intervenções da Assem-bleia Magna, como “Iremos ao mi-nistério partir aquela porcariatoda!”, chegaram mesmo a trans-formar-se em míticos indicativosda Rádio Universidade de Coim-bra.

“No fundo, são histórias que têma ver com a própria irreverência daAcademia de Coimbra”, remataAntónio Silva.

Com Inês Almas Rodrigues

ARQUIVO

ARQUIVO

ARQUIVO

Page 14: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

14 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

CIDADE

A zona histórica dacidade tem sido palcode sucessivos assaltos.Várias soluções foramprojectadas, mas asinsatisfaçõesmantêm-se

“Durante a noite não há um únicoagente da PSP a policiar a Baixa”afirma Luís Fernandes, dono da lojade antiguidades O Cantinho da Frei-ria, que este ano já foi assaltado 3vezes. Este local da cidade de Coim-bra passa, actualmente, por uma crisede insegurança, a que nenhum doscomerciantes fica indiferente. Entreas 500 lojas existentes na Baixa, 300já foram vandalizadas. As longas ruasdesta zona, tornam-se perigosasquando a noite chega à cidade. LúcioBorges, proprietário da pastelariaMoeda conta que “o perigo aumentadurante a noite, porque de dia é umlocal mais ou menos seguro”. Os res-

tantes lojistas não hesitam em res-ponder da mesma forma quando aquestão é a segurança. Na ourivesa-ria Rainha Santa, Filomena Cruz, ex-plica que se acostumou a ficar “àporta porque tenho medo de estardentro da loja sozinha”.

Os lojistas apontam o dedo às enti-dades policiais e politicas pela pro-blemática que assombra a Baixaconimbricense. Manuela Ferreira,dona do restaurante Febris, diz semoscilar que se fosse “por problemasde estacionamento tínhamos logo apolícia em cima mas quando é paranos proteger da insegurança já nãohá polícias”. Diariamente uma ououtra loja é vandalizada como contaRogélia Cardoso, funcionária da Ou-rivesaria Chieira. “No outro dia che-guei aqui e tínhamos os toldos todosrasgados”, relata a jovem. O clima demedo que passeia pelas ruas daBaixa, assustam não só as pessoasque fazem deste sitio o seu local detrabalho, os seus habitantes, mastambém quem por ali passa. Esta rea-lidade é confirmada por ManuelaFerreira que declara que “as pessoasnão saem à rua com medo, já não hápessoas que queiram morar aqui”.

Desde o inicio do ano que a ondade criminalidade se tem vindo a acen-tuar, e apesar dos dados o mostra-rem, o chefe da PSP de Coimbra,Humberto Santos certifica que “o quese passa na Baixa são casos desfasa-

dos da realidade de Coimbra”. LúcioBorges, cujo estabelecimento já foiassaltado 3 vezes, não partilha damesma opinião e refere que “as obrasenvolventes, os edifícios abandona-dos, a pouca iluminação e a falta de

policiamento” contribuem para queos assaltos se tornem mais fáceis efrequentes. O alarmismo entre os co-merciantes atingiu o seu auge esta se-mana quando a vaga de assaltosnocturnos aumentou. Os 40 comer-ciantes presentes no protesto que serealizou em frente da Câmara Muni-cipal de Coimbra (CMC) manifesta-ram o seu desagrado perante a vagade criminalidade registada. Poste-riormente, os presentes foram con-vocados para uma reunião noGoverno Civil de Coimbra (GCC), deonde saiu uma promessa de elabora-ção de um “Contrato Local de Segu-rança”. Luís Fernandes,representante dos lojistas acreditaque “vá funcionar porque estamosperto das eleições”.

As 17 câmaras de vigilância a ins-talar em breve na Baixa podem seruma possível solução para travar osassaltos que se tem feito sentir, “maspor enquanto ainda é só um pro-jecto”, afirma o proprietário do En-canto da Freiria. A maioria doslojistas anseia soluções urgentes talcomo confessa Manuela Ferreira:“isto tem de mudar. Assim não vive-mos seguros nem descansados”.

“Piorar, não piora, não tem é ten-dência para melhorar”, é assim queo administrador do Centro Comer-cial Avenida (CCA), Humberto Al-meida, caracteriza a actual situaçãodo edifício. É notório o abandono doespaço, lojas fechadas, poucos ounenhuns clientes, tentativas deatracção de público, e nem a posiçãocentral do edifício faz com que al-guma das especulações acerca dapossível venda, se concretizem.

O edifício com 115 anos de exis-tência já foi circo, foi teatro de refe-rência, palco de grandesmanifestações políticas e teve lota-ções esgotadas de grandes êxitos ci-nematográficos. Mais tarde, foitransformado em centro comercial,fazendo parte da história da cidade edos seus habitantes.

“Naquela altura era impensávelque este espaço ficasse ao aban-dono”, refere o proprietário do BarAvenida, Arlindo Coelho. Apesar dealguns lojistas não se mostrarem ar-rependidos por se terem fixado na-quele espaço, quando se fala domotivo principal que originou a au-sência de clientes, a opinião é unâ-nime: o fecho dos cinemas. “Estouaqui há 19 anos e o motivo da esco-lha foi fácil, era um espaço comer-

cial com duas salas de cinema, e oseu encerramento originou a redu-ção de clientes”, comenta ArlindoCoelho.

A cidade tem assistido e contri-buído para que a crise que o Avenidavive há anos se venha arrastando.Como objectivo de a solucionar rea-lizou-se recentemente um leilãopara a venda das duas salas de ci-nema, existentes no rés-do-chão,que entretanto encerraram, mas ovalor da licitação não foi atingido.“Interessados há, não têm é di-nheiro, facto que inviabilizou a exis-tência de ofertas aliciantes para aaprovação da venda”, refere o sub-gerente da empresa responsávelpelo leilão das salas, António Flo-rindo.

O regresso do dinamismo ao edi-ficio parece depender de novos in-vestimentos. A possível venda dostrês primeiros pisos ao Instituto Su-perior Miguel Torga foi outra das hi-póteses que surgiu para reaproveitaro CCA. Para muitos dos lojistas, estaseria uma boa solução, como mostraa proprietária do estabelecimentoZita Cabeleireira, Teresa Rasteiro,“seriam muitos alunos que nos en-trariam pelo edifício, o que eramuito bom para movimentar o es-paço”.

Apesar da visão pessimista que as-sombra o edifício, existem muitaslojas que resistem a esta realidade e

todos os dias cumprem o horário defuncionamento. “Os novos centroscomerciais não têm certas lojas quenós temos”, afirma a funcionária daFlôr de Coimbra, Maria Adelaide.“São entre 1000 a 1500 as pessoasque passam diariamente no CCA”,segundo o administrador do edifício.

“São muitas as horas mortas sempassar uma única pessoa no corre-dor, porque o nossos clientes de pas-sagem são cada vez menos”, refere aproprietária do salão Zita Cabelei-reiro. Os vários pisos do Avenida sãopreenchidos por clientes habituais,mas para os comerciantes parecemnão ser suficientes. A Câmara Muni-cipal de Coimbra já propôs soluçõesinformais para reaproveitar o edifi-cio, uma delas passava pela sua tran-formação num Centro de Saúde, noentanto Carlos Encarnação, actual-mente, afirma não ter nada a decla-rar sobre a situação do Avenida.

“O futuro imediato será o mesmoque se vive actualmente, o da sobre-vivência e da gestão corrente. Vãocontinuar a fechar e a abrir lojas”,conclui o administrador das CCA.Enquanto isso, os comerciantes an-seiam por um bom investimento nolocal, para que o centro comercialvolte a ter a vida que tinha noutrostempos. O pensamento dos lojistasresume-se assim ao de Teresa Ras-teiro, “penso sempre que amanhãvai ser um dia melhor”.

O comércio activo e a localização do edifício Avenida, são insuficientes para atrair clientes e possíveis investidores.Lojistas e administração não encontram alternativas viáveis

Insegurança move contestação na Baixa

Sónia FernandesMarta Pedro

Elizabete Paulos RibeiroVanessa Soares

CAROLINE MITCHELL

ANA COELHO

A MAIORIA dos assaltos acontece depois do encerramento das lojas

CENTRO COMERCIAL AVENIDA

Desertificação sem solução à vista

CENTRO COMERCIAL vive dos clientes habituais

Page 15: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

PAÍS & MUNDO11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 15

Depois de todo o alarmismo lan-çado pelo ex-presidente americano,Al Gore, em 2006, com o docu-mentário “Uma verdade inconve-niente”, a causa ambiental parece jánão ser uma prioridade para os ci-dadãos. Anunciou-se o degelo noÁrctico e consequente aumento donível médio das águas do mar, oprogressivo agravamento da tem-peratura global, tempestades cadavez mais fortes e irregulares esta-ções do ano. O mundo parecia acor-dar em bloco para a causaambiental. Contudo, depressa aspreocupações ambientais esmore-ceram.

