jornal marco zero 13

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter Ano III Número13 Curitiba, agosto de 2011 Você usa fones de ouvido? Andanças pelo Brasil Um bate papo com o urbenauta brasileiro, Eduardo Fenianos (p. 3) O Rio Belém pede socorro Sabia como está a situação do rio que corta cidade de Curitiba (p. 4) Eles são os companheiros de muitas horas, seja durante as viagens, passeios ou nos momentos de lazer. Mas a má utilização pode trazer males à saúde de quem usa. (p. 6 e 7) Os cafés estão por todo o centro da cidade, oferecendo uma grande variedade de receitas deliciosas (p. 10) Para comer com os olhos Claudia Bilobran Hamilton Júnior Arquivo pessoal MARCO ZERO

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Jornal Marco Zero 13

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Page 1: Jornal Marco Zero 13

Curitiba, agosto de 2011 MARCO ZERO 1

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número13 • Curitiba, agosto de 2011

Você usa fones de ouvido?

Andançaspelo Brasil

Um bate papo com o urbenauta brasileiro, Eduardo Fenianos (p. 3)

O Rio Belémpede socorro

Sabia como está a situação do rio que corta cidade de Curitiba (p. 4)

Eles são os companheiros demuitas horas, seja durante as viagens, passeios ou nos momentos de lazer. Mas a má utilizaçãopode trazer males à saúde de quem usa. (p. 6 e 7)

Os cafés estão por todo o centro da cidade, oferecendo uma grande variedade de receitas deliciosas (p. 10)

Para comer com os olhos

Claudia Bilobran

Hamilton Júnior

Arquivo pessoal

MARCO ZERO

Page 2: Jornal Marco Zero 13

MARCO ZERO Curitiba, agosto de 20112

EDITORIAL

Ao leitorNesta edição, o jornal Marco Zero

trata de temas como a poluição intensa do Rio Belém, por conta dos esgotos clan-destinos e da falta de conscientização por parte da população que mora nas proxi-midades do Belém. E mostra como o rio “pede” ajuda para poder se recuperar.

O Marco Zero foi às ruas do centro da cidade e constatou que é preciso muita calma ao trafegar no local, principalmente nos horários de rush. Com o aumento do número de veículos nas ruas, o trânsito fi ca praticamente parado em alguns pon-tos do centro, o que requer do motorista muita paciência.

E já que não há nada melhor para amenizar o estresse do que um bom café, o Marco Zero saiu à procura de luga-res aconchegantes e de qualidade para indicar aos leitores. Não faltam opções. Veja na matéria sobre “Cafés, sabores e memórias”.

Também nesta edição, nossos repórteres investigaram os males que o fone de ouvi-do causa e descobriram que muitos jovens já têm problemas auditivos causados pelo uso dos fones. Aproveitando a deixa, leia uma crônica irreverente de Alexsandro Teixeira, que fulmina os DJs de ônibus com seus funks e raps que nem todos os passageiros gostam de ouvir.

Estas e outras matérias estão esperan-do por você. Boa Leitura!

Expediente

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Curso de Jornalismo:Tomás Eon Barreiros

Professores Responsáveis:Roberto NicolatoTomás Barreiros

* O jornal Marco Zero obteve o 1º lugar na categoria jornal-laboratório no 16º Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profi ssionais do Paraná

Diagramação:André Halmata (7º período)Gabriel Sestrem (7º período)

Facinter: Rua do Rosário, 147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

Juliana Morelli

Boca no trombone!

A internet comandaas grandes marchas

Qual a sua opinião sobre o Centro da cidade?

“Deveria ter um caixa 24 horas na região central, pois os que têm na Rua XV só funcionam até as 22 horas”.Tania Mara Silva, 33 anos, professora.

“Deveria ter mais policiais fazendo a ronda na Rua XV à noite, para garantir a segurança dos estabelecimentos e também para evitar o desperdício de água diário que é usado para lavar a calçada próxima do bondinho. Os andarilhos urinam lá, e o mau cheiro é insuportável”.Luciane Vieira Soares, 29 anos, atendente do Café Metropolis.

“Eu gosto muito da Rua XV, saio à noite no calçadão e nunca fui assaltada”.Mara dos Santos, 40 anos,gerente do Café Avenida.

“O dia inteiro vejo pessoas se drogando na Praça Osório. Falta policiamento aqui no centro”.Emilin Navarro, 17 anos,caixa do Café da Boca.

“O negócio é que falta segurança. No ano passado, aqui na feirinha, tinha mais policiamento que neste ano. Neste ano, estamos sem segurança, teve uma briga aqui e não tinha nenhum policial para controlar a situação”.Neia Aparecida Pereira, 35 anos, vendedora autônoma em barraca de artesanatos na feira da Praça Osório.

“Falta policiamento na noite na Rua XV. À noite, os clientes deixam de vir após as 18 horas porque sentem medo. Nós mantemos a confeitaria aberta até as 23 horas e vemos as barbaridades que acontecem por aqui”.Manoel Garcia, 76 anos,gerente e confeiteiro.

Eliseu de Oliveira

Cada vez mais, o Brasil vem mostrando que, além de ser um país democrático, em desenvolvimento com economia estável, possui uma forte vocação para ser uma nação moderna ao tratar assuntos internos com aspirações globais e com trans-parência e responsabilidade social. O Supremo Tribunal Federal (STF) liberou, no início do mês de julho, a chamada “Marcha da Maconha”, movimento que organiza passeatas pelo Brasil a favor da descriminali-zação das drogas, como já ocorre em outros países. Ocorre que durante o ano todo acontecem passeatas pelas capitais brasileiras, assim como nos demais países, como a Parada Gay, a Marcha da Liberdade, a Mar-cha para Jesus e a “Marcha das Va-dias”, que surgiu na Europa neste ano e se alastrou pelo mundo. Isso cada vez mais toma corpo pelas grandes praças dos países desen-volvidos e vem crescendo a cada ano no Brasil. Deve-se levar em conta o fenômeno da internet e as redes sociais, ferramentas essen-ciais para mobilização de grandes grupos nesses eventos. Recentemente, o ex-presi-dente Fernando Henrique Cardoso, que sempre admitiu publicamente ser a favor da descriminalização das drogas, saiu em palestras pela liberação da maconha. Realmente, o Brasil tem dados muitos passos rumo ao um futuro mais democrá-tico e também socialmente mais responsável em relação a ques-tões polêmicas e velhos tabus. O que é estranho, nesse caso, é que, quando ocupava a Presidên-cia da República, Fernando Henri-que nunca tenha tratado o assunto

com o devido zelo. Se há uma questão que deve ser encarada com seriedade nisso tudo, é o fato de esses movimen-tos estarem cada vez mais unidos e com isso muitos mais fortes em seus objetivos. A internet e as redes so-ciais são ferramentas decisivas para convocar essas marchas de forma organizada e pacífi ca. No norte da África, países inteiros são mobiliza-dos para marchas e protestos, lá por motivos políticos bem mais comple-xos, mas não menos importantes. O Brasil tem muito a aprender com outras nações, mas também pode ser exemplo de democracia em ex-pansão, com valores bem defi nidos e respeitados. Por isso, é bom que pen-semos, um dia, em como seria se

organizássemos uma marcha de forma pacífi ca e objetiva contra a corrupção neste país. Aliás, uma não, tantas quan-tas fossem neces-

sárias. Começando com um simples gesto – com respeito e coragem para enfrentar organizações e práti-cas ideológicas arcaicas e opresso-ras –, como a Marcha da Maconha, que rompeu o véu da hipocrisia que infelizmente impera em muitos se-tores da sociedade, o Brasil pode ser um país ainda mais justo com seus cidadãos. Basta que acorde-mos para a realidade, que busque-mos a união e saibamos usufruir das novas tecnologias como ferra-menta para mobilização e difusão de novas ideias e valores. O Brasil é muito grande e acolhe bem novas ideias. Está na hora de o povo se unir e pensar também em mudanças, em reforma política, em distribuição de renda e na tão sonhada Reforma Agrária. O dia em que o pessoal do campo dia-logar com o pessoal das cidades, o Brasil não será mais o mesmo.

