definições de direitos reais

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Direitos ReaisDefiniesDireitos Reais - utilizada na linguagem jurdica em mais de uma acepo,a saber, num A) SENTIDO SUBJECTIVO dirs. subjectivos sobre coisas; p. exe. concesso de um dir. subjectivo como o da propriedade, que neste caso reconhece-se ao titular do dir.subjectivo uma esfera de poder, de modo a ser-lhe possvel, dentro dela, acautelar os seus prprios interesses, atribuindo ao respectivo titular poderes de uso e fruio sobre uma coisa. Citando ENNECCERUS, o dir. subjectivo um poder concedido pela ordem jurdica ao indviduo, atravs de previses normativas especficas de carcter atributivo, como um meio de satisfao das necessidades humanas . Assim, a concesso do direito de propriedade operada atravs dos seguintes meios: pelo o facto de ser proibido a quem quer impedir ao proprietrio o gozo da coisa que lhe pertence exe. furtando-a ou roubando-lha ou perturbando o seu uso; pelo o facto de ser ordenado aquele que, sem um particular ttulo jurdico, estar na posse de uma coisa alheia sendo ordenado que a restitua ao seu proprietrio e sobretudo pelo o facto de ser ordenado s autoridades judicirias que, a requerimento do proprietrio, intervenham no sentido de obedecerem a sua efectivao daqueles comandos e proibies primrios. B)Em SENTIDO OBJECTIVO - neste sentido designa um ramo do Direito, especificamente uma diviso do Direito Civil. Utiliza-se igualmente,em sinonmia, Direito das Coisas, expresso atribuida pelo o legislador do Cdigo Civil na epgrafe atribuda ao seu Livro III. Designa portanto o conjunto de normas ou regras jurdicas que estabelecem o regime das coisas. ***questo de exame distino entre dirs. reais e dirs. de crdito Noo de Direito Real - Segundo a doutrina clssica o direito real entendido como um poder directo e imediato sobre uma coisa. Por poder directo entende-se uma ideia de domnio/senhorio e por poder imediato a faculdade de aproveitamento das utilidades da coisa. A esta concepo contrape-se a dita moderna ou personalista que constri a noo de direito real a partir de um elemento relacional caraterizada por fazer corresponder ao poder absoluto o chamado dever geral de respeito do lado passivo, alicerada na doutrina francesa de Planiol de Obrigao passiva universal. Chega-se assim a uma ideia de oponibilidade erga omnes, segundo a qual o direito absoluto caracterizvel pela possibilidade de o fazer valer contra quem ameace interferir. Com base nesta teoria personalista, a doutrina de Mota Pinto distingue no direito real dois elemento: o lado externo que se traduz no poder de exigir dos outros uma conduta conforme obrigao passiva universal e do lado interno consttuida pelos poderes exercitveis sobre a coisa. Para Oliveira Ascenso, os direitos reais so absolutos, inerentes a uma coisa e funcionalmente dirigidos afectao desta aos interesses do sujeito; absoluto por poder triunfar de todas as oposes. A noo perfilhada por Menezes Cordeiro e assenta na concepo de direito subjectivo mas contudo destaca a 1

importncia de distingui-se se se est a falr de direito absoluto no sentido de oponvel erga omnes ou de direito absoluto como espao jurdico que todos tm de respeitar. Carvalho Fernandes adopta uma noo de direito real igualmente assente no direito subjectivo como poder jurdico atrbuido a certa pessoa para realizao de um fim jurdico-privado e caracteriza os direitos reais como sendo absolutos sendo ptt oponveis a terceiros e pela ligao muito particular dos direitos reais com a coisa corprea implicam tambm a efectiva afectao das suas utilidades realizao dos interesses do respectivo titular e nisto consiste a sua inerncia. Define assim direito real como um direito absoluto e inerente a uma coisa corprea, afectada realizao de interesses jurdico-privados de uma pessoa determinada. Estando assente na noo de direito subjectivo como poder jurdico, ento o direito real um poder jurdico absoluto, atribudo a uma pessoa determinada para a realizao de interesses jurdicoprivados, mediante o aproveitamento imediato de utilidades de uma corprea. Distino entre direitos reais e os dirs. de crdito - A distino para a concepo clssica tinha o seu acento tnico na diferente modalidade do bem sobre quem recaa cada uma das correspondentes situaes jurdicas:coisas no caso dos dirs. reais e prestaes nos dirs. de crdito. De acordo com a doutrina personalista, a distino assenta no facto dos direitos reais serem absolutos e os direitos de crdito relativos. Para as teorias mistas, a particulariedade dos direitos reais reside na existncia de um lado interno e de um lado externo, realidade que no se verifica nos direitos de crdito. Contudo as teorias monistas afirmam a identidade das duas categorias jurdicas assentes em duas linhas fundamentais: a absolutidade e a outra da inerncia dos direitos reais. A teoria monista de Demogues entende que os direitos reais no tm a exlusividade da absolutidade pois tambm nos direitos de crdito se pode identificar uma obrigao passiva universal que se traduz para terceiros na necessidade de respeitar o direito de crdito. A teoria monista de Gaudemet (dita teoria realista) sustenta que tambm os direitos de crdito recaem sobre os bens pois tm por objecto o patrimnio do devedor no seu todo. CF nao concorda com a tese de Gauemet pois no seu entedimento o patrimnio do devedor funciona apenas como garantia da realizao dos direitos patrimoniais de natureza obrigacional de que ele sujeito passivo. A doutrina portuguesa mantem a distino entre direitos reais e direitos de crdito . Para O.A a verdadeira nota distinta dos direitos reais o facto de gozarem de sequela e tambm de prevalncia. No entendimento de Mota Pinto, a distino estabelece-se nos elementos que os direitos reais apresentam e que faltam aos direitos de crdito: a absolutidade, a sequela e a inerncia. Segundo Antunes Varela, o trao distintivo reside na natureza absoluta dos direitos reais e que estes esto subordinados ao princpio da tipicidade. C.F entende que a distino encontra-se assente na absolutidade dos direitos reais no sentido de as faculdades conferidas ao seu titular serem oponveis erga omnes. Apesar de no ser privativo dos direitos reais, esta caracterstica acaba por assumir nos direitos reais uma nota particular por razes ligadas ao seu objecto. Devido forma particular de afectao da coisa nos direiros reais, o Direito pe disposio do titular do direito real meios de actuao jurdica que lhe asseguram a possibilidade de realizao dos seus interesses, mediante o aproveitamento de utilidades da coisa. Nos direitos de crdito isso no acontece, havendo sempre a mediao do devedor.

