formação continuada de professores de matemática com enfoque colaborativo: contribuições para o...

Upload: claudio-zarate-sanavria

Post on 14-Jan-2016

11 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Tese de Doutorado (UNESP)

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

    CLAUDIO ZARATE SANAVRIA

    FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMTICA COM

    ENFOQUE COLABORATIVO: CONTRIBUIES PARA O USO REFLEXIVO DOS

    RECURSOS DA WEB 2.0 NA PRTICA PEDAGGICA

    Presidente Prudente - SP

    2014

  • CLAUDIO ZARATE SANAVRIA

    FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMTICA COM

    ENFOQUE COLABORATIVO: CONTRIBUIES PARA O USO REFLEXIVO DOS

    RECURSOS DA WEB 2.0 NA PRTICA PEDAGGICA

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao

    em Educao da Faculdade de Cincias e

    Tecnologia, FCT/UNESP - Cmpus de Presidente

    Prudente, como exigncia para a obteno do

    ttulo de Doutor em Educao.

    Orientadora: Dr Maria Raquel Miotto Morelatti.

    Presidente Prudente - SP

    2014

  • FICHA CATALOGRFICA

    Sanavria, Claudio Zarate.

    S189f Formao continuada de professores de matemtica com enfoque

    colaborativo : contribuies para o uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 na

    prtica pedaggica / Claudio Zarate Sanavria. - Presidente Prudente : [s.n.],

    2014

    283 f. : il.

    Orientadora: Maria Raquel Miotto Morelatti

    Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

    Cincias e Tecnologia

    Inclui bibliografia

    1. Formao de professores de matemtica. 2. Grupos colaborativos. 3.

    Prtica reflexiva. 4. Web 2.0. I. Morelatti, Maria Raquel Miotto. II.

    Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Tecnologia. III.

    Ttulo.

  • professora Mariluce Bittar (in memoriam),

    que personificou o amor Educao e

    transformou-se em inspirao.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao concluir mais uma grande etapa da minha vida, olho para trs e vejo seres

    humanos maravilhosos e que em muito contriburam para o meu sucesso nessa jornada. Por

    essa razo, venho aqui agradecer a todos que me ajudaram e torceram pelo meu sucesso.

    Em primeiro lugar, agradeo a Deus por ter me guiado nestes quatro anos de luta, me

    protegendo nas inmeras vezes em que precisei viajar sob as mais adversas condies

    climticas, correndo riscos dos quais s Ele poderia ter me protegido; por ter me dado

    discernimento e serenidade para conseguir conciliar trabalho e estudo, em uma jornada

    insana de aulas, correes, leituras e produes. Nas madrugadas solitrias, Ele foi minha

    grande e valiosa companhia e sou feliz por ter sentido sempre a Sua presena.

    Agradeo tambm minha famlia pelo apoio e incentivo nesse longo processo,

    compreendendo a minha ausncia como necessria para o alcance dos meus objetivos. Aos

    meus pais, Emilia e Jos. Aos meus irmos, Rosa Maria, Marco Antnio, Luiz Abel e

    Vanessa. s minhas tias lindas, Izabel Helena e Maria Auxiliadora, sempre presentes e fiis

    torcedoras. Aos meus primos e a todos os que, em algum momento, desejaram o meu xito.

    Quero agradecer tambm minha orientadora, Maria Raquel, um ser humano

    maravilhoso, sempre gentil e compreensiva, capaz de cativar a todos que com ela convivem.

    Sinto-me orgulhoso por ser seu primeiro orientando porque sei que certamente sempre serei

    lembrado por uma pessoa to especial como voc .

    Aos amigos que conviveram mais de perto comigo nestes loucos anos de doutorado,

    ouvindo minhas lamentaes e, certamente, torcendo pela minha vitria, deixo aqui o meu

    carinho pela companhia, em especial ao Anderson, um cuiabano de quem jamais abrirei mo

    de ser amigo. Ao Will, grande e inigualvel companheiro, arretado, parceiro de todas as horas,

    das mais difceis s mais felizes, meu eterno agradecimento. Aos meus colegas de trabalho e

    tambm grandes amigos pela pacincia, convivncia e por terem segurado as pontas nos

    momentos mais apertados, em especial: Ntalli, Evandro, Elo, Luiz Fernando, Olavo e

    Rodrigo. Aos amigos letrados Juvenal e Diogo pela ajuda na traduo do meu resumo,

    minha eterna gratido. Aos meus alunos, grandes parceiros e pelos quais sempre estudarei.

    Aos meus colegas de doutorado, meu agradecimento pela maravilhosa convivncia

    nesse percurso cheio de desafios. Somos a primeira turma de doutorandos em Educao da

    FCT-UNESP e fico feliz por termos dado conta do recado. A vitria de um a vitria de

    todos.

    Obrigado.

  • Hoje me sinto mais forte

    Mais feliz, quem sabe

    S levo a certeza

    De que muito pouco sei

    Ou nada sei

    [...]

    Como um velho boiadeiro

    Levando a boiada

    Eu vou tocando os dias

    Pela longa estrada eu vou

    Estrada eu sou

    [...]

    Cada um de ns compe a sua histria

    Cada ser em si

    Carrega o dom de ser capaz

    E ser feliz

    (Almir Sater)

  • SANAVRIA, Claudio Zarate. Formao continuada de professores de matemtica com

    enfoque colaborativo: contribuies para o uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 na prtica

    pedaggica. Tese (Doutorado em Educao) Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Faculdade de Cincias e Tecnologia. Presidente Prudente SP, 2014. 283p.

    RESUMO

    A presente tese, que se insere na Linha 2 Prticas e Processos Formativos em Educao teve como objetivo investigar como uma formao continuada com enfoque colaborativo

    pode contribuir para um uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 por professores de

    Matemtica. Para a definio dos objetivos estabelecemos as seguintes questes: Como os

    professores de Matemtica se organizam enquanto grupo e como se passa de uma perspectiva

    de grupo de trabalho para a de um grupo com caractersticas colaborativas? Quais as

    caractersticas ideais de uma formao continuada para o uso recursos da Web 2.0 tendo a

    colaborao como eixo norteador? Como realizar uma formao que contribua para o uso das

    tecnologias de modo transformador em termos de prticas? Dentro de uma abordagem

    qualitativa de natureza descritivo-explicativa e com carter interventivo, desenvolvemos com

    um grupo de professores de Matemtica do municpio de Nova Andradina MS uma formao continuada que teve a colaborao como eixo norteador e, por meio dos dados que

    nela emergiram, procuramos: 1) Analisar a constituio do grupo evidenciando como os

    professores de Matemtica nele se organizaram e identificando fazeres e saberes que se

    constituram dentro deste processo formativo colaborativo; 2) Identificar e analisar as

    percepes dos professores de Matemtica sobre as possibilidades de uso dos recursos da

    Web 2.0 decorrentes da formao continuada com enfoque colaborativo; e 3) Analisar as

    caractersticas do processo formativo identificando elementos que contriburam para o uso

    reflexivo dos recursos da Web 2.0 por professores de Matemtica. A formao foi organizada

    em ciclos evolutivos nos quais os professores, em grupo, definiram cada um dos recursos a

    serem explorados, aprenderam as suas funcionalidades, discutiram suas possibilidades para a

    construo de conceitos matemticos, elaboraram atividades com tais recursos, as aplicaram

    em seus prprios espaos de atuao e, por fim, compartilharam as experincias vividas. A

    coleta de dados se fez por meio de questionrios, entrevistas e, principalmente, pela

    observao das interaes ocorridas. Foram realizados trs ciclos, nos quais o grupo explorou

    os recursos do Google Drive, blogues e a wikis. Os resultados indicam que: 1) O grupo se

    consolidou como colaborativo, sendo as metas estabelecidas conjuntamente e o

    compartilhamento visto como um elemento que contribui para as suas prticas com as

    tecnologias; 2) Os professores passaram a apresentar novas percepes sobre o uso das

    tecnologias, considerando mais os aspectos interativos das ferramentas e, principalmente, o

    aluno assumindo mais a produo das atividades e contedos; 3) O processo vivido contribuiu

    para a reflexo-na-ao e reflexo-sobre-a-ao a partir do uso das tecnologias, em um nvel

    inicial que tende a consolidar-se com o tempo; 4) A colaborao mostrou-se um elemento

    diferenciador no processo formativo desenvolvido. Dessa maneira, consolidamos como tese a

    premissa de que uma formao continuada que surja das necessidades do professor em uma organizao colaborativa das atividades, dentro de uma perspectiva na qual o professor veja o

    outro como agente colaborador de suas prprias reflexes contribui para o uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 no contexto da Educao Matemtica.

    Palavras-chave: Formao de professores de matemtica. Grupos colaborativos. Prtica

    reflexiva. Web 2.0.

  • SANAVRIA, Claudio Zarate. Continuing education of mathematics teachers with

    collaborative approach: contributions to the thoughtful use of Web 2.0 resources in

    pedagogical practice. Thesis (Doctorate in Education) Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Faculdade de Cincias e Tecnologia. Presidente Prudente SP, 2014. 283p.