Em Portugal discutiram-se as al-terações climáticas. Em 2006 e2007 foi revisto o Plano Nacionaldas Alterações Climáticas (PNAC),que visa cumprir as metas do Pro-tocolo de Quioto. “Em termos glo-bais, estávamos pior do que háalgum tempo atrás”, denuncia opresidente do Grupo de Estudos deOrdenamento do Território e Am-biente (GEOTA) e também docenteda Universidade Nova de Lisboa(UNL), Carlos Nunes da Costa.“Ainda esta semana saiu um relató-rio que coloca Portugal em sextolugar num contexto de mais de 150países, na análise de países commaior gasto e desperdício de água”,acrescenta.

Crise económica matoua crise ambientalUma crise económica ao nível in-ternacional mudou as preocupa-ções e prioridades das agendaspolíticas e mediáticas. Já ninguémparece preocupado com o facto deo nível do mar poder subir seis me-tros ou de o clima se alterar radi-calmente. “A crise financeira tapoua crise da alteração climática" cri-tica Eugénio Sequeira, presidenteda Liga Portuguesa da Natureza(LPN).

Esta sucessão de crises não es-conde a realidade. Os grupos am-bientais defendem de formaunânime que o ordenamento deterritório é a causa mais preocu-pante no nosso país. Para EugénioSequeira, “a ocupação dos espaçosnaturais e a destruição dos recursosnaturais está a ser cada vez maisgrave”.

As grandes cidades crescem a umritmo frenético e entram em con-flito com áreas protegidas e de re-serva natural. Os solos vão dandoespaço às cidades e aos empreendi-mentos de betão. “Ao contrário da

maior parte dos países da Europa,Portugal permite que os solos pas-sem facilmente do uso rural para ouso urbano, favorecendo a aquisi-ção de mais-valias urbanísticas porparte dos privados”, refere o presi-dente da GEOTA. Os espaços deno-minados pelo Plano DirectorMunicipal (PDM), áreas de reservaecológica, acabam por diminuir de-vido aos interesses de construçãopor parte das empresas.

Crescimento económicocompatívelExistem igualmente outros proble-mas que preocupam as entidadesambientais do nosso país. Ao níveldos recursos hídricos, cerca de 40por cento dos rios apresentam umaproveitamento pouco satisfatório.O plano nacional de barragens de2007 ainda não conseguiu reunirconsenso entre o governo e as orga-nizações Ambientais. A Liga Portu-guesa da Natureza afirma que aconstrução de barragens é necessá-ria. No entanto, a forma como oprocesso de construção está a serconduzido não favorece a eficiênciados recursos.

“Tapam os vales, onde está o me-lhor das zonas ecológicas. Simulta-neamente a intensificação agrícolaem outros campos adjacentes cau-sam grandes problemas nas águasdevido à rega intensiva que põe emcausa a qualidade das águas sub-terrâneas”, explica o presidente daNPL.

A tudo isto acrescem os recentesempreendimentos turísticos comoos campos de golfe em zonas natu-rais. O docente da UNL compara oactual consumo hídrico exageradodestes novos projectos: “basta pen-sar que os campos de golfe gastam

o equivalente ao consumo de umaaldeia de quatro mil habitantes. In-felizmente, considera-se hoje emdia que um empreendimento turís-tico é que tem importância”. “Pro-teger o ambiente é perfeitamentecompatível com o crescimento eco-nómico forte”. Além disso, HugoTente, da Quercus, nota que “sótemos um país e quando o quiser-mos reparar já vai ser tarde”.

Todos os esforços parecem in-fundados em matéria de ambiente.A qualidade de vida nos grandescentros urbanos é apontada comopreocupação urgente dos ambien-talistas. “Desde 2005 que são regis-tados valores que ultrapassam oque está previsto na lei e valoresque são menos prejudiciais à saúde.As áreas metropolitanas de Lisboa edo Porto têm apresentado valoresquase inadmissíveis”, destaca Hél-der Spínola, da Quercus.

Áreas protegidas“abocanhadas”Muito criticada é a política do ime-diatismo praticada pelos órgãos depoder e a “falta de visão global” queos mesmos e as sociedades têm daquestão ambiental. “Do ponto devista do discurso estamos a melho-rar, mas há que mudar no ponto devista dos actos concretos do dia-a-dia e no terreno” defende HélderSpínola.

As soluções para todas estasquestões existem. São desde logotodas as regras de boa conduta queo cidadão comum, nas palavras deCarlos Nunes da Costa, “não dávalor”. Mais acrescenta Eugénio Se-queira que “com o pretexto de re-solver o problema energéticoestamos a dar cabo do ecossis-tema”. A troca dos transportes pes-soais pelos transportes colectivos éapontada como a alternativa sau-dável à melhoria da qualidade do arnas cidades. A gestão consciente douso dos recursos hídricos e da elec-tricidade é também o método maisindicado para reduzir o défice ener-gético e a dependência exterior faceao petróleo.

A causa ambiental no nosso paísparece estar a passar para um planodefendido somente pelas associa-ções ambientais que lutam diaria-mente contra a inacção dospróprios cidadãos. “Não podemoscontinuar a abocanhar as áreas pro-tegidas da reserva ecológica, que éimportante manter”, aponta aQuercus. “A defesa da naturezapassa por um dever ético. Se des-truirmos estes ecossistemas esta-mos a destruir-nos a nós próprios”conclui Eugénio Sequeira.

Com Vânia Carvalho

O país continua a apresentar vários problemas ambientais. Apesar do apurar de sensibilidadespor parte dos cidadãos, a crise económica sobrepõe-se agora às questões ambientais

Portugal deixa problemas ambientaispara segundo plano

Rui Miguel PereiraVanessa Quitério

SÓ TEMOS UM PAÍS e quando o quisermos reparar já vai ser tarde diz Hugo Tente

D.R.

Na questão ambiental, nem só depontos negativos se fala no nossopaís.

A GEOTA, a Quercus e a LigaPortuguesa da Natureza destacam amelhoria no que diz respeito à áreaardida. De 100 mil hectares ardidosem anos anteriores passou-se paracerca de 15 mil hectares. A sensi-bilidade dos cidadãos para asquestões da separação dos lixos epara os consumos mais equilibra-dos de energia é, na perspectiva deHélder Spínola, da Quercus, “umaspecto que tem vindo a melhorar”.O incremento na produção de en-ergias alternativas, vindas de fontesrenováveis é outro aspecto positivoda luta ambiental defendida pelasorganizações ligadas ao assunto.

ASPECTOS POSITIVOSDO AMBIENTE

Page 16: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

PAÍS & MUNDO16 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

AS ULTIMAS ELEIÇÕES deram um resultado esmagador ao partido Movimento Popular de Libertação de Angola com mais de 80 por cento dos votos

Angola comemora 33 anos de liberdade

6Passados seis anosda guerra civil, Angolaé uma potência docontinente africano.Ainda assim,persistem osproblemas internos

Angola comemora, hoje, a suaindependência. Depois de umlongo período caracterizado porum difícil processo de reconstru-ção, o país africano começa amostrar sinais de franca evolução.Porém, as opiniões quanto aorumo e prioridades para a Angoladividem-se. Há quem continue apensar na consolidação da paz, equem, para além disso, veja a ne-cessidade de aprofundar a demo-cracia no país africano. EmSetembro, ocorreram as segundaseleições legislativas da sua curtahistória de liberdade democrática.O resultado, muito criticado noseio da União Europeia, deu a vi-tória esmagadora ao partido deJosé Eduardo dos Santos, o Movi-mento Popular da Libertação daAngola (MPLA), com 81,64 porcento dos votos. O docente da Fa-culdade de Letras da Universi-dade de Lisboa, Alberto OliveiraPinto, não viu, contudo, este pro-cesso eleitoral como “pouco de-mocrático”. Já a docente da

Faculdade de Economia da Uni-versidade de Coimbra, DanielaNascimento, pensa que o processoeleitoral ficou à quem do que seriade esperar numa democracia, su-blinhando que “grande parte dosproblemas que a sociedade ango-lana enfrenta hoje têm também asua raiz no autoritarismo e déficede cultura democrática”. Estapreocupação é, em parte, parti-lhada pelo escrito angolano JoséEduardo Agualusa, para quem oresultado traduz a “inexistênciade correntes de opinião fortes e deopiniões diferentes”. Apesar disto,o escritor admite que o processoeleitoral correu bem e que “foijusto”. Esta preocupação aindaactual, com a paz, toma forma aoolharmos para uma guerra de 27anos que deixou sequelas eviden-tes no povo angolano. “Para nós,o resultado das eleições pouco im-porta, a manutenção da paz é anossa prioridade” afirma o presi-dente executivo da Casa de An-gola, Bento Monteiro.

