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Associação dos Magistrados do Trabalho da 21ª Região AMATRA21/ESMAT 21 promovem curso de Pós- graduação em Administração Judiciária A ESMAT 21, com o apoio do TRT da 2ª Região, promoveu, no último dia 25 de abril, o seminário de atualização jurídica sobre 'O Novo Código Civil e o Direito do Trabalho". O expositor foi o Professor e Juiz do Trabalho da 1º Região, Alexandre Agra Belmonte, autor de diversas obras na área. O evento, realizado no auditório do edifício-sede do TRT da 21ª Região, contou com a participação de vários Juízes e profissionais das carreiras jurídicas. AMATRA 21 promove seminário sobre o novo Código Civil e o Direito do Trabalho Ano 3 nº 10 maio de 2003 Natal RN O novo Código Civil e o Direito do Trabalho: Juíza Simone Jalil, vice-presidente da AMATRA 21, Professor Alexandre Agra Belmonte, Juiz Luciano Athayde, presidente da AMATRA 21 e associados, servidores do TRT e profissionais do Direito que prestigiaram o evento promovido em parceria com a ESMAT 21. p 7 Alexandre Agra Belmonte fala ao Jornal AMATRA 21 sobre o novo Código Civil e o Direito do Trabalho Encontro Regional das AMATRAS do NE reúne Juízes do Trabalho em Pernambuco JORNAL AMATRA 21 Congresso Internacional da ANAMATRA Realizado entre 10 e 18/03/2003, nas cidades de Madrid, Toledo e Barcelona, na Espanha, o III Congresso Internacional da ANAMATRA destacou-se pela organização e qualidade da programação científica, que aprofundou o caráter integrativo do conclave, característica dos Congressos realizados em Portugal (1999) e na Itália (2001). p 3 a 6 p 12 p 9 a 11

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Associação dos Magistrados do Trabalho da 21ª Região

AMATRA21/ESMAT 21promovem curso de Pós-graduação emAdministração Judiciária

A ESMAT 21, com o apoiodo TRT da 2ª Região,

promoveu, no último dia 25de abril, o seminário de

atualização jurídica sobre 'ONovo Código Civil e o

Direito do Trabalho". O expositor foi o Professor

e Juiz do Trabalho da 1ºRegião, Alexandre Agra

Belmonte, autor de diversasobras na área.

O evento, realizado noauditório do edifício-sede doTRT da 21ª Região, contou

com a participação de váriosJuízes e profissionais das

carreiras jurídicas.

AMATRA 21 promove semináriosobre o novo Código Civil e o Direito do Trabalho

Ano 3 nº 10 maio de 2003 Natal RN

O novo Código Civil e o Direito do Trabalho: Juíza Simone Jalil, vice-presidente da AMATRA 21, ProfessorAlexandre Agra Belmonte, Juiz Luciano Athayde, presidente da AMATRA 21 e associados, servidores do TRT

e profissionais do Direito que prestigiaram o evento promovido em parceria com a ESMAT 21.

p 7

Alexandre Agra Belmonte fala aoJornal AMATRA21 sobre o novoCódigo Civil e o Direito do Trabalho

Encontro Regional das AMATRASdo NE reúne Juízes doTrabalho em Pernambuco

JORNAL AMATRA 21

Congresso Internacional da ANAMATRA Realizado entre 10 e

18/03/2003, nas cidades deMadrid, Toledo e Barcelona,na Espanha, o III CongressoInternacional daANAMATRA destacou-sepela organização e qualidadeda programação científica,que aprofundou o caráterintegrativo do conclave,característica dos Congressosrealizados em Portugal (1999)e na Itália (2001).p 3 a 6

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OCongresso foi aberto emMadrid, capital da Espanha esede da Universidade CarlosIII, que recebeu a delegaçãobrasileira para o primeiro dia

de trabalho. A abertura ficou a cargo do Presi-dente da ANAMATRA, Juiz Hugo MeloFilho, que discorreu sobre a recente históriapolítica da Espanha e do Brasil, fazendo aproxi-mações e paralelismos entre essas duas demo-cracias e o papel do Judiciário nesses regimes.

Em seguida, falou o Prof. Luis Lopes Guer-ra, que destacou o significado da definição daEspanha como Estado Social, afirmando nãoser tal definição inútil, eis que supõe reco-nhecer a garantia de condições de vida aoscidadãos, o que está, de forma expressa, es-tampada em várias passagens da Constitui-ção Espanhola. Identificou, ainda, haver doisníveis de direitos sociais no contexto consti-tucional espanhol, a saber: direitos funda-mentais (1° nível), que são exigíveis imedia-tamente, como educação e liberdade; e di-reitos derivados (2° nível), que têm eficáciadiferida em virtude de dependerem de regu-lamento próprio. Nesta última categoria, estãoos direitos à sindicalização, negociação cole-tiva, pleno emprego, habitação, saúde, se-guro social, etc. A questão que se coloca é aseguinte: a que ponto esses direitos derivadosvinculam o legislador? Para o Professor LopesGuerra, os direitos derivados cumprem, em

primeiro lugar, uma função habilitante, eisque a proteção de certos direitos está previa-mente legitimada pela Constituição Espanho-la, como sucede com o seu art. 14, que, em-bora trate da igualdade, permite a desigual-dade em certos casos para proteger. Em se-gundo lugar, ao estatuir direitos derivados, aConstituição impede que o legislador or-dinário contraponha-se ao que inspira a Cons-tituição Espanhola. Nada obstante o chama-do 'monopólio de rechazo' seja privativo do Tri-bunal Constitucional da Espanha, os juízes es-panhóis têm liberdade para não aplicar umalei que considere revogada pela Constituição,ou mesmo suspender o procedimento pararemeter a questão à Corte Constitucional.Prosseguiu destacando que a Justiça Espa-nhola tem se utilizado dos princípios consti-tucionais para enfrentar questões envolven-do discriminação, mas admitindo a chama-da 'discriminação positiva', relacionada coma maternidade, com a proibição de penhorasobre salários, acesso a emprego de deficientesfísicos, inclusive na área pública, tudo issonum franco movimento de construção de umdireito pela via jurisprudencial. Finalizou suaparticipação parafraseando Ihering, dizendoque a luta pelo Direito deve ser uma luta pelodireito social. Para falar sobre a 'Injunção Ju-dicial dos Direitos Sociais Programáticos', foiconvidado o Professor Luis Aguiar de Luque,Catedrático de Direito Constitucional, que

