jornal universitário de coimbra - a cabra - 197

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Jornal Universitário de Coimbra a cabra 28 de Abril de 2009 Ano XVIII N.º 197 Quinzenal gratuito Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo Encerramento de cursos não atinge Universidade de Coimbra Depois de Mariano Gago ter anun- ciado uma reestruturação da oferta educativa no ensino superior, prevê- se o encerramento de cerca de 300 cursos. No entanto, a vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo Cordeiro, confirma que todos os cursos ministrados pela UC se vão manter em funcionamento. A FENPROF teme que esta onda de encerramento de licenciaturas anun- ciada para o ensino superior possa conduzir ao despedimento de docen- tes universitários. As reformas avan- çadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior vão abarcar também o ensino superior privado, originando o fecho de várias instituições e criação de outras com maiores qualificações. P 5 Mais informação em acabra. net @ PUBLICIDADE Ensaios à porta aberta Os três grupos de teatro da Academia ultimam os pormenores para as estreias P 9 ANDRÉ FERREIRA Maioria das licenciaturas tem vagas preenchidas O activista da União Democrática da Juventude da Palestina Hashem Ezeya Albadarin foi detido por mi- litares israelitas quando atraves- sava a fronteira com a Jordânia. Checkpoints de controlo são regi- dos por alguma arbitrariedade, ad- mitem personalidades de ambos os campos do conflito. P 1 5 Viagem a Portugal Palestiniano detido ao passar fronteira Nuno Piloto “Gostava de ser um exemplo para os jovens” Há oito anos no clube, o capitão da Académica conta como é conciliar a vida de estudante com o futebol, dias depois de ter entregue a sua tese de mestrado. Nuno Piloto de- fende que, dentro de portas, a Aca- démica está a fazer um campeonato “ao nível das melhores equipas” e define o oitavo lugar como o objectivo para o que resta da época. P 1 1 Como as artes plásticas guardam as memórias de Abril P 1 2 e 1 3 A Queima dos 110 P 6 MONTAGEM POR TATIANA SIMÕES

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Jornal Universitário de Coimbra

a cabra28 de Abril de 2009Ano XVIIIN.º 197Quinzenal gratuito

Director: João MirandaEditor-executivo: Pedro Crisóstomo

Encerramento de cursos nãoatinge Universidade de Coimbra

Depois de Mariano Gago ter anun-ciado uma reestruturação da ofertaeducativa no ensino superior, prevê-se o encerramento de cerca de 300cursos. No entanto, a vice-reitora daUniversidade de Coimbra, CristinaRobalo Cordeiro, confirma que todos

os cursos ministrados pela UC se vãomanter em funcionamento.

A FENPROF teme que esta onda deencerramento de licenciaturas anun-ciada para o ensino superior possaconduzir ao despedimento de docen-tes universitários. As reformas avan-

çadas pelo Ministério da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior vãoabarcar também o ensino superiorprivado, originando o fecho de váriasinstituições e criação de outras commaiores qualificações.P 5

Mais informação em

acabra.net@PUBLICIDADE

Ensaios à porta abertaOs três grupos de teatro da Academia ultimam os pormenores para as estreias P 9

ANDRÉ FERREIRA

Maioria daslicenciaturas temvagas preenchidas

O activista da União Democráticada Juventude da Palestina HashemEzeya Albadarin foi detido por mi-litares israelitas quando atraves-sava a fronteira com a Jordânia.Checkpoints de controlo são regi-dos por alguma arbitrariedade, ad-mitem personalidades de ambos oscampos do conflito.P 15

Viagem a Portugal

Palestiniano detidoao passar fronteira

Nuno Piloto

“Gostava de serum exemplopara os jovens”

Há oito anos no clube, o capitão daAcadémica conta como é conciliara vida de estudante com o futebol,dias depois de ter entregue a suatese de mestrado. Nuno Piloto de-fende que, dentro de portas, a Aca-démica está a fazer umcampeonato “aonível das melhoresequipas” e define ooitavo lugar como oobjectivo para oque resta daépoca.P 11

Como as artesplásticasguardamas memóriasde AbrilP 12 e 13

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DESTAQUE2 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

COMÉRCIO TRADICIONALTIAGO CARVALHO

nas tardes quentes que aBaixa ganha alguma vida.Os turistas multiplicam-se, enchem as ruas e os

cafés tradicionais, ignoram os pe-dintes e atiram pão aos pombos queinfestam as esplanadas.

Contudo, os comerciantes daslojas típicas da zona não se vêemcom muito mais trabalho. Mesmo ameio da rua Visconde da Luz, é umpouco a custo que se vê o letreiroidentificativo da “Fotos Gaspar”. Aporta é pequena, o edifício antigo. Ládentro cheira a bafio e é precisosubir umas escadas íngremes e es-treitas para chegar ao laboratório.Ao som de Zeca Afonso, Carlos Vilelarecebe-nos com estranheza. Já sãopoucos os jovens que procuram osserviços. “Hoje em dia toda a gentetem máquinas digitais. A reporta-gem de casamentos é o nosso únicopára-quedas”, revela. As novas tec-nologias há muito que desvirtuarama necessidade de recorrer a alguémexperiente. Todavia, dado que já nãoé recente o uso da máquina digitalem detrimento da analógica, os pro-blemas principais são outros: “o go-verno agora decretou o cartão único,

as pessoas já não vêm tirar fotos depasse, porque não as aceitam na Lojado Cidadão. A nossa crise é esta”.

Opinião semelhante é a de VascoHenriques, que sustenta o negóciona mesma rua, mediante a coberturade casamentos. “Desde esta históriado cartão único que já despedi cincopessoas. Agora somos só dois”, de-sabafa com algum desconforto.

Do mesmo ramo, Arlindo Santos,dos laboratórios “Diorama”, na ruados Esteireiros, na Praça do Comér-cio, confessa que a hipótese de fe-char as portas não é descabida: “voupedir a reforma e, se for suficientepara manter a loja, continuo, senãofecho”. Carlos Vilela afirma, por seuturno, que “se isto até ao final do anonão melhorar só resta a reforma”.Entretanto, dedica-se à recuperaçãode fotos da Queima das Fitas de1957, um trabalho que “pode não darem nada” mas que – reconhece –“tem sido apaixonante”.

No Adro de Cima, António Mar-tins, proprietário da “Casa da Es-trela”, especializada em produtosregionais da Serra da Estrela, é pe-remptório: “isto está paupérrimo”. Ocomerciante nada consegue apontar

para reverter a diminuição drásticadas vendas. “Não há hipótese de dara volta a isto”, lamenta. Até porque,os problemas da Baixa não se pren-dem exclusivamente com a crise.“Isto é uma cidade fantasma” afirmao velho comerciante, defendendoque a CMC pouco ou nada tem con-seguido fazer. “A parte histórica dacidade foi deixada ao abandono, nãohá iniciativas”. Faz questão de frisarque não é sócio da Associação Co-mercial e Industrial de Coimbra

(ACIC): “ não concordo com as polí-ticas. Desde que tiraram daqui o es-tacionamento já fecharam mais duaslojas”. Este é, aliás, um problemaapontado pela maioria dos comer-ciantes.

Na rua da Louça, desde 1981 quea “Mercearia Camponesa” estáaberta ao público. O gerente, José

Mendonça, revela que mesmo sen-tindo os efeitos da crise ainda nãooptou por baixar os preços: “não hásaldos de ouro e optar por isso seriacaminhar para trás”. Enquanto mos-tra orgulhoso um vinho usado na co-memoração do Tratado de Lisboa(um “Barros Colheita” de 1957, àvenda por 365 euros) diz que vãocontornando a crise com ofertas dealguns produtos e outras estratégias.Concordando com a maioria dos co-merciantes vizinhos sobre o negóciona Baixa, considera que a crise ape-nas veio agravar a desertificação: “aspessoas preferem comprar nas gran-des superfícies, estão fortemente vi-ciados no cartão de crédito”, queconfessa utilizar moderadamente.

São poucos os passos que levamda mercearia ao sapateiro da rua. Deacordo com Manuel Martins, pro-prietário da “Coimbrasil”, aberta há13 anos, não há mais ou menos crisepara ninguém, é geral: “temos é quetrabalhar”. Culpa essencialmente aslojas chinesas pela diminuição donúmero de clientes. “As pessoas pre-ferem comprar sapatos baratos a ar-ranjá-los. Os clientes que temosainda são aqueles com mais poder de

compra”. São poucos os fregueses jo-vens – “Portugal é um país de ve-lhos” – sublinha, afirmando porémque ainda há algumas “raparigas quevêm pôr capas nos sapatos”. Apesarda desmotivação, não consegue dis-farçar o sotaque cantante do Rio deJaneiro, onde esteve emigrado vá-rios anos: “sem trabalhar primeiro láfora não dá para ter um negócioaqui”.

Embora o engenho seja outro,Celso Baía, dono de uma pequenaloja de artigos de pesca aberta desde1974, a “CelFat”, na esquina entre asruas da Sota e do Sargento-Mor,considera que “as pessoas preferemarranjar aquilo que já têm, porquenão se pode gastar dinheiro em cer-tas coisas”. O entardecer à porta trazo problema do estacionamento àbaila uma vez mais, bem como afalta de meios: “a ACIC bem tenta,mas não ajuda nada, não temcomo…”.

Porque não se podem baixar os braçosDe volta à Visconde da Luz, a “Casados Linhos” capta a atenção dostranseuntes pela remodelação re-

As duas crises da Baixa de CoimbraAPESAR DA CRISE, o “Café Santa Cruz” mantém os preços e aposta na dinamização cultural

É

Vive-se a maior recessão económica dos últimos 30 anos. Os pequenos comerciantes da Baixade Coimbra garantem que o ano de crise apenas veio acentuar os problemas que já existiam.

O que fazem para (ainda) sobreviver? Reportagem por Alice Alves e Eliana Neves

“A parte histórica dacidade foi deixadaao abandono, nãohá iniciativa”

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DESTAQUE28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 3

Quais as dificuldades maisapontadas pelos associados daAssociação Comercial e Indus-trial de Coimbra?A crise do comércio tradicional não éde agora. É um processo que se de-senrola há cerca de 15 anos, quandocomeçou a concorrência das grandesunidades e do comércio organizado.O pêndulo da balança está completa-mente posto para um dos lados. Ocomércio organizado em grandes su-perfícies domina cerca de 90 porcento do mercado. Depois, há pro-blemas de acessibilidades, estaciona-mento, de facilidade de circulação etambém os hábitos de consumo. Osportugueses tinham um hábito deconsumo num determinado local e,hoje, os hábitos de consumo são nou-tros locais.

Tem-se acentuado neste ano?Agora, há um problema de consumo,não tanto porque as pessoas não te-nham dinheiro para consumir, masporque têm medo de consumir. Eesse consumo é muito restrito emtodo o tipo de coisas.

Como é que é possível restituira confiança nos consumidores?Enquanto houver problemas de esta-bilidade de emprego e enquanto aspessoas tiverem medo de ficar de-sempregadas, é extremamente difícilhaver aumentos de consumo. Agoranão sei bem o que é que começa pri-meiro: se é aumento de consumopara haver aumento de emprego, se ocontrário.

Essa baixa de consumo é notó-ria na Baixa, este ano?É notória. Os indicadores que temos– que não são fiáveis – baseiam-seem conversas e contactos que nos

chegam. Estes primeiros três mesesforam bastante maus para o comér-cio nacional.

Há uma estratégia de concerta-ção para ultrapassar esta crise?Estão a ser preparadas algumas me-didas para ser postas em prática jáem Maio. Os sábados são um dia tra-dicionalmente de comércio forte, oque não tem vindo a acontecer nes-tes últimos meses. A nossa ideia épedir à câmara que deixe de cobrarestacionamentos ao sábado demanhã e vamos pedir aos comer-ciantes que abram aos sábados àtarde.

Acredita que a própria crisetraz a vantagem de incentivaras lojas a mudarem de atitude?Sim. O comerciante é um indivíduoalgo individualista e vê sempre o vi-zinho do lado como um concorrente:nada de fazer grandes confidenciasou de partilhar os segredos do negó-cio. Tem havido alguma capacidadede reunião das pessoas e vamos vero que conseguimos tirar daí.

É possível fazer algum tipo deestudo de mercado sobre aBaixa?Esses estudos já foram feitos. Destacrise haverá empresas que fecham eoutras que abrem. As crises, tal comoas guerras, tornam o futuro diferentedaquilo que era o passado e, normal-mente, nos períodos imediatamentea seguir há um grande desenvolvi-mento económico. Quem ficar, ficarámelhor. Mas também reconheço quehaverá muitos estabelecimentos que

irão desaparecer.

Tem conhecimento de casos?Sim. Nestes últimos dois anos, tive-mos na Baixa cerca de 50 estabeleci-mentos que encerraram e que nãovoltaram a abrir. Há 15 anos, se hou-vesse um espaço fechado, na semanaseguinte haveria alguém interessado;hoje, isso não acontece. Não há umasubstituição natural.

Aí também entra a confiança…Exactamente. Há um grave problemasocial nisto tudo. Hoje, um gerentecomercial se for à falência não temnenhum apoio social. E depois vemo facto de ser extremamente difícil,em termos fiscais, encerrar um esta-belecimento definitivamente. A fis-calidade é tão intrincada que, àsvezes, há processos de encerramentode empresas que levavam dez anos.E chega-se a um ponto de não re-torno: nem se consegue crescer por-que não há capacidade financeirapara se investir e continua-se assimaté a saúde não o permitir mais…

A iniciativa individual pode sersuficiente para sobreviver?A iniciativa passa sempre pelo indi-vidual. Dificilmente uma associaçãoou uma organização – como a ACIC– consegue alterar o trâmite das coi-sas. O empresário tem de ter uma ca-pacidade de gestão, hoje, acima doque acontecia há alguns anos. Temde estar atento a todos os pormeno-res da sua gestão. Tem de existir al-guma mudança de hábitos por partedo empresário.

Nota uma certa inércia?Há alguma. Mas nestes momentos demaior aflição, as coisas vão-se alte-rando aos poucos e poucos. Há, aomesmo tempo, um pormenor quetem a ver com o tipo de actividadesque dificilmente terão capacidade decontinuar.

TEM DE EXISTIRUMA MUDANÇADE HÁBITOS DOSEMPRESÁRIOS

“Muitos estabelecimentosirão desaparecer ”

NO ESCRITÓRIO onde gere a loja que há cerca de 80 anos pertence à família

JOÃO RIBEIRO

Nos últimos dois anos, a Baixa perdeu 50 estabelecimentos. PauloMendes, à frente da ACIC há um ano e meio, fala do que está mal e daimportância da gestão para salvar o pequeno comércio

PAULO MENDES • PRESIDENTE DA ACIC

Pedro CrisóstomoJoão Ribeiro

cente. Cristina Veigo, que gere há 12anos o negócio de família (com 52),encara as consequências da crise deforma prática. A resposta inicial é dealguém que encara a situação econó-mica actual com alguma leveza: “arepercussão tem sido normal, senti-mos um pequeno abatimento, masnada de muito drástico”. Consideraque a redução de compras aos forne-cedores não é nem de perto nem delonge uma solução: “os nossos clien-tes procuram a variedade. Apostá-mos em obras, viajámos muito efrequentámos várias feiras. É neces-sário ter uma boa percepção do pro-duto e vários modelos paraoferecer”. Enquanto fala, não perde

o ritmo e sorri distraidamente en-quanto arruma jogos de toalhas eroupões esquecidos no balcão peri-férico.

Não muito mais à frente, e fazendojus ao nome da praça onde se situa,o “Café Santa Cruz” abriu as portasa 8 de Maio de 1923. José Cruz gereo investimento do pai há 15 anos enão tem qualquer problema em ad-mitir que este é um estabelecimentodiferente: “temos sofrido um poucocom a crise, os nossos preços não sãoos mesmos das outras casas aquiperto. Mas também temos em vistauma outra clientela, apesar de aquiser complicado”. Os preços mantêm-se, as estratégias para amenizar a di-minuição do consumo passam pelodinamismo cultural. Em parceriacom a associação académica, estacasa promove ao longo do ano noi-tes de fado, bem como variadas ex-posições.

Logo ao virar da esquina, encon-tra-se uma estreita rua. O pouco mo-vimento é testemunhado pelas duassenhoras que, embora desanimadas,não se cansam de esperar à portapelos clientes. “Se não estivesse aquipara onde é que ia?”, questiona-se

Graça Almeida, uma vendedora demiudezas que admite ter sido derro-tada pela crise. “Criou-se a ilusão deque nos grandes centros os produtossão sempre mais baratos e as pes-soas estão automatizadas.” A vizinhacomercial, Sandra Pinho, concorda:“há muito tempo que isto está assim,as pessoas simplesmente não vêm àBaixa. Isto está mesmo no fundi-nho”.

As escadas que levam ao Quebra-Costas situam-se já numa zona depassagem. É aqui entre a Baixa e onúcleo da Cidade Muralhada que seencontra a livraria “XM”. Isabel San-tos assume-se como colaboradora,dizendo que tem na loja um papelmais “burocrático”. Admite que sesentem os efeitos da crise, mas nãocrê que sejam exclusivos da loja. “Oslivros são prescindíveis e esta livrariaé para um público-alvo ainda maisespecífico”, explica. Apesar do espó-lio musical que possuem ser alugadoa um amigo, “o que se vende mais,ainda são os vinis. E alguns produ-tos de decoração”. A zona é de pas-sagem, muitos são os turistas queespreitam pelo vidro e depois optampor entrar, constituindo a maioria domovimento. “A Baixa está morta,quase que parece não pertencer à ci-dade. Tornou-se mais sombria, aslojas que mais chamavam o públicopassaram para as grandes superfí-cies. Eu própria deixei de fazer asminhas compras na Baixa”, lamentaIsabel. A razão prende-se tambémcom a falta de segurança: “semprefoi uma zona complicada, mas agorao meu receio ainda é maior. Não hávida, as pessoas a partir do fim datarde têm receio de lá passar. Fechatudo cedíssimo”. E a fiscalização“apertada” da Câmara, critica porsua vez o proprietário da “Fotos Gas-par”, não permite grande flexibili-dade nas horas de fecho.

Ao anoitecer as ruas tornam-secalmas, silenciosas, abandonadas. Acrise económica sente-se agora maisdo que nunca. Mas há outra maisprofunda. Mesmo que a primeiraacabe, os comerciantes da Baixa con-tinuam sem ver o fim da sua própriacrise.

Com João Ribeiro

O estacionamento gratuito é umadas reivindicações mais presentesdos comerciantes da Baixa comoforma de atrair mais clientes. Aoapelo, o presidente da Câmara Mu-nicipal de Coimbra (CMC), CarlosEncarnação, que está directamenteresponsável pelo Gabinete de De-senvolvimento Económico ePolítica Empresarial, responde que“os parques de maior dimensão sãogratuitos, por exemplo, na zona daCasa do Sal”, mas afasta a possibil-idade de alargar esta medida aosda Baixa, por terem menos lotação.

O presidente da Agência de Pro-moção da Baixa de Coimbra, Ar-mindo Gaspar, reconhece oproblema do estacionamento, masressalva que uma melhor organiza-ção dos transportes seria umasolução e refere a passagem doMetro Mondego como uma mais-

valia para o pequeno comércio.Mas Armindo Gaspar, também pro-prietário da “Perfumaria Pétala”,aponta uma medida mais imediata:que todas as lojas da Baixa abramao sábado. De momento, apenasalguns comércios o fazem, tor-nando a medida ineficaz, afirma.“Se não houver uma percentagemsignificativa de lojas abertas, nuncapodemos fazer uma campanhamuito agressiva, porque estamosde certa forma a enganar o con-sumidor”, explica o lojista.