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***questo de exame*** Situaes jurdicas de qualificao duvidosa direito do locatrio Existem essencialmente duas teses doutrinais que respondem questo da qualificao da natureza jurdica do direito de locao. A teoria tradicional denominada de pessoalista entende que o direito do locatrio tem uma natureza obrigacional configurando-o como um direito pessoal de gozo e apresenta como argumentos a expressa qualificao do direito ao arrendamento como direito pessoal de gozo (art. 1683 -A); a noo legal do contrato de locao que no o configura como negcio real nem quoad constitutionem nem quoad effectum (art. 1022) e a sua localizao sistemtica no Livro das Obrigaes. O Direito positivo portugus actual apresenta uma clara pendncia pessoalista. A tese realista ,por seu turno , entende que o direito do locatrio tem uma natureza real e fundamenta este entendimento recorrendo aos seguintes argumentos: a consagrao da regra emptio non tollit locatum do art. 1057 que se traduz na imposio ao adquirente independetemente da sua vontade de uma situao jurdica que seria obrigacional que a aproxima prevalncia dos direitos reais; a possibilidade de o locatrio se socorrer dos meios de defesa da sua posse (art. 1037 n2) contra actos que o privem da coisa ou perturbem o exerccio do seu direito. Contudo o argumento de existncia de uma obrigao positiva a cargo do locador de proporcionar o gozo da coisa no vale no entendimento do C.F., valendo sim a existncia de uma obrigao negativa imposta ao locador de no praticar actos que perturbem o gozo da coisa pelo o locatrio. O objectivo deste argumento seria a demonstrao de faculdades legais que permitiriam ao locatrio actuar sobre a coisa sem mediao do locador. Os argumentos apresentados pelos os defensores da tese realista foram rebatidos pelos pessoalistas. Quanto ao argumento do preceito de art. 1057, este apenas consagra a nota de sequela prpria dos direitos reais e a necessidade sentida pelo o legislador de afirmar estas solues apenas assentava no pressupostos do carcter no real da locao. Quanto possibilidade do locatrio se servir dos meios de defesa reconhecidos ao possuidor afirma-se que se o direito de locao tivesse natureza real esse preceito seria intil uma vez que esse o regime prprio dos direitos reais de gozo. Henrique Mesquita defensor da tese dualista e argumenta que certos aspectos do regime do arrendamento s explicveis em sede obrigacional como a necessidade de obter autorizao do locador para a prtica de determinados actos e a permanente ligao jurdica do arrendatrio. Menezes Cordeiro entende que do ponto de vista estrutural o direito do locatrio real e que a contraposio de direitos reais e direitos de crdito apenas produto de uma clivagem histrico-cultural derivadas do Direito romano e essencialmente ultrapassadas mas mesmo assim trata os direitos pessoais de gozo como no reais constituindo uma categoria de direitos privados patrimoniais que no so nem reais nem de crdito.

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Carvalho Fernandes entende que o direito de locao apresenta uma natureza obrigacional e perfilha parcialmente a qualificao dualista de Henrique Mesquita. Assim, fundamenta a sua posio utilizando os seguintes argumentos: a faculdade de uso e fruio da coisa no um aspecto decisivo na qualificao de um direito real no significando isso que a atribuio da lei ao locatrio do direito de fruio da coisa locada o est a qualificar como direito real mas quanto muito como direito pessoal de gozo; a faculdade de defesa autnoma reconhecida ao locatrio traduzida na sequela nos direitos reais no se integra no conjunto de notas de realidade pois podero nao passar de aproveitamento de meios mais eficazes prprias dos direitos reais mais aproveitas pelo o legislador para dar mais consistncia jurdica s meras relaes obrigacionais se tal for exigido. C.F. partilha do argumento avanado por Henrique Mesquita que assinala que o direito de locao no autnomo ao contrato locativo (uma vez que existe uma permanente ligao da posio jurdica do locatrio ao contrato locativo ) autonomia essa que caracteriza os direitos reais.

Obrigao real (propter rem) O titular de um direito real poder ver o exerccio do seu direito real limitado ou restringido por razes de ordem pblica ou de ordem particular, que podero consistir na absteno de certas condutas ou na necessidade de adoptar determinados comportamentos. Estrututalmente existe uma situao de obrigao uma vez que o titular do direito se encontra adstrito de certa pessoa a uma prestao determinada. A noo de obrigao real encontra-se conexa com o contudo do direito real imposta ao titular desse direito. Existem assim obrigaes de contudo positivo que envolvem a necessidade de adoptar determinado comportamento e obrigaes negativas de absteno Em princpio, a cada obrigao real (propter rem) corresponder um crdito real (ob rem) contudo nem sempre ser necessria essa correspondncia. A constituio de obrigaes reais ajusta-se abertura do tipo, isto , ao poder de conformao negocial do seu contudo. Assim h uma obrigao real por exe. se o proprietrio de um prdio rstico plantar, junto da estrema que o separa do prdio do vizinho, rvores nocivas (eucaliptos ou rvores do cagalho) sem qu a distncia imposta por lei (art. 1366 n1 ) o autor da plantao pode ser obrigado pelo o dono do outro prdio a arrancar as rvores. Mas no h obrigao real mas sim dever autnomo de indemnizar no caso dos danos causados por runa de edifcio com culpa do proprietrio ou do possuidor (art. 492). A questo fundamental que se coloca quanto transmisso de uma obrigao real saber se ela acompanha o direito real de que conexa. Alguma doutrina entende que as obrigaes reais so obrigaes ambulatrias logo obrigao acompanha o direito real no caso de transmisso deste. Em contraposio, existem os que entendem que no so ambulatrias mas autnomas ao direito real e que a obrigao radica em certa pessoa logo no acompanha o direito real na sua transmisso. Devido dificuldade em destabelecer uma delimitao rigorosa neste domnio, Henrique Mesquita esclarece propondo o seguinte racocinio: so ambulatrias as obrigaes reais de facere que imponham ao devedor a prtica de actos materiais sobre a coisa que constitui objecto do direito real art. 1567 n4; e no so ambulatrias as restantes de dare, de que exemplo a prevista no art. 1537 n1.

