jornal marco zero 12

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter Ano III Número 12 Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO Por onde ir? Com a falta de invesmentos da Prefeitura de Curiba em vias exclusivas, ciclistas são expostos ao perigo, dividindo espaço com automóveis e veículos maiores (p. 4 e 5) Um passeio pela cozinha A dama do flamenco La Morita (centro) conta um pouco da sua história (p. 3) O melhor do flamenco Sessenta estabelecimentos do centro da cidade já foram denunciados por falta de higiene (p. 6 e 7) O Museu Ferroviário de Curitiba conta com o maior acervo sobre a história ferroviária no Paraná (p. 9) Um shopping de histórias Alexsandro Teixeira Ribeiro Ronaldo Freitas Cintia Conceição

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Jornal Marco Zero 12

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Page 1: Jornal Marco Zero 12

Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO 1

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número 12 • Curitiba, junho-julho de 2011

MARCO ZERO

Por onde ir?Com a falta de investimentos da Prefeitura de Curitiba em vias exclusivas, ciclistas são expostos ao perigo, dividindo espaço com automóveis e veículos maiores (p. 4 e 5)

Um passeio pela cozinha

A dama do flamenco La Morita (centro) conta um pouco da sua história (p. 3)

O melhor do flamenco

Sessenta estabelecimentos do centro da cidade já foram denunciados por falta de higiene (p. 6 e 7)

O Museu Ferroviário de Curitiba conta com o maior acervo sobre ahistória ferroviária no Paraná (p. 9)

Um shopping de histórias

Alexsandro Teixeira RibeiroRonaldo Freitas

Cintia Conceição

Page 2: Jornal Marco Zero 12

MARCO ZERO Curitiba, junho-julho de 20112 Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO 3

PERFILEDITORIAL

Ao leitor

Expediente

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Cursode Comunicação Social:Tomás Eon Barreiros

Professores Responsáveis:Roberto NicolatoTomás Barreiros

Editores:Eliseu de OliveiraJuliana MorelliAndré Halmata

Diagramação:André Halmata (7º período)Gabriel Sestrem (7º período) Facinter: Rua do Rosário, 147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

Natali Carlini

Qual a sua opinião sobre situação daRua 24 Horas?

Boca no trombone!

“É uma pena que um lugar como este, que foi cartão postal da cida-de, seja abandonado desse jeito ou se torne em pouco caso da Prefeitu-ra de Curitiba”. Mauren Ospedal Ritter, 25 anos,representante comercial

“No meu caso, a Rua 24 Horas sem-pre foi ponto de encontro de amigos que seguiam para a balada, mas in-felizmente virou ponto de moradores de rua e traficantes. Espero que com a reforma e a reativação possamos usufruir dela como antigamente”. Raphael Castro, 27 anos,técnico em informática

“O comércio decaiu desde que a rua foi inutilizada. Com a reforma da Rua 24 Horas, espero que os turistas vol-tem a comparecer a este lugar e for-taleçam as compras na região”. Ricardo Pedroso, vendedor

“É precário o estado em que deixa-ram a Rua 24 Horas se transformar, é até perigoso transitar por aqui. A reforma está demorando, o que já se esperava , pelo tempo que ficou abandonado, mas ainda tenho es-perança de vê-la funcionando nor-malmente”. Arlete Soares, 32 anos,dona de casa

“A Rua 24 Horas tinha uma arquite-tura invejável, construída juntamen-te com a Ópera de Arame e o Jardim Botânico. Não devia ter ficado em descaso por tanto tempo, é vergo-nhoso para a nossa cidade”. Carlos Alberto Medeiros,45 anos, professor

O delicado rosto do flamencoLa Morita, rainha da dança espanhola: “Venha dançar comigo para entender o que eu estou falando”

Cíntia Conceição

Uma pequena argentina, em seu andador, balançava os pés e as mãozinhas todas as vezes

que escutava música flamenca no rá-dio. Essa pequena argentina cresceu e chama-se Amália Moreira, uma distin-ta senhora de 67 anos que, ao dançar, se transforma em La Morita, uma das pessoas responsáveis por trazer a dança flamenca para o Brasil.

La Morita, de estatura mediana, longos cabelos negros e olhos marcan-tes, sentou-se em seu estúdio da dan-ça, com grandes espelhos e imagens ligadas à Espanha e ao flamenco, para contar que a dança foi algo que veio com ela de nascença. “Comecei a dan-çar com oito anos na Argentina, mas a dança nasceu comigo. Minha mãe dizia que quando tocava música espanhola no rádio eu balançava as mãozinhas e sapateava no andador.”

Quando fez cinco anos, Amália foi levada pelo pai para assistir a uma apresentação no Teatro Avenida, em Buenos Aires. “Ele disse que enlouque-ci. Foi um tipo de espetáculo chamado de romerias, que também existiam aqui no Brasil, em cidades maiores, como Rio e São Paulo.”

Após a apresentação, o pai de Morita prometeu que, quando chegas-se alguma professora de dança espanhola ao bair-ro, ela faria as aulas. Mas, devido ao preconceito da época, seus pais re-lutaram em colocá-la na dança quando a profes-sora chegou. “Eu cho-rava todos os dias e sofri mais três anos pedindo para aprender.”

Ela conta que começou a fazer danças espanholas e, para se aperfeiço-ar, fez dança clássica no Teatro Cólon, em Buenos Aires. Esse foi o ingresso da dançarina na carreira artística, pois logo começou a trabalhar em uma academia de dança. “Um dia, me chamaram para cobrir o lugar de uma moça em um balé espanhol, e foi assim que comecei nes-se teatro”. A partir daí, La Morita foi se aperfeiçoando e com muita dedicação conseguiu se tornar uma profissional. “Você pode dizer que é um profissional da arte quando consegue se sustentar com ela. Eu comprei minha casa, manti-ve minha família e agora estou aqui, dan-do aula, trabalhando com arte”, ressalta.

Em CuritibaFaz 28 anos que Amália trouxe a

dança ao país. “No Brasil, só se implan-tou a dança flamenca quando nós che-gamos, eu e meu marido”, garante. Sua vinda para o país foi inesperada. Durante um intercâmbio cultural com o Paraguai, o grupo de balé do qual Morita era con-tratada acabou ficando preso na cidade devido ao assassinato de uma moça. Na mesma época, foi declarado estado de sítio por causa da guerra, e assim as fronteiras foram fechadas. “Quando o problema se resolveu, conhecemos um empresário que nos trouxe a Curitiba. Conhecemos o cônsul da Espanha na

cidade, e ele nos contra-tou para algumas apre-sentações”.

Devido a um proble-ma de saúde, Amália, que havia se casado recente-mente com Santa Ana, acabou ficando em Curi-tiba. “Fiz o tratamento

com um médico daqui, logo nasceu mi-nha filha, e por isso fiquei em Curitiba. Ela é curitibana”. La Morita e seu marido Santa Ana, falecido em 1993, abriram a Casa de Balé Flamenco La Morita y San-ta Ana, que funcionou por muitos anos no Largo da Ordem. Devido a alguns problemas, Amália acabou tendo que deixar o local. “A casa era muito antiga, precisava de reformas que os donos do imóvel não conseguiriam bancar, então acabou sendo vendida e se transformou em um restaurante. Fico feliz em saber que pessoas com dinheiro conseguiram conservar a casa”, destaca.

No momento, a dançarina dá au-las no colégio Barão do Rio Branco, em um espaço reservado para ela. “Foi

incompatível ficar em qualquer escola de dança. Temos que ficar isoladas, já que o flamenco é uma dança barulhen-ta, com muito sapateado. Aqui não in-comodamos ninguém, e ninguém nos incomoda”. Isso foi possível graças a um acordo que a professora fez com o colégio. Durante a semana, La Morita dá aulas particulares, e às sextas-feiras sua atenção se volta para alunos caren-tes que têm aulas de graça, vinculadas ao projeto Amigos da Escola.

As aulas recebem elogios das alu-nas Anita Maria da Costa Felix e Juliana de Araújo Bumbeer. “Escolhemos justa-mente a professora Morita por saber de toda a vivência que ela tem. Temos uma admiração profunda por ela, e posso garantir que, se eu tenho uma diva, sem exagero, é La Morita”, afirma Juliana.

