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Unidade 1: Conceitos gerais Revisitando a teoria geral do direito privado: Bens X coisas: Inicialmente, cabe traçar uma distinção entre bens e coisas. Bens podem ser entendidos como todos os valores patrimoniais/ extrapatrimoniais, materiais/imateriais, corpóreos/incorpóreos necessários ao ser humano, ou, em linhas gerais, aquilo que não se confunde com o próprio sujeito. Já as coisas podem ser entendidas como os bens corpóreos e materiais. Para que a pessoa tenha acesso às coisas, via de regra, é necessário o negócio jurídico. Nesse sentido, surge o estudo do direito das obrigações, no qual existem partes (ou polos da relação jurídica) que são determinadas ou determináveis e que interagem entre si e geram efeitos apenas a elas relativos. Em contrapartida, na disciplina de atual estudo, não há relatividade, mas os efeitos são absolutos (eficácia erga omnes). Nesse sentido, tem-se que é possível exercer o direito de ter em relação à todos (efeito absoluto), até mesmo contra o dono da própria coisa, se esta estiver em sua posse. Um exemplo interessante é o caso do aluguel. Caso o locador entre no apartamento alugado para o locatário sem justo motivo, o locatário pode usar da própria força para retirar o indivíduo do Direito Civil V Página de 1 71 Direito Civil V: Direitos Reais Faculdade de Direito da UFMG Professor(a): Marcelo Milagres Ana Clara Pereira Oliveira 2016/1º - Diurno SER Personalidade TER bens/coisas INTERAGIR negócios jurídicos

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Unidade 1: Conceitos gerais • Revisitando a teoria geral do direito privado:

• Bens X coisas: Inicialmente, cabe traçar uma distinção entre bens e coisas.

Bens podem ser entendidos como todos os valores patrimoniais/

extrapatrimoniais, materiais/imateriais, corpóreos/incorpóreos necessários

ao ser humano, ou, em linhas gerais, aquilo que não se confunde com o

próprio sujeito. Já as coisas podem ser entendidas como os bens

corpóreos e materiais.

• Para que a pessoa tenha acesso às coisas, via de regra, é necessário o

negócio jurídico. Nesse sentido, surge o estudo do direito das

obrigações, no qual existem partes (ou polos da relação jurídica) que são

determinadas ou determináveis e que interagem entre si e geram efeitos

apenas a elas relativos.

• Em contrapartida, na disciplina de atual estudo, não há relatividade, mas

os efeitos são absolutos (eficácia erga omnes).

• Nesse sentido, tem-se que é possível exercer o direito de ter em relação à

todos (efeito absoluto), até mesmo contra o dono da própria coisa, se

esta estiver em sua posse. Um exemplo interessante é o caso do aluguel.

Caso o locador entre no apartamento alugado para o locatário sem justo

motivo, o locatário pode usar da própria força para retirar o indivíduo do

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Direito Civil V: Direitos Reais Faculdade de Direito da UFMG Professor(a): Marcelo Milagres

Ana Clara Pereira Oliveira 2016/1º - Diurno

SER → Personalidade

TER → bens/coisas INTERAGIR → negócios jurídicos

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apartamento que está em sua posse, mesmo sendo esse apartamento

propriedade do locador "invasor".

- Atenção ao fato de que a autotutela, ou uso da força para garantir o

bem, só poderá ser exercida em momento contemporâneo à agressão

ao seu bem.

• Direito de sequela: "Privilégio que assiste ao titular de direito real de

executar os bens que lhe servem de garantia para, com o seu produto,

pagar-se de seu crédito, bem como de apreendê-los em poder de

qualquer pessoa que os detenha. Segue, persegue, vai à busca do bem

que lhe pertença, cabendo ação contra aquele que o detenha. O seu

titular terá o direito sobre o bem, ainda que o mesmo esteja em poder

de terceiros possuidores." Em outras palavras, sequela é o direito de 1

seguir alguma coisa e subtraí-la do poder de quem a possua ou a

detenha.

• Ius in re X ius ad rem: o ius in re pode ser entendido como o direito

sobre a coisa própria, de forma imediata, exclusiva e contra todos. Ele

gera o ius pesequendi (direito de sequela), porém atenta-se ao fato de

que ele só pode ser exercido respeitados valores. Lado outro, o chamado

ius ad rem se relaciona ao direito obrigacional ou de crédito, e é o direito

à coisa, que surge em virtude de um contrato ou obrigação. Ele se dá

entre os sujeitos da própria obrigação.

• Outra característica importante dos direitos reais é a taxatividade. Assim,

os direitos reais são apenas aqueles previstos em lei, em um rol

exaustivo. Este rol está previsto no artigo 1225 do Código Civil.

• Domínio X propriedade: Não necessariamente quem tem o domínio

(controle, poder) da coisa tem a propriedade da coisa. Lembrando que o

domínio gera sempre um dever. Em linhas gerais, quem tem o domínio

da coisa pode exercer os seguintes poderes sobre ela:

➢ Usar;

Enciclopédia Jurídica, disponível em: http://www.enciclopedia-juridica.biz14.com/pt/d/direito-de-sequela/direito-de-sequela.htm1

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➢ Usufruir; ➢ Dispor; ➢ Reaver a coisa.

- O domínio é elástico, podendo ser pleno/máximo (direito a fazer tudo aquilo que foi listado anteriormente) ou não. Ex.: no contrato de locação, o locador não tem direito de usar o bem, que a ele pertence. Isso demonstra que esse proprietário não tem o domínio pleno sobre o bem.

- Exemplo: Carol aluga o apartamento para Marcelo. Marcelo será então

possuidor, enquanto Carol será a proprietária. Marcelo poderá fazer uso

do apartamento e poderá exercer também o poder de reaver o bem

injustamente tomado, porém não poderá dispor do mesmo. Carol, por

outro lado não irá usar o bem, mas irá dele usufruir, através da

percepção do aluguel pago por Marcelo. Além disso ela poderá dispor

(vender) o apartamento (respeitados determinados preceitos, como o

direito de preferência de Marcelo na aquisição do bem), bem como

reaver o apartamento caso necessário.

• Características essenciais dos direitos reais: a. eficácia erga omnes; b. gera direito de sequela; c. tem exercício imediato.

• Após todo exposto, concluímos que os direitos subjetivos patrimoniais se

subdividem em:

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Unidade 2: A posse • Conceito: A posse é um fato, bem como um direito real, afora não estar

prevista no rol do artigo 1225. A posse pode ser considerada um direito subjetivo patrimonial, sendo avaliável economicamente e produzindo

efeitos também dessa ordem. Por outro lado, satisfaz também

necessidades extrapatrimoniais.

• Discussões doutrinárias: A. Savigny (Teoria subjetiva): a posse pressupõe dois elementos

constitutivos: corpus (corpo/matéria - poder fático, contato físico com 2

a coisa) e animus (vontade/intenção de ser proprietário da coisa). As

críticas a essa teoria se fazem principalmente por ela abordar o

elemento puramente psicológico (animus) e, portanto, interno. Além

disso, essa teoria traz um problema, pois caso o indivíduo perca o

contato físico com a coisa, restará a dúvida quanto à continuidade da

posse. Na eventualidade, então, de um locatário sair de seu

apartamento para fazer uma viagem de férias, ele estaria perdendo a

posse sobre ele.

B. Jhering (Teoria objetiva): inovando a teoria de Savigny, Jhering faz

uso dos mesmos conceitos, mas traz novas acepções a eles. De

acordo com o jurista, para existir posse deve existir o corpus

(necessidade da matéria, mas que não pressupõe uma apreensão

fática ou contato físico) e o animus (comportamento típico de um

proprietário, identificado por seus aspectos externos e objetivos). A

posse pode se desdobrar em direta e indireta. Assim, entende-se

Uma consequência desse pensamento é que a posse incorpórea ou imaterial (como a posse de ideias ou direitos autorais) não seria 2

abrangida pela posse.

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que o proprietário será sempre possuidor, mesmo que indiretamente.

Nesse sentido, o locador, ao alugar seu apartamento, perderá apenas

a posse direta, mas não a indireta. Dito isso, nada impede que a

posse se desdobre pela forma de sublocações, por exemplo. Assim,

se o locador sublocar o apartamento, coexistirão duas posses

indiretas (proprietário e locatário) e uma posse direta (sublocatário).

Para Jhering a posse é a exteriorização da propriedade. É possível

criticar a teoria pois, para o autor, a posse e a propriedade se

confundem, não sendo reconhecida a autonomia da posse em relação

à propriedade.

• No ordenamento brasileiro, existe inclinação para a doutrina de Jhering,

como é possível entender pelo artigo 1196 (CC), que define a posse:

• As duas teorias estudadas apresentam um problema quanto à autonomia da posse. Imaginemos que um indivíduo encontra um iPad perdido em um

parque e tenta encontrar o dono do bem para devolvê-lo. Percebe-se que,

no caso, não houve exteriorização da propriedade nem tampouco vontade

(ou animus) de possuí-lo. Esse indivíduo tem apenas a posse.

• Quem pode ser possuidor da coisa? Aquele que pode, naturalmente,

exercer a posse. Não necessita, assim, de capacidade intelectiva, volitiva

ou capacidade de direito (absolutamente incapazes ou relativamente

incapazes também poderiam, nesse sentido, ser possuidores). Atenção ao

fato de que também não precisa ser um ente dotado de personalidade

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CC: Art. 1.196. "Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade."

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(ex.: condomínio). Importante ressaltar que a causa da posse não

necessariamente precisa ser lícita, não pressupondo uma conduta em

conformidade com o direito.

• Ressalte-se que o ordenamento pátrio também adota uma teoria eclética

a medida que a posse é considerada autônoma, sendo uma forma de

domínio e que se dissocia da propriedade.

• Outro artigo que encontra amparo na teoria de Jhering é o 1197, do

Código Civil, vejamos:

- Observação: no artigo, direito pessoal alude a, por exemplo, um

contrato. Assim, depreende-se de tal dispositivo que o desdobramento

da posse pode se dar por meio de um ato de vontade entre duas partes

(contratualmente) ou em virtude de um direito real, ou um fato,

independente da vontade convergente.

• Atributos do domínio ou atos de posse: usar; usufruir; dispor e reaver a

coisa.

• Detenção: O legislador entende que é possível que o sujeito exerça atos

de posse, porém sem ser possuidor. É a chamada detenção ou posse

degradada, nos termos de Jhering. A detenção é determinada pelo artigo

1.198 do CC:

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CC: Art. 1.197. "A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. "

CC: Art. 1.198. "Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções

suas.

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. "

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- Exemplo: o professor Marcelo faz uso de uma caneta na sala de aula.

Essa caneta não lhe pertence, nem tampouco está em sua posse,

apesar dele exercer atos de posse. Ele é detentor da coisa, que

pertence, na realidade, à UFMG, autarquia a qual o professor é

subordinado.

- Efeitos da detenção: o O detentor não tem legitimidade para as chamadas ações

possessórias (tutela jurisdicional). Não obstante, ele poderá exercer o direito de sequela contemporâneo à agressão (mediante autotutela), mas não poderá, por vias judiciais, reaver o bem que lhe foi injustamente tomado.

o Interversão dos atos de posse: inércia no tempo (critério objetivo) + crença de agir em nome próprio (critério subjetivo). Pode ocorrer quando um empregado passa a agir por nome próprio, após a inércia do dono do terreno. Nesse ponto, começará a correr o tempo para efeitos de usucapião (usucapião = posse + tempo) e a propriedade poderá ser invertida. Muitos autores apenas aceitam a interversão bilateral (ex.: contrato de compra e venda). Porém, é possível também a unilateral, como foi o caso do exemplo dado. Importante ressaltar o enunciado 237 aprovado na III Jornada de Direito Civil:

- Outra hipótese de detenção é trazida pela primeira parte do artigo 1.208 do CC. A hipótese considera a mera tolerância ou permissão

para o uso da coisa pelo seu dono.

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CC: Art. 1.208. "Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (...)."

III Jornada de Direito Civil, enunciado 237: "Art. 1.203: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar

ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini."

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• Classificações da posse: 1. Direta X Indireta (Jhering); 2. Justa X Injusta: exalta-se que a noção de justiça é desvinculada do

critério axiológico, sendo definida, por exclusão, pelo artigo 1200,

CC:

2.a) Posse Violenta: A posse violenta é aquela realizada mediante

força ou coação moral à pessoa. Ela é um vicio originário e relativo,

que surge no momento de tomada da própria posse. O contrário

seria a posse que é pacífica, pública e estável.

2.b) Posse Clandestina: É a posse subreptícia, oculta, que também

caracteriza vicio originário.

2.c) Posse Precária: Esse é o caso de um vício absoluto e

subsequente/superveniente, que decorre do dever de restituição da

coisa.

→ Importante dizer que a posse justa não é a posse lícita. A

violência, bem como a clandestinidade, são vícios relativos e

originários, que poderão não contaminar toda a posse, como ocorre

no caso da posse precária, que é vicio absoluto. O artigo 2.208, em

sua segunda parte, postula que a posse se consumará após cessada

a violência. Entretanto, a doutrina majoritária entende que a violência

contra pessoa contamina a posse, ainda que cesse a tal violência. A

doutrina minoritária, adotando interpretação literal do artigo 1.208,

CC, entende que cessando a violência a posse será mansa e pacífica

ainda que a causa seja ilícita e violenta.

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CC: Art. 1.200. "É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária."

CC: Art. 1.208. "Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois

de cessar a violência ou a clandestinidade. ."

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3. Posse com justo título X posse sem justo título: o título é a causa/

fundamento/origem da posse, e não um documento. A posse com

justo título é aquela que tem aparência de ter adequação ao sistema

jurídico e que enseja, por sua vez, a proteção do ordenamento. A

posse com justo título é composta por um elemento subjetivo, a

presunção da boa fé. Atenção ao fato de que a posse justa não

necessariamente é uma posse com justo título. Um exemplo é o caso

de um colega que de sala que pede um livro emprestado e não o

devolve quando solicitado. Assim, entende-se que a posse tem justo

título (surgiu de um contrato verbal de comodato) porém não é posse

justa, caracterizando a posse precária.

4. Posse de boa fé X posse de má fé: inicialmente, importante

mencionar a existência da boa fé subjetiva e objetiva. A segunda se

relaciona bastante com o direito obrigacional e contratual, enquanto

na presente disciplina, destaca-se mais a boa fé subjetiva, que se

caracteriza por elementos internos, baseados na crença individual.

Assim, na posse de boa fé leva-se em conta a condição psicológica

do indivíduo, que tem a convicção de que sua posse a ninguém

prejudica. Toda posse de justo título é uma posse de boa fé, porém o

contrário não é verídico. Por outro lado, a posse de má fé ocorre

quando a pessoa sabe que existe vício em sua posse. Essa

classificação está disposta pelo artigo 1201:

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CC: Art. 1.201. "É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção."

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Atenção ao fato de que a boa fé não está sujeita a toda e qualquer

atividade ou relação. Exemplo disso é o artigo 1268 , que restringe 3

a proteção da boa fé apenas para quando a coisa for oferecida ao

público, em leilão ou estabelecimento comercial. Isso não significa,

lado outro, que não restará caracterizada a posse de boa fé, que

ensejará certas garantias, como, por exemplo, o possuidor de boa fé

não será acusado de receptação, bem como poderá fazer jus ao valor

pago, por meio da restituição. Um problema que surge é com

relação à compra de bens imóveis, adquiridos de boa fé, sob a falsa

aparência do registro, vendida por um não proprietário. Nessa seara,

destaca-se o artigo 1247 , que traz o direito do proprietário real do 4

imóvel a reivindicá-lo, independente da boa fé. Uma exceção é a do

artigo 1242 , que é uma modalidade de usucapião, a ser tratada 5

posteriormente.

5. Posse exclusiva X compartilhada (composse): via de regra, o

exercício de atos possessórios são exercidos por um indivíduo. Como

exceção à essa exclusividade, tem-se a chamada composse ou

condomínio. Ressalve-se que o condomínio não se restringe à coisas

imóveis, apenas, podendo também ser relativa à coisas móveis, que

tem posse compartilhada. A composse tem dois elementos: a

pluralidade subjetiva (dois ou mais sujeitos exercendo atos de posse)

e a indivisibilidade funcional, física, judicial ou voluntária. Ex.: uma

senhora deixa para seus doze filhos uma fazenda e, em seu

CC. Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, 3

em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. § 1º - Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição. § 2º - Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo.

CC. Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. 4

Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.