abriu sua conferência afirmando que não exis-te na Espanha e em toda a Europa a figurado mandado de injunção, sendo o tema cos-tumeiramente tratado como 'inconstitu-cionalidade por omissão', vale dizer, quandoa ofensa dá-se por inanição. Lembrou que, atébem pouco tempo, as constituições na Europaeram mais de caráter retórico e programáti-co, somente surgindo com o pós-guerra oconceito de jurisdição constitucional, quan-do a norma constitucional passou, então, ater força vinculante, uma verdadeira normajurídica. Prosseguindo na exploração do tema,classificou as omissões constitucionais em trêscategorias: as omissões absolutas, as absolu-tas de caráter fundamental e as relativas. Paraenfrentar essas omissões, os tribunais têm ad-mitido os recursos de inconstitucionalidade,quando se tratar de controvérsia abstrata daomissão legislativa, e o recurso de amparo(equivalente ao mandado de segurançabrasileiro), quando a controvérsia tenha na-tureza subjetiva e concreta. Finalizando ostrabalhos na Universidade de Madrid, fez oMinistro Carlos Velloso, do Supremo TribunalFederal do Brasil, uma explanação sobre omandado de injunção, exortando sua vo-cação para ser um controle constitucionaldas liberdades. Lembrando que o remédioprevisto na Constituição brasileira de 1988 temorigem no Direito Português, expôs as carac-terísticas do mandado de injunção, que, em-bora tenha por objetivo instituir normativi-dade em casos de omissão, não se presta paratanto quando se fizer necessária a criação deum órgão ou quando a norma fundamentalfor considerada auto-aplicável. Destacou servoto vencido no Plenário do STF (ao lado dosMinistros Marco Aurélio e Ilmar Galvão)quanto às possibilidades do mandado de in-junção, entendendo que o Supremo deveriaformular a norma para o caso concreto, quan-do omissa a legislação, ao contrário do quevem afirmando a jurisprudência da CorteConstitucional, que apenas admite a declara-ção da mora legislativa, notificando o Parla-mento. No entender do Ministro, o STF fariajurisdição de eqüidade se fixasse a norma.Destacou, no entanto, que o STF tem de-monstrado uma tendência de mudança na suajurisprudência, o que está se dando de modolento em vista da própria natureza conser-vadora dos magistrados.

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Artigo

Apontamentos sobre oIII Congresso Internacional da ANAMATRA

Congresso Internacional da ANAMATRA: Universidade Carlos III, em Madrid.

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Artigo

Acontinuidade do Congresso nacidade de Madrid teve comopalco o Conselho Geral deJustiça da Espanha, órgão res-ponsável pela administração e

planejamento da Justiça em todo o territórioespanhol. Ali, sobre o Direito Processual doTrabalho, falou aos congressistas D. Fer-nando Salinas Molina, Juiz do TribunalSupremo da Espanha e Vice-Presidente doConselho Geral do Poder Judiciário, quetraçou, inicialmente, um panorama da com-petência na Justiça espanhola, onde a juris-dição trabalhista e a criminal são indepen-dentes, destacando que há uma Lei de Pro-cedimento Laboral, de 1990, que reputauma legislação moderna, conferindo à ju-risdição laboral espanhola competência paraconhecer de uma ampla gama de conflitos,desde os de emprego aos conflitos entre co-operados e cooperativas de trabalho, alémde questões de sindicalização, inclusive pa-tronal.

Em seguida, descreveu a organização ju-diciária laboral espanhola, que tem em suabase os chamados 'juzgados de lo social' (equi-valentes às Varas do Trabalho no Brasil),

que atuam praticamente em jurisdição única,já que não há recurso quanto à matéria fáti-ca. Acima dos juzgados estão as 'salas de losocial' dos Tribunais Superiores de Justiça,havendo um em cada uma das 17 Comu-nidades Autônomas espanholas. Para co-nhecer de conflitos coletivos de questõesque transcendem o território das Comu-nidades Autônomas, existe a 'sala de lo so-cial' da Audiência Nacional e, por fim, a'Sala de lo social' do Tribunal Supremo daEspanha. No caso da jurisdição laboral, exis-tem, ainda, organismos administrativosprévios de conciliação. Por fim, ressaltouque as decisões das Cortes superiores na Es-panha não têm estrito efeito vinculante, masefeito moral. Após a palestra do ProfessorMolina, a delegação do Congresso fez umainteressante visita ao edifício-sede do Tri-bunal Supremo da Espanha, um prédio muitobonito que guarda em seu interior toda a pu-jança artística e arquitetônica clássica es-panhola. A delegação foi recebida pelo Presi-dente da 'Sala del social' e pelos demais Magis-trados que a compõe, quando foi possível aoscongressistas formular perguntas sobre o fun-cionamento daquela Corte. De volta ao

Conselho Geral, foi a vez da exposição de D.Juan Pablo González González, também in-tegrante do Conselho, e que discorreu sobreo sistema de governo do Poder Judiciário naEspanha, enfocando que, diferentemente daAmérica, onde predomina a separação totaldo Judiciário em relação aos outro Poderes,na Europa ainda há uma dependência doexecutivo, principalmente na área adminis-trativa. Destacou que os conselhos de justiçaforam criados na Europa após a segundagrande guerra, já que, até então, não se con-cebia que o Judiciário estivesse vocacionadopara tarefas administrativas. Somente com acriação dos conselhos, as tarefas adminis-trativas foram transferidas ao Judiciário. São,portanto, os conselhos, órgãos de gestãoadministrativa, não integrando propriamenteo Poder Judiciário, por isso suas decisões sãocontroladas pela via judicial, permanecendo,todavia, com o Poder Executivo, as funçõesde apoio material. Em seguida, enfocou a or-ganização judiciária na Espanha, lembran-do que o Tribunal Constitucional tambémnão integra o Poder Judiciário, e seus dozemembros são indicados pelo Senado e peloConselho Geral do Poder Judiciário.

Madrid (11/03) - Conselho Geral de Justiça

Na histórica cidade de Toledo,

mais precisamente em sualendária Universidade de Castil-la-La Mancha, que funcionanum antigo mosteiro, incrus-

tado na parte medieval da cidade, teveprosseguimento o Congresso, desta feita de-batendo temas relacionados com o Direito Co-munitário.