O flamenco trazido pelo casal a Curitiba floresceu. “Semeamos muito. Hoje, todos que você vê por aí, dando aulas de flamenco, foram meus alunos”, diz animada.

Uma dificuldade Segundo Amália, a dança flamenca

é muito complexa. “Está muito envol-vida com a cultura espanhola, e o que se dança em uma região da Espanha não é o mesmo que se dança em outra”. O ritimo foi influenciado por culturas como a indiana e a judaica. “Dançamos o flamenco que vem da Índia, misturado com a dança árabe, mas quem colocou o tempero da dança foram os ciganos que chegaram ao sul da Índia”, explica.

Atualmente, a dança é muito estu-dada. Tornou-se curso universitário em Granada, na Espanha. “O flamenco é difícil de interpretar, porque, além de ritmo, talento e perseverança, é preciso tocar um instrumento e sapatear.”.

Nesse aprendizado, também está envolvida a castanhola, que, ao contrá-rio do que muitos pensam, não teve sua origem na Espanha. “Datam da época do Cro-magnon e se tornaram um ins-trumento importante para a dança fla-menca”, afirma Morita. “O verdadeiro flamenco não é com castanholas, já que elas foram implantadas na década de 30; por isso, atualmente, não podemos dizer que dançamos o flamenco ori-ginal”. Para a dançarina, hoje em dia, dança-se o flamenco “de turista”. “A mulher não é mais feminina, sapateia como homem, não tem a feminilidade que tinha antes”, afirma.

As apresentações da dança espa-nhola giram em torno de uma história que tem início no século 16. “Com a falta de luz elétrica, o homens se reu-niam em tavernas, bebiam e conver-savam. No local, havia uma mulher, a prostituta, e um cavalheiro que tocava guitarra. Enquanto o guitarrista toca, os bêbados cantam, e a prostituta dança, é o trio perfeito”. Toda a temática do es-petáculo gira em torno desee universo.

O flamenco é carregado de histó-rias e de cultura, além de ser muito en-volvente, diz Juliana, para quem a dança atrai por ser completa. “É maravilhosa, tem música, expressão, trabalha a indi-vidualidade. No flamenco, cada dança-rina é única.”

Amália é entusiasta de sua arte. “Não existe nada na dança de que eu não goste. Posso ficar aqui mais duas horas falando bem do meu flamenco. Nasci com o flamenco em mim, ele me motiva, é uma relação muito forte. Ve-nha dançar comigo para entender o que eu estou falando”, desafia a professora que é o rosto do flamenco no Brasil.

“Nasci com o flamenco em mim. Ele me motiva, é

uma relação muito forte”

Pois é! A internet já passou pelo “boom”, e as empresas ainda não acordaram para a revolu-

ção digital. Nos EUA, por exemplo, segundo pesquisa realizada pela Forrester, o americano já passa o mesmo tempo na internet e na tevê, aproximadamente 13 horas sema-nais. Isso não só revela que lá a internet já passou pelo “boom”, mas também que o americano busca um meio em que possa ser mais ativo no conteúdo, algo que só a internet permite.

E o Brasil não está distante des-sa realidade! Somos o quinto maior mercado do mundo em vendas de computadores, caminhamos para ser o terceiro. Dos e-consumidores, 52% já são da classe C.

A Internet é campeã de cresci-mento publicitário, e o Nordeste é a re-gião que mais cresce na internet, com um aumento considerá-vel de 7,53% de acessos na região. As redes sociais já são acessadas por 67% dos internautas brasileiros. Dos acessos ao Orkut, 50,6% são do Brasil. Isso tudo mostra que, cada vez mais, estamos migrando para esse meio com grande intensidade e velocidade.

O comércio eletrônico deve en-cerrar o ano com faturamento de R$ 15 bilhões, segundo a Câmara Brasi-leira de Comércio Eletrônico. Essa é mais uma tendência que deveria es-tar sendo acompanhada pelas empre-sas. Muitas oferecem seu “fale conos-co” nos sites institucionais, que não passam de um “fale consigo mesmo”. Algumas, mais ousadas, já oferecem atendimento via Orkut, Facebook e Twitter, mas continua o monólogo.

Os usuários não gostam de es-perar, não gostam de perder tempo na web, e o atendimento deveria ser o mais rápido possível. Surpreenden-temente, as empresas dividem-se em

dois grupos quando o assunto é aten-dimento aos clientes via web: os que demoram a responder e os que nem se dão ao trabalho de fazê-lo.

Dias atrás, fiz um teste enviando e-mails para algumas lojas, demons-trando interesse em comprar, per-guntando sobre valores de produtos, custos dos serviços, esse tipo de coi-sa. Quantas delas me responderam? Nenhuma! É de admirar, mas é ver-dade: nenhuma me respondeu! Afi-nal, eu não consigo entender por que razão oferecer atendimento on-line se a empresa não consegue atender a demanda. Cheguei a fazer umas perguntinhas via Twitter apenas para testar, e, novamente, nada! Parece que não há interesse em quem quer comprar. Estranho, não?!

Numa tentativa de profetizar so-bre a web, penso que em breve (mui-to em breve) o grande mercado de

compras estará on-line. O custo na web é inferior quando se considera que não há aluguel, manuten-ção, luz, água, fun-cionários, seguran-

ças, vendedores e empacotadores que precisam estar nas lojas fixas.

O preço, por sua vez, será mais competitivo em razão desse baixo custo. Não existirão mais tantas lo-jas fixas. Uma única coisa continu-ará sendo o diferencial no momento da decisão do consumidor: o famoso bom atendimento. Aquele que melhor atender, com agilidade e personali-zação, ganhará o cliente, e poucas empresas já colhem frutos por esta-rem atentas a esse comportamento.

As empresas, de um modo ge-ral, ainda não acordaram para esse novo canal de vendas e não conse-guem vislumbrar a quantidade de usuários transitando entre sites de compras e a quantidade de cliques que feitas diariamente com a inten-ção de gastar dinheiro. Definitiva-mente, as empresas não estão pre-paradas para esse novo ambiente e nem para esse novo comportamento do consumidor!

O “boom” já foi, eninguém acordou

A internet é campeã de crescimento publicitário, e o Nordeste é a região

que mais cresce em termos de acesso à rede

Humberto Souza

La Morita, nos tempos em que dançava em Buenos Aires, na Argentina, e hoje, com alunas de sua academia em Curitiba

Esta edição do jornal Marco Zero tra-ta dos problemas de deslocamento enfrentados pelos ciclistas na capital paranaense. Repor-tagem mostra a busca por melhorias, como um espaço exclusivo e seguro para quem uti-liza a bicicleta para se locomover e hoje divide espaço com automóveis e veículos maiores, e mostra os benefícios que a cidade teria com o incentivo ao uso da bicicleta.

Também nesta edição, uma matéria revela como está a higiene nos restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos desse gênero no centro da cidade. O que as pesso-as estão comendo nesses lugares? Quem pode denunciar irregularidades para a Vigilância Sanitária? A matéria mostra ainda quais os motivos que mais geram reclamações em lanchonetes e restaurantes.

Conheça Amália Moreira, uma dis-tinta senhora de 67 anos que, ao dançar, se transforma em La Morita, uma das pesso-as responsáveis por trazer a dança flamenca para o Brasil. Além disso, esta edição apre-senta uma viagem à história das ferrovias do estado. Localizado no Shopping Estação, o Museu Rodoviário conta com um rico acervo que traz curiosidades do período em que as ferrovias alimentavam o comércio e a indús-tria do Paraná.

Alunos do curso de Produção Editorial e Multimídia promoveram na Facinter uma instigante palestra de especialistas sobre o tema: “Mídias Sociais: Mais ouvir do que ser ouvido”.

Assim está o Marco Zero nesta edição, com uma grande variedade de temas e um conteúdo desenvolvido especialmente para você. Boa Leitura!

Cíntia ConceiçãoDivulgação

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MARCO ZERO Curitiba, junho-julho de 20114 Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO 5

TRANSPORTE TRILHAS DO TEMPO

Cultura nas Ruínas

O bairro São Francisco tem diver-sos pontos históricos, como a Praça João Cândido, a Praça Garibaldi e o Setor Histórico de Curitiba. Mas o lo-cal mais intrigante e curioso são as Ruínas de São Francisco, cercadas por lendas e histórias curiosas. Uma dessas histórias conta que um pirata chamado Zulmiro teria enterrado, per-to das Ruínas, um tesouro. Mesmo após sua morte, o pirata volta ao local para assustar as pessoas.