CC. Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o 5

possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

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testamento, estabelece que o imóvel não poderá ser dividido. Os

doze proprietários estão vinculados pela composse. Isso também

acontece no casamento instituído sob o regime da comunhão parcial

de bens. O artigo 1199, do Código Civil, trata da composse

propriamente dita, ou pura:

Outra modalidade de composse é a composse pro-diviso. Nela,

juridicamente, a posse é de todos (por não ter sido feita a partilha),

mas do ponto de vista fático, existem posses exclusivas. Uma

interpretação gramatical e restritiva do artigo traz a impossibilidade

dessa modalidade de composse. Porém, a interpretação ampliativa

autoriza a composse pro-diviso, mediante concordância entre todos

os co-possuidores.

6. Posse nova X posse velha: A posse nova é aquela exercida a menos

de ano e um dia, enquanto a posse velha se caracterizará após

decorrido um ano e um dia. Dessa classificação decorrem dois efeitos,

sendo um deles procedimental. O efeito procedimental dessa

classificação se encontra no artigo 558 do NCPC, o qual dispõe que

aquele que teve a posse tomada (esbulho) poderá retoma-la por meio

de procedimento especial, para a qual cabe a liminar possessória, no

âmbito da tutela de evidência, apenas no caso de posse nova. Caso

a posse já seja velha não haverá essa possibilidade, devendo ser

requerida por meio de ação de reintegração de posse. Outro efeito é

a possibilidade de caracterização de certas modalidades de

usucapião. 7. Ad interdicta X Ad usucapione: A posse ad interdicta não constitui

usucapião, enquanto a posse ad usucapione é aquela que traz

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CC: Art. 1.199. "Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros

compossuidores."

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possibilidade de ser reivindicada pelo usucapião, contendo seus

requisitos. A posse ad interdicta é a que se pode amparar pelos

interditos caso ela seja ameaçada ou esbulhada, por exemplo. Toda a

posse é ad interdicta, o que irá variar é a extensão dessa possibilidade

de defesa da posse. Não são opostas, como as outras classificações.

8. Jus posidendi X Jus possessonis: a jus possessonis é a posse

fundada meramente no fato (situação fática), lado outro, a jus

posidendi é aquela cuja causa é o próprio exercício do direito da

propriedade.

• Aquisição da posse: - Define-se, no ordenamento brasileiro, pelo artigo 1.204, adotando o

entendimento de Jhering:

- Importante ressaltar que a relação contratual é a mais comum forma de

aquisição da posse, mas que ela, por si só, não transfere posse. É

necessária a tradição, ou entrega da coisa.

- Os tipos de aquisição da posse são:

1) Originária e derivada: a aquisição originária não pressupõe

relação intersubjetiva, podendo ser lícita ou ilícita. Um exemplo é o

sujeito adquire o objeto mediante roubo ou quando uma pessoa

encontra um livro perdido na rua. Já a aquisição derivada surge a

partir de uma relação intersubjetiva, que não pressupõe

exatamente a entrega da coisa, como é o caso da tradição

presumida (que será tratada mais à frente). 6

2) Singular e universal: a aquisição singular ocorre quando é possível

determinar o objeto da aquisição. Por exemplo, quando o

indivíduo compra um vade mecum. Lado outro, a aquisição a título

Exemplo: locatário compra do locador o apartamento que já estava para ele alugado há mais de dois anos. Não ocorre a tradição, 6

pois, faticamente, o ex-locatário já estava em posse da coisa.

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CC: Art. 1.204. "Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade."

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universal ocorre quando não se pode determinar ou especificar o

objeto da posse, como, por exemplo, uma doação que transfere

30% dos bens de certo indivíduo a uma entidade. Nesse caso,

percebe-se que não há individualização da coisa, mas apenas a

universalidade. 3) Inter vivos e causa mortis: no caso de atos inter vivos pressupõe-

se uma relação intersubjetiva, como, por exemplo, um contrato

bilateral. Já no caso de fato decorrente da morte, pode ser gerada

também a posse, como a herança, como postula o artigo 1784

(CC).

• Efeitos da posse: 1) Econômicos:

1.a) Frutos e produtos: os frutos são utilidades que as coisas

ordinariamente proporcionam, cuja percepção não gera o fim

da coisa, como os frutos naturais, por exemplo. Outro

exemplo são os frutos civis, como juros remuneratórios. Já os

produtos também são utilidades, porém, diferentemente,

implicam na destruição da coisa. Um exemplo é o petróleo.

Impende destacar que frutos e produtos são equiparáveis,

mesmo que o código apenas cite os frutos. Nesse sentido,

vejamos o artigo 1214 do CC.

Frutos percebidos são aquelas que já foram colhidos e não

necessariamente consumidos, enquanto frutos percipiendos

são aqueles que completaram seu ciclo de formação, mas

ainda não foram colhidos. Há também os pendentes, aqueles

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CC: Art. 1.214. "O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.

Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser

também restituídos os frutos colhidos com antecipação ."

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que não completaram seu ciclo de formação, como, por

exemplo, o aluguel antes do dia do vencimento. Destaca-se

que disposição contratual em contrário pode afastar a

aplicação do 1214. O possuidor tem direito aos frutos

percebidos, e também à restituição no caso dos frutos

pendentes enquanto durar a boa fé. Isso tem como base a

vedação ao enriquecimento sem causa , pois o trabalho do 7

possuidor de boa fé não pode levar ao enriquecimento do

proprietário que nada fez para dar causa a esse fruto. Porém,

existe ainda o artigo 2216, o qual determina que, mesmo

estando de má fé, o possuidor tem direito às despesas de

custeio e produção, ainda de acordo com a vedação ao

enriquecimento ilícito. Porém, critica-se esse artigo, pois ele

atribui direitos a um comportamento ilícito.

1.b) Benfeitorias e pertenças (acessórios): (art. 1219 X art. 8

35 da lei 8245 X súmula 335 do STJ X Direito do consumidor).

Atenção ao possuidor comprovadamente de má fé, o qual

somente terá direito de ser indenizado, não lhe sendo

assistido o direito a reter a coisa mediante o não pagamento

das benfeitorias, em consonância com o artigo 1220 , CC. O 9

artigo 1221 postula a necessidade de ainda existir a

benfeitoria ao tempo da evicção ou de ser comprovada a

necessidade dessa benfeitoria para o atual estado do imóvel.

art. 884, CC7

Acréscimos humanos a algo já existente. Podem ser úteis, necessárias ou voluptuárias.8

(CC) Art. 1.220. "Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção 9

pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias."

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CC: Art. 1.216. "O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o

momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio."

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2) Protetivos: 2.1) Autotutela (artigo 1210, § 1º):

Inicialmente, deve-se discutir os conceitos abordados pelo

artigo. A turbação se compõe através de atos concretos que

prejudicam o exercício legítimo de atos de posse, não

pressupondo a tomada da coisa, mas bastando a

perturbação. Já o esbulho é a tomada da posse, não

necessariamente com violência moral ou física. O artigo

autoriza a autotutela contemporânea à agressão, atendidos os

critérios da proporcionalidade e da racionalidade. Cabe

ressaltar ainda dois conceitos: a legítima defesa da posse

(reação proporcional para evitar turbação) e desforço imediato

(reação contemporânea). Se não forem respeitados esses

preceitos, incorrerá o sujeito no artigo 345 do Código penal

(exercício arbitrário das próprias razões). 2.2) Ações possessórias e ações petitórias: as ações

possessórias são procedimentos processuais cuja causa de

pedir e o pedido se limitam à tutela da posse. Atenção ao

fato de que, até mesmo um mandado de segurança ou o

embargo de terceiros, por exemplo, poderão ser ações

possessórias, mas que serão, porém, atípicas. A ação petitória

é a que visa a proteção da propriedade (causa de pedir é a

tutela de propriedade), mas cujo pedido poderá ser a tutela

da posse. O código brasileiro define a total separação entre

os dois tipos de ação. Porém, no âmbito de uma ação

possessória típica (manutenção, reintegração e interdito

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CC: Art. 1.210. "§ 1º - O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou

de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse."

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proibitório) é incabível a discussão relativa à propriedade.

Um exemplo de ação petitória é a ação reinvidicatória, na

qual a propriedade deve ser demonstrada. A diferença entre

esses dois tipos de ação é que petitória só poderá ser feita

pelo procedimento comum, enquanto na possessória poderá

ser tanto pelo procedimento comum quanto pelo especial,

sendo que o último comporta a possibilidade de liminar 10

possessória (satisfativa), no âmbito da tutela de evidência, de

acordo com o artigo 558 (CPC/15). Lembrando que o

procedimento especial somente se aplicará se a posse for

nova (até um ano e um dia). Se for velha, deverá ser utilizado

o procedimento comum.

3) Aquisitivos: usucapião. Ele é definido por Caio Mário como forma

aquisitiva originária de direitos reais (e não somente propriedade)

em razão de posse continuada no tempo com animo domini,

observados os requisitos legais. Depreende-se que, no tempo, a

posse deverá ser mansa, pacífica e o sujeito deve ter vontade de

ser dono. Muitos a apelidam a usucapião de prescrição aquisitiva,

em interpretação aos artigos 1244 e 197 do CC. O professor,

porém, critica essa nomenclatura, como veremos posteriormente.

- Artigos e questões importantes:

o Artigo 1206 e a sucessão possessória:

Esse artigo é um exemplo de transmissão de posse causa mortis, podendo ser singular ou universal. Há possibilidade de deixar 50% do patrimônio do de cujus a um legatário (eleito em testamento), sendo que o restante deverá integrar-se ao patrimônio dos herdeiros legais. Ressalte-se a parte final do artigo, a qual diz que as

provimento a ser apreciado no limiar do processo, em seu início, que se dá pelo recebimento da petição inicial. 10

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CC: Art. 1.206. "A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres."

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características da posse se mantém, o que é chamado de sucessão possessória pela doutrina. ex.: um indivíduo herda de seu avô uma fazenda, a qual foi "adquirida" por meio de invasão, inclusive com a morte de pessoas. Como a posse conserva seus caracteres, mesmo para o neto a posse será direta, injusta, sem justo título e de má fé, assim como foi a de seu avô. o Artigo 1207:

A sucessão disposta pelo artigo é inter vivos, podendo ser universal ou singular. Os efeitos diferem de acordo com sua universalidade ou singularidade. No caso de ser universal, são mantidos os caracteres da posse do sucessor, como no caso do artigo 1206 . Já para casos 11

em que há singularidade, há opção de unir ou não a posse à do antecessor (passando ou não as mesmas características da antiga posse). Essa união só ocorre se for manifesta a opção de dar seguimento à posse pelo adquirente. Essa manifestação pode ser dada, por exemplo, por meio de contrato, em cláusula que postule que será dada continuidade à posse. Isso é chamado de acessão de posse. Essa acessão só ocorre em relação inter vivos e via manifestação de vontade (não necessariamente no momento da tradição, mas podendo ser superveniente), bem como devem as posses serem homogêneas (ex.: posse de boa fé e de má fé não podem ser objeto de acessão). A doutrina majoritária, além disso, só faculta a junção à posse imediatamente antecedente. Ex.: um imóvel está registrado em nome de A, sendo que ele, por ter diversos imóveis, não os administrava com tanta cautela. X, um estelionatário, altera o registro do imóvel, como se seu fosse e vende para B, que adquire o bem de boa fé. Após dois anos de posse, B vende para C o imóvel (caracterizando uma venda a non domino ). 12

Três anos depois, A descobre a fraude e, de acordo com o artigo

CC. Art. 1.206. "A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres."11

Venda do bem por alguém que não ter sua propriedade (venda de coisa alheia).12

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CC: Art. 1.207. "O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais."

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1247 , o proprietário pode reivindicar seu imóvel, independente da 13

boa fé do adquirente. C, então, tenta utilizar o instituto do usucapião. Inicialmente, por sua posse ter durado apenas 3 anos ele não poderia adquirir o imóvel por usucapião. Não obstante, pelo artigo 1207, é facultado ao adquirente singular dar continuidade à posse do possuidor anterior. Assim, unindo-se os anos de posse de B com C, totalizam-se 5 anos, podendo restar configurado o usucapião.

Unidade 2.1: Ações possessórias típicas 14

• Procedimentos:

a. Comum: procedimento utilizado no caso de posse velha (parágrafo

único do artigo 558, NCPC) ;

CC. Art. 1.247. "Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. 13

Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente."

art. 554 até 558, CPC/1514

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CPC/15: Art. 558. "Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da

turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.

Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório."

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b. Especial: para seguir tal rito, a posse deve ser nova (até 1 ano e um

dia), segundo o artigo 558, acima transcrito. c. Sumaríssimo: Lei 9.099.

• Características:

a. Fungibilidade (art. 554, NCPC): é possível que o juiz conheça da

ação possessória mesmo que tenha havido equívoco em sua

propositura. A fungibilidade ocorre com relação à qualquer das

espécies de ações possessórias típicas. Não é possível confundir essa

situação com a de modificação superveniente da situação fática. Se

ocorrer fato novo e superveniente, deverá apenas ser emendada a

inicial.

Ex.: o autor narrou esbulho, mas ao invés de pedir a reintegração de

posse, ele pediu manutenção da posse. Não obstante, o mais

importante será a causa de pedir e o juiz poderá receber a inicial.

b. Cumulatividade: há sempre um pedido fundamental, que é a tutela

da posse. Mas poderão ser cumulados outros pedidos, como a

pretensão indenizatória. Atenção ao parágrafo único do artigo 555

do CPC vigente, que prevê a possibilidade de cominação de multa

astreinte de eficácia inibitória ou outro mecanismo de tutela

provisória, afim de resguardar a efetividade da tutela definitiva.

c. Duplicidade: nas ações possessórias pode ocorrer confusão entre

autor e réu (via dupla). Assim, na contestação, é possível para o réu,

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CPC: Art. 554. "A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela

cujos pressupostos estejam provados. (...)"

CPC: Art. 555. "É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos;

II - indenização dos frutos. Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para:

I - evitar nova turbação ou esbulho; II - cumprir-se a tutela provisória ou final. "

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além de defender-se, fazer pedidos de proteção possessória contra o

próprio autor e também pedir indenização, nos termos do artigo 556,

NCPC. Atenção ao fato de que não é possível ampliar a lide, mas

deve o réu ater-se à causa de pedir do autor.

• A inicial da possessória típica deve ser instruída conforme o disposto pelo

artigo 561 (CPC/15), narrando tudo aquilo que os incisos exigem. Não

atendidos os incisos, deverá ser emendada a inicial.

• Jurisdição: poderá ser federal ou estadual, sendo a última via de regra.

• Competência: territorial (do local da coisa).

• Legitimidade: o autor é aquele cuja posse foi violada, sendo tanto o

possuidor direto quanto indireto. Atenção ao fato de que o detentor

(possuidor precário) não tem legitimidade para propor as ações

possessórias. A legitimidade passiva será do autor da ameaça à posse.

• Pedidos: manutenção da posse ou sua reintegração. Poderá também ser

pedida liminar possessória.

• Multiplicidade de agentes: nesse aspecto, é essencial ressaltar a questão

dos conflitos multitudinários (envolvendo vários indivíduos). O artigo 554,

§1º , do NCPC, possibilita a citação por Edital daqueles que não estão no 15

local. Além disso deverá ocorrer intimação do MP, pois, nos casos de

conflitos multitudinários há presunção de interesse público (atenção: essa

NCPC. Art. 554. (...) "§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a 15

citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. "

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CPC/15: Art. 556. "É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes

da turbação ou do esbulho cometido pelo autor."

CPC/15: Art. 561. "Incumbe ao autor provar: I - a sua posse;

II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho;

IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração"

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disposição deve ser interpretada à luz do art. 127, caput da CF). No caso

do conflito envolver indivíduos hipossuficientes, o que quase sempre

ocorre nesse tipo de conflito, deverá também ser intimada a defensoria

pública.

• Tutela de evidência (artigo 562 c/c art. 311, II do NCPC): deve haver 16 17

prova cabal, não sendo necessária, porém, tese firmada em julgamento de

casos repetitivos ou súmula. Lembrando que, diferente das tutelas de

urgência, nesse caso não é necessário provar o periculum in mora.

Possibilidades de provas interessantes para essa modalidade são o boletim

de ocorrência policial e fotos, por exemplo. O juiz poderá negar ou

conceder a tutela. Além disso, se restar em dúvida o magistrado, deverá

ele designar uma audiência de justificação, objetivando, inclusive a

autocomposição, principalmente no caso de conflitos multitudinários.