Nascida de uma iniciativa con-junta entre a CMC e os comer-ciantes, a agência, neste momento,reúne apenas 89 lojas, cerca de umquinto de todas as existentes naBaixa. “A trabalhar cada um para sié mais complicado”, lamenta Ar-mindo Gaspar.

PC e JR

O QUE SE FAZ PELA BAIXA

Em alguns casos, odinamismo culturalserve para contornaro baixo consumo

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

Faculdades contornam acessibilidadesA UC oferece poucaacessibilidade paradeficientes motores.Porém, o gabinete deapoio da universidadeprocura criar soluções

O exercício parecia até bastantesimples. Conhecer alguns dos edifí-cios da Alta Universitária de Coimbrapela perspectiva de um estudantecom deficiência motora, sem grandesconceitos definidos sobre a adaptaçãodas estruturas aos meios de desloca-ção necessários.

Comecemos pelo edifício das Ma-temáticas, logo a seguir às já irreali-záveis Escadas Monumentais. Comalguma mestria, uma cadeira derodas ultrapassa o pequeno lance deescadas da entrada principal. Surgeentão um novo problema: os degrausque antecedem a porta difícil deabrir, no átrio do departamento. Con-tudo, existe uma solução. Torneandoo edifício existe um acesso ao eleva-dor que cumpre todos os pisos. Demais fácil trânsito são, logo ao lado,os edifícios das Químicas e Físicas,que contam com um declive no de-grau de acesso ao piso das portas daentrada, elevadores em ambas as es-truturas e rampas dentro dos pró-prios edifícios.

Com o objectivo de superar as bar-reiras colocadas pela idade da estru-tura, o edifício da Biblioteca Geral daUniversidade de Coimbra dispõe derampas de acesso, portas automáti-cas e ainda de uma escada-elevadorque liga o átrio da entrada ao pisoprincipal da biblioteca. Uma reali-

dade um pouco diferente da facul-dade de Direito, em que a dificuldadede aceder aos claustros do edifício di-ficilmente é superada pelo elevadorexistente.

As duas rampas que antecedem aentrada da Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra (FLUC) eos elevadores são uma mais-valia quecontrasta, dentro do edifício, com aobrigatoriedade do uso de escadas noacesso a alguns anfiteatros. Lá, exis-tem lugares dedicados a estudantescom dificuldades motoras, que se tor-nam impraticáveis quando tentamosincluir uma cadeira de rodas.

“Tentamosviabilizar uma solução”A realidade das dificuldades dos es-

tudantes com deficiência motora nãoé alheia à UC e foi com esta preocu-pação que foi criado em 1989, comuma reestruturação em 2003, o Ga-binete de Apoio Técnico-Pedagógicoa Estudantes com Deficiência. Se-gundo um dos membros do gabinete,Maria José Correia, o objectivo do de-partamento é desenvolver todas asiniciativas possíveis para eliminar asbarreiras físicas. A metodologia passaessencialmente por auferir a defi-ciência do estudante e o curso quefrequenta. “Depois, tentamos sensi-bilizar os serviços das faculdades eviabilizar uma solução”, explica.

“A recepção por parte das faculda-des é sempre boa”, conta Maria JoséCorreia, que adianta que a reestrutu-ração dos edifícios se torna quase

sempre impossível devido à falta deverbas disponíveis. A solução passaentão por criar condições: mediantea dificuldade de um determinadoaluno, a turma em que ele está inse-rido é colocada numa sala onde asbarreiras possam ser ultrapassadas.“Na FLUC, um aluno com deficiênciamotora será sempre colocado numanfiteatro ímpar, sem escadas deacesso”, exemplifica Correia.

Ainda com a perspectiva de criarcondições a estudantes com dificul-dades motoras, foi criado um livrocom o levantamento de todas as bar-reiras da universidade. Contudo, o re-centemente inaugurado edifício daCasa das Caldeiras não consta nolivro devido à obra ter sido concluídaapós a conclusão do documento.

Também no edifício da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (AAC), as di-ficuldades de acesso a pessoas comdeficiência motora são manifestas: asrampas de acesso apenas permitem oacesso aos primeiro e segundo pisos.Segundo a coordenadora do Gabinetede Apoio ao Estudante da Direcção-Geral da AAC, Adriana Pimentel, estaé uma questão que a direcção “queriaresolver”. Contudo, as dificuldadesimpostas na remodelação da estru-tura original não o permitem. Sobrea restante estrutura da universidade,a dirigente estudantil garante quenunca receberam queixas, emboraadiante que a direcção-geral vai, emSetembro, desenvolver uma série deiniciativas de apoio a estudantes comdeficiência motora.

ESCADAS são o maior entrave aos estudantes com dificuldades motoras

Ministros do ensino superior europeus definem prioridades de Bolonha para os próximos dez anos emconferência na Bélgica

Uma década depois da declara-ção que veio reestruturar a rede deensino superior europeia, os 46países incluídos no Processo deBolonha reúnem hoje, 28, e ama-nhã numa conferência ministerial,na Bélgica, para definir priorida-des para os próximos dez anos.

No encontro, vão participar osrepresentantes dos estudantes decada país, que deverão apresentar“uma tomada de posição contra aexistência de classificações com‘rankings’”, um apelo antigo daAssociação de Estudantes Euro-

peus. O representante das Asso-ciações de Estudantes do EnsinoSuperior Universitário ao Conse-lho Nacional de Educação e estu-dante de Engenharia Civil naFaculdade de Ciências e Tecnolo-gias da Universidade de Coimbra,João Pita – que integra a comitivaportuguesa – esteve durante doisdias em reuniões preparatóriascom os restantes estudantes.

O objectivo foi fazer o ponto desituação sobre o que se passa emcada país e encontrar uma vozcomum sobre os temas que vãoser debatidos até amanhã, em Lo-vaina, pelos ministros do ensinosuperior europeus.

Hoje, na conferência ministerialem Lovaina, o ministro da Ciên-cia, Tecnologia e Ensino Superior,Mariano Gago, vai apresentar asconclusões de um relatório quesintetiza em 24 páginas os níveisde qualificações, os graus e os di-plomas nacionais da adopção de

Bolonha em Portugal. Segundo oministério, 98 por cento dos cur-sos estão adaptados aos “critériose objectivos” de Bolonha.

“Além disso, pretende-se quesejam consolidados os pontos quenão estão terminados dentro doProcesso de Bolonha” e que, naopinião de João Pita, têm de ser“fiscalizados” para os próximosdez anos: a dimensão social e amobilidade.

“As reformas estruturais ou le-gislativas estão feitas, falta a re-forma funcional, no dia-a-dia dasinstituições”, defende o estudante.“Há algum caminho a fazer naaplicação no quotidiano, comopor exemplo em ECTS, no reco-nhecimento de cadeiras no es-trangeiro e em equivalências”.

Um das preocupações mais pre-mentes a debater, concretiza JoãoPita, é a forma como “os gruposmais desfavorecidos – e em equi-dade – podem ter maior acesso ao

ensino superior”. Depois, “háainda a aprendizagem centrada noaluno”, o “fomento da mobili-dade” e a “empregabilidade”.

Quando uma das exigências daAssociação de Estudantes Euro-peus é que a mobilidade na Eu-ropa cresça 20 por cento até 2020,meta que João Pita considera“muito ambiciosa”, “mais dramá-tico é o facto de estudantes de fa-mílias com um nível

sócio-económico mais elevado te-nham números de mobilidademais elevados do que estudantescom um nível sócio-económico in-ferior”.

Já no que toca à formação, “épreciso reconhecer que, cientifica-mente, os professores do ensinosuperior em Portugal são muitobons, mas que para darem o saltoao encontro desta nova forma deensino, precisam de formação”.

Estudantes europeus reafirmam posição contra ‘rankings’

ANDRÉ FERREIRA

JOÃO MIRANDA

Pedro Crisóstomo

João Miranda

ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA MOTORA NA UC

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ENSINO SUPERIOR28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 5

UC não corre o risco de fechar cursosReestruturação no ensino superior leva aoencerramento de várioscursos. A vice-reitorada UC, Cristina RobaloCordeiro, assegura queCoimbra não será afectada

Em declarações ao “Expresso”, oministro da Ciência, Tecnologia eEnsino Superior, Mariano Gago,adiantou que as instituições univer-sitárias vão sofrer “transformaçõesmuito significativas”. “Não é razoá-vel haver na mesma região quatrocursos, cada um com poucos alunose dificuldades em ter professoresqualificados”, justifica.

A decisão de Gago teve receptivi-dade junto das estruturas sindicais.O responsável da Federação Nacio-nal dos Professores (FENPROF)para o ensino superior, João CunhaSerra, afirmou, ao “Correio daManhã” (CM), “estar disponível paraestudar o caso com o governo e en-contrar a melhor solução para opaís”. Porém, alerta para o facto de adecisão poder levar a despedimen-tos. Como solução defende que “opessoal [docente] libertado poderiaser aproveitado para áreas onde hajacarência”.

Também em declarações ao CM, oex-presidente do Conselho Coorde-nador dos Institutos Politécnicos Su-periores, Luciano Almeida, destacoua premência do assunto: “a raciona-lidade da oferta em função das ne-cessidades de formação das regiõessucumbiu perante a necessidade deatrair alunos”. “Há cursos que nin-guém sabe para que servem”, aler-

tou.A reestruturação no ensino supe-

rior não é inédita. Recentemente,foram encerrados cerca de 200 cur-sos. As universidades do Algarve,Évora e Trás-os-Montes e AltoDouro receberam, desde o últimoano, sugestões para encerrar ou fun-dir alguns cursos. O maior exemplofoi a Universidade de Évora que sus-pendeu três licenciaturas e criou trêscursos a funcionar em parceria comempresas.

Não obstante, o encerramento decursos não acontecerá na Universi-dade de Coimbra (UC). A vice-rei-tora, Cristina Robalo Cordeiro,afirma que “a UC tem todos os cur-sos preenchidos”. “Aqueles em queisso não acontece está mais do que

assegurado que vão continuar aber-tos, como seja Estudos Clássi-cos”.Esta reorganização vai afectartambém universidades privadas: “oensino privado tem de dar uma voltaenorme”, referiu Gago ao semanário.O ministro admitiu que “vão sobrarpoucas instituições privadas”. “Serãocriadas instituições maiores e maisqualificadas”, avançou.

Universidades sem dinheiroO problema não é novo. As universi-dades portuguesas têm alegado sé-rias dificuldades financeiras.Todavia, Mariano Gago assegura que“não há nenhuma situação críticacom os níveis de financiamento ac-tuais” e que o “orçamento corres-

ponde às necessidades”.O Conselho de Reitores das Uni-

versidades Portuguesas (CRUP) re-meteu uma carta ao Ministério daCiência, Tecnologia e Ensino Supe-rior, alertando para a situação deruptura das universidades públicas.Presidido pelo reitor da UC, SeabraSantos, o CRUP acredita que a solu-ção passaria, num primeiro mo-mento, por recorrer à reserva pararecuperação institucional, uma ru-brica inscrita no Orçamento de Es-tado e avaliada em 20 milhões deeuros.

Sem quaisquer adendas orçamen-tais, as universidades não consegui-rão cumprir os seus compromissossalariais. Na UC, “essa questão nãose coloca em termos tão dramáticos.

Há uma gestão equilibrada com con-tenção de despesas” expressa RobaloCordeiro. A carta enviada pelo CRUPrefere também a demora na atribui-ção do Fundo para o Desenvolvi-mento do Ensino Superior estimadoem 24 milhões de euros.

Paralelamente, Gago admitiu queos problemas financeiros do ensinosuperior residem na má gestão dasuniversidades. Neste âmbito, RobaloCordeiro, diz que “ fazer uma decla-ração dessa natureza significa umgrande desconhecimento da reali-dade universitária”. “As universida-des fazem um esforço muito grandede contenção de despesas, de gestãoequilibrada e angariação de recursos”, ressalva.

Com Matheus Fierro

A VICE-REITORA DA UC, Cristina Robalo Cordeiro, afirma que “a UC tem todos os cursos preenchidos”

Dux culpa as sucessivasdirecções-gerais peloatraso e defende uma“redistribuição depoderes” dentro daestrutura da queima

O Regulamento Interno daQueima das Fitas, de acordo com oartigo 76, “será revisto ordinaria-mente de cinco em cinco anos”, noentanto a última revisão foi feita hásete havendo um incumprimento dodiploma.

Segundo o presidente do Conse-lho de Veteranos, João Luís Jesus,“desde que o regulamento precisoude começar a ser revisto, nenhumaDirecção-Geral da Associação Aca-démica de Coimbra (DG/AAC) mos-trou disponibilidade para levar essarevisão a sério”. O Dux Veteranorum

salvaguarda que “é uma crítica à di-recção-geral independentemente doseu mandato” e que “a única excep-ção foi no mandato do André Oli-veira, que quis rever o regulamentoà pressa”. André Oliveira, presidenteda DG/AAC em 2008, diz não en-tender as críticas de João Luís Jesuse afirma que “uma das preocupaçõesno início do mandato foi precisa-mente rever o regulamento e nãofazia sentido estar a pedir uma revi-são à pressa”.

Desde 2007 que o Conselho deVeteranos, explica o Dux Veterano-rum, tem elaborada uma propostade revisão para o Regulamento In-terno da Queima das Fitas. O entãopresidente da DG/AAC, Paulo Fer-nandes, salienta que “no final daqueima de 2007, pôs-se em cima damesa a alteração ao regulamento, noentanto, não foi possível proceder àrevisão por indisponibilidade doselementos que viriam a compor ocolégio para a alteração do di-

ploma”.O ex-presidente da DG/AAC de-

fende “alterações ao nível das distri-buições de verbas, dos poderes dosecretário-geral e da Comissão Fis-calizadora [órgão da Queima dasFitas] e até dos próprios comissá-rios”.

Também o actual presidente daDG/AAC, Jorge Serrote, afirma nãocompreender as críticas que lhe sãotecidas e assegura que “por parte dadirecção-geral existe toda a disponi-bilidade para rever o regulamentointerno da queima”. “Há uma pro-posta do Conselho de Veteranosmas, por exemplo, este ano aindanão foi marcada nenhuma reuniãodo conselho para esse efeito”, critica.

No que diz respeito ao documentoelaborado pelo Conselho de Vetera-nos, João Luís Jesus adianta que “aproposta vem redistribuir poderes”e justifica: “neste momento há pes-soas com demasiado poder dentroda Queima das Fitas, como é o caso

da Comissão Fiscalizadora (CF)”. “ACF está transformada num órgãoexecutivo e o regulamento nem se-quer lhe reconhece esse poder”, cri-tica o Dux Veteranorum.

André Oliveira considera que “éum facto que em determinadoscasos a CF tem demasiados pode-res”. Já Jorge Serrote discorda eafirma que “a CF desempenha umpapel extremamente importante naestrutura da Queima das Fitas, noacompanhamento e na fiscalizaçãoda mesma”.

O secretário-geral da Queima dasFitas de 2008 e 2009, Filipe Pedro,diz que “a questão é controversadentro da queima” e esclarece que “aCF deve existir mas mais regulada enão tão vasta no que diz respeito àsdecisões que lhe compete”. Em rela-ção à revisão do Regulamento In-terno da Queima das Fitas asseguraque “ainda não foi revisto por faltade disponibilidade das pessoas parao efeito”.

Regulamento interno da queima ainda não foi revistoSÓNIA FERNANDES

LEANDRO ROLIM

Cláudia Teixeira

Vasco Batista

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ENSINO SUPERIOR6 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

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Organizaçãoda queimapromete noite“diferente”

A Queima das Fitas conta, este ano,com mais uma noite do que o habi-tual. De acordo com o secretário-geral da Queima das Fitas, FilipePedro, a comissão organizadora dafesta académica “vai tentar que anoite de 9 de Maio, a chamada Noite110 Anos, seja diferente, que seja umanoite comemorativa e não apenasmais uma noite de folia no Parque daCanção”.

Filipe Pedro explica que “o que estanoite tem de diferente das outras é aprópria programação cultural já quehá cinco artistas de renome nacionala actuar ao mesmo tempo em palco:Sérgio Godinho, Jorge Palma, BossAC, Lúcia Moniz e Cool Hipnoise”.“Vamos também passar um vídeocom momentos marcantes daQueima das Fitas que vai abrir aNoite 110 Anos, com o objectivo dechamar a atenção das pessoas paraoutras actividades que a queima teme que não são muito conhecidas,como a Venda da Pasta e o Chá dasCinco”, acrescenta.

A Queima das Fitas inicia-se estaquinta-feira, 30, com a habitual Sere-nata Monumental e prolonga-se até 9de Maio com as Noites do Parque. Ocartaz conta com bandas como Can-sei de Ser Sexy, Deolinda, BurakaSom Sistema, Morcheeba e BrandiCarlile.

Cláudia Teixeira

110 ANOS DE HISTÓRIA

O Auditório da Reitoria recebequinta-feira, 30, às 9 horas, o Semi-nário sobre Garantia da Qualidade eAcreditação. O encontro é organizadopela UC, pelo Conselho de Reitoresdas Universidades Portuguesas(CRUP) e pela Conferência de Reito-res das Universidades Espanholas(CRUE), e surge no âmbito do pro-jecto “Peritos de Bolonha 2008/2009– Furthering Bologna Reforms”. Oevento conta com a participação doministro do ensino superior, MarianoGago, do reitor da UC e presidente doCRUP, Seabra Santos, e do directordo Centro de Investigação de Políti-cas do Ensino Superior, Alberto Ama-ral, entre outros.

UC debatequalidade noensino

Cláudia Teixeira

O outro lado da queimaA história da festa académica é preenchida de momentos marcantes comoa interrupção da festa e uma Assembleia Magna de Voto para decidir asua realização ou não

O início oficial da Queima dasFitas de Coimbra remonta à décadade 1930, mas a sua génese remetepara uma festa académica já exis-tente nos finais do século XIX.Como conta o Dux Veteranorum,João Luís Jesus, “o que começoupor ser uma comemoração satíricado Centenário da Sebenta em 1899,rapidamente se transformou numafesta académica com sarau cultu-ral, um cortejo e fogo-de-artifício”.

Segundo João Luís Jesus, “esta éa primeira coisa que faz lembraruma Queima das Fitas, e a essa pri-meira comemoração estudantilforam acrescentadas mais coisas ea festa foi crescendo”. “Nos anos 30juntou-se a Venda da Pasta, o CháDançante, o Baile de Gala e a Gar-raiada, daí resultando a Queimadas Fitas nos módulos que conhe-cemos actualmente”, explica.

32 anos depois, a festa acadé-mica de Coimbra sofre a primeirainterrupção, naquilo que foi umapequena amostra do que acontece-ria na Crise Académica de 1969.Corria o ano de 1962 quando aQueima das Fitas, pela primeiravez, não se realiza “devido a umconfronto entre os estudantes, o re-gime e as autoridades universitá-rias”, conta o historiador MiguelCardina. “A interrupção da queimade 62 foi também devida a um pro-cesso de luto académico de contes-tação estudantil, utilizando atradição como forma de reivindica-ção da autonomia associativa queresultou, tanto em Lisboa, comoem Coimbra, na prisão de váriosestudantes e no decreto de luto aca-démico”, acrescenta o historiador.