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Quanto sua extino, as obrigaes reais demarcam-se do regime geral das obrigaes por no lhes ser aplicado o regime geral da prescrio pois enquanto se mantiverem os correspondentes pressupostos a obrigao mantem-se excepto se constituir por usucapio um direito incompatvel. Por exemplo, quanto s servides desvinculativas se um proprietrio construir no seu terreno um edifcio, junto s estrema, sem o dotar de meios aptos a impedir que a beira do telhado ou outra cobretura goteje sobre o prdio vizinho (1365 n1) fica consttudo na obrigao real de fazer as obras necessrias para evitar o gotejamento. Esta situao subsiste at se constituir, por usucapio, a favor do dono de edifcio, um direito incompatvel com a obrigao real a servido de estilicdio. Pode tambm acontecer a extino da obrigao real por renncia liberatria quando o gravame que a obrigao real pode constituir para o titular to grande que este prefira renunciar titulariedade do direito real.

Distino entre obrigao real (propter rem) e nus real Os nus reais, sendo igualmente obrigaes reais lato sensus, individualizam-se, do ponto vista estrutural, por serem obrigaes em geral de prestao peridica, de gneros ou dinheiro, impostas a quem seja, em cada momento, titular de um direito real. Se estas obrigaes no forem realizados voluntariamente, o credor pode fazer-se pagar pelo o valor da coisa sobre que recaem, com preferncia sobre os demais credores. No caso de transmisso de um prdio onerado, o credor do nus continua a poder executar sobre ele o seu crdito, mesmo quanto s obrigaes vencidas. A determinao do devedor da obrigao de nus real determinado em funo da titulariedade de um direito real sobre o prdio onerado. Um exemplo de um nus real o caso do imposto municipal sobre imveis da chamada taxa de beneficiao e da taxa de explorao e conservao. No Direito Privado, um outro exemplo de um nus real o do apangio do cnjugue sobrevivo.

Categorias de direitos reais - Falamos portanto das modalidades de direitos reais cujo o regime nele estatudo, importante para efeitos de elaborao de uma teoria geral dos direitos reais. A doutrina autorizada distingue, atravs da interpretao do art. 1539, n1, do C.C entre: A) DIREITOS REAIS DE GOZO p. exe. dir. de propriedade (diferentemente do dir. de uso ou dir. de superficie); a norma j. atribui ao respectivo titular poderes de uso ou de fruio de uma coisa. os direitos reais de gozo tm como efeito a atribuio, ao titular, de poderes de uso e/ou fruio sobre determinada coisa. B) DIREITOS REAIS DE GARANTIA p. exe. a hipoteca (incluindo a hipoteca do direito a construir ou de plantar) ou a consignao de rendimentos sobre a mesma coisa; os direitos reais de garantia atribuem ao seus titulares uma situao de preferncia na satisfao de um crdito pelo o valor de certa coisa.C) DIREITOS REAIS DE AQUISIO p. exe. contrato-promessa com eficcia real art. 413 e pacto de preferncia real art. 421; os direitos reais de aquisio atribuem aos seus titulares o poder potestativo de mediante o seu exerccio, adquirir um certo direito real sobre uma coisa. Em grosso modo servem para garantir qye a pessoa venha adquirir um direito real sobre uma determinada coisa. 5

Funo e estrutura dos dirs. reais - Os direitos reais tm como funo assegurar, ao seu titular ou titulares, a realizao dos interesses prprios mediante o aproveitamento de utilidades de coisas determinadas. Dizemos titulares pois a sua atribuio no e necessariamente feita a ttulo exclusivo, j que as utilidades podero ser repartidas por vrias pessoas mediante a atribuio de direitos qualitativamente iguais sobre a mesma coisa. O aspecto funcional do aproveitamento das utilidades partilhado com outros direitos subjectivos, nomeadamente os de natureza creditcia mediante a colaborao de outrem, como p. exe. dirs pessoais de gozo: neles o uso e fruio de certa coisa faz-se atravs da actividade da outra pessoa, que os proporciona ao titular do direito. Contudo, num esforo de distino entre os dirs. reais de gozo e dirs. pessoais de gozo: [p. exe. no ct. de arrendamento, o dir. do arrendatrio ao gozo da coisa arrendada,] os dirs pessoais de gozo sao dirs. subjectivos sem natureza real mas que proporcionam ao seu titular o gozo de uma coisa corprea, estes dirs possuem um poder mediato j que a actuao de um dir. pessoal de gozo depende da mediao de outrem. Podemos argumentar que nos dirs. reais de gozo a funo de aproveitamento das utilidades no depende da mediao de outrem, excluindo ptt para o seu aproveitamento a actuao de terceiros, ou seja, o poder imediato, contrapondo-se ao poder mediato dos dirs. subjectivos de natureza crediticia.

CLASSIFICAO DOS DIREITOS REAIS Direito Real Pleno e Direitos Reais Limitados - O critrio de distino entre direitos reais plenos e direitos reais limitados ou menores, a extenso dos poderes que os direitos reais atribuem ao seu titular, ou seja, existem direitos reais que atribuem aos seus titulares mais poderes do que outros. Exemplo: o direito de propriedade atribui poderes mais amplos, que o direito de usufruto. Considera-se que para alm da propriedade, tambm a posse um direito real pleno, significando que, por meio desta classificao, a situao possessria colocada ao nvel do direito de propriedade. O direito de propriedade um direito real pleno porque abrange os mais amplos poderes de aproveitamento, ou seja, usar, fruir e dispor. Todos os outros direitos reais so limitados, dado os mesmos serem recortados do direito real pleno, permitindo ao seu titular o aproveitamento parcial e no pleno da coisa.

Direitos Reais de Gozo, Garantia e de Aquisio - Esta a classificao tradicional das categorias dos direitos reais. O seu critrio de distino assenta no modo como se efectua o aproveitamento das utilidades da coisa, que o objecto do direito real.

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Direitos reais de gozo - Nos direitos reais de gozo, o aproveitamento da coisa feito de modo directo e imediato no sentido de que, o titular do direito real de gozo pode fazer suas as utilidades que a coisa lhe proporciona. Pode colher os frutos naturais, perceber frutos civis, consumir a coisa, alter-la, etc. Portanto, o titular do direito real de gozo, satisfaz o seu interesse atravs do aproveitamento do valor de uso da coisa, retirando da sua substncia todas as utilidades dessa coisa. So direitos reais de gozo: a posse, o direito de propriedade (compropriedade e propriedade horizontal), as servides, o direito de superfcie, o direito de uso e habitao, o direito de usufruto e o direito real de habitao peridica.