Atenção ao artigo 562, parágrafo único . Segundo ele, cabe a liminar 18

contra atos do poder público, porém, exige-se a audiência antes do

deferimento.

• O art. 565 e a aparente incoerência com o sistema: parece haver 19

incoerência nesse artigo, pois trata de concessão de liminar para posse

velha, o que é vedado pela interpretação do artigo 558 (NCPC). No

entanto, elucida-se que ele apenas cabe caso a pretensão seja formulada dentro de ano e dia (posse nova), e tendo ela se tornado velha em momento posterior, pela lentidão da justiça. O que o artigo postula é que

é obrigatório que o juiz marque audiência de conciliação antes de apreciar

NCPC. Art. 562. "Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar 16

de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. (...)"

NCPC. Art. 311. "A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao 17

resultado útil do processo, quando: (...) II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;"

NCPC. Art. 562. Parágrafo único: "Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a 18

reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais."

NCPC. Art. 565. " No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver 19

ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2o e 4o. (...)"

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a liminar nesses casos em que a posse se tornou velha, também de acordo

com o artigo 3º, parágrafo 3º do CPC vigente, que visa sempre a estimular

a conciliação entre os sujeitos processuais. Para a audiência de conciliação/

mediação deve haver intimação do MP, no caso de haver interesse público.

A falta de intimação (e não de manifestação) poderá gerar nulidade

processual, haja vista o artigo 279, CPC/15 . 20

• Artigo 557 do CPC/15: o autor que é proprietário deve ter cautela ao

escolher uma ação possessória típica (na qual se discute apenas a posse)

pois só poderá usar a ação possessória atípica, que discute também a

propriedade, após o trânsito em julgado da possessória típica, o que pode

demorar vários anos.

• As ações possessórias podem ser: (1) Típicas:

1.a) Interdito proibitório: fundado temor, em uma situação fática concreta, de que haverá agressão à posse. O artigo 567 do CPC 21

trata dessa ação, que poderá surtir um mandado proibitório em que será cominada ao autor de eventual esbulho ou turbação uma multa. O que se percebe no mundo dos fatos é certa ineficácia desse tipo de ação, pois na maioria das vezes esse tipo de conflito envolve indivíduos que possuem baixo poder aquisitivo. Um exemplo de possibilidade de interdito proibitório é em uma região na qual todas as fazendas já foram alvo de esbulho, o possuidor da única fazenda intacta tem justo receio de que sua posse seja ameaçada ;

CPC/15. Art. 279. "É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva 20

intervir. (...)".

21

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CPC/15: Art. 557. "Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida

em face de terceira pessoa. "

CPC/15: Art. 567. "O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado

proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito."

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1.b) Reintegração de posse; 1.c) Manutenção da posse.

(2) Atípicas: são mecanismos que não foram pensados exclusivamente

para tutelar a posse, mas o faz incidentalmente. 2.a) Reinvidicatória: a causa de pedir é a propriedade mas pode ter como objeto a tutela da posse. Deverá ser apresentada prova documental da propriedade. A desvantagem é que ela somente pode seguir o procedimento comum, que pode ser bem lento. Lembrando que é possível pedido de tutela antecipada, devendo ser demonstrado o perigo da demora da prestação jurisdicional. Se assemelha à reintegração de posse, mas o fundamento é diferente. 2.b) Imissão na posse: ocorre quando um indivíduo tem a obrigação de transferir a posse àquele que nunca a exerceu (nem fática, nem juridicamente). 2.c) Nunciação de obra nova: caso de uma construção não concluída que tem possibilidade ou que já causou dano. Tem como objetivo resguardar a incolumidade pública ou dos imóveis de vizinhos. Não necessariamente haverá a desconstrução da obra, mas a sua regularização. 2.d) Ação demolitória: visa-se a desconstrução de obra ainda não concluída. 2.e) Ação de dano infecto: obra já concluída, em péssimo estado de conservação. Visa-se a desconstrução da obra. 2.f) Embargos de terceiro: o terceiro não é parte da relação processual, mas sofre com seus efeitos. É regulado pelo artigo 674, NCPC . 22

CPC/15. Art. 674. "Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou 22

sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. § 1o Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor. (...)"

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Unidade 2.3: Usucapião • Conceito: pode ser entendida como forma de aquisição originária da

propriedade, visto que não pressupõe relação intersubjetiva entre aquele que detinha a posse e o novo possuidor. Alguns autores atribuem a esse instituto o nome de prescrição aquisitiva, em razão dos artigos artigos 1244 e 197 do CC. O professor critica esse nome, por não pressupor o instituto prestação ou relação intersubjetiva.

• Elementos: - Essenciais:

o Posse o Tempo

- Acidentais: o Boa Fé: nesse caso, considera-se a boa fé subjetiva, que se

refere ao ato estar em conformidade com a lei, apesar de, faticamente, poder ter vícios.

o Justo título: para efeitos de usucapião, o justo título é a causa que, em tese, tem potencialidade para se transferir a propriedade. Ela terá aparência de adequação. Assim, a posse com justo título e boa fé é considerada posse qualificada, enquanto a posse com má fé e sem justo título é menos qualificada e exigirá mais tempo para se configurar. Exemplos são o contrato nulo ou anulado, mas que tem aparência de adequação (ex.: formal de partilha), carta de arrematação que contém vicio interno mas que tem a potencialidade para produzir efeito translativo.

• Objeto: alguns autores postulam que apenas coisas imóveis são suscetíveis ao usucapião. Porém, isso é equivocado, pois coisas móveis também podem o ser.

• Usucapião e os imóveis públicos: os imóveis públicos não são suscetíveis de usucapião, segundo o artigo 191, parágrafo único , CF. 23

Antes de se iniciar a discussão, menciona-se que há diferenciação entre os tipos de imóveis públicos, sendo eles de bem comum (ex.: praça), especiais (ex.: prédio da faculdade de direito) e dominicais. Os dominicais compõe o patrimônio disponível da administração pública. Alguns autores defendem que estes (dominicais) poderão ser alvo de usucapião, desde que não estejam atendendo a interesses públicos

CF. Art. 191 (...) Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 23

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primários. Cabe ainda ressaltar o artigo 102 do Código Civil, que 24

proíbe que qualquer bem público (e não apenas os imóveis) seja suscetível ao usucapião. Destaca-se ainda que mesmo os bens móveis particulares, nesse raciocínio, não poderiam ser alvo da usucapião caso fossem utilizados para satisfazer interesses públicos primários. Um exemplo é o carro de manutenção da Cemig (pessoa de direito público privado, mas que presta serviço público), que não poderia ser alvo da usucapião. O professor defende a adoção de uma perspectiva de funcionalidade, e não de titularidade (como faz o código civil). Assim, os bens podem ser alvo de usucapião desde que não estejam afetados pelo interesse público primário. Atenção, pois essa ideia não é pacífica. Existem duas correntes principais:

o Titularidade: os bens públicos não são sujeitos ao usucapião, já que, para os defensores dessa ideia, se pressupõe que o bem público seja afeto ao interesse primário. Ressalte-se que, a posição majoritária dos tribunais ainda é pela titularidade;

o Funcionalidade: deve ser verificada a questão da afetação ao interesse público primário, já que o simples fato de integrar o patrimônio público não faz com que ele seja afeto ao interesse primário da coletividade. Nesse aspecto, inclui-se a possibilidade dos bens públicos não afetos ao interesse primário serem alvo de usucapião, bem como a possibilidade de não serem sujeitos ao usucapião bens privados que atendem ao interesse primário). 25

• Usucapião imobiliária (espécies): a. Extraordinária: é a mais presente no âmbito judicial. Esta não requer

elementos acidentais, podendo ser adquirida, inclusive, a posse por ato ilícito (gerando posse de má fé e sem justo título). a.1) Usucapião extraordinária simples: Os requisitos são a posse e o tempo (15 anos). Essencial destacar o disposto pelo artigo 1238 (CC):

CC. Art. 102. "Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião."24

Para estudar mais sobre o assunto, ler textos do Dropbox.25

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CPC: Art. 1.238. "Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé;

podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. (...)"

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Segundo o artigo, é necessário que não haja oposição à essa posse no tempo indicado. A oposição que trata o artigo pode ser tanto extrajudicial quanto judicial. A questão é quanto à possibilidade de qualquer forma de oposição extrajudicial ser válida, ou seja, quais as formas seriam válidas? No caso de oposição judicial, sendo julgada esta improcedente será desconsiderada para fins de oposição . 26

disso, do artigo interpreta-se que a sentença não constitui a usucapião, mas meramente a declara. Assim, preenchidos os requisitos o indivíduo terá a propriedade, e a sentença servirá para formalizar essa propriedade. a.1) Usucapião extraordinária qualificada: Segundo o dispositivo, que valoriza a função social da propriedade, a posse-moradia ou posse-produtiva reduz o elemento temporal da usucapião para 10 anos.

b. Ordinário: requer, necessariamente, elementos acidentais (boa fé e justo título), o que demonstra necessidade de maior qualificação. Deve ser reconhecida em favor do sujeito que exerça a posse de forma contínua e incontestada, havendo também a presença dos elementos acidentais. Ela se divide em duas modalidades: b.1) Usucapião ordinária simples (art. 124, caput): basta a posse com justo título e boa fé. O prazo será de 10 anos.

b.2) Usucapião ordinária qualificada (art. 1242, parágrafo único): Há redução para cinco anos do critério temporal do usucapião, sendo requisito para se configurar essa hipótese a existência de imóvel objeto de aquisição onerosa, devendo o possuidor residir ou produzir no imóvel. Esse dispositivo busca tutelar situações em que o sujeito comprou e pagou o imóvel, inclusive havendo escritura pública, mas que, após certo tempo, ocorreu pretensão de nulidade

“Posse pacífica. Não perde o caráter a posse contestada via ação possessória julgada improcedente, ainda com liminar de 26

reintegração”. (REsp. 6.569-SP, DJU 3-8-92)

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CPC: Art. 1.238. (...) Parágrafo único. "O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele

realizado obras ou serviços de caráter produtivo."

CPC: Art. 1.242. "Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.(...)"

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do negócio, por um vicio absoluto. A grande redução do tempo (5 anos) demonstra, novamente, a preocupação do legislador com a função social da propriedade. Atenção: não se aplica a imóveis adquiridos que não de forma onerosa.

c. Especial: é uma modalidade que busca a atribuição da propriedade pela satisfação de direitos fundamentais. Ela não requer elementos acidentais. A usucapião especial se divide em rural e urbana. c.1) Usucapião Especial Rural - art. 191 (CF) , art. 1239 (CC) e 27 28

art. 7º (lei 6.969) : 29

- Os requisitos dessa modalidade são: → imóvel rural: considera a localização física do imóvel, independente da atividade nele exercida. → ter até 50 hectares: os hectares não são "padrão", podendo variar de região para região, mediante índices do INCRA. Além disso, há discussão quanto ao mínimo do tamanho do imóvel, pois, assim como o latifúndio improdutível é indesejável, também o é o minifúndio. Nesse sentido, há uma corrente que defende a consideração de um tamanho mínimo de imóvel para se caracterizar a usucapião especial rural e outra que acredita não dever ser o mínimo considerado, já que não houve menção a isso pela CF. → moradia e trabalho na terra → sujeito não titular de qualquer outro imóvel: o indivíduo não poderá ter outro imóvel (urbano ou rural), sendo que essa ausência de outras propriedades deverá subsistir pelos 5 anos

Art. 191. (CF) Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem 27

oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Art. 1.239. (CC) Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem 28

oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Art. 7º (Lei 6969). A usucapião especial poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como 29

título para transcrição no Registro de Imóveis.

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CPC: Art. 1.242. (...) Parágrafo único. "Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do

respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico."

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continuamente, desde o primeiro dia da posse até o último. Não ocorrendo isso, se descaracterizará a usucapião. → tempo mínimo de 5 anos → pessoalidade: deve o sujeito provar que exerceu por si próprio os atos de posse.

- A disposição do art igo 7º da le i 6969/81 autor iza, excepcionalmente, ser a usucapião especial rural invocada como matéria de defesa, autorizando, então, sentença ultra petita, já que transige a causa de pedir assinalada pelo autor da ação.

c.2) Usucapião especial urbana: c.2.1) Individual (art. 183, CF, art. 1.240, CC e art. 13, lei 10.257 ): 30

- Ser individual não significa ser em favor de uma pessoa, mas sim, de uma entidade familiar, com toda complexidade de definição do instituto. Os requisitos são similares à modalidade rural, porém, altera-se a natureza do imóvel. Assim, temos os seguintes requisitos diferenciador:

→ imóvel urbano de até 250 metros quadrados; → apenas moradia: não se exige produção, como no rural.

- Discute-se a possibilidade, porém, de ser o imóvel urbano um apartamento. Já houve superação, porém, dessa discussão, haja vista o art. 9º da lei 10.257 , que 31

menciona, expressamente, a possibilidade de edificação urbana (desde que atenda o tamanho de 250 metro quadrados).

- Outra discussão se dá com relação ao caso de algum dos componentes da entidade familiar a deixarem e invadirem outro imóvel. Seria esse indivíduo, no caso, apto a exercer a nova usucapião sendo proprietário do outro imóvel? Ele

Lei 10.257. Art. 13. "A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que 30

a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis."

Lei 10.257, art. 9º. "Da usucapião especial de imóvel urbano: Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até 31

duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio será conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão."

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continuará sendo proprietário mesmo "saindo" do núcleo familiar? Quanto a isso, ressalta-se que só poderá ocorrer essa modalidade de usucapião uma vez, de acordo com o parágrafo 2º do referenciado artigo (9º, do Estatuto da Cidade).

- Outro ponto de destaque é que, bem como ocorre na modalidade rural, é possível prolação de sentença ultra petita, de acordo com o artigo 13 da lei 10.257, que também autoriza a invocação da usucapião especial de imóvel urbano como matéria de defesa, o que ultrapassaria a causa de pedir deduzida pelo autor da ação.

c.2.2) Coletiva (art. 10, lei 10.257 ): 32 33

- Nessa modalidade, há envolvimento de diversas entidades familiares, ou sujeitos que não guardam entre si laços de efetividade ou consanguíneos.

- O código não restringe a apenas uma entidade familiar, podendo, então, ser aplicada a áreas com várias entidades familiares que estariam na mesma condição. Atenção ao fato de que isso não gera, necessariamente litisconsórcio ativo entre elas, do ponto de vista processual, mas podendo gerar também processo coletivo (ver artigo 12 da lei 10.257 ). 34

- O requisito diferenciados são: → famílias de baixa renda; → que não sejam proprietárias de outro imóvel.

- Importante então indicar o inciso III do art. 12, que traz como parte legítima da ação de usucapião, a associação de moradores (como substituto processual).

Ver texto no Dropbox.32

Lei 10.257, Art. 10. "As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa 33

renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. (...)"

Lei 10.257, art. 12. " São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana: 34

I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; II – os possuidores, em estado de composse; III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados. § 1o Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério Público. § 2o O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis."

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- O professor entende que é a usucapião coletiva instrumento de regulação do espaço urbano, bem como de satisfação de direitos fundamentais. Porém, ela também apresenta problemas. Um deles é o fato da sentença transformar a composse em um condomínio (parágrafo 3º do artigo 10 ), não havendo a individualização de 35

propriedades ou matrículas. Este condomínio especial poderá ser desfeito (possibilitando a individualização das matrículas), segundo o parágrafo 4º , havendo 36

deliberação de 2/3 dos condôminos, porém, é praticamente impossível, do ponto de vista fático, conseguir os 2/3 necessários.

c.2.3) Familiar (por meação): artigo 1240-A do CC. Aquele que possuir como seu, com exclusividade, imóvel que dividia com seu ex-cônjuge que abandonou o lar, irá adquirir a posse após dois anos. Os problemas relacionados à essa modalidade são: o prazo de dois anos, a despeito do estabelecido pela CF, a dificuldade de definição da expressão "abandono de lar" e o fato de que poderá interferir no interesse dos credores de boa fé (ex.: para emprestar dinheiro a um dos cônjuges, o credor instituiu como garantia o imóvel. Na cobrança da dívida, o credor se depara com a ocorrência da usucapião familiar. A esposa então, poderia entrar com embargos de terceiro, alegando o imóvel agora ser dela). Novamente, percebe-se que essa modalidade só se dará uma vez para cada indivíduo.

Lei 10.257, Art. 10. "(...) § 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da 35

dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.