    ABSTRACT

    This thesis, part of the research line 2: Practices and Formative Processes in Education, aimed

    to investigate how the continuing teacher education with collaborative approach can

    contribute to a reflexive use of Web 2.0 resources for Mathematics Teachers. For the

    definition of the objectives, the following questions were established: how the Mathematics

    teachers are organized as a group, and how to go from a workgroup perspective to a group

    with collaborative features? What are the ideal characteristics of a continuing education for

    the use Web 2.0 features with collaboration as a guideline? How to perform a training that

    contributes to the effective use of technologies that aim to transform the practice? Within a

    qualitative descriptive-explanatory nature approach and intervening nature, we developed a

    continuing education with a group of Mathematics teachers in Nova Andradina - MS, which

    had the collaboration as a guideline, and through the data that emerged from it, we tried: 1) To

    analyze the composition of the group showing how mathematics teachers were organized in it,

    and identifying activities and knowledge that formed within this collaborative training

    process; 2) Identify and analyze the perceptions of mathematics teachers on the possibilities

    of use of Web 2.0 resources as a result of continuing education with collaborative approach;

    and 3) analyze the characteristics of the training process, identifying elements that contributed

    to the thoughtful use of Web 2.0 resources for Mathematics teachers. The training was

    organized in evolutionary cycles in which teachers, as a group, defined each of the resources

    to be exploited; they learned their features, discussed their possibilities for the construction of

    mathematical concepts, developed activities with such resources, transferred them into their

    own performance spaces, and finally shared their experiences. The data was gathered through

    questionnaires, interviews, and especially by observing the interactions occurring. We

    conducted three cycles, in which the group explored the features of Google Drive, blogs and

    wikis. The results indicate that: 1) The group has established itself as collaborative, being

    established jointly goals and sharing was seen as an element that contributes to their practices

    with technologies; 2 ) Teachers started to present new insights into the use of technology,

    considering more interactive aspects of the tools and especially the student taking on more

    production activities and content; 3) The process experienced contributed to the reflection-in-

    action and reflection-on-action from the use of technology at an early level that tends to

    consolidate with time; 4) The collaboration proved to be a distinctive element in the training

    process developed. Thus, we consolidated as a thesis the premise that a continuing education

    arising out of the teacher's needs - in a collaborative organization of activities, within a

    perspective in which the teacher see the other as cooperating partner of their own reflections -

    contributes to the reflective use of Web 2.0 resources in the context of Mathematics

    education.

    Keywords: Training of Mathematics teachers. Collaborative groups. Reflective practice. Web

    2.0.

  • SANAVRIA, Claudio Zarate. Formacin continua de profesores de matemticas con enfoque

    colaborativo: contribuciones para el uso reflexivo de los recursos de Web 2.0 en la prctica

    pedaggica. Tesina (Doctorado en Educacin) Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Faculdade de Cincias e Tecnologia. Presidente Prudente SP, 2014. 283p.

    RESUMEN

    Esta investigacin doctoral, la cual se inserta en la Lnea 2 - Procesos Formativos y Prcticas

    en Educacin - tuvo como principal objetivo investigar cmo una educacin permanente con

    enfoque de colaboracin puede contribuir a un uso reflexivo de los recursos Web 2.0 para los

    profesores de Matemticas y cmo se cambia la perspectiva de un grupo de trabajo a la

    perspectiva de un grupo con caractersticas de colaboracin. Para la definicin de los

    objetivos de esta investigacin se han establecido las siguientes preguntas: Cmo se

    organizan los Profesores de Matemticas como grupo y cmo pasan desde la perspectiva del

    grupo de trabajo a un grupo con caractersticas de colaboracin? Cules son las

    caractersticas ideales de una educacin continua para el uso de la Web 2.0 teniendo en cuenta

    la colaboracin como eje principal? Cules son las caractersticas de una formacin continua

    para el uso de los recursos de Web 2.0 teniendo en cuenta la colaboracin como eje principal?

    Cmo realizar un entrenamiento que contribuya al uso de las tecnologas que fuera capaz de

    cambiar las prcticas? Dentro de un abordaje cualitativo con enfoque explicativo descriptivo y

    con carcter de intervencin, desarrollamos con un grupo de profesores de matemticas en el

    municipio de Nova Andradina - MS una educacin continua que tuvo la colaboracin como

    eje, y por medio de datos que surgieron de ella, tratar de: 1) analizar la composicin del grupo

    evidenciando cmo los profesores de Matemticas en l se organizaron e identificando

    actividades y conocimientos que se construyeron dentro de este proceso de formacin

    colaborativa; 2) Identificar y analizar las percepciones de los profesores de matemticas sobre

    las posibilidades de uso de los recursos de la Web 2.0 como resultado de la formacin

    continua con enfoque colaborativo; y 3) analizar las caractersticas del proceso de formacin

    mediante la identificacin de los elementos que contribuyeron para el uso reflexivo de los

    recursos de la Web 2.0 por los profesores de Matemticas. La formacin se organiz en ciclos

    evolutivos en los cuales los profesores, en grupo, definieron cada recurso a que queran

    explotar, aprendieron sus funcionalidades, discutieron sus posibilidades para la construccin

    de conceptos matemticos, elaboraron actividades con esos recursos, las aplicaron en sus

    propios espacios de actuacin y, por fin, compartieron sus experiencias. Los datos se

    obtuvieron a travs de cuestionarios, entrevistas y, especialmente, mediante la observacin de

    las interacciones. Hemos llevado a cabo tres ciclos, en los que el grupo explor las

    caractersticas de Google Drive, blogs y wikis. Los resultados indican que: 1) El grupo se ha

    consolidado como colaborativo, pues las metas se establecieron en conjunto y lo compartir ha

    sido visto como un elemento que contribuye a sus prcticas con las tecnologas; 2) Los

    profesores empezaron a presentar nuevos conocimientos sobre el uso de la tecnologa,

    teniendo en cuenta los aspectos interactivos de las herramientas y, en especial, al estudiante

    quien asumi ms la produccin de actividades y contenidos; 3) El proceso que han vivido

    contribuy a la reflexin-en-la-accin y la reflexin-sobre-la-accin desde el uso de la

    tecnologa en un nivel inicial que tiende a consolidarse con el tiempo; 4) La colaboracin

    result ser un elemento diferenciador en el proceso de formacin desarrollado. Por lo tanto,

    hemos consolidado como una tesis la premisa de que una educacin continua que surja de las

    necesidades del profesor - una organizacin colaborativa de actividades, dentro de una

    perspectiva en la que el profesor vea al otro como un agente que colabora por medio de sus

  • propias reflexiones - contribuye para el uso reflexivo de los recursos de la Web 2.0 en el

    contexto de la Educacin Matemtica.

    Palabras clave: Formacin de Profesores de Matemticas. Los grupos de colaboracin. La

    prctica reflexiva. Web 2.0.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Mapeamento dos mltiplos sentidos e modalidades do trabalho coletivo e suas

    relaes com a pesquisa. ........................................................................................................... 94

    Figura 2 - Ferramentas da Web 2.0 e quantidade de professores que as conheciam.............. 106

    Figura 3 - Processo formativo proposto e realizado na pesquisa. .......................................... 116

    Figura 4 - Comportamento em espiral do processo formativo. .............................................. 117

    Figura 5 - Anlise da formao por ciclos vivenciados.......................................................... 126

    Figura 6 - Anlise do processo formativo por etapas. ............................................................ 216

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Relao entre objetivos, indicadores e instrumentos. .......................................... 101

    Quadro 2 - Caracterizao dos professores participantes quanto formao e experincia. . 104

    Quadro 3 - Sntese das atividades presenciais realizadas. ...................................................... 124

    Quadro 4 - Categorias para observao e anlise da consolidao do grupo colaborativo. ... 127

    Quadro 5 - Sntese dos aspectos observados durante a formao vivida (por professor). ..... 167

    Quadro 6 - Sntese dos aspectos observados durante a formao vivida (por etapa). ............ 168

    Quadro 7 - Observao das interaes. .................................................................................. 172

    Quadro 8 - Observao das estratgias de trabalho em grupo e a interveno do formador. . 174

    Quadro 9 - Metas comuns e assimilao das perspectivas individuais. ................................. 176

    Quadro 10 - Categorias e indicadores de reflexo. ................................................................. 180

    Quadro 11 - Sntese da observao da reflexo durante a formao (por professor). ............ 181

    Quadro 12 - Formaes continuadas para o uso das tecnologias j vivenciadas. .................. 194

    Quadro 13 - Experincia dos professores com o uso do computador. ................................... 201

    Quadro 14 - As atividades com a Web 2.0 nos ciclos formativos. ......................................... 205

    Quadro 15- Pressupostos da Formao. ................................................................................. 217

    Quadro 16 - Caractersticas do processo formativo. .............................................................. 218

    Quadro 17 - Caractersticas e contribuies da etapa de estudos conceituais. ....................... 221

    Quadro 18 - Sntese dos ciclos realizados (por fase). ............................................................. 226

    Quadro 19 - Caractersticas e contribuies da fase de escolha dos recursos. ....................... 228

    Quadro 20 - Caractersticas e contribuies da fase de explorao tcnica dos recursos. ..... 232

    Quadro 21 - Sntese das observaes realizadas na fase de explorao tcnica. .................... 234

    Quadro 22 - Caractersticas e contribuies da fase de discusso das possibilidades. ........... 236

    Quadro 23 - Sntese da busca e do compartilhamento de materiais pelos professores. ......... 238

    Quadro 24 - Caractersticas e contribuies da fase de elaborao das atividades e uso. ...... 241

    Quadro 25 - Caractersticas e contribuies da fase de socializao. .................................... 245

    Quadro 26 - Caractersticas e contribuies da reunio de fechamento. ................................ 251

    Quadro 27 - Os pressupostos contemplados pelas etapas do processo formativo. ................. 253

  • LISTA DE SIGLAS

    IFMS Instituto Federal de Mato Grosso do Sul

    MS Mato Grosso do Sul

    NTIC Novas Tecnologias da Informao e Comunicao

    PROUCA Programa Um Computador por Aluno

    TIC Tecnologias da Informao e Comunicao

    UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    WWW World Wide Web

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ..................................................................................................................... 16

    2 A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMTICA .................... 24

    2.1 Percurso histrico da formao continuada de professores ................................................ 24

    2.2 Aspectos conceituais e caractersticos da formao continuada de professores ................ 30

    2.2.1 O conceito de formao continuada e sua relevncia para o desenvolvimento

    profissional ............................................................................................................................... 30

    2.2.2 O momento e o locus da formao continuada................................................................ 33

    2.2.3 Princpios e elementos constituintes da formao continuada ........................................ 36

    2.3 Os saberes da experincia e a formao do professor reflexivo ......................................... 40

    2.4 O professor de Matemtica e suas necessidades de formao ............................................ 48

    2.5 Colaborao, trabalho colaborativo e formao de professores ......................................... 54

    2.5.1 Cultura Docente e Colegialidade ..................................................................................... 54