Economia emergente,sociedade emconstrução

“Apesar das muitas contrarie-dades no processo de indepen-dência, Angola é hoje uma daspotências africanas em afirma-ção”, afirma Daniela Nascimento.Recentemente foi anunciado maisum acordo para a construção deuma refinaria na cidade do Lo-bito. A Endiama - Empresa Na-cional de Diamantes de Angola,

está a criar a segunda unidade in-dustrial de corte e lapidação, es-tima-se que a produção mensalatinja o equivalente a 20 milhõesde dólares. O crescimento do Pro-duto Interno Bruto, segundo asprevisões do Banco de Angola, vaisituar-se em 2008 nos 16,2 porcento. Angola é um dos paísesafricanos com maiores reservasde petróleo e diamantes, grandeparte da sua economia se encon-tra na dependência do aproveita-mento destes recursos. Sobre oenorme potencial angolano, Al-berto Oliveira Pinto alerta para ofacto de estes recursos estarem aser “mal aproveitados”: existe so-mente “uma parte muito reduzidada sociedade que beneficia da-queles recursos”. Este desequilí-brio na distribuição da riquezaleva a população angolana a re-correr à chamada “economia pa-ralela”, que foge a qualquer formade controlo lícita. A professora derelações internacionais corroboraesta versão ao afirmar que os re-cursos e os benefícios se têm con-centrado essencialmente nasmãos de “uma elite governativa”.Agualusa acrescenta ainda que“existe um desequilíbrio socialimenso, onde a maioria das pes-soas vive abaixo dolimiar de pobreza”.

A educação étambém um dosprincipais problemasde Angola. Salas lota-das para o ensino bá-sico e secundário não

permitem a correcta preparaçãodos estudantes angolanos. AlbertoOliveira Pinto salienta issomesmo e acrescenta que “nãobasta haver universidades, é pre-ciso haver uma educação debase”. Actualmente, Angola contaapenas com um establecimentode ensino superior público, a Uni-versidade Agostinho Neto. Pe-rante este panorama, a estudanteangolana de Serviço Social AleidaMoisés mostra-se preocupada econsidera que a educação deve seruma das prioridades para o futurode Angola. Como faz notar JoséEduardo Agualusa, os estudantesangolanos são a grande esperançapara o futuro de Angola: “acreditoque se houver uma mudança vaiser protagonizada por estas pes-soas, estes estudantes”.

O processo dedescoloni-zação

A independên-cia angolanaocorreu após umcontur-b a d op e -

ríodo político em Portugal. Nacondição de povo colonizado,desde 1961 que Angola se insurgiucontra a presença portuguesa.Como faz notar Alberto OliveiraPinto, “foi um povo colonizado,que combateu pela sua indepen-dência”, a guerra civil que se se-guiu, era “uma inevitabilidade”. Oprocesso de descolonização daAngola fez parte das prioridadesdo General Spínola e do Movi-mento das Forças Armadas, logoapós o 25 de Abril. A ugênciadesta acção prendeu-se mesmocom a própria génese da revolu-ção em Portugal. Foi um processorápido e controverso,que aindahoje é criticado e apontado comouma das causas da guerra em An-gola. Sobre as repercussões desteacontecimento no futuro de An-gola, Alberto Oliveira Pinto consi-dera ainda que “Portugal poucopodia ter feito” para evitar aguerra. Daniela Nascimento, pelocontrário, entende que Portugalpodia ter feito mais e explica queo “conflito foi claramente influen-ciado pela estratégia de descolo-nização desastrosa e acelerada”.

Contudo, ambos os docen-tes concordam que aguerra civil surgiu dadisputa pelo controlopolítico e económico deAngola e dos recursos,principalmente porparte da União NacionalPara a Total Indepen-dência de Angola e oMPLA.

Hugo AnesRui Miguel Pereira

D.R.

Page 17: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

CIÊNCIA & TECNOLOGIA11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 17

Estabelecimentos de ensino não estãopreparados para o “e-escola”

governo tem apostado,nos últimos anos, no"choque tecnológico" eem medidas que sus-

tentem esse desenvolvimentodesde o início do mandato. Anun-ciada como a mais ambiciosa ini-ciativa do plano tecnológiconacional de combate à info-exclu-são, o projecto "e-escola" abrangetambém trabalhadores em forma-ção ao abrigo do programa NovasOportunidades (e-oportunida-des).

No final de Julho, foi conhe-cido o Magalhães, umcomputador portátil di-rigido aos mais novos epromovido no âmbitodo programa "e-escoli-nha". Segundo o portaldo projecto, "a inicia-tiva destina-se aos alu-nos do primeiro ciclo doensino básico para ga-rantir a generalizaçãodo uso do computador eda internet, poten-ciando o acesso ao co-nhecimento".

Na perspectiva do go-verno, pretende-se que oMagalhães seja um aliadodos professores na tarefade ensinar e desenvolveras capacidades dascrianças. Mais do queum brinquedo ou aces-sório, o Magalhães deveiniciar as crianças nomundo da internet:ajudá-las a fazer pesqui-sas, orientando-as para ossites que devem (e podem)consultar, e também ajudaros pequenos estudantes afazer trabalhos. Segundo infor-mações disponíveis no website "e-escolinha", o computador foi"concebido para crianças dos seisaos 11 anos e é gratuito para osalunos inscritos no primeiro esca-lão da Acção Social Escolar".

Segundo o presidente do Con-selho Executivo da Escola Primá-ria de Pampilhosa da Serra, VítorMachado, o programa "e-escoli-nha" "está a ter muita adesão"."Os encarregados de educação são

favoráveis à compra do computa-dor", acrescenta, porque é uma"ferramenta que [os alunos] têmque explorar e utilizar". Vítor Ma-chado refere ainda que a escolatem condições para receber e pôrem prática o projecto "e-escoli-nha", o que não acontece emtodos os estabelecimentos de en-sino.

Ainda antes de Hugo Chávez re-ceber um Magalhães das mãos deJosé Sócrates e de testar a sua re-

sistência atirando-o ao chão, já oprograma "e-escola" fazia partedo quotidiano dos estabelecimen-tos de ensino e dos estudantesportugueses. Com o slogan "Umaluno, um computador", a medidacomeçou por ser aplicada aos es-tudantes do segundo ciclo do en-sino básico e aos professores.

Computadores portáteis dispo-

níveis para todos os alunos, apreço reduzido e com acesso a in-ternet móvel é o objectivo da cam-panha "e-escola". No início desteano lectivo, a medida foi alargadaà totalidade dos alunos do ensinobásico e secundário e conta com aparticipação das três grandes ope-radoras móveis de Portugal.

Um dos estabelecimentos deensino que implementou o pro-grama "e-escola" foi a Escola JoséFalcão, em Miranda do Corvo. Na

opinião de João Santos, do-cente na escola e respon-

sável pela formaçãode professores

sobre o Ma-

galhães, o programa direccio-nado ao ensino básico esecundário "faz sentido para segeneralizar o acesso às tecnolo-gias de informação e comunica-ção". O responsável considera queas condições de aquisição doscomputadores do programa "e-es-cola" são vantajosas para os com-pradores e que "os professores

têm maior possibilidade de pro-duzirem materiais pedagógicos econteúdos educativos diferentes".No entanto, João Santos refereque as infra-estruturas dos esta-belecimentos de ensino têm queacompanhar a evolução tecnoló-gica e ser dotadas de equipamen-tos adequados o que, no caso daescola de Miranda do Corvo aindanão sucedeu.

Na opinião de uma professorado ensino básico da região deCoimbra, que prefere manter-seanónima, "a adesão ao programafoi grande devido ao estado em

que está o país". Re-fere-se, nomeadamente, àscarências económicas de váriasfamílias que vêm nesta iniciativagovernamental a oportunidadeúnica de adquirirem um compu-tador. Tal como João Santos, aprofessora considera que as infra-estruturas não estão preparadas

para este "choque tecnológico"."Por exemplo, a escola tem portá-teis mas os computadores ligam-se à mesma ficha com extensões",porque só há uma tomada dispo-nível nas salas de aula.