Lei 10.257, Art. 10. "(...)§ 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação 36

favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio."

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CC: Art. 1.240-A. "Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta

metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio

integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)

§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. "

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* Questões problemáticas envolvendo as modalidades de usucapião especial urbano: ➢ Sobrestamento de outras ações: ponto importante é quanto ao

disposto pelo artigo 11 , o qual determina que, enquanto não 37

correr o trânsito em julgado não se dará prosseguimento ao processamento de outras pretensões que venham a ser propostas a respeito do imóvel. O professor crítica esse artigo, sugerido que poderiam ser tomadas outras providências para conectar as ações, que causassem menores danos à razoável duração do processo.

➢ Aplicabilidade do CPC revogado: há também o problema quanto ao artigo 14 , que estabelece que será aplicado o rito 38

sumário à ação de usucapião especial urbano. Nota-se que o NCPC extinguiu o procedimento sumário, e em seu art. 1046, parágrafo primeiro , estabeleceu que as ações que se iniciaram 39

antes da vigência do NCPC e ainda não foram sentenciadas continuarão sendo regidas pelo procedimento sumário estabelecido no CPC/73. As ações posteriores à entrada em vigor do novo código, nesse entendimento, serão regidas pelo procedimento comum. Retornando ao CPC/73, destacam-se os artigos 941 e 942 , os quais dispõe acerca de quem deverá 40 41

ser citado, sob pena de nulidade. Importante citar os terceiros interessados (ex.: imóvel usucapiendo que tem o imóvel como crédito) e os confinantes. A respeito dos confinantes, há o artigo 246, §3º (CPC/15) que faz exceção à necessidade de intimar o 42

confinante no caso de condomínios edilícios. Há dúvida também com relação à aplicação do revogado art. 944 do CPC/73, que

Lei 10.257, Art. 11. "Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias 37

ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo.."

Lei 10.257, Art. 14. "Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o sumário."38

CPC/15, art. 1.046, § 1º. " As disposições da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos 39

procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência deste Código. "

CPC/73, art. 941. "Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se lhe declare, nos termos da lei, o domínio do imóvel ou 40

a servidão predial."

CPC/73, art. 942. "O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, requererá a citação 41

daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232. "

CPC/15, art. 246 § 3º. "Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados pessoalmente, exceto quando tiver por 42

objeto unidade autônoma de prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada. "

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traz a obrigatoriedade da intervenção do MP nos casos de usucapião urbana. No CPC vigente, deve ser verificada a existência do interesse público ou social para que intervenha o MP no processo, segundo o artigo 178, I e III. Sendo julgada procedente a ação, observar-se-á, se ainda aplicado o CPC/73 a causa, o artigo 945. Segundo ele, deverão ser satisfeitas as obrigações fiscais, o que requer atenção dos advogados para, no caso de hipossuficiência do autor, pedir a assistência judiciária. No caso dos autores que não estejam sob o pálio da justiça gratuita, as obrigações deverão ser pagas. Discute-se, nesse âmbito, se seriam devidos os valores e IPTU. O professor defende ser essa uma obrigação propter rem (acompanha a coisa, embora o autor não tenha a ela dado causa).

➢ Reconhecimento extrajudicial do usucapião: utra polêmica é com relação ao reconhecimento do usucapião por vis extrajudicial, que deve ser realizada pelo oficial do cartório de registro de imóveis do local em que o imóvel deveria estar registrado. Deverá haver, para ser solicitado tal reconhecimento, a ata notarial (cartório de notas), além disso, deverá ser o pedido instruído com a planta do imóvel, sendo ela subscrita pelos confinantes e confrontantes, bem como os eventuais terceiros interessados e do proprietário do imóvel. Tudo isso, de acordo com o artigo 1.071 do NCPC, o qual alterou o art. 216-A da Lei de Registros Públicos. O parágrafo 10 estabelece o requisito da não impugnação ao imóvel para se fazer o procedimento extrajudicial de usucapião. Por óbvio, não pode ser aplicada essa modalidade de reconhecimento para a ação coletiva, pois não existem áreas demarcadas, como dito anteriormente.

➢ Atenção: não se pode dizer que a jurisdição é exclusiva da justiça estadual, podendo inclusive ser ela do juiz federal (caso de interesse da união). Em Belo Horizonte, importante dizer, as ações deverão ser julgadas pela vara de registro públicos (estadual, competência territorial e funcional).

d. Indígena (lei 6.001 e art. 231, CF): as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são da União, eles apenas possuem usufruto, ou seja, o poder de usar e extrair utilidades para sua manutenção. Assim, eles não têm a propriedade de suas terras. A usucapião indígena está em desuso, visto que pressupõe posse em áreas de até

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25 hectares, por 10 anos e é possível aplicar a usucapião constitucional a eles, sendo esta mais favorável pelo menor tempo exigido.

e. Art. 68, ADCT: é denominada usucapião em favor das comunidades quilombolas. Segundo esse artigo, as comunidades quilombolas que se estabeleçam no tempo, em determinada área, tem a possibilidade de ser reconhecida em seu favor a propriedade. Posse imemorial: posse que não se sabe mais usando se deu o início. Pouco importa de que forma se deu essa posse ou seu tempo de duração. O elemento fundamental é que a posse satisfaça o direito de moradia, além de deter aspecto histórico. Ademais, importante que ao tempo da CF/88, as famílias já estivessem no local. Além disso, entende-se que ela incide sobre bens públicos.

Unidade 3: Direito de Propriedade • Conteúdo: o direito de propriedade é a manifestação por excelência dos

direitos reais. Esse direito subjetivo é trazido pela CF/88 como um direito fundamental, essencial aos interesses do sujeito. O texto constitucional também traz, por outro lado e em contraposição à ideia puramente liberal, a função social dessa propriedade.

• Extensão da propriedade e domínio: em regra, a propriedade compreende todos os atributos do domínio, principalmente no que concerne ao direito à disponibilidade da coisa, pois apenas o proprietário poderá exercê-lo. O domínio poderá ter extensão plena, se diferenciando dos demais direitos reais. Não obstante, como já visto, é possível ser proprietário e não exercer o domínio em sua forma plena.

• Características: duas características fundantes do direito de propriedade são a presunção relativa de sua plenitude, bem como a exclusividade. Elas estão dispostas no artigo 1231, CC . Ademais, a propriedade poderá 43

ser incorpórea e imaterial (intelectual), a despeito da posse. Porém, o professor crítica a preferência do Código Civil em tutelar os bens corpóreos e principalmente os imóveis, sendo que a propriedade incorpórea é tutelada de forma mais completa por legislação extravagante. Dessa forma, via de regra, a propriedade é um direito de propriedade pleno e exclusivo, bem como perpétuo (não sendo condicionado, via de regra, por termo ou condição resolutiva). Excepcionalmente, contudo, é

CC: Art. 1.231. "A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário."43

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possível a propriedade ser ad tempus, ou resolutiva, sendo um exemplo de exceção à perpetuidade a alienação fiduciária, como veremos adiante. Ressalta-se que, nesse tipo de contrato, o carro alienado é de propriedade banco, porém essa propriedade se extinguirá pelo adimplemento do indivíduo (propriedade resolutiva).

• Funções: apesar da propriedade trazer consigo várias faculdades, isso não significa que ela possa ser usada de qualquer maneira, pois ela também tem funções e funcionalidades. A primeira função é a interna, a qual consiste na satisfação dos interesses individuais do proprietário. Porém, essa função não pode gerar danos a terceiros, devendo respeitar a função externa (alteridade). Em outras palavras, a função externa deve ser conjugada com a interna. O artigo 1228, CC trata das faculdades do 44

proprietário. O sujeito pode exercer ou não as faculdades do domínio, tendo a possibilidade de escolha. Porém, se decidir exercer um desses atributos, não poderá exercê-lo de forma ilimitada, mas sim observando regras e valores jurídicos, bem como as normas urbanísticas. O parágrafo primeiro do referido dispositivo traz essa ideia, de atendimento também 45

às finalidades sociais. Destarte, restam prejudicados os comportamentos (ou atos) emulativos, que se definem como aqueles comportamentos que tem objetivo único de causar dano a outrem, não buscando a satisfação de um interesse legítimo. Em conclusão, entende-se que a doutrina moderna configura a propriedade como objeto de uma relação jurídica complexa, envolvendo também terceiros.

• Solo e espaço aéreo: a propriedade do solo e do espaço aéreo é do proprietário do imóvel. O que a constituição indica, por outro lado, é que as riquezas derivadas destes serão da União. Nessa lógica, o art. 1229 (CC) traz o limite à propriedade do solo e do espaço aéreo, sendo esse o limite da utilidade ou não prejuízo aos legítimos interesses de terceiros. Porém, a despeito disso, havendo interesse social, mesmo que prejudique os proprietários de determinada forma, poderá se instalar a servidão administrativa, que se dará, em vários casos, mediante contraprestação onerosa. Ex.: aviões que passam muito próximos aos prédios no centro de São Paulo, devido à localização do aeroporto, causando barulho e incômodo aos moradores.

CC. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que 44

injustamente a possua ou detenha. (...)

CC. Art. 1.228. (...) § 1º - O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais 45

e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. (...)

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• Abuso do direito de propriedade: a teoria dos atos emulativos (responsabilidade relativa) está superada, pois não é necessária a vontade de causar dano. O CC, porém, parece adotar essa teoria no artigo 1228 , 46

parágrafo 2º, por trazer a palavra "intenção" disposta em seu texto. Não obstante, atualmente, adota-se a perspectiva objetiva do dano, abarcada pelo código no artigo 187, tratando-se do abuso de direito, que será também aplicado à propriedade. Esse abuso se caracteriza pelo exercício de um direito que extrapola limites. Esses limites, destarte, não são definidos apenas por normas, mas também por valores e princípios.

• Desapropriação: é a negativa do direito de propriedade, mas não necessariamente ela será uma sanção. - Desapropriação clássica: o artigo 1228, § 3º postula que o indivíduo 47

poderá perder involuntariamente a propriedade pela necessidade pública ou pelo interesse social. Isso se fundamenta na indisponibilidade do interesse público, bem como na supremacia desses interesses, sendo tais os dois pilares do Direito Administrativo. Porém, na hipóteses de desapropriação clássica, deverá ocorrer uma sub-rogação, ou seja, "sairá a coisa e entrará o dinheiro", devendo o último servir como indenização ampla àquele que perdeu o bem, respeitados os preceitos do art. 944, CC.

- Desapropriação sanção: a desapropriação também poderá ser sanção para o comportamento abusivo com relação à propriedade. Essa espécie de desapropriação decorre do descumprimento da função social da propriedade e se estabelece pelo artigo 8º do Estatuto das

CC. Art.1228, (...) § 2º - São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados 46

pela intenção de prejudicar outrem.

CC. Art.1228, (...) § 3º - O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade 47

pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.

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CC: Art. 1.229. "A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que

sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las."

CC: Art. 187. "Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons

costumes. "

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Cidades (lei 10.257/01). Nesse caso, antes de se proceder a 48

desapropriação, o poder público deverá fazer uso de outros mecanismos para fazer valer a função social do imóvel, como parcelamento e edificação compulsórios e cobrança de IPTU progressivo. Nesses casos haverá também indenização, mas não ampla, já que parte dela será em dinheiro e outra parte paga em títulos da dívida pública (resgatáveis em até 10 anos), gerando pagamento abaixo do valor de mercado. Atenção ao fato de que os bens públicos também estão sujeitos à desapropriação, caso não haja cumprimento da função social. A legislação permite que a união desaproprie bens dos estados e dos municípios e que os estados desapropriem bens dos municípios. Nesse caso, não se trata de hierarquia entre os entes, mas sim, de alcance dos interesses.

- Art. 1228, parágrafo 4º : é considerada como outra modalidade de 49

desapropriação, podendo ser pública ou privada. Nesse caso, deve o imóvel ser objeto de pretensão reinvindicatória e consistir em extensa área (conceito jurídico indeterminado), além de ser objeto de posse de boa fé exercida por um número considerável de pessoas (novamente, um conceito jurídico indeterminado), para satisfazer interesses sociais/econômicos relevantes, que devem ser entendidos assim pelo juiz. Ademais, tal posse deve ser mansa, pacífica e sem oposição por cinco anos. Ressalta-se a similaridade com a usucapião coletiva, porém, há muitos elementos que não estão presentes nesse caso (ex.: composse, hipossuficiência do indivíduo e etc). Não se pode , porém, confundir com o usucapião, visto que, a modalidade do artigo 1228, §4º autoriza a serem desapropriados os bens públicos, bem como será ela onerosa, ou seja, mediante indenização, de forma distinta da usucapião. Ver enunciado 308 . 50

Lei 10.257, Art. 8º. Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de 48

parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública.

CC. Art.1228, (...) § 4º - O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na 49

posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5º - No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.

Enunciado 308, IV Jornada de Direito Civil – Art.1.228. A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação 50

judicial (art. 1.228, § 5°) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.

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• Requisição: ato administrativo vinculado em que o poder público ordena perda temporária da posse direta do proprietário da coisa, não necessariamente implicando na perda do direito de propriedade. Pode haver indenização posterior, porém apenas se houver dano. Atenção ao fato de que o 1228, § 3º comete equívoco ao equiparar a requisição e a desapropriação, por se tratarem de institutos totalmente diferentes. A requisição pode ser judicial ou apenas administrativa. Ademais, não cabe usucapião na requisição, pois há o dever de restituição, gerando a posse precária. Um exemplo de requisição seria, após chuva forte, o poder público requisitar o imóvel de um indivíduo para abrigar as vítimas.

* Questionamentos do professor: se não for paga indenização as pessoas podem ser removidas? Qual a consequência do não pagamento da indenização? Essa previsão se aplicaria em favor de pessoas que já tivessem outra propriedade? O que é o imóvel reivindicado? É causa de pedir ou pode ser objeto de contestação? Pra que serve esse instituto? Procurar nos enunciados, jornadas e textos do Dropbox.

• Comparação - usucapião e art. 1.228, § 4º:

• Aquisição da propriedade: - Ao contrário do que muitos pensam, o contrato de compra e venda, por

si só, não gera a propriedade imobiliária, mas apenas estabelece a obrigação/compromisso de pagar e de se transferir o domínio, não tendo o contrato efeito translativo (art. 481, CC). Ademais, não é apenas o contrato de compra e venda que gera a propriedade, mas a morte, e consequente herança, também. O casamento e a união estável também poderá gerar aquisição de propriedade, dependendo de seu regime. Porém, essas não são as preocupações essenciais desse semestre.

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(A) Imobiliária: - Registro do título aquisitivo (art. 1245 - CC): o registro é constitutivo

do direito de propriedade. Assim, sendo o registro causal (importando a causa aquisitiva), e a causa reputando-se inválida, o registro também o será, diferente do que ocorre no modelo alemão. O registro, dessa forma, traz presunção relativa de propriedade. Sendo o registro portador de algum vício, ele será anulado ou retificado, segundo o artigo 1247, CC. Ex.: depois do registro imobiliário, a esposa, que não deu anuência, questiona a validade do contrato. Nesse caso o registro imobiliário será desconstituído, pois contrato será inválido.

→ Matrícula (art. 176 da lei 6.015/73): é a identificação da coisa. Todos os imóveis devem ter uma matrícula, porém existem imóveis que não a possuem. O STJ entende que, quando não há matrícula, o imóvel presume-se privado, devendo o poder público provar sua titularidade. → Registro (art. 167, I e 172 da lei 6.015/73): em sentido amplo, é um serviço público com a principal função de dar eficácia e oponibilidade, por meio da publicidade. Além disso, ele irá, via de regra, constituir direitos. Porém, ele também poderá ter efeito diverso, como, por exemplo, no caso de morte, o registro tem efeito apenas declaratório. O registro deve estar vinculado à um ato/fato anterior, mantendo-se, no documento, a sequência lógica dos

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CC: Art. 481. "Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro."

CC: Art. 1245. " Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.

§ 1º - Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel.

§ 2º - Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel."

CC: Art. 1247. "Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.

Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente."

