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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER – ANO IV – NÚMERO 24 – CURITIBA, NOVEMBRO DE 2012 Internet Como quatro mulheres conseguiram mudar a vida de vários cães abandonados. página 05 A história por trás da história Os bastidores das investigações do escândalo na Assembleia Legislativa do Paraná. páginas 6 e 7 Divulgação Problemas renais não dependem de idade Conheça a história de transplantados que, após a cirurgia, retomaram suas vidas. Um exemplo é Rita da Silva (foto), uma das primeiras a receber um rim no Paraná. páginas 8 boa pra cachorro! A realidade dos taxistas Claudia Bilobran/Maria Luiza Okoinski Dirigir em Curitiba exige muitos sacrifícios por causa dos engarafamentos. páginas 3 Claudia Cristina Marin Gilberto Garcia

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Page 1: boa pra cachorro! - UNINTER · 2 MARCO ZERO Número 24 – Novembro de 2012 OPINIÃO Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER – ANO IV – NÚMERO 24 – CURITIBA, NOVEMBRO DE 2012

Internet

Como quatro mulheres conseguiram mudar a vida de vários cães abandonados.

página 05

A história por trás da história

Os bastidores das investigações do escândalona Assembleia Legislativa do Paraná.

páginas 6 e 7

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Problemas renais não dependem de idade

Conheça a história de transplantados que, após a cirurgia, retomaram suas vidas. Um exemplo é Rita da Silva (foto), uma das primeiras a receber um rim no Paraná.

páginas 8

boa pra cachorro!

A realidade dos taxistas

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Dirigir em Curitiba exige muitos sacrifícios por causa dos engarafamentos.

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Page 2: boa pra cachorro! - UNINTER · 2 MARCO ZERO Número 24 – Novembro de 2012 OPINIÃO Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do

Número 24 – Novembro de 20122 MARCO ZERO

OPINIÃO

ExpedienteO jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter

Coordenador do Curso de Jornalismo: Tomás Barreiros

Professores responsáveis:Roberto Nicolato e Tomás Barreiros

O jornal Marco Zero foi premiado como melhor jornal-laboratório do Paraná no 16º Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná.

Edição•Ana Luiza Cordeiro•Cláudia Bilobran•Cristina Marin•Lucas Queiroz•Silvana Maia

Diagramação•Cíntia Silva•Letícia Ferreira

UninterRua do Rosário, 147CEP 80010-110 – Curitiba-PRE-mail [email protected] 2102-7953 e 2102-7954.

Claudia Bilobran

Qual o melhor presente de Na-tal para o centro de Curitiba?

O melhor pre-sente para o centro de Curitiba seria uma boa limpeza. Tirar os viciados da região conside-rada cracolândia, dar um jeito nos traficantes e tentar diminuir a violência.

“O centro de Curitiba merece ganhar mais se-gurança, mais po-liciamento, pois estamos à mercê dos bandidos que atuam aqui pelo centro. Semana passada presen-ciei um assalto bem em frente ao Palácio Avenida. Uma se-nhora saiu do caixa eletrônico e teve seu dinheiro roubado. Ela só conseguiu reaver seu dinheiro porque algumas pes-soas que passavam por ali no momento,deram uma rasteira no bandido e quando ele caiu várias pessoas o seguraram. A polícia demorou mais de 20 mi-nutos para aparecer e levar ele preso”.

“Deveria ter um abrigo para os moradores de rua não ficarem ao relento, mas algo bem organizado. Tem tantos prédios abandonados aqui pelo centro que poderiam ser utilizados para isso”.

“Preciamos de organização e lim-peza no centro da cidade”.

Moisés Leidens, 36, editor de vídeo

Marcelina Valentine, 50, depiladora

Cátia da Silva, 23, auxiliar financeiro

Saionara Prestes, 36, atendente

Ao LeitorEm sua 24ª edição, o jor-

nal Marco Zero acompanha a rotina dos taxistas, que estão cada vez mais apreensivos com a violência nas noites curitibanas

Vamos conhecer também a história do carrinheiro Jair Machado, que encontrou no trabalho uma forma de fugir da depressão.

Você tem Facebook? Quer adotar um cachorro? Saiba como a rede social vem aju-dando cãezinhos a acharem novos donos.

Chega de jingles chicle-tes! Empresas começam a in-vestir no Storytelling. E você sabe o que é isso? Bruno Scartozooni,profissional nes-se novo ramo de trabalho, conta do que se trata.

A repórter da Gazeta do Povo, Katia Brembatti, reve-la ao Marco Zero como des-cobriu alguns segredinhos sórdidos da Assembleia Le-gislativa do Paraná.

Boa leitura!

ErramosNa última edição do Marco

Zero, de n°. 23, o crédito das fotos das páginas centrais (6, 7 e 8) é de Franciane Bubiniak e não de Gabriel Eloi, conforme publicamos.

Imaginar que a violência exerci-da ao extremo e que os atos de vandalismo desenfreados chega-

riam à cidade de Curitiba poderia ser algo difícil de pensar há alguns anos. Arrastões, assaltos a bancos, sequestros, eram ocorrências de grandes cidades que aos olhos de alguns moradores de nossa capital eram lugares onde não se deveria morar em hipótese alguma.

Porém, Curitiba também cres-ceu e chamou a atenção do país nas últimas décadas. Atraiu inves-timentos, ofereceu infraestrutura e mais qualidade de vida que algu-mas capitais do país. Com isso, au-mentou o contingente de habitan-tes que ajudaram a mesclar a tão segmentada característica do perfil do morador desta cidade. Aumen-taram também os excluídos na ca-pital paranaense. Antes esquecidos em bairros ignorados, a popula-ção carente aumentou de maneira desenfreada. Com ela, cresceu a

Diego Alarcon

Insegurança, descasoe violência

falta de atenção dos governantes locais para moradia, educação, en-tretenimento, qualificação e opor-tunidade de emprego. Sem essas condições de que os moradores de qualquer cidade precisam, há grande chance de estas pessoas tornarem-se cidadãos que, ao in-vés de contribuir, obstruem o pro-gresso da cidade.

Hoje convivemos com tubos quebrados, ônibus pichados, usuários de drogas na região central, assaltos de dia e à noite em lugares antes considerados tranquilos por qualquer morador. Mas o problema é que a equação não bate. O número de assaltos, bandidos, traficantes e todas as ameaças à população é infinita-mente maior que o contingente de policiais e guardas munici-pais que a prefeitura coloca nas ruas. O governo anterior tentou mostrar uma dedicação maior à questão da segurança pública ao incrementar as cidades do estado com a aparição do Projeto Povo. Por um determinado período, viu-se um número maior de via-turas e policiais nas ruas da ca-pital e uma segurança momentâ-nea pairou sobre as pessoas que circulavam pela cidade. No go-verno Beto Richa, a importação do modelo de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da cidade do Rio de Janeiro, que por aqui foram batizadas de UPS, atu-

almente com dez unidades em Curitiba, uma em Cascavel e ou-tra em Londrina, mas que quase não se sabe dos resultados de sua eficácia.

Cada governo contribui por assim dizer com alguma medida que nunca representa a continui-dade de uma obra/ação do gover-no anterior por mais eficiente e bem sucedida que tenha sido.

A segurança nas cidades de-pende de um plano de segurança pensado a longo prazo unicamen-te para a população. Um projeto que acima de qualquer partido político ou orgulho pessoal de prefeitos e governantes, esteja a serviço da população. Enquanto tivermos interesses que não se-jam a segurança das pessoas e a manutenção de uma política de segurança honesta por parte dos dirigentes públicos, continuare-mos expostos à insegurança e a violência de uma forma cada vez mais intimidadora.