“Pensemos em como seria se organizássemos uma marcha de forma pacífi ca

e objetiva contra a corrupção neste país”

Page 3: Jornal Marco Zero 13

Curitiba, agosto de 2011 MARCO ZERO 3

PERFIL

Eduardo Fenianos, o urbenautaO jornalista-viajante fala sobre Curitiba e sua cidade-gêmea, suas andanças pelo país, a opção das pessoas em viajar para o exterior e não pelo Brasil e outros assuntos a partir das suas experiências

Eliaquim Junior

Ojornalista Eduardo Fenia-nos, mais conhecido como urbenauta, voltou recente-

mente de uma viagem em que percor-reu todas as capitais do Brasil. Nessas andanças, vale destacar, ele comeu e dormiu nas casas dos moradores. To-das as curiosidades dessa incrível jor-nada se transformou numa novela de cem capítulos que começou a ser pu-blicada no seu twitter (@urbenauta) no mês de julho. Todos os causos, as dificuldades, os desafios, as peculiari-dades de cada região, o encontro com pessoas e culturas diferentes está nes-sa tweet novel. Veja a seguir um exemplo de um tweet sobre a viagem: “Depois de dez tentativas, consegui um lugar. Vou dormir na casa de um frentista. Mas tem que esperar. Ele sai às 23h. Que ñ desista.”

O urbenauta “nasceu” em 1995, quando, em uma entrevista, o jorna-lista se deparou com um homem que se gabava de conhecer todo o mun-do, porém, mal conhecia o vizinho da frente. A partir daí, Eduardo resolveu viajar pela cidade onde morava, Curi-tiba foi a primeira. “As pessoas não conhecem a cidade onde elas moram, por isso criei o urbenauta”, explica.

Curitiba imperfeitaSua visão de Curitiba, depois de

conhecer todas as capitais do Brasil, certamente agora é diferente de qual-quer morador da capital paranaense. O urbenauta ressalta que Curitiba é sen-sacional e bem organizada e tem um ótimo planejamento urbano. Quanto ao povo, é fechado, tími-do. “Do ponto de vista ambiental, Curitiba não é perfeita, todos seus rios estão poluídos, e no trânsito não há educação. Em Boa Vista, capital de Roraima, a população é mais educada que aqui, porque lá não existem semáforos, os veículos param nas faixas e deixam os pedestres atravessarem”, compara.

Eduardo diz que Curitiba tem uma cidade “gêmea”, Goiânia. As duas têm sistemas de transporte co-

letivo com vias exclusivas para os ônibus, ambas têm 26 parques que foram transformados em áreas de lazer, as duas têm sistema de coleta seletiva. Curitiba tem duas ou três favelas, e... surpresa! Goiânia não tem. Eduardo questiona: “Por que Curitiba é exemplo de capital orga-nizada, e Goiânia não é conhecida por isso?” Fenianos fez essa pergun-ta ao prefeito da capital goiana, e ele respondeu em uma só palavra: ma-rketing. É, Curitiba faz marketing, Goiânia não.

Visão limitadaAutodidata em antropologia e

psicologia social, Eduardo se preo-cupa com a visão limitada e alterada veiculada na mídia sobre as cidades do Brasil. “A mídia nos dá uma vi-são distorcida: Salvador é só axé, Rio de Janeiro é violência, e São Paulo se resume a congestionamentos. Isso

afasta as pessoas de sua realidade. Viajei por 120 dias dentro de São Paulo e ainda estou vivo”, alega o urbenauta.

Para o jornalista, a falta de incentivo e divulgação é uma das razões que explica o fato de o brasileiro não conhecer seu pró-prio país. Ele ainda critica o povo brasileiro por não se valorizar, pre-ferir viajar para lugares longínquos a percorrer seu próprio país. Para o jornalista, o mundo hoje deveria ter

mais urbenautas e menos internau-tas. Conforme o viajante, devemos conhecer mais o lugar em que vive-mos, explorando-o pessoalmente, porque nem os mapas são confiáveis, inclusive o de Curitiba. “Chegou ao ponto de nós vendermos mapas para Curitiba, que é tida como uma cidade referência, urbanisticamente, mas encontrei 800 erros no mapa da cidade. Nós publicamos livros, e to-dos nossos mapas são corrigidos”, afirma. Como ele faz isso? Andando na rua, ora essa. “Corrigimos até o Google. Pesquisamos e usamos refe-rências bibliográficas, mas vamos ao mundo real também. As pessoas não viajam porque ficaram preguiçosas, é porque a mídia fala que o Brasil é perigoso”, argumenta.

Os quatro botesEsse padrão de viagem, co-

mendo e dormindo nas casas dos moradores de cada cidade, nasceu em Curitiba, na sua primeira expedi-ção pela cidade. Com o lema “antes de começar a rodar o mundo, dê três voltas ao redor de sua casa”, que ele pegou emprestado de filósofos gregos, Fenianos pediu alguns bo-tes para o corpo de bombeiros, pois queria navegar pelos rios poluídos da capital e ter assim um novo pon-to de vista da cidade. Mas algo ines-perado aconteceu.

“Furei os quatro botes. Daí, tive que pagar os botes e fiquei sem

dinheiro para a hospedagem, então, comecei a dormir nas casas dos mora-dores”, conta. E foi assim que nasceu esse novo padrão de viagem adotado pelo urbenauta. Fenianos relembra algo inesquecível: “A parte mais incrí-vel é que vi a cidade não pela visão de um livro, ou da TV, mas pelo mora-dor que vive na região”.

Criando urbenautasSerá que Fenianos não pensa

em capacitar pessoas para se torna-rem os “urbenautinhas” num futuro próximo? Ele já fez essa experiência com alunos da oitava série de uma escola de Curitiba. Os alunos, no seu dia de urbenautas, saíram da sala de aula e foram para a rua descobrir a geografia do bairro, os recursos ambientais que existiam (ou não) ali, como árvores e rios, pesquisar a his-tória da região. Fenianos conta um fato emocionante ocorrido nesse dia: “Fizemos esse trabalho numa área que tinha o maior grau de depreda-ção do patrimônio público. Entre os alunos, o cara mais “maloqueiro” da classe chegou a chorar porque des-cobriu, após uma entrevista que fez com seu avô, que ele tinha ajudado a carregar a manilha para passar o es-goto. Então o menino se deu conta de que estava destruindo o que sua família havia construído”.

Mas o maior sonho de Fenia-nos é criar um urbenauta em cada cidade do país, nos 5.565 municí-pios. “Não sou mais eu. Se a gente conhecer o lugar que mora, cuidare-mos desse lugar. Isso é crescimento sustentável, temos que usar a cidade como sala de aula”.

Curitiba tem duas ou três favelas, e...surpresa! Goiânia

não tem

Entrevistando pescador em Fernando de Noronha

Fenianos: “Esse padrão de viagem, comendo e dormindo nas casas dos moradores, nasceu em Curitiba”

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Page 4: Jornal Marco Zero 13

MARCO ZERO Curitiba, agosto de 20114

Quem mora na cidade de Curi-tiba e nunca ouviu falar no Rio ou Canal Belém? É difí-

cil que isso ocorra. O rio, que começa no bairro Cachoeira e deságua no Par-que Náutico do Boqueirão, tem 21 km de extensão e passa por 15 bairros da cidade, entre eles, Prado Velho, Cen-tro Cívico, Centro, Uberaba e Hauer. Ao longo desse percurso, o canal cru-za áreas onde estão instalados monu-mentos e pontos turísticos do municí-pio, como Jardim Botânico, Ópera de Arame e Parque São Lourenço, entre outros, sendo visível ou não.