Direitos reais de garantia - Nos direitos reais de garantia, as utilidades proporcionadas ao seu titular so aproveitadas de modo indirecto, isto , atravs do valor econmico, do valor de troca, e no atravs do seu valor de uso. Estes direitos reais so acessrios de uma relao creditria e por isso encontram-se regulados no Livro II, tendo a funo de assegurar eficazmente ao credor, o pagamento preferencial do seu crdito pelo valor da coisa sobre que recaiem. Os direitos reais de garantia caracterizam-se pelo facto de incidirem sobre o valor ou os rendimentos de bens certos e determinados, do prprio devedor ou de um terceiro.

O C.C. admite os seguintes direitos reais de garantia: 1. Consignao de rendimentos 2. Penhor 3. Hipoteca 4. Privilgios creditrios 5. Direito de reteno

1. Consignao de rendimentos - A consignao de rendimentos consiste na aplicao dos rendimentos de certos bens imveis ou mveis sujeitos a registo garantia do cumprimento de uma obrigao (que pode ser condicional ou futura), e do pagamento dos respectivos juros, se devidos, ou to s do cumprimento da obrigao ou do pagamento dos juros. Dispe o a. 657. n.1, que: S tem legitimidade para constituir a consignao quem puder dispor dos rendimentos consignados . o caso do usufruturio. A consignao de rendimentos pode ser: voluntria, que aquela que instituda pelo devedor ou por um terceiro, mediante negcio entre vivos ou testamento, ou judicial, que resulta de uma deciso do tribunal (cfr. a. 658.).No que diz respeito consignao voluntria, exige-se escritura pblica ou testamento, desde que verse sobre coisas imveis, mas bastante, documento particular, quando estejam em causa bens mveis (cfr. a. 660. n.1). A consignao de rendimentos encontra-se sujeita a registo, salvo se tiver por objecto os rendimentos de ttulos nominativos, como por exemplo, aces de sociedades, devendo neste caso ser mencionado nos ttulos e averbada, segundo a respectiva legislao (cfr. a. 660. n.2). A consignao confere ao credor o direito de 7

preferncia em relao aos outros credores, apenas sobre os rendimentos consignados e no sobre os bens que os produzem. A consignao extingue-se nos termos do a.664..

2. Penhor - O penhor constitui um direito real de garantia, que consiste em o devedor ou terceiro se desapossarem voluntariamente de certa coisa mobiliria, para que fique especialmente afecta segurana de determinado crdito, e que, por ele responde preferencialmente, no caso de no cumprimento da obrigao por parte do devedor. Em princpio, o objecto empenhado tem que sair das mos do devedor ou de terceiro (a. 667.) e entregue ao credor, ou a terceiro fiel depositrio deste (a. 669.). Quanto ao objecto, a lei permite que sejam dadas em penhor, coisas mveis como crditos ou outros direitos no hipotecveis. Admitem-se, assim, duas modalidades fundamentais de penhor: o penhor de coisas (a. 669. e ss.) e o penhor de direitos (a. 679. e ss.) Regra geral, todas as coisas mveis podem constituir objecto do penhor sejam elas fungveis ou no, consumveis ou no. Exige-se apenas, que a coisa possa ser alienada, porquanto o credor pignoratcio tem o direito de promover a sua venda para se pagar (cfr. a.675.). Nos termos do a. 669, impe-se que o autor do penhor no tenha a disposio do objecto empenhado. A existncia do penhor pressupem a publicidade constitutiva que se traduz na posse ou composse, decorrente do a. 669. Alm da publicidade, torna-se necessrio, data de entrega do objecto empenhado, acordo das partes, sobre a constituio da garantia.

3. Hipoteca - A hipoteca traduz-se no direito concedido a certos credores de serem pagos, pelo valor de certos bens imobilirios do devedor e, com preferncia a outros credores estando os seus crditos devidamente registados. Alm dos bens imobilirios, podem ser objecto de hipoteca, os automveis, navios e, aeronaves (bens mveis registveis). A hipoteca incide sobre coisas imveis ou havidas como tais, indicadas nos ara.688. a 691.. No requisito da hipoteca, que os bens saiam da posse do autor da garantia, diferente do que se verifica no penhor. No entanto, compreende-se a diferena, dada a especial natureza dos bens sobre que recaem as duas garantias: a hipoteca sobre coisas imveis ou equiparadas que no podem ser facilmente ocultadas ou sonegadas, como acontece com a generalidade dos mveis. A hipoteca carece de ser registada sob pena de no produzir efeitos, mesmo em relao s partes (cfr. a. 687.). Existem trs modalidades de hipotecas previstas na lei (cfr. a. 703.): legais (cfr. a. 704.) judiciais (cfr. a. 710.) voluntrias (cfr. a.712.)

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4. Privilgios creditrios - um direito conferido a certos credores, de serem pagos, em ateno natureza dos seus crditos, de preferncia a outros credores. Esta garantia no necessita de ser registada (cfr. a. 733.). O privilgio creditrio constitui uma garantia mais forte do que a hipoteca, porque se houver concurso entre credores, os privilgios imobilirios preferem preferncia, assim como preferem consignao de rendimentos e ao direito de reteno, ainda que estas garantias se mostrem anteriores (a. 751.). Nos termos do a.734. esta garantia, abrange os juros de crdito respeitantes aos ltimos dois anos, se forem vencidos. Os privilgios creditrios podem ser privilgios mobilirios, o que pode abranger o valor de bens mveis, de todos se, o privilgio geral ou, de determinados se, o privilgio especial do devedor, existentes data da penhora ou de acto equivalente (cfr. aa. 736. e 738.) e privilgios imobilirios, aqueles que podem abranger apenas o valor de determinados bens imveis (cfr. a.743. e ss.). De acordo com a actual redaco do a. 735 n 3, introduzida pelo DL n 38/2003 de 8 de Maro, os privilgios imobilirios estabelecidos neste Cdigo so sempre especiais.

5. Direito de reteno - O direito de reteno um verdadeiro direito de garantia e, consiste na faculdade que tem o detentor de uma coisa, de a no entregar a quem lha pode exigir, enquanto esta, no cumprir uma obrigao a que est adstrito para com aquele (cfr. a.754.). Este direito resulta directamente da lei e no de um negcio jurdico e a sua publicidade encontra-se assegurada pelo prprio texto legal. Esta garantia no carece de ser registada. O direito de reteno tem como requisitos so seguintes: - a deteno lcita de uma coisa que deve ser entregue a outrem; - que o detentor se apresente, por sua vez, credor da pessoa com direito entrega; - que entre os dois crditos exista o nexo apontado tratar-se das despesas feitas por causa dessa coisa ou de danos por ele causados. O a. 755. no seu n.1, estabelece casos especiais de direito de reteno j conhecidos, como o caso da alneas b), d) e f) da mesma disposio legal.

