financiamento colaborativo

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Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação CROWDFUNDING : PANORAMA DO FINANCIAMENTO COLABORATIVO NO BRASIL Cristiane Santana Mathias Denise dos Santos Rodrigues Jéssica Melissa Poquini Marcel Ribeiro de Arêde Margarete de Lourdes Campos Ramos Maria Isabel Chagas de Almeida Luchesi

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CROWDFUNDING: PANORAMA DO FINANCIAMENTO COLABORATIVO NO BRASIL

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TRAB. Financiamento Colaborativo.docx

Universidade de So PauloEscola de Comunicaes e ArtesCentro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicao

CROWDFUNDING: PANORAMA DO FINANCIAMENTO COLABORATIVO NO BRASIL

Cristiane Santana MathiasDenise dos Santos RodriguesJssica Melissa PoquiniMarcel Ribeiro de ArdeMargarete de Lourdes Campos RamosMaria Isabel Chagas de Almeida Luchesi

SO PAULO

2014

SUMRIO

1)DEFINIO61.1)Por que Surge?71.3)Como funciona?81.4)Formas de Arrecadao91.5)Contrapartida92)RETRATO DO FINANCIAMENTO COLETIVO NO BRASIL102.1) Como se encontra distribudo o financiamento coletivo no Brasil103)AS POLTICAS CULTURAIS E O FINANCIAMENTO COLETIVO133.1) Breve Panorama das Polticas Culturais no Brasil143.2) O Estado e os Projetos colaborativos174)PLATAFORMAS DE FINANCIAMENTOS BRASILEIRAS E SUAS PRINCIPAIS DIFERENAS185)INSCRIO DO PROJETO: PASSO A PASSO225.1)Tudo ou nada315.2)Projeto bem sucedido no Catarse315.3)Projeto Mal Sucedido325.4)Reembolso para apoiadores de projetos no financiados325.5)Projeto em Andamento336)ESTUDO DE CASO357) PROBLEMATIZAO407.1) O que necessrio para ter um projeto bem-sucedido?438) CONSIDERAES FINAIS459) REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS46

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Cadastro23Figura 2 - Comece seu Projeto.24Figura 3 - Realizadores - Primeiros Passos.24Figura 4 - Iniciar Projeto.24Figura 5 - Informaes bsicas.25Figura 6 - Definir valor a ser arrecadado.26Figura 7 - Escolha a categoria do projeto26Figura 8 - Descrio do Projeto27Figura 9 - Base da pgina do projeto.28Figura 10 - Definir Recompensas29Figura 11 Pgina do projeto finalizada30Figura 12 - Projeto bem sucedido: CD Raimundos31Figura 13 - Projeto Mal Sucedido: CD Banda Nao Nesta32Figura 14 - Projeto em andamento: Videoclipe Alma Djem e Ivo Mozart34Figura 15 - Estudo de Caso: Feliz Robatto35

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Como o Crowdfunding est distribudo no Brasil..11Grfico 2 Gnero e Idade dos Apoiadores..11Grfico 3 - Escolaridade dos Apoiadores.12Grfico 4 - Renda Mensal dos Apoiadores.r.12Grfico 5 - Ocupao dos Apoiadores.13Grfico 6 - Projetos com interesses de apoio19Grfico 7 - Idade dos realizadores.20Grfico 8 - Valores arrecadados20Grfico 9 - reas de interesses de projetos 21

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Recompensas38Tabela 2 - Resultados39

1) DEFINIO

Crowdfunding uma modalidade de financiamento coletivo muito semelhante ao mecenato, que era praticado no Imprio Romano, e consistia em estimular a produo cultural, financiando os artistas e suas obras, que viviam por meio deste incentivo, alcanando ainda prestgio social. Dessa forma, os artistas podiam se dedicar exclusivamente a arte. Na Idade Mdia, essa forma de incentivo a arte entrou em declnio, mas voltou tona durante o Renascimento, quando artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Botticelli, entre outros, eram financiados pelos mecenas. A Igreja Catlica, tambm atuou como mecenas, naquela poca, contribuindo com Michelangelo, na criao dos afrescos da Capela Sistina. Incentivando a cultura, os mecenas conquistavam prestgio social e tinham os seus nomes atrelados s grandes obras produzidas no perodo. Com o passar do tempo e a chegada da internet e a cibercultura, as possibilidades de financiamento de artistas e produtos culturais foram ampliadas, no sendo mais necessrio depender de personalidades simpticas e com dinheiro para conseguir um patrocnio. Deve-se destacar o papel da tecnologia nesse processo de mudana e solidificao do financiamento colaborativo.Com o surgimento do crowdfunding a potencializao a arrecadao de dinheiro e diversas ideias puderam sair do papel. Vale ressaltar que a palavra crowdfunding tem origem nos processos de crowdsourcing cuja ideia consiste principalmente, na participao do consumidor como produtor de contedo ou de iniciativas antes oriundas somente de empresas miditicas. A traduo de crowdsourcing abastecido pelo povo, o que representa de fato a ideia de uma inteligncia coletiva, que unida, busca os seus objetivos. Por meio desse sistema, surgem diversas mobilizaes na internet, que vo desde a sanar problemas de aquecimento global e o esgotamento dos recursos hdricos, at projetos filantrpicos para arrecadar fundos para entidades, passando ainda por empresas que tem a necessidade de saber a opinio de seus consumidores espalhados ao redor do planeta.O crowdfunding, um modelo de financiamento que permite que indivduos encontrem auxlio financeiro para seus projetos atravs de doaes coletivas. No Brasil, o pioneiro6