Em 1969, vive-se a Crise Acadé-mica e com ela a Queima das Fitasé de novo interrompida, sendo re-tomada em 1980 com o então pre-sidente da Direcção-Geral daAssociação Académica de Coimbra(DG/AAC), Maló de Abreu.

Miguel Cardina afirma que “o in-terregno de 11 anos é muito impor-tante porque reflecte uma crítica àforma como os estudantes estavamposicionados em relação à própriasociedade e toda a estruturação as-sociada ao meio tradicional coim-

brão foi sendo posto em causa”. “Agrande distinção que havia entrecaloiro e doutor foi diminuindo, acapa e batina começava-se a vestircada vez menos, as praxes começa-

ram a ser vistas como algo negativono contexto social, houve portantouma erosão das práticas mais hie-rárquicas e mais punitivas das pra-xes”, desenvolve.

Realização da queimavai a plebiscitoA Queima das Fitas leva o seu rumonatural até 2003, ano em que é pro-posta uma moção, na AssembleiaMagna de 16 de Dezembro, no sen-tido de encerrar a festa académicacomo forma de protesto contra apolítica do governo para o ensinosuperior. O então presidente daDG/AAC, Vítor Hugo Salgado, de-fendeu uma Assembleia Magna deVoto – órgão máximo da AAC –, ouseja, um referendo sobre a realiza-ção ou não da Queima das Fitas. 4452 estudantes, de um total de 5661 votantes, pronunciaram-se pelo“Sim” à festa académica, enquanto1129 votaram pela suspensão dainiciativa. Num clima de discussãoacesa, a queima acabou por terlugar.

A festa da Academia de Coimbraconstitui, desde sempre, uma im-portante fonte de receitas para asestruturas da AAC. Em 2006, o Re-latório e Contas da Queima dasFitas de 2005 revelou um resultadolíquido negativo. Na altura, em de-clarações à A CABRA, a comissãoorganizadora justificou o mau re-sultado alegando a existência deuma fraude nas entradas, o que foiinvestigado pelo Ministério Pú-blico.

O Conselho Fiscal da AAC(CF/AAC), presidido então por JoséMalta, decidiu instaurar um inqué-rito para apurar a existência de ir-regularidades na actuação daComissão Organizadora da Queimadas Fitas 2005. O parecer doCF/AAC referiu que a gestão do or-çamento da festa académica de2005 “não foi rigorosa, culminandonuma derrapagem orçamental, naqual se destaca o Pelouro da Pro-dução”. De acordo com o órgão, aComissão Fiscalizadora da queimanão havia tomado “as diligênciasnecessárias para evitar o resultadofinal”.

Após o parecer negativo doCF/AAC, os membros da ComissãoCentral da Queima das Fitas 2005 eo secretário-geral foram demitidospela Comissão Fiscalizadora daqueima.

Quatro anos depois, a ComissãoCentral anuncia ter sido atingido omaior saldo positivo de sempre.

Com Alice Alves

EVENTOS como a queima do grelo surgiram na década de 1930

ARQUIVO

Ana Rita SantosCláudia Teixeira

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CULTURA28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 7

associção académicatem uma série de obrasde arte espalhadas portodo edifício da Padre

António Vieira.Contudo, apesar do seu valor ar-

tístico e patrimonial, algumas en-contram-se degradadas eesquecidas, outras preservadas emmuseus, ou dentro dos própriosorganismos e secções da academia.

A história do traje, de João AbelManta, é um conjunto de sete pai-néis de azulejo de 1960 que se situana parede lateral da sede da AAC,dirigida para a Avenida Sá da Ban-deira. Até há cerca de três sema-nas, o último painel estevetemporariamente escondido dosolhos de quem passava, por estarsobreposto por uma lona de publi-cidade à Linha SOS-Estudante.Entretanto, foi substituída poroutra que publicita a Queima dasFitas. Apesar da nova lona nãoocultar a obra de arte, o adminis-trador da associação académica,Miguel Franco, quando questio-nado sobre o assunto, refere que anova faixa só vai estar naquele sítiodurante 15 dias e que depois disso“não vai ser colocada mais publici-dade ali”.

As obras espalhadas pelos jar-dins da AAC não se encontram emmuito bom estado. Pinturas degra-dadas e cobertas de ervas dani-nhas, sem iluminação, ou umamão perdida da sua marionete, sãoalguns dos obstáculos à plena con-templação das obras.

A estátua que ainda existe nosjardins da AAC, foi outrora dife-

rente. Já esteve completa, e do seutodo fazia parte uma mão, repre-sentativa do governo, que seguravaa figura do reitor, Seabra Santos. Aestátua surgiu após o aumento daspropinas por parte da reitoria daUniversidade de Coimbra. Con-tudo, hoje a estrutura está incom-pleta, presa em ferros provisórios.O autor da escultura, Hélder Al-meida, explica que “a estrutura po-deria ter durado muitos anos se, naaltura da instalação, tivesse sidobem feita no seu todo”. A figura doreitor, fora dada como desapare-cida, mas Hélder Almeida encon-trou-a em pedaços nos jardins daAAC. “Tenho-a comigo, mas nuncamais consegui chegar a acordocom as várias direcções-gerais se-guintes para a reinstalação”, revelao autor da obra. Já MiguelFranco,garante que as obras dojardim vão ficar concluídas até aofinal deste ano, e que estão “a es-tudar a possibilidade de reabilitara mão”.

Arte “privada”Grande parte do espólio artísticoda AAC não está à vista de quemapenas passe pelos corredores doedifício. Mora entre as paredes quemontam a sede, em várias secções,e apenas alguns as conhecem. Asecção de Fado da AAC tem duaspinturas de Tó Nogueira, antigoseccionista e presidente daquelasecção, que datam de 1992, que emvez da tradicional parede, escolhe-ram o tecto. Numa das salas estápintado o símbolo da AAC e naoutra está o símbolo da secção,

ambas em tons de preto e branco.À Rádio Universidade de Coim-

bra (RUC) chega também a arte,não pela música, mas pela tinta.No corredor central existem trêspainéis que em nada passam des-percebidos. O mais antigo tem sen-sivelmente 23 anos e comemora apassagem da emissão da rádio afrequência FM. “No rules, greatradio” numa garrafa de whisky e“sempre no ar” são os slogans pre-sentes nas duas outras pinturasque assinalam diferentes épocas darádio universitária.

No terceiro piso, uma espécie dejanela abre-se nas paredes do CoroMisto da UC. Mesmo sem assina-tura, sítios típicos de Coimbracomo a Torre Cabra ou a Sé Velhaestão registados numa das salas.

Chaves da cidade oriundas deurbes de vários países, um cornode marfim vindo de África, umabatuta cuja loja data de 1790, umaarma do século XIX, porcelanas,salvas ou medalhas compõem o es-pólio de mais de mil peças queestão no museu do Orfeon da UC.Também na Secção de Fado sepode encontrar mais um dos espó-lios da academia de Coimbra. Bra-sões, documentos em latim,quadros, um documento do rei D.Carlos I de Espanha ou prémiosque ganham as formas mais diver-sas compõem a enorme vitrinaonde está parte da colecção de tro-féus, obras de arte e antiguidadesque os vários grupos da secção deFado recolheram em vários paísesdo mundo.

Todas estas peças podem ser vis-

tas por quem se dirigir aos doismuseus existentes na AAC. O dasecção de Fado encontra-se na salaTó Nogueira, por baixo da sala deestudo. O museu do Orfeon encon-tra-se mesmo na sua sede, no ter-

ceiro piso da associação. Emboraos dois possuam centenas depeças, o 25 de Abril fez desapare-cer muitas que nunca mais regres-saram às colecções a que semprepertenceram.

A

Embora diariamente centenas de pessoas passem por ele, poucos conhecem o vasto espólio artístico da AAC. Nas paredes da sede e nas salas dos organismos e secções, as obras repartem-sepor murais, esculturas e até uns cornos de marfim. Por Maria João Fernandes e Sara Oliveira

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O MURAL dos jardins da AAC, de Abel Manta, carece de reparação e iluminação, reconhece o administrador do edifício

A arte escondida na AACLEANDRO ROLIM

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CULTURA8 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

Livros sobre rodasão 14h20 e é tempo de sairda Casa da Cultura deCoimbra para a ronda datarde. A cor não deixa mar-

gens para confusões, pois o amareloinebriante ofusca qualquer dúvida.Aparentemente simples, traz omundo lá dentro. Deixa-se condu-zir pela vontade de chegar ao inte-rior no meio do nada para assimlevar o conhecimento a quem chegaa esperar um mês por ele.

Por entre as curvas a que os ca-minhos longos e tortuosos obrigam,os livros são movidos por quatrorodas, e não se deixam intimidarpela força da oscilação. Circulampela região de Coimbra, e encon-tram hoje, em 6800 pessoas, umaporta aberta. A biblioteca itinerante– bibliomóvel - leva aquilo a quemuitos não têm acesso, caso a “car-rinha amarela” não passasse por ali.

A primeira paragem da tarde ficaa 25 minutos da cidade. No meio damontanha, onde pouco mais existedo que um café, a bibliomóvel esta-ciona e o trânsito resume-se a umtractor e dois carros. Engarrafa-mento é coisa de cidade, e segundoquem lá vive, “não faz falta ne-nhuma”.

Lídia Inácio trabalha no café da-quela zona. Sempre que sente a bi-bliomóvel estacionar à frente docafé, vai a casa buscar o livro quetem, e, expectante, volta para esco-lher outro. Lídia pode demorar trêsmeses a lê-lo que não lhe cobramnada por isso, mas garante quevolta à carrinha “sempre que elespassam pela terra”.

A biblioteca itinerante já existehá oito anos. Luís Neves é funcio-nário há sete, e muitos foram ossorrisos que já descobriu por causade um livro. “Há meninos que nãoconhecem a biblioteca municipal, eessa é a única maneira que têm deaceder aos livros”, sublinha. É

muito falador, e entre um livro queestá na prateleira e o preenchi-mento da requisição do leitor, tratalogo de quebrar o gelo dando azo adois dedos de conversa. Para Luís,“isto funciona quase como uma fa-mília”, e garante que “as pessoascontinuam a ter um contacto regu-lar”. A familiaridade é a alma demuitos negócios, e na bibliomóvel aregra não tem excepção. Da res-ponsabilidade da Casa Municipalda Cultura, a biblioteca itinerantedispõe de um cômputo bibliotecá-rio de mais de 12 mil exemplares.Apesar da oferta generosa, porvezes surgem pedidos “invulgares”.

“Quando nos pedem o que nãotemos, tentamos sempre arranjar olivro na biblioteca municipal e levardali a um mês à pessoa que nospediu”, garante Patrícia Santos,funcionária da bibliomóvel.

Fazendo as contas, os livros pas-sam mais tempo a circular nas dife-rentes localidades de Coimbra quenão avistam a velha universidade,do que dentro da própria bibliotecaitinerante, pois a carrinha não levamais do que quatro mil livros. Exis-tem 18 percursos definidos e porcircularem tanto, “alguns livroschegam muito mal tratados”, con-fessa Patrícia, que explica que já ti-

veram de “deixar de fazer uma ins-tituição porque os livros ficavamem muito mau estado e muitos fi-caram perdidos para sempre”. Oextravio de publicações não é muitofrequente, segundo quem lida comeles de perto, mas ainda assimacontecem. “Alguns já nãos apare-cem cá há seis anos”, lembra LuísNeves.

O analógico ainda impera dentrodos poucos metros da bibliomóvel,e a tecnologia ainda é terreno pordesbravar. Patrícia e Luís não es-condem que “um veículo maior,com computador, internet, leitor deDVDs ou CDs seria muito bem-

vindo, e faria toda a diferença”. Ainformatização dos empréstimosassegurava uma maior rapidez noatendimento dos muitos pedidosque têm, por vezes ao mesmotempo, “num espaço de tempo tãocurto”, garantem.

Entretanto, já se passaram trêshoras, e mais um dia chega ao fim.Às 17h30 já ninguém espera pelabibliomóvel, e o caminho é precisa-mente o inverso. Para trás ficam li-vros que daqui a um mês vãoconhecer outro destino, ou a esperapaciente nas prateleiras sobrerodas, de que alguém os decida co-nhecer novamente.

A BIBLIOMÓVEL é visitada diariamente por dezenas de pessoas de todas as idades e de vários sítios da região de Coimbra

A falta de divulgação a nível nacional continua a ser um dosprincipais problemas doCaminhos do Cinema Português

As câmaras desligaram-se, asluzes apagaram-se e soou o derra-deiro “corta!”. Terminou, no pas-sado domingo, 26, a XVI Edição doFestival Caminhos do Cinema Por-tuguês. Entre longas e curtas-me-tragens, ensaios visuais eanimações, foram mais de 38 horasdedicadas ao cinema português. Oevento organizado pelo Centro deEstudos Cinematográficos da As-sociação Académica de Coimbra já

foi o terceiro festival de cinemamais importante de Portugal. Nestemomento luta para entrar nos dezprimeiros. À hora de fazer o ba-lanço da edição 2009 do “Cami-nhos”, o director do festival, VítorFerreira, mostra-se satisfeito masadmite que ainda há muito traba-lho pela frente. “Foi uma ediçãobem montada. Tivemos mais pú-blico que no ano passado e de-monstrámos que o festival tempernas para andar”, refere o direc-tor. “No entanto, ainda continua aser muito difícil organizar um fes-tival desta dimensão com umaequipa de voluntários”, continua.

Este ano passaram pelo festivalconimbricense alguns dos grandesnomes do actual cinema português.Estiveram presentes Alexandre Ce-brián Valente, João Botelho e, so-bretudo, Nicolau Breyner que

conquistou o público na noite de21 de Abril. “Gostei muitoda noite em que esteve cáo Nicolau Breyner.Quando um públicoestá 60 minutos à con-versa com um realiza-dor é porque se sentiuidentificado. Isso émuito importante paranós”, comenta Vítor Ferreira.

No entanto, o “Caminhos” conti-nua a enfrentar um desafio que temvindo a ser recorrente ao longo dasúltimas edições. A organiza-ção acusa a imprensa na-cional de centralizar acultura e de continuar anão dar o merecidodestaque ao evento.“Apesar de tudo aindanão conseguimos a aten-ção que desejávamos. Qual-

quer coisa que aconteceem Lisboa tem mais

divulgação quequalquer outro

e v e n t o

noutroponto do

país”, comenta o directordo festival. “Talvez a solu-ção passe por alterar o tí-tulo e substituir a

palavra “português” por “indie”,ironiza Vítor Ferreira.

Outra das queixas do directorprende-se com a equipa de projec-cionistas que estiveram na origemdas falhas técnicas verificadas aolongo das projecções. “Curiosa-mente, apesar de termos umaequipa de voluntários, as maioresfalhas vieram dos prestadores deserviços profissionais, como osprojeccionistas que trabalharamconnosco e que demonstraramuma clara falta de atenção e profis-sionalismo”, comenta.

“O meu querido mês de Agosto”foi o grande vencedor da da XVIedição do Caminhos do CinemaPortuguês. O realizador MiguelGomes marcou presença na gala deencerramento no Teatro Acadé-mico de Gil Vicente para receber oGrande Prémio do Festival.

Mais um caminho percorrido

François Fernandes

S

Com mais de 12 mil exemplares e 18 percursos definidos, a bibliomóvel de Coimbra percorre aldeias de toda a região,disponibilizando a leitura a quem está longe da urbe e não conhece as paredes uma biblioteca. Por Sara Oliveira

SARA OLIVEIRA

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CULTURA28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 9

cápor

28ABR

Uma Viagem Pela Filmografia,Personagens e Vida do Cineasta FrancêsFNAC • ENTRADA LIVRE

cultura

EXPOSIÇÃO TRUFFAUT

28ABR

Queima das Fitas • 19H

ENCONTRO NOS JARDINS DA AAC

ExposiçãoTAGV • ENTRADA LIVRE

Cinema DocumentalTAGV • 3 ¤

30ABR

Exposição de José Julio BarrosGALERIA ALMEDINA • ENTRADA LIVRE

SONHAR PORTUGAL

Música na FNAC22h30 • Entrada livre

30ABR

DAKOTA SUITE

30ABR

Bailado ClássicoTAGV • 10¤

7 a 13MAI

Praça da RepúblicaEntrada Livre

Por Sara Oliveira

29ABR

COLDFINGER

IX FEIRA DE ARTESANATO

a

VI RALLY-PAPER NOCTURNO

até

Música na FNAC22h30 • Entrada livre

A CINDERELA

Inquilinos da casa dos sonhos

Grupo de Etnografia eFolclore da Academia deCoimbra (GEFAC) tem aporta escancarada. É ba-

rulhento. São mais de trinta pes-soas - dançarinos, actores emúsicos. Transportam-se caixas deroupa e instrumentos de sopro.Traz-se comida e cerveja.

O espaço é pequeno para tantagente. À esquerda amontoam-secadeiras em fila, escondidas por ca-sacos, guarda-chuvas e malas. A or-ganização é contra-natura.

Ao pé da porta, um cinzeiroenorme. No canto oposto, umamesa de aspecto frágil sustentauma aparelhagem de aspecto an-tigo. Do lado direito, um espelhoacompanha toda a parede. Istotambém é uma academia de dança.Ao fundo da sala, pequenos rectân-gulos entreabertos passam por ja-nelas.

Fazem-se alongamentos e exer-cícios vocais. Quem passasse láfora… Mandíbulas estalam entre oque parecem uivos ou gritos.

O GEFAC tem mais de quatro dé-cadas. É um grupo diferente. Res-salvam a simbiose entre acontemporaneidade e os traçosmais antigos das nossas tradições.Dos textos que trabalham, sempreantologias de contos e testemunhasde oralidade antiga, extraem trejei-tos rurais que depois reconhecemnos gestos da cidade. AdérioAraújo, um dos encenadores, pedeao elenco que represente trivialida-des de uma rotina. A ideia do con-tágio urbano é transmitida atravésde gestos limpos que variam entreo simples verificar de horas até aocorrer para apanhar o autocarro aomesmo tempo que se transportauma mala pesadíssima.

Nesta peça, com nome provisó-rio de “Você está aqui”, a ideia édespojarem-se dos adornos etno-gráficos que normalmente marcamas suas actuações. Querem ser mais“hoje”, explorar o isolacionismopróprio da vida citadina, a interac-ção que é sempre mais do que umencontro fortuito, mas ainda assimalienado pelo frenesim quotidiano.

No Círculo de Iniciação Teatralda Academia de Coimbra (CITAC)desenvolve-se um conceito dife-rente. A peça “Reality Show”, cujaencenação é levada a cabo por Woj-tek Ziemilski, estreou ontem, 27,aqui mesmo, neste quarto escurodo segundo piso da AAC.

A porta aberta deixa antever umespaço que se caracteriza em tornode uma única palavra - opaco. Pa-redes negras tal como o chão e otecto. Junto a uns improvisadosbastidores destacam-se dois cadei-rões em tons grená.

Os oito actores começam por

aquecer as vozes e relaxar os mús-culos faciais, enquanto caminham,ora murmurando ora gritando. Oeco propaga-se pelo espaço. No iní-cio do ensaio, despem-se alimesmo e vestem a indumentáriabranca das personagens.

O palco subleva-se num jogo deluzes. “A realidade… a realidade éque sei muito pouco sobre reali-dade”, declama um dos actores.

