jornal marco 291

16
marco LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas jornal Com agenda intensa para divulgação do novo trabalho, O Disco do Ano, Zeca Baleiro anun- cia projeto para público infantil. Página 14 Roberto Abras, repórter que cobre o Atlético-MG há 40 anos, aprova a mistura de informação e opinião propiciada pela Rádio Itatiaia. Página 16 Os desafios da posição de goleiro no futebol profissional são relatados por treinadores, jogadores e ex-jogadores dos times mineiros. Página 15 Julho • 2012 Ano 40 • Edição 291 THIAGO DE BARROS ARQUIVO PESSOAL GABRIEL COSTA RAQUEL DUTRA Conforme noticiado no MARCO em seus 40 anos, diversas soluções foram propostas e executadas para facilitar a vida do cidadão que se desloca pela cidade. Há 25 anos, o metrô é uma das alternativas de acesso rápido e confortável a várias regiões da cidade, assim como a Via Expressa, que liga o centro de BH à cidade de Betim. Porém, em alguns lugares, a cidade ainda carece de melhor planeja- mento. Por exemplo, uma melhor sinalização em cruzamentos para ofe- recer segurança aos motoristas e pedestres, que também devem res- peitar as leis de trânsito e os locais a- dequados à travessia. Páginas 3, 4 e 5. TRANSITAR PELA CIDADE É UM GRANDE DESAFIO RAISSA PEDROSA RAQUEL DUTRA Estacionar está cada vez mais caro No movimentado trânsito da capital mineira, há também a dificuldade dos motoristas em estacionar os carros. Não é tarefa fácil encontrar vagas nos rota- tivos e, muitas vezes, as opções restantes são os estacionamentos particulares, especialmente em locais muito movi- mentados. Os preços variam em cada região, obrigando o cidadão a ter cuida- do sob pena de levar um susto na hora de efetuar o pagamento. Página 9 Violência contra mulher aumenta Atualmente, a Delegacia de Mulheres tem mais de 9 mil denúncias, com mais de quarenta atendimentos diários. A delegacia promove acompanhamento psi- cológico e orientações às vítimas, que, por medo de retaliações, muitas vezes ficam desencora- jadas em procurar por auxílio. Há de se destacar que, sendo essen- cial o serviço prestado pela dele- gacia, ele deve ser adequado à demanda, pois os casos de violên- cia muitas vezes não são denun- ciados pela demora no atendi- mento e falta de profissionais. Página 11 Aulas de skate fazem sucesso em escola pública Promovidas nos fins de semana, junto com atividades como aulas de informática, street dance, futsal e ciclis- mo, as aulas de skate na Escola Munici- pal Professor Amilcar Martins, no Bair- ro Santa Amélia, visam a integração da escola com a comunidade, além de ser opção de lazer para as crianças e adoles- centes, ao tirá-los das ruas e das más influências, como as drogas. Hoje, a escola atende a 250 alunos. Página 12 RENATA FONSECA ANA CAROLINA SIMÕES

Upload: verbodigital-puc

Post on 18-Mar-2016

247 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

Jornal Marco 291

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal Marco 291

marcoLaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

jornal

Com agenda intensapara divulgação do novotrabalho, O Disco doAno, Zeca Baleiro anun-cia projeto para públicoinfantil. Página 14

Roberto Abras, repórterque cobre o Atlético-MGhá 40 anos, aprova amistura de informação eopinião propiciada pelaRádio Itatiaia. Página 16

Os desafios da posição de goleiro no futebolprofissional são relatadospor treinadores, jogadorese ex-jogadores dos timesmineiros. Página 15

Julho • 2012Ano 40 • Edição 291

TH

IAG

OD

EB

AR

RO

S

AR

QU

IVO

PE

SS

OA

LG

AB

RIE

LC

OS

TA

RA

QU

EL

DU

TR

A

Conforme noticiado no MARCOem seus 40 anos, diversas soluçõesforam propostas e executadas parafacilitar a vida do cidadão que sedesloca pela cidade. Há 25 anos, ometrô é uma das alternativas de acessorápido e confortável a várias regiões dacidade, assim como a Via Expressa,que liga o centro de BH à cidade deBetim. Porém, em alguns lugares, acidade ainda carece de melhor planeja-mento. Por exemplo, uma melhorsinalização em cruzamentos para ofe-recer segurança aos motoristas epedestres, que também devem res-peitar as leis de trânsito e os locais a-dequados à travessia.

Páginas 3, 4 e 5.

TRANSITAR PELA CIDADE É UM

GRANDE DESAFIORAISSA PEDROSA

RAQUEL DUTRA

Estacionar está cada vez mais caro

No movimentado trânsito da capitalmineira, há também a dificuldade dosmotoristas em estacionar os carros. Nãoé tarefa fácil encontrar vagas nos rota-tivos e, muitas vezes, as opções restantessão os estacionamentos particulares,especialmente em locais muito movi-mentados. Os preços variam em cadaregião, obrigando o cidadão a ter cuida-do sob pena de levar um susto na horade efetuar o pagamento. Página 9

Violência contra mulher aumentaAtualmente, a Delegacia de

Mulheres tem mais de 9 mildenúncias, com mais de quarentaatendimentos diários. A delegaciapromove acompanhamento psi-cológico e orientações às vítimas,que, por medo de retaliações,muitas vezes ficam desencora-jadas em procurar por auxílio. Háde se destacar que, sendo essen-cial o serviço prestado pela dele-gacia, ele deve ser adequado àdemanda, pois os casos de violên-cia muitas vezes não são denun-ciados pela demora no atendi-mento e falta de profissionais. Página 11

Aulas de skate fazemsucesso em escola pública

Promovidas nos fins de semana,

junto com atividades como aulas de

informática, street dance, futsal e ciclis-

mo, as aulas de skate na Escola Munici-

pal Professor Amilcar Martins, no Bair-

ro Santa Amélia, visam a integração da

escola com a comunidade, além de ser

opção de lazer para as crianças e adoles-

centes, ao tirá-los das ruas e das más

influências, como as drogas. Hoje, a

escola atende a 250 alunos. Página 12

RENATA FONSECA

ANA CAROLINA SIMÕES

Page 2: Jornal Marco 291

2 ComunidadeJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

jornal marcoJornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected]

Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920

Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo BarbosaCoordenador do Curso de Jornalismo: Prof°. Francisco BragaCoordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Alessandra GirardiCordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof°. Jair Rangel

Editor: Profº. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Maria Líbia Araújo Barbosa e Profº. Mário ViggianoEditor Gráfico: Profº. José Maria de Morais

Monitores de Jornalismo: Felipe Augusto Vieira, Gabriela Matte, Isabela Cordeiro,Keneth Borges, Marina Neves, Michelle Oliveira, Mouni Dadoun e Raíssa PedrosaMonitor de Fotografia: Raquel DutraMonitores de Diagramação: Nathan Godinho, Marcela Noali

Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

n

GABRIELA MATTE, 3º PERÍODO

Parte fundamental do trabalho de um jornalistaé a apuração. Uma boa matéria não sai sem umaboa apuração, que depende de bons personagens,boas fontes. E, muitas vezes, a dificuldade de seproduzir uma boa matéria está na dificuldade de seencontrá-los ou na resistência das pessoas em daruma entrevista, em ter sua voz gravada, sua fototirada. É absolutamente compreensível, uma vezque a confiança se constrói, geralmente de formagradual. A confiança de um veículo de comuni-cação, por exemplo, se constrói com base na cre-dibilidade que ele alcança junto ao seu público.

Em meio a essa dificuldade de se esbarrar comfontes e personagens pacientes, com tempo sufi-ciente e, até mesmo, pode-se dizer corajosos paraconversar conosco, jornalistas iniciantes e estu-dantes, nos deparamos com figuras que dão força emotivação para continuar trabalhando em buscada produção de um jornalismo de qualidade.

No último 11 de Junho, apurando reportagemsobre os perigosos cruzamentos espalhados peloCoração Eucarístico, andávamos, Marina Neves eeu, pelas ruas do Bairro à procura de pessoas quepodiam nos contar um pouco mais dos acidentes fre-quentes, como os próprios moradores da regiãodefinem, que acontecem por causa da falta deatenção dos motoristas aliada à precária sinalização.Nessa procura, resolvemos tocar os interfones dosapartamentos do prédio localizado à esquina dasruas Padre Pedro Evangelista e Dom Joaquim Silvério.

Depois de duas tentativas ignoradas, resolvemostentar o último apartamento e, por sorte, LílianMotta, de 39 anos, nos atendeu com muito simpa-tia e desceu para nos dar entrevista. Ela mesmaadmitiu: "Vocês ficaram chocadas de alguém aten-der e ainda descer para receber vocês não é? É queo trabalho de vocês é muito importante aqui noBairro. Se vocês estão fazendo reportagem sobreisso, deve ser por uma boa causa", diz a moradora,relatando logo depois que recebeu a última ediçãodo MARCO em casa e gostou muito da reportagemde capa sobre o trânsito em seu Bairro.

No jornalismo comunitário, praticado peloMARCO, feito para e com a comunidade, aimportância do retorno dos moradores é imensa.Em todos os sentidos, é preciso ressaltar. São tam-bém de extrema importância pessoas como amoradora do Bairro Dom Cabral, Maria Helena,que, no dia seguinte, 12, ligou para dar a dica sobreo erro em foto do Bairro João Pinheiro creditadacomo Dom Cabral. O retorno, positivo, negativo ouconstrutivo, além de nos motivar, nos ajuda a me-lhorar, e nos dá a certeza de que o nosso trabalhoestá sendo lido e reconhecido.

A importância dasfontes e personagensna rotina do MARCO

editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialEDITORIAL

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteEXPEDIENTE

Não é do Bairro Dom Cabral, mas sim do JoãoPinheiro, as fotos que ilustram a matéria “RicaMemória do Dom Cabral”, publicada na página 5da edição 289, de maio, e a chamada de capasobre o tema.

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalERRAMOS

CONVITE ÀS AMIZADESMoradores do Dom Cabral mantém hábitos hospitaleiros aos vizinhos ao deixarem abertos os portões de suas residências

nFELIPE AUGUSTO VIEIRA

KENETH BORGES

4º E 5º PERÍODOS

Remanescentes de umtempo em que o BairroDom Cabral tinha casassem muros, alguns mo-radores ainda mantémhábitos convidativos àvizinhança, como ir acasa ao lado para solici-tar um favor, ou mesmouma conversa em frenteao portão. Para isso, asportas ficam abertas,sem cadeados, para queo acesso intimista entrevizinhos e amigos delonga data se mantenha,mesmo em um tempoem que a insegurançatente a mudar esses há-bitos.

Evandro de Oliveira eSilva, 49 anos, há 40morador do Dom Ca-bral, reside com a mãe,Conceição de Oliveira,de 90 anos, tem fé que acasa continue imaculadafrente à violência que,mesmo em bairros paca-tos como o Dom Cabral,assombra os moradores."Aqui era um bairro pop-ular, e depois disso foicrescendo, e o que eumais sinto falta hoje emdia é a segurança nobairro", completa. "Te-nho fé em Deus, poisnunca entrou ninguém enem vai entrar. Eu nuncatranquei o portão. Antesnem tínhamos muro, aío meu pai colocou mu-ro", acrescenta.

Evandro ainda descre-ve a boa relação com osvizinhos, que tem acessoquando precisa de umaporção de açúcar, pó decafé ou até mesmo umbotijão de gás, e, para is-so, não usa campainhaou bater à porta, o quegera brincadeiras entreos vizinhos. "Meu amigoaqui do lado um dia dis-se: 'Não tenho nem pri-vacidade mais, você jáchega entrando'. Mas éque sempre foi assim.Aqui existe um feedbackmuito grande, um tomaconta da casa um para o

outro. Há sempre al-guém olhando, e o por-tão fica aberto, e se vouviajar, só tranco a porta".

Eugênia de Fátima Al-ves, 53 anos, no DomCabral há 46, descreve aRua Carcará como umadas mais animadas dobairro, onde os vizinhosse reúnem na rua parauma conversa e para ce-lebrações, como as festasde fim de ano. Assimcomo Evandro, Eugênianunca teve o costume depor cadeado em seu por-tão, e mantém o murobaixo, que outrora eramais baixo ainda. "Aquiem casa nunca tivemoscostume de por cadeadoporque a gente conhecetodo mundo", conta.

Mas, em contraponto,Eugênia não comparti-lha do temor quanto àsegurança, já que consi-dera o bairro tranquilono que se refere à ques-tão de roubos, ponde-rando somente quantoàs crianças que ficavamsentadas no muro de suacasa, o que a incomoda-va um pouco e a fez au-mentar um pouco a suaaltura. Ela também ésaudosa quanto aos vizi-nhos mais velhos que fa-leceram desde que morana Rua Carcará, o quetirou um pouco a graçadas festividades. "Foiperdendo a graça, poistínhamos que rezar paraaquele que não estava"lembra.

A cooperação entre vi-zinhos, segundo Eugê-nia, é o que possibilita ohábito de manter o por-tão aberto, já que, mes-mo quando viaja, ou estátrabalhando, os vizinhostêm conhecimento e vi-giam os arredores da ca-sa quanto a qualquercoisa que fuja à normali-dade. "Tem vizinhos quesabem quando estou tra-balhando, quando nãoestou em casa, e se vêalguma coisa diferente jáolha por você. Por exem-plo, quando meu filho fi-cava em casa, já que

Dora de Castro troca chaves de casa com alguns vizinhos em que ela confia

agora ele trabalha, se vi-am ele numa companhiadiferente, aí já ficavamde olho. Ou mesmo seum viaja, digo: 'Se vocêvê uma movimentaçãodiferente, você já sabeque eu não estou em ca-sa'. Então um toma con-ta da vida do outro as-sim entre aspas né, sem-pre do lado do bem", i-lustra.

MOVIMENTAÇÃO DoraPereira de Castro, co-nhecida entre os vizi-nhos pelo apelido deDorinha, há 39 anos nobairro, atualmente moracom sua mãe, e, contaque sua casa às vezes ébem movimentada, jáque tem três filhos e seisnetos, e um deles, requeratenção dobrada. "Eutenho um netinho muitolevado que fica aqui a

manhã inteira, e derepente ele abre o portãoe vai para a rua", comen-ta. Mesmo assim, Dora,por não sair à noite e pornão temer por sua segu-rança no bairro, mantéma porta aberta o tempotodo, já que tambémconta com a cooperaçãodos vizinhos. "Aqui é as-sim. Por exemplo, alitem uma costureira queestá aqui o tempo todo,e a qualquer barulhinhoela está de olho, e na ca-sa dela, é só empurrar oportão e entrar", revela.

A confiança mútuaentre os demais vizinhostambém é exemplificadapor Dora, em retribuiçãopela ajuda deles. "Eu te-nho chave da minha ou-tra vizinha que é doente,e tem vizinho que tem aminha chave e eu tenhoa dele", conta.

Evandro de Oliveira e Silva mora no Bairro há 40 anos e acredita que, apesar da violência e do bairro ter mudado, ninguém vai entrar em sua casa

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

MARIA CLARA MANCILHA

Page 3: Jornal Marco 291

também éfalha, vistoque umadas placasestá enco-berta pelasárvores dedentro doterreno daesquina. A-penas outraplaca sozi-nha alertaaos moto-ristas, poisa pinturado chãot a m b é mestá descas-cada e ile-gível. "Oque mandaé a sinaliza-ção do lo-cal, que é

falha, pífia", relata o donoda loja que se localiza emfrente à placa de PARE,Fábio Tadeu Lopes Pinto,38 anos. Há cinco anos,desde que tem a loja nolocal, já viu incontáveisacidentes. "Vê se tem algu-ma sinalização aqui? U-ma. Porque a outra o vizi-nho tampa. É falta deatenção, também. O chão,como você pode ver, deveter anos ou mais a pre-feitura não vem aqui pin-tar. Colocaram um que-bra-mola ali e diminuírambastante os acidentes",informa. A funcionária damesma loja, Eucinéia daFonseca Viana Fraga, de25 anos, lembra que mui-tos motoristas envolvidosnas batidas constante-mente pedem as imagensdas câmeras de segurança

da loja. "Vive gente vindoaqui e pedindo a filmagem[do sistema de segurança]como prova", acrescenta.

O dono do terreno quetampa parcialmente aplaca de "PARE", GeraldoMiranda, 57 anos, sedefende. "O problema nãoé a sinalização. É genteque não conhece e passadireto. É a imprudência domotorista. De vez emquando eu corto, voumandar tirar essa agoratambém, mas todo mundosabe que aqui não podeatravessar", conta ele,apontando as árvores quetampam a placa. SegundoGeraldo Miranda, o murojá foi quebrado duas vezesdevido a batidas, masdesde que a mão se tornouúnica, o número de aci-dentes diminuiu significa-tivamente.

O mesmo motorista quemora na esquina das ruasDom Joaquim Silvériocom Padre Pedro Evan-gelista, Ailson Felix, tran-sitava por esse cruzamen-to e comenta já ter batidoo carro há cerca de cincoanos nesse local, quando amão ainda era dupla. "Nahora que eu entrei o carapassou direto. A preferen-cial era minha. Eu vi queele ia entrar, joguei praesquerda e ele bateu naminha porta", declara Aíl-son Félix, uma das vítimasdos inúmeros acidentesque já se tornaram rotina.

3ComunidadeJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

RISCO EM CRUZAMENTOS DO COREU Os pontos de cruzamentos de ruas do Bairro Coração Eucarístico são motivo de frequentes acidentes. Moradores do local alegam que a imprudência dos motoristas é o principal motivo

n

GABRIELA MATTE

MARINA NEVES

3º PERÍODO

Quem passa a pé pelocruzamento das ruas DomJoaquim Silvério com Pa-dre Pedro Evangelista, noBairro Coração Eucarís-tico, Região Nordeste deBelo Horizonte, logo per-cebe o risco iminente deacidentes que o local re-presenta. Os carros vêmdas duas vias em alta velo-cidade e é difícil identi-ficar de quem é preferên-cia. A placa de "PARE" é oque, sozinha, sinaliza aosmotoristas que descem aPadre Pedro Evangelista deque não têm a preferência.A pintura no chão, quedeveria também exercer opapel de alertar aos mo-toristas, há tempos nãoexiste mais. Restaram ape-nas vestígios da tinta. Essecruzamento, definido co-mo o mais perigoso doBairro por alguns pedes-tres, motoristas e mora-dores, é apenas um exem-plo do perigo enfrentadodiariamente por eles mes-mos.

O motorista Ailson Fe-lix, 59 anos, mora nessecruzamento há 24 e defen-de a instalação de um que-bra-molas na rua onde osmotoristas devem parar."Lá dá acidente direto e re-to. O que precisa de fazeré um quebra-mola", diz.Débora Vilela, 30 anos,trabalha na loja localizadana esquina há um ano emeio e afirma já ter pres-enciado muitos acidentes."É constante, toda sema-

na. Por en-quanto temsido leve,mas umahora vai darum aciden-te sério",conta. O a-dolescentede 17 anosque tam-bém traba-lha em ou-tra loja nae s q u i n a ,Lucas Re-sende, reve-la que hácerca de ummês presen-ciou um a-cidente comum carro euma moto.“O moto-queiro a-vançou a placa de PARE.Veio ambulância e polí-cia", exemplifica. Para ele,a sinalização é fraca, mas aimprudência dos motoris-tas é a principal causa."Direto a gente ouve", rela-ta Lucas sobre o barulhoprovocado pelas batidasfrequentes.

