jornal marco - ed. 283

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marco LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas jornal Em entrevista ao MARCO, Cristiano da Matta revela planos, momentos importante da carreira e a paixão pelo automobilismo. Página 16 A mágica ganha espaço no mercado. O mágico Kellys ensina truques de ilusionismo em sua loja, que fascinam crianças e adultos. Página 11 Nova unidade da Borrachalioteca leva leitura, informação e cultura para os detentos do Presídio Municipal de Sabará. Página 13 Julho • 2011 Ano 39 • Edição 283 FREDERICO MACHADO RENATA FONSECA MARIA CLARA MANCILHA FALTA ESPAÇO Em visita a quatro centros de saúde da Região Noroeste, o jornal MARCO ouviu moradores e responsáveis pela organização dos postos e identificou uma série de fatores que prejudicam o atendimento dos pacientes. O problema de espaço físico é o mais recorrente. Os gerentes dos postos pre- cisam se desdobrar para acomodar suas equipes, incluindo o rodízio de consultórios, adotado na unidade do Califórnia, iniciativa que visa permitir o atendimento ao maior número de pacientes. Páginas 8 e 9 Desinformação sobre obras no Anel Rodoviário Histórias de quem chega e sai de BH As pessoas que moram nas imediações do Anel Rodoviário em Belo Horizonte não sabem para onde vão quando iniciarem as reformas de duplicação e modernização da via. A obra, que foi anuncia- da em fevereiro deste ano ainda não começou, mas gera uma série de dúvidas para os moradores, que carecem de informações sobre quando e como o reassentamento vai acontecer. Página 5 A Rodoviária de Belo Horizonte recebe apro- ximadamente 40 mil viajantes todos os dias. São pessoas que vêm das mais diferentes localidades e trazem em suas bagagens as mais diferentes histórias. Cada viajante é prota- gonista de enredos fasci- nantes, em que a vida e eles mesmos são os escritores. Histórias de alegrias, tristezas, so- nhos e conquistas que embarcam e desembar- cam na capital. Página 7 Problemas em infraestrutura e atendimento são os principais dilemas enfrentados e compar- tilhados por escolas públicas localizadas na Região Nordeste de Belo Horizonte. A dificul- dade em conseguir verbas para a execução de projetos pedagógicos e a carência de capacitação de pessoal são reali- dades vivenciadas pelos dire- tores dessas escolas, que rece- beram a visita do MARCO. Apesar das dificuldades as insti- tuições de ensino ali situadas se esforçam para garantir um ensi- no de bom nível. Funcionários lamentam, no entanto, nem sempre conseguirem oferecer aos alunos serviços importantes como atendimento psicológico e fonoaudiológico, tendo que encaminhar os alunos para ou- tros locais. Página 4 A ingestão de bebidas em exagero está cada vez mais presente na vida dos jovens. Como consequência, a amné- sia alcoólica vem sendo um problema enfrenta- do por muitos. Quem bebe não se lembra, mas quem presenciou não esquece as situações que em primeiro momento podem ser engraçadas, mas que representam sérios riscos. Página 10 Escolas da Região Nordeste de BH sofrem com a falta de infraestrutura Amnésia alcoólica causa transtornos RENATA FONSECA ALINE SCARPONI RENATA FONSECA

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Jornal Marco - Ed. 283

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marcoLaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

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Em entrevista aoMARCO, Cristiano daMatta revela planos,momentos importante dacarreira e a paixão peloautomobilismo. Página 16

A mágica ganha espaçono mercado. O mágicoKellys ensina truques deilusionismo em sua loja,que fascinam crianças eadultos. Página 11

Nova unidade da Borrachalioteca levaleitura, informação e cultura para os detentosdo Presídio Municipal deSabará. Página 13

Julho • 2011Ano 39 • Edição 283

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FALTA ESPAÇOEm visita a quatro centros de saúde da

Região Noroeste, o jornal MARCO ouviumoradores e responsáveis pela organizaçãodos postos e identificou uma série de fatoresque prejudicam o atendimento dospacientes. O problema de espaço físico é omais recorrente. Os gerentes dos postos pre-cisam se desdobrar para acomodar suasequipes, incluindo o rodízio de consultórios,adotado na unidade do Califórnia, iniciativaque visa permitir o atendimento ao maiornúmero de pacientes.

Páginas 8 e 9

Desinformaçãosobre obras noAnel Rodoviário

Histórias de quemchega e sai de BH

As pessoas quemoram nas imediaçõesdo Anel Rodoviário emBelo Horizonte nãosabem para onde vãoquando iniciarem asreformas de duplicaçãoe modernização da via.A obra, que foi anuncia-

da em fevereiro desteano ainda não começou,mas gera uma série dedúvidas para osmoradores, que carecemde informações sobrequando e como oreassentamento vaiacontecer. Página 5

A Rodoviária de BeloHorizonte recebe apro-ximadamente 40 milviajantes todos os dias.São pessoas que vêmdas mais diferenteslocalidades e trazem emsuas bagagens as maisdiferentes histórias.

Cada viajante é prota-gonista de enredos fasci-nantes, em que a vida eeles mesmos são osescritores. Histórias dealegrias, tristezas, so-nhos e conquistas queembarcam e desembar-cam na capital. Página 7

Problemas em infraestruturae atendimento são os principaisdilemas enfrentados e compar-tilhados por escolas públicaslocalizadas na Região Nordestede Belo Horizonte. A dificul-dade em conseguir verbas paraa execução de projetos

pedagógicos e a carência decapacitação de pessoal são reali-dades vivenciadas pelos dire-tores dessas escolas, que rece-beram a visita do MARCO.Apesar das dificuldades as insti-tuições de ensino ali situadas seesforçam para garantir um ensi-

no de bom nível. Funcionárioslamentam, no entanto, nemsempre conseguirem ofereceraos alunos serviços importantescomo atendimento psicológicoe fonoaudiológico, tendo queencaminhar os alunos para ou-tros locais. Página 4

A ingestão de bebidasem exagero está cadavez mais presente navida dos jovens. Comoconsequência, a amné-sia alcoólica vem sendoum problema enfrenta-do por muitos. Quem

bebe não se lembra,mas quem presenciounão esquece as situaçõesque em primeiromomento podem serengraçadas, mas querepresentam sériosriscos. Página 10

Escolas da Região Nordeste de BHsofrem com a falta de infraestrutura

Amnésia alcoólicacausa transtornos

RENATA FONSECA

ALINE SCARPONI

RENATA FONSECA

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2 ComunidadeJulho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

jornal marcoJornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected]

Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920

Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória GomideChefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo BarbosaCoordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Francisco BragaCoordenador do Curso de Jornalismo / São Gabriel: Prof. Jair Rangel

Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais

Monitores de Jornalismo: Bianca de Moura, Carlos Eduardo Alvim, CínthiaRamalho, Keneth Borges, Laura de Las Casas, Nathália Amado, PedroVasconcelos. Samara Nogueira e Tamara FontesMonitores de Fotografia: Renata Fonseca e Maria Clara MancilhaMonitora de Diagramação: Lila Gaudêncio

Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

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LILA GAUDÊNCIO, 7º PERÍODO

Em suas edições, o MARCO trata de assuntos recor-rentes que são de interesse da população de BeloHorizonte, especialmente das regiões Noroeste eNordeste, onde estão situadas as unidades CoraçõesEucarístico e São Gabriel da PUC Minas. A partir devisitas aos postos de saúde da Noroeste e às escolasestaduais da Nordeste, a equipe do jornal produziureportagens publicadas neste número, que procuramavaliar os serviços prestados à comunidade. Alémdisso, a situação esquecida dos moradores do entornodo Anel Rodoviário, foco de problemas que setornaram crônicos, também foi abordada.

Em todas essas reportagens, a preocupação com olado humano está presente. Na matéria sobre asaúde na Região Noroeste, por exemplo, quatro decentros foram focados, constatando-se um problemacomum: a infraestrutura dos lugares. A inadequaçãodo espaço físico é uma característica que atinge atodas essas unidades.

Infelizmente não são apenas os profissionais da saúdeque precisam lidar com as dificuldades decorrentes deuma carência estrutural. Professores, funcionários ealunos de três escolas da rede estadual situadas naRegião Nordeste também lidam diariamente com aprecariedade da infraestrutura. A insuficiência dosinvestimentos governamentais obriga, que, em amboscasos, tanto na saúde quanto na educação, os profis-sionais sejam obrigados a recorrer até a improvisaçõesna busca para problemas diversos.

Nas imediações de uma famosa via expressa da ca-pital mineira, o Anel Rodoviário, a aflição é geradapela desinformação. Os moradores das proximidadesdo Anel convivem com o mesmo descuido sofrido pelosgerentes dos postos e pelos funcionários das escolaspúblicas. Uma desorientação originada pelas reformasde ampliação da via expressa, anunciadas pelaPrefeitura de Belo Horizonte em fevereiro deste ano.Depois de cinco meses, os moradores ainda não foraminformados para onde irão após o início das obras.

Enquanto essas pessoas precisam encontrar soluçõesmágicas para burlar as adversidades da vida cotidi-ana, outras lidam com a mágica profissionalmente.Mágicos de Belo Horizonte revelam nessa edição seussegredos para conseguir viver economicamente dessaarte secular, encantando crianças e adultos.

Encantamento também gerado no Presídio Municipalde Sabará onde os detentos ganharam uma fonte deconhecimento: uma nova unidade da Borrachalioteca.O projeto, idealizado por Marco Túlio Damascena,proporciona a leitura, libertando a mente daquelesque estão fisicamente presos.

Assim, as histórias que os presidiários leem nos livros desua biblioteca podem também ser encontradas a cercade 25 quilômetros dali, na Rodoviária de Belo Horizonte.Como uma novela, os enredos cativantes das históriasde vida dos 40 mil viajantes que passam pelo terminaldiariamente emocionam pela sua intensa sinceridade evalorização do sentimento e da vida humana.

Na última edição do semestre do MARCO, a mesmapaixão dos viajantes da Rodoviária não poderia ficarde fora da entrevista. O piloto mineiro Cristiano daMatta revela momentos importantes de sua tra-jetória, assim como perspectivas futuras para sua carreira.

Saúde, educação edireitos humanos sãoalvos de desatenção

editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialEDITORIAL

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteEXPEDIENTE

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TAMARA FONTES,3º PERÍODO

Moradores enfrentam difi-culdades ao transitar pelasruas de bairros da RegiãoNoroeste. Entulhos sãoencontrados nas calçadasobrigando a passagem dospedestres pelas vias de trânsi-to, os estabelecimentos co-merciais não fiscalizam seusestacionamentos e os carrosparam em lugares proibidosque deveriam ser espaçoslivres. Há também os baresque depositam suas cadeiras emesas numa área maior que apermitida. Tudo isso causainsatisfação nos moradores.

A calçada da rua Guajarádo bairro Dom Cabral seencontra bloqueada por umentulho de britas, o estabele-cimento que se encontra nafrente negou ser responsávelcomo os demais moradoresda vizinhança. Para caminharpor ali é preciso desviar maisde uma vez para chegar aodestino desejado.

Cláudia Gomes de Oliveiraafirma que pessoas constroeme não se livram devidamentedos materiais descartados,como as britas. Moradora dobairro há 45 anos, observa

que os idosos são os maisprejudicados. "Incomodaporque tem idoso que quandochega ali tem que dar a volta,as construções não tomam osdevidos cuidados e o lixoincomoda quem mora porperto", diz Cláudia.

A carteira Camila Cristinados Santos, que trabalha cir-culando em 23 ruas no bairroDom Cabral todos os dias,destaca que é essencial

encontrar as calçadas livrespara que consiga cumprir oroteiro de entrega das corres-pondências. Ela reclama dasdificuldades causadas pelafalta de cuidado dos quedespejam entulhos nascalçadas. "Atrapalha a colocaras cartas dentro das caixi-nhas, tem muita sujeira aívocê acaba atravessando",explica. Apesar das recla-mações, Camila considera ascalçadas do Bairro Dom

Cabral razoáveis em relação aoutros lugares.

Para conter as infrações, oartigo 64 da Lei 8.616/03 doCódigo de Conduta daPrefeitura de Belo Horizontedetermina que o passeio devedeixar uma faixa livre para otrânsito de pedestres, as aresde embarque e desembarquedo trânsito coletivo deve serrespeitado. O artigo 67 damesma Lei proíbe obstruçãonas calçadas que prejudiquema segurança ou o trânsito deveículos, pedestres e compro-meta a estética da cidade.

A Prefeitura de BeloHorizonte, por meio daGerência Regional de Aten-dimento ao Cidadão, informaque em seus bancos de dadoshá registro de 977 notifi-cações de lixo, terra, entulhoe bota fora, jogados em locaispúblicos do início de janeiroaté o início de junho desteano.

Informa ainda, por meioda Gerência Regional deFiscalização de Obras e MeioAmbiente que quando con-statada a irregularidade, a fis-calização de vias públicas eposturas notificam, autuam eapreendem conforme legis-lação em vigor. Ressalvo queno ano de 2010 foram rea-lizadas 53498 diligências.

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ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 8º PERÍODO

O Bairro São Gabriel, naRegião Nordeste de BeloHorizonte passa por transfor-mações com o desenvolvi-mento e crescimento emtodas as direções, seja nocomércio, com suas ofertas deprodutos e serviços, seja nasconstruções de imóveis resi-denciais. Com atração doolhar de todas as regiões daCapital, por causa da anunci-ada construção da novarodoviária, a tendência é demais melhorias. Pessoas queescolheram aquele bairro parafixar suas moradias oumesmo para trabalhar, teste-munham esse crescimento. Achegada da PUC Minas, ésempre citada como umagrande conquista do bairro.

Moradora há 40 anos naregião, a dona de casaGeralda das Graças Campos,48 anos, relembra que nessasquatro décadas, chegaram aoSão Gabriel grandes frigorífi-cos, duas grandes redes desupermercados e a 16ª Cia.da Polícia Militar de MinasGerais (PMMG). “Todomundo está progredindo,crescendo”, observa Geralda.Assumidamente moradora deuma área invadida, a tambémdona de casa Maracy Areal,60 anos, sente-se apreensivasobre a possibilidade deremoção, tendo em vista aconstrução da novarodoviária, mas reconhece osaspectos positivos do cresci-mento da região. “São boas astransformações do SãoGabriel. Aqui se encontra detudo. Não precisa sair daquipara comprar muitas coisas.Tem muita condução [ônibuscoletivos], para vários bairros.Aqui é joia”, afirma. Comtráfego intenso de veículos,ela aponta a falta sinalização

como uma falha. “Aqui nessaesquina [ruas Walter Iannicom rua Anapurus] têmmuitos acidentes, principal-mente de motos.

Outra moradora, LourdesFernandes do Amaral, 54anos, há 19 anos reside nobairro São Gabriel, faz umcomparativo com seudomicílio anterior, no bairroCachoeirinha. “Aqui encon-tramos tudo, é muito difer-ente de lá”, diz. Ela lembra deum fato importante paraquem não possui veículo,como é o caso dela, quandofaz compras, em supermerca-dos, por exemplo. É a entregaem domicílio das compras,feitas por alguns estabeleci-mentos comerciais.

Morador do Bairro Tupi,na Região Norte, RodsonDias Gomes, 21 anos, balcon-ista, trabalha há cinco anosno São Gabriel, num comér-cio de rações para animais,banho e tosa, diz que hojemelhorou muito. “Com aconstrução da ponte que liga

as regiões Norte e Nordeste,na Via 240, ficou mais fácil.Antes tinha que dar umavolta enorme para o mesmotrajeto. Junto à construçãodaquela ponte, também apavimentação da avenida Pe.Argemiro Moreira, antiga av.Beira Linha]”, destaca. Comessas obras, ele acredita que asegurança melhorou muito,visto que já foi vítima deassalto por três vezes em out-ros tempos, o que não aconte-ceu mais.

Também morador de outrobairro, Domingos SávioVelosi, 50 anos, comerciante,trabalha há 20 anos nodepósito de materiais de con-strução. Para ele, o bairro SãoGabriel melhorou muito.“Hoje as vias estão todasasfaltadas. Antes era tudo deterra”, relembra. Ele frisa quehoje os produtos comercial-izados no depósito onde tra-balha são de qualidade bemsuperior em comparação comalguns anos atrás, devido aessa melhoria das cons-truções.

ESPERANÇA A Associaçãode Desenvolvimento doBairro São Gabriel está aten-ta as transformações ali ocor-ridas e mantém-se vigilantepara preservar o que já foiinstalado e trabalhar maismelhorias. Sebastião JoséFreitas, 80 anos, mora há 43anos no bairro São Gabriel éo atual presidente. “O bairroSão Gabriel está cheio deesperança”, ressalta. Essadeclaração se deve à expecta-tiva da construção do novoterminal rodoviário da capitalmineira no bairro. “Os inves-timentos estão voltados parao São Gabriel. Muitas empre-sas querem investir aqui”,diz. Para ele, “a construçãoda nova rodoviária vai trazermuitos benefícios e criarnovos empregos. Na fase deconstrução, para pessoas depouca leitura, os profissionaisda área de construção civil.”

BAIRRO SOFRE MUDANÇA

Calçadas incomodam moradores

Por causa da construção da nova rodoviária, o Bairro São Gabriel é alvo de várias melhorias

A moradora Maracy Amaral está preocupada com a remoção para construção da nova rodoviária no bairro São Gabriel

Britas atrapalham a passasgem de pedestres em passeio na Rua Guajará

RENATA FONSECA

ANTÔNIO ELIZEU

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3ComunidadeJulho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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LARA DIAS, LUCAS RAGAZZI,MARCUS CELESTINO,1º PERÍODO

No português lusitano,“alfarrabista” é a palavraque corresponde ao indiví-duo que lê, coleciona ouvende livros antigos ouusados. No Brasil, apalavra sebo é usada comosinônimo para casa dealfarrabista. Alfarrábio éuma palavra que designalivro de grande volume,velho, enfadonho, depouca utilidade. A origemdo termo sebo comosinônimo no portuguêsbrasileiro vem das páginasengorduradas dos livrosvelhos, pelo manuseioconstante. Apesar disso,para muitas pessoas, um‘sebo’ é um dos lugaresmais agradáveis e interes-santes para se passar otempo. Isso ajuda aexplicar a existência noEdifício Maletta, pontotradicional do Centro deBelo Horizonte, de sebos

que funcionam há mais de40 anos.

José Ronaldo Lima, de71 anos, é dono de umdestes estabelecimentos o"Shazan" no EdifícioMaletta, e admite nãogostar de vender os livros,já que segundo ele a maio-ria destes acabam nascasas dos compradores eem pouco tempo ficamsem utilidade, apenas ocu-pando espaço em umarmário ou gaveta. Mesmoassim, está na profissãopois é apaixonado pelaleitura.

Sebastião doNascimento, 62, frequentao edifício há 30 anos e temo seu sebo no local desde2004. Segundo ele, amaioria dos clientes é for-mada por estudantes, oque de certa forma o deixadecepcionado, pois essessó compram os livros quelhes são necessários para asatividades universitárias."Quando a cultura daleitura for implantada noBrasil, seremos um país de

primeiro mundo", comentaSebastião. Ainda de acor-do com o sebista, muitosleitores procuram essesestalecimentos em buscade livro esotéricos.

Laís Girardi é um caso àparte. A estudante de 20anos é uma frequentadoraassídua dos sebos do centroda cidade. "Eu entrei em umsebo pela primeira vez comminha mãe quando eu tinha14 anos, sempre gostei deler", diz. Laís afirma que temum gosto bastante eclético,mas revela sua preferênciapor quadrinhos. "Ainda sãoraros os sebos que oferecemrevistas em quadrinho, elesficam na mão dos cole-cionadores, acho que osdonos de sebos deviam sevoltar para este pessoal",conclui.

