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MARCO ZERO Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 4 • Curitiba, julho/agosto de 2010 PERFIL Bodas de ouro com o teatro Regina Vogue conta sobre a sua história e revela seus projetos para o teatro infantil. Página 3 CULTURA O teatro para João Luiz Fiani Em entrevista ao jornal Marco Zero, o renomado ator João Luiz Fiani, diretor de peças como “A Casa do Terror”, “A Gorda e o Anão” e “Branca de Neve”, fala sobre cultura e amor à profissão. Página 10 Uma profissão de vida Dona Frida (Elfrida Taborda Siqueira, na foto acima) exibe com orgulho seu certificado de parteira, expedido em 8 de junho de 1964 pela Secretaria de Saúde Pública do Estado do Paraná, e o guia que utilizava para ensinar a realizar os partos. Páginas 6 e 7 Para fora do tubo! Em dias de chuva, passageiros que utilizam várias linhas de ônibus, no centro de Curitiba, ficam fora das es- tações superlotadas. Página 6 Silvana Maia Alexsandro Ribeiro

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Jornal Marco Zero 5

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Page 1: Jornal Marco zero 5

Curitiba, julho-agosto de 2010 MARCO ZERO

MARCO ZEROJornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 4 • Curitiba, julho/agosto de 2010

PERFIL

Bodas de ourocom o teatroRegina Vogue conta sobre a sua história e revela seus projetos para o teatro infantil.

Página 3

CULTURA

O teatro para João Luiz Fiani Em entrevista ao jornal Marco Zero, o renomado ator João Luiz Fiani, diretor de peças como “A Casa do Terror”, “A Gorda e o Anão” e “Branca de Neve”, fala sobre cultura e amor à profissão.

Página 10

Uma profissão de vidaDona Frida (Elfrida Taborda Siqueira, na foto acima) exibe com orgulho seu certificado de parteira, expedido em 8 de junho de 1964 pela Secretaria de Saúde Pública do Estado do Paraná, e o guia que utilizava para ensinar a realizar os partos.

Páginas 6 e 7

Para fora do tubo! Em dias de chuva, passageiros que utilizam várias linhas de ônibus, no centro de Curitiba, ficam fora das es-tações superlotadas.

Página 6Si

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MARCO ZERO Curitiba, julho-agosto de 20102

EDITORIAL

Aos leitoresExplorar as formas, oportunidades

e pessoas que movem a “máquina de fazer malucos” que é o centro de Cu-ritiba: essa é a proposta desta edição do jornal Marco Zero, inteiramente produzido e editado por alunos de Jornalismo da Faculdade Internacio-nal de Curitiba (Facinter).

As discussões sobre a pauta da edição começaram com algumas perguntas: Engraxate pode ser cé-lebre? Ainda existem alfaiates? Parteiras: alguém sabe de fato so-bre o ofício? E as prostitutas, que já foram consi-deradas divindades, realmente são as profissionais mais antigas do mundo?

Além das respostas para essas per-guntas, o jornal traz entrevistas com duas pessoas que se tornaram referên-cias na cena teatral de Curitiba: Re-gina Vogue e João Luiz Fiani. Será que rir é o melhor remédio?

Aqui você tem vez e voz com a “Boca no trombone”. O Marco Zero também busca trazer o que é bacana no centro e, o melhor, gratuito!

Em época de desastre no centro da cidade, por que não trazer à tona uma discussão sobre a lotação nos ônibus da capital “modelo no trans-porte coletivo”?

Boa leitura!

Expediente

“Acredito que as pessoas não têm o atendimento necessário, pois muitas vezes ficam esperando horas numa fila para serem atendidas”.

Fernanda Rodrigues,45 anos, costureira.

“Acho que existe uma desigualdade, porque já vi muitas pessoas, por se-rem conhecidas de alguns profissio-nais da área, terem privilégios no atendimento, mesmo chegando depois daquelas que aguardavam horas”.

Rogério Pereira Lima,32 anos, pedreiro.

“Quando minha filha precisou ser atendida, tive que brigar na porta do posto de saúde, e as enfermeiras di-ziam que tinha muita gente. Porém, havia poucos profissionais para atender uma grande demanda”.

Tatiana Albukerque de Almeida,42 anos, auxiliar administrativo.

“Acho que o atendimento deveria ser mais prático, não com muita en-rolação, porém com mais dedicação àqueles que pagam seus impostos e merecem um pouco mais de digni-dade e respeito”.

Paulo Bernardo, 36 anos, advogado.

“O que acontece é que as pessoas que atendem recebem pouco e por isso têm má vontade, pois quem acaba pagando isso somos nós, que neces-sitamos de auxílio e ficamos à mercê de algumas pessoas de má vontade”.

Raquel Pereira, 53 anos, do lar.

“O governo deveria contratar mais pessoas, pois somente assim teremos um atendimento de qualidade como merecemos. A saúde no Paraná deve ser um exemplo para o país e não mo-tivo de vergonha”. João Antônio Gomes,32 anos, vendedor.

Livro, biblioteca e leitura no BrasilNatali Carlini

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou recente-mente uma lei que determina a instalação de bibliotecas em todas as instituições de ensino do país, incluindo públicas e privadas. De acordo com a lei, em cada biblio-teca deve haver no mínimo um título para cada aluno matricu-lado, coleções de livros, materiais videográficos, documentos re-gistrados e suportes destinados à consulta, pesquisa, estudo e leitu-ra. A organização, a manutenção e o funcionamento desses novos espaços devem ser definidos pe-las instituições. Tal lei também abrange as salas de aulas em pre-sídios, incluindo cursos do ensino básico e profissionalizante. Deve-se ressaltar a im-portância de se incentivar o há-bito de leitura entre os brasileiros. Todos os povos civilizados se caracterizam por possuírem uma massa crítica de leitores ativos, isto é, gente que desde a infân-cia adquiriu esse hábito e todos os dias manipula com facilidade uma grande quantidade de infor-mações escritas. Uma pesquisa real-izada este ano pela Secretaria de Política Cultural do Ministé-rio da Cultura identi-ficou 3.896 bibliote-cas públicas em todo o país, em sua esmagadora maioria munici-pais. Mais de 80% de seu públi-co é formado por estudantes (indicador indireto da falta de bibliotecas escolares). O acervo da grande maioria dessas biblio-tecas não é atualizado há vários anos. Essencialmente, elas não compram livros, mas sobrevivem com doações, o que significa que seus acervos crescem ao acaso

e sem uma política racional de compras voltada para as necessi-dades de seus frequentadores es-pecíficos, os estudantes. Segundo estudos feitos pela Unesco, os fatores críti-cos que estabelecem o hábito de leitura de um povo ou de uma pessoa vêm de caracterís-ticas específicas, como ter na-scido numa família de leitores, ter passado a juventude num sistema escolar preocupado com o estabelecimento do há-bito de leitura, o preço do livro e o acesso ao livro. Tal realidade aponta que a distribuição de tais recursos ainda

tem que passar por um longo período de transformação, já que dependemos de desenvolvimento social, econômico e político para que tais

transformações sejam evidentes. É fundamental para o futuro do país estabelecer condições para que dentre os jovens possam emergir uma massa significativa de pessoas educadas que se in-tegrem nas nossas futuras elites. E para que isso se realize é es-sencial que essa massa de jovens tenha familiaridade com a leitura e que tais incentivos sejam pri-oridade no governo.

O que você acha do atendimento na saúdepública em Curitiba?

Jéferson Loureiro

ARTIGO

O jornal Marco Zero é uma publicação produzida pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Curso de Comunicação Social:• Gustavo Lopes

Professores Responsáveis:• Roberto Nicolato• Tomás Barreiros

Diagramação:• André Halmata (5º período)

Facinter: Rua do Rosário,147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: (41) 2102-7953 e 2102-7954.