Depois da breve actuação, for-mam um círculo e dispensam 20minutos para ouvir as correcçõesdo encenador, embora também seouçam sugestões amistosas porparte do elenco. “O que há de ori-ginal no CITAC é o seu espírito co-munitário, cada um faz uma coisa”,realça Ziemilski, pois, apesar de terchegado com uma ideia clara sobreo projecto que queria por em prá-tica “há muito espaço no inícioonde todos dão sugestões e enfo-ques diferentes”. É este o tipo derelação que preza com os seus ac-tores, que acabam por beneficiarprogressivamente com a aprendi-zagem de novas componentes téc-nicas.

Neste ensaio em particular, aequipa do CITAC tinha descobertoum hipnótico efeito de filmagens.Vê-se uma das actrizes “projec-tada” na parede, como num limbode sombras de si própria, desdo-bradas e cintilantes, que se afastame logo retornam: “Conseguimos”,exclama-se, e todos batem palmas.

O aroma da personagememana do actor20 horas, primeiro piso do edifícioda Associação Académica de Coim-bra (AAC). Abre-se a porta pesadada sala de ensaios do Teatro de Es-tudantes da Universidade de Coim-bra (TEUC) e de imediato se ouvealguém que fabrica um choro. Osnove actores que integram a novapeça, “Popo”, a estrear no dia 7 deMaio, já se encontram devida-mente caracterizados. Uma actrizde pé remenda um chapéu àpressa. As camisas ajustam-se aoscorpos com alfinetes de fralda. De-senrasques que o espectador nãovê.

A azáfama é grande. Aspira-se olongo tapete azul que simula opalco. Fuma-se muito, e o cigarrona mesma mão agita-se para dar asindicações de última hora. PedroMalacas, o encenador, acomoda-se nas bancadas que formam ummini-anfiteatro. Apenas um holo-fote. No fundo da sala, pousada namesa, essa luz quente desenha umcírculo restrito de intimismo. Ofumo mistura-se com o pó e mate-rializa o feixe de luz que se entra-nha nos materiais dispostosaleatoriamente. Há escadotes, teci-

dos, colchões de espuma, latas decerveja, cabides despidos, pincéis.Um carrinho de compras.

Pedro fala de um TEUC que res-pira sob o estigma da tradição. Falade 70 anos de história que pesam otanto que a responsabilidade pesa.Este ano, na décima edição do Fes-tival Anual de Teatro Académico deLisboa (FATAL), o TEUC terá hon-ras de abertura. O evento vai ho-menagear Paulo Quintela, directorartístico do núcleo ao longo de 30anos. Privilegia a minimização docenário. “Arranjar fogo-de-artifício”, nas palavras do encena-dor, corresponde a proteger osactores da pior maneira, “escon-dendo-os”. Para Pedro, este des-prezo da componente cénica

garante a liberdade dos seus acto-res, não fosse o TEUC um “óptimolaboratório de experimentação”.Diz-se orgulhoso do seu jovemelenco, desprendido e ousado, semos vícios dos actores profissionais.

O texto é de Georg Büchner, umjovem alemão frustrado com a de-cadência dos ideais da RevoluçãoFrancesa. Uma biografia à alturada ironia com que disseca o ultra-romantismo da época. A certa al-tura, depois de muito se questionarsobre o nó que tinha dado no lenço,eis que o Rei se lembra – “O povo!Era do povo que me queria lem-brar!”.

Pedro apaga o cigarro e gesticulapara a régie. Entra o som. “Um mi-nuto de silêncio e começamos”.

TEATRO NA AAC

Dá-se vida a textos. É-se quem não se seria lá fora. GEFAC, TEUC e CITACgarantem a vanguarda de Coimbra no panorama das artes performativas.Por Ana França, Filipa Magalhães e Eliana Neves

OS ENSAIOS prolongam-se pela noite dentro, em vésperas de estreia

D.R.

O

UMA CARTA GEOGRÁFICA

CICLO 25 DE ABRIL

29ABR

31MAI

30ABR

até

ANDRÉ FERREIRA

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DESPORTO10 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

HÓQUEI EM PATINS APDG Penafiel vs. Académica21H • PENAFIEL

A G E N D A D E S P O R T I V A

FUTEBOL DISTRITAISC.O.J.A vs AcadémicaPARQUE DE JOGOS DA C.O.J.A

XADREZOpen Queima das Fitas10H30 • CENTRO COMERCIAL DOLCE VITA

ANDEBOLAcadémica vs AD Sanjoanense21H PAVILHÃO 3 DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO

2MAI

3MAI

10MAI

13MAI

AAC consegue título em futsal A Académica esteverepresentada na provauniversitária em seismodalidades eregressou com o títulonacional de futsal

O último dia da participação aca-demista nos Campeonatos NacionaisUniversitários (CNU) deste ano ter-minou com a conquista da Associa-ção Académica de Coimbra (AAC) dotítulo de campeão nacional de futsal.

Com o triunfo, a equipa de Coim-bra vai representar Portugal nosCampeonatos Europeus Universitá-rios em Podgorica, Montenegro,entre os dias 20 e 26 de Julho. É a se-gunda vez que a Académica é a re-presentante nacional nos europeusda modalidade, tendo conseguidocomo melhor resultado um quintolugar, em 2007, na Eslovénia.

A AAC venceu a Associação Acadé-mica da Universidade do Minho(AAUM) por 0-4, com dois golos daautoria de João Cunha. Picasso e Mi-guel Silva foram os outros marcado-res de serviço.

“Foi uma vitória suada, um jogo di-fícil de concretizar, com um adversá-rio aguerrido e lutador que nos impôsalgumas dificuldades”, classifica otécnico da equipa da Académica,João Oliveira.

A AAC sucede à Associação Acadé-mica da Universidade da Beira Inte-rior (AAUBI), que tinha conquistadoo troféu na época transacta. No ano

passado, a turma coimbrã tinha con-seguido apenas o quinto lugar.

Este é o primeiro ano de João Oli-veira no comando técnico da equipade futsal da Académica, o que deixa otreinador “muito orgulhoso”. “Aindamais sendo o meu primeiro ano naAcadémica, acho que melhor era im-possível”, confessa.

Nas palavras do técnico, “o grandeobjectivo” a concretizar é “uma clas-sificação melhor que esse quintolugar”. Na hora da vitória, João Oli-veira destaca a qualidade da equipacomo o factor de sucesso. “São joga-

dores federados que jogam ao maisalto nível no futsal em Portugal, comgrandes capacidades físicas e tácti-cas”, defende. Na fase de grupos, aAAC venceu dois jogos e perdeu um.Nas meias-finais, a AAC eliminou aAAUBI nas grandes penalidades (4-6), após um empate a dois golos.

Outros resultadosNos Campeonatos Nacionais Univer-sitários, realizados pelo Instituto Po-litécnico do Porto, entre 20 e 25 deAbril, a AAC fez-se representar emseis modalidades.

Sem o tetracampeão Nuno Santos,que deixou de ser estudante univer-sitário, este ano o badminton da Aca-démica esteve representada poroutros três atletas. Em singularesmasculinos, José Silva conquistouum segundo lugar. Em pares mascu-linos, a AAC também alcançou o se-gundo posto pela dupla NunoBaía/José Silva. “Dignificámos a Aca-démica e demos o nosso melhor”,considera Nuno Baía. Pela fase degrupos ficaram Sara Sintra em singu-lares femininos e a dupla JoséSilva/Sara Sintra em pares mistos.

Já no andebol feminino, a AAC al-cançou o quarto lugar, depois de per-der com o Instituto Politécnico deLeiria por 42-29. Miguel Catarino,que orienta a equipa, sublinha que foiuma classificação “honrosa” e que“serviu para descobrir novas atletas”.

No basquetebol feminino, a Acadé-mica ficou-se pela fase de grupos enão conseguiu revalidar o título con-quistado em 2008. Pela fase de gru-pos também ficou a equipa devoleibol masculino, assim como oténis, com a representação de PedroCristóvão.

ACADÉMICA venceu os estudantes do Minho por 0-4

A equipa femininagarantiu a presença na final do campeonatonacional. Novo triunfoestá mais perto

Na segunda jornada das meias-fi-nais da Liga Feminina, a equipa doOlivais Coimbra venceu o Algés por73-64 no passado sábado. A equipade José Miguel Araújo já tinha ven-cido o primeiro encontro, pelo quenão foi necessário recorrer ao terceirojogo.

Para esta partida, o técnico do Oli-vais apostou no mesmo “cinco” inicialda primeira jornada do play-off. Oprimeiro período do jogo foi equili-brado e tal reflectiu-se no empate 17-17. Nestes primeiros dez minutos foi

Ana Fonseca quem mais se destacoucom três triplos marcados.

No segundo período, o Olivais foimais dominador. Durante os primei-ros minutos, a equipa conseguiu des-colar-se no marcador, com AmbrosiaAnderson a evidenciar-se com setepontos. O Olivais saiu para o inter-valo com uma vantagem de dez pon-tos que dava conforto para gerir oresultado até ao fim. Apesar disso, asegunda metade do jogo voltou a sermais equilibrada, com reflexo nosparciais (14-16 no terceiro período e21-20 no quarto período).

No terceiro período, o Algés aindase aproximou da equipa adversária,mas, com o desempenho defensivo deAmbrosia Anderson e com a expulsãode Amanda Jackson do lado daequipa lisboeta, o jogo não mudou derumo.

Até ao final, o Olivais geriu a van-tagem e assegurou a presença na

final, onde vai encontrar o Vagos, queeliminou o CAB Madeira.

Em busca de mais um êxito No fim do encontro, o técnico JoséMiguel Araújo considerou o resultadojusto e destacou a importância de nãorecorrer ao terceiro jogo para alcan-çar a final. “Estivemos melhor no ata-que e foi isso que nos deu o controlodo jogo e obrigou a equipa do Algés ajogar de forma diferente”, acrescen-tou.

Depois da conquista da Supertaçafeminina, da Taça de Portugal e daparticipação nas competições euro-peias da Eurocup Women, o Olivaistenta alcançar mais um êxito estatemporada. José Miguel Araújo lem-bra que a equipa tem muitos minutosjogados, devido à participação euro-peia. “Para acabar em beleza, quere-mos o título”, sublinha.

Olivais a caminho da revalidação

D.R.

Catarina DomingosAndré Ferreira

Catarina Domingos

SÓNIA FERNANDES

CAMPEONATOS NACIONAIS UNIVERSITÁRIOS 2009

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DESPORTO28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 11

Vieste treinar para a Acadé-mica porque sabias que vi-nhas estudar para Coimbra.Como é que tudo se passou?Fiz a candidatura em função daminha média e daquilo que pre-tendia. A proximidade com Viseufazia de Coimbra uma boa hipó-tese. Como também queria conti-nuar a jogar futebol, vim treinaraos juniores da Académica. Na al-tura vim acompanhado do treina-dor do meu clube, Os Repesenses.Ele conseguiu que eu viesse cá trei-nar e depois tudo se passou comnormalidade. Acabei por ficar.

Estás na Académica desde de2002, como é ser capitão daBriosa?Acaba por ser invulgar para umclube como a Académica. É umclube diferente e ser um clube di-ferente passa por ter jogadores dacasa que simbolizem o binómio jo-gador-estudante. Anteriormente,havia o Miguel Rocha, o PedroRoma ou o Paulo Adriano, queforam pessoas que souberam o queé ser da Académica e os valoresque se têm de defender, e que mepassaram a mística deste clube.

Quando o Pavlovic saiu, fostedeslocado para médio defen-sivo, uma posição que não te éestranha, mas tu eras maisum médio de transição. É aposição ideal para ti?No ano passado, quando o Milos[Pavlovic] se tinha lesionado, aca-bei o campeonato nessa posição.Não é a minha posição de origem,mas também não é uma posiçãoque me desagrade. Com o Domin-gos, comecei como defesa direitodepois passei a número oito, umaposição em que o médio tem maisliberdade para atacar, mas tam-bém defender. Jogar a médio de-fensivo é uma posição a que meestou a adaptar, porque obriga aum outro tipo de posicionamentoe uma restrição de movimentos.Mas estou a gostar.

Descreve o que sentiste nogolo que marcaste ao Bele-nenses, não sabias para ondeir depois de marcares…Era para ir para o lado da ManchaNegra, mas lembrei-me da injus-tiça que foram as faixas que puse-ram depois do jogo com o Vitóriade Setúbal. As faixas foram ofensi-vas e nós não merecíamos. Ia paralá, mas hesitei e fiquei com osmeus colegas.

Terminaste a licenciatura

sempre como jogador profis-sional. Entregaste há poucotempo a tese de mestrado.Como é conciliar as duas coi-sas?O primeiro ano foi o ano de junio-res. Treinávamos ao final da tardee acabou por se tornar mais fácil.Nos anos seguintes, na equipa B,já tínhamos treinos bidiários, masdava para conciliar, mesmo comaulas laboratoriais. Com a vindapara equipa A também conseguiconciliar. No ano de estágio curri-cular não me criaram entraves. Foicom naturalidade que tenho estepercurso académico. Também co-mecei a jogar futebol com a condi-ção de ter sempre boas notas. Éclaro que é com sacrifícios e muitaforça de vontade.

Fala-nos um pouco da tuatese de mestrado.O título é “A utilização da rhEPOno doping — Estudo dos efeitoscardiovasculares e metabólicos emratos submetidos a exercício fí-sico”. Falei com o Instituto Farma-cologia Terapêutica Experimental,onde tinha feito a tese de estágio.Na altura eles estavam a utilizar aEPO (Eritropoietina) num estudoanimal e aproveitamos essa EPOpara submeter ratos a exercício fí-sico. Fomos vendo as alteraçõesque foram produzidas em diferen-

tes áreas. Os parâmetros queforam estudados foram o risco car-diovascular e o risco tromboembó-lico. A EPO beneficia a oxigenaçãomuscular e leva ao aumento daperformance. Mas há os perigos deaumentar a viscosidade sanguíneae as paragens cardíacas.

Consideras-te um exemplopor conseguires conciliar osestudos com o desporto?Gosto mais de me ver como umexemplo para os mais novos, nosentido que entendam a necessi-dade de continuar, conciliando osestudos, sobretudo naquela transi-ção para o futebol sénior. É nessepasso que muitos jogadores se per-dem, por deslumbramento. Por le-sões ou pela brevidade da carreira,há sempre a necessidade de ter-mos algo a que nos agarrar.

A Académica está a fazer omelhor campeonato dos últi-mos anos. Como é que o bal-neário está a sentir isso?Sentimos que temos um grupounido e coeso e isso é o ponto fun-damental para que tudo corra bemdentro do campo. Temos tido umcampeonato em casa ao nível dasmelhores equipas. É natural que,estando a manutenção conseguida,ficar no oitavo lugar é o objectivomais aliciante. É algo tangível eque nós procuramos obter.

Quando fica definida a pastada renovação do contrato?Quero ver a minha vida resolvidano final da época. O prazo quetenho estabelecido será até ao finalde Maio, que coincide com o finaldo campeonato e a ida para férias.

O que é que podes adiantar?Não está mesmo nada definido enão há muito mais a dizer.

O facto de seres “o menino dacasa” da Académica pode in-fluenciar?Sinto-me acarinhado e isso é umargumento de peso para que eufique.

Para quando uma Académicaeuropeia?São passos graduais. A Académicaestá num bom caminho. Temosmais jogadores portugueses, commais qualidade. Temos condiçõesem termos de infraestruturas.Passa agora por haver uma estru-tura mais forte e que possibilite,com o recrutamento de jogadores,esse acrescento de qualidade.

NUNO PILOTO chegou à Académica em 2001

Com 27 anos, Nuno Piloto entregou a sua tese de mestrado. O capitão falacomo é ser jogador-estudante, antevê as hipóteses da Académica para oque resta do campeonato e conta que a renovação ainda está indefinida

NUNO PILOTO • CAPITÃO DA AAC/OAF

Um mestre a meio campo

SÓNIA FERNANDES

Catarina Domingos André Ferreira

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

BASQUETEBOLNa última

jornada dafase regularda Liga Por-tuguesa deB a s q u e t e -

bol, a equipa sénior da Acadé-mica venceu o Vagos por74-76. A turma de NorbertoAlves termina a primeira faseno quinto lugar com 50 pon-tos, os mesmos que a equipade Aveiro, que tem vantagemno número de pontos marca-dos e assim consegue o quartolugar. No alinhamento para osplay-off, a AAC vai voltar a en-contrar o Vagos.

VOLEIBOLA equipa

sénior femi-nina de vo-leibol daAcadémicaperdeu com

o líder Ginásio Clube de SantoTirso por 1-3, em jogo da se-gunda fase da Série dos Últi-mos da Divisão A2. A AACsoma agora 23 pontos e estáno terceiro lugar da série. Aequipa de Santo Tirso lideracom 27 pontos. Na próximajornada, a formação de RuiFreitas recebe o Clube Des-portivo da Póvoa.

HÓQUEI EM PATINSA Acadé-

mica venceuo Clube dePatinagemde Beja por2-1 em en-

contro da quarta jornada doapuramento do campeão doCampeonato Nacional da 3ªDivisão. A turma de MiguelVieira subiu ao segundo lugarda tabela classificativa comsete pontos. Na quinta jor-nada, a AAC desloca-se aonorte para jogar com oAPDG/Penafiel, que perdeu 7-4 com o Valado de Frades.

ANDEBOLNa quarta

jornada dafase comple-mentar doC a m p e o -nato Nacio-

nal de 2ª Divisão, a Académicavenceu o Batalha AC por 20-26. A equipa de Ricardo Sousasoma agora 36 pontos. Na pró-xima ronda, a AAC recebe aAD Sanjoanense, segundaclassificada com menos trêspontos. A equipa sénior femi-nina perdeu com a AD Sanjoa-nense por 16-32.

Catarina Domingos

Melhor jogador da ligaLiedsonMelhor jogador do mundoCristiano RonaldoMelhor Clube do MundoBarcelonaCidade para visitarMiamiCoimbraTradição e vida universitáriaAcadémicaPassado, história, simpatia e carinhoDomingos PaciênciaImportante, porque apostou emmim e tive maior projecçãograças a ele, motivador, rigorosoSonhoJogar pela Selecção Nacional

AS ESCOLHASDO CAPITÃOTEMOS TIDO UM

CAMPEONATO EMCASA AO NÍVEL DASMELHORES EQUIPAS

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12 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

TEMA

uando à meia noite evinte da madrugada de25 de Abril se ouviu“Grândola Vila Morena”na Rádio Renascença, es-

tava dado sinal. Quando as tropascomandadas por Salgueiro Maia cer-caram o quartel do Carmo, em Lis-boa, era o presságio de que asociedade portuguesa estaria prestesa sofrer uma mudança. A Revoluçãode Abril de 1974 trouxe profundas al-terações, sendo uma delas a liberta-ção da arte. Murais, cartoons,cartazes, esculturas e pinturas mos-tram-nos hoje a revolução que seviveu há 35 anos, mas que ficou re-gistada das mais diversas formas.

“O 25 de Abril libertou consciên-cias, libertou vontades e libertou aarte”. É assim que o arquivista doCentro de Documentação 25 de Abrilda Universidade de Coimbra, JoséPatrício, define a importância da re-volução dos cravos para a conquistada liberdade de expressão artística.

Durante o Estado Novo, os artis-tas não pararam de criar, mas com ademocracia conquistada e a aboliçãoda censura, os movimentos artísticosadquiriram uma nova expressão es-tética. Nas palavras de José Patrício,a revolução “entrou sem pudor pelasdiferentes artes no dia a seguir aoseu eclodir”.