Tentámos contactar outras es-colas do centro e periferia deCoimbra mas não houve disponi-bilidade dos docentes para res-ponder às nossas questões. NaEscola Secundária de Jaime Cor-tesão, apesar da adesão ao pro-grama "e-escola", recusaram-se aprestar declarações.

Se há estabelecimentos de en-

sino que já estão preparados parao "e-escola", há outros que têmmuitos problemas em implemen-tar o projecto. No entanto, o pro-jecto "e-escolinha" prevê entregar500 mil portáteis aos alunos doprimeiro ciclo.

Um ano depois do projecto “e-escola” ter sido implementado em Portugal, A CABRA foiperceber como é que as escolas estão a lidar com a introdução da iniciativa no quotidianodos alunos. Contudo, a posição não é unânime entre os professores. Por Diana Craveiro,Maria Eduarda Eloy e Inês Almas Rodrigues

PUBLICIDADE

O

FOTOMONTAGEM POR ANA COELHO

Page 18: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

m 2006, Guedes e Serraestreavam-se nas longas-metragens com “CoisaRuim”, desde logo, um

filme categorizado como de terror.Uma vez mais com a colaboração deRodrigo Guedes de Carvalho comoargumentista, a nova aposta destadupla apresenta-se radicalmente di-ferente da ficção fantástica que o pri-meiro filme nos trouxe.

“Entre os dedos” é um retrato crue actualíssimo da nossa sociedade.Do bairro social, ao hospital, pas-sando pela opulência de alguns lo-cais, cruzam-se vidas que, apesar dediferentes, vivem uma angústia se-melhante. A família de Paulo (FilipeDuarte) é obrigada a lidar com umtrabalho precário, sendo conduzidaaos poucos para o caminho da po-breza. Num ambiente em que tudoparece falhar, os valores morais esociais estão constantemente àbeira do colapso. A sua esposa Lúcia(Isabel Abreu) trabalha para umaempresa de limpeza, expurgando o

mundo dos “outros” da sujidade,embelezando a sala ou o quarto dealguém com a sua face dura mar-cada pelo cansaço. Bela (LavíniaMoreira), enfermeira e irmã dePaulo, está no centro do turbilhão.Em casa, faz companhia a um pai(Luís Filipe Rocha) que, de madru-gada, ainda ouve a som elevado“Angola é nossa!”, e no hospital lidacom a vida e a morte de Nuno (Gon-çalo Waddington), observando tudoo que a rodeia com compaixão euma calma inabaláveis.

As imagens a preto e branco deque é feito “Entre os Dedos” distan-ciam o espectador do supérfluo. Otom monocromático apenas nosdeixa ver o muito escuro e o muitoclaro, luz e sombra que figuram osextremos que as vidas de cada umadas personagens tocam.

A câmara-ao-ombro e os planossequência implicam uma atitude decontemplação “voyeurista” pornossa parte, o que vai permitir ummaior grau de empatia entre o pú-

blico e as personagens. A fotografia,que apostou em “close-ups”, tam-bém contribui para esse efeito inti-mista. “Entre os dedos”apresenta-nos tanto o essencialcomo o acessório, o que o tornaquase neo-realista – contudo, é di-fícil encerrá-lo numa categoria só.

A música minimalista de Jorge C.surge pontualmente no filme paramarcar um compasso de melanco-lia, adequando-se na perfeição aoambiente de desespero, umas vezesmudo, outras violento.

O sentimento que o filme cria é oque se depreende do seu título –entre os dedos tudo flui e desapa-rece – e quando há falta de tudo,tudo falha. Num sentido lato,“Entre os dedos” retrata as relaçõesfalhadas entre pessoas que não têmtempo para se olharem com demoraumas para as outras, para se apre-ciarem e se aperceberem do “outro”,de tão encerradas que estão numarotina de constante luta pela sobre-vivência.

Entreos dedos

CIN

EM

A

Estou cansada,ando farta disto

CRÍTICA DE CLÁUDIA MORAIS

DE

TIAGO GUEDES

FREDERICO SERRA

COM

FILIPE DUARTE

ISABEL ABREU

LAVÍNIA MOREIRA

2008

DE

PAUL W.S. ANDERSON

COM

JASON STATHAM

JOAN ALLEN

IAN MCSHANE

2008

m 2012, com o colapsofinanceiro dos EUA(Cenário que ganhouum realismo inespe-

rado com a recente crise...) a cri-minalidade disparou, e asprisões viraram palcos de realityshows violentos onde a últimanovidade são as corridas de au-tomóveis até à morte. JensenAmes (Jason Statham) é umaantiga glória das corridas NAS-CAR que é preso pela morte dasua mulher, crime que obvia-mente não cometeu. O que elenão sabia é que toda esta cons-piração foi organizada pela pró-pria directora da prisão,Hennessey (Joan Allen), queprecisava de um novo pilotopara manter as audiências.Ames entra na prisão e vai cor-

rer para tentar ganhar a liber-dade e ao mesmo tempo vingar-se da malandrice que lhefizeram.

O filme de Paul W. S. Ander-son (Resident Evil, Alien vs Pre-dator) nem começa mal, oscréditos iniciais prometiam, masos problemas surgem quando osactores não correspondem,como é o caso de Joan Allen, quecada vez que aparece em cena eabre a boca nos dá vontade delhe dar umas chapadas para verse acorda, tal é a pouca dinâmicaque a actriz dá a uma persona-gem relevante e que devia termuito mais carisma. Acresce aisto o facto de o filme ser bas-tante previsível do início ao fim.Grande parte das cenas de acçãosão muito forçadas e sem nexo.

Como se não bastasse, ofere-cem-nos ainda algumas tiradas“cómicas” completamente forade “timing”, nas quais os actoresfalam directamente para a pla-teia, o que é capaz de causarnáuseas a qualquer pessoa dotão ridículo que chegam a ser. Oconceito do filme não é mau, e ascorridas até chegam a ser inte-ressantes, criando alguma adre-nalina no espectador, mas esta ésucessivamente cortada por por-menores completamente fora docontexto. Em suma, é apenasmais um filme banal de acção echeio de clichés: entretenimentobarato que chega para passar otempo, mas que não vale o bi-lhete.

Desastrerodoviário

Corrida Mortal ”

RAFAEL FERNANDES

“ E

E

ARTES FEITAS18 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

Page 19: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

mporta começar pordizer que os Oneida,um trio oriundo deBrooklyn, já não são

propriamente novatos nestacoisa de ser uma banda. Nãosendo das mais expostas aomediatismo lá no bairro, con-tam já com onze anos de acti-vidade e um sem fim deedições. Têm, aliás, um espe-cial gosto por registos em for-mato split com outrosprojectos (Atheists, Reconsi-der, de 2002, foi editado ameias com os Liars). Além domais, desde o início que atraí-ram a atenção do submundonova iorquino à custa de es-pectáculos ao vivo descritoscomo perfeitamente caóticos eselvagens. Coisa muito doagrado do artista nova ior-quino.

Foram, de resto, desde logo,difíceis de catalogar. Porque abanda pode ser atirada para ocaixote do rock psicadélico dos

anos 70 e do kraut-rock, mas com uma abordagem punk maisdestrutiva que construtiva. Junte-se a isso um gosto por sinte-tizadores baratos e falíveis, alguns toques de ruído ambiente, econotações da imprensa com algum jazz avant-garde, e fica-sesem saber muito bem em que prateleira os arquivar.

Preteen Weapony é o novo disco do trio, e chega exactamentena forma de um tríptico, quase sempre instrumental. A bandainsiste, aliás, que o disco deve ser ouvido dessa forma, partes I,II e III por essa ordem. O que até faz sentido, apesar de estasnão significarem de todo uma progressão contínua do início aofim do álbum.

Em vez disso, cada uma delas representa exactamente umcrescendo, que finaliza com uma queda mais ou menos suaveaté ao início da progressão seguinte, ao invés de explodir emalgo de muito concreto, resultando num registo tenso e inquie-tante. De tal forma que acaba com um perturbador crescendode tensão ao longo do qual os elementos vão desaparecendo atéque o som cai num vazio e o disco termina. Para muitos, é estaa grande falha do disco. Apontar no vazio. No entanto, isso vaiperfeitamente na linha da destruição de convenções que abanda parece gostar de seguir. As coisas não têm de ser forço-samente como nós queremos que sejam. Ou como estamos ha-bituados a tê-las...

amor primeiro. A entregatotal, a que se dá por com-pleto, a que se exige por in-teiro.

Manuel Alegre desmonta, n’ “A Ter-ceira Rosa” a descoberta da paixão, dooutro com a força incontrolável dossentidos.