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registros (em sentido estrito) já feitos e averbações. O registro em sentido estrito é a identificação de gravames, restrições e titularidades do imóvel. O artigo 167, da Lei de Registros Públicos, em seu inciso I, traz um rol exaustivo dos documentos que poderão ser registrados. → Averbação (art. 167, II da lei 6.015/73): averbações são modificações, alterações de elementos do registro. O que é averbável está disposto no artigo 167, II, em rol taxativo. Ex.: modificação do número do imóvel (nº 4). → Títulos registráveis (art. 221 da lei 6.015/73): → Registro Torrens (art. 277 a 288 da lei 6.015/73): pode ser considerado uma exceção à ideia de títulos causais, adotada pelo direito nacional. Ele é judicializado e recai apenas sobre imóveis rurais, de acordo com o artigo 277. O artigo 278 apresenta os requisitos para o registro Torrens, os quais tornam quase impossível sua aplicação prática. Nesse caso, nulidades envolvendo a causa, não irão afetar o registro, o que demonstra exceção ao artigo 1.247 do CC. → Súmulas 84, 239 e 308 do STJ X 1417 e 1418 do CC

- Acessões: tecnicamente, poderá ter dois sentidos, um de continuidade dos caracteres da posse e outra como forma de aquisição de propriedade originária. No caso, trabalharemos com a última acepção. A acessão se dará por acréscimo de volume, tamanho ou valor da terra. Diferencia-se da benfeitoria, que é o acréscimo em construção já existente, um melhoramento. A acessão, lado outro, é um acréscimo que inova o solo. Ela poderá ser natural (artigo 1248, I a IV, CC) ou artificial (artigo 1248, V, CC), e suas formas se definem no artigo 1248, CC. Tratando das acessões artificiais urbanas, que se dão por construção, remonta-se ao direito romano e à máxima "superficies solo cedit", em tradução livre, toda construção pertence ao dono do terreno. Segundo o artigo 1253 , toda construção/plantação presume-se feita 51

pelo proprietário, salvo prova em contrário, travando exceção em relação ao direito romano.

CC. Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se 51

prove o contrário.

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→ Construção no terreno com matéria prima alheia: o artigo 1254 traz a situação em que se constrói no terreno com matéria 52

prima alheia. Nesse caso, o proprietário do terreno irá adquirir a propriedade do que foi construído com material de terceiro, mas deverá ser indenizado o dono da matéria prima. Se há má fé, além da indenização, serão pagos perdas e danos. → Construção com material próprio em terreno alheio: o artigo 1255 traz situação diversa, de construção com material próprio em 53

terreno alheio. Nesse caso, continua sendo seguida a regra geral (o acessório segue a sorte do principal), e a construção será do dono do terreno. Se o indivíduo que construiu estiver de boa fé, haverá indenização pelo que foi gasto. Deve-se atentar ao parágrafo primeiro, que inverte a acessão (principal segue a sorte do acessório) no caso da construção preencher dois requisitos: o primeiro seria exceder consideravelmente o valor do terreno (conceito jurídico aberto) e o segundo seria a boa fé (qual é a natureza da boa fé: subjetiva ou objetiva?). Nessa hipótese, não havendo acordo entre as partes, a indenização deve ser fixada judicialmente. → Aquisição por esbulho parcial: os artigos 1258 e 1259 trazem 54 55

outra forma, dentro da acessão, de aquisição da propriedade, que o professor denominou "aquisição por esbulho parcial". Esse caso trata da situação em que uma construção é feita em solo próprio, porém adentrando parcialmente em solo alheio. Os requisitos para o invasor adquirir a propriedade são: (1) invasão até a 20ª parte (5%); (2) valor da construção exceder o valor do terreno; (3) boa fé. Essa propriedade só será adquirida, preenchidos os requisitos, mediante

CC. Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a 52

propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.

CC. Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e 53

construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo

CC. Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte 54

deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção

CC. Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade 55

da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.

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pagamento de indenização que represente o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente, para evitar o enriquecimento injustificado. Não sendo observado o terceiro requisito, a saber, a boa fé, o adquirente de má fé poderá também adquirir a propriedade da porção invasora, nos termos do parágrafo único do artigo 1258, CC. Nesse caso, porém, deverá ser pago 10x o valor da indenização. Esse dispositivo pretende proteger os terceiros de boa fé que vierem, por exemplo, a adquirir um apartamento construído por construtor de má fé.

- Usucapião: já estudado em unidades anteriores. (B) Mobiliária:

- Tradição: a tradição é causal. Assim, se a causa for invalidada, poderá ocorrer também invalidação da tradição, segundo o artigo 1268, § 2º . 56

Não obstante, no caput do art. 1268, está disposta justamente a 57

situação oposta, estabelecendo exceção ao § 1º, no caso da oferta ser pública. Outras exemplos de exceções ao caráter causal são a fraude contra credores, a simulação e o pagamento indevido. Ela se divide em:

a. Real: entrega da própria coisa objeto da propriedade; b. Ficta: entrega de algo que simboliza a coisa. Ex.: chave de um

carro; c. Presumida: pode se presumir pela natureza do negócio,

independente da entrega da coisa ou de algo que represente a coisa.

c.1) Brevi manu: não há disposição fática e física (entrega) pois a coisa já se encontra na esfera de poder do adquirente. Ex.: A empresta livro a B, porém B gosta tanto do livro que A resolve dar a ele de presente. Como o livro já está em posse de B, não precisará da tradição. c.2) Longa manu: tradição que se presume pela própria extensão do objeto, desnecessária a entrega específica do bem. Ex.: vende-se um sítio com "porteira fechada". Não é necessário que se entregue cada coisa que está no sítio, como elas já estão no local e se presume que elas serão do adquirente, pela natureza do negócio.

CC. Art. 1.268. (...) § 2º - Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo. 56

CC. Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, 57

em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. (...)

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c.3) Constituto possessório: entende-se como o inverso da brevi manu, pois o alienante se mantém na posse da coisa mesmo deixando de se proprietário. Ex.: A vende carro para B, mas pede 5 dias antes de entregar o carro. O carro não mais é dele, mas estabelece-se comodato.

- Usucapião: a usucapião também caberá para bens móveis. Porém, nem todas as coisas móveis estão suscetíveis ao usucapião, mas apenas as disponíveis, do ponto de vista público. Assim, bem como discutido quanto à usucapião de coisas imóveis, o que importa não é a titularidade, mas a afetação do bem. São aplicadas, no caso das coisas móveis, várias disposições em comum da usucapião imobiliária, segundo o artigo 1262 , CC. As modalidades de usucapião mobiliária 58

são: (1) Extraordinária (art. 1261, CC): tempo (5 anos) + posse (2) Ordinária (art. 1260, CC): justo título + boa fé + tempo (3 anos) +

posse mansa pacífica e incontestada, com animo domini. - Ocupação (1263, CC ): tecnicamente, se traduz em forma aquisitiva 59

originária de propriedade de coisas móveis. O fundamento é o apossamento com vontade de ser dono, com relação a coisa que não tem dono, independentemente de prazo. A expressão sem dono, no caso, pode ser entendida como algo que o antigo titular não mais deseja, havendo abandonado a coisa. Há possibilidade de estender ocupação para bens imóveis? Inicialmente, parece que não, já que há o registro, o qual é constitutivo de direito. No entanto, o artigo 1276 traz 60

essa possibilidade no caso imóvel urbano que o proprietário não tem mais intenção de manter em seu patrimônio e não se encontra em posse de outrem, poderá o poder público adquirir sua propriedade. Atenção ao parágrafo 2º , que traz a presunção absoluta (certeza para 61

o direito, e não na realidade dos fatos) do "abandono" caso não sejam pagos os tributos referentes ao bem. Porém, o professor aponta a inconstitucionalidade desse dispositivo, pois isso configuraria verdadeiro

CC. Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244. 58

CC. Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa 59

por lei.

CC. Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que 60

se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. (...)

CC. Art, 1.276. § 2º - Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, 61

deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.

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confisco. Na prática, tal disposição não se aplica, mas serão adotados outros mecanismos, como a notificação e a inserção no cadastro da dívida ativa.

- Achado do tesouro (art. 1264, CC ): para o legislador, tesouro é o 62

depósito oculto de coisas móveis que tem valor econômico, não sendo possível encontrar o titular, pois ele próprio teve como objetivo esconder o bem. Tais bens serão divididos entre o proprietário do local no qual foi encontrado o "tesouro" e o descobridor. Ademais, o achado precisa ser casual, e não planejado.

- Especificação (art. 1269/1271, CC): modalidade de ato-fato jurídico. Ato-fato jurídico é o comportamento humano que produz resultados, ainda que esse resultado não seja desejado ou advenha de sujeito que não tenha capacidade de exercer essa vontade, sendo o olhar do direito voltado para ele (resultado) apenas. A especificação é forma de aquisição originária de propriedade em razão de trabalho ou matéria prima alheia, em todo ou em parte, gerando espécie nova, quando não for possível o retorno ao estado anterior. O parágrafo 2º, do artigo 1270, traz a desnecessidade de boa fé nos casos em que o valor da nova espécie extrapole consideravelmente o da matéria prima. Ex.: sujeito capaz (ou incapaz) invade o ateliê da vizinha e elabora uma obra de arte de valor altíssimo. Essa obra será de titularidade do invasor, mesmo que ele tenha agido ilicitamente. O professor questiona: é possível estender esse instituto aos casos que no envolvem manifestações artísticas?

- Confusão, comistão e adjunção (art. 1272/1274): a confusão é a 63

reunião de substâncias móveis e líquidas pertencentes a diversos donos. O comistão e a adjunção, por sua vez, são misturas de coisas sólidas. Porém, na adjunção, é possível separar as diferentes coisas (ex.: anel de brilhante, sendo o metal de um indivíduo e a pedra e outro) enquanto no comistão, não (ex.: parede na qual um colaborou com o tijolo e o outro com cimento).

• Tipos de propriedade: (1) Resolúvel: propriedade que apresenta em seu título termo extintivo

(subordina o exercício do direito a um evento futuro e certo, ex.:

CC. Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o 62

proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente.

no código é utilizada a palavra comissão, porém, o correto é comistão.63

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morte) ou condição resolutiva (subordina a aquisição ou continuidade do exercício do direito a um evento futuro e incerto).

a. Retrovenda (art. 505, CC): cláusula especial (condição, pois futura e incerta) que pode ser estabelecida no contrato de compra e venda, pela vontade das partes. Ela estabelece que, no prazo decadencial de três anos, o vendedor poderá recobrar o imóvel vendido. Não sendo manifesta a vontade de reaver o bem no prazo estipulado, a propriedade perde seu caráter resolúvel. Atenção ao fato de que o comprador será proprietário e poderá inclusive vender a coisa a terceiros. Ressalte-se, porém, que a condição resolutiva continuará válida para o terceiro, assim como era para o primeiro comprador, segundo art. 1359 . O professor 64

entende que é possível aplicar a retrovenda aos bens móveis, desde que não seja este bem consumível.

b. Venda a contento sob condição resolutiva (art. 509, CC): há entrega da coisa (tradição), porém subsiste a possibilidade de devolução, caso o indivíduo não esteja satisfeito com a coisa comprada. Um exemplo é o prazo legal de 7 dias, estabelecido no CDC, no caso de compras fora do estabelecimento (sites na internet).

c. Doação com cláusula de reversão (art. 547, caput, CC): o doador poderá, no instrumento contratual, estipular a reversão ao seu patrimônio, do bem doado, caso ocorra determinado evento futuro e incerto (ex.: cláusula que dispõe que se o donatário falecer antes do doador, o bem doado voltará ao doador). Impende destacar

CC. Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos 64

os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.

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CC: Art. 505. "O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas

do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias."

CC: Art. 509. "A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o

adquirente não manifestar seu agrado."

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que essa cláusula de reversão não impede a venda do bem doado. Nesse sentido, não havendo registro dessa condição, incide o parágrafo único do 547, CC. Não obstante, sendo a propriedade resolúvel, ela já nasce com essa disposição, o que torna possível ao doador reaver o bem, nos termos da parte final do artigo 1359, a qual dispõe que ele pode reinvindicar a coisa em poder de quem a possua ou detenha.

d. Fideicomisso: será melhor estudado no direito sucessório, por se tratar de disposição sucessória (presente no testamento). Ex.: com a morte, o bem ficará para o herdeiro A, porém, em razão de termo (após três anos) ou em razão de condição (formatura em curso de ensino superior), esse bem será transferido a outro indivíduo. Há, dessa forma, possibilidade de transmissão sucessiva, que inicia-se com A e pode passar para B, por exemplo. Não deve ser confundido com o usufruto (meio pelo qual se transfere a propriedade a X, porém ficando ela aos cuidados de Y) pois neste ocorre o desdobramento da posse, sendo que um indivíduo fica com a posse direta e o outro indireta, e no fideicomisso não há desdobramento.

e. Fiduciária (art. 1361 a 1368-A): o banco terá a propriedade, enquanto o indivíduo será mero proprietário. Assim, caso não seja cumprido o contrato, a coisa servirá como garantia e voltará ao banco, que deverá, obrigatoriamente, vender a coisa para apurar seu crédito (art. 1364 e 1365, CC). O artigo 1361 faz menção à coisa móvel, não obstante, nada impede que bens imóveis sejam alvo dela, sendo a alienação fiduciária de imóveis tratada por legislação extravagante (lei 9.514/97). Outro aspecto importante é tratado pelo artigo 1364 do código civil, o qual dispõe que, se constituído em mora o devedor, ao banco cabe retomar a posse direta do bem, por busca e apreensão. Após a venda (judicial ou não) se sobrar dinheiro, o montante voltará ao devedor. Mas se ocorrer o inverso, e ficar faltando dinheiro, o banco continuará

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CC: Art. 547. "O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário.

Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro"

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tendo direito ao crédito, mas não mais como garantia. Nesse caso, há aplicação do instituto adimplemento substancial (ou inadimplemento mínimo), quando, por exemplo, o devedor paga 34 das 36 parcelas. Nesses casos, é permitido que o banco retome o bem?

f. Superficiária ou direito real superfície (art. 21 a 27, lei 10.257 e art. 1369 a 1367 do CC): inicialmente, cabe ressaltar o conflito aparente de normas entre o estatuto da cidade e o código civil. Assim, apesar de ser o CC norma posterior, a lei 10.257 é mais específica. Para resolver esse problema, segundo o professor, o ideal será analisar o caso concreto. Assim, se a preocupação a ela relativa for urbanística, o mais interessante seria aplicar o estatuto da cidade, lado outro, se for econômica, seria melhor a aplicação do CC. Segundo esse instituto, poderá haver concessão do proprietário do terreno a outrem para explorar economicamente a superfície. No caso de extinção da concessão, de acordo com o art. 1375, o proprietário terá propriedade plena sobre o terrenos e sobre construções/plantações (o acessório segue a sorte do principal), porém, sendo estipulada cláusula contratual em contrário, ela será aplicada. O artigo 1369 dispõe que deverá ser esse contrato por tempo determinado, por outro lado, o artigo 21 do Estatuto das Cidades traz a possibilidade de ser este contrato indeterminado. No caso de ocorrer desapropriação da propriedade, haverá dever indenizatório perante ambos (proprietário e superficiário) no percentual do valor que corresponder ao direito real de cada um. No entanto, o legislador não define como será feita essa divisão. Dependendo da situação, um ou outro poderá ter maior prejuízo: no caso da desapropriação ocorrer, por exemplo, no 2º ano do contrato, será o superficiário o maior prejudicado, tendo em vista a impossibilidade do superficiário recuperar seu investimento. Outra situação é na qual a desapropriação ocorre no 19º ano do contrato, entendendo-se que o superficiário não terá prejuízo, mas apenas deixará de ganhar algo, enquanto o proprietário será mais prejudicado. Ex..: Clube Atlético Mineiro detém o terreno no qual é explorado por terceiro (Multiplan) uma atividade econômica (Shopping center).

(2) Ad tempus: diferente da propriedade resolúvel, na qual o termo ou condição já são previamente conhecidos, na ad tempus não é

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conhecida previamente a hipótese da extinção no título. Ela é superveniente, legal e não está contida no título da propriedade.

a. Revogação da doação por ingratidão (art. 555): uma das hipóteses é a de homicídio do doador pelo donatário, nesse caso, a doação poderá ser revogada. Porém, se houver a venda do bem após a doação pelo donatário, o terceiro não pode sofrer os efeitos da evicção, ou seja, é proprietário perfeito, segundo o art. 1360 . 65

O doador (caso sobreviva) ou seus herdeiros (art. 560) poderá, no entanto, receber perdas e danos por aquele que matou ou tentou matar o doador. Esse instituto exerce efeitos ex nunc.

b. Exclusão da sucessão por indignidade (art. 1814 e 1817): hipótese a ser melhor estudada no direito das sucessões, porém, sem linhas gerais, acontece quando os herdeiros ou legatários cometem atos criminosos ou reprováveis contra o autor da herança (questão moral e lógica). Os atos que ensejam exclusão são taxativamente elencados no artigo 1.814 do Código Civil (atos contra a vida, a honra e a liberdade do de cujus ou de seus familiares).