Um problema que assola, não somente o Belém, mas praticamente todos os córregos e rios da cidade, é a poluição. Ainda há casos de ligações irregulares de esgoto que caem direta-mente nele. Segundo pesquisa feita por um grupo que busca a revitalização do Rio Belém, a bacia do rio é a maior de Curitiba em número de ligações de água e de esgoto, mas há pelo menos 12,7 mil ligações ir-regulares.

Os muitos moradores que re-sidem às margens do canal não con-tam com rede de esgoto e não são educados a não jogarem lixo, o que faz com que o rio fi que mais sujo e acabe transbordando em época de muitas chuvas.

O grupo sugere seis soluções vi-áveis para despoluir o rio. São elas: Ex-pandir a rede de esgoto para 100% das casas; combater as ligações de esgoto clandestinas, pois em várias casas as li-gações do esgoto estão nas galerias de águas da chuva; envolver a população no projeto de revitalização; resgatar a identidade da população com o Belém; revalorizar o rio com obras paisagísti-cas para torná-lo um local aprazível de se frequentar, com praças, bosques e jardinetes; implantar sistemas de con-tenção de enxurradas e de reservató-rios para conter a água da chuva em residências e prédios e tratar a água po-luída dentro do próprio rio.

Se a poluição continuar a che-gar ao Rio Belém, ainda é possível

Mau cheiro nos parques

despoluí-lo por meio de um proces-so de tratamento da água dentro do próprio leito. Com isso, será possível eliminar 99% dos coliformes fecais, 98% da carga de fósforo (poluente), 97% de metais pesados e 92% da tur-bidez presentes na água.

Segundo o ambientalista César Paes Leme, presidente da Associa-

ção dos Amigos dos Moradores do São Lourenço (AMA), a revi-talização do Rio Belém poderá ser feita a partir do diagnóstico de

poluição. “O importante é descobrir como a sujeira chegou, os responsá-veis e porque ela está ali”.

De acordo com César Paes Leme, a poluição que afl ige o Rio Be-lém é histórica. “Desde a fundação de Curitiba, o Rio Ivo era usado para co-letar água, e o Belém, para despejo de esgoto. Ao longo dos anos, o Ivo tam-bém se poluiu”, esclarece o ambienta-lista, informando que outro fator que

O Rio Belém pede socorroSegundo especialistas, principais problemas são a poluição e as ligações clandestinas de esgoto

André Vinicius BezerraEdno Pereira Júnior

MEIO AMBIENTE

contribui com a má conservação do rio é a poluição difusa: “São pequenos pedaços de pneu, casquinhas de pintu-ras, pó de pastilhas de freio... Imagine tudo isso, de toda a cidade, acumulado e transportado pela chuva. Vai direto para o leito do rio. Sem contar que, logo na nascente, os produtores rurais usam muito agrotóxicos, o que tam-bém é prejudicial”.

O presidente da AMA fala ain-da sobre as iniciativas de conscienti-zação: “Organizamos concursos de hortas mais bonitas, palestras em es-colas, caminhadas, passeios ciclísticos, reposição de mata ciliar, que evita o assoreamento”. Existe difi culdade, conforme Paes Leme, com pessoas mais velhas. “É mais fácil trabalhar com pessoas na faixa dos 20 anos”, comenta. Mesmo assim, os resultados vêm aparecendo. “Dos últimos anos para cá, mais pessoas têm aderido à causa. Tanto empresas quanto pessoas tem demonstrado preocupação com o ambiente. Às vezes, os próprios clien-tes querem saber se o produto respei-ta a natureza”, completa Cesar Paes

O Parque São Lourenço, um dos dos pontos de desembocadura do Rio Belém, é frequentado como op-ção turística e por ter “academias ao ar livre”. Em uma delas, o aposenta-do Rodolfo Zsbuinovicz, de 66 anos, comentou suas impressões a respeito do Rio Belém: “De dez anos para cá, melhorou a questão do cheiro, que era muito ruim. Sobre a conscientização, acho tem que partir tanto da popula-ção quanto do governo”, diz ele, com a experiência de quem mora há 40 anos em Curitiba. Na entrada do parque, a pipoqueira Tereza Maria, de 72 anos, disse “ter até pena dos peixes” e que o cheiro piora quando passa muito tem-po sem chover. Já no Passeio Público, locali-zado no Centro, a situação é diferente. Nesse parque, há um poço artesiano, sujeito à poluição, que desemboca no Belém. Mas o funcionário da Prefeitura que atua na reserva, Osmail Ferreira, garante haver um controle sobre os turistas para que o poço não se polua. “Toda a água passa por uma manu-tenção; esporadicamente e somente a menor parte desemboca no rio. A maioria é reaproveitada”, diz Ferreira.

“O importante é descobrir como a sujeira chegou,

os responsáveis eporque ela está ali”.

Cesar Paes Leme, ambientalista

Sem medidas efetivas de proteção, o Rio Belém se transformou num canal de esgoto

Esgoto cai diretamente no Rio Belém, em seu cruzamento com a Rua Brasílio Itiberê

Hamilton Zambiancki

Hamilton Zambiancki

Page 5: Jornal Marco Zero 13

Curitiba, agosto de 2011 MARCO ZERO 5TRÂNSITO

Carlos Laertes

Falta segurança na Praça Rui Barbosa

Encontrar pessoas em deses-pero em uma das principais praças de Curitiba, a praça Rui Barbosa, está se tornando comum, pois os furtos parcem fazer parte da rotina dos curitibanos. Muitas pessoas que já presenciaram práticas como es-sas reclamam da falta de segurança nesses pontos que são alvo dos de-linguentes.

O cabelereiro Lucas Barbosa faz uso todos os dias de uma das linhas de ônibus que passa pela praça Rui Barbosa e relata que já foi assaltado quatro vezes no meio da praça, tanto à noite como durante o dia. “A população não recebe a devida segurança que é proposta pelo políticos na época das campanhas eleitorais e nem mesmo aquela que sabemos que é de nosso direito”.

Barbosa reclama que a falta de segurança faz com que todos andem com medo nas ruas e com muita pressa.

Já o presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do Centro, Mário Daher, acredita que o trabalho feito pela Polícia Militar na região tem sido “excelente”, e que os policiais têm cumprido o seu trabalho. Para ele, a situação de violência e tráfi co na região central é “normal”.

A Prefeitura de Curitiba alega que o policiamento da Guarda Muni-cipal, responsável pela preservação do patrimônio público, acontece du-rante 24 horas por dia. No perímetro central, que inclui as praças Carlos Gomes, Rui Barbosa e Zacarias, há um efetivo de 100 guardas, além dos 22 guardas no posto avançado do Largo da Ordem.

Até que haja mudanças na se-gurança do local, a população deve tomar cuidado nas intermediações da Praça Rui Barbosa, pois existem vários grupos de delinquentes reu-nidos nas proximidades, principal-mente durante a noite. A julgar pe-los relatos da população, há mais marginais distribuídos pela praça do que policiais.

Dirigir no centro de Curitiba exige paciência

Otrânsito em Curitiba está em constante crescimento. A frota de veículos na capi-

tal hoje é de 1.210.839, entre carros, caminhões e motocicletas, conforme dados atualizados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR). As facilidades de crédito para compra de carros fi zeram crescer o número de motoristas nas ruas. A cada dia, está mais difícil dirigir nas principais vias da cidade. É um exercício de paciên-cia trafegar em horários de pico nas ruas Marechal Deodoro, Silva Jardim e Avenida Iguaçu, por exemplo.Para fazer otrajeto do centro de Curi-tiba ao bairro Água Verde, cerca de 5 km, um motorista leva em média 35 minutos nos horários de rush. Para quem mora em bairros mais distan-tes, o trajeto até o centro pode passar de uma hora.