em utilizar esse sistema de financiamento, foi o site Catarse, voltado somente para projetos culturais e que teve como inspirao o Kickstarter3, site de financiamento colaborativo norte-americano. Lanado no incio de 2011, o Catarse desde sua fundao, j teve 1,3 mil projetos bem sucedidos, sendo que 170 mil pessoas j apoiaram ao menos 1 projeto e at agora, 22 milhes foram investidos nos projetos do site. Um dos projetos mais conhecidos realizados no Catarse e que ganhou espao na mdia, devido a nova forma de participao do pblico, foi o CD Cantigas de Roda, da banda de rock Raimundos, que em setembro de 2013, conseguiu arrecadar R$ 123.278 reais, sendo que a meta mnima da banda para a realizao do projeto era de R$ 55.000,00. O prazo do grupo para atingir o objetivo era de 60 dias. As expectativas foram superadas e 1.699 apoiadores incentivaram o trabalho, sendo que teve desde participantes que doaram R$ 10 reais, at pessoas que financiaram com R$ 5.000 reais. Entre as recompensas oferecidas pela banda, estava desde o download do CD em primeira mo, at o kit completo que inclua no s o CD autografado, mas tambm camiseta, disco de vinil, ingresso para o show do grupo com direito a visita ao backstage e acesso ao camarim em qualquer show realizado pela banda em 2014, com direito a acompanhante. A iniciativa da banda foi noticiada em diversos meios de comunicao e a partir da, diversos grupos musicais passaram a utilizar a plataforma em busca de recursos para os seus projetos.Alm da Catarse, existem outros sites de financiamento colaborativo no Brasil, como o Kickante, Embolacha, Incentivador, Clap.me, entre outros. Cada vez mais pessoas ligadas rea cultural, esto aderindo aos projetos por meio do crowdfunding. 1.1) Por que Surge?

O financiamento coletivo surge com a necessidade de pequenos produtores e novos artistas das mais diversas reas, poderem realizar e divulgar o seu trabalho. Pode-se perceber o rpido crescimento no nmero de plataformas que auxiliam nesse tipo de investimento. O dinheiro investido em projetos, tambm cresceu significativamente. H uma tendncia de que esse capital direcionado mais para empresas nascentes do que para projetos sociais, que recebem mais aportes e apoio. O financiamento coletivo7

apontado por especialistas, empreendedores e entusiastas do tema como uma forte ajuda para a economia mundial e uma alternativa eficiente para pases em crise ou em desenvolvimento. A importncia desse sistema justamente dar fluidez a mercados e ecossistemas com falhas graves e estruturais nos seus sistemas de financiamento e seu surgimento possibilitou a ampliao dos financiamentos de artistas e produtos culturais. O interesse pelo tema e a importncia do capital da multido para dar vida a projetos e empresas vm estimulando tambm o surgimento de sites voltados para mercados especficos.

1.3)Como funciona?

usual que seja definida uma meta de arrecadao, que deve ser atingida em um prazo estipulado para que o projeto seja viabilizado. Caso os recursos arrecadados sejam inferiores meta, o projeto no financiado e o montante arrecadado volta para os doadores, assim ningum corre o risco de colocar seu dinheiro em algo que jamais ir acontecer. Quem doa faz porque gosta e se identifica com a ideia. Independente do valor da colaborao, o sentido para quem participa, de contribuir para a concretizao de um projeto, de um sonho. Ao partir para um financiamento baseado na multido, no lugar de um mecenas, a relao de poder entre artista e financiador torna-se mais democrtica, o autor tem mais liberdade para sua criao, pois a aposta do pblico ocorre mais por identificao com o projeto do que um retorno de prestgio individual, no caso de um mecenas.

Os projetos baseados no financiamento colaborativo, no que tange a sua dimenso emocional do consumo, so analisados pelos seus aspectos sociais (legitimidade e relevncia), interesse do usurio (estimulam emoes ou motivam alguma ao) e questes estticas (aparncia e caractersticas). Alm disso, os clientes do crowdfunding no consomem simplesmente um produto final (um livro, CD, filme), mas sim, colaboram para criao de bens e servios.8

Ainda que as experincias em financiamento colaborativo estejam em fase inicial e no sigam uma orientao nica defende-se que o crowdfunding possibilita uma oportunidade a mais para que artistas financiem suas ideias sem depender, exclusivamente, dos mecenas ou de editais pblicos. 1.4)Formas de Arrecadao

A arrecadao dos recursos feita de forma voluntria, at atingir o valor estipulado para a realizao do projeto.Geralmente, o autor da ideia apresenta a sua proposta e diz quanto precisa arrecadar para implantar seu projeto. Os interessados em patrocinar podem doar quantias determinadas pelo autor do projeto e em troca recebem recompensas (o nome na capa do disco da banda, por exemplo). Se a ideia atingir o valor estipulado pelo autor, o valor da doao repassado ao responsvel pela proposta. Caso contrrio, os colaboradores recebem o dinheiro investido de volta ou recebem crditos para financiar outros projetos. Alm disso, a prtica do crowdfunding refora tambm o papel da curadoria, uma vez que a maioria dos projetos conta com uma filtragem da prpria comunidade ou de um corpo de editores, ou seja, o nicho de mercado, que significa que produes alternativas, tendem desde que encontrem seu pblico-alvo, a ganhar mais possibilidade de serem implantadas, assim como permitem uma nova experincia de consumo aos doadores, tendo em vista que ao avaliar positivamente uma ideia os colaboradores podem compartilhar o projeto com a sua rede e solicitar apoio e/ou dinheiro para que o autor consiga atingir sua meta. 1.5)Contrapartida

Um aspecto comum s iniciativas de crowdfunding a concesso de recompensas aos financiadores, em escala proporcional grandeza do incentivo concedido. As recompensas esto de certa forma associadas ao objetivo final e o retorno ao investidor se dar por retribuio promocional ou simblica, mas isso no necessariamente uma obrigao. A captao de recursos para a realizao de um filme, por9

exemplo,pode prever recompensas como fotos das locaes nas quais a obra ser divulgada.Quem doa faz porque gosta e se identifica com a idia. Independente do valor da colaborao, o sentido, para quem participa, o de contribuir para a concretizao de um projeto, de um sonho.Por se tratar de uma realizao pessoal e um sentido de co-criao, o envolvimento do usurio com o projeto transcende a questo financeira e parte para o engajamento para viabilizar a proposta que ele decidiu apoiar. Assim, os colaboradores buscam apoio em suas redes para tornar a ideia bem sucedida, que neste caso, significa conseguir o montante necessrio para que o projeto saia do papel.

2) RETRATO DO FINANCIAMENTO COLETIVO NO BRASIL

Com o objetivo de melhor compreender o cenrio atual do financiamento coletivo no pas a plataforma Catarse juntamente com a Chorus, empresa de pesquisa com foco em projetos ligados a cultura e a sociedade, realizaram no ano 2013 a pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil (RFCBr), a pesquisa foi realizada atravs de questionrio online e contou com 3336 participantes, com margem de erro dos dados estatsticos de 1,7%. A seguir ser apresentado alguns dados retirados desse estudo, sobre o perfil dos apoiadores dos projetos e mais a frente ser abordado o perfil dos realizadores.