    2.5.2 Colaborao: sntese de um conceito............................................................................... 61

    2.5.3 Grupos colaborativos: caractersticas, requisitos e obstculos ........................................ 63

    2.5.4 Colaborao e Formao de Professores ......................................................................... 67

    3 A WEB 2.0 E SUAS POSSIBILIDADES EDUCATIVAS NA CIBERCULTURA ............ 71

    3.1 Internet e mudana social: Sociedade da Informao, Cibercultura e Web 2.0 ................. 71

    3.2 Web 2.0 e Educao ........................................................................................................... 79

    3.3 O professor de Matemtica e a sua formao para o uso das tecnologias .......................... 84

    4 PERCURSO METODOLGICO ......................................................................................... 91

    4.1 Delineamento da Pesquisa .................................................................................................. 91

    4.2 Procedimentos da Pesquisa ................................................................................................. 95

    4.2.1 Etapas da Pesquisa ........................................................................................................... 96

    4.2.1.1 Etapa 1 Contato inicial com os professores para adeso formao ........................ 96

    4.2.1.2 Etapa 2 - Anlise preliminar e identificao do perfil dos professores ........................ 97

    4.2.1.3 Etapa 3 Realizao do processo formativo ................................................................ 98

    4.2.1.4 Etapa 4 Contato com os professores aps o trmino da formao .......................... 100

    4.2.2 Indicadores e Instrumentos ............................................................................................ 101

    4.3 Caracterizao dos Sujeitos da Pesquisa .......................................................................... 104

    4.4 Anlise do processo formativo vivido .............................................................................. 106

  • 5 A FORMAO CONTINUADA PROPOSTA E VIVIDA: PRESSUPOSTOS

    ESTABELECIDOS E EXPERINCIAS COMPARTILHADAS ......................................... 110

    5.1 Um olhar sobre os pressupostos e etapas estabelecidos para a formao vivida ............. 110

    5.1.1 Pressupostos da formao .............................................................................................. 111

    5.1.2 A ao formativa proposta ............................................................................................. 115

    5.2 O grupo e o seu processo de constituio inicial .............................................................. 120

    5.3 A formao vivida ............................................................................................................ 123

    5.3.1 Estudo conceitual sobre a Web 2.0 ................................................................................ 128

    5.3.2 O Ciclo 1: Google Drive

    .............................................................................................. 136

    5.3.3 O Ciclo 2: Blogue .......................................................................................................... 142

    5.3.4 O Ciclo 3: Wiki ............................................................................................................. 150

    5.3.5 A Reunio de Fechamento ............................................................................................. 155

    5.4 O caminho trilhado pelo grupo: da adeso consolidao .............................................. 163

    6 A COLABORAO COMO UM CAMINHO FORMATIVO PARA A PRTICA

    REFLEXIVA COM A WEB 2.0 ............................................................................................ 179

    6.1 A prtica reflexiva como resultado da colaborao: as contribuies do processo

    formativo colaborativo ........................................................................................................... 179

    6.2 As percepes do professor de Matemtica quanto ao uso da Web 2.0: mudanas a partir

    do compartilhamento de experincias .................................................................................... 190

    6.2.1 As percepes iniciais e experincias prvias ............................................................... 191

    6.2.2 As percepes nas atividades desenvolvidas durante os ciclos formativos................... 204

    6.2.3 As percepes ps-formao ......................................................................................... 209

    6.3 Analisando o processo formativo vivido: um olhar sobre cada etapa, suas caractersticas e

    contribuies para a reflexo .................................................................................................. 215

    6.3.1 Os estudos conceituais ................................................................................................... 221

    6.3.2 O ciclo formativo e suas fases ....................................................................................... 225

    6.3.2.1 A escolha dos recursos ............................................................................................... 228

    6.3.2.2 A explorao tcnica dos recursos.............................................................................. 231

    6.3.2.3 A discusso das possibilidades de uso dos recursos ................................................... 236

    6.3.2.4 A elaborao das atividades e uso dos recursos ......................................................... 241

    6.3.2.5 A socializao das experincias vividas ..................................................................... 245

    6.3.3 A reunio de fechamento ............................................................................................... 250

    6.4 A formao e o atendimento dos pressupostos estabelecidos .......................................... 252

    7 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 258

  • REFERNCIAS ..................................................................................................................... 267

    APNDICE A FICHA DE INSCRIO ............................................................................ 278

    APNDICE B QUESTIONRIO ....................................................................................... 280

    APNDICE C ROTEIRO DA ENTREVISTA ................................................................... 283

  • 16

    1 INTRODUO

    A evoluo tecnolgica inerente prpria existncia humana e reflete sua

    necessidade de sobrevivncia. Transformando a natureza, o homem sempre buscou melhores

    condies de vida, criando novos recursos e instrumentos, em um processo intrinsecamente

    ligado sua vida em sociedade. Nesse contexto, sociedade e tecnologia so elementos

    constituintes de uma intensa simbiose, na qual o desenvolvimento de um implica em

    transformaes no outro, isto , ao mesmo tempo em que surge das necessidades humanas de

    conforto e prolongamento da vida, as tecnologias funcionam como elemento provocador de

    intensas transformaes nas relaes sociais. De acordo com Castells (2012, p. 43, grifo do

    autor) [...] a tecnologia a sociedade, e a sociedade no pode ser entendida ou representada

    sem suas ferramentas tecnolgicas.

    Quando restringimos nosso olhar para as Tecnologias da Informao e Comunicao

    (TIC), percebemos que os significativos avanos tecnolgicos permitiram que elas

    transpusessem algumas fronteiras e se integrassem em setores da sociedade outrora no

    alcanados. Assim, o mundo presencia um desenvolvimento cientfico-tecnolgico no qual as

    TIC esto inseridas na maioria das atividades, desde as mais comuns at as mais sofisticadas e

    complexas. Tal insero transformou as relaes do indivduo com a informao, sendo esta

    ltima agora muito mais acessvel e em um volume que vai alm do que o prprio indivduo

    capaz de assimilar em um curto espao de tempo. Presenciamos, assim, novas formas de

    comunicao, novas relaes dos homens entre si e destes com a informao, considerada

    agora o cerne da sociedade.

    Historicamente, o desenvolvimento tecnolgico sempre provocou medo e

    desconfiana nas pessoas no envolvidas diretamente na sua concepo. Com o advento dos

    computadores isso no foi diferente e, ao mesmo tempo em que provocou (e ainda provoca)

    fascnio, tambm despertou (e ainda desperta) receios quanto sua integrao ao dia-a-dia das

    pessoas. Tal receio acaba por se dirimir, em parte, medida que se aprofundam as relaes

    entre homem e mquina, em um processo de conhecimento dos instrumentos que permite a

    superao de algumas das concepes pr-concebidas sobre tais ferramentas. Entretanto, no

    podemos garantir que sempre seja feito um uso padronizado de tais recursos, pois o homem

    utiliza as tecnologias de acordo com as concepes que ele possui acerca do homem e da vida

    em sociedade.

    Assim como os computadores, o surgimento da internet tambm provocou esse misto

    de fascnio e receio, uma vez que apresentou novas formas de comunicao e acesso

  • 17

    informao. No incio, a internet serviu apenas como um espao para acesso a contedos. Era

    a poca das homepages, pginas que apresentavam contedo multimdia ainda de modo

    esttico e sem possibilidades de interao com o mesmo. O e-mail apresentava-se como nica

    ferramenta comunicacional nesse novo ambiente informacional. Para se produzir uma pgina

    na internet, era necessrio que o autor possusse conhecimentos de desenvolvimento Web. Ao

    usurio comum restava o papel de expectador do contedo que lhe era apresentado.

    No final da dcada de 1990 e incio dos anos 2000, a Web adquiriu caractersticas

    que passaram a permitir ao usurio no apenas ler como tambm interagir com a informao.

    Surge assim o conceito de Web 2.0, criado por OReilly (2005) e que define a Web como um

    ambiente potencializador da interao, da colaborao e da cooperao entre seus usurios,

    agora muito mais do que meros leitores, uma vez que os usurios passaram tambm a ser

    produtores de contedo na rede. Alguns exemplos de ferramentas que representam essa

    perspectiva so: blogues, fotologs, wikis, comunidades virtuais, comunicadores instantneos,

    ambientes virtuais de aprendizagem, mundos digitais em 3D (trs dimenses), entre outros.

    Esse conjunto de ferramentas e a facilidade de acesso econmico cada vez maior aos

    dispositivos que permitem o uso da internet desencadearam rpidas e profundas

    transformaes no que diz respeito produo e disseminao de contedo na Web. As TIC,

    de um modo geral, imprimiram novas formas de busca por informaes e de ao sobre estas

    na construo de novos conhecimentos, em um contexto de profundas transformaes nas

    relaes entre as pessoas e destas com as tecnologias.

    Diante do inegvel desenvolvimento das TIC e sua evidente insero nos diversos

    setores da sociedade surge na escola a necessidade de uma reflexo acerca do seu papel. Os

    estudantes que agora adentram o espao escolar vivenciam fora do mesmo um contexto de

    ubiquidade e pervasividade1 tecnolgica e esperam que a escola tambm faa parte desse

    mundo, questionando sua estrutura tradicional. Consequentemente, o professor acaba

    assumindo a responsabilidade de prestar contas a essa nova sociedade. Assim, os professores,

    percebendo as transformaes externas ao cotidiano de suas salas de aula, sentem que o

    modelo de ensino em voga j no funciona mais para os alunos que agora se apresentam.

    Todas as mudanas ocorridas na sociedade esto direcionando a escola para uma

    mudana de postura, no sendo mais esta a detentora e simples transmissora de

    conhecimentos como outrora o foi mas, principalmente, oferecendo um ambiente de

    1 Conceito bastante utilizado atualmente, o de computao pervasiva, neologismo do termo ingls pervasive

    computing, refere-se disseminao de chips e da informtica nos mais diversos ambientes e aparelhos (MDOLA e REDONDO, 2009, p. 146).