(Fim da matéria para a segunda prova)

Unidade 4: Direitos de Vizinhança • Uso anormal da propriedade X exercício abusivo do domínio: Segundo

o professor, há um equívoco no nome da seção, pelo uso da palavra "anormal", que é, inclusive, preconceituosa. Na realidade, a preocupação é quanto à abusividade do direito de propriedades e não à sua normalidade. Ademais, não necessariamente se restringe ao direito de propriedade, como diz o título, mas alcança a posse e a detenção. O legislador trata da relação de vizinhança envolvendo nexo de causalidade, não apenas por atividade praticada pelo vizinho "de porta".

• Interferências prejudiciais: a coexistência de pessoas em um espaço comum gera conflitos e interferências, nesse sentido, o código, em seu

CC. Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à 65

sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor

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CC: Art. 555. "A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo."

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artigo 1.278, caput, traz a possibilidade de ser exercida tutela inibitória pelo indivíduo incomodado. O código porém, só atua com relação àquelas interferências que são prejudiciais, elencando o legislador três bens objetos de tutela, a saber, saúde, segurança e sossego. As interferências prejudiciais são definidas pelo artigo 1277, parágrafo único, que traz parâmetros como a localização do prédio e os limites ordinários de tolerância (suportabilidade), ou seja, deverá ser aplicada a razoabilidade, ponderando também aquilo que é esperado daquela região/zona (ex.: no centro da cidade espera-se grande movimento de pessoas e alto nível de poluição sonora, em contrapartida, em um condomínio fechado, espera-se maior silêncio e tranquilidade). - Interesse público: não se aplica a tutela inibitória quando a interferência

prejudicial seja fundada no interesse público (supremacia e indisponibilidade do interesse público). Apesar disso, poderá ser atribuída indenização para compensar o dano causado pela intervenção e/ou para punir, no caso de excessos. Ressalta-se que, nesse caso, é colocado o dano como foco, ou seja mesmo que seja atitude lícita, se causar dano, caberá a indenização

- Art. 1279: ainda que subsista decisão judicial que exija a tolerância da interferência, o vizinho poderá exigir a redução ou eliminação da interferências, se possível. Porém, deve ser bem interpretado esse artigo, pois, nesse caso, não há relativização da coisa julgada, mas o que se propõe uma análise da sentença de acordo com o suporte fático que a amparou. Assim, observadas mudanças fáticas ou mesmo legislativas, é possível o pedido de eliminação da interferência. Exemplo: indivíduo que mora próximo a um bar, reclama judicialmente da interferência. O juiz, por entender que a região é central e já seria esperado maior nível de barulho na região, opta pela improcedência da ação. Posteriormente foi aprovada lei municipal definindo que após as 22h não é permitido determinado nível de barulho nas ruas. Assim, o indivíduo que teve sua pretensão negada poderá tentar reverter a situação.

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CC: Art. 1279. "Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem

possíveis."

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• Árvores limítrofes (art. 1282 e ss.): há presunção relativa de que pertence a árvore localizada na linha divisória a ambos, caso não haja acordo. Há casos específicos, como, por exemplo, no caso do tronco de uma árvore estar localizado em um imóvel e seus galhos se expandirem para outro. Assim, segundo o artigo 1283 , é possível que o dono do imóvel invadido 66

corte tais galhos. O legislador, porém, não autoriza a percepção dos frutos pelo vizinho, a não ser quando os frutos caírem no seu terreno particular naturalmente, de acordo com o artigo 1284 . Problema: o que acontece 67

se os frutos caírem em terreno que não é particular? Eles pertencerão ao dono da árvore.

• Passagem forçada (art. 1285): no caso do dono do imóvel não ter acesso à via pública (imóvel encravado), subsiste o direito potestativo de constranger os seus vizinhos para que eles lhe concedam a passagem. Não havendo acordo, deve ser realizado pedido judicial. Nesse caso, será assegurada indenização ao vizinho incomodado, devendo ela ser estabelecida de acordo com o art. 944 do CC, considerando-se também a desvalorização do imóvel por essa condição (lucro cessante). É levantada também a questão do cabimento do dano moral. Apesar do professor não acreditar ser cabível, via de regra, há possibilidade de pleitear os danos morais. É obrigação propter rem, ou seja, o direito/ônus acompanha a coisa, e não quem tenha dado causa ao fato.

• Cabos e tubulações (art. 1286): os particulares não podem se opor à instalação do serviço público se não houver outra forma de realizar obras de interesse público (impossibilidade técnica e econômica). Isso se justifica pela indisponibilidade dos interesses públicos e pela supremacia desses interesses sobre o de particulares. Assim, o proprietário poderá ser constrangido a permitir o acesso à seu imóvel e a subsequente instalação dos canos e tubulações, via de regra, no subsolo, mas podendo ocorrer também no solo. Nesse caso, deverá ser feito pagamento de indenização decorrente não meramente da passagem da infraestrutura, mas caso subsista um dano. Na hipótese de ser devida, a indenização pode, inclusive, abarcar a desvalorização da área remanescente. Nesse caso, impede destacar que não se trata de indenização civil, mas de um dever legal de indenizar. Interessante a disposição do parágrafo único, a qual

CC. Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical 66

divisório, pelo proprietário do terreno invadido.

CC. Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade 67

particular.

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permite ao particular exigir que sejam as instalações feitas de modo menos gravoso ou que sejam realizadas em outro local, desde que haja viabilidade técnica, devendo o particular arcar com a diferença do custo, se houver.

• Águas (art. 1288 e ss.): é importante esclarecer que não há preocupação ambiental por parte do código civil, mas ele apenas considera a água como um potencial gerador de conflitos entre vizinhos. O artigo 1292 traz a possibilidade de construção de barragens ou represamentos pelo proprietário, o que não gera ilícito. Porém, se essa obra impedir o igual acesso, quantitativo e qualitativo, entre vizinhos, poderá ser obrigado o indivíduo a demolir as construções, bem como indenizar por perdas e danos os prejudicados, tendo em vista o artigo 1312 do código. Além 68

disso, há diferença de regramento quanto ao curso natural e o curso artificial das águas. O artigo 1288 dispõe acerca do curso natural, e estabelece que o fluxo natural não pode ser impedido, bem como não pode agravar aqueles que, topograficamente, estão em situação de inferioridade. Já o 1289 se refere ao curso artificial, e retrata situação inversa. Novamente, atenção ao fato que a indenização mencionada pelo artigo somente caberá havendo dano. O professor critica a constitucionalidade do artigo 1291 , porque o legislador divide a água 69

em duas categorias: a água indispensável e a água "dispensável". Quanto à primeira, não se autoriza a poluição, mas quanto à segunda, basta que o poluidor pague indenização. Isso remonta o princípio do poluidor pagador, que é absurdo, tendo em vista a dificuldade ou impossibilidade de retorno ao status quo.

• Direito de tapagem - limites entre prédios (art. 1297): os muros, cercas e valas pertencem, em regime de condomínio, aos donos de ambos os imóveis, o que pode gerar conflitos entre os vizinhos. O caput do artigo 1297 traz quatro ideias fundamentais: (1) a legitimidade do proprietário e do possuidor (acrescido pela doutrina, apesar de não disposto no código) para propor ações de demarcação; (2) existência de direito potestativo; (3) as formas de divisão são cercas, muros, valas e tapumes e (4) os custos da divisão serão igualmente divididos entre os interessados. O parágrafo 1º traz a ideia da presunção legal de condomínio por meação das divisórias.

CC. Art. 1.312. Todo aquele que violar as proibições estabelecidas nesta Seção é obrigado a demolir as construções feitas, 68

respondendo por perdas e danos.

CC. Art. 1.291. O possuidor do imóvel superior não poderá poluir as águas indispensáveis às primeiras necessidades da vida dos 69

possuidores dos imóveis inferiores; as demais, que poluir, deverá recuperar, ressarcindo os danos que estes sofrerem, se não for possível a recuperação ou o desvio do curso artificial das águas.

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Ademais, as divisões devem respeitar os usos e costumes da região (ex.: no meio rural, são mais comuns as cercas do que os muros). Segundo o artigo 1307, o vizinho poderá realizar alteamento (aumentar a altura do muro) devendo aquele que deseja aumentar o muro arcar com todas as despesas. A altura desse muro deverá ser estabelecida por regras locais, no entendimento do STJ (ex.: Resp 34864) e deverá atender aos usos e costumes. Com relação à preservação do muro ou sua reconstrução, a doutrina majoritária entende que ambos deverão arcar com os valores. Se apenas um pagar, ele poderá exigir do vizinho o valor da metade. Lado outro, a doutrina minoritária entende, por interpretação do artigo 1305, que só será devida a quota parte do vizinho que não pagou pelo muro se ele o travejar, ou seja, se ele realizar alguma obra ou fazer uso, de qualquer forma, do muro divisório (observando as limitações trazidas pelo artigo 1308, CC). O artigo 1311 dispõe regra óbvia, vez que veda a construção de obras que podem gerar desmoronamento, deslocação de terra ou comprometa a segurança do outro imóvel. Atenção, pois é necessário lembrar que a responsabilidade no caso do direito de vizinhança é objetiva.

• Direito de construir (art. 1299 e ss.): o artigo 1299 dá a impressão de que apenas o proprietário poderá construir, porém entende-se que o possuidor também teria esse direito subjetivo, o qual encontra diversos condicionamentos. Os artigos 1301 (meio urbano) e 1303 (meio rural) tratam das distâncias mínimas entre as construções, visando a garantir segurança, intimidade e privacidade (ver Resp 6501, Resp 229164, Resp 34864 e súmula 120 STF ). O artigo 1302 postula que o proprietário pode 70

exigir que se desfaça a construção errada, no prazo decadencial de ano e dia (posse nova). No parágrafo único do artigo, está disposto que poderá ser perdida a luz natural pela construção de outro prédio, mas aquele que foi prejudicado terá direito de levantar a sua edificação ou contramuro. Para evitar essa situação, já existe possibilidade de contrato de servidão de luz, na qual se estabelece a limitação de construções que possam prejudicar a percepção de luz natural do outro edifício. Ademais, pelo artigo 1311, resta proibida qualquer obra que gere risco ou dano a outrem, devendo ser feitas obras acautelatórias para corrigir eventuais problemas. O artigo 1313, por sua vez, dispõe acerca das hipóteses nas quais o indivíduo pode entrar no imóvel do vizinho, suprindo uma eventual

Súmula Nº 120 (STF) - Parede de tijolos de vidro translúcido pode ser levantada a menos de metro e meio do prédio vizinho, não 70

importando servidão sobre ele.

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negativa desmotivada do proprietário ou ocupante. É um direito potestativo, que pode ser exercido quando necessária reparação, construção, reconstrução ou limpeza da casa ou muro, ou quando coisas suas se encontrarem no imóvel do vizinho, casualmente. Nessa hipótese, sendo provocado dano, caberá indenização.

Unidade 5: Condomínio • Conceito: a rigor, qualquer coisa pode ser suscetível de condomínio (bens

móveis e imóveis). Em linhas gerais, é uma forma de manifestação de domínio, a qual pressupõe pluralidade subjetiva, e que pode existir pela vontade dos sujeitos, por determinação legal ou pela natureza da coisa. É uma exceção à exclusividade da propriedade e sua constituição se dá mediante escritura pública.

• Natureza jurídica: é um ente despersonalizado, o qual não se confunde com os próprios condôminos. Apesar disso, tem capacidade patrimonial, bem como a capacidade de estar em juízo (representado pelo síndico). A ausência de personalidade gera consequências no plano fático, como a impossibilidade de adquirir bens, por exemplo. Segundo o professor, o condomínio é, materialmente, uma pessoa, não obstante, formalmente, não é reconhecida pelo ordenamento.

• Elementos: pluralidade subjetiva e indivisibilidade objetiva (natural, voluntária, legal ou judicial).

• Espécies: A. Voluntário (art. 1314, CC): aquele que nasce da vontade dos

condôminos. O condômino é proprietário de uma parcela (quinhão, quota parte ou fração ideal) do bem. Independentemente da quota, todos, indistintamente, tem igual e qualitativo direito de exercer atos de posse sobre a coisa comum, observada a finalidade. Não obstante, a regra geral é de que o poder de escolha e gestão do bem será proporcional à fração ideal. Apesar disso, pode ser disposto contratualmente pelos condôminos que o poder de deliberação será equivalente, não importando a quota parte. De acordo com o artigo 1314 é também possível que o condômino aliene sua parcela, sem autorização dos demais, devendo ser respeitado, no entanto, o direito de preferência, combinando o disposto pelo artigo 504 e o parágrafo único do art. 1314, ambos do CC. Se não for observado o direito de preferência, o negocio feito será ineficaz. Deve ser observado também o prazo decadencial de 180 dias para exercício do direito,

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disposto no artigo. Porém, é possível que o contrato dispense o direito de preferência.

Quanto à questão do consenso, não há definição do que o caracterizaria. Nesse ponto, surgem duas correntes doutrinárias:

(1) Doutrina minoritária: defende que deverá ser a concordância unânime;

(2) Doutrina majoritária: defende que a maioria poderá deliberar.

Assim, necessário observar os artigos 1323 e 1325, sendo que o último traz a ideia de que a maioria será calculada pelo valor dos quinhões, o que admite disposição contrária. Atenção também ao artigo 1315, que obriga os condôminos a pagar despesas que o bem gerar, proporcional à quota parte. É possível ainda que o condomínio seja extinto, porém, observadas as regras do artigo 1320, abaixo transcrito.

B. Necessário (art. 1327 a 1330, CC): também chamado de condomínio forçado ou ex lege, ele independe da autonomia da vontade dos co-possuidores. Nesse tipo de condomínio as parcelas ideias não podem ser isoladamente transferidas. Interessante citar o exemplo do artigo 1327, que trata da meação de paredes, cercas, muros e valas. Ademais, outro exemplo interessante é o das áreas comuns do condomínio edilício, que será tratado posteriormente.

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CC: Art. 504. "Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,

depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo."

Art. 1314. Parágrafo único. "(...) Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros."

CC: Art. 1320. "A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.

§ 1º - Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.

§ 2º - Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador. § 3º - A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o aconselharem, pode o juiz

determinar a divisão da coisa comum antes do prazo. "

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C. Edilício: por sua complexidade, será tratado com mais detalhes em tópico próprio.

• Condomínio edilício: - Caracterização: pressupõe a coexistência de propriedades exclusivas e

propriedade comum, bem como a existência de uma edificação.

O parágrafo primeiro do dispositivo traz a ideia de que as áreas de propriedade exclusiva podem ser alienadas ou gravada livremente pelo proprietário respectivo. Não obstante, no que diz respeito às vagas de garagem, há limitações. Estas não poderão ser alugadas para pessoas estranhas ao condomínio, a não ser que isso esteja autorizado expressamente na convenção do condomínio. Esse parágrafo deve ser interpretado, porém, de acordo com a finalidade do condomínio: no caso da moradia, essa regra faz todo sentido, sendo a finalidade a moradia, mas para o condomínio edilício comercial, essa regra pode ser flexibilizada. Caso se opte pela alienação da vaga, devem ser respeitados, ainda, os critérios de preferência dispostos pelo artigo 1338, os quais determinam que, preferencialmente, serão alugadas as vagas de garagem ao condômino e, entre os condôminos, àqueles que possuem o imóvel.

- Quem são os condôminos? Inicialmente, são os proprietários da fração ideal. Porém há disposições importantes, como o caso do locatários (cessionário de direitos), os quais são condôminos por equiparação.

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CC: Art. 1331. "Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum dos condôminos.

§ 1o As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas e sobrelojas, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a

propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários, exceto os abrigos para veículos, que não poderão ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio,

salvo autorização expressa na convenção de condomínio (...)".

CC: Art. 1338. " Resolvendo o condômino alugar área no abrigo para veículos, preferir-se-á, em condições iguais, qualquer dos condôminos a estranhos, e, entre todos, os possuidores. ".