Direitos reais de aquisio - Os direitos reais de aquisio, constituem a categoria de direitos reais mais recente, em que o interesse do titular satisfeito atravs da aquisio de um outro direito real, isto , a partir do momento em que se exerce o direito real de aquisio, o seu titular imediatamente transposto para outro direito real de gozo. Por exemplo: o direito que tem cada um dos comproprietrios a ter preferncia, na venda ou doao, das quotas dos outros; o caso do contrato-promessa e do pacto de preferncia quando se tenha atribudo eficcia real. Tambm a situao jurdica do possuidor que adquire o direito de propriedade por usucapio, cfr. a. 1287. e; o caso de apropriao de coisa alheia, cfr. aa. 1321. e 1323., etc. 9

VICISSITUDES DOS DIREITOS REAIS - As vicissitudes dos direitos reais tm a ver com a aquisio, com a modificao e com a perda dos direitos reais.

Aquisio dos direitos reais - A aquisio de um direito real, marca o momento em que esse direito (subjectivo) passa a fazer parte de uma esfera jurdica. A aquisio pode ser originria ou derivada e, esta ltima, ainda pode ser, constitutiva e translativa. Na aquisio originria, o direito adquirido surge na ordem jurdica, no exacto momento em que se adquire, isto , o fenmeno de aquisio e constituio do direito simultneo e por sua vez no est dependente de nenhum outro direito. Na aquisio derivada o direito adquirido est sempre dependente de outro direito. E essa dependncia exprime-se de duas formas: na aquisio derivada translativa: a aquisio depende do direito anterior que fundamentalmente o mesmo; na aquisio derivada constitutiva: o direito que se adquire um direito novo, muito embora, a sua constituio, se processe custa de um direito pr-existente, que fica assim limitado pela constituio desse direito. Com efeito, os direitos reais menores surgem por aquisio derivada constitutiva e limitam o direito de propriedade. Se eles forem transmissveis, pode tambm existir aquisio derivada translativa e, por regra, todos os direitos reais de gozo so transmissveis. J quanto ao direito de propriedade, s pode ser adquirido ou, por aquisio originria ou, por aquisio derivada translativa.

Quanto aos modos de aquisio, so eles os seguintes: a) Contrato: mediante contrato, transmitem-se para outro titular, direitos reais j existentes, na titularidade do transmitente e, podem ser constitudos (aquisio originria) novos direitos reais (cfr. a. 408. n.1); b) Usucapio: a posse, mais o tempo, conduz usucapio e, um modo de aquisio de direitos reais de gozo; c) Lei e deciso Judicial: a constituio em si mesma, de direitos reais, muitas vezes decorre automaticamente da lei, ou seja, sem necessidade de interveno das partes e independentemente da sua vontade. Exemplos: servides legais (cfr. a. 1550.), hipoteca legal (cfr. a. 704.), os privilgios creditrios (cfr. a. 733.), o direito de reteno (cfr. a. 754.) e as preferncias legais.

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Modificao dos direitos reais - A modificao dos direitos reais pode ser objectiva e subjectiva. Sempre que se opera uma aquisio derivada translativa existe uma modificao subjectiva. Exemplo: A vende a B um automvel. Quanto modificao objectiva, esta verificase sempre que, nos encontramos perante aquisies derivadas constitutivas. Exemplo: A constitui a favor de B um direito de usufruto.

Perda dos direitos reais - Os direitos reais extinguem-se pelas seguintes causas: Expropriao por utilidade pblica: (cfr. a. 62. da Constituio da Repblica Portuguesa; a. 1308. e a. 1536., n. 1, al. f) consiste numa declarao feita pelo Estado, em que este declara a necessidade de utilizar determinado bem para um fim especfico de utilidade pblica, que faz extinguir o direito real constitudo sobre tal bem e, determina a sua transferncia para o patrimnio da pessoa a cujo cargo est a prossecuo desse fim (direito novo independentemente do anterior). Renncia: (cfr. aa. 731., 664., 677., 752., 761., 1267., 1476., 1490.) os direitos reais so renunciveis, por manifestao de vontade, nesse sentido, do respectivo titular (Princpio da renunciabilidade). O titular do direito de propriedade de um bem mvel pode simplesmente abandon-lo, desligando-se da sua posse (causal), passando a coisa a ser considerada uma res nullius (coisa de ningum) e, fica susceptvel de ser adquirida por ocupao (cfr. a. 1318.). O proprietrio de um imvel tambm pode renunciar ao seu direito, embora haja opinio diversa. Por efeito da renncia (que deve ser feita por escritura pblica e sujeita a registo) o imvel integra-se ex vi lege no patrimnio do Estado, no sendo susceptvel de ocupao. Confuso: esta figura aparece-nos como causa extintiva dos direitos reais limitados (cfr. aa. 1476. n.1, al. b); 1536. n.1, al. d), 1569. n.1, al. c). Quando o titular de um direito real menor, passa a titular de um direito real maior, d-se a confuso. Exemplo: A. usufruturio adquire a propriedade a B (nu proprietrio). Extino de um direito real pelo decurso do prazo, quando o mesmo tenha sido constitudo a termo.

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Caractersticas dos direitos reais i)As caractersticas tendenciais so: a afectao total da coisa, a permancia, a posse e a usucapio. A sua menor relevncia resulta do facto de no terem valor universal. a) a existncia e determinao da coisa e a sua afectao total da coisa o objecto de um direito real tem de ser uma coisa certa e determinada e como tal existente no momento da constituio ou aquisio do direito, isto , o seu objecto tem de existir e ser certo e determinado no momento da constituio ou aquisio do direito. Se estas exisgncias se reportarem a outro momento da vida do direito subjectivo j no tm interesse. Quanto sua afectao total coisa dever ser entendida que se aplica a todo o seu objecto. b) a permanncia - Num sentido restritivo liga-se ideia da perpetuidade dos direitos reais; noutro sentido visa apenas significar que os direitos reais no se extinguem pelo o seu exerccio em qualquer destes sentidos no se pode atribuir esta caracterstica aos direitos reais uma vez que no sentido restrito os direitos reais apenas apresentam uma tendncia para durarem por tempo inderterminado e num sentido amplo porque os direitos de garantia e dirs. de reais de aquisio em regra extinguem-se pelo o seu exerccio. Tambm podemos aplicar o mesmo raciocnio s obrigaes de non facere. c)A posse e a usucapio Ao referir-se como caracterstica dos direitos reais corrente afirmar-se que s estes podem ser objecto de posse contudo no inteiramente correcta esta ideia uma vez que o objecto da posse a coisa e no o direito. A usucapio uma forma de aquisi de direitos que se funda na posse e na sua durao (art. 1287) e os direitos reais que no sejam susceptveis de oisse no pode ser adquiridos por usucapio.