Para o estudante de publicidade Diego Muller, o local é “tenebroso”. Ele conta que, nas poucas vezes em que passou pela praça, sentia a impressão de ser vigiado por alguém. Mas diz que as Ruínas não o assustam tanto quanto o Mirante que fica ao lado.

As Ruínas são hoje um espaço para eventos culturais, desde apre-sentações de teatro a shows musicais ao ar livre. Há no local uma arquiban-cada de pedra para o público. Neste ano, aconteceu o Festival Ruído nas Ruínas, nos dias 26 e 27 de fevereiro. A programação era composta por apre-sentações musicais, exposições de ar-tes plásticas, aulas de ioga e palestras, tudo sem cobrança de ingresso.

Para evitar o mau uso e a depreda-ção da antiga construção, foram coloca-das grades em volta das Ruínas. Outra construção, abaixo das arquibancadas, são as Arcadas das Ruínas do São Fran-cisco, que abrigam lojas de souvenir e presentes, pizzaria, bar e confeitaria, entre outros serviços disponíveis para o população e os turistas.

Bairro São Francisco é referência cultural

Andrey Takahashi

Motocicletasirão superarautomóveisAumento nas vendas de motos pode fazer com que elas sejam o principal meio de transporte

Dados divulgados no mês de maio pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), como resultado da pesquisa intitulada “A mobilidade urba-na no Brasil”, apontaram que na última década a compra de carros cresceu 9% ao ano, e a de motos, 19%, enquanto a procura por transporte público caiu 30% anualmente no mesmo período.

A enfermeira Keila dos Santos, de 35 anos, faz parte dessa estatís-tica. Obrigada a usar o transporte coletivo, após mudar de emprego, a enfermeira providenciou uma moto e está terminando o processo para con-quistar a tão sonhada habilitação para o veículo. “Depois que se acostuma a ir e vir a hora que se quer, é muito difícil ter que esperar e se moldar aos outros”, diz Keila. Isso sem contar o desconforto e as inconveniências do transporte coletivo.

De acordo com a pesquisa, a partir do ano que vem, as vendas de motocicletas irão superar as de carros no país. Se a média for mantida, nos próximos dez anos, haverá menos car-ros do que motocicletas circulando nas ruas brasileiras.

Em Curitiba, o grande número de automóveis representa problemas no trânsito. A capital paranaense é a mais motorizada do Brasil, com aproximada-mente um carro para cada 1,63 habi-tante, segundo dados da Associação Nacional de Transportes Públicos. A previsão é de que, em 2013, o número de veículos automotores em Curitiba chegue a 1,5 milhão, passando dos 2 milhões em 2018.

O problema é sentido desde já pelo taxista Orácio de Mello Puchta, 43 anos, há 12 na profissão. Ele conta que, no começo da carreira, ser taxista era prazeroso para quem gosta de dirigir, já que se podia admi-rar toda a cidade e conhecer muitas pessoas. Hoje, o trânsito estressa não só a ele, mas ao passageiro, que paga para ficar parado.

Bruno Melo

Lugar de ciclista, onde é?Sem espaço exclusivo para circulação em Curitiba, ciclistas criticam malha cicloviária da capital paranaense e a postura da Prefeitura em relação às suas causas

Alexsandro Teixeira Ribeiro

Capital Ecológica e Cidade Modelo são alguns dos ad-jetivos recorrentes aplicados

a Curitiba em diversas reportagens e artigos de jornais e revistas em todo o mundo. A capital paranaense tam-bém é referência quando o assunto é transporte coletivo, com seus expres-sos biarticulados e estações tubos. Há quem levante a bandeira em defesa de tais títulos. Por outro lado, exis-tem os que consideram tudo isso um mito, como o ciclista, coordenador do programa Ciclovida e pesquisador do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR José Carlos Assunção Belotto. Para ele, Curitiba precisa pensar no modal cicloviário como uma das solu-ções para o trânsito na capital. Apesar disso, segundo Belotto, a cidade ainda não desenvolveu respeito pelo ciclis-mo, mesmo com o status de Cidade Ecológica. “Curitiba coloca os ciclis-tas na sarjeta”, critica.

De acordo com Belotto, uma das grandes críticas dos ciclistas é a não conexão entre os mais de 100 quilô-metros de ciclovias que a prefeitura ga-rante existir. “Hoje, a Prefeitura acha que o ciclista é capaz de se teletrans-portar, pois a ciclovia acaba no nada”, afirma o ciclista. Segundo a funcioná-ria do setor de Coordenação de Mobi-lidade Urbana e Transportes do Insti-tuto de Pesquisa e Planejamento Ur-bano de Curitiba (Ippuc) Maria de Miranda Gonçal-ves, o Plano Dire-tor Cicloviário de Curitiba foi apro-vado em 2008. “A implantação gra-dativa de infraestrutura cicloviária nos ramais propostos no mapa de diretri-zes permitirá a conexão da rede exis-tente, bem como a criação de novas li-gações”, afirma. Apesar de o plano da prefeitura já estar em fase de implanta-ção, Belotto não está muito confiante quanto aos prazos de finalização das obras, alguns estipulados para o final deste ano. “Há alguns anos que acom-panho os projetos da Prefeitura, e a

promessa é sempre a mesma: de que estão terminando o plano e em bre-ve vão apresentar, mas isso já faz três ou quatro anos. Realmente, o que eles colocam é primeiro recuperar a malha existente para depois instalar novas”, lamenta.

Apesar de planejar as conexões das ciclovias, de acordo com Maria, o plano não prevê a ampliação da malha cicloviária existente. “O Plano

Diretor Ciclo-viário não é um plano de obras para a constru-ção de ciclovias, mas sim um pla-no que estabelece as diretrizes de expansão da rede de infraestrutura

cicloviária existente”, comenta. Para Belotto, esse é um dos problemas do posicionamento da Prefeitura para com os ciclistas. “Aqui, sentimos a resistência a abrir mais espaços para os ciclistas, mesmo com o discurso de que a prioridade são dos pedestres e ciclistas. Na prática, nos últimos anos, não foram criados novos trechos de ciclovias. Os que existem foram cria-dos no conceito de calçada compar-

tilhada, o que não agrada os ciclistas, que não são escutados no planejamen-to”, critica.

Segundo Maria de Miranda, al-gumas das obras previstas no plano já estão sendo incorporadas nos projetos do Ippuc, como na rua Toaldo Túlio, em Santa Felicidade, e na rua Eduardo Pinto da Rocha, no Sítio Cercado, am-bas com faixa de circulação de ciclis-tas compartilhada com os pedestres. Porém, de acordo com Belloto, essa modalidade de via para ciclista não é a mais aceita pelos usuários das bici-cletas. “A maioria das ciclovias têm o conceito de calçada compartilhada, o que para o ciclista é muito ruim, pois há pessoa correndo ou caminhando na ciclovia, já que o pavimento é mais liso, melhor também para caminhar”, comenta.

O compartilhamento da ciclovia é uma das críticas do ciclista Clóvis Martins, que usa a bicicleta para ir de sua casa, no bairro Hugo Langue, para o trabalho, no centro da cidade. “Usar a ciclovia com os pedestres é muito ruim. Não consigo ter rendimento, nem maior velocidade, pois tenho que ficar cuidando para não atropelar alguém que esteja na via. Uma vez, quebrei um braço em um acidente ao

desviar de um pedestre que resolveu mudar de caminho sem olhar para trás”, critica Martins.

Livres das interferências de pe-destres e de carros, afirma Belotto, os ciclistas preferem vias exclusivas, como a ciclofaixa (veja no box da página ao lado). “A ciclovia é sinuosa, tem uma série de interrupções. Ela está consi-derando que o ciclista está passeando, há várias travessias; ora está no cantei-ro central, ora na margem esquerda ou direita, obrigando-o a fazer uma série de travessias”, reclama. Para contem-plar essa reivindicação dos ciclistas, o Ippuc informa que foram iniciadas as obras para a instalação da primeira ci-clofaixa em Curitiba, na Avenida Ma-rechal Floriano, entre a Linha Verde e o terminal do Carmo.