Segundo a Diretoria de Trân-sito de Curitiba (Diretran), vinculada à Urbs, a prefeitura vem trabalhando para melhorar o fl uxo de veículos nas ruas da ca-pital. Foram re-tiradas vagas de Estacionamento Regulamentado na Rua Visconde de Guarapuava para que o trânsito desafogue. O trânsito está em permanente mudança, o que exige intervenções frequentes, acom-panhamento permanente e adequa-ções periódicas.

Curitiba é uma cidade que tem 1,7 milhão de habitantes e mais de 1,2 milhão de veículos, um dos maio-res índices de motorização do país. A prefeitura de Curitiba apresentou proposta para o governo federal para o início das obras do metrô para ju-lho próximo e aguarda defi nição do governo. “Acreditamos que isso re-solverá grande parte dos problemas com o trânsito da capital”, afi rma a diretora de trânsito da Diretran, Ro-sangela Batisttella.

Para o motorista de táxi Luis

Gilberto Garcia

Gustavo Silva, que trabalha há 15 anos no centro, o trânsito vem melhorando, exceto em algumas regiões. “É difícil trafegar em algumas ruas da cidade.Nos horários em que as pessoas vão e voltam do trabalho, chego a andar 200 km em um só dia e tenho que ter muita paciência. Fazia entre 12 a 15 viagens por dia no centro, hoje faço a metade disso,” diz.

Já para o entregador de enco-mendas Antonio Moraes, dirigir no centro de Curitiba não é muito difícil. “Gosto das ruas Marechal Deodo-ro e Silva Jardim e

da Avenida Iguaçu, pois acredito que nessas ruas o trânsito é bom, os sina-leiros são sincronizados. Em alguns bairros, está mais difícil dirigir, como, por exemplo, Sítio Cercado e Boquei-rão”, comenta.

O assessor da diretoria do Instituto de Pesquisa e Planejamen-to Urbano de Curitiba (Ippuc), João Pedro Amorim, afi rma que, para ga-rantir a mobilidade segura dos curi-tibanos, a Prefeitura está investindo nas obras do Anel Viário, que devem benefi ciar milhares de motoristas e usuários do trânsito.

As obras estão sendo feitas em parceria com o Governo Estadual, com recursos do Fundo de Desen-volvimento Urbano (FDU). No to-tal, serão investidos R$ 36 milhões

no trânsito de Curitiba. O objetivo é melhorar a mobilidade e a acessi-bilidade em toda a região central, que inclui as ruas Marechal Deodo-ro e Silva Jardim e a Avenida Igua-çu. Também será feita a adequação e sincronização dos semáforos para o trânsito fl uir melhor. Os motoristas, alega Amorim, poderão percorrer distâncias maiores em tempos meno-res e encontrarão mais fl uidez.

Amorim informa ainda que Curitiba está inscrita no PAC da Mobilidade das grandes cidades, do Governo Federal, com o projeto da primeira fase da Linha Azul, que tem 14,2 quilômetros e liga a esta-ção CIC-Sul, próxima à Rua Nicola Pelanda, à Rua das Flores, no centro da cidade (percorrendo 13 estações-tubos). Esse projeto está orçado em R$ 2,25 bilhões na sua primeira etapa. O PAC da Mobilidade pre-vê fi nanciamentos para sistemas de transporte sobre pneus, corredores de ônibus exclusivos e de veículos leves sobre trilhos.

O resultado sobre a aprovação do projeto será divulgado pelo Minis-tério das Cidades. “Antes mesmo de o metrô se tornar realidade, estamos investindo na mobilidade urbana para garantir a segurança e a rapidez nos deslocamentos. Com a Linha Verde e os Ligeirões que fazem a Linha Pi-nheirinho-Praça Carlos Gomes, já di-minuem muito os congestionamentos em várias ruas da Capital”, afi rma.

“Curitiba tem mais de 1,2 milhão de veículos, um dos maiores índices de motorização do país”

Motoristas se queixam dos engarrafamentos e do aumento do número de veículos

Os motoristas precisam ter muita paciência, principalmente nos horários de pico

Claudia Bilobran

Page 6: Jornal Marco Zero 13

MARCO ZERO Curitiba, agosto de 20116ESPECIAL

Um amigo inseparável que pode prejudicar a saúdeO fone de ouvidos se tornou nos dias de hoje, assim como o celular, um objeto indispensável no dia a dia. Mas seu uso pode trazer danos à saúde e até à vida social

Atualmente, sair de casa e esquecer o fone de ouvido é inadmissível. É uma si-

tuação desesperadora: “Meu Deus, esqueci o fone de ouvido e agora terei que ouvir aquelas pessoas no ônibus conversando sobre o nada. E se tiver alguma criança choran-do? Pior, se tiver alguém com o ce-lular com som alto tocando funk”.

Assim como o celular, o “fo-ninho” já é algo que faz parte de nossa rotina, quiçá até, é uma ex-tensão de nosso corpo, parodiando Mc Luhan. A estudante Camila Ca-margo que o diga: “É automático, entro no ônibus e coloco o fone de ouvido. É a primeira coisa que eu faço”, revela a jovem universitária que cursa Jornalismo na Eseei.

Mas vale alertar: o fone de ouvido é um vilão disfarçado de “melhor companheiro no ônibus, no trabalho ou em casa” e tem le-vado muitos jovens a se consulta-rem com o médico Alexandre Gas-perin, do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia, num cresci-mento gradativo. “Cada vez mais, vêm jovens aqui com perda de au-dição causada pela pré-disposição ao barulho. Aí entra a questão de estarem trabalhando cada vez mais cedo em empresas metalúrgicas, entre outras. Somando isso ao sur-gimento de aparelhos como o MP3 e o Iphone, notamos que muitos jovens têm perdido a audição. Foi comprovado que um dos grandes fatores é o uso indiscriminado do fone de ouvido”, declara Gasperin. Ele completa: “Nos últimos cin-co anos, aumentou de 8 a 10% a quantidade de jovens com proble-mas auditivos”.

Conforme o especialista, o uso inadequado e prolongado do “foninho” é extremamente preju-dicial à saúde dos usuários, pois o objeto é colocado diretamente no conduto auditivo, e a ampli-ficação sonora se torna muito

Eliaquim Junior

maior que um som ambiental. O recomendável é usar o fone no máximo uma hora por dia e num volume bem baixo.

“O quê? Não dá para usar fone de ouvido apenas uma hora por dia. O trajeto do meu trabalho até minha casa dura mais que isso. Não consigo restringir o tempo de ouvir música. Sou viciada nisso”, replica Camila.

Não pense que com o fone de concha, o headfone, as consequências diminuem. Segun-do Gasperin, ele é sim um pouco me-nos agressivo, mas também tem proximidade com a orelha interna e causará lesões. Ou seja, não tem jeito mesmo: se uma hora por dia é pouco, ou você para de usar fone de ouvido ou você para de usar. Mas se você é como a Camila, cujo amor pela música é tão grande a ponto de esquecer as possíveis futuras lesões no ouvido,

pode continuar com o “foninho” por mais de uma hora. Se algum dia você sentir um desconforto ou um zumbido após a retirada do fone, algo está errado, e você deve-rá procurar um especialista. Isso se você perceber algo, não é?!