A moradora do prédioda outra esquina, LílianMotta, 39 anos, tem emseu celular a foto tirada desua sacada do último aci-dente que destruiu a gradede ferro de seu edifício.Ela revela que já presen-ciou mais de uma dúzia deacidentes e que, quandoouve o barulho de batida,sempre desce para ajudaras vítimas. "Eu vivo aju-dando as pessoas aqui.Todas as batidas você es-cuta o estouro. É o carro

vindo da Via expressa (queentra na Padre PedroEvangelista) que passareto. Todas. De 10 em 10é assim", explica. "Porqueque aqui é o pior? Porquequem sai da Via Expressano primeiro cruzamentovocê não tem que parar, sevocê parar vem o de trás ete bate, mas no próximovocê tem que parar", pon-tua. Por conhecer o Cora-ção Eucarístico há muitotempo, Lílian lembra que écautelosa ao dirigir peloscruzamentos do Bairro."Eu paro mesmo, até ondenão tem que parar euparo", sugere.

Não muito longe dali, ocruzamento das ruas DomLúcio Antunes e Dom Jo-ão Antônio dos Santostambém já foi foco de aci-dentes diários como re-lembra o morador da es-

quina Pietro Rizzudo, de79 anos, que mora nolocal há mais de 50. "Já videmais. Atualmente temdemorado mais. Antiga-mente era quase todo diaque tinha batida aqui",recorda. Ele explica que,antigamente, as duas ruaseram mão dupla, o queagravava a chance de aci-dentes no local. O queleva o motorista a con-fundir a preferência, que éde quem está na rua DomJoão Antônio dos Santos,é o fato de que a DomLúcio Antunes tem prefe-rência ao longo de suaextensão em todos oscruzamentos, exceto nes-te. "É falta de atençãomesmo. O pessoal vempensando que tem prefe-rência, passa direto aqui ebate", diz o morador.

A sinalização no local

A placa de “PARE” localizada à Rua Dom Lúcio Antunes fica escondida por causa de algumas árvores que a tampam

Aulas de ginástica gratuitas no estacionamenton

RAQUEL DUTRA

3º PERÍODO

Há seis anos, de segun-da a quinta-feira, o esta-cionamento do Carrefourdivide seu espaço comaulas gratuitas de ginásti-ca. A iniciativa foi dopróprio hipermercado co-mo uma forma de market-ing e, hoje, com o grandenúmero de adesão, são seisunidades da rede queincluem a atividade nocronograma. "Ao praticaratividades físicas as pes-soas têm uma vida maisprazerosa, tanto do pontode vista físico, quantomental", afirma MariaFerreira, frequentadoradas aulas de ginástica noCarrefour Coração Euca-rístico, que ainda tem va-gas aos interessados.

O professor de edu-cação física, MateusMello, responsável porconduzir as aulas desde oinício em 2006, afirmaque o público dominantesão donas de casas comidade média de 70 anos.Ele avalia como sucessoesse projeto proposto peloCarrefour, destacando os

resultados. "As vendasmelhoram de 15% a 20%durante os dias das ginás-ticas", revela. SegundoMateus Mello, apesar denão terem muitos recur-sos, as aulas são boas,principalmente, pelo fatode garantir uma qualidadede vida melhor para osalunos. "Trabalhamos compoucos materiais, alémdos bastões cedidos peloCarrefour, peço aos alunospara comprarem colchõese bolas", completa o pro-fessor. Por serem baratos eas aulas não terem custo,os alunos não vêem pro-blema em adquirirem omaterial por conta pró-pria.

A aposentada MariaCélia Nunes, 61 anos, par-ticipa há cinco anos doprojeto e diz que priorizafazer suas compras noCarrefour, mas nem sem-pre coincide com os diasdas aulas. "Acho as aulasmuito legais e diversifi-cadas, fazemos vários tipode exercícios. Além disso,é super bacana a interaçãocom as pessoas", conclui aaluna. A relação dosalunos não se estende só

às aulas, além de organi-zarem encontros casuais, oprofessor conta que, umavez por ano, prepara um"aulão", que consiste numacaminhada em volta daLagoa da Pampulha paratodos os alunos dasunidades Carrefour. "Pro-curamos sempre fazer e-ventos que reúnam todasas unidades. Para eles, émuito legal, a questão so-cial também ajuda nobem-estar".

A iniciativa da empresaé bem vista pelas alunas."Se todas as empresas ti-vessem esse mesmo tipode iniciativa de interaçãocom a sociedade e cons-ciência da sua necessi-dade, seria muito bom",comenta Maria Célia.Maria Ferreira, 72 anos,que decidiu participar dasaulas por necessidade, elo-gia o projeto do hipermer-cado. "É muito bom fazerexercícios, satisfaz a gente.Trás muitas coisas boaspra mim e o professor éexcelente", ressalta. A di-vulgação já foi maior, deacordo com Mateus Mello,no início, quando as aulaseram novidade, havia car-tazes de divulgação espa-

lhados pelo hipermercadoe os funcionários faziampropagandas para os cli-entes que estavam com-prando. "Hoje em dia, adivulgação é mais boca aboca, os próprios alunostrazem novos alunos", re-lata o professor.

A procura pelas aulasfoi crescendo e, hoje, algu-mas unidades já não temmais vagas, é o caso daunidade Gutierrez quetem, em média, 70 alunos.As aulas no Carrefour doBairro Coração Euca-rístico ainda possuem dis-ponibilidade de vagas eacontecem nas manhãs deterças e quintas-feiras.Mateus Mello revela seremocionante acompanhara evolução de seus alunose diz que não abriria mãode dar aulas coletivas."Também sou personal enunca pensei que seria tãolegal poder dar aulas paraa terceira idade. Esse tipode público da um retornomuito grande para a gente,a gratidão e o carinhodeles é bem diferente dopúblico de academia e dosjovens em geral", afirma.As aulas de ginástica são coordenadas pelo professor Mateus Mello

RAQUEL DUTRA

RAQUEL DUTRA

Page 4: Jornal Marco 291

4 ComunidadeJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Mesmo com existência de duas passarelas que atendem aos moradores da região, pedestres se arriscam na travessia entre carros, ônibus e caminhões que trafegam em alta velocidade

n

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

RAISSA PEDROSA

4º PERÍODO

A travessia de pedestresno Anel Rodoviário entreos Bairros Dom Cabral eDom Bosco, conforme ob-servado pelo MARCO, éfeita muitas vezes de for-ma arriscada. Nesses ca-sos, as pessoas optam pornão utilizar a passarelaque liga a Rua UniãoEstudantil, no Dom Bos-co, à marginal do Anel, noDom Cabral, e transitamentre veículos leves e pesa-dos, que passam em altavelocidade no local. Amaioria dos pedestresatravessa na direção daAvenida Edgar da MataMachado, no Dom Ca-bral.

Um ponto de ônibusfica próximo ao PostoIpiranga, do outro lado doAnel, no Bairro DomBosco. Um outro ponto deônibus fica próximo àAvenida Antônio Prado,no Dom Cabral. Essespontos ficam entre 200 e300 metros da passarela,respectivamente. Essa dis-tância dos pontos é umdos argumentos utilizadospelos pedestres que optampor atravessar em meioaos carros. O office boyLucas Tonetti, 20 anos,atravessa o Anel Rodo-viário para pegar ônibus enão utiliza a passarela."Do lado de lá (Dom Bosco)não tem ônibus que vaipara o centro, mesmo como risco, é mais fácil",acredita.

Alguns pedestres ale-gam que a falta de tempofaz com que eles não

queiram atravessar a pas-sarela. "Todo dia atravessoaqui, estou sempre atrasa-do", comenta Mazinhodos Santos, que trabalhana Viação Anchieta, locali-zada à Avenida Edgar daMata Machado, e atraves-sava o Anel Rodoviáriojunto a outros dois colegasque iam para a empresa.Por outro lado, GilbertoRibeiro, 42 anos, instrutorna Viação Anchieta, ga-rante que a travessia forada passarela não é muitoviável pelo fluxo de carrosem alta velocidade. "Euatravesso pela passarela eé impossível atravessarfora dela", constata. Gil-berto, apesar de usar apassarela, pondera sobre omotivo de seus colegasnão seguirem seu exemploe atravessarem pelo Anel."Se eu fosse dizer ummotivo para não atraves-sar pela passarela, eu diriaque ela é longe da 31 deMarço (próxima a garagem),é lá em cima e ai você temque subir e atravessar paravoltar".

Já Wellington Menezes,31 anos, gerente do postoIpiranga, no Dom Bosco,observa diariamente, alémde alguns funcionários doposto que almoçam dooutro lado do Anel, agrande quantidade de pes-soas, principalmente fun-cionários da garagem doAnchieta atravessando porali, fora da passarela. "Temgente que vai almoçar alido outro lado, no restau-rante, às vezes aqui doposto mesmo, mas, maisfrequente, é daquela em-presa ali (Viação Anchieta)",afirma.

Esse tipo de travessia éobservado por Carlos Gui-lherme, 50 anos, torneiromecânico que trabalha àbeira do Anel. Ele contaque já presenciou aci-dentes e alguns delesfatais, como o caso de umrapaz alcoolizado, que,contrariando o conselhode Carlos para que nãoatravessasse, teimou e foiatropelado na segundafaixa da pista. "A gentefala com as pessoas, maselas ignoram", lamenta.Outro que já presenciouatropelamentos fatais é

Edson dos Santos Agos-tinho, 42, instrutor e fun-cionário mais antigo ematividade da Viação An-chieta. Ele se recorda deum acidente ocorrido comum senhor que trabalhavana empresa e atravessava oAnel junto a uma colega,e, segundo Edson Agos-tinho, a moça foi mais rá-pida e o senhor ficou paratrás, sendo atropelado pormais de um carro. "Elaatravessou e foi mais ágil.Ele ficou para trás e umcarro pequeno veio e oatingiu, e, outros dois car-

ros que vinham atrás, tam-bém", lembra.

Sobre a instalação deuma possível passarelanesse ponto, o Depar-tamento Nacional deInfraestrutura de Trans-portes (DNIT) informouque os moradores daregião interessados peloassunto devem protocolarjunto à superintendênciado DNIT, que fica àAvenida Prudente de Mo-rais, número 1611, 11ºandar, uma solicitação ofi-cial de implantação dapassarela. Não existe uma

distância mínima entre

passarelas, tudo depende

da demanda e da verba

para tal. O assessor de

comunicação do DNIT,

Bernardo Morais Costa

Pinto, informou que o

fato do existir uma pas-

sarela próxima ao local

pode dificultar a cons-

trução de outra. "O fato

de já haver uma passarela

a mais ou menos 200 me-

tros do local é um motivo

dificultador para a im-

plantação de outra a uma

distância tão curta", ana-

lisa.

CADEIRANTES A

passarela citada possui, na

sua entrada pela Rua

União Estudantil, uma

espécie de cancela que

obriga o pedestre a fazer

um zig zag em um espaço

estreito para continuar

seu trajeto. Consultado

pela equipe do MARCO

sobre a preocupação da

passagem de cadeirantes

pelo local devido ao estrei-

tamento, Bernardo Pinto

informou que isso existe

para evitar a passagem de

motocicletas que podem

por em risco os pedestres

que passam por lá e que o

espaço é suficiente para a

passagem de uma cadeira

de rodas. "O DNIT estuda

um meio de criar disposi-

tivos que impeçam o

tráfego de motocicletas,

sem, no entanto, impedir

o direito de ir e vir dos

cadeirantes", alega.

Fora da passarela, pedestres são obrigados a esperar, nas divisórias da pista, um melhor momento para atravessar

PEDESTRES CORREM RISCOS NO ANEL

Califórnia II sofre com defasagem no comércio n

MARINA NEVES

GABRIELA MATTE

3º PERÍODO

Os moradores do Con-junto Califórnia II já estãoacostumados em ter quesair do Bairro em busca deopções de padaria, açou-gue, supermercado, farmá-cia e salão de beleza, porexemplo. A carência deestabelecimentos comerci-ais não é novidade para osmoradores, mas sempreserá um transtorno paraquem mora num Bairrosem vida-própria. "Sem-pre foi assim, nada vaipara frente aqui. O povonão dá privilégio. Já teveaçougue, já teve farmácia",conta Maria Auxiliadorados Santos, 62 anos,mostrando seu incômodocom a perda de tempo deter de se deslocar parabairros vizinhos.

Moradora há 25 anosno local, ela acrescentaque de vez em quandocompra pão na únicapadaria existente, e que,apesar de morar lá hátanto tempo, nunca teve ocostume de comprar nada

nos arredores. Rosângelade Fátima Fernandes, 43anos, dona há um ano emeio dessa única padaria,afirma gostar do pontopela falta de concorrência.Segundo ela, o movimentoé razoável, dá para se sus-tentar.

O Bairro possui apenasdois mini-centros comerci-ais. Um com a padaria, umsalão de beleza e um bar eoutro apenas com o super-mercado. Gislaine Santos,52 anos, é a dona do salãohá dois. A proprietária,que já trabalhou em outrossalões espalhados pelacidade, explica que pre-feriu ficar perto de casaganhando menos, do quegastar dinheiro com deslo-camento. "Dá pra me man-ter, porque só eu e meumarido e meus filhos tãocriados", diz. Ela tambémrevela que aos olhos dosclientes é careira, mas queo faz para pagar o aluguel,uma vez que o movimentonão é tão alto.

Por outro lado, Gislaine,que além de comerciante émoradora do Califórnia IIhá 29 anos, admite que

também faz as suas com-pras em outros bairros. "Oque tem aqui é muitopequeno. Eu acho quecada um olha a sua como-didade. Já está na cidade,aproveita e compra, osupermercado você vai e játem de tudo completo",observa.

Não tão distante dosalão, trabalha FranciscoAldenor, de 61 anos, ger-ente e dono do únicosupermercado há 10, quetem uma opinião diferentedos outros comerciantes edos moradores. Para ele,todos os estabelecimentoscomerciais que abrem noBairro não vão para frenteporque a população nãoprestigia. "A culpa é dopovo. Eu sou retrato fieldessa pouca compreen-são", afirma. "Esse super-mercado aqui deveria sermuito melhor, muito maiscompleto. Como conse-quência disso, comprandomelhor (e com clientes) agente vende mais barato",completa.

Francisco exemplificacom o caso de uma mo-radora do Califórnia II,formada em bioquímica,

que "abriu uma excelentefarmácia", mas que fechoupor falta de clientes, e como caso pessoal de que játentou abrir um açougueno local, mas que tambémfechou sem movimento."O Bairro é muito carentede infraestrutura. Aqui eraser um conjunto fechado",lembra ele, que mora há32 anos no lugar.

A jovem Lorena Gre-gório, 24 anos, que faziacompras no supermercado,conta que é uma exceçãoquando vai ali. "Devido àcarência do supermercado,eu procuro sempre com-prar fora mesmo, porqueeu já encontro tudo deuma vez. Sei que não vouencontrar as coisas, já voupra outro lugar", justifica.Na sua opinião o comércionão se desenvolve pois opúblico do Bairro é muitorestrito. Apesar dessaconsciência, ela conta queos moradores reclamam."Mas fica por isso mesmo,só pela reclamação mes-mo", declara a moradorado Conjunto há mais de20 anos. Rosângela Fernandes afirma que as opções de comércio são poucas

RAÍSSA PEDROSA

RAQUEL DUTRA

Page 5: Jornal Marco 291

n

LAURA ZSCHABER

7º PERÍODO

“O Dom Cabral será ocampo de lutas doMARCO”. Foi com essafrase que há 40 anos,nascia a primeira edição doJornal Laboratório daPontifícia UniversidadeCatólica de Minas Gerais.As reportagens traziaminformações e queixassobre o bairro, e, muitasvezes, contribuíram de for-ma decisiva para a soluçãodos problemas dos mo-radores. Mais tarde, em1973, o jornal tambémpassou a fazer parte dascomunidades do CoraçãoEucarístico, do João Pi-nheiro e da Vila 31 deMarço. E no início dosanos 2000, atendendo àcomunidade do São Ga-briel.

“Acredito que a maiorcontribuição do MARCOpara o bairro seja funcionartambém como um porta-voz da comunidade junto àPrefeitura, nos ajudando acobrar nossos direitos dopoder público”, explica opresidente da Associaçãodos Moradores e Amigosdo Bairro Dom Cabral,Maurício Antônio de Sales.Para Iracy Firmino daSilva, o presidente da As-sociação de Moradores doBairro Coração Eucarístico,mais conhecido como Ca-pitão Firmino, o Jornalacompanhou o crescimen-to da região e sempre foimuito mais que um infor-

mativo para os moradores.“O MARCO ajudou as co-munidades em muitas dassuas conquistas, principal-mente nas que envolvesegurança. Ele mantêm osmoradores em alerta sobreas coisas que estão aconte-cendo por aqui”, afirma.

TRÂNSITO Ausência decongestionamentos e flu-idez na circulação de veícu-los na área metropolitana.Foi com essa proposta, queem 1973 a Via Expressa deBelo Horizonte começou aser traçada no papel. Naépoca, as primeiras maté-rias no MARCO sobre aobra dividiam opiniões:alguns moradores acredi-tavam que ela acabariacom o grande tráfego decarros na cidade; outrostemiam a desapropriaçãodos terrenos.

O projeto, elaboradopelo Departamento deEstrada e Rodagem (DER-MG) juntamente com oPlambel – até então oórgão responsável pelo

5Especial ComunidadeJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Em 1977, o JornalMARCO noticiava comalegria que as comu-nidades do Dom Ca-bral, Vila 31 de Marçoe João Pinheiro haviamrecebido o posto médi-co tão esperado. Antes,o serviço funcionavana casa da Ação Social,na Vila 31 de Março enão apresentava boascondições de atendi-mento. Com o dinheirode uma indenizaçãorecebida pela comu-nidade devido à de-molição do GrupoEscolar da Vila, osmoradores, que deveri-am dividir a quantiaentre si, optaram pelaconstrução de um postode saúde no DomCabral.

Na época, o prédionovo, construído pelaPrefeitura Municipal aolado da igreja, eraadministrado pelo con-selho comunitário locale beneficiava dez pes-soas por dia. Os mora-dores contavam comuma mini farmácia ecom um setor de vaci-

nação. No entanto, ape-nas um médico exami-nava todos os paci-entes, e ainda não haviaprofissionais para re-alizar os atendimentosdentário e ginecológicoque haviam sido pro-metidos. “Antigamente,os moradores que pre-cisavam de cuidadosmais sérios tinham quese deslocar para outrosbairros. Era muito com-plicado”, relata Agenorde Oliveira, que há 32anos mora no DomCabral.

O posto médico, queficava em um nívelabaixo da rua, já sofriacom o tempo de chuvadepois de três anos dainauguração. A águaescorria para dentro desuas instalações, os vi-dros das janelas esta-vam quebrados e nãohavia trancas ou cadea-dos. A população então,se mobilizou e resolveufazer uma denúncia aoMARCO, já que a Pre-feitura não tomava ne-nhuma providência. Aestratégia funcionou, e

logo após a reportagemsair nas páginas do Jor-nal, o posto foi refor-mado. As janelas gan-haram vidros novos egrades de proteção, euma campanha de vaci-nação contra a paralisiainfantil pôde ser rea-lizada no local benefi-ciando cerca de 750 cri-anças.

No ano passado, a-pós quase 35 anos, oantigo posto de saúdedo Dom Cabral foi de-molido para a cons-trução de um prédiomaior e por isso pre-cisou ser transferidopara um local tem-porário. O atendimentopassou a ser feito emuma casa na rua MadreMazzarello. Mesmocom o objetivo de me-lhorar a qualidade doatendimento, a mu-dança não agradou atodos os moradores daregião, que reclamavamda distância percorridapara chegarem ao postoe da estrutura que com-portava menos pessoas.