2.1) Como se encontra distribudo o financiamento coletivo no Brasil

Como observamos no grfico a seguir, o financiamento coletivo j est distribudo por todos os Estados do Brasil. Proporcionalmente, a participao de cada regio brasileira parece bater com a distribuio populacional no pas.

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Grfico 1 Como o Crowdfunding est distribudo no Brasil. Fonte: Pesquisa RFCBr.

Entre os patrocinadores dos projetos percebemos um equilbrio entre os gneros e destaque para a faixa etria de 25 a 30 anos e com ensino superior completo.

Grfico 2 Gnero e Idade dos Apoiadores. Fonte: Pesquisa RFCBr.11

Grfico 3 - Escolaridade dos Apoiadores. Fonte: Pesquisa RFCBr.

O RFCBr constatou que 74% dos apoiadores de projetos atravs do financiamento coletivo ganham at R$ 6.000,00 por ms e que 26% so funcionrios de empresas privadas, seguido por 18% de servidores pblicos. Destaca-se aqui a participao de 14% de profissionais autnomos e tambm com 14%, donos de empresas.

Grfico 4 - Renda Mensal dos Apoiadores. Fonte: Pesquisa RFCBr.

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Grfico 5 - Ocupao dos Apoiadores. Fonte: Pesquisa RFCBr.

3) AS POLTICAS CULTURAIS E O FINANCIAMENTO COLETIVO

Contextualizar o tema de polticas pblicas culturais abordar questes como instabilidade e autoritarismo, palavras frequentemente apresentadas pelos tericos do tema. De fato, as polticas pblicas culturais precisam assumir papel de destaque nas pautas de agenda e por parte do Estado, enquanto entidade que deve prover cada vez mais acesso a todo cidado a cultura, como necessidade humana. As leis de incentivo a cultura bem como os editais culturais, no atingem em grande proporo a populao brasileira. neste eixo que os projetos colaborativos tomam destaque. Um aspecto importante em relao aos editais culturais, que o financiamento colaborativo torna-se mais participativo, tanto para o individuo que tem um projeto a apresentar, quanto para quem vai colaborar financeiramente por determinada causa, sendo que um dos principais motivos para aderir a determinado projeto, o sentimento humanitrio e afinidade com a causa. O que se apresenta neste trabalho um breve panorama para proporcionar a reflexo do Estado, que assume, dependendo da situao, os papis de criador, influenciador e ausente no campo das polticas pblicas culturais. As polticas culturais precisam ser cada vez mais abordadas pela rea acadmica, j que o tema, ainda pouco estudado, de extrema importncia para todos os profissionais que atuam na rea cultural, j que necessrio conhecer a trajetria poltica e histrica dessas polticas.

3.1) Breve Panorama das Polticas Culturais no Brasil

Segundo Calabre (2009, pg. 10), no Brasil, os estudos na rea das polticas culturais so muito recentes e produzidos de maneira dispersa, em diversas reas do conhecimento, como Comunicao, Sociologia, Direito, Economia, Cincia Poltica, Histria, entre outras e ainda h um volume muito pequeno de publicaes sobre o tema. Em seu livro Polticas Culturais no Brasil, Calabre aponta que a rea cultural sempre foi muito instvel, hora com intensa presena do Estado enquanto instituio que promove produtos culturais, hora com total ausncia. Um ponto marcante das politicas culturais no Brasil trata-se da no continuidade dos projetos aprovados, extinguindo rgos criados a pouco tempo, ou incorporando os mesmos a outros. Esta prtica ocorre durante todas as dcadas, trazendo um panorama preocupante e sem linearidade.O marco das polticas pblicas culturais surge a partir de 1930, com a quebra do sistema poltico do caf com leite e a alternncia de poder entre So Paulo e Minas Gerais. a partir de 1930, com o primeiro Governo de Getlio Vargas (1930-1945) que aes relacionadas a cultura nascem e possuem forma de polticas culturais. criado ento o Departamento de Cultura de So Paulo, tendo como figura de destaque Mario de Andrade, modernista e intelectual cujas ideias de gesto so apresentadas como inovadoras.O perodo entre 1946 e 1960 pode ser identificado como o momento ureo do crescimento da indstria cultural no Brasil, com a presena direta do Estado como elaborador e fomentador de polticas bastante restritas. Durante a dcada de 1960, antes do golpe militar de 1964, houve tentativas do Governo Federal para implementao de aes no setor cultural. De acordo com Calabre, as13

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polticas culturais empreendidas ao longo do perodo do governo militar podem ser divididas em trs momentos:De 1966 a 1973; com forte presena do Conselho Federal de Cultura; De 1974 a 1979, com a criao da estrutura pblica contribuindo para a institucionalizao da rea; De 1979 at o fim do governo Figueiredo, com efetiva presena em escala nacional das instituies criadas nos perodos anteriores.De 1930 para os dias atuais, as polticas pblicas culturais foram beneficiadas em diversos segmentos, que ao mesmo tempo, tornaram-se instrumentos de manipulao, principalmente durante o perodo ditatorial. O cinema, teatro, rdio, incentivo a leitura e bibliotecas foram utilizados para ressaltar a imagem do Estado enquanto maior provedor e controlador das polticas e produtos culturais. Em determinados momentos, a cultura surge para destacar determinados segmentos e reas especficas, como a arquitetura. Fonseca (2005, p.132) ao resumir a ao dos governos de 1945 a 1960, aponta que Nos governos Dutra, Vargas e JK, o Estado no desenvolveu atuao marcante na rea cultural, exceo do apoio dado por JK arquitetura modernista desde a Prefeitura de Belo Horizonte, anos 40, quando foi construdo o conjunto da Pampulha.O perodo de 1945 a meados de 1960 foi marcado por um processo de significativo investimento privado nas atividades culturais ligadas a indstria cultural. Para Renato Ortiz, (1991, p.164), na dcada de 1950 at meados de 1960, a relao entre poltica e cultura se expressava como complementaridade e os grupos culturais, podiam, dessa forma, associar o fazer cultura ao fazer poltica.Trazendo para o contexto do financiamento colaborativo, por volta dos anos de 1980, mais precisamente de 1985 a 2002, a presena do Estado na elaborao das polticas e no financiamento da rea da cultura foi sendo gradativamente reduzida. Nesse perodo de quase vinte anos predominaram as leis de incentivo e da retirada do governo no cenrio decisrio. Analisando o contexto atual, Calabre (2009 p.13) conclui que A compreenso contempornea do tema que se trata de uma poltica pblica que deve ser, necessariamente, elaborada a partir de um pacto entre os diversos agentes envolvidos. As leis de editais culturais no abrange grande parte da populao brasileira, principalmente para pessoa fsica e a questo do excesso burocrtico traz a tona uma problemtica relacionada ao acesso informao. Diante da Instabilidade das polticas culturais apontadas por Rubim (2007, p. 11), acredita-se que os projetos colaborativos surgem por diversos fatores: Carncia e falta de acesso por muitos indivduos diante dos editais culturais; Aumento da demanda de interessados na rea cultural, nos mais variados segmentos, como literatura, msica, teatro, artes plsticas, cultura popular etc; Por surgirem em ambiente web, em um cenrio globalizado onde a informao transmitida de maneira cada vez mais rpida e com maior impacto, a tendncia que os projetos colaborativos se expandam cada vez mais, influenciado por fatores como engajamento pelo tema e divulgao. O fato de alguns projetos presentearem seus colaboradores, como uma cpia do CD autografado, ingressos em peas de teatro, nome em agradecimentos em livros e outras trocas, torna o financiamento colaborativo democrtico, pelo fato de o colaborador optar por doar qualquer valor que caiba em seu oramento. Exemplos de sucesso sempre so apresentados, e o idealizador do projeto tem pessoas que podem contar por ter seu trabalho.