  • 18

    estmulo e valorizao das descobertas, compartilhamento de experincias e de

    desenvolvimento de um pensamento crtico-reflexivo. Isso nos permite perceber que no basta

    implantar computadores nas escolas para que haja um advento de tais recursos pelas mesmas.

    preciso que sejam levados em considerao todos os atores envolvidos no processo

    educativo, com especial ateno ao professor e s suas reais necessidades de formao.

    A necessidade de adequao da escola nova sociedade que se apresenta

    integrando no seu espao as tecnologias de modo que elas sejam apropriadas como recursos

    que de fato contribuam para o processo de construo de conhecimentos direcionam as

    discusses e reflexes para formao inicial e continuada do professor que deve atuar nesse

    novo espao.

    A Web 2.0 traz no seu bojo um conjunto de ferramentas amplamente difundidas na

    internet e, por essa razo, defendemos que esta representa o atual contexto das relaes dos

    indivduos com a informao, tanto em termos de produo quanto de compartilhamento com

    os demais indivduos na rede mundial de computadores. Entretanto, ainda so pontuais as

    experincias de uso desses recursos socializadas no meio acadmico e, dessa maneira, no

    conseguimos visualizar uma real insero da Web 2.0 no espao escolar, principalmente no

    contexto brasileiro. Isso nos despertou um interesse por investigar melhor as possibilidades de

    atuao para que tal insero realmente ocorra e em um contexto de uso reflexivo em termos

    de prticas pedaggicas.

    fato que as iniciativas de formao inicial e continuada de professores para o uso

    das tecnologias de um modo que realmente contribuam para uma reflexiva utilizao das

    ferramentas como apoio ao processo de aprendizagem tm sido poucas e insipientes, como

    bem aponta Freitas (2009). O que percebemos que a formao inicial ainda no atende as

    reais necessidades de reflexo que se apresentam, assim como a formao continuada

    perpetua um modelo centrado na instrumentalizao desprovida de uma anlise relacionada

    realidade na qual o professor est inserido. A distncia entre o que apresentado ao professor

    e a realidade que o mesmo vivencia no seu cotidiano leva a uma precarizao do processo

    formativo, pouco contribuindo para uma mudana de prtica pedaggica. O professor

    retirado do seu espao e, fora do seu ambiente de trabalho, entra em contato com recursos sem

    ter a chance de vivenciar e compartilhar experincias sobre o seu uso em contexto de trabalho.

    Considerando, portanto, o desenvolvimento da Web 2.0, as mudanas

    comportamentais por ela provocadas e a necessidade de sua insero no contexto educacional

    e, para tanto, a formao do professor para o seu uso como recurso didtico, nosso interesse

    de pesquisa partiu inicialmente da seguinte questo: como provocar um uso reflexivo da Web

  • 19

    2.0 como recurso didtico pelo professor? Sabemos que tal uso necessrio, considerando o

    contexto de desenvolvimento tecnolgico e das mudanas comportamentais, ambos aqui j

    descritos. Mas, como promover um processo formativo que realmente contribua para uma

    prtica reflexiva com as tecnologias?

    Outro ponto-chave que nos motivou a desenvolver a pesquisa que gerou a presente

    tese diz respeito necessidade de uma formao que leve em considerao o trabalho

    coletivo. As leituras preliminares que realizamos no incio do doutorado apontaram, em

    grande parte, para uma tendncia de formao que tira o professor do isolamento de sua sala

    de aula e o traga para vivenciar, em grupo, novas experincias formativas. Dessa maneira,

    buscar compreender como o professor se organiza e se comporta em um grupo de trabalho

    com vistas a atingir um objetivo comum nos levou a inferir se uma formao com esse

    enfoque contribuiria de modo mais substancial para o surgimento de novas prticas com a

    Web 2.0, passando de uma perspectiva instrumental para um uso reflexivo de tais recursos.

    Tambm despertou o nosso interesse a possibilidade de propormos um processo

    formativo que rompesse com a tradicional viso tcnica e descontextualizada ainda muito

    difundida pelas polticas de formao continuada. Compreendendo a escola como espao de

    produo, passamos a vislumbrar uma formao que no se afastasse de tal espao, ao mesmo

    tempo em que permitisse ao professor de Matemtica interagir com os seus pares, explorando

    e compartilhando experincias sobre os recursos da Web 2.0.

    Outro elemento motivador da nossa pesquisa foi a vontade de buscarmos

    contribuies substanciais para a Educao Matemtica, ao mesmo tempo em que tivemos um

    desejo especial de melhor compreender o docente que atua nesta rea e as suas

    especificidades no que tange prtica reflexiva com as tecnologias. Tal anseio nos levou a

    definir os professores de Matemtica como sujeitos da pesquisa, tambm acreditando que a

    delimitao de uma rea especfica ajudaria a melhor delinear uma formao e a direcionar as

    discusses acerca da natureza da aprendizagem de seus contedos, o que confirmamos com a

    anlise dos dados coletados e sob a tica da fundamentao terica aqui construda.

    Dentro deste contexto, a presente pesquisa de doutorado, que se insere na Linha 2

    Prticas e Processos Formativos em Educao teve como objetivo geral investigar como

    uma formao continuada com enfoque colaborativo pode contribuir para que professores de

    Matemtica conheam e faam uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 na prtica pedaggica.

    Para a definio dos objetivos desta pesquisa estabelecemos a seguinte questo:

    como evidenciar as contribuies de uma formao continuada, em um contexto colaborativo

  • 20

    de trabalho, para que o professor de Matemtica, por meio da interao com os seus pares,

    conhea e faa um uso reflexivo das ferramentas da Web 2.0 enquanto recurso didtico?

    As demais questes para as quais buscamos respostas nesta pesquisa foram:

    Como os professores de Matemtica se organizam enquanto grupo e como

    se passa de uma perspectiva de grupo de trabalho para a de um grupo com

    caractersticas colaborativas?

    Quais percepes dos professores de Matemtica sobre as possibilidades

    de uso dos recursos da Web 2.0 podem decorrer a partir de uma formao

    continuada com enfoque colaborativo?

    Quais as caractersticas de uma formao continuada que contribuem para

    um uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 tendo a colaborao como eixo

    norteador?

    Como realizar uma formao que contribua para o uso reflexivo dos

    recursos da Web 2.0 por professores de Matemtica em suas prticas

    pedaggicas?

    Assim, para atendermos o objetivo geral proposto e respondermos s questes

    norteadoras estabelecidas, definimos os seguintes objetivos especficos:

    1. Analisar a constituio do grupo evidenciando como os professores de

    Matemtica nele se organizaram e identificando fazeres e saberes que se

    constituram dentro deste processo formativo colaborativo;

    2. Identificar e analisar as percepes dos professores de Matemtica sobre

    as possibilidades de uso dos recursos da Web 2.0 decorrentes da formao

    continuada com enfoque colaborativo;

    3. Analisar as caractersticas do processo formativo identificando elementos

    que contriburam para o uso reflexivo dos recursos da Web 2.0 pelos

    professores de Matemtica.

    Para a consolidao desta pesquisa de doutorado, elaboramos e desenvolvemos

    com um grupo de professores de Matemtica do municpio de Nova Andradina - MS um

    processo formativo firmado na colaborao e cujas etapas consistiram em momentos de

    estudos conceituais, definio/escolha, explorao e aprendizagem operacional das

    ferramentas da Web 2.0, anlise de possibilidades de uso pedaggico para o trabalho com

    conceitos matemticos, elaborao e vivncia de atividades com as ferramentas e,

    principalmente, socializao das experincias vividas. Todas essas etapas foram concebidas

  • 21

    em um ambiente de colaborao, tendo o compartilhamento como principal elemento

    norteador das etapas elaboradas e cuja realizao se repetiu para cada uma das ferramentas

    definidas pelo prprio grupo para explorao e anlise, em um processo que denominamos

    como ciclo formativo e cujo detalhamento faremos no captulo 5. Os encontros ocorreram

    durante o ano de 2013 e em conformidade com a disponibilidade de tempo dos professores

    envolvidos na formao.

    Acreditando que um processo formativo com enfoque colaborativo tenha um

    potencial de contribuio maior para o uso reflexivo das tecnologias oferecidas pela Web 2.0,

    estabelecemos a colaborao como objeto e fio condutor da pesquisa aqui descrita. Objeto,

    porque ela foi analisada em todas as etapas do processo formativo proposto e desenvolvido,

    buscando evidenci-la como eixo norteador e diferenciador das atividades desenvolvidas. E

    fio condutor, pois permeou todo o caminho formativo estabelecido. Assim, nossa tese partiu

    da premissa de que uma formao continuada que surgisse das necessidades do professor

    em uma organizao colaborativa das atividades, sob uma perspectiva na qual o professor

    visse o outro como agente colaborador de suas prprias reflexes contribuiria para um uso

    reflexivo dos recursos da Web 2.0 no contexto da Educao Matemtica.

    Buscamos como um diferencial da pesquisa o acompanhamento da constituio do

    grupo e as influncias de tal processo para o uso reflexivo dos recursos tecnolgicos

    definidos. Assim, objetivamos fazer com que a pesquisa enquanto um processo de

    interveno pedaggica permitisse uma construo coletiva de saberes, constituindo-se um

    espao de reflexo e transformao. Enfatizamos que buscamos verificar as percepes dos

    professores de Matemtica sobre as possibilidades de uso dos recursos da Web 2.0 por meio

    da fala destes professores e da observao realizada durante os encontros ocorridos, em um

    ambiente de incentivo reflexo e ao compartilhamento de experincias com os pares.