Segundo Douglas

Versiano, um dos res-ponsáveis pela admi-nistração do centro desaúde, as consultas con-tinuam sendo feitas nomesmo local, aguardan-do o término das obrasdo novo edifício, queestão atrasadas. “A pre-visão de inauguraçãodo novo posto era se-tembro deste ano, mascom o atraso nas obras,não temos como saberquando ele ficará pron-to”, alegou. O admi-nistrador ainda afirmouque, mesmo assim, apopulação não tem sidoprejudicada, e que amédia de atendimentospermanece em torno de130 a 150 por dia. “Mi-nha família frequenta ocentro de saúde hámuitos anos e nãotemos nada a reclamar.Os médicos são muitobons. Com certeza, amudança será positiva evai facilitar a vida dacomunidade”, ponderaMaria Geralda Coelho.

Centro de Saúde é conquista do povo

MOBILIDADE NA MIRA DO MARCOCompletando 40 anos em 2012, o Jornal Laboratório MARCO faz uma trajetória sobre as principais obras e conquistas das comunidades que foram contadas em suas páginas

“Na época, lembro que anovidade surpreendeu apopulação. O metrô agili-zou a ida para a cidade etrouxe mais benefícios parao bairro. Até hoje, continuasendo um transporte muitorápido”, aponta FranciscaMelgaço, moradora doCoração Eucarístico há 42anos,

A implantação doserviço foi executada peloDemetrô, um consórcioentre a Empresa Brasileirade transportes Urbanos e aRede Ferroviária Federal,ambos subordinadas aoMinistério dos Transpor-tes. Na época, o projetoprevia o atendimento às 14estações e ainda um ramalligando as estações doCalafate e do Barreiro, pas-sando pela região doSalgado Filho e Ferrugem.

Das 22 estações da plan-ta inicial, apenas 19 foramconcluídas e estão em fun-cionamento hoje. Os tre-chos que serviriam aosbairros PTB e Imbiruçu,em Betim e Bernardo

Monteiro, em Contagemficaram somente no papel.O mesmo aconteceu com oramal Calafate-Barreiro.Em 1998, o ramal chegou aser iniciado, mas as obraspararam novamente e ain-da não foram retomadas.

Segundo dados daCompanhia Brasileira deTrens Urbanos (CBTU),atualmente, o metrô deBelo Horizonte beneficiacerca de 144 mil usuáriospor dia e realiza 253 via-gens diariamente. É o casoda estudante de Enge-nharia Civil Paula Farahque utiliza o veículo todosos dias. “O metrô, atual-mente, é o meio de trans-porte mais viável que eutenho para poder ir para afaculdade e trabalho. Alémde ser mais rápido, ele ficamuito próximo da minhacasa”, explica.

A rapidez do transportefoi um dos motivos que feza professora de portuguêsStael Marra escolher entredois empregos. “Depoisque vendi o carro, opteipor trabalhar em uma esco-la que ficava próxima aalguma estação do metrô,já que moro perto daEstação Gameleira. Foiótimo pra mim, pois é umtransporte que possibilitaacesso mais rápido e con-fortável que o ônibus”, afir-ma.

Construção da Praça

da Comunidade nas

páginas do MARCO“Com o projeto pronto, o

sonho da construção da pra-ça de lazer na área em tornoda igreja, no centro do DomCabral, deverá se tornar real-idade”. O trecho, extraído daedição 55 do Jornal MAR-CO, foi o que moradores es-peraram ver por mais de dezanos.

Em 1972, a população re-clamava da monotonia dobairro e reivindicava a cons-trução da Praça da Comu-nidade, prometida para oscompradores dos lotes. Naplanta original, o local abri-garia uma praça de esportes,um centro comercial, umplayground, jardins e outrosestabelecimentos. Porém,quando cobradas, a Prefei-tura e a Caixa Econômica Es-tadual – responsável pelo em-preendimento – se eximiamda obrigação de realizar a o-bra e transferiam a culpa u-ma para a outra.

Quatro anos e nenhumaresposta depois, os morado-res do Dom Cabral decidi-ram defender o terreno e a-proveitar a área ao redor daigreja, que tinha sido destina-

da para lazer, esporte e edu-cação desde a criação dobairro. Com a ajuda de umaempresa que cedeu seus ca-minhões, eles transportaramterra saída de obras existen-tes no bairro, para cobrir u-ma vala e deixar o campo a-propriado para uso.

Já em 1978, o problemaainda não tinha sido soluci-onado. A prefeitura aindaprometia a construção dapraça dependendo da doaçãodo terreno pela Caixa. Foramnecessárias 14 edições doMARCO, reivindicando aconstrução da Praça da Co-munidade, para que em1982, quando o Dom Cabralcompletava 16 anos, os mo-radores conseguissem a doa-ção da verba para a realiza-ção da obra. “A pracinha éfundamental para a convi-vência dos moradores e é umponto de lazer para as crian-ças e para os jovens. Acreditoque o Dom Cabral tem me-lhorado muito desde sua cri-ação. Hoje, acho que só faltamais segurança”, comentaCeci Ferreira de Barros, mo-radora do bairro há 40 anos.

planejamento metropoli-tano – previa uma extensãoaproximada de 10 quilô-metros, seguindo o Vale doRibeirão Arrudas. Com aaprovação da Prefeitura, aconstrução da Via ExpressaLeste-Oeste, que maistarde se chamaria Via Ex-pressa Juscelino Kubits-chek, ficou a cargo daempresa Mendes Júnior.

Ligando o centro deBelo Horizonte à cidade deBetim, atravessando boaparte do município deContagem, hoje a Via Ex-pressa tem um percurso deaproximadamente 25 qui-lômetros sem intercepta-ções, o que proporcionaaos seus usuários um fluxorápido. “Quando eu mudeipara o bairro, existia ape-nas um canal naquela re-gião. A construção da ViaExpressa melhorou muito oacesso ao centro e às outrascidades. Além do trânsitotambém. Hoje, em uminstante a gente chega nocentro”, lembra TherezaFaria, moradora do Cora-

ção Eucarístico há 40 anos.Para o analista de redes

Bruno Diniz, a obra não sófacilitou a vida dos mo-toristas, como tambémtrouxe um impacto positi-vo para a economia dacidade. "Por ser uma liga-ção entre os municípios, aVia Expressa diminui ofluxo de carros, além defacilitar a chegada de pro-dutos à capital", diz.

TRANSPORTE Há 25anos, o metrô da Ga-meleira trazia mais facili-dade para a vida dosmoradores da RegiãoNoroeste, e o MARCO es-tava lá para registrar outragrande conquista da popu-lação. “O metrô está che-gando. Veja como embarcarnesse “trem”, foi a man-chete do Jornal em suaedição de número 59. Nareportagem, os leitores fi-caram sabendo como fun-cionava o transporte, quaisbairros ele atenderia e asmudanças positivas que eletraria à comunidade.

A Via Expressa, que hoje beneficia moradores da região no acesso ao centro da cidade, começou a ser noticiada pelo MARCO quando ainda era projeto

RAQUEL DUTRA

Page 6: Jornal Marco 291

A Avenida Padre Vi-eira, continuação da A-venida Ressaca, tinha osmesmos problemas coma numeração. Segundoos moradores, há apro-ximadamente quatro a-nos, a Prefeitura orde-nou a numeração e en-viou uma carta avisandoaos moradores, infor-mando o novo númerode sua residência e pe-dindo que eles mantives-sem o número antigojunto do atual.

Essa modificaçãomelhorou para alguns,mas, para muitos nãomudou nada. A mora-dora Simone Vienna daCunha sofre com essanumeração, a dona decasa de 44 anos, morana avenida desde quenasceu e conta quedesde que a numeraçãomudou vem tendo pro-blemas com suas cor-respondências. "Nós jáficamos sem o boletodo cartão de crédito, ti-ve que pagar atrasada",conta. Outro caso que

ocorreu com uma mora-dora da casa de Simonefoi uma correspondênciade banco que entrega-ram em outra casa equem atendeu o carteiroassinou o recebimeto."Ela teve que ir ao bancoe resolver o problema,porque para eles ela ti-nha recebido, quando,na verdade, não", co-menta Simone.

Para Fátima Silva Ro-

sa, que é proprietária deuma distribuidora desaches alimentícios, é in-quilina de uma loja há10 anos na Avenida, amudança de numeraçãomelhorou, pois organi-zou a rua, mas manter anumeração antiga aindaconfunde, assim, ela a-credita que o problemaseria solucionado se anumeração mudasse de

vez. "O pessoal aindanão se acostumou. Se re-tirar o número antigo,fica mais fácil para to-dos", acredita. Fátimaconta ainda que, paraencontrarem a loja dela,ela precisa descrever olocal, pois, apenas pelonúmero, não tem jeito, édifícil para todos. "Nemambulância encontranúmero aqui", afirma.

Um dos fatores quedeterminam a confusãocom os números é amudança de carteiros.Os novatos, que nãoconhecem o local, a-cabam se perdendo emmeio à mistura de nú-meros. Uma carteiroque trabalha na área in-formou que, para osnovatos há uma orien-tação do carteiro ante-rior, mas o mais difícil équando uma numera-ção é para a Copasa eoutra é para a Cemig,por exemplo, pois pro-curar os locais dessaforma acaba tomandomais tempo.

Tentativa de ordenação de números em outra avenida não trouxe melhorias

Comerciantes e

moradores da Avenida

Ressaca têm problemas

constantes provocados

pela numeração confusa,

o que faz com que as

correspondências sejam

entregues muitas vezes

em locais errados

NÚMEROS INVERTIDOS GERAMTRANSTORNO NO DIA A DIA

n

RAÍSSA PEDROSA4º PERÍODO

Segunda-feira, início dejunho, por volta de 11h30, o motoboy Roger Pi-nho Rocha procurava onúmero 175 na AvenidaRessaca, que atravessa osBairros Coração Eucarís-tico e Minas Brasil, na Re-gião Noroeste da capital.Aproximadamente meiahora depois, Roger final-mente encontra o local de-sejado. Esse problema éenfrentado por várias pes-soas, todos os dias na ave-nida, e o motivo da difi-culdade é a numeração de-sordenada que confundequem não conhece o local.Para Roger Rocha, issocomplica bastante paraquem trabalha com entre-ga pois, se existe um ho-rário marcado, não encon-trar o número, pode gerarmuitos problemas em vá-rios casos como o da A-venida Ressaca. "Ficar pro-curando o local leva tem-po. Já aconteceu de umcolega meu deixar de fazera entrega por não encon-trar o local", lembra.

O número 175, que Ro-ger Rocha procurava, fica,vendo de frente, do ladoesquerdo do número 377,e na sequência, à direita,segue o 195. Gilmar Vi-eira, dono do restaurante

no número 377, conta quea numeração correta é a doestabelecimento dele, queé mais antigo e tem aproxi-madamente 50 anos. Elemora ali há mais de 10 a-nos e sempre sofreu com aconfusão feita por quementrega correspondência."Meu número aqui é 377,eu recebo correspondênciado 367", conta.

A desordem da numera-ção é problema constante,os depoimentos dos mora-dores mostram que a situ-ação é decorrente do cres-cimento da Avenida, ondecada moradia foi sendoconstruída e ganhando u-ma numeração que nãobatia com a ordem entãoexistente.

O aposentado Plínio Fa-ria, 74 anos, é morador doedifício Mariana A. Nar-delli há seis anos, com nu-meração 185, que fica en-tre o número 75 e o 245,gerando a sequência 75,185, 245, 141, que deve-ria ser em ordem crescen-te. Para Plínio, a entregade correspondência é pre-judicada pela numeração."Aqui eles entregam a cor-respondência sempre erra-da, até o correio. Entregamtudo ali, naquele prédio a-li, no 245", relata o apo-sentado, apontando para oprédio. Ele também contaque já houve algumas con-

fusões com motoboys, tá-xis e até um buffet. "Eulembro que uma pessoa a-qui em casa pediu algo deum buffet, e foram entre-gar no outro prédio, lá nafrente, alguém lá, que meconhecia acabou falando 'o185 é lá no início da a-venida'", relembra. Outracuriosidade do prédio on-de Plínio mora é a proxi-midade com o início da A-venida, apesar da numera-ção, o prédio é o quinto i-móvel.

Os números não servemcomo pontos de referênci-a. Algumas lojas e a locali-zação são mais comumen-te usadas por quem morana Avenida. Plínio Fariaensina o trajeto para seuparentes visitá-lo. "Eu falopara descer a rua Dom Jo-aquim Silvério, e virar adireita, é o primeiro prédi-o, a identificação que eutenho que dar é essa, se-não, pelo número compli-ca", explica.

Uma carteira que subs-tituía o carteiro responsá-vel pela área, e que não seidentificou, disse que já sa-be quais são os númerosque fogem da ordem na a-venida, e que são "apenas"três. Ela garante que exis-tem outras áreas na cidadeque passam pela mesma si-tuação.

O comerciante autôno-

mo Pablo Christian Olivei-ra Fontan, 34 anos, contaque teve problemas com aentrega do alvará de sualoja. "Meu alvará da Pre-feitura chegou em outrolugar, e a pessoa que rece-beu veio entregar aqui",diz. Para ele, uma mudan-ça na numeração, para re-organizar a avenida seriamuito boa tanto para mo-radores quanto para quemprocura algum local. "Deinício eu acho que iria cau-sar transtornos, mas a lon-go prazo seria bem melhor,porque ninguém iria ficarperdido", acredita.

A Assessoria de Comu-nicação da Secretaria Mu-nicipal Adjunta de Regula-ção Urbana informou quea situação da avenida Res-saca está sendo analisada,mas não informou se osmoradores podem fazersolicitações para possíveismudanças nos números.

MUDANÇA Muitos nãosabem, mas a Avenida Res-saca, que termina com asnumerações 432 e 441, a-travessando a rua MonteLíbano se transforma emAvenida Padre Vieira. Paraquem não conhece, dá-se aimpressão de que as duassão a mesma avenida. Essefato gera dúvidas para mo-toristas e pedestres, princi-palmente quem não repara

Pablo acredita que ordernar a numeração traria benefícios a longo prazo

bem as placas na esquina.Pablo Christian Fontan,

34 anos, é proprietário deuma oficina mecânica naesquina da Avenida Res-saca com Monte Líbano epresencia, diariamente,dúvidas e confusões por

pessoas que passam por a-li. "Às vezes o pessoal pro-cura desde lá de cima (fi-nal da Padre Vieira) e sódescobre que vira Ressacaaqui na esquina", comen-ta.

Comércio é afetadopor problemas com a numeração da viaA loja de roupas

Sempre Gerais encontra-seno número 240 da Ave-nida Ressaca, aconteceque com a mesma nume-ração, no quarteirão aolado tem a PanificadoraDel Niño. São dois locaisdistintos que confundemmuitos entregadores, epessoas que procuram es-ses estabelecimentos pormotivos diversos.

Ildeu da Fonseca Mo-reira, proprietário da lojade roupas, conta que, hádois anos, quando abriu aloja, a Prefeitura cedeuuma série de números paraque ele escolhesse, e onúmero 240 estava entreeles, sem saber que já exis-tia a padaria com a mesmanumeração, foi justamenteeste que ele optou porusar. "A Prefeitura nos deunúmeros para escolher, enós escolhemos o 240,mas a gente não sabia queesse era o número da pa-nificadora", esclarece.

Segundo Ildeu Moreira,as correspondências de lá

são entregues, geralmente,na panificadora. FabrizeVieira, gerente de lá, con-firma esse fato. "Geral-mente eles entregam aquieu vou lá e entrego paraeles", conta. Embora ascorrespondências sejamentregues mais frequente-mente na Panificadora DelNiño, o lugar não possui anumeração na fachada,enquanto, a loja de roupasde Ildeu mostra o número240 acima da porta deentrada.

A confusão com a nu-meração gera certos trans-tornos para ambos os esta-belecimentos, porém, osresponsáveis por eles ten-tam manter uma boa re-lação dentro das possibili-dades. "Nós damos um jei-to para ter a melhor rela-ção possível", analisa IldeuMoreira. Nenhum dos do-is se manifestou sobre u-ma possível troca da nu-meração.

Moradores da avenida tiveram que manter o número antigo junto ao atual

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

RAÍSSA PEDROSA

6 ComunidadeJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Page 7: Jornal Marco 291

7Comunidade/CampusJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

LAZER NO SÃO GABRIEL É PRECÁRIOO Bairro São Gabriel, região Nordeste, precisa de áreas de descanso e lazer. Moradores do bairro que desejam frequentar àreas de lazer com mais estrutura preferem ir à outros bairros

n

MICHELLE OLIVEIRA

3º PERÍODO

Localizado na RegiãoNordeste, que, de acordocom a Prefeitura de BeloHorizonte abriga 66praças e nove parquesecológicos, alguns delesainda não devidamenteimplantados, o Bairro SãoGabriel sofre com a carên-cia de opções de lazer edescanso, segundo apurouo MARCO junto a mo-radores e estudantes daPUC Minas, que o fre-quentam diariamente du-rante os semestres letivos.

Bares espalhados pelobairro, campo de futebol,quadra esportiva de esco-la e uma pequena praça,de acordo com a popu-lação local, é o que o SãoGabriel oferece como la-zer. Para aproveitar par-ques mais estruturados emaiores é preciso se deslo-car a bairros vizinhos. É ocaso, por exemplo, doParque Professor Guilher-me Lage, instalado noantigo viveiro municipal,que fica no Bairro SãoPaulo, perto do SãoGabriel.

Outras áreas, emboralocalizadas na mesmaregião, já são mais dis-tantes para os moradores

do São Gabriel, casos doParque Municipal Profes-sor Marcos Mazzoni, con-hecido como Parque daCidade Nova, que ocupaárea de 14.100 no bairrodo mesmo nome ou oParque da Matinha, noBairro União.

Segundo Maria de Fá-tima de Jesus, moradora ecomerciante do bairro, oque ela tem como "par-que" na região é um cam-po grande com algunsbancos e brinquedos. Elaconta que esse campo per-tence à Escola EstadualAdalberto Ferraz, no SãoGabriel, sendo utilizadotambém pela população.De acordo com ela, omaior problema é a faltade segurança na área ondeo "parque" está localizado.

Lucas Henrique SoaresFrança, 17 anos, moradordo bairro e funcionário deuma lanchonete, contaque ele sente falta delocais para sair. Segundoele, há um campo de fute-bol do Saga EsporteClube (Saga), que podeser utilizado gratuita-mente, mas que é raropoder jogar lá devido anecessidade de reservarhorário e pela violêncianoturna local. "O quemais tem no bairro são

bares e restaurantes. Fal-tam outros tipos de lazer,como um clube, algo quevocê possa ficar maistranquilo", conta.

Por causa da falta delocais para se divertir e daviolência, as famílias mo-radoras do bairro procu-ram outros locais para sedivertir. Elas pegam o car-ro ou o transporte públicoe vão atrás de um bairroque tenha algo para des-canso e diversão. Porém,com pouca frequência já

que para alguns, falta din-heiro para gastar com la-zer.

Fátima de Jesus contaque sente falta de umlocal para se divertir nobairro. "Eu sinto falta deum local de lazer, porquerapidinho a gente pode ir,levar os meninos para lan-char e brincar. Aquelapracinha do "EPA" é mui-to pequena", conta. Se-gundo ela, quando passeiacom seus filhos, ela os le-va até o Parque Muni-

cipal, no centro de BeloHorizonte. Porém, nemsempre é possível e já faztempo que não vai até lá.Ela reclama que poderiapassear mais vezes semtantas despesas se tives-sem locais perto de suacasa.

Muitas vezes, os filhosde Fátima têm que ficarapenas em casa, porque,além de não ter lugarespara passeio, o bairroconta com um nível eleva-do de violência de acordocom o grande número denotícias divulgado pelaimprensa. Pré-adolescen-tes e adolescentes, in-cluindo uma das filhas deFátima, que não quiseramse identificar por ver-gonha, sentem faltam deparquinhos para brincar-em. Eles só têm comolazer bater papo em casaou nas calçadas.

