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A diversidade cultural na formação de formuladores de Planos Municipais de Cultura no Brasil: análise de uma experiência. José Márcio Barros – UEMG/UFBa Kátia Costa - UFBa Resumo Neste artigo, refletimos sobre o tratamento dado à Diversidade Cultural no âmbito do Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura, iniciativa do Ministério da Cultura do Brasil, coordenador pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia. Nele, apresentaremos o projeto, seu formato, a metodologia e o processo de realização. Nesse contexto, vale destacar que desde 2003 o Brasil adotou princípios que revelam uma mudança no processo de construção e implementação das políticas públicas de cultura, dos quais destacamos os princípios da participação social e o da diversidade cultural. Sendo assim, esse projeto se configura como uma iniciativa pioneira dirigida aos municípios brasileiros para a formulação dessas políticas, através de um processo formativo dirigido a gestores e representantes da sociedade civil, com foco principal no plano municipal de cultura. Para tanto, foi desenvolvida uma metodologia própria, alicerçada em bases democráticas com vista ao fortalecimento da Diversidade Cultural, sob a coordenação da Universidade Federal da Bahia, que conseguiu reunir pesquisadores e profissionais para atuarem neste projeto em todas as suas etapas de realização, desde 2011. Palavras-chave: Planos Municipais de Cultura, Participação social, Diversidade Cultural, Políticas Públicas de Cultura. Nota biográfica: José Marcio Barros - Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003). Professor do Programa de Pós Graduação em Artes da UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais, onde coordena a Pós Graduação Lato Sensu em Gestão Cultural. Professor colaborador do Programa de Pós Graduação em Cultura e Sociedade da UFBa. Coordena o GP Observatório da Diversidade Cultural e o Programa Pensar e Agir com a Cultura, a Rede de Pesquisadores em Políticas Culturais. Kátia Costa - Especialista em Gestão Cultural pelo Observatório Itaú Cultural (Brasil) e Universidade de Girona (Espanha) (2010), Mestre pelo Programa Multidisciplinar de Pós Graduação em Cultura

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A diversidade cultural na formação de formuladores de PlanosMunicipais de Cultura no Brasil: análise de uma experiência.

José Márcio Barros – UEMG/UFBaKátia Costa - UFBa

Resumo

Neste artigo, refletimos sobre o tratamento dado à Diversidade Cultural no âmbito do Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura, iniciativa do Ministério da Cultura do Brasil, coordenador pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia. Nele, apresentaremos o projeto, seu formato, a metodologia e o processo de realização. Nesse contexto, vale destacar que desde 2003 o Brasil adotou princípios que revelam uma mudança no processo de construção e implementação das políticas públicas de cultura, dos quais destacamos os princípios da participação social e o da diversidade cultural. Sendo assim, esse projeto se configura como uma iniciativa pioneira dirigida aos municípios brasileiros para a formulação dessas políticas, através de um processo formativo dirigido a gestores e representantes da sociedade civil, com foco principal no plano municipal de cultura. Para tanto, foi desenvolvida uma metodologia própria, alicerçada em bases democráticas com vista ao fortalecimento da Diversidade Cultural, sob a coordenação da Universidade Federal da Bahia, que conseguiu reunir pesquisadores e profissionais para atuarem neste projeto em todas as suas etapas de realização, desde 2011.

Palavras-chave: Planos Municipais de Cultura, Participação social, Diversidade Cultural, Políticas Públicas de Cultura.

Nota biográfica:José Marcio Barros - Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003). Professor do Programa de Pós Graduação em Artes da UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais, onde coordena a Pós Graduação Lato Sensu em Gestão Cultural. Professor colaborador do Programa de Pós Graduação em Cultura e Sociedade da UFBa. Coordena o GP Observatório da Diversidade Cultural e o Programa Pensar e Agir com a Cultura, a Rede de Pesquisadores em Políticas Culturais.

Kátia Costa - Especialista em Gestão Cultural pelo Observatório Itaú Cultural (Brasil) e Universidade de Girona (Espanha) (2010), Mestre pelo Programa Multidisciplinar de Pós Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Desde 2012, integra a equipe gestora do Projeto de Apoio e Assistência Técnica para a Elaboração de Planos Municipais de Cultura É pesquisadora do Observatório da Diversidade Cultural.

Introdução

A formulação e implementação de políticas públicas de cultura, tendo como elemento

fundamental a adoção de princípios que promovam o desenvolvimento cultural através do

reconhecimento e fortalecimento da diversidade, da garantia de direitos culturais e da plena

cidadania, é o principal fator que motivou a pesquisa sobre como a diversidade cultural foi tratada

no Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura. Esse

projeto se constitui como uma ação do Programa de Fortalecimento do Sistema Nacional de Cultura

lançado em 2012, pelo Governo da Presidenta Dilma Rousseff, que dá sequência a proposta lançada

em 2003, no Governo Lula, em que as políticas públicas de cultura passam a ser compreendidas

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como elementares para a valorização da cultura enquanto eixo de desenvolvimento. Desde então,

esforços foram realizados para instituir de forma democrática as políticas culturais, tendo como

pressupostos uma ampla participação social e o fortalecimento da diversidade cultural.

Esta iniciativa encabeçada pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia

teve início em 2011, através de Acordo de cooperação, cujo foco principal foi o apoio e assistência

técnica aos municípios brasileiros no planejamento estratégico para o campo da cultura, através da

formulação do planos municipais de cultura.

Na primeira edição a Escola de Administração da UFBA, com aproximadamente sessenta

profissionais, entre consultores e analistas técnicos, prestou assistência técnica direta a 20

municípios brasileiros (UFBA, 2012a) e a segunda edição se deu a partir da formação em

planejamento público da cultura para 439 municípios (UFBA, 2013), através de uma plataforma de

ensino a distância, apoiada por um grupo de conteudistas, tutores e equipes técnicas que se

dividiram para oferecer suporte ao ambiente virtual de aprendizagem e ao aprimoramento teórico-

metodológico da formação.

O trabalho de pesquisa gravitou em torno do seguinte questionamento: como a diversidade

cultural se apresentou na proposição do Projeto, nos conteúdos aportados e na metodologia

aplicada? Para fins desse artigo, primeiro, apresentaremos as bases conceituais utilizadas para dar

embasamento teórico à pesquisa, em seguida faremos uma descrição resumida do referido projeto,

podendo ser melhor explanada na sua apresentação oral. Por fim, apresentaremos as nossas

conclusões sobre a pesquisa desenvolvida, buscando responder a questão que norteou esse estudo.

Para respondermos à indagação, o trabalho foi estruturado da seguinte forma:

a) Revisão bibliográfica sobre os conceitos que subsidiaram o avanço das reflexões necessárias a

essa reflexão, procurando contextualizar sobre as políticas culturais com base no processo histórico

e na perspectiva contemporânea, especialmente no âmbito da realidade brasileira.

b) Realização de uma descrição minuciosa do projeto, apontando sobre os conteúdos utilizados, a

metodologia e o processo adotados para promover o apoio necessário aos municípios à feitura dos

planos de cultura, além de um levantamento quantitativo sobre os municípios, contemplando dados

relativos a localização geográfica, porte populacional e nível de desenvolvimento humano, e dos

seus representantes;

c) Realização de uma análise dos documentos orientadores para o plano de cultura, do processo e da

metodologia, cujo objeto de análise foi identificar qual o tratamento dado ao tema da diversidade

cultural e,

d) nas conclusões foram apresentados os resultados da pesquisa, como descrito acima.