    Esta tese apresenta as discusses provenientes do processo de busca por respostas

    que atendessem aos objetivos traados. Pretendemos aqui fazer com que as anlises dos dados

    coletados contribuam de alguma maneira para as discusses sobre a formao continuada

    de professores, em especial professores de Matemtica, fornecendo subsdios para programas

    de formao que tenham como foco a Web 2.0. Alm do Captulo 1, referente a esta

    introduo, este trabalho est dividido em mais cinco (5) captulos, alm das consideraes

    finais acerca da pesquisa.

    No Captulo 2 trazemos uma sistematizao terica sobre formao continuada de

    professores de matemtica, procurando contextualizar o leitor acerca dos fundamentos que

    norteiam ou deveriam nortear tal processo. Em seguida, discutimos a prtica reflexiva e,

  • 22

    relatamos pesquisas correlatas cujos resultados contriburam para o delineamento desta tese.

    Neste captulo tambm procuramos traar um perfil do professor de Matemtica,

    evidenciando as especificidades deste profissional em termos de concepes e prticas e

    destacando suas necessidades formativas. Aliada a essa discusso, apresentamos uma reflexo

    terica referente colaborao, enfatizando pontos fundamentais que justificaram a formao

    aqui proposta e permitiram a compreenso dos resultados apresentados e discutidos por esta

    pesquisa. Inicialmente, discorremos sobre aspectos conceituais procurando estabelecer uma

    definio de colaborao e grupos colaborativos. Em seguida, discutimos a complexidade do

    trabalho do docente e dos desafios para se romper com o modelo individualista imposto pela

    organizao escolar. Encerrando, buscamos relacionar o trabalho colaborativo e o

    desenvolvimento profissional, evidenciando elementos que permitem tal contribuio.

    O Captulo 3 traz uma sntese terica acerca das TIC e da Cibercultura, traando um

    percurso histrico e conceitual que permitiu um aprofundamento sobre a importncia do

    advento de tais recursos pela escola e justificou a necessidade de desenvolvimento de um

    processo formativo que contribusse para o seu uso reflexivo.

    No Captulo 4 fazemos uma descrio detalhada do percurso metodolgico da

    pesquisa. Primeiramente, descrevemos o seu delineamento, justificando e fundamentando a

    abordagem adotada, assim como detalhando os pressupostos da formao proposta e

    desenvolvida. Em seguida, apresentamos os mtodos, as etapas, os indicadores e os

    instrumentos utilizados na coleta de dados. Neste mesmo captulo, caracterizamos os sujeitos

    envolvidos e descrevemos todo o processo de anlise dos dados coletados.

    No Captulo 5 discorremos sobre o processo formativo proposto e vivenciado durante

    a pesquisa, detalhando seus pressupostos e cada uma de suas etapas. Atendendo ao primeiro

    objetivo especfico, descrevemos e analisamos toda a formao vivida, as atividades

    realizadas e, principalmente, o processo de constituio e consolidao das caractersticas

    colaborativas no grupo de professores, identificando novos fazeres e saberes que se

    evidenciaram durante o processo.

    O Captulo 6 apresenta os dados e as anlises que visam atender ao segundo e ao

    terceiro objetivo especfico. Primeiramente, elicitamos as contribuies do processo formativo

    para um despertar das prticas reflexivas nos professores de Matemtica envolvidos na

    formao. Em seguida, buscamos evidenciar as percepes destes professores quanto ao uso

    dos recursos da Web 2.0 no processo de ensino e aprendizagem de conceitos matemticos,

    verificando possveis mudanas em decorrncia da experincia formativa vivida.

    Prosseguimos o captulo analisando as caractersticas e contribuies de cada uma das etapas

  • 23

    do processo formativo, evidenciando a colaborao como principal elemento diferenciador.

    Por fim, verificamos em qual medida cada um dos pressupostos estabelecidos para a formao

    foram atendidos e de que maneira eles contriburam para o alcance dos objetivos da pesquisa.

    Nas consideraes finais, fazemos uma sntese dos resultados alcanados,

    observando o atendimento de cada um dos objetivos especficos estabelecidos, assim como a

    comprovao da tese proposta por esta pesquisa. Trazemos tambm algumas perspectivas de

    trabalhos futuros decorrentes dos resultados obtidos, assim como analisamos as contribuies

    para pesquisa para o nosso fazer cientfico. Os apndices apresentam parte dos instrumentos

    de coleta de dados utilizados durante a pesquisa.

  • 24

    2 A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMTICA

    Neste captulo trazemos uma discusso terica sobre a formao continuada de

    professores de Matemtica, sistematizando os autores que aliceraram nossa pesquisa e,

    principalmente, nos trouxeram pressupostos para que pudssemos propor um processo

    diferenciado de formao para o uso dos recursos da Web 2.0. Primeiramente, buscamos

    traar um percurso histrico da formao de professores enfatizando principalmente a

    formao continuada para elucidarmos o atual contexto na qual ela se encontra. Em seguida,

    trazemos aspectos conceituais e caractersticos da formao continuada de professores,

    dialogando com autores e estabelecendo o conceito mais adequado nossa concepo de

    formao. Tambm discutimos o momento e o locus da formao continuada, assim como

    seus princpios e elementos constituintes e caminhando, dessa maneira, para uma sntese

    terica sobre os saberes da experincia e a formao do professor reflexivo.

    Procuramos tambm traar um perfil do professor de Matemtica, evidenciando as

    especificidades deste profissional em termos de concepes e prticas e destacando suas

    necessidades formativas. Por fim, discutimos o conceito de colaborao e trazemos o respaldo

    terico necessrio para a compreenso do grupo colaborativo como elemento diferenciador na

    formao continuada de professores de Matemtica.

    2.1 Percurso histrico da formao continuada de professores

    Para melhor compreendermos o atual contexto da formao continuada de

    professores necessrio que faamos primeiramente uma breve anlise do trajeto que a

    mesma percorreu at o presente momento. Concordamos com Imbernn (2010) de que

    necessrio que conheamos os elementos da herana formadora e, entendendo o discurso

    atual, possamos construir e oferecer alternativas de inovao e mudanas s polticas e

    prticas de formao de professores. Dessa maneira, buscamos em estudiosos como Nvoa

    (1995;1999), Pimenta (1996), Gatti (2008), Saviani (2009) e Imbernn (2010) elementos

    que nos permitissem refletir sobre este percurso de modo que pudssemos vislumbrar novos

    caminhos para a formao continuada de professores.

    No h como historicamente dissociarmos a formao de professores do percurso de

    constituio da prpria profisso docente, uma vez que intrnseca a relao entre as vises

    de funo docente e Educao com as prticas de formao implementadas no decorrer dos

    sculos. Entendemos que a formao de professores uma das reas mais sensveis s

  • 25

    mudanas que ocorrem no setor educativo (NVOA, 1999) e, por essa razo, faz-se

    necessria sua compreenso enquanto elemento de transformao da prpria Educao. Outro

    ponto a se destacar a importncia de compreendermos o percurso realizado pela formao

    inicial, uma vez que defendemos a necessidade de enxergarmos o processo como um todo

    para que, assim, consigamos elucidar com mais preciso as questes inerentes formao

    continuada. Em sntese, repensar e reestruturar a formao de professores implica um amplo

    processo que deve abranger tanto as dimenses da formao inicial quanto da continuada

    (NVOA, 1999).

    Se analisarmos todo o percurso da formao docente, veremos que as discusses

    especficas e consequentes experincias de formao continuada so historicamente recentes.

    Apesar do avano no conhecimento terico e na prtica da formao continuada do professor

    apontado por Imbernn (2010), quando reportamo-nos Histria, a preocupao com a

    formao inicial mostra-se muito mais antiga. A formao de professores configura-se como

    uma preocupao apenas no sculo XIX, aps a Revoluo Francesa, quando ento foi

    colocado o problema da instruo popular (SAVIANI, 2009). Surgem ento as Escolas

    Normais como espaos especficos para a formao de professores. Em Portugal, a formao

    de professores passou a ocupar lugar de destaque a partir do momento em que foi necessrio

    lanar as bases do atual sistema educativo, outrora preso a um modelo de magistrio ligado

    Igreja (NVOA, 1995). No Brasil a questo da formao de professores emerge de forma

    mais explcita logo aps a independncia, quando inicia-se a organizao da instruo

    popular, conforme ressalta Saviani (2009).

    O percurso histrico da formao de professores no Brasil organizado por Saviani

    (2009) em seis perodos: 1) Ensaios intermitentes de formao de professores (1827-1890); 2)

    Estabelecimento e expanso do padro das Escolas Normais (1890-1932); 3) Organizao dos

    Institutos de Educao (1932-1939); 4) Organizao e implantao dos Cursos de Pedagogia e

    de Licenciatura e consolidao do modelo das Escolas Normais (1939-1971); 5) Substituio

    da Escola Normal pela Habilitao Especfica de Magistrio (1971-1996); 6) Advento dos

    Institutos Superiores de Educao, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de

    Pedagogia (1996-2006).

    Do primeiro ao terceiro perodos estabelecidos por Saviani (2009) predominou na

    formao de professores a exigncia apenas do domnio do contedo a ser ensinado pelos

    futuros professores, em detrimento do preparo didtico pedaggico. Mesmo com a criao e

    aperfeioamento das Escolas Normais, a nfase ainda recaa sobre os contedos. Somente em

  • 26

    meados da dcada de 1930 que a Educao passa a ser encarada no apenas como objeto de

    ensino, mas tambm de pesquisa.

    Mesmo com a implantao dos cursos de licenciatura, a questo didtico-pedaggica

    ainda era relegada a um espao menor de discusso na formao dos professores. Estes cursos

    surgem fortemente marcados por contedos culturais-cognitivos, deixando os aspectos

    pedaggico-didticos em segundo plano. Tais aspectos eram considerados como decorrentes

    do domnio dos contedos logicamente organizados e resultantes da prpria prtica docente

    (SAVIANI, 2009). Assim, podemos afirmar que era de se esperar que a formao continuada

    praticamente inexistisse nos referidos perodos, uma vez que, considerando que a importncia

    estava no domnio daquilo que se ensinaria, bastava ao professor a lgica do aprender

    fazendo, ou seja, no dia-a-dia de suas prticas.