No cabe aqui nesta pesquisa atribuir maior valor para determinada forma de captao de recurso cultural. importante ressaltar que cada contexto, atividade e pblico-alvo, necessitam de captao diferente e um no anula o outro. Ao longo da histria, diversos rgos, atividades e iniciativas por parte do Estado foram criados, e ainda assim, a cada dia deve ser travada uma luta diria para defesa das conquistas que levaram dcadas. Quando o Estado no supre a necessidade de determinado grupo so criadas as Organizaes no governamentais, coletivos e grupos de apoio para prestar assistncia a determinado segmento da populao. neste cenrio que os projetos colaborativos surgem, pois so uma alternativa frente ao processo regulamentado pelo Estado.3.2) O Estado e os Projetos colaborativos Desde outubro de 2013 est em anlise na Cmara dos Deputados o Projeto de Lei 6590/13, do deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), que estabelece diretrizes para a atuao de empresas de organizao de investimento coletivo. O projeto de lei apresenta dois tipos de financiamento colaborativo: empreendimentos com fins lucrativos e empreendimentos com fins sociais; voltado para contedos de cunho social. O projeto diz respeito deduo do Imposto de renda sobre pessoa fsica e jurdica, tambm no que referente atribuio de responsabilidade sobre seus idealizadores como, por exemplo, porcentagem de abatimento em imposto de renda dependendo da modalidade escolhida; fins lucrativos ou social. Tratando-se de um projeto que ainda est em anlise, alguns pontos merecem observao: A redao do texto no est apresentada de forma de fcil entendimento; principalmente para pessoas que no conhecem a respeito de financiamento colaborativo; A reduo no Imposto de Renda traria mais visibilidade para os projetos, mas consequentemente, perderia assim a verdadeira causa de apoiar um projeto? A colaborao e solidariedade? Conforme abordado pelo Art. 6, ao mencionar a Comisso de Valores Mobilirios (CVM), como rgo de fiscalizao das plataformas, a indagao: Como ser este procedimento? H uma periodicidade? H uma equipe responsvel? O detalhamento ser realizado atravs de algum site especfico? Haver prazos para comprovao de gastos? A reduo do Imposto de Renda seria uma maneira de controle do Estado?

Ainda cedo para concluses e certezas; mas uma coisa fato, com este projeto de Lei, percebe-se que os financiamentos colaborativos tomam cada vez mais destaque para o Estado; tanto que so apresentadas justificativas para tal aprovao da lei, destacando o grande empreendedorismo do povo brasileiro e o comparativo entre pases. Os financiamentos colaborativos saem de um patamar individual, o abraar de uma causa de um cidado para olhares do Estado.15

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4) PLATAFORMAS DE FINANCIAMENTOS BRASILEIRAS E SUAS PRINCIPAIS DIFERENAS

Entre as plataformas de financiamento coletivo ativas em territrio nacional, destacam-se: o Catarse, a Kickante e o Benfeitoria.Essas plataformas, encontradas em ambiente online, so mecanismos que amparam projetos de produtores independentes, que no encontram nas polticas pblicas culturais subsdios para seus projetos.Entre as plataformas destacadas acima, apresentamos as dessemelhanas entre elas:

O O Catarse uma plataforma de financiamento coletivo, ativa desde 17 de janeiro de 2011. Durante seus 3 anos de existncia agrupou mais de 1582 projetos, dos quais foram bem sucedidos um nmero superior 1000 projetos. Essa plataforma se mantm atravs de taxas sobre os projetos que atingem a meta estipulada pelo proponente. Eles estipulam uma montante de 13% sobre o projeto captado e repassam o valor para quem props o projeto com os devidos descontos.

O Kickante tambm uma plataforma de crowdfunding recente, comeou suas atividades em 21 de Outubro de 2013. Possui uma vantagem sobre as demais plataformas, por conta da sua flexibilidade ao amparo de projetos, em relao sua adequao ao pblico brasileiro e facilidades de captar potenciais apoiadores. uma plataforma que possibilita ao usurio proponente optar em desenvolver uma campanha de captao flexvel, e ao usurio simpatizante de uma causa a possibilidade de parcelamento de suas contribuies. Essa plataforma se mantm atravs de taxas sobre o montante arrecadado. Em campanhas captadas a taxa cobrada pela plataforma de 12% sobre a meta ou valor total arrecadado e 17,6% sobre valores no totalmente captados, em campanhas flexveis.

O Benfeitoria, uma plataforma de financiamento coletivo, um empreendimento social que est em atividade desde Abril de 2011. Abriga projetos culturais de via independente, uma plataforma gratuita, no cobra taxas de uso e o percentual sobre os projetos hospedados caso atinjam a meta alcanada pelo realizador de 5% pelas transaes financeiras ocorridas via MOIP.

Quais projetos as pessoas tm mais interesse em apoiar?

Grfico 6 - Projetos com interesses de apoio. Fonte: Pesquisa RFCBr.