Uma das soluções defendidas por Belotto é o uso das canaletas de ôni-bus expresso. “Pedalar nas canaletas é o local mais seguro para o ciclista. É um lugar que liga a alguma coisa, já que a maioria das ciclovias não fa-zem essa ligação de adensamentos po-pulares até o centro da cidade”, diz. Belotto aponta o uso das canaletas, que totalizam mais de 80 km de vias pavimentadas, a exemplo da que está em implantação na Avenida Marechal Floriano, como forma de garantir a ciclofaixa com custos reduzidos. “É uma ideia que defendemos há muitos

Com a falta de faixas exclusivas, muitas vezes o ciclista invade a área dos pedestres

anos: a adaptação das canaletas com uma ciclofaixa lateral. Ou seja, seria retirado uma das faicas de estaciona-mento das vias laterais às canaletas e incluída a ciclofaixa. “Com o uso das canaletas, Curitiba ganharia 70 km de ciclofaixas totalmente integradas, com baixo custo, usando vias já existen-tes”, defende.

Ele apresenta outras ideias: “Po-deria haver bicicletários nos terminais de ônibus, para aquela pessoa que queira fazer parte do trajeto de bici-cleta e parte de ônibus. Infelizmente, não há essa vontade política”. Apesar disso, Maria de Miranda, do Ippuc, afirma que nem todas as canaletas têm a mesma largura, o que torna inviável a adaptação de alguns trechos. “A di-ferença da Marechal Floriano com o restante do eixo estrutural é o espaço disponível. A Marechal é mais larga, o que permite a implantação da ciclo-faixa neste momento, mesmo com o

desalinhamento e alargamento da via para a ultrapassagem do ligeirão. Nos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, onde a faixa da rua é bem menor do que na Avenida Marechal Floriano Pei-xoto, também há estudos e projetos para a implantação do Ligeirão, com o desalinhamento das estações-tubo. Nesses eixos, não haverá espaço dis-ponível para a implantação de ciclo-faixa”, argumenta.

Enquanto a ciclofaixa e as co-nexões das ciclovias não forem com-pletadas, resta aos ciclistas, na maior parte da cidade, o uso compartilha-do de vias com automóveis e outros veículos. De acordo com o artigo 58 do Código de Trânsito, quando não houver ciclovia ou ciclofaixa, o ciclista deve transitar pelo bordo da pista, no mesmo sentido do flu-xo dos carros, com preferência em relação aos demais veículos. Apesar disso, Belotto acredita que a maioria dos motoristas não conhece essa re-gra. “Não há respeito por parte dos motoristas, e não há placa que faça alusão ao artigo. Inclusive, o concei-to de calçada compartilhada leva os motoristas a acharem que lugar de bicicleta é na calçada.

Belotto: “A prefeitura promete o término da revitalização das ciclovias há mais de três anos”.

“Hoje, a Prefeitura acha que o ciclistas é capaz de se teletransportar,

pois a ciclovia acaba no nada”, reclama Belotto

“Curitiba coloca os ciclistas na sarjeta”

As Ruínas de São Francisco, no centro histórico de Curitiba: local cercado de lendas e mitos

Algumas propostas para resolver o problema

Entenda as diferenças entre ciclovia, espaço compartilhado e ciclofaixas

Alexsandro Teixeira

Alexsandro Teixeira

Alexsandro Teixeira

Andrey Takahashi

Page 4: Jornal Marco Zero 12

MARCO ZERO Curitiba, junho-julho de 20116 Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO 7ESPECIAL ESPECIAL

Muito além da cozinhaNeste ano, já foram denunciados 33 estabelecimentos no centro de Curitiba, por falta de higiene.

Você sabe o que anda comen-do? Quando se trata de ali-mentação, todo cuidado é

pouco. Afinal, nunca se sabe o que há realmente dentro de um prato de co-mida ou se aquele pastel de carne da lanchonete da esquina foi preparado no momento em que o cliente fez o pedido. Será que é tudo tão apetitoso quanto parece?

Embora o número de denúncias contra lanchonetes no centro de Curi-tiba chegue, neste ano, a um total de 33, as interdições foram apenas duas. No caso dos restaurantes, foram de-nunciados 27 estabelecimentos, po-rém, nenhum foi fechado. Conforme explica o diretor do Centro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antônio Bittencourt, durante as vistorias, é emitido um termo de intimação, cujo prazo é definido conforme a situação: “Estipulamos um procedimento a ser seguido, a depender do caso”. Bitten-court explica que, após esse período, muitos estabelecimentos apresenta-ram condições propícias ao consumi-dor, evitando assim o fechamento.

A variedade de estabelecimentos no centro de Curitiba é impressionan-te: conforme a Secretaria Municipal de Saúde, eles são, atualmente, 1.579, divididos entre 759 lanchonetes e 820

André Vinícius e Ronaldo Freitas

restaurantes. Diariamente, milhares de pessoas fazem suas refeições nes-ses locais, a exemplo da promotora de vendas Mariele Morais, de 17 anos, que trabalha na região central da ci-dade. “Sempre almoço no centro, a localidade é ótima, pois possui várias opções para se fazerem refeições”, co-menta.

Quanto à higiene, a promotora diz confiar nos estabelecimentos. “Prefiro acreditar que os locais em que almoço são limpos, pois seria uma decepção descobrir que estou comendo em um local sujo” argumenta.

Realizar refeições no centro da ci-dade também é uma rotina na vida de Janete Schlottag, 37 anos, atendente de loja. Ela relata que, por trabalhar o dia todo na região central, é obrigada a se alimentar em estabelecimentos da região, mesmo desconfiada da higiene desses locais. “É grande a quantidade de lanchonetes espalhadas pelo centro de Curitiba em que se percebe a falta de higiene”, comenta a atendente que garante já ter constatado a presença de baratas em lanchonetes próximas à empresa onde trabalha.

De fato, existem opções para to-dos os gostos. Entretanto, é preciso ficar atento se a qualidade atende às normas da Vigilância Sanitária, presen-tes na Resolução RDC nº 216/2004, a chamada “Cartilha sobre Boas Práti-cas para Serviços de Alimentação” da

Anvisa, voltada para serviços de ali-mentação de maneira geral. A cartilha trata de temas como Doenças Trans-mitidas por Alimentos (as chamadas DTAs), descrição do local ideal de trabalho, cuidados com a água e até a forma correta de lavar as mãos.

A coordenadora do Serviço da Vigilância Sanitária de Alimentos de Curitiba, Ana Valéria de Almeida Carli, informa que as vistorias da Vigilância Sanitária ocorrem de três formas: por solicitação dos próprios estabeleci-mentos, seja para liberação de licença sanitária ou análise de projeto, em vis-torias no roteiro e a partir de denún-cias. “Recebemos (as denúncias) atra-vés da Ouvidoria, da Central 156 e do Ministério Público. No caso de mais de uma pessoa passar mal por causa de algum problema na lanchonete ou restaurante, investigamos como um surto alimentar”, esclarece Valéria.

A coordenadora do Serviço Ali-mentar explica os procedimentos de vistoria: “Além de investigar o proces-so de descongelamento, conservação e preparo dos alimentos, verificamos fatores como o estado de limpeza do local, uniforme dos funcionários, pro-cedência da água e estrutura física do estabelecimento, como coifa e dispen-sers de papel e sabonete”.

De acordo com o diretor do Cen-tro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antônio Bittencourt, os motivos que mais geram reclamações em lan-chonetes e restaurantes são a presen-ça de corpos estranhos, ratos, baratas,

falta de higiene de quem manipula a comida e o sabor. “Curiosamente, um mal-estar gerado tem o menor índice, porque o cliente tende a pen-sar que aconteceu apenas com ele. A não ser em caso de surto alimentar”, diz Bittencourt. “É bom lembrar que o comerciante não sabe quando será investigado”, alerta.

O diretor de Saúde Ambiental su-gere uma reflexão sobre a alimentação em locais públicos: “A qualidade dos estabelecimentos do centro de Curi-tiba é muito grande atualmente, mes-mo porque a população ficou muito exigente. Mas não dá para garantir tranquilidade absoluta. O consumidor precisa ser observador, ser fiscal do que ele consome”.