Alunos da PUC Minastambém sentem falta delocais de lazer. Depois dasaulas, um passeio com osamigos sem muito des-gaste após ter estudado éo que desejam. Porém, noSão Gabriel não temmuita opção. Diogo Au-gusto Batista, estudantedo sétimo período deDireito na PUC Minasdo São Gabriel, conta

que não se tem lazer nobairro. "Poderia ter al-gum pub ou um bombuteco", diz. Já que obairro não oferece lazer,Diogo também sugeriuque a universidade fizes-se olimpíadas univer-sitárias.

A enfermeira RenataFrancisco Miranda dizque é fundamental o des-canso tanto físico quantomental. Segundo ela, olazer é importante parasaúde física e mental doindivíduo. Ela conta quehoje percebe que faltamlugares não só no bairroSão Gabriel, mas tam-bém em outros em que aopção de lazer das pes-soas virou o shopping.

"O shopping é umlazer, mas acaba nãosendo lazer. Você cansade ficar andando ali. Éum local cheio e combarulho", diz. Para ela, oideal é que se fosse a umparque ou a uma praçagrande e arborizada parapoder ficar em silêncio."Igual nós temos a neces-sidade do sono, a gentetem a necessidade deficar um dia mais à toapara poder recuperar asforças", completa.

Lucas Henrique França sente falta de locais de lazer para sair no bairro

Dúvidas na escolha sobre qual profissão seguirn

MOUNI DADOUN

6º PERÍODO

Em dúvida sobre qual cursoseguiria Fernanda Lambertucci,de 23 anos, trancou matrículano curso de jornalismo no iníciode 2010. A estudante sematriculou em um cursinho,onde permaneceu por seis meses,antes de conseguir passar novestibular de Direito, curso queela faz atualmente. Mas o gostode Fernanda mesmo é pelafotografia. "Sempre gostei defotografar, tenho grande (por-tifólio), gosto de fotos artísticas,até pensei em publicidade, masdesisti", conta. Ela ainda afirmaque sua vida profissional não foipautada pela família e sim pordúvidas que a rodeavam sobreseu destino em relação a que car-reira seguir. "Meus pais semprerespeitaram minha individuali-dade e minha liberdade de esco-lha em relação a que profissãoseguir", explica.

Muitos dos que possuem for-mação acadêmica também dedi-cam parte de seu tempo a outrasatividades, muitas vezes ligadasà arte. É o caso, por exemplo, deManuela Alves de Barros, de 38anos. Há cinco anos a admin-istradora oferece aulas em suacasa. São oficinas de música,dadas a crianças carentes. Alémdas aulas, ela faz shows de MPB,canta e toca violão em cafés ebares da cidade.

Ela afirma que tenta conciliara profissão de administradora emusicista. "Sempre quis adminis-tração, mas sempre me envolvicom música, cresci nesse ambi-ente. Meus pais me ensinaram

tudo o que sei de música.Considero isso como minhasegunda profissão", afirma Ma-nuela.

Já Reginaldo Jimenez, de 39anos, deixou de ser professor deciências para se dedicar à dança.Há 15 anos é dono de uma esco-la e restaurante espanhol. "Já deimuita aula de ciências e hoje mededico totalmente a dança fla-menca. Não me vejo em outraárea. Sou bailarino, professor,administro a cozinha do meurestaurante, sou um pouco detudo", comenta.

PRESSÃO Formada pelaUniversidade Federal de MinasGerais (UFMG), a psicólogaGisele dos Santos afirma quemuitas pessoas por pressãofamiliar ou receio de o "futuro"não ser positivo quanto ao tra-balho, optam pelo mais prático."Há aqueles que não seguem acarreira acadêmica, mas traba-lham como autônomos, há tam-bém pessoas que gostam do quefazem e trabalham em duascoisas, mas muitas tambémescolhem a profissão que afamília quer, por exemplo,Direito ou Medicina", afirma.

Gisele ainda explicita que ovestibular acontece na vida dejovens durante uma idade emque a maturidade está em seuinício de formação, no casodaqueles que estão na faixaetária entre 16 e 18 anos. "Mes-mo para aqueles que já defini-ram no que querem trabalhar, édifícil. A dúvida aparece princi-palmente, as profissões escolhi-das devem de acordo com o quea "sociedade impõe", durar para

a vida toda. Isso acrescido, de emdeterminadas situações, a fa-mília controlar e interferir naescolha desses jovens gera angús-tia, já que para muitos estu-dantes, a aprovação de amigos efamiliares é mais relevante doque a própria aprovação. É umacobrança tanto da sociedadequando da família", explica.

É o caso do então formadoGuilherme Ferreira Paiva, de 29anos. Ele sempre quis ser biólo-go, mas seu pai, que é enge-nheiro, insistiu para que ele tam-bém seguisse engenharia. MasGuilherme surpreendeu seu paiao final do curso. "No mesmo diaque peguei meu diploma penseiem me matricular para o vestibu-lar de biologia. Vou começarcursinho em agosto", diz.

Técnico administrativo deprodutos Químicos, Breno Yow-dy não nega sua paixão peladança do ventre e dança tribal.Atualmente ele é professor dasduas modalidades de dança e

concilia essa atividade com aprofissão de técnico em adminis-tração de produtos químicos."Concilio as duas coisas, mas oque realmente me deixa feliz, édar aula de danças", diz.

ESCOLHA Como já explica-do pela psicóloga Gisele dosSantos, muitos jovens, em idadede transição da adolescênciapara a fase adulta, sentem-seangustiados e pressionados. Oprofessor de geografia MúcioTavares da Silva, de 52 anos,leciona no terceiro ano científicoe afirma que muitas instituiçõesde ensino e psicólogos utilizam oteste vocacional para o auxílio dejovens que têm dúvidas sobre odestino profissional. "O testeajuda, mas a maturidade doestudante é de extrema im-portância. Eles, em minha o-pinião, são muito jovens ainda,mesmo aqueles que já sabem oque querem. Muitos mudam aescolha até mesmo no dia da

inscrição do vestibular. Muitosmudam de profissão já com anosde carreira", observa.

A estudante Carolina Barros,de 18 anos, foi aprovada novestibular de Direito, na Uni-versidade Federal de Ouro Preto(UFOP). Em dúvida ainda sobreo que fazer, ela afirma não querdeixar passar a oportunidade deingressar em uma faculdade."Estudei muito e agora, sincera-mente, não sei o que fazer.Queria que a faculdade que pas-sei fosse pelo menos em BeloHorizonte. Não é um curso qualsou apaixonada, mas é o que temmais chances de garantir meufuturo", diz.

Outro fator que deixaCarolina ainda mais em dúvida ésua paixão pelo Balé. Ela dançahá oito anos e afirma sonha emseguir carreira de bailarina mastem medo de não conseguir sesustentar sozinha. "Tenho medode não dar certo, até conheçovários professores de dança quepodem me ajudar a seguir car-reira profissional, mas antesquero me formar academica-mente, em algum curso. Aindatenho que resolver se farei ocurso de Direito ou não. É umacoisa que angustia a gente", afir-ma.

Catarina afirmou que semprefoi muito livre para fazer suasescolhas, mas que mesmo assim,há um medo em relação ao que afamília espera dela. "Quero queeles (os pais) tenham orgulho demim. Tenho o desejo de me for-mar também, mas ao mesmotempo conciliar isso com dança",diz.A estudante Carolina Barros esta em dúvida sobre seu futuro profissional

MICHELLE OLIVEIRA

MOUNI DADOUN

Page 8: Jornal Marco 291

O transplante de cora-ção de número 100 reali-zado no Hospital das Clí-nicas (HC) foi o do meni-no Matheus de OliveiraLeite, de 13 anos. A ope-ração foi feita no dia novede fevereiro deste ano. Elefoi, também, o mais novopaciente a realizar o pro-cedimento.O menino sem-pre aparentou ser uma cri-ança saudável, antes de a-presentar os sintomas queo levaram ao transplante.

Matheus levava umavida tranquila em SantaLuzia, na Região Metro-politana de Belo Hori-zonte, ao lado da mãe, aestudante de pedagogiaRoseli Oliveira, do pai, ocomerciante Nionaldo deOliveira e dos irmãos Fe-lipe, de nove, e Sara Jen-nifer, de apenas um. A fa-mília é evangélica e fre-quenta regularmente a I-greja. Os filhos mais ve-hos, Matheus e Felipe,sempre jogam futebol narua com os amigos. Ni-onaldo trabalha e Roselifica em casa cuidado dafilha mais nova, quandonão está em aulas. Essatranquilidade mudou apartir de setembro do anopassado, quando os hospi-tais passaram a ser os lo-cais mais frequentadospor eles.

Em setembro de 2011,Matheus chegou da rua e amãe reparou que havia algoerrado com o filho. "Ele en-trou em casa muito cansa-do, tinha acabado de jogarbola, mas o cansaço não eranormal. Além disso, ele sen-tia dor no estômago", con-ta. Por isso, Roseli resolveulevá-lo ao médico, no Pron-to Atendimento (PA) doBairro São Benedito, emSanta Luzia.

Segundo a mãe, o mé-dico disse que a dificulda-de de respiração se deviaao ar seco e receitou ne-

bulização, que foi feita alimesmo. Foi receitado tam-bém um remédio para oestômago e o garoto foi li-berado e voltou para casa.Duas horas depois, Ma-theus, se arrumou para irà Igreja, mas a mãe não odeixou ir. De acordo comRoseli, ele deitou no sofá echorou. Foi quando elapercebeu que o garotoestava muito ofegante. Nomesmo dia, eles voltaramao médico.

De volta ao mesmoPronto Atendimento, nobairro São Benedito, a fa-mília consultou outro mé-dico. Segundo Roseli, logona triagem, foi constatadoque o coração de Matheusestava batendo a 160 bati-mentos por minuto. Elefoi, então, encaminhadopara a emergência. Lá foitirada uma radiografia e omédico viu que o coraçãodele estava inchado. "Apartir daí o menino ficavasó no colo, pois o coraçãopodia não aguentar que e-le andasse", lembra a mãe.

Segundo o relato deRoseli, Matheus foi enca-minhado ao Hospital In-fantil João Paulo II, emBelo Horizonte, porque oPA de São Benedito, nãotinha estrutura para tratá-lo. No Hospital João Pau-lo II ele foi direto ao CTIe lá ficou durante quatrodias. Então Roseli revelaque começaram as espe-culações sobre a causa doinchaço no coração deMatheus. "O médico per-guntou se a gente foi parao interior, achando queera [Doença de] Chagas",conta.

Segundo a estudante,quando o quadro ficou es-tável, Matheus foi levadopara a enfermaria, mas osmédicos ainda não sabiamas causas da doença. Ro-seli explica que três sem-anas depois o médico a

chamou junto com o mari-do e disse que o estado de-le era gravíssimo. "Ele dis-se que não tinha mais oque fazer", relembra Rose-li. A força do coração domenino era 18%, quandoum coração saudável ti-nha que estar entre 40 e60%.

A família procurou aSanta Casa de Belo Ho-rizonte para ouvir outraopinião. "O doutor inter-nou ele na hora", contaRoseli. Segundo ela, naSanta Casa, chegaram àconclusão de que a únicaopção era o transplante decoração. O procedimentodeveria ser feito no Hos-pital das Clínicas.

Nionaldo conseguiu aconsulta para o filho noHospital das Clínicas pormeio do Posto de Aten-dimento Médico do Bair-ro Padre Eustáquio, Re-gião Noroeste de Belo Ho-rizonte. A mãe lembra queem dez dias Matheus con-seguiu a consulta. "O mé-dico passou um medica-mento que tinha o prazode 30 dias para fazer e-feito. Se o coração delenão melhorasse com o re-médio, era preciso fazer otransplante".

Ela revela que antes dese completar o prazo, omenino passou muitomal, com o abdômen mui-to inchado. "Nesse mo-mento a gente precisoucolocar o Matheus na listade transplantes", diz Ro-seli. Enquanto tentavam otransplante, o menino fi-cou internado na enfer-maria da Santa Casa du-rante sete dias. Nesse pe-ríodo, apareceu um órgãocompatível com o organis-mo de Matheus, mas nãohouve autorização da fa-mília e a doação não foifeita. Até que em fevereirodeste ano foi realizado otransplante.

Centésimo transplante no HCfoi de um menino de 13 anos

UMA REFERÊNCIA EM TRANSPLANTESn

ADRIANA BENEVENUTO

BRUNA ALVES

GABRIELE LANZA

JÉSSICA BARCZEWSKI7° PERÍODO

O Hospital das Clínicasda Universidade Federalde Minas Gerais, situadona Região Centro-Sul deBelo Horizonte é, atual-mente, o segundo maiorcentro transplantador dopaís e está entre os 20hospitais que fazem essetipo de procedimento nomundo. O número detransplantes de coraçãochega a 20 por ano, emmédia. Até março desteano, o HC contabilizou amarca de 107 procedi-mentos, sendo os últimossete realizados no pri-meiro trimestre de 2012.Ainda assim, existem cer-ca de 20 pessoas na listade espera em todo o esta-do.

O especialista em trans-plante de coração do Hos-pital das Clínicas, CláudioGelape, explica que exis-tem casos em que opaciente não pode voltarpara casa, devido à gravi-dade da situação. "Essesprecisam ficar internadosporque requerem atençãoconstante, e aqui eles sãobem cuidados e recebemtodo apoio médico", con-ta.

Gelape comenta que amortalidade na fila deespera por um novo cora-ção chega a 70%, númeroque é considerado muitoalto. "A estrutura do hospi-tal está sempre pronta parafazer um transplante, aqualquer momento, mas oproblema é a falta de do-adores, o que acarreta nessenúmero de pessoas na fila",explica o cardiologista. Eleconta que em 2011, o hos-pital realizou 11 trans-plantes desse tipo. "Onúmero é considerado bai-xo porque em 2010 fizemos27 procedimentos. Nacomparação temos essagrande diferença", calcula.

DADOS O serviço detransplante de coração doHC/UFMG recebe pa-cientes de todo o Estado,realizando, em média, 40consultas por semana noambulatório, que recebepacientes de pré e pós-

O menino Matheus de Oliveira Leite, de 13 anos, foi submetido a um transplante de coração, em fevereiro deste ano, no Hospital das Clínicas

operatório. Segundo Cláu-dio Gelape, os casos sãoencaminhados para o am-bulatório do hospital, on-de um cardiologista fazuma triagem e uma sériede exames, como testes deesforço, para avaliar o co-ração do paciente. Se o ca-so for para transplante, jáé iniciado o tratamentocom remédios.

Segundo o médico, paraos que fazem a cirurgia, oprocedimento é cobertointegralmente pelo Sis-tema Único de Saúde(SUS). Nos últimos anos,apenas cinco cirurgias fo-ram financiadas por pla-nos de saúde particulares.Segundo dados do HC,mais de 90% dos paci-entes transplantados nohospital sobrevivem à ci-rurgia. 80% sobrevivemapós um ano e 70% apósos cinco primeiros anos.

"Para quem recebe ocoração, a vida é pratica-mente normal, o trans-plantado pode fazer váriascoisas, até namorar", brin-ca o médico. Segundo ele,é necessário fazer um a-companhamento mensal,com biópsias para veri-ficar se o órgão está sendoou não rejeitado pelo or-ganismo, e com remédios.Além disso, a alimentaçãotambém deve ser controla-da.

O Hospital das Clínicasda UFMG realiza trans-plantes também em outrassete áreas: pulmão, fígado,pâncreas, rim, conjugadode pâncreas/rim, medulaóssea e córneas.

FINAL FELIZ Transplan-tado há cerca de dois anose meio, o estudante de e-ducação física, André Al-varenga, irradia alegriapelo corredor do hospital,onde faz consultas peri-ódicas por causa do trata-mento pós-operatório.Mas essa alegria só veiodepois de o estudante tertomado um susto. "Eusoube que precisava dotransplante quando eusofri um infarto e perdi70% da capacidade docoração. Depois disso euentrei para a fila do trans-plante e passava muitomal, tinha que tomar ba-nho de duas vezes, não

BH possui um dos mais conceituados centros de transplantes do país, localizado no Hospital das Clínicas da UFMG. Muitas pessoas, porém, ainda sofrem na fila de espera por um órgão

ADRIANA BENEVENUTO

comia, dormia assentado,ficava tonto", relembra.

O tempo de espera pelocoração foi de seis meses eao saber que seria sub-metido a cirurgia, Andrénão escondeu a emoção."Foi uma mistura deansiedade com nervosis-mo e felicidade. Foi muitobom!", conta alegre. De-pois do transplante Andréconta que a qualidade devida melhorou muito. "Es-tou 100%. Jogo bola, cor-ro, faço academia. Não te-nho mais falta de ar, nãotenho mais nada", diz.

Para Gelape, o HC temobtido resultados expres-sivos pela boa infra-estru-tura do próprio hospital."A estrutura é grande econta com tecnologia a-vançada de aparelhos ecom vários profissionais,desde psicólogos a enfer-meiros e cardiologistas",comenta. Segundo ele, asestatísticas podem se in-verter. "Na fila de espera,o paciente tem 90% dechance de morrer. Quandoele recebe um novo co-ração, a chance é de 90%de viver", explica. De acor-do com o cardiologista, obom resultado é a sobrevi-da do paciente. "Quandome ligam de madrugadapara fazer uma cirurgia eusaio cheio de energia, efico muito feliz de poderdar vida nova a essespacientes", afirma.

O Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte, é considerado o 2º maior centro de transplantes do país

8 SaúdeJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

ADRIANA BENEVENUTO

Page 9: Jornal Marco 291

9CidadeJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

ESTACIONAMENTO PESA NO BOLSO Em cada região de Belo Horizonte os preços dos estabelecimentos estão variando e dificultando a vida de quem procura uma vaga e não tem outra solução além da rua para estacionar

n

BRUNA CARMONA

GEOVANA LAGE

PAULA HOELZLE

RENATA LOPES FONSECA

7º PERÍODO

Pagar pelo pernoiteem um estacionamentoparticular. Foi essa asolução encontrada pelaadministradora de em-presas Maiza Barbosapara conseguir esta-cionar em Belo Ho-rizonte. Maiza, que hojevive na cidade de Paráde Minas, na região cen-tral do estado, precisavir à capital perio-dicamente e já aprendeuque, por aqui, encontraruma vaga não é tarefafácil.

Ela é dona de umapartamento na regiãoda Savassi, onde hojemoram seus filhos. Oprédio é antigo e agaragem é em fila india-na. Os proprietários pre-cisam combinar entreeles para estacionar osveículos de acordo comos horários de saída echegada de cada mo-rador. Como ela moraem outra cidade, ficadifícil manter o contatocom os vizinhos. "Ape-sar do benefício de pos-suir um apartamento naSavassi, eu tenho umagaragem que não meatende cem por cento",explica Maiza. Atual-mente, ela paga R$30para guardar o carro, das19h às 8h, em um esta-cionamento próximo aoapartamento onde mo-ra.

Maiza conta que sem-pre faz o possível paraorganizar os compromis-sos fora do horário depico ou em locais quepossuam estacionamen-to próprio. E se tiver queir ao centro da cidade,pegar um táxi torna-se amelhor opção. Segundoela, as vagas de esta-cionamento rotativoquase sempre estão ocu-

padas. "Tirar o carro dagaragem fica sendo umaopção cara e descon-fortável, pois passa a serum problema", diz.

Manobrista em umestacionamento próxi-mo ao local onde Maizaguarda o carro, RonaldoAntunes diz que a maiorparte do movimento égerada por mensalistas,que moram ou traba-lham na região da Sa-vassi. Segundo ele, oestacionamento tem ca-pacidade para 50 veícu-los e a diária custaR$40. Só no período danoite, o faturamento di-ário chega a R$900. Deacordo com uma pes-quisa realizada pelo sitedo Mercado Mineiro,que compara preços deprodutos e serviços, avariação no preço dasdiárias em estaciona-mentos privados da ca-pital chega a 455,55%.O preço médio da diárianos estacionamentos daRegião Centro-Sul dacapital é de R$27,94 epode variar entre R$18e R$100.