A primeira conferência foi do ProfessorAntonio Baylos, Catedrático de Direito doTrabalho, que afirmou que os sistemas labo-rais europeus exigem um conteúdo mínimode proteção ao trabalho, admitindo-se o acrés-cimo de proteção via negociação coletiva,até mesmo porque na Europa a isonomia for-mal não se suporta diante da assimetria dasrelações de trabalho que a realidade revela.Nesse contexto, destacou a importância doprincípio da autonomia coletiva como fontede direito do trabalho e da auto-regulação so-cial. De acordo com seu pensamento, o proces-so de formação da comunidade européia, em-bora tenha o seu início nos anos 60, tornou-

se realidade nos anos 80, só que com forte ên-fase no fator econômico, tratando a questãosocial como mero apêndice. O desenvolvi-mento da autonomia coletiva na comunidadeeuropéia encontra dois obstáculos principais:o primeiro é o fato de que as figuras antro-pológicas do consumidor e do trabalhadornão estão muito bem compreendidas noprocesso de desenvolvimento da União Euro-péia. Por outro lado, os sistemas sindicais na-cionais são muito diferentes, em vista dassuas próprias formações históricas particu-lares. O problema é que não se sabe, ainda,como se criar um sistema sindical único, cujaresistência maior vem das empresas européiasde caráter transnacional. Segundo Baylos, odiálogo social é condição indispensável paraa sustentação da comunidade européia, re-conhecendo, no entanto, que já nota-se umatendência de harmonização dos direitos co-letivos de trabalhadores de uma mesma em-presa sediada em mais de um país-membroda Comunidade, o que revela a dimensãotransnacional da regulação social na Europa.

As diretivas da União Européia de 2000 e2001 sugerem que sejam ampliados os canaisde consulta aos trabalhadores de empresaseuropéias, inclusive para os casos de deslo-calização de empresas dentro do continente.Tal processo já notava-se desde 94 com a di-retiva que sugeria a instalação de comissõesnas empresas européias de caráter transna-cional, havendo dados no sentido de que40% de tais empresas já possuem comissõesdessa natureza. Disse, ainda, que se espera queas discussões negociais de caráter social no âm-bito da União Européia passem pelo diálogoprévio dos interlocutores sociais de trabalha-dores e empresas da comunidade européia,sendo o acordo sobre teletrabalho de junhode 2002 um excelente exemplo de negociaçãocomunitária que, embora não tendo exe-quibilidade imediata, já foi incorporada porvárias normas coletivas de caráter nacional.Na seqüência, foi a vez da palestra da Minis-tra Maria Critina Irigoyen Peduzzzi, do Tri-bunal Superior do Trabalho do Brasil, queteve como tema 'Perspectivas do Direito do

Toledo (12/03) - Universidade Castilla-La Mancha

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Artigo

Trabalho à luz do Direito Comparado'. Partin-do da idéia de que o contexto jurídico atualé de pluralismo da construção de norma-tividade, afirmou a Ministra que a produçãodo direito tem sofrido uma despolitização,prevalecendo atualmente o caráter econômi-co, o que produz um processo cheio de signi-ficados e contradições, a saber: a) a liberali-zação não contribui para a melhora dos in-dicadores sociais; b) a competitividade em-presarial não reduziu o número de desem-pregados; c) a redução do campo de com-petência do Estado na regulação social. Nessecontexto, afirmou que a tendência é a de in-tegração dos Estados, destacando algumascaracterísticas da Comunidade Européia e

do Mercosul. Encerrando os trabalhos emToledo e explorando o tema "A estruturado Direito Social Comunitário e sua in-cidência na construção dos ordenamentosnacionais", o Professor Fernando Valdés Dal-Ré, Catedrático de Direito do Trabalho daUniversidade Complutense de Madrid, ini-ciou sua palestra destacando que o direitocomunitário inspira a idéia de uma Europaúnica, uma comunidade de direito e que,sendo assim, o direito social comunitárioconfunde-se com a própria história da co-munidade européia. Ele limitou a sua re-flexão ao sistema normativo comunitário eo seu impacto sobre os 15 países que formama União Européia. Assinalou o caráter e a

natureza supra-nacional desse organismo ea sua peculiaridade de não possuir com-petência geral, já que esta é limitada naforma expressamente estabelecida pelo Trata-do de Roma. "Em matéria social, o tratadode Roma é praticamente silente, já que os-tenta uma preocupação de instrumentali-dade econômica para o fortalecimento dosmercados dos países signatários", afirmou.Mesmo assim, reconheceu o caráter ju-ridicamente original do ordenamento co-munitário, eis que dividido em graus e níveise com pluralidade de atores. Prosseguiuobservando que as diretivas baixadas pelaUnião Européia são normas de relevantecriatividade jurídica e que são dirigidas nãoaos cidadãos ou à comunidade, mas aos Es-tados Nacionais, a quem compete a sua in-corporação ao ordenamento jurídico inter-no. De acordo com ele, as questões litigiosasde natureza comunitária são encaminhadasao Tribunal de Luxemburgo, criado pelotratado de Roma e integrado por juízes desig-nados pela comunidade européia. O acessoao tribunal pode ser feito por qualquer juizdos países da comunidade, por meio de umaquestão prejudicial para que o tribunal pro-nuncie-se incidentalmente sobre a melhorinterpretação dos tratados na comunidade."Ocorre que, não raro, os tribunais locaisnão abdicam de sua jurisdição nacional parafixar interpretação sobre normas da comu-nidade européia, o que, em resumo, tornatodo e qualquer juiz dos países da União Eu-ropéia um juiz competente para enfrentar lití-gios de natureza comunitária", finalizou.

Conselho Geral de Justiça, em Madrid: Luciano Athayde, presidente da AMATRA 21, Ministra Cristina Peoluzzi e as Juízas Daniela Lustoza e Elizabeth Almeida.

Já na capital da Comunidade Autônomada Catalunha, os congressistas foramaté a Escola Judicial da Espanha, res-ponsável pela seleção e formação dosMagistrados espanhóis. Ali, ouviram a

exposição do Professor José Francisco Valls,Diretor da Escola, que destacou que na Es-panha compreende-se ser função do Estadoa formação da Magistratura, por isso a Esco-la Judicial dedica-se à formação inicial e con-tinuada dos juízes, sendo esta última umacaracterística moderna que encerra a idéiaque o aperfeiçoamento dos magistrados deveobservar uma continuidade, para manter-seuma excelência no nível de jurisdição. Desta-cou ainda que a Escola Judicial da Espanhaé a mais bem estruturada de toda a Europa.