Alba, algures na década de 50. Xa-vier encontra Cláudia e perde-se a si.Melhor dizer, reencontro. Porqueaquele amor estava marcado “desdesempre”, adivinhava a mãe de Xavier.Na pele do jovem, o leitor reconhece-se e recupera a memória do primeiroamor. Do que se cola na pele e se tatuano sangue. Porque Cláudia é o arqué-tipo. A medida a todas as paixões quese seguirem, numa espera que nuncase concretiza. Xavier pressagia já: “an-darei pelo mundo, dar-te-ei outrosnomes. Passará muito tempo, conti-nuo à tua espera, inventado o teucorpo noutros corpos, reinventado oteu rosto noutros rostos. Tu és todas,tu és nenhuma, tu és só uma”.

O amor desenrola-se. Inocente eviolento, mistério e desejo, encontro edesencontro como só o primeiro. Sa-grado e pecado como mais nenhumdepois dele. Graça e alquimia, liturgiade sagração e encantamento, dirá Xa-vier. É Julho, e Cláudia espera por ele.

Mas a narrativa alimenta-se de an-

tagonismos. A família dela é da “Si-tuação”. A dele, luta contra o EstadoNovo. Depois da inocência de Alba, doesplendor do Verão, da entrega domomento da revelação, Lisboa roubaa menina-mulher. A cidade grande,onde é Inverno dentro de Xavier, quesofre a desilusão da perda, de umamor que foi sempre despedida. Xa-vier é Alba pura, Cláudia é Lisboa,“rainha e puta”.

A história das personagens cruza-secom a do País. Assistimos à prisão dopai do jovem, conhecemos o fim doGeneral Sem Medo, vemos chegar aRevolução de Abril pelos olhos de Xa-vier.

Em “A Terceira Rosa” Manuel Ale-gre apresenta a paixão, fome e ali-mento, festa e veneno, fogo e mágoa.Mas traz também o amor pelo amor,pelo sentimento de estar apaixonado,mais que o amor pela pessoa concreta.Escrita numa prosa com sabor a poe-sia, o autor assume a dificuldade emdefinir fronteiras: “vejo o romancecomo inundação da prosa, como poe-sia, uma escrita mão rimada, mas rit-mada”. A história chega em pequenoscapítulos que tornam a leitura leve,dando tempo ao leitor para saboreara história. “Uma história sem histó-ria”, porque igual a tantas outras. Por-que já todos fomos Xavier.

uando Spielberg surgiu como "Resgate do SoldadoRyan" e a mini-série "Ir-mãos de Armas", a crítica

não se poupou a rasgar elogios aorealismo com que a câmara de Ste-ven segue o desenrolar das cenas deguerra. Contudo, 53 anos antes, jáRossellini decidira pegar numa câ-mara e, num registo visual, umavezes estático, outras vezes comple-tamente tremido, conseguiu desen-volver uma narrativa profundamenteobjectiva, característica, aliás, quevaleu ao filme o título de "fundadordo cinema neo-realista italiano".

A trama poderá parecer bastantesimples. Numa cidade parcialmentedestruída pela guerra, Giorgio Man-fredi (ou Giovanni Episcopo, ou LuigiFerraris), líder de um grupo que re-siste contra a ocupação nazi, traídopela sua amante, é detido pela Ges-tapo. Mas, a narrativa deixa transpa-recer mais do que a evidenteenumeração dos factos. A relação dosresistentes com a família, com opadre do bairro, ou mesmo a relaçãoentre si manifesta o cunho pessoal dorealizador (ele próprio insurgentecontra a ocupação nazi durante aguerra). Também a noção da mais

profunda precarização da vida hu-mana se reflecte através das condi-ções mundanas de sobrevivência aque os personagens são submetidos.

Impressionante, também, poderãoser as condições de rodagem da pelí-cula. Numa Roma arrasada, no fimda Segunda Guerra Mundial, Rossel-lini usou como gabinete de produção,um prostíbulo antigo. O filme foitodo ele gravado em pequenos rolosde 50 metros, adquiridos no mercadonegro, com cheques sem fundos enotas promissórias emitidos por me-cenas falidos disfarçados de produ-tores. Ainda assim, o filme entroupara a história como um dos maioresclássicos do cinema italiano. Nestaedição de DVD, o filme partilha o es-paço com um pequeno documentáriosobre Rossellini e uma biografia e fil-mografia escrita do realizador.

OUVIR

COLECÇÃO COSTA DO

CASTELO FILMES

2006

DE

MANUEL ALEGRE

EDITORA

DOM QUIXOTE

1999

DE

ONEIDA

EDITORA

JAGJAGUWAR

2008

Preteeen Weaponry ”

I

EMANUEL BOTELHO

Artigos disponíveis na:

FILME

EXTRAS

O

Q

A Terceira Rosa”

JOÃO MIRANDA

SOFIA PIÇARRA

Roma: Cidade Aberta ”

“Quando metocas, a batida daterra coincide coma do meu coração”

VER

A cidadeaberta aoneo-realismo

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

ARTES FEITAS11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 19

LER

Armas dedestruiçãopsicadélica

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

ia de 30 de Outu-bro, dez e meia danoite, TeatroPaulo Quintela.Academia reúne

mais uma vez a AssembleiaMagna”. É desta forma que ACABRA inicia o artigo que abordaa realização de mais uma Assem-bleia Magna originada por altera-ções governamentais, indesejadapela presidente da Direcção Geralda Associação Académica de

Coimbra (DG/AAC), Zita Henri-ques, e onde a indignação e as dú-vidas falaram alto. Em cima damesa, estiveram as polémicas al-terações da Lei Bases do SistemaEducativo (LBSE) propostas porMarçal Grilo, Ministro da Educa-ção. A Assembleia Magna foi o re-flexo de toda a indignação queinvadiu o ensino universitário.

As graves alterações no futurodos alunos da universidade agita-ram por todo o país os estudantese a Academia de Coimbra não foiexcepção. Uma das alterações pre-via que aos alunos saídos dos Po-litécnicos e das Escolas Superioresde Educação seria atribuído omesmo grau de licenciatura queaos alunos universitários, pas-sando a competir de igual maneirano mercado de trabalho. “Nãoestão nada satisfeitos”, assim re-tratava o jornal o clima que se

fazia sentir por entre os estudan-tes.

A ideia de convocar a magna dodia 30 de Novembro surgiu porparte de Isaac Lourenço, coorde-nador da Política Educativa daDG/AAC. Porém, Zita Henriques“terá ficado visivelmente irritadaquando soube da notícia”, assim oreferiam fontes “seguras” ao jor-nal de 1996. Cerca de 600 alunosresponderam à chamada, e enche-ram o Teatro Paulo Quintela de“discursos inflamados”.

“A Casa quase vinha abaixo”narrava A CABRA, quando Cris-tina Martins, aluna da FCTUCsobiu ao palco e lançou a voz darevolta.”Nós nas universidadestrabalhamos mais e suamos maisdo que nos politécnicos. Onde éque nós, Coimbra, que sempre ti-vemos uma preparação científicaterrível, vamos ficar”, questionava

a jovem. A Presidente daAAC sobe ao palco paraacalmar os ânimos eavisa que “a AAC nãopretende que esta sejauma luta de estudantescontra estudantes”.

As tomadas de posi-ções radicais iam su-bindo ao palco à medidaque a noite avançava evárias propostas de lutasurgiram, mas apenas aproposta da DG/AAC,“um moderado mani-festo contra a LBSE comuma manifestação pací-fica frente ao Senado nodia 6 de Novembro”, foiaprovada. O Erro deGrilo, como o intitula ACABRA no artigo anterior, acabouassim por originar uma magnaque terminou com a chuva de crí-

ticas à Direcção Geral", tal comorefere o artigo citado.

Marta Pedro

A CABRA sai do arquivo...

18ºANIVERSÁRIO

MALDITA

MAGNA”

NOVEMBRO DE 1996 • EDIÇÃO N.º 27 • MENSAL • 100$00

“D

SOLTAS20 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

JOSÉ DIAS • PRESIDENTE DO CONSELHO DA CIDADE

Entrevista por Sara Oliveira

Maçã

UNIVERSIDADE

Coimbra vive à sombra dos es-tudantes?