ARTIGO

Convivemos com tubos quebrados, ônibus pichados, e usuários de drogas

Segurança nas cidades depende de um planomais eficaz

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Número 24 – Novembro de 2012 3MARCO ZERO

CIDADANIA

Se você dirige e se estressa para percorrer o trajeto da sua casa até o trabalho, ima-

gine quem vive no trânsito o dia todo, e às vezes a noite toda. Essa é a realidade vivida por Milton Te-odoro de Sales, que é motorista de taxi há 16 anos. “Dirigir em Curiti-ba exige muito sacrifício por causa dos congestionamentos constan-tes”, reclama o motorista.

Sales explica que um motorista de táxi percorre uma média de 200 km por dia, o equivalente a uma viagem de ida e volta até a cidade de Paranaguá no litoral. Além do estresse do trânsito, os taxistas en-frentam outro problema: a falta de segurança é mais um dos fatores que afeta a categoria.

“Está cada dia mais difícil. Para chegar de um destino a ou-

A realidade dos taxistasDirigir na capital paranaense exige muitos sacrifícios

por causa dos constantes engarafamentos

Gilberto Garcia

tro, o taxista enfrenta uma série de dificuldades, além do perigo,” queixa-se. Dentre os locais mais difíceis de transitar, ele destaca o Alto da XV, o Portão e a área cen-tral de Curitiba.

O taxista já trabalhou à noite por vários anos, mas abandonou devido ao grande perigo que en-frentava. Ele conta que certa vez pegou dois jovens no bairro Paro-lim, com destino a Colombo, e no meio do trajeto um deles pediu para que ele mudasse o destino já combinado, e ele se recusou a mu-dar. A empresa estava monitoran-do a solicitação do táxi, pois os ra-pazes já haviam pedido outro táxi, que, por precaução não tinha ido buscá-los. Quando Sales estava chegando ao bairro Santa Cândida, a Polícia Militar já havia montado uma barreira e prendeu os passa-geiros que estavam armados.

“Já percorri vários bairros de Curitiba, sempre preocupado, prin-cipalmente à noite. Hoje prefiro

trabalhar durante o dia. Apesar de o trânsito ser mais complicado, é mui-to mais seguro. Prefiro acordar bem cedo para começar minha jornada de trabalho do que correr o risco de passar a madrugada dirigindo sem saber se volto para casa ileso”, de-clara.

Para o administrador de empre-sas Rafael Aurélio dos Santos, de 29 anos, pegar táxi em Curitiba não é tão difícil, exceto nos dias de chuva. Depende muito do trânsito, do horário e de como está o dia. “Sempre que preciso, procuro lo-cais onde existem pontos fixos de táxis, mas quando está chovendo é um pouco mais difícil conseguir um rapidamente. Com relação à quantidade de táxis, acho que é su-ficiente para atender à população, mas um aumento pode ajudar”, defende.

Já para o advogado Luis Carlos Farias, de 56 anos, conseguir um táxi na rua não é fácil.Quando está em casa, ele consegue sem proble-mas por telefone, sistema vantajo-so porque lhe permite programar a espera pelo táxi que leva em torno de 15 minutos. “Sempre solici-to com antecedência, para que o trânsito não atrapalhe no meu per-curso”. Os motoristas de táxis têm boa desenvoltura no trânsito, o problema é o crescimento da cida-de e a quantidade de veículos tran-sitando, principalmente no centro e nos horários de pico,” afirma.

Farias destaca que os valores cobrados são altos para a média da população, e ele acredita que, se os valores fossem mais baixos com certeza muito mais pessoas usariam o serviço.

Segundo dados da Urbs, exis-tem hoje em Curitiba 2.252 táxis transitando em toda a cidade, di-vididos em três categorias: con-vencionais, para portadores de deficiência e especiais.

O prefeito Luciano Ducci (PSB), sancionou projeto de lei de sua autoria que pede a criação de permissões para mais 450 tá-xis. O vereador Jairo Marcelino (PSD) fez uma ementa solicitan-do prioridade aos taxistas que já atuam no setor. De acordo com a

emenda, a seleção das autoriza-ções será feita de acordo com os profissionais que estão há mais tempo trabalhando com veículos conforme o cadastro da Urbs.

“Fiz uma ementa para que aqueles trabalhadores que estão há muito tempo como funcio-nários de proprietários de pla-cas possam adquirir uma dessas novas autorizações. Há taxistas que estão há mais de 30 anos trabalhando como funcionários de donos de placas e precisam adquirir sua própria placa”, jus-tifica o vereador

Para o presidente do Sindica-to dos Taxistas de Curitiba, (Sin-ditaxi), Pedro Chalus, o projeto, mesmo sancionado pelo prefeito, está aguardando análise de cons-titucionalidade e encontra-se sem efeito. Segundo ele, existe algo de errado com as distribui-ções das novas placas, discrimi-nando alguns trabalhadores. Por isso, o processo encontra-se na Justiça. “Somos favoráveis ao projeto, mas nossa preocupação é com relação ao espaço físico para colocação de novos pontos na cidade de Curitiba. Temos hoje na cidade 2.252 veículos rodando diariamente, e em to-dos os pontos é possível pegar um táxi. A distribuição das no-vas placas tem que ser feita de forma correta, sem discrimina-ção,” afirma.

Já percorri vários bairros de Curitiba, sempre preocupado, principalmente à noite. Hoje prefiro trabalhar durante o dia- Milton Teodoro

Milton Sales: “Me preocupo muito durante a noite”

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Número 24 – Novembro de 20124 MARCO ZERO

PERFIL

Com um jeito inocente, ca-tando papelão e passando com o seu carrinho, nin-

guém imagina como a vida pode nos levar a caminhos inesperados. Após uma longa conversa com este senhor de olhar triste e den-tes dourados, percebe-se que nem sempre podemos tomar as rédias de nossas próprias vidas.

Seu nome Jair Machado, idade 74 anos, nascido em Ponta Grossa (PR), profissão catador de pape-lão. Em meados dos anos 50, o jo-vem Jair era um promissor cabo do Exército Brasileiro. Casado e com um filho pequeno que adoecera de um mal súbito, Machado teve o que seria a primeira de muitas pro-vações em sua vida, que o levaria de militar a presidiário.

Marco Zero - O senhor tem quantos filhos?

Vivos eu tenho quatro e dois faleceram.

Qual foi o problema que ocor-rera ao seu primeiro filho?

Ele sofreu um mal súbito e, se-gundo o tenente, médico do quar-tel, eu já poderia preparar o seu funeral. Foi aí que um soldado recém-chegado do Rio de Janeiro me chamou no canto dizendo: “O senhor já ouviu falar de centro de terreiro? Olha eu te garanto que se minha esposa vier aqui seu filho será curado”. Como eu não tinha mais nada a perder aceitei a oferta. Não é que após toda aquela bagun-

Nas ruas para fugir da depressão

ça que ocorreu com esse ritual, no dia seguinte vi meu filho, que no dia anterior estava praticamente morto, fora de casa jogando bo-linha de gude. Isso pra mim foi a mesma coisa que um milagre. Quem disse que só Deus cura, o diabo também cura.

Por que o senhor foi preso? Essa é a parte feia da minha

vida. Estive preso no “Ahú” du-rante quatro anos. Isso foi antes de tudo isso, quando eu era garo-to. Naquela época eu era bandido mesmo, entrava no mercado e saía carregado. Estive preso porque entrei em uma loja de madruga-da e não sei como apareceu tanta gente, tanta polícia. Estava sozi-nho lá dentro e só tinha uma faca, enquanto os policiais lá fora grita-vam para eu sair. Fiquei escondido atrás da porta quando um policial com o revólver na cintura passou pela porta. Dei uma facada nele. O policial se chamava Tavares, e só não morreu, olha, foi por Deus.

E depois disso, o que aconte-ceu?