Após a exposição do Professor Valls, os

congressistas foram divididos em pequenosgrupos, guiados por professores e juízes em es-tágio, para conhecer as dependências e de-mais instalações da Escola Judicial, que sãomuito espaçosas, com diversas salas de aulas,várias bibliotecas e salas de informática, alémde um espaço para simulação de audiências.Durante a visita, foram expostas algumas ca-racterísticas do ingresso na magistratura es-panhola, acessível aos formados em Direitosaprovados perante dois exames orais ofereci-dos pelo Conselho Geral do Poder Judiciáriono Tribunal Supremo, abrangendo cerca de349 temas, sendo 19 específicos de Direito eProcesso do Trabalho. São os chamados 'exa-mes de posición'. Em seguida, os aprovados sesubmetem a curso obrigatório na Escola, desetembro a junho, onde são explorados temas

de direito civil, penal e constitucional. Esse curso fundamenta-se numa meto-

dologia de estudos de casos concretos. Nãoestudos teóricos, que se presumem feitos pelochamado 'juiz em formação' durante e depoisda faculdade de Direito. Em média, os gra-duados em Direito costumam contar compelo menos quatro anos de exaustiva dedi-cação antes de submeterem-se às provas noTribunal Supremo e chegam na Escola Judi-cial com 28 a 30 anos. Concluído o curso naEscola, os aspirantes são distribuídos, segun-do suas notas, pelos diversos 'juzgados' de 1°Grau, onde são supervisionados pelos JuízesTitulares. Esta fase dura, em média, 06 a setemeses, quando são chamados 'juízes em práti-ca'. Concluído o curso, os aspirantes recebemdos Reis de Espanha o título de juízes ou 'el

Barcelona (17/03) - Escola Judicial da Espanha

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Artigo

despacho de juez'. Para tornar-se um juiz dotrabalho, entretanto, exige-se uma formaçãoespecífica e a aprovação em outros examesposteriores à fase de formação básica do juizcomum. Importante, ainda, destacar que osalunos da Escola têm aulas de línguas es-trangeiras, inclusive de outras línguas fala-das na Espanha, como catalão, usquera, gal-lego, etc. Também há remuneração para osalunos, que é calculada sobre um percen-tual dos vencimentos de um juiz. Impor-tante ainda destacar que a formação dosjuízes através da Escola igualmente com-preende o acompanhamento de atividadesditas não-jurídicas, como transplante deórgãos, trabalho no campo, presídios, polí-cia, etc. Também há oficinas sociológicas, de-bates sobre cinema, dentre outras atividadesvoltadas à formação integral do juiz. Noencerramento da visita pela Escola, foi aindadestacado a semelhança que guarda a Escolaespanhola com outras escolas na Europa,especialmente com a Escola portuguesa e afrancesa, sendo que, nesta última, a for-mação é mais longa, de aproximadamentetrinta meses, e exige um estágio do aspi-rante em outro país. Na seqüência das

palestras, falaram aos congressistas o Pro-fessor Manuel Bellido, da Escola Judicial, eD. Daniel Bartomeus, Vice-Diretor do FórumTrabalhista de Barcelona. Ambos sinteti-zaram os principais aspectos da jurisdiçãotrabalhista na Espanha, a saber: a) a juris-dição laboral integra a civil e é fruto daevolução desta; b) os tribunais industriais,que foram instalados no início do séculoXX, tinham formação paritária; c) em 1940,cria-se a Justiça Laboral, com juízes de car-reira, sendo que em 1985, institui-se umanova estrutura judiciária, tendo na base os'juzgados de lo social' e no topo o TribunalSupremo; d) os 'juzgados de lo social' locali-zam-se normalmente na sede da província,com jurisdição sobre toda a província; e) aJustiça Laboral é de única instância, sendolimitada a via recursal aos tribunais superio-res; f) cada tribunal superior tem pelo menosuma 'sala de lo social'; g) os tribunais conhe-cem de questões que transcendem a terri-torialidade de uma província, sendo que orecurso de suplicação tem natureza extra-ordinária; h) a Audiência Nacional somenteconhece de matéria sindical ou convençõescoletivas superiores ao território de uma Co-

munidade Autônoma, não conhecendo dequalquer estirpe de recurso.

Em Barcelona, a Justiça Paritária duroude 1931 a 1940, com o fim da Guerra Civilespanhola, quando os seus integrantes eramvinculados ao Ministério do Trabalho. Há 33'juzgados' (Varas do Trabalho) em Barcelona,sendo que três dedicam-se exclusivamentea promover o processo de execução das sen-tenças proferidas pelos outros trinta, quecuida, assim, apenas da parte congnitiva dascontrovérsias.

Há cidades na Catalunha, ademais dacapital, que contam com 'juzgados de lo so-cial', devido à concentração industrial. Dos'juzgados' em Barcelona, apenas 10 senten-ciam na língua oficial da Catalunha, ocatalão, os demais se exprimem na línguacastelhana. Em 2002, 33.300 questões ('asun-tos') chegaram à Justiça Labo-ral emBarcelona, uma média de 1.100 por 'juzga-do', sendo mais 12.000 questões de seguri-dade social. Segundo os expositores, ob-serva-se uma tendência de crescimento dereclamações contra empresas prestadoras deserviços públicos. Contra as empresas pri-vadas, são poucas as reclamações.

Oponto alto do Congresso emBarcelona foi a possibilidadedada aos congressistas deacompanhar audiências tra-balhistas nos diversos 'juzga-

dos' da cidade. Para tanto, houve prévia di-visão dos congressistas em pequenos gru-pos, cada um orientado a comparecer emhora marcada a um dos 'juzgados', onde o res-pectivo juiz já o aguardava.

Foi, de fato, uma ímpar oportunidade deinteração com outra cultura judicial. Embo-ra se pudessem estabelecer algumas seme-lhanças, há importantes distinções proce-dimentais que a todos impressionou, comoa possibilidade de interrogatório diretamentepelos advogados, a pouca informatização ea rarefeita transcrição dos depoimentos emata. Nos intervalos entre as audiências, osjuízes espanhóis dispensaram grande atenção

aos congressistas, dirimindo dúvidas e ex-plicando o que tinha se passado nas au-diências já presenciadas.