“É preciso definir a importância de

se preservar o hábito de leitura dos brasileiros”

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Curitiba, julho-agosto de 2010 MARCO ZEROPERFIL

Sophia de Souza

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Uma história que veio do circoUma das melhores produtoras e atrizes de teatro infantil de Curitiba, Regina Vogue completa 50 anos de carreira

Nascida em Caçador (SC) e criada em Porto Alegre (RS), Regina Vogue in-

gressou na carreira teatral através do circo, pois quando iria com-pletar 16 anos fugiu da casa dos pais para se juntar a uma trupe que passava por sua cidade. A atriz comenta que tinha o sonho de ser artista, mas seus pais não a apoiavam. “Pedia para ser artis-ta, mas eles, que são evangélicos, achavam que pessoas do ramo não eram corretas”, lembra. Em entrevista ao jornal Marco Zero, a atriz conta a história de sua vida e da profissão e sobre os seus 50 anos de carreira.

Qual era o seu personagem circense?O circo era bem simples e tra-balhei em vários números, como os de fogo, força capilar e auxil-iar do atirador de facas. Foi neste momento que decidi que queria ser atriz, tendo a Regina Duarte como musa inspiradora, e assim ingressei no circo e teatro.

Por ter começado sua carreira nesta área, nunca pensou em montar um grande circo na ci-dade de Curitiba?Nunca pensei em montar porque já têm muitos por todos os cantos do mundo. Resolvi criar uma compan-hia de teatro que se chamava DKV.

Por que optou por focalizar em peças infantis?Por paixão e necessidade de le-var o teatro para as crianças.

Quando foi produzida a primeira peça infantil? E do que se tratava a história?Foi “Chuva de Cores”, em 1986, uma montagem com direção e texto de Nivaldo Dutra que at-ualmente mora em Lisboa. Não tínhamos dinheiro para investir na peça, mas encaramos com coragem para que desse certo. Chegamos, inclusive, a vender coisas pessoais. A história era de um guarda-chuva e uma som-brinha. Eera como no romance de Romeu e Julieta, onde os pais da sombrinha não queriam que ela namorasse o guarda-chuva por ser preto. Foi um sucesso na época.

Além do teatro existem out-ros serviços que são prestados para as crianças?Temos as oficinas e eu adminis-tro tudo mesmo não ministrando as aulas.

Sabemos que nem todas as crianças têm acesso à cultura. A senhora tem algum projeto que leve o teatro ao alcance destes jovens?Trago em torno de 5.000 crian-ças, todos os anos, para meu es-paço, possibilitando que assistam gratuitamente á peças teatrais.

Como aconteceu a parceria com o Shopping Estação de abrir um espaço que leva seu nome?O Miguel Krigsner, fundador de O Boticário, me convidou para abrir um espaço teatral que le-vasse meu nome. Me senti muito

lisonjeada e aceitei na hora.Pretende abrir outras casas teatrais em cidades diferentes ou até mesmo em Curitiba?Sou muito sonhadora e corro atrás destes sonhos para con-cretizá-lo. Por isso, se pedirem para eu abrir outros espaços tan-to em Curitiba quanto em outras cidades, com certeza toparei.

Li que seus filhos foram cativa-dos pelo teatro e que são seus parceiros, como isso aconte-ceu? Meus filhos cresceram neste meio. O Mauricio Vogue é au-tor e diretor e o Adriano Vogue cuida da parte burocrática, e esta parceria é muito boa, nos res-peitamos bastante. Sou bem ‘mã-ezona’ e sempre dei apoio para as escolhas dos meus filhos.

Em outras profissões às vez-es trabalhar com a família é desgastante por causa de dis-cussões, com vocês isso acon-tece? Um interfere no trabalho do outro?Antes de discutir, temos que dia-logar para que tudo dê certo. Ex-iste um respeito muito grande, cada um sabe das suas respon-sabilidades, mas claro que dou ‘pitaco’ de vez enquando (risos).

Este ano, a sua carreira comem-ora ‘Bodas de Ouro’. O que leva destes 50 anos?Muita coisa boa, uma bagagem grande que eu voltaria a carregar para chegar onde estou. Porém não paro e tenho muitos proje-tos que pretendo concretizar.

Como pretende festejar o an-iversário da sua carreira?Em setembro, irei interpretar no palco minha autobiografia que ainda não tem título e estamos com a ideia de fazer um con-curso para a escolha do nom. E também será lançado o livro sobre minha história. Ainda no segundo semestre, a companhia da atriz deve estrear o espetáculo infantil “Alice no país das mara-vilhas”, em outubro, como um presente no mês das crianças.

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“Pedia para ser artista, mas eles, que são evangélicos, achavam que pessoas do ramo não eram corretas”

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MARCO ZERO Curitiba, julho-agosto de 20104

TRILHAS DO TEMPO

A miss que virou uma doce história

Uma torta sofisticada muito famosa que mistura massa de pão-de-ló branca e pre-ta recheada com creme de ovos, nozes e

damasco é uma das especialidades gastronômicas mais conhecidas da Confeitaria das Famílias, lo-calizada na Rua XV de Novembro, em Curitiba. A torta Martha Rocha é uma das especialidades do estabelecimento e foi criada para servir de consolo à mais famosa miss brasileira. Martha Rocha, uma baianinha de 21 anos considerada a mais linda mulher do país, disputou o título de Miss Universo em 1954. Ela perdeu a coroa para a americana Myriam Stevenson, em uma praia na Califórnia. Teoricamente, foram duas polegadas nos quadris que a fizeram perder, mas a história vai muito além disso - hoje se sabe que o motivo foi outro. Antigamente, os concursos eram patroci-nados em milhões de dólares. Como a população estadunidense naquele ano estava meio desinteres-sada, e os patrocinadores ameaçavam não manter com o investimento no concurso, os juízes acha-ram por bem dar o trono à americana. Isso salvaria o espetáculo e deixaria a população feliz e satisfeita, e foi o que aconteceu. As polegadas foram na verdade uma in-venção de um repórter, mais tarde revelada pelo jornalista Accioly Netto no livro O Império de Pa-pel – Os bastidores de O Cruzeiro (Editora Sulina, Porto Alegre, 1998). A intenção de inventar essa história foi consolar a população brasileira. Mas um consolo mais doce veio do pâtis-sier Jesus Alvarez Terzado, espanhol da Galícia, dono da Confeitaria das Famílias. Vendo a tristeza da mulher, a brasileira Dair da Costa Terzado, que

Confeitaria tradicional de Curitiba criou a torta Marta Rocha nos anos 50

Izis Cristine

Uma das especialidades do estabelecimento foi criada para servir de consolo à mais famosa miss brasileira A Confeitaria das Famílias foi fundada em 1945 por imigrantes espanhóis e tornou-se ao longo dos anos a mais tradicional da cidade. Em 1984, a casa passou por uma reforma, principalmente no segundo andar, onde fica o salão de chá, ponto de encontro de famílias e amigos. Os doces são referência na confeitaria, principalmente os folhados, sempre crocantes e deliciosos e elaborados com muita dedicação. O confeiteiro Manolo Rodrigues Gar-cia, um espanhol de 80 anos, trabalha há 50 na confeitaria. “Eu vim ainda novo da Espanha. Meu irmão Jesus já estava aqui, e a confeitaria era de um primo nosso. Cheguei em 1958. An-tigamente, passava um ônibus aqui na frente, e agora é um calçadão. Aí fui ficando e apren-dendo e aqui estou até hoje”, conta. Manolo se diz feliz em trabalhar num estabelecimento bastante tradicional. “Tra-balhar com comida dá muito trabalho e precisa de muita dedicação, e aqui sempre mantivemos esse cuidado. São famílias que frequentam há gerações e continuam vindo, e cada um tem seu gosto”, diz o confeiteiro, informando que seu dia a dia é bem movimentado: “Abrimos às 7h30 e fechamos às 23h. Algumas vezes, preparamos na hora uma massa para agradar o cliente”. Ele conta que as receitas não mudaram muito com o passar do tempo. “No caso dos doces, especialmente os de massa folhada, são as mesmas do tempo da fundação do estabe-lecimento. É um segredo da família.” E quanto à homenagem à mais famosa miss do Brasil? “Até hoje, faz muito sucesso. A estrela da casa é a torta Martha Rocha. As pessoas vêm aqui só para saboreá-la.”

ficou inconformada com a injustiça, rebatizou uma torta antiga (chamnada de “fondant”) com o nome de Martha Rocha, o que se tornou um sucesso total para a confeitaria.