Sim, Coimbra é uma cidade quevive muito à sombra do ensino. O en-sino é provavelmente o maior empre-gador. Uma grande fatia da suamobilidade e do seu futuro tem depassar por esta comunidade, quemuitas vezes é subdividida errada-mente. Os estudantes mais conheci-dos, os professores menos, ostécnicos e pessoal administrativoestão na comunidade indiferenciada.Sou defensor da governação munici-pal. Coimbra só tinha a ganhar se,para além do executivo municipal, ti-vesse um órgão de consulta, consti-tuído por representantes do executivomunicipal, em que um vértice seria opresidente da Câmara, um represen-tante do saber - o Reitor da UC -, eum terceiro vértice teria a solidarie-dade social, que tem o pulso principalna importância que a Igreja Católicatem em Coimbra.

O que é que a Universidadetem dado à cidade?

Tem dado placas com nomes de an-tigos professores. A universidade dei-xou aqui edifícios, alguns a cair.Deixou livros, bibliotecas, memórias,deixou sentimentos, emprego, di-nheiro na cidade de investimento co-lateral, de tal forma que penso quenunca foi feito nenhum estudo comalgum rigor – a universidade deviaestar bem colocada para o fazer –sobre o impacto económico e ciênti-fico que a Universidade tem tido paraCoimbra. A Universidade é poucoaberta à comunidade.

ALMOÇO SOCIAL

Lombo assado

CIDADANIA

O que interessa aos cidadãosde Coimbra discutir?

Penso que as questões que têm aver com as Finanças, com a emprega-bilidade, com as pensões, o centro fa-miliar. A única arma a que oscidadãos se agarram é a abstenção.Abstêm-se de participar, pagaram auns tantos para serem a elite que osgoverna e hoje há uma endémica,uma pandemia democrática em Por-tugal que é “se eu participo vou ficardoente, vou-me enervar, só dá chati-ces, portanto, não”. Isto aplica-se aosmais pobres, aos mais ricos, aosmenos e aos mais letrados. O pro-blema da participação cívica emCoimbra não é o estigma das classesbaixas, das minorias étnicas ou dosestrangeiros.

Coimbra é provinciana?Coimbra é uma cidade bastante

provinciana, como aliás é o própriopaís. Sejamos humildes e honestos.Hoje em dia ai daqueles que pensemque são uma nova centralidade. Paramim são um velho provincianismo.Mas há o provincianismo bacoco enão um provincianismo que deviapassar por alguma ruralidade, inte-rioridade e partilha. Aquilo que deviaser uma energia explosiva transfor-mou-se numa implosiva. São poucosos dirigentes da República oriundosde Coimbra, pois exporta mais parafora do país, é mais conhecida pelosde fora que pelos de dentro.

Sopa de Feijão

ESPAÇOS VERDES

Coimbra é uma cidade verde?Se no conceito de verde metermos

os espaços verdes, ecológicos e am-bientais, eu direi que é uma cidademenos verde do que aquilo que hojeseria normal para uma cidade média,num país da União Europeia e numpaís com a história e o património bo-tânico que tem a cidade. Coimbra temuma orografia que facilitaria umaexistência de variados pulmões des-centralizados, com a possibilidade deexistência de pequenas hortas queainda resistem, permitindo a renova-ção ambiental. O trabalho que a pro-vedoria do ambiente tem tido emCoimbra tem sido positivo, porquetem tido uma série de preocupaçõesambientais alertando para os casosmais graves.

A poluição ambiental assom-bra a cidade?

Seria um contra censo dizer quenão. Não vivemos numa cidade dife-rente das demais. Está sujeita a índi-ces de poluição modernos, quecastigam a saúde ambiental. Sou umutilizador dos transportes públicos deCoimbra, não tenho carro, mas utilizodiariamente os trolleys. Coimbra é aúnica cidade da Península Ibérica há60 anos com viaturas movidas a elec-tricidade, uma energia limpa. Aten-dendo à orografia de Coimbra, pensoque há toda a vantagem em renovar oparque dos nossos transportes públi-cos, melhorar a formação dos nossosmotoristas, melhorar a visibilidade ea interpretação dos cidadãos, melho-rando também a nossa página web.

ANA COELHO

Page 21: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

BRASIL Um pe-dreiro de 59 anos aca-bou a pernoitar naprisão após ter sidoapanhado pela sua vizi-nha a ter relações se-xuais com o muro dasua casa. A senhora,que ouviu um barulhono quintal, surpreen-deu o indivíduo a pene-trar um dos buracos domuro, enquanto sus-surrava e acariciava aparede do mesmo. O“amante nocturno” aca-bou por confessar ocrime e garantir que es-tava muito arrepen-dido.

REINO UNIDO Um clérigode Sheffield foi obrigado a sub-meter-se a cirurgia para retiraruma batata do ânus. De acordocom a vítima, o incidente teráresultado de um desequilibrioacidental sobre o tubérculo en-quanto pendurava cortinas…nu. Segundo a enfermeira, ocaso não é único, tendo já sidoretirados objectos como bone-cas russas ou tubos de desodo-rizante.

EUA Uma mulher de 53 anosfoi detida após ter recorrido aosserviços da polícia com o objec-tivo de reaver o dinheiro quegastou em cocaína, que veio adescobrir ser falsa. A insatisfeitaJuanita, que queria apenas “jus-tiça”, acabou presa por posse econsumo de cocaína.

Adelaide Batista

procura de novas expe-riências, exercitar umalíngua estrangeira ouconhecer novas cultu-ras e nacionalidades.

Estas são algumas das justificaçõesdadas pelos homens que costumamfrequentar habitualmente a Ave-nida Fernão de Magalhães a partirdas duas da manhã. Mas não é

disso que quero falar esta semana.Esta semana quero falar de algoque todos os estudantes equacio-naram fazer um dia (não, lamentomas também não vou falar de brin-quedos sexuais). Vou, isso sim,falar do programa Erasmus.

Foi durante o pomposo jantar decurso da Latada (algures entre umpenálti de vinho tinto e uma fêveraafogada em gordura) que reencon-trei o “Pistola” e a Sílvia, dois ex-colegas que resolveramaventurar-se no maravilhosomundo do programa Erasmus. EmSetembro partiram para a Polóniacheios de incertezas e com sede deaventura. Embora o regresso defi-nitivo só esteja marcado para Ja-neiro, pode-se dizer que não vãovoltar de bolsos vazios. Como nãoconseguia controlar a minha curio-sidade, larguei tudo o que estava afazer e acerquei-me do “Pistola” (aorigem do apelido fica para outrodia). “Então? Já provaste a comidainternacional?”, perguntei eu, ten-tando obter uma resposta de teorpuramente gastronómico. E foientão que ele me respondeu: “Acoisa está fraca para os meus lados.Mas a Sílvia já comeu dois Italia-nos e um Sueco”. E foi aí que mecaiu tudo aos pés. E isto porquê?Estão a ver os dois M&Ms? O ver-melho e o amarelo? Estão a ver oamarelo? Aquele ser arredondadoe assexuado de olhos esbugalha-dos? Pois a Sílvia é assim. Só queainda mais arredondada. E com bi-gode. Na escola secundária chama-vam-lhe baleia. Quando chegou à

Universidade ascendeu a baleeiro.O que é que os estrangeiros viramnela? Isso não sei. Fui para casapensar nisso e durante três diasnão consegui dormir. Foi enquantosubia as “Monumentais”, entre osesgares de esforço e as dores naspernas, que se fez luz na minha ca-beça. De repente tudo ficou claro(ou era isso ou uma trombose). Oprograma Erasmus foi criado paraimpedir que aconteça uma catás-trofe de proporções apocalípticasem Coimbra. Todos conhecemos ahistória por detrás daquelas estru-turas esféricas que se encontramno cimo das “Monumentais”. Etodos temos uma amiga como a Síl-via. Então como é possível queainda não tenham caído? Poismeus amigos, a resposta é simples.Quando uma aluna assim assina asfolhas de inscrição, é accionadoimediatamente um sistema deemergência que vai subtilmente in-jectando no cérebro dessa alunapequenas mensagens subliminaresque a vão levar a optar por ir deErasmus, lá para o segundo ano.Depois é só esperar. Isso porque láfora haverá sempre alguém queache as mulheres com buço exóti-cas. Provavelmente devem pensarque estão a ter relações com um ca-marão. Elas ficam satisfeitas, os es-trangeiros ficam com mais umanacionalidade nos respectivos cur-rículos, a universidade fica satis-feita e Coimbra viu assim evitada asua destruição parcial. Aindadizem que o dinheiro das propinasnão é bem gasto.