Foi realmente um raro contato com umaexperiência jurisdicional comparada, o quese espera ser repetido nos próximos con-gressos internacionais na ANAMATRA.

POR LUCIANO ATHAYDE CHAVES

PRESIDENTE DA AMATRA 21

Barcelona (18/03) - Juzgados de lo Social

Tribunal Supremo daEspanha, em Madrid:

Juíza Daniela Lustoza,o Ministro CarlosVelloso, a Juíza

Elizabeth Almeida e oJuiz Luciano Athayde,

Presidente da AMATRA21.

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Jornal AMATRA 21 7

AMATRA Informa

LivroDurante o Seminário "O Novo CódigoCivil e o Direito do Trabalho", o colegaZéu Palmeira Sobrinho lançou a primeiraedição do livro "Estabilidade". A solenidade ocorreu no último dia25/04, no Plenário do TRT da 21ªRegião. Parte da renda obtida com avenda dos livros foi revertida em prol doprojeto social da AMATRA 21, “CriançaPrecisa Sorrir”.

OuvidoriaO desembargador federal do TrabalhoEridson João Fernandes Medeirosfoinomeado primeiro Ouvidor Geral doTribunal Regional do Trabalho da 21ªRegião. A designação foi do presidentedo TRT/RN, Des. Carlos Newton.A função do Ouvidor Geral é atuar nadefesa dos direitos e interessesindividuais e coletivos contra atos eomissões ilegais ou injustos cometidos noâmbito da 21ª Região. Uma dasprincipais atribuições do colega seráreceber reclamações e denúncias eencaminhá-las à Presidência do Tribunalpara correções. O Ouvidor também tempermissão para instauração de correições,de sindicâncias, de inquéritosadministrativos e de auditorias. O objetivo da instalação de órgãos comoa Ouvidoria Geral no TRT/RN éoferecer mais agilidade e transparência àprestação jurisdicional. O horário deatendimento será das 8h00 às 18h00.

Pós-graduação Estão abertas as inscrições para o Cursode Pós-graduação Lato Sensu emAdministração Judiciária. Aespecialização foi viabilizada através deuma parceria entre a Escola Superior daMagistratura do Trabalho da 21ª Região -ESMAT 21 e Universidade Potiguar -UnP. O principal objetivo do Curso écontribuir de forma sistêmica e vivencialao preparo de profissionais envolvidoscom administração de instituiçõesoperadoras do Direito e da gestãopública, notadamente nos aspectosreferentes às normas e aos princípiosconstitucionais, administrativos,processuais e obrigacionais. O Curso terácarga horária de 360 horas/aula e seráministrado às quintas-feiras à noite e àssextas-feiras pela manhã e à tarde,quinzenalmente. Maiores informaçõespoderão ser obtidas através dos telefones234-7559 e 3086-1513.

ZoneamentoA Assembléia Geral da AMATRA 21aprovou a proposta sobre o zoneamentode Juízes Substitutos, desenvolvida pormembros de uma Comissão criadaespecialmente para discutir o assunto. O documento sugere a reformulação dosistema de distribuição dos juízessubstitutos pelas circunscrições e é frutode uma série de debates e de estudossobre o tema. A proposta foi submetidapela presidência do TRT/21ª Região aoPlenário, que a transformou em matériade alta relevância, sendo a relatora avice-presidente do Tribunal,Desembargadora Maria de Lourdes AlvesLeite.

JudiciárioO Projeto de Emenda Constitucionalque trata da Reforma do Judiciário foienviado pela Mesa Diretora do Senado,para reexame pelos membros daComissão de Constituição, Justiça eCidadania da Casa. A justificativa é quedevido ao grande número de senadoresnovatos, outros debates precisam sertravados no âmbito da CCJ. Para evitar retrocesso no processo dereforma, as associações de Magistradosplanejam intensificar a mobilização daclasse a fim de minimizar a pressão doGoverno Federal para fazer uma novareforma partindo de temas consensuais.

Segurança Nas reuniões do Conselho daANAMATRA e da AMB realizadas nosdias 31 de março e 01 de abril,respectivamente, foram discutidasquestões relativas às reformas daprevidência e do Judiciário. Os dois conselhos aprovaram também aadoção de medidas destinadas a cobrardos Tribunais e das demais autoridadespúblicas, locais e nacionais, maioratenção quanto à necessidade de dargarantia de incolumidade aos Juízes noexercício de suas funções.

SaúdeFoi aprovada, pela Assembléia Geral daAMATRA 21, a assinatura de convêniocom a UNIMED Natal, para fins deprestação de serviços médicos aosassociados e dependentes. O contrato foifirmado no último dia 27/05. Todos os associados receberam, atravésde ofício circular, maiores explicaçõessobre a nova sistemática de adesão aoplano de saúde, bem como orequerimento de opção que já foiapresentado ao TRT.

CooperativaA AMATRA 21 foi convidada a integrara Cooperativa de Crédito dosMagistrados do Estado do Rio Grande doNorte. O convite foi oficializado no dia07/04 pelo Presidente da AMARN, JuizVirgílio Fernandes.Antes de explicitar a posição daAMATRA, foi estabelecida uma reuniãoentre as diretorias das associações locais,inclusive AJUFE, para discutir o tema.Oportunamente a proposta seráapresentada à Assembléia Geral daAMATRA 21.

60 anos de CLTFoi realizado no dia 28/04, o Seminário"Justiça e Trabalho: melhoria dascondições", cujo objetivo foi discutir ascondições institucionais, estruturais eadministrativas da Justiça do Trabalho na21ª Região. O evento foi promovido peloTRT/RN com o apoio da AMATRA 21.Na oportunidade também foi realizadoum ato público em comemoração aos 60anos da promulgação da CLT. Orçamento

Já estão sendo realizados os últimospreparativos para o lançamento do Cursosobre Orçamento Público. O evento terácarga horária de 20 horas-aula e deveráser realizado nos dias 16, 17 e 18 dejulho. As aulas serão ministradas pelaDrª Oádia Rossy Campos, Consultora deOrçamentos, Fiscalização e Controle doSenado Federal. O Curso é umapromoção conjunta daESMAT21/AMATRA 21 e TRT/21ªRegião. Foi confirmada a expedição decertificados.