Após este fato, todas as vezes que o Tavares me via na rua ele dizia: “Ô japonês vem aqui, entra na viatura”. E daí você já sabe: me quebravam todo. Eles me levavam pra delegacia, o delegado me man-dava calar a boca e me colocavam em uma cela minúscula que só dava para ficar de pé. Fora isso, ainda ti-nha uma goteira que pingava na mi-nha cabeça à noite inteira. E como a cela era muito apertada não tinha jeito. Em qualquer lugar que eu fi-casse a goteira pegava na minha cabeça. Isso era infernal. Mas anos depois uma igreja que eu trabalha-

Lucas Queiroz

va de zelador foi roubada, o pastor olhou pra mim e disse: “Vamos à delegacia dar queixa de roubo” e eu disse: Eu, você está louco, se for lá eles vão dizer que a culpa é minha. Mas ele insistiu dizendo: “Você é um homem transformado e não tem mais a ver com aquela vida”. No fi-nal das contas acabei concordando.

Então, mudou o tratamento?Antes quando eu chegava lá era

só assim “aí doutor trouxemos esse

cachorro”. Porém, desta vez na de-legacia estavam os mesmos de anos atrás, o delegado, o Tavares, todo o time, a mesma turma. Só que agora eu fui tratado como gente. O Deco que me reconheceu na hora e falou: “Doutor esse senhor é testemunha de um roubo”. Quando ele disse esse senhor, eu coloquei a mão no rosto e fui chorar dentro do carro. Pra você ver rapaz, eu que era tra-tado como cachorro fui chamado de senhor e com respeito. Isso pra mim foi a glória.

Quando e por que o senhor vi-rou catador de papelão?

Pra falar a verdade comecei a trabalhar como catador de pape-lão após a morte da minha mu-lher, há nove anos. Minha filha que mora comigo não gosta que eu faça esse serviço, mas vou fi-car em casa sentado assistindo te-levisão sem fazer nada? Sei que é sacrificante empurrar carrinho na chuva, no sol quente, mas fa-zer o quê? Ficar em casa é que não vou. Sou aposentado e recebo pensão da minha mulher. Tenho dois salários, posso ter uma vida sossegada, mas desde que minha mulher morreu, não tenho mais vontade de viajar, passear, nada. Por isso, trabalho pra não ter de-pressão, prefiro manter meu dia ocupado a morrer sem fazer nada.

Carrinheiro prefere manter-se ocupado a não fazer nada

Sei que é sacrificante empurrar carrinho na chuva, no sol quente, mas fazer o quê?

No ponto de ônibus, todos os dias as cenas se repe-tem. Seu Mário, com seus

fones de ouvido me grita um bom dia, tão alto, como se eu não ouvisse perfeitamente. Tão alto quanto a sua voz é o volu-me de seus fones, que me fize-ram perceber o quanto ele é fiel a sua rádio FM. É um homem simpático e com um curto sorriso nos lábios. Curioso mesmo é seu Mário dar a sua vez para todos subirem no ônibus, mesmo sen-do o primeiro a chegar no ponto. Sujeito generoso e que não teme ir de pé...

Dona Alzira querida, tão pequenina, me cumprimenta como se me conhecesse há tem-pos. Mulher guerreira, todo dia vai à luta. Seu esposo, homem distinto, a leva todos os dias ao ponto do ônibus, para lhe guiar e proteger dos perigos que a Avenida Maringá pode oferecer às 06h30 da manhã.

E o mistério paira sobre um “cara” aparentemente com uns 27 anos. Rapaz desconfiado que traga um cigarro todos os dias. Sorte a minha quando não sou a próxima da fila depois dele, para não ter que sentir a fumaça que me causa náuseas. Embora perfumado, o perfume mistura--se com a fumaça do cigarro e eu mal posso respirar aquele aroma indesejável.

Ao longe todos podemos ver o estranho se aproximando, ele que nos leva todos os dias pra faculdade, pra escola, pro traba-lho, enfim, pra rotina. O “bom” e velho ônibus, com um letreiro inconfundível que dita o nosso destino: os terminais da vida.

Subo no ônibus e vejo como o transporte público de Curitiba é maravilhoso, principalmente em épocas frias. O calor huma-no proporcionado pelo aperto das pessoas é algo incompará-vel. Desconfio que seja este o prazer de seu Mário em ceder seu lugar aos outros, afinal, quem precisa ir sentado quando se pode ir de pé, para preencher

as frestas que existem entre as pessoas?

Cada espaço é calculado para que ninguém fique de fora dessa viagem. Cada espacinho é irrecu-sável. Até as bolsas... Não as co-loquem nas costas, é lei! Há muita gente pra entrar no ônibus, suspen-da as bolsas num ombro só ou as prenda ao pé e “mãos ao alto”... Voz de assalto? Não! É só a forma como as pessoas andam nos ôni-bus. É preciso se segurar com todas as suas forças, pois as curvas são muitas e o motorista não hesita em pisar fundo no acelerador, porque não importa o quanto o trânsito es-teja lento ou complicado, o quanto arriscado para os passageiros possa ser. Tempo é dinheiro! Atrasos são intoleráveis, e há passageiros an-gustiados à espera do “expresso” do outro lado da cidade.

Dentro do ônibus ninguém se conhece mais. Seu Mário, Dona Alzira e o “cara” desconfiado somem numa multidão de outras dezenas de personagens da vida cotidiana.

E se os ônibus de Curitiba não existissem? Se eu dependes-se de um carro? Minha vida seria um caos, pois o trânsito não me impediria de chegar ao meu des-tino sem atrasos. Minha pontua-lidade é proporcionada pelo “li-geirinho”. Não importa o quanto sufocada eu vá naquela coisa pe-quenina aonde muitos vão senta-dos e “mais que muitos” vão em pé. Quanto mais cedo se sai de casa, maior a chance de se fazer parte do “grupo dos sentados”. Eis a lei da mobilidade urbana... E sem contar nas cenas que se re-petem no ponto. Sem elas meus dias seriam monótonos... Os vi-dros escuros de um carro, onde não se tem a liberdade de ir em pé, me frustrariam...

Bom mesmo são os planos de um transporte público mais es-paçoso para Curitiba. Aguardo ansiosamente para que “saiam do papel”, pois há muitos fu-turos passageiros que largarão seus carros na garagem e por uma Curitiba mais “ecológica” se doarão ao calor humano das lotações.

O calor humano no transporte público

CRÔNICA

Jussara Andrade

Carrinheiro Jair Machado

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Número 24 – Novembro de 2012 5MARCO ZERO

As redes sociais fazem suces-so entre os brasileiros e têm atraído cada vez mais adep-

tos. Isso é o que demonstra o site de pesquisa Socialbakers , que faz o monitoramento do crescimento das redes nos países, e aponta o Brasil como o segundo país com mais internautas no Facebook: 46 milhões de usuários em abril de 2012, ficando atrás apenas dos Es-tados Unidos.

Aproveitando esse momento de expansão, vários perfis são criados na internet em prol dos animais. Foi o que aconteceu com estas quatro mulheres: as professoras Fabiane Rosa e Mary Santana, a aposentada Myrian Ruhle e a empresária Christiane Luersenn. Elas são protetoras de animais que criaram o perfil Sal-va Bicho no Facebook. “O perfil tem a intenção de divulgar o nos-so trabalho e consolidar como um grupo organizado que, diante da gravidade do problema dos animais abandonados, tem como

objetivo atuar na proteção ao animal. Fazemos resgate, abrigo, castração e adoção dos animais em risco em Curitiba e região”, destaca Fabiane.

Christiane, que hoje é a respon-sável pelo perfil, diz que é muito gratificante ajudar os animais, mas que não é uma tarefa fácil. “É difícil cuidar de uma causa tão necessária como essa. São muitos os pedidos de ajuda e, infelizmen-te, muitas vezes, somos mal vistas ou mal interpretadas por isso”.