No estacionamentoonde o manobrista LuizCarlos Pereira trabalha,a maioria dos clientes u-tiliza as vagas por 30minutos e paga R$5 pe-la permanência. O esta-belecimento fica na es-quina entre a rua Goi-tacazes e a avenida Ole-gário Maciel e o horáriomais difícil para encon-trar uma vaga disponívelé entre 15h e 16h30. Pa-ra mensalistas o estaci-onamento é garantido24 horas e o valor pagoé de R$400.

Há quatro meses, adona de casa MaristelaAlves sentiu-se mal e foilevada pelo marido a umhospital na RegiãoCentro-Sul de Belo Ho-rizonte. Ela teve queficar em observação e omarido, que saiu paratrabalhar depois de a-

proximadamente quatrohoras no hospital, pagouR$50 em um estaciona-mento particular. "Euacho que para consultarou visitar alguém nohospital vale muito maisa pena ir de táxi, ficamuito mais barato", afir-ma Maristela. Ela acre-dita que os altos preçoscobrados pelos estaci-onamentos da capitalfuncionam como um in-centivo para que a po-pulação dê preferênciaao transporte coletivona hora de sair de casa."Acho que a taxa deestacionamento é carajustamente para deixaro carro em casa, porqueestacionar é caríssimo",opina.

A estudante de vete-rinária Bárbara Fiúzaopta por usar as vagasde estacionamento rota-tivo. Como precisa esta-cionar com frequência,ela compra os blocosque vêm com dez folhase, assim, gasta menostempo procurando umvendedor. Segundo aBHTrans, existem hoje20.619 vagas de rotati-vo em 775 quarteirõesde Belo Horizonte.

Desde 2008, qualqueruma delas pode ser u-tilizada gratuitamentepor até 30 minutos uti-lizando a área indicadana folha de rotativo.Ultrapassado este tem-po, é necessário pagar ovalor de R$ 2,90 poruma, duas ou cinco ho-ras de estacionamento,de acordo com o que avaga permite. Geral-mente Bárbara faz usoda fração de 50 minu-tos, mas reclama da difi-culdade de encontrarvagas que permitem es-tacionar por cinco ho-ras. "Se você não tivertempo, nem adiantatentar parar com rotati-vo. É melhor procurarum estacionamentomesmo", conclui.

Para fugir dos preços abusivos, motoristas acabam optando por estacionar em local proibido

Apesar dos altos preços, os estacionamentos estão quase sempre lotados

A Prefeitura de BeloHorizonte lançou noinício deste ano umedital de concessãopara construção, ope-ração e manutençãode estacionamentossubterrâneos em BeloHorizonte.

Segundo Faulhaber,a construção de esta-cionamentos está pre-vista em dez locais daárea central da cidade.Entre as que já são

conhecidas estão aPraça Sete, a Savassi,e a região do shoppingpopular Oiapoque.

Os dez estaciona-mentos terão aproxi-madamente 400 vagascada um e os conces-sionários terão o direi-to de explorar o em-preendimento por 20anos, como forma deressarcimento do di-nheiro investido. Apóseste período, as gara-

gens devem ser devol-vidas ao poder públi-co. O edital estabeleceum teto para as tarifascobradas no estaciona-mento subterrâneo eeste valor pode ser rea-justado para mais oupara menos, de acordocom a inflação e com aevolução da políticade mobilidade urbanade Belo Horizonte.

Segundo o secretá-rio, a construção das

garagens subterrâneasnão resolve totalmen-te o problema dos al-tos preços cobradospara estacionar na ca-pital, mas a criação de4 mil novas vagas a-presenta-se como umaalternativa para lidarcom o descompassoentre o espaço dis-ponível e o número deveículos que circulampela capital.

Edital prevê a construção de dez

estacionamentos com 4 mil vagas

RENATA FONSECA

RENATA FONSECA

O chaveiro ÁlvaroFerreira trabalha na ruaParaíba, entre as ave-nidas Cristóvão Colom-bo e Getúlio Vargas há15 anos, e vende folhasde estacionamento rota-tivo. Segundo ele, sãovendidos por semana,aproximadamente 100blocos com 10 folhascustando R$2,90 cada.A maioria das pessoascompra a folha avulsa,mas segundo o chaveiro,é comum que os mo-toristas ultrapassem otempo permitido pelavaga e sejam multadospor isso. A multa paraquem não respeita asregras do estacionamen-to rotativo é de R$53,20 e custa três pon-tos na carteira de habi-litação.

Quem não quer pagaro preço dos estaciona-mentos privados nem orotativo, e encontra va-ga, estaciona nas ruas.Regiões próximas às u-niversidades ficam re-pletas de veículos, prin-

cipalmente na parte danoite. A demanda é tãogrande, que mesmo e-xistindo uma placa de"proibido estacionar" narua Madre BeatrizFrambach, no bairro Co-ração Eucarístico, é pra-ticamente impossívelnão encontrar uma lon-ga fila de veículos para-dos no local. De acordocom o flanelinha AíltonAzevedo, que trabalhana região da PUC Minashá 18 anos, após as 19hsó é possível encontrarvagas a três quadras deentrada da universida-de. "Formam duas filas,uma para entrar e outrapara procurar vaga. Virauma confusão", contaAílton.

Para o secretário mu-

nicipal de Desenvolvi-mento, Marcelo Faulha-ber, as tarifas altas nosestacionamentos priva-dos de Belo Horizonte,a exemplo de países co-mo Portugal, servem pa-ra desestimular os cida-dãos a usarem carros depasseio diariamente, le-vando-os a optar pelotransporte coletivo. "Acapital tem um plano demobilidade urbana queestá em curso e prevê aampliação dos serviçosprestados aos cidadãospelas linhas de ônibus emetrô", explica o secre-tário. Mas e quem nãoabre mão de usar o pró-prio carro diariamente,vai conseguir estaci-onar? O secretário ga-rante que sim.

Page 10: Jornal Marco 291

10CidadeJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

CONFIANÇA NA PM DIVIDE OPINIÕESApesar das tentativas de aproximação da comunidade, a Polícia Militar ainda gera algumas dúvidas quando o assunto é confiança. Pesquisadores e cientistas políticos analisam a situação

n

GABRIELA MATTE

3º PERÍODO

A questão da confiabilidade dapopulação na Polícia Militar,tema abordado pelo MARCO emabril último, em sua edição 288,ainda gera controvérsias entrepesquisadores, cientistas políticose a própria Corporação. A ampli-tude da discussão, pesquisas inde-pendentes e relatos de casos indi-viduais são exemplos de fatoresque podem gerar essa inconformi-dade de opiniões.

Para o doutor em sociologiaLuís Felipe Zilli, 34 anos, coorde-nador de pesquisa do Centro deEstudos de Criminalidade eSegurança Pública da UFMG(Crisp), as polícias como um todono Brasil, especificamente emMinas Gerais, têm se voltadomenos para proteção do Estado emais para a segurança pública, e,por isso, tem se tornado maiscomunitárias. Porém, ele explicaque essa mudança é lenta e éresultado de uma pressão socialpara que a polícia mude sua atu-ação.

“Não é porque elas queiram. Aspolícias são muito resistentes aqualquer tipo de mudança, deabertura ou de transparência, masporque é um caminho que éinevitável, a sociedade demo-crática exige uma polícia mais efi-ciente, mais aberta, mais cidadã,mais prestativa, mais pública”,defende. Nos últimos anos, segun-do ele, ficou claro para a PolíciaMilitar que a sociedade não toleramais o tipo de atuação que tolera-va há 30 anos atrás. “Uma organi-zação como aquela não temespaço. Ela não é legitima. E elanão consegue se manter só na baseda força. E para manter esse graude legitimidade, ela acaba pontual-mente operando algumas alte-rações na sua estrutura, mas queainda resguardam um núcleo durode formação militar”, analisa.

No que diz respeito à for-mação militar dos policiais, o

doutor em ciência políticaFernando Massote, 69 anos, de-fende que o primeiro passo paramudar a relação da polícia com apopulação é a mudança de seuestatuto para polícia civil, tantono nome quanto na atuação. “Ofato dela ser militar já a distanciado povo. Ela não é nem civil nemcivilizada. A polícia militar tratatodo mundo como se fosse bandi-do. Ela foi criada para reprimir.Isso é falta de preparo desses poli-ciais, o erro está na estrutura, napreparação e na política”, critica.

Em contraponto ao que diz opesquisador Luís Felipe Zilli, oprofessor aposentado da UFMG,considera que a polícia não temtentado mudar de forma alguma.Massote possui dois blogs nainternet, um deles, há mais 15anos, dedicado à reflexão e à cri-tica da política, em todos os seusníveis, municipal, estadual, fede-ral e internacional. Uma de suas

lutas, ele define como a “comple-ta reinstalação do estado demo-crático de direito do Brasil”, poisacredita que a ditadura não tevefim efetivo no país. “A reimplan-tação do estado democrático dedireito não se completou noBrasil no instante em que der-rubaram a ditadura. O aparelhodo estado está cheio de agentesque não agem segundo as leis:polícia militar, o judiciário, a polí-cia civil. Nós estamos ainda comum estado controlado por ele-mentos antidemocráticos”, diz.

PROBLEMA MUNDIAL Sobre amudança de atitude da polícia deacordo com as classes sociais ouposições políticas das pessoas,Luís Felipe Zilli diz que isso acon-tece de fato, mas não é um pro-blema somente brasileiro e sim,do mundo inteiro. “As organiza-ções policiais tendem a ter umaatuação mais violenta, mais arbi-

trária e mais truculenta com pes-soas pobres, negras, moradores deperiferia. Em bairros ricos, osmoradores têm não só conheci-mento, como poder político epoder econômico de fazer res-peitar os seus direitos. O que nãoacontece nos bairros pobres, ondeas pessoas não têm recursos,conhecimento ou amparo jurídi-co e legal o suficiente para sefazerem respeitar”, explica. Poroutro lado, ele diz que uma mino-ria da polícia é truculenta e queisso vem melhorado muito nosúltimos anos.

No que diz respeito ao medo dapolícia, o pesquisador Luís FelipeZilli diz que os dados das pes-quisas do Crisp demostram que apopulação não tem medo, masque confia pouco na polícia comouma instituição capaz de resolvero seu problema de segurançapública e que uma forma de medirisso é o imenso indicador de subnotificação de ocorrências nacidade de Belo Horizonte. “Quan-do a Polícia Militar declara que emum mês ocorreram mil roubos emBelo Horizonte, historicamente agente pode dizer que foi entrecinco a seis vezes mais do que issoporque a imensa maioria de rou-bos ocorridos não foram registra-dos pela população”, exemplifica.

Ele diz também que, as pes-quisas do Crisp são completa-mente desvinculadas e autôno-mas da Polícia Militar e que osdados são baseados em ques-tionários aplicados numa amos-tra da população sobre questõesde confiança na corporação, den-

A atuação da Polícia Militar de Minas Gerais é avaliada de forma diferenciada por especialistas entrevistados pelo MARCO

Fernando Massote: Polícia Militar não está preparada para desempenhar suas funções

RAQUEL DUTRA

RAQUEL DUTRA

tre inúmeras outras. O Centro deEstudos da UFMG utiliza dadosda Secretaria de Estado de DefesaSocial (Seds) no que diz respeitoa pesquisas sobre criminalidade.Os dados da polícia são baseadossomente em boletins de ocorrên-cia, o que dificulta a proximidadeda realidade. “Algo em torno de80% a 85% da população nãoregistra ocorrência. Então, essesdados da PM são muito falhos”,diz.

A tenente Débora Santos Per-pétuo Antunes, chefe da As-sessoria de Comunicação do Co-mando de Policiamento de BeloHorizonte, esclarece que a PMaproveita pesquisas de mono-grafia e de estudos que são feitosnas universidades e nos cursos dapolícia, e tem como parceria algu-mas fundações para realizarpesquisas próprias. Um dessesórgãos é a Fundação GuimarãesRosa, uma entidade social quedesenvolve dentre outras ativi-dades, a de pesquisa. São apro-veitadas pesquisas tanto deatendimento quanto de quali-dade e relacionamento, é o queafirma. "Esse tipo de pesquisa éimportantíssimo para o nosso tra-balho, porém a gente tambémtem consciência de que a realiza-da pela PM nem sempre vai terefetividade e sucesso, porque aspessoas se sentem acuadas, entãonós fazemos também pesquisa,mas com policiais descaracteriza-dos, sem usar farda", explica.

Quando perguntada se elaacredita que a polícia merece odescrédito revelado pela pesquisada Secretaria de Estado de DefesaSocial (Seds), que revelou, emjunho de 2011, que 53,7% dapopulação não confia no trabalhodesenvolvido pelas polícias Mi-litar e Civil, a tenente encontrabrechas no resultado. "A pesquisaque a gente faz pela polícia nãodá muito essa dimensão de incon-fiabilidade. A aparência das nos-sas pesquisas é de que o serviço émelhor prestado. Às vezes a pes-soa fica intimidada porque é umpolicial, ou é a insatisfação queela demonstra ali, por causa deum momento de crise que elaviveu. Mas, em geral, a gente temdados positivos", diz.

Ela espera melhoria nos dadospor causa das iniciativas da PM."Eu acho que temos falhas, mastemos trabalhado em campanhasde divulgação, de marketing paraque as pessoas conheçam melhore se envolvam com o trabalho”,observa. “Não é só melhorar aimagem, queremos realmentemelhorar a prestação do serviço",completa.

Com o objetivo de resgatar aconfiança da população emrelação à Polícia Militar de MinasGerais, segundo a tenenteDébora Santos Antunes, a Cor-poração desenvolve uma série deprojetos. Um deles é o‘Polícia eFamília, lançado em junho de2011, como resposta não apenasà pesquisa da Secretaria de Es-tado de Defesa Social, como aoutras de cunho interno.

Baseado em um método depolícia comunitária trazido doJapão, o Projeto Polícia e Famíliapromove a instalação de um poli-cial fixo nos bairros de atuaçãoque conheça as pessoas e sejaidentificado pelo nome. O seudiferencial é a disponibilidade depoliciais para fazer visitas nascasas. Eles têm metas a cumprirde casas para visitar, orientandoos moradores e entregando dicasde segurança. Segundo a tenenteDébora, o projeto tenta perso-nalizar o atendimento, visandocriar identidade e descentralizara atuação dos policiais, forman-do células mais próximas paraampliar o contato e confiança.

“Dar uma assistência persona-lizada ao cidadão, sem esperarele ser vítima de um crime”,explica.

No 16º Batalhão da PolíciaMilitar, o Projeto Polícia eFamília foi instalado há doismeses e atende aos BairrosFloresta e Colégio Batista, naRegião Leste de Belo Horizonte.Por enquanto, o trabalho dos 32militares se resume à prevenção,fazendo ronda e contato commoradores e comerciantes.Posteriormente, se iniciará a fasede cadastramento das famílias.“O mais breve possível, espe-ramos no máximo daqui a ummês estar começando”, afirma o2º Tenente do 16º BPM, PhilippeFernandes Viana, de 26 anos,coordenador do projeto nesseslocais. Segundo ele, dados inter-nos da PM indicam diminuiçãoem 43% na criminalidade no mêsde março nesses dois bairros, secomparado com o mesmo perío-do do ano passado.

Apesar de defender que a polí-cia está efetivamente mudandopor pressão da população, o

doutor em sociologia Luís FelipeZilli, critica que essa mudançapara um policiamento maiscomunitário por demanda dapopulação está encapsulada den-tro de unidades especificas. “Elacontrola até onde essa mudançavai dentro da organização e daestrutura dela. Então quando sefala de policiamento comu-nitário, não estamos falando daPolícia Militar de Minas, esta-mos falando de subunidades dapolícia militar”. Para ele, o erroestá nos cursos de formação dapolícia. “Se de fato houvesseuma preocupação institucionalda Polícia Militar de mudar seusmodos de atuação, a gente obser-varia isso nos cursos de for-mação”, observa. “De fato a PMfaz um esforço, ou melhor, écobrada e acaba cedendo, mas aomesmo tempo se trai quandomonta um curso de formaçãopolicial que não privilegia abso-lutamente em nada esse tipo depoliciamento mais cidadão emais próximo da comunidade. Asmudanças são muito poucas emuito periféricas”, lamenta.

Projetos tentam melhorarimagem da Corporação

Page 11: Jornal Marco 291

11CidadaniaJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

“Existem três fases quea gente chama de ciclo daviolência. Primeiro é afase da explosão, tensão.Ele chega, briga, falamais alto, agride moral-mente e verbalmente.Depois ele passa para aagressão. Aí ele bate,espanca, briga. No ter-ceiro momento vem aparte do amor, ‘nossanunca mais vou fazer issocom você’. A mulher é

normalmente agredidanessa mudança do agres-sor e o ciclo vai serepetindo”. Quem expli-ca é a psicóloga IsabellaMaria de Almeida, 31anos, que junto com ou-tros cinco psicólogos euma assistente social,formam a equipe respon-sável pelo acolhimento epela orientação das mu-lheres que chegam à dele-gacia.

Em tempos modernos,as mulheres vêm sedestacando no mercadode trabalho e na so-ciedade. De acordo comos dados divulgados peloInstituto Brasileiro deGeografia e Estatística(IBGE), no Censo de2010, 38,7% das mu-lheres, cerca de 22 mi-lhões, são responsáveispela renda familiar noBrasil. Outra pesquisa

realizada pelo instituto edivulgada em 2011, aPesquisa Mensal de Em-prego, constatou quehouve um aumento daparticipação feminina nomercado, que passou de43%, em 2003, para45,3%, em 2010.

O valor da mulher,entretanto, modificou-seao que predominava an-teriormente. Ainda é pos-sível identificar a forte

presença da sociedadepatriarcal, na qual o mo-ralismo inflexível e ma-chismo acabam por influ-enciar as atitudes dasmulheres. “A gente per-cebe, inicialmente, queessa situação está muitoligada à questão de possee poder. O homem bate eagride porque ele senteposse da mulher. Desdesempre, a mulher saía do

domínio paternal do paie ia para o do marido.Muitos homens tambémnão têm noção da violên-cia, por uma questão cul-tural; eles acham que seela der casa, comida,roupa lavada e servir se-xualmente quando elequiser, isso já é casamen-to. Para ele então, não éviolência bater às vezes”,aponta Isabella.

Sentimento de posse por parte dos homens influi nas agressões

MULHERES SOFREM COM VIOLÊNCIAA única delegacia da capital mineira especializada em crimes contra mulheres fica sobrecarregada com mais de quarenta atendimentos diários e elevado número de processos

n

MARINA NEVES

LUÍS FELIPE SALGADO

PAULA ZAIDAN3º PERÍODO

As mãos nervosas segu-rando a bolsa e o olharenvergonhado de R.G.S.,28 anos, que prefere nãose identificar, revelam ador e o medo que ela senteao falar sobre sua históriade vida. Quando tinha 15anos, a garota compreen-deu o que havia aconteci-do entre ela e o pai, que asubmeteu a abuso sexualaos 11 anos de idade. Amágoa misturada com osentimento de ódio escon-deu-se por muitos anos davida de R.G.S., que man-teve silêncio sobre a vio-lência sofrida até a idadeadulta. “Eu não entendia,só me lembro do meu paidizendo para não falarnada para a minha mãeporque senão ela o expul-saria de casa. Eu resolviesconder de mim mesmaessas lembranças, mas nãoconsegui mais”, conta.

Este é apenas um entremuitos casos de mulheresque são vítimas de violên-cia em Belo Horizonte eque procuram a única de-legacia especializada para

mulheres situada na capi-tal mineira. Localizada noBairro Barro Preto, é umadas pioneiras do Brasil,inaugurada em 1985. Éaberta 24 horas por diaincluindo um plantão quefunciona desde 2009, querecebe, sobretudo, casosde flagrantes de violência.