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INFORME PUBLICITÁRIO

Contribua doando o quevocê puder

Conta: 0647.006.2003-3QUEM TEM FOME TEM PRESSA!

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Jornal AMATRA 21 9

Entrevista Alexandre Agra Belmonte

AMATRA - Na opinião de V. Exa.quais foram as principais inovaçõesintroduzidas pelo novo Código Civil?

AB - Na parte geral do Código, as modi-ficações foram inúmeras: deu tratamentojurídico distinto à prescrição e à deca-dência; regulou os direitos da persona-lidade; fez a distinção entre ato e negó-cio jurídico; retirou os ausentes do roldos incapazes; regulou o estado de peri-go e a lesão; deu plena capacidade aosmenores de 18 anos; regulou as perten-ças. Na parte especial, a inovação maissignificativa foi a introdução do Direitode Empresa que vem revogar grandeparte do Código Comercial e permitir,então, que as relações jurídicas não maispartam, no tocante às atividades nego-ciais, da atividade comercial e sim daatividade empresarial que é muito maisabrangente. A "comercial" seria uma es-pécie do gênero "empresa", enquanto"empresa" não poder ser tida como umaespécie do "comercial", que não seriaum gênero. Mas outras modificaçõesforam introduzidas: regula a assunçãode dívida, prevê a revisão dos contratosem decorrência da onerosidade excessi-va, tipifica contratos como o de trans-portes e de penhor de veículos, reco-nhece a transação e o compromissocomo contratos, regulando-os, dá aten-ção aos contratos de adesão, regula aresponsabilidade civil em título especí-fico e prevê a responsabilização objeti-va, prevê a indenização por danosmorais, diminui os prazos de usucapião,regula a posse-trabalho, o direito de su-

perfície, e a propriedade fiduciária, su-prime a enfiteuse, regula o condomínioedilício, permite a mudança, medianteautorização judicial, do regime de casa-mento, introduz novo regime de casa-mento, o da participação final nos aqües-tos, torna o cônjuge herdeiro necessário,concorrendo com os descendentes e as-cendentes na partilha dos bens. É verdade que muitas das modificaçõesjá eram encontradas em leis especiaise/ou pensamentos doutrinários, com de-cisões da jurisprudência, a respeito. Porexemplo, o direito da personalidade, queera amplamente estudado pela doutrinae muito aplicado pela jurisprudência:Direito à vida, à integridade física, àhonra, à imagem, tudo isso já era per-feitamente aplicado apesar de não cons-tar como texto expresso do Código revo-gado. O instituto do Direito da persona-

lidade foi revigorado dentro da própriadoutrina a partir da Constituição de 88,que passou a se referir ao dano moral.Isso também foi uma novidade, em ter-

mos de Código Civil, porque agora exis-te regulamentação expressa a respeito. Outro exemplo é a responsabilização ob-jetiva. Com exceção de normas sobrecasos específicos, não havia texto legal,o que importou em longa discussão dou-trinária e jurisprudencial que não chegoua ficar de todo pacificada sobre a hipó-tese de sua ocorrência fora dos casosapontados em lei. Agora, há menção ex-pressa: desde que a atividade seja derisco ou a lei determine, o causador dodano responderá mesmo sem culpa. Poroutro lado, já existia lei regulando aunião estável; apenas não estava noCódigo.

AMATRA - O novo Código Civil podeser considerado um código moderno oujá nasceu ultrapassado?

AB: Fala-se muito numa regulação míni-ma, complementada por microssistemas,o que daria mais flexibilidade às atuali-zações de lei. Mas o fato é que o legis-lador civil fez diferente e apresentou umCódigo com regulação geral, o que, pormuitos, é, por si só, uma idéia ultrapas-sada. Em decorrência do longo de trami-tação (26 anos), do freio do novo legis-lador em relação a entendimentos juris-prudenciais já sedimentados em relaçãoa determinado assunto; da abordagemdiferente de normas já existentes em leisespeciais; e, do silêncio do legislador emrelação a fenômenos como clonagem einseminação artificial, muitos dizem queo Código nasceu ultrapassado. Ora, emcomparação com o Código de 16, o de

Em algumas partes o

Código Civil pode ser

considerado retrógrado

em relação a situações

que haviam sendo

definidas...

OJuiz do Trabalho da 1ªRegião, Rio de Janeiro, eProfessor, Alexandre AgraBelmonte, é um dos maisaguerridos estudiosos do

Código Civil Brasileiro. Familiarizado como texto do novo Código, que entrou emvigor há pouco mais de dois meses, o autorde diversas obras na área foi o convida-do especial do seminário “O novo Códi-go Civil e o Direito do Trabalho” . Depoisdas discussões, o professor Agra Belmonteconcedeu essa entrevista exclusiva ao Jor-nal AMATRA 21.

NovoCódigo Civil

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2002 é um Código melhor. É mais hu-mano, mais flexível, mais concreto. Apreocupação com a função social docontrato e da propriedade, com a pro-teção aos direitos da personalidade, coma regulação da responsabilidade objeti-va, com a previsão do dano moral, coma proteção nos casos de estado de peri-go e lesão e ainda com a onerosidade ex-cessiva, são exemplos claros de preocu-pação social. A tramitação do Código Civil de 1916,também demorou. O tempo de trami-tação em si não provocou tanta desa-tualização assim. Muitas das questõesque poderiam ter importado em desa-tualização foram consideradas pelo legis-lador através de emendas que foram a-presentadas ao projeto. A regulação defenômenos novos, como a clonagem e ainseminação artificial poderão ser, umavez sedimentados, objeto de leis especi-ais. A jurisprudência vinha entendendoque a desconsideração da personalidadejurídica em relação ao empregado podiaser feita de acordo com o Código de De-fesa do Consumidor, onde até nahipótese de falência era possível alcançarbens do sócio. Mas o novo Código Civillimitou os casos de desconsideração emrelação ao CDC (aplicável, em princí-pio às relações de consumo), não permi-tindo a desconsideração da personali-dade jurídica com a mesma amplitude.Resta agora indagar se, com fundamen-to na verossimilhança de princípios ori-entadores do Direito do Trabalho e doDireito do Consumidor e da premênciana satisfação do crédito, poderá ocorrera aplicação subsidiária do CDC ao direitotrabalhista. Se houver prevalência da li-teralidade do novo Código, o pensamen-to conservador estará na própria searatrabalhista.