Quando perguntadossobre a internet, os sebis-tas divergem em suasopiniões. Para a maioria,por mais contraditório quepareça, a internet é umagrande aliada para a vendade livros no sebo, já que

muitos já adotaram omodelo do site "EstanteVirtual", por meio do qualé possível fazer vendas emtodo o país. Outros, achamque a pirataria e a leituraonline ainda irão matar oimpresso. Ainda citam acriação do E-book, umaespécie de versão eletroni-ca do livro, onde é possívelter várias publicações nomesmo aparelho. "Atendência é que a Internetacabe matando os sebos eposteriormente os livros.Hoje em dia, qualquer umpode comercializar seuslivros sem a devida licença.Além disso, a leitura nocomputador (E-Book) irádestruir o livro físico, quese tornará apenas um ocu-pador de espaço”, afirmaJosé Ronaldo.

Laís vê com bons olhosa digitalização dos livros,"Eu acho muito impor-tante isso, pois essa novaera pode facilitar o acesso,mas eu temo pelosescritores, eles não podemser esquecidos, precisam

receber pelos acessos digi-tais", apesar de reconhecerum novo momento na li-teratura, a estudante con-fessa o seu apego peloslivros impressos." Eu amo

sentir o cheiro de livro, nãotroco essa sensação pornada, não consigo ler nadapelo computador, e sei quevou ter que adaptar", con-clui.

Entre as prateleiras, as histórias que os sebos têm

SOCIEDADE MUSICAL ESTÁ EM CRISEn

FELIPE CANEDO,PEDRO CASTRO,RÔMULO MEDEIROS7º PERÍODO

Aos 115 anos de vida eparte indiscutível dahistória de Belo Hori-zonte, a Sociedade Musi-cal Carlos Gomes, vivehoje uma situação descon-fortável. Há três décadasdedicando-se à banda, omaestro Francisco BelmiroBraga, anunciou recente-mente sua aposentadoria.Não é por falta de amor àmúsica e à sociedade que omilitar reformado se afastado tão respeitado posto.Um recente problema navisão o impede de conti-nuar o serviço."Precisamos urgentementede um maestro paraassumir a direção técnicada banda", afirmaBelmiro.Francisco. O pro-blema é que a banda nãotem como pagar por umnovo maestro já que, comoentidade filantrópica, nãopossui os recursos finan-ceiros necessários.

O pouco dinheiro queentra nos cofres daSociedade Musical vem deuma colaboração dosAlcoólicos Anônimos,entidade que usa parte doterreno da SociedadeMusical Carlos Gomes,para suas atividades assis-tenciais; de algumas apre-sentações encomendadas,onde se cobra o que forpossível de ser pago, e dadoação dos próprios músi-cos, que acaba sendoparcela fundamental paraa manutenção da banda.

Atual presidente dainstituição, GeraldoManuel Pereira, reclamado descaso com o qual abanda é tratada. "Há dois

meses fomos contratadospara tocar em uma cidadeda Região Metropolitanade Belo Horizonte.Pedimos uma colaboraçãoe disseram não ter comonos pagar. Deixei claroque, apesar da dificuldadede levar tantos músicospara tocar na tarde de umfim de semana, queríamoso dinheiro apenas paracustear a pintura de nossasede. Ficou acertado quereceberíamos pela apresen-tação a doação das tintas",afirma. O que pareceu serum acordo perfeito teveum insólito fim. As tintasdoadas eram de cores com-pletamente distintas, alémde estarem com datas devalidade vencidas. "Osmúsicos novamente pas-saram o chapéu e termi-

naram, eles mesmos,pagando a conta da pintu-ra", acrescenta.

Outro problema que abanda enfrenta é a dificul-dade de conquistar músi-cos jovens para garantir arenovação de músicosessencial para se manter atradição. Para o ex-maes-tro Francisco BelmiroBraga, o interesse dosjovens vem da culturamusical das famílias. "Vocêpode perguntar para todosos músicos da banda,quase todos vão dizer terum dos pais, um tio ou oavô músico. É umaquestão de origem", diz.

Entre os integrantes dabanda um consenso: osjovens de hoje em diagostam das músicaseletrônicas, mas não

gostam de tocar os clássi-cos ou se envolver com atradição. "Não há o inte-resse da banda emsofisticar essa atividade,senão ela deixa de ser umatradição", afirma Belmiro.

O músico RafaelCalaça, que se dizapaixonado pela riquezadas bandas civis de MinasGerais, considera que odesinteresse dos jovensvem do desconhecimento."Há muitos exemplos debandas bem-sucedidas emenvolver a juventude emMinas Gerais, mas é pre-ciso investir em projetoseducativos para atraí-los",afirma. Ele lamenta o fatode sua opção por uminstrumento de corda lheimpedir de tocar em umabanda de rua.

Geraldo Manuel lembrao período em que, ampara-dos pela verba de uma leide incentivo, deram aulasperiódicas a mais de 40jovens de uma comu-nidade carente. Duranteum ano, a banda pôdetransmitir sua tradição eeducar novos músicos. Aexperiência fora um suces-so, mas, por falta de umprofissional apto a escre-ver e captar projetos, abanda não conseguiu man-ter as aulas.

Para o apaixonado pelosom do bombardino Ale-xandre Fernandez Morei-ra, a banda é mais do queum encontro com a músi-ca, é um espaço para des-cansar a cabeça. "É umamaneira de descontrair,uma terapia para quem

trabalha, como no meucaso, na área financeira",afirma.

HISTÓRIA Alfredo Cama-rate, engenheiro portuguêsque participou do projetode Aarão Reis para a cri-ação de Belo Horizonte,era cronista de diversosjornais e era tambémmúsico. Em 1896, entre asocupações de planejar acapital mineira e relatarseu ofício nos periódicosmineiros, Camarate fun-dou a Sociedade MusicalCarlos Gomes.

A história conta que oengenheiro, apaixonado pormúsica, preferia contratarpeões que tocavam alguminstrumento para trabalharnas obras da capitalmineira. Da união de 15músicos, sob a batuta deCamarate, nasceu a bandaque tocava em festas e quetocou na inauguração dacidade. 115 anos depois, aSociedade Musical CarlosGomes segue pouco afinadacom a capital que inaugurou,apesar da heroica dedicaçãode seus membros. Localizadahoje no bairro Calafate, pró-xima à Paróquia São José, asede da banda é um casarãoconhecido pelos moradoresdas redondezas por sua músi-ca característica.

Camarate talvez nãoimaginasse que 115 anos sepassariam sem que suabanda deixasse de servir aopovo para o qual foi criada,mas se surpreenderia com odescaso com o qual por ele étratada. Provavelmente,não fosse graça aos músi-cos que hoje tanto sededicam à SociedadeMusical Carlos Gomes,este importante pedaço dahistória de Belo Horizontejá teria se perdido.

Por falta de incentivo e verba, uma das mais tradicionais corporações musicas de Belo Horizonte, a Sociedade Musical

Carlos Gomes, passa por dificuldades para apresentar e manter suas atividades que se iniciaram há 115 anos na capital

A Sociedade Musical Carlos Gomes ajudou a escrever capítulos da história cultural da capital mineira, e atualmente, passa por dificuldades para se manter

José Ronaldo Lima é dono de um dos sebos do Edifício Maletta

RENATA FONSECA

PEDRO CASTRO

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4 ComunidadeJulho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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JUDY NEMÉSIO, BIANCA MOURA,NATHÁLIA AMADO,2º, 5º E 3º PERÍODOS

As escolas públicaslocalizadas na RegiãoNordeste de BeloHorizonte e que foramvisitadas pelo MARCOapresentam contrastes,embora a maioria tenhaem comum a inadequaçãofísica, em função deestarem sediadas em edifi-cações antigas e desgas-tadas pelo tempo. Alémdisso, algumas dessasinstituições sofrem com acarência de profissionaiscapacitados. Esses doisfatores – falta de espaço ede recursos humanos –,afeta o atendimento.

É o caso, por exemplo,da Escola Estadual

Professor Antônio JoséRibeiro Filho, que esperahá muito tempo que suaplanilha de reformas sejaatendida pelo Governo doEstado. Em função disso,ela mantém os portõesfechados, e oferece poucoespaço para os alunos.Essa situação é diferenteda encontrada na EscolaMunicipal Josefina SouzaLima, onde os portões per-manecem abertos todo otempo e há profissionaispreparados para cuidar dasegurança, tanto do esta-belecimento quanto dosalunos.

As escolas sofrem com afalta de recursos para apromoção de projetos quemelhorem o aprendizado edesenvolvimento dosalunos. A SecretariaEstadual de Educação, por

meio de sua assessoria decomunicação social, revelaque trabalha para que asdeficiências sejamamenizadas, no entanto,confirma que há grandespassos a serem dados.

Outro fator que preocu-pa os diretores das institu-ições públicas de ensinoda Região Nordeste é aviolência. De acordo comalguns professores, é pre-ciso sempre estar atentopois, muitos alunossofrem influência diretado tráfico de drogas. Alémdisso, por ser uma regiãocarente muitos pais nãopodem acompanhar oaprendizado de seus filhossem intermediários, o quesegundo os profissionaisde educação afeta os estu-dos das crianças.

ESCOLAS ENCARAM DESAFIOS COMUNSPoucos recursos, problemas de infraestrutura e falta de profissionais da área prejudicam a educação de alunos de instituições públicas de ensino da Região Nordeste de Belo Horizonte

Escola Estadual Adalberto Ferraz foi reformada há três anos e conta com sala de informática e biblioteca

Localizada à RuaOperário Silva, a EscolaEstadual Adalberto Ferrazatende cerca de 500 alunosdo ensino fundamental,entre seis e 14 anos, nosturnos da manhã e tarde.Há três anos a instituiçãopassou por uma reformageral, quando foram insta-lados equipamentosnecessários ao atendimentodos critérios de acessibili-dade.

A supervisora pedagógicaMaria da Conceição afirmaque a escola se esforça parasuprir as necessidades dosalunos. O espaço conta comsala de informática e bi-blioteca, além de quadra deesportes e refeitório. Se-gundo ela, todas asdependências são usadaspelos alunos, mas há necessi-dade de um aumento nonúmero de profissionais delimpeza.

"Atualmente contamoscom apenas quatro fun-

cionários, dois de limpeza eoutros dois na cozinha, oque nem sempre garanteque as instalações como osbanheiros fiquem semprelimpos para o uso", afirma.

Maria Auxiliadora Gomesda Silva, trabalha há cincoanos na escola como professo-ra e, atualmente, é a respon-sável pela biblioteca. Segundoela, a escola precisa de maiornúmero de profissionais paraatender à demanda. Para aprofessora, apesar de estarlocalizada numa região carenteo rendimento dos alunos estámelhorando. "Só tiro A e B",conta o aluno BernardoAugusto Roberto Nogueira, de10 anos. "Estou aqui há doisanos e gosto de estudar aquiporque é legal", acrescenta.

"Estamos avançando,mas como professores sem-pre achamos que é possívelmelhorar um pouco mais",observa Auxiliadora Gomes.Nem todas as necessidadessão supridas pela escola,

uma vez que o Estado nãodisponibiliza alguns recur-sos que poderiam auxiliar otrabalho dos professores. "Aescola supre as necessidadesna medida do possível. Oestado não coloca à dis-posição dos estudantes, porexemplo, psicólogos efonoaudiólogos. A escolafaz o encaminhamento dealguns alunos, mas nemsempre isso se efetiva", afir-ma Maria da Conceição.

De acordo o assessor decomunicação da SecretariaEstadual de Educação deMinas Gerais, Luiz Navar-ro, a Escola Estadual Adal-berto Ferraz possui ativi-dades em tempo integral,como reforço escolar, econta com quatro profes-sores capacitados paraatender alunos com neces-sidades especiais, em Libras(Língua Brasileira deSinais) e em educação físicaespecial.

Escola Estadual AdalbertoFerraz pede mais recursos

A Escola EstadualProfessor Antônio JoséRibeiro Filho, no Bairro SãoGabriel, nasceu na época daschamadas "escolas combi-nadas", em que os alunos sereuniam em galpões de igrejaspara aprender. No decorrerdos anos houve mudanças naestrutura física e administrati-va da escola. Hoje, ela possui72 funcionários, 1 mil alunose funciona de 7h às 17h15,com oferta de ensinos funda-mental I e II.

Para atender às necessi-dades dos alunos e vencer osconstantes problemas deaprendizagem, a escola contacom vários projetos implemen-tados pelo corpo de profes-sores. Incentivo à leitura, orien-tação alimentar e educação notrânsito são alguns deles,comandados pelos professoresMarlene Alves Coelho Carrato

e Wilson Ribeiro. "Esses proje-tos têm efetiva participaçãodos alunos e proporcionamaulas mais atrativas e dinâmi-cas", diz Marlene.

O principal problema, deacordo com Marlene, é a faltade participação de alguns paisna vida escolar dos filhos. Hátambém problemas estrutu-rais, como a falta de cobertu-ra da quadra de esportes e opouco espaço para desen-volver as atividades, dificul-tando o trabalho pedagógico.

Mas há também quemparticipe da vida escolar dosfilhos. A dona de casaMarilene Condessa diz quecolocou as filhas nesta escolaporque acredita que a disci-plina é boa e os alunos saempreparados para o ExameNacional do Ensino Médio(Enem). "Minhas duas filhasestudam aqui, no 7º e 8º ano,

sempre acompanho o desen-volvimento escolar delas,gosto do modo como os pro-fessores ensinam e mantém adisciplina", diz.

Para a diretora AlcioneMaria de Oliveira, a escola éuma das que acreditam nosprojetos de inclusão comoimportante fator para a pro-moção da educação, mas apon-ta que recebe poucos incentivosdo governo para isso. Segundoela, a escola se mantém com averba de manutenção e custeioe com o dinheiro da merenda(caixa escolar) e o PDDE, (di-nheiro direto na escola) forneci-do pelo MEC.

A Secretaria Estadual deEnsino, por meio da assessoriareconhece os problemasenfrentados e informou que aplanilha com o projeto dereforma da instituição seencontra em fase de aprovação.

Famílias participam pouco em instituição no São Gabriel

A Escola MunicipalJosefina Souza Lima,localizada no BairroMinaslândia, atende acerca de 800 alunos. Nosturnos da manhã e datarde são estudantes do1º ao 5º ano, além dereceber duas salas deeducação infantil. Já ànoite o público é forma-do por alunos deEducação para Jovens eAdultos (EJA).

A escola é dirigida porRogério Luiz Fernandese completou 40 anos deatividades em 2010. Emmeio aos festejos, a esco-la comemorou ino-vações, como o atendi-mento de ação inclusivaque atende a alunos epossui em seu quadro defuncionários efetivosuma professora com defi-ciência visual com seutrabalho reconhecido evalorizado devido suainteração com as turmas.

Outro destaque daescola é o atendimentoem tempo integral. Pelamanhã, os alunos fre-quentam o ensino regu-lar, e à tarde têm oficinade artes, formação ebrincadeiras. Aos finaisde semana, sábado edomingo a escola conti-

nua de portas abertaspara atender a comu-nidade com oficinas epalestras de informaçãosobre combate a violên-cia. Mas, segundo a pro-fessora e coordenadorado turno da manhã,Davla Guimarães, aindahá muita coisa quenecessita de maisatenção por parte dasautoridades. "A políticade ação inclusiva ainda étímida para forçar umasituação de qualidade",declara.

Apesar do fomento dogoverno municipal, faltaefetiva fiscalização e ointuito de fazer ligaçãoda escola semanal com asatividades de fins desemana ainda não acon-teceu. Faltam profissio-nais comprometidos como trabalho, os respon-sáveis pelos finais desemana, muitas vezesnão comparecem àsatividades e algunsalunos acabam danifi-cando a estrutura físicadas escola.

Outro problema é afalta estrutura para aten-der aos cadeirantes quepossuem certas deman-das que precisam seratendidas. Precisam de

acesso fácil a biblioteca ebanheiros adequadospara devida utilização.Mesmo com essas defi-ciências há pais que dis-pensam vagas nas escolasestaduais e preferementrar na fila de esperapara matricular seus fi-lhos ali.

Maria Aparecida Gue-des Arcanjo, moradorado bairro, diz que haviauma escola estadual maispróxima à sua casa, maspreferiu matricular suafilha Gabriele Arcanjoem uma escola munici-pal, um pouco mais dis-tante. "Procurei a escola,porque o espaço é maislimpo e organizado e poroferecer uma educaçãocontinuada nos finais desemana, com reforçoescolar, brincadeiras eoficinas de formaçõeshumanas", explica.

A escola possui outraatribuição que a diferen-cia das demais: os meni-nos com problemas deaprendizagem devido aalguma deficiência sãoencaminhados a postosde saúde ou a outrasunidades de ensino, emhorário especial, que pos-suem profissionais treina-dos para auxiliá-los.

Ação inclusiva e atendimentointegral entre os diferenciais

FOTOS: BIANCA MOURA

Apesar dos problemas, escolas públicas da Região Nordeste se esforçam para garantir ensino de qualidade

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5ComunidadeJulho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Apesar da reclamaçãodas famílias que vivemao redor do Anel Rodo-viário, em Belo Horizon-te, a Companhia Urbani-zadora de Belo Hori-zonte (Urbel) informouque cumpriu o pedidodo Ministério PúblicoEstadual e da DefensoriaPública da União e já feza avaliação dos imóveisda Vila da Luz e Vila daPaz.

No momento, aindafalta ser finalizado o con-vênio da PBH com oDnit, para que comece oprocesso de remoção ereassentamento das fa-mílias. "O dinheiro paraa obra é federal, e vematravés do Dnit, órgãoresponsável por esse tipode obra. Precisamos ter oconvênio formalizadopara, a partir dele, co-meçarmos as interven-

ções, desde a remoção eo reassentamento das fa-mílias até a obra", escla-receu, em nota, a Urbel.As obras serão iniciadasna altura da via com aAvenida Cristiano Ma-chado, na Região Norteda capital.

Ainda de acordo coma posição oficial doórgão, existem trêsopções de reassenta-mento.

A primeira seria atransferência das famí-lias para unidades habi-tacionais a serem con-struídas em terrenos ad-quiridos pelo Dnit, noBairro Ribeiro de Abreu,na Região Nordeste dacapital. Outra opção se-ria o reassentamentomonitorado. Nesse caso,o morador poderia indi-car um imóvel em outrolocal dentro de um valor

estabelecido pela Urbel -até R$ 30 mil. Esse valoré municipal e pode seralterado pelo convêniocom o Dnit. Tambémexiste a opção dos mora-dores receberem uma in-denização, de valor nãoinformado.

Também em nota, oDnit esclareceu que nãoexiste um prazo para aretirada das famílias,porque "as negociaçõesestão começando agora".No entanto, de acordocom o departamento,ninguém será "pego desurpresa".

Em relação aoreassentamento dasfamílias, a opção prio-ritária para o Dnit é queos moradores sejamdeslocados para conjun-tos habitacionais noBairro Ribeiro de Abreu.

PBH ainda não sabe ondefamílias serão reassentadas

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ALINE SCARPONI, ANA LUISA AMORE, DANILO GIRUNDI, ISABELLA LACERDA,STEFÂNIA AKEL,7° PERÍODO

Apesar da duplicação doAnel Rodoviário, em BeloHorizonte, ser um clamorgeral, os moradores de seuentorno têm sofrido diaria-mente com a eminência deserem retirados de suascasas. José FerreiraDamasceno, de 44 anos,mora há 11 anos na Vila daLuz. Ele e sua família fazemparte das três mil moradiasque devem ser desocupadaspara a realização de obrasde modernização no local.

"A vida aqui é crítica,difícil. Mas toda a vida fuiacostumado a pagar minhaspróprias contas. Agora odestino foi mais forte e vaitirar a gente daqui. Nãoquero ir para um aparta-mento. A proposta é que agente receba R$ 30 mil paracomprarmos um novo lugarpara morar, mas isso émuito pouco", afirmouDamasceno.