O M

UN

DO

AO

CO

NTR

ÁRI

O

COM PERSONALIDADE

Sou um fanático pelo teatro. Quando me acordam a primeira coisa que digo é “se faz favor vão ao teatro”. Nasci numa aldeia no concelho do Fundão,uma região que considero extremamente bonita. Desde miúdo que tive uma certa propensão para a imitação das pessoas. Gostava imenso de conversar e ouvir boas estórias. Fiz o liceunum internato, onde tirei muitos apontamentos para a minha biblioteca interior. Nos anos cinquenta, incentivaram-me a tirar o curso de teatro. Muitos diziam que era para loucos. Masdepois veio a treta da tropa e fui um dos muitos portugueses sacrificados. Malhei com as costas em África durante dois anos a comandar uma companhia. Não me enquadrava naquilo.Foi em Luanda que consegui encontrar as obras completas de Federico García Lorca. Aqui em Portugal, era um autor proibido. Até que vim de África. Antes disso casei e tirei o curso noMagistério Primário em Lisboa onde comecei a trabalhar com miúdos. A dramatização de textos para mim foi o meu grande processo didáctico. O teatro servia muito para oensino e uma das grandes razões do teatro é a pedagógica. Dei aulas mas acabei a trabalhar num banco. Para mal dos meus pecados, era um trabalho que não su-portava. Ainda no banco, participei na direcção do Ateneu e passei pelo teatro amador da Bonifrates. Ao fazer de Sancho Pança, recebi o maior elogio que qualquer actor poderia receberde um crítico. Nos “60 minutos com Brecht” quase que parei. Foi a fatídica estreia em que tive um enfarte. Pensei que terminava tudo. Mas não, vim de láainda melhor. Não tive medo. Se tivesse que morrer, tinha que ser naquela altura, naquele dia, naquele palco. Em 1992, entro em contacto com o cinema, numa série de Francisco Mansosobre artistas que se suicidaram. Depois participei numa longa-metragem, o “Esquece tudo o que te disse”. Gostei imenso, mas não é como o teatro. O papel que mais me marcou foi real-mente Sacho Pança. Havia na minha aldeia uma personagem que era o Leopoldo. Todos o tratavam por “Doutor”. Era bêbado mas com uma personalidade extraordinária. Na reali-dade serviu para me inspirar no Sancho Pança pois era um sonhador mas com os pés assentes na terra. A criação de uma personagem nãosurge do nada. Eu não tenho o curso de teatro, nem existem fórmulas para se representar. É muito bom quando se acaba um espectáculo e se ouvem palmas. É uma sensação agradável.Resumo a minha vida ao amor que tenho ao teatro. É como respirar. O objectivo de um actor é sentir-se não a pessoa mas a personagem. Quando chego a sen-tir a personagem, já não sou o Fernando Taborda. Apanho os bocados, que são as personagens, e aí sinto-me completo. A arte é o antónimo da obrigatoriedade e si-nónimo de liberdade.

TEATRO COMO PAIXÃO ABSOLUTA

Entrevista por Vanessa Quitério

FERNANDO TABORDA • 74 ANOS • ACTOR

TEM DIAS...

ERASMUS MÚLTIPLOS

A

SOLTAS11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 21

VANESSA QUITÉRIO

Por Licenciado Arsénio Coelho

CARICATURA E ILUSTRAÇÃO POR GISELA FRANCISCO

Leia mais em

acabra.net

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

OPINIÃO22 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira

Há alguns anos atrás, surgia o Pro-grama “Juventude”, hoje “Juventudeem Acção”, um programa da UniãoEuropeia para os jovens. Financiadopela União Europeia, tem como ob-jectivo estimular o sentido activo decidadania europeia, a solidariedade etolerância entre os jovens europeus eo seu envolvimento na construção dofuturo da União Europeia. O pro-grama promove a mobilidade dentroe fora das fronteiras europeias, o diá-logo intercultural e encoraja a inclu-são de todos os jovens,independentemente da sua origemeducacional, social ou cultural.

O Intercâmbio de Jovens é a acçãomais popular perante os jovens, umavez que permite que um ou mais gru-pos de jovens sejam acolhidos poroutro grupo de outro país, com o ob-jectivo de participarem num pro-grama de actividades comum. Ostemas são escolhidos de acordo comos interesses dos jovens dentro de umparâmetro de objectivos elegíveis.Estes projectos envolvem a participa-ção activa dos jovens e são concebi-dos para permitir que osparticipantes tenham conhecimentoe estejam conscientes da existênciade realidades sociais e culturais dife-rentes das suas, para aprenderem unscom os outros e reforçar o seu sentidoenquanto cidadãos europeus.

Através da educação não formal,são tratados temas como os direitoshumanos, tomada de consciência eu-ropeia, compromisso para com omeio ambiente, segurança e mobili-dade internacionais.

Uma acção mais conhecida pelosjovens é O Serviço Voluntário Euro-peu, que permite aos jovens desen-volver num período que pode ir atédoze meses uma acção de volunta-riado num país diferente do seu paísde residência. Fomenta a solidarie-dade entre os jovens e é um verda-deiro serviço de aprendizagem. Paraalém do benefício para as comunida-des locais, os voluntários adquiremnovas competências e linguagens edescobrem outras culturas.

Ainda engloba uma acção que visaa promoção de parcerias com os paí-ses de vizinhança e a formação deprofissionais activos no domínio dajuventude e nas suas organizações,em particular projectos de liderança,conselheiros juvenis e supervisoresdestes projectos. Também apoia atroca de experiências, saberes e boaspráticas destes profissionais, bemcomo as actividades que conduzamao estabelecimento de projectos delongo prazo, projectos de alta quali-dade, redes e parcerias.

A última acção apoia a cooperação,seminários e o Diálogo Estruturadoentre os jovens, profissionais activos

na área da juventude. Este tipo de ini-ciativas tem como o objectivo últimopromover a mobilidade e a criação delaços entre jovens numa Europa cadavez mais alargada e, ao mesmotempo, fragmentada em diferentesestados-nação. Tal como a criação daprópria União Europeia com o pro-pósito de encontrar a Paz e a Coope-ração entre os Estados Europeus,estas acções visam a construção deum sentimento europeu através daeducação e partilha de experiências.

Já com duas edições passadas eavaliadas, o Programa Juventude emAcção está mais bem estruturado eenquadra melhor as suas acções notipo de trabalho desenvolvido por As-sociações Juvenis e ONG’s. Este tipode trabalho é desenvolvido por vo-luntários, não permite qualquer tipode remuneração; pelo contrário, pro-porciona experiências inesquecíveis eenriquecedoras e capta as iniciativasjuvenis e projectos jovens finan-ciando-os e ajudando a desenvolvê-los e implementá-los. Requer aindauma avaliação final por parte daAgência Nacional para o ProgramaJuventude em Acção. Em Portugal, aAgência Nacional responsável pelagestão do programa “Juventude emAcção” está instalada em Braga. Ape-sar de alguma divulgação, este pro-grama que possibilita a muitos jovensrealizar experiências e aprendizagenssignificativas, é ainda pouco conhe-cido pela maioria dos portugueses.

Uma das associações juvenis queem Portugal tem realizado várias ac-ções do Programa Juventude, pro-porcionando a uma boa centena dejovens europeus experiências imper-díveis, é a Take Off.

Aqui fica um pequeno relato de umdos jovens participantes no inter-câmbio juvenil Crossing Roads, rea-lizado em Rodoliovos, Grécia. “Váriasactividades lúdicas preencheram onosso calendário diário, entre visitas,jogos, reflexões e workshops. A apre-sentação nacional foi um sucesso,apesar de marcada por um grandenervosismo, já que a sala estava re-pleta de habitantes locais. Mostrámosa nossa coragem ao cantarmos o hinonacional, ao explicarmos a simbolo-gia da bandeira, ao falarmos da Aca-démica de Coimbra, entoarmos ogrito académico, representar o mila-gre das Rosas e exibir o filme sobre acidade de Coimbra. Nestas activida-des saiu reforçado o nosso espírito deunião e amizade”.

A terminar, fica uma nota a regis-tar: Juventude em Acção é um pro-grama para todos.

* Cíntia Vargas, Líder juvenil evice-presidente da Associação TakeOff

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

Cíntia Vargas *

As acções visam aconstrução de umsentimento europeuatravés daeducação e partilhade experiências

PUBLICIDADE

PEDRO CRISÓSTOMO

“MOBILIDADE NUMA EUROPA

CADA VEZ MAIS ALARGADA”

Page 23: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

OPINIÃO11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 23

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editora-Executiva Multimédia: Vanessa Quitério Editores:Ana Coelho (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro(Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernan-des Paginação Pedro Crisóstomo Redacção Adelaide Batista, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, JoãoPicanço, João Ribeiro, Liliana Figueira, Patrícia Gonçalves Fotografia Eduarda Barbosa, Jennifer Henriques, Sónia FernandesIlustração Gisela Francisco, Marco Moura, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Cláu-dia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, Mi-lene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Colaboraram nesta edição André Ferreira, DanielAlmeida, Eduarda Barbosa, Elizabete Paulos Ribeiro, Hugo Anes, Inês Almas Rodrigues, Jennifer Henriques, João Oliveira, LuisSimões, Patricia Neves, Renata Rodrigues, Sara Araújo, Sara Lopes, Tiago Carvalho, Vanessa Soares Publicidade Sónia Fernan-des - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Pro-priedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Socialda Universidade de Coimbra

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

Três. Sim, apenas 3 gralhas é o quese pode apontar de errado na redac-ção final dos Estatutos da AAC, queentraram em vigor a 3/1/2008.