AMATRA - V. Exa. acha que asnormas inseridas no novo Código Civilatendem aos interesses da sociedadebrasileira?

AB - A partir do momento que temosum Código mais atual do que o anteri-or e em muitos pontos comparativa-mente melhor, eu digo que sim! Porqueantes não tínhamos nem isso. Isso paramim é um avanço concreto. Temos umCódigo que trata dos Direitos da per-sonalidade, dos Direitos de empresa, quenão mais considera que o homem podeanular o casamento porque a mulher

com quem ele casou já estava deflora-da. Temos um Código onde a responsa-bilidade objetiva está prevista: a res-ponsabilização sem culpa está reguladaem Lei, o que não existia antes, fora deforma genérica. Temos um Código maisético, mais contextualizado e preocu-pado com a repercussão social da con-duta individual. Foi o avanço possível. Agora, o novo Código Civil não falou deunião entre pessoas do mesmo sexo. Issonão foi um avanço, mas também não foium retrocesso. Nada impede que essamatéria possa ser regulada por Lei Or-dinária, Lei especial. O novo Códigonão tratou do problema da fertilizaçãoin vitro, da inseminação artificial, masnada impede que essa norma seja regu-lamentada através de Lei especial. Nadaimpede que tenhamos Leis especiais queabordem os assuntos que não foram abor-dados pelo Código. Agora, creio que oCódigo apontou pelo menos 80% dasquestões da vida civil. E digo mais: seo código agora distingue entre prescriçãoe decadência, entre ato e negócio ju-rídico; se regula situações que só a dou-trina e a jurisprudência previam, torna-se tais questões mais claras, eliminandoanos de discussões jurisprudenciais e dedecisões díspares sobre um mesmo as-sunto. Às vezes é bom que a existe a

norma jurídica regulando o assunto.

AMATRA - V. Exa. acha que asnormas introduzidas irão beneficiar ocidadão comum, com pouco acesso ainformação e sem noções de cidadania?

AB - Bom, então temos que pensar emduas coisas: em primeiro lugar, podemospensar no Código Civil como um textogeral onde peculiaridades locais deve-riam ser pensadas a nível regional. Nadaimpede que Leis especiais, estaduais oumunicipais, possam prever situações pe-culiares. Isso vai caber às Assembléiase Câmaras locais prever certas especi-ficidades. Bom isso é uma vertente! Issoé um problema. A segunda coisa quedeveria ser pensada seria diferente, quenão foi a adotada pelo nosso legislador.Seria um outro tipo de opção: seria o queexiste nos Estados Unidos e que já exis-tiu no Brasil: seriam os Códigos esta-duais, então não haveria um Federal,como é o caso do Código Civil.Não me parece a melhor solução. Nósjá abandonamos isso em relação aoProcesso Civil, porque as relações civis,não são relações procedimentais, sãorelações de constituição de família, denatureza sucessória, de aquisição da pro-priedade, então como é que vou dizerque a aquisição da propriedade no RioGrande do Norte é diferente da do Riode Janeiro; que a família constituída noRio Grande do Norte não vai ser cons-tituída do mesmo jeito da família cons-tituída em Minas Gerais? Acho que devehaver um texto federal mínimo, comoé o caso do Código Civil, e certas espe-cificidades podem ocorrer através deLeis regionais. Agora, o problema da falta de noções decidadania pode perfeitamente ser cor-rigido pelos meios próprios. Os escri-tórios de práticas de Faculdades, Uni-versidades e Centros Acadêmicos, osbancos comunitários de direitos, as car-tilhas informativas e inúmeros outrosexpedientes podem contribuir para ainserção social e o exercício efetivo dacidadania.

AMATRA - Como V. Exa. vê aabordagem do novo Código Civil emrelação à responsabilidade civil e aodano moral?

Acho que é um grande avanço do novoCódigo no momento em que o Códigoantigo, somente em ocasiões especiais,

...o novo Código não

falou da união entre

pessoas do mesmo

sexo. Não foi avanço,

mas também não foi

um retrocesso.

Jornal AMATRA 2110

Entrevista Alexandre Agra Belmonte

Em comparação com

o Código de 16, ele é

um Código melhor.

É mais humano,

mais flexível,

mais concreto.

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Então a responsabilidade objetiva, que éuma responsabilidade sem culpa, você sórespondia nas hipóteses que o legisladordizia que você respondia sem culpa. Agoranão. Agora o legislador como gênero dizo seguinte: se você exerce determinadaatividade de risco e, pelo exercício destaatividade, houver algum dano causado,você responde por esse dano tendo ou nãoculpa. É o caso de uma usina nuclear, em-bora essa já tivesse Lei especial e pode sero caso de inúmeras atividades causadorasde riscos. Além disso, também nos casosem que a Lei especificar. Parece-me queo simples fato de se falar na responsabili-dade objetiva e de se regulá-la já é umgrande avanço. Quanto à responsabili-dade subjetiva houve também, por partedo legislador, um maior cuidado a partirdo momento em que ele trouxe para oCódigo um capítulo sobre a responsabili-dade civil e, mais ainda, quando trata dosDireitos da personalidade. Ele tambémtrouxe problemas que podem ser tidoscomo atuais, como autorização médicapara determinadas operações, caso da trocade sexo. Então eu acho que tudo isso foiinteressante. Já quanto ao problema do dano moral, eleestá genericamente previsto, ou seja, tantopode haver composição do dano moral,quanto composição do dano patrimoniale cabe à doutrina e à jurisprudência iden-tificar os casos de dando moral. A cons-tituição se refere a alguns quando fala dodireito à intimidade, à vida privada e àopção sexual de uma pessoa. Tudo isso dizrespeito à vida íntima. Os papparazzi en-tram aí. O assédio sexual diz respeito àintimidade, enfim, acho que dá ensejo aque se protejam todos esses valores e sejamfixadas as indenizações correspondentes. Creio que o Código poderia estar estabe-lecendo parâmetros mínimos para auxili-ar a fixação da indenização por dano moral.Nisso realmente o Código pecou, porquefala muito da responsabilidade por danomoral. Embora não falasse antes, acho quepoderia ter tido a preocupação do estabe-lecimento de dados que pudessem facili-tar a fixação dos danos morais. Atual-mente tramita uma Lei no Senado a res-peito do estabelecimento desses parâme-tros e que muitas das coisas existentes sãoabsolutamente inconvenientes. Uma delaspor exemplo é o estabelecimento de umvalor fixo para os danos morais. Acho queem primeiro lugar não deveria o projetose orientar pelo valor e em segundo não

deveria, de jeito algum, se preocupar coma fixação de limites valorativos, isso daí vaidepender da atuação discricionária do Juiz.