A instrumentadora cirúrgica Mayara Brandão, de 25 anos, en-controu uma cachorrinha na rua, da raça Sharpei, no bairro Boa Vista e logo postou no Facebook. “Quando anunciei no Facebook, que tinha visto uma sharpei mar-rom, perdida e debilitada, as pes-soas começaram a compartilhar e comentar, até que chegou ao co-nhecimento da família, que foi até o local e encontraram a cachorra. Era realmente deles”, conta.

Hoje, a instrumentadora se tornou colaboradora do trabalho de ajuda aos animais por meio das redes sociais. “Divulgo de tudo. Animais perdidos, encon-trados, ajuda para resgate, ajuda para doação financeira, doação de ração e pessoas que querem adotar”, explica.

Com toda expansão de ajuda para os animais, é preciso, tam-bém, muito cuidado. Fabiane destaca que é importante ajudar, mas é preciso ter cuidado com o que é visto na rede, pois existem pessoas que querem se aprovei-tar da situação. “Muitas vezes, uma causa tão nobre quanto essa é utilizada em benefício próprio por pessoas sem escrúpulos, mas existem instituições e protetores independentes muito sérios. Nós fazemos a prestação de contas, e isso é fundamental para ter cre-dibilidade”, ressalta.

Graças às redes sociais, adotar um cachorro em Curitiba e Região Metropolitana também ficou mui-to fácil. Basta acessar as páginas dos protetores dos animais, como

Salva Bicho, Eu Amo os Animais Curitiba e Tomba Latas, além do site Cãopanheiro, dentre outros. Todos são perfis ou páginas no Facebook criadas exclusivamente para ajudar os animais, seja para adoção, anúncio de achados e per-didos, doação de medicamentos, ração etc.

A internauta Elisangela Con-ceição adotou o vira-lata Hachi, de dois meses, depois que viu a divulgação na rede. “Eu adotei um filhotinho através do Cãopa-nheiros. Hoje, ele já está com sete meses, e nós o amamos, é o nos-so neném”, afirma. A vendedora Dany Rocha também já adotou alguns animais: “Tenho vários cachorros adotados. O último foi o Negão, um vira-lata, que esta-va no Bairro Alto, muito mal, não conseguia nem se levantar. Ele já está melhor, mas ainda precisa de cuidados”.

Para Rosa, não basta ajudar, é preciso alertar a população de que maus tratos e abandono de animais são crimes. “Os direitos dos animais devem ser defen-didos pela lei, assim como os direitos dos homens. Proteger vidas é dever de todo cidadão”, defende.

Quem gosta dos animais e quer adotar ou ajudar, de alguma forma, pode entrar em contato com o Salva Bicho pelo e-mail:[email protected] ou pela página no Facebook.

Animais necessitados recebem ajuda pela internetCampanha de solidariedade para animais, por meio das redes

sociais, vem ganhando força e cada vez mais simpatizantes

Silvana Maia

O que diz a legislaçãoA Lei Federal nº 9.605/98, no artigo 32, define o crime. “Praticar

ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres ou do-mesticados, nativos ou exóticos. Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa”.

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CIDADANIA

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Número 24 – Novembro de 20126 MARCO ZERO

O que parecia ser apenas mais um escândalo de uma denúncia sobre

corrupção no serviço público tornou-se um gigante que tomou proporção inimaginável.

Em 2010, ano em que foi publicada a primeira matéria sobre os Diários Secretos da As-sembleia Legislativa do Paraná (ALP), o assunto estava presen-te em muitas rodas de conversa. Como a história de Radaméris Saides, um boia-fria que, ao ten-tar se inscrever em um programa de moradias populares, desco-briu que não poderia porque a sua renda era altíssima! Seu nome estava sendo usado como funcio-nário fantasma pela Assembleia Legislativa do Paraná.

Maior ainda foi sua surpre-sa quando a jornalista Katia Brembatti, da Sucursal de Pon-ta Grossa da Gazeta do Povo, mostrou para o boia-fria a sua nomeação e que junto com ele estavam mais alguns conheci-dos que sequer ganhavam por ano a quantia mensal indicada nos documentos. A partir daí, que a jornalista percebeu que o

ESPECIAL

O diário dos “Diários Secretos” Cátia Sales

trabalho que era para ser feito em apenas duas semanas levaria muito mais tempo.

Foram dois anos de investi-gação em parceria com a RPC-TV, com a equipe de quatro jor-nalistas: James Alberti, Gabriel Tabatcheik, Karlos Kohlbach e Katia Brembatti que contavam com a ajuda de cinco trainnes. A equipe levou oito meses só para digitar as planilhas. Revisaram o material, no mínimo, seis ve-zes. Eram 8 mil nomes para in-vestigar e 19 horas de trabalho árduo por dia.

Katia Brembatti revelou que muitas vezes eles pensaram em desistir de tudo. Quando um de-les desaminava, sempre havia alguém para motivá-los a conti-nuar.

“Apesar de termos um tem-peramento forte, um era comple-mento do outro”, lembra Katia. “Era um caminho longo a ser percorrido, e essa união entre a equipe foi fundamental para o sucesso da investigação.”

O momento mais tenso foi quando a RPCTV foi alvo de uma bomba caseira jogada por um homem encapuzado. Na oca-sião, ninguém ficou ferido, mas a empresa reforçou a segurança. No mesmo dia, um saco de lixo foi deixado em frente à sede da Gazeta do Povo na Praça Carlos Gomes e levantou suspeitas. O COE (Centro de Operações Es-peciais) foi acionado por pre-caução.

O caminho das pedras

Acompanhe a seguir entrevista com a jornalista Kátia Brembati.

Marco Zero: Como surgiu a ideia de fazer uma série sobre os “Diários Secretos da Assembleia Legislativa”?

Kátia Brembatti: Surgiu de duas formas: pela RPCTV e pelo jornal Gazeta do Povo. Em 2008 eu estava cobrindo uma matéria sobre o escânda-lo dos “Gafanhotos”, que era um esquema de lavagem de dinheiro em que nomes de la-ranjas eram usados para rece-ber salários. Entre eles, estava o nome de um boia fria, o seu Radaméris. Viajei para Palmei-ra com uma cópia do processo e mostrei para ele, e ele acabou reconhecendo outros nomes na lista de nomeações. Então, sugeri para a minha chefe, na época, fazer um levantamento sobre os Diários Oficiais da Assembleia. Imagina o tanto de irregularidades que a gente poderia encontrar? Na mesma época, o James Alberti também estava fazendo uma matéria sobre funcionários fantasmas de deputados para a RPCTV, então tivemos a ideia de unir as informações e formamos uma equipe.

Como vocês conseguiram chegar até os diários?

Como James já estava tra-balhando nisso, ele tinha a informação de que esses Diá-rios ficavam escondidos e não no acervo de consulta pública onde deveriam estar. Então, ele foi até a Assembleia com três estagiários e conseguiram fotocopiar alguns documentos. Foram três dias até serem bar-rados por um dos diretores. Eu fui até a Biblioteca Pública do Paraná, mas não obtive resul-tado porque não havia nenhum diário da Assembleia Legislati-va do Paraná. Não satisfeita fui até a biblioteca da ALP e havia algo estranho, porque todos os diários tinham sido recolhidos. Procurei o diretor geral para sa-ber o que estava acontecendo, e ele me disse num tom ríspido

que todos tinham ido para en-cadernação. Aliás, foi nesse dia que eu conheci o Bibinho (Abib Miguel). Os outros diários con-seguimos indo muitas vezes de gabinete em gabinete, pratica-mente de um em um até chegar-mos aos 750 diários oficiais. O mais incrível é que quando fui atrás desse material fiquei in-dignada com o estado em que eles se encontravam. Alguns desses documentos estavam mofados, amarelados, e outros até serviam de suporte para mo-nitores dentro dos gabinetes. E eu estou falando de documentos públicos! Aos quais até então

não podia ter acesso.