Vale destacar que as inquietações que nos levaram a assumir essa pesquisa revela o

compromisso com a questão do tratamento à diversidade cultural no âmbito das políticas públicas,

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estas por sua vez, expressão da ação do Estado para a garantia dos direitos fundamentais, das

liberdades individuais e coletivas e portanto um caminho para a promoção da cultura e da

diversidade cultural como bases para um desenvolvimento inclusivo.

II- A institucionalidade da cultura no Brasil: Histórico e mudanças de paradigmas na política

cultural

Calabre (2005) e Rubim (2008) ao traçarem um histórico das políticas culturais no Brasil

consideram que estas só se iniciam no Governo Vargas (1930-19450) ganhando novo fôlego

durantes os governos Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1978) chegando ao governo Fernando

Henrique Cardoso (1995-2002) com foco predominante nos incentivos decorrentes de renúncia

fiscal, registrando-se, ao longo do tempo, diversos momentos de descontinuidades, abandonos e

retomadas de ações públicas da área cultural. Assim como Calabre, Rubim registra que uma maior

ênfase na questão ocorreu em períodos ditatoriais, quando o principal objetivo era instrumentalizar

e domesticar a cultura, visando legitimar o regime vigente.

Barbalho (2007) faz o mesmo percurso, dando ênfase na perspectiva da diversidade cultural

e registrando que, em alguns momentos da história política do país, as identidades culturais que

marcaram a heterogeneidade cultural brasileira eram entendidas sob o princípio da unidade e não

das diferenças. Na Era Vargas, buscou-se valorizar a mestiçagem em um processo de

reconfiguração do homem brasileiro; assim, “a valorização da nacionalidade como política de

Estado orienta a ação do governo na área cultural ao glorificar a cultura popular mestiça, elevando-a

a símbolo nacional” (BARBALHO, 2007, p. 41).

Já na ditadura civil-militar, houve uma preocupação em garantir a integração nacional e a

cultura passou a ser percebida como elemento central desse processo, tendo sido construída uma

visão do nacional-popular, onde “o nacional reforça a identidade diante do que vem do exterior e o

popular atua no reforço no interior do país” (ibidem, p. 41). No entendimento do autor, trata-se de

uma abordagem em que a unidade não descarta a diversidade, porém esta é entendida sob a

perspectiva do idêntico.

Nesse período, foi instituída a Política Nacional de Cultura, primeiro plano de ação

governamental com princípios norteadores de uma política cultural. Nele, encontros nacionais com

a participação de representantes regionais de cultura foram uma estratégia adotada para a unificação

da política cultural, onde a dimensão regional estava submetida à dimensão nacional, fortalecendo a

integração.

Podemos observar que, conforme analisado pelos três autores, o histórico das políticas

culturais demonstra que os governos modelavam as políticas públicas de acordo com as suas

ideologias, baseadas especialmente em uma visão elitista e discriminatória. Nesse contexto, as

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decisões para o campo da cultura foram predominantemente centralizadas, onde a participação

social se deu de modo secundário.

A partir de 2003, com o advento do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, a

institucionalização das políticas culturais no Brasil, com a proposta de uma Sistema Nacional de

Cultura que ganhou espaço importante nas discussões públicas, baseado na tridimensionalidade da

cultura – simbólica, cidadã e econômica. Para tanto, dos doze princípios i que regem esse Sistemas,

dois são centrais: a participação ampliada da sociedade na formulação e implantação dessas

políticas e o devido reconhecimento e fortalecimento das expressões culturais, com vistas ao

fortalecimento da Diversidade Cultural. Como consequência da relação entre essas três dimensões,

a política cultural se constitui como um conjunto de ações que garantam os direitos culturais, a

proteção e promoção da diversidade cultural e o pleno exercício da cidadania (BARROS, 2016).

O Sistema Nacional de Cultura se constitui como uma mudança de paradigma nas políticas

culturais, pelo desafio de promover um conceito de gestão cultural que abarque, como elemento

fundamental, a diversidade cultural, que se constitui a partir das diferenças inerentes às identidades

culturais. Também exige do poder público transformações estruturais, normativas e humanas para

atender a esse novo referencial de atuação, uma vez que:

[...] a experiência com a diversidade exige um olhar que capta o outro na sua opacidade, ou seja, que não tenta impor a ordem do conhecimento completo sobre o outro. É preciso a “neblina” para que, respeitando os mistérios do diferente, a diversidade possa surgir em toda a sua potência. (MELO, 2011, p. 6).

Adotar a diversidade cultural em toda a sua complexidade, como pressuposto para a política

nacional de cultura, revela uma disposição em romper com uma visão nacionalista, conservadora e

autoritária, a fim de promover uma mudança no comportamento institucional e social, preparatória

para os enfrentamentos necessários, sob os pontos de vista político e histórico, como os padrões

culturais elitizados e os subalternizados. Como a gestão cultural é um campo que abriga uma série

de atividades distintas, implica desenvolver e implementar planos e projetos, reformular estruturas,

levantar e aplicar recursos (financeiros, humanos, físicos e tecnológicos, dentre outros), fazer uso da

criatividade e da capacidade de inovação para que os objetivos propostos sejam alcançados

(SARAVIA, 2011).

Em coerência com o projeto político adotado entre 2003 e 2016, entendemos que a

participação social “permite que os sujeitos façam parte das decisões que lhes dizem respeito, sejam

nos aspectos políticos, sociais, culturais ou econômicos” (ALVES apud SIMÕES, G; SIMÕES J,

2015, p. 1), da mesma forma que pode ser definida como “estratégia de redistribuição de poder, que

permite aos cidadãos excluídos dos processos políticos e econômicos serem ativamente incluídos

como participantes do planejamento do seu futuro” (ARNSTEIN apud SIMÕES G.; SIMÕES, J.,

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2015, p. 1). Simões G. e Simões J. (2015) destacam, ainda, a importância de que a participação

social ocorra de modo deliberativo em relação às políticas públicas, caso contrário os participantes

se enquadrarão simplesmente como meros beneficiários das ações ou usuários dos serviços.

Os processos participativos para o campo cultural, realizados no período em questão,

produziram demandas de toda natureza – formação, gestão, capacitação técnica –, envolvendo o

patrimônio cultural, as artes e manifestações, segmentos culturais, gestão e políticas culturais.

Talvez o desafio maior seja efetivamente promover uma democracia participativa e estabelecer

políticas públicas enquanto políticas de Estado, com ampla participação e controle social, além de

viabilizar estruturas organizacionais e recursos humanos e financeiros nas três esferas de governo,

pois:

A democracia supõe também criar condições para uma ação transformadora que tenha nos diferentes âmbitos sociais. Educar para a Democracia exige educar para a ação político-social e esta, para ser eficaz, não pode ser reduzida ao plano individual. Educar para a Democracia é educar para um regime político que dê provas de sua preocupação ética com todas as dimensões da vida pessoal e social e de sua legitimidade (governabilidade) entre os governos. (ROCHA, 2009, p. 17)

Coelho (1986) defende que a política cultural deve propiciar às pessoas o máximo de meios

para que elas possam, em ação conjunta, desenvolver seus próprios fins, além de afirmar que uma

política de mercado se baseia na divisão de papéis, onde uns poucos produzem e a maioria

consome. Nessa perspectiva, o autor questiona: “por que não criar condições para que todos e cada

um, particularmente em conjunto, agrupados num coletivo, possam exprimir-se como bem

entenderem?” (COELHO, 1986, p. 13).