AMATRA - Qual a repercussão dessasinovações no Direito do Trabalho?

AB: Se o menor, na condição de empre-gado, com 16 anos, firmar um contratode emprego e desse contrato sobrevierpara ele economia própria, estará auto-maticamente emancipado. Se um menor,na condição de empregador, também com16 anos, constituir um negócio com econo-mia própria, e esse negócio é empresarial,nesse caso ele também estará automati-camente emancipado. Então, a emanci-pação com 16 anos, em vez da aquisiçãoda plena capacidade aos 18 anos, é umadas inovações. Já a questão da maioridadenão faz diferença, pois no Direito do Tra-balho já era com 18. A não ser para o em-pregador que só agora adquiriu a maiori-dade com 18 anos.

AMATRA - V. Exa. poderia esclarecer asalterações referentes à prescrição e àdecadência e seus reflexos no Direito doTrabalho?

AMATRA: O novo Código estabeleceque só pode haver interrupção uma únicavez e então deixa de existir aquela série dearquivamentos de processos trabalhistas,com renovação de processos devido à pres-crição estar interrompida. Outra aplicaçãoseria a possibilidade que se tem do prazodecadencial ser suspenso e interrompido,coisa que não se admitia no Código anti-go, que sequer fazia distinção entre pres-crição e decadência.

AMATRA: V. Exa. poderia esclarecer asalterações nos direitos da personalidade esua repercussão no Direito do Trabalho?

AB: Essas inovações permitem um me-lhor tratamento doutrinário, uma me-lhor âncora para a identificação dastransgressões à integridade física, morale intelectual, que são os direitos perso-nalíssimos que o homem precisa paraexistir e viver com dignidade, e a apli-cação das indenizações por Danos Moraispraticados pelo empregador em relaçãoao empregado e pelo empre-gado em relação ao empre-gador. É possível definir,com mais clareza, quandose está diante de umahipótese de configuração deDano Moral e, principal-

mente, quando esse dano moral é trabal-hista. Só que o viés do Dano Moral tra-balhista decorre da Constituição no art.114, quando determina que à Justiça doTrabalho compete apreciar as questõesdecorrentes das relações de emprego. Seo Dano Moral é decorrente de uma relaçãode emprego, quem deve julgar é a Justiçado Trabalho e quem deve apreciar, nocaso, é o Juiz Trabalhista.

AMATRA: V. Exa. gostaria de fazeralgumas considerações finais?

AB: O Código Civil pode ter bastante ser-ventia na aplicação da Lei Trabalhista,mas preservando os princípios do Direitodo Trabalho. Não estou querendo dizerque vou aplicar o Código Civil quandohouver omissão da CLT. Vou aplicar oCódigo Civil de forma utilitária e demaneira a considerar a CLT um avanço enão um retrocesso. Não estou querendoque as Leis Trabalhistas se tornem LeisCivis, pelo contrário. Estou querendo me-lhor embasar as Leis Trabalhistas para elasserem utilizadas como fator de proteção doTrabalho, mas também com consideraçãoda propriedade privada e sua função so-cial e da livre iniciativa. Não sou Juiz doTrabalhador, sou Juiz do Trabalho. Pode serdo trabalhador, pode ser do empregador epode ser terceiro o destinatário das nor-mas. Ao Juiz cabe o papel de Robin Hoode sim o nobre e dignificante trabalho de,à luz da lei, interpretar a norma segundoa sua função social, procurando conciliaros interesses entre o capital e o trabalhoà luz dos princípios protetivos, mas tam-bém da boa-fé, da razoabilidade, da livreiniciativa e da propriedade privada.

Jornal AMATRA 21 11

Entrevista Alexandre Agra Belmonte

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Acontece

O I Encontro Regional dos Magistradosdo Nordeste reuniu cerca de 200 juízesdo Trabalho no Hotel Blue Tree ParkResort, em Cabo de SantoAgostinho/PE. Capitaneada pelaAMATRA VI, as associações estaduaisconduziram seus associados a um eventoinesquecível, quer seja por seu aspectocientífico, quer seja pelo excelenteambiente social. O encontro ocorreu noperíodo de 02 a 06/04/03 e foi abertocom a conferência do Juiz Hugo MeloFilho, Presidente da ANAMATRA.

Foi um sucesso a comemoração pascal promovida pelaAssociação dos Magistrados do Trabalho da 21ª Região nasede da Casa de Passagem do Município de Natal, noúltimo dia 11/04. Estiveram presentes à festa "CriançaPrecisa Sorrir” diversos associados e familiares queadquiriram uma camiseta ao custo de R$ 10,00. Durante oevento foram distribuídos doces e brindes às crianças. A AMATRA 21 espera continuar ajudando à Casa dePassagem através de ações beneficentes e voluntárias. Osinteressados podem entrar em contato para viabilizar adoação de alimentos, de roupas, de brinquedos e demóveis. A ação foi organizada pela Juízas, Simone Jalil eDaniela Lustoza.

Encontro Regional I

Páscoa AMATRA 21

Também participaram do evento, os ex-Ministros Paulo de Tarso Ramos Ribeiro eGustavo Krause, o Sociólogo Franciscode Oliveira e os professores Lênio Streck,Domingos Zainagh, Eneida Melo, PedroPaulo Nóbrega e José Eduardo Farias.No primeiro plano da foto: Presidente daAMATRA VI, Teodomiro Romeiro dosSantos, o presidente da ANAMATRA,Hugo Melo Filho, e o presidente daAMATRA 21, Luciano Athayde Chaves.

Encontro Regional II

As crianças tiveram uma manhã inesquecível que contou com aparticipação de Juízes e familiares, bem como dos funcionários daCasa de Passagem do Município de Natal. (foto abaixo)