    Para Imbernn (2010) os estudos sobre a formao continuada foram, aos poucos,

    evoluindo de uma fase descritiva para uma mais experimental. Isso foi possvel devido

    difuso dos cursos de carter intervencionista, o que resultou em centenas de programas

    implantados na Espanha nas dcadas de 1980, 1990 e 2000.

    Mesmo com uma anlise voltada mais para a realidade europeia em especial a

    espanhola a linha histrica traada por Imbernn (2010) nos permite tambm compreender a

    realidade da formao continuada de professores no Brasil. O autor descreve a genealogia da

    formao dividindo-a em etapas que vo das dcadas de 1970 aos dias atuais.

    Os anos 1970 so considerados como a etapa inicial dessa genealogia. nesse

    perodo que a anlise da formao do professor como campo de conhecimento comea a se

    desenvolver. As tentativas anteriores a esse perodo foram espordicas e sem grande

    repercusso, apesar da relevncia e impactos de estudos como os de Dewey, Freinet e

    Montessori. Em Portugal, segundo Nvoa (1995), essa dcada ficou marcada pela formao

    inicial, com uma consolidao das redes de formao e consequente desenvolvimento de uma

    comunidade cientfica na rea de Cincias da Educao.

    A dcada de 1970 foi um perodo no qual a formao continuada se deu de forma

    individual, ou seja, cada um buscava prioritariamente sua formao inicial, ficando a

    formao continuada restrita s condies encontradas pelos professores segundo a poca e o

    territrio. Apesar disso, formavam-se poucos professores e existia um monoplio de um

    pequeno saber que durava por toda a vida (IMBERNN, 2010).

  • 27

    A dcada de 1980 a poca na qual ocorre o auge da tcnica na formao de

    professores, perodo no qual o paradigma da racionalidade tcnica2 ganha fora e prioridade,

    direcionando as pesquisas sobre a formao continuada docente para a busca das

    competncias do bom professor a serem incorporadas a uma formao. Prevaleceu, assim, um

    modelo hegemnico de educao e formao, com uma viso tcnica e positivista que previa

    solues tericas para todas as situaes educacionais.

    Na educao portuguesa, Nvoa (1995) relata que a exploso escolar acabou por

    trazer para o ensino um considervel contingente de professores sem as necessrias

    habilidades acadmicas e pedaggicas, o que resultou em desequilbrios estruturais

    extremamente graves. As solues encontradas na poca no se refletiram em mudanas

    significativas na formao de professores, nem do ponto de vista organizativo e curricular,

    nem do ponto de vista conceitual.

    A dcada de 1990 representa um momento de introduo da mudana, apesar de

    tmida. A institucionalizao da formao continuada ocorrida em anos anteriores apesar do

    discurso de adaptao dos professores s necessidades presentes teve tambm aspectos

    negativos, pois trazia no seu bojo a tica do treinamento padronizado (IMBERNN, 2010).

    Assim, o modelo de treinamento mediante cursos engessados que ainda perdura foi

    potencializado pela viso determinista e uniforme da ao docente, propagada principalmente

    pelas pesquisas positivistas e quantitativas que eram realizadas.

    Nvoa (1995) tambm caracteriza essa dcada como a de destaque para a formao

    continuada de professores, mas enfatiza que o modelo de treinamento desse perodo

    caracterizou-se principalmente por inserir o professor em uma formao pensada e decidida

    por outros. Na perspectiva do treinamento, esperava-se que ocorressem mudanas de atitudes

    e que essas refletissem na sala de aula. As atividades formadoras, selecionadas e apresentadas

    como frmulas pelos administradores, eram impostas aos professores, que deveriam transferi-

    las s suas prticas. Isso delegava ao professor a responsabilidade de contextualizar tudo

    aquilo que recebeu. Percebemos o quanto ainda existe dessa perspectiva no atual contexto de

    formao de professores.

    Ao mesmo tempo, nesse perodo, tambm surgiram modelos de formao

    alternativos que analisavam a prtica por meio de projetos de pesquisa-ao. Isso permitiu que

    2 De acordo com Moreira (2003, p. 3) [...] nessa perspectiva pensa-se o professor como um tcnico, que

    considera sua tarefa profissional como uma atividade instrumental dirigida soluo de problemas mediante a

    aplicao rigorosa de teorias e tcnicas cientficas. A sua atuao em sala de aula segue um processo linear que

    tem como objetivo a eficcia, em que o professor to somente um mediador entre o conhecimento cientfico e a

    prtica em sala de aula. Os professores so apenas comunicadores e transmisses de conhecimentos e no

    facilitadores da aprendizagem dos alunos e responsveis pelos resultados dessa aprendizagem.

  • 28

    se questionassem aspectos que por muito tempo se apresentaram de forma inalterada.

    Imbernn (2010) tambm ressalta que a dcada de 1990 foi uma poca frtil na formao

    continuada de professores na Espanha, com denominaes semelhantes em muitos pases da

    Amrica Latina. Porm, predominou ainda o modelo de formao baseado no treinamento dos

    professores mediante os planos de formao institucional. De qualquer forma, trata-se de um

    perodo cujas contribuies e reflexes ainda assimilamos.

    No Brasil, a aprovao da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao Lei n.

    9394/96 trouxe no seu bojo o incentivo formao continuada dos professores,

    assegurando-lhes melhores condies profissionais e de vida. Entretanto, no se assegurou aos

    professores as condies para que eles pudessem buscar esse aperfeioamento, considerando a

    pesada carga de trabalho que se apresentava e ainda se apresenta nas escolas brasileiras.

    Gatti (2008) ressalta que as legislaes, resultantes de negociaes sociais e polticas, abrem

    espao e delimitam as iniciativas de educao continuada.

    Pimenta (1996) j destacava que na formao continuada brasileira o mais frequente

    era a realizao de cursos que priorizavam a suplncia e/ou a atualizao dos contedos de

    ensino. Tais programas se mostraram pouco eficientes para alterar a prtica docente e,

    consequentemente, as situaes de fracasso escolar, pois no tomaram a prtica docente e

    pedaggica escolar nos seus contextos.

    Os anos 2000 at a atualidade so caracterizados por Imbernn (2010) como o

    perodo de buscas por novas alternativas, no qual a tecnologia se insere com grande fora na

    cultura e a globalizao se torna inexorvel. Ao mesmo tempo, inicia-se uma crise na

    profisso de ensinar, pois se percebeu que os sistemas anteriores no funcionavam para

    educar a populao no novo sculo que se iniciava, alm dos espaos escolares no serem

    mais adequados a uma nova forma de ver a Educao.

    A necessidade de se estabelecer esse novo olhar sobre a educao, a formao e o

    papel de professores e alunos denota uma demanda de novos modelos de prticas de

    formao. Entretanto, tal clareza das novas caractersticas do mundo acaba por provocar um

    sentimento de insegurana nos docentes, uma vez que se reduz cada vez mais a viso da

    formao para a vida toda, levando-os a se retrarem e a pouco se arriscarem. Dessa

    maneira, a formao continuada comea a caminhar novamente para um modelo aplicativo-

    transmissivo, no qual so procuradas solues para os problemas dos professores ao invs de

    proposta uma prtica mais reflexiva. Uma nova sociedade baseada no conhecimento ou na

    informao representa um bom momento para mudanas, mas a formao de professores

    como campo de conhecimento ainda se mostra estancada (IMBERNN, 2010).

  • 29

    No Brasil, h uma precariedade nas polticas formativas, cujas sucessivas mudanas

    no conseguiram estabelecer um padro minimamente consistente de formao docente que

    hoje possa fazer frente aos problemas enfrentados pela educao escolar no pas. Embora sem

    rupturas, tais mudanas revelam um quadro de descontinuidade no qual a questo pedaggica,

    apesar de lentamente ampliar seu espao, ainda no encontrou um encaminhamento

    satisfatrio (SAVIANI, 2009). As propostas de formao continuada acabam se concretizando

    por meio de cursos e situaes pontuais nas quais os professores agem apenas como ouvintes,

    sem chances de contriburem com as suas prprias experincias.

    Trazendo um pouco mais para a nossa discusso os apontamentos feitos por Gatti

    (2008) que faz uma anlise das polticas pblicas de formao continuada nos ltimos anos

    podemos observar um considervel incremento das aes destinadas a essa formao,

    abrigando desde cursos de extenso at cursos de formao com certificao profissional, de

    nvel mdio ou superior. Esse oferecimento se deu, sobretudo, sob o discurso da necessidade

    de atualizao e renovao:

    Nos ltimos anos do sculo XX, tornou-se forte, nos mais variados setores

    profissionais e nos setores universitrios, especialmente em pases

    desenvolvidos, a questo da imperiosidade de formao continuada como

    um requisito para o trabalho, a ideia da atualizao constante, em funo das

    mudanas nos conhecimentos e nas tecnologias e das mudanas no mundo

    do trabalho. (GATTI, 2008, p. 58).

    O aumento exponencial das iniciativas pblicas de formao continuada apontado

    por Gatti (2008) traz como pilar, segundo a autora, a ideia de suprimento de uma formao

    inicial precria e no de um aprofundamento ou ampliao de conhecimentos. Assim, esse

    carter compensatrio acaba por alterar o propsito inicial dessa formao discutido em

    mbito internacional.

    A breve discusso do percurso histrico da formao continuada de professores que

    trazemos neste captulo foi construda na tentativa de melhor compreendermos o contexto no

    qual emergiu a proposta de formao implementada pela tese aqui defendida. De posse dessa

    contextualizao, o que nos propomos, a seguir, trazer autores que nos permitiram

    sistematizar os conceitos e caractersticas preconizados para uma formao que atendesse

    concepo que adotamos para a nossa pesquisa e nos ajudassem a estabelecer os pressupostos

    do processo formativo desenvolvido.