Os jornais foram os primeiros a re-ceber os sinais de mudança. Osideais, os sentimentos e as opiniõesanteriormente oprimidas ganharamexpressão pública, surgindo novasformas de fazer títulos, novas corese grafismos. Isto porque, segundoJosé Patrício, “as pessoas sentiramque podiam escrever o que queriam,porque a vida era nova e a existênciaapaixonante”, considera.

União pelos ideaisde AbrilA 7 de Maio de 1974, constitui-se umagrupamento que se designou deMovimento Democrático de ArtistasPlásticos (MDAP). Num artigo da re-vista Flama - “Movimento Democrá-tico dos Artistas Plásticos: aintervenção necessária”, de 2 deAgosto de 1974 - podia ler-se sobre oMDAP: “é um agrupamento de ar-tistas antifascistas que se unem emmoldes de classe profissional, resul-tante de uma tomada de consciênciapara uma intervenção politizada, nanova realidade portuguesa, após ogolpe de Estado do 25 de Abril”. Oautor do artigo, Eurico Gonçalves,acrescentava ainda que, “não se defi-nindo como partido político, oMDAP denunciará os processos fas-cistas e reaccionários atentatóriosdas liberdades, deveres e direitos dosartistas”.

A respeito deste movimento, é dedestacar uma festa realizada emJunho de 1974, em que 48 artistas se

reuniram em Lisboa para pintar umpainel (de 4,5 por 25 metros) livre-mente e sem esquema prévio. Umdos artistas a participar na iniciativafoi Eduardo Nery (ver caixa).

O crítico de arte e professor cate-drático da Universidade de Lisboa,Rui Mário Gonçalves, refere a pro-pósito deste painel que “a ideia eraver como o público ia reagir, criaruma colaboração popular”. Os artis-tas consideravam “que fazer umapintura mural numa tarde era umgrande feito”, mas com a intervençãoda população o painel acabou porficar concluído muito rapidamente.A obra acabou por ser, algum tempodepois, destruída num incêndio.

Cartoon - “despoletadorde consciências”Mesmo durante o regime, o cartoonfoi usado para chamar a atenção dasociedade, provocar um despertarpara a realidade do país e para a ne-cessidade de mudança, apesar das li-mitações impostas pela censura.“Sempre foi um despoletador deconsciências, ”, afirma o crítico e es-pecialista em cartoon, OsvaldoSousa.

A partir de 1969, houve uma certaabertura nesta área e no jornal “OSéculo” artistas como Baltasar e JoãoMartins, que integravam as oficinasgráficas do jornal, voltam a publicartrabalhos, delineando uma nova ten-dência política. “Muitas vezes, pen-savam que estavam a ser demasiadoousados ou irrevrentes. Depois, veio-se a descobrir que o próprio Marcello[Caetano] usou os cartoonistas paramostrar ou para fingir que tinha umacerta abertura. Foram um pouco uti-lizados, mas tiveram um papel im-portantíssimo”, salienta o crítico.

Também “A Mosca”, suplementodo Diário de Lisboa, teve um papelimportante ao publicar trabalhos doartista João Abel Manta, que tentarecriar o humor gráfico dando umagrande importância à componenteplástica dos trabalhos, sem se limi-tar a mostrar o desenho de humorcomo uma simples anedota ou crí-tica.

Manta é um dos artistas mais re-conhecidos no que toca ao cartoon ,embora se tenha retirado ainda naépoca de 70 e rejeite a designação decartoonista. Se-gundo Osvaldo deSousa, foi “um pin-tor que teve umanecessidade cívicade intervenção. Équase como umpedagogo quetenta ensinar eabrir os olhos àsociedade”.

Para o críticode arte, AbelManta tenta

mostrar que “o nacionalismo” portu-guês deveria ir além da mentalidadedos três F, Fátima-Fado-Futebol,que predominou durante o regimesalazarista.

Com a revolução, o cartoon popu-larizou-se e muitos artistas que antesse dedicavam exclusivamente àsartes plásticas passaram também a

trabalhar no desenhohumorístico. Passa

a existir “uma pa-leta incrível de

diferentes opi-niões políticas,uma grande pa-nóplia de estilosestéticos e formas

de expressão”,refere Os-valdo Sousa.Mas, aindadurante adécada de

70, o entusiasmo abrandou e conti-nuaram em actividade apenas os ar-tistas que realmente faziam docartoon a sua profissão.

Cartaz - o papel políticoOutra das manifestações artísticascom maior visibilidade durante a re-volução foi o cartaz. Usado comoforma de propaganda pelo Movi-mento das Forças Armadas e pelospartidos, deu cor e expressão aosideais políticos. Segundo Manuel Au-gusto Araújo [profissão], surgiramcartazes de diferente natureza, como

anúncios a iniciativas, cartazes depropaganda e de contra-propagandapartidária, que “procuravam valori-zar determinados objectivos e con-ceitos como a liberdade, ademocracia e a unidade”.

Rui Mário Gonçalves recorda que“os partidos mais pequenos tinhamos cartazes mais elaborados, pois ti-nham a necessidade de um lugar dedestaque no panorama político”. János grandes partidos, lembra, “nãohavia tanto essa preocupação, poistinham os seus líderes como figurasprincipais”. Segundo o crítico dearte, o Partido Comunista dos Tra-balhadores Portugueses / Movi-mento Reorganizativo do Partido doProletariado (PCTP/MRPP) era umexemplo de partido com pouca ex-pressão que se valia dos cartazes.“Usava cores como o amarelo e o ver-melho porque achavam que consti-tuia um sinal maoísta”. “Mas penso

Q

TRAÇOS DA REVOLUÇÃO

O cartoon foi um“despoletador deconsciências” antes edepois do 25 de Abril

D.R.

“CELEBRAÇÃO DOS 30 ANOS DO 25 DE ABRIL” é uma das obras presentes na exposiçâo de António Colaço

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que as pessoas não perceberam isso”,considera.

A arte públicaPara além das artes gráficas, ocorre-ram também transformações no quetoca à construção de esculturas derua. Elementos como a liberdade, oasssociativismo e a paz foram am-plamente retratados, bem como a fi-gura do trabalhador nas váriasprofissões, além do papel da mulherenquanto mãe, esposa e trabalha-dora. A própria concepção de muni-cipalismo mudou. Com alegitimidade democrática conquis-tada, surgem novas competências eum maior suporte financeiro, o quepermite o surgimento dos primeirosmonumentos comemorativos du-rante as décadas de 80 e 90.

A 1 de Junho de 1996, foi inaugu-rada, em Montemor-o-Novo, umaescultura de Hélder Batista. A inicia-

tiva partiu da União de ResistentesAnti-Fascistas Portugueses (URAP).O artista relembra o facto de o mo-numento estar construído entre um

Cine-Teatro e uma igreja, situaçãoque, na altura, gerou polémica. “Opadre da terra fez, num jornal local,

um movimento contra a minha pes-soa, afirmando que a igreja não é umlocal de teatro”. No entanto, e apesarda polémica, Hélder Batista consi-dera que, pela presença das pessoasna inauguração, a obra foi com-preendida.

“Não acreditona arte da revolução”Apesar de existirem várias obras emanifestações artísticas relacionadascom a revolução, algumas opiniõesconvergem para a ideia de que nãohouve uma arte do 25 de Abril pro-priamente dita. “Não acredito na arteda revolução; não creio que tenha tra-zido alguma coisa de importante aonível do desenvolvimento da artecontemporânea”. Esta é a opinião doartista plástico Julião Sarmento, paraquem a revolução permitiu, isso sim,“uma maior circulação de ideias euma prática artística livre”. Também

o arquitecto e militante do PCP, Ma-nuel Augusto Araújo, partilha damesma opinião, afirmando a existên-cia de uma arte não de Abril, mascom maior vitalidade nessa época.“Os criadores que interviram nesseperíodo utilizaram, como muitosdeles já utilizavam antes, os mais va-riados recursos - da caricatura à lí-rica, da sátira à subversãoiconográfica”, refere. Actualmente,há ainda artistas interessados em re-tratar o espírito de Abril. SegundoHélder Batista, “continuam a surgirencomendas de obras ou concursossobre o tema”. Prova disso é a recenteexposição “Abril, Ânimos Mil” do ar-tista António Colaço, que está patenteaté dia 9 de Maio, na Associação 25de Abril, em Lisboa. Segundo Colaço,“Abril foi e deve continuar a ser ummês de actos. O passado e o futuroestão fundidos num presente quequeremos sempre vivo”.

28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 13

TEMA

Do vermelho e amarelo dos cartazes políticos ao preto e branco dos cartoons, o 25 de Abriltrouxe consigo a explosão de uma corrente artística aprisionada até então pelo cizentismo doregime. Ainda hoje, a Revolução de Abril está presente na cultura artística portuguesa. PorCatarina Fonseca e Andreia Silva

“A primeira reunião aconteceuno interior da Galeria 111. Sobreela já passou tempo de mais parame lembrar quantos artistas es-tiveram na formação do Movi-mento Democratico de ArtistasPlásticos (MDAP), mas seriampelo menos 50 ou 60, algunscom um passado de anti-fas-cismo conhecido, outros filiadosna clandestinidade em partidosde oposição ao regime, outros in-telectuais de esquerda. Aliás,todos o eram, independente-mente do seu ideário políticopróprio.” É desta maneira que oartista plástico Eduardo Neryrecorda os primeiros passos deum movimento do qual fez partejuntamente com artistas comoJúlio Pomar e João Abel Manta.

O artista, que em 1969 foi umdos fundadores da Comissão Na-cional de Apoio aos PresosPolíticos, explica que a 7 de Maiode 1974, data em que se autoconstituiu o MDAP, poucossabiam ao certo o que se pre-tendia fazer. “Antes de mais, que-riam manifestar o seu repúdiopelo regime fascista e colocar-se claramente ao lado das forçasrevolucionárias.”, esclarece.

Uma das iniciativas levadas acabo pelo movimento realizou-se a 10 de Junho de 1974,quando 48 artistas, tantos quan-tos os anos de duração doregime fascista, se reuniram numpavilhão à beira Tejo para fazeruma pintura colectiva a fim dedemonstrarem o apoio à rev-olução.

Na opinião de Eduardo Nery,“esta festa foi espantosa. Haviaimensa gente que passou pelopavilhão sob um calor tórrido eintensíssimo. Muitos pintoresconseguiram esbater as fronteirasentre o quadrado de tela a sidestinado, uma proeza difícil,visto cada um ter o seu estilopróprio. Um dos aspectos maisinteressantes foi o facto de osartistas plásticos se terem organi-zado tão bem e em tão poucosdias”.

O MDAP durou pouco tempo,foi perdendo força quando al-guns artistas começaram a movi-mentar-se de formas diferentesna conjuntura política da altura.“Começaram a aparecer asprimeiras fracturas e algum mal-estar pela dificuldade de se en-tenderem as razões subjacentesno pensamento de alguns artistaspretendendo ter maior protago-nismo”, revela Eduardo Nery.

QUANDO OS ARTISTASPLÁSTICOS SE UNIRAM

MURAL organizado pelo Movimento Demorático dos Artistas Plásticos em 1974 contou com a colaboraçâo de populares

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO 25 DE ABRIL

“Os partidos maispequenos tinham os cartazes mais elaborados”

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CIDADE14 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

Coimbra é uma cidade“relativamente” segura

As imagens do sismo ocorrido emItália, a 6 de Abril, chocaram omundo e lembraram a muitos que ascatástrofes naturais não avisam antesde chegar e os seus efeitos são devas-tadores. Também Coimbra está su-jeita a vários tipos de ameaças, masserá que está preparada para as en-frentar?

Para o responsável pelo ComandoDistrital de Operações de Socorro(CDOS) de Coimbra, António Mar-tins, “nunca se está totalmente pre-parado”. No entanto, assegura que acorporação está “munida de instru-mentos de planeamento, gestão emeios que podem minimizar efeitosdevastadores”. O presidente da Asso-ciação Riscos e professor da Facul-dade de Letras da Universidade deCoimbra, Fernando Rebelo, consi-dera que “Coimbra é uma cidade re-lativamente segura” e afirma mesmoque “há um ‘know how’ extraordina-riamente superior ao de outras cida-des no respeitante a inundações eincêndios”.

Se as probabilidades de ocorrênciade sismos em Coimbra são reduzidas,como refere Fernando Rebelo, já ascheias e os fogos parecem ser fonte demaiores preocupações. “Devido aoMondego, existe o maior risco deinundações urbanas e de desliza-mentos de terras”, explica o coman-

dante dos Bombeiros Sapadores deCoimbra, José Almeida. “Temos tam-bém os incêndios que podem ter con-sequências catastróficas se forem emzonas históricas”, concretiza.

O território urbano conimbricenseexperimentou recentemente as con-sequências da sua posição geográficaneste Inverno, com a inundação daBaixa. José Almeida admite a impo-tência dos meios humanos perante anatureza. “Controlaram-se os caudaisdo rio, fizeram-se as obras hidráuli-cas, tentou-se orientar as obras deforma a controlar o caudal, mas,mesmo assim, existem situações queficam longe do nosso alcance”. Noentanto, Fernando Rebelo acreditaque é pouco provável que este tipo deinundações “assumam a dimensão decatástrofe com numerosas mortes”.“O grande risco de inundação paraCoimbra estaria em função de umeventual colapso da Barragem daAguieira”, situação que lhe parece,ainda assim, improvável.

Verão após Verão, Portugal é asso-lado por incêndios em todo o territó-rio. Rodeada por uma extensamancha florestal, paira sobre a zonaurbana de Coimbra o pesadelo daschamas. Desde 2005 que José Al-meida é bombeiro na cidade e foinesse ano que presenciou a situaçãomais grave. “Qualquer incêndio degrande dimensão pode ter grandesproporções como teve em 2005 e tor-nar-se uma grande ameaça para aspessoas que moram na cidade”, fun-

damenta. O factor humano bate a na-tureza quando se apuram os respon-sáveis pelos fogos. “Queimadas,fogueiras mal apagadas, queima delixos, lançamento de foguetes ou fogoposto”, são as principais causas ori-ginárias de incêndios, como apontaAntónio Martins. “A origem humanados fogos representa 99 por cento doscasos”, reforça. De todos os perigosque ameaçam Coimbra, os incêndiossão os que reúnem mais preocupaçãoe atenção das autoridades. Este ano,os Bombeiros Sapadores vão adqui-rir quatro viaturas, de acordo com ocomandante da corporação.

Alta e Baixa da cidadecom fragilidadesRuas estreitas, prédios antigos e es-tacionamento caótico são algumasdas características que tornam a zonahistórica de Coimbra mais frágil, casoa cidade seja atingida por alguma ca-lamidade. Por exemplo, “em caso deum sismo de grandes proporções ha-veria grandes dificuldades na Alta ena Baixa”, afirma Fernando Rebelo.Em caso de incêndios, José Almeidaadverte que “as consequênciaspodem ser catastróficas em zonashistóricas”, devido à própria naturezadestes locais. O ordenamento do ter-ritório tem um papel fundamental naminimização dos danos, materiais ehumanos e, para o comandante dossapadores, “cada vez se tem isso maisem consideração”. “Quando se faz umprédio, é necessário haver um sis-

tema de segurança contra sismos eincêndios”, acrescenta. No entanto,Coimbra ainda abunda em prédiosantigos construídos quando não exis-tia qualquer tipo de regulamento.“Neste momento, as coisas estãomuito melhores”, conclui José Al-meida.

“A Protecção Civilsomos todos nós”Se um incêndio, inundação, sismo ououtro tipo de catástrofe se abatersobre Coimbra, é de imediato accio-nado todo um mecanismo que vaidesde os Bombeiros, à ProtecçãoCivil, passando pelo INEM (InstitutoNacional de Emergência Médica) epela Cruz Vermelha. “Pelo menos 90por cento das ocorrências são resol-vidas pelas três corporações de bom-beiros [Voluntários, Sapadores e deBrasfemes]”, esclarece José Almeida.

Só em casos de gravidade extremaé activado o Plano de Emergência, al-tura em que entram em cena os agen-tes da Protecção Civil e até as ForçasArmadas. Segundo António Martins,“podemos considerar os Planos deEmergência como uma forma de pla-near o antes, o durante e o depois doacontecimento”. No que respeita àformação dos profissionais da Pro-tecção Civil, o comandante do CDOSé peremptório em afirmar que estessão “abnegados e treinados para ope-rarem nas mais diversas situações deperigo”.

Ao papel a desempenhar pelas for-

ças de segurança deve-se somar aacção de cada cidadão. Os procedi-mentos que cada pessoa deve tomarindividualmente são vários e depen-dem do perigo em causa. José Al-meida chama a atenção para alimpeza das sarjetas, que facilita a in-tervenção em caso de cheias. Tam-bém, de forma a evitar e reduzir adimensão dos incêndios, os cuidadosnas matas são essenciais. “Legal-mente, já se remete para o cidadãouma quota de responsabilidade” paraestas situações. António Martinsevoca mesmo o slogan: “a ProtecçãoCivil somos todos nós”.

Quando a terra treme, cabe ao ci-dadão, num primeiro momento, a de-fesa pessoal. “O sismo actuaimediatamente e não nos dá a possi-bilidade de ajudar no momento” e,por isso, “a defesa imediata” cabe àspessoas, “procurando locais que ospossam proteger”, explica José Al-meida. Em regra, a maioria “não temconsciência dos riscos quando, aolongo da vida, não assistiu a qualquerdas suas manifestações”, adverte Fer-nando Rebelo. Para contrariar estedesconhecimento, a Associação Ris-cos vai promover uma conferência nofinal do mês de Maio no Auditório daReitoria.

Apesar das condicionantes aponta-das, Coimbra tem vindo a apostar nasegurança dos habitantes e, nas pala-vras de António Martins, “compara-tivamente a outras cidades médias,não é insegura”.

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

A natureza é instável e precisa de pouco tempo para instaurar o caos numa cidade. Embora sem grande historial de catástrofes naturais, Coimbra não deixa de ser um alvo.Fomos perceber se estamos bem protegidos

Marta PedroJoão Ribeiro

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PAÍS & MUNDO28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

Detenção antesdo voo não permitea participação de dirigente daJuventude daPalestina em colóquios

O dirigente da União Democrá-tica da Juventude da Palestina(UDJP), Hashem Ezeya Albadarin,detido por militares israelitas,falha viagem a Portugal dinami-zada pela Federação Mundial Ju-ventude Democrática (FMJD). Adetenção de Albadarin aconteceudias antes do primeiro de umasérie de colóquios, em Coimbra,Lisboa e Porto, organizados pelaJuventude Comunista Portuguesa.Uma entrevista ao jornal A CABRAestava agendada para a tarde dapassada quinta-feira, 23.

Segundo o presidente da FMJD,Tiago Vieira, “Albadarin foi presopor forças do exército israelita, aotentar passar a fronteira entre oterritório palestiniano e a Jordâ-nia, portanto, sem tocar em ne-nhum momento em Israel”. Aviagem de Albadarin foi interrom-pida na fronteira da Cisjordânia,território palestiniano da margemOcidental do rio Jordão, com a Jor-dânia. Albadarin ficou detido du-rante cerca de oito horas, “osuficiente para impedir que conse-

guisse apanhar o voo” que o trariaa Portugal, sublinha o presidenteda FMJD.