Marta Rocha disputou o título de Miss Universo em 1954

Confeitaria é ponto de encontro

Confeitaria das Famílias, localizada na Rua XV de Novembro

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Curitiba, julho-agosto de 2010 MARCO ZERO

Quando o tubo enche...Em dia de chuva, passageiros ficam para fora das estações- tubos

Alexsandro Ribeiro

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Passageiros da linha Campo Comprido aguardam, em baixo de chuva, a vez para entrar na estação-tubo

Guilherme Pereira

Pontos de ônibus na Praça Tiradentes não têm segurança

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Em Curitiba, numa sexta-feira, às 18 horas, o tempo nublado aponta possi-bilidade de chuva na capital paranaense.

Na rua Desembargador Westfallen, no centro da cidade, cerca de 15 pessoas estão enfileiradas es-perando para entrarem na estação-tubo da linha Bairro Novo, que está lotada. Segundo um fun-cionário da empresa de transporte responsável pela linha, isso acontece de segunda a sexta, en-tre 18 e 20 horas, período de pico da linha. “Seja chuva ou sol, é sempre assim. O tubo enche, e fica um monte de gente para fora. O pessoal sempre reclama”, afirma o funcionário.

Para a balconista Lúcia Stefan Silva, de 33 anos, o fato de passageiros terem que espe-rar para se abrigarem na estação-tubo é con-sequência da falta de planejamento da Urbs, empresa pública responsável, entre outros serviços, pela fiscalização e aplicação de regras para o transporte público em Curitiba. “Eles deveriam colocar mais ônibus na linha, pois as-sim não precisaríamos ficar esperando do lado de fora dos tubos. No começo do ano, fiquei esperando por 15 minutos o ônibus debaixo de chuva. Peguei resfriado. Parece que eles não se importam com isso”, critica Lúcia.

Em outra parte da cidade, atrás da Catedral, na Rua Augusto Stellfeld, a mesma cena se repete na estação-tubo da linha Campo Com-prido. Pessoas do lado de fora do tubo espe-

rando para entrar, também debaixo de chuva. Alguns, prevenidos, abrigam-se debaixo de sombrinhas e guarda-chuvas. Outros não têm a mesma sorte, como a estudante Camila Pon-tes, 13 anos, que frequenta um curso de com-putação no centro da cidade três vezes por se-mana. Segunda ela, além de ficar na chuva, há riscos de assaltos. “Como se não bastasse ter de aguentar a chuva, agora a gente tem que cuidar das bolsas. No mês passado, vi duas senhoras serem assaltadas na fila do ônibus. E olha que estavam perto de entrar. Ninguém pôde fazer nada, foi muito rápido”, comenta.

De acordo com a assessoria de imprensa da Urbs, em 2009, foram registradas 77 reclama-ções de usuários da linha Bairro Novo, dos quais 70 no mês de julho. As reclamações, realizadas pelo telefone de serviços da Prefeitura, o 156, geralmente se concentram nos meses de maio a julho, época chuvosa. Segundo a assessoria da empresa, a ampliação e melhoria da estação do Bairro Novo, que será transferida para a praça Rui Barbosa, está em fase de projeto. Além da ampliação prevista, a Urbs informa haver au-mentado, desde 2009, a quantidade de ônibus na linha nos horários de pico. Conforme a as-sessoria, o tamanho das estações é o principal fator que acarreta as filas para fora dos tubos. Em levantamentos realizados no ano passado na linha Bairro Novo, a Urbs constatou que em determinados horários os ônibus trafegavam com apenas 60% de sua capacidade.

A falta de segurança nos pontos das linhas de ônibus na Praça Tiradentes tem deixado os usuários do transporte coletivo temerosos. Devido às câmeras filmadoras instalados recentemente no Largo da Or-dem, a “cracolândia” mudou de lugar e instalou-se nas proximidades da Praça Ti-radentes. Hoje, é comum a população con-viver com os marginais vendendo e usando drogas em plena luz do dia. Usuários de menor poder aquisitivo, assim como jovens com seus carros importados, ficam rodando por ali à espera de uma oportunidade para consumirem entorpecentes. Apavorados, os trabalhadores evi-tam ficar parados nos pontos de embarque. Como se não bastasse, além da longa es-pera por seus ônibus, os passageiros têm que conviver com mais esse problema. Ao anoitecer, o clima fica ainda pior, pois os consumidores, já transtornados, começam a brigar entre si. Num corre-corre ameaça-dor, eles tomam conta das calçadas. “A polícia não faz nada. Sabe que isso sempre acontece e parece fazer vistas grossas. Hoje eles prendem um cara, mas no dia seguinte esse mesmo sujeito está aqui de volta”, relata a estudante de Ciências Contá-beis Elis Regina. Ela questiona: “Que moral a polícia vai ter? Sempre que prendem, eles já soltam depois. Os drogados sabem que não acontece nada com eles”. Há cerca de dez anos trabalhando no centro da cidade, a vendedora Zinéia Fran-ça conta que há alguns anos muitas famí-lias moravam no centro. “Mas hoje não, o centro à noite é deserto”. Ela afirma que muitas pessoas têm medo de ficar esperan-do ônibus. “Tenho medo de ficar no ponto. Quase todo mundo fica nervoso com essas pessoas traficando na região. Saio da loja, e já está escuro, prefiro esperar em outro lugar”, lamenta. O capitão Samuel Mello, da Polícia Militar, alega que a área já está em estudo pela polícia, que vem fazendo uma investi-gação na região. Dentro de algumas sema-nas, garante ele, serão tomadas medidas para inibir a presença desses grupos na região.

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ESPECIAL: PROFISSÕES ANTIGAS Amor à venda! A profissão é antiga. NoEgito e na Grécia, as prostitutaseramconsideradasgrandessacer-dotisas,divindades,eramsagradaserecebiampresentesemtrocadesexo.Hoje,ganhamdinheironessaatividade,masestãomuitolongedeseremsagradas,poisaessaprofis-sãoévistacomoalgoescandalosoe fora dos padrõesmorais da so-ciedade.Entãoporquemilharesdemulheresentregamseuscorposaestranhos? As razões para a entradadessasmulheresnaprofissãosãoquasesempreeconômicas.Amaio-ria delas vê a prostituição comoalgo passageiro, ou seja, até queachemoutrotrabalho. Mariana(nomefictício)tem32 anos e uma filha de 16. Elasonhaemumdiadeixaressaocu-pação.“Avidaquelevoéhorrível.Quandovoupracamacomumcli-

Rebecca, 21 anos, universitária

Filhas do perigo EmparaleloàhistóriadeMari-anaeRebeca,queutilizamtelefoneeinternet,respectivamente,paramarcarencontros, muitas mulheres se pros-tituemnasruasdeCuritiba,arriscandoavidaeseexpondoahumilhaçõesdeestranhos.No centro deCuritiba, po-dem ser encontradas várias dessasmulheres que, talvez por não teremopção melhor de vida, vendem seuscorposporalguns“trocados”. Omercadodaprostituiçãona

Lucyllen Reis

ente, sinto nojo dele, demim. EumecaseiemoreiemLondrinaaté1999. Lá, tive uma filha, que hojetem 16 anos. Eu era empregadadoméstica. Depois, nos mudamosparaCuritiba.Agentenãotinhadi-nheiro, e pormeio de uma amigafuiparaanoitesemquemeumari-dosoubesse”,conta. Seprostituir-seévenderocorpoparaoprazerdeoutraspes-soas,paraRebecca,oprazeréoqueodinheiropodecomprar.Elaéumameninadeclassemédia,uni-versitária,masquequer o luxoeoglamourquesóodinheiropodedar. “Acordoàs11h,voupraaca-demia,façomassagemebronzea-mento.EstudoRelaçõesPúblicasna faculdade e não reclamo daminha vida, pois ela é boa”, dizRebecca,de21anos.

cidadeevolui.Essasmeninasnãosãosó encontradas apenas nas ruas ouboates, mas também na internet, emsitesespecíficosederelacionamentosonde homens “tímidos” vão procurarparceiras.Urbanoéum típicohomemusuário da internet, tem 45 anos e écasado.“Nainternet,émaisfácilmar-car um encontro, podemos nos con-heceratravésdawebcamantesede-poiscombinar.Euvou,pagoedepoisvouembora”,conta.