As principais so: inerncia, sequela, a prevalncia e a publicidade. a)A inerncia Deriva da estreita relao com o modo por que o contudo do direito real se projecta sobre a coisa corprea determinada objecto do direito real.. O direito real inerente coisa. Significa que o interesse do seu respectivo titular realizado pelo o aproveitamento das utilidades da coisa que objecto do direito real. Traduz uma ideia de estreita ligao do direito coisa. Por ser inerente a ela, o direito real muda, em geral, se passar a recair sobre coisa diversa. 12

Tem como corolrio a inseparabilidade do direito e da coisa uma vez que a cosia tem que existir, ser certa e deteminada no momento da constituio do direito real. Esta caractersitica admite excepes: art. 1545 n1 em matria de servides prediais. uma caracterstica principal dos direitos reais reconhecida pela maioria da doutrina portuguesa. Oliveira Ascenso admite a inerncia como caracterstica dos direitos reais mas no exclusiva deles, admitindo ptt a possibilidade da existncia de direitos inerentes no reais.Distingue-se da imediao que a circunstncia de o titular do direito ter ao seu alcance a possibilidade de realizar o seu interesse custa das utilidades da coisa sem depender de conduta de outrem. Esta caracteristica admite as seguintes excepes: art. 1545 n1 C.C.

b) a sequela: a possibilidade do direito real ser exercido sobre a coisa mesmo quando esta se encontra na posse ou deteno de outrem, onde quer se a coisa se encontre. Nos direitos reais de gozo, a imediata manifestao da sequela a aco de reivindicao da propriedade art. 1311 e 1315, onde assegurado ao titular do direito de propriedade o reconhecimento desta e pedir a entrega da coisa onde quer que esta se encontre. As trs limitaes sequela: a) a inoponibilidade da invalidade a terceiros de boa f art. 291 C.C. e b) aquisio registal qualquer um delas fica paralisado a possibilidade de o titular do direito real o fazer valer contra o terceiro protegido e c)a constituio de posse sobre mveis a favor de terceiro de boa f.

c) a prevalncia: o direito real prioritrio sobre todos os direitos de crditio e sobre todos os direitos reais de constituio posterior. O direito real que primeiro se constitusse deve levar a melhor sobre os demais. A prevalncia um corolrio da natureza absoluta e da inerncia dos direitos reais e deve ser aplicada quando existe uma situao de incompatibilidade de direitos sobre a mesma coisa. A actuao conjunta da prevalncia e da sequela traduz a mais forte tutela de que beneficiam os direitos reais quando confrontados com os direitos de crdito. ****questo de exame: ser a prevalncia ou preferncia uma verdadeira caracterstica dos dirs reais? R: i)a terminologia correcta prevalncia uma uma vez que a palavra preferncia tem um sentido tcnico jurdico preciso que nada tem a ver com o problema que se coloca na prevalncia: dir. preferncia identifica a faculdade obrigacional ou real recohecida a algum de ser preferido a terceiros na aquisio de um direito e prevalecer quando se trata de estabelecer a prioridade de um direito sobre outros se entre eles houver incompatibilidade p. exe. art. 407 ii)polmica doutrinal: a doutrina clssica derivava da noo de poder directo e imediato sobre uma coisa a regra segundo a qual, em princpio, o direito real primeiro se constitusse devia levar a melhor sobre os demais. Alicerada nesta ideia, formou-se 13

uma noo de prevalncia que assinalava a prioridade dos direitos reais sobre todos os direitos de crdito e sovre os dirs reais de constituio posterior. Esta noo ampla perfilhada por Pires de Lima foi posta em causa por Lus Pinto Coelho. Segundo este ltimo, o problema da prevalncia s se poder colocar apenas quando exista coliso de direitos relativamente mesma coisa e no entre direitos de natureza diferente (dir. real. Vs. Dirs crdito) ou da mesma natureza mas de espcie diferente (servido vs. Usufruto) ou da mesma espcie e da mesma natureza mas compatveis como p. exe. na compropriedade. Sendo os dirs. incompatveis e havendo conflito, no faz sentido falar em prevalncia pois o direito de aquisio posterior no um verdadeiro direito um no-direito. Assim, Lus Pinto Coelho afastava a caracterstica da prevalncia reservando-a apenas para os direitos reais de garantia. A partir desta crtica noo ampla de Pires de Lima, a doutrina passou a introduzir uma nota limitativa. iii) Na doutrina actual, Paulo Cunha limitava a caracterstica da prevalncia aos direitos reais de garantia, mas segundo critrio que podem no ser o da antiguidade do direito. Mota Pinto apontava como caracterstica geral no campo dos conflitos entre direitos reais. Nos direitos reais de garantia configura-se como uma condio de exerccio, s satisfeito o direito prevalente, se pode exercer outro. Oliveira Ascenso nega lugar prevalncia mesmo nos direitos reais de garantia e s faz sentido quando est em causa um conflito entre direitos reais e direitos de crdito. Menezes Cordeiro afasta em absoluto a existncia de prevalncia. iv) C.F segue de perto a orientao de Lus Pinto Coelho quanto limitao do campo de aplicao da prevalncia (no adopta a noo ampla) uma vez que falar de prevalncia s far sentido se houver incompatibilidade de direitos sobre a mesma coisa. Conflitos entre direitos reais menores e entre direitos reais e direitos pessoais de gozo ou direitos de crdito que se refiram a uma mesma coisa no se colam em termos de prevalncia mas de compatibilizao do respectivo contudo. Contudo se um direito real, mesmo de constituio posterior, conflita com um direito de crdito, aquele tem mais-valia e prevalece sobre este p. exe. Se A se obriga a emprestar uma coisa a B, no pode invocar a prevalncia do direito real para se liberta da obrigao. Contudo, j pode invocar a prevalncia se A vender essa coisa a C, no ser obrigado a emprest-la a B. Neste sentido o direito real prevalece sobre o direito de crdito.