  • 30

    2.2 Aspectos conceituais e caractersticos da formao continuada de professores

    Concordamos com Prez Gmez (2000) quando esta defende que o ensino uma

    atividade complexa que desenvolve-se em cenrios singulares, claramente determinados pelo

    contexto, com resultados em grande parte imprevisveis e carregados de conflitos de valor que

    requerem opes ticas e polticas. Assim, entendemos que a formao de professores

    constri-se em um contexto impregnado de vrios elementos constitutivos que denotam,

    principalmente, concepes e valores sobre educao, ensino, aprendizagem e prtica

    docente. Falar da formao de professores implica em assumir determinadas posies

    epistemolgicas, ideolgicas e culturais acerca do ensino, do professor e do aluno (GARCIA,

    1995).

    Para Imbernn (2010) no podemos negar que houve uma evoluo na realidade

    social, no ensino, na instituio educacional e nas finalidades do sistema educacional e que,

    como consequncia dessa evoluo, os professores devem radicalmente sofrer uma mudana

    em sua forma de exercer a profisso, assim como em seu processo de incorporao e

    formao. Entretanto, mesmo buscando alternativas, ainda pouco avanamos no campo das

    ideias e nas prticas polticas, com o objetivo de realmente compreendermos o que significa

    uma formao alicerada na liberdade, na cidadania e na democracia.

    Nesse contexto, procuramos construir nessa seo um percurso que nos permitisse

    chegar a um conceito de formao continuada adequado tese que aqui descrevemos. Alm

    disso, sistematizamos as caractersticas apontadas pelos autores como inerentes formao

    continuada de professores. Para isso, buscamos o apoio bibliogrfico a fim de respondermos

    s seguintes indagaes: O que formao continuada? Quando deve ocorrer? Onde deve

    acontecer? Quais princpios devem constitu-la? Assim, acreditamos que, ao respondermos

    tais questes, conseguimos delinear os aspectos conceituais mais adequados ao que

    acreditamos que deva ser uma formao continuada inovadora e atual.

    2.2.1 O conceito de formao continuada e sua relevncia para o desenvolvimento

    profissional

    Mesmo sendo uma expresso muito utilizada e supostamente simples de se

    compreender, a formao continuada de professores ainda no conceitualmente muito clara,

    de acordo com Pinto, Barreiro e Silveira (2010), uma vez que tal conceito compreende todas

    as iniciativas realizadas aps a formao inicial. Apesar disso, nos ltimos anos, [...] assistiu-

  • 31

    se a um movimento de reconceitualizao da formao continuada em decorrncia de

    pesquisas destinadas a investigar questes relativas identidade profissional do professor

    (GATTI; BARRETO, 2009, p. 202).

    Pensando especificamente no significado da palavra formao, concordamos com

    Pinto, Barreiro e Silveira (2010) quando estes afirmam que considera-se relevante salientar o

    que a distingue de outras expresses como educao, instruo e ensino. Apesar de prxima

    da educao e da instruo, no se deve confundir a formao com esses termos, uma vez que

    ela tem finalidades e caractersticas que lhes so prprias.

    A formao tambm pode ser entendida como um processo de

    desenvolvimento e estruturao da pessoa que se realiza com o duplo efeito

    de uma maturao interna e de possibilidades de aprendizagem, de

    experincias dos sujeitos. Por ltimo, possvel falar-se da formao como

    instituio, quando nos referimos estrutura organizacional que planifica e

    desenvolve as atividades de formao. (GARCIA, 1999, p. 19, grifos do

    autor).

    Jaramillo (2003, p. 93) defende uma formao que no seja apenas um instrumento

    democratizador da relao pessoa-cultura, pessoa-informao e pessoa-trabalho, mas que

    tambm [...] permita o desenvolvimento integral de cada ser humano e lhe permita a

    compreenso de suas prprias prticas (e suas complexidades).

    Segundo Pinto, Barreiro e Silveira (2010) o termo formao, no sentido pedaggico,

    surgiu na Frana em 1938, remetendo ideia de qualificao docente por meio de um curso

    ou diploma. Como processo que se inscreve em um contexto social e econmico, consiste em

    formar algum em algo, por meio de algum conhecimento. Dessa maneira, a formao, no seu

    enfoque pedaggico, implica na construo de saberes por sujeitos que esto em

    aprendizagem, com o objetivo de se adaptarem aos contextos culturais e/ou profissionais em

    mudana. Tais afirmaes vm ao encontro das ideias de Garcia (1999), que defende a

    formao de professores como processo de melhoria do conhecimento e consequente reflexo

    na aprendizagem dos alunos, apresentando uma interessante definio de formao de

    professores enquanto rea de conhecimento:

    A Formao de Professores a rea de conhecimentos, investigao e de

    propostas tericas e prticas que, no mbito da Didtica e da Organizao

    Escolar, estuda os processos atravs dos quais os professores em formao ou em exerccio se implicam individualmente ou em equipe, em experincias de aprendizagem atravs das quais adquirem ou melhoram os

    seus conhecimentos, competncias e disposies, e que lhes permite intervir

    profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currculo e da

    escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educao que os alunos

    recebem. (GARCIA, 1999, p. 26).

  • 32

    As ideias at agora apresentadas nos permitem ver a formao de professores de

    modo mais amplo, porm ainda no nos deixa clara a distino dos papeis da formao inicial

    e da formao continuada de professores. Para Garcia (1999) a formao de professores um

    conceito que pode se referir tanto aos professores em formao inicial, quanto queles

    docentes que j tm alguns anos de atuao no ensino. Assim, o conceito o mesmo, sendo

    passveis de mudana o contedo, o foco ou a metodologia de tal formao.

    Como j vimos, historicamente, a formao inicial foi muito mais discutida e

    analisada do que a formao continuada. Entretanto, isso no garantiu primeira uma

    qualidade suficiente para atender s necessidades de formao para os profissionais que ainda

    adentraro o espao escolar. De acordo com Gatti e Barreto (2009) os crescentes problemas

    na formao inicial de professores deslocaram a ideia de formao continuada como

    aprimoramento profissional para uma concepo de formao compensatria, visando

    preencher as lacunas da formao inicial.

    Ao apresentar sua definio para formao continuada de professores, Gatti e Barreto

    (2009) ressaltam a possibilidade de que a formao continuada se apresente tanto sob formas

    mais institucionalizadas quanto menos formais:

    [...] a designao de formao continuada presencial cobre um universo

    bastante heterogneo de atividades, cuja natureza varia, desde formas mais

    institucionalizadas, que outorgam certificados com durao prevista e

    organizao formal, at iniciativas menos formais que tm o propsito de

    contribuir para o desenvolvimento profissional do professor, ocupando as

    horas de trabalho coletivo, ou se efetivando como trocas entre pares, grupos

    de estudo e reflexo, mais prximos do fazer cotidiano na unidade escolar e

    na sala de aula. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 200).

    Ressaltamos na definio elaborada por Gatti e Barreto (2009) o cuidado em

    estabelecer a prpria prtica cotidiana como um momento de formao e reflexo, alm de

    incluir a questo do trabalho em grupo. Isso nos permite compreender a formao continuada

    como algo que vai muito alm dos programas oficiais implementados pelas polticas pblicas.

    Citando Cunha (2003), Pinto, Barreiro e Silveira (2010) corroboram tal afirmao, destacando

    que a formao pode se originar tanto na iniciativa dos interessados quanto nos programas

    institucionais. Nesse ltimo, os sistemas de ensino, universidades e escolas so as principais

    agncias para tais tipos de formao. Tais argumentos tambm nos permitem afastar um

    pouco do conceito de compensao, que reduz a abrangncia da formao continuada,

    inclusive dando a ideia de que ela no necessria quando ocorre uma formao inicial

    considerada eficiente. Assim, complementamos tal defesa com a definio apresentada por

  • 33

    Moreira (2003), que se aproxima mais de uma ideia de aperfeioamento e preparo para novas

    demandas:

    Com o termo formao continuada queremos denominar toda atividade que

    o professor em exerccio realiza com uma finalidade formativa, tanto de

    desenvolvimento profissional quanto pessoal, individualmente ou em grupo,

    que o leve a uma realizao eficaz de suas tarefas ou o prepare para o

    desempenho de novas tarefas. (MOREIRA, 2003, p. 4, grifo nosso).

    muito mais fcil apresentar um conceito de formao inicial do que de formao

    continuada. A formao inicial pressupe um comeo de vida profissional, mesmo que muitas

    vezes trate erroneamente o futuro professor como uma pgina em branco a ser preenchida

    com contedos cientficos e desprovida de uma atuao prtica e um acompanhamento por

    profissionais mais experientes. No pretendemos aqui discutir os mritos e problemas da

    formao inicial, mas, de qualquer maneira defendendo o futuro professor como um ser

    histrica e socialmente constitudo sabemos que ela refere-se ao princpio da profisso.

    Portanto, concordando com Pinto, Barreiro e Silveira (2010), defendemos a formao

    continuada como um processo que perdura por toda a vida profissional do professor.

    Nesse contexto, atrevemo-nos a sistematizar um conceito de formao continuada

    que se aproxime dos pressupostos que estabelecemos para nossa pesquisa. Assim, no nosso

    entendimento e com a contribuio dos tericos aqui apresentados, definimos a formao

    continuada de professores como um processo de constante reflexo do professor sobre sua

    prtica, no qual possvel (re)elaborar individual ou coletivamente conhecimentos que

    atendam a novas demandas que continuamente surgem no contexto escolar, alm da

    possibilidade de identificao de possveis e provveis lacunas da sua formao inicial. Tal

    processo seja ele formalizado por iniciativas institucionais ou no traz no seu bojo um

    carter crtico, reflexivo e transformador inerente prpria ao docente necessria nos

    tempos atuais.

    2.2.2 O momento e o locus da formao continuada

    Para analisarmos quais so os espaos para a formao continuada e em quais

    momentos ela se faz mais necessria, primeiramente trazemos a afirmao de Nvoa (1995, p.