Parteira é a pessoa responsável pela aju-da às mulheres no momento do parto. O trabalho está em extinção em razão

da evolução da medicina, mas em muitos lugares, principalmente nas regiões de difí-cil acesso, o trabalho dessas mulheres ainda existe. É uma profissão tão valorizada e re-conhecida pela sociedade que a Organização Mundial da Saúde que, em 1991, instituiu o Dia Internacional da Parteira, a ser comemo-rado no dia 5 de maio. Na Região Metropoli-tana de Curitiba, é preciso muita caminhada para encontrar as parteiras que ainda exercem a profissão. Elfrida Taborda Siqueira é uma das poucas parteiras existentes na cidade de Cu-ritiba. Uma simpática senho-ra de 81 anos, mas com o es-pírito jovial, além da perfeita lucidez. Muito falante e com o sorriso sempre estampado no rosto, Frida, como é con-hecida, acredita que fez cerca de 120 partos. Iniciou o cur-so de parteira prática, por ne-cessidade, aos 35 anos, quando já estava cas-ada e com cinco filhos. Ela sente orgulho de sua profissão, e sua felicidade é notória. “Se eu quisesse, hoje poderia estar milionária de tan-tas vezes que fui procurada para fazer aborto, mas sempre conversei muito com Deus, que nunca me desamparou, e continuei fazendo o bem e nunca fui por esse caminho”, conta.

Ela relata que de todos os partos re-alizados por suas mãos, somente uma morte aconteceu, porque a mãe da criança demorou muito tempo para procurar ajuda, e quando chegaram até a parteira a criança já estava morta. São muitas as histórias de Frida. Ela se lembra de um fato marcante em sua vida: “Um homem de 45 anos veio me procurar para agradecer, pois disse que eu havia feito o parto dele. Foi a senhora que me pegou nas mãos pela primeira vez”, conta, com os olhos lacrimejando. Frida diz que cada parturiente era única, o que exigia conhecimento para saber qual o melhor procedimento a ser adotado. Ela também foi responsável por ensinar e dar treinamento no curso

prático para parteira leiga, cujo intuito era ressaltar os procedimentos, técnicas e cuidados e, principalmente, a importância da higiene. Atualmente, não exerce mais a profissão, devido a um problema na região lombar e pelo aumento do número

de hospitais e médicos especialistas. Está aposentada há 30 anos como visitadora sanitária (profissão hoje classificada como agente de saúde) e há 28 anos não exerce a função de parteira, que declara ser seu maior orgulho. Hoje em dia, adora fazer bordado e crochê e aprendeu a fazer biju-terias: “Nós não podemos parar”.

Parteira, uma profissão de vida

Zilda da Silva e seus dois filhos, Eriane e Everson, nascidos pelas mãos de uma parteira

Apesar do avanço da medicina, algumas mulheresainda se dedicam a essa atividade na Grande Curitiba

Silvana da Maia

Amigas de Rebeca, também garotas de programa

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“Fazia o trabalho sem cobrar nada, porque sentia que era uma missão, por isso me

sinto muito abençoada”

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Ela relata que de todos os partos re-alizados por suas mãos, somente uma morte aconteceu, porque a mãe da criança demorou muito tempo para procurar ajuda, e quando chegaram até a parteira a criança já estava morta. São muitas as histórias de Frida. Ela se lembra de um fato marcante em sua vida: “Um homem de 45 anos veio me procurar para agradecer, pois disse que eu havia feito o parto dele. Foi a senhora que me pegou nas mãos pela primeira vez”, conta, com os olhos lacrimejando. Frida diz que cada parturiente era única, o que exigia conhecimento para saber qual o melhor procedimento a ser adotado. Ela também foi responsável por ensinar e dar treinamento no curso

prático para parteira leiga, cujo intuito era ressaltar os procedimentos, técnicas e cuidados e, principalmente, a importância da higiene. Atualmente, não exerce mais a profissão, devido a um problema na região lombar e pelo aumento do número

de hospitais e médicos especialistas. Está aposentada há 30 anos como visitadora sanitária (profissão hoje classificada como agente de saúde) e há 28 anos não exerce a função de parteira, que declara ser seu maior orgulho. Hoje em dia, adora fazer bordado e crochê e aprendeu a fazer biju-terias: “Nós não podemos parar”.

Uma missão Outra parteira que merece destaque é Zilda Aparecida da Silva, de 53 anos, que estu-dou até a 6ª série. Tem sete filhos, sendo que os cinco primeiros nasceram também por in-termédio de parteira. É conhecida pelos mora-dores da região rural de Colombo, onde reside, como uma pessoa alegre, prestativa e muito receptiva, além de seus dotes culinários. Zilda começou a trabalhar muito nova para ajudar a família, por isso, o tra-balho árduo sempre esteve presente em sua vida. Estampando um grande sorriso, fez questão de ressaltar: “Nunca recusei serviço e procurei ensinar isso para os meus filhos.” Aos 21 anos, foi chamada pela parteira da região para auxiliá-la. Foi quando sentiu que tinha essa missão e começou a se interessar e aprender as técnicas. Desprovida de recursos e atuante em um local de difícil acesso, uti-lizava técnicas simples, como o uso de plantas medicinais, mas com sabedoria para realizar o trabalho da melhor forma possível, pois, como ela diz, “o importante era que corresse tudo bem durante o parto.” Zilda relata que passou por uma situ-ação difícil em um dos partos que realizou. Saíram primeiro os pezinhos do bebê, mas, graças ao conhecimento adquirido, ela teve como solucionar o problema, usando as mãos para virar o bebê e deixá-lo na posição correta para o nascimento. “Antigamente, não existia anestesia, era tudo no cru, por isso, a mãe da criança sofreu muito, mas o importante é que depois as duas ficaram bem”. Hoje, não reali-za mais partos, mas diz que se for preciso, em uma emergência, poderá fazê-lo, pois sente-se realizada por ter colaborado com a vinda de crianças ao mundo. “Fazia o trabalho sem co-brar nada, porque sentia que era uma missão, por isso, me sinto muito abençoada por Deus, pela importância em saber que ajudei alguém a vir ao mundo”, conta Zilda. Nessa profissão, é perceptível o dom dessas mulheres fortes, dedicadas, que têm em comum a doação de seu esforço para o próximo, além de muita oração. Com ou sem diploma, enfrentavam as mesmas difi-culdades para realizarem o trabalho, como o frio e a chuva, o acesso, a estrutura da casa e a altura da cama, que dificultava muito, pois era necessário ficar de joelhos. E tam-bém porque não havia descanso, pois o nas-cimento podia ser a qualquer horário, de dia ou de noite. Mas elas relatam que tudo isso era irrelevante e tornava-se gratificante quando escutavam o choro do bebê e viam que a mãe e o filho estavam bem.