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d) Tipicidade No sistema jurdico portugus prevalece o princpio da tipicidade dos direitos reais. Os direitos reais constitutem um numerus clausus art. 1306 /1 S so admissveis os direitos reais expressamente previstos na lei e pela forma nela regulada. O princpio da tipicidade envolve duas consequncias fundamentais: a impossibilidade de constituio de direitos reais no tipificados na lei (desenvolve nos dirs reais atpicos) e a impossibilidade de aplicao analgica das normas que fixam o regime dos direitos reais a situaes jurdicas no reais.Valor dos actos constitutivos de direitos reais atpicos art. 1306, n1: todas as restries resultantes de negcio jurdico que no corresponde a uma limitao legalmente prevista tm natureza obrigacional Em princpio, o negcio constitutivo de um direito real atpico nulo, logo no produz efeitos. Contudo, por fora deste preceito, opera-se uma converso legal e atribui a esse direito real atpico eficcia obrigacional (ex. servido pessoal). Por ser uma converso legal no se encontra sujeita aos requisitos das converses comuns prescrios no art. 293. Se por n.j. se constituir uma restrio real atpica ao direito de propriedade, o negcio nulo enquanto tal;vale porm com eficcia obrigacional constituindo proprietrio da coisa objecto do negcio na obrigao de adoptar um certo comportamento equivalente ao contudo da restrio real que pretendia constituir.

e)Publicidade - A publicidade respeita a factos que pela sua importncia importa dar a conhecer para alm do crculo das pessoas a quem directamente respeitam, tornando-os patentes ou pblicos. A publicidade constitui um factor de tutela de terceiros j que permite que terceiros obtenham conhecimento de factos praticados sem estes terem participado.Essa publicidade beneficia igualmente os titulares das situaes jurdicas publicitadas, pois a sua publicidade beneficia o respeito dessas coisas por parte de terceiros e justifica a sua prevalncia erga omnes sem necessitar qualquer tipo de produo de prova do seu conhecimento efectivo. Publicidade Espontnea Fundada na posse pblica de uma coisa. Esta reveste o sinal exterior da propriedade e dotada de relevncia jurdica na atribuio ou no reconhecimento da titularidade do correspondente direito . Parte-se da definio legal de posse dada no art. 1251 que evidencia duas notas: (1) est ligada aos direitos reais de gozo; (2) envolve uma actividade material, de uso e fruio da coisa, correspondente ao contudo de certo direito real para assim se tornar perceptvel. Efeitos da Publicidade Espontnea : i.Efeito presuntivo: De acordo com o art. 1268 n1 o possuidor goza da presuno da titulariedade do direito, excepto de existir, a favor de outrem, presuno fundada em registo anterior ao incio da posse. A posse envolve uma actuao equivalente ao exerccio de um direito. Presume-se que o indviduo se encontra com a posse a lei atribui efeitos jurdicos ao compormento do possuidor. A presuno possessria de titulariedade do direito existe para proteger a razovel confiana de terceiros. Tal presuno tem alcance significativo, nomeadamente no art. 1278, n1, C.C. Mas nao deve ir alm de ser iuris tantum, pois a presuno possessria cede perante: a presuno fundada no registo anterior ao incio da posse (1268, n1, 1parte) e qd o possuidor for convencido na questo da titularidade do direito. 15

ii.Efeito Constitutivo existe apenas a ttulo exceptional devido ao facto de no vigorar no Direito Portugus o princpio Posse vale ttulo . A posse apresenta efeitos aquisitivos apenas usucapio (posse reiterada) e nos chamados negcios reais quoad constitutionem como p. exe. contrato de mtuo, contrato de doao consensual de coisa mvel, que a posse tem efeito constitutivo, uma vez que no sistema jurdico portugus a constituio e transferncia de direitos reais d-se por mero efeito de contrato art. 408, n1, CC , e o princpio posse vale ttulo afastado.

iii. Efeito Consolidativo e enunciativo as presunes possessrias so ilidveis e vo interferir com outros eventuais efeitos da publicidade possessria posse consolidativa e posse enunciativa. No h eficcia consolidativa da posse. A posse exerce um mero efeito de publicidade logo limita-se a dar a conheceiro o direito: enunciativa.

Publicidade Provocada (ou registal)- O Registo da coisa nas conservatrias deriva de uma actuao intencional dirigida a dar conhecer a terceiros uma certa situao jurdica. A pub. provocada procura responder ao anseio de proteco de terceiros e provoca o surgimento de um sistema que publicite a existncia de dirs. reais a terceiros. O sistema pensado o cdigo do registo predial e decorre do seu art. 1 que a sua funo essencial dar publicidade situao jurdica aos bens sujeitos a registo para assegurar a segurana do comrcio jurdico.

Efeitos da Publicidade Provocada (ou registal): Em geral, est apenas em causa a eficcia desses factos e no a sua validade, mas esta afirmao no pode ser aceite com valor absoluto. As disposies bsicas nesta matria so os arts. 4 e 5 do C.Reg.Pre. O primeiro estabelece, no seu n1, que a falta de registo no afecta a invocabilidade inter partes dos factos que devam ser registados, exceptuando-se as hipotecas. J qanto a terceiros a relevncia do registo diferente uma vez s produzem efeitos contra eles uma vez registados, como decorre do art. 5 n1 C.Reg.Pre. a partir delas e doutras que lhes do seguimento que a doutrina distingue vrias modalidades de efeitos de registo.

i.Efeito Presuntivo: Os mltiplos efeitos do registo assentam num ponto comum que se definecomo f pblica registal que confere a presuno de veracidade ao que se encontra disposto no registo. De acordo com o art. 7 do C.Reg. Predial o registo definitivo estabelece a presuno de que o direito existe e pertence ao titular inscrito, nos precisos termos em que o registe o define. So duas as presunes: a de que o direito existe tal como o registo o revela e ade que o direito pertence a quem est inscrito como seu titular. uma presuno ilidivel mediante prova em contrrio como resulta do art. 350 n2 C.C. e do art. 8 a contrario.