Seguindo essa proposta de Coelho, a consolidação de uma política alicerçada no pacto

federativo, oferece maior destaque ao ente municipal, como peça fundamental, visto que cada

município se constitui como parte importante de um sistema, cada um deles com distintas

características históricas, sociais, culturais, econômicas e políticas e, portanto, capaz de oferecer

subsídios para uma política cultural efetiva, diversa e plural. Afinal, como afirma Rebón (2014, p.

75):

En el mundo actual, la política cultural de los municipios es esencial para la creación de elementos que promuevan la integración de la sociedad en torno a los conceptos de equidad y democracia dado que la misma tiene impacto directo en el sistema de valores, las tradiciones y creencias de la sociedad así como también sobre los espacios de expresión y el patrimonio de la comunidad.

Entendemos, portanto, que o sucesso da política cultural atual depende fortemente de uma

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participação mais efetiva dos municípios, o que pode ser um ponto de preocupação, considerando

levantamentos que indicam a adesão de apenas 40% deles ao SNC (MINC, 2017) e baixos índices

de avanço em relação à formulação de seus Planos Municipais de Cultura, a saber: somente 5,9% de

PMCs regulamentados por lei; 2,5% não regulamentados e apenas 23,6% Planos em elaboração

(IBGE, 2015). Nesse contexto, as iniciativas do MinC em prol do fortalecimento da

institucionalidade da cultura são de vital importância, entre as quais se destaca o Projeto MinC-

UFBA.

Os Sistemas de Cultura apoiam-se em nove elementosii – ou oito, no caso dos municípios, já

que as Comissões Intergestores ocorrem apenas no âmbito da União e dos Estados. Também foi

estabelecido que, no período de dois anos a partir da adesão, Estados e municípios são obrigados a

instituírem o que se chama de CPF da Cultura: Conselho de Política Cultural, Plano de Cultura e

Fundo de Cultura, considerados elementos que fortalecem o envolvimento da sociedade no processo

da institucionalidade e contribuem para o reconhecimento da diversidade cultural.

A não obrigatoriedade imediata dos demais elementos demonstra o reconhecimento da

complexidade desses Sistemas, já que a implantação de cada um demanda esforços que, por vezes,

envolvem mais que procedimentos administrativos, requerendo recursos financeiros, tecnológicos,

humanos e de gestão. Isto é mais acentuado na esfera municipal, especialmente nos pequenos

municípios, onde é crítica a cultura de planejamento público.

Botelho (2001)chama atenção para um aspecto de ordem estrutural, no qual declara que se

do ponto de vista antropológico a cultura é “a expressão das relações que cada indivíduo estabelece

com seu universo mais próximo, em termos de uma política pública, ela solicita, por sua própria

natureza, uma ação privilegiadamente municipal”. Ela ressalta ainda que é no município que se

institui uma relação administrativa mais próxima das práticas culturais e portanto deve ser uma

“preocupação das políticas de todas as esferas administrativas, ressaltando que um dos

dificultadores para uma ação mais direta do Estado é exatamente a relação distanciada que existe

em relação a vida efetiva do cidadão.

Nessa perspectiva, os municípios brasileiros apresentam-se como entes fundamentais desse

novo projeto político, que visa sobretudo a garantia dos direitos culturais, os quais podem vir a

contribuir para uma cidadania democrática e o reconhecimento da cultura local como disparadora

de desenvolvimento humano. Obviamente que será preciso romper paradigmas históricos e

estruturais que afetam a relação federativa, mas também aqueles que incidem sobre a compreensão

da cultura e da diversidade cultural como vetores de transformação e sobre os processos de

dominação política que ainda estão presentes no contexto dos municípios brasileiros, os quais se

apresentam em modelos de projetos políticos conservadores, os quais como forma de expressão da

democracia representativa podem surgir tanto por parte da sociedade civil quanto da sociedade

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política.(DAGNINO, OIVEIRA E PANFINCHI, 2006).

A sociedade civil se constitui de um espaço complexo em todos os sentidos da vida coletiva,

que abriga diferentes atores e formas variadas de relações – sociais, políticas e culturais, no qual

entende-se que “no interior da sociedade civil coexistem os mais diversos atores, tipos de práticas e

projetos, além de formas variadas de relação com o Estado. (…) uma sociedade civil composta por

uma heterogeneidade de atores sociais (inclusive com visões conservadoras), que desenvolvem

formatos institucionais diversos (sindicatos, associações, redes, coalizões, mesas, fóruns) e uma

grande pluralidade de projetos políticos, alguns dos quais podem ser, inclusive, não-civis ou pouco

democráticos”. (DAGNINO, OLIVEIRA E PENFICHI, 2006: 27).

Diante do exposto reiteramos sobre o desafio da quebra de paradigmas que não só prevê um

rompimento com práticas políticas conservadoras mas com o próprio modo de pensar da sociedade

brasileira que no âmbito dos municípios ainda se constitui de visões pouco alargadas sobre o campo

da cultura ou mesmo sobre o que constitui de fato um olhar para uma política pública de cultura

comprometida com o reconhecimento da diversidade cultural. Parece-nos portanto que a formação

em gestão e políticas culturais não só devem estar alicerçados em processos técnicos de

planejamento para o setor, mas buscar aprofundar temas próprios do campo da cultura que façam

com que os atores locais sintam-se capacitados do ponto de vista teórico e prático, no qual os

conhecimentos se inter-relacionem em função da efetividade da gestão e das políticas culturais.

Nesse sentido, tomamos como base os temas tratados no Programa de Formação na Área da Gestão

Pública da Cultura: A experiência Piloto SAI/MINC e Secretaria de Cultura da Bahia realizado

entre 2009 e 2010 e que tomou como base a importância dos participantes se capacitarem para

compreender:

“a cultura em sua dimensão simbólica e identitária e sua centralidade para a

cidadania e para o desenvolvimento social e econômico; as políticas

públicas de cultura como respostas a realidades objetivas de bases locais e

regionais; a economia da cultura e os modelos de financiamento público

(compreender e operar); a importância do aprendizado e da apropriação de

ferramentas de gestão pública; e o planejamento estratégico como um

momento de reflexão política e de correção de rumo” (BOTELHO apud

CALABRE, 2012:166)

Em um outro artigo, Calabre (2014) defende que a problemática da territorialização merece

atenção, pois de acordo com o contexto diverso em que se localiza o país, não é possível modelos

padronizados para todo o país, o que está relacionado a todas as áreas das políticas públicas, em

especial as políticas públicas de cultura. Tomando como base essa reflexão, chamamos atenção para

processos de formação que considerem dentre outros fatores a diferenças de contextos e realidades

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locais, pois assim como projetos de ações globais, devem ser ponto de atenção a aspectos locais que

demandam estratégias distintas para capacitação de atores e agentes culturais.

Esses são alguns aspectos que nos levam a refletir sobre a gestão e as políticas culturais

municipais tendo em vista o desafio da diversidade cultural, este que não só passa pelo

reconhecimento das expressões culturais locais como também com o propósito de refletir a

diversidade cultural enquanto pilar de uma política pública de cultura no âmbito dos municípios,

cumprindo assim com o que orienta o discurso do Ministério da Cultura.