Parteira, uma profissão de vida

Zilda da Silva e seus dois filhos, Eriane e Everson, nascidos pelas mãos de uma parteira

Apesar do avanço da medicina, algumas mulheresainda se dedicam a essa atividade na Grande Curitiba

Alguns profissionais vão, aos poucos, perdendo espaço devi-do à entrada de novos produtos no mercado e aos costumes da vida moderna. Alguns exemplos são os alfaiates, hoje tão escassos, as cos-tureiras, os relojoeiros e também os sapateiros. A profissão de sapateiro é bastante antiga, pois até na Bíblia existem relatos sobre as sandálias e calçados. E alguém, com certeza, fazia e consertava esses objetos de uso pessoal. O exército romano, por exemplo, usava umas sandálias bem “modernas”. Moder-nas porque ainda hoje estão na moda alguns modelos romanos da Antiguidade. Bem mais leves, entretanto, e, com certeza, mais confortáveis. É só olhar nas vitrines. Hoje, são poucos os profis-sionais que atuam nas grandes ci-dades com o conserto de calçados. Não é incomum alguém pensar: “Adoro este sapato e gostaria que ele nunca acabasse!” Não para apre-sentar um estilo ou moda, mas sim porque esse utensílio vai fazendo parte do dia a dia de quem o usa e, muitas vezes, acaba calçando sem-pre o mesmo sapato. Às vezes, o apego a um calçado confortável faz com que seja usado sempre o mesmo bom e velho amigo com todas as roupas - até mesmo sem combinar, mas lá estão eles dando conforto. Se não

fossem os sapateiros que resistem, com a profissão quase extinta com o tempo, o que seria deste bom amigo, o sapato velho? Anderson de Lima, 56 anos, casado, três filhos, conta que pas-sou a infância ao lado do pai, Ozair, entre ferramentas, chaves de fenda, couro, carretéis, martelos, tintas, graxas e agulhas. Com seus olhos arregalados e curiosos, aprendia sem querer a profissão paterna. “Não en-sinam isso no colégio. Muito menos fui a cursos. Aprendi com a vontade de não deixar morrer a profissão de meu pai”, justifica. Também comen-ta com orgulho: “O cliente sai daqui

levando um sorriso no rosto, como uma criança que leva o brinquedo para arru-mar e tudo dá certo”. A melhor propagan-da para o sapateiro

é a boca-a-boca. Joões, Marias, Antônias, Renatas, Juninhos, e por aí vai. Todos que moram nas redon-dezas conhecem Anderson, que con-ta já saber o que o cliente quer, como e sem erros. Feliz com o que faz e atendendo há anos no mesmo local, no centro da cidade, faz sucesso em sua sapataria. Uma cliente garante que o conserto fica bem feito, bo-nito. E se orgulha do sapateiro por sua responsabilidade e confiança. E ainda conta que ele fez um bom tra-balho no conserto de uma bolsa. “O sapateiro tem que ter cri-atividade, pois é um artesão. Surge cada sapato que... hummmm (geme Anderson), além de destruídos, al-

guns têm até chulé!” Ele solta uma gargalhada: “Tenho cada estória que dá para fazer um livro. Às vezes, além de consertar o sapato, viro psicólogo! Mas peço a Deus que demore a extinção da minha profissão. Não é fácil, mas é o que eu sei fazer de melhor”. Irene Farias é uma das donas da conceituada Sapataria Farias, localizada na rua Saldanha Marinho, no centro de Curitiba. Ela não revela a idade. Sua simpatia é contagiante. Conta que já foram 37 anos consertando bolsas e sapatos, desde 1973, e que tudo começou com seu marido, já falecido. “Começamos com uma pequena portinha, aqui mesmo nesta rua. Naquela época, a vida não era fá-cil”, conta Irene, com lágrimas nos olhos, lembrando que trabalhavam duro dia e noite, sem horário de al-moço e às vezes sem dormir. “Mas, graças a Deus, cria-mos nossos filhos, e a vida nos le-vou para o que somos agora, uma sapataria sem concorrência, e me orgulho disso. Consertamos de tudo. Opa! Quase tudo”, corrige Irene, explicando que a Sapataria conta com linha própria de bolsas, carteiras, cintos e acessórios finos. “Trabalhamos em família, eu, meus filhos e mais de 50 funcionários que me ajudam muito”, conta Irene com um orgulho de encher a alma. “Oferecemos ao cliente confiança, pois temos um nome a zelar. Es-tamos pensando em outras filiais para destacar e não deixar morrer a profissão de sapateiro”, conclui.

O velho sapateiro ainda resisteOs serviços de sapateiros ainda são procurados no centro de Curitiba

Elaine Castilho

Ela

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Cas

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“O cliente sai daqui levando um sorriso no

rosto, como uma criança que leva o brinquedo para arrumar e tudo dá certo”

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OSP completa bodas de prata

Larissa Glass

A Orquestra Sinfônica do Paraná está completando 25 anos, com uma trajetória

que envolve talento e dedicação à música. Com um vasto repertório, que inclui mais de mil obras, e 79 músicos que dão vida às sinfonias dos mais diferentes estilos, como o clássico, o romântico, o barroco e o contemporâneo, a OSP encanta os admiradores da música erudita. Dois grandes concertos foram realizados para as bodas de prata, nos dias 28 e 30 de maio, contando com a participação da pia-nista polonesa Anna Kijanowska. Segundo a coordenadora da Or-questra Sinfônica do Paraná, Elisa Satyro, cerca de 300 pessoas não conseguiram assistir ao espetáculo no auditório do Teatro Guaíra, que tem capacidade para 2.149 pessoas. Ela diz que a OSP conta com um público fiel, mas vem ganhando cada vez mais admiradores. Para o músico Fernando Tha Filho, o motivo de a orquestra hoje ter um público maior é consequência da própria existência da OSP, pois as pessoas vão se acostumando a ir aos

concertos com os repertórios sin-fônicos. “Essa é uma consequência natural diante do trabalho realizado”, observa. Tha toca oboé desde o iní-cio da orquestra, em 1985. Para ele, nesses 25 anos, houve vários momen-tos marcantes e emocionantes, mas a comemoração das bodas de prata foi um dos que mais o emocionou. Ele, que trabalha com música há 38 anos, diz que é muito gratificante e a profissão de músico é maravilhosa, exigindo muito estudo. “Mas se co-lhem bons frutos”, garante. Transformações Como um dos corpos artís-ticos oficiais pertencentes ao Centro Cultural Teatro Guaíra, a Orquestra Sinfônica do Paraná passou por trans-formações, ajustando-se à economia, à política e à administração de cada período. Alternando-se entre o es-plendor e a austeridade, contou com grandes participações nacionais e inter-nacionais da música, como Fernando Lopes, Nelson Freire, Anna Yorovaya (Rússia) e Krzysztof Pelech (Polônia). Com uma proposta de diversificar a música brasileira, a OSP se apresentou com Altamiro Carrilho, Zimbo Trio, Banda Blindagem e bandas militares, atingindo os mais variados públicos.

ACONTECEU

Médicos Sem Fronteiras No mês de junho, no Shop-ping Mueller de Curitiba, foi rea-lizada a exposição interativa “Médi-cos Sem Fronteiras”, que mostrou o trabalho de 28 mil médicos e profis-sionais da saúde do mundo todo que levam ajuda humanitária a mais de 60 países. Os visitante puderam mandar mensagens on-line aos médicos do outro lado do Atlântico. A exposição já passou por cidades como São Paulo, Porto Alegre, Bra-sília, Recife, Goiânia e Salvador, tendo recebido um total de 18 mil visitantes e 5 mil mensagens.

Pátria de chuteiras Junho e julho foram os me-ses da Copa do Mundo, realizada na África do Sul. No Memorial de Cu-ritiba, a exposição “Pátria de Chutei-ras” contou a história do futebol no Brasil. Na abertura, houve a partici-pação de ex-jogadores da Seleção Brasileira de todos os tempos, como Edu, Félix e Cafu. A exposição foi dedicada às primeiras copas e, em especial, aos três primeiros títulos da Seleção Brasileira. Foram mostradas fotos históricas e gravações em vídeo das copas. O público pôde conferir como eram as bolas de futebol e as cami-sas e chuteiras usadas na época. Mas nem tudo foram glórias, pois havia uma parte dedicada também aos 24 anos sem títulos mundiais da seleção e aos jogadores que lutaram mas não conseguiram ser campeões.