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ii.Efeito Constitutivo :

O registo no apresenta, em regra, eficcia constitutiva, como resulta

do art. 2 n4 do C.Reg.Pre. (conjugado com o art. 687 C.C.). Apenas e unicamente na situao das hipotecas , art. 4 C.Reg.P., que a pub. provocada apresenta efeito constitutivo. CF entende que o regime legal no obriga a o registo da hipoteca para esta ser vlida. Oq acontece serem mais profundas as consequncias negativas para o credor hipotecrio que inobservou ao registo do acto constitutivo da hipoteca. Para Oliveira Ascenso o registo um elemento condicionante de eficcia absoluta. Com o registo, o n.j. de que nasce a hipoteca que antes estava incompleto torna-se agora perfeito e apto para produzir os seus efeitos.

iii.Efeito

enunciativo: No Direito Portugus limita-se, neste caso, a dar conhecimento da

existncia, de certo facto jurdico a terceiros. A regra que o registo no d nem tira direitos, a inscrio no registo de certo facto no lhe acrescenta nada de novo no plano substantivo. Exemplo da funo primitiva de publicitao de tais factos o disposto no n2 do art. 5 do C.Reg.Pre. Em outros ordenamentos jurdicos de lngua portuguesa, como por exemplo no Direito Brasileiro, a inscrio de facto constitutivo no registo uma condio de validade da transferncia de propriedade.

iv.

Efeito consolidativo: Este efeito configura-se como um requisito de oponibilidade a

terceiros dos actos a que a ele esto sujeito atravs da aplicao do n1 do art. 5 C.Reg.Pre. Ver definio de terceiros para efeitos de registo.

Art. 5 n 1 do C.Reg.Pre. - Aplicvel em matria de oponibilidade do registo predial a terceiros. O significado geral do n1 do art. 5 do C.Reg.Predial o de que a falta de registo no impede cada uma das partes de se valer do acto em relao outra, mas j impede que qualquer delas o oponha a terceiro. Os factos sujeitos a registo produzem os seus efeitos em relao a quem no seja terceiro, mesmo que no registados, desde a sua prtica. Se for qualificado como terceiro, o facto sujeito a registo apenas poder ser oponvel a terceiro a partir do momento que for registado. Se for terceiro p efeitos de registo, no lhe ser oponvel o anterior facto sujeito a registo.

Terceiros (para efeitos de aplicao do n1 do art. 5 do C.Reg.Pre.) No cabem na noo de terceiros para efeitos do registo os terceiros no interessados ou estranhos que so todos os terceiros que no invoquem uma situao jurdica incompatvel com a que emerge do facto jurdico no registado. No Ac. S.T.J 15/97 o S.T.J adoptou uma noo de terceiro em registo predial mais ampla, de modo a abranger outras situaes que no somente a dupla transmisso do mesmo direito. Os argumentos a favor deste conceito amplo de terceiro do art. 5 C.Reg.P. foram: tem como fundamento os fins do registo ( art. 11 C.Reg.P) e a eficcia dos actos que devem ser 17

registados (art.2 C.Reg.P). A crtica a este acordo uniformizador foi a seguinte: devido ao seu alcance amplo, ps-se em causa a sua capacidade de assegurar a proteco do direito de propriedade privada garantida na Constituio. No Ac. S.T.J n 3/99 o S.T.J adoptou um conceito mais restrito de terceiro para efeitos do registo predial. A involuo deste segundo acordo foi agravada com a entrada em vigor do Decreto-Lei n. 533/99 que acrescentou um n4 ao art. 5 so aquerles que tenham adquirido de um autor comum dirs incompatveis entre si . No fundo oq est em causa saber que terceiro merece tutela. Requisitos de qualificao de terceiro segundo a doutrina de Carvalho Fernandes (noo ampla) a) Encontrar-se de boa f Decorre do art. 1 e do art. 4 n1 C.Reg.Pre. ; Assenta na tutela da confiana que organiza um progama de vida baseado nos dados do registo e na funo natural do registo dotada de f pblica; Estar de m-f, para efeitos do registo, significa que o terceiro conhece o estado das coisas, ou seja, a existncia de acto anterior cujos os efeitos so incompatveis com os da sua aquisio. No merece tutela o terceiro que se pretende aproveitar da realidade formal do registo em detrimento da realidade substancial que conhece. b)Ser terceiro interessado por oposio a estranho art. 5, n4; que adquire direitos incompatveis adquiridos de autor comum. So estranhos todos os terceiros que no invoquem uma situao jurdica incompatvel com a que emerge do facto jurdico no registado. c)Portador de um registo prioritrio anterior art. 5, n1 CRPre. ; a existncia de registo anterior faz nascer uma presuno - art. 7 e art. 6 - Se terceiro no tiver registado a sua posio jurdica ter de ser vista num plano puramento substantitivo e o negcio de C nulo pois adquiriu a non domino (art. 879 al. a) logo no ser eficaz a B. O Prof. Doutor Henrique Antunes (noo restrita) acrescenta um outro requisito: d) Ter adquirido de autor comum a ttulo oneroso - por aplicao analgica dos requisitos do art. 17, n2. tutela de terceiro no pode ser absoluta, logo afastada quando a aquisio de terceiro seja a ttulo gratuito. R: Opera o efeito consolidativo do registo. Terceiro tutelado pela ordem jurdica atravs da aplicao do art. 5 n1 C.Reg.Pre e negcio anterior no registado no lhe ser oponvel. Para Carvalho Fernandes da conjugao deste vrios elementos ir resultar a tutela deste terceiro e o registo surge ento como um facto complexo de produo sucessiva que ser o ttulo aquisitivo do direito do terceiro. Para Menezes Cordeiro o registo de terceiro cria uma inoponibilidade do n.j. em relao a B e uma presuno de iuris et iure de titulariedade do direito.

v. Efeito aquisitivo:

Atribui a um neg. Jurdico invlido eficcia que no lhe estava assegurada

segundo o dto. Substantivo. Um dos elementos do facto aquisitivo complexo a incompletude do registo anterior ou a sua desconformidade por vcio substantcial ou registal. A pedra de 18

toque resulta do disposto no art. 291 do C.C. (plano substantivo) confrontados com os arts. 17, n2, e 124 do C.R.Pre (plano registal). Trata-se dos casos de terceiros que adquirem de quem no tinha legitimidade para alienar, por motivo de vico substantivo ou de registo, que inquina a situao jurdica do alienante. O registo vai atribuir, a um negcio invlido, eficcia que no lhe estava assegurada segundo do direito substantivo. Caso de exemplo de aquisio tabular: i)D