Em algum momento você chegou a pensar em jogar a to-alha?

Ah sim, foram vários [risos]. Quando começamos a investi-gação, era período eleitoral, e a chance de alguma coisa ser pu-blicada era praticamente zero. Era muito cansativo, porque chegou um momento em que nós tínhamos muita coisa e ao mesmo tempo não tínhamos nada. Era preciso se organizar, então, o Gabriel, que era mui-to bom em planilha, começou a montar as planilhas. Eram 19 horas de trabalho por dia, oito mil nomes para investigar, via-gens e mais viagens por todo o Paraná e até para Santa Catari-na, onde descobrimos o nome de um senhor que era aposentado da Marinha, morava em Camboriú e estava nomeado como funcio-nário da Assembleia. Só não me

Essa reportagem foi um divisor de águas. Até então não tínhamos ideia da dimensãodisso tudo- Katia Brembatti

Radaméris Saides: de boia-fria a “laranja”

Simone Fernandes

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Repórter da Gazeta do Povo revela detalhes de como foi a investigação da série Os Diários Secretos

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Número 24 – Novembro de 2012 7MARCO ZERO

O diário dos “Diários Secretos” separei, porque, meu marido foi muito compreensivo comigo. Eu chegava até a sonhar com os nú-meros da planilhas. Claro que a ajuda da equipe foi fundamental. Apesar de nós termos um tem-peramento forte, um era com-plemento do outro, e quando um queria desaminar sempre tinha alguém na turma para levantar.

E a questão do sigilo das informações, vocês tinham o controle disso?

Isso era muito importante, porque a gente não podia dei-xar vazar nada, mas ao mesmo tempo era muita informação para ser apurada, então pre-cisávamos de ajuda. Mas não era qualquer trabalho que po-dia ser passado para os estagi-ários.Estávamos tão fechados e tão íntimos da situação que chegamos a quase perder a noção da gravidade do assun-to que estava em nossas mãos. Lembro que quando tínhamos reunião com o jurídico da Ga-zeta, conforme a gente ia fa-lando o que tínhamos, notáva-mos a expressão de espanto no semblante dos advogados, nos olhávamos e eu pensava “Ixe, deve ser sério!”. Foi aí que caiu a ficha do que tínhamos em mãos e tudo era nossa respon-sabilidade, tanto que sofremos um atentado e uma ameaça de bomba na RPCTVC e na Gazeta do Povo. Chegamos até mesmo

Colhendo os frutosApós as denúncias, três dos diretores da Assembleia Legislativa do Paraná foram afastados e estão

sendo processados. Aproximadamente 30 pessoas foram presas, e os bens dos envolvidos bloqueados. Algumas mudanças foram feitas nas regras para contratar funcionários e controlar a frequência de cada um. Os diários oficiais passaram a ser publicados na internet e, a partir da série, surgiram o movimento “O Paraná que queremos”, e um projeto de lei que estabelece regras de transparência para a gestão em todos os órgãos do Estado. O ex-funcionário da Assembleia Daor Afonso Marins de Oliveira foi condenado pela Justiça a 15 ,5 anos de prisão. Ele era um dos envolvidos e recebeu a pena pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e desvio de R$ 1,4 milhão do Legislativo.

Premiações para a reportagem Global Shining Light Award,2011 – melhor reportagem investigativa feita em país em desenvolvimen-to em 2010.Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo, 2011 – primeiro lugar.Grande Prêmio Esso de Jornalismo, 2010 – melhor trabalho brasileiro.Troféu Tim Lopes/Embratel, 2010 – melhor reportagem investigativa.

a entrevistar alguns pistoleiros

de pessoas que queriam nos in-

timidar. Quanto mais a gente

investigava, mais coisas apa-

reciam. Tanto que foram dois

anos de pressão.

O que a série represen-

tou para você?

Essa reportagem foi um selo.

Um divisor de águas. Até então

não tínhamos ideia da dimensão

disso tudo. Foi muito exaustivo,

não sabíamos se ia dar certo, tínha-

mos medo das pessoas verem só

como mais um escândalo político,

ou mais uma matéria de funcio-

nários fantasmas. Mesmo porque

“diários oficiais” é um assunto de

interesse público, mas não sabía-

mos até que ponto as pessoas se

interessariam pela história. Asso-

ciar a TV e o jornal foi muito im-

portante, porque onde o jornal não

chegou, a TV chegou e vice-versa.

Lembro que uma vez, num cursi-

nho preparatório, perguntei para os

alunos que assunto eles achavam

que ia cair na redação do Enem

daquele ano, e eles disseram: os

“Diários Secretos”. Nunca imagi-

namos que isso chegaria tão longe.

Por exemplo, que o Bibinho fosse

cair...Ele caiu já na primeira sema-

na da reportagem! Ou que alguém

fosse realmente condenado, e já

saiu a primeira condenação no dia

8 de agosto, a do ex- funcionário

fantasma Daor de Oliveira. A cada

dia saia alguma coisa a respeito da

reportagem e nos surpreende ain-

da mais. Nas premiações também

fomos pegos de surpresa, prin-

cipalmente porque concorremos

com grandes reportagens, como a

da Fraude no Enem, e ganhamos

por unanimidade. Desculpe a falta

de modéstia, mas acredito até que

plantamos uma sementinha nos

estudantes de jornalismo, porque

se alguém que saiu de uma cida-

dezinha do interior do Paraná con-

seguiu fazer parte de uma história

assim, todos podem.

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Kátia Brembatti junto com colegas da Gazeta durante entrega de prêmio de jornalismo investigativo

Era um caminho longo a ser percorrido, e essa união entre a equipe foi fundamental para o sucesso da investigação- Katia Brembatti

Repórter da Gazeta do Povo revela detalhes de como foi a investigação da série Os Diários Secretos Diários

Secreto

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Assembleia Legistaltiva do Paraná.

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Número 24 – Novembro de 20128 MARCO ZERO

SAÚDE

Um novo começoCom o avanço da medicina, o tratamento para os doentes renais crônicos melhorou muito nos hospitais de Curitiba

Cristina Marin

A artesã Rita Denise da Silva sentiu-se mal em sua resi-dência em Curitiba quando

tinha oito anos de idade, mas na-quela época os médicos não con-seguiam descobrir qual era a doen-ça. “Foram tempos muito difíceis, eu tinha pressão alta, e me davam medicação para outra coisa porque não mediam a pressão de crian-ças”, relata.

Ela veio a descobrir que seu problema era renal quando esta-va com quatorze anos de idade. Devido ao avanço da doença, as medicações não foram suficien-tes e teve que fazer o tratamento com a diálise por três anos. Foi um tempo em que Rita e sua fa-mília sofreram muito, porque ela se encontrava dependente da diálise para sobreviver enquan-to não surgisse um doador. O transplante só aconteceu quando ela estava com dezessete anos de idade na cidade de Curitiba e hoje, trinta anos depois, Rita De-nise vive muito bem. O rim doa-do foi de seu irmão Luiz Carlos, que com apenas um dos órgãos, está com boa saúde.

Rita Denise da Silva está hoje com 47 anos de idade e o transplante de rim dela foi um dos primeiros a serem realiza-dos no Paraná, ocorrendo no dia 20/09/1982 no Hospital de Cli-nicas de Curitiba. Ela é casada e têm um filho adotivo, porque na época a medicina não estava desenvolvida como hoje, e os médicos diziam ser arriscado en-gravidar. Aposentada, ela faz tra-balhos manuais como artesanato e pintura, mas por muitos anos exerceu a função de zeladora em um colégio.