Os check-pointsna fronteiraEste tipo de detenções arbitráriasconstitui uma prática diária porparte das forças militares israelitas.“O exército de Israel tem uma polí-tica diária de prender e deter [pa-lestinianos], muitas vezes de formaaleatória”, afirma. Relatando a ex-periência da sua recente passagempela Palestina, Tiago Vieira revelaque “o ambiente em Israel é muitotenso a todos níveis, criado poruma cultura muito violenta, doponto de vista de imagem e de cho-que”. Uma realidade que espelhaeste ambiente é a proporcionadapelos “check-points”, pontos defronteira israelita que controlam ofluxo de pessoas dentro do territó-rio palestiniano. O dirigente daFMJD relembra a última visita daorganização à Palestina, onde,“dentro de uma cidade, os palesti-nianos que acompanhavam a dele-gação foram impedidos de passar.Os soldados israelitas disseram:«os europeus podem passar. Vocêsesperam 20 minutos e depois agente já volta a conversar»”.

Segundo Tiago Vieira, esta arbi-trariedade do sistema dos check-points afecta, diariamente,milhares de palestinianos, dificul-tando o seu quotidiano, o seu tra-balho e o acesso à saúde e àeducação. Além dos longos perío-

dos de espera, também as deten-ções e mortes são uma realidadenestes pontos de controlo. “Doisestudantes universitários de deza-nove anos morreram após passa-rem o dia detidos, algemados aosol, num check-point”, critíca.

No que diz respeito à circulaçãoentre os dois territórios, a vice-pre-sidente da Comunidade Israelitade Lisboa, Esther Mucznick, afirmaque “é preciso ter uma autorizaçãoe por uma razão muito simples:tem a ver com os atentados terro-ristas e com a segurança”. Con-tudo, reconhece que “por vezes, naatribuição dessas licenças possahaver alguma arbitrariedade”. Eainda que seja de “lamentar”,Mucznick, acredita que “é necessá-rio esse tipo de segurança”.

A situação de Hashem justificouo protesto formal da federação, queabordou, em carta aberta, a Em-baixada de Israel em Lisboa, es-tando a aguardar uma resposta. “Éuma espera relativa porque, geral-mente, a postura que nós conhece-mos das autoridades de Israel é deum desprezo e de uma falta de res-peito profunda”, adverte o presi-dente da FMJD.

O Jornal A CABRA entrou emcontacto com a representação di-plomática de Israel em Portugal efoi informado de que as instânciasteriam apenas conhecimento da si-tuação através do comunicado di-fundido pela FMJD, sem adiantarpormenores adicionais.

Com Rui Miguel Perreira

Vasco BatistaPedro Nunes

Activista palestinianoimpedido de viajar para Portugal

OS CHECKPOINTS são uma umas das formas que o governo israelita encontrou para contrariar os ataques bombistas no seu território

A FEDERAÇÃO MUNDIAL DE JUVENTUDE DEMOCRÁTICA

A FMJD é uma organização ju-venil mundial sedeada em Bu-dapeste. Foi fundada emLondres, no rescaldo da SegundaGuerra Mundial, a 10 de Novem-bro de 1945, sendo reconhecidapelas Nações Unidas como orga-nização juvenil não-governamen-tal. Organiza o Festival Mundialda Juventude e Estudantes, noqual se reúnem milhares de par-

ticipantes, associações e juven-tudes partidárias oriundas dasmais diversas partes do mundo.

A federação, actualmente pre-sidida pela juventude por-tuguesa, tem como princípiosbasilares, a união e a soli-dariedade com vista a conscien-cializar os jovens para ideais daliberdade e da cooperação paraa paz.

D.R.

INFOGRAIFA POR JOÃO MIRANDA

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PAÍS & MUNDO16 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

Pela primeira vez emvários anos o consumode vinho baixou. 2009 será um ano complicado para este mercado.

Com o aparecimento da crisemundial, também o mercado dovinho enfrenta dificuldades. Comoalerta a Organização Internacionalda Vinha e do Vinho (OIV), depoisde um crescimento sucessivo doconsumo de vinho no mundo, oano de 2008 marca o ponto de vi-ragem. Em praticamente todo omundo, o consumo de vinho dimi-nuiu. Em contraste, a exportaçãoaumentou nos países onde a pro-dução é maior.

Também em Portugal o aumentoda exportação de vinho não foiacompanhado pelo consumo. Noano de 2008, segundo o OIV es-tima-se o consumo de vinho tenhaatingido os 4.800 milhares de hec-tolitros, representando uma redu-ção de 5 hectolitros em relação aoano transacto. A França mantém-se como o país que mais consomecom 31.750 milhares de hectoli-tros.

As exportações vinícolas destepaís são também as mais valiosas.Segue-se a Itália com 26.000 mi-lhares, menos 700 hectolitros se-guindo-se a Alemanha com20.000 milhares, com uma dimi-nuição no consumo de 152 hectoli-tros. O Reino Unido tambémbaixou o consumo para menos de13.483 milhares, menos 219 hecto-litros e a Espanha com 12.790 mi-lhares de hectolitros, menos 481.

Os dados mostram que a tendên-cia é a diminuição no consumo empraticamente toda a Europa, man-tendo ainda assim a grande fatiado mercado.

Só países como os Estados Uni-dos da América, a Austrália e aÁfrica do Sul tiveram um aumentono consumo de vinho, emborapouco significativo. Nos EUA, oaumento foi dos 26.500 milharesde hectolitros, em 2007, para27.250 milhares, em 2008. Osconsumos também tiveram um li-geiro aumento na Austrália pas-

sando de 4.769 milhares para4.912 milhares e na África do Sul oacréscimo foi ainda menor. O con-sumo aumentou neste país de3.557 milhares para 3.576 milha-res de hectolitros.

Embora com o consumo embaixa, as exportações na Europaestão a aumentar. O país que maisexporta (volume) é a Itália, com17,2 milhões de hectolitros, o queequivale a 19% do mercado mun-dial. Segue-se a Espanha, a França,a Alemanha e Portugal. Segundo aOrganização Internacional da

Vinha e do Vinho, o nosso país ex-portou em 2008 cerca de 3,1 mi-lhões de hectolitros de vinho,representando assim, 3% do mer-cado mundial.

Segundo o relatório para2008/2009 da ViniPortugal, Asso-ciação Interprofissional para aPromoção de Vinhos Portugueses,a produção de vinho apresentauma tendência para baixar aindamais do que em 2008 devido àscondições climatéricas. As tempe-raturas mais baixas do que é habi-tual e a existência de chuva

durante a floração das vinhas fize-ram com que a vinha perdessequalidade e que a sua maioria fossemesmo devastada. Ainda assim,muitos são os especialistas e enó-logos que se mostram confiantesem relação à qualidade de vinhos.

Segundo as previsões do mesmorelatório prevê-se um decréscimode produção entre os 12 a 30 porcento em relação ao ano de 2007,variando de região para região.Supõe-se que o Alentejo, Terras deSado e Bairrada são as regiões quemais vão baixar a produção.

PORTUGAL assim como a generalidade dos países Europeus viu o seu consumo interno baixar

André Ferreira

Consumo de vinho baixa, mas exportações aumentam na Europa

LEANDRO ROLIM

A Organização das Nações Uni-das acusou a guerrilha da minoriatâmil de usar crianças para comba-ter contra o exército cingalês. Emdeclarações à agência noticiosaEfe, o porta-voz das Nações Unidasno Sri Lanka, Gordon Weiss, afir-mou que a guerrilha recrutou, in-clusive, “a filha de 16 anos de umdos funcionários da ONU”. Jorna-listas da agência relatam situaçõesem que mães chegam a manter osseus filhos em buracos cavados naterra para escapar a estes recruta-mentos por parte dos guerrilhei-ros. Nos últimos meses o exércitotem intensificado os ataques con-tra s tigres-tâmil. A guerra civilneste país já dura à mais de 25anos. R.M.P.

BREVES

Sri LankaA social-democrata Johanna Si-

gurdardottir venceu as eleições le-gislativas na Islândia. A suacoligação com o Partido dos Ver-des reuniu 49,7 por cento das in-tenções de voto. Com esta vitória,Sigurdardottir consegue a pri-meira maioria absoluta para a es-querda, com 34 das 63 cadeirasdo parlamento islandês. O Partidoda Independência, pela primeiravez na curta história da repúblicaislandesa, ficou afastado dopoder, conseguindo apenas 22,9por cento dos votos. O Movi-mento do Cidadão, recentementecriado, conseguiu uma votação desete por cento, quatro lugares noparlamento. Sem representaçãoparlamentar ficou o Partido Libe-

ral que perdeu os quatro deputa-dos que tinha.

Esta ilha do Atlântico atravessauma grave crise económica, atéagora sem paralelo no mundo.Com uma inflação de 15 pontospercentuais e uma taxa de desem-prego de 9 por cento a Islândiaestá longe da prosperidade eco-nómica que a colocava antes entreos países mais ricos do mundo.Para piorar, o valor das suas prin-cipais exportações, como o alumí-nio, caiu em flecha. Com todo oseu sector bancário arruinado, ocusto das hipotecas dobrou e osinvestidores jogam agora pelo se-guro. Estas eleições antecipadasforam marcadas após a demissãodo governo em Janeiro. R.M.P.

O ministro da Cultura, JoséPinto Ribeiro, admitiu a entradaem vigor “ainda este ano” doAcordo Ortográfico. Estas decla-rações deram-se, no passado do-mingo, 26, na inauguração domuseu,alusivo à descoberta doBrasil, “Descoberta do NovoMundo", em Belmonte. Peranteuma comitiva brasileira, o minis-tro adiantou ainda que tudo es-tava a ser feito de maneira a que atransição ocorra “sem rupturas” e“integrando toda a gente”. NoBrasil o Acordo ortográfico entrouem vigor em Janeiro de 2009 eencontra-se em fase de transição.Em Portugal apenas o jornal des-portivo Record introduziu estasalterações. R.M.P.

D.R.

PortugalIslândia

LEANDRO ROLIM

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

Medicina à distância une hospitaisA tecnologia ao serviçoda saúde é o princípiobásico da telemedicina, um conceito desenvolvidoem Portugal na últimadécada

A telemedicina utiliza as tecnolo-gias de informação e telecomunica-ções na prestação de cuidados eserviços médicos. A ideia chegou aPortugal em 1998 pela mão do actualdirector do Serviço de Cardiologia doHospital Pediátrico de Coimbra,Eduardo Castela. Desde então, a tele-medicina tem vindo a expandir-se e éhoje usada em vários centros hospi-talares nacionais. De simples consul-tas de rotina a cirurgias maiscomplexas, a telemedicina permite atransmissão em tempo real de áudio,vídeo e dados através de uma ligaçãode banda larga.

Segundo os sítios da internet daAssociação para o Desenvolvimentoda Telemedicina e da Faculdade deMedicina da Universidade do Porto,esta inovação tecnológica proporcio-nou uma melhoria significativa naqualidade dos cuidados de saúde. Asvantagens passam pela redução decustos, o rápido atendimento, maiorconforto dos utentes, acesso maisfácil ao diagnóstico do especialista e aquebra de isolamento geográfico.Também para os profissionais desaúde houve benefícios, entre osquais a sua formação contínua a par-tir de qualquer local e a possibilidadede consultar colegas fisicamente dis-tantes.

Existem no entanto alguns proble-mas associados à telemedicina. A re-

lação médico-paciente corre o riscode se tornar menos humana e, caso odoente não seja totalmente honesto,o diagnóstico pode ficar comprome-tido.

O exemplo do Hospital PediátricoO também presidente da AssociaçãoPortuguesa de Telemedicina,Eduardo Castela, destaca a grandeimportância deste método no Hospi-tal Pediátrico: “os utentes escusam dese deslocar a outros hospitais paraserem consultados”.

O hospital dispõe de uma rede deurgências 24 horas por dia, o queEduardo Castela considera “fabu-loso”. “As crianças e as grávidas sãovistas em tempo real, evitando deslo-cações desnecessárias e dispendio-

sas”, acrescenta.A recepção da telemedicina por

parte dos utentes é muito boa devidoao conforto oferecido. Prova disso sãoas 1900 consultas efectuadas no anopassado no Hospital Pediátrico.

Esta tecnologia é utilizada tambémem consultas de cardiologia pediá-trica em toda a Comunidade de Paí-ses de Língua Portuguesa. “Estamoshá dois anos a colaborar com Angolae vamos começar a colaborar comCabo verde”, refere Eduardo Castela.

Ao longo dos últimos dez anos, atelemedicina tem evoluído e chegadoa cada vez mais pessoas. Apesar dosinconvenientes, é, segundo os espe-cialistas, uma tecnologia que trazvantagens para médicos e pacientes eque está a criar ligações internacio-nais entre diferentes hospitais.

A TELEMEDICINA proporciona uma melhoria significativa na qualidade dos cuidados de saúde

DANIELA CARDOSO

Patrícia NevesLuís Simões

49Adriano Rodrigues

1. Qual vai ser o uso do Ins-tituto de Ciências NuclearesAplicadas à Saúde (ICNAS)?Pelos estatutos da Universidadede Coimbra, o Instituto de Ciên-cias Nucleares Aplicadas à Saúdeé uma unidade de investigaçãoque congrega prestação de cuida-dos de saúde aplicando radiações.A partir daqui, podemos fazer umconjunto de exames, dado quenesta unidade existe uma medi-cina nuclear convencional e existeum tomógrafo PET (Tomografiapor Emissão de Positrões). Estaunidade tem como característicapossuir uma máquina, que é oacelerador de partículas e que vaiconseguir fabricar iões radioacti-vos. Estes iões podem ser ligadosa moléculas que vão permitir arealização de um conjunto de exa-

mes de tomografia de emissão depositrões. A particularidade [doinstituto] é ter o ciclotrão e reu-nir no edifício o conjunto das va-lências todas, uma unidade deprodução, uma unidade PET euma unidade de medicina nu-clear.

2.Qual a importância doinstituto para Portugal?É grande. Somos a primeira uni-dade que é capaz de produzir ra-dionuclídeos. Vamos fazer váriosradiofármacos, vários radionuclí-deos, que permitem fazer umconjunto de exames que se apli-cam quer à patologia degenera-tiva cerebral, quer à patologiatumoral ou cardíaca. Vamos fazerinvestigação e prestar cuidadosde saúde na realização de exames

de PET utilizando o nosso fa-brico. Vamos fazer uso do queproduzimos em investigação e doque produzimos na realização deexames de medicina nuclear.

3.Que tipo de investigaçõesvão desenvolver?Teremos um campo vasto de in-vestigação na orientação diagnós-tica, na terapêutica do tratamentodo cancro. Teremos uma partemuito nobre no fabrico de car-bono-11 para poder estudar pato-logia degenerativa cerebral,nomeadamente as doença de Par-kinson, Alzheimer, e outras doen-ças degenerativas cerebrais.

4.Qual é o estado da medi-cina nuclear em Portugal?A medicina nuclear é uma técnica

não evasiva com excelentes resul-tados, nomeadamente no diag-nóstico precoce, no seguimentodos doentes durante o tratamentodas diferentes patologias. É umatécnica fácil, relativamente aces-sível, mas que precisa de materialcaro para a realização de exames.A cobertura da medicina nuclearconvencional faz-se nas grandescidades como em Lisboa e Portoe em Coimbra tem uma coberturaaceitável. Em relação ao númerode PET a cobertura já não é tãogrande. Em Portugal temos nestemomento sete PETs, a nossa co-bertura ideal seria o dobro. Emrelação à produção dos materiaisradioactivos, é evidente que atéagora todo o material que vempara o PET é importado de Espa-nha.

“Somos a primeira unidadecapaz de produzir radionuclídeos”

A Faculdade de Ciências eTecnologia da Universidade deCoimbra (FCTUC) tem váriosprojectos de investigação nestaárea. Um deles é o LifeStream.Apoiado num projecto anteriorda PT Inovação, o LifeStream foiidealizado para o transporte se-guro de crianças e recém-nasci-dos de unidades de saúdeprimárias para os hospitais cen-trais.

A tecnologia instalada nosveículos permite o acompan-hamento em tempo real dossinais vitais do utente e a comu-nicação permanente entre aequipa médica do hospital e os

tripulantes da ambulância.Outro projecto em que a

FCTUC está envolvida é oWEIRD. Os princípios são semel-hantes aos do LifeStream, com atransmissão de dados, mas assuas aplicações estendem-se aoutras áreas, como a prevençãode incêndios florestais eerupções vulcânicas.

No que respeita à telemedic-ina, o projecto WEIRD refere-sea um conjunto de aplicaçõesdestinadas a apoiar operaçõesde emergência, assistência re-mota dos doentes e vigilânciaatravés de imagens médicas dediagnóstico.

A FCTUC E A TELEMEDICINA

Director do ICNAS

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ARTES FEITAS18 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

uma altura em que o ci-nema de horror é domi-nado pelo “TorturePorn”, filmes que colo-

cam as personagens em situaçõesde tortura, e nos quais podemosinserir “Saw” ou “Hostel”, eis quenos deparamos com uma reinven-ção do género.

“As Ruínas” pega em toda a vio-lência característica dos filmesacima mencionados e adiciona oelemento sobrenatural para tornaras coisas mais interessantes, o queaté certo ponto consegue. A histó-ria gira em torno de um grupo dejovens que decide fazer uma expe-dição a uma pirâmide inca. O pioracontece quando, por força das cir-cunstâncias, se vêm presos nocimo da ruína que, como se nãobastasse, é dominada por plantascarnívoras.

Uma ideia rebuscada, sim, masque não deixa de ser intrigantepara quem procura originalidadenum meio que sofre com a falta

dela. A interpretar os jovens ator-mentados encontramos um elencoque, dada a faixa etária, não podiaser melhor, com actores que jáderam provas das capacidades eque não contam só com a boa apa-rência para conseguir um papel.Entre eles encontramos JonathanTucker, da série “Os irmãos Don-nely” e do filme “As Virgens Suici-das”, Jena Malone, de “Orgulho ePerconceito” assim como “DonnieDarko”, e também Shawn As-hmore, de “3 Needles” e “TheQuiet”.

São interpertações convincentes,bastante acima da média e queconferem um equilíbrio estranho aeste tipo de obra, onde toda a vio-lência gerada é contrabalançadapelo sentimento de desespero e pa-ranóia que transpira a cada mi-nuto do filme. É dado temposuficiente para o espectador co-nhecer as personagens e ganhar al-guma simpatia para com elas, oque torna cada morte ainda mais

difícil de ver. O realizador de ser-viço é o novato Carter Smith queaté agora só tinha duas curtas nocurrículo, mas a grande mais valiaé de facto o argumentista Scott B.Smith, que adapta aqui o seu pró-prio livro ao grande ecrã. Smith é amente por detrás da história dofilme “O Plano” de Sam Raimi, eque lhe valeu uma nomeação parao Óscar de melhor argumento ori-ginal no ano de 1999. “As Ruínas”é uma agradável surpresa dentrode um género gasto no que toca apossibilidades de exploração.

Peca pela óbvia escolha na idadedas personagens principais masnão nos distrai para esse facto comas piadas cliché a que já nos habi-tuámos, aliás, todo o humor, que éescasso, é também bastante con-tido. Ideal para quem procuraemoções fortes e que não se im-porte de dar um passo fora da áreade conforto que são as sequelas deacção disponíveis por esta alturado ano.

As Ruínas

CIN

EM

A

Aindaé possível!