A proposta de moder-nização do Anel foi anunci-ada em fevereiro deste ano,como uma parceria entre oGoverno Federal e aPrefeitura de BeloHorizonte (PBH). Noentanto, o projeto aindanão foi concretizado,porque o MinistérioPúblico Federal e aDefensoria Pública daUnião sugeriram alteraçõesno contrato assinado para oinício das obras. Esse docu-mento, atualmente, passapelo último estágio deanálise no setor jurídico doDepartamento Nacional de

Infraestrutura e Transporte(Dnit).

Em função disso, aCompanhia Urbanizadorade Belo Horizonte (Urbel)ainda não definiu o localpara onde as famíliasdesapropriadas serão remo-vidas. Nem mesmo con-cluiu a listagem das pessoasque precisarão deixar suascasas.

DESCONHECIMENTO Adesinformação sobre o queserá feito com os moradoresque precisarem sair de suasresidências é outra questãodiscutida pelas famílias quemoram no local. AdrianaEdviges de Oliveira,moradora há dez anos daVila da Paz, afirma queainda não foi procuradapela Urbel. Segundo ela,desde o anúncio das obrasno Anel ela está sem saberqual será seu destino. "Eles(a Urbel) têm que dialogarcom os moradores, e verquem quer o quê. Se eu nãosouber direitinho para ondeterei que ir, ou quanto voureceber pela minha casa,não arredo o pé daqui",declarou.

Devido à falta de contatoentre a Urbel e os mo-radores das vilas do entornodo Anel Rodoviário, aDefensoria Pública daUnião em Minas Geraisrecomendou ao Dnit e aPrefeitura de Belo Ho-rizonte que ouçam asfamílias dos bairros Vila daPaz, Vila da Luz e São José.Também foi recomendadoque as associações deengenheiros e arquitetos deBelo Horizonte levem emconsideração o desejo dascomunidades, antes dedefinirem para onde essasfamílias serão transferidas.

"O principal objetivodessa recomendação égarantir que a populaçãoque será afetada participena discussão a respeito daremoção. O poder públiconão pode decidir qual é a

melhor forma de reassentaressas famílias sem escutarsuas reais necessidades",salientou a defensora públi-ca federal Giêdra CristinaPinto Moreira.

Segundo a defensora,essas recomendações foramelaboradas com a expectati-va de serem incluídas notermo de compromisso queestá sendo discutido entre oDnit e a PBH para oreassentamento dessascomunidades. "Precisamosevitar que os moradoresdessas áreas recebam va-lores muito baixos pelosimóveis, ou acabem sendodeslocados para lugaresonde não querem morar.Pedimos para que asremoções sejam feitassomente depois deentregues os conjuntoshabitacionais que devemreceber as famílias", com-pletou. Giêdra ressaltouainda que é preciso que oDnit verifique se o novolocal oferece serviços públi-cos de qualidade.

Serviços públicos comoágua encanada, energiaelétrica e rede de esgoto nãofazem parte da realidadeencontrada hoje pelasfamílias que vivem noentorno do Anel Rodo-viário. Edmeia AparecidaGonçalves, moradora daVila São José desde 1974,conta que a casa de quatrocômodos onde reside comseus três filhos e um netonão possui rede de esgoto.A coleta de lixo chegou hápoucos anos. "Minha mãefoi uma das primeirasmoradoras da vila. Mesmocom a vida muito complica-da que temos aqui, estoudesesperada por não saberpara onde serei mandadacom a minha família", diz.Ela ressalta que nãoaceitará nenhuma propostaque a transfira para umapartamento em outro bair-ro de Belo Horizonte.

REFORMA NO ANEL CAUSA POLÊMICAPopulação que vive no

entorno da via que será

modernizada reclama da

falta de informações e

teme o futuro depois que

deixarem suas casas

Com as obras, os moradores que vivem à margem do Anel Rodoviário ainda não sabem para onde serão transferidos

ALINE SCARPONI

Melhorias para Copa aindanão começaram na rodovia

Acidentes constantes geramtranstornos para moradora

As obras de duplicação emodernização do Anel Ro-doviário estão atrasadas. Issoporque, apesar de já existirum projeto pronto, ainda hápendências contratuais parao início das obras. Um exem-plo é a formalização do con-vênio entre o município e oGoverno Federal.

Apesar da demora, umaempresa já foi escolhida, pormeio de concorrência públicae está fazendo levantamentosgeológicos e topográficos naregião. O DepartamentoNacional de Infraestrutura eTransporte (Dnit) garanteque será feito um grandeesforço para que todo o tra-balho esteja concluído antesda Copa do Mundo de 2014.

O órgão calcula que serãogastos R$ 300 milhões para aremoção e reassentamentodas famílias que moram emtorno do Anel Rodoviário,em Belo Horizonte. Partedesses recursos será repassa-da à Companhia Urbaniza-dora de Belo Horizonte

(Urbel) após a assinatura deum Termo de Compromisso,aguardada para os próximos30 dias. Do total, R$ 250milhões vão ser usados peloórgão municipal no paga-mento de indenizações,planejamento e construçãode moradias populares paraabrigar as famílias realocadase, os outros R$ 50 milhõesrestantes, serão investidosdiretamente pelo Dnit naaquisição de cerca de 200 milmetros quadrados de ter-renos na capital.

Em Belo Horizonte, outrasobras visando uma melhorinfraestrutura da cidade para aCopa do Mundo de 2014 jáestão planejadas, mas algumasnem começaram. Enquanto aempresa responsável pelasobras do Anel já está definida einiciando os estudos geológicosda região, a Empresa Brasileirade Infraestrutura Aeroportuá-ria (Infraero) divulgou no dia19 maio, no Diário Oficial daUnião, o resultado da habili-tação dos consórcios e empre-

sas concorrentes que partici-parão de licitação para a con-tratação das obras de reforma emodernização do AeroportoInternacional de Confins.

Sete empresas foramhabilitadas e a previsão divul-gada pela Infraero é que asobras em Confins comecemainda no segundo semestredeste ano. Segundo a empre-sa, o custo total das obras éestimado em R$ 237,8 mi-lhões.

A expectativa de iníciodessas obras ainda no segundosemestre não está sendo acom-panhada pelos demais órgãos.O Governo Federal chegou aanunciar planos de entregar oespaço à iniciativa privada, masvoltou atrás ao perceber quenão haveria tempo hábil. Setudo correr bem, conforme pre-visões da Infraero, pelo menosmetade da obra será entregueaté 2014, o que fará com que oaeroporto opere 25% acima desua capacidade atual.

Roseli Dias já precisoureconstruir por seis vezes omuro de sua casa. Moradorahá 21 anos da Vila Aldeia,localizada no entorno doAnel Rodoviário, nas pro-ximidades da AvenidaAntônio Carlos, ela teve suacasa atingida por carros quese envolveram em acidentes."Da última vez, foi um ca-minhão enorme que invadiuminha casa. Graças a Deus,ninguém saiu feriu", diz.

Apesar dos inconvenientes,Roseli, que é chamada de Pretapor seus vizinhos, não gostariade deixar a vila. "A gente nãoquer sair daqui, porquemoramos perto do centro da

cidade, do comércio. Se a gentenão tem dinheiro para pegarônibus, a gente vai a pé. Alémdisso, não queremos ir paraapartamento. Tenho passari-nho, planta, cachorro, cinco fi-lhos e cinco netos morandocomigo. É menino demais paraum apartamento pequeno".Funcionária pública, ela tra-balha como serviçal de umaescola estadual e faz faxinaspara complementar a renda.Ao todo são R$ 630 pormês, que servem para o sus-tento da família. Deixar olocal significaria tambémperder a clientela e morardistante do trabalho.

Avisada há cerca de três anos

sobre a possibilidade de remoção,Roseli diz aguardar um posiciona-mento da prefeitura, uma vez quenunca foi procurada para tratardo assunto. "A Prefeitura veio aquie numerou todas as casas. Depoisdisso, acompanhamos as coisaspela televisão. Não sabemos demais nada", explica.

Mesmo sabendo da ilegali-dade da ocupação, a fun-cionária pública questiona edesafia a Prefeitura. "A ocu-pação é ilegal? É! Nós invadi-mos? Sim! Mas agora eles jános deram coleta seletiva delixo, TV e até mesmo internet.Que tivessem nos tirado daquiantes. Agora, vamos lutar. Nãovamos sair daqui!", garante.

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6 CidadeJulho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MEIO-PASSE ESTUDANTIL SAI DO PAPELn

ALINE SCARPONI, ANA LUISA AMORE, DANILO GIRUNDI, ISABELLA LACERDA,STEFÂNIA AKEL,7º PERÍODO

A estudante AdriannaDiniz, de 16 anos, atravessa osbairros Grajaú e Gutierrez a péaté a Escola MunicipalMarconi, onde estuda, noBairro Santo Agostinho,Região Centro-Sul de BeloHorizonte. Ela já fez o cadastropara receber o benefício domeio passe, mas como suafamília não recebe auxílio deprogramas sociais da Prefeiturade Belo Horizonte (PBH), nãotem preferência para receber ocartão que autoriza o paga-mento de metade do valor dapassagem do ônibus.

O cadastramento para oAuxílio Transporte Escolar, oumeio-passe estudantil,começou em março, depois deter projeto de lei aprovado naCâmara dos Vereadores e san-cionado pelo prefeito MarcioLacerda (PSB). No entanto,até o início de julho, 2635estudantes requisitaram obenefício. O primeiro lote decartões, um total de 1368, jáforam distribuídos, enquantoo restante está em processo deanálise

Segundo o assessor dogabinete de Políticas Sociaisda PBH, Paulo Brescia, ospróximos lotes serão disponi-bilizados de acordo com ademanda e com as possibili-dades da Prefeitura. "Temosum orçamento de R$ 4 mi-lhões para o meio passe.Como não podemos atendertodo mundo, a preferência éde quem resida a mais de 1mil metros da escola e dequem seja beneficiário de pro-gramas sociais. Mas isso nãosignifica que os outros estu-dantes não possam se cadas-trar".

Além desses diferenciais, omeio passe é destinado aosestudantes do Ensino Médioque estejam matriculados efrequentes em escolas da redepública da capital. Apesar denão ter preferência para rece-ber o meio passe, a jovemAdrianna tem esperança de

conseguir retirar o seu cartão.Sem o benefício, ela teria quepagar R$ 4,90 por dia parapegar um ônibus até a escola,o que pesaria no orçamentoda família. "Para mim, o meio-passe seria perfeito, porquepegaria um ônibus próximode onde eu moro e desceriaem um ponto em que andariasó dois quarteirões", afirma aestudante.

Apesar de considerarem asanção da lei que estabelece omeio passe na capital uma con-quista, representantes daAssociação Metropolitana dosEstudantes Secundaristas deBelo Horizonte (Ames-BH)afirmam que o benefício ainda érestrito e insuficiente. "Éextremamente importante quetodos os estudantes de BeloHorizonte sejam atendidos poressa lei, assim como ocorre emgrandes cidades", ressaltouGladson Reis, presidente domovimento.

DESCONHECIMENTO A tam-bém aluna da EscolaMunicipal Marconi, MarinaGregório, 17 anos, é um exem-plo de estudante que poderiase cadastrar para usufruir domeio passe, mas ainda não ofez. Ela explica que não sabequais os critérios da Prefeiturapara a escolha de quem rece-berá o benefício. "Quando foiaprovado, vi muitas notíciasna televisão, mas ainda não seise tenho direito. Imagino quenão terei, pois não faço partede família que recebe ajuda dealgum programa social", afir-ma.

Marina ressalta que, assimcomo ela, outros colegas deescola não sabem ainda comofuncionará o cadastro. "Acheique essa é uma medida queexclui estudantes, ainda maisse considerarmos que as esco-las municipais normalmentesão próximas de ondemoramos, ou seja, é bemcapaz que existam estudantesque morem a menos de umquilômetro da escola. Achoque isso poderia estar sendomais divulgado, principal-mente dentro das salas deaula", comenta.

A pouca divulgação domeio passe e o desconheci-

mento dos estudantes sobrecomo fazer o cadastro é oargumento utilizado porGladson Reis para justificar opequeno número de alunosinscritos no programa.Segundo ele, além da restriçãodo benefício – a PBH afirmaque só pode atender o máxi-mo de 10 mil estudantes emtoda a capital –, a prefeituranão tem feito sua parte nadivulgação do direito.

"Nossa estimativa é de queexistam pelo menos 150 milalunos que precisam ter acessoao meio passe. Acho que temhavido pouco esforço daprefeitura em tornar o benefí-cio conhecido pelos alunos. Aprefeitura, inclusive, teminformado em suas propagan-das que, para ter direito, é pre-ciso ser beneficiário de progra-mas sociais, mas a lei aprova-da na Câmara dos Vereadoresdetermina apenas que essaspessoas terão prioridade",argumentou.

EVASÃO Embora a lei queconcede o meio passe excluagrande parte dos estudantes, ainiciativa representou umavanço em relação àdiminuição da evasão escolar,de acordo com a psicopeda-goga Célia Rabello. "O meiode transporte é uma dasrazões que contribuem para aevasão. Muitos estudantesdeixam de ir à escola porque élonge, porque não têm di-nheiro para pagar ônibus ouporque preferem gastar essedinheiro com alimentação oulazer. A aprovação do meio-passe estudantil já é um passoque BH está dando para con-tribuir com a diminuição daevasão escolar", afirma Célia.

Psicopedagoga de umaescola particular da capital,Célia reconhece que a leiexclui muitos alunos, masassume uma postura otimistaem relação ela. Para Célia,serão 10 mil estudantes queterão um incentivo a maispara irem à escola. Ela acre-dita ainda que na possibili-dade de haver uma extensãodo benefício para mais estu-dantes.

Cartões que permitem aos estudantes pagar meia passagem de ônibus já foi distribuído

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LAURA DE LAS CASAS,4º PERÍODO

São pessoas comoBemvindo Pinto Filho, 72anos, que se beneficiam como programa da Prefeitura deBelo Horizonte Armazém daRoça. No seu dia a dia, alémde cuidar do serviço da roça,o aposentado divide o trabal-ho de produção de docescaseiros com toda a família."Enquanto minha mulher,minha sobrinha e minha filhafazem os doces, eu saio paravender nas cidades grandes",explica. Por fazer parte deuma das associações de agri-cultura familiar de sua cidade,Santa Luzia, RegiãoMetropolitana de BeloHorizonte, seus doces são le-vados para a capital mineira evendidos na rodoviária, ondeo projeto acontece, de segun-da a sexta-feira. Ele conta queantigamente a demanda era

maior. "Hoje em dia eles nãoestão pedindo tanto doce,vendo muito mais quandovou pra feirinha no centro dacidade", conta.

A administradora do proje-to, Beatriz de Castro, explicaque houve mesmo diminuiçãonas vendas do Armazém,desde que mudaram o pontode venda, que antes era na ruaEspírito Santo. "Aqui no segun-do andar da rodoviária é ruimporque ninguém nos vê, aívendemos pouco", acrescenta.Para reverter a situação, aPrefeitura já está em busca denova localização para realizar ocomercio, algum lugar quetenha maior visibilidade eonde transitem mais pessoas.

Quando ainda era prefeitode Belo Horizonte, em 1996,Patrus Ananias criou o projetocom o objetivo de incentivar oprodutor rural, trazendo suasmercadorias para serem vendi-das na capital mineira. O proje-

to perdura até hoje e ajuda cercade 800 pequenos produtores detodo o interior de Minas Geraiscomercializando doces, bis-coitos, e produtos artesanais decidades como Bom Jesus doAmparo, Nova Porteirinha,Ponte Nova e Resende Costa.

A parceria que sustenta oprojeto é entre a Prefeitura deBH e as 25 associações de agri-cultura familiar espalhadaspelo interior de Minas Gerais.Elas se encarregam de mandaros produtos para a capital. Emtroca recebem o dinheiro davenda, que é repassado paracada produtor por meio dasassociações. A prefeitura nãotem lucro nenhum, pois nãotem comissão embutida nospreços. "É um incentivomesmo, não visa nenhumoutro tipo de ganho", explica aconferente de mercadoriasViolanta Godoy.

Para aumentar as vendasdos produtos oferecidos,

Ronaldo Adriano Machado,também conferente de mer-cadorias, acredita que seriainteressante investir na divul-gação do projeto. "Foi divulga-do no jornal dos ônibus, porexemplo, mas passaram infor-mações erradas, falando quetínhamos verduras e queijos,e não temos, mas acho quedivulgar dessa forma é ótimo,porque as pessoas procurammais", explica.

Enquanto não for definidooutro ponto de venda, oArmazém da Roça continuano mesmo lugar, onde é pos-sível comprar produtos quevariam de um a R$ 500, omais caro deles. Além de gulo-seimas, é fácil encontrarcolchas bordadas e outros tan-tos artesanatos que traduzema cultura mineira em cadadetalhe. "É importante incen-tivar esse tipo de trabalho,para que ele não se perca, paraque se valorize", diz Beatriz.Ronaldo Machado lamenta a escassez de compradores para os produtos

Vendas no Armazém da Roça caem após mudançaRENATA FONSECA

Gionanni GomesLeocadio é estudante doterceiro ano do ensinomédio da Escola EstadualÁlvaro Loureano Pi-mentel, do bairroCardoso. O jovem de 17anos quer prestar vestibu-lar para direito no final doano e, além de sofrer como desestímulo dos profes-sores dentro da sala deaula, muitas vezes, aindaprecisa andar 30 minutosa pé da escola para casa.Isso após trabalhar doisperíodos na AssembléiaLegislativa de MinasGerais e estudar a noite.

O problema deGionanni é amenizadocom uma parceria entresua escola e uma institu-ição bancária. O estu-dante pode pegar oônibus da empresa às22h30 e ir para casa. Oitinerário é grande, e, por

causa disso, ele demora achegar em casa. "Se eupudesse usufruir do meio-passe, eu levaria apenas10 minutos de ônibus daminha casa para a escola enão 35, como gasto todosos dias”, afirma.

A história de Stefanni deOliveira não é muito dife-rente, embora ainda maisonerosa. Os pais da meninaprecisam dispor de R$ 200do orçamento mensal parapagar a van que leva a garo-ta e mais dois irmãos para aEscola Municipal JoãoPinheiro. A estudante nãochega a morar muito longeda escola, mas conta queencontra dificuldades notrajeto. "Ir para a escola a péé muito difícil, porque temmuito morro", descreve.

Mas mesmo quem seesforça e consegue pagarum transporte especialpara levar as crianças para

a escola não pode ficartranquilo. "O problemado escolar, além dopreço que meu pai temque pagar, é que muitosdias a van não passa,então eu acabo perden-do a aula nesses dias ouchego muito atrasada",conta Thaís Farias,aluna do 4º ano doEnsino Fundamental.

Diretora há 16anos da Escola MunicipalJoão Pinheiro, Ana MariaMiranda ressalta aimportância da ampliaçãodo meio passe para alunosdo Ensino Fundamental.Segundo ela, só na escola emque trabalha são 900 alunosque, embora necessitem,não poderão se cadastrar noprograma. "É fundamentalque a prefeitura se esforce.Em termos de política públi-ca o meio passe é muitoimportante", acredita.

Benefício não vale para todos

ISABELLA LACERDA

O benefício do meio-passe não atinge, por exemplo, alunos do ensino fundamental de escolas públicas de BH

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7CidadeJulho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

RODOVIÁRIA DE BH É PALCO

PARA GRANDES HISTÓRIAS

A bagagem de quem

passa pela Rodoviária de

Belo Horizonte está

repleta de histórias fas-

cinantes e lições de vida.

Quem chega e quem vai

leva consigo alegrias,

dores, amores, espe-

rança e religiosidade.

n

JULIA BOYNARD,KENETH BORGES,MARCELA SOARES,MARIA JÚLIA LAGE1º E 3º PERÍODOS

Dormindo entre panose papelões, enquantoesperava o horário doônibus pala levá-la devolta à Santa Maria doSuaçuí, no Vale do RioDoce, Naiara Soares, de17 anos, chamava aatenção das pessoas quetransitavam pelo TerminalRodoviário de BeloHorizonte. Na bagagemda jovem passageira, alémde poucas roupas e objetospessoais, uma história dedecepção, tristeza e sofri-mentos. A maior parte deseus pertences, ficou paratrás, mas segundo ela,nada disso importa, alémda criança que carrega emsua barriga.