Para o sucesso na captao de recursos dos projetos inseridos nessas plataformas, fundamental um considerado nmero de pessoas, para os quais os projetos possam ser divulgados, essa intitulada como primeira rede. A filtragem de projetos est basicamente nesse quesito: s aparecem nas pesquisas de busca dessas plataformas e so indexados na primeira pgina projetos que j tenham iniciado o trabalho de captao e tenham contribuies.

Um fator relevante, no que se refere concretizao do alcance dos recursos necessrios para realizao desses projetos est subentendido em trs esferas, a saber, so elas: os contatos que o usurio realizador possui; o ciclo de amizade dos contatos deste realizador e o grau de relevncia do projeto no teor de um possvel interesse pblico. A pesquisa Retrato de financiamento coletivo no Brasil identificou o perfil de realizador de projetos independente no Brasil, bem como o percentual aproximado de quanto conseguem arrecadar em projetos lanados.

Grfico 7 - Idade dos realizadores Fonte: Pesquisa RFCBr.

Grfico 8 - Valores arrecadados Fonte: Pesquisa RFCBr.

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Grfico 9 - reas de interesses de projetos . Fonte: Pesquisa RFCBr.

possvel observar, nesta pesquisa, em quais esferas que a cultura est presente, das propostas relevantes e setores dos quais esto ausentes de propostas significativas. A insero do conceito de cultura no cotidiano que se destina os projetos e quem os prope, foi acometido de uma mudana significativa, se observarmos os dados da pesquisa acima veremos que a cultura no se restringe um nicho relacionado ao que chamamos de Belas Artes, ela transcende essa compreenso e atribuda aos demais setores da vida secular, como: urbanismo, mobilidade e transporte, meio ambiente e educao.

5) INSCRIO DO PROJETO: PASSO A PASSO

Quem pode inscrever um projeto no Catarse?

Pessoa fsica: A partir dos 18 anos Brasileiro ou estrangeiro com visto permanente Ter endereo fixo no Brasil Possuir conta bancriaObs: no caso de menores de idade necessrio que os pais ou professor entrem como responsveis pelo projeto.

Pessoa Jurdica: (empresas, ONGs, associaes e Fundaes)Documentos necessrios:

Razo social CNPJ Comprovante de endereo, CPF e RG de um dos scios

Qual o valor para inscrever um projeto no Catarse?

O Catarse cobra uma taxa de 13% sobre o valor arrecadado, ela ser cobrada mesmo se o valor arrecadado seja maior do que o valor estipulado. O repasse ao realizador j realizado com o valor descontado. Quando a meta no atingida, o site no cobra nenhum valor e apenas devolve o dinheiro para os apoiadores. Nessa taxa de 13% est inclusa a comisso do Catarse, a taxa dos sites de pagamento como PayPal e tambm utilizado para a manuteno da plataforma.

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Repasse

O repasse do dinheiro feito em at 5 dias teis aps o encerramento do projeto. necessrio criar uma conta MOIP e de l o dinheiro ser direcionado a conta que o realizador cadastrou no Catarse. O Catarse emite nota fiscal e de acordo com o site, em relao ao pagamento de impostos, depende do ramo de atividade e do estado em que a pessoa reside, pois cada estado tem uma legislao especfica. A plataforma est criando um guia para explicar melhor essa fase do processo.

Passo a passo da inscrio

Cada plataforma tem a sua metodologia de inscrio. Porm, abaixo ser mostrado o passo a passo para inscrever um projeto no Catarse, que o site mais popular de financiamento colaborativo e o pioneiro nessa forma de arrecadao no Brasil.

1) Cadastro: Essa a primeira etapa para inscrever um projeto no Catarse. necessrio fornecer o nome completo, email, escolher uma senha e efetuar o cadastro.

Figura 1 - Cadastro23

2) Clicar na tela para iniciar o projeto, conforme observado abaixo:

Figura 2 - Iniciar Projeto.

3) Na etapa seguinte, ser possvel escolher entre duas opes. A primeira aprender mais sobre os projetos do Catarse, principalmente para quem leigo no assunto. Se a segunda opo for escolhida, ser iniciado o projeto.

Figura 3 - Comece seu Projeto.

4) Se a opo escolhida for para ter mais informaes a respeito do projeto, ser aberta a seguinte tela:

Figura 4 - Realizadores - Primeiros Passos.24

5) Em seguida, inicia a inscrio do projeto.

Figura 5 - Informaes bsicas.

6) O valor a ser arrecadado ser definido pelo idealizador do projeto, porm, vale lembrar que caso o projeto seja bem sucedido, o Catarse cobrar 13% do valor arrecadado. Por isso, na hora de criar o projeto, necessrio planejar esse detalhe. Em seguida, preciso estabelecer o tempo de durao da campanha, sendo que o prazo mximo permitido pelo Catarse de 60 dias. De acordo com o site, o tempo mdio que os projetos ficam no ar de 40 dias. 25

Figura 6 - Definir valor a ser arrecadado.

7) O prximo passo definir a categoria de seu projeto.

Figura 7 - Escolha a categoria do projeto8) A URL do vdeo uma etapa muito importante, j que para os projetos que pretendem arrecadar acima de R$ 5 mil, h a obrigatoriedade de um vdeo abordando o projeto. Apesar de no ser obrigatrio para os valores abaixo de R$ 5 mil, o vdeo altamente recomendvel para que os futuros apoiadores se26

9) identifiquem com o projeto. O vdeo deve ser hospedado no Youtube ou no Vimeo.

10) J na parte da descrio, preciso explicar o projeto, vdeos e imagens podem ser utilizados. Em seguida, deve-se escolher uma frase de efeito, que leve as pessoas se interessarem pelo seu projeto.

Figura 8 - Descrio do Projeto

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11) Aps inserir as informaes acima, a base do projeto est pronta, como se pode observar abaixo.Figura 9 - Base da pgina do projeto.

11) Recompensas. Nessa etapa, sero oferecidas as recompensas para as pessoas que apoiarem o projeto. A quantidade e os valores de recompensas sero criados por cada usurio.

Figura 10 - Definir Recompensas

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12) A partir da, o projeto ser enviado para o Catarse e se aprovado, entra no ar e j pode ser divulgado nas redes sociais e para a lista de contatos do criador do projeto.