CC: Art. 1334. " (...) § 2º - São equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, salvo disposição em contrário, os promitentes compradores e os cessionários de direitos relativos às

unidades autônomas. "

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- Ato instituidor do condomínio (art. 1332, CC) : deve ser registrado 71

em cartório, sendo este um pressuposto de existência. - Convenção de condomínio e regimento interno:

➢ Definição e natureza da convenção: convenção é um conjunto de atos normativos regentes da relação condominial, dispondo sobre direitos e deveres de condôminos e estranhos, caracterizando verdadeiro regramento, o qual irá reger o condomínio e sua organização. Apesar do nome "convenção", ela não tem natureza de contrato, mas sim, estatutária. Isso significa que alcança aqueles que não participaram de sua formação e inclusive terceiros estranhos ao condomínio.

➢ Registro da convenção: nos termos do parágrafo único do artigo 1333, CC , deverá ser registrada a convenção em 72

cartório, para que seja oponível aos terceiros. Porém, segundo a súmula 260 do STJ , a convenção, mesmo que não registrada, 73

irá alcançar a relação entre condôminos. ➢ Aprovação e modificação da convenção: o quórum de

aprovação da convenção, trazido pelo art. 1333, caput (2/3), 74

não será de pessoas, mas sim, de frações ideias. Nesse sentido, na prática, essa convenção é feita pelo dono do investimento, de forma unilateral, na grande maioria das vezes. Assim, aquele que compra o apartamento, já se encontra sujeito ao regramento. A convenção poderá ser modificada em momento posterior, sendo o quórum de modificação o mesmo necessário para a aprovação do instrumento: 2/3 das frações ideias (art. 1351, NCPC) . 75

(CC) Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, 71

devendo constar daquele ato, além do disposto em lei especial: I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns; II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns; III - o fim a que as unidades se destinam.

(CC) Art. 1.333: (...) Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do condomínio deverá ser registrada no 72

Cartório de Registro de Imóveis.

Súmula 260, STJ: A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem registro, é capaz para regular as relações entre os 73

condôminos.

(CC) Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das 74

frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção. (...)

(CC) Art. 1.351. Depende da aprovação de 2/3 (dois terços) dos votos dos condôminos a alteração da convenção; a mudança da 75

destinação do edifício, ou da unidade imobiliária, depende da aprovação pela unanimidade dos condôminos.

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➢ Matérias tratadas pela convenção: a convenção irá dispor sobre as matérias estabelecidas pelo art. 1334, incluindo o regimento interno (inciso V), que será definido posteriormente. As matérias dispostas pela convenção são: I. a quota proporcional e o modo de pagamento das

contribuições dos condôminos para atender às despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio: nesse ponto, levanta-se a questão se o proprietário da cobertura paga mais ou menos que os outros, por ser titular de uma quota-parte maior, assim como se terá maior direito de voto (art. 1352, parágrafo único). Isso dependerá da convenção do condomínio;

II. Sua forma de administração: a administração do condomínio é feita por todos os condôminos. O síndico é apenas mandatário (órgão de execução). Ressalte-se que qualquer pessoa pode ser síndico, mesmo que não condômino (ex.: pessoa jurídica - administradora de imóveis). O síndico poderá, inclusive ser remunerado, desde que haja disposição em convenção;

III. A competência das assembléias, forma de sua convocação e quorum exigido para as deliberações: as assembleias poderão ser ordinárias (aquelas previsíveis e recorrentes, feitas pelo menos uma vez ao ano) ou extraordinárias. Via de regra, o quórum de deliberações não é quantitativo de pessoas, mas sim, de frações ideais. Porém, há situações em que será referente às pessoas dos condôminos. O quórum especial é aquele previsto no CC (não pode ser modificado) ou previsto na própria convenção. O artigo do 1341, por exemplo, traz o quórum especial de votação para as reformas voluptuárias e para as reformas úteis. Pelo disposto, as voluptuárias só serão aprovadas com voto de 2/3 dos condôminos (no total, e não dos presentes), já a alteração de fachada externa necessita de unanimidade para aprovação. As reformas úteis, por sua vez, se aprovarão pela maioria dos votos dos presentes. Ainda nesse ponto, atenção ao artigo 1354 , que proíbe a deliberação se todos os condôminos 76

(CC) Art. 1.354. A assembléia não poderá deliberar se todos os condôminos não forem convocados para a reunião76

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não forem convocados para a reunião, sendo este um requisito de validade da mesma. Como já dito, o quórum especial deve estar previsto em lei ou na convenção, mas não estando previsto em nenhum dos dois, será aplicado o artigo 1352 para a 1ª convocação, o qual exige a maioria dos 77

votos dos presentes, representando, pelo menos, metade das frações ideias. Para a 2ª convocação, lado outro, o art. 1353 estabelece a deliberação de metade dos presentes. Entretanto, o código não estabeleceu lapso temporal entre as duas convocações e, para coibir abusos, houve construção jurisprudencial de 30 minutos mínimos de distância temporal. Tudo isso deverá ser feito respeitando a regra do art. 1352, parágrafo único , de que os votos serão proporcionais às 78

frações do solo de cada condômino; IV. As sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou

possuidores: a principal sanção é a multa por atraso no pagamento (ex.: art. 1336, §1º). Outras duas figuras interessantes são a do condômino nocivo e do condômino anti-social. O condômino nocivo é definido pelo caput do 1337, sendo aquele que descumpre deveres de forma reiterada. Por deliberação de 3/4 das frações ideais, poderá ser estabelecida multa equivalente a 5x o valor da despesa condominial. Sendo o pagamento das despesas um dever, é possível esse instituto incidir sob o condômino que, de forma reincidente, não quite suas obrigações condominiais. Atenção ao fato de que deverá ser respeitado o devido processo legal e o contraditório substancial. Por sua vez, o condômino anti-social é tratado pelo parágrafo único do mesmo artigo e define-se como aquele que cria incompatibil idade de convivência com os demais condôminos. Nesse caso, a multa poderá ser de até 10x o valor das contribuições condominiais. Há, nesse ponto, discussão sobre a possibilidade de caber ou não a expulsão do condômino anti-social, formando duas correntes:

(CC) Art. 1.352. Salvo quando exigido quorum especial, as deliberações da assembléia serão tomadas, em primeira convocação, 77

por maioria de votos dos condôminos presentes que representem pelo menos metade das frações ideais. (...)

(CC) Art. 1352. Parágrafo único. Os votos serão proporcionais às frações ideais no solo e nas outras partes comuns pertencentes a 78

cada condômino, salvo disposição diversa da convenção de constituição do condomínio.

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→ 1ª corrente: não é possível efetuar a expulsão do condômino, pois não há previsão do tipo no Código Civil; → 2ª corrente: a expressão "até ulterior deliberação da assembléia" autorizaria o estabelecimento de outra sanção, caso a multa apenas não surta efeito. Questiona-se o tempo que poderia durar tal expulsão, o que não é definido pelo CC, mas parte-se do pressuposto de que não poderá ser essa sanção eterna. Nesse caso, ressalta-se que deverá a expulsão ser pleiteada na forma judicial, por meio de tutela específica (cautelar urgente), sendo o condomínio representado pelo síndico, nos termos do artigo 1348, II, CC.

V. Regimento interno: o regimento regula a convenção, tratando das minúcias. Atenção, pois nem todas as regras dispostas na convenção ou no regimento são válidas, isso pois, devem estar sempre em conformidade com o código civil. Assim, cláusulas seletivas podem ser discriminatórias e inválidas. Inclusive, o STJ já decidiu em favor de condôminos que tinham animais de estimação de pequeno porte e que não atrapalhavam os interesses dos outros condôminos, mesmo estando disposto na convenção que não seria possível a presença de animais.

- Finalidade do condomínio: exclusivamente residencial, exclusivamente comercial ou misto.

- Fração ideal: é a parte indivisível e indeterminável das áreas comuns e de terreno, correspondente à unidade autônoma de cada condômino. Será parâmetro para divisão das despesas, por exemplo. Assim, o dono da cobertura irá pagar mais, via de regra, tendo em vista a maior área da qual usufrui. Será também parâmetro para a tomada de decisões, como já referido.

- Despesas: os condôminos tem como dever primordial a obrigação de quitar com as despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio, na proporção de suas frações ideais. As despesas ordinárias, ou de custeio, são aquelas previstas pelo orçamento anual, de manutenção, por exemplo, das áreas comuns do prédio. Já as extraordinárias são as que

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CC: Art. 1334. " (...) § 3º - A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária no

instrumento de instituição do condomínio. "

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não estão previstas pelo orçamento, mas tem caráter eventual e devem ser deliberadas em assembleia geral extraordinária. Exemplos são custas judiciais e inovações no prédio. Há que se citar ainda as chamadas despesas individualizadas, trazidas pelo artigo 1340 do Código Cilvl, o 79

qual prevê que se há uso exclusivo de um condômino de uma parte comum, incumbirá a ele seus gastos. Ponto essencial com relação às despesas é o que se refere a quem deve quitá-las. Via de regra, são as despesas responsabilidade dos condôminos. No caso de locação ou empréstimo do bem, ainda será o condômino o responsável, mesmo que haja disposição em contrato que transfira essa obrigação ao locatário. Porém, uma vez pago o valor pelo locador, ele terá pretensão de ressarcimento contra o locatário inadimplente. O terceiro adquirente também será titular das despesas, que são classificadas como propter rem (art. 1345, CC) , ou seja, acompanham a coisa, mesmo que o titular 80

a ela não tenha dado causa. Por entendimento jurisprudencial, o promissário-comprador também poderá ser obrigado pelos encargos condominiais a partir do momento que iniciou a posse sobre o imóvel, haja vista que as obrigações propter rem alcançam também os possuidores.

- Direitos e deveres: A. Deveres fundamentais (art. 1.336, CC): o primeiro dever posto pelo

dispositivo legal é arcar com as despesas do condomínio (ordinárias e extraordinárias). O não pagamento das despesas condominiais enseja pagamento de multa de até 2%, além de juros, que se não forem convencionados, serão de 1% ao mês (art. 1336, §1º). Uma interpretação literal do código enseja o entendimento de que não há teto para a estipulação de juros na convenção de condomínio. Porém, ressalta-se que esses juros podem ser abusivos e enfrentam limitações estabelecidas na legislação, como a Lei 24.646 (lei de usura), a taxa selic (lei 9.250), o art. 161, parágrafo 1º do CTN e o artigo 406. Não sendo respeitados os deveres, poderá incidir a multa do parágrafo 2º, que deverá estar prevista na convenção ou será deliberada em assembleia. Outro dever importante dos condôminos seria respeitar a finalidade do condomínio nas áreas exclusivas bem como nas comuns,

(CC) Art. 1.340. As despesas relativas a partes comuns de uso exclusivo de um condômino, ou de alguns deles, incumbem a quem 79

delas se serve.

(CC) Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros 80

moratórios.

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devendo observar também a tranquilidade do condomínio dos outros moradores (inciso IV). Além disso, devem fazer obras e benfeitorias que respeitem o aspecto estético e que não causem danos às outras áreas (incisos II e III).

B. Direitos: os direitos dos condôminos estão dispostos pelo artigo 1335. O principal deles seria utilização e fruição de sua unidade e das áreas comuns. Além disso, ele poderá dispor de sua unidade, emprestando ou alienando a outrem (incisos I e II). Ademais, é garantida a participação das assembléias e o direito de voto, desde que o condômino esteja em dia com as despesas condominiais (inciso III). Surge discussão quanto à possibilidade do locatário votar, já que é condômino equiparado. Nesse sentido, como ele não paga despesas extraordinárias (lei 8.245/91, arts. 21 a 24), não seria lícita sua participação nas assembleias extraordinárias, salvo se, por disposição expressa, anuir ao pagamento dessas despesas ou se tiver um mandato de representação do condômino originário.

- Administração: todos os condôminos administram o condomínio, porém é o síndico o órgão de execução. Atenção ao fato de que qualquer pessoa poderá ser síndico, até mesmo terceiros, desde que haja previsão na convenção de condomínio. Além disso, existe um mandato legal, de até 2 anos, do síndico, o que não é respeitado na realidade (art. 1347, CC). Se houver abuso, poderá ser destituído o síndico, nos termos do artigo 1349, CC. A assembleia convocada com a finalidade de destituir o síndico deverá ser observar o quórum de maioria absoluta dos condôminos, e não das frações ideias.

- Extinção: se um condômino compra todas as frações, será extinto o condomínio, pela falta da pluralidade subjetiva. Outra hipótese, mais comum, é de desapropriação, que será feita mediante indenização. Além disso, pela ruína total ou parcial do condomínio, também será extinto. Porém, nesse último caso, os condôminos poderão deliberar se desejam reconstruir o imóvel, haja vista o artigo 1357, CC.

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Unidade 6: Direitos Reais sobre coisas alheias • Fruição:

A. Servidão: nasce da vontade (expressa ou tácita), pressupondo fruição de coisa alheia, ampliando sua utilidade, facilitação ou comodidade e sem ânimo de ser dono.

- Pressupostos: esse instituto é dotado de dois pressupostos, sendo eles coisas imóveis e que pertençam a titulares distintos.

- Exemplo de fruição: X tem uma fazenda e Y é seu vizinho, também proprietário de uma fazenda. X faz uso de um caminho que passa dentro da fazenda, com anuência de Y.

- Oponibilidade: a fruição somente será oponível contra terceiros se registrado o contrato expresso de servidão.

- Usucapião: há possibilidade de usucapião da servidão, se o indivíduo exerce atos de posse durante determinado espaço de tempo (10 anos), sem oposição e sem ânimo de ser dono, devendo haver também uso aparente (aquele que deixa vestígios, é visível), nos termos do artigo 1.379, CC . A servidão de luz, por exemplo é 81

servidão negativa (de omissão - não construir) e não aparente (não deixa vestígios).

- Servidão continua e descontínua: a servidão será contínua se se mantém independentemente da reiteração de um comportamento, ou ato humano. Já a servidão descontínua persiste apenas pela atividade humana atual, como é o exemplo da servidão de passagem, já mencionada.

- Nomenclatura: segundo o artigo 1378, o prédio serviente é aquele que proporciona utilidade ao prédio dominante, o qual é beneficiado da servidão. Inclusive, uma das hipóteses de extinção da servidão é a confusão, que ocorre quando o titular dos dois imóveis se confundem.

- Direitos e deveres: o bônus acarreta o ônus, sendo que aquele que se beneficia da servidão deverá contribuir com a conservação desse local, devendo ser rateadas despesas (art. 1380, CC), sendo esta regra dispositiva. Por outro lado, aquele que presta a utilidade não poderá restringir o exercício legítimo da servidão (art. 1383). Assim, se o objeto da servidão for a passagem de pessoas, não será lícito o

CC. Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o 81

interessado a registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar consumado a usucapião. Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de vinte anos

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trânsito de animais ou máquinas, por exemplo. Não obstante, de acordo com o § 2º do artigo 1385, se há servidão de trânsito que envolva, por exemplo máquinas e animais, ela irá pressupor também o trânsito de pessoas. Ressalta-se a possibilidade do dominante de ajuizar ação de manutenção de posse sobre coisa alheia para garantir a fruição. A legitimidade do dominante, porém, tem uma condição, a qual seja o exercício legítimo do direito, observando a finalidade, os limites e o objeto da servidão. Segundo o artigo 1380, benfeitorias necessárias poderão ser feitas pelo dominante sem anuência do serviente, porém as voluptuárias deverão contar com a anuência do serviente.

- Extinção da servidão (art. 1388 e 1389): mesmo a servidão adquirida por usucapião poderá ser extinta, se ocorrer a confusão, como, por exemplo, no caso do serviente vender seu imóvel ao dominante. Além disso, há possibilidade de supressio, que se configura pelo não exercício por dez anos contínuos. Se isso ocorrer, a extinção poderá se dar por sentença declaratória de extinção da servidão. Outra hipótese é a renúncia (abdicativa) da servidão pelo dominante. Alem disso, há possibilidade de resgate da servidão, feita mediante a uma contrapartida (pagamento, por exemplo) do serviente ao dominante. Ademais, poderá ser extinta quando não subsistir o fim que a originou, cessando a utilidade, desde tenha uma causa originária (seja causal). Tudo isso de acordo com o artigo 1385, § 1º, que impossibilita a ampliação do objeto da servidão. Ex.: Y utilizava servidão para passagem de seus bois. Se Y não criar mais bois, a servidão poderá ser extinta. Por fim, a última hipótese de extinção é o inadimplemento contratual (art. 1389, II).

B. Usufruto, uso e habitação: - Conceito e natureza: o usufruto se dá quando alguém usa ou frui

coisa alheia, gerando desdobramento da posse (o usufrutuário é o possuidor direto e o proprietário, o indireto).