"Logo que cheguei aBelo Horizonte comecei anamorar um rapaz. Elesempre foi um poucoagressivo e mantinha rela-cionamento com algumasde suas ex-namoradas, masnada que me incomodasse.Hoje, pela manhã, ele meexpulsou da sua casa",conta a jovem, que havialargado sua cidade natal, a360 quilômetros da capitalmineira, abandonando osestudos, em busca deemprego na cidade grande.

Dramas como o deNaiara acontecem com fre-quência no TerminalRodoviário de BeloHorizonte, por onde circu-lam, em média, 40 milpessoas todos os dias. Umolhar mais atento emdireção aos transeuntespode ajudar a descobrirhistórias fascinantes,mostrando que as pessoasali não carregam apenasmalas, há quadros mis-sionários, dor, saudades,reencontros e paixõesarrebatadoras.

A jovem, que procura ocaminho da volta paracasa no Vale do Rio Doce,admite o desespero doabandono, mas buscaforças no filho para con-tinuar sua vida. "Meu filhoprecisa de mim. Meu filhonão vai ficar sabendo denada disso. Eu imaginavaque o nosso amor seriapara sempre. Eu não consi-go imaginar como vai serdaqui para frente, é tudomuito recente ainda, sósinto a dor da perda", re-vela.

DISTÂNCIAS Masnem tudo são dores. Logoadiante, um jovemapaixonado enfrenta aestrada para rever o seuamor. Igor Pimenta, 21anos, conheceu suanamorada em PortoSeguro, no litoral daBahia, nas últimas férias.Porém, ele não sabia que oseu amor morava a 278quilômetros, em Campos

Altos, na Região do AltoParanaíba. "Passamos 60dias juntos em PortoSeguro e depoiscomeçamos a namorar. Agente se vê quase todasemana. Nós dois temosdisponibilidade para via-jar, embora ela venha maispara BH", conta Igor.

Além da distância, Igorenfrenta outra dificuldade.Marília, sua namorada, é19 anos mais velha e suafamília não aceita esterelacionamento. "A gentesupera essas coisas. Nadavai acabar com nossoamor", relata o jovemapaixonado.

O casal Elineia Silvia,75 anos, e Ronaldo Dias,74 anos, já estão casadoshá 27 anos e também con-vivem com a distância,

porém por opção, já quecada um tem sua casa eseu trabalho em lugaresdiferentes. Elineia, quereside em Niterói, eRonaldo, em BeloHorizonte, garantem queconseguem lidar bem coma situação e acreditam atéque a distância pode aju-dar no relacionamento.

Elineia conta que ocasal consegue tirar deletra essa distância, e comhumor fala que sempreque possível se encontram."Nos vemos de quinze emquinze dias, depende dasaudade e da necessidade",ressaltou.

OPORTUNIDADES Aplataforma da rodoviária,também recebe os passoscansados de quem chega e

vai em busca do tãosonhado emprego. É ocaso de G. S, de 22 anos,que pediu para não seridentificado, que tentou,sem sucesso, encontrar oprimeiro emprego de suavida na capital paulista.Ele estava retornando deuma viagem a São Paulo,onde ficou na casa de suairmã. "A minha ideia eraarrumar um emprego econseguir me manter.Fiquei por lá mais oumenos 1 mês e meio, masnão consegui nenhumserviço", conta o rapaz.

Com a situação aperta-da, ele conta que acaboubrigando com seus fami-liares e foi expulso de casa.Passou por Ouro Branco,onde ficou sabendo deuma vaga, mas não imagi-

nava que para conseguí-la,precisaria de uma indi-cação. Também sem êxito,está voltando para casa."Meu dinheiro acabou,estou indo para casa, semconseguir nada, não tenhonenhum centavo no bolso,o que não falta na minhabagagem é a esperança, elasim é minha compa-nheira", afirma.

Em meio a tantas idas evindas, Gleyson Gomes,22 anos e Flávia Xavier,17, estão em lua de mel.Eles se casaram emCoronel Fabriciano, cidadelocalizada no Vale do Aço,e vieram a Belo Horizontesomente para embarcarpara Natal (RN), onde efe-tivamente passarão a luade mel.

O casal se conheceu na

igreja. Flávia sempre foimuito religiosa, masGleyson não. "Há quatroanos eu havia terminadoum namoro e meu primome convidou para ir à igre-ja, porque eu tava mal. Láeu conheci a Flávia e aospoucos fui gostando dela",relata o marido.

O namoro dos dois nãofoi bem aceito no início,pois, os pais de Fláviaachavam que ela era muitonova e não deverianamorar. Aos poucos elesaceitaram o namoro eficaram muito felizes coma união dos dois.

MISSÃO A religiosi-dade também passou pelarodoviária, Antônio RochaNepomuceno, 48 anos, doPará de Minas, já estácinco meses longe de casa,ele que trabalha comopedreiro, ganhou de ummissionário um quadro deNossa Senhora Aparecida,e desde então o quadro setornou companheiro desuas viagens, por onde elevai, seja a passeio ou aotrabalho o quadro lheacompanha. "O quadro émeu companheiro, na últi-ma obra em que trabalheino Pará, levei comigo, elevo a palavra de Deustambém, esse quadro nãopode faltar na minhabagagem", comentou.

Luis Carlos Ferreira, 59anos, espera seu ônibuspara voltar à sua cidadenatal, Perdões, no Sul deMinas. O trabalho derestauração que realiza ésempre ao lado de seus fi-lhos, um trabalho familiarrealizado com muita dedi-cação. "Eu estava traba-lhando em um teatro pró-ximo a Nova Lima, estavafazendo sua restauração.Aqui em Belo Horizonte játrabalhei na restauraçãoda Serraria Souza Pinto, eo Museu de Arte e Ofício.Eu vou e volto todo fim desemana para Perdões,onde minha esposa mora.Meus dois filhos traba-lham comigo, é tudo bemfamiliar", afirmou.

Segundo Luiz Carlos,quando vem a BeloHorizonte realizar essetipo de trabalho se hospe-da no mesmo lugar em quetrabalha. "Estico umcolchão no chão, ponhoum travesseiro que eu car-rego e descanso bem. Otrabalho é muito cansati-vo, mas fazendo isso há 38anos a gente acostuma, eno final é bem satisfatório.Na minha bagagem car-rego sempre uma meda-lhinha de algum santo,mas em especial NossaSenhora Aparecida",ressaltou.

Igor Pimenta conheceu a namorada em uma micareta. Além da distância de 278 quilômetros que os separam, a família dele não aprova o relacionamento

O casal Flávia e Gleyson casaram-se recentemente e vieram a BH para embarcar para a lua-de-mel. No início, a família dela não aceitava o casamento

FOTOS: RENATA FONSECA

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8jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório do

POSTOS DE SAÚDE DA REGIÃO NOROESTE ENFRENTAM PROBLEMAS DE ESPAÇO n

PEDRO VASCONCELOS, SAMARA NOGUEIRA, TAMARA FONTES,4º E 3º PERÍODOS

A inadequação doespaço físico é um proble-ma que atinge de formacomum aos quatro centrospúblicos de saúde localiza-dos na Região Noroeste eque foram visitados peloMARCO, em junho últi-mo, com o objetivo de seelaborar um retrato doatendimento prestado àcomunidade por essasunidades. Em geral, oatendimento é considera-do bom, pela maioria dosusuários. As queixas,quase sempre, se referem àdemora na marcação deconsultas especializadas,atrasos na distribuição dealguns medicamentos e àfalta de atenção duranteos atendimentos.

Uma situação, noentanto, une os quatrocentros de saúde visitados:a necessidade de ampli-ação física, que é recon-hecida pelos gerentes dasunidades localizadas nosbairros Dom Bosco,Califórnia, Carlos Prates ePadre Eustáquio. Ao con-trários dos demais postos,o MARCO não conseguiuacesso aos responsáveispelo Centro de Saúde doDom Cabral, apesar dasinúmeras tentativas feitas.

Cerca de 300 pessoasutilizam o Centro deSaúde Califórnia para faz-erem consultas, exames ouadquirirem medicamentos.Dentre elas está Irene deMoura, que apesar de elo-giar o atendimento doposto, reclama dos atrasose da dificuldade que àsvezes tem para conseguirmarcar consultas especia-lizadas. No início dejunho, por exemplo, quan-do foi entrevistada, tevede esperar mais de umahora para conseguir mar-car uma consulta para ummês depois.

Outro usuário daunidade, Santos Soares,recebe gratuitamentemedicamentos comoMarevan, destinado à pre-venção de infarto, trom-bose ou acidente vascularcerebral. "O posto é atébom, remédio que é difícilde ter, o Marevan está emfalta. O atendimento tam-bém demora de duas á trêshoras para atender. Agora,quando atende é muitobom, mas precisava demais médicos. É muitagente para pouco medico",afirma.

O gerente do Centro deSaúde Califórnia, An-dersom Mota Costa, queestima em meia hora otempo máximo de esperapara cada consulta, revelaque atualmente sua equipeé composta por 78 fun-cionários. Em sua avali-ação, ela consegue oferecerde maneira satisfatóriatodo o serviço que a comu-nidade precisa. "Nomomento está tranqüilo,vem sendo um trabalhomuito positivo para a

comunidade", garanteAndersom.

Um dos principaisfatores que contribui paraessa situação apontadapelo gerente é a existênciado Conselho local desaúde, responsável porreuniões mensais abertas atoda a comunidade, quetem liberdade para solici-tar acréscimos ou melho-rias nos serviços. O presi-dente da Associação dosMoradores do Califórnia,Antonio Carlos Guerra,elogia o conselho apesarde ter participado apenasde uma reunião. "Areunião é muito bem orga-nizada. Tudo certinho. Eugosto muito do posto, oserviço é muito bom, elesfazem um ótimo trabalho",afirma.

A exemplo dos outrospostos, médicos, enfer-meiros e assistentes sociaisdo Centro de SaúdeCalifórnia são divididosem equipes de saúde dafamília e em equipes deapoio. Nessa unidade, sãoseis equipes de saúde dafamília compostas por ummédico generalista, umenfermeiro, dois auxiliaresde enfermagem e seisagentes comunitários desaúde (ACS), que traba-lham de acordo com aunidade. As equipes deapoio são compostas porum ginecologista, umpsicólogo, um assistentesocial e dois pediatras.

Segundo Andersom, em2010 só existiam cincoequipes de saúde dafamília, mas, como anecessidade da comu-nidade aumentou no ini-cio desse ano foi criadamais uma. Dessa forma, oespaço atual do postotornou-se insuficientepara alocar todos os profis-sionais. "Hoje, eu tenhoseis equipes de saúde dafamília. Então, talvez sejanecessário ampliar umpouco a estrutura física",explica.

Para tentar amenizar oproblema o gerente realizarodízios nas salas desti-nadas a atendimento. "Naverdade, eu consigo fazeruma coisa que a gentechama de rodízio de formaque não atrapalhe a comu-nidade. Eu consigo porexemplo deixar o profis-sional atendendo em umasala sem atrapalhar acomunidade", contaAndersom.

CARLOS PRATES A insufi-ciência do espaço físicotambém se faz presente noCentro de Saúde CarlosPrates, localizado no bair-ro de mesmo nome, que aexemplo do Califórnia,apresenta ambiente limpo,arejado e organizado. São60 funcionários. que sedividem em apenas duasequipes de saúde dafamília e outras de apoio,atendendo também acerca de 300 pacientes pordia.

"Esse espaço físicoatualmente é insuficienteporque o Centro de Saúde

Carlos Prates cresceumuito desde que foi inau-gurado em 2005. No iní-cio tinha um medico clini-co e uma equipe de saúdeda família. À medida que otempo foi passando agente foi vendo que o riscoé baixo mas não é tãobaixo assim", afirma a ge-rente Maria CristinaVasconcelos.

Ela se refere ao nível devulnerabilidade social dasua área de atuação. "Oterritório de abrangênciafoi classificado em 90% desua área como sem risco.Então, a nossa área derisco é só a vila sãoFrancisco. Área de médiorisco próximo a EscolaEstadual Padre Eustáquio.Por isso, não sãonecessárias tantas equipesda família", explica MariaCristina Vasconcelos.

Os filhos de Aparecidade Souza dependemmuito do serviços presta-dos pelo posto e ela recla-ma que além de ter queesperar horas para serconsultada, o atendimen-to não é de boa qualidade."Hoje, eu vim trazer oRafael para a consulta.Quanto mais demora aconsulta mais demora oretorno. Fiquei esperandomais de três horas para seratendida, e o atendimentoé péssimo, eles não con-sultam a gente direito",desabafa Aparecida.

Esta opinião é compar-tilhada por Maria doCarmo Porto que estáfazendo um tratamentono seio desde janeiro, mas,por causa da demora paramarcar as consultas aindanão conseguiu terminar."Geralmente eu demorouma hora para ser consul-tada. Hoje eu vim tirarpressão, mas, estou fazen-do um tratamento porcausa de um nódulo noseio e não terminei aindaporque não consegui serconsultada. Não gostomuito do atendimentoaqui, eles na dão muitaatenção para agente",conta Maria doCarmo.

A gerente do posto,entretanto, explica que ademora no agendamentode consultas varia con-forme o caso. "Depende dotipo de exame. Se for umexame laboratorial nósnão agendamos, a pessoavem de manhã realiza semfila de espera. Já emUltra-som e consultasespecializadas as pessoasprecisam de hora marca-da", ressalta.

Maria Cristina Vas-concelos ainda acrescentaque em relação ao tempode atendimentos doisfatores são levados emconsideração, o primeiro éa gravidade da situação e ooutro horário que a pessoabusca atendimento.Normalmente o tempo deespera pela manhã émaior, já que neste perío-do são realizadas as con-sultas de urgência.

A farmácia do Centro de Saúde Carlos Prates não enfrenta ificuldades para fornecer medicamentos de forma gratuita para moradores do bairro e regiões próximas. A condição financeira não é pré-requisito para a aquisição dos remédios

Pacientes do Centro de Saúde Califórnia aguardam atendimento de consultas programadas no período da tarde

FOTOS: RENATA FONSECA

[ ]“NA VERDADE, EU CONSIGO

FAZER UMA COISA QUE A

GENTE CHAMA DE RODÍZIO

PARA NÃO ATRAPALHAR A

COMUNIDADE.” ANDERSON MOTA COSTA

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Especial Saúde 9Julho • 2011docursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório

ESTE ENFRENTAM PROBLEMAS DE ESPAÇO

A inadequação doespaço físico tambématinge o Centro de SaúdeDom Bosco, onde onúmero insuficiente deconsultórios prejudica oatendimento. Gerente dolocal há dois anos, ÂngelaParrela, acompanha o tra-balho de 85 funcionáriosque fazem parte daequipe no prédio atual,inaugurado há seis anos."É um centro que temuma equipe robusta, ape-sar da área muito peque-na", conta.

O Centro de saúdeabriga quatro equipes desaúde da família, duasequipes de saúde bucal,16 Agentes Comunitáriosde Saúde (AGS), noveAgentes de Controle dePandemia, oito profis-sionais agregados àequipe de Apoio à Saúdeda Família (NAF) e estag-iários da PUC na área deenfermagem e odontolo-gia. "Só uma equipe,Saúde da Família, faz

atendimento da demandaespontânea na parte datarde. Na parte damanhã, que a demanda émaior, além das consultasprogramadas, temosmédicos de apoio tam-bém, ginecologista, pedi-atra, clínico", explica.

Como há demora nosatendimentos, a gerentedo Centro afirma que amedida a ser tomada deveser o direcionamento doatendimento das equipesàs pessoas que chegamcom enfermidades gravese problemas agudos. Asoutras pessoas que procu-ram renovação de receita,agendamento para outrotipo de consulta especial-izada, um outro tipo denecessidade, e conversarcom as equipes por outrosmotivos, devem aguardare seguir a ordem de chega-da.

Luiz Oliveira acompa-nha sua filha em umaconsulta e afirma estarsatisfeito com o Centro.

"Temos que saber esperar,há muita demanda naparte de atendimento epouca na prevenção, massomos bem atendidos enão temos o que recla-mar", afirma.

O sentimento de bemestar é destacado tambémpor Helena Christina daCosta, 80 anos, moradoras do bairro há 10 anos,que garante sempre tersido tratada com respeitoe carinho pelos fun-cionários. Semanalmentea moradora precisa refaz-er curativos nos pés e diznão ter nem uma queixa."Não tenho nada prareclamar, eles sempre meatendem rápido e commuita gentileza, eu sóposso agradecer, só tenhoque falar bem daqui", afir-ma.

Por ser uma região quepossui uma grande quan-tidade de moradores ido-sos, a demanda se dire-ciona a problemas carac-terísticos ao tipo da popu-lação, como problemas depressão arterial e dia-betes. Ângela elogia osequipamentos e profis-sionais como qualificadosao atendimento dosusuários.

Faltam consultóriosno Dom Bosco

ta para moradores do bairro e regiões próximas. A condição financeira não é pré-requisito para a aquisição dos remédios

A paciente Helena da Costa aguarda o momento de sua consulta para refazer o curativo no pé no posto Dom Bosco

Moradora do DomCabral, Joana Maria dasGraças, 57 anos, sofre comconstantes dores nacabeça, revela que emcasos de urgência prefereprocurar o Centro deSaúde do Padre Eustáquio,mais distante de sua casa,do que a unidade de seubairro. "Lá eles atendemmais rápido e com maiscarinho, não tem comoprever quando eu vou tercrise, eu preciso do atendi-mento rápido, e no postodo Dom Cabral eles ficamfalando para marcar con-sulta", justifica.

O gerente do PadreEustáquio, RodrigoOtávio, explica que casoscomo estes são comuns,mas devem ser evitados."A nossa área de abrangên-cia é o bairro PadreEustáquio, apenas emcasos de urgência aten-demos pessoas de outrasregiões. Este tipo de caso érecorrente, a gente procu-ra orientar as pessoas aprocurarem um posto desaúde mais próximo dasua residência", afirma.

Rodrigo avalia comopositivo o serviço aliprestado. "A gente temdado conta. As equipesestão completas, médicos,enfermeiros e pediatras",diz. Ele credita o sucessodo posto a coesão de suaequipe. "Em alguns postosa contratação é mais com-plicada e a rotatividade émaior. Aqui também existeuma rotatividade mas emmenor escala, não sofre-mos carência de profis-

sionais como em outrospostos. O diferencial doposto é a estabilidade daequipe, dos funcionários,da organização, e um rela-cionamento com um olharmais carinhoso para opaciente", acrescenta.

A equipe do Centro deSaúde Padre Eustáquio éenxuta, sendo compostapor quatro médicos gene-ralistas, um ginecologistaum clínico geral, um pedi-atra e um médico psiquia-tra. Rodrigo Otávio tam-bém considera pequeno oespaço físico e admite queisso gera algunstranstornos para ospacientes.

Foi o caso de MariaFilomena dos Santos, 57anos, que sofria com doresde cabeça e febre, comonão tinha hora marcada,teve que perder duastardes de trabalho para seratendida. "Demoroumuito e quando a genteconsegue ser atendida elesfazem uma consulta tãorápida, que eu duvido quedê para diagnosticar qual-quer doença", afirmaMaria Filomena. Ela contaque também enfrentoudificuldades para retirar oremédio receitado na far-mácia do posto. "Pareceque tem dois dias que opessoal está fazendo umcurso e eu não consigotirar este remédio", diz.