Figura 11 Pgina do projeto finalizada30

5.1)Tudo ou nadaA expresso tudo ou nada utilizada nas plataformas de financiamento colaborativo e funciona da seguinte forma:Projeto bem sucedido: Se o objetivo do projeto for atingido, todo o valor arrecadado vai para o realizador do projeto, mesmo que arrecade um valor maior do que a meta. Por isso, a expresso tudo.Projeto malsucedido: Caso a meta estipulada pelo realizador no seja atingida, o valor devolvido integralmente para as pessoas que contriburam, sendo que o criador do projeto, no fica com nada (da a expresso nada).

5.2)Projeto bem sucedido no Catarse

possvel descobrir atravs de pesquisa no Catarse, quais foram os projetos bem-sucedidos. Um dos mais populares foi o CD Cantigas de Roda, da banda Raimundos. A banda arrecadou R$ 123.278,00, sendo que a meta mnima para a realizao do projeto era de R$ 55.000,00.

Figura 12 - Projeto bem sucedido: CD Raimundos31

5.3)Projeto Mal Sucedido

A banda de reggae Nao Nesta, de Limeira, interior de So Paulo, teve uma tentativa mal sucedida de projeto no Catarse, sendo que conseguiu apenas 5% da meta, o que fez com que o projeto no fosse viabilizado. De R$ 4.500, a banda arrecadou apenas R$ 253. Nesse caso, o dinheiro devolvido para as pessoas que contribuiriam.

Figura 13 - Projeto Mal Sucedido: CD Banda Nao Nesta

5.4)Reembolso para apoiadores de projetos no financiados

Para projetos que se encerram at o dia 03/11:

Apoios devolvidos em forma de crditos na plataforma, para que o apoiador possa reverter para outros projetos.Obs: o Catarse envia um e-mail 4 dias teis aps o prazo de encerramento do projeto, com todas as instrues para solicitar o reembolso.

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Para projetos que se encerram a partir de 03/11:

Nesse caso, no sero gerados mais crditos e o reembolso ser realizado da seguinte forma:Carto de crdito ou PayPal: Solicitar o estorno e o reembolso ser realizado na prxima fatura do carto de crdito do apoiadorTransferncia bancria ou boleto: Ter que abrir uma conta no MOIP, enviar o login para o Catarse e a partir da a plataforma realizar o reembolso na conta MOIP, de onde posteriormente ser direcionada para a conta que o usurio cadastrou no Catarse.

5.5)Projeto em Andamento

No caso de projetos que esto em andamento no Catarse, possvel acompanhar quantas pessoas j apoiaram a causa e qual o valor arrecadado, alm de poder conferir o valor total e o quantos dias ainda faltam para que a meta seja atingida. A banda Alma Djem, por exemplo, tem um projeto para a gravao de um videoclipe, com a participao do cantor Ivo Mozart, sendo que a data final para arrecadar os R$ 20 mil previstos pelo grupo musical 27 de novembro. At o momento, o projeto conta com 13 apoiadores, que juntos investiram R$ 1.340.

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Figura 14 - Projeto em andamento: Videoclipe Alma Djem e Ivo Mozart

Um projeto apoiado no Catarse, no pode ser abatido do Imposto de Renda, porque no segue as normas necessrias para essa finalidade.

6)ESTUDO DE CASO

Artista: Flix RobattoProduto: Videoclipe da msica CervejaPlataforma: www.eupatrocino.com.br

Figura 15 - Estudo de Caso: Feliz Robatto34

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A proposta deste captulo do trabalho e fazer um estudo de caso de uma ao de crowdfunding especfica e bem-sucedida, e identificar fatores que levam o sucesso dos empreendimentos.O produto em anlise faz parte da estratgia de marketing do lanamento do artista Felix Robatto no mercado musical nacional. O primeiro lbum autoral do artista j est em andamento atravs do financiamento da empresa Terraplena (PA) com o uso da lei de incentivo municipal de Belm T Teixeira. E existe um segundo projeto em fase de captao que a turn nacional do show de lanamento e est aprovada na Lei Semear (Incentivo do estado do Par).Tambm esto sendo desempenhadas outras aes de marketing para a promoo em jornais, rdios, TVs e internet; veiculao das msicas nos meios tradicionais e digitais; distribuio fsica e digital do lbum; insero em plataformas de sincronizao e venda de shows. 1 - Premissa: O msico e compositor Felix Robatto uma referncia na cena musical do Par e brasileira, comeou a sua carreira autoral na banda La Pupua. Entre outros trabalhos, tem em seu currculo a produo do disco Treme da Gaby Amarantos e do terceiro disco da cantora Lia Sophia, ambas cantoras paraenses de expresso nacional.O artista possui uma grande base de fs principalmente no Par, fazendo da sua festa semanal Quintarrada uma das mais conhecidas do estado, com um pblico mdio de 700 pessoas por noite.Como estratgia de marketing, a primeira ao deste novo disco foi o lanamento de um single e do videoclipe da msica Cerveja, para que o pblico consumidor pudesse conhecer este novo momento da carreira do artista e criar um interesse prvio pelo trabalho completo que ainda ser lanando. O single e videoclipe tambm servem como divulgao do artista nas redes sociais, Youtube e rdios, geram engajamento e repercusso.

2 - Busca de financiamento: Com um tempo curto entre a idealizao e a realizao do projeto, observado que o artista possui uma grande base de fs 36

construda ao longo de sua carreira, conhecendo o poder de mobilizao do artista e a disseminao de plataformas de financiamento coletivo em todo pas, foi percebido a possibilidade do financiamento do primeiro produto atravs da ferramenta do crowdfunding. Em parceria com a produtora de vdeo Fton Filmes, foi montado um projeto de financiamento coletivo no Eu Patrocino, veiculado de 26 de maio a 26 de julho de 2014 com o objetivo de alcanar R$6.000,00, para a produo do videoclipe da msica Cerveja. Caso alcanasse o marco inicial e para no desestimular novos financiadores, foi sugerida uma segunda meta de R$10.000,00 que seria gravado outro vdeo da msica ao vivo. 3 - Escolha da plataforma: O site www.eupatrocino.com.br original de Belm-PA, cidade em que o artista reside. Isto possibilitou uma relao mais prxima com os gestores do site e tambm motivo para valorizar as iniciativas locais.Como existem poucos projetos em andamento nesta plataforma, o empreitada possuiu uma dedicao maior da parte tecnolgica para a realizao e convergiu os interesses da empresa de crowdfunding, da produtora de vdeo e do artista para o engajamento de pessoas para o xito do projeto, com todos trabalhando organicamente na divulgao.