Para Barros (2011:21) a Diversidade Cultural vai além de um conjunto de diferentes

expressões, mas sim “um campo de diferentes e, por vezes, diferentes modos de instituir, de

modelos de gestão”. Ele defende que não se pode reconhecer a diversidade nas suas diferenças

estéticas, mas é necessário e fundamental o reconhecimento dos modos de gestão que estão

implicados nos diferentes padrões culturais, complementa ainda afirmando que “Diversidade

Cultural é a diversidade de modos de instituir e gerir a relação com a realidade”, portanto investir na

formação de gestores, requer sobretudo ir “além do acesso a informações, diz respeito à produção

de conhecimento e experiência e isso requer tempo de maturação de conceitos e inauguração de

novas práticas”. (BARROS, 2011: 30).

Considerando tais abordagens, os aspectos apontados por Barros, não nos deixa outro

caminho a não ser admitir que a gestão e as políticas culturais municipais requerem gestores que

não só compreendam a necessidade de um olhar atento as questões locais como também traquejo

para lidar e liderar processos de demandem articulação entre aquilo que é tradição e o que se

apresenta como novo, entre o local e o global e sobre o que é específico e o que é transversal na

cultura, como destaca o referido autor. Gestão Cultural pautada na diversidade cultural exigirá dos

gestores municipais capacidades que dentro de um projeto de transformação colidam com práticas

criativas e inovadoras para a consolidação de políticas que venham de fato traduzir projetos e

programas de valorização e sustentabilidade cultural. Essa perspectiva, apontada por Barros, nos

conduz a compreender sobre a importância da formação, mas sobretudo da necessidade de líderes

políticos institucionais capazes de implementar políticas e empreenderem uma gestão para a cultura

coerentes com os tempos atuais.

III - Metodologia da pesquisa

Como metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa tomamos como base os

materiais do projeto, ou seja, documentos administrativos e materiais pedagógicos. Esses, baseados

nos Guias e módulos correspondentes aos conteúdos metodológicos que compuseram o projeto em

suas distintas edições. As etapas de desenvolvimento da pesquisa foram ancoradas nas seguintes

etapas:

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1. Leitura e grifos dos três Guias de orientação para planos municipais de cultura, adotados na

primeira edição do projeto;

2. Leitura e grifos dos 12 módulos que compuseram a segunda edição do projeto, seis conceituais,

que trouxeram temas relacionados ao campo da cultura e que emergem como bases para o processo

de formulação e implementação das políticas públicas e seis módulos direcionados ao método de

elaboração dos planos, em que consiste basicamente do roteiro do plano de cultura, suas etapas com

definições claras sobre termos e procedimentos técnicos para a sua formulação.

Para a análise dos Guias e Módulos realizamos leitura individualizada, marcando trechos

que consideramos pertinente para a avaliação posterior, em seguida adotamos uma matriz analítica

para o registro de trechos dos textos que possuíam, a nosso ver, alguma relação com o tema

diversidade cultural. Esse instrumento teve formato ilustrado no quadro abaixo:

Para a análise dos Módulos conceituais, foram elaborados resumos e sínteses dos textos, os

quais foram interpretados no capítulo analítico da pesquisa, sendo estes, avaliados de forma

diferente dos conteúdos do planos, por serem destinados ao estudo teórico-conceitual de temas e

expressões, que compõem na atualidade, as discussões sobre o campo da gestão e das políticas

culturais, a saber: Cultura e produção simbólica, Políticas Públicas e Políticas Públicas de Cultura,

Sistema Nacional de Cultura, Financiamento Público de Cultura e Cultura e Desenvolvimento.

3. Analisamos ainda 30 fóruns de discussão teórica, disponíveis na plataforma moodle, e depois

escolhemos, entre os 10 grupos selecionados para a amostra, os fóruns correspondentes aos três

módulos selecionados: Cultura e Produção simbólica, Cultura e Desenvolvimento e Análise da

Situação Atual. Para essa análise, a planilha não seguiu o mesmo padrão utilizado para a análise dos

conteúdos dispostos nos Guias e módulos de Planos, devido às características que compuseram

esses fóruns enquanto espaço de discussão e trocas realizadas entre os participantes e tutores.

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À medida que a planilha ia sendo preenchida realizamos anotações sobre as discussões de

cada um dos fóruns analisados, resultando em resumos que variaram de uma a sete laudas,

dependendo do nível de contribuições postadas nos fóruns pelos participantes e tutores.

Mantivemos aqui o sigilo das pessoas, de modo a evitar a exposição de qualquer um dos

integrantes. As sínteses serviram como base para a etapa analítica desta dissertação.

Como objetivo de situar o leitor quanto a abrangência do Projeto no Território nacional e

embasar as análises realizadas no decorrer da pesquisa, realizamos um levantamento quantitativo,

que nos forneceu bases concretas sobre o perfil dos participantes e o seu comportamento ao longo

da formação, bem como dos tutores, observando que o nível de participação desses grupos está

diretamente relacionado sobre uma maior ou menor discussão sobre o tema da diversidade cultural.

e) apuramos, ainda, as informações registradas no Sistema PMC Modelo de Referência,

conhecido como template. O levantamento quantitativo referente ao preenchimento dessa

ferramenta teve como base os documentos de texto gerados a partir da ferramenta usada no projeto,

com posição de 05 de agosto de 2015. Tais documentos, sendo um por município, continham as

informações lançadas no template pelos participantes para cada etapa e cada item da metodologia de

elaboração do Plano Municipal de Cultura (PMC). Coletados os documentos, consultamos cada um

deles para identificar os itens preenchidos, sem análise do conteúdo ali inserido, para fins de

tabulação, classificando-os da seguinte forma:

- completo: quando todos os itens da etapa foram preenchidos;

- parcial: quando pelo menos um dos itens foi preenchido;

- não: quando nenhum dos itens foi preenchido.

Além de permitir identificar os municípios que acessaram o template, esse trabalho teve

como objetivo verificar como se deu o preenchimento das informações, considerando as etapas de

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elaboração da metodologia, possibilitando observar a dinâmica de preenchimento adotada pelos

participantes e o número final de documentos completos.

IV– O Projeto: formato, conteúdos, metodologia e processo

4.1. O formato das edições

Inicialmente, esse projeto surge a partir da solicitação ao Ministério da cultura do Brasil,

pelo Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Cultura, que frente ao desafio da

institucionalidade e ciente das fragilidades relativas ao campo da cultura, como falta de equipes

capacitadas para atuar tecnicamente, estruturas dos órgãos de cultura, além do desafio da própria

institucionalidade da cultura, solicita do MinC apoio técnico para a estruturação dos sistemas

Municipais de Cultura, com foco no planejamento. Diante dessa demanda, foi instituído o acordo de

cooperação técnica com a UFBA, que já via desde 2009 prestando assessoria ao Estado da Bahia,

para estruturação desses sistemas.

A primeira ação desse projeto foi elaborar a metodologia a ser transferida para os executores

dos planos, trabalho realizado entre novembro de 2011 e fevereiro de 2012, em sintonia com o

roteiro traçado pelo Ministério e em diálogo permanente com a Secretaria de Articulação

Institucional, responsável por operacionalizar o Sistema Nacional de Cultura.

Em final de fevereiro e início de março do mesmo ano, no lançamento do Programa de

Fortalecimento do Sistema Nacional de Cultura, em que esse projeto é uma das ações estruturantes,

ocorreu a primeira oficina de capacitação das equipes locais, estas responsáveis pelos planos de

cultura e um encontro nacional com Secretários e dirigentes de Cultura cujo objetivo foi o de

sensibilizá-los para que houvesse o apoio técnico e político necessários ao processo que se iniciara.