Rodrigo diz que nuncahouve uma falta genera-lizada de remédios no cen-tro. "A gente tem tido umabastecimento regular,normalmente acontece de

um ou outro medicamentofaltar, não tem nem umremédio específico quefalte mais não", observa. Ogerente ainda explica queneste caso não houve faltade remédios ou de profis-sionais, pois nas quartas-feiras a farmácia do postofica fechada para balanço.

Em relação à demora notempo do atendimento deurgência o gerente reco-nhece a necessidade daconstrução de um con-sultório de enfermagem."A gente não tem o con-sultório de enfermagem,este é o maior problemado posto. Este consultóriotornaria o atendimentomais dinâmico, mas estetipo de obra se tornainviável para o espaço físi-co do centro", conclui.

O atendimento doCentro de Saúde DomCabral gera opiniões diver-gentes. O marceneiroCláudio José Soares, 48anos, garante que a suaespera por uma consulta jádura dois meses. "Ninguémpode esperar este tempotodo para ser atendido não,prefiro ir em outro lugar",conta o marceneiro, quediz sofrer de problemascardíacos. Segundo ele,para exercer sua profissão,depende diretamente doaval de um médico.

Por outro lado, JéssicaSousa, 27 anos, garanteque o atendimento noposto, localizado no DomCabral, é excelente."Tenho um filho recém-nascido e eles sempreatendem na hora, devehaver alguma prioridade",afirma. A administraçãodeste Centro de Saúdenão respondeu às solici-tações de entrevistas feitaspelo MARCO.

Atendimentodivide opiniões

[ ]“É UM CENTRO QUETEM UMA EQUIPE

ROBUSTA, APESAR DAÁREA PEQUENA”

ANGELA PARRELA

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10 SaúdeJulho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

n

FERNANDA MELO

MARCELA SECCHES,2º PERÍODO

"Saí do meu trabalho efui beber. Aí eu encontreioutros amigos meus. Bebimais e mais. Aí falei assim:já chega. A noite já 'deu'!Era meia-noite de um sába-do. Peguei um táxi no meioda rua, cheguei na minhacasa, abri minha carteira,não tinha dinheiro prapagar. Falei pro moço passarem um caixa eletrônico, queeu ia sacar dinheiro. Últimalembrança da noite. Depoisdisso, me lembro acordandonuma sala branca noHospital João XXIII, comcinco pessoas de branco aomeu redor", relata JúliaCampos, 20 anos, estu-dante de Ciências Sociaisque, após haver bebidoexcessivamente em umanoitada com os amigos, nãose lembra que fora atropela-da por um veículo em altavelocidade no momento emque atravessava a rua.Quando acordou, atônita econfusa, ao ver sua meia-calça toda rasgada e semsaber o que havia aconteci-do, perguntou aos profis-sionais do hospital se haviasido estuprada.

Esse é um exemplo deum caso de amnésia, queocorreu na véspera da finalda Copa do Mundo de2010, decorrente do abusono consumo de bebidasalcoólicas. A estudante rela-ta que tem consciência dosriscos e consequências quesofreu. "Graças a Deus eunão morri. Fiquei um mêsde cama, três semanas como pescoço imobilizado e, atéhoje, necessito fazerfisioterapia, porque tenho omenisco rompido e um liga-mento atrofiado", diz.

Da mesma forma, a jor-nalista Pollyanna de BarrosSilva, 25 anos, vivenciou,também, no ano passado,quando morava na Irlanda,uma situação de amnésiaalcoólica. Era halloween ePollyanna ingeriu, junta-mente com algumas amigas,uma garrafa de vinho eoutra de vodka russa pura.Fazia frio, temperaturaabaixo dos 6º C. Após ir aoterceiro pub, a jornalistacomeçou a sentir um calorabsurdo e começou a correr.Não se recorda de comosaiu do pub e nem a formacomo atravessou a avenida.Só adquiriu consciência nomomento em que se viupendurada na grade de umrio, passando muito mal,sem conseguir sair e semnada enxergar. Pollyannaafirma que quase morreu,não fosse um desconhecidoirlandês ter aparecido paraajudá-la. Completamenteembriagada, ela pouco serecorda de como saiu dagrade. Acrescenta que, apóster saído da grade, andoupor lugares que não se lem-bra e que, decorridas algu-mas horas, um outrodesconhecido a acordou naporta de uma loja. "Não melembro de como chegueinesse lugar, nem de haverdormido. Só sei que meacordaram", relata.

Também em decorrênciado excesso no consumo debebida alcoólica, um estu-dante de engenhariamecânica, de 21 anos, que

não quis se identificar, nãose lembra do risco que cor-reu, quando pulou de umtrio elétrico em movimento,durante um carnaval forade época, nas férias dejaneiro, em Cabo Frio.Ingerindo bebida alcoólicadesde o meio-dia, às 20h,ele foi sozinho para ocamarote do Cabo Folia,onde tinha bebida alcoólicaliberada durante toda anoite. Embora em determi-nado momento tenha sesentido mal, continuoubebendo e, já bastanteembriagado e sem creden-cial de acesso, conseguiuentrar no trio elétrico do'Jamil e Uma Noites'.Quando os segurançasnotaram a sua presença,seguraram-no pelo braço,para o retirarem do trio. Aodescer para o andar inferior,

o estudante lançou-se pelajanela para fora do trioelétrico, caindo brusca-mente no chão. No intuitode fazê-lo reagir, ele contaque seus amigos batiam emseu rosto e queimavam-nocom isqueiros. No entanto,ele não se lembra de nada.Apenas se recorda de haveracordado no dia seguinte,na porta da casa de umamigo, por volta das 11h,muito machucado e commarcas de queimadura pelocorpo.

EXPLICAÇÃO A neurolo-gista Cláudia Tavares deSouza explica que o álcoolatua no sistema nervoso deduas formas. Em umprimeiro momento, age demaneira excitante e, emseguida, de forma sedativa.E ela acrescenta que, depen-

dendo do teor alcoólico dabebida ingerida, distintasreações são provocadas nosistema nervoso. Primei-ramente, o álcool age no sis-tema reticular ascendente,que é uma formação cere-bral situada no tronco e vaipercorrendo algumas vias,que desembocam no sis-tema límbico, que é a regiãodo hipotálamo. Segundo aneurologista, a região dosistema límbico é respon-sável pelas emoções eprovoca alguns bloqueios."Realmente as pessoas têmalguns lapsos, esquecimen-tos. É muito comum umapessoa não se recordar defatos recentes, coisas queela fez, porque o álcool atra-palha a fixação da memórianaquele momento", afirma.

De acordo com o médicopsiquiatra Domingos LopesFurtado, a amnésia alcoóli-ca existe e é bastantecomum, quando se tem umconsumo frequente eexagerado de bebidas

alcoólicas. "É um efeito fisi-ológico e, por vezes, o indi-víduo não se recorda dasbobagens que falou e doque fez. Mas, há aquelesque se lembram, mas dizemnão lembrarem de nada",ressalta.

Segundo a psicólogaclínica Natércia AcipresteMoura, a maioria das pes-soas que relata a amnésiaalcoólica não está inventan-do. "Apesar de alguns ques-tionamentos quanto àveracidade do esquecimen-to, já se sabe que isso defato pode acontecer e a pes-soa que bebe em excessocorre realmente esse risco. Écomo um apagão tem-porário, em que a pessoa,apesar de conversar erealizar algumas tarefas,posteriormente não se lem-bra de nada", diz.

MOTIVOS A psicólogaafirma, ainda, que a maioriadas pessoas justifica o con-sumo excessivo de bebidascomo forma de esquecer osproblemas Algumas vezes,acrescenta, a justificativapara a bebida em excesso éa comemoração de algumfato especial, tendo, assim,uma conotação "positiva"."O que observo na minhaprática é que a maioria daspessoas que bebe em exces-so, na verdade, não con-seguem saber ao certo omotivo e acabamos por verum grande vazio existen-cial", relata Natércia.

Quanto a esta questão,Domingos Furtado salientaque o pior momento para sebeber é quando a pessoaestá com problemas. " Apessoa pode beber umpouco para comemorar umfato: a vitória de um clube,um novo emprego, umexame de saúde bem sucedi-do. Mas, buscar a soluçãodos problemas no álcool éum grande perigo. Além deagravar a situação, a pessoaficará exposta a múltiplosperigos de vida", explica.

Segundo ele, o excessode bebidas, em qualquerocasião, pode levar a com-portamentos inadequados,visto que o álcool é umasubstância psicoativa.Eventos violentos, comobrigas e acidentes de trânsi-to, e que representam riscosà saúde, como relações sex-uais sem proteção eexposição de riscos, ocor-rem com maior frequência",afirma.

Foi o que aconteceu comuma analista ambiental, de29 anos, que não quis seidentificar. Ela relata quebebeu muita vodka em umafesta e misturou vários tiposde drinks. Por volta das 05hda manhã, muito embriaga-da, recorda-se somente dehaver manifestado o desejode ir embora com um con-hecido e de alguns flashesde ambos dentro do carro edo caminho para o motel.Acordou ainda bêbada esem roupa, na cama domotel, confusa por não selembrar do modo comotudo aconteceu e muito pre-ocupada pelo fato de nãoterem usado preservativos.

[ ]“DEPOIS DISSO SÓ MELEMBRO ACORDANDO

EM UMA SALA BRANCANO HOSPITAL JOÃO

XXIII”JÚLIA CAMPOS

[ ]“O ÁLCOOL

ATRAPALHA A

FIXAÇÃO DA MEMÓRIA”CLÁUDIA TAVARES

DEPOIS DE UMA DOSE VEM A AMNÉSIAJovens que exageram na quantidade de bebibdas alcooólicas, muitas vezes precisam lidar

com os contrangimentos e com os transtornos decorrentes de um possível esquecimento

O estudante Caio Cézar, sob o efeito do álcool, já passou por situações engraçadas e não se lembra do que fez.

MARIA CLARA MANCILHA

Passados os riscos decor-rentes da ingestão de bebi-da alcoólica, ficam tambémhistórias dignas de umroteiro de filme de comédia.É o que relata o estudanteCaio César FernandesCastelhano, 21 anos, sobreum dia em que foi à BoateVelvet, na Savassi e bebeumuito. E quando acordou,no dia seguinte, sem chave,todo sujo, tinha um pé dealface do lado de sua cama.E após checar que ninguémna sua família havia abertoa porta pra ele, constatouentão, que havia pulado omuro. Caio não se recordade nada.

"Eu acho que eu descilonge de casa e provavel-mente roubei o alface emalgum lugar. Pode ter sido

na feira do Padre Eustáquioque tem perto de casa, daípulei o muro segurando oalface. E o pior é que temfoto minha dormindo e o péde alface do lado." O estu-dante declara que osesquecimentos acontecemquase toda vez em que bebeem excesso. "Eu sempre façoisso e não aprendo. Acordono outro dia e me pergunto:'onde estou? O que eu fizontem?'", afirma.

O estudante disse, tam-bém, que certa vez, bebeutanto que tirou a roupa nafrente da boate, ficou só decueca e tênis. "Eu saí cor-rendo no meio da rua, subino muro de uma construçãoe cismei que tinha um potede ouro lá dentro. Eu queriapegar meu pote de ouro e o

pessoal correndo atrás demim, me puxando no muro,mandando eu sair", relem-bra, entre risos.

A história da estudanteJúlia Campos também járendeu gargalhadas. Elaconta que saiu de casa cedopara encontrar os amigos ebeber. Como sabia que nãoia voltar em casa tão cedo,levou o salto alto na bolsa.No dia seguinte acordoucom um machucado nobraço e não se lembra doque aconteceu. "Quando euabri a minha bolsa no diaseguinte, lá tinha um ham-búrguer, três latas de cerve-ja e o meu sapato de salto!(Risos). Não entendi nada",acrescenta.

Quem viu não se esquece

Quem bebeu não se lembra

Não é difícil perceberque quem alega ter tido lap-sos de memória depois deexagerar na ingestão debebida alcoólica, aindaassim, tem histórias paracontar. Isso porque, apesardos lapsos, eles ficamsabendo dos detalhesatravés de amigos e/ou ter-ceiros. Como a história deLeandro França Pontes, de40 anos, que conta quecerta vez esteve em um barque tocava MPB e um dosseus amigos, que estavamuito bêbado, ficou flertan-do com uma mulher. Mas,no final da noite, elesdescobriram que essa mul-her era um travesti. "Eufiquei zoando o meu amigono dia seguinte, mas ele

disse que não se lembravade nada", conta.

Situação parecida viveuum estudante de 21 anos,que pediu para não seridentificado, quando, apósbeber duas doses de vodka,meia garrafa de catuaba evárias cervejas, teve ochamado "blackout" e nãose lembra de nada do quefez durante a noite. Ficousabendo do que havia feitoatravés de sua amiga, quelhe contou toda a história."Ele começou a correr nomeio da rua, pedindo praser atropelado, porque SUSé serviço público e é degraça, e ele gritava pedindopra ser atropelado. Tirou otênis e ficou jogando proalto. Não queria ir embora

pra casa de jeito nenhum.Cheguei 8 horas da manhãem casa por causa dele,"lembra a amiga.

Taxistas e seguranças decasas noturnas tambémpresenciam, frequente-mente, cenas de pessoasmuito alteradas. "Pegueiuma moça num bar que foijogada no meu carro, literal-mente, pelos amigos. Eladesmaiou no meu carro,apagou. Por coincidência,umas três semanas depois,eu até atendi um amigodela e ele falou que real-mente ela não se lembravade nada. Ela não sabe comochegou, quem levou”, afir-ma o taxista WallissonDuarte da Silva.

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11EconomiaJulho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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GABRIEL DUARTE,LILA GAUDÊNCIO,LÍVIA ALEN,LUIZA SOUSA,SÍLVIA ESPESCHIT,7º PERÍODO

Há oitenta e cinco anos morreuHarry Houdini, um dos mágicosilusionistas mais famosos dahistória. Nascido em Budapeste,na Hungria, ele foi para osEstados Unidos aos quatro anos.Além de ilusionista, foi perfuradorde poços, fotógrafo, contorcionistae trapezista. Números nos quais selibertava de algemas, correntes ecadeados, dentro de caixas ou detanques, foram os reponsáveis porseu sucesso no mundo da ilusão.No Brasil, a mágica se integrou àcultura nacional, e são muitos osprofissionais que se dedicam aessa arte, seja como única fonte derenda ou como complemento deoutra profissão, assim comoHoudini.

George Henrique Rubadel seformou em administração, mastrocou a calculadora pela varinhamágica e as planilhas pelas cartasde baralho. Agora, vive de truquesde ilusão: há 11 anos é mágicoprofissional. Aos 19 anos, Rubadeldecidiu virar mágico, antes disso,nunca tinha sonhado com essaprofissão na infância. Ele semprepensou nessa arte como umaprofissão, então fez cursos, assis-tiu a palestras, participou de con-gressos e se formou mágico peloCentro Cultural de Artes Mágicas(Cecam). Cinco anos depois decomeçar a fazer mágicas, pôdedeixar a carreira de administradorde empresas.

Atualmente, o mágico faz de 10a 15 shows por mês, mas em ou-tubro, mês das crianças, por exem-plo, chega a fazer 50 apresen-tações. Os shows variam de acordocom o interesse e objetivo docliente e os preços seguem amesma linha, um show persona-lizado pode chegar a R$ 3 mil,tipo de apresentação mais pedidopor empresas. Rubadel já foi con-tratado por grandes multina-cionais, como a empresa de telefo-nia TIM e a rede de lanchonetesMcDonald's.

Um de seus últimos trabalhosfoi se apresentar na comemoraçãode 65 anos do clube Ginástico.Eduardo Costa, assessor de comu-nicação do clube, conta que oclube tem muitas crianças entre ossócios, por isso, nessa data, colo-caram brinquedos e o show demágica como atrações. Entretanto,não foram só os pequenos que seencantaram com os truques, osadultos também assistiram aoshow, no qual foram distribuídoskits de mágica e brindes. "Pelosgritos, acho que a galera gostoumesmo", conclui Costa.

PAIXÃO Enquanto as outras cri-anças sonhavam em seremjogadores de futebol oubombeiros, Kellys já se aproxima-va do mundo da mágica, em 1969.A paixão pela prática não só ultra-passou os sonhos da infânciacomo hoje é a profissão dele. Háquase 30 anos ele mantém umaloja no edifício Maletta, no centrode Belo Horizonte, onde comer-cializa produtos importados etambém fabricados por ele rela-cionados à mágica. "Eu queria ummaterial de primeira qualidade equase não conseguia. Acho quesou o único fabricante de mágicano país", ressalta. As confecções deKellys não só atendem o mercadonacional, como também de outrospaíses.

"O diferencial da minha loja é oatendimento. Muitos shoppingstêm lojas de mágica, mas são regi-

das ao acaso", explica Kellys sobreo que ele atribui o sucesso de sualoja. Segundo ele, uma loja demágica depende diretamente dashabilidades do demonstrador, quedeve saber ensinar e atrair os com-pradores. Mesmo a preçosaparentemente altos, é precisomostrar as possibilidades de umartigo ao interessado. "O que faz ofaturamento da mágica é exata-mente o segredo. Eu vendo o meuconhecimento. É como se fosseuma consulta médica", conta.

Segundo o mágico, mesmo ummaterial simples pode ser o dife-rencial para uma apresentação,pois o importante não é a quali-dade do artigo, mas sim o que sepode fazer com ele. "Se você com-prar esse baralho eu te digo: 'sãoR$ 35 mil. Eu te levo para o fundoda minha loja e ensino a fazer otruque. Assim, você sai com a sen-sação de que é um mágico", expli-ca.

Além da loja, com faturamentode cerca de R$ 5 mil por mês,Kellys também faz shows epalestras para complementar arenda. Para manter a procura porseus serviços e também a quali-dade da loja, ele busca estar sem-pre em dia com o mercado e comas novidades. Contudo, vê a mági-ca como algo cíclico e também va-loriza o passado. "Se eu pego tudoque for lançado de dois anos paracá e mostrar, todos conhecemaquilo. Mas se eu pego um truquede 20 anos atrás, um cara que tem16 anos, nunca viu", diz ele sobrea mágica que, para ele, é "umamaneira honesta de enganar osoutros".

Mister Rossi, mágico profis-sional há mais de 25 anos e umdos fundadores da AcademiaMineira de Ilusionismo (AMI),conta que há três décadas eradono de uma empresa de trans-porte e terraplanagem. Após co-nhecer um mágico que estavavendendo truques de nívelamador e, com o incentivo daesposa, passou a se interessar pelamagia. "Era caro, eu não quis com-prar, mas acabei comprando ecomprando e comprando", lem-bra. Posteriormente, o mágico

vendedor reconheceu sua habili-dade manual e passou a orientá-lo,tornando-se seu mentor. "Depoisdisso não teve mais jeito, vireimágico", revela.

Assim, Rossi passou a viver demagia. Em média, o mágico faz 30pequenos shows por mês em festasde aniversário e eventos corpora-tivos. Além disso, ele realiza seisgrandes shows em teatros, emmédia, por ano. Segundo ele, opreço do show varia muito, depen-dendo do tipo do espetáculo."Pode ser algo simples de R$ 300a algo de R$ 10 mil. É amplodemais", coloca. Apesar disso,Rossi diz que o show mais baratonormalmente é festa infantil e omais caro inclui atrações,

espetáculos em grandes teatros emgeral.

O que aumenta o custo desteofício é basicamente o materialutilizado no espetáculo. SegundoRossi, mais de 60% do ganho domágico depende da reposiçãodesses materiais. Ou seja, se omágico cobra R$ 300 na apresen-tação, ele certamente gastou maisda metade em material descartá-vel, que precisa ser reposto. Oproblema, na opinião do mágico, éque são materiais muito caros,porque ele é artesanal. Além disso,são poucos fabricantes que pro-duzem aquele truque específicosob encomenda, o que aumenta ovalor final do produto. "A pessoaque faz, faz só para você", coloca.