As mulheres que che-gam à delegacia passampor uma assistente socialque as acolhem e julga assuas reais necessidades. “Épreciso um atendimentopsicológico da mulherantes de se iniciarem osprocedimentos policiais”,explica a chefe da Dele-gacia de Mulheres, Mar-garet de Freitas, 43 anos.Além disso, há também otratamento psicológico dehomens agressores, quesão convidados pelospsicólogos do local.

A delegacia atende emmédia 40 mulheres pordia, gerando um grandenúmero de processos.“Nós encaminhamos cercade 800 pedidos de solici-tações de medidas proteti-vas à justiça por mês”,informa a delegada Mar-garet de Freitas. Esses pro-cessos são encaminhadosàs varas especializadas de

mulheres do Tribunal deJustiça do Estado de Mi-nas Gerais.

De acordo com a depu-tada estadual, Luzia Fer-reira (PPS-MG), defensorados direitos das mulheres,a resolução dos processosdemora muito, pois existeum número reduzido devaras. “No Tribunal deJustiça só tinham duasvaras especiais para dar

segmento às denúnciascontra as mulheres e cadauma possuía demanda de20 mil processos”, conta adeputada. Ela ainda com-pleta dizendo que a princi-pal falha está na pre-cariedade de recursos hu-manos e materiais, sendonecessária a contrataçãode profissionais qualifica-dos, como investigadores,escrivães e delegadas.

Com a grande demanda,o atendimento na delega-cia é demorado. V.L.C., de48 anos, já foi à delegaciacinco vezes e reclama quejá chegou a esperar até seishoras por um atendimen-to. Após viver 25 anos como ex-marido alcoolista, elacontinua sendo vítima deameaças e do medo. “Àsvezes eu estou passando narua e ele faz questão depassar perto de mim e falarassim: ‘tome cuidado. Seeu for preso, quando eusair, vou acabar o serviço’.Então a gente fica commedo. Eu fico com medoaté de andar na rua”,desabafa a mulher.

Outra queixa frequentefeita pelas mulheres dizrespeito a demora da polí-cia para atender o chama-do. Celina Maria de Al-meida, 40 anos, conta queno dia anterior ao daentrevista, o ex-marido foià sua casa de madrugada ecomeçou a ofendê-la eameaçá-la. Assustada, Ce-lina resolveu chamar apolícia, mas a demora parao envio da viatura sóserviu para deixá-la maispreocupada. “Eu chameieles [a polícia] ontem eeles demoraram uns 40

minutos. Ele [ex-marido]foi embora depois que apolícia chegou. Fiz a ocor-rência e eles disseram queiam andar pra ver seachavam, mas se ele vol-tasse era para eu ligar denovo. Eu fui dormir quase4h da manhã preocupadae com medo dele entrar láem casa”, lembra a mulher.

Uma análise realizadapela pesquisadora dosnúcleos de Estudos daViolência da Universidadede São Paulo (USP) e deEstudos da Violência daUniversidade Estadual deCampinas (Unicamp),Wânia Pasinato, mostraque no ano de 2011,8.763 vítimas de violênciaforam atendidas em BH,7,4% a menos que no anoanterior, cujo número ul-trapassou 9 mil. ParaWânia, cada caso deve serestudado de maneira indi-vidual, mas o estudo poderefletir o desestímulo pro-vocado pelo atendimentoinadequado, seja por partedo policial que atendeessas mulheres ou pelofato da lentidão do pro-cesso.

Margaret de Freitas é delegada da única delegacia destinada às mulheres

PAULA ZAIDAN

Em peça teatral, bombeirosensinam sobre prevenção n

JULIANA SILVEIRA1° PERÍODO

Para levar a prevenção de aci-dentes de forma divertida edescontraída, o Corpo de Bom-beiros de Belo Horizonte criou ogrupo de teatro “Pelotão 193”,que narra situações reais demodo exagerado e engraçado.Começou em 2002 com umabrincadeira no Batalhão da An-tônio Carlos, quando surgiu aideia de fazer um grêmio comvárias apresentações artísticasdo corpo de bombeiros, daímontaram o inicio de uma peça.

A peça que se chama “Fala averdade” foi escrita pelo sargen-to Carlos José, 43 anos, queconta como foi a criação. “Co-meçou como uma brincadeira,contando coisas do dia a dia, porisso chama “Fala a Verdade”,

tudo o que a gente conta aí a-conteceu, há testemunho verídi-co disso. Só que a gente colocaum exagero nas coisas, e vaiagregando mais informações aolongo das apresentações. A nos-sa ideia é que isso faça diferençana vida da pessoa, e usando umalinguagem fácil de ser entendi-da”, afirma.

Ao longo da apresentação sãopassados 28 itens de prevenção,que vão desde coisas simples atéas mais complexas. Entre ostemas abordados estão: parto,gravidez na adolescência, vaza-mento de gás, incêndio, cuida-dos na piscina e na praia, suicí-dio, drogas, salvamento de ani-mais, álcool, bebida alcoólica,gambiarra, uso de extintor, pre-conceito e transporte de vítimas.

O grupo conta com seisatores, cabo Sena, cabo Carmo,

sargento Isabel, sargento Jannis,sargento Moura, sargento CarlosJosé e um diretor, cabo Ricardo.Nestes dez anos, segundo o dire-tor, o grupo já fez mais de 300apresentações em mais de 53municípios de Minas Gerais, Riode Janeiro e Bahia. Mais de 60mil pessoas já assistiram à peça, equando eles se apresentam emempresas, arrecadam alimentosnão perecíveis para doação. Comas apresentações, já conseguirammais de 70.000 quilos de alimen-tos e beneficiaram por volta de143 entidades.

O trabalho inovador do Corpode Bombeiros é reconhecido emtodo o país, tanto que foram con-vidados para participar do Se-minário de Boas Práticas doMERCOSUL, na Bahia, em2009. Sobre o convite, o capitãoAlysson Alexandre Malta, 37

anos, comenta: “Foi uma junçãode prêmios que nos levou para lá,incluindo os prêmios da Se-cretária de Defesa Social em2007 e 2008. Ai a gente foi ga-nhando nome e uma comissãodo MERCOSUL achou melhor o‘Pelotão’ representar o Brasil”.

Além das apresentações gratu-itas, o grupo se apresenta no

Teatro Marília duas vezes porano, onde levam um espetáculomais elaborado, com efeitos so-noros e de iluminação de melhorqualidade e com um cenáriomais completo.

Segundo o sargento Carlos Jo-sé, o objetivo maior de todo essetrabalho é passar a prevençãoatravés da arte e do humor.

O grupo teatral se apresenta na Cidade Administrativa de Minas Gerais

ARQUIVO DO GRUPO

Page 12: Jornal Marco 291

n

ANA CAROLINA SIMÕES1º PERÍODO

Fim de semana pela manhã, aEscola Municipal Professor A-milcar Martins, no Bairro SantaAmélia, na Região da Pampulha,abre as portas para alunos emembros da comunidade comdiversas atividades como infor-mática, hip-hop, street dance, fut-sal, bicicleta, e a de mais sucesso:o skate. Garotos de todas asidades dividem o espaço com oincentivo dos coordenadores eoficineiros. O projeto começouquando o coordenador LuizHenrique de Oliveira, 24 anos,estudante de Educação Física,começou como Amigo da Escola,fazendo apresentações de skatepara mostrar aos alunos umpouco sobre a prática. Com ointeresse deles, Luiz conseguiuentrar com o projeto de oficinade skate na Escola Aberta.

Ele conta que o objetivo prin-cipal é integrar a escola com acomunidade, oferecendo ativi-dades para tirar as crianças eadolescentes das ruas nos fins desemana. "Existe o objetivo detirar o aluno da rua, da periferia,das drogas, da prostituição,porque isso existe mesmo com ascrianças. É uma realidade noBrasil. E com esse projeto agente vê mesmo que conse-guimos os meninos da rua. Elesestão aqui na escola fazendoatividade", justifica.

A prefeitura é a responsávelpela parte financeira e o traba-lho coletivo entre coordenação,direção e oficineiros do projeto éessencial. Em média 750 a 1 milpessoas frequentam o projetopor mês. A oficina de skate é amais procurada com cerca de250 integrantes. Segundo aprefeitura, o projeto foi lançadoem outubro de 2004 e o progra-ma Escola Aberta hoje mantém

85 escolas abertas nos fins desemana. A escola também incen-tiva a prática com a construçãode obstáculos e a reforma doespaço.

Leonardo Augusto Marquesde Faria, estudante de 18 anos,começou a andar de skate noprojeto há quatro, quando al-guns meninos que frequentavamo chamaram para participar.Hoje ele é oficineiro e ajuda a

ensinar os meninos que queremaprender também. "O bom éque não tem rivalidade nenhu-ma. Às vezes você ganha, àsvezes você perde, mas os carasdão apoio independente doresultado", afirma.

Assim como ele, mais quatrogarotos do projeto Escola Abertaconseguiram patrocínio de lojasde skate, o que faz com que elestenham mais incentivo com a

prática do esporte, apoio nacompra de peças e inscriçõespara campeonatos. "Todo mundoaqui começou junto, sabe? Hojemuitos têm apoio. O coorde-nador também está abrindo onegócio dele agora e apoiandoalguns meninos. Como a gentecresceu junto, a gente se ajudapra continuar a crescer mais",conta Leonardo

O projeto Escola Aberta atrainovas pessoas interessadas emparticipar pelo fato de a comu-nidade não ter muito acesso aprogramas como este. IzabelaSilveira Costa, 16 anos, estu-dante, visitou o projeto pelaprimeira vez e conta que o achoumuito interessante ao oferecerum espaço para que as crianças eadolescentes não fiquem nasruas. "O projeto é legal porquedá oportunidade às crianças deterem um contanto com a dança,a música e esporte, que os paisnão poderiam proporcionar so-zinhos por causa das condições.O skate é um dos esportes maislegais na minha opinião", afirma.

Para a comunidade, o projetotem um retorno muito positivo.Pais e moradores procuramagradecer e elogiar a iniciativa.Isso serve de incentivo para queeles continuem o trabalho, ape-sar das dificuldades encontradascomo problemas financeiros e osperigos que envolvem abrir asportas para todos da periferiaque quiserem entrar na escola.

12CidadaniaJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Em Belo Horizonteexistem muitos eventos deskate. Todo mês skatistasde Belo Horizonte, Con-tagem, Itabira e NovaLima participam do quechamam de game de rua,campeonato que ocorreno viaduto Santa Tereza,

o "Game of Skate". Alémde campeonatos no Par-que das Mangabeiras, Par-que Nossa Senhora daPiedade e a nova pista deNova Lima, a Arena daJuventude, inaugurada emabril, é a maior de MinasGerais, com capacidade

para 3 mil espectadores e300 skatistas com váriascategorias para atenderpessoas de todas as i-dades, principalmente opúblico feminino quetambém vem aumentandomuito. A prática encontraapoio de diversas marcas e

lojas de skate que apoiameventos e atletas ama-dores em troca de divul-gação. Isso tem aconteci-do cada vez com mais fre-quência em Belo Hori-zonte. Leonardo Marquesdiz que o patrocínio demarcas é para poucos atle-

tas na capital e explicacomo funciona o pa-trocínio. "Dão uma cotade produtos por mês,pagam as inscrições procampeonato e com isso oskatista divulga andandode skate nos campeonatoscom a camisa da loja. Aí

você deve pensar: nãodeve dar retorno nenhum,mas as pessoas veem vocêcom a camisa vão procurarsaber por que e procurar aloja. Tem muita loja novaultimamente procurandonovos skatistas e apoian-do na cidade."

Projetos e eventos popularizam prática do esporte na comunidade

ESCOLA PROMOVE AULAS DE SKATE Entre outras atividades, a Escola Municipal Professor Amilcar Martins oferece oficinas de skate. O objetivo é tirar crianças da rua nos fins de semana e integrar escola e comunidade

A oficina de skate é a mais procurada e possui cerca de 250 integrantes que se esforçam para fazer manobras em meio aos obstáculos

RAQUEL DUTRA

Parceria garante reinauguraçãode pista na Região Nordeste

Pista de skate no Bairro Nova Floresta foi reformada recentemente

n

NATHALIA CASSIOLATO

SCHEILLA CAMPOS

ÍGOR PASSARINI

1º, 2° E 3° PERÍODOS

A pista de skate do ParqueIsmael de Oliveira Fábregas,localizado no Bairro NovaFloresta, passou por mudan-ças e foi reinaugurada, no fimde junho, com um eventoque reuniu estrelas do skatenacional. A obra faz parte doprojeto Fix to ride que como opróprio nome já diz é"Arrumar para andar", pegaruma pista que está ruim etorná-la acessível novamente.

Esse projeto começou naArgentina e teve a terceiraedição no Brasil, sendo rea-lizada uma a cada ano. Asoutras duas edições foram noRio de Janeiro em 2010, no

bowl do Arpoador que estavaabandonada e é uma dasprimeiras pistas do país, e noano passado em Porto Alegre,na pista do IAPI, que seencontrava bastante danifi-cada e com equipamentosobsoletos.

Chefe do Departamentode Parques da Região Nor-deste de Belo Horizonte,Luiz Carlos Mamede, 42anos, diz que a iniciativa doprojeto foi da ConverseSkateboard. "A Fundação deParques Municipais recebeuo projeto com entusiasmo ese colocou prontamente àdisposição da equipe doevento para, juntos, executar-mos o projeto", conta Luiz.Ele relata ainda que aFundação ajudará com mãode obra e algum material de

construção, além da quadrade futebol que sofrerá inter-venção e melhorias.

Jarbas Alves Arcanjo Neto,27 anos, é skatista profissio-nal pela Converse há seis econta que a escolha da pistano Nova Floresta se deve aofato dela já estar incorporadaà rotina do skate em BeloHorizonte e de estar emcondições muito ruins para aprática do esporte. "O bowl

não era andável porque tin-ham feito uma reforma ante-rior de forma errada. Pelaprimeira vez vai dar para seandar de skate, vai dar paraevoluir. Estamos fazendo um‘Plaza’ por ser um conceitomais recente de pista que éfeito imitando realmente osobstáculos que se encontramna rua", diz Jarbas. Para ele,

mesmo com as novidades, oobjetivo foi manter algunsaspectos pela história doNova Floresta e por carac-terísticas que fazem parte dapista. “As laterais, que sãometades de manilhas,aumentam a dificuldade esão o grande xodó de quemanda aqui. É uma pista atual,mas sem perder a essênciadela, das raízes", completa.

Vinícius Fernandes, 28anos, é biólogo, mora próxi-mo ao parque e conta quedesde que ganhou o primeiroskate há 13 anos, nunca maisparou de andar na pista NovaZoo. Vinícius comenta que areforma foi muito bem rece-bida pela vizinhança porqueo local anda mal frequentadoe com essa revitalizaçãofamílias vão poder utilizá-lo

novamente. O morador res-salta como é importante queuma pista tradicional comoessa esteja novamente voltan-do à ativa "Os skatistas profis-sionais de BH começaram aandar por aqui. Aqui foi prati-camente a pista skate Parkerpioneira e agora podemos recu-perar essa tradição trazendo osskatistas de volta para cá", diz.

A manutenção da pista ficaráa cargo da Fundação de ParquesMunicipais da Prefetiura deBelo Horizonte e a ConverseSkateboard está discutindo coma administração municipal paraque ela troque a iluminação poruma melhor, ative os banheiros,coloque bebedouros e continuemantendo a integridade doespaço.

ÍGOR PASSARINI

Page 13: Jornal Marco 291

13ComportamentoJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MÚSICA CLÁSSICA NAS RUAS DE BHO violista Anderson Quintiliano se apresenta todos os dias na esquina da Rua Tupis e Rio de Janeiro, no centro. Seu desejo é levar seu trabalho com música clássica à todas as pessoas

n

FERNANDA COSTA

SARA MARTINS

VINÍCIUS ANDRADE3º PERÍODO

Em uma esquina movi-mentada no centro dacidade de Belo Horizonteum rapaz apresenta seutrabalho para os pedestres.Ele não é um vendedor,engraxate ou panfleteiro.Sua profissão: músico.Com trajes sociais, umaviola de arco e umrepertório variado, An-derson Quintiliano, 23anos, chega a uma esquinamovimentada no centrode BH: Tupis com Rio deJaneiro. São 9h e ele tra-balha ali até às 17h quasetodos os dias.

A relação de Andersoncom a música começouaos 7 anos. Motivado pelavontade de praticar algodiferente dos colegas e queo fizesse sentir bem elefrequentava a prefeiturada cidade em que nasceu,Ribeirão Pires (SP), àprocura de oficinas e cur-sos. "Com sete anos eu jápensava assim, de ficar nomeio de pessoas cultas, seruma pessoa respeitadapelo que eu faço e nãouma pessoa que recebeordens", diz.

Na prefeitura de Ri-beirão Pires, Anderson co-meçou a aprender flautadoce. "Eu não conhecia aviola ainda. Ouvia o somdo violino em outra sala,um dia eu subi e pergunteise podia ver a aula, o pro-fessor disse que sim. Nofinal eu perguntei se podiafazer aula de violino, e oprofessor me perguntoupor que não aprendia atocar viola, um instrumen-to menos procurado. Elemostrou o instrumento eeu gostei demais", contaAnderson.

Foi assim que aos 10anos de idade Andersonconheceu o instrumentoque está até hoje apren-dendo a tocar. "Não meconsidero especialista nomeu instrumento, achoque tenho muito o queestudar ainda", afirma. A-tualmente o "violista daesquina", como Andersoné conhecido, estuda naFundação de EducaçãoArtística (FEA), e partici-pa da orquestra que seapresenta todo ano. O vio-lista também tem aulasparticulares com o profes-sor Eliseu de Barros, daOrquestra Filarmônica deMinas Gerais, e vai cons-tantemente ao parquemunicipal ou ao espaço daFEA para estudar.

Anderson tem planosde prestar vestibular paramúsica na UniversidadeFederal de Minas Gerais(UFMG). "Estou estudan-do para fazer vestibular,talvez no ano que vem",diz. Como ele vai conciliara universidade com suavida corrida e suas fre-quentes viagens? Nem elesabe. "Não tem que pen-sar, tem que fazer. Se vocêficar pensando, você nãofaz nada.", afirma ele.

ESQUINAS Depois dequase 12 anos de estudo eprática surgiu a ideia delevar a sua arte para asruas. A inspiração veio deum vídeo publicado nainternet em que o violi-nista americano JoshuaBell apresentou sua músi-ca em uma estação demetrô de Washington. "Elefoi bem remunerado, peloscálculos que fiz. Então euresolvi experimentar fazerisso", conta.

Anderson explica quequando começou a tocarnas ruas da cidade, há

quase dois anos, foi pordinheiro, mas atualmenteeste não é o seu principalobjetivo. "Tenho essa ideiade trazer (a música clássi-ca) às pessoas que não têmacesso ou não tem con-dições financeiras pra iremaos concertos. No inícioeu tocava mais pela ques-tão financeira mesmo",diz.

Atualmente seu susten-to vem principalmente deapresentações musicais emeventos. Anderson é mui-to convidado para tocarem casamentos e outrascerimônias, para as quaiscobra, em média, R$ 300.Ele também acompanhabandas musicais em seusshows, e nesses casos o

cachê varia muito. "Depende do tipo de

arranjo, do tempo que vaidemorar pra fazer ele, otempo que vai tomar prafazer o trabalho", explica.Outras fontes de renda sãoa orquestra da fundação eas aulas particulares queAnderson leciona, mesmoque em pouca quantidade,"Eu estou com apenas trêsalunos. Na verdade eu nãoquero dar aula. Não tenhomuito tempo pra isso, sódou aulas particulares quenão são fixas, são mar-cadas para que não meatrapalhem, porque eutenho muitos eventos", dizAnderson.