O médico Alexandre Gaspe-rin conta que a perda de audição é percebida pelos familiares, não pela pessoa atingida. “São os pa-

rentes que detectam a perda de audição do usuário, porque nossos organis-mos vão se adap-tando com a perda progressiva e len-ta e acabamos nos

adaptando. Se a pessoa está aten-dendo o telefone e não entende o que falam ou está num ambiente com sons competitivos e não con-segue entender o que dizem, isso é sinal de perda”. Se a pessoa não está nesse estágio, pode continu-ar a usufruir de seu foninho, mas com moderação.

“Nos últimos cinco anos, aumentou de

8 a 10% a quantidade de jovens com

problemas auditivos”

Comportamento antissocial Usar fone com moderação no mundo tão barulhento de hoje em dia? Será que não estaremos nos privando dos curtos momentos de escapismo da realidade e do prazer que é escutar sua seleção de músicas preferidas no MP3 nos trajetos casa-trabalho, traba-lho-faculdade e faculdade-casa? Devemos nos privar de usar o fone de ouvido e ter medo de ficarmos surdos precocemente? Mesmo quando a poluição sonora em tempos atuais, formada pela junção de barulhos de carros, ruídos ambientais, máquinas e muitos outros já colaboram bastante para nossa surdez precoce? Acredito que devemos refletir sobre essas questões e decidir o que melhor convier a cada um, tendo bom senso e responsabilidade. Essa última questão foi corroborada e exemplifica-da pelo médico Alexandre. “O mundo já é barulhento o suficiente para causar danos na orelha. Hoje temos visto pes-

“Comprei este celular apenas porque ele permite armazenar centenas de músicas para eu ouvir no ônibus”, conta a estudante Camila Camargo

Mesmo os fones de ouvidos do tipo concha podem causar danos à audição e devem ser usados moderadamente, no máximo uma hora por dia

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Curitiba, agosto de 2011 MARCO ZERO 7

Um amigo inseparável que pode prejudicar a saúdeO fone de ouvidos se tornou nos dias de hoje, assim como o celular, um objeto indispensável no dia a dia. Mas seu uso pode trazer danos à saúde e até à vida social

Comportamento antissocial Usar fone com moderação no mundo tão barulhento de hoje em dia? Será que não estaremos nos privando dos curtos momentos de escapismo da realidade e do prazer que é escutar sua seleção de músicas preferidas no MP3 nos trajetos casa-trabalho, traba-lho-faculdade e faculdade-casa? Devemos nos privar de usar o fone de ouvido e ter medo de ficarmos surdos precocemente? Mesmo quando a poluição sonora em tempos atuais, formada pela junção de barulhos de carros, ruídos ambientais, máquinas e muitos outros já colaboram bastante para nossa surdez precoce? Acredito que devemos refletir sobre essas questões e decidir o que melhor convier a cada um, tendo bom senso e responsabilidade. Essa última questão foi corroborada e exemplifica-da pelo médico Alexandre. “O mundo já é barulhento o suficiente para causar danos na orelha. Hoje temos visto pes-

soas entre 40 e 50 anos que estão com perda de audição, isso não é normal, há mesmo muito barulho, isso tudo está in-fluenciando”. Essas questões são apenas para forçar o pensamento, a reflexão, o propósito aqui não é respondê-las.” A temática “fone de ouvido” pode se estender além da abordagem simplis-ta sobre os danos causados à saúde. O tema também pode ser abordado por um viés psicológico, como para caracterizar o comportamento da geração jovem, que também pode ser chamada de “Geração Foninho”, “Geração Facebook”, em resu-mo, a “Geração Digital”. O uso do fone de ouvido pelos jovens em locais públicos, como nos transportes coletivos, transmite mensa-gens que eles mesmos desconhecem. Falando sobre o uso do fone de ouvido, a psicanalista Cristina Suss, explica que os jovens de hoje já não sentem a ne-cessidade de contato direto, face a face. “Quanto menos contato com o outro eu

Projeto proíbesom altonos ônibus

“Comprei este celular apenas porque ele permite armazenar centenas de músicas para eu ouvir no ônibus”, conta a estudante Camila Camargo

tiver, menos contato eu terei comigo. Quando você está com fones de ouvi-do, você não vê o outro”, adverte. É a geração do computador, acostumada com a conversa via MSN. A estudante Camila Camargo foi alertada sobre o fato de que usar o fone pode inibir um possível pretendente de se aproximar dela no ônibus. A garota ficou pensativa e disse: “Será? Acho que não, não vou encontrar pretenden-tes no ônibus. Vou?” É difícil avaliar a probabilidade de alguém puxar assunto com um desconhecido no no ônibus, mas, com um fone de ouvido, a proba-bilidade é quase zero. Cristina Suss, referindo-se à proximidade cada vez mais virtual e menos real, diz que as pessoas estão confundindo amigos com conhecidos. “Daqui a pouco, o ser humano terá nojo do outro, estamos ficando assim, quan-to menos contato com o outro, melhor”, profetiza a psicanalista.

O uso do fone de ouvido é um assunto polêmico. Se, por um lado, especialistas não recomen-dam seu uso, por outro lado, é comum que seja “fuzilado” com os olhos o indivíduo que dispensa o fone nos ônibus e escuta músicas em volume desrespeitoso, inclusi-ve pelos celulares e até em caixi-nhas acústicas um pouco maiores que a palma da mão. Em meados do ano passa-do, o vereador Odilon Volkmann apresentou à Câmara Municipal um projeto de lei que proíbe som alto de aparelhos celulares e ou-tros aparelhos de áudio nos trans-portes coletivos de Curitiba. “É um abuso, o trabalhador cansado não é obrigado a escutar um som alto com timbre estridente em todo o seu percurso. Não custa colocar o fone do ouvido”, argumenta o ve-reador. Ele alega que propôs a lei porque recebeu centenas de reclamações de usuários sobre essa situação. “Quero punir es-ses excessos”, justifi ca. Volkmann comenta que a fi scalização, caso a lei saia do papel, será feita pelo motorista do ônibus ou pela Polícia Militar. Segundo o parlamentar, “vai de-morar um ou dois anos para a lei tramitar, ir ao plenário, e ainda terá que passar pela aprovação do prefeito”. Enfi m, resta ter pa-ciência e, principalmente, esperar dos “DJs do busão”, um pouqui-nho de bom senso e respeito.

Eliaquim Junior

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MARCO ZERO Curitiba, agosto de 201188

Na sociedade moderna, os in-divíduos estão cercados pela evolução da tecnologia. Nos

últimos 25 anos, o mundo pôde pre-senciar o progresso da ciência ao aper-feiçoar bens de consumo já existentes e criar outros tantos. A velocidade com que a tecnologia avança é tamanha que as inovações são criadas e rapidamente tornam-se obsoletas. Com a indústria dos videogames, não foi diferente. O popular Atari funcionava com defini-ção mínima, revelando os “quadradi-nhos” que formavam a imagem dos jogos. Hoje, é considerado peça de museu, já que atualmente os consoles modernos são capazes de rastrear os movimentos dos jogadores, permitin-do que o usuário sinta-se dentro jogo. Há 20 anos, isso era completamen-te surreal. Além da rapidez evolutiva, os consumidores podem escolher no mercado os produtos conforme a efi-ciência e o custo-benefício.