Nota: A Secretaria Municipal de Saúde não divulga quais foram os estabelecimentos denunciados e/ou interditados.

Os mistérios da cozinhaApesar de não existir em Curitiba a

obrigação por parte de lanchonetes e res-taurantes de permitir que o cliente entre na cozinha, a recusa do estabelecimento pode ser motivo para denúncia. “É uma atitude suspeita, não há motivo para se esconder do cliente”, diz o diretor do Cen-tro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antonio Bittencourt.

SupermercadosPor aglutinar, muitas vezes, as fun-

ções de restaurante, lanchonete, açougue e panificadora, o comércio varejista (su-permercados, minimercados e hipermer-cados) lidera os índices de interdições to-tais ou parciais: conforme a Secretaria de Saúde, em 2010, foram 43 estabelecimen-tos dessa natureza contra 18 lanchonetes e 12 restaurantes.

“Pau-de-fogo”Segundo a coordenadora do Ser-

viço da Vigilância Sanitária de Alimentos de Curitiba, Ana Valéria de Almeida Carli, o “pau-de-fogo” é um método comum em lanchonetes. “Utiliza-se uma garrafa reple-ta de combustível para acender as bocas do fogão rapidamente, com o risco de ex-plosão”. A prática é ilegal.

Fique ligado!Conforme Ana Valéria Carli, a última

ação do Distrito Matriz, no Centro, que culminou em interdição aconteceu no dia 16 de maio, numa lanchonete com nome fantasia em mandarim, na qual foram en-contradas precárias condições de higiene, presença de ratos e baratas, produtos ali-mentícios vencidos e mal acondicionados, além de estrutura física irregular.

Você sabia?• A geladeira dos estabelecimentos

devem estar registrando menos de 5ºC, e o balcão de self-service, mais de 60ºC; caso contrário, o ambiente estará propício à multi-plicação de micróbios prejudiciais à saúde.

• Uma boa lavagem de mãos deve le-var em torno de 20 segundos.

Em Curitiba, diferente do que ocorre em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, o cliente não possui,

por lei, o direito de visitar a cozinha de estabelecimentos manipuladores de ali-mentos (bares, restaurantes, lanchonetes etc.). Soma-se a isso o critério adotado pela Vigilância Sanitária da cidade, que é não divulgar quais os estabelecimentos do gênero denunciados, autuados e/ou interditados pelo órgão, o que, segundo a instituição, é uma questão de “ética”. As-sim, consumidores da capital paranaense não possuem muitas informações e dados quanto ao histórico dos locais onde fazem suas refeições diárias, ficando à mercê de vistorias praticadas de forma esporádica (mediante denúncias, a necessidade dos estabelecimentos em renovar suas licen-ças ou vistorias roteirizadas).

Apesar de não existir em Curitiba a obrigação por parte de lanchonetes e res-taurantes de permitir que o cliente entre na cozinha, a recusa do estabelecimento pode ser motivo para denúncia. “É uma atitude suspeita, não há motivo para se esconder do cliente. Sempre digo que, na dúvida, o melhor é que o cliente veja como o estabelecimento prepara a comida”, diz o diretor do Centro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antonio Bittencourt.

Para verificar a possibilidade de ob-servar cozinhas de restaurantes e lancho-netes no centro da capital paranaense, a reportagem do Marco Zero foi registrar a reação de responsáveis e funcionários, quando solicitada a autorização para acompanhar o preparo de refeições ser-vidas nesses locais, além de constatar as condições higiênicas. Recusa, desconfian-ça e a alegação de falta de tempo foram alguns dos argumentos registrados na ação, que visitou oito estabelecimentos da região. Confira as reações.

La Casa di Frango (Praça Rui Barbosa): o gerente José Ademar explicou que não há problema quanto à visita de clientes na co-zinha do estabelecimento em horários de pouco movimento. Quando questionado se ele permitiria nossa visita naquele momen-to, ele negou, apesar do pouco movimento do local no momento.

Pastelaria e Lanchonete Wan Le (Praça Rui Barbosa): o responsável pelo local, que preferiu não revelar seu nome, auto-rizou a visita. Na companhia da atendente Camila Rose, de 22 anos, fomos guiados até a porta da cozinha do estabelecimen-to. O local pequeno aparentava poucas condições higiênicas. Na pia, havia grande quantidade de louças sujas ao lado de um “panelão” com arroz, usado na preparação

dos chamados “pratos feitos”. O fogão ti-nha uma grande frigideira com gordura em tom escuro, como se já tivesse sido usada diversas vezes na fritura de batatas. As saladas e o feijão estavam aparentemente bem condicionados. Todos os funcionários usavam toucas. Quando questionada se era comum a visita de clientes à cozinha do estabelecimento, a atendente respon-deu que nunca ninguém solicitou.

Pastelaria Asiático (esquina das ruas Pe-dro Ivo e Voluntários da Pátria): o respon-sável pelo estabelecimento, assustado, não quis se identificar e pediu que nos reti-rássemos do local. Alegou que só permitia a entrada de fiscais da Vigilância Sanitária em sua cozinha.

Mei Hau Pastelaria e Lanchonete (Vo-luntários da Pátria): fomos atendidos por uma jovem oriental. Quando questionada sobre a possibilidade de visitas à cozinha do estabelecimento, a moça desconversou e chamou a atendente Rose Oliveira, de 29 anos, que informou não permitirem a entra-da de nenhum cliente na cozinha, devido ao grande movimento do comércio e à falta de tempo para visitas dessa natureza.

Pão de Queijo (Voluntários da Pátria): atendidos pela gerente Simone Bernard, de 23 anos, constatamos que toda a pre-paração das refeições do estabelecimento é feita ante os olhares dos clientes. A co-zinha é aberta, próxima ao local em que os clientes realizam suas refeições. Fun-cionários responsáveis pelo preparo das refeições estavam uniformizados e todos com toucas. Simone argumenta que a preparação das refeições, aos olhos dos clientes, é algo que gera credibilidade ao estabelecimento.

Bar e Restaurante Triângulo (Rua XV de Novembro): o proprietário do estabeleci-

mento, Imad Handar, não hesitou em au-torizar a visita. De pronto, solicitou que o chapeiro Raul nos acompanhasse. Na cozi-nha, não havia nenhum talher sujo sobre a pia, todos os alimentos eram mantidos em recipientes adequados, o chão e as pare-des estavam aparentemente limpos. Todos os funcionários usavam toucas. Handar diz que qualquer cliente está autorizado a visi-tar sua cozinha, basta solicitar.

Lanchonete e Restaurante Savoy (Rua XV Novembro): o operador de caixa do estabelecimento, Miguel de Oliveira, de 34 anos, informou que visitas à cozinha não são autorizadas. Alegou que o gerente não se encontrava, encerrando o assunto.

Casa de Sucos Wing (Rua XV de Novem-bro): o atendimento foi feito por Janaine Pe-reira, 29 anos, gerente da casa. Ela explicou que cozinha possui uma janela na porta, assim, o preparo das refeições fica visível a qualquer cliente. Pela janela, foi possível observar que o local de fato estava limpo. Uma única funcionária, que se encontrava no interior da cozinha, fazia o uso de um uniforme limpo e de touca. Os talheres e pratos estavam aparentemente limpos e organizados. Não era realizada nenhuma manipulação de refeições no momento.

O que os olhos não vêem, o estômago não sente?

Mariele Morais prefere dar um voto de confiança

Funcionários uniformizados e preparação dos alimentos bem visível: nem sempre é o que acontece

A qualidade dos estabelecimentos tem melhorado, principalmente por causa da exigência dos clientes

Em Curitiba, a lei não garante ao cliente o direito de visitar o local onde os alimentos são manipulados

Ronaldo Freitas

Ronaldo Freitas

Ronaldo Freitas

Page 5: Jornal Marco Zero 12

MARCO ZERO Curitiba, junho-julho de 20118 Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO 9

Cabe no BolsoUm shopping, uma ferrovia

e muitas histórias

Quem passeia pelo Shopping Estação, além de fazer as suas compras, usufruir da

praça de alimentação e dos cinemas, pode conhecer um pouco da história de Curitiba. Com um rico acervo e muita história para contar, o Museu Ferroviário traz o registro das fer-rovias do Paraná. O Shopping Esta-ção, onde se localiza o museu, abri-gava uma antiga estação ferroviária da Capital.