Vale destacar que essa iniciativa ainda se configura como pioneira no Brasil e portanto

entendemos que está em permanente processo de aperfeiçoamento, haja vista, o campo da cultura,

ser ainda desprovido de uma cultura organizacional carente de uma compreensão alargada sobre a

sua importância para o desenvolvimento da sociedade. Além disso, adotar o processo de

institucionalidade da cultura no Brasil é também enfrentar entendimentos, posicionamentos e

crenças conservadoras e colonizadoras, o que exige, como define Teixeira Coelho (2014) “uma

longa conversa”.

Essa edição se deu sob o acompanhamento a 20 municípios brasileiros, contemplado todas

as regiões do país, 26 unidades federativas, com exceção do Amapá. Os municípios contemplados

forma: Manaus (AM), Aracaju (SE), Recife (Pe), João Pessoa (PB), São Luis (MA), Fortaleza (CE),

Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Virória (ES), Porto Alegre (RS),

Florianópolis (SC), Laranjeiras (SE), Olinda (PE), Betim (MG), Santa Luzia (MG), Sabará (MG),

São Caetano do Sul (SP) (UFBA, 2011). Foram contempladas capitais e municípios de regiões

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metropolitanas, registrando-se a maior presença de municípios de grande e médio porte

populacional e com alto ou muito alto nível de desenvolvimento humano1,assim como a

participação predominante de municípios das regiões Nordeste e Sudeste, as mais populosas e com

maior número de municípios.

O modelo de governança foi composta por um Núcleo Gestor Nacional formado pelo Fórum

Nacional de Secretários e Dirigentes de Cultura, pela Representação do MinC e pela UFBA; o

Núcleo Executivo Central constituído pela equipe da EAUFBA e os Núcleos Executivos

Municipais, estes formados por 20 Coordenadores de Plano, 12 Coordenadores Técnicos e 20

Analistas Técnicos.

Para a segunda edição, foram convidados pelo MinC 439 municípios de todas as regiões

brasileiras, com perfis de variaram entre municípios de pequeno, médio e grande portes. Entre os

439 municípios participantes do Projeto, 310 (70,6%) eram de pequeno porte; 121 (27,6%) de

médio porte; e oito (1,8%) de grande porte, enquanto na composição da nossa amostra eram,

respectivamente, 155 (71,7%), 55 (25,5%) e seis (2,8%). Verificamos, assim, que cerca de 70% da

amostra que selecionamos para a pesquisa, correspondeu a pequenos municípios, semelhante ao

observado no Projeto como um todo. Dos 439 municípios participantes do Projeto, seis (1,4%)

apresentaram nível de desenvolvimento humano muito baixo; 95 (21,6%) baixo; 146 (33,3%)

médio; 180 (41,0%) alto; e 12 (2,7%) nível muito alto. Para o âmbito da amostra, composta por 216

municípios, dois (0,9%) apresentaram nível de desenvolvimento muito baixo; 26 (12,0%) baixo; 76

(35,2%), médio; 100 (46,3%) alto; e 12 (5,6%), nível muito alto. Dessa forma, tanto no grupo do

Projeto quanto na amostra, cerca de 80% dos municípios encontravam-se em um patamar de

desenvolvimento humano classificado entre médio e alto.

Houve, assim, uma predominância de municípios de pequeno porte e com nível de IDH

médio ou alto, seja quando tomamos o Projeto como um todo, seja quando consideramos apenas a

amostra. É importante destacar que embora não haja uma relação entre porte populacional e nível de

desenvolvimento, verificamos que, mesmo de modo não intencional, o Projeto contemplou

pequenos e médios municípios, o que caracteriza um ponto positivo pelo fato desses serem os entes

mais desprovidos de elementos voltados para a institucionalidade, gestão e implementação de

políticas públicas na área cultural. A distribuição dos municípios ficou assim dividida;

Figura - Distribuição dos municípios por região: 2ª Edição

1 Para fins desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios para classificação dos municípios: a) Porte populacional: pequeno: menos de 50 mil habitantes; médio: igual ou mais que 50 mil habitantes e menos que 500 mil habitantes; grande: igual ou mais que 500 mil habitantes; b) Nível de desenvolvimento humano: muito baixo: menor que 0,500; baixo: igual ou maior que 0,500 e menor que 0,600; médio: igual ou maior que 0,600 e menor que 0,700; alto: igual ou maior que 0,700 e menor que 0,800; muito alto: igual ou maior que 0,800.

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Fonte: Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).

O modelo de gestão adotado para essa edição do projeto contou com duas coordenações,

sendo uma estratégica, composta pelo MinC e pela UFBA. Ambos eram responsáveis por tomar

decisões que considerassem estratégicas para promover a convergência institucional, a integração e

o acompanhamento dos parceiros envolvidos. Além disso a UFBA assumiu a coordenação técnico-

operacional responsável por executar o Projeto Pedagógico e promover apoio técnico especializado

para a elaboração das minutas dos PMCs. Verifica-se portanto que não houve nenhuma participação

do Fórum de dirigentes municipais de cultura ou outra instância de representação política dos

municípios, como participante da gestão do projeto.

4.2. Metodologias aplicadas

Para fins da pesquisa, consideramos a metodologia sob dois aspectos: (i) a metodologia

aplicada para o desenvolvimento do projeto; (ii) a metodologia de elaboração dos planos de cultura.

Na primeira edição teve formato presencial, ancorado nas seguintes atividades: (a)

realização de três seminários de capacitação e alinhamento técnico. Os dois primeiros com o

objetivo da capacitar os consultores, analistas e integrantes dos núcleos locais; (b) Realização

sistemática de visitas técnicas pelos consultores da equipe da UFBA (Núcelo Central) a todos os

municípios; (c) realização de reuniões com gestores e conselhos de política cultural; (d) encontros e

contatos sistemáticos com as equipes de elaboração dos planos com a participação da equipe do

projeto em eventos, reuniões e encontros de sensibilização e mobilização social e política para o

Plano de Cultura e, por fim (e) revisões e avaliações, com emissão de pareceres técnicos sobre os

Planos produzidos pelos municípios. O modelo de governança foi constituído de uma equipe central

(6 integrantes), 20 Coordenadores de Plano, 12 Coordenadores Técnicos e 20 Analistas Técnicos

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contratados pelo Projeto para atuarem localmente, oferecendo assistência presencial aos municípios.

(UFBA, 2012)

Na segunda edição, com formato virtual, o projeto atendeu a 439 municípios UFBA, 2014),

com aproximadamente 1003 participantes, inicialmente inscritos, na plataforma, sendo um

representante do poder público e outro da sociedade civil, com flexibilidade para absorver mais um

representante municipal. O objetivo foi formar gestores e representantes da sociedade civil para a

elaboração de planos municipais de cultura. Para isso foi constituída uma equipe de profissionais

especializados em distintas áreas para compor a arquitetura adequada para dar conta da demanda

imposta pelo MinC. Desta forma, a equipe se constituiu da seguinte forma: (i) dois coordenadores

(um coordenador geral e uma coordenação técnica. (ii) equipe de assistência técnica (composta por

4 profissionais que atuam na área da gestão e das políticas culturais); (iii) uma equipe de supervisão

técnica (duas profissionais da área de tecnologia); (iv) uma assessora convidada (especialista em

planejamento público e autora da metodologia de planos); (v) um consultor de conteúdos; (vi) 9

conteudistas (todos, referências na área de políticas e gestão da cultura); 40 tutores selecionados via

edital; (vii) uma equipe administrativa, além de profissionais contratados especificamente para o

desenvolvimento de ferramentas e instrumentos necessários para o desenvolvimento do processo

formativo (UFBA, 2013). Nesta edição o contato direto com os municípios só ocorreram quando

havia demandas específicas dos municípios.