CRÍTICA DE JOSÉ SANTIAGO

DE

CARTER SMITH

COM

JONATHAN TUCKER

JENA MALONE

SHAWN ASHMORE

2009

DE

TOM TYKWER

COM

CLIVE OWEN

NAOMI WATTS

ARMIN MUELLER-STAUL

2009

International Bankof Bussiness and Cre-dit é uma das maio-res instituições

bancárias do mundo. O aspectorespeitável, no entanto, escondenegócios moralmente questio-náveis e a busca do lucro semrespeito pela vida humana.Provavelmente uma das conse-quências menos aguardadas darecente crise financeira interna-cional é a ausência de credibili-dade da estória que sustenta “AOrganização”. Para acreditarque um banco, no actual con-texto mundial, é capaz de con-trolar seja o que for de formaeficaz é preciso um grande es-forço. Mas deixemos isso departe. Tom Tykwer (“Corre, Lola

Corre” e “O Perfume”) é um dosrealizadores europeus mais esti-mulantes da actualidade e, comoparece ser o destino de qualquerrealizador europeu estimulante,mais tarde ou mais cedo vai tra-balhar nos EUA. Ainda não é ocaso deste filme, maioritaria-mente filmado na Alemanha,mas a influência de outro ci-neasta europeu transformadoem ícone de Hollywood é cadavez mais sentida em Tykwer. Opastiche de um plano de “Ver-tigo” acontece mais uma vez e aprópria evolução narrativa nãoestá alheia do conceito deMcGuffin tão caro a Hitchcock.A gestão da tensão é outro dospontos altos, com a utilização deuma subtil banda sonora a aju-

dar.Apesar das bem conseguidascenas de acção, em particular otiroteio no Guggenheim, Tykwernão consegue ainda atingir ni-veís Hitchcockianos. O aspectovisual dominador da sede doBanco é interessante mas oMcGuffin escolhido não é assu-mido como tal. Fica a meio ca-minho entre o puro pretextopara a acção e o motor efectivoda narrativa.A Clive Owen não se pedia umainterpretação digna de prémios,mas é capaz de mostrar porquetantos o consideravam uma fortealternativa a Daniel Craig nopapel de 007.

Jovem Aprendiz deHitchcock

A Organização”

FERNANDO OLIVEIRA

“ N

O

Page 19: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

ARTES FEITAS28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

ill Oldham nasceuem 1970 em Louis-ville, Kentucky. Cedorevelou dotes artísti-

cos na arte da representação, fo-tografia e música. Aos 17 anosmudou-se para Hollywood, e par-ticipou em vários filmes, mas saiudesiludido com as voltas do car-rossel cinematográfico. Em 1993,surge o primeiro registo de umavoz frágil e taciturna no corpo deum jovem de pouca barba. Abarba cresceu. Os diferentesrumos que a sua música foi to-mando e a inconstância de músi-cos com quem tocava, fizeramcom que entre 93 e 97, Will Old-ham vestisse as suas produçõessob vários nomes e experiências:“Palace Brothers”, “Palace Songs”,“Palace Music”, ou simplesmente“Palace”. É só a partir de 1998 quesurge o seu principal e actualalter-ego: Bonnie ‘Prince’ Billy,um nome enigmático que engolediversas referências caras a Old-ham como Bonnie Prince Charlie

ou Billy The Kid. Bonnie ‘Prince’ Billy, é um homem solitário quevive bem perto das margens da escuridão, a sua música pertenceàs raízes melódicas norte-americanas do country ou nu-folk, em-balada pela escrita cuidada de letras que rondam os temas damorte, sexo, e solidão iluminadas por um mordaz sentido dehumor. “Beware!” é o oitavo disco de Bonnie, num sentido globalmantém-se fiel à sonoridade dos restantes, mas existem diferen-ças assinaláveis, quando na faixa de abertura “Beware Your OnlyFriend”, se anunciam coros femininos, que não deixam cair a vozde Bonnie no silêncio. Os temas ganham densidade com a pre-sença constante de violinos, trompetes em delírio, uma secçãorítmica notável ou pelos pormenores de palmas e inesperadas so-luções de composição jazzisticas. Na voz de Bonnie nota-se umnovo ânimo, como se pela primeira vez cantasse de cabeça er-guida “You don’t love me, that’s alright”! Ao longo de “Beware!”,Bonnie vai puxando um invisível fio de celebração pessoal, “YouCan’t Hurt Me Now” e “I Don’t Belong To Anyone “são dissoexemplo. Este é um disco que irá marcar a obra de Bonnie ‘Prince’Billy, sem que por isso toque no génio de “I See A Darkness”(1998), talvez porque Bonnie queira experimental a luz, ou ape-nas tornar a sua música comercialmente mais apelativa. Mas seBonnie ‘Prince’ Billy está diferente… cuidado! Os ventos podemmesmo mudar…

omeço por uma declaração deinteresses: Rosa Lobato Fariaé um dos nomes de que maisgosto na literatura portuguesa

actual. Preconceitos de actriz, dondoca,escritora de letras de música, à parte,acima de tudo, porque me surpreendeu.No primeiro, no segundo, no terceiro li-vros, e por aí adiante. A diferença é quenos primeiros comecei pela supresa po-sitiva. Nos que se seguiram, lá para osexto, a pergunta que me incomodava acada página era: onde é que ela está?

E foi esse mesmo sentimento que meperseguiu enquanto li “As Esquinas doTempo”. Aliás, quase me forçava a ler, naesperança de na página seguinte mereencontrar com uma das minhas escri-tora preferidas. Só que terminei o livroda mesma forma que terminei os últimostrês que li da mesma autora: a pensar senão teria que repensar essa ideia.

“As Esquinas do Tempo” começa comMargarida, uma professora que vai pas-sar umas noites numa antiga casa se-nhorial,a Casa da Azenha. Independente,com um amante novo e um eterno amigocom aspirações a namorado, Margaridatranspira século XXI. Só que, depois deadormecer no quarto que lhe coube, des-cobre-se na manhã seguinte muitos anosantes, cem, para ser exacta, em 1908.

Aí, a jovem, que não perde nunca aconsciência de quem é, tem pais novos,irmãs novas, um prometido novo. Mashábitos velhos, que lhe valem a incom-

preensão dos que a rodeiam. Pelo meioda história, Margarida ainda há-de acor-dar, depois de mais umas noites nomesmo quarto, na época pombalina, sóque no papel de uma jovem presa numacela de um convento. Nos “nossos tem-pos”, a personagem principal desapare-ceu sem deixar rasto e a família enamorados procuram-na, ante duasirmãs que nada dizem, mas (quase) tudopressentem. Nos séculos velhos, vai des-cobrindo o que aproxima e afasta o papelda mulher nos diferentes anos.

E assim reza a história, a alternar entretrês séculos, durante uma semana dosnossos dias, deixando o leitor por vezestão ou mais confesso que a personagem.Andamos, nós e ela, sem saber muitobem onde vamos estar na página se-guinte. Os amantes e a família, invaria-velmente são muito semelhantes, fisica epsicologicamente, à rebeldia da épocaem que habitem. O quarto, percebe-se, éum portal, onde o tempo, que não é li-near, se cruza. Esquina com esquina.

Uma escrita light, a fingir profundi-dade. É pena. E até admito que a pressade encontrar a Rosa me tenha impedidode perceber a história na sua plenitude.

Termino como comecei: por uma de-claração de interesses. Apesar da desilu-são, não desisto, e no próximo títuloassinado por RBL, lá estarei, página a pá-gina, à procura da escritora de “O Pre-núncio das Águas” ou “Os Pássaros deSeda”. Mas fechei a porta deste quarto.

fantástico como em menosde dois minutos consegui-mos partir com um sorriso

de satisfação, ser invadidos por aquelasensação que nos assalta sempre nopleno momento da catarse da narrativae culminar tudo num redondo “Hã?!,mas o que é que se passou ali?”. É esse opoder de “Aelita”.

A obra-prima de Protazanov é tudomenos um filme fácil. A complexidademetafórica do romance de Alexei Tolstoiacompanha a própria complexidade vi-sual gerada pelos cenários e figurinos deAleksandra Eskter, em que a inspiraçãoconstrutivista e as marcas futuristas nãoescondem o conflito artístico próprio deum momento histórico.

O guião remete-nos para da década 20.Los, o engenheiro responsável da Esta-ção de Rádio de Moscovo, consegue de-cifrar um radiograma emitido de Marte.A mensagem acaba por ocupar o pensa-mento do jovem engenheiro, que numaobsessão quase insana, vive ofuscadopela frase “Anta, Odeli, Uta” e pela ideiada construção de um engenho que o per-mita viajar até ao planeta vermelho. Aomesmo tempo, Aelita, a rainha de Marte,debate-se com o objectivo de tomar opoder ao seu pai e subjugar o planeta à

sua vontade. O destino dos dois está ob-viamente interligado numa relação que,no cômputo da história, assume menosimportância do que esperaríamos à par-tida.

Pela mão da Divisa, o filme chega-nosna sua versão integral e restaurada emque a banda sonora é brilhantementeadaptada das obras de Stravinsky, Gla-zunov e Scriabini. Também o som estáremasterizado e adaptado a sistemas 5.1!Mas onde o som marca pontos, falhatudo o resto. Os dois únicos vídeos dosextras (um pequeno vídeo com os co-mentários do historiador P. Shepotinnike uma apresentação de fotos e desenhos)não fazem jus à obra. Os quatro textosque acompanham o filme (Futurismo eCinema, Yakov Protazanov, Fimlografiase Fichas), embora bastante interessantes,pecam pelo facto de serem unicamenteveiculados em espanhol.

De resto, merece-se acrescentar que“Aelita” foi fundador do cinema de “fic-ção-científica social” e foi a primeiralonga-metragem dedicada à ideia da via-gem pelo espaço, tónica que esteve emvoga em todo o século que lhe seguiu.

OUVIR

DE

ROSA LOBATO DE FARIA

EDITORA

PORTO EDITORA

2008

DE

BONNIE ‘PRINCE’ BILLY

EDITORA

DRAG CITY

2009

Beware!”

W

CARLO PATRÃO

Artigos disponíveis na:

C

As Esquinas do Tempo”

JOÃO MIRANDA

SOFIA PIÇARA

Aelita”

VER

Viagem de Protazanov

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

LER

Nas Barbasdo Diabo

É

Virei a esquinae perdi-me

FILME

DE

YAKOV PROTAZANOV

EDITORA

DIVISA

2009

ARTES FEITAS

Extras

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

SOLTAS20 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

m Abril de 1997, ACABRA noticiava que“foi por pouco que assecções desportivas

não se desligaram da Queima dasFitas 1997”. As secções desportivasestiveram na iminência de boico-tar o programa da queima. Na baseda polémica, esteve o orçamentoinicial “de 2900 contos que a Co-missão Central da Queima dasFitas (CCQF) 1997 [afectou] às sec-ções desportivas”. O valor era bas-

tante desfasado do solicitado pelassecções e avaliado em 21 mil con-tos. “É a velha guerra pelos tostõesa que nos habituámos”, referia ACABRA.

Face ao orçamento definido pelacomissão para os projectos des-portivos apresentados pelas 16 sec-ções, a polémica instalou-se.Excepto a secção de halterofilismo,“cujo presidente integra a Comis-são Fiscalizadora da Queima”,todas se revoltaram.

Segundo a comissária do des-porto, Ana Santos, “o dinheiroafectado era suficiente para a rea-lização dos projectos entregues”.Em anos anteriores, o montanteatribuído às secções desportivas“variou entre os 7 e os 10 mil con-tos”. Ainda assim, no entender dacomissária, “as secções desportivasestão mal habituadas”.

As secções acusaram a comissá-

ria de intransigência e arrogância,não permitindo o diálogo entre aspartes envolvidas. “A impossibili-dade de chegar a um consenso”conduziu a um “comunicado porcarta à CCQF assinado pelas 15secções insatisfeitas”. Para além daquestão orçamental, “outros facto-res contribuíram para esta tomadade posição”. O projecto apresen-tado pela pró-secção dos desportosradicais “fora preterido em benefí-cio de uma empresa privada queentregara um projecto semelhante,mas com custos inferiores”. AnaSantos declarou que “se fosse [umasecção], seria diferente”.

O presidente da secção de rugby,António Rochete, lamentava “quea CCQF se tenha esquecido daajuda prestada pelas secções des-portivas, em alguns momentos”.Ameaçava-se o “grande divórcio”entre a “festa de todos os estudan-

tes da Academia deCoimbra e a própriaAcademia”. A tensãoagudizava-se e a“maior festa da Acade-mia caminhava a pas-sos largos para adescredibilização”.

Urgia “discutir qualo estatuto que a Aca-demia deseja para aQueima”. Assim, An-tónio Silva, presidenteda direcção-geral daAAC, demonstrounuma reunião “situa-ções que podiam des-credibilizar aQueima”. “Com umapostura diferente daassumida em anterio-res reuniões”, a comissão central eas secções desportivas “chegaramfinalmente a um consenso”.

Estava devolvida a “Queima àAcademia”.

Vasco Batista

A CABRA sai do arquivo...

18ºANIVERSÁRIO

VOLTAQUEIMA”

18 ABRIL DE 1997 • EDIÇÃO N.º 29 • MENSAL 100$

E

MATEUS BARREIRINHAS • PRESIDENTE DA ARCÁDIA - ORGANIZAÇÃO DA FEIRA

DO LIVRO

ALMOÇO SOCIAL

Arroz Doce

O FUTURO

O livro terá que se adequaraos tempos?

Acho que não. O livro não precisade se adaptar em nada, é a conse-quência da vivência de cada um quefala apenas pela escrita. Haverásempre escritores e haverá sempreleitores. Mesmo com a internet.Mas uma coisa é fazer o “copypaste” do livro, outra coisa, que énecessária, é que nós somos muitonecessitados dos formatos, dascores, dos tipos de letra.

Mesmo com a concorrênciada tecnologia?

Vai manter as suas propriedadesforçosamente. Desde os pergami-nhos que necessitamos de mexer,de tocar, de cheirar. Felizmentetenho uma boa biblioteca, e quandotoco num livro as emoções vêm ládo fundo. Quando levei aquele livropara casa foi porque algo me des-pertou tal efeito. A escrita tambémfunciona através da lombada e dostítulos. A capa tem um pesoenorme, o tipo de caracter que seaplica, a descompactação do texto éalgo que retrai imediatamente. Osegundo elemento é quando abri-mos o livro e olhamos para a for-matação do texto, a disposição doscaracteres, o tamanho, sente-se em-patia pelo texto e, depois há o con-teúdo, obviamente. Penso que istonunca desaparecerá. Como disseRousseau, “desde o contrato socialque os livros estão sempre nas re-voluções”.

João Ribeiro

Carapau Frito

O LIVRO E A

LEITURA

Vivemos uma “crise” do livroe da leitura?

Gradualmente, as pessoas estão aler mais. Agora, com a internet, lêem-se biliões de palavras por dia! No ca-pítulo da compra, talvez haja umbocado de crise porque a oferta tam-bém é muita. Um livro, ao fim dequinze dias, está “velho” no estabele-cimento onde se encontra porque o li-vreiro tem dificuldade em acomodartanto livro. Portanto, muitos livrosnão chegam sequer a ser mostradosao público. É necessário uma feiracomo esta para o leitor ter contactocom obras que nunca viu.

Talvez houvesse a necessidade dese ser mais cauteloso quanto ao nú-mero de títulos a editar.

Era importante que os livros, emportuguês, chegassem a todos os PA-LOP’s gratuitamente. Falta uma visãouniversal da lusofonia. Isto traz al-guns custos, mas através da diploma-cia há condições para que se faça.

Acha que há uma educaçãopara a leitura?

Há. O Plano Nacional de Leituranão desobrigou em nada dessa fun-ção e todos os dias está atento a isso.A meu ver, a questão está no excessode carga horária. Temos que dividir odia em três tempos: um para dormir,um para trabalhar e outro para fazero que melhor interessa à pessoa. Senão utilizarmos estes três tempos notempo correcto, algum deles fica ina-cabado. É importante ter esta gestãodo tempo.

Sopa de Legumes

FEIRA DO LIVRO

Como vê a evolução da feira?Tem evoluído no sentido do tama-

nho, começou por ser feita em standsindividualizados; depois passou parauma fase de tenda e, de há dois anosa esta parte tem tido a ocupação má-xima da praça, que são dois mil me-tros quadrados. O máximo queaquele espaço contempla são 53 ex-positores, mas nos últimos anos temvindo a decrescer. Este ano só se con-seguiu 32.

Tem alguma explicação paraessa diminuição?

Tem a ver com o momento menosbom. Daí que as pessoas se sintam, dealguma forma, impotentes para alte-rar o curso deste fenómeno que é a in-segurança de cada um de nós, do seudia-a-dia.

É possível chegar aos 70 milvisitantes na Feira, como pre-tendia?

Devo dizer que quando adianteiesse número foi com alguma utopia.No entanto, as pessoas têm vindocom muita intensidade à feira. Otema deste ano foi “A Arte vem àFeira” e, de facto, o livro hoje não é sósaber, traz consigo um conjunto deatitudes e actividades que faz comque tudo aquilo seja um espaço dearte e de saber. Convidámos a Arte àVista, que tem uma mostra perma-nente de peças de artistas plásticos decerâmica e escultura. Temos umaparceria com a secção de fotografia daAssociação Académica de Coimbra.

RUI MIGUEL PEREIRA

Page 21: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

SOLTAS28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 21

REINO UNIDO Aagente polícial Pam Fle-ming declarou ter usadotruques Jedi para inter-rogar suspeitos. SegundoFleming, a sua fé ajuda-aa combater o crime e adesordem nas ruas deGlasgow. “Ser uma Jedié um estilo de vida, nãouma brincadeira”, disse.Fleming é uma das oitopolícias do seu distritoque seguem esta crença.Estima-se que existam400 mil seguidores noReino Unido.

ÍNDIA Cientistas inspi-raram-se no coração dabarata para desenvolver

um novo projecto. Segundo SujoyGuha, professor chefe da pes-quisa, o coração do insecto émenos susceptível a interrupçõescardiorrespiratórias pois tem 13compartimentos para bombearsangue – nove a mais do que ohumano. O coração artificial, demetal e plástico, custará cerca de1,5 mil euros, 30 vezes menos doque os disponíveis no mercado.

RÚSSIA O palhaço Valerik Kas-hkin foi proibido de usar os tradi-cionais sapatos gigantes nasapresentações do Circo Estatal deMoscovo. A regra foi criada pormotivos de segurança depois deter caído de um arame, a três me-tros do chão. “Os calçados sãouma peça importante da minhafantasia. Sem eles, o impacto deveser menor”, lamentou.