Fundado em 1982, o museu do Shopping Estação tem histórias e curiosidades do período em que as ferrovias alimentavam o comércio e as indústrias do Paraná.

Nas janelas de um vagão junto à locomotiva Maria Fumaça, alguns objetos contam como era aquele tempo. Entre esses objetos, estão, por exemplo, os apitos da locomoti-va, que exerciam a função de alertar as pessoas, animais e motoristas em cruzamentos, além de avisar quando o trem chegava ou partia, e o manô-metro, utilizado para medir e contro-lar a pressão dentro das locomotivas, já que sem esse controle as locomoti-vas poderiam ter problemas e causar acidentes. Outros objetos que estão expostos na janela são o telégrafo (de 1830), sinos e balanças.

No caminho, o visitante encon-tra algumas curiosidades, como o significado das diferentes cores dos quepes utilizados pelos fiscais, chefes, agentes, maquinistas e auxiliares. E também o porquê de nos relógios das Estações os números aparecerem em alga-rismos romanos, gra-fando o 4 como IIII, em vez de IV.

O acervo do museu conta com um catálogo de todas a locomotivas que fizeram parte do Pa-raná, livros, jornais e vários outros ob-jetos históricos. As fotografias dessa

ESPECIAL CINEMAHá quem diga que não há nada me-

lhor que um bom “cineminha”. Outros afirmam que mesmo com filmes on-line e outros recursos que a internet oferece, além da facilidade de locar uma fita para assistir no conforto do lar, nada supera a sensação de ir ao cinema. Se você é partidário dessa opinião, e como grande parte da população busca diversão que não fira o bolso cruel-mente, aqui vão algumas dicas do Cabe no Bolso voltadas especialmente ao cinema.

CinematecaUma boa opção é a Cinemateca

de Curitiba. Aberta em 1975, exibe diversos filmes de seu acervo, já que um dos objetivos da Cinemateca é preservar a memória cinematográfi-ca. Há também exibições para o pú-blico infantil e mostras de filmes es-trangeiros, como de cinema italiano e cubano, entre outros. Os ingressos de segunda a sábado custam R$ 5,00. O meio-ingresso para estudantes é R$ 2,50, e aos domingos o preço único é R$1,00. A Cinemateca fica na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.174, São Francisco. O telefone para informações é o (41) 3321-3359.

Unibanco Arteplex Para quem é professor, uma

boa pedida é o Unibanco Arteplex, que oferece filmes gratuitos para o educador e um acompanhante. Basta fazer uma carteirinha e no dia levar o documento junto com o RG. Nesse cinema, há também a Sessão Popular: um filme selecionado em horário es-pecífico a cada semana, com ingres-so a R$ 4,00. Para saber qual o filme da semana e o horário, basta acessar www.cinemaunibanco.com.br.

Filme mais cedoUma alternativa para quem

quer economizar é ir até as 13h30 no Cineplus Jardim das Américas. O valor do ingresso até esse horário é de R$ 4,00 nas segundas e quintas e de R$ 3,50 nas terças e quartas. O cinema fica no Shopping Jardim das Américas, na Av. Nossa Senhora das Lourdes, 63.

Essas são algumas opções para curtir um cineminha. Não se esqueça de levar um di-nheirinho extra para uma deliciosa pipoca. Boa diversão e bom filme!

Larissa Glass

CULTURA

Com local e hora marcados

Edno Junior

Tradicional roda de amigos na Boca Maldita: a política é um dos principais assuntos discutidos

Desde 13 de dezembro de 1956, Curitiba tem um reduto onde se debatem todos os assuntos que se passam na capital paranaense, além dos ocorridos no centro da cidade. A Boca Maldita se tornou ponto de encontro entre aposentados, advo-gados, servidores públicos, juízes, médicos, políticos e jornalistas, entre outras pessoas que passam e param para conversar com amigos e colocar a conversa em dia. Uma dessas pes-soas é o servidor público Ney Santos, de 59 anos, 35 deles frequentando a Boca Maldita. “Comecei a vir porque alguns amigos meus sempre vinham. Como ainda tenho amigos aqui, con-tinuo vindo”, frisou.

Santos revela que se vê de tudo quando se fica ali: “Aqui tem de tudo, rico, pobre, mentiroso, safado, esportista, médico, gente do bem e gente mal intencionada...” O senhor de cabelos brancos diz que é difícil se lembrar de todas as histórias que ocorreram pela redondeza, mas se lembra de uma que aconteceu perto da Praça Osório e que, segundo ele, foi um milagre. Uma senhora anda-va pela praça, e o vento estava muito forte, fazendo cair um galho. “Não vimos mais a mulher, pensávamos que havia ocorrido algo mais grave. Logo, depois vimos ela saindo de fi-ninho”, conta.

Outro senhor, que não quis ter seu nome revelado, disse que há um homem cujo apelido é Queboot que não pode ver mulheres e meninas passando que já as “canta”. “É um sem vergonha”, brincou o homem.

Na históriaA Boca Maldita fica na Av. Luiz

Xavier, pedaço de rua que passa pela Rua das Flores, outro nome pelo qual a Rua XV de Novembro é conhecida no trecho central. Há uma escultura bem na frente ao local, feita em homenagem à Boca Maldita, por sua importância histó-rica. Em dias de semana, pode-se ver senhores desde as nove horas da manhã, já confabulando e debaten-do sobre os principais assuntos que leram no jornal. Durante o dia, o movimento cai um pouco, mas nada que faça esvaziar o ponto de encon-tro, e após as 17 horas já começa uma movimentação mais intensa de pessoas buscando uma rodinha mais informada sobre o que acon-teceu no local e no calçadão da Rua XV. Com predominância de público masculino, os assuntos são diver-sos: artes, política, passeatas, shows, mulheres, comícios, entre outros. O comício do movimento Diretas Já!, importante manifestação da história redente do Brasil ocorrida nas prin-cipais capitais, passou pela Rua XV, por ser um local central.

COMPORTAMENTO

Edno Junior época estão com o Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), aguardando uma decisão so-bre quas será seu destino.

A bibliotecária do museu, Lu-cia Glinski Kintopp, aguarda ansiosa a decisão do destino das fotografias e deseja que o museu seja o local es-colhido para elas. “Estamos com um

projeto para amplia-ção do espaço, e será muito bom se o Insti-tuto mandar as fotos para nós”, afirma. Ela informa que o museu recebe em média oito mil visitas por mês,

sendo boa parte composta por estu-dantes, historiadores, pesquisadores e amantes de ferrovias.

Simulação de embarque de um casal de bonecos caracterizados com trajes de época

A velha Maria Fumaça é uma das relíquias expostas no Shopping Estação

Quatro alunos do sétimo pe-ríodo do curso de Produção Editorial & Multimídia da

Faculdade Internadional de Curiti-ba (Facinter) realizaram no dia 16 de junho o evento “Mídias sociais: mais ouvir do que ser ouvido” que ocorreu no auditório da instituição.

O principal objetivo do evento foi promover o próprio curso. “Mui-tos professores esquecem Produção Editorial quando citam Jornalismo e Publicida-de; por isso, não tem como divulgar o curso lá fora se não se conse-gue divulgá-lo interna-mente”, declara a aluna Juliana Queiroz, uma das coordenadoras do evento.

A programação foi dividida em duas partes. A primeira teve como pa-lestrantes convidados três ex-alunos do curso (Gabriel Vardana, Allan Reis e Diego Marx); na segunda, os con-vidados foram o mercadólogo Moha-mad Hajah Neto e a professora uni-versitária Renata Freire, falando sobre mídias sociais.

Os três ex-alunos puderam con-tar um pouco sobre a vida pós-facul-dade, falaram sobre como está o mer-cado de trabalho para os formados e

responderam algumas perguntas dos ouvintes.

Um dos ex-alunos, Gabriel Varda-na, definiu o curso como “sem fron-teiras”. “Dá uma imensa possibilidade de você poder pegar tudo o que apren-deu, ter uma ideia e ir atrás dela”, jus-tificou. Quando questionados sobre o principal desafio após a faculdade, o ex-aluno Allan Reis respondeu que é “estar preparado”, ou seja, sempre buscar cursos extras que complemen-tem e atualizem o aprendizado.