Para levar música àsruas o profissional deve

estar muito familiarizadocom o instrumento e terum repertório bem pre-parado. Além disso, pre-cisa haver segurança quan-to à decisão tomada e nãose importar com o que osoutros podem pensar, é aopinião de Anderson. Nocomeço o músico refutou aideia por vergonha e pelaincerteza da profissão. "Agente fica meio receosopensando: 'será?'. Esse'será' não pode ficar nacabeça da pessoa, tem queenfrentar o medo de cara",conta. .

ALIADOS Agora queAnderson se adaptou atrabalhar nas ruas, cadapessoa é uma grande alia-da. Nas esquinas Ander-son consegue uma ampladivulgação de seu trabalhoe é convidado para even-tos diversos. Ele afirmaque essa publicidade émelhor do que sites ouvídeos na internet, pois aspessoas têm a oportuni-dade de conferir o seujeito de tocar e a qualida-de de sua música e se sen-tem mais seguras paracontratar alguém cujo tra-balho já avaliaram.

As ruas também pro-porcionam a Anderson ocontato com um públicoque reconhece seu traba-lho. "Acho muito gratifi-cante, as pessoas param,batem palmas, pedem mú-sicas", relata. Ele afirmaque nunca foi desrespeita-do por nenhum pedestre,não costuma ser incomo-dado por mendigos e nun-ca foi assaltado, mesmocom a caixa da viola aber-ta no chão à sua frente esalpicada de notas e mo-edas.

Cleunice Antônia Zula,37, que trabalha comobalconista em frente à

esquina das ruas Rio deJaneiro com Tupis, ondeAnderson costuma tocar,conhece a música dorapaz, considera-a muitobela e observa a reação dopúblico: "O povo gosta,ajuda um pouquinho co-mo pode, contribui comdinheiro e com a atençãodada a ela", diz.

ESCOLHAS O traje énormalmente social, masnos finais de semana,quando está mais tranqui-lo se veste com roupasmais informais para "ficarmais leve", e isso influen-cia na recepção do públi-co. "A aparência hoje emdia é quase tudo. Umrepertório que condiz como ambiente também éigualmente ou mais im-portante. "Procuro variarmúsicas populares comclássicas, porque assimchamo atenção. As pes-soas escutam, param paraouvir a música popularque conhecem, ficam paraouvir um pouquinho mais,vou intercalando e as pes-soas ficam entretidas",afirma Anderson. A auxi-liar de legalização JulianaSilva, 27, não entendemuito de música clássica,mas gosta de ouvir ascanções populares pre-sentes no repertório doviolista. "Ele também tocamúsicas que a gente co-nhece, isso é bom", diz.

Quando perguntadopor que considera tão im-portante para as pessoasesse contato com a músi-ca, explicou que músicavai além de tocar uminstrumento ou cantar,"Música é aquilo que mexecom a alma, com o senti-mento, que alivia as pes-soas, mexe com novos ho-rizontes", afirma.

Anderson Quintiliano se iniciou em música aos sete anos

Cuidados ao conviver com portadores de TOCn

MARIANA OZÓRIO1º PERÍODO

De acordo com aOrganização Mundial deSaúde (OMS), o Trans-torno Obsessivo Compul-sivo (TOC) além de seruma doença mental grave,está entre as dez maiorescausas de incapacitação,em 10% dos casos adoença incapacita os por-tadores para o trabalho epode ocasionar sérias limi-tações ao convívio social.A doença se caracterizapor um padrão de pensa-mentos e comportamentosrepetitivos que, apesar denão possuírem nenhumsentido, aprisionam a pes-soa, tendo ela extremadificuldade de evitá-los.Essa doença acomete prin-cipalmente indivíduos jo-vens ao final da adolescên-cia podendo, em muitoscasos, iniciar-se na infân-

cia.Entretanto, a doença

não se restringe somenteao portador da doença, elaacomete a rotina familiar,exigindo que os familiaresse adaptem aos sintomas.Esse é o caso de Paula Va-nessa Silva Ferreira Fran-ça, 33 anos, casada há 12com Leonardo RalindoFrança, 35, que é portadorde TOC. Paula diariamen-te precisa se adaptar aossintomas da doença domarido.

HISTÓRICO Eles seconheceram na PUC Mi-nas quando cursavam umamatéria de história juntos.Apesar de Leonardo ter setranferido pra a Univer-sidade Federal de MinasGerais (UFMG), o contatoentre eles permaneceu eum ano depois começarama namorar. No início donamoro, nem Paula e nemLeonardo desconfiavam

que ele era portador deTOC, pelo contrário, i-maginavam que seus com-portamentos repetitivoseram apenas manias, comoa "mania" dele de arrumaro guarda roupa de Paula."Eu nunca pude pegar umaroupa dentro do meu guar-da roupa. Porque ele nãodeixa, para não atrapalhar.As coisas são arrumadaspor cor, por tamanho, pordata [de compra] - o queestá mais novo tá nafrente, o que tá mais velhoou que ele acha que eu nãouso mais, está mais atrás",conta.

Leonardo, além de arru-mar o guarda roupa da es-posa, ainda possui ob-sessão de limpeza, elelimpa a casa e troca osmóveis de lugar com fre-quência. Quando está emum momento de crise,Leonardo chega a limpar acasa três vezes ao dia.Paula ainda comenta sobre

o fato de o marido mudaros móveis sempre. "Eubrinco que se a gentetivesse aqui em casa al-guém que não enxergasse,ia ficar doido, porque vocênunca sabe onde o móvelestá. A mania é tão grandede limpeza e tudo, que elenão acha que limpou acasa se não tirar nada dolugar", diz. Entretanto, co-mo afirma Paula Vanessa,apesar desse cuidado ex-cessivo com a casa, consi-go mesmo Leonardo nãose preocupa e foi em umadessas situações que elesdescobriram que ele eraportador do TranstornoCompulsivo Obsessivo: elerecusou-se a tomar banhopor uma semana.

Paula Vanessa relatauma ocasião em que eleschegaram atrasados emum casamento, no qualseriam padrinhos, porcausa da doença deLeonardo. Na hora em que

ia sair, Leonardo descobriuque o filho do casal, JoãoPedro de quatro anos, ha-via derramado um poucode iogurte na sala e quepor causa disso, o maridoparou tudo que estava fa-zendo para limpar todo ocômodo.

TRATAMENTO OTOC é uma doença quepode ser tratada ou pelomenos controlada por me-io de remédios, mas é degrande importância o a-companhamento psico-lógico do doente, para queele possa compartilharcom alguém as dificul-dades das tentativas decontrolar os impulsos ouaté mesmo aprender a nãoceder a eles. Leonardo, co-mo um portador da do-ença, faz o tratamentocom medicamentos, masrecusa-se a fazer tratamen-to terapêutico, sempredando uma desculpa para

não ir a um psicólogo,como afirma a esposa.

As dificuldades que ossintomas da doença im-põem aos familiares po-dem levar um casal a sepa-rar-se e isso já quase acon-teceu com Leonardo ePaula. "Depois quando vaipassando o tempo, vocêvai vendo que você vai terque conviver com aquiloali, a gente já teve váriasvezes a ponto de separarexatamente por causa dis-so. Você começa a ver quede repente você vai ter queconviver com uma pessoa,que tem problema, quevocê vai ter que respeitaresses problemas e às vezesnão está na sua capaci-dade", afirma. Paula hojevai ao psicólogo quin-zenalmente para podersuportar a situação eaprender a lidar com omarido.

VINÍCIUS ANDRADE

Page 14: Jornal Marco 291

14CulturaJulho • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

NOVO PROJETODE ZECA BALEIRO n

THIAGO DE BARROS

TÚLIO OLIVEIRA8º PERÍODO

Zeca Baleiro, um dosartistas mais emblemáticosda música brasileira, querealiza uma série de showspara a divulgação de seunovo CD, intitulado "ODisco do Ano", já planejaum outro trabalho. Zecapretende fazer um disco demúsica infantis, que eleclassifica como uma Arca deNoé, pois contará comvários convidados, dentreeles Frejat e Tom Zé. "Oprojeto está em obra, apesarda ideia já existir há muitosanos. Eu comecei minhacarreira fazendo trilha parao teatro infantil, então é umnegócio que já estava emmim. Quando meus filhosnasceram eu fiz muitascanções e fiquei com von-tade de gravar. Eu desejofazer esse trabalho por umaquestão afetiva, embora eusaiba que é um disco quetem um potencial incrível.Espero finalizar até o fimdo ano e lançar no ano quevem", anunciou.

O novo projeto está sen-do elaborado em meio auma agenda intensa queZeca deve cumprir até ofinal de 2012 com o "Discodo Ano". A ironia, marcaregistrada do artista, encon-tra-se presente no título doprojeto, pois trata-se de umálbum de protesto contra o

Jornalismo Cultural Bra-sileiro. Com participaçõesespeciais como a de Chorãona música "O desejo" (umrapp) e de Margareth Me-nezes na canção "ÚltimoPost" (um reggae), o re-pertório é marcado por vari-ação de estilos musicais, co-mo afirma o próprio cantor."É um disco bem variadoem termos de ritmo e te-mática. Tem um fato espe-cial, pois tivemos 15 pro-dutores, cada um fazendouma música e, em algunscasos, dois produtores tra-balhando numa mesma fai-xa. Isso deu um colorido pa-ra o disco no sentido daprodução. É um álbum co-mo os outros, cheio decores, ritmos e gênerosdiversificados", explicou.

No trabalho, destaca-se amúsica "Mamãe no Face",que satiriza as redes sociaise faz uma ironia clara acrítica cultural do país comtrechos como "mamãe, eufiz o disco do ano [...] sófalta que a Folha de SãoPaulo comece a incensá-lo,dizer que eu sou o cara. Ouentão, que os rapazes daVeja me chamem prumacerveja, veja só que coisarara." A canção, que as-semelha-se a um tango ar-gentino, mostra exatamentea diversidade de ritmos uti-lizados pelo cantor, assimcomo ocorre na canção"Meu amigo Enock", quetambém fala das redes soci-

ais e tem um som maisvoltado para o rock newhave. O cantor, que classifi-ca-se como um ouvinte as-síduo de todos os estilosmusicais, conta que vaitemperando seus álbunsseguindo a lógica do seutempo e o seu próprio hu-mor. "Eu gosto de me aven-turar pelos vários territóriosda música. Como composi-tor, naturalmente, eu meaproprio de muitos estilospara me expressar atravésdo meu trabalho", destacou.

TRAJETÓRIA Zeca Ba-leiro, que acumulou cincodiscos de ouro e quatroindicações ao Grammy La-tino, já apresentou-se pordiversas vezes na Europa.Nascido em 11 de Abril de1966, o talentoso composi-tor maranhense ganhou oapelido de "Baleiro" porcausa de sua mania de con-sumir balas durante o perío-do de faculdade. Depoisdisso, ele chegou a abriruma loja de doces e balas,momento em que adotoudefinitivamente o apelido.Sua ascenção no cenáriomusical ocorreu em 1997após participação no A-cústico MTV de Gal Costacom a canção "A flor dapele". Depois disso, o can-tor ganhou projeção na-cional com seu primeirodisco, chamado "Por ondeandará Stephen Fry?". Se-gundo Zeca, essa obra foi a

Zeca Baleiro faz uma turnê de divulgação do novo trabalho intitulado “O Disco do Ano” e planeja disco infantil

mais especial, justamentepor ter lançado a banda emnível nacional. "Esse discotem uma força incrível, eraum trabalho de chegada,apesar da gente ser imaturoem certos sentidos. Mas oCD teve uma repercussãomuito boa. Tanto é quedepois de 15 anos, váriascanções ainda são tocadas",enfatizou.

Em 1999, Zeca lançouseu segundo trabalho, como título de "Vô imbolá".Apropriado para um mo-mento de consolidação donome do artista, o disco játrouxe algumas das pecu-liariedades que seriam en-contradas nos shows deZeca, como o figurino ex-travagante do cantor, asmisturas de estilos musicaise as ironias feitas à so-ciedade. Os discos seguin-tes, "Líricas", "PetShop-MundoCão" e o trabalhocom Raimundo Fagner("Raimundo Fagner e Zeca

Baleiro"), são destaques nacarreira do artista. "Sãovários discos importantesna minha trajetória. Mas odisco com o Fagner, do qualeu me orgulho muito de terfeito, rendeu um trabalhosensacional e, certamente, éum dos mais especiais daminha carreira", salientou oartista.

A trajetória de sucessocontinuou com outros tra-balhos importantes, comoos discos "Baladas do asfal-to e outros Blues", "Lado Z"e "O Coração do Homem-Bomba". No último álbumcitado, Zeca lançou algunsde seus sucessos, dentre elesa música "Vai de Madu-reira", que foi tocada nanovela "Aquele Beijo" daRede Globo, que ficou no arentre 2011 e 2012. "Termúsica em novela sempreatrai uma repercussão boa,já que as rádios hoje nãotocam com o devido em-penho os trabalhos musi-

cais. Então música em trilhade novela acaba cumprindouma função importante, po-is chega a um público maisamplo e traz mais visibilida-de para os artistas", enfati-zou Zeca Baleiro.

Em 2010, quando cele-brou 13 anos de carreira,Zeca lançou o pacote "Vocêsvão ter que me engolir", quetinha dois discos: "Concer-to" (gravado ao vivo noteatro Fecap/SP) e "Trilhas"(uma coletânea das trilhasque ele fez para cinema edança). No mesmo ano, elelançou o livro "Bala na A-gulha, Reflexões de boteco,pastéis e outras frituras". Olivro reune nas primeiras160 páginas textos que Ze-ca Baleiro publicara em seusite na internet desde o anode 2005, com temas diversi-ficados como religião, com-portamento, literatura, gas-tronomia, cinema, entre ou-tros.

A tradição do choro e seu público na capital

THIAGO DE BARROS

n

MOUNI DADOUN6ºPERÍODO

Aos 38 anos, o músicoRaphael Freitas diz não sa-ber de estilo musical maissensível que o choro. Paraele não há emoção mais bo-nita. "Talvez porque o choroseja a forma mais natural ehumana de se demonstrarum sentimento, tanto na a-legria quanto na tristeza. Éconfraternização alegre, emharmonia. É a música clássi-ca tocada com pé no chão,calo na mão e alma no céu",afirma.

A capital dos bares tam-bém pode ser considerada acidade em que se destaca osamba e o choro. Tradicio-nalmente, o circuito desamba e choro percorre porbares espalhado para todosos cantos da cidade, como oBar do Salomão, A Casa deCultura Bar, Godofredo,dentre outros.

Junto a família, todas àsquintas feiras, Rodrigo Frei-tas de Melo, de 26 anos, es-tudante de Direito daUFMG, vai ao tradicionalBar do Salomão, localizadona Rua do Ouro, BairroSerra. Rodrigo afirma quedesde pequeno frequenta olugar não só pelo ambiente,mas também pelo choro."Meus pais sempre gosta-ram de samba e choro e des-

de que se conhecem fre-quentam lugares em que ochoro ao vivo é apresentadopor vários grupos diferen-tes. Então, desde pequeno,sempre os acompanhei, co-mo até hoje, no Bar do Sa-lomão", afirma.

O flautista Joaquim Cala-do é considerado um dosprincipais colaboradores pa-ra a fixação do gênero,quando incorporou ao soloda flauta transversal doisviolões e um cavaquinhoque auxiliam na improvi-sação. Em termos de músi-ca, o choro segue a formado rondó.

Segundo o músico AndréOrandi, de 25 anos, o cho-rinho era uma maneira livree espontânea de fazer músi-ca, por isso o seu transportetinha de ser rápido e fácil."Era um som que tinha queser tocado aqui, e depois ali,e depois lá... conforme oritmo dos bares", disse.Segundo ele, foi por essanecessidade prática que obaixo acústico, por ser mui-to grande, foi substituídopela sétima corda do violão- "corda que proporcionanotas mais graves".

Músico há cinco anos,Diego Alves dos Santos, de29 anos está criando umgrupo de samba e choro eafirma que Belo Horizonteé um grande atrativo paraquem deseja se divertir. Ele

afirma que a capital mineirapossui muitos espaços emque esses estilos musicaissão bem dinamizados atra-vés da música ao vivo. "Fe-lizmente os grupos inde-pendentes de samba e choroestão expandindo o cenáriocultural de BH", diz.

Diego ainda afirma que ocrescimento da criação degrupos musicais para a ex-pansão desses estilos é mui-to importante, mas que ocouvert artístico tem de sercada vez mais acessível,mesmo porque, de acordocom ele " o choro é um esti-lo popular, mesmo que te-nha alcançado uma classemais elitista." Muitos baresse transformam em casa deshows e aumentam o preçodo couvert, em contraparti-da, muitos mantém a carac-terística popular de ambi-ente aberto, mais familiar",comenta.

ESPAÇOS Aos 52 anos, ahistoriadora Maria CecíliaPedrosa sempre vai com omarido Hélio Gomes Pedro-sa, de 64 e família, no BarCartola, em que diversosgrupos apresentam choro esamba e dedicam seusshows a grandes nomes damúsica brasileira. O espaçoé localizado no Bairro Cai-çara. "Levo meus filhos enetos. É bom para eles seacostumarem. Hoje a músi-

ca está muito banalizada.Sempre escutei samba echoro e procuro levar essacultura aos meus filhos enetos.

Ainda na capital mineira,o Bar Pedacinho do Céu,tem como principal atrativoo chorinho. Como deco-ração instrumentos musi-cais, fotos e caricaturas,podem ser vistos e caracte-rizados como itens quefazem do estabelecimentoum espaço diferente. Já oBar Godofredo , que fica noBairro Santa Tereza, traz aidéia de ser um reduto dosapreciadores de música bra-sileira. As terças, por exem-plo, Gabriel Guedes, que éproprietário do bar e filhodo cantor Beto Guedes, a-presenta alguns sucessos dochoro.

Desde 1989, o grupoFlor De Abacate faz um tra-balho pioneiro em MinasGerais de pesquisa, estudo edivulgação da música ins-trumental brasileira, comdestaque para o choro. As-sim como a Orquestra Taba-jara, que além de ser a or-questra mais antiga em ati-vidade no país, certamentetrouxe a modernidade paraa música brasileira, ao finaldos anos 40.

Ana Cláudia, de 32 anos,diz sempre acompanhar osshows do grupo. A empre-sária conta que começou a

frequentar os shows naFeira Tom Jobim. Ela afirmaque a integração de pessoasde diversas idades é interes-sante e enriquece as cria-ções musicais. "É uma mis-tura bacana, que ajuda nacontínua construção dochoro. Essa diversidade deidades não se é apenas vistaem grupos musicais, mastambém no público. Elesconseguem atrair variadopúblico mesmo com o chorotradicional", diz.

O grupo se apresentavana Feira Tom Jobim. Foiquando começaram as par-ticipações das bandas dechoro nas tardes de sábado,que se tornaram tradici-onais, assim como seu pú-blico. A banda participoudo Projeto Pizindin Chorono Palco, em março de2012. O público de samba echoro belo-horinzotino estáa espera de mais apresenta-ções e programações do gru-po.

SAMBA E CHORO Ochoro, nascido em 1870, noRio de Janeiro, era conside-rado uma versão brasileirapara as músicas estrangeirasda época, como o europeu"xote", valsa, a polca e oafricano lundu, de caráterpopular. Durante a pós-abolição da escravatura,uma nova classe média,composta de pequenos

comerciantes e funcionáriospúblicos, surgiu. O estiloque de início era uma formamais emotiva de interpretaruma melodia, foi se espa-lhando pela sociedade.

O músico Henrique Ca-zes, autor do livro Choro -Do Quintal ao Municipal,obra mais completa publica-da até hoje sobre o chori-nho, defende que é nessaforma mais chorosa de exe-cutar uma melodia que estáa origem do termo. Outrosacreditam que tem a vercom a transformação da pa-lavra "xolo", que era um tipode baile, típica de escravos.Além do violão de sete cor-das e da flauta transversal,outro instrumento essencialé o pandeiro.