- Extensão: salvo disposição em contrário (legal ou contratual), o usufruto da coisa alcança seus acessórios. Nesse ponto, ver diferença entre acessórios e pertenças.

- Origem: a. Vontade das partes; b. Usucapião: apenas no caso de bens imóveis (art. 1391).

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c. Lei: usufruto legal, obrigado pela forma da lei. São exemplos: * Artigo 1689, CC: esse artigo trata da hipótese de pais no

exercício do poder familiar, em relação aos bens de propriedade do filho menor. Nesse caso deve ser respeitada a disposição do artigo 1693, sendo necessária autorização judicial para venda de bens imóveis e sempre almejando o melhor interesse do menor. Esse usufruto se extingue pela maioridade do filho, pela emancipação ou pela suspensão (tutor assume o usufruto) e destituição do poder familiar.

* Artigo 1611, parágrafo 1º, CC/16: essa modalidade foi extinta pelo Código Civil de 2002, mas ainda tem efeitos. Segundo esse artigo, sendo o indivíduo viúvo, tendo casado antes da entrada em vigor do atual código civil e não estando na modalidade de comunhão universal, enquanto durar a viuvez, haverá direito do usufruto da 4º parte dos bens deixadas, havendo filho, e a metade, se não houver filhos. Essa regra se justificava pelo fato do cônjuge não ser herdeiro à época, mas apenas participar da meação. Atualmente, destaca-se o artigo 1831 do CC, que garante o direito real de habitação, atendidos os requisitos (qualquer regime de casamento, destinação residencial e não havendo outros bens imóveis), porém, o sobrevivente não poderá alugar ou emprestar esse imóvel, mas apenas usá-lo.

- Exemplo de usufruto: os pais doam em vida um apartamento para a filha, caracterizando usufruto vitalício, ou seja, tendo como termo final a morte de ambos. Os pais, dessa forma, permanecem na posse do imóvel, como usufrutuários e a filha será proprietária. A filha será o que se chama a doutrina de proprietária nua, despida de grande parte dos atos de posse. Resta a ela apenas dispor do bem, mas mesmo que ela disponha, os pais continuam sendo usufrutuários (caráter vitalício e intransmissível aos herdeiros) e, no caso, o comprador só poderá fazer uso após a morte dos usufrutuários. Os pais poderão usar o bem, bem como alugar esse imóvel. No caso de morte de um dos usufrutuários, apenas se extingue o usufruto parcial, com relação ao quinhão do que faleceu. Assim, a mãe poderá continuar usufruindo sozinha do apartamento, indenizando a filha na quota parte, ou elas poderão dividir a fruição.

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- Características: a. Personalíssimo e intransmissível: direito real intuito personae

(art. 1393); b. Nem todo usufruto é vitalício ou tem conteúdo econômico

(pode ser usado para planejamento familiar); c. Sujeito à extinção (art. 1410 e 1411, CC); d. Possível em favor de entes despersonalizados e de pessoas

jurídicas (art. 1410, III); e. Penhorável: mesmo podendo ser bem de família, não tem

proteção integral, haja vista o artigo 1715. f. Disponibilidade da coisa

- Deveres: a. Conservar a coisa (art. 1403, I, CC); b. Pagar prestações e tributos referentes à fruição da coisa (art.

1403, II, CC); c. Devolver a coisa ao proprietário no termo final do usufruto; d. Não responderão pelas deterorizações resultantes do uso (art.

1402, CC); e. Inventariar os bens que receber, podendo ter que dar o caução

(art. 1400,CC). Atenção à exceção do parágrafo único. - Usufruto impróprio: relativo às coisas consumíveis, é tratado no art.

1392, § 1º, CC. Nesse caso, ao usufrutuário subsiste o dever de restituir as coisas que restaram (se for o caso), e dar o equivalente às que foram consumidas (em qualidade e quantidade ou dinheiro).

- Objeto: bens e coisas, comportando bens móveis e imóveis (ex.: títulos de crédito - art. 1395 e animais - art. 1397).

- Extinção: a. Condição de resolução prevista no instrumento (advento do

termo); b. Consolidação: quando na mesma pessoa se confundem polos

da relação jurídica, a exemplo da confusão; c. Cessação da causa da qual se origina o usufruto (inciso IV) - 231

da CF d. Extinção da pessoa jurídica (inciso III); e. Deterioração da coisa (inciso V) - nesse caso, há que se analisar

se houve culpa do usufrutuário. Se isso ocorrer, deve ele indenizar o dono;

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f. Não uso ou não fruição (inciso VIII): o legislador não estabeleceu o prazo. Assim, alguns autores propõe analogia com o art. 1389 (direito real de servidão - prazo de 10 anos). O professor não concorda pois são institutos muito distintos. Ele acredita que o ideal seria analisar caso a caso. Ademais, ressalta-se que o usufruto legal, nem o usufruto indígena poderá ser extinto pela não fruição, mas apenas modalidades consensuais.

C. Concessão de direito real de uso: - Direito real de uso (1412, CC): indivíduo que tem a coisa sobre

seu poder, a qual não é sua. Ele terá apenas direito de uso, e não de perceber os frutos. É chamado de usufruto em miniatura, pela redução do instituto. Não será possível, então, alugar ou arrendar esse imóvel. Não é comum atualmente, pela limitação que apresenta.

- Concessão do direito real de uso: Forma mediante a qual o poder público confere a indivíduos a possibilidade de extrair utilidade da coisa pública. É instituto próprio do direito administrativo.

D. Concessão de uso especial para fins de moradia: - Tratamento legal: não é tratada pelo código civil, mas apenas está

presente no rol do art. 1225, CC. - Caracterização: também instituto próprio do direito administrativo.

Se distingue da concessão de direito real de uso pelo objeto, que é garantir moradia a pessoas.

E. Direito real de habitação: art. 1831, já tratado anteriormente. É tratado também pelos artigos 1414 a 1416, CC.

Unidade 7: Direitos Reais de Garantia • Garantia: bem usado como reforço da obrigação firmada, servindo para

ampliar a certeza do adimplemento, a confiança entre credor e devedor. - Revisão (obrigações/responsabilidade/patrimônio): a garantia do

credor será o patrimônio do devedor (art. 391, CC), não pressupondo, porém, pagamento sempre em dinheiro, mas tendo sempre caráter patrimonial. Atenção, pois o artigo 391 não deve ser interpretado de forma absoluta, tendo em vista que não é a integralidade dos bens que integram o patrimônio do devedor que poderá ser executado. Existem exceções, como o bem de família e os instrumentos de trabalho.

- Credores quirografários: garantia genérica (universalidade do patrimônio).

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- Fiança (garantia fidejussória): a garantia se expande para o patrimônio do fiador, devendo ele pagar quando ocorrer inadimplemento do devedor. Não obstante, traz o mesmo problema de poder ser o patrimônio do fiador deficitário ou afetado pelo bem de família, por exemplo.

- Garantias reais: visando maior segurança, criou-se a possibilidade de vincular um bem à satisfação do mútuo, as garantias reais.

- Características: ➢ Acessoriedade (art. 1419): só haverá garantia real se houver

obrigação principal a ela vinculada. Ela será apenas acessório. Sendo assim, a obrigação extinta, extinta estará também a garantia (o inverso não é verdadeiro). Nesse ponto, essencial ressaltar a diferença entre remição e remissão. A primeira (art. 1499, CC) promove a extinção da garantia, e, pela acessoriedade, não extingue a obrigação. A remissão (art. 385, CC), por outro lado, extingue a obrigação pelo perdão da dívida, promovendo também o fim do acessório (garantia);

➢ Especialidade (art. 1419): o bem afetado será especificado e determinado.

➢ Imediatidade (art. 1419): prorrogação imediatamente subsequente, e não de forma cumulativa. Um exemplo ocorre no penhor agrícola sobre colheita (art. 1443) .

➢ Sequela (art. 1419): poder/dever de perseguir a coisa, sendo a garantia real (vinculo real) e, consequentemente, erga omnes.

➢ Indivisibilidade (art. 1421): permanece na sua integralidade, ainda que a obrigação tenha sido cumprida parcialmente. Essa característica pode ser afastada com anuência do credor.

➢ Preferência (art. 1422): credor com garantia real tem preferência sobre os fidejussórios, quirografários e até mesmo

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CC: Art. 1.419. "Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação."

CC: Art. 1.421. "O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa exoneração correspondente da garantia, ainda que esta compreenda vários bens, salvo disposição expressa no

título ou na quitação."

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fiscais. No caso de empresa, ver o art. 83 da lei 11.101 (lei das falências).

➢ Excussão (art. 1422): excutir as garantias é vender o bem para apurar seu crédito. Deverá pagar as despesas e, o que sobrar, deverá obrigatoriamente ser devolvido ao devedor.

➢ Vedação ao pacto comissório (art. 1428): é cláusula previamente ajustada que permite ao credor ficar com a coisa dada em garantia. Essa cláusula será nula. É este instituto diferente da dação em pagamento, que é uma forma anômala de extinção da obrigação, na qual o devedor oferta coisa diversa do que era devido, mas que somente será válida após o vencimento (art. 1428, parágrafo único).

- Modalidades de garantias reais: A. Penhor

- Conceito (art. 1431): garantia real que pressupõe entrega da coisa móvel (transferência da posse - desdobramento da posse), com o objetivo de aumentar a confiança no recebimento da obrigação. A credora pignoratícia não tem direito sobre a coisa empenhada, mas sobre a dívida. Se esta não for paga, será excutida, ou seja, vendido o bem e o dinheiro será a ela revertido. O instrumento do penhor será levado a registro, para que tenha eficácia erga omnes.

- Espécies: a. Comum: registro no cartório de títulos e documentos. Enseja

transferência efetiva da posse. o Seus direitos são definidos pelo artigo 1433, CC, mas o

principal deles é a posse da coisa até a satisfação do seu crédito;

o Seus deveres estão dispostos no artigo 1435, sendo o principal a obrigação de conservar a coisa. A perda da coisa gera dano, o qual pode trazer, além de prejuízo

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CC: Art. 1.422. "O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a

prioridade no registro."

CC: Art. 1.428. "É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento.

Parágrafo único. Após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em pagamento da dívida ."

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material, prejuízo imaterial (entendimento do STJ), a ser estimado. O art. 1436 traz no inciso II o perecimento da coisa como causa de extinção do penhor, mas atenção, pois é apenas do penhor e não da obrigação, podendo ser exigida a substituição da garantia. Caso não seja substituída, ocorrerá vencimento antecipado da obrigação;

* Modalidades especiais: as modalidades seguintes não pressupõe desdobramento fático, mas presumido, legal. b. Rural (art. 1438, CC): os bens a serem emprenhados devem ser

afetados à atividade agropecuária. Não há desdobramento efetivo da posse, ou seja, não há entrega da coisa para o credor. A coisa pode nem ao menos existir, como o caso do penhor da safra futura. o Registro: se dará no cartório de registro de imóveis (art.

1438), apesar de serem bens móveis ou semoventes, via de regra. Esta é uma ficção do direito.

o Objeto: lista exemplificativa dos artigos 1442 e 1444. o Ex.: produtor pediu dinheiro emprestado ao BB para

financiar a safra de 2017. Não vingando a safra, o crédito do BB será prorrogado para a próxima safra. Na próxima safra, porém, o produtor novamente necessita de dinheiro. O BB poderá refinanciar a segunda safra, ou o produtor poderá procurar financiamento em outro banco, hipótese em que o BB perderá a preferência na execução. Esse instituto, de certa forma, estimula o refinanciamento.

c. Industrial e mercantil: o objeto são coisas afetas à atividade industrial e mercantil. Também será registrado no cartório de imóveis, bem como ocorre no penhor rural;

d. Veículos: não há desdobramento, e o objeto é algo sujeito à depreciação e à alienação rápida. Por isso, está em desuso, sendo substituída pela alienação fiduciária. Além disso, pressupõe necessariamente um seguro e o prazo máximo é de 4 anos, exigências não presentes na alienação fiduciária;

e. Legal (1467, CC): independe da vontade, sendo vinculadas pela lei. O NCPC mantém viva essa hipótese no artigo 703. Essa condição pressupõe relação de consumo ou locatícia, bem como posterior homologação da autotutela, gerando a condição de depositário judicial. Porém, parte da doutrina

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acredita ser ilegal essa modalidade, pela abusividade e exposição do consumidor a situação vexatória. Ex.: um grupo de amigos vai a um restaurante e se recusa a pagar. O dono do estabelecimento poderá, pode exemplo, reter o carro de um deles. Não tem aplicabilidade essa modalidade.

f. Títulos de crédito (art. 1451). - Extinção: artigo 1436, CC;

B. Hipoteca - Conceito: se diferencia do penhor pois, em nenhuma hipótese,

enseja desdobramento da posse. - Objeto: coisas móveis e imóveis, trazidas pelo art. 1473; - Extensão: segundo o artigo 1474, se não especializado no

instrumento, poderá abranger todas as acessões e construções. Atenção ao fato de que a hipoteca pode coexistir com outras garantias reais, como o penhor, por exemplo (parte final do art. 1474 e art. 1440). Nesse caso, a preferência na ordem de execução será daquele que registrou primeiro o contrato (arts. 1493 e 1494, CC).

- Espécies: a. Voluntária: nasce do acordo de vontades; b. Legal: hipóteses do artigo 1489. Para esse semestre, ressaltam-

se os incisos I e III. Importante dizer que elas não são modalidades automáticas, devendo ser respeitado o registro e a especialização, ambos dispostos no art. 1497. O professor critica o inciso I, por ele partir do pressuposto da culpabilidade. Já o III, permite diálogo entre o direito penal e civil, sendo que, no processo penal, o juiz poderá, como forma de acautelamento, pedir a penhora dos bens daquele que promoveu o delito, pressupondo decisão judicial.

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CC: Art. 1.436. Extingue-se o penhor: I - extinguindo-se a obrigação;

II - perecendo a coisa; III - renunciando o credor;

IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa; V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele

autorizada.

§ 1º - Presume-se a renúncia do credor quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição por outra garantia.

§ 2º - Operando-se a confusão tão-somente quanto a parte da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto.

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c. Judicial: estabelecida em sentença condenatória. - Extinção:

1. Remição da hipoteca pelo adquirente do imóvel hipotecado (art. 1481, CC). Atenção ao fato de que o NCPC revogou os artigos 1482 e 1483 do CC.

2. Extinção da obrigação. - Pluralidade de garantia (Art. 1476): o dono do imóvel poderá

constituir hipoteca como garantia em favor de outro credor, se ele assim aceitar. Há entendimento de que seria possível apenas se o bem comportar, em valor, todas as garantias. O professor discorda desse entendimento. A ordem de preferência da garantia será conforme o registro, que classificará os credores em classes (o primeiro a receber será credor hipotecário de primeira classe). Não obstante, chegando o vencimento do primeiro credor, ele não poderá promover a venda do bem, mas deverá esperar o vencimento da dívida de todos os outros credores. O primeiro credor poderá também pagar o restante das dívidas (remição da hipoteca), evitando assim a eventual falência do credor, o que prejudicaria seu crédito. Em tal hipótese, ele continuará tendo direito a seu crédito e se sub-rogará (ver artigos 1478 e 346, II, CC.p);

- Artigo 1475, CC: o imóvel hipotecado poder ser vendido, e a cláusula que proibir a alienação será nula. Não obstante, poderá ser pactuado que, ocorrendo a venda, ocorrerá também o vencimento antecipado da dívida.

C. Anticrese: recai, em regra, sobre bem imóvel (também pode recair sobre coisa móvel), mas pressupõe desdobramento efetivo da posse como forma de satisfação da obrigação. Haverá transferência da posse, que se consolidará pela fruição do bem. Isso desinteressa ao credor (será obrigado a exercer a posse) e ao devedor (não poderá exercer a posse). Ademais, o credor deverá ainda fazer o balanço da administração (art. 1507). Há necessidade de registro. A anticrese poderá ser cumulada com a hipoteca e o penhor (§ 2º do artigo 1506), sendo que a ordem será a do registro.

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Prova final: I. Questão aberta: condomínio edilício (convenção - art. 1337 - despesa

condominiais em atraso - juros e multa - art. 1336 - obras e quórum qualificado - art. 1341).

II. Questões fechadas: - Posse (aquisição, conservação e efeitos) - Aquisição de propriedade imobiliária - Condomínio edilício - Direito de vizinhança - Servidão - Usufruto - Usucapião - 3 questões sobre: Penhor, hipoteca e características das garantias reais

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