Na comparação com os outros cursos, Vardana descre-veu Produção Edito-rial & Multimídia como “mais plural, ou seja, menos focado. Ele en-trega ao aluno a chance de escolher o caminho que mais lhe dá prazer”.

Mas o que realmente faz um profissional de Produção Editorial & Multimídia? Gabriel respondeu que o estudante aprende como passar in-formação e como trabalhar os dados obtidos: “Esse é o principal papel de um comunicador atual”, definiu. Em campos como impressos, filmes e áu-dio, a produção editorial conta com uma vasta área de atuação. “Traba-lhamos sempre com diversas mídias. O design está em tudo, e por isso te-mos um campo mais aberto”, destaca Allan Reis.

Um olhar aberto à produção editorialAlunos da Facinter organizam evento para divulgar uma das habilitações da Comunicação Social

Natanael Chimendes e Aryadne Fernanda

Ouvintes assitem a exposições dos ex-alunos do curso de Produção Editorial & Multimídia

“Muitos professores esquecem Produção

Editorial quando citam Jornalismo e Publicidade”

Yasmin Feliciano

EVENTO

O museu recebe em média oito mil visitas por mês de estudantes, historiadores,

pesquisadores e amantes de ferrovias

Detalhe da antiga composição

Larissa Glass

Larissa Glass

Page 6: Jornal Marco Zero 12

MARCO ZERO Curitiba, junho-julho de 201110 Curitiba, junho-julho de 2011 MARCO ZERO 11

A música “Oração”, do grupo curitibano A Banda Mais Bonita da Cidade, estourou na internet e teve mais de cinco milhões de vi-sualizações no Youtube. Gravada em plano-sequência, a música tem seis minutos de duração e inspirou alguns internautas a realizarem e postarem no canal suas paródias da música. Alguns mantiveram a letra original e incluíram no vídeo cenas engraçadas, com novo ritmo e significado. As paródias criadas têm os mais variados temas. A web mostra várias versões da mesma “oração”. Oração com poucos figurantes, música original com um vídeo caseiro, em plano-sequência, com um número reduzido de participantes, e por aí vai...

Tem até o Chaves Os personagens do seriado Chaves não ficaram de fora e também gan-haram algumas versões da música. Em uma delas, personagens como Chaves, Kiko, Chiquinha, Seu Madruga, Professor Girafales e Dona Florinda aparecem cantando e dançando a música Oração. Já outra versão, com os mesmos perso-nagens, recebeu alteração no seu nome para A Banda Mais Bonita da Vila.

Jornalistas de plantão Um grupo de colegas de jornalistas das redações de “O Tempo”, “Super Notícia”, “Pampulha”, “Portal do Tempo Online” e “WebTV o Tempo”, de Minas Gerais, criaram A Redação Mais Bonita da Cidade, pois “Não existe uma oração para salvá-lo do plantão”. A paródia traz de forma bem humorada a rotina da reda-ção de um jornal, fazendo uma brincadeira com a música e o dia a dia de uma redação jornalística. Mostra um pouco da relação de trabalho dos profissionais de Jornalismo, afinal de contas, “Redação não é tão simples como se pensa.”

Publicitários homenageiam Os publicitários não ficaram para trás, e a agência Passion for Ideas lançou “Alteração - A Agência Mais Bonita da Cidade”, para fazer uma homenagem de forma divertida aos publicitários, designers, profissionais de Marketing e clientes mais bonitos da cidade. “Eu só peço, por favor, esta é a última reunião, chega de alteração...”. A música traz uma substituição de palavras, deixando o ritmo e o ar-ranjo originais, para instigar aqueles que não sabem o que nem como pedir para uma agência de publicidade.

Protesto na universidade Oração virou música de protesto em uma Universidade. Alunos do curso de Comunicação em Mídia da UFPB criaram “Protesto – A banda Mais Bonita da Universidade”. O vídeo foi desenvolvido para protestar pelo atraso de um ano de uma obra que tinha previsão de 150 dias para ser concluída. Os estudantes gravaram o vídeo no local onde a obra deveria estar pronta.

CULTURA

Unidos pela dançaJovens se juntam em espaço aberto nocentro de Curitiba pelo amor ao breakdance

A banda de louvor toca todas as quartas-feiras

Imagine a seguinte cena: pessoas voltando do trabalho, indo para a aula, atravessando a rua e ou-

vindo ao fundo uma batida diferente, com um ritmo contagiante vindo de um rádio modelo cinza, antigo, ali-mentado a pilhas, daqueles dos filmes americanos que os personagens car-regavam nos ombros empolgados ao som da música. Pois bem, essa cena não é tão improvável quanto se pos-sa imaginar. Quase diariamente, e há mais de 20 anos, um grupo de jovens, que se renova com o passar dos anos, reúne-se para se divertir e praticar aquilo que muitos deles dizem ser o que fazem com mais prazer na vida: dançar. É a chamada dança de rua, que para esses meninos acontece lite-ralmente na rua e que atrai a atenção de quem passa pelo local.

O breakdance surgiu como uma vertente do street dance, nos Estados Unidos, sob influência do cantor Ja-mes Brown, e veio para o Brasil nos anos 80. Desde então, os administra-dores do Shopping Itália, na região central de Curitiba, de-cidiram ceder a frente do estabelecimento para as atividades. Assim que se encerrava o expe-diente, os adeptos desse estilo de dança podiam se encontrar e passar o tempo ali aprendendo novos passos e interagindo entre si. A única forma de rivalidade entre eles é dentro da “roda de break”, pois a dança acontece como se fosse um jogo, havendo uma dis-puta entre os passos executados por cada dançarino. Qualquer pessoa que se sentir à vontade pode chegar ali e dançar, sem ser discriminado.

Um estagiário de 18 anos, conhe-cido popularmente entre seus amigos como Harry, dança há cinco anos. “Não sabia nada de dança e hoje eu me destaco bastante, aprendi muita coisa aqui. Uma vez por semana, che-gamos e abrimos a roda, e vem gen-te do break de Curitiba toda”, conta. Para ele, ir até lá duas ou mais vezes na semana é rotina obrigatória. Harry explica que entre o grupo não há um

líder e que existe apenas a motivação de cada dançarino em não deixar a tradição acabar. Além dos treinos no shopping, muitos deles saem dali para participar de grandes competições. “A última de que participei foi no Memo-rial de São Paulo, mas existem várias. Pagamos uma inscrição e no final tem um prêmio alto em dinheiro”.

Algumas pessoas param para olhar e se mostram interessadas em saber o que está acontecendo ali. A platéia que se forma não os intimida.

“Faz 20 anos que as pessoas dançam aqui. Acredito que a cidade já está acostumada”, diz o separador de ve-ículos Gil César, de 19 anos. Um casal de tu-ristas que passava pelo

local comentou que a atitude é “muito bacana”, ainda mais quando envolve um número grande de jovens que po-diam estar envolvidos com várias coi-sas erradas, mas que preferem cuidar do corpo e da mente dançando.

Cada um deles tem sua rotina diária, como Gil César: “Saio às 18h do trabalho, passo em casa, tomo um banho, como alguma coisa e corro para cá. Fico aqui até umas 22h30, mas tem semanas em que venho to-dos os dias”. Ele conta que dança há três anos e que começou na igreja. Com o tempo, foi conhecendo mais pessoas desse meio e se aprimoran-do. Ao ser questionado sobre o sig-nificado da dança, responde: “Dan-ço porque gosto, porque eu amo e preciso disso”.

Pode parecer estranho, mas al-gumas coisas na vida seguem certas regras que às vezes des-

conhecemos. Foi pensando em algu-mas delas que fiz este texto.

Chuvas – É mais provável que a chuva cairá quando você estiver desa-brigado, sem guarda-chuva e com pres-sa para chegar em algum lugar.

Se você sai às seis do serviço, a chuva cairá às seis e cinco, quando você estiver no meio do caminho para qualquer lugar. Chuvas caem fora do horário comercial e nos domingos e fe-riados. Nestes, principalmente, se você planejou algo que não daria certo caso chovesse. Esse “algo” não inclui cortar grama e puxar tijolo. Experiência pró-pria, mais de uma vez, inclusive.