4 Estratgias de Ao: O crowdfunding funciona, mas precisamos ser inteligentes no negcio. necessrio todo um esforo para o planejamento destas aes de forma coesa, com informaes diretas e que sempre motive os fs a disseminar a informao, compartilhar em suas redes sociais e serem os principais propulsores do projeto.Entretanto, para fomentar este engajamento precisamos tambm acessar outras mdias, como jornais, blogs, entrevistas em TVs e rdios, fazendo com que tudo trabalhe convergindo para o acesso ao site onde pode ser realizado o aporte financeiro ao projeto. 37

4.1 Estrutura: O projeto foi estruturado para alcanar R$6.000,00 que foram os valores passados pela produtora (R$4.800,00) , mais os custos de administrao do site (12% - R$7200,00) e os custos com a confeco dos brindes (R$480,00).

4.2 Recompensas: foram pensadas 8 tipos de cotas para apoio de acordo com o perfil do apoiador e uma recompensa maior a cada cota, mais uma cota especial para empresas no valor de R$ 1.500,00 no qual seria inserida a sua logomarca na divulgao.

CotaAporteRecompensa

1R$ 20,00Agradecimento nos crditos, adesivos e palheta autografada

2R$ 40,00Todos os anteriores, caneca e abridor de cerveja

3R$ 70,00Todos os anteriores e camisa

4R$ 100,00Todos os anteriores e link exclusivo do making of + EP

5R$ 150,00Todos os anteriores, garrafas e ingresso para show

6R$ 300,00Todos os anteriores e homenagem especial no videoclipe

7R$ 600,00Todos os anteriores e homenagem especial no videoclipe

8R$ 1500,00Citao verbal + logo nas mdias de divulgao

Tabela 1- Recompensas

4.3 Formatao da Pgina: Como a pgina no Eu Patrocino segue um padro esttico, apenas criou-se um texto curto e instigante para referncia e o primeiro vdeo com mais detalhes no depoimento do artista. O vdeo passa uma credibilidade maior para quem assiste e o artista fala da importncia deste projeto em sua vida e o porqu ele precisa deste apoio.

4.4 Divulgao: O primeiro enfoque a base de fs, familiares e amigos do artista e produtores. Foi solicitado que o prprio artista divulgasse a ao em seus shows, compartilhasse em suas redes sociais e fizesse o trabalho individual de mandar pelo chat informaes e o link para seus amigos, e pedir que eles compartilhassem. Entendendo que o receptor da informao tambm produtor de contedo, o artista nos shows estimulava todos a filmarem a msica quando tocada e tirar fotografias para38

postar na internet com a #euapoiocerveja e um texto pedindo para que os amigos tambm apoiassem a campanha.Como estratgia de massificao e impacto, a assessora de imprensa da produtora buscou pautas nos veculos tradicionais locais. Conseguiu emplacar matria nos dois grandes jornais do Par, entrevistas em rdios e TVs locais. E tambm utilizou os servios da analista de redes sociais para organizar as informaes oficiais e criar contedos exclusivos para serem postados pela fanpage do artista, produtora e parceiros. 4.5 - Vdeos de Suporte e Engajamento: criou-se mais 3 vdeos que foram lanado a cada 15 dias, para fomentar o compartilhamento entre os fs com contedo novo. Neste vdeo utilizaram a imagem de outros artistas e personalidades falando do trabalho do Flix Robatto e o porqu que eles apoiavam a iniciativa para dar mais credibilidade ao projeto e acessar a base de fs destas outras pessoas.

5 Resultados: O projeto teve xito com a arrecadao de R$6.070,00 divididos por 35 patrocinadores, sendo que dois deles so empresrios e fs do artista que no quiseram ter seu nome divulgado no projeto, apoiando com a cota maior no valor de R$1.500,00, o que possibilitou que apenas a outra metade do projeto fosse financiada de forma coletiva de acordo com a tabela:Valor da CotaN de ApoiadoresValor Arrecadado

R$ 20,008R$ 160,00

R$ 40,004R$ 160,00

R$ 70,0010R$ 700,00

R$ 100,007R$ 700,00

R$ 150,001R$ 150,00

R$ 300,002R$ 600,00

R$ 600,001R$ 600,00

R$ 1.500,002R$ 3.000,00

TOTAL35R$ 6.070,00

Tabela 2 - Resultados39

Esses projetos precisam ter uma fora central para darem certo. Um motivo que engaje as pessoas ao redor a acreditar, apoiar e disseminar o conceito. Neste caso conseguiram atingir a meta estabelecida e realizar videoclipe com excelncia na produo, isto possibilitar novas aes de xito com a tendncia que cada vez consiga mais apoiadores para as prximas aes. Aps o projeto, foi realizada uma pesquisa com os apoiadores para identificar o nvel de satisfao e foi observado que a principal satisfao esta em possibilitar que produtos culturais ocorram de forma mais justa para o artista e com mais frequncia. Tambm foi identificado que o projeto ser bem-sucedido e fator de satisfao pessoal para os financiadores. PALAVRAS CHAVE: ENGAJAMENTO, CONVERGNCIA e COLABORAO.

7) PROBLEMATIZAO

Ante o exposto, foram analisados os possveis problemas do financiamento coletivo no Brasil, alm de realar a importncia que o desenvolvimento de cada tpico poderia trazer para o panorama do crowdfunding no pas, como segue:

1. Tipo de financiamento recente no Brasil;2. Falta de um respaldo Legal;3. No h deduo fiscal;4. Fiscalizao dos projetos alavancados;5. Divulgao do sistema de crowdfunding.

1. Tipo de financiamento recente no Brasil

O financiamento coletivo muito recente no Brasil, a primeira plataforma, o Catarse, surgiu h quase 4 anos, e isso gera uma certa desconfiana para quem no conhece seu funcionamento e objetivos, deixando muitas vezes de investir em projetos onde havia uma identificao, pelo simples receio e falta de conhecimento sobre o crowdfunding. Para que este financiamento ganhe notoriedade necessrio investir em40

divulgao, principalmente nas mdias sociais e na transparncia dos projetos bem-sucedidos, dando retorno aos apoiadores e divulgando estes resultados.