Além das equipes, a plataforma de ensino a distância foi composta por vários ambientes

destinados a apoiar o processo ensino-aprendizagem. Num primeiro momento os participantes

passaram por uma semana de ambientação, no qual se apropriaram das ferramentas e tiveram acesso

as regras, procedimentos e cronograma que envolveram a formação. Além da disposição dos

conteúdos, a plataforma dispôs de um “Chat”, para realização de conversas entre tutores e

participantes, um “Saiba mais”, onde foram incluídos conceitos e explicações sobre temas e

expressões mais referências bibliográficas complementares aos conteúdos aportados e, por fim

foram abertos fóruns de discussão teórica, onde se deram todas as discussões e debates sobre os

conteúdos. Para a divisão dos fóruns os participantes foram divididos em 21 grupos que atuaram

nos fóruns, sendo vinte compostos por representantes municipais e 1 composto de representantes de

organizações da sociedade civil e servidores vinculados a órgãos estaduais de cultura. Para fechar o

ciclo os participantes tiveram acesso ao template, sistema desenvolvido para a elaboração de uma

minuta de planos. Nele, os dois representantes do município, após terem compreendido a

metodologia preenchiam esse sistema e elaboraram uma minuta que serviu de tarefa final, a qual se

configurou como o resultado da formação e da consolidação do aprendizado.

4.2.1 A Metodologia de Planos Municipais de Cultura – Estrutura dos documentos

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A metodologia desenvolvida para a elaboração do plano municipal de cultura foi estruturada

com base num roteiro produzido pelo Ministério da Cultura – MinC, publicado no Guia de

Orientações para Municípios: perguntas e respostas (MinC, 2012). Essa metodologia foi elaborada

sob a coordenação técnica de Neuza Brito e Vicente Federico. Vicente Federico (in memória)

coordenador do projeto e Neuza Brito consultora convidada especialmente para esse trabalho, em

parceria com o MinC. Entre Novembro de 2011 e fevereiro de 2012 foram realizadas reuniões

periódicas com o MinC para o seu desenvolvimento, contanto ainda com a equipe da Universidade

Federal de Santa Catarina, que assim como a UFBA realizou um acordo de cooperação técnica para

liderar o processo dos planos de cultura no âmbito dos Estados brasileiros.

Inicialmente essa metodologia contou com quatro etapas, mas com o novo formato do

projeto adotado para a segunda edição ela ganha novos conteúdos e passa de guias de orientação

(adotados na primeira edição para apoiar o trabalho dos consultores e analistas técnicos) para

módulos conceituais e de planos (para apoiar o trabalho dos tutores na plataforma moodle). Em vez

de quatro etapas, acrescenta-se mais uma – Prazos e Recursos e Fontes de Financiamento - etapa

que ensinou os participantes a elaborarem a etapa de orçamentação do planos.

Os módulos conceituais antecederam a etapa de aplicação do método de planos, com o

objetivo de embasar o trabalho de planejamento. Essa mudança se dá a partir da avaliação do

trabalho realizado na primeira edição, na qual chegou-se a conclusão de que se fazia necessário o

aprofundamento teórico-conceitual de temas e expressões relativos ao campo da cultura e um

aprofundamento sobre as etapas de elaboração de planos. Estas, alicerçadas por orientações técnicas

que envolveram a relação entre o planejamento público e as especificidades do campo da cultura.

Ressaltamos que essa metodologia desde o momento inicial foi embasada pelos princípios

do Sistema Nacional de Cultura2, especialmente, os princípios da participação social e da

diversidade cultural, sendo assim, teve que considerar que o planejamento da cultura tem como

mote o reconhecimento das subjetividades que abarcam esse campo, além disso, promover uma

compreensão de que planejar a cultura é reconhecer as diferentes formas de pensar e agir que

abarcam a diversidade cultural de cada lugar, dando espaço para entender suas especificidades e

seus distintos contextos. Segue para conhecimento os modelos do método de planos.

2 . I-diversidade das expressões culturais;II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais; III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens culturais; IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na área cultural; V - integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas; VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais; VII - transversalidade das políticas culturais; VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil; IX - transparência e compartilhamento das informações; X - democratização dos processos decisórios com participação e controle social; XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações; XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura.

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Etapas da metodologia dos planos municipais de cultura – I Edição

Etapa I Como Estamos?

Etapa IIOnde queremos

chegar?

Etapa IIIComo fazer e como

chegaremos lá

Etapa IVComo gerir avanços

Caracterização, Diagnóstico, Desafios e Oportunidades

Diretrizes e Prioridades,Objetivos Gerais e específicos, Estratégias,Metas e ações

Prazos de execução, Resultados e Impactos esperados, Recursos e Fontes de Financiamento.

Indicadores de Monitoramento e Avaliação e Modelo de Gestão do Plano

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de informações fornecidas pela UFBA, 2012

Etapas da metodologia dos planos municipais de cultura – II Edição

Fonte: EAUFBA, 2013

Tanto a 1ª quanto na 2ª edição, premissas e princípios integram a metodologia de planos

municipais de cultura. Eles surgem para dar sustentação a todo o processo, orientando sobre

condutas e procedimentos a serem utilizados na construção dos planos, pelos seus organizadores e

planejadores. Essas premissas e princípios reforçam sobremaneira o aspecto da participação social,

da diversidade cultural, da autonomia federativa e do protagonismo do Órgão Gestor de Cultura,

além de convocá-los a pensar a cultura de forma transversal, territorialmente, chamando atenção

para as dinâmicas e contextos locais, fundamentando o processo com transparência e legalidade. As

premissas e princípios são os seguintes:

Premissas Princípios1. O processo de elaboração do plano é

participativo

2. O processo de planejamento é técnico e

político-administrativa

3. O plano é integrado e compõem o

planejamento do desenvolvimento municipal

4. O plano municipal deve esta alinhado aos

planos estadual e federal

1. Protagonismo municipal

2. Diálogo interinstitucional e social

3. Visão Sistêmica e Territorialidade

4. Legitimidade

5. Transparência e Objetividade

4.3. O processo

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Essa experiência piloto, ofereceu grandes contribuições para o trabalho de assessoramento

técnico aos municípios, acompanhada e monitorada pelas equipes do projeto e pelo Ministério da

Cultura. A aproximação das equipes no processo de elaboração dos planos, proporcionou um

aprendizado mútuo, tanto dos participantes, quanto da universidade e do Minc, e veio contribuir de

forma singular para as edições seguintes empreendidas sob o mesmo propósito. Ao final as 1ª

edição, observou-se dentre alguns fatores que o formato adotado apresentou limitações do ponto de

vista do alcance necessário para se promover a institucionalidade do campo da cultura, em relação a

urgência do cumprimento da meta 1 do Plano Nacional de Cultura, que se relaciona com a

Institucionalidade e implementação do SNC em 100% das unidades da federação e 60% dos

municípios com seus sistemas em igual importância (MINC, 2012). Diante disso e fazendo uso da

experiência anterior foi desenhada e concretizada a 2ª edição, como já descrito, fruto de um novo

acordo de cooperação entre o MinC e a UFBA, com duração de três anos (2013-2016). Vale dizer

que esse projeto encontra-se na sua terceira edição, em formato EaD, iniciado em janeiro de 2017.