Se você é office boy, as chuvas cai-rão também no horário comercial…prin-cipalmente. A probabilidade de, ao fumar na chuva, cair uma gota bem na ponta do cigarro é inversamente proporcional à quantidade de cigarros e dinheiro que te resta.

Ônibus – A probabilidade de você pegar um ônibus lotado é diretamente proporcional a sua pressa em chegar a algum lugar. É matematicamente certo que após você ter pego o ônibus lota-do passe outro vazio em menos de dois minutos.

Se você é fumante e não quer acender um cigarro porque acha que o ônibus está chegando, acenda, pois au-menta a probabilidade de ele chegar. A velocidade com que o ônibus chegará no ponto após você ter acendido o ci-garro é diretamente proporcional a sua vontade de fumar.

Sendo estudante, no ônibus, SE você conseguir um lugar para se sen-tar e pegar a apostila, fotocópia, livros e afins para estudar para uma prova, é provável que o volume das conversas, gritarias e músicas nos celulares au-mente. A probabilidade de a música que estará tocando no(s) celular(es) ser do estilo ou músico que você odeia chega à casa dos 100%.

O volume das conversas, músi-cas e gritarias e do barulho do motor e a probabilidade de furar um pneu, de o ônibus bater, de o veículo ser atingido por uma manada de elefantes rosa ou de um dodô entrar pela janela do ônibus e decapitar o motorista são diretamen-

te proporcionais à sua necessidade de uma boa nota na prova.

Trabalho – A probabilidade de que o cara que você atendeu mal ao telefone seja sobrinho, afilhado ou cupincha de um cara foda da sua empresa é de um pra um. A magnitude da “fodelança” do “cara foda” é inversamente proporcio-nal ao grau de empatia que ele tem por você.

A probabilidade de acabar o café bem na hora em que você for pegar é diretamente proporcional à quantidade de vezes em que você foi buscar café anteriormente, que é inversamente pro-porcional à quantidade de trabalho que você tem. Ou seja, vá arranjar coisa pra fazer e beba menos café.

Office boy – O tamanho da fila do banco é diretamente proporcional à quantidade de bancos que você terá que ir depois, que, por sua vez, é inversa-mente proporcional ao tempo que falta para os bancos fecharem.

A probabilidade de que o documen-to que você vai protocolar esteja errado, faltando alguma coisa etc e tenha que voltar é diretamente proporcional à dis-tância que você terá que percorrer, que é inversamente proporcional à quantida-de de ônibus na linha.

A probabilidade de chover, caso você tenha saído de casa com aquele tênis furado, é de um pra um. Se saiu sem o desodorante, é matematicamente provável que fará um puta calor… de-pois choverá.

Observações: Não adianta. A natureza conspira contra você. Assim como as filas de banco, os motoristas de ônibus e as sexagenárias senhoras secretárias de entidades públicas. As regras para oficce boy servem também para estagiários.

Escola – A probabilidade de o(a) professor(a) aplicar uma prova surpresa é inversamente proporcional ao domínio que você tem do tema da avaliação.

A probabilidade de o apelido que te deram emplacar é inversamente propor-cional à sua afeição a ele.

Gafes – A probabilidade de uma câmera estar ligada e apontada para você quanto estiver cometendo uma gafe é diretamente proporcional à quan-tidade de álcool ingerido e à magnitu-de da merda que você está fazendo. A probabilidade de o vídeo ou foto cair na rede é de um pra um, mesma probabili-dade de isso cair nas mãos de sua mãe, namorada e chefe.

Proporções e probabilidadesCRÔNICA

Raíssa Domingues

Alexsandro Teixeira Ribeiro

TÁ NA WEB

Larissa Glass

Várias versões de uma oração

Serão 17 dias de convivência, muito trabalho e a necessidade da ajuda mútua. É com essa visão e disposição que dois professores de Turismo e oito alunos dos cursos de Administração, Jornalismo e Tu-rismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) se preparam para representar a instituição na terceira participação no Projeto Rondon. Se-gundo o professor e coordenador do projeto Rogério Maioli, este ano foi o mais concorrido, e a faculdade foi escolhida com excelente nota.

No dia 9 de julho, a equipe em-barca para Laranjal do Jarí, no Amapá. Para chegar até o local, serão aproxi-madamente nove horas de viagem. No entanto, o tempo de deslocamen-to não desanima os integrantes da equipe, que estão ansiosos para chegar logo ao destino. Ao longo dos 17 dias, os alunos deverão desenvolver pro-jetos para formar multiplicadores na comunidade, em parceria com vários ministérios, com destaque para os da Defesa e da Educação, e instituições de ensino superior.

O Projeto Rondon atua desde 1967, em parceria com as universi-dades do país, com o intuito de levar estudantes de graduação dos grandes centros para conhecer a realidade de municípios extremamente carentes, com baixos índices de desenvolvi-mento humano (IDH). Laranjal do Jarí, para onde vão os estudantes, tem apenas 23 anos de existência, 39.805 habitantes e IDH baixo.

De acordo com o professor Maiolli, as expectativas para este ano são as melhores possíveis. Ele partici-pou da primeira edição, em Cerro Azul, em 2009, e diz que a experiência foi muito valiosa. “Aprendemos bastante, principalmente no planejamento.”

Antes do embarque, os alunos

receberam treinamentos, e cada um apresentou seu projeto. Como se ima-ginar dividindo tudo com pessoas que você mal conhece? As meninas se pre-ocupam com o chuveiro coletivo, a falta de privacidade, até mesmo com a limpeza em certos ambientes e ga-rantem que na bagagem não irá faltar água sanitária.

Segundo os estudantes, a equi-pe é tranquila, o pessoal é receptivo, comprometido. Eles garantem que todos estão indo com a mesma inten-ção: deixar multiplicadores. Para isso, os participantes desenvolveram pro-jetos que serão aplicados na região. O aluno do 5º período de Turismo Marcos Alves Goes, de 44 anos, irá desenvolver o projeto de Guia Mi-rim. Já o estudante do 7º período do mesmo curso Jean Pierreie Silveira, de 31 anos, vai unir suas formações em gastronomia e turismo. “Vou agregar o meu conhecimento nessas áreas e fazer atividades com um conceito de sustentabilidade”.

As alunas de Administração Vi-centina Santos, do 8º período, e Barba-ra Cristine Pereira, do 7º, irão trabalhar com cooperativismo e empreendedo-rismo. “É bem importante, porque lá eles têm muita matéria-prima que não é usada por falta de conhecimento, e o pouco que é usado não tem valor agregado”, diz Vicentina.

Os alunos de Jornalismo Ge-órgia Macedo, Guilherme Pereira e Hamilton dos Santos Junior estão desenvolvendo um videodocumen-tário que busca resgatar a origem da cidade, junto com sua cultura. Pereira ficou como responsável pelo projeto. “Todos se ajudam, e cada projeto tem duas pessoas comandado. Vou co-mandar este grupo, e, com o auxílio de toda a equipe, a gente vai filmar e editar lá mesmo. Além disso, também vou participar dos demais projetos, das palestras e das gincanas”, conta.

Facinter no projeto RondonAlunos no treinamento de planejamento e entretenimento com o professor Ararê de Azambuja

Larissa Glass

Larissa Glass

A dança ocorre todas as noites em frente ao Shopping Itália, na área central da cidade

Qualquer pessoa que se sentir à vontade pode chegar ali e dançar, sem ser

discriminado

Raíssa Domingues

Divulgação

Page 7: Jornal Marco Zero 12

MARCO ZERO Curitiba, junho-julho de 20111212

Textos e fotos Priscila Costa

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Diversidade na feirinha

A Feira de Arte e Artesanato do Largo da Ordem é fre-quentada pelos curitibanos e muito procurada pelos turis-tas que visitam a cidade. Funciona a partir das 9 horas

da manhã e reúne cerca de 15 mil pessoas aos domingos. Na feirinha, encontram-se mais de mil barracas com os mais diversos produtos, entre artesanatos, esculturas, pinturas, livros e inúmeras peças para decoração. A gastronomia é uma atração à parte, oferecendo comidas típicas locais e de várias regiões do país. No local, encontra-se grande diversidade de culturas. Várias “tribos” se encontram nos arredores da feira, tornando-a uma ótima opção de entretenimento.