Assim, Rossi salienta que ummágico, em termos gerais, precisafazer dois shows para quitar acompra dos produtos de mágica."O faturamento pode ser grande,mas o custo é muito alto", salien-ta. Logo, a compra de aparelhos demágica não é feita como a de um

objeto qualquer, que é descartadoapós certo tempo. O profissionalde mágica, segundo Rossi, "temque ficar com ele", porque no ilu-sionismo existem vários profis-sionais disputando o mesmo mer-cado. "Se você vende um aparelhomágico, você precisa ter muitocuidado para não vender aquilopara um concorrente direto seu,ou você acaba diminuindo seumercado", explica.

Apesar do alto custo, Rossiressalta que adquirir os truques demágica não é como comprar umatelevisão, por exemplo. "Não éalgo palpável, material. Já compreinúmeros caros, mas o que eu com-prei foi o conhecimento, o ensina-mento de como o número é feito".Algo que é percebido entre osmágicos profissionais é queninguém ensina nada gratuita-mente. "Tudo que aprendi, eupaguei e consequentemente, nãopasso esse segredo por fora", dizRossi.

Em relação ao mercado de ilu-sionismo, Rossi ressalta que estábom, mas já esteve melhor. Omágico conta que na década de1990, no período em que o ilu-sionista Mister M estourou namídia, foi o ápice do mercado emBelo Horizonte. Rossi diz quechegava a fazer, em 1995, porexemplo, cerca de 60 shows pormês. "A criançada viu o mágico naTV e queria um mágico na festi-nha também. Em outubro daqueleano bati meu recorde: fiz 142shows em 30 dias. Chegava a fazerdez shows seguidos, de 10h às23h", conta.

Atualmente, segundo ele, omercado na capital está exigente.Os clientes estão buscando mági-cos "consagrados", fazendo comque os mágicos novos não tenhamespaço. Além disso, o alto custo deinvestimento nos materiais uti-lizados nos shows acaba minandoos profissionais jovens, que nãodão continuidade à prática, poruma questão econômica.

É o que acontece com o mágicoe estudante de Medicina Klauss,de 19 anos. Ele por exemplo, clas-sifica sua carreira como um"hobby que dá dinheiro". Assim,

não pretende se dedicar exclusiva-mente à prática após se formar,apesar de realizar uma média de20 shows por mês. Klauss, que seformou no Centro Cultural deArtes Mágicas (CECAM) e é sócioda AMI, realiza seis tipos deshows diferentes. "O preço de umshow pessoal varia entre R$ 300 eR$ 500 e de um show empresarialde R$ 1000 a R$ 1500", afirma.

MERCADO É justamente o valor daapresentação que mais preocupaFabrício Bruno Martins, o Mr.Bruno, de 21 anos. Ele, que hojese dedica exclusivamente à mágicapara ajudar a família, teve quebuscar alternativas tendo em vistaa competição no mercado. "Temmágicos que colocam o showmuito barato, aí desvaloriza.Então, comecei a fazer apresen-tação close up à noite. Ofereçominha mágica, deixo meu cartão epeço uma colaboração", diz.

Segundo Fabrício, os seusshows de palco têm em médiaduração de 40 minutos, e cus-tavam, em média, R$ 400.Contudo, com a competição deoutros mágicos oferecendo preçosmais baixos, ele teve que reduzir opreço pela metade. "A mágicaespalhou pelo Brasil. Fui obrigadoa abaixar meu preço e agora tam-bém ofereço o show de palco como close up, por mais R$ 50. Aí ficoa festa toda", explica.

Mesmo com as dificuldades, omágico não pretende abandonar oofício. Ele começou na mágica aos12 anos por influência do irmãomais velho, Eller MarquesMartins, morto em 2005, quechegou a se apresentar em progra-mas de televisão de grandeaudiência como Domingo Legal(SBT), Caldeirão do Huck eFantástico (Rede Globo). Mr.Euler, nome como era conhecido,foi descoberto por uma equipe dereportagem enquanto faziatruques nas ruas de BeloHorizonte. Logo que percebeu arentabilidade, abandonou a vendade amendoins, atividade realizadatambém por Fabrício, para sededicar somente à mágica.

Depois da morte do irmão foique Fabrício decidiu seguir a car-reira de forma mais profissional."Eu ganhei um curso no Cecam,que me ajudou muito. Eu nãotinha condição de pagar, e atravésdo curso pude aperfeiçoar", expli-ca. Ele se orgulha de contar quepossui mais de 100 mágicas norepertório, algumas inclusiveinventadas por ele. E é esseentrosamento com o mundo dostruques que facilita o bom anda-mento das apresentações. "Opúblico leigo não sabe o que omágico vai fazer. Então tem comoimprovisar, e se algo der errado,falar que foi de propósito", explica.Um bom lugar para apresentar

mágicas e ter contato com o públi-co são as casas de festas. Os showsde mágica são muito procuradospor buffets infantis. Na casa defestas Abracadabra, região Sul deBelo Horizonte, sempre temprocura para eventos com mági-cos, independente da idade doaniversariante. Segundo a gerente,Alvine Hauber, apesar de serfascínio das crianças, nas festas deadultos a procura também é boa, adiferença é que o show apresenta-do tem mágicas mais elaboradas.

No Buffet Aquário, que fica naregião Noroeste, a procura porshows de mágica também égrande, o problema é encontrarmágicos disponíveis. Segundo apromotora de eventos, PatríciaFagundes, quando encontrammágicos, o preço é muito alto.

MERCADO DA MÁGICA CRESCE EM BHAo longo dos anos o ilusionismo encanta crianças e adultos na capital mineira. Após estourar na década de

90, profissionais buscam inovação em um comércio que se valoriza uma vez ao ano, na semana da criança

O mágico Kellys se divide entre os truques de ilusionismo e aos cuidados de sua loja no Edifício Malletta

RENATA FONSECA

[ ]“A MÁGICA É UMAMANEIRA HONESTA DE

ENGANAR ASPESSOAS”

(MÁGICO KELLYS)

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12 CulturaJulho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

O professor Pedro Perini,da Faculdade de Letras daPUC Minas, não se mostraconvencido sobre o êxito deprojetos de estímulo à leitura,como o desenvolvido pelometrô. "O projeto pode incen-tivar o cidadão a ler, mas nãocreio que tenha um grandeefeito. É necessário haverestudo quantitativo paraavaliar isso, porque intuitiva-mente não dá para perceber osresultados", diz.

Em relação às mudançasprovocadas na sociedade e nocrescimento do índice deleitores, Pedro considera resul-tados mínimos. "Há valoresfortes e crescentes em quepráticas de leitura, salvo for-mação escolar e profissionaltenham entrada. Nesse caso, oincentivo da família é deter-minante", opina.

Já a pedagoga da EscolaMunicipal Coronel Joaquimda Silva Guimarães, da cidadede Cláudio, na Região Centro-Oeste de Minas, MarildaFerreira Vaz Prado, elogia ini-ciativas como o 'EstaçãoLeitura', destacando a

importância desse tipo deacesso aos livros.

Na escola em que Marildatrabalha, atendendo alunosda 1ª à 4ª série, há o projeto"Hora da Leitura" que pro-move uma competição entreos alunos para saber quemmais leu livros durante o mês.Iniciado em 2008, a iniciativaenvolve os professores queelaboram questionários com afinalidade de saber quemmais leu e que aprendizadotiraram das histórias. "Atravésdessa troca de idéias novosconhecimentos são adquiri-dos e as crianças desenvolvemsua criatividade", conta.

Para a pedagoga, o hábitode ler acaba se tornando umvício benéfico. Incentivadaa ler desde pequena pelopai, Marilda relembra asabedoria do homem queapesar de pouco estudosabia muito. "Ele me incen-tivava tanto a ponto dedizer que quando não hou-vesse livros deveria ler umasimples folha de jornal, parame manter sempre informa-da", conta.

Especialistas discordamda eficácia do projeto

A auxiliar de bibliotecaKelly Cristina Ferreira Romãotrabalha na Estação Leituradesde sua criação. Para ela,estar em meio aos livros éuma viagem literária. Os títu-los mais procurados são 'Amenina que roubava livros',de Markus Zusak; 'Caçadorde Pipas', de Khaled Hossein;'Crepúsculo', de autoria deStphenie Meyer e 'Ágape',escrito pelo Padre MarceloRossi. Cerca de 100 pessoas,em média, passam pelo localdiariamente, segundo ela.

"A leitura é informação,educação e uma forma deaproximação com as pessoas",diz. Kelly tem um gosto diver-sificado, mas se diz apaixona-da por livros históricos. Elaconta que o acervo existenteno local veio pronto de SãoPaulo e com o passar dotempo, as escolhas foramfeitas de acordo com os pedi-dos dos leitores. A principalempresa que patrocina o pro-jeto é a Fosfértil.

As doações de usuários,que contribuíram para oaumento de livros e podem

ser feitas no lugar. "Só nãoaceitamos livros científicos epedagógicos, porque aqui nãoé uma biblioteca de escola.Nosso segmento é mais volta-do para a literatura", conta.Hoje existem 2599 livros noacervo e 2226 usuários,segundo dados pesquisadosno dia 4 de maio de 2011.

O espaço também é umponto de encontro entredesconhecidos que fazemamizade ali no balcão."Muitas vezes, o leitor chegaaqui empolgado com ahistória lida. Alguém ficacurioso e pergunta o nome daobra. Daí passam a conversare se tornam amigos'', comen-ta.

Kelly também se tornaamiga dos usuários. "É algomágico, o que a leitura pro-duz na gente. Várias vezes euindico um livro que aindanem li para alguém que pedesugestão, por ter ouvidoalguém falar do enredo. Éuma disseminação de infor-mação que considero benéfi-ca", opina.

Biblioteca é espaço deinteração e socialização

VIAGEM PELO UNIVERSO LITERÁRIO

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FERNANDA FERNANDES,LEONARDO BRUNO,LUÍZA DE SENNA,RODRIGO RIOS,7º PERÍODO

Um jovem à primeira vistatímido, que gosta de ficção,romance e tudo que possa con-tribuir para melhorar seu voca-bulário e sua escrita. Este é o bal-conista Felipe Martins, de 19anos, associado da Estação Leituradesde agosto de 2010. Ele é oprimeiro em uma lista dos 20usuários que mais pegam livrosnesse espaço. O garoto, que traba-lha em um estande da Nestlé naestação, ao lado da biblioteca,destaca suas preferências no uni-verso literário "A garota da CapaVermelha" de Stphenie Meyer e oslivros da série Millenium de StiegLarsson que retratam uma série deinvestigações. Felipe também tempaixão por culinária e faz cursotécnico em gastronomia.

Em sua opinião a falta de leitu-ra em detrimento ao uso de outrasformas de entretenimento como ainternet é "péssimo", porque nãopermite que a pessoa conheçahistórias que podem ser enrique-cedoras para a sua vida profissio-nal e pessoal, além de ter a possi-bilidade de ampliação de voca-bulário. Ao contrário de Felipe,Taynara Rafaela da Silva, de 17anos, estudante de química, édescontraída, e, em comum com ojovem, tem paixão pelos livros. Elaconta como conheceu a EstaçãoLeitura. "Eu fazia ballet, aí eupegava o metrô aqui na estaçãocentral por volta das 10h30. Umdia eu atrasei passei aqui depoisdas 11h e vi que estava aberto econversei com a Kelly, a fun-cionária, e fiz o cadastro. Desdeentão pego livros uma vez por

semana", conta.Taynara mora em Ibirité, na

Região Metropolitana de BeloHorizonte. Associada há um ano,ela considera a Estação Leiturauma alternativa para seus interes-ses literários. Segundo a estu-dante, se fosse para ir até aBiblioteca Pública Estadual Luizde Bessa, na Praça da Liberdade,seria bem mais complicado einviável. Seu gosto por históriasvem desde pequena e no presentevem se diversificando. "Eu gostode ler tudo. Não me prendo só aromance ou ficção. Com estilosdiferentes, eu sempre aprendoalguma coisa", afirma.

A jovem revela que a leitura étudo em sua vida. Ela frequenta olocal pelo menos uma vez porsemana. Por meio desse hábitoTaynara se sente motivada aenfrentar seus medos e a se posi-cionar diante de desafios cotidi-anos. "Na vida profissional, os

livros me ajudam em meu cresci-mento e no entendimento dasguerras e conflitos, assuntos quesão discutidos pelos professores.Na vida pessoal, a autoajuda meauxilia em momentos difíceis. Eucomeço a refletir sobre como estouvivendo e compreendo que nemtudo é como a gente quer.Também auxilia na formação docaráter", comenta.

A garota destaca que o espaçoliterário sempre tem lançamentose livros que são indicados peloNew York Times, fatos que lhechamaram a atenção. Dessaforma, ela não precisa gastar di-nheiro toda vez que quiser ler umlançamento que, às vezes, é bemcaro em sua opinião."Infelizmente, os jovens hoje sóquerem saber de Facebook, Orkutou Twitter. Sempre incentivo osmeus amigos a lerem, porqueatravés desse hábito pode-se criarnovos conceitos e sair do lugar

comum", ressalta.O espaço não recebe apenas

jovens. A copeira Vilma Seriato,de 45 anos, pega livros não só paraela como para a filha Brenda, de14. Sua carteirinha foi tirada hácinco meses e desde então ela vaià biblioteca uma vez por semana."Brenda gosta de romances. A pro-fessora tem incentivado os alunosda sala dela a lerem e eu acho issomuito importante para a formaçãodo jovem e para o desenvolvimen-to do português", conta.

Terezinha Sanches, 60 anos, éaposentada e adora livros deautoajuda. Há três meses, pegalivros de dez em dez dias e afirmaque o hábito é benéfico não sópara ela, como para as pessoas deseu convívio. "Na escola quandofiz enfermagem, tive que lermuito, por isso desenvolvi essaatividade. Gosto de ajudar as pes-soas e por isso preciso estar beminformada", relata.

ESTÍMULO A 'Estação Leitura', cri-ada em 4 de agosto de 2009, fun-ciona na Estação Central do metrôe está aberta a qualquer pessoainteressada. O cadastro é gratuitoe pode ser feito na hora, desde queo interessado esteja com identi-dade, CPF, uma foto 3x4 e umcomprovante de residência atual.

O agente de segurança peniten-ciário Carlos Augusto Garcia Limae a estudante Jiranir de Paulaaproveitaram a passagem pelolocal para se cadastrarem eaproveitarem a oportunidade deler aventuras policiais, estilopreferido de Carlos, ou peçasteatrais, livros que atraem aatenção da estudante.

A ideia de instalar uma bi-blioteca dentro da estação dometrô partiu do Instituto BrasilLeitor (IBL). A 'Estação Leitura'abriga diversos tipos de obras,além de conteúdos acessíveis embraile e áudio livros. Essa iniciati-va também está presente em ou-tras capitais, como Rio de Janeiro,São Paulo, Recife e Porto Alegre.

Em Belo Horizonte, o cresci-mento do número de empréstimose do volume de associados mostraque esse incentivo vem apresen-tando boas mudanças no hábitodos brasileiros. Em 2010, forammais de 14 mil livros emprestadose o número de associados da bi-blioteca passou de 1.033 para1.946, totalizando um crescimen-to superior a 88% do número deleitores.

A gerente bibliotecária FabianaChagas destaca a importânciadessa iniciativa até para o seucomportamento. "Eu gostavamuito de televisão e quase não lia,porque estava sempre muitoatribulada. Hoje, eu já não assistotanta TV e me dedico mais à leitu-ra, porque descobri o prazer deviver e aprender por meio dehistórias reais e ficções. O entusi-asmo com que as pessoas vêmaqui para procurar livros me des-pertou a curiosidade e o prazerpelas letras", revela.

Em Belo Horizonte, uma

biblioteca localizada na

Estação Central do metrô, tem

livros que atraem leitores de

diversas faixas etárias

Estação Leitura, biblioteca localizada na estação do metrô, possibilita às pessoas que gostam de ler acesso gratuito ao universo da literatura

A variedade de títulos atrai muitas pessoas

FOTOS: LEONARDO BRUNO

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13CidadaniaJulho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DETENTOS SE RENDEM À LITERATURA n

DANIELLA DUTRA, KENETH BORGES, 1º E 3º PERÍODOS

O começo dessa história, hánove anos, aconteceu em umaborracharia do Bairro Caieira,em Sabará, município da RegiãoMetropolitana de BeloHorizonte, quando foi criada ali,entre graxa, pneus e parafusetas,uma biblioteca. Há um ano emeio, foi inaugurada a quartaunidade da 'Borrachalioteca',mas em um ambiente totalmentediferente do original: o PresídioMunicipal de Sabará. E, maisrecentemente, em função disso,o estabelecimento prisional pas-sou a alfabetizar a aperfeiçoar aleitura dos presos.

A ideia de levar a leitura, pormeio de uma unidade da'Borrachalioteca', à pessoas quenão podem ir até ela, surgiu porintermédio de uma conversaentre o diretor geral do presídioJosé Romero da Cunha comMarco Túlio Damascena,responsável pela ideia de criarbibliotecas em espaços inusita-dos em Sabará, como a bor-racharia. "Quando ele foi levar aviatura para alguns reparos naborracharia, o diretor Romerome solicitou alguns livros, masem resposta eu disse, vamos criaruma biblioteca no presídio",relembra Túlio. Então desdejaneiro de 2010, foi inauguradoo Projeto Libertação pelaLeitura.

Atualmente, o espaço já contacom um acervo de mil livros,além de revistas de váriosgêneros, disponíveis para os

detentos. Junto com o incentivoà leitura, no entanto, houve anecessidade de alfabetização. Porisso, em fevereiro deste ano, como apoio da Secretaria de DefesaSocial e a Escola Estadual MariaElizabeth Viana localiza no bair-ro Santo Antônio de RoçaGrande em Sabará, está sendodesenvolvido o Projeto Educaçãode Jovens e Adultos (EJA).

Dessa forma, são oferecidasaulas regulares dentro do presí-dio, de segunda a sexta-feira, nos

períodos da manhã e tarde, da 1ªa 8ª série para os reclusos. Deacordo com o diretor do presí-dio, o objetivo do projeto é tra-zer melhorias para os detentos,pois quando libertos, poderãodar continuidade aos estudos.

A psicóloga RaquelNascimento da Silva trabalha háum ano e meio no presídio ecoordena o Projeto Libertaçãopela Leitura, ela afirma quealguns estão em fase de alfabeti-zação e os outros mais avança-

dos na leitura gostam de pegarlivros da biblioteca, os maisemprestados são a Bíblia e os deauto-ajuda. "Depois que veio oprojeto eles estão bem calmos,sem dúvida", comenta.

Um dos presidiários, que nãopode ser identificado, está reclu-so há um ano e meio e junto coma psicóloga, é voluntário na bi-blioteca. Ele ajuda na catalo-gação e leva a lista nas celas. "Eugosto de ler, é importante, indicoaté para os presos do albergue"

(regime semi-aberto), revela."Meus autores favoritos sãoPablo Neruda, Jorge Amado ePaulo Coelho", acrescenta.

INÍCIO O projeto da'Borrachalioteca' nasceu em2002, quando Marco Túliodecidiu trabalhar ao lado de seupai, o borrracheiro JoaquimEscolástico Damascena. Por serapaixonado pela literaturaMarco Túlio pensou em colocarlivros para os frequentadores daborracharia, e pediu doaçõespara a Biblioteca Pública deSabará.

"Fui a Biblioteca Pública epedi alguns livros, doaram seten-ta, dos quais foram a semente daBorrachalioteca", comentaMarco Túlio. A partir daí, acomunidade começou a frequen-tar a borracharia, principal-mente para apreciar a leitura, eos pneus perderam espaço paraos livros. As doações aumen-taram de 70 para 500 livros sónos primeiros três anos. "Ospróprios fregueses eram osdoadores", lembra.

Hoje, o projeto é denomina-do, Instituto Cultural AníbalMachado, e possui quatrounidades da Borrachalioteca naregião de Sabará. A principalsede é a da borracharia, com umacervo de 10 mil títulos. Outrasduas estão localizadas na SalaSon Salvador, 5 mil obras; e naCasa das Artes, com 2 mil livrosinfanto-juvenis e 1 mil cordéis. Aquarta unidade é a do PresídioMunicipal de Sabará.