Cuidados com a Gripe A Aconteceu em Curitiba e no Brasil a vacinação contra a “gripe suína” (gripe A-H1N1). Mas as precauções não podem ser deixa-das de lado, principalmente du-rante o inverno. Após encostar as mãos em locais públicos, deve-se lavá-las bem, com água e sabão e sempre cuidar para não levá-las aos olhos, boca e nariz, pois esse é o principal meio de contaminação. É recomendável ficar em lugares ab-ertos e com o ar circulando. Em caso de suspeita dos primeiros sintomas de gripe, deve-se procurar um médico. A rede de saúde disponibiliza um telefone gratuito do Ministério da Saúde que deve ser usado em caso de dúvidas: 0800-61-1997.

Kyria Mousquer

Além dos concertos sinfôni-cos, coral sinfônicos e óperas como Aída e La Traviata, a OSP participou de apresentações de balés, como o Balé Teatro Guaira, em obras como Dom Quixote, de Minkus, Coppelius, de Delibes e “O Quebra Nozes”. A osquetra realizou apresen-tações em teatros de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi convidada a acompanhar o tenor José Carreras e o tenor Andréa Bocelli em sua tournée brasileira, em concertos em São Paulo e Rio de Ja-neiro. Paranaguá,Castro, Tibagi, Ponta Grossa, Matinhos e Antonina foram palco neste ano para as apresentações de comemoração dos seus 25 anos. Em sua trajetória, a OSP teve à sua frente vários maestros. Hoje, está na regência Alessandro Sangiorgi. Para quem gosta de boa músi-ca, a OSP também faz apresentações no programa Teatro para o Povo, no Teatro Guaíra, todo último domingo do mês. A entrada é gratuita.

SERVIÇOhttp://www.tguaira.pr.gov.brTelefones: 3079-7982 e 3079-7979Endereço: Rua XV de Novembro, 971 – Curitiba-PR.

Jéferson Loureiro

Mesmo jovem, a Orquestra Sinfônica do Paraná conta com um vasto repertório e uma bela história nos seus 25 anos de existência

Orquestra Sinfônica do Paraná: crescimento do público “é uma consequência natural diante do trabalho realizado”

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Bruna Mermer

É de graça!Nas trilhas da noiteCULTURA

André Vinícius

O cenário é clássico. Está encra-vado no meio de uma selva urbana de pedra ou em uma

cidade do interior. À meia-luz de um estabelecimento de lazer noturno, o garçom circunda as mesas munido de uma bandeja repleta de comes e bebes. Em diversos cantos, moças e rapazes travam um bate-papo de caráter mais íntimo. Nas mesas intermediárias, ami-gos e amigas gargalham, gritam, jogam conversa fora, sempre regadas a muito álcool. Em muitos lugares, mesas de bi-lhar motivam as apostas noturnas. Sim, o ambiente é um bar! O tom desse ambiente consagrado pelas massas dispõe de uma trilha sonora, a trilha da noite. São os bares com música ao vivo. As canções podem ser român-ticas, com o intuito de embalar os casais em lânguidas danças, ou talvez adotem um ritmo mais compulsivo, frenético, exagerado, de forma que os frequen-tadores se ponham a dançar. Enfim, existem gêneros para todos os gos-tos e estilos: rock, pop, pagode, MPB, soul... E, é claro, tal realidade sonora não existiria se não fossem os músicos da noite, sejam eles cantores, composi-tores ou ritmistas. Carla Almeida tem 34 anos. Ela toca violão e teclado desde a ado-lescência, como passatempo. Porém, há seis meses, ela descobriu que poderia fazer uso de suas habilidades profis-sionalmente. “Na verdade, não creio ser uma profissional”, afirma. Ela se justifica com o argumento de que tinha

um emprego fixo, mas tem vivido dessa forma desde sua demissão. “Eu fazia reposição em um supermercado. Mas só toco para ganhar algum dinheiro mesmo. Na realidade, estou procurando um emprego fixo, porque neste país não tem condições de viver de arte”. O apreço de Carla pela músi-ca vem por influência de cantores de soul music. “Quando era mais nova, não perdia nenhum lançamento do Michael Jackson, do Barry White ou do Prince. Eu tinha mania de imitar as músicas deles, era meu lazer!” O con-vite para tocar chegou por intermédio de seu namorado, que é intérprete e precisava de alguém com a habilidade de Carla. “Ele já tinha me dito que se eu fosse demitida daquele serviço podia formar uma dupla com ele. Eu nem imaginei que pudesse dar certo”, conta Carla. Luiz Matos, o namorado de Carla, tem 35 anos e há três é cantor

O que não falta em Curitiba sãoepítetos como cidade sorriso, capitalecológica, capital cultural, entre outros.MasCuritibatemoutrotítuloqueadesta-caeque fogedoesquemaoficial:adecapitaldorockalternativobrasileiro.Issose deve ao fato de o público sermuitofiel ao tipo demúsica que visa instigaro amor, o sexo, a política e as drogas,etambémporquefoinacinzentacidadequesurgiu,nosanosde1990,aprimeirarádio brasileira totalmente dedicada aorock,chamadadeEstaçãoPrimeira.

O estudante de música DanielAmérico, que compõe o grupo de ou-vintesdorockalternativo,afirmaqueapreferência pelo estilo na capital para-

naenseécompatívelcomaintrospecçãodocuritibano.“Orocknãoéumamúsicaalegre, no geral. Sempre tem uma veiacomatitude”,diz.ConhecedordebandascomoJethroTulleOsInocentes,oestu-dante,que tambémtocaemumabandacuritibanaderock,acreditaqueessaver-tente musical está relacionada ao bomgosto cultural. “Predileção por um int-electosaudávelnãoincluiaxé.Ficocomorockalternativo”.

ParaobateristaDemo,dabandaderockcuritibanaVersah,quefazcoverdeartistasdosanos1980,ofatorqueligaoestiloàcapitalparanaensenãoédetodoconhecido.Eleacredita,entretanto,queocultoaorockpodeestarrelacionadoage-rações anteriores. “Nossos ascendentesjávieramcomessainfluência”,opina.

O cinza e o rock alternativo

And

ré V

iníc

ius

da noite. Sempre gostou de interpretar músicas, coisa que faz desde os tempos de colégio. “Meus colegas diziam que eu cantava bem. Eu pensava que era piada, imagina só! Mas apareceu uma oportunidade em uma semana cultural organizada pela instituição. Uma banda, que tocava cover de músicas brasileiras, se formou, e me colocaram de vocalis-ta. Modéstia à parte, não decepcionei”, conta Luiz. Ele admira os mesmos ar-tistas que Carla, além de pop europeu. “Gosto muito do Andrea Bocelli e do falecido Luciano Pavarotti”. Luiz e Carla não têm um lo-cal fixo para se apresentar. Naturais de Maringá, já estiveram em Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás. “Não queremos ficar restritos somente a Curitiba. Se tivermos oportunidade de fazer contatos em outros lugares, é para lá que vamos. Viver de arte é muito difí-cil”, completa Luiz, concordando com a opinião da namorada.

ObaixistaMarcelinho,dabandacu-ritibanaAnacrônica(foto),pensaqueomo-tivodeacapitalparanaenseserlembradaquandooassuntoérockalternativoaindaéobscuro.Eleconsideraqueacidadeestáformandoumnovotipodepúblico:oqueconsomeoqueéoriginadoaqui.Exemplodisso é o estouro de bandas como Re-lespúblicaeTerminalGuadalupe.