A guerra pelo mercado de vi-deogames e a concorrência entre Microsoft e Sony crescem cada vez mais. Xbox 360 e Playstation 3 (PS3) aumentam as vendas de maneira gra-dativa e fazem com que os consu-midores tenham esses dois produtos aprimorados periodicamente, o que também permite exigir muito deles. Consumidores, vendedores e espe-cialistas foram ouvidos a respeito dos dois consoles de ultima geração. Po-de-se observar que a diferença entre ambos é pouco notável, pois, segundo os comerciantes, ambos apresentam o mesmo nível de visibilidade, o que torna as imagens próximas à realidade e oferece a possibilidade de adquirir bons jogos. Segundo a vendedora Da-niela Fróis, da loja Amazing Games, o Xbox 360 é o mais vendido em sua loja por ser destravado, não exigindo jogos originais. Os jogos mais vendi-dos para os consoles são os de tiro em primeira pessoa, principalmente os de guerra. Para ela, o Xbox apresenta menos problemas que o Playstation 3, por suas peças serem mais baratas e de fácil acesso. Já o PS3 apresenta muitos erros no leitor de mídia, ocor-rência comum e de difícil conserto.

Mesmo com esses pontos negativos em relação ao PS3, Daniela acredita que o console da Sony ainda possa se manter por mais tempo que o Xbox no mercado, por ser considerado o console mais desenvolvido e, portan-to, melhor adaptado às mudanças tec-nológicas, como também por possuir mais componentes exclusivos que seu concorrente. Outro dado preocupan-te em relação ao PS3 é quanto aos ser-viços online da Playstation Networks (PSN). Desde abril, seus usuários pas-saram a ter dificuldade para utilizá-lo, e cogita-se a possibilidade de perda total de dados online. Segundo os produto-res do PS3, o mesmo hacker que conseguiu destravar o aparelho, permitindo a falsifica-ção de seus jogos, en-trou no sistema online e o tirou do ar, com todos os dados dos usuários.

A Playstation Network, ge-ralmente abreviado para PSN, é um serviço de jogo multijogador online e fornecimento de mídia digital presta-do e administrado pela Sony Compu-ter Entertainment para utilização com os consoles de videogame Playstation 3 e Playstation Portable. Existem em torno de 50 milhões de contas regis-tradas mundialmente na Playstation

Network, e desde 20 de Abril de 2011 a Playstation Network e a Sony On-line Entertainment têm estado perío-dos “offline” devido a uma “intromis-são externa”, como resultado de uma invasão ilegal, comprometendo infor-mações pessoais.

Dentre os serviços oferecidos pela PSN, estão: a jogabilidade multi-jogador, em que um usuário pode ligar até sete controladores do Playstation 3 para jogabilidade local ou conectar-se online a muitos outros jogadores; pontuação e classificação para com-paração de jogadores; troféus recom-

pensados por atingir objetivos em certos jogos; presença virtual em formas de avatares e voz com vídeo e sala de bate-papo entre jo-gos. Tudo isso de for-

ma gratuita, basta apenas fazer o ca-dastro online.

A Microsoft também disponibi-liza uma rede semelhante, chamada de Xbox Live, lançada em 15 de novembro de 2002 e posteriormente adaptada ao Xbox 360 e relançada em 22 de novem-bro de 2005, com algumas mudanças e melhoras, incluindo o novo Xbox Live Marketplace (conhecido como Mercado Xbox Live no Brasil) e os novos jogos do Xbox Live Arcade. Entretanto, para

Qual o melhor: Xbox 360 ou PS3?

ter acesso, o jogador precisa pagar por assinaturas trimestrais ou anuais. Os preços variam de R$ 60,00 a R$ 250,00.

O vendedor e especialista Ricar-do Ribeiro, da loja Eletro Mania, rela-ta não perceber uma grande diferença em vendas entre os dois consoles. Jo-gos de luta, como Mortal Kombat, e os exclusivos do PS3, como God of War e Gran Turismo, são os mais ven-didos. O Xbox tem uma pequena van-tagem por ser mais barato e permitir jogos “piratas”.

Já o Playstation 3 tem um grande problema: se o leitor estragar, ele indica que o usuário compre outro aparelho, pois o seu nunca mais será o mesmo. Ricardo ressalta o sucesso de vendas do sensor de movimentos do Xbox: “O Xbox ganhou muito com o lançamento do Kinect, foi uma grande sacada dos produtores da Microsoft. Eles uniram os gráficos excelentes do console a um sensor de movimento que capta tudo. O Kinect foi lançado perto do Natal no ano passado. Nenhuma loja mais o tinha no dia 24, pois foi um sucesso estrondoso de vendas. Mas, com esse sucesso todo do Kinect, uma coisa ainda a Microsoft pode melhorar: o DVD é uma coisa praticamente ultra-passada, eles precisam atualizar para o Blu-Ray, senão o PS3 vai engolir o Xbox 360 daqui a pouco”.

Ricardo Ribeiro, da Eletro Mania: jogos de luta, como Mortal Kombat, e os exclusivos do PS3, como God of War e Gran Turismo, são os mais vendidos

“A guerra pelo mercado de videogames e a concorrência entre Microsoft e Sony

crescem cada vez mais”

Na guerra pela concorrência, indústrias procuram colocar o usuário cada vez mais dentro do jogo

Antonio Costa JuniorAntonio Costa Junior

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Curitiba, agosto de 2011 MARCO ZERO 9CULTURA

O jornalista José Wille lança série de livros deentrevistas com personalidades do Paraná

A partir gravações realizadas para a televisão e para o rádio, o jor-nalista José Wille lançou recentemente seis livros. A série Memórias Paranaenses foi desenvolvida de 1997 ao final de 1999 e reúne 62 depoimentos de per-sonalidades que marcaram a história do Paraná. As entrevistas foram feitas dentro do projeto Fundação Inepar e Rádio CBN-Curitiba e também apre-sentadas pela NET, TV Educativa e UFPR TV.

Para participar do projeto, o jornalista escolheu personalidades de diferentes áreas que tivessem contri-buições importantes para o Paraná e para o Brasil. Wille destaca que, dessa forma, preservou muito sobre a vida, a obra e o pensamento de cada entrevis-tado. “Participaram com depoimentos muitos historiadores, políticos, empre-sários, jornalistas, ex-governadores, profissionais, professores, incluindo quase todas as personalidades impor-tantes da história paranaense”, conta.

O formato das entrevistas é o mesmo: a história do entrevistado em ordem cronológica, com sua visão sobre a própria vida, e os momentos históricos que vivenciou. Uma entre-vista que chamou muito a atenção do jornalista foi a história de Zilda Arns: “Ela foi uma médica que ficou viúva com cinco filhos e formou a todos. E, depois disso, se dedicou às crianças de todo o país e, mais tarde, com proje-ção internacional. Ela morreu traba-lhando por essa causa. Foi um exem-plo de doação integral de uma vida em benefício da humanidade”.

O jornalista acredita que o pro-jeto se tornou uma fonte de informa-ção e pesquisa histórica sobre o Paraná, aberta à consulta da comunidade: “É possível encontrar cópias das grava-ções no Museu Paranaense, no Museu da Imagem e do Som e na Biblioteca Pública do Paraná”. Ele enfatiza que é um trabalho útil para quem quiser co-nhecer a gente do Paraná e muito de sua história e para os pesquisadores, que futuramente precisarem de mais

Janiele Dalquiqui

dados e depoimentos de personalida-des que já morreram, mas deixaram os seus registros nessas entrevistas.

O trabalho de Wille não para por aqui, pois ele pretende futura-mente lançar outros livros da mesma série.

Sobre José WilleJornalista em atividade em Rá-

dio, TV e jornal desde 1983, José Wille Scholz Sobrinho foi professor do cur-so de Jornalismo da UFPR, repórter, diretor de jornalismo e apresentador em várias redes: Bandeirantes, Globo, Manchete, CBN e Rádio Globo no Paraná.