Foram revistos durante 2007 poruma assembleia eleita para tal, comoestipulado pelos Estatutos. Esta as-sembleia, de 33 sócios efectivos daAAC, trabalhou durante um ano paraconseguir concretizar esta revisão.Sim, durante um ano! Agora, apenaspor causa de três gralhas, querem rei-niciar todo o processo, quando os Es-tatutos estabelecem que as revisõessó ocorrem de cinco em cinco anos.

A AAC precisa de estabilidade es-tatutária. Não pode andar constante-mente a mudar as suas regras. Apósvigorarem cinco anos, todos estarãoem melhores condições de discutir oque precisa de ser mudado nos Esta-tutos, avaliando a sua aplicação naprática.

Uma revisão não é tarefa simples.Primeiro porque os Estatutos são a leifundamental da Casa. Não podem serrevistos de ânimo leve. É preciso dis-cussão profunda. Depois, porque aAAC não é pequena (órgãos gerentes,secções, núcleos, ...) e, por isso, nin-guém a pode conhecer por completo.

Sempre foi claro na Academia queuma revisão de estatutos tem que serum processo bem discutido envol-vendo os vários sectores da AAC. Épor todos estes motivos que a revisãosó pode ser feita de cinco em cincoanos e por uma assembleia eleita es-pecificamente para o efeito.

Mas afinal que gralhas são estas?Simples: três artigos (28º, 41º e 62º),que não foram alterados nesta revi-são, remetem para disposições nou-tros artigos usando seus númeroscomo referência (40º, 20º e 60º, res-pectivamente). Mas como a últimarevisão acrescentou artigos, na novaredacção os números correctos se-riam outros (42º, 21º e 61º, respecti-vamente). É uma conclusão fácil paraquem faça uma leitura comparadados novos e dos antigos Estatutos,sem qualquer preconceito.

Assim, é claro que, o que os novosEstatutos precisam é, tão somente, deuma correcção e não de uma revisão.E, como foi afirmado na última As-sembleia Magna (AM), a lei prevê quecorrecções a gralhas podem ser feitassem ser necessário nova revisão.

Mas se é possível fazer correcçõessem eleger nova assembleia, o que es-tará a mover os actuais Órgãos Ge-rentes da AAC para estarem a tentarreiniciar um processo de revisão?

A última Magna clarificou algumascoisas. O Presidente da Mesa da AM,na sua exposição de motivos, tentoulevantar dúvidas sobre se estaria cor-recto que a sanção de suspensão apli-cada a um sócio dirigente, implicassea perda de mandato. Por mais tenta-tivas de interpretação enviesadas quese façam, os antigos Estatutos sãobem claros quanto a isso e na últimarevisão não houve qualquer alteraçãonessa matéria. E a explicação é sim-ples: se, no decorrer de um processodisciplinar, um membro da AAC ésuspenso, pelo período que vigoraressa suspensão, perde todos os seusdireitos de sócio. Como tal, é naturalque perca o seu mandato se for diri-gente. Sabe-se que ocorreu um casodestes recentemente. E parece quenão caiu bem aos actuais Corpos Ge-rentes. Será um motivo?

Na mesma AM, um membro do CFveio corroborar a ideia de que era ne-cessário uma revisão, não por causade gralhas mas antes para clarificaras competências do órgão a que per-tence. Seria triste que, ao fim de umano de mandato, os membros do CFainda não tivessem descoberto quenos Estatutos há um artigo (47º) queenuncia as competências do órgão.

Mas não é disso que se trata. Ascompetências definidas no tal artigosão oito e apenas oito. Nem mais,nem menos. Não será isto claro? Ouserá que pretendem uma revisão paralhe dar mais competências? Será, porventura, o CF um órgão com tarefase visibilidade a menos para a sede deprotagonismos dos seus titulares?

Estarão as tendências federalistasde novo à espreita para se introduzi-rem à socapa em nova revisão?

Preocupa ver gente que se de-monstra tão desconhecedora dos Es-tatutos da AAC a promover a suarevisão a todo o custo.

Se a intenção fosse só corrigir gra-lhas, a hipótese de revisão nem seriacolocada. A revisão demora mais deum ano e a correcção apenas sema-nas.

As três gralhas apenas servemcomo desculpa. É gato escondido como rabo de fora. Os próprios protago-nistas acabam por se desmascarar.

Uma nova revisão de estatutos sópode ser iniciada daqui a 4 anos ouse existir um motivo para revisãoextraordinária. Três gralhas nãosão motivo para tal. E a incapaci-dade de alguns sócios para inter-pretar os Estatutos, também não.

* Sócio seccionista da AAC

AQUI HÁ GATO

Ricardo Matos *EDITORIAL

xiste um ditado popu-lar que, variando nasua forma, conformea região do país, se

acabou por generalizar em qual-quer coisa como: “Pau que nascetorto tarde ou nunca se endi-reita”. O mesmo se poderia dizerdo Regime Jurídico das Institui-ções do Ensino Superior(RJIES). Corria o mês de Junhode 2007 e já a objecção demons-trada pelos grupos parlamenta-res da oposição fez o PartidoSocialista apresentar inúmerasversões do projecto-lei. Tambémna rua e nas faculdades, os estu-dantes mostraram a sua contes-tação ao novo regime e ao queele representava para o ensinosuperior. E o caso não era paramenos… A aprovação deste pro-jecto-lei desencadearia umasérie de alterações no ensino su-perior (de resto, as mais profun-das desde a Lei de Autonomiadas Universidades de 1988) queconduziriam à ingerência de en-

tidades externas na universi-dade, à perda de participaçãodos estudantes nos órgãos degestão e à possível privatizaçãodas instituições do ensino supe-rior.

Contudo, o regime foi apro-vado e depressa todas as univer-sidades e politécnicos se viramobrigados a aplicá-lo. Quase tãorápida, quanto a implementa-ção, foi a confirmação das sus-peitas dos estudantes sobre osefeitos práticos da instituição doregime.

O Senado Universitário, órgãoonde professores, funcionários eestudantes (inclusive discentesindigitados pela Direcção-Geralda Associação Académica deCoimbra) decidiam as principaisquestões da Universidade de

Coimbra, foi remetido paraagente consultivo. Para o subs-tituir foi criado o Conselho Geralonde os estudantes viram redu-zida a sua participação paracinco lugares. As cadeiras dosestudantes foram ocupadas porelementos externos à universi-dade por quem passam obriga-toriamente todas as decisõestomadas pelo reitor.

A perspectiva de instituiçõesde ensino superior poderempassar a fundações públicas dedireito privado veio agudizar orisco da privatização do ensinosuperior e o risco da federaliza-ção das universidades, como ade Coimbra.

Também a eleição do reitordeixou de ser incumbência daAssembleia da Universidade,órgão alargado onde participamestudantes, professores e fun-cionários, para passar a ser res-ponsabilidade do ConselhoGeral.

Todo este processo significou

mais do que uma simples altera-ção na estrutura ou na práticainstitucional da UC. O RJIES re-velou-se o abalar das estruturasdemocráticas da universidade eum retrocesso nas aspiraçõesdos estudantes de um ensino su-perior gratuito e de qualidade.

Todavia, leis instituídas nãosão inabaláveis e podem ser re-vogadas (como é prova a histó-ria do ensino superior) eimpõe-se aos estudantes quesaibam recuperar a sua voz nasdecisões da universidade, nasdecisões que os afectam e quesaibam dar combate pela reali-zação das suas aspirações porum ensino superior democrá-tico, público, gratuito e de quali-dade.

João Miranda

O REGIME INDESEJADO

Impõe-se aos estudantesque saibam recuperar a sua voznas decisões da universidade,nas decisões que os afectam“

E

Page 24: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 188

acabra.netRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção e Produção:Secção de Jornalismo da AssociaçãoAcadémica de Coimbra

Mais informação disponível em

PUBLICIDADE