Entre palavras e celas, os detentos buscam uma nova realidade e incentivo para passarem os dias. A nova

unidade da Borrachalioteca no Presídio Municipal de Sabará ganha mais livros e novos adeptos à leituraMARIA CLARA MANCILHA

Detento pode escolher a leitura entre as mil publicações disponíveis na unidade da Borrachalioteca localizada no presídio de Sabará

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SAMARA NOGUEIRA, 4º PERÍODO

Desde 2009 a Prefeitura deBelo Horizonte, juntamente coma Fundação Roberto Marinho,realiza o Projeto Floração em 93escolas Municipais da capital. Oprograma oferece a adolescentesentre 15 e 19 anos, e que não con-seguiram concluir o ensino funda-mental, a oportunidade de regu-larizar essa situação e após umano voltarem a frequentar as aulasfora do projeto. "O principal obje-tivo do programa é corrigir a dis-torção idade ano da faixa etária de15 aos 19 anos que permanecemna escola por muito tempo", expli-ca a coordenadora geral do proje-to, Noará Maria de Castro.

Ao estabelecer uma faixa etáriaespecífica, o projeto consegue for-mar grupos de alunos com nívelde interesse equivalente, o quefavorece o desenvolvimento deles."Pela manhã, os alunos que estãono ensino fundamental, por exem-plo, já tem idade para estarem noensino médio, alguns já com 19anos se sentem fora do seu habi-tat. Quando o programa traça umperfil o aluno consegue ter identi-ficação com seus pares. Mesmoque um esteja na quinta, outro nasexta eles se identificam", conta acoordenadora.

Os conteúdos desenvolvidosdurante o projeto se dividem emtrês módulos de matérias: LínguaPortuguesa e Ciências,Matemática e Geografia, Históriae Inglês. Para aplicá-los os profes-sores contam com a ferramentascomo as tele-aulas que após seremtransmitidas são discutidas por

meio de dinâmicas nas salas. Aaluna Daniela Santana ressaltapontos positivos e negativos dessemodelo. "Por um lado é mais fácile interessante, mas tem hora que émuito cansativo as aulas na tele-visão. Mas também se você ficarem uma aula normal, mas pareceque cansa menos," conta Daniela.

A Escola Municipal MonsenhorArtur de Oliveira, localizada noBairro Caiçara, na RegiãoNoroeste de Belo Horizonte, éuma das participantes do projeto.As aulas que acontecem no perío-do da tarde são ministradas pelaprofessora Dalila Gomes. Noprimeiro mês de aula, ela, como osoutros professores do projeto, rea-liza com os alunos o período deintegração. "A gente tem umperíodo de integração onde agente trabalha valores como com-panheirismo e respeito entrealunos. Esse período faz com queos meninos fiquem mais unidos",explica Dalila.

No inicio das aulas são for-madas equipes de socialização,coordenação, síntese e avaliação,que se revezam durante o ano.Nessas equipes os alunos possuemresponsabilidades específicas, oque os tornam mais participativosna formação do aprendizadodurante o ano letivo. "No projetoFloração os meninos participamdo conhecimento, da construçãodo conhecimento, e adquiremmais autonomia", conta Dalila.

Para Noará, trabalhar a inte-gração entre os alunos e mostrar aimportância de cumprir suasresponsabilidades dentro do grupoé despertar nesses adolescentescaracterísticas importantes queexistem dentro de uma sociedade.

"Trabalhando a integração a genteconsegue realmente criar no estu-dante um espírito de sociedade,que muitas vezes ele perde porestar fora do seu contexto. Elesentendem que em uma sociedadeas pessoas exercem diferentespapéis e mesmo assim eles podemconseguir o mesmo objetivo",explica a coordenadora.

AUTOESTIMA A experiênciaadquirida por Dalila em seus doisanos de trabalho no Floração fezcom que ela conseguisse apontarmodificações comuns que ocorremnos adolescentes durante o proje-to. A autoestima é uma das maisrelevantes para professora já queao adquirí-la o aluno percebe queapesar de suas derrotas ele é capazde aprender. "A gente trabalhamuito a questão da auto estimadeles sabe, porque esses meninostem a auto estima lá em baixo.Elesse veem burros. Aqui, por partici-parem do projeto de aprendizado,a gente valoriza muito tudo queeles fazem e isso levanta a autoestima deles. Ai eles se conscienti-zam que eles dão conta de apren-der", conta a professora.

A professora também acrescen-ta que a partir do momento que osalunos passam a ter mais confi-ança, a desistência escolardiminui. "A partir do momentoque eles se sentem mais valoriza-dos que eles se conscientizam queeles estão aprendendo, que elesdão conta do conteúdo a tendên-cia é não abandonar", afirma. Aaluna Kaune Moreira, por exem-plo, que participa do projeto háseis meses, está confiante emvoltar às aulas regulares e não pre-tende desistir. "Estou bastante ani-

mada para a volta. A gente querandar para frente, a gente nãoquer voltar para trás. Eu estou ani-mada estou mais confiante e estu-dando bastante", conta a estu-dante.

Raiane Rodrigues, estudante daEscola Municipal Edgar MattaMachado, está tão confiante quejá traça planos para o futuro.Entretanto, ela deixa claro quenesse processo é essencial que osalunos tenham o compromisso deestudar. "Depende muito da gente,tem que ter mais responsabilidadee interesse. Meu caso foi que euabandonei e agora eu voltei,

então, eu estou aqui para aprendere não para brincar. Agora eu nãopretendo mais abandonar, pre-tendo terminar e fazer um cursotécnico de radiologia", conta.

Esses avanços também sãoobservados pelos pais dos alunos.Valdirene Vieira, mãe de Mateus,conta que após entrar no Floraçãoo filho se tornou mais interessadopelos estudos."Eu estou vendo elemais interessado, aqui eu vejo elemais socializado com os grupo. Osresultados já estão começando aaparecer nas provas", afirmaValdirene.

Projeto oferece incentivo aos jovens estudantes

Para Valdirene Vieira, o filho Gabriel está mais interessado na escola após o Projeto Floração

MARIA CLARA MANCILHA

Page 14: Jornal Marco - Ed. 283

14 ComportamentoJulho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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GABRIEL PAZINI,THAMILIS ANDRADE,1º PERÍODO

Ao ver o músico EvertonCalazans, 29 anos, tocando ecantando pela primeira vez nobar Cartoon, Bairro Camargos, ocorretor de imóveis MarcoAurélio Campos, 32 anos, seencantou. Empolgado com ascanções de MPB que Evertonapresentava, começou a brincarcom o cantor oferecendo a eledinheiro em troca de músicasespecíficas, fazendo o músico rire se surpreender com as "lou-curas" feito pelo novo fã quehavia conquistado. "Na primeiramúsica dei cinco reais, na segun-da dez reais, depois vinte e cincoreais por uma chamada NósDois, e ele, no momento, achan-do tudo lindo, lucrativo", conta ocorretor de imóveis.

Para Marco Aurélio, que tam-bém é músico, pouco importa seseu ídolo seja alguém descon-hecido. O corretor acredita queos grandes cantores e composi-tores começaram desta maneira,tocando ao vivo em bares e empequenos palcos, como o barCartoon. "Acho que para serconhecido é apenas questão detempo e dedicação", garante.Além de admirador do trabalhode Everton, Marco diz que setornou grande amigo do músico."Ele é divertido, profissional emuito eclético", declara. Paraajudar o parceiro, divulgou seutrabalho em rádios comunitáriase até chegou a fazer dupla com oamigo se apresentando juntosdurante um mês. Marcos afirmaque não é o único tiete do can-tor. “A mãe dele vai em todos osshows e grita horrores. E umadas ex namoradas do Everton éuma grande fã", relata.

O comportamento de um fãdiante daquele artista que admi-ra é algo curioso para a psicóloga

Maria de Souza, 58 anos. "Aomesmo tempo que é um distúr-bio, é um comportamento nor-mal, pois todos nós idolatramosalguém ou algo, sejam artistas,times de futebol, religiões oucantores", observa a psicóloga.Ela analisa que essa adoraçãopor alguém pode ser explicadapelo meio em que se vive, ouseja, pelas inseguranças de cadaum em relação a si mesmo, avontade de se igualar ao seuídolo. "Muitas vezes é uma satis-fação pessoal", completa Maria.

NOVIDADE No caso do cor-retor de imóveis Marco Aurélio,seu ídolo não é algum global ouum artista de cinema, mas umcantor que conheceu por acasoem um pequeno bar. Existemmotivos, segundo a psicólogaMaria de Souza, que levam as

pessoas a escolher artistasdesconhecidos para ser fã. "Nopensamento do fã o desconheci-do irá trazer algo novo emrelação ao famoso. Também éalgo relacionado ao fato dofamoso já ter fama, enquanto odesconhecido não é de certaforma, uma maneira de ajudarno reconhecimento e crescimen-to do desconhecido", afirma.

Segundo a psicóloga, as pes-soas buscam a fama por ambiçãoe vontade de querer vencer."Muitas vezes o ser humano éinsatisfeito com sua realidade, etem o desejo de vencer atravésdo que é a fama para ele, emuitas vezes, a fama para nós,está em algo que o outro tem efaz, e nós não. Todos nós nosespelhamos em alguém, e bus-camos a fama por ambição edesejo de vencer", diz.

Para quem está do outro ladoda moeda, a fama se torna umanovidade boa. O reconhecimen-to chega aos poucos e vem daspessoas e das formas mais inusi-tadas. Everton Calazans já sen-tiu isso na pele, e apesar de saberque não é alguém famoso, sesente feliz com as demon-strações de carinho daqueles queadmiram seu trabalho. "É muitolegal, uma pessoa que nunca sen-tou e conversou comigo gostarde mim simplesmente pelo meutrabalho, só por eu cantar etocar. Isso é muito bom", conta omúsico.

Everton, que vive de música, éfã de Bom Jovi, U2 e Skank.Aprendeu a tocar violão sozinhoe toca profissionalmente há 12anos. Ele afirma que resolveulevar a música e seu sonho asério. “Acho que música é igual

ao jogador de futebol, a gentetem aquele sonho de criança,mas é difícil as pessoas levaremaquilo a sério como eu levei",conta. O músico conta que toca-va com o irmão durante a noitenos barzinhos por diversão. Foiquando percebeu que já faziamúsica há mais de 10 anos quedecidiu ter aquilo como profis-são. Comprou seu próprioequipamento e desde entãonunca mais parou de tocar nanoite de Belo Horizonte. "Foiacontecendo e estou ai até hoje"observa.

Sobre sua mãe e outros fãsEverton afirma que presta home-nagem aos mesmos, tocandomúsicas que eles gostam epedem. "Fátima, que tem onome dela. E tem outra que éPescador de Ilusões do Rappa.Toco músicas para vários fãs",conta. Ele explica que com otempo passa a existir umaconexão entre os músicos e suaplatéia assídua, de uma formaque o permite conhecer o gostode cada um. Desta maneira,quando quer agradar alguém, jásabe na ponta da língua qualcanção tocar. "Sempre tem aque-las pessoas que a gente já sabe oque gosta", completa. ParaEverton, é um prazer ver areação de um fã quando é feitaalguma homenagem desse tipo.

Para o músico, assim comopara seu grande fã MarcoAurélio, a fama não é o maisimportante. Everton se dizmuito feliz com o seu trabalho,afirma que tem lados ruins, masque é muito prazeroso. Ele contao quanto é bom se sentir bem,realizar um sonho, e ainda gan-har dinheiro para isso. O músicodeixa ainda um recado parajovens bandas. "É muito praze-roso trabalhar com música, e osucesso é apenas consequênciade um trabalho bem feito e comesforço um dia ele acontece".

FÃS ADMIRAM ARTISTAS ANÔNIMOS

Artistas que são desconhecidos pelo grande público também possuem admiradores que, além de reconhecerem o talento desses profissionais, ajudam a divulgar o trabalho dos músicos

Everton Calazans se apresenta na noite de BH há 10 anos e, apesar de não ser um músico famoso, tem seu talento reconhecido pelos fãs

n

LAURA DE LAS CASAS,4º PERÍODO

Todo último sábado do mês,faça chuva ou faça sol, com ousem gripe, a dona de casaJulieta Mesquita, 82 anos, temum compromisso marcado emsua agenda: ir ao show deRicardo Nazar, cantor, compo-sitor e intérprete de ChicoBuarque. Esse show, que acon-tece mensalmente no VinnilCultura Bar, já virou parte darotina de Julieta, mais conheci-da como Dona Juca, grandeadmiradora de Noel Rosa,Cartola, Chico, entre outrosartistas da música popularbrasileira. "Uma vez eu deixeide tomar a vacina da gripe commedo de me dar aquela reação eeu não poder assistir o RicardoCantar", conta, sorrindo.

Ricardo Nazar é mineiro dePitangui, região centro-oeste doestado. Além de cantar, é den-tista e, como artista, ficou co-nhecido em Minas por te rumavoz bastante parecida com a do

cantor e compositor ChicoBuarque de Holanda. Em todaapresentação que faz no Vinnil,ganha de dona Juca um pre-sente diferente. "Da ultima vezeu dei uma loção bem cheirosa",diz a dona de casa. Ela contaque conheceu o cantor poracaso, em uma apresentaçãoque assistiu no Palácio dasArtes, na qual Ricardo interpre-tava o próprio Chico Buarque."Vendo ele cantar foi tiro equeda, eu fiquei apaixonada",comenta.

A relação da fã com seu ídolomaior se tornou amizade. Alémde ter espaço cativo sempre naprimeira fila dos shows, em seuaniversário de 80 anos, DonaJuca o considerou seu convida-do especial. "Acontece que eleme deu uma decepção muitogrande, porque levou a namora-da dele", brinca. Um dosmomentos mais inesquecíveisda festa foi quando cantaramjuntos sua música predileta:João e Maria. Depois dessa"parceria", Dona Juca até se ani-mou a entrar em uma aula de

canto. "Faço há um ano eadoro", conta.

Para ela, o cantor se destacapor ter uma voz suave. "Éparecidíssima com a do Chico,mas a dele é ainda mais bonita,mais afinada" analisa. Ela contaque gosta de assistir aos showsde pertinho, e que algumasvezes até já chegou a invadir opalco. "Subi no palco para darum abraço nele e ele me dissetodo jeitoso e charmoso: DonaJuca, a senhora está atrapalhan-do", relembra.

Um dos episódios marcantesque Julieta se lembra aconteceuno dia que ela assistia a um dosshows mensais do artistaenquanto, ao mesmo tempo,acontecia o show do próprioChico Buarque em um teatro deBelo Horizonte. Ela foi aborda-da por uma moça que a questio-nou por não estar no show doChico, já que todos sabiam queDona Juca era verdadeira fã docantor. "Eu respondi sem pes-tanejar: meu lugar é aqui. Nãotroco essa voz por nada nemninguém", afirma.

Reconhecimento se transforma em amizade entre fã e músico

Julieta trocou o show do Chico Buarque, de quem é fã, pela apresentação do amigo

MARIA CLARA MANCILHA

PEDRO VASCONCELOS

Page 15: Jornal Marco - Ed. 283

15EsporteJulho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

nGABRIELA CAMARGOS,GABRIELA MATTE,MARCELA NOALI,MARINA CAMARGOS,PAULA ZAIDAN,1º PERÍODO

Os olhos de Mariana Martinsbrilham quando ela orgulhosa-mente fala de seu grupo de ginás-tica do Espaço Criança Esperança(ECE) de Minas Gerais. A meni-na, de 14 anos, é um dos 22 ado-lescentes que integram a equipeclassificada para compor aComitiva da Seleção Brasileira deGinástica que representará oBrasil no campeonato mundial, o14º Gymnaestrada, que aconte-cerá em Lausanne, na Suíça, emjulho deste ano. "Estamos treinan-do bastante para a competição",relata Mariana.

O Gymnaestrada é o maiorevento de ginástica geral domundo. Ele acontece de quatro emquatro anos com membros detodas as idades, vindos de todas aspartes do globo. Este ano, a com-petição conta com a participaçãode cerca de 20 mil jovens de 55países.

A satisfação dos jovens carentesdo Aglomerado da Serra aumentaquando se lembram de que sãoapenas duas equipes mineiras clas-sificadas. A primeira etapa da sele-tiva aconteceu em agosto de 2009no Rio de Janeiro, mas o grupo sóse classificou na segunda oportu-nidade, em dezembro do mesmoano. "De lá para cá viemos melho-rando cada vez mais e nos tornan-do cada vez mais unidos", destacaMariana. A atleta frequenta oEspaço Criança Esperança desdeos nove anos e diz ter entrado sópor causa do esporte, que é a suapaixão. "O espaço é muito bompara nós, é melhor do que ficar emcasa à toa, vendo TV", relata a

menina. Assim, como sua colega,Rebeca Costa, de 15 anos, tam-bém começou a participar porcausa da ginástica. A menina tempaixão pela atividade e pensa emadotá-la como profissão. "Faço umcurso de informática fora do pro-jeto pra ter um futuro melhor, mascomo estou vendo que a ginásticajá está me dando um futuro, voucontinuar nessa atividade", dizRebeca.

Tatiane Caroline de Jesus Silva,17 anos, é mais uma das atletasque participará do mundial deginástica na Suíça. "Meu sonhoera fazer ballet, mas não tinha noespaço. Então, estimulada pelaminha irmã, fiz minha inscriçãona ginástica e nunca mais parei.Amo fazer ginástica", conta.Frequentadora do ECE há aproxi-madamente 11 anos, Tatiane

ainda acrescenta, "Quandocheguei, não entendia de ginásti-ca, mas percebi que era diferentede dança e achei mais interes-sante".

A equipe formada por 22 meni-nos e meninas, de nove a 17 anos,foi criada há cerca de cinco anos eé orientada pela técnicaMargareth de Paula Ambrósio. Osalunos treinam três vezes por se-mana, durante duas horas, noclube do campus da PUC Minas,no Bairro Coração Eucarístico. Aprática da modalidade "esporte-rendimento" é defendida porAndré Neto, supervisor do núcleode esportes do ECE desde 2006,quando foi fundado. "A gentetrata o esporte como um direitosocial que a criança tem", explica.A classificação da equipe, além demotivo de grande orgulho para

todos os alunos e professores, éum exemplo do esporte mudandovidas. "Nossas famílias estãomuito felizes por nós e nos apói-am bastante", lembra-se Mariana.

O grupo de ginástica já foidestaque representando o ECE-BH na Copa Mineira de Ginásticade Trampolim, no CampeonatoEstadual de Ginástica e na Copade Ginástica Acrobática. Agora,no mundial, se enquadra namodalidade "Ginástica paraTodos". Está área é definida pelaConfederação Brasileira deGinástica (CBG) como bastanteabrangente, por ser fundamentadaem diversas atividades ginásticas(Ginástica Artística, GinásticaRítmica, Ginástica Acrobática,Ginástica Aeróbica e Ginástica deTrampolim). Vale-se também devários tipos de manifestações, tais

como danças, expressões folclóri-cas e jogos, expressos através deatividades livres e criativas.Segundo a CBG, o “Ginástica paraTodos” objetiva promover o lazersaudável, proporcionando bemestar físico, psíquico e social aospraticantes, favorecendo a per-formance coletiva, respeitando asindividualidades, em busca daauto-superação pessoal, sem qual-quer tipo de limitação para a suaprática, seja quando às possibili-dades de execução, sexo ou idade,ou ainda quanto à utilização deelementos materiais, musicais ecoreográficos, havendo a preocu-pação de apresentar neste contex-to, aspectos da cultura nacional,sempre sem fins competitivos."

Outra novidade que deixou osatletas animados foram as aulassemanais de inglês que estãosendo oferecidas voluntariamentepor um curso de Belo Horizonte.Eles estão se preparando parafazer bonito em todos os sentidosao representarem sua comunidadena Europa.