Suzayne Machado

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Raia Bidê (exposição)

• O fotógrafo Reginaldo Fernandes apresenta a exposição Raia Bidê, no Espaço Cultural Beto Batata. A mostra tem 20 fotografias analógicas em preto e branco do início de sua trajetória; com imagens alegres. A exposição fica em cartaz até dia 15 de julho, de 2ª a domingo das 12h às 24h.Local: Beto Batata, Rua Prof. Brandão, 678 – Alto da XV.Informações: 3262-0840.

Odisséia (exposição)

• Odisséia é o olhar transversal do fo-tografo Zé Cahue sobre as paisagens, culturas e pessoas, observadas du-rante dez anos de sua passagem por 26 países. Zé retrata por meio de suas lentes as mínimas partes de diferentes culturas e sociedades. A exposição pode ser visitada de 2ª a sábado das 18h às 24h até dia 17 de julho.Local: Jokers Pub, Rua São Francis-co, 164.Informações: 3324-2351.

100 Anos de AdoniramBarbosa (exposição)

• O espaço Sesc Água Verde oferece a exposição Os 100 anos de Adoniram Barbosa, que pode ser vista na sala Carol Torres, de segunda à sexta, de 13 de julho a 7 de agosto.Local: Av. República Argentina, 944.Informações: 3342-7577.

Artes visuais (exposição)

• Está em exposição no Solar do Barão a produção de artes visuais dos artis-tas da Fundação Cultural de Curitiba. Eles mostram resultados de seus pro-jetos realizados em 2009. Aberta de 3ª a 6ª, das 9h às 12h e das 13h às 18h, e aos sábado, domingos e feriados, até 8 de agosto.Local: Solar do Barão, R. Carlos Ca-valcanti, 533.Informações: 3321-3367.

Apaixonados pormotocicletas (exposição)

• Para os fãs de motocicletas, es-tão em exposição até 14 de julho no Shopping Muller imagens do fotógrafo Daniel Katz que retratam o universo dos apaixonados pelas duas rodas. A exposição está aberta de segunda a sábado das 11h às 22h e aos domin-gos e feriados das 11h às 22h. Local: Rua Candido de Abreu, 127

Há seis meses, Carla descobriu que podia fazer uso de suas habilidades profissionalmente

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O teatro para João Luiz FianiRir é sempre um bom motivo para sair de casa

CULTURA

Apesar do frio de Curitiba, uma boa opção para quem gosta de humor e cultura é o teatro. A

televisão pode servir de consolo para aqueles que não estão a fim de encarar as ruas nestes dias de inverno. Mas nada melhor que assistir a uma boa peça de teatro e dar boas risadas. Segundo o ator e diretor João Luiz Fiani, que dirigiu incontáveis peças de teatro em Curitiba, entre elas a Casa do Terror, A Gorda e o Anão e Branca de Neve, “fazer teatro é um exercício de dedicação e amor à arte e à cultura”. Trabalhar com teatro é estar lado a lado com a cultura. Para muitos artistas que lidam diretamente com o público, uma das melhores recompen-sas com certeza é o sorriso no rosto das pessoas. Profissionais que incentivam a cultura contribuem com a educação e com o desenvolvimento social da ci-dade. O teatro é a reflexão, a análise e a inspiração da sociedade. Veja mais sobre a entrevista concedida por Luiz Fiani ao jornal Marco Zero.

Marco Zero: O que é cultura para você? João Luiz Fiani: Cultura é toda a for-ma de expressão de um povo. Todo o conjunto de idéias, de expressões, pen-samentos e arte. Cultura é tudo aquilo que vem do coração e que passa pela mente e que pode ser trazido através de ações e resul-tados práticos, tangíveis ou não. A cultura re-flete o momento, o pen-samento e a alma de um povo. Através da cultura dos povos, po-demos compreender o pensamento e a vida de cada cidadão.

O teatro pode influenciar a educação das pessoas? Como? Claro que sim. O teatro pode e deve ajudar a formar a educação de um povo. O teatro deve ter um enfoque social e cultural também, que faça o cidadão pensar na sua vida e em suas relações com os outros. Como fazer? Estar atento aos movimentos sociais, às questões pertinentes ao dia a dia das comunidades. Discutir e aprofundar es-sas questões, fazendo pensar e agir. A linguagem teatral ajuda no pensamento e propicia uma visibilidade do mundo em que vivemos. Ao nos vermos no

A peça Branca de Neve, um dos sucessos do teatro de comédia de Fiani

palco, pensamos mais claramente e po-demos contribuir de forma clara com a educação.

Que mensagem você acha que as suas peças passam as pessoas? Depende. Existem montagens que privilegiam um tipo de postura re-flexiva. Mas em todas provocamos o pensamento e a reflexão. Algumas mais profundas e outras, através do humor, de uma maneira mais descontraída. O humor provoca mais. Incita mais. Faz com que o distanciamento, com um en-

volvimento emocional menor, provoque um questionamento maior! Dependendo do espe-táculo, a mensagem é muito mais clara, direta. Em outras, a metáfora se faz presente. Não existe

uma regra para o que podemos passar num espetáculo. Fundamental é termos em nosso trabalho essa definição clara. Se isso estiver presente, cumprimos o papel social do teatro.

Comparando com outros meios, como a TV e cinema, como fazer algo diferente para atrair as pessoas ao teatro? O teatro, desses meios que você citou, é o que sofre mais por falta de novidade e de recursos técnicos. Compa-rar com os meios eletrônicos é desigual. O que atrai o público para o teatro não é o diferente. É o que toca. É o que faz pensar. Sentir, emocionar, divertir. O dia em que o teatro precisar somente de coisas diferentes para ter público, será o

fim dessa arte. O teatro é maior do que qualquer invenção para reinventá-lo. O teatro puro, ator, texto e platéia, ainda é a melhor atração para o público. É essa a magia.

Como você se sente em relação à sua contribuição para a cultura em Cu-ritiba? Existe uma responsabilidade nisso? Bem, ao fazer o público sair de casa e ir me ver, já me sinto contribuindo para a cultura da cidade. Fazer um espe-táculo, levar um texto ao palco e fazer com que centenas, milhares, venham nos assistir é uma dádiva e um presente dos deuses. Em alguns, proponho pen-samentos mais complexos. Em outros, faço pensar e sorrir. A responsabilidade de quem faz teatro é esta: estar no palco e propiciar ao espectador algo para emo-cionar, para se divertir, chorar... E acima de tudo refletir a vida.

As pessoas procuram mais peças vol-tadas à comédia ou outros estilos? Qual estilo é mais prazeroso fazer? As pessoas hoje procuram mais a comédia. Reflexo da vida. Do dia a dia. Quase que uma tendência... A comédia, quando bem feita, consegue atingir o espectador de uma maneira muito mais clara e objetiva. Nós, artistas, preferimos o drama. Preferimos encenar os clás-sicos, os espetáculos mais herméticos, mais elaborados... Mas isso às vezes afasta o grande público. Traz ao teatro apenas uma minoria mais intelectua-lizada e privilegiada. É uma eterna luta entre a vontade e a necessidade. Vontade do hermético, do clássico, do profundo,

Paulo Veiga e a necessidade do teatro lotado. Afinal, temos contas para pagar.

Qual é a sua sensação, como artista, em relação às respostas do público quando são positivas e também ne-gativas? Eu lido bem com isso. As res-postas, mesmo as negativas, são impor-tantes para a avaliação do nosso tra-balho. A crítica é inerente. O gostar ou o não gostar é muito relativo depende do conceito de cada um. Portanto, o público tem todo o direito de definir aquilo que é bom para ele ou não. Nós, artistas, devemos estar preparados para essas questões e opiniões. O importante é procurarmos filtrar e melhorar com to-das as críticas.

Existe algum projeto em seu teatro que envolva trabalhos sociais com pessoas carentes? Sim. Temos parcerias com os hospitais Nossa Senhora das Graças e Pequeno Príncipe. Contribuimos com várias entidades sociais. Desenvolvemos cursos para pessoas com menos poder aquisitivo. Apresentamos espetáculos gratuitamente. Enfim, sabemos da im-portância do teatro para a comunidade e não podemos nos afastar dessa respon-sabilidade social.