O cavaquinho, o ban-dolim, e o violão comum,também são opções paraum bom chorinho. Entre-tanto o chorinho com maisinstrumentos de sopro, co-mo a clarineta e o trombonetambém é feito. É o caso dogrupo mineiro de choroCorta Jaca, que vem trilhan-do um caminho próprio,equilibrando as vertentes dearte e da tradição na lin-guagem do choro. Seusálbuns apresentam compo-sições autorais e destacam osopro e percussão.

Page 15: Jornal Marco 291

15EsporteJulho • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DESAFIOS DA PROFISSÃO DE GOLEIROPreparadores, ídolos e atletas que estão em atividade nos clubes mineiros contam sobre a importância da preparação física e psicológica e as dificuldades para atuar debaixo das traves

Victor Siman, da escolinha do Clube de Lazer do América-MG, começou a jogar como zagueiro e a princípio não tinha a intenção de se tornar goleiro

Vinícius acredita que o goleiro tem um grande poder dentro de campo O goleiro do Atlético-MG Geovannni aconselha que é necessário sonhar e nunca desistir do que se deseja alcançar

nGILVAN JÚNIOR

RENAN PACHECO

ÍGOR PASSARINI

1º E 3º PERÍODO

O goleiro é umaposição que difere dasoutras dentro das qua-tro linhas, mas nãosomente por se pegar asbolas com as mãos. Odever dele vai além dasdefesas de bola e énecessário um treina-mento físico e psico-lógico diferenciado. OJornal MARCO conver-sou com alguns perso-nagens que fizeram efazem dessa profissãouma escolha de vida.

O deputado estadualJoão Leite da SilvaNeto, 56 anos, foi go-leiro por 17 anos econta que era umaemoção muito grande.Ele costuma dizer quenasceu goleiro e quedesde criança sonhavaem seguir a profissão aoassistir partidas deGilmar, Castilho e ou-tros grandes camisas um

que atuaram pela Se-leção Brasileira. "Erammeus pensamentos, fica-va me imaginando de-fendendo os pênaltis",relembra.

Para João Leite, quejogou pelo Atlético-MGe pela Seleção, uma difi-culdade que os goleirosenfrentam hoje é a ques-tão do entrosamento. "Adefesa depende disso",conta ele, que acreditaque a má fase de algunsbons goleiros dos timesbrasileiros acompanha ainstabilidade do elenco."Existe um desequilíbriono geral. As mudançassão constantes. É pre-ciso sequência para queo goleiro possa ama-durecer", afirma o ex-arqueiro alvinegro. Ou-tro fator importante se-gundo João Leite é opapel dos treinadores nodesempenho dos golei-ros. "É preciso que o co-mandante tenha confi-ança em seu jogadorporque a rotatividadenão pode ser intensa

como acontece hoje",destaca. Muitas vezeseles passam grande par-te da partida sem tocarna bola, mas engana-sequem pensa que isso fazdo trabalho deles umaatividade fácil. JoãoLeite diz que o goleirodescuidado, desatento,chama a bola e quequando a bola nãochega ao gol, também émérito dele. Segundo opreparador de goleirosdo Atlético e da SeleçãoBrasileira, FranciscoCersósimo, um goleiro,além de inteligência ecabeça, precisa de pre-paro emocional. "Temque ter coração para di-vidir as bolas", ressalta.Formado em EducaçãoFísica e há 18 anos naprofissão, o preparadorde goleiros Chiquinho,como é mais conhecido,diz que o seu trabalhoengloba vários setores,passando pelo físico etécnico até o psicológicoe afirma: "É fundamen-tal sempre levantar aautoestima do goleiro".Na opinião do pre-parador, o goleiro pre-cisa de coordenação eatributos físicos, masressalta: "Primeiramenteele deve ter dom". Se-gundo ele, o segredopara ser bom no que fazé trabalhar e treinarmuito.

“Minha família nãoqueria que eu fossejogador, mas eu corriatrás do meu sonho."Essas palavras são dogoleiro Rafael PiresMonteiro , 23, goleirodo Cruzeiro EsporteClube desde 2002.Atual reserva do goleiroFábio, ídolo da torcidaceleste, Rafael, com apouca idade, é umgoleiro com uma boabagagem. Já participouda Taça Libertadores,Campeonato Mineiro eCampeonato Brasileiro.

Conquistou a Copa SãoPaulo pelo Cruzeiro e jáfoi convocado para se-leção brasileira sub-20 esub-23. O atual goleirotitular do Atlético Geo-vanni dos Santos, 25,conta que já treinavadesde criança na po-sição. Relembra o au-xílio do pai, tanto finan-ceiramente quanto psi-cologicamente. "Come-cei com nove anos commeu pai me ajudando eincentivando. Minha fa-mília ajudou com di-nheiro em viagens paradisputar campeonatos",conta. Geovanni tam-bém diz que é ne-cessário sonhar e nuncadesistir do que se deseja."Meu conselho é nuncaparar de sonhar e nuncadesistir. Quem faz aprópria história é você,sempre acreditando em

si", afirma o arqueiro. Victor Andrade Si-

man, 14 anos, e ViníciusGabriel Eustáquio dosSantos, 13, são goleirosna escolinha do Clubede Lazer do América-MG. Fãs do goleiro titu-lar do Cruzeiro, Fábio,eles contam que joga-vam como zagueiros enão tinham a intençãode jogar na posição."Comecei a ser goleiroporque não tinha nin-guém para jogar no gol.Aí eu comecei a catarbem e fui ficando",conta Victor. Viníciusdos Santos, que co-meçou no futsal, diz queo goleiro tem um podergrande dentro de cam-po. "Para mim o goleirotem de ser o capitãoporque ele tem umavisão completa do jogo",diz.

Para Samuel do Car-mo Fernandes, estudan-te de Educação Física naPUC Minas e treinadorde goleiros na Escolinhado América, um goleirotem que ter participa-ção, alto rendimento. Oprofessor diz que a téc-nica consiste nos movi-mentos, postura, punhoe na queda. Ele ressaltaque uma boa coorde-nação motora também éfundamental. "Aqui nósfocamos em ensinar enão na formação de umatleta de alto nível. Àsvezes quando percebe-mos que temos algumatleta diferenciado, in-dicamos para o profis-sional do América", des-taca Samuel.

RAQUEL DUTRA

RAQUEL DUTRA

ÍGOR PASSARINI

Page 16: Jornal Marco 291

Roberto Abras EntrevistaEntrevistaREPÓRTER

‘PATRIMÔNIO’ ALVINEGRODEIXA MASSA INFORMADAn

FREDERICO RIBEIRO

6º PERÍODO

Nos últimos 40 anos, o futebol do Clube Atlético Mineiro sofreu diversasmudanças: o time vendeu e comprou um grande número de jogadores, foi treinadopor incontáveis técnicos, gerido por exatos 11 presidentes, jogou como mandante doMineirão, no Independência, no Ipatingão e na Arena do Jacaré. Mudou de Centrode Treinamento, seu escudo foi redesenhado e ainda viu sua camisa preto e brancaser ‘invadida’ por 13 patrocínios de empresas diferentes. Porém, o que não modificouem quase meio século foi o homem responsável por cobrir o "Glorioso" para a RádioItatiaia, a mais popular em Belo Horizonte: Roberto Abras. Em 2012, em plena‘era’ Ronaldinho Gaúcho, o radialista continua comparecendo à Cidade do Galopara levar as últimas notícias atleticanas para os ouvintes da "Rádio de Minas".Roberto Abras tornou-se referência para colegas de profissão. Prova disso é o fato de‘batizar’ a sala de imprensa do clube, com direito à placa que informa: "Cidade doGalo - Sala de Imprensa Roberto Abras, Belo Horizonte, 4 de Outubro de2003". "Isso foi um gesto do Alexandre Kalil, quando ele trabalhava com oRicardo Guimarães na época (2003). Eu achei até legal a homenagem, mas eu nãosou muito ligado nisso. Cheguei até a falar que havia outras personalidades dentrodo clube que mereciam. Mas, de qualquer maneira, ficou marcante, afinal de contas,é uma sala de imprensa", comenta Roberto Abras. Como já dito, o radialista nãoconta vantagem por atingir essa marca histórica de 40 anos cobrindo o Galo. Amelhor explicação para o jeito do jornalista vem de Luiz Carlos Alves, ex-compa-nheiro de Itatiaia, a quem Roberto Abras substitui em definitivo no comando doGalo, no fim de 1972: "Acredito que o motivo principal que permitiu ao Abrasimpor o microfone da Itatiaia como repórter do Atlético foi a serenidade. Em todosesses anos, ele sempre tentou ficar mais alheio ao que envolve a pressão que a mídiasofre dos dirigentes, dos técnicos de clubes", revelou Luiz Carlos. Entre o intervalode um treino dos jogadores atleticanos e a gravação de seu boletim para o programa"Rádio Esportes", Roberto Abras revelou que foge das “fofocas” e que busca sem-pre “o lado positivo das coisas”. Apesar disso, em alguns momentos admite ter cau-sado insatisfação aos cartolas, como recentemente com o presidente Alexandre Kalil.

n Como e quando o senhor começou a tra-balhar na Rádio Itatiaia?

A história de como eu entrei na RádioItatiaia está ligada à minha infância ejuventude. O detalhe é que eu moreimuitos anos no Bairro Bonfim, onde estáa sede da Rádio. Eu morava há um quar-teirão da Rádio. Então, acabei fazendoamizade com o Emanuel Carneiro. Eu e oMaurílio Costa passamos a ser conhecidosdo Emanuel e, inclusive, entramos juntosna Itatiaia, somos da mesma época e aindatemos a mesma data no registro de jor-nalista, entramos no mesmo dia e nomesmo ano, em 1963. E através dessaamizade (com o Emanuel Carneiro), fuichamado para ficar zapeando na rádio ecomecei a fazer plantão esportivo. Naépoca era o Emanuel que fazia isso, umafunção parecida com a do Marco AntônioBruck nos dias atuais (plantão de esportes).E eu fui escolhido para escutar oCampeonato Paulista, depois surgiu achance dada pelo Januário Carneiro – dire-tor e fundador da Rádio, já falecido – defazer a cobertura diária do América, em1964. Fiquei até 1966, na época em que oMineirão começava a fazer parte das nos-sas vidas (o estádio foi inaugurado em setem-bro de 1965). Neste ano, o HamiltonMacedo, que era o diretor artístico daItatiaia, me colocou para comandar umprograma chamado "Varig, a dona danoite", que era um programa musical. Fizisso até 1970. Depois voltei a fazeresportes juntamente com o programanoturno, só que ficou muito pesado. Saído programa e fiquei exclusivamente noesporte. Em 1972, passei a comandar acobertura do Atlético junto com o LuizCarlos Alves e estou até hoje.

n O senhor virou patrimônio do Atlético,dando nome à sala de imprensa na Cidadedo Galo. Como foi essa homenagem?

Isso foi um gesto do Alexandre Kalil,quando ele trabalhava com o RicardoGuimarães na época (2003). Eu achei atélegal a homenagem, mas eu não sou muitoligado nisso. Sempre digo que sou des-provido de qualquer tipo de vaidade.Cheguei até a falar que havia outras per-sonalidades dentro do clube que mereci-am. Mas, de qualquer maneira, ficou mar-cante, afinal de contas, é uma sala de im-prensa.

n Por cobrir o Atlético há tanto tempo, osenhor acredita que suas palavras têm umpeso maior, ainda mais em um veículo deabrangência tão grande em Minas, como aRádio Itatiaia?

Quem acompanha meu dia a dia dentrodo Atlético sabe que eu fujo de fofocas.Não me envolvo nessa onda. Eu buscosempre o lado positivo da coisa. Mas eucritiquei o time na derrota para o Goiás(por 2 a 0 na Copa do Brasil) e o Kalil nãoficou satisfeito comigo pois eu disse quecom aquele elenco o Atlético ia brigar paranão cair outra vez, se o clube não fizessecontratações. Mas eu estou colaborando, éum alerta (Nota da redação: após a elimi-nação na Copa do Brasil, o Atlético contratou omeia Ronaldinho Gaúcho, os atacantes Jô eJunhinho e o lateral esquerdo Júnior César).

n Falando um pouco de passado, comoforam os jogos da final do Brasileiro de1980 e o desempate da Libertadoresdo ano seguinte?

Eu estava naqueles jogos sim. Massabe o que acontece? A verdade é queo Atlético tinha um grande time, maso Flamengo tinha também, com o Zico,Adílio, Júnior... O Reinaldo chegou aempatar a decisão do Brasileiro du-as vezes com uma lesão, em ple-no Maracanã. O Flamengo ti-nha uma força fora do co-mum e ganhou. Na Liber-tadores de 1981, dizem,mas eu não posso afirmarisso, que a partida estavaarmada, que era do inte-resse comercial da CBFque o Flamengo ga-nhasse a partida. En-tão o José RobertoWright foi convida-do para apitar e o

Galo acei-tou

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista

entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista

numa boa. O Kalil (Elias, pai do atual pres-idente alvinegro) não foi contra, aceitou aindicação. Mas o juíz se perdeu no jogo ecomeçou a expulsar o time do Galo,começando com o Reinaldo que fez umafalta para cartão amarelo no Zico. Foi umatragédia e até a torcida goiana ficouchateada e começou a vaiar o árbitro.

n Quais foram as repercussões dessa marcanegativa na história do Atlético?

Eu lembro que o Atlético entrou com umpedido de anulação de jogo, e, entre outrosaspectos, tinha o fato de o Serra Douradaestar com o gramado pintado de forma

diferente. Eu fui para Li-ma, no Peru, na épo-

ca o Teófilo Sali-nas era o presi-

dente da Sul-A m e r i c a n a(Conmebol).Eu fui para oPeru para a-companhar oprocesso feito

pelo Atlético.Fiquei lá mais

de 10 dias juntocom o Flávio

Dalva Simão, advogado do Atlético. Mas,no fim, nada aconteceu.

n Essa foi a maior tristeza que o senhorvivenciou como setorista do Atlético?

Sem dúvida. Foi esse episódio de 1981 e afinal do Campeonato Brasileiro de 1977,quando o Galo tinha o melhor time doBrasil e perdeu nos pênaltis para o SãoPaulo em pleno Mineirão abarrotado detorcedores. Ficou 0 a 0 e houve umapolêmica entre o Reinaldo e o SerginhoChulapa, que estavam suspensos. Mascada clube falou que iria colocar seu arti-lheiro. No fim os dois ficaram fora e oGalo perdeu.

n Sobre a diferença tecnológica do Rádioentre os anos 70 e 80 e hoje. Quais eramas dificuldades de se fazer uma transmissãode jogo?

Hoje é uma "teta" para os jornalistas.Antigamente não tinha esse negócio deinternet. Usávamos uma maleta Shure,tudo pesado, diversos cabos, hoje temosmicrofone sem fio, está muito avançado evem muita coisa pela frente ainda. A tec-nologia facilitou demais para todos oslados, para as empresas, para os repórterese para o ouvinte que tem um som de me-lhor qualidade. Mas na minha época, eulevava um telefone da Rádio na viagem,tirava o bocal do telefone e ligava nessamaleta Shure para sair o som. Mas, agora étudo moderno, de ponta. Você pode perce-ber isso na aparelhagem usada pela RádioItatiaia que fica aqui na Cidade do Galo.

n O senhor acha que o avanço tecnológicoacaba por esconder as reais capacidades dorepórter esportivo?

Tranquilamente. Antigamente era na raça,não tinha essa facilidade de internet, debuscar uma notícia tão rapidamente. Hojeem dia sai uma notícia no Rio Grande doSul e 30 segundos depois já está na inter-net. O repórter vasculha e apura notíciasna internet e tem tudo no colo, pratica-mente.

n O senhor se lembra de como surgiu ofamoso bordão: "Explode o coração alvine-gro de alegria"?

Não sei dizer o momento específico. Masfoi por volta dos anos 80, nessa época de

ouro que o Atlético vivenciou. Mas é tantacoisa na cabeça, tantos jogos presenciados,que fica difícil recordar quando ele foi cri-ado. Sei que foi por volta desses anos emque o Galo tinha aquele time poderosocom Reinaldo.

n Como era trabalhar nos jogos do Galo,com o Mineirão lotado e o Atlético sempredisputando um título importante?

Era muito emocionante. Cem mil pessoasno Mineirão em jogo entre Atlético e Fla-mengo, entre Atlético e Cruzeiro. Masvocê pode perceber a curiosidade dascoisas. Antigamente, não tinha tantotumulto na torcida. Agora, eles encolhemo Estádio e tem briga para todo lado. Com60 mil pessoas as confusões aumentaram.Antigamente você colocava 100 mil pes-soas com facilidade. O Independência,recentemente reinaugurado, é outro exem-plo disso. Eu já trabalhei no Indepen-dência com 30 mil pessoas nas arquiban-cadas, em um jogo de Seleção Mineiracontra Seleção Carioca. E hoje eu nãoposso ir com o meu carro no Estádio, porcausa das dificuldades de acesso. As coisassão difíceis de entender mesmo.

n Algum dia o senhor já acordou de manhãcom vontade de parar de cobrir o Atlético?

Quando o Atlético caiu de divisão (o episó-dio do rebaixamento para a Série B doBrasileiro em 2005) me deu mesmo umatristeza muito grande e pensei em sair.Mas depois passou esse sentimento e medeu uma vontade de trabalhar para elesubir. Quer dizer, continuar na empresa eprestar meu serviço em um momento difí-cil do clube. Tive a felicidade de ver issoacontecer. Mas o que me preocupa é que oGalo voltou a namorar a queda de divisãonos últimos anos.

n Sobre a relação entre o jornalista e osjogadores, quais foram as mudanças no con-vívio entre repórter e atleta no CT?

Acho que ficou mais difícil. Quando eucomecei a cobrir os times, a relação eramais próxima, não tinha tanta blindagem.Na minha época, não tinha negócio deescolha de dois jogadores para entrevistacoletiva. Nós íamos aos jogadores donosso interesse e eles nos atendiam muitobem. Hoje, eu não faço parte da votaçãoentre os colegas de imprensa para escolherquem irá falar, não acho isso certo porquevem com carta marcada. Cada repórtertem uma pauta diferente e eu não tenhonada a ver com um repórter que quersaber do cabelo do jogador, do estilo musi-cal que ele gosta. Eu sou totalmente con-tra esse esquema de entrevista coletiva.

n Como foi o relacionamento do senhorcom os técnicos, presidentes e diretores doAtlético ao longo desse tempo?

Foi sempre amistosa. Lógico que tinhamomentos em que eu não agradava a eles.Mas é o nosso serviço de jornalista. Nãopodemos ver um lado, temos que dar anotícia. Mas no meu trabalho sempreprocuro colocar o torcedor como o princi-pal responsável. O objetivo é passar para atorcida o que acontece no clube, deixá-lomais próximo do Atlético. Então, assim,quando eu criticava o time ou algumamedida administrativa, eles não gostavamobviamente. Mas, no fim, eles sabiam queesse era o meu trabalho e acabavam enten-dendo o que eu fazia.

n Como o senhor vê a abertura que a RádioItatiaia dá aos repórteres para a prática dojornalismo opinativo?

Acho muito válido. Não tem problemamisturar os comentários com a notícia.Desde que a notícia não seja comprometi-da pela necessidade de dar sua visão, tudobem. Nos jogos, quando o time mineirofaz o gol, o narrador sempre chama orepórter de campo para relatar o que acon-teceu, para descrever o gol. Nessa hora aemoção fala mais alto. Pensamos naqueleouvinte que não tem o recurso do vídeo esó acompanha a partida pelo rádio.

AR

QU

IVO

PE

SS

OA

LG

AB

RIE

LC

OS

TA