O DESAFIO Desde que foi classifi-cado, o grupo busca patrocíniospara bancar a viagem dos 22 atle-tas, já que o custo individual podechegar a 10 mil reais. Segundo osupervisor do núcleo de esportesdo ECE, André Neto, parte dasdespesas da viagem já forampagas: "Um empresário local queprefere não se identificar arcoucom 50% do valor das inscriçõesde toda a equipe envolvida", dizAndré. Além desse patrocínio, oECE conseguiu R$ 100 mil pormeio de um projeto aprovado pelaSecretaria Municipal de Esportese aguarda a resposta de outro,enviado para o Ministério dosEsportes. Se esse projeto foraprovado, o grupo terá todas asdespesas da viagem pagas.

DA SERRA À SUÍÇA PELA GINÁSTICAGABRIELA CAMARGOS

Alunas do ECE-BH treinam no Complexo Esportivo da PUC Minas. Elas participarão do maior evento de ginática geral, em julho, na Suiça

Casal de cegos é destaque no atletismo brasileiron

LÍVIA ALEN,7º PERÍODO

Anderson de Souza Coelho, 27anos, e sua esposa Isabela SilvaCampos, 30 anos, vivem juntos hátrês anos. Acordam, tomam caféda manhã preparado pelos dois esaem para treinar no ComplexoPoliesportivo da PUC Minas, noBairro Coração Eucarístico. Elatreina arremesso de peso, disco edardos. Ele corre em pistas. Osdois estão entre os melhores doBrasil em suas categorias. Isabelabateu o recorde brasileiro dearremesso de peso esse ano e estáem primeiro lugar no rankingdessa modalidade. O marido porsua vez, está pré-convocado para oParapan-Americano de 2011 e é o2º colocado brasileiro nos 800metros pista. Os dois competempor categorias que englobam cegostotais.

No Brasil, os atletasparaolímpicos enfrentam sériasdificuldades para treinar erecebem poucos incentivos dogoverno e de patrocinadores.Apesar disso, em 2008, o país con-quistou 16 medalhas de ouro nasParaolimpíadas, e apenas três, nasOlimpíadas. Assim, os paratletasalcançaram o 9º lugar na classifi-cação geral, já na competiçãotradicional, o resultado foi a 23ªposição. Com o casal de atletasnão é diferente, porém há umagravante: os cegos precisam deguias para acompanhá-los nos

treinos, o que aumenta o custodeles.

Juntos, Anderson e Isabela temrenda mensal de R$ 2015. Elesrecebem o benefício para defi-cientes do Governo Federal, deum salário mínimo, e Andersontambém é contemplado com abolsa atleta, igualmente do gover-no, de R$ 925. Desse total, elesprecisam pagar guias, compraruniformes e tênis, custear as via-gens para competições e se susten-tar. Nenhum dos dois tem planode saúde, o que faz com que con-vivam com o medo de sofrer lesõese precisar parar de competir.

O casal se conheceu noInstituto São Rafael, tradicionalescola especializada em educação,reabilitação e integração de defi-cientes visuais. Quando forammorar juntos, poucos acreditavamno futuro deles. SegundoAnderson, muitos duvidam queeles cuidem da própria casa e quesão atletas de ponta. Além disso, édifícil encontrar patrocínio.Nenhum deles é patrocinado,alguns dos recursos de que neces-sitam, como treinadores, sãodisponibilizados pela Associaçãodos Deficientes Visuais de BeloHorizonte (Adevibel). Sobre adeficiência ele conclui: "Hoje emdia o cego faz tudo".

Aos cinco anos, Isabelacomeçou a perder a visão emfunção de um sarampo que con-traiu na época. Assim, precisoufazer vários tratamentos e cirur-gias na tentativa de amenizar a

perda da acuidade visual, por issoparou de frequentar a escola naépoca. Entretanto, aos 15 anos elaficou completamente cega. Dos 15aos 18 anos, ela ficou apenas emcasa, não gostava de sair e não ia àescola. Nesse período, chegou apesar 100 quilos, contrastandocom os 72 atuais.

Depois de três anos pratica-mente sem sair de casa, Isabelaconheceu o Instituto São Rafael,no Barro Preto, em BeloHorizonte. Foi no Instituto queIsabela conheceu a Adevibel ecomeçou a praticar esportes, seuobjetivo inicial era perder peso.Em 2007, ela passou a treinarpara competições de atletismo,mas o sucesso veio em 2009,quando descobriu sua verdadeirahabilidade: o arremesso. Ela com-pete nas modalidades de arremes-so de peso, dardos e disco.

Em maio de 2011, Isabelabateu o recorde brasileiro na provade arremesso de peso em Brasília,na Etapa Regional Centro Lesteda competição BrasilParaolímpico, atingindo a marcade 8,76m, ultrapassando a antigorecorde de 8,15 m. Atualmente,está em primeiro lugar no rankingdessa modalidade no país, em suacategoria, a F11, feminino. Assim,a marca da atleta é maior que oíndice mínimo (7m) exigido paracompetições mundiais e ela vaiparticipar das seletivas para oParapan desse ano.

Anderson perdeu a visão porcausa de um tiro. No hospital,

enquanto se recuperava, começoua perceber que não conseguia en-xergar. Depois que foi pra casa, afamília o incentivou a procurar oInstituto São Rafael. Ali ele apren-deu a se tornar independente econheceu o atletismo, por inter-médio da Adevibel.

Ele se tornou atleta há quatroanos. Anderson começou a correrpor indicação de um professor denatação que observou seu bomdesempenho na esteira. Assim, em2007, começou a treinar com a

Associação dos DeficientesVisuais de Belo Horizonte(Adevibel). Após três mesescomeçou a competir e no anoseguinte já estava entre os trêsmelhores corredores de pista dacategoria T11, que se refere acegos totais. Atualmente, eleocupa o 2º lugar nos 800 metros eo 3º, na prova de 1.500 metros,ambos em pista, no Brasil, e estápré-convocado para o Parapan-Americano de 2011.

Isabela bateu recorde de arremesso de peso e Anderson é o 2ºcolocado nos 800 metros pista

CARLOS EDUARDO ALVIM

Alunos do Espaço Criança Esperança-BH vão à Europa disputar torneio mundial de ginástica neste mês. Elas se classificaram em 2009 e, desde então, treinam para brilhar na competição

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Cristiano da MattaPILOTO

Entrevista

n Seu pai exerceu algum tipo de pressão para que você se tornasse piloto?

Ao contrário. Meu pai era sempre o cara que mais queriaque eu não corresse. Eu, desde pequeno, com uns 11 ou 12anos, já falava que queria andar de kart, que achava legalcorrida. Meu pai me explicava também que o Kart é umesporte caro e que se era para me colocar para correr só porcolocar, andando na "cozinha", não ia adiantar nada. Parame colocar para correr tinha que arrumar um patrocinador.Foi bom porque ele me segurou de 11 até uns 16 anos,quando ele arrumou um patrocínio com um amigo, quecomeçou me patrocinando e eu consegui começar o negóciodireito. Mas, meu pai queria mais que eu estudasse, pois elesabia como era "casca grossa" o automobilismo.

n Começar a correr aos 16 anos o prejudicou em algum aspecto sua carreira ou foi a decisão mais acertada?Eu acho que se tivesse começado mais cedo teria mais faci-lidade na parte do kartismo. Como deu tudo certo de qual-quer jeito, para mim não mudou nada. Acho que se pudesseescolher teria começado um pouco mais cedo. Mas setivesse começado um pouco mais cedo penso que teria per-dido um pouco da infância, do aprendizado de colégio. Sãocoisas que na época a gente não dá muito valor, mas depoisvê que conta.

n Em 1995, após boas temporadas correndo de monopostos no Brasil, você foi disputar a F-3 Inglesa. Como foi essa transição dentro e fora das pistas?

Dentro da pista foi difícil, porque no campeonato inglês deF-3 são corridas muito curtas. A corrida mais longa docampeonato tinha 29, 28 minutos. Por exemplo, a corridaem Thruxton tinha 12 minutos. Largou, chegou. Então,você tinha que já largar mandando o sapato o tempo inteiroe com pneu frio ainda. Por isso mesmo, eu acho queexagerei e passei da conta algumas vezes. Bati com um, baticom outro. Era como se todo mundo largasse indo para amorte de cara. Eu errava nisso, um pouco de medida, masera uma coisa que todo mundo errava. Acho que se eutivesse pensando um pouco mais aprofundado não teriamacontecido muitos erros. Já fora da pista, foi foda. Até 94,eu morava, em BH, na casa do meu pai e da minha mãe. Acomida aparecia posta na mesa, a roupa aparecia passada nomeu armário, a cama se "auto" arrumava todo dia, era igualmágica. Eu não fazia nada em casa. Mas tudo muda quan-do você passa a morar sozinho. Você tem que fazer tudo,pagar conta, seguro. E ainda era diferente dos tempos daqui

de BH, porque aqui você fez tudo, chegou a noite, você ligapara o seu amigo, vai andar de bicicleta, vai para um bote-co, vai ver televisão com sua família. Lá não. No início,quando eu não conhecia ninguém, chegava a noite, eu pen-sava: beleza, e agora? Sorte que depois eu consegui outrosamigos brasileiros que também moravam lá. Na mesmaépoca que eu, estavam lá o Rubinho, o Rosset, o Haberfeld,o Gualter Salles e o Luiz Garcia. Era legal, mas não era amesma coisa de ter seus antigos amigos, aqueles da épocade colégio, estar com pai, mãe e irmãos.

n Durante seu período na Inglaterra como era seu relaciona-mento com os outros pilotos brasileiros que lá estavam?

Eu me lembro de uma coisa bacana, legal demais. Eu fiqueitocado no dia que aconteceu. No meu início em Cambridge,onde eu morava na Inglaterra, um belo dia eu estava emcasa com meu irmão Gustavo que foi comigo pra lá estudaringlês, o que foi minha sorte inclusive. Eu teria ficado muitomais louco se ele não estivesse lá. Mas aí, toca o telefone eera o Rubinho. E eu não o conhecia. Eu era amigo doGualter Salles que morava com ele e corria de F-3 comigo,mas só. Então, o Rubinho ligou lá e disse que estava ligan-do para dar boas vindas e que sabia que a situação nocomeço era sempre complicada e que estava lá para me aju-dar em qualquer coisa. Para mim, foi a melhor boas vindasque eu poderia receber. Amansou meu lado em um montede coisas. Eu era amigo do Gualter já, mas não era tão próx-imo. Aí quando o Rubinho me ligou eu comecei a frequen-tar mais a casa deles. Então, foi legal para caramba. ORubinho é um cara muito legal. Eu sou amigão dele, entãosou suspeito para falar. Sem contar que eu já morei com oRubinho, um ano inteiro.

n Você chegou ao último degrau pré-F1 na Europa que eraa F3000, em 96. A partir daí, suacarreira passou por problemas que cul-minaram em sua mudança para o auto-mobilismo norte- americano. Aos 23anos, você estava desistindo do sonhode chegar a F1?

Na verdade, volta naquilo que a gentefalou anteriormente. Não tem nada desonho, de poesia. É tudo fato. Em 97,eu tinha chance e patrocínio para con-tinuar correndo, mas de Indy Light.Um ano antes, eu demorei para con-seguir patrocínio e eu só fui conseguirem março. Peguei o último carro disponível na categoria naúltima equipe. Lógico que era equipe ruim e carro ruim. Eutive um ano péssimo em 96, o pior ano da minha carreira.Nem o de F-Truck foi tão ruim. Na Truck pelo menos tiveramalgumas coisinhas que salvaram. Então, em 97, surgiu a opor-tunidade de fazer Indy Light. E como naquela época o pessoalnos EUA estava contratando muitos pilotos, muito gente sedando bem. Pensei que a oportunidade de ser profissional láestava muito mais real do que na Fórmula 1. Sem contar quenaquela época, já existia na Fórmula 1, a política de que parase ter uma vaga era preciso um patrocínio de milhões e mil-hões. A chance de se conseguir isso era pequena. Então, fuipara os EUA pela oportunidade.

n Paul Newmann foi uma das maiores astros que o mundo já viu. Ele realmente entendia de corridas?

O Paul era um cara que como você disse foi um dos maioresastros que o mundo já viu. Outro nível de pessoa. Eraapaixonado pelo automobilismo. A primeira vez que eu fuitreinar pela equipe dele, em Sebring, uma cidadezinha quetem um circuito pequeno que a gente usava só para testarno inverno, já que nos Estados Unidos nessa época neva nopaís inteiro. Menos lá. Era o meu primeiro dia na equipe,cheguei para o treino e logo que chego, tomo um susto evejo quem está lá, Paul Newman. Ele ia até nos treinos!Logo, ele foi puxar papo comigo, contar que veio para assi-stir meu treino, perguntar como iam as coisas. Batendopapo com ele, porque gente que gosta de corrida é fácil viraramigo. Eu fiquei horrorizado por que durante o treino, elesempre vinha conversar. Ele queria saber de tudo mesmo eentendia do negócio. Sempre interessadíssimo. Outra vez,eu fui andar de kart com ele. Ele já tinha, sei lá, seus 73,74, 75 anos e andava de kart! Mas não andava como essesmutantes que você vê por aí, ele andava bem. Andavamesmo. Praticava mesmo. Mais legal foi no aniversário delede 80 anos. Ele falou comigo assim: Meu aniversário de 80anos é o seguinte. Minha mulher me disse que quando eu

fizer o aniversário de 80 anos, estarei proibido de correr. Naminha última corrida com 79 anos, quero fazer uma corri-da direito, uma corrida de 24 horas. Acabou que ele mechamou para correr com ele. Uma pessoa especial. Ele faziatudo para todo mundo. Ele tinha um monte de empresas nonome dele que o lucro ia 100% para caridade. Uma pessoaavançada.

n Qual foi o momento mais marcante da primeira temporada em seu retorno à Europa, pela F1?

O momento mais legal do ano, em termos de resultado, foi aInglaterra. Liderei e acabei chegando em sexto. Mas de satis-fação pessoal mesmo, o mais legal de todos, foi ter largado emterceiro em Suzuka. Era minha primeira vez lá e ainda poruma equipe japonesa. Pelo lado do desportista, por ser umapista complicada, pensei comigo mesmo que tinha mandadobem demais. Sendo egocêntrico, o resultado pessoal maislegal foi o de Suzuka. No geral, o sexto na Inglaterra.

n Após o acidente, você teve um longo período de inatividade. Chegou a temer por sua carreira?

Fiquei um bom tempo parado. O acidente ocorreu em agos-to de 2006. Cheguei em BH só em outubro. Fiquei 27 diasno hospital em coma, sem saber de nada. Depois forammais 30 dias no hospital. Isso sem contar a recuperação.Não cheguei a temer pela minha carreira, porque os médi-cos diziam que daria para voltar. Em 2007, eles me disse-ram que estava tudo legal, só que era melhor esperar até opróximo ano para competir de novo. Era melhor para ocorpo esperar mais para dirigir. Estava tudo bem, mas ocorpo não aguentaria outra porrada daquela. Foi uma medi-da ultraconservadora, para ficar tudo em ordem mesmo erecuperado e dar uma chance para o corpo de solidificar.

n Como foi a reação da sua família aosaber de sua vontade de voltar a competir?

Eles sabiam que eu voltaria, porqueviam como eu vinha me recuperando eque o automobilismo fazia muita faltapara mim. É como uma coisa que vocêestudou a vida inteira sabe fazer e queagora, por algum motivo, tem quemudar de profissão. Eles viram que eugostava mesmo e ficaram numa boa,sem problemas.

n Durante sua recuperação, você pode se dedicar a outrasatividades que em tempos normais não poderia, como tocarguitarra com frequência, a prática do ciclismo e a empresa dafamília. Como foi esse período "calmo" em sua vida?

Na verdade, eu sempre toquei guitarra com frequência.Andar de bike também. Era sempre minha preparação parao automobilismo essa atividade. A maior diferença foi tra-balhar no escritório. Trabalhava na gerência, quem estápagando, quem não está, fluxo de caixa. E outra, um cargoque sempre tive lá e continuo tendo é o de piloto de testes.Tudo que vai ter de novidade na empresa, eu sou o primeiroa testar. Se eu falo que está legal, aí eles passam para os ou-tros pilotos de teste. Nesse tipo de coisa, tem que ter aopinião de um monte de gente. Mas a primeira opinião ésempre minha. Eu ando de bike desde 1999, então, eutenho um pouco de noção nesse sentido. Sei o que é legal,o que não é, o que é confortável, o que não é... isso aí podedeixar comigo que eu sei o que estou fazendo.

n O Rock é uma de suas paixões alternativas. Ainda continua tocando com sua banda "Blue Balls"?

Continuo. É um negócio que na verdade, hoje em dia, tro-car eu não trocaria, mas fazer os dois, eu faria. Ou melhor,fazer os dois eu já faço. Digo, gastaria mais tempo com amúsica, uma coisa mais profissional com a "Blue Balls".Porque de um jeito ou de outro, automobilismo é uma coisaque já faço há muito tempo. Continuo gostando demais,mas a música eu gosto demais também. É uma coisa que mebalança. Sendo realista, onde eu consegui chegar ao auto-mobilismo, talvez, um sonho meu é chegar nesse nível namúsica. Ia ser legal demais. Mas não sei se dá tempo.Tocamos eu, meu irmão Guto no vocal, meu outro irmãoFelipe na bateria, e o "Claudão", colega do Guto de facul-dade, que é baixista. Chegamos até a fazer show, tocamosna noite em alguns lugares aqui em BH.

FREDERICO MACHADO

APAIXONADO PELO AUTOMOBILISMO

[ ]“ARREPENDIMENTO NÃO.

MAS, HOJE, SABENDO

COMO AS COISAS ACONTE-CERAM, EU FARIA MUITAS

COISINHAS DE FORMA

DIFERENTE”

n

FREDERICO MACHADO,

GUILHERME PEDROSA,

2º PERÍODO

Cristiano da Matta carrega um sobrenome de respeito no automobilismo.Seu pai, Toninho da Matta foi um dos melhores pilotos que MinasGerais produziu. Natural de Belo Horizonte, o herdeiro do nome DaMatta no automobilismo, acumula passagens pela Formula 3 Inglesa,Fórmula Mundial e Fórmula 1. Cristiano passou pelas mais diversassituações, típicas de um atleta de ponto: conquistas memoráveis, derrotas,amizade, desafeto, acidentes e títulos. Com muita simplicidade e dis-posição, foi difícil acreditar que aquele piloto de fala tranqüila era real-mente alguém acostumado a trabalhar a 300 Km/h. A entrevista foirealizada em dois momentos. A primeira em um Shopping Center daCapital e a segunda no Kartódromo RBC Racing em Vespasiano,durante uma sessão de treinos no Kart. O ex-piloto de Fórmula 1, ape-sar da breve carreira na categoria, classifica sua passagem pela equipeToyota como satisfatória. "Pelo lado de resultado, lógico que poderia tersido muito melhor. Mas pela situação de estreante e com o carro que eutinha, sem conhecer as pistas da temporada, eu fiquei satisfeito. Foi bom",afirma. O automobilismo acabou lhe rendendo boas amizades também,Paul Newman, famoso astro de Hollywood e seu chefe de equipe, foi umadelas. "Certa vez, eu fui andar de kart com ele. O Paul já tinha seus 73,74, 75 anos e andava de kart. Mas não andava como esses mutantes quevocê vê por aí, ele andava bem. Praticava mesmo", lembra. Mesmo sendosua maior paixão, o esporte a motor lhe rendeu momentos dramáticos,como o sério acidente sofrido em 2006. Aos 37 anos e totalmente recupe-rado, o piloto divide seu tempo entre as corridas na American Le MansSeries e a Da Matta Design (empresa de artigos esportivos focada nociclismo), fundada pelos seus irmãos Gustavo e Felipe.