O que espera do futuro do teatro daqui a 20 anos? O futuro depende muito das leis de incentivo. A iniciativa privada, em função das eternas crises financeiras, está afastada do patrocínio direto para pro-jetos culturais. Dependemos muito das leis. Portanto, espero que o crescimento se dê a partir do novo governo estadual que se alinha no horizonte, já que na esfera municipal a lei está funcionando corretamente, mas é insuficiente para a grande demanda de projetos. A cultura precisa das leis. Na esfera estadual, faz-se urgente a aprovação da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Se ela for efeti-vada pelo próximo governador, sua per-gunta será fácil de responder. Os próxi-mos 20 anos serão profícuos e de muito trabalho. Espero que o novo governante estadual seja sensível às artes. E que ame a cultura. Tivemos oito anos de atraso. Considero esse período uma espécie de Idade Média “cultural”. Um governador ausente e que esqueceu a maioria dos artistas paranaenses. Ainda bem que os governantes passam, e a sociedade fica. E podemos lutar por dias melhores.

“Fazer teatro é um exercício de

dedicação e amor à arte e à cultura”

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Curitiba, julho-agosto de 2010 MARCO ZERO

ESTANTE PARANAENSE11

Eliaquim Júnior

Serra Acima Serra Abaixo:o Paraná de trás pra frente (2010)Dante Mendonça

Lançado em março deste ano, o novo livro do jor-nalista e escritor Dante Mendonça, Serra Acima Serra Abaixo: o Paraná de trás pra frente, conta histórias, curiosidades e pitorescos aspectos das cidades paranaenses. O livro é de certa forma uma continuação do antecessor, Curitiba, Mel-hores Defeitos, Piores Qualidades, no qual a capital era o foco principal. Para o autor, Ser-ra Acima é o planalto, onde estão os Campos Gerais, com um dicionário muito peculiar. “É uma mistura de sotaque leitE quentE com termos campeiros, de síla-bas e letras às vezes engolidas”. Serra Abaixo é onde fica o mar. Mas também o lugar do famoso prato do barreado, cuja origem até hoje causa controvérsias, pois ninguém sabe ao certo onde nasceu o prato típico do litoral paranaense. A obra possui desenhos de Joe Benett.

A Copista de Kafka (2007)Wilson Bueno

A Copista de Kafka é um dos livros mais re-centes do renomado escritor Wilson Bueno, que faleceu em maio último, vítima de homicídio. A obra é composta de 27 textos cercados por trechos do fictício diário de Felice Bauer, a co-pista do cultuado escritor Franz Kafka. A obra narra a relação entre Bauer e Franz, misturando realidade e ficção. Bueno revive nas páginas de seu livro alguns personagens e ambientes antes apresentados na literatura de Kafka. Boa leitura para quem conhece a obra de Franz Kafka e para aqueles que desejam saber um pouco mais sobre o grande escritor paranaense.

Retratos de Viagem - Brasil,Caribe eMediterrâneo a bordo do Zimbros (2010)Osvaldo Hoffmann Filho

O paranaense Osvaldo Hoffman Filho navegou pela costa brasileira: começou por Santa Cata-rina, subiu rumo a São Luís do Maranhão, pas-sou pelo Caribe, chegou a Espanha e Portugal e iniciou sua volta passando por Cabo Verde e Canárias, chegando finalmente a Fernando de Noronha. Foram quase dois anos de viagem e muitas histórias, que o velejador conta em seu livro, composto ainda por mais de 40 fotogra-fias. Leia um trecho da obra: “São curiosos e fascinantes esses altos e baixos que se vive a bordo. Em certo mo-mento sentimos um tédio sem tamanho, no seguinte tudo muda; vem uma onda para balançar a monotonia e, finalmente, sente-se uma energia incrível. É uma montanha-russa de emoções... navegar é coisa para loucos”.

Uma homenagemà paixão brasileiraEliaquim Junior

Existe hábito mais brasileiro que reunir os amigos num bar, pedir umas cervejas e

conversar descontraidamente sobre futebol? Esse é, resumidamente, o enredo do filme nacional Boleiros, Era uma Vez o Futebol. No longa, di-rigido por Ugo Giorgetti, a turma de amigos é composta de ex-joga-dores e ex-árbitros que se reúnem para relembrar o passado e con-tar as histórias mais marcantes do mundo do futebol. O filme apresenta seis curtas histórias contadas pelos boleiros no bar. A primeira é a mais divertida. Fala do juiz Virgilio “Pênalti” Paiva, que recebe dinheiro para fazer com que um dos times ganhe e por isso marca um pênalti erroneamente e ainda reprime o goleiro porque ele conseguiu pegar a bola nas duas tentativas em que o jogador chu-tou. Há a misteriosa história de um ex-jogador que coloca à venda suas medalhas e troféus. E também o episódio do “Pai Vavá”, que narra as peripé-cias de três torcedores corinthianos fanáticos indignados com a situa-ção do craque Caco, que está fora dos jogos há dois meses, vitima de uma lesão no joelho. A situação motiva os garotos a tomarem uma decisão radical: levar o jogador para se curar com um macumbeiro. Vale destacar ainda o curta que conta a história do jogador metido a galã Fabinho, que encon-tra um mulherão (Marisa Orth) bem nas vésperas do clássico Palmeira x Corinthians, deixando o técnico, vivido por Lima Duarte, louco de preocupação. Boleiros não é um filme ape-nas para quem entende ou gosta de futebol. Não tem muitas cenas de “bola rolando” no campo, mas de-screve com sucesso as várias faces desse cenário tão brasileiro, além de retratar a paixão pelo futebol de uma maneira verdadeira e fe-

liz e mostrar que, por essa paixão, muita gente é capaz de fazer coi-sas inimagináveis e desagradáveis. Mas se é pelo futebol, tudo bem, não é? O elenco, com todos muito à vontade em seus papéis, tem Fla-vio Migliaccio, Rogério Cardoso, Adriano Stuart, Otávio Augusto, Denise Fraga e outras participa-ções especiais. Boleiros é um filme muito agradável de se ver, e, evi-dentemente, muita gente irá se identificar (principalmente os espe-ctadores-torcedores) com algumas situações. Mas o que ainda não se compreende é por que um filme tão “nacional” como esse, um dos pou-cos que retratam com êxito a nossa paixão brasileira, é tão pouco con-hecido? Vai ver que os boleiros es-tão sempre muito ocupados acom-panhando as tabelas do Brasileirão, da Copa Libertadores da América, Copa do Mundo...

Boleiros, era uma vez o futebolDireção: Ugo GiorgettiAno: 1998País: Brasil

Quer ver mais filmes que retratam o futebol? Acesse o link abaixo e divirta-se:http://listasde10.blogspot.com/2010/04/10-filmes-sobre-futebol.html

RESENHA

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Velho e maravilhoso mundoENSAIO FOTOGRÁFICO

Oquefalarsobreo“VelhoMundo”?Ésimples-mentefantástico.TodososlugaresnaEuropaexalamhistória,quepodeserencontradaemcadapedradocaminho.Construçõesmonumentais,riqueza,cultura,incríveisobrasdeartetalhadasemmármore.Osde-talhes de cadapersonagempintadosnasparedesealtaresdasigrejassãotãoperfeitosquedávontadedechorar,tamanhooencantoqueprovocam.Paisagensrepletasdebelezaecharmecompletamoconjuntodeornamentos,riquezas,poderebomgosto.

Texto e fotos de Claudia Bilobran

Rua da Cidade de Dubrovnick, na CroáciaSalão do Banquete no Paço dos Duques na cidade de Guimarães, em Portugal

Restos da Biblioteca da cidade de Efesus - TurquiaFrente do Paço dos Duques em Guimarães, Portugal

Palácio da Bolsa na Cidade do Porto, em Portugal