2. Falta de respaldo legal

Ao contrrio de outras formas de financiamento, como por exemplo, Lei Rouanet, ProAC e VAI, que possuem em seus editais regras e formulrios para a aprovao dos projetos incentivados, as regras do crowdfunding so estabelecidas por cada plataforma de apoio e at o momento no possui nenhuma lei que estabelea diretrizes comuns para todas as plataformas. Entretanto j est em anlise na Cmara dos Deputados o Projeto de Lei 6590/13, do Deputado Otavio Leite (PSDB/RJ), que visa estabelecer diretrizes para a atuao de empresas de crowdfunding. Algumas dessas diretrizes so: deduo fiscal para as empresas que venham atuar na modalidade de alavancagem de empreendimentos para fins lucrativos e para quelas que atuaro na modalidade de empreendimentos com fins sociais, esta lei tambm visa isentar as plataformas de responsabilidades pelas execues dos projetos no cumpridos, este compromisso de inteira responsabilidade de seus idealizadores, tambm segundo a proposta as empresas devero informar a Comisso de Valores Mobilirios (CVM) todos os detalhes dos projetos alavancados como tambm, informaes sobre os dados de seus domnios na internet. Apesar de tornar o processo mais burocrtico, se aprovado, uma forma de incentivo para que mais investidores possam participar destes projetos.

3. No h deduo fiscal

Segundo a pesquisa de RFCBr, 74% dos entrevistados valorizam uma empresa que apoia projetos via financiamento coletivo e 39% consideram fundamental essa participao, a deduo fiscal para estas empresas e tambm para quelas que trabalham em organizaes de investimento coletivo uma forma de incentivo para que essa participao cresa exponencialmente. Neste sentindo, o Projeto de Lei 6590/13, como abordado anteriormente, seria de grande valia, pois poderia aumentar a41

participao nestes movimentos, alm de deixar o processo mais transparente, aumentando assim, a credibilidade tanto das plataformas que organizam os projetos, como tambm dos projetos incentivados por ela.

4. Fiscalizao dos projetos alavancados

Ainda segundo o RFCBr, 72% dos entrevistados falaram que a transparncia fundamental para decidir apoiar um projeto e 64% s apoiam projetos que apresentem o uso da verba de forma transparente. Visto a necessidade e a importncia da transparncia, uma forma de fiscalizao e feedback dos projetos finalizados de extrema importncia, pois desta forma os apoiadores e/ou futuros apoiadores, podero observar se aquele grupo cumpriu o que foi prometido, tanto na parte de execuo do projeto, como a entrega das recompensas, prestao de contas dos gastos e cumprimento do prazo acordado.Para os grupos ou apoiadores que estejam participando pela primeira vez mostrar a fiscalizao do ps-projeto uma forma de transmitir credibilidade e segurana, mostrando que o dinheiro investido realmente foi utilizado para o fim proposto, alm de ser um incentivo para que o grupo realizador tenha responsabilidade e comprometimento com o projeto.

5. Divulgao do sistema de crowdfunding

A principal ferramenta do crowdfunding a internet, as plataformas esto inseridas online e consequentemente as formas de divulgao tm de utilizar dessa mdia ao seu favor. Como foi dito nos tpicos anteriores, o financiamento coletivo muito recente no pas, para que haja mais colaboradores interessados em apoiar os projetos existentes necessrio um engajamento de todos, plataformas e realizadores, de como o sistema do financiamento coletivo funciona (o que , seus objetivos, pontos positivos, como se arrecada o dinheiro, etc), divulgando a ideia de uma maneira objetiva e fazendo o possvel para sanar todas as dvidas dos futuros realizadores/apoiadores, para que assim, este financiamento v ganhando fora e cada vez mais adeptos.42

7.1) O que necessrio para ter um projeto bem-sucedido?

Acima foi analisado a problematizao ante o processo do financiamento coletivo, porm ao iniciar um projeto nessas plataformas outros empecilhos podem surgir antes que o projeto consiga sair do papel. Segundo a pesquisa do Catarse, 22% dos realizadores que no obtiveram sucesso em seus projetos, acham que a campanha de divulgao foi insuficiente, 19% acreditam que menos pessoas que se imaginava de fato apoiaram o projeto, em seguida 9% dos entrevistados acreditam que Faltaram apoiadores para os maiores valores e que O pblico alvo no conhecia financiamento coletivo. Infelizmente, no basta apenas ter uma boa ideia, necessrio muito planejamento antes, durante e depois de colocar seu projeto na rede. Alm do planejamento, o comprometimento, a responsabilidade, a transparncia, a qualidade, a divulgao e o engajamento com o projeto o que poder definir se o projeto ser ou no bem-sucedido. Segue abaixo, uma lista de algumas dicas encontradas que devem ser muito bem trabalhadas ao decidir utilizar dessa nova forma de financiamento:

1. Pr-projeto: Checar pblico-alvo e possveis interessados no projeto, oramento de todos os custos (principalmente das recompensas), clculo do valor mnimo para execuo do projeto, cronograma e previso de quando conseguir cumprir todos os objetivos propostos, avaliao sua participao nas redes sociais e sua relao com o pblico, escolher a melhor data para colocar o projeto no ar, checar qual a plataforma mais adequada ao objetivo do projeto.

2. Durante a arrecadao: Divulgao e engajamento durante o tempo em que a campanha estiver no ar.

3. Durante o desenvolvimento do projeto: Divulgao nas redes sociais do progresso do projeto, para que os apoiadores acompanhem seu desenvolvimento.

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4. Ps-projeto: Aps a finalizao fazer um feedback a todos que de alguma forma participaram do projeto (apoiadores, equipe tcnica, artistas, pblico etc.), fazer a prestao de contas final, enviando para todos os interessados e tambm, agradecendo o apoio dos envolvidos.

8) CONSIDERAES FINAIS

O crowdfunding surge como alternativa s polticas culturais j existentes, j que por meio desse processo possvel produzir cultura de forma independente, sem depender do Estado e das polticas culturais vigentes, o que permite a criao de projetos que no se enquadram em leis de incentivo cultura como Rouanet e ProAC. Essa forma de realizao cultural mais abrangente, j que no beneficia nichos culturais especficos e todas as formas de arte podem ser estimuladas com essa forma de financiamento. Em contrapartida, os realizadores de projetos de financiamento colaborativo, precisam contar com um pblico engajado e disposto a contribuir com a causa, sendo que nos casos onde os projetos no so viabilizados por falta de apoiadores, pode-se gerar at uma imagem negativa para o criador do projeto, que em vez de se tornar referncia, acaba servindo como mau exemplo.

9) REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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