Os debates realizados entre os consultores e equipes locais (1ªedição), deram espaço para a

adoção dos módulos conceituais, já que se sentiu a necessidade de aprofundamento dos temas

relacionados ao campo da gestão e das políticas culturais na contemporaneidade. Os Guias

ganharam robustez, viraram livros, com detalhamento das etapas e novos temas relacionais ao

planejamento público da cultura, os diversos encontros para o debate, se revelaram nos fóruns de

discussão teórica, nos quais todos os temas foram discutidos sob a tutoria de um profissional

especializado. A elaboração do plano, passou a ter um sistema específico, onde os participantes

elaboraram uma minuta do PMC, pois o processo demonstrou que o tempo necessário para se ter o

plano não era condizente com o tempo de realização do projeto, portanto a adoção de uma

metodologia de ensino para a feitura do PMC. O importante é que as pessoas se apropriassem da

metodologia e ficassem aptos a transferi-la localmente, fazendo uso do tempo necessário e coerente

com as suas dinâmicas institucionais e culturais.

Em ambas as edições o projeto seguiu um cronograma previamente acordado ente a UFBA e

o Minc, contudo durante o decorrer do trabalho foram necessários diversos ajustes em decorrência

da nível de atuação das equipes municipais, que apresentaram diferentes justificativas para a não

conclusão das atividades relacionadas ao desenvolvimento dos processos. Destacamos que foi

realizado acompanhamento e monitoramento sistemático do processo nessas duas edições, com

reuniões semanais das equipes centrais do projeto, realização de pesquisas e avaliações entre as

distintas equipes que compuseram essas iniciativas, fator que contribuiu para o aprimoramento do

processo, da metodologia e dos conteúdos, como também da atuação e reorganização das equipes.

5. Resultados

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5.1. Resultados do Projeto nas duas edições

Como resultado final da 1ª edição verificou-se, após pequisa realizada que 13 planos foram

sancionados no legislativo, 1 plano aprovado e não sancionado, 2 planos em processo de tramitação

no legislativo e 4 planos sem encaminhamento. A partir de avaliação realizada pela equipe central

do projeto permitiu demonstrar percepções sobre o trabalho realizado, como também produzir

pareceres técnicos que subsidiassem o MinC em outras ações de apoio à implantação dos Sistemas

Municipais de Cultura. Dentre os pontos relevantes, destacaram-se:

. Aprendizado em processo de planejamento e em conceitos da área cultural;

. Consciência da institucionalização e da importância da estruturação sistêmica;. Formato da Assistência Técnica deve ser aprimorado […];. Baixo nível de envolvimento da estrutura das prefeituras;. Baixo nível de envolvimento de outras esferas e poderes do estado;. Apropriação da experiência pelo ambiente acadêmico;. Apropriação dos resultados do planejamento pelas estruturas de poder e gestão dos municípios. (UFBA, 2013a, p. 22)

Foram observados nas avaliações realizadas aspectos positivos e negativos, portanto nos aspectos

positivos destacamos que o processo, alinhado às diretrizes traçadas pelo MinC para a formatação

do Projeto, favoreceu o aspecto participativo. Além da metodologia e das ações propostas pela

UFBA, cada município com Plano finalizado desenvolveu, no decorrer da elaboração dos PMC,

estratégias que, em certa medida, buscaram proporcionar maior aproximação entre o poder público

local e a sociedade civil, fortalecendo, assim, a participação social na construção do documento;

que o processo favoreceu à pluralidade participativa e trouxe para os debates locais profundas

discussões sobre identidades e dinâmicas culturais, bem como reforçou a importância do

reconhecimento da diversidade cultural e de seus modos de expressão como elemento fundamental

para a formulação das políticas públicas de cultura. Além deste a UFBA assinalou: a) ampliação do

entendimento sobre a relevância de se promover maior participação social na elaboração do Plano;

b) importância do reconhecimento da diversidade cultural local, suas formas de expressão e modos

de vida dos grupos sociais e culturais que compunham o município; c) criação de meios de

comunicação, virtuais e presenciais, para dar visibilidade ao processo e promover o diálogo entre o

poder público e a sociedade; d) protagonismo assumido por alguns órgãos de cultura e pelos

Conselhos de Políticas Culturais ativos; e) mapeamentos e cadastros culturais realizados durante o

processo; e, f) surgimento de algumas propostas de articulação interinstitucional realizadas por

alguns dos municípios em favor da transversalidade da cultura.

Já como aspectos negativos ao processo, destacaram-se a) fragilidade de alguns municípios

com relação a conceitos teóricos do campo da cultura; b) despreparo dos Conselhos de Políticas

Culturais para atuarem no processo de elaboração dos Planos; e, c) órgãos de cultura desprovidos de

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estrutura física e humana para a gestão. Serviram de parâmetros para avaliação do MinC os

relatórios bimestrais apresentados pela EAUFBA, pareceres técnicos sobre cada um dos municípios

contemplados nesta edição, relatórios das 64 visitas técnicas presenciais realizadas pela equipe

central aos municípios, além das observações feitas pelo próprio Ministério, através das equipes da

SAI/MinC e Secretaria de Políticas Culturais (SPC/MinC), que acompanharam o trabalho da

consultoria.

Na segunda edição dos 439 municípios cadastrados na plataforma moodle, sendo que deste

total, 333 atentaram para a metodologia, participando dos fóruns e desenvolvendo as atividades

correlatas. Entre esses municípios, 177 receberam assistência técnica via sistema de preenchimento

de minutas de Planos (template) e 95 finalizaram o documento.

Municípios participantes da formação

Fonte: EAUFBA, 2016b, p.8

A partir da Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento dos Planos Municipais de Cultura

Assessorados pela UFBA, esse instrumental foi aplicado entre 27 de janeiro e 29 de fevereiro de

2016, através de e-mail. Foram obtidas 193 respostas, representando 167 municípios de 22 estados

brasileiros (idem, ibidem, p. 63). Dentre os respondentes, aproximadamente 80% 3 se identificaram

como representantes do poder público e 20% da sociedade civil. Como já observado em outras

3 Nesta fase do projeto, os dados disponíveis sobre a evolução dos PMC’s e participantes estão contidos em relatórios das pesquisas desenvolvidas pela equipe e ainda não foram divulgados para o público externo.

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pesquisas, os Estados com maior participação foram Bahia (19,17%), seguido de São Paulo

(18,65%) e, logo em seguida, Minas Gerais (12,44%).

A partir das respostas recebidas, foi possível verificar a situação de cada município em

relação ao desenvolvimento do seu PMC, demonstrou que 16,6% não tinham iniciado o trabalho do

plano; 22,28% tinham o esboço, mas se consulta pública; 9,84% o esboço dos planos tinham sido

apresentados à sociedade civil; 4,15% o esboço já havia sido apresentado e discutido em

Conferência de Cultura; 8,29% oesboço tinha siso discutido e validado pelo CPC; 3,11% esboço de

planos transformado em lei; 4,15% projeto de lei aprovado na Câmara Municipal de Vereadores;

15,05% sancionados e publicado em Diário Oficial, 17,10% apresentaram outras situações.

Nesta pesquisa, também foi verificado que: entre os municípios participantes, 83,85%

elaboraram seus Planos de forma participativa; para 63,64% dos municípios, a metodologia aplicada

pela UFBA foi o único apoio externo para a construção dessa peça de planejamento; 13,64%

mantiveram a metodologia, mas contrataram consultores para assessoramento local; e 22,73%, além

de contratarem uma consultoria externa, seguiram uma metodologia distinta da utilizada pela

UFBA.