Atualmente, dirige o jornalismo e é âncora da Rádio CBN Curitiba, é âncora do telejornal Band Cidade e produz e apresenta o programa de eco-nomia EneBusiness, exibido na TVA, na NET e na Band. Também coordena a programação da UFPR TV e dirige a JWS Comunicação, especializada em palestras e treinamentos corporativos nas áreas de Comunicação, Produção

Memórias Paranaenses

Em relação aos consumidores, a opinião segue dividida. O estudante de Administração da PUCPR Lucas Ortiz, de 18 anos, tem um Xbox 360 e opina: “O Xbox é mais barato, e o seu sistema online simplesmente funciona. Ele pos-sui uma vastidão de conteúdo online. Sem falar que hackers não podem jogar, nem trapacear na Live da Microsoft”.

Ele diz que o controle do PS3 lhe dá dor no pulso. “Já o do Xbox é mais confortável. O PS3 é grande, feio, sem jeito. Resumindo: já liguei os dois lado a lado em TVs iguais, rodando jogos iguais e, simplesmente, o Xbox ganha dispara-do do PS3 nos gráficos e velocidade. Enfim, PS3 é modinha, é bo-nito falar que tem um PS3, nada mais”.

Lucas Ortiz relata que, antes de iniciar a faculdade, tinha mais tempo para jogar, principalmente com os amigos. Prefere os jogos de fu-tebol e não se importa em jogar sozinho. “Ainda assim, eu consigo me divertir”. A frequência com que joga está em duas a três vezes ao dia em média, quatro vezes na semana e por uma hora e 30 minutos aproximadamente.

Já Jean Giraldi, de 26 anos, pro-prietário de um Playstation 3, relata: “O PS3 tem inúmeras vantagens perante o Xbox. Primeiro, obviamente, é o Blu-Ray, que, além de aumentar a capaci-dade de armazenamento dos discos,

possibilita que as empresas adicionem mais conteúdo a um jogo. Isso sem fa-lar em assistir a um filme em Blu-Ray”.

Segundo ele, os controles fun-cionam com baterias internas e não com pilhas simples, o que dá muito mais tempo de duração. “Tem vários jogos sensacionais e exclusivos da Sony, acredito que todo mundo já os conheça”.

Girardi afirma que, devido à roti-na de trabalho, consegue jogar apenas nos finais de semana e, por isso, passa o dia inteiro jogando: “Sinto muita falta

de jogar durante a se-mana, chego tarde em casa, cansado, e só me resta dormir. Nos finais de semana, pego os meus jogos favoritos e jogo até cansar”.

A decisão de compra depende do perfil do consu-midor, das suas preferências quanto aos jogos disponíveis no mercado e de quanto ele está disposto a pagar. O preço do Xbox varia de R$ 990,00 a R$ 1.400,00, e o do PS3, de R$ 1.260,00 a R$ 1.600,00. A variação de preços deve-se à capacidade de memória que o videogame consegue suportar para jogos online e componentes conjuntos, comprados como “kits”.

No final das contas, ambos os consoles garantem a satisfação de seus usuários, tornando a diferença entre os dois quase imperceptível.

Consumidores se dividemquanto à melhor opção

“Ambos os consoles garantem a satisfação de seus usuários, tornando a diferença entre os dois

quase imperceptível”

Lucas Ortiz, adepto do XBox: “PS3 é modinha. É bonito falar que tem um, nada mais”

A série de livros reproduz entrevistas comdiversas personalidades da vida paranaense

José Wille em uma de suas entrevistas

Divulgação

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MARCO ZERO Curitiba, agosto de 201110

CULTURA

Cafés, sabores e memóriasNatali Carlini e Suzayne Machado

Curitiba, principalmente no inverno, deixa transparecer o seu lado europeu. Aquele

friozinho típico, as roupas pesadas, o romantismo dessa época são fa-tores específicos do clima que le-vam muitas pessoas a procurarem um bom café para saborear.

Com o aumento do número e da qualidade dos cafés do centro, a variedade e o requinte são perce-bidos nas receitas. O Marco Zero selecionou alguns estabelecimentos para apreciar e levar um pouco de cada um deles ao leitor.

Começando pelo centro his-tórico da cidade, encontra-se a Casa Lilás. Inicialmente, o espaço era um atelier que oferecia cursos de artesanato local e acabou se trans-formando em restaurante e café. Localizado no Largo da Ordem, é um ponto de gastronomia bastante procurado por turistas e moradores da região. A Casa Lilás se destaca por propiciar aos fregueses um es-paço para leitura e arte, contando com frequentadores assíduos que procuram conforto e tranquilidade.

Oferece um dos pratos típi-cos do Paraná, o famosíssimo Bar-reado. Como sobremesa, é impossí-vel deixar o local sem experimentar um doce considerado “carro chefe” da casa, o bolo de chocolate, que só de ver já dá água na boca. Além do aconchegante espaço interno, a casa conta com um belo jardim, cujos frequentadores podem utili-

Serviço:Casa Lilás: Rua Dr. Claudino dos San-tos, 90, Largo São FranciscoCafé Metrópolis: Alameda Carlos de Carvalho, 15A, Centro Café Avenida: Avenida Luiz Xavier, 68, Boca Maldita, Centro Café Boca Maldita: Rua XV de No-vembro, Praça Osório, Centro Confeitaria das Famílias: Rua XV de Novembro, 374, Centro

zar para almoços ou cafés. Outro estabelecimento re-

comendado e conhecido é o Café Avenida, que está no mercado há mais de 30 anos. O prédio onde está instalado é considerado um monu-mento histórico da cidade e fi ca na Boca Maldita, palco de encontro de políticos, advogados e empresários. Os diferenciais do estabelecimento são o atendimento e o conforto que proporciona aos seus clientes. Segun-do o advogado Mauricío Pardo, o lo-cal é ótimo para um happy hour depois de um dia cansativo de trabalho.

Andan-do só algu-mas quadras, é possível encontrar o Café Metró-polis, um lo-cal tranquilo e refinado, localizado na esquina, com mesas sobre a calça-da cercada de floreiras, lembrando os cafés europeus. É frequentado principalmente por advogados e bancários, devido a sua localização, mas atende a todos os públicos, in-clusive famosos que por lá já passa-ram, como a atriz Leticía Sabatella, o jornalista Jasson Goulart e o ci-neasta Francis Coppola, quando es-teve em Curitiba em 2004.

O seu diferencial está no café selecionado do Sul de Minas Gerais. A casa já recebeu vários prêmios, e seu cappuccino é um dos mais ho-menageados da cidade. O Metrópo-lis já foi premiado quatro vezes pela

revista Veja como melhor café de Curitiba. Há 11 anos no mercado, conquistou seu espaço na gastrono-mia curitibana.

Chegando à Praça Osório, para quem procura um lugar infor-mal, é indicado o Café Boca Maldi-ta, há 20 anos no mercado, que leva como diferenciais o atendimento e a qualidade, além da qualidade de seus doces e salgados.

Encerrando o percurso, su-bindo a rua XV de Novembro, está a Confeitaria das Famílias, umas das mais tradicionais da cidade.

Inaugurada em 1945, guarda um pouco da história de Curitiba. O es-paço foi fundado por comerciantes espanhóis e, com receitas vindas do exterior, é refe-rencial de delícias,

pois mantém o mesmo confeiteiro há mais de 40 anos, característica especial para manter a qualidade por tanto tempo.

Com uma filial no Rio Gran-de do Sul, a confeitaria já ganhou inúmeros prêmios, inclusive na França. Ficou famosa nas décadas de 50 e 60 com a criação da torta Martha Rocha, homenagem que o confeiteiro espanhol Jesus Tezardo fez à Miss Brasil da época, Martha Rocha, para confortá-la por perder o título de Miss Universo que dis-putou em 1954, quando ficou em segundo lugar.

A Confeitaria das Famílias é

Pelo Café Metrópolis, passaram famosos como a atriz Letícia Sabatella e o cineasta Francis Ford Coppola, em sua visita a

Curitiba em 2004

frequentada por várias gerações, além de ser muito procurada por turistas, artistas e escritores.