“Hoje a medicina está bem mais avançada do que naquela época e o tratamento é bem me-lhor”, declara a transplantada re-nal, que faz seu acompanhamen-to no Ambulatório de transplante Renal, do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba.

No PR, 2,8 mil esperam por transplante

Atualmente se encontram na es-pera por um transplante renal cerca de 2,8 mil no Paraná. Um paciente fica aguardando o tempo necessário para encontrar um rim que seja com-patível, e por isso a espera pode ser de três meses ou até três anos, de-pendendo da compatibilidade.

João Sawczuk, marceneiro de 62 anos de idade, casado, mora em Ponta Grossa. Realizou o transplan-te renal em julho de 2008, recebeu o rim de um doador falecido. Des-cobriu que seu problema era renal, porque estava com diabetes e pres-são alta, diagnosticados pelos exa-mes solicitados por um médico da Unidade de Saúde de Ponta Grossa. Ele começou a fazer hemodiálise em agosto de 2004, na sua cidade na Clinica Santa Casa. Sua dificuldade era ainda maior porque tem um pro-blema nos olhos que compromete a sua visão, devido ao diabetes. “Es-tou muito feliz, porque posso viver sem depender da hemodiálise”, de-clara.

Sawczuk e a esposa tiveram a oportunidade de conhecer a família do seu doador. Ela era uma mulher de 40 anos de idade, se chamava Celma de Fatima Carvalho e faleceu porque teve AVC. O esposo da doa-dora, Valmir Carvalho, disse a João que eles tinham combinado que se acontecesse alguma coisa com um deles doariam seus órgãos.

O transplantado e a mulher são muito felizes por esta conquista. “Hoje eu vivo porque alguém quis doar seus órgãos, mais pessoas de-vem fazer isso”, afirma Sawczuk, agradecido pelo gesto de Celma de

Fatima que doou o rim para ele, e possibilitou uma nova vida.

O aposentado Darci Furquin da Cruz, de 51 anos, está aguardando a data em que irá realizar o trans-plante, e sua doadora será sua es-posa Jussemara. O casal está muito feliz, pois os exames de Jussemara deram compatíveis para a realiza-ção do transplante. “Estou alegre por doar o rim para ele, não queria perder meu marido” relata.

Furquin descobriu o problema renal devido a um cisto que apa-receu e a pressão que começou a ficar muito elevada. “Um irmão meu faleceu por doença renal, mas ele não buscou tratamento”, declarou.

Ele reside em Curitiba no bairro de Pinhais, trabalhava como motorista na Prefeitura, e espera em breve retomar suas ati-vidades.

O aposentado José Renato Ogg tem 54 anos de idade e ainda não conseguiu nenhum doador para realizar o transplante. Ele faz diálise desde 2003 e aguarda na fila de compatibilidade por um rim de doador falecido. Mora na cidade de Rebouças (PR) e faz seu tratamento pela Clínica Re-nal de Irati. Ele diz que “realizar a diálise em casa é muito melhor, mas é preciso ter muito cuidado com a higiene”. Ele também é mais um dos casos de pressão alta que foi prejudicando seu rim, mas ele não perde as esperanças de en-contrar um doador.

O que é o transplante?O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na trans-

ferência de um órgão de um indivíduo para outro, a fim de compensar ou substituir a função do órgão doente. O rim transplantado passa a desempenhar as funções que os rins doentes não conseguiam mais manter.

Existem dois tipos de doadores de rim, o doador vivo e o falecido. O melhor doador de rim, é o que apresentar a maior compatibilida-de do tipo sanguíneo e dos tecidos do receptor. Essa compatibilida-de evita que o sistema imunológico do receptor rejeite o novo rim. Transplante não é considerado a cura de um transplantado, mas um tratamento que pode prolongar a vida do paciente com uma qualidade muito melhor.

Ambulatório do Evangélico fez 1500 cirurgias

Vera Lúcia Bertoldi, enfermeira, 30 anos, sendo doze anos traba-lhados no Ambulatório de Transplante do Hospital Evangélico. Ela relata que a unidade tem 33 anos de existência com um total 1,5 mil pacientes transplantados. Oitocentos e trinta são transplantados ativos que continuam a serem acompanhados pelo ambulatório, sendo que 750 são pacientes que fazem o tratamento com diálise e hemodiálise e 440 tratam com medicação. Esses ainda não chegaram a ponto de necessitar de diálise ou um transplante.

Os cuidados com a saúde de um paciente transplantados renal de-vem continuar. “O transplante não se trata da cura e sim do tratamento do paciente”, relata Vera. O transplantado faz uso de medicações con-tínuas, e de exames e consultas que acompanham o funcionamento do rim transplantado.

Pacientes do Ambulatório de Transplante Renal do Hospital Universitário Evangélico.

Hoje a medicina está bem mais avançada do que naquela época e o tratamento é bem melhor

Símbolo da campanha nacional de doação de

órgãos

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Número 24 – Novembro de 2012 9MARCO ZERO

ENTREVISTA

Seja para vender mais ou para emocionar, não importa: storytelling é parte do negócio

Era uma vez a arte de contar histórias

Para vender um produto ou serviço, muitas empresas fazem de tudo. Agradar ao

consumidor com leve três e pague dois, brindes (in)úteis, jingles que muitas vezes são insuportáveis. Mas tudo com boas intenções. Mas e se o seu público quiser so-mente algo que mostre que ele se identifica com a sua marca? Como tentar de uma forma mais amigá-vel fazer com que seu cliente se torne ‘fiel’?

É isso que Bruno Scartozzo-ni explica, em entrevista exclu-siva ao Marco Zero. Ele é um profissional multi-disciplinar de planejamento e estratégia de co-municação com mais de dez anos de experiência em agências on e off-line, atendendo clientes como Nokia, Nestlé, Sony, AmBev e Sebrae. É também um dos fun-dadores da Storytellers, primeira agência brasileira especializada em criar histórias para marcas. Hoje é professor de storytelling e transmídia da ESPM SP, sócio e diretor de planejamento da Ativa Esporte, além de escrever para o seu próprio blog, o Caldinas.

Marco Zero - O que é storytelling e quando isso che-gou ao Brasil?

Storytelling, ou "contação de histórias" é um conjunto de téc-nicas de comunicação que usa a emoção para transmitir conheci-

mento. Contar uma história é basicamente orga-

nizar os

Cássia Oliveira

fatos em uma sequência que, por motivos que vão da neurologia à antropologia, tem a propriedade de criar significados e fixar infor-mações de uma forma mais efi-ciente.

O storytelling de uma forma geral existe desde que o ser hu-mano criou a linguagem oral, ou seja, algo entre 30 e 100 mil anos atrás. Já o storytelling aplicado à comunicação corporativa de cer-ta forma também existe há muito tempo, praticamente desde que a publicidade existe, mas até pouco tempo atrás sua aplicação era mais intuitiva.

É difícil determinar uma data de quando a indústria publicitária começou a encarar o storytelling como uma "ciência", mas pode-ríamos dizer que isso aconteceu em meados da década de 2000, no Brasil e no mundo.

Quais são as etapas de monta-gem de storytelling?

Toda história possui algumas características essenciais, sem as quais não existe o storytelling. Começo, meio e fim é uma delas. Assim como a presença de pelo menos um personagem protago-nista e de um conflito, que são os obstáculos que o personagem enfrenta para conseguir seu ob-jetivo. Em resumo, histórias são sempre sobre pessoas superando dificuldades, seja a mocinha que tenta conquistar o mocinho, seja o super-herói que precisa derrotar o vilão.

Sabemos que há diversas formas de divulgar uma marca. Você acha

que as empresas deveriam fo-car mais nesse tipo de processo (storytelling) já que é mais ‘envol-vente’ por afetar o lado emocional dos consumidores?