Matheus Fierro

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COM PERSONALIDADE

Sou um compositor, um improvisador e um músico de jazz. Vivo em Nova Iorque mas cresci no Ohio. Para mim chegou a uma altura em que não podia crescer mais no Ohio,apesar de haver bons músicos. Tenho uma base de música clássica e aplico isso nas minhas improvisações. Improvisar num trio é como se fosse uma con-versa entre três pessoas. Pode haver uma altura em que uma fala mais e os outros ouvem, outras vezes falam todos juntos.Eu tanto gosto de tocar sozinho como em trio, são apenas diferentes formas de tocar. Eu não penso que seja fácil tocar sozinho, todo o som é controlado por ti. No meu pas-sado toquei vários tipos de música, comecei muito cedo com música clássica e depois quando cresci comecei a tocar jazz. Mas também experi-mentei rock, funk, R&B e música country. Ainda assim, não me imagino a voltar a esses tempos. Fui desenvolvendo ao longo dos anos um som em que me sinto confortável.Tenho dois diplomas, uma licenciatura em música clássica para piano e um mestrado em jazz. Desde pequeno que quis tocar piano, comecei com cinco anos. Os meusirmãos também tiveram aulas de piano, tínhamos um piano em casa. De certa forma, não fui eu que escolhi o piano, foi ele que me escolheu a mim.Fiz o meu primeiro recital com seis anos, e o meu primeiro concerto profissional com 16 anos. Quando somos novos apenas imitamos, aprendemos os estilos. É assim na mú-sica, na pintura, na escultura, na escrita. Demoramos anos a encontrar o nosso estilo. Quando tinha 10 anos fui a um restaurante e ouvi a músicaTwinkle Twinkle Little Star. Conhecia a música porque Mozart fez várias variações desta música e eu quando era pequeno toquei. No final da actuação fui falar como músico e ele disse-me que estava a improvisar. Então fui para casa e comecei a improvisar, fi-lo todos os dias e sem saber nada. Três anos depois tive um professor de jazz eele introduziu-me à linguagem do jazz. Durante anos procurei músicas. Quando era mais novo tive de fazer um grande esforço para encontrar mú-sicas. Logo que encontrava um novo tipo de música ficava nele durante algum tempo e aprendia-o. Agora podemos simplesmente passar de música em música de qualquerparte do mundo. A internet é tão acessível que nem sei se não será acessível de mais. Apesar de ser fantástico… Pensando bem acho que estou a ficar velho. No jazz existem tan-tas pequenas sub-categorias que podemos estudá-las durante anos. Estive em Coimbra o ano passado no Jazz ao Centro. Este ano voltei. Adoro tocar aqui. As pessoas respon-dem mesmo à música, têm a mente muito aberta e querem ouvir novos estilos. E não há nada como ouvir jazz ao vivo.

UMA VIDA PARA O IMPROVISO

Entrevista por Rui Miguel Pereira

RUSS LOSSING • MÚSICO

RUI PEREIRA

dmito: nunca gostei deficar pelo óbvio. Ao longoda minha existência sem-

pre evitei sair na estação maisconcorrida. Não há nada que medê mais prazer do que forçar aporta da carruagem e atirar-meao sabor do vento sobre os carrisdo imprevisto. Muitas vezes acabo

por partir os dentes no duro chãoda realidade. Mesmo assim cos-tuma valer a pena. Infelizmente,desta vez, não fui capaz de resis-tir. Na próxima sexta-feira co-meça o evento para o qualCoimbra foi criada: a QUEIMA.São seis letrinhas a tresandar avinho, tradição e emoção. Por isso

mesmo, decidi falar sobre sexo.Na minha modesta opinião, o

sexo é das coisas mais sobrevalo-rizadas algumas vez concebidaspela raça humana. Ora pensembem: para chegar àquilo que osamericanos chamam de terceirabase é necessário um esforçosobre-humano… a menos que es-tejas disposto a pagar, o que tornaas coisas substancialmente maisfáceis. Mas supondo que se segueo caminho mais ortodoxo. É ne-cessário pagar cafés, mostrar-seinteressado, conquistar, gastar di-nheiro a disfarçar o cheiro do ta-baco dos estofos do carro… paraquê? Quanto dura o orgasmomasculino? Basicamente omesmo tempo que se leva a beberum shot.

Em segundo lugar, já repara-ram o sexista que é o sexo? Todossabemos o quanto é mal vista aejaculação precoce, mas se umamulher chega ao orgasmo emcinco minutos é a mais concorridado sítio. Se isto não é sexismo,não sei o que pode ser. É como seuma mulher ganhasse uma cor-rida de Fórmula Um à quintavolta e o homem tivesse que per-correr 50 voltas para subir ao úl-timo lugar do pódio. E se calharainda o mandavam ao sexólogo.

E como me irritam esses indiví-duos. Um sexólogo, basicamente,é um sujeito que tem um diplomaque o atesta como especialista emsexo. Isto tem alguma lógica? Oque ele devia ter era uma declara-

ção assinada pela sua mulher eautenticada pelo notário. Só nessecaso é que poderia acreditar nele.E que mania é essa de dizeremque o sexo se faz com imagina-ção? Antigamente só existiamduas posições: ou tenho vontadeou não tenho. Agora há Kamasu-tras e sei lá mais o quê. Não tenhotempo para essas coisas. Tenhoque trabalhar.

Outra coisa que os sexólogosdefendem é que o “sexo só sepode fazer se os dois tiverem deacordo”. E se forem três? Faz-seuma votação para apurar a maio-ria?

Todas estas inovações só con-duzem a situações constrangedo-ras. Outro dia a minha mais-quetudo disse-me que os insultos aexcitavam. E eu como sou umgajo que gosta de fazer as pessoasfelizes acedi ao seu pedido. Entãoali estávamos nós:

Ela: - Seu porco, animal, idiota.Eu: - E tu que nem sabes entrar

numa rotunda?

Resumindo e concluindo: osexo é um aborrecimento. Por-que, vamos admitir, se fosseassim tão bom como dizem o es-tado já o tinha privatizado.

TEM DIAS...

O SEXO É PARA AS MULHERES

Por Licenciado Arsénio Coelho

A

Todas as crónicas em

arseniocoelho.blogs.sapo.pt

CARICATURA POR GISELA FRANCISCO

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

OPINIÃO22 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

O meu objectivo ao escrever esteartigo de opinião é consciencializara comunidade estudantil dos reaisproblemas da UC e qual o papel queos estudantes devem ter.

O principal problema, e mais ac-tual, é o da falta de recursos finan-ceiros. Este problema não é, detodo, distante dos estudantes, umavez que está em curso, por exemplo,uma diminuição do pessoal docentea qual não vai ao encontro das ne-cessidades dos estudantes, bem pelocontrário, e é contra a Reforma deBolonha que pressupõe a existênciade uma Avaliação Contínua commenos alunos por professor. O Go-verno quer Bolonha mas não querassumir os custos necessários queesta acarreta. A Despesa continuasuperior à Receita desde 2005 (anode significativo corte de verbas) e osSaldos de Gerência da Universidadetêm limites. Estamos no limite e afalência técnica da UC é eminente.A culpa não pertence à Reitoria massim ao Governo, na medida em queestamos num Ensino Público quetem obrigatoriamente de ser assis-tido financeiramente pelo Estado.Os fundos do Estado não dão parapagar sequer ao pessoal. As propi-nas que representam cerca de 11 porcento da Receita têm necessaria-mente que ser desviadas para o fun-cionamento, à margem da Lei.Adiamento de projectos estruturaise necessários à qualidade do En-sino, escassez de recursos para ali-mentar o actual aparelho e o nãopagamento de bolsas são exemplosde outros problemas.

Não há margem para manter oactual valor das propinas, sob penada Universidade fechar portas. Poroutras palavras, vai aumentar o es-forço financeiro das famílias. O In-vestimento no Ensino Superior porestudante, em média, é o mesmo dehá 20 anos atrás… Tempos de mu-dança são tempos para actuar.

Um outro problema actual quevem no seguimento da aplicação doprocesso de Bolonha está na utiliza-ção incorrecta do sistema de crédi-tos, uma vez que as cadeiras nãoestão adaptadas a este e está a abu-sar-se do esforço exigido aos estu-dantes, por várias razões: osdocentes não reúnem no início dosemestre, como deveriam fazer,para planear o esforço dos estudan-tes de modo a haver um equilíbrio,os estudantes não têm um bom mé-todo de fazer trabalhos e perdem

muito mais tempo do que deveriam,e por último, o desconhecimentodos estudantes da possibilidadepara optar entre avaliação contínuaou descontínua numa dada unidadecurricular, mesmo que o docentenão o permita. Uma consequênciaóbvia é o alheamento dos estudan-tes para as actividades extra-curri-culares, importantes para aformação do indivíduo do ponto devista cultural, político e humano.Que tipo de pessoas estamos a for-mar? Quais a consequências amédio prazo? A Universidade nãodeve ser um espaço privilegiado deaprendizagem cívica e humana?

O Regime de Prescrições é um re-gime essencial no sentido de o di-nheiro dos contribuintes ser bemusado nas Universidades. Todavia,pode acontecer pagar o justo pelopecador e nesse sentido deve havermecanismos que salvaguardem ojusto e haver sensibilidade por parteda instituição que até agora tem ha-vido.

A DG/AAC tomou como bandeiraeleitoral o aumento da qualidade deensino. É, no meu entender, boamas desfasada da realidade actual,na medida em que a Universidadeestá numa espécie de “estado decoma” devido à falta de verbas, luta-se para sobreviver. Não bastam ascartas nem tomadas de posição. Asacções simbólicas esgotaram e empouco resultaram. É preciso mais emelhor. Os estudantes devem unir-se neste marco histórico aos seusReitores e sensibilizar de facto aopinião pública. Estamos em anoeleitoral, tem de ser aproveitadouma vez que haverá necessaria-mente maior abertura política. OsDirigentes Estudantis não podem sópor si mudar muito. É essencialuma camada estudantil mais crítica,mais activa e mais irreverente,pronta a actuar sempre que a situa-ção o exigir. Apenas somos fortes seestivermos unidos, tal como as ge-rações anteriores à nossa nos ensi-naram. A Mudança está ao nossoalcance!

A AAC deve reunir-se emMAGNA de milhares e decretar oque achar por bem e necessário. Osestudantes devem assumir o seupapel insubstituível para defender oEnsino Público e de Qualidade bemcomo a Acção Social.

* Estudante e membro do Conselho Geral da UC

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

OS PROBLEMAS ACTUAIS DA UCQUAL O PAPEL DOS ESTUDANTES?

Luís Bento Rodrigues *

O Investimento noEnsino Superior porestudante em médiaé o mesmo de há 20anos atrás… Temposde mudança são tempos para actuar

CLÁUDIA TEIXEIRA

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Page 23: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

OPINIÃO28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 23

EDITORIALRISOS SARCÁSTICOS POR

DESCRÉDITO E FALTA DE CONSCIÊNCIA

Olga Roriz *

Escrever sobre o estado da Dançaem Portugal não é o mesmo que es-crever sobre a Dança em Portugal,muito menos sobre a Dança, do es-tado em Portugal.

Sobre qual delas escrever, sobrequal delas posso, devo ou consigodiscernir?

Será que a 29 de Abril, dia Mun-dial da Dança, não nos devíamos es-quecer das desgraças, dodesgoverno, da ausência de política,da escassez de apoios, da instaladae impune incompetência e rejubilaresta maravilhosa e incomparávelarte?

As dúvidas, questões e instaladasinseguranças são já por si um indí-cio de que por terras lusitanas acoisa não dança bem.

«Um povo culto é um povo ingo-vernável» afirmou António de Oli-veira Salazar.

Será que foram mesmo 40 anosde azar e outros tantos a penar?

Enfim, coisas deste pequeno Por-tugal.

Será que querem acabar com aDança? Se sim, é melhor que nos in-formem por carta, por e-mail oumesmo por sms.

Claro que estou a brincar. Claroque sei que ninguém no seu juízoperfeito quer acabar com a Dança.Claro que sei que é difícil governar,tomar resoluções, assumir respon-sabilidades, arriscar em novos ca-minhos, clarificar políticas culturais,traçar estratégias sólidas, enfim,construir um presente que o futuronão tenha de esquecer.

A Dança é uma das riquezas donosso país. Tão pobre mas tão rica.A Dança não pode acabar. A boaDança não pode acabar mas paraisso precisamos de ajuda, de mais

atenção e de mais respeito. Públiconão nos falta, inspiração tambémnão. O que nos falta então? (Risossarcásticos por descrédito e falta depaciência).

Bom, por princípio não gosto deme repetir mas neste momento achopertinente fazê-lo.

Por isso aqui vai o texto que o anopassado pela mesma data li parauma sala cheia no Teatro Camões eque infelizmente se coaduna 1 anodepois

“Nada ou pouco temos a come-morar neste dia mundial da dança.Não porque a dança neste país estejamal de saúde, bem pelo contrário,mas porque os senhores doutoresinsistem em nos diagnosticar falsasdoenças, impondo-nos uma série deexaustivas análises clínicas.

Deixem de nos tentar organizar.Dêem-nos condições de trabalho

que nós nos governamos.Não tentem destruir o que cons-

truímos a pulso apenas para enco-brir a vossa incompetência, a vossafalta de clareza e visão do futuro.

Há anos atrás pensávamos ter ba-tido no fundo e restava-nos a espe-rança de algo mudar. Grandeengano o nosso! Para bater no fundoainda muito nos falta e o pior é quenem nós, profissionais da queda, sa-beremos como cair.

Quanto a mim, estou tão farta edescrente dos nossos governantesque estou prestes a perder-lhes orespeito.

E isto é triste!!!Resta-me desejar que a força da

dança extrapole o corpo e se faça vozpara que alguém nos ouça.

Viva a dança!”

* Coreógrafa

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

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oi preciso acreditarquando em Janeiro ou-vimos prometido esbar-rar o conformismocontra a parede. Que o

conformismo estava descolado dapele da Academia só acreditavaquem quisesse, mas era precisoacreditar – dizia o apelo, aguerrido.De Janeiro para cá, os meses nãoforam de outra coisa senão de con-formismo.

Não duvidamos que estamosnuma fase de crise económica e decrise política e que, portanto, tudovai em contra ciclo em relação aomovimento associativo e à partici-pação cívica dos estudantes. No en-tanto, os desafios são os de sempre,e agora, mais do que nunca, devemser lembrados a bom som. Sob oque temos assistido nos últimosanos, corremos o risco de deixarque as novas lutas estudantis sejamimperceptíveis para aqueles que

não fazem parte do núcleo estudan-til. Para não ir muito longe, bastareparar na superficialidade com quefoi encarado um dirigente associa-tivo na grande entrevista que JorgeSerrote deu à TSF e ao Diário deNotícias, este domingo, onde à mar-gem ficaram as questões prementesque preocupam a agenda das uni-versidades portuguesas. De fora fi-caram pontos essenciais sobre oestado do ensino superior, quandoo absurdo das palavras chega aoponto de o ministro Mariano Gagoestar em consciência convicto deque não existe “nenhuma situaçãocrítica com os níveis de financia-mento actuais” nas instituições.

Mas tão grave quanto isto é a pró-pria imperceptibilidade em quevivem os estudantes da Universi-dade de Coimbra perante as suaspróprias lutas. São os estudantespassivos, à espera que alguém lhesleve a mensagem? Ou podem, desdeo início, participar nas concepçõesdas lideranças, desde que essa lide-

rança queira marcar o passo, maispreocupada em estar próxima donúcleo de intervenção – que são osestudantes – do que em se fazer pu-blicitar com frases feitas e inócuasvontades que só à falsidade devemproveito? Mas ainda mais grave éque a consciência dos dirigentes as-sociativos não pesa no momento emque se assumem um discurso ba-lofo, reduzido a palavras decoradas,contraditórias em si mesmas em re-lação àquilo que dizem defenderpara assegurar os direitos e a boagraça dos estudantes.

Coimbra está sempre a despedir-se e a receber novos estudantes; arenovação geracional que aqui segera – com aqueles que adoptam acidade como sua, agora, e para o fu-turo, cada vez por menos anos –não pode ser alheada das exigênciasde um ensino mais preocupado coma acção social, a pedagogia, a repre-sentatividade. Mas assumir, por

princípio, que existe uma dificul-dade de mobilização que é inultra-passável quando os problemasestão à flor da pele e são sentidospor todos – e todos os dias – é sinalde que o inconformismo apregoado,afinal, tem tanto de incongruênciaquanto de ‘show off’.

E se, em boa verdade, a associa-ção académica passou a estar maisimbricada nos assuntos da cidade,a mobilização para as causas estu-dantis perdeu em proporção in-versa e sem retorno absoluto. Porisso, e enquanto a actividade da as-sociação académica se esgotar den-tro de portas na mera conjugaçãode vontades administrativas e napromoção cultural e desportiva, nãosão os sinais do tempo. São os sinaisde que as lideranças querem espe-rar que o tempo passe e com ele oconformismo. Para isso dizem queé preciso acreditar. Desacredite-mos.

Pedro CrisóstomoEditor-executivo

Grave é a imperceptibilidade em quevivem os estudantes da UC perante assuas próprias lutas“

F

SE A INCONSTÂNCIA

NÃO MANDASSE NAS PALAVRAS

D.R.

Page 24: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

acabra.netRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção e Produção:Secção de Jornalismo da Associ-ação Académica de Coimbra

Mais informação disponível em

Depois de um quinto lugar na tem-porada transacta, a equipa universi-tária da AAC, orientada por JoãoOliveira, arrecadou o título nacional.A Académica venceu a AssociaçãoAcadémica da Universidade doMinho por 0-4 e alcançou o ouro uni-versitário, o único da participação daAAC nos Campeonatos NacionaisUniversitários 2009. Agora a turmade Coimbra vai representar Portugalnos campeonatos europeus em Julho.

C.D.

Futsal AACCâmara

Municipal

O ministro José António PintoRibeiro anunciou que o Acordo Or-tográfico entrará em vigor aindaeste ano, sem contudo precisar al-guma data. O Brasil já iniciou esteprocesso e Portugal só tem a perderenquanto não o fizer. Pinto Ribeiroassegurou, igualmente, que tudoserá feito “sem rupturas e comgrande tranquilidade”, resta saberse a medida será cumprida dentrodo tempo anunciado.

J.R.

A Revolução de 25 de Abril cele-brou 35 anos e a Câmara Municipalnão organizou qualquer iniciativa decomemoração deste marco. O presi-dente, Carlos Encarnação, baseou-sena falta de participação da populaçãopara justificar a ausência de festejos.Impõe-se questionar se o melhor afazer é investir na mobilização da so-ciedade civil para a festa da Liber-dade, ou simplesmente ignorá-la,como fez a edilidade.

J.R.

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Quem entra no espaço ouveimediatamente aqueles sonssem nome nem rosto. Pareceuma simples música de fundonuma exposição contemporâ-nea. Ao percorrermos os corre-dores, vamos encontrando aorigem dos sons, e estes ganhamuma nova perspectiva. E signifi-cado.

É um vídeo relativamentesimples, com apenas duas ima-gens diferentes, onde o conhe-cido pianista Glen Gould tocaBach com o seu frenético movi-mento de mãos, acompanhadode uma flauta e violino. Mas,para além da aparente simplici-dade, é uma obra singular, querevela ter mais conteúdo paraalém do óbvio.

Parecemos não compreenderqual a ligação entre o que vemose o que ouvimos, pois MiguelSoares resolveu transpôr a mú-sica clássica para o século XXI.Tirou-lhe a beleza e harmoniaque se requerem essenciais, edeu-lhe futurismo, moder-

nismo, desordem. É por isso quevemos muito mais do que GlenGould a tocar piano. A repetiçãodos gestos e dos sons alteram osnossos sentidos perante tama-nha violação do conceito de clás-sico. O piano estádescompassado; pára, reco-meça. Os dedos tocam a mesmatecla vezes sem conta. Nas pala-vras de Filipa Ramos, o video“amplifica a neurose compulsivae repetitiva” do gesto de Gould.

Miguel Soares, o autor, nasceuem Braga em 1970, tendo de-senvolvido o seu percurso artís-tico durante a década de 90. Oseu trabalho, que vai desde a fo-tografia, a representações 3D evídeo, centra-se essencialmenteem temas como a tecnologia, aarquitectura, geografia e design,apresentando sempre novas for-mas de percepcionarmos a reali-dade que nos rodeia.

Esta e outras obras do autorestão expostas no Centro deArtes Visuais (CAV) até 7 Junho.

Por Andreia Silva

Notassobrearte...

Untitled (playing with Gould playing Bach)

Miguel Soares • Vídeo PAL, p\b, som • 2007

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