Essas são as dicas para quem quer sair de casa, sozinho ou acom-panhado, para desfrutar não apenas de um simples café, mas da paisa-gem, da memória, das delícias e dos novos e antigos sabores e cores de Curitiba. A região central da cidade está cheia de boas opções para um

O atraente bolo de chocolate da Casa Lilás

O barreado, mais famoso entre os pratos típicos paranaenses, oriundo do litoral, é oferecido no almoço A Casa Lilás com sua simpática fachada

Divulgação/Casa Lilás Divulgação/Casa Lilás

Divulgação/Casa Lilás

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Curitiba, agosto de 2011 MARCO ZERO 11

CRÔNICA TÁ NA WEBHomero e o funk no busão

“Canta-me, ó deusa, do Pe-leio Aquiles a ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos, verdes no Orco lançou mil fortes almas, corpos de heróis a cães e abutres pasto: Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem o de homens chefe e o Mirmidon divino”. Eram mais de dez e meia da noite, o ôni-bus estava lotado, e eu, bravamente, suando frio, tentava, Ilíada em punho, num dos últimos bancos do expresso metropolitano, entender de verso em verso o rebuscado e pedante lingua-jar de Manoel Odorico Mendes para a trama milenar homérica.

Lá pelas tantas da peleja nas praias troianas, sangue, gritos, ma-chados e muita infl uência dos mitoló-gicos deuses, Ájax, imponente, grita: “Solta o som! Dedjay!” Eis que os mir-midões abrem espaço na fervorosa multidão para que Aquiles, dos pés ligeiros, se mostrasse um verdadeiro pé de valsa nos embalados passos de um funk carioca.

Não! Isso não está no livro, mas Homero talvez cogitasse a possibili-dade se estivesse escrevendo naque-le ônibus e ouvisse a merda da “égua capenga”, ou qualquer que seja o nome da música, soando da porra do celular de um infeliz que acha bonito compartilhar seu mau gosto. E não é a primeira vez que isso acontece. De outros escritores já visualizei, também no ônibus e nas mesmas malditas cir-cunstâncias, personagens exibindo estrelato musical, dentre os quais destaco Zaratustra como repentista, o jovem Werther como pagodeiro e até Bentinho e Charles, depois de traídos

Alexsandro Teixeira (será?) pelas esposas, num misto de Machado e Flaubert, como dupla me-losa de tomateiro goianense.

Imprescindíveis – ao menos é o que achamos –, de alguns anos para cá, os celulares têm agregado tantas inúteis funções que relegaram a pri-mordial a último lugar. Há também os aparelhos que agregaram ao telefone os MP7, 8, 9, “doze mais sete elevada à quinta potência com três cadeias de carbono vezes Baskhara”. Bacana, até. O problema não está no apare-lho, mas na falta de bom senso de quem o usa.

Fecho o livro e com os olhos procuro a origem do barulho, não acho. Abro-o novamente e tento me concentrar. Consigo, por algumas linhas, até que um fi lho da puta de marca maior se irmana ao anterior e, do banco atrás do meu, haja co-ragem, resolve tocar emocore no celular. Olho pra trás com uma cara de “Porra, meu! E na bundinha, não vai nada?”, mas o cara nem dá bola. Bem tranquilo, olha pra fora da janela segurando um aparelho que, de tão permeado de quinquilharias virtuais e piscantes, mais parece uma pentea-deira de puta. Penso: “Será que um lazarento desses, que paga mais de quatrocentas pilas numa joça dessas, não tem dez reais pra comprar um fone de ouvido? Provavelmente, ele não está nem aí pra isso.”

Extinguida a vontade e paci-ência para ler, dou-me por vencido e guardo o Homero. Que vão pras cucuias os gregos, os troianos e o chato do Odorico. Ligo o MP3 e me junto ao inimigo. Porém, com fone de ouvido, a última gota de dignidade que me resta.

O Teatro Mágico (TM) é um grupo musical e político brasileiro criado em 2003 na cidade de Osasco-SP por Fernando Anitelli. Tem como diferenciais elementos do circo, do teatro, da poesia, da música, da litera-tura, da política e do cancioneiro po-pular, tornando possível a junção de diferentes segmentos artísticos numa mesma apresentação. O grupo tem dois CDs gravados.

Seu primeiro CD foi concebido em 2003 com o sugestivo nome “O Teatro Mágico: Entrada para Raros” (inspirado no best seller “O Lobo da Estepe”, do autor alemão Hermann Hesse). Em 2008, o grupo lançou seu segundo trabalho: “O Teatro Mágico Segundo Ato”, mais recente álbum de Fernando Anitelli e sua trupe. As composições escolhidas colocam em debate o homem e a sociedade na qual vive.

O terceiro CD, “A Sociedade do Espetáculo”, logo estará dispo-nível no site, mas o clipe da música “Amanhã... Será?”, carro chefe do novo trabalho, já está disponível no site http://www.youtube.com/watc

h?v=smyyQfsPhBs&feature=topvideos_music. O vídeo conta com uma ótima edição, com imagens bem atu-ais da revolução que está acontecen-do na Líbia e que casa perfeitamente com a letra da música.

O grupo já tem data certa para apresentação em Curitiba: será no próximo dia 8 de outubro, às 22 ho-ras, no Colégio Marista Santa Maria, que fi ca na rua Professor Joaquim de Matos Barreto, 98, Bairro São Lou-renço. Os ingressos estão à venda na Yoguland Batel (Rua Dom Pedro II, 499), na Bella Banoffi (Rua Itupava, 1091) e no site www.ingressorapido.com.br.

Um ladrão cara de pau

Grupo de teatro musical

Seria apenas mais um roubo mal sucedido se Neliton Serafi m, o “ladrão cara de pau”, como foi apelidado na internet, não tivesse tanto senso de humor ao contar como se deu mal ao tentar fazer mais um assalto. Mesmo levando choque de cerca elétrica e pedrada de um “bombadão fedorento”, ele não per-deu o bom humor e afi rmou que não foi tão ruim assim ser preso, já que vai dormir e comer de graça por uns tempos. Acesse http://www.youtube.com/watch?v=9MaIkozU-wk.Nova investida Dessa vez, o “ladrão cara de pau” teve um fi nal feliz, apesar de ter que passar pela delegacia. Sua “atuação” continua sendo hilária, contando como aconteceu para acabar lá novamente, com direito a dancinha e tudo. Pelos comentários fi nais, sua última estada de cinco meses na prisão não foi tão “di boa”, mesmo comendo e dormindo de graça. No fi nal das contas, ele conse-guiu provar que não tinha culpa no cartório e saiu feliz da vida da delegacia. Veja em http://www.youtube.com/watch?v=_SqxI8-E98E.

Alexsandro Teixeira

Divulgação

Divulgação

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MARCO ZERO Curitiba, agosto de 201112

FOTOGRAFIA

Guerreiras e meigas. Frágeis mas ao mesmo tempo fortes e decidi-das. Essas são as mulheres de hoje que brigam por seus direitos, contra o machismo que as vê apenas como um objeto e as impede

de serem livres. As mulheres de hoje não abaixam a cabeça diante das dificuldades, elas saem em busca de felicidade e mostram que podem ser mais competentes que muitos homens. Mistura de sensações e emoções, donas de um poder incrível, mas muitas vezes humilhadas, subjugadas, violentadas e tratadas como lixo. Para mostrar o quão fortes e determinadas elas são, saem em grupos contra a violência e a cada dia ganham mais espaço na sociedade. Nesta página, imagens do que foi a “Marcha das Vadias” que aconteceu no mês passado em Curitiba.

Mulher é sexo frágil?

Texto e fotos de Claudia Bilobran