É complicado falar o que as empresas deveriam ou não fa-zer. O que eu posso falar é que o storytelling é uma linguagem bas-tante adequada para os desafios da comunicação nos últimos 10 anos. O maior problema para quem quer comunicar é o excesso de infor-mação. Hoje uma propaganda de uma marca não compete só com a propaganda da concorrência, mas também com toda a sorte de inte-rações que acontecem on e offline, e mesmo que não existisse a publi-cidade já seriam em uma quantida-de maior do que um ser humano comum pode absorver.

Sempre digo, em um tom meio de brincadeira meio sério, que a comunicação de uma empresa precisa ser tão interessante quanto as fotos e vídeos de gatinhos que circulam na internet. Nesse senti-do a indústria do entretenimento, sobretudo o cinema e, mais recen-temente, as séries de TV, sempre dominaram a arte de capturar nos-sa atenção. Storytelling nada mais é do que aprender essas técnicas e levá-las para a publicidade.

Você sabe de algum caso onde contar histórias não tenha dado certo?

Sei de vários casos onde se contaram histórias ruins. O que acontece quando um filme é ruim? Via de regra ele não vai vingar no cinema, e, meses depois, não será mais lembrado por ninguém. Quando uma empresa resolve con-tar uma história o raciocínio é o mesmo. Só as boas histórias so-brevivem.

Em sua opinião, a storytelling torna mais fácil a relação entre consumidor-marca?

Não sei se mais fácil é a me-lhor palavra. Vou dizer que torna a relação mais saudável, pode ser? Uma história, do ponto de vista humano, é uma simulação de uma

experiência. Vivemos contando e consumindo histórias como uma forma de nos preparar para os desafios da vida. Quando uma marca conta uma boa história, de certa forma ela está prestando um serviço, dando algo às pesso-as, que, por sua vez, vão empres-tar sua atenção àquele conteúdo.

Qual foi o trabalho que você mais gostou de fazer até agora?

Era uma vez uma empresa que precisava transmitir o conteúdo de 1.200 slides de pesquisas sobre os hábitos dos consumidores de suas marcas para toda a alta gerência, em uma convenção. Meu trabalho foi transformar todo esse conteú-do, basicamente dados frios, em uma peça com 1 hora de duração. Cada consumidor se tornou um personagem. Esses personagens

eram ligados entre si, e tinham um conflito para resolver.

A peça transmitiu exatamente o que a empresa precisava e prendeu a atenção do público do jeito que deveria. Mas uma das coisas mais interessantes é que entre uma es-quete e outra havia apresentações tradicionais de palestrantes. Du-rante as esquetes da peça as pes-soas ficavam em silêncio e presta-vam atenção. Quando entravam os palestrantes a platéia dormia, ia ao banheiro, tomava café etc. E aqui fica uma provocação. Esse fenô-meno não é bastante parecido com o que acontece nas novelas? Em outras palavras, o público presta atenção no que interessa e o inter-valo é descartado.

O aprendizado para as marcas é fazer uma comunicação que seja mais próxima do primeiro grupo, e não do segundo.

histórias" é um conjunto de téc-nicas de comunicação que usa a emoção para transmitir conheci-

mento. Contar uma história é basicamente orga-

nizar os

vilão.

Sabemos que há diversas formas de divulgar uma marca. Você acha

Bruno Scartozzoni.

Sempre digo, em um tom meio de brincadeira meio sério, que a comunicação de uma empresa precisa ser tão interessante quanto as fotos e vídeos de gatinhos que circulam na internet. - Bruno Scartozzoni

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Número 24 – Novembro de 201210 MARCO ZERO

CULTURA

Assim como aquela música que embalou o primeiro beijo, o primeiro encon-

tro ou aquela festa inesquecível, existem filmes que ultrapassam o tempo e ficam eternizados em nossa memória afetiva e coletiva. Seja por característica de algum personagem, ou pela história que nos marcou. “Conta Comigo” (Stand by me, EUA, 1986, direção de Rob Reiner) é desses filmes que têm o poder de arrancar lágrimas de marmanjos saudosistas. O lon-ga, que impulsionou a carreira do astro River Phoenix (veja quadro) e que agradou quase de maneira unânime a crítica, ganha uma bela edição em Blu Ray inteiramente restaurada e com extras saborosos.

Sensível, dócil e com um jei-to espirituoso de filósofo, Gordie Lachance (Wil Wheaton) se sen-te apenas compreendido por seus amigos: o lunático Teddy Du-champ (Corey Feldman), o medro-so Vern Tessio (Jerry O'Connell) e o líder da turma Chris Chambers (River Phoenix). Durante uma “reunião” em cima de uma árvo-re, os quatro ouvem no rádio que um garoto havia morrido atrope-lado por um trem, quando colhia amoras.

Assustados e curiosos, os quatro resolvem embarcar numa jornada, em busca do corpo do menino. Para eles, encontrar o ca-dáver seria uma forma de serem vistos como heróis pela cidade e a imprensa. Logo, partem para uma aventura, que mudaria defi-nitivamente suas vidas. Durante, o percurso, eles fogem de cachorro feroz, discutem com um velho, se assustam com histórias surreais durante a noite, e refletem sobre o futuro de cada um.

Cadenciado, “Conta comigo” discorre sobre a jornada dos ga-rotos, se desenvolvendo de forma natural, assim como é (ou deveria ser) a infância. As dúvidas quase que existenciais de cada garoto são mostradas de maneira pura, sem artefatos caricatos, e muito menos com intérpretes forçando a barra. O diretor, Rob Reiner, conta nos

Filme oitentista, que celebra a amizade de quatro garotos, ganha fama de cult e é relançado em edição comemorativa

A mais sincera das amizades

Allyson Dolenga

extras do Blu Ray, que cada garoto selecionado tinha as característi-cas dos personagens.

As imagens abertas e grandio-sas de paisagens rurais dos Es-tados Unidos, sem espaço para o industrialismo, e muito menos um patriotismo exagerado, dão o char-me completo. Afinal, a história se passa na década de 50 numa cidade que parecia ser a única no mundo. A amizade entre Gordie e Chris é vista às vezes como uma relação quase de pai e filho. Ressentido, por ser ignorado pelos seus pais depois de seu irmão mais velho ter morrido, Gordie, num momen-to de revolta, pensa em se “jogar na vida”. Chris, aqui visto como um menino se tornando homem, incentiva-o a não segui-lo, assim como os demais da turma que, de-vido às condições financeiras, irão para uma escola medíocre.

Baseado no conto “O corpo” do livro as “Quatro estações” de Stephen king, o filme é tido na opinião do próprio escritor como a melhor adaptação cinematográfica de toda a sua obra. O diretor tam-bém diz que “Conta comigo” foi o mais importante longa que ele já fez em toda a sua carreira. “Conta comigo” recebeu uma indicação para o Oscar como melhor roteiro adaptado, e melhor diretor e me-lhor filme (drama) para o Globo de Ouro.

Vinte e cinco anos depois, com jeitão cult, o filme ainda tem o po-der de emocionar quem teve uma infância cercada de amigos, de aventuras, de conquistas, perdas e ganhos. Os momentos ali mostra-dos, universais, ainda causam uma quase catarse. Como o próprio Gordie filosofa no final do filme: “Eu nunca tive amigos como aque-les que eu tive aos doze anos. Meu Deus, e alguém tem?”.