6. Conclusão da pesquisa

Ao longo das duas edições, a metodologia ganhou vitalidade, devido à incorporação de

inovações decorrentes do amadurecimento técnico e pedagógico. Isso incluiu o enriquecimento do

conteúdo e material didático, a realização dos Encontros Regionais, a disponibilização do template

e os espaços de registro de boas práticas e de avaliação sistemática das atividades.

Os conteúdos se complementaram na medida em que, de uma edição para a outra, ganharam

explicações mais abrangentes sobre cada etapa, além da inclusão dos exercícios, que buscaram

promover maior reflexão sobre o objeto estudado, e do material e meios que complementaram o

conhecimento e o desenvolvimento do participante na formação.

O template, modelo de referência incorporado na 2ª edição como suporte ao processo

formativo, permitiu maior apropriação da proposta metodológica pelos representantes municipais.

Os critérios para composição do grupo de representantes, ao prever a indicação de participantes

ligados ao setor público em conjunto com aqueles pertencentes à sociedade civil, ampliaram o raio

de alcance dos conhecimentos associados à metodologia de elaboração de Planos. Faltou, no

entanto, um instrumento de comunicação mais adequado ao formato do Projeto, o que limitou o

acesso da sociedade a um produto de interesse social e político.

Se na 1ª Edição, o Projeto MinC-UFBA atuou junto a municípios maiores e mais bem

estruturados, a 2ª Edição ganhou uma capilaridade excepcional, atingindo grande número de

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pequenas cidades, o que deu espaço à diversidade de contextos locais, com suas características

singulares. Isto requereu um olhar diferenciado, abrindo espaço para o questionamento sobre a

homogeneização de um processo formativo. Os aspectos locais mereceram atenção, razão pela qual

modelos ou práticas padronizadas não se constituem mais aceitáveis, exigindo, em seu lugar,

estratégias diferenciadas para o desenvolvimento territorial, diante das realidades expostas pelas

novas dinâmicas.

A diversidade como princípio requer um tratamento mais direto, que considere que a cultura

se dá a partir de um conjunto de saberes e práticas que abarcam diferentes jeitos de se posicionar no

mundo. É através do reconhecimento e atenção às diferenças culturais que a diversidade é percebida

e, portanto, é com base nessas diferenças que a política cultural deve ser formulada.

Com base neste estudo, concluímos que o tema da diversidade cultural se fez presente no

Projeto MinC-UFBA, porém isto não ocorreu de forma mais explícita e direta nos Guias de

Orientação e não houve um devido tratamento conceitual. A diversidade apareceu como

beneficiária e não como base para a política pública de cultura, conforme foi feito em relação à

participação social. Os exemplos expostos nos Guias nos ofereceram subsídios importantes para o

reconhecimento da diversidade cultural, a partir das interpretações que realizamos, considerando a

multiplicidade de fatores abarcados nos conteúdos. Quando analisamos os módulos, percebemos

que esse tema ganhou maior relevância nos conteúdos dos módulos Cultura e Produção Simbólica e

Cultura e Desenvolvimento, sendo claramente explicitado e referenciado no decorrer dos seus

textos.

Já nos módulos de planos, foi possível verificar a presença da diversidade cultural a partir do

princípio da participação social, reforçando-a como mera beneficiária do processo e não questão

basilar. Reiteramos que não é o fato de o termo diversidade cultural estar ou não explícito, mas seria

necessário que conceitos e explicações mais claras compusessem o conteúdo desse material. Isso é

fator determinante para o reconhecimento das políticas públicas de cultura, que para atingirem o

propósito de contribuir com a transformação da realidade, devem contemplar as diferenças

culturais.

A participação social pode ser entendida como causa e consequência. Causa quando

realmente consegue agregar uma multiplicidade de agentes culturais de diferentes linguagens e

práticas, e consequência quando, a partir da compreensão sobre a diferença, ocorre o agrupamento

desses diferentes agentes e suas distintas manifestações culturais. Essa compreensão pode ter

facilitado o nivelamento do conceito de participação social junto aos representantes municipais.

Nas duas edições, a metodologia se somou a esse esforço, quando foi guiada por princípios e

premissas que consideraram o diálogo, a comunicação, a participação e a legitimidade para a

formulação do Plano de Cultura. Isto ocorreu também quando aprofundou a importância do

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território e da transversalidade e quando realçou uma política pautada no reconhecimento das

expressões culturais e na garantia dos direitos culturais.

No processo, podemos afirmar que a aplicação da metodologia na primeira etapa reforçou o

caráter da diversidade cultural, na medida em que o discurso dos consultores e analistas destacou

esse tema e atrelaram-no ao da participação. A ampliação do debate e as diversas reuniões

realizadas com diferentes públicos possibilitaram um diálogo mais aberto sobre a relação entre o

Plano Municipal de Cultura e a diversidade.

Na segunda edição, as interações nos fóruns de discussão teórica promoveram um

aprofundamento sobre os temas tratados nos módulos e criaram um ambiente propício para o

diálogo entre os diferentes participantes, agregando ao debate experiências de gestão em cada um

dos municípios. Nessas discussões, tanto na primeira quanto na segunda edição, foi possível realçar

o discurso do MinC para a construção das políticas públicas de cultura de forma participativa e com

olhos na diversidade cultural.

Por fim, entendemos que se na 1ª Edição, o Projeto MinC-UFBA atuou junto a municípios

maiores e mais bem estruturados, a 2ª Edição ganhou uma capilaridade excepcional, atingindo

grande número de pequenas cidades, o que deu espaço à diversidade de contextos locais, com suas

características singulares. Isto requereu um olhar diferenciado, abrindo espaço para o

questionamento sobre a homogeneização de um processo formativo. Os aspectos locais mereceram

atenção, razão pela qual modelos ou práticas padronizadas não se constituem mais aceitáveis,

exigindo, em seu lugar, estratégias diferenciadas para o desenvolvimento territorial, diante das

realidades expostas pelas novas dinâmicas.

A diversidade como princípio requer um tratamento mais direto, que considere que a cultura

se dá a partir de um conjunto de saberes e práticas que abarcam diferentes jeitos de se posicionar no

mundo. É através do reconhecimento e atenção às diferenças culturais que a diversidade é percebida

e, portanto, é com base nessas diferenças que a política cultural deve ser formulada.

Com base neste estudo, concluímos que o tema da diversidade cultural se fez presente no

Projeto MinC-UFBA, porém isto não ocorreu de forma mais explícita e direta nos conteúdos

designados , bem como não houve um devido tratamento conceitual, que o tema exige para a

construção e consolidação de uma política verdadeiramente democrática.

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i Princípios do Sistema Nacional de Cultura - diversidade das expressões culturais; universalização do acesso aos bens e serviços culturais; fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens culturais; cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na área cultural; integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas; complementaridade nos papéis dos agentes culturais; transversalidade das políticas culturais; autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil; transparência e compartilhamento das informações; democratização dos processos decisórios com participação e controle social; descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações.ii Elementos dos Sistemas de Cultura – Órgão Gestor de Cultura, Conselho de Política Cultural; Conferências de Cultura, Sistemas Setoriais de Cultura, Sistema de Financiamento à Cultura, Sistema de Formação em Cultura, Sistema de Informações e Indicadores Cultura, Planos de Cultura, Comissões intergestoras.

Referências Bibliográficas

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