    27) de que a formao pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no

    quadro de uma autonomia contextualizada da profisso docente. Isso implica a valorizao

    de paradigmas de formao que promovam uma preparao do professor para assumir a

  • 34

    responsabilidade sobre o seu prprio desenvolvimento profissional e que reflita e protagonize

    a implementao das polticas educativas. Com base nessa perspectiva, afirmamos que limitar

    espacial e/ou temporalmente a formao continuada vai de encontro ao que preconizamos at

    o momento.

    Acreditar que a formao do professor acontece apenas em intervalos

    independentes ou num espao bem determinado negar o movimento social,

    histrico e cultural de constituio de cada sujeito. O movimento de

    formao do professor no isolado do restante da vida. Ao contrrio, est

    imerso nas prticas sociais e culturais. (FIORENTINI; CASTRO, 2003, p.

    124, grifos dos autores).

    fato que a formao inicial tem o seu papel na constituio da identidade docente,

    mas tambm no suficiente para dar conta de todo o seu desenvolvimento profissional, que

    entendemos como um processo evolutivo e resultante das diversas experincias vividas. A

    formao docente deve ir muito alm da formao inicial. Dessa maneira, concordando com

    Fiorentini e Castro (2003), defendemos que pensar que o sujeito se constitui como professor

    apenas na formao inicial negar a histria de vida do futuro professor, assim como neg-

    lo enquanto um sujeito de possibilidades. Portanto, so necessrias condies para que os

    professores (re)construam a sua prtica pedaggica, uma vez que na dinmica do trabalho

    dos professores que a formao contnua acontece. Tal afirmao denota uma necessidade de

    articulao entre as duas modalidades de formao, dentro de uma perspectiva de

    interdependncia e complementaridade. Entretanto, ressaltamos que esse carter

    complementar no implica necessariamente uma viso reducionista de que a formao

    continuada apenas supre lacunas que venham permanecer aps a formao inicial. essa

    viso errnea da formao continuada que acaba fragmentando o processo em momentos

    temporalmente discretos e desconexos.

    Nessa perspectiva, defendemos que a formao continuada comea a ocorrer antes

    mesmo do trmino da formao inicial. Para tal afirmao, temos como premissa a reflexo

    como elemento de (re)construo de concepes, processo este que pode ser desencadeado a

    partir do momento que o professor ainda em formao vivencia na prtica o confronto de

    suas ideias com a realidade que lhe apresentada, obviamente em um nvel de intensidade

    menor do que o de uma vivncia prolongada ps-formatura. De qualquer maneira,

    considerando a abrangncia do processo, nossa pesquisa teve como recorte a formao

    continuada de professores j formados e atuantes na Educao Bsica.

  • 35

    Uma vez analisada a questo do quando?, propomo-nos a discutir a questo do

    onde?, defendendo que o espao no qual se d a formao continuada elemento primordial

    para o seu sucesso enquanto processo de (re)construo de saberes.

    Para Moreira (2003) h uma tendncia forte em atribuir ao professor um papel

    significativo, e at mesmo decisivo, nas mudanas e inovaes no espao escolar. Para o

    autor, esse discurso privilegia a racionalidade tcnica e instrumental na formao de

    professores. Assim, para desafiar essa concepo, necessrio pensar a prpria escola como

    sendo um espao privilegiado para a formao continuada, pois ela oferece uma grande

    possibilidade de promoo de uma formao mais contextualizada, mais efetiva e com maior

    envolvimento do professor.

    A literatura internacional tambm defende a proposio da formao

    continuada do professor na prpria escola como uma das maneiras de

    maximizar o envolvimento dos professores e aponta a reflexo, a prtica

    investigativa, a colaborao e a sensibilidade diversidade como aspectos

    importantes para promover uma formao mais prxima da realidade do

    professor. (MOREIRA, 2003, p. 2).

    Pensar na escola como espao para a formao continuada dos professores rompe

    com a tradicional viso na qual cursos so organizados em pacotes fechados e oferecidos em

    auditrios e demais locais distantes do ambiente de trabalho do professor. Entretanto,

    entendemos que, se pensarmos em uma formao que contemple professores de uma

    determinada rea do conhecimento de toda uma rede como ocorre na pesquisa aqui descrita

    tais espaos podem ser utilizados. No devemos nos confundir e acharmos que o professor

    s aprende a sua profisso nas escolas, mas sim enxerg-la como um espao privilegiado de

    (re)construo da profissionalidade. Porm, mesmo quando oferecida fora da escola, a

    formao deve permitir que o professor vivencie no seu prprio espao as discusses

    realizadas fora dele, ou seja, pensar a escola como espao de formao implica em um

    processo de ir-e-vir do professor, no qual o mesmo extrai suas necessidades formativas da sua

    realidade, as leva para a formao e volta para o seu espao para vivenciar e confrontar as

    discusses e anlises realizadas.

    Concordando que a formao continuada de professores que tem a escola como base

    seja uma das maneiras que mais asseguram aos professores a possibilidade de se adaptarem s

    demandas e s exigncias impostas sobre eles (MOREIRA, 2003), defendemos que pensar a

    escola como espao no implica simplesmente na questo fsica, mas principalmente nas

    necessidades que emergem deste espao e nas transformaes que ele sofrer em decorrncia

    dos processos reflexivos desencadeados pela formao.

  • 36

    2.2.3 Princpios e elementos constituintes da formao continuada

    Qualquer formao continuada de professores deve apresentar claramente seus

    pressupostos e objetivos. Para Imbernn (2010) a formao de professores influi e

    influenciada pelo contexto no qual ela se insere, e tal influncia incide sobre os resultados que

    podem ser obtidos. Pacheco e Flores (1999), Gatti (2003) e Pinto, Barreiro e Silveira (2010)

    so autores que defendem que a formao continuada deve ser uma resposta s necessidades

    formativas dos professores. Cada proposta de formao deve propiciar o atendimento a

    diferentes necessidades e interesses dos professores, criando condies de mudanas

    conceituais e de prticas que considerem o meio sociocultural no qual as pessoas se inserem.

    Deve existir, portanto, um equilbrio entre as necessidades do sistema educativo e as

    necessidades dos professores, tanto individuais quanto coletivas, potencializando a

    colaborao entre os diversos atores envolvidos no cenrio educacional.

    Imbernn (2010) estabelece alguns elementos que, no seu entendimento, influenciam

    na educao e, consequentemente, na formao de professores. O primeiro destes elementos

    consiste no aumento acelerado e rpida transformao das formas adotadas pela comunidade

    social, do conhecimento cientfico e dos resultados do pensamento, da cultura assim como da

    arte. O segundo elemento a transformao das formas de viver, pensar, sentir e agir das

    novas e velhas geraes. As mudanas nos meios de comunicao de massa e da tecnologia

    subjacente tambm so apontadas, uma vez que colocam em crise a tradicional transmisso

    do conhecimento. Outro elemento que impacta a formao de professores o fato da

    educao no se mostrar mais como um patrimnio exclusivo dos professores, que agora

    veem-se compartilhando o poder de transmisso do conhecimento com outras instncias

    socializadoras. No contexto de uma sociedade multicultural e multilngue, a bagagem

    sociocultural ganha uma relevncia que vai alm das matrias cientficas e, assim, tem

    influncia direta na formao docente. Uma forma diferente de acessar o conhecimento

    tambm destacada como elemento influenciador da formao por Imbernn (2010), que

    aponta ainda uma crescente desregulao do Estado com uma lgica de mercado e um

    neoliberalismo ideolgico, complementado por um neoconservadorismo.

    Buscando estabelecer os objetivos da formao continuada de professores, apoiamo-

    nos em Moreira (2003) que estabelece os seguintes:

    Promover uma continuidade institucional entre a formao inicial e continuada

    de maneira que as instituies de ensino participem de um projeto educativo

    coerente no sentido de promover a pesquisa sobre a realidade educacional;

  • 37

    Melhorar a competncia profissional do professor para alm do ensino

    formativo;

    Ampliar a experincia do professor no marco de um desenvolvimento de novas

    perspectivas profissionais;

    Incentivar e desenvolver o trabalho colaborativo com o objetivo de se

    contrapor tendncia natural da falta de envolvimento e de cooperao dos

    professores.

    O primeiro objetivo traado por Moreira (2003) vem ao encontro de Garcia (1999),

    que aponta como primeiro princpio da formao de professores que ela seja concebida como

    um contnuo. Assim como os autores, defendemos que a formao continuada dos professores

    se estabelea como uma atividade sistemtica e organizada de tal maneira que esses

    professores se envolvam individual e coletivamente em um processo formativo contnuo.

    Dessa maneira, a construo de conhecimentos, habilidades e disposies que contribuam

    para o desenvolvimento da competncia profissional do professor pode ocorrer de forma

    crtica e reflexiva. Portanto, a noo de que um aumento de conhecimentos formativos,

    recebidos individualmente, seja suficiente para que conceitos e prticas se transformem

    (GATTI, 2003). A concepo de formao continuada que defendemos transpassa a

    racionalidade tcnica, uma vez que se alicera em uma constante renovao de conhecimentos

    e prticas estabelecidos na formao inicial, assim como a construo de novos saberes e

    fazeres decorrentes da experincia e da reflexo.

    O estmulo de uma perspectiva crtico-reflexiva aparece nos discursos de autores

    como Nvoa (1995), Garcia (1999) e Gatti e Barreto (2009), alm de outros que tambm

    evidenciam como importante caracterstica a necessidade de oferecimento de um ambiente

    que permita revises e aperfeioamentos constantes. Entretanto, Gatti e Barreto (2009)

    denunciam que os currculos da maioria dos cursos ainda no se atm necessidade de uma

    formao que realmente oferea os instrumentos para um fazer docente consciente de seus

    fundamentos, o que de fato prejudica o princpio crtico-reflexivo. necessria a busca por

    uma integrao na ambincia de vida e trabalho dos indivduos que participaro do processo

    formativo (GATTI, 2003)