Apenas uma promessaFoi o filme “Conta comigo” que alavancou a carreira da-

quele que seria o mais promissor astro do cinema noventista. Porém, assim como no filme, morreu antes de alcançar o seu sonho River Phoenix: apenas 23 anos de vida e 8 de carreira (imagem: divulgação)

Mesmo para aqueles que não acreditem, certas coinci-dências, de tão próximas, no mínimo incomodam. No filme “Conta comigo”, o personagem interpretado por River Pho-enix tinha o sonho de ser advogado. Não se formou por que foi morto ao separar uma briga. O sonho não foi alcançado, morreu jovem. E na vida real, em 1993, também morreu jo-vem, e sem chegar ao posto de estrela hollywoodiana.

Vitima de overdose, o ator encerrou uma curta carreira. Mesmo assim, mostrava através de sua versatilidade (inco-mum em astros jovens) a árdua tarefa de fazer várias caras. Até 1985, participava de longas produzidas para a TV, ou produções de pouca repercussão. Foi em “Conta Comigo” (1986) que se tornou reconhecido pelo seu talento. Ao mes-mo tempo em que era durão, um chefe de uma turma de garotos, também era sensível, um homem em miniatura.

Logo, estava escalado em produções grandiosas. Interpretou o Indiana Jones jovem, no filme de 1989. E o garoto de programa, junto com Keanu Reeves no filme de mesmo nome, em 1991. Seria o personagem principal de “Entrevista com o vampiro”, de 1994, mas morreu em frente a um clube noturno um ano antes.

River Phoenix era bem visto até pelos sensacionalistas tabloides americanos. Fora de cena, era ativista pela proteção de animais, assim como levantava bandeiras de intuições de direitos ao animal e proteção do meio ambiente. O ator virou até letra de música, pelo brasileiro Milton nascimento. A história é curiosa: Milton estava num quarto de hotel, durante uma turnê. Na TV, estava exibindo o filme “Conta comigo”. O cantor ficou fascinado pelo garoto. Tanto que lhe escreveu uma música, que mais tarde foi mostrada para o próprio homenageado, que ficou grato.

River Phoenix não é visto hoje como um mito, mas é indiscutível sua qualidade como ator, princi-palmente nas produções maiores. E ainda causa espanto a triste coincidência de “Conta comigo”, onde o personagem e ator se fundem, morrendo antes de chegar ao auge da vida.

River Phoenix: apenas 23 anos de vida e 8 de carreira

Vinte e cinco anos depois, com jeitão cult, o filme ainda tem o poder de emocionar

Foto dos bastidores: filme causou comoção mundial

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Número 24 – Novembro de 2012 11MARCO ZERO

CULTURA

As páginas de um grande mundo

Cássia Oliveira

Uma vez por semana ou mais. Ou menos, depen-de do tamanho do último

livro. A menina de cabelos ondu-lados, que balançam em torno dos ombros, se agita na volta da escola nos dias em que o bolso carrega o dinheiro para mais um livro. São tantos, dos mais variados nomes, tamanhos, pesos e histórias, que a menina Clara se perde entre pági-nas e vidas ensaiadas de persona-gens tristonhos.

O sebo fica entre a escola e a casa de Clara. Um espaço enor-me, recheado de livros com in-contáveis magias. A menina de imaginação fértil deleitava-se entre o emaranhado de persona-gens, mergulhava nas páginas cheias de músicas quase inaudí-veis, a não ser por quem tinha o dom de invadir a história. E Clara quase ensurdecia com as melodias.

O que será dos sebos? Um es-paço lotado de páginas lotadas de vidas lotadas da imaginação de um autor solitário. As prateleiras que abraçam os leitores, e os li-vros que desfolheiam-se entre os dedos curiosos dos que ainda sal-vam as relíquias impressas.

Clara salva um livro toda se-mana. Toda semana um livro salva Clara. E ela se perde e se deixar levar entre as mil letras que bordam as histórias doces de seus heróis. A menina de olhos castanhos quase torna-se piloto, avião, princesa, dragão. A me-nina quase engole seus persona-gens. Clara borda, pinta e tece

novas páginas dessas histórias. Cada leitor costura uma imagina-ção cheia de magia, numa aven-tura que, por pouco, quase não é lida, contada, recontada.

Toda semana a menina sal-tita entre uma rua e outra, até a grande porta dos grandes livros. E dos pequenos também. Dos fi-nos, dos grossos, dos coloridos e dos tímidos e quase esquecidos. E o que será dos sebos e biblio-tecas, sem as Claras, Marias, Márcias e Flores que escorregam entre as páginas das grandes pra-teleiras de livros que já viveram mais histórias do que suas pági-nas podem contar? E o que será dos livros vividos, marcados, su-blinhados e viajados, que repou-sam em lojas, cercados por olhos curiosos de leitores?

O que restará aos leitores de olhos atentos e curiosos, que pescam pequenos tesouros entre as dezenas de valiosas histórias, e de necessidade de alimento de alma, com folhas, tintas, papel manchado e sintonia que só um frequentador de sebo pode ter?

E, afinal, qual o fim dos sebos, livrarias, bibliotecas, senão entre as escolas e casas e trabalhos dos que, por fim, são os personagens de um livro ainda não escrito?

Ana Cordeiro Nacho LibreIgnácio (Jack Black) vive no monastério mexicano desde pequeno. Com vontade de ser lutador, ele

alimenta essa paixão às escondidas. Enquanto cresce, vira cozinheiro e, coitado, só faz gororoba. Mas tem um grande amor pelos orfãos que a igreja abriga e faz as refeições com carinho.

A instituição religiosa era pobre, e as crianças comiam mal. Um dia, uma freira chamada Encarnación (Ana de la Requera) chega ao local e Ignácio se apaixona. Sabendo que a vocação dele não era a igreja, ele "junta a fome com a vontade de comer" e decide levar uma vida dupla: a de frade (para ficar perto da Encarnación) e de lutador de luta livre (para realizar seu sonho).

Um problema: Ele não sabia lutar e nem roupa ti-nha. Foi atrás de um com-panheiro para ajudar, o Es-queleto (Héctor Jiménez), conhecido também como o cara de cavalo, que era um mendigo que adorava rou-bar batatinhas. Formaram a dupla, entraram no mundo dos lutadores mas era um fracasso. O Nacho era gor-do, Esqueleto era magro, apanhavam e perdiam, mas ganhavam uns trocados. O filme foi lançado em 2006, mas digo por experiência própria: ainda proporciona muitas risadas!

Ingress, its time to moveJogo do Google mistura o mundo real com o virtualComo se já não bastasse as tecnologias já presentes em jogos, uma empresa foi além e decidiu inovar.

Google fez parceria com a Niantic Labs para criar um game mobile chamado Ingress, que já se encontra disponível para download no Google Play (por enquanto em versão beta).

A plataforma, que permite que vários jogadores interajam, transforma os lugares do mundo real como se estivesse no virtual. Assim: Se no jogo o seu personagem está em alguma avenida e tem que desbloque-ar alguma coisa lá, você tem que se dirigir até o local (que é indicado por meio do game) para cumprir a missão. Isso é feito porque é um jogo baseado em geolocalização, indicando que é preciso se movimentar pela cidade para liberar armas e novas fases.

Por enquanto não ficou esclarecido se o jogo está apenas disponível para Nova York, onde foi gravado o vídeo de apresentação, ou se pode ser jogado em qualquer lugar do mundo. Minha pergunta é: quem vai ter tempo de ir aos lugares só pra desbloquear missões?

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=92rYjlxqypM

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CRÔNICA

Page 12: boa pra cachorro! - UNINTER · 2 MARCO ZERO Número 24 – Novembro de 2012 OPINIÃO Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do

Número 24 – Novembro de 201212 MARCO ZERO

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Nas menores coisas encon-tramos o mais singelo e belíssimo momento para

fotografar. O ensaio Questão de Ênfase é inspirado no fo-tógrafo norte-americano Ro-bert Mapplethorpe que, além de retratista e fotógrafo de nu, também inspirou muitos com suas fotos de flores.

Questão de ênfase Juh Moraes